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II Relatorio de 1968, apresentado pelo Di- | rector. PARTE SCIENTIFICA I Sobre um caso notavel de polymorphismo nas folhas do Abacateiro ( Persea gra- | tissima Gaertn.), pelo Dr. J. Huber. | II Novitates Florae Amazonicae, pelo Dr, J. Huber. II Mattas e madeiras amazonicas, pelo Dr. J. Huber. IV Sobre a distribuição da avifauna campes- | é ai na Amazonia, pela Dra, E. Snethla- ad PP a dd E CA LEOA e VA RS pelo Dr. BR. R. Schuller. Bibliographia (1908). PARÁ -BraziL ESTABELECIMENTO GRAPHICO C. WIEGANDT I9IO a BOLETIM DO MUSEU GOELDI (MUSEU PARAENSE) DE HISTORIA NATURAL E ETHNOGRAPHIA “+ s : à "a = aa A saEs A ve o A aa DE Pag qd BOLETIM DO MUSEU GELDI (MUSEU PARAENSE) DE HISTORIA NATURAL E ETANOGRAPHIA —e— TOMO VI PARÁ --Brazm. Estas. GRraPpH. C. WiIEGANDT 1910 LIBRARY BOLETIM NEW YORK RS COBLDI (MUSEU PARAENSE) HISTORIA NATURAL E ETHNOGRAPHIA or NE 1909. PARTE ADMINISTRATIVA I RELATORIO SOBRE A MARCHA DO MUSEU GOELDI NO ANNO DE 1907 apresentado ao Exmo. Spr. Dr. Secretario do Estado da Justiça, Interior E INSTRUCÇÃO PUBLICA = pelo: Dr. J. HUBER, Director do Museu Sé Pessoal O facto mais relevante na historia do Museu durante o anno passado e o que a mais profunda influencia exerceu sobre a vida d'este estabelecimento, foi a resignação do Director Dr. Emilio A. Goeldi, que por motivos de saúde — alterada e para melhor poder superintender à educação dos BA » Amphibios. . 2 » » S » Peixes 1 a 10 » » 40 » Moran = 468 » » 693 exemplares, Horto botanico Já mencionâmos que este annexo recebeu um accres- cimo bemvindo, pela desobstrucção do terreno correspon- dente ao N. 20 da Avenida da Independencia. À demolição da respectiva casa e à construcção do muro da frente, se- guiu-se immediatamente o nivellamento do terreno e a loca- ção dos canteiros que, a pedido da Directoria ainda foi executada pelo pessoal da Secretaria das Obras Publicas, segundo os planos do director do Museu. O ajardinamento propriamente dito foi feito pelo pessoal do Horto botanico, sob a direcção immediata do Director, sendo bastante adian- tado até o fim do anno A nova área é destinada principal- mente a receber as plantas da ordem das Sympetalas, uma parte das palmeiras e algumas familias menores das Chori- petalas (Moraceas, Anonaceas, etc.), que não podiam achar espaço sufficiente na parte oriental do Horto botanico. Desta RELATORIO DE 1907 E) forma o Jardim zoologico fica, na parte anterior do terreno do Museu, completamente rodeado pelo Horto botanico. Na parte correspondente à antiga casa ficou aberta uma praça redonda, em cujo meio foi elevado o pedestal destinado a receber o busto do Dr. Ferreira Penna, encommendado ao esculptor brasileiro Rodolpho Bernardelli pelo Sr. Dr. Go- vernador do Estado, para perpetuar a memoria d'aquelle gran- de scientista e primeiro Director do Museu Paraense. Pela nova addição ao Horto botanico ficou o viveiro um pouco alliviado do seu excesso de plantas; porém, é de observar, que algumas familias de plantas, como por exemplo, as Lau- raceas, Lecythidaceas e Sapotaceas, por emquanto ainda fi- cam sem collocação definitiva, sendo apenas alguns dos seus representantes plantados no jardim. As mudas de plantas economicas (arvores fructiferas principalmente) fôóram quasi em sua totalidade cedidas á Estação experimental de Peixe- Boi, formando a base da collecção iniciada n'aquelle estabe- lecimento pelo seu activo director Sr. André Goeldi. Tam- bem foi remettida para aquella Estação grande quantidade de sementes e mudas de seringueiras, provenientes das ar- vores cultivadas no pequeno jardim de experiencias do Museu. No mez de Outubro fôram estas arvores cortadas pela primeira vez, aproveitando-se a ocecasião para experimentar um instrumento construido segundo as indicações do Direc- tor e destinado a substituir o classico machadinho. Apezar dos resultados satisfactorios sob alguns pontos de vista, ainda não pode-se julgar definitivamente do valor do novo methodo, porque as experiencias não podiam extender-se sobre um numero bastante grande de arvores, nem era possivel conti- nual-as por um espaço de tempo sufficiente, devido ao co- meço precipitado da estação chuvosa. Em todo caso, porem, podemos dizer que o nosso instrumento permitte um córte tão rapido que o machadinho, com muito menos perigo para a arvore. Com a chegada do Prof. Baker, os serviços do Horto botanico tomaram um novo impulso. Além de diversos me- lhoramentos materiaes, fez-se um plano detalhado dos cantei- ros com a indicação exacta das plantas, e tratou-se de subs- 14 RELATORIO DE 1907 tituir os rotulos que em parte já eram bastante deteriora- dos, fazendo-se tambem uma lista de rotulos novos para se encommendar na Europa. O Prof. Baker trouxe de Cuba um certo numero de sementes de palmeiras e outras plantas ornamentaes, das quaes elle fez pre-ente ao Horto botanico. Tambem a Horta ganhou com a introducção de varias especies de legumes de variedades seleccionados na Estação agronomica de San- tiago de las Vegas em Cuba. Collecções scientificas Secção zoologica: O accrescimo das collecções de vertebrados consistiu especialmente em pelles de passaros. que a Dra. Emilia Snethlage trouxe das suas excursões ao Tapajós (210) e ao Tocantins (171). e entre as quaes acharam-se representantes de 9 especies novas para a sciencia. Estas novas acquisições já foram aproveitadas para completar o catalogo da collec- ção ornithologica, ao qual a chefe da secção zoologica dedi- cou a maior parte de seu tempo n'este anno, não só du- rante os mezes passados ainda aqui. mas tambem durante o tempo que ella empregou em estudos comparativos no Mu- seum d'Histoire naturelle de Paris, no Museu de Tring e no British Museum de Londres, no Museu zoologico de Ber- lepsch (perto de Cassel) e no Hofmuseum de Vienna. Temos a esperança que este catalogo, que foi ainda começado sob os auspícios do meu illustre predecessor, possa ser publicado sem grande demora e constituir um guia se- guro para todos que querem familiarisar-se com a aviaria amazonica. Ao lado das aves, não esqueceram-se de todo as ou- tras ordens do reino animal; porém, o numero dos exem- plares colleccionados foi relativamente pequeno. A reparti- ção entomologica entretanto ganhou um accrescimo impor- tante pela colheita do nosso entomologista Sr. Adolpho Ducke, de um lado, e por uma collecção de borboletas do Alto Amazonas, comprada ao Sr. de Mathan do outro lado. A RELATORIO DE 1007 15 reorganisação da collecção de borboletas metteu em eviden- cia algumas das novas acquisições, que têm feito a admira- ção de todos os visitantes. Secção botanica: O Herbario amazonico recebeu os seguintes accres- cimos : Excursão do Sr. A. Ducke, aos campos de ANIDNEENTOÚDEL 4 6 o . 238 numeros. Idem da Dra. E. Sn ibiace ao o AR 45 » ldemida mesma” aoFRio Tocantins 42 » Plantas de Peixe-Boi, collecciônadas pelos Srs. A. Goeldi, Rodolpho S. Rodrigues e ll lohuloers Ee ip LO » Excursão do Sr. Adolpho mel a aro e AEScnnadde Parimiinsao PS us » Idem do mesmo, ao Rio Mapuéra .... 348 » Plantas dos arredores de Belem, collecciona- dasapelorsr Baker E 54 » ENVALUIS OS E rc No A, RARE OR Sp 44 » SOMEM O ASR po pe DA RR TR O) » Muitas d'estas plantas são representadas por diversos exemplares. Ellas foram devidamente classificadas pelo chefe da secção o coordenadas no Herbario amazonico. que no fim do anno transacto contava 9246 numeros, além de grande numero de duplicatas. O « Herbario geral» foi augmentado por uma collecção muito interessante de Eriocaulaceas, das Serras de Minas- “Geraes (19 especies), recebidas do Dr. Alvaro da Silveira, illustre botanico mineiro, que as mandou em troca de espe- cimens da mesma familia que foram a elle cedidos por oc- casião da visita do Exmo. Sr. Dr. Affonso Penna, ao Mu- seu; por 410 numeros de plantas vasculares colleccionadas pelo Sr. A. Ducke no Maranhão e Piauhy, e por 5 especi- 16 RELATORIO DE 1907 mens provenientes do Ceará, em todo 434 numeros, impor- tando o numero total em G02 especimens com muitas dupli- catas. O total das collecções de plantas vasculares chegou assim ao numero de 10148 especimens, representando perto de 5000 especies. O numero de Cryptogamas cellulares (Musgos, Algas, Fungos e Lichens) attingiu até a mesma data a cerca de 600 especies, quasi todas amazonicas. Os trabalhos de derrubada na Estação Experimental de Peixe-Boi, deram ensejo para se colleccionar um bom numero de especimens de herbario das nossas madeiras prin- cipaes, das quaes algumas das mais importantes como, por exemplo, o pão amarello, o pão Santo, etc., ainda não eram classificadas. Devemos ao infatigavel Director da Estação, uma collecção de amostras de madeiras. que a muitos res- peitos veio completar a que já existia no Museu. Infeliz- mente o espaço disponivel para as collecções botanicas con- tinúa tão limitado, que não podemos pensar na organisação d'uma collecção de madeiras digna do nosso Museu. As collecções de mineralogia e de geologia, assim como a secção de ethnographia, não receberam incremento digno de nota: entretanto, tratou-se de conserval-as em bom estado e de substituir alguns objectos sem valor nenhum por outros mais interessantes que se achavam até aqui depositados em caixões. Infelizmente estamos ainda forçados de guardar n'estas condições uma grande parte da collecção ethnogra- phica, sendo assim o publico privado de aprecial-a devi- damente. Bibliotheca Os serviços de bibliothecario ficaram durante o anno de 1907 a cargo do Director, economisando-se assim a gra- tificação para um destino especial, tambem em relação com . a bibliotheca: a confecção de um catalogo por «fiches» ou folhas separadas. Deste trabalho que aliás foi iniciado no começo do anno, sob a direcção do meu illustre predeces- sor, foi incumbida a senhorita Ottilia Miller, professora par- ticular. Todas as «fiches » foram feitas em duplicata, ficando RELATORIO DE 1907 17 assim um exemplar para o uso do bibliothecario e um para a secção à qual a respectiva obra pertence por sua materia. O catalogo assim organisado comprehendeu 2220 volumes e brochuras; sendo continuado por uma das officiaes, elle chegou, até o fim do anno, com os novos accrescimos, ao numero de 2600 mais ou menos. À estes juntam-se ainda 56 volumes da Flora Brasiliensis e diversas outras obras maio- res deixadas ao Museu pelo nosso Director honorario, a ti- tulo de emprestimo. Fóram encadernados 198 volumes. Esta sempre crescendo o numero das obras que rece- bemos em troca do nosso « Boletim », quer directamente quer por intermedio da Smithsonian Institution. Devemos os nos- sos agradecimentos à casa Eugenio Meyer & Cia. no Rio de Janeiro, que accedendo a um pedido do meu predecessor, desde alguns annos encarregou-se de retirar as respectivas pu- blicações da Bibliotheca Nacional e de remettel-as ao Museu. Felizmente a mudança na directoria não influiu sobre as re- lações que o Museu Goeldi entretem com os Museus e as Sociedades scientificas do mundo inteiro. Contamos dar, em nosso proximo relatorio, uma nova lista ampliada dos pe- riodicos que recebemos em troca das nossas publicações. Infelizmente de muitas publicações periodicas que re- cebemos, não temos séries inteiras, quer que nos faltem os primeiros volumes. quer que os que temos não sejam com- pletos. Precisará muito tempo e muito trabalho para preen- cher as lacunas. O que actualmente mais difficulta o serviço da biblio- theca, é a falta de espaço. Para os livros de botanica foi construida uma grande estante igual ás que já existem na bi- bliotheca, mas com esta, todo o espaço disponivel ficou occu- pado. Uma estante menor foi collocada no corredor, onde já se acha outra maior que contem as publicações periodicas européas. Uma grande parte das publicações de geologia, botanica e zoologia já se acha localisada nos gabinetes dos respectivos chefes de secção, o que facilita as consultações pelos respectivos funccionarios, mas do outro lado é um se- rio estorvo para o trabalho do bibliothecario. 18 RELATORIO DE 1907 Publicações Apezar do nosso empenho de activar a impressão do fascículo 1 do quinto volume do « Beletim do Museu Goeldi », cuja composição já foi iniciada no começo do anno, não foi possivel conseguir até o fim do anno a conclusão do fasciculo. devido principalmente á falta de typos e de papel nas off- cinas encarregadas d'este serviço. Entretanto, sahiram à pu- blicidade os seguintes trabalhos, cujos extractos já foram distribuidos no anno relatorial: E. Snethlage. —Sobre uma collecção de aves do Rio Purús (com 1 mappa ). E. À. Goeldi —Galbaleyrrhynchus purusianus e Pipra cae- lesti-pileata. » —Microtrogon, novo nome generico proposto para Trogon ramonianus Des Murs (estes dois tra- balhos foram publicados em portuguez e em inglez). Vicente Chermont de Miranda. —Os campos de Marajó e a sua flora, considerados sobre o ponto de vista pas- toril. ( Publicado e annotado pelo Dr. J. Huber, e distribuido aos membros do Congresso de Fazendei- ros reunido em Belem em Outubro ). À. Ducke -—Novas contribuições para o conhecimento das Vespas (Vespidae sociales) da região neotropical. E. À. Goeldi. — Aspectos da natureza do Brasil. Além d'isto, os funccionarios do Museu publicaram ainda os seguintes trabalhos: E. 4. Goeldi —QOn some new and insufficiently known spe- cies of marmoset monkeys from the Amazonian re- gion ( Proceedings of the Zoological Society of Lon- don (June 12) 1907, p. 88-99). E. A. Goeldi. — Description of Hyla resinifictriz Goeldi, a new Amazonian tree-frog peculiar for its breeding-habits ( Proceedings of the Zoolog. Society of London ( June 12) 1907, p. 135-140 ). J. Huber —A seringueira (Hevea brasiliensis Mull. Arg.). Conselhos praticos para a sua cultura racional. Pu- RELATORIO DE 1007 19 blicação feita por ordem do Exmo. Sr. Dr. Gover- nador do Estado. À. Ducke —Voyage aux campos de [ Ariramba ( La Géogra- phie, Bull. de la Société de Géographie T. XVI p: 19:26). À. Ducke.—Zur Synonymie einiger Hymenopteren Amazo- niens (Zeitschrift fiir Nymenopterologie und Dipte- RolpsieoO7 po 197144): À. Ducke.—Contribution à la connaissance de la faune hy- menopterologique du Nord-Est du Bresil. ( Revue d'Entomologie, Mai 1907 p. 73-96 ). Temos o especial prazer de registrar ainda aqui o facto que no anno relatorial foi concluido, com o terceiro fasciculo (estampas 25-48), a importante obra illustrativa do Dr. Goeldi intitulada Album de Aves amazonicas. Este ultimo fasciculo contem. alem das 24 estampas coloridas e as explicações respectivas, o frontispicio da obra inteira, a repetição das legendas das estampas, indices geraes dos no- mes scientificos e populares e indicações acerca duma defi- nitiva numeração das estampas, conforme principios syste- maticos, para os fins de encadernação. O acolhimento que esta magnifica publicação achou em todos os circulos scien- tificos, é o mais lisongeiro possivel, e o Museu pode orgu- lhar-se de possuir no seu cabedal scientifico uma obra tão preciosa. Serviço meteorologico O serviço meteorologico, que durante o anno transacto era confiado primeiro à Dra. Emilia Snethlage, depois (do mez de Abril em deante) ao Sr. Ernesto Lohse, que já an- teriormente tinha-se encarregado espontaneamente dos instru- mentos registradores, soffreu um certo transtorno pela installa- ção d'um maior numero de aquarios no terraço onde os instrumentos eram collocados, tendo-se finalmente de resolver a transferencia d'elles para um logar mais apropriado. Con- vinha aproveitar a occasião para reunir no mesmo local com os instrumentos de observação directa os apparelhos regis- 20 RELATORIO DE 1907 tradores. os quaes tinham sido collocados ao lado da officina de photographia. Resolvemos por isso construir um abrigo maior. que pudesse servir para todos os instrumentos me- teorologicos: o que se fez na área situada entre o edificio principal do Museu e as officinas, sob as janellas da biblio- theca. Em consequencia das más condições de insolação em que se achava a casinha meteorologica nos mezes anteriores à sua transferencia no logar actual, as observações ficaram um pouco prejudicadas, sendo de notar a elevação exage- rada da temperatura marcada pelo thermometro maximal. Esperamos que a nova collocação dos instrumentos dé re- sultados mais satisfactorios. Em consequencia da extincção do posto meteorologico do Instituto Lauro Sodré, o Exmo. Sr. Dr. Governador do Estado determinou que fossem entregues ao Museu os ins- trumentos que faziam parte d'aquelle observatorio. Muitos d'estes instrumentos achavam-se n'um estado que não per- mittia a sua utilisação immediata, sendo alguns, principal- mente os apparelhos registradores, mesmo completamente imprestaveis. Diversos instrumentos entretanto podem ser aproveitados, quer no observatorio do Museu, quer na Es- tação Experimental de Peixe-Boi, onde foi estabelecido um posto meteorologico pelo director d'aquelle instituto. Para a sua installação, o Museu forneceu em Junho os seguintes instrumentos: barometro, thermometros normal, maximal e minimal, hygrometro, pluviometro e ventoinha. Donativos O numero dos donativos (75) feitos ao Museu durante o anno de 1907 não foi inferior ao dos annos anteriores, tendo-se mantido quasi estacionario desde 1809. Entretanto, e de observar que ainda em 1898 o numero dos donativos foi de 145, isto é, o duplo da media alcançada nos ultimos G annos. Como de costume. a maioria dos presentes consiste em animaes vivos, merecendo especial menção os já citados no capitulo referente ao jardim zoologico. Entre os outros objectos offerecidos ao Museu, convem citar uma « bandeira de Japú» raridade ornithologica de inestimavel valor, pre- RELATORIO DE 190% 21 senteada ao Museu pelo Sr. Dr. Ferreira Teixeira, um couro de Tatú canastra (Prionodontes gigas), offerecido pelo Sr. José F. Antunes, diversas especies de plantas e amostras de bor- racha, caucho, etc., do Rio Araguaya. pelo Sr. Pedro Ma- Tinho; uma pequena collecção de orchideas, pelos Srs. Costa e Menezes, etc. Aproveitamos a occasião para exprimir aqui mais uma vez os nossos cordiaes agradecimentos a todos os doadores. Frequencia publica Segundo os apontamentos do guarda-portão, a frequen- cia do Museu e das suas dependencias fui a seguinte no anno transacto : lemeiro vu a, mosgã | osfulho e aos Eeyereimoa 6.497 Agosto na RE OS Manon O 1OAMA Setembro as dio GOO J8 10 Eid E RARE 9505 | Outubro Re 097 NATO SAR rd Er 6S5 IP Novembro- as 9.630 Punhos 213.787] Dezembro o = TE ToTraL—124.670 A progressão constante no numero de visitantes é com certeza uma das provas mais evidentes do apreço em que o nosso Museu é tido por parte do publico paraense. e do interesse sempre crescente que a população desta capital toma no desenvolvimento d'este instituto. Emquanto que em 1900, o numero de visitantes attingiu a 91.434: elle foi de 94.224 em 1905: 116.159 em 1906 e 124.670 em 1907! Que bella occasião de trabalhar na diffusão de conhecimen- tos uteis em largas camadas do povo! ty ty RELATORIO DE 1908 E! RELATORIO SOBRE A MARCHA DO MUSEU GOELDI NO ANNO DE 1908, apresentado ao Exmo. 8nr. Dr. Secretario do Estado da Justiça, Interior E INSTRUCÇÃO PUBEICA pelo Dr. J. HUBER, Director do Museu Pessoal Devido a diversas circumstancias, entre as quaes avulta a crise financeira que o Estado atravessou no anno relato- rial, ainda não foi possivel completar o quadro do pessoal scientifico do Museu. Tivemos mesmo de lastimar a perda do nosso excellente auxiliar scientifico da secção botanica Prof. C. F. Baker, que, principalmente por motivos de or- dem economica, julgou necessario rescindir o seu contracto, retirando-se em 25 de Julho para os Estados Unidos. Du- rante o tempo em que o Prof. Baker esteve no Museu, elle sempre mostrou-se um auxiliar zeloso e energico, do- tado d'uma força de trabalho excepcional, de forma que deixou marcada a sua passagem por este estabelecimento por numerosos serviços de utilidade incontestavel para o futuro. Felizmente podemos ter a esperança que a este tra- balhador infatigavel seja proporcionado, embora n'uma outra esphera de actividade, um campo de acção mais vasto e mais apropriado ao seu espirito de larga iniciativa. O logar de auxiliar da secção de botanica por ora ainda não ficou occupado, nem tão pouco o do chefe da secção geologica, vago desde o anno de 1904. to 90) RELATORIO DE 1908 No dia 2 de Fevereiro a Dra. Emilia Snethlage voltou de sua commissão à Europa. assumindo logo o seu logar de chefe da secção zoologica e a administração do jardim zoclogico. Junto com ella veio o Sr. Johann Baptist Haider, que pelo Governo do Estado foi contractado como primeiro preparador de zoologia. Infelizmente o Sr. Haider mostrou-se incapaz de preencher convenientemente o seu logar, quer pelo lado technico, quer pelo lado da disciplina do estabe- lecimento, de forma que a demissão que elle pediu para o fim ao anno foi acccita com satisfacção da parte da Directo- ria do Museu. Relativamente ao preparador da seeção botanica, Ro- dolpho Siqueira Rodrigues, e ao ajudante de preparador da secção zoologica, Sr. Oscar Rodrigues Martins, tenho ainda de repetir as propostas externadas no meu ultimo relatorio, sendo que os vencimentos do primeiro sejam equiparados aos do primeiro preparador de zoologia, e que o segundo seja promovido ao posto de segundo preparador. No quadro do pessoal administrativo houve o seguinte movimento : A segunda official D. Anna de Aragão Carreira obteve em Janeiro uma licença de 30 dias e em 25 de Junho uma de 4 mezes, para tratar de sua saúde no interior do Estado, sendo substituida no ultimo caso por D. Haydée Magalhães. Para igual fim, a outra official, D. Abigail Esther de Mat- tos foi licenciada durante o mez de Maio. Em 18 de Fevereiro vimo-nos forçados de dimittir, a bem do serviço, o servente do Museu Raymundo de Souza Leal, em cujo logar admittimos o cidadão Pedro José do Nascimento. Em 1 de Julho foi despedido do logar de ser- vente d» Jardim zoologico o cidadão Pedro Matheus de Car- valho, sendo nomeado para substituil-o Antonio Floriano de Vasconcellos. O quadro do pessoal do Museu Goeldi era o seguinte, no fim do anno 1905: Director honorario—Prof. Dr. Emilio A. Goeldi. Director —Dr. phil. Jacques Huber. 24 RELATORIO DE 1908 Pessoal scientifico: Chefe da secção zoologica-—Dr. phil. Emilia Snethlage. Auxiliar de zoologia, encarregado especialmente da ento- mologia— Adolpho Ducke. Chefe da secção botanica-O Director. Chefe da secção geologica-Vago. Chefe da secção ethnographica-O Director ( provisoria- mente ). Pessoal technico: Preparador de zoologia-NVago. 2.º preparador de zoologia-—Vago. . Ajudante de preparador —João Baptista de Sá. Ajudante de preparador-—-Oscar Rodrigues Martins. Preparador de botanica-Rodolpho Siqueira Rodrigues. Desenhista-lithographo, encarregado do serviço meteorologico — Ernesto Lohse. Pessoal administrativo: Officiaes Carreira. Porteiro—Balbino Anesio de Araujo. Continuo—Manoel Napoleão Lochard. Guurda-portão— Joaquim Francisco de Oliveira. Serventes—Joaquim Rodrigues Vieira, Antonio Pinheiro da Costa e Pedro José do Nascimento. Abigayl Esther de Mattos e Anna de Aragão Jardim zoologico: Guarda do jardim—Francisco Pereira da Silva. Serventes— Francisco Alfredo Alves e Antonio Floriano de Vasconcellos. Horto botanico: Jardineiro—José Marcellino Damasceno. Serventes —Francisco Queiroz e Manoel Gago. Viagens e excursões No anno relatorial foram executadas as seguintes ex RELATORIO DE 1908 to O cursões, com o fim de colleccionar objectos de historia na- tural: 1.)—Da Dra. Emilia Snethlage, chefe da secção zoologica, acompanhada do ajudante de prepa- rador Oscar Martins, à Estação Experimental de Peixe-Boi e aos campos de Quatipurú ( Fa- zenda Flôr do Prado), de Maio a Junho. .)—Do Sr. Adolpho Ducke, auxiliar scientifico da secção de zoologia, ao Estado do Ceará ( Ma- ranguape. Baturite. Guaramiranga, Quixadá, Hu- maytá ), de Junho a Setembro. 3.)—Da Dra. Emilia Snethlage, chefe da secção zoologica, acompanhada do ajudante de prepa- rador da secção zoologica (Oscar Martins, a Monte Alegre, Ererêé e ao rio Maecurú, até à primeira cachoeira, de Julho a Agosto. 4.)—Do Sr. C. F. Baker, auxiliar scientifico da secção botanica, a Irituia, em Julho. 5.)—Do Sr. Oscar Martins, ajudante de preparador da secção zoologica, a Monte Alegre e Ereré, em Setembro. 6.)—Da Dra. Emilia Snethlage, chefe da secção zoologica, acompanhada do ajudante de prepa- dor João Sá, aos rios Tapajoz e Jamauchim, de Outubro a Dezembro. -)—Do Sr. Adolpho Ducke, a Monte Alegre e Ereré, em Dezembro. [1] =] Todas estas viagens foram bastante fructiferas sob o ponto de vista das collecções reunidas, sendo a destacar principalmente a viagem do chefe da secção zoologica ao rio Jamauchim, affluente da margem direita do Tapajoz e a do auxiliar scientifico da mesma secção ao Ceará, ambas particularmente ricas em resultados quer zoologicos, quer botanicos. Como no anno precedente, os nossos emissarios encontraram no desempenho de suas commissões auxilio va- lioso da parte das auctoridades e dos particulares, entre as quaes merecem menção especial os Srs. André Goeldi, Di- rector da Estação Experimental de Agricultura pratica, Co- 26 RELATORIO DE 1908 ronel Cesar Pinheiro, Intendente de Quatipurú, Manoel Le- vino de Sá Pacheco ( Maecurú ), Antonio Bentes Paranatinga ( Santarem). Francisco Brasil (Jamauchim), Manoel Xisto Caetano Corrêa (Jamauchim), Dr. Francisco P. Caracas e Padre João Augusto da Frota (Guaramiranga, Estado do Ceara ). Terrenos e edifícios No ultimo trimestre do anno relatorial o Governo ad- quiriu o terreno e a casa de canto da travessa Q de Janeiro com a estrada Gentil Bittencourt, sendo-nos entregue a chave no dia 23 de Outubro. Ficou resolvido, em consequencia disto, de mandar-se demolir a casa baixa e pouco hygie- nica N.º 123, que fica contigua com o novo terreno e que serviu até 1007 de residencia ao chefe da secção botanica, e de fazer-se concertos na casa novamente adquirida, para tornal-a propria para servir de moradia aos empregados su- balternos do Museu e de seus annexos. No fim do anno re- latorial, estes serviços já se achavam bem encaminhados. Tambem iniciaram-se as obras para a continuação do muro exterior da travessa Q de Janeiro até o canto da estrada Gentil Bittencourt e d'ali até o actual limite occidental dos terrenos do Museu, nos fundos do jardim. Assim o Exmo. Sr. Dr. Augusto Montenegro concluio a serie de melhora- mentos por que passou o Museu Goeldi sob a sua fecunda administração, tornando realidade uma aspiração fomentada desde muito tempo. Jardim zoologico Houve bastante movimento n'este annexo durante o anno relatorial. Quasi todas as gaiolas e viveiros soffreram concertos mais ou menos importantes, ou ao menos foram pintados de novo, de forma que o aspecto geral do jardim ficou bastante melhorado. De modificações e concertos mais relevantes temos de citar a mudança dum dos viveiros de passaros menores para logar mais apropriado, reboque a cimento das substrucções da jaula grande e das duas casas de mammiferos menores, subdivisão interna do viveiro das RELATORIO DE 1GOS 27. aves de rapina, pintura e renovação parcial da tela de arame de todos os viveiros da frente e das casinhas na parte posterior do jardim. Tambem quanto aos animaes houve bastante movimento. Entre as entradas mais importantes citamos uma bella onça preta de Marajó. uma pequena onça vermelha (offerecida pelo Commandante Pedro Souza). um macaco cuxiú ( Pithe- cia satanas), offerecido pela Sra. D. Maud Warren, um veado (Coassus nemorivagus ), offerecido pelo Exmo. Sr. Dr. Augusto Montenegro. um pirarucú ( Sudis gigas), offerecido pele Sr. Coronel Raymundo da Rocha Pereira ( Arumatheua), um maracajá-assú (Felis pardalis). offerecido pelo Senador Antonio J. de Lemos, um tamanduá bandeira (Myrmecophaga jubata), offerecido pelo Sr. J. Nickels, commandante do va- por «La Plata» uma, Hapale pygmaea, offerecida pelo Dr. Gentil Norberto, 2 Caiman latirostris (até aqui desconhecido da Amazonia), 32 exemplares de Lepidosiren paradoxa, to- dos apanhados n'um igapó proximo ao Museu, um puraque (Gymnotus electricus) de tamanho excepcional (2 m de com- primento ). * Nasceram no jardim diversos animaes: um Cebus apella, diversas garças pequenas (Herodias egreita) e Cararás (Plo- tus anhinga). A primeira vez observou-se no jardim a pos- tura de ovos e incubação na Penelope boliviana. Como em outros annos, os jabotys e os mussuans puzeram ovos, sem comtudo obter a reproducção. Se por um lado o anno foi de prosperidade para o Jardim zoologico, tivemos na segunda metade algumas per- das muito sensíveis a lastimar. Em poucos dias perdemos, pelo carbunculo, duas antas, uma onça vermelha pequena e a bella onça preta, a gloria do nosso Jardim zoologico. In- felizmente o caracter da molestia só se verificou depois da morte dos dois ultimos animaes em consequencia do consumo da carne infeccionada de uma das antas. Não pode haver duvida que a importação d'esta molestia perigosa deva ser attribuida aos urubús que costumam infestar o Jardim zoo- logico durante as horas quentes do dia, mostrando uma pre- dilecção marcada para o cercado das antas. Para livrar-nos d'estas visitas importunas e perigosas, não ha outro meio 28 RELATORIO DE 1908 senão de fazer-lhes uma guerra continua, matando-os a tiros de espingarda. Infelizmente elles acham nas arvores altas do Horto botanico um abrigo do qual é bem difficil expulsal-os. Os casos de carbunculo nos animaes do Jardim zoologico tiveram ainda a grave consequencia de ficarem atacados de pustula maligna dois empregados do jardim que tiveram de occupar-se com elles. Estes empregados logo foram isolados numa das dependencias do Museu e submettidos a um tra- tamento apropriado, ficando sob as vistas do director até o seu completo restabelecimento. Felizmente as medidas radi- caes tomadas para o saneamento do jardim tiveram o effeito desejado, não se verificando mais nenhum caso da terrivel molestia. Dos carnivoros maiores sobreviveram a este desas- tre uma onça vermelha, que ainda hoje gosa de saúde perfeita, e duas das onças pintadas antigas, um macho já velho e atacado d'uma molestia de pelle em estado muito adiantado, e uma femea tambem doente desde muito tempo. Ambas ficaram finalmente n'um estado tal, que tornou-se preciso matal-as para encurtar-lhes os soffrimentos e para poupar ao publico a vista d'elles. Ficou assim tambem facilitado o expurgo radical das jaulas desde muito tempo occupadas por estes animaes doentes. Quanto ás aves, ha outra desgraça a registrar. Perde- mos um grande numero de garças pequenas e de taquirys. em consequencia de intoxicação com tinta verde, provavel- mente devido a qualquer descuido do pessoal encarregado da pintura da grande voliére na frente do jardim. De todas estas perdas a mais sentida foi a da onça preta que durante a sua estada no Jardim zoologico consti- tuiu a maior attracção para o publico. Sob este ponto de vista tivemos ainda antes do fim do anno uma compensação inesperada, no offerecimento d'uma femea de chimpanzé ( Troglodytes niger ), presenteada pelo Dr. H. Wolferstan Tho- mas, em nome da Commissão de estudo da febre amarella da Liverpool School of Tropical Medicine. O referido ani- mal, unico sobrevivente de 4 companheiros trazidos da Africa occidental para experiencias de inoculação com a fe- bre amarella, foi offerecido ao Museu Goeldi depois de 2 annos de captiveiro em Manãos. Chegando em boas con- RELATORIO DE 1908 tQ O dições de Manãos, a chimpanzé foi provisoriamente agasa- lhada na jaula das onças. tratando-se logo da construcção de uma casinha especialmente apropriada para receber tão preciosa acquisição. Bem pode se dizer que de todos os ani- maes do Jardim zoologico, este goza actualmente do maior favor do publico. Devido á ausencia do chefe da secção zoologica nos ultimos tres mezes do anno, a estatistica do Jardim zoolo- gico só se fez até o mez de Outubro, dando o seguinte re- sultado : Reyeneiror E PE Cos exemplanes! Niaticor a ti OS » ZEN ON TIÚLEE, 22 25d o RO » Maito Rits s a ns 600 » Junho: ulhor on » No Sto Re O USE NOS » Setembro ER 676 » Outubro moi » “Durante os primeiros mezes do anno diversos animaes destinados à Exposição Nacional do Rio de Janeiro foram depositados no Jardim zoologico até o dia de embarque. Esta colleeção foi completada com alguns exemplares dispo- niveis do proprio Jardim zoologico. Horto botanico Tambem n'este annexo reinou grande actividade, sendo effectuados diversos serviços importantes. Concluiu-se o ajar- dinamento do terreno em frente do monumento Ferreira Penna com a plantação de arvores e arbustos das familias de Rubiaceas, Bignoniaceas, Acanthaceas, Verbenaceas, Apo- cynaceas, aproveitando-se o espaço restante para alguns re- presentantes das Moraceas, Anonaceas, Leguminosas, Burse- raceas e Sterculiaceas e de outras familias, para as quaes não sobrou logar bastante na parte oriental do jardim. En- tremeadas com estas arvores, plantaram-se ainda numerosas palmeiras, entre as quaes convem citar o Uauassú ( Orbignia 30 RELATORIO DE 1908 speciosa), a Pachiuba barriguda (Triartea ventricosa), o Jacy (Attalea Wallisii) o Caiaué (Elaeis melanococca), e o Assai do alto Amazonas (Euterpe precatoria), todos do rio Purús, assim como duas especies de Bacaba (Oenocarbus bacaba e O. minor), de Manãos. À parte central em frente do monu- mento deixou-se livre de arvores, para obter-se uma vista aberta do lado da avenida da Independencia. E" esta a unica parte do jardim que permitte ainda o cultivo de flóres em canteiros. Nos fundos d'esta parte occidental do jardim fize- ram-se bancos para um segundo viveiro, especialmente des- tinado às plantas economicas (arvores fructiferas, etc.) e construiu-se um telheiro parcialmente coberto de lona, para os serviços de propagação. Encostado ao muro posterior da jaula de feras construiu-se uma casinha para abrigo do car- pina, com um quarto fechado destinado a receber as ferra- mentas do Horto botanico. Todas estas construcções foram feitas pelo pessoal do Museu, sob a direcção do chefe e do auxiliar do secção botanica. Na parte oriental do horto, que pelo crescimento das arvores está se transformando pouco a pouco em matta, foi necessario fazer umas pequenas modificações para facilitar o accesso ao monumento de Spix e Martius, que occupa a praça redonda primitivamente assignada ao viveiro dos jaca- rés e occupado até aqui por um canteiro. No jardim de experiencia foi feito, alem de outras culturas experimentaes, uma plantação de tabaco das melho- res variedades de Cuba, trazidas pelo Sr. Baker, para pro- ducção de sementes destinadas à distribuição entre os lavra- dores. Na horta fizeram-se tambem experiencias, p. e. com diversas variedades de feijão, melão, tomate e pimentão, luctando-se entretanto com muitas difficuldades devido a ser o solo infectado de paquinhas e de nematodes. Muitas das sementes foram distribuidas durante o anno e diversas col- lecções de plantas foram cedidas a institutos e particulares, entre os quaes citamos o Instituto orphanologico do Outeiro, Estação experimental de Peixe-Boi, Frei Francisco Bigorre, em Conceição de Araguaya e outros. O numero de traba- lhadores do Horto botanico oscillou entre 15 e 28, sendo O) ja RELATORIO DE 1908 quasi constantemente alguns destacados em serviço de sub- stituição aos serventes do Jardim Zoologico. Collecções scientificas Secção zoologica, Devido à falta de espaço nas vitrinas da exposição, as novas acquisições de mammiferos e aves foram todas preparadas em pelles e incorporadas à collecção de estudo. Nos vertebrados houve os seguintes accrescimos, devidos em grande parte aos esforços do activo chefe da secção respec- tiva: Das excursões à Estação experimental de Peixe Boi e aos campos de Quatipurú (Dra. E. Snethlage e Oscar Mar- tins): 12 mammiferos, 287 aves, 15 reptilios e amphibios, 10 peixes; das excursões a Monte Alegre, Ereré e rio Maecurú (Dra. E. Snethlage e Oscar Martins): 8 mammiferos, 260 aves, 12 reptilios e amphibios, 25 peixes: “da excursão ao rio Tapajoz e Jamauchim (Dra. Sne- thlage e João de Sá): 25 mammiferos, 430 aves, 26 repti- lios e amphibios, 27. peixes; dos arredores de Belem e do Jardim zoologico: 40 mammiferos, 50 aves, 25 reptilios e amphibios, 60 peixes. A collecção entomologica recebeu um accrescimo impor- tante pela colheita do Sr. Ducke no Ceará, que comprehen- deu 1075 especimens, na maioria hymenopteros. Comprou-se ao Sr. de Mathan uma collecção de 950 insectos de diver- sos grupos. Do Dr. H. Friese, Schwerin ( Allemanha), recebemos cerca de 50 especies de hymenopteros (em parte typos de novas especies) em troca de 17 especies de hymenopteros novos (classificados pelo nosso entomologista ) ou raros (du- plicatas ). Do Sr. P. Herbst, Concepción ( Chile ;, recebemos uma collecção de hymenopteros chilenos, em troca de hymenop- teros do Brasil (120 especies ). Com o Sr. R. du Buisson, do Museu de Paris, permu- 32 RELATORIO DE 1908 támos cerca de 40 especies de hymenopteros. com o Museu Paulista diversos hymenopteros e lepidopteros. O Sr. J. Brethes, do Museu de Buenos Aires, recebeu 130 especies de vespas ( duplicatas ). O Sr. A, Mocsáry, do Museu de Budapest, determinou especies de Pepsis, o Sr. E. Andre, Gruy (França), 70 es- pecies de Mutillideos. Secção botanica. O Herbario amazonico recebeu durante o anno relato- rial os seguintes accrescimes : Collecções do Prof. Baker no Horto bota- nico e nos arredores de Belem. . . . 177 numeros Excursão do mesmo ao rio Irituia. 20 ; Plantas de Marajó. offerecidas a Dr. Adol- pihgrEmizas * 22 » Excursão da Dra. E. Sine IE age a Monte: Ale- gre e ao rio Maecurú. . .. 69 » Excursão da mesma aos rios Enio e TES matuchim. ./ <- ARO qe paro 10. » “Collecções feitas por En SO O. Lima, na Estrada de “FP; de Bragança Se sa 266 » Excursão do Sr. A. Ducke, a Monte Ee ERP TEre E 1 PRN O sy to ER RR sd | E TS » MESAS AU o PEÃO: od or ATE ju AD é 62 » TOTAL o an gere Pp ce: POD A CA No fim do anno o Herbario amazonico comprehendeu 10146 numeros. O Herbario geral tambem não ficou estacionario. Elle recebeu um accrescimo de S35 numeros, dos quaes 723 pro- venientes da excursão do Sr. A. Ducke ao Ceará, 70 plan- tas de Nicaragua, offerecidas pelo Prof. Baker, e 32 plantas vasculares que faziam parte d'uma collecção de plantas da Patagonia e Tierra del Fuego, remettida ao Museu Goeldi pelas Botaniska Institutionen de Upsala. A colleeção cryptogamica comprehendeu, no fim do anno, 1083 especies, dos quaes 520 Bryophyta, 509 Fungi RELATORIO DE 1908 af) e 54 Lichenes. Os principaes accrescimos consistiam de 168 musgos presenteados pela Botaniska Institutionen de Upsala e de um grande numero de fungos colleccionados pelo Sr. Baker, principalmente no Horto botanico. Os fungos foram ainda classificados pelo Prof. P. Hennings, do Real Museu Botanico de Berlim, pouco antes de sua morte, que para nós, como para outros, significa uma perda bastante sensivel. As Uredinaceas foram determinadas pelo Prof. P. Dietel. de Zwickau ( Allemanha). os Lichenes pelo Dr. A. Zahlbruckner, de Vienna ( Austria), alguns Mus- gos pelo Prof. Brotherus. de Helsingfors (Finlandia), diver- sas Melastomaceas e Cucurbitaceas pelo Prof. A. Cogniaux, em Genappe (Belgica), as Menispermaceas pelo Prof. A. Diels, em Marburg ( Allemanha ). Com o fim de fazer fructificar o grande numero de duplicatas accumuladas em nosso herbario, e para obter material de comparação de outras partes da America tropi- cal, dirigiu-se no principio do anno uma circular aos prin- cipaes herbarios europeos e americanos, propondo a troca de plantas. Como a vinda do Sr. Baker, que tomou a inicia- tiva d'este emprehendimento, deixou ao mesmo tempo entre- vêr a possibilidade de fazer no futuro collecções mais avul- tadas e como muitos herbarios alias importantes não eram no caso de offerecer-nos em troca plantas da America tropi- cal, propuz-se a estas a acquisição das nossas duplicatas por compra, na esperança de obter assim meios pecuniarios para activar ainda mais a exploração botanica do região amazonica. Ao nosso appello responderam 20 herbarios, 6 dos quaes offereceram materias em troca. Em Junho fez-se a primeira remessa, 2229 numeros ao todo, distribuidos en- tre 13 herbarios, preparando-se logo outra remessa, que en- tretanto não chegou a ser expedida, em consequencia da retirada do Prof. Baker. E” materialmente impossivel para o Director só, de continuar este serviço que exige grande somma de trabalho e muito tempo; restringindo porem a distribuição aos herbarios que podem mandar em troca col- lecções de plantas sulamericanas. será talvez possivel fazer ainda alguma coisa n'este sentido. Entre os grandes herba- rios, que nos offereceram duplicatas, o do British Museum 34 RELATORIO DE 1GOS será para nós de grande auxilio, pelas collecções importan- tes de Spruce, Gardner, Miers, etc., que elle ainda possue em duplicata. Para dár ao herbario um aspecto mais agradavel e para facilitar ao mesmo tempo a classificação das familias, mandaram-se pintar de novo as latas de folha, juntando-se logo o nome da respectiva familia, com um numero de or- dem em letras grandes na face anterior da lata. Assim mesmo um exame superficial do nosso herbario já permitte fazer-se uma idéa da importancia relativa das familias representadas na região amazonica. O crescimento do herbario tornou preciso a addição de mais duas estantes, que em falta de outro espaço foram collocadas no corredor. Alem do herbario. as cullecções botanicas tiveram pouco incremento. pelas razões já expendidas em relatorios anteriores e que podem resumir-se na eterna formula: falta de espaço. A secção mineralogica e geologica enriqueceu-se duran- te o anno relatorial com varias amostras de pedras offe- recidas por particulares ou colleccionadas nas commissões do pessoal do Museu. De uma certa importancia sob o ponto de vista geologico são algumas amostras de pedra calcarea achadas pelo Sr. André Goeldi, Director da Estação Expe- rimental de Agricultura pratica de Peixe-Boi, n'uma excava- ção feita alli para um poço, e cujo exame provisorio mos- trou a existencia, embora em pequeno numero, de fosseis cretaceos identicos aos do cretaceo de S. João de Pirabas, provando assim a extensão d'aquellas camadas fossiliferas sobre uma area bastante grande. A secção ethnographica não recebeu accrescimo digno de nota durante o anno relatorial. Bibliotheca O cargo de bibliothecario. que durante a maior parte do anno 1907 e o principio de 1908 se achava vago, con- fiou-se em Junho ao Sr. C. F. Baker, que emprehendeu a reorganisação d'este departamento com a energia que o caracterisa. Infelizmente porem a reorganisação ficou em (08) O RELATORIO DE 1908 meio caminho, o que não deixou de trazer consequencias deploraveis, visto a difficuldade de reconhecer-se agora na nova ordem das coisas. Como a nossa bibliotheca, já por conveniencias de serviço, já por causa de falta absoluta de espaço na sala respectiva, se acha em parte distribuida pe- los gabinetes dos chefes de secção, a sua administração se torna sobremodo difficil e precisaria bem de uma pessoa ex- clusivamente occupada n'este mister, tanto mais que uma grande parte das publicações recebidas tem um caracter periodico e exige uma vigilancia e um trabalho constante para ser mantida em boa ordem. E' verdade que uma das officiaes está ao serviço da bibliotheca, mas como ella ainda tem outras obrigações e como muitos serviços exigem co- nhecimentos linguisticos bastante extensos e uma certa fami- liaridade com as respectivas disciplinas, a faíta d'um biblio- thecario faz-se sentir bastante. Isto mostrou-se, por exemplo, por occasião duma requisição da Directoria Geral de Esta- tistica. à qual era impossivel fornecer os esclarecimentos minuciosos que ella exigia sobre a nossa bibliotheca. E' claro que: o nosso pessoal scientifico tem outra cousa de fazer do que elaborar uma estatistica minuciosa da nossa bibliotheca. O augmento da nossa bibliotheca durante o anno rela- torial pode-se calcular em 400 volumes approximadamente. N'este numero entra uma collceção de publicações norte- americanas sobre botanica e zoologia, presenteada ao Museu pelo Prof. C. F. Baker. Foram encadernados 249 volumes. Fizeram-se mais duas estantes grandes de livros, das quaes uma foi collocada no gabinete de trabalho do director, a outra na secção de geologia. Publicações No mez de Fevereiro appareceu o primeiro fasciculo do quinto volume do « Boletim », contendo 241 paginas de texto e oito estampas, alem de algumas figuras no texto. Era pensamento nosso acabar no mesmo anno a impressão do 2.º fasciculo, concluindo com elle o quinto volume, po- rem não foi possivel executar este nosso programma, devido a circumstancias imprevistas, entre as quaes avulta a morte inesperada do Sr. Carlos Wiegandt, chefe da casa Wiegandt, 36 RELATORIO DE 1908 em cujus oficinas o nosso « Boletim » é impresso. Entretanto foi possivel continuar a impressão sem demora excessiva, ficando ella bastante adiantada até o fim do anno. Já entra- ram em circulação os extractos dos seguintes trabalhos que fazem parte d'este fasciculo : P. Hennings—Fungi paraenses III. P. Dietel—Uredinaceae paraenses. À. Zahlbruckner.— Lichenes amazonici. ( Materialien zu einer Flechtenflora Brasiliens ). J. Huber—A Hevea Benthamiana Muell. Arg. como fornece- dora de borracha ao N. do Amazonas. J. Huber— Sobre uma nova especie de Seringueira, Hevea collina Hub. e as suas affinidades no genero. À. Cogniuux.— Melastomacées et Cucurbitacées nouvelles de la vallée de | Amazone. Ainda foram publicados pelos funccionarios do Museu, no curso do anno passado, os seguintes trabalhos : J. Huber. —O Cacão, por Simão da Costa, segunda edição augmentada. Monographia publicada por ordem do Exmo. Sr. Dr. Augusto Montenegro, Governador do Estado. E. Snethlage.— Eine Vogelsammlung vom Rio Purús, Brasi- lien. Journal fuer Ornithologie, LVI. Jahrg. Heft Ip. 7-24, com um mappa. E. Snethlage.—Ornithologisches vom Tapajoz und Tocantins. Journal fur Ornithologie, LXI. Jahrg. Heft IV, p. 493-539. Serviço meteorologico As observações meteorologicas foram regularmente fei- tas pelo encarregado do serviço meteorologico, Sr. Ernesto Lohse, e communicadas diariamente à imprensa. Em conse- quencia da extincção do observatorio meteorologico do Ins- tituto Lauro Sodré. sollicitou-se ao Museu a remessa das médias mensaes das nossas observações para o « Boletim mensal de Estatistica demographo-sanitaria », publicado pela RELATORIO DE 1908 37 Directoria do Serviço Sanitario do Pará. Como para corres- ponder a este pedido era necessario calcular as medias no fim do mez, resolvemos approveitar este serviço, para orga- nisar depois do fim do anno e aqui mesmo uma synopse das observações do anno inteiro, serviço este que até aqui foi feito em Vienna, por especial obsequio do Prof. Julius Hann, primeira auctoridade em materia de meteorologia. E” ver- dade que não podia-se desejar uma pessôa mais competente para tomar conta das nossas observações do que o sabio professor de Vienna e devemos a elle toda a nossa gratidão para os serviços, que elle prestou a ao Museu pela publica- ção das nossas observações nos seus trabalhos intitulados : « Zur Meteorologie des Aequators », mas me parece que te- mos tambem o dever de approveitar aqui mesmo as nossas observações, dando-lhes promptamente a publicidade mais extensa possivel. Aliás uma coisa não exclue a outra, e a sciencia só ganhará com a utilisação intensiva d'estas obser- vações (cf. annexo III). Inauguração dos monumentos de Ferreira Penna e de Spix e Martius Já no meu ultimo relatorio mencionei a offerta feita ao Museu pelo Exmo. Sr. Governador do Estado, de um mo- numento perpetuando a memoria ao illustre scientista mi- neiro Domingos Soares Ferreira Penna, que como presidente da Associação philomatica foi em 1867 o principal instiga- dor da fundação do Museu Paraense de Historia natural e Ethnographia e mais tarde o seu primeiro director. Este monumento, um busto de bronze sobre um pedestal de gra- nito do Rio de Janeiro, foi encommendado pelo Exmo. Sr. Dr. Augusto Montenegro ao reputado esculptor brasileiro Rodolpho Bernardelli, que em fins de 1907 concluiu a sua obra. Em principio de 1908 o monumento ficou prompto no seu logar competente, no centro de uma praça na parte oriental do Jardim botanico (jardim novo ); estando porem prestes a chegar da Europa o monumento de Spix e Mar- tius, resolveu-se esperar a erecção d'este, para inaugurar os dois monumentos conjuntamente, 38 RELATORIO DE 1908 O busto do Dr. Ferreira Penna é um pouco mais do tamanho natural e segundo o testemunho de pessoas que conheciam o mestre, elle representa com flagrante verdade os traços physionomicos do fundador do Museu Paraense. Sobre as 4 faces do pedestal Iêm-se as seguintes inscripções : na frente: D. S. Ferreira Penna 1818-1888, Iniciador da ideia do Museu Paraense; na face direita: Geographo e Elhbnogra- pho; nas costas: Filho da terra mineira, conhecedor profundo da natureza amazonica, onde viveu e morreu; na face esquer da: Mandado erigir pelo Governador Montenegro. A idea de perpetuar a memoria dos dois sabios bava- ros Spix e Martius, que tanto contribuiram para tornar co- nhecida no velho mundo a região amazonica, por uma placa ou uma pedra commemorativa, no meio do nosso Horto bo- tanico, era já ha muito uma aspiração do pessoal scientifico do Museu. Graças à iniciativa do meu illustre predecessor e actual Director honorario do Museu, Dr. Emilio A. Goeldi, que soube interessar para este projecto S. Alteza a Princeza Thereza de Baviera, membro da Academia de Sciencias de Munich, esta corporação scientifica tomou a si de presentear o Museu com um monumento que, executado pelo esculptor bavaro Karl Kiefer, excedeu todas as nossas expectativas e constitue um pendant digno ao busto de Ferreira Penna. Quanto à sua descripção, posso referir-me ao annexo I d'este Relatorio. O monumento chegou aqui no mez de Março, como porem as formalidades alfandegarias tomaram, como de costume, um tempo extraordinario, a erecção só foi pos- sivel em Junho. Em consequencia d'isto a inauguração dos dois monumentos foi marcada para o dia 22 de Junho, A solemnidade da inauguração houve logar às 4 horas da tarde, com a assistencia do Exmo. Sr. Dr. Augusto Monte- negro, Governador do Estado, Secretarios de Estado, Inten- dente de Belem e outras altas auctoridades, assim como d'um publico selecto e numeroso. Apezar de revestida da maior simplicidade e pouco favorecida pelo tempo, esta pequena festa occupará um logar saliente nos annaes do Museu Goeldi e não duvido que ella déixou tambem nos assistentes uma recordação agradavel. No segundo annexo d'este Relatorio RELATORIO DE 1908 39 dâmos um extracto da « Provincia » do dia 23 de Junho, re- latando os pormenores da inauguração. Exposições Pode-se dizer que este anno esteve sob a signatura das exposições. Já no fim de 1907 constituiu-se, sob os auspícios do Governo do Estado, a Commissão Promotora da Repre- sentação do Estado na Exposição Nacional de 1908, da qual o Director do Museu foi convidado a fazer parte. Como se tratava de assegurar ao Estado do Pará um logar honroso neste primeiro certamen nacional, e como o Museu podia contribuir pela sua collaboração a este fim, resolvemos de sahir por esta vez da reserva que o nosso estabelecimento costumava observar a respeito de semelhantes emprezas, par- tindo do principio, que sendo o Museu por si uma exposi- ção permanente, não era preciso nem conveniente desfalcal-o para enriquecer outras exposições. Afigurou-se-nos como norma de conducta que o Museu tinha antes a obrigação de concentrar os seus esforços no sentido de conseguir uma classificação scientifica dos productos da industria extractiva expostos pelos productores do interior do Estado, do que expôr productos proprios. Apezar do tempo muito escasso, disponivel para o preparo dos objectos. a participação do Museu na Exposição Nacional entretanto não se limitou a essa actividade puramente consultiva. Alem de contribuir com uma exposição completa das suas publicações e de um grande numero de photographias ampliadas mostrando as suas secçães e annexos, o Museu tomou parte activa nos grupos da borracha, das madeiras, e das plantas medicinaes, na primeira com um grande mappa, mostrando a distribui- ção das diversas arvores de borracha dentro dos limites do Estado, e a producção de borracha e de caucho de cada municipio durante o quatriennio de 1903 a 1906, e com uma serie de photographias mostrando as arvores de borracha cul- tivadas no jardim botanico e especimens de herbario de todas as arvores de borracha da região amazonica. Infelizmente este conjuncto, que teria constituido um bom complemento para a exposição de amostras de borracha bruta, foi, ao que 40 RELATORIO DE 1908 parece por falta de espaço, completamente desmembrado, de forma que perdeu inteiramente a sua significação. Seme- lhante cousa aconteceu com as collecções de âmostras de herbario das nossas principaes madeiras (36 especies) e de plantas medicinaes (26 especies), que ambas, em logar de serem collocadas junto com os productos extractivos corres- pondentes, ficaram d'elles separados para serem collocados junto á exposição das publicações do Museu. Para a secção de Agricultura o Museu forneceu uma collecção de plantas vivas, uma de animaes de caça e tres quadros representando a fundação d'um reino de saúbas por uma femea (tanajura ), em photographias ampliadas. Apezar da collocação defeituosa d'estes objectos, a exposição do Museu Goeldi foi bastante apreciada e obteve diversos premios de alta categoria. Se por conseguinte o objecto da nossa participação na exposi- ção não foi completamente alcançado, creio todavia que os esforços empregados não foram de todo inuteis quer para o credito do Estado quer para o desenvolvimento futuro do Museu. Mais uma vez ficou patente que o Museu poderia contribuir muito mais para a instrucção do povo se dispu- zesse de locaes mais appropriados e mais espaçosos. Ficou aliás combinado que todos os objectos, com excepção dos animaes e das plantas vivas, voltasem ao Museu para fazer parte das suas collecções de exposição. Mal tinha-se expedido as caixas para a Exposição Na- cional do Rio de Janeiro. quando recebemos o convite de tomar parte na Exposição Internacional de Borracha de Lon- dres, de 14 a 26 de Setembro de 1908. N'este caso tambem o tempo para a preparação dos especimens era curto demais, de forma que não podia-se pensar em occupar um logar sa- liente na exposição, tanto mais que o Governo do Estado, em vista da crise economica, não tinha-se reservado um lo- gar proprio. Assim o Museu acceitou o gentil offerecimento do Sr. Commendador Simão da Costa e da Associação Com- mercial, de expôr por seu intermedio os objectos seguintes: um mappa do Estado, egual ao enviado à Exposição Nacio- nal, 12 quadros representando plantas de borracha da Ama- zonia e os methodos de extracção usados no Pará, e final- mente um modelo de faca para'cortar a seringa, inventado RELATORIO DE 1908 41 pelo Director do Museu com o fim de substituir o classico machadinho. Alem d'isto foram diversas publicações sobre as arvores de borracha da região amazonica. O Director offereceu-se à Associação Commercial de classificar scientifi- camente as amostras de borracha que fossem apresentadas à exposição, mas como não houve amostras para classificar, deixou-se de fazer este serviço. Ambas as exposições. a de Londres como do Rio de Ja- neiro, têm mostrado que uma participação do Museu em se- melhantes emprezas é possivel e descjavel até um certo ponto, mas que o seu papel só pode ser bem preenchido quan- do elle pode contar, pelo lado material, com a collaboração dos productores de materias primas, que naturalmente devem ser os mais interessados na representação condigna do Estado nestes certamens. Donativos Temos a satisfação de registrar n'este anno um accres- cimo bastante sensivel no numero de objectos presenteados ao Museu, em comparação com os annos anteriores, sendo o total de 101, contra 75 no anno passado. Eis em ordem chronologica a lista das pessoas que of- fereceram presentes ao Museu durante o anno de 1908: Nomes dos doadores de 1908 1 Snr. Arthur Amaral dos Santos Bento 2 Snr. João Cunha 3 Menino Emanuel Huber 4 D. Maud Warren 5 Coronel Thomaz de Paula Ribeiro 6 Commendador Alvarez (2 vezes) 7 Snr. Martins 8 Snr. Carlos C. de Azevedo (2 vezes) 9 Commendador José Guimarães 10 Commandante Antonio R. Martins 11 Dr. Augusto Montenegro (2 vezes) 12 Sur. Alfredo Lamartine 13 Commandante Valle Guimarães 14 General Jacques Ourique (2 vezes) [E o ) [SA AS) DD DO DD DD DO ND IN SO OU po =] US) GS o [ea] -] RELATORIO DE 1908 Snr. Camillo Motta Snr. Antonio Gonçalves Bandeira Monsenhor Muniz Snr. José Reni Coronel João Victor G. Campos (4 vezes) Snr. José Ferreira Nunes Dr. Leite Carvalho Snr. Manoel Lopes Martins (5 vezes) Snr. Felippe Antonio Snr. Rodrigo Ramos Machado Snr. Herbert A. Riker D. Julia Snr. Joaquim de Souza Leal Snr. Emilio Hoffmann Coronel Raymundo da Rocha Pereira Snr. Autonio P. Ferreira Maranhão Snr. Bento Lobato de Miranda Commendador Simão da Costa (2 vezes) Snr, Djalma Ferreira Dr. Raymundo Vianna-(2 vezes) Barão de Tapajoz Snr, Maximiano Pereira Bessa D. Beatriz Montenegro Snr. Otto Bartels Senador Antonio José de Lemos Silva Santos & filhos (2 vezes) Snr. Josef Rosztrowski Coronel Maia Filho Snr. Benevenuto Ribeiro Commandante Pedro Souza Coronel Raymundo Cyriaco Alves da Cunha Commandante Jose Nascimento Snr. João Torres Tenente-Coronel Aureliano de Pinto Lima Guedes Snr. Andrews Snr. Feliciano Antonio de Paula Mile. Hortense Erni Sor. Aureliano Guedes Junior Desembargador Fernando Luiz Vieira Ferreira Snr. Raul St, Anna Snr. Francisco Ignacio Pereira Macambira Snr Guilherme Nelson Snr. Carl Czempic RELATORIO DE 1708 43 58" Snr. P. Mouraille (p. intermedio do: Snr. Antonio Chermont de Miranda) 59 Dr. Lyra Castro 60 Sur. João Pontes Torres 61 Major Manoel Felix de Souza Carmo 62 Dr. Brito Pontes (2 vezes) 3 Capitão de Fragata Carino de Souza Franco (2 vezes) 64 Snr. Antonio Lemos Sobrinho 65 Snr. Manoel Videira Braga 66 Sur. Manoel Ventura de Oliveira 67 Dr. Luiz Horta Barbosa 68 Snr. Francisco Vieira de Assis "69 JD. Anna de Vasconcellos 70 Desembargador Pessõa de Lacerda 71 Snr. Raymundo de Oliveira e Souza (2 vezes). “2 Tenente-Coronel Sabino Henrique da Luz 73 Snr. José Dorio Gondim 74 Dr. H. Wolferstan Thomas 75 Commandante J. Nickels 76 Dr. Gentil Norberto É 77 Dr. Torreão Roxo “8. Snr. Juvencio do Nascimento 79 Snr. Francisco Augusto dos Santos 80. Estephanio Carneiro Ribeiro 81 Snrs. Pereira & C.” 82 Snr. Antonio José de Freitas Ramos 83 . Snr. Ernesto Mattoso S4 Snr. Annibal Gomes Soeiro & CG: Alem dos animaes vivos já mencionados temos de ci- tar, como particularmente valiosas, algumas offertas para a bibliotheca : uma collecção de. obras norte-americanas sobre zoologia e botanica offerecida pelo Prof. C. F. Baker, uma serie (infelizmente incompleta ) da luxuosa revista de Orchi- deas « Lindenia », pelos herdeiros do fallecido monsenhor João de Andrade Muniz, e alguns mappas hydrographicos da região costeira do Para, pelo capitão de fragata Carino de Souza Franco. Do Sr. Franci-co Augusto dos Santos, em Obidos, recebemos uma: collecção de insectos valiosos. Os marchantes Pereira & C.2 mandaram repetidas vezes quan- tidades avultadas de carne para o gasto do jardim 'zoolo- 44 RELATORIO DE 1908 gico. Aproveitamos a occasião para agradecer a todos estes amigos do Muscu as suas offertas. Frequencia A frequencia do Museu e dos seus annexos durante o anno relatorial foi a seguinte, segundo os apontamentos do guarda-portão : Maneira ando pb; Bida = Julho DRESS RS SAS Eevereino AE)» = dOMOS INB OSNO: nussa ese Ih a Marços Sara de + pasaa Mp X13—15 mm) vel pressione mutua leviter poly- edricae. stylo brevi persistente rostratae nigrae gla- brae, sepalis ovatis obtusiusculis 2—5 mm longis pe- talisque 5 mm longis apice profunde emarginatis vel bifidis indusiatae. mesocarpio pulposo laxeque fibroso, putamine late depresso vel transversaliter ellipsoideo, tomentoso. '* Species gracilis, spadice simplice, foliorum seg- mentis subaequaliter late lanceolatis caudatis B. Gas- tonianae Barb. Rodr. affinis videtur, sed spinis stra- mineis brevioribus. fructibus depressis aliisque carac- teribus optime distincta. -Hab. ad fl. Capim inferius, in silvis recentioribus (ca- pueira alta) ad Approaga (473) et St. Anna (710), VI 1897 led Buber: Moraceze Cecropia robusta Hub. nov. spec. Arbor pro genere robusta, ramis fistulosis formi- cis inhabitatis. Folia ampla utrinque viridia insigni- ter peltata orbicularia, infra medium 7-lobata, pe- tiolo ad 30 cm longo satis crasso haud profunde sul- cato-striato scaberulo ad apicem hispido, lamina co- riacea ad 2/3 vel 3/5 divisa, sinubus obtusiusculis, lobis rotundato-obovatis (lobo medio 22 cm lato et 24 em longo, inferioribus brevioribus) apice obtusis vel hreviter obtusiusculeque acuminatis paucinerviis, nervis 2 1/2—3 cm distantibus (in lobo medio 7—9 utrinque ); facie superiore obscure viridi vel fusces-' cente oculo nudo glabra sed tactu scaberrima, pa- gina inferiore pallidiore ubique molliter pubescente. 62 NOVITATES FLORA AMAZONICA Stipulae vaginantes extus rubrae. Inflorescentiae ( fe- mineae solum visae) elongatae pendulae, pedunculo receptaculis vulgo longiore apicem versus hispido, spatha extus rubra sparse hispida vel glabrescente cir- citer 18 cm longa, acuminata. Receptacula 4 brevi- ter crasseque stipitata elongata (spatha delapsa cir- citer 14 cm longa, 4 mm lata). Florum Q Q apices prominentes glabri subhemisphaerici, stigmata brevi- ter penicillata aurantiaca. Hab. ad fl. Amazonum inferius frequens, imprimis in locis campestribus frequenter inundatis, II 1G04 leg. J. Huber (H.A.M.G. 4169). Esta especie de Imbauba. com folhas verdes de ambos os lados, é muito frequente ao longo do Baixo Amazonas. Muitas vezes ella se acha misturada com a C. paraensis Hub., que se distingue d'ella de bem longe pelas folhas brancas por baixo. Vista de mais perto, ella mostra tambem diffe- renças notaveis na forma das folhas que são mais profunda- mente lobadas que as de C. paraensis, e no porte, que em geral é mais robusto do que n'esta ultima especie. Nos logares abertos e expostos ao vento. no meio dos campos por exem- plo, é sempre a C. robusta que se acha de preferencia, às vezes com exclusão da outra especie. Cecropia bifurcata Hub. nov. spec. Arbor mediocris myrmecophila. Folia utrinque vi- ridia ampla orbicularia, insigniter peltata, ultra me- dium 6-—S8-lobata, petiolo lamina aequilongo crasso insigniter sulcalo-striato glabro, lamina subcoriacea ad 2/3 vel ultra divisa infra sinus complicata lobisylatis- sime cuneato-obovatis apice abrupte acuteque acumina- hs, lobo medio circiter 24 cm longo ad basin 13 cm, supra medium 17 cm lato, nervis secundariis 7—Q (vix 2 cm inter se distantibus ), pagina superiore in sicco castanea glabra laevi, inferiore pallidiore secus : nervos venasque minutissime tomentella et insuper ner- vis pilis paucis maioribus apice incurvis inspersa. Stipule vaginantes extus rubrae. Inflorescenciae ( femi- Balé NOVITATES FLORA AMAZONICA 63 neae solum visae) elongatae, pendulae, pedunculo amenta vulgo aequante rubescente aspero (20 em lon- go) apicem versus pilis paucis insperso. Spatia extus rubra tenuiter araneosa breviter acutata. Receptaculum bifurcatum, furcis circiter 1 cm longis amenta bina elongata (post spathae delapsum mox ad 20 em longa vel longiora) gerentibus. Florum: Q Q apices glabrae applanatae, vix supra tomentum niveum pro- minentes. Stigmata penicillata miniata. Hab. ad flumen Purús inferius, .locis tempore pluvioso inundatis, 13/]Jl 1904 leg. J. Huber (H.A.M.G. 4184). Esta especie substitue-se à C. robusta, no baixo Purús e-provavelmente tambem no Solimões. Ella differe d'esta es- pecie pelas suas folhas menos coriaceas, de lobulos acumi- nados, pela face superior lisa das folhas e pelas suas inflo- rescencias duas vezes bifurcadas. Nas praias do baixo Purús ella cresce junto com a Cecropia stenostachya Warb., que substitue-se ali da mesma forma à C. paraensis como a C. bi- furcata toma o logar da C. robusta. Cecropia laetevirens Hub. nov. spec. Arbor mediocris myrmecophila. Folia utrinque viridia ampla orbicularia insigniter peltata ultra me- dium 8-—10-lobata, petiolo lamina aequilongo modice crasso insigniter sulcato-striato glabro, lamina subco- riacea ultra 2/3 divisa infra sinus complicata, lobis late cuneato-obovatis abruple aculissimeque acuminatis (inferioribus 3 vel 4 exceptis ), lobo medio in specimi- bus minoribus circiter 20 em longo, basi circa 9 cm, supra medium circa 14 cm lato, nervis secundariis 10, vix 2 em distantibus, lobis posterioribus decrescen- tibus apice rotundatis, pagina superiore laete viridi, in sicco castanea glabra laevi, inferiore paullo palli- diore glabra vel secus nervos minutissime puberula. Stipule vaginantes maxime pallide virides glaberri- me. Inflorescentiae (femininae solum visae) elonga- tae pendulae, pedunculo receptaculis vulgo breviore. Receptacula vulgo 5 brevissime pedicellata vel sub- 64 NOVITATES FLOR AMAZONICA sessilia elongata ( post spathae delapsum ad 15 em longa 6 mm lata. demum ad 30 cm longa et 12 mm crassa). Florum 9 Q apices glabrae depresse pyra- midatae vix supra tomentum niveum prominentes. Nucula (haud plane matura) plus minus ellipsoidea leviter incurva 2 mm longa 1 mm crassa laevis cas- tanea. Habitat frequentissima in littoribus sabulosis, « praias » dictis. fluviorum Purús superioris et Acre, 28/IHI et 17/IV 1904 leg. J. Huber (H.A.M.G. 4237 & 4522). Esta especie cresce tambem junto com a C. stenosta- chya, porém nas praias do alto Purús e do Acre, onde ella é excessivamente frequente. formando ás vezes Imbaubaes com- postos quasi exclusivamente desta especie. Não ha duvi- da que esta especie pertença ao mesmo pequeno grupo que as duas precedentes, mas ella distingue-se ao primeiro golpe de vista pelas estipulas vaginantes muito grandes, verde-claras (não encarnadas) e completamente glabras. Toda a arvore impressiona a vista pela côr verde clara de sua folhagem. Para a physionomia vegetal das beiras do alto Rio Purús e do Acre, esta Imbauba é talvez a arvore mais importante. Cecropia paraensis Hub. nov. spec. Arbor mediocris myrmecophila. Folia ampla or- bicularia peltata, breviter Q-lobata, petiolo laminam aequante canaliculato hirsuto (imprimis facie supe- riore), lamina coriacea vix ad 1/4 divisa lobis su- perioribus semiorbicularibus. 10—13 cm diametro me- tientibus sinubus acutis, inferioribus minoribus sinubus apertis. pagina superiore scaberrima, viridi, pagina inferiore nervis hamato-pilosis et venis minutissime puberulis fusco-rubris exceptis niveo-tomentosa. Sti- pulae vaginantes extus sparse villosae. Inflorescentiae masculinae amentis numerosissimis tenuibus instructae. Inflorescentiae femineae pedunculo arcuato 8 cm longo sparse villoso insidentes, ante anthesin spatha acuminata 13 cm longa dense niveo-tomentosa inclu- NOVITATES FLORZ AMAZONICA 65 sae, quaternae aut quinae, sessiles, ad anthesin 12 cm longae 5 mm crassae, florum QQ apices liberi paulo applanati, stigmata penicillata aurantiaca. Nu- cula brevis crassa (2 mm longa 1 1/2 mm crassa) uniteraliter valde gibba. minute tuberculata et pilo- sula. Species C. stenostachyae Warb. (ex Ule, Herb. Bras. 5834), proxime affinis, differt imprimis foliis subtus et spathis niveo-tomentosis, amentis femineis multo lon- gioribus gracilioribusque et nuculae conformatione. Hab. ad littora fluminis Amazonum inferioris, 16/HI 1909 leg. A. Ducke (H.A.M.G. 10199). Cecropia distachya Hub. nov. spec. Arbor elata internodiis excavatis formicis inhabi- tata. Folia ampla discolora orbiculata peltata pro- funde septemlobata, petiolo lamina aequilongo sulcato- striato tota longitudine breviter albo-hirsuto, pulvi- nulo basilari atro-fusco, lamina coriacea usque ad 2/3 et ultra divisa, lobis late obovatis apice obtusis vel rotundatis, lobo medio in folio minore ad 18 em longo paulo supra medium 12 cm iato, nervis secun- darás 1 1/2 cm inter se distantibus, pagina superiore leviter araneosa cito glaberrima laevis venulis den- sissime reticulatis areolata, pagina inferiore viridi- incana nervis venis venulisque densissime reticulatis subglabris, parenchymate solum tenuiter albido ara- neoso-tomentoso. Inflorescentiae femineae pendulae breviter (3 cm) pedunculatae, pedunculo transverse compresso glabro, receptaculis binis sessilibus, fructi- feris 10 cm et ultra longis, 1—1,5 cm crassis. Apr ces florum femineorum breviter conici. Nucula qua- drangulari-oblonga valde compressa (3 3/4 mm longa 1 3/4 mm lata) atro-fusca lucida medio depresso-tu- berculata. Species imprimis receptaculis distachyis nuculisque subangulatis valde compressis ad medium solum de- presso-tuberculatis insignis, 66 NOVITATES FLORE AMAZONIC £ Hab. in silvis Paraênsibus prope capitalem (St. Izabel) X 1906 leg. A. Goeldi (H.A.M.G. 7728). A Cecropia distachya é, como a especie maior C. Jura- nyiana Al. Richt., uma «Imbauba da matta », isto é uma especie que se acha de preferencia dentro e na beira da matta, e não nas roças, a menos que estas sejam de re- cente data e circumdadas de matta virgem. Para distinguil-a da C. Juranyiana, que tem folhas verdes de ambos as lados, chamam-lhe ás vezes de « Imbauba branca », nome que é tam- bem applicado à C. palmata Willd. (?), especie frequente nas capueiras dos arredores de Belem e da Estrada de ferro de Bragança. NOTA: A planta que, sempre com uma certa reserva, chamamos aqui C. palmata Willd., foi por nós distribuida sob o nome de C. obtu- sa Tréc. (H.A.M.G. nos. 7727 e 7778), porque julgavamos poder iden- tifical-a com esta especie melhor descripta na «Flora Brasiliensis ». Sendo porem os pedicellos parciaes das inflorescencias femininas mais curtas do que n'esta especie (2 mm em logar de 4 a 6 mm), e sendo tambem os fructos um pouco differentes, julgo que se trate antes da verdadeira C. palmata Willd. (indicada por Willdenow como crescendo no Pará), apezar do que sera provavelmente impossivel obter plena certeza sobre a identidade, em vista da falta de especimens authenticos e de uma descripção sufficiente. Brosimum acutifolinm Hub. nov. spec. Arbor elata, ramis cortice griseo longitudina- liter rugoso obtectis, ramulis strictis brevissime fusco-tomentellis. Stipulae 5 mm vix attingentes triangulari-lanceolatae acutae extus sericeae caducae. Folia disticha, petiolo ad 5 mm longo subtereti 1 1/2 mm crasso adpresse puberulo, lamina elliptico- vel obovato-oblonga (10—15xX(4—5 cm) apice vulgo longe acutissime cuspidata basi obtusiuscula firme membranacea vel subcoriacea margine leviter undu- lata vel interdum subdentata supra dense venoso-reti- culata in venis prominulis scaberula, subtus minus dense sed prominentius reticulata pilis minutis ni- tentibus induta, nervis secundariis gracilibus supra planis infra argute prominentibus. Receptacula bina, pedicellis ca. 6 mm longis puberulo- tomentellis sti- NOVITATES FLOR£ AMAZONICA 67 pata globosa anthesi ca. 7 mm, demum ad 1 cm diametro metientia, bracteis basilaribus paucis semi- orbicularibus ca. 1 mm latis patulis vel paulo reflexis, bracteis peltatis numerosissimis densissimis, diametro 0,5—0,7 mm metientibus, pilosulis pallide fuscis. flo- ribus femineis paucis (2-3) parte superiore im- mersis, stigmatibus 2 teretiusculis divaricatis brevi- ter exsertis. Species imprimis foliis elongatis acutissime cuspi- datis subtus pilosulis Insignis. Hab. in silvis primaevis ad viam ferream inter Belem et Bragança provinciae Pará, VII 1907 leg. A. Goeldi (H. AM.G. 8231). Brosimum paraênse Hub. nov. spec. Arbor elata ligno duro sanguineo. Rami cortice griseo plus minus squamoso obtecti, ramuli graciles flexuosi glabri. Stipulae angustae minutissime sparse- que pubescentes gemmas 1—2 em longas gracillimas longe et sensim acutatas efformantes. Folia satis densa glaberrima, petiolo ca. 5 mm longo subtereti rugoso supra canaliculato, lamina late ovata vel elliptica (7—10X3—5 em), apice distincte sed obtuse acumi- nata, basi rotundata vel brevissime subacutata mar- gine integra, coriacea vix nitidula, nervis secundaris a primario angulo quasi recto abeuntibus supra sub- immersis, infra cum rete venarum paullulum promi- nulis. Receptacula fructifera (haud plane matura ) breviter (ca. 5 mm) pedicellata deflexa ad 1 cm diametro metientia viridia, bracteolis peltatis pleris- que delapsis. Species glabritie, gemmis gracillimis, foliis latis co- riaceis, nervis secundariis patentibus insignis. Hab. in silvis primaevis ad viam ferream inter Belem et Bragança civitatis Pará, 5 VIII 1907 leg. A. Goeldi (ERAM IG 8320): Esta especie nos foi communicada com o nome de « Mui- rapiranga ». Parece entretanto que não é a verdadeira 68 NOVITATES FLORZ AMAZONICA « Muirapiranga ». Em todo caso ella possue uma madeira de cerne denso e bem vermelho. Recebi a mesma planta, só ao que parece especimens d'um exemplar mais novo, com folhas um pouco maiores, do Sr. Pedro Marinho, da Conceição do Araguaya, sob o nome de « Condurú de Sangue ». Myristicaceae Iryanthera elongata Hub. nov. spec. Rami nigrescentes cortice verrucoso obtecti, ra- muli novell innovationesque tenuissime ferrugineo- subsericei. Folia breviter petiolata, petiolo 7 mm longo 3 mm crasso glabrescente supra excavato, la- mina obovato- vel oblanceolato-oblonga 30 em vel ul- tra longa, supra medium ad 10 cm lata basi brevi- ter contracta vel rotundata, apice longius obtuseque acuminata, acumine plus minus falcato, pergamacea glabra, nervo medio supra prominulo aplanato, sub- tus valde prominente, secundariis 17—20 supra Im- pressis subtus prominentibus longe ante marginem tenuiter arcuato-anastomosantibus, minoribus brevio- ribusque interjectis, venulis evanescentibus. Inflores- centiae masculinae axillares a basi incrassata ramosa ferrugineo-puberulae, ramis paucis elorrgatis folium fere aequantibus (ultra 20 cm longis) interdum non- nullis brevioribus adjectis, nodulis floriferis interdum plus quam 1 cm inter se distantibus subsessilibus vel breviter (infimis saepe longius) pedunculatis, pedi- cellis gracilibus vix 2 mm longis, perigonio extus ferrugineo-tomentello anthesi 1 3/4 mm lato ultra medium in lobos late triangulari-ovatos obtusos divi- so, columna staminali brevissima, apice incrassata antheris brevibus ellipticis vix longiore. Species foliis longissimis 1. macrophyllae ( Benth.) Warb. similis, sed inflorescentiis longissimis et co- lumna staminali brevissima 1. paraênsi Hub. magis affinis. Hab. ad urbem Belem do Pará ad rivulos silvestres, 29 VI 08 leg. C. F. Baker n. 406 (H.A.M.G. 9489). NOVITATES FLOR£ AMAZONICA 69 “ Iryanthera densiflora Hub. nov. spec. Arbor mediocris ramis gracilibus apicem versus foliosis cortice griseo-fusco breviter rimoso obtectis, in- novationibus solum ferrugineo-tomentellis. Folia bre- viter petiolata petiolo 1—1 1/2 cm longo subtereti supra latiuscule et haud profunde canaliculato, lamina oblonga vel obovato-oblonga (15-—20X5—6 em) basi acutiuscula apice in acumen longiusculum sed obtusum sensim angustata pergamacea, nervo prima- rio supra prominulo subtus valde prominente, secun- daris 13-—15 supra impressis subtus prominulis, ante marginem evanescentibus. Inflorescentiae mascu- linae in axillis foliorum delapsorum vulgo binae cir- citer 5 cm longae satis densiflorae, axi sparse fer- rugineo-tomentella. nodulis paulo prominentibus sae- pissime 5-—10-floris, floribus graciliter pedicellatis pedicello 4 mm longo. bractca transverse elliptica ciliata. perigonio 2.5 mm longo campanulato extus sparse adpresse ferrugineo-puberulo ad medium di- viso, lobis late ovato-triangularibus acutiusculis cras- siusculis, columna staminali basi in pulvinulum in- crassata antheris ellipticis breviore. Affinis 1 juruensis Warb. ( Juruá ) et 1. grandiflo- rae Hub. (Rio Negro). imprimis foliorum forma et structura; differt autem foliis maioribus, inflorescentiis magis floribundis et antheris maioribus, ab 1. gran- diflora insuper floribus minoribus. Hab. in silvis primaevis ad viam ferream inter Belem et Bragança civ. Pará, 9 IX 1906 leg. Rodolpho Siqueira Rodrigues ( H.A.M.G. 9646 ). Lauracese Acrodiclidium aureum Hub. nov. spec. Arbor staturae minoris. Ramuli novelli rufo-tomen- telli, demum fusci subglabri vel leviter pruinoso-tomen- telli, cortice leviter aromatico. Folia opposita vel passim subopposita modice petiolata, petiolo ad 1 cm longo 70 NOVITATES FLOR£ AMAZONICA supra profunde canaliculato, lamina oblonga, foliorum superiorum fere lineari-oblonga (10—125(2,5—4 em) basi in petiolum contracta apice longiu-cule vel cau- dato-acuminata coriacea, supra adulta glabra immerse reticulata subtus pulchre aureo- vel plus minus cupreo- sericea subelevato-reticulata margine recurvulo. In- florescentiae in ramulis annotinis infra folia vegeta- tiva in axillis squamarum oppositarum enatae, foliis breviores paniculatae multi- et parviflorae, pedunculis fulvo-tomentellis, pedicellis (1 mm longis) floribus- que extus cupreo-sericeis. Flores ad anthesin 1.5 mm longi subglobosi, tubo intus tomentoso apice haud constricto lobis semiorbicularibus duplo longiore. Sta- mina exteriora sterilia ad squamulam glabram re- ducta, seriei tertiae solum fertilia filamentis dilatatis crassiusculis pilosis extus ad marginem glandulis bi- nis instructis, loculis antherarum duobus minutis ex- trorsis. Ovarium subglabrum in stylum aequilongum productum. Species ex aff. 4. brasiliensis Nees ( Amazonia ) et 4. foveolati Mez (Guiana gallica ), foliis oppositis aureo-nitentibus insignis; ab 4. chrysophyllo Meissn. foliis angustioribus floribus multo minoribus ovario subglabro differt. Hab. in silvis ad urbem Belem do Pará; ubi « Folha doirada » nuncupatur (H.A.M.G. 9353). Acrodiclidium gracile Hub. nov. spec. Frutex ramis gracilibus, novellis petiolis inflores- centiisque fulvo-tomentellis vel subsericeis. Folia sparsa vel opposita, petiolo gracili7—S mm longo vix 1 mm crasso supra anguste canaliculato, lamina oblongo- lanceolata, 4—9 ( vulgo 7) em longa, 1, 5—3 ( vulgo 2,5) cm lata, basi acuta apice anguste longeque sed obtusiuscule acuminata, supra glabra fuscescente, ve- narum rete vix prominulo, subtus pallidiore cinereo- vel fulvo-subsericea. Paniculae tenellae ( circiter 5 cm. longae ) ramulis unifloris vel apice umbellatim 3—5- NOVITATES FLORZ AMAZONICA 71 floris, pedicellis 3—4 mm longis superne incrassatis, floribus evolutis 3 mm longis. Calycis lobi breves ovati acutiusculi antheris breviter superati. Stamina 6 exteriora sterilia spathulata apice glabra, interiora 3 fertilia, filamento crasso antheris paulo augustiore sed triplo longiore, pubescente: glandulae filiformes filamentis dimidio breviores. Fructus (haud plane maturus ) globosus, calyce basi circumscisso coro- natus. Species 4. guyanensi Nees (Guyana, Rio Negro ) affinis, quo differt foliis minoribus subtus subsericeis, floribus tenujoribus. Hab. ad fl. Cauachy (Rio Capim), 8 VII 1897 leg. J. Huber (H.A.M.G. 964). Rosacex Licania ( Hymenopus) capinensis Hub. nov. spec. Arbor mediocris, coma densa. Ramuli stricti al- bido- vel leviter ochraceo-tomentosi. Folia maiuscula, petiolo brevi (1 cm longo) robusto supra medium distincte biglanduloso, lamina late elliptica vel levi- ter obovata (10—13>56-—S em), basi breviter im petiolum contracta apice rotundata vel leviter retusa breviter mucronulata, subcoriacea, adúlta supra fuscescente praeter nervum medium leviter impres- sum et albido-tomentosum glabra. subtus griseo- vel leviter ferrugineo-tomentosa. nervo primario secunda- riisque (10—13) prominentibus, venis maioribus pa- parallelis minoribusque dense reticulatis connexis. Stipulae connatae intrapetiolares petiolum subaequan- tes extus albido-tomentosae, intra glaberrimae atro- rubentes. Panicula terminalis ampla (20-30 em longa ), ramis validis strictis floribusque albido-tomen- tosis. Flores vulgo ternatim fasciculati remoti sub- sessiles bracteas bracteolasque ovatas acuminatas paulo superantes (4 mm longi). Calyx urceolatus lobis 5 anguste triangularibus acutis, intus pilis albi- a | to NOVITATES FLOR£ AMAZONICZ dis ab insertione staminum deflexis instructus. Petala (5) lobis calycinis vix dimidio breviora ovata obtu- siuscula margine dorsoque puberula, e basi (sicca) pulchre sanguineo-venosa. Stamina 15—20, omnia fer- tilia inaequalia, petalis breviora, basi in annulum con- crescentia. Stylus basi albo-pilosus, ovarium gla- brum. Species L. latifoliae Bth. (Obidos) forma et pu- bescentia foliorum affinis; in hac specie autem folia maiores, petioli glandulis destituti, pubescentia rufo- tomentosa, staminum fertiium numerus 5-8. Etiam L. rigida Benth., species cearensis, speciei nostrae affinis esse videtur. Hab. frequens in littoribus fl. Capim (Pará). VI 1897 leg; J. Huber. (HLA.M.G. 946). A Licania capinensis, chamada « Cutimandioca » pelos indigenas, é uma das arvores mais caracteristicas das var- zeas do alto Capim, destacando-se pela sua copa escura, de folhas largas. Na secção Hymenopus do genero Licania, ella occupa uma posição intermediaria entre a L. latifolia Benth. (do Estado do Pará) e a L. rigida Benth. (do Ceará). Hirtella purusana Hub. nov. spec. Ramuli graciles patenter ferrugineo-hispidi. Folia oblonga (10—18>x(4—6 em ) brevissime petiolata basi rotundata angustissime cordata apice cuspidata utrin- que (ad costam marginesque densius ) hispida, pagina inferiore glandulis paucis patellaribus inspersa. Stipu- lae filiformes ad 1 cm longae subpersistentes. Racemi terminales elongati (ad 20 em longi) graciles paten- ter hispidi. Flores modice densi breviter (vix 3 mm) pedicellati, bracteis 3—4 mm longis subulatis setoso- cihatis, vulgo basin versus biglandulosis, glandulis depressis, bracteolis tum indistinctis tum minutis su- bulatis saepe (sicut bracteae) glandula minima terminatis plus minus cum pedicello connatis. Caly- cis tubus brevis subsphaericus valde gibbus, lobis eo longioribus obtusis extus minutissime puberulis intus NOVITATES FLORZ AMAZONICA TS) margine et apicem versus tomentellis, reflexis, peta- lis obovato-oblongis apice obtusis basi cuneatim an- gustatis, staminibus vulgo 3, longissimis (ad 2 cm longis) glabrescentibus, ovario fauci inserto basin versus strigoso apice pilis albis longiusculis flexuo- sis Instructo, stylo staminibus acequilongo vel longiore gracillimo flexuoso usque ad medium longitudinis vel ultra barbato. Pubescentia inflorescentiae florumque structura ma- xime affinis H. pilosissimae Mart. et Zucc. (Rio Ja- purá ), qua differt fohis basi haud subacutis sed ro- tundatis cordatisque supra et infra aequaliter hispi- dis, racemis stricte terminalibus, staminibus longiori- bus. Hab. in silvis primaevis ad fl. Purús, 23 VI 1903 leg. Goeldi (ERAMEG: Sos): Hirtella cauliflora Hub. nov. spec. Arbuscula cauliflora myrmecophila ramis elongatis ramulis hispidis. Stipulae persistentes elongatae filifor- mes (ultra 2 cm longae ) setoso-ciliatae. Folia ampla ovato-oblonga (15—25xX(6—9 em), basi rotundata vel subcordata apice acutata et tenuissime caudato- acuminata rigide membranacea utrinque sparse pa- tenter hispido-setosa vel demum costa excepta gla- brescentia, nervis venisque supra et subtus prominen- tibus, petiolo brevi (1—1,5 cm ) supra partem inferio- rem arcuatam hispidamque utrinque vesiculis reni- formibus extus hispidis 1 cm longis sub laminae ba- sin aliquantum productis et illinc apertura munitis ins- “tructo. Racemi ad truncum fasciculati, brevissimi, axi ca. 1 cm longa glabra vel minutissima puberula (haud hispido-setosa ut in H. physophora ), bracteae subulatae 1,5 cm longae setoso-ciliatae, basin versus glandulis duabus sessilibus instructae, pedicellis gra- cilibus 5 mm longis, calycis tubo breviter cylindrico basi obliquo apicem versus leviter inflexo 2.5 mm lon- go glabro obloregis obtusis margine brevissime ciliatis — 4 NOVITATES FLORZ AMAZONICA extus praecipue apicem versus setis nonnullis rigidis conspersis caeterum glabris, petalis roseis oblongis tenuissimis fugacibus, staminibus 6, ca. 2,5 cm lon- eis glabris, ovario. supra medium tubi inserto apice breviter setoso, stylo basin versus piloso. Species myrmecophila H. physophorae Mart. et Zucc. (Alto Amazonas, Manãos) simillima, differt inprimis caulifloria, racemorum rhachi glabra, stami- nibus semper 6 (haud 7) ovario supra medium tubi inserto styloque piloso. Hab. in silvis ad fl. Oyapoc, 2 VI 1904 leg. A. Ducke (H.A.M.G. 4745). Hirtella Duckei Hub. nov. spec. Ramuli primum dense demum sparse hispidi. Sti- pulae subpersistentes subulatae ca. 1,5 cm longae. Folia ovato-oblonga vel + lineari-oblonga basi bre- viter cordata apice acuminata, petiolo brevissimo apice vesiculis globosis (8 mm diametro metienti- bus) extus hispidis folii lobis basalibus vulgo obtec- tis instructo, supra glabra, costa sparse setosa excep- ta, lucida aliquantum bullata, infra subopaca secus costas venasque laxe reticulatas arguteque prominen- tes hispidula, firme membranacea. Racemi in axillis solitarii vel bini (rariter fasciculati vel terminales) 10—18 em longi undique ferrugineo-hispidissimi, flo- ribus sparsis graciliter (4—5 mm ) pedicellatis, brac- teis subulatis pedicellos subaequantibus, calycis tubo oblongo distincte gibbo, lobis tubo haud multo lon- gioribus ovatis vel ellipticis dorso distincte carinatis carina dense setoso-hispida, caeterum glabris intus minutissime tomentella. Petala calycis lobis subdu- plo longiora obovato-oblonga obtusa. Stamina vulgo 5 glabra, ovarium faucem versus insertum undique setosum, stylo basin versus solum pilosulo. Fructus oblongo-obovoideus ( ca. 1,5 cm longus) apice trun- catus, niger, sparse hispidus. Species physophora myrmecophila, H. Guainiae NOVITATES FLOR AMAZONICA “1 [61 Spruce foliorum racemorumque figura simillima, differt autem racemis hispidissimis. alabastris costatis, peta- lis sepalis subduplo longioribus, staminibus haud 3, sed 5, ovario altius Inserto, Hab. in silvis ad fl. Japurá inferiorem, 14 IX 1904 leg. A. Ducke (H.A.M.G. 6756). vCouepia divaricata Hub. nov. spec. Arbor mediocris, coma densissima, ramulis graci- libus brevibus satis divaricatis cortice ferrugineo- fusco verrucoso obtectis. Stipulae caducissimae ( haud visae). Folia disticha patentia, petiolo 5 mm longo crassiusculo “erete supra anguste canaliculato, lamina elliptico- vel oblongo- vel obovato-lanceolata (7—11 >xX2—4 em), basi breviter cuneato-contracta apice longiuscuie cuspidata subcoriacea margine subrevo- luta supra glaberrima lucidula, infra tenuissime in-. cano-tomentosa, nervo primario supra prominulo, subtus valde prominente, secundariis (utrinque 10—12) supra impressis vel leviter prominulis subtus argute prominentibus, venis transversalibus supra levissime prominulis subtus evanidis. Inflorescentiae terminales et in axillis superioribus laterales paniculam compo- sitam foliatam satis divaricatam efformantibus, breves (4—5 cm longae 2 cm crassae) tenuiter viridi-incano tomentellae densiflorae, bracteis parvis caducissimis, ramulis brevissimis 2—5-floris, pedicellis 2—3 mm longis. Flores circiter 1 cm longi calyce extus Jn- cano-puberulo, tubo 5 mm longo 2 mm lato cylin- drico recto basi vix gibbo, intus glabro, fauce bre- vissime annulato vix piloso, lobis rotundato-obovatis vel obovato-subspathulatis circiter 3 mm longis, sta- minibus unilateralibus 5 mm longis, ovario summo fauci inserto obovoideo tenussime ochroleuco-tomen- tello, stylo ima basi solum brevissime barbato. Differt a C. lepiostachya Benth. ( Manãos), cui pro- xime affinis, imprimis ramis magis divaricatis tuber- 76 NOVITATES FLOR AMAZONICA culatis inflorescentiis magis floribundis, calycis tubo breviore latiore, fauce vix piloso, lobis latioribus. Hab. in silvis paraênsibus prope capitalem ( Bosque municipal), 14 V 1901 leg. J. Huber (H.A.M.G. 2030). Couepia divaricata Hub. var. strictiuscula Hub. Differt a typo inflorescentiis strictiusculis, calycis tubo longiore angustiore basi gibbo fauce latius an- nulato. lobis tubi medium haud aequantibus. Hab. in silvis paraênsibus ad viam ferream inter Belem et Bragança ( Estação Experimental « Augusto Montenegro »), 13 VII 1907 et 8 IX 1908 leg. Rodolpho Siqueira Rodrigues (H.A.M.G. 8274, GÓ44 ). Arvore muito alta, chamada « Macucú », como tambem diversas especies de Licania. Apezar da grande semelhança no habitus, nas folhas e no arranjo das inflorescentias, esta variedade distingue-se bastante do typo pela forma do tubo do calice, que é mais semelhante ao da Couepia leptostachya Benth. Couepia robusta Hub. nov. spec. Arbor altisssma (30 m). Ramuli stricti vel levi- ter curvati, novelli ferrugineo-tomentosi, adulti cor- “tice fusco obtecti. Folia densa ampla, petiolo circiter 5 mm longo crasso supra canaliculato tenuiter to- mentoso, lamina elliptico- vel obovato-oblonga (10—17 X4—7 em), basi rotundata vel saepius leviter cor- data, apice breviter setaceo-apiculata coriacea su- pra lucidula, nervo primario secundariisque (utrinque circiter 17) leviter prominulis, infra ferrugineo (vel passim cinerascenti)-tomentosa, nervo primario se- cundariisque argute prominentibus, venularum rete haud detergibili.; Inflorescentiae terminales singulae vel saepius binae, lateralibus interdum 1 vel 2 adjectis, vulgo 6—10 em longae robustae ferrugineo-tomentel- lae, ramulis brevibus (vulgo 5 mm longis) apice 2—3-floris, bracteis bracteolisque brevibus late ovato- NOVITATES FLORA AMAZONICA a | =] triangularibus caducissimis, pedicellis 35—5 mm lon- eis validis. Alabastra apice globosa. Flores (odorati) maiusculi extus ferrugineo-tomentelli, calycis tubo oblique tubuloso-campanulato 1 cm longo 4 mm crasso intus glabro fauce annulo villoso intrastami- nali instructo, lobis late ovatis obtusis vel rotundatis 8 mm longis intus ochroleuco-tomentellis, petalis al- bis sepalis vix maioribus ad basin et marginem so- lum ochroleuco-tomentellis, staminibus numerosis 15 mm longis in orbem incompletum dispositis, ovario fauce inserto dense ochroleuco-villoso, stylo 15 mm longo basi villoso. Species inter amazonicas valde peculiaris, inflores- centiis paniculatis robustissimis grandifloris insignis. Habitat in silvis paraênsibus ad viam ferream inter Belem et Bragança ( Timboteua ), 15 IX 1908 leg. Rodolpho Siqueira Rodrigues (H.A.M.G. 9651 ). Esta especie nos foi trazida com o nome vulgar de « Abiu rana». Não sei porque ella recebeu este nome, que geralmente é applicado ás especies do genero Lucuma. Parinarium Rodolphi Hub. nov. spec. Arbor altissima frondosa. Ramuli novelli dense ferrugineo-hirsuti demum glabrescentes cortice gri- seo-fuscescente rugoso obtecti. Stipulae 2—3 em lon- gae tenues extus sparse strigosae deciduae. Folia densa, petiolo brevi (5—7 mm), dense hirsuto, la- mina elliptica vel rarius leviter obovata (7—10 >xX3-—4 em) basi obtusa vel rotundata apice lon- giuscule acuteque cuspidata firme coriacea margine subrevoluta, supra glaberrima saepe lucidula, subtus ochroleuco-tomentosa, nervo primario supra impresso, subtus valde prominente ochraceo-hirsuto, nervis se- cundariis densis parallelis (ultra 20 utrinque) supra impressis subtus prominentibus. Inflorescentiae termi- nales (subterminali saepe adjecta) breviter panicu- latae et subcorymbiformes densiflorae, rufo-hirsutae, superne cymosae, bracteis ca. 7 mm longis ovatis 78 NOVITATES FLORA AMAZONICA acutis conchoideis extus parce sericeo-hirsutis ad mar- gines glabriusculis. calyce 8 mm longo, tubo turbi- nato-campanulato lobis triangulari- vel lanceolato-ova- tis acutissimis inter se leviter inaequalibus aequi- longo extus sparse subsericeo intus fauce pilis longis reflexis aureis induto. Petala lobis calycinis vix ae- quilonga ovato-lanceolata acuta. Stamina 7 fertilia haud exserta. Ovarium stylusque basi aureo-pilosi. Species P. montano Aubl. (Guiana gallica, Pará) proxime affinis, differt foliis coriaceis saepissime exacte ellipticis (haud ovatis), inflorescentiis magis condensatis ferrugineo-hirsutis (haud incano-tomen- tosis), lobis calycinis acutioribus. Hab. in silvis paraénsibus ad viam ferream inter Be- lem et Bragança ( Estação Experimental « Augusto Montene- gro»), 9 IX 1908 leg. Rodolpho Siqueira Rodrigues, In cujus honorem hanc speciem appellavi (H.A.M.G. 9648). Sclerolobium Goeldianum Yub. nov. spec. Arbor 15-ad 20-metralis vel altior, cortice griseo, coma densa, obscure viridi. Foliola in ramulis flores- centibus 2 —4-(saepius 3-) juga, petiolulo 4—5 mm longo crassiusculo, lamina ovato-lanceolata (7—12 X3-—4 em) basi rotundata subsymmeirica, apice acuta vel acuminata ( rariter obtusiuscula ), coriacea, supra clabra, subtus pube brevissima intertexta viridi- vel aureo-nitente, demum glabrescens, nervo primario - supra impresso subtus valde prominente, nervis se- cundariis tenuibus numerosis (12-15) supra vix, sub- tus tenuiter prominentibus. Panicula ampla flori- bunda, folia superans, rhachi ramisque breviter rufo- hirtulis, bracteis ovato-lanceolatis setaceo-acuminatis 5 mm longis, alabstra duplo superantibus, racemos juveniles apice comantibus longe ante anthesin deci- duis. Flores breviter pedicellati ( pedicello 1—1,5 mm longo) sepalis late ovatis conchoideis obtusis, extus tenuiter fulvo-vel cinerascenti-sericeis, 3 mm longis, petalis glabris basi filiformibus, apicem versus an- NOVITATES FLOR AMAZONICA 19 gustissime lineari-lanceolatis acutis, 3,5 mm longis, vix 0.2 mm latis. Stamina basi aureo-pilosa. apice elabra, ovarium sessile oblongum fulvo-pilosum. sty- lus glaber stamina paulo superans. Legumen oblon- gum valde compressum. Species a S. hypolenco Benth. ( Rio Negro ), folio- rum forma simili, petalis glabris apice lanceolatis, ab aliis speciebus foliis basi subaequalibus differt. Hab. frequentissima in ripis fl. Capim ( Pará), VI 1897 leg J. Huber (H.A.M.G. 692). Uma das arvores mais caracteristicas das beiras do rio Capim, onde ella é chamada « Tachi » ou « Tachizeiro ». Esta especie foi denominada em honra do nosso amigo Prof. Dr. Emilio A. Goeldi, Director honorario do Museu Goeldi, que em 1897 chefiava a expedição ao Rio Capim. v Sclerolobium paraênse Hub. nov. spec. Arbor excelsa coma frondosa. Ramuli fuscescentes striato-lenticellosi. Folia ampla 2-—4-juga petiolo te- rete 5 ad 8 em longo stipulis foliaceis breviter pe- tiolulatis vulgo unifoliolatis suborbicularibus ad 2.5 cm longis apice rotundatis brevissime apiculatis comitato, foliolis breviter (2--5 mm) crassiuscule petiolulatis, lanceolato-oblongis ad 18 em longis et 6 em latis, basi acutis vulgo satis anaequilateris apice obtusius- cule protractis vel plus minus acuminatis coriaceis glaberrimis, nervis venulisque utrinque prominulis vel subtus evanidis. Inflorescentiae terminales valde ramosae densae, cum calycibus tenuissime adpresse cinereo-puberulae. Flores brevissime (vix 1 mm ) pe- dicellati, calycis lobis minoribus coriaceis ovatis, maioribus (interioribus) ad anthesin 3 mm longis rotundato-ovatis subdiaphanis, omnibus extus tenuiter cano-sericeis basi intus villosis, petalis filiformibus albido-villosis, staminibus basi aureo- vel ferrugineo pilosis, ovario sparse piloso, stylo glabro. Species S. odoratissimo Benth. (Rio Negro sup.) 80 NOVITATES FLOR& AMAZONICA affinis, differt foliolis basi acutis floribusque brevissime pedicellatis, quo charactere medium tenet inter hanc speciem et S. denudatum Vog. (Bras. austr.). Hab. in silvis paraênsibus ad viam ferream inter capi- talem et Bragança ( Estação Experimental « Augusto Monte- negro»), 8 IX 1908 leg. Rodolpho Siqueira Rodrigues (H.A. M.G. 9642). Sclerolobium physophorum Iub. nov. spec. Arbor. Folia elongata brevissime petiolata, stipu- lis foliaceis sessilibus inaequaliter bifidis, petiolo 3—4 cm longo valde inflato et formicis excavato, rhachi subglabra supra canaliculata, foliolis 6—68- jugis breviter petiolulatis ( petiolulis 5 mm longis teretibus ferrugineo-pubescentibus vel tomentosis ), inferioribus 2-4 ovatis basi cordatis, superioribus oblongis vel late lineari-oblongis (10—15xX(3—5 em ) basi valde inaequaliter rotundatis apice satis abrupte caudato-acuminatis, firme membranaceis, utrinque densissime elevato-reticulatis, supra glabris, subtus tenuissime sericeis demum glaberrimis. Inflorescentia foliis brevior paniculata breviter ferrugineo-hirsuta, bracteis sine dubio caducissimis haud visis. Flores brevissime pedicellati vel subsessiles, calyce 4 mm longo extus puberulo, tubo brevissimo subhemisphae- rico lobis ovatis vel ellipticis apice rotundatis (su- premo longiore emarginato ) breviore, petalis filifor- mibus glabris sepala paulo superantibus, staminibus “* basi aureo-pilosis sepalis vix duplo longioribus. Ova- rium rufo-strigosum. Legumen falcatum obtusum. Species S. chrysophyllo Poepp. (Teffé, Bahia) et L. Ulei Harms ( Tarapoto) affinis, petiolo brevi phy- sophoro, foliolis amplis inferioribus cordatis, omni- bus abrupte caudato-acuminatis insignis. Hab. ad ripas fl. Japurá inferioris, 13 IX 1904 leg. A. Ducke (H.A.M.G. 6751). NOVITATES FLORA AMAZONICZ 81 7 Lolernia paraênsis Hub nov. spec. Arbor excelsa, cortice squamoso, ligno durissimo atrofusco. Ramuli crebri satis graciles fuscescentes apice minute puberuli mox glabri longitudinaliter rugosi. Folia satis conferta, stipulis minutis vix ultra 1 mm longis coriaceis acutis rectis vel leviter falca- tis, petiolo 6--S mm longo decurvo gracili supra canaliculato rugoso minute puberulo, lamina (6—10 X3 em) ovato-lanceolata vel ovato-oblonga saepius falcato-complicata basi acuta apice obtusiuscula vel subacuminata subcoriacea integerrima. utrinque luci- dula prominenter reticulata margine subrecurva. Inflo- rescentia paniculata saepe foliis intermixta, racemis ad anthesin 10—20 em longis ochraceo-subsericeo- tomentellis, bracteis minutis (1 mm), pedicellis 3-—5 mm longis gracilibus, bracteolis ad apices pedicello- rum minutissimis, alabastris 8 mm longis ochraceis sub- sericeo-tomentellis acuminatissimis. Calyx per anthes- sin lateraliter ruptus deflexus. Petala vulgo 5 bre- viter unguiculata 3 superiora late ovata concava reflexa, 2 inferiora vix augustiora erecta genitalia se- miinvolucrantia. Stamina vulgo 10 alternatim paulo inaequalia petala haud aequantia, filamentis brevibus, antheris acuminatissimis pilis paucis adpressis adsper- sis. Ovarium breviter stipitatum 6—S-ovulatum seri- ceum, stylo incurvo glabro. Fructus ovoideo-globo- sus 2,5—3 cm longus minute apiculatus vulgo mo- nospermus rarius 3-—4-spermus, Z. securidacifoliae Benth. ( Bras. merid.) et Z. fal- catae Nees (Rio de Janeiro) affinis videtur, sed hac diftert foliolis longioribus et ab utraque stipulis mi- nutis, Hab. in silvis paraênsibus, ad viam ferream inter Be- lem et Bragança, 26 X 1907 leg. Rod. S. Rodrigues (H.A. M.G. 8804 ). Esta arvore tem uma grande importancia como for- necedora de uma das madeiras mais estimadas do Pará, o « Pão Santo ». 82 NOVITATES FLORZ AMAZONICA Peltogyne paraênsis Hub. nov. spec. Arbor staturae mediocris. Ramuli graciles glabri, juniores nigricantes, adulti cortice longitrorsum ri- moso tuberculato-lenticelloso obtecti. Folia unijuga, petiolo gracili 1—1,5 cm longo, petiolulis brevissi- mis (2-3 mm), foliolorum lamina leviter falcato- oblonga (6—10X2,5—4 cm), basi satis obliqua apice sensim acuminata, subcoriacea glabra nigricante, su- pra laeviuscula, venulis immersis vel leviter impressis, subtus nervo primario valde prominente, secundariis venulisque laxe reticulatis prominulis. Inflorescentiae terminales, iis P. densiflorae Spruce similes sed mi- nus densae magis ochraceo-tomentosae, bracteis brac- teolisque orbiculatis vel ovatis medio dorso ochraceo- tomentellis caducissimis, pedicellis infra bracteolas brevissimis, supra bracteolas 2 mm longis, calycis tubo ad anthesin turbinato-cupulato 3 mm longo, lo- bis ovatis obtusiusculis 7 mm longis, extus ochraceo- tomentosis (vix sericeis), intus tenuiter sericeis, pe- talis lanceolato-oblongis 8 mm longis 3 mm latis, apice obtusiusculis basi satis in unguem contractis, distincte reticulato-venosis, staminibus glabris, ovario stipitato late obovato ochraceo-villoso, stylo ultra 2 cm longo glabro. Legumen suborbiculatum valde obliquum, sutura superiore breviter alatum ibique obtusissime protractum (haud apiculatum ). Species P. densiflore Spruce affinis, differt impri- mis foliolis brevius petiolulatis angustioribus supra haud venulosis, inflorescentiis laxioribus, petalis lan- ceolato-oblongis et distincte reticulato-venosis, legu- mine haud apiculato. Hab. ad littora fl. Capim (Estado do Pará) frequens, 25 VI 1897 leg. J. Huber (H.A.M.G. 853). Como a P. densiflora, que é frequente na Amazonia, principalmente na sua parte central, esta nova especie tem o nome vulgar de «Pão rôxo», por ter uma madeira de cór rôxa bem pronunciada. NOVITATES FLORA AMAZONICA 83 “Platymiscium Duckei Hub. nov. spec. Arbor excelsa myrmecophila, lignum pulchrum ferrugineo-rubescens et late venosum praebens. Ramuli crassiusculi fistulosi. Folia opposita 5-fo- liolata, foliolis (novellis) breviter (1 cm) peti- olatis ovatis (8—125(5—7 em) basi rotundatis apice obtusis vel rotundatis glabris nigricantibus. Racemi circiter 15 cm longi (fructiferi ad 20 cm longi) basin versus interrupti apicem versus densiflori, rhachi (4 mm crassa) pedicellis calycibusque dense ochraceo-tomentosis. Bracteae minutae, pedicelli brevis- simi (1—2 mm), bracteolae orbiculatae, calyx 5 mm longus intus glaber dentibus triangularibus obtusius- culis vel acuminatis. Vexillum orbiculare apice emarginatum, alae eo paulo longiores, carinae subae- quilongae (ca. 13 mm). Stamina monadelpha. Ova- rium longe (5 mm) stipitatum, margine inferiore barbatum uniovulatum, stylo brevi incurvo. Legu- men 12 cm longum 5 cm latum apice obtusum basi in stipitem 1 cm longum contracta. Species terras elevatas haud inundatas inhabitat, habitu, racemis tomentosis et floribus brevissime pe- dicellatis Violam odoratam redolentibus maxime in- signis. Hab. ad ostium fl. Teffe 6 IX et 30 IX 1904 leg. À Ducke, cui hanc speciem dedicavi (H.A.M.G. 6727). Esta especie fornece uma das madeiras mais bellas do Alto Amazonas, conhecida sob o nome de « Macacauba da terra firme ». Outras especies de Platymiscium, tambem cha- madas « Macacauba », crescem nas varzeas do baixo Ama- zonas, principalmente nos municipios de Obidos e de Faro. Humiriacese Vantanea cupularis Hub. nov. spec. Arbor. Ramuli satis graciles stricti cortice griseo obtecti, apicem versus paucifoliati. Folia disticha 84 NOVITATES FLORE AMAZONICAE erecto-patentia, glaberrima, petiolo 1—1,5 cm longo eracili supra canaliculato, lamina elliptica (6— 10X 3—5 cm) basi acuta, apice breviter obtuseque com- plicato-rostrata, margine integra, subcoriacea, utrin- que lucidula, costa, nervis secundariis venulisque laxe anastomosantibus utrinque prominulis. Inflorescentiae terminales vel in axillis superioribus 23 laterales pu- berulae cymosae, vulgo quater dichotomae 5 cm longae lataeque, pedunculo ancipite 2-2 1/2 cm longo, ramu- lis plus minus compressis, bracteis bracteolisque (lon- ge ante anthesin deciduis ) haud visis, pedicellis ad 2 mm longis, alabastris ovoideo-cylindricis obtusiusculis 6-—7 mm longis 2 mm latis, calyce brevissimo (1 mm longo ) late cupulari subglabro, margine vix leviter undu- lato, petalis albidis linearibus (8x2 mm) apice ob- tusis vel acutiusculis et leviter cucullatis extus dense breviterque cano-hirtellis, intus glabris, anthesi paten- tibus mox deciduis, staminibus circa SO basi concres- centibus inaequilongis, longioribus petalis paulo bre- vioribus, antheris a connectivo saepe duplo longiore acuto superatis, cupula lypogyna ovarii vix tertiam partem aequante margine denticulata, tomentosa, ex- tus striata, ovarium breviter ellipsoideum albido-vil- losum, stylo ovario 5-loculari vix duplo longiore basi solum pilis albidis insperso. Species florum magnitudine V. panniculatae Urb. ( Bahia) similis, differt inflorescentiis stricte cymosis, calyce cupulari, petalis linearibus. Hab. in silvis paraênsibus ad viam ferream inter capi- talem et Bragança ( Moêma), 30 VIII 1908 leg. Francisco O. Lima (H.A.M.G. 9583). Rutacese Euxylophora gen. nov. Flores hermaphroditi. Calyx cupularis 5-dentatas coriaceus, petala linearia primum basin versus con- glutinata demum libera recurvata. Stamina 5, annulo NOVITATES FLORZ£ AMAZONICA 85 carnosulo inserta, filamentis subcylindricis intus le- viter barbatis, antheris linearibus filamentis lon- gioribus apice cuspidatis. Discus deest. Ovarium 5- loculare, ovulis in quoque loculo 2 superpositis. Sty- lus staminibus multo brevior, stigmate 5-lobulato, lo- bis oblongis. Capsula loculis 5 apice late truncatis de- mum liberis, endocarpio demum soluto elastice dehis- “cente, seminibus in quoque loculo 2 applanatis testa nigra nitente. Albumen coriaceum haud crassum em- bryonem magnum vix curvatum includens, radicula brevi recta, cotyledonibus coriaceis planis simpliciter appositis plumulam minutam obtegentibus. * Euxylophora paraênsis Hub. nov. spec. Arbor ingens lignum optimum (sulfureum ) prae- bens. Ramuli crassiusculi cicatricosi cinerei, juniores cum petiolis foliisque subtus et inflorescentiis ochraceo- tomentell. Folia alterna simplicia longiuscule (2-—3 cm) petiolata, petiolo supra profunde canaliculato, lamina obovata vel elliptica (10—15X4—7 cm) basi acuta apice rotundata vel brevissime obtuseque sub- acuminata, margine integerrima subrevoluta, coriacea penninervi (nervis secundariis ca. 8 mm inter se dis- tantibus subtus prominentibus, venarum rete supra prominulo) discolori, supra glaberrima nitidula sicca fuscescente, subtus minute ochraceo-tomentella. In- florescentia terminalis late cymoso-paniculata, folia “ aequans vel superans (diametro ad 10 cm;, pedunculo ancipite, ramulis alternis ter quaterve dichotomis, flo- ribus in bifurcationibus breviter (2—3 mm ) pedicel- latis. Calyx 4 mm longus et latus brevissime denti- culatus. Alabastra conica. Petala (ochroleuca ) 2 em longa 2 mm lata supra canaliculata extus minutissi- me tomentella intus basi excepta barbellata. Staminum filamenta 3 mm longa intus breviter barbata, an- therae 6 mm longae cuspidatae. Ovarium 2 mm altum breviter 5-lobum carpellis apice liberis insertionem styli superantibus. Stylus ovario vix longior. Capsula 2 cm alta carpellis lateraliter 86 NOVITATES FLORH AMAZONICA compressis transversim rugulosis apice lato trun- catis, demum secedentibus et dehiscentibus, val- vulis apice 12 mm latis. Semina in loculis bina tra- pezoidea compressa, diametro maximo ad 1 cm. Em- bryo 7 mm longus, radicula 1 mm longa, cotyledones plani 6 mm longi 4,5 mm lati. Hab. in silvis paraênsibus ad viam ferream inter capi- talem et Bragança ( Estação Experimental Augusto Monte- negro), VII 1907 leg. A. Goeldi (H.A.M.G. 8237), 26 VII 1907 leg. Rod. Siq. Rodrigues (8284),9 X 1908 leg. Fr. O. Lima (9720). A Euxylophora paraênsis fornece a bella e muito esti- mada madeira paraense chamada «Pão amarello ». Celastracezx Goupia paraênsis Hub. nov. spec. Arbor excelsa, lignum firmum colore roseo-testaceo praebens. Ramuli adulti foliaque glaberrima sicca nigri- cantia. Stipulae lineari-lanceolatae obtusiusculae ad 1 cm longae. Foliorum petiolus 5—10 mm longus graci- lis, lamina elliptica (6—10X(3—4 cm) basi vulgo uno latere cuneata altero abrupte in petiolum contracta, apice late et obtusiuscule acuminata, subcoriacea, margine distincie crenato-serrata. Inflorescentiarum pe- dunculi 5—10 mm longi graciles, pedicelli ad 15 mm longi. Alabastra ovato-conica minutissime puberula. Calyx usque prope basin in lobos late ovato-trian- gulares divisus. Petalorum appendices parte inferiore subtriplo breviores. Stamina ovariumque generis. Differt a G. glabra Aubl. (Guiana gallica ) foliis distincte crenato-serratis, petalorum appendicibus bre- vioribus. Hab. in silvis paraênsibus frequens, imprimis ad viam ferream inter capitalem et Bragança. (H.A.M.G. 8282 et 9574). Esta especie é conhecida no Pará pelo nome de « Cu- NOVITATES FLOR£ AMAZONICA 87 piuba ». Ella fornece uma madeira propria para taboas, que entretanto tem o defeito de ter um cheiro desagradavel. Bixacese Bixa arborea Hub. nov. spec. Arbor 10 ad 15m alta, trunco elato 20-30 cm crasso, cortice cinereo obtecto, ramis adscendentibus comam subglobosam efformantibus. Ramuli florentes circiter 4 mm crassi fuscescentes. Folia longe petio- lata iis B. orellane similia, sed saepissime exacte ovata basi solemniter rotundata et apice abruptius acumi- nata aliquid firmiora glabra. Panicula terminalis brun- neo-tomentella, axi valida 3 mm crassa, ramis subgra- cilibus 2—3,5 cm longis ad medium bibracteolatis 1—-2-floris, pedicellis circiter 1 cm longis. Calyx, co- rolla, stamina ut in B. orellana. Ovarium compresso- globosum breviter acuminatum haud setosum sed dense ochraceo-lepidotum, stylo 18 mm longo apicem versus sensim incrassato. Capsula reniformis, 5,5 cm lata 3,5 cm alta a dorso valde compressa, rugosa, sub lente minutissime papillosa, fusca, basi cruciatim 4-costata, apice breviter abrupte apiculata lignosa, loculicide bivalvis, valvis hiantibus, endocarpio haud soluto intus albo demum fuscescente. Semina maiora quam in B. orellana, compresso-obovoidea, testa mon nisi zona angusta circa chalazam albam coccinea, caeterum cyanea demum fusco-cyanea. Embryo albus (haud viridis). Hab. in silvis paraênsibus ad viam ferream inter capitalem et Bragança (Peixe Boi, Estação Experimental « Augusto Montenegro »), 21 XI 1906 leg. J. Huber (floriferum, H.A.M. G. 7827), 21 X 1907 leg. A. Goeldi (fructiferum, H.AM.G. 8311). Esta especie bem distincta do genero Bixa, consi- derado até aqui como monotypico, é um dos endemismos mais interessantes das mattas da Estrada de ferro de Bra- gança. » NOVITATES FLOR£ AMAZONICA Apocynacese Landolphia paraênsis Hub. nov. spec. Frutex alte scandens, lactescens. Rami teretes, juniores dense breviterque fulvo-pilosi. Folia oppo- sita, petiolo brevi (5 mm longo), crasso, subtomen- toso, lamina elliptica vel obovata (12 -15>x(8—10 em), bast corduta apice rotundata minute acuteque apiculata, subcoriacea, bullata, margine leviter un- dulata, supra glabra, subtus pallidiore brevissime denseque pubescente, nervo primario secundariisque (10—12 utrinque) margine incurvis venisque trans- versalibus subtus valde prominentibus. Pedunculi terminales vel laterales, prehensiles, supra medium ramulos apicem versus decrescentes patentes vel reflexos rufo-tomentellos gerentes. Ramuli 5—1 cm longi, apice subcapitato-cymosi multiflori. Pedicelli calycem vix aequantes (1,5 mm longi) sicut calyx extus tomentelli. Calycis basis subgloboso-incrassata, lobi triangulari-ovati (1 mm longi) obtusiusculi post anthesin conniventes intus glabri. Corolla odorata extus glabra flavo-viridis, tubo 12—13 mm longo gracili basi et sub medio leviter inflato intus ad 1/3 longitudinis staminifero secundum lineas interstamina- les pilis albis sursum spectantibus vestito caeterum glabro, lobis tubo «equilongis in alabastro contortis an- guste ovato-oblongis leviter falcatis obtusis margine barbatis intus cremeis. Antherae ovato-lanceolatae, 1,5m longae, filamentis gracilibus paulo longiores. Ovarium ovoideum basi disco annulari immersum, apice libero dense albo-pilosum, uniloculare, placen- tis subcontiguis. Stylus ad anthesin 4 mm longus gracilis, post anthesin calycem longius superans, stigmate 1 mm longo infra annulari-dilatato supra an- gustiore apice bidentato. Bacca globosa usque ad 18 cm diametro metiens, glabra, seminibus in pulpa ni- dulantibus subgloboso-compressis (diametro maiore ad 25 mm), albumine abundante corneo. Differt a P. guyanensi (Aubl.) Pulle ramis junio- NOVITATES FLOR AMAZONICA [9 0) NB) ribus inflorescentiisque tomentosis, foliis basi corda- tis infra pubescentibus, lobis corollae tubo tantum aequilongis. Hab. ad ripas rivulorum prope Pará, et in Horto bo- tanico Musei Goeldiani culta. IV 1ços (H.A.M.G 9341). Este cipó que no seu latex contem borracha, porém de qualidade inferior, é o unico representante no Brasil do ge- nero ao qual pertencem as lianas gommiferas bem conhecidas da Africa equatorial. Borraginaceze “ Cordia Goeldiana Hub. nov. spec. Arbor excelsa lignum optimum praebens. Ramuli hornotini cortice cinereo rugoso et verrucoso obtecti, novelli (florescentes) glaberrimi nigri lenticellis luteis oblongis inspersi. Folia longiuscule graciliterque (1,5—2 em) petiolata, lamina obovato-lanceolata (8S—135(3—6 em), basi in petiolum sensim angustata apice obtuse acuminata vel distincte cuspidata mem- branacea glaberrima utrinque sicco castanea laxe re- ticulata, margine integerrima. Inflorescentiae in ra- mulis terminales amplae paniculatae densiflorae, ra- mulis ultimis pedicellisque (4 mm longis) ferrugi- neo-subtomentosis. Calyx obconicus sulcatus, impri- mis apicem versus ferrugineo-tomentellus, apice plus minus profunde 2-—3-lobus, lobis rotundatis vel trun- catis. Corollae tubus calycem paulo superans ex- pansus, lobi “oblongi (13xX(7 mm) apice rotundati vel retusi. Staminum filamenta medio tubo inserta basi barbata loborum basin vix attingentia. Ovarium subglobosum disco breviter cylindrico insidens. Sty- lus glaber stamina superans stigmate graciliter bis bifido. Fructus globosus 2 cm diametro metiens. Cordiae alliodorae Cham. (Rio de Janeiro) proxi- me affinis et foliis glaberrimis ad ejus varietatem gla- bram accedens, differt autem calyce bi-vel trilobo odore alliaceo absente. 9/0) NOVITATES FLOR£ AMAZONICA Hab. in silvis primaevis ad viam ferream inter Belem et Bragança, (Estação Experimental « Augusto Montenegro») 23 IX 1907 leg. André Goeldi, in cujus honorem hanc spe- ciem denominavi (H.A.M.G. 8319), 22 X 1907 leg. Rod. Siq. Rodrigues (8788 ). O nome vulgar da Cordia Goeldiana é «Frei Jorge». MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS O) [um HI Mattas e madeiras amazonicas pelo Dr, J. Huber Ainda não existe, nem existirá tão cedo, sobre a matta amazonica, um trabalho de conjunto, que seja capaz de dar uma bôa idea não só dos seus aspectos variados, como tam- bem da sua composição floristica, das phases de sua vida e da sua importancia como factor economico. Muito já se tem escripto sobre um ou outro d'estes assumptos, mas geral- mente sem as bases sufficientes de observação ou de conhe- cimentos scientificos. O presente trabalho, apezar de baseado sobre uma experiencia de 14 annos e sobre estudos seguidos em viagens e no gabinete, é apenas um modesto ensaio, um prodromo d'um estudo mais completo e mais aprofundado que só depois de muitos annos de trabalho assiduo poderá ser tentado. A nossa matta equatorial é um mundo por si, cuja organisação e vida intima só por diversas gerações de investigadores poderá ser desvendada. À vida de um homem mal chegaria para ter uma idéa exacta da composição d um kilometro quadrado de matta virgem, quanto menos de uma área mais de tres milhões de vezes maior. O que pretendo offerecer aos leitores do « Boletim », n'este despretencioso trabalho, não é uma descripção com- pleta das mattas amazonicas, mas antes uma introducção ao conhecimento das suas madeiras variadas, cuja exploração methodica e aproveitamento completo será um dos proble- mas mais importantes para a prosperidade futura da vasta região amazonica. Esquece-se geralmente, deante do magno problema da borracha, que só por causa das suas madeiras as nossas mattas merecem um estudo aprofundado, que é o unico meio de preparar a sua exploração racional e provei- tosa. Comparando-se o serviço florestal dos paizes mais adiantados, cuja area coberta de mattas e proporcionalmente muito inferior á nossa, com o que se tem feito aqui n'este 92 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS sentido, ver-se-ha que grande somma de trabalho nos resta a completar para podermo-nos considerar como tendo feito o nosso dever de paiz civilizado. E” talvez na legislação e na administração florestal que o Brasil ainda se acha mais atra- zado em relação com os outros paizes. A bacia amazonica é uma região essencialmente silva- tica, e com muito razão ella foi denominada por Humboldt de « Hylaea » (da palavra grega YA = floresta). Do sopé da cordilheira dos Andes até a bocca do Amazonas e dos affluentes superiores do Rio Madeira até a bifurcação do Orenoco extende-se uma matta continua, na qual só aqui e acolá se acham engastadas superficies mais ou menos ex- tensas occupadas por campos. E” entretanto o Estado do Amazonas que representa o typo mais puro da Hylaea, sendo ali os campos bastante raros e geralmente de extensão re- duzida, com excepção dos campos do alto Rio Branco, cuja superficie é calculada em 35.000 kilometros quadrados, e de um trecho de campo entre o rio Madeira e o Purús, na la- titude de 7 a 8 degrãos S mais ou menos. No Estado do Pará, as mattas são mais interrompidas, principalmente ao norte do Amazonas, onde ha campos geraes bastante extensos, evidentemente de formação relativamente antiga, entre os rios Erepecurú e Maecurú e provavelmente tambem entre os affluentes mais orientaes do Amazonas. Campos de formação mais recente extendem-se ao longo da costa atlantica da Guiana brasileira, nas ilhas de Caviana e de Mexiana, na metade oriental da ilha de Marajó e ao longo do Baixo Amazonas: porem mesmo ao norte do Ama- zonas a area occupada pela matta é provavelmente muito maior do que a dos campos. Ao sul do Amazonas as mat- tas são ainda mais predominantes e só no quasi desconhecido extremo sul do Estado parece que os campos occupam maior superficie. Os campos que se encontram na costa do Salgado, ao longo do baixo Tocantins, Xingú e Tapajóz, são insignifi- cantes em comparação com as mattas ininterruptas que ex- tendem-se nos vastos planaltos entre estes rios. Tomando tudo em conta, não creio que os campos 0c- cupem mais da quarta parte da superficie do Estado do Pará. MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 93 E claro que uma região tão extensa deve apresen- tar condições diversas de solo e mesmo de clima, de forma que é de esperar a priori, que se achem realisados diversos typos de mattas, o que de facto se dá na Amazonia. Entre- tanto a diversidade de typos florestaes bem definidos é ne- cessariamente menor n'este paiz de grandes planícies, que seria o caso n'um paiz montanhoso. Alem disto o estudo da composição das florestas nas differentes partes da Amazonia apenas pode ser considerado como sendo no seu principio, logo que se trata das regiões afastadas das principaes vias de communicações que são os rios e os igarapés. Os principaes typos de matta que podemos distinguir na região amazonica, são dependentes do systema hydrogra- phico, que imprime a toda esta região as suas feições domi- nantes. Ao longo da costa e dos cursos d'agua que se acham sob o regimen do fluxo e refluxo, existe a Matta das allu- vides maritimas, chamada Mangal, composta de poucas espe- cies de arvores de distribuição larga nas costas da America e tambem da Africa tropical, A Matta das alluviões fluviaes (varzeas) que, quando se sóbe o Amazonas e os seus affluen- tes, accompanha o viajante de Belem até o pé dos Andes, já mostra mais variedade na sua composição. Finalmente a Matta das terras firmes ou dos terrenos nos quaes a erosão tem um papel mais importante do que a alluvião, apresenta uma infinidade de variações na sua composição, apezar de sua apparente uniformidade e dos caracteres quasi estereoty- picas de sua organisação biologica. Não falarei muito da Matta das alluviões maritimas ou do Mangal, porque elle é o que ha de menos caracte- ristico na região amazonica. Os componentes principaes do mangal, na bocca do Amazonas e na costa do Atlantico, são o mangue ( Rhizophora Mangle L.) a ciriuba ( Avicennia ni- tida Jacq.)e a tinteira (Luguncularia racemosa Gaertn. ). Até aqui ainda não encontrei, nas costas do Pará, o Conocarpus erecius e a Bucida buceras, ambas especies que geralmente são citadas como fazendo parte da « Mangrove » americana e que se acham tanto a leste, na costa do Estado do Mara- -nhão, como ao norte, nas costas guyanezas. Como elementos subordinados, que fazem parte dos man- 94 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS gaes da costa, ou pelo menos crescem de preferencia em sua companhia, podemos mencionar ainda as seguintes especies: mututy ( Pterocarpus Draco L.) envira ( Hibiscus tiliaceus St. Hil.) areticú (Anona palustris L.) Pilhecolobium cochleatum Mart. O mangal, que ora é mais ou menos misturado, ora quasi exclusivamente composto de uma ou outra d'aquellas essencias, de longe se distingue pela sua folhagem d'um ver- de característico claro e uniforme. As arvores geralmente attingem apenas a altura de 15-20 m, e só raras vezes acham-se arvores de maior desenvolvimento. O verdadeiro mangue, tambem chamado « mangue vermelho >», encontra-se em duas variedades, das quaes uma. a typica, encontra-se representada em grande abundancia na costa do Salgado, penetrando nos rios até 20 kilometros de sua foz, mais ou menos, emquanto que a variedade racemosa (Meyer) parece localisada nas costas da ilha de Marajó e do Aricary (Guiana brasileira) de onde ella se extende até à Guiana ingleza. Em geral, a ciriuba penetra mais longe ao longo dos rios e ella parece predominar sobre a Rhizophora ao norte do Amazonas e em todos os logares, onde a agua já é quasi completamente doce. Entretanto o mangue (var. racemosa ) penetra tambem occasionalmente na agua doce, como por exemplo no Aramá, a [oeste da ilha de Marajó: porém n'este caso elle não forma associações maiores. Os mangaes não têm um papel muito importante como factor economico. A zona por elles occupada é quasi inhabitavel, sendo lamacenta e sujeita ás inundações periodicas das marés. Só a Rhizophora é conhecida como arvore cuja madeira se preste para cons- trucções. O valor d'esta arvore ainda é augmentado pelo facto que a sua casca contém uma porcentagem elevada de tannino, prestando-se por isso para cortume. Da mesma for- ma a Laguncularia fornece um cortume estimado na sua casca, emquanto que a casca da Ávicennia contém só pouco tannino. E" pois certo que os nossos mangaes, principalmente os da costa do Salgado, que são ricos em Rhizophoras, re- presentam um capital consideravel que por uma exploração MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS NO) Ú sensata poderia-se fazer fructificar. A exploração racional dos mangaes não é um problema difficil, porque é sufficiente deixar um certo numero de arvores para obter uma regene- ração expontanea do mangal em poucos annos, não sendo para receiar uma competencia de outros elementos menos valiosos se não fôr a da ciriuba. Em todo caso será prefe- rivel explorar a Rhizophora só nos logares onde ella predo- mina de tal forma que não se deve receiar a sua substituição pela ciriuba. Ainda não sabemos muito sobre a vida do mangal em seu conjunto. Elle nasce nas praias lodosas, nas beiras dos estuarios ou na margem das ilhas, geralmente sob a protec- ção do capim da praia ou paraturá (Spartina brasilien- sis Raddi) ou outras hervas, que protegem as pequenas ar- vores contra a força das ondas e da correnteza. Como se sabe, tanto a Rhizophora como a Avicennia são viviparas, sendo as suas plantulas transportadas e disseminadas pelas correntezas. Uma vez o mangal ou o ciriubal constituido, elle favorece muito a sedimentação e o crescimento da praia, onde sob a sua protecção nascem novas arvores, progredindo o povoamento vegetal em zonas mais ou menos regulares. Quando porem, em frente d'um mangal, descobre uma praia de areia, esta, levantada pelo vento e impellida dentro do mangal, quer em camada quasi nivellada, quer em forma de dunas migrantes, acaba de matal-o mais ou menos rapida- mente, como tive occasião de observar, ha uns 13 annos, na ilha dos Machados, onde um grande ciriubal, invadido pelas areias, estava morto, as arvores ainda em pé e com os galhos nús produzindo uma impressão inesquecivel de de- solação e tristeza. Em certos pontos da costa atlantica, no cabo de Maguary por exemplo, o mangal já crescido das pontas, sujeito aos ataques da resacca, fica pouco a pouco destruido pelo lado do mar. Do lado da terra, o mangal cede finálmente o logar a outras formações vegetaes. Nos logares onde a agua das ma- rés é bastante salgada, como p. e. na costa do Salgado, a parte interior do mangal, que só é molhada pelas marés dos equinoxios, definha e morre, deixando apenas uma vegetação herbacea muito rasteira e escassa, que forma os taes «api- 96 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS cums», resistindo com difficuldade à concentração da agua salgada deixada sobre estas superficies, onde o sal no tempo de verão apparece na superficie em forma de efflorescencias brancas como neve. No dominio da agua doce porem, a for- mação vegetal que se substitue ao mangal do lado de den- tro. é a matta da varzea (veja-se o meu artigo: Contribui- ção à geographica physica dos furos de Breves, n'este Bole- tim, vol. III p. 447 e seguintes). Muito mais variada que o mangal e extendendo-se em ramificações infinitas por toda a região amazonica, a Matta das alluviões fluviaes (varzeas) poderia-se chamar a forma- ção vegetal caracteristica da Amazonia. Como se sabe, uma | grande parte da superficie dos Estados do Pará e do Ama- zonas é occupada por terrenos baixos, que accompanhando o Amazonas, seus afíluentes e subaffluentes n'uma largura que varia de alguns metros (nos igarapés) até mais de cem kilometros (em certos trechos do rio principal, p. e. nas boccas do rio Madeira e do Japurá), são sujeitos às inundações periodicas e recebem annualmente os sedimentos d'estes rios. Convem distinguir d'estes terrenos de alluviões fluviaes propriamente ditas, cujo periodo de inundação é annual, os largos trechos situados no enorme Estuario amazonico, que, apezar de pertencendo ao dominio da agua doce, ainda são sob a influencia das marés e inundadas quer com todas as marés, quer só com as marés mais fortes de lua cheia e de lua nova ou sómente dos equinoxios. Como, no estuario ama- zonico, as cheias do Amazonas já não se fazem sentir muito, as differenças de nivel provocadas pelas marés são aqui mais importantes do que as devidas à enchente e à vasante do Amazonas. Offerecendo d'esta forma as melhores condi- ções de humidade constante que podem imaginar-se, e rece- bendo dia por dia um sedimento rico em detritus mineral e vegetal, estes terrenos são cobertos de uma vegetação par- ticularmente exhuberante e rica em formas essencialmente tropicaes, como palmeiras e outras plantas monocotyledoneas de folhas grandes ( Musaceas, Marantaceas, etc. ), as quaes não se encontram em igual abundancia e variedade de formas em outras partes das varzeas amazonicas que recebem os e] MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 97 mesmos beneficios só durante a metade do anno e muitas vezes com excesso, que facilmente se torna em desvantagem. Como tratei detalhadamente das mattas do estuario, no meu artigo acima citado, não será preciso voltar ao assumpto. Direi apenas, que até a bocca do rio Xingú a matta do es- tuario se conserva em toda a sua exuberancia caracteris- tica, mudando só d'ali em deante o seu aspecto. Subindo o rio observa-se com effeito, desde a embocca- dura do Xingú até a bocca do Trombetas mais ou menos, isto é no trecho que se chama geralmente o Baixo Amazo- nas, uma mudança radical no aspecto da matta littoral do Amazonas. N'este trecho, a matta de varzea, marginando o rio e os paranâmirins numa largura geralmente pouco considera- vel, apparece como que rhachitica, reduzida a um numero pequeno de essencias predominantes, de porte mais modesto e de folhagem geralmente pouco densa. Já apparecem praias extensas, onde os precursores da matta, as oeiranas (Salix Martiana Leyb. e Alchornea cas- taneifolia A. Juss.) se alinham em frente dos imbaubaes (que n'este trecho do rio são compostos de Cecropia paraen- sis Hub., de folhas d'um branco puro por baixo, e de Ce- cropia robusta Hub., de folhas verdes de ambos os lados ). Na matta definitiva, que está se substituindo com o tempo ao imbaubal, a munguba (Bombax munguba Mart.), de tronco grosso coberto de casca lisa e verde-grisalha e de galhos for- tes pouco ramificados, dos quaes pendem em junho e julho as grandes capsulas vermelhas, cheias de uma painha fina, pardacenta, é, ao lado de algumas especies de apuhy (Ficus subgen. Urostigma). de troncos grotescos e de copa larga, a ar- vore mais possante, sem comtudo attingir. nem de longe, o desen- volvimento da sumaumeira ( Ceiba pentandra Gaertn.) que n'esta região falta quasi completamente. Talvez a arvore mais caracteristica das varzeas do baixo Amazonas, e com certeza a que predomina mais em longos trechos, é o tachy ( Triplaris surinamensis Cham.), de tronco esguio e galhos erectos, cuja casca lisa e clara contrasta com as grandes fo- lhas lanceoladas d'um verde escuro, approximadas na extre- midade dos galhos. Estas arvores, apezar do seu aspecto um pouco rhachitico, apresentam uma vista encantadora quando g8 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS ellas (no mez de setembro) são carregadas de grandes 1n- florescencias amarellas e côr de rosa. Arvores bastante frequentes n'estas mattas são ainda as seguintes: parapará (Cordia tetrandra Aubl.) taperebá ( Spondias lutea L.) ucuúba (Virola surinamensis (Rol.) Warb.) andiroba (Carapa guianensis Aubl.) murupita (Sapium lanceolatum Hub. e outras es- pecies ) genipapo (Genipa americana L.) macacauba da varzea ( Platymiscium paraense Hub. n. sp.) castanha de macaco (Couroupita spec.) muiratinga (Olmedia aff. calophylla Poepp.) mutamba (Guazuma ulmifolia Lam.) pão mulatto (Calycophyllum Spruceanum Benth.) louro da varzea (Nectandra amazonum Nees) tachy de flôr amarella ( Plerocarpus ancylocalyx Benth.) cuaxinguba ( Ficus subgen. Pharmacosycea spec.). As 7 ultimas d'estas especies acham-se aliás principal- mente na parte occidental d'este trecho, e todas ellas cres- cem egualmente nas varzeas do alto Amazonas. O sous-bois d'estas mattas é relativamente pobre, com- pondo-se sobre largos trechos de especies de Heliconia ou de Marantaceas de grandes folhas cinzentas por baixo. As plantas trepadeiras são representadas principalmente por es- pecies de curta duração, como diversas especies de Ipomoea, Feuillea trilobata L., Elateriun amazonicum Mart. (frequente em todas as varzeas amazonicas), Passifloras, Mikania scan- dens Willd., Chamissoa altissima H. B.K. etc. e nos troncos lisos da mungubeira, dos tachys e do pão mulatto não se vê subir nenhuma Aracea ou Cyclanthacea. Em somma, a nota caracteristica das varzeas do baixo Amazonas, entre a bocca do Xingú e a do Trombetas, é menos a presença de formas especiaes (como taes podemos talvez considerar as grandes especies de Urostigma, que en- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 9/0] tretanto ainda não são sufficientemente conhecidas) do que a reducção do numero das especies predominantes, tanto em comparação com as mattas do estuario como relativamente às mattas de varzea do alto Amazonas. Isto se vê principalmente em relação com as palmeiras, que no estuario são representadas por mais de 20 especies, emquanto que nas varzeas do baixo Amazonas o numero das especies provavelmente não passa de uma meia duzia, sendo as mais importantes: o jauary (Astrocaryum jauary Mart.), o murumurú ( Astrocaryum murumuri Mart.), o uru- cury (Áitalea excelsa Mart.) e algumas especies de Baciris (principalmente B. maraja Mart. e B. concinna Mart.). Esta pobreza da matta de varzea do baixo Amazonas acha-se em relação intima com o facto de que a maior parte da planicie alluvial é ali occupada por campos extensos que, sendo mais baixos do que as margens do rio occupadas pela matta (as taes restingas), são alagados durante a estação chuvosa. Estes campos que só em poucos logares são visi- veis da beira mesmo do rio, têm no seu centro depressões, que no tempo de verão ficam occupados por lagos rasos mais ou menos reduzidos pela evaporação ou transformdos em pastagens de gramineas. Herbert H. Smith, um dos melhores conhecedores d'esta região, comprehendeu perfeitamente o mecanismo da forma- ção das « restingas», na região dos campos. e descreveu-o assim, no seu bem conhecido livro « Brazil, the Amazons and the Coast» (p. 93): «In most places, jf we land from the main river or a side channel, we find. not marches, as at Breves, but comparatively high land, running along the shore. The great trees are festooned with vines, and thick-leaved branches reach out over the water; but there is not much undergrowth, and we can easily walk inland. We find that, after a little space, the ground slopes gradually away from the river; two or three hundred yards from the bank the belt of forest ceases, and we come out suddenly on a great strech of meadcw, or a lake, the shore of which is lost on the horizon. To explain these features, we must remember that the islands and flats have been formed by the river itself, Every year, in February and March the Amazons ri- 100 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS ses to a hight of thirty feet or more above its ordinary le- vel, and overflows the meadow-land in all directions Now, in the river, the particles of mud and clay are held in sus- pension by the swift current; but as the water flows over the meadows it becoms quiet, and particles sink to the bot- tom. Naturally, the coarser detritus is deposited first, near the river. and at last it builds up a ridge, as we have seen. When fully formed, the top of the ridge, in some places, is just out of reach of the highest floods. The meadows, being lower, are flooded during several months. They are alternately soaked and baked; hence the forest trees will not grow on them, but they flourish well on the banks, where their roots are only covered during three or four weeks of each year ». Onde a superficie disponivel para a matta é tão redu- zida, é natural que a variedade das essencias não pode ser muito grande. Junta-se a isto ainda outro factor, que para a composição da matta de varzea do baixo Amazonas me pa- rece ser de uma importancia capital. Em diversos trabalhos importantes («Le Bas Amazone », Annales de Géographie, tome XII, p. 54, e « Le climat amazonien » 1. c., tome XV, p. 449) o Sr. Paul LeCointe tem tratado do regimen me- teorologico e hydrographico do baixo Amazonas, mostrando que n'essa zona o clima é relativamente muito mais secco no verão do que na região do estuario de um lado e no alto Amazonas do outro lado. Emquanto que em Belem, na segunda metade do anno, que corresponde à estação secca, a altura da chuva é de 666 mm, ella alcança apenas 301,6 mm em Obidos: Tomando em conta que em outros pontos do baixo Amazonas chove ainda menos do que em Obidos, facilmente se concebe que a vegetação deve sentir os effeitos d'esta differença consideravel das precipitações athmospheri- cas, que naturalmente é accompanhada de uma differença não menos importante na humidade athmospherica. Com ef- feito registra-se em Obidos, durante os mezes de outubro e novembro, uma humidade relativa de 65 resp. 62,5º/0, em- quanto que durante a mesma epoca do anno a respectiva porcentagem é de 85º em Belem. Accreseenta a isto que graças às grandes superficies de campos e à grande largura MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 101 do rio, o vento geral de E. e NE. é mais forte no baixo Amazonas do que no estuario (com excepção dos campos de Marajó, onde observam-se condições analogas às do baixo Amazonas), soprando com toda a força sobre as estreitas - restingas de matta. Comprehende-se facilmente que a acção d'este vento relativamente secco seja sufficiente para eliminar muitas essencias accostumadas a um meio mais humido. A influencia directa e indirecta do vento é aliás facil de observar nas margens do baixo Amazonas, principalmente nas costas meridionaes entre o Xingú e o Tapajoz, que lhe são particularmente expostas. Estas costas são em grande extensão minadas não só pela correnteza. mas tambem pelas ondas levantadas pelo vento, e na costa de Cussary appa- rece toda uma zona de destruição, com arvores desarraiga- das ou quebradas, exactamente como na costa do Cabo do Norte trabalhada pela pororóca. Às arvores grandes, com os seus galhos retorcidos. indicam ahi claramente o esforço de re- sistencia à acção do vento. E' interessante e digno de menção que as sementes de algumas das arvores mais frequentes d'esta região ( Salix, Triplaris, Calycopbyllum) são adaptadas ao transporte pelo vento. E' verdade que a acção da correnteza do rio contribue tambem tanto para a distribuição das se- mentes sobre as alluviões recentemente formadas como para a destruição, por erosão lateral e desmoronamento das riban- ceiras, das mattas littoraes já crescidas, mas não de maneira tão exclusiva como no alto Amazonas. Resumindo podemos dizer, que no baixo Amazonas, e principalmente no trecho comprehendido entre as emboccadu- ras do Xingú e do Tapajoz, a matta occupa um logar su- bordinado na varzea, luctando com condições pouco favora- veis á sua existencia. Entre a bocca do Tapajóz e o Trombe- tas, e principalmente d'ali em deante até o limite do Estado do Pará, a matta de varzea torna-se mais luxuriante, a me- dida que os campos ficam a maior distancia do rio. À exis- tencia, n'esse trecho, de grandes exemplares de muiratinga, pão mulatto, cuaxinguba, e outras arvores de porte ele- vado e de massas densas de folhagem, indica condições mais favoraveis à vegetação arborea. Mas e só de Parintins para cima, onde já se faz sentir 102 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS a influencia das alluviões do rio Madeira, que os campos ex- tensos desapparecem completamente e que a matta toma ou- tra vez possessão quasi exclusiva da planicie de alluvião. Não faltam aqui prados naturaes de canna rana ( Panicum spectabile Nees), occupando braços do rio entulhados, mas a sua extensão é sempre limitada e a sua duração provavelmente reduzida no meio da matta littoral exhuberante. E” aqui que pela primeira vez apparece, na beira do imbaubal e em ter- renos de formação recente, a canna de frecha (Gynerium sagittatum ( Aubl.) Beauv.), tão frequente no alto Amazo- nas. Na composição da matta alluvial ainda não se nota uma differença appreciavel, a não ser o apparecimento mais fre- quente de algumas palmeiras. como o murumurú ( Ástroca- ryum murumuru Mart.), e a riqueza maior do sous-bois. En- tre as essencias dominantes vi apenas, como elementos novos. um parica-rana ( provavelmente Acacia spec.) com folhas finamente pinnadas e espigas de flôres pequenas dispostas em grandes paniculas terminaes, e uma especie de Sierculia, que com as suas enormes folhas profundamente lobadas imita, em escala maior, as imbaubas de folhas verdes. E' porém provavel que muitos outros elementos das mattas de varzea do alto Amazonas penetrem alem da bocca do Rio Negro, sem entretanto ser bastante frequentes para dar muito na vista. Apparecem aqui de novo, acima da floresta, as largas cupolas das sumaumeiras e em alguns pontos, como por exem- plo na ilha de Arauató, acima de Itacoatiara a matta é tão alta e tão luxuriante como em qualquer logar do alto Ama- zonas ou do estuario. A matta das varzeas do Alto Amazonas, que da boc- ca do Rio Negro extende-se até a muralha da Cordilheira, comprehendendo os valles do Solimões e Maraíon, do Hual- laga, do Ucayali, do Javary, do Juruá, do Purús e do Ma- deira e tambem dos maiores affluentes septentrionaes, com ex- cepção do Rio Negro, conserva por todas estas enormes dis- tancias as suas feições principaes quasi inalteradas, ao menos quanto pode-se julgar pelos dados conhecidos até aqui. Conhecendo de propria vista as varzeas do Solimões, Hual- laga, Ucayali, baixo Javary e Purús. creio estar sufficiente- mente preparado para apreciar tambem as descripções que MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 103 a respeito de outros rios recebemos de diversos auctores, entre os quaes convem citar Martius (Japurá), Crevaux (Içá), Chandless ( Purús e Juruá), Ule (Juruá e Huallaga), e Keller- Leuzinger ( Madeira ). Como nenhum outro exemplo, estas mattas de varzea do alto Amazonas mostram, em escala grandiosa, as leis do nascer e do perecer applicadas às associações vegetaes. Em- quanto que nas praias, que indicam os logares onde a beira está crescendo, pode-se ver, da margem para dentro, todas as diversas phases da constituição e do crescimento da matta de varzea c a substituição dos seus elementos pura- mente heliophilos por essencias mais amigos de sombra, as- siste-se do outro lado, onde a beira eleva-se abrupta e a matta apparece com todo o seu esplendor de associação vegetal chegada ao seu pleno desenvolvimento, à catastrophe dos desmoronamentos e da destruição de um mundo de plantas fortes e sadias. Os rios da planicie amazonica não têm a estabilidade que distingue os rios dos paizes mais an- tigos, mas do' outro lado elles tambem não apresentam diva- gações desordenadas, como poderia se suppór. Pelo contrario, as suas divagações são regidas por leis bem definidas que presidem às suas oscillações seculares atravez as planicies de alluvião. Para bem comprehender estas leis, temos de fazer um pequeno excurso no dominio da hydrographia. Um rio que corre n'uma planicie de alluvião, mostra sempre um curso mais ou menos sinuoso. Em cada curva do rio, chamada meandro na linguagem technica, a maior massa d'agua, seguindo a força centrifugal, tende a dislocar-se para o lado exterior, contra a beira concava. Ali estabelece-se a maior profundidade do leito, o canal, e o fio da correnteza, que está roendo a margem, principalmente se ella consiste de materiaes soltos de alluvião. A acção da erosão lateral (é assim que se chama esta forma especial de erosão ) é mais efficaz quando, depois da enchente, que inunda as beiras até uma grande distancia, o rio começa a baixar e a minar a beira ensopada. E” então que « cahem os barrancos », as vezes sobre extensões grandes e numa largura de diversos metros, com todas as arvores que elles sustentam. Principal- 104 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS mente durante a noite ouve-se então o trovão d'estas « terras cahidas»> que em muitos rios constituem, durante os primei- ros mezes da vazante. um serio perigo para a navegação. Às grandes arvores cahem ao fundo do rio, ou, quando a sua madeira é leve (como por exemplo no cedro ) elles são ar- rastados pela correnteza, até que ellas encalham em cima d'uma praia qualquer, onde ellas ficam até a proxima en- chente, gastando assim diversos annos até que ellas chegam no baixo Amazonas, às vezes já sem casca e meio apodresci- das. Como a terra do barranco cahido consiste principalmente de material fino, ella fica em suspensão na agua, depositan- do-se porem em grande parte, desde que a correnteza fica mais fraca, o que acontece na praia situada immediatamente abaixo do logar onde o barranco cahiu. Com a erosão late- ral e a dislocação do canal do lado da beira concava, a correnteza fica cada vez mais fraca do lado da beira con- vexa, operando-se ali o deposito dos materiaes em suspensão e a formação de uma praia. de declive brando. N'esta zona, a sedimentação é ainda favorecida pela vegetação herbacea e arbustiva que nasce nas praias e que fixa os sedimentos. D'esta forma, cada enchente addiciona uma nova camada de sedimentos. e emquanto que na beira concava a matta já crescida recua passo a passo, uma vegetação nova occupa as zonas addicionadas à praia. Estes phenomenos podem se observar em sua expressão mais simples e mais perfeita nos rios Purús e Juruá, em cujas innumeras voltas elies se repetem com uma regulari- dade admiravel. Dada a circumstancia, que a praia pelo seu crescimento fornece à vegetação cada anno uma nova zona para occupar, comprehende-se facilmente que a vege- tação das praias mostra uma disposição em degrãos ascen- dentes. Quando, na epoca da vasante, desembarcamos n'uma praia e penetramos de sua beira perpendicularmente ao curso do rio, encontramos primeiro, depois da praia baixa e arenosa que com qualquer repiquete fica revolvida e por isso geralmente é despida de vegetação, uma zona um pouco mais inclinada e occupada por uma vegetação de hervas quer annuaes quer vivazes e capazes de formar, durante a enchente, os prados fluctuantes. MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 105 Na parte superior d'esta zona mais inclinada cresce ge- ralmente, em orla mais ou menos continua, a oeirana (AÁl- chornea castaneifolia H. B. K.), arbusto da familia das Eu- phorbiaceas. Esta planta está marcando o limite entre a praia baixa, formada de areia. e a praia alta coberta de tijuco. Quando a transição de uma zona a outra é successiva, a oeirana pode faltar completamente. As primeiras essencias realmente arborescentes, que se encontram detraz das oeira- nas, são as imbaubas (n'este caso as especies Cecropia le- tevirens Hub. e Cecropia stenostachya Warb.), os verdadeiros precursores da vegetação arborea nas varzeas amazonicas. Accompanhadas de poucas plantas mais ou menos arbusti- vas: Muntingia calabura L., Adenaria floribunda H. B.K,, Bixa urucurana Willd., de especies de Anona, Psidium, Aca- Iypha, Miconia, Liibea, Casearia, Guarea e de algumas Mo- nocotyledoneas (Gynerium, Heliconia div. spec.). as imbaubas formam geralmente nas praias uma zona bem definida, mur- tas vezes mesmo uma verdadeira matta, o imbaubal. O im- baubal, com o seu crescimento rapido, com os seus pedes- taes de raizes semi-aereas, com a sua folhagem amiga da luz do sol, é a associação por excellencia dos terrenos de alluvião recente. Mas o seu crescimento em altura é limita- do (*) e como elle, pela pouca sombra que elle produz, per- mitte o crescimento de um grande numero de outras arvo- res debaixo de sua protecção eficaz, elle depois de algum tempo fica sobrepujado e subjugado pela vegetação arborea à qual elle deu agasalho. Com effeito pode-se ver, quando se penetra mais adiante no imbaubal, que na sua sombra cresce uma porção de arvores novas de folhagem mais densa e mais escura, como o louro da vargem ( Neciandra amazonum Nees) e outras Lauraceas, os tachys ( Triplaris surinamensis Cham. e Triplaris Schomburgkiana Benth. ?),a cuaxinguba ( Ficus spec.), a mutamba (Guazuma ulmi- folia Lam.), o assacú (Hura crepitans L.),o pão mulatto (*) Combinando as informações que recebemos sobre o crescimento dos imbaubaes, com os resultados de cultura no Horto botanico do Museu, podemos admittir que as imbaubas das praias attingem, em 5 annos mais ou menos, a sua altura maxima de 10 a 15 m. 106 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS (Calycophyllum Spruceanum Benth.), diversas especies de Sa- pium, Inga, Acacia, e a palmeira jauary (Astrocaryum jauary Mart. ). Todas estas arvores têm um crescimento rapido, de forma que em menos de 10 annos ellas são mais altas do que as imbaubas. Uma vez chegadas por cima das imbaubas, as suas copas alargam-se, formando uma abobada densa que não deixa passar senão uma pequena parte da luz do dia. Debaixo d'esta cobertura, as imbaubas já adultas definham pouco a pouco e, o que é ainda mais importante, a geração nova não acha mais as condições favoraveis para o seu desenvolvimento. As poucas plantinhas que ainda conseguem desenvolver-se, a muito custo, têm folhas muito finas e bas- tante modificadas em sua forma, de sorte que difficilmente são reconheciveis. A matta que se substifue assim ao imbaubal, e que n'u- ma publicação anterior (*) chamei a matta mixta de tran- sição, desenvolve-se finalmente, pelo crescimento dos seus elementos predominantes. e pela addição de mais algumas essencias, em matta alta caracterisada pela palmeira jauary, associação vegetal que corresponde às mattas de varzea do baixo Amazonas, e que, com ligeiras modificações apenas, se encontra ao longo do Solimões e do Maraion e de todos os seus affluentes de agua branca, ricos em sedi- mentos. O elemento mais constante e mais caracteristico d'estas mattas é talvez o tachy preto ( Triplaris surina- mensis Cham.) ao qual vem se juntar, no alto Amazonas e seus affluentes, o Triplaris Schomburgkiana Benth. (?), especie de porte mais elegante e de folhas mais largas. A munguba (Bombax munguba Mart.), que no baixo Amazonas, pelo seu porte possante e ao mesmo tempo pela sua frequencia, do- mina nas mattas da varzea, torna-se mais raro no alto Ama- zonas, onde o pão mulatto (Calycophyllum Spruceanum Benth.), que por sua vez cresce bastante espaçado no baixo Amazonas, fica tão frequente, que no rio Ucayali por exem- plo, elle constitue em certos logares quasi por si só a matta littoral que se substitue ao imbaubal e que n'este caso é de- (*) La végétation de la vallée du Rio Purús ( Bulletin de "Her- bier Boissier, Tome VI, 1906, p. 255). MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 10% signada pelo termo indigena de capironal, do nome de capirona que os peruanos deram ao pão mulatto. Nos generos Ficus, Sapium, Virola, Spondias, Cordia, Inga e Aca- cia havera provavelmente tambem substituição de outras especies, ao menos parcialmente, sabendo-se comtudo positi- vamente. que algumas especies, como por exemplo a Virola surinamensis Warb. (ucuuba) e Spondias lutea L. (tape- rebá) são espalhadas por toda a região. A arvore mais im- portante d'estas mattas, a seringueira (Hevea brasiliensis Mill Arg.), tão frequente nas ilhas e ao longo dos pequenos afflucntes do estuario, falta quasi completamente nas varzeas do baixo Amazonas, pelo menos na proximidade do rio, e ao longo do Solimões e do Maraion ella tambem é relativamen- te rara. Só no curso medio e superior dos affluentes da mar- gem direita ella apparece outra vez como elemento frequen- te e às vezes dominante das mattas da varzea. Mas não só na sua constituição definitiva, como tam- bem em sua origem e desenvolvimento, estas mattas mostram analogias perfeitas por toda a vasta planicie de alluviões recentes. A descripção que temos dado do desenvolvimento successivo da matta numa praia do rio Purús, concorda, nos seus traços essenciaes, com o que outros autores têm obser- vado em outros rios. Apenas ha substituição de especies (como por exemplo no genero Cecropia) ou outras modifi- cações de detalhe. Assim por exemplo, no rio Ucayali, os arbustos de Alchornea castaneifolia, que ainda no rio Javary, como no Purús e no Juruá, são absolutamente caracteristicas da vegetação marginal das praias, cedem o seu logar a um arbusto da familia das Compostas, a Tessaria integrifolia Ruiz et Pav. (pajarobôbo dos peruanos), e as gramineas, principalmente o Panicum spectabile Nees, formam, junto com as plantas annuaes das praias, entre as quaes destacam-se, pela sua frequencia, as especies de Jussiaea, verdadeiros prados em frente do imbaubal. Alem d'isto observa-se, no rio Ucayali, e da mesma forma no Marafon, um desenvol- vimento muito mais forte da canna de frecha (Gynerium sagittatum ( Aubl.) Beauv., e outras especies) que não só occupa aqui, entre a praia coberta de hervas e o imbaubal, uma zona mais ou menos larga, mas chega a cobrir quasi 108 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS exclusivamente a superficie de certas ilhas arenosas no meio do rio. Complicando de alguma forma o schema da evolução das praias e da sua vegetação caracteristica, o appareci- mento de ilhas, em alguns dos rios acima citados, é entretanto facil de explicar por uma interrupção de continuidade na formação d'aquellas, depositando o rio praias separadas da beira por um canal secundario, geralmente apenas aberto durante a enchente. Estas ilhas encostadas não são pois outra coisa senão partes destacadas das praias, podendo-se renovar o mesmo processo duas, tres ou mais vezes. Em cada uma d'estas ilhas encontra-se então, de fóra para den- tro, a mesma ordem na successão de vegetação, como n'uma praia. A formação das praias interrompidas ou ilhas encos- tadas acha-se representada em toda a sua pureza no rio Ucayali e ao que parece tambem no Maraíion, acima da sua confluencia com aquelle rio. Quanto mais largo porém o rio, em comparação com 'a sua profundidade, tanto mais frequente torna-se o caso, que o canal secundario que separa uma ilha encostada da margem, é escolhido pelo rio como canal principal, aprofundando-se e alargando-se consideravel- mente. A ilha, continuando o seu crescimento na direcção primitiva, e roida do lado do novo canal, chega assim, com o tempo, a occupar o meio do rio ou mesmo finalmente a mar- gem opposta. Se ella não passa do meio do rio, o que é muitas ve- zes o caso, ella, em vez de crescer de um lado e de gas- tar-se do outro, cresce agora na sua ponta dirigida rio abaixo e gasta-se na sua extremidade superior, ficando assim o seu eixo de symmetria, que primitivamente era dirigido mais ou menos perpendicularmente ao rio, dislocado em direcção longitudinal. Assim devese explicar a origem das ilhas que, situadas no meio do Amazonas, mostram a disposição cara- cteristica da vegetação diminuindo em tamanho na direcção da correnteza, notada por muitos viajantes. Infelizmente o assumpto que tenho de tratar n'estas paginas, não permitte entrar em pormenores sobre estas questões interessantes. Espero porem ter mostrado a relação MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 109 intima que ha entre as questões hydrographicas e o problema da vida e da morte das mattas de varzea. A matta alta caracterisada pela palmeira jauary é provavelmente a formação que maior superficie occupa nas varzeas do alto Amazonas. Elle prospera tanto ros trechos onde a sedimentação é pouco mais adiantada do que no imbaubal e que se innundam com uma camada de um a dois metros d'agua, como nos logares onde a sedimentação é muito activa, importando ás vezes em mcio metro e mais por anno. Sendo ella muitas vezes a forma mais perfeita à qual chega a matta de varzea, antes de ser de novo des- truida pela acção da erosão lateral, ella se mostra em mui- tos logares nos barrancos, que pela sua queda expoem cada anno novos cortes. Onde porém a sedimentação tem continuado regular- mente e por muito tempo, —e isto se dá só nos trechos dos rios onde as curvas são amplas e não muito proximas umas das outras—, esta matta de varzea commum (se é permittido chamal-a assim) teve tempo de evoluir, pela addição de numerosos elementos novos, em um typo muito mais rico e perfeito, que apezar de pertencer indubitavelmente à varzea, já apresenta muitas analogias com a matta de terra firme. Esta matta da varzea mais alta (tomamos aqui como exemplo a do medio rio Purús), que pode-se caracterisar com a presença frequente da palmeira urucury (ditalea excelsa Mart. ), distingue-se à primeira vista pelas suas ar- vores enormes e frondosas, pertencendo às familias mais va- riadas, como Moraceas, Leguminosas, Lecythidaceas, Sapo- taceas, etc. destacando-se, pelo seu porte e pela sua fre- quencia, as especies seguintes : sumauma (Ceiba pentandra Gaertn.) muiratinga (Olmedia aff. calophylla Poepp.) cedro ( Cedrela spec.) cumarú (Dipteryx odorata Willd.) cumarú rana (Dipteryx oppositifolia Willd.) jutahy (Hymenaea spec.) copahiba (Copaifera spec.) castanha de macaco (Couroupita subsessilis Pilg.) tauary ( Couratari spee. ?) 110 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS assacú (Hura crepitans L.) assacú rana (Erythrina glauca Willd.) Parkia multijuga Benth. Andira inermis H.B. K. Apuleia molaris Spruce. Das especies já anteriormente citadas como fazendo parte da matta de varzea, diversas perdem aqui a sua im- portancia como essencias dominantes, desapparecendo alguns quasi completamente, como o Triplaris surinamensis e o Bom- bax munguba, emquanto que outras, como o Calycophyllum Spruceanum e a Hevea brasiliensis attingem, embora em nu- mero reduzido, n'estas florestas o seu desenvolvimento mais imponente. A maior parte das especies mencionadas continua porém de crescer no meio da matta em questão, occupando um papel subordinado ao lado dos gigantes da floresta, que attingem às vezes mais de 40 metros. emquanto que a al- tura media da matta de varzea mais desenvolvida não pas- sara de 30 metros. A organisação complexa da matta a urucury, mos- tra-se ainda na disposição dos seus elementos em diversos andares, Debaixo do andar das especies principaes, cujas copas se desenvolvem entre 20 e 30 metros, ha outra camada, à qual pertencem diversas especies de Sapium (p. e. S. Marmicri Hub. ), Jacaratia digitata Solms, Guazuma ulmifolia Lam, Genipa americana L., diversas especies de Virola, Cordia, Inga, Triplaris, Rheedia, Cecropia, Duguetia, Guatteria, Cassia, Plumiera, etc., e debaixo d'esta camada fica ainda a nume- rosissima tribu dos arvoredos e arbustos que attingem ape- nas de 2 a 10 metros de altura. Esta cathegoria que na matta menos especializada muitas vezes é substituida pelas cannas de frecha, Heliconias e outras monocotyledoneas de folhas grandes, é aqui representada por uma variedade espantosa de plantas das familias mais diversas entre as quaes citamos as Rubiaccas (Faramea, Coussarea, Psychotria, Duroia, Alibertia, etc.), Solanaceas (Solanum, Brunfelsia ), Piperaceas (Piper), Myrtaccas (Eugenia, Calyptranthes, Bri- toa ), Bombaceas (Matisia ), Sterculiaccas ( Theobroma e Her- rania ), Theophrastaceas ( Clavija), Myrsinaceas ( Ardisia ), Apocynaceas ( Tabernaemontana ), Caricaceas (Carica ), Le- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 111 guminosas (Cassia. Inga), Lecythidaceas (Gustavia), Loga- niaceas ( Strychnos), Euphorbiaceas ( Acalypha), Erythroxy- laceas ( Eryihroxylum ), Menispermaceas (Abuta ), Anonaceas ( Anona, Duguetia), Melastomaceas (Clidemia ), Olacaceas ( Heisteria ), etc. Emquanto que nas mattas onde predominam os tachys e as mungubas, as plantas trepadeiras são em sua maior parte de curta duração, tendo, como -as do imbaubal, o seu principal periodo de vegetação e florescencia durante O tempo da enchente, a matta das varzeas altas possue já um grande numero de verdadeiros cipós, pertencendo principal- mente ás familias das Leguminosas, Dilleniaceas, Menisper- maceas, Sapindaceas, Malpighiaceas. Bignoniaceas, e em grande parte aos generos representados tambem nas mattas da terra firme. Frequentes e variadas são as Araceas que trepam por meio de raizes, e a mesma forma de vegetação têm algu- mas especies de Fetos, Piperaceas, Bignoniaceas e Cyclan- thaceas. Tambem nas pequenas plantas que cobrem o chão e no maior numero de verdadeiras epiphytas mostra-se a organisação mais perfeita d esta matta. Mas o que distingue principalmente a matta das var- zeas altas, é a sua riqueza em palmeiras. Se ella talvez não iguala, sob este ponto de vista, as mattas do estuario, é to- davia certo, que leva vantagem sobre a matta da terra firme. A palmeira jauary ( Astrocaryum jauary Mart.), com as suas grandes toiças de troncos espinhosissimos, mas sem- pre elegantes, tão caracteristica da matta de varzea baixa, desapparece aqui completamente ou se acha só representada por exemplares velhos. Em seu logar encontra-se, como es- pecie mais frequente e caracteristica, o possante urucury ( Attalea excelsa Mart.), bem conhecido dos seringueiros que com os seus caroços defumam a borracha. E' com effeito um facto averiguado, que nos logares onde se acha a Hevea brasiliensis no alto Amazonas, tambem se encontra o urucury, e vice versa. O murumurú ( Astrocaryum Murumuru Mart.), palmeira espinhosa que de longe se reconhece pelas suas grandes folhas regularmente pinnadas e brancas por baixo, e que 112 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS “ quanto ao terreno que elle occupa, observa uma posição inter- mediaria entre estas palmeiras, tem a mesma area de dispersão como o urucury. Ambas as palmeiras accompanham o Amazo- nas desde o estuario até alem da fronteira do Perú e tambem os seus affluentes de agua branca, principalmente os do sul (os do norte não são bem conhecidos a este respeito ) até o seu curso superior. No Maraúon peruano e no Ucayali, substitue-se ao murumurú uma outra especie chamada hui- cungu pelos peruanos (talvêz o Astrocaryum minus de Trail), e ao urucury a shapaja (que é talvez identica à jacy do rio Purús (Attalea Wallisii Hub.). Uma palmeira muito frequente das varzeas altas do Solimões e dos seus affluen- tes é o assahy do alto Amazonas ( Euterpe precatoria Mart.), que se distingue do assahy do Pará, pelos seus troncos sempre isolados e não reunidos em toiças. Em todas as varzeas altas do alto Amazonas encontra-se tambem a pachiuba (Iriartea exorrhiza Mart.) uma das palmeiras que occupa maior area na região amazonica e que no Ucayali é representado por uma forma um pouco mais desenvolvida, que parece corresponder à Iriartea Orbigniana Mart. Outras palmeiras que encontram-se em companhia das já enumera- das, são a bacabinha ou bacaba-y (Oenocarpus multicau- lis Spruce ), diversas especies menos frequentes e pouco co- nhecidas de Átialea, muitas especies de Baciris e de Geonoma, nos cursos superiores dos affluentes a yarina (Phytelephas macrocarpa e microcarpa Ruiz et Pav.), a Acanthorrhiza Wal- lisii Wendl. etc. A matta das varzeas altas mostra não só uma compo- sição muito variada, mas tambem, de um ponto para o outro, differenças sensíveis nos seus elementos, tendo geralmente as arvores grandes uma distribuição maior do que os ele- mentos do sous-bois. Entretanto ainda estamos longe de po- der fazer uma estatistica ao menos approximativa d'estas relações, sendo as arvores grandes raramente conhecidas por especimens botanicos sufficientes. Algumas especies de arvores menores, como Theobroma Cacao L., Theobroma spe- ciosum var. coriaceum Hub., Jacaratia digitata Poepp., Sapium Marmieri Hub., Leonia glycycarpa Ruiz et Pav. foram en- contradas por mim tanto no rio Purús como no rio Ucayali, MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 113 e seria facil compôr uma longa lista das especies arborescentes que crescem n'uma grande parte das varzeas amazonicas; mas do outro lado observa-se tambem frequentemente, que dentro do mesmo genero as especies são differentes nas var- zeas de dois rios visinhos. Que: n'este caso os affluentes me- ridionaes do Amazonas differam mais dos septentrionaes do que entre si, é muito provavel. mas ainda não provado com dados irrefutaveis. O termo de Igapó, que na lingua indigena significa:matta cheia d'agua, tem sido. por Martius e muitos outros auto- res depois, applicada para designar os terrenos de alluvião mais recentes, de forma que entrariam n'esta cathegoria em primeiro logar as praias, onde, como expliquei, a alluvião tem o seu principio. Ora ninguem chamará igapó uma praia, principalmente no tempo de verão, quando esta formação esta longe de ser uma matta cheia dagua. Com o nome de igapó, o indigena designa antes uma matta onde a agua fica estagnada ou retida durante muito tempo, isto é, os trechos da matta com drenagem insufficiente. Por isso, os trechos pantanosos da terra firme são tambem chamados igapós. Com outras palavras, os igapós podem caracterisar-se, nas Varzeas amazonicas, como os trechos cujo nivellamento ficou retar- dado, no processo da alluvião, por uma sedimentação insuf- ficiente. Theoricamente, os sedimentos dos rios de agua branca, espalhando-se durante a enchente sobre toda a planicie de alluvião, deveriam provocar, com o tempo, o nivellamento perfeito das varzeas. Isto porém, posto mesmo que não existisse nenhuma vegetação nas beiras do rio, nunca seria o caso, porque os sedimentos mais pesados e mais volumo- sos seriam mesmo assim sempre depositadas perto do canal, ficando para as partes mais affastadas só os sedimentos mais finos e menos volumosos. Assim quando um trecho da var- zea baixa, por um motivo qualquer, fica bastante afastado do rio, elle custa de ser nivellado com o resto da planicie de alluvião e fica durante um tempo mais ou menos dilata- do em estado de igapó. Temos visto, por occasião da exposi- ção da origem dos meandros, que estes crescem, ficando a sua curva cada vez maior, desenvolvendo-se em laço. Nos rios 114 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS onde a erosão lateral é muito activa, dois laços visinhos appro- ximam-se facilmente até se romper o-Isthmo- estreito que ha entre elles. Produz-se um «saccado», simplificando-se o curso do rio e ficando a volta antiga separada, ao menos na sua entrada superior, por um dique rapidamente amontoado pelo rio. O lago em ,forma de ferradura, que assim se forma (e quasi todos os lagos do alto Amazonas têm esta origem), a começar pelas duas extremidades, enche-se pouco a pouco de sedimentos, mas quanto mais longe elle fica do rio, tanto mais demorada se torna a sedimentação. A vegetação das suas beiras, que primitivamente era identica a de qualquer volta do rio, com a praia coberta de imbaubal na beira | convexa e a matta alta na beira concava, muda pouco a pouco de aspecto, a matta alta substituindo-se à vegetação da praia, até uma zona onde a agua demora durante uma grande parte do anno. Naturalmente opera-se n'este caso uma certa selecção das essencias que occupam esta zona, o povoamento d'este trecho sendo só possivel aos elementos mais adaptados à vida semiaquatica. E” a associação do igapó que achamos n'estes logares em sua pureza. Evidentemente as praias e principalmente a sua parte situada rio abaixo, podem mostrar trechos de sedimentação imperfeita, que mais tarde subsistem durante algum tempo como igapós, geralmente de pequena extensão. Igapós maio- res podem formar-se tambem na emboccadura de afluentes de agua preta, pobres em sedimentos, dos quaes vamos fallar mais adiante. As arvores do igapó recrutam-se em parte da matta geral das varzeas, e n'este caso ellas ficam mais baixas e ramificadas em altura menor; mas em geral a composição da matta muda completamente, desde que chegamos n'um igapó. Arvores bem caracteristicas dos igapós do alto Ama- zonas são diversas especies de Urosligma, com as suas raizes grotescas fingindo troncos entrelaçados, a jacareuba (Calo- phyllum brasiliense Camb.) o arapary (Macrolobium acaciae- folium Benth.), osabiuranas (Lucuma div. especies), parica- rana (Ácacia polyphylla DC.), tachy (Pterocarpus ancyloca- lyx Benth.), louro do igapó (Nectandra amazonum Nees), piranheira (Piranhea trifoliolata Baill., principalmente fre- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 115 quente no Acre), ingá (Inga div. spec.). jauary (Astroca- ryum jauary Mart.). De arvores pequenas e arbustos, encon- trei as seguintes em igapós typicos: geniparána (Gustavia augusta L.) tarumá do igapó (Vitex cymosa Bert.) Couralia toxophora Benth. et Hook. Chlorophora tinctoria Gaud. var. Pithecolobium aff. latifolium Benth. Allophylus amazonicus Radlk. Dalbergia monetaria L. f. Luehea aff. cymulosa Spruce Malouetia aff. tamaquarina DC. Cybianihus penduliflorus Mart. e diversas especies de Anona, Heisteria, Neea, Endlichera, Connarus, Salacia, Sloanea, Gouania, Combretum, Miconia, Eugenia, Baciris, Solanum, etc. Os cipós são relativamente raros no igapó, e as plan- tas trepadeiras por meio de raizes são apenas representadas por uma Cactacea, bastante frequente nos rios Purús e Ju- ruá, o notavel Cereus Wittii Schum., e um ou outro Philo- dendron. Em compensação, as epiphytas são muito bem re- presentadas no igapó, achando nas arvores bastante distan- tes entre si a luz sufficiente ao seu desenvolvimento e ao mesmo tempo a humidade necessaria. Os caules e muitas vezes tambem as folhas do sous-bois, são cobertos de mus- gos e hepaticos, e nas forquilhas dos primeiros galhos, mui- tas vezes ao alcance de quem passa na canôa, cresce uma grande variedade de Orchideas. entre as quaes diversas es- pecies de bom tamanho, como Schomburgkia crispa, Onci- dium Baueri, Oncidium lanceanum, Brassia caudata, etc., as- sim que diversas especies de Anthurium, de raizes formando ninho (4. gracile, À. vitiaria, À. Ernesti), diversas especies de Peperomia, Rhipsalis cassytha, Phyllocactus phyllanthus, diver- sas Bromeliaceas ( principalmente do genero AÁechmea ) Ges- neraceas e fetos ( Polypodium decumanum NWilld. e P. pilosel- loides L. etc. ). Completamente differentes dos rios de erosão lateral activa e ricos em sedimentos, que determinam em primeiro 116 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS logar o facies silvatico das varzeas do alto Amazonas, são os rios pobres em sedimento. Muitos d'estes rios têm, como o Rio Negro. que de todos elles é o mais importante, uma agua colorida por materias humosas, que parece completa- mente preta quando vista em maior espessura. Esta côr ob- serva-se aliás em todos os igarapés da planicie de alluvião que, nascendo em igapós, deslisam debaixo da sombra da matta. Estes igarapés costumam ter margens mais ou menus encharcadas, que mostram a vegetação do igapó. Ha entre- tanto um grande numero de rios. cuja agua, apezar de ser pobre em sedimentos, não têm a côr caracteristica dos rios de agua preta. São estes principalmente os afiluentes do baixo Amazonas, como Tapajoz, Xingú, todos os affluentes meridionaes do estuario, e a maior parte dos affluentes sep- tentrionaes do Amazonas a Veste do Rio Negro. Segundo tudo que se sabe d'estes rios, elles mostram a vegetação caracteristica das varzeas amazonicas só no seu curso inferior, onde a influencia das aguas do Amazo- zonas ainda se faz sentir, emquanto qne no seu curso supe- rior elles têm uma vegetação ribeirinha propria, sem a suc- cessão regular de cannarana, imbaubal e matta de varzea. Os maiores, como o Rio Negro e o Tapajoz, conservam mesmo a sua vegetação até a sua foz. Como o leito d'estes rios, cavado geralmente n'um terreno mais resistente, é tam- bem menos variavel, uma vegetação definitiva e por isso geralmente mais variada pode installar-se nas suas beiras. Aqui as praias, muitas vezes de areia quasi pura, são occu- padas por uma vegetação arbustiva rica em especies (como por exemplo no baixo Yamundá e no Rio Negro), detraz da qual eleva-se a matta composta de arvores geralmente não muito altas e de folhagem densa, d'um verde escuro ou ligeiramente olivaceo (*). Para a descripção da matta mar- ginal dos rios de agua preta posso referir-me ao trabalho do (*) O crescimento d'estas arvores é, segundo experiencias feitas com algumas d'ellas, mais demorado que nas arvores das varzeas amazo-. nicas propriamente ditas. E” provavel que este facto, assim como a estruc- tura mais xerophytica de todas as plantas que crescem nas praias dos rios pobres em sedimentos, seja consequencia da natureza mais francamente are- nosa do solo e da sua pobreza em saes nutritivos. MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 117 Sr. Ernesto Ule intitulado: Die Pflanzenformationen des Âma- xonasgebietes ( Engler's Botanische Jahrbiicher fiir Systematik, Pflanzengeschichte und Pflanzengeographie, Band 40), onde este autor trata, em capitulo especial (p. 154), da vegeta- ção do baixo Rio Negro. A matta littoral do rio Ya- mundá, deseripta pelo nosso collega Adolpho Ducke, no ul- timo volume d'este Boletim (vol. V, p. 311), parece con- cordar em. muitos pontos com a do baixo e medio Rio Negro. Da mesma forma parece que alguns affluentes do baixo rio Madeira e o Tapajoz apresentam muitas analo- gias com o Rio Negro. Dos outros affluentes da margem direita do Amazonas, até o Oceano, ainda sabemos pouca “coisa, com excepção do rio Capim e do rio Guamá, que me são conhecidos de visu. Estes rios, que têm um curso sinuoso e uma correnteza rapida, quasi como os affluentes do alto Amazonas, não deixam de offerecer certas analogias com os rios ricos em sedimentos. Assim o rio Guamá pos- sue, nas suas praias, uma vegetação graduada com uma zona ( pouco desenvolvida. é verdade) de imbaubas, e o rio Capim mostra, no seu curso superior, o phenomeno dos la- gos em forma de ferradura, com uma vegetação de igapó em suas beiras. Mas no rio Capim, as imbaubas faltam, e, como nos outros rios pobres em sedimentos, as Leguminosas oceupam, ao lado das Rosaceas, um logar importantissimo e às vezes quasi exclusivo na matta das beiras. Assim, a matta littoral do curso superior do Capim, entre o limite da acção das marés e a cachoeira, que fica pouco abaixo de sua bifurcação, compõe-se das. seguintes essencias dominantes: tachy (Sclerolobium Goeldianum Hub.) arapary (Macrolobium acaciaefolium Benth.) acapurána ( Campsiandra laurifolia Benth.) pão rôxo (Peltogyne paraênsis Hub. ) ingá rana (Inga disticha Benth.) ingá da flôr amarella (Inga nitida Willd.) fava de empigem (Vutairea guyanensis Aubl.) ipé (Macrolobium bifolium ( Aubl.) e M. chrysosta- chyum Benth, ) 118 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS cutimandiocca (Licania capinensis Hub.) cariperana (Moquilea turinva Hook.) louro da varzea (Ocotea laxiflora Mez) mamorana ( Pachira aquatica Aubl.), e algumas ou- tras (como pão de bicho, cuja classificação não foi pos sivel). Os logares mais baixos são ali occupados pela pal- meira jauary ( Astrocaryum jauary Mart.), em associações quasi puras ou misturadas com o arapary, ingarana ou outras arvores, emquanto que. nos trechos mais altos da varzea (restingas), apparecem as especies seguintes: cutitiribá (Lucuma rivicoa Gaertn.) massaranduba ( Mimusops aff. elata Fr. Allem.) maparajuba (Mimusops maparajuba Hub. e M. pa- raensis Hub.) canna fistula (Cassia leiandra Benth.) caraipé verdadeiro (Licania myristicoides Benth.) bacury ( Platonia insignis Mart.) breu branco ( Protium hepiaphyllum ( Aubl.) March.) sucuúba (Plumiera spec.) inajá (Mauximiliana regia Mart.), etc. Arvores e arbustos característicos das beiras do Rio Negro e em parte tambem de outros rios de agua pobre em sedimentos são: Rhopala obtusata Kl. e Andriapetalum rubescens Schott (Proteaceae) Chaunochiton loranthoides Benth. (Olacaceae) diversas especies de Licania (principalmente L. he- teromorpha Benth.) Hirtella, Conepia (Rosacege) diversas especies de Inga, Pilhecolobium, Calliandra; Parkia aculeata Spr. (Leg. Mimos.) muitas especies de Swarizia, Macrolobium, Tachiga- lia, Sclerolobium, Cynometra, Peltogyne, Eperua; Palovea guyanensis Aubl., Heterostemon mimo- soides, Campsiandra laurifolia Benth. (Leg. Caesalp.) varias especies de Ormosia; Sweelia nitens Benth. Leg. Pap.) MATTAS E. MADEIRAS AMAZONICAS 11C varias especies de Erythroxylum (Erythroxylaceae) Lophanthera longifolia Griseb., Clonodia verrucosa Griseb., Burdachia prismatocarpa Mart. e div. esp. de Byrsonima (Malpighiaceae) E Oualea retusa Spr. (Vochysiaceae) Pera distichophylla Baill. (Euphorbiaceae) Mollia speciosa Mart. et Zucc., M. lepidota Spruce ( Tiliaceae) Elvasia calophyllea DC.. Blastemanthus gemmiflorus Mart. et Zucc. (Ochnaceae) Caryocar edule Casar. (Caryocaraceae) varias especies de Tovomita e Caraipa (Guttiferae) Laetia suaveolens Benth. (Flacourtiaceae) Lophostoma ovatum Meissn., L. calophylloides Meissn. ( Thymelaeaceae) muitas Myrtaceae e Melastomaceae (Henriettea, Tococa etc.) | muitas especies de Sirychnos (Loganiaceae) diversas especies de Petraea (Verbenaceae) Stachyarrhena spicata Hook. f. (Rubiaceae) Entre as palmeiras convem citar em primeiro logar o genero Leopoldinia, do qual só uma especie, L. pulchra Mart. (Jara) têm uma distribuição bastante larga no centro da re- gião amazonica, emquanto que a L. maior de Wallace é limi- tada aos igapós do Rio Negro mesmo e a L. piassaba Walla- ce, que fornece a bem conhecida piassava do Amazonas, cresce exclusivamente ao longo de alguns affluentes do medio Rio Negro e no alto Rio Negro. Outras palmeiras peculia- res das beiras do Rio Negro são a Mauritia aculeaia Humb,, M. gracilis Wallace, e M. pumila Wallace. Onde os rios ou igarapés de agua preta ou pobres em sedimentos desembocam na planicie alluvial do Amazonas ou de um dos seus afíluentes de agua turva, elles produzem frequentemente um « defeito de sedimentação », porque recha- çando a agua carregada de sedimentos impedem-a de comple- tar a sua obra de nivellamento. Por isso achamos muitas vezes, na emboccadura d'estes rios: lagos ou igapós mais ou menos extensos, que possuem uma flora sui generis, mis- 120 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS turada com elementos que pertencem em parte à varzea ama- zonica, em parte ao valle do rio em questão. Caracteristica destas beiras dos lagos e igapós marginaes das planicies de alluvião é a seringueira barriguda (Hevea Spruceana Muell. Arg.). Talvez devemos explicar por este phenomeno o facto que certas arvores frequentes na beira dos rios de agua clara, como por exemplo o arapary ( Macrolobium acaciaefolium Benth.), se acham, nas varzeas amazonicas, estrictamente localizadas nos igapós. Em geral, a matta das varzeas amazonicas apresenta-se ainda, por toda a planicie de alluvião. em seu estado pri- mitivo e pouco alterada pela influencia do homem. Prin- cipalmente no estuario, na chamada «região das ilhas », onde a industria da borracha é quasi a unica occupação dos habitantes, a matta primitiva mostra poucas interrupções. Mesmo em torno de agglomerações maiores de habitações, ostenta-se a matta quasi intacta, apenas cortada pelas estra- das dos seringueiros. Muitas vezes, as pequenas roças feitas pelos seringueiros em proximidade das: suas casinhas, são outra vez invadidas pelos elementos das mattas circumvisi- nhas, que em pouco tempo apagam mesmo estes exiguos signaes da actividade humana. As capueiras assim cons-. tituidas, de extensão geralmente muito reduzida, não têm ele- mentos caracteristicos, a não ser algumas imbaubas ( pro- vavelmente a Cecropia paraênsis, do baixo Amazonas) que faltam à matta primitiva das margens do estuario. Muito mais importante é a acção do homem sobre as restingas do baixo Amazonas. Aqui a zona estreita occupada pela matta é ao mesmo tempo o centro principal da cultura do cacaoeiro. (Grandes cacaoaes estendem-se ao longo do Amazonas, principalmente entre Obidos e a confluencia do Rio Negro, mas com pouca largura da beira para dentro. Os cacaoaes são geralmente apenas sombreados por alguns pés de imbauba, raras vezes por seringueiras plantadas para este fim. Perto das casas, o aspecto da vegetação é muitas vezes alterado pela presença de palmeiras cultivadas, prin- cipalmente do assahy do Pará (Euterpe oleracea Mart.) e da bacabinha (Oenocarpus multicaulis Spruce), ás vezes tambem do mirity (Muuritia flexuosa L. f.), palmeiras que MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 121 na: matta primitiva da beira do baixo Amazonas não são representadas: alem d'isto ha ali muitas arvores fructiferas facilmente reconheciveis como introduzidas pela mão do homem. No rio Solimões, principalmente de Teffé até a fron- teira peruana, assim como no curso inferior dos affluentes, a matta da varzea mostra-se em toda a sua feição selvagem e primitiva. e mesmo no Amazonas peruano, onde as var- zeas fertilissimas são em muitos pontos aproveitadas para o cultivo da bananeira. que alli representa um genero de ali- mentação de muito maior importancia do que no Brazil, o aspecto primitivo da matta. littoral é raras vezes modifi- cada por esta cultura. No Purús, como tambem no Juruá, as maiores plantações ( principalmente de feijão, mandioca, macacheira, milho, girimum e melancia, se fazem na parte das praias ainda não occupada pela matta, aproveitando-se para isto exclusivamente a estação estival. Na: varzea alta, nas proximidades dos barracões, a matta é às vezes derru- bada para a producção d'um campo artificial. que conser- va-se limpo. emquanto que elle serve de pastagem para o gado, volvendo ao “estado de matta quando abandonado asi mesmo: N'estes antigos: pastos apparece primeiro uma vege- tação arbustiva que lembra as capueiras da terra firme e contem:tambem alguns dos seus elementos. como por exem- plo a goiabeira (Psidium Guayava L.), que no Purús é ex- cessivamente frequente nos antigos pastos e evidentemente introduzido pelo homem. As capueiras nascidas no logar de bananaes abandona- dos, compõem-se de elementos mais variados. Assim encon- trei, n'uma-d'estas capueiras do alto Purús, ao lado de di- versos exemplares de imbauba verde ( Cecropia laetevirens Hub.), de alguns arbustos que crescem em sua companhia nas praias, e de outros elementos da matta da varzea, (es- pecies de Sapium, Piper, Allophylus, Acalypha ), diversas plan- tas caracteristicas dos despenhadeiros da terra firme, como Apeiba tibourbou Aubl. (pente de macaco). Cassia reticu- lata Willd. (mata pasto), Solanum grandiflorum Ruiz et Pav. (jurubeba), Solanum aff. caavurana: Vell., Piper pelta- 122 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS tum L., etc., elementos communs das capueiras de terra firme por toda a região amazonica. Lançando ainda um olhar de conjuncto sobre as mat- tas das planícies de alluvião do Amazonas e dos seus tribu- tarios, podemos ver que o alto Amazonas e os seus afluentes, principalmente os da margem direita, offerecem o espec- taculo mais surprehendente de uma vegetação cujo nasci- mento pode-se seguir por assim dizer passo a passo e à cuja destruição brutal pelos rios que, taes como arados gi- gantes, viram e reviram as suas planicies de alluvião, pode- mos assigtir assombrados. No baixo Amazonas vêmos a mat- ta das varzeas ficar mais pobre e por assim dizer parada n'uma phase imperfeita de sua evolução, até que no estuario ella retoma a sua exhuberancia, mas sob outras condições do que no alto Amazonas, mais concentrada e menos sujeita ás grandes catastrophes, se não fôr a acção da pororóca, que em alguns pontos da bocca septentrional do Amazonas, até o Cabo do Norte, está dizimando as bellas mattas littoraes com os seus ataques furiosos. Em pleno contraste com a obra de destruição e reconstrucção grandiosa, realisada pelo Amazonás e os seus affluentes de agua branca, apresentam-se os rios de agua preta, com a sua correnteza lenta e a sua vegetação littoral como que fixada e adormecida na segu- rança de uma vida quieta e exempta de grandes cataclys- mos. Chegamos enfim a tratar das Mattas de terra firme, do ecaá-été dos indigenas, ou as mattas não alcançadas pelas inundações dos rios. À' primeira vista não parece dificil distinguilas, mesmo pela elevação do terreno, das mattas de varzea; porem nos rios que mostram terraços fluviaes, (e estes provavelmente são mais frequentes do que se pensa geralmente) pode às vezes haver duvida se estes têm de considerar-se como pertencendo à planicie alluvial ou á terra firme, tanto mais que a sua elevação acima das planicies de alluvião é geralmente insignificante. A extensão enorme dos terrenos alluviaes do Amazonas e dos seus af- fluentes, junta ao seu relevo muito fraco, que sob o mantô da vegetação luxuriante quasi não apparece, torna dificil o reconhecimento da sua extensão e dos seus limites exactos. MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 123 A composição mesma da matta não é sempre um indicio certo. existindo, como acabamos de vêr, mattas de varzea que apresentam grandes analogias e muitas vezes elementos communs com as mattas da terra firme. Em grandes exten- sões, como por exemplo entre os rios Purús, Juruá e Javary, a chamada terra firme não apparece ser outra coisa senão uma superficie de alluviões fluviaes pouco mais antigas, agora fóra do alcance das innundações, e modificada pela erosão subsequente. Serras altas, elevando-se abruptamente das planicies, existem na região do Rio Negro e do Rio Branco. As serras que accompanham a margem esquerda do baixo Amazonas, attingem apenas 200 a 300 m e não parece que a sua ve- getação arborea tenha um caracter differente do da matta das terras firmes circumvisinhas. Sobre as mattas da serra de Tumuc Humac e de algumas serras assignaladas ao sul do Estado do Pará não temos indicações positivas que per- mittam fazer-se uma idéa sobre a sua composição. Na maior parte dos casos, porém, as terras firmes entre os rios são planaltos pouco elevados, de superficie plana ou ligeiramente ondulada ou profundamente recortada por cursos d'agua secundarios, e cobertos de depositos areno- sos ou mais ou menos argilosos. No baixo Amazonas e em muitos pontos do alto Amazonas, estes depositos, geral- mente não estratificados, têm uma côr amarella ou averme- lhada caracteristica, que não se encontra nos terrenos de alluvião. São os terrenos considerados como «glacial drift» por Agassiz e que os geologos actuaes costumam chamar de laterite. Apezar de que actualmente a origem glacial d'estes depositos não é mais admittida, falta ainda uma explicação para a sua existencia em tão grandes extensões, e uma determi- nação exacta da sua idade geologica. O mais provavel é entre- tanto que elles correspondam ao diluvium e que a sua origem seja em parte fluvial, em parte eolica. Em certos logares, como por exemplo nas zonas encachoeiradas dos affluentes do baixo Amazonas, as camadas superficiaes serão evidentemente em parte o producto directo da decomposição dos terrenos mais antigos do carbonifero, devoniano e siluriano, cujas camadas são visíveis nas cachoeiras; em outros logares finalmente, 124 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS como por exemplo na parte mais oriental do Estado do Pará, a matta eleva-se sobre os terrenos archaicos, cobertos apenas de uma camada mais ou menos desenvolvida de materiaes de decomposição. E” difficil, segundo o estado actual dos nossos conheci- mentos, de se fazer uma idea exacta da distribuição e da composição das mattas de terra firme na região amazonica, porque as terras firmes entre os rios são geralmente muito menos conhecidas do que as varzeas que acompanham o seu curso. Estas, alem de ser de mais facil accesso, são tambem melhor exploradas por causa da Hevea brasiliensis. Nos pon- tos, onde a terra firme chega até a beira dos rios, e onde ella por conseguinte é de mais facil accesso, a matta se acha geralmente bastante modificada pela intervenção do homem, que de preferencia escolheu estes logures para o seu estabe- lecimehto. Entretanto não é impossivel penetrar tambem nas mattas de terra firme e a sua exploração methodica e só uma questão de tempo. Multiplicam-se desde alguns annos as vias de penetração que: permittem de estudar a matta em seu estado primitivo, e se a sciencia aproveita o ensejo de seguir de perto os progressos da penetração commercial, ella em poucos annos será a mesmo de dar uma idéa muito mais exacta da matta amazonica do que é possivel ter-se actual- mente. Uma circumstancia que tem contribuido muito para tornar conhecidas, ao menos superficialmente, as mattas de terra firme, tanto no baixo como no alto Amazonas, são as expedições emprehendidas para a exploração do caucho ( Castilloa Ulei Warb.) e da castanha (Beriholletia excelsa H.B.K). Onde se acha uma d'estas especies, o phytogeogra- pho pode ter a certeza que existe ou pelo menos existia primitivamente a matta virgem de terra firme em seu pleno desentolvimento, porque estas duas essencias são caracteris- ticas da matta alta e typica. Aproveitando estes dados, as relações de viagens de diversos exploradores que percorreram a região amazonica e os resultados das excursões scientificas do Museu Goeldi, chegamos ao seguinte resumo sobre as mattas de terra: firme da Amazonia. MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 125 Das portas da capital até os limites orientaes do Es- tado do Pará, extende-se, entre o oceano e o rio Guamá, uma zona de mattas muito ricas, conhecidas sob o nome de mat- tas da Estrada de Ferro de Bragança. Estas mattas, ape- zar de serem relativamente pobres em castanheiros, e de não conterem o caucho, têm um grande valor, principalmente por causa das suas madeiras, entre as quaes são as mais importan- teso acapú (Vouacapoua americana Aubl.), pão amarello (Euxylophora paraênsis Hub.) pão santo ( Zollernia paraênsis Hub.), massaranduba (Mimusops aff. elata Freire All. e Mimusops amazonica Hub.) jarana (Chytroma spec.), matá- matá ( Eschweilera sp.), etc. Toda a região entre o Oceano eo rio Gurupy de um lado, o Tocantins e o rio Pará do outro lado, que poderiamos chamar a matta geral da re- gião oriental do Pará, parece ter um caracter semelhante, e desde os tempos coloniaes tem abastecido a capital com as madeiras mais importantes. Da margem esquerda do Tocantins até o Tapajóz, ex- tende-se, em uma largura de 5 degrãos de latitude pelo menos, a matta geral da parte meridional do Estado do Pará. E' verdade que ao sul do setimo degrão de latitude o interior das terras é quasi completamente desconhecido e que a vegeta- ção littoral dos grandes rios. a unica conhecida n'aquellas latitudes, indica antes a proximidade dos campos, mas se- gundo o que sabemos sobre o rio Itacayunas, affluente do rio Tocantins, os afíluentes orientaes da volta do Xingú, o Iriri, affluente da margem esquerda do Xingú, e Jamauchim, affluente da margem direita do Tapajoz, todos elles têm a sua origem e o seu curso n'uma região de mattas que por conseguinte provavelmente sob o setimo degrão extende-se ainda em zona ininterrupta do rio Araguaya até o rio Ta- pajoz ou pelo menos até a proximidade d'este. As mattas entre Tocantins e Xingú são consideradas como as mais ri- cas do Estado. E ali, que é o principal centro de produe- ção de caucho e tambem de castanha. ÀÃo S e SE de Santarem existem aliás tambem mattas ricas em Castilloa e Bertholletia. “Ao norte do Amazonas, onde o cordão littoral e allu- vial do Atlantico é mais largo do que na região do Sal- 126 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS gado, a matta da terra firme é mais retirada da costa, oc- cupando, ao que parece, toda a região do curso superior dos rios da costa e dos affluentes do estuario, até o Jary ou Parú a Ioeste e ao norte até a serra de Tumuc Humac. Na peripheria E. e S. d'esta região acha-se uma zona de cam- pos, que entretanto pertence em grande parte às varzeas recentes ou de pouca idade geologica. A matta central do antigo Contestado é mais conhecida pelas suas jazidas de ouro do que pelas suas madeiras, e sobre a sua composição sabemos muita pouca coisa. E” entretanto provavel que ella apresente grandes analogias com a matta da parte SE. do Estado. que apezar de ser mais afastada, por muitos dos seus elementos lembra as mattas do interior da Guiana franceza, ao que pode se julgar pelas descripções de Aublet, Sagot e outros. A parte sul parece bastante rica em castanheiras, sendo a castanha um dos principaes artigos de exportação do municipio de Mazagão. Ao norte, estas mattas continuam- se. ao que parece sem interrupção, nas mattas da serra de Tumuc Humac, sobre as quaes tambem sabemos só pouca cousa. A Toeste do rio Parú e até o rio Branco, o divortium aquarum entre os rios das Guianas hollandeza e ingleza de um lado e os affluentes do Amazonas do outro lado não é mais uma região coberta de mattas ininterruptas, como a chamada Serra de Tumuc Humac, mas uma região de cam- pos mais ou menos extensos, na qual elevam-se serrotes ou serras altas, algumas das quaes cobertas de matta. Tambem ao sul d'esta região os planaltos são em parte occupados por campos, que em alguns logares extendem-se, com interrup- ções, é verdade, até o equador ou ainda mais longe, como por exemplo nos campos do Ariramba, entre o rio Erepecurú eo Curuá de Alemquer. Os ultimos postos avançados d'es- tes campos geraes parecem ser os campos altos de Monte Alegre. As mattas n'esta região são porém igualmente muito extensas e não só accompanham os rios na maior parte do seu curso, como tambem extendem-se em muitos logares so- bre os planaltos entre os cursos d'agua. N'estas mattas dos planaltos ao norte do baixo Ainas zonas.a castanheira (Bertholletia excelsa H. B.K.) não é. MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 12 =] só a arvore mais alta e mais grossa, como tambem em mui- tos logares uma das mais frequentes. dominando de tal forma que pode-se fallar de verdadeiros castanhaes. Nos munici- pios de Almeirim, Alemquer e Obidos, a castanha é um dos principaes artigos de exportação. Uma zona de mattas ricas em caucho, murupita e madeiras, extende-se ao N. e NE. de Obidos, até (cf. LeCointe |. c.) uma distancia de 100 Kilometros. Segundo O. Coudreau, existiria no rio Ere- pecurú tambem a verdadeira balata da Guiana (Mimusops balata Gaertn.=M. bidentata DC.). Outras arvores de grande valor são a itaúba verdadeira (Silvia itauba Pax) e a casca preciosa ( Aniba canelilla Mez) (cf. Ducke, neste Boletim. vol. V, p. 303). Bem conhecidas pelas suas madeiras excellentes são tambem as mattas de Faro, na extremidade oeste do Estado do Pará. Itacoatiara, no Estado do Amazonas, exporta a castanha em quantidades avultadas. Não podemos tratar aqui com mais detalhes das mon- tanhas que, em grande circo, encerram a região dos cam- pos do alto Rio Branco, porque, com excepção do Monte Roraima e dos seus arredores, ellas são por assim dizer des- conhecidas quanto á sua flora. Segundo as descripções de Schomburgk, Appun e outros. porém, as mattas occupa- riam n'esta região um papel secundario e teriam um caracter ligeiramente xerophytico. Só em poucos logares, como por exemplo ao pé do Kukenam, as mattas de montanha d'esta região seriam mais opulentas e mais ricas em arvores gran- des, como p. e. a balata (Minusobs sp.) e em palmeiras, entre as quaes a Iriartea veniricosa Mart, Maximiliana regia Mart., Acrocomia sclerocarpa Mart., Martinezia caryotifolia H.B.XK., etc. Felizmente podemos esperar de ter em-tempo não. muito remoto noticias mais completas sobre esta região interessante, explorada actualmente pelo bem conhecido bo- tanico Ernesto Ule.. As terras firmes de menor altura que acompanham o rio Negro e que, ao S. do Amazonas, acham o seu pendant nos planaltos entre o Tapajoz e o Madeira, são um pouco melhor conhecidas, porem não suficientemente para permit- tir um confronto serio com as regiões visinhas, principal- 128 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS mente no que ha respeito às essencias dominantes das suas mattas. Parece porem, segundo os dados que possuimos (cf. timbem Ule 1. c. p. 159 e seguintes), que a matta de terra firme de Manãos não differe tão radicalmente da de outras partes da Amazonia, como poderia se suppôr à vista da vegetação littoral caracteristica do Rio Negro. Muitas arvores das mattas de Manãos, (aliás não só da terra firme, mas tambem da varzca), são conhecidas ao mesmo tempo de Santarem. Teffe e outros logares da Ama- zonia central. Entre as palmeiras, é verdade. ha diversas especies de bom tamanho que até aqui são só conhecidas da terra firme de Manãos (como p. e. Euterpe badiocarpa e Euterpe controversa Barb. Rodr., Maximiliana longirostrata Barb. Rodr.), porem é provavel, que algumas d'ellas se achem tambem em “outras partes da região amazonica. A matta de terra firme do Alto Amazonas propria- mente" dita, que se extende nos terrenos pouco elevados en- tre os afluentes do Solimões e do Maration, chegando em diversos logares, em cima de barreiras abruptas, na margem mesmo do rio principal, distingue-se das mattas da varzea mais ântigas pela presença da castanheira e de muitas ou- tras arvores que nas varzeas faltam completamente ou são representadas por outras especies parentes. Seria natural- mente impossivel dar uma idéa sequer approximativa da composição d'estas mattas em comparação com as mattas da varzea. Um observador attento conseguirá distinguir uma matta de terra firme de -uma matta de varzea já pelo seu aspecto physionomico. A matta de terra firme, quando in- tacta, é sempre mais compacta, d'um verde escuro geral- mente mais uniforme e os seus elementos, embora extre- mamente variados, são confundidos em um conjuncto organico bem harmonisado. A maior variedade de formas de vegetação e de especies vegetaes, que a matta de terra fir- me offerece em comparação com a varzea, acha sua expli- cação em primeiro logar na antiguidade da matta virgem como formação vegetal. Emquanto que as planicies de allu- vião, no fundo dos valles, são constantemente lavradas pelos rios, que fazem desapparecer florestas inteiras chegadas à maturidade de sua organisação, e favorecem sobre as suas MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 129 alluviões novas a apparição de especies invasoras e sociaes, a matta de terra firme, existindo desde tempos immemoriaes como associação vegetal, renova-se apenas em seus indi- viduos isolados, cujo logar, disputado por um numero con- sideravel de plantas que por assim dizer já esperavam a occasião para subir à luz, fica rapidamente occupado. A consequencia d'isto é uma lucta muito mais encarniçada pelo espaço, que se traduz por adaptações mais variadas e pro- duz um crescimento mais compacto. Quando se vê, do alto de uma collina, uma grande extensão de matta de terra firme em estado intacto, a gente facilmente fica enganada pelo aspecto apenas ligeiramente on- dulado da floresta, que não deixa reconhecer a lucta pelo es- paço. Quando porem se produz uma solução de continuidade na matta, pela queda de uma arvore morta ou pela interven- ção da mão do homem. é facil observar os vestígios d'esta lucta, nas formas frequentemente irregulares das copas que, estor- vadas pelos cipós possantes ou por arvores epiphyticas de grandes dimensões ( Ficus, Clusia ), não podiam desenvolver- se livremente. A matta de terra firme poderia se comparar com uma cidade antiga de ruas estreitas, onde os edificios, bem pro- ximos uns dos outros, e datando de epochas diversas, só pouco a pouco são substituídos por construcções mais mo- dernas, emquanto que a matta de varzea pode comparar-se a uma cidade nova ou destruida recentemente por um grande incendio, onde ruas inteiras com edificios semelhantes ele- vam-se como por encanto. E” claro que nos terrenos que se acham actualmente a uma certa altura acima do rio mais proximo, e que não rece- bem mais os sedimentos nivellantes, a erosão terá modificado o relevo primitivo, tornando-o mais movimentado. D'isso re- sulta o segundo factor da maior variedade da flora da terra firme: a maior diversidade das localidades, do habitat. Nas terras firmes não existem sómente terraços fluviaes, planal- tos e igapós, que são as formações primitivas esboçadas pelos rios e que têm os seus analogos nas varzeas, mas alem disto ha vallezinhos e grutas que são a obra da erosão subsequente. Estes logares dão agasalho a uma vegetação 130 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS propria, adaptada ás condições especiaes que elles offe- recem. Ao lado dos factores que acabo de enumerar, o da ausencia habitual das inundações têm provavelmente uma importancia secundaria para a explicação das differenças en- tre a vegetação da terra firme e a das varzeas ( principal- mente quanto às especies lenhosas ), tanto mais que em mut- tos terrenos da varzea a inundação não chega todos os an- nos, ou costuma ficar um tempo tão curto que ella não pode ser invocada como excluindo certas especies. Como acabo de dizer, ha aliás tambem na terra firme igapôós ou depres- sões onde a agua fica estagnada durante uma grande parte do anno. N'estes trechos, nos taes igapós de terra firme ou igapós centraes, a agua exerce uma acção electiva muito maior, e a presença de certas especies sociaes, como Mauritia flexuosa L. £., M. armata Mart., Lepidocaryum sp., Oenocarpus patauá Mart., é aqui a expressão immediata de condições de existencia especiaes e muito exclusivas. Composição das mattas de terra firme da região amazonica. Sendo, de todas as mattas amazonicas, as da proximidade da costa atlantica de um lado e as do alto Amazonas do outro lado as mais bem conhecidas, a des- cripção que segue, refere-se em primeiro jogar a estes dois typos. As mattas de terra firme do alto Amazonas não são muito differentes, tanto no seu aspecto geral como na sua composição (pelo menos generica), das mattas dos arredores de Belem. Como aqui, a sua altura geral pode ser de 30 metros mais ou menos, emquanto que, em intervallos irregulares, elevam-se gigantes da floresta a uma altura de 50 metros ou ainda mais, em casos excepcionaes. Como aqui no baixo Amazonas, es- tes gigantes da floresta são muitas vezes as castanheiras, mas tambem especies de Lecythis, Cariniana, Allantoma, Ceiba (porem não a Ceiba pentandra das alluviões amazonicas ) Hy- menaea, Tecoma, Vochysia, Andira, Parkia, Caryocar, etc. Na proximidade da Cordilheira. uma especie de Sterculia, com fructos grandes, chamada huay-huash-sapote, é talvez a arvore mais possante da terra firme. No grande numero das arvores grandes que attingem MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 131 20 a 30 metros de altura e formam a abobada geral da matta, dominam as familias das Leguminosas ( Parkia, Inga, Copaife- ra, Dialium, Dimorphandra, Cassia: Hymenaea, Sclerolobium, Ta- chigalia, Andira, Diplotropis, Dipteryx, Pterocarpus ), Sapota- ceas (Mimusops, Chrysophyllum, Lucuma ), Lecythidaceas ( Es- chweilera, Lecythis, Couratari, Allantoma), Moraceas (Brosi- mum, Castilloa, Ficus, Olmedia, Helicostylis, Perebea, Bagassa ), Lauraceas (Ocotea, Nectandra, Silvia ), Rosaceas (Licania, Coue- pia, Parinarium ), Humiriaceas ( Saccoglotiis, Vantanea, Humi- ria ), sendo tambem representadas as Simarubaceas ( Simaru- ba), Burseraceas ( Protium), Meliaceas (Carapa, Cedrela, Tri- chilia), Malpighiaceas (Byrsonima). Vochysiaceas (Qualea, Erisma, a Euphorbiaceas (Hevea), Anacardiaceas ( Anacardium ), Celastraceas (Goupia ), Bombaceas ( Bombax, Ceiba), Sterculiaceas (Stercnlia, Guazuma, Ápeiba), Caryo- caraceas (Caryocar ), Guttiferas (Plaionia, Symphonia) Aralia- ceas (Didymopanax), Apocynaceas ( Aspidosperma, Couma ) Borraginaceas ( Cordia ), Bignoniaceas (Jacaranda, Tecoma ). Alguns dos generos aqui mencionados têm só uma ou poucas especies de grande tamanho, como por exemplo Cassia (C. grandis L. f.). Byrsonima (B. crispa Juss. ), Apeiba (A. aff. aspera Aubl.), Cordia (C. Goeldiana Hub.), ete., perten- cendo a maior parte das especies à cathegoria das arvores de tamanho medio, de 5a 20 m de altura. N'esta ultima cathego- ria entram ainda os generos seguintes das familias já mencio- nadas: Cecropia, Coussapoa, Pourouma ( Moraceas), Aniba, Nectandra, Ocotea (Lauraceas), Inga, Pithecolobium, Cassia, Swartzia, Machaerium, Ormosia (Leguminosas), Guarea, Tri- chilia ( Meliaceas). Croton, Actinosiemon, Sapium, Mabea ( Eu- phorbiaceas), Tapirira ( Anacardiaceas), Cupania, Matayba, Talisia ( Sapindaceas) Caraipa, Rheedia, Tovomita, Vismia ( Guttiferas), Eschweilera, Gustavia ( Lecythidaceas), Lucuma, Sideroxylum, Pouteria (Sapotaceas), Plumiera, Ambelania ( Apocynaceas). Arvores de tamanho medio recrutam-se ainda das familias seguintes, que não têm representantes entre as arvores mais altas da matta de terra firme: Olaca- ceas ( Minquartia, Piychopetalum ), Anonaccas (Guaiteria, Du- guetia, Rollinia, Anaxagorea), Myristicaceas (Iryanibera, Vi- rola), Linaceas ( Hebepetalum ), Dichapetalaceas ( Tapura ), 132 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Rutaceas (Fagara, Esenbeckia ), Icacinaceas ( Poraqueiba, Kum- meria, Emmotum ), Sapindaceas (Cupania, Matayba, Talisia), Elaeocarpaceas ( Sloanea ), Bombaceae ( Matisia, Quararibea ), Sterculiaceas ( Theobroma), Quiinaceas ( Quiina ), Theaceas ( Haemocharis ), Bixaceas ( Bixa arborea, Cochlospermum ), Fla- courtiaceas (Oncoba, Banara, Carpotroche, Casearia ), Myrtace- as (Psidium), Combretaceas ( Terminalia), Melastomaceas (Bellucia, Mouriria, Miconia ), Ebenaceas ( Diospyros, Maba). O principal contingente para a cathegoria das ar- vores pequenas (de 2-5 m) e dos arbustos do sous-bois, é fornecido pelas Myrtaceas e Melastomaceas e por innume- ras Rubiaceas, às quaes se juntam, como particularmente caracteristicas da nossa região, varios representantes das Pi- peraceas (Piper), Lacistemaceas (Lacistema ), Moraceas ( So- rocea, Sahagunia, Acanthosphaera ), Olacaceas ( Heisteria ), Ny- ctaginaceas (Neea, Pisonia), Anonaceas. (Gualleria Uvaria, Xylopia ), Monimiaceas (Siparuna ), Capparidaceas (Capparis ), Rosaceas (Hirtella), Leguminosas ( Pithecolobium, Calliandra, Cassia, Bauhinia ), Erythroxylaceas (Erythroxylum ), Rutaceas (Galipea, Raputia, Ravenia, Cusparia, Rhabdodendron ), Me- liaceas (Guarea, Trichilia ), Euphorbiaceas ( Phyllanthus, Aca- Iypha, Alchornea, Manihot, Sagotia ), Simarubaceas ( Picram- nia), Hippocrateaceas ( Salacia ), Sapindaceas (Pseudima, Cu- pania, Allophylus, Talisia), Ochnaceas ( Ouratea ), Violaceas ( Papayrola, Amphirrox, Alsodeia, Gloeospermum, Leonia ), Fla- courtiaceas ( Oncoba, Mayna, Banara, Homalium, Casearia, Ryania ), Myrsinaceas (Rapanea, Conomorpha ), Theophrasta- ceas / Clavija ), Loganiaceas ( Potalia), Apocynaceas ( Ambe- lania, Zschokkea, Tabernaemontana ), Verbenaceas (Vitex, Áegi- phila), Borraginaceas (Cordia ), e Solanaceas (Brunfelsia, Ces- irum, Solanum, Cyphomandra ). Como se vê, muitas d'estas familias e diversos dos generos citados contam tambem repre- sentantes entre as arvores de médio tamanho, mas raras ve- zes o mesmo genero fornece ao mesmo tempo arvores de grande tamanho e arbustos do sous-bois (Cassia, Pithecolo- bium, Trichilia, Cordia ). Na matta de terra firme as palmeiras occupam raras vezes um logar tão proeminente como nas varzeas. Princi- palmente nos planaltos é possivel andar-se muitos kilometros MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 133 sem se encontrar uma unica palmeira. Em outros logares, na beira dos riachos ou nos terraços fluviaes, e nas encos- tas das collinas na proximidade dos Andes, a riqueza da matta em palmeiras augmenta consideravelmente. Nas mattas da Estrada de ferro de Bragança e do rio Capim, encon- tra-se o inajá (Maximiliana regia Mart." bacába (Oenocar- pus distichus Mart. ), tucumá (Astrocaryum vulgare Mart.), pupunharana (Cucos speciosa Barb. Rodr.). mumbaca ( Astrocaryum mumbaca Mart.), ubim assú (Geonoma maxima Kth.), pachiuba (Iriartea exorrhiza Mart.), perto da costa a babassuú ( differente da babassú ou uauassú do alto Amazo- nas e provavelmente tambem da do Tocantins), raras vezes tambem a mucajá ( Acrocomia sclerocarpa Mart.). Na beira dos riachos e nos igapós centraes encontram-se o assahy do Pará (Euterpe oleracea Mart.), a graciosa ubim rana (Hhyospatha elegans Mart.), o mirity (Mauritia flexuosa L. f.), o caraná (Maiiritia armata Mart.). Diversas palmei- ras menores dos generos Geonoma, Bactris e Amylocarpus acham-se tambem n'esta região. A matta de terra firme do antigo Contestado é menos bem conhecida a respeito da dis- tribuição das palmeiras. Na grande matta do sul do Estado do Pará parecem predominar as mesmas palmeiras como na região da Estrada de ferro e do Capim, com a differença entretanto, que o tucumá parece, ao menos na visinhança do Amazonas, substituido pelo mucajá. D'esta região se conhece tambem uma pequena e bem graciosa especie de assahy de terra firme (Euterpe longispathacea Barb. Rodr.). O uauassú do rio Tocantins parece, segundo os fructos e o aspecto das plantas novas, tambem differente do uauassú do rio Purús. Barbosa Rodrigues cita ainda como especie propria d'esta região o curuá pixuna (Orbignia pixuna Barb. Rodr.). ' Caracteristicas das mattas de terra firme ao norte e tambem de alguns pontos ao sul do baixo Amazonas são as palmeiras seguintes: curuã piranga (Attalea spectabilis Mart.) e jatá ou piririma (Cocos Syagrus Drude). O Rio Negro possue tambem, alem das palmeiras caracteristicas das suas varzeas, umas poucas especies de terra firme que não são encontradas no alto Amazonas (cf. p. 128). 134 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS As terras firmes do alto Amazonas tem poucas pal- meiras de grande tamanho em commum com a parte orien- tal da bacia amazonica. Ha porem algumas especies que pa- recem ser espalhadas não só sobre toda a região amazonica como tambem sobre as Guyanas. São estas o inajá (Maxi- miliana regia Mart.) e o patauá (Oenocarpus bataua Mart.), se não contamos a paxiuba (que no alto Amazonas é an- tes uma palmeira das varzeas) e o mirity (que é caracte- ristica dos pantanos. quer que elles sejam na matta quer nos campos). Palmeiras de terra firme, que apezar de ser dis- tribuidas sobre uma grande parte da região amazonica, pa- recem todavia evitar a sua parte mais oriental, são o calaué (Elaeis melanococca Gaertn.) e a pachiubinha (Iriartella setigera Mart.). O Oenocarpus distichus da parte oriental da Amazonia é substituido, na parte occidental, pelo Oenocarpus bacaba Mart. e pelas especies menores O minor Mart. (ao norte do Amazonas) e O. multicaulis Spr. (ao sul do Ama- zonas). O Astrocaryum vulgare Mart., de fructos ellipsoideos e alaranjados. é representado no alto Amazonas pelo Astro- caryum wcuma Mart., de fructos verdes e redondos. e algu- mas especies aparentadas (A. princeps Barb. Rodr. e 4. ma- crocarpum Hub.), que talvez mais tarde terão de conside- rar-se como suas variedades. No genero Cocos ha tambem substituição do Cocos speciosa pelo C. inajai Trail ( princi- palmente no medio Amazonas) e pelo Cocos purusana Hub. (no Purús). O magestoso uauassú (Orbignia speciosa Barb. Rodr.) parece limitado na parte meridional da bacia do alto Amazonas. Ainda pouco conhecidas são as especies de Attalea do alto Amazonas, que principalmente na proximidade dos Andes são bastante numerosas. Talvez a palmeira mais ca- racteristica das terras firmes do alto Amazonas, que fica mais frequente approximando-se da peripheria da bacia, é a pachiuba barriguda (Iriartea ventricosa Mart. ). Outras es- pecies de Iriurtea, como tambem dos generos Catoblastus, Phytelephas e Martinezia, só se encontram no Perú e Ecuador cisandino e pertencem antes à flora andina do que à flora amazonica. A' esta flora de transição pertencem tambem as pequenas especies de Morenia e Chumaedorea, das quaes só a Chamaedorea lanceolata H.B.K. chega até o Rio Negro; MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 135 emquanto que as numerosas espécies de Geonoma, Baciris e Amylocarpus são proprias das regiões baixas. Poucas d'estas palmeiras, como inajá, uauassú, pa- tauá, paxiuba barriguda, tucumá uassuú, chegam, na matta grande, até a altura das arvores maiores; em geral porém, mesmo estas especies mais desenvolvidas pertencem ao sous-bois, dando só bem na vista quando as outras arvo- res são derrubadas, o que. se observa por exemplo com o inajá e a bacába, nos arredores de Belem. Demoramo-nos um pouco com as palmeiras, porque a sua . distribuição, soffrivelmente bem conhecida, permitte de tirar certas conclusões a respeito da distribuição e do cara: cter das mattas na região amazonica. Como nas mattas humidas ( « Regenwálder ») dos tro- picos em geral, as Monocotyledoneas têm aqui um papel bastante importante na composição do sous-bois. Emquanto que na varzea predominam as cannas de frecha e as espe- cies de Heliconia, Ischnosiphon, etc., a matta: de terra firme mostra, entre as (Giramineas, especies de Pariana, Pharus, Ichnanthus, Olyra, Orthoclada, Streptogyne, alem de umas poucas Bambuseas, que entretanto são em geral bem raras nas terras firmes da Amazonia. A bella pacova-sororoca (Ravenala guyanensis Benth.), tão frequente nos igapós do es- tuario, é no alto Amazonas principalmente encontrada nos trechos mais humidos da terra firme. De Heliconias. tão bem representadas nas varzcas, conheço apenas a Heliconia psil- tacorum como frequente na matta de terra firme. As Maran- taceas são melhor representadas, principalmente por espe- cies muito variadas de Calathea, Maranta, Monotagma, Isch- nosiphon (este só nos logares pantanosos ); e as Zingiberaceas, pelos generos Costus e Renealmia. Representadas na vegeta- ção mais baixa da matta são ainda as familias das Cypera- céas, Cyclanthaceas, Araceas, Rapateaceas, Bromeliaceas, Commelinaceas, Haemodoraceas, Taccaceas e Orchidaceas. Esta vegetação herbacea, como aliás o sous-bois em geral, tem uma distribuição bastante desigual. Ha mattas, onde a abo- bada geral, formada pelas copas das arvores mais altas, é tão densa, que o sous-bois é excessivamente fraco, composto quasi exclusivamente de um pequeno numero de «varas» ou 136 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS arbusculos de tronco esguio e direito, com poucos galhos horizontaes. cujas folhas igualmente horizontaes, são reduzidas ao numero estrictamente necessario para a vida da arvore. Em outros casos o solo, coberto de folhas pódres, é apenas ornado de raras plantas rasteiras dos generos Geophila, Epis- cia, Fiitonia, ou de pequenas plantas saprophytas, das fa- milias das Gentianaceas, Triuridaceas, Burmanniaceas ou Or- chidaceas. Em geral. a vegetação herbacea do sous-bois acha- se principalmente desenvolvida nos logares humidos, sendo os trechos ligeiramente pantanosos preferidos pelas monoco- tyledoneas, emquanto que nos pequenos valles e nas gru- tas encontram-se fetos e Selaginellas, ás vezes em grande numero, porem não em tão grande variedade como nos pai- zes montanhosos. Aqui podemos mencionar a unica Cycada- cea da região amazonica, a Zamia Ulei Damm. descoberta por Ule na terra firme do rio Juruá e achado por mim tambem no alto rio Purús, especie acaule cujas folhas têm apenas 1 m de comprimento. Muito mais importantes para a vida da matta, que es- tas plantas humildes do sous-bois, são os cipós, que graças ao alongamento enorme dos seus caules, chegam a disputar a luz até às arvores mais altas da matta. Não é raro ver arvores grandes cujas copas são cobertas de tal forma pelas ramificações de um ou de diversos cipós que pode se ver só pouca cousa da sua folhagem. As familias que mais contribuem para a flora dos ci- pós, nas mattas de terra firme da Amazonia, são as se- guintes: Menispermacee, às quaes pertencem as abutuas (Abu- ta sp.); Leguminosa, entre as quaes convem citar os mucu- nãs (Dioclea div. spec.), o timbó da matta (Derris guyanensis Benth.) e as escadas de jaboty (Bauhinia ); Malpighiacee, muitos cipós grandes de caule lenhoso e de flôór amárella (Mascagnia, Tetrapleris, Ba- nisteria, Heteropteris, Stigmatophyllum ); Sapindacee, das quaes fazem parte muitos cipós MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 137 grandes, entre outros o guaraná (Paullinia cupana H. B.K.); Dilleniucee, às quaes pertence o cipó d'agua (Do liocarpus Rolandri Gmel. ): Passifloracee, cipós geralmente molles dos generos Passiflora (maracujá) e Tacsonia; Convolvulacee, cipós molles, com flôres grandes, p. e. o batatão amarello (Operculina pierodes Chois.) e a vetilla (Ipomoea capparoides Chois. ); Bignoniacee, às quaes pertence um grande numero de cipós grandes. como cipó de cruz, corimbó, carajurú (Arrabidaea chica Bur.), etc.; Cucurbitacee ( principalmente especies de Gurania e Helmontia ). Muitas outras familias vegetaes fornecem ainda repre- sentantes ao grande contingente dos cipós amazonicos, como as Gnetaceas (Gnetum), Liliaceas ( Smilax), Dioscoreaceas (Dioscorea ), Palmae (Desmoncus), Polygalaceas (Securida- ca, Bredemeyera, Moutabea ), Hippocrateaceas (Hippocratea, Salacia ), Vitaceas (Cissus). Rhamnaceas (Gouania ), Euphor- biaceas ( Tragia, Plukenetia, Dalechampia, Omphalea ), Com- bretaceas (Combretum). Thymelacaceas (Linostoma) Aristo- lochiaceas ( Aristolochia ), Connaraceas (Rourea, Connarus ), Loganiaceas ( Sirychnos). Apocynaceas (Landolphia, Echites, etc.), Acanthaceas (Mendoncia, Thunbergia), Verbenaceas ( Petraea ), Rubiaceas ( Manettia, Ourouparia, Sabicea, Mala- nea, etc. ), Compositas ( Micania ). Não é possivel, nos limites d'este trabalho, tratar de- talhadamente dos cipós, cuja biologia seria um dos capitulos mais interessantes no estudo da matta amazonica. Existe, a este respeito, um livro muito interessante: « Beitraege zur Biologie und Anatomie der Lianen» de H. Schenk, no qual este illustre botanico trata especialmente dos cipós do Brazil, ao menos dos da sua parte meridional. Em diversas familias vegetaes, cujos representantes em geral têm outro modo de vida, ha um ou outro genero que mostra pelo menos uma certa tendencia para a vida do cipó, como o genero Dichorisandra na familia das Commelinaccas, 138 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS as temiveis tiriricas ( Scleria reflexa H.B.K. e S. tenacissi- ma Nees), na familia das Cyperaceas, a taboquinha (Pa- nicum latifolinm L.), na familia das Gramineas, certas espe- cies de Piper. algumas especies de Vernonia, a maioria das especies de Mikania e a Wulfha stenoglossa DC., na familia das Compostas. Estas especies aliás não costumam trepar muito alto e se acham principalmente nas margens das mat- tas ou nas capueiras. Uma cathegoria de plantas bem representada nas mat- tas de terra firme da região amazonica são as plantas tre- padeiras por meio de raizes. À esta cathegoria pertencem tambem algumas formas que no meio da sua familia são ex- cepções, como por exemplo as baunilhas (Vanilla), Crantzia, ( Gesneraceas), Adelobotrys ( Melastomaceas ), Solandra ( Sola- naceas), Bignonia ( Bignoniaceas), emquanto que em outras familias este modo de vida é antes a regra ou representa a transição à vida epiphytica. Isto é o caso nas Cyclanthaceas, onde as especies trepadoras de Carludovica (cipó timbó ou timbó assú) mostram a transição entre as especies terrestres do mesmo genero (C. palmaia, C. latifrons, etc. e as especies epiphyticas de Ludovia, na familia das Araceas, onde ha, tanto no genero Anthurium como no genero Philodendron, especies terrestres, trepadoras e epiphyticas (n'esta familia são ainda trepadoras caracteristicas da matta amazonica as especies de Heteropsis, Syngonium. Monstera), e na familia das Marcgravia- ceas, onde as Marcgravia são trepadoras, emquanto que os generos Norantea, Ruyschia e Souroubea são representados por arbustos epiphyticas. Isto nos conduz a fallar das verdadeiras epiphytas, en- tre as quaes convem mencionar primeiro, por causa da sua importancia na vida da matta amazonica, as formas arbus- tivas e arborescentes (Os maiores d'elles pertencem a duas cathegorias: os apuhys, especies de Ficus, subgenero Uros- tigma, e as especies de Clusia, da familia das Guttiferas, cujo representante maior, a Clusia insignis Splittg. é vul- garmente chamada cebola brava, por causa da seme- lhança exterior do seu fructo com uma cebola. Ambas estas formas são verdadeiras epiphytas só no principio, pondo-se, no curso do seu desenvolvimento, mais ou menos MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 139 completamente em contacto com o solo, por meio de raizes aereas possantes, que tomam muitas vezes o aspecto e a funcção de verdadeiros troncos. Biologicamente falando, po- de-se dizer que n'estas plantas, ao envez do que se dá nos cipós. o tronco cresce de cima para baixo, da copa para o solo. Ha entretanto uma differença fundamental entre as es- pecies amazonicas de Ficus e as de Clusia que tive occasião de observar nas mattas da Estrada de Ferro de Bragança, onde estas arvores epiphyticas têm um papel bastante im- portante. Os apuhys. ou especies de Ficus, depois de ger- minarem n'um óÔco de galho e de terem tomado algum des- envolvimento. emittem geralmente uma ou duas raizes verti- caes que descem ao longo do tronco da arvore. ficando-lhe estreitamente applicadas e anastomosadas entre si. Muitas vezes esias raizes, achatando-se contra a arvore e ligando-se perfeitamente pelas suas ramificações, acabam de envolver o tronco que lhes serve de supporte, de um manto conti- nuo, de forma que a arvore hospede morre estrangulada e fica completamente substituida pela figueira. Nas Clusias amazonicas, as coisas não se passam d'esta forma. Ás raizes principaes, que como nas figueiras, descem tambem ao longo do tronco de supporte, não ficam achatadas contra este, e quando ellas chegam ao solo e se fixam nelle, ellas con- trahem-se de tal forma que muitas vezes ellas perdem o contacto com o tronco, descendo livremente do seu ponto de origem, taes como cabos grossos. Quando uma d'estas raizes, pelo facto de ter, na descida, contornado o tronco da ar- vore, ella naturalmente não pode se livrar d'elle, ficando como um cipó enlaçada ao redor do tronco, Spruce, no seu livro « Notes of a botanist on the Amazon (1908) », diz ter encontrado: d'estes pseudo-cipós de dimensões extraordina- rias. Em todos estes casos porem, as raizes aereas não seriam bastante fortes para supportar por si só o peso da arvore epiphytica e não me consta nenhum caso onde houvesse substituição de uma Clusia no logar de uma arvore que lhe servia de supporte, se não fôr o de uma Clusia insignis implantada no cume de uma palmeira inajá (Maximiliana regia Mart.) ainda relativamenta baixa. 140 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Ao lado das figueiras e das Clusias, ha ainda alguns generos apparentados, que fornecem arvores ou arbustos epi- phyticos, como o genero Coussapoa, na familia das Moraceas, e o genero Renggeria, na familia das Guttiferas. Na familia das Rubiaceas, encontramos no genero Hillia diversos arbustos epiphyticos. Já citei os generos Norantea, Ruyschia e Souroubea, da familia das Marcgraviaceas. Entre estas, as especies de Norantea ( chamadas vulgarmente rabo de arara) são nota veis pelas suas inflorescencias compridas, ornadas de bracteas vermelhas, e que na copa das arvores mais altas elevam-se em todas as direcções como um bello fogo de artifício. Tam- bem do genero Solandra ( Solanaceas) existe, nas mattas da Estrada de Ferro de Bragança, uma especie em parte epi- phytica em parte trepadeira, que com as suas enormes fló- res amarellas orna as copas das arvores altas, destacando-se maravilhosamente contra o ceo azul. Se as epiphytas arborescentes e arbustivas são talvez especialmente bem desenvolvidas na região amazonica, as epiphytas em geral com certeza não têm um papel tão im- portante como em outros paizes tropicaes. A frondosidade da matta amazonica, isto é a abobada compacta devida à juxtaposição intima das copas, que é, como já mostrei ( pag. 128), um dos caracteres da matta de terra firme, é sem duvida a primeira causa de sua pobreza em epiphytas. Em arvores velhas, cuja copa começa a aclarar-se, as epiphytas costumam apparecer em grande quantidade, e em todos os logares, onde a matta é por um ou outro motivo mais cla- refeita, o numero das epiphytas augmenta consideravel- mente. Isto se vê por exemplo em antigos igapós actual- mente dessecados, cujas arvores rhachiticas são muitas vezes cobertas de epiphytas de cima até em baixo. As especies porem não são muitas e isto é com certeza devido à relativa raridade dos logares que constituem um habitat favoravel ás epiphytas na região amazonica. N'um paiz mon- tanhoso as condições são naturalmente muito mais favoraveis. A proximidade de rochedos, patria indubitavel de muitas d'estas plantas epiphyticas, a contextura mais aberta da co- bertura de folhagem. por causa da inclinação do terreno, talvez tambem a humidade mais constante, devida aos MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 141 correntes de ar ascendentes, tudo contribue para crear bôas condições para o estabelecimento de uma rica flora de epi- phytas. | Como em toda a America tropical, os vegetaes epiphy- ticos recrutam-se nas mattas amazonicas principalmente da classe dos tetos e das familias monocotyledoneas das Brome- liaceas, Araceas e (Orchidaceas. Niversas especies de Pe- peromia, algumas Cactaceas, como Phyllocactus Phyllanthus (L.) Link e Rhipsalis cassytha L., e a Ludovia crenifolia Drude ( Cyclanthaceas) mostram uma transição aos arbustos epiphyticos. Não é aqui o logar de entrar em pormenores sobre o assumpto aliás interessantissimo das epiphytas, e posso me dispensar de fazel-o tanto mais, que o assumpto tem sido ultimamente tratado com muita competencia por Ule, (« Epiphyten des Amazonasgebietes», in « Vegetations- bilder », Zweite Reihe, Heft 1). Ao mesmo autor devemos um estudo bem interessante sobre uma cathegoria especial de vegetaes epiphyticos, encontrados até aqui só na região ama- zonica, as plantas dos taes «jardins de formigas ». Principal- mente nas varzeas do Solimões e dos seus affluentes, mas tambem em outras partes da região amazonica, tanto nas varzeas, como tambem na terra firme, acham-se aglomera- ções de plantas epiphytas, que nascem de ninhos de formi- gas de diversas especies, principalmente do Camponotus fe- moratus (Fab.;, conhecido aqui sob o nome vulgar de tra- cuá, e de algumas especies do genero Ázieca, por conse- guinte proximos parentes dos habitantes bem conhecidos das imbaúbas. Segundo as observações de Ule. as especies de plantas que crescem nos «jardins de formigas » são transpor- tadas por estes insectos e semeadas em seus ninhos. prova- velmente para a sua protecção e alimentação. O mais cu- rioso é, que a maior parte das especies citadas por Ule como crescendo nos ninhos de formigas. até aqui ainda não foi observada em outros logares. As parasitas phanerogamicas não occupam, na econo- mia da matta amazonica, um logar importante. ainda menos do que nas varzeas, onde ao menos as Loranthaceas (por exem- plo Psitiacanthus cucullatus Blume, nos rios Juruá e Purús) des- tacam-se ás vezes pela sua frequencia. Emquanto que as Lo- 142 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS ranthaceas crescem de preferencia nas arvores e arbustos da beira dos rios, o Helosis guyanensis Aubl. procura a sombra da matta. onde elle é parasitico sobre as raizes de diversas plantas. Mais raros -ão os representantes da familia das Rafflesiaceas. das quaes só um representante (Apodantes Fla- courtiae Karst.) foi até aqui descoberto por Ule no rio Juruá. Crescimento das arvores nas mattas armazonicas. Sobre o modo de crescimento das arvores amazonicas, sobre o seu modo de formar a sua copa, etc., seria possivel escre- ver-se um livro inteiro. Limito-me aqui a tratar somente das dimensões às quaes podem chegar as nossas arvores, e da rapidez do seu crescimento. Infelizmente existem muito poucas medições exactas que só podem dar uma idea certa do crescimento das arvores amazonicas. Ha aqui uma grande lacuna a preencher. As estimações, mesmo de pessoas já fami- liarisadas com a matta e com o corte de madeiras, são na maior parte dos casos illusorias, como tive diversas vezes occasião de verificar. Na matta de varzea. a altura me- dia das arvores varia consideravelmente de um ponto para outro: de 10 metros approximadamente, nos imbaubaes, até 30 metros, mais ou menos, em certos trechos da região das ilhas, e na matta a urucury do alto Amazonas. A matta de varzca do baixo Amazonas, como tambem a matta a jauary do alto Amazonas. raras vezes excederá 20 metros de al- tura. Para as mattas das ilhas do baixo rio Negro, Ule indi- ca ( Engl. Jahrb. vol. 40, pag. 157) a altura de 10 a 20 metros. Algumas arvores excepcionaes, que tive a occasião de medir. deram, é verdade, cifras mais elevadas, como por exemplo uma cupiuba ( Goupia paraensis Hub.) na varzea alta da região das ilhas ( Aramã), que sem os galhos me- nores media 32 metros, e duas Leguminosas (das quaes uma era a Apuleia molaris Spruce). medidas no alto rio Purús, que deram ambas mais de 40 metros de altura. Estas ar- vores porem podiam considerar-se como sendo de tamanho excepcional. A matta de terra firme parece ser mais alta perto da costa atlantica de um lado e nos planaltos do alto Amazo- nas do outro lado; entretanto quaesquer conclusões a este MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 143 respeito seriam precipitadas à vista das informações excessi- vamente deficientes que temos sobre este assumpto. Nas mattas da Estrada de Ferro, as arvores de 40 a 50 metros de altura não são muito raras. principalmente nos trechos relativamente intactos, e no alto rio Purús medi, na terra firme de Monte Verde, diversas arvores derrubadas, que, mesmo sem os galhos menores, attingiam de 40 a 45 metros de altura. Em comparação com a altura, as arvores das mattas amazonicas são porem, por via de regra, relativamente pouco grossas. Arvores que tenham mais de um metro de diame- tro, encontram-se, quer nas varzeas quer na terra firme, talvez nem uma por hectare. Só em casos absolutamente excepcionaes achar-se-hão troncos como: es que foram en- “contrados por Martius perto de Parintins e figurados nas suas « Tabulae physiognomicae », tab. IX. Segundo Martius, estas arvores, chamadas jutahy pelos indigenas, pertenciam provavelmente a especie Hymenea Courbaril L. Uma del las media mais de 6 metros em diametro. Nas visinhanças de. Belem derrubou-se ainda ultimamente (1908) um -pão de angelim de pedra ( Andira spec. ?), de 3,4 metros de dia- metro. As arvores mais grossas das varzeas são as sumau- meiras (Ceiba pentandra Gaertn.), que tambem são quasi sempre as mais altas, a mungubeira (Bombax munguba Mart.) e especies de Ficus. Na terra firme as arvores mais grossas são algumas Leguminosas, como por exemplo angelim, jutahy, especies de Parkia, e alem d'estes, especies de Pro- tium (breu), Caryocar ( piquiá ), etc. Nos castanhaes do baixo Amazonas a castanheira (Berlholletia excelsa H. B. K.) é, segundo o testemunho do Sr. Ducke, não só a arvore mais alta mas tambem a mais grossa, e no Perú cisandino a arvo- re mais grossa e mais alta da terra firme é uma especie de Sterculia. Em geral porem recebe-se a impressão que as ai- vores da matta amazonica, achando-se muito approximadas umas das outras, são forçadas a crescerem muito em altura, ficando esguias, porque ellas não têm espaço suficiente para desenvolver-se em largura. Isto é com effeito a melhor ex- plicação da estructura especial das mattas intactas, onde no alcance da vista a linha exactamente vertical é absolutamente 144 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS predominante. Só quando uma arvore conseguiu chegar por cima da abobada geral da matta e de desenvolver a sua copa sem nenhum obstaculo, o tronco pode se engrossar consideravelmente. Uma questão das mais importantes sob o ponto de vista de uma exploração racional das mattas amazonicas, é a que tem respeito à rapidez de crescimento das arvores. Já fiz ver (p. 105, annotação), que as imbaubas têm um crescimento muito rapido. Temos no Horto botanico uma es- pecie de imbauba de terra firme do Purús, que em 5 an- nos attingiu a altura de 17 m. Uma sumaumeira, tambem no Horto botanico, que mede 22 metros de altura e um diame- tro de quasi um metro. e cuja idade muitos estimam a mais de 50 annos, tem. apenas 13 annos. As outras arvores da matta das varzeas altas quasi todas são capazes de attingir 20 metros de altura em pouco mais de 10 annos, e me parece provavel que em 20 annos mais ou menos uma matta alta possa se substituir a um imbaubal, no caso mais favora- vel. As arvores de terra firme não têm um crescimento tão rapido, porem ha muitas, como diversas Leguminosas ( prin- cipalmente especies de Parkia, os jutahys (Hymeneea sp.), o piquiá (Caryocar villosum Pers.), a caroba (Jacaranda Copaia), marupá ( Simaruba amara ), cedro (Cedrela sp.), etc., que na rapidez do seu crescimento não ficam muito atraz das arvores da varzea. Algumas especies de terra firme porem, e justamente das mais importantes, como acapú, pão amarello, pão santo, etc. têm um crescimento muito demorado, pelo me- nos quanto pode se julgar pelas experiencias de cultura até aqui feitas no Horto botanico do Museu. Tambem as nossas Lecythidaceas têm um crescimento relativamente demorado, emquanto que as Sapotaceas possuem ao menos alguns re- presentantes ( Chrysophyllum excelsum Hub., Lucuma rivicoa Gaertn.), cujo crescimento pode ser comparado ao das ar- vores da varzea. Idade maxima das arvores, sua morte e substitui- ção natural. Como acima mostrei, as mattas de varzea têm, como conjuncto, uma vida limitada, que segundo o regimen do MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 145 rio em questão pode extender-se sobre um periodo mais ou menos dilatado. O imbaubal em todo caso só excepcionalmente será capaz de produzir, no mesmo lugar, uma segunda gera- ção, porque elle por via de regra é logo substituido pelas essencias da matta alta de varzea. Esta naturalmente será capaz, sendo as condições favoraveis, de reproduzir-se em segunda e talvez mesmo em terceira geração, mas raras vezes isto será o caso antes d'ella succumbir à acção da erosão lateral do rio. Em geral observa-se, nas varzeas, a ausencia quasi completa de arvores muito velhas ou completamente seccas, tão frequentes na matta de terra firme. Muitas vezes mesmo a matta que se ostenta em cima dos barrancos, reconhece-se logo como uma asso- ciação ainda nova, cujas arvores mais velhas podem ter apenas vinte ou trinta annos de idade. Quando aqui appa- recem arvores mortas, ellas são quasi sempre em grande numero, indicando a influencia d'uma causa exterior (geral- mente o deposito de grande quantidade de areia, devida a uma correnteza forte dirigida para um igapó situado atraz). Por conseguinte podemos dizer, que a vida e a morte da matta de varzea são inteiramente dependentes do regimen fluvial: a matta de varzea nasce como associação e morre como associação, segundo o capricho do rio ao qual ella é sujeita. Neste caso a idade à qual as arvores podem chegar, tem uma importancia relativamente secundaria. Como porem as arvores da varzea têm um crescimento muito rapido, pode se julgar a priori, que a sua vida seja relativamente curta. As sumaumeiras e as grandes figueiras, assim como as grandes arvores que são communs à varzea alta e à ter- ra firme, provavelmente podem attingir a idade de 100 annos e talvez mais, mas temos visto que convem ser prudente nas estimações e que a gente em geral é inclinada a exage- rar a idade das arvores. Outras são as condições que prevalecem na matta de terra firme. Aqui raras vezes a vida da associação vegetal em seu conjuncto é limitada por causas exteriores, como na varzea: Raras vezes acontece, felizmente, que algum trecho da matta fica radicalmente destruido por um d'aquelles fu- racões tão frequentes nas Antilhas. E' verdade que as tem- 146 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS pestades não são raras na região amazonica, mas ellas são geralmente de curta duração e as arvores que lhes succum- bem são os individuos já enfraquecidos pela idade ou pelo peso dos cipós ou das epiphytas. Então acontece frequentemen- te que a arvore, principalmente quando é muito grande ou ligada com outras por meio de cipós, arrasta uma ou diver- sas arvores menores em sua queda, produzindo uma grande lacuna por onde entra a luz livremente. Em muitos casos porem, as arvores muito velhas ou atacadas por parasitas ficam em pé até que ellas morrem e que a sua casca cahe aos pedaços, ás vezes mesmo até que o seu alburno é comple- tamente apodrecido, ficando só o cerne mais resistente. Mas isto só se dá com madeiras de cerne incorruptivel, como por exemplo na muirapinima( Brosimum guyanense ( Aubl.), que geralmente é só explorada quando chegada a este es- tado, de maneira que ha pessoas que commerciam com esta madeira, sem conhecer a arvore em seu estado vivo. Sobre a idade à qual podem chegar as arvores da terra firme, an- tes de morrer de velhice ou fraqueza organica, ainda não sabemos nada, e por diversas causas. Em primeiro logar, as madeiras das «mattas pluviaes» da zona equatorial não apresentam, em sua maioria, as zonas de crescimento an- nual caracteristicas das madeiras provenientes dos climas temperados. Onde apparecem zonas distinctas de accrescimo, ellas não correspondem aos annos. Por isso é impossivel de calcular a idade da arvore pelo numero das suas zonas de accrescimo. Do outro lado, a falta absoluta de uma silvicul- tura na região amazonica, explica, que não haja nenhuma observação directa a este respeito. A rapidez relativa do crescimento nas arvores novas pode dar, é verdade, uma indicação sobre a idade das arvores grandes, mas um cal- culo baseado sobre isto, alem de ser apenas de uma apro- ximação bastante vaga, pode enganar facilmente, porque uma arvore que no principio cresce rapidamente, mais tarde pode ter um accrescimo muito mais demorado, e uma ar- vore de crescimento demorado pode crescer com mais rapi- dez quando mais desenvolvida. Ex provavel que nas mattas amazonicas, como nas flo- restas dos paizes com clima temperado, haja individuos que te- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 147 nham mais de um seculo de idade, porem não penso que em geral a idade dos individuos da nossa matta equatorial seja superior à das essencias que compõem por exemplo as mattas bem desenvolvidas da Europa central; pelo contrario: estou antes inclinado a pensar, que em geral a idade ma- xima dos individuos seja inferior, na matta amazonica. Os inimigos das arvores, tanto no reino animal, como no vege- tal, são provavelmente mais numerosos no clima equatorial do que n'um clima temperado e a sua acção é mais destru- ctiva. Accrescenta uma circumstancia que talvez não tenha sido sufficientemente considerada até aqui: a acção erosiva das aguas pluviaes, que aqui é muito forte, importando ás vezes até perto d'um centimetro por anno, mesmo em logares pouco inclinados, como facilmente pode se verificar nos alicer- ces dos edificios. Por isso tambem encontramos na matta as ra- izes superficiaes das arvores muitas vezes completamente des- nudadas ou apenas cobertas de folhas pôdres. Como muitas arvores da matta equatorial não possuem uma raiz mestra bem desenvolvida, as arvores são n'este caso facilmente ar- rancadas, ou cahem de si mesmo, quando ellas se acham em terreno inclinado. Penso que a ausencia habitual de ar- vores grandes nas encostas das collinas e a frequencia das quedas de arvores em districtos de maior relevo (observei este phenomeno por exemplo na região de collinas entre o Ucayali e o Javary) deva-se attribuir a esta circumstancia. Quando uma arvore cahe, ella produz sempre uma lacuna por onde a luz penetra melhor no interior da matta, estimulando e favorecendo o crescimento das plantas que até aqui, na semiobscuridade do sous-buis, vegetavam parca- mente. Entre estas plantas ha naturalmente um certo numero que são hervas ou pequenos arbustos e estes geralmente não approveitarão muito das novas condições de existencia. Mas uma grande parte das plantas do sous-bois,—e convem in- sistir n'este facto, que ainda não realçámos sufficientemente—, consiste de exemplares novos de arvores ou de cipós (estes principalmente em grande numero), que respondem ás novas condições por um crescimento accelerado. Mesmo certas se- mentes capaz de vida latente prolongada (mas estas são re- lativamente raras na matta equatorial), podem responder à 148 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS provocação da luz por uma germinação prompta e um desen- volvimento rapido. E' verdade que a arvore cahida tem des- truido, pela queda mesmo, um certo numero de plantas, mas em compensação o seu tronco mesmo serve para algumas plantas de substrato para a sua germinação. Isto se dá por exemplo com a imbauba da matta (Cecropia Juranyiana Richt.) das mattas da Estrada de ferro de Bragança, que quasi sempre encontrei a cavallo sobre troncos cahidos e meio apodrecidos. E' provavel que n'estes casos as respecti- vas sementes foram transportadas no seu logar depois da quéda da arvore, como tambem as sementes de es- pecies de Solanum, Melastomaceas e outras plantas cujos fructos servem de pasto aos passarinhos que costumam fre- quentar estes logares mais abertos da matta. Disseminação natural das arvores nas mattas ama- zonicas. Me parece conveniente e mesmo necessario para o fim de iniciar o leitor na vida das mattas amazonicas, de tratar aqui com alguns pormenores do modo da dispersão dos seus elementos, e principalmente das arvores. Nas var- zeas, ao menos nas que ainda ficam inundadas todos os dias com as marés ou todos os annos com as enchentes, não pode haver duvida que o factor mais importante da dis- tribuição de sementes seja a propria agua. Quem viu por exemplo, na região das Ilhas, a enorme quantidade de se- mentes que fluctuam ahi a mercé das correntezas, compre- henderá isto facilmente. As sementes que encontram-se com mais frequencia n'estas agglomerações fluctuantes da região das ilhas, são as de mirity (Mauritia flexuosa L.f.), assahy ( Euterpe oleracea Mart.). ubussú (Manicaria saccifera Gaertn.), andiroba (Carapa guyanensis Aubl.), ucuúba (Virola suri- namensis Warb.), seringueira branca (Hevea brasiliensis Muell. Arg.), mamorana (Pachira aquatica Aubl.), de di- versos ipés (especies de Macrolobium e Crudya), mututy ( Pterocarpus Draco L. e P. amazonicus Hub.). fava de em- pigem (Vatairea guyanensis Aubl.), aturiá (Drepanocarpus lunatus Mey.), veronica (Dalbergia monetaria Pers.) e di- versas outras Leguminosas, yoyoca ( Cacoutia coccinea Aubl.), verga de jaboty ( Erisma calcaratum Warm.), churú (especi- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 149 es de Goeldinia ), aninga (Monirichardia arborescens Schott), etc. Em diversos casos, como no das palmeiras e das Legumino- sas, não é a semente mesma que é mais leve que a agua, mas o pericarpio ou sómente uma das suas camadas. No mirity e no assahy acontece entretanto, que quasi todos os fru- ctos fluctuantes encontram-se vasios, pelo menos em certas epocas do anno. No caso d'estas duas especies, como tam- bem de algumas outras arvores da região das ilhas, que têm fructos drupaceos, me parece provavel, que os peixes tenham um papel importante na sua distribuição. Pelo menos achei, no estomago de um peixe grande comprado no mercado da capital ( infelizmente descuidei-me de tomar nota do seu nome), fructos das espeeies seguintes: mirity, assahy, anauerá (Licania macrophylla Benth.) e paranary ( Parinarium aff. brachystachyum Benth. ), todas especies com caroços relativa- mente grandes, que entretanto grelaram perfeitamente, depois de semeados. As sementes de seringueira, segundo experiencias feitas no Museu Goeldi, são capazes de fluctuar durante 2 mezes, sem perderem a sua vitalidade. Muitas d'ellas co- meçaram mesmo a germinar antes de cahirem no fundo do vaso e conservaram uma bôa apparencia e plena vitalidade por mais de 3 mezes. De maneira semelhante comportam-se as se- mentes de Pachira aquatica Aubl. (mamorana), que não pou- cas vezes se encontram já germinadas na superficie da agua. A fixação d'estas plantas se faz de preferencia no ultimo limite da zona inundada com as marés, porque ahi ellas cor- rem menor risco de serem outra vez levadas pelas corren- tezas. Assim se encontra frequentemente, na margem das ilhas do estuario amazonico, uma zona bem definida occu- pada por arvores novas pertencendo ás especies acima enu- meradas, ás vezes mesmo verdadeiros viveiros de pequenas seringueiras. Por isso tambem os pés adultos de seringueira encontram-se de preferencia justamente nos logares onde ainda chega o ultimo remanso das marés. Com as marés dos equinoxios pode haver, se as sementes não faltam, uma dis- tribuição em maior escala e sobre maiores superficies. No baixo Amazonas e principalmente no alto Amazo- nas, onde a inundação dos terrenos de varzea corresponde a 150 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS uma epoca do anno bem determinada, as arvores cujas se- mentes devem ser distribuidas por meio das correntezas, de- vem naturalmente ter a sua epoca de fructificação durante a enchente, de forma que com a vasante as sementes podem ser deixadas sobre os terrenos alluviaes que começam a emergir da agua. Isto se dá por exemplo com as imbaubas, que amadurecem os seus fructos justamente com o principio da vasante. N'este caso porem não ha adaptação especial à distribuição das sementes pela agua, e os numerosos passari- nhos, morcegos e outros animaes que costumam frequentar os imbaubaes n'essa epoca, seriam com certeza sufficientes para assegurar a dispersão das sementes. Já vimos que as sementes da mungubeira (Bombax munguba Mart.), do tachy ( Triplaris surinamensis Cham. e do pão mulatto ( Calyco- phyllum Spruceanum Benth.), tão frequentes nas varzeas ama- zonicas, são adaptadas à disseminação pelo vento. Só para a primeira pode-se constatar ao mesmo tempo uma distribuição pela agua, porque ella madurece os seus fructos justamente no tempo da maior enchente (junho), e nesta epoca os flo- cos da sua painha se vêm em grande quantidade na super- ficie das aguas. Grande parte das plantas cujas semen- tes são adaptadas ao transporte pela agua, pertencem ao igapó ou acham-se na beira dos rios de agua preta. As especies de Pithecolobium que compõem a secção Caulanthon, com os seus cotyledones bojudos formando uma bolsa de ar, o ara- pary ( Macrolobium acaciaefoliunm Benth.) e outras especies de Macrolobium, como tambem as especies de Peliogyne e Dalbergia, com os seus legumes curtós e indehiscentes, as es- pecies de Cynometra, com pericarpio spongioso, são exem- plos característicos d'este modo de distribuição. Mais fre- quentes porém nos igapós do alto Amazonas que as arvores adaptadas a uma disseminação pelas correntezas, são as que têm bagas ou fructos drupaceos, adaptados ao transporte pelos peixes. Estes penetram em grandes enxames, com a enchente, nos igapós e voltam de sua excursão com uma espessa camada de banha, que indica logo quão bôa alimenta- ção elles acharam ali. Principalmente as fructas de diversas Sapotaceas offerecem um bom regalo a estes peixes. Aconte- ceu-me, por exemplo, nos igapós do alto Purús e do baixo MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 151 Acre, que quando à procura de fructos de diversas espe- cies de Lucuma, perdi a maior parte d'elles, porque os pel- xes escondidos na agua turva apoderaram-se d'elles logo que cahiram n'agua. E' muito provavel que as sementes muito lisas d'estas especies possam atravessar o canal digestivo dos peixes com bastante rapidez para não serem digeridas. E' tambem provavel que os fructos drupaceos da Alchornea castaneifolia, que quando maduros, muitas vezes são immergi- dos n'agua, sejam uma adaptação à disseminação pelos peixes. Nas varzeas altas. onde a vida animal não é muito differente da das terras firmes, e onde na epoca das inunda- ções certos animaes (como por exemplo cutias e veados ) se retiram dos terrenos inundados, as condições para a dis- tribuição das sementes são as mesmas como na terra firme, o que explica em parte que ali haja muitas arvores proprias da terra firme, ao menos quando esta não se acha a muita distancia. Como veremos mais adiante, a frequencia das pal- meiras nas varzeas altas deve provavelmente ser explicada pela frequencia das cutias n estes logares. Na terra firme, a agua naturalmente não terá mais uma grande influencia na distribuição das sementes, com excep- ção talvez da beira dos riachos, onde necessariamente as sementes ou fructas cahidas serão levadas pelas enxurradas, principalmente no tempo das grandes chuvas. que mesmo na matta de terra firme é em geral a epoca da maturação dos fructos. Adaptações á disseminação pelo vento devem natu- ralmente ser procuradas em primeiro logar nas arvores altas, nos cipós e nas epiphytas, emquanto que nas arvores pe- quenas e nos arbustes do sous-bois, uma tal adaptação não pode se esperar a priori. Com effeito, podem se constatar, nas arvores altas, adaptações mais ou menos perfeitas à disse- minação pelo vento, como nas Bombaccas ( confere tambem a samauma das varzeas altas), nas especies de Tecoma, Ja- caranda, Vochysia, Pterocarpus (*), Cedrela, etc. Nos cipós a (F) E' interessante que o Pterocarpus Robrii Vog.. especie da terra firme, tem fructos com aza circular muito larga e fina, emquanto que a especie muito semelhante e ja confundida com elle, o P. amazonicus Hub. que cresce á beira d'agua, tem fructos mais grossos e spongiosos, isto é adaptados ao transporte pela agua. 152 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS adaptação à disseminação pelo vento é principalmente de- senvolvida nas familias das Malpighiaceas, das Sapindaceas e das Bignoniaceas, mas tambem em certas Dioscoreaceas ( Dios- corea ), Polygalaceas ( Securidaca, Bredemeyera ), Rhamnaceas (Gouania ), Combretaceas (Combretum ), Apocynaceas ( Echi- tes e generos alliados), Verbenaceas (Peiraea ), Rubiaceas ( Ourouparia ) e Compostas ( Mikania ). Entre as epiphytas, os fetos e as familias das Orchida- ceas e das Bromeliaceas mostram adaptações à disseminação pelo vento, os - primeiros e as segundas pela pequenez dos esporos e das sementes, as ultimas no desenvolvimento de apparelhos especiaes de vôo. em forma de corôas de cabel- los compridos e sedosos que encontramos tambem no genero Hillia, da familia das Rubiaceas. Entretanto observa-se que na região amazonica, como já foi ponderado por Ule ( Epi- phyten des Amazonasgebietes) as epecies com este modo de distribuição são relativamente muito mais raras que em ou- tras partes da America tropical. Muito mais importantes na matta amazonica do que to- dos os outros modos de disseminação são os devidos aos animaes. Já se têm escripto muito sobre o assumpto, que com certeza é um dos mais interessantes no estudo da vida da matta amazonica. A maior parte das arvores da matta ama- zonica tem fructos relativamente pezados. Quando se pensa na quantidade immensa de fructos e sementes que uma arvore produz annualmente e no pequeno perimetro onde cahem estes fructos, deveria se pensar que ao redor de uma arvore velha tudo fosse cheio de arvores novas da mesma especie. Ora isto raras vezes é o caso, mas frequentemente encontra- mos arvores novas de uma especie, da qual só a grande distan- cia é possivel descobrir uma arvore adulta. Isto é devido principalmente aos animaes, que em grande escala des- troeem ou arrebatam os fructos e as sementes, car- regando elles às vezes a grande distancia. Os ani- maes aos quaes se dá geralmente mais importancia como distribuidores de sementes de arvores tropicaes são os macacos e as aves. Ora me parece que para a re- gião amazonica temos de citar, em primeiro logar, dois outros grupos de animaes, os roedores (principalmente cu- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 153 tias) e os morcegos. Não hesito mesmo em assignar a estes ultimos o primeiro logar na distribuição das sementes na matta amazonica. (*). Ha muitos annos que observo os morcegos no nosso jardim botanico, onde elles se encarregam da disseminação não só das nossas arvores fructiferas, como tambem de outras espe- cies, cujo pericarpio não agrada ao nosso paladar (como por exemplo Iriartea exorrhiza, Dipteryx odorata, especies de An- dira, especies indigenas de Ficus e Cecropia). Os morcegos são especialmente aptos para distribuir as sementes ao longe, porque elles raras vezes comem a fructa na arvore mesma mas têm o costume de levar até fructos bastante pesados para uma outra arvore, provavelmente para comel-os longe dos competidores. Ha tres cathegorias de plantas que são particularmente adaptadas à disseminação pelos morce- gos. Em primeiro logar as Leguminosas Dalbergieas com fructos drupaceos, principalmente os dois generos Dipteryx e Andira, o segundo dos quaes recebeu mesmo o seu nome dos animaes que se encarregam de sua disseminação (andirá significa morcego, na lingua geral, e os brasileiros chamam uma especie, a Andira inermis H. B.K de morcegueira ). A esta cathegoria pertencem tambem algumas outras espe- cies de caroço grande e duro, como especies de Licania, Couepia, Parinarium ( Rosaceas), Saccoglottis, Vantanea, Hlu- miria (Humiriaceas), Poraqueiba (Icacinaceas), etc. À se- gunda cathegoria comprehende as Sapotaceas (e talvez al- gumas Anonaceas), com pericarpio doce e molle e sementes relativamente grandes e muito escorregadiças, que facil- mente se separam da pulpa e cahem no chão. A” terceira ca- thegoria pertencem os fructos doces e molles, com sementes pequenas que passam pelo tubo digestivo dos morcegos e são esvasiados com os excrementos, sem perderem a sua faculdade germinativa; são estes principalmente Moraceas, dos generos Cecropia, Ficus, Bagassa (?) e provavelmente ainda outros. As especies epiphyticas de Ficus, são provavel- (*) Ainda não me foi possivel obter determinação das especies de morcegos que são principalmeute empenhadas n'esta occupação, mas não duvido que na região amazonica haja muitas especies de morcegos que vivem exclusivamente ou quasi exclusivamente dos fructos da matta. 154 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS mente disseminadas na maior parte dos casos pelos morce- gos, que, suspendidos debaixo das folhas ou durante o vôo, lançam os seus excrementos sobre a casca dos galhos e dos troncos. Uma especie de Ficus, que no nosso. Horto botanico fructifica todos os annos, é durante a maturação dos fructos visitada por centenas de morcegos, que com os seus excrementos espalham as suas sementes por todo o jardim. Não digo que todas estas especies sejam, para a dis- tribuição de suas sementes, exclusivamente dependentes dos morcegos, pelo contrario me parece provavel, que ao lado destes propagadores nocturnos, os macacos e os passaros diurnos tenham uma importancia bastante grande, ao menos em alguns d'estes casos. Penso mesmo, que as drupas muito grandes de Parinarium montanum Aubl., especies de Couepia, Saccoglottis Uchi Hub., Poraqueiba sericea Tul., sejam mais aptas a serem distribuidas pelos macacos ou mesmo pelas cutias, em vista do seu peso. Os macacos serão en- tretanto os principaes ou talvez exclusivos propagadores para as plantas cujos fructos têm sementes cobertas de polpa doce den- tro de uma pericarpo não muito duro, mas bastante resistente para poder só ser aberto com um certo esforço manual. Os me- lhores exemplos de taes fructos são fornecidos pelas especies de Theobroma, Herrania e Inga. Estes fructos mostram tambem a particularidade que a polpa faz parte das sementes rela- tivamente grandes, que por isso são chupadas mas não en- gulidas. Os macacos batem estes fructos até ficarem abertos, e é natural que elles serão muitas vezes forçados de esco- lher para esta manipulação um logar seguro, que não será sempre perto da arvore que lhes forneceu o fructo. Os ma- cacos gostam tambem de nozes, e talvez elles sejam os pro- pagadores principaes das especies de Lecylhis, mas as semen- tes oleosas e dôces são geralmente bem protegidas por um pericarpo ou por uma testa muito dura, sendo por isso antes a especialidade dos roedores, entre os quaes as cutias (es- pecies de Dasyprocta ) são os mais importantes propagadores de sementes. O primeiro logar entre as arvores dissemina- das pelos roedores cabe à Bertholletia, cujas sementes acham os seus maiores destruidores e ao mesmo tempo os seus melho- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 155 res propagadores nas cutias. Nos castanhaes que não são ex- plorados é raro achar-se, entre as centenas de ouriços que cobrem o solo da matta, um unico que não esteja aberto pelos dentes aguçados destes roedores, e completamente es- vasiado. Mas as cutias não têm sempre o tempo de regalar- se tranquillamente com as saborosas castanhas; é o seu cos- tume levar uma parte das sementes ate uma certa dis- tancia, para enterral-as, como reserva para o futuro. Assim pode acontecer facilmente que uma ou outra d'estas semen- tes seja esquecida e consiga a grelar n'um logar proprio para o seu ulterior desenvolvimento. Sementes oleosas e doces, que não são protegidas (sementes de Hevea por exemplo ), podem ser enterradas da mesma forma. Outros fructos procurados pelas cutias são as drupas de mesocarpio oleoso, das quaes citei algumas das mais importantes como sendo distribuidas tambem pelos morcegos e os macacos. Como muitos d'estes fructos são bastante pesados, elles facilmente escapam aos morcegos ou macacos, cahindo por terra, onde elles são co- lhidos pelas cutias, que não só rôem a sua pulpa oleosa, mas tambem ás vezes o seu caroço, para regalar-se com as se- mentes. Nem o caroço durissimo e erriçado de espinhos do piquiá rana (Caryocar glabrum Pers.) é respeitado por ellas. Mas as plantas cuja disseminação talvez depende mais exclusivamente das cutias são as palmeiras e entre ellas em primeiro logar as da tribu das Cocoineas. A vasta distribuição de algumas palmeiras da terra firme, como por exemplo da Maximiliana regia e do Oenocarpus Ba- laua, não seria explicavel sem um agente muito efficaz de sua disseminação. Quem já viu as cutias na obra, debaixo d'um inajazeiro, comprehende perfeitamente a importancia destes roedores para a distribuição das palmeiras. Parece mesmo ás vezes como que as cutias tivessem o empenho de plantar os caroços, quando com uns movimentos rapidos das pernas anteriores ellas cavam um buraco de alguns centime- tros de profundidade, para enterrar o fructo e fechar outra vez o buraco. Quanto aos passaros fructivoros, que são excessivamen- te numerosos na região amazonica, elles têm naturalmente tam- bem um papel importantissimo na distribuição das sementes 156 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS das nossas arvores. Já fiz ver que provavelmente muitas das especies cujas sementes são disseminadas de noite pelos morcegos, são distribuidas de dia pelos passaros. Mas como as aves não costumam carregar os fructos de uma arvore a outra, haverá só uma disseminação efficaz, quando as semen- tes ou caroços não são grandes demais para serem engulidos, e bastante resistentes para não soffrer uma destruição mecha- nica ou chimica no tracto digestivo das respectivas aves. Fructos de Moraceas, ou as bagas menores das Melastoma- “ceas, Myrtaceas e Rubiaceas, são comida preferida dos pas- saros menores, assim como as sementes com arillos de côres vivos, por exemplo de Sapium, Protium e diversas Sapinda- ceas, ou pequenos fructos pouco vistosos como os do morototó (Didymopanax Morototoni). Aves maiores, como por exemplo papagaios, tucanos, etc., comem muitas vezes drupas de me- dio tamanho, como as do assahy, cujos caroços elles regor- gitam. Nos estomago das araras têm se encontrado até semen- tes de assacú (Hura crepitans L.) em grande quantidade, que quando não quebrados, com certeza eram capazes de conservar a sua faculdade germinativa durante a sua passa- gem pelo tubo digestivo d'aquelles passaros. Influencia do homem sobre as mattas de terra firme, industria extractiva, roças e capueiras. Ainda mais que nas varzeas, a influencia destruidora do homem se tem feito sentir na terra firme, modificando aqui o aspecto da matta, por uma ex- ploração pouco escrupulosa das suas riquezas naturaes, substi- tuindo ali á matta virgem campos destinados para a agricultura. E não devemos esquecer que muito tempo antes de chegar o homem branco n'esta terra, com os seus instrumentos aper- feiçoados de destruição, os indigenas, com os seus machados de pedra, aliás muito mais eficazes do que se pensa geral- mente, tinham derrubado muitos trechos de matta para as suas roças. A devastação das mattas pela industria extractiva muitas vezes não se faz sentir no seu aspecto geral, mas ella é por isso não menos perigosa para a economia do paiz. Extrahe-se da matta naturalmente o que n'ella ha de melhor, e deixa-se as essencias de valor inferior. Raras vezes acon- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 15% tece, que no logar de uma arvore de valor derrubada nasça outra da mesma especie; o que toma o seu logar, pelo con- trario, são geralmente essencias de crescimento mais rapido, que se encontram em todas as partes e que não têm nenhum valor economico. (Que uma exploração intensiva pode cau- sar a extincção quasi completa de uma especie vegetal, mostra-o o cravo do matto, chamado tambem cravo de Maranhão (Dicypellium caryophyllatum Nees), que era an- tigamente, nos primeiros tempos coloniaes, bastante frequente no interior do Estado do Pará, formando a sua casca o pri- meiro artigo de exportação, mas que pela exploração insen- sata ficou tão dizimado, que hoje é difficil, mesmo nas mattas mais centraes do Estado, de encontrar ainda os seus vestígios. Em vão o governo da metropole e os capitães geraes recom- mendaram a sua cultura, a ganancia predominou sobre a providencia e hoje este excellente substituto da canella da India é completamente esquecido no velho mundo. Com o caucho acontecerá necessariamente a mesma coisa. Emquanto que ha alguns annos atraz, as margens do Tocantins e o Itacayuna eram o principal centro da producção do caucho no Estado do Pará, os caucheros têm agora de afastaí-se dos rios e internar-se a grande distancia nas terras entre o To- cantins e o Xingú para encontrar ainda algumas d'estas arvo- res. N'estes casos ainda pode se dizer que a devastação da matta não é muito grande, que escapam sempre alguns individuos para perpetuar a especie e que com este methodo a exploração do paiz e a sua abertura à civilisação fica adiantada. Acceitamos esta circumstancia attenuante, mas não deixamos de lastimar, os effeitos desastrosos de tal ma- neira de pensar e de agir. Mais apparentes são os effeitos da extracção de madeiras, principalmente perto dos centros populosos e ao longo das es- tradas de ferro. As mattas dos arredores de Belem e ao longo da Estrada de ferro de Bragança são quasi todas de- vastadas e privadas das suas madeiras preciosas. Estas mat- tas que outr'ora eram ricas em acapú, pão amarello, pão santo, piquiá. massaranduba, mostram agora trechos extensos onde debaixo de algumas poucas arvores grandes, testemunhas d'um esplendor passado, estende-se um matto baixo, confuso e com- 158 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS posto das essencias mais ordinarias ou completamente inuteis. O que nesta zona tem contribuido principalmente para a devastação das mattas, é a extracção de lenha e a fabrica- ção de carvão para o gasto da capital, o fornecimento das dormentes e (até ha pouco tempo) de combustivel para a Estrada de ferro. A agricultura têm sido, n'este paiz como em outros, uma das maiores inimigas da matta. É finalmente não se pode lhe fazer uma censura disto, porque ella precisa de espaço e não pode achal-o noutra parte senão onde ha matta. O que entretanto é particularmente nefasto à existen- cia da matta, é o systema largamente extensivo, applicado ja ha seculos, não só pelo colono mas tambem pelo índio. Este systema, que considera por assim dizer a matta como o estrume dos campos, naturalmente deve com o tempo determinar um empobrecimento geral da matta. Derrubada e queimada, a matta fica por assim dizer completamente exterminada. Só onde a queima não era completa, alguns troncos ou arbustos e principalmente os troncos subterraneos e raizes engrossadas de alguns cipós conservam a sua vitalidade. Muitas vezes tambem algumas arvores grandes, cuja madeira rija resiste ao machado, esca- pam á sua acção e ficam em pé, desafiando mesmo a acção do fogo. Se, por uma ou outra razão, deixa-se de fazer cul- turas no trecho roçado, elle em poucos mezes transforma-se em capueira, pela immigração de arbustos e arvores he- liophilos. Produz-se o mesmo phenomeno como nas praias do Amazonas e dos seus affluentes, estabelecendo-se, depois de algum tempo, a lucta entre estes elementos heliophilos, de crescimento rapido mas de vida curta, e os elementos mais propriamente silvaticos, que formarão a capueira alta e final- mente reconstituem a matta. Quando na roça faz-se, du- rante dois, tres ou mais annos, uma das culturas costuma- das, a formação da capueira fica retardada, pela plantação mesmo e pelas capinações que se tornam necessarias, mas do outro lado serão introduzidas muitas sementes de plantas ubiquistas, más hervas e arbustos, que em exemplares iso- lados escapam a todas as capinações, tornando-se invasoras desde que a plantação é abandonada, o que se dá muitas MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 159 vezes desde o terceiro anno. Quanto mais tempo uma roça subsiste, tanto mais ella é invadida pelos vegetaes cosmopo- litas, principalmente se ella se acha à proximidade de um centro de communicações ou quando se deixa entrar nella o gado, que para estas plantas cosmopolitas é o melhor pro- pagador. Nas roças das visinhanças da capital, que foram transformadas em pastos, como tambem na beira dos cami- nhos, estas mãs hervas de proveniencia estrangeira acham-se em maior numero de especies, formando associações posti- ças que mal se harmonisam com o aspecto da vegeta- ção indigena. N'estes pastos, mesmo depois de abandonados, a vegetação das capueiras custa vingar e a reconstituição da matta será sempre muito demorada. Quaes são agora os elementos que constituem as ca- pueiras e qual é a sua proveniencia? Em capueiras situadas no meio da matta, a maior parte das especies são arbustos que tambem se acham em todas as clareiras naturaes da matta, nas lacunas provoca- das pela queda de arvores e nas margens abruptas dos pe- quenos rios e riachos. À esta cathegoria pertencem a juru- beba (Solanum grandiflorum Ruiz et Pav.) e diversas outras especies de Solanum, o matapasto (Cassia alaia L. e reticula- ta Willd.). especies de Piper, Manihoi, Vismia, Miconia, Eugenia, Myrcia, Casearia, Banara guyunensis, para não citar senão as mais communs. Entre as arvores que apparecem primeiro nas capueiras, as especies de Cecropia occupam porem, como nas praias, o papel mais importante. As especies de que se trata aqui, não são as mesmas como nas praias, mas são especies proprias da terra firme, como Cecropia palmata, distachya e Juranyiana, nas mattas da Estrada de ferro de Bragança, Cecropia leucocoma Miq., nas visinhanças de Ma- nãos. C. ficifolia e outras especies no alto Amazonas. Me parece provavel que estas especies sejam um relicto da ve- getação das praias do tempo em que a actual terra firme ainda era varzea. Não tendo mais praias a povoar, estas especies podiam conservar-se a muito custo na matta intacta, propagando-se nas clareiras naturaes. Só pela intervenção do homem, o espaço disponivel para estas especies amigas da luz ficou outra vez maior e nas enormes capueiras ao longo 160 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS da Estrada de Ferro podemos assistir por assim dizer a uma resurreição dos imbaubaes que em tempos geologicos cobriam provavelmente as praias dos cursos d'agua dos quaes os rios actuaes do Salgado parecem ser apenas fracos epigonios. As capueiras que se acham na visinhança de maiores vias de communicação, terão naturalmente muitos elementos introduzidos pela acção do homem ou dos animaes, e a sua flora será mais variada. Mas a maior variedade dos elemen- tos das capueiras nas visinhanças dos centros populosos não têm só esta causa. Temos visto, que cada associação com o tempo tende a enriquecer-se pela immigração natural de novas especies. Ora se uma capueira, por uma exploração desordenada, para obtenção de lenha, é impedida de se des- envolver em matta, ella pouco a pouco ficará mais rica em especies arbustivas, podendo certos elementos de sous-bois das mattas circumvisinhas acclimatar-se em seu meio. D'este processo de acclimatação resultam as capueiras relativamente ricas, como as de Belem e de Óbidos, que provavelmente são muito antigas. Só n'este caso a capueira pode se consi- derar até um certo ponto com uma formação vegetal defi- nitiva e independente. Eis uma lista dos arbustos e das arvores pequenas mais frequentes nas capueiras dos arredores da capital: Piper aduncum L., P. Hostmannianum B ramiflorum C. DC., P. peltatum L. ( Piperaceas) Lacistema pubescens Mart., L. myricoides Sw. ( Lacis- temaceas ) Trema micrantha (Sw.) Engl. ( Ulmaceas ) Cecropia Bureauiana Richt., C. palmata Willd. (Mo- raceas ) Xylopia frutescens Aubl., Anona sp., Rollinia sp. ( Anonaceas ) Virola sebifera Aubl. ( Myristicaceas ) Siparuna amazonica ( Mart.) A. DC. (Monimiaceas) Hirtella americana Aubl. ( Rosaceas) Inga alba Willd., Calliandra surinamensis Benth., Pithecolobium trapezxifolinm (Vahl) Benth., Bau- binia splendens H.B.K., Cassia Hojfmannseggii Mart., C. bicapsularis L., C. quinqueangulata MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 161 Rich., C. chrysocarpa Desv., C. alata L. (Legu- minosas ) Erytbroxylum floribundum Mart. ( Erythroxylaceas ) Alchornea cordata ( Juss.) Muell. Arg. (Euphorbia- ceas ) Cupania diphylla Vaht, Matayba guyanensis Aubl., Pseudima frutescens ( Aubl.) Radlk. ( Sapinda- ceas) Gouania domingensis Reiss. ( Rhamnaceas ) Davilla rugosa Poir. ( Dilleniaceas ) Vismia guyanensis Choisy (Guttiferas ) Banara guyanensis Aubl., Casearia grandiflora St. Hil., C. stipularis Vent., C. javitensis H.B.K., Ryania speciosa Vahl, Oncoba pauciflora ( Benth.) Eichl. ( Flacourtiaceas ) Eugenia spec., Myrcia div. spec., Psidium araça Raddi ( Myrtaceas ) Clidemia hirta D. Don var. elegans Griseb., Miconia ciliata DC., Miconia minutiflora DC., Henrietlea succosa DC. ( Melastomaceas ) Cordia multispicata Cham., C. modosa Lam. ( Borra- ginaceas ) Vitex triflora Vahl (Verbenaceas) Solanum grandiflorum R. et Pav., S. juripeba Rich, S. asperum Vahl, S. toxicarium Lame., S. cam- pamiforme Roem. et Schult., Cestrum floribun- dum NWilld. ( Solanaceas ) Berticra guyanensis Aubl., Palicourea grandifolia Willd. ( Rubiaceas ). Na maior parte dos casos porem acontecerá que uma capueira será pouco a pouco transformada em matta, pela addição de essencias silvaticas de maior tamanho e de vida mais prolongada. Entre estes elementos podem-se citar como os mais frequentes, nas visinhanças da capital: Didymopanax morototoni March. (morototó). Jacaranda Copaia DC. (carauba), Simaruba amara Aubl. (maru- pauba), Bagassa guianensis Aubl. (tatajuba), Apeiba ti- bourbou Aubl. e 4. glabra Aubl. (pente de macaco), Neciandra cuspidata Nees (louro), Byrsonima lancifolia 162 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Juss., B. crispa Juss. (murucy), especies de Inga, Virola sebifera Aubl. (ucuuba vermelha), Bellucia imperialis Sald. et Cogn. (araçã da anta), Acacia paniculata Willd., Tapi- rira guyanensis Aubl. (pão pombo), Dipteryx odorata Willd. (cumarú), Dialium divaricatum Vahl, etc. Logo que a capueira têm uma certa altura e dá bas- tante sombra, apparecem tambem as plantas herbaceas ca- racteristicas da matta, como por exemplo as gramincas de folhas largas, Marantaceas, etc. Mas uma capueira alta, embora que seja muito antiga. difficilmente chegará a se desenvolver em matta grande, e mesmo assim faltarão-lhe sempre certos elementos pelos quaes o iniciado conhecerá a matta virgem. Campos cobertos e suas arvores. Os campos co- bertos da região costeira e do baixo Amazonas constituem uma transição entre os campos e as mattas, sendo as suas arvores bastante espalhadas, pequenas e geralmente tortas, de maneira que ellas em geral têm pouco valor economico. So- bre as especies frequentes na ilha de Marajó, o leitor achará indicações no trabalho « Os campos de Marajó », do Dr. Vi- cente Chermont de Miranda, publicado no ultimo volume deste Boletim (p. 89). Entre as especies que habitam os campos altos do baixo Amazonas, podemos citar: Piptadenia peregrina Benth. (paricá) Plathymenia foliolosa Benth., P. reticulata Benth, Hymenaea parvifolia Hub. (jutahy do campo) Lonchocarpus denudalus Benth. Bowdichia virgilioides H.B.K. (sucupira) Byrsonima crassifolia K. (murucy do campo) Oualea grandiflora Mart. Salvertia convallariodora St. Hil. Liihea paniculata Mart. (envireira do campo) Curatella americana L. (caimbé) Cochlospermum insigne St. Hil. (periquiteira do campo) Lafoensia densiflorá Pohl Plumiera fallax Muell. Arg. (sucuúba) Vitex flavens H.B.K. (tarumã tuira) MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 163 Tecoma caraiba Mart. (caraúba) Tecoma aff. ochracea Cham. (tauary do campo) Cybistax antisyphilitica Mart. (caroba de flôr verde) Tocoyena formosa Schum. (genipapo do campo) Todas estas arvores são proprias dos campos e não crescem nas mattas. AS MADEIRAS N'esta parte do meu trabalho que vae seguir, esfor- cei-me de dar uma enumeração tão completa quanto possi- vel, das madeiras utilizadas ou utilizaveis do Pará, segundo a ordem das familias naturaes às quaes ellas pertencem. Li- mitei-me ao Pará, porque possuimos sobre as madeiras d'este Estado dados mais completos do que sobre as do resto da região amazonica, principalmente graças a collecção das ma- deiras reunidas pela commissão preparatoria da Exposição Nacional de 1908, para a qual muitos municipios contribui- ram com series bastante completas. tornando-se assim possi- vel ter ao menos uma idéa approximada da distribuição das diversas essencias pelo interior do Estado. Bem sei aliás que uma enumeração baseada unicamente sobre estes dados seria ainda bem incompleta e capaz de dar uma idéa erronea da riqueza dos respectivos municipios, porque a composição das respectivas collecções de madeiras, devido ao tempo curto de que se dispunha para reunil-as, era dependente de cir- cumstancias fortuitas. Felizmente era possivel completar os dados assim reunidos com o auxilio da collecção de madeiras do Museu, especialmente rica com respeito à região de Faro, e que contém tambem algumas collecções do alto Amazo- nas. Todas estas collecções tinham naturalmente o defeito de serem apenas acompanhadas dos nomes vulgares, de forma que a classificação scientifica era só possivel para um certo numcro de amostras e mesmo assim muitas vezes só com referencia ao genero ou à familia. A confecção de uma collecção verdadeiramente scientifica é uma cousa que precisa 164 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS de muito tempo e de uma grande somma de trabalho, porque para este fim é preciso juntar a cada amostra um especi- men botanico das folhas, flôres e fructos do mesmo indivi- duo, quanto possivel. Uma collecção que responda a estas exigencias, só pode ser reunida por um pessoal especial- mente destacado para este serviço e dirigido por uma pes- soa competente, de preferencia um funccionario florestal. A maior parte das nossas amostras scientificas provem da Es- tação Experimental Augusto Montenegro, e foi reunida em parte pelo nosso preparador, Sr. Rodolpho Siqueira Rodri- gues, em parte pelo Sr. André Goeldi, digno director d'a- quelle instituto, por occasião das derrubadas feitas ali nos annos de 1907 e 1908. No mais, era preciso referir-se ao nosso herbario amazonico, que para a identificação das es- pecies foi a nossa fonte principal de informações. No herba- rio amazonico, como tambem no catalogo manuscripto das collecções do Museu, fomos de longa data empenhados em consignar, sempre que foi possivel, os nomes vulgares das plantas em questão, de forma que em diversos casos foi possivel chegar a uma quasi certeza sobre a classificação scientifica, só pela comparação dos nomes vulgares. E” ver- dade que os resultados assim obtidos são sempre sujeitos à caução e por isso estou forçado de empregar, com mais fre- quencia do que desejava, as expressões « talvez » ou « pro- vavelmente ». Tenho porem a plena confiança de offerecer ao leitor uma base mais solida para o conhecimento das madeiras paraenses e amazonicas, do que são as listas actual- mente existentes, para a cuja confecção ainda não se dispu- nha dos elementos que actualmente temos à mão. Não raras vezes me perguntam, quantas especies de madeiras pode haver na região amazonica. À esta pergunta é difficil responder satistactoriamente, porque a resposta de- pende muito do que se entende sob o termo de madeira. O numero das especies de plantas vasculares actual- mente conhecidas da região amazonica pode ser computado em 10.000 mais ou menos, mas é provavel que elle fique dupli- cado com uma exploração mais completa. Spruce (« Notes of a botanist on the Amazon » vol. II p. 208) suppõe mesmo, que este numero. seja na realidade muito mais elevado. Elle MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 165 falla de 50.000 ou mesmo de 80.000 especies, o que me parece muito exagerado. Se acceitamos a cifra de 20.000, o numero das plantas lignosas não pode ser inferior a 10.000. Mas d'estas plantas lignosas, a maior parte, talvez mais de tres quartos, são arbustos e cipós, pertencendo a esta cathegoria diversas familias importantissimas, como Myrtaceas, Melastomaceas, Rubiaceas, Sapindaceas, Malpighiaceas, Bignoniaceas. em sua quasi totalidade. Não creio portanto que o numero das es- pecies arborescentes seja superior a 2.500. D'este numero. o Pará possue talvez um pouco mais da metade, sendo natu- ralmente muitas especies distribuidas sobre uma grande parte da região amazonica. Mas mesmo se o Pará tivesse apenas 1.000 especies arborescentes. este numero seria ainda mais do duplo do numero das arvores indigenas nos Estados Unidos da America do Norte. Destas essencias lignosas, naturalmente só uma pequena parte terá uma utilida- de pratica immediata. Em uma lista de nomes vulga- res de arvores paraenses, consegui reunir perto de 500 no- mes. Considerando de um lado que muitos d'estes nomes são duplicatas ou synonimos, e que do outro lado o mesmo nome serve frequentemente para duas ou tres especies bota- nicas, e que muitas arvores não têm nome vulgar conhecido, me parece que o meu calculo deve concordar bastante bem com a realidade. O numero das especies de uso corrente é naturalmente muito inferior a esta cifra, e no commercio da capital encontram-se apenas umas 40 qualidades de madeiras, e d'estas mesmo algumas só com muita dificuldade. Um dos traços característicos das mattas amazonicas, como aliás de todas as mattas das planicies equatoriaes, re- side na ausencia completa das CONIFERAS, que nos pai- zes de clima temperado occupam um papel muito importante, tanto sob o ponto de vista physionomico, quanto sob o eco- nomico. Em compensação, as MONOCOTYLEDONEAS têm, principalmente na familia das Palmeiras, um grande nu- mero de representantes amazonicas, que apezar de cresce- rem raramente sociaes, têm um papel muito importante na economia do paiz. Não é aqui o logar de tratar de todas as applicações das palmeiras e dos seus productos, que são variadissimos, e posso referir-me a este respeito ao magis- 166 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS tral livrinho de Wallace, intitulado « Palm trees of the Ama- zon and their uses» (London 1853), hoje infelizmente ex- gottado, que ainda actualmente é o melhor tratado sobre as palmeiras amazonicas consideradas sob o ponto de vista economico. Aqui tratarei apenas das especies cuja madeira têm uma applicação qualquer. Talvez a palmeira mais im- portante sob este ponto de vista é a pachiuba (Iriartea exorrhiza Mart. e T. Orbigniana Mart.) muito frequente por todas as varzeas altas e logares humidos das terras firmes amazonicas até o sopé dos Andes. As ripas feitas da madeira peripherica do seu tronco servem em logar de taboas para assoalho e forro das barracas e barracões dos seringueiros, principalmente no alto Amazonas, onde cresce a forma mais grossa (1. Orbigniana ). Onde ha pouca paxiuba, o assahy, principalmente o do alto Amazonas ( Euterpe precatoria Mart.) o substitue às vezes para o mesmo fim. Para esteios de ca- sas servem diversas especies. quando bem maduras, como por exemplo o patauá ( Oenocarpus bataua Mart.) e bacaba (O. distichus Mart. e O. bacaba Mart.), assim como algu- mas especies de Astrocaryum, e para cercas emprega-se o tucumá (Astrocaryum vulgare Mart.) na ilha de Marajó, e o jará (Leopoldinia pulchra Mart.) no Rio Negro. Todas as especies de Oenocarpus (O. distichus, Bacaba, Bataua, minor, multicaulis), têm um tronco muito rijo e resistente, quando maduro, e elias fornecem, como tambem as especies de Bac- tris, uma madeira excellente para lanças e bengalas. Um uso muito especial tem a pachiubinha (Iriartella setigera Mart.), da qual os indios fazem as suas sarabatanas. À maior especie do genero Iriarlea, a pachiuba barriguda (Iriartea ventricosa Mart. ), serve às vezes para fazer, com uv seu tronco inchado no meio e rachado longitudinalmente, pequenos botes, em casos de urgente necessidade. Os troncos de mi- rity (Mauritia flexuosa L. f.) são muito empregados como pontes de embarque rudimentarias, nas beiras lodosas dos furos e igarapés sujeitos às fluctuações das marés, sendo a sua fixação assegurada por algumas estacas fincadas dos dois lados, que servem tambem de balaustre para os passa- geiros. Mas em geral o uso das madeiras das palmeiras é res- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 16 a | tringido pela circumstancia que só a camada mais externa do tronco tem um tecido compacto, sendo as fibras no cen- tro mais ou menos soltas ou immergidas n'um tecido molle. Isto em certos casos é uma vantagem, permittindo por exem- plo de preparar do tronco da pachiuba sem muito esforço as taboas tão uteis para a construcção das barracas. Em outras especies, como por exemplo no majestoso inajá (Ma- ximiliana regia Mart.), o tronco tem até o centro a mesma estructura e consistencia compacta, mas o tecido que envolve as fibras vasculares, não fica bastante duro para permittir a sua utilisação como material de construcção. Alem das palmeiras, as Gramineas fornecem ainda, nas mattas amazonicas, alguns representantes arborescentes usados - na construcção das casas. À taboca (Guadua aff. macrostachya Rupr.) de Marajó e do baixo Amazonas, não é bastante forte para esteios ou outras partes que precisam de maior resistencia, mas ella serve para paredes rusticas e para caibros, e alem d'isto para cercados, giraus, etc. Muito maior é uma especie do alto Amazonas (Guadua superba Hub.) que não só attinge mais de 20 metros de altura, mas tambem um diametro de 15 a 20 cm. Esta especie empre- ga-se, no alto Purús e no Acre. para fazer paredes de bar- racas. Ella fende-se longitudinalmente, abre-se e serve assim em guisa de taboas. No Perú cisandino, ao longo do Mara- fon, Ucayali e Huallaga, vi as paredes de casa quasi sem- pre feitas com as hastes de cafa brava ( Gynerium sagitiatum ( Aubl.) Beauv.), que estreitamente juxtapostas e ligadas entre si com cipós, formam uma parede de muito bôa apparencia que ao mesmo tempo permitte uma ventilação sufficiente. Nas varzeas amazonicas podemos estar certos de que uma casa com paredes de caía brava é sempre habitada ou ao menos foi construida por peruanos. Apezar do proveito que se tira, na região amazonica, das Bambuseas, estas não têm, entre nós, um papel tão im- portante como na Ásia meridional e oriental, onde elles não só são mais frequentes e mais importantes na vegetação es- pontanea do paiz, como tambem gozam de um cultivo assi- duo da parte d'aquelles povos que souberam tirar d'ellas todo o proveito. 168 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS No grupo das ARCHICHLAMYDEAS, ou DICOTY- LEDONEAS CHORIPETALAS, encontramos logo outra differença fundamental que distingue as nossas mattas das mattas dos paizes de clima temperado: as familias das Juglan- daceas, Betulaceas e Fagacceas, que fornecem as melho- res madeiras da Europa e dos Estados Unidos, não têm ne- nhum representante nas mattas amazonicas. Da mesma forma, as Ulmaceas, apezar de não serem completamente ausentes da Amazonia (especies de Celtis e de Trema), não parecem fornecer aqui nenhuma madeira utilisada. Em compensação, a familia das Moraceas, que nos paizes de clima temperado conta só poucos representantes arborescentes, entre os quaes a amoreira é o mais conhecido, oceupam um papel impor- tantissimo na composição das mattas amazonicas e fornecem, além de outros productos importantes, algumas das madei- ras mais finas da região amazonica. A mais importante d'es- tas é a nossa muirapinima (bois de leitre ou lettre moucheté dos francezes, snake-wood ou letler-wood dos inglezes, Buch- stabenholz ou Tigerholz dos allemães). Esta especie, espalhada sobre toda a região amazonica e sobre as Guianas, foi pri- meiro descripta e figurada por Aublet ( Histoire des plantes de la Guyane françoise, vol. II, p. 888, tab. 340), com o nome scientifico de Piratinera guianensis; como ella porém foi descripta mais tarde sob o nome de Brosimum Aubletii por Poeppig, este nome por muito tempo lhe ficou. Segundo as leis de nomenclatura actualmente acceitas pela maioria dos botanicos, este nome tem entretanto de mudar-se em Brosimum guianense, prevalecendo o primeiro nome especi- fico, uma vez que o nome generico de Aublet foi abando- nado. A muirapinima é uma madeira excessivamente com- pacta e pesada, mas a sua principal qualidade consiste na sua côr encarnada com pintas pretas bem distinctas e mui- tas vezes um pouco mais claras no centro, imitando assim o desenho da pelle de maracajá ou de certas cobras. O seu cerne, que só mostra a côr e o desenho caracteristicos, é aliás de extensão muito reduzida, sendo alem d'isto fre- quentemente bastante excentrico e de contornos irregulares. N'uma secção de tronco de uma arvore que foi derrubada pelos indios do alto rio Guamá, sob a direcção do nosso MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 169 dedicado preparador Sr. Rodolpho Siqueira Rodrigues, e da qual temos especimens de madeira e de galhos floridos, as diversas camadas, contadas do centro para a peripheria, mostram as seguintes medidas: / cerne: 4 até 10 cm: diametro total 14 cm: alburno : 10 ate 20 cm; casca : 1 cm. O alburno é branco amarellado. bastante denso e mos- tra, principalmente depois de exposto ao ar durante algum tempo, camadas concentricas irregulares. As pintas não são sempre bem desenvolvidas, mos- trando o cerne ás vezes somente algumas veias e manchas irregulares. Quasi sempre a arvore de muirapinima não é derrubada quando viva, mas só quando morta e despida do seu alburno. Como o cerne é quasi indestructivel, elle se conserva por muitos annos em pé ou no chão, sendo assim a sua exploração bastante facilitada (cf. p. 146). A mui- rapinima é a madeira mais preciosa da região amazonica e das Guianas, mas como os seus toros são de pequenas dimensões e raramente perfeitos e como ella difficilmente se deixa tra- balhar, o seu uso é muito limitado, restringido quasi exclu- sivamente à confecção de bengalas de luxo e cabos de cha- peus de chuva, ou pequenas obras de marchetaria. Muito semelhante a certas variedades inferiores de muirapinima, e possuindo a mesma côr vermelha, porem uma estructura um pouco mais grosseira, e só velas, mas nunca manchas transversaes pretas, é uma outra especie de Brosimum, chamada vulgarmente muirapiranga, o que sig- nifica «madeira vermelha ». E” aliás muito provavel que este nome se applique não só a uma, mas a diversas especies do mesmo genero e talvez ainda a algumas arvores de outras familias (1). A especie que me indicaram na Estrada de (1) A muirapiranga já foi classificada por uns como Haplocla- thra paniculata Benth. ( Guttiferas ), por outros como Mimusops Balata Gaertn. ( Sapotaceas ). Não conheço a primeira d'estas arvores, e não sei se realmente a sua madeira é vermelha. Da segunda porem se sabe, que a sua madeira é d'um vermelho bastante vivo, de forma que não é impossivel que ella tenha recebido o nome de muirapiranga, tanto mais que ha certas semelhanças na estructura das madeiras das Moraceas e das Sapotaceas. 170 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Ferro de Bragança como sendo uma muirapiranga, mos- trou-se ser uma especie nova para a sciencia, à qual dei o nome de Brosimum paraense Hub. (cf. este vol. VI do Bole- tim, p. 67). Ella se distingue das outras especies do genero pelas suas folhas ovaes ou ellipticas completamente glabras e pelas suas gemmas muito compridas e agudas. Por este caracter ella lembra bastante a Ferolia guyanensis de Aublet (Hist. pl. Guian. vol. II, pag. 7, tab 372), chamada bois de féroles ou satiné, na Guiana franceza, que entretanto differe pela inflorescencia e pela conformação dos fructos, que dei- xam mesmo bastante duvida acerca da pertença d'esta planta à familia das Moraceas. Um pouco mais plausivel me parece a approximação da nossa muirapiranga da Estrada de Ferro ao condurú de sangue do Tocantins, do qual recebi, por intermedio do Sr. Pedro Marinho, um especimen botanico que concorda bem com os meus especimens de Brosimum pa- raense Hub. Tambem não me parece impossivel que a ma- deira do alto Amazonas, chamada palo de sangre pelos peruanos, seja senão a mesma especie, pelo menos uma es: pecie apparentada do B. paraense. Temos agorá especimens vivos de uma muirapiranga no Horto botanico, mostran- do-se porem, que elles não concordam com ó B. paraense, mas antes com o Brosimum acutifolium Hub. (cf. este vol. VI do Bol. p. 66), de forma que me parece justificado e que venho de dizer a respeito da classificação da muirapi- ranga. Deixo aqui consignado o problema a resolver. Uma arvore que ainda tem bastante affinidade com a muirapinima e com a muirapiranga, sendo tambem uma especie de Brosimum, é o celebre mururé, cujo leite é recommen- dado na medicina popular como um remedio efficaz contra a lepra. D'esta arvore ainda não vi especimens completos, mas os fructos e as arvores novas plantadas no nosso Horto botanico indicam com evidencia que se trata de uma espe- cie de Brosimum, muito apparentada com o B. aculifolium Hub. Uma amostra d'esta madeira, de uma arvore evidente- mente ainda nova, que recebemos da Estação Experimental Augusto Montenegro, sob o nome de mururé vermelho, embra em sua estructura as madeiras que acabo de citar, mas ella é mais leve e o cerne tem uma bella côr amarella, MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 171 emquanto que o alburno é rajado de branco e vermelho, em zonas diffusas. O genero Olmedia fornece ainda algumas arvores gran- des da região amazonica, sendo de todas a mais importante, sob o ponto de visto physionomico, a celebre muiratinga, talvez a arvore mais alta das varzeas do baixo e do alto Amazo- nas. Esta arvore, que é. senão identica. ao menos proxima paren- ta da Olmedia calophylla Poepp. (as folhas são menores nos nos- sos exemplares do que na figura de Pocppig, Nov. gen. et spec. II tab. 146), entretanto não parece fornecer uma ma- deira utilizada, pelo menos não me consta nada a respeito. “Tambem não parece que a madeira de Olmedia caloneura Hub. e O. obliqua Hub. (tambem chamada muiratinga) tenha uma applicação economica. Uma outra especie do mesmo genero porem, que provisoriamente chamarei O. erythrorhiza nov. spec. por causa das suas raizes encarnadas que como as do caucho são visiveis a muitos metros do tronco. e que é espalhada nas varzeas altas de quasi toda a Amazonia, sendo bem conhecida sob o nome de guariuba no Brasil. maxunasti no Perú cisandino, fornece em troncos grandes uma bella madeira de côr amarella escura ou pardacenta, que é usada na construcção civil e naval, mas que com certeza poderia tambem achar bom emprego na marcenaria, porque ella tem um tecido compacto e mostra, no corte tangential, bellas veias onduladas de côr mais escura. A tatajuba (Bagassa guianensis Aubl.), arvore grande das mattas de terra firme dos arredores de Belem e da Guiana franceza, fornece uma madeira bôa para construcção civil « naval, de côr amarella escura ou pardacenta. O seu tecido é denso. mas os seus poros vasculares são maiores que nas outras Moraceas que acabo de citar. Entretanto, esta especie pertence ainda aos representantes da familia com madeira forte e resistente. Mas o nome de tatajuba é dado ainda a uma outra especie, à Maclura tincioria Endl., ou Chlorophora tincioria (E) Gaudichaud e especies congeneres, das quaes algumas são arvores pequenas das margens do Amazonas e dos seus af- fluentes. A sua madeira, d'uma bella côr amarella, serve para extracção de tinta amarella. 172 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Sobre a madeira do caucho (Castilloa Ulei Warb.) como tambem das especies de Perebea e Helicostylis que em parte são arvores grandes, sabemos apenas que ella é rela- tivamente molle e fica facilmente atacada pelas brocas. Me- lhor parece ser a madeira de certas especies de Ficus, prin- cipalmente do subgenero Urostigma (apuhy), emquanto as especies, do subgenero Pharmacosycea (cuaxinguba) têm uma madeira branca, sem valor, ao menos actualmente. Sobre a madeira das arvores dos generos Sorocea, Sa- hagunia, Pourouma e Coussapoa não me consta nada. Ne- nhuma d'estas arvores attinge aliás grandes proporções e talvez é por causa disto que a sua madeira é desprezada. As imbaubas, Cecropia, das quaes se conhecem actual- mente umas 12 especies na região amazonica, têm o tronco ôco e geralmente pouco grosso, de forma que não pode se pensar em utilizar a sua madeira branca e leve para outra cousa senão para lenha ou para carvão. Quando secca ella queima muito bem e o seu carvão é recommendado como excellente para a fabricação de polvora. Da familia das Proteaceas, que no sul do Brasil têm alguns representantes que fornecem madeiras estimadas, só conheço aqui formas arbustivas ou arvores pequenas, como o Andriapetalum rubescens Schott e diversas especies de Rho- pala, mas não é imposivel que ainda se ache uma especie maior e capaz de fornecer bôa madeira. Outra pequena familia, a das Olacaceas, é represen- tada na Amazonia por diversas especies arborescentes, que entretanto não attingem as proporções das arvores altas da matta e na sua maioria não são conhecidas como produ- zindo madeira utilizavel. S6 a acaricuára (Minquartia guianensis Aubl.) faz uma excepção notavel n'esta familia, não pelo tamanho, porque tambem não é arvore muito grande, mas pela excellencia de sua madeira parda amarellada e muito densa, que é uma das mais estimadas pela sua incor- ruptibilidade, sendo principalmente usada para esteios de casas rusticas. Os seus troncos têm porem o defeito de ter, alem de pouca grossura, uma superficie muito irregular e profundamente esburacada, que se encontra da mesma forma só em poucas especies de Swartzia e permitte de reconhecer esta especie à primeira vista. MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 17; =J Q As arvores da familia das Polygonaceas pertencem ao genero Triplaris, sendo o tachy preto (Triplaris su- rinamensis Cham.) a mais commum e tambem a maior. Não conheço a sua madeira nem o uso que d'ella se faz. O cauassú (Coccoloba latifolia Lam.), pequena arvore da região littoral do Atlantico, possue uma madeira dura e in- corruptivel. As Anonaceas, apezar de serem quasi todas arbores- centes e representadas na região amazonica por diversos generos ( Anona, Duguetia, Gualleria, Rollinia, Anaxagorea, etc.) e numerosas especies, não fornecem, ao que me consta, nenhuma madeira de maior consumo. A maior parte das es- pecies são arvores pequenas e finas, pertencendo à cathe- coria das taes « varas» tão caracteristicas da matta amazo- nica, e as especies maiores, que são poucas, têm uma ma- deira de pouco uso. Muitas das madeiras chamadas envira provêm da familia das Anonaceas, e algumas ao menos não são destituidas de valor (1). Mais importantes, apezar de representadas por um nu- mero muito menor de especies, são as Myristicaceas, e an- tes de tudo as duas especies mais frequentes na Amazonia, a ucuuba branca ( Virola surinamensis Warb.) ca ucuuba vermelha (Virola sebifera Aubl.). A primeira principal- mente é uma das arvores mais uteis da região amazonica, não só pela sua madeira facil de trabalhar, de densidade mediana, como tambem pelas suas sementes que fornecem uma especie de cera vegetal rica em estearina. Emquanto que a ucuuba branca se acha principalmente nas varzeas, sem ser entretanto excluida da terra firme, a ucuuba ver- melha, que se distingue pelas suas folhas maiores e fructos menores, é arvore de terra firme e encontra-se de preferencia nas capueiras. Ambas as especies têm, principalmente quando novas, um modo de crescimento caracteristico, com verti- cillos de galhos guarnecidos de folhas regularmente distichas, lembrando pela regularidade da sua ramificação, as conife- ras europeas. E' fora de duvida que as outras especies (1) O nome de envira ou envireira applica-se alias tambem a. especies de Sterculia, Guazuma, Liihea, Hibiscus, Caraipa, Lecythis ete. 174 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS amazonicas de Virola e provavelmente tambem algumas es- pecies de Iryanthera, forneçam madeiras utilizaveis, mas não sei nada de positivo a respeito. Numerosas são as especies de Lauraceas que fornecem madeiras estimadas, e achamos n'esta familia madeiras pro- prias para os usos mais variados. O nome vulgar generico dos representantes d'esta familia, na Amazonia, é «louro »,o que é mais apropriado que o nome de «cêdre» que lhes dão na Guiana franceza. No Sul do Brazil o nome de «louro» é applicado às especies de Cordia, sendo o nome generico das Lauraccas «canella». As Lauraceas são geralmente faceis de distinguir pelas suas folhas lanceoladas e muitas vezes aroma- ticas, pelas inflorescencias de pequenas flôres amarelladas ou brancas, com antheras que se abrem por meio de pequenas valvulas, e pelos fructos aromaticos muitas vezes circumda- dos, na sua base. pelo calyce engrossado, de maneira que elles se parecem com um fructo de carvalho. Especies de muito valor são o cravo do matto ou cravo do Maranhão ( Dicypellium caryophyllatum Nees), mais celebre pela sua casca, que é succedaneo da canella e do cravo da India ao mesmo tempo, que pela sua ma- deira, e a casca preciosa ( Aniba canelilla Mez), de cerne pardo escuro e pezado e de casca tambem muito aroma- tica. Ambas acham-se só nas mattas centraes, principal- mente na parte oriental da bacia amazonica, sendo o cravo do matto uma arvore pequena, emquanto que a casca pre- ciosa attinge proporções avantajadas. Nas mattas centraes ao SE. de Santarem medi uma arvore de casca preciosa derrubada que tinha 80 centimetros de diametro. A madeira d'esta arvore é uma das mais duras do Pará e quasi incor- ruptivel. Nas mattas da fazenda Diamantina perto de San- tarem, o Sr. David Riker me mostrou, no meio de uma es- trada, um tôco de casca preciosa que estava ali ha mais de 20 annos, conservando a madeira ainda a sua rigidez e até o cheiro caracteristico. Ao parentesco da casca preciosa, e talvez ao mesmo genero, pertence uma outra madeira cheirosa, a celebre macaca poranga de Santarem. Esta não parece ser arvore grande, mas como todas as partes da planta são muito aromaticas, ella poderia fornecer por dis- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 1% O tillação um oleo volatil bastante abundante. Madeira de grande valor é-ainda a itaúba verdadeira ou itaúba amarella (Silvia ita-uba Pax), arvore grande das mattas da terra firme do baixo Amazonas, principalmente de Santarem e da Guiana brasileira. A sua madeira olivaceo-amarella, que pode se ob- ter em: pedaços muito grandes, é muito sã e forte, sendo uma das mais estimadas para a construcção naval, principal- mente para cascos, porque ella é mais leve que a agua. No Herbario Amazonico temos apenas especimens estereis de Silvia ita-uba, colleccionados pelo Sr. Ducke no rio Cumi- na-mirim. À itauba preta, que parece ter uma distribuição maior (ella se acha por exemplo na parte E. do Estado) e cuja madeira quasi preta pode ter as mesmas applicações como o acapú, é outra especie classificada geralmente no genero Oreodaphne ou Ocotea. O parente mais proximo da itauba amarella é o tapinhoan ( Silvia navalium Freire All.) do Sul do Brasil. Bem conhecido no Pará é ainda o pão de rosa, que me foi possivel identificar como Aniba parviflora Mez, espe- cie conhecida até aqui do baixo rio Madeira. No Pará, o pão de rosa parece ser bastante espalhado, porem não sei se se trata sempre da mesma especie botanica e tambem ainda não me foi possivel verificar, se o tal louro rosa é identico com o pão de rosa. O pão de rosa, como elle me é- conhecido por exemplo do baixo Amazonas, onde elle parece ser bastante frequente (o nosso especimen botanico é de Faro), tem uma madeira amarella não muito pesada e facil de trabalhar, que principalmente em forma de pó de serra- gem ou de cavacos tem um cheiro bastante activo e muito agradavel, lembrando o da essencia de rosa. Numerosissimas são as madeiras que se designam com o nome generico de louro, com addição de qualquer nome especifico, como louro branco, amarello, vermelho, preto, cachoeira, canella, de cheiro, chumbo. con- gonha, cravo, cunuarú, do igapó, pederneira, pimen- ta, rosa, tamanco, tamancão, tachy, etc. A maior parte d'estas especies pertencem aos generos Nectandra e Ocolea, mas poucas ainda são identificadas com segurança. Deter- minei p. e. amostras de louro pimenta como Ocotea cana- 176 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS liculata Mez, louro tamanco como Ocotea guyanensis Aubl., louro tamancão como Ocotea aff. aculangula Mez, louro de igapó como Nectandra amazonum Nees, mas para a maior parte das especies a identificação resta a fazer. O louro mais commum e de maior uso parece ser o vermelho, (Ocotea spec.) que se presta muito bem para taboas e é correntemente vendido nas estancias de madeira, junto com outras qualidades. E' uma madeira um pouco pesada, principalmente em comparação com o cedro, ao qual elle se assemelha bastante, mas elle se deixa facilmente tra- balhar e é muito mais barato do que o cedro. O louro preto é estimado na construcção naval, principalmente para mas- tros. A" familia das Rosaceas (tribu das Chrysobalaneas) per- tence ainda um grande numero de especies arborescentes, das quaes algumas são arvores grandes da matta. Parece mesmo que a região amazonica é o quartel geral da tribu em questão, mas em geral a madeira das Chrysobalanaceas, apezar de bastante solida e não raras vezes dura, não tem as propriedades sufficientes à conservação n'este clima, de forma que ella é raramente empregada e não se acha no commercio. Entre as especies mais conhecidas convem men- cionar o anauerá (Licania macropylla Benth.), o macucú (Licania heteromorpha Benth. e outras especies de Licania ), Caripé(Licania (Moquilea)utilis Fritsch e myristicoides Benth.), caripé rana (Licania turinva Cham. et Schlecht.), parinari (Parinarium brachystachyum Benth.), pajurá (Parinarium montanum Aubl.), uchirana (Couepia spec.), pintadinha (Licania spec.) copuda (Couepia spec.), etc. Algumas d'es- tas especies são empregadas, por causa da sua madeira de fibras direitas, para ripas e cavacos para cobrir casas. A familia mais importante entre todas, na composição das mattas amazonicas e tambem sob o ponto de vista da utilidade das suas madeiras, é a das Leguminosas. Todo o mundo conhece os representantes d'esta familia, pelas suas folhas geralmente compostas, pinnadas ou bipinnadas, e pe- los seus fructos em forma de capsula geralmente elongada, formada de uma só folha carpellar, o legume. E' verdade que existem excepções, especies de folhas simples (nos ge- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 177 neros Swarizia, Zollernia, etc. ) ou de fructos indehiscentes ou drupaceos (Andira, Dipteryx, etc.), mas em geral será facil, mesmo para um leigo na materia, de distinguir uma Legu- minosa dos representantes de outras familias. Em vista do grande numero de representantes d'esta familia, vamos tra- tar separadamente das suas 3 subfamilias, cujo valor, sob o ponto de vista de suas madeiras, é bastante desigual. A subfamilia das Mimosoideas, cujas flóres geralmente reunidas em glomerulos ou espigas, são pequenas, tubulosas e de estames muitas vezes numerosos e elongados. fornece. apezar de muito bem representada na região amazonica, pou- cas madeiras de valor, embora que algumas d'ellas sejam bastante duras e bonitas. Assim o genero Inga, que se dis- tingue de todas as outras Mimosoideas pelas suas folhas simplesmente pinnadas, possue diversas especies grandes com madeira forte e não muito pesada; mas segundo os especi- mens que possuimos, sou inclinado a pensar que as fibras revessas d'estas especies ( ternos amostras de ingá rana (Inga disticha Benth.) e ingá chichi (Inga alba Willd.)) difficul- tem a sua utilização. A mesma coisa pode se dizer do pa- ricá (Piptadenia peregrina Benth.). cujas fibras são extrema- mente tortuosas no especimen que se acha na collecção do Museu. Outras arvores d'esta subfamilia são: o visgueiro ( Parkia pendula Benth.), arara tucupé (Parkia oppositifo- lia Spruce e outras especies), paracachy (Pentaclethra filamentosa Benth.), barbatimão (Siryphnodendron spec.), timbaúva (Enterolobium ), diversas especies de Pithecolo- bium, Acacia ( paricarana ), etc., mas nenhuma d'ellas for- nece uma madeira de uso geral, ao que me consta. Em compensação. a casca de diversas d'estas arvores contem tannino em grande: quantidade e pode ser usada para cor- tume. A subfamilia das Caesalpinioideas é muito rica em madeiras preciosas ou de uso corrente na região amazonica. Principalmente o Estado do Pará tem, no acapú e no pão santo, duas madeiras de primeira ordem, pertencentes a esta subfamilia. O acapú (Vouacapoua americana Aubl.), é verdade, é classificado geralmente na subfamilia das Papilionatas, 178 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS tribu das Dalbergicas, onde o seu logar seria, segundo a maioria dos auctores, ao lado do genero Andira, com o qual elle já foi reunido por diversos especialistas ( Bentham, Tau- bert). Mostrei entretanto, numa nota publicada em 1904, no vol. IV d'este Boletim (pag. 469) que esta identificação não pode ser sustentada, por causa da estructura do fructo, que não é uma drupa, mas um legume dehiscente. Externei mesmo a duvida, se a V. americana pertencia realmente à tribu das Dalbergicas. Desde então, a minha duvida ficou confirmada pela descoberta que fiz de um trabalho de Bail- lon sobre a Vouacapoua, no qual este auctor demostra cla- ramente que este genero pertence a subfamilia das Caesal- pinioideas e no parentesco de Batesia. Achei a nota em ques- tão em 1606, na Bibliotheca do Herbier Boissier; infeliz- mente ella trazia nem data nem a indicação do periodico no qual ella foi publicada. Convem notar todavia, que já em 1884 o prof. Caminhoá, nos seus « Elementos de Botanica geral e Medica» (p. 1985), deu uma figura apparentemente bôa de um galho de acapú, com flôres e um fructo, figura que deixa reconhecer perfeitamente que não se trata de uma Papilionacea, mas de uma Caesalpiniacea. Infelizmente aimda não consegui arranjar especimens floridos do acapú, apezar de todos os esforços empregados. O acapú é uma ar- vore alta, geralmente não muito grossa (ainda não vi um tronco que tivesse mais de 50 cm de diametro ), com casca liza cinzenta escura e com a superficie marcada de escavações mais ou menos pronunciadas. O cerne, que só é empregado, é pardo-escuro, relativamente bem desenvolvido e destaca-se bem do alburno branco ou amarellado. Elle é mais pesado do que a agua, mas os seus poros (vasos) são bastante largos e numerosos e destacam-se, com o tecido que os accompanha, por sua côr mais clara, nos cortes longitudi- naes em forma de riscos numerosos. O acapú é uma ma- deira de primeira ordem para a construcção civil, principal- mente para esteios, pernasmancas, taboas de soalho, etc., mas elle pode servir tambem para moveis para os quaes o peso não constitue uma desvantagem. Cercas de acapu du- ram muitos annos. resistindo bem a acção do calor humido à flôr da terra. Em Belem e em muitas localidades do in- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 179 terior do Estado, o acapú é quasi a unica madeira empre- gada para este fim. O unico defeito do acapú é, ao lado do seu peso que ás vezes é incommodo, a facilidade com que elle racha, o que o torna p. e. improprio para cabos de instrumentos agricolas. O acapú é arvore de terra firme e acha-se espalhado sobre uma grande parte das Guianas ( Guiana franceza e hollandeza ) e sobre a parte oriental da região armazonica. No Estado do Amazonas o acapú parece faltar completamente ou ao menos ser muito raro. No Es- tado do Pará, elle é principalmente frequente nos rios Ca- pim, Acará e Mojú, de onde vem a maior parte do acapú vendido na capital. A região da Estrada de Ferro de Bra- gança era antigamente tambem rica em acapú, mas elle já se tornou raro ali nos ultimos annos. Segundo todas as in- formações, o rio Maracanã e o limite oriental de distribuição da Vouacapoua americana. Menos geralmente empregado, mas tambem muito co- nhecido no Pará e constituindo uma das suas madeiras mais preciosas, com a qual só a muirapinima é capaz de compe- tir, é o pão santo, madeira parda-olivacea com veias e ris- cas longitudinaes finas de côr mais escura, extremamente dura e resistente e capaz de receber um polimento dos mais brilhantes. Até ha pouco tempo ignorava-se totalmente a classificação scientifica do pão santo, e só em 1907 recebi, da Estação Experimental Augusto Montenegro, especimens floridos d'esta arvore, que reconheci como pertencendo ao genero Zollernia, cujas especies até aqui eram só conhecidas do Sul do Brazil. O leitor acha a descripção da Zollernia paraênsis na pag. 81 d'este volume do Boletim. O pão santo, até aqui principalmente conhecido da zona da Estrada de Ferro de Bragança, é uma arvore alta da terra firme, com tronco cylindrico e casca pardacenta clara e escamosa. O seu cerne é relativamente grande, destacando-se nitidamente do alburno ligeiramente amarellado e tambem bastante denso. A côr do cerne varia um pouco, provavelmente segundo a idade da arvore, do pardo claro e esverdeado quasi ao preto. De vez em quando apparecem manchas pretas semelhantes às da muirapinima; n'este caso a madeira chama-se tambem muirapinima preta. Na Exposição Nacional do Rio de Ja- 180 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS neiro o Dr. Schindler. Director da Estrada de Ferro de Bragança, expoz um grande prisma d'esta madeira, de dese- nho bellissimo. O uso do pão santo é actualmente restringi- da as obras de luxo. molduras. bengalas, objectos torneados, mas ao que fui informado, esta madeira já foi exportada d'aqui para a Inglaterra, como surrogato do guaiaco ( Guai- acum officinale L.), com o qual ella se parece nos suas pro- priedades physicas. Parece mesmo que o pão santo tem sido confundido com o guayaco de Maracaibo (Guaiacum arbo- reum DC.) que os inglezes chamam Maracaibo Lignum-vitae (vide «The Timbers of Commerce and their identification» by Herbert Stone, London 1904, p. 19), e que é considerado como uma das madeiras mais duras do mundo, junto com as outras especies do genero Guaiacum. Não ha duvida, que esta bella madeira, se fosse produzida em grande quanti- dade, occuparia um papel importante no mercado mundial de madeira. Uma madeira que neste momento é bastante procura- da pelo commercio, para a marcenaria de luxo, é o pão roxo, do qual existem duas especies amazonicas, Peltogyne densiflora Spruce e P. paraênsis Hub. Das duas especies a P. densiflora é a mais frequente e acha-se na beira de quasi todos os rios de agua preta da Amazonia central e no rio Negro, emquanto que a P. paraênsis é até aqui só conhecida do rio Capim (cf. este Boletim vol. VI p. 82). Ambas as especies fornecem uma madeira que apezar de não ser muito pezada e se trabalhar facilmente, é bastante rija e propria para carosseria, mas tambem para a marcenaria de luxo, por causa da sua côr bonita, que do vermelho arroxeado claro passa pouco a pouco, ao contacto do ar e da luz, ao TOXO escuro. A madeira da copahyba (Copaifera Martii e outras especies do mesmo genero) é muito dura, vermelha, com veias mais escuras pouco pronunciadas Segundo as obras classicas, a madeira das especies de Copaifera se chamaria purpleheart na Guiana ingleza. Serve para construcção civil e marcenaria, mas deixa-se trabalhar difficilmente. Do genero Hymenaea existem diversas especies na re- gião amazonica, todas arvores bastante grandes, com nomes MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 181 vulgares diversos, como o jutahy assú (H. courbaril L.) jutahy miry (H. microcarpa Hub. n. sp.) jutahy pororoca (H. pororoca Hub. n. sp.), jutahy café, jutahy do campo (H. purvifolia Hub.) etc. De todas estas especies a mais conhe- cida é a H. courbaril L., arvore gigantesca da região littoral do Brazil septentrional. das Guianas e das Indias occiden- taes. À sua madeira, que como a das copahybas é pesada e forte, de côr vermelha com veias mais escuras. é conhe- cida no commercio mundial sob o nome de Courbaril ou Lo- cust, servindo para os mesmos usos como a da copahyba. A casca serve para fazer canôas leves. Madeiras d'esta subfamilia são ainda o acapurana (Campsiandra laurifolia Benth.), ipé verdadeiro ( Macro- lobium bifolium Aubl.), ipé de folha miuda (M. chrysos- tachyum Benth.), ipeuba (M. latifolium Vog. ?), arapary ( Macrolobium acaciaefolinm Benth.). jutahyrana (Crudya pa- rivoa DC. (na costa) e Cymnometra Spruceana Benth. (no baixo Amazonas), apazeiro ou espadeira (Eperua falcata Aubl.), tachi ( diversas especies de Tachigalia e Sclerolobium ), quasi. todas arvores da beira dos rios d'agua preta, sobre as quaes ainda possuimos poucos dados certos quanto ás suas propriedades e à sua utilidade pratica, que parece ser bastante desigual até nas especies do mesmo genero. O mesmo pode-se dizer das numerosas especies de Swartzia, como pacapeua (S. racemosa Benth.), pitaica (S. acuminata Willd.), muiracutáca ou paracutáca (S. Duckei Hub.). As especies arborescentes de Cassia: C. grandis L. £., C. leiandra Benth., C. multijuga e C. fastuosa Willd. têm ma- deira branca sem valor. Na subfamilia das Papilionatas, a tribu das Dalber- gieas fornece na Amazonia, como em todos os paizes tropi- caes, madeiras de primeira qualidade que bem podem cem- petr com as da subfamilia das Caesalpinioideas. O jacarandá paraense, que é a Dalbergia Spruceana Benth., não é inferior às especies de Dalbergia e de Machae- rium do Sul do Brazil, que são conhecidos sob os nomes de jacarandá no Brazil, de palissandre na França, e de rosewood ou blackwood na Inglaterra. Segundo estou informado, o jacarandá paraense é principalmente espa- 182 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS lhado no baixo Amazonas é ao Norte do estuario (região de Macapá e Mazagão ). E” possivel que a madeira de cerne preto chamada cabeça de negro, seja um Machaerium, genero represen- tado por diversas especies arborescentes na região amazo- nica. Uma madcira esplendida para marcenaria, de cerne amarello vivo ou avermelhado com veias vermelhas ou par- daãs escuras, é a muiracoatiára ou pão de rainha (Cen- trolobium paraense Tul.) proximo parente do araribá (C. ro- bustum Mart. e C. tomentosum Benth.) do Sul. A madeira do cumarú (Dipteryx odorata NWilld.). arvore commum das mattas de varzea alta e de terra firme da Amazonia e das Guianas (inclusive Venezuela), é parda amarellacea alaran- jada, com veias e linhas vermelhas. muito dura e compacta, mas difficil de trabalhar, de forma que ella é pouco empre- gada, apezar de ser sufficicntemente resistente para construc- ções e bastante bonita para obras de marcenaria. Nas ilhas do estuario paraense. esta madeira serve para a defumação da borracha. A madeira do cumarú-rana ( Dipteryx oppositifolia ( Aubl.) Willd.) é. segundo uma amostra que vi. muito den- sa e um pouco mais clara que a do cumarú. O cumarú de rato (Amphiodon efjusus HMub., cf. este Boletim vol. Vi ps 398) não pertence ás Dalbergicas. mas às Galegeas; a sua madeira se parece superficialmente com a do cumarú, sendo porem de tecido mais fino e de côr alaranjada mais viva. Uma madeira que merece ser mais conhecida. princi- palmente no estrangeiro, é a macacauba, que em certos districtos da região amazonica parece ser bastante abundante e que promette ter bôa applicação. principalmente na marcena- ria fina, em logar do mogano. A macacauba corresponde a diversas especies de Platymiscium (P. Duckei Hub. na terra firme da boca do Teffé, P. paraense Hub. n. spec. e provavelmente ainda outras especies, no baixo Amazonas) que apezar de bem differentes nos seus caracteres botanicos differem pouco na côr e na estructura de sua madeira. O seu cerne, que é vermelho claro, com veias de côr vermelha muito viva, é do mais bello ecffeito. O peso especifico, apezar de ser um pouco superior a 1, não é excessivo e a madeira se MATIAS É MADEIRAS AMAZONICAS 183 deixa trabalhar facilmente e toma um polimento bonito. Actualmente esta madeira serve principalmente para viga- mentos e para soalhos. Sobre as madeiras da faveira de empigem (Vatairea guyanensis Aubl.) e das especies de Plerocarpus. (mututy) que crescem nas varzcas (P. Draco L., P. amazonicus Hub,, P. ancylocalyx Benth.), não sei nada de seguro e parece que ellas são sem valor. Ha porem uma especie de Prerocarpus da terra firme (P. Rohrii Vahl), que provavelmente corres- ponde ao moutouchi grand bois da Guiana franceza, e cuja madeira é bastante estimada e conhecida sob o nome de mututy da terra firme. O genero Andira fornece diversas especies cuja ma- deira é utilizada: a morcegueira (Andira inermis H.B.K.), o andirá-uchi ou uchi-rana ou andiroba-jareua ( An- dira retusa H.B.K.). o angelim pedra (Andira spectabilis Sald. ?), a lombrigueira ( Andira amazonum Mart.) (*). D'estas madeiras ainda pouco conhecidas, a do andirá-uchi parece ser a mais estimada. - A tribu da Sophoreas inclue ainda algumas madeiras amazonicas, como sapupira ou sucupira (Bowdichia vir- gilioides H. B. K. segundo os autores), sapupira da varzea ( Diplotropis sp.), itaubarana (Swcetia nitens Benth. nas visinhanças de Faro, segundo Ducke, Ormosia excelsa Spruce, perto de Santarem. segundo Spruce). A primeira d'estas madeiras parece-se muito com o acapú, assim como tambem a itaubarana, cujas fibras são entretanto mais intricadas e não direitas como no acapú e na sucupira. Convem citar aqui ainda o genero Eryihrina, cuja especie E. glauca Willd. é uma arvore grande das varzeas amazonicas, chamada vulgarmente assacurana ou assacú. Creio porem que a sua madeira seja branca como a das outras especies d este genero. (*) Em 1904, publiquei uma nota (n'este Boletim, vol. IV, p. 4609) sobre os generos Vouacapoua, Vatairea e Andira, na qual cheguei à con- clusão, que a Andira amazonum Mart. era identico com a Vatairea guya- “ nensis Aubl. Ultimameute porem recebi do Sr. A. Ducke um especimen fructifero da verdadeira 4. amazonum, cujos fructos demonstram que se trata realmente de uma Andira e não da Valairea guianensis, 184 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS A familia das Linaceas tem na região amazonica um representante arborescente no genero Hebepetalum ou Rou- cheria, cuja especie H. latifolinm Benth. (?) e uma arvore bastante alta dos arredores de Belem, sobre cuja madeira porem não sei dizer nada. Mais impcrtante e muito caracteristico da flora flores- tal da Amazonia é a familia das Humiriaceas, com os ge- neros Humiria, Saccoglottis e Vantanea. Ao primeiro d'estes generos pertence o bem conhecido umiry, cujas duas espe- cies, o umiry de casca chcirosa (H. balsamifera Aubl.) eo umiry commum (H. floribunda Mart.) são frequente- mente confundidos pelo povo. Ambas as especies têm aliás uma madeira de cérne vermelho muito denso e homogenco e que quando fresco exsuda um oleo bastante abundante. Na Guiana franceza chamam esta madeira de bois rouge tisane e na Guiana ingleza bastard bulletwwood. Este ultimo nome parece applicar-se principalmente à H. floribunda. cuja madeira é muito estimada para construcção civil e naval. O genero Saccoglottis têm maior numero de especies, quasi todas arborescentes, conhecidas sob os nomes vulgares de uchi pucú (S. uchi Hub.). uchirana (S. amazonica Mart. ), uchi-curúa (S. cuspidata Urb. ?), uachuá ou parurú (Saccoglottis guyanensis Aubl.), mas a sua madeira é pouco conhecida. como tambem a da Vantanea guyanensis (uchi- rana) e-V. cupularis Hub., ambas arvores das mattas da Es- trada de Ferro de Bragança. A familia das Rutaceas, que em outros paizes tropicaes fornece diversas madeiras de bôa qualidade. geralmente de côr amarella clara e de tecido compacto. entre as quaes podemos ci- tar as especies de Citrus, é representada na Amazonia por pou- cas especies arborescentes. Até aqui a unica especie cuja madeira era conhecida geralmente na Amazonia, cera a ta- manqueira (Fagara rhoifolia Engl.), arvore pequena com tuberculos espinhosos no tronco. cuja madeira quas! branca e facil de trabalhar se presta bem para tamancos, colheres, etc. Uma outra Rutacea ( Galipea spec.) é às vezes citada sob o nome de acapurana. O representante mais impor- tante d'esta familia no Pará, sob o ponto da utilisação de sua madeira, é porem o pão amarello, arvore grande das MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 185 mattas de terra firme da parte oriental e meridional do Estado. Só ha poucos annos consegui obter flóres e fructos d'esta arvore, provenientes da Estação Experimental Augusto Montenegro, onde ella é bastante frequente mas não abundante. O exame d'estas materiaes me revelou o facto inesperado que o pão amarello é o representante de um genero novo da tribu das Cusparieas, ao qual dei o nome de Euxylophora, em lembrança da madeira excellente que elle fornece. O leitor achará a descripção do novo genero e da especie Euxylophora paraênsis mihi n'este volume VI do Boletim pag. 84-86. O pão amarello é uma das madeiras mais uteis do Pará e se elle fosse mais abundante (ouvi que em certos logares. como p. e. no alto Capim e em certos tre- chos do Tocantins, elle é muito frequente) elle, poderia ter applicações ainda mais variadas. Devido à grossura dos seus troncos e a madeira muito homogenea d'uma bella cór amarella clara, esta pode servir para portas, mezas, etc., que exigem pranchões grandes. À sua applicação mais fre- quente é nesses bellos soalhos de taboas alternantes de acapú e pão amarello que contribuem tanto para enfeitar as casas paraenses. Mas tambem em moveis a juxtaposição do pão amarello, principalmente de pedaços com fibras re- vessas, que se chamam ás vezes de pão setim, com madeiras escuras: como acapú, pão santo, jacarandá, macacauba, etc., faz um bellissimo effeito. E' provavel que essa madeira, se fosse possivel cultival-a (o que aliás não me parece coisa mui- to facil, segundo as nossas experiencias) poderia ser expor- tada em grande escala e acharia um mercado illimitado. Nas condições actuaes, o pão amarello é mesmo aqui uma madeira bastante cara e provavelmente não poderia ser ex- portada com lucro. As Simarubaceas são na maioria arbustos ou arvores pequenas de folhas pinnadas e de madeira branca ou ligei- ramente amarellada e muito amarga. Esta propriedade é muito pronunciada na quina (Quassia amara Aubl.), cuja madeira («lignum Quassiae») é officinal. Ainda não achei a Quassia amara no estado. indubitavelmente selvagem ou es- pontaneo nas mattas amazonicas, mas ella é frequentemente cultivada entre nós e se acha ás vezes em estado subspon- 186 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS tanco ao redor das casas e nas capueiras. À pitombeira de Marajó (Simaruba aff. versicolor St. Hil.) é uma arvore pequena, cujas fructas são comestíveis, mas cuja madeira não tem uso corrente. Muito maior é a Simaruba amara Aubl., que é uma das arvores altas mais frequentes das mattas da Estrada de Ferro de Bragança e do Sul do Es- tado, fornecendo a madeira branca de maior uso no Pará, o marupá. Como entretanto o nome de marupá ou maru- pauba se dá tambem a outras madeiras brancas, que não pertencem à familia das Simarubaceas (p. e. Jacaranda copaia e Didymopanax morototoni), é dificil de conhecer a distribuição d'esta arvore pelas amostras da madeira, pelo menos sem exame microscopico. À marupauba é uma arvore de crescimento rapido e a sua madeira apezar de ser bran- ca, leve, e facillima de trabalhar, é de bôa conservação, ao abrigo da humidade, não sendo atacada pelo cupim, por causa do seu gosto amargo. Ella é principalmente em- pregada para forros de casa, caixas etc. A casca d'esta ar- vore e principalmente a das raizes, é medicinal. a sua deco- cção sendo um remedio efficaz contra as diarrheas sangui- nolentas. Na familia das Burseraceas, tambem de folhas pinna- das, e nas quaes o principio amargo e substituido por ex- creções resinosas, ha diversas arvores pertencendo aos ge- neros Icicopsis, Protium e Trattinickia. Principalmente o ge- nero Protium fornece algumas arvores grandes, conhecidas sob o nome de breu branco, breu sucuriú etc., que são porem mais conhecidos pelas suas resinas do que pelas suas madeiras, que são de pouco uso. O breu branco (Protium beptaphyllum March.) é a especie mais cenhecida no estado do Pará. A sua resina branca e perfumada é conhecida no commercio mundial sob o nome de Elemi. Muito mais importante sob o ponto de vista das suas madeiras é a familia das Meliaceas, cujos representantes têm tambem folhas pinnadas, como os das familias preceden- tes. O genero mais importante d'esta familia é Cedrela, com diversas especies amazonicas ainda pouco conhecidas, cujas madeiras são distinguidas pelo povo, sob os nomes de cedro branco, cedro vermelho, cedro do Amazonas etc. Às MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 187 especies de Cedrela crescem não só nas terras firmes. mas tambem nas varzeas. por toda a região amazonica. Espe- cialmente ao longo dos affluentes meridionaes maiores ha muito cedro, principalmente nas varzeas altas que se gastam pela erosão, e como a madeira do cedro é mais leve que a agua, os troncos que cahem com os barrancos, ficam fluctuando por muito tempo com a correnteza. No rio Madeira e abaixo da sua bocca principal, em Itacoatiára, ha serrarias que trabalham quasi exclusivamente com os troncos fluctuantes de cedro. E' este o methodo mais commodo de exploração de madeiras, por- que economisa inteiramente o trabalho da derrubação. Nos affluentes meridionaes do estuario paraense, os trabalhadores derrubam os cedros na proximidade dos rios e fazem d'elles grandes jangadas, nas quacs elles descem até o ponto onde se acha installada a serraria ou onde os toros podem ser embarca- dos para a capital. O cedro do rio Capim; cuja exploração vimos em 1897 no alto Capim, é quasi branco, emquanto que o do alto Amazonas é vermelho ou pardo escuro. O cedro é no Pará a mais usada de todas as madeiras para marcenaria, sendo facil de trabalhar, leve, duravel e refrac- tario ao cupim, o que o tornaria tambem proprio para construcção, se elle fosse mais barato. O seu tecido é um pouco grosseiro, mas apezar d'isto elle acceita bem o poli- mento. De valor especial para a marcenaria é a parte ba- sal do tronco, com as sapopemas. chamada raiz de cedro, que mostra um tecido mais compacto e veias bem pronun- ciadas. Os cedros têm um crescimento rapido e são de cul- tura facil; seria possivel constituir mattas inteiras d'estas arvores que em 20 a 30 annos já poderiam ser cortadas com proveito. Menos usada do que o cedro é a madeira da andiroba (Carapa guianensis Aubl.), arvore muito commum nas varzeas amazonicas e tambem nas Guianas, onde ella é chamada carapa ou crabwood. Dizem que os toros de andi- roba fendem-se muito quando seccam, mas isto com certeza poderia se evitar, e como a madeira, apezar de mais pe- zada que o cedro. tambem. é facil de trabalhar e propria para caixilhos, portas e moveis, a sua applicação poderia ser mais generalizada. A arvore tem um crescimento muito rapido e como ella cresce durante diversos annos bem di- 188 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS reita, sem nenhum galho, é provavel que as arvores novas poderiam servir para mastros, pãos de bandeira, etc. A madeira da andiroba é dum vermelho acinzentado bastante escuro ce a sua estructura é semelhante à do cedro. O cul- tivo da andircba como essencia florestal teria ainda a van- tagem da exploração das sementes, que são ricas em oleo fixo (azeite de andiroba ) amargo. Os generos Guarea e Trichilea têm ainda diversas es- pecies arborescentes na região amazonica. sobre cuja madeira porem não sabemos dizer nada de positivo. A familia das Vochysiaceas é muito caracteristica do Brasil e na região amazonica existe um numero avultado de especies arborescentes dos generos Vochysia, Qualea e Erisma, algumas das quaes são entre as arvores mais conspicuas da terra firme e da beira dos rios de agua preta. já pelo seu tamanho, já pela quantidade de flóres amarellas (Vo- chysia), ou roxas ( Erisma), ou brancas ou roseas ( Qualea ), que transforma-as em bouqguets gigantes no tempo da flo- rescencia. Nas visinhanças de Belem, abundam duas espe- cies de quaruba (Vochysia vismigefolia Spruce e V. paraen- sis Hub. n. sp.) e outras especies (V. obscura Warm.. etc.) cres- cem no baixo Amazonas. O nome de quaruba é aliás tambem usado para Erisma uncinatum Warm. das mattas da Estrada de Ferro de Bragança. Para o Erisma calcaratum Warm. que é arvore das varzeas e beiras dos rios de agua preta, existe o nome vulgar de cachimbo de jaboty. Asquarubas têm madeira leve propria para taboas. bastante porosa e de fibra grossa, de côr vermelha ou esbranquiçada: ella é de conserva- ção mediocre e por isso pouco estimada. À chamada muirauba da varzea (Qualea speciosa Hub.), à qual corresponde a muirauba da terra firme, provavelmente outra especie de Qualea, e o umirirana (Qualea retusa Spruce). arvore caracteristica das beiras do rio Jamundá e do Rio Negro, têm provavelmente madeira aproveitavel, mas esta não me é conhecida. Nos campos cerrados de Marajó e do baixo Amazonas cresce a Salveriia convallariodora St. Hil., arvore pequena, cuja madeira tambem não me é conhecida. As Euphorbiaceas, uma das familias mais bem repre- sentadas na região amazonica, têm entretanto poucos repre- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 189 sentantes entre as arvores grandes e por isso occupam um papel secundario nas listas das madeiras amazonicas. As poucas especies que attingem grandes dimensões, como as especies de Hura, Hevea e Sofidinio têm uma madeira branca de pouco valor. A madeira da seringueira branca (Hevea brasiliensis Miúll. Arg.) é muito leve e achei-a uma vez em- pregada para forro de casa. A madeira da seringueira vermelha (Hevea guyanensis Aubl. e especies apparentadas ) é um pouco mais pesada. Uma amostra de Faro que pos- suimos na nossa collecção e que provem provavelmente de H. guyanensis, mostra veias mais escuras indecisas sobre um fundo amarellado. De Sapium aff. lanceolatum Hub.. es- pecie de folhas pequenas dos arredores de Belem, temos uma amostra de madeira leve e bastante homogenea que. com o verniz toma uma côr amarella bonita e que prova- velmento poderia ter varias applicações na marcenaria. O taquarizeiro (diversas especies de Mabea, no Pará principal- mente a M. angustifolia Benth.) tem uma madeira amarella- da, um pouco mais pesada. As suas hastes novas que são fistulosas e que sobre uma distancia de 1 m e mais, não tem galhos, servem para fazer tubos de cachimbos. À piranheira ( Piranhea trifoliata Baill.), arvore menor dos igapós ama- zonicas e da beira dos rios d'agua preta, tem uma madeira muito dura e incorruptivel na agua, de forma que os seus troncos constituem dentro do leito dos rios (p. e. do Purus, Acre e Juruá) um grande perigo para a navegação. Não conheço as madeiras amazonicas das especies arborecentes de Croton, Alchornea, Actinostemon, Amunoa etc., algumas das quaes são citadas como fornecendo bôa madeira no Sul do Brazil. Poucas são as Anacardiaceas amazonicas e não co- nheço nenhuma que forneça madeira de grande valor e que possa se comparar com a do Gonçalo Alves ( Astronium fraxini- folinm Schott) dos estados do Brazil oriental. O cajueiro ( Anacardium occidentale L.), antes de tudo conhecido como ar- vore fructifera, tem uma madeira leve e sem propriedades re- commendaveis, como tambem o cajú do matto (4. gigan- teum Hanc.) que é uma das arvores grandes das mattas amazonicas. O taperebá (Spondias lutea L.) e o pão 1gO MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS pombo (Tapirira guyanensis Aubl.) têm madeira branca e não utilizada. Os representantes da familia das Celastraceas são quasi todas arbustos ou arvores pequenas, só o genero um pouco aberrante de Goupia fornece uma arvore grande bem conhecida pela sua madeira, a cupiúba (Goupia paraensis Hub., vide n'este volume VI do Boletim p. 86), que é fre- quente nas mattas da parte oriental e meridional do Estado. A madeira da cupiúba é bastante pesada, homogenea, de côr vermelha ou rosea clara, facil de trabalhar e deixa-se serrar facilmente em taboas. Infelizmente esta madeira tem dois defeitos: ella tem um cheiro desagradavel quando fresca e ella é facilmente atacada pclo cupim. Na tamilia das Icacinaceas, encontramos diversas ar- vores amazonicas, mas poucas cuja madeira seja utilizada. Entre estas occupa o primeiro logar, não como madeira de cons- trucção, mas como combustivel, o muirachimbée ou mara- chimbé ( Emmotum fagifolium Desv.), arvore frequente na parte oriental do Estado do Pará. Das especies de Poraqueiba (umary), que são tambem arvores, mas não de grande ta- manho, conheço só uma amostra de madeira proveniente de Faro e que pertence sem duvida à P. sericea Tul.. E' uma madeira parda avermelhada bastante densa, de fibra leve- mente flexuosa, que seria bem aproveitavel para marcenaria. Entre as Sapindaceas amazonicas ha, ao lado de um grande numero de cipós (generos Serjania, Paullinia, Cardiospermum ) e arbustos ( Allophylus, Cupania, Matayba, Pseudima etc.) algumas arvores menores, entre as quaes O saboneteiro ou saboeiro (Sapindus Saponaria L.) é o mais geralmente conhecido. A sua madeira é porem destituida de valor, a julgar pelo especimen que temos na collecção do Museu. Sob o nome de sabão-rana existe uma madeira, es- cura de primeira qualidade para marcenaria fina, mas não sei nada de positivo sobre a sua classificação e duvido mes- mo que ella tenha qualquer parentesco com o saboeiro. A familia das Elaeocarpaceas tem, no genero Sloanea, diversas especies arborecentes na Amazonia, entre as quaes o urucurana (Sloanea dentata L.) das mattas paraenses, MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 191 mas estas arvores não são grandes e a sua madeira não pa- rece ser utilisada. As Tilaceas são em geral arvores de madeira muito leve, e os representantes amazonicos d'esta familia que per- tencem ao genero Ápeiba, mostram este caracter familial mui- to pronunciado. Todas as especies amazonicas de Apeiba (A. Tibourbou, À. laevis, À. aspera etc.) são conhecidas pelo nome de pente de macaco, por causa dos seus fructos, que se parecem aliás mais com um ouriço do mar do que com um pente, mas a mais conhecida é a 4. Tibourbou que e muito commum nas capoeiras altas e cuja madeira branca e quasi espongiosa é propria para jangadas e quasquer peças cujo peso especifico deve ser muito baixo. N'esta madeira observa-se no corte transversal o desenvolvimento de zonas de acrescimo bem pronunciadas, que entretanto não corres- pondam aos annos, sendo muito mais numerosas. Semelhante às madeiras das Tiliaceas e ainda menos utilisadas são as das Bombaceas amazonicas, que são quasi todas arvores de crescimento muito rapido (só os generos Quararibea e Matisia incluem arbustos ou arvores pequenas). As mais conhecidas são a sumauma commum (Ceiba pen- tandra Gaertn.), a sumauma do alto Amazonas (Ceiba sumauma Mart.) a munguba (Bombax Munguba Mart.), mamorana (Pachira aquatica Aubl.) cupuassurana (Ma- “tisia paraensis Hub.), balsa (Ochroma lagopus Sw.) À madeira das duas primeiras especies seria talvez pro- pria para fabricação de papel. Alem d'isso a painha que envolve as sementes pode ser utilisada. Na nossa colleeção temos uma amostra de madeira da sumauna da terra firme, de Faro, que mostra uma estructura bastante densa, com poros largos mas bastante esparsos. Uma amos- tra da mamorana mostra um tecido mais frouxo e muito poroso. A Ochroma, cuja painha é tambem excellente para travesseiros etc., é limitada ao alto Amazonas, é os seus tron- cos são largamente aproveitados para a construcção de jan- gadas, nas quaes os indios peruanos descem os affluentes do Maraíion até Iquitos. Ainda na familia das Stereuliaceas encontramos prin- cipalmente madeiras brancas. Pouco se sabe alias das ma- 192 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS deiras amazonicas d'esta familia. As especies de Guazuma e principalmente a mutamba (G. ulmifolia Lam.) que é uma arvore grande muito cspalhada nas varzeas amazonicas, têm provavelmente todas uma madeira branca. como tambem as es- pecies de Sterculia (S. speciosa Schum. no alto Amazonas, S. pruriens Schum. e S. striata St. Hil. et Naud. nos arredo- res de Belem) que são tambem arvores grandes de cresci- mento rapido. Do cupuassú ( Theobroma grandiflorum Schum.) o Museu possue uma rodella de tronco, de 30 em de diame- tro, de madeira bastante homogenea e densa, da côr parda amarellada clara. Mas nem esta, nem as outras especies de Theobroma costumam ser aproveitadas para madeira, por mo- tivos que facilmente se comprehendem. A familia das Dilleniaceas fornece uma especie, o ca- imbé (Curatella americana L.), arvore tortuosa dos campos cobertos de Marajó e do baixo Amazonas, cuja madeira é aproveitada pelos vaqueiros para diversos usos. Na pequena familia das Caryocaraceas mencionamos em primeira linha o piquiá-eté ou piquiá (Caryocar vil- losum Pers.) como uma das madeiras mais importantes da região amazonica. Arvore grande da terra firme, espalhada sobre toda a Amazonia, o Caryocar villosum fornece uma madeira parda clara. que, apezar de ser bastante porosa, é muito forte e resiste, por causa das suas fibra flexuosas e entre- cruzadas, o que pode se ver principalmente no alburno, que é um pouco mais claro que o cerne. O piquia é muito esti- mado na construcção naval, para cascos de canôas, cavernas, braços. falcas, assim como para arcos e cubos de rodas de carros, para pilões etc. (cf. Arboretum Amazonicum, Tab. 35). O piquiá rana (Caryocar glabrum Pers.) tem uma madeira de côr um pouco mais clara, tirando ao amarello (amostra de Faro ). Os representantes da familia das Guttiferas reconhe- cem-se facilmente pelas suas folhas oppostas, sem estipulas, e por uma resina amarella emulsionada que existe nos te- cidos novos e na casca. À arvore amazonica de maior desen- volvimento que pertence a esta familia e o bacury (Plalo- mia insignis Mart.). Elle parece limitado nas terras firmes da parte oriental da Amazonia, ao Estado do Pará, sendo des- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 193 tribuido tambem sobre uma grande parte do Brazil central. A sua madeira densa e forte era antigamente muito empre- gada na construcção civil, segundo que fui informado. Uma madeira tambem muito bôa. utilisada principalmente para pontes, é a jacareuba (Calophyllum brasiliense Camb.). O anany (Symphonia globulifera L. f.) tem uma madeira se- melhante. porem um pouco mais escura. Não conheço a ma- deira do bacury pary (Rheedia macrophylla Planch. et Triana), nem de outras especies de Rheedia, que se chamam frequentemente bacury. As especies de Vismia e Tovomita são arbustos ou arvores pequenas, cuja madeira parece ter pouco valor. N'esta familia alguns autores incluem ainda as especies de Caraipa (tamacoaré). cuja madeira me é des- conhecida, e a Haploclalhra paniculata Benth., que ás vezes é citada como a especie fornecendo a mulrapiranga. A" pequena familia das Bixaceas pertencem algumas arvores menores de madeira leve e sem valor, como as pe- riquiteiras (Cochlospermum insigne St. Hil. dos campos al- tos do baixo Amazonas, Cochlospermum orinocense Steud. das mattas) e a Bixa arborea Hub. das mattas da Estrada de ferro de Bragança. A familia das Flacourtiaceas é representada, na região amazonica, por arbustos e arvores pequenas. sobre cuja ma- deira não se sabe nada, por assim dizer. Na familia das Lythraceas temos. espalhado pelas bei- ras dos campos altos do baixo Amazonas, e até nas visi- nhanças de Manãos, o Physocalymma scaberrimum Pohl, cuja madeira bastante dura e rajada de amarello e vermelho escuro é conhecida no Sul sob o nome de pão de rosa ou Sebas- tião de Arruda ou cega machado, na Europa sob o nome de Tulip-wood ou Brasilianisches Rosenholz, e estimada para obras de marcenaria fina e de torneio. Uma familia muito importante e bem representada na Amazonia é a das Lecythidaceas. E' mesmo provavel que em nenhuma outra região esta familia tenha tantas especies e um papel tão importante na composição das mattas. As Lecythidaceas que outrora foram reunidas por muitos au- tores com as Myrtaceas (cf. Flora Brasiliensis ), distinguem- se entretanto facilmente d'esta familia pelas suas folhas al- 194 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS ternas, destituidas de glandulas transparentes. pelo androceo muitas vezes elongado em forma de lingua reflectida por sobre o ovario, e pelos seus fructos frequentemente lenhosos e supridas de tampa. São arvores de tamanho variavel. mas muitas especies são entre as arvores maiores das mattas amazonicas e diversas fornecem madeiras muito estimadas. O seu representante mais celebre, a castanheira (Berthol- letia excelsa H. B. K.) é porem menos conhecido pela sua madeira, que é pouco estimada, que pelos seus fructos e pela sua entrecasca que fornece uma estopa muito usada na região amazonica para calafetar as canôas. Mais typicas ainda para a familia das Lecythidaceas e fornecendo madeiras de primeira qualidade para constru- cções são as especies de Lecyihis, conhecidas no Brasil sob o nome de sapucaya (palavra que na lingua Tupi signl- fica gallinha ), canari-macaque ou marmite de singe na Guiana franceza, kakeralli ou monkey-pot na Guiana in- gleza. Miers. o sabio monographo da familia das Lecythida- ceas («On the Lecythidaceae », Transactions of the Linnean Society of London vol. XXX, 1874), cita 5 especies amazo- nicas do genero Lecythis, entre as quaes elle destaca a L. usitata Miers do Pará como productora das nozes da sapu- caya do commercio. A descripção da L. usitata corresponde porem à sapu- caya das mattas daterra firme das visinhanças da capi- tal, cujas sementes não são objecto de exportação, e não à sa- pucaya do baixo Amazonas, cujas sementes são exporta- das. Esta ultima tem fructos muito maiores, attingindo até 25 cm em altura e diametro. e lembrando um pouco a for- ma dos fructos da L. biserrata Miers ( L. lanceolata Berg, in Fl. Bras.) do Sul, com a differença que na sapucaya do baixo Amazonas a zona supracalycar é mais estreita em re- lação com a zona basilar muito desenvolvida e largamente obconica. Esta especie não corresponde à nenhuma das espe- cies descriptas, e por isso proponho de chamal-a Lecythis pa- raênsis n. sp. À Lecythis paraênsis Hub. é uma arvore grande das mattas de varzea ao sul do baixo Amazonas, mas ao norte do Amazonas, onde ella é cultivada na terra firme, ella não cresce tão alta e produz às vezes os fructos quando ainda de MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 195 pequeno tamanho. À sua madeira, como a da Lecythis usi- tata dos arredores da capital e das mattas orientaes do Es- tado do Pará, é de côr parda amarellacea caracteristica, muito densa e bastante empregada. sendo uma das madeiras de construcção civil mais estimadas no Pará. pelo menos no in- terior do Estado, onde ella ainda é frequente. Devido à sua tenacidade, ella serve tambem para raios de rodas e varaes de carros e carroças. e para manchas de instrumentos. Uma madeira que é preferida para obras hydraulicas, principalmente esteios de pontes e de trapiches, por resistir durante annos à acção do turú, é o matamatá, que segun- do os autores seria a Eschweilera coriacea Mart. (Lecythis co- riacea DC.. Jugastrum coriaceum Miers). achada por Martius nas boccas do Japurá e do Teffé. O matamatá das visi- nhanças de Belem é porem outra especie. que chamo pro- visoriamente Eschweilera matamaii Hub. Uma especie parente. com fructos maiores e sementes globosas muito grandes,é a jaraná (Chytroma jarana n. sp.) arvore grande das mattas da Estrada de Ferro de Bragança. cuja madeira é de primeira qualidade para dormentes e para vigamentos de casas. Os tauarys (Couraiary Martiana Miers, C. coriacea Mart., C. paraênsis Mart. e principalmente Couratari Tauari Berg) são arvores muito altas, com sapopemas que attin- gem até 4 metros e mais de altura. A sua madeira é em- pregada na construcção naval, segundo os autores. À sua entrecasca deixa-se separar em laminas muito finas usadas pelos indios e tambem pelos colonos para confeccionar ci- garros. Sob o nomede castanha e cuia do macaco, conhecem- se diversas especies de Couroupita ( Couroupita guyanensis Aubl. (cannonball-tree dos inglezes) e C. subsessilis Pilg.) e de Jugastrum (J. obtectum Miers, J. platyspermum Miers, J. sub- cinctum Miers, J. depressum Miers). as primeiras arvores al- tas das varzeas amazonicas, as ultimas todas de Manãos e do Rio Negro. As suas madeiras não me são conhecidas. O nome indigena de churú é applicado a diversas especies internadas antigamente no genero Couratari (Flor. Bras.), depois (por Miers) nos generos Cariniana e Allan- toma, mas que tenho proposto de separar num genero pro- 196 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS prio Goeldinia (+). A este genero, que corresponderia bem aos churús, pertencem diversas especies do Pará (Goeldinia ovatifolia Hub., G. riparia Hub., G. lineata Berg (Cou- ratari lineata Berg, Allantoma lineata Miers). Do genero Allantoma existem ainda diversas especies no Pará, mas nem as arvores nem as suas madeiras me são conhecidas. As especies de Gustavia, entre as quaes cito sómente a geniparana (Guslavia augusta L.) e a geniparana da matta (G. pierocarpa Poit.) são arvores de pequeno tama- nho cuja madeira é conhecida por ter um mão cheiro muito pronunciado. Na familia das Rhizophoraceas encontramos o man- gue vermelho da costa atlantica ( Rhizophora mangle L.), cuja madeira vermelha serve para a construcção civil e cuja casca é rica em tannino. As especies de Cassipourea, que tambem fazem parte d'esta familia, são arbustos ou arvores pequenas. As Myrtaceas, representadas na região amazonica por centenas de especies, são quasi todas arbustos dos cam- pos, beiras dos rios e do sous-bois das mattas. O genero Psidium contem, alem da goiabeira (Psidium guayava L.) que é geralmente cultivada, e do araçá do campo (P. araça Raddi), algumas arvores silvestres de medio tamanho, chama- das goiaba do matto ou araçãá do matto, que se reconhe- cem pela sua casca lisa que se desfaz em grandes escamas e cuja madeira muito densa é às vezes empregada. Algumas especies de Eugenia e de Myrcia são tambem arborescentes e distinguem-se pela sua madeira compacta que deve pres- tar-se para objectos torneados. A familia das Combretaceas é representada, na região amazonica, por diversos generos, alguns dos quaes /Combre- tum, Cacoucia) contém só arbustos e cipós, emquanto que outros ( Terminalia, Buchenavia, Laguncularia ) são arbores- centes. Entre as especies que são geralmente conhecidas, (1) Bol. do Museu Paraense, vol. III p. 438. MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 197 mencionamos a amendoeira (Terminalia catappa L.), ori ginaria de Madagascar e da Asia meridional, mas muito cul- tivada entre nós, a cuiarana ( Terminalia tanibouca Smith) arvore grande do baixo Amazonas e da região costeira, (tambem das Guianas), a mirindiba ( Terminalia lucida Hoffmannsegg ), arvore grande das mattas do baixo Amazo- nas, a tinteira (Laguncularia racemosa Gaertn. ) arvore ge- ralmente pequena dos mangaes. Não sei nada de positivo sobre a madeira d'estas especies. Ainda não foi encontrada, na Amazonia, a Bucida buceras L., que é espalhada nas An- tilhas e nas Guianas, e cuja madeira é conhecida na Guiana franceza sob o nome de gringnon e bastante estimada para taboas. Da mesma forma como as Myrtaceas, as Melastoma- ceas, que ainda são mais numerosas em especies na nossa região, são antes de tudo arbustos, muitas mesmo subarbus- tos ou pequenas hervas. Arborescentes são algumas especies do grande genero Miconia e principalmente os representan- tes do genero Bellucia, chamadas geralmente goiaba da anta, por causa do seu fructo que se parece um pouco com o fructo das goiabas e que é muito procurado pelas antas. As flóres d'estas arvores são brancas, bastante gran- des, e reunidas em ricas inflorescencias cymosas au longo do tronco delgado e dos galhos. Na Guiana franceza as ma- deiras das Melastomaceas seriam principalmente usadas para ripas. A” familia das Melastomaceas pertence tambem, apezar da estructura differente das suas'folhas, que não têm as tres ou cinco ou mais nervos principaes e nervos secundarios parallelos caracteristicos dos outros representantes d'esta fa- milia, o genero Mouriria, representado na região amazonica por diversas especies que são arvores pequenas ou medianas do sous-bois. Segundo Sagot, as especies de Mouriria teriam uma madeira excessivamente dura, chamada bois de fer na Guiana franceza, paiz que possue algumas especies em com- mum com a região amazonica. As especies amazonicas mais bem conhecides são a murta ou urury (Mouriria guyanen- sis Aubl.) da região costeira, o tucunaré mereçá (Mouri- ria grandiflora DC.) da beira dos furos de Breves e a api- ranga ( Mouriria apiranga Spruce) de Santarem 198 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS A familia das Araliaceas é representada, na região amazonica, por poucas especies, que são arvores de madeira branca, de grandes folhas palmadas. O morototó (Didymo- panax morototoni ( Aubl.) March.). arvore grande das ca- pueiras de terra firme, é a mais importante. A sua madeira branca e muito leve é às vezes vendida no logar do ma- rupá. Chamam esta arvore tambem parapará, nome que - é applicado ainda a outras arvores de madeira branca, como Jacaranda copaia, Cordia tetrandra, ctc./Parapará é tambem o nome vulgar de uma ÁAraliacea que “Cresce nas mattas da Estrada de Ferro de Bragança e que pertence ao genero Schefilera ( Schefilera paraênsis Hub. n. spee.)./ Na ordem das DICOTYLEDONEAS SYMPETALAS, a familia mais importante pelas suas madeiras é a das Sa- potaceas, representada na região amazonica por um grande numero de especies, quasi todas arvores grandes ou de medio tamanho que occupam um dos papeis mais salientes na composição das mattas amazonicas. Às arvores da familia das Sapotaceas reconhecem-se com facilidade pela casca do tronco contendo um latex branco não muito abundante que condensa-se em uma substancia dura analoga da guttapercha, pela ramificação densa e pelas folhas alternas geralmente lanccoladas, reunidas na extremidade dos galhos e destitui- das de estipulas. As pequenas flôres verde-esbranquiçadas nascem geralmente em pequenos glomerulos na axilla das folhas inferiores dos galhinhos ou muitas vezes nas cicatri- zes de folhas cahidas, cobrindo às vezes inteiramente os ga- lhos. Os fructos são bagas relativamente grandes, com se- mentes que facilmente se reconhecem pela sua testa extre- mamente lisa e reluzente, com uma cicatriz mais clara e me- nos lisa geralmente alongada de um lado. Quasi todas as Sapotaceas têm uma madeira com cerne duro, muitas vezes duro demais para se poder trabalhar bem. As madeiras mais bem conhecidas d'esta familia são fornecidas pelas especies de Mimusops, que é representado por diversas especies grandes na nossa região. À massaran- duba paraense, corresponde a duas especies: Mimusops ama- zonica Hub., com folhas verdes de ambos os lados, e Mimu- MATTAS E MADEIKAS AMAZONICAS 199 sops aff. elata Freire Allem. (*), com folhas amarellas por baixo, Ambas estas especies parecem ser espalhadas sobre todo o Estado do Pará. São arvores grandes da terra firme ou das varzeas altas, de tronco direito coberto d'uma casca cinzenta fendida longitudinalmente, contendo um latex que fornece uma balata de qualidade inferior. A madeira é pe- sada, muito densa e homogenea, de côr parda avermelhada, excellente para dormentes de caminho de ferro. Ella serve tambem para construcção civil, sendo porém pezada demais para muitas applicações às quaes ella se prestaria bem sem este defeito, e para cabos de instrumentos, raios de roda, bengalas, etc. Segundo alguns especimens destituidos de fló- res, que recebi da margem esquerda do baixo Amazonas e do rio Guamá, e segundo as affirmações de Mme. Condreau, é provavel que no Estado do Pará exista tambem a verda- deira balata ( Mimusops bidentata DC.), tão conhecida como fornecedora da balata do commercio e da madeira estimada que tem o nome de bulletwood na Guiana ingleza, balata na Guiana franceza e paardeflesh em Surinam. A madeira da ver- dadeira balata é semelhante à da nossa massaranduba com- mum, porém um pouco mais avermelhada, ás vezes mesmo vermelha escura. Me parece provavel que uma amostra ro- tulada ma parajuba e proveniente da região de Faro, per- tença à verdadeira balata, sendo mais escura e mais dura do que as nossas amostras de madeira de massaranduba. Alguns auctores dão esta especie como correspondendo à muirapiranga amazonica (cf. p. 169, nota). Madeira semelhante à da massaranduba provêm das diversas maparajubas (Mimusops paraensis Hub. e M. mã- (*) Quanto a esta especie, ainda não tenho plena certeza, se a nossa massaranduba de folhas amarellas realmente lhe corresponde. A descripção original na « Flora Brasiliensis » não menciona as flóres, e uma determinação baseada apenas sobre a descripção das folhas me parece su- jeita a cautela, tanto mais que Freire Allemão menciona como habitat da Mimusops elata os Estados de Rio de Janeiro e Bahia, de onde recebi do extincto botanico E. Glaziou amostras sob este nome que são com certeza differentes da nossa massaranduba, mas cujas folhas não são bastante des- envolvidas para permittirem uma confrontação com a descripção de Freire Allemão. 200 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS parajaba Hub.), tambem arvores de grande tamanho. Parece porem que a madeira de maparajuba não é tão bôa para construcções como a da massaranduba e ella é mais apre- ciada como combustivel para lanchas e vapores. Em uma expedição ao alto rio Capim, onde ambas as especies acima mencionadas crescem nas varzeas altas, as arvores derruba- das pela equipagem da lancha forneceram, no estado com- pletamente verde, um: combustivel excellente. O cutitiribá (Lucuma rivicoa Vahl), arvore frequente da terra firme e das varzeas altas do Pará, fornece uma madeira mais leve e mais porosa que as especies de Mimusops ; ella parece ser pouco empregada. Muito forte e pesada é a madeira de abieiro ou abiu (Lucuma caimito Ruiz et Pav.), uma das arvores fructiferas mais estimadas da região amazonica. Toda a madeira é muito compacta, mas o cerne, que aliás como em todas as Sapotaceas, não mostra uma separação nitida do alburno, tem uma côr parda muito bonita. Sob o nome de abiurana existem na Amazonia e principalmente nos igapós do alto Amazonas, diversas especies de Lucuma, cuja madeira é pouco utilizada. O nome de guajará é tambem generico e serve não só para especies de Chrysophyllum (p. e. Ch. excelsum Hub. do baixo Amazonas), mas tambem de Lucuma e provavelmente de Sideroxylon. Conhecem-se quasi tantas qualidades differentes de guajarás como de louros. O nome de alguns, como guajará ferro, indica que se trata de madeiras muito duras. A applicação é principal- mente na construcção de casas, como esteios. Pouco estimadas por suas madeiras são as Apocyna- ceas, que na Amazonia são representadas por varias arvo- res, de casca leitosa (o latex é geralmente mais abundante do que nas Sapotaceas) e de folhas geralmente oppostas e destituidas de estipulas. A esta familia pertence a manga- beira (Hancornia speciosa Gomez), arvore pequena dos campos cerrados, mais conhecida pelos seus fructos e pelo producto do seu latex, o amapá (Hancornia amapa Hub.), cujo latex é medicinal, a sorveira (Couma guyanensis Aubl. das mattas da região costeira, C. utilis Mill. Arg., do baixo Amazonas), a sorva grande ou cumã-assú (Couma ma- crocarpa Barb. Rodr.), as sucuúbas (especies de Plumiera), MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 201 a muirajussára ( Aspidosperma Duckei Hub. n. sp.) es- tas duas ultimas com folhas alternas. Todas estas especies são pouco conhecidas quanto às suas madeiras. O genero Aspidosperma possue entretanto no Sul do Brasil varias es- pecies arborescentes, cuja madeira. conhecida sob o nome de piquiá-marfim e peroba, é muito apreciada. Devo deixar ahi a questão aberta, se as nossas especies de Áspi- dosperma fornecem madeiras de valor ou não. Na familia das Borraginaceas, o genero Cordia inclue muitas-especies que fornecem madeiras bem fortes e homo- geneas e faceis de trabalhar, não só no sul do Brazil, onde ellas são conhecidas sob os nomes de louro e claraiba, mas tambem em outros paizes tropicaes. Aqui temos diversas especies arborescentes de Cordia, entre as quaes a Cordia Goeldiana Hub. (cf. este Boletim vol. VI p. 89), chamada vulgarmente frei jorge, é a mais importante. Esta especie, notavel pelas suas inflorescencias muito densas de flores bas- tante grandes e duradoiras ( secção Gerascanihus ) é uma arvo- re grande das mattas da Estrada de Ferro de Bragança e provavelmente tambem de outras partes do Estado. A sua madeira sem ser de primeira qualidade é muito apreciada, principalmente para barris e tinas. A familia das Verbenaceas, que contem, na flora tro- pical do Oriente, o celebre Teak-wood (Tectona grandis L. f.). fornece, na região amazonica, apenas algumas madeiras de vaior inferior, como a ciriuba (Avicennia nitida Jacg.) da costa do Atlantico, o tarumá frondoso ( Vitex orinocen- sis var. amazonica Hub.) de Marajó. a mameira ou taru- má tuira (Vitex flavens H. B. K.) do campos cerrados de Marajó e do baixo Amazonas. Em compensação. a familia das Bignoniaceas, apesar de ser composta principalmente de cipós, possue algumas especies arborescentes que fornecem madeiras celebres pela sua rijeza e duração. O pão d'arco amarello é uma das arvores mais altas da terra firme amazonica. No fim da es- tação secca elle perde as suas folhas e cobre-se de uma in- finidade de grandes flores amarellas côr de ouro, appare- cendo as suas copas como bouquets enormes de flores no meio da matta. Ainda mais alto é o pão d'arco rôxo, que 202 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS por exemplo no rio Capim sobrepuja de muito todas as ou- tras arvores da matta de terra firme, pela sua copa obco- nica. Às suas flores são violaceas e não são tão apparentes como as do pão d'arco amarello. Quanto à classificação botanica d'estas duas especies a confusão é muito grande. Com certeza ambas pertencem ao genero Tecoma, mas é muito provavel que o pão d'ar- co amarello ao menos não corresponda a uma especie bo- tanica só, mas a diversas especies ainda não sufficientemente estudadas. O pão d'arco rôxo constitue provavelmente uma especie nova para a sciencia. Quanto à madeira, geralmente não se faz uma differença entre o pão d'arco amarello e o rôxo, provavelmente porque elles não apresentam caracteres distinctivos bastante pronunciados. A madeira do pão d'arco e muito dura e pesada, de fibras direitas e de côr parda clara até parda escura. Quando serrada de fresco, os vasos parecem cheios d'um pó amarello esverdeado bastante abun- dante e irritante quando respirado. Por isse chamam esta madeira no Sul ipé tabaco. Na Guiana franceza uma especie de Tecoma é conhecida sob o nome de ebêne vert. O pão d'arco têm uma madeira que se presta tanto para a cons- trucção civil como para objectos de torneiro e pequenos moveis. O seu nome lhe vem do uso que os indios fazem d'ella para os seus arcos, A caroba do campo ( Tecoma caraiba Mart.), peque- na arvore muito, frequente nos campos cobertos da região costeira e do baixo Amazonas, tem uma madeira branca que serve principalmente para curvas de sellas. A madeira da caroba do matto ou parapará (Ja- caranda copaia D. Don), arvore alta das mattas da terra firme, com folhas bipinnadas e flores rôxas muito vistosas, é branca e leve e se confunde muitas vezes com o marupá. E" de bem notar que o genero Jacaranda não tem nada de fazer com a madeira chamada jacarandá (palissandre dos francezes), que provem de especies de Dalbergia e Machae- rium. A familia das Rubiaceas, uma das mais bem repre- sentadas na região amazonica, contém, como a das Myrta- ceas e das Melastomaceas, de preferencia arbustos, afora de MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 203 um grande numero de subarbustos e hervas. Arvores acham-se principalmente na subfamilia das Cinchonoideas. Uma das arvores mais frequentes nas varzeas amazonicas é o pão mulatto (Calycophyllum Spruceanum Benth.), cuja madeira branca amarellada e bastante homogenea é propria para di- versos usos na construcção civil e na marcenaria. Ella é tambem muito estimada como combustivel para vapores e lanchas. A madeira de genipapo (Genipa americana L.) amarella com nuvens azuladas, é empregada na marcenaria fina e para objectos menores, como colheres. etc. A ara- riba ou arareua (Sickingia tincioria (H. B. K.) Schum.) é uma pequena arvore. cuja madeira contem uma materia co- rante vermelha. Lista alphabetica das madeiras paraenses A Abacate-—Persea gratissima Gaertn. (Laur.) Abiu—Lucuma caimito (Ruiz et Pav.) Roem. et Schulth. ( Sapotaceze ) Abiurana—Lucuma spec. div. (Sapotacez) Abricó—Mammea americana Jacq. (Guttifera) Acapú—Vouacapoua americana Aubl. (Leg. Caesalp.) Acapurana—Campsiandra laurifolia Benth. (Leg. Caesalp.) ' Acaricuara—Minquartia guianensis Aubl. (Olacacez) Acariuba—? Achuá-—Saccoglotiis guianensis Benth. Açucena—? Aipé—Macrolobium chrysostachyum Benth. (Leg. Caesalp.) « —M. pendulum NWilld. (Leg « Caesalp.) Aiuba—Aydendron permolle Nees (Lauraccas) Ajurú— Chrysobalanus Iaco L. (Rosaceae) » —Hirtella americana Aubl. (Rosacez) » — Licania incana Aubl. (Rosacex) Almecegueira—Protium div. spec. (Burseracez ) 204 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Amapa—Hancornia Amapa Hub. ( Apocynacez ) Amapá doce—Brosimum spec. (Moracez) Anany— Symphonia globulifera L. f. (Guttiferae ) Anauerá—Licania macrophylla Benth. (Rosacez) Andirá-uchy— Andira retuse H. B. K. (Leg. Dalberg.) Andiroba— Carapa guyanensis Aubl. ( Meliacez ) Andiroba jaréua-—Andira retusa H. B. K. (Leg. Dalberg.) Angelim— Andira spec.? (Leg. Dalberg.) Angelim coração de negro—? (Leg. Dalberg.) Angelim pedra— Andira spec.? (Leg. Dalberg.) Angico—Cassia fastuosa Willd. (Leg. Caesalp.) Apá—Eperua falcata Aubl. (Leg. Caesalp.) Apui—Ficus (subgen. Urostigma) div. spec. ( Moraceze) Apuruhy— Alibertia edulis A. Rich., À. sorbilis Hub. nov. spec. (Purús) (Rubiaceze) Araçá-y (do campo)—Psidium araça Raddi “ Myrtacez) Araçá da anta—Bellucia imperialis Saldanha et Cogn. (Me- lastomacez ) Araçá do matto— Psidium spec., Eugenia spec. (Myrtacez) Araçá do Pará-—Britoa acida Berg ( Myrtacez) Araçarana—Bellucia spec. div. ( Myrtacese) Arapary—Macrolobium acaciaefolinm Benth. (Leg. Caesalp.) Araracanga—? Ararandeua— Pithecolobium cauliflorum Mart. (Leg. Mimos.) Arara tucupy— Parkia oppositifolia Spruce (Leg. Mimos.) Arariua (Arariba)— Sickingia tinctoria (H. B. K.)-Schum. ( Rubiaceze ) Araticú ( Areticum)—Anona muricata L. ( Anonacez) Araticú do brejo—Anona palustris L. ( Anonacezx) Assacú—Hura crepitans L. (Euphorbiacez) Assacú rana— Erythrina glauca Willd. (Leg. Papil.) Atiriba ( Atereua) —Eschweilera sp. / Lecythidacex) Aturiá— Drepanocarpus lunatus Mey. (Leg. Pap. Dalberg.) B Bacaba— Oenocarpus distichus Mart. (Pará), Oenocarpus Ba- caba Mart. (Alto Amazonas) ( Palma) Bacury— Platonia insignis Mart. (Guttifera ) MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 205 Bacury pary—Rheedia macrophylla ( Mart.) Planch. et Triana (Guttiferz) » — Rheedia aff. acuminata Planch. et Triana Baratinha—Cassia fastuosa Willd. (Leg. Caesalp.) Barbatimão— Stryphnodendon spec. (Leg. Mimos.) » —Cassia fastuosa Willd. (Leg. Caesalp.) » — Jacaranda spec. ( Bignoniacez) Beque— Trichanihera gigantea H. B. K. ( Acanthacex) Biribã-—Rollinia orthopetaula DC. ( Anonacez) Breu branco—Protium heptaphyllum ( Aubl.) March.. P. Duckei Hub. et alie species ( Burseraceze ) » —Crepidospermum rhoifolium ( Benth.) Triana et Planch. ( Burseracez) Breu jauaricica — Protium spec. ( Burseracece ) Breu preto—Protium spec. ( Burseracece ) Burra leiteira—Sapium spec. (Euphorbiacece) Cc Cabeça de urubú— Thbeobroma obovatum Bern. ( Sterculiacez ) Cacão — Theobroma cacão L. Cacão azul—Theobroma Spruceanum Bern. Cacão do Perú--Theobroma bicolor H. B. K. Cacão rana— Theobroma microcarpum Bern. Cacão-y— Theobroma speciosum Spreng. Cachimbo de jaboty — Erisma calcaratum (Link) Warm. ( Vochysiaceze ) Caimbé— Curatella americana L. (Dilleniacez) » —Coussapoa asperifolia Tréc. (Moracea) Cainito— Chrysophyllum cainito A. DC. (Sapotacez) Cajueiro— Anacardium occidentale L. ( Anacardiacez ) Cajueiro do matto—Anacardium giganteum Hane. Cajuúna—Anacardium spec. Camaá--Aegiphila villosa (Aubl.) Vahl (Verbenacea) » —Pseudima frutescens Radlk. (Sapindacez) Camboatá—Trichilia excelsa Benth. ( Meliacez ) Canella de garça—Trichanthera gigantea H. B. K. (Acantha- ces) Canella de velho— div. Melastomaceas 206 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Caniço branco—Duguetia spec. ( Anonacez) Caniço preto—Duguetia spee. Capurassú—Lauracea Caraúba (Caroba)— Tecoma caraiba Mart. ( Bignoniaceze ) » — Jacaranda copaia ( Bignoniaceae ) Caramurú—Erisma calcaratum (Link) Warm. ( Vochysiacez ) Carapanauba— Swartzia spec.? (Leg. Caesalp.) Caripé-—Licania utilis (Mook.) Fritsch ( Rosacez) » —Licania myristicoides Benth. Cariperana—Licania turiuva Cham. et Schlecht. (Rosaceze ) » — Hirtella tentaculata Poepp. (Rosacecze) Caripé tariira—Licania spec. (Rosaceae ) Caroba (vide Caraúba ) Carvalho—? Casca doce—Lucuma spec. (Sapotaceze ) Casca preciosa—Aniba canelilla Mez (Lauraceza ) Castanha do macaco—Couroupita guyanensis Aubl. (Lecythi- dacez ) Castanha do Pará-—Beriholletia excelsa H. B. K. (Lecythi- dacez ) Cauassú—Coccoloba latifolia Lam. ( Polygonacez ) Caucho—Castilloa Ulei Warb. (Moracez ) Cedro branco—Cedrela spec. ( Meliacez ) Cedro vermelho—Cedrela spec. Cedro rana—? Chapeu de sol—Cordia tetrandra Aubl. ( Borraginaceze ) Churú—Goeldinia riparia Hub., G. ovatifolia Hub. (Lecy- thidaceze ) Ciriuba— Avicennia nitida Jacq. (Verbenaceze ) Condurú de sangue—Brosimum paraense Hub. ( Moracez) Copahyba—Copaifera guyanensis Desf., C. multijuga Hayne, C. Martii Hayne (Leg. Caesalp.) Copuda—Couepia spec. (Rosaceze ) Copuda miuda—Couepia bracteosa Benth.? ( Rosaceze) Coquilheiro— Protium spec. ( Burseracez ) Coração de negro—Machaerium spec.? (Leg. Dalberg.) Cortiça— Apeiba tibourbou Aubl. ( Tiliacez ) » —Anona palustris L. ( Anonacez) Cravo do matto — Dicypellium curyophyllatum Nees (Lauracese ) MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 207 Coatã quiçaua —? Cuaxinguba—Ficus (Urostigma) var. spec. (Moracecze ) Cuia de macaco—lugastrum spec. (Lecythidacez) Cuiarana— Terminalia Tanibouca Smith (Combretaceze) Cujumary — dydendron Cujumary Nees (Lauraceze) Cumã-—-Couma utilis Mill. Arg. (Apocynaceae) Cumã uassú—Couma macrocarpa Barb. Rodr. ( Apocynacez) Cumarú—Dipteryx odorata Willd., D. tetraphylla Spruce (Leg. Dalberg.) Cumarú do rato—Amphiodon effusus Hub. (Leg. Galeg.) Cumarú rana—Dipteryx oppositifolia Willd. (Leg. Dalberg.) Cumaté—Myrcia atramentifera Barb. Rodr. (Myrtaceae) Cumaterana—? Cumbeira-Pão santo? Cupiúba — Goupia paraênsis Hub. (Celastracece ) Cupuahy— Theobroma subincanum Mart. (Sterculiacece) Cupuassú — Theobroma grandiflorum Schum, (Sterculiaceze ) Cupuassurana—Matista paraênsis Hub. (Bombaceze ) Curupitá— Sapium curupita Hub. nov. spec. (Euphorbiaceae ) Cutimandioca—Licania capinensis Hub. ( Rosaces) Cutitinbá—Lucuma rivicou Gaertn. (Sapotacece) Cutitiribá grande—Lucuma macrocarpa Hub. (Sapotacaz ) E Embira branca—Xylopia grandiflora St. Hil. ( Anonaceze ) Embira—Sterculia pruriens Schum., et alia species (Stercu- liacese ) » —Guazuma ulmifolia Lam. (Sterculiaccee) » -—Rollina div. spec. ( Anonacez ) Embiratai—Duguetia riparia Hub. ( Anonaceee ) Esponjeira—? F Faia—(vide Louro faia ). Fava de empigem—Vatairea guyanensis Aubl. (Leg. Dalberg. ) Faveira—diversas Leguminosas. Frei jorge—Cordia Goeldiana Hub. (Borraginaceze) 208 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS G Genipapo—Genipa americana LL. (Rubiaceae) Genipapim (Genipapo do campo )— Tocoyena formosa Schum. ( Rubiacece) Geniparana—Gustavia augusta L. (Lecythidaces) Geniparana da matta-Gustavia pterocarpa Poit. (Lecythi- dacese) Goyaba da anta—Bellucia imperialis Sald. et Cogn. (Melas- tomacece ) Goyabarana—Mouriria guyanensis Aubl. (Melastomaceze ) » — Psidium spec. (Myrtaceae) Goyabeira—Psidium guayava Raddi (Myrtacec) Gonçalo Alves—Astronium spec.? Guajará—Chrysophyllum excelsum Hub. (Sapotacezse ) » —Lucuma spec. (Sapotacece ) Guajará-abiu —Lucuina spec. (Sapotacece ) Guajará amarello Guajará branco Guajará caramurim Guajará ferro Guajarahy Guajara-poca Guajará tuira Guajara thimotheu Guariuba— Olmedia erylhrorbiza Hub. nov. spec. (Moracea ) Guaruba (vide Quaruba) Sapotaceas I Imbauba verde—Cecropia Bureauiana Richt. (Belem) —Cecropia robusta Hub. (Baixo Amazonas), C. laetevirens, C. bifurcata Hub. (Pu- rús) ( Moracez ) Imbauba branca—Cecropia palmata Willd. (Belem), C. pa- raensis Hub. (Baixo Amazonas) (Mo- racece) Imbauba da matta—Cecropia juranyiana Richt. (Belem) C. scabra (Baixo Amazonas), C. sciado- phylla (Alto Amazonas) (Moraces ) MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 20G Inajarana— Quararibea guyanensis Aubl. (Bombaceze) Ingã-—lInga spec. div. (Leg. Mimos.) Ingá assú—lnga cinnamomea Spruce (Leg. Mimos.) Inga chichi—lInga alba Willd. Inga cipó—lnga edulis Mart. Inga de fogo—Inga velutina Willd. Ingarana—lnga disticha Benth. » —Pithecolobium spee, sect. Caulanthon (Leg. Mi mos.) Inharé—? Inhambu-quiçaua— Alsodeia guianensis (Aubl.) Fichl. (Vio- lacea ) Ipé— (vide Aipé) Iperana (Aiperana)-—Crudya pubescens Spruce (Leg. Cae- salp.) Ipeuba-—-Macrolobium latifolium Vog.? (Leg. Caesalp.) Itauba—Silvia ita-uba Pax (Lauraces) Itauba amarella Itauba Itauba preta—lLauracea Itauba rana—Ormosia excelsa Spruce (Leg. Sophor.) » — Sweetia nitens Benth. (Leg. Sophor.) Jaboty—Erisma calcaratum (Link) Warm. (Vochysiacec) Jaca da Bahia-—Artocarpus integrifolia L. ( Moracez) Jacarandá -—Dalbergia Spruceana Benth. (Leg. Dalberg.) Jacareuba—Calophyllum brasiliense Camb. (Guttiferee) Jará—Leopoldinia pulchra Mart. ( Palmee) Jarandeua — Pithecolobium latifolium Benth. P. cauliflorum Mart. (Leg. Mimos.) Jarâna—Chytroma Jarana Hub. nov. spec. (Lecythidacece) Jatereua==Atereua Jatuauba—Guarea trichilioides |. (Meliacece) Jatuarana —? Jejuhuba —? Jutahy— Hymenaea spec. div. (Leg. Caesalp.) Jutahy-assúi— Hymenaea courbaril L. Jutahy caté—Hymenatca spec. Jutahy do campo—Hymenaea parvifolia Hub. Jutahy miry—Hymenaca microcarpa Hub. nov. spec. Jutahy pororoca—Hymenaea pororoca Hub. nov. spec. 210 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Jutahy rana—Crudya parivoa DC. (Marajó) (Leg. Caesalp.) » — Cynometra Spruceana Benth. (Baixo Amazonas) (Leg. Caesalp.) L Lacre—Vismia spec. div.. principalmente Vismia guyanensis Chois. (Guttiferce) Lacre branco—Miconia minutiflora DC. (Melastomacez) > » —Banara guyanensis Aubl. (Flacourtiacez ) Limão rana—? Lombrigueira— Andira Amazonum Mart. (Leg. Dalberg.) Louro abacate—Lauracea Louro amarello—Lauracea Louro da beira—Ocotea laxiflora Mez. (Lauracece) Louro branco—Ocotea guyanensis Aubl. (Lauracex) Louro cachoeira—Lauracea Louro de cheiro—Lauracea Louro chumbo—Lauracea Louro congonha—Lauracea Louro cravo—Dicypellium caryophyllatum Nees (?) (Lauraceze) Louro cunauarú—Lauracea Louro faia—Lauracea? Louro do igapó—Nectandra amazonum Nees. (Lauracex) Louro pederneira—Lauracea Louro pimenta—Ocotea canaliculata Mez (Lauracex) Louro preto—Lauracea Louro rosa—Aniba parviflora Mez (?) (Lauracex) Louro tamanco— Ocotea guyanensis Aubl. (Lauracez) Louro tamancão— Ocotea aff. acutangula Mez (Lauracez) Louro tachy—Lauracea Louro vermelho—Ocotea spec. (Lauracez) M Macaca poranga—Acrodiclidium spec.? (Lauracez) Macacauba da varzea-— Platymiscium paraênse Hub. (Leg. Dalberg.) Macacauba da terra firme— Platymiscium Duckei Hub. (Leg. Dalberg.) MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 211 Macucuú—Licania heteromorpha Benth., (Rosaceae) » —Hirtella eriandra Benth. (Rosaceze) » —Moquilea spec. (Rosaceze) Macucurana— Hirtella americana Aubl. (Rosacez) Mahuba— ? | Mameira—Vitex flavens H. B. K. (Verbenacez) Mamorana—Pachira aquatica Aubl., P. insignis (Bombacez) Mangabarana— Sideroxylum spec. (?) Sapotacece) Mangabeira — Hancornia speciosa Gom. (Apocynaceze) Mangue vermelho-—Rhizophora mangle L., et var. racemosa Mey. (Rhizophoraceze) Mangue branco— (vide Ciriuba) Manguerana— Tovomita brasiliensis ( Mart.) Walp. (Guttiferee) Maparajuba—Mimusops paraensis Hub., M. maparajuba Hub. (Sapotacece ) Marachimbe-—Emmotum fagifolinm Desv. (Icacinaceze) Maramaráa Parapará (?) Maranhoto—? Marupá-—Simaruba amara Aubl. (Simarubaceze) -» —Jacaranda Copaia D. Don (Bignoniacez) Marupauba-=-Marupá Massaranduba— Mimusops amazonica Hub., M. aff. elata Freire All. (Sapotacez) Matâmata—Eschweilera matamata Hub. nov. spec. (Lecythi- dacez) Merecem (Pão doce)-—Lucuma spec. (Sapotacece) Machira-ira—? Mirindiba— Terminalia lucida (Hoffmsgg. ) (Combretacece) Molongó— Ambelania grandiflora Hub. ( Apocynacez) Morcegueira— Andira immermis H.B.K. (Leg. Dalberg.) Mororó—? Morototó— Didymopanax morototoni ( Aubl.) Desne. et Planch. ( Araliaceze) Muirachimbé=-Marachimbé Muiracoatiára—Cenirolobium paraense Sald. (Leg. Dalberg.) Muirajussára— Aspidosperma Duckei Hub. (Apocynacez) Muirapinim—Brosimum guyanense ( Aubl.) Hub. (Moracez) Muirapinima preta=-Pão santo Muirapiranga—Brosimum paraênse Hub.? (Moracez) 21:2 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Muirapiranga—Haploclathbra paniculata Benth. (?) (Theacez) Muirapiranga da varzea—? Muira pixuna—-? Muirapuama— Piychopetalum olacoides Benth. (Olacese) Muiratauã —? Muirapucú—Laetia spec. (Flacourtiacez ) Muiratinga— Olmedia aff. calophylla Poepp., Olmedia caloneura Hub., O. obliqua Hub. (Moracez) » — Perebea Lecointei Hub. ( Moracez) Muirauba da terra firme—Qualea spec. (Vochysiacece ) Muirauba da varzea—Qualea speciosa Hub. (Vochysiaceze ) Munguba—Bombax munguba Mart. et Zucc. (Bombacece) Murta—Eugenia espec. div. (Myrtacez ) » —Mouriria guyanensis Aubl. ( Melastomacez ) Murucy do campo—Byrsonima crassifolia H.B.K (Malpr ghiacece ) Murucy das capueiras—Byrsonima lancifolia Juss. Murucy da matta—Byrsonima crispa Juss. Murucy vermelho-—Byrsonima amazonica Griseb. Mururé—Brosimum aff. acutifolium Hub. (Moracez ) Murupita—Sapium lanceolatum Hub. et alie species (Eu- phorbiaceze ) Mutamba—Guazuma ulmifolia Lam. (Sterculiaceze ) Mututy da varzea—Pterocarpus Draco L., P. amazonicus Hub. (Leg. Dalberg.) Mututy da terra firme—Pterocarpus Robrii Vog. (6) Oeirana—Alchornea castaneifolia A. Juss. (Euphorbiacea ) » —Salix Martiana Leyb. (Salicacez ) P Pacapeua—Swartzia racemosa Benth. (Leg. Caesalp.) Pachiuba—lriartea exorhiza Mart., 1. Orbignyana Mart. Pachiuba barriguda—lriariea ventricosa Mart. (Palma) Pachiubinha—lriartella setigera Mart. (Palmee) Pajurá—Parinarium aff. montanum Aubl. (Rosacez ) » —Couepia spec. (Rosacez ) MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 213 Pão amarello—Euxylophora paraênsis Hub. (Rutacez) Pão arára—Aspidosperma spec.? ( Apocynacez) Pão d'arco amarello—Tecoma aff. conspicua (Bignoniaceze) Pão d'arco branco—Cowralia toxophora Benth. et Hook. ( Big- noniacece ) Pão d'arco roxo— Tecoma violacea Hub. nov. spec. (Bigno- niaceze ) Pão de bicho—? Pão de boto—? Pão de breu—( vide Breu) Pão de candeia—? Pão doce (Merecem) Lucuma spec. (Sapotacez) Pão d'espeto—Matayba spec. (Sapindaceze ) Pão ferro—? Pão de jangada—Apeiba tibourbou Aubl. ( Tiliaceze) Pão marfim— Olacacea ? Pão mulatto—Calycophyllum Spruceanum Hook. f. (Rubiaceze) Pão paratudo—Simaba Cedron Planch. (Simarubacece) Pão pombo— Tapirira guyanensis Aubl. (Anacardiacece) Pão preto—? Pão da rainha Muiracoatiara Pão de rato—Andripetalum rubescens Schott. (Proteaceze) Pão rego—? Pão de remo —? Pão rosa—Aniba parviflora Mez (Lauracec) Pão roxo—Peltogyne densiflora Spruce, P. paraênsis Hub. (Leg. Caesalp.) Pão roxo da terra firme—? Pão santo—Zollernia paraênsis Hub. (Leg. Caesalp.) Pão violeta=-Pão roxo Paracachy — Pentaclethra filamentosa Benth. (Leg. Mimoseze) Parajuba—Dialium divaricatum Vahl (Leg. Caesalp.) Paranary—Parinarium brachystachyum Benth. (Rosaceae ) » —Couepia chrysocalyx Poepp. et Endl. (Rosaceae) Parapará—Cordia tetrandra Aubl. (Borraginaceze ) » —Jacaranda Copaia D. Don. (Bignoniaceze) Paricá—Piptadenia peregrina Benth. (Leg. Mimosea) » —Cassia fastuosa Willd. (Leg. Caesalp.) Paricarana— Mimosa et Acacia div. spec. (Leg. Mimoseze ) 214 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Parurú—Saccogloitis guyanensis Benth. (Humiriaceze) Pente de macaco—Apeiba tibourbou Aubl., glabra Aubl., as- pera Aubl. (Tiliacez) Periquiteira— Cochlospermum orinocense Steud., C. insigne St. Hil. ( Bixacez) “Pichuneira—Coccoloba pichuna Hub. ( Polygonaceze) » -— Eugenia spec. (Myrtaceze) Pindaúba, Pindahyba —Xylopia frutescens Aubl. ( Anonaceze) Pintadinha—Licania spec. (Rosaceae) Piquiá eté—Caryocar villosum ( Aubl.) Pers. (Caryocaracez) Piquiarana—Caryocar glabrum Pers., C. edule Cas. (Caryo- caracez ) Piranheira—Piranhea trifoliolata Baill. (Euphorbiaceze) Pataica—Swarizia acuminata Willd. (Leg. Caesalp.) Pitomba—Simaruba versicolor St. Hil. (Simarubaceas ) » —Talisia cerasina Radlk. (Sapindaceze) » —Talisia esculenta Radlk. (Sapindacez) Pracachy—Pentaclethra filamentosa Benth. (Leg. Mimosec) Purui—Alibertia edulis A. Rich. (Rubiacec) 9 Quarúba — Vochysia paraênsis Hub. nov. spec., V. vismiaefolia Spruce, V. grandis Mart. ( Vochysiacece ) » —Erisma uncinatum Warm. (Vochysiaces ) s Saboeiro—Sapindus saponaria L. (Sapindacez) Sapucayassú—Lecythis amazonum Mart. (Lecythidacece) Sapucaya—Lecythis usitata Miers, L. paraênsis Hub. nov. spec. (Lecythidaceze) Sapupira—Bowdichia virgilioides H. B.K. (Leg. Sophor.) Sapupira da varzea—Diplotropis spec. (Leg. Sophor.) Seringueira branca—Hevea brusiliensis Mull. Arg. ( Euphorb.) Seringa mangue—Hevea guyanensis Aubl. (Euphorb.) Seringa vermelha—H. aff. guyanensis Aubl. (Euphorb.) Seringueira itauba—H. collina Hub.. H. benthamiana Mill. Arg. (?) ( Euphorbiacece ) MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 215 Seringueira barriguda—H. Spruceana Mill. Arg. (Euphor- biacez) Sórva—Couma guyanensis Aubl., C. utilis Mill. Arg. (Apo- cynacez ) Sórva grande—Couma macrocarpa Barb. Rodr. (Apocyna- cezx) Sucupira—Bowdichia virgilioides H. B.K. (Leg. Sophorex) Sucuryúa--Breu sucuriúa Sucuúba—Plumiera sucunba Spruce, PJ. fallax Miill. Arg. ( Apocynacez) Sumaúma—Ceiba pentandra Gaertn. (Bombacez ) Sumaúma da terra firme-—Ceiba Samaiima Mart. (Bomba- ce) E Tacacazeiro—sSterculia speciosa Schum. (Sterculiacez) Tachy—Sclerolobium Goeldianum Hub. (Leg. Caesalp.) » —Tachigalia paniculaia Aubl. et alie spec. (Leg. Caesalp.) Tachy preto-—Triplaris surinamensis Cham. (Polygonacex) Tachy de flôr amarella—Pterocarpus ancylocalyx Benth. (Leg. Dalberg.) Tamacoaré—Caraipa spec. div. (Guttiferae) Tamacoaré grande—Caraipa paraênsis Hub. (Aramã) (Gut- tifera) Tamacoaré miudo—Caraipa minor Hub. ( Aramá) (Guttifera ) Tamanqueira—Fagara rhoifolia Engl. (Rutacea) » — Ocotea guyanensis Aubl. (louro tamanco) Lau- racez) Tamarindo — Tamarindus indica L. (Leg. Caesalp.) Taperebá— Spondias lutea L. ( Anacardiacez) Taquary—Mabea taquary Aubl., M. angustifolia Benth. (Eu- phorbiace=) Taruman frondoso—Vitex orinocensis var. amazonica Hab. ( Verbenaceze ) Taruman tuira—Vitex flavens H.B.K Turuman do matto—Vitex triflora Vahl. Taruman do igapó— Vitex cymosa Bert. 216 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Tatajuba—Bagassa guyanensis Aubl. (Moracez) » —Chlorophora spec. div. (Moracez) Tata piririca—? Tauary—Couratari tauary Mart. et alia spec. (Lecythidacez) » — Tecoma aff. ochracea St. Hil. ( Bignoniacez) Tauarynema—? Tembetarú—Fagara rhoifolia Engl. ( Rutacez) Tinteira—Laguncularia racemosa Gaertn. (Combretaceze) » —Coccoloba excelsa Benth. ( Polygonacez) Trapiá—Crataeva Benthami Eichl. (Capparidaceae) Tucuriba—Couepia paraensis Benth. (Rosacez) Turizeiro—Licania spec. (Rosacez) Tucunaré mereçã— Mouriria grandiflora DC. ( Melastomacez) U Uachua—(vide Achua) Uacima da praia— Hibiscus tiliaceus St. Hil. ( Malvaceze) Uacima do campo-—-Liihea spec. ( Tiliacez) Uajará-—(vide Guajará) Uajurú—(vide Ajurú) Uapuruhy—( vide Apuruhy) Uchy— Saccoglottis Uchi Hub. (Humiriacese) Uchirana— Saccogloitis amazonica Mart. (Humiriaceze) » —Vantanea guyanensis Aubl. (Humiriaceze ) » —Andira retusa Benth. (Leg. Dalberg.) Ucuúba branca—Virola surinamensis (Rol.) Warb. (Myris- ticaceze ) Ucuúba vermelha-—Virola sebifera Aubl. Umary — Poraqueiba sericea Tul. (Icacinacez ) Umiry—Humiria floribunda Mart. ( Humiriacez) Umiry de cheiro—Humiria balsamifera Aubl. * Umirirana— Qualea retusa Spruce ( Vochysiacez) 4 Visgueiro—Parkia pendula Benth. (Leg. Mimoseze) MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS bo ja =] APPENDICE I O futuro da exploração das florestas amazonicas. Necessidade de culturas florestaes E fora de duvida que as mattas virgens constituem, para os Estados do Pará e do Amazonas, a fonte principal de riqueza. Não menos certo é que a sua exploração se acha ainda no principio, sendo limitada a poucas essencias de valor predominante. A industria da borracha, a extracção da castanha e a coiheita do cacão, que aqui se parece muito mais com uma industria extractiva do que com uma indus- tria agricola, são as fontes principaes de receita para os Estados do Parã e do Amazonas. A producção de madeiras, oleos, resinas, etc., é insignificante em relação com o que poderia ser num paiz quasi exclusivamente florestal como este. E' verdade que a exploração methodica d'estas mate- rias primas apresenta, nas condições actuaes, difficuldades quasi insuperaveis, devidas principalmente à composição muito variada da nossa matta virgem. Se as nossas mattas, em logar de conter muitas centenas de especies arbores- centes, das quaes alguma de grande valor, produzissem ape- nas uma ou duas especies, embora de valor mediocre, a sua exploração commercial já ha muito tempo teria tomado um impulso enorme. O que o commercio mundial prefere, não é tanto uma grande variedade de productos, como productos uteis em quantidade abundante. Quantas vezes acontece que da Europa ou dos Estados Unidos pedem uma materia prima e que não estamos capazes de fornecel-a em quantidade suf- ficiente, apezar de sua relativa abundancia nas mattas? Não, serve para nada expôr por assim dizer anno por anno as nossas materias primas nas exposições dentro e fora do paiz, se não podemos corresponder ás encommendas que afluem em consequencia d'estas exposições! Uma vez que um producto não pode ser produzido em quantidade suffi- ciente e a um preço modico, não vale a pena fazer a sua propaganda commercial. 218 MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Qual é agora o meio de remediar a este inconveniente, que mesmo para a nossa industria extractiva mais prospera, a da borracha, ameaça uma crise proxima e muito séria, por causa da activa competencia das plantações methodicas do Oriente? Nenhum outro senão a plantação, embora que isto pareça ridiculo a muitos e inexequivel a quasi todos. Que digam o que quizerem de minha asserção: é preciso que neste paiz de mattas plantemos florestas, mas florestas de essencias determinadas, capazes de dar em espaço redu- zido o que actualmente precisamos procurar em extensões enormes de terreno. Em primeiro logar plantemos florestas de seringueiras (Hevea brasiliensis) porque sabemos que esta é a arvore do ouro da Amazonia, porque conhecemos me- lhor o seu crescimento, a idade de sua producção e as suas exigencias ao clima e ao solo. Felizmente n'este caso espe- cial os poderes competentes já admittem a necessidade de plantações methodicas. Mas ha outras especies que, apezar de não prometter um rendimento tão rapido e tão avultado, serão uma garantia segura para o futuro. Trata-se aqui an- tes de tudo de certas madeiras que, alem de muito empre- gadas e dum uso corrente dentro do paiz, são d'uma cul- tura facil e d'um crescimento rapido, podendo ser plantadas em roças ou capueiras, sem protecção especial. São estas as seguintes : O cedro (diversas especies de Cedrela) é uma arvore de facillima cultura e de crescimento rapido, cuja madeira é uma das mais empregadas na marcenaria, podendo achar ainda outras applicações, se fosse produzida mais em conta, o que com certeza seria o caso se se fizessem plantações methodicas. A marupauba (Simaruba amura) tem egualmente um crescimento rapido e a sua madeira leve poderia facilmente substituir-se ao pinho importado para a confecção de caixas de borracha e outras obras leves. A massaranduba (Mimusops paraensis) pode tambem ser cultivada sem difficuldade. A sua madeira forte e muito resistente à humidade do solo torna-se principalmente apta para obras immersas e dormentes de estrada de ferro. O piquiá (Caryocar villosum), muito estimado na MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 219 construcção naval e para a construcção de carros e carro- ças, é de cultura facil e não precisa de sombra para me- drar. Muito faceis de cultivar e de crescimento rapido são ainda as ucuubas (Virola surinamensis e V. sebifera) e a andirobeira (Carapa guyanensis) que alem da sua madeira fornecem fructos oleosos que poderiam explorar-se em grande escala. Alem destas arvores, cuja cultura, segundo as expe- riencias feitas no Horto botanico do Museu Goeldi, não apre- sentara difficuldades para quem quizer experimental-a. ha outras mais preciosas, como o acapú, pão amarello, pão santo, muirapinima, diversos louros, itauba.jacarandá, jarana. pão rôxo, etc., sobre cuja cultura ainda hão de se fazer estudos mais aprofundados, principalmente quanto à sua cultura em grande escala, que quando bem dirigida, com certeza poderia dar lucros avultados. A matta amazonica encerra tantas riquezas ainda mal conhecidas, que naturalmente não pode-se dizer com certeza absoluta, quaes dos seus elementos no futuro serão os pre- feridos para as culturas florestaes. O que porem me parece certo é que a riqueza das florestas amazonicas será só inteiramente accessivel e bem utilizada uma vez que houver cultura methodica dos seus elementos mais uteis e mais preciosos. À cultura methodica das arvores não só facilitará a exploração futura, como tam- bem ensinará quaes serão os methodos mais convenientes para explorar as mattas virgens sem estragal-as ou empo- brecel-as. Reservas florestaes A exploração desordenada que prevalece actualmente nas mattas particulares e até um certo ponto tambem nas mattas pertencentes ao Estado, deve forçosamente ter por consequencia um empobrecimento em seus elementos mais uteis e mais preciosos. Certas madeiras que são muito pro- curadas, tornar-se-hão raras, desapparecendo finalmente em largos trechos da matta. Assim a matta, mesmo sem ficar directamente estragada, muda pouco a pouco de composição, tornando-se mais vulgar e menos rica em elementos valiosos. tQ tQ Õ MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Esta transformação, menos apparente do que uma destrucção completa, por isso não é menos perigosa. Urge pois cuidar na conservação, em logares de facil accesso, de pedaços de matta virgem typica, ainda não alterada na sua composição ecologica. Digo em logares de facil accesso, porque não de- vemos esperar até que os pedaços de verdadeira matta vir- gem sejam só accessiveis em viagens penosas. Felizmente ainda existem, em diversas partes facilmente accessiveis do Estado, terrenos devolutos que seria facil transformar em reservas florestaes, a exemplo das «forest reserves» dos Es- tados Unidos da America do Norte. Tratar-se-ia de reservar, em quatro ou cinco logares ao Norte e ao Sul do Amazo- nas, areas florestaes sufficientemente extensas para servi- rem de refugio não só para a flora como tambem para a fauna do respectivo districto. As vantagens d'estas reservas florestaes seriam as se- guintes : 1) Ellas poderiam servir de centros de estudo, contri- buindo assim para o conhecimento mais perfeito das mattas amazonicas. Em cada uma d'estas reservas se faria uma col- lecção tão completa quanto possivel de especimens botani- cos que poderiam servir para determinar a sua composição floristica. Separando-se parcellas de area conhecida, proce- der-se-la a estudos exactos sobre o crescimento das arvores, sobre a capacidade de uma superficie em madeira, sobre a frequencia relativa das diversas especies, etc. 2) Ellas poderiam fornecer as sementes para experien- cias de silvicultura a fazer em uma parte de sua area ou em outros logares. 3) Ellas seriam para o futuro uma reserva segura, onde se encontrará a matta em sua constituição primitiva quando ao redor tudo será transformado pela influencia do homem. Para preencher inteiramente os seus fins, as reservas florestaes precisam de um pessoal habilitado que ainda não é possivel achar todo prompto. Entretanto ha o meio de proceder a passos lentos, mas seguros, começando com o que está ao alcance immediato do Governo, e trabalhando sempre em vista do fim que almejamos. Me parece que seria facil crear uma primeira re- MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 221 serva florestal annexa à Estação Experimental de Agricul- tura Pratica Augusto Montenegro. em Peixe Boi. Ali seria apenas necessario circumscrever uma area destinada a este fim e de construir n'esta area uma casa de moradia para o primeiro guarda florestal do Estado, que poderia ser depen- dente da Estação Experimental. Como para ali as communi- cações são faceis, os funccionarios do Museu Goeldi pode- riam efficazmente auxiliar os trabalhos de collecção e de es- tatistica florestal os quaes sem duvida fornecerão resultados interessantissimos e uteis para o Estado. Deixo aqui consignada a ideia, que me parece bem exequivel e cuja realisação sem duvida contribuiria para o bom renome do Governo do Estado do Para perante as na- ções cultas. APPENDICE II Sobre o acapú (Vouacapoua americana Aubl.) No trabalho que precede, fallei com alguns detalhes do acapú e da sua posição systematica, por se tratar não só de uma arvore interessante sob o ponto de vista scienti- fico, mas ao mesmo tempo da nossa madeira mais importante sob o ponto de vista pratico. Tendo-me occupado assim já duas vezes d'esta arvore, folgo poder reproduzir aqui, a ti- tulo de appendice, o trabalho de Baillon do qual acima fallei (p. 178) e que tive a fortuna de achar finalmente no volume IX da « Adansonia » (1868-1870). periodico botanico publicado pelo Prof. Baillon. Como o artigo em questão parece ter escapado inteiramente à attenção dos monographos posteriores, e como só poucos poderão consultal-o no periodico citado, penso que não será inutil de publical-o aqui por ex- tenso : Sur le Vouacapou de la Guyane. « Si Pon ponvait douter de Vétroite affinité des Connaracées et des Légumineuses, il suffirait pour Vadmettre, d'examiner la plante dont Au- blet (Guian. Suppl., 9, t. 373) a fait le type de son genre Vouacapoua. Assez répandu dans nos collections, le V. guianensis s'y trouve partout réuni aux Connaracées, avec les noms de Rourea, de Connarus ou d"Om- ty td ty MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS phalobium. Il fait partie de Vherbier portugais, autrefois rapporté de Lis- bonne par Geoffroy-Saint-Hilaire. M. Mélinon Fa recueilli sur les bords du Maroni, em 1852 (n. 37). M. Spruce (n. 2011) Va également trouvé, la mênie année, sur le Rio Negro, prês de Saint-Gabriel de Cachoeira. On ne Va gutre étudié cependant, le croyant d'aprês son port, son feuil- lage, la taille et la disposition de ses fleurs, construit absolument comme les Connarus, et ne supposant pas qu'on doive rencontrer de telles ana- logies dans un type rélégué, par tous les antenrs modernes, dans le genre Andira de Lamarck. Aublet n'a vu da Vouacapoua que le feuillage et le fruit; et c'est probablement à cause des caractêres qu'il attribue à ce dernier, c'est-à-dire un péricarpe d'abord plus ou moins charnu, et monosperme, que le Voua- capoua a été privé de son autonomie générique pour être assimilé aux Andira. C'est A. L. de Jussieu qui parait avoir le premier (Gen. 363) consacré cette confusion, en se fondant sans doute sur la synonymie don- née par Aublet lui-même. Mais rien ne pronve que " Angelin racemosa de Plumier et VAndira Ibairiba de Maregraf et de Pison soit la même plante que le Vouacapoua americana de Aublet. M. Bentham (Gen., 551) donne le Vouacapoua comme synonyme du Lumbricidia, à Vexemple d'Endlicher (Gen., n. 6726, b), et, d'autre part, il décrit (in Jour. Linn. Soc., IV, Suppl., 119, n. 2) le Lumbricidia legalis de Velloso (FI. flum.. VII, t. 105), sous le nom d' Andira stipulacea; mais je ne vois pas sur quoi Von peut se fonder pour admettre que le Vouacapoua ait les gran- des stipules persistantes des Lumbricidia, leur corolle papilionacée, leur androcée diadelphe, et leur ovule pluriovulé. Aublet n'a pas, en effet, connu la fleur du Vouacapou; il n'a eu à sa disposition que la plante en feuilles et en fruits, quoique, dit-il, il Vait rencontré dans bien des endroits de la Guyane. La figure qu'il donne du fruit est d'une grande exactitude: elle représente un péricarpe piriforme, dont le sommet est surmonté d'une petite saillie conique, et dont la sur face est plus ou moins ruguense. Comme consistance, ce péricarpe finit par devenir tout à fait sec, et il s'ouvre suivant sa longueur, à la maniere d'un follicule. Ce caractêre est três nettement indiqué sur la planche 373 de Pouvrage d'Aublet. La graine unique, que laisse alors échapper le fruit, est ovoi- de, glabre et lisse à sa surface, et renferme, sous des téguments peu épais, un gros embryon charnu. à cotylédons plans-convexes et à radicule supêre. Rien ne parait comparable dans cette organisation à ce qu'on observe dans les fruits du genre Andira, caractérisés ainsi, entre autres auteurs, par MM. Bentham et J. Hooker (Gen., 550): « Legumen drupa- ceum indehiscens, endocarpio lignoso (v. tenui? )». Les fruits des vrais Andira sont en effet des drupes, à noyau plus ou moins épais et ligneux et constamment indéhiscent, si [on s'en rapporte aux descriptions de tous les botanistes. Il est probable que si Von ue connait pas jusqu'ici Vorganisation réelle des fleurs du Vouacapou, c'est que les échantillons qui font partie de nos herbiers se trouvent toujous rangés, comme nous Vavons dit, parmi les Connaracées. Les flenrs du Vouacapou, outre leurs petites dimensions, ont en effet la forme régulitre de celles des Connarus et des Rourea, Ro re. MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 223 et elles ont aussi tout à fait leur aspect extérieur, le même duvet court et de couleur de rouille, qu'on observe sur leur pédicelte. Mais Panalyse nous montre des ditférences notables entre la constitution de ces fleurs et celles des Connaracées. Ces différences sont relatives d'abord à Pinsertion du périanthe et des étamines; insertion qui tient, ici comme toujours, à la forme particulitre du réceptacle. Dans les Connaracées, le receptacle floral est souvent convexe, en forme de cône surbaissé, ou de tête à peu prês plane en dessus; il est rare que cette tête se change en une cupule large et três peu profonde; de sorte que VPinsertion de Pandrocée et du périanthe est le plus souvent hypogynique, mais qu'elle peut devenir lé- gerement périgynique. Mais dans le Vouwacapoua, le réceptacle devient tellement profond, au contraire, que la périgynie y est aussi accentué que dans la plupart des Légumineuss et que le gynécée, inséré au fond de la poche réceptaculaire, s'y trouve complêtement enfoui; il n'y a que le sommet du style qui ordinairement dépasse un peu la base du calice et de la corolle. Quant à la forme de cette poche réceptaculaire, elle est à peu prês celle d'un cône renversé, et toute sa face intérieure est tapissée d'un disque dont le bord s'épaissit un peu et se partage en dix crénélu- res peu prononcées au niveau du pied des étamines. C'est aussi à ce ni- veau que s'insêrent les pieces du périanthe qui sont toutes libres entre elles. Ce sont cinq sépales, égaux entre eux, disposés dans le bouton en préfloraison imbriquée, souvent quinconciale, et cinq pétales, un peu plus longs que les sépales, un peu atténués en spathule à leur base, im- briqués dans le bouton et formant en somme une corolle parfaitement régulitre. Les étamines sont disposées sur deux verticilles pentamêres et superposées, cinq aux sépales, et cinq aux pétales; chacune delles est tormée d'un filet libre, dilaté à sa base, atténué en pointe à son sommet, et d'une anthêre biloculaire, introrse, dont les deux loges s'écartent plus ou moins [une de Vautre dans leur portion inférieure, et s'ouvrent cha- cune par une fente longitudinale. Le gynécée, libre, inséré tout au fond du réceptacle, se compose d'un ovaire uniloculaire, uniovulé, atténué su- péricurement en un style grêle et légêrement arqué vers son sommet. Celui-ci s'incline plus ou moins du côté du placenta et présente une dé- pression plus on moins profonde, une sorte de petit puits, dont Pouver- ture circulaire est garnie d'une collerette de papilles en forme de cils. Le fruit est exactement tel que Pa décrit et représenté Aublet, avec Pextré- mité inférieure parfois un peu plus longuement atténueée, Nous savons encore, par la description d'Aublet, que le Vowacapow est un grand arbre, três rameux à sa partie supérieure, à branches dres- sées, puis déclinées, chargées de feuilles alternes, composées-imparipinnées. Les folioles sont ovales, allongées, aigiies ou plus ou moins acuminées, à base arrondie et à pétiolule court et peu épais. Les fleurs sont três nom- breuses, formant, au bout de certains rameaux, ce qu'on appelle des pa- nicules, c'est-à-dire ici des grappes fort ramifiées de grappes plus petites, elles-mêmes formées de petites cymes. Tous ces caracttres nous étant maintenant connus, nous pouvons donner une description complete de la plante qu'Aublet n'a qu'imparfaitement décrite. ty ty + MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS Vouacapoua americana (T. IV. (*) (Aubl., Guian.,-Suppl., O, t:.979. (exell sym:* Pluma Marcgr., Pis.?) —Andirae spec. Lamk., Dict., 1, 17 et Auctt. pler. (nec L.). Arbor pulchra; trunco (60-pedali, ex Aubl.) ad summi- tatem ramosissimo; ramis erectis et declinatis, undique sparsis ; ramulis foliosis (ex codem); innovationibus inflorescentiisque junioribns tomento brevi ferrugineo indutis. Folia alterna, impa- ripinnata; foliolis lateralibus 2-4-jugis oppositis breviter (4-10 mill.) petiolulatis, ovato v. oblongo-acutis (ad 15 cent. longis, 4 cent. latis), apice acuminatis, basi rotundatis; integerrimis membranaceis v. subcoriaceis glabris, supra lucidis laevibus, sub- tus paulo pallidioribus, penninerviis venosis; petiolo basi incras- sato intus inter foliola 2 inferiora v. infra glandulifero; stipu- lis aut O, aut minimis caducissimis (et inde haud visis). Flores parvuli crebri in paniculam scilicet racemum valde ramosum compositum, terminalem dispositi. Receptaculum floris valde concavum hemisphaerico-turbinatum obconicumve, iutus disco tenui superne leviter incrassato, obscure 10-crenato vestitum, extus cum calyce dense ferrugineo-velutinum. Sepala 5, aequa- lia, imbricata. Petala 5, aequalia, cum calyce et androcaeo in- serta, valde perigyna, sepalis paulo longiora, basi angustata subspathulata, apice obtusata, parce pubescentia, imbricata. Stamina 10, quorum 5 oppositipetala breviora; filamentis libe- ris, basi dilatatis, ad apicem subulatis; antherae introrsae subsa- gittatae loculis 2 pendulis, basi remotiusculis, linearibus, longi- tudinaliter dehiscentibus ; connectivo dorso subglanduloso fuscato loculis iongitudine aequali. Germen centrale imo receptaculo insertam liberum minutum breviter stipitatum; apice in stylum brevem leviter incurvum v. subrectum breviter tubulosum at- tenuato; stigmate circa ostium tubuli ciliolato. Ovulum 1, ana- tropum descendens; micropyle extrorsum supera. Fructus inae- quali-obovatus (7 cent. long., 3 cent. lat.), basi longe attenua- tus, ad apicem plus minus rotundatus ; summo apice conoideo plus minus prominulo: pericarpio crasso, demum sicco, extus verrucoso, longitudine sulcato, folliculatim dehiscente. Semen inaequali-ovatum; testa extus glaberrima; embryonis valde car- nosi exalbuminosi radicula supera. — Crescit in Brasilia boreali, verisimiliter in ditione paraensi, unde in Herb. ulyssip., nunc paris., olim allatum. In regione eadem legit, anno 1852, cl. Spruce, ad S. Gabriel de Cachoeira, prope Rio Negro (exs., n. (*) A estampa IV de Baillon representa um galho florido e um fructo. E' esta a figura reproduzida por Câminhoa. (1. EH): MATTAS E MADEIRAS AMAZONICAS 225 2011). Oritur in Guiana gallica, ubi legerunt olim Aublet (Herb. Juss. et nuper cl. Mélinon (exs. 1852, n. 37) sec. fl. Maroni (in herb. Expos. colon. gallic. ) Si nous voulons actuellement, à Paide de ces caracttres, déterminer les affinités naturelles du Vouacopou, il est d'abord facile de voir que les Papilionacées vraies n'ont aucun rapport avec um type à corolle complê- tement régulitre, comme celui qui nous occupe, et qu'il n'y a pas non plus de ressemblance entre les étamines parfaitement libres de ce dernier et Pandrocée diadelphe des Dalbergiées. D'ailleurs la préfloraison de la corolle n'est pas vexillaire; le Vouacapoua appartient par conséquent au groupe des Caesalpiniées. Parmi celles-ci, le Vouacapoua est comparable aux Sclérolobiées dont les feuilles sont simplement imparipinnées. Puis, parmi les Sclérolobiées, il y a un genre, récemment décrit par M. Ben- tham et nommé Batesia par M. Spruce. et dont Panalogie avec le Vouwa- capoua est si grande, que peut-être même un jour viendra oú le Batesia ne formera plus qu'une section du genre Vouacapoua. Les différences entre les deux types sont en effet minimes. Les feuilles, Vinflorescence, le périanthe, Pandrocée sont identiques dans les deux genres. Mais le Bate- sia erythrosperma a sous Povaire un petit renflement, analogue à un dis- que, qui entoure obliquement le sommet dn support ovarien; les ovules sont au nombre de deux au moins, et le fruit renferme au moins deux petites graines. comme celui qu'a représenté M. Bentham dans la planche 37 du XXV ême volume des Transactions de la Société Linnéenne de Lon- dres. Mais ces caractêres différenciels ne sont pas en général considérés comme suffisants pour placer dans des genres distincts deux plantes de la famille des Légumineuses, et peut-être, un jour le Batesia pourra prendre le nom de Vouacapoua erythrosperma. Le genre d'Aublet serait alors for- mé de deux espêces et pourrait être subdivisé en deux sections. Le bois du Vouwacapow est un des meilleurs de ceux de la Guyane, pour les constructions, Pébénisterie, les usages domestiques et industriels. Son aubier est peu épais, d'un jaune plus ou moins pále; et son coeur, dur et solide, présente une teinte brune-rougeátre, noircissant ultérieure- ment. Tl est parsemé de petites taches páles, souvent blanchátres, qui, sur la coupe trausversale, sont disposées en cercles concentriques três nom- breux. Ces taches deviennent allongées sur la coupe longitudinale; elles peuvent former des dessins en « épis de blé ». Sur les coupes obliques à Paxe, elles représentent des marbrures hachées, simulant les moucheturs des ailes de certains gallinacés; d'oú les noms de Bois d'épis de blé et de Partridge-wood, qua Paris et à Londres, le Vouacapou partage avec quelques autres bois de commerce. » x JR e P. S. Depois de muitos esforços infructiferos, consegui emfim, em principio de Março d'este anno (1910) obter exemplares floridos de acapú, cujo estudo, como era de pre- vér, confirmou inteiramente as observações de Baillon que acabamos de reproduzir. à Eid 226 DISTRIBUIÇÃO DA AVIFAUNA CAMPESTRE NA AMAZONIA SOBRE A DISTRIBUIÇAO da Avifauna campestre na Amazonia por E. SNETHLAGE. À avifauna riquissima dos campos amazonicos sempre impressionou profundamente tanto os habitantes do paiz como os estrangeiros e antes de tudo os naturalistas indigenas e viajantes. Wallace, H. Smith, E. A. Goeldi, G. Hagmann descreveram em palavras enthusiasticas as maravilhas da natureza que elles achavam nas ilhas de Mexiana e Marajó ou nos campos extensos das beiras do baixo Rio Maecurú, de Monte Alegre, ctc., extasiando-se especialmente antes desses bandos enormes de passaros vistosos e exquisitos, grandes e pequenos. cobrindo as campinas verdejantes ou as margens dos rios e dos pantanos campestres. Quem tem occasião de percorrer as mattas virgens da terra firme observa logo a differença fundamental na com- posição da fauna das duas regiões, tanto mais pronunciada quando se trata de formas medias e pequenas. No interior das mattas vastas, que cobrem tão extensa parte da Ama- zonia, faltam completamente os passaros caracteristicos dos campos: os sahy-assús (Tanagra), as pipiras (Rhamphocoe- lus), as lavandeiras (Taenioptera, Fluvicola, Arundinicola ), os bemtevis, maria-é-dia, ferreirinhos da familia Tyrannidea, os pedreiros (Furnarius), as differentes especies de Icteridae e Fringillida (rouxinol do campo, corrupião, papa-arroz, ser- ra-serra, cigarra, biccudo, gallo da campina, etc.). em fim, todas as formas mais familiares ao morador do campo. Ao contrario o sousbois do matto é o domicilio da maior parte das especies de Dendrocolaptide e Formicariida, das Pipri- dae e de certas Tyrannide pequenas. Para o naturalista occupado de estudos zoogeographi- cos destaca-se outro facto bastante singular à primeira vista: quasi todas as nossas aves campestres pertencem a especies de vasta distribuição, seja na Amazonia propria, seja em todo o Brazil ou nos paizes visinhos (Guiana, Venezuela, Colombia, Perú, Bolivia, até na Argentina), embora os diffe- DISTRIBUIÇÃO DA AVIFAUNA CAMPESTRE NA AMAZONIA 29) rentes campos e campinas sejam separados uns dos outros por distretos exclusivamente silvaticos, geralmente muito mais extensos que os campos mesmos. Do outro lado as es- pecies do interior da matta amazonica, tão vasta e continua, são muitas vezes restrictas a áreas relativamente pequenas, situadas em margens oppostas do Rio Mar e até dos seus tributarios. Qual é a causa d'este facto surprehendente, que parece ser em discrepancia com a observação tantas vezes verificada, que 'as regiões isoladas costumam ter uma fauna especialisada e restricta só a elles? Queria dar aqui uma explicação que se me offereceu pouco a pouco durante as minhas viagens em diversas partes da Amazonia oriental, tanto silvaticas como campestres. A situação dos campos ao norte da Amazonia oriental vê-se bem no excellente mappa publicado ha poucos annos pelo Sr. LeCointe. (*) Uma serie de campos pequenos orla a costa da (Guyana brazileira até Macapá. Junta-se a ella a região campestre das ilhas de Cavianna, Mexiana e da parte oriental de Marajó. Outra serie segue a margem esquerda do Amazonas de Prainha até Faro. Existem mais alguns campos maiores entre os rios Curua (do norte) e Erepecurú, afiluente do Trombetas, asssm como nas cabeceiras d'estes tres rios e nas do Perú e Jary. Muito mais restricta ainda mostra-se a zona campestre ao sul do Rio Mar. Alem dos campos geraes entre os cursos superiores dos rios Tocan- tins, Xingú e Tapajoz, só conheço n'esta região tres districtos campestres de alguma importancia: o de Bragança-Quatipurú no este, o de Santarem (bocca do Tapajoz) e o de Villa Franca. Outras campinas insignificantes e pouco numerosas acham-se espargidas nas margens do medio Tocantins, do Xingú e do Tapajoz, oceupando as maiores d'ellas apenas uma legua quadrada de superficie e desapparecendo comple- tamente na vasta infinidade da matta virgem. (*E) (*) Carte en couleur du cours de "Amazone (depuis océan jus- qu'á Manaos) et de la Guyane brésilienne par Paul LeCointe. Paris. 1900. (**) O interessante mappa do Sr. v. lhering (Rev. do Mus. Paul. Vol. VII, Est. 1) mostra estas campinas grandes demais e não bastante perto dos rios. 228 DISTRIBUIÇÃO DA AVIFAUNA CAMPESTRE NA AMAZONIA Explorei os campos de Marajó em dezembro de 1905, os de Monte Alegre em fevereiro de 1906, de Bragança- Quatipurú em junho de 1908, de Ereré e do baixo rio Maecurú em julho e agosto de 1908. Alem d'isto visitei dif- ferentes das campinas acima mencionadas na margem do Tocantins ( Arumatheua) e do Xingú (Victoria). Em todos estes logares achei uma avifauna muito semelhante, caracte- risada, alem dos grandes passaros aquaticos e palustres das ordens Herodiones (garças, etc.) e Chenomorpha (patos, unicorne, etc.), por distinctas especies de Passeres, Picifor- mes, Coccyges. Para mostrar a vasta distribuição d'estas es- pecies vou enumerar algumas das mais communs ou mais interessantes: Nomes Patria Brazil. Guyana, Brazil. Mimus saturninus (Licht.) Anthus lutescens (Puch.) (Perusinho dos campos) Geothlypis aequinoctialis (Gm.) Brazil e paizes vizinhos do N. e O. Dacnis speciosa ( Wied) Brazil. Tanagra episcopus (L.) Amazonia oriental, Guyana, (Sahy-assú azul) Colombia. Tanagra palmarum (Wied.) (Sahy-assú pardo) Rhamphocoelus carbo (Pall.) (Pipira) Pyranga saira (Spix) Nemosia pileata (Bodd.) (Filho do Sahy) Saltator mutus (Licht.) Sporophila minuta (L.) (Curió pequeno) Sporophila bouvreuil ( Mill.) » americana (Gm.) (Biccudo) Sycalis flaveola (L.) (Canario)) Sul do Brazil até Panamá. Brazil e paizes vizinhos do Norte. Sul do Brazil, Amazonia. E. da America do Sul até Paraguay. Amazonia inteira. Amazonia até Panamá. S. do Brazil, Amazonia. Amazonia, Guyana. S. do Brazil, Guyana. DISTRIBUIÇÃO DA AVIFAUNA CAMPESTRE NÁ AMAZONIA 220 Nomes Brachyspiza capensis (Miill.) (Tico-tico ) Paroaria gularis (L.) (Gallo da campina) Amblycercus solitarius ( Vieill) (Irauna) Molothrus atronitens ( Cab.) (Papa-arroz) Agelaeus icterocephalus (I..) Leistes guianensis (L.) (Rouxinol do campo) Gymnomyslax mexicanus (L.) (Corrupião) Taenioptera velata (Licht.) (Lavandeira grande) Fluvicola albiventris (Spix) '“(Lavandeira da Nossa Senhora) Arundinicola leucocephala (L.) (Lavandeira da Nossa Senhora) Pyrocephalus rubineus (Bedd.) Muscivora tyrannus (L.) (Tesoura ) Tyrannus melancholicus (Vieill.) (Bemtevi) Pitangus sulphuratus (L.) (Pitaua grande) Piangus lictor (Licht.) (Pitauá pequeno) Myiarchus ferox (Gm. ) Todirostrum cinereum (L.) » maculatum (Desm.) (Ferreirinho ) Capsiempis flaveola (Licht.) Elaenia flavogaster (Thunb.) (Maria-é-dia ) Patria Patagonia até Amazonia. Paraguay até Amazonia. Argentina até Amazonia. Amazonia, zuela. Amazonia e paizes vizinhos do N. Idem. Guyana, Vene- Amazonia, Guyana. Brazil, Bolivia. Argentina até Amazonia. Argentina até Colombia. Argentina até Venezuela. Argentina até Panamá. Argentina até America cen- tral. Brazil, Guyana. Brazil até Panamá. Argentina até Venezuela. Brazil até Mexico. Amazonia, Guyana. S. do Brazil até Veragua. Brazil até Mexico. Phaeomyias incomta (Cab. et Heine) Brazil até Colombia. Ornithiom pusillum (Cab. et Heine) Brazil até Panamá. 230 DISTRIBUIÇÃO DA AVIFAUNA CAMPESTRE NA AMAZONIA Nomes Pachyrhamphbus miger (Spix) Anila thamnophiloides (Spix) Casiornis rufa ( Vieill.) Gymnoderus foetidus (L.) (Pombo-anambé ) Furnarius minor ( Pelz.) ( Pedreiro ) Synallaxis cinnamomea (Gm.) Dendroplex picus (Gm.) (Arapaçú) Picolaptes bivittatus ( Licht.) Formicivora grisea (Bodd.) » rufa (Wied) Guira guira (Gm.) (Quiriru ) Bucco maculatus (Gm.) Colaptes campestris ( Vieill.) Patria Amazonia e paizes vizinhos do N. Amazonia, Guyana. Argentina até Amazonia. Amazonia, Guyana, Equador. Amazonia inteira. Paraguay até Colombia. Brazil, Bolivia. S. do Brazil. Amazonia. Brazil, Guyana. Brazil, Bolivia, Perú. Paraguay até Brazil. S. do Brazil. Amazonia. Argentina até Brazil. Leuconerpes candidus ( Otto) » » Campopbilus melanoleucus (Gm.) Brazil, Guyana, Perú. Ceophloeus lineatus (L.) Brazil até Costa Rica. Compare-se com esta lista, na qual só inclui passaros colleccionados por mim e representados nas collecções do Museu, a distribuição restricta dos generos silvaticos Euscarth- mus, Pipra, Thamnophilus, Dysithamnus, Thamnomanes, Myr- motherula, Anoplops, Phlogopsis, Dendrornis, etc., etc., repre- sentados nas margens oppostas do Amazonas, ao menos por duas, geralmente por mais especies diferentes. O conhecedor da avifauna amazonica vae observar, que no numero das especies acima mencionadas como habitantes dos campos, acham-se muitos dos passaros mais communs não só n'estes mas em toda a parte habitada do paiz, taes os sahy-assus pardo e azul (Tanagra palmarum, T. epis- copus) o gallo de campina ( Paroaria gularis), o bemtevi (Tyrannus melancholicus), a pipira (Rhamphocoelus carbo), o pitauá grande (Pitangus sulphuratus) e pequeno (P. lictor), o ferreirinho ( Todirostrum maculatum), a Maria-é-dia, tam- DISTRIBUIÇÃO DA AVIFAUNA CAMPESTRE NA AMAZONIA 251 bem chamado Bemtevi miudo (Elaenia flavogaster), a Phaeo- myias incomia, especie pequena da familia Tyrannidae, muito commum em jardins, quintaes, nas arvores das avenidas, etc. A observação do habitat e da vida d'estes ultimos me deu a primeira noção. onde se deve procurar a chave do pro- blema offerto pela vasta distribuição das especies campestres em districtos afastados uns dos outros e à primeira vista bem isolados. Achei que elles preferem logares abertos e cheios de luz, as roças. clareiras. jardins, estradas, os bar- rancos e praias dos rios e as ilhas cobertas de vegetação es- parsa que enchem o curso do Amazonas e dos seus tributarios, mas nunca encontrei-os no interior das mattas virgens. Sendo as roças, clareiras e estradas formadas recentemente e sob a influencia do homem, e tendo por isso para nosso fm um interesse secundario, vamos occupar-nos aqui só dos cursos dos rios e da sua importancia para a distribuição dos pas- saros campestres. Já nas minhas primeiras viagens nos rios Tapajoz e Tocantins eu tinha notado a differença singular entre a avi- fauna da matta virgem e a das praias e das ilhas baixas. Tambem me surprehendeu a semelhança desta ultima com a das clareiras, roças e campos. Uma vez minha attenção chamada sobre este ponto, eu podia em viagens seguintes verificar a presença regular de muitos dos passaros mais caracteristicos para os campos ao longo de todos os rios de alguma importancia. mesmo onde elles atravessam uma re- gião- exclusivamente silvestre. Encontrei por exemplo nas beiras e ilhas do medio Tapajoz, na região das primeiras cachoeiras, onde não tem campo nem campina, alem das especies communs acima mencionadas. Dacnis speciosa, Capsiempis flaveola, Attila tham- nophiloides, Dendroplex picus. No rio Tocantins colleccionei, nas ilhas e beiras de Alcobaça até Arumatheua (não falo da campina de Aruma- theua que se acha a uma distancia de mais ou menos uma legua da beira, no interior da matta virgem ) Dacnis speciosa, Nemosia pileata, Saliator mutus, Gymnomystax mexicanus, Spo- rophila minuta e Sp. americana, Capsiempis flaveola, Dendro- 232 DISTRIBUIÇÃO DA AVIFAUNA CAMPESTRE NA AMAZONIA plex picus, Formicivora grisea—todas especies caracteristicas dos campos de Marajó e Monte Alegre. Especialmente instructiva tornou-se a este respeito uma excursão ao Rio Xingú e ao seu affluente Iriri-Curuá. Nos pequenos campos naturaes que accompanham a margem es- querda do igarapé de Victoria encontrei uma avifauna sin- gularmente concordante com a dos campos do Norte. Alem dos sahy-assus, pipiras, tangaras. bemtevis communs cito Geothlypis aequinoctialis, Sporophila bouvreuil, Leistes guianen- sis, Pyrocephalus rubineus. Acima de Victoria não tem mais campo grande ou pequeno até as cabeceiras do Xingú. Os rios Iriri e Curuá, nos quaes continuei a minha viagem, per- correm uma matta não interrompida; mas o «thalweg » mesmo, com as suas praias extensas, as numerosas ilhas, cobertas de uma especie de catinga, fornece um habitat ido- neo para as aves campestres. Até ao ultimo ponto da minha viagem no alto Rio Curuá achei, durante os poucos dias que me foi possivel colleccionar: Leistes guianensis, Pyrocephalus rubineus, Fluvicola albiventris, Taenioptera cinerea, Milvulus tyrannus, differentes especies de Sporophila, Furnarius pileatus e outros. Repito que todos estes grandes tributarios do Sul têm, nas regiões visitadas por mim, as beiras cobertas de uma matta continua, que se extende por centenas de kilometros para o norte e para o sul, sem ser interrompida por com- plexos campestres de alguma importancia. Não é aliás preciso ir tão longe para convencer-se das relações existentes entre os campos e os rios. Já muito perto do Pará, na região costeira a oeste de Bragança temos, n'uma escala menor, condições analogas. Os campos de Bra- gança continuam-se até as margens do rio Quatipurú inclu- sive, e são habitados por uma avifauna campestre typica, a poucas excepções identica com a de Marajó. A oeste de Quati-purú extende-se a zona silvatica, não interrompida por campos verdadeiros, mas só para os cursos, relativamente largos, se não compridos dos rios e riosinhos costeiros, do Maracanã, Marapanim, Salgado, para só mencionar os mais importantes. Parece, como vi mesmo em Peixe-Boi e como foi confirmado por collecções chegadas ao Museu de diver- DISTRIBUIÇÃO DA AVIFAUNA CAMPESTRE NA AMAZONIA 233 sos pontos da Estrada de Ferro de Bragança, que cada um d'estes cursos d'agua mostra a mesma sociedade de passaros campestres como a região de Bragança, ao menos nas par- tes alargadas do seu leito, invadindo ella de lá as roças e plantações feitas pelo homem, mas faltando completamente nas mattas interfluviaes. Embora eu ainda não tivesse occa- são de verifical-o pessoalmente, não duvido que as vias de communicação d'esta ornis fluvio-campestre vão achar-se ao longo da costa mesma, que nos pontos de importancia biolo- gica assemelha-se aos campos e aos rios. Estabelecido o facto que as « thalwegs» dos rios offere- cem as condições de vida necessarias aos passaros campes- tres, não parece mais difficil a explicar a presença de for- mas até agora só conhecidas dos sertões e campos do sul do Brazil nos grandes campos ao norte do Amazonas. A exis- tencia de Pyranga saira, Casiornis rufa, Picolaptes bivitiatus, Formicivora rufa, do famoso «pica-pão do chão», Colaptes campestris, de Lewconerpes candidus nos campos do baixo Maecuru, de Erere, Monte Alegre ou Marajó cessa de sur- prehender-nos, nem nos deixam admirados os bandos enor- mes de Leistes guianensis (rouxinol do campo), forma consi- derada até agora como guianense, nas campinas e roças sa volta do Xingú e nas beiras do Rio Iriri. Concluimos: a immigração dos passaros campestres nas regiões silvaticas segue o curso dos rios e d'alli extende-se para os campos, que sempre são ou foram em communica- ção com um ou outro fio d'agua. Explica-se assim a vasta distribuição da maioria d'estas especies. Para muitos passa- ros os valles dos rios equivalem a campos, de maneira que o terreno occupado por elles apresenta-se na forma de uma rede gigantesca, cuja trama delgada, formada pelos ros e estradas, alarga-se aqui e acolá nas areas mais ou menos extensas dos campos, roças e clareiras. A distribuição da avifauna amazonica tendo dirigido a minha attenção sobre as relações existentes entre os rios e os campos, estudei a litteratura disponivel relativa a este assumpto e achei no « Compte rendu du Congrês internatio- nal de botanique », Paris, 1900, o seguinte : « Mais ce qui caractérise, avant tout Vorigine fluviatile 234 DISTRIBUIÇÃO DA AVIFAUNA CAMPESTRE NA AMAZONIA « des campos du bas Amazone, c'est incontestablement leur « flore, qui, du moins dans ceux de formation relativement « récente, comme les bas campos de Monte Alegre e de « Marajó. est essentiellement fluvio-littorale e montre sinon « une identité complête, au moins une três grande analogie «avec la flore que Ion rencontre. le long des rivages de « VAmazone. » Tiro esta citação de uma conferencia feita pelo Dr. J. Huber, director do nosso Museu, no congresso mencionado: « Sur les campos de I Amazone inférieur et son origine.» E' facil de ver, que o eminente conhecedor da flora ama- zonica, que desde muito occupou-se de estudos phytogeogra- phicos, chegou para a flora dos rios e dos campos ás mes- mas conclusões como eu para o ornis d'elles. Do outro lado me é uma satisfação especial que as observações communi- cadas n'estas linhas contribuem do lado zoologico a confir- mar as vistas sobre a origem dos campos amazonicos, às quaes o Dr. Huber foi conduzido pelos seus estudos botanicos já dez annos antes. Sem a supposição que os campos baixos da Amazonia representam antigos braços de rios ou lagos communicantes com elles, nas quaes penetravam depois da sua desseccação parcial ou inteira os passaros photophilos das beiras, o problema da sua colonisação pelo mundo alado apresenta difficuldades quasi insurmontaveis. Como deve-se explicar a multidão enorme dos passaros da mesma especie, que nunca se encontram no maito, em campos separados uns dos outros por centenas de leguas de matta virgem? Me parece que tambem para quem nunca visitou os campos em questão e observou as evidencias fornecidas pelas cun- dições topographicas e hydrographicas, a identidade da avi- fauna de campos muito afastados uns dos outros com a dos rios da mesma região deve constituir um argumento muito em favor da origem fluvial dos campos amazonicos. A interpretação aqui proposta da rêde fluvial do Ama- zonas e de seus tributarios ainia nos dá a chave para o outro problema ornithologico acima mencionado, a variabili- dade pronunciada dos passaros proprios ao interior da matta virgem. (Os mesmos rios largos e luminosos que servem de vias de communicação aos passaros campestres, photophilos, s DISTRIBUIÇÃO DA AVIFAUNA CAMPESTRE NA AMAZONIA 235 ajudam a separar as especies silvestres, geralmente tenras e costumadas à semi-obscuridade do sousbois. Sei bem, que muitos outros pontos devem ser tomados em consideração para elucidar completamente a questão dif- ficil da distribuição das aves amazonicas. Ha entre elles voadores bons e mediocres, passaros muito dependentes de certos alimentos. passaros riparios, do chão. das cimas das arvores, etc. Quasi cada especie dos dois grandes grupos de passaros campestres (photophilos) e silvestres (amigos da sombra) mostra propriedades peculiares a ella, que influem consideravelmente sobre a sua distribuição tanto no campo como na matta. O fim d'estas linhas preliminares só pode ser de chamar a attenção a factos bivlogicos de grande im- portancia para a Amazunia e talvez até agora não bastante considerados pelos ornithologos estrangeiros. 236 À COUVADE A Couvade pelo Dr. R. R. SCHULLER Estimulado pelo erudito estudo, que o senhor Paul Hermant acerca do mesmo assumpto publicou no « Boletim da Real Sociedade Geographica de Belgica », eu sentia a von- tade de fazer um cotejo conciso das opiniões e das theorias formuladas pelos homens mais competentes sobre a provavel significação d'este costume bizarro; e creia necessario am- pliar as noticias a respeito d'esta pratica, provenientes da Sul-America, e em particular do Brasil, pois são estas as que em primeiro logar, para nós mais interesse têm, e no segundo logar para a sciencia em geral; porque, justamente a America Meridional e especialmente o Brazil offerecem os casos da couvade mais typicos e menos conhecidos. Não era, portanto, um espirito tençoeiro, que me guiava ao redigir estas linhas, senão o vivo desejo de contribuir, dentro de minha modesta esphera de trabalho e com os es- casos materiaes, que aqui no Pará estão ao meu alcance, para o melhor julgamento d'este phenomeno psychico.. Cumpre-me tambem deixar aqui constar o meu agra- decimento ao Sr. Dr. Jacques Huber, Director do Museu Goeldi, pela benevola acolhida e a hospedagem, que me brinda nas columnas d'esta importante evista scientifica. * * * O costume da couvade que consiste em que, ao nascer uma criança, o pãe d'ella se deita, e não a recem parida, simu- lando o homem as dóres do parto e recebendo os mimos e as attenções que, como é logico, corresponderiam áquella, apparece desde a antiguidade sob a forma mais ou menos completa entre varios povos primitivos do velho mundo. O historiador Diodoro (1) da Sicilia refere que o pra- ticavam algumas tribus da ilha de Corsega. (1) O. Peschel, « Volkerkunde». 7. Aufl., p. 26. Leipzig, 1897. A COUVADE ty Qo hn | Strabo (1) o menciona entre os Bascos da Iberia, cu- jos descendentes conservam até hoje a palavra couvade — «faire la couvade», dizem geralmente na França meridional (2)— com que se designa este phenomeno extranha e dia- metralmente opposto a nosso modo de pensar e de sentir. E, segundo Marco Polo (3), o observavam tambem «as gentes com os dentes de oro» da Asia. Mas em poucas partes do mundo este costume se ma- nifesta d'uma maneira tão caracteristica como entre os abo- rigenes americanos; e, sobre tudo, entre os indios do Brazil. Uma das descripções mais exactas e mais detalhadas d'esta pratica é a do autor (4) do «Tratado Descriptivo do Brazil», no capitulo CLIV, «que trata da criação que os Tu- pinambás dão aos filhos e o que fazem quando lhe nascem ». Ouçamos. «Quando estas indias entram em dores de parir. não buscam parteiras, não se guardam do ar, nem fazem outras ceremonias, parem pelos campos e em qualquer outra parte como uma alimaria; e em acabando de parir, se vão ao rio ou: fonte, onde se lavam, e as crianças que parirem: e vêm-se para casa, onde o marido se deita logo na rede, onde está muito coberto, até que sécca o ombigo da criança; em o qual logar visitam seus parentes e amigos, e lhe trazem presentes de comer e beber, e a mulher lhe faz muitos mi- mos, em quanto o marido está assim parido, o qual está muito empanado para que lhe não dé o ar; e dizem que se lhe der o ar que fará muito nojo à criança, e que se (1) Geographia, lib. II, cap. 4. Tauchn. ed. I., p. 265.—Peschel, 1. e, (2) Sir John Lubbock, «Les Origines de la Civilisation», p. 14— Paris, 1881. (3) Marco Polo, lib. II,-cap. XLI ou cap. CXIX. —Peschel 1. e. Entre os romanos «ladoption jouait ainsi un róle important et s'ac- complissait par Je symbole d'un accouchement simulé, sans lequel Padoption n'était pas complête>. Lubbock, ob. cit., p. 87.— Wilnutzky, s Vorgeschichte des Rechts», t. II, p. 22. (4) Gabriel Soarez de Souza, «Tratado Descriptivo do Brazil em nsSg obrasides: , Senhor de engenho da Bahia, n'ella residente dezesete annos, seu vereador da Camara », etc. Edição castigada, etc., por Fr. A. de Varnhagen. —Rio de Janeiro, Typ. Universal de Laemmert, Rua dos Invalidos, 61 B.—1857.—A II. edição sahiu na mesma cidade em 1879. — « Rev, Trim.>, t. XIV. 238 A COUVADE se erguerem ce forem ao trabalho, que lhe morerão os filhos, e elles que serão doentes de barriga: e não ha quem lhes tire da cabeça que da parte da mãe não ha perigo, senão da sua; porque o filho lhe sahiu dos lombos, e que ellas não põem da sua parte mais que terem guardada a semente no ventre onde se cria a criança ». As prescripções são mais rigorosas ainda. O homem,— e em certos casos ambos: homem e mulher, —estã sujeito à abstinencia. Fernão Cardim (1). fallando da «Criação dos filhos», conta que «as mulheres parindo, e parem no xão, não le- vantam a criança, mas levanta-a o pae (2). ou alguma pes- soa que tomam por seo compadre (3) e na amizade ficam como os compadres entre os cristãos: o pae lhe corta a vide com os dentes, ou com duas pedras, dando com uma na outra: e logo se põe a jejuar até lhe cae o ombigo (4), que de ordinario vae até os oito dias, e até que lhe não caia não deixa o jejum, e em lhe caindo. se é maxo lhe faz um arco com frexas (5), e lhe o ata no punho da réêde, e no outro punho muitos mólhos de ervas, que são os con- trarios. que seo filho ha de matar e comer, e acabadas estas ceremonias fazem vinhos com que se alegram todos». O indio caraibe (6) desempenha o seu papel de mu- (1) «Do Principio e Origem dos indios do Brazil e de seus costu- mes, adoração e ceremonias».—Rio de Janeiro, Typographia da «Gazeta de Noticias», 1881. In-S.º maior. — 121 pp. (2) Algo analogo passava entre os mexicanos, segundo o jesuita padre Joseph de Acosta, «Historia natural y moral de las Indias, em que se tratam las cosas notables del cielo, y elementos. metales, plantas y ani- males dellas: y los ritos, y ceremonias, leyes y Si y guerra de los Indios». — Compuesta por el Padre. .. - - En Sevilla, en casa de Juan de Leon, afio de 1590. in-4.º —335 pp. n. Ea A VIE fe. sv de «Indice ». (3) No antigo Mexico foi a parteira quem levantou o menino recem nascido, para mostral-o ao pae. (4) Suppunhiam um laço material (ou carnal) entre elles e as creancas diz o padre Dobritzhofer, « Historia de Abiponibus», etc. Vienna, 1784, 3 vols. in-8º (5) Faz lembrar a scena do matador tupí, mettido na rede atirando pequenas frechas (simulacro do renascimento; recebe um novo nome, para livrar-se da persecução do espirito da sua victima ). (6) C. de Rochefort, «Histoire naturelle et morale des iles Antilles de YAmérique», etc. Avec un vocabulaire caraibe, pp. 550 et passim.—Rot- A COUVADE 239 lher ate durante quarenta dias. A mulher d'elle é conside- rada impura, assim que o marido, não dispondo d'outra choupana para deitar-se n'ella, separa a sua rêde d'aquella occupada pela parida, por meio d'uma esteira. De outros grupos ethnicos, entre os quaes certas pres- cripções observadas no parto da mulher revelam estreitas relações com a couvade (ou sejam sobrevivencias de tal), nos consta o mesmo. Entre os Larkas da Bengalia, ambos, homem e mulher, são declarados impuros (1) durante oito dias. E n'este tempo é o homem quem faz a cozinha. Entre os Diaques (Diaks ou Dayaks) (2) da ilha Borneo, o pae da criança recem nascida não deve comer outra coisa senão arroz; evita ir ao sol; e durante quatro “dias não toma banhos. Schomburgk (3) narra que os Caraibe suspendem toda classe de trabalhos: o homem não abandona a choça, senão de tarde e só por alguns momentos. O banho é igualmente prohibido, o mesmo que tocar às armas. Toma agua morna e come pão de cassave, preparado pelos parentes. Não deve coçar-se com as unhas o corpo nem a cabeça, para cujo effeito emprega a nervura da folha da palmeira chamada cucurrit. Qualquer desacato a estas prescripções, segundo creem elles, teria por consequencia a morte segura da criança. Na Groenlandia (4), depois do parto da mulher, o marido não trabalha durante algumas semanas. terdam, 1665. in-4.º—R. P. Jéan-Baptiste du Tertre, «Histoire Générale des Antilles, habitées par les François», etc. tomo II, pp: 371 e 373. Paris, 1667-1671. 4 vols. in-4.º. O mesmo refere Mr. Paul Hermant dos Miaos da China: « Valitement dure quarante jours, afin que lhomme (comme le disent les Miaos, (vide: Colquhoun, « Across Chrysee», p. 335.) souffre les mêmes douleurs que sa femme». La Couvade, p. 5, no «Bull. de la Soc. Royale Belge de Géogra- phie>. 30*"* année.—1906.—N.º 1., pp. 5-15.— Bruxelles, 1906. (1) Hermant, ob. cit., p. 8. — Dalton, « Ethnology of Bengal ». p. 190. As mulheres caraibe são consideradas impuras tambem durante o processo physico da menstruação. Rich. Schomburgk, «Reisen in Britisch- Guiana », etc., t. IL, p. 316, Leipzig, 1848. (2) Peschel, 1 e.— Spencer St. Jobn I, e. I., p. 160. (Se OR es ads (4) Lubbock, ob. cit., 16.—Egede, «Greenland », 190. 240 A COUVADE Na peninsula de Kamtchatka (1) succede o mesmo va- rias semanas antes do nascimento da criança. Segundo o jesuita Dobritzhoffer (2), missionario dos indios Abipon do Chaco paraguayo, estes estavam cober- tos com pannos e couros, para que lhes não dêra o ar, e observavam estrictamente o jejum imposto pela etiqueta da couvade. E estavam firmemente convencidos estes indios de que existia ainda um laço material (ou carnal) (3) entre elles e as crianças (recem-nascidas), de modo que qualquer intemperancia ou constipação podesse transferir-se à estas. Fray José Cors (4), missionario durante muitos annos entre os indios Guarayo (5) da Bolivia, escreve: «Cuando la mujer está al parir, se sienta en tierra so- bre una esterita de palma, donde echa la criatura. No tie- nen mujer con el oficio de partera; sino que ellas se ayu- dan muútuamente en sus partos, de que generalmente se desembarazan con mucha prontitud y facilidad. En habiendo lavado la criatura, le atan por supersticion unos hilos en (1) Lubbock, 1. e. (2) Ob. cit., tomo II, pp. 271 et bassim. (o sta vo aa e até que lhe não caia (o ombigo) não deixa o je- jum. . .» diz Fernão Cardim. (4) «Los Misiones Franciscanas entre los infieles de Bolivia. Des- cripcion del Estado de ellas en 1883 y 1884, con una noticia sobre los caminos y tribus salvajes», etc., etc., por el R. P. Fr. José Carduús, Alumno del Colegio de Propaganda Fide del Colegio de San José de Tarata y ex- conversor de los Guarayos. Barcelona, 1886. in-4.º— 429 pp. num, O P, José Cardis, O. M, é autor de «La doctrina cristiana explicada en Guarayo e en Castellano p. (ara) uso de los neófitos de las misiones de S, José de Tarata».—Cochabamba, 1883. in-8.º— VI + 252 pp. num. + I f. de « Errata». Este catechismo em lingua guaraya, que é um dialecto do tupy- guarani, é totalmente desconhecide aos bibliographos O conde de la Viiaza não o menciona na sua «Bibliografia Espa- nola de Lenguas Indígenas de América », etc. Madrid, 1892. Nºesta obra falta tambem o «Catecismo en lengua Chiriguana» do P. Fr. Alej. Corrado, Impresso na cidade boliviana de Tarija, no anno 1875. Ambas obras constituem hoje verdadeiras rarezas bibliographicas. Do «Catecismo en lengua Chiriguana», possuo uma copiada tirada por mim mesmo do exemplar, que pertencia à «Bibliotheca Boliviana» do senhor Gabriel René-Moreno. (5) Os indios guarayo são de origem tupi-guarani. A palavra guarayos (no sentido de auci=inimigo) é tambem um nome collectivo, applicado à varias tribus, como os Huachipairi, que vivem nas selvas entre o Rio Madre de Dios e o Urubamba. A COUVADE 241 las mufecas, en los codos, en las pantorrillas y en los tobi- los, y si es mujer le atan otro en la cintura. Tambien es de ley que para el hijo no mucra y crezca bien, el padre debe hacerse unas sajaduras con el diente del acuchi (dasyprocta spec.?), pintarse de negro los pies, las manos y las coyunturas y ayunar tres dias. En todo ese tiempo se está en casa, echado en su hamaca sin salir à trabajo alguno, ni occuparse de los oficios domesticos, siendo deber de la recien parida cocinarle los pequeios pescaditos que se le permite comer en su ayuno». O senhor von Koenigswald (1) menciona a couvade tambem entre os Carayá (Carayá-Tapiya) do Rio Araguaya. O indio Carayá se deita, gemendo e jejuando. Recebe as vi- sitas dos parentes e amigos, emquanto a parida continua tranquillamente os seus trabalhos como de costume. Ambos abstém-se, porém, de toda carne, o que. como crêm elles, favorece sobre maneira o desenvolvimento physico do me- nino. A couvade que, indiscutivelmente, é de grande inte- resse ethnologico, apparece sob diversas formas entre os chins do Yunnan occidental, entre os Diaks de Borneo, en- tre os habitantes das ilhas Nicobares, entre varias tribus africanas, entre os Bascos do Norte da Hespanha, no sul da França, na ilha de Corsega, entre os indios Caraibe, entre quasi todas as tribus das familias linguísticas Nu-arudc e Tupi-guarani, e tambem entre os primitivos Tapiya-gues, como: Puris, Coroados, Camé, e os Carayá (2) de Goyaz. Esta enorme extensão geographica e os grupos ethni- cos completamente heterogeneos, que praticam a couvade, justificam tambem as palavras do Sir John Lubbock: «Je (1) Die Carajá-Indianer », no «Globus», t. XCIV, N.º 14, pp. 217- 223; e N.º 15, pp. 232-238 (veja-se p. 237)-—Braunschweig, 1908. (2) Não é possivel dar uma resenha completa. Ha muito mais tri- bus ainda que praticam a couvade, como, por exemplo, os Jivaros do Rio Napo. V. James Orton «The Andes and the Amazon», etc, p- 172. Lon- don, 1870. Muito lamento não dispôr n'este momento do trabalho do Dr. Ploss: « Ueber das Miinnerkindbett» im 10. Jahresber. des Leipzig. Vereins fiir Erdkunde, pp. 33-48. Leipzig, 1871. 242 A COUVADE crois qu'elle a surgi d'une façon independente dans plusieurs parties du monde». Como explicar este costume tão bizarro? E em que estriba a sua origem? O conjuncto de opiniões e das respostas emittidas a este respeito constitue um verdadeiro Kaleidoscopio. Venham algumas. Para o jesuita Dobritzhoffer a couvade é uma pura loucura. Lafiteau, missionario e tambem jesuita, vê n'ella uma vaga recordação do peccado original, regeitando a explica- ção dada pelos indios Caraibe,—que segundo Lubbock é a verdadeira,—os quaes, o mesmo que os Abipon do Chaco, creiam que se o pãe não suspendesse os trabalhos manuaes e não observasse estrictamente a dieta prescripta pela cou- vade, morreria infalivelmente a criança: e que esta partici- paria seguramente de todos os defeitos d'aquelles animaes (1), de cuja carne o pae houvesse comido. Max Miiller (2), escreve: «Il est clair, que le pauvre mari a d'abord été tyrannisé par toutes ses parentes, puis effraye, et a été enfin amené à la superstition par la terreur. IH a commencé par se faire martyr et en est arrive à se rendre réellement malade, ou à prendre le lit pour se défen- dre contre les récriminations des femmes» (3). Insustentavel é o que opinam os senhores Hellwald e Lippert (4), porque, como muito acertadamente observa Hermant (5), a couvade não é praticada só ao nascer o primogenito, senão para todos os filhos indistinctamente. Tylor (5) vê na couvade a expressão d'uma relação intima e mysteriosa, que une o pãe ao seu filho, tal como (1) Peschel, p. 27. — C. F. Abpun, no: « Ausland», 1872, N.º 31 Pp. 440. (2) «Chips of a german workshop», t. II, p. 281.—Lubbock, 1. c. — Hermant, 1. c. (3) Dobritzhofer, Il, pp. 273 et passim.—Hermant, p. 14: «les femmes attribuent toute la responsabilité à Vintempérance du pêre et Pac- cablement de toute sorte d'aigres reproches ». (4) Hermant, p. 7.—Hellwald, «Die menschliche Familie », p. 30. — Lippert, « Kulturgeschichte», t. IL, p. 312. (5) Hermant, 1. e. A COUVADE 243 selvagens a podiam imaginar-se. As privações e os jejuns são provas denergia e de força d'alma, qualidades que o pãe deseja transmittir ao menino. Bachojfen, Lubbock, Giraud-Teulon, Zmigrodzki e Letour- neau (1), partidarios da-hypothese da: existencia d'um regi- men matriarchal primitivo. sustentam que a couvade repre- senta a lucta do patriarchato com o-matriarchato predominante. Ling Roib (2), considera a pratica da couvade como uma forma de magia, estribando-se n'uma crença de uma connexão physica entre o pãe e a criança. Crawley (3) vê n'ella um meio de proteger-se contra influencias nefastas e magicas. E, finalmente, o senhor Hermant (3) crê que a explr cação mais plausivel é aquella, que ha dado M. Letourneau. (4). Segundo este autor, a couvade seria, pois. a forma pri- mitiva do nosso certificado de nascimento (o nosso «Ge- burtSschein»): porque ella não é-practicada senão aonde existe uma razão importante, por que o pae faça uma de- claração publica de paternidade. Para o mencionado autor (5). a couvade constitue um symbolo de ordem juridico e religioso ao mesmo tempo: e era praticada especialmente entre aquelles povos, cujo' ge- nero de vida de familia exigia essa prova óu declaração publica, importante para a transmissão já do dos secs ja seja da auctoridade. Sob este ponto de vista, e couvade era, naturalmente, necessaria; porque expressava a” forma legal, pela qual o pãe reconhecia à seu filho: Por meio d'esta practica se fez parente do menino e proclamou-o seu herdeiro—. (1) Bachoffen, «Mutterrecht», p. 255 et pass-—Lubbock, ob. cit., p. M.—Giraud-Teulon, « Origine du mariage», p. 188 et pass— Zmigrodzki, «Die Mutter bei den Vóôlkern des arischen Stammes», p. 270.— Ploss, « Das Kind», etc., t. IL, p. 35.—Letourneau, «L'évolution du Mariage et de la famil ê >, Pp. 394. (2) «On the significance of Couvade», no « Journal of Anthropolo- gical Institute », t. XXI Pp. 204-—244.. (3) She rose», pp. 416—428.— Hermant, ob. eit., pp. 7 e 8. (op DS estos Pp: 4307. ES dica PRE TX es, 244 A COUVADE Letourneau (1) opina que a couvade devia ter nascido na epocha de transição. Elle e outros sociologos se inclinam à hypothese de que o estado social primitivo do homem foi um estado de puro hetairismo. Não existia o matrimonio; ou não existia senão como «matrimonio em commum »: homens e mulheres per- tenciam-se então indifferentemente. Mais chegou um tempo em que as mulheres se rebellaram contra tal estado de cou- sas e estabeleceram um systema de matrimonio com reco- nhecimento só da descendencia materna. E as mulheres tive- ram assim uma, grande parte do poder politico. O homem, vendo-se despojado de sua auctoridade, tratou então de re- conquistar o que perdêra. E esta intenção, segundo varios dos autores citados n'este artigo, parece manifestar-se na pratica da couvade (2). Não obstante da intervenção de tantos sabios, que ten- táram interpretar a significação d'este phenomeno, estamos longe ainda d'uma satisfactoria solução da questão. De todas as theorias formuladas ao respeito, são mais ou menos hy- potheticas umas, e inacccitaveis outras. Segundo a minha opinião, para a explicação psycho- logica d'este phenomeno, que em primeira instancia é o sym- bolo mais eloquente do amor proprio do pãe, por agora, não cabem outras razões, pelas quaes o progenitor fazia essa declaração de paternidade, intima e tambem publica, que a do egoismo paterno, accompanhado d'uma boa dose de rivalidade com a parida (3). E como não conheço, nem nin- guem póde conhecer, a forma, sob a quai a couvade era pra- ticada n'aquelles tempos remotissimos, nem as ceremonias e prescripções observadas ante, durante e depois d'ella, me creio plenamente autorisado suppór que primitivamente toda (1) Ob. cit., p. 394.—Hermant, p. 7. (2) Loc. cit, « . . . d'affirmer ses droits paternels et de substituer la filiation masculine à Vancienne filiation utérine; . ..» (3) O senhor Dr. J. Huber, ao lêr este trecho, chamou a minha attenção sobre algo analogo, que frequentemente observamos na vida fami- liar, quando um dos filhos está doente. Os cuidados, os mimos e certas attenções, dispensadas ao menino que cahiu enfermo, despertam geralmente inveja nos demais irmãosinhos, que chegam até a simular estar tambem in- dispostos, para participar das preferencias de que gosa o enfermo. A COUVADE 245 a ceremonia reduzia-se só ao simulacro das dóres, que havia soffrido a mãe, simulacro que, evidentemente, expressa d'uma maneira mais patente a idéa de que a criança é producto de ambos. Mais. Este costume deve ser e é seguramente mais an- tigo, que a supposta lucta do homem com o matriarchato predominante. Por razões que são obvias, é mais que pro- vavel, até logico, que a couvade fosse observada já na epocha do hetairismo. A couvade, tal qual a praticavam os indios brazileiros em tempo de João Staden, e a seguem praticando ainda muitas tribus da Amazonia e das Guyanas, não parece mais que um reflexo d'uma scena da vida intima do homem r na sua infancia. Uma rigorosa explicação psychologica d'este pheno- meno, como com razão observa o senhor Hermant, necessi- taria certamente uma serie de documentos ethnographicos exactos e recolhidos por homens que estejam ão corrente dos problemas sociologicos, e provenientes, sobre tudo, da Sul- America, aonde encontram-se os casos da quites mais carac- teristicos. Seguro estou de que na litteratura americana, achar-se-ia mais que um d'aquelles ditos tão suggestivos..... «até que lhe não caia (o ombigo) não deixa o jejum,.....» Pará, Maio de 1910. 246 BiBLIOGRAPHIA BIBLIOGRAPHIA 1908 VIAGENS -GEOGRAPHIA Spruce (Richard) «Notes of a Botanist on. the Amazon and Andes, being records of travel on the Amazon and its tributaries, the Trombetas, Rio Negro, Uaupés, Casiquiari, Pacimoni, Huallaga, and Pastasa; as also to the cataracts of the Orinoco, along the “ eastern side of the Andes of Perú and Ecuador, and the chores of the Pacific, during the years 1849 = 1864», by R. Spruce, Ph. D., Edited and condensed by Alfred Russel Wallace, O. M., F. S. with a biographical introduction, portrait, seventy-one illustra- “tions and seven maps. 2 vol. Macmillan and Co., Limited, London, 1908. Não é possivel, no espaço forçosamente limitado desta bibliogra- phia, dar senão uma idéa pallida duna obra revestida de uma impor- tancia tão excepcional pará-a historia natural da região amazonica, como é-a do botanico escossez, que; depois de Martius, foi sem contestação “o maior explorador da flora amazonica, Richard Spruce, que visitou a Ama- zonia, np meiado do seculo passado e cuja morte sobreveiu, em 1593, depois de um martyrio prolongado de enfermidade contractada durante as suas peregrinações nas regiões equatoriaes, já tinha perdido toda a es- perança “de' ver as suas notas de viagem publicadas, e devemos considerar- nos felizes que a publicação finalmente tornou-se uma realidade. graças á intervenção de um outro explorador da Amazonia, mais conhecido e menos infeliz do que o auctor das « Notes of a botanist». Com effeito não podia se achar um editor mais auctorisado para publicar as notas de via. gem de Spruce, do que o venerando decano dos exploradores amazonicos, Alfred R. Wallace, elle mesmo auctor d'um livro interessantissimo sobre a região amazonica, ao qual os presentes dois volumes constituem um digno «pendant». Para outro menos familiarizado com o asssumpto, a tarefa teria sido talvez por demais difficil, porque só os 8 primeiros capi- tulos do livro já =e acharam promptos para entrarem no prelo, consistin- do o resto do material em jornaes, notas esparsas, cartas aos amigos, ar- tigos publicados em revistas scientificas cte. Isto tudo porem, o editor soube fundir n'um livro attrahente, cheio de informações preciosas, que apezar de datarem 50 annos atraz e de terem sido publicados em parte anteriormente, ainda apresentam o cunho de observações novas e ineditas. Por uma disposição engenhosa do texto, o editor sonbe destacar as suas proprias notas explicativas sem interromper a continuidade E relação original. Quanto ás illustrações, notamos com prazer, alem dum retrato de Spruce, de diversos mappas geographicos e dum grande numero de desenhos originaes de Spruce, uma serie de bôas reproducções de estam- pas do « Arboretum amazonicum ». BIBLIOGRAPHIA 24 Para nós, o interesse mais immediato do livro de Spruce reside na- turalmente no primeiro volume, que com interessantes detalhes não só sobre o mundo vegetal co.no tambem sobre as condições de vida e à in- dole dos habitantes, trata especialmenle do Pará, de Santarem, Obidos, Rio Trombetas, Manáos e do valle do Rio Negro até o Uaupés e o alto Orenoco, emquanto que o segundo volume, aliás não menos interessante sob o ponto de vista geral, trata das viagens de Spruce no Perú cisandino e nos Andes do Equador, onde Spruce era encarregado de colleccionar plantas e sementes de Cinchona para a sua introdução nas Indias orientaes. Como introdução, o primeiro volume contem uma bem elaborada biographia de Spruce (pp. XXI-XLVII) e uma lista completa das suas publicações (pp. XL-LII). Se quizessemos endereçar uma critica ao editor, com respeito ao primeiro volume, seria apenas esta, que elle, no intuito de reduzir o livro a um tamanho razoavel, julgou necessario fazer alguns cortes justamente n'esta parte relativa ao Pará, que teriamos preferido ler em sua integridade, E” este talvez um ponto de vista parcial, mas cer- tamente comprehensivel da nossa parte. Não podemos entrar aqui na enumeração de todos os assumptos tratados nos dois volumes, cuja leitura recommendamos calorosamente a todos os amigos da natureza amazonica. Mencionamos apenas ainda os tituios de algumas dissertações imeditas que o editor reunin no fim do segundo volume e que são bem capazes de dar uma idéa da sagacidade scientifica do seu autor. São as seguin- tes: Aspectos da vegetação amazonica e migrações de animaes; acção das formigas sobre a estructura das plantas; narcoticos e estimulantes usados pelos indios amazonicos; as mulheres guerreiras do Amazonas (estudo historico); um thesouro escondido dos Incas. Depois da leitura destes estudos, só podemos lamentar que elles não foram publicados já ha muito tempo. Em todo caso devemos a nossa gratidão ao editor de ter posto ao nosso alcance uma obra que não só é uma a addição preciosissima á litteratura sobre a Amazonia, mas que (como Wallace mesmo pensa com razão) ha de tomar o seu logar eutre os livros de viagem mais interessantes e mais instructivos do seculo XIX. 2. Enock (C. Reginald, F. R. G. S.) « Peru, its former and present civi- lisation, history and existing conditions, topography and natural resources, commerce and general development.» London & Leipsic 1908. Este volume faz parte da serie «The South American Series», editada por Martin Hume, na qual o mesmo autor já publicou o seu li- vro « The Andes and the Amazon». Para nós o interesse principal reside no Capitulo XIII (p. 155-165), que trata dos habitantes da « Montana», e em algumas outras observações sobre o Perú cisandino, que o autor aliás não parece conhecer muito bem, a julgar pela idéa que elle tem do Pampa del Sacramento, uma região puramente florestal, que elle entre- tanto caracterisa como «planicie livre de matta e coberta de herva» (p. 163). Esta idéa preconcebida de que uma « pampa» devia necessariamente 248 BirBLIOGRAPHIA ser destituida de arvores, emquanto que no Perú cisandino este termo significa qualquer planicie, acha-se repetida em muitos livros, apezar dos protestos da parte dos conhecedores d'aquellas regiões. 3. Therese Prinzessin von Bayern, « Reisestudien aus dem westlachen Siúdamerika » ( Estudos de viagem da America do Sul occidental ). 2 Bd.—XIX +- 379 pp. com 81 estampas e 4 cartas geograph. — XIII + 338 pp., 86 estamp. e 2 cartas. Berlin, Dietrich Reimer. 1908. Obra notavel da eminente americanista, Sua Alteza Real da Ba- viera, auctora de varios trabalhos scientificos sobre a America do Sul, entre os quaes especial menção merece o seu livro sobre o Brazil: « Meine Reise in den brasilianischen Tropen»> Berlin, 1897 (of. Bol. do Mnseu Goeldi vol. II p. 393). 4. Delebeeque, (J.) «4 travers de UV Amérique du Sud». Paris, Plon Nourrit et Cie. Imp.” Edit.”, 1907. fo . Craig, (Neville B.) « Recollections of an ill - fated Expedition to the Head - waters of the Madeira River in Brazil» — (479 pp., 28 estampas e 6 cartas geogr.) Philadelphia, J. B. Lippincott Company, 1907. 6. Huot « Nouveau travaux topographiques au Vénéxuela» «La Geo- graphie» Paris 1908 (junho). 7. Dr. Rice's, « Exploration in the North-Western Valley of the Amazon » « The Geographical Journal», março 1908 (tomo 31 n. 3, p. 307 e ss.) London 1908. Vejam-se as notas criticas que a respeito da viagem do Dr. Rice publicou o Dr. Koch-Griinberg no « Globus ». 8. Koch-Grúnberg, (Dr. Theodor) « Reisen am oberen Rio Negro und apurá in den Jahren 1903-1905» (Viagens no alto Rio Negro e Yapurá, nos annos de 1903 a 1905). Zeitschrift der Gesellsch. f. Erdkunde zu Berlin 1906. 9. Koch-Grúnberg, (Dr. Theodor) « Binige Bemerkungen zu der For- schungsreise des Herrn Dr. H. Rice in den Gebieten xavischen Quaviare und Caquetá-Yapurá» ( Algumas observações sobre a viagem de, exploração do Sr. Dr. H. Rice nas regiões entre o Guaviare e O Caquetá- Yapurá). Globus, vol. XCIII n.º 19 pp. 302-305. 1988, N'este trabalho, que é acompanhado de 2 pequenos mappas no texto, o auctor dá os resultados geographicos das suas explorações no alto Uaupés, juntando algumas explicações a respeito das explorações do Dr. Rice nas regiões visinhas (cf. « Geogr. Journal» de março, 1908). Koch BIBLIOGRAPHIA 249 confirma à opinião de Rice quanto á collocação das nascentes do Uaupés, que segundo esses dois autores não pertencem aos Andes, mas acham-se localisadas numa elevação de terreno situada no 73º oeste de Greenwich mais ou menos. Finalmente o autor rectifica algumas indicações de Rice sobre os indios Carijona, Uitoto e Anagua, 10. Simões, (Fulgeneio Firmino). « Municipio de Alemquer, seu desen- volvimento moral e material e seu futuro ». Estudos historicos e geographicos. Belem-Pará. Typ. e Enc. da Livraria Loyola. Rua Santo Antonio. 8. 1908. O conteudo variado deste livro de 200 paginas divide-se em uma Introducção e em quatro partes, das quaes a primeira trata, em 8 capitu- los, dos assimptos seguintes: T-—Situação, extensão e limites, II-—Funda- ção e denominação, III—Creação do municipio, sua extinsão e sua res- tauração, IV —Séde e outras localidades do municipio, V—Instrueção pu- blica, VI-—Producção, industria e commercio, VII— Viação e transporte, VIII - Narrativas politicas. A segunda parte é dividida em 5 capitulos: I-Reino vegetal, madeiras, II-Balata ou Gutta-percha III-Riqueza mineral, IV Patrimonio municipal, Colonia Paes de Carvalho, V—Renda municipal. A terceira parte, dividida em tres capitulos, trata das seguin- tes materias: I-—Rios, igarapés, canaes, furos, lagos e ilhas, II-Orogra- phia, III — Climatologia. Na quarta parte emfim, o autor occupa-se de diver- sos additamentos, dos limites de Alemquer, foro civil, extincção dos re- gatões e de casas de nogocios nos sitios, creação de feiras, adhesão á Independencia, sociedades, Centro familiar, Sociedade Agricola Alemque- rense, casa para escolas, Theatro Alemquerense, Campos Geraes e Clima- tologia. Como se vê d'esta enumeração, trata-se duma monographia com- pleta do municipio em questão. Alemquer é um dos municipios mais in- teressantes do Estado do Pará; elle produz, segundo a phrase de Paes de Carvalho, todos os generos de exportação do Estado, salvo o grude de gurijuba, e o autor soube bem realçar as suas riquezas, sem cahir nos exageros tão frequentes em semelhantes publicações. Em todo o livro transparece o amor que o autor vota a sua terra, que elle queria ver grande e feliz. Muito interessante sob o ponto de vista geral são as infor- mações do autor sobre a exploração da castanha e da sapucaya, na qual o municipio de Alemquer occupa o primeiro logar no estado, como tambem sobre outros productos extractivos, como borracha, balata (aqui seja dito de passagem, que a balata não é indentica á gutta-percha, mas só um producto similar, que em certas applicações pode ser subtituido áquella substancia), sobre madeiras, sobre a Estrada Lauro Sodré (que, apezar de não ter alcançado aos campos geraes, para a exploroção dos quaes ella era aberta, constitne sempre uma via de penetração de grande importan- cia), sobre agricultura, industria pecuaria, apparição de indios da tribu dos Juruvalentes ete. Se o livro se resente um pouco da pressa com que era preciso redigil-o para elle poder figurar ainda na Exposição Nacional do Rio de Janeiro, defeito que se manifesta principalmente no arranjo e subdivisão das materias, é de esperar que a projectada segunda edição, 250 BIBLIOGRAPHIA ilustrada de vistas e de mappas geographicas, seja um verdadeiro mode- lo no genero e sirva de estimulo aos outros municipios de subvencionarem monographias semelhantes, que podem ser de grande vantagem não só para o estudo da geographia amazonica, mas tambem para a orientação dos immigrantes e dos capitalistas desejosos de collaborar no desenvol- vimento desta terra, ETHNOLOGIA ANTHROPOLOGIA 11. Koenigswald, (Gustav von) « Die Carajá Indianer» (Os Indios Ca- rajá). « Globus », vol. XCIV, ns. 14 e 15, Braunschweig 1905. O interesse d'esta noticia sobre os indios Carajá reside no facto que o conhecido anctor utilizou não só a bibliographia antiga referente ao assumpto (elle cita Castelnau, Martius, Couto de Magalhães, Ehren- reich, Estevão M. Gallais), mas tanibem diversas photographias e notas manuscriptas ineditas do Sr. José Hofbauer. que nos annos de 1905 a 1906 visitou estes indios por 3 vezes, assim como uma collecção apparen- temente bôa de armas e objectos de ornamentação e de uso domestico, dos quaes o auctor dá no texto uma serie de figuras, 12. Koeh-Griúnberg, (Dr. Theodor) « Das Haus bei den Indianern Nord. brasiliens> (A casa dos indios no Brasil septentrional). Archiv f. Anthropologie, N. F., Bd. VII, Heft 1, Braunschweig. O autor, que durante as suas viagens no extremo Noroeste do Brazil teve excellente occasião de observar a vida caseira dos indios, des- creve n'este trabalho as construcção das suas casas, ou malocas, segundo o termo da lingua geral. Geralmente estas são isoladas e circumdadas dum terreiro limpo. Ellas são de grandes dimensões (até 32 m sobre 24 m) e servem de moradia a diversas familias dependentes d'um chefe (tuchaua), contendo ás vezes até 100 habitantes. Só raras vezes encontram- se duas malocas uma junto da outra. Nos rios Uaupés, Aiary e Tiquié as malocas são construidas sobre um plano rectangular e fechadas por cima, emquanto que no rio Apaporis, affluente do Yapurá, o autor encon- trou um typo ainda desconhecido de maloca, construido sobre um plano circular, com o tecto apresentando duas grandes aberturas lateraes, para deixar sahir a fumaça. A subdivisão interior das malocas e a arrumação dos objectos caseiros são indicadas com auxilio de figuras schematicas e de photographias. Interessantes são as observações do autor sobre a or- namentação das paredes exteriores e dos esteios nas malocos, mostrando estes ultimos geralmente desenhos de figuras humanas e animaes mais ou menos schematicos. Notavel é tambem o costume d'agelles indios de suspender sob o tecto figuras de animaes (passaros e cobras) feitos de palha de milho ou de palmeira, que servem de alvo aos meninos nos seus primeiros exercicios de tiro de sarabatana. BrBLIOGRAPHIA 251 3. Koeh-Grúnberg, (Dr Theodor) « Indianertypen aus dem Amazo- nasgenet » (Typos de indios da região amazonica ). Fase. IT, II, III. Ernst Wasmuth, Berlin 1906, 1907, 1908. Os fasciculos acima citados da bella e artistica publicação de Koch abrangem representantes das tribns Tucano, Tuyuka, Bará, Uanana, Ara- paso e Pirá-tapuyo em photographias muito nitidas acompanhadas dum texto explicativo. l4. Koch-Srúnberg (Dr. Theodor) & Huebner (Georg), «Dice Ma- nuschi und Wapischana». Zeitschrift fuer Ethnologie. Heft |. 190S (pp. 1-44), com duas estampas e 14 figuras no texto. Depois de tratar resumidamente da historia e da distribuição geo- graphica dos indios Macuchi se das tribus affins dos Arecuna, Ipurucoto e Crichaná, que pertencem todas ao grupo liguistico Cariba, e dos Wapis- chana ou Uapichána, que fazem parte do grupo Arnac, os autores dão dois vocabularios, o primeiro, bastante completo, dos Makuschi, o segun- do, mais resumido, dos Wapischana, ambos acompanhados de vocabulos provenientes de linguas apparentadas (no segundo vocabulario o Atorai). Algumas considerações grammaticaes concluem este trabalho util e inte- ressante, ornado de muitos retratos excellentes de indios pertencentes ás tribus mencionadas no titulo. - Koeh-Grinberg, (Dr. Theodor) « Die Hanókoto-Umúáua» Anthropos, vol. III. Wien-Módling 1908. pa Ga 16. Koeh-Griúnberg, (Dr. Theodor) « Der Fischfang bei den Indianern Nordwestbrasiliens» (A pesca entre os indios do NW do Brazil). Globus, vol. XCIII ns. 1 e 2. Braunschweig 1908, com figuras nc texto. Udo So E PERA RR «Jagd und Waffen bei den Indianern Nordwestbrasi- liens» (Caça e armas dos indios do NW do Brazil). Globus, vol. XCIII, ns. 13 e 14. Braunschweig 190S com figuras no texto, Estes dois ultimos trabalhos tratam de assumptos congeneres e con- têm grande copia de informações interessantes sobre a caça e a pesca dos indios habitantes do Uaupés e do Yapurá. Principalmente sobre a pesca nas cachoeiras do primeiro destes rios e dos seus affluentes, como tam- bem sobre as armas envenenadas das tribus da bacia do Yapnrá encon- tram-se n'estes artigos novos dados illustrados com bellas photographias. 18. Koeh-Griinberg. (Dr. Theodor) «Die Indianerstiimme aum oberem Eto Negro und Yapurá und ihre sprachliche Zugehôrigheit » (Às tribus de indios do alto Rio Negro e Yapurá e as suas relações linguísticas ). Zeitschrift fiir Ethnologie, 38. Jahrg. p. 166-205, t. V, Berlin 1906. 252 BrBLIOGRAPHIA DOES o so o calos é ao o ot a « Die Maskentiinxe der Indianer des oberen Rio Negro und Yapurá» (As dansas mascaradas dos indios do alto Rio Negro e Yapurá). Archiv fir Anthropologie, Bd. IV. Braunschweigz 1906. Ambos estes trabalhos, que ainda datam do anno de 1906, escapa- ram na bibliographia precedente e citamol-os aqui como contribuições va- liosas para o conhecimento das tribus indigenas da parte NW da bacia amazonica. 20. Rivet (Dr.), « Les indiens Jivaros». Publ. em « Anthropologie », T. XVIII/XIX. Paris, 1908. 21. Rivet (Dr.), «La race de Lagoa-Santa» « Ohex les populations pré- colombiennes de V Equateur». Publ. no « Bull. et Mém. de la Soc. d'Anthropologie », n. 2. Paris, 1908. 22. Lehmanr-Nitsche (Dr. Robert), « Nowvelles Recherches sur la Forma- tion Pampéenne et Vhomme fossile de la République Argentine », etc., etc., (Revista del Museo de La Plata t. XIV — Séconde Sé- rie, t. 1, pp. 143488). Buenos Aires, Imprimerie Coni Frêres, 684 Rue Perú, 1907. Paru le 15 décembre. 23. Sehmidt (Dr. Max), « Indianerstudien in Zentralbrasilien». Erleb- “nisse und ethnologische Ergebnisse einer Reise in den Jahren 1900/01. (Estudo sobre os indios do Brasil Central, aventuras e resultados ethnologicos d'uma viagem emprehendida nos annos de 1900 a 1901) 8º Berlin, D. Reimer ( Ernst Vohsen), 1905. E' uma importante contribuição ao estudo da anthropogeographia e da linguista do Estado de Matto Grosso. Verdadeiramente extranho é o habitus da lingua dos indios Guató, que nos dá a conhecer o Dr. Schmidt. 24. Sehmidt (Dr. Max), « Besondere Geflechtsurt der Indianer im Uca- yaligebiet » ( Modo especial de tecer dos indios de Ucayali) Publ. no « Archiv fiir Anthropologie » N. F.,Bd. 6, Heft 4. Braunsch- weig, 1908; 25. Wilser (Dr. Ludwig), « Das Alter des Menschen in Siidamerika » (A idade do homem na America do Sul). Publ. no « Globus », XCIV, n. 21, pp. 333-335. Braunschweig, 1908. 26. Ihering (H. v.), « The Anthropology of S. Paulo, Braxil » (2. Autl. in 8º—32 pp. com 2 cartas geograph.) São Paulo, 1906. E a segunda edição, accrescentada pelas cartas e alguns vocabu- larios de indios, d'um opusculo que em 1904 foi publicado sob o titulo: « The Anthropology of the State of S. Paulo, Brazil » (8.º de 22 pp.), São Paulo, Duprat, 1904. BIrBLIOGRAPHIA 2 6; (68) 27. Ihering (H. v.), « Os machados de pedra dos Indios do Braxile o seu emprego nas derrubas de mato » « Revista do Instit. Hist. de S. Paulo » € 28. Marshall H. Saville, « The Antiquities of Manabi, Ecuador » ( As antiguidades de Manabi, Ecuador ). Contributions to South-Amer. Archeology, The George G. Heye Expedition. vol. T. New-York 1907. 29. Nordenskióld (E. v.) « Siidamerikanische Rawchpfeifen » (Cachim- bos sul-americanos) «Globus» vol. XOIII, n. 19, Braunschweig 1905. 30. Lehmann-Nitsche ( Dr. Robert), «La Collecion de Typos indigenas de Sudamerica Central». Buenos Aires, 1904. Casa Editora de R. Rosauer. Rivadavia 571. — Reproduccion prohibida (com um Sup- plemento reservado, que comprehende uma breve collecção de estam- pas anthropologicas ). Esta colleeção consta de 100 estampas de diversos typos de indios (de ambos os sexos) do Chaco Paraguayo e do Matto Grosso, segundo as photographias tomadas pelo conhecido ethnographo e pintor italiano Guido Boggiani, ao qual devemos os melhores dados sobre o actual estado da ethnographia e da linguistica d'aquellas regiões. Boggiani foi, poucos annos faz, victima dos ferozes Chamacocos do Chaco, entre os quaes o infortunado explorador quiz completar os seus estudos predilectos. 31. Catevin (P. L.), «Preface à un dictionaire de la langue Tapihiya, dite Tupi ow neengatu (belle langue)». Manáos ( Amazonas), Bré- sil. Publ. no « Anthropos >» Bd.III, Heft 5, 6, pp. 905 e ss., Mô- dling— Wien, 1908. 32. Moreira ( Augusto P.), «Zur Kenntzeichnung der farhigen Brasi- hens» (Caracteristicos dos homens de côr do Brazil) «(Globus » vol. XCIII n. 5, pp. 75-78. Um artigo que trata dos diversos typos do homem de côr no Bra- zil, defendendo-o de certas accusações injustas que segundo o auctor re- cahem em parte sobre o elemento de côr branca. 33. Koenigswald (Gustav von) «Die landesiiblchen Bexeichnunngen der Rassen w. Volkstypen in Brasilien ». (As denominações corren- tes das raças e dos typos ethnicos no Brazil) «Globus», vol. XCIII n., 12, Braunschweig 1908. Apesar de muito resumido, este artigo dá uma bôa idéa da nomen- clatura complicada resultante da mescla das diversas raças no Brazil. 34, Ignaee (Etienne), « Le fetichisme des nêgres du Brésil». Par Pabbé ERREI so o CloiefaISE sro ao IS ralado E mta , professeur au grand séminaire de 254 BiBLIOGRAPHIA Bahia. Publ. no « Anthropos >, Bd. II, Heft 5, 6, pp. SSl e ss. Modling—Wien. 1905. « A religião dos negros do Brazil », escreve o douto abbade, « é um polytheismo grosseiro, accompanhado de fetichismo, de amimismo, de li- tholatria e de phytolatrio Ao julgar da primeira parte, este trabalho promette ser um estudo de especial interesse para nós aqui no Brasil, e ao mesmo tempo, sus generis talvez unico, posto não nos consta que o mesmo thema tenha sido tratado anteriormente. 35. Mareel (Gabriel), « Le pêre Yves d Evreux ». Publ. no « Journal de la Société des Americanistes de Paris», N. S., t. IV, numero 2, Paris, 1908. São notas complementares á biographia do P, Yves dEvreux de Fernando Denis, conservador da Bibliotheca de « Sainte Geneviêve » edi- tor da « Voyage dans le Nord du Brésil fait durant les années 1613 et 1614 par 1. P. Y. d'Evreux >. 36. Hamy (Dr. E. T.), « Les indiens de Rasilly, peints par Du Viert et gravés par Firens et Gaultier (1613) >» Publ. no « Journal da So- ciété des Americanistes de Paris », N. S., t. V, numero 1, pp. 21 ess. Paris, 1905. Este estudo iconographico e ethnographico do sabio americanista Dr. Hamy, sob muitos pontos de vista, tem uma excepcional importan- cia para a historia dos indios do Brazil, e mui em particular para a dos « Toupinambá » do extinto estado do Maranhão. O Dr. Hamy descreve algumas peças, que formam parte da cele- bre collecção de gravados relativos á historia da França. Essa colleção a conservam no Gabinete das Estampas da Biblioteca Nacional de Paris. São retratos de indios Tupinambá, gravados e pintados pelos ar- tistas nomeados no topico que encabeça este referatum, e que tinham sido levados á França, onde foram baptisados alguns. As danças dos Tupinam- bá executadas na presença do rei Luis XIII e da sua augusta esposa Maria de Medici tinham fama então na França. Segundo a expressão de Fer- nando Denis, as danças dos Tupinambá « ainsi figuríes, ont imprimé les raffinês da la cour de 1613 et « Pun des plus habiles artistes de Paris a fait, sur leurs airs, une sarabande d'un goút merveilleux, dont Malher- be s'empressait d'envoyer une copie à Peiresc ». Os francezes de então não tinham, pois, aos nossos Tupinambá por aquelles « homens brutos, sem graça nem razão » como os chamavam certos missionarios. 37. Pierini (M. R. P. Francesco) «Los Guarayos de Bolivia», por el Do cade Bs SERA TE neEçS , Prefecto de Misiones, Ascensión de Guarayos, Bolivia. Publ. no « Anthropos>, Bd. III, Heft 5, 6, p. 875 e ss. Múdling-Wien, 1908. BIBLIOGRAPHIA 255 Uma breve monographia sobre os indios Guarayos de Bolivia, os quaes pertencem ao tronco tupí-austral, isto é, aos guaraní. « Guarayo » é tambem um nome collectivo e é applicado a muitos indios selvagens, que vagam pelas mattas virgens situadas entre os rios Madre de Dios e Purús. Este nome « Guarayo », analago ao nome « Tapuya » ou « Caribe é muitas vezes a causa de confusões, quando os que o empregam não estão sufficientemente familiarizados com o verdadeiro alcance dessa no- menclatura indigena. 38. Festsehrift, herausgegeben anliisslich der Tagung des XVI. Inter- natinalen — Amerikanisten-Kongresses in Wien, 9-—l4. Sep- tember 1908, vom Organisations-Komittee,— Mit Subvention Seiner K. und K. Apostolischen Majestãt Oberstkimmereramtes. Wien, 1908. Im Verlage des Bureaus des XVI. Internationalen Ameri- kanisten-Kongresses. Druck von Adolf Holzhausen. Contém: 1 — « As collecções archeclogicas e ethnographicas no T. e R. Museo de Historia Natural em Vienna», pelo Conselheiro Fran- cisco Heger (pp. 1-72). II — «O adorno de pennas antigo-americano nas collecções da Secção anthrop.-ethnographica do I. e R. Museo de Hist. Nat. em Vien- na», pelo mesmo (pp. 73-59). No inventario figura uma colleeção de antiguidades e de objectos ethnographicos procedentes de diversas partes da America do Sul; espe- cialmente do Brazil (Norte e Noroeste, e regiões limitrophes com a Ama- zonia). O Museo de Vienna adquiriu essa colleeção por meio de compra. O preço total foi de 37 mil marcos. Pertencia a collecção á distincta senho- ra brazileira Dona Amanda Baroneza de Loreto. Consta de 1.330 numeros. Em outros tempos a collecção era de propriedade d'um irmão da baroneza, o Dr. José Paranaguá, hoje advogado no Rio de Janeiro, e nos annos 1882-1884, Presidente da então Provincia do Amazonas. O merito da collecção consiste em que ella foi feita em tempos nos quaes os indios das respectivas regiões e a sua cultura e industria caseira não estavam ainda tão influenciadas pelos homens civilisados. O Dr. Francisco Heger reconheceu este inestimavel valor da col- lecção da baroneza Loreto e a comprou para o Museo de Vienna. O Brazil perdeu assim material ethnographico impossivel a obter hoje em dia e que deixará uma lacuna para sempre. ZOOLOGIA MAMMALIA 39. R. Andersen, A monograph of the Chiropteran Genera Uroderma, Enchisthenes, and Arctibeus. (Monographia dos generos Uroderma, Enchisthenes e Arctibeus da ordem Chiroptera) Proc, Zool. Soc. 1908 p. 204. 256 BiBLIOGRAPHIA Monographia de tres generos alliados de morcegos, dos quaes Uroderma e Arctibeus são representados na nossa região. 40. Cl. Onelli, Notes préliminaires sur la relation qui existe entre le nom- bre des vertêbres et celui des taches dans la peau de quelques animaux (Notas preliminarias sobre as relações que existem entre o numero das vertebras e o das manchas no couro de alguns animaes). Revue du Jardin Zoologique de Buenos Ayres, Année IV, No. 13, 1908 p. 2217. O autor acha que em geral o numero das estrías e das series de manchas (ocellas ) tranversaes tão frequentes no desenho do couro de cer- tos carnivoros, entre outros onças e maracajás, e ungulatos corresponde ao das vertebras. 41. R. I. Pocoek, Warning coloration in the Musteline Carnivora ( Colo- rido defensivo nos carnivoros musteliformes) Proc. Zool. Soc. 1908 p. 944. E bastante singular a cirenmstancia que os mustelidos que possu- em um cheiro sobremodo repugnante, como os Mephitis, Conepatus, Spi- logale, Ietonyx, têm ao mesmo tempo um colorido vistoso, que pode ser- vir-lhes de protecção, avisando de longe os carniveros maiores etc. de presença do animal tão offensivo pelo cheiro e por consequencia incomes- tivel. O Sr. Pocock insiste, que alem dos animaes já mencionados, outros membros da mesma familia tambem mostram a combinação do cheiro repugnante e do colorido mais ou menos vistoso. Entre outros elle enume- ra a nossa irara (Galera barbara) e o furão ((Grison furax ). 42. W. Preller, Zur Kenntnis der Morphologie und postembryonalen Schãdelmetamorphose von Hydrochoerus capybara im Vergleich mit den Schãdeln der iúbrigen Caviiden und Beschreibung und Vergleichung zweier Schâdel von Dinomys branickii. ( Contribuição ao conhecimento da morphologia e da metamorphose postembrio- nal do craneo de Hydrochoerus capybara, comparado aos craneos dos outros Caviides; descripção e comparação de dois craneos de Dinomys branickii) Archiv fiirNaturgeschichte, Berlim 1907. Estudos sobre os craneos da capivara e do pacarana; o material para este trabalho foi fornecido pelo Museu Geeldi. 43. P. Sehlúter, Beitrige zur Kenntnis der Morphologie und postem- bryonalen Entwicklung des Schãdels bei Tapirus americanus, mit besonderer Berúcksichtigung des Zahnsysteims. ( Contribuição ao con- hecimento da morphologia e do desenvolvimento postembrional do craneo de Tapirus americanus, com consideração especial do systema dental) Kiel, 1906. (Inaugural-Dissertation der Univer- sitãt Bern eingereicht ). Uma parte do material provém do Museu Geeldi. BIBLIOGRAPHIA 257 44. A. J. de Souza Carneiro, Mammiferos do Estado da Bahia. Bahia 1908. Temos especial prazer de annunciar este trabalho de um brazileiro, lente cathedratico de Mineralogia, Geologia e Paleontologia. E” a primeira de uma serie de monographias nas quaes o autor propõe-se tratar da fauna do Estado da Bahia. 45. O. Thomas, On certain African and South american Otters (Sobre algumas lontras africanas e sulamericanas ), Ann. and Mag. of Nat. Hist. Vol. I p. 387. 1908 N. 5. Contem entre outras a diagnose de Lutra mvitis spee. nov., a lontra pequena de rabo redondo do baixo Amazonas. 46. O. Thomas. Four new Amazonian Monkeys. ( Quatro macacos desco- nhecidos da Amazonia) Ann. and Mag. Nat.Hist. Vol. II, 1908, NE po Ss: Descripção de 3 especies novas de Uapussás e de um macaco de cheiro provenientes da Amazonia. AVES 47. H. Graf v. Berlepsch, On the birds of Cayenne ( Sobre as aves de Cayenne) Nov. Zool. Vol. XV 1908 p. 13% e 261. Este trabalho do competente conhecedor da avifauna sulamericana sobre a região visinha, que talvez mostra as mais frizantes affinidades com a Amazonia na composição da sua ornis, merece tanto mais ser cita- do aqui, que o autor indica nas paginas finaes as relações ornithologicas existentes entres os differentes paizes da Hylaea guianense-amazonica. 48. G. E. Hellmayr, An account of the Birds collected by Mons. G. A. Baer in the State of Goyaz, Brazil. ( Relação dos passaros collecci- onados no estado de Goyaz, Brazil, pelo Sr. G. A. Baer) Nov- Fool XV, 1908 p. 18 A collecção de pelles de passaros feita pelo Sr. Baer no Rio Ara- guaya prova, segundo o autor, a presença dum elemento amazonico na avifauna de Goyaz, sendo porem as relações principaes com O Brazil meridional. 49. €. E. Hellmayr, Uebersicht der Formen der Gattung Perecnostola ( Re- visão das especies do genero Percnostola) Verh. Ornith. Gesellsch. Bayern, Band VIII, 1907 p. 140. 258 BiBLIOGRAPHIA 50. C. E. Hellmayr, Uebersicht der súdamerikanichen Arten der Gattung Chaetura ( Revisão das especies sulamericanas do genero Chaetura ) Ibidem, Band VIII, 1907 p. 144. 51. W. De Witt Miller, A Review of the Manakins of the Genus Chiro- xiphia. ( Revisão das rendeiras do genero Chiroxiphia) Bull. Amer. Mus. Nat. Hist. XXIV 1908 p. 331. 52. E. Simon et C. E. Hellmayr, Notes critiques sur quelques Trochi- lidae (Notas criticas sobre alguns beija-flores) Nov. Zool. XV, 1908, p. 1. Trata da nomenclatura de certos beija-flores dos generos ( em parte amazonicos) Agyrtria, Leucochloris, Oreotrochilus, Heliangelus, Thalurania, Hylocharis e Chlorestes. 53. E. Snethlage, Ueber brasilianische Vóôgel (Sobre alguns passaros brasileiros ) Ornith. Monatsber. 1906 p. 9. 54. — Einige Bemerkungen iúber Hypocnemis vidua Hellm. u. Phlogopsis paraensis Hellm, ( Algumas observações sobre Hypoc. vidua Hellm. e Phlog. paraensis Hellm.) Ibidem, 1906 p. 29. Do — Ein neuer Zwergspecht ( Um pica-páo novo) Ibidem, 1906 p. 59. 56 — Ueber unteramazonische Vôgel ( Sobre alguns passaros do Amazonas inferior) Journ. f. Ornith. 1906 p. 407 e 519. DT. — Neue Vogelarten aus Siidamerika (Novas especies de passaros da America do Sul) Ornith. Monatsber. 1907 X u. XII. 58. — Eine Vogelsammlung vom Rio Purús, Brasilien ( Uma colleeção de passaros do Rio Purús, Brazil) Journ. f. Orn. 1908 p. 7. Dq; — Ornithologisches vom Tapajóz und Tocantins ( Noti- cias ornithologicas dos Rios Tapajóz e Tocantins) Journ. f. Orn. 1907 p. 493. REPTILIA 60. F. E. Beddard, A comparison of the Neotropical Species of Corallus, C. cookii, with CO. madagascariensis; and on some Points in the Anatomy of Corallus caninus. (Uma comparação das especies neo- tropicaes de Corallus, C. cookii, com C. madagascariensis; sobre , alguns pontos da anatomia de Corallus caninus ). Proc. Zool. Soc. 1908 p. 135. BIBLIOGRAPHIA 259 As especies sul-americanas (em parte amazonicas) C. cookii e O caninus têm, segundo as investigações anatomicas do autor, relações mais estreitas uma com a outra que com C. madagascariensis, unica represen- tante do genero Corallus fora da região neotropical. 61. G. A. Boulenger, Descriptions of new South-American Reptils. ( Des- cripções de novos reptis sulamericanos) Ann. and Mag. of Nat. Hist. Vol. I (1908) p. III. As Y especies de reptis (lagartos e cobras), descriptas pela primeira vez n'este trabalho, provêm da Columbia, Venezuela, do Este da Bolivia e do Peru. Pode-se presumir que algumas d'ellas tambem se acharão na nossa região. 62. A. Calmette, Les venins, les animaux venimeux et la sérothérapie antivenimeuse (Os venenos, os animaes venenosos e a serotherapia antivenenosa), Paris 1907, Obra importante não só sob o ponto de vista medical mas tambem fornecendo na primeira parte um valioso resumo dos nossos conhecimen- tos sobre as principaes cobras venenosas, das quaes infelizmente uma boa parte pertence à região amazonica. PISCES 63. C. H. Eigenmann, Preliminary descriptions of new Genera and Spe- cies of tetragonopterid Characins. ( Descripção de novos generos e especies de peixes tetragonopteriformes ). Bull. of the Mus. of Comp. Anat. Harvard College, Vol. LII, N. 6, p. 93. O material em que os generos e especies aqui descriptos foram baseados, ainda provém da Thayer-Expedition de 1865, chefiada pelo illus- tre zoologo L. Agassiz, e foi em parte collecionado no Rio Amazonas. 64. F. Steindachner, Fine im Rio Xingú (Brasilien) vorkommende Mugil-Art, Mugil xinguensis. (Uma tainha do Rio Xingú (Brazil) Mugil xinguensis) Akade- demischer Anzeiger N. XXVII, 1907 ( Wien). 65. — Drei neue Characinen und drei Siluroiden aus dem Stromgebiet des Amazonas innerhalb Bra- silien (Tres Characinos novos e tres Siluroideos das aguas do Amazonas brasileiro). Sitzungs- berichte der Jkaiserl, Acad, der Wissensch, Wien, 1908, VI, pag. 61. 66. — Notiz tiber drei neue Arten von Siisswasserfischen aus dem Amazonasgebiet u. aus dem See Can- 260 BrBLIOGRAPHIA didius auf der Insel Formosa, ferner iúber dic vorgeriickte Altersform von Loricaria acuta €, V. (Nota sobre tres especies novas de peixes d'agua doce da região Amazonica e do lago Candidius na ilha de Formosa; sobre a phase adulta de Loricaria acuta €. V,) Ibidem VII p. 82. Conf. para os peixes amazonicos mencionados n'estes 3 trabalhos Boletim do Museu Greeldi, Vol. V, N.2, (1909). VERMES 67. E. v. Daday, In siidamerikanischen Fischen lebende Trematodenar- ten (Sobre algumas especies de trematodes, que vivem em peixes sulamericanos) Zool. Jahrb. f. Syst., 24. Band 1907 p. 469. Revisão dos parasitas da subclasse Trematodi, que Natterer trouxe das suas viagens no Brazil, INSECTA 68. Buysson, (R. du! «Hyménoptêres nouveaux» ( Revue VEntom. 1908 p. 207-219). Algumas das especies descriptas pertencem á fauna amazonica. 69. Ducke, (A.) «Contribution à la connaissance de la faune hyménopté- rologique du Brésil central et meridional» ( Revue d'Entom. 1906 p. 5-11). Lista de hymenopteres colligidos sobretudo no Estado de Minas Geraes, com descripções de especies novas; já mencionada na bibliogra- phia de 1906-1907 (vol. V n, 2 p. 427 n. 63), onde porem se deu uma confusão com o trabalho seguinte. TO. — « Contribution à la connaissance de la faune hyméno- ptérologique du Nord-Est du Brésil » ( Ibidem 1907, p. 73-96; 1908 p. 57-87). A primeira parte enumera os hymenopteros observados no Estado do Maranhão e partes limitrophes do Piauhy e algumas especies do Ceará; a segunda parte descreve os resultados de uma excursão de varios mezes realizada no Estado do Ceará. Verificou-se a existencia, na região secca do Nordeste do Brazil, de uma fauna especial, muito mais profundamen- te diversa da fauna amazonica do que da do Sul do Brazil, Paraguay e Norte da Republica Argentina. BIBLIOGRAPHIA 261 Tito — « Contributions à la connwissance des hyménoptires des deux Ameriques » (Ibidem 1908 p. 28-55). [120 = « Beitriige zur Hymenopterenhkunde Ameríkas» (Dentsch, Ent. Zeitschr. 1908 p. 695-700). Trabalhos sobre os ricos materiaes da colleeção do professor €. Baker, que durante algum tempo serviu como auxiliar scientifico neste Museu; é n'elles estabelecida a synonymia de alguns generos que a fauna nearctica tem de commum com as faunas palearetica ou neotropical, dos quaes porem as especies pertencentes a cada uma destas fannas eram até agora conhecidas debaixo de nomes genericos differentes. os — « Zur Kenntnis der Sehmarotzerbienen Brasiiens » ( Lei- tschr. Hymen. Dipt. 1908, p. 44-47, 99-104). Trata da classificação das abelhas parasitarias do Brazil. 74. Moesáry, (A.) «Species tres novae magnificac generis Euglossa Latr. ». ( Annal. Mus. Nation. Hungar. 1908, p. 551-552). Duas destas especies são do Estado do Amazonas, sendo sobretudo uma dellas notavel pela sua extraordinaria belleza. 75. Turner, (Rowland E.).« Notes on the Thynnidae with remarks on some aberrant genera of the Seoliidae» (Transact. Entom. Soc. London 1908 p. 63-87). Trata da classificação de alguns grupos de insectos, habitantes principalmente a Australia e a parte meridional da America do Sul, re- presentados na Amazonia por algumas especies Taras € ainda pouco conhecidas. BOTANICA 7.6. Fritseh, (F. E.) « The Subaerial and Freshwoter Algal Flora of the Tropies. A Phytogeographical and Ecological Study.» Annals of Botany, vol. XXI, pp. 235-275. 1907. Trabalho de synthese sobre os resultados obtidos até aqui no estudo da flora algologica subaerea e de agua doce dos paizes tropicues, A bibliographia citada comprehende 111 numeros. 77. Ule, (E.) « Beitriige zur Flora der Hylaea nach den Sammlungen von Ulês Amaxonasexpedition ». Unter Mitwirkung einer Anzahl Autoren herausgegeben. Verh. Bot. Ver. Brandenburg, L. 1908, pp: 69-90. 262 BrBLIOGRAPHIA Este trabalho importante para o conhecimento da flora amazonica e cujas duas primeiras partes appareceram anteriormente (cf. Bol. vol. IV p. 800 e vol. V, p. 477), trata das seguintes familias: Commelinaceae (E. Ule), Menispermaceae (L. Diels), Euphorbiaceae (E. Ule), Malvaceae (E. Ulbrich), Bombaceae (E. Ulbrich) Sterculiaceae (E. Ulbrich), Erica- ceae (R. Hórold), Sapotaceae (K. Krause), Rubiaceae (K. Krause), Bigno- niaceae (Th. A. Sprague). Diversos generos e muitas especies novas são descriptas. 18. Wettstein, (R. von) u. Sehiffner, (V.) « Ergebnisse der botanischen Expedition der Kaiserlichen Akademie der Wissenschaften nach Siid- Brasilien 1901». I. Band. Pteridophyta und Anthophyta, 1. Halb- band. Com 26 estampas, um mappa e 12 figuras no texto. Denk- schr. Mathem.-Naturw. KI. Kais. Akad. Wiss., LXXIX, Wien 1908, 313 pp. E” o primeiro volume da publicação luxuosamente editada dos resultados da importante expedição botanica do Prof. R. von Wettstein ao Sul do Brazil, emprehendida no anno de 1901. Para o investigador da flora do Brazil meridional, esta obra será com certeza uma fonte de infor- mações valiosissima e indispensavel, mas ella contem tambem muitas obser- vações de maior alcance, principalmente na parte relativa ás Orchideas, que é devida á penna do Dr. O. Porsch, de Vienna, e que será consultada com fructo e muito apreciada por qualquer botanico ou amador que se interessa a esta familia vegetal. 79. Silveira, (Alvaro da) « Flora e Serras Mineiras ». Bello Horizon- te 1908. 206 pp. e XXX estampas. Este trabalho, apezar de occupar-se de uma região totalmente dif- ferente da que faz o objecto dos estudos especiaes do nosso Museu, pois trata justamente das partes mais elevadas do Brazil, das Serras do Estado de Minas Geraes, não pode se passar sob silencio n'uma revista que se interessa tambem á flora do Brazil em seu conjuncto. Como diz o titulo, a descripção da flora extremamente interessante d'estas serras faz a preoceupação principal do autor, apezar de que a topographia, a geologia e mesmo a metereologia d'aquellas regiões receberam tambem a sua parte de attenção. Como base das suas considerações floristicas, o Dr. Alvaro da Silveira descreve um grande numero de especies até aqui desconheci- das da flora das serras mineiras, pertencentes aos generos seguintes: As- clepias (1 esp.), Oystostemma (1 esp.), Barjonia (3 esp.), Metastelma (4 esp.), Amphistelma (3 esp.), Sarcostemma (1 esp.), Ditassa (9 esp.) Oxypetalum (6 esp.) Calostigma (1 esp.) Blepharodes (4 esp.) Phaeos- temma (1 esp.), Eriocaulon (2 esp.), Paepalanthus (31 esp.), Leiothrix (5 esp.), Syngonanthus (6 esp.), Lycopodium (1 esp.), Selaginella (1 esp.). Muitas destas especies são representadas nas estampas annexas ao traba- lho, Nas paginas que seguem e que tratam successivamente das serras mineiras visitadas pelo autor, avultam as observações de geographia bota- BIBLIOGRAPHIA 263 nica. As differenças na vegetação das diversas serras e a preponderancia absoluta das Eriocanlaceas em algumas associações vegetaes são apontadas com muita sagacidade e clareza, fornecendo estas observações uma contri- buição valiosa ao estudo da vegetação do Brazil central. 80. Ridley, (H. N.) « Branching in Palms ». Annals of Botany, vol. XXI pp. 415-422, Pi. XXXIV-XXXIX, 1907. O sabio director do jardim botanico de Singapore descreve n'este tra- balho alguns casos de esgalhamento em palmeiras do Oriente, das quaes algumas são bem conhecidas aqui, como Areca Catechu, Chrysalidocarpus lutescens (Palmeira bambú), Cocos mucifera. Factos semelhantes podem ser observados aqui, principalmente na palmeira bambú, mas tambem em certas palmeiras indigenas, como no jauary ( Astrocaryum Jauary Mart. ), do qual existe nas nossas collecções um exemplar com 3 galhos, proveni- ente do Rio Tapajorz e presenteado ao Museu pelo inolvidavel Monsenhor João de Andrade Muniz. 81, Beecari, (0.) «Le Palme americana della tribw delle Corypheae » Estratto daila Webbia, vol. II, 343 pp., 8.º Firenze 1908. De todos os representantes americanos desta tribu de palmeiras, da qual o eminente palmographo nos dá uma monographia bastante com- pleta, a região amazonica possue apenas duas especies, e estas infelizmen- te até aqui muito pouco conhecidas. São a Acanthorrhixa Wallisii H. Wendl., palmeira da região do Purus, Juruá, Ucayali e Huallaga e a 4. Chaco, do Rio Guaporé. A descripção original da primeira dºestas especies refere-se apenas ao porte e ás folhas, de forma que Beccari a considera como muito problematica. Felizmente estamos agora no caso de poder com- pletar a descripção insufficiente desta especie segundo os especimens vivos cultivados no nosso Horto botanico, Aliás os fructos já foram encontrados por Ule no rio Juruá e descriptos por Dammer sob o nome de Acanthor- rhiza Chuco (2), a segunda especie amazonica, bem distincta pela forma das suas folhas, 82. Jahn, ( Alfred jr.) «Las Palmas de la Flora Venexolana ». Mono- grafia botanica. Caracas. Tipografia Universal, 1905. Este trabalho, extracto dos Anales de la Universidad Central de Venezuela, é para nós de grande interesse, porque trata de uma familia que na republica visinha de Venezuela mostra um desenvolvimento quasi tão extraordinario como na propria região amazonica. Emquanto que esta possue 258 especies de palmeiras, o autor da monographia em questão cita 123 para o Venezuela, o que é muito considerando-se que a sua area não alcança a metade d'aquella. O Venezuela tem porem a vantagem de offerecer ás palmeiras maior variedade de clima e de accidentes topo- graphicos. Como se vê ao primeiro golpe de vista quando se percorre as paginas deste livro, não se trata aqui d'uma simples compilação, embora 264 BIrBLIOGRAPHIA que a bibliographia sobre o assumpto seja largamente aproveitada, As descripções em castelhano, ás vezes bastante resumidas, mas em certos casos bem desenvolvidas, assim como as observações sobre o uso, sobre a nomenclatura indigena e sobre a distribnição geographica das especies mostram não só um estudo criterioso da litteratura respectiva, como tam- bem conhecimentos pessoaes na materia, adquiridas em viagens no interior do paiz. Um bom numero das especies citadas pelo autor (a metade pelo menos ) acha-se tambem representado na região amazonica. 83. Ule, (E.) « Catinga w. Felsenformationen in Bahia». Engler's Bot. Jahrbiicher, vol. 40, pp. 39-48, com 6 estampas. N'este artigo, o autor dá um resumo das suas observações sobre a vegetação do sertão da Bahia, que elle percorreu em diversas direcções penetrando até alem do rio São Francisco e visitando algumas serras, cuja vegetação foi elle o primeiro a explorar. O Sr. Ule distingue n'esta região 3 formações vegetaes: os campos geraes, as catingas e a formação dos carrascos de montanha, descrevendo-as com o auxilio de boas photo- graphias. 84. Chase, ( Agnes) « Notes on genera of Paniceae Il». Proceedings of the Biological Society of Washington, vol. XXI pp. 1-9, 1908. Trata dos dois generos Hymenachne Beanv. (ao qual pertenceria, segundo o autor, o nosso bem conhecido «rabo de raposa », designado geralmente como Panicum amplexicaule Rudge) e Sacciolepis Nash, com diversas especies brasileiras. Reproduzido no « Repertorium plantarum nova- rum» de Fedde, vol. V, 1908 pp. 305-306, sob o titulo Panicearum ge- nera uc species aliter disposita. II. 85. Fries, (Rob. E.) « Studien iiber die amerikanische Columniferenglora ». Kongl. Svenska Vetensk. Handlingar, XLII, n. 12, Upsala & Stock- holm, 1908, 67 pp. 4.º com 7 estampas, Trata da systematica e da distribuição geographica de diversos re- presentantes brasileiros das familias Sterculiaceae, Bombaceae, Malvaceae e Tiliaceae, com descripções de especies novas, principalmente do Sul do Brazil, 86. Fries, (Rob. E.) « Entwurf einer Monographie der Gattungen Wissa- dula und Pseudabutilon». Kongl, Svenska Vetenskaps Akademiens Handlingar XLIII, n. 4, Upsala e Stocholm 1908. 112 pp. 4.º, com 10 estampas. Os dois generos de malvaceas de que trata o competente e consci- encioso autor sueco, pertencem ao numero dos que se acham representa- dos por muitas especies ao norte e ao sul da região equatorial propriamen- te dita, emquanto que ellas são quasi ausentes da região amazonica, Esta BIrBLIOGRAPHIA 205 distribuição singular acha a sua explicação, em parte pelo menos, nas con- dições do meio, porque se trata de plantas amigas dos logares abertos e d'um clima secco, 87% Went, (F. A. F.C.) « The development of the ovule, embryosac and egg in Podostemaceae » Extrait du Recueil des Travaux botaniques Neérlandais, vol. V, 1908. Nºesta. nota accompanhada de uma estampa, o eminente director do laboratorio botanico da Universidade de Utrecht communica alguns resultados notaveis dos seus estudos sobre os phenomenos intimos da for- mação do ovulo e da fecundação nas plantas conhecidas no nosso interior sob o nome de «mururé da cachoeira». Uma das especies examinadas, a Mourera fuiatilis, é tambem muito commum em todos os rios da costa do Pará que possuem cachoeiras. 88. Haase, (Paul) «Pharmacognostisch - chemische Untersuchung der Ipomoea fistulosa Mart. >. Inaugural-Dissertation der mathemati- schen u. naturwissensçhaftlichen Fakultãt der Kaiser Wilhelms-Uni- versitãt Strassburg zur Erlangung der Doktorwiirde vorgelegt von P. H. aus Strassburg.. Strassburg i. E., Elsass-Lothringische Druc- kerei, Abt. Miih u. Cie., Kinderspielgasse 20. 1908. A observação de que o « algodão bravo > de Marajó ( Ipomoea fis- tulosa ) quando comido pelo gado, tem um effeito toxico assaz pronun- ciado, induziu alguns annos atraz o illustre Dr Ferreira Teixeira, fazen- deiro no municipio de Muaná e actualmente chefe da Repartição estadual de Agricultura, a pedir á direcção do Museu de mandar analysar na Eu- ropa esta planta perniciosa, afim de conhecer o seu principio activo. Os materiaes foram remettidos ao Prof. Dr. Schaer, cathedratico de Pharma- cognosia na Universidade de Strassburgo, que encarregou do seu estudo um dos seus discipulos. A these de doutorando cujo titulo encabeça estas linhas, traz o resultado das pesquizas conscienciosas e bastante completas sobre o assumpto em questão. Em resumo, o autor chegou ás seguintes conclusões: (Quanto aos caracteres anatomicos, a Ipomea fistulosa mostra anomalias notaveis no crescimento das suas raizes e dos seus caules. Os caules e as raizes contêm os seguintes corpos chimicos: 1) um glycoside resinoso (0, 2º/,), que é indentico com a Orizabina (Jalapina), 2) cera, 3) tannino, 4) uma hexose. A semente contem mais os seguintes corpos: 1) um disaccharide, provavelmente assucar de canna; 2) uma mucilagem composta de galactose, pentose e pentose methylica; 3) um oleo fixo, de composição bastante complicada. E mais que provavel que o glycoside orixabina ou jalapina, prin- cipio activo da jalapa, seja em primeiro logar responsavel pela acção to- xica do algodão bravo, tanto mais que, segundo as observações microsco- picas do autor, as partes ainda tenras da planta (caules novos e folhas ) são muito mais ricas em jalapina do que as partes lenhosas, 266 BiBLIOGRAPHIA 89. Theissen, (P. F.) « Os eryptogamas riograndenses em face do evolu- cionismo ». Relatorio do Gymnasio N. S. da Conceição em São Leo- poldo ( Estado do Rio Grande do Sul). Publicado no fim do anno lectivo de 1908. Porto Alegre, Typographia do Centro, 1908. Entre os bons trabalhos mycologicos que os esforçados professores do Gymnasio S. Leopoldo, P. Rick e P. Theissen, estão publicando de alguns annos para cá, o presente offerece um interesse geral para os nossos Jei- tores, porque trata de questões de maior alcance, como são a constan- cia das especies e a descendencia no grupo dos fungos. Sobre esta materia o autor chegou, pela consulta de bibliographia respectiva e pelo estudo acurado da familia das Xylariaceas, a algumas conclusões bem suprehen- dentes, porem inevitaveis. A primeira é esta: Dois terços das especies de fungos até hoje deseriptas baseiam em erro, isto é: elles foram descriptos com a idéa erronea que os respectivos fungos eram especies novas para a sciencia, emquanto que elles ja eram conhecidos e descriptos por outros, ou ás vezes até pelo proprio autor que assim descreveu a mesma especie sob diversos nomes. Todas as monographias recentes que são baseadas sobre um material abundante. provam esta asserção do autor. Os synonymos frequentes e a difficuldade da systematica dos cogumelos em geral provem de um lado da falta de criterio dos respectivos autores e do facto que as descripções nem sempre são baseadas sobre um material sufficiente, do outro lado da variabilidade extrema dos cogumelos que, sendo em relação extreita com o seu modo de vida, affecta não só aos caracteres secundarios, como tambem, devido a organisação inferior d'estas plantas, os ques e consideram como de primeira importancia para a distincção das especies e não raras vezes dos proprios generos. Em concordancia com certos especialistas no campo da mycologia, como Lloyd, Fischer e Rick, o autor não admitte, para os cogumelos, a concepção vulgar de especie, distinguindo apenas certos typos, cujas formas não terião senão constan- cia local e temporaria. Quanto aos typos, porem, o autor está convencido, « que constituem systemas isolados e fixos, ainda que tambem elles tenham relações bem pronunciadas, relações que permittem adivinhar a ponte que lhe servira no primeiro transito». Quanto á familia Xylariaceae, o P. Theissen apresenta a hypothese seguinte: «Os representantes da familia Xylariaceae originaram-se na sua maioria de um ou mais typos (especies naturaes) por via de variações graduadas ou por via de descendencia, quando fixas, sendo o genero Hypoxylon o eixo sobre o qual gira a fami- lia toda ». 90. Teschauver, (P. €., S. J.) «4 flora nos costumes, superstições e lendas brasileiras e americanas ». Tiragem á parte do estudo pu- blicado no Almanak do Rio Grande do Sul para 1909. Pintos & C., Livraria Americana, Rio Grande. Apezar de se tratar d'um artigo popular destinado para um alma- nak, o botanico e o folklorista acharão n'esta brochura informações inte- ressantes e ambos não perderão o seu tempo em percorrel-a com attenção. BiBLIOGRAPHIA 267 Na primeira parte, que trata das plantas culturaes, o estudioso autor cita algumas lendas e tradições referentes á origem do milho, á mandiocca, ao umbá (Phytolacca dioica L.), á herva-mate, ao maracujá e ao tabaco. Na segunda parte, intitulado « Medicos e plantas medicinaes », encontram- se informações sobre as crenças populares referentes ás seguintes plantas medicinaes do Brazil meridional: mil-homens ( Aristolochia spec.), pau santo (guayacum officinale ), balsamo das Missões ( Schinus molle ), Aro- eira ( Astronium urundeuva ) e salsaparrilha ( Smilax japecanga ). FIM do volume VI pe, en ag +; E Apto o) E é 3 INDICE DO TOMO VI PARTE ADMINISTRATIVA: 1) Relatorio apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Secretario do Estado da Justiça, Interior e Instrucção Publica, pelo Director do Museu, relativo ao anno de 1907. II) Relatorio apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Secretario do Estado da Justiça, Interior e Instrucção Publica, pelo Director do Museu, relativo ao anno de 1908. PARTE SCIENTIFICA : À) ETHNOLOGIA I) A Couvade, pelo Dr. BR. R. Schuller. . ..... B) zooLOGIA 1) Sobre a Distribuição da Avifauna campestre na Ama- zonia, pela Dra. E. Snethlage . . . ...... C) BOTANICA I) Sobre um caso notavel de polymorphismo nas folhas do Abacateiro (Persea gratissima Gaertn.), pelo Dr. J. Huber, com uma estampa. Pia A doa II) Novitates Florae Amazonicae, pelo Dr. J. Huber. . III) Mattas e madeiras amazonicas, pelo Dr. J. Huber, com dois Appendices s/a (ça aid ao Da PAGS 54—59 60—90 INDICE BIBLIOGRAPHIA (1908): Amerikanisten - Kongress Wien, n.º 38, — Anderson 39, — Bayern (Therese Prinzessin von) 3,—Beccari 81,—Beddard 60, —Berlepsch 47, — Boulenger 61,—Buysson 68,—-Calmette 62,—Catevin 31,-—Chase 84, — Craig 5,—Daday 67,— DeWitt Miller 51,—Delebecque 4, — Ducke 69-73, — Eigen- mann 63,—Enock 2,—Fries 85, 86,—Fritsch 76, -—Haase 88, Hamy 36, —Hellmayr 48, 49, 50, 52,—Huot 6, -—Ignace 34, —Ihering 26, 27,—Jabn 82,—Koch-Griinberg 8, 9, 12-19,--Koenigswaid 11, 33,—Lehmann-Nitsche 22, 30,— Marcel 35,— Mocsáry 74,—Moreira 32.—Nordenskióld 29,— Onel- li 40,—Pierini 37,—Pocock 41, —Preller 42,—Rivet 20, 21, Rice 7,—Ri- dley 80,—Saville 28, — Schmidt (Max) 23, 24 — Silveira 79,— Simões 10, — Simon e Hellmayr 52,— Snethlage 53-58,— &pruce 1,— Steindachner 64, 65, 66,-—Schliiter 43,—Souza Carneiro 44, — Teschauer 90,—Theissen 89,— Thomas 45, 46,— Turner 75,—Ule 77, 83,—Went S7,— Wettstein & Schiffner 78,— Wilser 25. tem publicado até esta data BOLETIM Volume 1: Fascieulos 1, 2, 3, 4 : ( Exgottado, fasc. 1 reeditado) Volume II: » EDTA: (Exgottado).. k E : Volume III: » CA 2, 3-4 : DA ( Exgottado) e Rs Volume IV: > 1. 2-3, 4 (Fasciculo 1 exgottado). Volume V: » | PRA Volume VI: | Bo MEMORIAS I — Excavações archeologicas em 1905 eg Se Il — Zwischen Ocean und Guamá. HI — Estudos sobre o desenvolvimento da armação dos veados galheiros do Brazil (exgottado).. - IV =Ds Ro SRA no Pará. ALBUM DE AVES Re É: pe Ergo, fascículo 3 (estampas 25 48). Relação das publicações Ros feitas pelo Museu. Goeldi Rio ARBORETUM. AMAZONICUM — Decadas; I (est. 1- 10) oe 1 120), mM, o | AN test St- 40). ' ' 1 a Y ES. p Cad a A, els dm e: Os Boletins e Memorias são de at “para obtel-os regularmente . basta. pedir. - rectoria do SETA EA AS Tea Pri cisco | % Comp. , á rua do Ouvidor 1 n. a no. Rio dá | Jar o E 4 PRA : ||] ||| || | II || a, | 3 5185 00225 40 E Es s +» O usar Vur os Peba than y Red? Rá) AM ty 4 basica ser tisgi rtjoh mt rp so a Eram Rita ia + PoE PU ob L4 noi] seta çd eis atptersendatho, + es de sebpst a rip “ At Uepaça o fo cdega coça po eçh a pesr bt bis ca Sado so dá plsitiga gire bt qeea e Pod irisfo ssa torço e des bae y ms joia pero pira apelar top oo jose geo fr nais nero eres N Eid AR na pmetagrac z o resb A dçi Pitieas pt pastedo gras bord aptesstrcds mam UE A e, Au at HMEMoçs A * é Ea Wii ida folga Nois Pd ER bate mi 4 a im e io pesa tar a brota pve pa '” aaa esrmesptea pio pá rA ! nha nfehem córo Eds dih % Wes abas el pie A o ei perigitirh Ebro dias att anime Ego e ih q mw mr E ta m Rato e | Y Mt te Sd El SRA: ur Hi ut Eri ve em A é Bi ins EA +] Tá ps + " E) eita Pre sem “o fs 4 mad q E sy sabio Eu H ie ENA Eiblgas apical Pe ra qu í Tal me Aeira E fe (PLS PRACA DA A UL e itess him paçes E 4 a barbe s: pregas H E