RESUMO. Na segunda metade do século XVIII estabeleceu-se no Brasil e em Portugal uma modalidade de dança hoje conhecida como lundu, que parece ter sido a mais antiga dança praticada no território luso- americano da qual conhecemos exemplos musicais. Neste trabalho pretende-se examinar aspectos musicais, históricos e sociais ligados ao lundu, para se tentar saber um pouco mais sobre sua origem, investigando-se tanto sua herança européia quanto sua herança africana. Pelo que se sabe até o momento, o lundu representa, ao menos em alguns aspectos, a progressiva incorporação, pelas camadas dominantes da sociedade luso-brasileira, de particularidades musicais originárias entre afro-descendentes no Brasil. Esse era, até recentemente, o aspecto mais conhecido do lundu, porém pretende-se demonstrar, pela análise dos mais antigos exemplos brasileiros conhecidos, registrados não antes de 1820, que existe uma clara ligação entre o lundu e as variações instrumentais renascentistas e barrocas ibéricas, cuja origem remonta às diferencias espanholas do século XVI. Assim, a hipótese básica deste texto é a que o lundu parece ter se originado a partir de danças ibéricas, porém se popularizado entre pardos e negros no Brasil durante o século XVIII, assimilando particularidades musicais da cultura africana - provavelmente rítmicas - mas sem perder a estrutura de variações que originária nas diferencias espanholas quinhentistas. Paralelamente, será investigada a relação entre dois gêneros próximos do período: o lundu instrumental e o lundu-canção, cujos exemplos mais antigos exibem particularidades muito próximas: será analisada a hipótese de herança do segundo em relação ao primeiro, mas também investigada a possibilidade de o lundu-canção também ter sido praticado como dança, diferindo do lundu instrumental apenas pela presença do canto.