Na " Da 4 ” * ADO ADA RR É USPUA POR nr persa cmo ae AN adiado re “AIC = "R 3 m :R AVC 4: E ss IA SSARR Ao “é: ASS ç bi ad rs Dn » "BOLETIM DO MUSEU GOELDI (MUSEU PARAENSE) DE É (im) E E q q A o E «t] = pa = o fe to E BOLETIM ER > | DO ÇA prio — MUSEU GOELDI E E (MUSEU PARAENSE) DE “HISTORIA NATURAL E ETHNOGRAPHIA BOLETIM DO MUSEU GULDI (MUSEU PARAENSE) DE HISTORIA NATURAL E ETHNOGRAPHIA — TOMO IV FASCICULOS 1 — 4 1904 — 1906 PARÁ — BrazIL ' IyrocraPpHIA DO Instituto LaurO SopRÉ (Fasc. 1) E DO Estas. GRAPH. DE C. WiEGANDT ( Fasciculos 2. 3, 4) 1906 INDICE TOMO IV PARTE ADMINISTRATIVA I) Relatorio sobre o Museu, relativo ao anno de 1901, apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Secretario de Estado da Justiça, Interior e Instrucção Publica pelo Dr. Emilio Augusto Geeldi, Director do Museu. y II) Decreto N.º 1114. de 27 de Janeiro de 1902, reorga- nisando o Museu Geldi .. III) Decreto N.º 1272 de 26 de Janeiro de 1904, reorgani- sando o Regimento interno do Museu Geldi . IV) Dr. phil. Max Kaech — necrologio ( com retrato ).. V) Relatorio apresentado ao Exmo. Sr. Secretario da Jus- tiça, Interior e Instrucção Publica, referente ao anno de 1902, pelo Director do Museu. * PARTE SCIENTIFICA : À) ZOOLOGIA 1) Prodromo de um catalogo critico-commentado da colleeção de Mammiferos no Museu do Pará ( 1894- 1903), pelos Drs. E. A. Geeldi e G. Hagmann, com 5 estampas . IL) Os mosquitos no Pará. “Resumo provisorio dos resul- tados da campanha do experiencias executadas em 1903 especialmente em relação ás especies Stego- myia fasciata e Culex fatigans, sob o ponto de vista sanitario. Pelo Prof. Dr. E. A. Geeldi. II) As aves brasilicas mencionadas e descriptas nas obras de Spix (1825), de Wied ( 1830-1833 ), Burmeister (1854) e Pelzeln (1864), na sua nomenclatura scientifica actual. Chave ds ais E ssinsdo pelo Dr. G. Hagmann . .. IV) Grandiosas migrações de borboletas no valle amazo- nico. Pelo Prof. Dr. Emilio A. Goeldi, (Com 2 es- tampas ).. RR Arão goto PAGS. 1— 30 30— 38 123—128 459 --466 467 —51G 38— 122 129—197 198—308 309316 1 e VI e VII) VIII) I) NI e HI) IV) V) “EV E) VII) VII) IX) X) Indice Sobre as Vespidas sociaes do Pará. Por e 4 figuras no texto ).. à 2 RS OR Molestias que affectam os animaes domesticos mor- mente o gado na Ilha de Marajó. Pelo Sr. Vicente Chermont de Miranda, Engenheiro civil. À Sobre as Vespidas sociaes do Pará. |.º supplemento. Por Adolpho Ducke. (Com 4 estampas e uma fi- gura no texto). Chelonios do Brazil. (J aboiga-= Jtágados= nais y Capitulo primeiro da Monographia « Reptis do Bra- zil. » ( Obra inedita, escripta entre 1892-1894 ). Pelo Dr. Emilio A. Greeldi. B) BOTANICA Notas sobre a patria e a distribuição geographica das arvores fructiferas do Pará. Pelo Dr. J. Huber. Fungi paraenses (II) clariss. Dr. J. Huber collecti. Por P. Hennings ( Berlim ). y : Arvores de borracha e de balata da região » Amazonica. ( Novas contribuições 1). Especies do genero Sapium (Tapurá, Murupita, Resto Seringarana ). Pelo Dr. J. Huber. : RE e e RR Sobre os generos V ouacapoua, Vatairea e Andira ( Miscellaneas menores ). Pelo Dr. J. Huber... Ainda a preposito dos ninhos de Japú. ( Miscellaneas menores ). Pelo Dr. J. Huber. A origem da Pupunha ( Miscellaneas menores) Pelo. Dr. J. Huber. : Qual deve ser o nome eo dó: nosso Assahy ? ( Miscellaneas menores ). Pelo Dr. J. Huber... Guadua superba Huber. nov. espec., a Taboca gigante do alto rio Purús. ( Miscellaneas menores ). Pelo Dr. J. Huber . E Sobre as ilhas fluctuantes do Amazonas. ( Miscellaneas menores ). Pelo Dr. J. Huber . Materiaes para a Flora Amazonica. VI. Plantas v vascu- lares colligidas e observadas no baixo Ucayali e no Pampa del Sacramento, nos mezes de outubro a dezembro de 1898. (Com 7 figuras no texto ). Pelo Dr. J. Huber . Ensaio d'uma Synopse das especies do genero Hevea sob os pontos de vista systematico e geographico. pelo Dr. Huber . Adolpho | Ducke, entomologista do Museu. ( Com 2 estampas | PAGS. 217—374 438 — 468 652—698 699-—756 315 -—406 407—414 415— 437 469 —471 471 —473 474476 474 —4TS 479 — 489 488 —48] 510—619 620 —651 Indice C) ETHNOGRAPHIA PAGS. 1) Duas cartas do Dr. Theodor Koch relativas á sua ex- pedição ethnographica entre os Indios do alto rio Negro, dirigidas ao Director de Muscu. Com prefa- ao do Dr. -Emilió A. Geldi... ....... o... o 481488 BIBLIOGRAPHIA — André, E. n. 9.—Borge, O. n. 65.—Branner, J. €. n. 66. — Brazil, V. n. 36.— Buscalione, L. n. 67— Buttel-Reepen. v., n. 50. -—Chodat, R n, 68.—Christ, H. n. 69.—Daguillon et Coupin, n. 70.—Du Bois, G. €., n. 63.— Ducke, A., n. 43,44.--Edwall, G., n. 71.—Ellingsen, Edv., n. 54. — Ehrenreich, P., n. 13. Festa, E., n. 20.— Forel, A.. n. 51, 52.—Fries, KR. E, n. 72-Geldi, E. A., n. 3,4, 11, 15, 16, 25, 34, 55, 56.—Hann, J., n: 10.—Heckel, E., n. 73.—-Ihering, H. von, ns. 1, 2, 6, 14, 24, 48, 57, 59. — Katzer, Fr., n. 62. Hennings, P. n.s 74, 89.— Huber, J., n. 53. a P., n. 5.—Levat, E. D., n. 64.-—Lindman, C. A. M., 75, 76, ; 48 — E EEE, E., n. 61.—Nordenskióld, E. n. 60.—0Oldfield, Th., e 17, 18, 22, 23. —Parkin, J., ns. 79, s0.— Pellegrin, J. n. 38. —Penzig, O., 81.—Pilger, R.. 82.—-Rodway, J., n. 8.—Sala, G., n. 7.—Siebenrock, F., n. 35.—Silvestri, F., n. 49.—Steere, J. B., n. 12.—Stingelin, Th., n 58.—Stnder, Th., n. 21.—Tate Regan, C., ns. 37, 39, 40, 41, 42.—Troues- sart, E. L., n. 19.—Ule, E., ns. 83, 84, 85, 86, 87.— Warming, E., n. 88 —Wasmann, E., ns. 45, 46, 47. ILLUSTRAÇÕES PAGS. I) Mycetes belcebul. « Guariba de mão ruiva » ( Cabeça). 43 II) Os tres primeiros exemplares de uma genuina doninha do Brazil ( Putorius paraensis Geeldij . cc. 62 RR anos da miesma . =. Los ue a Lam + 63 IV) Felis macrura ( Wied). Maracajá. (Cabeça ). . ... 6S V e] Eamídes do Brazil. (Craneos)... . 2. cs... 14 Rios À Res À Pa 314 VIII Í Grandiosas migrações de borboletas no ig amazonico | 216 IX) Tarsos das Vespidas paraenses ( Megacanthopus imita- tor e Polybia angulata . .... 321 X) Cabeças de Vespidas paraenses (Apoioa pda e » Mis- cyttarus drewseni, ... Era 321 I ; E e E Ninhos de Vespidas sociaes do Pará. . . ...... 375 ERR Dr Max Knech, F..(retrato) ... . .... 0... 459 Indice PAGS XIV) Browneopsis ucayalina, Huber nov. gen. e espec. ( por- menúres-Morae ), - 2 FA 565 XV) Desmodium lunatum,: Huber, nov. espec. ( fructo e fo- Bjs LD RE 0 a SD SR NEN 569 XVI) Centrosema roseum, Huber, nov. espec. ( pormenores da fôr e da dolha. 20 aos A AS E 571 XVII) Cusparia ucayalina, Huber, nov. espec. ( pormenores floraes ) ... E eps O AA a oT4 XVIII) Passiflora skiantha, “Huber, nov. espec. ( pormenores Hhrães) =. 7a sta SE a O RA E 592 XIX ) Iussiaea Micheli, Huber, à nov. espoe. ( pormenores flo- raes ) . RR: XX) Solanum rodada Huber, nov. espec. ( pormenores floraes ). ERR Prod o 4 XXI) Solanum violaefolium, “Sehot, nov. espec. ( pormenores floraes ). .. 603 XXII) Corte vertical do ninho da Veapida Chasterginua À huberi RRMERE. So que ES i 669 ev! é | Ninhos de Vespidas amazonicas . . ........ 698 seg. XXVI BOLETIM EA RO MUSEU GOELDI HISTORIA NATURAL E ETHNOGRAPHIA PARTE ADMINISTRATIVA I RELATORIO SOBRE O MUSEU, RELATIVO AO ANNO DE 1901 APRESENTADO AO EXM. SR. DR. SECRETARIO DE ES- TADO DA JUSTIÇA, INTERIOR"E INSTRUCÇÃO PUBLICA PELO DR., EMILIO AUGUSTO GCGELDI, DIRECTOR DO MESMO.MUSEU Denominação do Museu O Ex.» Sr. Dr. Paes de Carvalho, ex-governador do Estado, surprehendeu-me no dia 31 de dezembro de 1900, com O seguinte Decreto no «Diario Official» : DEGRETO N. 933 de 31 de dezembro de 1900. —1.º Directoria —Dã ao Museu Paraense a denominação de Museu Goeldi. «O Governador do Estado, tendo em attenção os «relevantes serviços prestados pelo Dr. Emilio Augusto «Goeldi, Director do Museu Paraense, na organisação «deste importante estabelecimento, adaptando-o aos fins «scientificos de sua fundação e enriquecendo-o, por seus FASC. I—VOL. Iv—(BOL. DO MUS. PARAENSE) 2) Relatorio de 1901 «esforços, com os valiosos elementos que o elevaram ao «grão de prosperidade em que se acha; «Considerando que esse distincto funccionario tem- «se consagrado com louvavel dedicação aos assumptos «que interessam aos progressos e engrandecimento deste «Estado, concorrendo efficazmente para o seu renome «no extrangeiro; «Considerando que no estudo e esclarecimento dos «nossos direitos na questão de limites com a Guyana «Franceza prestou o valioso concurso de seus conheci- «mentos scientiíficos : «Resolve, como preito de reconhecimento do Esta- «do ao referido funccionario, dar ao Museu Paraense a «denominação de Museu Gceeldi. «Palacio do Governo do Estado do Pará, 31 de de- zembro de 1900. . (Assignados) : Dr. José Paes DE CARVALHO Augusto Olympio de Araujo e Souza Não me cabe commentar semelhante decisão, na qual todavia reconheço um alto grau de benevolencia particular do anterior Governador para commigo. Sim- plesmente direi que por trez vezes fui ter com o Sr. Dr. Paes de Carvalho, procurando demovel-o de seme- lhante intento, e pedindo deixasse as cousas no pé em que antes estavam. Em vão;—tive que resignar-me, con- vencendo-me que a continuação da minha insistencia pela revogação do decreto importaria em diminuição do valor da boa intenção, em má comprehensão de uma medida de generosidade governamental, para não dizer redondamente em falta de delicadeza. Lembrando-me da sentença de Seneca: «In benefi- cio jucundissima est tribuentis voluntas» e a de outro autor antigo que diz: «Semel dat qui rogatus, bis qui non rogatus», cohformei-me com a decisão, habituan- do-me todavia mais depressa com o espirito que com a fórma do preito, Relatorio de 1901 3 Terrenos O quarteirão situado entre as ruas Nove-de-Janeiro e Vinte-e-Dois-de-Junho, com frente para a avenida da Independencia e fundos para a Gentil Bittencourt, de uma parte do qual foi recentemente, por ordem do sr. Governador dr. Augusto Montenegro, levantada, pelo agrimensor da repartição de obras publicas sr. Aristides Pereira dé Leão, uma detalhada planta em escala de 1:400, que servirá de orientação no futuro, tem uma su- perficie total de 53.899 metros quadrados, ou sejam, em numeros redondos 5,39 hectares, e affecta a fórma de um trapezoide que bem se apprcxima de um parallelo- grammo regular. Nesse quarteirão está o Museu do Estado, que delle occupa 26.312 metros quadrados, isto é, quasi metade do total. De facto, uma linha longitudinal, um tanto obliqua, separa os terrenos do Museu dos dos outros proprieta- rios, de modo a mostrar aquelle maior extensão pela frente e menor pelos fundos, acontecendo naturalmente O inverso á outra parte. Primitivamente, isto é, quando o Governo com- prou, em 1895, a primeira parte ao sr. coronel Silva Santos, o Museu tinha uma area de 14.496 metros qua- drados (1,45 hect.) que não foi augmentada durante a administração do sr. dr. Lauro Sodré, havendo, entre- tanto, desde aquella época, o rlano de desapropriar e incorporar ao Museu os terrenos contiguos entre elle e a rua Nove-de-Janeiro por um lado, e entre as avenidas Gentil Bittencourt e Independencia por outro. Na administração do sr. dr. Paes de Carvalho foi essa area declarada de utilidade publica por lei estadoal n. 499, de 15 de maio de 1897, sendo porem só em 1899 encetada a desapropriação. Das 10 parcellas de que trata a mencionada lei, per- tencentes a seis proprietarios diversos, foram pelo Go- verno adquiridas 6, pertencentes a dois proprietarios, entre os quaes figura outra vez o sr. coronel Silva San- tos como dono da maior parte, importando as desapro- priações durante essa administração em 8.956 metros quadrados (0,89 hect.). Datam desse tempo as compras das duas hortas, a k Relatorio de 1901 primeira das quaes sita ao canto entre a avenida Inde- pendencia e a rua Nove-de-Janeiro, e das duas casas as- signaladas sob IV e VI no antigo plano do Museu, resi- dencia do director a primeira, e do chefe da secção bota- nica a segunda. A administração do sr. dr. Augusto Montenegro. começada em 1 de fevereiro de 1901, veio logo trazer ao Museu o enorme beneficio da desapropriação rapida e definitiva de duas parcellas (1 e III do antigo plano), cuja falta era até então para o estabelecimento uma fonte de contrariedades e aborrecimentos. A primeira dellas, de 2.300 metros quadrados de superficie, interrompia a continuidade na testada do horto botanico, o que impos- sibilitava um ajardinamento razoavel; a segunda, de 560 ? apenas, alem de produzir identico effeito paralysador pelo lado da rua Nove-de-Janeiro, sendo uma taberna de infima classe constituia um fóco de desmoralisação encravado nos terrenos do Museu, perturbador da disci- plina a que está sujeito o pessoal deste. De maneira que, não obstante a relativa exiguidade da área das duas par- cellas em questão, que attingem apenas 2.860 m>, a sua recente desapropriação fez-se sentir no Museu como um allivio extraordinario. Então, da superficie total a que se referia a lei n. 499, de 15 de maio de 1897, e que importava em 14.451 metros quadrados (1,44 hect.) resta hoje por desapropriar unica- mente a parcella V do antigo mappa, sita no angulo da rua Nove-de-Janeiro com a avenida Gentil Bittencourt, com uma área de 2.635 m»> e um predio. Tambem essa, temos esperança, não tardará a pertencer ao Museu, e a ser incorporada ao organismo deste estabelecimento que, na opinião unanime do mundo culto, constitue o mais eloquente interprete do progresso realisado no Pará no terreno intellectual. De posse, finalmente, após 7 annos de lucta e de espera, de quasi metade do quarteirão, o Museu tem, em poucos mezes, conseguido realisar importantes obras, podia-se mesmo dizer estupendas, levando em conta o curto espaço de tempo. Dois predios velhos, arruinados e anti-hygienicos que existiam nas duas parcellas ultimamente desapro- priadas foram arrasados, bem como um labyrintho de cercas velhas que subdividiam o terreno em todos esses pequenos lotes. Relatorio de 1901 5 Edifícios e Obras O anno de 1901 foi de um movimento bastante in- tenso e incomparavelmente maior que em qualquer ou- tro periodo anterior em relação a melhoramentos de edificios ja existentes, construcção de novos e um bom numero de diversas obras que desde muito pertenciam ao contingente das coisas reconhecidamente necessarias, urgentes e desejaveis. Foi um snno de actividade febril sob o ponto de vista de obras e construcções, sustenta- da e animada antes de tudo pela energica iniciativa do sr. dr. Governador Augusto Montenegro. Passo a enumerar rapidamente os serviços mais no- taveis realisados. No mez de outubro s. exc. ordenou que fosse pin- tado de novo o edificio do Museu, o que ha annos não se fazia. Graças a esta providencia apresenta-se hoje o estabelecimento com uma vista mais decente e agrada- vel. O colorido escolhido é um ameno verde escuro, contrastando suavemente com a tinta amarella esbran- quiçada das molduras, janellas e portas. Importando o respectivo orçamento organisado pela ' Secretaria das Obras Publicas, Terras e Viação em Rs. 4:012$334, conseguiu todavia esta Directoria effectuar a dita pintura gastando apenas Rs. 3:078$800. À pintura interna, tambem mais do que necessaria já, transferida porem para depois. Logo em seguida veio outro commettimento de bas- tante alcance: muro e gradil na frente, pelo lado da ave- nida da Independencia—que hoje já se apresenta mais á feição de uma cidade moderna, estando toda calçada e bellamente iluminada a lampadas de arco, achando-se portanto removidas todas as queixas por nós formuladas em relatorios anteriores contra o mau estado da rua em frente ao Museu—desde a primitiva linha divisoria en- tre o Museu e a rocinha do sr. Manoel Alves da Cruz até a esquina da travessa Nove-de-Janeiro. Esse muro e gradil fez-se naturalmente igual ao que havia na parte até então gradeada, de modo que exten- de-se hoje o gradil uniforme em toda a testada, isto é, metade do quarteirão. Fez-se um portão, executado, bem como o gradil, nas officinas do Instituto Lauro Sodré, e mais dois kiosques hvgienicos e formosos, um á en- 6 Relatorio de 1901 trada principal do Museu, destinado para o guarda-por- tão, e outro no canto entre a rua -Nove-de-Janeiro e a avenida da Independencia, para um jardineiro servindo de guarda à parte adjacente do Horto botanico. Dispendeu-se com este serviço a quantia de Rs. 5:993$130, tendo sido o custo de cada um dos kiosques acima mencionados Rs. 1:975$000. Com um tanque pequeno e simples, junto ao portão novo, gastou-se mais Rs. 728000. Removido o entulho das duas casas e de um kios- que demolidos—trabalho que custou Rs. 274$000—pou- de-se proceder a definitiva disposição dos canteiros na parte oriento-septentrional do horto botanico como de ha muito o desejava o chefe da secção botanica e tão radical foi a transformação realisada no aspecto desta parte que o visitante, conhecedor do terreno antes, dif- ficilmente hoje alli se orienta. Na parte posterior do edificio do Museu havia uma escada de madeira, de mau aspecto e falta de solidez, ha muito necessitada de substituição por cousa melhor. Resolveu-se pôr ahi uma escadaria dupla, de cimen- to, que ficou uma verdadeira obra de arte, debaixo da direcção pessoal e da coparticipação do nosso desenha- dor-lithographo, o sr. Ernesto Lohse. Toda ella, de principio a fim, foi executada pelo proprio pessoal do Museu que não recua de pegar no martello, na colher de pedreiro, na pá do jardineiro ou na plaina e no machado, quando isso se faz mister. Em frente desta escadaria de gosto mais artistico que a da frente de edificio, fez-se um monticulo de sta- lactites e pedras naturaes, com tanque d agua corrente no centro, obra dirigida pelo inspector do jardim bota- nico, sr. Andreas Geeldi. Figuram estes serviços nas nossas despesas apenas com Rs. 1:179$000. sendo certo que o custo importaria pelo menos no triplo sem a parte activa do proprio pes- soal do Museu. Foi demolido um velho pombal que ameaçava ruina e em seu logar acha-se hoje um laboratorio de photo- graphia, construcção graciosa que satisfaz as exigencias technicas e attende ás circumstancias especiaes ditadas gelo clima equatorial. E' outro serviço exclusivamente feito com o pessoal do Museu, sem exceptuar os tanques e bacias de lavagem, feitos de cimento, systema Mou- Relatorio de 1901 7 nier. Importou em Rs. 3:1038000 empregando-se mais Rs. 5958000 no necessario mobiliamento interno. Um banheiro velho no pateo dos fundos do Museu, removeu-se para ponto mais distante da horta, por ser estheticamente incompativel com a visinhança da nova escadaria. * Com esta mudança e com o novo encanamento d'agua, drenagem do solo e um deposito d'agua, de ferro galvanisado, dispendeu-se a quantia de Rs. 1:014$000. Um rancho de revoltante aspecto que servia de offi- cina taxidermica e mais trabalhos congeneres que soem acompanhar a preparação de historia natural e cuja sub- stituição por qualquer cousa mais decente e apropriada desde 1895 se reconhecia como uma necessidade, só por decisão governamental de agora foi demolido finalmente. Em vez delle surgiu um edificio apropriado e commodo, embora simples, mas que não envergonhará exhibil-o a qualquer visita de fóra. Este edificio, cujos dois terços se acham termina- dos, é outro indiscutivel benefício para o Museu, sig- nificativo marco de progresso devido ao benevolo inte- resse do sr. dr. Governador para com o estabelecimen- to. Quando prompto, deve ter duas alas lateraes mais altas, destinadas, a septentrional á lithographia, impres- são e mistéres semelhantes; a meridional, ainda não feita, à taxidermia, e um corpo central, mais baixo, para officina de trabalhos de madeira—torno, banco de carpinteiro, etc.—deposito de alcool e da ferramenta de jardinagem, sala de preparação para a secção botanica, e officina de curtir couros e pelles. E perceptivel a sa- tisfacção do pessoal technico de ter finalmente um logar proprio e idoneo, offerecendo a possibilidade do traba- lho, quando dantes a gente não sabia onde se metter por falta de logar, de ar e de luz. Para o caso não muito raro de necessidade de ser- viço nocturno installou-se illuminação electrica. O nos- so orçamento primitivo para o edificio todo importou em Rs. 17:713$281, hoje reconhecido como estreito de mais, pois a experiencia demonstrou a impossibilidade de fazer-se frente ás despesas de construcção com a quota calculada e recebida correspondente aos dois ter- ços, a saber Rs. 11:8038853. Não perdemos a fé de vermos erigido durante este anno de 1902 ainda o terço restante e terminado assim 8 Relatorio de 1901 este edifício de tanta necessidade para a vida interna e a marcha regular do estabelecimento. O sr. dr. Governador, : conhecendo de visit DOR demoradas e repetidas visitas ao Museu a calamitosa fal- ta d'agua que havia e a que já por vezes alludi em rela- torios anteriores, mandou collocar um tanque de 16 me- tros cubicos e providenciou outrosim sobre a vinda de material para um poço accionado por um aero-motor. Reconhecendo-se porem como fraco de mais o primiti- vamente projectado andaime, e sendo outrosim reco- nhecida a necessidade de augmentar a altura do tanque para obtenção da necessaria pressão na rêde de encana- mento servindo as dependencias, resolveu-se fazer uma construcção que satisfizesse aos postulados da solidez, da esthetica e da muitipla utilidade ao mesmo tempo, e assim erigiu-se aquella monumental caixa d'agua que, pegado ao lado da Victoria regia, forma hoje mereci- damente o principal ponto de attencção na area de ter- renos recentemente encorporados ao Museu. Magnifico panorama sobre os arredores descortina- se do alto da plataforma. Os baixos, em forma de abo- badas de antigo castello serão aproveitados para vege- taes que gostam da humidade e do lusco-fusco, como fetos etc., e para corujas, para as quaes sempre faltou uma gaiola apropriada no Jardim Zoologico. De par com o lago adjacente que foi submettido a uma radical reforma a fim de se obterem melhores con- dições para o crescimento e desenvolvimento da Victo- ria regia, obstar a fuga dagua pelo desmoronamento da camada de cimento por demais delgada no fundo e corrigir outros manifestos defeitos descobertos no cor- rer dos annos, forma hoje um grupo paizagista deveras notavel, lindo e digno de ser visto. No Para, em todo o caso, não ha cousa igual. Esperamos que o lago, de- pois de concertado, permitta finalmente tambem con- servar com successo algum exemplar de peixe-boi, com os quaes antes não temos sido muito felizes, devido justamente à falta de logar apropriado. Com estes dois serviços gastou-se Rs. 8:215$000, sendo Rs. 5:815$000 com o deposito d'agua e Rs. 2:4008 com a reforma do lago. Ainda não foi aberto o poço para o catavento, que já se acha no Museu; acceitou-se, porem, a offerta de um empreiteiro que se obriga a esse serviço mediante POPA - = ú 4 + f : Relatorio de 1901 ) a quantia de Rs. 1:9208$000. O poço deve ter 1 m. de diametro e 10 de profundidade. Outra construcção nova de certo vulto é a casa do inspector do horto botanico, junto ao projectado por- tão ao centro da face que dá para a travessa Nove-de- Janeiro. Devendo este servir de entrada principal de serviço para carroças e cargas pesadas, convinha refor- çar a vigilancia alli. Ora, como ameaçasse ruina O ran- cho velho da extincta vaccaria, figurado na parcella IV B, na antiga planta do Museu publicada em 1897, e hou- vesse necessidade de achar moradia para o inspector do horto, resolveu-se construir uma pequena habitação em vez de um simples kiosque como os dois da frente. E assim se fez, constando a bella, hygienica e solida, em- bora simples e pequena, residencia de dois quartos, va- randinha, latrina e banheiro. Falta-lhe apenas uma co- sinha para poder passar por uma boa moradia para pe- quena familia. Esta casa permitte uma fiscalisação efficaz da dita entrada pela rua Nove-de-Janeiro, de toda a horta ac- tual, e dos fundos das novas officinas. E não ha quem não ache bonito o seu aspecto interior e exterior, e quem não comprehenda logo que aqui foi achado mais uma vez o typo de construcção que melhor con- vinha ao caso. Quanto ao portão mesmo é elle igual- mente executado nas officinas do Instituto Lauro So- dreé. Despezas com esta parcella de obras—Rs. 7:6768. Tanto na residencia do chefe da secção botanica como na do Director houve necessidade de certos con- certos. O seu custo elevou-se a Rs. 1:432$300. Todavia isso não passou de remendos, pois nem assim se acham sanados os defeitos por nós já bastante frisados em an- teriores Relatorios. Melhoramento de. grande importancia significa, fi- nalmente, o novo encanamento que liga o deposito d'agua, tambem novo, directamente com as dependen- cias, mesmo as situadas nos fundos, para o lado da avenida Gentil Bittencourt. Estão estas assim liberta- das da afflicrva situação que tantos annos já aguenta- mos de não haver agua necessaria para a vida diaria se- não umas hypotheticas sobras, depois de servido todo o Museu com ambos os seus annexos. O problema de dotar o Museu de um quantum d agua que interpretasse uma razoavel e racional liberali- Air: Relatório de 1901 a dade e reflectisse a necessaria previsão do crescimento territorial no futuro, continúa a occupar a attenção tan- to nossa como do Governo, pois elle envolve simples- mente uma questão vital para o estabelecimento. Seria para desejar que um estabelecimento como o Museu não tivesse somente a agua necessaria, mas sim agua em abundancia e fartura. Um passo nesta serie de considerações é o projec- tado poço com o aero-motor. Para quem tiver, alem de alguma competencia, uma minima dóse de equidade é forçoso dizer-se que, à vista das multiplas, importantes e complexas obras executa- das durante o periodo deste Relatorio, é realmente di- minuto o total das quantias expendidas. Verdade é que para isso contribuiu grandemente um efficaz auxi- lio do Governo na forma de uma espontanea offerta de materiaes:—tijolos, cimento e pedras—sendo que dos priméiros já vieram para mais de 150.000 até hoje, e do segundo umas 170 barricas Mas não menos verda- de é tambem que se todas estas obras estão-se fazen- do debaixo de condições muito economicas e vanta- josas para o Estado, entra em conta ainda outro po- deroso factor—um inaudito esforço do proprio pessoal do Museu, que vae ao ponto do sacrificio real e pal- pavel. Ê Declarando que este supremo esforço emana da comprehensão nitida que delle depende em primeira linha a possibilidade de um efficaz progresso material do estabelecimento sobretudo na actual situação criti- ca e difficil, fica logo excluida uma eventual supposi- ção que nestas linhas tencionariamos lavrar simples- mente um auto-louvor. O total destas obras perfaz, até agora, a somma de Rs. 56:4008000 para as quaes o Governo contribuiu directamente em successivas quotas e outros extraor- dinarios, alem do offerecimento acima dito de tijolos e cimento, com a quantia de Rs. 46:2828$274. A diffe- rença entre estes dois algarismos representa a somma de compras de materiaes (madeira, pedra, matacão, areia, cimento, trilhos, tinta, telhas, etc) que o Mi seu teve de effectuar com os proprios recursos e a verba normal por diversas vezes em periodos em que as obras corriam perigo de não poderem continuar por falta de meios. Relatorio de 1901 MH Jardim Zoologico O movimento durante este anno foi mais ou menos o costumado dos annos immediatamente anteriores. Ac- crescimos sensiveis no inventario em animaes vivos trouxe sobretudo a viagem do auxiliar de zoologia, dr. Gottfried Hagmann, acompanhado do respectivo prepa- rador Joseph Schônmann, e do preparador de botanica, Manoel de Pinto Lima Guedes, à ilha Mexiana. Com summa satisfação registramos diversos succes- sos de reproducção, principalmente entre as aves aqua- ticas. | Na voliere grande da frente tivemos successiva- mente trez gerações de taquiris (Nycticorax tayaçu- guira) de um só casal; recentemente tivemos dois filho- tes de um casal de garças brancas (Ardea [Leucophoix]) candidissima) e actualmente estão ainda nidificando ou incubando já bem uns doze casaes de garças morenas (Ardea |Florida| cerulea), garças brancas (Ardea candidissima), taquiris (Nycticorax tayaçu-guira) e arapapas (Cancroma cochlearea), alem de um casal de passarões (Tantalus loculator). Tivemos igualmente reproducções das pombas cha- madas «Aza-branca» (Patagioenas gymnophthalmaus). O acontecimento o mais notavel nesta serie de con- siderações é todavia a actual incubação de um casal de emas. Perdeu-se a primeira postura (7 ovos) por cahir ainda em tempo muito chuvoso, mas a segunda—com- posta de outros 7--parece estar em boas condições. Quem incuba até agora é o macho, e foi igualmente elle que arrumou o ninho e ajuntou os ovos, ao acaso aqui e acolá pelo viveiro fóra, abandonados pela femea. Entre às perdas temos que lamentar uma anta gran- de, uma harpyia e infelizmente repetiu-se ultimamente um facto por nós já observado uma vez ha uns annos atraz, de perdermos dentro de poucas horas uma porção de animaes carnivoros—ao que devemos suppor, em consequencia de um pedaço de carne ruim, aliás com- prada como boa, no talho publico quasi em frente ao Museu. Morreram assim envenenados, no mesmo dia, uma onça pequena, diversos gatos maracajá-açú, um so- berbo tamanduá-bandeira, e diversos carnivoros meno- 12 Relatorio de 1901 res—produzindo-nos um prejuizo altamente sensivel no inventario em animaes, sobretudo nas fileiras dos re- presentantes mais importantes e valiosos. Levei o facto ao conhecimento do Governo, no interesse da saúde publica. Entre os animaes actualmente vivos do Jardim zoo- logico merecem especial menção por sua relativa rari- dade, e maior ou menor importancia scientifica:— Mammiferos: Putorius paraensis nov. spec. (Goel- di), 3 exemplares,—uma nova doninha dos arredores do Pará por nós descripta faz alguns annos (Zoologische Jahrbiicher, lena, v. X, 1897—e Boletim do Museu Paraense v. III. mn. 3, agosto I90I. pag. 195); Cerco- leptes caudivolvulus—o gracioso ursinho «jupará» em 5 especimens; Dasyprocta acouchy—a «cutia de rabo», em dois Sxemplades: Aves: Harpyia destructor (de 3 que tivemos ficou uma, tendo morrido a mais velha e uma nova vinda do TIO Capim); Pteroglossus Wiedii—bella especie de ara- çary; Momotus brasiliensis—o «hudt» (de 3 exempla- res ficou 1); Siftace hyacinthina—a arara-úna; Caica leucogastra—a «marianninha»; Pachynus brachyuraus, outro papagaio verde assás raro; Plotus anhinga, o ca- rará; Ciconia |[Euxenura) magoari—cauauan, cegonha brazilica legitima trazida em 6 especimens da ilha Mexi- ana pelo Dr. Hagmann; Pilerodius pileatus, a garça branca de cabeça preta; Botaurus pinnatus, outra espe- cie de socó-boi; Chenalopex jubatus, o «marrecão», (3 exemplares;: Sarkidiornis carunculata, o pato de Ca- venna; Palamedea cornuta, o «canintaú» ou «unicorne» (3 exemplares); Creciscus melanofphaeus, açanã; e mui- tos menores. Reptis: Tupinambis nigropunctatus, O jacruarú, (3 exemplares); Podocnemis unifilis, «tartaruga cabeçuda» do alto Amazonas (Purús); Chelys fimbriata, jaboty matá -matã; Bunectes murinus,sucuriju, 4 bellos exem- plares, dos quaes um já de bem imponentes dimensões; Typhlonectes compressicanda, a «cobra molle», exqui- sito reptil da familia das Coecilida, lembrando no seu aspecto tanto as enguias como as cobras. Peixes: Citamos em primeira linha o nosso Lepido- siren paradoxa, que ainda vive, tendo aguentado já annos; Gymnotus electricus, o poraquêé, e Erythrinus unitaeuiatus, o de meio tamanho n..236 Q en. 133 9 e um novo n. 132 dg e 1 montado e actualmente 4 vivos (VI. 1903). Quatro do jardim zoologico e todos da visinhan- ça da cidade de Belem do Pará; um apanhado de noite no jardim do museu n. 237 d' (21 1. 1901). Bastante fre- quente aqui, em todo o caso muito mais do que no Sul do Brazil. Observado na ilha de Marajó, no rio Capim e no littoral da Guyana. À bella roupagem avelludada deste gracioso Ursideo é amarello-avermelhada, côr de ouro, clareando com a idade. N. 131, um tanto escuro ainda na região dorsal em exemplares novos como o NOSSO TD. 132. 2) Nasua socialis Wied. Coat. Todos do jardim zoologico (n. 141 do rio Capim) e provavelmente na maior parte da vizinhança de Belem, adultos 5 e de meio tamanho 4. Temos quanto ao colo- 60 Catalogo de Mammuferos rido dois grupos: 1.) «Coatis» com roupagem dorsal bruno-escura, por vezes quasi preta n. 141 d' (rio Ca- pim), n.-142 d' meio tamanho e n. 134 O Cima ambos de meio tamanho; 2.) Coatis com roupagem ruiva-vermelha, vistosa côr de canella, n. 138 d' adulto, n. 137 o! ádulto, n. 139 Q adulto, nº 135 0 Mona I40 qd! meio tamanho en. 302 9 méio tamánhisiaa 326 Q adulto e n. 266 9 adulto. Estes Coatis veime lhos constituem uma variedade notavel e bastante fre- quente no littoral paraense, e que já Natterer desi- gnou com o nome de MN. socialis var. rufa. Notam-se naturalmente transições de um grupo para outro, assim o n. 136 dq! adulto possue côr inter- mediaria entre os dois extremos podendo ser taxado como um bruno escuro-avermelhado (approxima-se tam- bem-da n.º 14046). 3) Procyon cancrivorus Cuv. Guaxinim. 5 couros, 3 adultos (mn. 122 O, n. 124 Q/ e nRaEM S), 1 dé meio tamanho (n. 123 0) e 1 novo (Ma S), de Marajó e do jardim e 5 armados 1) adia novos e actualmente 2 vivos (VI. 1903). Frequente na contra costa de Marajó. Colorido geral cinzento-enne- grecido com matiz branco-amarellado, prateado no pes- coço (quatro exemplares); bastante escuro o filhote mn. 126 Jd. Distingue-se por sua côr clara puxando ao aver- melhado o grande exemplar adulto n. 122 G. 4) Grisonia allamandi Bell. Hurão maior. Grisonia crassidens Nehring. 3 couros, n. 195 d' do jardim zoologico, n 329 do Marco da Legua. O furão maior parece ser mais fre- quente na Amazonia e no norte da America meridio- nal do que o furão menor Grisonia vittata que até aqui poucas vezes nos tem chegado. 5" Grisonia vittata Schreb. Furão menor. I couro e 1 armado. Ao contrario do que se dá no sul do Brazil o «furão menor» é mais raro por aqui Catalogo de Mammiferos 61 que o parente maior. N. 241 roupagam dorsal cinzento- avermelhada. Separação nitida da côr clara ao lado dor- sal da côr preta no lado abdominal, caracteristico ao que parece para esta especie em comparação com G. allaman- di, o qual mostra semelhante separação somente naregião do pescoço, sendo o resto do corpo revestida de uma rou- pagem que lembra o colorido do texugo europeo. 6) Galictis barbara L. Irára (Iravira-—Senhor Radio mel). 4 couros, 1 adulto e 3 de meio tamanho, todos do jardim zoologico e todos evidentemente das vizinhanças do Pará e actualmente 2 vivos (VI. 1903). Foi observado por nós nas matas perto de Belem. Com a idade augmen- ta de intensidade a côr clara da parte oral (cabeça, pesco- çoje a côr escura do resto posterior, chegando a ser com- pletamente preto na cauda e parte adjacente (n. 127 Q). RR comprimento total rco cm e cauda 35 cm, Rod o comprimento 86 cm e cauda 27 cm, n.129 d comprimento 89 cm e cauda 34 cm, n. 131 dq! compri- mento 78 cm e cauda 26 cm. 71) Putorius paraensis Gocldi. Veja Estampa Ie II n'este volume do «Boletim do Museu G.» (Putorius paraensis G.) e a traducção da descripção original no Vol. III, pag. 195—203. Temos 3 exemplares armados. Com este nome foi descripto nos «Zoolog. Jahrbue- cher» Bd. 10. 1897, pag. 556 uma doninha apanhada viva no Marco da Legua, Pará (1895). Tinha porem a espinha dorsal lesada e morreu logo; (armado no Museu). Com- primento total 49,5 cm, sem a cauda 29 cm, circumfe- rencia do corpo 16,2 cm; comprimento basilar (Metho- do de Hensel) do craneo 5,05 cm. Colorido do lado dorsalum bello bruno, do lado abdominal côr de ocre, estendendo-se todavia uma estria longitu- dinal do sobredito bruno desde o pescoço até entre as pernas posteriores. E" o primeiro caso de uma legitima doninha en- contrada em territorio do Brazil, sendo o genero Puto- Catalogo de Mammiferos het 2 “A rius bastante desenvolvido na America do Norte até e - estreito de Panamá com 22 especies e sub-especies. |. P. S. Posteriormente (1902) nos vieram mais 2 exemplares, vivos (dS', 9), das matas de Murutucú (Pará, Marco da Legua.) As tabel- las seguintes vrientam para comparar as medidas as mais impor- tantes: PUTORIUS PARAÉNSIS A NR: -! aí. j Medidas do craneo: 2 PG | & mm'imm;| mm Largura do craneo sobre a margem posterior de p 4.| 2350 | 22,0] 22,5 : 0,0 | 19,5 | 20,0 Maxima altura do craneo (incl. Bullae osseae).... : : - 13,0 Altura de craneo (acima dos appendices post-orbitaes) Largura da abobada palatina por detraz dos caninos =s a Eça » » » » » 3; sa d 4 g > 2 » » “Ai a E Ea 16,5 16,0 » >» E >» >» dem... ps se 10,5 pi Distancia das azas dos Proc. pterygoideos....... 199 5 15 >» dos Foramina jugulada Xe Pere 11,5 | Ho Largura da mandibula (na altura dem 1)........ 950] 45] 455 > SE » por cima do Proc. coronoideus. "50 | 14,0] 15,5 Largura transversal do molar superior, m1I...... 445 | 45) 45 » > » premolar superior, p4....| 35] 32 35 Comprimento de um dos caninos ..............! E fo Ie Comprimento basilar (segundo o methodo de Hensel) 455] 4555 | 45,0 Comprimento total ; . x Seis RT Paio 50,0, Fe Maxima largura nos arcos zygomaticos .......... 50,5! 2755] 2 s » » nos ossos temporaes (Proc. o 24,5] 2315 Eq Distancia dos appendices post-orbitaes. .......... 14,5 o RR Comprimento do palatal (excl. Proc. pterygoid.)... E o ae » do post-palatal . . -.,.» cm Epa o nie a os et Sr » da serie dos dentes superiores (incl.canin., 553) 1457 | 14,5 » lado esquerdo (excl. canin.). ......... pd [1155] 1Es5 » 1. direito, faltando em todos p2..... pe (10,0) (10,2) » da serie dos dentes inferiores (incl. canin.) Es ae a Ed » (excl. canin.)..... erre ranao co e ia Ens a » da mandibula até a inserção do condylo E d 9,5 » do Sector súperior p'A 772,7.» o gare 6: pa 2 » » ». inferior mir sa. ECo 5 ç 15 Largura da faixa dos incisivos superiores ........ 90) 50] 55 Medidas geraes : Comprimento total... .<+5 wo pr E | » sem à Canda . «e. map E SR Cabeça até à tfáiz das orelhas. >=) 2 Circumferencia do pescoço abaixo das orelhas .-... » do corpo (região inguinal)... ........ Largura da cabeça (margem anterior das orelhas)... 4 TIRA Op 'sorejduoxo sosorioyn snop (o o (q “vie op euro aejduroxo (e TZtrig op equruop vumuos eum op soiejduroxo soarouriid som s() Putorius paraênsis Goeldi. Doninha do Pará. mm=— Craneos. (T. nat.) a AS PRO » Pai Catalogo de Mammuferos 63 8) Lutra brasiliensis Zimm. Lontra. Ariranha. Frequente em todos os rios da Amazonia inferior e observado em bandos inteiros na Guyana (Counany) e no rio Capim. Difficil de obter; um exemplar arma- do no Museu, apanhado na cidade de Belem, 9) Canis brasiliensis Lund. Raposa. Veja estampas n'este volume do «Boletim do Museu G.> (Canides do Brazil), no supplemento IT do Prof. Th. Studer. 5 couros, 4 adultos e um novo e 1 ad. armado e 1 vivo (bastante esbranquiçado do Forte S. Joaquim, do rio Branco). Todos do jardim zoologico e ao que parece todos de Marajó, onde é frequente nos campos da con- tra costa e observado por nós em Pacoval, no cabo Ma- goary, etc. O exemplar maior n. 118 Q tem o compri- mento de 100 cm. Os nossos quatro exemplares maio- RESPETT, 1IO, TIO e 120 têm um colorido que não con- corda inteiramente com figura alguma das monogra- phias de Mivart e de Burmeister, tendo uma longiqua semelhança talvez com a figura do C. cancrivorus de Mivart, pag. 57, porem faltando a estriação transversal vermelha, côr de ferrugem da dita figura. Este colori- do é preto luzente no dorso em certa largura ao longo da linha mediana, continuando sobre a cauda até ao lado inferior da metade terminal; flancos cinzento ama- rellado claros, puxando ao vermelho ferruginoso nos lados do pescoço, nos braços e nas pernas; bruno-en- negrecidos a cara e os pés; lado abdominal branco-aver- melhado. Orelhas de dimensões medianas. Um estudo preliminar sobre a dentadura mostrou-nos que existe perceptivel variabilidade de um individuo para-o outro (aliás tal qual como na Raposa européa) não concor- dando exactamente com qualquer dos dois Canides sul- americanos ultimamente descriptos como miocenicos por dois autores norte-americanos (Wortman e Mat- thew), C. urostictus e C. parvidens, nem com qualquer outra fórma constante da obra de Mivart, por exemplo 64 Catalogo de Mamumferos C. cancrivorus e C. azarae. Individuo n. 121 d, compri- “mento 50 cm, muito novo ainda, com colorido geral pu- xando mais para O avermelhado. 10) Canis microtis Sclater. Veja estampas n'este volume do «Boletim do Museu G.», (Cani- des do Brazil) no supplemento II do Prof. Th. Studer. Temos 2 couros (provenientes de animaes vivos, ob- tidos pelo nosso Ro zoologico), um do Amazonas, outro do Salgado (Castanhal), de um Canideo exquisi- to, escuro, bastante maior que os da especie procedente de cabeça muito pontuda e de orelhas notavelmente curtas. Exemplar n. 115 d, comprimento 135 cm. e cau- da 35 cm. e exemplar n. 116 d, comprimento 100 cm. e cauda 28 cm. Comprimento da cabeça no exemplar maior 20 cm. até o meio entre as orelhas, comprimento da orelha 5 cm, no exemplar maior alcançando a ore- lha dobrada para a frente sómente até o meio entre a raiz da orelha e o canto posterior do olho (ao passo que num exempiar da Raposa da especie precedente n. IIS [comprimento da cabeça 13 cm, comprimento da orelha 5 1/2 cm |, a orelha quando dobrada para a fren- te alcança o canto posterior do olho. Cauda menos fro- cada e menos guarnecida que no C. brasiliensis. Co- lorido geral bruno-ennegrecido, puxando bastante para o vermelho-ruivo, sendo naturalmente mais escura a linha dorsal, as extremidades e a cauda e mais clara a cabeça. Tendo o nosso animal alguma semelhança com a figura e a descripção de Mivart relativas ao C. microtis, pag. 62: «Monograph of the Canidae», cujo original é o unico especimen até hoje conhecido, foi com este no- me que ennumeramos o nosso animal, embora provi- soriamente e com algumas duvidas, naturaes num tal caso de deficiente litteratura. Coincidem a roupagem es- cura, as orelhas curtas; nenhum dos nossos dois exem- plares possue a mancha branca do lado inferior da raiz da cauda. Não podemos furtar-nos a externar que O animal offerece pela configuração da cabeça, especial- Catalogo de Mammferos 65 - mente pelo focinho prolongado. singular mistura de * caracteres da raposa por um lado, do [lobo bragileiro - por outro, occupando tambem pelo seu tamanho exterior — posição intermediaria entre o Chrysocyon jubatus (ao — nosso vêr nada mais senão o grande Chacal) e os Cani- deos menores do parentesco de C. brasiliensis etc. = Resolvemos ha muito de, a bem da sciencia, sub- — metter todo o nosso material relativo aos Canideos amazonicos ao melhor conhecedor e especialista na manteria, o Sr. Prof. Dr. Th. Studer da Universi- Rgade de Berne, que certamente não tardará a elucidar — um assumpto bastante problematico e pouco estudado. POSTSCRIPTUM Desideratum este que foi desde então preenchido, como se vê pelo supplemento p — JH do presente Catalogo. (VII, 1903) “ 11) Felis concolor L.Suçcuarána, (erradamente em logar de Suassiú-rana) ou Onça-vermelha. 6 couros-e 1 armado e actualmente 2 vivos (1 do rio Tocantins) no jardim zoologico (VI 1903). 2 adultos e — 2 de meio tamanho, dois novos vivos no jardim zoolo- - “ A — fico. À onça vermelha é, conforme a nossa experien- — cia, menos frequente na Amazonia que a onça; cada — vez mais reforça-se a nossa convicção de que ella é li- — mitada ao littoral e não pertence propriamente à fauna “da «Hylaea.» Assim os nossos exemplares têm sem- — pre vindo das matas de terra firme do Salgado (Bra- * gança etc.) e estamos informados que d'ahi ella se es- * tende sobre a costa dos Estados visinhos (Maranhão, —* Ceará etc.). Colorido geral vermelho, de cinamomo, in- — tenso nos novos, clareando com a idade (n. 230 en. 145). -* As malhas escuras proprias dos filhotes novos conser- — vam-se durante muito tempo. E 5—(BoL. DO MUS. GOELDI). - 66 Catalogo de Mammiferos 12) Felis onça L. Onça pintada. S couros, 3 armados (2 pintadas e 1 preta), actual- mente 3 vivos (VII 1903). Todos do jardim zoologico; 1 menor, de meio tamanho. Dois exemplares pertencem à variedade tvpica, n. 149 e n. 146, sendo as series dor- saes medianas bastante escuras e nitidamente destaca- das as rosetas dos flancos, já bastante parecido com aquillo que Elliot, (Monograph of Felidae) chama Leopardus hernandesi Gray (Goeldi, Mamm. do Brazil pag. 64: Acanguçú). Individuo n. 148 muito novo, pa- recendo assim à primeira vista com um exemplar de F. macrura. ; N B: Na compra de exemplares novos vivos poderia ás vezes haver confusão com os outros Felideos menores se não fôósse o tama- nho dos pés e da cabeça que facilitam reconhecer a onça em qualquer caso. Confusões destas observam-se frequentemente no nosso jardim zoologico no Pará por parte do povo, provando que poucas pessoas sabem distinguir com certeza uma onça nova de individuos de igual tamanhó dos outros gatos malhados da America do Sul. Não é superfluo dizer que temos provas indubitaveis de que in- dividuos da variedade preta (tigre, Jaguareté-pixuna) encontram-se na mesma ninhada juntamente com individuos da variedade typica, cla- ra, pintada. Assim temos actualmente (fev. 1901) um macho adulto manso, proveniente de Marajó, vivo no jardim zoologico, irmão de uma onça preta que infelizmente morreu em consequencia de um tiro de chumbo grosso, desfechado sobre a onça-mãi na occasião de se- rem surprehendidos no campo. Temos o couro da mãi que mostra o desenho typico, bem como o filho vivo no jardim zooclogico. Da variedade preta existem no museu um couro estragado e um bello exemplar montado do cabo Magoary que tivemos vivo no jardim zoologico por algum tempo. As onças pretas são todavia bastante raras. 13) Felis pardalis L. Maracajá-assii. 23 couros, 2 armados e actualmente 1 vivo (VII. 1903), quasi todos do jardim zoologico e evidentemen- te da visinhança do Pará. «&, com certeza, de entre os ga- tos malhados na Amazonia inferior, a especie a mais frequente, predominando sobre F. macrura. Temos constantemente diversos exemplares vivos no jardim zoologico. a k E É PS IM Os nossos exemplares maiores n. 153 den. 225 d “medem respectivamente r1o e 120 cm.; comprimento da * cauda 30 e 38 cm. À cauda dobrada sobre as costas al- * cança o meio entre ano e inserção das extremidades an- - teriores. Colorido geral do fundo—um cinzento amarel- lo-pallido. Individuos adultos distinctos puxando para o vermelho ruivo no lado dorsal sobretudo na metade anterior. concordando mais ou menos com a figura que Elliot dá para a variedade typica, sendo todavia não "tão frisante o colorido vermelho, como é visivel na - mencionada figura. Quanto mais novos os individuos, tanto mais predomina o escuro, sendo reduzido a linhas muito estreitas os intersticios claros entre as series lon- — gitudinaes de manchas escuras, levemente obliquas, n. 161. É isto o resultado da circumstancia de ainda não “se ter desenvolvido nas manchas longitudinaes uma —* zona central clara, conservando-se uniformemente enne- * grecidas. Dois exemplares maiores n. 151 Q en. 154 P Ppo- deriam ser attribuidos á variedade chamada grisea por Elliot, puxando para o cinzento esbranquiçado. Um ou- “tro, n. 155 9. concorda com a figura dada por Elliot - para a variedade striata. Tudo mais julgamos dever at- — tribuir à variedade tvpica. Existem muitas variações no desenho do pescoço e 14) Felis macrura Wied. Maracajá-miry. Veja estampa n'este volume do «Boletim do Museu G.» (Felis “macrura). 7 couros, 1 armado e actualmente 5 vivos (VII. “1903), um adulto e quatro novos. Todos do jardim zoo- logico. Ao contrario do que se dá no Brazil meridional parece ser menos frequente na região amazonica. Deci- “didamente consideramos ser boa esta especie. e Não alcança as dimensões da especie anterior e dis- “tingue-se pelo comprimento da cauda consideravelmen- te maior. Nosso unico exemplar maior, n. 159 P, tem o comprimento de 105 cm. e a cauda de 40 cm. A cauda - dobrada sobre as costas alcança á inserção das extremi- 68 Catalogo de Mammuferos dades anteriores. O nosso exemplar adulto mostra em geral no colorido uma certa semelhança com exempla- res da variedade typica de F. pardalis, todavia as li- nhas longitudinaes pretas na região da nuca são bastan- te menos pronunciadas, predominando mais o verme- lho ruivo. Outrosim as manchas escuras não se subor- dinam á disposição methodica de linhas longitudinaes. A comparação dos couros dos quatro exemplares novos n. 164, n. 105, n..163 e n. 160 com individuos dê anal idade da especie anterior demonstra que no colorido geral predomina o campo claro da mesma fórma que o campo escuro no F. fardalis. O nosso material não quadra lá muito bem com as figuras que Elliot dá da sua F. tigrina. 15) Felis yaguarundi Fisch. Gato mourisco preto. Um couro e 2 armados (1 ad. e 1 novo). Todos do jardim zoologico. Observado porém por nós no littoral da Guyana. Diversos dos nossos exemplares vieram de Obi- dos, Santarem e de outras localidades da Amazonia in- ferior. (Confundido às vezes pelo povo com o «tigre», isto é, a Onça preta). Recebemos uma vez dois exem- plares novos ao mesmo tempo. Não é muito frequente. Parece variar muito pouco no colorido; o grisalho, pro- duzido pela ponta clara de cada pello, augmenta com a idade e substitue o bruno muito escuro, quasi negro, que fórma o colorido geral principalmente no lado dor- sal. Não sabemos o que significam as estrias pretas transversaes visiveis na figura de Elliot pelo lado dos flancos, e em geral não nos parece muito feliz a mesma figura. 16) Felis eyra Fisch. Gato mourisco vermelho. Tivemos até agora dois exemplares adultos do jardim zoologico. Em todo o caso é ainda bastante mais raro que o F. yaguarundi. E' um bello animal de lin- da côr de canella, fórmas muito esbeltas, estiradas, reu- » Maracajá.“ Felis macrura. Pará. = % E 4 p PG Mad pr Er é > ; ss LP VE y = Pia cao a nã Catalogo de Mammiferos 69 ta. Notavel é a altura na região das pernas Serie Ss, comparada com a altura medida na região das rnas anteriores, produzindo um declive muito sensi- vel da linha dorsal, de traz para a frente—coisa que não se vê pela figura de Elliot. Outra particularidade digna de menção é a bella côr azul clara dos olhos, facto este que não vemos citado nem na grande obra de Elliot, nem em qualquer outra fonte de litteratura á nossa disposição. IV RES ODENTIA ROEDORES M Confer Goeldi «Mammiferos do Brazil» pag. 78—98. : Ve am-se tambem os artigos: «Mesomys ecaudatus»>, Boletim do Museu p. Vol. II, pag. 253—255 e «Dous roedores notaveis do Brazil; É: Re: Mesomys ecaudatus» Boletim do Museu P. Vol. III pag.. 1) Sciurus variabilis Geoffroy. Acuti-purú-assit. D'este esquillo gigantesco, perto de duas vezes maior que o Sciurus aestuans, temos um bello exem- plar armado, que viveu durante 7 mezes no jardim zoologico e que veio do alto Amazonas. Guiando-nos la descripção de Alston (Proceed. Zool. Soc. 1878 pag. deveria entrar o nosso individuo no grupo que elle chama variabilis type. Comparamos tambem as figuras coloridas dera P. Z. S. tab: 26, (S. gerrardi), 4 em. o fc Tati, 70 Catalogo de Mammiferos Es «A Poeppig-Tschudi tab. 11 (S. tricolor) e Brandt tab. 11 (S. langsdorffii). - O colorido geral é um ruivo saturado no lado dor- . sal (lado inferior branco puro), menos carregado que | na estampa de Gray, porem mais escuro que nas duas . outras estampas. 2) Sciurus aestuans L. Coati-puriú, devia ser | Acuti-puri. 3 couros e 7 armados. Nas matas do Pará ha um caxinguelê encontrado em abundancia que se parece com os S. aestuans do Sul do Brazil, apresentando todavia algumas differenças e particularidades. E de es- tatura pequena, bruno-escuro no dorso, mais ou menos amarello-avermelhado no lado abdominal. N'este colo- rido e nas dimensões menores reside principalmente a differença com o S. aestuans, qual nos é conhecido do sul do Brazil (Rio de Janeiro, Serra dos Orgãos). Parece que já Natterer ficou na duvida a respeito d'este caxinguelê paraense e nós não hesitamos em declaral-o, si não como especie diversa, pelo menos como varie- dade bastante bem caracterisada, para a qual propomos a designação var. paraensis. 3) Coendu prehensilis L. Coandiú. Ouriço cai- xeiro. Cercolabes prehensilis. 8 couros, 6 adultos e 2 novos, todos do jardim zoo- logico e da vizinhança do Pará e 1 montado e actual- mente 4 vivos (VI. 1903). O Coandú grande é bastante mais frequente no Pará e na baixa Amazonia que a especie seguinte, ao contrario do que se dá'no sul do Brazil. Esta especie differe da outra à primeira vista pelo craneo cuja parte frontal é intumescida. À roupagem es- pinhosa é de colorido geral uniforme bruno-avermelha- do, puxando às vezes ao ruivo (n. 243). Parte basal dos espinhos compridos branco-amarellada, parte ter- minal com uma cinta escura e geralmente com a ponta branca; de dois exemplares novos n. 244 e n. 245, um (n. 244), é todo branco, o outro (n. 245) esbranquiçado, devido à larga zona terminal dos espinhos. 4) Coendu melanurus Natt. Coandi. Cercolabes melanurus. Um Coandú que nos foi gentilmente remettido de Obidos por um amigo do Museu, o Sr. Paulo Le- cointe, e que ainda vive no jardim zoologico, differe de todos os outros que tivemos até agora e corresponde muito satisfactoriamente às descripções que Schreber- Wagner pag. 34 Suppl., Waterhouse pag. 425 e Bur- meister pag. 225, dão do Cercolabes melanurus Nat- terer de que trouxeram da Barra do rio Negro (Maráos) dois exemplares para o Museu de Vienna. Predominam na roupagem os cabellos compridos, comparaveis a cerdas, sobre os espinhos curtos, amarel- los, porém de pontas escuras, por assim dizer es- condidos no fundo da vestimenta felpuda e visiveis so- mente quando o animal, assanhado, os eriça. D'estes ca- bellos compridos a parte basal é é preta e a parte apical branca. Caracteristico porém é, sobretudo, o colorido da cauda, preta com excepção da base que corresponde à côr do dorso. Parece ser um animal bastante raro. 5) Coendu insidiosus Licht. Coandi. Cercolabes insidiosus (villosus). 3 couros, adultos e 2 armados e actualmente 2 vi- vos (VI. 1903). Especie ao que parece menor que a precedente. Menos frequente aqui na Amazonia. Os nos- sos dois exemplares distinguem-se pelo seu colorido es- curo: parte basal dos espinhos côr de enxofre, parte ter- mina] toda preta no exemplar n. 137, com annel preto e ponta terminal clara no n. 188. Pelo colorido escuro, quasi preto, os nossos exem- 12 Catalogo de Mamimiferos plares contrastam visivelmente com todos os outros da especie precedente. N. B. Das muitas especies que diversos autores referem da Ama- zonia e do resto do Brazil não conseguimos reconhecer nenhuma com segurança ; assim ainda não encontramos cousa que se pareça por exemplo com o C. nychtemera Licht. etc. Julgamos não errar com a nossa supposição de que dia virá onde será reconhecida a necessida- de de applicar uma reducção consideravel no numero das especies deste genero. 6) Dasyprocta croconota Wagn. Cutia verme- tha. É 5 couros, adultos (4 de Marajó, Cabo Magoary), 1 armado e 7 vivos (VI 1903). Bastante frequente na Amazonia inferior, sobretudo na ilha de Marajó; ob- servada tambem no rio Capim. O colorido coincide com a figura e descripção dadas por Wagner na «Natur- geschichte der Sãugetiere». Caracteristico essencial: a viva côr vermelha-ruiva da metade posterior do dorso. 7) Dasyvprocta aguti L. Cutia. 1 armada e 5 vivas (VI. 1903). Temos de vez em quando no jardim Cutias vivas que, pelo seu colorido uniforme, mais escuro, podem ser consideradas como pertencendo à D. aguti. Mesmo agora existem diversos exemplares vivos no nosso jardim zoologico. Todavia nem sempre é facil saber como se deve classificar tal e tal individuo, no momento de proceder-se ao costumado inventario mensal. Entretanto parece-nos ser de estatu- ra um tanto maior que a D. croconota. Existe na nossa collecção um albino d'esta especie que viveu durante bastante tempo no jardim zoologico. 8) Dasyprocta fuliginosa Wagl. Cutia cinzenta. Cutia preta. 1 armada e 3 vivas (VI. 1903). Diversos exempla- res de uma Cutia muito escura, ás vezes quasi preta, ás Catalogo de Mammiferos 13 vezes grisalha, de estatura relativamente grande, vie- ram-nos vivos do rio Pauhiny (rio Purus) e outras re- giões do Amazonas (margem direita). Nunca a observa- mos na visinhança do Pará e na Amazonia inferior; faz-nos a impressão de ser bôa especie ou pelo menos raça muito caracteristica. Infelizmente não é muito fre- quente obter-se exemplares d'esta notavel Cutia. 9) Dasyprocta prymnolopha Wagl. Ha exemplares que podem perfeitimente ser conta- dos na especie de D. prymnolopha de Wagler, qual foi descripta em 1831 na «Isis». Temos actualmente 3 exem- plares vivos no jardim zoologico que concordam com a estampa 172 c da obra de Wagner-Schreber, bem como as detalhadas descripções na mesma obra pag. 46 (Suppl. IV.) e no livro de Waterhouse 380 seq. O distinctivo principal reside na grande mancha preta que occupa a linha mediana da metade posterior do dorso. O colorido geral dos lados é amarellado, prin- Cipalmente na parte posterior, em vez da viva côr de fogo da D. croconota. Tanto as decripções acima mencionadas como a re- ferida estampa foram, ao que parece, baseadas sobre um unico exemplar parecendo ainda novo, e não mostrando já aquellas partes de cabellos alongados por cima da re- gião anal, como os ostenta a figura de Wagner-Schreber ac. Suppõem os precitados autores ser a Guyana a pa- tria da D. prymnolopha, sem terem certeza a este res- peito. Curioso é que Natterer conseguiu exemplares d'esta Cutia, entretanto falta na lista do genero Dasyproc- ta de Pelzeln pag. 77—78. Sabendo nós porém que todos Os exemplares que d'esta especie passaram ás nossas mãos vieram da vizinhança do Pará, podemos declarar que a foz do Amazonas deve ser incluida na patria d'esta Cutia, á vista de provas positivas. o) Dasyprocta acouchy Erxl. Cutiayd. Da graciosa «Cutia de rabo», a menor especie do genero Dasyprocta, temos alem de 2 exemplares monta- = me Catalogo de Mammiferos dos da antiga collecção e de proveniencia incerta, 2 exemplares vivos, que vieram de Manãos, no jardim zoologico. A cauda tem cerca de 8 cm de compri- mento. O colorido é um bruno-amarellado. No lado dorsal tem uma zona mediana ainda mais escura, quasi preta, estreita na nuca e alargando-se até a região sacral. Tem o volume d'uma Cutia commum de meio tamanho. N B. Francamente dito, a systematica do genero Dasyprocta parece-nos achar-se ainda bastante embrulhada e estar longe de in- spirar satisfactoria confiança. Ha de custar ainda muito trabalho e le- var bastante tempo para decidir se, por exemplo, as especies estabe- lecidas por Wagner sobre o material trazido por Natterer do Amazonas, merecem de facto ser conservadas como ou se ellas ficam reconhecidas finalmente como simples variedades e raças locaes. Sem ter sufficiente material para liquidar semelhante assumpto desde já, crêmos entretanto poder predizer que o resultado de uma investigação cuidadosa reverterá a bem de uma reducção consideravel no numero das especies. 11) Coelogenys paca L. Paca. 3 couros, 2 adultas e uma de meio tamanho do jar- dim zoologico e proveniente dos arredores do Pará, onde é ainda bastante frequente; é tambem aqui a caça mais apreciada. Não observamos variações dignas de menção nas medições. 12) Cavia spixi Wagl. Pred. D'este bonito Preá temos 7 na nossa collecção e 3 vivos no jardim zoologico; todos, sem excepção, prove- nientes do Ceará. Não nos consta ainda nemhum achado no territorio paraense. Comparamos tanto a figura rela- tiva ao habitus exterior na obra de Wagner-Schreber 173 A fig. 2, como as indicações e figuras craneologicas na obra de Waterhouse Vol. II pag. 173 e tab. VI. fig. Catalogo de Mammferos 11 a, dispondo simultaneamente de material comparati- vo acerca de Cavia cobaya e €. rupestris. O Preá cearense distingue-se à primeira vista da Cavia aperea, do Preá commum, do Brazil meridional: em vez de ser bruno-avermelhado, côr de Capyvara, como essa, é antes de um colorido geral cinzento-ama- Tellado, puxando ao bruno claro ao longo do dorso. E esbranquiçado o lado inferior e brancas são uma orla por cima do olho e uma mancha um tanto escondida atraz da orelha. Até agora não tiveram exito os nossos esforços de cruzamento de Cavia spixi com o Porquinho da India, mas não perdemos a esperança de conseguil-o com o tempo. 13) Cavia (Kerodon) rupestris Wied. Mocó. / I couro e 1 armado. O Mocó nos tem vindo por duas vezes trazido do seu Estado por immigrantes cea- renses; não temos conhecimento de caso algum que este parente maior do Preá do sul do Brazil habite em ter- ritorio paraense. 14) Hydrochoerus capibara Erxl. Capivara. 20 couros: uma quasi adulta, 3 de meio tamanho e 16 novas e 7 armadas: 2 ad., 1 meio tamanho, 4 novas. Quasi exclusivamente de Marajó, onde abunda, chegan- do a formar bandos de 50, 100 e mais exemplares (cabo Magoary, rio Arary), frequente tambem no littoral da Guyana. Na época de reproducção os machos possuem uma glandula na linha mediana entre olhos e nariz, glan- dula que secreta um liquido viscoso de côr branca e de forte cheiro almiscarado. Foi descripta já por Water- house. Pouco se come em Marajó, tendo lá (não sabemos se todo o anno) pronunciado cheiro de peixe. Filhotes recentemente nascidos são bruno-vermelhos, colorido que com a idade puxa para o bruno cinzento-amarellado. Não é muito facil obter-se couros bons de Capivaras adultas, porque facilmente largam o pello. El 76 Catalogo de Mammiferos : 15) Lepus brasiliensis Briss. Coelho. 2 armados. Do Coelho brazileiro só nos veio um exemplar, muito novinho ainda, conservado em alcool, de Itaituba (alto rio Tapajóz). 16) Oryzomys Goeldii Oldfield Thomas (1897). Novo rato do mato, proveniente de Itaituba (Tapa- jJós). Semelhante ao O. laticeps, porém menor. Co- lorido brunaceo. Typo: femea 9, hoje no Museu Bri- tannico, Londres.—(Comprimento 200"", cauda ro4””, Descripção original: Notes on some South— American Muridae==Annals and Magazine of Natural History Vol. XIX, 1897, London, pag. 494. (Veja diagnose detalhada adiante). 17) Holochilus nanus Oldficld Thomas (1897). Rato igualmente novo, proveniente dos arredores da cidade de Soure (ilha de Marajó). Semelhante à H.(Sigmodon)vulpinus. Colorido: mistura de preto e de russo. À especie menor do genero e ao mesmo tempo a mais septentrional. Descripção original: Loc. cit., pag. 495. Comprimento do exemplar typico 234”, cauda TE28m. E (Veja diagnose detalhada adiante). 18) Akodon fuscinus Oldficid Thomas (1897). Terceira especie de rato novo, proveniente tambem de Soure (Marajó). Semelhante ao A. lasiurus Lund., porém menor, e na apparencia exterior ao A. oliva- Catalogo de Mammiferos TA ceus. Typo do sexo masculino d'. Descripção original: Loc. cit. pag. 496. Comprimento do exemplar typico tos”, cauda A. (Veja diagnose detalhada adiante). 19, Loncheres armatus Geoff. Com este nome figura, armado, na nossa collecção um rato de roupa espinhenta, uniformemente bruno, enviado já em 1895 de Itaituba (Tapajóz) pelo fallecido engenheiro Gustavo Toepper. Tamanho igual ao de um grande rato migratorio. 20) Loncheres aff. unicolor Ruepp. Tratei detalhadamente d'este rato de espinho no Boletim do Museu Paraense Vol. II, pag. 253 e Vol. II, pag. 170 seq., tendo sido reconhecido que o ani- mal primitivamente tomado por um segundo exemplo de Mesomys ecaudatus de Wagner—especie hypothe- tica estabelecida sobre um exemplar incompleto, e de- vendo ser cancellada—[veja as duas estampas relativas ao Mesomys no segundo fasciculo, tomo III deste «Boletim» pag. 170 e 172] não era outra cousa, no nosso caso, mais que um individuo de certa especie do ge- nero Lonch:res, de cauda truncada, tornando-se assim provavel que o mesmo se deu tambem com o primeiro exemplar, que para Natterer e Wagner serviu de typo. Medidas e pormenores pag. 171 (comprimento total 261""). Conhecido no rio Capim, Pará, com o nome de «sauiá». Colorido uniformemente bruno claro. 21) Echinomys cayennensis Desm. D'este bonito rato d'espinho, facil de conhecer pela barriga branca e assaz bem figurada na obra de Water- 18 Catalogo de Mammiferos house, tab. 19, fig. 2 existem exemplares n'este Museu, obtidos das matas ao redor da cidade de Belém, onde é notoriamente um mammifero bastante frequente. 22) Echinomys nov. spec. Oldfield Thomas. Outra especie, reconhecida por nova pelo Sr. Old- field Thomas do British Museum em Londres, é repre- sentada por 2 exemplares (dS' adult., e juv.), vindos do rio Camará (ilha de Marajó) em abril de 1901. Veja-se Bol. pag. 173, seg. tom. III. Falta ainda a respectiva descripção, da qual desejo encarregar o muito compe- tente especialista acima mencionado. Direi provisoria- mente que é da especie E. hispidus que mais se appro- xima o novo rato d'espinho (conf. Pictet: «Rats du Bré- sil» 1841, pl. 5): 23) Hesperomys spec. De um rato pertencente a este genero conserva Oo Museu 2 especimens em alcool, trazidos do rio Aramã, pelo Dr. Hagmann, auxiliar da secção de zoologia. Ainda não estão concluidos os estudos a respeito d'esta espe- cie, que provavelmente ainda será submettida ao exame do Sr. Oldf. Thomas: 24) Mus rattus L. Interessante é que o legitimo rato de casa, de côr de ardosia, ainda não é tão raro, como se poderá presu- mir. Trouxemol-o do Amapá (1895), do littoral guyanez, e obtivemol-o igualmente da Fazenda Dunas, da contra- costa de Marajó, tendo sido identificado o respectivo exemplar até pelo proprio Sr. O. Thomas em Londres. Aqui na cidade de Belém tambem se encontra, embora menos frequentemente. E q" Catalogo de Mammferos 79 25) Mus decumanus Pall. Enimpudente rato imigratorio existe aqui no Pará, e infelizmente até nos terrenos e edificios do Mu- seu, com revoltante frequencia, dominando sobre as ou- tras especies (M. rattus e alexandrinus) talvez na propor- ção de 95 º/o.— Causa-nos serias difficuldades, sobretudo no Jardim Zoologico, já pelo furto de alimentos, já relo assassinato de passaros e aves menos robustas e depre- dações em ovos e filhotes. 26) Mus alexandrinus Geoff. Mus tectorum Savi. Observam-se por vezes ratos nas casas da cidade, Bomo nos arredores, que pelo conjuncto das feições e sobretudo pela côr clara do lado abdominal devem ser attribuidos a esta especie. São todavia, como acima disse, em proporção numerica desvantajosa, como no caso do M. rattus legitimo. — Tal qual como no sul do Brazil. 27) Drymomys musculus Natt. O «morganho», «camondongo» ou «ratinho» é inqui- lino intruso tambem por demais conhecido aqui no Pará nas casas da cidade, como nos arredores. Por falta de material de comparação, ainda não pude proceder a um estudo desde muito projectado so- bre a questão de ser realmente o «camondongo» caseiro na Sul-America um animal genericamente diverso do da Europa, como alguns pretendem, seguindo o exemplo de I. v. Tschudi (Goeldi, «Mammif. do Brazil» pag. 81,— Tschudi, «Fauna Peruana» pag. 179). " Traducção da diagnose original das 3 especies novas de Murideos amazonicos, acima mencionados: e PR E ir 24 80 Catalogo de Mammiferos Oryzomys Gcoeldii spec. nov. Oldfield Thomas. Alliado ao O. laticeps Lund, com certos especimens do qual concorda de perto em colorido e proporções, sendo porém de tamanho actual bastante menor. Pello do couro bastante curto, denso e recto: 6 para 7”” de comprimento sobre o dorso posterior. Colorido geral bruno pallido, tinto com côr de cou- ro escuro, que se mostra mais claro sobre os flancos. Abdomen branco acinzentado, bem definido, as bases dos pellos cinzentas-ardosia, as pontas brancas ou brancas sujas. Orelhas de tamanho medio, francamente providas de cabello, brunas. Mãos e pés em branco pallido, meta- podiaes e dedos semelhantes. Cauda antes mais comprida do que a cabeça e o corpo, delgada, muito pouco cabel- luda; bruna pallida tanto em cima cómo em baixo. Craneo: muito semelhante ao do O. laticeps, abs- tracção feita do seu tamanho menor. Nasalia estreitan- do-se gradualmente para traz. Região interorbital plana em sentido transversal, ccm as esquinas quadrangulares mas não levantadas, embora que saliencias sejam per- ceptiveis posteriormente ao longo dos parietalia aos cantos exteriores do osso interparietal. Perfil geral do craneo igualmente curvado, convexo desde a ponta dos nasalia até por traz dos interparietalia. Foramina pa- latina anteriores approximadamente iguaes em compri- mento ás series molares. Aberturas nasaes posteriores quadrangulares, os pterygoideos parallelos. Dimensões do typo, (tomadas de um exemplar em espirito de vinho, antes de ser tirada a pelle): Cabeça e corpo: 96"”, cauda 104; pé posterior 26, orelha 15. Craneo: comprimento basilar 22,5”" largura maior 14,5; nasalia 11,8X3,5; lar- gura interorbital 5; interparietal 3,7X9,6; comprimento palatinal desde o henselion 13; diastema 8; foramina palatina anterio- res 4,6; comprimento das series molares mm superiores 4,5"”. Habitat: Itaituba, Tapajoz (Amazonas inferior). Typo: Femea. B. MM o o a: Catalogo de Mamnuferos 81 Esta interessante pequena especie, que evidente- mente é uma fórma representativa local anã de O. la- ticebs, nomeei em honra do Dr. Gceeldi, aos esforços do qual, tanto na qualidade de collector como na de autor, muito devemos quanto ao conhecimento da fauna do Brazil e a cuja generosidade o Museu Britannico frequen- tes vezes fica obrigado». (pag. 494-495). Holochilus nanus spec. nov. Oldfield Thomas. Caracteres geraes e colorido bastante parecidos aos dos grandes H. vulpinus e H. sciureus, porém ape- nas da metade da estatura do ultimo, sendo assim a fór- ma menor entre todas as especies até agora conhecidas d'este genero. Colorido parcamente misturado de preto e castanho -claro, o mais escuro sobre a linha mediana, e o castanho mais claro sobre os lados, tornando-se de todo ruivo ao longo das beiras do abdomen. Abdomen esbranquiçado, fortemente laivado de ruivo, mas com o pello de baixo cinzento-ardosia na base. Cara bruno ene- grecida, antes mais escura do que o dorso; faces mescla- das com ruivo. Orelhas bastante curtas, encabelladas, as superficies internas misturadas com ruivo e branco, as superficies externas brunas anteriormente, ruivas posteri- ormente. Braços ruivos, metarcarpalia brunos, dedos bruno-esbranquiçados. Pés trazeiros brunos esbranqui- çados, solas nuas, fortemente rendilhadas com os tufos de cabello das beiras dos pés. Cauda antes mais curta que a cabeça e o tronco, por toda a parte fartamente * encabellada, bruna-escura em cima, igual ou apenas mais “clara pela face inferior. Craneo com os caracteres essenciaes do H. sciu- reus (1) mas bastante menor e com a região interorbital - mais chata e menos comprimida. Bordo anterior da raiz do osso zygomatico levemente concava, todavia menos que em A. vulpinus. Beiras supraorbitaes menos pro- (1) Figurado por Winge debaixo do nome de Sigmodon vulpinus, E Museo Lundii I. pt. 3, pl. 2, fig. 5, (1888). 6—(BOL. DO MUS. GOELDI). 82 Catalogo de Mammiferos eminentemente marcadas que de costumee não se erguen- do verticalmente sobre o nivel geral, muito pouco sali- ente na metade anterior e não se estendendo de todo até a metade posterior dos parietaes; a região interorbital anteriormente é, como de costume, estreita e compri- mida, posteriormente porém torna-se mais larga do que se vê por via de regra n este grupo. Foramina palatina anteriores estreitos, terminando exactamente em frente de m 1. Molares como de costume. Dimensões do typo (medida no especimen conser- vado em alcool, antes de se lhe tirar o couro): Cabeça e tronco: 122""; cauda 112º” posterior 32””, orelha 14”. Craneo: comprimento basilar 26,6"”: largura maior 19; nasalia 12,5X 3,8; largu- ra interorbital 2,6X II; comprimento pa- latinal desde o henselion 16,7; diastema 9,7; foramina palatina 6,7X2,3; comprimento das series de molares superiores 6,5”. | pé F' de interesse notar que, emquanto as dimensões - externas e craneaes são bastante menores do que em A. sciureus, o comprimento das series de dentes molares nas duas especies é quasi identico. Habitat: Soure, ilha de Marajó, embocadura do rio Amazonas. Typ0:.D. Mo Oq Este pequeno rato é interessante em relação ao seu tamanho diminuto; por um lado ostentando os caracte- res essenciaes (e entre estes por exemplo os pés propor- cionalmente grandes) dos ratos do genero Holochilus, e. por outro lado não maior do que em Oryzomys de meio tamanho, como por exemplo um O. laticeps. Elaborando esta especie, tive de convencer-me que lavrei em erro, quando reuni Nectomys, Peters (1) com (1) Estabelecendo o genero Nectomys Peters (Abhandl. Ak. Ber- lin 1860, pag. 131) falla casualmente de Holochilomys (Holochilus Wagner nec Brandt; mas o Holochilus de Wagner (Schreber Saeugeth. Suppl. III, pag. 1843, é indubitavelmente identico com o de Brandt, como claramente prova a descripção dos dentes e da especie inclusa. Catalogo de Mammiferos 83 Holochilus e acho agora, que ambos elles deveriam ficar de pé como generos distinctos. Winge reuniu Holochi- tus com Sigmodon, mas entre outras cousas os molares posteriores muito mais largos e mais complicados do Holochilus e as differenças no caracter dos pes ajudam logo a separar os dous generos. Tanto quanto é sabido até agora, o genero Folo- chilus é restricto 4 metade austral da America do Sul, desde a ilha de Marajó, onde é encontrada a menor das especies para o Sul até Bahia Blanca, onde Darwin obte- vea especie maior figurada e descripta por Waterhouse(1). como Mus brasiliensis, mas que deveria, ao meu ver, ser distinguida da dita especie e para a qual conviria portanto o nome de H. Darwinii. Na bacia dos rios Paraná e Uruguay para o Sul até o Prata occorre uma especie com abdomen branco, para a qual quadra- ria um ou ambos os nomes A. vulpinus Bts. e HH. ca- nellinus W. Esta é encontrada, pelo menos no sertão para dentro, até Goya, Corrientes, donde Mr. R. Per- Trens enviou diversos exemplares. H. sciureus Wagn., “do rio São Francisco, é intermediaria em tamanho como em localidade entre estas especies meridionaes maiores e o pequeno HH. nanus. Dous nomes, H. brasiliensis Geofir. e H. leucogaster Brandt, ainda não consegui identificar com certeza. E' possivel que se refiram a uma fórma intermediaria, para a qual, de maneira provisoria, appliquei o nome de MH. sciureus» (pag. 495-490). Akodon fuscinus spec. nov. Oldfield Thomas. Alliada de perto a 4. lasiurus Lund, porém menor e tendo mais do aspecto geral das especies do grupo 4. olivaceus. Couro erecto e denso, não lanoso, uns I10"" em “comprimento sobre o dorso. Colorido geral parcamente listado de preto e amarellaceo escuro, sendo o colorido resultante um bruno misturado de cinzento escuro. Este colorido se extende por cima de toda a cabeça e todo o lado dorsal. Abdomen mais pallido, as pontas dos pellos (1) Zoolog «Voyage, «Beagle» Mammal. p. 58, pl. 19 (1840). Re CS Ro A 84 Catalogo de Mammuferos com pontas branco-avermelhadas. Orelhas curtas, ene- grecidas. Membros de colorido escuro, mãos e pés de um cinzento enfumaçado em cima, unhas bastante compridas e delgadas.Cauda com mais ou menos 2/3 do comprimen- to da cabeça e do tronco, bem cabelluda; preta em cima cinzenta pallida em baixo, não sendo as duas côres bem destacadas uma da outra. Craneo: quasi exactamente como o do A. lasiurus, conforme figura de Winge, (1) embora menor. Perfil su- perior igualmente convexo. Nasalia curtos e estreitos. Região interorbital plana, com saliencias bem definidas nas beiras, que comtudo terminam de facto no logar do encontro com o osso parietal. Interparietal estreito e pequeno. Foramina palatina abertos, com margens ar- redondadas, estendendo-se para traz ao nivel da chan- fradura antero-interna de m 1. Proporções dos dentes mais ou menos correspondendo às de A. lasiurus. Dimensões do typo: (medido do exemplar em alcool antes de tirar a pelle): Cabeça e corpo: 98»m; cauda 64; pe tra- zeiro 19; orelha 13. Craneo: comprimento basilar 22,6”, maior largura 14,9"”: nasalia 8,3X 3,1"”; lar- gura interorbital 4,7"”. interparietale2,3X7; comprimento palatal desde o henselion 12,7; mn. diastema 8,2””:; foramina palatina 6,1X2,1; comprimento das series molares superio- mm TES das Habitat: Soure (ilha de Marajó) Typo: Macho B. M.n. 97. 4. 1. 3. (pag. 496-497). (1) EL, 2 fps ES N. B. Não concluiremos esta lista de Murideos por nós colligi- dos aqui no Pará, sem accentuar bem o seu caracter absolutamente provisorio. E' um grupo de Roedores, que precisa de especial atten- ção ainda durante muitos annos, aqui no Amazonas, como aliás em muitas outras regiões do Brazil tambem. O numero de 12 especies não representa, estamos certo, nem de longe o total de facto existente da fauna local; com mais esforços muita novidade ainda ficará para ser descoberta e não seria para admirar, se este numero de 12 por nós hoje indicado, fosse um dia triplicado ou quadruplicado! Pois em re- lação aos Roedores menores ha ainda enormemente que fazer, em zoologia systematica, tal qual como no caso dos morcegos —e pelas mesmas razões, tão faceis de adivinhar. Sabemos hoje, que o nome trivial de «Sauiá», tem um sentido lato “e geral, designando-se assim aqui ratos espinhentos de diversos tama- nhos e coloridos, pertencentes a diversos generos (provadamente pelo menos já aos generos Loncheres e EchinomyS Vale a pena archivar este conhecimento, que tem até sua histo- ria, coma se vê pelos artigos nos «Boletins» anteriores € que foi con- quistado somente depois de vencido todo esse labyrintho de erros, preconceitos e conclusões erroneas e precipitadas. Consta-nos por muitas informações concordantes de localidades do baixo Amazonas (Cametá, Santarém, ilha Mexiana etc.), que com o nome de «toró» existe um rato (espinhento?), de vida nocturna, prin- cipalmente nos cacaoaes, onde, dizem, causa prejuizos. Não obtive- mos ainda exemplar algum do tal «toró», que com algum fundamento julgamos ser um Loncheres (conf. Goeldi, Mammiferos do Brazil pag. 87). V ESCOLA TA UNGULADOS Confer Goeldi «Mammiferos do Brazil» pag. 98—112 e Goeldi «Estudos sobre o desenvolvimento da armação dos Veados ga- lheiros do Brazil» Memorias do Museu Goeldi, III. 1) Tapirus americanus Briss. Anta. 4 couros e 2 armados e actualmente 4 vivos (VI * 1903). Dois do jardim zoologico e dois do rio Acará. “Temos sempre alguns exemplares vivos no jardim zoo- * Jogico. Geralmente vindo da Amazonia superior (rio “Purus, rio Pauhiny); observado no littoral da Guyana RC ounany), rio Capim (alto Capim) e alto rio Acará. endo bastante frequente na região amazonica por toda “a parte onde houver ainda matas virgens extensas e a ; “População humana ainda se conserve escassa. Objecto predilecto da caça dos indios. À carne é saborosa, porem reputada quente. F 86 Catalogo de Mammiferos Parecia-nos por vezes haver duas modalidades no co- lorido: umas são brunas e assim fôram geralmente as que nos vieram do Purús; outras, entre ellas um grande exemplar adulto, vindo do Maranhão, tinham um colo- rido antes cinzento. Conforme o matiz do colorido geral e da existencia ou ausencia da margem branca da ponta da orelha, os indios Tembés entre o rio Capim e o Aca- rá distinguem entre Tapiyra-tinga (Anta branca) e Ta- piyra “pixuna (Anta preta), sem que nós pudessemos convencel-os da estabilidade destas duas pretendidas raças. Individuos que pudessem ser ennumerados de baixo de outro nome especifico que não o de Tapirus ame- ricanus ainda não foram encontrados por nós n'esta re- gião. Filhotes raiados já tivemos não poucos vivos no jardim, parecendo-nos sempre que bem embaraçado fi- caria quem tivesse de determinar estes Tapirides unica- mente pelas figuras de Gray nos antigos volumes dos Proc. Zopi bg 2) Dicotyles torquatus Cuv. Caiteta. Dicotyles tajaçu. 3 couros, 2 adultos e 2 armados, 1 ad. e um filhote recem-nascido. No jardim zoologico temos constante- mente alguns exemplares vivos; 3 actualmente (VI. 1903). Não nos parece ser mero acaso se o Caitetú nos vem com menos frequencia que a Queixada. O filhote novo de pello bruno-avermelhado possue além de uma I'nha preta dorsal já as duas marcas late- raes do pescoço constando de uma facha escura. 3, Dicotyles labiatus Cuvy. Queixada. Taiassih. 3 couros, 1 adulto e 1 novo e 1 filhote e no jardim constantemente muitos vivos; 10 actualmente (VI. 1903). Frequente nas matas de toda a Amazonia, sendo encon- trada em bandos numerosos (observado na Guyana, nos rios Capim e Acará). Caça apreciada. Conseguimos já duas vezes criar Queixadas no captiveiro; assim temos actualmente duas novas, cujo colorido é um bruno-aver- melhado. e já o i k CE ms p Catalogo de Mammiferos 87 A Queixada parece positivamente alcançar dimen- sões maiores que o Caitetú. Notamos no disco nasal que a margem súperior costuma ser, por via de regra, pin- tada de preto, coisa que não se dá no Caitetú etc. Me- rece nosso protesto a figura da Queixada na estampa 10 da obra de Alston sobre os mammiferos da Biologia Centrali-Americana 187982, London. 4) Cariacus gymnotis Wiegm. (Gymnotis Wieg- manni) Veado galheiro da Guyana. Cervus virginianus var. savannarum. No littoral da Guyana (Amapá e ilha de Maracá, Counany) constatamos, com bastante surpresa nossa, a existencia de um segundo veado galheiro que coincide com a descripção do Gymnotis Wiegmanni de Fitzinger e outros. E' curioso que ainda ninguem mencionasse a existencia deste veado em territorio do Brazil. Todavia devemos a essa especie referir uma certa estampa do antigo naturalista luzo-brazileiro Alexandre Rodrigues Ferreira, no seu Atlas nunca publicado relativo á expe- dição á capitania do Rio Negro. E' singular que este veado tenha escapado à attenção do zeloso Johannes Natterer, quando esteve nos campos do rio Branco. Temos diversos couros e galhadas vindos da-Guya- na Brazileira. N B: Tendo sido publicado um estudo especial sobre os Veados * galheiros do Brazil e especialmente sob o ponto de vista do desenvol- vimento das galhadas—trabalho illustrado que forma a terceira das Memorias do Museu Paraense—julgamos poder resumir aqui em pou- cas palavras o que occorria dizer relativamente aos veados da nossa colleção. 5) Blastocerus paludosus Desm. Veado galhci- ro grande. Corvus paludosus. Galhadas com ou sem as respectivas cabeças deste maior dos Veados Brazilicos vêm todos os annos em abril etc. pelas taes canóas mineiras que descem pelo 88 ; Catalogo de Mamuferos Tocantins e Araguava, carregadas com couros salgados, de longinquas regiões de Goyaz. Viverá nas cabeceiras destes rios, transgredindo da bacia platina para a bacia hydrographica do Amazonas ? Conseguimos reunir uma esplendida colleção de ga- lhadas deste soberbo veado. 6) Blastocerus campestris Cuv. Veado branco, Veado campineiro. Cervus campestris. Vem poucas vezes vivo para esta cidade, porém che- gam muitos couros do interior do Estado, vindos principalmente dos tributarios da margem direita do Amazonas. 7) Coassus rufus Illig. Veado vermelho, Vea- do mateiro. Cervus rufus. 2 couros, novos, ainda malhados e 3 armados e 2 vivos d' P ad.; já apparece mais vezes e d'elle temos constantemente alguns exemplares vivos no jardim zoo- logico; infelizmente por via de regra femeas ou animaes muito novos. Temos actualmente um filhote ainda ma- lhado, vindo de Chaves, contra costa de Marajó. Obser- vado em Marajó, Pacoval. 8) Coassus nemorivagus Cuv. Veado catingueiro. Cervus simplicicornis (nemorivagus). 1 exemplar armado novo. À este veado ainda me- nor, cujo pello amarello-acinzentado claro [mistura sal e pimenta) lembra algum tanto o do couro d'inverno da corsa européa (Cervus capreolus), devemos attribuir alguns exemplares que obtivemos durante a nossa ex- pedição ao alto Capim (n.º 217 S). Um filhote, ainda malhado do jardim zoologico 9. o Catalogo de Mammiferos 89 Os indios Tembés conhecem este veado com o no- me de suacu-anhaânga, isto é veado phantasma, dizendo que elle corre com ligeireza descommunal pelo mato fóra e que é particularmente arisco. VI CETACEKA CETACEOS Confer Goeldi «Mammiferos do Brazil» pag. 112— 192, 1) Manatus inunguis Natterer. Peixc-boi. Temos 4 exemplares e um vivo do rio Purús (d'es- de VII. 1902). Tambem os outros vieram de diversas localidades do Amazonas medio e inferior, um por exemplo de Iquitos (Perú), outros até da foz do Ama- zonas (ilha de Marajó), onde todavia já constitue uma raridade; foi observado por nós no rio Arary (Marajó). Os exemplares vivos que apparecem no mercado de Belém de vez em quando, mostram geralmente feri- das e cicatrizes provenientes de harpões e flechas. Possuindo os nossos exemplares 14 pares de cos- tellas e não havendo indicios de unhas nas extremida- des, não duvidamos em attribuir todos os nossos exem- “plares à especie Manatus inunguis, embora que dos qua- tro craneos um unico mostre já bem accentuada a ten- dencia de alongar-se e de estreitar-se a porção da par- te anterior do craneo, (25,5 cm comprimento total, ap- proxima-se portanto nas dimensões ao exemplar col- leccionado por Natterer e conservado no Museu de Rostock (29,0 cm). Os tres outros craneos todos de animaes novos medindo na media 20,0 cm de compri- 90 Catalogo de Mammiferos mento total mostram ainda aquellas feições largas que poderiam induzir a attribuil-os á especie Manatus lati- rostris (americanus) quem não estivesse bem ao par desta particularidade. Guiamo-nos pelas descripções nos trabalhos de Pelzeln e Hartlaub. N B: Todos os que fizemos viagens mais ou menos extensas na região amazonica, temos observado ainda outros Cetaceos indige- nas ,— membros da familia dos bôtos (Delphinidae). No baixo Amazo- nas e no seu curso medio é encontrado, e com frequencia, o Sturo (Delphinus) tucuxy Gray; no alto Amazonas, já em Iquitos, por exemplo, se não nos enganamos, observou-se a Ínia amazonica Spix et Martius. E não pertence ao ról das cousas impossiveis que possa haver outras especies scientificamente ainda não determinadas. Cabendo aos bôtos importante papel no folklore amazonico e vo- gando entre os indigenas a mesma reluctancia supersticiosa contra a caça dos bôtos que, já faz annos, tive occasião de caracterisar em re- lação aos pescadores do Brazil meridional (1), não nos surprehende, se nas collecções dos mammiferos do Museu o grupo dos Delphinides se ache ainda muito insufficientemente representado. Entretanto te- mos esperança de ver sanada esta lacuna, pelo menos parcialmente, n'um futuro não muito remoto. VII EDENPA TA DESDENTADOS Confer Goeldi, «Mammiferos do Brazil» pag. 122137. 1) Bradypus |Arctopithecus| marmoratus Gray. Bradypus tridactylus L. Preguiça. 74 couros e 1 armado e 2 vivos. Ambos os sexos e de todas as idades. A maior parte do jardim zoologi- co que os recebe constantemente das matas do Pará. Frequente na Amazonia inferior. Depois de cuidadoso (1) Confer Goeldi, Mammiferos do Brazil pag. 117, 118 seq.— Obervações sobre o bôto da bahia do Rio de Janeiro (Sotalia brasili- ensis). Zoolog. Jahrbuecher Bd. III (1887) pag. 134 seq. Catalogo de Mammferos 91 exame do nosso esplendido material—(certamente o mais rico que jamais foi colleccionado nesta região e que se não desde já, não estará longe de offerecer os meios para resolver o complicado problema systemati- co)—chegamos à convicção que a nossa Preguiça a mais commum do Pará corresponde com aquillo que Gray nos Proc. Zool. Soc. 1849 pag. 71 e 1871 pag. 443 descreveu com o nome de Arctopithecus marmo- ratus. (1) Concordamos que além de alguns exemplares ty- picos podemos distinguir uma segunda serie correspon- dendo à variedade B. infuscatus Wagler 1831 e uma outra à variedade B. tridactylus Prinz von Wied (B. Mlaccidus Gray 1849) e B. pallidus Wagner 1844. O colorido geral da nossa Preguiça do Pará é um bruno-acinzentado claro, faltando muito vistosos distin- ctivos em outros couros e que de longe e à primeira vista permittissem caracterisar a especie, como se dá em certas outras (B. torquatus Illiger 1811 e B. cucul- liger Wagler 1831). A parte anterior do corpo (cabeça até a nuca) os flancos e o lado exterior das extremida- des (principalmente dos braços) brunos, da mesma côr uma mancha triangular mais ou menos nitidamente de- limitada na parte axillar. Na parte posterior tem a ten- dencia de predominar, da mesma fórma, um cinzento- esbranquiçado, puxando ora para o branco, ora para o amarellado pallido. Costuma Pprojectar-se uma linha dorsal mediana de colorido uniforme, da parte anterior até o meio das costas ou ainda mais para traz; por sua vez o colorido claro da parte posterior invade os lados do corpo e em parte as pernas, chegando a formar uma roupagem, ora mais, ora menos, malhada. Uma mancha vistosa na região interescapular, côr de laranja, atravessada por uma raia negra longitudinal (e algumas manchas lateraes) onde o pello apparece cur- to e gasto [chamada «Bentinho» pelo povo d'aqui], é visivel em 19 dos nossos exemplares n. 79 PQ? n.89 d, n. 232 S, n. O, n. 93 O”, D. 301 o; E 355 O, n. B09 Sn. 406 Si, 0.401 S, 0.353 SoM. 391 Oi N=-427 (1) Ao genero Arctopithecus pertence: visto os processos pte- rygoideos serem uma lamina ossea não intumescida como no genero Bradypus s. str. do mesmo autor. A terminação da mandibula cor- responde com as figuras 3 e 4, estampa IX de Gray P.Z. S. 1849. 92 Catalogo de Mammuiferos S,n. 428 dg, n. 429 d;, todos adultos, e n. 78 dg? em. 82 22, estes dois ultimos individuos novos, nos quaes a dita mancha principia a formar-se. Os dois individuos novos n. 82 e n. 78 d'? mos- tram a mancha dorsal em principio, indicada ' apenas por serem os pellos mais curtos e a mesma cousa se nota na femea adulta n. 87 que quando a gente levanta o pello deixa ver já o amarello, côr de laranja, no fundo. a) Na serie de B. marmoratus Gray typico, isto é com linha dorsal mediana bem pronunciada, podemos contar os individuos (10): n. 81 Q ad., n. 85 d! novo, n. 90(?) ad, n. 238 Sad., n. 86 d ad., n. 92 (?) Novo, n. 83(?) novo, n. 91(?) novo,n.88 9 ad, n.99 dad. n. 285 S' ad., n:430. 2, n. 431 9, pn. 432 O em, 080 Caio tamanho. b) Na serie de Br. infuscatus Wagler 1831: pode- mos contar: n. 98 Q ad., n. 87 Q.ad., n. 574 Orada 359. Q adise n. 437 O ad. sendo a côr do lado anterior excepcionalmente escura; Falratço n. 248(?), D. 286 novo, n.: 276. 9 ad., n. 3322 ad. nm. ama ade c) À serie de B. pallidus Wagner 1844 (B. tridac- tylus prinz. v. Wied e B. Maccidus Gray) pertencem por sua côr uniforme cinzenta-amarellacea os seguintes 23 individuos: n: 95 d'ad., n. 77 o ad. nm. oq n. 84 d' novo, n. 96 Q ad., nm. 94(?) ad., 433 O adiada Q ad., 395 P, 434 P ad., 435 9 ad., 436 9 ad. nao ad., n. 282 Q nova, n. 283 Q nova, n. 284 9 mova 274 9 meio tamanho, n. 281 Q meio tamanho, n. 279 Q meio tamanho, n. 278 Q ad., n. 275 Q ad na ad, ora O ad: O rosto possue uma fita frontal branca-amarellacea; e do canto exterior dos olhos um risco preto de com- primento e largura variaveis, corre obliquamente para traz e para baixo; colorido do pescoço diffuso pallido. A natureza e a origem da mancha dorsal côr de la- ranja ainda não póde ser resolvida desde já com toda a certeza, posto que a nossa attenção fosse especialmente dirigida para este ponto. Por cra contentamo-nos em frisar simplesmente a circumstancia de que dos nossos 74 exemplares 19 a possuem. Que seja monopo- lio exclusivo do sexo masculino como algum tempo pensamos, confiando nas asserções de diversos autores como Pelzeln, Fitzinger e “Outros, parece não confir- Catalogo de Mamnnferos 93 mar-se; o nosso individuo n. 79 é declarado no seu lettreiro como sendo positivamente do sexo feminino e por outro lado temos 7 exemplares do sexo masculi- no, entre elles 5 de idade adulta, sem vestigio da men- cionada mancha: n. 77 ad., n. 84 novo, n. 95 ad., n. RR pn. S6 ad. n. 258 ad. n. 85 movo; sendo util mencionar que os quatro primeiros exemplares perten- cem como acima foi dito á serie de B. pallidus, ao pas- so que os tres restantes fazem parte da serie de B. mar- moratus. Se bem que concordemos em principio que a espe- cie a que pertence esta nossa Preguiça, a mais frequen- te no Pará, subordina-se à estabelecida, ha muito tem- po, por Linneo e Cuvier com o nome de B. tridacty- lus, preferimos adoptar o nome B. marmoratus de Gray (embora com o valor de simples variedade ou Taça local e não com o de especie como Gray quer) pois é inquestionavel que a maioria dos nossos indi- viduos paraenses coincide com a roupagem caracterisa- da para B. marmoratus por Gray e outros e que a ac- ceitação de B. tridactylus como nome geral teria o inconveniente de originar o erro eventual de que a roupagem de preferencia ostentada pelas nossas Pre- guiças paraenses mostrasse aquelle colorido uniforme pallido observado nos nossos 7 exemplares da serie c e visivel nas figuras mais conhecidas do Principe de Wied, de Wagner-Schreber, Gray etc, a ponto de ser considerada como norma. 2) Bradypus cuculliger Wagler 1831. Preguica. Arctopithecus gularis Rueppell 1842. S exemplares armados, 6 adultos e 2 novos; da “antiga collecção. E' singular que desta Preguiça que nós ainda não encontramos viva na Amazonia inferior e que tambem ainda não veio para o jardim zoologico, achassemos tan- tos exemplares armados quando da especie anterior no antigo inventario não havia senão um só indivi- duo, femea (sem mancha dorsal) com um filho nas cos- 94 Catalogo de Mammferos tas. Deve ter vindo evidentemente do Amazonas supe- rior (Iquitos?). Especie manifestamente boa, facillima de reconhe- cer-se à primeira vista pelo vivo contraste das côres da roupagem: o bruno claro da especie anterior é substitui- do aqui por um bruno-azulado, côr de chumbo retinto ; o restante claro é de côr branca bastante pura, puxando em alguns exemplares para o amarellado. Sobretudo ca- racteristico, porém, é ser amarello todo o rosto, in- clusive o lado anterior da cabeça e do pescoço; alguns dos nossos individuos mostram indícios de uma estria escura no canto exterior dos olhos. Os dois filho- tes são de colorido uniformemente bruno-acinzentado e já possuem o rosto amarello. Tres dos nossos indi- viduos adultos são unidos com a mancha dorsal côr de laranja, a qual falta nos tres adultos restantes; não ha infelizmente, indicações relativamente ao sexo de qual- quer destes relictos da antiga collecção. N B: Assim o nosso material abrangendo nada menos que uns oitenta exemplares de Preguiças amazonicas não deixa reco- nhecer, ao nosso ver, senão unicamente duas especies. Approvamos a tendencia manifestada em Trouwessart: «Catalogus Mammalium» pag. 1095 de reduzir consideravelmente o numero das especies, reu- nindo o B. pallidus de Wagner, B. Blainvillei de Gray, B. mar- moratus Gray, B. flaccidus Gray, B. problematicus Gray etc. do baixo do nome commum de B. tridactylus Linneu. Assim possuimos um craneo que pelas suturas ainda abertas mostra ser ainda um individuo novo que pela parte frontal intumes- cida corresponderia com aquillo que Gray chama Arctopithecus Blain- villei. Acerca do tal Arctopithecus problematicus de Gray, conforme diz o autor proveniente do Pará, (como aliás tambem os typos de A. marmoratus e A. JFfaccidus var. Smithii), é quasi superfluo perder muitas palavras visto ser estabelecido unicamente sobre um craneo. A reducção das especies pôde sem detrimento para a scien- cia continuar : para nós B. infuscatus Wagler, B. griseus Gray, B. brachydactylus Wagner pertencem igualmente como raças locaes ao mesmo proteo B. tridactylus Linneu. 3) Choloepus didactylus L. Preguiça real. 23 couros, 14 adultos e 9 novos, e 1 armado e 3 vivos ( VI. 1903). Quasi todos do jardim zoologico e to- dos da vizinhança do Pará, onde são bastante frequen- tes nos matos do igapó. Observada tambem em Mara- h Catalogo de Mammferos EE “ jó (rio Aramá). Notavelmente mais viva e ligeira que a Preguiça commum:; morde com os caninos e fére com as unhas perigosamente; é de temperamento irascivel. Animal consideravelmente maior que qual- quer das outras Preguiças; temos exemplares esplen- didos (exemplar maior n.º 72 9: comprimento d'es- de o focinho até a ponta da cauda curta gr cm.) Bastan- te variavel no colorido. Entre os adultos podemos dis- “tinguir tres series: (a) No colorido geral, principalmente lado dorsal, predomina o branco-amarella- do, chegando a ser desta côr pallida da parte terminal do cabello quasi à mnciade mo O. mei Q;n.-53 dy; aum. 268 O nv 260 PQ é os tres de mRieio tamanho m: 100 "S;, n. 69 Sen: 383 d. (b) No colorido geral predomina ainda o preto-brunaceo, sendo mais claro (gri- salho) principalmente o lado posterior nrdbrso: Nissorim 68; mn. 7a 9; EGO Dn, 27040 e nwogr(2) novo. SE INOteSs NOVOS 175 E nm. 351 O e n. 417 (2) todos do Pará, muito es- curos, quasi pretos, apparecendo o grisalho no fundo só quando se aparta os pellos do dorso com a mão. c) No colorido geral preside um amarello quasi côr de ouro n. 67 (?) ad. Os quatro individuos todos novos n. 76 dS.n.74 9, n. 222 Q en. 234 d' de colorido geral bruno-amarel- lado, empallidecendo gradualmente e sendo bastante claro todo o rosto com excepção da parte propriamen- te facial. Se não tivessemos outra cousa para formar criterio Rendo à estampa no Proc. Zool. Soc. 1872 pag. 72 poderiamos suppôr que entre os nossos individuos ti- vessemos duas especies (Ch. hoffmanni e Ch. didactylus), pois temos diversos exemplares: a) com toda a cabeça branca, excepto o rosto propriamente dito: N. 242, n. 68, n. 70, n. 222 e n. 76; b) branco somente na parte su- RB) SI r€ Ja 96 Catalogo de Mammiferos perior da cabeça: N. 71, n. 67, n. 231 € OS NOVOS N. 100, n. 74, n. 69; c) parte frontal da cabeça mostrando ain- da uma zona clara porém de extensão reduzida e puxan- do já mais para o vermelho-brunaceo: N.Y72,n.Y%) 3,n. 06 e n. 234. Assim nemhum dos nossos exemplares con- cordaria com a figura 2 da dita estampa, pois nemhum é preto no lado dorsal, branco no ventral e vermelho, côr de ferrugem, na parte frontal. Como resulta da sy- nopse acima, a maioria dos nossos exemplares concor- daria, quanto ao colorido claro da cabeça, ainda melhor com a figura 1 (Ch. hoffmanni) da dita estampa. Toda- via nunca duvidamos em classificar a nossa especie co- mo Ch. didactylus e criticamos unicamente o exagero que se nota no colorido da estampa 72 Proc. Zool. Soc. 1872. 4) Myrmecophaga jubata L.Tamanduá bandeira. 9 couros (6 adultos e 3 novos), 6 armados e 1 vi- vo (VI. 1903). Todos do jardim zoologico e todos de Ma- rajó. Frequente ainda nos campos da contra costa e do centro. Já trouxemos de lá diversas vezes femeas com filhotes nas costas. O contraste no colorido dos filhotes novos ainda não é tão pronunciado, falta a zona escura desde a cabeça até o meio do dorso, como tam- bem a fita branca que a separa do prolongamento da grande mancha preta que obliquamente corre do pesco- ço para o dorso. Na cauda é clara a linha mediana dor- sal, grisalhos os lados da metade anterior e pretos os lados da metade posterior. 5) Tamandua tetradactyla L. Tamanduá col- lete. Tamandud arixp. / 20 couros (12 adultos e 8 novos), quasi todos do jardim zoologico e da visinhança do Pará, e 2 ar- mados. Partes claras dos filhotes branco-amarelladas; o bo- Catalogo de Mammuferos 97 nito amarello, côr de ouro, só se desenvolve mais tarde. ; Notam-se variações na largura e extensão da fita es- capular preta; é particularmente largo no n. 105 e no fi- lhote n. 113; vae estreitando-se nos exemplares n. IIO, Roo, n. 107 en. 2247; por óutro lado nem alcança o alto do dorso nos exemplares novos n. 103 e n. II2. O nosso museu possue como grande raridade um exemplar preto (melanismo) deste Tamanduá, trazido dos campos da Guyana brazileira (rio Maracá). 6) Cycloturus didactylus L. Tamandud-y. II couros e 4 armados. Bastante frequente nas ma- tas de igapó da visinhança do Pará. Observado na ilha das Onças. Chega não raras vezes vivo ao mercado de Belém e ao jardim zoologico. Não conseguimos ainda esclarecer completamente a natureza da alimentação (que formigas e termites?) e por isto não podemos conservar vivas estas graciosas creaturas além de poucos dias. 7) Dasypus setosus Wied. Tatú-pebda. Dasypus sexcinctus. Temos constantemente alguns exemplares vivos no nosso jardim zoologico. S) Tatusia novemcincta L. Tatiú verdadeiro. S exemplares, 2 adultos e 6 novos, e 2 arma- dos. Vem de vez em quando para o nosso jardim. Temos Ret quatro exemplares novos vivos das matas o Pará. 7—(BoL. DO MUS. GOELDI) ne “ai 98 Catalogo de Mammaferos 9) Tatusia hybrida Desm. Tati bola. Nos campos em Marajó existe um pequeno Tatú, parecido com T. novemcincta, porém menor e que o povo erroneamente chama de Tatú-bola, nome este que com razão só é aplicado para o D. (Tolypeutes) conurus (tricinc- tus) do extremo sul do Brazil e da Republica Argentina. 10; Lysiurus unicinctus L. (Xenurus gymnurus). Tatu china. Tatu de rabo molle. Dasypus 12—cinctus. Facil de conhecer -se pela unha anterior media muito grande, à feição do Tatú-canastra; aspero e grosseiro revestimento de placas na parte superior da cabeça e a cauda revestida de pelle molle, entremeada de pequenas placas osseas redondas. E” chato e largo como o «Peba». 2 couros. Apparece tanto nas colonias ao longo da Estrada de Ferro de Bragança (Americano etc.), como aqui mesmo em Belem, onde obtivemos um exemplar vivo dos fundos da fabrica de cerveja em Nazareth (1901), | a menos de 1/2 kilometro do Museu. E' bravio e não , dura muito no captiveiro, no maximo uma semana. 11) Prionodontes gigas Cuv. Tatú-canastra. b Galerias deste gigantesco Tatú encontramos com bastante frequencia nas savanas desertas da Guya- na brazileira entre os rios Counany e Cassiporé. Até agora não conseguimos obtel-o vivo para o jardim zoologico. No Museu temos, proveniente da antiga collezão, um casco de um exemplar de meio tamanho e um pé isolado de um exemplar bastante grande. rr ae ra Er, Catalogo de Mammferos 99 VII MARSUFTFIALIA MARSUPIAES Confer Goeldi «Mammiferos do Brazil» pag. 137—144. 1) Didelphys marsupialis L. Mucira. Didelphys cancrivora. 6 couros e 3 vivos (VI 1903). Todos do Pará. Muito frequente nas rocinhas da cidade de Belem e aqui como por toda parte afamado ladrão de gallinhas. Existe no terreno do Museu e produz, como as especies menores (D. opossum e D. cinerea) o barulho infernal que se ouve no Pará no tecto de muitas casas campestres, onde haja arvores na immediata vizinhança. Faz uns dois annos uma d'estas Mucúras chegou a apagar a luz electrica no PROprIO edifício do Museu, cahindo, à noite, entre os dois fios grossos de alta tensão, perto do transformador, Cinco exemplares de meio tamanho, 1 9 adulto. Dois exemplares n. 198 Q en. 201 Q são claros e sem colorido facial distincto. Uniformemente cinzento-ama- rellado claro, muito pallido; correspondem mais ou menos á variedade tvpica de D. marsupialis como é descripta por Oldfield Thomas no Catalogo 1888 pag. 315. Os dois outros individuos n. 199 d' en. 200 9 parecem mais com a variedade D. azarae do mesmo autor e cer- tos individuos encontrados no sul do Brazil (Serra dos Orgãos) e descriptos no nosso trabalho: «Critical clea- nings on the Didelphidae etc.» Pr. Z. S. 1894 pag. 457 seq. São mais escuros (n. 199) na linha dorsal e extre- midades e possuem ponta branca nos compridos pellos; o desenho facial é mais distincto. 100 Catalogo de Mammuferos 2) Didelphys opossum Seba. Muciúra chichica. 4 couros e t montado. Todos do Pará e arredores. À «quica» dos brazileiros do sul é tambem bastante fre- quente na Amazonia e gosta de habitar nos telhados de alguma casa que tenha uma arvore perto para facilitar excursões nocturnas em que as mangas, laranjas ou se- melhantes fructas saborosas são postas á contribuição. Colorido em todos cinzento-enegrecido. Nas femeas que estão criando, a região abdominal, ao redor da bol- Sa, é COR de dermuigóm: 3) Didelphys cinerea Temm. Muciúra chichica. 4 couros e 3 armados. Todos do Pará. Especie consideravelmente menor, facil de conhecer pela ausen- cia das manchas supraoculares brancas, a pelle avel- ludada com matiz ruivo-ferruginoso e a cauda irregu- larmente manchada de escuro e com uma parte enca- bellada, na raiz da cauda, mais curta. Bastante frequente nos jardins do Pará e facilmente encontrada em suas excursões nocturnas pelas fructeiras, em noites de luar. Em semelhantes occasiões não é raro se poder apanhar diversos exemplares a tiro de «Flobert» n'uma só noite. 4) Peramys tristriata Íllig. Didelphys americana. D'esta pequena especie caracterisada pelas trez fitas pretas longitudinaes no dorso, foi observado um unico individuo adulto nas vizinhanças do Pará. O colorido geral é consideravelmente mais escuro que o da estam- pa n. 35 da recente obra «Hand-book to the Marsupia- lia» from Rich. Lydekker, London 1894. 5) Chironeytes palmata Cuv. Chichica d'agua. Parece ser raro aqui como em toda parte do Brazil. Até agora só obtivemos um unico exemplar, trazido Catalogo de Mammferos 101 e ] vivo da ilha do Mosqueiro, perto da cidade de Belem um outro exemplar apanhado por um de nós na mesma localidade soube fugir a tempo. 1.º SUPPLEMENTO Exame de uma coliecção de Chiropteros (Morcegos) do Pará O er COLDRFIELD THOMAS, FF. BR.'S. E (Chefe da secção dos Mammiferos do «British Museum», Londres) Devo à amabilidade do Dr. E. A. Geeldi, Director do Museu Goeldi, Pará, a occasião de elaborar grande numero de morcegos obtidos n esta interessante locali- “ dade e julguei a collecção deveras digna de se fazer d'ella uma lista. A collecção é principalmente rica em mem- bros do genero Artibeus, do qual não menos de 5 se acham representados. Uma serie completa da collecção foi offerecida ao Museu Britanico. 1) Lasiurus borealis Múll. Um exemplar. 2) Myotis nigricans Wied. “Um exemplar. 3) Rhynchonycteris naso Wied. Um exemplar. (1) Vide Bolet. do Museu Parâense Vol. III, pag. 586 (Biblio- graphia). O Trabalho original foi publicado com o titulo «On a collection of bats from Pará», na revista «Annals and Magazine of Natural Hi- story» London, Ser. VII, Vol. 8, Sept. 1g0o1r-—pag. 189-194.—Traducção portugueza do Dr. E. A. G. o * o E A sr. 102 Catalogo de Mammiferos 4) Saccopteryx bilineata Temm. 4 exemplares. 5) Noctilio albiventer Spix. 4 exemplares. 6) Molossus rufus Geoff. I9 exemplares 7) Molossus obscurus Geoff. 30 exemplares 8; Molossus planirostris paranus subspec. nova. Assaz semelhante à forma typica em todos os pon- tos essenciaes: em tamanho, feitio das orelhas, caracte- res geraes do craneo etc. Colorido muito mais sombrio por toda a parte; as pontas dos cabellos pretas em vez de brunas, e o queixo, bem como a linha central da bar- riga e do abdomen apenas mais claros que o resto, em vez de apresentar contraste bem marcado devido ao branco. Uma mancha do couro perto do cotovelo, na membrana antebrachial bem como o terço basal do an- tebraço particularmente bem desenvolvidos, dando-se o mesmo na membrana da aza no lado distal do ante- braço. Craneo bem mais comprido e estreito que no legi- timo flanirostris, especialmente mais estreito atravez das arestas angulares anteorbitaes, que tambem parecem ser collocadas mais para a frente. A distancia atra- vez destas arestas é decididamente menor na subspec. paranus e maior, na tyvpica Slanirostris, do que a me- tade do comprimento basilar. Dimensões do typo: Antebraço 35””. Cabeça e cor- po 58””; cauda 28, perna pôsterior I2,terceiro dedo, me- tacarpal 37, primeira phalange 16, segunda phalange 14, comprimento do quinto dedo 31. Craneo: comprimento maior 17,3””; comprimento basal 15: largura zygomatica 11,8; largura anteorbital Catalogo de Mammiferos 103 —% 2 largura interorbital 4,5; dimensão desde a frente do canino até atraz do ultimo molar 6,6"". Typo: ma- RR M. n.1.'%. II. 15. Esta fórma póde ser logo distinguida da typica guya- neza planirostris pelo colorido mais escuro do peito e do abdomen e pela feição diversa da parte anterior do craneo. À ' 9) Micronycteris minuta Gerv. 5 exemplares. Esta fórma saliente poderá ser logo reconhecida em primeiro logar, pelo seu pequeno premolar inferior meé- dio, mostrado na figura de Gervais, porem não mencio- nado por elle, nem por Dobson e Miller; e em segundo pela estructura deveras peculiar da fita que liga as duas orelhas. Esta fita é quasi obsoleta em algumas especies; “— emM. megalotis ella é baixa e possue uma chanfradura suave no centro, ao passo que no M. minuta é muito alta e tão profundamente chanfrada no centro, que fica de facto dividida em dous lados triangulares proemi- nentes, ligado cada um a uma orelha. Parece que esta particularidade ainda não foi descripta por autor algum, embora se encontre em todos os especimens determina- dos por Dobson como pertencentes á especie Schizo- stoma minutum. O antebraço foi indicado por Gervais, como tendo só 32””, mas da remedição feita por Dobson resultou um augmento para 1.35 pollegadas inglezas (=34,5""). 3 Os exemplares aqui presentes são antes um pouco “maiores (36"”;, mas isto acontece tambem com especi- mens provenientes de perto da localidade typica. o) Phyllostoma hastatum L. 21 exemplares. 11) Phyllostoma elongatum Geoff. 2 exemplares. 104 Catalogo de Mamnuferos 12) Hemiderma perspicillatum L. 38 exemplares. Este é o nome que, ao meu ver, conviria melhor a este morcego muito commum, chamada por Dobson Artibeus perspicillatus Linneo. Ofnome de Linneo (1) tem sido baseado primeira- mente na edição decima e somente mencionado na septima (citada na decima) edição do «Systema», sobre o «Vespertilio americanus vulgaris» de Seba, es- tampa 55, fig. 2 do «Thesaurus». Ora, este animal evi- dentemente não é um Artibeus e no meu trabalho (2) acerca dos mammiferos de Seba identifiquei-o com um morcego que se póde referir áquelle que hoje em dia é conhecido sob a designação Hemiderma brevicauda, e este ultimo portanto devia ser, creio eu, chamado He- miderma perspicillatum Linn. 13) Glossophaga soricina Pall. Io exemplares. 14) Artibeus planirostris Spix. 1 exemplar. 15) Artibeus concolor Peters. 2 exemplares. (1) Syst. Nat. (10) I. pag. 31 (1758). Em casos como este, Didel- phys marsupialis e outros, onde Linneus na sua decima edição cita obras suas anteriores, penso que seria de bom aviso, a gente guiar-se por semelhantes obras anteriores como base na selecção entre as suas referencias: Parece ser contrario ao bom senso que por eliminação ou qualquer outro methodo fosse permittido trazer para um animal um nome Linneano à tona, que nem mencionado sequer se acha na primeira applicação do nome do proprio Linneu embora que tal pri- meiro nome possa ser, como «pre-Linneano», technicamente invalido. (2) Proceedings Zoological Soc. 1892, pag. 315. A a O a e == TM" A) » Ea CW ê ds ao Catalogo de Mammaferos 105 A julgar pela magra descripção dada por Peters, — parece não existir motivo para distinguir os especimens * do Pará da sua especie estabelecida sobre individuos — provenientes da Guyana. “ P: 16) Artibeus bilobatus Peters. 2 exemplares. 17) Artibeus jamaicensis Lcach. pesemplar. O nome proximo para este Artibeus é jamaicen- — sis, Leach 1822, e pôde ser usado por elle, de modo pro- “visorio. Nos casos em que os especimens meridionaes pre- — cisem ser separados dos provenientes do Norte, o nome 9 que lhes conviria, seria Artibeus lituratus; Phyllosto- — ma lituratum Lichtenstein (1), baseado sobre a «Chau- — ve-souris Premier» de Azara e datada de 1823. Tambem - O nome especifico «superciliatum» de Wied poderia en- — trarem conta para o morcego brazileiro, caso a forma da — Jamaica fosse reconhecida como diversa, como de facto "o Dr. Allen a considera. br 18) Artibeus cinereus Gervais. I exemplar. 19) Vampyrops zarhinus H. All. I exemplar. — Este morcego póde ser logo reconhecido entre todas “as especies de Vampyrofs até hoje descriptas pelo ta- “manho excessivamente diminuto dos incisivos, que não “se podem tocar uns nos outros. Este caracter é tambem — partilhado com a especie descripta na nota abaixo (2). BRO Verz. Doubl. 1892, pag. 315. (2) Vampyrops recifinus spec. nov. EM Alliada a V. lincatus e V. zarhinus. Estriação fortamente pronun- * “tada, a linha facial branca superior larga e accentuada, a inferior evi- “dente, e a linha dorsal clara e continua. Folha nasal bastante parecida 106 Catalogo de Mammiferos o) Ametrida centurio Gray. Um exemplar. 1) Sturnira lilium Geoff. Um exemplar. 2) Desmodus rotundus Geoff. Um exemplar. POSTSCRIPTUM Tinhamos a intenção de accrescentar aqui, no logar mais apro- propriado, a traducção da diagnose de uma outra especie nova de mor- cego amazonico, recentemente estabelecida pelo competente especia- lista, o Dr. Oldield Thomas em Londres: o Promops trumbulli O. “Th., descripto nos «Annals and Magazine of Natural History» A don, - th serie, vol. 7, Igor, pag. I190-I191 e colleccionad baixo Amazonas (Pará ), se não nos enganamos. Visto que a bia em questão infelizmente não nos é accessivel n “este momento, por se achar na Europa, para ser encadernada, daremos a projectada tra- ducção posteriormente, Dr. E. AME com a de V. garhinus, sendo os lados da figura em forma de ferradura providos com um lobulo virado para dentro, pelo centro. Distribuição do pello, fórma da orelha, tragus como em V. zurhinus. Colorido geral bruno, antes um pouco mais claro pela face inferior. Ossos da aza brancos, contrastando com as membranas brunas. Craneo da configuração do V. zarhinus, e com os mesmos incisi- vos diminutos e separados entre si, porém por toda a parte wisivel- mente mais largos. Ultimo molar superior transversalmente oval. Sec- ção do segundo, molar inferior (m "> ) ligeiramente mais largo que no primeiro, o terceiro (m "3 ) somente pe rto da metade do seu tamanho. Dimensões do exemplar-typo (medido do exemplar conservado no alcool): Antebraço q1””. Cabeça e tronco SUE folha nasal 11X 5,5; orelha 15; terceiro dedo, metacarpale 38; primeira phalange 14,5; segunda phalange 24; perna posterior 16; calcanhar 3,5; profundidade do interfemorale no centro 4. Cranco: maior comprimento 24"”"; comprimento basal 19; largura do palatino atravez dos molares 10,5; distancia da frente do canino até por traz dom = «6,4P”, Habitat: Pernambuco. Typo: Macho. B. M.n. 81. 3. 16. 4. Colleccionada e offerecida pelo fallecido W. A. Forbes. Esta especie será logo reconhecida em comparação com V. za- rhinus pelo maior tamanho e estriação mais visivel; comparada com V. lineatus distingue-se pelos incisivos diminutos. Catalogo de Mammiferos 107 2º SUPPLEMENTO Exame do material de Canides (cães e raposas) colleccionado na região Amazonica pelo Museu Goeldi no Pará (') Beda E rof. Dr. IKREOPHII, STUDER, DA UNIVERSIDADE DE BERNA (SUISSA) (Com duas estampas) Tenho deante de mim dous exemplares (pelles e “cransos, n. 115 e 116, macho e femea) de uma forma canina grande, bem como cinco pelles e craneos (n. RR 121) de uma especie menor. Quanto a esta ultima, “não póde pairar duvida, de que se trate do Canis can- — crivorus Desm.=C. brasiliensis Lund. À primeira es- * pecie merece um exame mais detalhado. O exemplar macho, maior, tem em comprimento “do corpo, medido no couro, de 95,5”, o menor, do sexo feminino, de 74”. Uma photographia posta à minha ai sposição e tirada do cadaver fresco d'este animal, mos- “tra um Canino esbelto, alto de pernas, de feição de lobo “com cabeça relativamente grande e focinho estirado, RR a geando- se em ponta fina, com orelhas pequenas e cauda comprida, assaz fornida, que cáe até por cima “dos dedos. Os olhos occupam logar alto na cabeça; a transição da fronte para o dorso do nariz, que é direito, sa (1) Vertido do original allemão pelo Dr. E. A. G. O texto do o riginal allemão, sem a respectiva estampa, será publicada n'uma re- “vista especial da Europa. . a e E). 108 Catalogo de Mammiferos se opera sem separação marcada de sinuosidade. São | largas as orelhas, inseridas bem em baixo e assaz cur- | tas em proporção a cabeça. O pello é denso e curto. Pelo lado de cima a côr - fundamental é um bruno ferruginoso escuro, mesclado de preto e misturado de cinzento na cabeça e nas espa- duas. Os cabellos são brancos na base com pontas ver- melho-ferruginosas ou pretas; estes ultimos, que são mais rigidos e mais compridos, principiam na região occipital e continuam em faixa larga, que por sua vez é interrompida de quando em vez, de fileiras longitudi- naes vermelho-ferruginosas, até à cauda. Esta faixa é de um preto retinto na nuca, alarga-se entre as espa- duas, passando ao cinzento por cima das omoplatas e apparece então no dorso multiplamente interrompida das taes linhas entremeiadas de pellos vermelho-ferru- ginosos. Ao passo que os pellos mais compridos são na região da nuca, mostram-se. ao contrario, muito curtos na cabeça, chegando a transparecer por toda parte as partes basaes esbranquiçadas por baixo das pontas bru- - no-amarellaceas e tanto que a côr ahi se apresenta com o bruno salpicado de branco. Sómente por baixo do olho estende-se uma estria escura. quasi preta, margi- nando, a alguma distancia, a margem orbital inferior. As crelhas são pelo lado exterior uniformemente de um vermelho-ferruginoso sombrio; pelo lado inferior de um branco amarellaceo, sendo a margem anterior occupada pela face interna, com cabellos mais compridos branco- . amarellaceos. As pernas são sombrias, bruno-escuras, . quasi pretas pela face anterior do baixo braço e da bai- . xa coxa. O lado abdominal é bruno-ferruginoso, mais claro na barriga, bem como no pescoço, onde se intro- . duz mesclagem esbranquiçada, no queixo a côr torna-se outra vez bruno-escura. A cauda frocosa é por assim dizer preta pelo lado de cima, sómente pelos lados mis- turada com cabellos mais claros; pelo lado de baixo pri- . meiramente de um branco sujo, depois preta e unica-. mente um tanto mais clara no meio. A femea é de um colorido inteiramente analogo, tendo apenas mais larga . a faixa preta da nuca, que se estende para a frente até | ao vertice. E apenas desenvolvida a estria preta por baixo do olho; o dorso nasal mostra-se mais escuro que | a parte correspondente no individuo macho. ] sed él Catulogo de Mammiferos 109 Diriensões: 415 o. Comprimento do corpo: 95,5 cm. Comprimento -da cauda: 33 em. Pé posterior: Tits ICT. Coxa posterior: ni e cm: Comprimento da orelha: 4,5 cm. n::116 9. Comprimento do corpo: 72 cm. Comprimento da cauda: 26 cm. Pe posterior: 12,5 cm. Coxa posterior: 12,5. CM. Comprimento da orelha: 4,5 cm. O craneo mostra, em geral, o typo do Canis can- “crivorus, com sinus frontaes altamente desenvolvi- * os dando uma apparencia abobadada à região frontal, descahindo por outro lado de modo ingreme os proces- “sus orbitales. Entre os ossos frontaes, não existe depres- "são que todavia se mostra entre es ossos nasaes, os “ quaes são tambem um tanto deprimidos, a modo de “sella, pelo meio. A parte facial do craneo une-se gradu- * almente desde a sua origem transformando-se em ponta. "À região palatinal é mais estreita que no C. cancrivo- FP rus, bem como a: base do craneo. Em opposição ao "que se vê no €. cancrivorus, onde as pontes tempo- Erães se affastam desde o occiput em forma de arco, * aquelles reunem-se, no macho da nossa especie, em ro- “ busta crista sagittal, que não é desenvolvida no indivi- “duo feminino, chegando todavia tambem aqui a reunir- * se as duas pontes osseas temporaes na região do vertice. No queixo inferior nota-se, especialmente, em com- A paração com o C. cancrivorus, que O processus angu- aris se estende posteriormente á mesma distancia, como o processus articularis, ao passo que no C. cancrivo- “rus o dito processus angularis se estende mais para RRraz, do que o processus articularis. O processus sub- angularis é bem desenvolvido, mas não consideravel- “mente mais quê no C. cancrivorus. Quanto ás propor- “ções do craneo em relação às do C. cancrivorus, e “quanto ás proporções da dentadura, orientam as duas “tabelas annexas. Approximamo-nos da questão, de a “que especie de Canis deveremos attribuir a fórma aqui presente. q Ko 110 Catalogo de Mammiferos Conforme o catalogo de Trouessart (Catalogus Mammalium Fasc. II, 1898. Paris) encontram-se no Bra- zil as seguintes especies de Canis: Canis subgenus CANIS | qubatus Desm. Canis subg. THOUS canerivorus Desm. — microtis Mivart. — azarae Wied. Canis subg. NOTHOCYON urostietus Mivart. — parvidens Mivart. Canis subg. ICTICYON | venaticus Lund. Entre a maior parte a conformação do craneo e da dentadura é caracteristica, por mais que os diversos in- dividuos de uma especie tendam a variar, tanto que uma descriminação especifica torna-se relativamente facil. Procedendo ao seu estudo comparativo desejo intro- puzir um elemento novo de medição, isto é, a re- lação do diametro sagittal da cavidade cerebral para com a parte facial do craneo. O diametro sa- gittal recto da caverna cerebral póde ser tomado da margem superior do foramen magnum ao osso ethmoi- deo. Visto porém não ser viavel cortar pelo meio to- - dos os craneos, recorro à medida da margem superior do foramen magnum á raiz dos ossos nasaes: uma comparação de ambas as medidas executadas no cão do- mestico dá o mesmo comprimento. Para o comprimento da parte facial tomo a distancia da raiz do osso nasal à alveola incisiva, que approximativamente corresponde ao comprimento palatal, ou, dito com mais precisão, ao ponto de inserção do os jugale na maxilla. Entre os lobos genuinos a parte facial é mais com- prida ou de comprimento igual ao diametro da caverna cerebral; entre todos os chacaes, as especies sul-ameri- canas de Thous, as raposas ella é mais curta. No Canis latrans, C. jubatus a relação conserva- se na igualdade: os craneos de ambos se approximam mais dos lobos legitimos. Assim resultam as proporções seguintes: Entre lobos genuinos, na media: 0,97:1 (raras vezes 1/1). No Canis latrans, C. jubatus, C. azarae: perto de III. Entre os Chacaes: I,I8—1,02:1. Entre os cães domesticos observa-se, na media, a se nd Catalogo de Mammiferos EE proporção dos chacaes; entre os cães pariah e os gal- gos a proporção é de 1:1. Não é applicavel este methodo de medição ás rapo- sas, visto que a raiz dos ossos nasaes é situada bastante distante da placa ethmoidea como tambem da termina- * ção anterior da caverna cerebral. Conforme a medida acima explicada apparece o craneo facial bastante mais curto do que o diametro da caverna cerebral; no craneo, serrado pelo meio. elle se apresenta mais comprido, quando medido pelo lado interior. Canis jubatus osten- ta uma fórma de craneo que se approxima da dos lobos genuinos, especialmente da de C. latrans. Differe da fórma craneana de C. lupus pela parte do focinho mais delgado e mais pontudo e pela estreiteza do palatino. Por esta razão coincide mais com C. latrans. Na den- tadura torna-se sobretudo notavel a pequenez do quarto premolar (P 4 ), contrastando com os grandes molares M1.2, outrosim a relativa pequenez dos incisivos, que no intermaxillar sómente mostram um lobulo lateral exterior rudimentar; na mandibula esse lobulo se acha desenvolvido apenas nos I 3.4. Assim os incisivos muito se assemelham aos incisivos simples do Canis vulpes * europeo. A feição da dentadura approxima esta fórma Edo Canis azarae Wied. Dois craneos d'este, que “tenho diante de mim, um, de um exemplar maior do ' Paraguay, outro menor proveniente do Brazil, mostram “o typo do €. jubatus n uma escala reduzida de metade. * Sómente são separados aqui os arcos temporaes: no — exemplar menor fica entre elles um planum em fórma de lyra, ao passo que no C. jubatus existe uma crista — parietalis alta, tal qual se encontra entre os Lobos legi- * timos. A semelhança do craneo de C. azarae com o de €. vulpes, já foi accentuada por Huxley n'um detalhado “estudo comparativo de ambes (Cranial and Dental cha- “Tacters of the Canidae, Proceedings Zool. Soc. London 1880, pag. 238), frizando-se comtudo ao mesmo tempo “a differença fundamental entre ambos em relação ao * desenvolvimento da caverna craneana e dos sinus fron- “taes. C. azarae e C. jubatus compartilham com todos “Os lobos, chacaes e cães domesticos na posse de cavernas “ frontaes, na extensão maior do craneo anterior e dos * lobus frontalis do cerebro em frente do sulcus supra-or- - bitalis, bem assim no alargamento mais forte do cerebro 1a Catalogo de Mammiferos por traz deste sulcus: caracteres que se deixam re- conhecer pela parede interior da caverna cerebral, em opposição aos Alopecoidae, aos quaes faltam os sinus frontaes e que mostram senão extensão assaz insignifi- cante do lobus frontalis, ao menos uma reducção consi- deravel da parte craneal anterior. C. qubatus e C. aza- rae deixam assim reconhecer na sua conformação cra- neana o typo do lobo, com fronte chata, deprêssa na linha mediana, e com processus supra- -orbitaes pouco curvados para baixo, com focinho à feição de raposa fartamente pontudo e com dentadura de raposa. Ão lado d'estes é que convirá cellocar C. gracikis BuranREaaa griseus Gray. No €. cancrivorus a relação do diametro da ca- verna craneal para com o craneo facial é de 1:0,74—0,8; a região do focinho vae-se tornando mais pontuda re- gularmente para a frente. Os sinus frontaes são farta- mente desenvolvidos, tanto que a região frontal appa- rece abobadada no sentido transversal sem qualquer de- pressão na linha mediana, excepção feita do terço ante- rior, onde é visivel uma chanfradura aguda e estreita. Decahem ingremes os processus supra-orbitales; a par- tir da fronte o perfil do dorso nasal inclina-se unifor - memente, apresentando-se um tanto deprimido sómente pelo meio. Por úetraz dos processus supra-orbitaes o craneo ostenta-se na região do estreitamento temporal, pouco comprimido em contraposição ao C. agzarae. Os incisivos do intermaxillar são distinctamente tri- lobados. Canis parvidens Miv. e C. urostictus Miv., que à face de uma comparação effectuada com material mais amplo, talvez venham a ser reconhecidos como devendo pertencer a uma só especie, foram elevados ao grau de um genero proprio, Nothocyvon (Wortman & Matthew, Bulletin American Museum of Natural History Vol. XII, 1899, pag. 124 seqg.). Baseia-se este genero sobre a parte facial curta do craneo, o dente sectorius pequeno, os grandes molares subquadraticos: P 4 :M 12==1" 160 (Mivart), o dente sec- torius inferior provido "de largo talon, cujo trigon por sua vez traz no canto exterio-posterior um tuber- culo accessorio, os caninos esbeltos e as vistosas bullae osseae. Os autores podem acompanhar o genero até o Miocenico (John Day-Formation); deduz-se de Cynodic- Catalogo de Mamuniferos 113 “És gregarius, no Oligocenico e fornece a fórma ances- “tral, da qual no Miocenico se deriva Bassariscus. Assim o genero ganha relações mais estreitas para com “os Procyonides. n Icticyon finalmente representa uma fórma de Cani- * deo isolada, com a parte facial do craneo muito encur- ' tada e com a dentadura reduzida, na qual existem pelo lado de cima sómente um molar, pelo lado inferior dousouM +ou +. Wortman & Matthew fazem deri- — var esta fórma do genero Oligobunis já no Miocenico mais antigo. Comparando agora os nossos exemplares n. r15€ n. “116, provenientes do Pará, vemos que, quanto á confor- — mação craneana, vêm elles collocar-se ao lado do C. — cancrivorus, C. brasiliensis Lund, sendo todavia diffe- — rentes por caracteres externos, bem como por signaes * craneologicos. Estes ultimos todavia já acharam aqui * sua discussão nas linhas anteriores. à C. microtis foi estabelecido e descripto por Sclater “(Proceedings Zool. Society 1882, pag. 631, pt. 47) so- “bre um animal, que então vivia no jardim zoologico de Londres e que tinha vindo da região amazonica. Mivart “(A monograph of the Canidae, pag. 62) igualmente des- - Creve O animal, dando figuras tanto do craneo, como do animal inteiro. Acha-se este exemplar, quanto ao seu ta- manho, entre os nossos individuos n. 115 e n. 116. C. microtis C. microtis Canis cancrivorus MIVART (PARÁ) | (PARÁ) n. 115 | n. 116 || n. 117 | n. 118 | n. 119 “Comprimento do corpo | 955 | 72 /2 27 | ao Bh | 28 Comprimento da cauda Pé posterior || 13 | 14,5 | 1255 | 14 Orelha 3,4 | 4,5 | 45 6 Em geral as dimensões relativas referentes ao com- primento diverso do corpo coincidem, sómente a orelha, 8-—(BOL. DO MUS. GOELDI). 114 Catalogo de Mammiferos nos nossos dous exemplares, é sempre um pouco mais. comprida, todavia ainda muito curta em comparação com outras especies, mormente com C. cancrivorus. Tambem no craneo e na dentadura percebe-se, como re- sulta do exame das tabellas, grande concordancia. Quanto ao colorido diverge de alguma maneira o exem- plar de Londres em certos pontos. O couro descreve-se lá como sendo cinzento ferreo sombrio, ao passo que nos nossos exemplares predomina mais no colorido do fundo a côr de ferrugem. Entretanto allega tambem Mivart que os pellos tenham pontas pretas e bases brancas. A mancha branca no lado inferior da raiz da cauda, mancha esta salientada por Mivart, é pouco accentuada nos nossos especimens: comtudo tambem aqui o lado in- ferior da raiz da cauda é mais claro que a parte restan- te, em parte branco-sujo, porém não tão nitidamente delimitado como se vê na figura citada. Apezar disto julgo que os dous exemplares n. 115 e n. 116 devem ser attribuidos à especie Canis MEC Sclater. Se, tomando por base a consideração do rig craneologico, é licito tentar uma subdivisão dos Cani- deos sul-americanos em subgeneros, eu proporia para os Canideos bazilicos, que até agora (veja Trouessart loc. cit.) foram registrados nos sub- -generos Camis e Thous, o seguinte schema: A) Genus Canis L a) Subg. Pseudalopex Burmeister, para C. agza- rae é Ko ba taSS O NS gracilis (2), 6 griseus (?). b) Subg. Thous Gray para C. cancrivorus e C. microtis. c) Subg. Nothocyon Wortm. & Matthew para C. parvidens e C. urostictus. B) Genus Icticyvon Lund. para T. venaticus Lund. (Museu de historia natural da Universidade e da Cidade de Ber- na (Suissa) 12 de julho de 1901). 1. Canis jubatus 3 2. C. Azarae, Brasil. - | 6. C. brasiliens y3rasil. : DE A Tel O icrotis €. ke: Paraguay. 4. C. microtis 4. >. U. mierot oiimanho natural. N AE o: À ae aa " ma Adi ço la u. b. Canis jubatus &. 2a u. b. C. Azarae, Brasi C. microtis GÇ. Brasil. A | u. o ; | E 0. Azarae, Paraguay. 4a u. b. C. microtis 3. jrasihensis. — ?/, tamanho natural. JueanA Áo|xnH TNIOTNOI 007:007 “BUdog "SNH sexeze sIUCO + + 8'8€7:00] RS Ca 9 | W W Er | ae S'Tz Zz A)! CI A! 9] SST QI L — ST OT of of | SF SF ST 8T 87 8T | “Reali | ÁojxnH "PUJOg “SH TNWYOTNOO snyeanf SINES —aiNitda otvóIodo1g É N » "*W » JW quownduos z IN » a ml | eindIeT : IN » 1 WN Td + d Ouounduros IAVIVZV DO sSALVIANL SINVO HA SALNHC SO SVAICAN MNT AND DE TRE. Comprimento basilar (desde o Basion RUSSO Cmathion)-; 1... Eixo basi-craneal (desde Basion até a sutura do Basisphenoideo e do Praes- phenoideo)... Eixo basi-facial (Sutura do sphenoideo até Gnathion). E IN SR Wasalia (comprimento). . .s....ser. Wiasalia (largura central)... ....... Largura menor entre as margens OT- bitaes..... DUE Ds RARO go aca ic ab a Isthmo temporal Ee RO doado 6 DOR DA Comprimento palatinal (Gnathion até margem posterior do palatino duro) .... Largura palatinal por fóra de M 2 Largura palatinal por dentro de M 2. Largura do craneo . ae Largura por cima dos arcos zygoma- RIRORS 0.5. PEC pr a PRP nd Largura entre os processus orbitales . . Comprimento da mandibula desde o Processus angularis .. da Comprimento da mandibula desde o Processus articularis ER Altura da mandibula por cima do tu- mereulo posterior de Mº, .sercccccrs. Comprimento da mandibula desde — [o RC on anlaÃo.. is Does palcos rasa Proc. angularis desde o Proc. articularis MR ão BO NTSDo 16 a ni Ro O E 0 6 0 À boia ] 100 2/1] /2,3 39,3 21,3 2/15 13,5 41,1 32,4 100 100 112 28,5 32 71,5 80 39,7 14, DI | 9,8 21,4 22 29,4 30 53,5 59 31;2 32 16,9 18 40,1 45 64,2 | 62,3 34,3 34 83,9.) 95 79,4 91 To, 7 I2 10,94 100 CANIS MICROTIS | Conforme N. Mivart N. 115 116 155 W 108 59 IO E 29 82 so 30 53 foto 43 122 122 sos EO gt E tas Et da Dada ds cs ET adç = Prop e dd É 8 e ie É; = a = 1 me jm —— — — -—— - E - - = — A A, sr l a ' eee = e A SE — = Tm SD ANE SE =p = = patas sue , é Efe q o ; pm = lee = ESSE A cd E a e E e) Ses SE ix L6'0:T |89:0L — — Ter 9H | :**** jerony ajard ep cduroo u1od [BIgoIO PUI9ADO PP ojuaunidmos da = é as Ad A! 5 ed Fr rárá E oo PT a PR E LCD E) a ap JOLIoysod ojnoJoqny ou ejnqipueur vp vimpv >= pe a 08 001 — — c“TR €9F | Pr Ai "+++ suvjndur snssovold | O 9psop ejnqupurur vp oquauriduioS Es a” E 808 Hr = — ER QU a **** SUR [NONIL snssododd o opsop einqrpucur vp ojusuniduios p= e. 8 9'cz ce 2 Et c4e L9 ; E TE RR SO Ge RE PRE DO CIO CS, or sajeyquo | -padns snssogoad so aauo vandavT FA ses es 840 669 LEY es €9 ger | SON]LUOSÃZ SODIV SO GAJU9 BANDIRT ; 4% ne sans 9'L + L cg a cu'ce c'%9 EU ÃO aq “ce * NSTIPID op vandieT A E e - 5 SF — — CY 0£ T= Wºpomuop aodounepedop vandreT | £E 9€ H SL YE GG 09 G'gê 6G = W9P 219 10d oumejed op vandarT €9 L& CL 94 OL LOY 80F YG 80F | Sata o oumgeped op oyusunaiduico 7 E Er Ea 897 Fe = => 6H 8E ins di UC e do CR jpaoduio) ouiuys] Es cestas = vd Erá ==» Ed Fá 4% p CRM RA ge a PAÇO Da O O STO SRA Or SEI LqUO | sep SU9SARUI SP 9AJUO IOUOUI BINSAVT 3 0Y ses = EL 6 6 = G'g EV EE Pipa “Ye| CANSAR] VIJESCN | 9% sã — 0 Ba A 68 e CG ERA Sã, OJUGUIIÁIIOS BIJESEN | | Y8 E Ee RR OS] RS SM a Sp ro [BIRJ-ISLq OXIM | E G E DL o Leao AI ta prourio-Ised Ox] | ! cer * + * IRTISLO OjUSUILIÂUIOS) j | A | g v fengeded | LYHVAIN XAHTXAH VNHI 'SAN LAVAIN AdTTIXNH YNUHIS “SAW | “juog SULIOJUOQ | eSWJojuog - AVUVZY SINVO | SALVIANL SINVO 0Ol=p 9 L'N OQ HVIISVE OLNINIHdNOO — HVAVZY '0º SNLVIAL SINVO HG SONNVHO | RD ond = qu e e mma a — = MEDIDA DOS DENTES DE CANIS CANCRIVORUS e GC. MICROTIS Canis cancrivorus Canis microtis Canis cancrivorus PR 5/2 E a o RR o A E E 6) Conforme | Conforme gos Mivart | Hivart q Comprimento/ P 1 4 | 5 3 | b5 45 1 a » Lia, 7 7 7 5,9 8 7 6,5 7 é » Ps] 7 7,5 8 6 9 9 9 7,5 5 | » CA IE 13 12 13 11,5 13 13 13 12 a 2 Elias 1 9 9,5 , o) 8 IO Ea o 9 E » jm. / 5,2 15 5 7 »5 : Largura | P/4. 7 6 9 6 9 8 bia 5 a | » E ! | 13 12,5 RE, E I2 I2 io) I2 q » M 2 || Io,5 (o) 3,5 O) O) 9,5 9,5 ds Comprimento ; PT 3,5 2,5 3 3 2,5 2,5 3 3 n A pe io 7 555 ó5 ) 8 / 0,5 0,5 - » 3 P 7 ),5 9 : » = er 8,5 o) o) 7 Io 9 9 9 = RED mari 14 14 13 13 20 Tae 15 14, o : | » RO VE 8 7 ” forge 8 9 8 8 E NB. Confor- » Sb ger | 3 3 3 4 3 3 4 mM me E ue Proporção - 100:120 qu nis brasilien- P q a 142 100:123 |100:122,5|I00:1I1,5| 100:130]| 100:123 |100:126,5 100:126,0 100.124 E sis mostra a o SESTETA é ; PE proporção Ê MET: E 23 100:85,7| 100:71,4] 100:76,9] 100:69,2] Ioo:bo | 100:77,4| 100:73,3] 100:83,3 S 100: I22. Catalogo de Mammaiferos 119 LITTERATURA (Citam-se soménte os livros aos quaes houve referencias no texto.) 1. Alston, Edward. On the squirrels of the neotropical region. . Proceed. Zool. Soc. London 1878 pag. 665. ep — — Mammais. Biologia Centrali-Americana. London 1879-—82. 3. Brandt. Mammalium exoticorum novorum vel minus rite cognitorum etc. Petropoli 1335. 4. Burmeister, Hermann. Systematische Uebersicht der Thiere Brasiliens.Berlin 1854. 4º — —Ueber die Arten der Gattung Cebus. Abh. d. Nat. Ges. Halle II. Bd. 1854. 5 Castelnau, Fr. de. Animaux nouveaux ou rares re- cueiliis pendant lexpédition dans les par- ties centrales de Il Amérique du Sud. Paris 1855. 6. Elliot. A monograph of the Felidae. London 1883. 7: Fitzinger, Leop. Joseph. Die Arten der natúrlichen Familie der Faultiere (Bradypus) nach âeus- sern und osteologischen Merkmalen. sitzimesberichte d. di Acad. d. Wiss. Wien. Vol. 63 Aprilheft 1871. 8. Forbes, Henry, O. A handbook to the primates. Allen's Naturalist's Library. London 1894. 9. Geldi, E. A. Os mammiferos do Brazil. Rio de Janeiro 1893. 10. — — Critical Gleanings on the Didelphyidae of the Serra dos Orgãos, Brazil. Proceed. Zool- Soc. London, 1894, pag. 457. ar == — Mesomys ecaudatus. Bol. do Mus. Paraense, vol. II, pag. 253 seg. 12. — — Dous roedores notaveis do Brazil. Bol «do. Mus. Paraense, vol; III, pag. 166. seg. 13. — — O primeiro exemplar authentico de uma genuina doninha do Brazil. Bol. d. Mus. Paraense, vol. III, pag. 195 seq. 120 Catalogo de Mammiferos I5. 16. 19. 20. 21. 22. 23. 24. Ds. 26. 27, 28. 29. 30 BT, — — Estudos sobre o desenvolvimento da ar- mação dos veados galheiros do Brazil. HI Memoria do Mus. Goeldi, Pará 1902. Gray, J. E. On the genus Bradypus of Linnaeus. Proceed. Zool. Soc. London, 1849, pag. 65. — — Description of a new squirrel, in the British Museum, from New-Granada. (Sciurus ger- rardi). Proceed. Zool. Soc. London, 1861, pag. 92. — — Notice ofa new species of American Ta- pir etc. Proceed. Zool. Soc London 1867. — — Catalogue of Carnivorous, Pachydermatous and Edentate Mammalia in the British Mu- seum. London, 1869. — — Catalogue of Monkeys, Lemur and fruit eating Bats in the collection of the British Museum. London, 1870. — — Notes on the species of Bradypodidae in the British Museum. Proceed. Zool. Soc. London. 1871, pag. 428. Hagmann, Gottfried. Kritische Bemerkungen zur Systematik der amazonischen Fúchse. Zoolog. Anzeiger Bd. XXIV, 19o1. — — Der Zoologische Garten des Museu Goeldiin Frankfurt 1901, Hartlaub. Beitrâge zur Kenntniss der Manatus-Ar- ten. Zoolog. Jahrbúcher. I Bd. 1886. Huxley. On the cranial and dental characters of the Canidae. Proceed. Zoolog. Soc. London, 1880, pag. 238. LydekkRer. Handbook to the Marsupialia. London 1894. Mivart, St. George. A monograph of the Canidae. London 1890. Nehring. Beitrãge zur Kenntniss der Galictis-Arten. Zoolog. Jahrbúcher. Bd. I. 1886. Pelzeln. Brasilische Sâáugetiere. Natterer's Resultate. K. K. zool-botan. Gesell. Wien, Beiheftz. Bd. XXXIII. 1883. Pictet. Rats du Brésil. 1841. Reichenbach, L. Vollstândige Naturgeschichte der Affen. Dresden 1863. Saccardo. Chromotaxia. Patavii 1894. sá Catalogo de Mammiferos 1214 32. Saint-Hilaire, Geoffroy. Description des Mammife- res nouveaux ou imparfaitement connus de la collection du Musée d'histoire naturelle. Deca tda Mus. d Hist. Nat. E. 4. Paris. Ro SmntFolaire et Cuvier. Histoire naturelle des Mammiféres. Paris 1824. 34. Schlegel. Les singes. Leiden 1876. 35. Schreber- Wagner. Die Sãugetiere. Erlangen 1775— 1856. 36. Sclater. P. L. Report of the additions to the socie- djs 38. 39. 40. 41. 42. tys menagerie October-November (Cho- loepus hoffmanni e didactylus). Erocecd; Zool; Soc. London, 1872. tab. 7a. — Qn several rare or little-known mammals now or lately living in the society's col- lecuon. loc.-c, TOS. — Report on the additions made to the so- ciety s menagerie (June-October 1882). Canis macrotis tab. 47. hOG: &. 1602, Spix. Simiarum et Vespertilionum Brasiliensium species novae. Múnchen 1823. Thomas, Oldfield. Catalogue of the Marsupialia and Monotremata in the British Museum. London 1889. — — Notes on some South-American Muridae. Annals and Mag. of Nat. Hist. Vol. XIX. London 1897. — — QOn a collection of Bats from Pará. Annals and “Mas. -of Natirllmat Vor..VII. Lon- don Igor. - Trouessart. Catalogus mammalium tam viventium quam fossilium. Berlin 1898-99. - Tschudi. Untersuchungen úber die Fauna Peruana St. Gallen 1844-460. - Wagler. Dasyprocta prymnolopha. Isis 1831. . Wagner, A. Beitráge zur Kenntniss der Sâugetiere Amerikas. Mons a. UI, Cloda ks Akad. d. Wiss. Nr Ba. 1. Abt. Múgechen: 1847. - Waterhouse, G.R. Mammals. Voyage Beagle, 1840. — — À natural history of the Mamma- lia. London 1846-48. 122 Catalogo de Mammiferos 49. Wied, Prinz Max. V. Beitrâge zur Naturgeschichte von Brasilien. Weimar. 1825-33. . 50. — — —Abbildungen zur Naturgeschichte Bra- siliens. Weimar. 1822-31. 51. Wortman e Matthew. The ancestry of certain mer- bers of the Canidae, the Viverridae and Procyonidae. Bull. American Mus. of Nat. Hist. Vol. XII. 1899. SYNOPSE NUMERICA dos mammiferos mencionados n'este catalogo, conforme as ordens naturaes I Simia (Macacos) 21, espeétes AI Chiroptera (Morcegos) Da » III Carnivora (Carniceiros) 16 » IV Rodentia (Roedores) 2 » V Ungulata (Ungulados) o) » VI Cetacea (Cetaceos) I » VII Edentata (Desdentados) 11 » VIII Marsupialia (Marsupiaes) 5 » Total IT especies BOLETIM MUSEU GOELDI D HISTORIA NATURAL E ETHNOGRAPHIA RENTE ADMINISTRATIVA GOVERNO DO ESTADO RE TOS DO PODER EXECUTIVO , Expediente do dia 26 de Janeiro de 1904 Decreto n.º 1.272 de 26 de Janeiro de 1904 O Governador do Estado, usando da auctorisação que lhe confere o artigo 28 do Decreto n.º 1.114 de 27 de Janeiro de 1902, decreta: Art. Unico. — Fica approvado o Regimento Interno do Muzeu Gceeldi, que com este baixa, assignado pelo secretario de Estado da Instrucção Publica. Palacio do Governo do Estado do Pará, 26 de Ja- neiro de 1904. Augusto MONTENEGRO. G. Amaxonas de Figueiredo. Regimento Interno do Muzeu Goeldi CAPITULO DO PESSOAL ADMINISTRATIVO Art. 1.º — Os serviços de guarda, conservação e asseio dos edificios do Muzeu Geeldi ficam a cargo de um zelador-porteiro, um guarda portão, um continuo e tres serventes. Fasc. 2— Vol. IV—(Parte administrativa). 124 Regimento Interno do Muxeu Art. 2º — Ao zelador-porteiro compete: S 1º A guarda do edifício tanto de dia como de noite; S 2.º A fiscalisação das casas do Muzeu como dos jardins annexos, quer nos dias de exposição, quer no ser- viço interno normal; S 3.º Ter em seu poder o inventario dos objectos existentes nas casas do Muzeu; S 4.º Receber no Correio, na Alfandega e nas Agen- cias e trapiches de companhias de navegação ou para os mesmos remetter toda a correspondencia ou encommenda do Muzeu; S 5.º Executar todos os serviços externos que lhe forem ordenados; S 6.º Responder directamente pela ordem e asseio dos edificios, quer interna, quer externamente, velando pela perfeita regularidade e pontualidade no respectivo Serviço; S 7.º Manter a ordem nos dias de exposição, desta- cando os serventes para o serviço de fiscalisação do pu- blico: Art. 3.º — Nos serviços de que trata o art. e 589 su- pra terá o zelador-porteiro como auxiliar um continuo. Art. 4.º — Ào guarda portão compete: S 1.º Manter a maxima vigilancia no movimento do portão de modo que possa fazer a contagem dos visi- tantes do Muzeu; S 2.º Não permittir a entrada no estabelecimento, fóra dos dias de exposição, a pessõas extranhas, sem pre-. via permissão do Director; . S 3º Conter a ordem no-portão do estabelecimento. Art. 5.º — O guarda-portão é obrigado a estar de serviço das 6 horas da manhan ás 6 horas da tarde; po- dendo revesar-se com os empregados dos annexos no ser- viço nocturno. Art. 6.º —. Os serviços de asseio e conservação dos edificios do Muzeu e seus annexos ficam a cargo dos ser- ventes, que poderão ser revesados com os dos annexos conforme as necessidades o exigirem, 9 Unico. Os serventes residirão no estabelecimento (9 1 Regimento Interno do Muxeu 12: e delle não poderão sahir sem previa licença; devendo começar o serviço ás 6 horas da manhan e terminar ás 6 horas da tarde. O Director poderá prorogal-o. EX PURO TI DO JARDIM ZOOLOGICO Art. 7.º — Para os serviços do jardim zoologico ha- verá, por ora, um guarda e um servente. Art. 8º — Ao guarda e serventes do jardim com- pete: 9 1.º Observar o maximo cuidado e zelo no trata- mento dos animaes; S 2.º Administrar pontualmente a alimentação apro- priada aos animaés; S 3.º Renovar a agua nos viveiros e gaiolas. S 4.º Conservar sempre asseiados os viveiros, gaio- las e terrenos adjacentes. Art. oº — O guarda e o servente são directamente responsaveis pelas perdas que possam resultar da fuga ou da morte dos animaes e devidas a descuido, negligen- - Cia ou impericia no cumprimento das respectivas obriga- ções. Art. 10. — O guarda e o servente devem permane- cer diariamente no estabelecimento, podendo porém fazer alternadamente o serviço nocturno. CSPIFOLO EL DO HORTO BOTANICO Art. 11. — Para o serviço do horto botanico haverá, por ora, um inspector, um jardineiro e dois serventes. Art. 12. — Ao inspector do horto compete: S 1.º Fiscalizar o horto botanico velando pela exe- cução fiel e prompta das ordens e instrucções que lhe forem dadas pelo respectivo chefe da secção; S 2.º Transmittir ao pessoal subalterno as ordens emanadas do chefe da 3.º secção. 126 Regimento Interno do Muxeu Art. 13. — Os jardineiros e os serventes terão a seu cargo todos os trabalhos de jardinagem do estabelecimento e a conservação e asseio dos jardins, passeios e lagos. Art. 14. — O jardineiro e os serventes são directa- mente responsaveis pelas flôres e fructos do horto, lim- peza co redor das casas, tratamento adequado dos vege- taes e asseio dos lagos artificiaes. Art. 15. — O jardineiro e os serventes são obriga- dos a permanecer diariamente no estabelecimento, podendo ser feito alternadamente o serviço de fiscalisação no- cturna. Art. 16. — O jardineiro fechará o portão do estabe- lecimento ás g horas da noite. CAPITULO IV DA DISCIPLINA INTERNA : ' Art. 17. — O pessoal de que trata este regimento está sujeito ás seguintes penas, por desobediencia ou in- subordinação: a) Suspensão temporaria com prejuizo dos venci- mentos; b) Demissão. S Unico. — Em caso de offensas physicas, furto e damnos ao estabelecimento poderá o Director prender o criminoso e requisitar do Chefe de Segurança força para conduzil-o á prisão. CAPITULO V DIAS DE EXPOSIÇÃO “ Art. 18. — As collecções no edificio do Museu serão franqueadas ao publico duas vezes por semana, ás quin- tas-feiras e domingos, das 8 ás 11 horas da manhan. O jardim zoologico e o horto botanico serão abertos nos mesmos dias e horas, e tambem nos domingos, das 2 ás 5 horas da tarde. S 1.º Nas terças-feiras de cada semana será fran- queada nos annexos do Muzeu a entrada sómente ás fa- milias, das 7 ás 11 da manhan e das 2 ás 6 da tarde; a , E el Regimento Interno do Muxeu ein: S$ 2º Fóra das horas prescriptas no artigo e $ su- pra só poderá ser visitado o estabelecimento mediante es- pecial licença da directoria; S 3.º Serão recebidos a qualquer hora no Muzeu o Governador e Vice-Governador, os Secretarios de Estado e os membros do Congresso. Os chefes de repartições publicas e os doadores do Muzeu, serão promptamente recebidos quando se fizerem annunciar. Art. 19. — E' expresamente prohibido aos visitantes do Muzeu: a) Invadir a parte destinada ao serviço interno; b) Instigar os animaes; c) Arrancar flôres e plantas; d) “Tocar nos animaes, instrumentos, aquarios e tor- e) Fumar no interior do estabelecimento ; f) Entrar com bengalas e chapéos de sol na parte interna do edifício; 9) Estarem acompanhados de cães. Art. 20. — O encerramento da exposição será dado por um signal, quinze minutos antes. Art. 21. — Os visitantes que transgredirem as pres- cripções do presente Regimento serão advertidos; se reincidirem serão expulsos do estabelecimento. S Unico. — Para manter a boa ordem e disciplina poderá o porteiro, sendo preciso, recorrer á força publica. CRPILUTAS VI DA BIBLIOTHECA Art. 22. — A Bibliotheca do Muzeu póde ser visitada por pessoas extranhas que tenham obtido especial licença do Director. Art. 23. — Exclusivamente o funccionario scienti- fico do Muzeu poderá retirar livros da Bibliotheca, de- vendo, porém, assignar um recibo do mesmo, no qual se obrigará a restituil-o, e no caso de extravio a indemnisar a bibliotheca em uma importancia pecuniaria calculada no dobro do valor da obra. Art. 24. — A Bibliotheca ficará a cargo do funccio- 128 Regimento Interno do Muzeu nario scientifico que o Director designar; o qual receberá uma gratificação addicional. | CAPITULO VII DISPOSIÇÕES GERAES. Art. 25. — Dos preparadores da 1.º Secção (Zoolo- gia) deverá permanecer, de promptidão, no estabeleci- mento, nos domingos e dias feriados, alternadamente, pelo menos um, afim de que se possa salvar, para as collecções, os cadaveres dos animaes que venham a fallecer. Art. 26. — O almoço do pessoal será entre as II € meio dia, por turmas e não poderá exceder do praço ma- ximo de uma hora. S Unico. — Nos dias da exposição o almoço ef- fectuar-se-á depois do respectivo encerramento. Art. 27. — Todo empregado será responsavel pelos utensilios e ferramentas que lhe forem confiados. Art. 28. — No Muzeu não se vende objecto algum; podendo, dar-se, caso convenha aos interesses do estabe- lecimento, cessão ou troca — sempre com plena auctorisa- ção da directoria. S Unico. A infracção deste artigo será considerada como furto e punida nos termos do art. 17 $ unico. Art. 29. — Caso um servente antigo do Muzeu te- nha-se distinguido pelo seu comportamento exemplar, ex- pontaneidade e habilidade particular na arte taxidermica ou nos imisteres de uma das secções, poderá ser nomeado, por proposta do Director, para o logar de ajudante de preparador, com a metade do vencimento deste e depois de cinco annos de serviços notoriamente satisfactorios po- derá o vencimento ser elevado a dois terços. Sabendo ler e escrever este empregado o governo, sob proposta do Director, favorecel-oá muma posição adequada a taes circumstancias excepcionaes. Secretaria de Estado da Instrucção Publica, 26 de janeiro de I9o4. G. Amazonas de Figueiredo. Os mosquitos no Pará 129 RR TE SCIENTIFICA I Os Mosquitos no Pará RESUMO PROVISORIO dos resultados da campanha de experiencias executadas -em 19083, especialmente em relação ás especies STEGOMYIA FASCIATA e CULEX FATIGANS sob o ponto de vista sanitario. 2.: CONTRIBUIÇÃO Pelo Prof. Dr. EMILIO A. GOELDI Director do Museu NOTA INTRODUCTORIA Não emprehendi os estudos, dos quaes por ora sómente me é possivel dar um resumo preliminar, « pour me tailler um rôle », como na lingua franceza com graça se diz, na tão debatida questão dos mosquitos no seu papel como transmissores de molestia. Approximei-me do as- sumpto em fins de 1901 — como mero naturalista e zoolo- gista, antes com o fervoroso desejo de aprender no conta- cto com os mestres na materia, do que com a esperança de jámais poder ensinar outros. Se eu, querendo a principio ser nada mais que es- pectador, fui empurrado para o meio, no campo da acção, a responsabilidade cabe a circumstancias alheias á minha vontade. Desejando seriamente instruir-me, atirei-me-ao estudo dos mais afamados livros que na especialidade tinham sido publicados, principalmente com o fito de orientar-me bem sobre a systematica e a biologia dos Mosquitos brazileiros. Caía n'este periodo exactamente a publicação da monumental Monographia dos Culicideos do Dr. T. V. Theobald, do Museu Britannico de Londres, obra esta que veio assim a ser para mim, n'este empenho, Nba E 130 Os mosquitos no Pará o que se chama «ouro sobre azul ». Mas, por mais que me satisfizesse a perfeição que encontrei n'este admiravel trabalho, relativamente á systematica dos nossos Mos- quitos, falhava por via de regra a resposta para uma qualquer pergunta que eu commigo formulasse acerca dos pormenores bivlogicos. Examinando a dita obra de mais perto, debaixo d'este ponto de vista, fiquei impressionado do pouco que constava dos costumes e do modo de vida dos nossos mais vulgares Mosquitos. Vi e convenci-me que mesmo sobre alguns dos problemas mais elementares reinava escuridão quasi completa e sensivel incerteza. Voltei a minha attenção para a litteratura indigena, desconfiando que talvez os representantes da sciencia medica se achassem a uma phase de saber mais adiantada sobre os Mosquitos nacionaes do que a minha. O calor que se notava na imprensa diaria e profissional, na dis- cussão de assumptos atinentes a este dominio, pelo menos podia justificar tal espectativa minha. Vi Gregos e Tro- vanos, Blancos e Colorados, Convictos e Scepticos, Adeptos e Refractarios, Moderados e Radicaes extremados entra- rem na discussão com tanta paixão, que se podia julgar que ambos estivessem desde muito de posse plena das premissas biologicas, versando a controversia talvez uni- camente sobre o modo de interpretar em sua applicação á therapeutica, prophylaxia e hygiene. Qual não foi a minha surpreza e decepção, quando, olhando de mais perto, percebi que n'esta arena as armas principaes em uso de cá e de lá consistiam em trechos emprestados e adrede apparelhados de autores extrangeiros e trabalhos de outros paizes, e que rarissimos eram os vestígios de investigação propria, de pesquiza independente, de traba- lho mental original, trazendo o cunho e feição do experi- mento e do laboratorio, em vez da toga da dialectica salernitana ? Assim, eu, não encontrando, nem por um lado nem por outro, informação satisfactoria nem sequer sobre os elementos e os contornos principaes da historia natural dos Culicideos braxilicos, e compenetrado de que sem o conhecimento d'estes não podia haver possibilidade para uma fructifera discussão do papel sanitario; reconhecendo Os mosquitos no Pará 131 emtim, em uma palavra, que para um assumpto ferindo tão genuinamente os mais altos interesses vitaes do paiz deve existir um solido substrato e pedestal com materiaes locaes, resolvi metter mãos á obra. Se já Grassi no caso do Anopheles — Malaria pronunciou que o ter- reno pertencia ao zoologista, preparado em assumptos de medicina e ao medico, familiar com .assumptos de zoo- logia, a situação é a mesmissima no caso da Stegomuia — Febre amarella, no do Culex fatigans — Filariose. O medico por si só não resolverá a questão: terá forçosamente que recorrer ao naturalista, para d'elle obter o substrato necessario de conhecimentos de historia natu- ral. E era preciso que viesse uma vez um embaraço destes devéras penoso e afflictivo, para abrir os olhos aos que pensam e seriamente se empenham no levanta- mento intellectual do paiz, e para mostrar-lhes a insuffi- ciencia actual do ensino de sciencias naturaes no pro- gramma dos estabelecimentos superiores e incutir-lhes a convicção de que, a menos que não se queira resignar-se beatamente a ficar atraz no certamen e tendencia pro- gressista internacional, urge prestar mais attenção e res- peito áquellas sciencias que os povos mais praticos do mundo cultivam com zelo ostentativo, trazendo-as na palma da “mão! Foi destarte um verdadeiro dever moral que senti de esforçar-me, no que dependesse das minhas forças e meios pessoaes, a poupar ao Brazil a vergonhosa expro- bação, de que aqui se discutia hygiene e prophvylaxia relacionadas com os mosquitos indigenas, sem que hou- vesse um unico trabalho sequer, que pudesse ser consi- derado como podendo servir de base e fundamento na parte biologica, nos elementos de historia natural. Durante os annos de 1902 e 1903 estiveram estas pesquizas no primeiro plano da minha actividade scienti- fica: dediquei-lhes o maior quinhão de tempo e attenção. Submetti aos meus estudos a quasi totalidade das espe- cies de Mosquitos encontrados no Pará e no baixo Ama- zonas, e não são poucas. Entraram n'esta esphera repre- sentantes dos generos Stegomyia — Culex Anopheles 2—( Bol. do Mus. Geeldi) 132 Os mosquitos no Pará — '“Taeniorhynchus — Panoplites — Trichoprosopon — Ian- thinosoma — Sabethes — Megarhinus — Limatus, conse- guindo eu quasi em toda a parte esclarecer pontos ainda escuros na historia da sua vida, contribuir com materiaes antes ignorados e ainda ineditos. Tive sempre o inesti- mavel e valioso auxilio do Sr. Dr. Theobald, em Londres, o que equivale a uma garantia, sobretudo no dominio das questões systematicas e da identificação exacta. (*) A publicação detalhada, em extenso, das minhas in- vestigações durante a recente campanha, exige mais tempo e mais avultadas providencias, mórmente em relação ao lado illustrativo, do que dispuz até agora. Todavia ten- ciono publicar dentro de prazo não muito longo, um tra- balho mais comprehensivo, acompanhado de estampas co- loridas, do habitus dos principaes mosquitos da fauna paraense. Attento ao cuidado que tive de escolher espe- cies de larga distribuição sobre o littoral do Brazil tropi- cal, nutro viva esperança que o referido trabalho será bemvindo ao mundo medico indigena todo. As estampas são feitas de mosquitos vivos e frescos em escala tamanha e com tão minuciosa exactidão que poderão servir de pa- drão em circulos scientificos como em circulos de leigos instruídos. O que aqui, nas presentes linhas dou, é apenas um resumo muito condensado das minhas experiencias e re- sultados sobre certos pontos, assaz controvertidos, na vida dos nossos mosquitos domesticos mais communs e mais im- portantes —a diurna Stegomwia fasciata e o nocturno Culex fa- tigans. São aquelles pontos, aos quaes assiste um interesse de todo especial sob o ponto de vista pratico e sanitario. (Confira-se o questionario detalhado, que puz como guia orientadora, no cabeçalho das experiencias ). São em primeira linha o problema do papel do san- gue haurido, na economia interna do mosquito-femea, em relação com a copula sexual por um lado, e com o pro- (*) Que a respectiva correspondencia não tem deixado de trazer vantagens para o conhecimento dos mosquitos d'aqui, resalta logo para quem compulsa o recente volume III supplementar da grande Monographia do Dr. Theobald, publicado durante o anno de 1903. € Os mosquitos no Pará 133 cesso da postura dos ovos por outro lado. Abrangem es- tas experiencias alem de 220 individuos adultos e de ambos os sexos, de Stegomyia fasciata e alem de 260 indi- “viduos de Culex fatigans; (não entrando em conta ovos e larvas de ambas estas especies, que andam por milhares). Esbocei este resumo em consequencia de pedidos insistentes de amigos no mundo medico brazileiro, orna- mentos da sciencia, residentes no sul do paiz. Algumas palavras acerca da instrumentagem, por mim utilisada nas experiencias que seguem. Havendo con- veniencia em poder executar o rigoroso isolamento si- multaneo de muitos individuos ou de muitos casaes quer de uma quer de outra especie, era mistér architectar um typo de gaiola apropriado, leve, manuseavel, e barata ao mesmo tempo. Bem depressa achei tm modelo, que pre- enchia satisfactoriamente todos estes requisitos e que con- servei até hoje. E' uma caixinha leve, de madeira de ce- dro, de fórma prismatica, de 307" de comprimento, so- bre 13” de largura e 20” de altura. Fundos, costas, tecto e metade superior da frente, são de téla de arame de malha fina; a parte inferior do lado frontal é formada por uma porta de um vidro, corrediça no sentido lateral. Ali- mento e agua são introduzidos facilmente em bacias de vidro rasas de dimensões adequadas. Sendo estas gaiolas assaz transparentes, e de di'uensões diminutas, facil é não só introduzir mosquitos frescamente apanhados, como re- tirar um ou outro individuo; emfim, fiscalisar todos os acontecimentos que se effectuam lá dentro. Com lettreiros de iniciaes mutaveis, impressas com chapas sobre peda- cinhos de cartão branco, significando S — Stegomyia, C. F. = Culex fatigans, a. = apanhados em liberdade, Ei erados mo -captiverio, m. == mel, s. == sangue, e Os signaes sexuaes (4 macho, 9 femea), consigo um codice correspondendo a todas as necessidades, no sentido de fa- 134 Os mosquitos no Pará cilitar uma rapida synopse e orientação sobre o conteúdo e o systema da experiencia. OQutrosim, recebe cada leais: preso por um percevejo a um dos cantos, uma guia de papel, onde se lançam as annotações diarias. Disponho de umas 40 e tantas d'estas gaiolas, todas constantemente em uso simultaneo. Tem este modelo da nossa invenção, em comparação com a caixa recentemente figurada e proposta pelos Drs. Sergent, do Instituto Pastenr em Paris, no seu utilis- simo livrinho «Les Moustiques », (Paris, 1903), a van- tagem de ser muito mais manuseavel, mais simples e mais barato, com economia de espaço, de tempo e de di- nheiro. Um marcineiro de alguma habilidade, apromptrará facilmente meia duzia das minhas num meio dia e o seu custo total importa n'uma bagatela. A criação dos ovos é feita em bacias rasas de vidro até sahirem as novas larvas que, excepto Stegompyia fas- ciata e Culex fatigans, são às vezes creaturas singular- mente delicadas e exigem não pequena somma de at- tenção. Costumo reunir estas bacias ás 2 e 3 em gaio- las iguaes em dimensões ás outras, mas com téla de ma- lha mais larga. Para a criação das larvas utiliso um grande numero de boccaes de vidro, de variavel altura, cuja bocca fica tapada com um pedaço quadrangular de talagarça, amar- rando-se esta por baixo da saliencia peripherica com um barbante. No centro, corto com a thesoura uma abertura rolhada por sua vez com um tampão de algodão. Em summa, n'este particular o systema já proposto e acon- selhado por Grassi. — (*) Que o mel constitue um meio de alimentação excel- lente, descobri tão independente como casualmente. Tendo ficado um dia, por accaso, em cima da messa de jantar um vidro quasi vasio, que contivera antes mel de abelha européa, trazido por nós mesmo da Serra dos Orgãos (Rio de Janeiro), fiquei impressionado pela mul- tidão de mosquitos, que de dia mesmo se tinham intro- (*) Grassi « Malaria » ( 1901) pag. 74 v. 1. Os mosquitos no Pará 135 duzido em busca da dôce substancia, que por sua vez é um producto manufacturado no estomago de um insecto. Eram umas 40-e tantas Stegomyias e Culex, de ambos os sexos. Immediatamente resolvi aproveitar-me d'esta obser- vação e devo dizer, que com optimo resultado, tanto que posso recommendar este methodo calorosamente a quem quizer fazer experiencias no sentido das por nós reali- sadas. | Ultimamente vi, por um artígo n'uma revista me- dica, (*) que o Dr. Lutz, em São Paulo — entre os princi- paes fomentadores de estudos originaes sobre a vida dos mosquitos no Brazil, o mais antigo — tambem preconisa o uso do mel para o mesmo fim, e não duvido, que este observador se tivesse familiarisado com elle da mesma fórma e pelas mesmas razões que eu. (**) Concluo declarando que não me abalarei de tomar em consideração contestações e censuras dos meus resul- tados, senão de contendores que provem ter feito estudos igualmente conscienciosos e comprehensivos. Res non verba. Quem tiver animo de combate, que o faça de viseira erguida e mostrando a lealdade das suas armas. Vivendo eu na firme convicção, que d'estes proble- mas, mais do que de quaesquer outros, depende a solu- ção directa da exposição fiel e exacta do methodo se- guido e das circumstancias exteriores, debaixo das quaes as experiencias foram realisadas, e tendo eu dado o exem- plo nas paginas que seguem, faço para qualquer outro condição essencial de identico procedimento. Por ultimo, direi que, a quem só superficialmente conhece alguma cousa da moderna litteratura scientifica poderiam apparecer todos ou a maior parte dos meus re- (*) « Waldmosquitos und Waldmalaria » em « Centralblatt fir Bakteriologie, Parasitenkunde », etc. ( Verlag von G. Fischer in Iena. Vol. 33, N. 44 (26/Jan. 1903 (pag. 282-292). — pag. 290 seg. e um ar- tigo da « Gazeta de Noticias », do Rio de Janeiro, com o titulo: « A febre amarella e o mosquito », dando conta de uma consulta feita ao mesmo Dr. A. Lutz (26/Outubro, 1903 ). (**) Bancroft recommendou calorosamente o emprego de tamaras seccas penduradas na gaiola, para substituir as fatias de banana, antes em uso n'estas experiencias. Concordam Nuttall e Shipley, loc. cit. pag. 70. 136 Os mosquitos no Pará sultados como carecendo de novidade e de merecimento, por constituirem as leis por mim formuladas a necessaria supposição e premissa para toda a recente doutrina acerca dos mosquitos. “Ainda quanto a isto, a minha consciencia me tran- quillisa; se bem que estas leis estavain, por assim dixer, pai- rando no ar, aqulles que conhecem a materia a fundo, perfeitamente sabem que faltava até hoje a prova experi- mental e material, que esta falta constituia uma lacuna e brecha assaz sensivel e incommodativa no edifício do actual saber. Estes sim, saberão avaliar de perto o merecimento inherente a estas tão conscienciosas quão comprehen- sivas labutações e o applauso d'estes será para mim a: melhor recompensa para toda esta penosa cruzada de'ex- periencias e contra-experiencias. Pará, o de janeiro de I904. GOELDI. Fm Os mosquitos no Pará 137 QUESTIONÁRIO influencia da alimentação sobre a duração da vida no captiveiro “a) a alimentação com mel, liquidos assucarados, sumos de fructas, etc. prolonga ou encurta a vida? 1) quaes os effeitos sobre o sexo feminino? 2) quaes os effeitos sobre o sexo masculino? b) a alimentação com sangue, prolonga ou encurta? 1) effeitos sobre o sexo masculino? 2) effeitos sobre o sexo feminino? II Influencia da alimentação sobre a fecundidade das femeas de Stegomyia fasciata, nascidas em liberdade e postas no captiveiro a) a alimentação com sangue, favorece e accelera a pos- tura dos ovos? b) ha um sangue animal RE b,) preferido? da ba) optimo? " €) a alimentação com mel tem effeito 6) retardativo e interruptor? ou c,) paralysante e destructivo? d) qual o effeito de outra alimentação? d,) animal (extracto de carne, sumo de car- ne; ete.)? do) vegetal (sumo de fructas, etc.)? +. 138 Os mosquitos no Pará II influencia da copula sexual sobre a haemaphilia e a fertilidade das femeas nascidas no captiveiro ja) sangue? 4) mel? a) ferteis? ( Parthenogenese genuina) b) estereis? ( Pseudo-Parthe- nogenese). b,) não põem ovos? a) femeas NÃO fecundadas chupam Eve fis b dem ovos? b) femeas NÃO fecundadas UP á 9) E ) ferteis. (1, ) poem ovos! b) estereis. a) femeas fecundadas, chupando mel 4, ) não põem? a) ferteis. ) femeas fecundadas, chupando sangue) põem ovos? a ] b) estereis. E PD O E Os mosquitos no Pará 139 EXPERIENCIAS Stegomyia fasciata EXPERIENCIA |: No dia 1 de agosto de 1903, de manhan, foram pos- tas em 3 gaiolas, (das de nossa invenção para o fim es- pecial da observação continua dos mosquitos no capti- veiro) ao todo 16 femeas de Stegomuia fasciata, sadias robustas, apanhadas em liberdade com o borboleteiro ( Mu- seu e dependencias), ao accaso, isto é, sem que ellas tra- hissem pelo sen aspecto exterior, haverem chupado san- gue humano ou de qualquer animal nas horas immedia- tamente anteriores, embora admittamos sem hesitar tal possibilidade, bem como a probabilidade de terem sido pre- viamente fecundadas todas ellas. Na caiola C, entraram 2 Teimeas; na gaiola À, 5; na gaiola B, g femeas. Tratamento com mel de abelha e com agua (exclusivamente, sempre e em todos os casos, onde não ha expressa indicação contraria), offerecida cada uma destas cousas em pequeno pratinho de vidro. Caixa C. 2 femeas. Tendo as duas femeas sido alimentadas exclusiva- mente com mel de abelha e agia desde o dia 1 até o dia 23 de agosto (23 dias), mudou-se repentinamente de re- “gimen, dando-lhes sangue no mesmo dia 23 (deixando-as picar cobayas encostadas com a imão pelo lado exterior da tela). (*) Tomaram logo o sangue offerecido em ap- parente boa ração cada uma. (*) Como se vê por uma multidão de experiencias aqui enumera- das, as femeas de Stegomyia acceitam sangue e prestam-se a picar com sa- “tisfactoria facilidade, não só as primitivamente apanhadas em liberdade e depois postas em Pinda, como tambem as femeas criadas no captiveiro. E se não me engano, outros observadores em diversos pontos do Brazil, tam- 3-— (Bol, do Mus. Geeldi). 140 Os mosquitos no Pará Não tendo sido postos ovos durante os dias 1 até 23 de agosto (alimentação a mel) agora appareceram logo duas posturas: I) em 28 de agosto (36 ovos; intervalo, 5 dias) II) em 30 de agosto (35 ovos; intervallo, 7 dias). Obser- vação das primeiras larvas no dia 5 de setembro (inter- vallo de 6 dias); os ovos eram ferteis. Isoladas as pos- turas e postas nos boccaes especiaes de criação, conti- nuou-se a administrar sangue de cobaya da seguinte fórma: Dia 30 de agosto (ambas as femeas tomaram uma ração cada uma ). Dia 1 de setembro, idem, idem, idem. Dia 4 de setembro, idem, idem, idem. No dia 5 de setembro appareceu wma nora postura, de 44 ovos, (36 dias de captiveiro), precedida de 3 ra- ções de sangue. Observação das primeiras larvas em IO de Setembro (intervallo de-5 dias); os ovos eram tam- bem desta vez ferteis. Postura por sua vez isolada e posta em boccal de observação separado. No dia 7 de setembro ambas as femeas tomaram no- vamente sa ração de sangue de cobaya, morrendo po- rem uma no dia seguinte (com 39 dias de captiveiro ), e perecendc igualmente a ultima no dia 11 de setembro (com 42 dias de captiveiro), sem deixarem ainda uma ul- tima vez descendencia. Assim não houve postura nenhuma durante os primeiros bem não reconheceram na Stegomyia, em captiveiro, um mosquito recalei- trante e estouvado. Surpreenden-me devéras encontrar recentemente no volume supplementar III da obra de Theobald, pag. 142, o seguinte trecho da carta de um Dr. Low, da Trindade: « If one introduces one's hand into the cage they quickly settle on the hand and probe with their proboscis, but they never puncture and T have nerer seen blood in the stomachs of hundreds IT have examined. ..... » Ainda uma vez estou tentado de formular a pergunta, se talvez a Stegomyia na ilha da Trindade se comporta de outra maneira do que aqui no Brazil? Recalcitrante achei o Culex fatigans, este sim, correspondendo assim ao esboço de caracter e indole, qual já o traçou Grassi ( loc. cit. 77) dos representantes suleuropeus do genero Culex. Por outro lado posso affirmar que alguns dos nossos representantes sylvestres, do mesmo genero, como C. confirmatus, O. serratus, picam regularmente no captiveiro, como pi- cam varias especies dos generos Taeniorhynchus — Panoplites — Ianthi- nosoma, — Sabethes — Limatus. Os mosquitos no Pará 141 23 dias de alimentação com mel e logo depois houve 3 pos- turas, depois de introdiwzida a alimentação com sangue. Tocou assim para uma das duas femeas duas pos- turas, phenomeno interessante, indício de que (assim ha- bilitam-me a diagnosticar repetidas experiencias) estas mesmas posturas não eram o que estou tentado a cha- mar completas, mas sim parciaes, fraccionadas (cireumstan- cia que se vê tambem pelo numero dos ovos: 36, 35, 44, que eu estimo importar n'um terço ou na metade de uma postura normal) e que attribuo a um processo defeitnoso, quer que o numero de rações de sangue tenha sido insu- ficiente, quer porque o fosse o quantum total de sangue haurido. Caixa A. Das 5 femeas, entradas em 1 de agosto, retirou-se no dia 26 de agosto uma d'esta caixa, simultaneamente com uma das 9 femeas da caixa B. Tinham sido alimen- tadas durante 26 dias sob o regimen -exclusivo de mel e agua. Foram postas em gaiola separada, recebendo san- gue humano (otferecendo-lhe a mão atravez da tela), que acceitaram. Por desastre mallogron-se a experiencia, mor- rendo ambas estas femeas, antes de ser obtido o resultado desejado. No dia 18 de setembro, retirou-se do mesmo modo, uma outra femea da caixa A, juntando-se com uma femea nas mesmas condições da caixa B, em gaiola separada. Depois de ter vivido durante 48 dias debaixo do regimen alimentício de mel, acceitaram ambas sangue n'este mesmo dia. Tendo de me ausentar do Museu e da capital do Pará entre os dias 22 até 26 de setembro, e voltando sómente no dia 26, encontrei uma postura de 33 ovos e 2 larvas muito novas (total 35; intervallo pelo menos 8 dias); ambas as femeas porem mortas. Os ovos eram ferteis, sa- indo ainda-mais larvas nos dias consecutivos. À criação foi posta á parte e observada em boccal especial. Tendo morrido no dia 10 de outubro 1 femea (71 dias), ficaram assim na caixa À ainda 2 femeas. Deu-se no dia 26 de setembro o facto interessante, que um macho de pequenas dimensões, livre, do labora- e ENS e nm 4: 142 Os mosquitos no Pará torio, chegando a travar conhecimento com o vidro de relogio contendo mel, e tocando casualmente na téla de arame, forçou a entrada, penetrando na gaiola, onde vi- veu até o dia 28 de outubro (32 dias), data em que su- miu-se da mesma maneira pela qual se tinha introduzido. Continuando sempre a serem tratadas com mel e agua, mu- dou-se de regimen no dia 14 de outubro de 1903, (depois de 75 dias de mel), offerecendo-lhes sangue. Tomaram uma ração snccessivamente nos dias: 14 de outubro (75 dias) sangue humano. 17 de outubro (78 dias). id. 1d. 19 -de outubro (80 dias) sangue de cobaya. Sobreveiu a morte de uma das duas ultimas femeas no dia 23 de outubro (84 dias), ficando uma sómente. Esta tomou ainda uma vez sangue no dia 23 de outubro (84 dias), (sangue de cobaya) e mais outra ra- ção (sangue humano) no dia 4 de novembro (95 dias). N'este mesmo dia foi observado 1 ovo isolado na bacia, (alem de 1 larva, esta observada pela primeira vez no dia 27 de outubro). (*) No dia g de novembro achou-se mais 1 ovo (além da uma larva, esta observada pela pri- meira vez no dia 8 de novembro), (**) e na manhan seguin- te, 10 de novembro, 85 ovos. Morreu assim esta femea de Ste- gomipa fasciata, meste mesmo dia, com 102 dias de vida no captiveiro, pondo no ultimo dia ainda wma postura completa de 85 oros, tendo vivido 75 dias debaixo do regimen de mel (sem pôr ovos) e durante os ultimos 27 dias debaixo do re- gimen de sangue (5 rações) ! D'estes 85 ovos, na verdade, não sairam larvas até hoje, mas attribuo isto unicamente ao acontecimento ca- sual, de elles terem submergido debaixo da tona d'agua, por um empurrão involuntario na bacia d'agua que os contem, logo nos primeiros dias. (Tenho reconhecido na (*) Desta larva saiu um mosquito macho, de pequena esiatura, no dia 22 de novembro de 1900; [intervallo minimo, 26 dias). (**) Desta larva saiu uma Stegomyia femea, pequena, no dia 24 de novembro de 1903; (intervallo minimo, 16 dias ). " a * ds s mosquitos no Pará 3 9) 0 / Pará 143 - submersão um phenomeno fatal para o desenvolvimento dos ovos dos mosquitos: póde-se dizer, que ovo que se afoga, é ovo perdido, morto). Julgo poder opinar pela fer- tilidade normal d'aquelles ovos, porque tendo sido positi- vamente encontrados na mesma bacia ovos fornecendo larvas no 88º e 100º dia, não vejo razão pela qual não se podia admittir ser o mesmo para os ovos do 102º dia. Caixa B. Retiradas, como acima ficou dito, nos dias 26 de agosto e 18 de setembro de 1903, uma femea cada vez, permaneceram na caixa, das g que eram no dia 1 de agosto, ainda 7. Para os inquilinos d'esta caixa mante- ve-se o regimen alimenticio exclusivo de mel e agua. Os acontecimentos foram os seguintes: Dia 5 de setembro de 1903, morreu 1 femea (36 dias de captiveiro); Dia 14 de setembro, morreram 2 femeas (45 dias de captiveiro ); Dia 26 de setembro, morreu 1 femea (57 dias de capti- veiro ); Dia 3 de outubro, morreram 2 femeas (64 dias de captiveiro ); Dia 4 de outubro, morreu a ultima femea (65 dias de captiveiro ); Nenhuma destas 7 femeas, alimentadas com mel, for- neceu mem sequer um umco ovo, quanto mais wma postura normal de ovos! EXPERIENCIA 2: De 9 femeas de Stegomyia, apanhadas em liberdade, e postas em gaiola no dia 14 de agosto de 1903, e nu- tridas com uma ração de sangue humano no mesmo dia, appareceu uma primeira postura já no dia 16 de agosto, |intervallo de 2 dias |. 144 Os mosquitos no Pará EXPERIENCIA 8.º . Foram postas em gaiola 8 femeas, apanhadas eni liberdade, no dia 1 de agosto de 1903. Receberam rações de sangue de cobaya nas seguintes datas: 22 de agosto (tomaram 7 femeas); 23 de agosto (E 2 femeas); 24 de agosto ne 3 femeas ); 28 de agosto (E I femea); 29 de agosto [E 3 femeas ); 5 de setembro (t. 3 femeas); 9 de setembro (t. I femea); Obtive posturas de ovos em: 1) 22 de agosto — I5 ovos. + À (Intervallo minimo II) 24 de agosto —- 120 ovos. dias III) 26 de agosto — q ovos. | 2a IV) q de setembro. — go ovos. Os ovos eram ferteis; accompanhei larvas da 4.º postura no seu desenvolvimento. — Quanto á 1.º postura do dia 22 de agosto, a respectiva femea a forneceu visi- velmente devido ainda á intervenção de sangue anterior- mente apanhado na liberdade, antes de entrar em gaiola. EXPERIENCIA 4.º Tres femeas de Stegomyia, apanhadas em liberdade, e engaioladas no dia 1 de setembro de 1903, receberam uma ração de sangue humano no mesmo dia (uma só acceitou, 2 não acceitaram; no dia 3 de setembro, todas trez recusaram ). Appareceu uma pequena postura de 15 ovos no dia 4 de setembro, (intervallo de 3 dias). Ovos ferteis. Os mosquitos no Pará 145 EXPERIENCIA 5.º Uma femea de Stegomyia, apanhada em liberdade, posta em gaiola no dia 23 de agosto de 1903, e tendo recebido uma ração de sangue humano no mesmo dia, forneceu uma postura de 35 ovos no dia 26 de agosto (intervallo de 8 dias). — Ovos ferteis. EXPERIENCIA 6.º 8 femeas de Stegomiyia, apanhadas em liberdade, postas em gaiola no dia 30 de setembro de 1903, rece- beram rações de sangue de cobaya: no dia 30 de setembro; no dia 3 de outubro. Obtive uma postura de 37 ovos no dia 8 de ontu- bro de 1903, [intervallo de 8-5 dias]. — Os ovos eram ferteis; accompanhei as larvas. EXPERIENCIA 1.º 4 femeas de Stegomya, apanhadas em liberdade e presas em gaiola no dia 3 de novembro de 1903, rece- beram sangue de cobaya nas seguintes datas: dia 4 de novembro (tomaram ração todas 4); dia 7 de novembro (its A dia o de novembro Gt: a dia 11 de novembro (4 ei Obtive uma primeira postura completa de 105 ovos no dia 7 de novembro de 1903, (intervallo de 4 dias). — “Ovos provadamente ferteis. Segunda postura de 30 ovos “no dia 14 de novembro. oi ag oa co 146 Os mosquitos no Pará EXPERIENCIA 8.º 2 femeas de Stegomyia, apanhadas em liberdade e postas em gaiola no dia 22 de novembro, receberam uma ração de sangue humano. Apparcceram 4 ovos no dia 25 de novembro e mais II ovos na manhan seguinte, 2€ de novembro. Total 15 ovos, [intervallo de 3-4 dias |, todos ferteis. EXPERIENCIA 9.º 1 femea de Stegomyia, apanhada em liberdade no dia gq de novembro de 1903, recebeu sangue humano da seguinte fórma: g de novembro; 11 de novembro; 16 de novembro; 17 de novembro; A femea morreu no dia 20 de novembro, tendo dei- xado uma progenitura de cento e tantos ovos, | intervallo maximo, II dies; minimo, 3 dias]. — ( Não existe annota- ção relativa á questão se os ovos se desenvolveram ). EXPERIENCIA 10. 4 femeas de Stegomyia, apanhadas em liberdade e engaioladas no dia 14 de outubro de 1903, receberam rações de sangue de cobaya nas datas: I5 de outubro (3); 17 de soutnbro (2): 20 -de outubro (1); “RA Os mosquitos no Pará 14% Appareceu a 1.º postura de ovos (25 ovos), no dia 16 de outubro [intervallo de 2 dias]. — Ovos ferteis; criei mosquitos d'esta postura. EXPERIENCIA 1.º A uma femea de Stegomyia, apparentemente vasia, apanhada em liberdade, no dia 10 de novembro de 1903, se juntaram em 11 de novembro mais trez femeas nas mesmas condições (morrendo entretanto uma em 14 de novem- bro), e finalmente, mais cinco femeas em identicas cir- cumstancias, no dia 15 de novembro de 1903, sendo o total da caixa 8. Foram tratadas com o regimen do mel e não rece- beram sangue. Appareceram todavia no dia 29 de novembro, 36 ovos e 4 larvas. Tendo-se retirado em 8 de dezembro uma femea para a caixa VII, da qual logo fallarei, e tendo morrido até o dia 24 de dezembro, 4 femeas, restam hoje ainda 3 [29 de dezembro de 1903 |]. Os ovos eram ferteis, pois até o dia 4 de dezembro tinham sahido 36 larvas. Sou levado a suppor que o apparecimento um tanto surprehendente á primeira vista de uma postura de ovos ferteis, depois de um intervallo de captiveiro de 15 para I9 dias, com regimen alimenticio exclusivo de mel du- rante este periodo, fosse devido a uma influencia. embora tardia, de rações de sangue hauridas quando em liberdade, anteriormente á data do aprisionamento, [ IO, II e 15 de dezembro |. “EXPERIENCIA 12. Tres femeas de Stegomyia, apparentemente vastas, foram apanhadas em liberdade, na residencia directorial, no dia 28 de novembro de 1903, e postas em gaiola, 4-—( Bol. do Mus. Goeldi). 148 Os mosquitos no Pará igualmente para serem submettidas ao regimen de mel e agua. Todavia appareceu uma postura de 40 ovos, no dia 4 de dezembro, [intervallo, 6 dias], morrendo logo a respectiva femea. Ovos ferteis. | Retirou-se no dia 8 de dezembro uma femea para a caixa 7, como na experiencia anterior, ficando 1 só na gaiola na data de hoje (29 de dezembro de 1903 ). Ainda uma vez explico-me este caso pela mesma fórma, como na experiencia 11.º, servindo de prova mate- rial e pedra de toque o resultado obtido com as duas fe- meas retiradas, do modo acima referido, no dia 8 de de- zembro e ao qual logo voltarei. EXPERIENCIA 3.º As duas femeas, (originalmente apanhadas em liber- lade), de que fallei nas experiencias 1I.º e 12.? e que foram retiradas de duas gaiolas diversas no dia 8 de de- zembro de lgo3, cujos inquilinos estavam submettidos desde o principio (IO, I5 e 28 de novembro) ao regimen exclusivo de mel e agua, foram reunidas no mesmo dia S de dezembro em gaiola distincta, juntando-se a ellas um exemplar macho de Stegomyia, apanhado em liber- dade. Continuou o regimen alimentício estrictamente ob- servado de mel e agua. Nenhuma postura, nem ovo isolado, appareceu até hoje, 30 de dezembro de 1903, decorridos, no momento em que escrevo, 22 dias. EXPERIENCIA 14. As duas femeas, criadas desde o estado pupal no captiveiro, em severo isolamento (cada uma em tubo de vi- dro ), virgens até aquella data, foram reunidas no mesmo dia de $ de dezembro em gaiola separada com dous ma- | Os mosquitos no Pará 149 chos de Stegomyia, igualmente criados no captiveiro, de- baixo das mesmas cautelas. Continuou-se o regimen de mel e agua. Até hoje, 30 de dezembro, 1903 ( decorridos tambem 22 dias) nenhuma postura, nem sequer um ovo isolado. EXPERIENCIA 145: [N. B. Recentemente introduzi a seguinte innova- ção para maior commodidade e para ter sempre á mão nu- mero sufficiente de Stegomyias, de ambos os sexos, cria- dos desde larvas e pupas em estreito isolamento: tenho duas gaiolas, nas quaes von introduzindo successivamente muma todas as femeas, que vão sahindo nos tubos 1so- lados, e na outra todos os machos, que se desenvolveram em seus tubos nas mesmas condições. Faz-se isto com a intenção evidente de ter à mão material de-Stegomuaras, garantido como não tendo tido occasião de realisar co- pula sexual. O tratamento em ambas as caixas é o de mel e agua rigorosamente observado. Tenho na hora em que escrevo, numa d'estas duas caixas, 18 femeas, e na “outra 23 machos, variando naturalmente, constantemente este inventario vivo d'estas duas caixas — que eu chamarei caixas de deposito e das quaes vou retirando individuos de Stegomayia de ambos os sexos, á proporção que vou d'elles precisando. Em 96 tubos de vidro com agua, e fechados com um tampão de algodão, criam-se constantemente as larvas, á medida que ellas vão attingindo o desenvolvi- mento para entrar na phase de chrysalida ou pupa. Como material para os boccaes de criação vou-me servindo prin- cipalmente de larvas procuradas em liberdade, nas vizi- nhanças do Museu. ] Duas femeas de Stegomiuia, criadas no captiveiro, virgens, e retiradas da alludida caixa de deposito (regi- men de mel), em 22 de dezembro de 1903, foram postas em gaiola separada e receberam no mesmo dia sangue humano, que ambas logo acceitaram. Tomou uma d'ellas - marido o, x R A e x i 150 Os mosquitos no Pará segunda ração de sangue humano no dia 25 de dezem- bro de 1903. | Até a data em que escrevo, 31 de dezembro, não ap- pareceram ovos. EXPERIENCIA 16. Duas femeas de Stegomiwia, criadas no captiveiro do mesmo modo, em rigorosa reclusão, e retiradas da respe- ctiva caixa de deposito no dia 22 de dezembro de 1903, (regimen de mel) foram reunidas na mesma data em caixa separada com 2 individuos machos, retirados por sua vez da competente caixa de deposito. Receberam e acceitaram sangue humano ambas pela primeira vez n'este mesmo dia 22 de dezembro: uma d'ellas acceitou uma segunda ração de sangne humano no dia 25 de dezembro. (Morreu 1 macho no dia 28 de dezembro ). Appareceram na bacia d'agua 6 ovos no dia 29 ae dezembro [intervallo maximo T dias, minimo 4 dias |, e foi encontrada uma segunda postura, igualmente fraca, pois só consiste de 13 ovos, no dia 31 de dezembro. Estes ovos são postos em observação, afim de apurar a sua fertilidade. EXPERIENCIA 17: Reuniram-se n'uma caixa isolada as seguintes fe- meas, criadas no captiveiro todas, em absoluto isolamento individual, virgens : 1 femea no dia 4 de novembro de 1903, ( descendente em primeiro grão de um dos 44 ovos, postos em 5 de setembro de 1903, conforme Experiencia 1.º, Caixa C.) de larvas apanhadas fóra. 5 femeas no dia 7 de novembro; 2 femeas no dia 9 de novembro; 2 femeas no dia 17 de novembro; 2 femeas no dia 19 de novembro; Total iê Os mosquitos no Pará ij Estabeleceu-se o regimen alimentício de sangue hu- mano, offerecendo-se rações: no dia 4 de novembro ce 1903 (1) no dia 7 de novembro ESP no dia 9 de fnovembro (manhan)(4); (2) 5.) (2) , ) nO 2 de novembro (tarde) no dia 11 de novembro no dia 13 de novembro b) , No dia 15 de novembro appareceu wma pequena pos- tura de 7 ovos apenas, fugindo casualmente a respectiva mãe. [Intervallo maximo 11 dias; minimo 2 dias). Dos 5. mosquitos femeas restantes no dia 15 de no- vembro e entrados depois d'aquella data, tomaram ainda sangue humano: no dia 16 de novembro (1); no dia 17 » » (3); no dia 19 » » (3); acontecendo porem infelizmente a fuga e a morte por uma pequena aranha (Salticida ) intrusa, de maneira que no dia 22 de novembro estava tudo liquidado, antes que eu tivesse conseguido ainda outras posturas ulteriores. Dos 7 ovos, apezar de fluctuando regularmente, não sahiram larvas até hoje (30 de dezembro de 1903; inter- vallo 45 dias!): certamente são estereis, e são garantida- mente pseudo-parthenogeneticos !) (*) Fica até agora, ao que eu saiba, sendo este o unico caso scientificamente averiguado de ovos pseudo-parthe- (*) Eu posso reconhecer como legitima « parthenogenese » sómente o caso onde uma femea, fornece seus similares ( productos que alcançam sua completa maturidade ) sem previa intervenção de copula sexual. Não havendo porém um termo que exprimisse simplesmente o facto da postura de ovos não fecundados e que não se desenvolvem ulteriormente, introduzi aqui a designação de « pseudo-partenogenese ». 158 Os mosquitos no Pará nogeneticos não só na especie Stegomiuia, como entre os Culicideos em geral. (*) EXPERIENCIA [8.º Duas femeas de Stegomuwia, criadas em isolamento individual no captiveiro e retiradas da caixa de deposito no dia 22 de dezembro de 1903 (regimen de mel), vir- gens, receberam e acceitaram sangue humano na tarde do mesmo dia 22 de dezembro (a primeira de 4 h. 35” p. m. — 4 h. 45”, a segunda: das-7 hº 35” q 2080 No dia 25 de dezembro uma tomou sangue pela segunda vez (4 h. da tarde) emquanto que a outra não quiz. Morreu no dia 30 de dezembro uma d'estas duas femeas, sem ter produzido ovos, [intervallo de 8 dias] ao passo que a ultima sobreviveu mais um dia, fornecendo 23 ovos na bacia d'agua, morrendo em 31 de dezembro incontinenti depois de finda a funcção [intervallo de 9 dias). Os ovos serão postos em observação afim de ave- riguar o seu comportamento debaixo do ponto de vista da sua naturalmente problematica fertilidade. Eis pois wm segundo caso scientificamente constatado de ovos pseudo-partenogeneticos postos por uma femea de Stegomyia virgem, depois de ter haurido sangue. Intervallo entre 1.º ração de sangue e postura — 9 dias; idem entre 2 rações de sangue — 6 dias. (*) Nuttall e Shipley (Joc. cit., pag. 67 — seg.) dedicam á par- thenogenese uma nota especial, referindo um caso, que parece ainda envolto em certas duvidas, descripto por Howard sobre a auctoridade de Kellogg na California ( nem genero nem especie conhecida ) e um outro annunciado de Annett, Dutton e Elliot ( 1901), relativo a certa especie de Anopheles, na Nigeria. No primeiro diz-se que houve larvas, que quasi alcançaram a ma- turidade; no segundo apenas de ovos, dos quaes não sahiram larvas. Ima- gines não houve em nenhum dos 2 casos. Recentemente Liihe fez d'este assumpto objecto de uma nota critica assaz desenvolvida ( « Zur Frage der Parthenogenese bei Culiciden » Allgem. Zeitschrift ) fiir Entomologie. Vol. VIII, N.º 18-19, Octob. 1903, pag. 372 — seg. Vê-se que o auctor se conserva n'uma posição de pronunciado scep- ticismo perante todos os casos de pretendida parthenogenese entre mosqui- tos até agora enumerados na litteratura scientifica. Os mosquitos no Pará 153 / “E interessante esta experiencia, tanto em compara- ção com a experiencia anterior (17.º), como pelo paralle- lismo existente com a experiencia simultanea 16.º, onde os elementos eram em tudo identicos, com a unica excepção de ter entrado ahi o factor da sexualidade pela intencio- nal intervenção de individuos machos. EXPERIENCIA 19. Entraram em gaiola separada, no dia 30 de agosto 2 individuos machos de Stegomyia e no dia 31 de agosto mais 3 machos, todos estes 5 apanhados em liberdade. Submetteram-se ao regimen exclusivo de MEL e agua. Morrendo 3 logo nos primeiros dias, resistiu um até o dia 26 de setembro [28 dias], e quanto ao ultimo, con- seguiu fugir ainda atravez das malhas, no dia 10 de no- vembro, após 72 DIAS passados no captiveiro! EXPERIENCIA 20. 7 machos de Stegomyia, apanhados em liberdade, fo- ram postos no dia 30 de agosto em gaiola separada, dan- do-se-lhes por um lado sómente agua, porém experimen- tando-se repetidas vezes, durante os proximos dias se accei- tavam SANGUE humano e de cobaya. Não quizeram, pre- ferindo morrer todos até a tarde do dia 2 de setembro de 1903 | maximo 4 dias). EXPERIENCIA 21. Uma femea criada isoladamente no captiveiro, des- cendente em 1.º geração da centenaria historiada na expe- riencia 1.º caixa A, (ovo encontrado em 8 de novembro de 1903, virando imagem em 24 de novembro de 1903 ). S-( Bol. do Mus. Gesldi). RSRS sm ” 154 Os mosquitos no Pará [intervallo minimo r6 dias |. foi posto em gaiola separada com regimen de mel e agua. Viveu até o dia 29 de dezembro, morrendo depois ae 35 dias de captiveiro, de morte violenta, pois foi victima de uma aranha, que soube introduzir-se pela tela. Era de pequena estatura. Morreu virgem, não tendo fornecido. quaesquer ovos. EXPERIENCIA 22. Tres femeas de Stegomyia, criadas em isolamento no captiveiro, entraram n'uma gaiola separada no dia 28 de novembro de 1903, recebendo alimentação de mel e agua, Retirando-se no dia 8 de dezembro de 1903 uma d'ellas (para entrar na caixa 9; uma das duas femeas mencionadas na experiencia 14.º), ficaram duas, das quaes a ultima morreu no dia 30 de dezembro de 1903, com 32 dias de vida no captiveiro. De nenhuma d'ellas houve. postura de ovos. EXPERIENCIA 23.º (*) Caixa A. Duas femeas de Stegomyia, criadas no captiveiro, em isolamento individual, retiradas da respectiva caixa de deposito, installada em 11 de novembro, foram postas em gaiola separada no dia 29 de dezembro de 1903. Conti- nuação da alimentação com mel até o dia 20 de janeiro de 1904. No dia 22 de janeiro tomaram sangue humano 2 femeas; (*) As Experiencias 23-25 foram isertas ainda durante a im- pressão e revisão das provas. AD 1 É Os mosquitos no Pará 15! No dia 25 de janeiro tomou sangue humano 1 femea; (a outra desappareceu ); No dia 29 de janeiro, tomou sangue humano 1 femea; No dia 1 de fevereiro, tomon sangue humano 1 fe- mea; morrendo n'este mesmo dia, 1 de fevereiro, sem ter posto um unico ovo, tendo vivido no minimo 35 dias (prazo possivel 47 dias), e tendo haurido 4 vezes sangue. Caixa A! Duas femeas de Stegomyiia, em condições inteiramente identicas, foram postas em gaiola separada no dia 29 de dezembro, continuando todavia o estricto regimen alimen- tício de mel. As duas femeas não puzeram até agora um unico ovo, vivendo ainda hoje (15 de fevereiro de 1904) com 48 dias de vida no minimo. Caixa B. Com duas femcas, nas mesmas condições acima refe- ridas, juntaram-se no dia 29 de dezembro dois machos, criados nas mesmas circumstancias, numa gaiola separada. Continuando-se com o regimen de mel até o dia 20 de janeiro de 1904, offereceu-se-lhes a primeira vez sangue humano. Tomaram no dia 20 de janeiro as duas femeas; » » » 25 de » » » » ; apparecendo uma primeira fraca postura — 6 ovos, — no dia 29 de janeiro de 1904, e no dia 31 de janeiro uma segunda postura de mais 62 ovos. Tomando sangue humano novamente no dia 6 de fevereiro as duas femeas, € Mo dia 17 de » Ps » —, appareceu no dia 10 de fevereiro de 1904 uma terceira postura de 41 ovos. Tendo-se deixado a pequena vasilha com mel, vivem ainda hoje (15 de fevereiro de 1904) os dous casaes per- feitamente, com 48 dias de vida no minimo. Ovos fecundos, acompanharam-se as lárvas. 156 Os mosquitos no Pará Caixa B!. Com outras duas femeas e outros dous machos, fo- ram observadas em tudo condições exactamente iguaes, com a unica excepção, de continuar para esta gaiola o estricto regimen de mel. Vivem ainda hoje (15 de fevereiro de 1904) os 4 inquilinos, não tendo porém as duas femeas fornecido ovo algum durante todo este tempo. N. B. Facilmente se percebe que ha entre as caixas A e A! igualdade de condições na ausencia do factor da copula sexual, mas desigualdade na alimentação. Por ou- tro lado ha concordancia entre A e B na applicação da alimentação com sangue, como discordancia das condições sexuaes, e ha outra vez harmonia entre Al e B1 na con- servação da alimentação de mel, com simuitanea deshar- monia quanto ao factor sexual. Ora não deixa de ser muito sigmificativo, que posturas de ovos — (e estes sendo ferteis) — só se observaram na cura B: applicação de sangue e copula sexual ! EXPERIENCIA 24. Caixa A. A duas femeas de Stegomiwia, criadas no captiveiro em rigoroso isolamento individual, retiradas da respectiva caixa de deposito, juntaram-se dous machos, criados em igualdade de circumstancias, no dia 30 de dezembro de 1903. Offereceu-se-lhes sangue de cobaya no dia 31 de de- zembro de 1903, tomou 1; idem, id. no dia 2 de janeiro de 1904, tomou 1, retirando-se de uma vez a vasilha com mel. No dia 4 de janeiro appareceu uma postura de 92 ovos, (intervallo 4 dias) encontrando-se morrendo a respe- ctiva femea (os dous machos morreram n'este mesmo dia) e no dia q de janeiro morreu a ultima femea, sem ter tomado sangue e sem ter posto ovos. Ovos ferteis. Larvas. Os mosquitos no Pará 15% Caixa B. A duas outras femeas, idem, idem, juntaram-se dous outros machos, idem, idem, na mesma data, (dia 30 de dezembro de 1903), offerecendo-lhes sangue humano e re- tirando-se a vasilha com mel. No dia 2 de janeiro, tomou uma, (a outra fugiu). No dia 6 de janeiro appareceu uma postura de 33 ovos, morrendo a respectiva femea no dia 9 de janeiro, sem ter mais haurido sangue e sem ter posto outros ovos. ( Dos dous machos, morreu um no dia 19 de janeiro com 20 dias, e o outro no dia 21 de janeiro, com 22 dias). Ovos ferteis. Larvas. N. B. Nota-se que esta experiencia tinha o fim de averiguar a qualidade do sangue na sua influencia sobre a postura dos ovos. Tendo sido porém algo viciada pela recusa de uma femea na caixa À e pela fuga de uma femea na caixa B, resolveu-se repetil-a. EXPERIENCIA 25.º Caixa C. Duas femeas e dous machos, idem, idem, reunidos numa gaiola no dia 3 de fevereiro de 1904. Administra- ção de sangue humano: no dia 6 de fevereiro, tomaram 2 femeas. No dia 11 de fevereiro appareceu uma postura de 52 ovos, (intervallo 5 dias). N'este mesmo dia (2 de fe- vereiro), tomaram sangue humano ambas as femeas, vi- vendo ainda em 15 de fevereiro. ( Dos machos morreu um no dia 9 de fevereiro, o outro, no dia 11 de fevereiro). Caixa D. Duas femeas e dous machos, idem, idem, reunidos numa gaiola no dia 3 de fevereiro de 1904. Administra- ção de sangue de cobaya: no dia 6 de fevereiro tomaram as duas femeas. No dia 11 de fevereiro appareceu uma 158 Os mosquitos no Pará fraca postura de 7 ovos, (intervallo 5 dias), morrendo a respectiva femea na tarde do mesmo. A femea restante tomou sangue de cobaya pela se- gunda vez, no dia II de fevereiro, não apparecendo ovos antes do dia 15 de fevereiro, em que escrevo. (Os ma- chos, morreram ambos, logo no dia 5 de fevereiro. ) N. B. Concordo que estas duas experiencias ainda não liquidam o problema satisfactoriamente. Mas creio prever, que de uma maior serie de experiencias no mesmo sentido, resultará uma perceptivel vantagem qualitativa para o sangue humano sobre o sangue de cobaya. Experiencias sobre o intervallo de tempo entre a pri- meira ração de sangue e a data da postura dos oros. ( Re- sumo synoptico extrahido das minhas annotações ). Caso 1.º (relativo á experiencia anterior N.º 2) 2 dias. I Caso 4 4 5 dias. Caso 3.º)( conforme experiencia anterior N. “1 C).) 7 dias. Caso 4º| I dia. Caso 5º) is ER Ê o 6 dias. Pucar Ro pie sis experiencia anterior N.º 1 À). 5-6 dias. Caso dn pntica experiencia anterior N.º 3). [ 1 dia. Caso 8.º 3 dias. Caso 9º| 5 dias. Caso ro.º (conforme experiencia anterior N.º 4). 3 dias. Caso 11.º (conforme experiencia anterior N.º 5) 3 dias. Caso 12.º (conforme experiencia anterior N.º 6) 5 dias. Caso 1 3.º | (conforme experiencia anterior N.º 7).[ 4 dias. Caso 14.º | 3 dias. Caso 15.º (conforme experiencia anterior N.º 8). 3 dias. Caso 16.º (conforme experiencia anterior N.º 9). 3 dias. Caso 17.º (conforme experiencia anterior N.º 10). 2 dias. Caso 18.º (conforme experiencia anterior N.º 16). 7 dias. N'esta serie de 18 casos o maximo é de 7 dias (duas vezes); o minimo de 1 dia (tambem duas vezes); 2 dias Os mosquitos no Pará 159 (duas vezes); 3 dias (seis vezes), etc. À media arithme- tica 3,7 dias = go 3 horas approxima-se tambem bastante - deste numero. (*) Experiencias sobre o tempo de sobrevivencia das femeas ao acto da postura dos ovos. (Resumo ): TE SR é PR DA 6 SÍ RE ts 02 ta dias +) RR pr 4.12 dias) REM a C6dias. Caso 5.º 2 dias Caso” 6º o dia asd Te 3 dias Caso. 8º. 6 dias Caso q. 2 dias Caso 1Io.º. o dia. Easter Tr I dia Raso 112º. 2 dias. Esp Ts. o dia, Caso I4.º. o dia. Caso 15.º o dia. — Nesta serie de 15 casos o maximo é de 14 dias; houve por outro lado 6 casos de menos de dia (morte immediata depois da postura dos ovos), perto de 40 “6. (**) Houve ainda 1 caso de um dia, 3 casos de 2 dias, I de 3 dias. Tratando-se nos N.= 2 e 37 de casos de pos- “turas provadamente muito pouco numerosas e insufficien- “tes [conf. experiencia N.º 1, C], não poderão modificar “o facto empirico, de que a femea costuma morrer, por via de “regra, logo ou nos dias immediatos a uma postura completa. (*) Em 4 casos posteriores houve 4 dias (2 vezes) e £+-5 dias (2 vezes). (*) Em 3 casos posteriores observou-se morte immediata (0 dia) ki: vezes e sobrevivencia de 3 dias uma vez. 160 Os mosquitos no Pará Experiencias sobre o antervallo de tempo que levam as larvas novas, para sahirem dos ovos recem-postos. (Resumo): Caso NE ue: .3—4 dias. Caso N.º 2-. 4 dias. Caso Ni 238 6 dias. Caso Nº 8 dias. Vaso No bas 5 dias. Caso Nº BO 3 dias. CasoN? va. 4 dias. Caad-N. 8. . 4—5 dias. Caso NE ig . 3—4 dias. Caso Nº To”. 4 dias. Entre estes 10 casos o maximo é de 8 dias; o mi- nimo é de 3 para 4 dias (3 vezes); 4 dias (3 vezes;) 4—s dias e 5 dias (1 vez cada). A media arithmetica é de 4,5 dias. Experiencia sobre a duração do cyclo inteiro, desde a data da postura dos ovos até a sahida das imagines (mos- quitos alados). ( Resumo): Caso 1.º... -.. Ta dias 7) sódias ç Caso 2º: e AAA Caso 3.º. aguas Caso 44º o. = 2dias: Casos 8. “o pogdias Caso 6.º... 2? ZE dias MA sdiaR: Caso 7.º. . . 17 dias. — 18 dias. O que é de especial interesse aqui são os casos de duração minima (12 dias) +, ao passo que a duração ma- xima é indefinida e quasi illimitada, conforme a da do anno e a alimentação mais ou menos farta. Observei um caso, onde um mosquito Stegompia (ma- cho) levou so dias para sahir e outros casos, onde com igual numero de dias havia ainda larvas e pupas. Os mosquitos no Pará Experiencia sobre a duração da vida no captiveiro, de- baixo da influencia da alimentação. ( Resumo): E Extrahi os seguintes dados das minhas annotações, relativas ás femeas de Sltegomyia, submettidas ao regimen de mel, ou ao regimen mixto, depois de um certo tenpo de alimentação exclusiva com mel: (*) . Femeas: sa . “Machos: I.º caso : 22º Caso . mr caso . KEN Caso : a CASO . ” Caso . me Caso .. caso . caso . caso . caso . caso . Caso . caso . caso . caso . caso . caso . caso . caso . Caso . caso . 6-—( Bol. do Mus. Geeldi) 28 31 2.2, 43 o) 56 60 31 dias ( ) 32 dias ( ) 35 dias ( ) 36 dias ( ) 39 dias ( ) Herdias (un 5); 44 dias (4 vezes!). E VSà GU ES E TE E A So dias (im 2» ). Ads o) 64 dias (1 » ) 65 dias (1 Dz na) fx idiasepr ts SArdias (is » 7) ) . 102 dias (1 > dias (1 vez) dias (pinto ainda!) dias (2 vezes). dias (ainda vivo). dias. dias (ainda vivo!) dias. (*) Tratando-se aqui de determinar a duração maxima, deixei — propositalmente fóra da synopse todos os valores inferiores a 30 dias, 162 Os mosquitos no Pará Be Caso :.. « 2 62aHhba oº Caso +... DERA IO CEASO So TESTA II.º caso. . .. 72 dias (fugindo ainda!) CULEX FATIGANS EXPERIENCIA 1.º 10 femeas de Culex fatigans, apanhadas na residencia directorial na vespera, tendo chupado sangue humuno, entraram em gaiola separada no dia 11 de agosto de 1903. Appareceram as duas prinieiras posturas de ovos (as caracteristicas jangadas) em 15 de agosto [intervallo 4 dias]. Jangadas normaes, ovos ferteis. As 2 femeas mor- reram logo. Duração no captiveiro, 5 dias. EXPERIENCIA 2.º 2 femeas, apanhadas em identicas condições, reple- tas de sangue humano, entraram em gaiola no dia 12 de agosto de 1903. Encontraram-se duas jangadas normaes de ovos no dia 16 de agosto (intervallo, 4 dias). Ovos ferteis; obser- vei as larvas. Uma das femeas sobreviveu ao acto 2 dias. Duração da vida no captiveiro, 6 dias. EXPERIENCIA 8.º 2 femeas, capturadas em condições semelhantes, re- pletas de sangue humano, entraram em gaiola no dia 17 de agosto de 1903. y Te, p ha E CMRA, Tio Mt] 5 E] “4 . Í . . Os mosquitos no Pará 163 OLservaram-se jangadas normaes de ovos em 21 de “agosto, (intervallo 4 dias). Ovos ferteis; larvas »bserva- - das. Sobreviveram as duas femeas ao parto 2 a 3 dias, Duração total da vida no captiveiro, 6 — 7 dias. EXPERIENCIA 4.º 3 femeas de Culex fatigans (e 1 individuo macho da mesma especie), tendo sido apanhadas em estado repleto de sangue humano, entraram em gaiola separada no dia “15 de agosto de 1903. g Notei a primeira jangada normal de ovos em 19 de * agosto, (intervallo 4 dias). Ovos ferteis. Morreu a respe- — ctiva femea logo na mesma manhan. Duração da sua vida - no captiveiro, 4 dias. é EXPERIENCIA 5.º De 2 femeas de fr fatigans, enclausuradas depois de identicos precedentes e em iguaes circumstancias no “dia 16 de agosto de 1903, obtive a primeira jangada de “Ovos no dia 19 de agosto, (intervallo, 3 dias ). Morreu a respectiva femea no mesmo dia, tendo du- “tado a sua vida no captiveiro apenas 3 dias. EXPERIENCIA 6.º — Outras duas femeas, em iguaes circumstancias, en- traram no mesmo dia, 16 de agosto de 1903, em outra caixa. — Appareceu igualmente uma 1.º jangada de ovos no dia 19 de agosto, (intervallo 3 dias). 164 Os mosquitos no Pará EXPERIENCIA 7.º De 2 femeas de Culer, repletas de sangue humano, enclausuradas no dia 14 de agosto, alcancei a primeira. jangada de ovos no dia 17 de agosto, (intervallo 3 dias). EXPERIENCIA 8.º - De outras 2 femeas, repletas de sangue humano e capturadas no dia 17 de agosto de 1903, encontrou-se uma postura normal de ovos no dia 21 de agosto, ( intervallo 4 dias). Ovos ferteis; observei o desenvolvimento das larvas. EXPERIENCIA 9.º De outras 3 femeas de Culex fatigans, em identicas circumstancias, entradas em gaiola no dia 21 de agosto de 1903, descobri a primeira jangada de ovos em 25 de agosto, (intervallo, 4 dias). Ovos igualmente fecundos;. accompanhei as larvas no seu crescimento. EXPERIENCIA 10.º Outras 3 femeas, nas mesmas condições, entraram em caixa na mesma data, 21 de agosto, observando-se uma | primeira postura de ovos na manhan do dia 25 de agosto, (intervallo 4 dias). Morreu a respectiva femea logo, ( duração da vida 4 dias), ao passo que as 2 outras morreram com 4 >-e 5 dias, sem terem depositado os seus ovos (pelo menos não os encontrei na bacia). Os mosquitos no Pará 165 EXPERIENCIA 18. De 2 femeas, apanhadas em estado de terem tomado sangue humano em liberdade, e que entraram em obser- vação no dia 28 de agosto de 1903, appareceu uma pe- quena jangada de 15 ovos apenas, no dia 1 de setembro, (intervallo, 4 dias). Ovos ferteis. A femea morreu logo; duração da sua vida no captiveiro sómente 4 dias. EXPERIENCIA 12.º Seis femeas de Culex fatigans, apanhadas com san- gue humano e postas em gaiola no dia 20 de setembro de 1903. Como tive de ausentar-me do Muzeu e da capi- tal do Pará durante os dias 22 a 26 de setembrô e vol- tando no dia 26, encontrei n'aquella data na respectiva bacia d'agua as 6 jangadas de ovos correspondentes ás 6 femeas, bem como centenas de pequenas larvas de 1 a 2 dias. EXPERIENCIA 3.º Oito femeas do mesmo mosquito, enclausuradas em identicas condições ás precedentes, no dia 28 de setembro de 1903, forneceram 8 jangadas, que encontrei no dia 3 de outubro (depois de uma ausencia da capital durante os dias 1 e 2 de outubro). Observei igualmente cen- tenas de novas larvas na bacia d'agua, da idade approxi- mada de 1 a 2 dias. EXPERIENCIA 14." 2 femeas de Culex fatigans, apanhadas em liberdade no dia 5 de outubro, não quizeram pôr ovos, vivendo 2 dias apenas na gaiola. 166 Os mosquitos no Pará EXPERIENCIA 15:º O mesmo caso se deu com 1 femea enclausurada no dia 27 de agosto: morreu sem deixar prole. EXPERIENCIA 16. Recolhendo em gaiola separada, no dia 10 de no- vembro de 1903, 10 femeas de Culer fatigans, repletas apparentemente a maior parte de sangue humano, appa- receram 8 jangadas de ovos até o dia 12 de novembro, (intervallo de 2 dias). Os ovos eram ferteis; acompanhei- lhes o desenvolvimento. Morreram as 8 femeas no mesmo dia, sobrevivendo sómente as 2 que não tinham fornecido postura até lá. EXPERIENCIA 17. 8 femeas de Culex fatigans, apanhadas em liberdade e das quaes a9 menos 5 ostentavam ter chupado sangue humano, entraram em gaiola (além de 3 machos), no dia 15 de dezembro de I9o3. Appareceram 5 jangadas normaes de ovos na tarde do dia 17 de dezembro, (intervallo, 2 ; dias). Ovos fertei,, observando-se o desenvolvimento das larvas. Das femeas d'esta caixa (alimento, só agua); morreu a ultima no dia 27 de dezembro (12 dias). EXPERIENCIA 18.º 7 individuos machos de Culex fatigans, criados no captiveiro foram reunidos no dia 14 de agosto em gaiola separada e submettidos ao regimen alimentício de MEL e agua. o “Os mosquitos no Pará 167% o Morreram os 2 primeiros machos no dia 20 de agosto “(6 dias), ao passo que o ultimo individuo foi victima de “uma aranha no dia 8 de outubro, tendo vivido 55 dias “no captiveiro. ; EXPERIENCIA 19: W Outros 7 individuos machos, criados no captiveiro “foram postos em outra gaiola, no mesmo dia 14 de agosto “e tratados de modo identico. Morreu o 1.º com 6 dias, no dia 20 de agosto, ao “passo que um alcançou 53 dias de idade (6 de outubro ) e o ultimo 56 dias (9 de outubro ). EXPERIENCIA 20." 8 femeas de Culex fatigans, criadas no captiveiro, ram em tudo tratadas da mesma maneira, entrando em observação e regimen de mel e agua no dia 14 de agosto le 1903. Não obtive postura de ovos. b Morreram 5 femeas até o dia 20 de agosto (6 dias) “Morreu 1 femea no dia 1 de setembro (17 dias). | » Ee né » >» 6 de outubro (53 dias) » I » o a TE > (com 56 dias de idade no captiveiro ). EXPERIENCIA 21º — Tres femeas criadas no captiveiro, em isolação indi- ual, entraram juntas em gaiola separada no dia 17 de e nbro de 1903. Regimen mel e agua. Juntou-se-lhes “uma femea no dia 29 de novembro. E O 168 Os mosquitos no Pará Não appareceu postura alguma de ovos. Morreram estas femeas: no dia 21 de dezembro, uma, com 34 dias de vida; 4 no dia 29 de dezembro, uma, com 42 dias de vida; no dia 30 de dezembro, uma, com 43 dias de vida. EXPERIENCIA 22: N'uma gaiola separada foram successivamente pos- tas no dia 14 de outubro: 1 femea; > 4 DP dE: » 4 femeas; » 2º 27 de » 5 femeas; perfazendo um total de ro femeas, criadas no captiveiro. Foram submettidas a um regimen alimentício de uma solução aquosa de extracto de carne de Maggi (do de tubos de gelatina) e de agua. í Não obtive postura alguma de ovos. As tres ultimas femeas alcançaram relativamente as seguintes idades: 25 dias, 29 dias, e 34 dias (17 de novembro de 1903). Experiencias sobre o intervallo do tempo entre a ultima ração de sangue, (provavel ou observada directamente) e a data da postura dos ovos. ( Resumo extrahido das annota- ções). Caso, 1º [experiencia da 4 dias Caso 2ºÁ » da) 4 dias. Caso 23. » 3) 4 dias. Caso “4º ( » aa 4 dias. Caso. 54 >» ta e 3 dias. | Caso 6.º ( » E) E 3 dias. | Casa tao » AE pe 3 dias. Caso 8º » 8.º) 4 dias. Caso 9º » 9.º) 4 dias. Caso Io.º ( » I0.º) 4 dias. Casbsrr2d » EE) 4 dias. Caso 12: 4 » 16.) 2 dias. Os- mosquitos no Pará 169 Nesta serie. de 12' casos o- maximo é de 4 dias (8 vezes), o minimo de 2 dias (1 vez). A média arithmetica é perto de 3, 5 dias = 84 horas (sendo este resultado quasi o mesmo que no caso da Stegomutia fasciata ). Experiencias sobre a sobrevivencia das femeas de CULEX FATIGANS qo acto da postura dos ovos. ( Resumo ). CPO petue epi a to cr ads RD CR q rçe ego OU adias RR LDO gt o Morto dias: Raso A: o dia. Casos”. o dia. Caso .6. o dia. Caso. 7.º. o dia. N'estes 8 casos o maximo de duração é de 2 !/, dias (1 caso); ha 1 caso ainda de 2 dias — ha porém 6 casos (80º) de morte das respectivas femeas nas horas immedia- tus depois do parto. Não ha duvida, que isto constitue a regra e norma na especie Culex fatigans. Experiencia sobre o intervallo de tempo que levam as novas larvas para sahirem dos ovos recem-postos. (Resumo ). CasoN 3 dias. Caso N.º 2 TQãa: Caso N.º 3 2 dias. Caso N.º 4 I dia. Caso N.º 5 a dias, Caso N.º 6 nI So dtas Caso Nº» 2 dias. Caso Nº 8 2 dias. N'esta serie de 8 observações o maximo é de 3 dias (1 vez), o minimo de 1 dia (2 vezes). 4 media arithme- 7—( Bol. do Mus. Geeldi), ' 170 Os mosquitos no Pará tica é perto de 1,8 dias isto é, approximativamente 43 ho- ras. (visivelmente muito menos do que no caso dos ovos de Stegomyia fasciata ). Experiencia sobre a duração da vida no captiveiro de- baixo da influencia da alimentação artificial. (| Resumo ). Extrahi os seguintes dados das minhas notas, rela- tivas a femeas e machos de Culex fatigans, submettidos ao regimen de mel ou de extracto de carne diluido: (*) Femeas: I.º casó 25 dias [extracto de caraçi 2.º caso 29 dias (1d.:) 3.º caso 34 dias (id.) 4.º caso 34 dias (mel) 5.º caso 42 dias (1d.) 6.º caso 43 dias (1d.) 7.º caso 52 dias (1d.) 8.º caso 56 dias (1d.) Machos: P CABO, pias ts Mp porra QUE DR UI 2º-CASO : tp) ade A a ER 3 easo-s Ai O PR Experiencias sobre a duração do cyclo inteiro desde a data da postura dos ovos até á sahida das imagens (mosqui- tos alados ). Sendo de especial interesse os casos de duração mi- nima, tenho a declarar que observei um caso de 10 dias completos e diversos outros entre 10 e I4 dias. (*) Para as femeas deixei de tomar em consideração aqui os valo- res inferiores a 25 dias, e para os machos até todos inferiores a 50 dias. fi Os mosquitos no Pará [71 RESUMO DOS PRINCIPAES RESULTADOS do acervo de experiencias enumeradas e organisadas em vista do questionario retro I) O mel constitue mm optimo alimento sob o ponto de vista da longevidade do individuo no captiveiro, prolongando a existencia dos mosquitos em questão de um modo extraordinario. Vigora isto tanto em relação á femea, como em relação ao macho, sendo que individuos de ambos os sexos, sobretudo os do sexo masculino o requestam com visivel avidez. II) O sangue é um alimento que, quando hau- rido de picadas produzidas na superficie do corpo de ver- tebrados superiores, é com insistencia e avidez procurado pelas femeas, agradando apparentemente ao seu paladar, porém prejudicial á duração da vida do individuo, porque a encurta, por motivos que adiante exponho. Sangue esva- siado de outro modo, embora fresco, é regeitado ou rece- bido com indifferença, não só pelos machos, como pelas proprias femeas. II) O sangue haurido é um alimento que favo- rece e accelera a postura dos ovos, produzindo na orga- nisação reproductora da femea certeira, energica e imme- diata reacção, perceptível desde a primeira ração. IV) O mel, pelo contrario, tem, com referencia à ovulação, um effeito retardatario e interruptor, no maximo neutro. O mesmo effeito exercem os liquidos assucarados e os alimentos vegetaes. V) “Temos assim na mão com as femeas de cer- tos mosquitos no captiveiro, um modo infallivel de pro- longar-lhes, ao nosso arbitrio, a vida, supprimindo a ovu- lação, durante longo prazo de tempo, recorrendo á ali- mentação com mel, — ou de provocar prompta postura de ovos, escolhendo a alimentação com sangue. VI) Isto é tão verdadeiro, que a faculdade de depositar ovos fecundos (em femeas previamente fecun- dadas) de Stegompia fasciata, poude ser conservada latente durante 23 dias, -- 26 dias, — 48 dias, — 75 dias, — I02 dias, fazendo-a explodir, por assim dizer, ao nosso bel liz Os mosquitos no Pará prazer, na primeira occasião da mudança do regimen ali- mentar de mel para o de sangue. ( Circumstancia esta que não deixa de ser interessante ainda debaixo do ponto de vista physiologico da extraordinaria vitalidade do sperma depositado no receptaculum seminis ). VII) Em outras palavras: O MEL é alimento van- tajoso ao INDIVIDUO, prolongando-lhe a vida, não merece porém a mesma qualificação sob o ponto de vista da ESPECIE, visto que exerce effeito retardativo sobre a funcção reprodu- ctiva da femea. O SANGUE é, por outro lado, alimento prejudicial ao INDIVIDUO, porque lhe encurta a vida, optimo porém em re- lação ú. ESPECIE, porque favorece a funcção reproductiva. VIII) “Temos o direito de chamar o sangue como postulado necessamo e indispensavel para a postura de ovos ferteis e opinamos que, pelas experiencias acima, ficou, pela primeira vez, experimental — e material provado e de liquidado, o que até aqui era acceito como supposição hypothetica. (*) IX) Femeas não fecundadas de Stegomyia e cria- das no captiveiro em estricto isolamento individual, ac- ceitam facilmente sangue. Não representa portanto a co- (*) Nuttall e Shipley, no seu importante trabalho sobre a biologia do Anopheles, dizem no fim de seu capitulo « Oviposition >», pag. 65-67, acerca das experiencias de Ross, Annett, Austen (1900) e de Grassi e Ross (1901), e Annett, Dutton e Elliot (1901): «Im the above experiments the mosquitoes as a rule appear to have only had the choice beticeen the banana and blood. The fact that the insects did not propagate on banana and did on blood does not proove the blood is a condition sine quanon. Before we can reach such a conclusion we must know more about the food which these insects may seek in nature and on this point we have very little information. That the insects, at any rate in limited num- bers, frequently have access to blood is of course clear from the mere fact that they are necessary for the distribution of malarial and certain filarial parasites. But this às no scientific proove of blood beeing necessary to the propagation of the insects. We certainly need exact and further studies upon the natural food of the Culicidae ). Nós podemos todavia responder, que 1) os ditos Culicidios não põem com alimentação de banana, mas põem com sangue; 2) não põem com assncar e xarope, mas põem com sangue ; 3) não põem com mel, mas põem com sangue, etc., etc.; a « con- ditio sine qua non» para a postura de ovos ferteis, cresce na proporção do augmento numerico da serie de substancias experimentadas, sempre com +65 Os mosquitos no Pará 1173 pula sexual, o factor preliminar necessario, para a queda das femeas ao exercicio da haemaphilia. (**) Mas resulta tambem por outro lado das nossas ex- periencias, que não se póde considerar o sangue como verdadeiro alimento normal das femeas dos Culicidios haematophagos, como opinava Grassi (***) pelo menos em resultado negativo, decrescendo por outro lado, na marcha inversa, cada vez o valor do argumento contrario. Ora, não é nada mais do que intuitivo e logico, que se em 1, 2, 3, 4.... n casos, organisados sempre conforme um e o mesmo methodo, o resultado é negativo, ao passo que em n! outros casos, tambem seguindo um e o mesmo systema, o resultado é infallivel- mente positivo, a admissão da « conditio sine qua non » já não é mais cousa que a gente possa recusar: o nexo causal é manifesto de mais. Nuttall e Shipley, se até agora não julgaram producentes as provas antes existentes, não dirão o mesmo depois destas minhas experiancias. O methodo estrictamente scientiífico d'estas, combinado sempre com ensaios simultaneos de coteyo obedecendo a um plano ewidadosamente pre- meditado nos pormenores, levará os valorosos autores a aceitar as vistas aqui desenvolvidas e a considerar o problema como resolvido. Quanto ao processo da postura dos ovos nos mosquitos dizem Nuttall e Shipley, no mesmo capitulo ( pag. 65) que delle não houve ainda teste- munha ocular, com uma unica excepção ( Kerchbaumer). Eu posso asseve- rar, que desde a publicação de meu trabalho anterior (conf. pag. 25 ) não sómente assisti ao acto diversas vezes em femeas de Stegomyia, Culex, Taeniorhynchus, Panoplites, Ianthinosoma, mas que até d'elle conseguimos tirar vistas photographicas. Tratarei deste processo opportunamente. De especial interesse e importancia é ainda o caso descripto na Experiencia 11.º (pag. 147), onde uma femea de Stegomyia apanhada em liberdade entre 10 e 15 de novembro de 1903 e submettida ao regimen de mel, poz ovos ferteis ainda no dia 29 de novembro — depois de um inter- vallo de 14 a 19 dias. Para um investigador não muito escrupuloso seria uma forte tenta- ção, de por ahi architectar um castello de hypothese, de que não é preciso o sangue para a postura de ovos, que o mel faz o mesmo serviço, Para mim porém, é apenas um aviso, de quanta cautela é preciso na apreciação das circumstancias exteriores antes de tirar conclusões: não vejo, como já disse [ pag. 147 ], n'este extranho acontecimento senão a influencia embora tardia de alguma ração modica de sangue, haurida pelo mosquito quando ainda em liberdade. Seja como fôr, fica um phenomeno isolado e curioso este, que m'uma femea de Stegomyia o effeito do sangue levasse um prazo minimo de 15 dias antes de se manifestar sobre a ovulação. (*) Foi, ao que parece, Ficalbi quem primeiramente pronunciou a hypothese da dependencia da haemaphilia de uma copula sexual anterior. Conf. Grassi, « Malaria » pag. 77. (**) «Malaria» pag. 104 — Nutall e Shipley loc. cit. 70, citam da edição italiana o trecho seguinte: «In breve si puo dire che alle femine Eq degli Anofeli la dieta vegetale non basta e il sangue é indispensabile »., ia di E f 174 Os mosquitos no Pará relação ao Anopheles. Sangue constitue no caso da Ste- gompia fasciata e do Culex fatigans, e será tambem no caso do Anopheles, o viatico, e por assim dizer, o explo- sivo da ovulação. ( Poder-se-ia concordar com o modo de ver de Grassi sómente no sentido de que a postura dos ovos, o deixar prole e descendencia, representa a suprema funcção vital, a principal e mais importante vocação pro- fissional para a femea dos mosquitos, como aliás para as femeas dos insectos em geral. Debaixo d'este ponto de vista o sangue, como favorecendo a postura, poder- se-ia finalmente chamar de alimento «normal » e « regu- lar. ») X) Tães femeas não fecundadas de Stegompia, podem chegar a pôr ovos; estes ovos, porém, não são fer- teis, não fornecem larvas. ( Pseudo-parthenogenese ). XI) A pestura sendo completa, a femea, tanto de Stegomyia como de Culex fatigans, morre nos dias imme- diatos, a maior parte das vezes, até em acto continuo. Costuma porém sobreviver a femea nos casos de posturas incompletas e fraccionadas, até que a somma dos ovos das posturas parciaes tenha attingido approximativamente ao numero, que se póde taxar de proprio e característico para cada especie. XII) Para que se produza o effeito de uma pos- tura completa de ovos é preciso que a femea de Stego- myia tenha tomado diversas rações de sangue em dias successivos, no minimo 2 a 3. Não consegui obter um resultado igualmente deci- sivo sobre este ponto em relação ao Culex fatigans. XIII) O intervallo de tempo respectivamente, entre a primeira / Stegompia |, ultima / Culex fatigans|] ração de sangue e a postura de ovos foi determinado para a Ste- gomyia fasciata como sendo na média 3,7 dias = 90 4 ho- ras, e para o Culex fatigans 3,5 dias = 84 horas. XIV) O intervallo de tempo entre a postura dos ovos e o primeiro apparecimento de novas larvas foi achado para a Stegomyia fasciata como sendo na média 4, 5 dias; = 108 horas, para o Culex fatigans sómente 1,8 dias == 43 horas. Os mosquitos no Pará 175 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAES Caracter e indole da Stegomyia Fasciata. — Se ha, como é bastante provavel, sempre certa especie de mosquito per- seguindo de preferencia tal ou tal animal, creio não ha entre os Culicideos casta alguma que se tenha adaptado de modo igual e tão completa e exclusivamente á perse- guição do homem, na zona tropical, como a Stegomyia fasciata. “No littoral atlantico sulamericano ella agarra-se aos calcanhares do homem, por toda a parte onde este tente reunir-se em agrupamento, condensando-se as habitações em cidades um tanto maiores. E forçoso admittir que lhe serve de vehiculo o desenvolvimento da navegação a va- por, pois só assim chega-se a comprehender a sua ho- dierna distribuição geographica nos seus pormenores. Uma indicação valiosa fornece n'este sentido, por exemplo, a maneira como a sStegomyia conquista pouco a pouco o valle amazonico, desviando-se por excepção da direcção do littoral e internando-se, em sentido perpendicular aos con- tornos da costa, em longinquas regiões do interior, do sertão: Tomou pé e acampamento em Manáos, capital do visinho Estado do Amazonas, cidade, como é sabido, de moderno aspecto e rapido crescimento, a 1600 kilome- tros do Pará. Ora, porque a Stegomyia não se faz sentir, como soube por informações in loco obtidas, de pessoas fide- dignas, em Santarém, Faro, Monte Alegre e Obidos, ci- dades todas bastante menos distantes? Devo suppôr que é principalmente porque são ainda pequenas demais, não querendo eu contestar, que ainda possa haver outros fa- ctores secundarios locaes que auxiliem talvez a produzir semelhante resultado negativo. Por outro lado estou ple- namente convencido, de que uma investigação cabal acerca da data em que a febre amarella principiou a tomar as- sento em Manáos como molestia endemica, por um lado, e uma pesquiza historica, acerca do incremento da nave- gação a vapor, com ponto final em Manáos (dislocado E a há & É ] 176 Os mosquitos no Pará hoje já consideravelmente além, para Iquitos) (*) por ou- tro lado, viria mostrar intima e significativa relação entre | os dois factos. ] O grande rio-mar, com a sua direcção quasi parallela | ao equador, navegavel para navios transatlanticos de alto | bordo, e com as suas condições climatericas optimas jus- tamente para este mosquito eminentemente tropical, devia ser um excellente vector na marcha conquistadora da Stegomyia. Podemos assim encarar a Stegomyia como sendo na realidade um novissimo flagello, uma peste que, qual má estrella, accompanha como inimigo occulto, na região littoral neotropica, duas das mais legitimas aspirações humanas, dous dos elementos mais poderosos nas obras de progresso e civilisação — a formação e manutenção de grandes cidades, desenvolvidas por uma activa navegação a vapor. No Pará a Stegompyia é, como já disse alhures ulti- mamente, frequentissima, a ponto de tornar insupportavel a existencia em certas partes da cidade, principalmente para gente, que pelos seus deveres profissionaes se acha acorrentada á mesa de trabalho. São as horas calidas do dia, as em que ellas mais sanguinarias e insistentes se mos- tram. Basta ligeiramente suar no pescoço, nas orelhas, no rosto, nas mãos: ella nos perseguirá com as suas pica- das com uma tenacidade e crueldade, de que não encon- tro outro exemplo facilmente. Que a crescente insistencia nas perseguições por parte das femeas de Stegompia acompanha de facto e corre parallelamente á crescente transpiração de nosso corpo, é uma coisa que cedo im- pressionará o observador attento. E que a secreção do nosso suor tem evidentemente um papel assaz significativo na vida d'este mosquito, (*) Ainda durante a impressão d'estas provas os jornaes daqui, em Belém, trazem a noticia telegraphica de ter-se manifestado em Iquitos o « vómito negro », victimando por ora principalmente crianças. E | Os mosquitos no Pará 17 Os proprios machos de Stegomyia mostram-se aggres- sivos durante estas horas, (*) perseguindo-nos em qual- quer parte descoberta do corpo em transpiração: elles vêm haurir o suor, e se não chegam a picar, certamente não será tanto por falta de vontade, mas pela conforma- ção não sufficientemente robusta do apparelho buccal. Nunca eu pude observar pessoalmente, nem qualquer um dos meus collegas, um macho de Stegomyia picar e chupar sangue, — embora que haja autores (**) que de quando em vez fazem declarações affirmativas; tambem ainda não encontrei macho com abdomen dilatado por sangue e deixando ver este liquido por transparencia. Mas por outro lado sei por multipla experiencia que os machos assentam tambem n'estas occasiões, e não me posso libertar da impressão de que elles conseguem pelo menos produzir uma certa commixão e irritação local, que só potencialmente differe da dolorosa sensação produzida pela picada da femea. Não chegam a perfurar a epiderme, mas chegam a irrital-a e não me surprehenderia, se estu- dos histologicos mais minnuciosos revelassem um dia, que o apparelho venenifero não ficasse em desenvolvimento muito aquém do attingido no sexo feminino. (***) A sen- sação desagradavel produzida pelos machos da Stegompia (*) E facto de observação diaria, que a região occipital da cabeça principalmente, e tambem as mãos de pessoas que estão recolhidas, ves- tidas, em rêde ou cama durante as horas calidas para, aqui na cidade, descançar ou por se acharem indispostas, são assediadas por uma nuvem de talvez 10 a 15 Stegomyras, na sua maioria machos, em incessantes evo- luções serpentinas. (**) Ficalbi conf Theobald, Vol. I pag. 71, Mc Kay conf. Theo- bald, Vol. I, pag. 293. (**) Recentes investigações minuciosas feitas por Nuttall e Shipley, loe. cit. pag. 186 seg., acerca da anatomia do Anopheles maculipennis en- sinam que o effeito venenoso e imflammatorio da picada é directamente devido á saliva das glandulas salivares, sitas no thorax, saliva expellida por um canal subtilissimo no hypopharynx. Carece portanto de rectificação o que se disse no trabalho anterior pag. 7, acerca da .existencia de uma pe- quena glandula venenifera na extremidade da tromba. A tumefacção lá exis- tente, formada pelos dous « labellae », de feitio espatular, não entra em acção senão como secundario factor mechanico. 8-( Bol. do Mus. Geeldi). 178 Os mosquitos no Pará é ainda augmentada pelo truculento zumbido, proferido em fina voz de descanto. E eis-me outra vez nas pegadas das considerações fei- tas nas pag. 32 seg. do meu primeiro trabalho sobre « Os Mosquitos do Pará». Lá mostrei, qual era, ao meu ver, o caminho phylogenetico percorrido pela haemaphilia dos Cu- lcidios. Apontei para o serum sanguineo de escoriações, a humidade no canto dos olhos, e semelhantes secreções, tão avidamente procuradas por uma turba de Dipteros minusculos. Claro é que o suor faz parte dos mesmos productos. E eis a Stegompia fasciata que vem corroborar ainda uma vez o acerto d'esta explicação: apegando-se esta especie ao homem, primitivamente ambos os sexos tributavam-lhe o suor. Ao passo que as femeas progrediam até a perfuração halútual da epidermide, tornando-se chupa- doras profissionaes de sangue humano, os machos conservam-se na phase anterior, historicamente mais antiga de lambedores de suor, e semelhantes secreções do corpo humano. Quando e onde ha muitas Stegomyias, nota-se que os machos, por vezes reunidos em turbas de 15, 20 e mais, visiveis de um golpe de vista, costumam observar por um lado um tal ou qual espirito corporativo, quanto aos seus similares, um certo antagonismo apparente quanto ás femeas por outro lado. Manifesta-se este na circumstan- cia de, por exemplo, agglomerarem-se os machos a tal canto de uma meza com o seu encerado, tapete, etc, quando as femeas circulam pelo quarto, ou de se postarem em tal região da parte ascendente de um mosquiteiro, ao passo que as femeas voam por baixo da cama ou fazem re- conhecimento voando pelas visinhanças. São atalaias, pon- tos salientes de vigia e de observação, de onde os machos se atiram contra qualquer femea que lhes venha transpôr a area de dominio. Em geral pode-se dizer que a Stegomyia é um mos- quito singularmente photophilo: o alegre zumbido, que tanto os machos como as femeas deixam ouvir, dançando. animadamente em enxames, quando o sol da tarde dá moderadamente na sua gaioia, depõe tambem neste sentido o Os mosquitos no Pará lí Quanto ao som produzido pelo vôo da Stegompyia fasciata, não me consta pela litteratura, que ensaios te- - nham sido feitos de determinal-o de modo scientificamente exacto. Fiz uma tentativa n'este sentido, auxiliado por dous collegas do Museu, versados em assumptos de mu- sica. Para este fim servimo-nos dos inquilinos das duas caixas de deposito, contendo uma sómente individuos do sexo masculino, outra sómente femeas. Escolheu-se uma * hora durante a tarde, expondo as gaiolas aos raios bran- - dos do sol de um dia meio encoberto. Utilisamos uma cithara e um diapasão, de conhecido numero de vibrações. Achamos o som da femea correspondente ao do dó ESSE ao passo que o do macho corresponde ao día “do lá Os dous sons estão entre si na relação de uma sexta; o « do macho corresponde a 880 vibrações, o c da femea a 480 vibrações. Tanto n'um, como n'outro caso tivemos a impressão de que ao lado do som principal ouvem-se, de — guando em vez, simultaneamente as respectivas oitavas, “de maneira que o timbre parecia encoberto pelos compe- * tentes sons concomitantes («Obertône» da linguagem technico-acustica allemã). Evidentemente exercem certo effeito sobre altura e “timbre do som o estado de maior ou menor dilatação do abdomen com alimento e quem sabe até o effeito psychico o da influencia da suggestão mutua. Não deixa de ser interessante a semelhança n'este “nosso resnltado obtido em referencia á Stegompia com o de Nuttall e Shipley acerca do Anopheles maculipennis (« Structure and biology of Anopheles », Journal ot Hy- giene, Vol. II, N.º 1, jaú. 1902, Cambridge, pag. 78 seg.). (Coincide o tom dos machos, com 880 vibrações; para femeas mais ou menos vasias comtudo o som pa- Tecia-lhes mover-se ao redor de c inferior (dó grave) com g 240 vibrações, portanto uma oitava mais baixo ). 180 Os mosquitos no Pará Em relação á copula sexmal da Stegompia, que parece ter sido ainda muito pouco observada a julgar pelas pau- perrimas indicações na litteratura e que só muito recen- temente foi tratada por um antor residente na ilha da Trindade, conforme se vê pelo Vol. III da Monographia de Theobald (1903, pag. 143) a vimos milhares de vezes e a vêmos todos os dias, sem que todavia nos fosse po- sivel descrevel-a de modo plenamente satisfactorio nos seus menores detalhes. O processo nos seus contornos geraes é este: um macho precipita-se da sua atalaia so- bre uma femea, que se approxima vôando, une-se a ella pelo lado inferior, e deixa-se por ella levar num vôo lento e pesado durante uns poucos segundos (2 ou 3 so- mente), depois separam-se de novo. E obra de um mo- mento, e surprehende realmente a ligeireza com que este acto se consumma e a facilidade, com que os dous nubentes se safam do amplexo sexual. A scena é um vivo contraste com o que se vê por exemplo na mosca domestica e ou- tros Dipteros, e tão fugaz, que difficilmente a gente conse- gue dar conta, e todas as tentativas que até agora fize- mos de fixar um casal no acto da copula por um meio subito de morte, abortaram invariavelmente, a menos que a gente não recorra ao meio extremo do achatamento e esmagamento entre as duas mãos, o que naturalmente não fornece um resultado aproveitavel para o reconheci- mento do situs. Por outro lado, a Stegompia precisa de tão pouco espaço para o seu vôo nupcial, que este se póde operar sem difficuldade até dentro das estreitas di- mensões de um boccal ou de uma gaiola de criação,— facto este que facilita consideravelmente a fecundação de femeas criadas no captiveiro e com isto a criação desta especie de mosquito durante gerações consecutivas. Tanto quanto é possivel julgar sem marcação previa dos individuos por qualquer signal especial, parecia-nos que o mesmo macho executava diversas copulas em ra- pida successão com diversas femeas que se approximavam. Todo o processo da copula da Stegompia tem, como se vê, muita semelhança com aquelles que esbocei para o Culeae fatigans em publicação anterior (pag. 34, 35). Se aqui nestas bacchanaes não chegam a formar-se aquellas E o] Os mosquitos no Pará 181 duas nuvens distinctas, dançando no ar, constituidas, uma por machos só, outras por femeas só, todavia fica de pé certa tendencia separatista, certo antagonismo local, ao qual alludi acima. Tambem no Culex fatigans a copula dura sómente obra de nm momento. Mas quer me pare- cer que o Culex fatigans assim mesmo precisa de mais espaço para o seu vôo nupcial, faz maiores exigencias do que a Stegompyia, não se realisando a fecundação no capti- veiro com a mesma facilidade e quasi certeza mathema- tica como no caso d'aquella. Tenho a impressão que, em geral, o Culex fatigans, comporta-se de modo mais rebelde, obstinado, teimoso, refractario á domesticação e comprehensão: significativa prova d'isto julgo poder perceber na circumstancia singu- lar, que em caso algum consegui fazer, no captiveiro, chupar sangue um unico individuo sequer d'esta especie de mosquito, nem entre os apanhados no estado de liber- dade, nem entre os criados no captiveiro. Reputo-o de um grão de intelligencia decididamente inferior à Stegompia fasciata. E se vou bem acertado com o meu sentimento natural, de que, da mesma maneira como nos outros in- sectos haematophagos, tal especie de Culicideo acha-se principalmente relacionado com certa e determinada espe- cie de vertebrado-hospede, sinto-me induzido a dizer que tenho o Culex fatigans por um mosquito primitivamente adjudicado menos á especie humana, com especialidade, do que a certos animaes domesticos e entre estes, minha suspeição aponta principalmente para os inquilinos dos nossos gallinheiros. E não seria possivel que na sensivel diversidade intellectual entre Culex fatigans e Stegomupa fasciata reflectisse ainda a primitiva diversidade entre os seus respectivos hospedes? Estou certo, e ninguem me contestará, que é preciso ser mosquito mais experto, para perseguir o homem, do que para perseguir gallinha, ou gato ou cão que seja. E não estão aqui os ratos e mor- ganhos domesticos e, entre os insectos, as odientas baratas a provar, de quanto vale o effeito da convivencia diaria 182 Os mosquitos no Pará com o « homo sapiens » no sentido do desenvolvimento e do refinamento intellectuaes? Seja como fôr, não ha que duvidar, de que tanto a Stegomyia fasciata, como o Culex fatigans, são dous Cu- licidios hoje, que, intrusos malignos, pertencem á baga- gem, ao inventario dos parasitas, pestes e flagellos ani- maes que se apegam ao calcanhar do homem na zona lttoral neotropica! (*) Pouco ou nada foi ventilada até hoje a questão da origem e proveniencia da Stegomyia fasciata. Não hesito em confessar que julgo-a de origem africana. E baseio-me principalmente n'uma consideração critica da actual dis- tribuição geographica do genero Stegomyia. Tanto quanto se póde julgar pela Monographia de Theobald, é mm genero natural, composto todo de espe- cies que, no seu aspecto rajado de preto e branco, pos- suem um traço característico, que á primeira vista logo tráe affinidade e parentesco. Na dita obra, com o seu re- centissimo tomo supplementar (III), encontro como cor- respondendo ao actual estado scientífico um total de 21 especies. Destas nada menos de 11 especies (mais da me- tade) são indigenas da Africa (Serra Leôa, Nigeria, Sene- gambia, Nubia, Mashonalandia ): S. fasciata, S. sugens, S. nigeria, S. africana, S. grantii, S. marshallii, S. argen- teopunctata, S. minuta, S. irritans, S. nigricephala, S. al- bocephala. (*) Até que ponto os mosquitos podem tornar-se um flagello em certas regiões, cita-nos Felix Lynch Arribalzaga, conceituado dipterologista argentino o seguinte edificante trecho: « En los climas húmedos y cálidos, son un verdadero azote, hasta el punto de hacer casi inhabitables ciertas comarcas; según Spix y Martius, en las márgenes del Amazonas, del Ori- noco y del Yapure, hacen tan dolorosa la existencia de los pobres indige- nas que, las delicias de la vida futura anunciadas por los misioneros, se las imaginan como el término de las penalidades á que los sujetan los abun- dantisimos mosquitos de esas regiones». ( Dipterologia Argentina, 1901, pag. 24). — Aliás é de suppôr que aqui entram em consideração mosquitos de outros generos como Anopheles, Panoplites, Taeniorhynchus, etc. Dq Os mosquitos no Pará 183 A' Asia pertencem: Stegomyia scutellaris, S. pseudo- taeniata, S. gubernatoris, S. crassipes, S. pipersalata, S. ni- “vea — 6 especies ao todo, (não incluindo a ubiquistica Steg. fasciata) menos do que !/y do total. A' Australia cabe a St. motoscripta (não incluindo outra vez a infallivel St. fasciata ). Do continente americano, de Norte a Sul, Theobald enumera ainda S. signifer, Columbia (E. U.), S. terrens (habitat incerto), S. sexlineata (Trindade), transparecendo comtudo duvidas acerca da posição systematica pelo me- nos em relação ás duas primeiras. À especie de mais avantajadas dimensões parece ser a St. grantii da ilha de Sokotora ( Africa oriental). Ora, não fazemos outra cousa senão empregar uma regra fundamental de investigação biclogica moderna, se procuramos pelo menos quanto ao conjuncto organico actual, patria e ponto de disseminação e irradiação de fórmas pertencentes a um e mesmo grupo natural de plantas on de animaes, lá onde convergem os fios do maximum numerico de especies e onde encontramos fór- mas as maiores e as mais vigorosas. Debaixo d'este duplo “aspecto do quesito é a Africa que, obedecendo a um exor- cismo de uma formula scientifica, surge diante dos nossos olhos como origem e patria provavel de todo o genero Stegomyia, e portanto tambem da malefica Stegomia fas- cata. E porque não seria assim? Que argumento serio e inderrocavel poderia ser opposto a esta hypothese? A Stegomyia fasciata nos terá vindo da costa d'Africa bem cedo, talvez já nos tempos coloniaes, em navios de vela. Ella nos terá vindo, pelo mesmo caminho, pelo qual tantos ento — e ecto-parasitas humanos e vectores de doenças celebraram a sua entrada no Brazil (haja vista ao «bicho do pé», á filaria, etc.) — ella representa ao meu ver mais um — e não o menos importante — d'estes presentes fataes e lamentaveis, que vieram na bagagem do trafico de escravos africanos. Seria uma tarefa tão grata como interessante e me- ritoria, para um escriptor medico, do paiz, lançar uma vez um arrolamento d'este funesto inventario de molestias que o continente negro nos legou! 184 Os mosquitos no Pará À Stegomyia encetou a sua circumnavegação em na- vios de véla, nos bons tempos idos; hoje ella já viaja em vapor e em estrada de ferro. Aprendeu — aperfeiçoou-se, — modernisou-se. Embora o genero Culex tenha os seus emissarios em todas as zonas e todas as partes do mundo, sendo por isto bastante mais complicado o problema de precisar o seu centro de dispersão, tenho motivos para acreditar que justamente no caso do Culer fatigans as cousas não se passaram de modo muito diverso do da Stegompia fasciata. Os mappas de distribuição geographica, organisados para ambos por Theobald (Stegomyia: Vol. pag. 292; Cu- lex fatigans: Vol. II, pag. 155) mostram uma surprehen- dente concordancia. O Culex fatigans é aqui como por toda a parte, o fiel vassalo e companheiro inseparavel da felina Stegomyra fusciata : encarrega-se de submetter ao supplicio o homem e os seus animaes domésticos durante a noite, quando as creaturas precisavam do repouso restaurador, depois que a outra os assediava sem tregua, com revoltante cynismo durante todo o dia. Quando o estudo das molestias tiver um dia alcançado no futuro um grau mais elevado de perfeição, virá — estou prevendo isto nitidamente — a hora em que a obra collectiva d'estes dous intrusos será reco- nhecida e avaliada devidamente em todo o seu alcance malefico e visto será, se tenho ou não razão dizendo — que á sua influencia collectiva deve ser attribuida uma das principaes causas da anemia tropical, além do qui- nhão de molestias graves, de que cada um d'estes dous Culicideos se faz portador de monopolio e transmissor plenipotenciario. Muitas vezes tenho occasião de observar, tanto na especie Stegomyia fasciata, como na especie Culex fatigans, ao lado de individuos de estatura normal, individuos muto Os mosquitos no Pará 185 menores, verdadeiros anões. Esta observação póde-se fazer em especimens apanhados em liberdade, como em criados no captiveiro, sendo que n'esta ultima conjunctura o caso se repete com consideravel frequencia. Nascem por vezes individuos não sómente do sexo masculino, como até fe- meas, de dimensões tão mirradas, que com facilidade se safam atravez da téla de arame de malhas ainda bastante mais estreitas que a tal «tela de Grassi», que hoje se produz em larga escala na Italia com vistas á prophyla- xia contra o Anopheles e a malaria (Grassi mesmo re- commendou tela, da qual coubessem não menos de 9 malhas sobre 1 1/, «m de distancia o que corresponde a pe- quenos quadrados lineares de 1,7 "m. de lado. (Grassi, Ma- laria, pag. 206, Est. VII). O Governo Estadoal do Pará importou, para ensaios, com o mesmo nome, da Italia, uma téla onde cabem só- mente 6 malhas Caldo LH, = de extensão linear, o quê corresponde a quadrados a 2 "e de lado. Refiro- me so- bretudo a esta ultima marca, que julgo sufficiente, por via de regra, para impedir a invasão de mosquitos de fóra para dentro, na applicação a hospitaes, que reconheci po- rém insufficientes como revestimento parietal das minhas gaiolas destinadas a experiencias sobre mosquitos como a Stegomyia fasciata e Culex fatigans, etc. no captiveiro. Em geral os phenomenos da macrosomia e da mi- crosomia entre plantas e animaes estão relacionados, em primeira linha, com a nutrição mais ou menos abundante e não creio que a mencionada raça anã de Stegomyias e de Culex se explique de modo diverso do que por uma alimentação parca e um desenvolvimento demorado du- rante a phase larval. N'este sentido disponho até de pro- vas experimentaes: larvas criadas em agua limpa, isto é, relativamente pobre em substancias assimilaveis, fornecem imagines de pequena estatura. Trata-se entretanto de sa- ber se não me engano com a minha opinião de que a fre- quencia de individuos da raça anã, apanhados em liber- dade, augmenta em certos periodos singularmente, as- sumindo caracter de uma regra. Ainda este anno, nas ultimas semanas de outubro e novembro, antes de entrar 9—( Bol. do Mus. Gesldi) 186 Os mosquitos no Pará francamente a estação chuvosa, ganhei a impressão de que as femeas de raça miuda fossem particularmente nu- merosas. Desconfio que isto não é obra de mero accaso: é bem possivel que a frequencia de individuos de raça anã, normalmente possivel durante todo o anno, seja perio- dica e represente um caso, algo empallidecido, d'aquillo que se chama « Dimorphismo das estações » na entomologia. Theo- ricamente não póde haver serio obstaculo para acceitar o argumento de que no auge da estação secca, com a cres- cente falta de agua, as condições de existencia para as larvas tornam-se mais difficeis, favorecendo assim uma geração de mosquitos de estatura abaixo da media. Agua minguada e alimentação reduzida podem, realmente, como acima vimos, obrigar a larva a gastar o dobro e o triplo do tempo normalmente preciso para adquirir o cresci- mento necessario para a sua metamorphose. Tenho o sen- timento de que a hibernação, no sentido como este termo é acceito na litteratura zoologica, ( passagem de uma fórma animal de uma época apropriada para a sua existencia atravez de um periodo inclemente e improprio, graças a uma reducção mais ou menos consideravel da energia das funcções physiologicas, até á volta de outra época benigna e propicia) póde muito bem, para Culicíidios eminente- mente tropicaes e equatoriaes, encontrar a sua expressão na dupla facies: 1) desenvolvimento demorado das lar- vas; 2) estatura pequena, anã das imagines. Aliás seria ingenuo pensar-se para o clima do Pará ou do Rio de Janeiro, por exemplo, n'uma repetição de hibernação pro- priamente dita, como esta se manifesta em estreita adapta- ção ao inverno nevoso e glacial na latitude da Europa central e septentrional. Mas ha para a hibernação dos climas frios um equivalente e « pendant > meridional e tropical: é o phenomeno da lethargia estival, semelhante nos seus effeitos physiologicos. Será, aqui no caso ver- | tente, questão de mero gosto o emprego de um termo ou de outro, visto o seu caracter complementar e repre- sentativo. O que é bastante plausivel é que, mesmo de- baixo do clima tropical, a successão das gerações de mos- quitos durante o anno não seja um « motu-continuo >, de actos e intervallos mathematicamente iguaes e equivalen- e e e as ii R R o Os mosquitos no Pará 187 tes; forçosamente haverá épocas de energia vital dimi- nuida, revezando com épocas de actividade mais accen- * tuada. Ninguem irá ao ponto de attribuir-nos a supposição, para uma cidade littoral, sita entre o Pará até o Rio e Santos, da existencia de um tempo de absoluto armisticio pela impossibilidade climaterica do desenvolvimento de larvas de Stegomyia: larvas ha e haverá durante todo o anno. Mas que a curva d'este desenvolvimento, uma vez que o estado da sciencia n'este paiz permitta a tentativa de proceder-se á representação graphica, mostrará seus altos e seus baixos, trazendo uns e outros uma certa periodicidade, coincidindo esta por sua vez com o cyclo de estações quentes e chuvosas por um lado, e frias e sec- cas por outro lado, d'isto estou plenamente convencido e investigações pacientes e amorosas sobre a biologia dos nossos mosquitos em liberdade não de trazer a confirma- ção cabal. Taes pesquizas revestiriam naturalmente ainda particular importancia em vista do parallelismo na perio- dicidade da febre amarella. Seria erronea a opinião de que estes individuos da raça anã de Stegomyia fossem talvez menos aggressivos e sanguinarios que os de estatura normal. Comportam-se em tudo igualmente; as suas picadas não são menos do- lorosas, como tive occasião de verificar. Longe tambem de estar sufficientemente esclarecida é a questão da proporção numerica entre os dous sexos. Prestei alguma attenção a este problema, mas o que posso adduzir até agora, não é senão uma mui modesta contri- buição á sua solução. Em agosto de 1903 retirei de uma fossa, de banheiro, grande quantidade de larvas de Culex fatigans, que ali se criaram e contei-as. Desenvolveram-se 63 femeas e 77 machos, havendo assim um ligeiro excesso de individuos do sexo masculino. De uma consideravel criação de Stegomyia fasciata, installada em novembro de 1903, sairam até esta data 188 Os mosquitos no Pará (7 de janeiro de 1904): 50 femeas e 56 machos, dando-se novamente um pequeno excesso a favor dos machos. Em diversos outros casos ainda de criação de espe- cies de mosquitos sylvestres pareciame ás vezes haver mais machos, em outros mais femeas, geralmente porém estabeleceu-se um quasi equilibrio numerico no fim da serie. E cheguei a concluir: maior a serie — melhor o equilibrio. Concórdo assim: Coml NHL Shipley, que dizem: «The proportion of males to females has always appeared to us to be fairly equal and we have counted the sexes on several occasions ». (Loc. cit. pag. 68). Em relação á questão, se ha proterandria ou protero- gyma ou saida simultanea das imagines de ambos os se- xos, certas observações minhas fazem-me, por vezes, 1n- clinar a aceitar a opinião de Rees ( Nuttall É Shipley, loc. cit, pag. 68) que escreveu: « When mosquitoes are bred in captivity, the males, as a rule, hatch 'ontalEsEa Pelo menos lembro-me de occasiões onde, em criações de Culeo fatigans, Trichoprosopon mivipes, Limatus Durhama, etc, a predominancia dos machos entre as primeiras ima- gines que saíam chegou a impressionar-me e fazer-me crer existir uma tendencia para a proterandria. (*) N'uma criação de larvas de data igual e perfeita igualdade das outras condições de existencia, isto é, achau- do-se reunidas no mesmo boccal, a experiencia pratica ensina a conhecer em muitos casos o sexo já no estado larval. As larvas, que fornecerão imagines do sexo femi- nino, distinguem-se depressa pelo seu tamanho e calibre, E o na dianteira, no seu desenvolvimento. Canil (*) Howard (Notes on the mosquitoes of the United States 1900), pag. 26, refere-se a experiencias com ulex pungens (fatigans) nos se- guintes termos: « The individuals emerging on the first day were invariably males, On the second day the great majority were males, but there were also a few females. The preponderance of males continued to hold for three days; later the females were in majority ». Os mosquitos no Pará 189 lismo e parricidio estão na ordem do dia, mesmo entre as larvas saidas dos ovos de uma e mesma postura. As experiencias relativas á longevidade das imagines de outros mosquitos indigenas, além da Stegompia fasciata e do Culer fatigans, não deram, no laboratorio, de longe resultados tão favoraveis. E” que sómente estes dous são ver- dadeiramente domesticos aqui; à maioria dos outros são CAM- PESTRES e SYLVESTRES, entre os quaes sómente alguns vêm frequentar as habitações humanas para picar. As pri- meiras duas especies vivem, por assim dizer, dentro; todo o resto vive lá fóra, nascendo e morrendo ao ar livre. Julgo dever procurar a explicação da relativa fragilidade das imagines do grosso dos mosquitos campestres e syl- vestres, surprehendente justamente nos generos gigantes- cos como Megarhinus, Sabethes, etc., pela falta de ar e hu- midade, que forçosamente interfere como obstaculo á con- servação no laboratorio. Condições de existencia de todo iguaes e identicas a essas que existem na natureza, claro é que quasi não ha possibilidade de as crear e offerecer no captiveiro. Relativamente rijos achei ainda o Culex confirmatus e o Culex serratus, mas dentro do prazo de uma para duas semanas morre por via de regra quasi tudo. Encontro no meu caderno de notas, como facto excepcional, o caso de uma femea de Taeniorhynchus Arribalzagae que morreu com 38 dias de captiveiro, (tendo fornecido uma postura de 38 ovos no dia anterior). O Trichoprosopon mivipes aguenta às vezes; o Dr. Lutz refere casos de ter conservado indi- viduos durante 2 mezes (« Waldmosquitos », pag. 289). — No trabalho extenso conto tratar d'este assumpto, dando pormenores sobre as minhas experiencias. Um caso, que demonstra ao mesmo tempo a rela- tiva facilidade com a qual uma praga póde ser dissemi- nada de um continente para outro e a incrivel resisten- 190 Os mosquitos no Pará cia que a Stegomyia fasciata põe em campo, quando se trata de vencer condições e circumstancias desfavoraveis da vida nos conta o Dr. F. V. Theobald, no recente volume supplementar da Monographia sobre os Culicidios (III, pag. 143 seg.): Recebeu o eminente especialista ovos de Stegomyia, enviados de Cuba pelo Dr. Finlay, n'um tubo de vidro em estado secco. Lá permaneceram uns 2 mezes no mesmo estado secco, na Inglaterra. Movido pela cu- riosidade o Snr. Theobald, resolveu uni dia fazer um en- saio de criação com agua tepida n'uma estufa. Qual não foi a sua surpreza, vendo sahir as larvas em 24 horas! A maioria viveu até 10 dias, 6 alcançaram a phase de pupa depois de 3 semanas. Sahiram 1 femea de apparen- cia normal, e 5 machos. Como se vê pelo questionario acina, entrou a ques- tão, se havia dilferenças quanto á proveniencia e quali- dade do sangue, isto é, se havia talvez um sangue pre- ferido por um lado, ou um sangue optimo sob o ponto de vista da ovulação, por outro. Quanto á Stegompyia fasciata nunca me pude furtar à convicção de que o sangue humano não é sómente preferido ao sangue de cobaya, mas tambem mais efficaz e substancial sob o ponto de vista de ovulação. Sangue de um reptil, um saurio, lagarto ( Tropidurus torquatus), com o qual experimentei, não quizeram acceitar. EF um assumpto que ainda está longe de estar suf- ficientemente estudado. Grassi (« Malaria », pag. 105) opi- nava, no caso do Anopheles, que sem haver vertebrados de sangue quente propriamente preferidos todavia os maiores eram mais perseguidos do que os menores, — portanto mera preferencia de tamanho. Durante o anno passado surgiram de repente na Fo) imprensa (*) noticias muito elogiativas sobre o maravi- lhoso effeito de uma especie de planta do genero Ocymum, (*) Vide « Prometheus » (Berlim) Vol. XIV, 1903, N.º 721, pag. 721 seg. « Die Mosquito-Pflanze und ihre Verwandten » von C. Sterne. Os mosquitos no Pará 19% O. viride para afugentar os mosquitos na Nigeria ( Africa ). Ora nós possuimos no Brazil um representante d'este ge- nero no conhecidissimo « mangericão», O. minimum, mi- mosa herva em forma de arbusto anão, bemquisto pela facilidade com que péga, como pelo seu adave aroma. Fizemos experiencias n'este Museu e nas residencias par- ticulares; mas de effeito benefico contra a Stegompia e o Culex fatigans — nem sombra. Aliás outro resultado não esperavamos. | Quasi ao mesmo tempo um boato semelhante circu- lava, attribuindo virtudes de impedir a approximação dos mosquitos ao nosso mamoeiro (Carica papaya ), (**) conforme observações feitas na China. Tambem a repeti- ção d'esta experiencia forneceu-nos resultados negativos, quanto à Stegompia. A Stegompa fasciata pica de noite? Eis ahi uma questão, que me intrigou bastante e, se hoje respondo affirmativamente, confesso que tive de vencer o meu pro- prio scepticismo e custou um esforço, não pequeno, de reunir as provas sufficientes para afastar as minhas du- vidas. A resposta não era tão facil como parece á pri- meira vista, pois tratava-se de saber se a Stegompia, de motu proprio, picava, em estado de liberdade, durante a noite. Hoje estou de posse do conhecimento de mais ou menos 2 a 3 duzias de casos observados em mim e por mim, casos estes todos perfeitamente averiguados, porque o referido mosquito, apanhado em flagrante, foi cada vez examinado e identificado por mim pessoalmente. ( Digo isto, porque da circumstancia de uma identificação scien- tifica depende a competencia para intervir na discussão. Este é um terreno onde sómente poderá discutir com vantagem, quem realmente dispuzer de observações pes- soaes). Dous ou tres d'estes casos deram-se no Rio de (*) Vide « Prometheus » (Berlim) 1903, N.º 723, pag. 751. « Die Tugenden des Melonenbaumes ». 192 Os mosquitos no Pará Janeiro, na Ladeira do Ascurra, na subida para o Corco- vado, durante os mezes de novembro de 1902 a março de 1903; os outros todos aqui no Pará, no Museu e nas suas dependencias. O ultimo ainda se deu, ha bem pou- cos dias, na residencia do nosso collega, Dr. Jacques Hu- ber, Cie da secção botanica. Aqui no Pará todos elles deram-se mais “ou menos da mesma maneira: escrevendo eu, — entre 8 e 11 horas da noite — na sala da minha residencia, ou no meu ga- binete no Museu, com luz electrica e de janellas abertas, apanhei os mosquitos que vieram sentar nas minhas mãos, picando e chupando sangue. Geralmente os que vêm n'estas horas, entrando com certeza de fóra, pela janella, são o Taeniorhynchus fasciolatus e o Panoplites ti-' tillans. Mas de vez em quando, não sem cada vez consti- tuir para mim assumpto de certa surpreza, lá apresenta-se tambem uma femea de Stegomyia fasciata. No Rio de Ja- neiro as picadas nocturnas de Stegomyia por mim pes- soalmente observadas deram-se no gabinete da bibliotheca, andar inferior, iluminado a gaz, nas mesmas horas; o aposento era forrado de papel escuro, (sempre notei de dia, que eu era relativamente mais perseguido pelo mos- quito rajado n'aquelle local do que em outra parte). Bem depressa consegui descobrir que de facto, nas molduras escuras dos armarios, em cima, por baixo e por detraz d'estes eram os esconderijos predilectos de bom numero de Stegomyias). Que as femeas de Stegomyia presas no captiveiro, acceitavam facilmente sangue de noite, eu sa- bia por experiencias; pensava, porém, que isto talvez sómente se desse como anomalia de laboratorio. A femea de Stegomyia, em liberdade, pica de noite, (*) mas concordo com esta sentença sómente com uma dupla (*) No recente volume supplementar da Monographia de Theobald, encontro ( pag. 142) um trecho de uma carta, na qual um Dr. Low refe- re-se ás suas impressões sobre o mosquito Stegomyia na ilha da Trindade : Mg as. leão and again, as Gray says, bites all night as well ». Na ilha da Trindade a Stegomyia se comportaria de modo diverso? Emquanto não tiver averiguações mais aprofundadas a este respeito, sou tentado a suppôr que na expressão acima se introduzisse talvez uma certa generalisação precipitada. Os mosquitos no Pará 193 restricção: 1) não é a regra, é uma excepção e até bas- tante rara, pois sobre 100 que picam de dia espontanea- - mente talvez uma sómente faça o mesmo de noite; 2) picam sómente com luz, — não picam na escuridão com- pleta. A fraca luz de uma lamparina n'um quarto de dor- mir talvez já seja sufficiente. Para mim —- isto não enfraquece de modo algum a nossa affirmação anterior, que a Stegomiya fasciata é um mosquito essencialmente diurno. A fome poderá levar al- guma femea, trasmalhada, que durante o dia não tivesse tido occasião de arranjar a sua ração de sangue, a pro- longar a sua caça até horas adiantadas, sobretudo quando estimulada, favorecida e guiada por um fóco luminoso num quarto. Ora, ha no povo quem diga, que para se livrar das perseguições de mosquitos mum quarto, não é preciso mais do que apagar a luz. Este conselho popular, — se elle não allude simplesmente ao facto de que o organismo são, cansado da labutação do dia, mais facilmente cahirá no somno num quarto oscuro, parece que visa a Stego- mypa fasciata, pois em relação ao Culex fatigans, ao Ano- pheles, etc. garanto que não se verificará a promettida efficacia. Mas ha ainda uma possibilidade: quem sabe se estas femeas de Stegomyia, caçando sangue em extemporaneas horas nocturnas, não são ellas mesmas victimas de uma anomalia, e não estão agindo debaixo de um qualquer impulso morbido, talvez constrangidas por um para- sita? E quem sabe se por ahi não se esconde qualquer relação secreta com a natureza do causador da febre ama- rella ? Ha duas cousas bastante importantes para ficar a gente pensativa: 1) uma é a positiva raridade de casos suficientemente averiguados de picadas expontaneas no- cturnas de Stegomyia; 2) a tão fallada circumstancia da immunidade dos «diarics de Petropolis », no Rio de Ja- neiro. Haveria ainda entre estas duas cousas um myste- rioso nexo causal? Mas esta pergunta abre um novo ho- 10—( Bol. do Mus. Geeldi). a Tê. Das dá 194 Os mosquitos no Pará rizonte tão complexo de considerandos e argumentos, que despertam em mim a resolução de fazer disto antes o assumpto de um ulterior artigo especial. E, finalisando, volto ainda um momento a encarar as consequencias que sob o ponto de vista sanitario resul- tam do acervo das minhas recentes experiencias sobre certos problemas em controversia, da biologia dos nossos principaes mosquitos domesticos. Imagine-se uma femea de Stegomyia, que no porto de uma das nossas cidades littoraes, onde a febre amarella ficou endemica, ganha, em estado de liberdade e previa- mente fecundada, como por via de regra sempre aconte- cerá á vista das nossas experiencias, — um vapor anco- rado, que carregue por exemplo assucar nos seus porões. Lá introduz-se o mosquito femea, que embora que fechem o porão, com o melado que destilla dos saccos (que se acham n'aquelle estado e aspecto inolvidavel para quem jamais atravessou os quarteirões commerciaes de Pernam- buco, Maceió, Bahia e outros portos nortistas) se sustenta e vive perfeitamente. Supponhamos o caso extremo, que aliás não se dará facilmente, que o respectivo vapor, fa- zendo-se ao largo, leve 75, 100 dias mesmo, sempre nave- gando em mares da zona tropical, antes de chegar ao porto de destino, em outro continente, seja da Africa, da Asia, do Norte da Australia. Abre-se o porão, sahe o mosquito, tem occasião de picar e chupar sangue. E não ficou experimentalmente provado por nós que tal Stego- myia femea ainda póde estar perfeitamente habilitada a pôr os seus ovos, fecundos mesmo, depois de tão extra- ordinario lapso de tempo, disseminando assim a especie em terras longinquas, talvez antes por ella não habitadas? Não demostramos acima, de modo inconcusso, a capacidade da Stegomyia, de prolongar. por um lado, a sua existencia individual com tal alimentação quasi illimitadamente, para por outro lado sacrifical-a logo na primeira occasião, nas aras do interesse da especie, pela primeira ração de san- gue? — E não abre esta capacidade até ampla margem, di RE E ss niddo! Os mosquitos no Pará 195 para substituir na argumentação acima o rapido meio de transporte a vapor, de hoje, pelo vagaroso, caprichoso, in- certo e incommensuravel transporte em navio de vela dos tempos antigos? Que objecção de algum valor contra a minha explicação acerca da origem e proveniencia afri- cana da Stegomyia fasciata pelo trafico de escravos pode- rão ainda levantar e que ficticia barricada de argumentos contrarios accumularão ainda ante a vista intellectual para a não comprehensão do significativo phenomeno real e facticio da moderna entrada d'este mosquito em Manáos, a 1300 kilometros (linha do ar) da foz do Amazonas, ser- vindo-lhe de vehiculo o crescente incremento da navegação a Vapor? Poderia haver quem coifcordando commigo nos meus considerandos até aqui, todavia retrucasse, que no caso imaginario acima desenvolvido, não fosse envolvida, como consequencia logicamente necessaria, a faculdade da femea de Stegomyiu em questão de servir de transmissor da febre amarella de um porto para outro, allegando, que ficaria primeiramente a provar ainda experimentalmente a capa- cidade da Stegomyia-femea, de conservar latente, durante tão dilatado periodo de tempo, a virulencia do germen a inocular no acto da picada. Confesso, que quem assim falla, põe o dedo em cima de um ponto fraco e dolorido do nosso actual estado de saber acerca da propria natureza do germen da febre amarella, segredo que continúa até este momento tran- cado com sete chaves e sigillos, apezar dos heroicos e im- mensos esforços recentes de uma brilhante phalange de valentes investigadores. Comtudo não será para sempre refractaria á vara magica da sciencia e do espirito inves- tigador da humanidade este segredo. Symptomas ha que permittem prever que o grande momento onde a myste- riosa fechadura saltará já não está muito longe; certos estalos perceptiveis nos ultimos tempos ao ouvido do auscultador, são um presagio disso. de assim devemos justiça á replica do nosso inter- locutor, podemos por outro lado, continuando na discus- são do imaginario caso acima formulado, fazer valer o direito que por equidade nos assista, de reclamar pezo e 196 Os mosquitos no Pará medida igual. Vimos, que uma femea de Stegomyia fez-se expressão da longevidade extraordinaria e quasi infinita do individuo, para no momento dado submetter-se aos interesses da especie de mosquito. Ora, não seria supposi- ção fóra do alcance da possibilidade admittindo que, quer no mesmo vapor ou navio de véla, quer em diversas via- gens, fizessem simultaneamente sua travessia, fóra do po- rão, outras femeas de Stegompyia, encarregando-se estas especialmente da missão de inocular na tripulação e nos passageiros o germen amarillico e de perpetuar a especie da molestia. Semelhante divisão de trabalho, principio fun- damental da» hodierna economia social, bem assentaria a este modernista mosquito, qual o é a Stegompyia. Aliás essa divisão de funcções sobre diversos individuos da mesma estirpe é no caso entre Stegomyia e febre amarella tão imprescindivel, como no caso entre Anopheles e ma- laria e um dos pontos cardeaes para uma elucidação bem succedida d'estes importantes problemas é, ao meu vêr, o de nunca perder de vista que elles, qual busto de Janus, tem sempre um duplo rosto: frente, mosquito—homem ; dorso, homem —mosquito ( conforme minha brochura ante- rior sobre os Mosquitos no Pará, pag. 38). Nem toda a femea de Stegompia é vector de febre amarella; é preciso que ella mesma seja previamente infeccionada. Ora, feliz- mente para nós nem todas são de facto infeccionadas, embora que a todas seja inherente a capacidade theo- rica de selo. Mas lá vem a mysteriosa interferencia da natureza, que manda esta femea de Stegomyia ser boa mãe, ao passo que instiga aquella outra a ser ze- losa transmissora de um morbo mortifero ao genero hu- mano! - Poderia haver quem fizesse a objecção que a pérpe- tuidade da especie para a Stegomyia só pareceria efficaz- mente garantida, n'um caso como o acima imaginado, quando pelo menos um casal conseguisse realisar a tra- vessia. Mas tal argumento não procede á vista das mi- nhas experiencias (1, caixa À, pag. 141 seg.), que mostram a quasi infinita vitalidade do sperma no receptaculum se- minis da femea, isto é, a longa efficacia de fecundações anteriores. E aliás viamos tambem, que os machos da ” a ba Os mosquitos no Pará 197 Stegomyia não ficam muito atraz das femeas em longevi- dade, tendo sido observado um, que após 72 dias de capti- * veiro ainda fugiu (Exp. 19, pag. 153). lEnse ve, que o caso da Arca de Noé póde achar a sua repetição, em relação á tigrina Stegomia fasciata, em nossos dias, frequentes vezes por qualquer vapor ou na- vio de véla! Entre as conclusões praticas a tirar do ponto de vista sanitario, creio dever apontar principalmente para as seguintes: I) Às nossas experiencias demonstram nitidamente que, realizada a viagem, convem dissolver o convivio dos passageiros quanto antes, — que não se deve prolongar este convivio, são portanto contrarias ao antiquario uso das quarentenas; 2) estas mesmas experiencias demonstram que as quarentenas seriam com vantagem substituídas por fre- quentes e radicaes desinfecções (*) com reactivos efficazes (dioxido de enxofre, etc.), interessando os porões; 3) vapores, navegando, com especialidade e regu- larmente entre portos sitos na zona tropical e pretendendo obedecer nos seus arranjos internos ás indicações hygie- nicas modernas contra os perigos acarretados pelos mos- quitos transmissores de molestias, deveriam ter como dor- mitorios para a tripulação e os passageiros, accommoda- ções providas com tela protectora, systema « Grassi ». BELÉM DO PARÁ, Dezembro, 1903 — Janeiro, 1904. (*) Conf. Nuttall and Shipley « Journal of Hygiene », Vol. II., 1, (Jan. 1902), pag. 83. 198 Aves Brasilicas II As Aves Brasilicas mencionadas e descriptas nas obras de Spix (1825), de Wied (1830-1833), Burmeister (1854) e Pelzeln (1874) na sua nomenclatura scientifica actual. CHAVE SYNONYMICA organisada pelo DR. G. HAGMANN Ninguem, dos que se occupam da determinação scien- tifica das aves, aqui no Brazil, com os seus proprios re- cursos intellectuaes e litterarios e que não fogem de apro- fundar a historia da nomenclatura, consegue libertar-se da quasi diaria necessidade da consulta das obras antigas, sobre esta parte da historia natural, de Spix, do Principe de Wied, de Burmeister e de Pelzeln. O que valem os serviços d'esta brilhante phalange de naturalistas allemães e austriacos em prol da explora- ção scientifica d'este paiz, deixei sufficientemente discri- minado no meu livrinho sobre « Os Mammiferos do Bra- zil», pag. 31--34. Cada um d'elles tem os seus serviços especiaes como pionneiro na sua fé de officio e nem a mais negra ingratidão conseguiria apagar os seus nomes da bronzea placa de honra, onde estão gravados os de quantos contribuiram para os alicerces de nosso saber da historia natural patria. Portanto, quando um dia puder ser escripta uma historia da civilisação indigena, cercando a pia baptismal, as fadas faustas e benevolas da liberdade, da justiça, da equidade e da piedade e sendo bannido da communhão dos sensatos o monstro de veneniferos olhos verdes do nativismo xenophago — devem ser apontados à juventude como dignos do preito de benemerencia e de veneração. Ninguem de nós, acabo de dizer, consegue libertar-se da consulta diaria dos escriptos d'estes antigos collegas, desde o momento que se trate de um serviço ornitholo- o ú Aves Brasihecas 199 gico zeloso e em regra. Mas tambem nenhum de nós haverá que não gemesse de vez em quando, no silencio do gabinete, do penoso e desageitado manuseamento d'es- tes livros, sobresahindo antes de tudo como difficuldade primordial a completa ausencia de um mero, rapido e com- modo, para saber qual o nome scientifico actualmente adoptado para esta ou aquella ave, por via de regra, navegando com passaportes differentes nas diversas obras. E que a no- menclatura technica é comparavel a um « trottoir roulant », com os seus diversos planos de crescente velocidade a cada um. Os representantes da antiga encontram-se no circulo interior, onde o movimento é tão lento, que aos outros parece — antes parada completa. Nós, os modernos, esta- mos embarcados na peripheria, no ultimo plano de fóra, onde o movimento attinge a sua maior celeridade. E lá temos de estar, porque assim o quer a moda — pois in- felizmente até na sciencia ha disto — e ninguem nos per- gunta se aquelle vertiginoso andar é de nosso gosto e agrado, ou não. Francamente dito, ha vezes em que o nosso sentimento pessoal e individual contrasta com a tenden- cia d'aquelles dos nossos companheiros de tempo, que cada vez mais accelerada querem ver esta marcha e, não raro, nos invade a alma uma vaga saudade dos tempos em que não se conhecia ainda semelhante corrida frene- tica e o cidadão se entregava a meios de locomoção mais pacíficos e graves — ás « old mail-coaches », (diligencias ) como, com bastante humor, ultimamente definia a situa- ção um meu collega e amigo na Inglaterra, uma autori- dade universalmente reconhecida, sobretudo em ornithologia neo-tropica, n'uma explosão de nostalgia igual á nossa. Já uma vez tivemos occasião de lembrar a memoravel sen- tença de Schopenhauer: « Nem toda a mudança é progres- so!» Muito seria para desejar que os jovens obreiros nas sciencias naturaes descriptivas se compenetrassem d'esta profunda verdade e a inscrevessem como divisa no seu pro- gramma de trabalho. Aliás reconheço que não é aqui o logar opportuno para ventilar semelhante ponto doutrinario relativa á no- menclatura technologica em zoologia systematica. Deixei- 200 Aves Brasilicas me arrebatar por um impulso de descontentamento e de protesto contra uma certa mania abusiva, muito em voga n'estes ultimos tempos, de querer abolir tudo que ha feito anteriormente, quando no fundo aqui n'estas linhas nada mais pretendia senão explicar a origem, intento, vantagens, utilidade e feitura das listas que seguem. Partindo do ponto de vista de que a totalidade dos interessados em ornithologia neo-tropica em geral, e brazi- lica em especial, com satisfacção receberiam uma chave synonymica para as supracitadas obras, offerecendo-lhes na fórma condensada de umas poucas paginas os meios para uma solução instantanea sobre a questão, qual a denominação actual de, por exemplo, tal « rapineiro » na obra de Spix, tal «pica-pão» na de Burmeister, tal «beja-flor» na obra de Pelzeln, tivemos simultaneamente em mira as nossas proprias experiencias de museu durante um decen- nio. E animando o nosso colleya Dr. G. Hagmann para semelhante trabalho, o nosso auxiliar metteu mãos á obra e fez um serviço, o qual é equitativo que entre pelo vehiculo da publicidade para a circulação scientifica afim de que outros tambem possam auferir das vantagens e commodidades. Utilissimo será o presente trabalho ainda para aquelles que possuirem o meu livro « Aves do Bra- zil», porque n'ellas occupam saliente logar como mate- riaes de construcção as obras de Burmeister e de Pelzeln — Natterer e nem sempre me foi possivel, por occasião da redacção de dar a synonymia moderna, como seria dese- javel em caso de uma eventual segunda edição. Como codigo basico de nomenclatura moderna foi adoptado uniformemente o « Catalogo das Aves do Museu Britannico de Londres» (27 volumes) e não a recente « Handlist of Birds», do mesmo Museu, obra ainda em via de publicação e da qual sairam até agora 4 volumes. A serie de semelhantes trabalhos está destinada a tornar-se inquestionavelmente um codice e auxilio valioso para o amigo da natureza indigena. Aves Brasilicas 201 N. B. Nas listas que seguem empregam-se diversos signaes convencionaes, cuja significação resulta da se- guinte sypnose: I) Na ausencia absoluta de uma conje- ctura de qual a ave que o autor tinha em mira com tal ou tal nome por elle empregado, encontra-se na rubrica dos Synonymos o signal 2!. II) Quando a ave não foi reco- nhecida, empregou-se o signal 2. III) Qnando o autor a extrahir menciona uma ave debaixo de diversas designa- ções, de maneira que se fique duvidoso qual dos nomes hodiernos deve ser considerado propriamente como syno- nymo (synonymo equivalente), reune-se as respectivas es- pecies debaixo de uma chave e emprega-se o ideogramma: ? (antes do nome). ? (antes do nome) IV) O caso mormal da identidade satisfacioriamente constatada com simultanea igualdade de momes representa-se na columna da synonymia com o signal ==. V) Certa especie, una no autor, ficou posteriormente dividida em duas ou diversas. Acha este caso a sua expressão graphica, collo- cando-se a palavra « partim » (part.) por traz de cada um dos respectivos nomes novos. VI) Dando-se o inverso, que certas especies do autor, foram posteriormente reunidas, reunem-se as primeiras com uma chave, collocando-se o nome moderno equivalente na columna dos synonymos. VII) No Catalogo do Museu Britannico, o autor em ques- tão é mencionado com «?». N'esta eventualidade usou-se do recurso, de collocar por traz do mome actualmente acceito, o mesmo signal «?». DR” E. As GOELDI. SELÉM DO PARÁ, Março, 1904. 11—( Bol. do Mus. Goeldi), LO SPIX, J. B. — Avium species 1817 — 20 per Monachii. 1824. Aves Brasilicas novae quas in itinere annis Brasiliam collegit et descripsit. Spix FALCONES: v.1 pag. 1—19. Cathartes papa aura BUFF. ruticollis CATESBY. Polyborus vulgaris VIEILL. Aquila urubutinga picta milvoides buson LATH. Cymindes leucopygus Harpyia braccata ornata LEVAILL. Astur cachinnans brachypterus TEMm. Gymnops fasciatus strigilatus aterrimus TEMM. aquilinus LATH. Milvago ochrocephalus Falco plumbeus LATH. cayennensis Bidens rufiventer albiventer cinerascens sparverius BUFF. dominicensis BUFF. aurantius LATH. Falco insectivorus magnirostris BUFF. » » » » » » » » » Cat. Mus. Brit. Catharistes atratus | Oenops aura Poliyborws tharus | | Urubitinga zonwura Busurellus migricolhis Heterospiias meridionalis ' Rosthramus leucopygus Spizactus tyrannus mawduyto Herpetotheres cachinnans » Micrastur semitorquatus - Ibycter fascratus | chimachima ater americanus chimachima Tetima plumbea Leptodon cayennensis | | Harpagus bidentatus 2 ! Cerchneis dominicensis Falco albigularis Asturina magnirostris » natterera Spix f e Falco femoralis TEMM. » xanthothorax TEMM. » nitidus LATH. STRIGES: V. I. pag. 20 — 24. Strix longirostris » I[lammea » grallaria 'TEMM. » crucigera » undulata » albomarginata PSITTACI: V. I. pag. 25 — 47. * Arara hyacinthinis >» — purpureo-dorsalis » — macrognathos » —macao VaAIIL. » —aracanga VAIIL. » —ararauna VaAILL. E severus VAILL. » —makawuana LATH. “Aratinga carolinse augusta » haemorrhous é» chrysocephalus E. luteussive guarouba > xanthopterus SR acutirostris » aurifrons » cyanogularis » flaviventer » caixana ninus perlatus fasciatus Aves Brasilicas 203 Cat. Mus. Brit. Harpagus diodom Micrastur ruficollas 2? Asturina mitida Asio mexicanus 2 Speotyto cumicularia | Scops brasilianus Syrniwum huhuleum Cyanopsittacus spixi Ara maracana » nobilis » chloroptera » macao ? » severa >» macavuanna Comurus guarouba » haemorrhows >» gendaya > solstitialis Brotogerys chirira » tirica Conurus auricapillas Pyrrhura cruenta Conurus cactorum Pyrrhura lewcotis » perlata » viltata RE + faia 204 Spix Aratinga melanurus » nobilis sive guia- nensis LATH. » aureus L. » pertinax LATH. » virescens LATH. Psittaculus passerinus » xanthopterygus » gregarius » tui BuFF. Psittacus xanthops » columbinus » malachitaceus » pumilo » maitaca » flavirostris » senilis » diadema » pulverulentus LATH. » accipitrinus » festivus LATH. » aestivus LATH. » amazonicus LATH. > barrabandi VAILL. » menstruus BuFF. » purpureus LATH. » melanocephalus Anodorhynchus maximiliani CUCULI: V. I. pag. 47 — 55. Trogon pavoninus » aurantius » castaneus » — sulphureus Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. Pyrrhura melanura Conurus leucophthalmus » aureus | » pertinar Brotogerys virescens | Psittacula passerina? J Psittacula passerina (part. ) 2 | Brotogerys chiriri (part.) ? | Psittacula passerina Brotogerys tui Chrysotis xanthops » vinacea Triclaria cyanogaster Pachynus brachyurus Pionopsittacus pilealus Pionus mazximiliana | » —senilis Chrysotis diademata » fe arinosa Deroptyus accipitrinus Chrysotis festiva | » qestiva | » amazonica | Pionopsittacus barrabandi - Pionus menstruus | » fuscus Caica melanocephala * Anodorhynchus hyacinthinus Pharomacrus pavoninus “Trogon collaris » — meridionalis? Aves Brasilicas Spix Trogon variegatus » curucui vel strigila- Eus LATE. » violaceus LATH. » viridis LATH. » collaris VIEILL. Cyphos macrodactylus Bucco rubecula » rufus » —striatus » —nigrifrons » —albifrons sive leucops Macropus phasianellus » caixana Galbula albogularis > tombacea » tridactyla PICI: V. I. pag. 56 — 68. Picus robustus » albirostris » -—ecampestris » Jjumana » lineatus » flavescens » dominicanus » —ochraceus » flavicans » Ilavifrons » —macrocephalus » guttatus » rubrifrons » Icterocephalus » maculifrons 205 Cat. Mus. Brit. Trogon melanunrus | » viradas 2 = Bucco macrodactylus Nonnula rubecula Malacoptila rufa » torquata Monacha nigrifrons » morpheus Dromococeyax phastanellus. Praya melanogastra Brachygalba albigularis Jacamaraleyon tridactyla Campophilus robustus » melanolewcus Colaptes campestris Celeus jumana , Ceophloeus lineatus Celeus flavescens Melanerpes candidus Celeus ochraceus ” . - Crocomorphus flavius Melanerpes flavifrons Chloronerpes chrysochlorus Chrysoptilus guttatus Melanerpes rubrifrons A . |6—Chloronerpes erypthropsis o » Havigula Dendrobates maculifrons Y 206 "Aves Brasilicas Spix Picus ruficeps PICAE: V. I. pag. 63— 69. Coracina ornata Prionites martii Cassicus bifasciatus » angustifrons » nigerrimus Icterus minor » sulcirostris » — tanagrinus » — fringillarius » — chrysocephalns » citrinus TURDI: Turdus flavipes >» — taliventer » — albiventer » — albicollis » —orpheus Myothera ruficeps V. I. pag. 69) — 76. Cat. Mus. Brit. Dendrobates ruficeps Cephalopterus ornatus Urospatha martia Gymnostinops bifasciatus Ostinops angustifrous Amblycercus solitarius Molothrus bonariensis Aphobws chopr Lampropsar tanagrinus Molothrwus fringillariws Gymnomystar melanicterus Merula flavipes Turdus crotopexus Mimus lividus Formicarius colmua » leuconota | 2! » coraya Thryothorus gemibarbis Philydor superciliaris Philydor atricapillus >» albogularis * Automolus leucophthalmus » ruficollis | Philydor rufws Alauda ( Anthus) chii Anthus rufus » » breviunguis | 2 Dendroeca striata Figulus albogularis Furnarius albigularis CERTHIAE: V. I. pag. Ti — 82 Campylorhaynchus variegatus Thryophilus longirostris Campylorhynchus scolopaceus » striolatus. Spix “ Trochilus pygmaeus » 'brevicauda “Grypus ruficollis Colibri crispus » — hirundinaceus » — leucopygus » | albogularis » — helios » mystax DENDROCOLAPTES: V. I. pag. 82 — 90. “ Sphenura subulata Anabates striatus » cristatus » rufifrons “Synallaxis ruficauda “Parulus ruficeps ! Dendrocolaptes decumanus » falcirostris » platyrostris » bivittatus » wagleri' » ocellatus (guttatus) » tenuirostris » cuneatus E cayennensis BuFF. » guttatus LicHr. » turdinus LrcWr. » picus ua, - MIRUNDINES: V. II. pag. 1--3 Caprimulgus lon Mdátis >» rupestris Aves Brasilicas. 20% Cat. Mus. Brit. Pygmormis pygmacus. Calliphlor amethystina - Rhamphodon naevius - Petasophora serrirostris Prymnacantha langsdorffi 2 ' Leucochloris albicollis Lophornis magmificus » chalybaeus | Automolus subulatus Thripophaga striolata Homorus cristatus Phacelodomus rufifrons. Synallaxis cinnamomea » spray | Niphocolapts albicollis Dendrocolaptes preummus Picolaptes bivittatus » squamatus Dendrormis ocellatus » spixi Glyphorhiynchus cuneatus 2 Dendrornis ocellata 2? Dendrocincla turdina 2? Dendroplexr prcus Nuctibius longicaudatus Chordeiles ruprestris Spix Caprimulgus hirnndinaceus » leucopygus AMPELIDES e V. II. pag. 3— 7. Casmarhynchus ecarunculatus Ampelis carnifex Pipra cornuta » — coronata » —caudata >» Mlicauda » herbacea > * velata MUSCICAPAE: Todus melanocephalus » —cinereus Platyrhynchus xanthopygus » ruficauda » chrysoceps » sulphurescens » hirundinaceus » cinereus » filicauda > flaviventer » brevirostris » paganus > murinus Muscicapa longicauda > vetula > furcata » sulphurea » cinerascens » velata Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. Chordeiles acutipennis Nyctiprogne leucopygia Chasmorhynchus mudicollis Phoenicocereus migricollis Ceratopipra cornuta Pipra cyaneocapilla Chiroxiphia caudata Cirrhopipra filicauda Pipra cyaneocapilla Tyranmulus elatus Todirostrum cinereum » maculatium Myprobius barbatus Rhynchocyclus ruficauda Myrobrus naevius Rhynchocyclus sulphurescens Hirundinea bellicosa Mypichanes cinereus Copurus colonus “Capsiempis flaveola Phyllomayias brevirostris Elainea pagana Myopatis semifusca Cybernetes yetapa Muscipipra vetula Tyrannus melancholicus Myroxetetes sulphareus Lipaugus simples Taenioptera velata Aves Brasilicas 209 Spix Cat. Mus. Brit. — Muscicapa joazeiro Muchetornis rixosa à » — polyglotta Taemioptera nengeta RES ssimílis Myioxetetes similis » thamnophiloides Attila thumnophiloides » cinerea » — cinereus » galeata Cnipolegus nigerrimus » fulvicauda 2! » nivea | Taemioptera irupero » albiventer Fluvicola albiventris » dominicana dirundinicola lewcocephala » rufina Empidonomus varius » mystacea Fluvicola clhimacura LANII: v.impag.23—31 — Thamnophilus albiventer . Thammnophilus major ) » lineatus » palliatis » radiatus » capistratus » guttatus == » agilis E » affinis | 2! » strigilatus Ancistrops strigilatus » stellaris = » ruficollis Thamnophelus amaxonicus » albonotatus pve é o a | Thammnophilus lewconotus » leuconotus | 5 Hormicivora grisea E griseus 2 » rufatra á striatus Formicivora striata Ha gularis Myrmotherula gularas : 3 Hypocnemis myiotherina » myotherinus má y » leucophriys » melanogaster Myrmotherula melunogastra “ 42—(Bol. do Mus. Goeldi) 210 Aves Brasilicas Spix Cat. Mus. Brit. E: M FRINGILLAE: V. II pag. 31— 48. Pachyrhynchus variegatus Pachyrhamphus polvetrop- terus » cajanus | ? | » semifasciatus | Tityra semifasciata » cuvieri “ Pachyrhamphus viridis » niger | » miger » cinerascens | Hadrostomus atricapillus » rufescens Pachyrhamphus rufus Tanagra nigrogularis - Rhamphocoelus dc iação » saira Pyranga suira » viridis - Orthogonys viridis » penicillata Eucometis penicillata » brunnea Tachyphonus cristatus :4 » rufiventer » rufiventris » aurifrons | a > schrankii “Calliste sehranhi | » auricapilla | Trechothrawpis quadricolor 3 » ruficollis - Zonotricha pileata A » cristatella Coryphospingus pileatus » graminea - Calliste graminea Ea » capistrata - Scmistochlamys capistratus. » axillaris — Diucopis fasciata » ccelestis o » archiepiscopus Tanagra ornata » rubricollis Lamprotes loricatus » atricollis Saltator atricollis » superciliaris » superciliaris » psittacina “Pitylus fuliginosus. Loxia nasuta Oryzoborus torridus » —Jeucopterygia Spermophila lincata » —albogularis » albigularis + gnobilis | Ê ciittenrdlião » plebeja j Spix - Loxia brevirostris — Fringilla brasiliensis » campestris — GALLINAE: “Crax fasciolata A urumutum tomentosa blumenbachii globulosa rubrirostris -» tuberosa “Penelope jacquaçu —-» jacu-caca V. II. pag. 48-56. e: a » s » » Jacutinga » jacupeba jacupemba guttata aracuan “Columbina strepitans “2 campestris Evo cabocolo e griseola “PERDICES: vm Pe dix capueira > rufina Rhynchotus fasciatus. ezus serratus » zabelé yapura “niambu aamus boraquira "| COLUMBAE: vip ss. Aves Brasilicas | | E dg À Cat. Mus. Brit. Spermophila migroaurantia Sycalis flaveola Chrysomitris icterica É olhocrax wrumutum Mitua tomentosa Crax globicera ? Crax carunculata Mitua muitu Penelope boliviana ? Pipile gacutinga Penelope superciliaris Ortalis quttata >» aracuan Columbula picui Uropelia campestris Chamacpelia talpacoti so minuta Odontophorus capueira » guanensts Rhynchotus rufescens Tinamus solitarius Crypturus noctivagus » adspersus ? » tataupa Nothura boraquira 212 Spix Tinamus major » medius » minor | OTIDES: V. II. pag. 68 — 70. Psophia viridis » leucoptera IBIDES : V. II. pag. 68 — 70. Tantalus plumicollis Ibis nudifrons | » Oxycercis | » leucopygus ARDEAE: V. II. pag. “71-72. | Ciconia jaburu Ardea maguari | RALLI: V. II. pag. Rallus ardeoides Gallinula caesia » ruficeps > mangle » saracura » gigas TRINGAE: V. II. pag. 76—77. Tringa macroptera » — brevirostris CHARADRII: V. II. pag. 77. Charadrius crassirostris. | + Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. Nothura maculosa » media Tantalws loculator Phimosus infuscalus Cercibis oxycerca Eudocimus ruber Fuxenura maguari Ardea cocoi Aramus scolopaceus Limnopardalus migricans Aranmúdes chiricote » mangle » saracura » ypacaha Helodromas solitarius Ereunetes pusillus Ochthodromus avilsont a é E Podiceps carolinensis » dominicus o. + É. LARI: V. II. pag. 80-81. “Rhynchops cinerascens E, brevirostris Rs Sterna magnirostris * PELECANI: a nai achipetes aquila bo brasilianus | Sula brasiliensis ag E “ANSERES: : nser jubatus Anas paturi V. II. pag. 82-82. V. II. pag. 84— 85. "a Poti ão PP ri E a RR 1.5 2 de ado A EA id Lei aa : RR RA À Ns do o a BRR Aves Brasilicus - 213 Spix Cat. Mus. Brit. í Es y — FULICAE: V. IL pag. 78-19. Podilymbus podicipes Podicipes dominicus Rhynchops melamura : ; Phacthusa magnirostris Fregata aquilo Phalocrocorax vigua Sula sula Chenalopes qubatus Nettion brasiliense E RA DEAN O É: il O 0 214 Maximilian, Prinz zu Wied: Beitrige zur Naturge: schichte von Brasilien. III. Abteilg. Vógel Weimar 1830 — 33. Wied VULTURIDAE: V. III. pag. 55— 64. | Catharthes papa ILLIG. » foetens ILLIG. » aura IÍLLIG. FALCONIDAE: Aves Brasilicas | Cathartes papa - Catharistes atratus V. HI. pag. 69 — 224. Falco haliaeétus L. » —ornatus DAUD. » tyrannus » — guianensis DAUD. » —hemidactylus Temm. » —magnirostris L. » — pileatus » nisus L. » —sparverius L, » —aurantius LATH. » —tufifrons >» plumbeus L. » —bidentatus LaTH. » diodon TEMM. » —yetapa » — palliatus » —nudicollis DAvD. » —degener ILLIG. » — uncinatus IriIG. » — vitticaudus » —hamatus ILLIG. » — albifrons » brasiliensis L. * Spixaetus mauduyti 2 Morphnus guianensis * Geranospizias caçgrulescens ' Leptodon cayennensis | 2 Ibycter americana | | Leptodon uncinatus | Asturina natterera Cat. Mus. Brit. Oenops pernigra ? 2? Pandion haliaétus » tyrannus Accipiter pileatus » erythrocnemis Cerchneis cinnamomina 2 Falco albigularis Gampsonyx swainsom Tetinia plumbea Harpagus bidentatus, » diodon Elanoides furcatus » chimachima Rosthramus sociabilis Buteola brachyura Polyborus tharus o. ds tro ireinid si vês Brasilicas 215 Wied Cat. Mus. Brit. Falco urubitinga L. 2? Urubitinga xzonura >» skotopterus | » lacernulata » —striolatus TEMm. Asturina mitida » —busarellus Daup. 2? Busarellus magrcollis » rutilans LicHrT. 2 Heterospixias meridíonalis » palustris | Circus maculosus STRIGIDAE: v. rr. pag. 231286 Strix ferruginea Glaucidiwum ferox (rufous phase ) » — passerinoides Temm. » » (brown phase ) » — minutissima >» pumilum » cunicularia L. Speotyto cumicularia Bo perlata LicHr. Strio flamnea » pulsatrix | Syrnium perspicillatwm, » nacurutu VIEILA. ? Bubo magellanicus » maculata VIEILL. Ásio mexicanas » brasiliana L. Scops brasilianus CAPRIMULGIDAE: V. III. pag. 292387. Caprimulgus grandis L. Nyetibius grandis » aethereus >» acthereus » leucopterus >» leucopterus » guianensis L. Nyetidromus albicollis » diurnus Podager nacunda ; DEC SOR E | Chordeites acutipennas » brasilianus L. | | HIRUNDINIDAE: V. III. pag. 341 — 371. - Cypselus collaris Temm. Chaetura zonaris » pelasgius » pelagica » acutus » conererventris Hirundo chalybea L. Progne chalybea » pascuum » tapera 216 Aves Brasilicas Wied Hirundo leucoptera L. » iugularis » minuta > melanoleuca PIPRIDAÉE: v.Im. pas.s75—42>- Casmarynchos nudicollis Tem Procnias ventralis ILLIG. Ampelis cotinga L. » purpurea LrcHrT. » melanocephala Coracina scutata. Temm. Pipra longicauda VIEILL. » —pareola L, erythrocephala L,. » —leucocapilla L. » strigilata » —manacus L. TANGARIDAE: | V. III. pag, 438 — 545. Euphone violacea LrcHr. » musica » rufiventris Tanagra cyanomelas » — rubricollis Temm, » tatao L. » citrinella TEMm. » flava L. » - gyrola L. » cristata L. » brasiliensis L » — archiepiscopus DESsM. » savaca L. » — palmarum Cat. Mus. Brit. 2? Tachycineta albiventris Stelgidopterya ruficollis Atticora cyanoleuca >» melanoleuca Chasmorhynchus nudicollis Procmas tersa Cotinga cincta Xipholena atropurpurea Ampelion melunocephalus Pyroderus scutatus Chiroxiphia caudeta » pareola Pipra rubricapilla >» leucocilla Machaeropterus regulus Chiromachaeris gutturosa Euphomia violacea » magricollis pectoralis Tanagrella cyanomelaena Calliste festiva » tricolor » cyaneiventras » fava > pretiosa Tachyphonus ecristatus Calliste brasiltensis Tanagra ornata » cyanoptera Bethylus a s E: “ringilla EO E eu Aves Brasilicas Wied fasciata LrcHr. flammiceps capistrata melanopis LarH. silens LATH. brasilia L. superciliaris missisippensis L. magna L. bonariensis L. nigerrima L. auricapilla caerulescens picatus k FRIN GILLIDAE: V. HI. pag. 549 — 628. gnatho LrcHr, viridis lugularis brissonii Lrcwr. crassirostris torrida atricapilla leucopogon lineola melanocephala plumbea rufirostris falcirostris pyrrhomelas minuta dominicana “Splendens ViIEILL. 13—( Bol. do Mus. Goeldi) 217 Cat. Mus. Brit. Diwcopis fasciata Phoenicothraupis rubica Schestochlamys capistratus » atra Arremon silens Rhamphocoelus brasilius Saltator similis ? Piranga saira Saltator magmnus Lamprotes loricatus Tachyphomus melalewcas Trichothrawpis quadr o 2! Cissopis major Pitylus fuliginosus » brasiliensis Saltator atricollis Guiraca cyanea Oryzoborus maximilian » torridus Spermophila cocullate » caerulescens 2 » lineata » guttwralis » plumbea » hypolewca » falcirostris 2 » migroaurantia 2 Paroaria larvata 2 Volatima jacarina Wied Fringilla manimbe LrcrH. » plleata » ornata » brasiliensis » magellanica L. » matutina LircWr. > fuliginosa ALAUDIDAE: V. II. pag. 631 — 633. Anthus chii LicHr. » — poecilopterus MERULIDAE: V. HI. pag. 637 — 679. Turdus rufiventris ILLIG. » — carbonarius ILLIG. » — crotopezus ILLIG. » — ferrugineus Mimus lividus » — saturninus » brasiliensis Opetiorynchus rufus » ruficaudus » turdinus » rectirostris SYLVIADAE: V. III. pag. 682— 774. Synallaxis cinereus » pallidus » caudacutus » torquatus Sylvia canicapilla » — venusta TEMM. | | | | Cat. Mus. Brit. Ammodromus manimbe Coryphospingus pileatus Tiaris ornata Sycalis flaveola Chrysomitris icterica -? Zonotrichia pileata - Phonipara fuliginosa Anthus rufus d Turdus rufiventer Merula favipes Turdus fumigatus Donacobius atricapillus Furnarius figulus « albigularis | Campilorhynchus variegatus á (ER Synallaxis ruficapila Siptormis palhida Synallaris cinnamomea » torquata Geothlypis velala 2 Parula pitiayumo (*) Vide Cat. Mus. Brit. Vol, XV pag. 10 - E a mio srs (SO Do o LU ' ” és f : E, Ps Aves Brasilicas 219 :Ê Wied — Sylvia speciosa leucogastra » | caerulescens » poicilotis » — thoracica >» | flaveola * Hylophilus cinerascens : » » » ruficeps » “guira É » caeruleus bj » cyanoleucus F: » melanoxanthus “Thryothorus platensis » striolatus » gladiator » coraya Coereba cyanea VIEILL. » caerulea VIEIIL. » spiza » flaveola — MUSCICAPIADAE: ; V. HI. pag. 718 — 977. Entomophagus mystaceus Muscicapa rivularis Na RR» |, chrysochloris “2 agilis >» brevirostris » virescens » plumbea » sibilatrix D) squamata » turdina o comata LicHr. EE» leucocephala Cat. Mus. Brit. Dacnis specrosa Polioptila lewcogastra ? Dacmis plumbea Hylophilus amawrocephalas » thoracicus 2 2! Nemosia ruficapilla >» guira » pileata » flavicollis Cistothorus platensis Thryophilus longirostris Rhamphocaenus melanurus Thryothorus genibarbis Ducnis cayana Chlorophanes spixa Certhiola chloropyga Fluevicola climacura Basileuterus. stragulatus Sisopygis vcterophrys 2 Vireo chivi Elainea pagana - Heteropelma virescens Lathria plumbea Auba hypopyrrha Ptalochloris squamata Heteropelma twurdimum Cnapolegus comatus Arundinicola leucocephala 220 Wied Muscicapa caesia » aurifrons » brevipes » tyrannus L. » pitangus Licwr. » cayennensis L. » miles LicHr. » cinerea L. » ferox L. » velata LicHr. » polvglotta LicHr. » rustica LicHr. » uropygiata » trivirgata » alector » psalura Tem. » coronata L. Tyrannus furcatus » audax VIE. Muscipeta asilus ; » incanescens » strigilata » fuscata >» splendens » marginata » aurantia » nigriceps » citrina » ruficauda » modesta. » monacha » flaviventris » platyryncha » barbata Aves Brasilicas es - Pachyrhamphus polychro- E: “Empidonomus varius Cat. Mus. Brit. Thamnomanes caesius Neopelma aurifrons 24 N 2 Milvulus tyrannus Pitangus sulphuratus » actor E Machetornis rixosa ; Attila cinereus Myarchus ferox E Taenioptera velata » nengeta Lipangus simplex Attila brasiliensis Conopias trivirgata Alectrurus tricolor » risorius ao ? Pyrocephalus rubineus Pyrannus melancholicus Myrodynastes solitarius Phyllomyias brevirostris Sublegatus platyrhynchus 9 Pyrocephalus rubinews (82!) Empiochanes fuscatus pterus . ; ade atricapilus. » rufus à » viridis Legatus albicollis q Elainea mesolenca a Copurus colonus a Rhynchocyclus flaviventris 2! 4 Myiobius barbats Wied | * Muscipeta chrysoceps q » regia * Euscarthmus meloryphus » nidipendulus » superciliaris » cinereicollis » orbitatus » “Todus melanocephalus Srix. » — poliocephalus - Platyrynchos olivaceus TeMm. » nuchalis » leucoryphus » rupestris RN IADAE: V. HI. pag. 981 — 1019. O srynchos sulphuratus —Thamnophilus stagurus » doliatus » scalaris » cristatus » nigricans » palliatus » strictothorax » guianensis » guttatus SPIX. | MYIOTHERIDAE. | V. II. pag. 1024 — 1101. " Myioturdus rex | » ochroleucus | » marginatns » tetema » perspicillatus Aves Brasilicas PIDE 40 221 Cat. Mus. Brit. Myiobius naevius Muscivora swainsont Hapalocereus meloryphas Habrura pectoralis Orchilus auricularis Todirostrum cinereum » poltocephalum Rhiynchocyclus olivaceus » sulphurescens Platyrhynchus rostratus Hirundinea bellicosa Megarhiynchus pitangua Thamnophilus major Thamnophilus torquatus Thumnophilus ambiguus Disithammnus guitulates Cyclorhis viridis subsp. ochro- cephala Grallaria imperator » ochroleuca Chamaexa brevicauda Formicarius colma Conopophaga nigrigenys Aves Brasilicas Wied Myiagrus lineatus Myiothera rhynolopha ardestaca LicHr. domicella ruficauda strigilata fuliginosa ILLIG. squamata Licwr. superciliaris LiCHT. leucophrys Licwr. pileata LrcHr.. plumbea scapularis LrcHr. variegata LicHT. maculata indivotica LicHr. cinerea rufa poliocephala calcarata CERTHIADAE: V. HI. pag. 1103 — 1159. Tinactor fuscus Dryocopus turdinus Dendrocolaptes guttatus LicHT » » ? obsoletus LicHr. tenuirostris LrcHrT. rufus - picus HERRM. Xiphorynchus trochilirostris Sittasomus olivaceus Glyphorynchus ruficaudus Xenops genibarbis » rutilans | | Cat. Mus. Brit. Conopophaga lineata Merulaxis rhinolophus 2! Priglena lyewcoptera Myrmecixa ruficauda Formicivora strigilata Myrmotherula melanogastra Formicivora squamata » grisea Herpsilochmus pileatus Dysithamnus plumbeus Herpsilochmus rufimargina- tus 2 » » Terenura maculata Secytalopws endigoticus Myrmotherula gularis Formicivora rufatra Dysithamnus mentalis Corythopis calcarata Selerurus wumbretta Dendrocincla turdina Niphocolaptes albicollis q ? Picolaptes squamatus 2 > bivettatus Dendroplex picus Niphorhynchus-trochilirosiris Settosomus olivaceus Glyphorhynchus cuneatus Nenops rutilus Pç Wied — ANABATIDAE: O) nabates ferrnginolentus > leucophthalmus erythrophthalmus striolatus TEMm. atricapillus rufifrons *ORIOLIDAE: a a Icterus jamacaii DAUD. — » cayanensis DAUD. unicolor Lrcwr. | atro-olivaceus Cassicus cristatus Lrcwr. persicus LrcHr. niger LicWr. ? leucurus rVUS cyanopogon cristatellus Temm. MOMOTIDAE: Prionites ruficapillus ILLIG. “CYONIDAE: V. HI. pag. 1162 — 1191, 2 V. III. pag. 1197 — 1245. haemorrhous Licwrr. V. III. pag. 1246— 1251. 0 V. III. pag. 1256 — 1257. V. IV. pag. 3--18. Aves Brasilicas DEAN, DMR RA Cat. Mus. Brit. Automolus ferruginolentus » leucophthalmas Thripophaga erythrophthalma » striolata Philydor atricapillus Phacelodomus rufifrons Icterus tibialis Aphobus chopi Pseudoleistes guirahuro Ostinops decwmunus Cassidia oryrivora 2! Cyanocorar cyanopogon Urolenca cyanolenca Baryphthengus ruficapillus Ceryle torquata >» amazona 224 Aves Brasiicas Wied | Cat. Mus. Brit. Alcedo americana L. | Ceryle americana » bicolor L. ad inda TROCHILIDAE: Ve IV. pag. 28120. | Trochilus mango L. | Lampornis violicauda » ater | Florisuga fusca » moschitus L. | Chrysolampis moschitus : Ee Ed Ee | Hylocharis sapphirina » latirostris | » audeberti Less. | Eucephala caerulea » cyanogenys | » cyanogentys » ? vulgaris | Leucochloris albicollis » ? campestris “ Calliphlox amethystina » petasophorus | Petasophora serrirostris > magnificus VIEILL. | Lophornis magmficus » glaucopis L. “ Thalurania glaucopis » amethystinus L. - Calliphlox amethystina » macrourus L. | Eupetomena macrura » platurus ViEILL. | Discura longicauda » cornutus - Heliactin cornula >» auritus L. “ Heliothriz auriculatus » virescens Dum. . Polytmus thaumantias » brasiliensis LATH. | Glaucis hirsuta » superciliosus L. | Phaetornis pretrid » ferrugineus | Glaucis hirsuta PSITTACIDAE: V. IV. pag. 126 — 260. | Psittacus macao L. Ara chloroptera » ararauna L. » ararauna » severus L. » severa » illigeri KuHL. > maracana >» nobilis L. |» mnobilis » guianensis L. | Conurus leucophthalmas Wied Psittacus aureus L. » auricapillus ILLIG. » cruentatus » leucotis LicHT. é. cactorum » viridissimus TEMM, » cyanogaster » aestivus L. » amazonicus LaATH. >» vinaceus » dufresneanus KuHL. » pulverulentus L. » menstruus L. » flavirostris SPIX. » — pileatus Scop. » surdus ILLIG. » melanotus LicHT. » passerinus L. RAMPHASTIDAE: V. IV. pag. 265 — 290. Ramphastos toco L. » temminckii War. Ep teroglossus aracari ÍLLIG. » maculirostris Cuv. — CUCULIDAE: - IV. pag. 295 — 353. ST) Trogon violaceus GMEL. RR» curucui L. > atricollis VIEILL. 1 pias ani L. » major L. ( Bol. do Mus. Geeldi) Aves Brasilicas 225 Cat. Mus. Brit. Comurus aureus » auricapillus Pyrrhura cruentata » leucotis Conurus cactorum Brotogerys tirica Triclaria cyanogaster Chrysotis amaxonica » aestiva » vinacea » rhodocorytha » farinosa Pionus menstruus ? » maximiliani Pionopsittacus pileatus Urochroma surda » wiedi Psittacula passerina Rhamphastos toco » aríel Pteroglossus awiedi Selenidera maculirostris Trogon viridis collaris atrecollis HI OR E um 296 Aves Brasilicas Wied Cocceyzus geoffroyi Temm. » cayanus TEmm. » guira Tem. » naevius TEM. > seniculus VIEILL. Dromococcyx phasianellus BUCCONIDAE: V. IV. pag. 558 — 376. Capito melanotis TEmm. » fuscus TEMM. » —lencops » — tenebrosus PICIDAE: v. Iv. pag. 37-41. Picumnus minutissimus TEMm. Picus robustus LicHrT. » lineatus L. » -—comatus ILiiIG. » [lavescens: L. » tinnunculus WagL. » exalbidyus L. » —campestris » —candidus OrTrTo. coronatus: ILLIG: » —melanochloros L. » erythrops VIEILL. » — passerinus L. JACAMACIRIDAE: V. IV. pag. 455—436. Galbula viridis LATH. Cat. Mus. Brit. Neomorphus geoffrowi Praga cayana Guira quira Diplopterus maevims Coceyzus minor Bucco chacuru Malacoptila torquata Monacha morpheus Chelidoptera brasiliensis Picumnus cirrhatus Campophilus robustus Ceophloeus erythrops Campophilus melanolemwcus Celeus flavescens Cerchueipicus timmunculus Crocomorphaus flavus 2 Colaptes campestris Melanerpes candidis Havifrons Chrysoptilus melanochlorus Chloronerpes erythropsis Dendrobates affims | Galbula rufo-viridis 20 Ng AT ada O + “a Wied COLUMBIDAE: V. IV. pag. 443 — 479. Columba speciosa L. » rufina Tem. » locutrix >. poeciloptera VIEILL. ap geoffroii TEMM. » talpacoti TEMM. » squamosa Tem. » rufaxila Wacr. » montana BRR CONIDAF: V. IV. pag. 4895-522. , 1] “Perdix dentata Temm. ““Tinamus brasiliensis LaTH. e» noctivagus » variegatus LATH. » tataupa “TeMmm. » maculosus TEMm. Ed sovi LaATH. CRACIDAE: v.Iv. pag. 526 549 “Crax rubrirostris Sprx. Penelope superciliaris Tric. E» leucoptera E É E aracuan SPIX. K STRUTEIONIDAE: V. IV. pag. 548 — 519. hs americana BriIss. É, GYPOGERANIDAE. V. IV. pag. 568 — 570. tos cristatus ILLIG. Aves: Brasilicas [ENS] [ENO =d Cat. Mus. Brit. Columba plumbea » preazuro Peristera geoffropt Chamuaepelia talpacoti Scardafella squamosa Leptoptila reichenbachi Geotrygon montana Odontophorwus capweira Pinamus solitariwus Crypturus noctivagus Do varegatus » tataupa Nothura maculosa ? Crypturus pileates Cras caruncutate Pipile jacutinga Ortalis albiventris Rhea americana ? Cariama cristata Wied GRUIDAE: Palamedea cornuta L. ARDEIDAE: V. IV. pag. 597 — 682. Ardea cocoi L. » —caerulea L. » — egretta L. » — candidissima GMEL. » —pileata LaTH. » —scapularis ÍLLIG. >» — erythromelas WacL. » lineata L. » brasiliensis L. » —nycticorax L. » —cayennensis L. Cancroma cochlearia L. Platalea ajaja L. Mycteria americana L. Ciconia maguari Temum. Tantalus loculator L. SCOLOPACIDAE: V. IV. pag. 691 — 736. Ibis albicollis VÍIEmL. » infuscata LicHrT. » Sylvatica VIEILL. Numenius brasiliensis Scolopax frenata .ÍLLIG. Limnodromus noveboracensis Totanus flavipes VÍrEnI. » maculatus Strepsilas collaris TEMM. Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. Florida caerulea Herodias egretta Lewcophoya candidissima Pilerodius pileatus Butorides striata Ardetta erythromelas Tigrisoma fasciatum » lineatum Nycticorax tayaxzu-guira? 2 Nyctinassa violacea Agaja ajaja Euxenura maguari Theristicus melanopis Phimosus infuscalus Harpiprion cayennensis Numenius hudsonicus Gallinago frenata Macrorhamphus griseus 2! 2? Arenaria interpres “Tringa cinerea L. RO» minutilla Vreni. — CHARADRIDAE: “Calidris arenaria Ictic. » spinosus L. » brevirostris > flavirostris > azarae TEMM. “RALLIDAE: allus nigricans VIEILL. Gallinula plumbea ViEemt. cayennensis pileata lateralis galeata PODOIDAE: Podoa surinamensis ILLIG. COLYMBIDAE: E! Podiceps Indovicianus LarH. >» — dominicus LatH. pp V. IV. pag. TAL — TT2. “Himantopus mexicanus WiLs. Haematopus palliatus Tem. Vanellus cayennensis VrerLr. Charadrius virginicus BORKH. V. IV. pag. 776 — 812. Notherodius guarauna War. martinicensis LATH. V. IV. pag. 822 — 828. V. IV. pag. 829 — 835. Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. Tringa canutus ? Heteropygia fuscicollis ? Himantopus melanurus 2? Calidris arenaria Delonopterus cayennensis Charadrius dominicus Hoploxypterus cayanus Aegraleus semipalmatus 21 Aegialitis collaris Aramus scolopaceus Limnopardalus migricans Jacana jacana Aramides saracura » chiricote Creciscus cayanensis » melanophaews Porphyriola martinica Hehornis fulica ? Podylimbus podicipes 2? Podiceps dominicus 230 Aves Brasilicas Wied Cat. Mus. Brit. PROCELLARIDAE: | V. IV. pag. 8839-871. Procellaria aequinoctialis L. 2? Majaqueus aequinoctialis Pachyptila forsteri ILLiIG. |? Prion vittatus Larus dominicanus LicHrT. | = » — poliocephalus TEmm. Larus cirrhocephalus Sterna erythrorynchos Sterna maxima » — magnirostris LicHrT. Phaêtusa magnirostris ? > hirândo E | Sterna hirundinacea » —anglica MONT. | Gelochelidon anglica ? » argentea Sterna superciliaris » —stolida L. - Anowus stolidus Rynchops nigra L. “ Rhynchops intercedens PELECANIDAE: V. IV. pag. 884 — 9C0. Tachypetes aquila VIEILL. Fregata aquila Dysporus sula ILrIG. Sula sula Halieus brasilianus Lrcwr. Phalacrocorax vigua Plotus anhinga L. == ANATIDAE: V. IV. pag. MT — 938. Anas moschata Carina moschata » ulva L.' | Dendrocygna fulva » viduata L. | > viduata » bahamensis L. Peocilonetta bahamensis » — erythrophthalma 2? Nyroca erythrophthalma » brasiliensis L. Nettion brasiliense >» dominica L. Anas dominicana ? Aves Brasilicas Burmeister, Herm.: Systematische Úbersicht der Thiere Brasiliens, etc. II. Teil VOGEL — Berlin, 1896. Burmeister Rapaces: VULTURINAE; V. I. pag. 27 — 32. Sarcorhamphus papa L. Cathartes aura Irric. » urubu Burr. FALCONINAE: V. I. pag. 33 — 117. Milvago ochrocephalus Sprx. » nudicollis DAvuD. » aterrimus TEMM. Polyborus vulgaris VIEILL. Hypomorphnus urubitinga Kvumr. Rostrhamus hamatus Iris. Buteo nigricollis LarH. » — pterocles TEmum. » | seotopterus Pr. MaX. Kaliaétus melanoleucus ViEOAL. Pandion haliaétos L. Harpyia destructor Davp. Spizaétus tyrannus Pr. Max. » ornatus DAUD. Morphnus guianensis Davp. Astur nitidus LarH. Nisus tinus LaTH. » — sStriatus VIEILL. Cat. Mus. Brit. Cathartes papa Oenops GUN Catharistes atratus Ibyeter chimachima >» amenricanus ater Polyborus tharus Urubitinga xonura “ Rosthramus leucopugus Busarellus migricolhis Tachytriorchis albicandates Urubitinga lacernulata Buteo melanolencus Thrasaétus harpyia Sprsactus mauduyto Asturina miuda Accipiter tinus > erythrocnemis 9) [So 9 Burmeister Nisus pileatus Pr. MAX. » — magnirostris GMEL. » -gracilis TEMM. Asturina rutilans LrcHr, » unicincta TEmm. Climacocercus xanthothorax TEMM. » —concentricus CAs. » — brachypterus Temum. Herpetotheres cachinnans L. Falco sparverins L. » —femoralis TEMM. » —aurantius LATH. Harpagus bidentatus LarH. » diodon Temm. Ictinia plumbea GmeL. Cymindis cajanensis GmEeL. L. » uncinatus Cuv. Nauclerus furcatus L. Elanus leucurus Vier. Gampsonyx Swainsonii VIG. Circus superciliosus TEemm. » —cinereus VIEILL. STRIGINAE: V. I. pag. 119 — 144, Bubo crassirostris VIEILL. Otus americanus GMEL. » brachyotus Foxsr. Scops decussata ILLIG. » vatricapilia Nam Ulula torquata Davp. Ciccaba hulula DAvp. >» hylophila Temm. » suinãa VIEILL. Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. Acciprter paleatus dsturina nattereri | Geranospixias caerulescens | Heterospixias meridionalis Erythrocnema umeincta Micrastur ruficollis | | » gilvicollis | senatorquatus Cerchneis cinnamomina Falco fusco-caerulescens >» albigulars pI | Leptodon cayennensis » uncinatus | Elanoies furcatus Circus maculosus Bubo mugellanicus Asio mesxicanus » accipirinus Scops brasilianus Syrmiwum persprillatwum » huhulum » hylophelwum Pg» suinda Eae a EE ata cad E ed E = a E —- Aves Brasilicas 233 Burmeister | Cat. Mus. Brit. F “Strix perlata LicHr. Strizr flammea — Noctua cunicularia MOLINA. Speotyto cumiculara : * Glaucidiu m ferrugineum E Pr. Max. | Glaucidium ferox. » passerinoides Temm. | E: » pumilum Temm. e: * Scansores;: — PSITTACINAE: | E o V. I. pag. 150 — 197. - Macrocercus macao L. “Ara chloroptera » ararauna L. , | >» ararauna » hyacinthinus - Anodorhynchus hyacinthimes LarH. | » severus L. | Ara severa » illigeri Kuna. | >» maracana : » nobilis L. >» mnobilis * Conurus guianensis Briss. Conurus leucophthalmes » acuticaudatus VIEILL » haemorrhons » Juteus BrIss. » guarouba » solstitialis L. | Nine » auricapillus ILLIG. ce » flaviventris Wacr. 2 » —canicularis L. - Conurus aureus » pertinax L. | » aeruginosus » aeruginosus L. | == » murinus GMEL. - Myopsittacus monachus Ê + viridissimus Temm. | Brotogerys tirica . » — virescens GMEL, | » virescens » xanthopterus Spix. | » chiriri o» lepidus ILris. | Pyrrhura perlata >» versicolor GMEL. » . puta > cruentatus Pr. MAX. | » cruentata Bol. do Mus. Gosldi) Ed 234 Aves Brasilicas Burmeister Conurus leucotis LicHrT. » vittatus SHAW. Deroptvus coronatus L. Triclaria cyanogastra Pr. MAX. Psittacus pulverulentus GMEL. » dufresneanus KvHL. » vinaceus Pr. MAX. » autumnalis L. » aestivus L. » amazonicus LaATH. » xanthops War. » festivus L. Pionus menstruus L. » . flavirostris SPIX. » — purpureus GumEL. » —melanocephalus War. » — pileatus GMEL. » — barrabandi Wai. >» vulturinus ILLis. » — brachyurus KvuHr. Psittacula pileata Scor. » surda ILLIG. » —melanonota LrcrH. passerina L. » melanoptera GMEL. L. » — purpurata GymeL. L. RAMPHASTIDAE: V. I. pag. 199 — 210. Ramphastos toco GMEL. » erythrorynchus GMEL. > cuvieri WacL. » culminatus (GOULD. Cat. Mus. Brit. Pyrrhura leucotis » vettata Deroptyws accipitrimus Chraysotis farinosa » rhodocorytha » vinacea » autumnalis » amazonia » aestiva > levailanto » festiva Pronus maximiliana » fuscus Caixa leucogaster Pronopsittacus cara » barrabanda Gypopsittacus vulturimas Pachiynus brachawrus Pronopsittacus pileatus Urochroma surda » wcredi Urochroma congulata » purpurata IR! H) Aves Brasilicas 235 Burmeister | Cat. Mus. Brit. Ramphastus discolorus L. mess vitellinus ILrIG. — carinatus et SWAINS. » temminckii Wacr. | Rhamphastos ariel Preroglossus aracari L.. =| = | » wiedii SruRM. — »o castanotis | == GovrD. | | flavirostris STURM. azarae ?V TELL. sturnii. pluricinctus GOULD. bailloni Wacr. Andigena bailloni humboldti Wacr | == viridis L. — maculirostris ? | IrLic. | Selemidera maculirostris langsdorffii » langsdorfii gouldii » gouldii reinwardtii » reimcardtii nattereri » natterera piperivorus » p'perivorus (RI é: ICINAE: V. L pag. 2183-247. mpephilus robustus Freyr. | Campophilus robustus - s rubricollis GEL. » “rubricollis yocopus lineatus L. Ceophloeus lineatus albirostris VrgrtL. | Campophilus melanoleucus galeatus Narr. | Ceophloeus galeatus irobates passerinus L. Dendrobates tephrodops ? k maculatus Dendrocopus cancellatus VIEILL. 290 Aves Brasilicas Burmeister Chloronerpes polyzonus Temm. » aurulentus LicHT. » icterocephalus Celeus flavescens GmEL, » — tinnunculus Wacr, >: “ oghratens SPIx | » —flavicans LaTH. | » — jumana SPIX. » — cinnamomeus GmEL. Colaptes campestris Pr. Max. Leuconerpes candidus Orro. Tripsurus cororatus ILLIG. >. + hirimdimaceús Ly Chrysoptilus melanochlorus GmEL. » cajennensis GMEL. Picumnus minutus L. » temminckii Larr. » exilis LicHr. » pygmaeus LicHr. CUCULINAE: V. IV. pag. 249 — 267. Crotophaga major L. » ani L. » rugirostris SWAINS. Ptiloleptis guira GMmEL. Cultrides geoffroyi Temm. Dromococeyx phasianellus SPIX. Diplopterus naevius L. » galeritus IL. Coceygus cajanus L. Cat. Mus. Brit. Chloronerpes capistratus. 2 » “Havigula Cerchneipicus tinnunculus 9 === Crocomorphus flavus 2) =—— 2? Celeus elegans Melanerpes candidus » flavifrons 2 » cruentatus Chrysoptilus punctigula Pieumnus cirrhatus Picumnus minutus Orotophaga sulcirostris Guira quira Neomorphus geoffroy? Diplopterus naevius Piaya cayana Burmeister Coceygus brachypterus Less. db; | seniculus LATH. À BUCCONINAE: “alurus pavoninus SpIx. Trogon surucua ViEInL.. 4 variegatus SPIX. ' collaris VIEILL. viridis L. aurantius SPIX. atricollis VIEILL. sulphureus Six. “apito macrorynchus GMEL melanoleucus GMEL. macrodactylus SpIx. tamatia L. collaris Burr. melanotis Tem. » —maculatus GMEL. Monasa fusca GMEL. > rufa Sprx. rubecula SpIx. leucops ILLIG. nigrifrons SpIX. tenebrosa ParL. cropogon elegans GMEL. » aurovirens Cuv. RE » cajennensis na E) amerops grandis LATH. bula viridis LATH. “ ruficauda SwaIxs. macrura VIEILL. - tombacea Six. V. I. pag. 271 — 308. Temm. | Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. Piaya melanogastra Coceyxus minor Pharomacrus pavoninus Trogon surucura Hg Trogon meridionalis ? DBucco swainsoni » tieclus >» macrodactylus >» tamatia » collaris » chacuru >» maculatus Mulacoptila torquata > rufa Nonnula mrubecula Monacha morpheus » maigrifrons Chelidoptera brasiliensis 2? Capito versicolor 2 » 2 » aurovirens mager Galbula rufo-viridis » ruficanda 238 Aves Brasilicas Es Burmeister Galbula albirostris LaTH. » albogularis SpIx. » paradisea L. » tridactyla LicHrT. Insessores: TROCHILIDAE: V. I. pag. 311 359. Grypus naevius DUMONT. Glaucis hirsuta GMEL. Phaéthornis superciliosus L. » eurynomus Less. >» squalidus NaTT. » rufigaster VIEILL. Campylopterus falcipennis SWAINS. >» campylostylus Prognornis macrurus (GMEL. Lampornis mango L. Chrysolampis moschitus L. Glaucopis frontalis LaTH. > eriphile Less. Trochilua furcatus GMEL. » wagleri LEss. Petasophora crispa SPIX. Heliothrix aurita GMEL. Florisuga atra Pr. MAX. Calothorax mesoleucus TEMM. » rubineus LaTH. Thaumatias albicollis LrcHr. » brevirostris Less. » viridissimus GMEL. » chrysurus Less. Cat. Mus. Brit. Galbula eyanercollis Brachygalba albigularis Urogalba paradisea Jacamaraleyon tridactyla ; r “= Rhamphodon naerius Phaêthornis petrii » eurynome Pygmormis pygmaeus Campilopterus lazulus Aphantochroa cirrochloris' Enpetomena macrura Lampormis violacauda Thalurania glancopis » eriphile Sr furcata 2 » bicolor Petasophora serrirostris Heliothrix auriculatus Florisuga fusca o «R Lepidolariyna mesoleucus. ; Clytolnema rubinea J Leucochloris albicollis Agyrtria brevirostris : gyrtria e jés | » viradissima 24 4 Polytmus viridissimus - Burmeister >» lactea Less. » cyanea VIEILL. » bicolor GMEL. » audeberti Less. » festivus LicHr. aa Gouldia langsdorffii ViErNL. aturus longicaudus GmEL. alliphlox amethystoides CYPSELIDAE: » | senex TEMM. » oxyura VIEILI. » spinicauda Panyptila cajanensis GmEr. APRIMULGINAE : retibius grandis GMEr. » cornutus VIEILI. >» leucopterus [ydropsalis forcipatus Aves Brasilicas , Hvylocharis sapphirina GumEL. » prasina Less. Orthorhynchus delalandii | VIEILL. >» loddigesi GOULD. Lophornis magnificus Vier. Heliactinus cornutus Pr. Max. LESS. V. I. pag. 361 — 369. Acanthylus collaris Pr. Max. V. 1. pag. 370 — 400. » aethereus Pr. Max, BEscKE. 239 Cat. Mus. Brit. pn) 2 “ Chlorostilbor splendidus “ Eucephala cacrulea Chlorostilbon pucheran Cephalolepis delalandr » loddigest - Lophornis chalibacis Heliactin cormuta Prymnacantha langsdorfi + Discura longicanda - Calliphlor amethystina Chaetura xzonaris Cypseloides senex Chaetura cinereicauda » cinereiventris Nyctibius jumatcensis Macropsalis forcipata Burmeister Hydropsalis psalurus Temum. Eleothreptus anomalus GRAY. Antrostomus rutilus LicHT. ocellatus Va gen longirostris BoxaP. Nvyctidromus albicollis GmeL. guianensis GMEL. Chordeiles leucopygus Srix. rupestris SPIX. Chordeiles pruinosus LicHr. acutus GMEL. semitorquatus GMEL. nattereri TEMM. Podager nacunda ViIEILL. » » » » » » » HALCEDINIDAE: V. I. pag. 401 -- 407. Megaceryle torquata Kavr. Chloroceryle amazona REICHESSB. bicolor REICHENB. » » americana REICHENB. » superciliosa REICHENSB. PRIONITIDAE: V. I. pag. 409 — 412. Prionites ruficapillus ILLIG. 7 “ À y aa : Eri ab Aves Brasilicas AA | HH Ro 54 E ' ne CEA as A usa Cat. Mus. Brit y T, ne E Hydropsalis furcifera Heleothreptus anomalus Caprimulgus rufus » ocellatus Stenopsis longirostris e Sã Ts v | Nyctidromus albicollis Rio Nyctiprogne leucopygia == E Chordeiles acutipennis " Ê Te ro Ma Mãe da o» ua Luroculis semitorquatus Ceryle torquata » amarzonaA inda americana » » » supercihosa “e mus : : ua Da jm ra a Pr id dia emos pç mm SO a a 2 Baryphthengus ru PODES SRS e RL RR b o ç a aa k ABA De do Aves Brasilicas Burmeister Cat. Mus. Brit. Prioni tes martii SpIx. 2 Urospatha martiú » brasiliensis LarH. Momotus momota Ro, + l LOPTERIDAE: V. 1. pag. 416 — 520. a racina scutata TEMM. | Pyroderus scutatus M iscicapa rubricollis GmeL. 2 Querula cruenta cina ornata SpIX. Cephalopterus ornatus Lap augus cineraceus WigGM. Lathria plunbea PA simplex LicHr. =— sibilatrix Pr. Max. Aula hypopyrrha rymnoderus foetidus LarH.' asmarhynchus nudicollis |, PI “M TeMum. npelis purpurea LrcHr. Nipholena atropurpurea “EM cajana L. — Cotinga cayana >» | mayana L. | >» mayana cotinga L. | » caerula cincta L. | » cincta pelion cucullatus Cap. | -=s melanocephalus. | es TscH. | Eira flavirostris VIEILL. E Ptilochloris chrysopteraLicHrT. Tijuca nigra Ro squamata LicHr. cola crocea L. | enicocercus coccineus. Phoemnicocercus carmifex Wacr. pia galeata LicWr. | e U militaris SHaw. Helicura militaris “caudata LaTH. Chiroxiphia caudata >» pareola L. 2 quoça pareola 241 bd , »y o , E d . > E sr" y sé, q > a SR (O 242 Aves Brasilicas + TE ; =" > + o No. E BETE . sa “SM Burmeister Cat. Mus. Brit. 2 Pipra erythrocephala L. » cornuta SPIX. » —aurocapilla LicHrT. » leucocilla L. » —ecyaneocapilla Ham. » strigilata Pr. MAX. » filicauda Sprx. » —tmanacus L. » —edwardsii BONAP. Jodopleura pipra Less. Calyptura cristata ViEILL. Piprites chloris Narr. » pileata NaTT. Bathmidurus melanoleucus » marginatus LicHr. » variegatus SPIX. Pachyrhamphus mitratus. Licgr. » nigriceps LicHr. sem validus Licgr. Psaris inquisitor v. OLFERS. » brasiliensis SwaINs. Scaphorhynchus pitangua L. » audax (MEL. Saurophagus sulphuratus L. | » lictor LrcHr. Tyrannus melancholicus » albogularis BuRMm. » rufinus SpIx. » violentus VIEILL. Milvulus vetula v. OLFERS Cas. | , | | , , ] | | , | - Currhopipra filicauda - Myiodynastes solitarius. Pipra rubricapilla N; 4 Ceratopipra cornuta Machaeropterus regulus - a 8 Chiromachaeris gutturosa. , » manacus E 2 o 2 Piprites pileatus Pachyrhamphus rufus Mo. . é po ão utricapilus » polychropterus » cinereus k ” >» viridis o a 408 Hadrostomus atricapillus cê Pityra inquisitor » brasthensis . a Megarhynchus pitangua ” «a Pitangus sulphuratus » lictor Empidonomus varius Milvulus tyranmnus Muscipipra vetula ferox GMEL. “sibilans LicHr. uropygiatus Em Pr. MAx: dada cinereus WiIEGM. RE “laenea miles LrcWr. albicollis VrgILL. coronata (MEL. pagana LicHr. - -affinis LUND. spadicea CB. modesta Pr. Max. brevirostris Sprx. brevipes Pr. Max. obsoleta Temm. Rima SIX. u iscipeta virgata LAFRESN. fuscata Pr. Max. megacephala “platyrhyncha Pr. Max. flaveola Lrcwr. car viridis LEss. SwaAINS. strigilata Pr. Max. carthmus aurifrons LicHr. Eis Em alivaces LAFR. Ena + Aves Brasilicas 243 Cat. Mus. Brit. Lipaugus simplex: Myarchustyranmulus (part.) Myarchus ferox (part.) “Sirystes sibilator Attila brasiliensis Myrochanes cinereus Myroxetetes similis Legatus albicollis Pyrocephalus rubineus Eluinea albiceps Phyllomyias burmeistera RES Ros (2 Ormithion obsoletum Myiopatis semifusca MESA Cyanotis azarae Myrobrus macvins Emprdochanes fuscatus Rhynchocyelus megacephalius Ee Pyrocephalus rubineus Capsiempis flaveola Neopelma aurifrons 2! Heteropelma turdimum (*) | Phyllomyias griseocapilla Fig. Proc. Zool. Soc. 1861, tab. 36, fig. 2. - 244 Burmeister Euscarthmus vilis LrcHr. » amaurocephalus Cas. » eximius LicHT. » pectoralis VIEILL. » nigricans VIEILL. » flaviventris LAFR. >» meloryphus Pr. MaX. Hapalura stenura Cas. » minima (Cas. “Triccus melanocephalus Sprx. » — poliocephalus Pr. MAX. » — gularis NATT. » crinitus LicHrT. » orbitatus Pr. Max. » — nidipendulus Pr. Max. » auricularis VIEILL. Todirostrum furcatum LaAFR. » spiciferum Larr. Platyrhynchus cancroma Temm. » rostratus PALL. Myiobius barbatus GRAY. Cyclorhynchus olivaceus Licgr. » nuchalis Pr. Max. Megalophus regius SwRAINS. Muscivora ferruginea GMEL. Copurus filicauda Cas. Gubernetes yiperu LrcHr. Alecturus psalurus Temm. Aves Brasilica Cat. Mus. Brit. Hemuitriccus drops Leptopogon amawrocephalus Pogonotriccus eximius ? Habrura pectoralis Serphophaga migricans Hapalocereus flaviventris » meloryphas Culicivora stenura Habrura pectoralis Todirostrum cinereum » poliocephalus 2? Euscarthmus gularis » fumifrons » orbrtatus 2 » midipendulus Orchilus auricularis Ceratotriccus furcatus Lophotriccus spicifer Platyrhynchus mastaceus Rhynchocyclus olivaceus » sulphurescens Muscivora swaimsont Hirundinea bellicosa Copurus colonus Cybernetes yetapa Alectrurus visorius á ER Pit DM A o ed Rs a ve ir METAS RP REV -E, 1 S A “Aves Brasilicas 245 ai » E . G — Burmeister Cat. Mus. Brit. Ca “7a A trurus tricolor VIEILL. === ndinicola leucocephala = E PaLL. ipolegus comatus LicHr. Dot 1» EA ZA nioptera nengeta Bon. RS). > velata LicHrT. > moesta LrcHr. | Taenioptera irupero > coronata VIEILI. Em dominicana | a VIEILL. atricapilla d VIII. icterophrys | Sisopygis icterophrys ViEILL. | gui + suiriri VIEILL. Empidagra suiriri ; luvicola mystacea Pr. Max. Fiunricola climacura RE» | bicolor Gmer. » albiventris * ANABATINEAE; | E V. IL. pag. 1--42. ES: + E. : Furnarius rufus GumeLr. == o figulus TILL. = rectirostris 2 Pr. Max. chmias nematura LicHr. — drocopus platyrhynchus. | Dendrocolaptes picumnus E Ar SPIX. ndrocolaptes decumanus Niphocolaptes picumnus | LrcHr. cyanotis » major Licwr. 24() Aves Brasilicas '"Burmeister Dendrocolaptes guttatus LicHr. > obsoletus LicHT, » — longirostris ILLIG. » — squamatus LicH7T. » — tenuirostris LicHT. » “— eytoni SOLAT Xiphorhynchus trochilirostris. Lrcnrm. Picolaptes bivittatus Lrcwr. Dendroplex picus LicHr. Glyphorhynchus cuneatus LicHT. Sittasomus erithacus LicHr. Xenops genibarbis Horru. » rutilans LicHr. Anabatoides fuscus ViEILL. » adspersus LicHr. » ferruginolentus Pr. MAX. Anabates cristatus SPIX. » leucophthalmus Pr. MAX. » superciliaris LrcHrm. » amaurotis Temm. » poliocephalus LrcHr. » erythrophthalmus Pr. Max. Heliobletus superciliosus | ILLiG. Oxyrhamphus flammiceps | TEM. Thripophaga striolata REICH. Anumbius frontalis LicHr. Cat. Mus. Brit. Dendrornis quitata A 2 Picolaptes squamatus 2 » votenwirostris “ Dendrorms eytomi “Xenops rutilus Anabazenops rufo-superci- latus Automolus ferruginolentus Homorus cristatus Phalydor atricapilas Anabazenops amawrotis Philydor rufus Thripophaga erythrophthalma Phacelodomus rufifrons Burmeister lar nopareia torquata REICH. ) maximiliani | ReÍcH. allaxis ruficapilla Vrerrr. “albescens Temum. cinerascens TEmm. rutilans Temm. pallida Pr. Max. “mentalis LrcHr. cinnamomea GumEL. obsoleta REICHENSB. “484 ER IODORIDAE: Va V. II. pag. 44100. o Re. erurus caudacutus GRAY. tothera tetema ILiic. colma (MEL. analis LaFR. ramaezosa marginata 34 ç” ue Pr. MAX. ochroleuca Pr. MAX. My E os: — é RE asia. Larr. >» — tinniens GuEL. , no pophaga lineata Pr. Max. E» aurita L. melanogaster MÉN. dorsalis MÉN. opophaga perspicillata Lrcwr. [ poterpe formicivora GMEL. >” gularis Sprx. ys albifrons GEL. á “PP, « 1SERA a se E: » Aves Brasilicas |] , | | Formicarius colma 247 Cat. Mus. Brit. Synallaris torquata » maximilianh » spixi 2? Siptormis pallida » cinnamomea 2 » ruticilla ? Selerurus wmbretta » “analis Chamnaeza brevicauda Gr rallaria ochroleuca » emperator » brevicauda 2 = Conopophaga melanogastra Conopophaga melanops 2? Rhopoterpe torquata Myrmotherula gularas 2 IR) 248 Burmeister Pyriglena domicella Lickrr. » atra SwaINS. » maura MÉN. » leuconota SpIx. Scytalopus ater Less. » rhinolophus Pr. Max. » indigoticus LicrH. Myrmonax longipes SwarINs. » —loricatus LicHT. » — cinnamomeuys GuEL. » ardesiacus LicHT. >» lugubris CABAN. Ellipura grisea GMEL. » coerulescens VIEILL. » malura NATT. » striata SPIX. » squamata LicHr. » rufa Pr. Max. » melanura MÉN. » ferruginea LicHrT. Rhamphocaenus melanurus VIEILL. » guttatus MÉN. » maculatus Pr. Max. Formicivora superciliaris Pr. Max. » erythronota HarTL. » axillaris VIEILL. » unicolor MÉN. » pygmaea GMEL. » pileata LicHr. » rufo-marginata. Temm. Í Aves Brasilicas | Cat. Mus. Brit. | Pyriglena leucoptera Sh a atra |? Thamnophilus leuconotus | | Merulaxis rhinolophus '* Myrmeciza longipes | » loricata | » cinnamomea | Hypoenemis myiotherina | » lugubris Formicivora grisea Cercomacra caerulescens ? Formicivora malura » striata » squamata » rufatra 2 Myrmecixa atrothorax 2 Formicsivora ferruginea | Psilorhamphus quitatus Terenura maculata Formicivora rufatra Myrmotherula erythronota » melanogastra » umicolor » pygmmaea Herpsilochmus pileatus “o “0 » rufimarginatus Voa DECO 47 hamnus xanthopterus | Bvrm. guttulatus Cas. mentalis Cas. stellaris CaB. jastes nigropectus Larr. sycephala cinerea (MEL. >» thamnophiloides Cas. » rubra Vig. nnomanes caesius LrcHr. mophilus undulatus Mrx. severus LicHrT. leachii SucH. meleager LrcHr. stagurus | Inctuosus LrcHr. naevius GMEL. pileatus SwalNs. nigricans MaX. nigrocinereus SCLAT. cristatus Max. doliatus L. palliatus Lrcwr. E. scalaris LicHr. mr uophilusstrigilatus SPIX. UNCIF OSTRES: V. II. pag. 105—108. do cloris guianensis GmEL. >» | viridis Cas. Iyilomanes agilis LicHr. “q À 1 )—Bo) . do Mus. Gesldi Í Aves Brasilicas 249 Burmeister ) Cat. Mus. Brit. Dysithamnus canthopterus » guttulatus > mentalis > plumbeus Attila cinereus >» thamnophiloides Casiornis rubra 2 = Batara cinerea Thmnophitus guttatus > major » pileatus >» ambiguus z = » torquatus 2 Ancistrops strigilatus | | Cyclorhis viridis (part) >» ochrocephalus (part.) Vireo chivi 2 250 Aves Brasilica Burmeister SUBULIROSTRES : V. II. pag. 109— 137, Hylophilus poecilotis Max. > thoracicus TEMM. » flaveolus Pr. MAX. » cinerascens MAX. Culicivora leucogastra Max. Basileuterus vermivorus CAB. Trichas leucoblephara Cap. » stragulata LrcWr. > velata VIEILL. Sylvicola venusta TEMM. » speciosa Pr. Max. Anthus rufus GMEL. » cha VIEILI » fuscus VIEIIL. » — breviunguis SpIx. Turdus ferrugineus Pr. Max. » rufiventris LicHrT. » — crotopezus IÍLLIG. > albiventris SpIx. » albicollis VIE. » carbonarius ILLIG. Mimus calandria GRAY. » —Saturninus LicHrT. » lividus LicHm. Donacobius atricapillus L. Campylorhynchus variegatus Cas. Cyphorhinus thoracicus Cas. > cantans GMEL. Pheugopedius genibarbis Cap. Thryothorus rutilus VremL. » striolatus Max. Cat. Mus. Brit. Hylophilus amawrocephalius? 2 Polhioptila leucogastra Basileuterus awricapillus » leucoblepharus » stragulatus Geothlypis velata Parula pitiagumo 2! 2? Turdus fumigatus » leucomelas Merula flavipes Mimus modulator ? Cyphorhinus museus Thryothorus gemibarbis » longirostris (a “ Burmeister | * Thryothorus interscapularis Lrcgr. polyglottus VrEILL. Troglodytes furvus LrcHm. platensis D'ORsB. » » FISSIROSTRES: V. II. pag. 138-148. | Progne purpurea L. dominicensis Briss. Aves Brasilicas to Cat. Mus. Brit. Cistothorus polyglottus Troglodytes musculus | | | | | Progne chalybea » Cotyle tapera L. >» tapera » —leucoptera GMEL. | Tachycineta albiventris » flavigastra BoJE. * Stelgidopteryx ruficollis Atticora fasciata GMEL. melanoleuca Max. cyanoleuca CAB. Hirundo rufa GmEL. » >» TENUIROSTRES : V. II. pag. 149155. | Coereba cyanea L. coerulea L. Dacnis spiza L. » 'cyanomelas GEL. cavana L. Certhiola flaveola L. » » CONIROSTRES: V. II. pag. 157 — 251. Nemosia pileata GEL. » — fulviceps Larr. » ruficeps STRICKL. , Hlavicollis ViEILL. Hirundo erythrogastra Cnlorophanes spixa Dacnis cayana » angelica Certhiola chloropyga Thlypopsis sordida Pyrrhoeoma ruficeps Burmeister Nemosia ruficapilla VIEILL. » guira L. Leucopygia ruficollis SwaIxs. Tachyphonus quadricolor VIEILL. » cristatus L. » rufiventris SPIX. » coronatus (AB. » nigerrimus GMEL. » loricatus LicHrT. » rubicus VIEILL. Orthogonys viridis STRICKL. Piranga coccinea (GRAY Rhamphocelus jacapa L. » brasilea L. » nigrogularis SPIX. » dorsalis BONAP. Tanagra ornata SPARM. » olivascens LicHr. » episcopus L. » sayaca Pr. MAX. » cana SwaINS. » striata GMEL. » gvrola L. Tanagrella cyanomelas Max. Motacilla velia L. Calliste brasiliensis L. » flaviventris SCLATER. » flava GMEL. » melanota SwaINS. » — preciosa CABAN. cucullata SCLATER. » citrinella- TEMM. a NA Áves Brasilicas | | Cat. Mus. Brit. Cypsnagra ruficollis Trichothraupis quadricolor PI Tachyphonus melaleucus Lamprotes loricatus Phoenicothraupis rubica Piranga saira Rhamphocoelus brasilius ta nigrigularis Tanagra palmarum AM c) o 2 » cyanoptera 9 » cana 2 Ear » bonariensis ? - Tanagrella cyanomelaena vela (part) Pv 2» cyanomelacna (part) 2? Calliste melanonota » pretiosa “O Calliste cyanerventris o. La i : Burmeister E liste schrankii Sprx. punctata L. thoracica SCLATER. tricolor (MEL. tatao L. festiva ScLAT. cyanoptera SwaINs. , graminea SPIX. | Procnopis melanonota Car. | Procnias tersa BONAP. | Eu iphone nigricollis LUND. E > chalybaea MIKAN. | chlorotica LUND xanthogastra SUNDEVATL. violacea L. laniirostris D'ORB. melanura ScLAT. pectoralis LATH. cajana L. viridis LUND. superciliaris Max. coerulescens LarRr. “atricollis VIEILI. esticus occipitalis Narr. | issopis major Cap. *phanophorus coeruleus o STRICKL- : Can | chistochlamys leucophaea EA À h « Cap. Has Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. 9). PD di E a 2? Pipridea melanonota Hypophaea chalybaea similis 2 2 =— Saltator 2 Orchesticus abeillii Stephanophorus leucocephalus Pitiylus fuliginosus o brasiliensis Schistochlamijs cupistratus 254 Burmeister Schistochlamys melanopis LaTH. Paroaria cucullata LaTH. » dominicana L. » gularis L. » capitata BONAP. Coryphospingus cristatus GMEL. » pileatus Pr. Max. Paospiza lateralis Cap. » nigrorufa Cas. » thoracica CaB. » schistacea CaB. » melanoleuca LarRr. » cinerea BONAP. » olivacea BONAP. Diuca fasciata LrcHrT. Arremon silens LaTH. » flavirostris SwaINs. » affinis D'ORB. LarRr. Embernagra platensis BONAP. Emberizoides macrurus LATH. > melanotis TEMM. Coturniculus manimbe Lrcwr. Zonotrichia matutina LircHr. Phrygilus unicolor v. TscH. Volatina jacarina L. Coccoborus cyaneus CaB. Oryzoborus maximiliani Cas. ( Loxia) crassirostris GMEL. Oryzoborus torridus CAB. » unicolor LicHr. Sporophila hypoleuca ILLIG. > plumbea Cap. Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. atra Paroaria larvata 2 Es | | o) Paospixa personata » thoracica » cinerea *W Chlorospingus olivaceus Diucopis fasciata “o “0 "MW “WO Buarremon torquatus Coryphospiza melanotis Ammodromus manimbe Zonotrichia pileata 2 Ema Volatima jacarima Guiraca cyanea | | Phonipara fuliginosa * Spermophila hypoleuca plumbea Ec Sycalis brasiliensis GMT. Sceyalis hilarii Cap. Chrysomitris magellanica VieI. “Tiaris ornata Pr. Max. Gubernatrix cristatella Less. pa + MAGNIROSTRES: E. V. II. pag. 258 — 286. Trupialis guianensis L. militaris L. Amblyrhamphus ruber BONAP. Leistes viridis Boxar. a anticus BONAP. Gymnomystax melanicterus E» j Cas. “hrysomus frontalis HARTL. E.» flavus BonxaP. Tcterus jamacaii Davp. -* xanthornus Davp. mthornus chrysocephalus Ri: Cas. a. ado Rs Aves Brasilicas 255 Burmeister Cat. Mus. Brit. E * Sporophila albogularis Cas. — Spermophila albigularis 4 ornata CaB. » caerulescens A gutturalis CAs. > quituralas lineata GMEL. » lineata collaria L. | » polionota pectoralis LarTH. | » cucullata lineola L. » lineola flabellifera GmeL. » flambellum hypoxantha » hypoxantha LicHr. | aurantia Cap. | > nigroaurantia E. alaudina BONAP. » pileata o » falcirostris BONAP. » falcirostris Sycalis plaveola Sycalis minor Chrysomitris vcterica Gubernatrix cristata Leistes guianensis Trupralis defilippr Amblyrhamphus holosericeus Pseudoleistes guirahuro » virescens Agelaeus frontalis » flavus Ieterus chrysocephalus 256 Aves Brasilicas Burmeister Cat. Mus. Brit. | Xanthornus chrysopterus | Teterus cayanensis VIENTL. Cassicus albirostris VremL. | = » nigerrimus SPIX. * Amblycecrus solitarius » icteronotus VIEILL. | Cassicus persicus » haemorrhous Davp. | = » cristatus DAUD. - Ostinops decumanus » bifasciatus SpIX. - Gymnostinops bifascyatus » yuracores D'ORB. | » Wuracarimum Scaphidurus ater HARTL. Cassidia oryzivora Molobrus sericeus BONAP. Molothrus bonariensis » unicolor BONAP. | Agelaeus cyanopus » brevirostris SwAINS. | 2 » badius Cas. | 2 Molothrus badius Psarocolius unicolor Lrcwr. | Aphobus chopi (Icterus) tanagrinus SpIx. - Lampropsar tanagrinus Quiscalus lugubris SwaINs. Ee Cyanocorax pileatus Temm. Cyanocorax chrysops » cyanopogon Max. = Uroleuca cristatella Pr. Max. | Uroleuca cyanoleuca Coronideus coeruleus VirgILL. | Cyanocorax caeruleus » cyanomelas VIEILL. | » cyanomelas Gyratores : COLUMBINAE ; V. II. pag. 288 — 308. Chloroenas rufina Temm. | Columba rufina » infuscata LicHr. ] » vinacea TEMM. | é plumbea Patagioenas speciosa GMEL. | » specrosa » loricata LicHT. | » picazuro ? » maculosa "TEMM. » picazuro Chamaepelia griseola Bonxar. | Chamacpelia minuta » passerina BONAP. | — ES e a » q a . gt RE > Burmeister Cat. Mus. Brit. E ch jamaepelia talpacoti Tem. = 8 > campestris SrIx. Uropelia campestris strepitans SPIX. Columbula pieui picui Temm. = Metriopelia inornata GRAY. Turtur tigrinus Zenaida maculata BoNar. Zenaida auriculata — Peristera cinerea BONAP. = > geoffroyi TEM. E bpelia montana L. Geotrygon montana Starnoenas cyanocephala L. — at: sores : h Cr RYPTURIDAE : V. II. pag. 318 — 831. — ar ns o Dry p nrus tataupa LicHr. e obsoletus Tem. | = sovi GMEL. Crypturus pileates cinereus (GMEL. Emas vermiculatus Temm. » adspersus adspersus Temm. == noctivagus Wacr. = variegatus GMEL. Eeaea strigulosus Wacr. = elmus tao LicHr. Tinamus solitarius brasiliensis BrIss. > major canus WacL. > tas otus rufescens Wacgr. = ra boraquira War. ea Bol, do Mus. Gosldi) e Er á E = o C plumbula squamosa Ten. Scardafella squamosa > frontalis Temm. , | Leptoptila reichenbachi undulatus TEmm. » variegatus ? 251 ” ve, CR Y=: E =” A Êo My di : ERR A = ERRÇO - o: E É ” pao 298 Aves Brasilicas hs Burmeister Cat. Mus. Brit. Nothura minor Wai. Nothura media » nana Waci. » mana TETRAONIDAE : V. II. pag. 883. | . | . | - F E Odontophorus dentatus “Odontophorus capueira Licwr. | PENELOPIDAE : V. II. pag. 335 — 349. x a poda pipile Gray. Pipile jacutinga superciliaris ILL. : se » — Jjacucaca SPIX. == > pileata Lrcgrr. — » cristata (MEL. = aracuan SPIX. “— Ortalis albiventris >» guttata SPIX. >» quitata Opisthocomus cristatus (GmeL. | Opisthocomus hoazin Crax alector L. = » blumenbachii Spix. Crar carunculata » globosa SpIx. >» globulosa — temminckii TscHupi. > globicera Urax urumutum Sprx. Nothocrar urumutum » —tuberosa SPIX. | e . f E pára mtu » -tomentosa SPIX. E TROY tomentosa » pauxi L. Pauxis pauxi Currentes : STRUTHIONIDAE : | V. IH. pag. 351 — 352. | i dt 2 É do Sia Rhea americana Beiss. E Burmeister - Grallae : “LIMICOLAE : * Strepsilas collaris Temm.. * Haematopus palliatus Temm. — Totanus flavipes GmEr. > caligatus LrcHr. Calidris arenaria ILLIG. — Tringa canutus L. RE» | dorsalis Lrcwr. E » | campestris LicHr. RO» nana LicHr. “Limicola brevirostris LrcHr. N menius brasiliensis Max. o Scolopax. gigantea TEMm. », frenata It1. * PALUDICOLAE : f a = Aramus scolopaceus VIEILL, - II. pag. 359 — 318. - Charadrius virginianus L. Ps cayanus LaTH. > brevirostris MaX. D) crassirostris SPIX. » “ trifasciatus LicHr. > azarae LicHrT. » ruficollis LicHr. “ Vanellus modestus LrcHr. » cayanensis (GMEL. — Himantopus mexicanus Wu.s. » melanoleucus (GMEL. e Ereunetes semipalmatus Ir. Enche hilaerea VALENC. o + V. II. pag. 319 -- 397. “Aves Brasilicas + Cat. Mus. Brit. Charadrius domimicus Hoplorypterus cayanus Aegialeus semipalmates 2 Ochthodromus wilson Aegialites falklundica » collaris Oreophilus ruficollis Zomibyx modesta “Belonopterus cayenensis Arenaria interpres Himantopus melamunras Helodromas solitarius 2 Tringa camultus Heteropygia bairdi » fuscicollis 2 Limomites minutilla Ereunetes pusillus 2 Tringites sub-ruficollis - Numenius hudsonicius Gallinago gigantea » frenata Rostratula semicollaris bo em A 260 Burmeister Rallus longirostris GMEL. » — variegatus GMEL. Aramides gigas SPIX. » plumbeus ViEILL. >» cayennensis » mangle SIX. » nigricans VIE. Ortygometra cayennensis GMEL. » albicollis VIEILL. » lateralis LicHr. » minuta GEL. Gallinnla galeata Pr. Max. Fulica armillata VÍrEnL. Podoa surinamensis ILLIs. Porphyrio martinica L. Parra jaçana L. Palamedea cornuta L. » chavaria L. ARVICOLAE : V. II. pag. 398401. Psophia crepitans L. Dicholophus cristatus ILLIG. AQUOSAE : V. II. pag. 403 — 427. Cancroma cochlearia L. Ardea gardeni GmEL. » pileata LaTH. » — sibilatrix TEMm. » — violacea L. > — pinnata LicHT. » lentiginosa SHAW. Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. Limnopardalus maculatus Aramides ypacaha » saracura » cayana 2? Limnopardalus migricans Creciscus cayanensis | Porzana albicolhis Creciscus melanophaeus Porzana flaviventris Heliornis fulica Porphyriola martimica Jacana jacana Chauna cristata Cariama eristata Nycticoraz tayazu-guira Pilerodius pileata Syrigma cyanocephalum Nyctanassa violacea Botaurus pinnatus E dios a Burmeister A a Ardea trigrina GMEL. - > brasiliensis L. 3 scapularis ILIIG. - virescens L. » —erythromelas ViEILL. ij agami GMEL. coerulea L. cocoi L. leuce ILrrG. nivea LicHrT. candida Bei. urypyga helias ILiiG. conia mycteria TEmm. A maguari Temu. Tantalus loculator L. Ibis melanopis Forsr. plumbea Tem. infuscata LrcHrr. “cayennensis GmeL. oxycercus SPIX. guarauna LicHr. >» rubra WacL. » alba Wact. Platalea ajaja L. ES Natatores : d [re : E > E NÉria vv vv y pera LAMELLIROSTRIS : enicopterus ignipalliatus nus nigricollis GMEL.. Jubatus Srrx. s viduata Ri Da RS Aves Brasilicas V. II. pag. 429 — 441. L. 261 Cat. Mus. Brit. Tigrisoma lineatum Butorides striata » virescens Ardetta erythromelas Agamt agami Florida caerulea Herodias egretta Leucophoyx candidissima 2! Myecterra americana Euxenura maguari Theristicus melanopis Molybdophanes caerulescens Phimosus infuscatus Harpiprion cayennensis Cercibis oxycerca Plegadis guarauna Eudocimus ruber » Clbus Ajaja ajaja Phoenicopterus chilensis Cygnus melancoryphus Chenalopex jubats Dendrocyena viduata > fulva Burmeister Anas autumnalis L. » bahamensis L. » brasiliensis BRrIss. » — erythrophthalma Max. » dominica L. Cairina moschata L. Mergus brasiliensis VIEILI. LONGIPENNES : V. II. pag. 442 — 454. Pachyptila vittata Forsm. Procellaria aequinoctialis L. » atlantica GOULD. Thalassidroma wilson BonarP. » leucogaster GOULD. Larus vociferus GRAY. » — maculipennis LicHr. > serranus v. TscH. glaucotes MEYEN. Sterna erythorhynchos Max. » — magnirostris LICHT, » wilsonii BONAP. » aranea WiILS. ) argentea Pr. Max. » «, stolida. Li, Rhynchops nigra L, STEGANOPODES : V. II. pag. 455 — 461. = Phaêthon phoenicurus (MEL. Sula brasiliensis SpIx. Tachypetes aquilus L. | | ] | RE I | NR a caos: Áves Brasilicas Cat. Mus. Brit. Dendrocyena discolor Poecilonetta bahamensis Nettion brasiliense Nyroca erythrophtalna Nomonyx dominicus Merganser brasilianus Prion vittatus Majaqueus aequinoctialis Oestrelata macroptera Oceanites oceamicus Cymodroma grallaria Larus dominicanus » corrocephalus ? » maculipennais glaucodes (part. » serranus (part. Sterna maxima Phaéthusa magnirostris Sterna hirundinacea Gelochelidon anghica Sterna supereiharis Amous estolúdus Rhynchops ntercedens ? Phaeton rubricanda ? Sula sula 2 Fregata aquila Pê + "tata ] e y Ed A: [é y ] b, R “ A 4 . 4 ; à “Burmeister bi | =» Cat Mus. Brit. brasi lian us Licur. 2 Phalacrocorax vigua Eubinga |. cp PODES : NV. II. pag. 462 — 464 ; dominicus LarH. |? RE 4 ludovicianus LarH. | 2? Podilymbus podicipes ' 1 i = ( * ) i a“ à, ] Ep o od ! , " + h 4 E h ] f s | o ” E 4 o o: [ s 4 | x MT | q * ay ' b À , A , ' : ot . » dl bd 264 Aves Brasilicas PELZELN, A. v.: Zur Ornithologie Brasiliens. | Resultate von Iohann Natterers Reisen in dea Jahren 1817 — 1835. . Wien 1868. à Pelzeln Accipitres : VULTURIDAE : pag. 1 Sarcoramphus papa L. Cathartes foetens ILL. » aura L. » urubitinga NaTT. FALCONIDAE : pag. 2-8. Ibycter americanus Bopp. » formosus LaTH. » ater VIEILL. Milvago chimachima VIEILI. Polyborus brasiliensis BrIss. pa brasiliensis BRIss. » schistacea SUNDEV. » meridionalis LATH. » aequinoctialis GMEL. » unicincta TEMM. Ichthyoborus nigricollis LATH. Asturina nitida LATH. Leucopternis superciliaris PELZ. » melanops LATH. » albicollis LaTH. Cat. Mus. Brit. Cathartes papa Catharistes atratus Oenops permgra » urubitinga Ibycter americanus » chimachima Polyborus tharus Urubitinga xzonura Heterospixias meridionalis 2 == Erythrocnema unmicincia Busarellus nigricollis Urubitinga Kaupi » melanops » albicollis DR Pelzeln “Leucopternis scotoptera Pr. NEUWIED. » palliata NATT. Buteo minutus NaTT. » — pterocles TEM. Spizaetus atricapillus Cuv. > ornatus DAUD. » tyrannus Pr. NEUW. Morphnus guianensis DAavuD. » harpyia L. Circaetus coronatus VIEILL. Pandion haliaetus L. Geranoaetus melanoleucus NIB. Falco communis GmEeL. Hypotriorchis rufigularis DAUD. » femoralis Temm. Tinnunculus sparverius L. Harpagus bidentatus LaTH. » diodon TEmm. Cymindis cayanensis GMEL. » uncinatus ÍLLIG. » vitticaudus Pr. NEuUw. Elanus leucurus VIEILL. Gampsonyx Swainsoni Via. Nauclerus furcatus L. Ictinia plumbea LarH. Rostrhamus hamatus ILLIG. Astur pectoralis Cuv. » —magnirostris GMEL. » —macrorhynchus Narr. 19-Bol. do Mus. Geeldi) Aves Brasilicas 265 Cat. Mus. Brit. Urubitinga lacernulata » palhata Buteola brachiyura Tachytriochis albicaudatus Spixiastur melanoleucus Spixaetus mauduyto Thrasactus harpyia Harpyhaliaetus coronatus Buteo melanoleucus q Falco albigularis » fusco-caerulescens Cerchneis cinnamomina Leptodon cayennensis » uncinatus Elanoides furcatus Rosthramus leucopygus Asturina natterera » magnrostris 266 Pelzeln Astur leucorrhous Quoy et GarM. Geranopus hemidactylus TEM. » gracilis TEMM. Herpetotheres cachinnans L. Micrastur brachypterus Tem. » mirandollei ScHLEGEL. » xanthothorax TEMM. » concentricus ÍLLIG. » gilvicollis ViEILL. Accipiter pileatus Pr. NEUW. » poliogaster Temm. » tinus LATH. Circus macropterus VIiEILL. STRIGIDAE : pag. 8— 10. Athene huhula DAvD. » — torquata DAUD. » melanonota TscHUDI. » —ferruginea Pr. NEUW. » minutissima NEUW. » cunicularia Mor. Bubo magellanicus GEL. » —cristatus DAUD. Ephialtes choliba VíigmL. » atricapillus NATT. Syrnium hylophilum Temm. » fasciatum VIEILL. » superciliare NATT. Otus brachyotus GMmEL. » stygius WacL. » mexicanus GMEL. Strix flammea L. Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. Asturina leucorrhoa Geranospixias caerulescens Mcrastur semitorquatus 2 Mrcrastur gilvicollis BRA Circus maculosus Syrmium huhulum » perspicillatum » melanonotum Glaucidium feroz Speotyto cunicularia 2? Bubo magellanicus 2 |Seops brasilianus Ásio accipitrinus » stygws » mexicanus Pelzeln x "Passeres : CAPRIMULGIDAE : pag. 10— 15. Nyctibius aethereus NEUW. ». —cornutus VIEIL. » longicaudatus SpIx. » grandis (GMEL. Hydropsalis forcipata NITzscH. » ypanemae PLZ. » torquata GMEL. » pallescens PELZ. » trifurcata NATT. Eleothreptus anomalus GOULD. “Stenopsis candicans NATT. ». —langsdorfi Perz. » cayennensis GMEL. » parvula GouLD. » platura NaTT. » nigrescens CaB. Antrostomus serico-caudatus Cass. » cortapau NaTT. » ocellatus TscH. Nyctidromus guianensis GMEL. Chordeiles popetue VIEIL. » rupestris SPIX. » acutipennis BoDD. » brasilianus GMEL. Lurocalis leucopyga SrIx. » nattereri TEMm. Aves Brasilicas 267 Cat. Mus. Brit. Nyctibus jamarcensis Macropsalis forcipata 2 Hydropsalis furcifera » climacocercus Heleothreptus anomalus | Caprimulgus parvulus Stenopsis ruficervia ? Caprimulgus nigrescens » sericocaudatus » rufus » ocellatus Nyctidromus albicollis Chordeiles virginianus » acutipennas 2 Lurocalis semitorquatus 268 Aves Brasilicas Pelzeln Cat. Mus. Brit. Lurocalis semitorquata GmEL. | Lurocalis semitorquatus Podager nacunda VIEIL. = CYPSELIDAE : pag. 15 — 16. Chaetura zonaris SHAw. =— » biscutata NATT. = » senex TEMM. Cypseloides senex » poliura TEMM. == » cinereiventris SCLAT. = » sclateri PELZ. ER Nephocaetes fumigatus NaTT. » fumigatus Cypselus squamatus CassIN. Claudia squamata HIRUNDINIDAE : pag. 19 — 18. Progne purpurea L. = » domestica VIEILL. = Petrochelidon tapera L. Progne tapera » albiventris Bopp. | Tachycineta albiventris » leucorrhoa » leucorrhous VIEILL. » americana GmEL. | Petrochelidon pyrrhonota Cotyle flavigastra VIEILL. Stelgidopteryz ruficollis » fucata TEMM. Atticora fucata » Triparia L. Cotile riparia Atticora melanoleuca NEUW. — » fasciata GMEL. == » cyanoleuca VIEILL. ES Hirundo erythrogastra Bopp. | Hirundo rustica CORACIADAE : pag. 19. Momotus brasiliensis LATH. Momotus momota Pelzeln a” | * Momotus nattereri ScLAT. > martii SPIX. » levaillantn Less. * TROGONIDAE : “"Trogon melanurus Swarxs. a surucura VIEILL. É collaris VIEILL. variegatus SPIX. “viridis L. atricollis VIFILL. chrysochlorus NATT. aurantius SPIX. — ALCEDINIDAE : B cco giganteus NATT. — » macrorhynchus GuEL. ny swainsoni GRAY. tectus Bopp. ordii CassIN. macrodactylus SPIX. collaris LATH. tamatia GMEL. chacuru VIEILL. maculatus GMEL. striolatus NATT. y nigrifrons SPIX. leucops ILLIG. torquata WagL. fusca GMEL. pag. 19. meridionalis SwaINS. Pharomacrus pavoninus Sprx. pag. 20— 25. Aves Brasilicas Bucco hyperrhunchas Cat. Mus. Brit. “o “09 l ee E |) ? Bucco chacuru » striatipectus Monacha nigra » » maigrifrons morpheus Malacoptila torquata ». fusca 269 270 Aves Brasilicas Pelzelin Monasa rufa SPIX. » rubecula SIX. » ruficapilla TscH. Chelidoptera tenebrosa PaLL. Ceryle torquata L. » —amazona GumEL. » bicolor GMEL. » americana (GMEL. » —superciliosa L. Galbula viridis LATH. » maculicauda ScLAT. » ruficauda Cuv. » cyanicollis CassIN. » chalcocephala DeviLLE. >» leucogastra VIEILL. » paradisea L. » inornata SCcLAT. » melanosterna ScLAT. » tridactyla VIEILL. Jacamerops grandis GMEL. PROMEROPIDAE : pag. 25— 26. Caereba cyanea L. » coerulea L. > nitida HARTLAUB. Dacnis cayana L. » — cyanocephala L. » — flaviventris ORrB. ET LAFR. » — atricapilla VIEILL. » — speciosa Pr. NEUW, Certhiola chloropyga Cas. Cat. Mus. Brit. Malacoptila rufa Nonnula rubecula » ruficapila Ceryle inda Galbula rufo-veridis gi cyaneicollis » albirostris Urogalba paradiseu Brachygalba lugubris » melanosterna Jacamaraleyon tridactyla Coereba cyanea > caerulea » mtida Dacnis angelica 2 -“Chlorophanes spixa Aves Brasilicas Pelzeln TROCHILIDAE;: pag. 26-— 34. Phaetornis superciliosus L. » pretrei DELAT. ET LESS. » anthophilus Bourc. » eurynome Less. » squalidus NATT. » louguemareus Less. » eremita GOULD. » davidianus LEss. Ametrornis abnormis NATrT. Glaucis hirsuta GmEL. Grypus naevius DumonT. Campylopterus largipennis Bopp. Aphantochroa cirrochloris VIEIL. Eupetomena macroura GEL. Lampornis mango L. Petasophora serrirostris VII. Polytmus viridissimus VIEILL ET ÁAUDES. | Agyrtria albiventris Less. » albicollis VIEILL. » maculata VIEILL. » leucogastra GMEL. » brevirostris Less. » milleri Lopp. » mellisuga L. » meliphila NarTr. » media NATT. Cat. Mus. Brit. Phaethornis hispidus? Phaethornis natterera Pygmornis pygmaeus Phaethornis bourciera Rhamphodon naevins Eupetomena macrura Lampornis violicauda | Agyrtria tephrocephala Leucochloris albrcollas Agyrtria viridissima » leucogaster » compsa Chlorostilbon prasinus ata Pelzeln Thalurania glaucopsis GmEL. » iolaemos NATT. » furcata GmEL. » eriphile Less. » nigrofasciata GovLD. Topaza pella L. Florisuga mellivora L. » fusca VIEILL. Heliomaster regis ScHREIB. » squamosus Temm. » " longirostris ViILL. Clytolaema rubinea GmEL. » schreibersii LoDpD. Heliactin cornuta Pr. NEvuw. Gouldia langsdorfii VIEILL. Calliphlox amethystina GmEL. Lophornis magnifica VIEILL. » reginae SCHREIBERS, » chalybea VIEILL. Chrysolampis moschita L. Cephalolepis delalandii VIEIL. » loddigesii (GOULD. Chrysuronia chrysura SHAW. Hylocharis sapphirina GMEL. » lactea Less. » cyanea VIEILL. » flavifrons GMEL. » coerulea VIEILL. Augastes superbus VIEILL. Heliothrix aurita (GMEL. > nigrotis LEss. Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. x Ptochoptera iolaema Thalurania fwurcatoides NE) Heliomaster fwrcifer Lepidolaryna mesoleucus Floricola longirostris Tolaema schreibersi Prymnacantha langsdorfji Lophornis magmificus » stictolophus » chalybaeus Chrysolampis moschitus Cephalolepis delalandi » loddigest Chrysuroma ruficolhis ARE Chlorostilbon pucherana Eucephala caerulea Heinz auritus Eos “Sd Rad. RA Tr PR ER Sh ara. a si , . EM “ Ri se A à da 2” E Aves Brasilicas 213 Pelzeln Cat. Mus. Brit. Ee. E o SRTHIDAE : pag. 34 — 49, » Furnarius badius LrcHr.' Furnarius rufus É commersoni PELZ. » albigularis figulus ILLIG. a leucopus SwaINs. = minor NATT. = Lochmias nematura LicHrT. 2? Lochmias nematura Geobates poecilopterus NEUW. Synallaxis ruficapilla VIEILL. Ps spixi SCLAT. frontalis NATT. “albescens TEMM. cinerascens TEM. kollari PeLz. rutilans Temm. torquata NEUW. phryganophila E ViEILL. inornata Perz. Synallaxis guranensis vvvyvrvy RV = albilora PeLz. — Ú ruficauda VigILL. » cinnamomea propinqua Petz. = cinnamomea GmEL. | =— vulpina NarTr. = alopecias PeLZ. DA vulpina pallida Pr. Neuw. | Siptornis pallida fitis Narr. >» rutecilla hyposticta PeLz. » hyposticta ; striolata NaATT. 2 nu AR acuticaudatus Less. | 2 Anumbius acuticaudatus ruber VieILL. ? Phacelodomus ruber - . do Mus. Geeldi) Pelzeln Anumbius striaticollis OÓRB. ET-LAFR. > rufifrons ILLIG. Anabates cristatus Spix. > concolor NaTT. » — leucophthalmus Pr. NEeuw. » — dendrocolaptoides Temm. » — erythrocercus PLZ. » rufosuperciliatus Larr. » infuscatus Temm. » contaminatus Licur. » — atricapillus NEeuw. » — superciliaris LicHr. » — poliocephalus LrcHr. » — dimidiatus Perz. » — pyrrhodes Cap. » — rufipileatus PeLz. » — turdinus NaTT. » — selateri PrLZ. Xenops anabatoides Temm. » genibarbis IcLIG. » approximans Perz. » tenuirostris PeLz. >» rutilus LicHr. Oxyrhamphus flammiceps Temm. Glyphorhynchus cuneatus LrcHr. Sittasomus erythacus LicHr. >» olivaceus NEeuw. » amazonus DEVILLE : Ape Rar Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. ? Phacelodomus striaticollis 2 ? Homorus cristatus 2! ? Automolus leucophthalmus Clibanornis dendrocolaptoides Phalydor erythrocercus ? Anabaxzenops rufo-supercihatus 2 2? Heliobletus superciliosus E Philydor atricapillus 2 » rufus 2 ? » pyrrhodes ? Automolus turdinus Cá » sclateri ? Anabatoides fuscus ? Xenops gemibarbis » » ? ARS rutilus ? Glyphorhynchus cuneatus ? Sittosomus erithacus ? » “olivaceus 2 = e - Pelzeln Sittasomus stictolaemus Perz. Dendrocincla longicauda NarTT. » turdina Licur. ” > minor PeLZ. » fumigata LicHr. » merula LicHr. Dendrocolaptes picumnus LrcHr. » pallescens PeLz. » certhia Bopp. » concolor PeLZ. Xiphocolaptes albicollis VIEILL. » perrotii Larr. » temminckii Larr. » major ViEILL. Picolaptes falcinellus Licnr. » tenuirostris LrcHr. » bivittatus LicHr. » albolineatus Larr. » fuscicapillus PeLz. Xiphorhynchus procurvus Temm. » lafresnayanus OrB. » trochilirostris Licur. Nasica longirostris Licur. Dendrornis eytonii Sctar. » rostripalleus Larr. » guttata LicHr. » pardalotus ViEILL. » ocellata Srrx. » spixii Less. Aves Brasilicas 215 Cat. Mus. Brit. Sittosomus stictolaemus f Dendrocincla fuliginosa ? Dendrocolaptes preumnus ? > certhia 5] Xiphocolaptes albicollis “a Hylexetastes perroti ? Dendrexetastes temmincki ? Xiphocolaptes major ; ? Picolaptes tenwirostris ? » bivittates ? » albolineatus ? Xiphorhynchus procurvus ? » trochilirostris ? Nasica longirostris ? Dendrornis guttata ? » pardalotus e A ás dd DE Ma E o 276 Pelzeln Dendrornis elegans Petz. Dendroplex similis Narr. » picus GMEL. Scytalopus indigoticus LicHr. Pteroptochus niger NaTT. » thoracicus ScLAT. Cyphorhinus cinctus NarrT. > marginatus ScLAT. » musicus Bopp. > leucostictus Cas. Thryothorus striolatus Neuw. » galbraithi Lawr. » lencotis Larr. » minor PLZ. > platensis NEuw. > coraya (MEL. » melanos VieIrL. Cistothorus polyglottus VigirL. Odontorhychus cinereus Narr. Heleodytes griseus Sw. Campylorhynchus unicolor Larr. > variegatus GmeL. Donacobius atricapillus L. LUSCINIDAE : pag. 69—73. Anthus breviunguis Spix ? » chii VrILL. > correndera ViEmnL. > rufus GmEL ? Polioptila dumicola VremL. » leucogastra NEuw. Hylophilus thoracicus Temm. » pectoralis TEmm. Dendrormis multiguttata ? Dendroplex preus Neoctantes niger Liosceles thoracicus 21 na ? Microcerculus marginatus ? Cyphorhinus musicus ? Henicorhina leucosticta Thryophilus longirostris . az - ? » galbraithi » leucotis > minor Troglodytes musculus a Thryothorus genibarbis | Campylorhynchus griseus Dendroeca striata Anthus rufus Nanthocorys nattereri Anthus chia btylophits thoracicus A Aves Brasilicas sã 277 Pelzeln Cat. Mus. Brit. | Hylophilus poecilotis Temm. Ec > brunneiceps ScLar. IR) ferrugineifrons “e SCLAT. E hypoxanthus Perz. | Hylophilus awrantiifrons “Dendroeca bicolor VienL. 2! E, aestiva (MEL. ssa arula pitiayumi Vier. NR ichas velata ViEILL. Geothlypis velata sileuterus vermivorus ? Basileuterus auricapillus VIEILL. hypoleucus Cas. sea leucoblepharus Ee VIEILL. leucophrys Narr. E stragulatus LicHr. EE Myiothlypis flaveolus BarRD ? » flaveolus Vireosylvia agilis LrcHr. “Vireo chivi DO » | mystacalis Cas. ? e re . “ FORMICARIIDAE : Rs + pag. 73-92. ft » clorhis ochrocephala TscH. == Pp : 38 Fe + —» | guianensis GueL. a E » wiedii PeLZ. Cyclorhis ochrocephala Siastes nigropectus Larr. Biatas nigropectus unduliger Perz. = severus LicHrT. == guttatus ViEILL. — major ViEILL. | borbae Perz. | | 218 : * Aves Brasilicas Pelzeln Thamnophilus atricapillus GMEL. > luctuosus LicHr. » tschudii PeLz. > cinereoniger PELZ. » ambiguus SwaINs. » stricturus PELZ. » naevius LaATH. » amazonicus SCLAT. » cinereinucha PELZ. » cinereiceps PELZ. » stictocephalus PeLz. » punctuliger PELZ. » polionotus PLZ. » saturninus NATT. > schistaceus ORB. » murinus NATT. » incertus PELZ. » strigilatus SpIx. » capistratus Less. » radiatus VIEILL. » palliatus LrcHr. » torquatus SwaINS. » rnficapillus VIEILL. Pygiptila maculipennis ScLAT. » margaritata SCLAT. Dysithamnus guttulatus LicHrT. » mentalis TEmu. » affinis PELZ. Thamnomanes caesina LicHrT. » glaucus Cas. Herpsilochmus pileatus Lrcwr. Cat. Mus. Brit. Thamnophilus cirrhatus » maculatus 2 Dysithammnus schistaceus ? Ancistrops strigilatus Thamnophilus doliatus » capistratus ? ? » ruficapillus ? Pygoptila margaritata o 4 » » » » >» no” e Es: Pelzeln “Herpsilochmus atricapillus Narr. longirostris NaTT. dorsimaculatus Namt: rutimarginatus Myrmotherula pygmaea GmeL. gularis SPpIX. haematonota SCLAT. ornata ScLAT. hauxwell Scar. minuta Licwr. assimilis PELZ. cinereiventris SCLAT. melanogastra SpIX. axillaris VIERA. luctuosa Temm. melanea ScLArT. longipennis Perz. menetriesii ORB. unicolor MENETR. rmicivora grisea Bopp. rufatra ORB. melanogaster NaTr, leucophthalma PeLz. ruficauda NaTr. ferruginea Temum. genei FILIPPI. malura Na'rr. squamata LicHr. bicolor Narr. Terenura maculata Pr. Neuw. melanoleuca NATI. | iluda di ; didi iria é ad Rus Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. Myrmotherula pyrrhonota » » e Se conereiventris luctuosa 28) Aves Brasilicas Pelzeln Cat. Mus. Brit. Rhamphocaenus melanurus = VIEILL. >» collaris NATT. = Cercomacra caerulescens = VIEILL. » tyrannina ScLAT. = » approximans PELZ. == >» melanura MENETR. | Myrmecixa atrothorasx: » ruficauda Peri. » pelzelni » nigricans SCLAT. Cercomacra carbonaria » melanaria MENETR. = Pyriglena leucoptera VIEILL. = » maura MENETR. Pyriglena atra Percnostola funebris Licwr. = » minor PELZ. = » leucostigma Heterocnemis leucostigma Sclerurus caudacutus ViEILL. | Selerurus wmbretta » rufigularis NATT. » mexicanus Heterocnemis albiventris Heterocnemis argentata PeLz. Myrmecisa loricata LicHr. = » squamosa NaTT. E » cinnamomea (MEL. = Hypocnemis cantator Bop». = » flavescens NaATT. e » poecilonota Cuv. E » myliotherina SpIx. = » lugubris Cap. » leucophrys “TscH. SE melanopogon E SCLAT, » maculicauda Perg. ç » margaritifera PeLZ. Hypocnemis naevia GmEr. Pithys albifrons GmeL. | Pelzeln Pithys cristata NaTT. » rufigula Bopp. E » — leucaspis Scrar. | Ê griseiventris PeLZ. Re. torquata Bopp. , Palogopsis nigromaculata + » Ro ruficeps Srix. » — analis ORB.ET Larr. amaeza brevicauda VigIIL. srallaria varia Bopp. imperator NaTT. brevicauda Bopp. macularia Temm. fulviventris ScLar. nopophaga melanogaster in 4 pthopsis calcarata anthoides Cuv. HA tb E curdus swainsoni Cap. E. fuscescens SrÉPH. | albicollis VIEgILI. “phaeopygus Cas. 21 Bol » do Mus. Geeldi) 1 ú sé Li Larr. ET ORB. » | erythroptera Govrp. “Formicarius cayanensis Bop». ochroleuca Pr. NeUWw. MENETR. lineata Pr. Neuw. melanops VigiL. maximiliani Cas. Pr. NEeuw. + pag. 92-95. Aves Brasilicas 281 Cat. Mus. Brit. ? Gymnopithys vufigula Pithys leucaspis ? Formicarius migrifrons » colma | | Conopophaga melanogastra » —-nigrigenys | | | 282 Aves Brasilicas Pelzeln Cat. Mus. Brit. Turdus albiventer Spix. = » leucomelas VIEILL. — » — poiteauii Less. Conopophaga lencomelas » fumigatus LicHr. E » — rufiventris VIEILL. » rufiventer » flavipes VIEIL. Merula flavipes Mimus triurus VIEILL. | És » lividus LicHT. == » gilvus VIEIL. Si »” Ssaturninus LicHT. == TYRANNIDAE : | 95--119. | Attila cinereus GmEL. Ps » validus PELZ. = » Dbolivianus Larr. ? » thamnophiloides Sprx. Er » trufigularis PELZ. | ? » spadiceus (GMEL. RE » uropygialis CAB. a » phaenicurus NaATT. ? Casiornis rubra VIEILL. Ev Taenioptera nengeta L. = » velata LrcHrT. » — dominicana VIEILL. Fluvicola pica Bopp. Es » albiventris SPpIXx. > climacura VIEILL. Arundinicola leucocephala L. Alectorurns tricolor VIEILL. Sisopygis icterophrys VIEILL. Cnipolegus comatus LrcHr. | » nigerrimus VIEILL. | » cyanirostris VIEILL. » unicolor Kavr. vo | RO ( ; J. * co8 To Aves Brasilicas Pelzeln ichenops perspicillata GEL. “ybernetes yetapa VIEILL. Muscipipra vetula Lrcmr. E “Copurus colonus VIgILL. Machetornis rixosa VIEILL. Platyrhynchus rostratus LATH. Tt os E > mystaceus VIEILL. “Todirostrum cinereum L. | » poliocephalum Pr. NEUW. » guttatum PeIZ. » maculatum Des. Euscarthmus margaritaceiventer LAFR. Euscarthmus fumifrons HaRrTL. latirostris PELZ. senex PELZ. inornatus PELZ. orbitatus Pr. NEUW. gularis NATT. zosterops PELZ. nidipendulus PR. NEeuw. > furcatus LAFR. Orchilus ecaudatus Larr. ET ORB. a e e e me eim St e NEUW. flaviventris LAFR. pectoralis VIEILL. Cat. Mus, Brit. | | | | | | | Euscarthmus pelzelni Habrura: pectoralis » E TA Ka Pelzeln Hapalocercus rufomarginatus. PeLz. Culicivora stenura Temm. Serpophaga subcristata VIEILL. » cinerea STRICKL. Pogonotriccus eximins Temm. Stigmatura budytoides LarRr. Mionectes oleagineus LicHr. » rufiventris LicHT. Leptopogon amaurocephalus . Cas. Capsiempis flaveola LicHr. Phyllomvias brevirostris SpIx. » virescens NaTT. | » subviridis NATT. | » semifuscus ScLAT.. Mvyiopatis obsoleta NarTr. | » incanescens NEUW. » pusilla Cap. Tvyrannulus elatus LarH. Elainea pagana LicHr. » — spectabilis PELZ. » cristata PELZ. » modesta TscH. ? » albiceps | Larr. ET ORB. » albivertex PELZ. » parvirostris PELZ. > elegans PELZ. » caniceps SwaINs. » cimerea PELZ. » implacens ScLAT. » — ruficeps PLZ. Aves Brasilicas E ua Cat. Mus. Brit. . | | | ) EUR Phyllomyias burmeisteri Sublegatus platyrhynchus Ornithion obsoletum - + > umberbe? Tyranniscus gracilipes Rei Elainea albiceps » gaimardi a » gaimardi (part). F » caniceps (part) ? vo ? >» placens a Aves Brasilicas “Das Pelzeln “Elainea obscura a Larr. ET ORB. | pes » affinis LUND. od » httoralis Narr. Ochthornis littoralis Legatus albicollis VIiEILL. E ' Myiozetetes similis SpIx. o » cayennensis L. e. >. columbianus Cap. Myioxetetes texensis » - luteiventris . se u ScLAT. > sulphur eus SpIX. Ea 4 “ Rynchoeyclus olivaceus TeMm. ds É Meco | Rhynchocyelus sulphurescens » poliocephalus = LicHr. » — flaviventer Sprx. | = »* — megacephalus =— SWAINS. E» ruficauda SIX. = Conopias superciliosusSwaINs. | Conopias trivirgata Pitangus lictor LicHr. ? Pitangus lictor Rs suphuratus L. [e ha » maximiliani Cas. i Fa » bellicosus ViEILL. |. y boliviantus RE > parvus PLZ. E Sirystes sibilator VIEILL. Eu Myiodynastes solitarius VIEILL. = >» audax VIEILL. E Megarhynchus pitangua L. =— uscivora regia (GMEL. = Hirundinea rupestris Neuw. | Hirundinea bellicosa . ps » ferruginea GmEL. = GR! Myiobius barbatus GmEL. ] Myobius barbatus » xanthopygius Spix. |! pe | | 280 Aves Brasilicas Pelzeln Myiobius erythrurus LrcHr. » naevius BODD. Pyrocephalus rubineus Bopp. Empidochanes fuscatus Neuw. » — Tringillaris LrcHr. » — poecilurus ScLAT. » — poecilocercus PELZ. Myiochanes cinereus SpIx. Myiarchus ferox GmEL. » cantans PELZ. » tricolor NATT. > gracilirostris PELZ. Empidonomus varius VIEILL. Tyrannus melancholicus VIEILL. » . albogularis Bukm. » inca LicHrT. Milvulus violentus VIEILL. COTINGIDAE : pag. 119 — 136. Tityra cayana L. » brasiliensis SwaINS. » —semifasciata SPIX. » — inquisitrix OLFERS. » —albitorques Du Bus. » Jeucura Narr Hadrostomus atricapillus VIEIL. > minor Less. Pachyrhamphus viridis VIEIL. » cinereus Bopp. Cat. Mus. Brit. Ea ? Empidochanes fuscatus JR Myiarchus tyrannulus » ferox » tricolor Emprlonomas aurantio-atro-eristatus Milvulus tyrannas papo Toityra inquaisitor a Aves Brasilicas 281 Pelzeln Cat. Mus. Brit. P: chyrhamphus = polychropterus VIEILL. » atricapillus GMEL. em rufescens GmEL. Pachyrhamphus rufus é Lipaugus plumbeus LrcHr. Lathria cinerea E virussú NaATT. » virussu E > simplex LicHr. = A julia hypopyrrha ViEILL. | ars Aulia hypopyrrha —» lateralis Gray. ) Ppopp PE Heteropelma rufum Natr. Schiffornis rufa E turdinum Nevw. =— virescens NEUW. = amazonum ScLAT. E flavicapillum — SOLAR |” chrysocephalum = PrrZ, » aurifrons Neuw. | Neopelma aurifrons eterocercus linteatus — STRICKL. flavivertex PELZ. — lochloris squamata LicHr. == ites pileatus Temm. chloris NaTT. chlorion Cas. | = Jodopleura isabellae ? Jodopleura isabellae -. ES PAnAnDARI | Pip ra filicauda Six. Cirrnopipra filicauda á f Pipra aureola (part.) DU > avicollis (part.)? fasciata LFR. ET ORB. = cornuta SPIX. Ceratopipra cornuta rubrocapilla Briss. Pipra rubricapilla auricapilla BrIss. Es " Teucocilla L. =— aureola L. - 5 ] q Pelzeln Pipra nattereri ScLAT. » —opalizans PELZ. » -ecyaneocapilla HaHx. » — virescens PELZ. Machaeropterus regulus HaABxN. | » pyrocephalus ScLAT. Nicura militaris SHaw. Chiroxiphia caudata SHaw. » pareola L. » regina NaTT. Xenopipo atronitens Cas. Metopia galeata LrcHr. Chiremachaeris manacus L. » gutturosa DEsmar. Phoenicocercus carnifex L. » nigricollis Swarxs. Rupicola crocea VIEHL. Phibalura flavirostris VIEILL. Procnias tersa L. > occidentalis ScLAT. Ampelio cucullatus SwaIxs. Cotinga coerulea VIEIL. > cayana L. » maynana L. Xipholena pompadora L. » — lamellipennis Larr. Querula cruenta Bopp. Haematoderus militaris LaTH. Chasmorhynchus nudicollis VELIL. » niveus Bopp. Gymnoderus foetidus L. Gymnocephalus calvus GMEL. Pyroderus scutatus SHAw. Helicura militoris ! ( Procnias tersa | | Ee Aves Brasilicas 289 Pelzeln E Cat. Mus. Brit. Cephalopterus ornatus Procwia tersa GEOFFR. CORVIDAE: pag. 189—191. * Cyanocorax cyanoleucus Uroleuca cyanolenca Pr. NEuw. » pileatus ILLIG. Cyanocorax chrysops » diesingii PELZ. | » cayanus L. > cyanopogon NEUW. » — cyanomelas VIEILL » violaceus Du Bus. |. » azureus TEMM. » caerules » heckelii PeLZ. — PRESAS) ICTERIDAE: pag. 191- 202. Ostinops cristatus Bopp. Ostinops decamamnus p “DR bifasciatus Six. Gymnostinops bifasciatus » viridis BODD. = » yuracarium >» yuracarvem Ors. ET LarR. > angustifrons Spix. | 2 Ostinops angustifrons. Cassicus persicus L.. e » haemorrhous L. 2 » affinis SwaINs. E Cassiculus albirostris VigILL. | Cassicus albirostris E» solitarius VIEILL. Amblycercus solitarius Hyphantes pyrrhopterus Ieterus parrhopterus E VIEILL. P Pendulinus chrysocephalus L. >» — chrysocephalus Ieterus croconotus WaLz. >» — xanthornus GuEL. 2-Bol. do Mus. Geeldi. am ” IR] 290) Aves Bra:alicas Pelzein lr, Cat. Mus. Brit. Agelaius chopi ViIEILL. 2? Aphobus chop? » cyanopus VIEILI. Agelacus cyanops Leistes militaris L. 2! » — superciliaris NATT. ? Leistes superciharis » erythrothorax NaTrT. » guranensis Gymnomystax melanicterus as VII. Xanthosomus icterocephalus | Agelacus icterocephalus L. | Pseudoleistes viridis (GMEL. Pseudoleistes guirahuro Sturnella meridionalis ScLaT. | Sturnella magna Amblyrhamphus holosericeus | 2 Amblyrhamphus holosericeus Scor. . Dolychonyx oryzivorus L. = o » ruficapilus ViEILL. | Agelaeus frontalis Molothrus murinus Mus. €. V. 2! » brevirostris SwAINS? 21 » sericeus LicHrT. Molotrhus bonariensis » atronitens Cab. IH) Cassidix ater VIEIIL. Lampropsar tanagrinus SpIx. Cassidix oryzivora TANAGRIDAE: pag. 202221. Chlorophona viridis VIEILL. | Chlorophonia viridis EKuphona nigricolis VíIEILL. | = ú chlorotica L. | Euphonia chlorotica » serrirostris |] Lars. ET ORB. » ochrascens PeLZ. | > ochracens » minuta CAB. = > concinna SCLAT. » finscha » chalybea NarT. Hypophaea chaliybea á roleta a ba 1 Euphomia volacea » lichtensteinii Cas. |) a sm Euphona laníirostris “a Orp ET Larr. cayana L. rufiventris VIEILL. pectoralis LaTH. plumbea Du Bus. Tanagrella iridina Harrr. ridea melanonota Vig. calliste coelicolor Scar. = » yeni Larr. ET ORB. E» tricolor GMEL. » festiva SHAW. cyaneiventris VIEILL. thoracica TEmm. punctata L. cayana L. flava GMEL. pretiosa Cas. melanonota SwaINS. gyroloides LaFRr. brasiliensis L. » » » » - E flaviventris VIEILL. nigricincta BONAP. cyanicollis Larr. ET ORB. ephanophorus | leucocephalns VigrIL. a episcopus L. sayaca L. ornata SPARM. palmarum Nevuw. melanoptera Harrr olivina Narr. “APR | , ] . | | RS o 7 ON PCR o Te did o st À = KR É . É - tê t mm, "4 á o Ares Braxilicas 291 “Pelzeln Cat. Mus. Brit. * Pipidrea melanonota Calliste tatao ERERMBOLAHAHI » faviventris (part.) >» boliviana (part.) | ? Calliste eyaneicollis RIR IR! HTanagra palmarum Schistochlamps atra. 9 do) [EO] Pelzeln Rhamphocelus ephippialis SCLAT. » nigrigularis Sprx. » albirostris Bopp. » atrosericeus Larr. ET ORB. Piranga saira SPIX. Orthogonys viridis Sprx. Phoenicothraupis rubica VIE. » rubra VIEmL. Encometis albicollis Larr. ET ORB. » penicillata SpIx. Trichothraupis quadricolor VIEILL. Tachyphonus melaleucus SPARM. » luctuosus Larr. ET ORB. » coronatus VIEILL. » surinamus L. > cristatus GMEL. nattereri PELZ. » phoeniceus SwaINs. Cypsnagra ruficolis LrcHr. Nemosia pileata Bopp. » guira L. » flavicollis VrEILL. insignis ScLAT. auricollis ScLAT. » ruficapilla VIeILL. » fulveceus STRICKL. » sordida LarRr. ET ORB. Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. | > | Nemosia flavicollis | Thlypopsis sordida ] Rhamphocoelus dorsalis Pelzeln Pyrrhocoma ruficeps SrrickL, Granatellus pelzelni ScLaT. Arremon silens Bopp». polionotus PucHERAN. semitorquatus ; SWAINS. Cissopis leveriana Gmer. «amprospiza melanolenca q N LEREL. Se altator magnus GmEL. “a similis LAFR. ET ORB. olivascens Cap. plumbeus Bomar. azarae Cap. atricollis VIEILL. copis fasciata LrcHr. Orchesticus abeillei Less. » capistratus NEUW. > ater GMEL. Pitylus grossus L. > fuliginosus DAv». >» cayanensis BriIss. “» brasiliensis Cap. a FRINCILLIDAE: pag. 221232. heucticus aureiventris f Larr. ET ORB. raca cyanea L. —» — cyanoides Larr. » | glauco-coerulea E Larr. ET ORB. ryzoborus crassirostris GMEL. “Ea torridus GMEL. e à Aves Brasilicas ? Saltator » olivascens superciliaris Schistochlamys capistratius » Guiraca cyanea Pitylus viridis IH ater Er ia audo E 294 Aves Brasilicas “e Pelzelin Cat. Mus. Brit. Oryzoborus unicolor LicHr. | Phonipara fuliginosa » fringilloides PeLZ. 2) Spermophila superciliaris = NATT. , » hypoleuca Lica. = » plumblea Pr. Neuw. E= » cucullata Bopp. | = » atricapilla NEUw. Spermophila potionata » lineola L. = » ornata LicHrT. » coerulesceres » caboclinho NATT. = » melanops NaATT. = » gutturalis LicHr. = » melanogaster NATT. ess » castaneiventris CAB. E » hypoxantha LicHr. == » ruficolis LicHr. res » nigrorufa =— Larr. ET ORB. >» cinnamomea LaAFR. = » pileata NATT. — » aurantia (GMEL. » nigroanrantia Volatinia jacarina L. Cyanospiza cyanella SpARM. Haplospiza unicolor LicHr. Volatinia jacarini Porphyrospixa pulchra ? Haplospixa wmicolor » crassirostris NATT. 2) Paroaria cucullata LaTH. =— » gularis L. Paroaria cervicalis » capitata ga. Larr. ET CRB. Coryphospingus cristatus GMEL. » pileatus NEUW. Tiaris ornata Pr. NEUW. Poospiza lateralis Narr. Poospixa assimilis » Pelzeln Poospiza oxyrrhyncha NaTT. schistacea LicHrT. Zonotrichia pileata Bopp. — Coturniculus manimbe Lrcwr. | » peruanus BONAP. Embernagra platensis GmEL. “ Emberizoides sphenurus » VIEILL. melanotis Temm. Chrysomitris icterica LrcHrT. dycalis flaveola L. » » » » » columbiana Cap. brasiliensis GmEL. minor Cas. hilarii BonNaP. citrina NaATr. 'Scansores: RHAMPHASTIDAE: » pag. 233239. ' Rhamphastos toco Gmer. » erythrorhynchus GMEL. cuvieri WAgL. culminatus GouLD. osculans (GOULD. ariel Vic. vitellinus Iric. dicolorus L. Pteroglossus wiedii Srurm. pluricinctus GovLp. castanotis GOULD. inscriptus SwaINs. humboldtii Wag. — ame Aves Brasilicas Cat. Mus. Erit. Coryphospiza albifrons Poospriu cinerea Ammodromus manimbe 2 » peruanas Coryphosprsa melanotis Sycalis pelzelui » minor Pseudochloris catrina 1 Pal] IL [ENO 296 Aves Brasilicas Pelzeln Pteroglossus viridis L. » bitorquatus ViIG. » sturmii NAT. » flavirostris FRASER. » beauharnaisii WacL. » bailloni WiEILL. Selenidera maculirostris ILLIG. gouldii NATT. nattereri GOULD. » piperivora L. CAPITONIDAE: pag. 239. Capito auratus DumonT. PICIDAEÉE: pag. 240254. Picumnus temmickii Larr. cirratus TEMM. » minutus L. » — sagittatus SUNDEVAL. >» — aurifrons NATT. » —borbae PELZ. » —leucogaster NaATT. .» fuscus NATT. Campephilus melanoleucus GMEL. » rubricollis GMEL. » trachelopyrus MALHERBE. » robustus FREYEEISS. Cat. Mus. Brit. Pteroglossus sturma Andigena bailloni Capito punctatus Picummnus cirrhatus Campophylus melanoleucus » rubricollis trachelopyrus robustus Pelzeln ocopus lineatus L. erythrops Cuvier. galeatus NaTT. capistratus NaTT. erythropes VigILL. flavigula Bopp. leucolaemus Narr. ?icus cancellatus WacL. npias maculifrons Spix. selysii MALHERBE. Sa. ruficeps SpIx. tephrodops War. murinus NaTT. olivinus NarTrT. spilogaster WacL. onerps candidus Orro. nerpes rubrifrons Six. » | hirundinaceus L. flavifrons VrerrL. icteromelas VIEILL. leus tinnunculus Wacr. » — multicolor (GumeL. » — flavescens GMEL. » —ochraceus Spix. (23 Bol, do Mus. Geeldi.) A: Aves Brasilicas loronerpes aurulentus ILLIG. » — chrysochlorus VigILL. melanocephalus NaTT. chlorozostus WacL. 297 Cat. Mus. Brit. Ceophloeus lineatis » erythrops >» galeates Chloronerpes brasiliensis (part.) >» capistratus (part.) » erythropsis Dendrocopus cancellatis Dendrobates maculifrons » alfimas var. a, Dendrobates ruficeps var. », » haematostigma . Dendrobates tephbrodops » MUrins » olivimus » spilogaster Melanerpes candides > rubra froms » cruentatrs Chrysoptilus guttales » melanochlores Colaptes campestres Cerchneipicus tinmunculs ? » multicolor 298 Aves Brasilicas Pelzeln Celeus lugubris Narr. » » » » » » » cinnamomeus GmEL. reichenbachii MALHERBE. jumana SpIx. citrinus Bopp. grammicus NarTrT. rufus GumeL. multifasciatus NarTr. PSITTACIDAE : pag. 254 — 268. Sittace hyacinthina Larn. » » » » » » macao L. chloroptera Gray. ararauna L. macavuanna GumEL. severa L. maracana VIEILL. auricollis Cassix. nobilis L. hahni Souvaxct. Conurus haemorrhous Spix. » » » » » guaruba GmEL. pavua Bopp. solstitialis L. jendaya Gen. weddelli DeviLLE. aureus (MEL. pertinax L. cruentatus Pr. Neuw. vittatus SHaw. leucotis Licnr. luciani DevILLE. perlatus Srlx. Cat. Mus. Brit. Celeus elegans Crocomorphus flavus Celeus wndatus Anodorhynehus hyacinthinus Ara macao » chloroptera >» ararauna >» macavuana » severa >» maracana » auricolhis » nobilis » habni | Conurus quarouba » lencophtalmus >» aeruginosus Pyrrbura cruentata > vittata > leucotis » luciani » perlata a onurus molinae E Mass. ET SOUAN. rhodogaster Narr. melanurus SpIx. dtogerys tiriacula Bopp. xanthoptera SrIx. virescens (GmEL. jJugularis DevirtE. tuipara (MEL. chrysosema Narr. tui GMEL. as cyanogaster NEuw. brachyurus Temm. eT Kun. mitratus Pr. Neuw. barrabandi Kvnr. vulturinus ILLIG. melanocephalus L. xanthomerus (Rar. leucogaster IrLIG. menstruus L. » — maximiliani Kun. >» | violaceus Bopp. — accipitrinus L. ysotis festiva L. | brasiliensis L. vinacea Pr. Neuw. diadema Srix. dufresniana KvuL. À nattereri FINschH. farinosa Bopp. amazonica L. ochrocephala (er. aestiva Laru. E | Cat. Mus, Brit. Pyrrhura molinae » rhodogaster » melanura ? Brotogerys tirica » chiriri » devillei RIR Triclaria cyanogaster Pachymus brachywrus Pionopsittacus pileatus barrabandi Guypopsittacus vulturinus Caica melanocephala xanthomera leucogaster Pionus menstruus maximiliani fuscus Deroptyus acciptrins » ; » » » RIR! Chrysotis salvimi nl dufresneana (part.) rhodocorytha (part.) » » [RIM LR 300 Aves Brasilicas Pelzein Cat. Mus. Erit. Chrysotis xanthops SrIx. Psittacula passerina L. » sclateri (GRAY. = » purpurata (GMEL. Urochroma purpurata IR) CUCULIDAE ; Crotophaga major L. = > dim 1. — Octoptervx guira GMEL. ? Guira quiari Dromococeyx phasianellus ? Dromococceyx phasianelus SPIX. - » pavoninus NatTT. SE Diplopterus naevius L. ? Diplopterus naevius Neomorphus geoffrovi Tem. = » rufipennis Gray. = Piaya macroura (1AMBEL. P; REL | iaya cayana » —melanogaster VIEILL. » melanogastra » rutila ILLIG. >» minuta Coccygus seniculus Lar. Coccyzus minor » melanocoryphus >» melanocoryphus VigILL, » bairdi ScLarT. >» americanus Columbae : COLUMBIDAE : pag. 274279. Crossophthalmus Columba picaruro gymnophthalmus Tem. Lepidoenas speciosa GmEL. » speciosa Chloroenas plumbea Viem1T. » plumbea » rufina Temu. » rufina Pelzeln Co umbula picui Temum. E » campestris SpIx. Zenaida maculata VIEILL. Aa ruficauda Gray. “hamaepelia passerina L. Scardafella squamosa Temu. Peri stera cyanopis Narr. > cinerea Temm. es geoffroyi Temm. Leptóptila ochroptera NarTrT. % » rufaxilla Ricn. » reichenbachii PeLz. opeleia montana L. Vs violacea Temm. pisthocomus cristatus Larn. e elope cristata L. a nigricapilla Gray. ochrogaster Narr. pileata LicHr. superciliaris ILLIG. Jacutinga Sprx. grayi PELZ. cujubi Narr. lida motmot L. superciliaris Gray. » amazilia Bonar. >» talpacoti Temm. boliviana REICHENL. nattereri REICHENL. Aves Brasilicas Cat. Mus. Brit. Uropelia campestris Zenaida auriculata Chamaepelia minuta Oxypelia cyanopis PA Geotrygon montana » violacea Opisthocomus hoaxin Penelope jacupeba » obscura IR! Pipile jacutinga » » cumanensis cugutbi Ortalis motmot » araucuam 301 302 Aves Brasilicas Pelzeln Ortalida aracuan SrIx. » albiventris WacL. » canicollis WacL. Crax alector E; » selateri GRAY. » pinima Narr. » globulosa Srix. » urumutum Srpix. Ourax tomentosa Splx. > mito E: TETRAONIDAE: pag. 289290. Odontophorus guianensis GMEL. » dentatus Temm. » stellatus GOULD. Ortyx sonninii TEMM. TINAMIDAE: pag. 290295. Tinamus tao Temum. » solitarius VIEILL. » brasiliensis Lat. >» subcristatus Cas. » guttatus NaTT. » cinereus (MEL. » obsoletus Temm. » undulatus Temm. » strigulosus Temm. » ervthropus NarTrT. » variegatus GmEL. » brevirostris NaTrT. |Tinamus major Cat. Mus. Brit. Ortalis albiventris » guitata » canicollis Cras fasciolata ? Crax globulosa Nothocrax urumutum Mitua tomentosa >» mitu Odontophorus capueira Eupsychortya somnini IR) Crypturus cinereus » obsoletus » scolopasx ( part.) » adspersus (part.) E de |) Pelzeln amus pileatus Bopp. o tataupa Temum. E» parvirostris WacL. ynchotus rufescens Temm. hura major Spix. media SpIx. nana Temm. STRUTHIONIDAE: pag. 295. CHARADRIADAE: ne o EE pag. 296--298. edicnemus bistriatus WacL. jellus cayennensis GEL. ] oplopterus cayanus LarH. quatarola helvetica L. radrius pluvialis L. a “semipalmatus Kav». o wilsonius ORD. > azarae LicHrT. trepsilas interpres L. laematopus palliatus Temu. GRUIDAE: É. crepitans L. ochroptera NarTrT. leucoptera Srrx. pag. 298299. Aves Brasilicas 303 Cat. Mus. Brit. Crypturus tataupa » parvirostris BR Taoniscus nanus Belonopterus cayenmensis Hoploxypterus cayamus Charadrius dominicus Aegialeus semipalmatus Ochthodromus avilsoni Aegialitis collaris Arenaria interpres | IL es OEM 304 Áves Brasilicas Pelzeln Psophia viridis Spix. » obscura NaTT. Dicholophus cristatus L. ARDEIDAE: pag. 300307 Eurvpyga helias PaLL. Ardea cocoi L. » egretta (MEL. » candidissima (GmEL. » coerulea L. » leucogaster (MEL. sibilatrix Temm. » agami GuEL. » scapularis ILLIG. » erythromelas VirzILI. Botaurus pinnatus LicHr. 1igrisoma brasiliense L. » undulatum GmeEL. Nvcticorax pileatus LarTH. » gardeni (4MEL. » violaceus L. Cancroma cochlearia L. Platalea ajaja L. Ciconia maguari GEL. Mvycteria americana L. Tantalus loculator L. Ibis rubra L. » falcinellus L. Geronticus albicollis L. » coerulescens VIEILL. >» — cavennensis (GmEL. » —nfuscatus LicHr. » — oxycercus SPIx. Cat. Mus. Brit. | Psophia viridis [| Herodias egretta Leucophoyx candidissima Florida caerulea Hadranassa tricolor Syrigma cyanocephalum Agamia agami Butorides striata “Ardetta erythromelas Tigrisoma lineatum Zebrilus pumilus Pilerodius pileatus Nycticorar tayazu-guira Nyctianassa violacea Ajaja ajaja Euxenura maguari Eudocimus ruber Plegadis guarauna Theristicus melanopis Molpbdophanes caerules Harpiprion ceyennensis Phimosus infuscatus Cercibis oxycerca d , à Pelzeln * SCOLOPACIDAE : = pag. 308318. “a » Numenius phaeopus L. brevirostris Licnr. Limosa hndsonica Larn. “Totanus melanoleucus GueL. EE» flavipes GueL. + » solitarius Wi. Symphemia semipalmata GMEL. Tringoides bartramia Wir. e rufescens VIEILL. imantopus nigricollis ViEILL. Hersipalama multistriata a Licur. Tringa maculata VIEILL. -» | bonapartei ScnLEGEL. » — wilsonii NUTTALL. Ereunetes semipalmatus Wir. Calidris arenaria L. Scolopax gigantea NarTr. > frenata ILL. Macrorhamptus griseus GuEL. ha laropus wilsonii SABINE. PALAMEDEIDAE : pas. 313314. arra jaçana L. alamedea cornuta L. -“hauna chavaria L. t —Bol. do Mus. Goeldi) Aves Brasilicas 305 Cat. Mus. Brit. Numentius hudsonicis » borealis Helodromas solitarins Bartramia lougicauda Tringites sub-ruficollis Himantopus melamurus Micropalama himantopus Heteropygia maculata » fuscicollis Limonites minutilla Ereunetes pusillus Gallinago gigantea » frenata Macrorhamphus griseus Steganopus tricolor Jacana jacana Chauna cristata Pelzelin RALLIDAE : pag. 3914-318. Aremus scolopaceus (1MEL. Railus nigricans ViEILL. » zelebori PELZ. Aramides cayennensis GMEL. » ruficollis GMEL. » saracura SPIX. » mangle Srix. Porzana albicollis VIEILL. » cayanensis GMEL. » concolor (GossE. » melanophaea VIEILL. » cinerea ViIEILL. > erythrops SCLATER. Thyrorhina schomburgki Cas. Porphyrio martinicus L. » parvus Bopp. Gallinula galeata Licnr. Fulica armillata ViEILL. Heliornis fulica Bopp. Anseres : ANATIDAE : pag. 318--322. Phoenicopterus ruber L. Sarkidiornis regia Molina. Chenalopex jubatus SrIx. Dendrocygna viduata L. » Fulya, |; » autumnalis L. Dafila bahamensis L. Aves Brasclicas Cat. Mus. Brit. Limnopardalus migricans » rytirbynchus ? Aramides cayanea 7 Creciscus cayanensis Amaurolimnas concolor Creciscus melanophaeus » exilis Neocrex erythrops Porphyriola martinica » parva [RIR] Sarcidiornis carunculata Dendrocycna viduata » fulva » autumnalis Poecilonetta bahbamensis E a] ' Aves Brasilicas 307 Pelzeln Querquedula brasiliensis BrIss. Cairina moschata L. Erismatura dominica L. » spinicauda VIEILL. Mergus brasiliensis VIEILL. COLYMBIDAE : ; 29 pag. 322. Podiceps dominicus L. Podilymbus podiceps L. PROCELLARIDAE : pag. 322328. Thalassidroma oceanica BaNKks. Procellaria capensis L. LARIDAE : Larus azarae LEss. » —maculipennis LIcyr. » — atricilla L. Rhynchops nigra L. Sterna galericulata LicHr. » — magnirostris LicHr. » — cayanensis GMEL. » —cantiaca GMEL. » —argentea Pr. NEUW. » — wilsoni Boxar. » aranea Wiis. Cat. Mus. Brit. Nettion brasiliense Nomonyx dominicus Dafila spinicauda Merganser brasilianus ? Podicipes dominicus ? Podilymbus podicipes ? Oceanites oceanicus ? Daption capensis Larus dominicanus >» cirrhocephalus Rhynchops intercedens Sterna maxima Phacthusa maguirostris Sterna maxima Sterna supercilaris >» hirundinacea Gelochelidon anglica Pelzeln PELECANIDAE: pag. 925--826.º ra e Plotus anhinga.L. " ava 1 4 2 Ploias anbinga Sula fusca ViIEILL. À EQuia sales ad Graculus brasilianus GueL. |? Phalacrocorax | —— > apa an +E | .| dndhe | Rae é j se: Lt 7 UR ARO”, R 3 dr ELLA ) Ro e al Ms à ed NA (edomyg 1 94009 9Pp vIojoqiog vp vurid) SIQÍRIDIU SLp “OLIVpunoas ojuouro|o ouroo 'opuvdroniIvd — vyng7o vu (9 do vourur IL E 2nno eun * Áredeiy,, LÓgT oumí op gr *eur/€ SR (0) “ur A sut Cc “ vrqde um Iv yIst To0701 NE [ , d) eye vp [pros wopio vu vijuo o Zz9A LINO VIJOA (OjINP OPpe/) vumunçoo J vd é v peu vp omusp vid as-adLIrp oj10j zesse vuumioo vum (q ja PU ride otro “PneIvS Oo] Op vmar pironbso wogrew eu sejaToqioa, op opuvg (0 T MY IS Level (MAMBSS FIA (pouejuvysu! eiydesdosoud ) p WUnumaLosS mu Migrações de borboletas 309 Big Grandiosas Migrações de Borboletas no valle amazonico (*) Pelo Prof. DR. EMILIO A. GCELDI DIRECTOR DO MUSEU —— e e. (com duas estampas ) Muito bem me lembro da profunda impressão que em minha mente produziu, pelos fins de 1870, do seculo passado, a observação de uma grande migração de bor- boletas, que tive ensejo de ver durante o verão na região de Serriêres, na margem do lago de Neuchâtel (Suissa) — migração que durou perto de uma hora. Eram todas bor- boletas brancas, exclusivamente individuos do conhecido insecto prejudicial ás hortas de couve na Europa (Pieris brassicae L.). O apparecimento, em massas colossaes, de certas especies de borboletas e a formação de migrações collectivas em maior ou menor escala não são, lá, nos nossos paizes, phenomenos muito raros, e especialmente costumam ser os membros da familia das Pierides, que manifestam semelhantes disposições sociaes. Digno de (*) O seguinte trabalho, do qual um resumo oral tinha sido apre- sentado pelo antor á Sociedade de Sciencias Naturaes em Berna (Suissa), durante o inverno de 1898/1899, appareceu pela primeira vez, em lingua allemã, na revista illustrada «Die Schreeix» (Aúrich) 1900 Vol. IV, pag, 441 — 445. Depois foi a revista scientifica « Prometheus» em Berlim, que pediu licença para o reproduzir (1902, Vol. XIII, 24, nov. 648, pag. 376 — 380). Uma primeira versão portugueza foi organizada, espontaneamente pelo Prof. João Capistrano de Abreu, que a publicou com o titulo «O Paná- paná amazonico» no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, (1902, sabbado, 19 de abril); nessa versão faltavam, porém, as figuras tão neces- sarias, bem como todas as referencias relativas a estas. Na presente edi- ção são completados os mencionados cortes e lacunas, de maneira que ella vem a ser de todo identica ao original allemão. Pará 15/maio 1903. ro Bo A tr 310 Migrações de borboletas nota é, que migrações em densas massas são realisada não sómente pelas borboletas adultas, como tambem pelas | lagartas (a forma larval, destituida de azas). O caso de trens de estradas de ferro interrompidos no seu trajecto E por exercitos de lagartas da borboleta branca da couve. atravessando os trilhos, constitne cousa que já aconteceu | não poucas vezes e representa um facto real e incontes- |. tavel, gue facilmente se comprehende por um elementar | raciocinio physico. a Taes phenomenos são comtudo cada vez registra- dos na Europa pela imprensa diaria como uma curiosi- dade a toda a prova. Na região amazonica, onde estas revoadas costu- mam attingir dimensões phenomenaes, contam-se entre os factos naturaes quotidianos, com que estão familiarisados | grandes e pequenos. E” designado por uma expressão te- chnica — paná-paná, que se póde traduzir — bate-bate. E” a duplicação de um thema verbal indio e representa, em linguagem drastica propria de povos naturaes, a imagem. de my Tiades de borboletas voando na mesma direcção e de | suas azas batendo apressadas. Na mesma lingua a borbo-. leta em geral se chama panáma, lettra por lettra como o isthmo que liga a America do Sul á do Norte, apenas differindo em ter o accento na penultima syllaba. Um espectaculo frisante ao ponto de ter adinirado leigos e turistas devia naturalmente interessar em grão elev ado naturalistas de profissão. Não são poucos os via- jantes que em suas narrativas têm falado na apparição | desse phenomeno, uns de passagem, outros mais detidamen- te. Principalmente os naturalistas inglezes Bates, Wallace, Spruce e Schomburgk, fizeram descripções destas revoa- das de borboletas na região amazonica e suas fronteiras. | Entretanto a maioria destes informes está depositada em | revistas especiaes pouco accessiveis, e assim soterrada para | o publico. Tambem ainda de parte alguma consta uma | tentativa de auxiliar e facilitar a imaginação do pheno- | meno pela representação graphica. Espero reparar esta falta com o seguinte esboço, proporcionando ao leitor uma distracção agradavel e util. Fracos bandos de borboletas podem se observar re- A Migrações de borboletas St1 gularmente em certa época do anno, approximadamente pelo mez de julho, mesmo na cidade de Belém. São, como na Europa, constituídos de representantes da familia de Piérides. Deixando para adiante falar sobre as especies que predominam, notarei apenas que o publico indigena os engloba na denominação de borboleta de bando. Naquelle tempo, do Musen e de nossa casa pode- mos cbserval-os todos os dias. Até cêrca de 10 horas da manhan passam, primeiramente salteados, pelas arvores dos jardins visinhos; cerca de 11 horas adunam-se em grupos de dous, tres, quatro ou seis individuos que se rendem em successão rapida; entre meio dia e uma hora passa uma caravana continua de que é impossivel distinguir o principio e-o fim. Entretanto na cidade, á medida que avançam as horas vespertinas, a densidade vae diminuin- do até limitar-se a poucos reinanchões. All a direcção é sempre de Este para Oéste; do rio Guamá, passando pela cidade, para a ilha das Onças, em que têm de vencer um braço da foz do Amazonas de mais de uma legua de “largura. Vemol-as pois na cidade do Pará só á ida, que se dá nas horas que precedem meio dia; que caminho tomam para a volta, que a concluir pela analogia de observações feitas alhures, deve dar-se á tarde, até agora ainda não logrei determinar com precisão. Notavel é a pressa evi- dente que anima as retardatarias; raro qualquer deilas pousa um momento; vê-se bem que a vegetação dos jar- dins urbanos não as tenta a interromperem a jornada. O que se observa nas cercanias da cidade do Pará, é, en- “tretanto, apenas fraca cópia dos bandos colossaes que ti- vemos occasião de ver em 1895 na bocca septentrional do Amazonas, indo em expedição á Guyana e, depois, em viagens frequentes pelo curso médio e baixo do rio, assim como de seus affluentes. Ali, esmar sequer approximada- mente as massas de borboletas em movimento só resulta- ria em confusão da pessôa, e como parecem demasiado estreitas todas as idéas de numero, fallecem tambem pala- vras para uma descripção adequada. Em nossa viagem á Guyana, tanto como eim nossa expedição scientifica ao alto Capim, o vapor diirante as horas quentes do dia fi- cava ordinariamente envolto em uma nuvem de borboletas, 312 Migrações de borboletas que se poderia bem comparar a uma poeirada de neve daquellas que costuma trazer-nos, na Europa central, o começo do inverno. Bates escreve: «Uma vez, no baixo Amazonas, com bom vento viajei algumas 80 milhas de sol a sol e todo o dia fervilhava o ar de myriades destas borboletas (Ca- topsibia statira Cramer), que em bandos de tres a oito mi- lhas de largura atravessam o rio, voando todas n'uma dire- recção de Norte a Sul. No alto Amazonas pousam em praias arenosas, humidas, cobrindo tão densamente super- ficies de muitas jardas quadradas que cada uma pousava apertada contra a outra, com as azas para cima. » Por modo semelhante se exprime Spruce sobre mi- grações de borboletas, que em novembro de 1849 observou proximo da barra do Xingú. Em trabalho especial que este habil botanico inglez compoz sobre migrações de insectos na America do Sul, parece ter chegado ao duplo resultado de que as borboletas primeiramente voam em angulo re- cto na direcção do vento, em segundo logar, e nisto vai de accordo com Bates, que a direcção do movimento é sempre para o Sul. Spruce autúa mais que os bandos são compostos principal, se não exclusivamente, de exemplares masculinos; e que o instincto migratorio das femeas ex- plica-se pelo esforço de visitarem certas especies de Mi- mosas, no intuito de nellas depositarem os ovos. À apparição massiça de Pierides, em parte ligada com manifestações migratorias, tem sido aliás noticiada muitas vezes desde o extremo norte da America do Sul até a Centro-America. Nota-se tambem no Brazil central e me- ridional, comquanto não na mesma extrema medida que ua Amazonia... Sabemos outrosim (por exemplo, de uma antiga chronica brazileira, do anno 1615, attribuida a um fazen- deiro, de origem portugueza, residente em Pernambuco, — Bento Teixeira) — que os colonos luzitanos ficaram bas- tante surprehendidos pela circumstancia de reunirem-se, em certa época do anno, as borboletas em bandos imassi- ços, bandos estes que, como elle pretende, mais certos do que a agulha magnetica, observavam sempre a direcção septentrional: Migrações de borboletas 313 «Já que me quereis obrigar pela palavra, escrevia o mysterioso auctor dos Dialogos das grandexas do Braxil, an- tes de me metter por ellas (aguas), não quero deixar de vos dizer uma cousa de muita consideração, de que não tenho feito (visto?) menção, que não é das que menos podem formosentar o elemento aereo. A qual é que nos annos seccos costuma nestas par- tes a descer do sertão innumeraveis borboletas de diversas côres, que quasi occupão e enchem com a sua multidão o concavo do ar mais baixo, as quaes todas levam direitamente o seu cominho enfiadas com o Norte, sem por mem wm caso se desviar daquelle rumo, de maneira que nunca vi ferro to- cado na pedra man que tão direito se iwnclinasse «o Norte. E entanto succede isto assim que, se acaso pelo ca- minho por onde vão passando encontrão com algum fogo, antes se contentão de alevantar no alto, para have- rem de passar por cima delle, com levarem o seu rumo direito, de que desviarem-se para uma das partes que lhes forão mais faceis. Com esta ordem vão correndo sempre, em igual multidão, por espaço de doze ou quinze dias até passarem, dando remate á sua jornada com se afogarem nas aguas do mar». E notavel que neste dizer da antiga fonte brazi- leira se affirme, quanto á divisão para Pernambuco, exac- tamente o contrario do que os naturalistas inglezes Bates e Spruce, em meiado do seculo ido auguráram para a terra amazonica. Podemos hoje, baseado sobre nossas proprias observações, assegurar que ambas as observações são igual- mente exactas e inexactas e que a verdade está no meio. Em nossa expedição ao alto rio Capim, o ultimo afiluente consideravel que o Amazonas recebe pelo lado direito, no Estado do Pará, as condições apresentaram-se particularmente favoraveis para um estudo aprofundado das migrações das borboletas; por isso, com tanto maior gosto nos applicámos a esta tarefa. Tinhamos tambem presente o dizer de Spruce, que só da collaboração de um zoologo e de um botanico se poderia esperar a solução deste, como de tantos outros enygmas da historia natu- ral amazonica. (25-Bol, do Mus. Goeldi.) 514 Migrações de borboletas Foi em julho e agosto de 1897. O rio Capim, corre no rumo geral de Sul a Norte. Navegámos rio acima quast uma semana num vaporsinho e em toda a viagem tivemos durante as horas do dia o espectaculo das cara- vanas de borboletas em todo o seu alarde. Nas horas matinaes até o sol chegar ao pino, as borboletas avança- vam, como nós, rio acima, prolongando á margem direita, isto é á nossa esquerda, em fita continua, á altura de um homem, acima da tona d'agua. Comparem-se na estampa Las duas figuras, ambas baseadas em photographias ins- tantaneas; veja-se principalmente afig. a á direita. Mas logo depois de meio dia dava-se ordinariamente uma transfor- mação: as borboletas voavam em sentido contrario a nós, pela margem esquerda do rio, isto é, á nossa direita: esta- vam, pois, de volta. Pela manhan, marcha de Norte para o Sul, ao meio-dia marcha do Snl para o Norte. Os bandos se compunham, como já muitas vezes se tem reparado, exclusivamente de representantes da fa- milia das Pierides. A grande maioria é entretanto com- posta de especies que, não só na côr amarella, no tamanho e no córte das azas, como tambem nos outros signaes, estão em connexão directa com as borboletas côr de en- xotre ou limão do continente europêo. Do genero Catop- silia, facil de conhecer, é principalmente (. statira que, como observámos, constitue bem 99 º/, dos bandos do rio Capim. Temos o prazer de offerecer aos nossos leitores um bom desenho d'esta borboleta na estampa II, fig. h. Seus característicos consistem num debrum largo e muito pal- lido que passa pelo lado superior das azas dianteiras e trazeiras; por dentro predomina regularmente o amarello chromo. O lado inferior mostra um amarello esverdeado uniforme e leve que lembra a alface «endivia» invernada ao ar livre. Muito mais francamente representada em nu- mero e apenas entremeiada pelo bando, é C. argante, facil de conhecer de longe por sua carregada côr de laranja, que se destaca facilmente. A' maioria pertencem tambem di- versas borboletas menores, representantes do genero Ewurema (a figura c, na estampa I, no canto direito, dá uma perfeita idéa do habito d'este genero) do qual E. albula foi a espe- cie que com mais frequencia observámos no rio Capim. Migrações de borboletas 315 d , Todas as outras epecies de Catopsilia e EHurema reunidas mal constituirão, porém, 1 ,/º nas massas de Pierides de que nos vimos occupando. Pousos predilectos para os bandos anigratorios cons- tituem os debruns numerosos das pratas arenosas que costumam formar-se nas margens dos pequenos tributa- rios; tambem uma ou outra corôa rochosa que no alveo do rio se eleva acima do nivel das aguas. Taes logares proporcionam espectaculo imponente: graças á quantidade de borboletas que, em repoiso apresentam o lado infe- rior amarello-avermelhado das azas, parecem um canteiro de alface. Por fim surpreende, como já dissemos,a azafama fe- bril revelada pelos bandos de borboletas. Precisamente a circumstancia de não se poder deixar de reconhecer no bando uma ordem e disciplina determinadas, devia provo- car a nossa curiosidade á pesquiza da causa que em certos logares provocava a dissolução da regularidade. Tendo | observado que em certos pontos fortes columnas desta- | cavam do grosso do exercito e se internavam pela matta, ao passo que tornavam outras vindas da mesma direcção para de novo entrar na marcha de ordem geral, (veja a figura b, em forma de circulo, estampa I), procurámos saber o motivo de tal successo e com pouco lográmos descobril-o. Os excursionistas lateraes dirigiam-se para uma ar- vore muito frequente nas florestas marginaes do rio, per- tencente à familia das Leguminosas, subdivisão das Cse- salpinoideas. Na sciencia tem o duplo nome de Vouapa t acaciaefoha (Benth) Baillon, e Macrolobium acaciaefolium Bentham. Os filhos da terra correntemente chamam-na Arapary. Esta arvore, cujo aspecto e particularidades são vi- " ; siveis pela nossa estampa II, achava-se em flôr, justa- l mente n'aquelle tempo, por toda a parte no rio Capim. Ao é passo que a figurinha menor, no canto superior esquerdo g (fig. d), representa um especimen grande da arvore «Ara- pary», desenhado conforme uma photographia de certa paizagem na ilha de Marajó (rio Arary), a figura principal, e, reproduz uma vista photographica do lago Tracuá-téua, sito no rio Capim, onde novamente uma parte de uma 316 Migrações de borboletas arvore «Arapary» pende por cima do espelho d'agua. Do galho pendente a terminação do ramo extremo foi representada mais uma vez, em augmento maior, em baixo á esquerda (/), e, finalmente, em augmento mais forte, por baixo, no meio, uma flôr isolada (9). Para estas duas ultimas tiguras é que eu peço por um instante, a attenção do leitor. A primeira (/) ensina á primeira vista, que as folhas delicadamente pennadas pendem, de ambos os lados, frouxamente, ao passo que os pequenos ca- pitulos floraes brancos, em fileiras: arrumadas na cumi- era da haste cosimum da folha, podem assim fazer-se sa- lientar mais efficazmente graças á sua posição erguida, Estes capitulos floraes são, na verdade, muito cheirosos. enchendo o ar ambiente a grande distancia com o seu aroma, mas com o seu insignificante tamanho torna-se necessario um recurso especial, para tornal-os apresen- tados aos hospedes alados do mundo dos insectos. (Zurich, setembro 1900). | No corte longitudinal, atraz da flôr (fig. g), que é diri- gido um pouco lateralmente, é visivel abaixo e por detraz do ovario uma fossasinha, o nectario, onde uma gotta de precioso sueco recompensa o vindiço hospede alado pelo seu tino de acertar. Muito provavelmente a arvore «Arapary», que pos- sue um papel physiognomico assaz saliente na vegetação marginal do rio Amazonas e dos seus tributarios, consti- tue a planta de alimentação costumeira para as lagartas de diversos d'estes Pierides amazonicos. A organisação e a disposição, acima descripta, das flôres e folhas, equiva- lendo a um convite e provocação manifestos para fre- quentar as flôres, não torna inverosimil a supposição de que a arvore, por sua vez, tambem exige outros serviços em troca, — serviços visando a pollinisação e a fecundação das flôres. OIE Schweiz, VOA 12235 Fig. II. d.) Arvore Arapary (Vouapa acaciaefolia), exemplar grande no rio Arary (ilha de Marajó). e.) Vegetação no lago “Tracua-téua”, no alto rio Capim, com arvore Arapary pendendo por cima d'agua, f.) Ramo augmentado, para mostrar os foliolos pendentes de ambos os lados vim tornar assim mais visíveis os capitulos floraes occupando posição exposta na cumieira das hastes das folhas, £.) Corte transversal atravéz de uma flór isolada para demonstrar o nectario, h.) Captosilia statira (Cramer) — primo da borboleta citrina da Europa. Especie que principalmente constitue os ban- dos de “paná-pana”, Vespidas sociues do Pará 317 IV Sobre as Vespidas sociaes do Pará Por ADOLPRO DU CKE, ENTOMOLOGISTA DO MUSEU (com duas estampas e quatro figuras no texto) Desde que. ha quasi 50 annos, HH. de Saussure publicára sua optima, hoje porem já bastante antiquada monographia, nada mais foi escripto a respeito das Vespidas sociaes, (chama- das cabas no norte e marimbondos no sul do Brazil), senão algumas: pequenas contribuições quast todas sem importancia, sendo assim esta familia de hymenopteros aculeatos uma das que, embora offereçam tão largo interesse sob o ponto de vista biologico,mais carecem de estudos modernos. Infeliz- mente a impossibilidade de obter aqui emprestado o material typico dos Museus da Europa, indispensavel para trabalhos monographicos em certos grupos de especies de difficil di- stineção e mal descriptas, causou-me grandes difficuldades na identificação de algumas especies, sensiveis sobretudo nos generos Chartergus e Polybia. Litteratura : A respeito da litteratura systematica sobre esta familia refiro-me ao « Catalogus hymenopterorum » de Dallatorre, que indica tudo quanto tem sido publicado até ao anno de 1898. Quasi todas as descripções de especies, publicadas depois da grande obra monographica de Saussure, espalhadas nos mais differentes periodicos scientificos do mundo, foram-me conse- guidas pela incansavel amisade do sr. Alfken do Museu de Bre- men. O unico mas importantissimo trabalho systematico pu- blicado depois de 1893 (Contributions to a knowledge of the hymenoptera of Brazil, N.º 5, Vespidae, by William Fox, em : Proceedings of the Academy of natural sciences of Philadelphia, 1898, pag. 445— 460) obtive-o pelo Snr. Prof. Dr. Geldi, o qual tinha-o recebido do proprio autor. Tam- bem sobre algumas Vespidas trata IV. A. Schulz : Kritische 318 Vespidas sociaes do Pará Bemerkungen zur Hymenopterenfauna des nordwestlichen Siid- amerika. Berliner Entomologische Zeitschrift XLVIII. 1908, p. 253-— 262. Quanto à litteratura sobre a biologia das nossas Ves- pidas cito alem da obra classica de Saussure, os seguintes trabalhos Moebius, « Die Nester der geselligen Wespen», Abhandl. naturw. Ver. Hamburg, III, 1856 pag, 121—171, e Dr. H. von Ihering, «Zur Biologie der socialen Wespen Brasiliens », Zoologischer Anzeiger XIX, 1896 pag. 449— 4583. Notas biclogicas Sobre a construcção dos ninhos trataremos na occasião de descrever ou mencionar as especies.—No clima equatorial da nossa região as Vespidas sociaes encontram-se durante o anno inteiro, não se notando maior ou menor frequencia se- cundo as estações, pelo menos nas especies cujos ninhos têm in- volucro; só as construidoras de ninhos abertos, sem involucro, parecem augmentar em numero de individuos durante a es- tação secca. Constatei indubitavelmente este facto em certos Polistes (P. versicolor e P. canadensis) tão communs nas casas das povoações do interior. Ao contrario no estado do Maranhão, no mez de setembro, achei abandonados quasi todos os ninhos desta especie: naquelle clima muito mais secco do que o nosso é o inverno o tempo do maior desenvolvimento destes insec- tos. — Os machos, em todas as especies com unica excepção de Mischocyttarus labiatus e drewseni muito mais raros que as femeas, terão talvez certa época do anno de maior frequencia; faltam ainda observações a este respeito. Nas nossas Vespidas a existencia de verdadeiras operarias, taes como se encontram nas especies europeas, não me consta. O Snr. Dr. von lhering, examinando certo numero de femeas de Nectarina melhifica Sauss., encontrou nellas o receptaculum seminis rudimentar, considerando-as por isto como operarias. Mas como não ha nenhum caracter externo que indique o facto do completo ou rudimentar desenvolvimento do dito orgão, na systematica não podemos fazer differença entre Q e Q. A maior parte das Vespidas vôa só de dia, mostrando grande vivacidade nas horas mais quentes. Exclusivamente Vespiaas sociaes do Pará 319 nocturnas são as especies 4poica pallida e virginea,que pas- sam o dia dormindo, todas juntas, immoveis, no lado inferior do seu grande ninho da fórma d'um chapeu; ellas vôam a noite inteira e apparecem às vezes em quantidade à luz dos pharoes. —O facto de terem Apoica os ocelli extraordinaria- mente grandes, como nenhum outro genero os possue, esta decerto em relação com essa vida nocturna. Na fecundação das flôres as Vespidas não desempenham o Importante papel das abélhas, embora algumas (principal- mente certas Nectarina), preparem mel como estas. Os generos, cujas especies mais frequentemente se encontram nas flóres. são, em primeiro logar Nectarina, em segundo Char- tergus, depois algumas especies de Polybia; os Polistes eMe- gacanthopws ao contrario frequentam relativamente pouco as flóres. Destas ultimas as predilectas das Vespidas são as em que o nectar é de facil alcance mesmo para insectos que têm a lingua curta; entre familias botanicas e generos que mais sobresahem neste sentido, menciono as Sapindaceas (Paulli- nia, Serjania etc.), Erythroxyvlon. Gouania, Micania. Mui fre- quentadas são as plantas baixas, herbaceas de differentes fami- lias, como Hyptis, Walteria. Desmodium, Hemidiodia, Boreria —só para indicar algumas das mais frequentes. — Digno de ser mencionado é o facto das flóres de Rhynchospora cepha- lotes Vahl serem visitadas alem de certos Halictus (abélhas) tambem por pequenas Polybias, o que induz a crêr na exis- tencia de nectar nellas, ainda não observada na familia das Cyperaceas. A distribuição geographica das Vespidas no Brazil e na America tropical toda é totalmente desconhecida, nunca tendo sido colleccionadas methodicamente fóra d'este Estado, ou pelo menos faltando publicações a este respeito. Tabula synoptica generum Vespidarum Americae meridionalis 1. Ocelli maximi, antennarum flagelh basis diametro haud minus crassi (figura c). Tarsi simplices. Cor- pus elongatum, abdomine longe petiolato: Apoica. 320 td O. Vespidas sociaes do Pará Ocelh magnitudine haud insolita, multum minus crassi quam flagelli basis (figura d). Tarsorum posticorum articulorum 3.º et 4. lobus internus in dentem longissimum protractus (figu- ra a), Abdomen distinctissisme petiolatum . Tarsi omnes simplices, corum lobus internus exter- no vix longior (figura b) e. Corpus compressum. valde elongatum. Abdominis segmentum 1.” thorace haud brevius. Ocelli in triangulo distincte altiore quam lato. Longitudo corporis 1S millimetris haud inferior : MiscHo- CYTTARUS, Abdcmen depressum, plus minusve ovale:; s1 petio- lus thoraci longitudine aequalis vel superior est, corperis longitudo est 18 millimetris multo 1n- ferior. Ocelh in triangulo aequilato vel altitudine latiore : MEGACANTHOPUS. Scutellum valde prominens, angulosum, super me- tanotum collocatum. Abdomen sessile : NecrA- RINA. Scutellum rotundatum planum vel convexum, ante (non super!) metanotum collocatum. Abdomen sessile vel subsessile Abdomen distincte petiolatum Segmentum 1.” cupuliforme: Chartergus Segmentum 1.” infundibuliforme: Polistes Abdomen a segmento 3.º compressum, apicem ver- sus valde conicum. Corpus magnum et robustum: Synoeca. Abdomen depressum, plus minusve ovale Clypeus elongatus, apice recte truncatus ut im ODYNERIS ET ERR RE ça Sa Clypeus apice haud truncatus, sed medio acumi- nato-protractus vel bidenticulatus . .... Petiolus abdominis solum in parte antica seg- menti 1. consistens, ab hujus segmenti parte postica dorsali optime separatus: POLYBIA, SUB- GENUS CHARTERGINUS. Segmentum 1.” totum abdominis petiolum formans: POLYBIA, SUBGENUS CLYPEARIA. bo RR 9. 10. Vespidas sociaes do Pará 321 10. Mandibulae longae, apice forficatae: TATUA. —. Mandibulae breves, non forficatae: POLYBIA. sens. strict. Tarso posterior de : b: Megacanthopus imitator, Tarso posterior de Polybia angulata, typo d'uma Vespida com o abdomen peciolado e constructora de ninhos sem typo d'uma Vespida com involucro. abdomen peciolado, constructora de ninhos com involucro. Cabeça de Mischocyttarus drewseni, typo de Vespida diurna, com ocellos de tamanho normal. Cabeça de Apoica pallida, typo de Vespida nocturna, com os ocellos muito grandes. Genero 1., Nectarina Shuckard. 1. N. augusti Sauss. — Frequente, Belem do Pará e [26-Bol. do Mus. Geeldi | 322 Vespidas sociaes do Pará Obidos. OS” tem o clypeus quasi inteiramente amarello. 2. N. bilineolata Spin. — 9. Belem do Pará, Monte- Alegre e Obidos. 3. N. smithii Sauss.— Q não rara, Belem do Pará e Itaituba. Ninho: vide-a estampa. 4. N. scutellata Spin. — O & na fórmagenujna e var. rufiventris Sauss. bastante frequente; Belem do Pará, Itaituba, Almeirim, Obidos e Ovapoce. Cly- peus do S” amarello. Ninho igual ao da especie precedente. 5.2 N. velutina Spin. ou outra especie deste grupo ainda mal conhecido. Algumas Q Q de Obidos. Tambem de Alcantara, E. do Maranhão. Genero 2., Chartergus Lep. REVISÃO DAS ESPECIES ATÉ AGORA CONHECIDAS De todas as Vespidas sociaes é Chartergus o genero que possue os melhores caracteres plasticos para a distincção das especies: Infelizmente porem os autores com unica excepção de Fox não os utilizaram devidamente e por isso algumas das especies por elles descriptas não podem ser identificadas sem serem examinados os exemplares typicos. Nas Vespidas em geral é difficillimo o problema de dividilas em generos bem delimitados e todos estes são ligados entre si por nu- merosas formas intermediarias; em todo caso Chartergus. embora não sendo um dos generos mais bem caracterisados, destaca-se dos vizinhos talvez melhor que, por exemplo, os generos Tatua e Synoeca—Os caracteres genericos mais salientes de Char- tergus são o abdomen sessil, cujo segmento dorsal 1. é arre- dondado e conforme às varias especies de maior ou menor tamanho, fortemente convexo ou quasi plano, e o scutellum plano ou pouco convexo, nunca posteriormente abrupto: as especies genuinas possuem tambem um facies característico, proprio só deste genero. A transição ao genero Polistes é estabelecida pelo grupo do Ch. vespiceps, cujas especies na conformação do thorax se approximam bastante das Polpbras, pri * E Vespidas sociaes do Pará BZo mas que pela configuração do clypeus, das genae assim como em algumas especies tambem pelo segmento mediano muito obliquo são muito mais parentes de Polistes, tendo porem sempre o primeiro segmento abdominal curto e redondo tão caracteristico dos verdadeiros Chartergus, aos quaes ellas são ligadas muito naturalmente por uma serie de fórmas inter- mediarias. Uma transição às Nectarinas teremos em Nectari- . na chartergoides Gribodo, especie de mim não conhecida, insufficientemente descripta, a qual, pela conformação do scutellum, terá antes de figurar entre os Chartergus do que entre Nectarina; da primeira divisão (divisão Alpha de Saus- sure) de Polybia approxima-se na conformação do 1. segmento abdominal o Chartergus pusillus: e finalmente de Polybia, subgenero Charterginus, o grupo do Ch. cinctellus. As especies de Chartergus actualmente conhecidas dividem-se de maneira muito natural nos seguintes grupos: 1. Grupo do vespiceps ( Polybia subgenero Pseudopolybia Sauss).: Corpus longiusculum. 11 !/,-14 mm, longum; habitus Polybris sat similis. Occiput non marginatum. Ocell in triangu- lum valde elongatum dispositi. Clypeus brevis margine apicali tricuspide. Pronotum antice rotundatum. Metanotum (*) valde convexum. Segmentum abdominale 1 parvum, a secundo valde restrictum. 1. Ch. vespiceps Sauss.— Belem do Pará, Obidos, Ma- capá, (Ducke); São Luiz do Maranhão (Ducke): Chapada, Matto grosso (Fox). 2. Ch. laticinctus Ducke, n. sp. — Belem do Pará (Ducke). 2. Grupo do ater: Corpus sat robustum, S-S !/, mm. longum: habitus Polybiis haud similis. Occiput sine margine elevato. Ocelli in triangulo aequaliter longo ac lato. Clypeus margine apicali tricuspide. Metanotum parte basal horizon- tali angusta, postice verticaliter abruptum. Segmentum abdo- minale 1 parvum vix convexum. 3. Ch. ater Sauss. —Belem do Pará, Ovapoc e Obidos (Ducke); Santarem (Fox). 3. Grupo do fraternus: Corpus modice elongatum, me- (*):— postscutellum de muitos autores. 324 Vespidas sociaes do Pará diocre aut magnum: habitus Polybris haud similis. Margo occipitalis totus elevatus. Ocell in triangulum plus minusve elongatúm dispositi. Clypeus subregulariter quinquangularis. Pronotum antice utrinque angulosum. Metanoti zona basalis horizontalis sat lata. Segmentum abdominale 1 magnum, con- vexum, a secundo haud evidenter restrictum.. 4. Ch. griseus Fox—Baixo Amazonas (Fox e Ducke). 5. Ch. fulgidipennis Sauss. — Pará (Saussure). 5. Ch. smithii Sauss.— Corumbá, Matto grosso (Fox); «Brazil» (Saussure). Ch. fasciatus Fox-— Baixo Amazonas (Fox e Ducke); São Luiz do Maranhão (Ducke). S. Ch. colobopterus Weber — Colombia e? Surinam (Saus- sure): Puerto Cabello (Moebius). 9. Ch. concolor Gribodo — Obidos (Ducke): Merida, Ve- nezuela (Gribodo). 10. Ch. fraternus Gribodo— Belem do Pará (Ducke); Mearim, E. do Maranhão e Cavenne (Gribodo). 11. Ch. apicalis Fab.—Mexico, Honduras, Colombia (Gri- bodo ). 4. Grupo do chartarius: Corpus sat breve, robustum, 711 mm. longum: habitus Polpbiis haud similis. Margo cccipitalis praecipue lateribus sat distinctus. Oceell in trian- oulum aequaliter longum ac latum dispositi. Clypeus fere regulariter quinquangularis. Pronotum antíce utrinque angu- losum. Metanotum superne valde angustum ibique medio tu- berculo prominente instructum, deinde verticaliter abruptum. Segmentum abdominale 1 convexum, magnum, a secundo haud evidenter restrictum. 12. Ch. globiventris Sauss.— Belem do Pará (Ducke); Mearim, E. do Maranhão (Gribodo). 13. Ch. chartarius Oliv. — Baixo Amazonas (Fox e Du- cke); Rio Purús (A. Goeldi); Cayenne (Saussure); Chapada, Matto grosso (Fox). 5. Grupo do rufiventris: Corpus sat eclongatum, haud robustum, 5 !/,—7 !/, mm. longum; habitus Polybiis sat si- milis. Margo occipitalis distinctus aut indistinctus. Ocell im triangulum aequaliter longum ac latum dispositi. Clypeus quinquangularis, longitudine latior. Pronotum antice utrinque angulosum. Metanoti zona basalis horizontalis angustissima vel — A Vespidas sociaes do Pará 320 nulla. Segmentum abdominale 1 parvum, a secundo valde restrictum. 14. Ch. rufiventris Ducke, n. sp.— Belem do Pará (Ducke) 15. Ch. pusillus Ducke. n. sp. — Belem do Pará e Ovapoc (Ducke). 6. Grupo do cinctellus (Charterginus Fox ex parte): Cor- pus breve, sat robustum, 7 1-8 1/, mm. longum:; habitus haud Polybiis similis. Margo occipitalis vel totus vel superne sat distinctus: tempora angustissima. Ocelli in triangulum ma- eis latum quam altum dispositi. Clypeus elongatus, latitudine altior, apice rotundato. Pronotum antice utrinque angulosum. Metanoti zona basalis horizontalis valde angusta. Segmentum abdominale 1 parvum, a secundo evidenter restrictum. 16. Ch. cinctellus Fox-—Baixo Amazonas (Fox e Ducke ): Ovapoc (Ducke); Corumba (Fox). 17. Ch. fuscatus Fox— Belem do Pará (Ducke). Santa- rem (Fox). 7. Grupo do mitidus: Corpus breve ac rotundatum. 6- 6 1/, mm. longum; habitus Nectarinis haud dissimilis. Margo occipitalis totus distinctus: ocelli in triangulum aequaliter lon- gum ac latum dispositi. Clvpeus altitudine latior. angulis valde obsoletis. Pronotum antice utrinque angulosum. Metanoti zona basalis horizontalis lata ac conspicua. Segmentum abdomi- nale 1 valde parvum ac convexum, a secundo fortissime restrictum. 18. Ch. nitidus Ducke. n. sp. — Obidos e Ovapoc (Ducke). Não são incluidas nesta disposição as especies seguin- tes, de mim não conhecidas e insufficientemente descriptas pelos autores: 19 Ch. compressus Sauss.— Tendo o pronotum arredon- dado, não anguloso, ha de ser provalvemente parente das espe- cies do primeiro grupo. — Amazonia (Saussure ). 20. Ch. luctuosus Smith —Segundo Gribodo tendo o occiput sem orla elevada, o prothorax bastante arredondado, o pri- meiro segmento abdominal bastante pequeno e plano, porem o clypeus quasi como no apicalis, não pode ser collocado em nenhum dos grupos de mim conhecidos. Santarem (Smith): Merida, Venezuela (Gribodo). 21. Ch. zonatus Spin. —Na coloração semelhante ao pusil- lus; o autor porem nada dizendo sobre caracteres plasticos, 326 Vespidas sociaes do Pará a especie não póde ser identificada. — Pará (Saussure). 22. Ch. emortualis Sauss. — Semelhante em côr ao rufi- ventris, não pôde ser identificado pelo facto da descripção do autor não mencionar os caracteres plasticos. — Santarem, (Saussure). 23 Ch. chartergoides Grib. (Nectarina chartergoides Grib). — Pertence pela conformação do scutellum, que eu considero como caracter de primeira ordem, ao genero Chartergus, não podendo porem ser collocado no systema por causa da in- sufficiente descripção, nada dizendo o autor sobre os ocelli, o metanotum etc. — Cayenne (Gribodo). Mpvebius cita as especies Vespa frontalis Fab., Vespa sericea Fab. e Vespa scutellaris Fab. como pertencentes ao genero Chartergus sem explicar ou motivar semelhante pro- cedimento e sem completar as descripções originaes absolu- tamente insufficientes: por conseguinte não ha razão para consideral-as como pertencentes à este genero. Conspectus analyticus specierum 1. Habitu Polistibus vel Polybiis valde similis, corpo- re elongato, abdomine valde depresso. lato. Ca- put margine occipitali omnino carens. Clypeus brevis ac latus, angulis lateralibus inter genas et mandibularum basim valde productis. Thorax antice rotundatus, pronoto utrinque haud evi- denter angulato. Segmentum abdominale primum sat parvum, multum angustius quam secundum —. Thorax plus minusve quadratus, pronoto antice utrinque angulis evidentibus, plerumque rectis 3. Corpus nigrum, flavopictum, 11 1/,—12 mm. lon- gum: LATICINCTUS Ducke, n. sp. — Corpus olivaceum vel testaceum, flavescenti et fusco-pictum, 12 !/,— 14 mm. longum: VESPICEPS Sauss. 3. Corpus supra haud tomentosum, mesonoto valde mtido sparsim punctato, segmento abdominis dor- sali 2 sat nitido, crasse punctato. Occiput et tempora postice tota distincte marginata. Metanoti ty ty “1 Vespidas sociaes do Pará zona basalis horizontalis lata. Segmentum abdo- minale 1 valde parvum sed evidenter convexum. Niger, ubique flavopictus, segmento abdominis dorsali 2 macula mediana basali magna plus minusve quadrata flava. Habitu fere Nectarinis similis. Longitudo corporis 6-6 !, mm.: NITIDUS Ducke, n. sp.— Corpus etiam supra ubique plus minusve sericeo- tomentosum, mesonoto haud vel parum, abdo- mine vix nitido. Segmentum dorsale 2 sine macula characteristica speciei praecedentis . Metanoti zona basalis horizontalis lata, haud carinae- formis, a parte postica abrupta haud bene sepa- rata; segmentum abdominis dorsale 1 sat magnum, valde convexum. Margo occipitis et temporum totus distinctissimus . Metanoti zona basalis Dana e angusta, carinam transversalem formans, post cam metanoti reliqua pars plus minusve verticaliter abrupta. Corpus maxima ex parte testaceum, alarum cos- ta fusca RAP al 8 Corpus fusco- E meu ano NE IO, ais hy alinis, secundum costam fuscis : FULGIDIPENNIS Sauss. Corpus nigrum, vix flavopictum. DS A os Antennae et scutellum testacea : COLOBOPTERUS Weber. - Antennarum flagellum magna ex ee et scu- tellum disco nigricantes. - Alae anticae ante apicem plus minusve dlbido fasciatae. Dorsulum circiter aequaliter longum ac latum : FASCIATUS Fox. Alae haud albidofasciatae. Dorsulum lôngius quam in specie praecedente : sMITHII Sauss. - Alae nigrescentes apice albae: facies nigra. - Alae nigrescentes apice haud albae, sed tantum decoloratae; facies nigra parum rufescens. Caete- rum Ch. fraterno similis : CONCOLOR Grib. - Alae hyalinae costa nigrescentes: facies pallide ferruginea : GRISEUS Fox. Corpus dense nigrosetulosum : APICALIS Fab. 10. é: 328 Vespidas socimes do Pará —. Corpus minus dense et brevius nigrosetulosum, thorace praeter tomentum subglabro:; metanoto et segmento mediano densius, crassius profun- diusque punctatis : FRATERNUS Grib. 10. Abdominis segmentum dorsale 1 magnitudine nor- ar 12. mali, valde convexum, ex parte basali basim versus declivi et ex parte dorsali-apicali bene distincta consistens. quarum ultima basim segmen- ti secundi ita cingit, ut segmenti primi apex a segmenti secundi basi haud restrictus appareat. Margo posterior capitis praecipue in temporibus distinctus. Clypeus quinquangularis, longitudine parum latior. Genae angustae. Pronotum antice haud acute marginatum. Metanotum post zonam horizontalem basalem angustisssmam verticaliter abruptum. Segmentum medianum postice medio concavitate sat profunda utrinque elevato-mar-. ginata. Corpus nigrum, flavopictum, alis hyalinis Abdominis segmentum dorsale 1 sat parvum, parum convexum, sine parte dorsali-apicali distincta, apice multum angustius quam segmentum se- cundum, a hoc ultimo sat restrictum. Meta- notum sine tuberculo. Segmentum medianum utrinque haud elevato-marginatum Metanotum in -zonae basalis horizontalis medio dente sat magno instructum, margine inferiore medio valde obtuse angulato. Longitudo corpo- ris O: !,-11 mm: = CHABTA BROS OR Metanotum in dentis loco solum angulo parum pro- minente instructum, margine inferiore medio mi- nus obtuse angulato. Longitudo corporis 7 1, —O mm. : GLOBIVENTRIS Sauss. Genae latae. Caput sine margine occipitali. Meta- notum post zonam basalem horizontalem angus- tam verticaliter abruptum. margine inferiore me- dio valde obtuse-angulato, fere arcuato. Cellula cubitalis 3 latitudine multum altior. — Niger, spar- sim flavopictus, facie rufa. Longitudo 8-—S 1, mm. : ATER Sauss. Genae angustae SEU OR , E a td; Ti: Vespidas sociaes do Pará 329 “13. Clypeus latitudine multum altior. Tempora angus- tissima. Segmentum medianum postice excava- tum et crasse rugoso-punctatum. Metanotum margine inferiore medio fortiter angulato. Cellula cubitalis tertia altitudine latior. Longitudo cor- E o —S Jo mn. .. LA, —. Clyvpeus latitudine altior. Tempra afiladine nor- malia. Segmentum medianum postice subtiliter sculpturatum .. e es 14. Margo occipitis en porta E distinct: ted et abdomen ubique flavopicta. Alarum costa vix infuscata : CINCTELLUS Fox. — —, Thorax et abdomen nigra. Tempora dimídio infe- | riore sine margine elevato. Alarum costa nigro- fusca : FUSCATUS Fox Rs. Margo occipitalis distinctus. Metanotum margine inferiore medio forte angulariter protracto. Cel-, lula cubitalis 3 altitudine parum latior, in vena radiali multum angustior quam in vena cubitali; nervus transversocubitalis 3 valde curvatus. Abdomen maxima ex parte rufofuscum. Longi- tudo 6 1/,—7 4), mm. : RUFIVENTRIS Ducke, n. sp. —. Margo occipitalis haud distinctus. Metanotum margi- ne inferiore medio sat obtuse angulato. Cellula cubitalis 3 latitudine altitudineque circiter ae- qualis, in venula radiali parum latior quam in venula cubitali: nervus transversocubitalis 3 fere rectus. Corpus nigrum. pallide flavopictum. Lon- gitudo 5 !/,—6 mm. : PUSILLUS Ducke. n. sp. (*) 1 Cm. vespiceps Sauss. E Polybia (Pseudopolybia) vespiceps Saussure. Mém. soc. “phys. et hist. nat. Genéve XVII. 1., 1863 E cm p. OA O: RE F. 27. À coloração dos nossos exemplares é mais clara que a “do exemplar pintado na obra citada, mas os caracteres (*) Aqui a numeração refere-se sómente às especies por mim observa- “das n'este Estado. 12-80 do Mus. Gesldi ] 3350 Vespidas sociaes do Pará morphologicos. tão salientes nesta especie. concordam per- feitamente com a bôa descripção do autor. Este ultimo, po- rem, nada diz a respeito de alguns caracteres importantes : tempora e occiput perfeitamente arredondados, sem o menor vestigio de orla elevada: pronotum sem o menor vestígio de angulos lateraes: scutellum dividido por uma linha visivel impressa longitudinalmente': metanotum largamente convexo na base, depois verticalmente abrupto, formando na margem Inferior, contigua ao segmento mediano, um angulo obliquo: segmento mediano posteriormente com pequena excavação quasi em forma de sulco longitudinal. Belem do Pará, Macapá e Obidos, raro: achei-o tam- bem em São Luiz do Maranhão. Pertence ao grupo Psewdopolpbia Sauss.. do qual o au- tor conhecia só esta especie considerando-a por isso como subgenero de Polybia. ao passo que conhecendo-se agora ou- tras especies, que formam uma transição gradual aos ge- nuinos Chartergus, fica evidente ser n'este genero que o dito grupo deva ser incluido. 2. Ca. LATIONCIUS! Ducke ns Esta especie pertence incontestavelmente ainda ao gru- po Pseudopolpbia, Sauss., porem cujos caracteres tão salien- tes apresenta já em grau muito menor. juntando assim mui naturalmente este grupo ao Ch. ater. o qual possue o aspecto dum Chartergus genuino. Elongatus, niger, flavopictus, temporibus ocecipiteque sine margine elevato, clypeo margine antico tricuspide, tho- race antice rotundato, metanoto convexo. sed zona basali horizontali angusta. abdominis segmento primo sat parvo, parum convexo. Longitudo corporis 11 1/,-12 mm.— 9. Corpo preto, quasi inteiramente opaco, sem esculptura visivel, finamente grisalho-tomentoso e cerdoso. Na cabeça são amarellos: as orbitas internas da chanfradura dos olhos para baixo. uma fita em fórma de arco no clypeus, duas manchas no tuberculo frontal, as mandíbulas e os tempora, com excepção das orlas, e uma mancha no lado inferior do scapus das antennas. Tempora e Occiput sem vestigio de orla elevada. Ocelli postos num triangulo muito alongado. Frons com um sulco longitudinal na parte superior e em baixo com um pequeno tuberculo no meio. Clypeus curto, duas vezes mais - um Vespidas socines do Pará 331 largo que alto, em baixo tricuspndoroopar,h itdi-se os angu- los lateraes entre a base das mandibulas e as genae; estas mais estreitas que no Ch. vespiceps. Mandibulas largas, for- temente 4-dentadas. Thorax mais alto que largo (comprimido lateralmente), arredondado na frente, atraz apenas um pouco estreitado, apparecendo por conseguinte, visto de cima, de fórma quasi elliptica. Pronoto perfeitamente arredondado, mas tendo a margem anterior elevada: posteriormente orlado de amarello. Seutelum na parte basal ou quasi todo amarello, muito conve- xo, dividido no meio por uma linha depressa longitudinal preta, fina mas bem visivel. Mesopleurae debaixo da raiz das azas com mancha amarella. Metanoto convexo. com a zona basal horizontal pouco desenvolvida, porem verticalmente abrupto depois d'esta, com a margem inferior obliquamente angulada, e a base ornada de uma larga fita amarella. Segmento me- diano quasi vertical, sem nenhuma excavação, sómente mos- trando uma linha longitudinal um pouco elevada no meio e uma larga fita amarella de cada lado. Abdomen, como. no Ch. vespiceps, largo e depresso: segmento 1. relativamente pequeno. porem menos retrahido do segundo que n'aquella especie: pouco convexo, antes affee- tando a forma de chapa, que de cupola: na margem posterior, ao centro ligeiramente incisa, ornado de larga fita amarella. O segmento 2. possue uma fita apical tres vezes sinuosa, O 3. e o 4. na margem posterior ou só uma pequena macula central amarella ou além d'estas duas semelhantes aos lados: o segmento 5. tem uma fita apical amarelia bastante visivel, o 6. é amarellento na metade apical. Azas só pouco tingidas de escuro, cá e lá segundo as veias mais pardacentas, principalmente na margem anterior da cellula radical e muito estreitamente tambem na costa; cellula cubital 2. mais alta que larga, mais estreita em cima que em baixo, nervo transversocubital 3. visivelmente curvado. Nervos e tegulae fuscos, estas com mancha amarella. Pernas pretas, coxae do primeiro par anteriormente amarellas. Comprimento do corpo 114/12 mm.— 9. - E uma especie rarissima, pois consegui colleccional-a só em 2 exemplares. Belem do Para. 352 Vespidas sociaes do Pará 3. Ch. ater Sauss. Chartergus ater Saussure. Etud. fam. Vespid. II. 1853 P.-222 n. 7. à descripção, que o autor nos dá da presente especie, e completamente insufficiente, referindo-se apenas à coloração, mas esta é tão caracteristica que eu não hesito em conside- rar os exemplares por mim examinados como pertencentes a esta especie. Está no systema entre Ch. laticinctus e Ch. griseus. Preto: facies, mandibulas e base do scapus das anten- nas ferrugineas, tempora com fita longitudinal amarella. Mar- gens do pronotum mais ou menos visivelmente amarello-orladas. Scutellhum com um ponto amarello em cada lóbulo basal. Mesoplewrae debaixo das azas com mancha amarella, às vezes pouco distincta. Metanotum com uma facha amarella na zona basal horizontal. Abdomen com a margem apical do segmento dorsal 1. um pouco amarellenta. Azas quasi hyalinas. De fórma robusta. Occiput e tempora sem orla elevada. Clypews curto, mais largo que alto, em baixo tricuspido como nas especies precedentes; genae largas. Ocellk postos num trl- angulo equilateral. Margem anterior do pronotum agudamente elevada. quasi rectamente truncada. duas vezes levemente simuosa. tendo os angulos lateraes bem visiveis mas bastante obliquos. Scutellum bastante convexo. Metanotum com a zona basal horizontal bastante convexa mas estreita, depois verti- calmente abrupto: sua margem inferior é mui pouco angulosa. Segmento mediano quasi verticalmente abrupto. apenas exca- vado no meio. Segmento dorsal 1. do abdomen curto, pou- quissimo convexo, não constituido duma parte basal e outra dorsal, mas simplesmente em fórma de chapa unido ao seg- mento 2. o qual logo se alarga visivelmente, deixando o segmento antecedente bastante retrahido. Cellula cubital 3. com muito mais altura que largura, e tão larga em cima como em baixo, correndo os nervos transversocubitaes 2. e 3. parallelos. Comprimento do corpo 8-8!/, mm. Q. Esta especie se assemelha no habitus aos Ch. charta- rius e globiventris, mas possuindo muitos caracteres proprios do grupo Pseudopolybia liga este aos genuinos Chartergus. E rarissima. pois colleccionei-a só uma vez perto de Belem do Pará e Outra no Ovapoc; na collecção temos mais um exem- Vespidas socines do Pará do plar capturado em Obidos pelo sr. engenheiro Paulo Le- conte. 4. CH. GRISEUS Fox. Chartergus griseus Fox, Proc. Acad. nat. scienc. Phi- ladelphia 1898 p. 458, 9. A extensão da côr ferruginca da face é variavel, sendo muitas vezes preta a parte acima das antennas. Alem do to- mento o corpo inteiro possue pello grisalho bastante comprido. Não frequente, por mim colleccionado em Belem do Pará, Arravollos (municipio de Almeirim) e Itaituba (Rio Tapajoz). | CH. FULGIDIPENNIS Sauss. Chartergus fulgidipennis Saussure, Etud. fam. Vespid. RR D 19859 p. 218 n.2, Q; T, 31 F. 5. Do Pará! segundo o autor; éme totalmente desconhecido. CH. SMITHIT Sauss. Chartergus smithii, Saussure, Etud. fam. Vespid. 1853 RIO TD... 4, SA Vide as duas seguintes especies! 5. CH. FASCIATUS Fox. Chartergus fasciatus Fox, Proc. Acad. nat. science. Phi- ladelphia 1898 p. 9. Colleccionado por mim frequentemente em Belem do Pará, Almeirim, Obidos e Itaituba, como tambem na ilha de São Luiz do Maranhão. Não estou convencido de que esta especie não será identica à precedente: Fox conheceu ambas m'um ós exemplar, e os nossos especimens de Obidos e do Maranhão têm a facha branca das azas mui pouco desenvol- vida! Tambem a especie seguinte poderia muito bem ser uma simples variedade local desta. CH. COLOBOPTERUS Weber Vespa coloboptera Weber, Observ. entom. 1501 p. 102n. 5. Chartergus colobopterus Saussure, Etud. fam. Vespid. Ren isa p 2158n.3, OQ; T. 31 F. 2. Pela descripção de Saussure distinguir-se-ia do smith sómente por pequenas differenças na coloração: vide as duas especies precedentes! 6. CH. coxcoLor Gribodo Chartergus concolor Gribodo. Bull. soc. entom. Ital. MEX TIL 199% p. 257, 9 EL 334 Vespidas sociaes do Pará Desta especie o proprio autor declara não ter certeza, se não será simplesmente uma variação do fraternus. Pos- suimos exemplares de Obidos, colleccionados pelo sr. P. Le- conte: segundo este senhor ali em certos logares a especie não é rara. O ninho não se differencia essencialmente do do Ch. fratermus. «7. CH. FRATERNUS Gribodo (apicalis aut. ex parte). Chartergus fratermus Gribodo, Bull. soc. entom. Ital. XAALE 1501 pe 255, Fox parece ter ignorado o trabalho de Gribodo, e por isso não se sabe se o aprcalis que elle cita como encontrado no Brazil não será antes o fratermus! Frequente em Belem do Pará: construcção do ninho igual à da especie seguinte. descripta por Saussure. CH" APICALIS Fab. ? Vespa apicalis Fabricius, Syst. Piez. 1804 p. 260 n. 38. ? Chartergus apicalis Saussure, Etud. fam. Vespid. II. Vesp:1853 pr 247 mago sata Chartergus apicalis Gribodo, Bull. soc. entom. Ital. 1891 XXIII .p: 255, O. : A especie citada por Fox será talvez antes fraternus do que apicalis: d'este ainda não ha certeza sobre a sua exis- tencia no Brazil. S. CH. GLOBIVENTRIS Sauss. | Chartergus globiventris Saussure, Etud. fam. Vespid. II. Vesp. 1853 p. 224. 5:67 DO sa Chartergus globiventres Fox, Proc. Acad. nat. scienc. Philadelphia 1898 p. 457. dO. Alem dos caracteres plasticos mencionados na chave analvtica, distingue-se da especie seguinte com que concorda tambem na maneira de construir o ninho (vide a estampa), somente pelo pronotum inteiramente preto. Embora ambas as especies sejam communissimas, nunca foram observadas transi- ções entre uma e outra. Em Belem do Pará a especie mais frequente do genero. 9. CH. cHARTARIUS Oliv. (nidulans Fab., chartifex Vallot) Vespa chartaria Olivier, Encvcl. méthod. Insect. VI. 1791 pr 697 n.:868: Chartergus chartarius Saussure, Etud. fam. Vespid. TI. Vesp. 1853/p. 220 n. 54 9, TS Po qe ns: Ed q Vespidas sociaes do Pará So Às pinturas amarellas do pro-c metanoto desapparecem às vezes quasi completamente. Colleccionado em Belem do Pará, Anajás (Ilha de Ma. rajó), Itaituba (Rio Tapajoz): frequente. 10 CH. RUFIVENTRIS Ducke, n. sp. Modice elongatus, nigrofuscus, rufescentivariegatus, fla- vopictus, alis parum flavidis: capite postice sat distincte marginato, genis angustis. clypeo altitudine fere duplo latiore. quinquangulari, thorace antice subtruncato, metanoto toto abrupte obliquo, margine inferiore medio fortissime triangu- lariter im segmenti mediani basim protracto: abdominis seg- mento 1. sat parvo. parum convexo. Long. corp. 6 1/4-7 1), mm.— 9. Corpo de fórma bastante alongada, tendo no habitus alguma semelhança a certas Polpbias. grisalho-tomentoso e mui escassamente pilloso. Cabeça preta. facies pela maior parte amarella, clypeus pardacento no meio. mandibulas ruivas e antennas da mesma cór. excepto o flagellum que em cima é quasi preto. Oceiput e tempora com orla elevada fina, mas bem visivel. Clypeus pentagonal, quasi duas vezes mais largo que alto. Ocelli postos num triangulo equilateral. Frons só- mente um pouco acima da base das antennas com curto sulco longitudinal, em baixo pouco saliente. Vertex e-dorso do thorax bastante rala mas fortemente pontuadas; pouco lustrosos. Pronoto na maior parte averme- lhado-pardo com orlas amarellas; com a margem anterior, apenas elevada, é no centro bastante anguloso, tendo os an- gulos lateraes bastante obliquos. Call humerales avermelhados. Mesonoto preto: mesopleuras fuscas, geralmente com mancha avermelhada em cima. Sewtello bastante elevado, levemente bipartido no meio, grossamente rugoso-pontuado. quasi opaco, preto com margem anterior amarella. Metanoto lustroso, em declive abrupto logo desde a base. formando quasi uma só pa- rede obliqua com o segmento mediano. preto com fita basal amarella. tendo a margem inferior. ao centro. fortissima e agudamente angulosa, protrahida em fórma de triangulo muito para dentro da base do segmento mediano: este ultimo é preto. tendo os lados mais tirantes ao pardo. e o meio fortemente concavo, finamente pontuado e lustroso. Abdomen pardo ou avermeihado-pardo, pouco lustroso, 336 Vespidas sociaes do Pará com dupla pontuação, uma mui densa e fina, outra escassa e fortemente assignalada, orlas dos segmentos anteriores amare- las, dos posteriores fracamente amarelladas. Segmento dorsal 1. bastante pequeno, pouco convexo. bem retrahido do 2., com linha longitudinal impressa antes do centro da margem apical. Pernas avermelhado-pardas. femora quasi pretos. Azas pouco tingidas de amarellento. que se torna mais visivel na costa; cellula cubital 3. menos alta que larga em baixo: em cima mais estreita que em baixo; nervo transver- socubital 2. quasi recto, 3. muito curvado. Veias e tegulae pardacento-amarello-pallidas. Comprimento do corpo 61/,-7!/ mm.— O. Belem do Pará, muito raro. 11. Ch. pusillus Ducke, n. sp. Modice elongatus, niger, flavidopictus, alis hyalinis; ca- pite postice haud distincte marginato, genis angustis, elypeo altitudine latiore, quinquangulari, thorace antice sat truncato, metanoti zona basali horizontali vix conspicua, abdominis segmento 1. valde angusto, parum convexo. Longitudo cor- ponis: 5 4,60 mm DD. Corpo bastante alongado, semelhando no habitus a algu- mas Polybras, de côr fundamental preta, coberto de raro tomento grisalho (branco na fucies e nos lados do thorax) e bastante escassamente grisalho-pilloso. Margens lateraes e apical do clypeus largamente, as orbitas internas mui estrei- tamente, e as externas mais largamente amarello- pallidas. Mandibulas, scapws das antennas e lado inferior do flagellum, avermelhado-pardacentos. Occiput e tempora sem margem ele- vada distincta. Clypeus evidentemente pentagonal, mais largo que alto. Ocelh postos num triangulo equilateral. Genae estrei- tas. Frons com sulco central raso, pouco elevada em baixo. Vertex, como pro-c mesonoto, um pouco lustrosos, finissi- mamente coriaceos e escassamente pontuados: margem anterior do pronoto amarela, elevada, no centro obliquamente angu- lada, com os angulos lateraes quasi rectos. Margem posterior mui estreitamente orlada de amarellento. Scwutellum leve. mente sulcado longitudinalmente, pouco mais densamente pon- tuado que o mesonoto, um pouco lustroso, anteriormente orlado de amarello-pallido. Mesopleuras com uma fita amarella pallida debaixo da raiz das azas. Metanoto com a margem anterior Vespidas sociaes do Pará 337 amarello-pallida c a zona basal horizontal apenas visivel. logo depois verticalmente abrupto, pouco pontuado, lustroso: margem inferior no centro não muito protrahida, juntando-se à base do segmento mediano em fórma de angulo obliquo. O dito segmento é quasi verticalmente abrupto, pouco lustroso. sem esculptura grossa, mui pouco concavo ao centro. Segmento dorsal 1. do abdomen pequeno e muito estreito, pouco convexo, muito menos largo que o 2., por 1sso já appro- ximando-se a certas especies de Polybia com o abdomen pouco distinctamente peciolado, p. e P. bifasciata Sauss;: margens apicaes dos segmentos 2.-4. amarellas pallidas, a do 1. sómente nos angulos postero-lateraes um pouco, as do 5. e 6. indistinctamente coloradas. Abdomen densa e finamente pontuado, quasi opaco; segmento dorsal 1. com um ponto impresso antes do centro da margem apical. Pernas mais ou menos amarello-pardas. Azas hyalinas; cellula cubital 3. quasi tão larga como alta, com o lado anterior mais estreito que o posterior, e O lado inferior um pouco mais estreito que o superior (caracter proprio unicamente desta especie !); nervo transversocubital 2. e 3. sómente mui pouco curvados. Tegulae e veias pardas. Comprimento do corpo 5 !/,6 mm. — O. Belem do Pará e Oyapoc: rarissimo. 12 Ch. cinctellus Fox. Charterginus cinctelus Fox, Proc. Acad. nat. scienc. Philadelphia 1898 p. 460, Q. Nos 8 exemplares, que pude examinar, a cellula cubital 3. é um pouco menos alta que larga em baixo, ao passo que Fox diz o contrario; em todos os demais pontos os nossos exem- plares correspondem perfeitamente à descripção do autor. O genero Charterginus, que eu considero como subge- nero de Polybia, compõe-se na minha opinião só de huberr Ducke e fulvus Fox. Ch. cinctellus e fuscatus não têm grande affinidade a estes. ao passo que ligam-se estreitamente aos Ch. globiventris e chartarius e concordam com elles na con- formação do 1. segmento do abdomen, o qual quando muito, poderá ser chamado «svbsessil>, mas nunca «pedicellatwm ! » Este termo, entretanto, merece-o o Charterginus fulvus Fox, o qual ao meu vêr deve ser collocado no genero Poliybia, (SBC Bol, do Mus: Geeldi.) 338 Vespidas sociaes do Pará opinião confirmada pelo facto de construir elle os ninhos à maneira de Polybia. Infelizmente os ninhos de Ch. cinctellus e fuscatus não são ainda conhecidos. Belem do Pará, Ovapoc. Macapá e Faro, mas em parte alguma frequente. 13. Ch. fuscatus Fox. Charterginus fuscatus Fox, Proc. Acad. nat. science. Phi- ladelphia 1898 p. 450, 9. Vide a precedente especie! Belem do Pará, não frequente. 14. Ch. nitidus Ducke, n. sp. Parvus sed robustus, nitidus, supra haud tomentosus, niger, flavopictus, segmento abdominis dorsali 2. basi disco macula magna quadrata flava instructo, alis hyalinis:; occipite cum temporibus distincte marginatis, genis angustis, clypeo longitudine latiore, vix anguloso, thorace antice truncato, me- tanoto zona horizontal basali magna plana, abdominis seg- mento 1. valde angusto, sed valde convexo. Longitudo corporis 66 !hmm.— O. Corpo robusto, superficialmente um pouco semelhante a uma Nectarina, preto, bastante grisalho-pilloso, sem tomento no lado superior, em baixo um pouco branco-tomentoso. Margem elevada do oceput c dos tempora bem distincta. Vertex e parte superior da frons lustrosos, escassa mas grossa- mente pontuados. Ocellt postos num triangulo quast equilatero. Parte inferior da frons e clypeus pouco lustrosos, pouco dis- tinctamente esculpturados, aquella um pouco elevada, este mais largo que alto, com a margem apical protrahida ao centro em fórma de triangulo com a ponta bastante arredon- dada, e os angulos lateraes apenas desenvolvidos. Genae muito estreitas. — Uma mancha ao centro da frons acima das anten- nas. as orbitas internas da chanfradura dos olhos para baixo, as margens lateraes e a ponta do clypews. as orbitas externas c uma fita duplamente interrompida do oceiput, são dum amarello vivo; o scapus e o lado inferior do flagelleim das antennas, bem como as mandibulas são na maior parte aver- melhado-pardos. Margens do pronoto amarellas: a anterior é bastante arqueada, não elevada, com angulos lateraes quasi rectos. Mesonoto muito lustroso, escassa e bastante fortemente pontu- Vespiaas socines do Pará 339 ado. Seutello de côr bem amarella, lustroso, plano-convexo, escassa e bastante fortemente pontuado. Mesopleurae pouco lustrosas, bastante densa e fortemente pontuadas. com duas manchas amarellas. Metanoto com uma zona basal horizontal muito larga, lustroso, amarello com excepção da parte infima, a qual termina num angulo bastante protrahido para dentro da base do segmento mediano. Este é lustroso, quasi verti- calmento abrupto, escassa e grossamente pontuado, no meio distinctamente concavo, na parte inferior manchado de ama- rello em ambos os lados. Abdomen subsessil, curto, convexo, bastante lustroso, pouco densa mas fortemente pontuado. Segmento dorsal 1 muito mais estreito, separando-se assim muitissimo do segmento 2, muito convexo, no centro da margem apical pintado de amarello. Segmento dorsal 2. grande, com uma mancha grande transversal amarella mais ou menos rectangular ao centro da metade basal: com pequeno ponto amarello, às vezes pouco distincto aos lados: a margem apical com uma fita amarela um pouco alargada ao centro. Segmento 3. em geral só na margem apical com vestigios mais ou menos distinctos de uma fita amarella. Nos segmentos ventraes esta pintura amarella observa-se geralmente só na margem apical do 2.. alias mais ou menos pardo e às vezes até avermelhado. Pernas pardas, em parte avermelhadas. Azas hyalinas; cellula cubital 3. mais larga que alta, em cima mais estreita que em baixo: nervo transversocubital 2. quasi direito, 3. muito curvado. Veias quasi pretas, tegulas pardas. Comprimento do corpo 6-6 !/, mm. — 9. Obidos e Ovapoc: não muito raro. Differença-se muito no habitus de todas as outras especies deste genero, approximando-se pelo corpo redondo e o grande segmento 2. do abdomen às Nectarinas, das quaes porem é profundamente diverso pelo scutello plano e o segmento abdo- minal 1. muito convexo. Tambem o Ch. chartergoides Gribodo, que segundo o autor é intermediario entre os mencionados generos, tem o segmento 1. plano, não podendo por conse- guinte ser parente da presente especie. Antes esta poderia-se approximar à Polpbia pecteti Sauss, que infelizmente não conheço. mas que segundo a descripção teria um segmento / 340 Vespidas sociaes do Pará mediano concavo e segundo a figura colorida um abdomen pouco distinctamente peciolado. Genero 3.. TATUA Sauss. 1. To morio Fabr.— Q não muito commum: Belem do Pará. Macapá. Rio da Villanova e Ovapoc Genero 4., SyxoEcA Sauss. 1. S. surinama L.— Colleccionei tambem um dg. o qual só se distingue das 9 Q pelo 7. segmento abdominal. — Com- mum neste Estado em toda a parte; o povo a conhece pelo nome de «tatu caba». devido aos ninhos, cujo aspecto se- melha algum tanto à couraça dum tatú (Dasypus), e teme-a por causa de sua dolorosa ferrcada. 2, S. testacea Sauss.— 9 não rara, por mim colleccio- nada em Belem do Pará, Mazagão; Itaituba: possuimos tam- bem exemplares do Xingú. - 3. 3. chalybea Sauss.—2 9 de Obidos. - Genero 5. PoLysiA Lep. a : Subgenero Charterginus Fox. 1. P. (Ch) fulva Fox. —Vide o que eu disse a respeito, tratando do Chartergus cinctellus ! P. (Ch.) fulva é uma fórma completamente isolada, parente talvez do genero Icaria, proprio das regiões inter- tropicaes do velho mundo e da Australia, mas absolutamente não de Chartergus! Das Vespidas indigenas d'aqui ella approxima-se mais a Polybia do que a qualquer outro genero, não se differenci- ando das verdadeiras Polybias mais do que o faz Clypearia, que Saussure considera como subgenero de Polybia. Por isto resolvi considerar tambem Charterginus como subgenero de Polybia. Chartergus cinctellus e fuscatus teem muitissimo mais aff- nidade com o grupo do Ch. globiventris que com a presente especie, por isso os tirei do systema ao lado desta para col- local-os naquelle genero. O & distingue-se da PY sómente por ter 7 segmentos abdominaes. Belem do Pará, não muito rara. Ninho de côr parda construido à maneira dos de certas Polybias da 1. divisão Vespidas sociaes do Pará 341 da obra de Saussure (vide a estampa), completamente diverso dos que fazem os Chartergus. 2. P. (Ch.) huberi Ducke, n. sp. — Polybiae (Chartergino) fulvacs simillima, at tota nigra. orbitis parum flavescentibus, abdominis segmentis 3.º-6.º flavoochraceis. Longitudo corpo- Tis 7-8 mm.— O. E' morphologicamente igual à precedente, mas bem dis- tincta pela côr muito differente (a P. fulva é toda parda- cento-amarella ). Ninho redondo, em cima applanado, de côr alvissima, de aspecto muito differente do da especie precedente. Oyapoc; achei um ninho com muitas 9 9, collocado no lado inferior d'uma folha de Montrichardia arborescens. Denomino esta especie em homenagem ao snr. dr. J. Huber, chefe da secção botanica do Museu e a cuja competencia sclentifica devo auxilios preciosos nos meus estudos. b: Subgenero Clupearia Sauss. P. (C.) apicipennis Spin. —Colleccionada em Alemquer. onde encontrei numa trave um grande ninho, chato, de forma irregular, evidentemente composto de um só andar de cellu- las, coberto de um involucro fibroso, pardo. Pouco distan- tes deste havia mais 2 ninhos pequenos ellipticos, abando- nados, cujo unico andar de cellulas. construidas na trave, era coberto de um largo involucro (vide a estampa) —O ma- terial destes ninhos é papel mui pouco solido. c : Subgenero Polybia sens. strict. 1. Abdominis segmentum 1.” thoraci longitudine fere aequale segmento dorsal 2.º longius, tenue, apice leniter inflatum, ad 2/, longitudinis suae utrinque fortiter tuberculatum, apice haud latius quam septima pars latitudinis segmenti dorsalis 2/— Corpus nigrum, parum flavido—pictum, alis hya- linis, 9—10 mm. longum : 1. PEDICULATA Sauss. —. Abdominis segmentum 1.” thorace multum bre- vius, apice haud angustius quam segmenti dorsa- lis 2. latitudinis maximae quarta pars Fer 2. Metanotum margine inferiore medio acute angula- tim protractum apice summo valde mtidum . Ocelh in triangulo aequilaterali, inter se vix minus distantes quam eorum postici ab oculorum margine. Mesonotum latitudine longius, haud circulare: tho- | 6) SB) 6. “Ea a "TA Vespidas sociwues do Pará rax sat angustus. Segmentum abdominale 1.” breve, campanulatum. Corpus nigrum, fuscum vel ferru- cineum, ubique flavopictum, alis hyalinis, 5 !/,—6 mm. longum. : 2. SEDULA. Metanotum margine inferiore medio acute angula- tim protractum. Ocelh inter se multum minus distantes quam ab oculorum margine. Mesonotum latitudine vix longius: thorax antice sat latus. Segmentum abdominale 1.” breve, campanulatum. Corpus fere ubique subnitidum, unicolor flavo- testaceum, alis hyalinis, 5 !/,-6 mm, longum: 3., holorantha Ducke, n. sp. Metanotum margine apicali oblique angulato. Ocelli postici inter se multum minus distantes quam ab oculorum margine 5.555 MP Corpus ( Cprneser ia E mgrum, interdum ex parte rufum. Corpus (praesertim oia ts et iafEad ra taceum vel pallide flavescens. Caput, thorax e abdomen. rarius flora soles Eres tinctissime laete flavopicta. Pronotum sine angulis lateralibus distinctis. Mesopleurae sub alarum an- ticarum radice sulco impresso brevi simplice, in episternum et epimerum haud divisae Caput. thorax et abdomen picturis flavis insigni- bus haud ornata, interdum lineis paucis pallidis signata RE E RPA TOS e e Thorax vel abdomen magna ex parte rufa vel rufofusca. Mesapleurae sub alarum anticarum ra- dice sulco impresso brevi simplice. haud divisae in episternum et epimerum Caput. thorax e abdomen nigra. Pronotum angulis anticolateralibus Pesto: ENT sed distinctissimis, margine antico sat elevato. Cor- pus sine sculptura visibili, solum clvpeo distincte mesopleurisque obsolete punctatis, nigrum. pronoti margine postico scutellique margine antico pal- lide flavidis, abdomine maxima ex parte rufo vel rufofusco, alis flavescentibus, anterioribus apice V 19. 14. a 6. Vespidas sociaes do Pará submaculatim infuscatis. 12—13 mm. longum RB. REJECTA F. Pronotum antice perfecte rotundatum, sine angulis lateralibus RD o Thorax (praesertim ár R SRA A spar- sim crasse punctatus. Pronotum supra sat late deplanatum, mesonotum linea longitudinal medi- ana elevata forti; scutellum valde convexum. Cor- pus fere ubique longe ferrugineo-pilosum, nigrum abdomine rufo, alis hyalinis, 18—20 mm. longum: 7 DIMIDIATA “OlV. Thorax fere omnino opacus:; corpus pilis longio- ribus paucis, valde sericco—tomentosum, 15— 17 mm. longum Thorax superne rufus, ER Es aureo — tomentosus, hoc tomento solum modice denso. Abdomen segmento 1.º rufo, deinde nigrum. Alae valde infuscatae, praesertim costa nigrofusca : 11. SERICEA Oliv. Thorax superne nigrofuscus ibique tomento splen- dide aureo densissime obtectus. Abdomen maxima ex parte rufofuscum. Alac ferruginescentes, praeser- im costa : 13. cHrysoTHORAX Web. Pronotum angulis anticolateralibus in spinam lon- gam protractis. Mesopleurae sub alarum anticarum radice sulco impresso suturaque sat longe ante hujus sulci apicem oriunda et ad pronoti lateris apicem inferiorem vertente in duas partes (episte- rnum et epimerum) divisae. Alae flavescentes. Cor- pus 17—20 mm. longum ERRA sino é Pronotum antice rotundatum, sine angulis. Meso- pleurae episterno et epimero haud separatis, so- lum sub alarum anticarum radice sulco impresso brevi ac simplice suturam haud emittente instructae Pedes nigri vel nigrofusci : 18. aNGULATA Fabr. Tibiae et tarsi sulfurei : 1Q ANGULICOLLIS Spin. “Thorax mesonoto excepto ubique et segmentum abdominale 1.” sat dense et fortiter punctata. Corporis tomentum fusco-micans. Alae valde in- fuscatae anteriorum apice albido LO; od ls: 14. 15. Vespidas sociacs do Pará Thoracis punctatura valde subtilis ac obsoleta, abdomen impunctatum. Corporis tomentum ar- Seniteo-micans-. : Dia 25 tao PE Segmentum abdominale 1.” paulo post basim dilata- tum, superne sat deplanatum, linea mediana lon- gitudinali segmenti mediani haud longius. Longi- tudo corporis 12 mm: 15. RUFITARSIS Ducke, n. sp. Segmentum abdominale 1.” elongatum, segmento mediano multum longius, basi tenue, denique post medium dilatatum. Corpus 13 !/, mm. longum : 16. TINCTIPENNIS Fox. Alae hyalinae, anticae secundum costam (praeser- tim in cellula radiali) anguste infumatae. Margines posteriores pronoti in medio, segmentorumque abdo- minalium 1. dorsalis et 2:—5. ventralis, margo anticus scutelli, maculaeque duae laterales clypei cburnea. Segmentum abdominale 1.7” basi sat at- tenuatum. Longitudo corporis 11 mm. : 5. SPEC.? Alae circiter usque ad 2?/, valde infuscatae. deinde (etiam posteriores) hyalinae. Corpus nigrum, solum segmentum abdominis dorsale 1.7” apice utrinque macula parva sordide flava: hoc seg- mentum, de supra visum, sub forma trianguli modice elongati a basi ad apicem graduatim dila- tatum. Longitudo corporis 13 !/,-15 mm. ATRA Ol. Corpus nigerrimum, solum secutello et metanoto lacte flavis. Alae hyalinae, solum secundum costam nigrecentes. Thoracis latera sparsim ac subtiliter, sed sat distincte punctata. Longitudo corporis 12-13 mm.: 8. JuRINEI Sauss. Corpus aliter coloratum; etiam abdomen flavopi- ctum RR e RAS A PAST pit Caput post oculos inflatum, temporibus parte su- periore latis, parte inferiore valde angustatis: facies rufa, flavopicta: clypeus sine angulis la- teralibus, apice medio sat rotundato, totus opacus sme seculptura visibili. Thorax lateribus sat dis- tincte subtiliter punctatis: segmentum medianum sulco longitudinali profundo superne sat lato go E da A “ Vespidas sociaes do Pará 345 apicem versus angustato. Corpus 12 !/, mm. longum: 7. SULCATA Sauss. (?) —. Caput post oculos haud inflatum, nullo loco rufum. 16. 16. Species sat magnae, 14-16 mm. longae. Segmentum medianum sulco longitudinali sat-lato ac pro- fundo. Caput totum nigrum, haud seulpturatum, praesertim clypeo sat nitidum: thorax large fla- vopictus. Alae flavescentes vel fere hyalinae, secundum costam angustissime infuscatae. . .1 —. Corpus 10 mm. haud longius. Segmentum media- num sine sulco longitudinal mediano distincto. Alae hyalinae, secundum costam ig mm gellula radial) infuscatae . + sc... TA 17. Abdominis segmentum primum a latere visum parte apicali dilatata basim versus haud repentine abrupta, sed in partem basalem angustam gra- duatim transeunte. Thoracis picturae fere auran- tiacae: 9. sycopHaNTA Grib. —, Abdominis segmentum primum a latere visum parte apicali dilatata basim versus sat repentine abrup- ta, cum parte basali angusta angulum obliquum sat distinctum formante. Picturae thoracis sul- fureae: 10. LILIACEA Fab. 18. Statura robusta. Segmentum abdominale 1.º” breve, vix dimidio longius quam apice latum; caput “et mesonotum haud flavopicta. Longitudo.cor- poris 8 1/,-/10 mm.: Ó. BIFASCIATA Sauss. Statura elongata. Segmentum abdominale 1.” elon- gatum, latitudine partis apicalis plus quam triplo longius. Corpus large flavopictum, colore et pictura multo variabile, 8-9 1!/, mm. longum: 4. OCCIDENTALIS Oliv. 19. Pronotum angulis anticolateralibus plus minusve conspicuis. Mesopleurae sub alarum radice sulco impresso suturaque in hoc sulco oriunda et ad pronoti lateris apicem inferiorem vertente in duas partes (episternum et epimerum) divisae. Cly- peus sparsim punctatus, margine antico distincte tricuspide. Spatium inter mandibularum basim a | um I (29 — Bol. Mus. Geeldi) 346 Vespidas sociaes do Pará et oculorum marginem inferiorem latum. Thorax fere totus opacus, sine sculptura. . . ...20 Pronotum sine angulis anticolateralibus . . .. 24. 20. Pronotum angulis anticolateralibus in spinam lon- cam protractis. Abdomen segmento 1.º a basi ad apicem graduatim dilatato, segmentis dorsalibus 3.-6.-sat nitidis 2. 25 47d —, Pronotum angulis anticolateralibus haud protractis, sed muticis. obliquis. E Sd 21. Abdominis segmentum 1.” sat breve ac crassum, vix longius quam segmenti mediani declivitas postica. Caput. thorax, abdominis basis, alae et pedes saturate ochracea. Longitudo corporis 17— 20 mm. 20. FLAVICANS Fabr. —. Abdominis segmentum 1.” angustum. elongatum. “segmento mediano cum metanoto simul sumptis longius. Caput, thorax abdominisque basis pal- lide flava, superne large nigrescenti-picta. Alae praesertim secundum costam flavescentes, pedes pallide flavi. Longitudo corporis 16 !/, mm.: 21. CONSTRUCTRIX Sauss. 22. Abdominis segmentum 1.º elongato-subcampanula- tum. per partem. basalem sat angustatum: seg- mentum dorsale 2.” fortiter dilatatum. Antennae fere totae ferrugineae. Scutellum macula nigres- cente magna. Abdomen brunneo-testaceum, mar- ginibus apicalibus segmentorum flavidofasciatis. segmentis ultimis haud nigrescentibus. Longitudo corporis 13-14 mm.: 23. vULGARIS Ducke, n. sp. —. Abdominis segmentum 1.” nullo modo campanu- latum, de supra visum forma trianguli elongati. Segmentum dorsale 2.” minus dilatatum. Lon- gitudo 'corporis 1114/;13 mm”. 147 E aa 23. Laete ochracea, antennis nigrescentibus, .subtus fuscis scapo pallidiore, vertice et mesonoto ni- gropictis, scutello medio solum obsolete fusco- notato, abdomen segmentis duobus primis testa- - ceo-brunneis, reliquis nigrescentibus, duobus vel tribus primis plus minusve flavido-fasciatis: 24. LUTEA Ducke, n. sp. to bd s t a 26. to bn | Vespidas sociaes do Pará Sordide pallide-testacea, antennis totis ferrugineis, vertice et mesonoto nigrescenti-pictis, scutelli disco metanotique margine apicali fuscescenti- bus, abdemine superne fere unicelore brunneo sine fasciis distinctis, solum segmenti 2. basi dis- mncie pallidiore:- 25. SP,:? Mesopleurae sub alarum i1adice sulco impresso brevi ac simplici suturam haud emittente instru- ctae, in episternum et epimerum haud divisae. Mesopleurae sub alarum radice sulco impresso suturaque sat longe ante hujus sulci apicem ori- unda et ad pronoti lateris apicem inferiorem vertente in duas partes (episternum et epime- rum) divisae. Frons, vertex et mesonotum semper sine ulla sculptura visibili, corporis tomentum nunquam metallice nitens. Abdominis segmen- tum 1.º a basi ad apicem graduatim dilatatum. Corpus valde ochraceo-tomentosum, praecipue fa- cie, mesopleuris et segmento mediano, harum partium tomento subaureo-micante. Vertex et thorax obsolete punctata, punctatura scutelli plerumque magis conspicua. Segmentum abdo- minale 1.” subcampanulatum, fere triplo longius quam apice latum. Longitudo corporis 14-18 Hm» 12.-MICANS Ducke, n.'sp. Corpus vix vel parum tomentosum, hoc tomento nunquam subaurco-micante. E a Caput et thorax ubique sat conspicue ERRO spar- sim punctata, sat nítida. Statura corporis valde robusta, segmento abdominal 1.º vix duplo lon- giore quam lato, distincte campanulato. Longi- tudo corporis 11-12 1/, mm.: 31. SCULPTURATA Ducke m sp: Frons, vertex et mesonotum sine ulla sculptura visibili o Pu A a Corpus minimum, 5 !/,-6 mm. longum. Frons, ver- tex et thoracis dorsum sat nitida. Abdominis segmentum 1.” de supra visum triangulare, vIx duplo longius quam apice latum: segmentum dorsale 2.” haud multum dilatatum. Palpê labi- to 6; 29. 20. 348 Vespidas sociaes do Pará ales 3-articulati, maxilares 3-articulati (in cac- teris hujus generis speciebus adhuc cognitis palpi labiales 4-.maxillares 6-articulati sunt!): 32. LA- MELLARIA Moeb. Corporis longitudo S millimetris haud inferior. Caput et thorax opaca. Segmentum abdominale apicis sui latitudine plus quam duplo longius. Segmentum abdominale 1.” valde elongatum et tenue, apice parum dilatatum. nullo modo cam- panulatum. Clypeus latitudine fere altior. Corpus ferrugineum vel fuscescens, flavidopictum, alis hyalinis, anticis margine anteriore (praesertim mn cellula radiali) infuscato, S-9 !/, mm. longum: 4. OCCIDENTALIS. Olive. Segmentum abdominale 1.” modice longum. sub- campanulatum. Clypeus altitudine multum latior. Corpus flavotestaceum. capite et thoracis dorso nigro-vel fusco-pictis. abdominis dorso brunneo, segmentorum marginibus apicalibus flavidofascia- tis, alis distincte ferrugineo-flavescentibus, 10-11 mm. longum: 30. CAEMENTARIA Ducke, n. sp. Magna, 17-20 mm. longa, ferrugineo-testacea, ca- pite et praesertim thoracis dorso fusco-pictis. abdomine segmentis dorsalibus 1.º-4.º ferrugineo- brunneis, apice ochraceo-fasciatis, fascia praeser- tim 2.º utrinque antice distincte excisa, segmentis 5.º et 6.º totis ferrugineo-flavis. Alae distincte ferrugineo-flavescentes: 27. PARAENSIS Sauss. Praecedenti similis, at solum 15-16 mm. longa. pallide flavescens. superne picturis pallidis ex- ceptis fere nigra, abdemine solum segmentis 1º-3.º apice flavidofasciatis: 20. oBIDENSIS Ducke, n. sp. Corpus 11 millimetris haud longius, abdomine haud distincte pallidofasciato segmentisque duobus ul- timis praecedentibus haud distincte pallidioribus Pallide ferruginea, facie pallide ochracea. anten- narum flagello superne nigrofusco, thoracis pic- turis flavidis valde obsoletis, mesonoto maxima ex parte fuscescenti, abdominis dorso fusco, seg- mento 1.º et 2.º basi et apice pallidioribus, 6.º 30. Vespidas socines do Pará 349 brevi, apice sat rotundato. Alae parum infusca- tae. Longitudo corporis 10-10 */, mm. 28, AM- PULLARIA Moeb. —. Flavidotestacea, antennis fulvoferrugineis, thoracis dorso fusco-picto, abdomine brunneo, solum seg- menti 2. basi distincte pallidiore, segmento 6.º feminae solae cognitae conico ut in plurimis hujus generis speciebus. Alae distincte lutescen- tes. Segmentum abdominale 1.” minus elongatum quam in specie praecedente. Longitudo corpo- ris 10-11 mm: 29. LIGNICOLA Ducke, n. sp. 1. P. pediculata Sauss.— Q. Não fréquente, colleccionada nas regiões de Belem do Pará, Macapá e do Rio da Villa- nova ( Anauerapucú): neste ultimo logar vi um ninho à trave duma barraca de seringueiro. correspondendo perfeitamente ao descripto e figurado na obra do Moebius — Os exemplares de Belem teem o abdomen todo preto e um pouco mais pon- tuado que os outros. 2. P. sedula Sauss— Q. Mui frequente nos arredores de Belem do Pará ce Macapá, mesmo nas hortas etc: temol-a tambem do Oyapoc. O ninho do qual já encontrei muitos exemplares, foi bem descripto e fisurado por Saussure e Moebrus. 3. P. holoxantha Ducke, n. sp. Q. P. sedulae affinis- sima, sed tota laete flavotestacca, sine picturis obscurioribus distinctis itaque fere unicolor:; ocelli inter se multum minus distantes quam ab oculorum margine: thorax antice distincte latior. Corpus ubique subnitidulum, segmento mediano niti- disssmo, 5 !/,-6 mm. longum. Oyapoc. Ninho semelhante ao de sedula. — A P. nana Sauss., de mim não conhecida, deve ter o pronotum ainda mais largo, porem o 1.º segmento abdominal mais estreito. 4. P. occidentalis OL (pygmaea Fabr.)—PQ do. Parece ser a mais variavel de todas as especies, variando até no comprimento do 1.º segmento abdominal e na distancia dos ocellos; é communissima em todo o Estado do Pará e no Maranhão. Os ninhos por mim examinados são de forma ovoide ou elliptica, correspondendo mais ou menos ás figu- ras da estampa Q da obra de Moebius. A P. oecodoma Sauss. é mui provavelmente só uma 350 Vespidas socines do Pará fórma da presente especie. Será necessario o exame de muito material de todas as partes da America tropical para ser definitivamente estabelecida a systematica n este grupo. 5. P. species? — Colleccionada em 3 9 nos arredores de Belem do Pará. Corresponde na coloração etc. exacta- mente á descripção de Polybia theresiana W. A. Schulz, colloca-se porem pelos caracteres morphologicos ao lado da P. ocedentalis, da qual não obstante a differente colo- ração eu a consideraria como variação, se ella não se di- stinguisse tambem pela pontuação coriacea (fraca mas bastante visivel) do mesonoto, as mesoplenras finamente vontuadas, o «lypeus na metade apical lustroso e distinc- tamente pontuado. Para descrevel-a como especie nova aguardo porem ainda material mais abundante. 6. P. bifascinta Sauss. (=quadricincta Sauss.)— QD do. Não muito rara; Belem do Pará, Obidos e Oyapoe. O nu- mero e a largura das fachas amarellas do abdomen são variaveis. 7. P. sulcata Sauss. (?)— Uma 9 colleccionada em Itaituba corresponde perfeitamente á descripção do autor, mas tem o abdomen preto em logar de vermelho. 8. P. jurinei Sauss.-- Pd. Belem do Pará, Mazagão, Ovapoc, Alemquer, Obidos, não rara. No ultimo destes logares vi um ninho posto entre os galhos dum arbusto, de forma quasi globular e de mais ou menos 3 decimetros no dia- metro, sendo o involucro de papel cinzento. As numerosas PRB: do ninho pareciam muito aggressivas. o. P. sycophanta Gribodo, — P. Não rara em Belem do Pará, Anajás, Macapá, Ovapoc, Almeirim e Itaituba, fre- quente tambem na ilha de São Luiz do Maranhão. 10. P. liliucea Fabr.— Og. ps eis em Belem do Pará, Mazagão, Obidos. II. P. sericea Oliv — O 6. CONES por mim em Amapá, Macapá, Mazagão, Almeirim, Montealegre, Obidos, pelo dr. G. Hagmann na ilha Me aa É frequente ER em São Luiz e Alcantara, no Estado do Maranhão. Falta nos arredores de Belem como em todas as regiões primiti- vamente cobertas de matta virgem, sendo tanto mais com- mum em todas as regiões de campos. O ninho foi figu- A | pa Vespidas sociaes do Pará Rj rado por Saussure e Moebiws; eu o encontrei já por diver- sas vezes. 12. P. micans Ducke, n. sp. — Q. Speciei P. chrysotho- rax formis atque sculptura affinis, sed tota ferruginescenti- testacea, vertice, antennarum flagello superne (basi apice- que exceptis), mesonoti fasciis longitudinalibus tribus latis sed parum distinctis, segmentorumque abdominis dorsalium disco plus minusve fuscescentibus; corpore toto pallide ochraceo-tomentoso, hoc tomento in facie, mesopleuris et praesertim segmento mediano densius quam in religuis partibus, subaurichalceo-micante, mesonoto autem subgla- bro. Alae praesertim costa Intescente. Longitudo corporis 4 —- 18: mm. Assemelha-se morphologicamente 4 Pol. chrysothoras, na coloração á Synoeca testacea. O mesonotum pouco to- mentoso e a differente côr distinguem-na immediatamente daquella, o abdomen até ao fim depresso d'esta. Rara cBelem-do Pará, Almeirim, Obidos, Itaituba, Amapá e Oyapoc. 13. P. chrysothoras Web. — 9. Frequente; collecciona- da por mim em Belem do -Pará, Prainha e Obidos, pelo dr. Hagmanm na ilha Mexiana. Saussure cita o ninho, o qual aqui é freqnente até nos jardins da cidade. 14. P. atra Oliv.— 9. Commum nos campos de San- Rare, donde é citada tambem por Fox; um exemplar achei tambem em Alemquer. TS. P. rupfitarsis Ducke, n, sp. — Q. Nigra, fuscescen- ti-velutina, alis valde infuscatis, anticis costa nigra subcy- anescenti-micante, harum apice albidis, tarsis omnibus rufis. Clypeus longitudine latior, nitidus, sparsim punctatus, mar- gine apicali medio triangulariter producto. Genae sat an- gustae. Caput, thorax et segmentum abdominale 1.º” sat dense et fortiter punctata, pronoto sine angulis, margine antico utrinque tenuiter carinulato, medio inermi, meso- plenris episterno et epimero haud separatis, segmento me- diano postice sat late excavato, segmento abdominal 1.º sat depresso, brevi, segmenti mediani linea mediana lon- gitudinali haud longiore, campanulato, segmento dorsal 2º valde dilatato, segmentis 2.º -- 6.ºsimul sumptis cordi- formibus. Longitudo corporis 12 mm. 552 Vespidas sociaes do Pará Na coloração assemelham-se a esta as seguintes especies: P.socialis Sanss., que porem tem o clypeus na margem ante- rir quasi rectamente truncado e o pedicello do abdomen mais comprido, e P. simillima Sm., que tem as azas muito mais claras («wings subhyaline, the anterior margin of the superior pair dark fuscous »); ambas estas teem os tarsos escuros. A P favitincta Fox, cujos tarsos são de côr ferruginea, tem as azas amarellas,o pedicello do abdo- men mais comprido, etc, a P. tinctipennis Fox os tarsos escuros e o pedicello comprido. De P. mufitarsis colleccionei até agora um só exem- plar, em Itaituba (Rio Tapajoz). 16. P. tinctipennis Fox — Q. Um exemplar de Itai- tuba. 17. P. dimidiata Oliv. — Q. Não rara, por mim col- leccionada nas mattas de Belem do Pará, Obidos e do Oyapoc; além destes temos tambem exemplares provenien- tes do Xingú. 18. P. angulata Fabr. — Q. Não rara nas mattas; Belem do Pará e Obidos. 19. P. angulicollis Spin. — Q. Mais rara que a prece- dente; Belem do Pará, na matta grande. 20. P. flavicans Fabr. — o d. Bastante frequente; col- leccionada em Belem do Pará, Anajás, Chaves, Amapá, Ovyapoc, Almeirim, Obidos e Itaituba. 21. P. constructrir Sauss. — q. Obtivemos um exem- plar de Obidos pelo engenheiro snr. Paulo Lecointe. 22. P. rejecta Fabr. — o. Communissima em Beiem do Pará, onde o ninho (figurado por Saussure e Moebivs) acha-se frequentemente nos jardins e nas hortas; collec- cionei-a ainda no Oyapoc, em Mazagão e Almeirim, como tambem em São Luiz do Maranhão. 23. P. vulgaris Ducke,n. sp. — og. Flavotestacea, an- tennis fulvoferrugineis, occipitis fascia transversali utrin- que ad oculorum marginem dilatata fasciaque arcuata cum illa confluente inter ocellos et antennarum radices, pronoti macula parva in utroque latere, mesonoti fasciis tribus longitudinalibus, scutelli macula magna antice an- gustata metanotique margine postico nigris vel nigrescen- tibus; segmenti mediani fascia longitudinali mediana ma- Vespidas sociaes do Pará 359 culaque minore in utroque latere fuscis; abdomine supra brunneo-testaceo, segmentorum marginibus apicalibus ba- sique segmenti 2.º pallide ochraceo-fasciatis. Caput post oculos sat inflatum; ocelli ia triangulo parum elongato, eorum postici inter se multium minus distantes quam ab oculorum margine; frons inter antennas fortiter tubercu- lata; clypeus q nitidus, sparsim punctatus, longitudine multum latior, margine apicali valde tricuspide, S” parum nitido, aequilato, margine apical medio parum angulato, mandibularum basis ab oculorum margine valde distans; praesertim in q. Pronotum margine antico leniter arcuato, valde elevato, angulis anticolateralibus distinctis sed non spiniformibus; mesopleurae episterno epimeroque distinctis- sime separatis; metanotum margine apicali subarcuato; segmentum medianum sulco longitudinali sat lato sed pa- rum profundo. Abdominis segmentum 1.º” basi fortiter an- gustatum, metanoto cum segmento mediano simul sumptis o subbrevius, o” sublongins, segmentum dorsale 2.” prae- sertim in Q fortiter dilatatum, segmentum anale q (6.º) acute conicum, &” (7."") apice rotundato. Alae lutescentes, cellula cubitali 2.º modice angusta, 3.º latitudine distincte altiore. Longitudo corporis 13-14 mm. Belem do Pará, Obidos, Almeirim, Amapá, Calçoene e Oyapoc; frequentissima. Os angulos muito bem desenvol- vidos do pronoto distinguem-na de todas as especies ama- rellas descriptas até agora pelos autores e só se encontram ainda nas duas especies seguintes. 24. P. lutea Ducke, n. sp. — q. Laete ochracea, anten- nis supra nigrofuscis, scapo antice testaceo, flagello sub- tus ferrugineo, pronoti maculis lateralibus fuscis obsoletis sublinearibus, scutello vix in linea mediana longitudinali impressa parum infuscato, metanoto toto ochraceo, seg- menti mediani picturis fuscis valde obsoletis vel maculis lateralibus nullis, abdomine segmento 1.º et 2.º testacco- brunneis, hoc basi pallidiore, apice plerumque flavidofas- ciato, 3.º interdum apice flavidofasciato, 3.º—-6.º fusconigris, 1.º desuper visu elongato-triangulari, a basi ad apicem graduatim dilatato, 2.º minus lato quam in specie prae- cedente, alis solum ad costam flavescentibus, caeterum (30 — Bol. do Mus. Goeldi.) 354 Vespidas socines do Pará fumatohyalinis. Longitudo corporis 11 !,—-13 mm. — Cae- terum speciei P. vulgaris omnino similis. Belem do Pará, Mazagão, Obidos; não frequente. Parece-se pela coloração coni a P. pallipes Sauss., especie insufficientement: descripta como todas as que pede a este grupo, deixando o autor de mencionar os caracte- res mais importantes para a distincção destas especies, como p. e. a conformação do pronoto e das mesopleuras. — A côr fundamental da P. lutea é um vivo pardacento-ama- rello quasi alaranjado, como não se encontra em nenhuma das especies visinhas. 25. P. species? Não tendo desta senão sómente duas q, colleccionadas nas mattas de Belem do Pará, não quero descrevel-a como especie nova, visto ser dito este grupo. 26. P. obidensis Ducke, n. sp.— 0. Polybiae paraenst characteribus morphologicis, Polpbice constructrici colore sat similis. Pallide flavescens, supra nigrofusca, antennis ferrugineis, supra obscurioribus, clypeo (disco excepto), frontis linea longitudinali mediana, orbitis, pronoti mar- gine postico, mesonoti lineis longitudinalibus duabus, scu- telli et metanoti dimidio anteriore, segmenti mediani fas- cus duabus longitudinalibus, segmentorum abdominalium º-3.º fasciis apicalibus, pedibusque omnibus pallide flavis, alis praesertim ad costam ferruginescentibus. Caput post oculos sat inflatum. Ocell sat magni. Clypeus apice me- dio fortiter productus. Mandibnlarum basis ab oculis mo- dice distans. Pronotum sine angulis. Mesopleurae sutura episternum ab epimero separante valde distincta. Scutel- lum et metanotum magna, convexa, hoc apice oblique angulatum. Sulcus segmenti mediani parum protundus. Abdomen opacum, segmento abdominal 1.º ut in P. pa- raensi constructo (graduatim dilatato), segmento anali co- nico. Longitudo corporis 15--16 mim. Obidos. Colleccionada pelo snr. Paulo Lecointe. Mais tarde acheia-a tambem no Oyapoc. 27. P. paraensis Spin. —Q Belem do Pará e Itaituba, em preso humidos da dA grande. Não frequente. 8. P ampullaria Moebius — Q. Frequente; Belem do Pará, Rios da Villanova e Camahipy, Ovapoc, Obidos, Itai- RT. REA Vespidas socines do Pará tuba. Observei-a tambem no Estado do Maranhão, perto de Alcantara. O ninho. de forma singular, por mim achado já diversas vezes, é figurado na obra de Moebius. >o. P. lignicola Ducke, n. sp. — 9, Pallide flavotesta- cea, antennis fulvoferrugineis, capite thoraceque ut in 2. vulgar pictis, sed his picturis dilutioribus, brunneofuscis, abdomine castaneo, plerumque solum 2. segmenti basi distincte pallidiore, alis sat flavescentibus. Caput post ocu- los vix minus inflatum quam im P. lulea et caementaria, multum magis quam in P. ampullaria. Ocelh ut in hac ultima sat magni, distincte matores quam in caementaria. Clypeus nitidus, margine apicali sat tricuspide; mandibu- larum basis ab oculorum margine sat late distans. Prono- tum antice semicirculare; imesopleurae sub alarum radice sulco ad stigma posticum dncente suturaque in hoc sulco oriunda ad pronoti angulum inferiorem vertente in duas partes (episternum et epimernm) divisae; metanotum breve, margine postico subarcuato (in ampullaria latius margine postico sat angulato); segmentum medianum sat fortiter sulcatum. Abdominis segmentum 1.” elongato-triangulare, segmentum dorsale 2.” minus latum quam in speciebus vicinis, 6.” drstincte conicuin. Alarum auticarum cellula cubitalis 2.º sat lata (ut in caementaria), 3.º latitudine multo altior. Longitudo corporis I10-II mm. Rara; Belem do Pará na matta; Rio da Villanova (Anauerapucú) n'uma barraca de seringueiro, sahindo do ôco d'uma trave. 30. P. caementaria Ducke, n. sp. (=capennensis Moebius; ?=fulvofasciata, cayennensis et phthisica auctorum?) — 9 Sat laete ochraceo-flavotestacea, antennis ferrngineis, supra obseurioribus, picturis capitis thoracisque nigrescentibus ut m P. vulgar, sed macula scutelli antice lata, postice an- gustata, metanoto vix obscurius-marginato, abdomine su- perne brunnescenti-ferrugineo, segmentorum marginibus apicalibus et plerumque etiam basi segmenti 2.º distincte flavidofasciatis, alis distincte flavescentibus, Capnt post oculos sat inflatum. Ocell parvi. Clypeus longitudine mul- tum latior, margine apicali medio ablique angulato. Spa- tium inter oculos et mandibularum basin multo angustius quam in speciebus: vulgaris, lutea et ligwicola, sed minus e 356 Vespidas sociaes do Pará angustum quam in ampullaria. Pronotum antice semicircu- lare; mesopleurae sub alarum radice sulco ad stigma posti- cum ducente distinctissimo, sed sutura ad pronotum verten- te nulla, itaque haud in episternum et epimerum divisae; me- tanotum breve, margine postico subarcuato: segmentum me- dianum sulco sat angusto sed profundo. Abdomen segmen- to 1.º modice longo, subcampanulato, per basim sat angusta- tam, segmento dorsali 2.º sat lato, 6.º conico. "Alarm anticarum cellula cubitalis 2.º sat lata, 3.º circiter aequa- liter lata et alta, sed in nervo cubitali multum latior quam in nervo radial. Longitudo corporis Io-II mm. Belem do Pará, nas mattas, não frequente. Numerosos exemplares recebemos do alto Purús (Estado do Amazo- nas) com o ninho, feito de argilla. Este corresponde ao figurado por Moebius como ninhode P. coyennensis, e das palavras com que a esta especie se refere o dito autor na descripção de sua P. ampullaria, resulta claramente ser a P. caementaria realmente a cayemnesis Moebius. Como po- rem este autor só cita a cayeunensis sem descrevel-a, e como a cayennensis, phthisica e fulvofasciata de todos os outros autores não podem ser reconhecidas por es- tarem pessimamente descriptas, referindo-se talvez cada um destes nomes a algumas especies differentes não só de Polybia mas até de Megacanthopus, julgo dever acabar com toda esta confusão, dando á presente especie o novo nome de caementaria. 31. P. sculpturata Ducke, n. sp.— Q. Flavidotestacea, ubique sat dense griseopilosa, antennarum flagello superne fusco, subtus ferrugineo, apice basique cum scapo fulvis, fronte inter oculos fascia lata transversali nigra ocellos includente, pronoto lateribus plus minusve brunneo, meso- noto brunneo vel fuscescente medio longitudinaliter flavi- do-bistrigato, secutello et metanoto dimidio apical vel maxima ex parte brunneis, segmento mediano sulco lon- eitudinali maculaque in utroque latere dilnte brunneis, abdomine fere unicolare castaneo, rarius segimentorum marginibus apicalibus obsolete flavidofasciatis, alis sub- hyalinis, costa sordide flavescente. Caput pone oculos mo- dice latum, vertice et fronte densius, clypeo dispersius punctatis, hoc fere regulariter quinquangulari, antice me- Jo ado | =] Vespidas sociacs do Pará 5 dio fortiter angulato, spatio inter oculos et mandibularum basim angusto. Thorax brevis ubique distincte punctatus, sat nitidus. Pronotum margine antico medio subtruncato, utrinque subtiliter elevato sed sine angulis. Mesopleurae sub alarum radice breviter sulcatae, per suturam non di- visae. Metanotum margine apicali medio oblique subangu- lato. Segmentum medianum valde abruptum, fortiter lon- gitudinali-sulcatum. Abdomen segmento 1.º vix duplo longiore quam lato, distincte campanulato; reliqua pars abdominis cordiformis. Alarum anticarum cellula cubitalis 2.º angusta, 3.º circiter aequilata, in vena cubitali distincte latior quam in radiali. Corpus robustum, 11—I2 !/, mm. Jongum. Belem do Pará, Anajás, Macapá, Oyapoc e Obidos. Não se parece com outras especies d'aqui indigenas. 32. P. lamellaria Moebius. — o &?. D'esta interessante es- pecie faz o autor o genero Leipomeles, pelo facto dos palp? matillares e labiales terem cada um um articulo menos que nas outras especies de Polybra. Mas como hoje já passou o tempo em que se baseava generos novos sobre pequenas differenças no apparelho bnccal ou na nervação das azas, a especie em questão ha de ser collocada no genero Polybia, ao qual corresponde exactamente em to- dos os pontos menos o acima referido. — “Temos em nossa collecção dois ninhos. O primeiro, achado pelo dr. 6. Hagmann, semelhante em todos os sentidos ao que Moebrus figurou em sua obra; a côr do involucro era verde, trans- formando-se porém mais tarde em pardacento claro. O segundo exemplar, colleccionado por mim, achava-se num dos foliolos d'uma folha composta (de Protimm sp.). O imn- volucro era cinzento-pardo, imitando exactamente a ner- vação do foliolo; dentro havia só um grupo central de cellulas. Todo o peciolo da folha estava untado de uma materia muito viscosa, sem duvida para o ninho tornar-se inaccessivel ás aggressões das formigas. Colleccionada por emquanto só nas mattas grandes dos arredores de Belem do Pará e das margens do Oyapoc. Genero 6., Apoica Lep. 1. A. pallida Oliv. — q. Colleccionada em Jambú- E pd e “ma ir 358 Vespidas sociaes do Pará assú e Obidos (neste ultimo logar conhecida pelo nome «beijú»>), mas existindo provavelmente em todo este Es- tado; vôa só durante a noite, dormindo de dia pousada no lado inferior de seus ninhos, ás vezes enormes, da forma de um chapeu. 2. A. virginea Fab — o. Segundo Fox talvez só va- riação da primeira especie; colleccionei-a nas mattas do Anajás, existindo no Museu tambem exemplares dos rios Capim e Xingú. FE frequente tambem na ilha do Mara- nhão. — Costumes e nidificação como na precedente. Genero 7., Megacanthopus Ducke, n. gen. As especies deste genero até agora fizeram parte do genero Polybia, do qual se distinguem morphologicamente : pelo articulo 3 e 4 dos tarsos do 2.º e 3.º par de pernas conformados como no genero Mischocyltarus (o lóbulo in- terno dos ditos articnlos é prolongado numa espinha muito comprida, ao passo que em todas as outras Vespi- das de mim conhecidas o lóbulo interno é igual ou só pouquissimo maior em comprimento que o lóbulo externo) e pelo halrtus característico, mais parecido dos Polistes que de Polybin, mas muito diverso d'aquelles pelo abdo- men longamente peciolado; biologicamente: pelos ninhos sem involucro, parecidos dos de Polistes, habitados por pouquissimos individuos. — Estes caracteres morphologicos e biologicos provam mais que sufficientemente o direito de existencia deste novo genero, cuja diagnose será a seguinte: Ocelli et clypens normales. Marium antennae (an in speciebus omnibus?) ad apicem involutae, articulo ultimo acuminato vel compresso-dilatato. Scutellum plus minusve convexum, metanotum et segmentum medianum plus mi- nusve obliqua. Abdomen longe petiolatum, petiolo apicem versus nunquam repentine incrassato, sed plús minusve gradualiter dilatato. Pedes intermedii et postici tarsorum articulis 3.º et praecipue 4.º lobo interno in spinam lon- gissimam producto. Temos na nossa collecção 10 especies de Megacan- lhopus, que se distinguem da seguinte maneira: o Vespidas sociaes do Pará Abdominis petiolus lincaris, thorace distincte longior. piãe intermediae calcare uno... Ocelh in triangulo altitudine latiore. Pronotum antice recte truncatum, angulis lateralibus distinctis. Meso- pleurae episterno et epimero non separatis. Corpus nigrum et fuscum, flavopictum, 11—12 mm. longum : filiformis Sauss. Abdominis petiolus apicem versum plus vel minus incrassatus, thorace nunquam longior. Tibiae intermediae calcaribus duobus En Sa: Pronotum antice semicirculare, sine angulis late- ralibus. Ocelh in triangulo acquilateralii Mesopleurae episterno et epimero per suturam sat distinctam separatis. Corpus testaceo et fusco-variegatum. Pronotum antice recte truncatum, angulis laterali- bus distinctis 2d 4 ae 2 NORA RE Pronoti margo anticus valde cristato- elevatus. Longitudo corporis 13— 14 mm. : collaris Ducke, iodo PR Pronoti margo anticus haud elevatus, lincam tenuissimam formans. Longitudo 11—12 mm.: lecointei Ducke, n. sp. Abdominis segmentum 1.” (petiolus) segmento 2.º longitudine subaequale, fere brevius. Mesopleurac episterno et epimero indistincte separatis. Corpus cum alis nigrofuscum, harum apex albus. Lon- gitudo corporis robusti 13—16 mm. : imuitator Ducke, n. sp. Abdominis segmentum 1.” segmento 2.º distincte longius. iso ED SN SA RI a Ta Scutellum, metanotum et segmenti median! me- diani pars media sat nitida, punctis paucis sat magnis adspersa. Ocelli in triangulo aequilaterali, inter se haud minus distantes quam eorum postici ab oculorum margine. Margo oceipitalis et praecipue pronoti margo anticus distinctissime elevati. Mesopleurae episterno et epimero non separatis. Abdominis petiolus thorace longitudine subaequalis. Corpus gracile, nigrum, laete fla- to oo [e p) fem) Vespidas sociaes do Pará vopictum, thoracis lateribus ferrugineis, 11 mm. longum : punctatus Ducke, n. sp. —,. Corpus opacum vel ex parte subnitidulum, sed nullo loco punctis majoribus adspersum . . .. 6. 6. Corpus infra totum pallide testaceum, supra testa- ceo-, brunneo et fusco vel nigrescenti-varie- gatum. Ocell in triangulo aequilaterali, inter se minus distantes quam eorum postici ab ocu- lorum margine. Mesopleurae episterno et epimero distincte separatis. espa Do 8 0 Pp ERP A —. Corpus sat robustum, nigrum vel ferrugineum, supra flavopictum. Ocelli in triangulo altitudine distincte latiore. Mesopleurae episterno et epi- mero per suturam vix distinctam obsolete separatis 9. Corpus valde elongatum et gracile; abdominis segmentum 1.” thoraci longitudine subaequale, lateribus ante stigmata distincte tubercurculatum. Longitudo corporis 10—12 mm. : surinamensis Sauss. —,. Corpus robustius; abdominis segmentum 1.” tho- raci longitudine distincte brevius, lateribus non distincte -tuberchlatiibr: SF o e S. Abdominis segmentum 1.” apice fere triplo latius quam basi. Longitudo corporis 12—13 mm. alfkenii Ducke, n. sp. — . Abdominis segmentum 1.” apice vix plus quam dimidio latius quam basi. Longitudo corporis IO mm. : species?-—n:,0. 9. Corpus nigrum, flavopictum; metanoto et plerum- que etiam scutello segmentique mediam basi macula magna laete flava. Longitudo corporis 12—15 mm. : metathoracicus Sauss. —. Caput et thorax nigra, plerumque ferrugineo- maculata, parum flavopicta. Abdomen rufofus- cum. Longitudo corporis 10—13 mm.: injucun- dus Sauss. 1. Meg. filiformis Sauss. — Belem do Pará; achei 2 9 Q sobre um ninho muito pequeno em 4 de dezembro de 1899. Saussure descrevendo o q” nada diz sobre as suas antennas — talvez sejam ellas nesta especie simples, não enroladas? a | =1 Vespidas sociaes do Pará 361 Bios collaris Ducke, n. sp. — Q. :- Corpus modice elongatum, sat robustum, opacum. sine sculptura visibili, subtus pallide testaccum, ventre parum obscuriore, supra ferrugineo-fuscum, facie, orbitis totis, pronoti marginibus, mesonoti lineis duabus longitudinalibus, scutelli metanotique basi, segmenti mediani fascis duabus longitudinalibus abdo- minisque segmentorum dorsalium 1.—5. marginibus apicalibus basique segmenti 2.º plus minusve distincte testaceis. Anten- nae ferruginae. Ocelli in triangulo acquilaterali. Occiput sine margine elevato. Clypeus punctis piligeris adspersus. Pronotum antice semicirculare, sine angulis, margine valde cristato- elevato. Mesopleurae sutura distincta in episternum et epimerum divisae. Scutellum sat convexum. Metanotum planum, parum declive, sulco mediano longitudinali parum profundo. Abdo- minis segmentum 1.” sat crassum, thorace multo brevius, sed segmento 2.º distincte longius, apicem versus graduatim dilatatum et hic plus quam duplo latius quam basi, sed segmento 2.º multum angustius. Alac leniter ferruginescentes. Pedes ferruginei testaceo-picti, tibiis medianis calcaribus duobus. Longitudo corporis 13—14 mm.—qg” : ut 9, sed antennis ad apicem involutis, articulo ultimo parte api- cali nigro, valde compresso et subdilatato. Belem do Pará. Obidos e Oyapoe. Ninho muito obli- quo, com o pedicello fortemente excentrico. 9. Mes. lecointei Ducke, n. spp— Q d& : Speciei prae- cedenti (M. coliaris) similis, at pronoto antice haud elevato- marginato tarsorumque lobis spiniformibus minus longis statim distinguitur. o” : Antennis ad apicem involutis, articulo ul- timo praecedentibus concolore (testaceo). acuminato etattenuato, Longitudo corporis 92 q 11-12 mm. Obtive o primeiro exemplar desta especie de Obidos, pelo engenheiro snr. Paulo Lecointe, a quem devo diversas especies raras ou novas para a sciencia. Eu mesmo collec- cionei-a nas mattas do Camahipy e do Ovapoe. O ninho, do qual só vi um exemplar muito pequeno, concorda com os dos outros Megacanthopus. 4. Meg. surinamensis Sauss.— E esta a especie mais fre- quente neste Estado. tendo sido colleccionada em Belem do Pará, Obidos, Itaituba e no Oyapoc: observei-a tambem na ilha (31 — Bol. Mus. Goeldi ) 362 Vespidas sociaes do Pará de São Luiz do Maranhão. Possuímos desta especie alguns ni- nhos.—O q tem as antennas no fim fortemente enroladas. 5. Meg. alfkeni Ducke, n. sp.— ut surinamensis; at corpore maiore et robustiore, abdominis segmento primo tho- race distincte breviore, post stigmata non tuberculato, apicem versus magis dilatato, fere triplo latiore quam basi; segmento dorsali 2.º longitudine circiter duplo latiore (in surinamensi circiter aequaliter longo ac lato). Longitudo corporis 12—13 mm:— Oo. O ninho é igual ao da especie precedente, só um pouco maior. — Colleccionado nas mattas dos rios Villanova e Ca- mahipy (municipio Cc Mazagão), do Oyapoc e de Obidos. Denominado em homenagem ao distincto entomologista Snr. 1. D. Alfken em Bremen, que com grande sacrificio de tempo e trabalho reuniu as descripções espalhadas em di- versos periodicos europeus, indispensaveis para este estudo. 6. Meg. nova species:— Algumas Q de Prainha'e do Ovapoc formarão provavelmente uma especie nova, cuja exacta delimitação, porem exigirá ainda material mais abundante. 7. Meg. injucundus Sauss.— Não frequente, observado em Belem do Pará. Almeirim, Obidos e no Oyapoc. Temos o ninho na collecção. — As antennas do o” são enroladas na extremidade. S. Meg. metathoracicus Sauss. — Não frequente; Belem do Pará, Obidos e Oyapoc, com o ninho, mas só PQ 9. 9. Meg. imitator Ducke, n. sp — Q : Chartergo fraterno Grib. colore simillimus, ater, praecipue capite griseo-tomentoso, alis nigris, apice albis. Thorax subtiliter derse punctulatus et coriaceus, pronoto antice truncato, angulis lateralibus distinctis- simis, sed rotundatis. Mesopleurae episterno et epimero per su- turam parum distinctam obsolete separatis. Segmentum ab- dominale 1.” thorace multum brevius, segmento 2.º haud longius, supra fortissime convexum, apicem versus graduatim dilatatum hic vix duplo latius quam basi, lateraliter haud tuberculatum. Longitudo corporis 13—16 mm.—o': ut Q, sed antennis ad: apicem incurvatis, articulo ultimo distinctis- sime attenuato. Na coloração absolutamente igual ao Chartergus fraternus, do qual se distingue facilmente alem dos caracteres genericos pelos ocelli postos num triangulo mais largo que alto, os an- Vespidas sociaes do Pará 3069 gulos lateraes do pronotum mais proeminentes, porem mais arredondados, o thorax todo coriaceo e finisssmamente pon- tuado, o mesonotum mais comprido, o segmento mediano muito mais obliquo, o abdomen em cima menos, porem em baixo mais piloso. Belem do Pará: Anajás (ilha de Marajó), raro. Ninho (vide a estampa) sobre troncos de arvores, traves etc. A especie seguinte não pertence à fauna paraense, mas apresentando caracteres bastante salientes, vou descrevel-a aqui para completar mais o conhecimento deste novo genero: Meg. punctatus Ducke, n. sp. —Statura M. surinamensi si- milis: corpus elongatum, gracile. Caput dense rugoso-punctatum, clypeo maxima ex parte temporumque dimidio inferiore fer- rugineis; orbitis, parte superiore excepta, fasciis supra anten- narum radicibus mandibulisque flavis: antennis supra fuscis, subtus ferrugineis. Occiput margine distinctissime elevato. Ocelh in triangulo aequilaterali, inter se fere magis distantes quam ecorum posteriores ab oculorum margine. Thorax infra et lateribus rufoferrugineus. Pronoti latera ferrugineca, margo posticus anguste, anticus late flavus, hic recte truncatus, valde cristato-elevatus, angulis lateralibus distinctissimis. Me- sonotum nigrum, dense rugose-punctatum. Mesopleurae epis- terno et epimero non separatis. Scutellum modice convexum, metanotum et segmentum medianum valde obliqua, parum declivia; nitida, sparsim punctata, lacte flava, scutelli et me- tanoti marginibus posticis, segmenti mediani partis dorsalis lateribus, hujusque sulco longitudinali mediano nigris: meso- pleuris medio nigris, supra et infia flavomaculatis. Abdomi- nis segmentum 1.” tenue, thoraci longitudine subaequalis, apicem versus parum incrassatum hic vix duplo latius quam basi, lateribus haud distincte tuberculatum. Segmenta dorsalia nigra, 1.º basi et apice, reliquis solum marginibus apicalibus flavis, ventralia fusca, 3.º-6.º apice flavidofasciatis. Alae hyali- nae venis fuscis. Pedes fuscescentes, coxis, femorum apice tibiisque flavosignatis. Longitudo corporis 11 mm. 92. Alcantara, Estado do Maranhão, 27 de setembro de 1903, 1 Q sobre um ninho muito pequeno. Genero 8., Mischocyttarus Sauss. E morphologicamente affinissimo ao precedente genero, 364 Vespidas sociaes do Pará porem delle muito melhor distincto que por exemplo Synoeca de Polybia. Caracterisa-se biologicamente—pelo menos o Misch. labiatus, do qual só até agora se conhece o ninho, por ser este parecido ao dos Megacanthopus, porem pendurado num E muitissimo comprido. M. labiatus Fabr.— o talvez mais frequente que 9. caso iate entre as Vespidas! Frequente nas mattas de Belem do Pará, Anajás, Almeirim. Mazagão e Oyapoc. 2. M. drewseni Sauss.—Sem duvida especificamente di- verso do primeiro.— Q semelhante ao do”. tendo o clypeus na margem inferior levemente sinuoso (em Jabiatus 9 subbr- dentado). Pd não raros em campos de varzea e à beira de lagos. em Almeirim, Prainha, Alemquer, Obidos e Amapá. Genero 9., Polistes Latr. Este genero cosmopolita é o mais difficil desta familia. mui insufficientemente conhecido e o seu estudo completo só sera possivel a quem puder comparar o material de todos os grandes Museus do mundo. As descripções referem-se em geral somente á co- loração, extremamente variavel n'este genero, e nenhuma dellas trata do distinctivo mais importante, que é a con- figuração das mesoplenras. As especies da nossa collecção distinguem-se como segue : 1. Mesopleurae in dimidio inferiore sulco haud in- structae. (*) Sulco superiore (inter alarum antica- rum radice et stigma posticum sito) suturam val- de distinctam ad pronoti lateris apicem emittente in episternum et epimerum divisae. Abdomen sat elongatum apicem versum plerumque distincte compressum . —. Mesopleurae in dimidio HE Es ENCHE A circiter in centro oriundo oblique longitudinalter ad sternum descendente instructae. Abdomen interdum elongatum et acuminatum, sed nunquam distincte compressum. .. 4. Tempora postice tota, usque a E E ty ty (*) Mesopleurae a mesosterno in hujns generis speciebus mihi cognitis semper per sulculum plus minusve conspicuum separatae sunt! Vespidas socines do Pará basim, distincte elevato-marginata. Corpus ni- grocyancum, alis fuscis distincte cyanescentibus, 20-24 mm. longum.: 4. galdiiy Ducke n. sp. Temporum pars inferior postice haud distincte marginata. Corpus aliter coloratum. Clypeus in marginis antici medio acute tr anenla- riter productus. Abdomen apicem versus vix compressum. Corpus flavotestaceum, ferrugineo- vel fusco-variegatum., alis flavidoferrugineis, 24-27 mm. longam : 1. carnifex Fabr. Clypeus in marginis antici medio minus fortiter productus. Abdomen ad apicem distincte com- pressum. Corpus ferrugineum vel fuscescens, ple- rumque nigro-et semper flavc-pictum (etiam mn abdomine), antennarum flagello medio distincte nigro, alis plus minusve fuscescenti- vel flaves- centi-ferrugineis. Longitudo corporis 14—20 mm. : 2. versicolor Oliv. Clypeus in marginis antici medio parum productus apice rotundato, haud subdentato. Albdomen fere totum sed praesertim apicem versus fortiter compressum. Corpus fuscum” ex parte fuscofer- rugineum, vertice vel tarsis saepe flavoochraceis, antennarum flagello medio distincte nigro, alis semper sat obscure fuscis vel ferrugineofuscis. Longitudo corporis 20—29 mm. : 3. cana- nensis il. Mesopleurarum sulcus superior suturam distinctam vel subobsoletam, interdum incompletam, sed semper visibilem, ad pronoti lateris apicem in- feriorem emittens: itaque episternum ab epimero separatum vel haec separatio re minusve distincte indicata Mesopleurae sulco superiore RR ad PúNOE lateris apicem inferiorem non emittente, itaque in episternum et epimerum haud divisae. Corpus nigrum et rufum, picturis flavis exiguis Corpus nigrum, laete flavopictum. antennis flavo- aurantiacis, pronoti lateribus rufomaculatis, alis ferruginescentibus apice obscurioribus. pedr- ai o O 366 O. q] Vespidas socines do Pará bus fusco-. rufo- et flavo-variegatis. Tempora postice in parte inferiore indistincte marginata. Sutura episternum ab epimero separans ple- rumque sat obsoleta. Abdomen apicem . ver- sus parum compressum. Longitudo corporis 16—1S 1), mm. : 5. biglumoides Ducke, n. sp. Corpus maxima ex parte ochraceum vel testaceum Corpus nigrum vel fuscum. mesonoto. segmento mediano. segmento abdominal 1.º pedibusque rufis, alis praesertim ad costam fuscis subvio- laceo-micantibus, mesonoto segmentoque me- diano subaureo - sericeis. Tempora postice te- nuiter sed distincte marginata. Abdomen, de- pressum, segmento 1.º praesertim in &” latitudine multum longiore. Longitudo corporis 16-20 mm. : 6. subsericeus Sauss. Caput, thorax et pedes nigra, parum ferrugi- neo- et flavo-picta; abdomen rufum, alae hya- linae. Corpus griseo-sericeum. Tempora pos- tice subscristato-marginata. Abdomen ovale, segmento 1.º latitudine vix longiore. Longitndo corporis 15 mnt.: 9. rufiventris Ducke n. sp. Ferrugineo-testaceus, dilute flavescenti-pictus, alis fere hyalinis. Margo posticus temporum subcristato-elevatus. Abdomen ovale. Lon- gitudo corporis 17— 18 mm. : 7. claripennis Ducke, n. sp. Flavoochraceus, dilute ferrngineo-pictus, abdo- mine a segmento 2.º nigro, alis flavoferrugi- neis. Margo posticus temporum distincte ele- vatus, sed non subcristatus. Abdomen dis- tincte depressum. Longitudo corporis 18-20 mm. : 8 analis Fabr. Caput postice totum distincte marginatum, hoc margine ad angulos occipitales valde cristato dilatato testaceo pellucido. Abdomen angustum elongatum, apice fortiter acuminatum sed haud compressusi. Corpus valde griseo-to- mentosum, nigrum parum ferrugineo- et fla- vido-pictum, abdomine unicolore rufo, alis “1 Vespidas socines do Pará hyalinis. Longitudo corporis 18 !/,—20 mm. : IO. ocepitalis Ducke, n. sp. —. Caput sine angulo occipitali, margine postico interdum distinctissime elevato, sed nunquam cristato neque pellucido. Abdomen plus mi- nusve ovale, sat latum apice minus acuminatum 9. Niger, solum clypeo apice interdum flavo et me- tanoto basi saepe flavomarginato: abdomine rufo, alis subhvyalinis vel parum infumatis, costa sem- per fusca. Caput postice totum distincte elevato- marginatum. Abdomen latum, distincte depressum. Longitudo corporis 21-24 mm.: 11. bicolor Lep. —. Corpus 17 millimetris haud longius. aliter coloratum. 10. Segmentum abdominis dorsale 1.” parum convexum. Sulcus subtilissime striolatus segmenti mediani angustus. Corpus large flavopictum, thorace rufo ex parte fusco. capite et abdomine (segmento 1.º maxima ex parte rufescenti excepto) fuscis vel mgrescentibus, rarius abdomine magna parte rufescente, alis parum sordidis, costa distinctius infuscata. Longitudo corporis 12—13 1/ mm.: 15. lliaceusculus Sauss. —. Segmentum abdominis dorsale 1.” valde conve- xum, basim versus fortiter abruptum. Sulcus subtilissime striolatus segmenti mediani latior. Caput et thorax maxima ex parte mgra. . - 11. Niger, modice griseo-sericeus, pronoti margine pos- tico, mesonoti vix tomentosi lineis duabus, seu- tello, metanoto. segmenti fasciis ad latera sulci longitudinalis, segmentorumque abdominalium plerumque omnium marginibus apicalibus flavis, alis hyalinis vel parum flavescentibus ( praeser- tim ad costam). Longitudo corporis 14—10 mm. : 14. liliaciosus Sauss. —. Mesonotum distincte grisco-tomentosum, haud fla vo-lineatum . MR E o RE rp dgeck 12. Niger, clypeo, orbitis. pronoti margine antico et postico, metanoti margine antico, segmentorum abdominalium marginibus apicalibus flavis, alis parum ferruginescentibus costa obscuriore. Lon- 10. ER 368 Vespidas sociaes do Pará egitudo corporis 13 mm. : 13. cinerascens Sauss. —. Niger, abdomine rufofusco, clypei apice, orbitis ex parte, pronoti margine antico et postico, meta- noti margine antico, segmenti mediani fasciis ad latera sulci longitudinalis. abdominisque segmenti dorsalis 1.º margine apicali flavis. alis sat ferru- eineo-tinctis. costa obscuriore, in cellula radiali fuscomaculatis. Longitudo corporis 13—17 mm.: 12. pacificus Fabr. 1. P.carnifex Fabr— 9d. Belem do Pará, não frequente. Do - ninho temos um exemplar colleccionado pelo Dr. Hag- mann; acha-se descripto e figurado na obra de Saussure. 2. P. versicolor Oliv.— 2 &. Communissimo em toda parte nos Estados do Pará e Maranhão. vive muito nas casas. Ninho variavel na fórma. figurado por Saussure. 3. P. canadensis L.— Pd. É a mais commum de todas as Vespidas nos Estados do Pará e Maranhão, onde abunda principalmente nas casas das aldeias (conhecida pelo nome» caba de igreja>). Em Belem do Pará quasi todos os exem- plares teem a cabeça em cima amarellada, o que nunca observei nos exemplares provenientes de outros logares. — O ninho foi figurado por Saussure, 4. P. geldii Ducke. n. sp. — Qd. Nigrocyaneus, albido- griseo-sericeus, clypei et mandibularum apice, antennarum flagello subtus et genubus rufescentibus, tarsis interdum tes- taceis, alis infuscatis cvanescentibus. Occiput et tempora angu- lum haud formantes. minus lata quam in aliis speciebus magnis hujus generis. postice distincte elevato-marginato. hoc margine haud pellucido. Clypeus apice medio parum trian- gulariter productus. Pronotum antice valde elevato-marginatum sed sine angulis anticolateralibus distinctis. Mesopleurae sulco superiore (inter alarum anticarum radicem et stigma posticum ) distincto, suturam distinctam ad pronoti lateris apicem inferiorem emittente, sulco inferiore distincto sed brevi. Se- gmentum medianum valde obliquum obsolete transversaliter striatum. Abdomen Q apice compresso, segmento anali (6.º) acute conico, S” totum depressum segmento anali(7.º) apice rotundato, Qd segmento 1.º sat elongato, latitudine paullulum longiore, segmento dorsali 2.º sat lato. q: An- Vespidas sociaes do Pará 369 tennarum flagellum longum, non involutum. — Longitudo corporis 20— 24 mm. Esta especie é unica no genero pela côr preta-azulada do corpo, semelhante á de Symoeca surinama, e pela singu- lar nidificação. O ninho (vide a estampa) lembra os de Icaria e é provavelmente o que Saussure pintotr (Planche Evo: 7) e, do qual diz. «.:.. et que je. présume avoir été construit par une espéce dPIcaria.— Ce nid est censé venir de PAmérique du Sud; je suppose qu'il y a lá erreur et qu'il est bien originaire de Paucien continent ou d'Aus- tralie, car le genre Iaria ne se trouve pas en Amérique....». Esta especie deve ser muito rara, pois colleccionei-a só uma na matta de Belem do Pará, encontrando o ninho no galho de um arbusto. Outro ninho obtive pelo snr. ca- pitão Marvão em Alemquer, que o tinha achado na villa de Curuá nesse municipio, no tronco duma larangeira. À nossa collecção possue ainda um exemplar do Rio Purús no Estado do Amazonas. Denominado em homenagem ao Snr. prof. dr. Goeldi, director do Museu. 5. P. biglumoides Ducke, n. 8p.— Qd. Niger; frontis dimidio inferiore, clypeo, mandibulis, orbitis, pronoti mar- gine antico posticoque, scutelli metanotique fasciis basa- lhbus, mesopleurarum maculis, segmenti mediani fasciis longitudinalibus (ad latera sulci) maculisque pluribus late- ralibus, segmentorum abdominalium omnium fasciis api- calibus (1.º et 2.º ad segmentorum latera basim versus re- currentibus) laete flavis; antennis flavoaurantiacis, pronoti lateribus distincte rufomaculatis; alis ferruginescentibus apice obsenrioribus, pedibus fulvis, flavo- et fusco-variegatis. Cly- peus apice medio fortiter triangulariter productus. Margo posticus temporum parte inferiore indistinctus. Pronotum antice modice elevato-marginatum, angulis lateralibus obli- quis, sat rotundatis. Sutura inter episternum et epimerum plerumque sat obsoleta; sulcus inferior mesopleurarum distinctus. Segmentum medianum valde obliquum, sulco mediano subtiliter striato. Abdomen sat depressum, apicem versus vix compressum, segmento 1.º latitudine vix longi- ore. q”: antennis vix longioribus quam Q, mesonoto seg- — Bcl. Mus. Geeldi.) 370 Pespidas sociaes do Pará mentoque dorsal 2.º dilute rufescenti-lavatis, segmento anali (7.º) rotundato. — Longitudo corporis 16-—1S 1, mm. Speciei palaearcticae P. biglumis IL. colore characteri-. busqne morphologicis simillimus, at in utroque sexu per segmentum medianum solum medio et subtilissime striatum . maculasque rufas pronoti, o” etiam per antennas apice non involutas facillime distinguendus. P. aurifer Sauss. Americae septentrionalis, mihi sola ex descriptione notus, colore similis, sed pronoto non rufomaculato, speciei nostrae vicinus esse videtur; de characteribus morphologicis auctor nihil dicit. Esta especie encontra-se nos campos, onde foi col- leccionada pelo dr. Hagmann na ilha Mexiana e por mim em Calçoene e Almeirim, un exemplar a bordo de um vapor perto de Affuá nas ilhas da foz do Amazonas. 6. P. subsericeus Sauss. — Q do. Desta especie, na côr extraordinariamente semelhante á Polybia sericea, o autor. conhecia só o q”, cujo ultimo segmento abdominal é effec- tivamente arredondado (como nos g” q de todas as Ves- pidas!), ao passo que na 9 é de forma conica. — Colleccio- nado até agora sómente nos campos de Calçoene, onde é bastante frequente. 7. P. claripennis Ducke, n. sp. — Q. Ferrugineo-tes- taceus; clyvpeo, orbitis, pronoti marginibus, mesonoti lineis duabus obsoletissimis, mesopleurarum maculis magnis, scutelli et metanoti marginibus anterioribus, segmenti mediani fasciis duabus sat distinctis ad latera sulci longi- “tudinalis, fasciisque obsoletis lateralibus, segmentorum abdominalium omnium fasciis apicalibus (1.º lateribus basin versus dilatata) maculisque coxarum dilute ochraceo-fla- vescentibus, antennarum flagello basi excepta superne sat infuscato mesonoti linea mediana longitudinali in parte antica margineque postico in medio nigrescenti, alis fere hyalinis, solum ad costam distinctius ferruginescentibus. Clypeus margine antico sat fortiter triangulariter protractus. Tempora postice margine cristato-elevato transparente circumdata. Pronotum antice valde elevato-marginatum angulis anticolateralibus rectis. Mesopleurae sulco infe- riore suturaque inter episternnm et epimerum distinctis. Segmentum mediannm modice obliquum, solum in sulco .,. NS) e | fd Vespidas socines do Pará mediano obsoletissime transverse striolatum. Abdomen ovale, segmento 1. latitudine vix longiore. Longitudo cor- poris 17— 18 mim. Colore testaceo picturisque flavescentibus dilutis spe- ciei P. carnifex similis, quae antem characteribus morpho- logicis diversissimis facillime cognoscitur. Obtivemos esta nova especie em alguns exemplares de Obidos, pelo snr. engenheiro Paulo ie 8. P. analis Fabr.— Q dO. Facil de conhecer pela co- loração identica á da Po olsbia flavicans. Bastante frequente; “Belem do Pará, Anajás e Oyapoc. 9. P. rufiventris Ducke, n. sp. — 9. Corpus valde griseo- sericeum. Caput et thorax nigra, parum ferruginso-picta, clypei magna parte, orbitis et segmenti mediani lineis “duabus apicalibus flavis; abdomen rufum unicolor; alae hyalinae; pedes nigri, parum ferrugineo- et flavopicti. Tem- pora tota margine subcristato elevato testaceo-pellucido circumdata. Clypeus apice medio modice triangulariter pro- tractus. Pronotum elevato-marginatum angulis anticola- teralibus fere rectis. Mesopleurae sulco inferiore distincto, sutura inter episternum et epimerum sat distincta. Seg- mentum medianum valde obliquum, longitudine multum la- tius, vix striatum. Abdomen ovale, segmento 1.º aequaliter longo ac lato. Corpus sat robustum, 15 mm. longum. Colore speciebus P. bicolor et P. occipitalis similis, sed characteribus morphologicis statim distinguendus. — Belem do Pará. 10. |. occipitalis Ducke, n. sp. — 9. Corpus valde griseo- Sericenm. Caput et thorax nigra, parum ferrugineo- picta, abdomen rufum unicolor, alae hyalinae costa parum flavescente, pedes nigri parum ferrugineo-variegati. Occil- put utrinque cum temporibus angulum rotundatum sed “distinctissimum formans, per marginem posticum hoc in loco fortissime cristato-dilatatum pellucidum. Clypeus apice sat indistincte triangularis. Pronotum ut in specie prae- cedente. Mesopleurae sulco inferiore distincto, sulco su- periore suturam ad pronoti angulum inferiorem haud emittente itaque in episternum et epimerum non divisae. Segmentum medianum fere aequaliter longum ac latnm, valde obliquum, vix striatum. Abdomen elongatum apice 312 Vespidas sociaes do Pará acuminato sed haud distincte compresso, segmento 1.º latudine longiore. Corpus elongatum, 18 !/,—20 mm. longum. Colore speciebus P. rufiventris et P. bicolor similis; angulis occipitalibus ab omnibns Vespidis mhi cognitis distinguendus. Belem do Pará, Macapá, Oyapoc e Almeirim; não muito raro. 11. P. bicolor Lep.— 9 Tem a mesma côr como as duas precedentes especies; colleccionei tanto a forma genuina que a variação com o clypeo amarello. — Belem do Pará, Ovapoc e Prainha; não muito raro 12. P. pacificus Fabr.— 9. A côr do abdomen desta especie é muito mais escura do que nas tres especies pre- cedentes. O P. pacificus não tem nada de comnmum com o P. fuscalus Fabr., embora figurando no « Catalogus hymenop- terorum» de Dallatorre como variação d'este; o fuscatus, de quem possuo um exemplar norteamericano, tem as mesopleuras configuradas como as têm os versicolor, cana- densis, carmifex e goeldii, pertence por conseguinte a um grupo de especies muito difierente! — Belem do Pará, Ma- capá, Calçoene e Oyapoc; não frequente. —Um ninho, col- lecionado perto de Belem, é muito pequeno, redondo, mas fortemente obliquo. 13. P. cinerascens Sauss. — É n'um exemplar colleccio- nada perto de Belem do Pará. Como o precedente (do qual se distingue só pela ;coloração muito differente) é taim- bem este pela construcção das mesopleuras inteiramente diverso do P. fuscatus! 14. P.liliaciosus Sauss. — 9. Semelhante na coloração á Polybia liliacea. Belem do Pará e Oyapoc, não frequente. “15. P. liliaceusculus Sauss. - Po. Mesonoto com linhas amarelias ou sem ellas. — Belem do Pará, Rio Villanova, Obidos; não frequente. 0 +— Explicação das Estampas Fig. 1. Ninho de Nectarinia smithii Sauss., *', do tamanho natural. Colleccionado nos arredores de Belem. = vs Vespidas socines do Pará Estructura não espherica, differente da dos ninhos de N. mellifica e lecheguana, descriptos e figurados Saussure; contem 3 favos horizontaes e o in- volucro é forte e grosso. O ninho da N. scutellata é de identica construcção. - Ninho de Apoica pallida Ol. 2/, do tamanho natu- ral. Colleccionado em Jambú-assú, na estrada de ferro de Bragança. . Ninho de Polybia (Charterginus) fulva Fox, de ta- manho natural. Colleccionado pelo Dr. G. aa perto de Belem. Ninho de Polybia (Clypearia) apicipennis Sauss., ?/, do tamanho natural. Colleccionado em Alemquer, numa trave, onde havia outro ninho da mesma especie, mas muito maior e composto de varios compartimentos, quasi :á maneira do ninho de Sy- noeca, figura Io. Fig. 5. Ninhos de Megacanthopus imitator Ducke. ( O nome Err: 7: Polybia imitatrix na estampa deve ser substituido por este) a: visto de cima, b: vista lateral, c: vista dorsal, 3/, do tamanho natural. Colleccionado no Rio Anajás (ilha de Marajó), em troncos de arvores “e em traves debaixo de tectos. - Ninhos de Polistes goldii Ducke, */, do tamanho natural; a: colleceionado perto de Belem, no galho dum arbusto, b: de Curuá (comarca de Alemquer). Fº extremamente parecido do ninho figurado na monographia de Saussure (planche IV, no. 7.) e de que o autor diz: « Ce nid-est censé venir de PAméri- que du sud; je suppose qu'il y a lã erreur et quil est bien originaire de Pancien continent ou d'Austra- lie, car le genre Icaria ne se trouve pas en Amérique. Si cependant ce nid avait bien Porigine quon lui suppose, il aurait été construit par quelque Poly- bie..... »— Esta duvida está agora esclarecida, ve- rificando-se que a construcção dos ninhos das [ca- rias do antigo continente tem uma imitação na do ninho da especie sulamericana aqui descripta! Ninho de Chartergus globiventris Sauss.; a: corte longitudinal, b: corte transversal, tamanho natural, [Us =] He Vespedas socmues do Pará + Eos Colleccionado em Belem. Este ninho, que attinge dimensões muito maiores, parece ser absolutamente. identico ao de Ch. chartarius, figurado por Saussure. . Fig. 8. Ninho de Chartergus fraternus Gribodo, ?/; do tama- nho natural. Colleccionado em Eeleal O ninho desta especie é igual ao de Ch. apicalis Fab., des- . cripto e figurado por Sapsstnts Se pite 9. Ninho de Apoica virginea Fab., !); do tamanho na- tural. Não creio que haja er differença na construcção dos ninhos desta especie e da 4. pallida, a forma um tanto differente dos exem- plares aqui figurados sendo provavelmente pura- - mente casual. Fig. 10 Ninho de Synoeca surinama L., no horto botanico | em Belem. !/, do tamanho natural. Di SE ia Clos e , e J ES pod | + a Á VR Q, Nectarinia smithii, */, do tamanho natural. Apoica pallida, */ do tamanho natural. Polybia fulva, tamanho natural. Polybia apicipennis, ?/ do tamanho natural, Polybia imitatrix, a: visto de cima, b: vista lateral, c: vista dorsal. Polistes goeldn, a e b de *%/, do tamanho natural. 3j, do tamanho natural, Dr. G. Hagmann phot. VA p + IO VIA PA dido Dr. G. Hagmann phot. 7. Ninho de Chartergus globiventris, a: corte longitudinal, b: corte transversal. Tamanho natural, 8 , Chartergus fraternus, */ do tamanho nytnral. da = » Apoica virginea, !/ do tamanho natural, 0 » Synoeca surinama, !/, do tamanho natural. [) . É , “a Ã. ss ' DD sido Cio Na Arvores fructiferas do Pará So v Notas sobre a patria e distribuição geographica E. das Arvores iructiferas do Pará (*) Pelo DR; ). HUBER e O Entre os assumptos da geographia botanica. um dos — mais attrahentes, mas ao mesmo tempo dos mais difficeis e * complicados é com certeza o das origens das plantas culti- “ vadas. Para tratar delle com proveito, precisa-se de grande “somma de conhecimentos, não só botanicos mas tambem his- toricos e linguisticos, Felizmente temos uma obra fundamental que póde servir de modelo no genero:— DPorigine des plantes “cultivtes—de Alphonse de Candolle:; este ro: to qual se “mostram uma erudição e sobriedade scientifica admiraveis, o hoje, dois decennios depois de sua publicação, gas “guiar os nossos passos nestas investigações difficeis. E claro — que, apezar. da excellencia do livro de Candolle, ainda resta ut a fazer: trata-se agora de continuar a obra encetada, “limitando os assumptos, elucidando questões especiaes. Prin- jalmente em relação aos paizes tropicaes. os dados ainda muito esparsos e insufficientes, e sob este ponto de vista o “valle amazonico é talvez uma das regiões menos conhecidas, Nas paginas que seguem vou tentar dar uma pequena “contribuição nesta ordem de ideas, tratando especialmente “das arvores fructiferas do Pará. Naturalmente não póde ser E questão de exgottar o assumpto: tenho apenas em vista fornecer, com estas notas, uma rapida synopse de conheci- — mentos já adquiridos. por um lado, e de algumas observa- — ções pessoaes por outro. apontando questões e problemas a — resolver, que ainda são muitos. 3 oii ” (*) Este trabalho já' foi publicado no «Jornal do Commercio » (20 de fev —3 de março 1904). + p d j Ê o Rá nas é =] o! Arvores fructiferas do Pará o v Notas sobre a patria e distribuição geographica Rin das Arvores iructiferas do Pará (*) .0+ Pelo DR. J. HUBER —— e O — Entre os assumptos da geographia botanica. um dos mais attrahentes, mas ao mesmo tempo dos mais difficeis e complicados é com certeza o das origens das plantas culti- vadas. Para tratar d'elle com proveito, precisa-se de grande somma de conhecimentos, não só botanicos mas tambem his- toricos e linguísticos. Felizmente temos uma obra fundamental que póde servir de modelo no genero:— Dorigine des plantes cultivtes—de Alphonse de Candolle; este livro, no qual se mostram uma erudição e sobriedade scientifica admiraveis, ainda hoje, dois decennios depois de sua publicação. póde gular os nossos passos nestas investigações dificeis. E claro que, apezar. da excellencia do livro de Candolle, ainda resta muito a fazer: trata-se agora de continuar a obra encetada. limitando os assumptos, elucidando questões especiaes. Prin- cipalmente em relação aos paizes tropicaes, os dados ainda são muito esparsos e insufficientes, e sob este ponto de vi-ta o valle amazonico é talvez uma das regiões menos conhecidas. Nas paginas que seguem vou tentar dar uma pequena contribuição nesta ordem de idéas, tratando especialmente das arvores fructiferas do Pará. Naturalmente não póde ser questão de exgottar o assumpto: tenho apenas em vista fornecer, com estas notas, uma rapida synopse de conheci- mentos já adquiridos. por um lado, e de algumas observa- ções pessoaes por outro. apontando questões e problemas a resolver, que ainda são muitos. (*) Este trabalho ja' foi publicado no «Jornal do Commercio » (20 de fev. —3 de março 1904), o a RR do 4 PR d Ke A 316 Arvores fructifteras do Pará Pelo titulo deste trabalho. já quiz indicar que não quero limitar-me às arvores fructiferas cultivadas no Pará: em muitos casos não seria possivel decidir se tal ou tal arvore pode-se realmente considerar como cultivada ou domesticada. Aqui talvez mais que em qualquer outra parte do mundo. a tran- sição entre o estado puramente selvagem e a domesticidade é frequente, e para certas arvores este estado transitorio perdura deste muitos seculos, sem que os exemplares culti- vados se tenham differenciado em uma raça sensivelmente diversa dos individuos que permaneceram no estado selva- cem. Este estado de cousas depende dos processos primitivos de cultura, que por sua vez provêm da extrema facilidade de reproducção das arvores fructiferas entre nós. Mesmo aqui em Belem. raras vezes póde fallar-se de um plantio e cultivo em regra: até das arvores que têm a sua patria em outras partes do mundo. muitas chegaram a tornar-se subesponta- neas. nascendo das sementes ou caroços jogados fóra, crescendo sem cultivo e produzindo os seus fructos sem o minimo esforço do dono. Quem chega. pela primeira vez. neste paiz. fica admirado da facilidade com que os caroços ou sementes de diversas arvores fructiferas, como a mangueira. o abricó, o abacate. laranja. limão, mamão, goiaba, etc., germinam, quando abandonadas sobre a terra, naturalmente estrumada, dos quintaes. Se a pequena arvore nasce por acaso num logar onde tenha bastante espaço para o seu desenvolvi- mento ulterior. o seu futuro está garantido. E a experiencia mostra que. quando a terra é bôa, sufficientemente estrumada de detritos organicos, como acontece quasi sempre perto das casas. os fructos sahem bons mesmo quando a semente não era escolhida de bôa qualidade. Esta facilidade extraordina- ria de reproducção, longe de favorecer uma selecção metho- dica e melhoramento de raça, é pelo contrario, o maior obstaculo ao desenvolvimento duma cultura racional das ar- vores fructiferas neste paiz. Repete-se por assim dizer sempre o caso do indio que, deixando crescer nas immediações da sua casa uma arvore que nasceu espontaneamente dum caroço de fructa silvestre trazida e comida por elle, faz o primeiro passo para a domesticação da especie. Para circumscrever ainda melhor o meu assumpto, tra- tarei só das arvores dicotyledoneas, deixando propositalmente ind ' Arvores fructiferas do Pará o: de lado todos os vegetaes monocotyledoncos, como as pal- meiras, bananeiras, etc. (*). Quanto á disposição do trabalho, tenho de observar que começarei pelas arvores importadas de outros paizes e que, por isso, se acham aqui só no estado domesticado ou subespontaneo, tratando depois das especies indigenas. Com relação às arvores indigenas na região ama- zonica, esforcei-me por ordenar o quanto possivel, de maneira que o leitor poderá seguir uma série methodica, começando pelas especies que no estado selvagem são pouco conhecidas e cuja cultura é bastante desenvolvida, até chegar às que nunca foram demesticadas. Só nos casos em que as relações systematicas exigiam excepções, deixei de seguir este plano. * Je 96 Entre todas as arvores fructiferas cultivadas no Pará, a historia daquellas que foram importadas das regiões mais afastadas é a mais conhecida. Assim é certo que as laran- jeiras e os limoeiros foram introduzidos pelos primeiros colonos portuguezes, provavelmente pelo caminho da Bahia e Per- nambuco. Já em 1587 o colono batiano Gabriel Soares de Souza indica como introduzidos na Bahia, as laranjeiras, limeiras, cidreiras, limoes francezes, de perdiz e gallegos, azambóas. Em 1662 Mauricio de Heriarte (cf. Descripção do Estado do Maranhão, Pará, Corupá e Rio das Amazonas) escreve da cidade de Belem: «He alegre e cheia de arvores fructiferas, como sam laranjas, limões, limas, beribases». Os portuguezes conheciam as laranjas e os limões desde a era medieval, quando os arabes as introduziram do Oriente. A patria destas arvores seria, segundo A. de Candolle, a India (região ao sul do Himalava) para o Limoeiro (Citrus limonum Risso) ce a Laranja da terra (Citrus vulgaris Risso).emquanto quea Laranja doce, chamada tambem Laranja da China (Citrus aurantium Risso) seria natural da China meridional. O nome de laranja da terra poderia fazer crêr que se trata duma planta indigena; tal, porém, não acontece, sendo (O) Tambem passei de proposito sob silencio algumas arvores fruc- tiferas, sobre as quaes ainda não possuo informações seguras, 33 — Bol, do Mus. Goeldi. “ 318 Arvores fructiferas do Pará provavel que este nome fosse dado ao Citrus vulgaris pelos portuguezes. porque ella já existia ha bastante tempo em Portugal antes que a laranja da China alli fosse introduzida. AN Tangerina (Citrus mobilis Loureiro), natural da China meridional, é com certeza de importação muito mais recente, porque ella só existiu na Europa desde o começo do XIX seculo, segundo de Candolle. E claro que, com a cultura prolongada por seculos, podiam formar-se aqui variedades indigenas: parece que a tal laranja de Cametá é uma destas variedades. Ao lado das fa as Mangueiras (Mangifera indica L.) occupam um logar proeminente entre as arvores fructiferas importadas do Oriente. E' verdade que aqui a mangueira é ainda mais cultivada como arvore de alameda que como arvore fructifera. Segundo de Candolle, a mangueira é ori- unda da Asia meridional. Ella se acha ainda no estado selvagem ao pé do Himalaya e nas ilhas Andaman. Na America do Sul foi intr oduzida pelos colonos portuguezes que a trouxeram para a Bahia. de onde se extendeu, não só ao resto do Brazil, como tambem a Barbados, em meiados do seculo X VIII. Na Guyana franceza ella ainda não era conhecida no fim do X VIII seculo e a sua introducção na Jamaica data de 1782. E" certo que a mangueira é para o Pará uma acquisição muito mais recente que a laranjeira e congeneres. Entretanto parece que esta arvore, pouco depois da sua introducção n'este paiz, foi apreciada como arvore de sombra. porque em 1819 0 celebre Martius já fala de alamedas plantadas de mangueiras com dois decennios de idade. Tambem de introducção relativamente recente no Pará é a Fructa de pão (Artocarfpus incisa L.) Esta arvore era cultivada nas ilhas da Sonda e na Polynesia antes da chegada dos Europeus: a sua patria deve ser procurada em Java ou nas ilhas visinhas, onde ainda foi achada ao tempo de Rum- phius; mas a sua cultura deve ser antiquissima o que já se mostra na circumstancia de existir uma variedade geralmente cultivada que não produz sementes, a fructa-pão de massa. Segundo Hooker, a arvore de pão foi introduzida em 1793 nas Antilhas, de onde se espalhou logo pela America equi- noxial. E” provavel que tenhamos aqui recebido esta arvore de Cayena, no mesmo anno (1809) em que ella foi tambem Arvores fructiferas do Pará 379 introduzida no Rio de Janeiro (conf. Barbosa Rodrigues, Hortus fluminensis p. XXIID. Em 1819 Martius já encontrou alamedas de Artocarpus incisa que julgou terem 2 decennios de idade. A Jaca (Artocarpus integrifolia L.), indigena na India continental, parece ser de cultura menos antiga que a sua congenere: ella foi introduzida na Jamaica em 17682, no mesmo anno que a mangueira. Não sabemos se foi introduzida no Brazil directamente ou pelo intermedio das Antilhas; em todo o caso é provavel que nos chegasse por via Bahia, o que indica o nome de Jaca da Bahia, usado entre nós. Entre as arvores fructiferas vindas do Oriente, contamos ainda os Jambos, cultivados aqui principalmente em duas especies, ambas provenientes do archipelago da Sonda, onde a area do genero Jambosa, com 120 especies, se extende de Madagascar até à Polynesia. A Carambola (Averrhoa carambola 1.) e o Bilimbi (A. Bilimbi L.), ambos provenientes da India, são entre nós de pouca cultivação: o segundo tem tambem o nome de limão de Cayena, o que parece indicar uma introducção via Cayena, no começo d'este seculo. * E aj Uma arvore que ninguem pensaria ter vindo de tão longe é o Taperebá do sertão (Spondias dulcis Forst.), chamado no sul do Brazil cajá manga. Ella é originaria das ilhas da Sociedade e de Fidji e foi introduzida na Jamaica em 1782. Provavelmente veio de lá por intermedio de Cayena, no começo do XIX seculo. * dE A Africa, pobre em arvores fructiferas, deu-nos alem do cafeeiro, do qual não nos incumbe falar aqui, apenas uma contribuição para os nossos pomares. E” o Tamarindeiro (Ta- marindus indica L.), que antigamente se pensava ser indigena da India. E' verdade que o seu nome, composto de Tamer ==tâmara, e hindi=da Iadia, não deixa perceber que a sua patria fôra primitivamente a Africa central de onde foi introduzido muito remotamente nas Indias orientaes. 380 Arvores fructiferas do Pará Não sabemos quando a sua cultura foi começada entre nós. * SEE O maior contingente de arvores fructiferas cultivadas do Pará tem a sua patria: na propria America. Entre os paizes visinhos da America do sul são as Antilhas que 0e- cupam talvez o primeiro logar como fornecedoras de arvores fructiferas. E' de lá que vêm as fructas tão apreciadas da tamilia das Anonaceas, como sejam a Atta ou frueta do Conde (Anona squamosa LL.) o Araticú (Anona muaricata L.) ec o Coração de boi (Anona reticulata L.). Todas estas fructas parecem ter sido introduzidas no Brazil depois da colonisação europea, mas n'uma época bastante remota, pois se sabe que, por exemplo. a fructa do conde fci introduzida na Bahia em 1626, pelo governador Conde de Miranda, em cuja honra elia foi denominada no Brazil. No Pará estas arvores, que nas Antilhas se acham principalmente em logares seccos, não são de facil cultivo e só produzem fructos de bôa qualidade e em quantidade sufficiente em certas localidades, como por exemplo nos ar- redores de Santarem. Originario das Antilhas é tambem o Abricó (Mammea americana Jacq.) que tão bem se dá no Pará e se propaga de sementes com tanta facilidade. Da America central e das ilhas visinhas vieram-nos a deliciosa Sapotilha (Achras Sapota L.) e o Camiquié ou Cainito (Chrysophyllum Cainito A. DC.) * * + Existem aqui algumas arvores fructiferas. cuja origem exacta é difficil de estabelecer, porque foram aproveitadas desde tempos antiquissimos e se encontraram já muito espa- lhadas pela cultura no tempo da conquista. Taes são: o mamoeiro, o abacateiro, a goiabeira, o cajueiro, o genipapeiro E 20 tapereba. O Mamoeiro (Carica Papaya L.) actualmente culti- vado e subespontaneo em todos os paizes tropicaes, é com certeza indigena da America tropical. Entretanto é dificil determinar a sua patria primitiva, porque pouco depois da | | | | , , Arvores fructiferas do Pará 381 descoberta elle appareceu citado como cultivado em muitos logares da America tropical. Piso e Marcgrav. (1658) fallam delle nos seguintes termos: «Utraque Pinoguaçú, Mamoeira Lusitanis dicitur, vulgo Papay, cujus fructum Mamaon vocant à figura. quia Mammae instar pendet in arbore: Mas ubique in silvis obvia, raro autem foemina, quae in Hortis exculta luxuriat... Fr. Ximenes quoque celebrat hanc arborem in nova Hispania. » Segundo este topico, poder-se-ia crer que o mamoeiro se achasse selvagem no Brazil nos tempos de Marcgrav e Piso, ou ao menos fosse introduzido antes da conquista, achando-se já subespontaneo no paiz no 17º seculo. E assim que o entende tambem De Candolle, allegando porém, que o indigenato no Brazil parece suspeito. Entretanto é prova- vel que a cultura do mamoeiro no Brazil ainda não estava muito espalhada duranto o 17.º seculo, pois não achei outro autor dessa época que falasse da arvore fructifera em questão. (*) Quanto ao indigenismo do mamoeiro no Brazil póde-se observar o seguinte: O genero Carica contem mais de 20 especies, na maioria espalhadas ao pe dos Andes, na Co- lumbia, no Equador e no Perú. Só uma ou duas especies “crescem tambem no Brazil. onde são chamadas de mamoei- rinho ou mamão macho. A secção Eupapaya, à qual pertence a Carica Papaya, é estrictamente limitada ao Mexico. Tudo conduz à conclusão que o mamoeiro é indigena do Mexico e que o tal mamão macho de Piso não é outra cousa senão uma das especies de genero Carica. que são indigenas no Brazil. Segundo o conde de Solms-Laubach, monographo da familia das Caricaceas, (**) o mamoeiro seria provavelmente um producto do cruzamento de diversas especies de Carica indigenas do Mexico. Do Abacateiro ( Persea gratissima Gacrtn.) não te- mos noticia pelos autores do XVI e do XVII seculos. que (*) Só Gabriel Soares de Souza (1357) cita esta arvore como intros duzida na Bahia, de Pernambuco, Elle tambem fala da acclimatação rapida desta arvore, No mesmo capitulo (LI) elle trata do Jacaratiá, que é indi- gena na Bahia e se assemelha a um mamão pequeno, (*) Na obra de Engler e Prantl—« Natiirliche Pflanzenfamilien », 382 Arvores fructiferas do Pará tratam do Brazil. A melhor prova que elle não é natural do Brazil é talvez a falta de um nome indigena (o nome de abacate vem da palavra mexicana abuaca ou aguacate). En- tretanto de Candolle refere (seguindo a «Flora Brasiliensis»): «On a trouvê Pespêce dans les forêts au bord des fleuves et sur le littoral de la mer depuis le Mexique et les Antilles jusqu'a la région de P Amazone ». A indicação da «Flora brasiliensis», sobre a qual esta afirmação é baseada. me parece muito duvidosa. Em Suri- nam esta fructa ainda era rara no XVIII seculo, e Ph. Fer- min, na sua Descripção da colonia de Surinam (1775), pensa que os hespanhões trouxeram-n'a para alli, porque se achava frequentemente nas suas possessões. Nem no baixo nem no alto Amazonas ouvi falar de abacateiros selvagens. Entretanto no Perú cisandino (e me consta que o mesmo se dá nos outros paizes da America hespanhola) o abacate tem um nome es- pecial (palta) e se considera, muito mais que aqui, como um genero alimentício bastante importante, o que de certo indica uma cultura já muito antiga. Nas sepulturas peruanas do tempo dos Incas encontraram-se effectivamente as paltas como quinhão dos mortos. Tudo indica que o abacateiro, primitivamente indigena do Mexico, era cultivado desde tempos immemoriaes e que a sua cultura se espalhou muito cedo pela America central até ao Perú; depois tambem nas Antilhas, onde Jacequin in- dica a sua introducção, e só muito mais tarde no Brazil. Actualmente esta arvore é cultivada em todos os paizes tropicaes. A Goiabeira ( Psidium guayava Raddi, com as duas variedades P. pomiferum e P. pyriferum) seria, segundo de Candolle, indigena no Mexico, na America central e no norte da America do Sul, da Columbia até ao Perú, mas teria sido espalhada até ao Brazil, antes da época da descoberta, e nas Antilhas pouco depois daquella data, sendo depois introdu- zida tambem nos outros paizes tropicaes. A diversidade dos nomes indigenas ( Xalxocotl no Me- xico, Áraçaiba ou araçã guaçú e goyaba no Brazil, Guayava no Perú e nas Antilhas), indica uma distribuição muito an- tiga e larga. Segundo de Candolle, a fórma espherica (ao que me consta a unica cultivada aqui no Pará, seria a pri DO ma Lú Arvores fructiferas do Pará 383 mitiva, emquanto que a fórma chamada P. pyriferum seria provavelmente um producto da domesticação. O genero Psidium contém mais de 100 especies, das quaes mais de metade se acha no Brazil: não seria, portanto, de admirar que o P. guayava fosse tambem indigena do Brazil. Quasi todos os autores antigos (Gabriel Soares de Souza 1587, Claude d'Abbeville 1614, Simão Estacio da Sil- veira 1624, Christoval de Acufa 1630, etc.) falam desta arvore como indigena no Brazil. Marcgrav e Piso (1658) distinguem, entre o araçã guaçu (que é o Psidium pomiferum) e a guaiaba (P. pyriferum) considerando o primeiro como espontanco, e a segunda como introduzida. Vista a facilidade enorme com que a goiabeira se espa- lha fóra das culturas, ao menos no norte do Brazil, será sempre impossivel limitar com certeza a sua patria, segundo a sua distribuição actual. Talvez a linguistica possa dar al- cuma indicação segura. E verdade que o nome de araçã não prova nada, porque elle é usado tambem para outras espe- cies do genero Psidium. Se, porém, o nome de goiaba ou guayava, o mais espalhado actualmente. e, como suppoz o illustre director do Jardim Botanico do Rio de Janeiro, de origem. tupi: Koyab, o que tem sementes agelomeradas (Mortus fluminensis, pag. 224), então naturalmente o indi- genismo da goiabeira no Brazil ganharia muito. em proba- bilidade. (*) O Cajueiro (acajou, acajaiba dos antigos autores, Ana- cardium occidentale |.) é actualmente tambem uma das arvores fructiferas mais espalhadas nas regiões tropicaes do globo. Como a goiabeira, elle se dissemina com facilidade fóra das culturas e apezar de não ter a mesma força de expansão e de reproducção natural, póde considerar-se como uma das arvores fructiferas que se encontram mais frequentes no estado subespontaneo, não só no novo, como tambem no velho mundo. (*) Endlich (à. cc p. 34) indica à goiabeira como formando gru- pos mais ou menos densos nos campos de S. Bernardino ( Paraguay ). E' verdade que elle não affirma nada acerca do indigenismo, e seria possivel que estes goiabaes sejam, como por exemplo os da ilha de Mexiana ( infor- mação do dr. Hagmann), e aquelles que encontram-se em diversos pontos ao longo do Rio Purús, de origem subespontanea, 384 Arvores fructiferas do Pará Entretanto não soffre duvida alguma que a suã patria é a America tropical. Aqui no baixo Amazonas, como ao longo da costa N do Brazil em geral, o cajueiro é com certeza uma arvore indigena dos campos e das dunas da costa. O seu indigenato neste paiz é tanto mais provavel que elle tem aqui um pro- ximo parente no caju da mata ( Anacardium giganteum Han- cock) arvore colossal das nossas matas. Duas outras especies do genero Anacardium, o À. humile St. Hil. e À. pumilum St. Hil., se acham espalhados no Brazil central, emquanto queo 4. Rhinocarpus DC. cresce na Venezuela e na Columbia. Tomando em consideração o facto de serem especies não cultivadas do genero Anacardium espalhadas desde o Brazil até a America central e que geralmente as plantas lit- toraes têm uma area natural particularmente vasta, não me parece impossivel que o Anacardium occidentale se tenha tam- bem espalhado, sem a intervenção do homem, sobre uma ecrande extensão das. costas da America tropical. Considerando mais a natureza do fructo, é permittido suppôr que desde o apparecimento do homem na costa do Brazil, o cajueiro foi espalhado pelos indios não só ao longo da costa mas tambem até uma certa extensão no interior. Segundo o testemunho de Gabriel Soares de Souza, no X VI seculo, esta arvore ja era muito commum na costa da Bahia, quer expontanca quer cultivada e os indios costumavam fazer um vinho de cajú. E mesmo verosimil que a introdue- ção do cajueiro nas Antilhas possa ser attribuida aos indios que, chegando da terra firme, conquistaram aquellas ilhas antes da invasão europca Como o cajueiro, o Genipapeiro (Genipa americana L.) é considerado geralmente como indigena não só do Brazil mas de toda a America meridional tropical e das Antilhas. Gabriel Soares de Souza (1587) cita esta arvore como cres- cendo ao longo do mar e pelo sertão da Bahia. Elle não menciona se a arvore é cultivada ou não, mas indica o uso que os indios fazem da fructa. Claude dº Abbeville (1614) fala do Janipapo como arvore indigena no Maranhão: Piso (1058) indica a janipaba em Pernambuco. No baixo Amazonas elle é sem duvida expontanco, crescendo por exemplo no-mato ao longo dos rios e nos a oh és) E Arvores fructiferas do Pará 385 campos cerrados baixos de Marajó, como tambem nos campos da Guyana brazileira. Mais pelo interior não me lembro ter encontrado o ge- mipapeiro senão na visinhança de alguma povoação ou nas taperas de indios. Entretanto é provavel que elle seja indigena tambem em outras partes da região amazonica. (1) No estado semi-domestico, ao menos, elle é espalhado sobre toda a Amazonia, até o Perú cisandino, onde se encontra em todas as malócas, sob o nome de hutto (cf. Middendorf, Worterbuch der Runa Simi p. 407 : huito; —fructa silvestre, cuya infusion acuosa tihe de negro). Sabe-se que os indios de Maynas usam como os indios brazileiros tingir-se de preto com o huito desde muito tempo: o padre jesuita Franz Xavier Veigl (Griindliche nachricht iúiber die Verfassung der Land- schaft von Maynas in Siidamerika bis zum Jahre 1708), que Chama a arvore vitu, conta que os missionarios não podiam impedir o ingresso das igrejas aos indios que eram tingidos de vitu, emquanto que obrigavam estes a lavar o urucii antes de entrar no templo. Ainda hoje é difficil encontrar n'aquellas paragens um indio, mesmo manso, que não tenha tingida ao menos uma parte do corpo com o huito. Em geral parece que o-gempapeiro tanto no Brazil como no Perú é mais cul- tivado para a sua tintura, que por causa das fructas comestiveis. O Taperebá (Spondias lutea L.) que pertence a um genero representado tambem na India e na Polynesia (cf. cajá manga ou tapereba do sertão) se acha no estado espon- taneo ao longo da costa oriental da America do sul e nas Antilhas. Cresce porém de preferencia na visinhança dos logares habitados ou nas tapéras de indios (de onde, segundo (1) O sr. Le Cointe escreve-me a proposito da distribuição geogra- phica do genipapeiro: Elle vive em grandes familias nas restingas de varzea (Paraná abaixo de Obidos— costa de Obidos, — bocca do lago de Curumú) e se acha mesmo em terrenos bastante elevados mas sujeitos a inundações periodicas (ilhas do rio Ariramba acima das primeiras cachoeiras, — beiras do rio Madidi, affluente do Rio Beni). Talvez em algumas dºestas localida- des a arvore é subespontanea. No Paraguay, o genipapo (chamado alli nhandipá ou nhandipa-guazu), é encontrado nas matas de S, Bernardino ( Endiich ). Ultimamente constatei a existencia de exemplares provavelmente “expontaneos de genipapeiro nas varzeas do Rio Purús, p. e. na beira do lago Mapongapa, pouco abaixo da bocca do Acre, 34 — Bol. Mus. Gceeldi.) 386 Arvores fructiferas do Pará Barbosa Rodrigues, lhe veio o nome (1). Assim elle é p. e. muito frequente na região de Obidos, mas se acha exclusi- vamente nos logares antigamente habitados. O mesmo póde se observar nas visinhanças de Belem e na região costeira da Guyana brazileira (Cunany e Amapá). Em todas estas localidades o taperebá é uma arvore frequente ao redor das povoações. Só na ilha de Marajó e: na região a oeéste achei o tapereba com certa probabilidade de indigenismo. Nos tesos do cabo de Maguary elle não é raro mesmo onde não ha vestigios de antigas habitações. Nas beiras alagadas do furo de Tajapurú, onde com certeza não se póde suppôr uma cultura antiga, o taperebá é em certos tre- chos uma das arvores caracteristicas da mata. No Estado do Amazonas-e principalmente nas varzeas do rio Purús, en- contrei ultimamente diversas especies de tapereba, posto que differenças na fórma e nas dimensões dos fructos sejam suffi- cientes para distinguir especies. Nas visinhanças da Bocca do Acre, onde o tapereba é uma arvore commum nas matas, ha, além da fórma do baixo Amazonas, trez fórmas assaz distinctas, uma de fructos globosos pequenos, outra de fru- ctos globosos grandes e uma de fructos- pyriformes, tambem bastante grandes. | Me parece provavel que o tapereba, bem que indigena na foz do Amazonas, primitivamente não era uma arvore muito commum, restricta a certas areas, mas que os seus fructos, procurados desde tempos remotos pelos indios que os empregavam para fazer uma bebida refrigerante, foram largamente disseminados ao redor dos pontos habitados, onde esta arvore, antes de tudo amiga da luz, achava condições favoraveis para o crescimento. Como tantas outras arvores fructiferas, o tapereba apenas merece entre nós o nome de (1) O nome do cajá ou cajá-mirim, sob o qual o taperebá é conhecido no sul, é talvez mais antigo. Gabriel Soares de Souza fala do rajá (« arvore comprida com copa como pinheiro ») como crescendo na região costeira da Bahia. No Brazil existem mais duas especies do genero Spondias, S. macrocarpa Engl. (cajd-assi ) e S. tuberosa Ar, (imbu ); outras especies crescem no Perú, Columbia e até o Mexico, onde os seus fructos chamados ciruelos, são muito apreciados, Arvores fructiferas do Pará 387 arvore cultivada ou domesticada (1). Uma vez presente no perimetro d'uma povoação ella se torna logo subespontanea, e difficilmente se extermina, tendo a vida muito dura e po- dendo grelar não só de troncos cahidos no chão, mas tambem das raizes mestras deixadas na terra depois de derrubada a arvore. * * Relativamente bem poucas são as arvores ou arbustos fructiferos cultivados no Pará que tenham a sua patria nos Estados do sul do Brazil. São principalmente especies da familia da Myrtaceas, tão bem representada na sub- região brazileira, como são Jaboticába ( Myrciaria cauliflora Berg); Pitanga ( Stenocalyr Michelii Berg); a Grumixama ( Stenocalyx brasiliensis Berg); a Ubaia, a Ginja etc. Aqui deve-se citar provavel- mente o tal Araçá do Pará ( Britoa acida Berg.) Uma arvore fructifera de origem genuinamente bra- zileira, que senão pelas suas fructas, ao menos como arvore de sombra póde bem competir com a mangueira, é o oity (2) ( Moguilea tomentosa Benth.) Esta arvore, apezar dos seus meritos como arvore de alameda, é pouco cultivada entre nós; é indigena dos Es- tados littoraes ao sul da região amazonica, principalmente do Ceará, Pernambuco e Bahia, onde cresce de preferencia nas beiras dos rios. » pm > * * Chegamos finalmente ás arvores fructiferas especial- mente amazonicas ou que têm a sua area principal na re- (1) Segundo Endlich (Zur Kenntniss der Holzggewáchse des Paraná- Paraguay-Stromgebiets, Notizblatt des Kgl. bot. Gartens u, Museums zu Berlin, Bd IV N. 31 p. 28) a arvore em questão seria bastante cultivada em Matto- Grosso, (2) O nome de oity, uity ou guity, que se acha tambem em diversos nomes compostos, vem provavelmeute de «uê» ou «cuê»=-farinha e «ty» = sumo, o que faz allusão à polpa meio farinacea, meio succulenta destes fructos. 388 Arvores fruciiferas do Pará gião amazonica. Poucas entre ellas são realmente domes- ticadas, como o abiu, bacury-pary, biriba, cacau, cupuassi, emquanto que outras ainda permanecem no estado semi- domesticado ou selvagem. O Abiu (Lucuma caimito (Ruiz e Pavon) Roem. e Schulth.) é actnalmente uma das arvores mais geralmente cultivadas no Pará, onde se encontram numerosas varieda- des, differentes na fórma e tamanho das folhas e das fru- ctas. Estas, segundo as variedades, são globosas ou alon- gadas,obtusas ou bicudas, de polpa bastante dura e quasi vitrea ou mais ou menos mucilaginosa (1), ora um pouco insipida, ora muito doce. O numero de sementes varia tam- bemde uma até 4 ou 5. O abiu é tambem cultivado no Rio de Janeiro e em outras cidades da costa do Brazil e nas Guyanas, mas em menor escala que aqui. Muito desenvolvida é a sua cultura no valle amazonico. Segundo Poeppig, elle é muito commum em Teffé e eu mesmo encontrei-o como arvore fructifera de predilecção no Perú cisandino, onde é culti- vado desde muito tempo, sob o nome de Caimito. é A primeira descripção d'esta arvore foi publicada em 1802 pelos botanicos peruanos Ruiz e Pavon, sob o nome de Achras caimito (Flora Peruv. et Chil. III 18. t. 240). Estes, autores dizem que o caimito era n'aquelle tempo tanto espon- taneo como cultivado no Perú oriental, o que induziu os auto- res posteriores a considerar o Perú como a patria do abiu. Quando em 1898 viajei no Ucayali, indaguei especial- mente acerca do caimito selvagem, mas me mostraram como tal uma arvore da mata bem diversa, que nunca podia ser a fórma primitiva do caiúmito cultivado. Algumas arvores d'esta especie são actualmente cultivadas no nosso Horto botanico, mais ainda não chegaram a dar flores ou fructos. Na parte brazileira da bacia amazonica conhecem-se (1) O nome de «abiu» se explica geralmente pelas palavras tupis — «ali» agulha e «uá»—fructa. Me parece entretanto mais provavel que a pririeira componente seja, em allusão a consistencia da polpa, «amby » = catarrho. Arvores fruchiferas do Pará 389 duas especies com o nome de Abiu-rana. (*) Uma, a Lir- cuma lasiocarba Mart. da região de “Teffé, com os fructos cobertos de pellos, não parece ter nada de commum com o abiw cultivado. A outra, que cresce na visinhança de Belem e no baixo Amazonas, nas matas da terra firme, me parece ser uma especie ainda não descripta; os seus fructos apezar de serem menores e mais dôces, apre- sentam muita semelhança com os do abiu cultivado Mata não lhe vi as flôres). Não me parece fóra do possivel que o abiu-rana do Pará seja a fórma selva- gem do abiu cultivado. Que uma fructa com este nome existe já ha muito tempo no Pará, isto resulta da relação de Christobal d'Acuna, que no seu Nuevo descubrimiento del gran Rio de las Amazonas (1639) fala dos avios ao lado dos platanos, pifias, guyabas, castafias (almendras en el Perú), mas não faz menção do nome de caiímito. Em todo caso vale a pena de continuar os estudos sobre este problema, que não só sob o ponto de vista botanico, mas tambem ethnologico, apresenta um interesse bastante grande. O inconveniente de muitas arvores Íructiferas origi- narias das matas da região amazonica é a cireumstancia de serem arvores altas que só começam a dar fructo quando têm um desenvolvimento e uma altura que mal permittem a colheita das fructas. Isto é por exemplo o caso do Cutitiribá (Lucuma rivicoa Gaertn.), cujos fructos sa- borosos com certeza seriam capazes de ganhar ainda com uma cultura apropriada. Devido ás suas dimensões exa- geradas, esta arvore é entretanto pouco cultivada e os exemplares cultivados não produzem fructos que apresen- tem grandes vantagens sobre os fructos das arvores sil- vestres da mesma especie; apenas encontrei-os menores e um pouco mais dôces. O Cutitiribã silvestre tem uma area de dispersão bastante grande, que se extende das Guyanas até o Ma- ranhão e mesmo, segundo a «Flora brasiliensis», na bacia dos rios Paraguay e Paraná, mas o seu centro de disper- são parece ser o baixo Amazonas, onde elle se acha bas- (*) Nos igapós dos affluentes meridionaes do Solimões existem ainda diversas outras especies de Lucuma aos quaes se dá o nome de abiu-rana. 390 Arvores fructiferas do Pará tante frequente, tanto nas varzeas altas, como, e princi- palmente, na terra firme. Cresce direito a uma altura de cerca de 30 m., formando uma cópa densa obconica. À pri- meira menção, talvez, do cutitiribi como fructo comestivel, acha-se na relação do Padre Vieira (1653) sobre a sua via- gem ao rio Tocantins (cf. Historia da companhia de Jesus na extincta Provincia de Maranhão e Pará, pelo Padre José de Moraes), onde elle conta o seguinte : «Por uma parte e por outra tudo são arvoredos agrestes e sem fruc- to, posto que no principio do rio nos convidaram com uma fructa do tamanho e côr das nossas camoezas : é especie dos guytes do Brazil, porem estes tem muito menor caroço e sem couro; chamam-lhe os Indios tiribás (1); se o assucar fôra menos dôce, d'elle e de gemas de ovos, parece se poderá imitar na côr e no sabor a massa de que é composta esta fructa. » O Baeury ( Platonia insignis Mart.) é uma arvore cujo indigenismo na região amazonica não soffre a menor duvida. Encontra-se dos dois lados do rio Pará, sendo muito commum na costa SE. de Marajó, onde é uma dás arvores caracteristicas das matas marginaes e dos tesos e campos altos mais ou menos cerrados. Nas matas da estrada de ferro de Bragança elle parece ser um pouco mais raro; encontrei-o tambem nas varzeas altas do rio Capim. Não me consta a sua presença ao N. do Amazonas e tambem não creio que se ache no alto Amazonas, mas é frequente ao longo dos affluentes que descem do planalto brazileiro e se acha espa- lhado até na parte septentrional do Paraguay (Endlich). Claude d'Abbeville (1614) menciona esta arvore no Maranhão. E raro encontrar aqui o bacury cultivado, e as arvores que se acham por exemplo espalhadas na cidade de Belem, são provavelmente antes um producto da germinação espontanea de sementes jogadas fóra, que um resultado de cultura me- thodica. O bacury é aliás uma arvore bastante vivaz entre nós e não precisa cuidados de cultura. Derrubado, elle se reproduz facilmente de rebentos que nascem nas raizes em (1) Quanto à palavra «guyté» ou «guity», já falimos della mais acima: «tiribá» à provavelmente composto de «ty »=-sumo, r phonetico e «iba» ==fructo, N'este caso teria repetição da componente «ty ». Arvores fructiferas do Pará 391 grande quantidade. Assim acontece que em Marajó (Soure). elle e considerado até como um vegetal nocivo, invasor e dificil de exterminar, principalmente nos pastos artificiaes perto das casas. A sua fructa, apesar de ser dum gosto muito agradavel e dum aroma delicioso, é considerada como muito pesada e de digestão difficil. Com o nome de Baeury-pary conheço duas arvores fructiferas do Pará, mas digamos logo que só uma dellas é geralmente cultivada, emquanto que a outra é apenas arvore silvestre. O bacury-pary que se cultiva nos quintaes de Belem, e uma das nossas arvores fructiferas mais caracteristicas: € “a Rheedia macrophylla (Mart.) Planch. & Triana, bem reconhecivel por sua ramificação regularmente decussada e suas grandes e compridas folhas oppostas. O fructo é do tamanho d'um ovo de gallinha ou pouco maior, apontado nas duas extremidades, liso e de côr amarella. Os caroços e os «filhos», que como no baciury não são outra cousa senão sementes abortadas, têm muita semelhança com os do bacury, sendo somente menores e de gosto mais acido. A Rheedia macrophylla é indicada na «Flora brasiliensis» como crescendo espontaneamente nas matas do Pará e das Guyanas; entre- tanto devo confessar que nunca encontrei esta arvore no estado selvagem. O outro bacury-pary, cujos fructos se vendem às vezes no mercado de Belem apezar de conterem muito pouco para comer, é provavelmente uma especie nova, proximo parente da Rheedia acuminata Planch. & Triana, do Perú, da Colum- bia e da Guyana. Os fructos d'esta arvore são ainda muito menores que os da Rh. macrophylla e se distinguem logo pela sua casca coriacea coberta de asperidades muito pronunciadas. Encontrei esta arvore no bosque municipal e nas matas de terra firme da estrada de ferro de Bragança. Por conseguinte não padece duvida de que se trata realmente duma especie indigena da região do baixo Amazonas. O Biribá (Rollinia aff. orthopetala A. DC.) muito frequente nos pomares do Pará, é uma arvore de medio tamanho, attingindo 10 m. mais ou menos de altura, de fo- lhas grandes com nervuras salientes. O seu crescimento é rapido e elle prospera tanto na sombra como ao sol. De todas as Anonaceas cultivadas no Pará é a que parece se dar mais com 392 Arvores fructferas do Pará o nosso clima, crescendo quasi espontancamente onde cáem as suas sementes. Parece que o biriba é cultivado em Belem desde muito tempo, sendo uma das arvores citadas por Mau- ricio de Heriarte na sua «Descripção do Estado do Maranhão, Pará, Corupá e Rio das Amazonas 1662». Quanto à sua classificação botanica, o biribã concorda bastante bem com a descripção da Rollinia orthopetala DC., excepção feita do tamanho do fructo que Martius indica como sendo o da cabeça d'uma creança, o que com certeza seria exagerado com respeito ao nosso biriba. O habitat da R. orthopetala, que tem diversos parentes em Trinidad e nas Antilhas (R. Sieberi A.DC.) e nas Guyanas (R. pulchrinervia A. DC.) cindicado pela «Flora brasiliensis» nos termos seguin- tes : Crescit 1n silvis inundatis, secundum fluvium Amazonum, observata prope oppidulum Obidos in canali Furo de Limão dicto, prov. Paraensis. Martio, Aprili floret et fructificat : Martius; prope Demerary : Parker.» Aqui Martius não diz se elle encontrou a arvore tambem cultivada, mas elle des- creve a polpa do fructo como sendo branca e doce, e nas observações geraes sobre as Anonaceas cultivadas, elle diz que segundo informações recebidas de Poeppig, a R. orthopetala era cultivada pelos indios da missão Tocache no Perú ama- zonico. Tudo isto me conduz à convicção de que o biribá é realmente a Rollinia orthopetala e que a sua patria é na Amazonia. O que fica em todo caso provado sufficientemente, é que o biribã do Pará não é, como se acredita e como se acha escripto em todos os livros que tratam do Pará, a Duguetia Marcgraviana Mart., arvore que não cresce aqui, mas em Pernambuco e Matto-Grosso. Que o Cacau ( Theobroma cacdo L.) seja indigena na região amazonica, ninguem o contesta seriamente. Ainda actu- almente esta arvore se encontra quer em individuos isolados quer em familias numerosas, nas varzeas do alto Amazonas e dos seus afiluentes. No rio Ucayali eu tive occasião de ver o cacaueiro em certos logares de difficil accesso, onde uma antiga cultura não era nada provavel. Observei que nestes sitios as arvores eram mais altas e menos copadas que “ÇA Arvores fructiferas do Pará 393 no estado cultivado. O mesmo me foi dito (*) dos cacamnei- ros silvestres do rio Purús. No baixo Amazonas entretanto não me consta um unico logar, onde O cacaueiro se encontre ainda hoje no estado selvagem. E verdade que em muitos pontos se encontram pés de cacau no meio do mato, como memo Capim (onde eu os vi) e no rio Pucuruhy (cf. Cou- dreau, voyage entre Tocantins et Xingú 1899 p. 131), mas nestes casos uma antiga cultura é senão sempre provada ao menos muito provavel. A favor do indigenismo do cacaueiro no baixo Amazonas se poderiam citar entretanto certos do- cumentos historicos, como as recommendações do governo da metropole aos governadores portuguezes de activar a cultura “d'esta arvore, «pela muita quantidade que ahi ha,» (cf. Annaes da bibl. e archivo publico do Pará vol. 1 p. 67, documento | do anno 1667.) e «porque alem da seiva, que tem o cacau. mostrou já a experiencia que... se melhoram com a cultura, o cacau tornando-se mais doce, do que se cria no mato.» (cf. * na mesma publicação p. 79, carta regia de 2/IX 1684). Documentos do começo do XVIII seculo provam que a exportação do cacau n aquelle tempo tinha já uma certa importancia, mas deixam entrever que ao menos uma parte “do cacau provinha dos indios que costumavam ir «ao sertão para buscar cacau» (cf. obra citada p. 121). Tudo isto tende a provar o indigenato do cacau na Amazonia. mas não necessa- riamente no baixo Amazonas, porque o termo «sertão» signifi- Eira sempre antes o alto que o baixo Amazonas (cf. «borracha — do sertão» e «borracha das ilhas»). Talvez a area do cacau é lvestre se estendesse antigamente até Obidos e Santarem, onde elle hoje se acha só no estado cultivado, mas é muito provavel que d'alli para baixo o cacaneiro não seja mais “ espontaneo. Como o cacau é tambem indigena ao longo dos Andes “até a America central e o Mexico, a sua area primitiva con- (*) Ultimamente tive ensejo de constatar, «proprio visu» a frequencia — do cacaueiro selvagem nas varzeas do alto Purús, O seu crescimento espon- " taneo n'aquella região fica tanto mais verosimil que ao lado dºelle crescem - ainda quatro outras especies de Theobroma (Th. subincanum, speciosum, mi- — crocarpum, sylvestre ). * (35-Bol. do Mus. Goeldi) 394 Arvores fructiferas do Pará corda quasi com a do caucho (Castilloa elastica ). O que é nota- vel e não deixa de fazer reflectir, é o facto que os indios amazonicos apenas aproveitaram a polpa doce e nunca usaram das favas do cacau para fazerem a bebida tão apreciada pelos indios mexicanos. Alem do Theobroma cacao nenhuma outra especie ama- zonica do genero tem actualmente um valor commercial como fornecedora de cacau, e não achei confirmada a opinião que o Theobroma speciosum fornece uma parte do cacau expor- tado da Amazonia. O Cacau do Perú (Theobroma bicolor Humb. e Bompl.) que é cultivado por alguns agricultores da zona da estrada de ferro de Bragança, se reconhece facilmente pelas folhas largas, cordiformes, e pelas fructas ellipsoideas cobertas d'uma casca lenhosa e reticulada. Esta especie é indigena na America central e na Celumbia, talvez tambem no Perú cisandino, onde eu a vi cultivada pelos indios de Canchahuaya, no baixo Ucayali. Uma outra especie do genero Theobroma, o Cupuaçã (Theobroma grandiflorum Schum.) é uma das arvores fructiferas mais importantes do Pará. Na cidade de Belem é raro encontrar um quintal onde esta arvore não seja cultivada. É nos logares um pouco sombrios que elle cresce melhor; emquanto que soffre de molestias e plantas parasitas quando muito exposto ao sol. O Cupuaçi é interessante sob diversos pontos de vista. As suas flóres, que não nascem no tronco mas nos galhos, são as maiores do genero e permittem muito bem estudar a estructura floral tão especial do genero Theo- broma. As suas fructas são sem duvida tambem as maiores do genero, globosas ou mais frequentemente ellipsoideas ou cylindricas, munidas de uma casca dura lenhosa. À polpa que cerca as sementes é ainda mais succulenta e muito mais aromatica que no cacau e fornece excellentes refrescos e compotas. A patria do cupuaçii é com certeza a Amazonia e provavelmente o baixo Amazonas. Encontrei a arvore em estado selvagem só nas matas entre Bragança e Ourem. Muito mais frequente no estado selvagem é uma especie parente, o Cupuahy ( Theobroma subincanum Mart.) cujas flóres e fructas são em ponto menor quasi uma copia das do cupuaçi. Esta especie é muito commum nas matas de terra firme do baixo Amazonas, principalmente nos arredores de Arvores fructiferas do Pará 395 Belem, mas a Flora brasiliensis indica ella tambem do Me- xico, do Perú cisandino e da Guiana, e eu mesmo achei-o no rio Purús: elle seria portanto a especie de maior área geographica. As suas fructas servem aos mesmos mistéres que as do cupuaçii. Para acabar de uma vez com as especies de Theobroma, citamos ainda o Cacao-y ou Caca-u (Theobroma speciosum Willd.), especie muito frequente pela terra firme e pelas var- zeas do valle amazonico até ao pé dos Andes. Elle é talvez ainda mais commum que o cupuahy e os seus fructos se ven- dem no mercado. Tanto o cupuahy com o cacao:y parecem ser raramente cultivados. O Uchi (Saccoglottis Uchi Hub.) pertence não só a um genero genuinamente amazonico, mas tambem a uma familia (Humiriaceas) que tem o seu maior desenvolvimento na região amazonica. Parece que diversas especies do genero Saccoglottis são comestíveis, mas a unica cultivada entre nós e o Saccoglottis Uchi, que aliás se encontra só em poucos exemplares dentro da cidade. Sendo, como o cutitiribá, uma arvore bastante alta que com certeza dá fructos só com 20 ou 30 annos, o uwchi nunca chegará a ser uma arvore de cultura commum. A patria dessa arvore é provavelmente nas matas do baixo Amazonas, e constatei com effeito a presença de alguns exemplares espontaneos nas proximidades do Cha- peu-virado, perto do Mosqueiro (onde achei tambem o uchi- rana (S. amazonica Mart.) e o umiry (Humiria floribunda Mart.) ambos da mesma familia das Humiriaceas). Segundo informações recebidas do engenheiro sr. Paulo Le Conte, o uchi seria tambem espontaneo na região de Obidos, onde se encontraria ainda uma outra especie, o uchi-curia, (*) maior e mais grosso que o chi ordinario ou wchi-puci ( puci — alon- gado, por causa da forma alongada do fructo). Nas matas da estrada de ferro de Bragança, onde me affirmaram a pre- sença do wchi, encontrei até aqui só uma outra especie que se distingue pelos caroços maiores e cobertos de grande quan- tidade de proeminencias duras mas obtusas (não cortantes como no uwchi-curãa ). Do rio Purús recebi fructos de duas (*) Encontrei tambem o uchi-curia exposto à venda no mercado de Manaãos. 396 Arvores fructiferas do Pará especies de uchi, uma das quaes parece identica com a espe- cie cultivada no Pará. (*) Como o wchi, o Umary (Poraqueiba sericea Tul.) produz um fructo, que ao redor d'um grande caroço tem pouca polpa bastante oleosa, de maneira que não agrada a todos os paladares. Por isso talvez a sua cultura não é muito intensa entre nós. Entretanto as suas fructas encoa- tram-se no mercado e certas pessoas, principalmente creanças apreciam-nas bastante. O indigenato do wmary na região amazonica é fóra de duvida, a sua area de dispersão pa- rece mesmo extender-se sobre quasi todo o valle do rio- mar. E' porém difficil determinar em todos os casos, se se trata realmente de arvores selvagens ou subespontaneas. Como especie botanica, a Poraqueiba sericea já foi consta- tada no Pará, Breves, Manaus e Teffé. Encontrei tambem um certo numero de arvores, provavelmente no estado espontaneo, perto de Maturá, no Solimões. Em Obidos (informações do sr. Le Cointe) e em outros logares, se cultivam duas qualidades de wmary que são talvez especies distincras. O illustre director do jardim botanico do Rio referindo-se provavelmente a estas duas qualidades, classi- fica o umary amarelo como Poraqueiba guyanensis Aubl. e o umary roxo (que não conheço mas que seria tambem comestivel) como P. sericea "Tul. Segundo as minhas pro- prias observações, temos aqui no Pará uma especie de fructos pequenos, verdes, não comestiveis (frequente no Bosque municipal e nas matas de terra firme) que corres- ponde àá Poraqueiba guyanensis Aubl, emquanto que a especie de fructos comestiveis (que são ora mais amarellos, ora mais vermelhos) corresponde á descripção da P. sericea Tul. Investigações ulteriores serão precisas para esclarecer este ponto de divergencia. O genero Inga da familia das Mimosaceas, contém um grande numero de especies, cujos envoltorios seminaes são comestíveis, e que por toda a America tropical são frequentemente cultivadas. (*) No mez de março deste anno (1904) achei diversas arvores deste uchi na mata de terra firme de Antimary (rio Acre). A identidade com o nosso uchi porém não fica fora de duvida, apezar da extrema seme- lhança dos fructos, ” À Arvores fructiferas do Pará 397% Aqui no Pará cultivam-se 3 ou 4 qualidades, em parte ainda mal conhecidas. A mais espalhada e que contribue muito a dar aos arrabaldes o seu aspecto característico, é o Ingá cipó (Inga edulis Mart.)arvore baixa de copa larga e frondosa e de fructos compridos e tortos que lembram certos cipós. A secção Huwinga á qual pertence a T. edulis, e que comprehende ainda algumas ontras especies muito pareci- das, tem a sua área de dispersão principalmente ao longo dos Andes, da America central até á Bolivia, portanto é provavel que o engá cipó nos venha do alto Amazonas. No “ estado selvagem, quasi todas as especies de Ingá crescem nas beiras dos rios. O Pajurá (Parinarium aff. montanum Aubl.) teve, sob o ponto de vista da sua classificação botanica, uma sorte infeliz, sendo removido dum genero para outro, sem chegar até aqui ao verdadeiro, onde elle ha de ficar. An- tes de tudo importa dizer que o pajrá do Amazonas não é identico com o quity coroya ou oity-coroya de Pernambuco, como entende o illustre autor do Hortus fluminensis (p. 165). O oity coroya tem, segundo os proprios Marcgrav e Piso (p. 136) um caroço sem asperezas mas coberto de “fibras («Lapis magnitudine el figura est ovi anserini, cortice lignoso hirsuto»), como as outras especies de Moquwilea. Se portanto Arruda Camara chamou o otty coroya de Pleragine rufa, o ilustre autor do Hortws fluminensis tinha talvez razão de mudar este nome em Moqueilea rufa Barb. Rodr,, porém errou quando identificou com este nome o pajurá do Amazonas. A questão se complica pela cireumstancia de que a descripção da Moquilea vufa de Barb. Rodr. se refere ao pajurá. Esta planta tem um fructo algum tanto semelhante ao do oity coroya, porém o caroço não é co- berto de fibra (hersutus), como n'esta especie, mas «cheio de anfractuosidades». Se o illustre botanico fluminense ti- vesse partido pelo meio um dos seus caroços de pajurá, elle teria constatado que este é de dois compartimentos, sendo geralmente um d'elles com a semente abortada. N'este caso elle teria naturalmente levado a especie para o genero Parinarium, que é caracterisado pelo ovario bilocular. Aliás era sufficiente abrir a «Histoire des plantes de la Guyane française» de Aublet, para vêr a semelhança 398 Arvores fructiferas do Pará frisante do fructo e caroço do pajurá com os do Parinarium montenum (pl. 205). O facto de ser no pajurá uma das sementes geralmente abortada, não tem senão uma im- portancia secundaria. Em todo caso será necessario levar o pajurá para o genero Parinarium, e como a semelhança dos fructos (e tambem das folhas) com os do P. montanum é tão grande, proponho escrever-se por ora Parinariwm aff. montanwm Aubl. Seria ainda possivel que na Amazonia houvesse duas especies, ambas muito aparentadas com o P. montamum, porque os caroços que possuimos do Pará e os que recebemos do rio Purús, difierem ligeiramente en- tre si e tambem do desenho de Aublet. Apezar de não se achar, ao que parece, descripto na «Flora brasiliensis», o pajurá tem uma distribuição larga na Amazonia (1). Encontrei-o nas matas de terra firme nos arredores de Belem, e no rio Capim; em Obidos o sr. Le Cointe assignala esta arvore na terra firme das beiras do Lago Mamahurú e do rio Curuçabamba; Barbosa Rodri- gues o cita do rio Negro e recebi fruetos e caroços do rio Purús. Em todos estes logares o pajurá é uma das grandes arvores das matas de terra firme. E talvez por causa da sua altura e porque floresce durante o inverno, que as suas flores ainda não se acham nos herbarios. No baixo Amazonas as fructas estão maduras no mez de ju- nho. As plantas novas reconhecem-se facilmente pelas grandes estipulas cobertas de pellos ruivos e sedosos, e. pelas folhas compridas d'um verde escuro por cinia e co- bertas d'um feltro branco por baixo. Em Belem não me consta que esta arvore seja cultivada (excepção feita dos exemplares existentes no Horto botanico do Museu) mas segundo informações recebidas de Obidos, o pajurá seria cultivado n'aquella região. O Parinary ou Paranary (Couepia chrysocalyr Benth.) é um exemplo das plantas cujo nome vulgar poderia induzir em erro sobre a sua classificação. Sendo como o pa- jurá da familia das Rosaceas ou Chrysobalanaceas, entre- tanto não pertence ao genero Parinarimn, mas deve ser classificado no genero Cowepia. Não falaria d'elle, sendo (1) Claude d'Abbeville cita tambem um «paiura> no Maranhão, ir ER hd Arvores. fruchtiferas do Pará 399 pouco cultivado entre nós, se não fosse uma arvore com- mum no alto Amazonas, tendo emprestado o seu nome a diversas localidades, principalmente no Perú cisandino. E uma arvore de tamanho medio e, como o pajurá, de folhas verde-escuras por cima, esbranquiçadas por baixo, mas muito menos compridas que m'aquelle e relativamente mais largas. As flores são relativamente grandes e reunidas n'uma especie de corymbo. As iructas são do tamanho das do umary, e bastante estimadas no alto Amazonas. A «Flora brasiliensis» diz a respeito d'esta arvore : «Planta «ud totum fl. Amazonum culta ob fructus edules, Parinari appellatwr. Habitat ad San Carlos prov. do alto Amazonas (Spruce) et in prov. Pará ad Santarem (idem), saepe culta.» Não se sabe se Spruce achou o parimary realmente só no estado cultivado ou tambem no estado espontaneo. A mesma duvida existe com relação ás localidades do Perú cisan- dino (Tarapoto e Yurimaguas) eu mesmo achei a ar- vore na povoação de Sta. Catalina (entre o Ucayali e o Huallaga) em meio de outras arvores fructiferas do- mesticadas. Em todo caso o parinary parece uma arvore de cultura bastante antiga, mas é muito provavel que seja mesmo indigena no Perú cisandino e no alto Ama- zonas. O VUajurú (Chrysobalanus Icaco L.) deveria ser citado ao lado do cajueiro por ter uma dispersão natural muito semelhante ao longo das costas de quasi toda a Ame- rica meridional tropical. Deixei de cital-o no conjuncto d'aquellas arvores iructiteras, porque elle occupa quanto ao grau da sua domesticação, um logar semelhante ao das arvores que acabo de citar, entrando mais por acaso que propositalmente no numero das arvores ou arbustos cultiva- dos. Apezar de que a sua fructinha, cujo tamanho e côr variam bastante, mesmo no estado selvagem, no estado domesticado pode attingir dimensões respeitaveis, ella pro- vavelmente nunca terá uma grande importancia pratica, devido ao seu gosto insipido que não permitte uma com- paração com os fructos acidos, mas saborosos das Myrtaceas. Na Amazonia, o wajuriú cresce, no estado selvagem, de preferencia nos terrenos arenosos, ás vezes bastante sec- cos, do littoral e dos campos do baixo Amazonas. Não sei exactamente o limite occidental de sua dispersão, mas não 400 Arvores fructiferas do Pará creio que elle se ache, mesmo no estado cultivado, muito pelo interior da região amazonica. Na familia das Apocynaceas, que fornece diversas ar- vores silvestres cujos fructos são comestiveis (veja mais adiante), encontramos o genero Coma, cujos representantes entram ainda no numero das arvores fructiferas cultivadas esporadicamente sob o nome de Sôrva ou Sorveira. As especies do genero (omma se distinguem facilmente pelas folhas dum verde brilhante, arranjadas por verticillos de trez, e pelas flores côr de rosa. que nascem cserahnemis quando a arvore é despida de folhas. Aqui em Belem te- nho visto somente a Couma guyanensis Aubl., notavel pelas suas inflorescencias ricamente ramificadas; é uma especie das matas virgens de terra: firme do baixo Ama- zonas e da Guyana. Provavelmente identica com esta espe- cie é a sórva que encontrei em numerosos individuos nas matas ao N. de Cunany, principalmente no mato, secco (descripto no Boletim do Museu, vol. I p. 391). Da região de Obidos e Monte-Alegre recebi, amostras duma outra especie que parece particular à margem esquerda do Amazonas até o rio Negro. E a Couma utilis Muell Arg., que se distingue dos precedentes pelas folhas relativamente pe- quenas e as inflorescencias menores.-E esta especie que parece - ser cultivada em maior escala, principalmente em Manaus. A terceira especie, chamada vulgarmente cumi-uaçã, foi descripta por Barbosa Rodrigues, sob o nome de Couma macrocarpa e se distingue das outras pelas folhas cordadas e pelos fruetos maiores. Ella cresce espontanca-nas matas ao N. de Manaus. No Ucayali encontrei tambem uma especie de Counu, chamada vulgarmente lechero. Parece que não é cultivada: o seu latex, que fornece uma especie. de gutta, é empregado para calafetar as embarcações e tem muita estimação para este mister. Não conheço o gosto dos fructos maduros da Comwma guyanensis, os fructos dos exemplares cultivados no Museu não tendo attingido plena maturação: mas a Couma uteis fornece na sua polpa um refrigerante excellente, d'onde lhe veio o nome de Sórra. a Dai, ecóálico, diantiicçis , é - ' “o = > Arvores fructiferas do Pará 401 Entre as arvores fructiferas que existem no Pará exclu- sivamente no estado espontaneo, o Castanheiro (Bertholletia excelsa H. B. kk.) é a mais importante, porque as suas se- mentes são um dos generos de exportação da Amazonia. Infelizmente os dados que possuimos ainda não são suffici- entes para fixar exactamente os limites da sua area geographica : mas experimentaremos sempre dar uma idea approximativa da sua distribuição. Os grandes castanhaes,-onde o castanheiro não domina só pelo seu porte altaneiro, mas tambem pelo “numero de individuos, se acham nos primeiros planaltos que dividem as bacias dos grandes affluentes do baixo Amazo- nas. Principalmente entre o Tocantins-Araguaya e o Xingú, entre este e o Tapajoz e nos restos, mais ou menos disseca- dos dos antigos planaltos immediatamente ao N. do baixo Amazonas, encontram-se os castanhaes mais importantes. No sul do Amazonas, o castanheiro cresce aliás ao longo de qua- si todos os affluentes, até perto do 10º de latitude austial e na bacia do rio Madeira ainda alem deste limite, no rio Beni (informações do sr. Le Cointe). Os castanhaes mais impor- tantes do Estado do Amazonas se acham provavelmente no rio Purús, principalmente nas immediações do lago Avapuá (baixo Purús), mas tambem ao longo do curso superior, onde constatei a sua existencia em Antimary, Monte Verde, etc. Na parte mais occidental da região amazonica os castanhei- ros parecem crescer mais isolados. Perto de Tabatinga vi ainda algumas d'estas arvores na terra firme, mas em Iqui- tos o castanheiro não é conhecido senão plantado e no rio Ucayali não pude indagar com certeza a sua presença. Na Amazonia tudo indica uma distribuição indo de E'ste para Oeste. Nas beiras do rio Orenoco, o castanheiro que se cha- ma ali Jwvia, parece ser bastante commum e formar matas inteiras. Tanto mais deve admirar que na Guyana a arvore não exista no estado selvagem ou ao menos seja tão rara que não é mencionada nas obras que falam d'aquella região. Tambem na região costeira ao S.E. da foz do Amazonas 0 castanheiro é raro e se extende só até o limite do Maranhão. O Piquiá, cujos fructos se comem na região amazoni- ca, éo Caryocar villosum (Aubl.) Pers., caracterisado pelas folhas trifoliadas com foliolos largos, dentados, villosos de ambos os lados. Não me consta que esta arvore seja culti- (36 — Bol. Mus. Geeldi) 402 Arvores fructiferas do Pará vada em qualquer parte, de maneira que a sua area actual corresponde exactamente à sua distribuição natural. E uma arvore alta das matas de terra firme, provavelmente espalhada sobre toda a bacia amazonica, ate perto dos Andes, e ainda na Guyana franceza, onde foi primitivamente descoberta por Aublet. Ella é bastante commum nas matas perto de Belem e alguns exemplares se acham ainda nas capoeiras perto de Santa Izabel: a Flora brasihensis indica a especie na visi- nhança de Manaus, e no Herbario amazonico temos exem- plares colleccionados pelo sr. André Goeldi no rio Purús (Ca- nacury). Os fructos do piquiá colligidos nas matas, vendem-se aqui no mercado geralmente cosidos. Não sei se os fructos das duas outras especies do genero que crescem no Pará, Caryo- car glabrum Pers. e Caryocar edule Cas., ambas chamadas piquiá-rana, são comestíveis. Emquanto que o €. villosum eo C. glabrum são arvores grandes de bôa madeira, cres- cendo este nas varzeas altas e restingas, o C. edule é um arbusto ou apenas uma arvore pequena que cresce debruçada sobre. os furos e os rios do Para. Sob o nome vulgar de Maçaranduba são conhecidas no Pará diversas especies do genero Mimusops (fam. das Sapotaceas), cujos fructos são muito semelhantes entre si e por isso geralmente confundidos. A verdadeira maçaranduba, é uma arvore muito alta da terra firme. Segundo os materiaes do «Herbario amazonico», existem duas especies ou varieda- des. de maçaranduba; uma d'ellas é proxima parenta da balata das Guyanas e do Orenoco / Mimusops bidentata DC. (1)|; a outra de folhas mais compridas, parece ter mais affi- nidade com a Mimusops elata Freire Allemão, do Sul. Segundo Peckolt (Berichte der Deutschen pharmaceu- tischen Gesellschaft, 14. Jahrg. 1904 Heft. I) existiriam na Amazonia duas especies de Mimusops sob o nome de ma- caranduba, a Mimusops elata Freire Allemão e a Mimusops (1) Segundo informações recebidas do Herbario de Kew pelo illus- tre dr. Stapf, o nome de Mimusops Balata Gaertn., geralmente indicado para a balata das Guyanas, não deve mais ser applicado a esta arvore, tendo de entrar na synonymia do Mimusops (Imbricaria DC) coriacea Mig. arvore in- troduzida de Madagascar. A descripção do Mimusops globosa Gaertn. cor- responde ainda melhor à nossa maçaranduba, mas como a especie é fundada unicamente sobre os fructos, cujos exemplares authenticos não se acham mais nas collecções, uma verificação tornou-se impossivel. Arvores fructiferas do Pará 403 cxcelsa Freire All. Segundo o mesmo autor a Mimusops Balata Gaert. seria conhecido no Pará e no Amazonas sob o nome de Mwirapiranga. A Maparajúba, tambem arvore de grande tamanho, cresce nas varzeas, principalmente nas varzeas altas. Ella distingue-se da maçaranduba pelas folhas, flóres e fructos me- nores. Tenho tambem indícios de que existem no Estado do Pará duas especies ou variedades de maparajúba. E naturalmente difficil indicar com alguma precisão a distribuição geographica d'estas especies, porque são muitas vezes confundidas, talvez tambem com outras especies seme- lhantes; mas parece que, tomadas no seu conjuncto, ellas têm uma area muito grande, extendendo-se sobre toda a Ama- zonia, a Guyana, e uma parte da bacia do Orenoco. Uma. maçaranduba que cresce ao longo da costa do Maranhão e do Ceara, é differente da nossa e pertence ao Mimusops cearensis Hub. Não sei se a especie que se acha no interior d'aquelles Estados. é identica com uma das nossas. Tambem não se sabe com certeza se a macaranduba das mattas da Bahia e do Rio de Janeiro é identica com uma das nossas especies. Em todo o caso parece ter fruc- tos semelhantes e tambem comestíveis, como resulta da descripçção de Gabriel Soares de Souza (1587). que diz a respeito (1. e p. 177) : «Maçarandiba é uma arvore real da cuja madeira se dirá ao diante. Só lhe cabe aqui dizer do seu iructo, que é-de côr dos medronhos e do seu tama- nho, cuja casca é teza e tem duas pevides dentro, que se lhe lançam fóra com a casca; o mais se lhe come, que é doce e muito saboroso; e quem come muito desta fructa que se chama como a arvore, pegam-se-lhe os bigodes com o sumo d'elle, que é muito doce e pegajoso, e para os indios lhe colherem esta fructa cortam as arvores pelo pé, como fazem a todas que são altas. Estas se dão ao longe do mar ou a vista d'elle». Como se vê, tudo isto póde-se dizer da mesma fórma, da nossa maçaranduba. de certas arvores fructiferas da região amazonica ainda não foram cultivadas em maior escala por causa de seu crescimento exagerado, isto com certeza não é o caso com a Mangabeira (Hancornia speciosa Gom.), que é uma arvore pequena, de crescimento muito lento. Creio mesmo que justamente este crescimento demorado impediu até 404 Arvores fructiferas do Pará hoje que esta arvore, cujos fructos são muito procurados aqui, principalmente para sorvetes, seja introduzida nos nossos pomares. A mangabeira, aliás, nada é menos que uma arvore exclusivamente amazonica : a sua principal area de dispersão é, pelo contrario, mais pelo sul, onde ella abrange quasi todo o Brazil tropical e mesmo uma parte do subtropical. E uma das plantas (relativamente raras) que têm o seu limite septentrional no rio Amazo- nas. Ao menos no baixo Amazonas a mangabeira se acha ainda bastante frequente de ambos os lados do rio Pará, principalmente nos campos altos cerrados da costa S. E. de Marajó, emquanto que parece ausente da região cam- pestre ao norte da foz do Amazonas, como o bacury. O unico logar ao norte do Amazonas onde se achou esta planta é Tabatinga, onde, segundo a Flora brasiliensis, ella foi colleçcionada por Spix. Aliás não me parece impossivel que entre as multi- plas variedades que se observam n'esta especie e das quaes algumas já foram descriptas como especies para entrarem de novo na synonymia, se ache realmente uma ou outra que após um estudo aprofundado mereça a separação es- pecifica. As amostras que recebemos de Marajó approxi- mam-se muito da fórma typica, tendo folhas pequenas e estreitas, longamente pecioladas. Como a arvore de que acabamos de falar, o Amapá faz parte do genero Hancornia, da familia das Apocynaceas, constituindo porém uma especie bem distincta, caracteri- sada por mim como nova sob o nome de Hancornia Amapá Hub. Pelo seu tronco direito e alto, pela sua copa formada de galhos não dependentes, e pela estructura das suas folhas, esta arvore distingue-se sufficientemente da sua congenere. Os fructos são maiores que os da mangabeira e de côr rôxo-escura; o seu gosto tambem é differente. O amapá é uma arvore frequente nas matas do baixo Amazonas, mas não cresce em grandes familias como p. e. a sôórva. Nas visinhanças de Belem e no rio Capim encon- trei o amapú tanto na terra firme como nas varzeas altas; elle não é raro nas matas da região do Aramá, em ter- renos periodicamente alagados. Não conheço exactamente a area de dispersão d'esta arvore, mas não me consta a Arvores fructiferas do Pará 405 sua presença no alto Amazonas. O ponto mais afastado de onde a sua existencia é confirmada por uma amostra de madeira da nossa collecção, é a região de Faro. Nos carrinhos dos vendedores de fructas que percor- rem as ruas de Belem, vê-se em certas épocas do anno, uma fructa amarella, que facilmente se tomaria por um cacau de pequeao tamanho; cortando-a, o seu tecido com- pacto mas carnoso deixa correr gottas dum leite branco bastante pegajoso. A cavidade do fructo mostra-se dividida em dois compartimentos que contêm numerosas sementes brunas ou pretas, oblongas, um pouco achatadas. Para comer a fructa bate-se-a com um pau até ficar molle, Esta fructa que vulgarmente é chamada Pepino do mato é pro- duzida por uma pequena arvore ou arbusto das matas de terra firme ou das varzeas, classificada por Mueller Arg. sob o nome de Ambelania tenuiflora (1). * O Pepino do mato é frequente nos arredores de Belem, no bosque municipal e nas mattas da estrada de ferro de Bragança, assim como tambem na região de Breves. À Flora brasiliensis indica esta planta de Borba, de Villa-Nova da Rainha e de Teffé. Por conseguinte, a sua distribuição na região amazonica é bastante larga. O sr. Le Cointe escreve-me de Obidos a seu respeito : «Soube ultimamente que o pepino do matto existe aqui um pouco por toda a parte, apezar de não ser conhecido pela maior parte dos habitantes... Para comel-o batem-no com um pedaço de pau; só depois de ter batido bem a sua casca, abrem-no. Dizem que assim elle contem menos leite. Podes se comer delle uma grande porção, sem inconveniente para a saúde. O caboclo que me trouxe as fructas comeu 10, sob o pre- texto de que ellas são um excellente remedio contra a tosse de que elle soffria. O pepino do mato acha-se aqui. na cabeceira do Sucurijú (5 km. a NE. de Obidos), e nas ma- tas do Rio Branco, na terra firme, perto das cabeceiras dos igarapés». Na familia das Malpighiaceas, tão bem representada (1) Uma outra especie de Ambelania cujas fructas tambem são co- mestiveis, foi descripta por Aublet sob o nome de Ambelania acida ( Hist. des Ppiantes de la Guyane française pag. 265 pl, 104). +06 Arvores fructiferas do Pará na região amazonica, a maior parte dos representantes têm fructos seccos, samaras aladas, que não têm nenhum valor nutritivo. Ha porém alguns generos que possuem fructos drupaceos, cujo pericarpo, embora não muito volumoso, é- comestivel. Ao norte da região amazonica, principalmente na America Central e nas Antilhas, os generos Malpighia e Bunchosia fornecem algumas especies cultivadas como arvores ou arbustos fructiferos; uma d'ellas, provavelmente a Malpighia pumicifolia L., é um arbusto bastante commu- mente cultivado no Pará sob o nome de cerejeira. O genero, porém, que tem a maior importancia, prin- cipalmente no norte do paiz, é o genero Byrsonima, cujas numerosas especies são conhecidas no Brazil sob o nome de Muruchy, muwrecy ou muricy. Temos aqui no Pará di- versas especies de muruch!y, de larga distribuição na America do sul, em sua maioria, cujos fructos são comestíveis, e entre os quaes convem citar a Byrsonima verbascifolia Rich,, arbusto rasteiro dos campos altos de Marajó, da Guyana brazileira e dos campos do Brazil central; a Byrsonima crassifolia H. B. K. pequena arvore torta dos mesmos lo- gares e das dunas da costa atlantica, a B. lancifolia Juss. (murucy miudo ), arvore mediocre das ilhas de matto e das capoeiras,ea Byrsonima crispa Juss., arvore alta das matas de terra firme. Entre todas estas esp.cies a B. crassifolia é aquella que fornece os fructos mais apreciados que não só na ilha de Marajó e na região do Salgado, mas tambem nas costas do Maranhão e do Ceará são empregadas para fazer um doce bastante estimado. Fungi paraenses 407% Na FUNGI PARAENSES (II) cLe Dr. J. Huber correcri Em P. KHENNINGS (=) Myxomycetes. Tubulina stipitata (Berk. et Rav.) Rost. Mon. p. 223. O - = Pard, Horto botanico. sobre troncos pódres. Fev. 1898. N.º 55. Areyria digitata (Sz.) Rost. Mon. p. 272. Pard, Hort. bot., sobre madeira pôdre. Fev. 1898. N.º 57. Stemonitis fusca Roth im Mag. f Bot. p. 26. . Pard, sobre madeira pódre. Março 1900. N.º 24. Physarwum mearaguense Macbr. Mon. p. 43. Pard, Hort. bot. sobre troncos pódres. N.º 56. Chondrioderma spec. (immatura). Pari, Hort. bot. sobre folhas pódres. N.º 58. Uredinacez. Úredo Oncidii P. Henn. n. sp. Maculis epiphyllis vel amphigenis, ro- tundato-angulatis, saepe confluentibus, 1n- crassatis, atrofuscis; soris gregariis vel sparsis, pustulatis, diutius epidermide pallida, fissa tectis, fuscidulis; uredosporis oblonge ovoideis vel ellipsoideis, utrinque obtusis, 20—30X13--I8 u, episporio fusco, granulato vel subaculeato-verrucoso. Pard, sobre as folhas de Oncidium Lanceanum 1899. N.º 26. Uredo Fico Cast. Cat. pl. Mars. II p. 87: Pará, sobre as folhas de Ficus Carica L. Abril 1901. N.º 40. (*) Transcripto da «Hedwigia» vol. XLI 1902 Beiblatt pag. 15-18. Cf. Bol. do Mus. Par., vol. HI p. 231. +08 Fungi paraenses ÚUredo Viticas polygamae P. Henn. n. sp. Maculis rotundatis, epiphyllis albidis, oppositis ferrugineis; soris hypophyllis im villo nidulantibus, fuscis; nredosporis sub- globosis vel ellipsoideis, 20—30X18-—24 us, episporio brunneo, aculeato-asperato. Pari, Hort. bot. sobre as folhas de Vitex polygama Cham. N.º 54. Uredo margine incrassata P. Henn. n. sp. Maculis gregariis vel sparsis, rotundatis, fuscis, margine incrassato obscuriorique cingulatis, 2—3 em diam.; soris amphige- nis, minutis; sporis subglobosis, ellipsoideis vel .ovoideis, angulatis, castaneis, 3040 >xX25—35 1, episporio aculeato-asperato, aculeis hyalinis ca. 2 u longis. Pará, sobre as folhas de Lonchocarpus spec. Abril 1900. N.º 27. Auriculariaces. Auricularia auricula Judae (LL) Schrôt. Pilze Schles. I p. 386. Pará, sobre troncos mortos. Junho 1901 N.º 52. Auricularia polytricha (Mont) P. Henn. Hedwigia XL p. 324 Pará, rio Capim, sobre troncos pôdres. N.º 59. Thelephoracez. Slereun annosum Berk. et Br. Fung. of Ceylon. N: 600. Cunany, sobre troncos mortos. 1895. N.º 57. Stereum Huberanum P. Henn. n. sp. Ramicola mycelio membranaceo, pallido, effuso; pileis sparsis vel gregariis, subpa- pyraceo-coriaceis, sicco rigidis, flabellatis, saepe inciso-lobatis vel subpalmatifidis, ful- Fungi paraenses 409 vis, longitudinaliter striatulis, levibus, gla- bris, !,—2 cm. longis latisque, in stipitem late compressum protractis vel subsessili- bus, hymenio paullo pallidiore, levi, glabro, subpruinoso; sporis globosis, hyalinis, levi- bus 3 !,—41/, u. Purd, sobre galhos delgados na mata. Maio 1901. N.º 46. O cogumelo mostra-se disposto em séries nos galhos, que são cobertos na parte superior pelo mycelio amarello pallido, mem- branaceo. No estado secco os chapeus que têm geralmente a fór- ma de leque ou espatula dividida muitas vezes até a metade em fórma de mão, são brunos sujos e rigidos, humedecidos elles são escuros côr de couro, delgados, coriaceos. Aqui e acolá o myce- lio é desenvolvido em fórma de cordões cylindricos, de cujo lado nascem os chapeus. Hymenochacte damicorne (Link) Lév. Ann. Se Nat. , 1896. pag. I5I. Pará, na mata sobre troncos pódres. Março 1901. N.º 32. Clavariacesze. Pterula squarrosa P. Henn. un. Sp. Cartilaginea, brunneola cinereo-pruinosa, ca. 4 em longa; stipite subtereti, simplici, I— 2 em longo, 0,5—I mim crasso, ramoso; ramis 1—2 repetito dichotomis, teretibus arcuato-reflexis, ramnlis elongato-subulatis, squarrosis, usque ad 2 !/, cm longis apice rufobrunneolis, nudis; sporis ovoideis, hya- linis 3— 3,5 uu Para, sobre o chão na mata. Março 1901. N.º 33. Especie notavel pelos calhos divaricados. compridos e fila- ! ] s l mentosos. Polyporaceze. Polystictus aratus Berk. Chall. Exp. N.º 53 forma? Pard, rio Capim. sobre troncos pôódres. Julho 1899 N.º 58, , ! l R 9 ' 37—Bcl. do Mus, Goeldi, 410 Agaricaces. Fungo paraenses Lentinus villosus Klotzsch. Linn. 1833. pag. 479. Pará, rio Capim, sobre troncos pódres. Julho 1897. N.º 55. Perisporiacece. Meliola amphetricha Fries Elench. Fung. II. p. 109. Pard, sobre as folhas de Psidiwm pomiferum. Maio 1901. N.º 34. Hypocreacez. Nectria (Lepidonectria) Iriartiae P. Henn. n. sp. Caespitulis gregarie erusipentibus, pul- vinatis usque ad 2 mm diametro; perithe- ciis plus minus numerosis, primo flavidis dein subminiatis, globosis vel ovoideis ca. I50— 200 u diam. pilis cirrhatis septatis flavidis,20— 60 X(6 — 7 u exasperatis, ostio- lis papillatis obscurioribus; ascis clavatis, apice obtusis 35— 55X5—7 u; sporis dis- tichis vel oblique monostichis, oblonge elhipsoideis vel subfusoideis, utrinque obtu- sis, intus granulatis, dl I-septatis haud constrictis, 9o—11X3!/,—4 1, hya- linis. Pará, sobre um tronco de Iriartea exorrhiza. Abril 1901. N.º 49. Parente do N. botryosa P. Ienn., mas differente pelos peri- thecios e os esporos. Dothideaceze. Phyllachora dendritica P. Henn. n. sp. Maculis fuscis, effusis, stromatibus saepe amphigenis, nervos sequentibus, epiphyllis sparsis, minutis, atris, nitentibus, hypo- Funge paraenses 411 phyllis gregariis, subpulvinatis, dendritico- coníluentibus, atris, opacis, verrucoso-tuber- culatis; peritheciis paucis, globosis, immer- sis; ascis clavatis, obtusis 70o— 100 X6 — II “; paraphysibus copiosis, filiformibus; sporis oblique monostichis, oblonge ellipsoideis vel clavatis, intus granulosis, hyalinis, 13 — 18 nt. Pard, Hort. bot., sobre Urostigma spec., invadindo as folhas antes que ellas cahem. Março 1900. N.º 25. Esta especie é differente das outras especies descriptas como crescendo sobre Ficus sp. pela differença do aspecto nas duas paginas da folha, assim que pela confluencia dos stromata em fórmas dendriticas na face inferior das folhas. Xylariaceze. Xylaria envoluta (Klotzsch) Cooke Grev. XI p. 79. Pari, na mata, sobre pao pódre. Abril 1901. N. 45. Xylaria poraensis P. Henn. sp. Stromatibus clavatis, longe stipitatis, alutaceo-ferrugineis, pruinosis, 4 —s cem altis; stipite subtereti, basi discoideo 2— 3 cm longo, 1—1!/, mm crasso, clavula subcylindraceo-compressa, obtusa, 2 —3 em longa, 3—s mm lata, alutacea, rimosa, sicco longitudinaliter sulcata, subinvoluta, intus pallida; peritheciis immersis, subgio- bosis vel ovoideis, atro-carbonaceis, ostiolis atris papilliformiter prominulis; ascis cy- lindraceo-clavatis, apice obtuse rotundatis, basi attenuato-stipitatis p. sp. I20— 140 >xX8—10 u; paraphysibus filiformibus 2 — 3 wu crassis, sporis monostichis oblonge elli- psoideis utrinque obtusis, rectis vel curvu- lis, atris, 18-—-22X5-—7 u. Pará, na mata, sobre pão pódre. Abril 1901. N.º 29. Parente da X. involuta Kl., porém differente. 412 Fung' paraenses Nylaria Huberiana P. Henn. n. sp. Caespitosa; stromatibus conidioferis ere- ctis, simplicibus, subulatis vel ramosis 1—1I !/, em altis, atris, rugulosis, ramulis compressis, subulatis; stromatibus peri- thecigeris clavatis, stipite brevi, rugoso -levi, usque ad 5 mm longo, 1—1 !/, em crasso, atro; clavulis oblonge ovoideis, compressis, apice obtusis vel acutiusculis, tuberculato-verrucosis, ca. 5 — Io mm longis, 4— 5 mm latis; peritheciis immersis, sub- globosis; ascis cylindraceis, pedicellatis; 8- sporis oblique monostichis, oblongis inae- quilateralibus, utrinque obtusis vel acu- tiusculis, 20--30X6— Io u, atris. Pari, sobre pao pôdre. Julho 1895. N.º 56. Esta especie é parente de X. Hypoxylon (L.), mas differe pelos stromas glabros, os esporos muito maiores, etc. Os stromas de conidios e de ascos acham-se juxtapostos. Nectroideacez. Aschersoma paracnsis P. Henn. n. sp. Stromatibus carnosis, pulvinato-effusis, gregariis saepe confluentibus, lateritiis, usque ad 5 mm diametro, mycelio byssino, flavido cirecumdatis; peritheciis immersis, subglobosis; conidiis fusoideo-acicularibus, utrinque acutis, 8--12X1I1!/,—2 u, hya- linis. Pará, sobre folhas vivas de Psidium pomiferum. Maio 1901, TAG Tr 50. Esta especie, que pertence com certeza ao subgenero Hypocrella, é parente da 4. blumenaviensis P. HMenn. porém differente pelos stromas e pelos conidios muito mais curtos. Ar Fungi paraenses 413 Dematiaceze. Cercospora Manihotis P. Henn. n. sp. Maculis rotundatis, pallescentibus, exa- ridis, fusco cingulatis; caespitulis hvpophyl- lis, minutis, fuscis; hyphis fasciculatis, ere- ctis, fuscidulis, 1 den 3 —5 septatis, haud constrictis, 30—40X4— 5 u. Para, sobre folhas verdes de Manihot spec. Maio 1901. Nº 42. Esta especie é totalmente differente da C Henningsii All. Cercospora Arachidis P. Henn. n. sp. Maculis rotundatis, bullatis, fuscis, 2— 5 mm diam.; caespitulis hypophyllis, pun- , ctiformibus, atro-castaneis, interdum con- fluentibus; hyphis fasciculatis, erectis, se- ptatis, fuscis 4 — 7 u crassis; conidiis oblonge cylindraceis vel clavatis, apice obtusis, 3 — 6 septatis, fuscis, 20— 35 X5—6 uu. Purd, sobre as folhas do Arachis hvpogaea. Junho 1901. N.º 43 Je Differe segundo a descripção da C. personata (B. et C) pelas manchas turgidas, pelas hyphas septadas, pelos conidios septados em numero de 3 a 6. Stilbellaceze. Stilbella flavida (Cooke) P. Henn. Cunany, sobre as folhas de Coffea arabica. Outubro 1895. N.º 28. Sulbella (2) mesentenca P. Henn. n. sp. Stromatibus carnosis, sicco subcorneis, singulariter vel 2-—3 basi fasciculatis, 2 cm longis; stipite basi incrassato, atro- fusco, sublignoso, superne subtereti, vel compresso, levi, pallido, 5—8 mm longo, 1— 1 1/, mm crasso; clavula subtereti vel compressa, longitudinaliter sulcata ad api- cem mesenterico-gyrosa, obtusa vel sublo- bata, fuscidula vel cinereo-pruinosa, 5 —12 deis continuis, basi apiculatis, hs 31 — 4X 2200 pe | Pará, sobre pão pôdre. Julho 1901. N.º 53. Uma especie particular, differente do typo pela co: dos stromas, etc. e que classifico por hora, com reserva, nero Stilbella. co add o, Arvores de borracha e de balata 415 VII Arvores de borracha e de balata da região amazonica (NOVAS CONTRIBUIÇÕES 1) Pelo DR. J. HUBER —— o -e Especies do genero SAPIUM (Tapurú, Murupita, Curupita, Seringarana) Entre as arvores amazonicas fornecedoras de borra- cha, as especies do genero Sapimwm (familia das Euphor- biaceas) são actualmente as menos conhecidas apezar de terem talvez um papel não de todo insignificante na pro- ducção total. da borracha amazonica. Quando escrevi as minhas « Observações » (cf Bol. III p. 345-369), ainda quasi nada se sabia sobre o papel d'este genero na pro- ducção da borracha amazonica e eu mesmo não podia adiantar muito os conhecimentos a respeito. Citei apenas quatro variedades de Sapimm biglandulosum (considerando a especie no seu sentido mais lato), duas do baixo Ama- zonas e duas do rio Ucayali, como podendo fornecer uma gomma elastica de inferior qualidade, isto baseado sobre as minhas proprias experiencias feitas em pequena escala. Descrevi mais uma especie, Supimm Marmieri Hub., como nova para a sciencia. Quanto ás variedades de Sapium biglandulosum en- contradas nas planicies de alluvião do Ucayali, posso agora completar as minhas informações citando uma ter- ceira variedade, differente das duas mencionadas por mim e da qual é cultivado um exemplar no nosso Horto bo- tanico. Verifiquei que esta variedade corresponde ao Sa- prum biglandulosum var. hamatum Múll. Arg., que foi ul- timamente descripto e figurado por Hemsley como espe- cie nova, sob o nome de Sapimm Poeppigii, no « Hooker's 416 Arvores de borracha e de balata Icones Plantarum»> Pl. 2678. Como a arvore ainda é nova, não fiz até aqui experiencias de extracção de la- text (2) Sobre as outras variedades do 5. biglandulosum temos agora algumas informações mais minuciosas que vamos expôr nas seguintes linhas. Mas seja logo dito que segundo novas informações O lapurú (arvore citada como fornece- dora de borracha por alguns autores (Courboin, Ule) mas que eu ainda não tinha tido occasião de vêr, relegando-a por isso nas minhas «Observações» ao ultimo logar), é segundo toda a probabilidade, como adiante vamos vêr, tambem uma variedade de Sapium biglandulosum e pos- sue, não obstante ser apenas de nome conhecido pelos commerciantes de borracha, uma importancia bastante grande. O merito de ter chamado ultimamente a attenção sobre esta arvore, publicando informações exactas a seu respeito, cabe ao Prof. Henry Jumelle, de Marselha, que trata d'elle detidamente no sem importante livro «Les plantes à caoutchonc et à gutta» (Paris, 1903). Visto a importancia e a novidade do assumpto, não posso furtar- me ao ensejo de traduzir aqui integralmente o capitulo em que o illustre autor trata do tapuriú. Damos pois a palavra ao Prof. Jumelle: | «A arvore que vamos estudar aqui e que é conhe- cida na região de Manáos sob o nome de tapurú, é ver- (*) Observei na nossa arvore de Sapium Pocppigii uma fórma es- pecial de proterandria. Immediatamente depois do apparecimento das folhas novas, encontrei unicamente inflorescencias compostas de flóres masculinas em toda a sua extensão. Dois riezes depois, vi à minha surpreza, que a arvore estava de novo carregada de inflorescencias, mas esta vez as flóres femeas occupavam quasi toda a extensão das inflorescencias, ficando só a ponta occupada por algumas flóres masculinas. Examinando estas inflores- cencias de mais perto, constatei que ellas não eram estrictamente terminaes nos pequenos galhos. mas que. tinham nascido na axilla da ultima folha dum galho que terminava por uma inflorescencia masculina. agora desappa- recida, ou mesmo na axilla d'uma das bracteas esteris d'esta. Em certos casos não só a ultima mas as duas ultimas axillas de folha tinham produ- zido uma inflorescencia bisexual. Um facto analogo parece se dár ás vezes em outras variedades de Sapium biglandulosum (cf. Sapium aueuparium Jacq., Hooker's Icones Plate 2050), mas me parece provavel que seja apenas um phenomeno transitorio na vida da arvore. Arvores de borracha ec de balata 417 dadeiramente um Sapium? Não sabemos, e abstemo-nos de garantir a determinação botanica de uma especie da qual nunca vimos a menor amostra, folhas, flôres, fructo ou semente, e que só conhecemos pela descripção verbal que nos fez della o sr. Bonnechaux. » « Mas este lapurit, que, como nos cremos, nunca foi citado por trabalho algum até então, tem uma tal impor- tancia, apezar de ser geralmente ignorado, que justamente porque elle é pouco conhecido, teriamecs escrupulo de pas- sal-o em silencio. E como é necessario collocal-o em al- guma parte, o que nos embaraça, sendo o plano d'este livro baseado sobre a denominação botanica, collocamol-o no logar que suppômos ser o seu, segundo os poucos ca- racteres que nos deu de memoria o explorador a quem devemos exclusivamente todas as informações que segui- rão. Tudo o que podemos affirmar é que a planta não é um Hevea, porque as suas folhas são simples. » « Tapuru, nos diz o sr. Bonnechaux, significa na lin- guagem indiana «bichinho» e este nome deve ter sido dado á arvore porque ella é habitada por uma multidão de brocas, este mesmo cupim (Coptotermes Marabitanos ) que ataca as Heveas.» « Ha duas qualidades (especies ou variedades?) de tapuru: o tapurú da terra firme, que se acha no interior das terras, e o tapurú da vargem, que cresce na beira dos rios, dos lagos óu dos igarapés. » «O tapurú da terra firme é uma arvore que chega a 25 m de altura e 800 cm a 1 m de diametro. À sua casca não dá senão um leite espesso que se transforma em uma resina, da qual os indigenas se servem para calafetar as suas canôas. E portanto sufficiente cital-o; o unico tapurú interessante e com o qual vamos occupar-nos unicamente, é o segundo.» «O tapurú da vargem chega ás mesmas dimensões que o precedente; mas emquanto que a sua copa, que excede muitas vezes as das outras arvores da floresta, extende-se ao sol, o seu tronco, como aquelle da seringueira verdadeira da terra d'agua, enterra as suas raizes nos sólos humidos e periodicamente inundados. » 38 — Bol. do Mus. Gceldi. o "E “AM 418 Arvores de borracha e de balata « Estas raizes são possantes: o eixo principal, per- pendicular, enterra-se profundamente, emittindo raizes se- cundarias, das quaes algumas até de 12 cm de diametro. » «O tronco, direito, mas nem sempre cylindrico, tem a casca cinzenta esbranquiçada, bastante fina e a madeira tenra. » « As folhas novas, ligeiramente dentadas nas beiras, teriam um pouco, nos diz o sr. Bonnechaux, a forma e as dimensões de uma folha de carpe; porém pouco a pouco, com a idade esta fórma se modifica, no mesmo tempo que os dentes se tornam menos distinctos; e as folhas velhas de 10 cm de comprimento para 3 de lar- gura são ovaes, alongadas, agudas nas duas extremidades, porém mais largas perto do vertice do que perto da base que se estreita consideravelmente perto do peciolo. O sr. Bonnechaux as compara a um ferro de lança cuja ponta entraria directamente no galho (o que indicaria um pe- ciolo muito curto), o vertice correspondendo ao conto. O limbo é coriaceo, verde escuro, de superficie pouco bri- lhante. » « As flôres que o sr. Bonnechaux não vio, seriam brancas. Os fructos seriam quasi globulosos e encerrariam grãos oleosos semelhantes aos da Hevea. Este ultimo ca- racter não têm mais relação com o genero Sapiíum, mas vê-se tambem que podemos affirmar muito pouco n'um sentido ou no outro, porque acabamos de expôr os unicos factos sobre os quaes baseamos a nossa hypothese. » «O tapurú é em todo caso, conhecido de longa data pelos seringueiros. Não é de hoje, — escreve o Sr. Bon- nechaux no seu livro de notas de viagem, cujo texto re- produzimos integralmente — que os seringueiros e patrões seringueiros dos rios conhecem o tapuriu. A julgar pelas arvores que eu vi, ha muito tempo que rceebemos borra- cha extrahida d'esta arvore. Sómente os negociantes de Manáos e Pará ignoram isto, e para elles, tudo que chega em bolas chamadas «borracha fina », é producto de uma unica e mesma arvore, a seringueira.» «Ha vinte annos quando as brocas se mettiam nos cortes feitos nas seringueiras por mãos inexperientes, os seringueiros procuraram entre as arvores de latex, uma ho 1 Arvores de borracha e de balata 419 outra especie dando um producto mais ou menos se- melhante ao da seringueira, e podendo-lhes assegurar dia- riamente um rendimento regular ou mesmo superior. Elles tinham á mão o tapwrú, e approveitaram-no. Timida- mente no principio, elles misturaram o seu later com aquelle da seringueira; depois elles atreveram-se a entregar bolas feitas exclusivamente com o leite de tapurú e pre- paradas pelos mesmos processos empregados para a seringueira. Esta fraude, se fraude havia, passou desap- percebida; os patrões seringueiros não viram nada e ainda menos os compradores de Manáos e os corretores euro- peus.» «Entretanto certos patrões sabendo a verdade não quizeram mais acceitar a borracha de tapurú como borra- cha fina e compraram-na como inferior entrefina, quasi como sernamby. Então os seringueiros deixaram a explo- ração exclusiva dos tapwriús e começaram outra vez a mis- turar o seu leite com o das Heveas». « N'estes ultimos annos, como a producção seguio sempre uma marcha ascendente e as estradas começaram a cançarem-se, os patrões fecharam outra vez os olhos primeiro sobre a mistura dos leites, depois sobre a entrega de bolas de tapurú, que aliás elles não sabem reconhecer; e ficaram animados pela falta de reclamações das casas de Manáos. Estou certo que eu sou o unico que conhece esta questão, que têm um grande interesse. » «O tapuru seria muito commum em certas partes da bacia do Amazonas. Elle existe perto de Pará onde chamam-no Mwrupita, no Amazonas e no Madeira; é 1n- “crivel a quantidade d'elles que se acha nas ilhas deste ul-, timo rio e no Solimões. O R. P. Parissier, dos missionarios do Espirito Santo, vio egualmente muitos tapurús no rio Tapurá (provavelmente erro typographico no logar de Japurá — J. H.) em uma viagem de exploração muito pe- nosa que elle emprehendeu para conhecer as nascentes deste rio. Entretanto não achei o tapurú no rio Aripuaná nem no rio Negro.» «Nos logares onde se encontra o tapurit, o que im- pede uma exploração regular não é sómente o facto que o seu producto não é superior ao da seringueira, mas a 420 Arvores de borracha e de balata circumstancia que a arvore rende menos do que as Hereas, e resiste muito menos ás sangrias. » «Por isso raras vezes fazem-se estradas compostas unicamente ce tapurús, como aquella que o Sr. Bonne- chaux vio no rio Madeira, no seringal « Floresta», pro- priedade do sr. Bentes Eliodoro. » « Ella era composta de 140 arvores, e os intervallos das onze primeiras eram. os seguintes: passos da casa do 1º tapury que tinha 0,00m de diamelo e comportas 4 tigelinhas — ol ti o 2 — Im — 5 — go — Ut — — Um — — Um — — on — 1,65m — — Um — — [im E — om — — tom — s [=] L o [A ; l 4 Lo E y b o 1 b. 8 HT 1 | =) s D o emma + o é co + => Es a (o) bb — 1º — Cs Es GS CS fas US fa RS US comia «O intervallo medio entre as onze arvores é de 23 passos e era mais ou menos o mesmo para os 129 outros pés. E o intervallo de uma estrada de seringueiras muito bôa. » «Os tapurús de Bentes Eliodoro são explorados com cuidado desde cinco annos, nas mesmas épocas como as serimmgueiras, isto é de junho ou julho até março; e todas as precauções são tomadas para que o rendimento seja continuo. O producto regular d'um dia é de 6 litros de leite, dando 3 kilos de borracha secca. » « Mas geralmente, com poucas excepções, como a ci- tada, os unicos tapurús cortados são aquelles que se acham no caminho d'uma estrada ou ao redor das barracas esta- belecidas á beira dos rios. O seringueiro corta-os ao mesmo tempo que as Hereas durante o seu giro de manhã na estrada. » «Quando o seringueiro, diz o st. Bonnechaux, passa na sua estrada, se tiver agito ou dez tapurús no seu ca- minho, elle não faz differença entre elles e as seringueiras. As tigelinhas estão ao pé de cada arvore, promptas para ANT MT o dia dis Arvores de borracha e de balata 421 serem fixadas em baixo das incisões. O seringreiro acaba de picar uma seriuguerra e chega a um tapurú. Elle dá os seus golpes de machadinho como se fosse questão de uma Hevea, e continúa. » «E naturalmente a mesma cousa quando se trata de uma estrada inteira de tapurús. O latex é recolhido e defumado como acima descrevemos. A bola feita secca-se ao sol como as outras e leva-se ao patrão, depois vae do barracão a Manáos, de Manáos á Europa, e ninguem re- parou nada. » «Todos estes factos expostos, crêmos dever reprodu- zir ainda algumas observações pessoaes do sr. Bonne- chaux.» - «Até que a analyse tenha provado o contrario, eu acho que a mistura do leite de tapurú com o da serin- queira não deve ter uma importancia enorme pela excel- lente razão que se assim fosse, ha muito tempo que a borracha do rio Madeira teria perdido a sua fama e não seria paga 100 ou 200 réis mais do que a do Pará.» «Acho tambem que uma bola feita exclusivamente com o leite do tapwru defumado tem qualidades que se approximam muito das de uma bola de seringa. O que é incontestavel, é que o tapuru dá um producto muito su- perior ao caucho (Castilloa elastica). Digo pois que se este producto ainda não chegou officialmente no mercado, é que tem um motivo, que na minha opinião, é a pouca resistencia das arvores. E' com effeito com um cuidado excessivo que deve-se sangrar um tapuriú, senão as brocas invadem-no e elle não tarda de morrer. A expressão de desprezo é conhecida nos rios: «E um pão que não aguenta. » «E o soffrimento é muito visivel, porque emquanto o corte se cicatriza, produz-se n'este logar uma forte pro- tuberancia da casca. Fóra este primeiro motivo, é preciso ter em conta a fraca producção da arvore, inferior á da seringueira. Se um tapurt de 20 m de altura e de 70 cm de diametro dá meia tigela de meio quartilho, o resultado é magnífico, emquanto que a seringueira nas mesmas con- dições dá uma tigela cheia. Tudo isto, bem entendido, é uma base de comparação, porque pode-se dizer dos tapu- 422 Arvores de borracha e de balata rús como das seringueiras: uns rendem abundantemente, outros muito menos.» « Apezar destes defeitos dos tapuriús o Sr. Bonnechaux é grande partidario da cultura intensiva d'estas arvores, que têm a grande vantagem, ao menos no sólo amazonico, de se multiplicar muito mais facilmente que as Heveas. Nos terrenos roçados na matta, ellas são sempre entre as primeiras arvores que apparecem espontaneamente. » D'esta exposição resultam principalmente tres con- clusões de certa importancia: Lº O tapurú é uma arvore differente das seringuei- ras, porém elle fornece uma bôa borracha que pode ser confundida com a da Hevea brasiliensis. O seu leite mis- tura-se, no Amazonas, frequentemente com o leite da serin- queira, ou então prepara-se sem mistura, da mesma forma como a borracha de Herea; 2º O tapurú do Amazonas seria, na opinião do Prof. Jumelle e segundo a descripção do Sr. Bonnechaux, provavelmente um Sapiwm ; 3º O tapurú é considerado como identico com a muripita do Pará. Como a murupita é uma arvore paraense, procurei antes de tudo chegar a me fazer um juizo sobre esta es- pecie. Sollicitei informações de diversas pessõas e recebi finalmente do engenheiro sr. Paulo LeCointe, de Obidos, os esclarecimentos de que eu precisava. Segundo o Sr. LeCoimte, a murupita cresce nas visinhanças de Obidos nas varzeas do Amazonas e dos seus afflentes e até nos cacauaes. Poucos annos atraz ninguem fazia caso d'ella e só nos ultimos annos os seringueiros começaram a cortal-a. «Tenho amostras de borracha de murupita, escreve me o sr. LeCointe, defumada e não defumada, datando de 5 annos atraz e parecendo de excellente qualidade, bem que um pouco menos elastica que a borracha de Hevea». Como o sr. LeCointe teve a gentileza de offerecer as suas amos- tras ao Museu (onde ellas actualmente se acham), me foi dado o ensejo de julgar «proprio visu» da qualidade da Arvores de borracha e de balata 423 borracha de muwruwpita. Eila com effeito têm bôa apparen- cia e não têm o defeito de ficar viscosa com o tempo, como aconteceu nas amostras que até aqui obtive com o leite das diversas especies de Sapium com os quaes eu tinha feito experiencias. Porém, como diz tambem o sr. LeCointe, ella não é tão elastica como a borracha de He- vea, ficando um pouco alterada na sua forma depois de esticada. Aliás a sua resistencia á tracção é tambem muito menor que em amostras de borracha de Hevea de idade correspondente. Estas propriedades negativas da gomma de murwpita são talvez parcialmente dependentes de cir- cumstancias fortuitas e seria em todo caso prematuro de querer pronunciar-se definitivamente sobre este producto após o exame de tão pequenas quantidades. (*) Por isso é muito a desejar que pessôas que conhecem a murupita e o seu producto, mandem-nos amostras mais fartas que permittam de chegar a uma opinião segura sobre as pro- priedades d'esta gomma. O que ainda mais me importava saber, era a posi- ção systematicá da arvore em questão. Cheguei afinal tambem a receber materias de herbario da murupita, col- leccioriados pelo sr. Adolpho Ducke nas visinhanças (ca- pueiras) de Almeirim. Apezar de não terem flôres, mas só capsulas maduras, estes exemplares me permittiram identificar a murupita com a variedade de folhas peque- unas de Sapiwm biglandulosum, indicada por mim (cf. «Ob- servações» p. 366) como crescendo frequentemente nas alluviões recentes a oeste da ilha de Marajó e tambem sobre a terra firme nos arredores de Belem. E” verdade que entre os exemplares colligidos por mim na capital e aquelles provenientes de Almeirim, ainda ha pequenas differenças, mas ellas me parecem tão pequenas que nem chegam a separar estas formas como variedades distinctas. Como se sabe, a synonymia das especies de Sapium (*) Se porém foi possivel fazer passar às vezes a gomma de muru- pita por borracha fina, ella devia isto com certeza mais ao seu aspecto ex- terior que às suas qualidades de elasticidade e resistencia, Assim talvez se explicá tambem o facto, relatado pelo Sr. Bonnechaux, que as bolas feitas de tapuriú foram consideradas como borracha entrefina logo que os patrões souberam distinguil-as. 424 Arvores de borracha e de balata é complicadissima. E por isso que contentei-me nas mi- nhas observações de fallar duma variedade de Sapiwm biglanduloswm, considerando esta especie no seu sentido mais largo (= Kxcaecaria biglandulosa Múll. Arg.) Visto o polymorphismo extraordinario d'este grupo especifico e os conhecimentos fragmentarios que temos acerca de muitas fórmas classificadas como variedades de E. biglandulosa por Miller, não me atrevi a uma identificação definitiva das formas paraenses com qualquer uma d'estas varieda- des descriptas até aqui. Hoje entretanto, com um conhe- cimento mais profundo da questão (adquirido principal- mente em experiencias de cultura) e graças a uma pu- blicação mais recente, julgo possivel precisar um pouco mais a posição systamatica das plantas que nos occupam. Ha alguns annos o sr. Hemsley, conservador do Herbario de Kew, procurou fixar algumas especies de Sapium por meio de bôas figuras e descripções publicadas no « Hooker's Icones Plantarum» Vol VII, pl. 2647-2650 e 2677-2684 (1gor). Hemsley separa de novo, talvez não sem razão, algumas antigas especies que por Miller Arg. foram reunidas ao grupo especifico de Sapium biglandulosum. Entre estas especies figuradas por Hemsleyv, o Saprum ancuparium Jacg. (= Excaecaria biglandulosa var. aucu- parir Miúller Arg.) de distribuição larga nas alluviões fluviaes das Guyanas e da Venezuela, corresponde muito bem ao Sapium de folhas pequenas das visinhanças de Belem. Este se distingue apenas pela circumstancia, que as valvulas das capsulas maduras são bifidas no apice e desprehendem-se finalmente da columella central e não persistem, como Hemsley indica no Sapium aucuparium. As sementes do nosso Sapium são encarnadas quando frescas, a sua camada exterior é molle e se desprehende facilmente do integumento duro e pouco rugoso ou ligei- ramente tuberculado, como no Sapium aucuparium Jacg. Pela fórma das folhas a murwpita de Almeirim corresponde mais á Hrcaecaria biglandulosa var. lanceolata Múll. Arg. (*) que á variedade aucuparia, mas uma vez que conside- (*) A variedade lanceolata é indicada como crescendo na Guyana franceza, no Pará e no Brazil oriental até Rio de Janeiro. Arvores de borracha e de balata 425 ramos esta ultima como tendo o valor de especie, ella fa- cilmente pode comprehender tambem as fórmas reunidas por Miller Arg. na variedade lanceolata (*). Assim, sc queremos precisar a posição sustematica da murupita no conjuncio das fórmas multiplas que segundo Miill. Arg. entram no grupo específico do S. biglundaulosum, convem designal-a como pertencendo ao Sapium ancupa- rium Jacg. (**) Emquanto que assim a posição systematica da mu- rupita fica approximadamente definida, a da segunda va- riedade paraense, de folhas maiores, que chamam Curu- pitá na contracosta de Marajó, ainda não está bem elucidada. Em todo caso esta fórma approxima-se menos do Saprum aucuparium, tendo as folhas não só maiores, mas tambem mais coriaceas e carecendo inteiramente de ponta recur- vada. Talvez se trate d'uma nova especie, sempre do grupo de Sapiwm bigtandulosum, bem entendido. (**) Segundo informações colhidas de seringueiros, uma arvore chamada curupita seria frequente na região de Mazagão, onde o seu leite seria: misturado com o das seringueiras. Dizem que ha estradas onde até a metade das arvores são curu- pitas, -que aliás são cortadas da mesma fórma que as seringueiras. Infelizmente ainda não consegui arranjar ma- terial de herbario d'esta curupita de Mazagão, e como os nomes de plantas são bastante fluctuantes em regiões onde a população é muito misturada como no baixo Ama- zonas, seria imprudente identifical-a directamente com a curupitá da contracosta de Marajó, não obstante esta iden- tidade ser muito provavel. (*) Como Hemsley indica e como tive occasião de vêr por mim mesmo, a variabilidade n'este grupo é muito grande, manifestando-se na fórma e no tamanho das folhas, no desenvolvimento das glandulas e até na composição das inflorescencias. e nos caractéres das capsulas e das sementes, (**) Martius (Tabulae physiognomicae XI, pag. XLI) já cita o Sapium aucuparium como frequente nas partes arenosas das ilhas do Ama- zonas. (**) Entretanto não é impossivel que mesmo esta fórma, apezar das differenças apontadas, tenha de fazer parte do grupo especifico de Sa- pium aucuparium Jacq., que, como mostrarei mais abaixo, é bastante poly- morpho. 39-—Bol. do Mus. Goeldi. 426 Arvores de borracha e de balata Qual é agora a posição systematica do tafurá? Já vimos mais acima que o Sr. Bonnechaux considera o tapurú como identico com a murupita. A mesma affir- mação me foi feita pelo Sr. LeCointe e outras pessõas, e segundo as notas do Sr. Ule parece tambem que os nomes de tapuriú, murupita e seringarana são considerados pelos seringueiros como synonymos. Não me parece duvidoso que, ao menos parcialmente, o tapurú corresponda ao Sapium aucuparium, sendo esta especie distribuida sobre uma grande parte da região amazonica. Achei o S. aucuparium não só nas varzeas do baixo e do medio Purús, mas até sobre a terra firme de Monte Verde, pouco abaixo da bocca do Acre. Os especi- mens do baixo Juruá distribuidos por Ule sob o nome vulgar de «Seringueirana» correspondem, ao menos em parte, a esta especie. Entretanto é de observar que nos exemplares do alto Amazonas póde haver tendencia ma- nifesta á suppressão das glandulas no apice e na base das folhas, chegando mesmo estas a desapparecer quasi completamente, como por exemplo nos exemplares distri- buidos por Ule com o numero 5356. Mas esta suppressão não me parece sufficieate para motivar a separação espe- cifica d'estas fórmas, tanto mais que as glandulas do pe- ciolo são bastante variaveis, mesmo nas fórmas do baixo Amazonas, e que nos exemplares novos de murupita que actualmente se cultivam no Horto botanico podem-se ob- servar galhos com folhas providas de ponta glandulosa e recurvada ao lado de outros galhos cujas folhas carecem de glandula apical. Nos exemplares de Sapium aucuparium que colleccio- nei no rio Purús, (*) a ponta da folha não é recurvada e as glandulas do peciolo, apezar de bem desenvolvidas, são (*) No medio e no alto rio Purús colleccionei quatro fórmas de Sapium, das quaes considero duas como sendo do grupo de Sapium aucupa- rium (uma d'ellas têm as folhas relativamente grandes e as glanduias pecio- lares apenas proeminentes), e duas (da terra firme) como “pertencendo ao grupo do Sapium Marmieri Hub., tendo as folhas largamente ellipticas e glandulas peciolares depressas e appr oximadas da parte mediana do peciolo. Uma quinta fórma achada no baixo Purús corresponde provavelmente ao «Caramury » citado por Ule, que é uma especie bem distincta. Como no Purús não se liga nenhuma importancia a estas arvores, não consegui saber nada sobre os nomes vulgares. Arvores de borracha e de balata 4927 mais curtas que nas variedades do baixo Amazonas, que por sua vez têm geralmente glandulas um pouco mais curtas que as figuradas por Hemsley n'um especimen da Guyana ingleza. Mesmo quanto á persistencia das valvu- las da capsula ha transições passando das fórmas guya- nezas, que segundo Hemsley têm valvulas persistentes, pela variedade de Belem, com valvulas relativamente for- tes e subpersistentes, às outras variedades do Amazonas, com valvulas caducas. Tudo isto indica que o Sapium aucuparium é uma especie bastante polymorpha, cujos limites e variações só com materiaes de herbario muito mais abundantes e com o auxilio de experiencias de cultura será possivel discri- minar exactamente. Não duvido que outras especies do genero Sapimm, tambem corram sob o nome de tapurt ou seringarana; prova disto é o testemunho do Sr. Bonnechaux que des- creve o tupuri da terra firme como sendo differente do da varzea, e o Sapium Marmieri Hub., chamado seringarana no Ucayali; nas segundo tudo que acabo de expôr, pare- ce-me provavel que o tapuráú da vargem do qual trata o or. Bonnechaux como fornecendo um bom producto, não seja outra cousa senão o Sapimm ancuparium Jacq. Como conclusão de tudo que fica dito, póde-se affir- mar que, contrariamente ao que eu mesmo acreditava, cer- tas especies de Sapium da região amazonica são fornece- dores de bôa borracha, ao menos no sentido de que o seu leite se mistura muitas vezes com o da seringueira, sem que disto pareça resultar uma apparente inferioridade do producto, emquanto que o producto puro deve ser const- derado, até prova contraria, como inferior á borracha da serengueira. Quanto á posição systematica d'estas especies forne- cedoras de borracha, fica desde já confirmado que a mu- rupita que serve para extracção de borracha no baixo Amazonas (região de Obidos) póde ser classificada no grupo especifico de Sapium aucuparimm Jacq. que a curu- pita da contracosta de Marajó, e provavelmente tam- bem a da região de Mazagão, pertence a uma especie apparentada (que talvez se possa considerar como varie- 128 Arvores de borracha e de balata dade do S. amcuparimn) e que o tapurú ou seringarana do Amazonas central e superior corresponde igualmente ao Sapium aucuparimm, em parte talvez tambem a outras especies de Sapimm. As arvores de balata da região amazonica (Maçarandubas e Maparajubas). Em diversas folhas diarias e revistas commerciaes têm-se espalhado a noticia de que na região amazonica fo- ram descobertas arvores de balata em grande quantidade, e certas pessõas já querem ver na exportação da balata amazonica um meio de supprir á producção de gomma elastica, uma vez que esta venha a se exgottar. Com ef- feito ha alguns annos que se exportam do Pará pequenas quantidades dum producto que parece ter bastante seme- lhança com a balata exportada das Guyanas e do valle do Orenoco (Venezuela). Surge a questão se o tal produ- cto é verdadeiramente identico com a balata e se a ar- vore que o fornece, corresponde bem á que nas Guyanas se chama a balata. Quanto á primeira questão, ella tem de ser resolvida pelos interessados, e não posso me occupar d'ella n'esta nota. Entretanto me parece que a cotação baixa (1 a 2 mil réis o kilo) imposta á balata do Pará pelo commercio ex- trangeiro, indica sufficientemente que o producto até agora obtido não corresponde exactamente ás outras balatas, que obtêm um preço trez a quatro vezes mais elevado no mercado. E' verdade que um preparo mais cuidadoso seria talvez sufficiente para assegurar ao nosso producto uma cotação mais vantajosa. O que por ora me importa principalmente é de es- tabelecer, se as arvores que fornecem a balata do Pará, são 1denticas com as balatas da Venezuela e das Guyanas. Antes de tudo porém é necessario observar que o nome de balata não corresponde a uma só especie, nem é restricto ás especies do genero Mimusops, mas que é applicado tambem a diversas especies pertencendo a ou- tros generos e mesmo a outras familias, que nem todas fornecem um producto utilizavel, e que se acham enume- Arvores de borracha e de balata 429 radas no livro citado do professor Jumelle, à pagina 498. Deixando de lado os outros generos, occupo-me aqui só- mente do genero Mimusops, tratando especialmente das especies que se grupam ao redor duma especie da Guyana, à qual chamarei a «verdadeira balata», porque é ella que foi reconhecida scientificamente como fornecendo a balata do commercio. Para não deixar formar-se illusões a respeito, cabe-me declarar que o estudo systematico do genero Mimusops e especialmente das especies que nos inter-ssam, está ainda bastante atrazado, reinando uma tal ou qual incerteza a respeito da constancia e da importancia de muitos cara- ctéres que servem para a classificação. Uma das causas desta incerteza deve sem duvida ser procurada na rari- dade de bons especimens nos herbarios europeus. Sendo as arvores de balata muito altas, é preciso derrubal-as para obter as suas flôres e como a florescencia é muito passa- geira e quasi Sempre simultanea em todos os galhos da mesma arvore, é raro obter Ílôres em diversos estados de desenvolvimento e ainda mais raro conseguir flôres e fru- ctos da mesma arvore. Por isso as descripções quasi sem- pre são incompletas (como por exemplo a da Mumusops elato Fr. Al. na «Flora brasiliensis», onde nem as flôres são descriptas) e muitas vezes não são sufficientes para identificar seguramente uma especie. Alem disto diversos caractéres das flôres, que servem para a discriminação das especies, podem variar segundo os individuos, talvez tam- bem no mesmo individuo segundo os annos. Assim se sabe por exemplo, que a maçaranduba não floresce todos os annos com a mesma abundancia, portanto não devemos admirar que o numero das flôres nas axillas das folhas seja variavel segundo o anno, e não podemos considerar este numero como absolutamente característico para uma certa especie. À conformação dos appendices exteriores das petalas e a fórma dos staminodios são sujeitas a peque- nas variações no mesmo individuo; e segundo o estado do desenvolvimento das flóres, o comprimento relativo d'estas partes e dos estames é bastante variavel. Maior incerteza existe ainda a respeito dos fructos, que para mui- tas especies ainda não são conhecidos ou existem nas ”. E 430 Arvores de borracha e de balata collecções só em poucos exemplares que nem sempre de- vem representar a norma da especie. Quanto ás partes vegetativas, é de observar que as dimensões das folhas variam dentro de limites bastante largos segundo que se trata d'uma arvore nova ou velha, de galhos vegetativos ou florescentes. Tambem a fórma pode ser variavel, prin- cipalmente a da ponta da folha, que pode ser, no mesmo individuo, acuminada ou arredondada ou mesmo recortada. Um caracter de folha que me parece mais constante e capaz de ser mais largamente utilizado para a systematica, é o aspecto microscopico da epiderme, principalmente na face inferior da folha, a presencia ou ausencia, fórma, ta- manho e conteúdo dos pellos unicellulares. Devido a estas circumstancias, a separação especifica das multiplas fórnias que se grupam ao redor da verdadeira balata, é sujeita a muitas divergencias entre os autores, tendo uns a tendencia de reunir certas fórmas que os outros querem separar como especies distinctas. Assim acontece que ainda na ultima publicação que trata d'este assumpto (Sym- bole antillance, Fam. das Sapotaceas, por L. Pierre e I. Ur- ban), um dos melhores conhecedores das Sapotaceas, L. Pierre, reune á especie Mimusops Baluta (Aubl.) Pierre, cujo typo é a verdadeira balata da Guyana, como variedades, um certo numero de fórmas existentes na ilha da Trindade e mesmo nas Antilhas, que (além de não fornecerem balata commercial) pelos seus caractéres morphologicos não mos- tram, segundo as descripções, mais affinidade com a ver- dadeira balata de que certas outras fórmas tratadas pelo mesmo autor como especies distinctas. Segundo as descripções de Pierre, as fórmas existen- tes na Ilha da Trindade: Mimusops balata var Sieberi Pierre (= Mimusops Stieberi A. DC.) M. balata var. Hartii Pierre e M. balata var. Cruegeri Pierre ( M. globosa Griseb. non Gaertn.), se distinguem por exemplo da verdadeira ba- lata pelas petalas exteriores bifidas ou bipartidas e pelos staminodios inteiros; seria portanto melhor separal-as como especies distinctas ou variadas d'uma especie differente. Tambem a Mimusops balata var. domingensis Pierre, de S. Domingos, seria (apezar de pouco conhecida) talvez mais opportunamente considerada como especie distincta, Arvores de borracha e de balata 431 da mesma fórma como as outras especies antilhanas, Mi- musops Riedleana Pierre (balata da Martinica) e Mimusops mitida Urban (de Porto Rico), que ambas são igualmente muito parentes da verdadeira balata. De todas estas especies não consta que forneçam a balata do commercio, apezar de terem muita affinidade com a verdadeira balata. A verdadeira balata que é limitada ás Guyanas, teria de chamar-se, segundo a terminologia de Pierre, Mimusops Balata (Aubl.) Pierre var. Schomburghvana Pierre. Como porém sob o nome de Mimusops Baluta foram confundidas diversas especies, não hesito em adoptar a maneira de ver dos autores inglezes (*), que eliminando este nome, ado- ptam o de Mimusops bidentata, publicado por Alphonse de Candolle no seu «Prodromus» (vol. VIII p. 204), com a primeira descripção detalhada e que corresponde melhor à verdadeira balata e só a esta. Ao menos nas Guyanas fran- ceza e ingleza,a Mimusops bidentata A. DC. (balata franc dos francezes, bully-tree dos inglezes) foi reconhecida como furnecedora da balata do commercio. Não sei se a balata mais afamada de Surinam vem tambem exclusivamente desta especie; em todo caso existe ali ainda uma outra especie, Mimusops surimamensis Miq., que aliás, segundo a descripção de Miquel (Flora brasiliensis, Sapotaces p. 43) é proxima parente de Mimusops bidentata. A arvore que fornece a balata de Venezuela, ainda não foi, ao que me consta, objecto de estudos aprofunda- dos, e se alguns autores chamam-na Mimusops globosa Gaertn., é provavelmente porque ella é tão mal conhecida e definida como esta especie de Gaertner (**). Portanto, quando falavamos da verdadeira balata, era sempre suben- (*) Como já indiquei n'um trabalho anterior, devo ao sr. dr. Otto Stapf, distincto conservador do Herbario de Kew. algumas valiosas infor- mações acerca da nomenclatura da balata das Guyanas. ) (**) Vistos os dados incompletos que temos sobre esta espeeie, tam- bem não me parece mais possivel estabelecer a identidade da Mimusops globosa com qualquer das nossas massarandubas ou maparajubas, como eu fiz, com alguma hesitação, num trabalho anterior (cf. Boletim vol. HI p. 442). Aliás as figuras de Gaertner, cuja copia devo à amabilidade do dr. Stapf, não concordam exactamente com as nossas massarandubas, sendo as sementes mais grossas. + MAE Faro : Ee 432 Arvores de borracha e de balata tendido que a unica especie reconhecida até aqui como forne- cedora da balata do commercio é a Mimusops bidentata DC, mas que é possivel e mesmo provavel que outras espe- cves apparentadas servem tambem para a extracção da balata, principalmente na Guyana hollandexa e no baixo Orenoco. Em geral póde-se dizer que dentro do genero Mi- musops, as balatas conhecidas até aqui fazem parte dum grupo, por ora mal limitado, de especies bastante seme- lhantes entre s1, das guaes só as da Guyana e da Vene- zuela fornecem até agora um producto commercial, em- quanto que as indigenas da ilha da Trindade e das Anti- lhas não servem para extracção de balata. Tomando o nome de balata n'este sentido mais lato, podemos dizer que a este grupo pertencem tambem as especies que na Amazonia se chamam Maçaranduba e Maparajuba e que servem para a extracção da balata amaxzonica. Sob o nome de maçaranduba e maparajuba conhe- cem-se aqui no Pará e tambem no Amazonas diversas es- pecies. de Mimusops, todas arvores altas (20-40 m), de tronco columnar, coberto duma casca cinzenta rachada longitudinalmente, de madeira pezada de côr avermelhada, tendo fructos globosos e bastante leitosos contendo uma ou duas sementes. “Todas estas arvores têm uma certa affinidade com a Mimusops bidentata DC. quer nos seus caractéres vegetativos (*), quer na estructura das suas flôres. Como o nome de maçaranduba é mais conhecido, ás vezes elle serve para designar todas estas especies, mas em geral distinguem-se as maçarandubas, de folhas gran- des (comprimento superior a 10 cm), das maparajubus, de folhas pequenas (comprimento inferior a 10 em). As Maçarandubas propriamente ditas, das quaes conheço duas especies paraenses, concordam com a M. bi- dentata DC. pelo tamanho e fórma das folhas, porém dis- tinguem-se d'ella pela estructura microscopica da epiderme foliar, pelos pedunculos menos numerosos e (ao ménos (*) Conversando eu a respeito com o sr. James Bouty, um dos iniciadores mais activos da exploração da balata no Pará, que por muitos annos tinha se familiarizado com a extracção da balata na Guyana ingleza, este senhor me affirmou que no aspecto geral e na estructura da casca não havia differença entre a nossa maçaranduba e o « bully-tree » da Guyana ingleza. Arvores de borracha e de balata 433 depois da florescencia) até duas vezes mais compridos que os peciolos, pelo ovario sempre 6-locular e pelo fructo globoso depresso, não ovoide. 7 Mimusops amaxonica Hub. nov. spec. — Esta especie, da qual temos especimens provenientes das ma- tas da estrada de ferro de Bragança, parece ser proxima parente da M. surimamensis Miq., sendo caracterisada pelas suas folhas completamente glabras, verdes de ambos os lados, quasi sem vestigio de nervuras lateraes na face inferior. O que distingue a M. amazonica da M. surina- mensis, é o comprimento dos pedicellos, que são mais compridos que os peciolos foliares. “ Moumusops elata Freire Allemão. — Esta especie é a : “mais commum, crescendo não só na terra fir- me, mas muitas vezes tambem nas varzeas altas. As suas folhas são um pouco maiores que na especie precedente (com os peciolos ellas podem ter até um palmo de comprimento), gla- bras e lustrosas por cima, cobertas por baixo duma camada amarellacea, formada por peque- nos pellos unicellulares grudados uns com os outros por uma materia amurella resinosa (*). N'ºesta especie os finos nervos lateraes e as suas ramificações menores, apezar de serem apenas proeminentes na face inferior, distinguem-se fa- cilmente por causa da sua côr mais escura. Encontrei esta especie nas matas da terra firme da estrada de ferro de Bragança, nas varzeas altas do rio Capim e em muitos outros logares. Ella facilmente se reconhece quando com folhas novas (julho até setembro), porque a sua copa então apparece d'um amarello dou- rado muito vivo, como se estivesse em flôr. (*) Na M. bidentata os pellos da face inferior da folha são mais numerosos, mais pequenos e não grudados uns aos outros. A sua superficie - é apenas coberta por pequenas granulações incolores, de maneira que elles parecem brancos ou cinzentos, apezar do seu conteúdo escuro. 40 — Bol. do Mus, Geeldi. . 434 Arvores de borracha e de balata N'um trabalho anterior (Bol. III p. 442) recusei-me a identificar a nossa maçaranduba com a Mimusops elata Fr. All., da Bahia e do Rio de Janeiro, porque então tinha eu só em mãos especimens da M. amaxzonica, que possue folhas menores e glabras. À identificação da nossa maça- randuba com a do Sul é aliás, apezar da concordancia na fórma e estructura das folhas, ainda sujeita a cautella, porque nem de uma nem de outra conhecemos as flôres. Emquanto que as maçarandubas ainda são mal co- nhecidas quanto ás suas flôres, os nossos conhecimentos acerca das Maparajubas são mais satisfactorios. Os ma- teriaes reunidos no « Herbario amazonico» permittem distinguir 3 fórmas, das quaes 2 devem-se considerar por ora como meras variedades d'uma especie, emquanto que a terceira constitue uma outra especie bem caracterisada. Todas estas especies mostram ainda uma affinidade es- treta com a Mimusops bidentata. As folhas grupadas na extremidade dos galhos geralmente bastante ramificados são pequenas (attingindo apenas 8-9 cm de comprimento), levemente coriaceas, obovaes alongadas, na ponta obtusas ou brevemente acuminadas ou emarginadas, na base mais ou menos estreitadas em fórma de cunho para o peciolo, que é fino e costuma ter pouco mais de 1 cm de com- primento. As flôres que se acham. mais ou menos nume- rosas nas axillas das folhas ou nas axillas de folhas ca- hidas, têm durante a florescencia os pedunculos dirigidos para baixo e relativamente curtos (inenos de 1 cm); depois da florescencia porém os pedicellos endireitam-se e che- gam a ter mais ou menos o comprimento dos peciolos. Quanto á flôr deve-se observar que ella é sempre hexa- mera, que as petalas exteriores são sempre indivisas (ape- nas observei ás vezes dois dentes rudimentares na ponta), e que os staminodios são simples ou mais on menos pro- fundamente bifidos (raramente em parte trifidos). O ova- rio tem 6 divisões; o fructo é globoso, liso, geralmente monospermo; a semente, de côr de castanha clara, é um pouco menos achatada que a das maçarandubas e tem a face dorsal arredondada. Mimusops Maparajuba Hub. nov. sp. tem folhas re- cortadas no apice, relativamente grossas, com- , à Arvores de borracha e de balata 435 pletamente glabras, com as nervuras immersas. As flôres que nos nossos especimens são quasi todas passadas, têm sepalas glabras, stamino- dios simples, triangulares subulados, um stylo bastante grosso que é apenas do comprimento das sepalas. — Achei esta especie no rio Capim; ella fornece uma lenha excellente para vapores. “ Mimusops paraensis Hub. nov. spec. tem as folhas ps cobertas na face inferior por uma camada se- melhante á da M. elata, porém as nervuras lateraes não são tão bem pronunciadas como nesta especie. As sepalas exteriores são cobertas por um feltro semelhante ao da face inferior das folhas, as 3 interiores têm no dorso um tomento cinzento esbranquiçado; os staminodios são bifidos. O stvlo é fino e mais comprido que as sepalas. D'esta especie pódem-se distinguir duas variedades: “var. «. densifloru, com folhas bastante cla- ras por cima (no estado secco), fulvo-amarellas por baixo; com flôres muito numerosas e den- sas; os staminodios são divididos até o terço ou apenas até a metade, as autheras divergem bastante na parte inferior; ) var. 5». discolor, com folhas virando do amarello ao cinzento claro por baixo, escuras por cima (no estado secco), com flôres menos densas; os staminodios são divididos além da metade, as antheras são quasi parallelas. A primeira d'estas variedades vem-nos do Furo do Arrozal, sob o nome de maçaranduba; da segunda temos diversos exemplares da es- trada de ferro de Bragança e do rio Capim. De todas estas especies, as seguintes me são conhe- cidas como fornecedoras de balata commercial: Mimusops amazonica, M. elata, M. paraensis var. discolor. Parece po- rém que só as verdadeiras maçarandubas fornecem um bom producto e que a balata das maparajubas é menos bôa. Geralmente o leite de todas estas arvores e talvez “234 436 Arvores de borracha e de balata Synopse das especies de Mimusops do grupo das Balatas Species antillana. Mimusops domingensis ( M. Balata var. domingensis Pierre) — 8. Domingos. » nitida Urb. — Porto Rico. » Riedleana Pierre — Martinica. Species trinitenses. Petala exteriora saepius bifida vel trifida, staminodia integra, ovarium 6-9- loculare. : Mimusops Sieberi DC. (M. Balata var. Sieberi Pierre) foliis obovatis, emarginatis, subtus leviter griseis, breviter pubescentibus. » globosa Griseb. non Gaertn. (M. Balata var. Cruegeri Pierre) foliis obovato- oblongis, obtusis vel rotundatis, glabris concoloribus. » Hartii ( Mimusops Balata var. Rartii Pierre) foliis obovatis acuminatis, supra lucidulis. Species guianenses. Petala exteriora integra vel rarius 1-3-fida, staminodia apice bidentata, ova- mum 6-10-loculare, fructus ovoideus. Mimusops bidentata DC. (M. Balata var. Schomburgkii Pierre, M. Balata Jum,, ! Sapota Muelleri Bleekrode.) — foliis obovatis, subtus pilis minutissimis haud conglutinatis obscure griseo-velutinis, pedi- cellis ultra 10, petiolo subaequilongis. , surinamensis Miq. foliis obovato-oblongis, glabris, pedicellis 6-10 petiolo bre- vioribus. 1 Species amazonice. Petala exteriora integra ( vel apice minutissime 2-dentata ), staminodia bi- fida (excl. X. maparajuba) ovarium 6-loculare, fructus globoso-depressus mono- vel dispermus. A. Folia ultra 10 em longa, pedicelli post anthesin petiolis longiores, fructus vulgo dispermus, semen compressum dorso carinatum. ( Maçaranduba ). “é aiii ae ppp fa ria Hub. n. sp. foliis 6-14 em (vulgo 10-12 em )longis obovatis basi cuneatis glaberrimis, concoloribus, nervis II subtus indistinctis. ga Y É , elata Freire All, foliis 8-21 em (vulgo 15 em) longis obovatis basi obtusis vel breviter acutis, subtus pilis resina conglutinatis aureosericeis, nervis II venulisque subtus colore saturatiore vptime notatis. B. Folia infra 10 em (vulgo 8-9 em) longa, pedicelh post anthesin petiolum sub- aequantes, fructus vulgo monospermus, semen turgidum dorso rotundatum ( Ma- parajuba). —Mimusops maparajuba Hub. n. sp. folia concolora glabra, nervis II venulisque im- mersis, sepala glabrescentia, staminodia simplicia, triangulari- subulata, stylus crassus sepalis aequilongus. ; paraensis Hub. n. sp. folia discolora, nervis II subimus tenuiter prominen- tibus sepala exteriora dorso pilis resina conglutinatis viridi-fla- vescentia interiora albido-tomentella, staminodia apice bifida, stylus gracilis sepalis longior. “q y Var. a densiflora Hub. folia supra pallida subtus fulvo-flavescentia, | apice emarginata, flores densissime in ramulis congesti eosque omnino obtegentes, staminodia ad tertiam partem vel vix ad medium bifida. antherae basi sat . divergentes, j Var. 5 discolor Hub. folia superne fuscescentia, subtus flavescentia : vel canescentia, apiceobtusa vel brevissime obtuseque acuminata, flores laxius K | dispositi (2-4 inaxilla), staminodia ultra medium bifida, antherae snbparallelae. d Arvores de borracha e de balata 431 ainda de outras especies é indifferentemente utilisado para os fins industriaes. Sobre a distribuição geographica das especies que acabamos de enumerar, ainda não se sabe grande cousa, tanto mais que o povo confunde-as frequentemente en- tre si e talvez com outras especies ainda não conhecidas scientificamente. Sabe-se porém que tanto as maçarandu- bas como as maparajubas encontram-se por todo o valle amazonico, dam modo geral preferindo aquellas a terra firme, estas as varzeas. Mesmo em terrenos profundamente alagados durante o inverno e ao -lado de arvores caracte- “risticas dos igapós, as maçarandubas e as maparajubas po- dem achar condições favoraveis de existencia, como me convenci no alto rio Purús, nas visinhanças da bocca do Acre. 438 Molestias que affectam os animaes domesticos VII MOLESTIAS QUE AFFEGTAM OS ANIMAES DOMESTIGOS MORMENTE O GADO NA ILHA DE MARAJÓ Pelo SNR. VICENTE CHERMONT DE MIRANDA ENGENHEIRO CIVIL A ESPONJA Causa extranheza não ter, uma molestia tão caracte- ristica e patente como a esponja, occupado a attenção dos habeis profissionaes. que têm visitado Marajó. Ainda ninguem. que o saibamos, se occupou no Brazil desta curiosa affecção, apparecendo este como o primeiro estudo a respeito. Definição — A esponja é uma chaga tufosa de origem parasitaria, de um vermelho-escuro intenso, sangrenta, sem tendencia a cicatrizar. cuja superficie distilla uma sanie fluida e rosada. com ausencia, póde-se dizer, completa de pús e no (*) Debaixo d'este titulo collectivo principiamos aqui a publicação de uma serie de trabalhos menores que não devem a sua origem à inspira- ção directa do Museu Estadoal, nascendo independentemente da iniciativa particular e pessoal de um observador das cousas da natureza tão atilado quao zeloso e embebido do ardente desejo altruistico, de ser util aos seus concidadões e com especialidade aos seus collegas de classe de fazendeiro marajoira pela exposição liberal e generosa dos resultados de experiencia de longos annos na pratica, em parte com duros sacrificios adquirida, da criação de gado, particularmente no terreno veterinario. Pensando de servir o interesse da utilidade publica, não hesitamos em acolher com a merecida hospitalidade, nas columnas do nosso periodico, do Museu estes artigos do nosso amigo snr. engenheiro civil Vicente Cher- mont de Miranda, declarando que a responsabilidade plena e integra do conteúdo cabe ao autor. BELEM DO PARÁ, A Redacção do Nov. 1904 « BOLETIM » a Molestias que affectam os amimaes domesticos 439 fundo da qual- sempre se encontram granulações mais ou menos volumosas. Etiologia — Suppõe-se, aqui no Pará, que a esponja é uma enfermidade local, circumscriptalá região amazonica, Não é isso exacto. A verdade é que ella reina em todos os paizes quentes ou temperados, não só do continente ameri- cano como da Europa. Em França conhecem-n'a sob o nome de chaga estival (plaie-d”été), ou de chaga granulosa ou ainda de dermite granulosa. Foi H. Bouley o primeiro que a descreveu em 1850; coube porem a Rivolta, em 1568, a honra de descobrir-lhe o parasita causador: é um nematode de tres millimetros de comprimento, fino como um fino cabello, o qual produzindo as 'granulações, nellas se engloba e vive. Deu-lhe o sabio zoolatro italiano o nome de Dermofilaria irritans, modificado pelo professor Railliet em Filaria irritans, hoje acceito defi- nitivamente. A tenacidade da molestia, tão difficil de ser curada, provem de pór-se o parasita ao abrigo, dentro das granula- ções, e de estarem estas ainda no fundo da ulcera, sob toda a crassicie das carnes esponjosas. Isso tambem explica ser a extirpação das raizes da esponja, nome dado pelos vaqueiros às granulações, sufficiente para promover a cicatrização. Acha-se arraigada em Marajó a crença de provir a esponja da picada de um insecto aquatico: a barata d'agua. Symptomas-Marcha — Ainda não vimos a esponja no seu primeiro periodo: temol-a sempre observado depois de ja ter invadido grandes superficies. E' demais conhecida na ilha, grassando tambem com frequencia no baixo-Amazonas. Vulgar na zona torrida, vae diminuindo à medida que se afasta do equador, sendo rara nos paizes temperados e quasi desconhecida nos climas frios. Ataca sómente o cavallo, gosando de absoluta immu- nidade todos os outros animaes domesticos e silvestres. Assáz commum nas fazendas onde os pastos altos -alter- nam com os pouco alagados, e nos campos demais submersos: é relativamente rara nos uniformemente seccos. Não sabemos de caso algum de contagio: não obstante as cavalhadas se acharem reunidas em lotes, um animal es- 140 Molestias que affectam os animaes domesticos ponjoso póde ficar mezes com outros sãos sem propagar a molestia. Confessamo-nos inscio do modo pelo qual o entozoario se introduz no tecido muscular sub-cutaneo. Faz sua apparição no periodo da cheia, jamais no da secca. Encontram-se na chaga umas granulações de fórma bastante irregular. brancacentas. de contextura notavelmente compacta. situadas assáz subjacentemente à superficie es- ponjosa da ferida: d'essas concreções, algumas vezes do vo- lume de um grão de milho. proliferam rebentos aclavados, que se acham com a ponta quasi à flôr da ulcera nos got- tejantes orificios sanieductos. Tambem se encontram corpus- culos espheroides molles. do tamanho de um grão de pimen- ta do reino. A chaga desprende um mão cheiro especial. A molestia progredindo destrõóe a pelle adjacente. fórma novos orificios, afôfa as carnes. amplia a superficie aposte- mada de um modo assustador. Novas granulações se fórmam rapidamente, tomando em curto tempo a ulcera proporções formidaveis. Não são raras as esponjas que, solapando toda ou quasi toda a circumferencia da perna, medem vinte cen- timetros de alto a baixo. Tambem algumas vezes vê-se um animal com duas ou tres ulceras esponjosas ao mesmo tempo. Os logares mais commummente selectos pelo parasita são as extremidades, do joelho para baixo até ao casco: mas observam-se cavallos com essas chagas no ventre, no peito e até no pescoço. N'estas trez ultimas partes affectam ellas a fórma cir- cular com um diametro algumas vezes de vinte e cinco cen- timetros. O nivel da ulceração é usualmente um tantito supe- rior ao da peripheria sã. Prognostico — Não ha exemplo de sarar espontanea- mente a esponja. Não sendo tratada em tempo faz emma- grecer o animal, cujo appetite diminue e que por fim tris- tonho, em extremo emmaciado, no ultimo periodo da cachexia, cae para nunca mais levantar-se. Diagnostico —O rapido augmento da chaga, o afófado da superficie ulcerada, os orifícios por onde escorre o liqui- Molestias que effectam os animaes domesticos 441 do sanguinolento e sobretudo as caracteristicas raizes não deixam duvida sobre o diagnostico. Tratamento — À extirpação das granulações e com ellas as filarias é meio proficuo, mas exige a prévia apara- ção das carnes esponjosas que as cobrem e escondem: é operação que demanda pessoal idoneo. Cortadas as carnes superficiaes, se a ferida sangra demais, a applicação de um ferro em braza estanca o sangue. Em segundo logar vem a cauterização pelo fogo, a nosso, ver, o melhor. o mais rapido e o mais economico cu- rativo d'esta tenacissima molestia. Se a esponja é no machinho ou em logar onde as con- creções não estejam a grande profundidade, a cauterização “superficial é sufficiente. Para ella empregam-se cauterios es- phericos, oblongos, ou mesmo quadrados. O modus operandi é o seguinte: aquecidos os cauterios ao rubro scintillante, collocam-se sobre a esponja apertando-os moderadamente contra ella, e assim conservando-os por vinte a trinta se- gundos. Applica-se um cauterio sobre um ponto, e depois — em seguimento a este outro, até ter applicado o ferro em — braza sobre toda a superficie ulcerosa. ) Quando a esponja mostra uma camada espessa de carnes tufosas cobrindo as raizes. a cauterização, para poder exer- cer a sua acção salutarmente desorganizadora, deve ser feita com cauterios conicos ou ponteagudos que se applicam até desvermelhar no tecido profundo da ulcera. Ei Praticam-se com os cauterios ponteagudos uma série - de queimaduras fundas, até às raizes. tangentes umas às ou- tras; primeiramente encostadas à pelle sã: junto a estas cau- - terizações, em um circulo concentrico a mesma operação e “ bem unidas as queimaduras do segundo circulo às do pri- - meiro. e assim por deante em circulos concentricos até ao centro. À Na fazenda Larangeiras, os seus intelligentes socios- gerentes, usam de um processo mixto: effectuada a cauteri- zação aparam as carnes queimadas. em seguida esgravatam cuidadosamente as raizes todas, obtendo por este modo a cura radical com uma ou duas operações. Precisa-se de cinco a seis cauterios para não demorar 442 Molestias que affectam os amimaes domesticos demais a operação: resfriado um. toma-se do fogo outro candente. Os ferros de cova. os de marca ou divisa usados actualmente para esta cauterização devem ser substituídos, por serem deficientes. por ferros especiaes de fórma ra- cional. Algumas esponjas pertinazmente resistem às primeiras cauterisações porque escapam algumas filarias, que de novo proliferam. Carece iterar a operação uma ou muitas vezes para obter-se a definitiva cura. A “thermo-cauterização feita a ferro de cova, falha fre- quentemente, porque não póde ser levada a sufficiente pro- fundidade para destruir a vitalidade do parasita, porquanto sendo o ferro chato e fino depressa esfria, agindo apenas sobre a superficie. Nos animaes meio bravios de Marajó, dispondo-se de apparelhos de contensão grosseiramente primitivos como o são as simples finas cordas de laçar, de couro crú, que tanto maltratam os animaes peiados, a applicação do ferro em braza é difficil, como dificil é estabelecer um contacto prolongado de causticos chimicos energicos com a superficie ulcerada. | Vinte e quatro horas depois da operação, quer prove- nha da thermo-cauterização, quer da chimico-cauterização. as carnes esponjosas contrahem-se; com essa contracção des- pontam pelos orifícios algumas raizes. Destruidos todos os entozoarios pela reiterada acção do medicamento, a côr intensamente rubra empallidece, a apparencia da superficie ulcerada torna-se mais consistente: a chaga sécca; o processo da refacção das carnes começa, a cicatrização caminha lentamente, levando dois a tres mezes para sarar completamente. mas deixando sempre uma enorme e indelevel cicatriz, que nunca mais encabella. E" vulgar a reincidencia no animal della uma vez curado. Nunca observamos dar a bicheira na esponja: mas de- pois de curada, emquanto não sára completamente, a vare- jeira algumas vezes nella deposita ovos. As substancias as mais fortemente antisepticas tambem são empregadas com bom exito, sobretudo aparando a ca- Molestias que affectam os amimaes domesticos 443 mada esponjosa. Entre ellas apontamos a creolina, o sulfato de cobre, o sublimado corrosivo, o acido phenico, o acido chorhydrico, o permanganato de potassa. A creolina pura, nas pequenas esponjas ainda em co- meço, algumas vezes fal-as sarar. O sulfato de cobre em. pô é um dos melhores medica- mentos para as chagas granulosas. Temos sido por diversas vezes bem succedido com a applicação de uma camada de meio a um centimetro de espessura de sulfato de cobre finamente porphirisado, conservada durante vinte e quatro “horas, por meio de ligaduras apropriadas, sobre a ferida. Com trez ou quatro applicações, algumas vezes somente com duas, obtem-se a cura. =» O acido chlorhydrico, dissolvendo as concreções, vae atacar o parasita lá onde elle se acastella. Temos obtido bons resultados com este acido, mas depois de muitas appli- cações. O acido phenico puro também dá resultados satisfacto- rios, porem absorvivel. póde causar o envenenamento quando o seu uso é prolongado. A solução forte de sublimado corrosivo é empregada com as mesmas vantagens e com os mesmos inconvenientes do acido phenico. HJ O MAL TRISTE Mal triste, mal da passarinha, peste das baixadas, tristeza, febre spleenica, carbunculo bacteridiano, bemoglobinemia bacte- ridiana do bovino, febre carbunculosa, febre do Texas, moles- tia infecciosa septicoide, febre palustre perniciosa, febre de Hespanha, hematuria microbiana, hematoglobinuria parasitaria, carcoma, tabardillo, além de muitos outros, são os nomes pelos quaes é conhecida uma molestia cujos symptomas es- senciaes são o mijo de sangue e a hypertrophia enorme do baço. Definição — O mal triste é uma molestia microbiana excessivamente contagiosa, enzootica ou epizootica, febril, de 44 Molestias que affectam os animaes domesticos marcha agudissima. aguda, ou sub-aguda, sempre fatal no primeiro caso, e caracterizada pela hemoglobina na urina e pelo hypertrophiadisssmo estado do baço. Historico — Enzooticamente existe o mal triste em Ma- rajó, de ha muito. sem que se possa por falta de documentos precisar a data da sua constatação. De duas epizootias tra- taremos: a primeira. que grassou por toda a ilha, e a se- gunda. que appareceu e ficou localizada no cercado do Jutuba, municipio de Soure. Em 1884 o sr. coronel Francisco Bezerra, então mar- chante, iniciou a importação do gado cearense, por ser já insufficiente a producção de Marajó para o abastecimento da capital amazonica. Nas turmas d'esse gado, transportado em embarcações à vela, algumas cabeças. demais magras ou mofinas, eram condemnadas pelo inspector do curro: não podendo abatel- as, o seu proprietario fel-as seguir para a sua fazenda Tapera. no municipio de Soure. Com esses bois deu entrada na ilha o mal triste. Da Tapéra alastrou pelas fazendas vizinhas, espalhando-se progressivamente por todos os outros munici- pios criadores. Essa epizootia causou um prejuizo de vinte mil rezes approximadamente, segundo a estimativa do mes- mo coronel Bezerra. Na nossa fazenda Boa-Vista. na costa insular banhada pelo Amazonas, em todos os principios da sécca um mal apresentando os symptomas do carbunculo bacteridiano agudo e sub-agudo victimava algum gado grosso, até que em 1599, tomando desusado incremento, tornou-se desoladoramente epi- zootica, matando setecentas e tantas cabeças. D'ahi irradiou para as fazendas vizinhas Arraial e Ribanceira, tambem nossas, onde, por junto, deu conta de trezentas e quan É tantas rezes mais. Em 1900. quando já a epizootia se achava completa- mente extincta, fizemos conduzir da Boa-Vista para a fazen- da Jutuba, cinco vaquejadas, para repovoar os campos d'essa fazenda. despovoados pelo roubo. Logo com a primeira tur- ma, quatro ou cinco dias depois da chegada. appareceu in- tensamente o mal triste, e ao chegar cada vaquejada. o mal. em declinio, atacava os recemvindos attingindo em dez a quinze dias a maxima mortalidade. Molestias que affectam os animaes domesticos 445 D'essas oitocentas e trinta rezes, quasi todos os novi- lhos e garrotes succumbiram, muitos bois, novilhas e vaccas solteiras tambem morreram, bem como algumas garrotas e garrotinhas. Das vaccas com cria mui poucas fôram ataca- das: sómente tres bezerros lactantes vieram a fallecer: não podemos, porem, affirmar, que os tivesse victimado o mal triste, porque não tivemos occasião de vél-os. O numero de cabeças perdidas por essa peste foi de duzentas e sessenta e seis ou 32 º/o. A violencia do mal, o numero consideravel de animaães “empestados ao mesmo tempo, a qualidade bravia do gado, obrigaram-nos a assistir quasi de braços cruzados ao prejuizo. À cerca de arame, que isolava essa solta das fazendas vizinhas, fez-com que a epizootia irrompesse, causasse seus estragos e fenecesse sem propagar-se pelas immediações. Ficou localizada em uma área de setecentos e cincoenta hectares. O administrador da Boa-Vista deu-nos como causa da epizootia o facto de ter a primeira vaquejada atravessado uma fazenda onde haviam apparecido alguns casos do mal. Soubemos, porém, mezes depois, que essas vaquejadas haviam sido conduzidas em deploraveis condições. O supra citado administrador. estupidamente, havia escolhido o caminho mais curto, mas sem bebedoiros, de modo que o gado des- sedentava-se às pressas, insufficientemente, só uma vez por dia, ficando no fim da viagem um dia e meio sem beber! Quem percorrer os campos marajoenses durante o tor- rido verão, comprehenderá logo que essa falta d'agua na economia predispoz os animaes a contrahirem o morbo, se não foi a causa efficiente. Em Marajó, durante o estio, o forte vento nordeste re- lativamente secco, evaporante em alto grau, o calor de 32º centigrados à sombra, e o sol a escaldar o corpo, obrigam tanto o homem como os gados a beber muita agua mesmo em condições normaes: imagine-se portanto que desordens não provocará a falta d'agua n uma rez que percorre, a passo ou a meio trote, vinte e cinco a trinta Iilometros pelo sol, pela suffocante poeira, sem beber, e ainda. depois de um dia assim passado, ficar fechada a noite inteira no curral nas angustiosas ancias de uma sede horrorosa! 446 Molestias que affectam os animaes domesticos Esta molestia, a que mais apavora os criadores, existe ec foi constatada na Europa, desde as regiões glaciaes da Finlandia até ao clima ameno da Sardenha e do sul da pe- ninsula italiana: desde as ubertosas pastagens normandas até aos monotonos steppes russos. A“ Africa austral, como a Tu- nista, a Argelia são por ella assoladas. Nos Estados-Unidos causa immenso damno por toda a extensão dessa pujante nação, sobretudo no “Texas onde em 1796 foi primeiro constatada. Na Argentina igualmente, com o nome affim de tristeza, € bem conhecida. No sul do nosso paiz devasta as manadas com os nomes de peste, peste das baixadas, mal da passarinha, carbunculo e mal triste. Mas se os nomes pelos quaes a conhecem nos differen- tes paizes differem, a identidade do morbo revela-se pelos. constantes symptomas, sempre os mesmos: febre, hemoglobi- nemia, urinas arroxeadas ou nacaradas, inchação considera- vel do baço, adynamia profunda. Etiologia — Uma molestia tão universalmente espalhada por todo o globo, que tão grandemente affecta a fortuna publica, deveria ter sido objecto de acurados estudos por parte dos scientistas zooiatricos. E assim de facto tem acon- tecido: Smith, ISilborne, Schrader, Perroncito, Bonome, Babo. Lodovico, San Felice e muitos outros têm publicado traba- lhos de alto valor sobre o assumpto: mas se existe concor- dancia nos symptomas por elles descriptos, não são accordes quanto ao organismo incriminado. Começam por discordar quanto à sua classificação: uns collocam-no entre os proto- zoarios, outros o dão como uma bacteria; Smith e Kilborne affirmam ser um protozoario e denominam-n'o Pyrosoma bi- geminim; Wandolleck o chama Apiosoma; Bonome baptisa-o de Amoebasporidies; o italiano Perroncito deu-lhe o nome de Proteus virulentissimus; Babo tem-n'o como de origem pa- lustre e bacteriforme. O que se collige de todas estas divergencias é que o micro-organismo do mal triste tem sido insufficientemente observado. Os já citados americanos Smith e Kilborne descobriram nos intestinos do carrapato, Boophilus bovis, o hematozoario Pyrosoma bigeminum, que, encontrado nos animaes carbun- culosos, é por elles apontado como a causa do morbo. Molestias que affectam os amimaes domesticos 44% D'essa coincidencia temerariamente concluíram, que é o carrapato o inoculador, no bovino, do germen infeccioso, dando como provavel ser esse sporozoario retirado pelo car- rapato dos solos paludosos. Schrader e San Felice apadri- nharam, com sua reconhecida competencia, a theoria yankee, a qual recentemente vimos uma revista agricola e pastoril argentina, (publicação de grande utilidade, cujo similar não existe infelizmente no nosso paiz, impressa sob a egide do proprio governo) dar como uma conquista definitiva da sclencia zoolatrica. Nossa opinião, baseada na experiencia quotidiana, é contraria à desses eximios mestres. Porque encontraram no ixodo esses micro-organismos, existentes no sangue dos car- bunculosos, inferiram que é elle o seu introductor na econo- mia do bovino. Emquanto não houver experiencias concludentes, recu- samos reconhecer nessa descoberta a expressão da verdade sclentifica. Os factos que vemos diariamente contradizem-n'a re- dondamente. Na ilha de Marajó encontram-se campos quasi isentos de carrapatos: são os baixos. lavrados e limpos, geralmente centraes. Em opposição a estes. possuimos algumas zonas in- festadissimas pelo ixodo: são os pastos junto aos igarapés, orlados de mato, os pastos cobertos e aquelles onde as pas- tagens alternam com numerosas reboladas de arvoredo basto. A fazenda Boa-Vista pertence à primeira cathegoria: nella não se encontra no gado nem nos tesos o carrapato. Alguns raros podem ser retirados dos camaleões (Iguana), numero- sos nos aturiazaes d'essa fazenda, que, quasi immune de carrapatos, tem no emtanto sido duramente flagellada pelo mal triste. Os “estabelecimentos pastoris onde existem matos são mui sujeitos à acariáse: assim as fazendas Carmo, Santa Maria, Teso, Livramento, Santo Antonio, Sacramento, São Lourenço, etc., etc., têm os seus bovinos no começo do verão apoquen- tados pelo carrapato sem que o mal triste ahi tenha appa- recido de 1885 para cá. Não é verdade. portanto, o que diz a revista argentina — Boletim de Agricultura y Ganaderia — quando assevera que puede asegurarse que la intensidad de la 448 Molestias que affectam os animaes domesticos enfermedad está en relacion directa con la cantidad de carra- pata que existe en cada localidad y que desaparece ó recrudece, segun se extinga ó aumente esta. (1) Do que temos observado podemos affirmar que, mesmo nos campos multidensamente povoados de carrapatos, o bo- vino marajoense não mateiro, são, nédio, aclimatado, pouco é atacado, mas a rez recemchegada, mateira, de pelle fina, bem como a adoentada, anemiada, ou enfraquecida é extra- ordinariamente atormentada por este epizoario. N'esses ani- maes a papada e as entrecoxas sobretudo desapparecem pela descommunal quantidade d'estes bichinhos agarrados à pelle. O sr. dr. Demetrio Bezerra, fazendeiro, importando da Europa dez cabeças de gado hereford, holstein, normando e durham remetteu-as para a sua fazendola Villa Octavia, cuja superficie é coberta mais por arvoredo do que por pasta- cem. O feitor, negro cachaceiro, desmazellado, deixou essas rezes puro-sangue, de pelle mimosa, abandonadas no campo. Deshabituadas de procurar em grandes areas o pastio quo- tidiano, como o nosso boi indigena, flagelladas pela immun- dicie, abundante durante as chuvas n'essa parte do municipio de Soure, emmagreceram e fôram assaltadas enormemente pelo carrapato. Quando o dono, indo a essa fazenda, as viu. estavam em lastimosissimo estado. Mandou-as conduzir para a cidade de Soure onde as vimos cobertas por milhares de carrapatos. Esses bovinos apresentavam os symptomas de depauperamento profundo, magros, arripiados, mas ausencia de qualquer indício do mal triste. A acariáse concorreu por certo, e muito, para matal- os, mas não inoculou-lhes germen algum que fizesse suspel- tar a existencia do carbunculo. A enseada cercada de arame, do Jutuba, onde grassou a epizootia de 1899, com seus matos marginaes aos igarapés Jutuba e Aturiá, sempre tão inçados de carrapatos, foi fa- zenda prospera de 1862 a 1889; nella Barata e Paiva con- servavam grandes boiadas em deposito sem nunca ter ap- parecido ahi o mal triste. Em algumas partes d'esses matos o ixodo é em quantidade tal, que basta por elles andar-se (1) Boletim de Agricultura y Ganaderia — Aão I — Num. 11 — Pag. 14. E o. E Molestias que affectam os animaes domesticos 449 durante cinco minutos para encontrar-se nas roupas cen- tenas e centenas de carrapatinhos, ligeiramente caminhando à cata de qualquer intersticio por onde possam chegar à pelle. Koch, partidario da intervenção do carrapato como propagador do agente virulento, descobriu que. no Brazil, é o conhecido pelo nome de Haemaphysalis rosea. que desem- penha esse papel: o mesmo H. rosea, que Nelson, engenheiro agronomo, accusa de propagar a tristesa na Argentina. Hae- maphysalis rosea e Boophilus bovis são dois nomes differentes para o mesmo carrapato, de especie cosmopolita, encontrado no mundo inteiro, e que possue mais nomes do que um fidalgo portuguez. Além d'esses dois deram-lhe mais outros dos quaes parece ser mais acceito o de Rhipicephalus annu- latus, segundo Neumann, professor da escola veterinaria de Toulouse e autoridade acatada quando se trata de parasitas dos animaes domesticos: a menos que não venha a vingar o de Ixodes americanus dado por Linneo. O Boletim de agricultura e ganaderia, bem como outros autores, tratam do mal triste e do carbunculo bacteridiano como duas molestias distinctas, reservando o termo car- bunculo à fórma fulminante e applicande às outras duas, aguda e sub aguda, os multiplos synonymos: tristeza, febre spleenica, hemoglobinemia, etc., etc. Contra esta classificação temos uma objecção a oppôr: um argumento de valor. E' o facto de, na epizootia do Ju- tuba, o gado ter sido atacado ao mesmo tempo pelas trez fórmas: o typo fulminante feria de preferencia o gado adulto. sobretudo a garrotagem: o agudo também preferia o gado erosso, emquanto que o gado miudo succumbia quasi exclu- sivamente ao mal sub-agudo. Se nos fóôsse permittido, comparariamos o mal triste fulminante ou carbunculo bacteridiano á nossa tão temivel febre perniciosa, que em dois ou tres dias mata o individuo o mais robusto e as outras duas fórmas mais demoradas, às febres palustres graves tão communs nos seringaes dos af- fluentes amazonicos, com as quaes o mal triste tem pontos de contacto não só nos symptomas como nas lesões patho- logicas. Até hoje passa como certo que a malaria sob qual- 42 — Boletim do Museu Geeldi. 450 Molestias que affectam os animaes domesticos quer fórma que se apresente, desde as mais graves até às mais benignas, é devida ao mesmo micro-organismo. Symptomas —O mal triste affecta numa mesma epi- zootia tres typos distinctos: no primeiro, a rez dura algumas horas, no maximo trinta e seis. São especialmente os machos adultos inteiros que o mal agudissimo accommette. No segundo a duração vae até cinco dias. Na fórma sub-aguda a molestia dura até doze dias. A cura do mal fulminante nunca se dá, nem esponta- nea, nem pela intervenção do homem: toda a rez contagiada por esse modo, não escapa. Pouquissimas cabeças resistem ao mal agudo, e ao sub-agudo cérca de 12 a 18 º% das enfermas são poupadas. A rez fulminada pelo carbunculo bacteridiano não tem tempo de emmagrecer; seus musculos apresentam a appa- rencia dos de um animal são. Sob esta fórma rapidamente mortal ataca sobretudo os toiros, os novilhos e garrotes. De setenta rezes d'esta cate- goria, na epizootia do Jutuba, sómente escaparam oito. Às vaccas com cria lactante são pouco sujeitas ao contagio, e os bezerros, quasi immunes: de oitenta e tantas crias morre- ram apenas trez, sem estarmos ainda certo, como já disse- mos, de terem sido victimadas pelo mal. O mal galopante e o mal agudo patenteiam os sympto- mas característicos de uma affecção typhica: febre intensa, abatimento profundo, tremor no vazio, rigidez paralysante dos musculos quer dos quartos posteriores, quer anteriores. O animal ainda em pé. quando enxotado. se quer ca- minhar, oscilla para traz e para deante e tomba. Se cae de joelhos, fica nessa postura. genuflexo, com a cabeça encos- tada ao sólo e o trazeiro erecto por longo tempo. Cahido, custa a levantar-se de novo, se não fica prostrado. Em al- guns ha um estado adynamico consideravel: em outros, nota-se uma agitação impotente acompanhada de mugidos plangentes, verdadeiros gemidos, por trez, quatro ou cinco horas, até a terminação fatal. Nos typos agudo e sub-agudo, tambem ha tremor no vazio, tremor que não póde comtudo ser considerado como typico, porque todas as molestias infecciosas. quer seja esta que nos occupa. quer a febre typhoide, quer a sepficemia. a Molestias que affectam os animaes domesticos 451 quer a pneumonia infecciosa, o mostram. N'essas fórmas a molestia é acompanhada de consideravel abatimento. O doente mostra-se triste. indifferente, de orelhas cahidas, inappetente. A ruminação desapparece: o emmagrecimento é rapido: as urinas são carregadas ou roscas: o pêlo torna-se hispido e «tuira ». Pelo exame, post mortem, no mal agudo e sub-agudo, verificam-se as seguintes lesões: O sangue fluido e descolorido, apenas nacarado, como “agua na qual se lavou carne: o estomago geralmente cheio de capim. tem o folhoso como que friavel; facilmente os folliculos rasgam-se a qualquer puchão. O figado não tem a consistencia do orgão são: por qualquer pressão do dedo sobre elle deixa-se penetrar. O baço, com um volume enorme, mostra uma côr rôxo-escura igual à do vinho do assahy. Os rins acham-se engorgitados e congestionados. ' Cinco mezes depois de ter a epizootia cessado comple- tamente, um garrotinho turino levado da capital para o Ju- tuba. uma semana depois da sua chegada, mostrou as pri meiras manifestações do mal sub-agudo, durando dez dias. Depois da queima estival. o gado introduzido no cer- cado deixou de adoecer. Nos ultimos dias da epizootia e por mais tres mezes appareceram diversos casos de pustulas malignas na fazenda Jutuba e na margem opposta do rio Camará (que a limita pelo poente) desde a fazenda Santa Maria a 5 kilometros acima, até à povoação do Camará a 7 kilometros abaixo. Convem notar que nas terras de Santa Rita, misticas pelo nascente, portanto a barlavento. nenhum dos seus SO habi- tantes foi atacado. Dos 13 moradores da fazenda Jutuba — 9 adultos e 4 creanças— 5 dos primeiros soffreram do car- bunculo symptomatico nas mãos e nos braços, mas nenhum caso houve fatal. Na povoação do Camará, com uma população de 150 pessoas contaram-se trinta e tantos casos, dos quaes 5 fataes: 3 adultos e dois menores. No mato marginal dos igarapés Jutuba e Aturiá, que em toda a sua extensão limitam a fazenda ao norte e ao sul, havia n'esse tempo alguma praga. 452 Molestias que afectam os animaes domesticos Diagnostico — Se uma molestia, com febre intensa, abatimento profundo, urinas carregadas ou cór de rosa, tre- mores no vazio, atacar muitas rezes ao mesmo tempo, póde- se ter como certo que se trata do mal triste. O exame ca- daverico tirará qualquer duvida, se ainda existir, verifican- do-se a côr preta-arroxeada do hypertrophiado baço, e as demais lesões escriptas supra. Prognostico — Na fórma fulminante o mal triste é sem- pre fatal; na aguda a gravidade da molestia é pouco menor: na fórma sub-aguda algumas rezes escapam em numero não superior a 18 “%. N'este caso o animal, emquanto dura a doença, emmagrece rapidamente, ficando litteralmente em pelle e ossos. À convalescença é demoradissima, leva a rez olto a nove mezes para readquirir a primitiva corporatura. Nos primeiros mezes ella enrijece lentamente, sem tomar carne de modo apreciavel. Tivemos uma novilha do gado manso vinda na derradeira vaquejada, a qual, accomettida do mal sub-agudo, ficou de uma magreza inexcedivel, le- vando quasi um anno para se refazer completamente. Segundo Detmers, nas pastagens de grande altitude o mal triste não é grave: dos atacados poucos falleeem. No sul, quando o gado das planicies é transportado para as pastagens montanhosas, a peste das baixadas costuma a manifestar-se nas boiadas. Tratamento — Não existe remedio efficaz para o mal triste. Tem-se preconizado uma infinidade de medicamentos, mas de todos zomba o terrivel morbo. Os excitantes, os an- tiputridos são empregados, como tambem as fricções revul- sivas, sem vantagem reconhecida. Caussé propôz o uso do oleo phosphorado: Sabarthes elogiou os effeitos do sulfato de quinino dissolvido n'agua de Rabel; Sanson, Lemaitre, Richard exaltam os optimos effeitos do acido phenico— 20 a 40 grammas por dia e por adulto em doses fraccionadas; outros aconselham a creolina: os ferruginosos também têm seus partidarios; mas, como dissemos. todos os medicamentos experimentados estão longe de dar resultados satisfactorios. A vaccina, descoberta por Pasteur, é o unico meio pre- ventivo, de fiança, conhecido: immuniza porem por alguns annos sómente o vaccinado. E" a prophylaxia, no caso de uma epizootia reinante Molestias que affectam os animaes domesticos 453 ou imminente, o que todo a fazendeiro sizudo deve ter muito em mira. Logo que numa fazenda vizinha ou circumvizinha ir- romper, epizooticamente, o carbunculo bacteridiano, deve-se evitar por constantes batidas pelas raias da fazenda, que o gado alheio invada os campos ou que o proprio tende sahir da querencia. Se esta especie de cordão sanitario não impe- dir o contagio, deve-se dar completa largueza ao gado: não reunil-o mais nem no curral nem na malhada. Para revistal-o, inspectar os pequenos lotes onde se acharem. No caso de receio de epizootia a vaccinação anti-car- bunculosa de Pasteur seria vantajosa, posto que sómente fa- cit de praticar no gado manso. HI A ACARIÁSE Pelo termo acariáse é designado o parasitismo do car- “rapato, Rhipicephalus annulatus, ácaro, filiado à numerosa fa- milia dos ixodos. Dizem os acariologos que todos os vertebrados terres- tres se acham expostos aos ataques do carrapato, mas nós, na vasta classe das aves, sómente temol-os visto no perú ce no jaburú, localizados no implume pescoço. A femea fecundada, repleta de ovos, quando estes che- * gam à maturidade, desprendendo-se do seu hospede, deixa-se cahir sobre o solo, de onde não se póde mover. Ahi, dos — ovos saem os carrapatinhos que se abrigam nas folhas dos — arbustos e no capim. No mato acham-se ou sobre a folha — gem sécca que cobre o solo, ou sobre as folhas verdes dos — arbustos baixos e plantas rasteiras. Passando junto qualquer animal, n'elle se fixam. E' mui pouco commum nos terrenos nemorosos baixos de solo argiloso: evitam os tabocaes, os assahysaes, os ci- riubaes, mas inçam as varzeas arenosas, a terra firme, bem "* como as margens do curso superior dos igarapés de barro — misturado à areia. Os campos demais cobertos são geral- - mente por elles habitados durante o. primeiro periodo do 454 Molestias que affectam os amimaes domesticos verão. Ahi aninham-se no crescido capinal e nas touças dos pequenos arbustos. A queima annual dos campos os destróe ficando, du- rante o resto da estação estival, livre d'elles o gado. Os caprinos. os ovinos. os suinos não são quasi sujei- tos a acariáse: os equinos tambem mui pouco são persegui- dos e ainda menos os bubalinos. O homem, o bovino e o cão são os que mais soffrem dos ataques do ixodo. Segundo Neumann. a especie que aqui apoquenta o gado é cosmopolita. Em quasi todos os paizes europeus. asiaticos, africanos, australianos e americanos tem sido ella encontrada: não lhe assiste portanto direito ao nome exclu- sivo dado por Linneo de Ixodes americanus. Aferra-se geralmente em pequeno numero ao gado vac- cum são e robusto: nessas condições é raro encontrar-se uma rez com mais de tresentos e quatrocentos d estes incom- modos ecto-parasitas, mas quando um bovino estã achacado. anemico. invadem-n'o em numero prodigioso. Parece ao gado incommedar devéras o carrapato, pois que, para delle livrar-se. esfrega-se aos troncos das arvores ou lambe-se fortemente. Da ganacha e papada elle os arranca ajoelhando-se deante de um tapicuim, e esfregando vigorosa- mente essas partes, às quaes a lingua não póde attingir, so- bre o seu cume. E' a razão de achar-se limpo o espaço em torno de alguns d'esses compactos ninhos de cupim que, as- sim empregados, ficam no cume lisos e um pouco mais acha- tados. Introduzida a trombinha na pelle de um animal sómente o proprio carrapato póde espontaneamente retiral-a. Quando arrancado violentamente deixa na pelle esse rostro obliqua- mente dentado como o ferrão da arraia. Trygon. Aquelle corpo extranho, deixado na pelle. sómente é eliminado apostemando-se ella em roda. Sendo numerosos, esses pontinhos de suppuração enfraquecem a rez. Além da coceira insupportavel que provoca pela sua saliva peçonhenta, além do sangue que suga em quantidade sensivel quando numeroso, tem ainda o ecto-parasita um ter- ceiro inconveniente a nosso ver o mais grave e pernicioso: o de dar a feridinha por elle produzida, logar a que a ne- quissima varejeira exerça seus temiveis estragos nos musculos [ado À | Molestias que affectam os amimaes domesticos 4 da rez. Durante o tempo da Lucilia macellaria o ponto de sucção do ácaro é commum causa da bicheira. Para obrigal-os a despregar-se da pelle usa-se besun- tal-os com kerozene, com terebenthina ou com benzina. Mi- nutos depois de estarem em contacto com qualquer d'estes liquidos retiram o rostro do derme e cahem. “Diversas aves catam o carrapato do gado. Entre nós apontam-se o anú e o acarahy. No sul da Africa representa o papel destas nossas duas aves indigenas o Buphaga africana, especie de estorni- nho, cuja introducção nos paizes flagellados pelo Rhipicephalus annulatus, aconselha Mégnin (*). « Nós, como meio mais facil e economico de obter a limpa do gado, lembraremos aos proprietarios de fazendas demais sujeitas à acariáse, a criação de gallinhas, habituando o gado a reunir-se de tarde no terreiro, ou levantando o curral junto à casa de moradia. Estes cherimbabos. quando o gado vem ao crepusculo. para a dormida. e de manhan emquanto não sae a pastar. catam-n'o perfeitamente. Às re- zes ja acostumadas a este serviço mutualista. sestantes, per- manecem quedas. emquanto a criação aos pulos retira-lhes do ventre, das entrecoxas e da papada os parasitas já phy- salicamente roliços pelo sangue chupado. Se deitado, entre- ga-se o ruminante tranquillamente à cata. consentindo mesmo que as gallinhas retirem dextramente, de uma só bicada, “da cabeça, e até de em torno dos olhos o molestoso ácaro. Os habitantes da America central crém firmemente poder-se provocar a queda espontanea do carrapato dando a comer sal aos animaes. O naturalista I. Salle, relatando esta crença, affirma ter verificado a sua efficacia. No homem a acariáse. posto não seja molestia grave, - póde comtudo incommodar seriamente. até impedir o labutar “diario. Quando em agosto e setembro de 1895 estivemos abrindo a estrada do Alto Capim. em cujas margens o Rhi- — picephalus é legião, fomos bastante molestados pelos carrapa- tinhos. cujas ferroadas produzindo desesperado prurido, apa- “ ziguado momentaneamente por um arranhar vigoroso, deixa- (*) P. Méguin. «Les acariens parasites» p. 59, 4: do À | [erp] Molestias que affectam os animaes domesticos ER vam pequenas ulceras pelas pernas. coxas e baixo ventre, dificil de sarar e das quaes guardamos algumas das cicatri- ces por mais de dous annos. IV A PULGA PENETRANTE Não nos consta que. na sciencia zooiatrica, tenha sido. dado um nome à molestia causada pela pulga penetrante: por esse motivo deixamos encabeçado este artigo com o nome vulgar do parasita. Se. para o fazer, assistisse-nos autoridade, proporiamos o de psylláse (1). Emquanto recentemente introduzida na pelle, com o seu volume normal, conserva o nome de pulga: só depois de engrossar. exalviçada de ovos. é que toma o nome de bicho, ou mais restrictamente de bicho do pé, por ser esse o logar onde habitualmente se localiza. A pulga. Sarcopsylla peneirans, Pulex penetrans, ou Rhynnchoprion penetrans, algo menor do que a pulga vulgar. Pulex irritans. de côr arruivada, tem o seu habitat de pre- dilecção nos sólos arenosos seccos. ou na areia solta, abri- gada do sol e da chuva. Fóge dos logares encharcados ou humidos. Às casas e telheiros de chão sabuloso são por ella bastante infestados. Não quer isto dizer que não exista nas habitações em terrenos argilosos. porém é ahi pouco numerosa. Hospeda-se sómente na classe dos mammiferos: mas. entre estes. os ruminantes e os solipedes mostram-se comple- tamente immunes. O porco, o cão, e o homem são suas vi- ctimas escolhidas. No porco procura as orelhas, o focinho, as têtas, os escrotos. os pés e os joelhos: no cão a planta das patas: no homem é habitualmente a planta dos pés onde se aninha: ahi escolhe quasi sempre o espaço interungular. Nas locali- dades por ella em excesso inçadas, também introd uz-se nas nadegas. no cotovello e na palma das mãos. (1) Psylla, pulga, e asis ajuntamento. Molestias que affectam os animaes domesticos 451 E" gregaria no periodo incubatorio. N'essa epoca pro- cura situar-se na proximidade de outra já parasitamente acantoada no derme. Não sendo retirada à medida que se vae localizando, fórma verdadeiras colonias de mumerosos individuos em restricto espaço. Nas Dunas, onde em certo tempo do anno são nume- rosissimas, eramos obrigados a fazer extrahir dos nossos pés um, dous ou tres bichos quasi diariamente, e assim os de- mais moradores d'essa nossa fazenda. Um moleque desleixado, Thiago, de treze annos, criou-os em tamanha quantidade, por não retiral-os logo que se in- troduziam, que, quando se deu por isso, contava vinte e tantos bichos na região hypothenar de cada mão, e sessenta ec tantos por toda a face palmar de cada pe, desde o calca- nhar até à ponta dos dedos. Um negro, occupado na collocação da cérca de arame, teve trinta e seis bichos numa das nadegas, quedando a ou- tra indemne. N'esse mesmo anno um vaqueiro negro contou desenove também n'uma nadega. Houve conveniencia em acabar-se com os porcos, por- que as tetas, obliteradas pelos bichos. não deixavam escorrer o leite, e os leitões ao nascer morriam todos à mingua. Estes animaes achavam-se cobertos por tal quantidade de bichos, que causavam horror. Não ha exaggero affirmando terem alguns d'elles mais de seiscentos d'estes dermatozoa- rios espalhados por todo o corpo: as orelhas grossas, enor- mes, cheias de calombos, os pes monstruosamente inchados, o focinho disforme, engulhavam a todos aquelles que os exa- minavam. Extinctos os porcos, a quantidade de pulgas dimi- nuiu consideravelmente. Os scientistas europeus fazem do parasitismo do bicho do pé, um verdadeiro bicho de sete cabeças. Neumann. Cadéac, de Brun, Maurel affirmam que, ao ser extrahido, si se des- pedaçar, manifestam-se inflammações e ulcerações (abcessos, gangrena, carie, nevrose, etc.) que, algumas vezes. causam a perda da unha e mesmo de um dedo. Para os nossos leitores paraenses. a exageração é pa- tente. Todos nós sabemos quão benigno é o parasitismo da 43 — Bol. do Mus. Gesldi. 458 Molestias que affectam os animaes domesticos pulga penetrante em toda a vasta Amazonia. Só temos seien- cia, e isso por tradição. de um caso fatal: o de um negro escravo, no -engenho Appruaga (rio Capim) ha cincoenta annos. O Pae Paulo. meio cego, invalido, sem familia, vi- vendo isolado, criou tantos e tantos bichos nos pés. que so- breveio a gangrena da qual veio a fallecer. O bicho em qualquer phase da sua evolução póde ser retirado do derme com qualquer objecto finamente pontudo: agulha. alfinete, ponta de tesourinha. Tirado elle, sem re- medio algum, o buraquinho onde se achava rapidamente nivela-se com a pelle em torno. Quando já enorme não é raro despedaçar-se: se Isso acontece a pequena inflammação e suppuração eliminatoria, que nem sempre sobrevem, é insignificante. A não ser um pequeno prurido, o incommodo passa quast desapercebido. E" claro que, existindo uma predisposição morbida, essa in- flammação póde apresentar symptomas mais graves, mas nas Dunas, n'estes dez annos transactos, de milhares de bichos extrahidos, nunca houve um caso que se aggravasse. A pulga penetrante não desdenha o sangue humano, mas prefere viver no rato. Onde estes roedores são numero- sos, as pulgas também se mostram em maior numero. v A MYIASE Duas são as affecções. provenientes de larvas de dip- teros. de que soffrem os gados em Marajó: uma. mui rara e benigna. é produzida pela ura; a outra, a communissima bicheira. infelizmente sem a intervenção, em tempo, do ho- mem, quasi sempre pias. graves desordens de conse- quencias fataes. O nome de myiase cutanea, que a esta ultima também dão os mestres (1) não nos parece bem applicado. A myiase (1) «Le terme de Myiasis (Hope) (muia mouche; réunion) desi- gnant toute affection due à des larves de Diptêres, il ne sera naturellement question ici que de la Myiasis cutante. Elle est causée par des larves de Muscides ou d'Oestridés». Neumann: Traité des moladies parasilaires non microbiennes des animaux domestiques pag. 37. E mem Molestias que affectam os animaes domesticos 459 da ura é a que não ultrapassa o tecido cutanco: só portanto a ella afigura-se-nos cabivel o epitheto de cutarea. O para sitismo da varejeira cffectua-se sobretudo à custa dos muscu- los, que. por ella atacados. são 1apicamente destruídos, der- xando o ectozoario n elles enormes execavações. Seria de maior exactidão. conservando a denominação de cutanea ao parasitismo da uia. dar à bicheira um nome mais de accórdo com as lesões produzidas. Poderia ella tal- vez mais acertadamente ser dencminada qyiase myopha- gica. A myiase cutanea— À ura. Dermatobia noxialis, Oestrus cutaneus, conhecida pelo nome de,berne no Sul. é um insecto da familia dos Oestridae cuja vida tem quatro phases distin- ctas: o ovo, o estado larvario. duiante o qual é farasita, o estado pupal e finalmente, com a ultima evolução, o insecto perfeito. Sob diversos nomes é ella encontrada desde o Mexico ate à Argentina. A femea introduz o ovo sob a pelle do animal: delle nasce a larva. que vive dos humores por ella produzidos em torno de si, até attingir o completo desenvolvimento. Ataca os animaes silvestres e domesticos. Destes ulti- mos uns mui raramente como o carneiro. a cabra, o buffalo, o cavallo, outros mais frequentemente como o boi, o cão. No homem tambem por acaso se encontra este parasita, no couro cabelludo e nas pernas. Persegue mais o bovino no Sul do que entre nós. Em Marajó é excepcionalmente rara, sobretudo nos campos lavrados (1). E' remedio efficaz e mui vulgar na Amazonia o sarro de cachimbo applicado ao orificio do tumorzinho produzido pela larva: em poucos minutos ella sac expontancamente:; algumas vezes comtudo carece auxilial-a, com uma pequena expremedura sobre a base do tumor. (1) «Eu tambem fiquei impressionado de que o gado nos campos de Marajó fôsse relativamente limpo e que as vaccas que circulam todos os dias pelas ruas do Pará, são incontestavelmente menos perseguidas pelos dipteros.ectoparasitarios. que em certos logares do Sul, onde a criação do gado tem nelles um serio obstaculo» Dr. E. Goeldi. Nota XXV à Fauna do Para pelo Dr. F. Dahl. Boletim do Museu Paraense vol. I n. 4. 160 Molestias que affectam os animaes domesticos Em Marajó ninguem se occupa em retirar as uras do gado. tão innoxias as consideram. l Nas Dunas encontramos. uma vez. uma ura na cabeça de um bemtevi ainda no ninho. já quasi todo emplumado, mas ainda incapaz de voar. A ura, grande demais para po- der estar toda sob a pelle. mostrava metade do corpo fóra do orificio. Retirada. deixou um buraquinho que não san- grou. ; Nestas avesinhas quando meio-nuellas é commum en- contrar-se a ura. HH A bicheira — O termo bicheira designa a ferida produ- zida em qualquer animal. pelas larvas da varejeira. Essas larvas são conhecidas pelo nome de bichos. e as lendeas pelo de vareja. Segundo Brehm. ao insecto perfeito têm sido dados cerca de vinte nomes scientificos diferentes: Lucilia homini- vorax, anthropophaga, macellaria, etc.: mas é este ultimo que geralmente os zoologos acceitam como o que deve figurar no registro civil d'este perniciosissimo parasita. Do tamanho da mosca domestica. della differe a vare- jeira por uma bella côr verde-azul escura. com reflexos me- tallicos. A parte dorsal do thorax mostra trez bétas longitu- dinaes. uma bem no meio e as outras duas symetricamente distanciadas de cada lado. Seus pelos abdominaes tambem são mais curtos que os da mosca commum. Pousada ou deambulando. geralmente juxtapõe as azas | uma sobre a outra. e ambas cobrindo o uniformemente co-. lorido abdomen. Esta disposição lhe permitte introduzir-se nos pipa por pequenos orificios por onde. sc as azas fôóssem semi-abertas. como na domestica. não teria ingresso. | a fim do verão a varejeira enxameia tão abundante. mente certas fazendas. que. à mesa. sómente projectando | farinha d'agua sobre brazas. em um pequeno fogareiro de barro, é que, com a fumaça assim produzida, se póde co- mer. sem ver os pratos cobertos por centenas d'esses tão importunos quão nojentos insectos. Molestias que affectam os animaes domesticos 461 A varejeira evita os quartos escuros. Tambem o pixé da fumaça a afugenta. Em torno das habitações os detrictos animaes negrejam por ella cobertos. Seu olfacto é tão apurado que ella conhece a rez en- ferma de molestia mortal. “Temos visto rezes já cahidas, ou que em pé ja não pódem andar, atacadas do mal triste, e de outras molestias, nenhumamente feridentas ou com arra- nhões, ccbertos de vareja no escroto. nas entrepernas, e no ventre. Só a perfeição do olfacto póde tambem explicar a | rapidez, quasi instantanea. com que qualquer objecto de sua predileeção é por ellas coberto em logar onde momentos antes não se mostravam. Dispersa por uma vasta área geographica, por toda a parte causa grandes prejuizos. Certas localidades são empestadas de modo espantoso por esta mosca: no arenoso Alto-Capim. não só nas varzeas como nas matas. a varejeira põe seus ovos até na roupa suja e nas rédes. A caça, naquellas paragens, quatro a cinco horas de- pois de retirada do muquem. fica coberta de vareja. Uma anta, morta às S horas da manhan no mato central, às 2 ho- ras da tarde ao chegar ao acampamento. à beira rio, estava branca de vareja no pescoço. na barriga e na cabeça. Em Marajó os campos. cobertos, os marginaes aos Iga- rapés e rios, são excessivamente flagellados por este insecto. Se se deixar um couro fresco ou mal salgado estendido no copiar ou no tendal as moscas nelle depositarão milhares de ovos. Temos visto n'estas condições couros com bolas de vareja do tamanho de uma grossa azeitona. O gado manso é menos sujeito à bicheira que o de malhada. Emquanto o primeiro passa semanas nos campos cobertos sem ser atacado pela varejeira. o segundo constan- temente deve ser revistado, sobretudo se mateiro. No gado equino é rara a bicheira; acontece em um ou outro poldrinho dar ella no umbigo. e no gado adulto nas dentadas dos garanhões. A ovelha e a cabra não escapam ao parasitismo da Lucilia macellaria, mas o porco. habituado a revolver-se na lama dos seus lavatorios, quasi só é atacado nas orelhas. O 402 Molestias que affectam os animaes domesticos mesmo se póde dizer do bufalo. o qual. graças ao uso dia- rio de banhos prolongados, é quasi immune. O homem tambem. posto que mui raramente. é victima dos ataques d'estes insectos: diversos casos se têm observado de bicheira na cavidade nasal. O coronel Calixto Furtado, do qual longamente fala A. Wallace na sua obra Travels on the Amazon. morreu de bicheira. Esse hospitaleiro cidadão soffria de uma ulcera syphilitica na abobada palatina. a qual communicava com a cavidade nasal. Para não falar fanhoso obturava-a elle com uma bola de algodão. Um dia. em 1882. dormindo boquiaberto na sua va- randa. sem ter a ulcera entupida. a varejeira ahi poz (1). Dóres cruciantes. continuas, augustiavam-n o. sem que o medico assistente descobrisse a causa do mal. Sómente deu-se com essa causa quando, já adeantadissimo e quasi a furo no toutiço. rasgado o inchaço. verificaram a existencia de uma bicheira enorme. Aos estragos já demais considera- veis, a edade avançada ajudando, não pôde elle resistir. Um casó raro observamos em março do corrente anno no Jutuba: crear uma ovelha bichos em quantidade. na lã. Essa lã grosseira, bastante churda, nunca tosquiada. feltrada, formigava de bichos de todo o tamanho. . Sustentavam-se elles da propria suarda da lã. Verdade é que tambem já vimos larvas da Lucilia ma- (1) Coquerel, citado por de Brun— Maladies des pays chauds — affirma ejacular a varejeira, em jacto rapido —les lance d'un jet rapide — dentro do ouvido, do nariz. da bôcca de individuos a dormir. suas lendeas. Nunca vimos isso. A Lucilia deposita uma por uma as suas lendeas, não na ferida mas nas bordas d'esta. Esses ovulos acham-se envolvidos n'uma substancia vis- guenta que os gruda uns aos outros, e todos aos pélos ou á pelle. As pessõas de somno pesado, ou embriagadas, dormindo boquiabertas não sentem o in- secto que lhes entra pelas aberturas naturaes da cabeça, e que, nas feridas ou excoriações ahi existentes, depositam ovos. A mucosa nasal basta estar de leve inflammada para ser atacada pela larva. A mucosa buccal, mesmo intacta é corroida pelo bicho. Não é rara a bicheira na bôcca dos mujolos que. atacados de myiase no umbigo. lambem-n'a e assim transportam. na lingua, alguns bichos à bôcca, onde se installam e banqueteam-se. Na villa de Monsaraás. em 1898. tivemos occasião de observar um caso de myiase nasal, em um colono cearense, o qual nos permitte affirmar o que supra escrevemos. Molestias que alfectam os animaes domesticos 463 cellaria prosperar em um montão de excrementos frescos de morcegos Iinsectivoros, no ôóco de uma arvore. O sal não põe a carne ao abrigo da varejeira; até no charque, tão salgado, ella põe, e algumas larvas prosperam. Basta para isso que o charque fique humedecido. O ectoparasitismo da Lucilia macellaria constitue uma das mais temidas ec damnosas molestias dos gados em Ma- rajó. Em algumas fazendas é elle tão commum. que fórça o pessoal a rodeios bi ou tri-hebdomadarios para revistar O gado e cural-o. Os fazendeiros prudentes evitam o assignalamento em epoca de bicheira; a orelha assignalada é logar de predi- lecção da varejeira. Curada essa bicheira torna a mosca a ahi pôr seus ovos, uma e muitas vezes, de modo que a orelha fica corroida em parte ou totalmente. Se ficasse n'isso não haveria grande mal, pois que uma rex perereca ou nambi não vale menos do que a que tem as orelhas intactas; mas, se a ferida bichosa interessar o tronco da orelha, tornase- dificil a cicatrisação, fazendo perigar a vida do animal. A varejeira não enxameia os campos, a ella sujeitos, durante todo o anno; no vigor da cheia e no periodo da sécca, até novembro ou meiados de dezembro, ella quasi des- apparece, Sua época é o começo e o fim do inverno. O appetite do bicho «é collosal; devora de dia e de noite sem parar, de modo que em curto tempo chega ao estado adulto. No tempo proprio qualquer arranhadura por espinhos, uma dentada de morcego, até o pequenino ponto de sucção do carrapato, são outras tantas entradas por onde o bicho invade os musculos. Geralmente a fazenda inçada pela varejeira tambem o e pelo carrapato e pelo morcego: estes, auxiliares d'aquella. As partes do corpo que, atacadas pela bicheira, offere- cem maior perigo são: o" umbigo nos recemnascidos, a ca- beça nas excoriações produzidas pela corda em torno dos chifres, a vulva e a fractura dos cornos. Da bicheira umbilical resulta por vezes a gangrena traumatica causadora de perderem certas fazendas flagelladas pela Lucilia avultada porcentagem da sua producção. Desta 464 Molestias que affectam os amimaes domesticos gravissima complicação, até hoje passada desapercebida dos criadores. nos occupamos em artigo especial. A inspecção do craneo dos animaes domesticos dará a razão da gravidade da bicheira na cabeça. Em certas fazendas, no começo e no fim das chuvas, todo o bezerro que nasce, apparece com bicheira no umbigo, a qual, se descurada nos primeiros cinco ou seis dias, é mortal. A bicheira no chifre cerce quebrado, não tratada, vi- ctima a rez, porque os bichos introduzem-se, ao longe, pelos canaliculos do sabugo. crescem e, não: podendo retroceder, morrem, putrificam-se, causando infecções putridas gravis- simas. Uma fractura, mesmo a meio corno, é perigosa nos logares de muita mosca. Alguns dados farão comprender melhor a mortalidade proveniente da bicheira. A fazendola São Joaquim, coberta, marginada por trez lados pelos igarapés Fundo e das Almas e pelo rio Geni- paúba, com uma população de trezentas rezes de gado cur- raleiro, das quaes 130 vaccas, ferra annualmente 45 be- zerros! - A fazenda Alegre. população 700 cabeças, na sua ma- lhada de São Miguel, de cerca de trezentas rezes, tem dias de curar-se 14 a 16 bicheiras ou 5 º/! A fazenda São Lourenço, 500 rezes, no tempo de muita mosca. nos rodeios bihebdomadarios, conta de 14 a 20 bicheiras ou quasi 31/, %! N'esta fazenda já apparece- ram com mylase até cães e gatos! Todas as substancias antisepticas pódem ser emprega- das para o tratamento, devendo-se dar preferencia às que. matando rapidamente os vermes, não inflammam as carnes. As mais geralmente usadas são: a creolina e o mercu- rio doce: mas o acido phenico diluído, o sulfato de cobre em po, o alcatrão, o kerozene, e outras substancias dão bom resultado. 1.º— Mercurio doce, calomelanos, bichlorureto de mer- curio ou de hydrargyro. Substancia insoluvel n'agua, pesada, pulverulenta, branca quando pura. E o melhor dos vareje- cidas: mata as larvas sem inflammar a ferida. E Molestias que affectam os animaes domesticos 465 Tem ainda a vantagem de tornar mais rapida a cica- trização. 2.º-— Creolina. Liquido escuro, xaroposo, extrahido do alcatrão da hulha. Precioso varejecida, antiseptico excellente, pouco toxico, pouco irrita a ferida. Dez vezes mais barato que o mercurio, substitue-o perfeitamente. Póde ser empre- cado puro ou diluído. Misturado com agua dá uma emulsão esbranquiçada e opaca. E” desodorisante, isto é, faz desap- parecer o mau cheiro das chagas fetidas. 3.º — Cresyl ou cresylina. Tem propriedades identicas às da creolina, provindo igualmente do alcatrão de carvão de pedra. 4.º — Acido phenico. O acido phenico é um bom inse- cticida, porém puro é demais caustico; queima as carnes tornando-as brancacentas. Diluído com alcool póde ser usado sem inconveniente. 5.º— Sulfato de cobre ou pedra lipes. Prismas de um lindo azul, gosto estyptico, soluvel na agua na proporção de 25º. Adstringente antiseptico e antiparasitario. Nas fe- vidas é grande a sua acção caustica. Applicado em pó mata os bichos. Quando a bein é extensa, que os vermes já exca- varam as carnes, produzindo grande buraco, usam os va- queiros, depois de mortos os bichos pelo remedio, retiral-os todos com um graveto, e tapar a ferida, entupindo-a com o estrume secco do proprio gado. Este curativo, que faria es- * tremecer horripilado um veterinario europeu, no emtanto produz invariavelmente bom resultado; a mosca encontrando a ferida tapada não põe mais lendeas n'ella, e refazendo-se as carnes vão expellindo gradualmente esse chumaço de nova especie até, expulsando-o de todo, nivelar a ferida com a pelle em torno. O amargo azeite de andiroba (Carapa guianensis) be- zuntado na bicheira, depois de curada, e em torno, impede muitas vezes que a varejeira de novo ponha ovos n'ella, porque a mosca não gosta de sujar as ventosas dos pés com substancias oleosas. Alem d'esta vantagem, este azeite impede-a de collar as lendeas na pelle ou nos pélos, sendo ainda um bom adju- vante à cicatrização. 44-Bol. do Mus. Geeldi, 466 Molestias que affectam os animaes domesticos A infecção putrida. — Como consequencia da bicheira. é commum soffrerem os mujolos de gangrena no umbigo e como resultante d'esta apparecer a infecção putrida em todo o organismo. A maior parte dos recemnascidos que. “diz-se. morrem de bicheira. vêm antes a succumbir por causa d'esta compli- cação. Esses organismos novos, delicados. são muito mais sensiveis que os adultos, aos venenos vegetaes e às toxi-. nas microbianas. A ferida umbilical produzida pela Lucilia macellaria, cangrena por vezes. porque. mortos os bichos pelo vermi- cida, não havendo o cuidado de os retirar. apodrecem junto às carnes, passando a estas a putrefacção do verme. Então a ferida apresenta uma côr pardacenta e desprende forte. eraveolencia. Outras vezes, mais raramente, mesmo sem bi- chos mortos apparece a mortificação. Então o mujolo. quasi sempre deitado em decubito in- completo, mostra-se indifferente. entorpecido: deixa de mam- mar. o calor do corpo diminue. Em periodo mais adeantado o pulso fica fraquissimo. a temperatura sempre baixa, a in- sensibilidade é quasi geral, a inercia e fraqueza extremas. Si se puzer o doente em pé. o que dificilmente se consegue, poucos momentos se conserva nessa posição, si não se deita logo que cessa de ser sustentado. A acção do veneno putrido que circula com o sangue e a impotencia do organismo para resistir aos seus effeitos tornam a morte inevitavel. No ultimo periodo do mal apparece sempre um des- mancho fétido e sanguinolento. Esta complicação. posto que assaz rara nas rezes adul- tas. dá-se algumas vezes e o animal atacado. se resiste. fica esqueletico, custando muito a arribar. Tratamento. — Para os mujolos temos tirado bom re- sultado com o seguinte tratamento: Verificada, pelos symptomas supra descriptos. a exis- tencia da gangrena. injecta-se vigorosamente com uma se- ringa, e por diversas vezes, agua dentro da ferida. para d'ella fazer sahir os bichos putrefactos: em seguida. deitado o mujolo sobre as costas. conservando-lhe um auxiliar as patas erguidas para cima. derrama-se dentro da excavação Molestias que affectam os animaes domesticos 467 chagada, enchendo-a, uma solução de cresyl (creolina) a qual é conservada em contacto com as carnes gangrenadas por cérca de dez a quinze minutos. Depois de deixar escor- rer a solução antiseptica, polvilha-se bem as paredes da fe- rida com meréurio doce. Internamente dá-se duas vezes por dia. e cincoenta erammas de cada vez, agua saturada de sulfureto de carbono. Para obter esta solução carbo-sulfuretada basta sacudir “for- temente em uma garrafa de litro cem grammas de sulfureto com setecentas grammas d agua. Convem ordenhar a vacca e dar o leite pela bócca ao filho doente para sustentar-lhe as forças e para promover o funccionamento dos rins, emunctorio, eliminador das toxinas existentes no sangue e pela absorpção obtidas no fóco gangrenoso. vi Observação sobre a TAENIA PERFOLIATA Das trez Taenias proprias ao gado cavallar só uma conhecemos em Marajó: a Taenia perfoliata. Geralmente ella existe no caecum, no colon e no ultimo trecho do ileon em pequena quantidade: mas quer numerosa quer não. sempre temol-a encontrado em todos os cavallos por nós necropsiados. Os helminthologos descrevem-na como attingindo o com- primento de 26 a 28 millimetros: sómente Rudolphi affirma poderem medir até S0 millimetros. E o que se collige da phrase de Neumann : «com o comprimento geralmente de 26 a 28 mill. mas podendo attin- gir, segundo Rudolphi, até 80 millimetros». Sobre este ponto temos uma observação interessante : Trata-se de um cavallo de serviço, Favacho, já velho, ma- gro, excessivamente enfraquecido, suspeito do mal das cadei- ras. abatido para ser examinado, no qual encontrâmos S3 exemplares de Taenia perfoliata das quaes 42, quasi todas grandes, achavam-se com as cabeças adherentes à valvula Ileo-caecal e com os corpos fluctuantes no caecum formando um grosso feixe. que parecia obstruir essa valvula, mas o caecum meio cheio de alimentos provava não dar-se esse entupimento. 468 Molestias que affectam os amimaes domesticos Essas Taenias colladas à valvula, bem como a maior parte das que existiam no caecum, estavam espichadas e estreitas. com os proglottides desusadamente longos: os maio- res mediam, nesse estado 91 millimetros de comprimento. (1) Collocados no alcool encolheram ficando curtas e largas medindo então as maiores (45). 43 !/, millimetros de compri- mento e (13) 12 !/, millimetros de largura. Já antes do con- tacto do alcool, ao ar livre, logo ao serem retirados dos intestinos, a retracção havia começado a effectuar-se. (2) A faculdade de distender-se, quasi nulla nos ultimos proglottides, é consideravel na parte anterior da strobila. Quer-nos parecer que a presença da T. perfoliata nos. intestinos dos equinos não lhes damnifica a saúde; coincide apenas a sua abundancia com a fraqueza. com o depaupera- mento do organismo. porque é nos animaes enfraquecidos, adoentados que os parasitas intestinaes, bem como os epizo- arios encontram o seu habitaculo mais prospero e mais apropriado. Comtudo scientistas conspicuos como Perroneito e Meg- nin constataram nos intestinos certas dilatações formando saco, onde as Taenias se achavam em grande numero, at- tribuindo elles symptomas de certa gravidade a essas Taenias. —. o —- (1) Convem notar que, aos exames, procedemos no cadaver ainda quente. Abatido o animal, é logo esfoiado, esquartejado. não decorrendo mais de 25 a 30 minutos entre o tiro ou golpe mortal e o começo da autopsia. (2) Os especimens de Tacnia perfoliata de que se trata foram remettidos para o Museu Goeldi, onde se acham. a qui Miscellancas menores 469 MISCELLANEAS MENORES Sobre os generos Vouacapona, Vatairea e Andira Esta nota tem por fim reivindicar o direito -de existencia e precisar, o quanto possivel, a posição syste- matica de dois generos creados por Aublet na sua antiga, mas sempre classica obra «Histoire des plantes de la Guiane française», generos que foram confundidos com o genero Andira, de data mais recente e melhor conhecido até agora. A primeira planta de -que se trata é o acapit, arvore bem conhecida entre nós pela sua madeira, que tanto uso tem no Pará como nas Guyanas e nas Antilhas, onde ella é conhecida por outros nomes. À arvore de acapr foi descripta por Aublet (no Appendice da sua obra p. g-11) sob o nome de Vowacapoua americana e ilustrada pela estampa 373, que dá uma bôa idéa das folhas e do fructo. Esta especie foi levada por Bentham ao genero Andira, creado por La- marck no anno de 1783. Como não me é possivel con- sultar o trabalho de Bentham, que foi publicado nos « An- nalen des Wiener Hofmuseums» (1838 vol. II p. 108), não sei quaes são as razões que levaram o botanico 1n- olez a reunir o genero Vowacapona com o genero An- dira; em todo o caso o peso da opinião do celebre bota- nico inglez era tão grande, que ninguem se animava a fazer opposição á fusão dos generos Vowacapoua e Andira. Mas emquanto que Bentham chamava o acapiú de ndira Aubletir, o erudito reformador da nomenclatura botanica Otto Kuntze, querendo reivindicar a Aublet a prioridade do seu genero, cahiu no outro extremo, baptisando todas as especies de Adira conhecidas até aqui, com o nome generico de Vuwacapua. N'isto foi seguido por Taubert, na sua monographia das Leguminosas, na celebre obra «Die natiirlichen Pflanzenfamilien,» de Engler e Prantl (III Teil. 2. Abteil. a, pag. 346). 470 Miscelaneas menores Entretanto o genero Vonacapona de Aublet distin- gue-se do genero Andira por um caracter de primeira im- portancia, que ao meu ver não permitte reunil-os. To- dos os autores que falam de Andira lhe reconhecem um frecto drupaceo indehiscente. Isto porém não é o caso na Vomacapona americana de Aublet. O fructo do acapú é, como fica evidente da descripção de Aublet (pag. 11) e da sua figura (pl. 373), um legume dehiscente, de valvulas seccas. «Chaque fruit peut être comparé à une gousse dont les deux valves s'cuvrent de la pointe à la base». Ku mesmo tive diversas vezes a occasião de convencer-me, que o fructo do acapú é um legume dehiscente que se. distingue radicalmente das drupas do genero Andira. Mesmo no caso de não existirem outras differenças, (*) seria ainda necessario separar os generos Vouacapoua e Andira, conservando para o nosso acapú o nome de Vouacapoua americana Aubl. e reunindo no genero Andira todas as outras especies cujo fructo é drupaceo e indehis- cente. Nas obras systematicas mais conceituadas (Bentham e Hooker's Genera plantarum, Pflanxzenfamilien de Engler e Prantl, Flora brasiliensis de Martius), o genero Andira (resp. Vouacapoua no sentido de O. Kuntze) é dividido em duas secções: Aristobulia e Lwumbricidia. A primeira contem só uma especie, a Andira amazonum Mart., que se distingue de todas as outras especies de Andira pela unha do vexillo mais curta que o calice, pelos estames to- dos concrescentes e pelo ovario quasi sessil. Estes caractéres por si só seriam quasi sufficientes para separar generica- mente a Andira amazonum do genero Andira, mesmo se não houvesse differença no frncto (cf. Flora brasiliensis), que até agora não era conhecido. Consegui esclarecer este ponto, identificando, sobre materiaes de herbario, colleccio- nados por mim no rio Guamá e no Aramá, o Andira ama- zonum com a nossa bem conhecida faveira. Ora o fructo da javeira, a tal fava de empigem, é bem differente dos (*) Infelizmente ainda não consegui vêr as flores do acapu, mas a estructura das sementes e outros caractéres confirmam o meu modo de ver e me fazem mesmo suspeitar que o genero Vouacapoua não faz parte da tribu das Dalbergieas. Miscellaneas menores 411 fructos de Andira, sendo achatado e de pericarpio sube- roso-carnoso, quasi como no genero Plerocarpus, porém com ala pouco pronunciada. Um fructo semelhante foi descripto por Aublet sob o nome de Vatairea guyanensis na sua obra acima citada (pag. 755 estampa 302). Aublet nunca viu as flores d'esta arvore, mas como a deseripção das folhas e dos outros caractéres quadra bem com a nossa faveira, e como ainda ambas as plantas têm o mesmo uso (confere o nome « graine à dartre» com a nossa «fava de empigem») me parece muitissimo provavel que a /a- rera seja realmente identica com a Vatairea guyanensis. Como a faveira corresponde com toda a certeza á Andira amazonum Mart. (que igualmente é indicada como cres- cendo em Cayennc), fica portanto provavel que a Andira amazonum Mart. (conhecida até aqui só com flores) é sy- nonyma da Vatairea guyanensis Aubl. (conhecida até aqui só com fructos). O genero Vatairea occuparia por- tanto uma posição intermediaria entre os generos Andira e Plerocarpus, approximando-se d'aquelle pelas flores, do ultimo pelo fructo. Dr. J. Huser. Ei Ainda a proposito dos ninhos de Japú Depois da conclusão do meu artigo sobre os mate- riaes do ninho de Japú (cf. Boletim vol. II p. 328) me foram submettidos alguns ninhos que vieram confirmar, mais uma vez, o acerto das observações do Prof. Dr. Goeldi relativamente á diversidade dos materiaes empregados na construcção do ninho segundo as localidades habitadas pelo japú. O premeiro minho, proveniente do Estado de S. Paulo (Rio Despraiado) e offerecido ao Sr. Dr. Gceeldi pelo or. R. Krone, de Iguape, mostra a composição caracteris- tica dos ninhos de Japú fabricados no Sul do Brazil. Elle é formado quasi exclusivamente de «barba de pão» (Tillandsia usneoides), ora ainda coberta de sua casca cinzenta, ora mais ou menos completamente descascada. Mesmo com Node: Miscellaneas menores um exame superficial, a differença para com os ninhos pa- raenses salta aos olhos. Emquanto estes são pretos, o ninho proveniente- de S. Paulo é pardacento.. Um examelmans minucioso revela todas as differenças citadas no meu ar- tigo anterior. O segundo minho (em dois exemplares iguaes) foi colligido pelo Sr. João Sá, ajudante de taxidermista do Museu Goeldi, no Estado do Maranhão, e apresenta um interesse todo especial, porque próva que, em certos casos e outras localidades, o Japú recorre ainda a outros mate- riaes para a construcção de seu ninho. Os ninhos em questão têm um pouco mais de um metro de comprimento c consistem quasi exclusivamente de tiras estreitas de folhas de assahyseiro, tecidas com muita arte n'uma trama bas- tante solida. Estes ninhos que pela sua côr de palha e por sua estructura se parecem com os ninhos de Japim do Pará (cf. Goeldi Bol. II[ p. 204) differem pelos mes- mos caractéres dos ninhos de Japú feitos, quer no Sul do Drazil, quer no Para: Mas temos mais que isto. A rhizomorpha de Maras- mis, cuja applicação como materia prima na industria do Japú mostrei na minha primeira nota, e que aliás achei em seguida diversas vezes nos galhos de arbustos e ar- vores das matas paraenses, não só pelo Japú é preferida no Pará, mas póde tambem entrar na composição dos n1- nhos de outros Icterides. Prova disto foi-nos fornecida por dois ninhos de Cosstcus Iuemorrhous dos quaes um, do Estado de S. Paulo (Rio Una) e mandado ao Prof. Dr. Geeldi pelo Sr. R. Krone de Iguape, é composto de caules seccos de diversas tre- podeiras tecidos entre si por fios de rhizomorpha, emquanto que o outro, do Estado do Paraná e offerecido pelo Sr. Foel- tente, de S. Paulo, é feito exclusivamente com o Marasmits. D'isto tudo resalta com evidencia que os passaros mdustriosos da familia dos Icterides escolhem segundo o lugar onde vivem, materiaes diversos para a construcção dos seus ninhos. Para terminar, cabe-me ainda fazer uma rectificação concernente a uma passagem do meu artigo anterior. À proposito do testimunho dos naturalistas viajantes acerca Miscellanecas menores 473 da presença da Tillandsia wsneoides no valle amazonico, disse eu que «nem um só, ao que me constava, falava desta planta aliás tão caracteristica que não podia facil- mente escapar á attenção dum naturalista». Não me lem- brava então que o celebre Martins no seu livro «Reise mm Brasilien» (III), no primeiro capitulo, que trata das matas nos arredores de Belem (p. 918) fazia menção da Tillandsia wsneoides nos seguintes termos: «Von den Bãu- men hângen riesige Aronstauden und, unserem Baumbart abnlich, lange Flocken der Tillandsin wsneoúles herab.» E fóra de duvida que Martius, que tinha viajado pelo Sul do Brazil, devia bem conhecer a Tillandsia wsmeoides e não seria de todo impossivel que no seu tempo esta planta existisse ainda nas matas de Belem, porem - me parece muito mais provavel que se trata aqui dum erro ou engano da parte do grande naturalista. Tenho diversas razões para a minha maneira de ver: 1.º Nos sitios onde a mata está ainda bastante in- tacta, nas visinhanças. de Belem, os galhos das arvores altas são muitas vezes cobertos de fetos de folhas estrei- tas e compridas ( Vittaria lineata) ou de caules compridos guarnecidos de folhas pequenas (Polypodium piloselloides e P. lycopedioides) e outros epiphytas semelhantes, que facilmente se despregam em parte e pendem das arvores em festões compridos, que por causa da altura descomunal a que são vistos podem ser confundidos com a Tillandsia. 2.0" (0 capitulo da obra de Martius, onde se acha esta observação, provavelmente foi escripto sob a impres- são do primeiro golpe de vista e deixou de ser revisto depois sob o ponto de vista das determinações botanicas. De outra fórma não seria comprehensivel que evidentes erros, como a menção do páo d'alho (Crataeve Tapia L.) como arvore enorme e a determinação do Bacury como Symphonia coccinea Aubl. (cf. p. 917), tivessem subsistido. D'sto tudo resulta para mim, que no caso da Tillan- dsiuu usneoides podia ter havido tambem um engano da parte de Martius. Belem, 28 de janeiro de 1904. Dr. J. Huser. 45-Bol, do Mus Gceldi, Ea Miscelaneas menores 60 A origem da Pupunha A patria da pupunha (Guwilielma speciosa Mart.) tem sido objecto de diversas conjecturas, os autores mais competentes concordando no juizo que ella deve achar-se ao pé dos Andes, no Perú ou na Bolivia; mas até aqui a pupunha ainda não foi descoberta no estado selvagem. O illustre director do Jardim Botanico do Rio de Janeiro, em publicação recente (Sertum palmarum brasiliensum 1 p. 49) tem tratado d'esta questão a proposito da desco- berta duma especie nova que elle achou no Estado de Mattogrosso, em florestas virgens. Esta especie (G. mat- togrossensis Barb. Rodr.) que se distingue da pupunha pe- las drnpas menores e encarnadas e pelo tronco isolado, assim como pelos espinhos do tronco e das folhas muito mais fortes e numerosos, é considerada pelo sr. Barbosa Rodrigues como sendo talvez a forma primitiva da pu- punha. «Qui sait, pondera o illustre botanico, si les grai- nes de cette espéce, en immigrant par les riviéres Madeira e Tapajoz, ne sont pas arrivées dans "Amazonas ou le palmier s'est acclimaté? Qui sait s1 par la culture, pen- dant des centaines d'années, il n'a pas changé son aspect, perdu ses épines et atrophié ses graincs? » Já em 1898, quando com o meu amigo Dr. Marmier, attravessei o pampa de Sacramento, entre os rios Ucayali e Huallaga, encontramos, crescendo espontaneamente nas varzeas do rio Chipurana, uma fórma de pupunha que os indigenas chamavam pucacunga pijuaio, isto é, pupunha de pacu. Na occastão estas palmeiras não tinham nem flores nem ifructos, mas os indios affirmavam que os fructos eram muito menores que os do pijuaio cultivado e que eram de côr vermelha muito viva. Achei ao pé das pal- meiras alguns individuos novos que levei para o Jardim Botanico do Pará onde elles agora já têm mais de 5 m de altura, começando a florescer. Como não tinha exami- nado os orgãos de reproducção, quiz esperar até que estes exemplares produzissem flores e fructos, antes de me pro- nunciar sobre a sua classificação exacta. Apenas adoptei, o EA Miscellancas menores 415 para pôr nos rotulos do jardim, um nome provisorio, clas- sificando a palmeira no grupo especifico de (tuilielma speciosa, sob o nome de variedade muicrocarpa Hub. A existencia espontanea da «pupunha de jacú» na bacia dos rios Huallaga e Ucayali não soffre duvida, ella me foi confirmada por diversas pessõas, e outros Informan- “tes me indicaram a sua distribuição larga no alto rio Ju- ruá. Uitimamente tive occasião de encontrar outra vez esta “interessante palmeira no alto rio Purús, onde ella é fre- quente tanto na terra firme como tambem nas varzeas altas, sendo conhecida sob o nome de pupunha brava. Esta vez encontrei-a carregada dos seus numerosos cachos de pe- quenos fructos vermelhos que na sua opposição com as folhas dum verde escuro e brilhante, produzem um bel- lissimo effeito. Achei a pupunha brava na terra firme de Antimary (rio Acre), na varzea de Ponto Alegre (alto Purús) e na terra firme de Monte Verde (pouco abaixo da bocca do Acre). Não a tenho visto abaixo da emboca- dura do rio Pauhiny. A sua área geographica extende-se por conseguinte sobre uma grande parte das bacias dos affluentes meridionaes do alto Amazonas, do rio Huallaga até o alto Purús e Acre, e provavelmente até o rio Ma- deira. Apezar de approximar-se da (G. mattogrossensis pelas dimensões menores dos fructos (estes são quasi perfeita- mente globosas, tendo só 16 mm de comprimento sobre ES mm de diametro, emquanto gue o Sr. B. R. indica para o (7. mattogrossensis o diametro de 2 cm) pelo tronco coberto de espinhos pretos bastante fortes e pelas folhas verde-escuras, a nossa palmeira distingue-se d'aquella pe- los troncos formando toiceira e pelas folhas e espathas menos espinhosas que na Guwilicima mattogrossensis. (*) Por estes caractéres ella justamente se approxima mais da G. speciosa, com a qual tem um parentesco evidente. Entretanto cheguei á convicção que ella não póde ser simplesmente a fórma primitiva d'esta especie; preferi por (*) Não é impossivel que as differenças entre a G. mattogrossensis EG. microcarpa desappareçam, quando estas estiverem melhor conhecidas, C que as luas especies tenham então de ser consideradas como synonymas. + 176 Miscellaneas menores isso mudar o seu nome de variedade em nome especifico chamando-a de Guilielma microcarpa Hub. Diversas razões me induzem cada vez mais a con- siderar a pupunha cultivada como um producto de cru- zamento entre duas especies distinctas. Na minha suppo- sição, a (7. macrocarpa seria uma das parentes, a outra se- ria provavelmente a G. insignis de Martius, especie ainda pouco conhecida da Bolivia sub-andina, que entretanto, segundo o testemunho do explorador francez dP'Orbigny que a descobriu, teria fructos amarellos e bastante gran- des (do tamanho d'um pequeno ovo de gallinha). Pela hypothese duma origem hybrida da pupunha cultivada, explica-se muito melhor não só a variabilidade nas di- mensões, na côr e na constituição ora mais oleosa ora mas feculenta do pericarpio, mas principalmente o aborto tão frequente da semente com o respectivo endocarpio e talvez tambem a reducção ou a disparição completa dos espinhos no tronco e nas folhas. Me parece impossivel conside- rar todos estes caractéres da pupunha cultivada como um resultado da cultura e selecção por parte dos indios, cuja agricultura é tão rudimentar, principalmente a respeito das arvores fructiferas. Segundo o que sabemos até agora sobre a distribui- ção da (G. microcarpa e da G. insignis, não é imposivel que as suas áreas de dispersão se confinem em qualquer zona ao sul do alto rio Purús, nas bacias do Beni ou do Mamoré. N'aquella zona ter-se-ia produzido accidentalmente, segundo o meu pensar, um ou diversos hybridos, appre- sentando certas vantagens sobre as especies parentes, van- tagens que motivaram a sua cultura por parte dos indios, que os teriam espalhado nas suas migrações ao norte até a Venezuela, ao éste até a bocca do Amazonas. Dr. J. Huser. =] e | Miscellaneas menores 4 IV Qual deve ser o nome scientifico do nosso Assahy ? Parece quasi ocioso levantar esta questão e não a teria levantado se não fosse obrigado a fazel-o em vista duma alfirmação singular que tem por autor o melhor conhecedor das palmeiras brazileiras. E verdade que nin- ouem até aqui podia ter a menor duvida que o assahy tem de chamar-se Euterpe oleracea Martius, porque este autor não só dá uma descripção intelligivel desta pal- meira, na sua obra classica « Historia naturalis Palmarum », mas cita tambem a Huterpe oleracea em outras obras como sendo o assahy do baixo Amazonas (cf. Reise vol. II p. XXIII e 980, Nomina plantarum im lingua tupy p. 386, Tabulce phystognomice 1, XI, XL), em opposição ao palmito “das regiões montanhosas do Brazil meridional, ao qual elle deu o nome de Hulterpe edulis. Assim porém não en- tende o Sr. Barbosa Rodrigues, que consequentemente chama de Huterpe edulis o assahy do Pará, dando o nome de Huterpe oleracea ao palmito do Sul. Esta confussão é tanto mais lamentavel que se acha ainda repetida na monumental obra «Sertum palmarum », onde o illustre autor quer explicar o seu modo de ver pelas palavras seguintes (Vol. 1 p. 40): «Je dois faire ici une correction. Dans son Historia naturalis Palmarum, le Dr. Martius, donne par mégarde, la description et les dessins de Vévolution des feuilles de PHuterpe oleracea, le Gaçara, -quand cette étude est de PK. edulis, PVAçãy. LE. oleracea a toujours les feuilles primordiales divisées en fo- lioles, et non des feuilles entiéres bifurquées, ce qui est un des caractêres de PK. edulis, qui a aussi Palbnmen ruminé RE Je crois que par un lapsus calami, três facile, il-y a eu ce changement de nom.» Mas então este lapsus calam teria-se reproduzido cada vez que Martius falava do assaly (1) Quanto ao albumen ruminaltum que Martius indica para a E. edulis, parece realmente ter acontecido uma confusão da parte do illus- tre sabio, confusão que entretanto foi corrigida por Drude, baseado no exame dos exemplares originaes de Martius (cf. Monographia de palmeiras na «Flora Brasiliensis » ). 418 Miscellaneas menores ou do palmito? — Já se vê que o raciocinio acima tran- scripto só póde provar que se trata duma opinião pre- concebida, pela qual o illustre autor do «Sertum palma- rum» deixou-se cegar a tal ponto de não perceber que invertia completamente o pensamento de Martius. Continuemos portanto de seguir o exemplo de Mar- tius chamando o nosso assahy com o nome de Euterpe oleracea e reservando o nome de KH. edulis para o palmito do Sul do Brazil. N'um ponto porem é necessario fazer uma restricção: é preciso distinguir do nosso assahy do baixo Amazonas 0 do alto Amazonas, (*) o que Martius não fez. Apezar que a sua descripção de Euterpe oleracea se refere quasi ex- clusivamente ao assahy do baixo Amazonas e que na enu- meração da distribuição da sua especie, elle nem faz menção do alto Amazonas, resulta da synonymia (na qual elle cita o Manacá de Humboldt), das figuras de habito e das observações sobre as dimensões da palmeira, que Martius considerava o assahy do alto Amazonas como identico ao do baixo Amazonas (**). Isto é um erro evidente pois emquanto que o assahuy do buxo Amazonas cresce em soqueirss e pertence á secção Integra de Barbosa Rodri- gues, o assahy do alto Amazonas, alem de ter o tronco sempre isolado, pertence pela conformação das suas folhas primordiaes à secção Pinnata de Barbosa Rodrigues e corresponde provavelmente á Euterpe precatoria Mart. es- pecie descripta primitivamente da Bolivia, mas que se- gundo Drude teria uma distribuição vasta do pé dos Andes até o Estado de Goyaz. Mesmo no caso que as figuras de Martius se referissem ao assahy do alto Amaxo- nas, é evidente que no futuro o nome de Euterpe oleracea só póde ser applicado ao assahy paraense. Dr. J. Huser. (*) Não falo aqui das especies pequenas do rio Negro cujos nomes vulgares já indicam que são differentes do assahy commum. (*) Spruce (Palmae amazonicae p. 136) já fez a observação que o nome de assahy comprehende diversas especies. Baseado provavelmente no exame das figuras de Martius (que não são bôas) elle chega a considerar o assahy do Pará como «provavelmente» identico á Euterpe edulis. Entre- tanto elle conserva o nome de E. oleracea para o assahy do rio Negro (Manaca de Humboldt) e não chega ao disparate de impôr este nome ao palmito do Sul, como fez o Sr. Barbosa Rodrigues. a dd em Miscellaneas menores 479 V “ Guadua superba Hub. n. sp., a taboca gigante do alto rio Purús. Entre todas as Bambusaceas da America do Sul, talvez a maior e provavelmente a mais bella é a taboca grande que se encontra no alto Purús, principalmente nas visinhanças da bocca do Acre. Esta Graminea devéras notavel, da qual tratarei opportunamente com maior des- envolvimento e com apoio de figuras, ainda não se acha descripta na litteratura botanica e constitue portanto uma especie nova para a sciencia, cuja diagnose póde ser con- cebida da fórma seguinte: Culmus procerus, I10-—I5 cm diametro, ad 20 m altus, culmi minores eorumque rami inferiores spinis validis bre- vibus recurvis armati, rami distichi, solitarii, rariter apicem versus fasciculati, regulariter bipinnati, ramulis gracilibus infra denudatis. Foliorum vagina arcta, glabra, ore inermi vel 11 exemplaribus floriferis ciliis pancis rigidis fimbriata, gula brevis truncata, brevissime ciliolata, lamina oblongo- | lanceolata (solum in ramis infimis interdum ovato-lanceo- lata) vel lineari-lanceolata, apice acutissima, basi in petio- lum contracta supra scabrinscula vel laevis, infra brevis- sime puberula vel glabra, margine scabra, 8-— 16 cm longa o,8-—1,3 cm lata (foliorum inferiorurm latiores usque ad 24 em). Culmi foriferi ramulis paucis frondosis instructi, cae- terum 1is destituti, rami ramulique glomerulis e spicula- rum fasciculis pluribus subsessilibus vel longius pedicel- latis formatis obsiti. Spiculae 2 vel 3 in fasciculo, oblongae, teretinsculae acuminatae 1,5—2,5 cm longae rectae, cum pedicellis hirtello-tomentosae, glumis coriaceo-papyraceis mucronatis vacuis 2— 3, floribus internodiis longioribus 1n- ter se et a flore terminali tabescente separatis. Glumae fertiles 13-15 mm longae apice longiuscule cucullato-mu- cronatae extus prominenter g-costatae, nervis minoribus interjectis 15—17 nervae, dense hirtellae, intus apicem ver- sus hirtellae, margine solemniter denseque ciliatae. Val- vula gluma brevior (g—1o mm longa) alato-bicarinata sca- riosa, nervis 2 chlorenchymate marginatis, marginibus 480 Miscellaneas menores latis florem hermaphroditum involvens. Lodiculae e basi subcontracta triangulari vel ovato-lanceolatae hyalinae nervosae valvulae medium aequantes. Antherae elongatae lineares, anthesi luteae. Ovarium sursum hirtellum, styli 3 elongati hirtelli. Dr. J. Huser. VI Sobre as Ilhas fluctuantes do Amazonas Quasi todas as plantas aquaticas fluctuantes ou semi-fluctuantes que crescem nas enseadas tranquillas ou nos paranamirys e lagos do Amazonas, são capazes de serem arrastados pela correnteza do rio e de formar occa- sionalmente pequenas ilhas fluctuantes. Assim se encon- tram ilhas formadas por diversos «mururés» e plantas semelhantes: Hichhornia axurea (Sw.) Kunth, Eichhormia crassipes (Mart.) Solms, Pontederia rotundifolia L., Pistia stratiotes L., Neptumia oleracea Lour., Polygonum hispidum H. B. K., P. spectabile Mart, P. acuminatum H. B. K.,, ete. mas, além de serem raras, ellas são sempre pequenas e têm pouca coherencia, com excepção talvez das ilhas de Eichhormia azurea, que podem ser bastante grandes e se encontram frequentemente, principalmente no estuario e nos trechos ricos em ilhas. Mas quasi sempre as- ilhas grandes são formadas por Gramineas dos generos Paspalum e Panicum, conhecidas geralmente pelo nome de cannarana. Estas ilhas maiores que aliás raramente attingem a superficie dum hectare, muitas vezes são grupadas ao redor de troncos de arvores que, arrastados pela correnteza, arrancaram da beira o tapete de gramineas que se tinha desenvolvido ao abrigo d'elles. Segundo as minhas observações feitas durante di- versas viagens ao Amazonas, as ilhas flnctuantes não só do baixo An:azonas como tambem do Solimões, são mui- tas vezes exclusivamente compostas de Paspalum repens, Berg, ao menos durante o-verão, tempo da florescencia desta Graminea. Nunca encontrei n'ellas uma outra Gra- minea em flôr. Pelo exame das partes vegetativas me foi porem possivel reconhecer ainda uma outra especie vs Y Miscellaneas menores 481 como constituinte principal das ilhas fluctuantes: é o Pa- micum spectabile Nees, a verdadeira canmnarana do Amazo- nas, no sentido mais estricto da palavra. Esta graminea, que é muito commum nas beiras do rio principal e dos seus paranás, tem uma grande facilidade de formar, pelos caules longamente fluctuantes, um tapete intricado que póde-se desprender da beira quando se dá um repiquete ou quando a correnteza muda de força ou de rumo. Alem d'estas duas gramineas, ha - provavelmente ainda outras (como. por exemplo o Panicum amplexicante Rudge) que entram na composição das ilhas fluctuantes, porém não creio que o seu papel seja importante e possa ser comparado ao do Paspalmim repens e Panicum spectabile. E claro que as ilhas fluctuantes são um meio muito efficaz de distribuição de certas plantas mais pequenas e delicadas, como as acima mencionadas e, em menor escala, de Ceratopteris thalictroides, Siucinia auriculata, Axolla caroli- mana, Phyllanthes fluitans, que assim podem facilmente ser transportadas rio abaixo. Dr. J. Huser. VII Duas cartas do Dr. Theodor Koch, relativas á sua actual expedição ethnographica entre os indios do alto rio Negro, dirigidas ao Director do Museu. O Sr. Dr. Theodor Koch, funccionario do novo e sumptuoso Museu Real de Ethnographia de Berlim, e actualmente emissario d'este estabelecimento em explora- ção scientifica d'aquellas partes pouco ou nada visitadas anda do interior do Brazil, que excepcional interesse e importancia offerecem do ponto de vista ethnographico, não é um nome desconhecido do paiz, para aquelles que accompanham os progressos da sciencia. Trata-se de um explorador já experimentado e com brilhante tirocinio adquirido aqui mesmo no Brazil, pois tez parte da notavel expedição chefiada pelo Dr. Hermann 4892 Miscellaneas menores Meyer, de Leipzig, ás cabeceiras do rio Xingú, alguns annos atraz. A literatura ethnographica já lhe deve diversos tra- balhos de alto valor, entre os quaes citarei, por exemplo, um magnifico estudo «sobre o animismo », publicado n'um dos ultimos tomos do «Internationales Archiv fiir Ethno- graphie». E sobretudo um eximio philologo e linguista, de cuja actividade muito é de esperar em prol do melhor conhecimento das linguas dos nossos aborigenes. Em principio de 1903 o dr. Theodor Koch se nos apresentou no Musen do Pará, trazendo cartas de amigos do mundo scientifico de além-mar, que nos são caros, re- commendando-o e pedindo o nosso auxilio moral na mis- são ethnographica de que ia encarregado por parte do Museu de Berlim. Essa missão devia attingir principal- mente certos povos indigenas localisados entre o alto rio Purús e o Ucayale. Tendo todavia sobrevindo, como é sabido aqui, um longo periodo de commoções politicas e bellicas, affectando justamente o Purús e o Acre, alastran- do-se depois ainda sobre o Juruá, tal programma primi- tivo foi virado de pernas para o ar. Tornando-se assim, por circumstancias de força maior impossiveis de prever, necessario modificar o plano e consultando-nos o provecto scientista sobre a nossa opinião, qual outro dos rios do alto Amazonas offereceria especial interesse para a explo- ração ethnographica, não hesitamos em assignalar como taes o Uaupés e certos tributarios do rio Negro. Esta indicação e os razões por nós adduzidas em seu fundamento e apoio tanto calaram no espirito do Dr. Th. Koch, que elle adoptou a idéa, e, partindo para Manáos, levou comsigo já a resolução mais ou menos as- sentada, de que volveria a sua attenção ao systema do rio Negro, caso as informações a colligir na capital ama- zonense confirmassem os nossos receios de inviabilidade do projecto da viajem pelo alto Purús na actual emergen- cia politica, inviabilidade da qual ainda hoje estamos tão convencidos como então. O Dr. Theodoro Koch já se acha n'este momento no segundo anno de sua exploração calculada em 2 ou 3 annos, e das suas cartas, em que de vez em quando Miscellaneas menores 483 amavelmente nos dá conta do andamento da mesma, con- clue-se que elle está plenamente satisfeito com os seus resultados scientificos e que não se arrepende da modifi- cação introduzida no programma. Com prazer abrimos aqui espaço para dar publicidade, em versão portugueza, áquelles trechos das duas primeiras cartas manuscriptas, (redigidas em lingua alleman) que reputamos de interesse geral. Oxalá seja possivel ao Dr. Th. Koch findar com pleno successo o seu bello, importante e corajoso commet- timento e que elle possa voltar, são e salvo, enriquecendo Museus com os thesonros da sua colheita e dotando a literatura americanista com os fructos sazonados de pro- fundos estudos sobre umas tantas tribus de indios, de que antes pouco mais do que o mero nome se sabia! Ve EA GORLDI. BELEM DO PARÁ 15 nov. 1904, Trindade, Rio Negro, 11 julho 1903. « Prezadissimo Sr. Professor: Partimos no dia 1.º de julho, de manhan cedo, e che- gámos, depois duma viagem esplendida, na manhan de 10 de julho, em Trindade, ponto final da navegação a vapor, onde começam as grandes cachoeiras do Rio Negro. - Ainda em Manáos e a bordo do vapor me foi possivel trabalhar muito, tomando quer dos Ipurinás do rio Ituxy, quer dos Barés, Baniwas e Uarekéna do alto rio Ne- gro e do rio Isanna, vocabularios extensos e detalhados, cada um de mais de 600 palavras, mais de so locuções e indi- cações exactas sobre conjugação e construcções pronomi- naes e tirando das mesmas tribus photographias typicas de interesse anthropologico. As mulheres Ipurinás da Cachoeira, que photographámos no, Pará, me parecem falar um outro dialecto que não o dos Ipurinás do Ituxy; ao menos 484 Miscellaneas menores aquellas empregavam, em todas as palavras que se refe- riam ás partes do corpo humano, o suffixo «tsi>, em- quanto que estes usam aqui o verdadeiro prefixo Nu- Aruac «no-, nu-, ne-, ni-» sendo os pronomes para as outras pessõas tambem prefixos. Espero esclarecer este ponto duvidoso na minha viagem ao Purús projectada para o anno vindouro. Os meus projectos, taes quaes os posso prever, são os seguintes: Nos proximos dias mandarei o grosso das minhas bagagens n'um grande batelão, pelas cachoeiras, até S. Gabriel, onde deixarei a metade na casa do inten- dente, para o qual tenho cartas de recommendação do Go- vernador, e com o qual já fiz conhecimento aqui. Depois irei com o meu companheiro Otto Schmidt, teuto-bra- zileiro oriundo de Victoria ( Espirito-Santo ), e com duas pe- quenas canõas, ao alto rio Isanna, para estudar alli as tribus de indios selvagens, Uarekéna e outras, e para fazer collecções que levarei até S. Gabriel. Farei depois uma segunda viagem ao rio Uaupés e aos seus affluentes, talvez Caiari om Codiari, onde vive uma multidão de tri- bus ainda não estudadas nos seus antigos costumes e usos, que me fornecerão com certeza riquissima materia de estudos. Todas as collecções tenciono levar, em janeiro ou fevereiro de 1904, pelas cachoeiras abaixo, em diver- sas canôõas, até Santa Izabel no medio rio Negro, onde as embarcarei no vapor de Manáos que n'aquella época do anno não vem mais acima por causa da vasante do rio. Depois voltarei ao rio Uaupés para ficar ainda diversos mezes n'este El-dorado.— Em julho de 1904 espero estar de volta a Manáos. Após uma curta pausa de recreio irei ao rio Ituxy e depois. pelo alto Juruá ao Ucavyali, de onde voltarei, por Iquitos, a Manáos. Caso o permitta o meu estado de saúde, desejo fazer uma digressão a Santarem e ao rio Tapajós, para onde estou convidado. No verão de 1905 calculo estar de volta na minha terra. Fazendo votos pelo seu bem estar e para que nos tornemos a ver sãos e salvos, sou com as mais cordiaes saudações vosso de todo dedicado, TuHeoDorR Koch. Miscellaneas Menores 485 TE São Felippe (Rio Negro) 19 de junho, 1904. « Prezadissimo Sr. Professor: Queira, antes de tudo, receber os meus cordiaes agra- decimentos pela sua amavel carta do dia 16 de março de 1904, sobre alguns topicos da qual mais adiante voltarei a tratar. Permitta-me esboçar aqui uma relação conden- sada da minha segunda viagem, a qual ganhou dimen- sões bastante mais amplas do que a principio eu tinha calculado. No dia 7 de fevereiro de 1904 embarquei, em São Felippe, com o meu prestimoso companheiro Otto Schmidt do qual já lhe falei, e trez indios, e cheguei no dia 9 de fevereiro, depois de travessia rapida atravez as bravias cachoeiras do rio Negro, sem contratempo maior, á bocca do rio Ouriewriariy, consideravel affluente do lado direito do mesmo rio Negro. Realisei a ascensão da magnifica serra do mesmo nome, sita perto da emboccadura e alta bem mais de 1000 m., até ao pé do ultimo tope de ro- chedo, de paredão a prumo. D'esta consideravel altura (cerca de goo m.) abracei um imponente panorama sobre as montanhas entre rio Negro e rio Yuprrá ao Sul e Sul- Este. Accompanhei o curso do Curienriary, de forte cor- renteza, e do seu tributario esquerdo, Capanary-Igarapé, para cima até encontrar uma picada de indios. Por esta baldeei, por cima da divisa d'agua, em dons dias, a minha montaria e a bagagem para o Caraná-lIgarapé, pequeno afflnente da margem direita do rio Caiary- Uanpés, pelo qual no dia 6 de março, cheguei a este poderoso tributario do rio Negro. As margens do rio Curicwriary achei-as parcamente habitadas de Indios Tucano, emigrantes do vizinho Caiary- Uaupés, que se refugiaram para esta solidão das intempe- ries da tal «civilisação». Especialmente na margem di- reita vagueiani Indios Maki bravos, perseguidos, accossa- dos e odiados de outras tribus, sem residencias fixas e em fuga continua, como animaes selvagens, pela mata. ts6 Miscellancas menores No dia 11 de março proseguindo em minha jornada subi ao rio Catariy-Uanpés e no dia seguinte entrei no Tiquiá, affluente direito, o qual formou o meu rico campo de explorações durante os primeiros mezes. No dia 17 de abril parti de Pory-Cachoeira, até a qual o Conde E. Stra- delli tinha chegado em 188r, passei diversas grandes ca- choeiras, entre as quaes um pittoresco salto de cerca de 15 m. de quéda vertical, atravessando por terra com canôa e bagagem e detendo-me nas malócas dos Tuyúca-tapuyos até o dia 10 de maio, data em que continuei a minha viagem rio acima. O rio, especialmente depois de passa- das as boccas de diversos igarapés volumosos, tornou-se rapidamente estreito, até 10 m. e menos, tanto que só com difficuldade e vagarosamente a nossa larga montaria podia avançar, e perdeu-se finalmente no «ygapó» (var- zea innundada) No dia 13 de maio alcancei a ultima tribu do rio Tiquié, a dos Brrá. Até aqui jámais um branco tinha penetrado, razão pela qual fomos bastante admira- dos pelos aborigenes. Estes Bará não tinham nem galli- nhas, nem peixes, nem bananas; todavia depressa nos ha- bituamos, na verdade «obedecendo antes á necessidade, do que á inclinação propria», no dizer de certo poéta nosso, á sua tosca alimentação: beijú com molho de pimenta, mauiuára (especie de formiga «saúba») torrada e um ou- tro insecto encontrado nos galhos dos ingazeiros. Já entre os Tuuwiúka-tapuyos eu tinha obtido noticia de uma picada, usada por estes indios, para chegar a certo affluente do rio Yapurá. No dia 18 de maio puz-me a caminho por ahi com a minha gente e ainda no mesmo dia, passando a divisa d'agua por curto trilho directo, vi-me n'um igarapé que, conforme as asserções dos indios, levava as suas aguas brancas a um grande tributario do Yapurá, evidentemente o rio Apaporis. No dia 19 de maio encetei a viagem de volta, e, são e salvo, alcancei nova- mente São Felippe, no dia 14 de junho de 1904. As margens do rio Tiquié são extraordinariamente povoadas por tribus de diversas linguas, vivendo por ahi ainda inteiramente conforme antigos costumes e tradições. Até um dia de viagem acima de Pary-Cachoeira residem em muitas malócas populosas Tukano e Desána. Numero- Miscellaneas menores 487 sos Maki estão vivendo entre Tiquié e Papury. São «in- dios do mato», occupando mui baixo gráu de cultura e que têm de servir ás tribus mais fortes e valentes da vizinhança como escravos no serviço domestico e na la- voura. Debaixo do ponto de vista linguistico não mostram senão fraco parentesco com os primos do mesmo nome, no rio Ouricuriary. Rio acima seguem-se então os Dikána ou Tupuha-taprios, que se encontram igualmente no vi- zmho rio Papwry, affluente septentrional do Cariary- Uaupes, e nas cabeceiras do rio Tiquié, com a ultima tribu os Bará ou Posángo-mira, diffamados como anthro- pophagos entre os habitantes do Caary e do rio Negro, mas na realidade imoffensivos, como as demais tribus. As tribus superiores do rio Tiqmié, Dilána e Bará, estão em trafico constante com as tribus dos vizinhos affluentes do Yapurá, com as quaes entram em relações de paren- tesco por casamentos mutuos. No que diz respeito aos resultados scientificos d'esta viagem, consegui, além de numerosas vistas photographi- cas, levantar nada menos do que 13 vocabularios exten- sos das tribus residentes no rio Tiquié, do alto rio Pa- puriy e nos mencionados tributarios do rio Yaprwrá. Reuni uma collecção sobretudo rica em ornatos e utensílios de dança: entre outros salientarei o tambor de alarma e de dança, celeberrimo em toda a região do Uaupés (*), dos Indios Tukano da Pary-Cachocira. Mede 1,87 m. de com- primento, 2, 15 m. de circumferencia, possúe 4 aberturas acusticas circulares; acha-se suspenso por dous cipós, em 4 esteios e é batido com duas maças de borracha; ouve-se o som a grande distancia, sobretudo á noite, como eu pude convencer-me pessoalmente, constituindo mma espe- cie de telegraphonia sem fios. Nas intimas relações com os meus amigos bronzea- dos foi-me possivel, graças á cireumstancia de eu me de- ter, só, durante muitas semanas em algumas das suas (*) O autor fala aqui do tal «trocano», do qual possuimos um bello especimen no Museu do Pará, doado ao estabelecimento pelo Exmo. Sr. Dr. Paes de Carvalho quando Governador do Estado. Dr. E. GoELDI. 488 Miscellaneas menores grandes malócas, alcançar uma perfeita familiaridade com todos os seus factores e elementos de vida. Também o éxito feliz desta segunda viagem devo attribuir, em primeiro logar, á solicitude amavel do meu prezado amigo Don German Garrido y Otero, cavalheiro residente em São Felippe (Rio Negro), que accompanha os meus trabalhos com maximo interesse e, pondo á mi- aha disposição o rico cabedal de experiencia local adqui- rida durante longos annos, me presta inestimaveis servi- ços e me cumula constantemente de beneficios e auxilios, tanto de ordem moral como material. Nos primeiros dias de julho projecto entrar numa via- gem ás cabeceiras do rio Cuinry-Uaupés, expedição da qual provavelmente não poderei estar de volta em São Felippe senão para o fim do anno . . . . . Depois d'esta minna viagem ao Cainry-Unupés lhe mandarei outra vez noticias minhas. No alto Caiary as cousas não estão nada bôas actualmente, tendo-se dado lá em cima nos ultimos tempos massacres sanguinolentos entre as tribus de indios lá exis- tentes e «caucheros» columbianos, encontros deploraveis, onde, como geralmente, ainda d'esta vez a culpa se acha do lado dos brancos. Pedindo transmittir aos collegas do seu bello Museu as minhas sandações, sou com cordialissimo cumprimento, sincera consideração e alta veneração. Vosso, Tueopor Koch. 2 oO a a ” SA ao “ua Ea beto DA 1 TD] TOC TAAT TO Se dé BOLETIM DO MUSEU GOELDI DE HISTORIA NATURAL E ETHNOGRAPHIA PARTE ADMINISTRATIVA Dr. phil. Max Kaech. + Sobremodo penoso torna-se para nós o dever de referir-nos sobre a sorte adversa e quasi tragica, o in- fortunio a toda prova, que persegue a secção geologica do nosso Museu nas pessoas dos seus chefes. Pela se- gunda vez perdemos o nosso geologista, europeu recem- chegado, pelo terrivel morbo da febre amarella. Durou apenas 7 semanas a actividade do Dr. Max Kaech aqui no Pará: veio em fins de março e já no dia 22 de maio, Domingo do Espirito-Santo aqui no Brazil, ou de Pen- tencostes na Europa, época sempre enthusiasticamente festejada na sua patria como marco da positiva victoria da primavera sobre as inclemencias do frio inverno, descem ao tumulo os seus restos mortaes. O enterro do seu precursor immediato, o Dr. Karl von Kraatz- Koschlau, tinha sido realisado no dia 18 de maio de 1900 — 4 annos e 4 dias antes! Que estranha coincidencia tambem neste por- menor, — coincidencia corroborada pela semelhança de diversas outras circumstancias exteriores e sobretudo pela igualdade da causa mortis. Taes cousas impres- sionam, embora o nosso raciocinio não possa deixar de reconhecer que é preciso distinguir entre factos ligados 460 Dr. phil. Max Kaech 7 Necrologio entre si por um indeclinavel nexus causalis e factos ca- sualmente concatenados. Devemos à penna do Sr. Prof. Dr. Carl Schmidt, lente de Geologia na Universidade de Basilea, mestre e amigo do nosso collega, a seguinte noticia biographica, traduzida do original allemão: «O Dr. phil. Max Kaech, nasceu na aldeia de En- tlebuch (Cantão de Lucerna, Suissa) no dia 22 de ja- neiro de 1875. Passando os seus paes a residir em Basiléa, aqui frequentou a « Realschule», deixando-a, com o certificado de madureza, no outomno de 1894. Nas universidades de Basiléa e de Strassburgo, na Al- sacia, dedicou-se ao estudo das sciencias naturaes, es- pecialmente ao da mineralogia e geologia. No outomno de 1899 foi-lhe, por parte da universidade de Basiléa, concedido o premio pela solução de uma these estabelecida pela faculdade de philosophia. Este trabalho, uma in- vestigação dos porphyros entre o lago Maggiore e o Val Sesia, na alta Italia, foi por elle apresentado como dissertação inaugural, prestando o exame de doutor em philosophia no verão de 1900. Durante trez annos o Dr. Kaech funccionou como «assistente», em parte no instituto geologico da Universidade, em parte na secção geologica do Museu de historia natural em Basiléa. Du- rante estes trez annos, que seguiam o encerramento formal dos seus estudos para o exame de doutor, o Dr. Kaech proseguiu incessantemente em Basiléa na continua- ção de diversos trabalhos da sua especialidade. Com- pletou a sua dissertação, transformando-a completamente e ampliando-a em volumosa memoria, que foi publicada nos « Eclogae geologicae Helveticae ». Particularmente e officialmente participou do ensino mineralogico da unl- versidade; coordenou e classificou superiormente a col- lecção das rochas do Museu. Para a obra « Wirtschafts- Kunde der Schweiz» (economia social da Suissa) dos Drs. T. Geering e Rud. Hotz, foi Kaech quem ficou encarregado da redacção do capitulo: « À estructura da Suissa e seus productos mineraes». Examinou as ja- Dr. phil. Mar Kaech f Necrologio 461 zidas de minerio de ferro no cantão de Valais e, por incumbencia da commissão geo-technica suissa, collec- cionou materiaes para um trabalho synoptico sobre as fontes de aguas mineraes e as thermas da Suissa. Di versas outras pesquizas ficaram para ser completadas ulteriormente, devendo enviar do Pará os respectivos manuscriptos. O Dr. Kaech não trabalhava com muita ligeireza e facilidade, mas com grande conhecimento da materia, tranquillidade e circumspecção. Por todas as disciplinas da sua sciencia elle nutria vivo interesse e dispunha de um vasto conhecimento da litteratura, com o qual todos nós lucramos. Não tinha Kaech dis- posição para o magisterio academico, e como infeliz- mente na sua patria a occupação exclusiva com a sua sciencia predilecta difficilmente lhe daria tão cedo uma collocação e o pão quotidiano, esperava encontrar em- prego algo remunerador no exterior, como elle tinha visto acontecer com toda uma phalange de collegas e cama- radas seus. Foi assim que bemvindo lhe pareceu o cha- mado para o Museu de historia natural e ethnographia do Pará onde, debaixo da direcção do Sr. Dr. Goeldi, desde annos funccionam diversos patrícios e conhecidos de Kaech no caracter de botanicos e zoologos. O Dr. Kaech conhecia os perigos que ameaçam, na foz do Amazonas debaixo do Equador, a vida do Europeu, pois o Dr. K. von Kraatz, igualmente sahido da Basiléa, tinha ido para o Pará como geologista e lá succumbiu à febre em maio de 1900. Sinistros pre- sentimentos poderão quiçá lhe ter invadido por vezes a alma, todavia elle sabia combatel-os corajosamente, seguindo ao dever que lhe era imposto pela profissão escolhida. Nós presenciamos como o Dr. Kaech se rea- nimou alegremente, como se elle mediante esta nomea- ção para o Pará tivesse finalmente alcançado o alvo desde longo tempo almejado e com novo alento e zelo labutou na ultimação das investigações encetadas. Ao mesmo tempo que o cabo telegraphico nos transmittiu a dolorosa noticia da sua morte, vieram-nos cartas suas 462 Dr. phil. Max Kaech 7 Necrologio dando-nos conhecimento do seu bem estar, do seu con- tentamento e da sua optima disposição para o trabalho; annunciava-nos estar occupado em ultimar diversas pu- blicações e fallava dos seus planos de emprehender proximamente uma expedição com o fim de examinar jazidas auriferas no interior do Estado. E agora elle jaz em terra longiqua, chorado pelos seus paes, seus irmãos e seus amigos. » O Dr. Max Kaech era um moço alto, robusto e forte, de uma constituição manifestamente vigorosa e cheio de saúde. Todavia o destino já lhe tinha imposto uma vez uma dura escola de soffrimentos physicos, quan- do era ainda pequeno: um dia, o seu pai, que no exercicio de sua profissão de medico de campanha com propria pharmacia em sua casa, teve de fazer um co- simentc e aconteceu infelizmente cahir o pequeno Max, num momento não vigiado, com parte do corpo dentro do tacho, queimando-se horrivelmente no braço direito, de sorte que por toda a vida lhe ficaram a mão e o ante- braço direitos atrophiados. Escrevia assim o Dr. Kaech com a esquerda e quem o via executar trabalhos ma- nuaes não podia deixar de ficar surprehendido pela maneira habil com que elle se servia d'esta e sabia ainda tirar o maximo proveito de uma extremidade reduzida a miserando côóto. Embora porém existisse este defeito physico, que elle aliás sabia geitosamente es- conder, não se tinha a impressão que d'este proviesse um impedimento e damno muito perceptivel nos mo- vimentos imprescindiveis da vida diaria e dos mistéres profissionaes. Era Max Kaech um moço agradavel e sympa- thico, franco e communicatico. na conversação sobre assumptos e questões scientificas em geral, e jovial como collega e companheiro na vida particular e extra- official. A um solido saber profissional e uma instrucção geral evidentemente esmerada e harmonicamente uni- Dr. phil. Mar Kuech f Necrologio 463 forme, elle ligava aquella modestia caracteristica e pro- pria de um homem de bôa educação, — modestia que tambem tanto ornava a personalidade do Dr. K. von Kraatz-Koschlau e vantajosamente se distacava da pre- tenciosa fanfarronada de certos sabichões, que em auto- louvores e auto-admiração neroniana qual baiacú tufam. Evitando tanto a prolixidade inopportuna, como a re- serva calculada e oriunda do mero egoismo, elle dava-se naturalmente, fallando tal qual como pensava. Entre os diversos ramos da sua disciplina o Dr. Kaech cultivava com visivel prazer sobretudo a petro- graphia. As poucas semanas entre a sua chegada e o momento de adoecer elle as tinha occupado utilmente numa orientação geral e circumstanciada acerca da lit- teratura até hoje publicada acerca da geologia ama- zonica. Organisou uma bibliographia n'este sentido, destinada a circumscrever a parte que cabe à iniciativa deste Museu desde 1894 até hoje, quer directa — quer indirectamente, lista que contamos poder dar à publi- cidade em occasião opportuna. A doença do Dr. Kaech não durou mais do que uma semana. À sua primeira manifestação perceptível foi precedida ao que parece, tres dias antes, por um pe- queno erro de dieta, que provavelmente teria passado sem consequencia grave alguma se se tratasse de um elemento de aclimatação consumada. Entretanto a mar- cha da doença durante os primeiros cinco dias permittia pensar que houvesse um caso benigno de febre amarella e tivemos forte esperança de ver o nosso companheiro e collega salvo. O Sr. Governador do Estado, Dr. Au- gusto Montenegro e o Sr. Dr. Francisco Miranda, Director do Serviço Sanitario Estadoal, foram solicitos em ma- nifestar o seu grande interesse na salvação do Dr. Kaech e puzeram à nossa disposição todos os recursos que O Estado podia dar. Sobretudo valiosa nos foi a inexce- divel dedicação e a experiencia pratica com que as Irmans de Sant Anna, com a sua digna Superiora à testa, se encarregaram do tratamento do doente no seu pe- 464 Dr. phil. Max Kaech f Necrologio queno, mas agradavel domicilio (originalmente a casa do inspector do horto botanico ). Humanamente pensado, tantos esforços e tantos cuidados e desvelos teriam me- recido um melhor resultado e um exito mais feliz. En- tretanto a Vontade Divina tinha resolvido diversamente. No quarto dia manifestou-se um principio de hemor- rhagia intestinal, que durante os dous dias seguintes tornou-se mais frequente e mais vehemente, consti- tuindo-se a brecha por onde a preciosa vida devia evaporar-se. Até nos ultimos momentos, o Dr. Kaech conservou-se calmo e paciente, não dando a conhecer e negando até a existencia de dolorosos sentimentos physicos. Morreu heroicamente, quasi como em pé, um valente em pleno sentido da noção. Que triste cortejo aquelle que na tarde do dia 22 de maio seguiu, do portão lateral do Museu, atraz do coche funebre, levando o caixão mortuario, enrolado na bandeira suissa e acamado em pezada avalanche de flóres! Ao pé de um abieiro, novo ainda, no cemiterio de S. Izabel vimos a cova fresca, a qual devia receber, para sempre, os restos mortaes do nosso bondoso e es- perançoso collega, que uma sorte adversa tinha arre- batado, na flôr da juventude. Existencia ceifada pre- maturamente, — aniquilados os seus proprios sonhos de successo profissional (que os devia ter), as justas esperanças dos pais, os faustosos augurios nossos de uma actividade proveitosa para o nosso estabelecimento e a sclencia geologica em geral — tudo, tudo sentimos ruir para aquella cova, de par com cada um dos punhados de terra, que com estrepito, cahiam sobre o caixão. Lagrimas nos turvavam a vista e uma profunda dôr nos invadia alma e corpo ao assistirmos mais uma vez a este Impressionador aspecto da fragilidade humana. Semanas depois tivemos o não menos doloroso ensejo de relatarmos oralmente aos seus pais em Basilea, na Suissa, o fatal acontecimento nos seus pormenores. Conhecemos a excellente mãi do nosso infeliz collega, que com heroismo indagou mesmo d'aquellas parti- Dr. phil. Mar Kaech 7 Necrologio 465 cularidades e minudencias que exigem uma forte con- textura psychica, para ouvil-as. O Dr. Max Kaech vive na nossa lembrança ! Tudo concorre para justifidar a nossa previsão de que este talentoso moço, se tivesse podido viver por mais dila- tado tempo, teria sido um elemento muito proveitoso para o nosso Museu em especial e um valente pro- pulsor para a geologia amazonica em geral. Dirigindo-se esta Directoria ao Sr. Secretario da Justiça, Interior e Instrucção Publica, para solicitar a intervenção do Governo Estadoal perante a Camara Municipal de Belém, afim de obter a perpetuidade da sepultura do Dr. Kaech, encontramos a seguinte re- solução : RESOLUÇÃO N. 141 AÁuctorisa o Intendente a conceder, gratuitamente, a per- petuidade da sepultura n. 3.042, em que, no Cemiterio Santa Izabel, repousam os restos mortaes do Dr. Max Kaech. O Conselho Municipal de Belém resolveu e eu publico o seguinte : Art. Unico. — Fica o Intendente Municipal aucto- risado a conceder, gratuitamente, a perpetuidade da sepultura n. 3.042, no Cemiterio Santa Izabel, na qual se acham inhumados os despojos mortaes do naturalista Dr. Max Kaech, que serviu o cargo de chefe de secção do Museu Goeldi; — revogadas todas as disposições em contrario. Mando, portanto, a todos os habitantes do Mu- nicipio que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nella se contém. Dada e passada n'esta cidade de Belém, aos 28 - de dezembro de 1904. Antonio José de Lemos. INTENDENTE. 466 Dr. phil. Max Kaech 7 Necrologio O Museu apressa-se em agradecer ao Governo Estadoal e à Illm.: Camara Municipal de Belém a so- lcitude havida por ambas estas altas autoridades em honrar o local onde jaz o que de mortal havia no nosso pranteado collega Dr. Max Kaech. GeELDI. BELÉM DO PARA', 31 de Dezembro de 1904. 1 de Janeiro de 1905. Publicações do Dr. M. Kaech à, INK dr AOL 3. 1903. 4 1903. E=7 0 ENNIS: 6: 1908: q 1904. Vorliufige Mitteilung iúúber Untersuchungen in den Porphyrgebieten xwischen Luganersee und Val Sesia ». Eclogae geologicae Helvetiae, Vol. VII. Nr. 2, Oktober 1901. pag. 129 — 135. Mikroskopische Untersuchung ron Lôssproben, siehe bei A. Gutzwiller: « Der Lôss des Hohrôderhiúbels und der Wittenheimer Sandlôss ». Bericht der 34. Vers. d. Oberrh. geol. Ver. in Diedenhofen am 10. April 1901, pag. 5— 6; sowle: «Zur Altersfrage des Lóôss» Verh. der Natur- forschenden Ges. in Basel, Bd. XIII, Huíft 2, pag. 281 — 283. «Der Bau der Schweiz und ihre mineralischen Rohpro- dukte» mat Lateraturnachweis. Kapitel II zu T. Geering und R. Hotz: Wirtschaftskunde der Schweiz Ziúrich 1903 pag. 9—20 u. 154 — 155. Krystallographische Untersuchung von Chlordinitroanilin. siche: Waldemar Zãnker «Úber ein neues Chlordini- trobenzol >. Inaug-Dissert. Basel 1903 pag. 15 u. 16. «Geologisch-petrographische Untersuchung des Porphyr- gebretes xawischen Lago Maggiore und Val Sesia ». Eclogae geologicae Helvetiae, Vol. VIII Nr. 1 pag. 47— 164. « Notix úber einen neuen Fund von Fischschiefern im Flysch der Schweiz. Nordalpen». Zentralblatt fir Mi- neralogie, Geologie und Palãontologie 1903, pag. 742 —7 43. Die Verbreitung der erratischen Blúcke im Basler Jura von Karl Striibin in Pratteln u. Max Kúch in Pará +. Verhandl. d. Naturf. Ges. in Basel. Bd. XV, Heft 3. Relatorio de 1902 467 H RELATORIO APRESENTADO AO SR. DR. SECRETA- RIO DA JUSTIÇA, INTERIOR E INSTRUCÇÃO PUBLICA, REFERENTE AO ANNO DE 1902, PELO DIRECTOR DO MUSEU. Sr. Dr. Secretario da Justiça. Em cumprimento às respectivas disposições legaes, ve- nho apresentar-vos o Relatorto dos trabalhos do Museu sob a minha direcção, referente ao anno civil de 1902. Saúde e fraternidade O DIRECTOR DES ESA, GOELDI I Terrenos Não augmentou a área do Museu durante o exercicio de 1902. Estando por ora toda a attenção do Governo concen- trada nas diversas obras abaixo especificadas, transferiu-se a continuação dos esforços, tendentes a arredondar os terrenos do Museu, para o anno vindouro. A superficie do quarteirão inteiro é de 5,39 hect. Superficie adquirida na administração Lauro Sodré . .. 1,45 hect. Superficie adquirida na administr ação Paes de Carvalho . .. 0,89 hect. Superficie adquirida desde fevereiro de OO. E pare É a 2 ie Õ que perfaz a somma de. ..... 2,626 : hect. Ficam portanto para adquirir 2,704 hectares, isto é uma area em pouco excedente á já possuida. 468 Relatorio de 1902 II Edifícios Prolongou-se sobre todo o anno de 1902 a campanha de obras e construcções, à qual alludi em meu Relatorio anterior, sendo ella mais intensiva, naturalmente, durante a estação apropriada para semelhante mister. Acabou-se, em primeira linha, o edificio de officinas, ao qual faltava ainda o terço meridional na época em que foi redigido o meu Relatorio de 1901. Sahiu uma construcção commoda, solida, dotada da necessaria luz e bem arejada, satisfazendo tanto a idoneidade interior como ao aspecto externo. Veio sanar uma necessidade deveras primordial: só hoje, depois de prompta e installada, é que a gente bem se compenetra do calamitoso abarrotamento debaixo de cujo jugo se viveu nos annos anteriores, em tudo o que dizia res- peito a manipulações technicas. Importantissimo melhoramento significa outrosim a serie de novas edificações que se estende desde o novo portão que dá ingresso pela travessa Nove de Janeiro até perto da residencia do Director (lote IV do antigo mappa publicado em 1896) ao longo da mesma rua. Consiste em dois graciosos e sym- pathicos chalets, com a frente virada contra a actual horta, collocados nas extremidades de um estirado corpo central mais baixo, aberto pela frente a modo de varanda. Neste corpo central acharam seu logar o quarto de de- posito para milho, arroz em casca e mais viveres (compar- timento que, por causa dos ratos exige especial solidez), a cosinha para os animaes, as officinas de marcineiro e fer- reiro: é portanto dispensa, cosinha e officina para os mis- téres diarios do jardim zoologico. Os dois chalets terminaes constam porém cada um de duas partes identicas, cada uma das quaes por sua vez di- vidida em dois commodos espaçosos, claros. e altos, dando para a varanda da frente a que se tem accesso por uma escada sita no centro. Cada chalet possue, ligados ao refe- rido corpo central, o seu banheiro e water-closet. São portanto casas que correspondem a todos os re- Relatorio de 1902 469 quisitos de hygiene, de esthetica e de uma relativa commo- didade, proporcional às necessidades dos moços solteiros que nelles habitam, pois foi para os preparadores de zoologia e o desenhista-lithographo que se fez o chalet à esquerda ao passo que o da direita é destinado, uma parte a um pre- parador ulterior, outra para os serventes quando de guarda e serviço nocturno. Este comprido e, no seu todo, devéras importante complexo de novas edificações veio substituir vantajosamente, como facilmente se adivinha, aquelle rancho de ignominioso aspecto e infausta memoria que, sob o n. 3, se acha indicado no antigo mappa (deposito de vidros e materiaes e moradia dos serventes) e era situado em posição mais visivel do que se podia desejar, encostado à linha occidental de limites, quasi pelo centro geometrico. O desapparecimento deste rancho devéras feio impu- nha-se ainda por diversas razões: 1) cahia na linha da fu- tura alameda que, correndo de Este a Oéste, deve cortar naquelle mesmo ponto a outra actual avenida principal que está orientada em N.—S.; 2) ameaçava proxima ruina, não havendo nem possibilidade, nem conveniencia de concerto. Razões de esthetica que se tornaram imperiosas sobre- tudo pela visinhança do novo edificio das officinas, moti- varam a remoção da latrina (assignalada tom o n. 2 no antigo mappa ) para junto do muro à travessa Nove de Ja- neiro, sendo substituida a velha construcção por outra nova erigida com visivel gosto architectonico. Na campanha de successiva adaptação e transformação dos elementos antes existentes aos fins e necessidades do Museu, teve de ceder tambem aquelle outro rancho nume- rado com o numero IV b no antigo mappa, que nada mais era que uma vaccaria sita no antigo capinzal proximo à residencia do Director. Foi tão completamente arrasado que delle não se encontra sequer vestígio all actualmente. O Exm. Sr. Dr. Augusto Montenegro, Governador do Estado, determinou outrosim que fôsse erigido um muro solido ao longo da travessa Nove de Janeiro, desde o canto da avenida da Independencia. Esse muro foi construido apro- veitando-se naturalmente na sua extensão as paredes que sobre aquella rua teem as novas edificações e dependencias 470 Relatorio de 1902 a que acima me referi. Provisoriamente foi o dito muro pro- longado sómente até os limites da casa em que habita o Director com a parcella V do antigo mappa (pertencente à viuva e orphans Costa) unica que resta ainda por desapro- priar no quarteirão pela parte oriental do Museu, e que attinge a extensão de 238 m. Ao exercicio de 1002 pertence finalmente a abertura de um poço e a collocação de um aero-motor para secundar os esforços do grande tanque ao Oriente do lago da Victoria regia no fornecimento da agua necessaria para a já extensa área do Museu ec as multiplas necessidades desse indispen- savel liquido. Despendeu-se com esse serviço Rs. 1:020$000 sendo o empreiteiro um cearense com pratica do mistér. Re- conheceu-se entretanto que será preciso substituir o actual aero-motor norte-americano, muito leve, por um outro mais possante e melhor adaptado às consideraveis exigencias de força oriundas da tarefa de levar agua à altura do tanque. Foram os seguintes os orçamentos das despesas de mão d'obra e de materiaes nas novas construcções acima referidas: IL — Terço restante da nova officina taxidemica Rs. 5:0148428. ( Orçamento total deste edificio Rs. 17:713$281 ). JH. — Muro na travessa Nove de Janeiro com a exten- são linear de 238 m. e construcção de uma latrina junta ao mesmo, Rs. 10:065$000. HI — Dois chalets para os preparadores e serventes. encostados ao mesmo muro à travessa Nove de Janeiro, cada um Rs. 14:274$580X2=-Rs..... ; 28:5468$160. IV. — Corpo central do mesmo edificio, entre os dois chalets, Rs. 4:461$720. V. — Reboque e acabamento exterior de todos os edi- ficios recentemente construidos, inclusivê o portão no meio do muro à travessa Nove de Janeiro, Rs. 3:420$300. A despeza total com as obras no Museu, desde 1901 até hoje, importou em Rs 100:600$838, sendo desta somma Relatorio de 1902 471 fornecida directamente pelo (Governo a quantia de Rs. 99:1148442 e cabendo à caixa do Museu cobrir a differença de Rs. 1:4928396. Serviu de empreiteiro o Sr. Carlos Czempik, cidadão austriaco, preenchendo geralmente a nosso contento os seus compromissos. Não posso deixar de accentuar mais uma vez que tão relevantes commettimentos nunca poderiam ter sido exe- cutados unicamente com as quantias, visivelmente muitissimo estreitas para tanta cousa, se não fósse a solicitude, de todo Infatigavel, do Sr. Dr. Governador, alliviando os orçamentos com o espontaneo offerecimento e fornecimento de grandes partidas de pedras, matacões, areia, cimento e tijolos. S. Ex.: acompanhou toda esta campanha de obras, desde principio até o fim, com o maximo interesse e ines- gotavel paciencia, dignando-se dar attenção não sómente ás questões de alcance, de concepção e de execução, como até aos pormenores secundarios. S. Ex.: recebeu-me sempre em matutinas horas, em sua residencia, ouvindo-me e aconselhando-me, e em diversas prolongadas visitas ao estabelecimento documentou o par- ticular empenho em auxiliar e fomentar o desenvolvimento progressivo do Museu Estadoal. Reconheço de bom grado que é ao espirito iniciativo e à firmeza de vontade do Sr. Dr. Governador que se devem novamente no segundo anno da sua administração tantos outros feitos salientes e incontestaveis beneficios que por auferir enormes vantagens no seu bem-estar material, o estabelecimento grato os gravará com lettras indeleveis na sua chronica e annaes! III “ Jardim zoologico Continuou este florescente annexo no seu movimento ascencional, tanto. em relação ao inventario numerico, como em relação à area e às accomodações para os animaes. Relatorio de 1902 Por motivos de força maior (ausencia prolongada do assistente da secção zoologica ), casualmente não me é pos- sivel produzir inventarios detalhados concernentes a todos os mezes abrangidos no periodo deste Relatorio. Existem sómente os trez primeiros, relativos aos mezes de janeiro a março de 1902: por elles se vê que havia em Janeiro. 577 individuos, representando 136 especies Fevereiro 591 » Dix to AA » Março 653 » » 140 » Eis a lista detalhada, referente ao mez de março de 1902: Q À m q + :Ateles paniscus — Coatã .v.-... Mammiferos: Fes onça — Onça pintada. >» pardalis — Maracajá . os Procyon cancrivorus — Guaxinim Cd. Nasua socialis — Coati. Putorius paraensis — Furão . Cercoleptes caudivolvulus — Jupará Cebus albifrons — Caiarára. lat » labidinosus — Macaco de prego . » apela — Idem Múycetes belzebul — Guariba Coelogenus paca — Paca Dasyprocta fuliginosa — Cutia dindenia, : » aquti — Cutia .. .. REGE | O OD e A O MOD AS ela GO GO ÃO na | » croconota — Cutia vermelha .. » acouchy — Cutiaya . Cercolabes insidiosus — Coandú .. » prehensilis — » Hydrochoerus capyvara — Cana a. Dicotyles labiatus — Queixada (7 adult: E iv, E » torquatus ==Caitetil. a E ado st Tapirus americanus — Anta . a Bradypus marmoratus — Preguiça. . . «o. tO 1) DO Ho a OO a ». É ad e. q FS Pr do. - Ichthyoborus nigricollis — Gavião bello. 40. 45. Relatorio de 1902 e - Choloepus didactylus — » real. . Dasypus setosus — Tatu péba. Tatusia novemcincta — Tatú verdadeiro . Tamandua tetradactyla — Tamanduá collete. Myrmecophaga qubata — » bandeira. Didelphis cancrivorus — Mucura . Aves: - Harpyia destructor — Gavião real. Urubitinga zonura — —» japacanim . Polyborus tharus — Cará-cará. Ibyeter chimachima — Cará-cará-y. Cathartes atratus — Urubáú . » urubitinga — Urubu de RC amar ela - Sarcorhamphus papa — Urubú rei. - Siyrmiwum perspict Scops decussata — Coruja . Sittace chloroptera — Arara verde. » corulea — Canindé . » macdo — Arara vermelha . » maracana — Maracanã » severa — » Conurus jendaya — Jandaya . Pachyns brachyurus — Curica pequena . Chrusothis farinosa — Moleiro . Brotogerys virescens — Periquito estrella . » tum — » tuí. - Rhamphastos arvel — Tucano de peito : amar ello - Rhamphastos erythrorhynchus — Tucano de Es branco . - Porphyrio mar di iendisTo — Saia aa da canarana . - Aramides chiricote Saracúra (var. alba, 1). Cresciscus cayennensis — Açanã Ibis rubra — Guará . - Ptatalea ayamya — Colhereiro . Tantalus loculator — Passarão . - Mycteria americana — Tuyuyú . 473 O tv Qmm a CO ma a a a CO AA OA DAR pa mm ON OO vom pa 474 A [A (PUDE (Ea (DE (O (PEA ME | 1 O ENIGIRIS IGDTIS Cerro - Zenuida maculosa — » vaqueira . Relatorio de 1902 Geronticus albicollis — Curicãca. - Ciconia magoari — Cauauã. Canchroma cochlearia — Arapapa . Nycticorax garden: — Taquiry . Tigrisoma brasiliensis — Socó-bol . Botaurus pinnatus — » o» SR odwus pe — Garça branca de cabeça prele » leuce — Ras pedirá » — corulea — Garça morena . » — candidissima — Garça pequena . » — virescens — Socó-y. - Psophia crepitans — Jacamim de costas cinzentas Pavo cristatus — Pavão . pr Craax fasciolatus — Mutum pinima Sã » carunculatus — Pauxy O .. - Mitua mitu — Mutum cavallo . - Penelope gacupeba — Jacu-peéba . » pileata — » do Norte. » jacucaca — — » guaçu. Ortales aracuan — Aracuã . Crypturus variegatus — Inhambú . » pileatus — Inhambú . .. Crossophthalmus gymnophthalmaus — Pombo trocal Chloroenas rufina — Pomba galega . Geotrygon montana — Pomba cabocla . - Leptoptila rufaxilla — Juruty. Perastera cinerea — Pomba de espelho . Chamaepelia talpacoti — Róla. « passerina — Rôla. Tanagra palmarum — Sahi-açú . » episcopus — — »:» — — 2. Rhamphacoelus jacapá — Pipira . - Sycalis flaveola — Canario do Ceará Spermophilus sp. | Sp. pe 4 / Colleirinhas . ». “P. [ » sp. - Euphone violacea — Temtem . .. * e - a to OO Ito OrRtvvOO HR WROM Co + + 99. 100. 1ol. 102. 108. 104. 105. 106. 107. 108. 109. Ho: it. Zi >. 113. 114. 115. 116. H17. 118. LO. 120. Ro. So. nes. IDA. 125. 126. 127. 128. 120. E3O. Lot. “Relatorio de 1902 Corhypospingus cristatus — Gallo do mato . Tachyphonus melanolewcus . Arremon silens — Guiraca cyanea — Azulão Cassidir oryxivora — Graúna— Turdus albiventer — Sabia Cairina moschata — Pato do mato . Sarkidiorms carunculata — Pato de Cayenna. Dendrocygna viduata — Marréca apahy » discolor — Marreca grande . Querquedula brasiliensis — Marréca ananahy Dafila bahamensis — Marréca toucinho Palamedea cornuta — Anhúma Plotus anhinga — Carará . Larus atricilla —- Gaivota » » == » BRhea americana — Ema Reptis: Caiman niger — Jacaré-assu. » sclerops — Jacare-tinga Iguana tuberculata — Camaleão. Tupinambis migropunctata — Jacruarú . Testudo tabulata — Jaboty eds Nicoria punctularia — Jaboty aperéma. Rhinemas nasuta — Kagado do mato . Platemis platycephala — Jaboty machado. Chelys fimbriata — Matá-matá . Podocnemis expansa — Tartaruga do Amazonas » unifilis — Idem «cabeçuda» . » dumeriliana — Tracajá . Cinosternum scorpioides — Mussuan . Boa constrictor — Gibola. Epicrates cenchris — Giboia vermelha Eunectes murinus —- Sucurijú. — Surucucú-rana. DO + ba BRA R NS E OT PS NS INS pe pa VINDO Ip Spam pi SS "o “rr 476 Relatorio de 1902 Amphibios : 132. Tuyphlonectes compressicauda —- Cobra molle . 1 133. Hyla venulosa — Gia. . 4 ISA >» Sp RR 2 135. Dendrobates tinctoria — Gia . 2 136. Hiyla rubra — Gia. 3 Peixes: 137. Lepidosiren paradoxa — Trahirambosa . 1 138. Callichthys littoralis — Tamboatá . 8 139. Erythrinus uniteniatus — Jegá . cc. + a 140. Macrodon trahira — Trahira . 6 Da excursão ao Maranhão, feita entre outubro e de- zembro de 1902 pelo ajudante de preparador João Baptista de Sá (o unico empregado do Museu que resta hoje do quadro do pessoal do estabelecimento antes de 1804, isto é, antes da phase actual), vieram para o Jardim zoologico al- guns passaros vivos que até então ainda não tinhamos tido : Gallinula galeata — Frango-d'agua escuro, 3: Limno- pardalis maculatus — bella ave do mesmo grupo, facil de conhecer pelo peito todo rajado de preto e branco. Com bastante satisfação podemos apontar para os suc- cessos de criação alcançados no nosso Jardim zoologico durante o anno passado, successos que projectam uma luz singularisssma sobre a lobrega turba dos obscurantistas que por de traz procuram minar o credito do estabelecimento na opinião publica, por elle não produzir — vamos chamar as cousas pelo seu verdadeiro nome — dinheiro, para elles se encherem os seus bolsos. Pois outro fundo e motivo psy- chologico não tem a hypocrita lamuria destes prophetas da escuridão quando, com aquella perversa cegueira dos que não querem enxergar, calçando o cothurno como quem fosse capaz de sincero patriotismo, choram que o estabelecimento não produz o que elles chamam «resultados praticos !» Todo o mundo lembra-se da campanha que, desde a Relatorio PE 1902 477 E minha vinda ao Pará, movi contra a escandalosa destruição das garças brancas, como ella foi por mim apanhada em flagrante no valle amazonico, principalmente na ilha de Marajó, — destruição originada de uma cynica ganancia ligada ao commercio das pennas (aigrettes) para os fins da moda. Está archivado para todos os tempos o meu grito de alarma nas minhas representações ao Governador do Estado e ao Congresso Legislativo em 1805 (vid. Boletim do Museu Paraense, tomo II, pag. 27— 42), das quaes recentemente organizei ainda uma edição em lingua ingleza, com o fito especial de orientar sobre a natureza e as dimensões do mal os principaes paizes consumidores das taes pennas (*). No fim daquelle artigo juntei uma noticia sobre a cria- ção artificial das garças, assumpto sobre o qual eu tinha tanto mais direito de externar-me em vista de possuir já expe- riencias proprias, feitas, embora em pequena escala, antiga- mente, no Rio de Janeiro. Aqui riram-se, divertiram-se; os mais retrahidos, no maximo, tiveram um ar de misericordioso scepticismo para com as esdruxulas utopias do Director do Museu. Creio que chegaram a duvidar do regular funccionamento do meu cerebro. Mas ainda não houve neste mundo cousa tão alta, tão santa e tão nobre à custa da qual já se não tenha rido e divertido. No olhar para certo lenho de ignominia provém até para o naturalista consolo e animação quando, na sua difficil carreira o «profanum volgus» procura atirar-lhe as suas sagradas intenções para o lado da infamia e do ridiculo. Pois si já em 1901 notamos nas nossas garças sym- ptomas de disposições para crear, o anno de 1902 veio nos trazer o mais esplendido triumpho para as nossas previsões: tivemos certamente umas 30 garças brancas ( Ardea candi- (*) Against the destruction of White Herons and Red Ibises especially on the lower Amazon. Two memorials presented in 1895 and 1896 by Prof. Dr. E. A. Goeldi, cmzs, Honorary Member of the British Ornithologists Union, Director of the Pará-Museum of Natural History and Ethnography, — author of «As aves do Brazil» (2 vol. Rio de Janeiro 1894 — 1900), and « Album de aves amazonicas» (Zurich, 1900) — Translated from the Portu- guese into the English by Mr. Wm. H, Clifford. Pará, 1902. 478 Relctorio de 1902 dissima ) criadas no jardim, a E., em vez de apegar-se a um periodo de poucos mezes (julho a setembro ) como costuma acontecer na natureza, em estado de liberdade incoacta, as nossas garças criam, por assim dizer durante todo o anno, havendo novas posturas o cada momento. Igual numero ( uns 25 ou 30 individuos, ao menos) tivemos tambem no mesmo viveiro em filhotes de taquirys ( Nycticorax tajaçú-guira ). De maneira que tivemos em 1902 um accrescimo de 60 in- dividuos novos de Ardeides diurnos e nocturnos, nascidos no Jardim zoologico! E isto dentro de um viveiro que não tem mais que 17 metros de comprimento sobre 7 metros de largo (vid. Bol. do Mus. Paraense, T. II, pag. S e 9: Planta do Museu P., 1896, ibid. pag. 258, lettra g). Igualmente fizeram tentativa de procreação, no mesmo logar, Infelizmente até agora sem resultado, um casal de garças morenas ( Árdea corulea ), 2 ou 3 casaes de arapapás ( Can- croma cochlearia), um casal de cararás ( Plotus anhinga ). Todos estes fizeram ninhos, puzeram ovos, tiveram uma postura apparentemente normal, incubaram mesmo (os ca- rarás por exemplo, perto de 5 semanas ), mas não quer dizer que novas tentativas não possam dar o resultado esperado. O phenomeno o mais curioso porém foi incontestavel- mente uma geração de nove hybridos entre um marrecão (Chenalopex jubatus ), e uma pata (Cairina moschata ) de casa, de meio sangue, e ainda um tanto bravia. Trouxe-a em 1805 da ilha das Onças onde m'a deram como criada em casa, de um ovo achado no mato Não tivemos a dita de crial-os de todo: morreram dentro das primeiras quatro semanas, em parte victimados pelos ratos, estes insolentes flagellos do nosso, como de todos os outros Jardins zoologicos. Facilmente se comprehende que estes viveiros, com todo esse afan na vida domestica da aviaria aquatica, tornaram-se os pontos predilectos de attração para o publico: o povo agglomera-se em massas compactas, não ha quem não fique admirado e surprehendido das multicores, variadas e agitadas scenas que ali se desenvolvem à vista d'olhos, a poucos metros de distancia — scenas que na natureza só aos mais valentes e intrepidos amadores é dado assistir, em invios logares e após dificuldades e esforços inauditos. D'est'arte milhares de pessoas attestam assim semanal- Relatorio de 1902 479 mente o nosso pleno triumpho — presenciando com os seus proprios olhos a possibilidade da criação das garças pratica- mente demonstrada. Que bella experiencia (*). E que sa- tisfação moral para o vencedor nesta questão ! Podemos fazer observações interessantissimas sobre o caracter e costumes destas aves aquaticas. Uma das que mais nos impressionaram foi o facto bem e bastantes vezes por nós averiguado (e antes desconhecido ) de que os filhotes das posturas anteriores são aproveitados pelos progenitores para vigiar os irmãos menores das pos- turas posteriores: vimol-os proteger, com a aza aberta, os mais novos, contra o sol meridiano, quando os pais se acha- vam já cançados dessa penosa occupação, embora se reve- sassem de tempos a tempos. Vimos tambem os mesmos fi- lhotes mais velhos serem aproveitados pelos pais no trabalho de concertar e reparar o ninho, que constantemente soffre alguma avaria; vezes houve em que pareciam agir assim por propria iniciativa. Tivemos em 1902 novamente reproduceção das pombas conhecidas vulgarmente com o appellido de « Aza branca » ( Patagioenas gymnophthalmus ). Entre os animaes maiores tivemos prole, que porem morreu, do porco bravo «queixada». Lastimamos porêém que as nossas esperanças fossem (*) E” interessante saber o que a «Ibis» (revista ornithologica in- cleza), de Londres, escreveu, relativamente a este assumpto, em seu vol. NI, -- 1897, — pag. 628: «A producção de plumas. — A producção das «aigrettes» para senhoras « parece ter provocado tentativas de prender as garças afim de produzir «essas plumas tão desejadas. Em um recente numero do «Boletim da So- « ciedade Nacional de Acclimatação de França» (1896, pag. 302) M. Olivier « relata a visita que fez a um estabelecimento, proximo a Tunis, onde um « certo numero de garças ( Árdea garzetta ), estão presas em um vasto vi- «veiro guarnecido de arvores e agua. Ellas alli nidificam, criando duas «ninhadas em abril e junho; o sustento é barato com carne de cavallo, « apenas os filhotes necessitando alguns peixinhos com que a mãe os alimenta. « As preciosas plumas lateraes, tão valiosas como adornos para senhoras, são « aparadas duas vezes por anno, em maio e setembro, sendo as de maio as « melhores. Cada ave fornece cerca de 7 grammas annualmente. o que produz uns 35 francos, mais ou menos, e que, deduzidas as despesas, significa um « lucro liquido de 22 francos por ave. » A 480 Relatorio de 1902 frustradas em relação às emas: o macho, depois de incubar por mais de 40 dias, com uma paciencia deveras admiravel, comprehendeu finalmente que perdia o seu tempo e trabalho: os ovos, que eram 7, reduzidos successivamente a 4, 2 e um só, evidentemente não tinham sido fecundados. Todavia, como possuimos um macho e trez femeas, temos esperança de alcançar ainda resultado satisfatorio. Diversas tentativas de creação de coelhos domesticos mandados vir da Europa não deram ainda resultado satis- fatorio, o que principalmente attribuimos à actual falta de accomodações apropriadas. Com a creação da « faisanaria » projectada esperamos conseguir tambem aqui o nosso desi- deratum. Em compensação tivemos numerosissima prole dos porquinhos da India (Cavia cobaya); o seu numero anda hoje por perto de 200 individuos, de modo que podemos fornecer para a Junta de Hygiene, ficando ainda com o bas- tante para as necessidades do Jardim zoologico. Em novas accomodações para os animaes temos a mencionar: 1.º) duas espaçosas gaiolas proprias para corujas, por baixo do sumptuoso tanque d'agua; 2.º) uma gaiola polygonal menor, para periquitos e papagaios delicados, sita em logar sombreado no horto botanico, do lado oriental do edificio; 3.º) um viveiro maior, de fórma arredondada, para pombas menores e outras aves pequenas: está situado no logar da figura em fórma de biscouto visivel no mappa antigo nos fundos do Museu, contra a estrada da Constituição (v. Bol. do Mus. Par. T. II pag. 258). As respectivas obras foram todas executadas nas officinas do Museu, por um fer- reiro e um ajudante, engajados como jornaleiros, debaixo da direcção do nosso operoso auxiliar Dr. G. Hagmann, sempre indefesso no melhoramento material do Jardim zoologico. Entre os presentes feitos a este florescente annexo me- recem nominal menção, como doações de maior valor, os seguintes: 1 onça pintada, da ilha Mexiana, pelos srs. Pombo Irmãos; — 1 grande tamanduá-bandeira, trazido do rio Purús (além de um enorme Cuandú) pelo sr. Pedro Gomes Nas- cimento; — 1 maracajá-açú e 1 arara vermelha pelo exm. sr. Senador Antonio Lemos, intendente municipal; — 1 jacamin branco, pelo sr. Alfredo Napoleão da Rocha Pereira; —1 capivara pelo sr. capitão Ribeiro Lisbôa; —1 veado ver- o AM + Relatorio de 1902 481 melho pelo sr. Robertson, gerente do telegrapho; — 2 ma- goaris pelo exm. sr. dr. Lyra Castro, vice-governador do Estado; — 1 peixe-boi pelo sr. Francisco Paniagua, como tambem 1 grande tartaruga cabeçuda '( Podocnemis unifilis ); — 2 perdizes e diversas outras aves de Marajó pelo sr. Al- fredo Engelhard; — 1 coelho (Lepus brasiliensis) de Ourem, pelo exm. sr. dr. Augusto Montenegro, governador do Estado (é o achado mais septentrional que conhecemos para esta especie de roedor); —1 suçuarana, grande, do Tocantins- Araguya, pelo sr. engenheiro Léon Gheur;—2 jabirús pelo sr. José Isidoro Bentes; — 1 peixe-boi de Iquitos, pelo sr. Dórweiler inspector da linha Hamburg-Siid-Amerika; — 2 cu- ricácas pelo sr. José Ferreira Balthar; — 1 maracajá-açú pelo sr. Norberto de Mattos Almeida. Continúa a viver o nosso velho exemplar do celebre Lepidosiren paradoxa. Seriam altamente desejaveis mais exem- plares, pois vêm-nos de todas as partes do mundo pedidos. Rogamos aos nossos amigos residentes em localidades idoneas do valle amazonico lembrarem-se desse nosso empenho con- stante. VI Horto botanico Continúa este annexo a desenvolver-se e a aperfeiçoar-se, preenchendo assim cada vez melhor o seu triplice fim: agra- dar sob o ponto de vista esthetico; auxiliar o Jardim zoologico mediante a producção de alimento para os animaes; instruir e familiarisar com a flora amazonica. Acerca do estudo e marcha do horto botanico, informa o dr. Jacques Huber, no seu relatorio seccional, nos seguintes termos: « Este annexo ficou augmentado pela acquisição do «terreno n. 42 da travessa Nove de Janeiro, transformado «agora em campo de experiencias. A metade deste campo «ficou logo utilisada para experiencias com arvores fructi- « feras norte-americanas e com diversas variedades de algodão, « emquanto que a outra metade se occupou provisoriamente «com hortaliças, tendo-se tornado necessaria esta modificação «do nosso primittivo plano por causa da construcção das «novas casas no terreno onde era antigamente a horta. 482 Relatorio de 1902 « À construcção do muro e dos diversos edificios na «travessa Nove de Janeiro acarretou algumas mudanças de « canteiros e de plantas, mas actualmente essa parte oriental «do jardim póde-se considerar como definitivamente ajar- « dinada. Graças à construcção do novo tanque e concerto «do lago, que durante um anno estivera em secco, foi-nos « emfim possivel plantar novamente dois exemplares de Vi- «ctoria regia que, devido a um arranjo especial na sua plan- «tação e à abundancia d'agua, tomaram logo um incremento «notavel, produzindo do mez de julho em diante as mais « explendidas flôres, que attrahiram grande numero de admi- « radores, muitas vezes até altas horas da noite. « À agua para o lago foi durante algum tempo fornecida « por uma bomba movida por cata-vento que a extrahia de «um poço cavado perto do tanque novo. Entretanto a bomba «não mostrou ser bastante solida, deixando de funccionar « depois de alguns mezes. «No fim do anno a que se refere este relatorio, pro- « cedeu-se à construcção dos exgottos para aguas pluviaes «na parte oriental do horto botanico. Este serviço foi exe- « cutado sob a direcção do inspector do horto e concluido « do lado da travessa Nove de Janeiro; entretanto falta ainda « construir os canaes que devem ter sahida pela avenida da « Independencia. « Um acontecimento importante para o horto botanico «foi a chegada dos adubos mineraes que, com autorisação «especial do sr. dr. Governador do Estado, tinham sido « encommendados em Stassfurt, na Allemanha. Graças a estes « adubos o gasto de estrume animal outrora uma das mais « fortes despesas para o horto botanico, ficou reduzido a uma « parcella insignificante durante este anno. Disto resultou não «só uma grande economia para o horto botanico em geral « e especialmente para a horta, mas tambem a vantagem de, «com o emprego continuado do adubo chimico em solução « desapparecer da horta o terrivel flagello da formiga de «fogo que muito difficultava o trabalho dos horteleiros. Para « dar ao emprego dos adubos chimicos uma base segura fun- « dada em dados scientificos, começou-se uma serie de ex- « periencias comparativas que já têm dado resultados inte- « ressantes sobre os quaes fallaremos opportunamente. Relatorio de 1902 483 « Ainda durante este anno recebeu o horto botanico «alguns presentes de sementes e plantas vivas, entre as « quaes destacamos como tendo um grande valor: 1 pé de « guaraná (Paullinia cupana) e 9 pés de copahiba (Copai- « fera guyanensis ), ambos estes presentes do sr. coronel Ro- « drigues de Novaes, por intermedio do nosso bom amigo sr. « Manoel Baena. » V Collecções scientificas Nenhuma das secções do Museu ficou estacionaria; em todas houve accrescimos aqui mais, acolá menos considera- veis. Quanto à secção zoologica houve augmento regular das collecções de mammiferos, aves, reptis, amphibios e peixes, resultados das costumadas excurções nas visinhanças da ci- dade de Belem. Desejoso, desde muito, de continuar os meus estudos ha bastante annos iniciados sobre a ichthyologia do sul do Brazil, aproveitei da minha recente estadia no Rio de Janeiro (novembro de 1902 a abril de 1903) para fazer uma nova collecção de peixes, abrangendo perto de 400 individuos e nada menos do que 125 especies diversas. Embora eu tivesse em vista principalmente fins praticos, o conhecimento exacto dos principaes peixes economicamente importantes — destas 125 especies 4 provaram ser novas para a sciencia (3, 2 º/,)! Um bonito quinhão em vertebrados veio da excursão do ajudante de preparador João Baptista de Sá ao Ma- ranhão. 3 Entretanto o augmento mais sensivel foi nos inverte- brados, tendo sido favorecida particularmente a classe dos insectos. Em lepidopteros nocturnos fez-se uma importante collecção, aproveitando-se a bella occasião de caçal-os junto aos globos de arco-voltaico ao longo da avenida da Inde- pendencia, em fiente ao Museu, até ao largo de São Braz. Esta campanha de caçadas à luz electrica recebeu certo in- centivo pela sciencia da circumstancia de ser o nosso auxilio 484 Relatorio de 1902 anciosamente esperado pelo Museu Tring de Inglaterra, por causa de uma grande obra monographica sobre a familia das Sphingides (mariposas ). De facto, quem estudar a bella obra, que ha poucas semanas sahiu, depressa percebe o efficaz auxilio recebido, pelos autores, do Museu do Pará em re- lação ao material de origem amazonica. Duas especies novas de mariposas foram gentilmente baptisadas em nossa honra: — Protambulix goldii, Rotschild-Jordan e Xylophanes amadis goeldii, Rotschild-Jordan. E" aqui occasião de assignalar que a collecção lepido- pterologica recebeu ainda tão bonita quão inesperada con- tribuição sob a fórma de uma remessa de borboletas diurnas do rio Acre, valiosa offerta do sr. Jayme Coimbra. Nas outras ordens do dominio entomologico proveio principalmente accrescimo numerico digno de nota pelas colheitas feitas no baixo Amazonas e no Tapajós pelo pre- parador sr. Adolpho Ducke, que cultiva com pronunciada predilecção a ordem dos hymenopteros (abelhas, vespas e parentes ). Orientam acerca do movimento na secção botanica as seguintes phrases do dr. J. Huber: «O anno de 1902 foi para a secção botanica um anno « de lucto, pela morte inesperada do nosso preparador Manoel « de Pinto Lima Guedes. « Com elle perdemos um empregado zeloso e compre- « hendedor dos seus deveres, que durante 7 annos foi para «nós um auxiliar efficaz na exploração botanica do Estado, «como o prova, entre outras cousas, uma serie de especies « novas descobertas por elle e das quaes algumas receberam «o seu nome: Clusia guedesii, Hub. — Guarea guedesii, C. D « C. — Passiflora guedesii, Hub. «O sr. Rodolpho de Siqueira Rodrigues, até então « ajudante de preparador na secção zoologica, que foi no- «meado para preencher a vaga. mostrou-se digno da con- « fiança nelle depositada, já por suas aptidões profissionaes, «já pelo seu zelo e comportamento. « Poucas foram as excursões realisadas este anno pelo « pessoal da secção botanica. A mais importante foi uma « viagem do chefe da secção, acompanhado do preparador, «à ilha de Marajó, onde passamos oito dias na fazenda Relatorio de 1902 485 « Jutuba, do sr. dr. Vicente Chermont de Miranda, no rio « Camará (de 30 de junho a 5 de julho). « Muito aproveitamos nessa occasião da convivencia «com este conhecedor profundo da natureza marajóara que, «não satisfeito de nos dispensar a sua costumada hospitali- « dade, foi tambem o nosso guia atravez daquella região, tão « interessante sob diversos pontos de vista. Esperamos que «os estudos que então fizemos sobre os pastos de Marajó « hão de ser de algum proveito para a industria pastoril, « tornando-se dessa maneira em beneficio directo para o « paiz. « Outras excursões menores foram feitas nas visinhanças «da capital, sendo os pontos predilectos as capoeiras e a «mata de Murutucú, onde por diversas vezes foram collec- « cionar não só o chefe desta secção e o preparador mas « tambem o preparador de entomologia, ao qual já devemos «muitos objectos das nossas colleções. Herbario. « Sobre os 2.550 numeros citados no meu ultimo re- « latorio, o herbario amazonico tem a registrar um accrescimo «de 659 numeros, attingindo asssm um total de 3.209 nu- «meros no fim do anno. « Tal accrescimo se reparte do modo seguinte: «1) Plantas colleccionadas na excursão de Jutuba l = 165 numeros «2) Idem idem, pelo sr. A. Ducke em ex- cursão a Mont Alegre, Obidos, Santarem e Itaituba (1/yvn— "fx ) ES VS: 130 numeros «3) Idem idem, pelo mesmo em uma ex- cursão a Almeirim (xr — Blxm). . 44 numeros «4) Idem idem, pelo dr. Vicente Ch. de Miranda, em Junho, e offerecidas ao Ricea (IX, 1902). “=. RR Res « 5) Idem idem, pelo pessoal do Museu nos arredores de Belem... RR DS. DADA ad DA 1 Ss 4 numeros 486 Relatorio de 1902 « Destes 659 numeros, mais da metade (450) se acha « já devidamente classificada, ao menos quanto ao genero, e « intercalada no herbario amazonico. Outras collecções. « Quanto ás collecções de fructos seccos, madeiras, « objectos em alcool, etc. póde-se ainda dizer o mesmo que «no anno passado. Em quanto que os objectos menores con- « tinuam a ser colleccionados e a encher as gavetas e armarios « da nossa sala botanica, os objectos maiores ficam excluidos « pela falta de espaço. « Todavia achou-se um tal ou qual desafogo na officina « recentemente construida que, graças às melhores condições « de asseio, póde servir como deposito de objectos maiores, «ao menos aquelles que não demandam cuidado especial ou « collecção em armarios fechados. Assim, por exemplo, fi « camos habituados a dar andamento a uma collecção mais « completa de madeiras, composta não de pequenas taboinhas, «mas de tóros e rodelas inteiras. » Poucos foram os accrescimos a enumerar para a secção de geologia e mineralogia durante o anno de 1902. Contr nuando ainda vago o logar de chefe, claro é que lhe falta o seu legitimo factor natural. Nutrimos esperanças de que semelhante situação mudará de face em tempo muito remoto. Todavia não queremos deixar de mencionar aqui a vinda de diversos restos fosseis de grandes mammiferos ex- tinctos — objectos enviados ou trazidos pessoalmente do rio Purús pelo sr. commendador Hilario Alvares e do rio Juruá pelos srs. Hugo Bertha e Teixeira da Costa da casa Mello & Ca. Si poucos são numericamente taes objectos, por outro lado ligamos-lhes não pequeno valor scientifico, tanto que cogitamos em fazer delles o assumpto de estudos especiaes. A quarta secção. de ethnographia e ramos annexos foi relativamente feliz. Trouxeram-lhe presentes de valor mais ou menos avul- tado os srs. commandante Falcão, uma serie de interessantes vestimentas de festas de indios do rio Solimões; commendador Hilario Alvares, instrumentos de madeira para as festas de Relatorio de 1902 487 Jurupary, arcos e flexas dos indios Jpuriná do rio Purús. Adquiriu-se do sr. Arthur Napoleão da Rocha Pereira, dili- gente colleccionador e amador, diversos objectos de indios paraenses ( Urubús etc.) escolhidos por nós pessoalmente, sendo de reconhecer o modo cordato que esta Directoria sempre encontrou na estipulação dos preços, por parte deste cavalheiro. VI Publicações Das publicações periodicas do Museu sahiram em 1902 os numeros 3 e 4 do IIL volume do «Museu Paraense de Historia Natural e Ethnographia» e o numero 3 das « Me- morias ». Quanto ao Boletim, os dois fasciculos mencionados foram reunidos em um só volume, contando o respeitavel numero de 361 paginas (de pag. 245 a 606), e 15 illustrações, e fechando assim o tomo III. Creio que ninguem negará que este reforçado Boletim representa um esforço mental digno de reconhecimento. (*) O conteúdo é variado, sendo improvavel que houvesse quem (claro é que não fallo senão de circulos que não fogem a priori de qualquer litteratura de theor scientifico) não encontrasse qualquer artigo que lhe despertasse mais ou menos interesse. Confessamos que a sahida do «Boletim» tardou esta vez extraordinariamente, tanto que entre o apparecimento do primeiro fasciculo (fevereiro de 1900) e o do ultimo houve um intervallo de perto de trez annos. Mas a culpa não fci nossa, foi consequencia de factores alheios ao nosso poder: tendo passado a impressão do Boletim da typographia em que era anteriormente feita ( Alfredo Silva & Ca.) para (*) Veja-se, entre outras, a apreciação feita pelo decano da imprensa brazileira, o «Jornal do Commercio», do Rio de Janeiro, sob a rubrica « Imprensa » no n. 133 do dia 14 de maio de 1903. 488 Relatorio de 1902 a do Instituto Lauro Sodré, surgiu uma verdadeira campanha até que houvesse material, papel, typos e pessoal adaptados as nossas necessidades em geral e a umas taes ou quaes particularidades pessoaes em especial, nas novas officinas. Julgo vencidas as maiores difficuldades iniciaes. Quero crêr que a feição externa e a qualidade material deste ultimo fasciculo duplo não pódem ser taxadas de inferiores às dos numeros anteriores, de modo que parece salvo um dos pri- meiros desiderata que se devia formular em relação à mu- dança alludida:-— uma certa estabilidade e uniformidade NO sa e material. Não devemos passar em silencio sobre a circumstancia que « Ee, not least» a impressão no Instituto Lauro Sodré se faz com mais consideravel vantagem pecuniaria para o Estado: a differença de preço está na razão de 1:2 Quando publicamos o primeiro « Boletim » declaramos no prefacio que não faziamos declaração alguma acerca da periodicidade da publicação. Entretanto foi sempre o nosso proposito e plano reservado — porque o não confessariamos hoje, depois de passados 8 annos? — de esforçar-nos no sen- tido de 4 fasciculos correspondentes a um tomo não levarem muito além de anno e meio, 18 mezes, para sahir. Si na realidade não conseguimos ainda alcançar este desideratum, erroneo seria suppor que houvesse abandono de semelhante idea da nossa parte; pelo contrario, os esforços nesse sentido continuarão e nutrimos fundada esperança de que as cousas hão de endireitar em futuro proximo. Aliás manda a justiça e equidade reconhecer que as outras publicações sahidas do nosso estabelecimento durante os intervallos deixam apparecer esses mesmos intervallos entre a sahida de dois numeros consecutivos do « Boletim » n'uma luz mitigante e como cir- cumstancia atenuante. Uma certa difficuldade, toda local, que ainda não con- seguimos conjurar é a parte illustrativa: somos forçados ao emprego obrigatorio de estampas quando muitas vezes uma figura intercalada no texto preencheria melhor o fim desejado. Xylographia, zincographia e correlativas artes graphicas ainda não se estabeleceram entre nós de modo que possa corres- ponder ás exigencias de um estabelecimento scientifico como e o Museu estadoal. Relatorio de 1902 489 A terceira memoria é intitulada «Estudos sobre o des- envolvimento da armação dos veados galheiros do Brazil, Cervus paludosus, C. campestris e €C. Wiegmani, pelo Prof. Dr. Emilio A. Goeldi ». Tem 45 paginas de texto e 4 estampas executadas no proprio Museu (já estavam promptas e impressas desde 1898 ) pelo nosso desenhador lithographo sr. Ernesto Lohse como aquella habilidade profissional e gosto artistico que de bom grado nelle reconhecemos. Por determinação especial de S. Exec. o Sr. Dr. Governador foi esta «Memoria» im- pressa no Rio de Janeiro, pela Companhia Typographica do Brazil (antiga casa impressora Laemmert & Ca.) encarre- gando-se. a meu pedido, do trabalho de revisão o nosso dedicado amigo sr. José Verissimo. Este trabalho tem sido recebido de modo francamente favoravel por toda parte: Da maneira como pensam a seu respeito os especialistas e a imprensa scientifica, da uma idea o que diz a «Nature » de Londres, no seu numero 1748, vol. 67, abril 30, 1903, pag. 620. (*) No correr do exercicio de 1903 devem sahir, esperamos, os fasciculos 1 e 2 do tomo IV do Boletim; talvez uma quarta « Memoria » para»a qual já se acham quasi promptas as 10 estampas que deve conter e que versa sobre archeologia; o 2.º fasciculo ( estampas 13 a 24) do « Album de aves ama- zonicas» tão festejado por toda a parte entre os amigos da natureza, e .talvez do « Arboretum amazonicum », não menos bem vindo nos circulos scientificos, as decadas III e IV, das quaes existem já os originaes de 17 estampas, faltando por- tanto, apenas 3. Publicações scientificas feitas por funccionarios do Museu em outros paizes houve tambem diversas este anno; serão opportunamente vertidas para o portuguez ou pelo menos aproveitadas na fórma de resumos nos futuros Boletins. Transmittiu-me o sr. dr. J. Huber, nosso collega da secção botanica a seguinte relação de publicações que sahiram em 1902 na especialidade por elle dirigida: (*) Artigo intitulado: «Dr. Galdi on Brazilian Deer.» 490 Relatorio de 1902 J. Huber. Observations sur les arbres à caoutchouc de la région amazonienne. ( Revue des cultures coloniales, 6"º an. Tome X, nº 95,96. J. Huber. Zur Entstehungsgeschichte der brasilischen Campos. ( Petermann's geogr. Mitteilungen 1902 Heft IV. J. Huber. Sobre os materiaes do ninho do Japú (Ostinops decumanus): (Bol.. do, “Mus. Par. NS 320— 341, 1 est.) J. Huber. Observações sobre as arvores de borracha da região amazonica. ( Bol. do Mus. Par. V. HI. p. 345 — 369.) J. Huber. Materiaes para a flora amazonica V. Plantas vasculares colligidas ou observadas na região dos furos de Breves em 1900 — 1901. ( B. do MP: VIE pao aca! J. Huber. Contribuição à geographia physica dos furos de Breves e da parte occidental de Marajó, com 2 mappas e 5 estampas. ( Bol. do Mus. Par. V. HI, p. 447 — 498). Otto Penzig. Note sul genere Mycosyrinx (con 2 tavole). Estratto della « Malpighia », anno XIII, vol. 1896. P. Hennings. Fungi paraenses II cl. J. Huber collecti: (He- dwigia vol. XLI. 1902, p. 15 — 18). Estando exgotadas algumas publicações do Museu e resultando-nos disso sério embaraço pelo crescente numero de pedidos de toda a parte, justamente referidos a essas publicações, ventilamos fortemente a questão de si deveria- mos organisar uma reedição. Em primeiro logar entrariam aqui, do « Boletim do Museu Paraense » o fasciculo 1.º do tomo 1, e das « Memorias» a 1.2, sendo a cousa relativa- mente facil quanto a estas ultimas, visto como existem es- tampas sobrecellentes para uns 200 exemplares. Vi Viagens e excursões Das numerosas e costumadas excursões que desde o principio do Museu são feitas ás mattas circumvisinhas da Relatorio de 1902 491 cidade, mormente ao Utinga e ao Murutucú, — excursões das quaes, com a incessante perseguição que não somente a caça propriamente dita como qualquer animal de pello ou penna soffre por parte dos caçadores do domingo, de alguns vadios e esfomeados — não se deve esperar grande resultado que pese nos hombros. Todavia jamais se volta sem alguma cousa: falhando os vertebrados, não faltam os invertebrados; ha ainda muita observação biologica a fazer, e o reino das plantas offerece sempre alguma novidade. Diversas excursões à olaria Una foram realisadas pelo auxiliar da secção de zoologia, dr. G. Hagmann, obten- do-se interessantes peças de colheita, zoologicas e botanicas. Em viagens para pontos mais distantes posso men- cionar : — 1) Do chefe da secção botanica com o respectivo preparador ao rio Camará, na ilha de Marajó, de Solde junho a 5 de julho. — 2) Do preparador de entomologia a Monte-alegre, Santarém, Obidos e Itaituba, de 10 de junhoa 18 de setembro. — 3) Do mesmo, a Almeirim, Arayollos, etc. de 5 a 20 de dezembro. — 4) De um ajudante de preparador de zoologia ao Maranhão, de outubro a dezembro. VII Frequencia publica Continúa o Museu com os seus annexos a ser o grande centro de attracção, tanto para os aqui residentes como para os que vêm de fóra. Quanto a estes ultimos póde-se, com satisfação, constatar que não entra e sahe neste porto vapor mercante ou de guerra do qual o commandante, medico, offi- ciaes, marinheiros e passageiros não procurem logo, no pri- 492 Relatorio de 1902 meiro momento disponivel, visitar o Museu, retirando-se sem- pre contentissimos e enthusiasticos admiradores tanto daquillo que viram como da fórma como o viram. Navios como o « Umbria, » italiano, o « Atlantic », norte- americano, e o « Falke », allemão, levaram para as suas praias patrias a fama dos thesouros e das riquezas naturaes da Ama- zonia, que em parte alguma elles contemplaram tão de perto e de fórma tão condensada como no Museu do Pará. Tambem o elemento indigena não conserva menos a sua sympathia ao estabelecimento, e será permittido accrescentar sempre de novo que neste facto percebemos um caracteris- tico symptoma da sua popularidade. Conforme os assentamentos cuidadosos do guarda-portão e do porteiro, foi a seguinte a frequencia publica em 1902: Janeiro 4.937 Julho 8.394 Fevereiro 6.746 Agosto 10.009 Março 8.542 Setembro 9.969 Abril 7.827 Outubro 4.864 Maio 8.288 Novembro 7.686 Junho 0.357 Dezembro 6.462 Total 93.018 No quinquennio anterior tivemos: Em 1807 to o Ce RR 75.671 s - 18082 15 A o 84.372 > ABOO.ss a a ANE PR 79.167 $ 1O0DO 14 4 SR O O ID > -100d0:4 5 +. De do 88.008 Em comparação com os annos anteriores houve uma innovação nos dias de visita publica: foi designado mais um dia para franqueamento do estabelecimento, porem reservado sómente para familias, sendo a terça-feira o « dia de familias ». A principio houve a costumada tróça, até na imprensa, contra tal nome e tal definição. Não me importei com isso, ante- vendo bem que o publico sensato não tardaria a compre- hender a vantagem offerecida que, consideradas as cousas Relatorio de 1902 493 como ellas realmente são, significa um sacrificio de tempo e de trabalho para a directoria e para o pessoal. E assim aconteceu. Está hoje provado que a innovação é grata áquelles que preferem visitar o estabelecimento em occasião em que é exercido um certo peneiramento social e não se produz o acotovelamento costumeiro dos domingos e dos dias em que casualmente coincidem com feriados os dias de exposição regulamentares. IX Bibliotheca Um poderoso factor de incremento para a nossa bibli- otheca são as remessas que nos vêm de toda a parte do globo, em troca com as nossas publicações, por intermedio do International Bureau of Exchanges by the Smithsonian In- stitution of Washington, nos Estados Unidos. A agencia central no Brazil é a Bibliotheca Nacional, no Rio de Janeiro, e é esta que nos entrega os pacotes e volumes que vêm diri- gidos, via America do Norte, pelas sociedades, academias e instituições congeneres, com utilisação das vantagens e commodidades auferidas pela mencionada Smithsonian Insti- tution, a uma casa de confiança por nós designada, na Capital Federal, que gentilmente lá nos serve de commissaria gra- tuita, e que nol-os remette para càã todas as vezes que a quantidade dá para encher um caixão. Sobem já a centenas as obras, revistas, etc. que nos chegam annualmente desta maneira, destacando-se, como nos annos anteriores, por uma liberalidade deveras principesca, os diversos departamentos ministeriaes dos Estados Unidos da America do Norte, e entre elles em primeira linha o «Geological Survey ». São volumes cujo instructivo conteúdo attesta do modo mais convincente o progresso scientiífico nos Estados Unidos, ao passo que as explendidas illustrações, como toda a faustosa feitura interior, demostram o apreço publico que lá se cos- tuma dar às producções desta natureza, a estes sazonados 494 Relatorio de 1902 fructos do espirito humano. Entretanto chamam-n'o de es- sencialmente pratico, o povo norte-americano. Que soberba lição podem tirar deste procedimento e tactica estes nossos prophetas que por ahi com as hypocritas lamurias acerca de « resultados praticos >» se propõem a transformar o mundo e a fazer voltar a éra de ouro e o reino encantado, — bem entendido, collocando-os no nosso logar ! X Serviço meteorologico Prosegue com a mesma regularidade dos annos ante- rIOTES. Aperfeiçoou-se a instrumentagem: juntamos como inno- vação. um hygrometro registrador, systema Richard — Paris, e adquirimos dos barometros e thermometros registradores dantes existentes umas duplicatas identicas de fiscalisação, alem de uns pluviometros que tencionamos confiar a pessoas do interior que queiram fazer regularmente observações. Sahiram publicados, tanto o trabalho do Prof. dr. Julius Hann, ao qual já alludi no meu relatorio anterior, como o meu acerca do clima do Pará. O primeiro é intitulado «Zur IKenntniss des Klimas am Aequator. Auf Grund der Beobach- tungen am Museu Goeldi in Pará», (Contribuição para o conhecimento do clima do equador. Baseada nas observações do Museu Goeldi, do Pará), e contem 70 paginas e acha-se, no original allemão, nos « Sitzungs-Berichte der Jais. Akade- mie der Wissenschaften. in Wien», ( Math.-naturw. Classe Bd. HI, Abtheil. II a, Mai 1902). Comprometteu-se comnosco o nosso excellente amigo, sr. capitão Tasso Fragoso, do Estado Maior no Rio de Ja- neiro, a elaborar um extracto em portuguez, deste trabalho magnifico, porem um tanto technico—extracto esse que, junto com a versão do meu proprio trabalho, deverá apparecer num dos proximos Boletins do Museu. O segundo trabalho, de minha lavra, é intitulado «Zum Relatorio de 1902 495 Klima von Pará» (Acerca do clima do Pará), contem 18 paginas, e acha-se no original allemão, na « Meteorologische Zestschrift », de Vienna, revista universalmente conhecida e redigida pelo mesmo Prof. Dr. Julius Hann, (1902 August). Deste meu trabalho appareceu uma traducção feita pelo sr. Prof. João Capistrano de Abreu, no Rio de Janeiro, no « Jor- nal do Commercio», 13 a 20 de Janeiro, 1903) — traducção esta que, como acabamos de dizer, deve vir reimpressa pro- ximamente, acompanhada do resumo da dissertação do Prof. J. Hann, no nosso proprio orgão de publicação, o « Boletim ». Repetimos aqui uma noticia ja dada no nosso relatorio de 1901: — o Professor Hann determinou a temperatura média annual do Pará como sendo de 250,7 C — mais de um grão “abaixo do que geralmente se suppunha. Repetimos isto e bem alto, visto que ainda recentemente, bem poucos dias atraz, encontramos em uma revista popular de alem-mar a singular pretenção (forjada não sabemos com que materiaes, mas sa- hida do Brazil) que a temperatura média de Belem do Pará, com clima littoral, era de 27,04 C, isto é — como lã se dizia — o, 9º C mais que a média annual de Manãos, com clima continental ! Por ahi se póde avaliar que já urgia, finalmente, um estudo sério e aprofundado sobre o clima do Pará, quando ainda circulam asneiras à guisa e com fóros de genuina sa- bedoria. | XI Material de conservação, mobilia, etc. Continuando a situação cahotica por mim já tantas vezes profligada nos meus relatorios anteriores, de ser, por parte da Alfandega, tratado o material importado do ex- trangeiro para as necessidades do Museu Estadoal como se se tratasse de uma firma commercial qualquer ao nivel de artigos como bacalhão, cebollas, graxa ou cousa que o valha, resolvi aproveitar da circumstancia da minha missão à ca- pital federal para entender-me directamente com o sr. Mi- nistro da Fazenda sobre esta materia (como aliás já o fizera 496 Relatorio de 1902 em annos anteriores — infelizmente sempre sem grande resul- tado). Apresentei um memorial cujos pontos essenciaes acham-se contidos nos seguites topicos : « Memorial apresentado a S. Exa o Sr. Ministro da « Fazenda, Sr. Dr. Leopoldo de Bulhões, pelo Director do Museu Estadoal do Pará: A « O Museu Estadoal do Pará, estabelecimento que póde « provar que no mundo scientifico é tido como primeiro centro « de exploração nacional e methodica do Norte do Brazil, e « que na sua fé de officio tem serviços prestados ao Brazil, « de tanta notoriedade que não será preciso especifical-os « aqui, tem desde 18094. data da sua fundação, até hoje, en- « contrado na sua marcha administrativa como principal e « maior obstaculo ao seu desenvolvimento o extremo rigor « fiscal opposto pela Alfandega do Pará à Directoria do « Museu na importação do material, utensilios e instrumentos « necessarios, do extrangeiro. « Este extremo rigor fiscal, absurdo na sua origem, « injustificado pelo honrado passado do Museu, infelizmente « não tem ficado sem ostentar por vezes a face de mani- « festa arbitrariedade . Porte Lt do SEA a « De um exame attento da legislação aduaneira do Brazil, «no seu conjuncto, resulta, tanto quanto se póde presumir pela lei de consolidação dos direitos de Alfandega, annual- mente impressa como introducção à Tarifa das Alfandegas, « visivel e incontestavelmente, uma tendencia benevola para facilitar efficazmente emprezas e commettimentos que tenham « por fim a exploração scientifica do Brazil, tal qual como « pretende facilitar tambem passos e medidas visando o pro- « gresso da agricultura mediante importação de instrumentos « de lavoura, de animaes e plantas para ensaios de acclima- « tação, de adubos chimicos, etc. « E” este o espirito e a intenção do legislador e feliz- « mente o Brazil não se afasta da norma de conducta que «em qualquer outro paiz civilisado é assumida em identica « conjunctura. Isenta, pela lettra expressa da lei, de direitos a RA A « « « « RBS « « « Relatorio de 1902 497 a instrumentagem, os utensílios, livros, etc. necessarios e im- prescindiveis de qualquer expedição extrangeira encami- nhada a respectiva requisição pelo competente represen- tante diplomatico. E este caso tem-se dado repetidas vezes, ainda nos ultimos annos e um d'elles, de recentissima data pertence, se não me engano, já à administração do actual Ministro da Fazenda, e prende-se à expedição ao Norte do Brazil, projectada pela academia imperial de Vienna, e chefiada pelo Dr. Franz Steindachner, director do Museu de Historia Natural de Vienna — meu amigo e correspon- dente de longos annos, que, seja dito de passagem, insis- «tiu que eu lhe traçasse o programma da sua viagem e que, « « R A como vejo pelos passos dados em relação à importação do material para o corpo expedicionario. mostra querer seguir à risca os meus conselhos. « Confiado, por um [ado, no precitado espirito da lei e na sua positiva tendencia protectora para semelhantes em- presas de caracter scientifico, mas devendo, por outro lado, passar pela dolorosa percepção que os Inspectores da Al- fandega do Pará obstinavam-se, por via de regra, em negar ao Museu Estadoal do Pará uma certa benevolencia fiscal, não só merecida pelos serviços prestados à União, como até indicada e dictada pelo bom senso commum, resolvi por occasião da minha passagem pela Capital Federal, em principio de 1898, pedir providencias directamente ao Sr. Ministro da Fazenda e obtive por parte dos Srs. depu- tados Sá e Callogeras a expontanea offerta dos seus bons officios e auxilio. De facto, vi, mezes depois, na seguinte Tarifa de Alfandegas em certo paragrapho, pela primeira vez enumerados os « Museus Estadoaes » nominalmente entre os estabelecimentos considerados com a isenção de direitos. Curto porem foi o jubilo: não tardei em desco- brir e sentir praticamente que outro artigo posterior incluia novamente o caso dos Museus Estadoaes entre aquelles que dependiam do recurso ao Sr. Ministro da Fazenda. « Assim mesmo ainda não quiz acreditar na nenhuma efficacia da vantagem promettida no papel, sem ser a isto compellido pela experiencia e realidade dos factos. « Esta experiencia não tardou a apresentar-se com a vinda da Allemanha, de uma caixa de estampas para o 498 Relatorio de 1902 . « Boletim do « Museu Paraense». Pediu-se a isenção de di- « « reitos por circumstanciado telegramma directamente diri- gido ao Sr. Ministro da Fazenda. « Nunca obtive resposta, e pagou-se, finalmente, os respectivos direitos — como d'antes e como depois. — Ainda mais: aproveitando eu a residencia temporaria do Sr. Director das Rendas Federaes, Sr. Luiz Rodolpho Ca- valcanti de Albuquerque, no Pará, quando em commissão especial do respectivo Ministerio no valle do Amazonas, levei ao conhecimento deste zeloso funccionario as minhas queixas contra o tratamento que o Museu do Pará encon- trava sempre na Alfandega d'ahi. Convidado pelo mesmo Sr. Director a formular estas minhas queixas por escri- pto, redigi circumstanciado memorial sobre o assumpto, que foi recebido attenciosamente, com a promessa espon- tanea de s. s. de que a materia seria estudada, aprovei- tada no relatorio e recommendada, tanto quanto depen- desse da sua bôa vontade e competencia, à attenção do Sr. Ministro para sanar-se o mal definitivamente no sentido da minha justa expectativa. « Tive a decepção de não perceber symptoma algum de melhora na situação: pelo contrario, as relações do Museu Estadoal com a Alfandega do Pará foram franca- mente desagradaveis durante o periodo administrativo do ultimo Inspector. ... . SER DE « Diversos contos de réis em direitos e multas quiz-se extorquir illegalmente por uma partida de adubos chimicos vinda da Allemanha para o horto botanico do Museu, e centenas de mil réis, num outro caso, por uma duzia de aves domesticas, enviadas de presente, para o jardim zoo- logico do mesmo Museu, por um estabelecimento conge- nere europeu. É tantos outros exemplos de requintada hos- tilidade, que temem a luz meridiana e merecedoras de se- vera censura. « Existe pois a situação verdadeiramente paradoxal: «— 1) que, em relação ao interior, o Museu do Pará « (o qual como acima ficou explicado, tomou «a iniciativa e teve o trabalho de interferencia « para que os Museus Estadoaes entrassem na R « R « « K RBS « R « & RN « «— 2) « R « MR « « R « « « A K RB « « « « Relatorio de 1902 499 cathegoria dos estabelecimentos gozando do favor da isenção de direitos) é de facto o unico Museu que, em virtude da sua distan- cia do Rio de Janeiro, ficou sem usofructo efficaz algum da referida vantagem, colhendo o beneficio d'esta somente os dous outros mu- seus, muito proximos ambos da Capital Fe- deral — o Museu Nacional, do Rio de Janeiro, e o Museu Paulista, de S. Paulo. que, em relação ao exterior, o Museu do Pará, embora de provada benemerencia e unico pioneiro da exploração scientifica do Norte do Brazil, não conseguiu, durante 8 annos de existencia até hoje, merecer do Governo Fe- deral o mesmo favor e a mesma consideração que se concede a qualquer expedição extran- gerra mediante simples requisição da respe- ctiva legação. « E” impossivel que semelhante paradoxo absurdo fique de pé. O remedio é conceder ao Museu do Pará isenção de direitos do ma- terial, utensílios, instrumentos, livros e im- pressos que tiver de importar do extrangeiro «para as suas necessidades. « Em vez do recurso ao Sr. Ministro da Fazenda em cada caso (condição esta que a pratica demonstrou ser inexequivel e de effeito diametralmente opposto ao inten- cionado ) poderia haver — attentas as demoras causadas pela grande distancia da Capital Federal — recurso ao in- spector da Alfandega do Pará (como já existe em relação às machinas agricolas, etc.) ou qualquer outra medida que se julgasse conveniente debaixo do ponto de vista dos in- teresses do fisco, sem entorpecer a rapida solução de cada « caso isolado. « Avalio approximadamente em dez contos de reis a media annual paga durante estes 8 annos de existencia do Museu do Pará em direitos de Alfandega. « Os principaes artigos que o Museu importa regular- mente do extrangeiro, são : 500 gy e «AE. « HI. avo « VI. « VII. « VUI. « IX. Relatorio de 1902 Estampas com muitas ou 2 córes. « Papel de desenho, de lithographia, « tintas de côres para o mesmo fim, Livros impressos, tanto antigos «como novos; quer publicados « pelo proprio Museu, quer por « outros; illustrados ou não. Cli- « chês zincographicos para as pu- « blicações do Museu. Drogas chimicas, instrumentos e « utensilios. Chapas photographicas, papeis « sensíveis photographicos. Drogas «e apparelhos. Vidros, bocaes, bacias, aquarios « de variados tamanhos e quali- « dades, de vidro, porcellana, etc. Olhos de vidro, turfa. Cartuchos « de espingarda. Papel para plan- « tas. Ferramentas, etc. Caixinhas de amostras, de madeira «e papelão para insectos avulsos. Armarios de ferro e vidro para « exposição e mobilia technica de « laboratorio. Tela de arame, obras de ferro e « arame, simples ou galvanisado, « para os viveiros, cercados e gaio- « las do jardim zoologico. Lettrei- « ros esmaltados. | | Para as publi- cações do Mu- seu. De taxider- mia, anatomia e microscopia. Para photo- graphia e pho- togravura. Para os labo- ratorios e ex- posição do Museu. Para taxider- mia, caça € para a secção botanica. Para asc COR leeções peldnes messas para O interior e ex- terior. Relatorio de 1902 501 « X. Adubos chimicos e instrumentos | Pp Ed : SAÇO ata o hório « agricolas (Irrigadores: ferramen- | botanico. ata, sete: ): Para ensaros de aclimata- ção. « XI Plantas vivas, sementes, etc., para «o horto botanico. « XII. Collecções de historia natural, re- « importadas ou enviadas do ex- « trangeiro. Para ensaios de aclimata- ção. « XIII. Quaesquer animaes vivos para gl «jardim zoologico. «O Governo Estadoal do Pará cogita em construir « proximamente um novo edifício para o Museu. Devendo «ser construido de tijolos, com a cobertura de ferro, em « estylo de estação de estrada de ferro, o Museu teria, alem « dos artigos acima enumerados, de importar do exterior o «material de ferro e de vidro para a cobertura, as clara- « boias e as janellas, bem assim os armarios e a mobilia de « exposição e dos laboratorios, sendo de prever que os di- « reitos conforme a Tarifa attingiriam uma somma tal que a « exequibilidade do projecto de facto depende essencialmente da obtenção da isenção dos mesmos direitos. « Que V. Ex.2 me releve a imperfeição da redacção « do presente memorial bem como a liberdade e a franqueza «de que julguei dever usar expondo o meu pensamento que, « estou autorizado a dizel-o, é, ao mesmo tempo, o do Go- « verno Estadoal do Pará. R « Rio de Janeiro, 28 — 12 — 1902. « (assignado ) Prof. Dr. phil. Emilio A. Geldi. « Director do Museu do Pará « Actualmente em commissão reservada na Capital Federal. » 502 Relatorio de 1902 S Diversas vezes aftavelmente recebido por S. Ex. o r. Ministro no Thesouro Federal, foi o meu memorial, por ordem de S. Ex., referendado pelo Sr. Dr. Ramos Junior, secretario do Ministerio da Fazenda, nos seguintes termos: RA RA R R « R « « RN « R G R « R « R & R & R A « « A exposição junta do Sr. Dr. Goeldi, Director do « Museu do Pará, póde synthetisar-se em uma manifestação de pesar pela falta de isenção de direitos, e tambem pela demora havida no processo dos despachos, por parte da Alfandega de Belem, de objectos e artigos importados para o estabelecimento de que é Director, necessarios à sua vida normal e progressiva. « Desses artigos e objectos elle dã uma relação em 13 numeros differentes. « Infelizmente para o Museu do Pará, de todos esses objectos e artigos apenas acham-se isentos de direitos pela Tarifa os livros, reactivos, moveis, machinas e, em geral, todos os objectos de material escolar, e, pela lei de orça- mento vigente, animaes que forem destinados aos jardins zoologicos e os Importados para exhibições zoologicas e scientificas. « Assim a principal providencia que o Sr. Dr. Goeldi desejaria vêr adoptada não cabe nos limites da competen- cia do Poder Executivo, mas nos da do Poder Legisla- tivo. Referime à isenção de direitos, e com effeito a dis- posição do Art. 1.º do Decr. n.º 944 a, de 4 de novembro de 1890, é terminante. « Resta a questão da demora. « Sabido que o assumpto regula-se pelo art. 6.º do Decr. cit. — de que se junta um exemplar para se facili- tar ao Sr. Dr. Goeldi — tem o Sr. Director dois alvitres «a seguir: — ou fazer no começo do anno o pedido ao Sr. Ministro da isenção de direitos para os objectos e ar- tigos que pretender importar durante o anno, ou ir fazendo esses pedidos au fur et à mesure das encommendas. « Em uma ou outra hypothese, cumpre ter muito em vista o disposto no artigo 8.º do referido Decreto. « Rio, 17—1— 1908. « (assignado ) Ramos Junior. » Relatorio de 1902 503 Embora que nunca me enganei um momento sequer de que os resultados propriamente ditos, como são visiveis desta minha tentativa e interferencia pessoal e directa pe- rante o Ministerio da Fazenda. do ponto de vista de uma subita melhora radical da situação, não adiantam por ora sensivelmente, não significando, no fundo, pelo menos quanto ao exercicio actual, e effeito immediato, senão o que se chama mera obra de remendo; comtudo nutro esperanças de que estes meus passos não deixarão de ter salutar effeito num proximo futuro. Consegui sempre, incontestavelmente, uma cousa: convencer o Sr. Ministro de que as relações como ellas se tinham desenvolvido nestes ultimos 8 annos entre a Alfandega Federal no Pará por um lado e o Museu Estadoal do Pará por outro, caracterisam um estado de cousas insustentavel e absurdo, contrario ao bom senso com- mum. Tanto o Sr. Ministro como o seu digno Secretario não puderam deixar de confessar que no caso do Museu do Pará sentia-se na vigente legislação aduaneira uma certa estrei- teza de vista, uma ausencia de termos claros e decisivos da benevolencia e protecção official efficaz para com institutos congeneres. Diziam-se partidarios intimamente do acerto de minha argumentação, lastimando que a lettra da lei não lhes permittisse sanar de uma vez e radicalmente o mal por nós apontado. Declaravam a cura do mal depender da competencia exclusiva do poder legislativo, — do Congresso, — adver- tencia essa que positivamente será seguida à risca esta vez. Julgamos certo que o Governo Estadoal encarregará quem saberá advogar perante o Congresso na Capital Fede- ral esta melindrosa questão pela qual já ha tantos annos nos batemos, que já tantos dissabores nos custou e na qual, no final das contas, seriamente periclita a reputação do Bra- zil por ser uma materia que affecta palpavelmente os seus fóros de paiz civilisado. De maneira que opinamos que embora a nossa recente campanha no Rio de Janeiro não tenha tido effeito imme- diatamente visivel não deixe de madurar fructos beneficos para o futuro e de mostrar salutares consequencias ulte- rioTeS. 504 Relatorio de 1902 XE Donativos Com grande prazer constatamos que tambem durante o anno de 1902 houve crescida lista de donativos, maiores ou menores, uns enriquecendo as collecções do Museu pro- priamente, outros o inventario dos animaes vivos do Jardim Zoologico, outros ainda o cabedal de plantas do Horto Bo- tanico. Muita cousa valiosa tem-nos vindo por este caminho, objectos que às vezes procuramos durante annos sem o ha- ver conseguido. Sempre é bemfazejo saber e vêr que os nossos esfor- ços estão secundados pelos verdadeiros amigos da natureza. Eis a lista nominal dos doadores, a ordem chrono- logica : sr. Etelvino Carneiro Pinto sr. João Miranda Pombo sr. Alfredo Napoleão da Rocha Pereira (2 vezes) sr. Julio: Lobo (2) yezes) cap. Miguel Ribeiro Lisbôa (2 vezes) dr. Palma Muniz sr. Seter sr. Pedro Gomes do Nascimento senador Antonio José de Lemos (2 vezes) sr. José Ferreira de Azevedo sr. Rodolpho de Siqueira Rodrigues senador Fulgencio Simões d. Eva Hernandez ' d. Carolina Lins Chaves - Thomaz Benigno Cerejo . Francisco Bezerra com!. A. Carlos R. Martins (2 a dr. Emos Ribeiro ten'e. cor!. Aureliano Guedes (2 vezes) sr. Robertson CRO 00 ST Ox ev ES 165 IN PO e RO RR O e O tv nm a pa pa nO ES; no mm ORNO 09 O 0 IDO CON A o o to OA AB pe 91 Relatorio de 1902 505 sr. Benício de Amorim Lima sr. Roberto Engelhardt (3 vezes) dr. Lyra Castro, vice-governador (2 vezes) sr. Joaquim Pereira do Nascimento desembargador Coimbra sr. Albert Engelhardt (2 vezes) dr. Octaviano Pinto sr. Manuel dr. Joaquim Lalôr dr. Augusto Montenegro, governador (4 vezes) sr. Agostinho do Nascimento dr. Vicente Chermont de Miranda (2 vezes) sr. José Maria dos Santos sr. Novaes sr. João Lobo sr. Hugo Berta (3 vezes) sr. Hilario Fernandes Alvares (2 vezes) sr. Cesario José Evaristo da Luz d. Laura Mauricia da Gama e Silva com! Francisco Paniagua sr. Bento Aranha sr. Antonio Rodrigues de Souza mons. Bonneterre cap. Altino Corrêa com! João Gualberto da Cunha Cardoso sr. Clifford mons. J. Muniz sr. G. Latache (2 vezes) sr. José Ignacio Campos com". Contreiras sr. A. G. Soares, de Obidos (2 vezes) sr. Veiga Cabral sr. Léon Gheur sr. José Isidoro Bentes dr. Gurjão pharm. Nicanor Creão de Cametaã (2 vezes) sr. Rodolph Paul (2 vezes) cap. Krause sr. C. W. Gilfillan cap. Dorweiler 506 Relatorio de 1902 61 sr. José Ferreira Balthar. 62 dr. José de Castro Figueiredo 63 d. M. da Gama e Silva 64 sr. Manoel Baena 65 barão Paumpgartten 66 srs. Carlos Uchôa e Horacio Silva 67 sr. Ambrosio Pinto 68 sr. Antonio Ferreira Lemos 69 sr. Norberto Mattos Almeida 70 d. Thereza Ferreira e mais um, residente à travessa Fructuoso Guimarães, cujo nome não nos foi dado. : XIII Pessoal A composição do pessoal do Museu conserva-se, nos contornos geraes, a mesma como no relatorio anterior, espe- cilalmente no que diz respeito aos funccionarios das cathe- gorias scientifica e technica. Dos acontecimentos havidos em 1902 a chronica do Museu terá de registrar talvez os seguintes: Em março de 1902 foi o Dr. Gottfried Hagmann, as- sistente da secção zoologica, para a Europa em commissão. Deu conta das multiplas e por vezes complicadas encom- mendas das quaes foi encarregado por nós. Trouxe muita cousa necessaria à boa marcha material e technica das di- versas secções. A maneira porem pela qual foi tratado o nosso emissario por parte da Alfandega n'aquella data, por occastão da sua volta em setembro e do seu despacho pro- voca o nosso descontentamento justificado a mais de um respeito, facto este que igualmente julguei dever levar ao conhecimento do sr. Ministro da Fazenda. Em caracter de commissão reservada, foi o director do Museu ao Rio de Janeiro em fim de outubro de 1902, voltando no dia 7 de abril de 1903. A direcção interina Relatorio de 1902 507 durante esse tempo passou ao Dr. Jacques Huber conforme Indicação e praxe estabelecida. Encontram-se neste relatorio dados sufficientes orientando sobre o modo pelo qual corres- pondemos aos objectos da nossa missão. Um triste acontecimento veio ferir o Museu logo no principio do anno (31 de janeiro de 1902) com a morte do preparador de botanica, sr. Manoel Pinto de Lima Guedes, facto ao qual alludiu já o Dr. Jacques Huber no relatorio seccional. O esperançoso moço deixou-nos saudosa memoria, ja pelo seu caracter jovial e serviçal já pela circumstancia de ter elle sido um dos nossos antigos companheiros durante as primeiras viagens realisadas pelo pessoal do Museu desde o inicio da nova phase. A expedição aos rios Maracá e Anauerápucu, por exemplo, chefiada pelo seu digno pai, realisada em commissão do Museu em 1896, deve à sua dedicação e ao seu zelo não pequena parte dos bellos re- sultados scientificos dos quaes proximamente me terei de occupar mais de perto. Como acima ficou dito pelo seu chefe, diversas plan- tas, entre as por elle trazidas das diversas viagens foram reconhecidas como novas para a sciencia, e semelhantes ser- viços acharam seu reconhecimento na fórma costumada em taes emergencias, sendo algumas baptisadas com o nome do descobridor. Ha assim uma figueira, — uma jataúba e um mara- cujá que receberam o qualificativo Guedesii, e ultimamente veio juntar-se a estas trez plantas ainda uma abelha indigena ( Mesocheira Guedesii, Ducke) conforme o Boletim do Mu- seu, tomo 3, à pag. 579. A vaga acima aberta no logar de preparador da sec- ção botanica ficou preenchida pelo sr. Rodolpho de Siqueira Rodrigues, antes ajudante de preparador da secção zoologica, que rapidamente se orientou nos mistéres do novo posto, constituindo-se em elemento util, zeloso e trabalhador da secção botanica, Morreu tambem depois de curta molestia o novo guarda- portão, José Leocadio Chaves, que tinha occupado o cargo desde que foi este creado, mas por 3 mezes apenas. Era um bom homem, cumpridor dos seus deveres. Foi substituido por Joaquim Francisco de Oliveira que actualmente occupa 508 Relatorio de 1902 o logar, que exige um homem de tacto, energia e attenção ao mesmo tempo. phil. O quadro do pessoal actual é o seguinte : Director: Prof. Dr. phil. Emilio A. Goeldi. A) MUSEU: Pessoal scientífico : Chefe da secção zoologica: o Director Auxiliar de zoologia com funcções de bibliothecario : Dr. Gottfried Hagmann. Chefe da secção botanica: Dr. phil. Jacques Huber. Chefe da secção geologica: — vago —. Chefe da secção ethnographica: o Director ( provisoria- mente ). Pessoal technico: I.º preparador de zoologia (taxidermia ) com funcções de metereologista: Joseph Schônmann. gues. 2.º preparador de zoologia (entomologia): Adolpho Ducke. Ajudante de preparador de zoologia : João Baptista de Sá. Idem, idem: Gregorio Antonio Joaquim Cerqueira. Preparador de botanica: Rodolpho de Siqueira Rodri- - Inspector do horto botanico: André Goeldi. Desenhista-lithographo : Ernesto Lohse. Pessoal administrativo: Official: José L. Pessanha. Porteiro: Balbino Anesio de Araujo. Continuo: José Antonio Bezerra. Guarda-portão: Joaquim Francisco de Oliveira. Serventes: 1) Antonio José da Costa. 2) Antonio Pinheiro da Costa. 3) Ignacio Ferreira de Souza. Relatorio de 1902 509 B) ANNEXOS Jardim zoologico : Guarda do jardim: Francisco Baptista do Carmo. Serventes: 1) Miguel Soares de Araujo. 2) João Baptista do Carmo. Horto botanico : Jardineiro: Joaquim Lopes de Araujo. Ajudantes: 1) Pedro Arias. 2) Jesus Gonçalves. Belem, 23 de janeiro de 1903. DR. EMILIO A, GCELDI DIRECTOR. 510 Materiaes para a Flora Amaxzonica PARTE SCIENTI Materiaes para a Flora Amazonica VI. Plantas vasculares colligidas e observadas no baixo Ucayali e no Pampa del Sacramento, nos mezes de outubro a dezembro de 1898 Pelo DR. J. HUBER Em fins de 1898 tive a ventura de poder acompanhar, numa viagem rapida aos rios Ucayali e Huallaga, o meu amigo Dr. Eduard Marmier, que fora então commissionado por um capitalista inglez para fazer estudos sobre a possibi- lidade da implantação, naquellas paragens, duma grande em- preza industrial. O caracter da expedição que exigia a exploração rapida de maiores trechos de terrenos a léste e a oeste do rio Ucayali, como tambem a estação bastante chu- vosa, não eram muito favoraveis à confecção de grandes col- lecções. Por isso só consegui reunir uma pequena porção de plantas seccas (285 especies) às quaes se juntava entretanto um numero consideravel de plantas vivas e sementes que foram plantadas no nosso Horto Botanico, fornecendo assim novos elementos para a enumcração que vae mais adiante. Por outro lado a nossa maneira de viajar teve a vantagem de familiarisar-nos com os varios aspectos da matta e com a distribuição das especies sobre extensões consideraveis. Começámos as nossas explorações no logar Contamana, já então a povoação mais importante do Ucayali, em cujas visinhanças colleccionei algumas plantas nos dias 14 a 18 de outubro. D'alli baixamos em canôa até o logar Canchahuaya, onde de 24 de outubro até 20 de novembro fizemos diver- sas excursões ao Cerro de Canchahuaya, numa das quaes Materiaes para a Flora Amaxonica 511 (5 a 14 nov.) penetrámos na direcção E, até a « Quebrada grande », que provavelmente é um dos formadores do rio Tapiche. Depois de baixar até Sarayácu, empreendemos a travessia do Pampa del Sacramento, primeiro por terra, de Sarayacu até Quillucaca ( Huallaga ), depois, na volta, em canõa, pelos rios Chipurana, Yanayacu e Catalina. Chegámos em 18 de dezembro a Páca, logar situado entre Sarayacu e Canchahuaya, onde esperâmos até o fim do mez pelo vapor que nos levou para Iquitos. Durante toda esta viagem rece- bemos valioso auxilio da parte de diversos moradores d'a- quellas regiões. À determinação da maior parte das plantas enumera- “das nesta lista foi effectuada durante a minha ultima esta- dia na Europa (1900-1901). principalmente nos herbarios Barbey-Boissier (onde tive occasião de comparar as plantas peruanas do Herbario Pavon )e C. DeCandolle em Genebra, a cujos proprietarios e conservadores endereço d'aqui os meus cordiaes agradecimentos pela maneira liberal e amavel com que me ajudaram nas minhas pesquizas. Agradeço tambem aos especialistas srs. H. Christ ( fetos), A. Engler ( Araceas ) B. Clarke ( Cyperaceas), Udo Dammer ( Palmeiras ) Schlechter (Orchideas), C. DeCandolle ( Piperaceas, Begoniaceas), G. Lindau ( Acanthaceas) as determinações que tiveram o ob- sequio de me fornecer de algumas plantas das familias supra- citadas. Como a publicação da lista demorou-se alguns annos, sumettia no anno passado a uma revisão, completando-a com as classificações e descripções das plantas vivas trazidas da minha excursão e que já tinham produzido flóres. Na enumeração que segue. tomei especial cuidado de fixar quanto possivel o papel de cada planta nas formações e associações vegetaes da região percorrida. Reservando a descripção synthetica da vegetação do baixo Ucayali para um trabalho especial, devo entretanto ao leitor ao menos uma rapida exposição das formações citadas na lista sob os nomes indigenas (castelhanos e quichuas). Toda a região de que se trata, é coberta por mattas (« montanha» ou «monte» dos peruanos ), que só em poucos logares,ao redor das povoa- ções, são abatidas e substituídas por plantações de bananei- ras, canna de assucar, milho, mandioca doce, arvores fructi- 512 Materiaes para a Flora Amazonica feras, etc., ou por pastos artificiaes, ou emfim por capueiras, que os peruanos chamam « púrumas ». Às varzeas e terrenos pla- nos, chamados « pampas » nesta parte do Perú, occupam a maior parte do paiz, tendo como em outras partes da Ama- zonia certos trechos mais humidos e alagadiços, chamados “igapós no Brazil, « tahuampas » no Perú. Os lagos, antigos leitos de rio, chamam-se « cochas »; elles mostram, em cer- tos logares, transições às «tahuampas». Os « cerros » que em (Contamana e Canchahuaya attingem a margem direita do Ucayali, não se elevando alia mais de 100 a 200 m. acima do rio, estendendo-se porem em ondulações até bem longe na direcção E, são cortados por valles estreitos que os perua- nos chamam « quebradas», nome que é applicado por ex- tensão aos proprios riachos, mesmo os que atravessam as varzeas. Um ponto que me mereceu tambem especial attenção é o dos nomes vulgares das plantas. Como estes em grande parte provêm do idioma quichua, encontrei alguma difficul- dade em acertar a sua orthographia e ainda mais a sua etymologia, mas o leitor familiarisado com esta lingua des- culparáã com certeza os erros que encontrar, tomando em consideração a utilidade que reside em semelhantes ensaios e o pouco que se tem feito até aqui neste sentido. PTERIDOPHYTA. [auct. Dr. H. Christ (1)). Hymenophyllacez. Trichomanes diversifrons Bory, Dict. Class. hist. nat. 8, 462 sub Hymenostachys. /T. elegans Rudge Hook. Spec. fil. I 114). Cerro de Canchahuaya, logares abruptos argilosos (1481). Area geogr.: Disseminado atravez do continente da Ame- (1) Estas determinações já foram publicadas no « Bulletin de "Her- bier Boissier », seconde série Tom. I. 1900 p. 65-76. Traduzimos aqui o trabalho do Dr. H. Christ, com poucas omissões e addição de duas especies vulgares ( Gymnogramme calomelanos, Lycopodium cernuum ) que foram de- terminadas aqui. Materines para a Flora Amaxzonica 513 rica equatorial, estendendo-se até o Mexico, ilha da Trindade e Perú. vm Trichomanes elegans Rich. Act. Paris. / Trichomanes Prieurin. Kunze Hook. Bak. Synops. Ed. II, 86] Entre Ucayali e Huallaga. (1517). Area geogr.: America tropical, Antilhas, Perú, Brazil. W Trichomanes pennatum Klfs. Enum fil. 264. Entre Ucayali e Huallaga. (1539). Segundo a minha opinião é preciso restabelecer esta fórma ao menos como sub-especie de T. floribundum H. B, K. ( Willd. Spec. Pl. 5. 505 ), assim como Hooker. Sp. fil. I, 129 já o fez. O typo de T. floribundum é uma planta grande de dimorphismo muito pouco pronunciado, de tecido mais grosso e carnoso, emquanto que o T. pennatum é menor, de folhas ferteis muito differentes das folhas primarias, de tecido mais delgado e mais secco. Parece que o T. pennatum tem uma distribuição mais larga. E" raro não encontral-o n'uma colleeção um pouco completa da America tropical, das Antilhas até o Brazil. mas não tenho o grande T. floribundum senão do Para (leg. Zeller), de Guadeloupe (leg. [Herminier) e de Guatemala (leg. Turckheim). Dou aqui a diagnose comparada das peiê duas plantas: — T. floribundum H. B. K. T. pennatum Kifs. ( Willd. ). T. pinnatum Hedw. et Sw. T. pinnatum Hedw. fil. et ex parte. Swartz Syn. fil. 142 ex T. rhizophyllum Cav. Praelect. paste 1801, 691. Planta 50 cm alta foliis ad 30 cm latis. Folis primariis sterilibus longe stipitatis, stipite Folis primariis sterilibus Planta 35 cm alta foliis ad 15 cm latis. 8-10 cm, lamina aequi- longa late deltoidea aut ovata, pinnis ad basin attenuatis remotiusculis lanceolatis 4 ad 7 pari- bus cum pinna terminal aequali subintegris aut minute denticulatis 6 ad 8 cm et ultra longis 1,5 cm latis. Foliis fertilibus stipite valido brunneo breviter stipitatis, stipite 3-4 cm longo, lamina 8 ad 12 cm longa oblonga, pinnis ad basin vix atte- nuatis imbricatis late li- nearibus 12 ad 15 pari- bus 3-4 cem longis, */, cm latis plicato-serru- latis. Foliis fertilibus sti- 514 Textura subcarnosa, colore Nervis pinnarum fertilium Materiaes para a Flora Amaxzonica !/, mm diametro ad 25 cm longo praeditis, la- mina 25 cm longa usque ad 30cm lata deltoidea, pinnis 3 ad 4 paribus, pinna terminali aequali, rarius radicante, pinnis lanceolatis, basi attenua- tis, remotis, infima pe- pite stramineo 12 ad 15 cm longo tenui sufful. tis, lamina aequilonga et lata, deltoidea, pin- nis 3 ad 6 paribus cum pinna terminali saepe radicante, pinnis linea- ribus breviter acumina- tiolulata, ultima solum- modo basi adnata et sae- pe cum terminali con- fluente, pinnis 2 em la- tis, longe acuminatis. tis: remotis */; ad cm latis, basi late adnatis. Textura papyracea colore laete virente. Nervis pin- narum fertilium infra 1 mm remotis, urceolis maioribus, creberrimis. atroviridi. Cirea dl * mim remos: urceolis aeque distanti- bus, minimis. Tenho do Pará (leg. Huber, 1. Zeller) plantas do T. penna- tum que se approximam do T. floribundum pelos peciolos das folhas primarias tão compridas como as laminas. Quanto ao T. Vittaria DC., eu tenho do Pará (1. Zeller ) uma planta que ao lado de algumas folhas primarias pertencendo a T. pennatum tem uma folha de T. Vittaria, emquanto que os exem- plares do mesmo logar colleccionados pelo Dr. Huber não têm senão folhas simples ou parcialmente divididas no vertice, longas de 45 cm., largas de 2,55 cm e que parecem pertencer antes ao T. flori- bundum. Do T. pennatum, a pequena planta descripta por mim como T. Huberi no Bull. Herb. Boiss. VI n. 12, 992, distingue-se logo pelo seu- tecido secco, absolutamente opaco, fusco, lembrando o de T. javanicum Blume, alem dos outros caracteres indicados no logar citado. D'isto resulta que o T. pinnatum Hedw. et Swartz fórma um grupo que é preciso desmembrar à medida que se estuda de mais perto a flora da America equatorial, grupo que Presl nomeou Neu- rophyllum em vista das nervuras innumeras e parallelas que atravessam as pinnulas. Polypodiacez. Polypodium repens L. Sw. Synops. fil. 29. Cerro de Canchahuaya, sobre os troncos de arvores (1453). Materines para a Flora Amaxonica 51 67! Area geogr.: America trop., do Mexico e das Antilhas ate olBrazil e Peru. Polypodium incanum Sw. Synops. Fil. 35. Epiphyta sobre Crescencia Cuiete, Páca ( Ucayali) (1574). Area geogr.: Da America tropical até os Estados tempe- rados da America do Norte e ao Sul até o Chile. Encontra-se tambem na Africa austral, do Cabo até o Zambezi. Adiantum intermedium Sw. Vet. Akad. Handl. Stockh. POL 7. TO. Canchahuaya, frequente na matta (1366 ). Area geogr.: bastante espalhado na America tropical, das Antilhas e do Mexico até o sul do Brazil. Adiantum denticulatum Sw. Synops. fil. 123. /A. Kaulfussii Eunze,.Linn. 242214. Santa Catalina (1525). Quebrada do Cerro de Can- chahuaya (1419). Area geogr.: A mesma que na especie precedente. Adiantum obliquum Willd. Spec. Plant. 5, 420. Cerro de Contamana ( Ucayali) (1350). Area geogr.: Indicado esporadicamente na America tropical, das Antilhas até a Guyana e a Columbia. Adiantum pulverulentum |. Spec. Plant. ed. II, 1559. Cerro de Canchahuaya (1446). Area geogr.: De Guatemala até o Brazil. Blechnum asplenioides Sw. Vet. Akad. Handl. Stockh. 1817, 72. « Quebradas» do Cerro de Canchahuaya, sobre rochedos verticaes ( 1422 Area geogr.: Disseminado na America tropical, de Gua- temala até o Brazil austral. / Lomariopsis sorbifolia (L. sub Acrosticho Spec. Plant. Ed. II. 1520) Fee. Cerro de Canchahuaya, trepando nos troncos das arvo- ares (1414). Forma joven, ainda não fertil, de folhas pequenas, rachis alado e pinnulas curtas, cerradas, rhomboidaes. A fórma completamente desenvolvida tem o rachis não alado e as pinnulas afastadas umas das outras. 516 Materiaes para a Flora Amazonica Area geogr.: Quasi cosmopolita nos paizes tropicaes. Uma liana possante das florestas desde as Anti- lhas até o Sul do Brazil; igualmente na Africa occidental e oriental, Madagascar e ilhas visinhas:; commum especialmente na região malaya. ” Lomariopsis yapurensis Mart. Gard. fl. Tab. 57. Trepando nos troncos das arvores, commum nas flores- tas de ambos os lados do Ucayali (1444). Não differe essencialmente do typo senão pelas pinnulas menos numerosas mas muito largas, de superficie lustrosa e de nervuras muito visiveis e mais espaçadas. Area geog.: Commum na região amazcnica. Hemidictyum marginatum L. Spec. Plant. 309, sub Asplenio. Feto grande das «quebradas» do Cerro de Cancha- huaya (1398). Area geogr.: America tropical, das Antilhas até o Brazil. “ Asplenium lunulatum Sw. Synops. fil. 80. var. acutilobum Christ. A typo differt statura humili (10-15 cm.), textura flaccida, pinnis triangulariacuminatis apice acuto, oblique erectis, grosse et acute duplicato ser- ratis. As pinnulas falciformes de base triangular, de pontas e dentes agudos, distinguem esta fórma do commum Á. lunulatum da America, que geralmente tem as pinnulas obtusas ou com um appendice den- tado muito alongado. Cerro de Canchahuaya (1374), sobre paredes humidas de rochedos (1420). Area geogr.: O typo com numerosas variações é fre- quente nos paizes tropicaes do mundo inteiro. Na America, elle vae das Antilhas até o Brazil meridional e até a ilha Juan Fernandez. Asplenium abscissum Willd. Spec. Plant. 5, 321. « Quebrada » do Cerro de Canchahuaya. (1371). Area geogr.: Bastante commum das Antilhas e da Flo- rida até o Brazil. Materiaes para a Flora Amaxonica 517 Aspidium (Hemicardium Fee) semicordatum Sw. Synops. fio 45. Muito commum nas «quebradas » do Cerro de Can- chahuaya (1400). Area geogr.: America tropical, desde Cuba e Guate- mala até o Brazil e Perú; apparece tambem na região malaya. Aspidium (Sagenia) macrophyllum Sw. Syn. fil. 43, 239. “sd ni « Quebradas » do Cerro de Canchahuaya (1372, 1396) Fórma muito larga, pinnulas basaes com 9 cm, pinnula termi- nal com 8,5 cm de largura, pares de pinnulas pouco numerosos (3) e folha por conseguinte relativamente curta. No mais typica, porém com aspecto tendente a 4. trifoliatum, Area geogr.: Commum das Antilhas e do Mexico “até o Sul do Brazil e o Perú. Aspidium ( Nephrodium ) brachyodus (Kunze sub Polypodio in Linn. 9, 48). « Quebradas » do Cerro de Canchahuaya (1399). Area geogr.: indicado das Antilhas e de Guatemala (Bernoulli) até o Perú, mas pouco conhecido e bastante raro. Uma planta semelhante (senão identica?) apparece na região malaya. Aspidium (Lastrea) oppositum Sw. non Kaulf. /A. contermi- num Willd. Spec. Plant. 5. 249 |]. Logares abertos na beira d'um riacho, no Cerro de Canchahuaya (1429). E' o typo bastante pequeno, de pinnulas apertadas e insensi- velmente encurtadas na base do estipite, de segmentos serrados e bastante dilatados, como elle se encontra communmente na região baixa e média dos Andes. Area geogr.: Frequente das Antilhas e do Mexico até o Sul do Brazil, o Chile e a Republica Argentina. Meniscium angustifolinm NWilld. Spec. Plant. 5, 133. « Quebradas » do Cerro de Canchahuaya (1369). Area geogr.: America tropical, de Guatemala ( Bernoulli ) até o Brazil. Gymnogramme calomelanos Kaulf. Canchahuaya (1373). Area geogr.: Cosmopolita na região tropical. sas Materiaes para a Flora Amazonica Gymmnopteris guyanensis ( Aubl. sub Polypodio) [ Acrostichum scandens Raddi fil. Bras. Tab. 18. Acrostichum Raddia- num Kunze, Herb. Mus. Vindob. Hook. Spec. fil. 5, 204 ). Cerro de (Canchahuaya, rasteira ou trepando nas ar- vores (1437). Area geogr.: Bacia amazonica e Guyanas. Polybotrya polybotryoides Bak. Journ. Bot. 1881, 207 et HI Cent. ferns 1690 (sub Adcrosticho ). « Quebradas» do Cerro de Canchahuaya (1425 e 19879. Area geogr.: Especie subandina, indicada até aqui só- mente na provincia d'Ocafia, na altitude de 7000 pés Inglezes, colleccionada por Kalbreyer. Eis aqui um representante ao menos da flora andina avançando até os- ultimos contrafortes das cordilheiras, a beira do Ucayali in- ferior. Polybotrya fulvostrigosa Christ, Bull. Herb. Boiss. IIº série Tom. I pag. 71. Trepando nos troncos das arvores: frequente nas par- tes humidas do Cerro de Canchahuaya (1448). Especie muito particular pela sua pennugem bastante pronunciada de pellos ruivos. Rhizomate longe repente ramoso lignoso dorsi- ventrali, more Hederae Helicis arborum ramis ad- presso iisque radiculis numerosis brevibus crassis adhaerente, digiti crassitie, supra squamis lanceolatis acuminatis fulvis 1cm longis 2mm latis adpressis densissime tecto, foliis solitariis remotis stipitatis pinnatis. Stipitibus rigidis 2.5 mm diam. stramineo- griseis nitidis 15 cm longis. Foliorum sterilium la- mina 60 cm longa 20 cm lata late. ovata pinnis inferioribus deflexis nec abbreviatis, pinnis numero- sis horizontaliter patentibus subsessilibus, inferioribus solummodo remotis, ceteris confertis infimis brevis- sime petiolulatis basi non contractis sed e basi la- tissima (3 cm lata) aequali in apicem acutum elon- gatis lanceolatis ad mediam partem limbi lobatis lo- bis confertis angulato-truncatis 6 mm longis 5 mm latis subcrenatis, textura membranacea, colore obscure Materiaes para a Flora Amazonica 519 viridi-brunneo; tota planta, imprimis rhachi costa nervisque dense pilis rigidis patentibus fulvis 1-2,5 mm longis vestitis, unde nomen! Nervis in lobis pin- natis liberis aut apice-snconspicue conniventibus in- terdum furcatis 4 ad 6 utroque costulae latere. Fo- lis fertilibus minoribus, pinnis remotis 5 cem longis linearibus 3 mm latis ad basin dilatatis petiolulatis caudatis inciso-lobatis lobis obtusis brevibus. Diversissimo dos seus congeneres pela pennugem especial; P. polybotrvoides differe delle pelas escamas setaceas do rhizoma, pela base das pinnulas attenuada-truncada, pelas pinnulas ferteis pen- nadas de segmentos obiongo-cylindricos, Como se sabe, as Polybotrya são plantas subandinas; eis mais uma bella especie devida ao Dr. Huber. e | Cyatheacez. 1 Cyathea pilosa Baker Synops. éd. II 19. « Quebradas » do Cerro de Canchahuaya. (1459). Identifico sem demais escrupulos a nossa planta com esta espe- cie segundo a descripção. O stipes é um pouco rugoso, com pustulas pequenas e algumas escamas longas, duras, brunas, lanceolado-lineares; a rachis as costas e as nervuras são pilosas, com pellos curtos, cinzentos; as nervuras sao em parte bifurcadas; os soros são pequenos globosos com mem- brana miuda e fechada ao vertice. O aspecto é o de C. Schanschin Martius, que é glabro. Tronco de 2m, com largas cicatrizes. Area geogr.: Esta especie for achada até aqui nos An- des do Perú oriental por Spruce, por conseguinte não longe do rio Ucayali. — Hemitelia multiflora R. Br. Hook. Spec. fil. I, 32. Cerro de Contamana (1353). Area geogr.: Especie essencialmente amazonica, achan- do-se nas Guyanas, commum no Pará (Zeller). Gleicheniacez. Gleichenia bifida Willd. Act. Acad. Holm. 1801, 168; Spec. Plant: 5:73. Cerro de Canchahuavya, logares abertos na « Quebrada grande » (1473), 520 Materiaes para a Flora Amazomca Area geogr.: Especie muito espalhada de Guatemala e das Antilhas até o Sul do Brazil. Gleichenia pectinata Presl Relig. Haenk. 1, 71. Cerro de Canchahuava, logares abertos na « Quebrada grande» (1474). Area geogr.: Especie commum na America tropical, das Antilhas até o Brazil meridional. Lycopodiacez. Lycopodium cernuum L. Cerro de Canchahuaya. «Quebrada grande» (1472). Area geogr.: Cosmopolita tropical. Selaginellaceze. Parece que a flora da região entre o baixo Uca- vali e o baixo Huallaga, pouco rica em fétos, segundo a collecção do Dr. Huber, se distingue por um verda- deiro centro de creação de Selaginellas originaes. Entre cinco fórmas colleccionadas, quatro são absolutamente novas, uma das quaes é das maiores quanto ao caule, e a outra quanto à largura dos galhos folhudos. Selaginella strobilifera Christ Bull. Herb. Boiss. 1º série Tom. I p. 72-73. (Sect. Caulescentes; subsect. Geniculatae ). Mattas entre Ucayali e Huallaga, logares humidos (1515). Muito particular pelo seu porte gigantesco, che- gando a 2m os seus galhos de So0cm sobre 20 em não flabelladas, mas pennadas mui regularmente à ma- neira d'uma folha de feto, de pinnas alternas, de com- primento igual, decrescentes sómente perto do vertice do galho, ovaes-lanceoladas, pennadas de pinnulas aper- tadas, lanceoladas, não ramificadas mas munidas de fo- lhas bastante pequenas, pelas suas espigas pequenas não quadrangulares mas ovaes arredondadas (*) a es- camas largamente cordiformes, e enfim pelas suas rai- zes prehensores que às vezes não são ramificadas, mas direitas e quasi lenhosas perto do vertice dos galhos. V A Materiaes para a Flora Amaxzonica 521 O aspecto d'um galho é o de um grande feto do grupo Lastrea bipennado. A especie mais approximada é S. euryclada A. Br. Crypt. Nov. Gran. 388, que é quasi do mesmo tama- nho, mas que tem as pinnas flabelliformes e as espigas lineares muito alongadas. Cf. Hook. II cent. Fil. Tab. 24 sob o nome de S. subarborescens Hook. Suffrutex 2m altus, caule 3 mm crasso stra- mineo-fulvo parte basali ramosa, ramis erecto-ascen- dentibus omnino simplicibus 80 em longis ad inser- tionem solummodo articulatis ad apicem interdum radicantibus et scandentibus, pinnatis, pinnis alter- nis aequilongis (12 cm) sessilibus 4 cm latis, lan- ceolato-ovatis obtusiusculis nec caudatis, rectis hori- zontalibus (infimis deflexis) pinnatis pinnulis confer- tis aequalibus 2cm longis 1!/, em latis lanceolatis submuticis indivisis, foliis caulinis sparsis subadpres- sis ovato-subulatis acuminatis basi cordato-auricula- tis margine nudo 3 mm longis; foliis pinnularum di- morphis, lateralibus patentibus pectinatis subimbri- catis rhombeo-falcatis 2,5mm longis 1,5 mm latis adnatis nec cordatis apice oblique mucronatis laevi- bus; foliis intermediis ?/, mm longis dense imbricatis late cordatis mucronatis plane adpressis laevibus; spicis in apice pinnularum superiorum positis paucis, brevibus late ovatis nec tetragonis 3-7 mm longis et latis interdum geminatis, bracteis magnis 2 mm lon- gis et latis latissime ovato-cordatis scariosis carinatis breviter mucronatis margine nudis. Colore folii fulvo- viridi, textura papyracea. y Selaginella Huberi Christ Bull. Herb. Boiss. IIº sér. Tom. 1 p. 73. (Sect. Caulescentes; subsect. Flabellatae ). Mattas entre Ucayali e Huallaga, principalmente na visinhança do ultimo (1547). Notavel pela largura enorme das pinnulas (2cm.), ou o que significa a mesma cousa: pelo comprimento das folhas lateraes (1 cm), excedendo mesmo as dimensões de S. magnifica Warb. ( Mons. I Selag. Tab. 3 A) das Philippinas, que não tem mais de 16 mm de largura. 522 Materiaes para a Flora Amazonica Especie da affinidade de S. anceps ( Presl.) A. Br. fil. Nov. Gran. 362 e do mesmo porte. Suffrutex 30 cm altus rhizomate late repente tenui 1 ad 1,5 mm crasso horizontali stolones longos tenues emittente, caule fusco-stramineo erecto sub- lignoso supra incrassato 3 mm crasso infra ad alt tudinem 10 cm simplicissimo basi squamis parvis rotundatis supra foliis patentibus remotis vestito ; su- pra plane et late flabellato ambitu rotundato obovato sive hemisphaerico repetite (circa octies) regulariter dichotomo, 20 cm longo et lato, internodiis 2 ad 4 cm longis pinnulis ultimis Scm longis, tota fronde dense foliata; foliis lateralibus horizontaliter patenti- bus pulcherrime pectinatis sese non tangentibus, 1 em longis 2 mm latis late lineari-ligulatis basi semicordato- auriculatis apice submuticis seu brevissime acutis obliquis, intermedis 2,5 mm longis et latis latissime semicordatis adpressis imbricatis, foliis caulinis admo- dum latioribus et brevioribus quam in fronde. Spi- cis in apice ultimarum pinnularum, id est in ambitu frondis solitariis, binis aut ternis. 2 ad 3 cm longis linearibus 3 mm latis tetragonis bracteis lanceolatis e basi ovali subulatis longe aristatis carinatis 1,5 mm longis. Colore frondis supra atro-viridi infra pallido. S. anceps das mesmas regiões ( Andes de Quito, leg. Sodiro; Demerara, leg. Jenman ), differe pelas dimen- sões das folhas lateraes ta metade: !/, cm de comprimento e 1,5mm de largura, por uma disposição em leque menos regular, pelos galhos alongados e pen- nados no logar de regularmente dichotomas, e pelas espigas que se acham alternando ao longo dos galhos pennados. S. Huberi é sem duvida a especie mais larga e — mais regular da America. Selaginella erythropus Spring mon. 255. var. maior Spring eod. « Quebradas » do Cerro de Canchahuaya (1430). Esta planta faz a transição à $. haematodes Spring, que é muito maior. Area geogr.: Brazil e Amer. central. Materiaes pera a Flora Amaxonica 523 dá Selaginella brachylepis Christ Bull. Herb. Boiss. IIº série T. I p. 74. ( Sect. Ascendentes; subsect. Articulatae ). Mattas entre Ucayali e Huallaga. Sarayacu — Cata- lina 61516). Esta planta pertence ao grupo de S$. Galeotii Spring e de S. sericea A. Br., mas differe pelo caule ri- gido, approximando-a do grupo Caulescentes, e pelas folhas muito mais pequenas, principalmente pelas folhas intermediarias excessivamente delgadas, donde lhe velu o nome. Rhizomate repente, 1.5:mm crasso, caule sube- recto basi indiviso aliquot radicibus suffulto stra- mineo, rigido, 1,5mm crasso, irregulariter sulcato, ad articulationes valde calloso-articulato, sursum sar- mentoso, 20 ad 30 em longo, virgato-ramoso, ramis 15cm longis, confertis, ovato-acuminatis, pinnatis, pinnis flabellatim compositis, ultimis usque ad 4 cm longis, 4 mm latis, foliis caulinis 3 mm longis, 2 mm latis, ovato-acutis ramosis erectis basi vix auricula- tis; foliis pinnularum lateralibus 2 mm longis, 1 mm latis, falcato-ovalibus mucronato-acutis obliquis basi anguste adnatis nec cordatis nec auriculatis pectina- tis sed haud imbricatis; foliis intermediis lanceolatis acuminatis basi vix dilatatis adpressis valde incon- spicuis vix !/ mm longis !/, mm latis, foliis laevibus. Colore supra obscure infra pallide viridi, textura firme chartacea. Spicis terminalibus 5 mm longis ovato-acumina- tis basi attenuatis tetragonis bracteis ovato-mucrona- tis carinatis 2mm longis. A Selaginella demissa Christ loc. cit. p. 75 (Sect. Heterostachys ; subsect. Proniflorae ). Emquanto que as especies americanas d'esta sub- secção até aqui conhecidas têm os caules endireitados ou quasi, esta os tem prostrados, rasteiras horizontal- mente no chão, ainda mais que a S. proniflora (Lam.) Baker da India. « Quebradas » no Cerro de Canchahuaya (1421 ). 524 Materiaes para a Flora Amaxonica Caulibus prostratis, ramosis, e centro radices breves emittentibus fere rosulatim undique serpenti- bus, 7 em longis, tenuibus, infra radicantibus, brevi- ter flabellato-pinnatis, pinnulis ultimis 1 cm longis, S/, cm latis, folts lateralibus linearibus 3 mm longis, S/, mm latis pectinatis nec imbricatis auguste acumi- natis basi subcordatis patentibus laevibus, foliis in- termediis imbricatis ovato-acuminatis 2/; mm longis. Textura flaccida et tenuisssme papyracea, colore pallide viridi. Spicis terminalibus in pinnis subresupinatis sive rectiusculis, ovato-conicis 3 mm longis, bracteis late- ralibus lanceolato-acuminatis, carinatis, 2mm longis, bracteis intermediis paulo brevioribus. a Monocotyledoneze. “ Graminea. Paspalum conjugatum Berg. (1577). E' quasi a unica graminea forrageira dos pastos artificiaes no Ucavyali. Paca, 25 XII 98. Area geogr.: America do Sul tropical, Antilhas. Em toda a Amazonia uma das principaes hervas de relva. Helopus punctatus Nees. (1319 b). Nos barrancos do Marafon e do Ucayali. (4 X 98). Area geogr.: Brazil e Mexico. Panicum spectabile Nees. « (ramalote » («Cannarana » no Brazil ). Muito commum nos barrancos e principalmente sobre as praias do rio Ucayali, onde elle forma uma zona mais ou menos larga, crescendo às vezes em as- sociações extensas, cujos individuos densamente intri- cados pela parte inferior rasteira do caule, attingem com Materiaes para a Flora Amaxonica 525 a sua parte erigida uma altura de 2m.e a grossura d'um dedo (bocca do rio Cuxibatay). Esta especie fórma tambem ilhas fluctuantes. Area geogr.: Amazonia, Guiana e Antilhas (?). O desenvolvimento extraordinario d'esta graminea no rio Ucayali me faz suppôr que o alto Amazonas seja a sua verdadeira patria. Panicum amplexicaule Rudge (1545). Em logares semelhantes como a especie prece- dente; muito frequente nas beiras do rio Chipurana (affluente do Huallaga ). Como a especie precedente, o P. amplexicanle at- tinge no alto Amazonas um desenvolvimento maior do que no baixo Amazonas, principalmente nas inflo- rescencias que são mais paniculadas. Chipurana, 4 de XII 98. Area geogr.: Amazonia, Guyana, rio Magdalena e An- tilhas. Panicum fasciculatum Nees. (1332). Herva má, commum nos terrenos cultivados de Contamana (14 X 98). Area geogr.: America austral tropical, America cen- tral, Antilhas, Galapagos. Cenchrus viridis Spreng. (1333). Herva má nos terrenos cultivados de Contamana CIZ X 08): Area geogr.: Brazil, Guyana, Antilhas. Leptochloa scabra Nees. (1318). E” commum nos barrancos e nas praias do rio Ucayali, crescendo na zona mais baixa occupada por plantas annuaes. Sapuena, 4 X 98. Area geogr.: Amazonia, Pernambuco, Minas. Leptochloa virgata Beauv. (1319). Cresce frequente nas mesmas localidades e mistu- rada com a especie precedente. Sapuena, 4 X 98. Area geogr.: America meridional tropical. 526 Materiaes para a Flora Amazonica Pharus scaber H. B. K. (1538). Nas mattas dos Pampas del Sacramento, entre Leche e Quillucaca, 2 XII 98. | Area geogr.: America merid. trop., Antilhas. y Gynerium saccharoides H. B. K. ([Gyneium sagittatum Beauv.]. « Caia brava legitima », « Ciuca pinta ». Frequentissimo nas praias do rio Ucayali, tanto em associação pura e formando uma zona distincta na frente do imbaubal, como debaixo do matto de recente formação. Tambem frequente nos affluentes maiores e no rio Huallaga. Além d'esta especie que cresce não só na Ama- zonia como também em outras partes da America do Sul, da Venezuela até o Brazil central, e cujos culmos servem no Perú à construcção das paredes de casas, ha ainda outras especies do mesmo genero, mal estuda- das até agora, mas differenciadas pelos indigenas sob os nomes seguintes: Chicosa, menor que a . E' abundante em certos igapós centraes : por exem- plo, entre Ucayali e Huallaga. As flores são muito cheirosas. No Brazil esta palmeira chama-se « Cara- na-y ». Area geogr.: Alto Amazonas e seus afluentes. “ Desmoncus leptospadix Mart. (1436) (Jassitára ). ho Esta palmeira foi determinada pelo Dr. Udo Dam- mer como Desmoncus phengophyllus Drude, engano que se explica talvez pela ausencia da espatha no exemplar colleccionado. Achei ultimamente a mesma palmeira no alto rio Purús e colleccionei materiaes mais completos que mostram todos os caracteres salientes do D. leptospadix (caule fino pouco alto, bainhas fo- liares inermes, folhas com poucos (2-5) pares de folio- los, espathas inermes e quasi membranaceas, spadice muito delgado com poucas (3-5) ramificações curtas). Encontrei esta palmeira em diversos logares no Cerro de Canchahuaya e no Pampa del Sacramento. Ella trepa pouco e desenvolve as inflorescencias à altura de poucos metros. Ao contrario de outras especies que trepam nas arvores mais altas, principalmente na beira dos rios, esta especie é um elemento caracteristico do sous-bois, principalmente nas mattas de terra firme. Area geogr.: Alto Amazonas, de Manãos até o pé dos Andes. Bactris sp. div. « Nieje », « Inchauy » ( Marajá ). Existem naturalmente muitas especies de Bactris no valle do Ucayali, mas não me foi possivel occupar-me especialmente d'ellas. Em geral me parecia que o numero das especies era menor que no baixo Amazonas. À mais commum é talvez a B. concinna Mart. que encon- trei por exemplo, no igapó de Contamana em grande 530 Materiaes para a Flora Amaxonica quantidade. Em geral, todas as especies de Bactris chamam-se no Perú « Nieje », como elles se chamam « Marajá » no Brazil. Na beira do Ucayali e dos seus lagos e igapós cresce uma grande especie de Baciris, algum semelhante à pupunha. porém um pouco me- nor, que tem o nome de « Inchauy >», e cujo tronco muito duro serve aos indios para fazerem as suas lanças. Guilielma speciosa Mart. « Pijuaio >» ( Pupunha ). var. mútis Dr.: esta variedade é bastante procurada no Perú cisandino:; o tronco é completamente inerme. var. flava Barb. Rodr. « Quillu-pijuaio ». pupunha amarella. var. coccinea Barb. Rodr. « Puca-pijuaio », pupunha vermelha. As diversas variedades de pupunha são frequente- mente cultivadas no Perú amazonico e se encontram perto de quasi todas as habitações. Area geogr.: Amazonia, Guyana, Venezuela. Guilielma microcarpa Hub. Bol. Mus. Goeldi Vol. IV pag. 475 « Pucacunga pijuaio > (Pupunha brava ). Esta especie, que se distingue da pupunha ordi- naria pelos troncos cobertos de espinhos pretos, pelas folhas dum verde escuro e pelos fructos encarnados e redondos muito mais pequenos. cresce espontanea nos Pampas del Sacramento. onde encontreia no rio Ya- nayacu. Area geogr.: Alto Amazonas, do rio Huallaga até o Purús e Acre. Astrocaryum Jauary Mart. « Yauaranga » ( Yauary). Muito commum nos igapós do ro Ucayali, porém ausente das terras centraes do lado Este e Oeste. Nos igapós centraes o Á. Jauary é substituido pela Mau- ritia flexuosa. Area geogr.: Amazonia, ao longo dos rios, falta só no estuario. -Astrocaryum Murumuru Mart. « Huicungu > ( Murumuráú ). Esta palmeira é espalhada sobre quasi toda a re- Materiaes para a Flora Amazonica Sai “gião, dos dois lados do rio Ucayali, principalmente nos valles dos affluentes menores, mas também nas fraldas do Cerro de Canchahuaya. Com a «Shapaja », é talvez a palmeira mais frequente d'esta zona. Área geogr.: Amazonia, da costa atlantica até os Andes. Astrocaryum Tucuma Mart. (1) «Chambira » (Tucumá, Tucum). Não me lembro ter visto esta palmeira senão plan- tada, porém as informações dos indigenas e certos no- mes de rios ( Chambira-yacu ) deixam me pensar que esta palmeira cresce espontaneamente nas terras firmes entre Ucayali e Huallaga. Area geogr.: Amazonas superior, de Itacoatiara até o pé dos Andes, na terra firme. Martinezia interrupta Ruiz e Pav. (?) « Chica-chica ». Pequena palmeira acaule e espinhosa, cujas folhas de 1m apenas de comprimento têm os seus foliolos triangulares dispostos em grupos afastados uns dos ou- tros. Inflorescencias com espatha lisa; as flores são dispostas em grupos distantes de 3 (um P e2 46) nos galhos rectos da inflorescencia. Os fructos globo- sos, pretos e alaranjados, têm apenas 5 mm de dia- metro. Achei esta especie na sombra da matta, no Cerro de Canchahuaya, em individuos isolados. Pares pevoTr:: Perú. Áttalea spec. div. Encontrei no Ucayali 5 especies de palmeiras que provavelmente tém de entrar no genero Áttalea. (1) Cheguei à convicção que devido à confusão que existe entre os nomes « Tucumã » e « Tucum », que se dão à mesma especie segundo que se empregam principalmente os fructos (Tucumá = Tucum-uá ) ou as fibras das folhas, tanto no baixo como no alto Amazonas, Wallace e Spruce trocaram os nomes scientificos, chamando o « Tucum » ou « Chambira » do alto Amazonas ( que segundo a minha convicção não é outra especie que o « Tucuma » de Manaos) de Astrocaryum vulgare Mart., emquanto este nome foi dado por Martius à especie vulgar do baixo Amazonas e da costa atlan- tica, especie que nos arredores do Para é chamada « Tucuma » emquanto que na região do Salgado e mais pelo Sul lhe dão o nome de « Tucum ». Entrarei opportunamente na discussão d'este assumpto com mais desenvol- vimento. 53 Po Materiaes para a Flora Amaxzonica. A mais commum é a «Shapaja» que tem uma dis- persão semelhante à do « Huicungu ». Nas varzeas do Ucayali ella é ainda mais frequente que esta especie e nos cerros ella penetra ainda mais adiante ao longo dos riachos. E' uma palmeira que cresce a uma altura de 15 m mais ou menos, muito elegante pelas suas fo- lhas dispostas da mesma fórma como as do « Uauassú » (Orbignia speciosa) mas um pouco menores. Esta espe- cie é com certeza proxima parente da Attalea Hum- boldtiana Spruce; provavelmente ella corresponde à especie inedita mencionada por Spruce ( Palma Ama- zonice p. 167), como crescendo no alto Amazonas, desde a fronteira peruana até os Andes. A « Conta » attinge as dimensões do Uauassú pelo seu tronco e pelas suas folhas ( que entretanto são um pouco mais irregularmente pinnadas ), excedendo esta especie pelo tamanho dos seus fructos, cujo caroço trilocular tem até 12 cm de comprimento sobre 5 em de diametro. As sementes (amendoas) da « Conta » são bastante procuradas e têm um gosto delicioso. A « Conta » é largamente distribuida no valle do rio Uca- yali, achando-se principalmente na terra firme. Semelhante à «Conta», porém de dimensões um pouco menores e com fructo mais delgado é o « She- vão», cujos caroços servem como os da « Conta » e da « Shapaja » para defumação da borracha. A «Birote-buasi» ou « Birotiasse», mencionada por Spruce (p. 107) como crescendo ao pé dos An- des equatorianos, igualmente uma palmeira de grande tamanho, cresce tambem no Cerro de Canchahuaya, Ella produz uma qualidade inferior de piaçaba. Igualmente no Cerro de Canchahuaya, em logares bastante seccos, achei uma outra especie de Áttalea ( ou Cocos?) chamada « Catirina ». Esta especie é acaule e cresce em familias; as folhas têm cerca de 2 m de compri- mento, são regularmente pinnadas e curvadas no apice. Entre as suas bases ellas retêm as folhas seccas que formam assim um pequeno monte no qual penetram as raizes da palmeira. As espathas são quasi tão du- Materines para a Flora Amaxonica 533 ras como as do inajá (Maximiliana regia) e têm uma fórma semelhante, mais ellas são mais pequenas. Os indigenas abrem os fructos, quando ainda não maduros, para chupar a agua que elles contêm. Não tendo encontrado nem esta nem as outras especies em flór, não me é possivel garantir a sua clas- sificação generica nem dar a sua descripção especifica. Penso porém que todas ellas representam especies ainda não denominadas scientificamente e não duvido que o seu estudo acurado seria muito fructuoso e valeria quasi uma viagem especial ao Ucayali. Maximiliana sp. « Inayúca », Encontrei esta palmeira num unico exemplar na terra firme entre o Ucayali e Huallaga. A fórma do tronco era muito semelhante à da Maximiliana regia Mart., mas como a palmeira era muito alta, não me foi possivel verificar a disposição e fórma das folhas nem a disposição dos orgãos de reproducção. Euterpe precatoria Mart. « Yuyu-chonta » ( Assahy ). Esta palmeira. cujo nome quichua quer dizer — palmeira legume. é frequente nas varzeas altas do Ucayali e na beira dos affluentes menores até no Cerro de Canchahuaya. Area geogr.: Bolivia subandina, Matto-Grosso, Goyaz, Amazonas superior. Oenocarpus Bataua Mart. « Ungurauy » ( Patauá ). A palmeira mais alta da região, com folhas gran- des e foliolos verde escuros muito largos e pendentes. Os fructos relativamente grandes n'este genero são muito procurados fornecendo, no seu mesocarpio machu- cado, uma bebida semelhante ao leite, que se toma com agua, com chocolate ou café. Tambem prepara-se d'elles um oleo fino. O « Ungurauy » é principalmente uma palmeira de terra firme, crescendo porém em terrenos frescos e humidos, onde elle vive ás vezes em grandes familias. Area geogr.: Amazonia e Guyana. 534 “Materiaes para a Flora Amazonica Oenocarpus multicaulis Spruce « Ciamba » ( Bacaba-y ). A Ciamba é ainda mais commum que o Uugurauy, crescendo indistinctamente no valle principal do Uca- yali e ao longo dos affluentes até nos cerros. Dos seus fructos que não são tão grandes como os do « Ungu- rauy » mas maiores que os da Bacaba, se faz uma bebida semelhante à da Bacaba. A Ciamba distingue-se das outras especies amazonicas do genero Oenocarpus pelo facto que ella cresce em toiceiras. Area geogr.: Alto Amazonas, dos Andes até o rio Tapajoz. Geonoma multiflora Mart. « Palmilla » (Ubim) (det. Udo Dammer ). Muito commum nas mattas de terra firme, princi- palmente nas partes mais altas do Cerro de Cancha- huaya e do «divortium aquarum » entre Ucayali e Huallaga. Area geogr.: Amazonia inteira, Guyana (?). Geonoma acaulis Mart. « Palmilla » (Ubim) (det. Udo Dammer ). Cerro de Canchahuaya, logares mais baixos. Area geogr.: Alto Amazonas. Geonoma elegans Mart. « Palmilla» (Ubim) (det. Udo Dammer ). Cerro de Canchahuaya. Area geogr.: Alto Amazonas. Todas estas tres especies de « Palmilla » são fre- quentes, principalmente no Cerro de Canchahuaya, onde ellas têm um papel importante na vegetação do «sous-bois », crescendo em numerosas familias. As suas folhas largas e pouco divididas são muito aptas para cobertura de ranchos. Emquanto que a Geonoma acau- lis, como já indica o seu nome, é baixa e destituida “de tronco, as outras duas especies têm um caule que chega a mais de 2m de altura, distinguindo-se a G. multiflora facilmente pelo seu porte mais firme e as Materines para a Flora Amaxonica 533 suas inflorescencias ramificadas, emquanto que a G. ele- gans tem uma inflorescencia simples. Chamaedorea lanceolata Kunth (det. U. Dammer ). Varzeas e terrenos humidos da terra firme. Area geogr.: Alto Amazonas, Perú e Bolivia suban- dina. Nunnezharia fragrans R. et Pav. « Sangapilla ». No Ucayali indicaram-me diversas pequenas pal- meiras sob o nome de « Sangapilla », a mais conhecida porém é sem duvida a N. fragrans, que se reconhece facilmente pelas grandes folhas simplesmente bifurca- das e não pinnatisectas. Infelizmente não encontrei-a em flôór, mas ouvi em todos logares falar do seu cheiro agradabilissimo. Ella é-bastante commum no Cerro de Canchahuaya. Area geogr.: Perú e Bolivia subandina. - Iriartea ventricosa Mart. « Huacrapona », « Tarapoto » ( Pa- xiuba barriguda ). Uma das especies mais communs da terra firme, principalmente nos cerros, ao longo dos riachos. A parte inchada do tronco serve para fazer pequenas canôas e o palmito se come. Area geogr.: Alto Amazonas, até nos promontorios dos Andes, Columbia, Venezuela. Iriartea Orbigniana Mart. « Sacha-pona » « Pona ». Esta especie substitue a [. ventricosa nos terrenos planos, nas varzeas do Ucayali e dos seus affluentes e até nos alargamentos dos valles no Cerro de Cancha- huaya. Area geogr.: Amazonia, da costa atlantica até os An- des, Bolivia subandina. Iriartea spec. nov? « Ponilla ». No Cerro de Canchahuaya encontrei diversas ve- zes uma palmeira, cujas folhas que tinham a fórma das da Iriartea exorrhiza Mart. typica, me fizeram sup- E Td 536 Materiaes para a Flora Amaxonica pôr que se tratava d'esta especie. Porém o tronco re- lativamente fino (diametro apenas 10 cm.) e estreita- mente annelado, a ausencia completa de raizes aereas e a fórma das sementes me deram a certeza que não se tratava da [. exorrhiza. As sementes são maiores que na Iriartea Orbigniana (2,8 cm X 2 em) e não são reticuladas na superficie, mas o raphe é visivel como uma fita de 2 a 3 mm de largura. Infelizmente não vi as flores desta especie, da qual alguns exem- plares são cultivados no Horto botanico do Museu. Catoblastus maynensis (Spruce) Drude « Ponilla » « Pullu coróto ». Esta especie elegante que tem as folhas semelhan- tes às da precedente, mas não bifidas no apice, é bem caracterisada pelos seus cachos de fructos succulentos, que são reunidos em uma especie de cylindro avellu- dado por fóra. Os indigenas gostam muito chupar o mesocarpio adocicado. O €. maynensis é frequente na beira dos riachos no Cerro de Canchahuaya, assim que no Pampa del Sacramento. y Ácanthorrbiza Wallisii Wendl. « Uchpa-aguaje ». Elegante palmeira de 2—5 m de altura, tronco iner- me, corôa globosa, de folhas palmadas e profunda- mente dentadas na margem, divididas até o petiolo em duas metades, e estas outra vez cada uma em 4—5 seg- mentos triangulares. Folhas verde escuras por cima, cinzentas por baixo. Não vi nem flores nem fructos desta palmeira. Igapós centraes no Cerro de Cancha- huaya e no Pampa del Sacramento. Area geogr.: Huallaga até Purús. “ Phytelephas microcarpa Ruiz et Pavon. «Yarina », « Marfin vejetal »; os exemplares machos que têm um tronco de 2—4m, chamam-se « Uilcu-yarina » (hombre yarina. ) Muito commum e crescendo em grandes familias por baixo das arvores altas nos logares humidos e frescos do Cerro de Canchahuaya e no Pampa del Sacramento. Materiaes para a Flora Amaxonica 53 =] — Área geogr.: Perú e Equador cisandinos. Phytelephas macrocarpa Ruiz et Pavon « Polopuntu », « Marfin vejetal grande ». Cresce tambem em familias, porém é mais rara que a especie precedente. Area geogr.: Amazonia subandina; no alto Purús, até a bocca do Acre. Phytelephas spec. (?). Na terra firme de Paca, no rio Ucavali, achei uma especie chamada « Polopuntu » que entretanto parece ser differente da Ph. macrocarpa. O tronco é direito e tem alguns metros de altura. As folhas eram maiores que nas outras especies, erectas, com peciolo curto. As cabeças de fructos já estavam um pouco passadas e se despedaçavam facilmente. Cada um continha pou- cos fructos de casca muito fragil e pouco tuberculada, com sementes um pouco alongadas e longamente pon- tudas. Cyclanthaces. Cyclanthus bipartitus Poit. Frequente no Cerro de Canchahuaya, principal- mente ao longo dos riachos, mais raro no Pampa del Sacramento. Area geogr.: Amazonia, Guyana. Carludovica palmata Ruiz et Pav. « Bombonaje ». Frequente no Cerro de (Canchahuayva, principal- mente em logares humidos; mais raro no Pampa del Sacramento. Area geogr.: Região subandina, do Perú até a Ame- rica central. Carludovica latifrons Drude. Especie terrestre e acaule de folhas largas e es- curas. Bastante frequente nas mattas de terra firme, nos Cerros de Contamana e Canchahuaya, etc. Area geogr.: Amazonia, de Belem do Pará até os Andes. 538 Materines para a Flora Amaxonica Carludovica spec. Especie terrestre com tronco curto e folhas bifur- cadas e compridas: cresce em grandes familias sobre as rochas das « Quebradas » do Cerro de Cancha- huaya. Carludovica divergens Dr. (?) « Tamshi >» (1). Ao longo do rio Ucavali e até nos cerros uma das especies mais frequentes, trepando nas arvores altas e formando a uma grande altura ramificações com nu- merosas folhas curtas e divergentes, simulando folhas palmadas. Os seus caules compridos servem de cordas ( cipó ). Area geogr.: Amazonia, da costa atlantica até os Andes. Carludovica elegans Dammer n. sp. (1524). Especie trepadeira de folhas grandes e largas, bi- fidas até um terço sómente. Encontrei-a no Pampa del Sacramento. Observei ainda duas outras especies trepadeiras, uma com fo- lhas curtas e largas, outra de folhas muito estreitas e compridas. Em geral as especies trepadeiras são bastante frequentes e têm um papel physionomico importante, principalmente nas regiões monta- nhosas de ambos os lados do rio Ucayali. Araceze. Anthurium pentaphyllum ( Aubl.) Kunth. (1544, det. A. Engler ). (1) A respeito do « Tamshi» existe em todo o Perú cisandino uma lenda singular. Dizem que o tamshi nasce da formiga Issula ( Dinopo- nera grandis). A origem d'esta crença deve provavelmente ser procurada no facto que esta formiga é frequentemente atacada por certos cogumelos da familia das Hypocreacee ( Cordiceps). Antes de morrer a issula agarra-se na casca duma arvore e o cogumelo que brota d'ella offerece mais ou me- nos o aspecto d'uma planta em estado de germinação. Encontrando eu uma d'estas formigas com duas fructificações de Cordiceps brotando da cabeça, os indigenas me affirmaram logo que este era o tamshi nascendo da issule, Materiaes para a Flora Amaxonica 539 Rio Huallaga, Quillucaca, 3 XII 98. Area geogr.: Brazil, Guyana. Anthurium Martini Schott. (1405, det. A. Engler ). Cerro de Canchahuaya, terrestre, bastante frequente, 29 X 98. Area geogr.: Guyana gallica. Anthurium Kunthii Poepp. et Endl. Canchahuaya, agora cultivado no Horto botanico do Museu Goeldi. Area geogr.: Alto Amazonas e Perú cisandino. Anthurium panduratum Mart. Muito frequente no Cerro de Canchahuaya e no Pampa del Sacramento, onde se encontram exemplares com folhas de mais d'um metro de diametro. Esta es- pecie é cultivada no Horto botanico. Area geogr.: Alto Amazonas. O genero ÁAnthurium é bem representado no Ucayali, princi- palmente no Cerro de Canchahuaya, onde eu encontrei, além das especies citadas, uma fórma terrestre de folhas grandes cordiformes (talvez o 4. terrestre Engl.!) e uma especie epiphyta da secção Pachyneurium. Monstera acuminata C. Koch (1342, det. A, Engler) Esta especie, bastante frequente nos Cerros de Can- chahuaya e Contamana, assim como nos Pampas del Sacramento, foi só encontrada no estado esteril, tre- pando nos troncos das arvores com caules relativa- mente finos e folhas conchiformes applicadas estreita- mente ao substrato e elegantemente manchadas de cin- zento prateado. Só uma vez eu pude ver a transição entre este estado juvenil e o estado adulto, com folhas maiores verdes e perfuradas. Area geogr.: America tropical. Monstera spec. (1345 ). Especie semelhante à precedente, porém com fo- lhas um pouco maiores quast redondas e verde-claras, realisando ainda melhor o typo das folhas conchifor- mes protectoras das raizes trepadeiras.. E 540 Materiaes para a Flora Amazonica Spathiphyllum Huberi Engl. n. sp. in litt. (1403, det. A. En-* gler ). Frequente no Cerro de Canchahuaya, 20 X 98. Especie affine do 3, cannaeforme ( Curtis) Engl. do qual ella se distingue principalmente pelos ovarios pontudos. Philodendron spec. div. A região do baixo Ucayali é rica em especies do genero Philodendron, porém não me foi possivel col- leccionar especimens de herbario. Trouxe apenas um exemplar vivo duma especie gigantesca, de folhas tri- partidas, que actualmente é cultivada no nosso Horto Botanico. Uma outra especie de folhas cordiformes, chamada « Morenga » fornece nas suas raizes espinhosas um cipó excellente para amarrar balsas e para obras de vime. ” Dieffenbachia gracilis Hub. n. sp. (1536). Caudex gracilis ascendens apice foliorum vagi- nis dense obtectus. Vaginae 2-3 cm longae laxius- culae, sicco striatae, apice auriculatae, auriculis ro- tundatis latiuscule scariose marginatis. Petiolus gracil- limus (3—5 cm longus ) tota longitudine supra exca- vatus. Lamina oblongo-oblanceolata vel obovato- oblonga, tenuis, apice longiuscule falcato-acuminata, basi acutiuscula paulo inaequilateraliter in petiolum decurrens ( circa 15 cm longa, 3,5-4 cm lata ) nervis 1 lateralibus circiter 10 quoque latere, secundariis nu- merosis tenuibus. Spadix fructifer pedunculo deflexo brevi instructus sine pedunculo 3 cm longus appla- natus spathae membranaceae pallide viridi tota lon- gitudine adnatus ( parte masculina delapsa ). Maxime affinis D. parvifolie Engler a cl. E. Ule ad Manãos collectae, qua differt habitu omnino graciliore, auriculis vaginarum rotundatis distincteque scariose marginatis, foliorum lamina basi haud ro- tundata. Pampa del Sacramento (Leche) 1 XII 98. Materiaes para a Flora Amaxonica 541 Tambem deste genero encontrei, nos logares pan- tanosos do Pampa del Sacramento, uma especie grande, de folhas verde-escuras, conhecida como planta caus- tica sob o nome de « Patquina ». Bromeliacez. Áechmea angustifolia Poepp. et Endl. (1508). Esta especie parece ser bastante commum no Pampa del Sacramento. Colleccionei em Sarayacu uma fórma anã, de inflorescencias e folhas muito mais curtas (13 cm em logar de 25 cm ). Em geral, as Bromeliaceas epiphytas não têm um papel tão importante na região ucayalina como no baixo Amazonas, e especialmente do genero AÁechmea não encontrei as especies gigantescas que são tão com- muns no baixo Amazonas. Nas « quebradas » do Cerro de Canchahuaya achei frequentemente uma Pitcairnea muito semelhante da P. corallina Linden et André, porém distincta pelas folhas verde-escuras e menos es- pinhosas. Esta especie prefere as rochas quasi perpen- diculares que marginam os riachos, mas ella se acha tambem como planta terrestre no meio da matta. Commelinacez. Campelia Zanonia H. B. K. (1505) var. glabrata. Pampas del Sacramento, entre Sarayacu e Sta. Ca- talina, 24 XI 98. Area geogr. da especie: Brazil, Mexico e Antilhas. V Floscopa elegans Hub. n. sp. Caulis geniculato-ascendens internodiis inferio- ribus ad 10cm longis 2-3 mm crassis (in sicco ) glabris. Folia superiora approximata maiuscula, in- feriora minora magis separata, infimum caeteris multo minus. Vaginae sublaxae 4-5 mm latae, 1,5 cm longae summae imbricatae, omnes ore obliquo et ad lineam 542 Materiaes para a Flora Amaxzonica ventralem fulvo-villosae ( linea villosa ad internodium descendente ) caeterum glabrae. Laminae lanceola- tae (10—18 X 3,5—4.5 em) apice longe acutatae, basi in petiolum circa 1 cm longum contracte, supra minu- tissime scabriusculae subtus glabrae, utroque latere leviter fuscescentes, infra paullo pallidiores. Pani- cula ampla (ad 8 cm lata) dense hispidula (haud glandulosa!) bracteae bracteolaeque glabriusculae. Flores albi, sepala dense hirtella. Capsula discoidea nitida, semina hemiellipsoidea albida ab embryostega radiatim striata. Affinis F. Peruvianae Hassk. (Perú, India oc- cidental), qua differt foliis longioribus distincte pe- tiolatis panicula haud glanduloso-hirtella. A F. robusta Clarke (Brazil, Perú) differt praecipue caule multo graciliore. Achei esta especie frequente na « Quebrada grande » do Cerro de Canchahuaya, 2 XI 98. Pontederiacez. Pontederia rotundifolia L. (1491 ). Rio Sarayacu, 23 XI 98. Area geogr.: Norte do Brazil, Columbia. Eichhornia crassipes ( Mart. ) Solms. Parece rara no rio Ucavyali. Só nos barrancos en- contrei enraizados no barro humido exemplares peque- nos e estereis desta especie, que provavelmente com a enchente reproduzem-se mais activamente por via ve- getativa, chegando então a fluctuar. Area geogr.: America tropical e subtropical. Amaryllidacez. Hippeastrum equestre Herb. (1386 ). Canchahuaya, 24 X 98. Area geogr.: America tropical. Muteriaes para a Flora Amaxonica 543 ” Eucharis narcissiflora Hub. nov. spec. (1514) « Sacha-ce- bola ». Folia (sine petiolo 17-18 cm longa) lanceo- lato-ovata, apice acuta, basi in petiolum lâmina aequilongum contracta. Scapus ad 40cm longus, umbella 10-flora, pedicell graciles (2—4 cm), tu- bus corollae gracilis apice paulo dilatatus, segmenta ovato-lanceolata (20 X6—10 mm), cupula staminalis 5mm alta libera, stylus filamenta vix superans. Differt ab aliis speciebus umbellis multifloris floribusque minoribus (4 cm diam.) (1). Pampa del Sacramento, frequente nos logares hu- midos da matta, entre Sarayacu e Catalina, 25 XI 98. e— Musaceza. “ Heliconia stricta Hub. n. sp. « Citolle ». Planta vulgo 1,5m alta, rarius usque 2-metra- lis. Folia laete viridia, petiolo 30-40 em longo gla- bro subcompresso supra caniculato, lamina lineari- oblonga ad 1m longa et 20cm lata, basi valde mequaliter in petiolum contracta, apice sensim acu- minata glabra. Inflorescentia in scapo per maximam longitu- dinem vaginis abscondito paulo compresso glabro terminalis erecta. Rhachis stricta crassa minutissime adpresse strigulosa. Bracteae spathaceae 6-8 alterna- tim contigue cymbiformes latissimae (ad insertionem 6cm altae), pro rate breves (10-17 cm longae) acuminatae, sub et post anthesin horizontaliter pa- tentes rigidae glabrae cum rhachide pulchre minia- tae viride marginatae infima plerumque elongata la- (1) Uma planta semelhante, porém menor em todas as suas par- tes, foi achada por Castelnau, tambem no Pampa del Sacramento ( 1847), e descripta por Baillon sob o nome de Calliphruria Castelnaeana Baill. ( Bull. mens. de la Société linnéenne de Paris N.º 143, 7 HI 1894). Bail- lon considera esta planta como representando um termo intermediario entre Calliphruria e Eucharis. e E A 544 Materiaes para a Flora Amaxzonica mina parva instructa. Flores in axilla bracteae nus merosi anthesi paulo exserti prophyllis ovatis hya- linis paulo brevioribus, breviter pedicellati (7 mm ), pedicello ovario aequicrasso glabro. Perigonium cir- ca cm longum arcuatum infra album apicem ver- sus viride et atrovirens, tepalis exterioribus summo apice indurato albis minutissime fusco-apiculatis, sta- minibus styloque paullum exsertis. Ovarium 6-7 mm longum, 4-5 mm crassum glabrum. Ex afiinitate H. Bihbai L., qua differt inprimis inflorescentia stricta bracteisque latissimis breviori- busque. Ab H. Poeppigiana Eichl. a cl. Poeppigio in Peruvia subandina collecta foliorum conformatione longe aberrat. | Esta especie é bastante frequente nas fraldas do Cerro de Canchahuava. Ella é cultivada no horto bo- tanico do Museu Goeldi. Heliconia episcopalis Vell. | Especie grande, de 3-4m, com inflorescencia com- pacta erecta: é commum nas varzeas novas. Area geogr.: Bahia, Rio de Janeiro, Perú cisandino e Columbia. Heliconia cannoidea Rich. (1385). Reconhece-se pelas folhas relativamente pequenas e curtamente pecioladas, arranjadas disticamente e ex- plainadas horizontalmente ao longo do talo. Beira dos riachos no (Cerro de Canchahuaya, 27 A 08. Area geogr.: Brazil oriental, Guyana, Venezuela, Perú. As margens do Ucayali e Huallaga são particu- larmente ricas em Heliconias, que já attrahiram a at- tenção de outros naturalistas viajantes. Além das espe- cies mencionadas, me lembro ainda d'uma especie gigan- tesca, com bellas inflorescencias pendentes, que é fre- quente ao longo dos rios Chipurana e Yanayacu, no Pampa del Sacramento, mas que infelizmente não pude colleccionar. Materiaes para a Flora Amaxonica 545 A Ravenala guianensis Benth. que avista-se ainda em diversos logares ao longo do Rio Solimões e mesmo no alto rio Purús (mas sempre na terra firme), não foi encontrada por mim no Ucayali. Zingiberaceze. Esta familia. é bem representada, principalmente no Cerro de Canchahuaya, onde encontrei em logares humidos diversas especies de Renealmia e de Costus, entre as quaes notei principalmente duas, uma de inflo- rescencia radical e de flores muito grandes encarnadas, outra de inflorescencia terminal cylindrica e muito compacta, com bracteas e flores vermelhas; infeliz- mente não me foi possivel colleccionar estas duas espe- cies. Trouxe porém exemplares d'uma outra especie, notavel pelas suas flores espléndidas côr de enxófre, especie que por causa dos seus ovarios dimeros deve ser classificada no genero Dimerocostus. Dimerocostus elongatus Hub. n. sp. (1384, 1461). Caulis 2— 4m altus erectus, haud spiralis. Folia spiraliter disposita. Vaginae superiores laxiuscu- lae, striatae minutissime hirtellae apicem versus pu- bescentes, ore obliquo vix brevissime ciliolato, ligula 5mm lata brevissima (2— 3 mm) coriacea glabra. Petiolus brevissimus (2—4 mm) explanatus 5 mm latus. Lamina elongato-oblanceolata circa 30 cm longa 7—Scm lata (summorum foliorum brevior ), apice caudato-acuminata basi angustata brevissime rotun- data, supra glabra, infra minutissime scaberula ad acumen hirtella. Spica elongata (ad 30cm et ultra) angusta (3—3,5 cm. crassa), apice saepe in novum caulem foliosum excrescens, bracteis coriaceis striatis latissime ovatis apicem versus rubescentibus (in sicco ) emar- ginatisque, hic inde sub apice linea callosa instru- ctis, in spiralem unicam dense congestis, convolutiq- e” Am A 1 E 546 Materiaes para a Flora Amaxzonica nibus circa 12, intervallibus 2 cm altis separatis. Flores solitarii bracteolis coriaceis 3,5 em lon- gis spathaceis obtusis unilateraliter usque ad quar- tam vel tertiam longitudinis partem fissis subalato- bicarinatis brevissime sparseque hirtellis. Calyx ad anthesin longe exsertus 3,7 cm longus coriaceus tu- bulosus ad anthesin Qmm latus apice tridentatus, dentibus 6mm longis oblongo-triangularibus obtusis. Corolla (lutea?) calyce duplo longior (anthesi 7 cm longa) lobi oblongo-lanceolati obtusiusculi 2,5—3 em longi (superiore reliquis latiore (1,7 cm ) apiceque distincte cucullato-apiculato ). Labellum pulchre sul- phureum 6cm longum ad 8cm latum apice emar- ginatum crispatum margine undulatum. Stamen 2,5 cm longum lato alatum connectivi appendice 3 cm longo deflexo apice 1,5 cm lato truncato. Ovarium biloculare obconicum circa 7 mm longum glabrum. Capsula matura oblonga lageniformis apice ex bra- ctea exserta calyce auctó coronata coriacea bilocu- laris, seminibus numerosis quadriseriatis isodiametri- cis pressione mutua plus minus polyedricis canis maculis undulatis atrofuscis nitidis creberrime no- tatis. Differt a D. unifloro ( Poepp.) K. Schum. flo- ribus sulphureis seminibusque isodiametricis et aliis caracteribus. D. Gutierregii O. Ktze. nimis imperfe- cte notus a specie nostra statura minore differe sed aliis caracteribus magis affinis esse videtur. O D. elongatus é frequente no Cerro de Can- chahuaya e no Pampa del Sacramento, onde elle constitue, com as suas grandes flôres amarellas côr de enxóôfre, um dos maiores ornamentos das beiras dos rios e riachos. Marantaceza. Como toda a Amazonia, a região do baixo Uca- yali é bastante rica em Marantaceas, que constituem Materiaes para a Flora Amazonica 547 um dos elementos mais importantes da vegetação do sous-bois. Emquanto que nos logares humidos ou mais ou menos pantanosos crescem principalmente as espe- cies de Ischnosiphon, como por exemplo o grande 1. obliquus ( Rudge) Koern., os terrenos mais enxutos são preferidos pelas especies variadissimas do genero Calathea, das quaes consegui introduzir diversas no nosso Horto botanico. “ Calathea Contamanensis Hub. nov sp. (Nudiscapae ) « Bijanillo ». Planta petiolis pedunculisque exceptis glaber- rima primum vix semimetralis demum elata 1 ad 2 m alta. Folia ovata basi rotundata apice acuta paulo inaequilatera statu juvenili ut in C. ornata (Linden) Koern. minora (20-30 cm longa) supra saturate vi- ridia lineis parallelis geminatis albis vel rubris per- cursa subtus atropurpurea, statu adulto saepe duplo maiora (50--60 cm XX 30 cm) in cultura utrinque viridescentia longe petiolata vagina ad 30 cm vix auriculata, petiolo ad 90 cm longo adpresse hirtello, parte superiore ad 10 cm longa terete callosa glaber- rima. Inflorescentia pedunculo 3060 cm longo sus- tentata ( pedunculo brevissime hirtello interdum IO cm sub apice vagina 10 cm longa sterili instructo ) breviter cylindrica 10 em X 5 cm. Bractee spirali- ter dispositae numerosae late ovato-triangulares (13 —14X12—13 mm) extus atroviolacee scariosae om- nes fertiles. Bracteolae subulato-triquetrae tota lon- gitudine induratae pallide luteae nitentes. Paria flo- rum 4—6 pedunculo 3 mm longo sustenta, ovarium glaberrimum, sepala 2cm longa atroviolacea oblonga membranacea glabra. Corollae tubus calycem supe- rans (2,2em longus) ochroleucus, lobi tubo aequi- longi oblongi ochroleuci plus minus rubrovenosi, staminodium exterius obovatum 1,8 cm longum emar- ginatum, flavescens rubrovenosum, staminodium cal- losum paulo minus medium versus cucullatumque album. 548 Materiaes para a Flora Amaxonica Foliorum colore affinis videtur C. ornatae, sed inflorescentia totaliter discrepat; pedunculo interdum supra vaginato ad seriem Scapifolie tendit et cum C. Sodiroi Eggers et C. pachystachya (Poepp. Endl.) koern. affinitatem praebet, sed inter omnes species bracteis sepalisque pulchre atroviolaceis insignis. Esta especie é muito frequente nos Cerros de Con- tamana e Canchahuaya, rara no Pampa del Sacramento. Nos exemplares trazidos de Contamana e cultivadas no Horto botanico do Museu Goeldi a côr inicial das fo- lhas desapparece quando as plantas attingem 1m de altura e começam de florescer, emquanto que no Uca- vali achei exemplares bastante grandes que ainda pos- sulam os riscos brancos na face superior e a côr pur- purea na face inferior das folhas. Com o mesmo desenho das folhas, ao menos du- rante o estado juvenil da planta, temos no Horto bo- tanico mais 3 especies amazonicas do genero Calathea. v Calathea laetevirens Hub. nov. sp.. (Nudiscapae ). Planta humilis circa 30 em alta. Folia 10 cm longe vaginata vagina cito explanata medio circa | 1,5cm lata plus minus patente, petiolum imitante, parte callosa apicali vix 8 mm longa, solum ad 2 mm haud vaginata glaberrima, lamina elliptica vel obo- vata (18 X 10 cm) inaequilatera basi rotundata apice brevisssme acuminata secundum nervos secundarios leviter plicata, supra laete viridis vel interdum zona centrali castanea percursa glabra, subtus pallidiore mollissime puberula. Inflorescentia subsessilis brevis (Gem) turbinata. Bractee spiraliter dispositae om- nes florentes amplae (5 X 2.5cem) membranaceae pallide chloroticae, parte inferiore latissime obovata convoluta, parte superiore plus minus erecto-patente explanata ( marginibus paullo reflexis ) anguste trian- gulari apice minute apiculata. Prophylla mesophylla- que exteriora oblongo-ovata membranacea hyalina (circa 3>X1em), bracteole lineares tenuissimae. Florum paria 3-4 evoluta. Sepala lineari-oblonga Materines pura a Flora Amazonia 549 apice acutiuscula hyalina membranacea tenerrima 1cm longa. Corollae tubus 4 cm longus 2 mm latus ochroleucus. Petala late elliptica obtusiuscula (13 8 mm ) paulo inaequalia conchoidea staminodia inclu- dentia. Staminodium exterius transverse ellipticum (7X 10 mm), callosum brevissimum stylum haud superans ut reliquae floris partes ochroleucum. Ova- rium apice sericeum. Frequentisssma no Pampa del Sacramento, princi- palmente nos arredóres de Santa Catalina, Yanayacu etc. » Calathea aberrans Hub. n. sp. ( Nudiscapae ). Planta 1—1,5m alta laxe caespitosa. Foliorum petiolus 50 cm longus vel longior superne scaberu- lus, vagina medium petiolum attingente, parte callosa 4,5-—5 em longa paulo compressa glabra. Lamina oblongo-ovata basi rotundata brevissime in petiolum contracta apice breviter acutata (40—50 X 18-—20 cm) supra nitida obscure viridis zonis duabus longi- tudinalibus laete viridibus in medio inter nervum pri- marium et marginem decurrentibus apicem basinque versus evanescentibus, subtus uniformiter pallide vi- ridis brevissime puberula. Scapus circa 30 cm longus viridis glaber. Spica ovoidea 12 cm longa, florens 10 cm lata. Bractee numerosissimae spiraliter dispositae oblongo-ovatae (3 cm longae ) brevissime apiculatae herbaceo-coriaceae minutissime puberuiae virides basi lutescentes patentes. Paria florum 5 evoluta, bracteolis deficientibus ! Flores cum staminodiis circa 5 cm longi albi speciosi. Sepala 2,5cm longa ovata acuta ochro- leuca. Tubus corolla calycem paulo superans pilosus. Petala sepalis aequilonga lanceolata acutissima palli- diora. Staminodia externa saepe bina (in floribus su- perioribus saepius singula) late obovata tenuiter membranacea alba, callosum paulo minus, cuculla- tum calcare longo instructum. Ovarium 3 mm longum glaberrimum. Species bracteolis deficientibus, staminodiis ex- 550 Materiaes para a Flora Amaxonica ternis saepe binis ab omnibus distinctissima, C. vitta- tae (K. Koch) Koern. affinis videtur. Esta especie é bastante espalhada sobre toda a região visitada, mas encontrei ella sempre em poucos exemplares. À descripção é feita, como nas outras es- pecies novas de Calathea, segundo exemplares cultivados no Horto botanico. Calathea Sophie Hub. nov. spec. ( Comosae ). Planta adulta 1,5m alta vel paulo altior. Folia longe (00 cm) petiolata, vagina brevi, petioh badi brevissime puberul pars superior ad 6 cm longa cal- losa glabra, lamina oblonga (ad 60 X 22 em) basi rotundata apice brevissime acuminata vel acutiuscula secundum nervos secundarios undulata glabra supra pulchre nitens atrovirens infra atrorubens. Inflores- centia pedunculo 20-40 cm longo badio brevissime adpresseque puberulo sustenta, subglobosa, apice depressa. Bractea fertiles numerosae spiraliter dispo- sitae amplae membranaceae molles, infima usque ad 6,5cm longa basi convoluta parte superiore triangu- laris acutissima, superiores ovatae vel oblongae obtuse “acuminatae vel obtusiusculae pulchre prasinae lateque albo- et saepe angustisssme rubro-marginatae parte superiore ad anthesin reflexae, summae circa 1Ó ste- riles magis virides explanatae. Prophylla membrana- cea late obovata cum mesophyllis iis aequilongis apice alte emarginatis maxima parte tenuioribus hyalinis convoluta tubos 3cm longos depressos efformantia, bracteolis linearibus tenuibus saepe in pare inae- qualibus. Paria florum 3—4 evoluta. Flores subses- siles 5cem longi, sepala obovato-oblonga (1.8 cm longa ) alba margine hyalina, corollae tubus albus 3 cm longus, petala alba 2 cm longa obovato-oblonga subcucullato-acuta. Staminodium exterius callosumque apicem versus pallide roseo-violacea, exterius petala paulo superans cuneato-obovatum apice rotundatum, callosum petalis distincte brevius apice dilatatum undulato-truncatum. Staminodium cucullatum album Materiaes pera a Flora Amaxonica 551 dente elongato instructum. Ovarium obovoideum gla- berrimum 2,5m longum. Species in honorem uxoris meae dilectissimae Sophiae A. Huber denominata. Esta especie, cujas lindas inflorescencias fazem ainda resaltar a nobreza da sua folhagem, com a qual ellas fórmam um bellissimo contraste, é bastante frequente nos logares baixos e humidos do Pampa del Sacramento, de onde eu trouxe exemplares para o nosso Horto bo- tanico. “ Calathea ucayalina Hub. n. sp. ( Comosae ). Planta semimetralis vel altior, folia ad 50 cm longe petiolata, vagina brevis (circa 10 cm longa) scariosa haud fimbriata, petioli glabri pars supe- rior ad 6cm longa paulo compressa callosa glaber- rima, lamina elliptica (25-35 cm longa, 15—20 cm lata) apice basique brevissime acuminata, inaequi- latera (4:5), glaberrima, supra nitens laete viridis, zona media interdum subargentea, flammeis obscure viridibus subcontiguis inter nervos secundarios margi- nem versus tendentibus et zonam latam efformantibus, infra pallide viridis vel dilute rosea. Inflorescentia pedunculo vix 10 cm longo apicc incrassato brevissime puberulo sustenta, subturbinata (6 cem longa) vel fere globosa apice depressa. Bra- cteae fertiles spiraliter dispositae amplae membrana- ceae molles medio constrictae, parte inferiore latissima (1,5cm longa, 2,5cm lata) alba, parte superiore ovata (3 cm longa, 2 cm lata ) obtusiuscula undulato- reflexa pallide viridi vel prasina angustissime sca- riose marginata, bracteae steriles (circa 10) apice explanatae summae minores simpliciter rhomboideae totae pallide virides. Prophylla membranacea late elliptica cum me- sophyllis paulo brevioribus tenuioribusque convo- luta tubos 2,5cm longos paulo depressos formantia, bracteolis linearibus tenuibus. Paria florum 4—5 evo- luta. Flores vix pedicellati, sepala lineari-oblonga 552 Materiaes para a Flora Amaxonica (1.5cm) obtusa alba margine late hyalina, tubus corollae fere duplo longior, corolla lutea. Ovarium glabrum. Encontrei esta especie nas partes afastadas do Cerro de Canchahuava e com bastante frequencia nos terrenos accidentados do Pampa del Sacramento. A des- cripção é feita segundo exemplares cultivados no Horto - — botanico. Calathea microcephala ( Poepp. e Endl.) Kcke. Esta pequena especie de folhas verde-escuras com uma fita branca ao longo do nervo. se distingue de to- das as outras pela inflorescencia diminuta com 2 à 3 bracteas sômente e pequenas flores brancas. Graças ao seu modo de desenvolver stolones em grande quanti- dade. ella se estende sobre grandes superficies, formando relva. E a especie mais commum nos Cerros de Conta- mana e Canchahuaya. como tambem na terra firme do Pampa del Sacramento. Area geogr.: Foi achada por Poeppig perto de Yuri- maguas e se estende até o Purús, talvez ainda mais ao Este. Calathea aff. peruviana Kcke. Especie do grupo Comosae, rara no Pampa del Sacramento. Como do parentesco de C. peruviana Kcke. e C. roseo-picta ( Lindl.) Reg. existem no alto Amazonas diversas especies muito semelhantes, ainda não me atrevo de descrever esta especie como nova. Orchidaces. A região percorrida por nós, apezar de não ter talvez a riqueza espantosa em (Orchideas que caracte- risa o valle superior do Huallaga, explorado por Poeppig, é todavia bastante rica em especies interessantes, das quaes durante a nossa rapida excursão consegui col- leccionar apenas umas poucas amostras. Materiaes para a Flora Amaxonica 553 Rodriguezia Batemanni Lindl. in Poepp. et Endl. Nov. Gen. po dm tab. LXX (1522; det. Schlechter ). Muito commum no Pampa del Sacramento, prin- cipalmente nas visinhanças das povoações, onde esta especie cobre os troncos das arvores fructiferas, cuiei- ras, goyabeiras, etc., matizando-as com as suas flores brancas e côr de rosa ou lilazes. Santa Catalina, 28 XI 1898. Area geog.: Perú cisandino: Yurimaguas (Poeppig). Diadenium micranthum Poepp. et Endl. Nov. Gen. I p. 41 Tab. LXXI (15709, det. Schlechter ). Esta especie rara e interessante foi achada epiphyta nos arbustos dum lago que se extende na embocadura do rio Catalina no rio Ucayali, XII 1898. Area geographica.: Perú cisandino : Cuchero (Poepp.) Oncidium iridifolium H. B. K. (1462). Epiphyta nos arbustos da « Quebrada grande » de Canchahuaya, 13 XI 1898. Area geogr.: America tropical; na Amazonia, do pé da cordilheira até a costa atlantica. “ii tenue Ldl. in Bot. Reg. XXVI sub tab. 68. (1523, der Schlechter ). Epiphyta nas arvores fructiferas de Santa Cata- lina (Pampa del Sacramento), 28 XI 1898. Area geogr.: Esta especie, até aqui só conhecida no baixo Amazonas ( Pará ), parece estender-se sobre toda a Amazonia. Angraecum Poeppigii Rchb.f. Linnaea 22, p. 858 (1524, det. Schlechter ). Nos mesmos logares como a especie precedente, da qual elle se distingue pelo caule elongado. Santa Cata- lina, 28 XI 1898. Area geogr.: Esta especie era só conhecida ate aqui de Cuba ( Poeppig ). Materiaes para a Flora Amaxonica Dicotyledonese Archichlamydese. Piperacese ( det. C. de Candolle ). Piper nigropunctatum C. DC. sp. nov. Piper Foliis breviter petiolatis lanceolato-oblongis basi leviter inequilatera acutis apice acute acuminatis utrinque glabris subtus crebre nigro-punctulatis, nervo centrali fere tota longitudine sua nervos patulo- subascendentes utrinque 11 mittente, petiolo basi ima vaginante pedunculoque fere aequilongo et tenui gla- bris, amento quam limbus 2 — 3-plo breviore apice brevissime acuto, bracteae apice truncato-peltatae pelta triangulari margine parce hirtella, bacca glabra. Cerro de Contamana, frequente na matta (1352), 1896. Ramuli glabri, amentiferi 2 1/,mm crassi, col- lenchymate in fasciculos discretos zona interna et laterali libriformes disposito, fasciculis intramedulla- ribus unispriatis canali vacuo centrali. Limbi in sicco membranacei pellucido-punctulati ad 23,5 cm longi et ad 8,5mm lati. Petioli ad limbi latus longius 8S—10 longi. Pedunculi 1 mm crassi. Amenta post anthesin gem longa 2,5 mm crassa. Stamina 4. Stig- mata 3 sessilia et brevissima. Species P. punctati Ruiz et Pav. proxima. hbirsutum Sw.. var. laevius (C. DC. in Dur. et Pitt. Primit. fasc. 1, p. 107). X Contamana, frequente nos terrenos cultivados (1348) 1898. Area geogr.: America central, Brazil. Peperomia trinervis Ruiz et Pav. 8: brachyphylla C. DC. Prodr. Vol 16; 7, p. 417) Cerro de Canchahuaya (1442) XI 1898. Area geogr.: Brasilia. Peperomia sp. nov.? epiphyta, specimen mancum nondum describendum. Cerro de Canchahuaya (1443) XI 1898. Materiaes para a Flora Amazomca 555 Salicacez. Salix Martana Leybold. (1328, 1564). No rio Ucayali esta especie já é muito mais rara que no Amazonas. Ella acompanha apenas o rio prin- cipal e alguns affluentes maiores. Achei porém alguns exemplares isolados na « Quebrada grande» do Cerro de Canchahuaya. Moracez. Ficus spec. div. Nas mattas de ambos os lados do rio Ucayali existem muitas especies de Ficus, chamadas pelos in- digenas de « Renaco » ou « Renaquillo », segundo que ellas são arvores grandes ou arbustos epiphytas. Al- gumas são habitantes da terra firme e dos cerros, em- quanto que outros preferem as vargens, principalmente as partes mais inundadas ( tahuampas ), onde ellas dão na vista pelas suas raizes aéreas de fórmas exquisitas. Uma especie de Ficus, pertencendo ao sub-genero Pharmacosycea, é uma das arvores mais frequentes das alluviões recentes do Ucavyali, sendo universalmente conhecida sob o nome indigena de « Ojé ». E' a « Cua- xinguba » dos brazileiros, tão frequente por todo o alto Amazonas, ou uma especie affine. Os exemplares este- ris que colleccionei (n.º 1487), differem um pouco na fórma das folhas do Ficus anthelminthica Mart., tendo estas um pouco mais largas e menos acuminadas que nas figuras da « Flora brasiliensis ». O leite do « Ojée » é empregado na região do baixo Ucayali contra vermes e ictericia. Olmedia aspera Ruiz et Pavon. « Llanchama » (1548). Rio Chipurana ( Huallaga ), 5 XII 1898. Area geogr.: Peru. Arvore grande cuja entrecasca batida e lavada serve aos indios para prepararem as esteiras ( Ilanchamas) que elles levam nas suas Materiaes para a Flora Amaxonica viagens usando d'ellas em guiza de camas. Não encontrei a arvore em flóôr, de fórma que a determinação carece de confirmação. No Museu Goeldi existem egualmente amostras de casca bruta e preparada em esteira. Não me consta que esta especie cresce a leste do rio Ucayali. Olmedia spec. (?) « Mashunasti ». Nas varzeas de (Canchahuaya e no Pampa del Sacramento cresce frequentemente uma arvore grande, cujo tronco se reconhece pela casca grossa, densamente coberta de grandes lenticellas e contendo um leite pe- gajoso que facilmente coagula numa massa resinosa perfeitamente plastica à temperatura do corpo, mais ou menos dura à temperatura de 20 a 30 grãos. As rail- zes desta arvore, que correm a grande distancia na superficie da terra, têm a casca dum vermelho ama- rellado vivo, principalmente nas grandes lenticellas que têm a fórma de fitas transversaes mais ou menos lar- gas e extensas. As folhas coriaceas e lustrosas são oblongas, arredondadas na base, longamente acumina- das no vertice, com numerosas nervuras lateraes. Não vi as flores d'esta especie, mas os fructos que eram maduros no mez de dezembro me fazem suppór que se trata d'uma especie do genero Olmedia. Alguns exemplares d'esta arvore são cultivados no Horto botanico, mas ainda não deram flóres. Encontrei a mesma especie no alto rio Purús. Informaram-me que esta arvore se chama no Brazil de « Guarijuba ». O genero Olmedia contém ainda outras especies no alto Amazonas. Poeppig (Nov. Gen.) descreveu das visinhanças de Teffé não menos de 4 novas especies do genero, das quaes, é verdade, 2 devem classificar-se em generos parentes. Castilloa Ulei Warb. (1416) « Caucho ». Cerro de Canchahuaya, 1 XI 1898. Tambem no Pampa del Sacramento. Area geogr.: Como já mostrei em publicações anterio- res, este genero importantissimo é representado não só no Mexico, na America Central e na parte trans- Materiaes para a Flora Amaxonica 57 andina da Columbia e Equador, como se acredi- tava geralmente, mas tambem no Perú cisandino e por toda a região amazonica até o rio Tocan- tins. Não tendo encontrado porém a arvore nem em flôr nem com fructos, fui induzido pela seme- lhança das partes vegetativas a consideral-a como pertencendo à especie typica C. elastica. Os fru- ctos, que o Sr. Ernesto Ule conseguiu ultima- mente trazer do rio Jurua, permittiram entretanto ao sabio monographo da familia das Moraceas, Prof. Warburg de Berlim, de distinguir o Caucho amazonico como especie nova bem caracterisada (cf. Engler's bot. Jahrb., Bd. 35, p. 674). Pourouma palmata Poepp. « Uvilla ». Esta especie e ainda uma outra cujos fructos são comestiveis, se encontram nas mattas do Ucayali e muito frequentemente nas do Pampa del Sacramento. Em Iquitos cultiva-se uma especie que é prova- velmente a P. cecropiefolia Mart. Cecropia div. spec. « Cético ». Colleccionei materiaes de herbario apenas de duas especies, uma das varzeas e uma da terra firme, não conseguindo entretanto classifical-as com segurança. Nas varzeas do Ucayali, onde as imbaubas têm, como em outros rios da America tropical, o papel dos primeiros precursores da vegetação arborescente, existem diversas especies, das quaes uma tem as folhas pouco profun- damente lobadas e brancas por baixo, uma outra fo- lhas grandes e profundamente lobadas, verdes de am- bos os lados. Os Peruanos chamam as imbaubas de « Ceticos » (imbaubal = « cetical »). Occasionalmente extrahe-se uma cera das cavidades dos internodios, mas não pude convencer-me, se os depositos de cera são produzidos por uma abelha (como dizem certas pessoas) ou se elles são producto da arvore mesma. Chlorophora tinctoria (L.) Gaudichaud (1404 ). Canchahuaya, beira do rio Ucayali, 29 X 1898. Area geogr.: America tropical. 558 Materiaes para a Flora Amaxonica Urticacez. Urera capitata Wedd. (1488). Canchahuaya ( puruma), 20 XI 1898. Area geogr.: Bolivia. Pilea Sp. f VSioOm Esta especie que não foi reconhecida especifica- mente por não ter flóres, é particularmente interessante pela sua anisophyllia muito pronunciada. Achei-a tre- pando nos troncos de arvores nas mattas do Pampa del Sacramento, 26 XI 1898. Polygonacez. Polygonum hispidum H. B. K. « Lagarto tabaco ». Esta planta, chamada no Brazil « Tabacarana », é bastante frequente nas praias do rio Ucayali. Como as cannaranas, ella não morre com a en- chente, mas chega a fluctuar com caules compridos fistulosos e bastante engrossados. ' Area geogr.: America tropical. Polygonum acuminatum H. B. K. (1302). Caballococha (rio Solimões), 18 IX 1898. Area geogr.: Guyana, Amazonia, Brazil. Polygonum acre H. B. K. (15509). Frequente e em grandes familias nas praias do rio Yanayacu ( Pampa del Sacramento, 8 XII 1898). Area geogr. : America tropical e subtropical. Estas e outras especies do genero Polygonum são plantas muito caracteristicas das praias, não só no Ucayali, como tambem em outros rios amazonicos ( por exemplo no Purús ). Coccoloba peruviana Lindau. (1494). Sarayácu, arbusto frequente na beira do igarapé, 23 XI 1898. Area geogr.: Perú. he ad Materiaes para a Flora Amaxonica 559 Triplaris surinamensis Cham. « Tangaráâna ». Esta arvore myrmecophila, chamada « Tachi » na Amazonia brazileira, é ainda commum nas varzeas do baixo Ucayali. Area geogr.: Muito commum nos terrenos alagados da Amazonia e da Guyana. Iriplaris Schomburgkiana Benth. (1553) « Tangarána». Forma foliis supra glaberrimis lucidis, infra ad nervos solum hirsutis. Esta especie, que se distingue do T. surinamensis à primeira vista pela estatura menor e pelas folhas mais largas, cresce em companhia da especie prece- dente nas varzeas do baixo Ucavyali e Huallaga. Como aquella especie ella é habitada por formigas do genero Pseudomyrma. Colleccionei-a no rio Chipurana ( Pampas del Sacramento), 6 XII 1898. Area geogr.: Perú cisandino e regiões conterminas do Brazil (Solimões, Purús, etc.), Guyana ingleza. Além d'estas duas especies mais frequentes encon- trei e colleccionei no Ucayali mais duas, infelizmente só no estado esteril. Como ellas são porém bem dis- tinctas das especies precedentes e não correspondem, nos seus caracteres vegetativos, às outras especies já descriptas, vou publical-as sob nomes provisorios. re- servando a sua descripção mais detalhada para mais tarde. v Triplaris longifolia Hub. n. sp. (1458). Glabra, innovationibus longe parceque pilosis exceptis. Ramuli undulati, leviter striati, ample fis- tulosi, internodiis superioribus inflatis doliformibus. Folia elongato-oblonga 30—40 em longa 6—10 em lata, longiuscule petiolata petiolo 2—4 em longo sub- marginato, lamina basi in petiolum longe attenuata, apice acuminata glaberrima, submembranacea, striis obsoletis. Affinis T. peruvianae Fisch. et T. surinamensis Cham. videtur, sed foliis membranaceis longe petio- 560 Materiaes para a Flora Amazonica latis basique longe cuneatis et in petiolum contrac- tis differt. Encontrei alguns exemplares pequenos d'esta espe- cie nas partes altas do Cerro de Canchahuaya. Ella é myrmecophila e tem os internodios superiores bastan- te inchados, o que lhe dá um aspecto singular.. Triplaris fulva Hub. n. sp. (1565). Folia brevissime (5 mm) petiolata, lamina oblonga apice acute acuminata basi valde inaequila- teraliter rotundata vel subcordata utrinque adpresse pilosa fulvescente; nervis utrinque, petiolis ramulis- que (anguste fistulosis) stipulisque (extus) dense fulvo subsericeo-tomentosis. Achei esta especie num unico exemplar perto de Paca, na varzea do Ucayali, 19 XII 1898. Pelos seus galhos e folhas muito cabelludas e ruivas, pela base das folhas arredondada em alturas differentes dos dois lados do peciolo, a T. fulva parece distinguir-se suf- ficientemente de todas as outras especies do genero. Portulacacez. Talinum racemosum (L.) Rohrb. (1331). Contamana, frequente nos terrenos cultivados, 14 X 1898. Area geogr.: Bolivia, Perú, Venezuela, India occidental. Encontrei tambem uma especie de Portulaca (provavelmente P. pilosa L.) em logares abertos e arenosos no Pampa de Sacra- mento. Anonacea. Anona hypoglauca Mart. (1493). Sarayacu, beira do igarapé, 23 XI 1898. Area geogr.: Solimões. / Guatteria ucayalina Hub. n. sp. (1431). Ramuli graciles stricti dense ferrugineo-hirtelli. Materiaes para a Flora Amaxonica 561 q Folia obovato-lanceolata (10-20 em X5—10 em) apice abrupte obtuseque acuminata basi in petiolum brevisssmum tota longitudine (6 mm) callosum acu- tata vel (folia minora) longius contracta, firme mem- branacea vel subcoriacea solemniter costata, nervo medio lateralibusque supra planis ferrugineo-hirtel- lis (ipsa pagina adpresse pilosula glabrescente fus- cescente) subtus acute prominentibus venisque ferru- gineo-hirtellis ipsa pagina foli pilis paucioribus adspersa. Pedunculi (solitarii) paulo supra basin ar- ticulati fructiferi 3,5 cm longi apice incrassati gla- brescentes. Receptaculum depresso-globosum. Baccae numerosae longius graciliterque (3 em) pedicella- tae obovatae (1 cm longae) acuminatae nigrescen- tes glabrae. Gualteriae nigrescenti Mart. maxime affi- nis videtur. Cerro de Canchahuaya, XI 1898. Entre as muitas outras Anonaceas que encontrei no Ucayal sem poder colleccional-as, lembro-me de uma particularmente inter- essante. E” uma nona ou Duguetia cauliflora, de grandes flores amarellas, que não é muito rara nas riattas do Pampa del Sacra- mento. — Myristicaceze. As Myristicaceas são arvores muito frequentes no baixo Ucayali e tanto no Cerro de Canchahuaya como no Pampa del Sacramento encontrei fructos de diversas especies de Virola cahidos no chão. Uma das arvores mais frequentes das varzeas dos rios Chipurana e Yanayacu é uma especie de Iryanthera, de fructos transversalmente ellipsoideos muito grandes (diametro mais de 3,5 em). O nome indigena d'esta arvore é « Cumara ». Lauracez. Pleurothyrium macranthum Nees (1557) « Palta muena ». ) Pampa del Sacramento, beira do rio Chipurana, XII 1898. 562 Materiaes para a Flora Amazonica Area geogr.: Alto Amazonas e Perú cisandino. As especies de Pleurothyrium são caracteristicas da bacia superior do Amazonas e principalmente das re- giões subandinas. Em geral as Lauraceas são, como as Myristicaceas, entre as arvores mais caracteristicas das mattas do baixo Ucayali O seu nome collectivo é « Muena ». « Palta muena » quer dizer « louro abacate ». Capparidacez. Crataeva Benthami Eichl. « Nina caspi» ( Palo de candela ). Pequena arvore ou arbusto, frequente ao longo dos pequenos affluentes do Ucayali, Nome brazileiro : « Trapiá ». Sarayacu, XI 1898 (em fructos ). Area geogr.: Amazonia. Rosacez. Couepia chrysocalyx Poepp. « Parinary ». Inga Encontrei esta arvore fructifera, que é muito cul- tivada no Perú cisandino, em exemplares espontaneos perto da emboccadura do rio Chipurana. Provavelmente da familia das Rosaceas e do genero Licania é a « Apacharama » arvore de casca grossa cuja cinza é empregada pelos indios na sua ceramica como aquella do Caripé (Licania uti- lis) no baixo Amazonas. Informaram-me que existe ainda outra qua- lidade chamada « Yacumama apacharama », cuja casca seria mais delgada e menos empregada. Em geral eu tinha a impressão que a familia das Rosaceas é menos bem representada no baixo Ucayali que no baixo Amazonas, onde as especies de Licania, Hirtella, etc., abundam. Leguminose Mimosoidecze. Thibaudiana DC. var. latifolia Spruce (1469) «Chim- billo». Differt a typo foliis latioribus subtus dense-sub- sericeo-villosis. Legumen flavum. Materiaes para a Flora Amaxonica 563 Cerro de Canchahuaya, «Quebrada grande», 13 XI 1898. Area geogr. do typo: Brasil oriental, Guyana, Equa- dor; da variedade: Peru cisandino. Inga macrophylla H. B.K. (1581) . [Inga calocephala Poepp. et Endl. Nov. gen. et Spees III p. 78]. Esta especie tem um legume alongado (c.: 30 cm), bruno-tomentoso, de margens engrossadas, e tem por conseguinte de entrar na secção Euinga. Achei esta especie cultivada no logar Nueva York, no baixo Ucayali, XII 89. Area geogr.: Amazonia. Outras especies de Inga são tambem frequentes na região do baixo Ucayali, quer como arvores gran- des da matta, quer como arbustos da beira dos ria- chos e pequenas arvores das praias (Chipurana, Ya- nayacu, Catalina). Pithecolobium sp. Sect. Caulanthon. Arbusto frequente nas tahuampas do Ucayali. Um exemplar é cultivado no nosso Horto botanico, mas ainda não deu flôr. Mimosa asperata L. (1329). Um dos arbustos mais communs nas beiras do Solimões e do Ucayali. Piurisla, S X 1808. Area geogr.: America e Africa tropical e subtropical. Stryphnodendron aff. guyanense (Aubl.) Benth. « Pashaco ». E' uma bella arvore de tamanho medio, de folhas finamente bipennadas e de pequenas espigas axillares de flores sessis e amarellaceas. Os exemplares que exa- minei concordam bem com a figura de Aublet (Hist. des pl. de la Guyane françoise pl. 357), tendo sómen- te os foliolos um pouco menos numerosos. O « Pasha- co» é uma das arvores mais frequentes nas alluviões tanto do Ucayali e dos seus affluentes como do Chi- púrana e Yanayacu (Huallaga). Elle é cultivado no horto botanico do Museu Goeldi. 564 Materiaes para a Flora Amaxonica Area geogr.: O Strypbnodendron guyanense e as espe- cies apparentadas acham-se espalhadas sobre toda a Amazonia e as Guyanas. No rio Chipurana encontramos frequentemente o «Choro-pashaco», arvore enorme pertencendo provavelmente ao genero Dimorphandra. Leguminose Caesalpinioidece. / Cassia racemosa Mill. var. tenuifolia Hub. n. var. (1470). Differt a typo foliolis maioribus tenuiter mem- branaceis basi acutis apice distincte obtuseque acu- minatis mucronulatisque, floribus minoribus. « Quebrada grande» de Canchahuaya, 13 XI 1898. Area geogr. do typo: Brazil, Perú, Columbia. Cassia occidentalis L. Barrancos do Ucavyali. Area geogr.: Cosmopolita tropical. Cassia reticulata Willd. Pequena arvore bastante commum nas praias do rio Chipurana e em logares abertos ao longo do Uca- yali. Area geogr: Amazonia — America central. Tachigalia formicarum Harms (1480) (E. Ule Herb. Brasil. Nº 6.538). Cresce em grandes familias nas alluviões da « Que- brada grande» além do Cerro de Canchahuaya. Não encontrei arvores adultas ou em flôr:; porém a fórma das estipulas e do petiolo como tambem a conforma- ção excessivamente inequilateral dos foliolos superiores deixam reconhecer a especie com facilidade. 13 XI 1898. Area geogr.: Esta especie foi descoberta por Ule em Tarapoto ( Perú cisandino ). Bauhinia tarapotensis Benth. (15006). Arbusto de folhas grandes e largas, bifidas até quasi à metade, flores grandes de 10 a 12 cm de Materiaes para a Flora Amaxzonica 565 comprimento. Cresce nas margens da quebrada Chin- gana (Pampa del Sacramento), 25 XI 1898. Area geogr.: Muito commum nas visinhanças de Ta- rapoto (Spruce). Copaifera sp. «Palo de balsamo». Arvore grande de copa larga, casca branca e fo- lhagem escura, lembrando um pouco as especies de Parkia do baixo Amazonas. Encontrei-a na margem do rio Chipurana. Fig. 1. — Browneopsis ucayalina Hub. n. g. et sp. — a, capitulo de flóres; b, uma flôr, logo depois de aberta; c, uma flôr cujas sepalas já se desprenderam em parte; d, parte infe- rior duma flôr, sem as sepalas, para mostrar a inserção das petalas rudimentarias; e, idem, vista de dois lados op- postos; f. corte longitudinal pela parte inferior da flôr, para mostrar a inserção do-ovario. Browneopsis Hub. nov. gen. Flores bracteolis destituti, plures in capitulos bracteis latis fultos densissime congesti. Calycis tubus discifer carnosus, segmenta 4 pelaloidea nunc libera nunc plus minus connata. Petala 3 vel 4 rudimen- taria ligulata. Stamina 12-15, filamentis usque ad medium in tubum supra fissum concrescentibus, an- theris oblongis medio affixis subversatilibus. Ovarium 566 Materiaes para a Flora Amazonica stipitatum, stipite dorso tubi disciferi adnato, lineare, stylo elongato stigmate capitato. Genus a Brownea bracteolis deficientibus peta- lisque rudimentariis differt. Browneopsis ucayalina Hub. n sp. (1506). Fig. 1. Arbor mediocris depressa, foliis simpliciter ab- rupte pinnatis, petiolo basi articulato foliolis in rha- chi terete trijugis vel saepius quadrijugis oppositis vel suboppositis oblongis (8 — 18 cm X 3-—5 em) basi rotundatis vel acutiusculis breviter articulato- petiolulatis, apice acuminatis subcoriaceis glabris su- pra mitidulis infra opacis nervo primario secunda- risque supra plus minus immersis subtus argute prominentibus, rete venulorum utroque latere pro- minulo. Inflorescentie ex trunco ramisque erumpen- tes subsessiles capitulate bracteis longitudine a basi valde accrescentibus, inferioribus brevissimis inter- mediisque maioribus latissime rotundatis coriaceis striatis, superioribus ovatis summis oblongis (4— 5 cm longis) tenuioribus apice obtusis, omnibus extus minutissime fulvo-tomentellis, intimis solum glabres- centibus. Flores in axis extremitate fere globosa ses- siles dense capitulati bracteis propriis bracteolisque carentes. Calycis tubus discifer cylindricus vel plus minus obconicus (1 cm longus) pressione mutua saepe leviter tetragonus vel trigonus, segmenta (4) plus minus alte connata vel unum subliberum, basi in sicco saepe circumscissa, lineari-oblonga (2 em X 0.5 cm) apice rotundata ct margine ciliata extus brevissime sparseque puberula intus glabra, ochroleuca. Petala (3-—4) inaequalia, maiora circa 3 mm longa anguste linearia vel subulata. Stamina 12—15 fila- mentis 4 cm longis ad medium longitudinis in tubum supra fissum concrescentibus apice inflexis, antheris 6—7 mm longis. Ovarii pars libera cum stipite 1,0 cm longa extus ferrugineo-tomentella, stylus 3-3.5 cm longus apice inflexus stigmate capitato. Legumen longius (3,5cm) stipitatum leviter falcatum (17—18 W Materines para a Flora Amaxonica 567 cm Ses 5 em) brevissime rostratum marginibus in- crassatum extus venosum fulvo-tomentellum, valvis post dehiscentiam spiraliter contortis. Semina (haud plane matura) transverse ellipsoidea valde com- pressa. Rio Ucayali, Paca (terra firme), 21 XII 18098. O novo genero Browneopsis mostra uma estreita afinidade com o genero Brownea Jacq., cuja area de dispersão é ao norte da Amazonia, achando-se só uma especie (B. negrensis Benth.) dentro dos limites d'esta região. Me parece que no grupo das Caesalpinioidece a ausencia de bracteolas e a reducção ou quasi suppres- são das petalas são caracteres de bastante importan- cia para justificar uma separação generica. No genero Browncopsis terá tambem de entrar a Brownea cauliflora Poepp. (Nov. gen. et spec. II p. 82 tab. 292) de Yurimaguas (Rio Huallaga), à qual o seu auctor notou tambem a ausencia das bracteelas (calyce certe nudus nec bracteolatus ). E' verdade que Poeppig enganou-se tomando o calyce desta especie por uma corolla, suppondo que os dentes do calyce, que elle naturalmente procurava na peripheria exterior, sejam muito pequenos ou deciduos (limbus (calycis) brevis- simus, marginiformis, truncatus, Laciniis verosimiliter post anthesin cito decidius in mostro specimine inde deficienti- bus). Não sei se n'aquella especie as petalas faltam completamente ou passaram simplesmente desapperce- bidas por serem muito rudimentarias, mas seja como fôr, a especie de Poeppig é com certeza congenere do Browneopsis ucayalina e tem segundo a nossa maneira de ver de chamar-se Browneopsis cauliflora ( Poepp.) Hub. Segundo a descripção de Poeppig, ella se distingue da nossa especie pelas folhas compostas de 2, rara- mente de 3 pares de foliolos, pelas bracteas exteriores glabras e pelas Interiores tomentosas, pelo tubo do calyce mais largo campanulado e pelas sepalas cober- tas de pellos sedosos (extus pube longa, molli, nitide sericea subfusca, vestita). a Ãio “sig d Na a Re f 2a ç “ 568 Materines para a Flora Amaxonica Leguminose Papilionata. Crotalaria incana L. « Purupáqui > (1362). Ucayali, Praia de Huarmisla, 24 X 1898. Area geogr.: Cosmopolita tropical. Sesbania exasperata H. B. K. (1580). Ucavali, barrancos perto de Nueva York, 30 XII ISOs. Area geogr.: Brazil-—Guatemala. Desmodium incanum DC. (1300 a). Libertad (Ucayali), 20 X 1898. Area geogr.: Brazil — Mexico. Desmodium-adscendens DC. (1575). Uma das plantas mais communs no pasto de Paca ( Ucavali) 25 XII 1898. Area geogr.: America tropical, Africa occidental tro- pical. Desmodium axillare DC. (1338, 1573) « Pié de Perús. Muito commum nos pastos artificiaes e púrumas ( capueiras) do baixo Ucavali. Contamana e Paca, Xe XII 1898. Area geogr.: America tropical. Desmodium lunatum Hub. n. sp. (1504). Fig. 2. Caulis erectus circiter 50 cm altus pauciramo- sus, ramis gracilibus sursum breviter hirtellis inflo- rescentia racemosa laxa singula vel binis terminatus. Stipulae late ovato-triangulares subulato-acuminatae (5—7 mm longae) striatae glabrae persistentes. Fo- lia ampla omnia trifoliata petiolo gracili (3—5 cm longo) brevissime hirtello. Foliola breviter (2 mm) petiolata petiolulo densius hirtello, lateralia basi la- tissime truncata e tertio inferiore sensim in acumen acutissimum angustata, terminale paulo maior basi latissime cuneatum 6—S cm longum ad tertiam infe- riorem longitudinis partem 6 cm latum, sursum longe TA dd “aid à A : / : W Materiaes para a Flora Amaxonica 569 angustatum ipso apice breviter cuspidatum, omnia membranacea glabrata vel pilis minimis adspersa supra viridia,subtus glaucescentia. Stipellae subulatae. Racemus terminalis laxus axe apicem versus filifor- mi, pedicellis incano-tomentells inaequidistantibus filiformibus vel superioribus setaceis circiter 2 cm longis, bracteis subulatis caducissimis. Flores medio- cres rosei. Legumen pedicellatum pedicello recurvo calycem paulo excedente, 1-—3-articulatum sutura superiore in articulis concava, isthmis angustissimis marginalibus, articulis semilunaribus (7 XC 3 mm), prehensili-pubescentibus. Chinganilla (Pampa del Sacramento) na matta à beira do riacho, 24 XI 1898. SA ELAS 1 ” Fig. 2. — Desmodium lunatum Hub. n. sp. — 4, fructo; B, folha, Esta especie é bem caracterisada pela fórma das suas folhas e dos seus legumes. Em geral, as especies de Desmodium são bastante frequentes- na região percorrida por nós, Principalmente nos pastos e nas pu 5 O Materiaes para a Flora Amaxonica rumas do Ucayali ellas têm um papel tão importante que não podem passar desapercebidas. Em Paca, o gado chegava do pasto invariavel- mente carregado dos fructos de Desmodium adscendens e D. axillare que tinham-se agarrado nas pernas e na cabeça em tal quantidade que os animaes se achavam seriamente embaraçados. Dioclea af. reflexa Hook. fil. (1555). Rio Chipurana (Pampa del Sacramento), 6 XI 1898. Area geogr.: America central — Brazil, Africa, Asia tropical. Erythrina Amasisa Spruce (?) « Amasisa ». Arvore de mediocre altura, commum nas alluviões dos rios Chipurana e Yanavacu, no Pampa del Sacra- mento. Na epoca da nossa viagem as arvores mais ou menos completamente despidas de folhas eram cober- tas de flores dum vermelho muito vivo, outras já com as favas pendentes. Como não tive occasião de collec- clonar exemplares de herbario, a determinação é sujeita à cautela. Area geogr.: Perú cisandino. Vigna luteola Benth. (1330). Beiras do Ucayali 9 X 1898. Area geogr.: America tropical. Centrosema roseum Hub. n. sp. (1550). Fig. 3. Caulis scandens basi lignosus glaber trigonus angustisssme alatus. Folia ampla trifoliolata petiolo 7 cm longo acute triquetro, rhachi 2 em longa, sti- pellis lineari-lanceolatis acutis (4—5 mm longis). Fo- liola breviter (5—6 mm) petiolulata latisssme ovata vel elliptica (14-—16xX(g—12 cm) basi saepe sub- cordata apice abrupte in acumen 10—15 mm lon- gum 2—3 mm latum obtusum sed minime apicula- tum producta sicco nigricantia firme membranacea supra glabra subtus in nervis puberula. Pedunculi gemini petiolo aequilongi vel paulo longiores (ad 14 cm longi) crassiusculi subalato-triquetri 5—S-flori. Bracteae late ovatae deciduae. Bracteolae ellipticae Materiaes para a Flora Amaxonica )) ny; ta MU Dj de BS H Fig. 3 Fig. 3. — Centrosema roseum Hub. n. sp. — 4, foliolo lateral; B, fru- cto, ainda não completamente maduro; CO, flôr, ainda com as bracteolas na base; D, idem, depois da queda das bracteolas; E, calyce; F, estames e estilete; G, petalas lateraes e inferio- res; H, vexillo; J, pedunculos d'inflorescencias, n'um galho pendente. Materiaes para a Flora Amaxzonica vel ovatae (16-—18xX11—12 mm) obtusae vel api- culatae striatae minutissime puberulae. Calyx late et oblique campanulatus, dens infimus tubo subaequi- longus, superiores 2 alte connatae paulo breviores. Vexillum pulchre roseo-violaceum orbiculatum apice retusum, siccum ad 4.5 cm latum, extus dense ferru- gineo-tomentosum vel subsericeum basi haud calca- ratum sed ungue sigmoideo-incurvo. Ovarium ferru- gineo-sericeum. Legumen (haud plane maturum !) 17 mm latum compressum parte inferiore sterili dis- tincte stipitatum, alis latiusculis suturis valde appro- ximatis instructum apice stylo et parte ovarii supe- riore sterili longius (ad 4 cm) caudatum. Differt a C. Plumieri Benth. foliis amplioribus, pedunculis elongatis, corolla roseo-violacea, vexillo basi haud calcarato sed sigmoideo-incurvo, legumi- ne latiore stipitato et longius caudato. Cum €. pla- tycarbo Benth. (Goyaz) caracteribus aliquibus con- gruit sed ab eo differt vexillo basi haud breviter gibbo et leguminis alis a sutura carinali haud dis- tantibus. Rio Chipurana (Pampa del Sacramento) 5 XII 1898. Parece que esta especie já foi confundida com o €. Plumieri Benth. que é bastante commum no baixo Amazonas. Ao menos a planta colleccionada e distri- buida por Ule sob este nome (n. 6.311 Tarapoto) per- tence a nossa especie e supponho que muitos exem- plares do alto Amazonas classificados sob o nome de C. Plumieri pertençam a ella. O Herbario Amazonico possue mais um exemplar de C. roseum, proveniente de Tabatinga (leg. Ducke). Lonchocarpus glabrescens Benth. (13095). Canchahuaya, Laguna da margem esquerda do Ucayal, 28 X 1898. Area geogr.: Bahia, Pará, Amazonas. Drepanocarpus lunatus Meyer. Materiaes para a Flora Amaxonica DZ Laguna na embocadura do rio Catalina, 15 XII 1898. Area geogr.: America tropical e Africa occidental tro- pical. Dipteryx oppositifolia Willd. (2?) Nos cerros de Contamana e Canchahuaya achei caroços d'um Dipteryx, que por serem mais curtos e mais chatos que os do D. odorata, provavelmente pertencem a especie acima mencionada, que tem uma distribuição larga na Amazonia, dos furos de Breves até os affluentes do Alto Amazonas ( Purús!). Pterocarpus spec. (?) (1388). Canchahuaya, arvores da beira da laguna na margem esquerda do rio Ucayali, 28 X 1898, Sendo as fiôres passadas e os fructos ainda muito novos, a determinação exacta d'esta especie não é pos- sivel. Oxalidacez. Biophytum dendroides DC. (1499). Nos barrancos da quebrada Chinganilla ( Pampa del Sacramento ). Area geogr.: Brazil central, Perú, Mexico. Rutacez. Cusparia ucayalina Hub. nov. spec. (1513) fig. 4. Frutex humilis simplex vel pauciramosus. Fo- lia simplicia petiolo 3cm longo supra excavato basi apiceque incrassato ferrugineo-tomentello instructa, lamina oblonga (20-—25em XX 7—9em) basi cu- neata apice obtusa vel acutiuscula glabra subcoria- cea, in sicco plus minus fuscescente. Inflorescentia foliis brevior anguste paniculata longius (5 cm) pe- dunculata pseudoterminalis. cum ramuli extremitate ochraceo-tomentella, bracteis bractolisque spuriis. Flores albi pro genere minores (7 mm longi), pedicellis 3 mm longis suffulti. Calyx laxiusculus ad A DRE = Co ' PS SM 574 | Materiaes para a Flora Amaxonica medium vel ultra 5-—partitus lobis rotundato-ovatis obtusis vel apiculatis extus parce griseo-puberulis. Petala basi solum connata, 6 mm longa, spathulata apice acutiuscula. extus ad basin margine albido-to- mentella. Stamina sterilia 3 crassa ligulata albo-to- mentella, fertilia 2 conglutinata filamentis puberulis antheris linearibus. Ovarium a disco superatum gla- berrimum .vertice umbonatum stylo duplo vel triplo longiore instructum. Stigma oblongo-clavatum 5-sul- catum. Ovula in carpidis gemina superposita. Inflorescentiã C. paniculate Engl. similis, sed formã ovarli stvlique magis ad C. macrophyllam, cuneifoliam, Gaudichaudianam, etc. accedit. Pampa del Sacramento, na matta, entre Sarayacu e Santa Catalina, 25 XI 1898. Area geogr.: O genero Cusparia é principalmente repre- sentado no Brazil oriental ( Rio de Janeiro ) e só pou- cas especies acham-se no alto Amazonas e até na Co- lumbia. Fig. 4 Fig. 4. — Cusparia ucayalina Hub. nº sp. — a, uma flôr (duas vezes augmentada ); b, córte longitudinal pela flôr; e, corolla e an- droceo estendidos; d, gyneceo e disco; e, córte longitudinal pelo ovario. Burseracez. No Cerro de Canchahuaya e nas partes acciden- tadas do Pampa del Sacramento encontrei varias vezes “ Materines para a Flora Amazomeca 575 uma arvore enorme de mais de 30m de altura e d'um tronco de mais d'um metro de diametro, que os Peruanos chamam « Cópal » e cuja resina de côr branca e de cheiro forte caracterisaa como uma especie de Protium. Como o numero das especies amazonicas do genero Protium é consideravel, é imposivel dizer de que especie se trata. O nome de « Copal» que no commercio se applica á resina dos jutahys ( Hymenaea ), é tambem applicada a um Protium (P. Copal Engl.) no Mexico. Existe ainda na região uma arvore de re- sina chamada « Caraiia » e que é provavelmente o Pro- tium Carana (H. B. K.) March. Meliacez. Guarea odorata C DC. in Bol. do Mus. Par. Vol. HI pag. 239. (1463). Arbusto de cachos dependentes de pequenas flôres brancas e cheirosas. Cerro de Canchahuaya, na beira da « Quebrada grande ». Area geogr.: Ainda não foi achada em outra parte. Cedrela spec. « Cedro ». Nas varzeas do Ucayali o « Cedro » é uma arvore bastante commum e se destaca bem das outras arvo- res altas da matta pela sua ramificação rala e as suas grandes folhas pennadas. Infelizmente não me foi pos- sivel conseguir flôres ou fructos, e os exemplares no- vos que levei para o nosso horto botanico ainda não permittem uma determinação segura da especie. Me parece aliás que em geral as especies de Cedrela ainda são mal discriminadas e que o genero carece d'uma revisão. Os troncos de cedro se acham ED per fluctuantes no rio Ucayali. Malpighiacez. / Stigmaphylum maynense Hub. n. sp. (1507). Liana, ramulis elongatis cylindricis rubescenti- 576 Materiaes para a Flora Amazonica bus, internodiis 12—18 cm longis. Folia longiuscule petiolata petiolo 5—6 cm longo griseo adpresse ves- tito apice biglanduloso. Lamina magna (10—13X(8—10 cm) late ovata (interdum suborbicularis), basi cor- data, sinu aperto sed angulum distinctum formante, 5-—7-nervis apice plus minus contracta acutissimegue acuminata supra glabra fuscescens infra densissime adpresse vestita sicca argenteo-nitens vel plus minus sordide albida. Umbellae circiter 10--12-florae saepe ramulos axillares usque triplo dichotomos terminan- tes, pedunculi adpresse sordide albo vel fulvo-vestiti communes 4 cm longi 2 mm et ultra crassi, partia- les 2,5—3 cm longi graciliores. Pedicelli alabastrorum florumque breves, fructiferi accrescentes et plus mi- nus. 1 cm attingentes parte inferiore bracteolis mi- nutis instructi. Flores 12—15 mm diametro aequan- tes sepalis ovato-acutiusculis extus adpresse pilosis, petalis luteis et rubris limbo suborbiculari denticu- lato. Stamina crassiora aequilonga vel anticum lon- gius, antherae glaberrimae. Ovarium dense pilosum. Styli antici appendix foliosus late transversus apice linea recta truncatus haud emarginatus. Samara ad- presse hirsutula cristis lateralibus plus minus undu- latis vel lobatis: ala dorsalis circa 3 cm longa basin versus 8-—Q mm lata, triente superiore dilatata 11—13 mm lata, margine superiore leviter incrassa- ta plus minus rectilinea, basi vix appendiculata, api- ce obtusa, arcuato-venosa. Differt a S. fulgens (Lam.) Juss. cui maxime affinis videtur: foliis ovatis, styli antici appendice haud emarginato, samarae margine superiore basi vix appendiculato. Pampa del Sacramento, margem da quebrada Chingana, 25 XI 1898. Euphorbiacez. Caperonia castaneaefolia St. Hil. (1496). No igarapé de Sarayacu. 23 XI 1898. Materiaes pera a Flora Amaxonica 577 “Area geogr.: Brazil septentrional — Mexico e Anti lhas. Alchornea castaneaefolia Baill. 5 genuina «Uirana» (1312). Este arbusto que é tão frequente ao longo do rio Amazonas e dos seus affluentes superiores, não tem um papel tão saliente no rio Ucayali. Elle se encontra porém frequentemente em exemplares isolados quer nas praias quer nos taludes. O nosso exemplar foi collec- cionado no talude de Tamixiaco, 3 X 1898. Area geogr.: Orenoco, Rio Negro, Amazonas, S. Fran- CISCO. Alchornea triplinervia Muell. Arg. var. O: crassifolia Mill. Arg. (1465). Arbusto na beira da Quebrada grande do Cerro de Canchahuaya, 13 XI 1898. Area geogr.: Perú, Acalypha macrostachya (Jacq. em.) Muell. Arg. var. (1546). Esta planta é um pouco differente do typo pelos peciolos muito mais curtos que as folhas e pelas espi- gas femeas compridissimas (ate mais de meio metro ). Achei-a na beira do rio Chipurana (Pampa del Sa- cramento), 4 XII 1898. Area geogr. da especie: Brazil central — America central. Acalypha cuneata Poepp. et Endl. (1432, 1447, 1502). Achei duas formas desta especie; uma, de folhas indistinctamente dentadas e glabras (1432, 1447), é commum na beira dos riachos do Cerro de Cancha- huaya (XI 18098); a outra, de folhas fortemente denta- das, foi encontrada à beira da quebrada Chinganilla, no Pampa del Sacramento. Area geogr.: Perú cisandino até Columbia. Acalypha samydaefolia Poepp. et Endl. (1351) « Llana va- rilla » (varilla negra ). Arbusto ou pequena arvore, frequente nas capuei. ras altas e na matta do Cerro de Contamana, X 1898- Area geogr.: Perú cisandino. E [ b 578 Materiaes para a Flora Amaxonica Acalypha arvensis Poepp. et Endl. (1337) « Ortiga grande ». Contamana, terrenos cultivados. X 1898. Area geogr.: Perú cisandino, Mexico e Antilhas. Hevea brasiliensis Miill. Arg. « Shiringa lejitima ». Observada no rio Catalina, colleccionada no rio Javary (1583). Area geogr.: Amazonia, principalmente na parte meri- dional. Hevea cuneata Hub. novum nomen (1377). « Shiringa ama- rilla, Shiringa del Cerro » Cerro de Canchahuaya e Pampa del Sacramento, na terra firme. XI 18gS. Descrevi esta planta primeiro como variedade cu- neata de H. lutea, com a qual ella tem bastante semelhança no «habitus» e nas folhas (cf. Bol. Mus. Par. HI p. 356). Como porém tive ultimamente occasião de constatar que as sementes são bastante differentes (as do H. lu- tea são oblongas, quasi roligas e relativamente claras, as da nossa planta (1) são curtas, quasi cubicas e escu- ras ), prefiro tratar d'ella como especie distincta, como propoz o Sr. Ule por outro motivo, o da disjuncção geographica. que aliás talvez não seja tão pronunciada como este autor suppôz. Area geogr.: Alto Amazonas. margem direita, terra firme. Hevea viridis Hub. (1534) « Puca Shiringa, Shiringa entre- fina colorada >». Pampa del Sacramento, Leche, 1 XII 1898. Area geogr.: Ucayali, Huallaga. Hevea aff. nigra Ule (?) « Shiringa entrefina ceniza >. (1) Existe uma arvore de Hevea cuneata, proveniente do Pampa del Sacramento. no horto botanico do Museu Goeldi, mas ella ainda não produziu sementes. As sementes das quaes eu fallo, foram colligidas no alto rio Purús. da « Seringueira vermelha » que, pela semelhança das partes vege- tativas, póde ser considerada como identica a « Shiringa amarilla » do Uca- yali. É Materiaes para a Flora Amazomica 579 Foliola obovata breviter apiculata, subtus glau- ca, glabra. D'esta especie encontramos algumas arvores no Pampa del Sacramento, mas não consegui arranjar para o Herbario senão algumas folhas, que se parecem en- tretanto bastante com as dos exemplares colleccionados por Ule na terra firme do Juruá-miry. O leite corre facilmente e é dum branco puro ou ligeiramente azu- lado. Manihot palmata var. ferruginea Muell. Arg. (1460). O nosso especimen concorda bem com os exem- plares colleccionados por Poeppig (1523, 1410), que examinei no Herbario Boissier. Entretanto o fructo é distinctamente alado ! Não hesitaria portanto de sepa- rar esta planta especificamente da Manihot palmata, se as sementes que eu plantei no nosso Horto botanico, não tivessem produzido uma planta com fructos lisos ! O exemplar cultivado no Pará mostra os caracteres da variedade difjusa Muell. Arg. Este exemplo mostra bem como as especies de Manihot são polymorphas ! Sapium aucuparium Jacqg. (1500) « Tahuampa-caucho » « Cau- cho mashan ». Encontrei nas alluviões do Ucayali e no Pampa del Sacramento duas variedades d'esta especie, uma de folhas pequenas lanceoladas e outra de folhas maiores oblongas. Desta ultima eu trouxe exemplares collec- cionados no rio Yanayacu, 8 XII 1898. Area geogr.: Amazonia, Guyana, Orenoco. Sapium Poeppigii Memsley in Hooker's Icones Plantarum pl. 2078 /Sapium biglandulosum var. hbamatum Mill. Ate. |: D'esta especie eu trouxe só um exemplar vivo para o nosso horto botanico, onde já floresceu e fru- ctificou. Esta especie parece ser mais rara que a prece- dente. Area geogr.: Perú cisandino. 580 Materiaes para a Flora Amazonica Sapium Marmieri Hub. in Boletim do Museu Paraense vol. HI pag. 367 (1393) « Shiringa rana ». Arvore bastante frequente nas alluviões do rio Ucayali. Canchahuaya, XI 1898. Area geogr.: Ucayali, alto Purus. As especies de Sapium servem occasionalmente para extracção de uma borracha de inferior qualidade. Muitos habitantes do Ucayali chamam estas arvores indevidamente de « Guttapercha ». Hura crepitans L. « Cataua ». Arvore grande que parece ser frequente nos ter renos de alluvião do rio Ucayali. Area geogr.: America tropical. No rio Cuxibatay encontrei uma « catáua » arbus- tiva de folhas d'um verde glauco que me parecia dif- ferente da Hlura crepitans. Euphorbia serpens H. B. K. var. 9. radicans Engelm. ap. Boiss. (1571). No cemiterio de Paca, 22 XII 1898. Area geogr.: Tocantins, Rio, Mexico, Texas. a Anacardiacez. Spondias spec. «Ciruela». Uma especie de Spondias é cultivada no rio Uca- val e outras se acham provavelmente no estado sel- vagem nas mattas. Hippocrateacez. Salacia corymbosa Hub. n. sp. (1433). Frutex ramulis flexuosis gracilibus striato-angu- latis, internodiis folio dimidio vel multo brevioribus. Folia opposita breviter (5—7 mm) petiolata, lan- ceolato vel elliptico-oblonga (8—09x(2,5—3,5 em) basi acuta vel saepius breviter acuminata, apice in acu- men longiusculum sublineare obtusiusculum leviter Materiaes para a Flora Amaxzonica 581 falcatum abrupte attenuata, margine integra, mem- branacea leviter bullata sicco flavescentia nervis ve- nisque utrinque prominulis. Inflorescentiae in ramulis terminales corymbosae (4 cm longae et latae) foliis su- perioribus (minoribus) aequilongae vel breviores, axi ad 1/2—1 cm decussato-ramosa, ramis 2—4-plo dichotomis paulo divaricatis (flore medio longiuscu- le pedicellato evoluto vel tabescente) filiformibus, acutangulis glabris ferrugineis, bracteis minutis ova- to-triangularibus. Pedicelli vix 0,5 mm sub apice ar- ticulati. Flores 3 mm diametro, lutei. Sepala paullo inaequalia (1 mm longa) ovata obtusa brunnea. Petala post anthesin reflexa, plus minus obovata, minute papillosa saepe uno alterove distinctius unguiculato vel rudimentario. Discus breviter cupularis membra- naceus. Stamina 3 (rariter 4) disco duplo longiora antheris globosis transverse dehiscentibus. Ovarium breviter trilobum vel obtuse triangulare, ovulis 2 in loculis; stylus trisulcatus brevis, stigmatibus 3 cum staminibus alternantibus apice bilobis. Fructus jgno- tus. Affinis videtur 3. Riedelianae Peyr. qua autem differt ramulis acute quadrangulis et foliorum inflo- rescentiaeque conformatione. S. laxiflorae ( Benth.) Peyr. et tenuiculae (Miers) Peyr. sectionis Amphizo- ma facie exteriore solum consimilis, stigmatis lobis staminibus haud oppositis sed distincte alternantibus optime differt. Quebrada do Cerro de Canchahuaya, 2 XI 18098. + » . o UA (ACa JakA (éra, Fla, Sapindacez. Paullinia neglecta Radlk. (1389). Canchahuaya, na beira da laguna da margem es- querda do Ucayali, 28 X 1898. Area geogr.: Perú e Bolivia. Paullinia imberbis Radlk. (?) (1457 Cipó grande, frequente no Cerro de Canchahuaya. 582 Materiaes para a Flora Amaxomca A determinação carece de confirmação porque só col- leccionei um exemplar esteril. Area geogr.: Guyana franceza, Pará. Manãos, Coary. Paullinia echinata Hub. n. sp. (1441). Vitis Scandens lignosa cauliflora, ramulis petiolisque longe patenterque rufo-pilosis, indumento ad petiolulos densiore et nervis paginaque foliolorum plus mi- nus evanescente. Folia ternata magna (20—40 em longa) foliola obovata (15—20xX6—12 em) basi im petiolulum vix 1 cm longum sensim attenuata, api- ce abrupte angusteque acuminata, acumine acutius- culo apice glanduloso, superficie foliolo P. paulli- mioidis similia, sed parce rufo-pilosa. Thyrsus fructi- fer (florifer non suppetit) in caule vetere. 16 em longus subsessilis medio 2 mm crassus. Capsula pe- dicello 5 mm et stipite 5 mm longo suffulta 1,5 em longa subglobosa dense echinata, spinis 5 mm lon- gitudinis vix attingentibus. Differt a P. paullinioide Radilk. /Castanella paullinioides Spruce |] ad Flumen Nigrum observata omnibus partibus (fructibus exceptis) maioribus, ra- mulis foliisque patenter pilosis. Cipó frequente no Cerro de Canchahuaya. 10 XI 1898. Vitacea, sicyoides (L.) Baker. Como no baixo Amazonas, esta trepadeira é tam- bem bastante commum no Ucavyali, principalmente na beira dos rios e riachos. Area geogr.: America tropical. Tiliaces. Apeiba Tibourbou Aubl. « Peine de mico ». Fórma de folhas alongadas um pouco Esieiiadas Materiaes para a Flora Amaxonica 583 na base e longamente acuminadas no apice, com fru- ctos bastante chatos com espinhos mais curtos e mais duros que na fórma do baixo Amazonas. Cultivado no Horto botanico. E' bastante frequente nas « púrumas » do baixo Ucayali. Area geogr.: Brazil, Mexico e Antilhas. Ápeiba membranacea Spruce. (1535). Frequente nas mattas do Ucavali e do Pampa del Sacramento. Rio Chipurana, 1 XII 1898. Area geogr.: Amazonia, Columbia. Ápeiba glabra Aubl. Cerro de Canchahuaya e Pampa del Sacramento. Desta especie foram colleccionados os fructos, cu- jas sementes grelaram no Horto botanico. “Area geogr.: Guyana franceza, Amazonia. As especies de Apeiba são entre as arvores mais caracteristicas da matta amazonica, da região littoral atlantica até o pé da cordilheira dos Andes. Emquanto que a Á. Tibourbou é uma arvore pequena de cresci- mento muito rapido, que se acha de preferencia nos logares antigamente roçados ou nas capueiras altas, as outras especies: são arvores de maior tamanho cres- cendo no meio do matto, onde os seus fructos se en- contram às vezes em grande quantidade no chão. Malvacez. / Malvaviscus (2) maynensis Hub. n. sp. (1383). Frutex ramificatione laxa subscandens ramulis gracilibus sed firme lignescentibus saepe plus mi- nus arcuatis glabris vel superne breviter stellato- pubentibus. Folia petiolo gracili 1—3 cm longo apicem versus crispo-tomentello suffulta, lamina ovata basi latissime cordata apice caudato-acumi- nata margine grosse serrato-dentata (6—10 X3—6 cm), 5-—7-nervi membranacea, utrinque pilis 584 Materiaes para a Flora Amaxonica stellatis paucis adspersa supra fuscescente infra pallidiore. Flores in axilla foliorum superiorum solitaria. Pedicelli 1,7—2 em longi graciles stellato- puberuli. Involucrum 10-phvilum, phyllis 1,5—1,8 cm longis 2 mm latis lanceolato-linearibus acutis vel acuminatis glabrescentibus breviter ciliatis. Calyx 2—2.3 em longus tubuloso-cupuliformis ad tertam partem 5-fidus, lobis deltoideo-lanceola- tis acutis enervibus extus (ut tubus) pilis stella- tis flavescentibus conspersis, intus ad marginem dense albido-tomentosis. Corolla speciosa pulchre rubra petalis 5-—5.5 em longis. Tubus stamineus 7cm longus filiformis contortus filamenta brevia apice ad extensionem 1.5 cm gerens. Stylus tubum stamineum paulo superans breviter 10-fidus stigma- tibus capitellatis. Fructus deest. Affinis videtur M. oligitrichi Turcz. (Columbia) et M. elegantis Lind. et Planch. ( Venezuela), sed fructu deficiente positio generica incerta. | Encontrei esta especie de bellas flóres encarnadas num unico exemplar na quebrada « Bohemia» do Cerro de Canchahuaya, 27 X 1898. Infelizmente não consegui achar os fructos, que só permittem uma classificação generica segura. Do ge- nero Hibiscus ao qual a nossa planta parece pertencer ao primeiro golpe de vista, ella se distingue pelo es- tilete dividido em 10 segmentos. Ainda seria possivel que ella pertencesse ao genero Pavonia secção Malva- viscoides, onde a conformação do involucro e do calice é semelhante como no genero Malvaviscus. Bombacez. Ceiba Sumauma Schum. «Huimba» (1542). Esta especie, cujas flores attingem mais de 10 cm de comprimento, é uma das arvores grandes do Pampa del Sacramento e da beira do Huallaga ( Quillucaca, 3 XII 1898). Não me consta a sua presença no baixo eo qy Materiaes para a Flora Amaxzonica 585 Ucavali, onde abunda uma Sumauma semelhante e tal- . vez identica áquella do baixo Amazonas (C. pentandra Gaertn.) e chamada «Lupúna» pelos indigenas. No Cerro de Canchahuava encontrei tambem uma » (vista por nós no Cerro de Canchahuaya) e Guaquma utilis Poepp. et Endl. « Atadija >» ( encontrada tambem no Cerro de Canchahuaya). Dilleniace=. Davilla rugosa Poir. (1454). » Arbusto trepador. Quebrada grande do Cerro de -Canchahuaya, 12 XI 1898. Area geogr.: Brazil, Perú cisandino. Caryocaracez. Caryocar glabrum Pers. var. ? «Almendra>. Arvore grande da matta, frequente no Cerro de Canchahuaya e nas partes altas do Pampa del Sacra- mento. As flores têem petalas amarellas e estames d'um vermelho muito vivo: o unico caroço de fructo que encontrei. tem espinhos semelhantes aos do C. glabrum typo do baixo Amazonas. porém menores. Area geogr.: À especie é espalhada do Brazil até o Amazonas superior e as Antilhas. Não encontrei no Ucavali o Caryocar amygdalife- rum Mutis, que é indicado como indigena no Perú ci- sandino. Guttifere. Chrysochlamys dependens Pl. et Triana Mem. Gutt., Ann. Se. nat. Bot. 4 eme Ser. XIV p. 259. /Clusia dependens Pavon mss. in Herb. Boissier!] (1435. 1483). Arbusto com cachos pendentes de flores dioicas e com fructos pretos do tamanho duma pequena cereja, a 588 Materiaes para a Flora Amaxzomea muito frequente e característico na beira dos riachos no Cerro de Canchahuaya, 2 Xl e 13 XI 1898. | Area geogr.: Perú, Columbia. O genero Chrysochlamys, com 6 (8) especies, é exclusivamente subandino e distribuido do Perú até Guatemala. Clusia af. leprantha Mart. (1439). Cerro de Canchahuaya, logares mais elevados. 10 XI 1898. Como colleccionei apenas as flores cahidas no chão, só posso dar uma classificação approximada. Area geogr.: Amazonas superior. Vismia subcuneata Hub. n. sp. (1479). Euvismia arborescens, ramulis quadrangulis in- fra foliorum insertionem compressis ferrugineo-tomen- tellis; internodia 4—7 em longa. Folia petiolata (pe- tiolo 16—17 mm. longo, tomento brevi ferrugineo pilis maioribus stellato-ramosis intermixto); lamina subcoriaceae pellucido-punctatae, late ovatae foliorum maiorum 12.5—13 em longae, infra medium 7,5 em latae, basi angulo obtusiusculo vel recto (90º), in fo- luis summis minoribus minore cuneatae, apice breviter obtusiuscule vel rarius acute acuminatae, integerri- mae, firme membranaceae, supra cito glabrae, opacae, subtus breviter fulvo-tomentellae, nervis lateralibus maioribus sub margine anastomosantibus utrinque $—II, utraque pagina prominentibus, venulorum rete infra vix, supra distincte prominulo. Inflorescentiae terminales lateralesque multiflorae ferrugineo-tomen- tosae paniculiformes. Flores pedicellati pedicellis haud ultra 5 mm longis. Calycis laciniae 5—6 mm longa oblongo-ovatae, acutae, extus ferrugineo-tomentosae intus glabrae crebre vittatae, 4 interiores margi- ne scariosae. Petala obovata vel obovato-oblonga apice rotundata vel oblique truncata et acuminata, basi angustata (7—8>5(3-— 4 mm) dorso glabrata, intus villosa 16-—2o0-vittata vittis tenuioribus et pun- ctis praecipue marginem versus interjectis. Staminum phalanges calyce breviores medio pilosi; staminodia Materiaes para a Flora Amaxonica 589 brevia (1 mm) crassa triquetra dense villosa; styli glabri (2 mm longi) stigmatibus capitatis; ovarium glabrum obovato-globosum. Affinis videtur V. calvescentis Gilg. et Hieron. (Columbia) et V. magnoliaefoliae Cham. et Schlecht., quibus differt foliorum forma petalorumque struc- tura. Quebrada grande do Cerro de Canchahuaya, 13 XI 1898. Bixacez. Bixa orellana L. var. platycarpa Warb. (1552) « Achiote ». Beira do rio Yanayacu ( Pampa del Sacramento ), 6 XII 1898. Area geogr.: Alto Amazonas, Perú, Panamá. O typo é frequentemente cultivado no baixo Uca- vali. Violacez. Noisettia longifolia H. B. K. (1500). Chinganilla, na beira do riacho, 24 XI 1898. Area geogr.: Brazil, Guyana, Perú cisandino. Papayrola grandiflora Tul. (1533) « Tornilla muena ». Na matta entre Leche e Quillucaca ( Pampa del Sacramento ), 1 XII 1898. Area geogr.: Amazonia. Provavelmente por não estarem em flôr, não re- parei nenhuma das especies de Alsodeia, que entretanto são arbustos muito caracteristicos do sous-bois das mat- tas amazonicas, da costa atlantica até a região suban- dina (em Yurimaguas foram colleccionadas duas espe- cies: 4. flavescens Spring. e 4. guianensis ( Aubl.) Eichl. )'e com certeza não faltam na região percorrida por mim. Tambem o Gloeospermum sphaerocarpum Triana “et Planch. e a Leonia glycycarpa Ruiz et Pav. existirão provavelmente n'aquella região. A 590 Materiaes para a Flora Amaxonica Flacourtiacez. Banara guianensis Aubl. var. -y. mollis (Poepp.) Eichi. /Kublia mollis Poepp. et Endl. | (1467). Arbusto de galhos pendurados, frequente à beira da Quebrada grande do Cerro de Canchahuaya, 13 XI 1898. Area geogr. do typo: America equatorial; da varle- dade: Perú subandino, Columbia. “ Lunama parvifiora ( Spruce) Benth. (1484). Arbusto de folhas ellipticas trinervadas com cachos muito compridos e pendentes de pequenas flôres brancas esverdeadas e depois com pequenas capsulas com se- mentes envoltas em arillos vermelhos. A nossa planta distingue-se do exemplar authentico de Spruce (N.º 3900), proveniente de Tarapoto, ape- nas pelo numero dos estames (9), que parece ser va- riavel, como tambem o numero dos carpellos, que é muitas vezes de 4, em logar de 3. As inflorescencias são tambem no exemplar de Spruce « puberula » e as folhas «abrupte longius acuminata » Me parece por conseguinte que a L. cuspidata Warburg in Natiirl. Pflanzenf. IH. Teil 6. Abt'a, p: 474 Poepp>nol Sia se distingue por caracteres, cuja variabilidade não per- mitte uma separação especifica. Area geogr.: Perú cisandino. As 5 outras especies são das Antilhas. Carpotroche longifolia Benth. (1379) « Cacaoillo blanco ». / Mayna longifolia Poepp. et Endl. ]. Arvore cauliflora de folhas alongadas e fructos brancos globosos e alados, muito frequente no Cerro de Canchahuaya e no Pampa del Sacramento, 27 X 1808. Area geogr.: Alto Amazonas e Perú cisandino. Materiaes para a Flora Amaxonica 591 Passifloracea. / Passiflora skiantha Hub. n. sp. (1413) fig. 5. Fruticosa scandens cauliflora. Folia breviter petiolata petiolo flexuoso supra excavato piloso apice glandulis duabus oblongis depressis instructo, lamina elhptica (17 X9.5 cm) inaequilatera basi rotundata apice abrupte acuteque acuminata membranacea, ner- vis secundariis (4—5 utrinsecus ) cum rete venulorum utrinque prominentibus. Inflorescentie ex ligno vetere erumpentes brevissima (axe 1—2 em longa) spici- formes e cymis 4-—6 sessilibus trifloris vel bifloris composite. Bractee parvae hamatae subpersistentes. Flores breviter (5 mm) pedicellati hypocraterimor- ph pallide lilacini, tubo cylindraceo 3 em longo 6—S mm lato glabro basi vix ventricoso. Sepala petalaque subconformia oblonga apice obtusiuscula anthesi demum reflexa. Corona faucialis quadrise- riata seriebus approximatis, serie extima e laciniis dimidium corolle superantibus apice paulo dilatatis, secunda et tertia filis brevibus apiee haud dilatatis erectis, intima filis gracillimis brevibus deflexis effor- mata. Corona interior e medio tubo emergens, filis 5 faucem attingentibus apice paullulum incrassatis formata. Gynandrophorum e tubo longius (2 cm) ex- sertum gracile glabrum pentagonum, basi vix alatum. Filamenta glabra, anthere lineari-oblonga glabra. Ovarium ochraceum glabrum. Styli circa 1 cm longi stigmatibus crasse capitellatis. Fructus ovoideus (0,5 cm longus ) exsuccus, pericarpio isabellno levi crus- taceo, seminibus ovoideis (S XX 5 mm) compressis transverse rugosis. Species ex aff. P. spicate Mast. ( Japurá) et P. spinose ( Poepp.) Mast. (Alto Amazonas e Perú cisandino ), a quibus differt inprimis inflorescentiis brevibus ex ligno vetere erumpentibus floribus lila- cinis et corona interioris conformatione. Esta especie que denominei skiantha porque as 592 Materines para a Flora Amaxzonica suas flores encontram-se na parte inferior do cipó na sombra da matta (oxii-=-sombra, àrdoc=flôr ), foi des- coberta por mim no Cerro de Canchahuaya, 3 XI 1898. Fig. 5. — Passiflora skiantha Hub. n. sp. — a, uma flôr (tamanho natural): b, córte longitudinal pela flôr. Passiflora spinosa (Poepp.) Mast. | Tacsonia spinosa Poepp.] (1428). Esta especie é igualmente cauliflora, mas se reco- nhece logo pelos seus espinhos, pelas inflorescencias com- pridas e as flóres encarnadas. Cerro de Canchahuaya, frequente, 3 XI 1898. Area geogr.: Alto Amazonas. Passiflora coccinea Aubl. (1411, 1486). Esta especie têm flôres encarnadas como a prece- dente, mas ellas são isoladas e têm na base 3 bracteo- las grandes. Frequente no Cerro de Canchahuaya e em outros logares XI 1898. Materiaes para a Flora Amaxonica 593 Area geogr.: Amazonia, Perú cisandino, Guyana. Passiflora laurifolia Do 526): Leche ( Pampa del Sacramento), 1 XII 1898. Area geogr.: Ceará, Amazonia, Guyana, Antilhas. Passiftora foetida L. (1485). Cerro de Canchahuaya, 14 XI 1898. Area geogr.: America tropical. Passiflora pilosa Ruiz et Pav. (?) (1408) «Granadilla». Canchahuaya, 30 X 1898. Area geogr.: Columbia, Mexico. No seu aspecto geral esta especie se parece bas- tante com as especies da secção Dysosmia do subge- nero Plectostemma, porém as bracteolas simples e a corôa constituida por filamentos muito compridos fa- zem-na entrar no subgenero Granadilla. « Granadilla » é também o nome vulgar que se dá a esta e às outras especies do genero Passiflora, principalmente ás que - têm fructos comestiveis. Caricaceze. Jacaratia digitata (Poepp.) Solms. « Papaya del monte». “Frequente em Canchahuaya, reconhece-se facilmente pelo seu tronco espinhoso. Area geogr.: Alto Amazonas. A Carica papaya L. é frequentemente cultivada no baixo Uca- yali e no Pampa del Sacramento, sem que aliás a sua fructa seja muito apreciada. Begoniaces (det. C. DeCandolle ). Begonia guyanensis A. DC. n. sp. (1498). Sarayacu, no porto, à beira do caminho, 23 VI 1898. Area geogr.: Guyana, Amazonia. Begonia albomaculata C. DC. n. sp. (1518). Pequena planta de 40 cm de altura, caule succu- 594 Materiaes para a Flora Amazomica lento, foihas um pouco carnosas rôxas na face inferior, verdes com manchas brancas irregulares na face su- perior. Collinas no Pampa del Sacramento, 25 XI 1898. A planta é cultivada no Horto botanico. Em geral as Begoniaceas são raras no Ucayali, como em toda a planície amazonica. Lythracez. Cuphea speciosa ( Anders.) O. Ktze. | Cuphea Melvilla Lindl. ] (1582 Na beira do Rio Ucayali, perto de Nueva York, SEAL TEOS: Area-geogr.: Venezuela até Paraguay. Lecythidacez. Gustavia augusta L. « Sacha-chope ». é Mattas alagadiças à beira do Ucayali XII, 1898. Area geogr.: Brazil septentrional, Guyana. Gustavia longifolia Poepp. (1455) «Chope, Sachavaya ». Pueblo de Canchahuaya, 6 XI 1898. Area geogr.: Perú cisandino. Em geral, as Lecythidaceas são mais raras no Uca- yali que no baixo Amazonas. Segundo informações, a Couroupita guianensis Aubl. (« Aiauman »), parece ainda crescer no baixo Ucayali, porém não pude verificar pessoalmente a sua existencia. Colleccionei no Cerro de Canchahuaya uma Eschweilera de fructos pequenos e nas partes altas do Pampa del Sacramento os fructos de duas especies de Couratari e d'uma especie de Eschbweilera. Mas não me consta a presença nem da Bertholletia excelsa nem de qualquer especie de Lecythis na região percorrida por nós, bem que não me pareça impossivel que uma ou outra especie se ache ainda ulteriormente alh. A relativa raridade das Lecythidaceas é com certeza um dos caracteres mais salientes que Materiaes para a Flora Amazonica 595 distinguem as mattas da região ucavalina das nossas mattas do baixo Amazonas. Myrtaceze. Além do Psidium guayava Raddi (1305) que en- contrei subspontaneo nas capueiras de Iquitos, não col- leccionei nenhuma planta d'esta familia, e me parece que em geral o papel das Myrtaceas é bastante redu- zido no baixo Ucayali. Só nos alagadiços da foz do Rio Catalina encontrei associações maiores d'um ar- busto d'esta familia, chamado « Guayava ». Como estes arbustos cujos galhos carregados de fructos estavam estendidos sobre a agua. eram completamente desfolha- dos, não era possivel classifical-os, mas supponho que se trate do Psidium densicomum Mart. que foi achado em condições semelhantes por Martius e Poeppig nos lagos do alto Amazonas e do Perú cisandino. Sob o nome de « Palillo » cultiva-se nos povoados do Pampa del Sacramento como arvore fructifera uma - especie de Campomanesia, provavelmente a C. cornifo- lia H. B. K. Dois exemplares d'esta planta são actual- mente cultivados no Horto botanico. Melastomacez. y Aciotis longifolia Triana var. glabra Hub. nov. var. (1475), basi lignosa ramosa glabra. Quebrada grande do Cerro de Canchahuaya, 13 XI 1898. Area geogr. do typo: Amazonia. Aciotis aequatorialis Cogn. (1497). Sarayacu, 23 XI 1898. Area geogr.: Amazonia. / Calyptrella gracilis Triana var. ovata Hub. nov. var. (1427), differt a typo foliis ovatis basi truncatis. Quebrada do Cerro de Canchahuaya, 2 XI 1898. Area geogr. do typo: Perú subandino. 596 Materiaes para a Flora Amaxzonica Salpinga secunda Schrank et Mart. (1509). Sarayacu-Catalina (Pampa del Sacramento), 26 XI 1595. Area geogr.: Alto Amazonas, Orenoco, Guyana in- eleza. Miconia ciliata DC. (1451). Quebrada grande de Canchahuaya, 12 XI 1895. Area geogr.: Brasil — Mexico e Antilhas. Miconia triplinervis Ruiz et Pav. (1438). Arbusto frequente das mattas do Cerro de Can- chahuava, 10 XI 1898. Area geogr: Perú cisandino — Mexico e Jamaica. Miconia amplexans Cogn. (1423). Quebrada de Canchahuava, 2 XI 1898. Area geogr.: Perú cisandino — Panamá e Trinidad. Tococa Ulei Pilg. (1510) in Ule, Herb. bras. no. 5554. Sarayacu—Santa Catalina (Pampa del Sacramento), arbusto na matta, 26 XI 1898. Area geogr.: Alto Amazonas. Maieta juruensis Pilg. (1511) in Ule, Herb. bras. no: 5449. Sarayacu—Santa Catalina (com a precedente ). Estas duas especies myrmecophilas foram ambas | achadas tambem por Ule no alto Juruá e distribuidas sob os nomes acima indicados (1). Clidemia dentata D. Don (1450). Quebrada grande do Cerro de Canchahuaya, 12 XI 1898. Area geogr.: Brazil e Perú cisandino — Mexico. Clidemia graciliflora Hub. n. sp. (1476). Frutex erectus ramosus, foliis maiusculis Q- (1) Apezar de ter reconhecido estas especies como novas para a sciencia desde o anno de 1899, prefiro não descrevel-as aqui, aguardando a descripção synoptica das numerosas especies novas de Tococa e Maieta col- leccionadas por Ule no alto Amazonas, Materiaes pera a Flora Amazonica 597 nerviis, caulibus petiolis nervisque foliorum pilis re- trorsum patentibus saltem partim glandulosis dense fusco-hispidis. Petioli 1,5—5 em longi. Folia in pa- ribus paulo inaequalia; lamina cordato-ovata (5—16 cm X 2.5—0 cm), longe acuteque acuminata, in fo- lis maioribus 9-nervis minute crenulato-dentata cilia- taque supra scabriuscula fusco-viridis, subtus in ner- vis venisque hispida pallidior. Paniculae gracillimae, 5—10 cm longae, pilis rarissimis adspersae, ramis oppositis capillaceis inferioribus cymosis paucifloris superioribus ultra 1 cm longis unifloris, floribus 1/2 mm sub calyce bibracteolatis bracteis bracteolisque minimis subulatis vix 1 mm longis. Calycis dentes tubo urceolato subglabro (3 mm longo) multo brevi- ores, exteriores breviter subulati nigri reflexi, inte- riores truncati. Petala alba oblonga reflexa. Bacca elobosa (6 mm) pilis paucis glandulosis conspersa. Ex aff. C. cordatae Cogn. (Bolivia), quae differt a specie nostra ramis glabris, cymis brevibus, denti- bus exterioribus calycis tubo paulo brevioribus. Arbusto bastante frequente na Quebrada grande do Cerro de Canchahuaya, 13 XI 1898. - Leandra spec. (sanguinea? ) (1563). Arbusto de folhas muito cabelludas e inflorescen- cia vermelha côr de sangue. Catalina, 11 XII 1898. Oenotheracez. Jussiaea natans H. B. K. (1311, 1492). Colleccionei duas fórmas, uma (1311) no barranco de Tamixiaco, 3 X 1898, rasteira e com folhas peque- nas curtamente pecioladas, outra (1492) no igarapé de Sarayacu, XI 98, fluctuante e com folhas maiores e longamente pecioladas. Area geogr.: Brazil, Columbia. 2 PE SEE Re E o Rs de 598 Materiaes para a Flora Amaxzonica Jussiaea repens L. var. ad J. ramulosam DC. tendens (1310). Barranco de Tamixiaco, 3 X 1898. Area geogr.: Cosmopolita tropical. Jussiaea pilosa H. B. K. (1313, 1324, 1329). Muito commum nos barrancos e praias do Ucayah, Sapuena, 4 X, Huatapy. 6 X 1898. Area geogr.: Brazil septentrional, Estados meridionaes da America boreal. Jussiaea erecta L. (1314, 1326). Com a precedente e igualmente frequente. Area geogr.: America e Africa tropical. Jussiaea decurrens DC. (1315, 1325). Frequente com as duas precedentes. Os exempla- res do Ucayali são muito mais desenvolvidos que os do baixo Amazonas ( Marajó), elles attingem mais de um metro de altura, emquanto os nossos especimens de Marajó tém apenas 20 cm. Jussiaea latifolia Benth. (1468). Social nas alluviões da Quebrada grande do Gral de Canchahuaya, 31 XI 1898. Area geogr.: Amazonia, Guyana, Perú, Columbia. Sussiaea Michelii Hub. nov. spec. (1357) fig. 6. Herba annua glabra. Caulis erectus basi plus minus lignescens teres (foliis delapsis) apicem ver- sus dense foliatus et floriger angulato-subalatus. simplex vel supra ramis paucis elongatis vel nume- rosioribus brevibus paucifloris instructus. Folia an- guste lanceolata, inferiora 6—G X 1—1,3 cm, basi angustata in petiolum brevem decurrentia apice lon- gius acutata, superiora minora angustiora subbractei- formia. Flores subsessiles minuti (ad anthesin circa Smm longi) 4—5-meri bibracteolati, bracteolis inae- qualibus flore subaequilongis vel paulo longioribus vel brevioribus oblongo-linearibus obtusiusculis saepe inaequilateris unilateraliter subcordatis pilis minimis conspersis, bracteolarum stipellis glandulosis minimis Materiaes para a Flora Amaxonica 599 ovatis apice acutis. Sepala ovato-lanceolata (4 mm longa) acuta margine glanduloso-paucidenticulata. Petala sepalis breviora lanceolata vel oblongo-obo- vata valde decidua. Stamina S-—10 inaequalia, pe- talis dimidio breviora. Dcusis depressus glaber. Sty- lus sepalis dimidio brevior crassus glaber, stigmate “crasse capitato. Capsula glabra oblonga (1 cm longa, 3 mm crassa) obtuse 4 -—-5-gona, nervis interjectis prominulis, bracteolis sepalisque parum auctis per- sistentibus. Semina pluriseriata minima ellipsoidea transversa, rhaphe prominula. Haec species sectionis Eujussiaea ut paret inter J. densifloram Mich. (Ama- zonia), qua imprimis bracteolis elongatis differt, et Fig. 6 Fig. 6. — Sussiaea Michelii Hub. n. sp. — a, uma flór, sem petalas e androceo: b, petalas; c, estames; d, bracteolas. J. filiformem Mich. affinesque intermedia. In memo- riam Marci Micheli Onagracearum brasiliensium mo- nographi sagacis denominata. Esta nova especie que parece bastante frequente nas praias do Ucayali foi colleccionada na pequena praia defronte de Contamana, 16 X 1808. As Jussiaeas são, pela multiplicidade das especies e pela copia dos individuos, as plantas annuaes mais ca- racteristicas dos taludes e das praias do Ucayali, prin- cipalmente na zona mais baixa onde crescem de pre- ferencia as plantas annuaes de desenvolvimento rapido. Y- Dicotyledonese Sympetalse Sapotacea. Lucuma ( Pouteria Aubl.) spec. foliis magnitudine et forma L. Bomplandii H. B. K. sed floribus tetrameris (1343). Arvore mediocre de tronco fino, no Cerro de Con- tamana. 153 X 1898. As Sapotaceas têm. na região do baixo Ucavyali e Huallaga. um papel não menos importante que no baixo Amazonas, contando muitos representantes entre as arvores altas da matta. No Pampa del Sacramento principalmente encontrei frequentemente os fructos en- tão maduras de diversas especies. entre as quaes con- vém lembrar o « Sacha-quinillo » ( Caimito del monte ), arvore enorme de fructos pequenos e comestíveis, e a « Lúcuma » (Lucuma spec. aff. L. macrocarpa Hub.) de fructos grandes verdes e de polpa semelhante áquella do nosso Cutitiribá. Uma das arvores fructife- ras muito cultivadas n'esta região é o « Caimito » ( Lu- cuma caimito Ruiz et Pav.), que se diz ser indigena no Perú cisandino. Entretanto não consegui. apezar das minhas investigações dirigidas especialmente n este sen- tido. encontrar a Lucuma caimito no estado selvagem. Apocynacez. Plumeria floribunda Muell. Arg. « Bellaco caspi >» (1363). Canchahuaya. bastante frequente. 25 X 1898. Area geogr.: Alto Amazonas. v” Tabernemontana hirtula Mart. var. maynensis Hub. n. var. (1394). Folinis oblongo vel obovato-lanceolatis, latioribus brevioribusque quam in tyvpo. Laguna de Canchahuaya. arbusto frequente na matta, 28 X 1898. Area geogr. do typo: Amazonia, Maypures (Orenoco ). a. e Materiaes para a Flora Amazonica 601 Tabernemontana undulata Vahl. (1426 ). Beira de riachos e terrenos pantanosos no Cerro de Canchahuaya, 2 XI 1898. Area geogr.: Guyana. Echites antennacea A. DC. in DC. Prodr. VHI p. 456 (1412). Canchahuaya, 30 X 1898. Área geogr.: Perú. “ Da familia das Apoynaceas encontrei ainda fre- quentemente no Pampa del Sacramento uma especie de Couma, chamada « Leche-caspi » pelos indigenas, cujo leite serve para calafetar as canôas. Asclepiadacez. Fischeria Martiana Decsne (1570). Paca, púruma, 22 XII 1898. Area geogr.: Brazil, Maynas. Cordiacez. Cordia nodosa Lam. (1349) « Pinchicoróto ». Arbusto myrmecophila, fórma esguia e pouco ca- belluda. Contamana, 15 X 1898. Area geogr.: Brazil, Guyana. Verbenacez. Lippia geminata H. B. K. «Orégano» (herva cidreira) (1320). Talude do Ucavyali perto de Huatapy, 6 X 1898. Area geogr.: America tropical e subtropical. Lipbpia betulaefolia H. B. K. (1322) (1358). Talude de Huatapy, 6 X 1898, beira do Ucayali defronte de Contamana, 16 X 98. Area geogr.: Amazonas, Orenoco. Lantana camara L. « Chispasácha » (1364). Púruma de Canchahuaya, 25 X 1898. Area geogr.: America meridional, Mexico. 602 Materiaes para a Flora Amaxzonica v Petrea maynensis Hub. nov. spec. (1489). Frutex scandens undique scaber. Ramuli flo- rentes stricti lenticellati infra nodos angulati. Folia inferiora late elliptica (9—-12 X5—7 em) basi in petiolum brevissimum acuminata apice rotundata in- terdum aristulata vel retusa, coriacea, summa mi- nora magis oblonga breviter acutata. Racemi axil- lares et terminales usque ad 18 cm longi e gemmis fasciculatis circa 1 cm longis squamis erecto-paten- tibus squarrosis evolventes, axe hirtella. Bractee per- sistentes demum patenter reflexae (7—S mm longae) ovato-lanceolatae striatae subglabra longe acutatae. Pedicelli calycis tubum demum aequantes. Flores mediocres (circa 1,8 cm longi) pallide lilacini odo- rati. Calycis laciniae demum 18 mm longae 5 mm latae oblongae basin versus angustatae apice obtusae. Affinis videtur P. bracteate Steud. (caeterum parum cognitae ) Guianae batavae incolae. Bastante frequente nos cerros de Contamana e ' Canchahuaya, XI 1898. Solanaceae. Solanum dibrachiatum Van Heurck et Muell. Arg. (1537) Grande arbusto de folhas grandes inteiras e com bonitas inflorescencias de flóres brancas e cheirosas, | frequente à beira dos riachos no Pampa del Sacra- mento. Entre Leche e Quillucaca, 2 XII 1898. Area geogr.: Perú cisandino ( Tarapoto ). v Solanum Chodatianum Hub. nov. spec. (1336) Fig. 7. Herbacea longe repens ad nodos radicans. ra- dicibus singulis breviter monopodialiter ramosis. In- ternodia gracilia 5—10 em longa puberula. Folia ere- cta semper solitaria, petiolo S—15 cm longo cras- siusculo (sicco 2.5 mm lato). Lamina membranacea 7—13 cm longa ad 10 cm lata, late cordato-ovata, sinu lato paulo in petiolum decurrens, apice longe acu- tata vel subacuminata minute mucronulata. Flores Materines para a Flora Amaxonica 603 albi solitarii in axillis fohiortna, pedicellis gracihbus petiolo brevioribus vulgo 5 --7 em longis. Calyx cam- panulatus quinquedentatus hs apiculatis. Corolla rotata quinqueangularis. Stamina brevia libera an- theris filamentis longioribus apice poris minimis 1n- structis et lateraliter dehiscentibus. Stylus elongatus stigmate capitato. Fructus maturus globosus 1,5—2 cm diametro metiens, aurantiacus basi calyci aucto rotato 10—13 mm diametro metienti insidens. Fig. 7. — Solanum Chodatianum Hub. n. sp. — a, corolla e andro- ceo, estendidos, no centro o gyneceo; b, calyce, com 5 den- tes sómente. Solanum violaefoliam Schott — e, corolla e androceo, es- tendidos; d, calyce, com 10 dentes. Affinis S. violaefolii Schott ( Brasilie centra- ls et Bolivia), quo differt foliis semper solitariis maioribus acutis, pedicells petiolo brevioribus, ca- lyce quinquedentato, bacca globosa. Species in hono- rem amici cl. Roberti Chodat, botanices professoris m Universitate genevensi nominata. Esta especie rasteira de Solanum é commum na «tahuampa » detraz da villa de Contamana, 15 X 1898. 604 Materiaes para a Flora Amazomea “ Solanum coconilla Hub. nov. spec. (1532) « Coconilla ». Frutex inermis. Folia longius (4- 8 em) petio- lata late ellipsoidea (12—18%6—15 em) apice acuta, sinuato-angulata ( angulis apiculatis quoque latere 3) basi inaequali obtusa vel leviter cordata vel in petiolum contracta. molliter herbacea supra glabra subtus pilis stellatis laxe tomentosa pallidiora. Cyma pseudolaterales sessiles abbreviate ( circa 5 mm ) scorpiodea distiche pauciflore ( floribus 5—11). Pedi- celli floribus aequilongi vel paulo longiores. Flores ad anthesin OQ mm longi, calyx laxe campanulatus minute 5-denticulatus extus ut pedicellus ochraceo- tomentosus. Corolla albida ultra medium fissa extus striata ochraceo-tomentosa. Stamina corolla aequilon- ga filamentis brevissimis, antheris apice paulo an- gustatis poris apicalibus parvis. Ovarium apice hir- sutum, stylus antheris brevior. Bacca globosa cerasi minoris magnitudine miniata edulis, pedicello 1 em longo stipitatae. Leche (Pampa del Sacramento) 1 XII 1898. £L “ Solanum leucopogon Hub. nov. spec. (1370). Frutex scandens, caulibus flexuosis laxe hispi- dis aculeatis, aculeis uncinato-recurvis compressis stramineis. Folia gemina vel interdum terna paulo maequalia lanceolata apice acute acuminata basi in petiolum vix ultra 5 mm longum angustata (15-20xX 5-10 cm). rariter integerrima, saepius sinuato-angu- lata vel runcinata herbaceo-membranacea. utraque pagina concolora pilis laxis stellatis vel saepe sub- simplicibus hispida, nervo mediano infra aculeis cre- bris uncinatis recurvis armato. (Cymae nodales vel paulo infranodales abbreviatae 5—10-florae. Flores maiusculi. Calyx quinquepartitus lobis oblongo-ovatis abrupte caudato-acuminatis (acumine incurvo). extus hispidus et aculeis acicularibus luteis armatus. Corolla quinquepartita lobis anguste ovato-lanceolatis acutis- simis extus densissime albo-villosis (1.5 em longis) intus basin versus glabris. Antherae subsessiles (fila- mento haud 1 mm longo) 1 cm longae apicem versus Materaaes para a Flora Amaxzonica 605 angustatae apice minute biporosae. Bacca globosa 1,5 cm diametro, calyce aucto. S. enoplocalyci Dun. (Perú) affinis videtur. Canchahuaya, na matta da vargem, 26 X 1898. Esta especie distingue-se facilmente pelos seus bo- tões floraes muito cabelludos (leucopogon =— barba branca). 7” Solanum Barbeyanum Hub. nov. spec. (1335). -— Suffrutex scandens volubilis glaberrimus, ramis teretibus flagelliformibus uncinato-aculeatis fistulosis, sicco plus minus collabentibus. Folia solitaria ampla (ad 35 cm longa) pseudo-imparipinnata petiolo rha- chique late alatis (ala 225 cm lata) foliolis mem- branaceis oppositis 2-—3-jugis sessilibus oblongo-lan- ceolatis (15—18X(5—6 cm) integerrimis apice acu- tissime acuminatis basi plerumque unilateraliter paulo contractis, nervo medio sicut rhachis aculeis uncina- tis paucis obsito. Cymae oppositifoliae racemiformes elongatae (10—15 cm) demum laxiflorae, aculeis mi- noribus crebre obsitac. Flores flavescenti-virides pe- dicellis gracilibus S mm longis stipa. Calycis lobi orbiculari-ovati obtuse acuminati. Corolla fere ad ba- sin fissa laciniis linearilanceolatis (10—12 mm lon- gis) longe acuminatis. Antherae 9 mm longae fila- mentis brevissimis insidentes. Pistillum antheris di- midio brevior. Bacca globosa cerasi magnitudine vel maior, aurantiaca, pedicello et calyce plus quam duplo auctis. Species ex affinitate S. laciniosi Ruiz et Pav. (Perú), foliis haud geminis et pseudopinnatis dis- tincta. Frequente na «tahuampa» de Contamana, 15 X 1898. Cyphomandra pendula Sendtn. (1569). Paca, na «púruma», 21 XII 1898. Area geogr.: Perú subandino. Nicotiana plumbaginifolia Viv. (El. plant. herb. Di Negro p. 606 Materines para a Flora Amaxonica 26) (1360) «Lagarto-tabaco», «Aya tabaco» (Moyo- bamba). Rio Cuxibatay, praia, 21 X 1895. Area geogr.: Mexico — Perú. Brunfelsia latifolia (Pohl) Benth. (1556, 1562, 1490) « Sa- nango, Sananguillo, Chiriqui-Sanango ». Rio Chipuiana, Catalina, Canchahuaya, X— XII 1898. Arbusto de bellas flores roxas no começo, esbran- quiçadas depois. E” proximo parente do nosso « Ma- nacá» (B. Hopeaia Benth.) e serve para os mesmos fins therapeuticos. Area geogr.: Brasil central, Bolivia, Perú. Serophulariaceze. Stemodia parviflora Ait. (forma annua?) (1321). Talude do rio Ucayali, perto de Huatapy. Area geogr.: Brasil — Columbia. Scoparia dulcis L. (1323) «Pichanilla». Talude do rio Ucayali, Huatapy, 6 X 1898. Area geogr.: Cosmopolita tropical. Herpestis chamaedryoides H. B. K. /Bacopa chamaedrioides Wettst.] (1356). ; Herva rasteira de pequenas flores amarellas, na praia do Ucayali defronte de Contamana, 16 X 18098. Area geogr.: Montevideo — Ecuador. Bignoniacese. Arrabidaea Schumanniana Hub. n. sp. (1387) 94 Macro- carpaea, ser. Glabrae, aff. A. rhodantha Bur. et Schum. Frutex scandens ramis gracilibus teretibus len- ticellosis junioribus obtuse tetragonis. Folia brevius- cule petiolata ternata vel conjugata cirrho persisten- Materiaes para a Flora Amaxonica 607 te simplice clausa. Petiolus 8— 11 mm longus stria- tus supra excavatus apice incrassatus, petiolulis aequi- longis vel paulo brevioribus vel longioribus simili- bus. Foliola lanceolata vel oblongo-lanceolata (8—15 X 3-6 em) longiuscule sed obtuse acuminata minute mucronulata glaberrima, supra in sicco olivacea subtus pallidiora. Inflorescentie precoces vel in ramis vetustioribus ex innovationibus squarrosis erumpentes breviter paniculate vel pseudo-umbellate glabrea, bracteis et bracteolis elongato-lanceolatis acutissimis ad 7 mm longis inferioribus subpersistentibus, pe- dunculo communi 1—2,5 cm longo infra bracteis acutis squarrosis obsito, pedicellis gracilibus 1,;5—2 cm longis. Calyx campanulatus 5 mm longus minime glandulosus (glandulis sub dentibus crebrioribus ) quinquedenticulatus. Corolla rosea 4—5 cm longa, tubo elongato-infundibiliformi cum lobis rotundatis extus brevissime puberulo intus ad staminum inser- tionem pubescente. Discus brevis subcupularis, ova- rium breve lepidotum, ovulis biseriatim affixis. Cap- sulae suppetentes circa 21 cm longae 11—12 mm la- te margine leviter incrassate. Semina oblonga (14 X. 9 mm) utrinque alata. Esta especie que se distingue pelas suas flores bo- nitas côr de rosa e arranjadas em inflorescencias cur- tas nos galhos desprovidos de folhas, é bastante fre- quente na varzea em frente de Canchahuaya, 28 X 1898. 4 Arrabidaea (2) biternata Hub. n. sp. (1495) $ Macro- carpaea, ser. Glabre. Frutex scandens ramis teretibus, foliis glabris biternatis. ternationibus lateralibus foliolis 3 evolutis mediana in cirrhum mox caducum evoluta (in ramo pendente ). Foliola ovata longe attenuato-acuminata, basi rotundata (sicca castaneo-viridia ), terminalia longe (14—20 mm) petiolulata 10—12 cm longa, 4-—5 em lata, lateralia minora brevius petiolulata ( ad 1 cm). Panicula coêtanea brevis ferrugineo-tomen- 608 Materiaes para a Flora Amaxonica tella floribus pro genere magnis 5,5 cm longis albis, pedicellis 5—7 mm longis. Calyx campanulatus (5 mm longus ) truncatus coriaceus eglandulosus minute 5- denticulatus. Corollae tubus angustus infundibilifor- mis basi valde angustatus extus glaber apicem ver- sus utquam lobi ferrugineo-tomentellus, lobi ovati protracto-obtuse acuminati. Discus brevis subcupu- laris. Ovarium lineare ovulis in loculo biseriatis. Capsula haud suppetit. Sarayacu, na beira do igarapé, 23 XI 1898. Arrabidaea xanthophylla Bur. et K. Schum. (1407). Cipó muito característico pelas suas folhas supe- riores e inflorescencias d'um amarello vivo. Cancha- huaya, beira do rio Ucayali, 30 X 1898. Area geogr.: Alto Amazonas ( Japurá ). Paragonia pyramidata Bur. (1554). Cipó de flores violaceas, frequente na beira do rio Chipurana, 6 XII 1898. Area geogr.: Brazil meridional, Perú e Venezuela. Bignonia unguis L. ( 1568 ). « Cipó de morcego » dos Brazileiros. Paca, nos troncos das arvores, 21 XII 1898. Area geogr.: Paraguay— Mexico. Cybistax antisyphilitica Mart. (1359) « Yangua >» / Yangua tinctoria Spruce |. Arvore pequena frequentemente cultivada na visi- nhança das casas: serve como o anil para tingir de azul. Contamana, 18 X 18098. Area geogr.: Brazil meridional, Perú. Facaranda intermedia Hub. nov. spec. (1551) « Sol man del monte », « Estape ». Arbuscula vel frutex cauliflora ramis obtuse tetragonis. ramulis novellis validis complanato-tetra- gonis. Folia ampla bipinnata ad 1 m longa, sicca fuscescentia. Folii rhachis basin versus teres, supra E é Muterines para a Flora Amaxzonica 609 . ut pars basalis pinnarum rhacheos subtrigono-com- pressa supra angustissime canaliculata haud alata ; pinnae 5—7-juge opposite vel paulo alternantes, rhachi apicem versus anguste (ad 7 mm) alata. Fo- liola 6—10-juga, inferiora saepe alternantia, omnia sessilia oblongo-lanceolata vel rhomboidea basi plus minus inaequaliter contracta vel acuminata, apice breviter vel protracto-acuminata apiculata valde inaequalia. maiores ad 11 em longa, 4 cm lata, her- bacea (in vivo plus minus bullosa ) supra glaberrima, subtus ad nervos solum puberula. Inflorescentiae bre- ves supra insertiones foliorum delapsorum seriatim ex ligno vetere erumpentes plures fasciculatae, rha- chi compressa 4—6 cm longa cum ramulis decussa- tis papilloso-tomentella. Pedicell supra bracteola- rum insertionem circa 5 mm longi atropurpurei apice incrassati, bractee lanceolato-subulatee 3 mm longae deciduse, bracteole minores (vix ultra 1 mm ) ova- tae subpersistentes. Flores atropurpurei magnitudine florum J. cauliflore. Calyx tubuloso-campanulatus obsolete 5-dentatus. Corolla 6.5-—7 cm longa extus apicem versus puberula, tubo arcuato sursum de- presso campanulato extus vinoso intus albo, lobis ro- tundatis atropurpureis. Stamina basi pilosa subzequa- liter inserta maiora 2,5 cm, minora 1,8 cm longa, antheris dithecis thecis divaricatis acutis 2 mm me- tientibus. Staminodium 3,5 em longum apicem versus incrassatum subbilobum pilosum. Capsula brevissime stipitata elliptica (9 -14.5 X 5—6 cm ) apice mu- cronulata basi rotundata vel maiores contractee. Esta especie occupa a muitos respeitos uma posi- ção intermediaria entre a J. cauliflora Bur. et K. Schum. (Tocache, Pozuzo), da qual ella se approxima pelas flores grandes, ea J. rachidoptera Bur. et K. Schum. (Tarapoto), da qual ella tem as folhas de rhachis ala- da e de foliolos sesseis. Seria mesmo possivel que mais tarde se achariam outras formas intermedias que justi- ficariam a fusão d'estas especies em uma só especie polymorpha que teria de chamar-se J. cauliflora. 610 Materiaes para a Flora Amazonica Achei o «Soliman del monte» na beira do rio Chipurana, onde elle não é raro, 6 XII 1898. Os indigenas dizem que elle é muito venenoso e que serve para curar chagas syphiliticas. Um exemplar d'esta especie é cultivado no Horto botanico do Museu, onde já deu diversas vezes as suas bellas flores que cobrem o tronco de cima em baixo. Entretanto ainda não conseguimos a fructifição d'esta planta interessante. A Crescentia cujete L. é bastante cultivada nos povoados do Perú cisandino. Achei uma outra especie curiosissima do genero Crescentia na beira do iga- rapé de Sarayacu, onde é bastante frequente. Ella produz as suas grandes flores roxas da mesma forma como a cuiera no tronco mesmo, no qual pendem tam- bem as suas «culias» pequenas. Infelizmente deixei de colleccionar esta especie para o herbario. Gesneracez. Besleria aggregata Hanst. (1488). Cerro de Canchahuaya, 2 XI 1898. Area geogr.: Japurá, Pará. Besleria Riedeliana Hanst. (? forma foliis longius petiolatis) (1540). Matta alagadiça perto de Quillucaca ( Huallaga), 2 XII 1898. Area geogr.: Rio de Janeiro. Crantzia spec. $ Macrochlamys. (1365). Frutex subscandens ramis foliisque subglabris, carnosulis, bracteis pedicellos vix superantibus (1.52 cm longis) rubris lanceolatis, calyce rubro sepalis magnis inaequalibus ovoides corollam involucrantibus breviter pilosis, tubo corollae aurantiaco extus to- mentoso basi saccato, lobis breviter rotundatis, an- theris elongatis. Cerro de Canchahuaya, bastante frequente, 26 X 1898. sa Materiaes para a Flora Amaxzonica 611 Da mesma secção conhecem-se diversas especies crescendo no alto Amazonas e Perú cisandino. A nossa especie, que se distingue principalmente pelas bractcas relativamente pequenas, é talvez nova para a sciencia. Acanthacez. Ruela (Dipteracanthus) aff. Gardneri Nees (1409. det. G. Lindau). Pequena planta rasteira de grandes flores brancas, no talude d'uma «quebrada» no Cerro de Canchahuaya, 30 X 1898. Area geogr.: Brazil central. Ruellia (Dipteracanthus) aff. Schaueriana Nees (1340, det. G. Lindau ). Pequeno arbusto de flores brancas. Cerro de Con- tamana, 15 X 1898. Area geogr: Brazil oriental — Perú. Ruellia (Physiruellia) n. sp. (1330, det. G. Lindau). Herva de flores lilazes. Na matta do Cerro de Con- tamana, 153 X 1865. Aphelandra acutifolia Nees (1503, det. G. Lindau). Pampa del Sacramento. Chinganilla, 24 XI 1898. Area geogr.: Perú cisandino. Pachystachys coccinea (Aubl.) Nees (1368). Arbusto de bellas flores vermelhas, frequente na varzea de Cancliahtaya. 7 X 1898. Area geogr.: Guyana, Amazonas, Perú. Fittonia Verschaffeltii (Lem.) Coém. (1344). Encontrei ambas as formas, a de nervuras bran- tas (var. argyroneura) e a vulgar de nervuras encar- nadas, no Cerro de (Contamana, onde são frequentes, X* 1898. Area geogr.: Perú cisandino. - 612 Materiaes para a Flora Amaxonica Justicia aff. Meyeniana Nees (1402, det. G. Lindau). Subarbusto de flores brancas e lilazes: púruma de Canchahuaya, 27 X 1898. Justicia spec. nov. affinitate incognita! (1347, det. G. Lin- dau). Flores brancas e lilazes em inflorescencias axilla- res curtas, Contamana, 15 X 1898. Sanchezia peruviana (Nees) Rusby (1354). Arbusto com folhas grandes, bracteas largas es- carlates, flôres amarellas alaranjadas. Contamana, X 1898. Area geogr.: Perú cisandino. Steirosanchezia scandens Lindau in E. Ule, Herbarium Brasi- liense n.º 6286 (1346). Arbusto de flôres escarlates, trepa entre os outros arbustos. Contamana, 15 X 1898. Area geogr.: Foi colleccionado por Ule em Yurimaguas ( Huallaga ). Em comparação com o baixo Amazonas, a riqueza em Acanthaceas é muito caracteristica no baixo Uca- yali, como aliás em todo o alto Amazonas, accentuan- do-se na proximidade da cordilheira dos Andes. Rubiaceae. Warszewiczia coccinea Kl. (1307, 1543). Arbusto frequente na região, colleccionado perto de Iquitos (29 IX 1898) e perto de Quillucaca ( Hua- llaga), 3 XII 1898. Area geogr.: Amazonia — America central ( Costa-Rica ). Calycophyllum Spruceanum Benth. et Hook. « Capirona ». Esta arvore que se chama « Pão mulato » no Bra- zil, é frequentisssma no baixo Ucavyali. nas alluviões recentes principalmente, onde ella fórma mattas intel- ras chamadas « Capironales ». Area geogr.: Amazonia. Materines para a Hlora Amaxzonica 613 m Hippotis brevipes Spruce, var. ucayalina Hub. nov. var. | (1456), differt a typo pedicells ultra 5 mm longis gracilibus calyce corollaeque tubo extus minus dense hispidis, corolla graciliore. “Este arbusto de bonitas flores escarlates encontra-se aqui e acolá no Cerro de Canchahuaya, 9 XI 1898. Area geogr. do typo: Perú oriental ( Tarapoto ). Posoqueria spec. ( 1406 ). Cerro de Canchahuaya, quebrada de Bohemia, 29 X 1898. Como só encontrei exemplares fructiferos, a classi- ficação não póde ser mais exacta. Genipa americana L. « Huito». Cresce espontaneo e cultivado no baixo Ucayali. Area geogr.: America tropical. Hamelia patens Jacq. (1307). Canchahuaya, 25 X 1898. Area geogr.: Brasil central — Mexico e Antilhas. Psychoiria Poeppigiana Muell. Arg. (1531). Leche (Pampa del Sacramento) 1 XII 1898. Area geogr.: Alto Amazonas. Palicourea crocea DC. (1391) Arbusto de 2 a 5 m. Pedicellos vermelhos, flóres alaranjadas, bagas pretas. Na varzea em frente de Canchahuaya, 28 X 1898. Arca geogr.: America equatorial — Antilhas e Mexico. “ Palicourea subspicata Hub. n. sp. (141. Suffruticosa glabra caule basi adscendente ra- dicibus firmis instructo supra erecto simplice cum inflorescentia terminali 40—70 cm alto, internodiis in sicco compressis 4—S cm longis. Folia ampla oppo- sita (3-—5 paria evoluta) pctiolata. Petiolus 2—4 cm longus 2,5—3 mm crassus supra birimosus. Sti- pulae 5 mm longae ovatae obtusae ejusdem folii plus minus in axilla concrescentes (intrapetiolares) Ea di, 614 Materiaes para a Flora Amaxzonica basi in annulum coriaceum subpersistentem con- flatae caeterun caducae. Lamina ovato-lanceolata (20—25xX(8—13 em) apice acuta vel saepius plus minus abrupte acuminata basi breviter in petiolum decurrens firme membranacea supra fuscescens subtus castanea, nervo medio lateralibusque siccitate nigres- centibus, his arcuatis, 12—15 utroque latere paulo prominulis. Inflorescentia terminalis longe (10—16 cm) pedunculata racemosa subspicata vel angustissi- me paniculata racemiformis, supra flavescens. Brac- teae triangulari-subulatae subpersistentes (3—4 mm longae). Flores breviter pedicellati pedicellis hori- zontaliter patentibus vel subreflexis vulgo 2—3 mm longis sensim in ovarium vix 2 mm longum incras- sati. Calyx brevissimus breviter 5-dentatus. Corolla tubulosa coccinea basi gibbosa flavescens, 15 mm longa extus brevissime tomentella intus basi annulo piloso instructa, /obis brevissimis triangularibus tubo multitoties brevioribus. filamenta brevia dorso an- therarum sagittatarum inserta, basi antherarum sta- minum insertionem attingente. Discus crateriformis. Stylus tubo corollae aequilongus, stigma bilobum ellipsoideum. Fructus ignotus. Esta especie que no genero Palicourea deve talvez. constituir uma serie distincta (Subspicatae Hub.), é bas- tante frequente no Cerro de Canchahuaya, 2 XI 1898. Palicourea Lagesi K. Schum mss. in Ule, Herbarium brasi- liense no. 5075. (1434). Esta especie, de grandes flôres roseo-violaceas, cresce na beira das quebradas do Cerro de Cancha- huaya, 2 XI 1898. Area geogr.: Purús (Huber), Juruá ( Ule), Ucayali. Palicourea spec. (2 Subeymosse) (1512) foliis oblongis ma- ximis (30—40 cm longis ). Pampa del Sacramento, 25 XI 1898. Provavelmente uma nova especie. O material col- leccionado é porém insuficiente para a descripção. Materiaes para a Flora Amaxonica 615 ” Faramea congesta Hub. n. sp. (1417). le - Tetramerium DC. Cymae terminales confertim dichotomae, subsessiles, flores ipsi etiam subsessiles, stipulae aristatae, calycis lacinicee subulatee. Frutex parvus (1—2m) ramis gracilibus. Folia breviter petiolata vel subsessilia, ovato vel oblongo-lanceolata (10-15 X(35—5,5 cm) basi acuta vel breviter acuminata in petiolum contracta, apice longe acutissimeque et leviter falcato-acumi- nata firme membranacea supra glabra infra in ner- vis pilosula glabrescentia, margine ciliata, fuscescen- tia. Stipulae basi breviter vaginantes longe aristate ciliolatee. Inflorescentie terminales subsessiles arcte congeste capituliformes hirtelle 10—20-floree. Flores sessiles vel subsessiles albi. Alabastra 13 mm longa apicem versus contracta apicibus loborum filiformi- bus recurvis coronata. Calyx brevis urceolaris den- tibus subulatis recurvis vel revolutis. Corollae lobi tubo cequilongi (7 mm) convoluto-subulati basi ci- liati. Antherae dimidium superius pilosulum tubi corolle occupantes. Discus pulvinatus, stylus brevis- simus. Species optime distincta inflorescentiis subsessi- lbus congestis. Cerro de Canchahuava, um dos arbustos mais fre- quentes do sous-bois, 2 NI 18098. W-Faramea anisocalyx Poepp. (1558) « Cruciça ». Forma ca- lyce minute denticulato. Este arbusto e um dos mais bellos ornamentos das varzeas do Ucayali, graças às bracteas dum azul ce- leste purissimo com as quaes ella se cobre litteralmente quando em flôr. Atravessando a matta a oeste de Sa- rayacu, fiquei varias vezes enganado pelos numerosos arbustos d'esta especie em flór, julgando ver o ceo azul atravez da matta. Esta especie encontra-se largamente espalhada ao longo do rio Ucayali e no Pampa del Sa- cramento. Yanayacu, 8 XII 1896. Area geogr.: Perú cisandino. 616 Muteriaes para a Flora Amazonica Cucurbitacez. Alsomitra peruviana Hub. nov. spec. Caulis flexuosus gracilis profunde sulcatus gla- ber. Folia mediocriter (3 cm) petiolata, petiolo sub apice auriculato-glanduloso, subpedato-trifoliolata, fo- “holis supra medium crenato-constrictis, foliolo medio mm petiolulo 7 mm longo instructo ovato vel elliptico basi obtuso, apice complicato-acuminato vel retuso elanduloso-apiculato, nervis secundariis utrinsecus 3 minoribus basi approximatis, uno maiore infra me- dium angulo acuto abeunte et arcuatim plerumque usque ad apicem excurrente, foliolis lateralibus pe- tiolulo circiter 5 mm lengo instructis ovatis valde insequilateris binerviis nervo exteriore in crenaturam marginis callosam excunte, nervo interiore basi ad 4 mm denudato in apicem folioli excurrente, pagina foliolorum membranacca utrinque laete viridis glabra venulorum rete dense prominulo. Cirri elongati apice bifidi. Inflorescentiae masculina foliis longiores pyra- midato-paniculatee, ochraceo-puberulae. Flores maseu- lini in ramulis brevibus breviter (1 mm) graciliterque pedicellati minimi. Calyx extus ochraceo-tomentellus vix 1 mm longus, segmentis triangularibus scariose marginatis. Corolla (nondum expansa ) glabra laci- nis rotundatis calycem superantibus. Staminorum filamenta glabra brevia, antherae suborbiculares. Flores PQ QP fructusque ignoti. Ucayali, na beira da Laguna defronte de Can- chahuaya, 28 X 98. Compositae. Vernonia sp. (1572). Arbusto grande ou arvore pequena, principal ele- mento da «púruma» de Paca, 22 XII 1898. Elephantopus spicatus B. Juss. (1576). Uma forma relativamente pequena, crescendo so- Materiaes para a Flora Amaxzonica 617 cialmente: é um dos principaes formadores de relva nos pastos do Ucayali. Paca 25 XII 1898. Area geogr.: Mexico — Perú e alto Amazonas. Adenostemma viscosum Forst. var. brasilianum Benth. (1501). Chinganilla (Pampa del Sacramento), 24. XI 1898. Area geogr. do tvpo: Cosmopolita tropical. Mikania scandens Willd. forma basi radicans, inflorescentiis parvis, bracteis involucro paulo longioribus. (1303). Beira do Amazonas perto de Caballococha, tam- bem no Ucayali, 18 IX 1898. Area geogr.: Cosmopolita tropical. Egletes viscosa Less. (1309) «Botoncilla». Talude do Ucayali perto do Tamixiaco. Area geogr.: America tropical oriental («Marcella» dos brasileiros). Tessaria integrifolia Ruiz et Pav. «Pajarobôbo». Commum e social nas praias do Ucayali. Area geogr.: Alto Amazonas e Perú subandino. Clibadium surinamense L. var. asperum (DC.) Baker (1529) «Huaca». Serve como o «barbasco» para tingujicar o peixe. Leche, 1 XII 1898. Area geogr.: Mexico — Brazil. Ichthyothere peruviana Baker /Latreillea peruviana Poepp. et Endl.) (1477). (O meu exemplar mostra, na base de cada inflo- rescentia, 2 pequenas folhas, que não são indicadas por Poeppig.) Quebrada. grande do Cerro de Canchahuaya, 13 XI 1898. Area geogr: Peru. Eclipta alba (L..) Hassk. Nas praias e taludes do rio Ucayali. Area geogr.: Cosmopolita tropical. 618 Materiaes pera a Flora Amazonica Ambrosia artemisiacfolia L.. (1361). Praia do rio Cuxibatay, 22 X 1898. Area geogr.: America tropical e subtropical. APPENDICE Durante a impressão d'este trabalho, sahiu à luz uma nota do Dr. Udo Dammer, intitulada « Zwei neue amerika- nische Palmen» (Beiblatt zu Engler's bot. Jahrbiichern N.º So p. 31 ff), onde este conhecido especialista da familia das palmeiras descreve uma das palmeiras colleccionadas por mim no Pampa del Sacramento (perto de Huimbaio, X 98) como representante d'um novo genero, Wendlandiella (do parentesco de Chamaedorea) e com a designação especifica de W. gracilis. Tomando em consideração que o especimen que serviu à descripção do genero e da especie nova, foi fornecido pelo Herbario amazonico do Museu Goeldi, não duvido que me seja dada a licença de transcrever aqui integralmente as diagnoses publicadas no « Beiblatt zu Engler's Botanischen Jahrbiichern » : Wendlandiella U. Dammer. Flores 9 calyce 3-fido lobis orbicularibus gib- bosis, corolla 3-fida calyce duplo majori lobis or- bicularibus gibbosis, staminodiis 3 minutissimis su- bulatis, ovario sessili subgloboso triloculari stigma- Ed tibus 3 rarius 4 reflexis, loculis 1—2 sterilibus, ovulo mn quoque loculo unico pendulo. Inflorescencia subdigitata axillaris interfoliacea, spathis duabus cy- lindraceis apice oblique: dehiscentibus pedunculum fere omnino tegentibus, ramis filiformibus dense flo- ribus obsitis. Folia paripinnata vagina cylindracea oblique aperta petiolo triangulari pinnis utrinsecus 3 suboppositis inferioribus reliquis longe distantibus, summis nervis 4, reliquis nervis 3 percursis. Materiaes para a Flora Amaxonica 619 x ad Wendlandiella gracilis U. Dammer loc. cit. pag. 32 (1541). Candis .tenuis 4 mm, crassus, ad 1,5 m altus foliis distantibus vagina 5 cm longa cylindracea obli- que aperta pctiolo ad 6 cm longo triangulari pinnis lanceolatis acuminatis, utrinque 3, inferioribus subop- positis 16--17 cm longis, 1,6 cm latis, mediis sum- mis basi tantum connatis elongato-obovato-lanceola- tis, 20 em longis 2,5—3 em latis. Inflorescencia in- terfoliacea spatha inferiori 8 cm longa, superiori 8 cm excedente tubulosa apice oblique aperta pedun- culo supra canaliculato 13 em longo apice ventri- coso subdigitato, infra ramificationem floribus obsi- tis, floribus minutissimis vix 1 mm diametro. Pampa del Sacramento, perto de Huimbaio, XII 98. À 620 Especies do genero Hevea Ensaio d'uma Synopse das Especies do genero Hevea sob os pontos de vista systematico e geographico Pelo Dr. J. HUBER Desde que publiquei a minha nota intitulada « Os nossos conhecimentos actuaes sobre as especies de seringuei- ras» ( Bol. do Mus. Paraense Vol. II, pag. 250, 1897), onde dei uma resenha succincta da distribuição geographica das especies de Hevea até então conhecidas, não só fóram des- criptas diversas especies novas (*). mas tambem accumularam- se muitas observações e informações sobre as especies já conhecidas. Além das minhas proprias investigações, cujo re- sumo provisorio publiquei em 1902 na « Revue des cultures coloniales » (N.º 95 e 96) e depois n'este' « Bolina ( Vol. II, pag. 345), a expedição do Sr: Ernesto Úle eme prehendida nos annos de 1901-1903 com o fim especial de estudar as arvores de borracha dos affluentes meridionaes do alto Amazonas, contribuiu bastante para os nossos co- nhecimentos n'este sentido. O Sr. Ule já deu, em diversas publicações (**), os resultados das suas pesquizas sobre as arvores de borracha e especialmente as Heveas. No ultimo (*) Vide Hemsley in « Hooker's Icones Plantarum » Fourth Series, VI, 1899, pl. 2570-2577. (*) E. Ul, Kautschukgewinnung am Amazonenstrome ( folheto de 15 pp., sem data ). E. Ule, Kautschukgewinnung und Kautschukhandel am Amazonenstrome ( Beihefte zum Tropenpflanzer Bd. VI, 1. 1905 ). Este trabalho é citado sob o n.º 1. E. Ule, Die Kautschukpflanzen der Amazonas-Expedition u. ihre Be- deutung fiir die Pflanzengeographie. ( Engler's Bot. Jahrbiicher Bd. 35, p. 663-678, 1905 ). Citado sob o n.º II. Especies do genero Hevea 621 dos seus trabalhos (II, pag. 678), elle synthetisa os seus resultados phytogeographicos numa enumeração das espe- cies de FHevea em duas cathegorias, a primeira comprehen- dendo as especies que crescem ao Norte, a segunda aquel- las que se acham só ao Sul do Amazonas. N'esta synthese, na qual se manifesta visivelmente a preoccupação de de- monstrar a differença que existe entre a flora ao Norte do rio mar, « onde predominam os rios de agua preta, como o rio Negro e o Yapurá », e aquella da margem meridional, o au- ctor chega à conclusão que entre todas as especies unicamente a HH. guianensis seria seguramente commum a ambas as re- giões e isto sómente na parte limitrophe. Como as minhas observações pessoaes, que ainda foram completadas ultima- mente por estudos feitos sobre diversas (5 ) especies de serin- gueiras trazidas pelo Sr. Adolpho Ducke do Yapurá e do Rio Negro, me conduzem a resultados um pouco diversos, não acho descabido tratar aqui ainda uma vez da distribui ção geographica das especies de Hevea como ella se apre- senta agora segundo os mais recentes dados que tenho à minha disposição. Como um estudo serio de geographia botanica é im- possivel sem conhecimento systematico do grupo de que se trata, appliquei-me a um estudo comparativo minucioso das 15 especies de Hevea representadas no Herbario amazonico do Museu Goeldi (*), comparando-as com as descripções e figuras existentes na bibliographia do assumpto e com as notas que tomei poroccasião do exame dos especimens exis- tentes em diversos herbarios de Genebra e Paris. D'estas pesquizas resultou, além do reconhecimento de duas especies e duas variedades novas, cuja descripção vae mais adiante, a seguinte disposição systematica das especies do genero Hevea : (*) D'estas 15 especies, 9 são representadas por exemplares flo- ridos. São as seguintes: H. brasiliensis, Spruceana, similis, rigidifolia, minor, Duckei n. sp., Randiana n. sp., nigra, paludosa. Além d'isto, 6 especies são cultivadas no nosso Horto botanico ( H. brasiliensis, Randiana, guyanensis, Spruceana, cuneata, viridis), das quaes, é verdade, só as duas primeiras ja deram flôres e fructos. 622 Especies do genero Hevea Sectio I. EUHEVEA Muelil. Arg. (Um verticillo de 5 antheras ). 1. H. guyanensis Aubl. 2. H. nigra Ule. Sectio II. BISIPHONIA Muell. Arg. ( Dois verticillos de antheras ). Serie Lutese. Dois verticillos incompletos de antheras. Inflo- rescencias amarellaceas ou pardacentas. Botões das flôres masculinas acuminados. | 3. H. lutea Muell. Arg. I. Disco da flôr masculina rudi- 4. H. apiculata Muell. Arg. mentais (Eae O teto | 5. H. cuneata Hub. (incl, H. peru- viana Lechl.) II. Disco da flôr masculina estrel- | e Es Pci qc ing do ção 8. H. paludosa Ule III. Disco da flór masculina com ( 9::HH; 'vigidifolta Macll CASE segmentos alongados. . l E Serie Intermedize. Dois verticillos completos de antheras. Inflorescencias amarellaceas ow esbranquiçadas. Botões das flóres masculinas acuminados. I. Estylo bem desenvolvido, em- Re EA md e b À 11. H. microphylla Ule EA GORE 8 uia OA Ra | 12. H. Randiana Hub. II. Estylo obsoleto, estigmassesseis. 13. H. brasiliensis Muell. Arg. Serie Obtusiflore. Dois verticillos completos de antheras. Estigma sessil. Inflorescencias esbranquiçadas ou mais ow menos arroxeadas. Botões das flôres masculinas ob- tusos. I. Disco da flôór 4 composto de | E dg Apse S glandulas obtusas. . .. | 16. discolor Muell, Arg. pauciflora Muell. Arg. confusa Hemsley. - nitida Muell. Arg. « viridis Hub. Kunthiana Hub. II. Disco da flór &” composto de ( 17. glandulas acuminadas . Encertão sedis ts & ido E rea 19. > REEENHEE Especies do genero Hevea 623 Seco E 'BUMEVEA. Esta secção do genero Hevea é muito natural e bem caracterisada pelas flôóres masculinas pequenas, obtusissimas, quasi globosas, e pela columna staminal curta, com um ver- ticillo unico de 5 antheras. As folhas são obovadas, mais ou menos coriaceas e glabras. As inflorescencias são cobertas de pellos fuscos. 1. Hevea guyanensis Aubl. ed Como já fiz ver nas minhas « Observações », a area desta especie que era só conhecida da Guyana franceza, extende-se até o baixo Amazonas (região de Breves). O logar mais meridional onde constatei ultimamente a sua presença, é no Marco da Legoa, perto de Belem. Não é impossivel que ella se ache ainda em outros pontos da Amazonia e especialmente nas visinhanças de Ma- nãos, d'onde eu trouxe especimens esteris de uma seringueira que talvez seja a H. guyanensis (conf. tambem Ule n.º 5348). A seringueira chamada « Orelha de onça », que Ule colleccionou na terra firme do baixo Juruá (n.º 5349), apre- senta tambem analogias com certas fórmas de HH. guyanen- sis ( Ule II, p. 667-668), ao lado de certas differenças que me levam antes a crêr que se trata duma especie distincta. No baixo Amazonas, a H. guyanensis é raramente ex- plorada e fornece uma borracha fraca, de côr amarellacea. 2. Hevea migra Ule. Esta especie que foi descoberta por Ule no Juruá-mi- rim, se distinguiria da HH. guyanensis, segundo este autor, pelas flôres pequenissimas, de 1 a 2 mm apenas de diame- tro, e pelas folhas mais grossas e mais pontudas. Em todo caso ella apresenta um parentesco muito estreito com a es- pecie de Aublet. Já o porte da arvore e a folhagem escura parecem ser semelhantes como na FH. guyanensis, as folhas não são mais grossas que em diversos especimens de H. gu- 624 Especies do genero Flevea yanensis que tenho visto e a ponta é tambem bastante va- riavel n'esta especie (sem entretanto attingir jámais o des- envolvimento que tem na H. brasiliensis ). Quanto ao tama- nho das flôres masculinas, posso affirmar que as flóres com- pletamente desenvolvidas que examinei, attingiam bem 3 mm de diametro, o que corresponde bem às medidas indicadas na « Flora brasiliensis» para a H. guyanensis. As differen- ças mais importantes da HH. nigra com a especie de Aublet me parecem antes residir nas glandulas dos peciolos mais desenvolvidas e na existencia de inflorescencias exclusiva- mente masculinas, que talvez se explicam por uma prote- randria à moda de certas especies de Sapium (cf. Boletim EV p. dit). Muito curioso é o facto, que em relação com a espe- cie mais aparentada, a H. nigra se acha, por assim dizer, no polo opposto da area do genero Hevea. Se trataria aqui d'uma disjuncção de duas especies pertencendo a um grupo muito antigo, ou simplesmente duma distribuição larga, cujas etapas intermediarias ainda não seriam conhecidas e tal- vez occupadas por uma ou diversas especies apparentadas ? Até aqui a H. migra ainda não foi constatada com se- gurança fóra da região do Juruá-miry, onde Ule achou-a na terra firme, à beira dos riachos. A « Siringa entrefina ce- niza » que encontrei no Pampa del Sacramento e cujas fo- lhas são semelhantes, pertence talvez à mesma especie. Segundo Ule, a borracha de H. migra seria de inferior qualidade e raramente explorada. Sectio II. BISIPHONIA. Esta secção, bem distincta da secção Euhevea pela existencia de dois verticillos (mais ou menos completos ) de antheras, é porém pouco homogenea e carece duma subdi- visão racional, da qual dou um ensaio na constituição das tres series: Lutece, Intermedie e Obtusiflore. Serie Luteg. Como o numero e a disposição das antheras constitue, no genero Hevea, um caracter de primeira importancia, achei a b Especies do genero Hevea 625 conveniente reunir nesta serie todas as especies que pos- suem dois verticillos incompletos de antheras, sendo o nu- mero d'estas variavel nos limites de 5 a 10. Por este cara- cter, a serie Lutee constitue um termo de passagem áà secção Euhevea, affastando-se porem pela fórma dos botões das fló- rés masculinas, que aqui são distinctamente acuminadas, em opposição directa com os botões globosos da secção Euhe- vea. As flôres d'este grupo são de dimensões medias, de côr amarella ou pardacenta, cobertas geralmente de pellos rui- vos ou amarellados (mais ou menos sedosos ) raramente (HH. rigidifolia) esbranquiçados. As folhas, em todas as es- pecies mais ou menos obovadas, com ponta brusca, são gla- bras ou cobertas por baixo de pellos ruivos. A côr das fo- lhas é geralmente. quasi igual de ambos os lados, virando ao amarello-pardacento pela dessiccação. Segundo a confor- mação do disco das flóres masculinas podem-se distinguir tres subdivisões : I O disco das flôres masculinas é, como na secção Euhevea, rudimentario, existindo apenas em fórma d'uma margem pouco saliente ou de 5 pequenas proeminencias obtusas. * Segundo os “desenhos publicados por Hemsley (1. c. pl. 2574, fig. 12-21) é possivel que em uma ou outra espe- cie deste grupo as antheras sejam primitivamente collocadas num unico verticillo e que a sua disposição irregular seja o resultado d'um deslocamento secundario, o que natural- mente accentuaria ainda mais o parentesco com a secção Euhevea. 3. Hevea lutea Muell. Arg. Esta especie, que segundo o seu descobridor Spruce é uma arvore alta, 'foi até aqui só encontrada no baixo rio Uaupés. Além das folhas glabras, que distinguem-na da espe- cie seguinte, ella têm um estylo bem pronunciado, o que caracterisa-o em relação com a H. peruviana. Como já mostrei em: publicação anterior ( Bol. LI, p. 355). a H. lutea é designada pelo seu descobridor como 626 Especies do genero Hevea fornecendo borracha, embora com menos abundancia que a H. brasihensis. 4. Hevea apiculata Baill. A autonomia especifica desta arvore, que Spruce dis- tinguiu sob o nome de Siphomia brevifola ou « seringueira de folha curta », da HH. lutea, vulgarmente chamada « serin- gueira de folha comprida » (cf. Hooker's Journ. of Bot. and Kew Gardens Miscellany n.º 78 p. 194, 1853) não foi ad- mittida por Mueller Arg., que considerou-a como simples va- riedade de H. lutea. Julgo entretanto que os caracteres re- unidos da fórma e da pubescencia das folhas, junto com a fórma mais curta e a pubescencia da columna suprastami- nal (cf. Hemsley 1. c. pl. 2574) são sufficientes para conser- var esta especie, dentro d'um genero onde todas as especies differem entre si por caracteres minuciosos. Do outro lado não posso deixar de reconhecer que o parentesco entre as duas especies é muito estreito, juntando-se às outras analo- gias a do porte, sendo ambas arvores altas da matta que attingem, segundo a estimação de Spruce, 100 pés inglezes de altura. A H. apiculata foi descoberta por Spruce no alto Rio Negro ('S. Carlos) não tendo sido cólleccionado desde aquelle - tempo. Como para a H. lutea, Spruce é positivo na affirma- ção que esta especie serve para extracção de borracha. Não se sabe nada de positivo sobre a qualidade da borracha fornecida pelas duas especies H. lutea e H. apicu- lata, mas é de presumir que ella seja inferior à borracha fornecida pela H. Benthamiana, que entre todas as especies do alto Rio Negroseria a melhor, segundo informações rece- bidas de pessõa fidedigna. 5. Hevea cuneata Hub. Insisti já, nas « Observações » ( Bol. III p. 357 nota 2), sobre a probabilidade da identidade da H. lutea var. cuneata com a H. peruviana Lechler (apud Benth. et Hook, Gen. plant. HI p. 290) da qual eu tinha examinado um especi- Especies do genero Hevea 627 men proveniente de S. Galvan (leg. Lechler ). Tomando em conta a distribuição larga da H. cuneata como ella resulta das explorações de Ule e das minhas proprias, não tenho mais duvida que ella seja realmente identica com a H. pe- ruviana. Não hesitaria eu por conseguinte de substituir o meu nome especifico pelo de Lechler, apezar da descripção muito deficiente de Bentham e Hooker, se não fosse a circumstan- cia que uma Fevea peruviana já appareceu na obra de Au- blet, onde este nome, provavelmente por engano, foi attribuido à figura de H. guyanensis. Julgo portanto mais conveniente substituir o nome de H. perwviana pelo de H. cuneata. Descrevi esta especie primeiro como variedade cuneata de H. lutea, naturalmente não por causa do nome vulgar ( Shiringa amarilla ), como parece suppôr o Sr. Ule (I p. 9. annotação ), mas considerando as analogias multiplas que a nossa especie apresenta com a H. lutea. Caso que a minha supposição, aliás fundada na controntação de exemplares authenticos, se confirme e que a nossa planta seja realmente identica com a H. peruviana Lechl., não haverá mais duvida que ella pertence realmente ao grupo das Lutece, sendo mesmo tão proximo parente da H. lwtea que Hemsley, que teve occasião de confrontal:a com especimens authenticos desta especie, não duvidou em consideral-a como perten- cendo ao mesmo grupo especifico. Não seria por conseguinte descabido de conserval-a como variedade de H. lutea, e absolutamente não concordo com as observações de Ule a este respeito (I p. 9. II p. 666 nota). (*) Em vista das figuras de Hemsley (1. c. pl. 2574, fig. 11-14) e conforme à praxe adoptada por mim na separa- ção das outras especies de Hevea, julgo entretanto mais (*) Devo confessar que escapou-me o nexo logico da ultima nota de Ule. A observação: « Uberhaupt kann man mit einiger Sicherheit die Hevea-Arten bei der grossen Verânderlichkeit der Formen nicht nach den Blattern bestimmen », é alias em directa opposição com o procedimento usado no citado trabalho (II), onde as especies H. Spruceana, H. disco- lor e H. pauciflora estão figurando, apezar que só foram colleccionadas em estado esteril. 628 Especies do genero Flevea conveniente, de consideral-a como especie distincta, da mesma fórma como a H. apreulata. Pelas folhas relativamente grandes e completamente elabras, a HF. cuneuta approxima-se da HH. lutea, distinguin- do-se muito bem pelos estigmas sesseis. Por este caracter e pelo numero das antheras, que segundo Bentham e Hooker não seria superior: a 5, a H. cuneata parece ser, na serie Lutee, a especie que maior affinidade têm com a secção Euhevea. Encontrei a HH. cuneata, que é uma arvore grande como H. lutea e HH. apiculata, em estado esteril (*) no Cerro de Canchahuaya, entre 300 e 500 m, e no Pampa del Sacra- mento (1898), onde ella é chamada «jebe amarillo » ou « shiringa amarilla » ou « shiringa del Cerro ». Depois Ule achou-a, tambem em estado esteril, no alto rio Juruá ( 1901 ), onde ella é chamada «itaúba » (**) ou « seringa verme- lha », e no Cerro de Escaler (a 800 m). Em 1904 encontrei esta mesma especie na terra firme do medio e do alto Purús, onde ella é chamada « seringa vermelha » como no Juruá, sendo o nome de « itaúba » me- nos empregado, A area geographica da H. cuneata parece por conse- guinte ser muito extensa. Entre os rios Huallaga e Ucayali dum lado e as cabeceiras dos rios Javary, Juruá e Purús do outro ella parece ser a especie mais commum do genero Hevea. Da mesma fórma ella accompanha estes rios na terra firme ate o seu curso médio, não se sabendo exactamente se a sua area chega ao Norte até o rio Solimões. A Veste, a sua area extende-se até o rio Madeira e mesmo além: ao (*) Após um exame reiterado das capsulas ainda não maduras mas já abertas que trouxe do Pampa del Sacramento, cheguei á convicção que ellas pertencem a duas especies differentes, sendo as sementes que des- crevi nas minhas « Observações » provavelmente de uma outra especie que a H. cuneata. As capsulas que eu vi da « seringueira vermelha » do rio Purús, são geralmente mais pequenas que as de H. brasiliensis e excavadas no apice. As sementes são comprimidas lateralmente e muito curtas, de ma- neira que a sua fórma geral é quasi cubica, (**) Ule escreve Itaubá, o que não é conforme à pronuncia correcta da palavra. Especies do genero Hevea 629 menos Ule diz ter encontrado esta especie no rio Marmellos e a sua existencia em outros logares ao longo da margem direita do Madeira me foi confirmada por seringueiros dignos de fé. N'este rio distinguem-se porém duas « seringueiras vermelhas », uma, cujo producto é considerado tão bom que o da «seringueira branca » e que é provavelmente a pro- pria HH. brasiliensis ou uma variedade d'esta especie, e ou- tra, chamada tambem « itaúba », cujo producto é menos es- timado, o que concorda com a H. cuneata. Supponho que mais a leste a HH. cuneata seja substituida pela H. brasilien- sis e suas variedades. Ao Sul, os limites da area de H. cu- neata são tambem ainda mal definidas; é entretanto prova- vel que ella accompanhe a H. brasirensis na bacia dos for- madores do rio Madeira, crescendo junto com esta especie, mas preferindo a terra firme, até os seus limites meridio- naes, substituindo-a pouco a pouco em proporção que os terrenos vão se elevando, principalmente do lado das Cor- dilheiras. A «siringa amarilla » do Beni (vide Cibot in « Jour- nal d'agriculture tropicale» 1902 p. 341) não parece ser outra senão a HH. cuneata, e as seringueiras que o Sr. Plane encontrou no planalto dos Incas no rio Marcapatá, a 650 m de altitude, pertenciam, segundo a descripção d'este au- tor (4. Plane, Le Pérou 1903, p. 145) provavelmente tam- bem a esta especie. O mesmo autor diz (p. 197) da gomma preparada d'estas arvores, que ella é « plus compacte et plus cassante que le « pará » de provenance du Madeira, du Purús et du Juruá ou du Javary, mais elle est bien supérieure à la qua- lite fraca du Rio Negro provenant de la seringa torrada ». Com efeito, a borracha preparada de H. cuneata, com- quanto seja inferior à da H. brasihensis, é ainda de quali- dade bôa. E' verdade que no Purús e Juruá, onde nas var- zeas cresce a HH. brasiliensis que fornece um producto me- lhor e mais abundante, a H. cuneata é considerada com um certo desprezo, sendo o seu producto classificado em Ma- nãos como « borracha fraca » No Perú oriental o producto da «seringa amarilla » é tambem classificada como «jébe débil ». Entretanto não duvido, e isto me foi confirmado por 630 Especies do genero Hevea diversas pessoas entendidas, que esta inferioridade deve ser attribuida em parte às misturas frequentes do seu leite (que e algum tanto grosso e escasso ) com o leite de outras ar- vores ( por exemplo do genero Saprum) de leite mais abun- dante mas de qualidade inferior. Não tenho visto amostras maiores e defumadas de borracha pura de H. cuneata, mas as amostras pequenas que obtive com o Dr. Marmier no Cerro de Canchahuaya me fazem suppôr que a H. cuneata é capaz de fornecer uma borracha de bôa qualidade. (*) JH. O disco das flores masculinas é mais desenvolvido, sendo formado por uma especie de collarinho mais ou me- nos membranaceo e recortado na margem em fórma de es-. trella. Hevea Benthamiana Muell. Arg. Esta especie que Spruce descobriu no rio Uaupés e no alto Rio Negro (S. Carlos), se parece pelas inflorescen- cias ferrugineas e pela estructura geral das flôres com a H. lutea (**), sendo porém differente pelas folhas relativa- mente largas, que nos seus contornos e na sua consistencia reproduzem quasi as folhas de H. discolor ou talvez ainda mais exactamente as da H. Spruceana, abstracção feita do indumento que é mais fino e diffuso e de côr ruiva. Recebi em 1904 algumas folhas d'esta especie do Sr. Alfredo Stockman, que viu esta arvore numa viagem ao Orenoco e que teve ensejo de convencer-se que ella fornece a melhor borracha no rio Siapa e no alto Orenoco. Assim se comprehende que esta especie seja cultivada na Venezuela (vide Hemsley 1. c. pl. 2571). (*) A pequena amostra que Ule mandou examinar em Hamburgo, foi avaliada em Q marcos, sendo o preço da borracha fina de 11 marcos. (E) Hemsley (1. e: pl. 2571) indica 10 antheras; entretanto nos desenhos da estampa póde-se ver, que o verticillo superior das antheras é incompleto. Mueller Arg. na « Flora brasiliensis» fala de 8 antheras. Especies do genero. Hlevea 631 7. Hevea Duckei Hub. nov. spec. Arbor mediocris coma densa, ramulis crassiusculis stria- tis, squamis ad basin innovationum crassis obtusis. Petiolus gracilis glabrescens ( 4-5 cm longus ) apice parum distincte biglandulosus (superficie glandulosa vix 0,5 mm diametro metiente ), petiolulis vix 2 mm longis supra excavatis. Fo- lola pro genere brevia late obovata (5—6,5 em X 3-4 cm), apice breviter obtuseque acuminata, basi acuta haud distincte cuneata, rigide membranacea, sicca utrinque sordide olivacea supra nitidula nervis venisque argute prominulis, subtus pallidiora plus minus dense fulvo-pilosae vel levi- ter sericeo-nitentia. Paniculae ad basin innovationum nume- rose foliis paulo breviores, dense fulvo-tomentelle. Flores masculini subsessiles vel brevissime (vix 0,5 mm) pedicel- lati, alabastris ovoideis acuminatis, periantho ad 2/3 longr- tudinis in lacinias ovato-triangulares longe acutatos diviso pallide fulvo-tomentello, disco annulari membranaceo margine dentato, antheris 6—Q irregulariter biverticillatis, columna staminali nigricante glabra, supra stumina sacpius longius acuteque producta. Flores femineci maiores longius pedicellati ovario parce fulvo-tomentello stigmatibus brevissime pedicel- latis. Hab. ad flumen Yapura inferius, leg. Adolph Ducke, E IX 1004: Esta especie approxima-se bastante da H. Benthamiana pela estructura das flóres masculinas, que em ambas as es- pecies são quasi sesseis e não longamente pedicelladas como na especie seguinte. Os botões floraes são porém muito me- nos delgados que na H. Benlhamiana e as folhas muito me- nores. A H. Duckei occupa evidentemente, sob muitos pon- tos de vista, uma posição intermediaria entre a H. Bentha- mina e a H. paludosa Ule. Segundo communicação verbal do Sr. Ducke, entomologo do Museu Goeldi, ao qual deve- mos a descoberta d'esta especie nova, a H. Duckei é uma arvore relativamente pequena (8-—10 m, mais ou menos) de copa densa. No baixo Yapurá, onde ella foi descoberta, ella é cortada e fornece borracha, porém de qualidade inferior. 632 Especies do genero Hevea 8. Hevea paludosa Ule. Descoberta por Ule em logares pantanosos perto de Iquitos (XI 1901), esta especie se distingue, segundo este autor, da H. lutea (da qualelleapproxima-a com razão) pela ponta mais comprida das folhas, pelas flores menores e pelo disco da flôr masculina bem desenvolvido e quinquelobulado, e emfim pelos estigmas sesseis (*). Ainda mais de que com a H. lutea, a H. paludosa mos- tra um parentesco estreito com a HH. Ducke, da qual ella se distingue pelas folhas glabras e mais estreitas, pelas in- florescencias quasi glabras e pelas flores masculinas menores, longamente pedicelladas. Segundo as indicações do seu descobridor (II p. 666), a H. paludosa é uma arvore bastante grande (15—30 m), “que é raras vezes explorada para a producção de borracha. UI. Divisões do disco da flor masculina alongadas, quasi filiformes, muitas vezes bifidas no apice. 9. Hevea rigidifolia Muell. Arg. Pertencendo indubitavelmente à serie Lutee, pela dis- posição das antheres, a H. migidifoha occupa entretanto, sob diversos pontos de vista, uma posição especial n'este grupo. Pelas suas folhas coriaceas, de margem recurvada, ella se distingue facilmente de todas as outras especies do genero. As inflorescencias lembram muito as de H. brasiliensis, pela pubescencia esbranquiçada e pelos botões das flôóres mas- culinas acuminados. Emfim as divisões do disco da flôr mas- culina são aqui mais desenvolvidas do que em qualquer outra especie de Hevea. *) Quanto ao ultimo caracter, ja se pode ver na figura publica- da por Ule (II p. 668 fig. 1 F) que os estigmas são brevemente pedicel- lados, o que é conforme à realidade, como eu pude convencer-me pelo exa- me dos especimens distribuidos sob o n. 6.260. Especies do genero Hevea 633 A H. mgidfoha, descoberta por Spruce no rio Uau- pés, foi colleccionada ultimamente pelo Sr. Ad. Ducke (*), à beira dum igarape, perto de Barcellos, no medio Rio Ne- gro. Segundo o testemunho de Spruce, a arvore teria ape- nas 30 pés de altura, os especimens do Sr. Ducke porém foram colleccionados numa arvore que tinha ao menos 20 m de altura. Esta arvore foi designada ao Sr. Ducke como fornecendo borracha bôa. .—. «e Serie Intermediae. As especies que compóem esta serie, occupam uma posição intermediaria entre a serie Luteae e a serie Obtu- siflorae. Da primeira serie ellas têm a forma dos botões flo- raes masculinos, da segunda serie a disposição das antheras em dois verticillos completos. 10. Hevea minor Hemsley. Esta especie, colleccionada por Spruce nas mattas bai- xas do Casiquiare, foi descripta por Hemsley segundo um exemplar não florido, mas com uma capsula apparentemen- te madura e já aberta, cujas sementes entretanto ainda não eram completamente formadas, sendo brancas e sem man- chas. Isto explica-se pelo facto, alias já observado por mim na H. brasihensis e outras especies, que os fructos colligi- dos antes da maturidade podem madurecer exteriormente e mesmo abrir-se, sem que as sementes attingem o seu desen- volvimento normal. Comparando o desenho da capsula aberta na estampa de Hemsley (1. c. pl. 2572) com as capsulas abertas de ou- tras especies, vê-se logo, que ella devia ser relativamente pontuda. Pelas capsulas pontudas, como tambem pelas pe- quenas folhas exactamente lanceoladas ellipticas (não obova- das) e glabras, a H. microphylla Ule (II p. 669), colleccio- (*) Nos especimens colleccionados pelo Sr. Ducke, as folhas ainda não são- coriaceas, sendo muito novas. 634 Especies do genero Hevea nada por Ule nas ilhas do medio Rio Negro sob o nome de «seringa tambaqui», assim como a FHevea sp., chamada « barriguda », encontrada pelo mesmo em exemplares estereis nos mesmos logares, concordam com a H. minor Hemsley. Que a FHevea chamada «seringa barriguda» no Rio Negro, tem tambem capsulas pontudas, resulta das figuras publicadas por Jumelle (Les plantes à caoutchouc et à gutta 1903 p. 124 fig. 16) que representam dois typos de fructos pertencendo à «seringa barriguda» do rio Caurés. Apezar que sobre a fórma das sementes existem ainda certas divergencias entre estes autores (divergencias que eu só posso me explicar pelo facto que as sementes examina- das ainda não eram maduras). não seria impossivel que todas estas capsulas pertencessem à mesma especie. Quanto à forma mais ou menos alongada da capsula, a figura de Hemsley é a figura 16 A de Jumelle representariam dois extremos, emquanto que a fig. 16 B de Jumelle represen- taria mais ou menos o typo normal. Os fructos de Hevea microphylla Ule mostram entretanto uma particularidade, que os outros fructos acima citados não parecem ter, a das suturas parietaes proeminentes em forma de costas longitu- dinaes. Este caracter, junto com as dimensões muito reduzi- das e o aspecto um pouco differente das folhas, induzem-me a considerar a H. microphylla por ora como especie distincta. Recentemente recebi do Sr. Ducke especimens d'uma Hevea, com flores e um fructo ainda não maduro, que foram colleccionados no igapó perto de Barcellos, e que com toda a probabilidade pertencem à HH. minor, permittindo assim precisar melhor a posição systematica d'esta especie. Segun- do estes especimens a descripção da H. minor pode-se con- ceber da forma seguinte: Ramuli graciles fuscescentes striati. Folia pro genere minora undique glaberrima, graciliter petiolata petiolo folio- lis breviore vel subaequilongo terete, apice valide bivel triglanduloso, glandulis atris saepe plus minus confluentibus figuram reniformem efformantibus. Foltola graciliter (5—10 mm ) petiolata elliptico-lanceolata (5—15 X 2—5 em ) utrin- que attenuata, basi satis abrupte breviterque in petiolum acu- minata apice distincte acuminata (acumine interdum elon- Especies do genero Hevea 635 gato at plerumque obtusiusculo ), firme membranacea vel demum subcoriacea, sicca fulvescentia vel fuscescentia et novissima tantum distincte discolora (subtus glaucescentia ), adulta subconcolora. Stipulce (valde deciduze) lanceolato-su- bulata tenues. Pamicule e basi innovationum numerosa bre- ves (petiolis foliorum inferiorum breviores) subsimplices, flore Q singulo terminatae, caeterum flores masculinos in ra- mulis brevibus gerentes, glabrae. Flores masculina breviter pedicellati lutei extus albido-tomentell vel subsericei, clausi ovoideo-lanceolati (4 mm longi, 2 mm crassi) longe acumi- nati (loborum apicibus contortis), aperti 5—6 mm longi, 6-—7 mm diametro metientes, periantho ad 2/3 longitudinis in lacinias ovato-lanceolatas longe acutissimeque acuminatas diviso, disco e glandulis 5 ovatis acuminalisque composito, columna staminali elongata glabra apice breviter trifida, an- theris 10 biverticillatis, verticillis demum distantibus anthe- risque irregulariter insertis. Hlores feminei masculinis paulo maiores basin versus glabri, disco e squamis bilobis cum staminodiis alternantibus composito, ovario subglabro mn sty- lum brevem attenuato. Capsula plus minus ovordea basi tri- gastrica wumbonata apice distincte acuta vel: acuminata. Esta especie apresenta por conseguinte, além da pe- quenez das partes vegetativas e das capsulas pontudas, ainda outras particularidades, como por exemplo o disco composto de 5 glandulas relativamente bem desenvolvidas e acuminadas, a columna staminal alongada e trifida no apice e o estylo bem desenvolvido (tão comprido como o da H. lutea ). A capsula ainda não madura colleccionada pelo Sr. Ducke tem, como a segunda capsula figurada por Ju- melle, só duas divisões, concordando bastante com esta figura, com a differença só que o apice d'ella, que parece formado por um tecido menos resistente, é um pouco es- mirrado pela dessiccação. Se a minha supposição da identidade especifica da H. minor e H. spec. « barriguda » é fundada, a especie em questão tem uma distribuição bastante larga, do medio Rio Negro até o Casiquiare. Não se sabe com certeza, se no Ca- siquiare a H. minor fornece borracha ou não. Em Barcellos 636 Especies do genero Hevea affirmaram ao Sr. Ducke que esta arvore fornecia bôa borracha. 11. Hevea microphylila Ule. Como já indiquei, esta especie parece ser proxima pa- rente da especie precedente, o que me induz a cital-a aqui, apezar que as suas flores ainda não são conhecidas. Segun- do a descripção de Ule e os especimens distribuidos por este autor, a MH. microphylla têm as folhas ainda menores que a H. minor, distinguindo-se por esta particularidade de todas as outras especies do genero. O fructo é não menos original, pontudo, quasi trialado, e além d'iisto com costas elevadas correspondendo às suturas parietaes. Segundo Ule, as sementes são ovoideas e indistinctamente quadrangulares, cinzentas, com manchas irregulares. A H. microphylla foi descoberta por Ule nas ilhas do medio Rio Negro. Ella dá, segundo este autor, um latex pouco abundante, mas apto para a preparação de borracha. 12. Hevea Randiana Hub. nov. spec. Arbor mediocris, ramis oblique erectis, coma densa. Folia ad apices ramulorum congesta, magnitudine valde va- riabilia, petiolo gracili apice 2—4-glanduloso glandulis sae- pius plus minus confluentibus, petiolulis 5—10 mm longis. Foliola petiolo semper longiora, angustiora quam in AH. brasihenst semperque exacte elliptico - lanceolata ( vulgo 10—20X3-—5 cm, interdum multo maiora), utrinque an- gustata apice longiuscule acutegue acuminata supra laete vi- ridia nervis lutescentibus, subtus pallidiora vix glaucescentia, sicca plus minus subconcolora lutescentia opaca, rigide mem- branacea, nervis secundariis utrinsecus circa 20 (circa 16 in H. brasibiensi). Inflorescentine iis H. brasiliensis similes sed minus ramosae, alabastris acuminatis albido-tomentellis. Flo- res masculini iis H. brasiliensis subconformes breviter pedi- cellati, periantho ad 2/3 longitudinis in lacinias ovato-lanceo- Pá Especies do genero Hevea 637 latas longe acuminatas diviso, disco obsoleto annulari, co- lumna staminali 2 mm longa, antheris 10 biverticellatis sae- pe irregulariter insertis, columna suprastaminali breviter pubescente. Flores feminei masculinis haud multo maiores periantho ad 2/3 longitudinis in lacinias minus acuminatas diviso, disco obsoleto, ovario glabro apice subrnbonato, stylo brevi distincto. Capsula trigastrica basi apiceque umbonata seminibus oblongis paulo a ventre compressis subcylindricis (2.5 X1,8>X 1,5 cm) cinerascentibus nigro-maculatis. A H. Randiana constitue um «trait-d'union» notavel entre algumas especies do Rio Negro, principalmente a H. minor, da qual ella se approxima pelas folhas e pelo ovario glabro e munido d'um estylo bem desenvolvido (*), ea H. brasiliensis, da qual ella se -approxima pela estructura quasi identica das flores masculinas. Recebi um exemplar vivo d'esta especie do conhecido horticultor Eduard Rand, que o tinha trazido d'uma das suas viagens, provavelmente de Pebas (Perú). A arvore, que em 8 annos attingiu a altura de 10 m mais ou menos, tem uma copa densa, formada por numerosos galhos delgados que partem do tronco em angulos agudos. Ella já deu flóres e fructos no anno passado. Ainda não fiz experiencias com o seu latex. Pelo aspecto das folhas supponho, que a Hevea sp. « sarapó », colleecionada por Ule no Rio Negro (S. Joaquim n.º 6023) pertença talvez à H. Randiana. Hevea brasiliensis Mucll. Arg. Não quero dar aqui uma descripção d'esta especie que é a mais conhecida e provavelmente também a mais varia- vel de todas as especies do genero Hevea. Propondo-me tra- tar em outra occasião da variabilidade de H. brasiliensis, (*) A passagem do ovario ao estylo é entretanto differente nas duas especies, sendo muito mais abrupta na H, Randiana que na H. minor, o que é em concordancia com a fórma das respectivas capsulas. O fructo da H. Randiana concordaria alias com o de H. nitida, segundo a descrip- ção na « Flora brasiliensis », e com o da H. paludosa, segundo a figura de Wler( rp 668. fig. 1. G ): 638 Especies do genero Hevea limitar-me-hei a resumir o mais brevemente possivel a mi- nha opinião a respeito. Já fiz ver, em publicação anterior (Bol. UI p. 350) o que penso a respeito das variedades latifoa e angustifolia de Ule. A experiencia me mostrou que eu tinha razão, e posso agora affirmar que na vida da mesma arvore a fórma latifora e angr btifolia podem representar meras phases de evolução, sendo o apparecimento da fórma angustifolia o indicio d'uma certa maturidade da arvore, manifestando-se geralmente depois d'um certo tempo de repoiso (por exem- plo, depois da primeira queda total das folhas), com a, for- mação de muitos galhos accessorios (das quaes muitos são destinados a cahirem mais tarde), emquanto que a fórma latifolia representa o estado juvenil da arvore, com alonga- mentos repetidos de poucos galhos mestres, estado juvenil que níiio só precede sempre a phase angustifoha, mas tam- bem alterna com ella, segundo as necessidades da arvore, per- sestindo ds vezes durante annos, para depois ser substituido de novo pela phase angustifolia. Isto naturalmente não exclue que certas arvores podem ter uma tendencia geral de desenvolver folhas um pouco mais estreitas ou mais largas que a media, mas tenho a certeza que estas « fórmas », além de serem puramente individuaes, em comparação com as variações acima apontadas têm me- nos importancia na natureza. Me parece portanto indicado de abandonar as variedades angustifoha e latifolia, princi- palmente quando se fala de arvores cujas differentes phases de desenvolvimento não são conhecidas. Na sua penultima publicação (1 p. 8), Ule identifica as suas fórmas (aqui elle não fala mais de variedades ) latifoha e angustifolia com a « seringueira branca » e « se- ringueira preta » dos seringueiros. Não posso concordar com esta maneira de ver, porque os termos empregados pelos seringueiros são fundados na côr da casca, a fórma das fo- lhas entrando só em segundo logar em consideração, de maneira que por exemplo ha exemplares de « seringueira branca » de folhas pequenas e estreitas, como tive occasião de ver à beira do rio Arama. Não posso deixar de falar aqui d'uma nota publicada As DA “A Especies do genero Hevea 639 no « Journal d' Agriculture tropicale » (1904 p. 137), onde a questão da seringueira branca e preta é tratada segundo as observações de Eugêne Poisson, que na occasião da sua estadia no Pará tirou photographias das duas variedades. A sua figura da « seringueira preta ». de folhas longamente pecioladas e de foliolos escurós brevemente acuminados e dirigidas para cima, com certeza não pertence à H. brasi- bensts. Se eu tivesse de classifical-a não hesitaria em const- deralla como representando uma legitima H. guyanensis. Como esta especie fornece um producto inferior ao da H. brasiliensis, as informações recebidas pelo Sr. E. Poisson a respeito d'esta arvore seriam naturalmente em grande parte inexactas, o que aliás não deve admirar quem conhece a grande difficuldade de obter n'este paiz informações segu- ras a respeito das arvores de borracha. Emquanto que assim a possibilidade de reconhecer na « seringueira preta» uma variedade distincta da H. brasi- hwensis, fica cada vez mais problematica, a questão é um pouco differente para a «seringueira vermelha » do baixo Amazonas, que cresce na terra firme e que, segundo os se- ringueiros, se distinguiria da « seringueira branca » pela casca vermelha e o latex menos abundante (*). Esta arvore é, no seu aspecto geral, nas folhas e nas inflorescencias, tão semelhante à H. brasiliensis, que considerei-a primeiro também como simples variação de habitação ( Standortsform ) d'esta. Com- parando porém minuciosamente os exemplares de « serin- gueira vermelha » colleccionados na terra firme das visinhan- ças de Belem, com a verdadeira « seringueira branca » da vargem, de diversas proveniencias, achei um caracter diffe- rencial bem pronunciado e quanto posso julgar constante: a existencia dum estylo embora curto mas bem destacado. Me parece que este caracter, bem que elle seja d'uma certa importancia no genero Hevea, por si só naturalmente não (*) As informações dos seringueiros acerca da «seringueira verme- lha» são sempre bastante vagas, e não duvido que sob este nome correm individuos de diversas especies, posto que crescem na terra firme (beira dos igarapés, etc.) e que dão pouco leite. As observações acima consignadas re- ferem-se às arvores de «seringueira vermelha » que encontrei nas visinhan- ças de Belem. 640 Especies do genero Fevea justifica uma separação especifica e prefiro portanto con- siderar a nossa «seringueira vermelha » como simples va- riedade da IH. brasiliensis, cuja diagnose póde conceber-se da seguinte fórma : | H. brasiliensis var. stylosa Hub. nov. var. differt a typo stylo brevi evoluto. Os especimens de HH. brasiliensis var. stylosa que existem no Herbario Amazonico, têm folhas relativamente largas e um pouco mais grossas que na media de H. brasi- hensis. Nas inflorescencias e na estructura das flores mascu- linas não posso descobrir nenhuma differença com o typo. E' possivel que as sementes apresentem algum caracter dis- tinctivo. Ao menos achei que as poucas sementes que col- leccionei na matta de Murutucú, d'uma outra arvore que aquella que forneceu as flôres, tinham uma fórma bem dif- ferente da fórma habitual das sementes de H. brasilensis não sendo achatadas na direcção dorsiventral, mas compri- midas literalmente, como as sementes da « seringueira ver- melha » do alto Purús, distinguindo-se d'estas por outros ca- racteres bem pronunciados. Sobre a distribuição geographica da H. brasivensis, o Sr. Ule deu, no seu folheto I, um mapa, que d'uma maneira geral, resume bem os conhecimentos actuaes sobre a area d'esta especie mais importante sob o ponto de vista indus- trial. Posso por conseguinte limitar-me a indicação dos pon- tos, onde ha divergencia entre as indicações de Ule e as minhas proprias informações. Na região costeira a area da H. brasiliensis é mais ex- tensa de ambos os lados da foz do Amazonas do que se acha indicado no mapa de Ule. Ao Norte do Amazonas, a seringueira branca acompanha os rios Jary, Cajary, Maracá e ou- tros a uma grande distancia do Amazonas, crescendo no seu curso superior não só nas varzeas, mas também na terra firme e estendendo-se n'uma zona bastante larga ao NE., até o Amapá, onde ella é explorada, e talvez ainda mais longe. Ao Sul do baixo Amazonas. a H brasiliensis acha-se ao longo da costa atlantica, no curso medio e superior dos pe- quenos rios e na terra firme até o Gurupy, sendo distribuido esporadicamente. Mesmo na parte NW do Estado do Ma- Especies do genero Hevea 641 ranhão me consta haver explorações importantes de serin- gaes formados pela « seringueira vermelha ». No rio Capim existem seringaes de vargem até o 3º degrão.de latitude S mais ou menos, seguindo-se uma zona onde a « seringueira branca » falta completamente, apparecendo só aqui e acolá a « serin gueira vermelha », até que na bacia superior do rio Ara randeua, já perto da confluencia do Tocantins e Araguaya apparecem de novo seringaes extensos formados pela serin- gueira branca. Um phenomeno semelhante se dá com o rio (Guamá e seus affluentes, segundo informações que recebi ultimamente. Quanto ao rio Araguaya, não me consta a pre- sença da Hevea brasiliensis acima da confluencia com o Tocantins. Da foz do rio Xingú para cima, até Manãos. a H. brasi- Wensis é quasi completamente excluida das margens do Ama- zonas, sendo porém encontrada em alguns affluentes ao Norte, como por exemplo no Trombetas e no Jamundá, onde O. Coudreau descobriu seringaes bastante ricos formados pela seringueira branca (cf. Coudreau, Voyage à la Ma- puera p. 160-161), e ao Sul, mas sempre a uma certa dis- tancia do rio principal. Assim no Tapajoz, onde o Sr. Ule indica uma zona larga de H. brasiliensis da foz do rio para cima, esta especie apparece só pouco abaixo de Itaituba. O mesmo phenomeno parece se dar na foz do rio Madeira. No Purús também os seringaes são raros da foz até Guaja- ratuba. Quanto à bacia superior do rio Madeira, me parece que no Mamoré e (Guaporé e seus affluentes a area da H. brasiliensis é um pouco exagerada no mappa de Ule, e mesmo nas bacias do Beni e Madre de Dios é provavel que uma parte da area attribuida a esta especie pertença antes à H. cuneata ou à «seringa morada ». Da mesma fór- ma julgo exagerada a area attribuida à H. brasiliensis no valle do rio Ucayali. Não me consta que esta especie seja ali espalhada além do setimo degrão de latitude S. Já fiz ver em publicações anteriores (cf. Boletim HI p. 363) que a H. brasiliensis não é limitada ás planicies alluvionarias dos grandes rios, e que ella se acha também na terra firme, porém geralmente em logares saturados de 642 Especies do genero Hevea humidade durante uma parte do anno, Isto eu disse princi- palmente em relação ao baixo Amazonas, onde eu tinha di- versas vezes o ensejo de fazer esta observação. As arvores que crescem na terra firme pertencem geralmente ( não sem- pre) à variedade « vermelha », que produz pouco leite (*), e como ellas tem uma distribuição bastante esporadica, não deve se admirar que ellas são pouco exploradas. Nos planaltos cobertos de mattas que se extendem entre Tapajoz e Madeira e cujas partes destacadas e situa- das no meio dos campos receberam do povo a designação de serras, a H. brasiliensis parece crescer com mais fre- quencia. Ule que pelo rio Marmellos penetrou até perto d'estas « serras », ainda tem alguma duvida, se estas serin- gueiras das «serras» pertencem realmente à H. brasilien- ses ou se ellas representam uma variedade ou especie dis- tincta. Se as indicações recentemente publicadas por H.-A. Wickham, que foi o agente do governo inglez para a introducção da H. brasiltensis nas Indias orientaes (1876-77), são exactas (** ) ese realmente as suas Sementes foram col- ligidas nos planaltos entre Tapajós e Madeira, então a prova da identidade d'aquellas seringueiras com a HH. brasiliensis não seria mais para fazer, tendo as arvores introduzidas nas Indias orientaes pelo intermedio de Wickham, todos os ca- racteres da verdadeira H. brasiliensis. Uma outra questão, tambem ventilada por Ule, é, se as arvores que nas terras firmes das bacias superiores do Juruá, Purús, Acre e Madeira fornecem a borracha de bôa qualidade, pertencem tambem a H. brasiliensis ou não. No alto Purús encontrei, na terra firme de Monte Verde, a H. brasiliensis crescendo em companhia da HH. cuneala, a beira d'um riacho, e não duvido que semelhante penetração das areas das duas especies se produze ainda mais frequente- (*) Sobre a qualidade da borracha fabricada com o latex da «se- ringueira vermelha », do baixo Amazonas, as opiniões são unanimes em consideral-a como inferior. (**) Ha com certeza alguma exageração na affirmação de Wickham, que as Heveas das beiras dos rios seriam apenas exemplares doentios pro- venientes de sementes aportadas dos terrenos mais altos, onde se achariam as verdadeiras florestas de seringueiras. Epecies do genero Hevea 643 mente nas cabeceiras dos rios, onde os valles são mais es- treitos. Se sabe entretanto (cf. Cibot in « Journal d'agricul- ture tropicale » 1902 p. 341 e 355), que no rio Beni se dis- tinguem 3 especies de Hevrea: a «siringa blanca» (que é pro- vavelmente a H. brasiliensis) a «siringa amarilla» (que deve ser a H. cuneata) e a «siringa morada». Esta ultima, que segundo Cibot fornece mais latex que as duas outras, e provavelmente a especie da qual Ule fala, e que n'este caso seria provavelmente nova para a sciencia. Infelizmente não sabemos quasi nada sobre a area geo- graphica d'esta especie, senão que fica ao sul da area prin- cipal de H. brasiliensis e H. cuneata. ass Serie Obtusiflorae. Dois verticillos completos de antheras, faltando às ve- zes uma ou outra das antheras, cuja inserção póde ser bas- tante variavel e irregular. As inflorescencias são grandes e cobertas em toda a sua extensão d'um feltro de pellos es- branquiçados. Ellas nascem geralmente na extremidade dos galhos folhudos, bastante grossos, dum botão formado por numerosas escamas pontudas e subpersistentes, continuando o crescimento . do galho só depois do desenvolvimento com- pleto das inflorescencias. Os botões das flóres masculinas são ovoides obtusos, o periantho é, na sua parte inferior ao menos, duma côr de rosa bastante pronunciada. As especies deste grupo são arvores pequenas ou de tamanho medio, que fornecem borracha de inferior qualidade (com excepção da H. discolor, segundo o Sr. Ule). 14. Hevea Spruceana Muell. Arg. Esta especie distingue-se pelas suas flôres roxas, que são maiores que em todas as outras especies do genero. As folhas são grandes, obovadas, com ponta geralmente bem destacada mas curta e obtusa. Emquanto que o autor da especie, Mueller Arg., des- creve as folhas como sendo pubescentes ao longo das ner- 644 Especies do genero Hevea vuras da face inferior (o que se dá em todos os exemplares examinados por mim), Hemsley as indica como completa- mente glabras. Alem da região de Santarem, onde ella foi descoberta por Spruce, a H. Spruceana foi tambem assigna- lada no baixo Madeira e no medio rio Juruá ( Ule). e se- gundo informações fidedignas ella seria espalhada até o curso medio de quasi todos affluentes meridionaes do alto Amazo- nas. crescendo de preferencia em terrenos arenosos e humi- dos, principalmente à beira dos lagos interiores. Em conse- quencia d'isto. Ule considera esta especie como tendo uma distribuição limitada à margem direita do Amazonas. Entretanto eu já mostrei, na minha primeira nota so- bre as Heveas ( Boletim II p. 252, e tambem p. 506) que esta especie, cujo nome vulgar « seringueira barriguda » tornei então pela primeira vez conhecido, se acha represen- tada ao norte do Amazonas, à margem do rio Maracá. Desde então recebi especimens de Obidos, Rio Arrayolos e ultimamente de Barcellos, no Rio Negro (*). Segundo O. Coudreau ( Voyage au Cuminá p. 180).a «seringueira bar- riguda » (e neste caso não pode-se tratar senão da H. Spruceana ) existe tambem no rio Cuminá, affluente do rio Trombetas. A Hevea Spruceana pertence por conseguinte não só á margem direita do Amaxonas, mas ella tem tambem uma distribuição larga ao norte do Rio Mar. Estou informado que apezar da qualidade inferior do latex da H. Spruceana, não só este é as vezes misturado com o leite da H. brasiliensis, mas que elle tambem serve em certos casos para producção de uma borracha fraca. (*) Estes ultimos especimens, que concordam no aspecto geral e no tamanho e fórma das folhas e das flóres com os exemplares colligidos em outras locaiidades, distinguem-se porém por alguns caracteres intimos, que necessitam a creação d'uma nova variedade: Hevea Spruceana var. tridentata Hub. nov. var. differt a typo columna suprastaminali apice tridentata vel distincte trifida, staminodiis in flore feminino evolutis. Excepção feita do tamanho, que é conforme ao das flôres da H. Spru- ceana, as flôres d'esta variedade correspondem exactamente aos desenhos analyticos da figura da H. discolor publicada na « Flora brasiliensis », po- rém não as figuras publicadas por Hemsley (pl. 2573, 18-21) e Ule (II p. 11 fig. 2). Especies do genero Hevea 645 15. Hevea similis Hemsley. Pelas flôres bastante grandes, esta especie approxi- ma-se da H. Spruceana, emquanto que as folhas assemelham-se mais das de MH. discolor. Hemsley (1. c. pl. 2576) descre- veu a H. similis segundo um especimen colleccionado ha mais de um seculo pelo naturalista portuguez Alexandre Rodriguez Ferreira, e provavelmente proveniente d'um dos affluentes occidentaes do rio Negro. Em 1904, recebi a mes- ma especie da margem esquerda do baixo rio Yapurá (leg. Ducke), onde ella é chamada « seringueira barriguda », não sendo alli explorada para o fabrico da borracha. Não fossem as folhas totalmente differentes na sua fórma, esta especie poderia à primeira vista com effeito ser confundida com a « seringueira barriguda » typica (HH. Spru- ceana ). Os nossos especimens se parecem aliás um pouco mais com a HH. Spruceana do que a planta figurada por Hemsley, tendo o ovario completamente pubescente e as folhas um pouco mais largas, de mancira que ellas quasi poderiam considerar-se como termo intermedio entre as duas especies. Julgo porém que a fórma ovada (e não obovada ) dos fo- liolos, a sua pubescencia mais diffusa na face inferior, as flôóres um pouco menores que na H. Spruceana e principal- mente a fórma do periantho das flóres femininas (cujos lo- bulos são muito mais curtos que na H. Spruceana, são cara- cteres sufficientes para distinguir esta especie da H. Spruceana e mostrar a sua affinidade mais estreita como a HH. discolor, afinidade que achou a sua expressão no nome especifico desta arvore. 16. Hevea discolor Muell. Arg. Da H. Spruceana esta especie distingue-se, segundo o testemunho de diversos autores, pelas folhas menos obova- das, obtusas na base, esbranquiçadas e pubescentes em toda a face inferior, pelas flóres menores e pelo ovario mais ou menos glabro. Ella já foi colleccionada por Martius no baixo 646 Especies do genero Hevea Rio Negro, onde ella já então era conhecida como fornece- dora de borracha (cf. Flora Brasiliensis ). Spruce encontrou-a tambem nas visinhanças de Manãos. Segundo Mueller Arg. ( Flora Brasiliensis). a H. discolor foi tambem colleccionada por Riedel no baixo rio Madeira ( Borba ). Ella pertence por conseguinte às especies communs a ambas as margens do Amazonas. Ule, que no medio rio Negro (S. Joaquim ) colleccionou especimens estereis que elle attribue a esta espe- cie, considera-a como productor principal da borracha no rio Negro, e cita a H. discolor entre as especies representa- das só ao-norte do Amazonas. Não sei de onde o Sr. Ule tem as suas informações sobre a distribuição da H. discolor no rio Branco, Uaupés e alto Rio Negro nem tão pouco porque elle indica no seu mapa esta especie como crescendo no rio Yapura, não tendo sido, ao que me consta, colleccionado nenhum especimen n'estas regiões. Do rio Yapurá, que aliás não é, como pensa o Sr. Ule, um rio d'agua preta no mesmo sentido que o Rio Negro (cf. J. Reindl, Die schwarzen Fliisse Siúdamerikas p. 63), recebi duas outras especies de Hevea: H. Duckei Hub., que serve alli para extracção de borracha, e H. si- milis, que não é explorada. Isto com certeza não é uma prova da ausencia da H. discolor n'aquelle rio, mas me pa- rece que até melhor informação não convem admittir a priori a existencia da H. discolor no rio Yapurá.. 17. Hevea confusa Hemsley. Segundo Hemsley, esta especie distinguiria-se das espe- cies apparentadas pelas folhas glabras obovado-lanceoladas ou oblanceoladas, grossas e coriaceas, pelas flôres peque- nas e pelo ovario glabro. Como a H. discolor tambem tem as flóres pequenas e o ovario glabro, fica apenas a fórma e consistencia coriacea das folhas como caracter distinctivo bem pronunciado, ao qual é preciso juntar ainda a fórma do disco na flôr feminina. que consiste, segundo o desenho de Hemsley (pl. 2574 fig. 3). d'uma especie de collarinho mem- branaceo dentado na margem. A. H. confusa foi colleccionada: em diversos pontos da Especies do genero Hevea 647 Guyana ingleza ( Mazaruni e Essequibo) e é cultivada no Horto botanico de Trinidad. E a unica especie do genero até aqui conhecida que ainda não foi encontrada na região amazonica ( abstracção feita de H. Kunthiana ). 18. Hevea pauciflora Muell. Arg. Esta especie, descoberta por Spruce no rio Uaupés, é com certeza proxima parente da H. Spruceana, da qual ella se distingue pelas folhas completamente glabras, pelas paniculas mais estreitas e pelas glandulas mais desenvolvi- das e acuminadas do disco da flôr masculina. A H. pauci- flora tambem foi colleccionada no rio Mazaruni, na Guyana ingleza. Segundo Ule, (1 p. 12, II 669) ella se acharia tam- bem nas varzeas e nos igapós da terra firme das visinhan- ças de Manãos, onde ella seria às vezes explorada. Não posso furtar-me à evidencia que entre H. Spru- ceana, seumilis, discolor, confusa e pauciflora existem relações multiplas, que fazem suppôr que a separação d'estas espe- cies seja de data relativamente recente e que ellas com a -mesma razão poderiam considerar-se como meras variedades duma especie muito polymorpha. Tomando em conta as variações na fórma, tamanho, consistencia e pubescencia das folhas assim como no tamanho e estructura das flóres que observei na pequena serie de exemplares de HH. Spruceana que possuimos de diversos pontos da margem esquerda do Amazonas, devo forçosamente admittir que, produzindo-se variações semelhantes nas outras especies citadas d'este grupo, será difficillimo fixar limites exactos entre ellas. Em todo caso o grupo das Obtusiflore póde ser con- siderado, depois do grupo Huhevea, como a subdivisão mais natural no genero -FHevea. Species incerto sedis : 19. Hevea nitida Muell. Arg. Como as flóres d'esta especie ainda não são conheci- 648 Especies do genero Flevea das, não é possivel decidir se ella pertence à serie Lutee ou à serie Iutermedice, com as quaes ella parece ter affini- dades quast iguaes. Miiller Arg. considera-a como proxima parente de H. rigidifolia e H. brasiliensis ( Flora brasilien- sis ). Ainda mais ella approxima-se de H. Randiana, princi- palmente pela fórma das folhas e das capsulas. Parece entretanto, que na H. metida as folhas são mais coriaceas e lustrosas, com nervures menos prominentes que na H. Ramdiana. cujas folhas não são lustrosas quando seccas e têm nervuras distinctamente prominentes de ambos os lados da folha. Desde que Martius achou esta especie no Solimões e no Amazonas, ella não foi encontrada por outro collector, e tambem ainda não se sabe se ella fornece uma borracha utilisavel ou não. 20. Hevea viridis Hub. Como a especie precedente, da qual ella se distingue pelas folhas oblongo-obovadas (não oblongo-ellipticas ) e obtusamente acuminadas, que, ao menos nos exemplares as- sombrados, são de contextura quasi herbacea, a HF. wiridis tem provavelmente de entrar numa das series Luteae ou Intermediae, mas a sua posição systematica será duvidosa emquanto que não se achem as suas flóres. Ao que me consta esta especie, que dá uma borracha fraca, ainda não foi encontrada fóra da região do baixo Huallaga e Ucayali, onde eu encontrei-a em 18098. 21. Hevea Kunthiana Hub. Este nome foi dado aos especimens esteris d'uma He- vea que Humboldt e Bompland descobriram no alto Orenoco e que Kunth confundia com a H. brasiliensis (cf. Boletim WI p. 348-49). Apezar que esta especie parece fornecer borracha, ainda se sabe muito pouco d'ella. Em todo caso ella é dif- ferente da H. Benthamiana que fornece a melhor borracha naquellas regiões. Especies do genero Hevea 649 Conclusões Das 21 especies de Hevea citadas n'esta enumeração, será talvez mais tarde necessario reunir diversas em espe- cies melhor definidas. Do outro lado não é impossivel que uma ou outra das variedades novas tenha de considerar-se mais tarde como especie distincta, Alem d'isto é provavel que ainda se descubram diversas especies novas, que serão capazes de modificar um pouco a divisão systematica d'este genero. Por hora os materiaes de herbario das especies de Hevea ainda são muito raros e geralmente incompletos (o que se explica pela grande difficuldade de colleccional-os) e o estudo systematico do genero póde considerar-se como achando-se ainda na phase dos principios. Não deve-se esquecer que de muitas, senão de quasi todas as especies até hoje descriptas, os especimens existen- tes nos herbarios e que serviram para as descripções, pro- “vêm apenas d'um unico individuo, que por conseguinte as descripções especificas são na verdade descripções indivi- duaes. Mas nem isso é realmente o caso, porque um indivi- duo póde, segundo a sua idade, mostrar variações impor- tantes no tamanho, fórma e consistencia das folhas, na dis- tribuição e desenvolvimento das inflorescencias, etc. Como muitas arvores das regiões equatoriaes, as especies de Hevea mostram às vezes a particularidade d'uma florescencia em dois periodos annuaes, com certas differenças na disposição e no tamanho das inflorescencias e das folhas que as acompanham, differenças que naturalmente escapam a quem estuda especimens colleccionados n'uma epoca determinada do anno. Da mesma fórma as inflorescencias revestem cara- cteres muito diversos segundo que ellas se acham no prin- cipio ou no fim da anthese. Disto tudo resulta que raras Vezes os especimens de duas especies serão realmente com- paraveis. Alem d'isto o numero das flóres femininas é quasi sempre muito reduzido n'um só especimen, de maneira que não é possivel examinar um numero sufficiente d'estas flóres para eliminar todas as duvidas (sendo os staminodios e 650 Especies do genero Hlevea lobulos do disco muitas vezes roidos por pequenos insectos ). Por isso a estructura intima da flôr feminina talvez ainda não é tão utilizada para o estudo systematico d'este genero, como devia sel-o. Ainda mais raro é encontrar nos herbarios fructos e sementes que com segurança podem attribuir-se a uma espe- cie determinada. Até aqui conheço de vista apenas os fru- ctos e sementes das especies seguintes: H. brasiliensis, Spruccana, Randiana, cuneata, discolor, minor, guyanensis (? ). Entretanto é provavel, que com um conhecimento mais com- pleto dos fructos, teremos um valioso auxilio para a descri- minação methodica das especies de Hevea. Apezar de todas estas difficuldades e imperfeições, me parece que a subdivisão do genero Herea é nas suas linhas geraes sufficientemente estabelecida para permittir a diseus- são da distribuição geografica das especies nas suas rela- ções com as suas affinidades reciprocas. Tratando da Secção Euhevea, cujas duas especies até aqui conhecidas têm uma affinidade muito estreita entre si. já insisti sobre a sua distribuição excentrica, fazendo en- trever que talvez achar-se-ão etapas intermediarias entre a H. guyanensis, que parece ser uma especie essencialmente httoral-atlantica, e a H. migra, que até aqui só foi encon- trada nos confins do .Peru. Em opposição directa com este grupo peripherico, um outro tambem muito natural, a serie Obtusifloree, tém a sua séde no centro da região amazonica, ao redor da con- fluencia do Solimões e do Rio Negro. Alia H. discolor ex- tende-se até alguma distancia ao longo do Rio Negro ao Norte e do Madeira ao Sul, irradiando a H. similis a Oeste ( Yapurá), a H. Spruceana ao Sul ( Juruá, Purús, Madeira ) a I Este (ambas as margens do baixo Amazonas) e ao Norte ( Barcellos ), emquanto que a H. pauciflora estende-se até o Uaupés ao Noroeste e à Guyana ingleza ao Norte. A H. con- fusa occupa a parte mais septentrional da area d'este grupo. A serie Lutee, tambem bastante natural (com excep- ção apenas da H. rigidifolia que talvez deveria formar um grupo distincto), tem a sua area a [Oeste da serie prece- dente. No alto rio Negro e Uaupés temos não menos de 4 espe- RT MAs dad Especies do genero FHevea 651 cies deste grupo: H. lutea, apiculata, Benlhamiana e rigi- dafolra, irradiando a penultima ao N. até o alto Orenoco, a ultima a IE. até Barcellos. H. Drcher. do baixo rio Yapurá. e H. paludosa, de Iquitos, continvam a area do grupo ao S. até o rio Solimões, alem do qual se acha a area extensa de H. cuneata. Não se sabe com certeza, se a area d'esta especie confina directamente com a area geral da serie Lu- tee, mas me parece provavel que a H. cuneata em um ou outro ponto avance ate o rio Solimões ou Marahon, ou mesmo se estenda mais ao N.. ao longo das vertentes orien- taes da cordilheira dos Andes. Até aqui esta especie é o unico representante da serie Lutee ao S. do Amazonas, mas em compensação a sua area é provavelmente mais extensa que a de qualquer das outras especies d'este grupo. Quanto à serie Intermedice, ella tambem tem dois representantes localisados ao Norte do Amazonas, no Rio Ne- gro (H. minor e microphylla ), mas estas especies são tão differentes da H. brasiliensis, que ellas não podem conside- rar-se como legitimos substitutos d'esta especie ao N. do Amazonas. Talvez este papel deve antes attribuir-se à H. Randiana que mostra um parentesco muito mais estreito com a HH. brasilvensis. Esta ultima especie tem a arca mais vasta de todas as especies do genero Hevea, occupando quasi toda a parte meridional da area do genero e irradiando em diversos lo- gares, principalmente no baixo Amazonas, nos terrenos da margem esquerda. Como se vê, todas as subdivisões naturaes que podem-se distinguir dentro do genero Hevea extendem a sua area de ambos os lados do Amazonas. possuindo em geral a maior variedade de especies ao Norte deste rio, emquanto que as especies de maior area se acham ao Sul. Quatro especies (H. brasiliensis, guyanensis, Spruceana e discolor ) acham-se em ambas as margens do Amazonas. O centro de dispersão do genero deve-se procurar pro- vavelmente na região do Rio Negro, onde todas as subdivi- sões ( com excepção talvez de Hwhevea) têm os seus repre- sentantes. que alem disto ainda mostram certos caracteres proeminentes e originaes (o estylo desenvolvido em diversas especies, o disco muito desenvolvido na HH. rgidifotia, e nas flôres femininas de H. minor, a capsula pontuda na HH. microphylla e minor, etc. ). 652 Vespidas sociaes do Pará HI Sobre as Vespidas sociaes do Pará (*) (1.º SUPPLEMENTO) Por ADOLPHO DUCKE ENTOMOLOGISTA DO MUSEU ———— e (com quatro estampas e uma figura no texto ) No meu ultimo artigo sobre as Vespidas ( Boletim do Museu Goeldi vol. IV, pag. 317) tratei principalmente da systematica destes interessantes insectos, e no presente es- tudo — eliminadas já as principaes difficuldades na distincção das especies — occupar-me-ei em primeiro logar de sua bio- logia. No curto espaço de um anno os nossos conhecimentos sobre as Vespidas sulamericanas augmentaram de maneira extraordinaria:; se nada, ou pelo menos nada de valor, tem sido publicado sobre este assumpto durante 50 annos, pos- suimos agora dois trabalhos, que, alem de valorosas contri- buições systematicas e principalmente biologicas, nos infor- mam finalmente sobre a distribuição geographica das espe- cies, que até agora jazia totalmente desconhecida. Estes tra- balhos são : J. Brethes, « Contribución al estudio de los Vespidos sudame- ricanos y especialmente argentinos ». Anales del Museo nacional de Buenos Aires, 1903, serie II, tom. II, pag. 15-39. Rodolpho von Ihering, « As Vespidas sociaes do Brazil ». Revista do Museu Paulista, 1904, Vol. VI, pag. 97-309. Alem destas tenho de citar ainda as seguintes publi- cações : (*) Veja-se Boletim do Museu Goeldi, Vol. IV, pag. 317-374. Vespidas sociaes do Pará 659 Buysson, R. du, « Espéces nouvelles d'hyménoptêres ». Bul- letin de la Société entomologique de France, 1904, pag. 144-146. Buysson, R. du, « Sur quelques hymcnoptêres d'Amérique ». Bull. Soc. ent. France, 1905, pag. 9-10. Dalla Torre, K, W. von, « Fam. Vespidae» em: Wytsman, Genera insectorum, 1904, fasc. 19. Ducke, AÀ., «Nouvelles contributions à la connaissance des Vespides sociales de | Amérique du Sud ». Revue d'En- tomologie, 1905, par. 2? (**), Ihering, R. von, « Contribution a Vetude des Vespides ». Annal, Soc. entom. France, L-XXII, pag. 144-155. Ihering R. von, «Zur Frage nach dem Ursprung der Staa- tenbildung bei den socialen Hymenopteren ». Zool, An- zeiger, 1003, pag. 113-118. Schrottky, C.. « Neue argentinische Hymenopteren ». Anales del Museo nacional de Buenos Aires, 1902. serie III, tom. I. pag. 91-117. Schrottky, C., « Beitrag zur Kenntnis einiger sudamerikanis- cher Hymenopteren ». Allgemeine Zeitschrift fiir Ento- mologie, 1904, vol. IX, pag. 344-349. Schulze W. A., « Materialien zu ciner Hymenopterenfauna der westindischen Inseln. Sitzungb. bayer. Akad. der Wis- senschaften, 1903, vol. XXXIII. pag. 451-488. Schulz W. À., « Hymenopteren Amazoniens ». Sitzungsb. ba- ver. Akad, der Wissenschaften, 1904, vol. XXXII, pag. 757-832. Se ainda no meu ultimo artigo alludi às difficuldades da identificação de algumas especies, hoje felizmente devo dizer, que a systematica das Vespidas está melhor esclare- (**) Deste artigo, recentemente publicado, não recebi ainda as copias e por conseguinte não posso citar o numero das paginas! 654 Vespidas sociaes do Pará cida que a de qualquer outra familia de hymenopteros da America do Sul. Poucos são os grupos compostos de espe- cies mal delimitadas (como por exemplo o da Polybia occi- dentalis e do Megacanthopus surinamensis ); na maioria dos casos encontramos bons caracteres plasticos ( infelizmente ignorados pela mór parte dos autores! ), devido aos quaes a classificação destes insectos tão monotonos na coloração torna-se muito mais facil que por exemplo nas Apidas ( abe- lhas sociaes e solitarias ), onde a variedade das córes é im- mensa ! A divisão desta familia em generos parecia até agora muito difficil; a causa d'isso era unicamente o insufficiente conhecimento da biologia (principalmente da nidificação), na qual a monographia classica de Saussure apresenta mui- tas lacunas. Foi assim que este excellente autor separou de Polybia o genero Synoeca (cujo ninho elle conhecia ) dei- xando no emtanto unidos aquellas os actuaes generos Cly- pearia e Metapolybia, os quaes têm a nidificação semelhante à das Synoecas, tendo porém morphologicamente muito menos affinidade com as Polybias do que a estas têm as Synoecas. Se Saussure tivesse conhecido a nidificação de Clypearia e Metapolybia, decerto não teria incluido estas especies no ge- nero Polybia! — O genero Chartergus ( segundo Saussure ) é composto de especies biologicamente heterogeneas, apenas superficialmente parecidas no facies; os Megacanthopus fazem parte de Polybia, quando estes dois generos, já morphologi- camente bem distinctos, têm a biologia extremamente di- versa ! Estas circumstancias induziram-me a tentar uma nova classificação dos generos, ( bastante differente da de Saussure ) baseada sobre a coincidencia dos caracteres morphologicos e dos factos biologicos, e que, publicada no citado artigo na « Revue d'Entomologie », teve a approvação do Snr. R. du Buwysson, incontestavelmente a primeira autoridade neste ramo da entomologia. Os generos (conforme a nova classificação ), cujas es- pecies mais frequentemente se encontram nas flóres, são: Nectarina, Pseudochartergus, Chartergus, Synoeca, Polistes ( este foi erroneamente indicado como frequentando pouco as fló- res!), Protopolybia e Tatua; de Polybia temos de citar ahi principalmente as especies do primeiro grupo, menos as que PT =: e PAES paso Vespidas sociaes do Pará 655 constróem ninhos de barro. As especies de todos os outros generos só se observam casualmente nas flôres. Quanto à distribuição geographica das Vespidas na America do Sul sabemos agora que a Amazonia é a região mais rica em especies; no Estado de São Paulo ( segundo as observações de R. von Ihering ) faltam já muitissimas das especies da nossa região, e poucas outras, proprias do Bra- zil meridional, vêm a substituil-as; a fauna da Republica Argentina é muito mais pobre ainda (naturalmente exceptuado o extremo Norte já quasi tropical, que ainda está inexplo- rado!) e não possúe especies, que não se encontrem tam- bem no Sul do Brazil. A Patagonia (do Rio Negro para o Sul) e o Chile são caracterizados pela ausencia total de Vespidas sociaes — segundo as interessantes informações do Snr. Brethes do Museu Nacional de Buenos Aires. — O nu- mero das especies “por mim observadas na Amazonia é de 103 (das quaes 91 existem no Estado do Pará): R. von Ihering cita do Estado de S. Paulo e regiões limitrophes ( Pa- raná, Minas) perto de 40 especies, Brethes para a Republica Argentina sómente 18. — Nada sabemos ainda sobre a fauna de Vespidas das regiões ao Norte da Amazonia ( Venezuela, Colombia), da America central e do Mexico, porem prova- velmente tambem naquella direcção diminuirá o numero das especies gradualmente, com a crescente distancia do equa- dor. — Notaveis são algumas especies de Polistes, prin- cipalmente P. canadensis, que supporta todos os climas, desde a America do Norte até a Republica Argentina. A familia das Vespidas é. como agora chegamos a vêr, essencialmente tropical, attingindo seu maior desenvolvimento em especies nas terras do equador. — Este facto constitue uma profunda differença em contraste com as familias Api- de (abelhas sociaes e solitarias) e Sphegide, cuja riqueza em fórmas é maxima na zona subtropical e nas partes quen- tes da zona temperada, decrescendo dahi tanto na direcção do equador 'como na dos polos: o Estado de S. Paulo por exemplo e a Republica Argentina têm maior numero de es- pecies de Apidas que a Amazonia. 656 Vespidas sociaes do Pará Chave analytica para classificar os generos sul-americanos de Vespidas (*) Ocellos muito grandes, pouco menos grossos que a base do flagello das antennas. Quanto ao resto os insectos assemelham-se ás Polybias Apoica Lep. Ocellos de tamanho normal, muito menos grossos que o diametro da base do flagello . . .. 2 O terceiro e quarto articulo dos tarsos do segun- do e terceiro par de pernas tem o lóbulo do lado interno prolongado em fórma de um es- pinho muito comprido . . cc. ne EA O lóbulo interior dos tarsos é igual ao Ed se houver differença, é minima. As tibias do segundo par de pernas têm sempre dois espi- nhos terminaes .. MR As tibias do segundo par E só um espinho ter- minal. . . . . . . MonacANTHOCNEMIS Ducke. As mesmas tibias têm dois espinhos , . vc. 4 Ocellos postos n'um triangulo muito alongado: corpo lateralmente comprimido . MiscHocyTTARUS Sauss. Ocellos postos num triangulo equilatero ou mais largo que alto; abdomen deprimido MEGAcAaNTHOPUS Ducke. O musculo extensor do 1.º segmento abdominal sãe de uma muito comprida e estreita valvula que tem a fórma de uma fenda, com a base ponteaguda: esse segmento é conico ou infun- dibuliforme. .. a pda o BoasEES o Ra O musculo extensor do 1.º segmento sãe de uma valvula arredondada; e quando esta valvula é alongada, tem ao menos a base redonda e não ponteaguda. O primeiro segmento abdominal (*) Publicada em lingua franceza no citado artigo na «Revue d'Entomologie». E” A pm sairia a a | 10. Vespidas sociaes do Pará forma um pedunculo ou é completamente sessil, nunca, porém, tendo a fórma de cône ou de funil RN a O nadé: ts Scutellum verticalmente superposto ao metanoto. Segmento abdominal 1.º sessil, muito pequeno, segmento 2.º muito grande Scutellum e metanotum no mesmo plano; o pri- meiro é às vezes mais alto que o segundo, mas nunca lhe é verticalmente superposto. Clipeo muito mais alto que largo; sua margem apical horizontalmente truncada no centro. Tempora excessivamente estreitos Clipeo nunca mais alto que largo; sua margem apical é no centro ponteaguda ou termina em dois denticulos. Tempora variaveis em largura, porém não excessivamente estreitos Abdomen sessil Pad A re Abdemen distinctamente De tineulsto: O metano- tum tem uma zona basal transversal muito es- treita e depois desta é abrupto; o angulo da sua margem apical é obtuso . Corpo fortemente deprimido. Metanotum Sião: sua margem apical em angulo obtuso 657 6. NEcTARINA Shuck. 7: 8. 10. SyYNOECOIDES Ducke O corpo não é mais deprimido, que na maior parte das especies desta familia. O metanotum é, de- pois de uma zona basal horizontal muito es- treita, verticalmente abrupto; sua margem api- cal penetra na base do segmento mediano em fórma de angulo agudo. PseuDOCHARTERGUS Ducke. O peciolo do abdomen é formado sómente pela primeira metade do primeiro segmento, tendo a segunda metade deste segmento já a mesma largura que a base do segmento 2.º — Centro da zona basal transversal do metanotum com nen tubereulo; =. 00 o ur CHARTERGINUS O primeiro segmento todo inteiro constitue o pe- Fox. 658 LES 13. 14. 1 Vespidas sociaes do Pará ciolo do abdomen. cujo 2.º segmento se dilata subitamente. Metanotum sem tuberculo. . .. — Crypearia Sauss. A margem apical do metanotum penetra em angulo agudo no centro da base do segmento mediano. Especies pequenas. . . . . ProropoLyBia Ducke. Margem apical do metanotum simplesmente trun- cada ou apenas com angulo obtuso. . . .. 12. Os palpos labiaes possuem, proximo à extremidade. um pello grosso, comprido, curvado. de aspe- cto muito característico - 4-7 PC Palpos labiaes sem esse pello característico, sem- pre compostos de 4 articulos muito distinctos: palpos maxillares com 6 articulos. . ... MH. Palpos maxillares sómente com 5 articulos. palpos labiaes com 3. Abdomen com peciolo comprido. Lerromeres Moeb. Palpos maxillares com 6 artículos, os labiaes 4 ou 3 articulados. sendo neste ultimo caso o 4.º articulo completamente soldado com o terceiro. Abdomen sessil, o primeiro segmento às vezes muito mais estreito que o segundo, porem sem- pre muito curto. . . . ParaAcHARTERGUS R. v. Ih. Abdomen francamente sessil, tendo o 1.º segmento no apice a mesma largura que a base do 2.º: este segmento por conseguinte não é subita- mente dilatado. Metanotum depois de uma zona basal horizontal, estreita, no centro tuberculada, verticalmente abrupto . . . . (CHarTERGUS Lep. Abdomen mais ou menos peciolado, sendo o 1.º segmento até o apice muito mais estreito que a base do 2.º: por conseguinte o segmento 2.º subitamente dilatado. Metanotum sem tuberculo, não separado em uma zona basal horizontal e uma parte posterior vertical. . .....5 Primeiro segmento abdominal quasi do compri- mento do thorax, muito fino, lateralmente bi- tuberculado no terço posterior, tendo ao apice (um pouco giboso ) a largura da 7.2 parte da E Vespidas sociaes do Pará 659 do 2.º segmento. Clipeo terminado por um pe- ueno deite. Sor os Metarorxera Ducke. —. Primeiro segmento abdominal menos comprido que no genero precedente, não bituberculado no terço posterior, às vezes depois da metade im posco -anguloso aos lados. io ese o TO. 16. Primeiro segmento abdominal lincar, em cima deprimido, no apice apenas mui pouco mais largo que na base: o resto do abdomen em fórma de coração: o 2.º segmento lógo à base subitamente mui dilatado. Clipeo terminado por Endeninenigas a Caras RE Esp] 2. SATA: SAVE: —. Primeiro segmento abdominal em gráu variavel, mas sempre distinctamente dilatado da base ao apice, cuja largura não é inferior à quarta parte do maximum da largura do 2.º segmento. Cli- pec ao apice arredondado ou unidentado. . . 7. 17. Abdomen, do 3.º segmento em deante, compri- mido; conico ao apice: o 1.º segmento um pouco depois da metade com pequenos angulos lateraes, o 2.º segmento subitamente dilatado. SYNOECA Sauss. —. Abdomen deprimido, desde o 2.º segmento de lónma: “mais: “ou menos oval... «q.» PoLyBia Sep. Classificação das Vespidas sulamericanas conforme a sua biologia, principalmente a nidificação. (*) 1. Especies moncgamas (**) (constituem nos climas frios colonias que duiam só um verão ): cada nova colonia é fundada por uma femea fecun- dada só. Ninho sem involucro, consistindo em um só favo, fixado por um pedunculo ao obje- (*) Publicada em francez no citado artigo na « Revue d'Entomo- logie » menos as notas! (*) Veja-se os trabalhos de R. von Ihering. 660 Vespidas sociaes do Pará cto que lhe serve de appoio. Insectos diurnos. Generos Polistes, Megacanthopus, Mischocyttarus e Monacanthocnemis, caracterizados: o primeiro pela fórma do 1.º segmento abdominal e da valvula do musculo extensor: os demais pelos espinhos dos tarsos. | —, —Especies polygamas (**) (formam em toda a parte, onde existem, colonias de duração não deter- minada, independentes das estações do anno ): a nova colonia é fundada por um enxame. Ne- nhuma destas especies possue os caracteres acima “mencionados. ss Po 2. O ninho consiste num só favo e não tem involu- cro; o fundo d'este ninho é extraordinariamente espesso, fixando-se directamente, sem pedunculo, a um galho. Insectos nocturnos. Genero Ápoica, caracterizado pelos grandes ocellos. —. Ninho com involucro ou sem tal; neste ultimo caso existem varios andares de favos, ou, ha- vendo um só destes, elle é fixado por mais de um pedunculo ao objecto que lhe serve de base. Insectos diurnos, com os ocellos normaes. 3. 3. O ninho não possúe um fundo proprio, de maneira que tanto o involucro como o favo são colla- dos directamente ao objecto que lhe serve de supporte: por conseguinte o favo não tem pe- dunculo. Ninhos sem andares, mas capazes de accrescimento por meio de construcções addi- cionaes lateraes (***). Generos Metapolybia, Clypearia e Synoeca. E' interessante que estes insectos, embora não tenham grande affinidade nos outros caracteres morphologicos, mostram uma certa semelhança no aspecto do abdomen, (**) Estas construcções são às vezes meio sobrepostas ao involu- cro da parte primiti.a do ninho ( conforme um caso observado por KR, von Ihbering na Synoeca cvanea F.) — Um ninho de Synoeca irina, por mim observado, era inte namente dividido por uma especie de parede, coberta de cellulas em ambos os lados! ES ST A 4 pcs Se e Vespidas sociaes do Pará 661 que é corditorme do segmento 2 em deante, sendo este segmento muito dilatado. —. O ninho inteiro, ou pelo menos os favos, são pe- dunculados, nunca collados directamente ao objecto a que se prende o ninho. . .. 4. 4. Ninhos « phragmocyttaros » ( segundo a ter minolo- gia de Saussure): a porção terminal do ninho, depois de ter feito parte do involucro durante algum tempo, é coberta de cellulas e transfor- ma-se assim em favo; assim estes ninhos aug- mentam constantemente por meio da construc- ção de novos andares. . .. de —. -Ninhos, no caso em que elles têm lcio: « de- finidos» (termo de Saussure), incapazes de augmentar por meio de andares, porque ne- nhuma parte do involucro serve jámais para suppantan celulas. vt ulya 6. 5. Ninhos phragmocyttaros perfeitos: o Edo é do directamente (não por meio de pedunculos) ao galho que os sustenta, e todos os andares com- municam entre si por meio de furos, tendo po-: rem o ninho um só furo para entrada e sahida dos habitantes. Generos Nectarina, Chartergus, Tatua, e as especies do primeiro grupo prin- cipal de Polybia. —. Ninhos phragmocyttaros imperfeitos: o fundo é fixado ao objecto que lhe serve de base, por varios pedicellos em fórma de pequenas co- lumnas: os andares, muito irregulares na post- ção, não communicam entre si, mas cada um tem seu proprio furo de sahida para o exte- rior. Genero Protopolybia. (*) (*) Os ninhos ainda novos muitas vezes não têm sequer vestigios de andares e poderiam ser confundidos com os de Charterginus, se estes ultimos não se caracterizassem immediatamente pelo unico e grosso pedunculo, e a posição basal do furo de sahida. A nidificação de Protopolybia rufiventris constitue uma excepção ; veja-se a nota seguinte! 662 Vespidas sociaes do Pará 6. E' o fundo do ninho — fixado ao objecto que lhe serve de base por meio de um grosso pedunculo central — que supporta o unico favo e o in- volucro; furo de sahida situado ao lado basal do ninho. Genero Charterginus. —. O involucro ou é fixado directamente ao objecto que supporta o ninho, ou faltas ab Ona to Os favos são juxtapostos (*). O involucro Sae sempre, o furo de sahida é lateral. Genero Leipomeles e o primeiro grupo de Paracharter- gus. Em todas estas especies o quarto articulo dos palpos labiaes é rudimentar ou falta. —, Favos sobrepostos 1. nus o S. O involucro existe; o furo de sahida é central. Es- pecies até agora conhecidas: Polybia infernalis (Campullaria ) e Parachartergus luctuosus. —. Não ha involucro. O genero Pseudochartergus e as especies (cuja nidificação é conhecida) do 2.º grupo principal de Polybia, menos P. infernalis. Genero 1., Vectarina Shuck. ( Caba R. v. lh) — Sobre este genero será publicado em breve um trabalho monographico do snr. R du Buysson, e por isso seria inutil tratar aqui demoradamente da classificação de suas especies, muito variaveis e de difficil delimitação. Das 5 especies já citadas para o Estado do Pará colleccionei scutellaris, augus- ti (**) e smith: tambem no Estado do Amazonas, a primeira em Teffé e Barcellos, as outras em Teffé, Tabatinga e no baixo Japurá; em Tabatinga na fronteira do Perú desco- =] (*) Ou existe um só, o que às vezes da-se em Leipomeles. O ni- nho de Protopolybia rufiventris (especie que constitue uma transição aos P, aracharter gus ) tem o involucro pelo menos em grande parte collado dire- tamente à folha, em que é construido, mas o favo repousa sobre varios pe dicellos. O involucro-é muito fragil, e decerto não é idoneo a supportar andares. (**) O ninho de N. augusti assemelha-se, segundo R. von Ihering, aos de Polybia occidentalis e especies visinhas. Um exemplar, por mim en- contrado em Teffé, parecia-se porém com o ninho de Polybia bifasciata ; como este tinha no grosso o aspero involucro numerosas camaras. — Serão talvez aqui confundidas duas especies differentes? > Vespidas sociues do Pará 663 bri ainda a N. buyssoni Ducke (« Revue d'Entomologie », 1905). A scutellata Spin. (= rufiventris Sauss. ) deve cha- mar-se scutellaris Fab., segundo foi constatado por R. von Iering. N. velutina Spin., encontrada ultimamente tambem em Faro ( Estado do Pará), é variação de N. lecheguana Latr., segundo Du Buysson e R. von Ihering. A N. bilineo- lata var. fasciata R. v. Ih., « Revista Mus. Paul.» VI pag. 112, n.º 5 a. não é variedade de bilineolata, mas de smithi. De N. chartergoides Grib. e R. v. Ih. recebi pela bon- dade do Snr. R. von lhering um exemplar e pude constatar com absoluta certeza tratar-se d'um Pseudochartergus cinctel- lus com o scutellum e metanotum inteiramente pretos. Como porem R. von Ibhering não viu os typos de Gribodo, não é certo, que N. chartergoides R. v. Ih. seja realmente a espe- cie descripta por este autor. Ha todavia grande probabili- dade disso, e chartergoides pode ser eliminada definitivamente do numero das Nectarinas. O nome do genero Nectarina não precisa ser substi- tuido: o nome já anteriormente usado na ornithologia é Nectarinia. Genero 2., Parachartergus R. v. Ih. (== Chartergus auctorum ex parte). — O autor creou este genero sómente para as especies cujos palpos labiaes têm apenas 3 artículos distinctos. Porem muitas especies consideradas até agora como Chartergus, têm o 4.º artigo destes palpos rudimentar, o que prova de maneira evidente que não podem ser sepa- radas genericamente de Parachartergus.. O genero Chartergus, no sentido empregado até agora, é composto de elementos de pouca affinidade morphologica e nenhuma biologica: era um genero puramente artificial. Por isso no meu ultimo ar- tigo na « Revue d'Entomologie » considerei como Parachar- tergus todas aquellas especies do antigo genero Chartergus, que possuem um pello grosso, comprido e curvado antes da extremidade dos palpos labiaes, e que biologicamente são unidas pelo facto de todas constituírem ninhos « stelocyttares calyptodomes » (na terminologia de Saussure); as especies do 3.º e 4.º grupos, cuja nidificação é ainda desconhecida e que morphologicamente differem bastante das dos outros 664 Vespidas sociaes do Pará dois grupos. constituirão talvez generos independentes, caso se verifiquem tambem differenças consideraveis na biologia. Os grupos principaes das especies de Parachartergus serão : 4.º articulo dos palpos labiaes ou 4.º articulo dos palpos labiaes rudimentar ou falta. Mesopleu- muito distincto. ras não separadas em duas par- tes por um sulco. Ninhos « ste- locyttaros laterinidos calypto- domos » ( term. de Saussure ): 1.º GRUPO. ps Mesopleuras sem separação, alem Mesopleuras divididas por um do sulco subalar sem linhas sulco leve porem bem visivel impressas. que vai do sulco subalar ao E angulo inferior do lado do pros notum, como na 2.º divisão de Polybia. Ninhos desconhecidos : 3.º GRUPO. a e ee 1.º segmento abdominal muito 1.º segmento abdominal pequeno, estreito, muito menos largo porem ao apice não muito que o 2.º Ninho desconhecido: menos largo que o 2.º. Ninho 4.º GRUPO. « stelocyttaro rectinido calyp- todomo >»: 2.º GRUPO. O 1.º grupo contem as seguintes especies, por mim observadas neste Estado : 1. Par. bentobuenoi R. v. Ih. (= griseus Fox e Ducke ex parte, não bentobuenoi Ducke, « Revue d'Ento- mologie», 1905). O pello comprido e abundante do abdo- men caracteriza esta especie, no colorido, etc. identica à seguinte. A facha amarella das azas anteriores é de intensi- dade variavel, mas sempre mais fraca que na especie se- guinte. Das localidades citadas no meu ultimo artigo neste « Boletim » referem-se ao Par. bentobuenoi: Belem do Pará e Itaituba; depois encontrei-o ainda no Estado do Amazo- nas em Barcellos e Teffé. — Ninho descripto e figurado por R. von Ihering. Vespidas sociaes do Pará 665 2. Par. fasciipennis Ducke n. sp. (= griseus Fox e Ducke ex parte, = bentobuenoi Ducke, « Revue d' Entomo- logie », 1905 [não R. von Ihering, « Rev. Mus. Paul. » VI, 1904 |). Distingue-se do precedente facilmente pelo abdomen muito menos pilloso, sendo os pellos tambem muito mais curtos, o que da ao abdomen um aspecto mais liso: alem disso a facha das azas anteriores é de um amarello « crême » mais intenso. — Só a QP é conhecida. Das localidades por mim citadas para o griseus refe- re-se à presente especie só Arrayollos. Certo numero de exemplares capturei no cemiterio do forte de Tabatinga, Estado do Amazonas. Quando eu escrevi o meu citado artigo para a « Re- vue d Entomologie », tomei = baseado sómente na descrip- ção — esta especie pelo bentobuenoi R. v. Ih., quando se tratava de uma especie ainda não conhecida ! Pouco depois recebi pela amabilidade do autor um co-typo do verdadeiro bentobuenoi e reconheci meu engano. O ninho é ainda não conhecido e será provavelmente identico aos de bentobuenoi e de amazonensis. 3. Par. apicalis Fabr. — Par. fraternus Gribodo é sómente uma variedade desta especie, como observou R. von lhering e ultimamente constatei tambem eu, tendo colligido fórmas que indubitavelmente constituem transições entre am- bos. Tambem concolor Gribodo é apenas variação, embora ja mais distincta, da presente especie: tenho observado fór- mas intermediarias entre concolor e fraternus. A nidificação (fig. 3) das tres fórmas em questão é absolutamente a mesma. | O typico apicalis foi por mim encontrado em Barcellos ( Estado do Amazonas). A var. fraternus colleccionei em Belem do Pará neste Estado, no baixo Japurá e em Barcel- los no Estado do Amazonas; a var. concolor só possuo de Obidos. O povo do interior conhece todas as variedades pelo nome « mutúca-caba ». Esta especie é uma das mais irrita- veis e aggressivas. 4. Par. colobopterus Web. — Outra especie muito variavel e da qual o fasciatus Fox só é uma variação: vi 666 Vespidas sociaes do Pará todas as transições, desde exemplares com facha branca muito pronunciada nas azas até outros sem vestígio de tal ornamento. A especie smithi é identica com colobopterus, só um pouco mais escura no thorax. Fox. comparando o seu fasciatus ao smithi, diz que áquelle falta o tuberculo do metanotum : mas como nem smithi ( segundo a descripção de Saussure) nem Parachartergus algum possue semelhante tuberculo, é evidente que o autor fez uma confusão com Chartergus globiventris ou Charterginus fulvus. Este ultimo tem forte semelhança com a especie em questão! — O ni- nho é figurado na obra de Moebius. Colleccionado tambem no Estado do Amazonas, em Teffe e no baixo Japurá. 5. Par. ater Sauss. — Especie rara. Ninho ainda não conhecido. No Estado do Amazonas descobri mais uma especie deste grupo: Par. amazonensis Ducke, « Revue d'Entomo- logie », 1905. — “Tendo todos os caracteres do Par. fas- cipennis (*), mesmo na coloração das azas, distingue-se deste facilmente pela côr inteiramente amarellento-ferruginea, como colobopterus. Os pellos do abdomen são compridos e abundantes, como em bentobuenoi (**): o abdomen ( que nas duas especies visinhas é inteiramente opaco ) é bastante lustroso, principalmente no 1.º segmento. ——- & ainda não conhecido. O ninho (fig. 5) é absolutamente igual ao de Par. bentobwenoi, descripto e figurado por R. von Ibering. Nas florestas de Teffé e do baixo Japura. Do 2.º grupo conhecemos até agora uma só especie, o Par. luctuosus Smith. (= laticinctus Ducke). Varia na côr desde exemplares pretos unicolores até outros com abun- dantes desenhos amarellos, e todas estas fórmas se encontram no mesmo ninho. Este foi bem descripto e figurado por R. von Ihering; um bello exemplar, achado nos arredores (*) Devido a confusão das especies 1 e 2 no meu trabalho na « Revue d'Entomologie » está ali escripto bentobuenoi em logar de fascii- pennis. (*) No trabalho citado esta ahi griseus. da! E E à Qd 4 Vespidas sociaes do Pará 667 desta capital, é representado na fig. 4 das nossas estampas. Esta especie é rara, pois alem da capital do Pará conhe- ço-a sómente ainda do baixo Japura, no Estado do Ama- zonas. O 3.º grupo comprehende as especies vespiceps Sauss. e difficilis Ducke, « Revue d'Entomologie ». 1905. Da pri- meira já tratei no meu artigo no « Boletim » de 1904; col- leccionei-a depois tambem no Estado do Amazonas, em Tef- RENO cepimda == dajficilas | Ducke — está exactamente no meio entre o Parach. vespiceps e a Polybia vulgaris Ducke. Estas 3 especies são extraordinariamente parecidas na colo- ração, sómente as fachas amarello-claras das margens api- caes dos segmentos abdominaes são mais largas na Polybia vulgaris que em Parach. vespiceps e difficilis. -— No Par. dif- ficilis o pronoto é mui pouco anguloso (em Par. vespiceps perfeitamenie redondo, em Pol. vulgaris distinctamente an- guloso ): o segmento mediano muito menos abrupto que em Par. vespiceps, mas não quasi horizontal como em Pol. vul- garis; o 1.º segmento abdominal é 1 !/, vez mais comprido que largo (é quasi mais largo que comprido no Par. vespi- ceps, e tem pelo menos 2 vezes mais comprimento que lar- gura na Pol. vulgaris). Os palpos labiaes têm como em Par. vespiceps o pello caractcristico à extremidade do 3.º artículo, o que é decisivo para a posição desta especie no systema; na Polybia vulgaris estes palpos são mais compri- dos e não possuem o pello característico. — Capturei o unico exemplar, 9, do Par. diffcilis no posto fiscal brazi- leiro no rio Oyapoc, na matta. Os ninhos das 2 especies deste grupo permanecem ainda desconhecidos: se elles differirem essencialmente dos dos genuinos Parachartergus, este grupo terá de constituir um genero independente. O 4.º grupo contem sómente o Par. pusillus Ducke ; sua nidificação é desconhecida e sua posição no systema ainda incerta. Devido à estructura dos palpos labiaes esta especie só pode ser reunida aos Parachartergus ; se apresen- tar divergencias notaveis na nidificação, deverá formar um novo genero. 668 Vespidus sociaes do Pará Genero 3., Chartergus Lep. — Este genero no actual sentido distingue-se do precedente: morphologicamente sobre- tudo pelos palpos labiaes sem o pello característico anteapi- cal, sempre distinctamente 4-articulados: biologicamente por seus ninhos phragmocyttaros perfeitos. Das antigas especies de Chartergus só ficam ahi: globiventris e chartarius. Ch. globiventris Sauss. — Colleccionado tambem no Estado do Amazonas: Teffé. — Que a figura 6 na obra ci- tada de Dalla Torre, estampa 6, não representa esta espe- cie, mas o Parachartergus colobopterus, disse-o já no meu tra- balho na «Revue d' Entomologie ». Ch. chartarius Oliv. — Encontrado no Estado do Ama- zonas em Teffé e no baixo Japurá. Genero 4., Pseudochartergus Ducke, «Revue d'Entom.» 1905 (= Charterginus Fox e R. v. Ih. ex parte, = Charter- gus Ducke, «Bol. Mus. Goeldi», 1904 ex parte). — Este genero approxima-se de Chartergus, do qual se distingue: morpholo- gicamente sobretudo pela configuração do clipeo e do meta- noto, e pela pequenez do 1.º segmento abdominal: biologi- camente pelo ninho, que consiste de um só favo, fixado por meio de pedunculos existentes nas superficies inferior e su- perior, no ôco d'uma folha enrolada de palmeira ou de ba- naneira. Pseudochart. cinctellus Fox (= Nectarina chartergoides Gribodo (?), R. von Ihering). Um exemplar obtido pelo sr. R. von Ihering debaixo deste ultimo nome, é Ps. cinctellus sem os desenhos amarellos do scutello e metanoto, como mui- tos ja tenho encontrado no meio dos individuos de coloração normal. As transições são frequentes. N'este Estado é frequente tambem em Obidos: no Es- tado do Amazonas observero em Teffée e no Baixo Japurá. Pseudochart. fuscatus Fox approxima-se muito do pre- cedente, mas é sem duvida especificamente diverso. O ninho não é ainda conhecido, mas é de suppôr, que não será muito differente do de cinctellus. Genero 5., Charterginus Fox (ex parte!) — Se dis- tingue de Pseudochartergus principalmente pela configuração Vespidas socines do Pará 669 do metanotum e pelo 1.º segmento abdominal, pedicellado duma maneira particular. Seus ninhos são tambem singula- res, em fórma de cogumelo pendurados por meio de um grosso pedunculo central de uma folha: consistem de um só favo, collocado na parte central do fundo, e de um largo involucro. O furo de sahida está collocado ao lado basal do ninho. Chartergin. fulvus Fox — Tambem no Es- tado do Amazonas: Tef- fe. R. von Ihering des- creveu e figurou ninhos em mão estado de con- servação: os 4 ninhos desta especie que já pude examinar, têm todos uma fórma he- xagonal caracteristica (fig. 7). Chartergin. huberi Ducke — Esta especie é talvez uma fórma guyanense (embora em geral a fauna hymenopterolo- gica da Guyana não pareça ser outra coisa senão uma con- tinuação da fauna amazonica): além do Oyapoc ( fronteira do Estado do Pará com a Guyana franceza) é conhecida unicamente ainda de La Mana (Guyana franceza). de onde o sr. Du Buysson teve a amabilidade de me mandar um exemplar. Ninho de Ch. Auberi, córte vertical. Genero 6., Clypearia Sauss. — E” facil de conhecer pela fórma do clipeo e do abdomen; lembra na nidificação Synoeca surinama. O ninho, figurado no meu primeiro artigo neste Boletim (estampa 1 fig. 4), — infelizmente um exemplar pequeno, mal conservado e pouco caracteristico! — tem porém o involucro feito de uma massa muito mais fina, e não apresenta as ondulações transversaes tão fortes da citada Synoeca, mas em logar destas apenas umas como que estrias. Da unica especie, Clyp. apicipennis Spin., obtive tam- bem um exemplar de Obidos pelo engenheiro sr. Paulo Le Conte. 70 Vespidas sociaes do Pará Genero 7., Synoecoides Ducke. « Revue d'Entomol. » 1905 — Para que este interessante genero se torne mais conheci- do, reproduzo aqui a descripção publicada na obra citada: Corpus valde depressum, thoracis dorso plano. Clipeus latitudine multum altior, apice truncatus. Tempora valde angusta. Metanotum obliquum, margine basali medio leniter sinuato, apice obtuse angulatum. Abdomen sessile, segmento 1.º brevi, 2.º non repentine dilatato. Este singular genero não se assemelha a nenhuma ou- tra Vespida. Já os caracteres citados na diagnose não per- mittem confundilio com qualquer outra fórma. Os palpos maxillares têm 6, os laliaes 4 articulos distinctos, e estes não possuem o grosso pello anteapical, característico para certos generos. (Ocellos postos num triangulo equilatero. O 1.º segmento abdominal é sessil, quast mais largo que com- prido, tendo ao apice mais de metade da largura maxima do 2.º segmento. O ultimo segmento do abdomen é agudis- simo. Tibias do 2.º par de pernas com 2 esporões; tarsos do 2º e 3º pares, simiplês: S. depressa Ducke, «Revue d'Entomol. », 1905. —Unico- lor nigra, opaca sine sculptura distincta, vix pilosa, sed tho- racis abdominisque dorso excepto ubique argenteo-sericea (praecipue in segmento mediano). alis infuscatis praesertim ad costam cyanescentibus. Tempora et occiput non margi- nata. Clipeus impressione longitudinali apicem versus sat lata et distincta instructus. Mandibulae longae : genae brevissimae. Pronotum angulis anticolateralibus valde obtusis, fere rotun- datum. Mesonotum cum scutello planum horizontalem for- mans. Segmentum medianum concavitate sat lata modice profunda. Long. corporis 16 mm. Teffe, Estado do Amazonas, na floresta. Infelizmente encontrei um só exemplar desta tão singular especie, que tem quasi o facies geral da Montezumia chalybea Sauss., Ves- pida solitaria. Genero 8., Tatua Sauss. — Tambem este genero existe só na America tropical, porque a T. quadrituberculata Grib. não é asiatica, como julga R. von Ihering, mas de Sa- rayacu ( Perú amazonico ). No Estado do Pará existe sómente a T. tatua Cuvier Vespidas sociaes do Pará 671 == morio Fabr. et auct. ), que eu colleccionei tambem em Óbidos; encontrei-a no Estado do Amazonas em Tabatinga, no baixo Japurá e em Barcellos. O ninho descripto e figu- rado por Saussure tem a fórma dos de Chartergus, porem o furo de sahida é rigorosamente excentrico e a massa, de que é confeccionado, é parda e friavel como nos ninhos de Polybia dimidiata, — sómente mais grossa que nestes. Genero 9., Metapolybia Ducke, « Revue d'Entomo- logie », 1905 (== Polybia auct., ex parte) — Distingue-se de Polybia morphologicamente pelo abdomen, cujo 1.º seg- mento é muito fino, quasi do comprimento do thorax, só- mente um pouco dilatado no apice, lateralmente tubercu- lado ao 2.º terço, sendo o 2.º segmento, subitamente dila- tado na base, 7 vezes mais largo que o apice do precedente. — Biologicamente este genero é visinho de Synoeca e Cly- pearia, sendo porem o involucro muito chato e muito fragil. Por isso muitas vezes se encontram esses ninhos com o in- volucro em parte destruido. Metapol. pediculata Sauss., a unica especie que conheço, foi encontrada neste Estado tambem em Obidos; é frequente em Barcellos no Estado do Amazonas. O ninho foi muito bem figurado por Moebius. A especie suffusa Fox, de mim não conhecida, pertence, segundo a descripção, tambem a este genero. Genero 10., Synoeca Sauss. — As especies dividem-se em 2 grupos: 1.º Corpo quasi sem esculptura: preto azulado, inclusive as azas. 2.º Esculptura, pelo menos no segmento mediano, forte; côr do corpo, ao menos em baixo, mais ou menos ferruginea: azas amarelladas. O 1.º grupo parece representado na Amazonia unica- mente pela S. surinama L., cuja nidificação é absolutamente igual à de S. cyanea F. — E' extranho que esta ultima, co- nhecida do Mexico e do Sul do Brazil, ao que parece não se encontra na Amazonia. — A S. surinama é commum tambem no Estado do Amazonas, de onde possuimos exem- plares de Tabatinga e de Barcellos; o ninho é figurado no meu primeiro artigo, estampa 2, fig. 10. O inferior dos tres 672 Vespidas sociaes do Pará compartimentos tem uma grande mancha, logar onde os ha- bitantes remendaram um estrago casual qualquer. O 2º grupo contém a S. chalybea Sauss.. cujo ninho não é conhecido, e S. irina Spin., (=-testacea Sauss.) — Esta ultima é frequente tambem no Estado do Amazonas, de onde a possuimos do alto Purús. de Teffé, do baixo Japurá e de Barcellos. E' extremamente interessante pelo facto de ser uma especie myrmecophila: constróe o ninho encostado | ao grande ninho de uma formiga. em ramos de arvores no igapó, conforme pude verificar ultimamente em Barcellos. Este ninho tinha as dimensões e o aspecto geral do de Syn. | surinama, porém o involucro não era ondulado, e a sua su- perficie aspera e rugosa imitava assim ligeiramente a do ninho das formigas; um favo era collado directamente ao ramo, absolutamente como no ninho de Syn. surinama, po- rem (o que nunca ainda observei em nenhuma outra espe- cie!) além deste favo havia mais outro em fórma de pare- de interior. possuindo cellulas em ambos os lados: este favo sahia do outro (o que estava collado no pau), affastando-se gradualmente deste ultimo e approximando-se do involucro sem todavia attingil-o, acompanhando-o depois concentrica- mente numa certa distancia e terminando emfim bruscamen- te. Os habitantes deste ninho — e não menos as Polybia myrmecophila, cujo ninho se achava dentro do das formigas! — defendiam-no ao ponto de ser impossivel tiral-o sem o destruir; afinal conseguiu-se serrar o ramo durante uma violentisssma trovoada, à noite. A caixa, que continha este interessantissimo objecto foi infelizmente roubada a bordo do vapor «Belem», da Amazon Company, porém antes, durante uma breve estada em (Obidos, o meu amigo, engenheiro Paulo Le Cointe, tirou dos ninhos uma bóôa photographia, a qual será publicada em um dos proximos fasciculos deste Boletim. Até lá espero tambem já ter obtido o nome scien- tífico da formiga: o ninho. redondo, com mais de meio me- tro de diametro, assemelha-se muito aos ninhos de certas especies de cupim (Termitidae). Esta formiga, muito aggres- siva, decerto não toleraria outras especies de Vespidas como visinhos tão proximos ou até inquilinos do seu ninho. — No baixo Japurá realisei uma outra observação, que, embora “a ES PR E PE E ES TA a E e Nu Vespidas sociaes do Pará 673 incompleta, por eu não ter chegado a vêr mesmo o ninho, me provou mais uma vez o-facto da Synoeca irina ser uma especie myrmecophila. No igapó, pouco distante da margem deste rio, descobri num dos grossos ramos de uma grande arvore um ninho de formigas, parecido com os de cupim ( Termitidas ), do qual vi sahir numerosos exemplares duma Vespida de tamanho bastante grande. Derrubada a arvore porém, foi-me infelizmente impossivel examinar o ninho de perto, porque as vespas — cuja ferroada é muito dolorosa — mostraram-se mui aggressivas; só pude constatar tratar- se indubitavelmente da especie Synoeca irina. Como eu no dia seguinte tinha de continuar a minha viagem, não pude fazer outras observações; creio porém que — analogo ao ninho encontrado em Barcellos - tambem neste caso o n1- nho da vespa estaria encostado ao da formiga, embora me parecesse ter visto as vespas sahir directamente do ninho da formiga. O facto do ninho da Synoeca irina ser externamen- te bastante parecido com o da formiga explica facilmente um erro no sentido de eu ter tomado aquelle por uma par- te deste — tanto mais que só pude vel-os de uma distancia bastante grande. Genero 11., Protopolybia Ducke, « Revue d'Entomol.», 1905 ( Polybia auct. ex parte) — Este genero distingue- se de Polvbia: morphologicamente sobretudo pelo metanoto, cujo apice penetra, em fórma de triangulo muito agudo, na base do segmento mediano; biologicamente pelos ninhos im- perfeitamente phragmocyttaros, fixados ao objecto que os supporta por pedunculos (sempre mais de um!) em fórma de columnas finas. A especie rufiventris constitue na mor- phologia como na construcção do ninho uma transição para o genero Parachartergus, tendo porem maior affinidade com Protopolybia que com este. Protopolybia divide-se facilmente em dois grupos na- turaes : rº grupo: Corpo distinctamente pontuado, primeiro segmento abdominal sessil ou subsessil. As especies amazonicas deste grupo são: Protop. rufi- ventris Ducke (== Chartergus rufiventris Ducke. « Bol. Mu- 674 Vespidas sociaes do Pará seu Goeldi» IV pag. 335). — O 1.º segmento inteiramente sessil indica já a affinidade desta especie com o genero Pa- rachartergus, e a nidificação a confirma ainda mais. O ninho é construido debaixo de folhas, sendo o unico favo de que consiste fixado áquellas por varias columnas: o involucro pardo, extremamente friavcl. collado lateralmente à folha ( tendo o aspecto geral de um ninho de formigas do genero Dolichoderus ) e inapto a supportar andares. As photographias de dois destes ninhos, obtidos pelos drs. J. Sampaio. medico militar, e Paulo LeCointe, ambos em Obidos, serão publica- das num dos proximos numeros deste Boletim. — Em Obi dos esta especie não é rara; colleccionei-a tambem no Es- tado do Amazonas, no baixo Japurá e em-Teffe. O d& não se distingue essencialmente da Q. Protopol. nitida Ducke (Chartergus nitidus Ducke, « Bol. Museu Goeldi» IV pag. 338). — Ninho ainda não conhe- cido, será provavelmente identico ao da seguinte especie, muito chegada a esta. No Estado do Amazonas (kaixo Japurá ) achei ainda a Protopol. bella R. von Ihering (= Polybia bella R. v.lh., «-Annal. Soc. Ent. France » LXXII, 1903 Pp. 146). — Asse- melha-se muito à precedente especie, mas é de estatura me- nor (comprimento do corpo 5 ! —“6 mm) e decidida- mente menos robusta, tem o mesonoto muito menos pontuado e por isso ainda mais lustroso: o scutellum tem só os angulos anteriores pintados de amarello, o metanotum: tem desta côr sómente uma facha transversal na base; o 2.º segmento ab- dominal tem a pontuação mais fina, a grande mancha ama- rella do centro menos larga porem mais comprida, e possue alem desta uma mancha da mesma côr mas *de menor ta- manho de cada lado. — O & e igual à femea, naturalmente menos os caracteres sexuaes secundarios proprios de todas as especies. O ninho (estampa 3 fig. 12) distingue-se dos do 2.º grupo pelo maior numero de andares, cujo SER e extremamente irregular. A Protop. o só poderá ser considerada variação da presente especie, se um dia forem descobertas fórmas de transição. e a | | Vespidas sociaes do Pará 675 2.º grupo: Corpo sem esculptura visivel; 1.º segmento abdominal alongado em fórma de peciolo. — Os ninhos pa- recem ter nunca mais de um andar superior. Este grupo só contem duas especies amazonicas: Pro- topol. holoxantha Ducke (== Polybia hol. Ducke « Bol. Mu- seu Goeldi » IV pag. 349), colleccionada tambem no Estado do Amazonas, em Barcellos; e Protopol. minutissima Spin. (= sedula Spin., = exigua Sauss.) (*) — A fórma minu- tissima é quasi totalmente preta; Spinola cita-a do Pará, o que me parece muito duvidoso, eu só a colleccionei em Teffe, no Estado do Amazonas. A variação sedula é rica- mente ornada de desenhos amarellos; encontrei-a no Estado do Pará, além dos logares já enumerados, ainda em Obidos, e no Estado do Amazonas em Teffé e no baixo Japurá. Genero 12., Leipomeles Moeb. — No meu ultimo tra- balho neste Boletim, seguindo ainda o systema de Saus- sure (insustentavel quanto aos generos), reuni Leipomeles ao genero Polybia, que então comprehendia especies de ni- dificação mui diversa. Porem as relações evidentes, que existem entre a configuração dos palpos labiaes e a ni- dificação (estes palpos são de construcção quasi identica em Leipomeles lamellaria e em Parachartergus bentobuenoi e amazonensis, e a nidificação destas 3 especies obedece a identico systema!) provam mais que sufficientemente o va- lor systematico que áquelles deve-se attribuir nesta familia. Leipomeles é alem disso o unico genero, cujos palpos maxil- lares têm sómente 5 artículos. A unica especie, L. lamellaria Moeb., existe neste Es- tado tambem nas mattas dos centros de Obidos; no Estado do Amazonas parece ser muito mais frequente e alli collec- cionei-a muitas vezes em Barcellos, no baixo Japurá, em Teffé e Tabatinga. O ninho contem às vezes um só favo ( Estampa 2, fig. O a); o involucro imita muitas vezes a in- nervação da folha ( bem visivel nas figuras O a, e 6 c). E Segundo R, von Ihering, com cuja opinião eu concordo. fo) é 676 Vespidas sociaes do Pará Genero 13., Polybia Lep. — Este grande genero era considerado como de mui difficil delimitação. porem agora — depois que delle separei os generos Megacanthopus, Me- tapolybia e Protopolybia, eliminando ainda algumas especies que devem ser collocadas em outros generos — desappare- ceu por completo esta difficuldade, tornando-se Polybia um genero perfeitamente natural. Seus principaes caracteres mor- phologicos são: os ocellos de tamanho normal: o clipeo nunca mais alto que largo: o metanotum simples, juntando-se pos- teriormente ao scutellum, tendo a margem apical mui obtu- samente angulosa ou quasi horizontal: o abdomen mais ou menos depresso, constituindo o 1.º segmento um peciolo mais ou menos distincto; as tibias do 2.º par com 2 esporões” os lóbulos internos dos tarsos iguaes aos externos ou mui pouco ( quasi imperceptivelmente ) mais compridos. O genero divide-se morphologica e biologicamente em 2 grupos muito naturaes : Grupo 1: As mesopleure possuem sómente o sulco abaixo das azas, que se observa na maior parte das Vespi- das. Os ninhos são phragmocyttaros perfeitos. — As espe- cies deste grupo, por mim colleccionadas no Estado do Pará, são: 1. P. occidentalis Ol. (= pygmaea Fabr., - oece- doma Sauss.) Q d&. — Diversas outras especies dos auto- res terão ainda de se reunir a esta, que é incontestavelmente a mais variavel de todas as Polybias: assim a fórma des- cripta por R. von Ihering como P. mexicana Sauss. será tal- vez a variação de côr ferruginea, tão frequente no Pará. A fórma genuina ( preta com desenhos amarellos ) existe em toda a extensão dos Estados do Pará e Amazonas: exem- plares inteiramente pretos constituem a var. diguetana Buyss., encontrada (com todas as transições!) neste Estado em Obi- dos e no (Oyapoc, no Estado do Amazonas em Teffé e no baixo Japurá: uma fórma mui abundante em desenhos ama- rellos é a var. juruana R. von Ih.. que possuimos do Alto Purús e de Tabatinga. por conseguinte só do Estado do Amazonas. A côr fundamental preta é muitas vezes substi- tuida por um ferrugineo mais escuro ou mais claro: uma destas fórmas é a oecodoma Saussure ( não oecodoma R. v. Ih., E E ada pe ARTE 2 TO SI E E A O E Vespidas sociaes do Pará 677 que, segundo um exemplar que o autor teve a gentileza de me mandar, é um Megacanthopus, talvez var. de M. surina- mensis!). Se emfim a fórma de côr ferruginea clara é a mexicana Sauss., só se poderá decidir vendo os typos. De todas estas variações tenho visto ninhos, os quaes, embora variaveis na fórma, não apresentam differenças cor- respondentes às variações da especie; diversos exemplares são figurados na obra de Moebius. Dois ninhos (estampa 3, fig. 15 a, b) por mim encontrados no baixo Japurá parecem de identica construcção ao da P. septentrionalis, descripto por R. von Ihering; fôram achados em logares, onde havia abundancia de ninhos de uma especie de cupim, aos quaes se assemelhavam fortemente pelos prolongamentos singulares do involucro e pelo agrupamento irregular dos andares. que são differentes em largura. Trata-se aqui evidentemente de um dos casos, em que as vespas procuram dar ao seu n1- nho um aspecto semelhante ao de ninhos de outros insectos, abundantes na visinhança, facto que já observei em Pol. re- jecta e Pol. lugubris, cujos ninhos, achando-se nas immedia- ções de ninhos de formigas, procuravam imitar a fórma destes. — Decerto tambem em Pol. septentrionalis ( especie mui chegada a occidentalis!)'os ninhos mencionados por R. von Ihering devem a uma destas circumstancias a sua con- figuração, que por conseguinte não lhes será especifica. . 2. P. species? (talvez theresiana W. A. Schulz), Q — De coloração parecida à P. occidentalis var. diguetana, porém differente pela fina mas visivel pontuação do meso- notum e pelo fino tomento esbranquiçado bastante notavel em quasi todo o corpo. Colleccionada, no Estado do Pará, tambem em Obidos e, no Estado do Amazonas, em Taba- tinga. | 3. P. bifasciata Sauss. (= quadricincta Sauss.), P d — Tambem no Estado do Amazonas: Teffé e baixo Japurá. O ninho (estampa 3, fig. 13), de fórma arredondada, é feito da massa parda fragil que a maioria das Polybias emprega na nidificação: o involucro contem numerosas camaras. 4. P. sulcata Sauss., Q — Um exemplar de Obidos tem o abdomen vermelho. correspondendo à descripção do 678 Vespidas sociaes do Pará autor; assim está agora provada a variabilidade da côr do abdomen nesta especie. 5. P. jurinei Sauss., PQ d& — Tambem no Estado do Amazonas: alto Purús, Teffe e Tabatinga. No ultimo destes logares vi tambem um ninho, de fórma campanulada, suspenso a um galho. 6. P. sycophanta Grib., 2 — Tambem de Obidos. 7. P. liliacea Fabr., Q & — Frequente tambem no Estado do Amazonas: alto Purús, Teffeé, baixo Japurá. (*) 8. P. sericea Oliv., DP dd — 9. P. micans Ducke, 9 — Observada tambem no Estado do Amazonas, no baixo Japurá e em Teffé. O ninho, que se assemelha ao de P. chrysothorax, vê-se na estampa 3, fic. 14. — Esta especie parece sujeita a fortes variações na côr. Assim obtive alguns exemplares, colleccionados pelo sr. engenheiro Paulo Le Cointe na região do Lago grande de Villafranca (lado direito do curso inferior do Amazonas, de- fronte de Obidos), que têm a parte superior da cabeça, o mesonoto e o disco dos primeiros segmentos abdominaes com pletamente pretos, e quasi todas as outras partes do dias mais escuras do que a fórma genuina. 10. P. chrysothorax Welb., 9 d 11. P. nigra Sauss. (= aira Oliv.), O 12. P. vufitarsis Ducke, Q — Muitas vezes os tar- sos são escuros. Tambem o comprimento do 1.º segmento é variavel, sendo porém este sempre mais curto que na espe- cie seguinte. — Colleccionei a rufitarsis ainda nos seguintes logares: no Estado do Pará em Obidos e no Oyapoc: e no Estado do Amazonas no baixo Japurá, em Teffé e em Ta- batinga. — Ninho ainda desconhecido. 13. P. tinctipennis Fox (= ypiranguensis R. v. Ih.) Q — Um exemplar da ypiranguensis, obtido pelo proprio autor, é absolutamente igual ao de tinctipennis, que tenho de Itaituba: sómente a coloração amarella do apice das azas anteriores é muito mais fraca, embora ainda bem visivel na cellula radial. Em 2 exemplares de Obidos falta completa- (*) A figura colorida na obra citada de Dallatorre corresponde na côr não a esta. mas à precedente especie ! Vespidas sociaes do Pará 679 mente o amarello nas azas, o que prova a variabilidade deste caracter. — Colleccionei esta especie ate agora só em Itaituba e Obidos; o ninho é desconhecido. 14. P. dimidiata Oliv., Q — Tambem do Estado do Amazonas: Barcellos. — Ninho grande. campanulado. Em Obidos esta vespa é conhecida pelo nome de «tapiú—caba » e passa por ser uma das especies mais aggressivas. 15. P. vejecta Fabr., 9 & — Commum tambem em Obidos e no Estado do Amazonas (Barcellos, baixo Japurá, Teffe, alto Purús). Na parte occidental deste ultimo Estado encontra-se frequentemente além da fórma genuina uma va- riação com o abdomen de cór fundamental preta ( Teffé, Pu- rús e Japurá). — Os ninhos, às vezes enormes, encontram-se muitas vezes em arvores habitadas pelos « japiins» (Cassicus persicus) ou por certas especies de formigas, constructoras de ninhos grandes, e as vespas procuram dar a seus ninhos uma certa semelhança com os desses companheiros: achan- do-se no meio daquelles passaros, costumam ser compridos e pendurados, quando na visinhança das mencionadas formi- gas achei-os de fórma bastante arredondada, com os andares de largura irregular. Tambem o aspecto do involucro varia conforme estes casos! — Veja-se o que ficou acima dito acerca de alguns ninhos de P. occidentalis, imitativos dos de cupim (Termitidas). 16. P. sculpturata Ducke, P & — O d não diffe- re essencialmente da 9. — Encontrei esta especie tambem no Estado do Amazonas, no baixo Japurá e em Teffe. O ninho e semelhante ao de P. micans. 17. P. furnaria R.v. Ih., P o — Esta especie é difh- cil de caracterisar ; assemelha-se à primeira vista a certas va- riedades da occidentalis (como oecodoma), por causa da sua côr indecisa parda e ferruginea com desenhos pallido-ama- rellentos. O mesonotum bastante lustroso, fina mas visivel- mente pontuado distingue-a immediatamente desta especie; tambem o peciolo, pelo menos na 9, é mais repentinamente dilatado. A côr fundamental da cabeça e do thorax é, pelo menos no lado superior, preta; existem muitos desenhos amarello-pallidos, porém o mesonoto € inteiramente preto, sem as linhas longitudinaes, frequentes em outras especies. Er 680 Vespidas sociaes do Pará O abdomen tem os segmentos ornados de amarello claro. As azas têm a cellula radial e suas immediações en- fumadas. o que augmenta ainda a semelhança desta especie com a occidentalis. Comprimento do corpo 8—9 mm, como exemplares bastante pequenos de occidentalis. O snr. R. von Ihering teve a gentileza de me mandar um dos seus exemplares, cuja procedencia é de Santarem, no Estado do Para: eu mesmo colleccionei esta rara especie em Teffé, no Estado do Amazonas. O snr. R. von [hering descreveu e figurou o ninho. que é de barro: as saliencias spiniformes encontram-se tambem às vezes em ninhos de P. caementaria, e por conseguinte não são características para a nidificação da especie ! 18. P. caementaria Ducke. 9 (= cayennensis Moe- bius, =— fasciata R. v. Ih., = phthisica Buyss.. = fulvofas- ciata W. A. Schulz). — Continúo por ora a chamar cae- mentaria esta especie, não tendo tempo para occupar-me com excavações de antigos nomes duvidosos, trabalho este mais proprio para escholasticos que para modernos natura- listas! — Colleccionei esta especie tambem no Estado do Amazonas, em Teffé e Tabatinga. — Um ninho com salien- cias spiniformes vê-se na estampa 3, fig. 16. 19. P. emaciata Lucas, 9 — O corpo mais delgado e comprido (11—13mm), o clipeo muito convexo, as genae distinctas, o 1.º segmento abdominal mais comprido e del- gado (aliás bastante variavel neste ponto), as azas muito grandes. as anteriores ao apice largamente enfumadas, porem sobretudo a fórma do pronotum, não semicircular como em caementaria, mas francamente oval (tendo a margem poste- rior em fórma de parábola ) distinguem P. emaciata facil- mente da precedente especie. O mesonotum tem uma só ou tres linhas pretas. O ninho (Estampa 4, fig. 17), feito de barro, é sui generis pela abertura de entrada em fórma de fenda lateral, que “dá accesso directo a todos os andares. Esta fenda cor- responde à totalidade dos buracos de communicação, que perfuram o involucro e todos os andares internos de um ninho de qualquer outra especie de Polybia; se imaginarmos que num destes ninhos de fórma ordinaria os furos todos se Vespidas sociaes do Pará 681 affastem do centro. approximando-se da parede lateral ( como já succede em Tatua !) até ficarem collocados nesta mesma parede. teremos' chegado gradualmente à fórma do ninho da P. emaciata. Os habitantes deste, augmentando-o com um novo andar, terão em logar de perfurar este ultimo, de pro- longar inferiormente a fenda lateral, até que ella dê accesso ao novo compartimento. O ninho com os habitantes devemos à gentileza do snr. senador dr. Machado em Obidos; eu proprio colleccio- nei alguns exemplares do insecto nas mattas da mencionada cidade. Especies do 1.º grupo .de Polybia, por mim collecciona- das no Estado do Amazonas. porem ainda não observadas no Estado do Pará: P. septentrionalis R. v. Ih. (menos os synonymos, que são duvidosos!), 9 — Intimamente alliada á P. occidenta- lis, de cujas variedades ferrugincas se distingue apenas pela côr mais amarella, absolutamente igual à da P. caemen- taria, pelas azas mais amarelladas (como nesta ultima !) e pelo tamanho um pouco maior (1 mm). Da caementaria se destaca pelo pronoto não semicircular como nesta, mas oval como na occidentalis, a cujo grupo pertence e com a qual concorda tambem na nidificação. O ninho é figurado por R. von Ihering; sua fórma irregular é casual — veja-se o que eu disse a respeito, na occasião de tratar dos ninhos de P. occidentalis! — Devo à bondade do illustre collega R. von Ihering um dos seus exemplares de Maracapatá ( Perú amazonico ) e colleccionei-a eu proprio no baixo Japurá e em Tabatinga. P. decorata Ducke, « Revue d'Entomologie, 1905, Q — Inteiramente semelhante à P. jurinei, porem muito menor -(8 mm), a cabeça atraz dos olhos muito mais estreita; a pontuação da cabeça e do thorax apenas visivel; a zona marginal enfumada das azas anteriores mais estreita, e só- mente mais larga na cellula radial. — Achei esta especie com o ninho um dia em que andei perdido nas mattas dos cen- tros de Tabatinga; naturalmente não pude cuidar em leval-o 682 Vespidas sociaes do Pará e só me recordo que era de fórma bastante arredondada e de resto parecido com os das especies visinhas. P. lugubris Sauss., 9 o — Não estou certo, se os nossos exemplares são realmente a especie descripta por Saussure, porque segundo este autor a lugubris seria ( super- ficialmente !) parecida com angulata, quando a especie aqui em questão se distingue desta no facies geral immediata- mente por ter o corpo fortemente -tomentoso. Deve-se porem considerar, que em exemplares velhos ou mal conservados o tomento nem sempre é visivel! — Morphologicamente mui chegada à P. micans, sendo a esculptura a mesma, o to- mento porem menos desenvolvido: a côr é inteiramente preta (cã e la tirante ao pardo). as azas amarellas, princi- palmente na margem anterior. Colleecionada no baixo Japura e em Teffe. Ninho mais ou menos como o da sericea e visinhas: observei tambem nesta especie um exemplar que imitava por sua fórma irre- gular um ninho de formigas, collocado na mesma arvore. As especies do 2.º grupo de Polybia conhecem-se pelo fino sulco que divide as mesopleure em duas partes (epister- num e epimerum ); tendo sua origem no sulco grosso suba- lar, desce obliquamente. terminando no angulo inferior do lado do pronoto. Mesmo em exemplares apenas soffrivelmente conservados este sulco é facil de ser reconhecido. — Biolo- gicamente as especies deste grupo differem profundamente das do 1.º: não constróem, como estas, ninhos phragmocyt- taros, mas stelocyttaros calyptodomos (P. infernalis ), ou collocam suas construcções, destituidas de involucro e que consistem em diversos andares unidos por pedunculos, em cavidades de arvores ou de outros objectos proprios para este fim. São as seguintes as especies colleccionadas no Estado do Pará: 20. P. angulata Fabr., PQ — Tambem colleccionada no Estado do Amazonas: baixo Japurá. Surprchende o facto do ninho de uma especie tão frequente não ser conhecido : acha-se provavelmente no ôco de arvores. 21. P. angulicollis Spin. Q — E' morphologica- Vespidas sociaes do Pará 683 mente igual à precedente e mui possivel que seja uma simples variação della; falta porem descobrir fórmas intermediarias. 22. P. Aavicans Fabr., P o&' — Encontrei-a tambem frequentemente em Teffé, no Estado do Amazonas. — E muitas vezes citada de um logar chamado « La Mara», e como um logar deste nome não existe, os autores costumam lhe juntar um (?). Approveito da occasião para constatar que este logar duvidoso é de certo «La Mana» na Guyana franceza; hymenopteros alli colleccionados existem no Museu de Paris! 23. P. constructrix Sauss., Q —. 24. P. vulgaris Ducke, 9 & — No Estado do Ama- zonas observei esta especie tão frequente no baixo Japurá e em Teffé. — Em Obidos o povo conhece-a por « caba de peixe », porque na salga do pirarucú costuma apparecer em quantidade nos espinhaços deste peixe, para alimentar-se com os restos de carne, adherentes aos ossos. Eu mesmo constatei já numerosas vezes ser esta especie essencialmente carnivora. — O. ninho é collocado dentro de troncos de ar- vores ou, como fazem muitas Meliponidas, no ôco dos gran- des ninhos de cupim ( Termitide), que se encontra tão fre- quentemente nas arvores da matta. Nestas condições vi as vespas numa occasião no Oyapoc e o sr. Paulo Le Cointe contou-me ter já observado um caso analogo. Um ninho já meio abandonado descobri em Teffé no ôco do tronco de uma arvore; os favos ( Estampa 4, fig 18) eram em pe- queno numero, verticalmente unidos entre si por pedunculos mui irregularmente dispostos, sendo o favo mais velho (ba- sal) fixado á parede da cavidade tambem por meio de pe- dunculos. — O material deste ninho é extremamente fragil. 25. P. pallidipes Oliv. (=lutea Ducke), Pd — A coloração desta especie sendo caracteristica, podemos-lhe sem receio applicar o velho nome pallidipes, empregado tambem por R. von Ihering. Este autor descreve tambem o ninho, que parece de identica construcção ao da P. vulgaris, e que foi achado na cavidade de uma palmeira. Este facto parece demonstrar que a P. myrmecophila, n. sp., embora morphologicamente identica com a pallidipes, não será va- riação desta! 684 Vespidas socines do Pará Colleccionada ainda: em Faro, e. no Estado do Amazo- nas, em Teffe, Tabatinga e no baixo Japurá 26. P. myrmecophila Ducke, n. sp., P dO. — Spe- ciei P. pallidipes Oliv. (= lutea Ducke) characteribus mor- phologicis simillima, at sordide pallide-testacea, antennis totis ferrugineis, thoracis picturis magis fuscis quam nigris, abdo- mine superne fere unicolore brunneo sine fasciis distinctis, solum segmenti 2.º basi distincte pallidiore. Long. corporis 1 1, —13 mm. | E" esta a especie citada debaixo do n. 25 porém sem nome, no meu anterior trabalho. Só pela differença de cór se distingue da especie precedente, e eu havia de conside- ral-a simplesmente como uma variação desta, si não tivesse achado o ninho dentro de um grande ninho de formigas de uma especie-mui aggressiva e que difficilmente toleraria in- quilinos que não pertencessem a uma especie que ellas estão acostumadas a ter.como hospede habitual em casa. Sobre este ninho veja-se o que disse a respeito na occasião de tra- tar da Synoeca irina. Os favos eram unidos tambem lateral- mente à parede da cavidade, por meio de pedunculos: o ta- manho dos favos e das cellulas era um pouco menor que no caso de P. vulgaris. No resto as construcções são identicas. A photographia do ninho desta especie só podera ser reproduzida num dos seguintes fasciculos deste Boletim. P. myrmecophila é conhecida: no Estado do Pará — de Belem e Faro; no do Amazonas — de Barcellos, Teffé e do baixo Japura. 27. P. lignicola Ducke, PQ dq — No Estado do Pará ainda de Obidos e Faro: no Estado do Amazonas do baixo Japurá, alto Purús e de Teffe. 28. P. paraensis Spin., P d& — Acheia no Estado do Pará ainda em Obidos, e no Estado do Amazonas em Teffé. O ninho é-me desconhecido, embora esta especie não seja das mais raras. Schulz (ob. cit. pag. 795) diz tel-o achado uma vez no bosque municipal desta capital, fixado ao lado inferior de uma grande mesa de pedra: o involucro era feito de materia lignacea de côr pardacenta. Infelizmen- te nada refere o autor acérca da construcção interna deste tão interessante ninho; se a especie observada foi realmente a P. paraensis (o que julgo provavel, visto ella ser repro- Vespidas sociaes do Pará 085 duzida na obra de Saussure numa optima figura colorida, que exclúe quasi a possibilidade de confusões!) é provavel tratar-se de um ninho stelocyttaro calyptodomo como em P. mfernalis. A unica especie do 1.º grupo, com que paraensis eventualmente poderia ser confundida, é P. micans. 29. P. obidensis Ducke, 9 — 30. P. infernalis Sauss. (== ampullaria Moebius), Q o — Esta communissima especie é conhecida geralmente pelo segundo destes nomes, porém a descripção de Saussure e bastante bôa para não deixar duvidas sobre a identidade de ambas as especies descriptas. — Existe tambem no Es- tado do Amazonas em toda a parte, tendo ali sido por mim observada em Barcellos, Teffe, Tabatinga, e no baixo Japu- ra. Ninho: estampa 4, fig. 19. Especies do 2.º grupo de Polybia, colleccionadas no Estado do Amazonas, porém ainda não observadas no Es- tado do Pará: P. ornata Ducke, «Revue d'Entomologie» 1905, PQ — Morphologicamente identica com as especies angulata e an- gulicollis, distingue-se da ultima na coloração, pelos seguintes desenhos intensamente amarellos: duas manchas lateraes do scutellum, uma larga facha transversal na base do metano- tum, e duas fachas longitudinaes do segmento mediano. — Achada por mim em Tefte, na matta. Julgo provavel que angulicollis assim como ornata se- jam simplesmente variações da angulata, para isso faltam porém as provas. quero dizer o conhecimento de fórmas in- termediarias. P. ruficornis Ducke, « Revue d'Entom.» 1905, Q — Mui- to chegada à P. obidensis, da qual se distingue: pelo clipeo bastante lustroso, escassa porém fortemente pontuado: pela côr fundamental do corpo de um pardo mais escuro (o fla- gello das antennas, ao contrario, de um vivo vermelho-fer- rugineo), e pelo mesonoto pardo escuro, quasi preto, sem li- nhas amarellas, — Colleccionada por mim no baixo Japurá e em Tabatinga. Esta especie poderia ser considerada como uma varie- dade escura da obidensis, se esta ultima não tivesse o clipeus opaco, sedoso, muito subtilmente esculpturado ! 686 Vespidas sociaes do Pará P. flavipennis Ducke, «Revue d'Entom.» 1905, OQ — Differe da P. meridionalis R. v. Ih. sómente pela côr em geral mais clara do corpo e pelas azas intensamente ama- rellas. Entre as especies amazonicas ella é mui approximada à P. vulgaris, porém um pouco menor (comprimento do corpo 11!/, — 13 mm.) e mais delgada: sua côr fundamen- tal é um amarello mais claro (côr de enxofre): as azas são muito grandes, amarellas, no apice quasi esbranquiçadas, e o pronoto tem os angulos lateraes muito mais fracos, mesmo menores que na P. pallidipes. Todavia estes angulos são vi- siveis e o pronotum estã longe de ser perfeitamente redondo como por exemplo em P. lignicola. P. flavipennis foi descoberta por mim perto de Teffé. O snr. Rodolpho von Ihering mandou-me um exemplar da sua P. meridionalis, da qual a flavipennis será talvez só uma va- riação: falta-ainda conhecer-se transições para adquirir cer- teza neste ponto. Genero 14, Apoica Lep. — Já em diversas publica- ções tenho tratado dos habitos nocturnos deste genero: estes são tambem conhecidos do povo, que por exemplo em Teffé chama esta vespa «caba de ladrão» (em Obidos é « beijú caba» devido talvez ao aspecto do ninho: os seringueiros do Ceara e Estados visinhos conhecem-na geralmente como «marimbondo chapco»). Se estas vespas ordinariamente só de noite deixam o ninho, os enxames para fundar novas co- lonias sahem ao contrario, de dia: vi em Teffe, às 5 horas da tarde, um grande enxame de À. pallida voando e depois pousar nos ramos de uma arvore, dividido em duas partes. ambas agrupadas em fórma de cacho de uva. Peguei os in- dividuos todos que constituam um destes cachos, e depois de tel-os morto com chloroformio. examinei-os para verificar o sexo: havia mais de 200 femeas e somente 5 machos. Não pude saber quantas destas eram aptas para serem fecunda- das e quantas eram obreiras, não havendo entre estas duas classes de individuos femininos differenças externas! As duas especies, ou talvez só variedades, citadas fo- ram por mim colleccionadas tambem no Estado do Amazo- nas: d. pallida Oliv. em Teffé; À. virginea Fabr. no baixo Japurá e em Teffé e possuimol-a tambem do alto Purús. Vespidas sociaes do Purá 687 Genero 15. Monacanthocnemis Ducke, «Revue d Entomol.» 1905. — E' no mundo inteiro a unica Vespida, que tem um só esporão nas tibias do 2.º par de pernas; tambem o peciolo abdominal, muito mais comprido que o thorax, e as pernas extraordinariamente compridas são-lhe peculiares. Quanto ao resto é chegado aos Megacanthopus. As antennas do oq são simples. — Biologicamente principiam com este os generos monogamos. A unica especie, M. filiforms Sauss., deve ser muito rara; achei-a uma vez em 1599, e depois nunca mais! O nr nho, do qual encontrei um exemplar mui pequeno ainda, não differe essencialmente dos de Megacanthopus. Genero 16., Mischocyttarus Sauss. — M. labiatus existe tambem no Estado do Amazonas, colleccionei-o al em Barcellos e Teffé. Parece preferir a matta ao campo, ào contrario do que em São Paulo observou R. von Ihering. — O M. drewseni Sauss. habita effectivamente só campos e como eu no Estado do Amazonas nunca tivera occasião de colleccionar em taes regiões, nunca observei esta especie naquelle Estado. O ninho é, segundo R. von Ihering, identico com o de labiatus. Genero 17. Megacanthopus Ducke. — No meu ul- timo estudo tratei longamente deste genero, tão differente de Polybia e todavia sempre confundido com este ultimo! Nem em todas as especies as antennas dos q” são enroladas, mas o ultimo articulo ao menos c sempre um pouco ar- queado e adelgaçado. Conheço actualmente do Estado do Pará Q especies, as quaes são : 1. Meg. collavris Ducke, Pd. — A côr fundamen- tal do corpo é às vezes mais parda que amarella. — O d e mui distincto entre todas as Vespidas, pela estructura do ultimo articulo das antennas. — O ninho, que tem alguma semelhança com o de Polistes goeldii, é figurado na Estampa 4, fig. 21. — Colleccionei esta especie tambem no Estado do Amazonas, em Barcellos e no baixo Japurá. 2. Meg. lecointei Ducke, Qo!. — Esta especie pa- rece viver exclusivamente na visinhança da agua: nunca a 688 Vespidas sociaes do Pará encontrei senão na matta da beira de lagos, rios ou igara- pés, ou nos igapós. — Alem dos logares já citados collec- cionei-a no Estado do Pará ainda em Faro: no Estado do Amazonas acheia em Barcellos e no baixo Japurá. O ninho é figurado na Estampa 4, fig. 20: 0 pedunculo é quasi central. 3. Meg. surinamensis Sauss., Qd. — Esta espe cie é, quanto aos caracteres morphologicos. a mais variavel das Vespidas amazonicas: tanto o comprimento e a confor- mação do pedicello do abdomen, como a esculptura do corpo variam de um exemplar para outro de uma maneira sur- prehendente ! Os exemplares, citados no meu ultimo trabalho como n.º 6, especie nova?, serão provavelmente var. do suri- namensis. — Observado no Estado do Pará ainda em Faro, no do Amazonas em Teffé e Tabatinga. — Ninho : Estampa 4, fig. 25 4. Meg. alfkeni Ducke, PS. — No meu ultimo tra- balho neste Boletim, pag. 302 n.º 5, descrevia Q desta, porem o q” da seguinte especie! O verdadeiro q” de alfkeni é mui característico por ter as antennas simples, não enro- ladas no apice, sendo apenas o ultimo articulo um pouco mais fino que os outros, o que não se dá em nenhuma ou- tra das especies visinhas. — Esta especie foi por mim con- statada no Estado do Pará: em Obidos e no rio de Villa- nova ( Anauerapucú ). a Nordeste de Mazagão: no Estado do Amazonas: em Teffé e no baixo Japurá. — Ninhos: Es- tampa 4, fig. 24 a. b. 5. Meg. undulatus Ducke, « Revue d'Entomologie », 1905. P S&.—O d&, tendo as antennas enroladas como em surinamensis e outros, não póde ser confundido com a espe- cie precedente; bem mais difficil é a distincção da Q. Pa- rece que no undulatus QdS” os ocellos são um pouco maio- res que no alfkeni e o bordo anterior do pronotum é um pouco ondeado, o que não se dá neste ultimo. Estado do Pará: posto fiscal brazileiro no Oyapoc: Estado do Amazonas: Teffé, baixo Japurá. 6. Meg. injucundus Sauss., PQ &.— Tambem no Es- tado do Amazonas: Tabatinga: em exemplares desta pro- cedencia o abdomen é ás vezes completamente preto. O ninho (Est. 4, fig. 22) tem o pedicello quasi cen- Vespidas sociaes do Pará 689 tral: o favo alonga-se geralmente em duas direcções oppos- tas, ficando assim estreito. porem comprido. 7. Meg. metathoracicus Sauss., Pd. —Tambem no Estado do Amazonas: Barcellos. Ninho parecido com o do precedente. S. Meg. ater Oliv. (= Polybia socialis Saussure, Mo- Room iam: Vespi, pag.. 177, estampa-XXIV fig. 1, = Poly- ERR Dra Soauss., ob! Citf, est;-XXIV, nota (*), == Polistes apicalis Sauss., « Revue et Magasin de zoologie » 2.º serie, ERR IGSS p. 280, =-Megac. imitator Ducke, «Bol. Mus. Goeldi » IV, p. 362), PoO.—E' estranho, que uma especie tão facil de ser conhecida tenha sido descripta debaixo de tantos nomes differentes! A primeira descripção de Saussure (como Polyb. socialis) é demasiado curta, porem já as pa- lavras que se referem à configuração do clipeo indicam tra- tar-se antes de um Megacanthopus que de uma Polybia. Mais tarde o mesmo Saussure descreveu exemplares da Guyana como Polistes apicalis; esta descripção é boa e deixa reco- nhecer immediatamente a especie. Que não se trata de um verdadeiro Polistes, demonstram as palavras « le 1.º segment en entonnoir allongé ct le 2.º subitement élargi ». — De to- das as especies de Megacanthopus é esta que tem o facies mais semelhante a um Polistes. Recibi do sr. R. von Ihering um exemplar desta especie, de São Paulo, que corresponde exactamente à figura de Saussure. Os exemplares do Pará e da (Guyana são um pouco maiores e têm o apice das azas intensamente lacteo: são estes que correspondem ao Polistes apicalis Sauss. — Colleccionado, alem dos logares citados, ainda no Oyapoc ( Estado do Pará ). 9. Meg. carbonarius Sauss., Q. — Tem o tamanho ea cór da Polybia angulata, da qual é distincta, alem dos caracteres genericos, pelos angulos obtusos do pronotum, e o 1.º segmento abdominal muito mais fino e comprido. — Obr- dos; colleccionado pelo dr. Paulo Le Cointe. Deve ser uma especie muito rara ! No Estado do Amazonas descobri ultimamente uma nova especie, a qual denomino em homenagem a meu chefe, o sr. prof. dr. Emilio Augusto Goeldi : (*) Nem todos os exemplares desse livro possuem tal nota |! 690 Vespidas sociaes do Pará Megacanthopus geldii Ducke, n. sp. PS — Polybiz, flavicanti Fabr. maxime similis: differt practer characteres genericos solum : clipco parum nítido, magis alto, apice me- dio bidenticulato, ocellis in triangulo latitudine non altiore, pronoti angulis anticolateralibus obtusis, segmento abdominis 1.º longivre. apicem versus parum dilatato alarumque cellula cubitali 2.2 latiore. — Caput, thorax. abdominis basis, pedes et alae saturate ochracea, capite thoraceque supra, abdomi- nisque segmentis dorsalibus 1.º et 2.º nigro vel fusco-pictis : segmenta reliqua nigra, nitida, solum 3º margine postico plerumque flavidocincto. Longitudo corporis 17—19 mm. —o a 9 differt: clipeo sericeo. apice fere truncato, anten- nisque apicem versus leviter curvatis (non involutis!), ar- ticulo ultimo apice sat acuto. Esta especie é alliada ao Meg. carbonarius, embora tão differente na cór. Descobri-a em Barcellos nos igapós do rio Negro. com o ninho, o qual tem o pedicello bastante excen- trico. as cellulas maiores que nas outras especies, e que sahirá figurado em um dos proximos fascículos deste Boletim. Genero 18., Polistes Fabr. — E' neste genero que se encontram talvez as descripções mais insufficientes, e grande confusão é a consequencia deste facto! No emtanto as espe- cies por si mesmas não oppõem maiores difficuldades à sua distincção e delimitação que as dos outros generos maiores. As especies de Polistes dividem-se em 3 grupos natu- raes. conforme a estructura das mesopleuras. Estas têm em todas as especies, logo abaixo das azas, um grosso sulco (bem distincto em quasi todas as Vespidas), que desce obli- quamente na direcção da parte posterior da mesopleura: chamo-o sulco subalar e é sem importancia systematica. Do meio deste sulco subalar sáe em muitas especies um sulco fino ou uma especie de linha, que vae obliquamente descen- do para diante até ao angulo inferior dos lados do prono- tum. Esta linha é de valor systematico e vou chamal-a, por brevidade. simplesmente a linha superior; esta mesma linha encontra-se no 3.º grupo de Parachartergus, no 2.º de Polybia, em muitas especies de Megacanthopus, etc. — Completamen- te separada desta linha e do sulco subalar, principia mais Vespidas socines do Pará óg1 . “ou menos no centro da mesopleura, em muitas especies, uma outra linha, que desce obliquamente ao sternum, onde ella se encontra com mais outra linha finissima, que não é outra coisa senão a separação do sternum e da mesoplenra. A primeira destas duas ultimas linhas é de muita importan- cia na classificação das especies; chamo-a simplesmente a linha inferior; ella é, quando existe, sempre bastante forte e parece não se encontrar em nenhum outro genero. — À li- nha que separa o sternum da mesopleura é destituida de valor systematico. Até agora era o sr. /. Brethes de Buenos-Aires o unico autor que conhecia pelo menos a linha inferior (e tambem a de separação entre sternum e mesopleura), ignorando po- rém ainda a linha superior! O 1.º grupo das especies de Polistes não possue nas mesopleuras a linha inferior: a linha superior, ao contrario, existe sempre. — As especies deste grupo, por mim obser- vadas no Estado do Para, são: E Folist: cornmijex Fabr; O o — 2. Polist. versicolor Oliv. 2 4 — Commum tam- bem no Estado do Amazonas, de onde temol-a na collecção só de Barcellos, mas onde existe em toda a parte. 3. Polist. canadensis L., 2 &. — Commum tam- bem no Estado do Amazonas; possuimos exemplares de Tefte 4. Polist. goeldii Ducke, PQ dd. — O 2.º grupo das especies de Polistes possue nas mesopleu- ras a linha inferior, sempre bem distincta, e a linha supe- ror, que pelo menos em parte é bastante visivel. — As es pecies deste grupo, observadas por mim no Estado do Pará, são : 5. Polist. biglumoides Ducke, PQ Sd! — 6. Polist. subsericeus Sauss., P d. — 7. Polist. clavipennis Ducke, PQ d. — 8. Polist. analis Fabr., Q o!. — Tambem no Esta- “do do Amazonas: Barcellos e Teffé. Ninho: est. 4, fig. 25. 9. Polist. vufiventris Ducke, Q. A este grupo pertence ainda uma especie, conhecida sómente do Estado do Amazonas : 692 Vespidas sociaes do Pará Polist. erythrogaster Ducke, «Revue d'Entomol.» 1905, P & — Intermediario entre o Polist. rufiventris e o Polist. occipitalis; possue a linha superior (muito fina nesta especie, ás vezes difficilmente visivel!) como aquelle. mas assemelha- se nos outros caracteres e no facies geral muito mais a este, do qual se distingue principalmente pela orla posterior da cabeça simplesmente elevada. não angulosa. — Colleccionado em Teffé na matta, com o ninho (est. 4, fig. 26). O 3.º grupo de especies tem a linha inferior das me- sopleuras bem distincta, porém a linha superior falta (ás vezes indicada por vestígios quasi imperceptíveis!) — São as seguintes as especies, que até agora pude encontrar no Estado do Pará: 10. Polist. occipitalis Ducke, 9 — — O d& con- corda nos Caracteres especificos com a 9. — Existe no Estado do Pará tambem em Obidos: no Estado do Amazo- nas encontrei-o em Barcellos, 11. Polist. bicolor Lep.. 2. — 12. Polist. melanosoma Sauss. (= P. rhodostoma Ducke, «Revue d'Entom.» 1905). 9? — Reconheci esta es- pecie sómente depois de ter della recebido um exemplar de São Paulo, do sr. R. von Ihering. — Assemelha-se em cór e tamanho ás especies: Polybia angulata e Megacanthopus carbonarius; a cabeça tem posteriormente uma orla simples- mente elevada: o 1.º segmento abdominal é visivelmente mais comprido que largo e é depois da base ligeiramente angulado aos lados. — Colleccionei esta especie no Estado do Pará em Obidos, no do Amazonas em Tabatinga. 13. Polist. pacificus Fabr., Q — No Estado do Pará ainda em Obidos; Estado do Amazonas: Teffé e Ta- batinga. — O ninho é fixado com uma certa predilecção à extremidade de espinhos de palmeiras (est. 4. fig. 27). 14. Polist. cinerascens Sauss., 9 — 15. Polist. liliaciosus Sauss., 2 — No Estado do Pará tambem em Obidos: no Estado do Amazonas obser- vado em Teffe. 16. Polist. liliaceusculus Sauss., 9 & — No Es. tado do Amazonas encontrado em Tabatinga: a maioria dos exemplares desse logar tem a côr fundamental quasi preta. Lista das especies com indicação do estado actual dos conhecimentos a respeito da sua distribuição geographica e nidificação. Fomeração das Distribuição geographica | á NOME DA ESPECIE | até hoje conhecida, eltando-se pelo sat Sa AD figurado | menos os pontos extremos. (1) PED cc 1a gusti Mexico, Paraná. Chapada de Matogrosso. | q yo Ih, Vespas soc, descr.; Ducke, pres Boletim, deser. 2! 2 » bilineolata Guyana, Baixo Amazonas, Belem, Chapada | Ducke, presente Boletim, descr, le Mnttogrosso. 3 | 3 siithi Guyana, Antonin. Ducke, Boletim 1904 e no presente, 4) 4 scutellaris Guyana, Amazonia, Chapada de Mattogrosso. | Moebius, 0, cit, fig; Ducke, Bol. 1904, deser. 5| 5 lecheguana Mexico, Buenos Aires Sauseure, Etudes Vesp., fig. 6|— buyssoni Alto Amazonas (lado No) = 1 6 Pameh. colobopterus Colombin, Guyana, Amazonia, Maranhão, | Moebius, 0. cit, fig. Corumbá, 8|— amazonensis Alto Amazonas. Ducke, presente Boletim, fig. 9] T ipennis Baixo e Alto Amazonas (lado No). o 10] 8 . Auinzonia, R.v. h., Vespas soc, fig Juj 9 Mexico, São Paulo, Corumbá. Saussure, Etudes Vesp., figo; Moebius, 0, cit, fig.; Bol. 1904 € no presente, fig.; | R.v. Th, Vespas socines, descr, cr Guynva, Belem, Baixo Amazonas, Chapada E Mattogro: 3 | = Inctnosus Venezuela, Amazonia, Il, Vespas = Ducke, presente Boletim, fig. vespiceps | aitficilis | pusillus | na, Belem = Chartergus chartarius yann, Amazonia, S. Paulo, Chapada de | Sanssure, Étndes Vesp., fig | Muttogrosso, » globiventris | Amnzonin, Minas Gernes. Brethes, o. cit figo; Ducke, Bol. 1904. fig. Psendochart, cinctellus | Guyana, Amazonia, Chapada de Mattogrosso, | R. v. Th, Vespas soc,, fig; Ducke, presente | Bolotim, fig. , fuscatus Belem, Baixo Amazonas (lado S.) Ee | Charterginus fulvos Animzoni Rev. Th. Vespas soc. fig.; Ducke, Boletim 1904 e no presente, fig huberi Guyana. | Ducke, presente Boletim, fig- Clypenria apicipennis | Baixa Amnzonns (lado N,) Ducke, Boletim 1904, fig. Synoccoides depressa | alto Amazonas (Indo Tatun tntum Venezuela, Guyana, Amazonia, Chapada de | Saussure, Études Vesp., fig. JR. Metapol. pediculata Amazonia, Chapada de Mattogrosso, Synoeca surinana ana. Amazonia, Rio de Janeiro, Chapada | Due de Mattogrosso. | Guyana, Amazonia Baixo A + Baixo Amazonas (lado Moebius, 0, cito, fig. », Boletim 196 + ig Ducke, presente Boletim, descr, irina chalyben Protopolvb. nitida | azonas (lado bela , Alto Amazonas (lado N.). Ducke, presente Boletim, fig. mufiventris | Amazonia, | Ducke, presente Boletim, descer. minntissima | Guyana, Amazonia, 3 Panto, Saussure, Etudes Vesp., fig; Moebius, o. eit., fig.; Ducke, presente Boletim, fig Ducke, presente Boletim, fig. Moebins, o fig.; Ducke, presente Bol fig, yana, Rio Negro vana, Amazonia. 3430 holoxantha | 45 | 31 Leipom. lamelharia 46 | 32, Polybin Difu-cinta ana, Amazoni Ducke, presente Boletim, fig. 47 | — » devora | Alto: Amazonas [lado No j. Ducke, presente Boletim, descer 18 | 33 qurinei (2) Guyana, Amazonia, Rio de Janeiro, Chapada | Ducke, Bolotim 1904 e no presente, descr. | de Matogrosso; Portorico ? | 90 | 34 = syeophanta | Guyana, Amazonia, Maranhão, = 10/35 o ilim Panamá, Guyana, Amazonia, Chapada de | Saussure, Etndes Vesp, deser. Mattogrosso, » sulcata Baixo e Álto Amazonas, — te Boletim, de e Boletim, fig. tndes Vesp,, descer. yana, Marwjó, Baixo e Alto A nat, Amazonin ana. Belem, Baixo Amazonas, Chapada | Saussure, Ei de Mattogro: «culpturata mica: chrysothorax sericen atemala, Rio Grande do Sul. Saussure, Etudes Vesp., fig.; Moebius, 0, cit, Iugubris? Alto Amazonas (Guyana, Rio de Janeiro, presente Boletim, descer. São Paulo? ). » mfitarsis Guyana, Baixo e Alto Amazonas. = *— Uinctipennis Baixo e Alto Amazonas, Chapada de Matto- — grosso, 8. Paulo. nigra Baixo Amazonas, Rio Grande do Sul, Argen- | Saussure, Études Vesp,, descr.; R. vw Th, [EMI tina Vespas s0e., descr. 4 50 | 44 » — rejecta Mexico, Guyana, Amazonia, Maranhão, Mi- | Saussure, Etudes Vesp,, fig; Moebius, o, cit, nas Gernes, Chapada de Matogrosso. | fig. , dimidiata Guyana, Amazonia, 5. Paulo, Chapada de | R, v. Ih, Vespas soc, fig. Mattogrosso. 52 | 46 . ocedentaliz Mexico, Argentina. Moebius, 0. cit., fig.; Ducke, presente Bol, fig. 09] — =optentrionalis | Venezuela, Alo Amazonas. Ro v. Th., Vespas soe, fg 54 |»? itheresiana)? | Amazonia, (? Colombia ) Ih., Vespas soc, fig. o. cit, fig; Ducke, presente Bole- tim, fig b7 | 50 » emacinta Baixo Amazonas, Rio de Janeiro. Lucas, Anta. Soc Ent. Franco: 1879, fig: | (31; Ducke, presente Boletim, fig. furnaria Baixo e Alto Amazonas (lado S. ) | R eimentaria Guyana, Amazonia, Chapada de Mattogr. hi grosso, 1904, figo; Ro v. 1 73 | 03 | * virginea, Guyana, Aminzonia, Paraná, Ducke, Boletim TOO, fig, Vespas soc, fig. 58 | al » inferalis Venezuela, Guyana, Amazonia, Maranhão, | Mocbius, 0, cito, fig; Ducke, presente Bole- tim, fig- > Miguicola Amazonia. — vulgaris Amazonia. Ducke, presente Boletim, fig. pallidipes Amnzonia, São Paulo, Corumbá. | R. v. Ih. Vespas soc, deser. = myrmecophila Alto Amazonas, Ducke, prosente Boletir » flavipennis Alto Amazonas | lado S.). = =» pamonsis Amazonin Sehulz, Hiym, Amaz., descer. (2) » ha na, Baixo Amazonas (lado N. ). — , ruficornis Alto Amazonas (lado N.) | = vonstmetrix Guyana, Baixo Aninzonas (lado N.). — flavicans yana, Amazonia, ormata Alto Amazonas (lado S,) = = angulicolis (4) | Belem, Baixo Amazonas, Rep. do Equador | - [o tpare No Wo) | » angulata | Venezuela, Amazonia, São Paulo, | = Apoica palida Amazonia, São Paulo, Chapada de Matto- | Saussure, Etude: Vert fig; Ducke, Boletim | ; T4 | 04) Mischoextt Jabiatus Guyana, Amazonia, Jão de Janeiro, São | Saussure, Btudes Vesp., fig. Paulo, Chapada de Matogrosso 7 | 65 | deowseni Guyana, Baixo Amazonas, São Paulo, Ar- | R v. Th, Vespas soc, fig. gentina 70 | BO | Monacanth. filiformis | Belem Ducke, Boletim 1904 e no presente, m Megacanth. ator Guyana, Marajó, Belem, São Paulo, Rio | Ducke, Boletim 1904, fig; Ro Ii, Vespas rande da Sul. soe, fig. 78 | 68 + enrbonarius | Baixo Amazonas (lado N.), Rio de Ja | Es neiro (2). | 79 | — = gocldii Rio Negro. | presente Boletim, descer. SO | 6u | = mjucundos | Guyana, Amazonia. presente Boletim, fig; Ro vo Th, Vespa s06,, descr BE | Ti metathoracicus | Colombia, Guyana, Belem, Baixo Amazonas, | Ducke, presente Boletim, descr, Chapa de Mattogro: urkent Baixo é Ato Aninzonas. Ducke, presente Boletim, fik mdlulatos nyana, Alto Ainazimas | — surinamensis | Amnzonia, Maranhão, Rio de Ju: | Sausnre, Reiso der Novara, figo; Ducke, neiro, | presente Doletiro, fig. Amazonia, | Ducke, presente Boletim, fig + Baixo e Alto Amazonas (lado No) | Ducke, presonte Boletim, fig. erica do Norte, Argentina, Saussure, Etudes Vesp,, fig. Mexico, Argentina, grandes Antilhas, ssure, Btudes Vesp., fig Polistes canmlensis ” enmnifex » vursicolor Colombin, Guyana, Argentina. Saussure, Btudes Vesp. fig. f + goela Amazonia Ducke, Boletim 1904, fig. | clariponnis Baixo Amazonas (Judo Nº). — | analhe Cnyana, Amazonia, Ducke, presente Boletim, fig. * Viglumoides | 1 Mexiuna, Baixo Amazonas (la: | | h subsoriceus | Guyana, São Paulo, Chapada. de Mnttogr. — » rufiventris Melon, = coryihrogaster | Alto Amazonas Cludo So) Ducke, presente Boletim, fig. *— ociipitalis | Guyann, Belem, Baixo Amazonas, Rio Negro. biculor ana, Belem, Baixo Amazonas | — = melanosoma | Baixo e Alto Amazonas, Espi l — Paulo, 10085 » — Jilinciosus | Amazônia. - JOL 9 = pncificus “Guyana, Amazonia, Ducke, presente Boletim, fig. 102 | 90 »— vineraecens Belem, Uruguay, Argentina. Ro v. Th, Vespas s5e, deser. 108 | 91 + Mincenculus | Guyana, Amazonia. - E = d 15 Chamo aqui + Alto Amazonas» m parte oocidental da Amanha, dos Andos até ao Molotra e Mo Negro; daht para leste, até ao Xingd e Jary, seguem o + Amazonas » À região, que ao oxtendo dosto ultimo no Oovano, É botirogonoa demais para ser designada dotalxo de um só nome. O territorio do Aricary, embora pertencente a» Estado do Pará, é considerado como uendo parte da Guyata, À qual pertence fannletioamente. 12) A var, bonaerensis Brethos da Ho Argentina Cliahia bianca ) será antes uma especie indepeotolente, UM Não si esta figura, conheço porém a desoripção que a neorupanto. LA Brethes cita esta Especie do norte da J Argentina, porim pela descripção deve antes triar-se da angulata. Ed sn >7 CI] a o ] Ma RR dd ; Es > te ea Vespidas sociaes do Pará 695 Explicação das estampas Fig. 1. Ninho de Nectarina smithi Sauss., 4/5 do tamanho natural. Colleccionado em Teffé. » 2 » » Pseudochartergus cinctellus Fox, 4/5 do tam. nat. — Do baixo Japurá. — Cortei a folha da palmeira e elimi- nei elguns pedaços para o ninho se tornar visivel. ERR » » Parachartergus apicalis var. concolor Grib., 4/5 do tam. nat. — De Obidos. — Uma parte do involucro é cortada, deixando ver os favos. EN » » Parachartergus luctuosus Sm. 3/4 do tam. nat. — De Belem do Pará. — O furo de sahida acha-se no centro da parte inferior, no logar onde ter- mina o córte feito para descobrir os favos. Tambem neste exemplar (co- mo no que foi descripto por R. von Jhering) a parte superior do invo- lucro consiste de 3 folhas de papel cinzento claro, resistente. = RODRs + » » Parachartergus amazonensis Ducke, tam- nat. — Do baixo Japurá. — À aber. tura estava na parte superior do lado esquerdo; a folha seccando des- tacou-se em parte do involucro do ninho. » 6. Ninhos » Leipomeles lamellaria Moeb., 3/4 do tam. nat. — a: de Belem do Pará; é este o segundo dos exemplares descriptos no meu primeiro artigo, pag. 357. » Ta 10. RO 14. 16. Vespidas sociaes do Pará Ninho de a, b. Ninhos de Polybia occidentalis' var., affine à | deste Boletim; b: igualmente de Be- lem do Pará; é o primeiro dos dois, descriptos no referido logar; c: de Teffeé. na folha de uma palmeira. Charterginus fulvus Fox, tam. nat., de Belem do Para; a: visto de cima; b: de lado. : Charterginus huberi Ducke, tam. nat. do Ovapoc: a: visto de lado; b: de cima. — O involucro é externamente branco como cal. Protopolybia minutissima var. sedula Spin.. tam. nat., de Belem do Pará. Protopolybia minutissima Spin., de Teffe. Protopolybia holoxantha Ducke, tam. nat., do Ovyapoc. Protopolybia bella R. v. Ih., tam. nat... do baixo Japurá. Polybia bifasciata Sauss., 4/5 do tam. nat., do baixo Japurá. — O buraco grande ao lado direito não é o furo de entrada. O involucro deste ni- nho encerra numerosas camaras. ' Polybia micans Ducke, tam. nat. do baixo Japurá. var. oecodoma Sauss. Tamanho na- tural. Do baixo Japurá. Ninho de Polybia caementaria Ducke, tam. nat... do alto Purús. Vespidas sociaes do Pará 697 Já a | . y y Polybia emaciata Lucas, 1/2 do tam. nat., de Obidos (offerecido pelo snr. senador dr. Machado). | 18. Parte de um ninho de Polybia vulgaris Ducke, tam. nat., de Teffé: dois favos su- perpostos. Ao lado esquerdo e à extremidade direita apparece o favo mais velho, porém na figura a sepa- ração não é muito bem visivel. 19. Ninho de Polybia aenfernalis Sauss., tam. nat., de Belem do Pará. Destacado da folha, à qual era fixado. 20. » y Megacanthopus lecointei Ducke, tam. nat., do baixo Japurá. 21. » 4 Megacanthopws collaris Ducke. tam. nat., do Oyapoc. — Este ninho corres- ponde ainda muito melhor que o do Polistes goeldw (veja a estampa 1. fic. 6a do meu primeiro artigo nes- te Boletim) ao ninho figurado por Saussure (Etudes Vesp., fig. 7) € que este autor suppõe ser de uma Icaria, genero proprio da região in- tertropical do velho mundo e da Australia. 22. » » Megacanthopus injucundus Sauss., tam. nat., de Belem do Para. o E » » Megacanthopus surinamensis Sauss., tam. nat., de Teffé. » 24. Ninhos de Megacanthopus alfkeni Ducke, tam. nat.; a: do baixo Japurá, b: do Rio da Villanova, a nordeste de Mazagão. 698 Vespidas sociaes do Pará » 25. Ninho de Polístes amalis Fabr., tam. nat., de Teífe. » 26. » » Polistes erythrogaster Ducke, tam. nat., de Teffé. E' notavel a côr alvissima do tecido da tampa das cellulas. » >» Polistes pacifcus Ducke, tam. nat. de Teffé. Fixado a um espinho de palmeira. bo a | “ia ib H a Uia . Mimo comme cg Ph Nectarina (fig. 1), Pseudocharter Generos: Estampa 1. Dr. E. A. Goeldi phot. Leipomeles (fig. 6lh; Ninhos de Vesply Generos as amazonicas. | Estampa 2. Dr. E. A. Goeldi phot. as = ; r a À hos - «6 8 | E À é + a . 4 ; | E | (= ; Fê e bd E ; | ' Fr ç E e | | Rs”. ) ro A a = E E a q nao é as n aê: ” e E ae Ad DAE al E tido Ninhos de Vespas 2, Protopolybia (fig. . Generos Estampa 8. 15º 12), Polybia (fig. 13 16) Edo bd Ninhos de Vespi: Generos: Polybia (fig. 17-19), Megacanthopuyic . amazonicas. Estampa 4. “sa usftig. 20-24), Polistes (fig. 25 27). Dr. E. A. Goeldi phot. Es E E. q SA E SPO 1 A RS ENADE REST 6 TT ta O mi DS Ohelonios do Braxil 699 - OVA Chelonios do Brazil (Jabotys — Kágados -—- Tartarugas) Capitulo primeiro da Monographia «Reptis do Brazil» (*) (Obra inedita, escripta entre 1892 — 1894) pelo Dr. EMILIO A. GCELDI Ordem de Reptis tão caracteristica em sua physionomia exterior que mesmo o profano difficilmente a confundirá, são as Tartarugas (Chelonia). Seu distinctivo mais notavel consiste na presença de uma couraça singular no dorso e no abdomen, que variando embora nas diversas familias, ten- dendo até a atrophiar-se em alguns membros, todavia a ne- nhuma especie falta. Consta por um lado de couraça dorsal abobadada, representando em regra um segmento de ellip- soide de eixo mais ou menos longo, e de couraça abdominal chata, de fórma variada, de ambito um pouco menor, por outro lado. Ambas as couraças estão ligadas lateralmente e quasi ao meio, de modo que só ficam adiante uma abertura horizontal e alongada para a passagem da cabeça, do pes- coço e das pernas anteriores, e atraz outra semelhante, maior, para a passagem da cauda e das pernas posteriores. Assim o animal póde internar-se na concha quasi inteiramente com suas partes nobres. Uma tartaruga virada encolherá a ca- beça, e tanto quanto póde as extremidades anteriores e pos- teriores, de modo que as partes que dentro não acham mais logar, como a cauda, ajustam-se estreitamento no rego late- (*) Desta obra até agora não foi publicada outra parte, senão o capitulo relativo aos Lacertilios ( Lagartos) do Brazil, no Boletim do Mu- seu Gceldi, Vol. III, 1902 ( pag. 499-560 ). 700 Chelonios do Brazil ral. Comquanto muitas analogias se possam notar com a couraça dos Tatús entre os Mammiferos, não se nota na rija couraça dos chelonios movimento semelhante ao das couraças flexiveis e engonçadas dos Dasypodides. Ficaria melhor comparado com a casa calcarea a que se recolhe o caracol. Com o seu aspecto singular não se affigurará talvez evidente ao leitor desde o primeiro olhar a natureza do reptil, a fraternidade dos Chelonios com os Crocodilios, Lacertilios e Ophidios. Todavia assim é: a sciencia colloca estes animaes na classe dos Reptis, bem em cima, attendendo à estructura interna de seu corpo que, mais que em qual- quer outra ordem, é aparentado com o das Aves. Vêm de- pois os Crocodilios, com os quaes têm de commum a abertura alongada da -cloaca. Alem da singularidade da couraça dis- tingue-se todavia de outros reptis pela arcada de dentes, substituida por uma serrilha cornea, cortante, da queixada, circumstancia que tambem revela seu parentesco com as Aves. Não se deve pois estranhar que os Chelonios já te- nham soltado seu verbo mais importante na fauna prehisto- rica. Talvez não seja ainda possivel agora dizer sem titubiar se a era da prosperidade desta ordem já fica para traz ou guarda-se para o futuro. Certo é que o centro de gravitação no desenvolvimento de formas collossaes pertence mais ao passado que à actualidade. Grande é o numero, a multipli- cidade das Tartarugas fosseis, que apparecendo mais nume- rosas primeiramente no Jura superior, torna-se frequente no periodo da greda e no periodo terciario. Os Chelonios possuem cabeça curta e tosca, tendo algo de sapo no aspecto. Alem da falta de dentes a que ja alludimos, nota-se nella a lingua pregada na base da cavi- dade bocal e não distensivel; a posse de trez palpebras, e na parede do bogalho a presença de um annel sclerotico formado de numerosas lamellas de osso dispostas à maneira de funil, — são ainda um documento de parentesco com as Aves: mais uma membrana tympanica exteriormente visivel, final- mente uma crista occipital fortemente desenvolvida, mas vi- sivel só em esqueleto preparado. O pescoço é comprido, Chelonios do Braxal 701 tem internamente mais ou menos oito vertebras e é coberto externamente por uma pelle bastante frouxa que se dispõe em rugas ou vintos transversaes ao encolher da cabeça que às vezes cobre em fórma de capuz. Muito variada é a fórma dos quatro membros que existem sempre, adaptadas ao modo de vida, à assistencia tanto em terra firme como na agua. As legitimas Tartaru- gas terrestres têm pés proprios para andar. cujos dedos se fundem em espesso pé contraforte de elephante. As tar- tarugas de riacho ou bréjo, que vivem na agua doce, têm quatro e cinco dedos armados de garra e ligados por uma membrana natatoria. Nas Tartarugas marinhas deparamos as extremidades anteriores e posteriores trasformadas em barbatanas. O pé, reduzido nellas a remo chato, mostra de- dos firmemente presos, que não trazem unhas, ou trazem duas quando muito. A cauda apparece curta, mas apezar disto chega a contar até vinte e cinco vertebras e, uma vez por outra, é armada de unha na ponta. Qual a procedencia genetica da couraça dorsal dos Chelonios ? A isto responderemos que representa o duplo producto da expansão interna das vertebras e da ossificação exterior da pelle. Das dez vertebras do tronco, em regra oito colla- boram na construcção da couraça dorsal, a testa dorsalis, e são as apophyses espinhosas superiores destas vertebras por um lado, as costellas por outro que formam esta cara- paça ossea, immobilisada pelas costuras de umas com ou- tras. Em exame mais detido reconhecemos uma carreira mediana de sete taboas osseas ( producto das vertebras ); em geral oito laminas lateraes ( productos das costellas); na . borda ainda um rosario de placas marginaes devidas à ossi- ficação da pelle. muitas vezes 11 de cada lado: adiante uma placa nucal, atraz uma placa pygal. Embora o aspecto e talvez tambem o numero se possam harmonisar, deve-se, po- rém, notar que a disposição e o ambito do escudo dorsal e as taboas osseas internas que formam o escudo abdominal não costumam corresponder exteriormente às placas corneas so- brejacentes, e até, na maioria dos casos, dellas divergem. DE ad fe 4 702 Chelonios do Brazil No escudo abdominal não entram partes interiores do esque- leto, mas apenas ossos da pelle: são oito taboas pares, orientadas transversalmente e adiante uma taboa impar, o chamado Entoplastron. Nas tartarugas novas as costuras não estão ainda bem unidas, deixam fontanellas brandas na linha mediana. Muito importante para a determinação das Tartarugas e o conhecimento da nomenclatura das placas osseas que ficam por fóra. São no escudo dorsal: 1) cinco escudos vertebraes medianos. 2) escudos dorsaes 2x4: 3) uma porção variavel de escudos marginaes, dos quaes o dianteiro se chama escudo nucal e o trazeiro escudo caudal. De modo semelhante encontramos na testa ventralis marchando de diante para traz: 1) escudos gulares 1X2: 2) escudos brachiaes 1x2: ) escudos peitoraes 1x2: - 4) escudos abdominaes 1X2: 5) escudos femoraes 12: 6) escudos anaes 1/2. Accrescem lateralmente: adiante uma placa axillar, atraz uma placa inguinal. A parte das extremidades que fica livre, a cabeça e a cauda mostram uma pelle aspera, geralmente lixosa, salpicada de pequenas formações corneas que podem assumir a fórma de grãos, verrugas, espinhos ou escudos. Na Mata-matá che- gam mesmo a apparecer formações dermaes em tiras e pin- gentes. Tartarugas existem em todo o mundo, comquanto não de maneira igual. Amam o calor, odeiam o frio, estão por isso mais raramente semeadas nas zonas temperadas que nas tropicaes. Donde quer que provenham, são iguaes entre si quanto ao temperamento. São todas preguiçosas, inertes, em todas as formas que habitam o continente; um pouco mais espertas são geralmente as fórmas fluviaes; excellentes Chelonios do Brazil 703 nadadoras que desenvolvem velocidade importante são as Tartarugas marinhas. Sua intelligencia conserva nivel baixo e se fosse esta que decidisse da classificação dentro da ordem dos Reptis deviamos collocar os Chelonios, antes muito baixo que muito alto. O resto da organisação esta, porém, em certo contraste com o volume e a elaboração do seu systema nervoso. Os Chelonios possuem cerebro inquietadoramente pequeno. Tartarugas de quarenta kilos mal possuem cerebro de 4 grammas, menores de um kilo têm apenas 360 centigrammas de cerebro, — na média, pois, uma proporção entre a massa corporal e a massa cerebral que não excede a 1.000: 1. Daqui não ha muita autoridade psychica a esperar. Uma vantagem possuem os Chelonios comquanto du- vidosa: quasi impossivel é matal-os com os meios ordinarios. As mais terríveis mutilações, que matariam instantaneamente um veitebrado superior, aguenta a sua constituição robusta. Vivem um tempo espantoso sem respirar, e não ha suffocal- as; sem cerebro e até sem cabeça, movem-se ainda mezes inteiros, admittem o serramento da carapaça em duas, e muitos casos se conhecem de Tartarugas que viveram até seis annos sem se alimentar. Os mais violentos venenos ap- plicados interna ou externamente ou não reagem, ou reagem com morosidade de causar indignação. O unico meio de morte rapida para fins scientificos é uma mistura refrigerante. Espantosa é sua força muscular e a dureza e resisten- cia de sua couraça. Aos poucos inimigos do reino animal que podem passar-lhes a garra uma vez crescidas, offerecem por sua resistencia passiva e sua resignação tranquilla não pequena difficuldade. Certos rapineiros seguem a tactica de levar para o ar estes couraçados exasperadoramente pacien- tes, deixando-os cahbir dahi sobre o chão duro ou sobre pedra, tantas vezes que a couraça rebenta. Tartarugas novas são devoradas inteiras, por atacado. Os quentes steppes e desertos. os rios. os brejos e as umbrosas matas humidas ou o vasto mar, constituem os lo- gares em que os Chelonios habitam. Dispensar de todo a terra firme não o póde especie alguma: mesmo as Tartarugas marinhas são obrigadas a visitar as costas em época de 704 Chelonios do Brazil postura. Sua alimentação é geralmente mixta, meio-vegetal, meio-animal, com maior ou menor tendencia para uma ou outra direcção. conforme as familias. Os Chelonios são absolutamente oviparos. Os ovos arredondados, de casca te- nue, munidos de branca crosta calcarea, são enterrados em buracos ou na areia das praias, ora apenas uma duzia. ora, como nas grandes Tartarugas marinhas, — mais de 100 por cada femea. Não são incubados; deste trabalho se in- cumbe o sol. Até romper-se a casca do ovo podem passar semanas e mezes: observações exactas sobre o prazo neces- sario a cada especie não existem ainda e continuam a ser um desideratum scientifico. Os filhotes, que costumam re- bentar a casca, à noite, começam immediatamente sua exis- tencia independente, e, ao menos os das tartarugas fluviaes e marinhas, atiram-se logo directamente á agua mais pro- xima. Economicamente as Tartarugas são os mais uteis dos Reptis e exactamente o Brazil pertence áquellas paragens do globo que teriam falta de precioso meio de existencia, se não houvesse Tartarugas. Na região amazonica, por exemplo, uma pessoa deve se orientar litterariamente ou por experien- cia e percepção propria colhidas em viagem, para capaci- tar-se da plena exactidão desta affirmativa. Leiam-se as des- cripções de viagens de Martius, Bates, Keller-Leuzinger para “comprehender quão pobre sem este animal seria o habitante do Amazonas. Conhecem-se até agora 201 especies de Chelonios exis- tentes na actualidade. Strauch, zoologo russo especialista em Reptis, que no anno de 1865 já conhecia 194 especies, contava O para a regiãó palearctica, 32 para a ethiopica. 54 para a oriental, S para a austral-malaya. A' America, segundo o mesmo sabio, tocam 79 especies, isto é 44 para a America do Norte e do Centro, e 35 para a America do Sul, incluindo as ilhas. Ao vasto Oceano pertencem 5 espe- cies. Segundo os resultados mais modernos, cabem ao Bra- zil 25 especies, — cérca de 1/8 do algarismo total. Distri- buem-se em 13 generos. À grande maioria consta de incolas Chelonios do Brazil 705 de rios, riachos e bacias de agua doce; vêm depois os in- colas marinhos com 4 especies; mui fracamente representa- das são as Tartarugas terrestres, 3 especies apenas, de que só uma, a rigor, merece bem o nome. Os chelonios brasilicos são : Dermatochelys coriacea ; Cinosternum scorpioides ; Chrysemys D'Orbignyi:; Nicoria punctularia ; Testudo tabulata ; Chelone mydas; » imbricata : Thalassochelys caretta ; Podocnemis Dumeriliana : » unifilis ; » expansa ; Da sextuberculata ; » tracaxa ; » Coutinhi ; 15 Chelys fimbrata ; 16 Hydromedusa Maximiliani ; bo » tectifera ; 18 Rhinemys nasuta; 19 Hydraspis Hilarii; - oa pa pa pa worm OW ONA RwOl a 20 » Geoffroyana : 21 » radiolata ; 2), » rufipes ; 23 » Wagleri; 24 Platemys Spixii; is AN platycephala. A respeito da distribuição em familias seguimos o mo- nographo mais recente, Boulenger (1889) segundo o qual existem no Brazil as O familias seguintes: 1) Sphargide. 2) Cinosternidee. 706 Chelonios do Braxil 3) Testudinidee. 4) Chelonidee. 5) Pelomedusideae. 6) Chelydide. Os membros da primeira familia, dos Sphargide, são genuinos productos do passado, hoje extinctos, com ex- clusão de um unico representante. Carapaças dorsal e ven- tral, como os pés são revestidos de uma coberta coriacea; vertebras e costellas livres, não soldadas com o exo-esque- leto e no craneo faltam aquelles prolongamentos parietaes tão característicos para os outros Chelonios. São tartaru- gas marinhas gigantescas, começando no periodo triassico e diminuindo até a actualidade. O Psephophorus rupeliensis, do oligocenio da Belgica, media 3”: o Protostega gigas, da greda norte-americana, chegava a 4”. Dermatochelys coriacea (Sphargis mercurialis), o representante unico restante, sempre alcança ainda de 2” a 2” 3 de comprimento e um peso que varia entre 600 a 800 kilogrammas. Um destes monstros, que eu tive occasião de ver, vivo, era de um colorido geral bruno-ennegrecido. Fei- ção caracteristica lhe empresta o escudo dorsal com ares- tas longitudinaes das quaes se contam 7, distribuidas so- bre a superficie dorsal em distancias quasi iguaes. A placa ventral, delgada e flexivel, mostra semelhante configura- ção em animaes ainda novos. A bainha cornea da ma- xilla ostenta trez chanfraduras profundas, triangulares, que têm algo de bico de papagaio e levam logo à comprehen- são de que o animal póde dar bicadas e morder perigosa- mente. Das extremidades chatas, configuradas a modo de remo, e que não deixam distinguir differenciação de dedos, as anteriores são duas vezes maiores que as posteriores. A cabeça assemelha-se, no seu habitus geral, à das especies do genero Chelone, isto é, das genuinas tartarugas marinhas, conhecidas ao menos pela sopa ou caldo afamado, que com ellas a arte culinaria sabe preparar. Despojando-se a cara- Chelonios do Brazil 70 ns | paça dorsal da sua epidermide, apparece por baixo um com- plexo, à feição de mosaico, de innumeras placasinhas osseas, pequenas e polygonaes, complexo este que não forma um todo tão rigido e inflexível como a carapaça dos Chelonios restantes. Descrevem esta tartaruga gigantesca como arisca, gostando de morder e sendo difficil de subjugar por causa da sua desmedida força muscular. Não hesito em confessar que o olhar feroz, que lançava ao redor de si um exemplar gravemente ferido e que jazia em praia arenosa da bahia do Rio de Janeiro. faz alguns annos, me parecia confirmar semelhante caracteristica e que estive disposto a accreditar nos pescadores, que me affiançaram que o extranho monstro, antes nunca ou pelo menos desde muitos annos não mais visto, tinha-lhes opposto desesperada resistencia causando-lhes não pequeno prejuizo material na «rêde de arrastão ». Em trechos do littoral, onde costuma apparecer com mais fre- quencia, sua carne é tida como nociva à saude. A tartaruga coriacea tem sido observada e capturada casualmente em regiões maritimas da zona temperada de ambos os hemispherios e em pontos muito variados; todavia parecem ser sua verdadeira patria as aguas tropicaes do oceano Atlantico. Nas ilhas chamadas dás Tartarugas, na costa da Florida, referem, que na época da postura dos ovos, costuma fazer sua apparição em grandes quantidades, em sociedade com outros Chelonios maritimos. O mesmo deve se ter dado no littoral austro-septentrional do Brazil, ainda no tempo do eximio explorador, o principe de Wied, pois elle nos conta que tal tartaruga é bem conhecida dos pescadores nas costas arenosas do rio Doce, de S. Matheus, Mucury, Peruhype, Belmonte, rio Pardo, embora elle mesmo não tivesse mais tido occasião de enfrentar pessoalmente com ella nas referidas localidades. « Põe ella», escreve, «na areia, de cada vez, 18 a 20 duzias de ovos, o que constitue uma mui forte reproducção: as insidias e perseguições, po- rém, às quaes são expostos taes animaes, caçados e dizima- dos quando novos, especialmente por parte de certos peixes carniceiros, tornam necessaria uma descendencia tão nume- rosa. Estas tartarugas devem pôr os ovos, a serem verda- deiras as informações colhidas, quatro vezes ao anno, sem- 708 Chelomios do Brazil pre de quinze em quinze dias, sendo o maior numero na segunda vez, e diminuindo a porção nas duas ultimas ». To- davia ainda não se sabe muita cousa quanto ao modo de vida d'esta interessante tartaruga marinha e seria bastante para desejar que, da parte de amigos da natureza, favora- velmente situados no littoral brazileiro, viessem com o tem- po relações minuciosas e dignas de fe. Tanto quanto me consta até agora, até a altura do Rio de Janeiro foram observados e apanhados somente dois exemplares, um ha talvez uns 20 annos atraz, perto da ilha pharoleira da Rasa, (*) o outro, faz bem poucos annos, dentro mesmo da bahia do Rio de Janeiro. Este ultimo esteve nas minhas mãos. Melhor conhecida é a anatomia interna, pois o zoolo- gista parisiense Gervais fez della, ha alguns annos ( 1872) assumpto de uma monographia especial. Não muito mais importante é o papel que à segunda familia, a dos Cinosternidee, compete aqui no Brazil. Abrange especies menores com testa dorsalis bastante chata, mostrando ao redor de seu disco 23 placas corneas; tem um bico como de papagaio ou gavião qual se encontra na familia anterior ; pelle do pescoço papillosa; cauda curta, pés, adiante com 5, atraz com 4 dedos, e munidos de fortes unhas e um « plastron ventral », composto de 11 placas. Este disco ven- tral offerece um signal caracteristico na circumstancia de reunirem-se por um lado as 6 placas anteriores e, por outro, as 4 posteriores em uma peça continua e unica; em con- traste com as duas placas do meio que se conservam im- moveis, essas peças, à maneira de dobradiças se deixam ver- gar, dentro de certos limites, para cima e para baixo. A familia é pequena e não conta senão um genero, apresentando-se entretafto este com 11 especies. Todas são americanas: a maioria reside ao Norte do Equador: são por- tanto neotropicas. Ao Brazil comtudo cabe uma unica espe- (*) Mais uma vez lembro aqui o facto, de ter sido redigido este capitulo, bem como toda a monographia « Reptis do Brazil », entre 1892- 1894, quando ainda na Colonia Alpina, Theresopolis, Serra dos Orgãos. Res Chelonios do Brazal 709 cie: Cinosternum scorpioides (*) (Kinosternon longi- caudatum e brevicaudatum Spix). Habita ella na região amazonica e na Guyana e possue um escudo dorsal bruno, não facilmente medindo além de 15 !/, cm. em comprimento; um escudo ventral amarellaceo ou brunaceo, queixos ama- rellaceos com estrias e marmorações brunas. Os signaes es- pecificos os mais salientes são fornecidos pelas trez arestas do escudo dorsal e a ausencia de uma accumulação de pe- quenos tuberculos, corneos e carenados, pelo lado posterior das pernas nos individuos do sexo masculino. E', como as demais especies da estirpe, um kágado pequeno ou mediano, de aspecto nada bonito, assaz voraz e amigo de morder, que se alimenta de pequenos peixes, insectos e vermes e é capaz de causar desespero aos adeptos da pesca de anzol, pois gosta de perseguir a isca. Spix, o seu descobridor. con- siderou no anno de 1824, os especimens do sexo feminino e de cauda curta, como especificamente differentes dos do sexo masculino e cauda comprida, estabelecendo assim duas espe- cies — erro este, com que deram, já em 1835, os autores Dumeéril-Bibron, que se apressaram em corrigil-o. Sobre os pormenores do seu modo de vida ainda quasi nada se sabe. (**) Eis-nos chegados à terceira familia, a dos Testudini- de, d'aquelles Chelonios que a bocca do povo brazileiro costuma designar com o termo de Jabotys, seguindo o exem- (*) Desde a redacção d'estas linhas deixei cabalmente demonstrado em diversas publicações, principalmente no meu trabalho « Os ovos de 13 Reptis do Brazil », Zoolog. Iahrbuecher, lena, 1896, que o Kagado aqui des- cripto é aquelle, que no Pará é tão conhecido com o nome trivial de « Mussudn ». (**) Parcialmente foi esta lacuna sanada desde então mediante os meus estudos, « Sobre os ovos de 13 Reptis do Brazil », publicados em 1897, onde se acha um artigo dedicado à biologia do « Mussuan », conforme observações feitas desde 1894 na foz do Amazonas ( pag. 658, 660), D'a- quelle artigo tiro aqui os seguintes pormenores sobre os ovos: Forma ovoi- dal; casca dura; eixo maior 33 '/, mm; eixo menor 18 !/, mm; peso medio 3 grammas. 710 Chelonios do Brazil plo dos Indios que fallam a lingua Tupy. Uma couraça dor- sal, por via de regra oval, mais ou menos fortemente abo- badada com espessas placas epidermaes corneas, — uma couraça ventral chata, uniforme, rigida, constituida de 11 a 12 escudos, sendo os peitoraes lateralmente em contacto com as placas marginaes, originando-se asssm um largo e robusto pilar de juncção — eis, por assim dizer, entre os signaes de familia communs e exteriores, aquelles que são notaveis à primeira vista, e aos quaes se poderia juntar ainda uma porção de caracteristicos interiores relativos ao esqueleto. São cosmopolitas, ausentes unicamente na Australia e na Papuasia. Formam o grosso entre os Chelonios da actualidade, contando nada menos de 113 especies sobre toda a Terra, o que equivale de perto à metade. Excessiva- mente ricas em representantes são as Indias anterior e pos- terior:; segue-se então a região ethiopica; tambem a Europa meridional tem os seus representantes conhecidos desde a antiguidade remota. Cabem à America, incluindo as suas ilhas, ao que sei, 3) especies — approximadamente 1/5 do total. Por outro lado as Americas septentrional e central agasalham bastante mais especies que a do Sul e surprehen- dentemente pobre em especies apparece-nos, em relação aos Testudinida e Jabotys, exactamente o Brazil, pois até agora não foram d'aqui conhecidas senão 3 especies: Chrysemys D Orbignyai, Nicoria punctularia, — Testudo tabu- lata. Passemos a tratar de cada uma d'ellas. Caracterisa-se o genero Chrysemys, que se estende quasi sobre todo o continente americano a que exclusiva- mente pertence, por uma «testa dorsalis » oval, moderada- mente abobadada, com 27 escudos corneos ao redor do disco — escudos vertebraes hexagonaes, curtos na frente. — es- cudos marginaes ao de leve serrilhados posteriormente, — largos pilares de juncção entre a carapaça dorsal e a «testa ventralis», — cabeça comprida e chata. Ch. d'Orbignyi, denominado em 1835 por Dumeéril-Bibron em honra do seu descobridor, que de Buenos Aires a remetteu para Pariz, recebeu d'aquelles dois descriptores francezes o seguinte « signalement: « Carapace ovale, bombée, presque lisse, sans Chelonios do Braxal 711 carêne, de couleur marron, ayant de larges taches triangulai- res noires sur les bords du disque et une raie également noire tout le long du dos, machoire superieure echancree». Accres- centamos, que este jaboty assemelha-se em fórma e colorido à especie norte-americana Ch. scripta (do valle do Missis- sipi), possuindo porém uma carapaça menos aspera e dis- tinguindo-se por uma mancha escura, larga e irregular, que occupa a maior parte da superficie da testa ventralis. Os pés são providos de largas membranas natatorias e unhas compridas. Si eu ouso attribuir a presente especie à fauna brasilica, o faço em attenção à circumstancia de ter ella sido encontrada por diversas vezes pelo meu collega Dr. H. von Ihering no Rio Grande do Sul. Infelizmente nada pude alcançar em informações sobre o seu modo de vida; de certo, porém, não possuirá em vão as suas membranas nata- torias e supponho que pertence áquelles Testudinidae que sabem se arranjar na agua e ainda não levam, como os le- gitimos Jabotys, existencia exclusivamente em terra firme. O genero Nicoria, com 6 especies, conta em partes iguaes membros asiaticos e americanos. À carapaça dorsal, altamente abobadada, com 27 escudos corneos tambem ro- deando o disco, e 23 placas marginaes, costuma ostentar alternativamente escudos vertebraes medianos quadrangulares e octogonaes. N. punctularia (Emys dorsualis Spix; Clemmys, Chersine p.) possue, conforme Duméril-Bi- bron, os seguintes característicos: Carapace ovale, entitre, três-convexe, unicarente, d'un brun noirátre; slernum noire, bordé de jaune; téte noire avec deux taches sur le museau et une raie de chaque cóté du crâne, en arritre des yeux, de cou- leur rouge, lorsque [animal est vivant». Accrescentamos a isto, que a cauda é mui curta, não excedendo a cabeça em comprimento, que sómente a maxilla ou bico de cima acha-se levemente provida de chanfradura na frente e que os dedos dos pés anteriores são curtos porem distinctamente ligados. A patria deste chelonio vai do Brazil septentrional ao Me- xico meridional; distinguem-se 4 variedades ou raças. Na região amazonica é conhecida com o nome trivial de « Ja- boty-aperéma». Referem, que se alimenta de rãs e peixes miudos; os ovos são descriptos por Dumeéril-Bibron como Eb lp Chelonios do Braxzal sendo brancos, cylindricos e truncados nos dois polos. (*) A casca mais comprida entre as muitas que o British Mu- seum de Londres conserva d'esta especie, mede 20 em. De 14 exemplares vivos que possue n'este momento o Jardim zoologico do nosso Museu, no Para, e que medimos, o maior tem 21 1/4 cm de comprimento sobre 15,3 em de largura (agosto, 1905 ). Entretanto os membros os mais populares e importan- tes abrange certamente o grande genero Testudo que conta nada menos de 41 especies, distribuidas sobre quasi toda a terra na sua parte mais quente, exceptuada a Australia. A America, em verdade, agasalha d'aquelle total apenas 11 especies e ao Brazil, em especial, parece não pertencer se- não uma especie, quando muito duas, caso se queira respon- der no velho litígio sobre a identidade de T. tabulata e T. carbonaria no sentido da scisão. (Por outro lado a Republica Argentina ainda possue tórma propria de «jaboty » em T. argentina ). Testudo tabulata, o nosso jaboty, é animal impo- nente, cuja casca dorsal por si só póde attingir de 55 até 70 cm de comprimento. Conta esta casca 13 escudos ao re- dor do disco, a saber: 5 vertebraes, largos, e de cada lado 4 costaes grandes, polygonaes. Em escudos marginaes exis- tem 23 (e não 25, como erradamente escreve o Principe de Wied no seu atlas « Abbildungen »). A carapaça ventral é consideravelmente mais estreita, recortada mais fortemente na frente e menos atraz; contém 12 placas corneas em 26 pares, dominando entre ellas as duas abdominaes pelo ta- manho. Os escudos corneos dorsaes são providos com gra- vuras concentricas e elevados ou entumecidos a modo de botão no centro. Ao passo que o centro mostra colorido amarellaceo ou côr de laranja, o resto circumvisinho con- serva-se numa tinta mais escura; a carapaça ventral é ama- rellacea e bruna. (*) Pormenores biologicos foram fornecidos desde então pelo nosso trabalho, já diversas vezes citado, onde se encontram tambem indicações mais minuciosas sobre os ovos. Fórma subovoide; casca dura; eixo maior com 74mm., eixo menor com 36 mm. Tempo: dezembro-janeiro. (Pag. 659- 661 ). Chelonios do Brazil aro Em individuos novos a porção central dos escudos corneos costuma ostentar uma pontuação escura. Toda a casca é muito espessa, alongada, igualando a largura à me- tade do comprimento, só fracamente abobadada, levemente recortada na frente. A cabeça costuma apresentar escamas desiguaes, arredondadas, côr de laranja, na face superior, ao passo que as mesmas se encontram no lado anterior das pernas, que mostram a sua maior grossura na terminação distal. E' denticulada a aresta dos queixos. Assim os indi- viduos typicos de T. tabulata. (Conforme J. M. da Silva Coutinho a esta fórma applica o povo do Norte o nome es- pecial de « Jaboty-tinga »: costumam designar com o nome de « Jabóta » a femea). Com a qualificação de T. carbona- ria Spix («Jaboty-piranga» da Lingua Geral) os antigos exploradores do Brazil vieram especialisando aquella fórma que se salienta por uma casca dorsal consideravelmente mais abobadada, estreitando-se na região dos flancos e por um colorido fundamental puxando ao negro. Quero avisar que os mais modernos herpetologistas reunem novamente estas duas fórmas numa só especie. (Uma terceira modalidade, mencionada pelo mesmo Sr. Coutinho como encontrada na região amazonica, o « jaboty-carumbé » não posso identificar com sufficiente segurança, pois não a vi pessoalmente, nem della possuo descripções ou figuras idoneas que me habili- tassem a tal processo. (*) O nosso chelonio é conhecido tanto nas Antilhas, como sobre a maior extensão da Sul-America tropical, e em am- bas as fórmas acima mencionadas; referem que D'Orbigny ainda trouxe comsigo cascas da modalidade « carbonaria » provenientes do Chile. E” frequente no Brazil central e sep- tentrional; a maioria. porem, das localidades brazileiras, onde constam achados seguros, são situadas ao longo do littoral do Norte. Lá o principe de Wied o observou em muitos (*) Declara o respectivo autor, que o distinctivo do « carumbé » reside nas malhas côr de carne ou rosa, e nos variados desenhos escuros da sua casca. Ha entretanto, aqui no Pará, pessoas perfeitamente familiares com a fauna do interior da Amazonia, que me afiançam o « carumbé » não ser outra cousa diversa senão simplesmente aquillo que é o «capitary » en- tre as tartarugas, isto é, o macho do jaboty ( agosto, 1905 ). 714 Chelonios do Brazal logares. traçando d'ella a seguinte descripção : « Achei cas- cas vasias nas matas de Tapebúen, 1/,º ao Norte do Cabo Frio, e de lá para o Norte, por toda a parte nas grandes florestas. Em Morro da Arara, nas matas do Mucury, recebi diversos destes animaes, que emprehendemos de alimentar. Em Belmonte não eram raros e nos cestos de viagem dos Botocudos achamos couraças inteiras. bem como cascos dor- saes do kágado de rio, servindo estas ultimas aos selvagens para nellas triturarem as suas tintas. No rio Ilhéos final- mente, atravessando uma zona ininterrompida de mata, en- contramos o jaboty frequentemente na mais densa floresta. Observei-o sómente na terra firme. enxuta e unicamente no mato. Vagarosamente elle vem se arrastando sobre os bron- cos e massudos pes, disformes pilões à guiza de perna de clephante, e, ao enxergar alguma apparição estranha, reco- lhe logo os membros. O seu alimento é escolhido no reino vegetal, nutrindo-se de preferencia de fructas maduras cahi- das das arvores, do que ha grande variedade. Na estação quente do anno elle fórma um montão de folhas seccas e lá deposita 12 e mais ovos. Os filhotes, ao sahir do ovo, são amarellados e têm a couraça ainda bastante molle. Os Indios, tão familiares com as cousas da mata, asseguram que a onça, quando acha um d'estes Chelonios, o põe em pé, es- forçando-se por arrancar pouco a pouco da casca a carne mediante as suas possantes garras: o facto é que, não raras vezes, nós mesmo encontramos taes cascas vasias, um tanto roidas na frente. Cheiro desagradavel o jaboty não tém, tanto que a carne é bastante procurada por parte de Por- tuguezes, Negros e Indios, tanto mais que ella é, em certo tempo, muito gorda. No rio Ilhéos é mettido em curraes pequenos e redondos, para tel-o à mão na occasião. Facil- mente aguentam durante diversos annos, e comem logo ba- nanas, das quaes se mostram notavelmente gulosos, além de folhas e fructas de toda a qualidade. Se se lhes toca re- trahem-se na casca, soprando ( fungando ) ao mesmo tempo, a modo de ganso. Não raro acontece que se encontrem ja- " botys em mundeos destinados a outros animaes. « Uma des- cripção de todo detalhada e satisfactoria dos ovos de Jaboty Chelonios do Brazal 71 A anda não chegou ao meu conhecimento. (*) Em compen- sação accrescentarei que tal jaboty, largado num jardim fechado, é positivamente a creatura mais isenta de exigen- cias que imaginar se póde: um instructivo brinquedo para creanças, ao qual felizmente nem uma ou outra travessura menos delicada é capaz de causar grande damno: mesmo na Europa encontram-se exemplares nestas condições, che- gando até a alcançar por lá respeitavel idade. Schomburgk encontrou o jaboty nas florestas da Guyana ingleza ate elevações de 600 m. acima do mar: eu, por minha parte, posso assegurar que elle não é mais encon- trado aqui em cima, na Serra dos Orgãos, a 800 m. sobre o mar. Não posso deixar de advertir ainda o leitor. que não se deixe mal guiar pela confusão originada na systematica por Spix, que dissolveu o jaboty em nada menos de 4 es- pecies (hercuwles-- sculpta,- carbonaria,- cagado.). Estes chelonios terrestres do genero Testudo occupa- ram desde vetusta antiguidade a phantasia dos povos do velho e do novo mundos. Já Aristoteles sabia um tanto da sua historia natural: cahiu entretanto no erro de affirmar que o jaboty-mãe chocava os ovos. O naturalista grego Aclianos tambem ja sabia que a cabeça. separada do tronco, ainda mordia por dilatado tempo. Cicero diverte-se à custa do poeta romano Pacuvius, por ter recorrido a uma definição tão prolixa, como a seguinte: « um animal caminhando devagar, vivendo na terra firme. baixo, quadrupede, com cabeça curta, pescoço de cobra, olhos de boi teimoso, desti- tuido de intestinos (!), sem espirito, porém com voz ani- mal », em vez de dizer simplesmente jaboty ( Testudo ). Plinius, fiel ao seu costume de consciencioso e douto compilador, refere varias receitas, de pretendido effeito the- (*) Que os ovos são quasi esphericos, brancos e de casca dura sabem ao menos os moradores dos Estados do Norte, porém isto não basta. Nós mesmo obtivemos desde 1894, no Para, por diversas vezes, ovos de Jabotys no captiveiro, casualmente sem lhes medir as dimensões e notar outros pormenores, e até vimos sahirem e se desenvolverem filhotes, que cres- ceram. Não houve outro cuidado de criação, senão mettel-os n'uma camada de areia, dentro de um taboleiro com paredes de vidro. O que me impres- sionou, foi o tempo consideravel que os filhotes levaram para sahir da casca: seguramente perto de 2 mezes. 716 Chelonios do Braxil rapeutico. todas manipuladas com as diversas partes do corpo do jaboty e nos ensina que foi Cervilius Pollio quem. pela primeira vez, mandou revestir objectos com camadas de « tartaruga ». Diodorus Siculus conta de tartarugas maritimas e de povos que lhes fazem a caça e sabem aproveitar para canôas as cascas vaslas. Para os Japonezes actuaes a tartaruga e o jaboty são symbolo de longevidade e bemaventurança. O que se poderia oppor contra semelhante modo de pensar, n'um animal, que quasi não ha meio de matar ?— Assim, nada nos deve surprehender, se estes pacatos Chelonios excitaram tambem a meditação dos autochtones do novo mundo e se cntrelaçaram intensamente nas suas lendas, na sua mythologia. O jaboty ainda hoje é um dos mais, senão o mais popular de todos os animaes, entre os nossos aborigenes brasilicos. Por toda a parte se apresenta, mormente em companhia da onça, da anta, tambem às ve- zes em trafico com o veado, o macaco, a mucúra, o homem e a figura mystica do « cahapóra ». Ora reveste-se do papel do enganado, por via de regra porém sae finalmente, apezar de mil vicissitudes e adversidades, victorioso da situação — uma feliz caracteristica e apotheose da sua solidez e poder de resistencia. O mallogrado Prof. Ch. F. Hartt publicou em 1875 um cyclo inteiro de lendas de jaboty debaixo do titulo « Amazonian tortoise myths» e Couto de Magalhães muito nos sabe contar d'iisto no seu livro « O selvagem ». Hartt chegou ao resultado de que à figura mythologica do Jaboty nas lendas amazonicas é a lua que fórma o substrato, e eu mesmo fui tambem levado a esta supposição por diversas lendas relativas a animaes, que tive occasião de ouvir da bocca dos indios Krahús ( Carahós), residentes na região limitrophe entre os Estados de Goyaz, Maranhão e Pará. D'estarte fica perfeitamente comprehensivel, que os peritos e dextros oleiros indios, que em tempos idos habitavam a ilha de Marajó ou a visitavam regularmente, recorressem ao jaboty como figura predilecta de ornamentação para as suas urnas funerarias e varios outros objectos ceramicos menores. Chelonios do Brazil VR! p Na quarta familia dos Chelonios, os Chelonidz, vol- tamos outra vez a genuinos moradores do mar, parentes — pelo menos no que diz respeito ao modo de vida e o habi- : tus exterior — da Dermatochelys coriacea acima tratada, re- presentante d'quella familia dos Sphargidae, que encontra- ) mos no declinio da sua existencia, si não já perante a im- minente extincção completa. Fica-nos assim poupada uma ; descripção circumstanciada. Reside a differença principal em ) ser a couraça dorsal — de feição cordiforme, recortada : com sinus redondo, na frente: pontuda atraz: de abobada achatada — coberta de placas corneas regulares, grandes, juxta- ou sobrepostas a modo de telhas. As extremidades ! semelhantes a remos, parecem-se, aqui como lá, com as das - phocas (Phocae ); todavia os dois primeiros dedos costumam mostrar uma unha aguda. A cabeça é outra vez curta, re- forçada, quadrangular: as margens aguçadas e cortantes dos queixos quadram tão intimamente, que as de cima ( maxil- lares) recebem perfeitamente os de baixo (mandibulares ) como caixilhos. O genero Chelone conta duas especies, que ambas b pertencem tambem a partes do mar brazileiras. A primeira | especie, Ch. mydas (viridis: esculenta Wied: agassizii Bocourt; maculosa e marmorata D. B.) facilmente se distingue, porque as placas dorsaes — 13 em numero — não são sobrepostas umas às outras. mas juxtapostas: em escu- dos marginaes contam-se 25. As margens dos queixos são denticuladas; os pés não mostram senão uma unha ( quando novo, algumas vezes 2) e a cauda não passa alem da cou- raça em comprimento. O animal novo é bruno-escuro ou côr de azeitona, em cima; as extremidades são marginadas de amarellaceo. O lado inferior é amarellado, com uma grande mancha bruno-escura tanto no pé, como na mão. Em individuos criados a couraça dorsal costuma mostrar-se malhada de amarellaceo em colorido fundamental brunacco. Ha grande oscillação entre as indicações relativas aos limi- tes maximos para tamanho e peso; diz-se haver exemplares de 2 m. de comprimento, pesando 500 kilogrammas ; com- tudo a mais comprida das muitas cascas conservadas no Museu Britannico de Londres não excede de 1,1 m. Esta e dE qdo = pa E e a e mou ms e: na enem á 718 Chelonios do Braxil tartaruga parece habitar todos os mares tropicaes e subtro- picaes, com excepção do Mediterraneo : os exemplares que apparecem nos mercados europeus, costumam ir das Anti- lhas. Encontrei-a, como visitante annual da costa atlantica da ilha de Marajó. na foz do Amazonas, durante a época da postura: é bem conhecida por lã com o nome terrivel de «surianá». (*) O seu apparecimento na costa do Bra- zil ficou aliás já registrado pelo Principe de Wied, do mesmo modo que para a especie seguinte e parente, Ch. imbricata. N'esta, como já faz prevêr o nome, as escamas corneas são arranjadas a modo de telhas, invertendo-se justamente os pormenores acima enumerados para a especie antecedente. A tartaruga de pente, como ella já se chamou no principio do seculo passado ao longo do littoral brazileiro, não cos- tuma exceder de 1 m. em comprimento: no oceano Indico cascas de 60 cm. de comprimento já são reputadas cousa extraordinaria. E" este chelonio que costuma de preferencia, fornecer a substancia chamada « tartaruga » : póde um exem- plar em placas de 3 até 7 mm. de grossura dar até 4 kilo- grammas da requestada mercadoria. E', debaixo do ponto de vista da belleza e da qualidade a melhor substancia cor- nea conhecida, dotada da enorme vantagem. de — quando mergulhada em agua quente — deixar-se imprensar, compri- mir, Juntar e moldar conforme qualquer chapa. Constitue assim um apreciado artigo de commercio, que fica applicado na technica para cem fins diversos e acha-se na mão de todo o mundo. (**) Eu mesmo encontrei até agora a Ch. imbricata na (*) Pormenores biologicos sobre a «suruanã » publiquei desde en- tão no meu trabalho « Os ovos de 13 especies de Reptis do Brazil », em 1896. Extrae-se os seguintes dados: fórma subespherica; eixo maior cerca de 42 mm.; eixo menor cerca de 41 mm.; peso médio 34 !/, grammas. Casca molle; aspecto semelhante ao dos ovos de Podocnemis expansa ( tartaruga do Amazonas ). (*) Que a industria dos pentieiros «era profissão importante em seculos anteriores », durante o tempo colonial até o principio do segundo imperio, mesmo na costa do Para, mostrou-o José Verissimo no seu valioso livrinho « A Pesca na Amazonia ». Hoje esta industria está de todo deca- hida; não sei mais de nenhum artista d'este ramo. | i É) L | Í Lá t reqe O E Chelonios do Braxil 719 Ilha Grande, na bahia do Rio de Janeiro, no Cabo Frio, na Bahia, na Parahyba, na costa da ilha de Marajó. Convém mencionar logo em seguida a terceira especie de Chelonides, a Thalassochelys (Caouana) caretta (corticata ); — outros synonymos: Caretta cephalo Merrem:; Chelonia Dussumieri D. B. — E' distinguida pela sua cabeça com bico muito pontudo e agudo, pela couraça dor- sal, que é munida de uma aresta mediana, em saliente re- levo, e apresenta 15 escudos corneos ao redor do disco e 25 — 27 placas marginaes. Comparado o revestimento de placas com o das duas especies anteriores de Chelone, logo dá na vista: que os 5 escudos vertebraes são em fórma de hexagonos alongados: que os pares costaes (5 ou mais ) têm as suturas correndo cbliquamente para fóra: que a margem posterior da casca mostra-se, conforme a idade, mais ou menos fortemente serrilhada. Individuos novos costumam ostentar 2 unhas, e os velhos, frequentemente, uma só nas extremidades. Quando novos, o colorido é predominante- mente bruno-escuro: quando velhos. puxando mais para o amarello brunaceo. Na circumstancia de os escudos da cara- paça dorsal não serem sobrepostas umas ás outras a modo de telhas, esta especie mais se parece com a Chelone my- das. A sua distribuição é não menos vasta: H. von Ihering assignalou-a no Rio Grande do Sul, eu a observei ainda nas costas visinhas da foz do Amazonas. Nem a carne nem a « tartaruga » desta especie gozam da mesma apreciação, como na Ch. imbricata. Attinge “um comprimento de 1.25 m. e um peso maximo de 150 a 200 kilogrammas. Os Chelonides são, do quanto pude aprender de expe- riencia propria no littoral do Brazil, tão eximios nadadores, como incrivelmente medrosos e ariscos, que nelles o medo já chega às raias da estupidez. No Cabo Frio pude obser- val-os, em enseadas tranquillas com agua funda e resacca forte, da canda, e sempre admirei, como o seu trabalho de nadadeiras, que se opera suavemente, brincando quasi, sem o minimo esforço, lhes rende, adiantando-os extraordinaria- mente. A's vezes approximam-se perto da superficie, che- gando até a emergir a cabeça uma ou outra vez, mas tempo folgado para a observação não concederão tão facilmente, Chelonide do Brazil | ty Õ nem talvez bastante para a applicação de um tiro. No Cabo Frio chamou-me a attenção. que elles frequentassem certas localidades com preferencia ou pelo menos com uma tal ou qual periodicidade: o mesmo reparo fiz na Bahia, na Parahyba e outros pontos do littoral nortista. No Cabo Frio, nas praias arenosas, encontrei diversos craneos grandes e bem conservados, fornecendo-me prova da sua existencia não rara na costa circumvisinha. No mercado do Rio de Janeiro encontram-se regularmente. A resenha dada pelo Principe de Wied acerca do modo de vida das tartarugas marinhas do litoral norte-bra- zileiro é tão attrahente, que Julguei bom não privar o leitor do seu conhecimento. « Durante o dia, escreve. veem-se as tartarugas collossaes a nadar aqui e acolá em pontos vi- sinhos da costa. Evidentemente observam ( conforme a minha experiencia durante o tempo do verão brazileiro, isto é, nos mezes de dezembro até fevereiro) as praias. poucas vezes interrompidas no seu silencio costumeiro, para subirem á terra e alliviarem-se da sua carga. os ovos. Na zona por mim atravessada são particularmente favoraveis para este mistér o longo trecho de 18 legoas de extensão. que se acha entre a foz do rio Dóce e a do rio S. Matheus. o outro sito entre o ultimo d'estes rios e o Mucury. como tambem diversas outras regiões da praia inteiramente plana. que não se tornam inaccessiveis por barreiras altas. selvagens e ingremes ou pela resacca demasiadamente violenta. como acontece perto de Prado. Comechatiba. Trancoso. Porto Seguro. Estas desertas e inhospitaleiras costas não são visitadas senão por muito raros viajantes. munidos de sua bagagem e viveres, ou então pelos Índios circumvisinhos na época da postura das tartarugas. com vistas aos ovos. São estes Indios os mais crueis inimigos das tartarugas marinhas: encontram diariamente diversos d'estes animaes, surprehendidos no momento de porem os seus ovos e matam-os immediata-. mente, pois estas pesadas e lentas creaturas são tão ineptas em terra firme. como dextras na natação. « Assim. em toda a sua extensão. estas costas tristes e melancólicas. desertas. que não mostram senão areia. em g > Chelonios do Braxil 7 ty [RN praia interminavel batida pelas ondas bravias do Oceano, e, terra a dentro, sombrias matas virgens, apresentam um aspecto de destruição e da inconstancia de toda a vida, pois os ossos, os craneos, cascos e esqueletos inteiros d'es- tes chelonios, exterminados justamente no tempo da sua procreação, jazem por toda a parte aos montões, tendo sido privados dos seus ultimos vestígios de carne pelos urubús. Os indios matam estas tartarugas marinhas por causa do azeite que a carne contém; extráem-no pela fervura e apanham os numerosos ovos, encontrados na areia ou no corpo do animal, em grandes cestos, para os comerem depois, em casa. N'este tempo encontram-se as familias dos Indios n'este litoral solitario, carregadas todas das taes colheitas. Tambem vão fazendo então ran- chos com folhas de palmeiras para n'elles morarem na praia durante dias e semanas, occupando-se diariamente com a lida da caça dos ovos. O viajante descobre fre- quentemente n'este periodo logares na areia da praia, onde dois sulcos parallelos na praia indicam o caminho, tomado pelas tartarugas ao subirem à terra. Estes sulcos são vestigios deixados pelos pes transformados em nada- deiras; entre elles nota-se mais uma larga faixa, rasto im- presso pela couraça ventral do pesado corpo. Accompa- nhando-se este rasto, talvez uns 30 ou 40 passos contra a elevação da praia arenosa, vae-se encontrar com o grande e bronco animal, sentado, immovel sobre uma cova rasa, que abriu por um movimento rotatorio, nella escondendo mais ou menos a metade do corpo. Aqui deixa-se exami- nar por todos os lados, e mesmo tocar, sem se mexer sensivelmente. Um fungar ou soprar, tal qual o costumam emittir os gansos no chôco quando alguem se lhes appro- xima, acompanhado de um tufar do pescoço que se abaixa um tanto — nisto consiste tudo que a esdruxula creatura tenta em prol da sua salvação e resistencia: pó- de-se pois sem custo matar o animal, desde que se ache em terra firme. — Quando a tartaruga tiver praticado a sua depressão ou cova, do modo acima indicado, princi- pia a excavar com os pés-nadadeiras posteriores um bu- raco assaz fundo, cylindrico bem por baixo da abertura Chelonios do Brazil “J ty ty anal. Para conseguir isto, ella move ambos os pés-nadadeiras posteriores. horizontaes e dotados de margens cortantes, um após do outro. obliquamente para dentro. contra o solo, apanha com elles uma certa porção de areia, eleva a nadadeira por um movimento lateral e despeja a areia, virando rapidamente o pé. logo que este tenha chegado à margem da cova. Desta fórma um pé depois do outro trabalha machinalmente num rithmo absolutamente igual, « até que seja cavado um buraco bem conformado. vertical. de 4 para 5 decimetros de profundidade, que tenha exa- ctamente bastante vão. para permittir a imtroducção do pe-nadadeira. Cada vez antes do animal mergulhar a na- dadeira posterior no buraco, para trazer nova porção de areia do fundo, move-a sempre um pouco para a frente. com o intuito de empurrar para diante e para os lados a areia que porventura lá se tiver accumulado e impedir que esta possa outra vez escorregar para dentro. Feito desta maneira o pequeno buraco regular. a tartaruga dá-se pressa em depositar mnelle ininterrompidamente os seus ovos redondos. revestidos com uma pelle coriacea, move- diça, esbranquiçada. que medem uns 6 cm. de diametro e dos quaes cáem lá para dentro talvez um cento dentro de uns 10 minutos. Possuem um albumen claro como agua e uma gemma de um bonito amarello, porém com um ligeiro gosto de peixe. Postos todos os ovos, o animal chega a areia de ambos os lados. pisando-a fortemente e volta no mesmo andar vagaroso e instinctivo, pelo mesmo trilho. por onde viéra, ao salso elemento. » A precedente descripção refere-se especialmente à Che- lone mydas. visto porém a similitude dos habitos de todos estes Chelonides, applica-se tambem às demais especies. Da Chelone imbricata o nosso autor ainda menciona espe- cialmente, que ella é capturada mais isoladamente na nossa costa. Devido à excellente qualidade da sua substancia cor- -nea os moradores do litoral lhe fazem uma caça sem tre- goa e nisto residirá em parte a explicação do numero rela- tivamente diminuto de individuos encontrados. Acham-se os seus ovos, da mesma lúrma, na areia das praias extensas e como taes logares posso citar principalmente a região do Chelonios do Brazal 723 ro S. Matheus ou Cricaré. do rio Mucury e dos rios mais ao Norte. São menores que os ovos da especie precedente ; tambem em numero lhes ficam atraz: o tempo da postura ec de dezembro até fevereiro. Serve para. a alimentação, como a especie anterior, mas a tartaruga alcança um preço elevado e é remettida logo para as capitaes maiores, mór- mente para a Bahia. Pouco sabe o Principe de Wied contar da Thalasso- chelys caretta, limitando-se só a communicar que consta- tou a sua presença mediante craneos e diversas partes do esqueleto encontrados na areia e que ella, por não ser muito valiosa sob o ponto de vista mercantil, é frequentemente confundida pelos moradores do littoral, que não lhe ligam grande importancia. Os chelonios economicamente os mais importantes para o Brazil abarca sem duvida a quinta familia, a dos Pelo- medusidae, — Tartarugas fluviaes, que correspondem a uma tracção da subordem dos Emydidae conforme o modo de ver dos antigos herpetolcgistas. Boulenger, notoria autoridade recente, propõe reunir debaixo da noção collectiva dos Pe- lomedusidae aquellas fórmas que possuem nuca retractil para dentro da casca, são destituidas de um escudo nucal e mos- tram 11 placas osseas no « plastron sternal ». Nessas condi- ções contam-se apenas os trez generos Sternothaerus (Africa, com 6 especies ), Pelomedusa ( Africa e Madagascar, com uma unica especie) e Podocnemis ( America meridional e Madagascar (1) com 8 especies. Assim temos de nos occupar exclusivamente com o genero Podocnemis, que, com isenção de uma especie, pertence de todo à região neotropica, cabendo a maioria e centro de gravitação à região amazonica. Allude o nome generico, emprestado da lingua grega, aos calcanhares dos pes posteriores, revestidos de escudos e laminas relativamente maiores. São figuras pouco bonitas, com sua couraça dorsal rombudo-oval achatada, com uma cabeça guarnecida de escudos grandes e espessos, frequentemente com um fundo 724 Chelonios do Braxil sulco longitudinal sobre o focinho, entre os olhos, e 1 ou 2 appendices ou excrescencias flagelliformes debaixo do queixo. com membranas natatorias fortemente desenvolvidas nas ex- tremidades. 5 unhas agudas na frente e 4 atraz. Boulenger enumera recentemente (1889) as seguintes especies sulamericanas de Podocnemis: 1) Podocnemis Dumeriliana ( valle amazonico ). lewyana ( Columbia e Venezuela ). unifilis ( Guyana e região amazonica ). * expansa ( Sul-america tropical cisandina ). sextuberculata ( Amazonas ). tracaxa ( Amazonas e Guyana ). coutinhii ( Rio Negro ). no ES, E EE a? Na a No gola ac Becas a? e Indubitavelmente merece ser collocada na frente Po- docnemis expansa (amazonica Spix). a «tartaruga » sensu stricto dos moradores amazonicos usando do idioma portuguez. a « Yurara-assi » dos Índios da Lingua Geral, no seu sexo feminino, ( quando o sexo masculino lhes é co- nhecido com o termo trivial de «capitary »). Conforme Alexandre von Humboldt os Indios do Orenoco a conhecem debaixo do nome de «arráu ». O mesmo naturalista afirma que a « tartaruga arráu >» se estende no mencionado rio ape- nas até as cachoeiras grandes ( Raudales ): que acima de Atures e Maypures é substituida por uma outra especie, a «tartaruga terekai» (sendo esta ultima systematicamente desconhecida até agora tanto para o proprio Humboldt, como para mim). (*) Rio abaixo, no Amazonas, é conhecida por toda a parte, tanto em Manãos, como no Pará e na ilha de Marajó. O Museu Britannico a recebeu igualmente do rio Ucayale e do Amazonas peruano, e mesmo — facto, que francamente o confesso, não deixa de me inspirar algum scepticismo, — da Bahia, por intermedio do Dr. Wucherer. conhecido e meritisssmo medico. (*) Provei mais tarde cabalmente que a tal « terekay » não é ou- tra coisa senão o Podocnemis unifilis Troschel ( P. Dumeriliana, Gray part. ) a « tracajá » dos moradores do baixo Amazonas e da Guyana. Confere-se a discussão ampla d'este assumpto no meu trabalho: « Os ovos de 13 Reptis do Brazil », lena, 1807. pag. 6064-667. Chelonios do Brazil 725 Podocnemis expansa, figurada no atlas de Duméril- Bibron, é animal avultado, alcançando não raras vezes 50 cm. de comprimento da casca e 80 cm. de comprimento total; o British Museum de Londres todavia possue uma casca que, ella só. mede 77 cm.: o Museu de Vienna uma com 81 cm. e o Museu de Munich uma ( proveniente da viagem Spix — Martius) com 82 cm. Recentemente Siebenrock organisou uma interessante lista do genero Podocnemis, tomando como criterio hierarchico o tamanho das especies. E” a seguinte: Podocnemis expansa — a maior casca — 820 mm. Dumeriliana — 480 mm. lewyana — 411 mm. sextuberculata — 310 mm. cayennensis — 275 mm. couraça dorsal do animal velho é fortemente de- pressa, (mais levantada, a modo de telhado, esta ainda durante a juventude) alargando-se para traz, porém não munida de carena na linha mediana sobre os escudos verte- braes. A côr é, pelo lado inferior, amarella com manchas brunas. Animaes novos costumam mostrar margens oculares superiores de côr amarella; uma mancha da mesma côr por > To traz do olho e um par de outras sobre os escudos interpa- rietaes. Como signal especifico decisivo, comtudo, conside- ra-se a cabeça anterior concava, e não plana e a beira al- veolar curta e fraca das margens maxillares e mandibulares, além da posse de duas barbulas no queixo. Graças à sua carne e aos seus ovos a Yurara-assi é de importancia capi- tal para toda a região amazonica: todavia a carcassa, ao que parece, não se presta para utilisação por parte dos ar- tistas do officio dos « pentieiros ». O meu amigo, o major João Martins da Silva Couti- nho, recentemente fallecido, companheiro outr'ora de Louis Agassiz na memoravel expedição d'este ultimo à região amazonica, um caloroso amigo da natureza indigena e nota- vel conhecedor d'aquelle grandioso rio. dos seus homens e das suas cousas, faz alguns annos me remetteu um interes- sante trabalho manuscripto, redigido ao que parece em 1868 e intitulado « Sobre as tartarugas do amazonas », trabalho este que eu traduzi para a lingua allemã e publiquei (1856 ), 726 Chelonios do Brazil com o titulo um tanto mais preciso: « Importancia, captura e aproveitamento das tartarugas no Amazonas», (*) tendo sido publicada já anteriormente uma versão franceza, devido aos bons officios de A. Duméril, em Paris. Contém este tra- balho impressões pessoaes, colligidas in loco, por um indi- gena e representa um quadro bem arredondado e acabado da importancia economica do mui perseguido chelonio para aquella interessantissima região fluvial (**) —, resenha digna de ser collocada ao lado das magistraes descripções sobre este assumpto esboçadas a esse tempo por Humboldt e Martius. Depois de tratar das especies restantes de Podocne- mis, darei em seguimento o trabalho do Major Coutinho que merece ser conhecido pelo povo brazileiro. A P. Dumeriliana (erythrocephala Spix ), — conforme Siebenrock o verdadeiro nome, que deveria ser usado para esta especie, é P. cayennensis Schweigger-Siebenrock —. algo menor, frequentemente encontrada por Bates nos lagos do Amazonas superior, possue uma couraça dorsal oval, abo- badada, recortada na frente em fórma de V, mostrando o segundo e o terceiro escudos vertebraes uma elevação lon- gitudinal, carenada: na cabeça um unico escudo interparie- tal ec uma beira alveolar forte, occupando todo o compri- mento da margem dos queixos. O colorido geral é seme- (*) « Bedeutung, Fang und Verwertung der Schildkróten am Ama- zonas. » Periodico: « Der Zoologische Garten » ( Redaktor Prof. Dr. F. O. Noll, Frankfurt of Main. Vol. 27, Nar. 11 e 12, November 1886, pag. 329- 430, pag. 3660-372. ) Alias uma versão franceza tinha sido publicada sem que o soubesse, já em 1868, no « Bulletin Mensuel de la Société Impériale Zoo- logique d'Acclimatation Tom. V, N.º 4, Avril, 1868, Paris », pag. 147-166. ( Traduit sur manuscrit inédit par Augustin Delondre ). (**) Contribuições bastante minuciosas acerca da biologia da « tar- taruga amazonica », baseadas em observações colligsidas in loco desde 1894, dei desde então no meu trabalho já diversas vezes citado « Os ovos de 13 especies de Reptis do Brazil». A leitura do trecho relativo á Podocnemis expansa é, por assim dizer, o complemento necessario do que aqui deixei escripto, ha perto de 10 annos, sobre o mesmo assumpto. Espero poder publicar com o tempo uma versão completa d'aquelle trabalho. Por ora limito-me a extrahir os seguintes pormenores relativos aos ovos e à postura : tempo — setembro, outubro; numero -—- 60 a 140; fórma — subesphe- rica; eixo maior com 46 mm.; eixo menor com 42 mm.; peso médio, 43 grammas. Chelonios do Braxil mom lhante. posto que sensivelmente mais escuro. A P. lewyana, de Venezuela, ainda se assemelha bastante: todavia distin- gue-se por um grande escudo interparietal, cordiforme. sin- gularmente alargado entre os escudos parietaes e pela au- sencia da elevação carenada na linha mediana- dorsal. Final- mente outrosim se parece a P. unifilis, Troschel ( P. Dume- riliana Gray part.) do Amazonas superior e do Pará: é caracterisada, como dá a entender o nome especifico, não só por uma unica barbula do queixo, como pelas- diversas manchas amarellas na cabeça bruna escura (*). P. Dumeri- liana parece attingir um comprimento da casca de 48 cm. (um - (*) E' como já dissemos, a «tracajá » dos moradores da Amazo- nia e da Guyana, encontrada por mim ainda nos rios Amapa e Counany, do antigo Contestado. Temol-a viva constantemente, em não poucos exem- plares, no Jardim zoologico do Museu, no Para, vindos dos arredores. E' uma tartaruga que em dimensões fica aquem da P. expansa; parece-me que uma tracajá adulta iguala mais ou menos uma tartaruga commum de meia idade; talvez não passe de 50 cm. no maximo em comprimento da casca. A couraça dorsal é de côr bruno-avermelhada; avermelhada é tam- bem a cabeça, em talho e côr mais gracil e bonita que a de P. expansa. Por estas differenças principalmente a gente depressa aprende a distin- guir com certeza a «tracaja » da tartaruga. Acerca dos seus ovos temos os seguintes pormenores: Tempo —outubro a dezembro; fórma — ellipsoide ; eixo maior. 49 mm.; eixo menor, 34-mm.; peso médio, 15 grammas. A descripção o iginal, dada pelo Prof. Troschel no Vol. III na obra de Schomburgk « Versuch einer Fauna und Flora von Britisch Guyana. Leipzig, 1848 » pag. 647, limita-se ao seguinte: «P. unifilis Trosch. nov. spec. Esta tartaruga possue muita semelhança com P. expansa Wagl. e distingue-se d'esta principalmente pela circumstancia de não possuir senão uma unica barbula debaixo do queixo. A cabeça é preta e mostra algumas manchas brancas; d'estas uma é situada por detraz do nariz, uma outra por cada lado bem rente por detraz do olho, uma de cada lado na margem do escudo frontal, porém sem ponto: preto no centro; uma maior de cada lado da margem dos escudos parietaes, bem proximo do tympano e uma outra por baixo por traz de cada ramo mandibular. Estas manchas ja são recoiheciveis em animaes tem novos ( Troschel ). Foi encontrada por nós frequentemente no Rupumuni e no Takutú. O seu modo de vida concorda inteiramente com Peltocephalus Tracaya ; pertence igualmente ús tartarugas as mais saborosas da Guyana. Compri- mento, 10 — 12 pollegadas. ( Schomburgk ). » Esta descripção, que jamais veio acompanhada de figura, de certo não podera, de boa fé, ser taxada senão de muito deficiente e superficial, salienta finalmente 3 cousas sóriente: 1) a semelhança com a tartaruga amazonica P. expansa; 2) a barbula unica do queixo; 3) certas manchas ornamentaes da cabeça. Deixado de lado o primeiro ponto, que natural- 728 Chelonios do Brazal exemplar na collecção da Princeza Theresa de Baviera), P. unifilis de 45 cm. (um exemplar de Natterer no Museu de Vienna). Apenas uma barbula mentual, além de uma couraça dorsal carenada. rombuda e muito rasa, uma beira alveolar fraca (como em P. expansa), um plastron ventral mais largo adeante que atraz. mostra como particularidades a P. sextuberculata ( Bartlettia pitipii Gray). Esta tar- taruga, descripta em 1849 pelo zoologista milanez Cornaglia, costuma apresentar, em individuos novos, 3 tumefacções, em fórma de tuberculos. de cada lado da placa ventral, tuberculos, dos quaes podem-se descobrir vestígios mesmo anda em individuos velhos. Bartlett e Bates a colligiram, em muitos exemplares, no alto Amazonas, Não tenho cer- mente nada adianta para o discernimento de diversas especies que todas ellas se parecem, temos, quanto ao terceiro, de frizar, que a tartaruga amazonica ( P. expansa ), quando nova, tambem possue manchas ornamen- taes da cabeça [ sendo alias estas manchas na « tracaja », não brancas como se pretende na descripção acima, mas, em vida, côr de laranja bem retinta, ao passo que na «tartaruga amazonica » a côr das manchas é um amarello pallido, esbranquiçado |. Sobraria assim, como distinctivo ainda o segundo ponto, — a barbula unica. Ora, esta barbula é de facto um rudimento | tão insignificante, uma verruga tão ridiculamente pequena e nulla, que não se pôde bem conceber que alguem podesse seriamente escolhel-o para distinctivo especifico, tanto mais que não faltavam outros caracteres me- lhor perceptiveis e mais impressionantes à primeira vista. A unidade da barbula é um caracter de valor assaz probiematico, porque por via de re- gra esta barbula mediana, impar, sera rec »mhecida quando examinada de mais perto, como formada pela coalescencia de duas barbulas bem proximas e originalmente distinctas. Diversos herpetologistas já enumeraram casos, onde as taes barbulas ficaram de facto distinctas, sem entrar em fusão, numa unica peça. A insufficiencia da descripção original e a falta de uma figura até hoje toi assim tambem para mim a causa, que eu, enganado por certos autores anteriores, tomasse até nos ultimos annos a « tracajá » como perten- cendo a especie P. Dumeriliana. N'este erro cahi devido a certas expressões da descripção d'esta especie na obra de Duméril e Bibron ( Vol. HI, pag. 387-389), e à figura dada por Spix da P. erythrocephala CP. VII), | que afinal das contas poderia perfeitamente valer para o « tracajá » amazonico |. e finalmente devido a diversas obras de Gray, publicadas entre 1870-1872, onde P. Dumeriliana figura regularmente como synonymo de P. unifilis. No meu trabalho ja diversas vezes citado « Os ovos de 13 Reptis do Brazil» ( Zool. Iahrbiicher, lena, 1897), deve, na pag. 664-667, ser o nome, no titulo P. Dumeriliana substituido por Podocnemis unifilis, o que eu, hoje melhor informado, não quero deixar de levar ao publico conhecimento. ficando aliás no mais, tudo de pé o que lá disse acerca do «tracajá » amazonico. abril, 1904. e ty go A ias is qubits CE O DT voa DS 0d apo ap à e. Siri Cds = Chelonios do Brazil 729 teza se esta especie é identica com aquella tartaruga que, conforme o Sr. Coutinho, tem no rio Negro o nome trivial de « Yurura-pitiú », isto é, «tartaruga de cheiro repugnante » (*) e por outros logares dizem ser conhecida com a designação indigena de «ayaçá (ayuçã)». — Como P. Coutinhii eu mesmo descrevi, em 1884, uma pequena e muito linda tar- taruga, trazida ha annos do mesmo rio Negro pelo Sr. Coutinho, simultaneamente com filhotes de P. ecxpansa commum. Conforme a mesma testemunha dão-lhe na sua patria o nome de « Arapuçã ». Mede apenas uns 14 cm,, possue uma couraça dorsal quasi redonda, da fórma de um telhado bastante raso, de côr de fundo bruno e orla margi- nal vermelho-alaranjada, depressões punctiformes nos escu- dos corneos, pés graciasos com unhas compridas, duas bar- bulas mentuaes curtas. O pequeno tamanho, o feitio arre- dondado da casca, a fontanella distincta no centro da «testa ventralis» indicam, é verdade, um animal ainda novo e as- sim não é exeluida a possibilidade, desde o principio por mim admittida, de tratar-se aqui da fórma juvenil ou de uma especie de Podocnemis das já conhecidas ou de uma outra, ainda não descripta. Na primeira eventualidade pode- riam aliás sómente entrar em conta a P. Dumeriliana e a P. lewyana, por causa da duplicidade das barbulas, havendo certa semelhança com esta ultima no escudo interparietal extraordinariamente largo. Definitivamente poderá ser escla- recida esta questão sómente quando o modo de vida, e bio- logia de todos estes chelonios amazonicos tiver achado um naturalista que se resolva a estudal-a com amor. paciencia e competencia, residindo na propria região durante annos. (**) (*) Pelo menos vejo que recentemente ainda Siebenrock escreve que semelhante nome vulgar é applicado nos rios Branco e Negro a esta especie. (Set. 1905). (**) Embora hoje residindo já ha 8 annos na foz do Amazonas e me não ter descuidado da elucidação da historia natural dos Chelonios desta região, não consegui ainda eliminar todas as duvidas aqui alludidas. Nenhum motivo bastante imperioso apresentou-se-me até esta hora, para que eu tivesse necessidade de modificar essencialmente as idéas, emittidas faz 10 annos. ( Fevereiro, 1903. — Dr. E. G.) 730 Chelonios do Brazal Bem caracterisada pela sua cabeça relativamente grande, com queixos exquisitamente torcidos e 6 fortes placas cor- neas em cima e dos lados. couraça dorsal forte com as fa- ces lateraes descahindo abruptamente. é a P. tracaxa (Pel- tocephalus tracaxa D. B.: Emys tracaxa e E. macroce- phala Spix). (*) especie igualmente figurada no atlas de Dumeril-Bibron. Na testa ventralis, de 13 escudos, o escudo intergular, anterior e impar. é mais comprido que os escu- dos gulares e a porção posterior, livre. em fórma de pá. é mais comprida que a largura da ponta de juncção. Na mar- gem exterior do pé dão na vista 3 escudos extremamente grandes. O colorido geral é bruno escuro pelo lado superior, e mais claro pelo inferior. O comprimento da casca dorsal por si só é indicado em 38 e 43 cm. Supponho que esta es- pecie corresponde á tal tartaruga, que refere o Sr. Coutinho ser conhecida dos moradores do Amazonas superior debaixo dos nomes de « Arára-acânga-assú », Isto é, tartaruga com bico de arara. (**). Tambem P. tracaxa dizem ser objecto de caça por parte dos Indios, da mesma fórma que P. expansa. (*) Siebenrock, que procurou ultimamente | desembrulhar este medonho «cipoal> systematico, demonstrou que o bom nome a acceitar para esta especie seria o de P. dumeriliana ( Schweigger ). E” uma tartaruga, ao que parece, assaz rara. Desde 1894 até hoje obtivemos sómente 2 exemplares, dos quaes um do rio Purús, vivo. Existe no Jardim zoologico do Museu do Pará. E” do sexo masculino — um « capitary », no modo de dizer do povo amazonico — e do tamanho e peso de uma tartaruga bem regular. O que lhe empresta feição particular, é a cabeça relativamente grande e munida de um bico ou « gavião » muito res- peitavel. A casca, no resto parecida com a da tartaruga amazonica commum, me parece ser um tanto mais abobadada, menos chata. Um outro exemplar vivo, — ao qual se refere Siebenrock (oc. cit. pag. 15) e que se acha hoje no Museu de Vienna, — foi apanhado por nós, m'um poço de campo com palmeiras caraná, na ilha de Itacnán ( foz do rio Guamá, perto do Pará ) quando em excursão scientifica com o Con- selheiro Dr. Franz Steindachner ( 1903 ). Deram-lhe como nome local « pitiú », outros chamavam-na « cabeçuda ». ( Set. 1905 ). (**) Mostrei recentemente no meu trabalho «Os ovos de 13 Reptis do Brazil» quão funestas consequencias tem tido a escolha de nome especi- fico deste Chelonio, em vista da confusão que ameaça provir da cireum- stancia de o povo do baixo Amazonas e da Guyana designar com o nome de «tracajá» uma tartaruga fluvial bem diversa, como é a P. unifilis Tros- chel (P. Dumeriliana Gray part.) (Fevereiro, 1903). Chelonios do Brazil 73 Quero confessar que mesmo as obras as mais moder- nas - sobre Reptis, no que diz a parte relativa à discussão da fórma dos Chelonios da região amazonica, não me satis- fazem de fórma alguma. Na verdade houve, desde que escrevi as linhas acima. uma tentativa neste sentido. pois o Sr. Friederich Siebenrock, do Museu de Vienna, pu- blicou em 1902 um trabalho, em lingua allemã; «Zur Systematik der Sehildkróten-Gattung Podocnemis Wagler » nos « Sitzungsberichte der Kais. Akademie der Wissenschaften ». Vol. 111, Heft 4 et 5, Jahrg. 1902. April et Mai. Wien. 1902, pag. 157 — 170 (com 1 estampa). O principal merecimento do artigo reside na civreumstancia de cha- mar a attenção sobre a maneira da ligação do escudo dermal frontal com o maxillar mediante intercalação de um suboculare ( P. cayennensis, P. lewyana, P. umifilis, P. sextuberculata ) ou sem ella ( P. expansa ) e se 0 « massete- ricum » alcança a margem orbital posterior ( P. dumeriliana), como meio de rapido discernimento exterior. À tartaruga chamada P. dumeriliana por Boulenger e outros, elle propõe outra vez chamar P, cayennensis e o que era a P, tracaxa do Catalogo do Museu Britannico elle quer que se chame novamente P. dumeriliana. — Util é estampa com figuras, das cabeças. N'um segundo trabalho, intitulado « Schildkróten von Brasilien » (Vol. 76 Denkschriften der Math. Naturwiss. Klasse der Kaiserl. Akademie der Wissenschaften Wien, 1904). O mesmo Sr. Siebenrock veio dar uma descripção cireumstanciada da colheita cheloniama, feita pela recente com- missão zoologica austriaca ao Norte do Brazil ( chefiada pelo Conselheiro Dr. Franz von Steindachner, Director Geral do Museu de Vienna), aprovei- tando para a comparação os materiaes anteriormente colleccionados e no mesmo Museu depositadas pelo infatigavel J. Natterer. Pelo lado systematico significam estes dois trabalhos de Siebenrock, sobretudo o segundo, um progresso incontestavel dos nossos conhecimentos da hodierna fauna cheloniana do Brazil. Conforme o Sr. Siebenrock esta fauna abrange, em fórmas terrestres, fluviaes e lacustres, 29 especies para a America meridional ( sendo duas terrestres e 27 fluviaes e lacustres ), e 23 especies para o Brazil, a saber : 1) Podocnemis expansa (Schw.) 2) P. cayennensis ( Sehw,) 3) P. unifilis ( Trosch. ) 4) P, sextuberculata ( Corn.) 5) P. Dumeriliana ( Schw.) 6) P. Lewyana ( A. Dum.) 7) Chelys fimbriata ( Schw.) 8) Hydromedusa maximiliani ( Mikan ). 9) H. tectifera ( Cope ). 10) Rhinemys nasuta ( Sehw. ) 11) Hydraspis geoffroyana ( Sehw. ) 12) H. rufipes “(Spix). Ea intao CD, Bo) 14) H. wableri (D. B.) 15) H. tuberosa ( Peters ). 16) Mesoclemmys gibba (Schw. ) 17) Platemys Spixii (D. B.) w e RG Uso, 732 Chelonios do Brazil Sempre e sempre encontram-se nas relações de viagem menções de certas tartarugas, das quaes nem uma palavra se acha mesmo nas obras herpetologicas as mais cireumstan- ciadas. O que é por exemplo a «» apertam -o cerco e uma chuva de «jateçãs » e flechas | despeja-se por cima dos chelonios perceptiveis na superficie. As outras são uma preza facil para os seus perseguidores graças às rédes estendidas. Tal methodo de caça, comtudo sómente é usado em lagos menores, de pequena profundi- dade. por motivos faceis de adivinhar. A tartaruga. no seu itinerario para os rios, sempre cos- tuma tomar uma direcção contraria à correnteza. Os pesca- dores, sabedores disto. usam para semelhante tactica de viagem o termo technico: «arribação das tartarugas >. Em logares de rio rasos e em bancos de areia os pes- cadores p0em-se de emboscada. As tartarugas mostram-se nas margens e tentam reconhecer um logar apropriado a servir para a postura dos ovos. D'estas tartarugas que assim vêm espiar e respirar na tona d'agua, não facilmente uma escapará à flecha certeira enviada do esconderijo bem dis- farçado. Os projectis empregados para este fim têm o nome de «sararáca> o que parece significar na lingua indigena : uma cousa que póde ser decomposta. À «sararáca >» tem um comprimento de 1.32 m. e possue na frente uma parte do comprimento de um palmo. chamada « gomo >». embutida no cabo, pela sua porção posterior, mediante uma depressão conica. A frente d'esta peça. que é de aço e conserva com o cabo uma ligação muito frouxa, é munida do « bico >. uma ponta em fórma de estylete, geralmente com um ou dois ganchos virados para traz. Mediante uma corda de fibra f: d Í Pa ro Ma La os 4 ED vã 7 Mo Cn nn eo O e: Maca Chelonios do Braxil aa “JT da palmeira Tucumã ( Astrocaryum tucuman) e do com- primento de S a 10 metros, esta peça movediça acha-se reunida ao cabo de modo tal, que sómente aquella fica fin- cada no casco da tartaruga. A corda então desenrola-se do cabo e este por sua vez, servindo agora de boia, indica ao caçador o caminho tomado pela tartaruga. Recolhe-se o cabo, dá-se corda com prudencia, acompanham-se os movimentos da tartaruga, até que esta, cançada finalmente, póde ser puxada para a canôa. « Sararáca » e « jateçaá » são portanto instrumentos similares; todavia a primeira é atirada pelo arco, ao passo que a segunda é manejada como harpão. Quando as tartarugas não se sentem perseguidas, ellas escolhem como localidade para as fossas onde vão depositar os seus ovos ao longo das margens fluviaes, os pontos mais elevados dos bancos de areia — pontos estes, que só- mente: em janeiro e fevereiro ficam submergidos debaixo d'agua. D'este modo a descendencia fica protegida e ganha sufficientemente tempo para o seu desenvolvimento completo até a entrada da enchente. No caso porém onde os chelonios se sabem perseguidos pelos pescadores, elles descem pelo rio abaixo em marcha precipitada e escolhem para os seus ninhos logares marginaes, que se acham sómente pouco acima da tona dagua e devem ficar submergidos já desde o prin- cipio da enchente. Os ovos ficam n'este caso simplesmente abandonados. Que semelhante circumstancia deve contribuir consideravelmente para a diminuição do numero de indivi- duos, é obvio. j O depositar dos ovos, chamado «choco», effectua-se em fins de setembro ou em outubro. Uns dias antes as tar- tarugas apresentam-se durante as horas calidas e com tempo perfeitamente claro nas beiras dos rios. Depois de rapida excursão em terra dirigem-se outra vez para a agua. ÂÀo passo que algumas continuam viagem rio abaixo, as outras conservam-se de preferencia e em grandes quantidades na proximidade dos bancos alluviaes de areia. Dizem então os pescadores, que as tartarugas vão para a terra para « assoa- lhar-se » e para preparar o « taboleiro », isto é, o logar para depositar os ovos. Alguns viajantes julgam ter visto, que durante tal excursão em terra se effectuasse a copula se- 738 Chelonios do Brazil xual. Não tenho isto por provavel, visto que sómente em casos isolados poude cu verificar, que as femeas fossem acompanhadas pelo macho da tartaruga, chamado « capi- tarv >». A copula sexual cifectua-se antes nagua durante o tempo da residencia na proximidade dos bancos de areia. Contam mais os pescadores indigenas, que as tartarugas são chefiadas por uma «mestra », que seria a primeira para subir em terra para a procura do logar apropriado à pos- tura, c que pouco depois se sumiria outra vez. A postura dos ovos se realixa de manhã bem cedo. Onde os bancos marginaes de areia occupam uma grande extensão. como por exemplo acontece no caso dos do « Tamanduá » no rio Ma- deira, — localidade que conhecemos de vista propria — lá, neste periodo-o numero das tartarugas que affluem é tão grande, que chegam htteralmente a impedir a passagem às canõas dos pescadores. Em enxames correm para o «< tabo- leiro ». Faz-se isto na maior desordem: conclue-se do seu procedimento. que ellas mal sabem orentar-se. Chocam-se continuamente os scus cascos duros, donde resulta um ba- rulho, que se ouve a grande distancia e não é facil de des- crever. Chegadas no banco de areia brigam por causa do logar. que a cada uma parece ser o mais preferivel. À tar- taruga uma vez que ella sc julga de posse do logar conve- niente, principia incontincnti de cavar, com os seus pés lar- gos, uma depressão. a qual. quando prompta, representa uma fossa de OJ4 m. até 0.50 m. de profundidade. Lá deposita os seus ovos, de SO a 200 em numero. Com o maximo cui- dado cobre outra vez a cova. Nisto acontece frequente- mente, que uma tartaruga, depois de ter excavado a sua cova, occupando-se com a postura dos ovos, fica cercada por outras. que a enterram debaixo da areia expellida si- multaneamente das diversas covas circumvisinhas. Taes exem- plares enterrados pelos seus visinhos tornam-se uma preza facil do homem e das outras creaturas. que com elle colla- boram no exterminio da tão util especie animal. Em algumas regiões os moradores costumam reunir-se, para extrahir a « manteiga» dos ovos destas tartarugas. Em outras, o fito é a caça dos proprios chelonios. No pr meiro caso espeja-se a época da postura dos ovos, para de- e ç ” | PR E io Chelomios do Braxal 739 pois proceder-se à manipulação da « viração ». No segundo caso apontam-se as tartarugas antes de tal cpoca. Redunda isto em barbaridade inadmissivel, que antigamente ficou des- approvada pela propria voz do povo. Logo que a «arriba- ção » tinha principiado e que as tartarugas vinham apontar aqui e acolá ao longo dos bancos de alluvião, collocavam-se sentinellas, que tinham por um lado de impedir a captura nestes logares baixos, e, por outro lado de obstar ao espha- celamento dos lotes de femeas, que se approximavam para depositar os ovos. Graças à tal precaução obteve-se a van- tagem de uma postura regular, concentrada em certas loca- lidades e realisada em devido tempo. De um semelhante systema de caça dictada pelo elementar bom senso nasciam vantagens proporcionaes. Em cada um d'estes bancos de areia, que são co- nhecidos como frequentados pelas tartarugas, estabeleceu-se durante o respectivo periodo um fiscal, «juiz », como repre- sentante da autoridade. Não ecra permittido a ninguem ap- proximar-se dos taes logares durante a postura. Quando esta estava terminada, os fabricantes de « manteiga », acom- panhados pelo inspector, procediam à « viração ». Este en- tregava a metade de uma tartaruga a cada uma das pes- soas assistentes. O excesso em animaes vivos todavia tinha de ser restituído à liberdade e reposto no rio. O inspector lançava uma lista dos trabalhadores de cada fabricante. Na fiscalisação immediata o inspector era auxiliado por um empreiteiro, conhecido com a designação de «cabeça de rancho». Este collocava pessoas presentes em fileira e dava signal para o começo do trabalho com o rufo de um tambor ou um tiro de morteiro. A terça parte das covas com ovos tinha de ser poupada para a conserva- ção e propagação das tartarugas: sómente os dois outros terços podiam ser utilisados para o fabrico da manteiga. Modernamente nenhuma destas prescripções mais é res- peitada. Às tartarugas são caçadas e perseguidas já durante a arribação. Um grande numero d'estes chelonios espanta- dos deposita, durante uma cega e precipitada fuga, os seus ovos em logar não appropriado, abandonando-os assim pela razão exposta a uma perdição certeira. Se hoje em dia 740 Chelonios do Brazil . uma cova com ovos ainda escapa atravez de todas estas influencias destructivas, póde-se chamar. já um accaso assaz raro. Faz alguns annos a « Assembléa Provincial do Amazo- nas» resolveu, a bem da protecção das tartarugas forte- mente ameaçadas na sua existencia, a re-ntroducção legal das anteriores regras convencionaes. Mas o resultado não correspondeu às bem intencionadas esperanças do governo legislativo provincial: a culpa disto cabe aos inspectores encarregados da fiscalização da colheita dos ovos. Por diver- sas vezes nomeou-se, officialmente, um «inspector da praia», mas este era o primeiro a dar ruim exemplo por sua vena- lidade, corrupção e ganancia. No fabrico da manteiga usa-se de dois methodos. Ap- proveitam-se ou os ovos de todo frescos, ou então os ovos já um tanto chocos, conforme se quer fabricar uma manteiga mais ou menos consistente. Se se pretende alcançar um oleo mais denso, os ovos amontoam-se em monticulos na beira do rio por espaço de uns 4 dias e sómente então princi- pia-se com o processo. A gordura assim obtida não é utili- sada para os fins da illuminação, mas para calafetar, numa mistura com o alcatrão indigena. Se porem se trata de pro- duzir um azeite mais liquido, os ovos frescos se recolhem nas canôas, ahi sendo pisados com os pés e mechendo-se o mingau assim resultante depois de se juntar uma pequena quantidade d'agua. A albumina se separa e depois de curto tempo o oleo nada em cima. Apanha-se este oleo com cuias e conchas, deposita-se para o fim da refinação em grandes potes de barro, que são expostos convenientemente à acção do fogo, Esfria-se então o oleo rapidamente e depois é posto no com- mercio em grandes potes de barro. O azeite de tartaruga assim beneficiado serve em parte para a illuminação. em parte como gordura culinaria para assar o peixe, etc. Mas para este fim a gordura extrahida da propria tartaruga se mostra muito superior e ao mesmo tempo mais rendosa. Durante dois mezes do anno os bancos de alluvião em ambas as margens dos rios tornam-se os centros de attracção para uma parte consideravel da população fluvial. E a epoca bemaventurada da região amazonica; peixes e aves Chelonios do Brazil TAM ; em abundancia: o homem então tem, por asssm dizer, de | defender-se da riqueza e quantidade das substancias alimen- ticias que por todos os lados se apresentam. As chuvas são ) raras e uma brisa oriental, passando por cima do paiz, tem- | pera e mitiga o calor. Os dias são quietos por via de re- | ora: o céu reveste-se de um azul transparente. O aroma das flóres do mato, a vida mysteriosa, que se manifesta por en- À tre a folhagem, produz em todos um sentimento de bem es- É tar e de admiração tacita da magestade da natureza. Depois destes dois mezes, em janeiro, escapam de algumas das cc- vas de ovos, que porventura tenham escapado ao vanda- | lismo geral, as jovens tartaruguinhas. Apenas tiveram tempo de travar conhecimento com a luz do dia e já a lucta pela existencia se lhes apresenta na sua mais amarga fórma. No- vos inimigos lhes investem contra a vida: os fabricantes de ) mexira, os viajantes, as aves de rapina de diversas especies, —tomando papel saliente entre estes os urubús —os jacareés. as q pirânhas, as piráras e semelhantes castas de peixes vorazes e sedentos de sangue. Mas entre toda esta turba de inimi- gos o mais perigoso fica sempre sendo o homem. Um certo insecto, chamado « tatusinho » pratica uma | galleria de fóra para o interior das covas de ovos para re- mover c fazer desapparecer aquelles ovos que por acaso | estiverem: podres. Por este: canal: penetra o ar dé fóra-e | acorda os embryões para a vida. Logo que o processo da | respiração principiou, iniciam-se os movimentos e os esfor- ços de alcançar o exterior. A tartaruga-mãe revela, ao que | acima dissemos, notavel prudencia e circumspecção no fechar | da cova dos ovos. Todo signal, todo vestígio que poderia | tornar-se trahidor da localidade, é apagado e afastado. Mas por melhor que a mãe saiba esconder a sua prole, o desco- , brir dos ovos postos não apresenta reaes difficuldades ao homem familiar com os seus costumes. Munido de uma vara pontuda na frente elle sonda, ora com esta, ora sómente com o calcanhar do pe, a areia da praia. Das covas desco- bertas retiram-se as pequenas tartaruguinhas, sendo ou logo assadas, ou conservadas na gordura fornecida pelos paes. N Esta conserva, que tem o nome de « mexira », goza de par- | ticular fama como petisco entre os indigenas. Os pequenos na O CE CA TINA Dido tdidá " 742 Chelonios do Braxil chelonios que acabam de sahir do ovo, e depois que ca- varam um canal para alcançar a superficie, tratam de ga- nhar a agua pelo caminho o mais curto. Os urubús e outras aves de rapina perseguem-n'os pelo menos sómente durante o dia, ao passo que os jacarés e as especies de peixes acima mencionados não os deixam - em paz nenhuma hora durante o dia c a noite, Estas perfidas creaturas mettem-se a esprei- tar, na emboscada, na margem dos taes bancos de areia e justamente no momento em que a nova tartaruguinha ga- nhando a agua, julga-se fóra de perigo, tambem espernea entre os dentes dos seus sanguinarios inimigos. Certos peixes e os insaciaveis jacarés são portanto os derradeiros « batedores.» nesta deploravel carnificina, na frente da qual se poz o homem na sua brutalidade. Desola- dor é o aspecto da paizagem. depois de acabada a colheita dos ovos e o fabrico da «mexira». À praia então é lite- ralmente entulhada com ossos e cascos de tartarugas. Em alguns logares os restos cadavericos são amontoados em pilhas, onde urubus e cães finalmente procedem ainda à sua nojenta cata, Dôr e indignação desperta o aspecto de um tal theatro do contrasenso humano. Por causa de um pequeno lucro sacrificam-se, de um modo isento de racioci- nio, hecatombes de uma especie animal, que protegida e poupada, representaria para a geração actual como para as futuras um precioso meio de subsistencia. Infelizmente não é sómente a classe baixa, que assim esperdiça. Gente de altas e das mais altas camadas sociaes procedem da mesma maneira irresponsavel e até os estran- geiros residentes no paiz imitam o exemplo da população indigena. No rio Solimões conhecemos um conde italiano, assaz soberbo da sua illustre linhagem, mas qual indio fa- bricando manteiga de tartaruga e vivendo e fallando a modo de indio. Os ovos frescos de tartarugas substituem no paiz os ovos de gallinha. Preparam-se ora fritos, ora simplesmente batidos e misturados com assucar. Ão paladar do selvagem agradam excellentemente mesmo em estado todo crú. Bati- dos e misturados com farinha de mandioca e agua, forne- cem o « mucanguc », um prato tão saboroso quão substancial. Chelonios do Brazil 743 As tartarugas diminuíram na região amazonica de modo bastante sensivel. São sujeitas a perseguições Incessan- tes desde a mais tenra idade embryonaria, como em todas as outras phases da sua vida posterior. No tempo quando nos arredores do Pará se levantavam os primeiros nucleos de moradias — vae fazer uns trez seculos mais ou menos — a viração nas praias arenosas escolhidas para a desova pelas tartarugas, rendia 100 */,. Ainda em 1700 encontravam-se umas 50 legoas acima da embocadura tartarugas em fartura ao longo de todo o Amazonas; e igualmente fervilhavam destes uteis reptis todos os affluentes maiores e menores. Actualmente pretendemos, que em todo o trecho de 300 legoas desde o Pará até a foz do rio Negro, nenhuma localidade mais abriga uma sociedade de tartarugas com- posta de mais de 15 individuos. No rio Madeira, desde a bocca até a primeira cataracta, existem sobre uma extensão de 186 legoas sómente dois logares nas praias, onde os nossos chelonios costumam apresentar-se regularmente. Me- lhores estão as cousas no alto Solimões e sempre rico ainda em tartarugas póde-se reputar o rio Yapurá. Entre os factores que principalmente contribuem para decimar a Podocnemis expansa, devem ser considerados em primeira linha o gasto de ovos para a fabricação de man- teiga e a falta de um regulamento severo relativo a tempo, prazo e modo de uma caça legal. A diminuição dos indivi- duos torna-se mais evidente de anno em anno e se não fo- rem tomadas proximamente providencias em prol da pro- tecção da sua existencia, ganancia e ignorancia não tardarão de exterminar do globo uma das creaturas das mais uteis da Sul-America. Quem estiver orientado acerca do papel altamente importante. que cabe a esta tartaruga na econo- mia dos povos que habitam o rio Amazonas, tambem saberá avaliar o alcance de um tal exterminio. Não exageramos e podemos provar com dados e numeros, que a tartaruga por si sÓ seria apta para sustentar uma população calculada no dobro, senão andassem de mãos dadas tantos elementos con- trarios, que trabalhassem para fazer desapparecer este the- souro. Uma familia, que se propuzesse a ter cem tartaru- gas vivas, teria alimentação garantida durante um anno. 744 Chelonios do Braxil > Semelhante praxe se observa ainda hoje de vez em quando no Amazonas superior. Cavando-se no quintal ou no pateo uma fossa, que se enche com agua — nos arredores de Ega esta fossa tem o nome de «curral» — as tartarugas ahi vivem durante muitos annos e, sendo animaes pouco delica- dos. não exigem grande cuidado. Ahi põem os seus ovos, em tempo determinado, e reproduzem-se com a mesma faci- lidade. como em liberdade. Os individuos criados no capt- veiro até possuem uma carne mais tenra e saborosa. Como alimento da-se-lhes legumes, farinha de mandioca e seme- lhantes substancias. Se não houvesse destruição dos ovos durante os ultimos trez seculos, cada habitante das duas provincias amazonicas poderia hoje. conforme taxação não exagerada, dispor de 1000 tartarugas. Uma unica tartaruga de 1 m. de comprimento, que é avaliada na região amazo- nica em 114 a 2 mil réis, (*) é suficiente durante 3 dias para uma familia composta de 6 cabeças. Aliás não é só- mente a carne, mais saborosa e mais saudavel do que a de porco. que se aproveita: tambem a gordura pode ser utili- sada para fins culinarios e fornece outrosim, como ensaios ensinaram, uma excellente pomada. Uma tartaruga mediana da bem umas 5 libras de gordura. Valendo a libra d'esta no proprio logar 400 réis, a gordura por si só Já corres- ponde a 28000, equivalendo ao preço da acquisição. A carne vae-se obtendo assim de quebra. Para obter 24 libras de manteiga, são necessarios exactamente 3000 ovos. que custam 48500. Ora, em vez de destruir 3000 ovos, para ganhar 48500, parece me ser cousa assaz mais razoavel de cingir-se à carne e à gordura do animal adulto, que, como vimos, dão approximativamente o mesmo lucro. E isto sem participar no exterminio de uma creatura tão valiosa. No anno 1719 a exportação de man- teiga, unicamente do alto Amazonas, importava em 192.000 libras. Equivalta isto a um exterminio de 24 milhões de | | | | | (*) Isto em Manaos, ha uns quarenta annos atraz! Hoje as cousas mudaram de face. No mercado de Belem, por exemplo, o preço de uma tartaruga seria por via de regra não E eqid de 25 a 40 mil réis, conforme o peso e o tamanho. Outubro, 1905.—Goeldi. Chelonios do Brazil 745 tartarugas. Isto será sufficiente para deixar entrever o grande perigo. ao qual nós nos approximamos pelo fabrico de man- teiga graças à destruição dos ovos: Não teria vindo o mo- mento para entrar em acção, em vista de tão clamorosa necessidade. a protecção da lei para salvar esta estirpe pri- vada de quaesquer mcios de defeza, e para tomar as provi- dencias aptas no sentido da conservação de uma especie de tão relevante importancia economica ? O primeiro passo para impedir este escandalo sem nome devia ser para o governo a prohibição do fabrico de manteiga. Ao mesmo tempo o Governo Provincial deveria construir grandes tanques para a criação e segurança das novas tartaruguinhas contra a gatunagem humana e animal, A metade dos individuos encontrados nas praias deveria ser reservada para a reproducção. A caça antes do periodo de incubação deveria ser iuterdicta de antemão, de modo que as femeas pudessem, sem serem molestadas e conforme os seus habitos especificos inveterados, depositar os seus ovos no seu logar direito e em tempo idoneo, confiando-os à areia calida. Se taes conselhos fossem seguidos, depois de um prazo de 10 annos ao longo do Amazonas e dos sus affluentes a frequencia das tartarugas teria readquirido sufficiente vigor. Ficaria assim garantida uma saudavel, saborosa e economica alimentação à população d'esta parte do gigantesco imperio brazileiro, tão prodigamente provida de encantos da na- tureza ». Como sexta e ultima familia dos Chelonios resta-nos a dos Chelydidze, segunda divisão da anterior subordem dos Emydidae. Com um habitus exterior geral parecido com o dos Pelomedusidce, distinguem-se principalmente por serem as placas que formam a couraça ossea ventral, representa- das em numero de O (em vez de 11) e não poder o pes- coço comprido, quast à feição de cobra, retrahir-se comple- tamente para baixo da casca dorsal, | 746 Chelomios do Brazil E” uma das familias melhor representadas no Brazil, pois dos 8 generos que hoje se distinguem. e das 28 espe- cies scientificamente conhecidas do mundo actual, cabe à fórma do nosso paiz nada menos de 5 generos com 11 a 12 especies. Existem Chelydidae fóra da America do Sul, tambem na Australia e na Nova-Guiné (Chelodina, — Emydura —, Elseva). As especies brazileiras são as seguintes: Chelys fimbriata. Hydromedusa Maximiliani. H. tectifera: Hydraspis Hilarii. H. Geoffroviana. H. radiolata. Ho rufipeés. H. Wagleri. (H. gibba?). Platemys Spixii. Pl. platycephala. Rhinemys nasuta. O genero Chelys contem aliás uma unica especie, Ch. fimbriata ( matamatã D.-B.), a tartaruga « mata-mata » amazonica, de feição originalisssma, embora destituida de belleza. Dizem ser tão horrenda de aspecto, como repugnante de cheiro. À sua couraça dorsal, de fórma ellvptica assaz regular, é levemente estreitada no meio e conta 13 placas corncas, elevadas no centro, ao redor do disco, além de 25 placas marginaes. Notavelmente estreita é a «testa ventra- lis», que é configurada a modo de canôa. Se é de todo im- possivel confundir a Matá-matã com um qualquer outro che- lenio, deve-se isso, por um lado, ao seu nariz estirado em longo tubo, e por outro lado às singulares franjas da pelle, cujas duas maiores são collocadas acima e perto do ouvido, e as outras menores alinhadas em series longitudinaes pelo Chelonios do Braxil 747 lado inferior da cabeça e principalmente por cima do longo pescoço. Referem que alcança um comprimento total de 2m 25, do qual caberiam 17,25 à casca dorsal; a maior casca entretanto conservada no Museu Britannico, não mede além de 38 em. Quando velha, a sua côr é bruna: os exemplares novos são agradavelmente decorados de fitas brunas e ama- rellas ao longo do queixo e da nuca e manchas amarellas e pretas sobre a couraça. E” um chelonio dos brejos que, segundo as informações de Schomburgk, costuma frequentar a beira da agua, onde se conserva enterrada na areia o bas- tante para que a agua lhe -passe por cima da couraça dor- sal obra de um dedo de altura, alimentando-se, conforme affirma Poeppig, de pequenos peixinhos a râsinhas, mesmo assaltando de chofre passaros aquaticos, nadando com cele- ridade e espreitando por entre a vegetação aquatica que boia. Negros e indigenas, dizem, comem a sua carne. O nu- mero dos seus ovos parece ser assaz diminuto: uma femea, tida no captiveiro, não forneceu além de 5. De resto, uma femea de tartaruga matá-matá recentemente depositou ovos mesmo no Jardim Zoologico de Londres. (*) E' bem conhecida na (Guyana, onde Schomburgk a encontrou em Essequibo, Rupumuni e Takutu, bem como no Amazonas, onde é as- signalada por Spix e Castelnau:; o Sr. Coutinho a menciona do rio Negro, e de outra fonte sei que ella habita igual- mente-os arredores de Manãos. (**) (*) Cousa que aliás ja por duas vezes tambem aconteceu no nosso Jardim Zoologico do Museu do Pará. A primeira vez escapou-me infelizmente a occasião para estudal-os de mais perto. Uma segunda postura de ovos, obtida em julho de 1905, de uma femea que admiravelmente bem parece achar-se no tijuco do lago das aves aquaticas, pude estudar depois da minha volta da Europa. Compõe-se de 5 ovos, quasi esphericos, brancos, de casca dura e lisa ao tacto, um pouco gordurosos como os de pata. A media d'estes 5 ovos é de 37 !/. mm., eixo longitudinal, e 34 !/, mm, eixo transversal. — Descuidou-se de determinar o peso d'estes ovos em estado fresco. Não tendo sido fecundados, nada se poude averiguar acerca do desenvolvimento. ( Setembro, 1905 ). (**) Desde então conheci o mata-mata por multipla e constante observação no Museu do Para, onde ha sempre especimens de diversos ta- manhos, sexos e idades, vindos dos diversos affluentes do baixo Amazonas ( Jary, Maraca), das «Ilhas», de Marajó, da Mexiana, etc. Os moradores de Marajó e da Mexiana informaram-nos unanimemente que a mata-mata 748 Chelonios do Brazil Nas duas especies do genero Hydromedusa enfrenta- mos com kágados ou chelonios de agua doce, que o amigo da natureza terá facilmente occasião de encontrar por aqui mesmo no Sul do Brazil. Percebemos 14 escudos corneos ao redor do disco na casca dorsal. oblongo-ellyptica, muito de- primida na juventude, mais tarde alguma cousa mais levan- tada, a saber: 5 vertebraes, dos quaes o interior é o maior e ostenta a feição dos contornos de um pote de floricultura : em frente uma placa nucal larga, simulando, por assim dizer, uma sexta placa vertebral, e 4 pares de escudos costaes largos; em escudos marginaes existem 24 (25). À «testa ventralis » conta 13 placas corneas. A nossa especie daqui, H. maximiliani Ee Che- lodina; Chelodina flavilabris D.B.; H. depressa Gray), me é facil de descrever, pois tenho deante de mim nada menos de 7 exemplares, colligidos por mim pessoalmente e representando diversas idades e phases de desenvolvimento. A casca dorsal é. no meio. um tanto comprimida lateral- mente, revirada para cima um pouco n'aquelle logar. na edade juvenil, época em que a metade superior é tambem perceptivelmente serrilhada na beira. Os escudos dorsaes são concentricamente gravados, nos individuos novos: o escudo nucal é proporcionalmente mais largo na juventude que na vive nos regos e igarapés, meio enterrada na lama, apanhando peixes du- rante a noite. No captiveiro, pelo menos quando tida em aquario, a matá-matãá mostra-se, por via de regra, enfezada, recusando qualquer ali- mento, mesmo peixe vivo ou morto, chegando a findar-se naturalmente por completo esgotamento de forças, em estado de magreza de causar dó, depois de um maior ou menor numero de semanas ou mezes. Ovos obtivemos uma vez; infelizmente sumiram-se antes que eu pudesse medir-lhes as dimensões exactas e tomar todas as notas desejaveis. Acerca do nome « matá-mata» já publiquei uma vez uma pequena nota («Boletim do Museu Paraense», Vol. II, pag. 102-103 ). Emitti a opinião da probabilidade da proveniencia d'este nome da palavra da lingua arruán «matá-—pelle», sendo a significação do nome: « pelle e mais pelle ». Ha por outro lado, possibilidade, que não posso negar, de entrar na com- posição a palavra da lingua tupy «muta--escada». Ha um cipó amazonico chamado «mata-mata », caracterisado pelas suas saliencias escalares; as ca- renas longitudinaes da couraça dorsal do nosso chelonio representam incon- testavelmente ainda uma vez semelhantes saliencias escalares, que poderiam ter dado origem à comparação com uma escada. (Fevereiro, 1903). es Chelonios do Brazil 749 velhice. A linha dorsal mediana ostenta uma elevação romba e baixinha; às vezes nota-se ainda aos lados uma segunda e terceira, parallelas, mais fracas, correndo ao longo do centro dos escudos costaes. O pilar ou ponte de juncção é estreito. O focinho é curto, terminando em ponta romba; a cabeça chata; os lados do pescoço são guarnecidos com 3 series longitudinaes de tuberculos conicos. Nas pernas, que na frente e atraz possuem apenas 4 unhas pontudas nos pes, serve de bom característico a presença de 3 ou 4 la- mellas, collocadas transversalmente, pelo lado anterior; nas de traz notam-se lamellas identicas pelo lado posterior. A cauda é breve, à guiza de curta ponta de charuto. A côr é bruno-escura na face de cima, bruno-amarellacea, na face abdominal; em vida é. por vezes, quasi indefinivel no che- lonio todo coberto de algas e de limo. — E” o unico che- lonio, conforme as minhas observações, que se encontra na Serra dos Orgãos e em alturas superiores a 800 m. Posso taxal-a de frequente nos nossos riachos das montanhas. Sabe nadar perfeitamente, todavia em logares rasos, onde se a possa encurralar entre as fendas das pedras, consegue-se apanhal-a sem demasiada difficuldade. Cousa notavel é que nestas occasiões quasi não se lembra sequer, de morder. O maior dos exemplares da Serra dos Orgãos, que tenho presente, mede 17 cm. de comprimento de casca; o menor, do sexo masculino, apenas 9.5 cm. No extremo Sul do Brazil é frequente uma outra espe- cie, H. tectifera ( maximiliani Burmeister e Peters; Che- lodina maximiliani D. B. et Hensel. ) Distingue-se por uma nodosidade central conica em cada escudo corneo dorsal, pelo desenvolvimento mais consideravel das membranas na- tatorias, por uma faixa lateral, larga, branca e marginada de preto, na cabeça e na nuca e, finalmente, por um risco curvo, branco, de cada lado do pescoço. H. von Ihering colleccionou-a no Rio Grande do Sul: outros naturalistas avisam a sua existencia na Republica Argentina. (*) (*) Na bella obra « Brehm's Thierleben » Vol. VII, pag. 73 (Reptis) introduziu-se na figura lá existente, aliás feliz, um erro manifesto, pois ella não se refere à especie H. maximiliani, como la se diz, mas á especie H. tectifera. 750 Chelonios do Brazil Pertence ao Norte do Brazil, Guyana e Venezuela — foi observada por Bates no Pará — o kágado Rhinemys nasuta (raniceps) (Platemys schweiggeri D. B.) (*) Possue habitus assaz parecido ao das especies anteriores ; entretanto distingue-se por um escudo nucal estreito, alcan- cando a margem anterior, apenas um par de barbulas men- tuaes, uma orla circular amarella na couraça ventral, uma faixa larga amarella por cima da região dos labios e do ouvido e principalmente por uma cabeça extraordinariamente larga. Do genero sul-americano Hydraspis talvez com unica excepção da especie H. tuberosa, da Guyana, todas as demais especies entrarão na fauna brasilica. (**) Novamente se assemelham bastante aos já anteriormente descriptos. Os kágados de agua doce pertencem a este grupo. Consistem os seus signaes communs em um escudo nucal estreito; focinho assaz pontudo; pescoço revestido, pelo lado superior, com pequenas verrugas, e uma serie proeminente de escamas pelo lado interno das pernas. H. hilarii ( geoffroyana [juv.] e Hilarii D. B.), bruna pelo lado dorsal, amarella, com manchas grandes, pretas, mais ou menos symetricamente distribuidas, na face ventral, — com carena dorsal, fraca e (*) Rhinemys nasuta. — Kagado assaz frequente na região ama- zonica; d'elle passaram-me algumas duzias de exemplares vivos pelas mãos no Pará desde 1894. Temos constantemente especimens no Jardim zoologico do Museu, provenientes de diversos affluentes do Amazonas, e conservados em aquarios e tanques. Attinge a dimensões regulares; tivemos individuos certamente não inferiores de 30 cm. de comprimento da casca dorsal. O seu caracter e indole é o da familia toda; instinctivamente recebe-se d'ella a impressão de tratar-se de -un animal disposto a morder — para o que contribue não pouco a larga e chata cabeça, enxertada em longo e move- diço, magro e feio pescoço. ( Fevereiro, 1903 ). (**) Recentemente este kágado diminuto ( mede uns 5 cm. sómente ). cujo original tinha sido descoberto no rio Cotinga por Schomburgk, foi encon- trado pelo nosso amigo Conselheiro Dr. Franz Steindachner, Intendente do Museu Imperial de Vienna, na Barra do Rio Grande, affluente do São Francisco. Ainda estão problematicas as relações de affinidade com H. geof- froyana: não é impossivel que H, tuberosa venha a ser reconhecida ainda como phase juvenil de H. geoffroyana. ( conf. Siebenrock, Schildkrôten aus Brasilien, pag. 23). Setembro, 1905. di Chelonios do Brazil 7 6] fd, barbulas mentuaes bastante compridas foi se tornando conhe- cida pela sua existencia no Rio Grande do Sul e na Repu- blica Argentina. A legitima H. geoffroyana ( Emys de- pressa Wied; Platemys neuwiedii D. B.) é caracteri- sada por barbulas mentuaes mais curtas, pretas na base, por fitas pretas, symetricamente alinhadas na cabeça e nuca e por uma casca dorsal bruna, ornada de vermiculações pre- tas. Os dois maiores exemplares, de que tenho conheci mento, medem respectivamente 360 mm. e 373 mm., o ultimo dos quaes ( Q ) apanhado por Hensel no rio Guahyba ( Rio Grande do Sul). O Principe de Wied d'ella deu uma figura no seu atlas e accentua como característico melhor o desenho em fórma de ferradura no queixo de baixo. Nos seus « Beitráge » d'ella traça o seguinte quadro: « Encontra-se nos rios do Brazil oriental (*) e provavelmente já no Parahyba, talvez mesmo ainda mais para o Sul: todavia nós capturamos os primeiros animaes adultos d'esta especie no rio Mucury, onde, como creaturas vorazes, não tardavam a pegar nos anzóes iscados com carne de peixe e de aves, atirados pelos indios nossos canoeiros. A sua alimentação assim parece constituir-se de peixes miudos, caracóes e vermes, molluscos e talvez de ve- getaes aquaticos. Durante os mezes de dezembro até fevereiro estes ká- gados sobem em quantidades nos bancos de areia dos rios Mucury, Belmonte, Ilhéos, Tahype e Pardo, para se livra- rem dos seus ovos. Excavam na areia com as unhas uma depressão, nella depositam 12, 16 até 18 ovos esphericos, do tamanho de uma cereja taluda, de casca dura, branca e lustrosa, do sabor agradavel dos de gallinha, sem cheiro exquisito, e depois chegam a arcia, pisando-a. Os filhotes novos, chocados pelo calor do sól, arrastam-se logo para o rio . proximo. (Os indigenas lá residentes conhecem perfeita- mente o tempo em que esses ovos são encontrados e por (*) Esta especie de kagado, indigena das regiões situadas ao Sul do Amazonas, foi observada e colleccionada no rio Carinhanha, affluente do rio Qd .+ * . . . - - Sao Francisco. (Spix), no proprio rio São Francisco e no Parnahyba re- centemente por Steindachner, e no Guaporé e Cuyabá por Natterer. ( Setembro, 1905 ). 752 Chelonios do Brazil isso os pescadores examinam então todas as praias arenosas com a maxima attenção: tambem facilmente se conhece o. logar onde um kágado poz ovos. — À carne deste chelo- nio é às vezes comida, entretanto não é apreciada como a de jaboty, porque possue um cheiro de peixe». O Dr. von Ihering colleccionou a H. Geoffroyana no Rio Grande do Sul. A mim um amigo trouxe, entre os annos 1880-90, um exemplar de Sabará, em Minas Geraes; era uma femea, que eu mantive viva durante muito tempo n'um tanque d'agua e' que lã depositou diversos ovos, igualando quasi em tamanho os de pomba. — Facil se torna conhecer H. radiolata ( Pla- temys Gaudichaudii D. B.. nec Wied), (*) especie que mede 20 cm., que se encontra no Rio de Janeiro, Espirito-Santo, e talvez até na Bahia, porque os escudos corneos dorsaes apre- sentam em exemplares meio crescidos uma estriação radial fina e pela circumstancia, de ser o escudo intergular mais comprido que a sua distancia aos escudos abdominaes. O colorido é bruno-escuro: o plastron ventral mostra larga mancha bruno-escura no centro. Até bem pouco tempo atraz só foram conhecidos ani- maes novos: ultimamente forneceu pela primeira vez uma descripção do aspecto do animal adulto o Sr. Siebenrock em Vienna (1905 ). À especie proximamente aparentada H. gibba (Platemys gibba D. B.. Hydraspis nasuta Gray ). (**) com barbulas mais curtas que o diametro dos olhos, ' (*) Recentemente Siebenrock desligou este pequeno kagado, descripto e figurado por Mikan do genero Hydraspis ( caracterisado pela posse de 6 a 7 placas neuraes ), fazendo-o entrar no genero Platemys ( placas neuraes au- sentes, placas costaes encontrando-se directamente no meio n'uma sutura sagital ), como terceira especie. Declara que PJ. radiolata pôde ser opposta as duas outras especies, por ter a superficie do pescoço munida de peque- nos tuberculos redondos, ao passo que esta se apresenta, em Pl. spixii e Pl. platycephala, com grandes tuberculos conicos e erectis. ( Setembro, 1905 ). (**) Gray, em 1868, tinha feito deste kagado um genero á parte, Me- soclemmys, idéa recentemente adoptada de novo por Siebenrock, baseando-se na presença ( — alias variavel individualmente — ) de 3 a 4 placas neuraes. O mesmo autor da uma estampa e descripção detalhada de dois exemplares de M. gibba, apanhados aqui no Pará. quando nos visitou o Snr. Conselheiro Steindachner, do Museu de Vienna. Um ( macho adulto) mede 13,5 cm., O outro ( Q ) 14,4 cm. Siebenrock chama este kagado « muito raro, sómente | E O | 0 o ums mp | o o Chelonios do Brazil | Do com escudo intergular mais curto que a sua distancia aos escudos abdominaes:; de côr uniformemente bruno-escura em cima, amarellacea pela face ventral, não consta ter sido en- contrada até hoje senão na (Guyana e na Trindade. Dumeéril e Bibron dão d'ella uma figura. Se a estampa, dada pelo Principe de Wied no seu atlas, com o nome de Emys ra- diolata se referisse de facto à H. gibba, como suppõe Bou- lenger, a sua existencia seria tambem comprovada para o Brazil. O Da especie" que Jo. Principe' de Wied teve' deante: de si para a sua illustração (a figura representa aliás, como não quero deixar de communicar, tambem um animal ra- dialmente estriado ), este autor participa que ella se move lentamente, arrastando-se para cá e para lá, em terra firme; que, porém, sabe nadar com destreza e que costuma habitar nos pantanos da margem do Espirito-Santo: que não a viu, senão n'aquella região e que nas excursões fluviaes em ca- nôa nunca aconteceu pegar na isca dos anzóes de pescaria, exemplar d'esta especie, mas sempre da especie H. geof- froyana. Animaes vivos, que elle deixou livremente mo- ver-se no curral, não acceitavam alimento e sempre morriam de fome depois de 4 a 6 semanas, sem que houvesse meio de administrar-lhes comida alguma. — Às outras duas espe- cies de Hydraspis restantes têm como característico com- mum o mostrarem a pelle do lado superior da cabeça ho- mogenea e não subdividida em diversos pequenos escudetes. H. rufipes ( Emys Spix; Platemys D. B.), descoberta por Spix no rio Solimões, e da qual existem, ao que parece, representado nas maiores collecções herpetologicas ». Accentua, com razão, a semelhança, que facilmente póde induzir a erros e confusões de M. gibba com individuos novos do kagado Rhinemys nasuta. ( Siebenrock, loc. cit. pag. 21. M. gibba, antes só conhecida das cachoeiras de Demerara ( Guyana Ingleza) e do Monte Tamana, em Trindade, foi assim. pelo recente achado no Pará, reconhecido como podendo ser incorporada, de direito, à fauna cheloniana do Brazil. ( Setembro, 1905 ). E a e 4 , 754 | Chelonios do Braxil até hoje. sómente 3 exemplares nos museus de Vienna e de Munich (o maior. 6. medindo 22.2 cm.). possue uma gar- ganta avermelhada e pernas da mesma côr e um risco lon- gitudinal côr carmim clara desde o rictus (canto da bocca ) até o tympano. inclusive. Acha-se figurada na obra de Spix Est. 0. H. Wagleri ( Platemys D. B.) foi colleccionada por Auguste de St. Hilaire durante a sua viagem atravez do Brazil. Duméril-Bibron reunem os seus signaes na se- guinte breve diagnose: « Carapace dun brun roussatre, ovale. — três-allongée, rétrécie à ses deux extremitês: dos sans carêne: eécailles du test lisses, la premiêre verteébrale protubérante: sternum Jjaune >». Accrescentemos ainda que esta especie costuma apresentar uma estria preta por baixo do ouvido. Contamos pertencer ao genero Platemys, com 2 espe- cies sómente e ambas originarias da America do Sul, aquel- les kágados que mestram 13 escudos corneos ao redor do disco da casca dorsal, — 25 escudos marginaes, um escudo nucal que attinge a margem, e nos quaes a «testa dorsa- lis> ossea, que jaz por baixo, possue sómente placas cos- taes immediatamente continuadas e limitrophes (sem inter- calação de placas osseas vertebraes medianas. como em Hydraspis, Rhinemys, Hydromedusa e Chelys). Pl. Spixii (Emys depressa Spix). recentemente encontrada por Ihering no Rio Grande do Sul, ostenta pelo lado supe- rior da nuca, tuberculos largos, erectos, molles e uma sa- liencia mui desenvolvida, formada de trez protuberancias grandes. pelo lado interior da perna. « Carapace brune, ovale- oblongue, arrondie en avant, obtusangle en arriêre; dos cana- liculé; plaques costales arquees de haut en bas; sternum noir; un grand nombre de petites plaques sur la téte». Tambem esta especie, originalmente descoberta por Spix, foi trazida por Auguste de St. Hilaire das suas viagens ao interior do Brazil. A outra especie, Pl. platycephala ( Emys canalicu- lata Spix: Platemys martinella D. B.) facilmente dá na vista graças à sua fossa longitudinal dorsal muito mais pro- nunciada, — fossa esta acompanhada à esquerda e à di- reita por uma carena longitudinal romba. No resto a casca Chelonios do Brazil 755 dorsal é bruno-castanho, distinguida de cada lado do disco com uma grande mancha preta quadrangular. Guyana, Suri- nam, o Perú oriental são a sua patria: em territorio Brazi- leiro foi constatada por Bates, no rio Negro (*). Intencionalmente a descripção dos chelonios brasilicos foi tratada com certa minuciosidade. As paginas anteceden- tes dão, em fórma condensada e por miudo, tudo quanto consta à sciencia até hoje sobre este assumpto : — De modo algum esta somma póde ser taxada de satisfactoria e o lei- tor terá visto que, por exemplo. o litigio concernente às relações de Testudo tabulata para com T. carbonaria ( Yabuti-tinga e Yabuti-piranga ). e as de Hydraspis ra- diolata para com H. gibba é nullamente liquidado ate a hora presente, e que outrosim as especies de Podocnemis, da região Amazonica estão carecendo urgentemente de nova verificação, especialmente debaixo do ponto de vista das phases juvenis e das differenças sexuaes. Oxalã estas linhas excitassem à observação e animassem este ou aquelle leitor, mais favoravelmente situado, a investigar antes de tudo o modo de vida dos chelonios da região habitada e a elimi- nar assim, um por um, os pontos de interrogação ainda existentes ! (*) E' assaz frequente no baixo Amazonas; póde-se mesmo dizer que é o kagado mais commum dos regos nos arredores da cidade de Belem do Para. Commum é igualmente na ilha de Marajó. O seu nome trivial é «jaboty-machado », sendo d'est'arte respondido um ponto de interrogação no trabalho do Sr. Coutinho, que declarou não saber que kagado era o de- signado com este nome popular ( Conf. Goeldi, Uber eine vermuthlich neue Schildkrôte der Gattung Podocnemis, etc., St. Gallen, 1884-1885, pag. 4-5 ). E” um kagado pequeno; exemplares de 25 cm. de comprimento de casca são dos maiores que eu tenho visto. No captiveiro mostra-se um ani- mal de desesperadora apathia; pelo menos de dia, no terreiro vive sempre encolhido e não faz um movimento sequer por sua propria vontade. Com semelhante indole, não é milagre algum, não durar muitos mezes no capti- veiro e morrer de inanição. “Fevereiro, 1903. 756 Chelonios do Brazil Tanto como nada se sabe até hoje acerca dos Chelo- nios fosseis do Brazil. Não que não houvesse possibilidade ou probabilidade de poderem ser ainda um dia encontrados, mas a sciencia hodierna actualmente ignora ainda noticia certa neste terreno. (*) O futuro deve nos trazer orienta- ção melhor. Na Serra dos Orgãos sómente uma especie chegou re- gularmente à minha observação e supponho ser ao mesmo tempo a unica lá existente: Hydromedusa maximiliani. (*) Verdade é que ja perto de 20 annos atraz foram noticiados restos fosseis de pretendidos Chelonios collosssaes, retirados do leito e das «terras cahidas» do rio Purús. Mas a respectiva descripção original é muito deficiente, parecendo-nos que isto provém por um lado de mau estado de conservação dos fosseis, por outro lado de manifesta impericia do respe- ctivo autor no terreno da anatomia comparada e da paleontologia. Tivemos occasião recentemente de examinar fragmentos colligidos na mesma região pelo proprio pessoal do Museu em 1903. Todavia nem estes ainda habilitam para uma diagnose definitiva. Tudo: que posso dizer por ora é que entre os restos, que eu pes- soalmente vi, fragmentos do casco dorsal e do plastron sternal de uma gi- gantesca especie de Chelonio, que offerece certos traços de parentesco com o actual kágado « matá-mata » ( Chelys fimbriata), — que por sua vez, no seu aspecto nos desperta impressão de um residuo isolado de uma fauna reptiliana ha muito extincta. Tenciono servir-me, a titulo provisorio, sim- plesmente para substituir por um nome o que exigiria uma longa para- phrase circumscriptiva, para este kágado fossil do termo de Cyclopochelys, (da mesma fórma como introduzirei para o grande jacaré fossil do alto rio Purús, do qual possuo material melhor para uma diagnose em regra, da denominação Gigantosuchas ). Abril, 1904. — G, Discs dd a | Bibhographia 15 BIBLIOGRAPHIA REVISTAS 1. H. von Thering, Revista do Museu Paulista. São Paulo 1902. Vol. V. O volumoso tomo quinto das publicações officiaes do Museu de São Paulo apresenta-se trazendo nada menos que 755 paginas e 18 es- tampas, das quaes 7 coloridas. Do conteúdo mencionamos os seguintes trabalhos scientificos: 1) Natterer e Langsdorff, exploradores antigos do Estado de S. Paulo. — 2) Myriapodes du Musée de S. Paulo, par H. W. Brôlemann, com 10 estampas (original francez, com resumo em portuguez ). — 3) Necessidade de uma lei federal de caça e protecção das aves. — 4) Contribuições para o conhecimento da Ornithologia de São Paulo, com 1 estampa representando ovos. 5) Ensaio sobre as Abelhas solitarias do Brazil, por O. Sechrottky (com 3 estampas). — 6) Nota so- bre um Dactylopins achado em uma Fuchsia no Brazil por T. D. A. Cocke- rell. 7) Descripção de Dactylopius magnolicida v. Thering, por G. B. King. — 8) Descripção de Lepidopteros novos do Brazil, por I. G. Foetterle (com 4 estampas). — 9) As Melanias do Brazil. Os artigos 1), 3), 4) e 9) são da lavra do Dr. H. von TIhering, e bem assim a Bibliographia 1990-1901, relativa á Historia Natural e Ethnographia. do Brazil, abrangendo as pags. 6583-740, e elaborada com o mesmo cuidado como nos volumes anteriores. G. 2. Idem, Vol. VI. 1904. Tambem este volume tem 677 paginas de texto e 23 estampas, das quaes 6 coloridas. Variado e interessante conteúdo, como se póde julgar pela seguinte enumeração dos trabalhos scientificos: |) Os Guayanãs e Caingangs de São Paulo. 2) Os Indios Guayanãs, por Benigno F. Martinez. 3) Obser- vações sobre os indigenas do Estado do Paraná, por Telemaco M Borba. 4) Myriapodes du Musée de S. Paulo, seconde mémoire: Manáos, par H. W. Brólemann, com 2 estampas, (original em francez ). 5) As Ves- pas sociaes do Brazil, pelo Bel. Rodolpho von [hering ( com 5 estampas ). 6) As aves do Paraguay em comparação com as de São Paulo. 7) O Rio Juruá (com 9 estampas e photographias). 8) Biolegia das abelhas solita- rias do Brazil (com 5 desenhos ), pelo bacharel Rod. von [hering. 9) Con- tribuição para o estudo dos hospedes de abelhas brazileiras por Erich Wasmann (com 1 estampa). 10) Breves noticias sobre uns objectos in- 758 Bibliographia teressantes feitos pelos indigenas do Brazil, pelo Rev. P* Amb. Schupp (com estampa). 11) Algumas notas e informações sobre a situação dos sambaquis de Itanhaen e de Santos por Benedicto Calixto ( com 2 estam- pas). 12) Archeologia comparativa do Brazil. São da lavra do proprio operoso Director do Museu Paulista os trabalhos 1), 6), 7) e 12); da do seu filho Rodolpho, que promette ficar um talentoso auxiliar e continnador, os 2 artigos entomologicos 5) e 8). Pacientemente elaborada bibliographia scientifica, relativa ao pe- riodo de 1992-1904 acompanha tambem o presente volume. G. 3. Memorias do Museu Goldi. III. « Estudos sobre o desenvolvimento da armação dos veados galheiros dy Brazil ( Cervus paludosus, O. cam- pestris, O Wiegmanni)> pelo Prof. Dr. Emilio A. Goldi. Com + estampas. Rio de Janeiro 1902 (46 pags. ). Este trabalho tinha sido preparado mentalmente durante os 7 an- nos antecedentes á sua publicação. Que elle corresponde a uma necessi- dade, resulta nitidamente da epigraphe, que é um trecho de nma nota de Henri de Saussure sobre o mesmo assumpto. E” uma investigação sobre as leis que regem o desenvolvimento da armação das diversas especies de Cervides do Brazil, sob os diversos pontos de vista systematico, physio- logico e biologico, zoo-geographico e paleontologico. Se naturalmente ainda não exgota a materia, comtudo representa a monographia a mais circumstanciada actualmente existente. Do ponto de vista faunistico merece menção especial que aqui se demonstra pela primeira vez que uma especie de veado, até agora considerada como limitada aos paizes ao Norte do Brazil, faz transgres- são pelo lado do littoral da Guyana brazileira: — Cervus Wiegmanni, fórma enfraquecida do Cervus virginianus-savannarum da Norte-Ame- rica. Attestam a vantajosa recepção d'este trabalho por parte da im- prensa scientifica e dos especialistas as criticas no « Zoologisches Zentral- blatt » ( Redactor: Prof. Dr. A. Schuberg, Heidelberg), 28 Juli 1904, pag. 401-402 e na « Nature » de Londres. G. 4. Memorias do Museu Goldi. IV. « Os Mosquitos no Pará. Reunião de quatro trabalhos sobre os Mosquitos indigenas, principalmente as es- pecies que molestam o homem». Peio Prof. Dr. Emilio A. Goeldi. Com 144 figuras n9 texto e 5 estampas chromolithographicas, Pará, Wiegandt, 1905. (154 pags.). Dos 4 trabalhos que compõem esta memoria o primeiro : « Os Mos- quitos no Pará, encarados como uma calamidade publica », tinha sido anteriormente publicado no « Diario Official» do Pará, em 1901, fazen- do-se apenas uma pegnena tiragem á parte de uns 200 exemplares que Bibliographia 159 naturalmente mui limitada divulgação podia ter. O segundo, versando sobre experiencias com Stegomyia fasciata e Culex fatigans, sob o ponto de vista sanitario, veio publicado anteriormente no « Boletim do Museu », Vol. IV, fasc. 2. Inteiramente novos são os capitulos TIT: « Pormenores biologicos principalmente relativos ao eyelo de desenvolvimento das prin- cipaes especies indigenas », pag. S6-I44, e IV: «Stegomyia fasciata, O mosquito transmissor da febre amarella e o actual estado de conhecimen- tos sobre a causa d'esta molestia », ( Conferencia realisada perante o Con- gresso Internacional de Zoologia em Berna (Suissa), 1904). Honve manifesta vantagem em reunir estes quatro trabalhos n'um só livro — vantagem que será francamente reconhecida por todos quan- tos anciosos são de possuir materiaes esparsos na litteratura sobre a mesma materia na fórma manuseavel de um volume. VIAGENS — GEOGRAPHIA - METEOROLOGIA d. Paul Lecointe, « République de U Acre. Chemin de fer Madeira — Mamo- ré» ( Bulletin de la Société de Géographie Commerciale de Paris, T. XXIV — 1902 — N.º 1-4, pag. 67-80. O nosso dedicado e operoso amigo, o Sr. Paul Lecointe, Enge- nheiro Civil residente já ha longos annos em Obidos, condensou em um curto, mas substancioso estudo de uma duzia de paginas, as suas im- pressões ganhas ao percorrer, um par de annos atraz, a tão fallada região do Acre, então ainda arrogando-se o direito de se chamar « Repu- blica Independente do Acre» hoje porém adjudicada definitivamente ao Brazil por um convenio com a Bolivia. Acompanha-o um util esboço cartographico. Mudada embora assim a face politica desde então, ficam de pé os judiciosos commentarios sobre a geographia physica da referida zona e as vantagens a auferir pela execução do projecto já iniciado, mas infelizmente interrompido, da via ferrea do rio Madeira ao Mamoré. G. 6. H. von lhering, « Der Rio Juruá ». ( Dr. A. Petermann's Geographische Mitteilungen, 1904. Heft. XI. Gotha). O presente artigo (8 paginas) dá uma relação geral dos resulta- dos e observações colligidas no rio Juruá pelo naturalista viajante Sr. Ernesto Garbe em 1901-1902 e subdivide-se nos seguintes capitulos : 1) O valle de Juruá e o seu clima. 2) Flora e Fauna. 3) População e producção. A discussão dos materiaes scientificos propriamente dita acha-se entretanto no supramencionado volume VI (1904) da « Revista 760 Bibliographia Ra do Museu Panlista », capitulo 7º: «O Rio Juruá > (com 9 estampas e y photographias |. - Muita consa, que á primeira vista parece exqnisito e de feição par- . ticular a quem. não sendo dado jnlgar de risu proprio, se vê coagido de | construir-se uma idéa sobre informações de terceiros, sendo privado de ter- mos de comparação directa, muita consa, dizemos, reconhece-se ao exame mais minucioso, como não sendo exclusiva ou caracteristica d'este ou dVaquelle rio amazonico, mas pertencendo ao patrimonio commum a di- versos rios visinhos, si não de todos que fazem parte de uma certa e determinada zoa hydrographica, Imperfeições originadas na allndida fonte de erros, o leitor familiar com a natureza amazonica os descobre em qnalqner dos trez capitnlos, sendo natural que principalmente sc tornam sensiveis no ferceiro, onde -- se discutem questões de orem economica, amalgamadas ao magno pro- | blema para toda a região amazonica — a borracha. - Ê G. - Y 7. Gabriel Sala. Fray, R. P. « Apuntes de cigge. Erploración de los Rios Es Pichis, Pachitéa y alto Ucayali y de la Región del Gran Pajonal>. 3 República del Perú. Ministerio de Fomento. Lima ( 15897). >, é : é k A exploração do Padre Sala é digna de toda a nossa attenção por a tratar de uma zona que faz parte da esphera de interesses scientiticos do nosso estabelecimento, tanto mais qne parte della foi percorrida ha uns annos atraz, por um de nós. que de lá trouxe importante colheita botanica, cuja elaboração casualmente se encontra n'este mesmo fasciculo do nosso « Boletim ». “A relação do Padre Sala, coordenada em fórma de diario de viagem, é sobretudo importante debaixo do ponto de vista da geograpia e da ethnographia. O estylo é simples, sobrio, chão e assenta bem ao arrojado frade. Não poucas illnstrações feitas sobre desenhos ori- ginaes, contribnem para amenisar a leitura e, embora toscas, ajndam efficazmente a fixar tal epi=odio. caracter physionomico de tal paisagem, etc. Ha outrosim no fim da brochura. de 196 paginas, uteis perfis de . altitnde dos caminhos percorridos e nm mapa especial da zona dos rios Pichis, Pachitéa e alto Ucayali. Trechos que pessoalmente nos interessam de mais perto são os qne tratam dos Indios bravos dos Campos do Gran Pajonal e da ceramica dos indios Cunibos e Shipibos. G. S. Rodway. James, « In the Guiana Forest. Studies of Nature in relation to the struggle for life. » London, T. Fisher Unwin 1894. Embora tenham já passado dez annos desde o apparecimento deste livro. não duvidamos em o assignalar na presente Bibliographia, como digno de attenção e apreço por parte dos interessados na historia natural Bibliograpinia 761 das Guyanas no sentido mais lato. Confessamos que só ultimamente e por um accaso o descobrimos e queremos reparar hoje esta omissão involun- taria. Do espirito que preside á confecção do livro dá mni perfeita idéa a enumeração literal dos rotulos dos 14 capitulos, a saber: 1) A floresta, 2) O homem da floresta. 3) Os animaes da floresta. 4) Dependencia mutua das plantas a dos animaes, 5) À Incta pela existencia. 6) Nos rios e igarapés. 7) Lá em cima, nas arvores. 8) No brejo. 9) Na praia de areia e na montanha. 10) Na beira do mar. 11) No jardim tropical. 12) Rastos e vestígios do homem. 13) Os sentidos das plantas, 114) As causas da lucta. — Não menos snggestivas são as 16 estampas do livro, que, em summa, não póde deixar de ser calorosamente recommendado a quem não tem medo de uma leitura que faz certas exigencias em materia de amor e comprehensão pelas obras da natureza animada. oo 9. André, Eugêne « À Naturalist in the Guianas ». With 34 illustrations and a map. London, Smith Elder & Cº, 1904, O autor, colleccionador de orchideas, passaros, borboletas e peque- nos mammiferos, nascido na ilha da Trindade, onde já o sen avô se tinha estabelecido, nos dá neste livro uma notavel resenha da sua exploração do rio Caura, affluente do Orinoco. Exploração penosa, mas fructifera em resultados e experiencias. Plantas, animes, a população indigena, desde o morador, de mais on menos hypothetica fidalguia hespanhola, de cidades como Ciudad Bolivar, até o genuino selvicola indiano revesam-se nestas paginas em animado quadro. As numerosas estampas com que o bello livro se acha ornado, são por um lado bem succedidas vistas photogra- phicas, illustrando certas phases da vida intima dos Indios, cachociras e paisagens interessantes, ou então estampas de lepidopteros, aves, ete., salientando-se entre estas ultimas uma colorida que representa um casai de Muscivora coronata, exquisito Bem-tevi ( Pyrannideo ) com bellis- simo topete em fórma de leque — do qual uma especie proximamente apa- rentada é encontrada, embora como raridade, nos arredores do Pará. | Sobre esta parte da bacia do Orinoco o livro do Sr. André é o que conhecemos de mais recommendavel, sobretudo para aquelle leitor que procura informações acerca das obras da natureza. G. 10. Hann, Julius. Prof. Dr. « Zur Meteorologie des Aequators ». Nach den Beobachtungen am Museum Gold in Pará. (1)». Sitzungsberichte der Kaiserl. Akademie der Wissenschaften in Wien. Math. naturw. Classe Bd. 111, Abteil. IL” Mai 1902 (70 pags.). — «Zur Meteorologie des Aequators nach den Beobachtungen «u Pará am Museum Goeldi. (JI)». 762 Bibliographia ( Sitz. Berichte k. Akad. Wissensch. Wien. Bd. 104. Abteil. TI. Jan. 1905. (062 pags. ). — « Meteorologische Beobachtungen am Museum Goldi in Pará. 1º 27 Súdl. Breite. 48º 29 We. Gr. Hoóhe 10 Meter. Jahr.. 1897». Jahrbuch der K. K. Centralanstalt in Wien. Mai 1903. O Prof. Dr. J. Hann, em Vienna, reconhecida autoridade, autor do melhor « Manual de Climatologia », offereceu-se-nos para elaborar as observações sobre o clima do Pará; iniciadas quasi desde o principio da sua installação no edificio actual e continuadas com zelo indefesso até hoje, abrangendo já o respeitavel periodo de IO annos, Sahiram assim do nosso estabelecimento os melhores materiaes para o conhecimento do chma do Pará, — facto que lhe será cotado como mais um titulo de benemerencia inconcussa por aquelles que sabem, podem e querem julgar com equidade. O ilustre autor aproveitou do nosso material tabellario, para fazer delle ponto de partida para um estudo scientifico de mais amplo ambito: alargando as bases, procedeu a um estudo critico-comparativo das observações meteorologicas até hoje existentes de todos os pontos sitos debaixo do equador. No primeiro trabalho é disentido o periodo de agosto de 1895 até agosto de 1901; no segundo ainda o de agosto de 1901 a agosto de 1904, tendo sido no terceiro trabalho o anno de 1897 escolhido para serem reproduzidas na integra as observações directas como amostra da marcha normal effectiva dos diversos elementos constitutivos do nosso clima. Sahin d'esta investigação comparativa um resultado singular e inesperado : resultando das nossas observações sobre 10 annos que a tem- peratura media annual de Belem do Pará não é superior a 25,7º C., um re-exame do material dos outros pontos do globo sitos debaixo do equa- dor demonstrou que a sua temperatura tinha sido por via de regra cal- culada em cerca de um grau alta de mais. Foi assim de importancia fun- damental a iniciativa partida de cá para a elucidação mais exacta do clima equatorial. Bastante theorico, como é, o trabalho do Prof. Dr. J. Hann e re- pleto de formalas mathematicas, um tanto indigestas para um estomago leigo, ha muito projectamos de extrahir uma summula de theor mais po- pular, publicando-a no « Boletim ». O Sr. Major Tasso Fragoso, do Estado Maior do Exercito Brazileiro, no Rio de Janeiro, prometteu annuir ao nosso pedido de encarregar-se de tal elaboração. Oxalá seja dado a este nosso amigo poder preencher o compromisso. G. Biblbiographia 763 11, Prof. Dr. Emil A. Goldi, «Zum Klima von Pará. Auf Grund der Beobachtungen am der meteorologischen Station des Staats-Musewms in Pará ». | Meteorologische Zeitschrift, Wien. 1902, 8; pags. 348-366 |. Este trabalho foi redigido em consequencia de um convite directo do Prof. J. Hann, em Vienna, de acompanhar o nosso abundante mate- rial tabellario acerca da meteorologia do Pará com uma resenha geral, que exprimisse aquelles factores e cousas, que emprestam uma facies distincta sem resultar de cabedal de numeros e formulas. Que elle mereceu a satisfacção plena por parte do Prof. Hann resulta da observação redaccional final, na respectiva pagina (365, da « Meteorol. Zeitsehrift », que textualmente diz: <... uma resenha geral destas do clima, só a póde redigir um naturalista que reside no proprio logar ». Uma versão portugueza Veste trabalho, feita pelo Sr. J. Capistrano de Abreu, appareceu no « Jornal do Commercio » no Rio de Janeiro T: 3/1 1903; Il: 20,1 1903 e providencias estão tomadas para a sua re- producção em occusião opportuna no « Boletim do Museu G. ETHNOGRAPHIA 12. Steere, Joseph Beal. « Narrative of a visit to Indian Tríibes of Pu- rús-River, Brazil ». Annual Report of the Smithsonian Iostitution 1901, pag. 359-393, Com 9 estampas. Não é um nome novo na exploração da historia natural e ethno- graphia do valle amazonico o do Professor Steere, de Ann Harbor. Já aqui esteve, ha vinte ou trinta annos atraz, colleccionando e 'açando, e diversas descobertas de animaes novos, passaros e peixes, at- testam o zelo com o qual se houve então. O venerando ancião apresen- tou-se a nós recommendado de amigos communs nos Estados-Unidos, pedindo por assim dizer o confeccionamento de um programma viavel para a melhor execução do seu mandato, que era o de visitar tribus de indios amazonicos, estudar-lhes o modo de vida, fixando-os por meio de desenhos e photographias instantaneas, e fazendo collecções methodicas de quantos objectos conseguisse da sua vida domestica, armas, instrumen- tos, ete., a fim de arrumar outra vez estas consas na Exposição Pan- americana de Buffalo, em ordem a dar da realidade a apparencia a mais fiel possivel. Experiencias pessones nossas fizeram abandonar a primitiva idéa do venerando Prof. Steere de fazer dos Indios Tembés no interior do Estado do Pará o principal assumpto de estudos. Do mesmo modo jul- ? A E dO) do NERD Tdi do bs, es Cro O eg , Ed na DEAR: E pe A x » A RA EN de 764 Bibhographia gamos não dever aconselhar os Indios Mundurncús por diversas razões, mas principalmente attendendo ao imperioso postulado nas instrucções de ultimar a missão dentro de poucos mezes. Finalmente achou-se que uma excursão ao Rio Purús talvez trouxesse a maior probabilidade de um successo relativamente rapido n'esta missão ethnographica, dando occasião quasi certa de travar conhecimento pelo menos com trez tribus interes- santes: os Paumarys, na foz e no curso inferior, — os Jamamadys e os Ipurinãs. no curso medio e superior. O meritorio trabalho que temos diante de nós é uma prova in- destructivel do acerto das nossas previsões. O Sr. Prof. Steere foi feliz na sua excursão, da qual trouxe amplos materiaes. Alegre tom narrativo respira a parte relativa ao itinerário. Não poucos desenhos originaes O ilustram : o estylo architectonico, apparelhos de pesca e caça, canôas ; bonitas estampas mostram as armas, ornamentos de pennas, vasos de barro, grupos de Indios. Não faltam glossarios das trez tribus supramen- cionadas. De especial interesse para nós é a observação que se encontra no alto da pag. 385: «( Jamamadis ). The first civilized men to visit them say they were then girdling the trees with stone axes by pounding; off the bark. Afterwards these were burned down by piling logs against them. They now have a few steel axes wich they have procured from the rubber gatherers..... » * G. 13. Dr. Paul Ehrenreich, « Die Mythen und Legenden der siidamerikanis- chen Urvilker und ihre Bexichungen zw denen Nordamerikas und der alten Welt.» [Os mythos e as lendas dos povos primitivos da Ame- rica do sul nas suas relações para com os-da America do Norte e os do Velho Mundo |. Zeitschrift fir Ethnologie, Berlin 1905, ( Vol. 37). Se não poucos escriptores se têm occupado em colligir, reunir e interpretar mythos e lendas dos aborigenes sulamericanos, o trabalho d'ahi originado não tem sido hoje muito diverso do de um amontoar de materiaes, presidido mais pelo accaso, n'uma praça de edificação, reinando um manifesto estado chaotico e onde nem sequer vestígios de uma pré- via cata de cousas homogeneas e heterogeneas se percebe. Honve, é verdade, alguns ensaios de provar esta ou aquella mysteriosa concatena- ção, mas, a uma seria auscultação não resistem de serem cedo reconhe- cidos como balões de ensaio, fructos precipitados originados de certos preconceitos, para não dizer manias de uma facil linhagem dos mais an- tigos povos de cultura conhecidos como os Hindús, os Assyrios e Baby- lonios, os Egypcios e os Phenicios. Especialmente estes ultimos fornece- ram farto cabedal para aquecer a phantasia de umas tantas cabeças facil- mente inflammadas. Grassando aqui, no Brazil, já nos ultimos tempos do Imperio dando origem a quiproquos e acontecimentos tão engraçados que “a Ma” e ENAP ES DI em ON PE PN Bibliographia 76 GU exigem um forte diaphragma — vejo medrar este querido pensamento phenicio ainda hoje, tendo surgido ainda recentemente pela litteratura do Norte do Brazil, do Ceará até o Pará, algumas destas tentativas — desesperadamente doutas. O trabalho que temos diante de nós se distingue diametralmento de quanta: cousa temos tido occasião de lêr m'este terreno. Parte da ra- zoavel comprehensão, que a base indispensavel para um proveitoso ser- viço é antes de tudo um longo preparo cuidadoso na mythologia compa- rada dos povos americanos do Norte ao Sul. E o antor deu prova cabal que tomou a peito esta comprehensão. Conhecido pessoalmente como arrojado explorador do interior do Brazil, onde muito tempo se dedicou á ethnographia das tribus dos Botocudos, dos Carajás, dos Cayapós, dos Bakairis, Ipurinãs, Yamamadis e tantas ontras, fez nos ultimos annos extensas viagens para travar conhecimento pessoal com os Indios da Ame- rica do Norte. Adquiriu outrosim um profundo conhecimento de toda a enorme litteratura respectiva. De maneira que neste trabalho magistral se mostra excepcionalmente bem preparado e habilitado para abordar o difiicilimo e complicado problema de uma mythologia pan-americana comparada. Significativas para o espirito com que o livro é e-cripto são as palavras textuaes do prefacio: « Trata-se menos de estabelecer theorias, do que deixar fallar o material por si proprio ». A enumeração dos titulos dos diversos capitulos deixa perfeitiâmente entrever a riqueza e o ambito do meritorio livro: « Conteúdo dos mythos sulamericanos, — Caracter geral. — Creação do mundo. — Cataclysmos, diluvios, ete. — Sol e lua. — Estrellas e constellações. — Ascendentes e herões, — [O mythico par de irmãos — os feitos dos herões da cultura]. Os ecyclos de lendas sulamericanas e as suas relações mutuas., Migrações de mythos: Connexo dos mythos norte e sul-americanos. — Elementos lendarios asiaticos na America». op 4. He Merimng, H «Residuos da idade de pedra, nu cultura actual do Braxil Revista do Instituto Histórico de São Paulo IX — 1904. Interessante pequena nota sobre alguns utensilios indigenas, que embora ainda em uso hoje em dia entre a gente do paiz, trazem caracter muito antigo. Taes são os pesos da rêde, as ancoras « fateixas », as mós ou pedras de moer, as poitas e os fusos de fiar tucúm. Duas estampas facilitam a comprehensão. Quasi todos são usados até o extremo Norte do Brazil. G. 766 Bibliographia 15. Goeldi, Emil A. « Ueber den Gebrauch des Steinbeiles unter den In- dianern der Amaxonas-Region ». ( Vortrag auf dem Internationalen Amerikanisten-Congress in Stuttgart, August 1904). [ Sobre o uso do machado de pedra entre os Indios da região amazonica. Confe- rencia realisada perante o Congresso Internacional de Americanistas em Stuttgart ( Agosto 1904 )]. Por informações colhidas de pessoas inteiramente dignas de fé eu tinha obtido a certeza e as provas do acerto de uma supposição minha, que ha longos annos nutri — que o uso do machado de pedra entre os Indios primitivos na derrubada das arvores não era tão estupidamente inhabil e simplorio como geralmente se snppunha até agora. Mediante relações muito precisas de testemunhas oculares sei que n'este serviço da derrnbada de arvores seculares, o machado de pedra e o fogo, este dextra- mente applicado e vigiado, entram alternativamente em acção, auxilian- do-se mutuamente-os seus effeitos. Consiste o processo: 1) em intercep- tar a circulação da seiva da arvore escolhida mediante trituração com- pleta da casca e do cambium, em fórma de annel ou cinta, produzida no pé da arvore, pelo machado de pedra, de ponta relativamente obtusa ; 2) em triturar, pelo machado de pedra, e earbonisar, pelo fogo, alter- nativamente camadas cada vez mais profundas da parte lenhosa situadas na mesma cinta. Pelo Prof. Steere foi corroborada esta tactica entre os Índios do rio Purús. Tambem o theor d'esta conferencia virá impresso, no original alle- mão, nas actas do Congresso e se não nos falhar o tempo, cogitamos em fazer opportunamente uma versão em lingua portugueza. à G. 16. Goldi, Emil A. « Altindianische, x00- und anthropomorphe Thon-und Stein-Idole aus der Amazonas Region ». ( Vortrag auf dem Interna- tionalen Amerikanisten-Congress in Stuttgart, August 1904). [ Idolos zoo- e anthropomorphos, de Indios extinctos, em barro e pedra, da região amazonica. Conferencia realizada perante o Congresso Inter- nacional de Americanistas em Stuttgart ( Agosto 1904) ]. N'ºesta conferencia o autor tratou de certos idolos encontrados em diversos pontos da região amazonica e que elle tinha tido occasião de estudar mais de perto. Visto que o assumpto deve formar o objecto de uma das proximas « Memorias » do nosso Museu, para a qual ja existem as respectivas estampas, com esmero executadas, podemos affiançal-o basta aqui registrar simplesmente o facto, commnnicando que o theor da conferencia, no texto original allemão, aliás virá publicado integralmente nas actas do mencionado Congresso. G. = O a | Bibhographia ZOOLOGIA MAMMIFEROS l7. Oldfield Thomaz, a) A new spiny rat from la Guayra, Venezuela, | Um novo rato de espinho de la Guayra, Vene- zuela |. Proceedings of the Biological Society of Washington. Vol. XIV, pag. 21-28, April 1901. — b) New South-American Sciuri, Heteromys, Cavia and Caluromys. | Annals and Magazine of Natural History, Ser. 7, Vol. VII, Feb. 1901, pag. 192-197. ce c) New Mammals from Perá and Bolivia, with a List of those recorded from the Inambari- River, Upper Madre de Dios. [| Annals and Magazine ot Nat. Hist. Ser. 7, Vol. 7, Feb. 1901. pag. 178-140. — d) A new Free-tail Bat from the Lower Amazon [| Pro- mops Trumbulli spec. nov. |. Annals and Mag., Ser. 7, Vol. VII, Feb. 1901, pag: 190-191 ]. — e) On a collection of bats from Paraguay. | Annals and Mag. Ser. 7, Vol. VIII, Nov. 190. pag. 435-443 |. — f) On Mammals obtained by Mr. Alphonse Robert on the Rio Jordão, S. W. Minas Geraes, [| Annals and Magazine, Ser. 7, Vol. VIII, Dez. 1901. pag. 526-539 1. — 9) On Mammals from the Serra do Mar of Paraná, collected by Mr. Alphonse Robert [ Annals and Mag. Ser. 7, Vol. IX, Jan. 1902, pag. 59-64 ]. — h) New Insular forms of Nasua and Dasyprocta. [| Annals and Mag. of Natural History, Ser. 7, Vol. 9, Octob. 1901, pag. 271-273 ]. -— 1) On Mammals from Cochabamba, Bolivia and the Region North at that place. [ Annals and Magazine, Vol. 9. Feb. 1902. pag. 125-143 ). É o da 768 “Bi bliographia Oldfield Thomas k ) On the Bear of Ecuador. [ Annals and Mag. Vol. 9. March. 1902, pag. 215-21% |. — 4 On Mammals collected by Mr. Perry O. Simons im the Sonthem Part of the Bolivian Pla- teau. | Annals and Mag. Vol. 9, March 1902, pag, 2272-2301. as m) On Mammals collected at Cruz del Eje, Central Cordova by Mr. P. O. Simons. [ Annals and Mag. Vol. 9, April 1902, pag. 237-245.] — ") On the Geographical Races of the Kinkajon. | Annals and Magazine, April 1902, pag. 266-270 ]. = 0) On some Mammals from Coiba Island, off the West Coast of Panamá. [ Novitates zoologi- cae, Tring, Vol. 9, April 1902, pag. 135-138]. — p) New forms cf Saimiri, Oryzomys, Phyllotis, Coendon. and Cyelopes. [ Annals and Mag. Vol. 10, Sept. 1902, pag. 246-251 ]. — q) Notes on the Phyllostomatous (Grenera Mimon | and Tonatia. [| Annals and Mag. Vol. 10, July 1902. pag. 93-54]. — rj) On Marmosa marmoia and elegans, with Des- criptions of new species of them. [ Annals and Mag. Vol. 10, August 1902, pag. 1558-162 ]. — o s) On two new genera of Rodents from the High- lands of Bolivia. [ Proceedings of Zoologi- cal Society, Febr. 1902, pag. NA-IIT). ( Neoctodon : Andinomys ). IS. Oldfield Thomas, t+) New Callithrix, Midas, Felis, Rhipidomys and Proechimys from Brazil and Ecuador. [ Annals and Mag. of Natural History, London, Ser. Tre +, Vol. 14, Sept. 1904, pag. 1589-197]. — u) New forms of Saimiri, Saccopteryx, Balantiop- teryx, and Thrichomys from the Neotropical Region. [ Annals and Mag., Ser. 7, Vol. 13, April 1904, pag. 259-255 ]. + Fa nó a o + paé o EC a e ad E bad e d Bibliographia 769 Oldfield Thomas 7) New Sciurus, Rhipidomys, Sylvilagus and Ca- luromys from Venezuela. | Annals and Mag. Ser. 7, Vol. 14, July 1904, pag. 33-38 ]. — 7) On the Mammals collected by Mr. A. Robert at Chapada ( Matto Grosso), Perey Sladen Expedition to Central Brazil. [ Proceedings of Zool. Society, London, Vol. II, April 1904, pag. 232-245 ). — y) New Neotropical Molossus, Conepatus, Nectomys, Proechimys, and Agouti, with a note on the genus Mesomys. [ Annals and Mag., Ser. 7, Vol. 15, June 1905, pag. 544-591, Estes cinco trabalhos mais recentes do Sr. Oldfield-Thomaz reela- mam o nosso interesse especial. No primeiro, pag. 189-190 o excellente especialista volta a tratar d'aquelle pequeno sahuim amazonico que Já uma vez forneceu objecto de uma nota nossa, no Catalogo dos Mammi- feros do Musen do Pará, pag. 52, Vol. IV, e para o qual agora julga dever propor o nome de Midas Galdii nov. espec., « Now. howewer, that [ have had the opportunity of studying the members of the group more closely, IL am convinced that it is a form hitherto undescribed..... ». Juntando ainda a descripção de uma outra nova especie, do mesmo grupo, proveniente do Equador, Midas apiculatus, e duas especies do genero de ratos Rhipido- mys, das quaes a primeira de igual procedencia, a seganda proveniente de Igarapé-assú, Estado do Pará, Rh. paricola O. Th. o Dr. O. Thomas occupa-se, pag. 195-196, de uma nova especie de rato espinhento maior, chamado Proechimys oris espec, nov., tambem proveniente de Igarapé-assú. Estado do Pará, fazendo parte da colleeção do Sr, Alphonse Robert (1904). Quiz o acaso que nós, no Museu do Pará, já tivessemos o mesmo animal em diversos individuos, de diversas pr»cedencias das visinhanças da capi- tal, attribuindo-os porém até agora sempre á especie proximamente ligada P. cayennensis. Por occasião da nossa recente passagem por Londres, E em julho de 1905, pude comparar no British Museu o dito exemplar da colleeção Robert com os nossos colligidos no Marco da Legoa, no Una, ete. O segundo e terceiro trabalhos tratam de um novo « macaquinho de cheiro », de novos morcegos, ratos, esquilos e lebres de paizes neotro- picos ao norte do Brazil e em parte mesmo fóra da Sul-America, ; No quarto trabalho prendem a nossa attenção principalmente as - descripções dos novos representantes dos generos Rhipidomys, Coen- Ê dou, Marmosa e de um cachorro do mato ou raposa nova, introduzido ' com a denominação de Cunis Sladeni. Faz parte do grupo de OC. vetu- lus, ficando natmalmente para elucidar por futuras investigações assentes em materiaes mais completos o gráo maior ou menor de differenças espe- cificas em relação a este. Ê No quinto e ultimo trabalho refere-se o Dr. O. Thomas primeira- > . SD Dra 770 Bibliographia mente a nm novo morcego de Cayenna, Molossus Burnesi, e a um novo rato do genero Nectomys, de Nicaragua. Segue depois a descripção de um novo rato espinhento de Santa- rém, chamado Proechimys Goldii O. Thomas. Obtivemos exemplares vi- vos por diversas vezes, do nosso esforçado amigo o venerando Sr. Barão de Tapajoz, durando bastante tempo no nosso Jardim zoologico. O signal caracteristico craneologico consiste na fórma especial dos foramina pala- talia. No fim do mesmo trabalho ( pag. 590-591 ) o mesmo Dr. O. Tho- maz aborda ainda uma vez a difficilima e intrincada questão do genero Mesomys (veja Bol. Museu Paraense, Vol. II, pag. 253-255 Vol. HI, pag. 1%0 seg). : Julga poder reconhecer nos dois ratos espinhentos, da ilha de Marajó, que a elle submettemos e de que nós tratamos summariamente já por duas vezes em publicações anteriores ( Bol. Mus. Paraense, Vol. III, pag. 175 seg. ; Vol. IV, pag. 41) o genuino co-typo do animal, que Wagner tinha deante de si no momento de estabelecer o seu genero Mesomys. Se assim fosse, nós não teriamos razão de queixa, pois ainda assim teriam sahido do nosso Museu os materiaes para a liquidação d'este em- brulhadissimo problema. Mas não posso deixar de confessar, que o nosso tão illustre quão amavel collega londrino ainda não conseguiu convencer- me de todo e dissipar integralmente as minhas duvidas, nem por oeca- sião da nossa discussão oral no British Museum, em julho de 1905, pe- rante o respectivo material, nem agora depois da publicação da sua nota sobre O assumpto em questão. Gi 19. E. L. Trouessart, « The Musk-Rat of the Antilles (Mus pilorides) as a type of very disticnt Genus (Megalomys Trt.) wnder the new ge- neric name Moschomys». [| Annals and Magazine Nat. Hist. London, Series 7, Vol. XI, April 1903, pag. 3859-389]. Nota, cujo conteúdo gravita principalmente ao redor de uma ques- tão de nomenclatura e de systematica. A substituição do nome generico Megamys por um outro ( Moschomys ) era uma necessidade, pois aquella designação já fôra empregada desde 1548 por Lanrillard para um gigan- tesco roedor fossil G. 20. Dr. Enrico Festa. « Mammafera. Veiaggio del Dr. Enrico Festa nel Darien, nel" Ecuador e regiont vicini». [ Bolletino dei Musei di Zoologia ed Anatomia comparata della R. Universitá di Torino. Nº 435, Vol: 18, 11 Feb. 1903, pag. 1-10 7. A nota que temos diante de nós, trata dos Primates encontrados pelo Dr. Festa na sua viagem. Enumeram-se os seguintes simios: 1) Alou- “ata palliata (Gray); 2) Alouata nigra ( E. Geoff.); 3) Lagothrix infu- Ê ' ' 4 Bibliographia 7] “1 [EN mata (Spix); 4) Ateles ater (F. Cuv.); 5) Ateles variegatus ( Wagner); 6) Cebus hypoleucus ( Humb.); 7) Cebus albifrons (Humb.); 5) Cebus flavescens cuscinns ( Old. Thomas); 9) Chrysothrix sciurea (Linn.) 10); Midas geoffroyi ( Puch.). Do macaco prégo —— Cebus hypolencus — vem uma estampa. 21. Studer, Theophil. « Ueber siidumerikanische Cuniden des Natwurhisto- rischen Museums in Bern. | Mitteilungen der Naturforschenden Ge- sellschaft in Bern, 1905. (36 pag. e 3 estampas ). Depois do valioso estudo sobre os Canides (Cães e Raposas ) col- ligidos pelo Museu do Pará, publicado no primeiro fasciculo do quarto tomo da presente publicação como 2.º supplemento ao nosso « Prodromo de um catalogo critico e commentado da collecção de Mammiferos » (pag. 70-81, e 2 estampas) o Sr. Prof. Th. Studer, da Universidade de Berna e Director do Museu de Historia Natural da mesma cidade, voltou ao assumpto baseado em materiaes accrescidos e augmentados. São 5 couros (4 adultos e um filhote) com os respectivos craneos de Lycalopex vetulus (Lunl); 2 couros, com os craneos, de Lycalopex mecrotis ( Selater), sendo estas duas as fórmas de Canides caracteristicas da região amazonica; accrescem ainda dois couros com craneos de Lyca- lopes thous var. melanopus por nós colligidos na Serra dos Orgãos, Es- tado do Rio de Janeiro. Entram outrosim 4 couros e craneos do Cerdo- cyon axare ( Wied), de proveniencia paraguaya e um exemplar completo macho adulto de Chrysocyon jubatws ( Desmarest) oriundo do Sul do Brazil. Deste bello trabalho critico-systematico não é facil dar um resumo. Constitue uma pedra de construcção que d'ora em diante, de certo não poderá ser negligenciada pelos investigadores da fauna mammalogica da região neotropica em geral, e da do valle amazonico em especial. Uma das estampas que acompanham o estudo dá a vista do cadaver fresco de um dos exemplares de Lycalopex microtis ( Sclater ), | conf. « Boletim do Museu Paraense » Vol. IV, fasc. 1, pag. 27 seg. e pag. 76 seg. ], feita mediante uma photographia tomada no nosso jardim zoologico. Esta vista dá incontestavelmente uma idéa mais adequada do habitus d'este raro Canideo amazonico, do que por exemplo a estampa junta á pag. 62 da Monographia de Mivart. G. 22. Oldfield thomas, «New Neotropical Ohrotopterus, Sciurus, Neacomys, Coendou, Proechimys and Marmosa». [ Annals and Magazine of Nat. History, Ser. 7, Vol. XVI, Sept. 1905, pag. 308-304 ]. Embora nenhuma destas fórmas pertença á fauna do Brazil, a nota nos interessa por tratar de novos animaes de paizes visinhos. Assim Pica y EA RT Pd RR Tr o 772 Bibliographia ” “a ar é digna de nota a occurrencia de um membro do genero Neacomys na Guiana ( Demerara, Guyana Ingleza ), tendo até agora sido a localidade mais aproximada Bogotá. G. 23. Oldfield Thomas, « Suggestions for the nomenclature of the cranial length measurements and of the cheekteeth of Mammals ». [ Pro- | ceedings of the Biological Society of Washington, Vol. XVIII, | | pag. 191-196, Sept. 2, 1905. Tantas maneiras de medir os craneos e de denominar os dentes molares dos mammiferos se têm visto surgir nos ultimos tempos em tra- balhos do velho e do novo Mundos, que um lancear de olhos eritico-com- parativo sobre as vantagens e defeitos de umas e de outras tornava-se desejavel. E” salutar que tal exame tenha sahido da penna tão autorisada “A como sabe ser a do incansavel mammalogista do British Museum, |» | G. 24. 0. lhering, H. «Das Rind und seine Zucht in Brasilien > [O gado e a sua criação no Brazil]. Em « Erstes Jahrbuch fir die deutsch-spre- | hende Kolonie im Staate São Paulo». São Paulo, 1905. Contém este curto trabalho uma exposição resumida das diversas raças de gado, que se encontram actualmente no Brazil, ( Cuyabana, — Zebú, — China ), acompanhada de dados historicos geraes, observações sobre o seu parentesco mutuo, filiação e descendencia, distribuição geo- graphica, bem como sobre o estado e tendencias actuaes da criação. Como de ainda não ha muita cousa escripta sobre esta materia, o trabalho é posi- q ' tivamente util, tanto mais que vem acompanhado de illustrações que dão | idéa do habitus exterior de cada uma das raças enumeradas. 4 + Pa G. q 25. Dr. Emil A. Golds. É «On the rare Rodent Dinomys Branvckii Peters». [ Proceedings of Zoo- logical Society, London, 1904, Vol. II, pag. 1558-162 ]. Com 1 estampa. J Nesta nota o autor refere-se á re-descoberta do rarissimo grande ; roedor, existente até agora n'um unico exemplar conservado no Museu de 4 Varsovia, e do qual nos vieram, com grande sorpresa nossa, repentina- ; mente dois exemplares vivos, mãe e filho, de um affluente das cabeceiras : do rio Purús. Discutem-se as feições exteriores, os seus costumes, a sua > indole e caracter. Visto que se projecta não só uma traducção desta nota, como um trabalho maior illustrado, o qual deverá conter tambem o es- ) tudo completo da anatomia interna das partes molles, limitamo-nos aqui 7 á simples menção. ] G. R : e > + a RA A E E ai X s “ Bibliographia Pjo 26 Dr. Emil A. Gold. « Nova Zoologica aus der Amaxonasregion. Neue Wirbelthiere.» [ Comptes Rendus du 6.”* Congrés International de Zoologie. Session de Berne, pag. 542-549. Da Uma das conferencias realisadas pelo autor perante o Congresso internacional de Zoologia em agosto de 1904, na capital da Suissa, foi dedicada á demonstração e á discussão de novos vertebrados provenientes da região amazonica e descobertos no correr dos ultimos annos. Entre os simios (macacos ) salientam-se duas especies novas de Hapuidee (sahuins) ambos do alto rio Purús, boceca do Acre, sendo uma introduzida com o nome de Midas grisco-vertex e outra com o de M. im- perator. Exhibiram-se bellos exemplares de M. pileata ( Isid. Geoffroy ) e toda uma serie de individuos de M. fuscicollis, (Spix), do qual o indi- viduo adulto nunca tinha sido descripto e figurado. Tratou-se da donninha amazonica Putorius paraensis (conf. « Boletim do Museu Paraense » Vol. III, pag. 195-199) e do rari=simo roedor Dinomys Bramickit, do qual acabamos de fallar. Entre as aves novas descreveu-se e demonstrou-se, produzindo si- multaneamente mappas demonstrativos da distribuição geographica, uma interessante segunda especie do genero Galbaleyrynchus, G. purusia- nus &., e uma bellissima Pipra, P. cnelesti-pileata G., a quarta especie de Pipras verdes ao lado das trez outras anteriormente conhecidas. Figu- ram numa das estampas do terceiro fasciculo do nosso « Album de Aves amazonicas », a sahir proximamente, e bem assim amplas providencias estão tomadas relativamente a descripções completas e circumstanciadas, que dentro em breve serão publicadas, Finalmente mostrou-se um diminuto peixe Siluroide, de olhos atro- phiados, isto é, reduzidos a uns pontos minusculos debaixo da pelle, pei- xinho apanhado até agora em dois exemplares numa cisterna da fazenda Jutuba, no rio Camará, pelo nosso bondoso e esclarecido amigo Dr. Vi- cente Chermont de Miranda que já tantos serviços prestou, a nós e à sciencia. Introduzimos na sciencia o notavel peixinho, que nos parece assumir posição intermediaria entre os Trichomyceterini e os Cetopsides ( Candirús ), com o nome de Phreatobius eisternarum. Podemos acres- centar que o nosso amigo, o Prof. Dr. Otto Fubrmann, lente de zoologia na Academia de Neuchatel ( Suissa ) encarregou-se espontaneamente de um estudo monographico do notavel peixinho marajoára, tendo já feito delle assumpto de uma conferencia recente perante a Sociedade Helve- tica de Naturalistas em Lucerna. — Emquanto escrevia estas Jinhas re- cebi, do mesmo logar e do mesmo cavalheiro, mais quatro exemplares vivos de Phreatobiws em agua de poço, n'um vidro de conserva. São vermelhos côr de sangue e são agilissimos, comparaveis a minusculas en- guias nos seus elegantes movimentos de natação. - + 774 Bibliographia 27. Tycho Tullberg « Ueber das System der Nagethiere. Eine phylogenetis- che Studie». [ Nova acta R. Societatis Scientiarum Upsaliensis. TI. serie, Vol. XVIII, Upsala 1900. 502 pag. e 57 estampas. Não é raro surgirem entre os povos scandinavos nos diversos ra- mos da sciencia, trabalhos verdadeiramente magistraes e que primam pela sua solidez e profundidade. Vantajoso quinhão cabe felizn:ente ás scien- cias naturaes. Um bello exemplo d'este phenomeno constitue a brilhante memoria do Prof. Tycho Tullberg, em Ubpsala, sobre o systema dos roedores. E um trabalho que condensa uma somma incrivel de pesquizas anato- micas, tanto originaes, como anteriores, de maneira que constitue por assim dizer, um diccionario a este respeito. Embora a Memoria não trate exclusivamente de Roedores do Brazil, todavia aos representantes d'ahi é reservado honroso logar. E é bom, que a gente saiba onde recorrer no futuro, quando tem de orientar-se sobre esta ou aquella questão de ana- tomia comparada, por exemplo a lingua da capivara, o estomago da cutia, O intestino do coandú, etc., etc., e tantas ontras, que sempre cos- tumam surgir numa investigação destas. G 28. Max Weber « Die Siiugetiere. Einfihrung in die Anatomie und Systematik der recenten und fossilen Mammalia ». Verlag von Gustav Fischer, Iena 1904. 866 pags. e 567 figuras. Fazia falta, até agora, um manual algo comprehensivo que tratasse da anatomia comparada e da systematica dos Mammiferos recentes é fosseis pelo menos na litteratura da lingua allemã, porquanto a ingleza possuia alguns e bons (Beddard, Flower and Lydekker). Esta lacuna veio preencher brilhantemente a nova obra da lavra do Prof. Max Weber, da Universidade de Amsterdam. Longe de ser propriamente um emulo dos livros precitados, segue um plano e arranjo verdadeiramente origimaes e tanto o texto como as numerosas figuras, entre as quaes não poucas aqui pela primeira vez se vêm, documentam o grande zelo e constante empenho do autor em pisar trilho bem seu e de afastar-se do processo da chapa, de que tão frequentemente se assentam novos commettimentos d'esta natureza, especialmente na parte iconographica. Acompanha a obra um indice bibliographieo abundante e cuidadosamente elaborado e levado até época moderna. Felicitamos o autor pela preciosa obra com que elle veio a enriquecer um dos ramos mais interessantes da literatura zoolo- gica. G. a a | | 6)! Bibliographia AVES 29. O. E. Hellmagyr. « Notes on a collection of birds made by Mons. A. Robert . in the District of Pará, Braxil». [| Annotações relativas a uma collec- ção de aves feita pelo Sr. A. Robert no Districto do Pará — Brazil |. Novitates zoologicae, A Journal of Zoology. Zoological Museum of the Hon. Walter Rothschild. Vol. XII 195, N.º 2, pag. 269-306. Enumeração das aves colligidas pelo Sr. Robert, colleccionador do British Museum em Londres e do Museu Zoologico do Barão W. de Rothschild, no anno de 1904 em Igarapé-assá (Estrada de Ferro de Bra- gança ). Citam-se S9 especies, representadas por uns 260 individuos. Di- versas das especies são tratadas mais detalhadamente. Não pretendemos, porem, entrar aqui em pormenores, porque esperamos não nos ha de fal- tar occasião de fazel-o, em logar opportuno. Por esperar, não se perde, diz o rifão popular. Não deixa entretanto de produzir impressão singular em nossa mente a segunda phrase já da introducção, onde se diz: « Desde os tempos de Natterer e de Wallace muito pouco se tem feito em prol da exploração da avifauna deste interessante districto » e logo abaixo: «... Assim estamos ainda muito longe do conhecimento cabal da ornitho- logia do Pará ». Expressões neste theor repetém e acotovelam-se a cada passo e com significativa frequencia, chegando a transparecer por demais nitidamente o fito tendencioso: Certo Museu, desde 189! nada fez em prol da ornithologia do Pará. E” « quantité mégligeable ». Roma locuta. Inter pueros senex. Ora, para quem sabe que o mesmo Museu auxiliou desinteressa- damente já dois destes colleceionadores para Tring, entre elles o proprio Sr. Robert, que afinal de contas por indicação e conselho nosso se esta- beleceu em Igarapé-assú, como acima di-semos, e que outro novamente lá se metteu, lá estando neste momento em que escrevo, rebocado por nós (nem vae exagero nisso ) e, note bem, apresentando-se recommendado a nós pelo mesmo autor Sr. Dr. C. E. H. em carta, pelos termos rogati- vos da qual parece poder-se inferir pelo menos o conhecimento e a noção do Museu do Pará como de um estabelecimento sempre prompto em ser- vir em taes casos e emergencias, semelhante linguagem não ganha um que de cheiro de cousa contraria e inversa á mais elementar gratidão ? « Nonum primatur in annum » opina o conselho horaciano. -Entre- tanto onze annos já faz, que o nosso Museu prepara as bases e os mate- riaes para a redacção do catalogo da sua deveras bella e rica colleeção ornithologica. "Tempo virá, em que ficará patente onde se acha e quem reuniu a melhor e a mais completa collecção de aves do Pará. Esperem. A” bon entendeur salut. G. 776 Bibliographia 30. O E. Helmayr « Ueber neve und wenig bekannte siúidamerikanische Vogel ». | Sobre novas e pouco conhecidas aves da America do Sul ). Em Verhandlungen der K. K zoologisch-botanischen Gesellschaft in Wien. Jahrgang 1903. Vol 53. Wien 1903. pag. 199-223. E” um trabalho que tem direito á nossa attenção já pelo facto de trazer interessantes noticias sobre a collecção ornithologica, reunida por Natterer no Brazil durante IS annos de permanencia neste paiz, e con- servada no Museu de Vienna, e bem assim sobre a elaboração que ella | teve por parte de Augusto von Pelzeln. Que esta, boa em seu tempo e de certo significando notavel esforço, não corresponde mais a todos os de- sideratos e requisitos modernos, é cousa quasi natural por assim dizer e consequencia necessaria da marcha evolutiva, que a sciencia ornithologica tem tomado durante estes dois ultimos dezennios. Não deixa de ser um phenomeno curioso, que um ramo scientifico jáz ás vezes quasi negligen- ciado e como esquecido por dilatado espaço de tempo, não se notando progresso e trabalho algum de certo vulto dnrante successiva serie de decennios, para apparecer, como por erupção vulcanica, de repente, uma actividade intensa em diversos pontos simultaneamente, mudando profun- damente a feição scientifica dentro de uma pequena parcella de tempo em comparação ao anterior pericdo latente. Assim póde-se dizer que na segunda metade do seculo passado, en- tre 1850-1890 quasi estacionario ficou o saber ornithologico relativo ao Brazil. De 1890 até hoje de repente foram-se condensando e accumulando os trabalhos relativos a este ramo das sciencias biologicas, O Sr. Hellmayr, de Munich, joven zoologo bavaro, tem-se entregado com louvavel zelo ao estudo das aves da America do Sul e da sua lavra sahiram durante os ultimos annos notaveis estudos criticos sobre certos grupos difficeis e antes não sufficientemente claborados. No presente estudo trata de alguns membros da familia dos Pipridae ( P. opalizans, P. gracilis nov. espec., Scotothorus sulphureiventer nov. espec. ), Tyran- nidae ( Escarthmus, Rhynchocephalus), Formicaridae ( Herpsilochnaus roraimae nov. espec, Myrmotherula berlepschi nov. espec., Myrmeciza, Phlogopsis, Dysithamnus, Thamnophilus, Grallaria berlepschi nov. espec., Picolaptes, Philydor, Turdidae (Mimus ). N'um appendice (pag. 223-227) o autor junta um exame critico do genero Polioptila. G. 31. CE. Helmagyr. « Ueber neve und wenig bekannte Fringilliden Brasiliens, nebst Bemerkungen iiber nothiwendige Aenderungen in der Nomenhla- tur einiger Arten. | Sobre novos e pouco conhecidos Fringillideos do Brazil]. Verhandlungen der K. K. zoolog.—bot. Gesellschaft in Wien. Jahrg. 1904. Vol. 54, Wien 1904, pag. 516-537. Revisão critica de alguns Fringillideos como Amaurospiza moesta ( Hrtl.), Sporophila bouvreuil P. L. S. Miiller ( — Loxia brevirostris Bibliographia | a | a | Spix — Spermophila caboclinho Pelzeln ( & juv. et” 2), Sporophila saturata nov. espec. (São Paulo), Sp. cinnamomea ( Lafr.) ( Goyaz), Sp. lorenzi (nov. espec.) Cayenna (2), Sp. rnficollis ( Cab.) ( Matto-Grosso, Bolivia), Sp. melanogastra ( Pelz.) (São Paulo), Sp. melanops ( Pelz.) ( Araguay ), Sp. ardesiaca ( Dubois ) ( Bahia, Nova Friburgo), Sp. ameri- cana ( (mel. ) ( Cayenna, Surinam, Pará, Mexiana ), Sp. cucullata ( Boid. ), Sp. leucoptera ( Vieill.). ( Brazil oriental e central ). 32. Dr. E. A. Goldi, « Ornithological results of an expedition up the River Capim, State of Pará wath critical remarks on the Cracidae of Lower Amazonia ». | Ibis, London, October 1903, pag. 171-500, com um mappa do Rio Capim |. Despretenciosa descripção dos resultados ornithologicos da expedi- ção ao alto rio Capim executada por uma commissão do Museu do Pará (junho-julho IS97). O ponto mais distante attingido foi o das ca- choeiras, horas acima da aldeia dos Indios Tembés, « Acaryuçánua ». Uma relação detalhada d'esta viagem, acompanhada de um mappa por nós levantado, é projectada para formar uma das proximas « Memorias » do nosso Museu. — A lista das aves colligidas nesta expedição abarca 116 especies, quando Wallace em 15849 trouxe apenas 28. Elucidou-se o velho problema acerca de Crax pinima de Natte- rer, até agora só conhecido por exemplares do sexo feminino, descreven- do-se pela primeira vez o macho que é preto, branco no abdomen e de bico amarello ( como a femea ). Embora que rabujento ornithologo ultra-moderno tenha tentado recentemente amesquinhar esta descoberta ( Zoolog. Centralblatt, 14 Nov. 1905, Vol. 12, N.º 22), não nos abandona a firme convicção, que me- diante o trabalho acima citado prestamos um serviço á sciencia, que será francamente reconhecido por aquelles que sabem collocar o sentimento de justiça acima da vaidosa-infallibilidade pessoal. 33. Dr. E. A. Goeldi, « A. Story about the Grant Goatsucker of Braxil (Nyctibiws jamaicensis )». | Ibis, Londres, October 1904 pag. 513-518. Com “% figuras |. N'este artigo o autor averigua, o que ha de verdadeiro na lenda amazonica acerea do «urutáu, que traça o caminho do sol», como pretende por ahi o folklore. Trez figuras illustram o que o urutáu deveria fazer, conforme a crença popular, ao passo que quatro outras desenhadas de photographias tomadas em intervallos de 2 horas de um exemplar vivo, mostram o que elle na realidade faz, G. 778 Bibliographia 34. Dr. E. A. Goldi, «On Myopatis semifusca, a small Neotropical Tyrant- bird, harmful to Tree-culture as a Disseminator of the Parasitic Loranthacece ». [ Ibis, London, April 1905, pag. 169-179, com 3 figs. ] Julgava-se que as numerosas especies de aves pertencendo á fami- lia dos Tyrannides se alimentavam mais ou menos exclusivamente de insee- tos. O autor, auxiliado pelo seu primo Andreas Goeldi, que desde annos tinha feito acuradas observações a respeito, demonstra pela primeira vez, que ha um pequeno « bemtevi », muito frequente no Pará — Myiopatis semifusca — que cria os seus filhos sómente com os bagos de certas hervas de passarinho, fazendo destas frutinhas pegajosas consumo imcri- velmente grande. (Que estes passarinhos (aliás Certhiola chloropyga, Phyllomyias burmeisteri e Serpophaga subcristata foram observadas no Sul no exercicio da mesma praxe ) contribuem em grau não pequeno para espalhar a parasitica « herva de passarinho » torna-se assim não sómente cousa plausivel como ficon facto directamente provado. Se agora, como ultimamente foi apregoado em Berlim pelo Prof. O. Warburg (« Tropenpflanzer », Nov. 1905, Vol. 9., N.º 11, pag. 633- 647), a salvação da industria de extracção de borracha consistisse na ex- ploração e plantação em larga escala das taes parasiticas Loranthaceas — idéa que, permitta-se-nos dizel-o, por ora nos parece um tanto esdruxula e fin de sicle, caberia uma innegavel benemerencia aos taes pequenos passarinhos e não havia que tardar em aproveitar-se a valer dos seus ser- viços para a prompta e efficaz disseminação das Loranthaceas n'este es- quisito eldorado agricola do futuro — de pernas para o ar. G. REPTIS- PEIXES 35. F. Siebenrock, « Zur Systematik: der Schildkritengattung Podoenemis Wagler. » [| Sitzungsberichte der Kaiserl. Akademre der Wissenschaften, Math. naturwiss. Klasse Bd. 111, Heft 5, 1902, April und Mai, pag. 157-170). Mit 1 Tafel. — « Schildkroóten von Brasilien.» | Denkschriften der math. naturwiss. Klasse der Kais. Akademie der Wis-en- schaften, Wien 1904. Bd. 76-28 pag. und 2 Tafeln.] Com estes dois cuidadosos trabalhos o autor, zelador do Museu Imperial de Vienna, prestou relevante serviço ao melhor conhecimento dos chelonios do Brazil, mormente ao do genero Podocnemis, cuja syno- nymia apresentava um estado de lastimavel confusão. Visto que tivemos occasião de apreciar de mais perto os dois es- tudos em outra parte da presente publicação, — no nosso artigo « Che- lonios do Brazil », incluido neste volume do « Boletim » ( conf. pag. 730, 731 seg.) — limitamo-nos aqui á mera citação bibliographica. G. Bibliograplua 7 a O) 36. Vital Braxal, Dr. « Do envenenamento ophiídico e seu tratamento. » Conferencia realisada no dia 1 de dezembro de 1901 na Escola de Pharmacia. São Paulo, 1902. ( Typographia do « Diario Official »). (28 pags.) — « Contribuição ao estudo do ophidismo.» Porto Medico, 1904. (25 pags. ). == « Contribution à Vétude de Pintoxication d'origine ophidienne. » Paris, A. Maloine éditeur 1905. (26 pags. ). O autor, benemerito pela descoberta do seu serum antibothropico, anticrotalico e antiophidico, causou-nos vivo prazer pela gentil dedicatoria destes trez trabalhos seus, que vão nos ser de manifesta utilidade e au- xilio, quando tivermos de revêr para ser publicado, o capitulo relativo ás cobras, da nossa Monographia « Reptis do Brazil. » Do ponto de vista da historia natural merecem a nossa especial gratidão as boas illustrações da Jararáca, da Urutú, da Jararacuçúá e da Cascavel, contidas na primeira e na terceira das bellas e em todos os sentidos bem confeccionadas bro- churas. G. 37. O Tate Regan « A monograph of the Fishes of the Family Lori- cariidae. » ( Transactions of the Zoological Society of London. Vol. XVII, Part. 3, October 1904, pag. 191-337. Estampas 12. London ). Entre os Silurideos, os peixes que fazem parte do grupo dos Lo- ricaridae —, isto é dos peixes conhecidos aqui com os nomes triviaes de « Acarys » e « Rabecca », e no sul do Brazil com os de « Viola » e « Cascudos », — occupam saliente logar na feição ichthyclogica da zona neotropica. Encontram-se nos rios de agua doce desde Trindade e Porto Rico até Montevidéo. Bem representados são no Alto Amazonas e seus tributarios. O autor admitte 5 subfamilas: I. Plecostominae — TI. Hy- poptopomatinae — III. Loricariinae — IV. Neoplocostominae — V. Ar- giinae, Oito são os generos da primeira destas subfamilias : Plecostomus ( Gronow) — Hemipsilichthys ( Eigenm.) — Anecistrus ( Kner) — Pana- que ( Eigenm.) — Chaetostomus (Tschudi) — Xenocara ( Regan) — Pseudacanthicus ( Blecker) — Acanthicus ( Spix). Das 169 especies citadas n'este trabalho, distribuidas sobre 17 ge- neros, são indicadas 64 ( perto de 1/3) como provenientes do alto Ama- zonas e dos seus tributarios acima da embocadura do Yapurá; outros 42 pertencem ao Amazonas medio e inferior. Bastam estes dados para se comprehender logo, que deve ser bem- vindo aos que se occupam com o mundo dos peixes amazonicos uma monographia de um grupo tão importante. G. 780 Bibhiographia 38. Dr. Jacques Pellegrin « Contribution à UV Etude anatomique, pe que et taxinonique des poissons de la famille des Cichlidés. » | Me- moires de la Société zoologique de France. Tome XVI, premitre e seconde partie, pag. 41-196, 3"º e 4”* partie, pag. 197-400, 7 planches. Paris 1903 ]. Os peixes da familia dos Cichlidae, da qual fazem parte um bom numero dos nossos mais apreciados peixes de meza na região amazo- nica, como o Tucunaré, o Apaiary, o Jacundá, os Acarás, etc., são principalmente representados na parte tropical da America, em quasi toda a Africa e em Madagascar e, fracamente, na India anterior. + Os generos existentes na fauna actual são em numero de 51. Um pequeno « acará », por nós trazido do rio Cunany, no littoral da Guyana Brazileira, e descripto por Boulenger com o nome de Heros Goldii (conf. « Boletim do Museu Paraense », Vol. II, pag. 473 e Es- tampa « Novos Peixes da Amazonia », fig. 2.) é attribuido pelo autor ( pags. 219) à Cichlasoma temporiule Giúnther. O trabalho do Sr. Pellegrin, do Museu de Paris, é um destes que Vora em diante não poderá deixar de ser consultado e aproveitado por quantos têm de se occupar com os peixes da região amazonica. Elle se nos afigura ainda tanto mais interessante, quanto vem projectar final- mente pela primeira vez alguma luz sobre umas certas collecções ichthyo- logicas feitas por Jobert em Manáãos, durante os ultimos annos do Impe- rio, com ao que dizem, devéras principescos recursos fornecidos pelo Go- verno Brazileiro, applicados pelo então sabio professor francez contractado para leccionar biologia na Escola Polytechnica do Rio de Janeiro em não pequena parte em quão zelosos como profundos estudos anthropologicos de appetitosas e dengosas «cunhã-mucús » em Manáãos e regiões cireumvisi- nhas do grande rio-mar. Dizem, dizem! Emfim, ficamos pelo menos sa- bendo hoje, uns 20 e tantos annos depois, que então sempre se apanhou tambem um on outro peixe. do 39. O Tate Regan, « A Revision of the Fishes of the American Cichlid genus Cichlosoma and of the allied genera. » [| Annals and Magazine of Natural History. London, series 7, Vol. XVI, July 1905 pag. 60-78; — Aug. pag. 225-243; — Sept. pag. 315-341; — October pag. 4933-445 ). Outro exemplo de curiosa acenmulação repentina de trabalhos so- bre o mesmo assumpto ou assumptos affins, depois de longo intervallo de paralisação mais ou menos completa. Verdade é que os peixes do ge- nero Cichlosoma, bonitos já na sua apparencia exterior e abarcando pela excellencia da sua carne as fórmas as mais nobres, constituiam, por assim dizer assumpto instinctivamente convidativo para uma nova elaboração e um ensaio monographico. Bibhiographia 781 O autor agrupa os peixes que entram em questão ao redor do se- guinte schema: Generos Cichiosoma — Petenia — Herichthys, — Para- neetroplus — Neetroplus — Heterotilapia — Uarú — Symphysodon — Pterophylum. Ao subgenero Cichlosoma cabem, segundo as vistas do antor, nada menos de 66 especies, entre as quaes nos podem interessar principal- mente C. antochthon, de Theresopolis, Serra dos Orgãos, Rio de Janeiro e CG. temporale, que é julgado identico com Heros Goeldii. Boulenger ( « Bolletim do Museu Paraense», Vol. 1I. 1898. pag. 473, Estampa fig. 4). E” um estudo predestinado a tornar-se utilissimo e indispensavel para quem mais de perto tiver de occupar-se da systematica dos peixes que se agrupam ao redor dos nossos « acarás », 40. O Tate Regan, « A collection of fishes made by Dr. Goeldi at Rio de Janeiro. » | Proceedings of Zoological Society. London, 1903. Vol. II, pag. 59-68. Com 2 estampas. | Uma passagem pelo Rio de Janeiro foi aproveitada para executar um plano antigo meu: de colleccionar mma vez os principaes peixes ali- menticios. Sem restringir-me rigorosamente ao programma. em pouco tempo eu tinha reunido especimens de 125 especies. A colheita foi elaborada pelo competente Dr. Tate Regan, auxiliar ichthyologico do Museu Britan- nico e digno assistente do nosso amigo Dr. Geo. Boulenger. Quiz o accaso que quatro destas especies fossem novas para a sciencia, constituindo uma até um genero novo. São: Raia cyclophora, Mylacrodon goeldin, Peristedion altipennis, Genypterus brasiliensis. G. 41. Tate Regan « A Revision of the southamerican Cichlid genera Cre- nacara, Batrachops and Crenicichla. » | Proceedings of the Zoolo- gical Society. London, 1905. Vol. 1. August 10, pag. 152-168 com 2 estampas ). Peixes do parentesco dos Tucunarés e dos Jacundás. Como nova acha-se descripta a especie Orenicichla cincta, por nós colligida na ilha de Marajó (pag. 166). Uma figura encontra-se no trabalho acima men- cionado de J. Pellegrin ( Mémoires de la Société Zoolog. de France, Tom. XVI, pag. 383, pl., fig. 3.) E” uma variedade fortemente rajada no sentido transversal qual Sorubim, uma fita escura longitudinal desde o olho até a inserção da nadadeira pectoral e a acostumada mancha ocular na base da nadadeira caudal. G. 782 Bibhographia 42. O Tate Regan «On Drawings of fishes of the Rio Negro. » | Pro- ceedings of the Zoological Society of London, 1905. Aug. 10, pag. 189-190. Recentemente o British Museum recebeu do Dr. Alfred Rusell Wal- lace um presente de não pequeno valor e de grande interesse mesmo. para nós. E” uma serie de desenhos coloridos dos peixes por elle colligi- dos durante a sua viagem no Rio Negro uns 58 annos atraz. A colleeção mesmo perdeu-se, como é sabido, por occasião da volta para a Inglaterra (conf. a nossa resenha biographica sobre Johannes Natterer, « Boletim do Museu Paraense», Vol. TI, pag. 196 seg.), Embora faltem assim os verdadeiros especimens de peixes, aos quaes as aquarellas se referem, es- tas por si s6 são de importancia, por illustrarem de alguma fórma o. conjuncto ichthyologico do rio Negro. O dr. Tate Regan procedeu a uma cuidadosa identificação dos peixes figurados publicando uma Jista que abrange nada menos do que 115 especies diversas. E” um facto satisfatório sabermos que da explora: ção de Wallace no Amazonas sempre salvou-se esta lembrança ichthyo- logica. (5; ARTHROPODOS INSECTOS 43. Adolf Ducke, « Die stachellosen Bienen ( Melipona Hlig.) von Pará. » [| As abelhas sem ferrão ( Melipona Illig.), do Pará, descriptas con- forme o material do Museu Goeldi |. Zoolog. Jahrbiicher, Redaktor Prof. Dr. J. W. Spengel, Giessen, Vol. XVII, Heft. 2, 1902, pag. 285-328. Com 1 estampa (11). O Sr. Adolpho Ducke, nosso entomologista e como se sabe sobretudo especialista em certas familias da ordem dos Hymenopteros, propoz-se a elaborar no presente trabalho o material de abelhas indigenas existentes no Museu. Enumera 42 especies, acompanhadas todas de descripções bas- tonte detalhadas e de figuras, sempre que estas se tornam desejaveis como no caso das tibias. O trabalho é util e tem de apparecer ainda no « Bo- letim » ou nas « Memorias » em occasião opportuna. Deve a sua origem a um conselho directamente emanado do actual Director do Mnsen do Pará. Merece severa censura e protesto nosso a observação final do Sr. Friese, em Tena, relativa 4 estampa, dizendo que «as figuras foram teitas de exemplares typicos da minha collecção, debaixo da minha di- recção, pelo Sr, Giltsch em Iena, aproveitando-se uns modelos enviados pelo autor. » Bibliographia 783 Porque afastar-se da linha recta da estricta verdade? — A estampa não é outra cousa, senão a copia exacta de reproducções photographicas de nossas estampas originaes, feitas aqui no Pará no correr dos annos, ainda antes da chegada do Sr. Ducke estampas estas, que na Europa foram mostradas occasionalmente a diversos scientistas, por exemplo ao venerando Sr. Dr. Eduard Gráffe, Director do Instituto Zoologico de Trieste. O Sr. Friese inverteu intencionalmente as cousas deprimindo e reduzindo a um nada aquillo que de facto fora a base principal e genuina da estampa, attribuindo a si o merecimento principal e elevando e collo- cando em primeiro plano, como cousa essencial, o phenomenal serviço de — meros retoques secundarios. 44. Adolf Ducke « Neue siidamerikanische Chrysididen. » [ Zeitschrift fiir Hymenopterologie und Dipterologie, 1903, Heft. 3, pag. 129-136). — « Beitrag xur Synonymie der neotropischen Apiden. » [| Zeitschrift fiir Ilymenopterologie und Dipterologie, 1903, pag. 176 ). -— « Neue siúdlamericanische Ohrysididen. >» [ Ibidem, pag. 2926-239 ]. Revisione dei Crisididi dello Stato Brasiliano del Pará. » [ Bullettino della Societá Entomologica Italiana, Fi- renze, anno 36, 1904, Trimestre 1]. z — « Supplemento alla Revisione dei Orisididi dello Stato Brasiliano lel Purá.» [ Ibid. 1904, Trimestre 3-4]. — «Zur Kenntniss der Sphegiden Nordbrasiliens. | Ibid. 1904, pag. 91-98 ]. — «Zur Kenntniss der Diploptera vom ebiete des wnteren Amaxonas. » [ Ibid. 1994, pag. 134-143 ]. | | Nachtrag ». [ Ibid. 1904. pag. 189. — « Nouvelle contribution à la connaissance des Vespides sociaux de PV Amérique du Sud.» Avec 1 planche. [ Annales de la Société Entomologique de France. 1905]. Trabalhos relativos á systematica dos Apides e Vespidas da região amazonica. E” incontestavel, que o conhecimerto destes hymenopteros tem lucrado com a persistente investigação do Sr. Ducke. Claro é que na parte biologica fica ainda muita cousa por fazer no futuro. G. R as 4 h ha a DE al a qtas» : = t AE 784 Bibbiographia Pe 4 45. E. Wasmann,'S. J., A « Riesige Kuwrzfliigler als Hymenopteren-Giiste. » (132 Beitrag) | Internat. Entomolog. Wo- chenschrift « Insektenbôrse», Leipzig. 1902 ]. E « Species nove ansectorum termitophilorum ex America Meridionali. [ Tijdschrift voor En- tomologie parte. 45, pag. 94-108 |. — « Neues úiber die «usammengesetiten Nester und gemischten Kolonien der Ameisen.» | Allge- meine Zeitschrift fir Entomolog. 1901-1902 ]. — « Species nove insectorum termitophilorum a a D. Filippo Silvestri in America meridio- nali invente. | Bolletino dei Musei di Zoolo- gia et Anatomia Comparata della R. Uni- versitá di Torino, 1902. Vol. XVII. N.º 427] — «Zur niiheren HKenntniss des echten Gastver- hiiltnisses ( Symphilie) bei den Ameisen und Termitengiisten. » | Biologisches Centralblatt, Lepeig Bd. XXIKL Nº 2, 5, 6; 1.88 No primeiro d'estes trabalhos — todos elles relativos aos hospedes das formigas e termites (cupim), assumpto predilecto do autor, no qual é incontestavelmente a autoridade a mais competente actualmente — tra- ta-se de interessantes inquilinos gratuitos, da ordem dos Coleopteros e da familia dos Staphylinideos, nos grandes ninhos de certa Vespidea ( aff. Polybia vicina Saussure), conhecida no Sul do Brazil com o nome de « marimbondo prateleira » e estudada pelo Sr. Andreas Goeldi na Colonia Alpina ( Serra dos Orgãos, Estado do Rio de Janeiro). O freguez o mais frequente era o Triacus superbus Er. No segundo trabalho o incansavel padre jesuita ainda descreve en- tre numerosos outros novos coleopteros termitophilos : Anacyptus ( Micro- eyptus) Goeldii, por nós encontrado em pão podre, no Pará. habitado por Coptotermes marabitanas e Conosoma convexiusculum ( igualmente por nós enviado da Colonia Alpina, Theresopolis, onde se achava hospe- dado no ninho de Eutermes arenarius — fulviceps. Nºesta occasião seja dito de passagem, que um insecto proximo parente do Atractocerus termiticola Wasm. (fig. 6 da estampa 9) tam- bem já foi por diversas vezes observado por mim no Pará, attrahido de | noite pelo lampeão do meu gabinete de trabalho. G. Bibliographia 785 46. E. Wasmann, « Die phylogenetische Umbildung ostindischer Ameisen- giúste in Termitengiiste. » | Mitteilungen der Schweiz. Entomolog. (Gresellschaft, Bd. XI, Heft 2, pag. 66-70]. A Idem »: | Comptes-Rendus du 6”"* Congrês Interna- tional de Zoologie, 1904, pag. 436-44S. Com 1 es- tampa |. < Ursprung und Entewicklung der Shlaverer ber den Ameisen. [ Biologisches Centralblatt, Leipzig Bd. XXV, N.º 49). A - Nochmals zur Frage iiber die temporiir gemischten Colonien und dem Ursprung der Shlaverer bei den Ameisen. | Biologisches Centralblatt, Bd. NXXNV, Nºº>191. | -—* « Beobachtungen úiber Polyrhachis dives auf Java, die thre Larcen zum Spinnemn der Nester beniitit. » No- tes from the Leyden Museum, Vol. XXV, pag. 1335-140 ). — « Wissenschaftliche Beweisfiihrung oder Intoleranx ? Eine letzte Erwiderung an Herrn Prof. August Forel | Biolog. Centralblatt Bd. XXV, N.º 158, Leipzig, 1905, pag. 0921-624]. Quasi todos estes trabalhos interessam-nos tambem pela luz que projectam sobre certas questões relacionadas com a economia interna do estado social das formigas. No segundo e terceiro encontra-se farto cabe- dal experimental para provar a doutrina, que as « colonias predutorias » ( Raubkolonien) devem a sua origem onto- e phylogenetica a « colonias de adopção » ( Adoptions-Kolonien ). No capitulo « fundação de novas co- lonias em diversas especies de Formica» (pag. 16S seg.) refere-se o Prof. Wasmann aos nossos estudos sobre a « Saúva» ( Alta sexdens) e ao nosso resultado, que «rainhas » fecundadas são por si só normalmente "apazes de fundar novas colonias. Interesantes são as communicações so- bre a formiga Polyrhachis dives no Japão, que utilisa as suas larvas para tecer os seus ninhos, da mesma fórma como o faz, conforme descoberta » nossa, o Camponotus senex, aqui na região amazonica, : G. do. E. Wasmann, «Zur Lebensweise einiger in-und ausliindischen Amei- sengiiste. » | Zeitschrift fiir wissenschaftliche Insektenbiologie, I, Bd. 1905 Heft 8, pag. 328-336 und Heft 9, pag. 384-390 ]. O autor faz n'este trabalho interessantes communicações sobre o modo de vida de certos hospedes de formigas e encontra ensejo de apro- veitar umas tantas observações nossas, feitas aqui no Brazil, tanto no E E EO DO O do TE DR RA e Rr. | É se E, 786 Bibliographia A Sul, como no Norte, no correr dos annos. Assim estende-se sobre a ma- neira de comportar-se dos pequenos grillos do genero Myrmecophila, consta- tando o curioso facto que um novo representante deste genero, M. preno- lepidis, é encontrado, tanto nas Indias orientaes como vo Brazil, nos ni- nhos da mesma formiga Prenolepis longicornis, muito commum aqui no Pará nas fendas e cavidades existentes nos muros e caixilhos das Janellas. E” uma creatura de feições diminutissimas, pois não excede de 2=» em estado adulto. Outrosim refere-se ao pequeno coleoptero Coluocera maderac Woll. (oculata Bel.) da familia dos Lathriidae, igualmente hos- pede na casa da formiga Prenolepis longicornis, publicando uma extensa curta nossa sobre observações biologicas feitas aqui no Pará e datada de 20 de setembro de 1905. O Coleoptero ( Coluocera maderae) é de côr avermelhada e um anão como o agilissimo grillo Myrmecophila prenolepidis. G. 48. H. con lMering, « Die Brologie der stachellosen Honigbienen Brasi- liens.» [| Zoologische Jabhrbiicher, Red. Prof. Dr. J. W. Spengel, 1903, Vol. XIX, Heft 2 e 3, pag. 179-292 ]. Com 12 estampas, em parte coloridas, e 8 figuras no texto. 49. Silvestri Filippo, « Contribwzione alla Conoscenxa dei Melipomidi del Bacino del Rio de la Plata.» [ Revista de Pathologia vegetal. X, 10 IV. 1902. Portici, pag. 121-172)]. 50. 0. Buttel-Reepen, « Die stammesgeschichtliche Entstehung des Bienen- stantes.» [ Vortrag auf dem Zoologen-Congress in Griessen (1902). Leipzig, 1903, 138 pags., 20 Tlustrationen. Trez trabalhos sobre a biologia das abelhas, sendo dedicados os dois primeiros especialmente ás abelhas indigenas, da America Meridional, sem ferrão ( Trigona, Melipona ). Ha muito que faltava um estudo algo comprehensivo sobre estas abelhas tão diversas, no aspecto exterior, como no seu modo de vida e tendencias architectonicas, da Apis mellifica do Velho Mundo. Alguns materiaes havia esparsos em fórma de artigos, mais ou menos extensos, em algumas revistas nem sempre bem accessiveis, mas uma elaboração verdadeira, estribada em longas e pacientes investigações proprias ninguem antes a tinha tentado. Curioso é que logo dois autores tivessem simul- tancamente voltado a sua attenção a esta tarefa. Ihering expõe no seu substancioso e bem illustrado trabalho os resultados das suas pesquizas sobre as abelhas indigenas do Sul do Brazil (Rio Grande, São Paulo Rio de Janeiro ), declarando que o assumpto o occupou com intervallos maiores e menores, durante nada menos do que 23 annos de residencia na parte subtropica do Brazil. O Dr. Filippe Silvestri, por outro lado, oceupa-se no seu trabalho com os Meliponides das Missões e de Matto Grosso. Tambem é bem fornido de uteis figuras tanto systematicas como biologicas. =] Bibliographia 78 Muito interessantes são as communicações sobre certas especies como Trigona Kohli ( Friese), que vive em « symbiose » ou, melhor, em synoikia com certo cupim ( Eutermes Ripertii). Fórma isto nm pendant significativo á nossa descoberta feita aqui no valle amazonico, qne certa . Melipona diminuta constroe seu ninho no centro da casa da formiga Cam- ponotus senex. Uma outra abelha minda, Trigona droryana ( Friese ), cha- mada « miri-guazú » nas Missões, faz seu ninho no ôco interior dos gros- sos bambús ou taquáras. (Fig. 1%, pag. 157). Um estudo cheio de proprias observações criteriosas e notavel pela largueza de vistas, propria de uma cabeça genuinamente philosophics é o terceiro, tratando da « Origem philogenetica do estado social das abelhas ». São tantos os pontos de contacto com a biologia e a eco- nomia interna do estado social das nossas abelhas indigenas da America do Sul, que a comprehensão fica salutarmente auxiliada por este rico ma- terial comparativo com zelo e intelligentemente colleccionado e coorde- nado. im summa, são trez trabalhos, dos quaes cada um a seu modo significa um valioso progresso scientifico. Os do Dr. von Thering e do Dr. F. Silvestri constituem incontestavelmente titulos de benemerencia neste terreno de exploração da natureza brasilica, pelos quaes sincera- mente nos congratulamos com os autores. 51. Forel, August, « Einige biologische Beobachtungen des Herrn Prof. Dr. E. Goeldi an brasilianischen Amersen. » | Biologisches Central- blatt Bd. XXV, N.º 6, 15 Mayr 1905, pag. 170-182 ]. Com 7 figu- ras (vistas photographicas ). O nosso amigo Prof. Dr. A. Forel offereceu-se gentilmente para elaborar um pequeno trabalho sobre algumas observações nossas relativas a certas formigas amazonicas, quando, por occasião do nosso encontro no Congresso Internacional de Zoologia, em Berna (agosto, 1904), submet- temos a tão competente especialista diversas photographias, lamentando a absoluta falta de tempo para redigir o respectivo artigo e nota. Trata: 1) do ninho de Camponotus senex Smith, formiga do rio Purús e dos arredores do Pará, que aproveita as suas larvas como tecelões, para tecer a pellicula papyracea do sen ninho, que por sua vez hospeda o ninho de uma pequena abelha ( Meliponidea). II) dos ninhos do genero Azteca Forel (jardim do Museu do Pará) e da notabilissima Azteca barbifex Forel (alto rio Pnrús). III) da fundação de colonias na Atta sexdens L. (saúba ). IV) do jardim de cogumelo de Atta ( Acromyrmex octospi- nosa ). O terceiro capituio recebeu, desde então, uma mui consideravel ampliação e complemento por um trabalho do nosso collega Dr. Jacques Huber, chefe da secção botanica do Museu do Pará. G. 788 Bibliographia Ras 52. Forel, August. « Einige neve biologische Beobachtungen iúber Ameisen ». [ Comptes rendus du 6”* Congrés Internat. de Zoo- logie, Session de Berne, 1904, pag. 449-445 ], A « Sklaverei, Symbiose und Schmarotrerthum bei Amei- sen.» [ Mitteilungen der Schweiz. Entomolog, Ge- sellschaft Bd. XI, Heft 2, pag. 85-59. 1904. — «dm und mit Pfiansen lebende Ameisen ans dem Ama- «onas Gebiet und aus Peru, gesammelt con Herrn E. Ule.» [ Zoolog. Jahrbiicher, Prof. Dr. J. W. Spen- gel, Giessen, Vol. XX, Heft 6. 1904, pag. 677-707. No primeiro dPestes trabalhos o Prof. Forel discute as formigas amazonicas que formam aquellas bolas, muito conhecidas com o nome trivial de «tracuéá» ( confer. « Boletim do Museu Paraense », Tom. III, Bibliographia, pag. 597-59S ) e qualificadas, uns annos atraz como « Jar- dins de formigas » pelo Sr. E. Ule. São, ao que parece, principalmente especies do genero Axteca. Consideram-se outrosim as especies, que vivem em symbiose com certos arbustos e arvores da America tropical ('Tripla- ris ) e fazem parte do genero Pseudomyrma ( exemplares de Triplaris vindos do rio Purús ainda por muito tempo ficaram habitadas pela P. dendroica no nosso horto botanico no Pará ). Entra o autor ainda na descripção das formigas que aproveitam suas larvas como tecelões. A cousa foi descoberta primeiramente na for- miga Occophylla smaragdina, das Indias Orientaes e redescoberta por nós, meu primo Andreas Goeldi, inspector do horto botanico, e eu, na formiga Camponotus senex, em ninhos trazidos pelo primeiro do alto rio Purús. O terceiro trabalho trata sobretudo do lado systematico da colheita de formigas feita no Juruá e em Iquitos. G: 53. J. Huber, « Ueber die Koloniengriindung bei Alta sexdens. » [ Biolo gisches Centralblatt, Leipzig, N.º 18 e 19, 15 Sept. —1 Oktob. 1905, pag. 606-619: pag. 625-635]. . iste trabalho, acompanhado de 26 figuras originaes, quasi todas photographias, sendo algumas instantaneas e, em parte, micro-photogra- phicas, constitue, sem duvida alguma, a contribuição a mais valiosa e saliente ao conhecimento da historia natural da « saúba », desde o afa- mado livro de A. Móôller «sobre os jardins de cogumelos de formigas sulamericanas ». | Dá uma descripção exacta da fundação de novas colonias («reinos » ) desde o momento em que a femea, fecundada durante curto vôo nupcial, se enterra, lançando o inicio de um novo estado, cultivando o jardim de cogumelo « Rhozites » de phases iniciaes tão subtis, que parece periclitar o Bibliographia 789 a todo momento, e pondo ovos com uma frequencia só possivel em um ser de descomunal fecundidade. Toda uma serie de novas descobertas foi feita acerca do modo de tratar a cultura do cogumelo, sendo sobretudo notavel a estrumação intencional com os seus proprios excrementos pra- ticada pela rainha, como mais tarde tambem pelas obreiras, a alimentação das larvas, o aproveitamento de certa porção de ovos para os fins da alimentação, etc., etc. Semelhante resultado sómente foi possivel graças á invenção de um systema especial de caixas apropriadas permittindo fisca- lisar no laboratorio, passo por passo, todos os actos da vida domestica da « saúva », que normalmente se desenrolam debaixo da terra, ciumen- tamente guardada no segredo da completa obscuridade. O trabalho do nosso collega Dr. Huber é aliás apenas um resumo provisorio de outro maior e mais cireumstanciado, onde tambem serão desenvolvidas certas questões mycologicas. G. D+. Edo. Ellingsen, « Pseudoscorpions from South America collected by Dr. A. Borelli, A. Bertoni de Wainkelried and Prof. Goldi. » [ Bollettino dei Musei di Zoologia ed Anatomia comparata della R. Universitá de Torino, Vol. XX, N.º 500, I7/junho de 1905. Descripção de diversos pseudo-scorpiões, dos quaes o Chelifer no- dulimanus ( Tômôsvary ) encontrado debaixo das elytras do bello bezouro Acrocinus longimanus, no Pará, exercendo evidentemente equitação barata (IST, 19029, Chelif. macrochelatus ( Tôm.) ibidem, Chelifer mitidima- nus nov. espec., apanhado por nós sobre uma fruta, aqui no Pará (1. 1900) ( PQ com ovos) e caracterisada de todos os outros representantes sulamericanos do subgenero pela mão lisa dos palpos. 55. Dr. E. A. Goldi, « Beobachtungen iiber die erste Anlage einer neuen Kolonie von Atta cephalotes. [ Comptes Rendus du 6”* Congrês Inter- national de Zoologie, 1904, Berne, pag. 457-458 |]. Pela primeira vez communicaram-se olservações sobre ensaios, acompanhados de successo, de estudar no laboratorio a fundação de uma nova colonia de saúva por uma só femea fecundada. Até lá todas as phases iniciaes de uma nova colonia tinham sido envoltas numa densa obscuridade. Chegnei a observar, que a femea põe um punhadinho de ovos, na cavidade de fórma de estribo praticado na terra, e que estes ovos vem a ser collocados, qual chicara sobre um pires, na depressão central de um pequeno jardim de cogumelos, no principio com a fórma de um alguidar. Chegou-se tambem a suppôr já, que um eventual ex- cesso de ovos fosse aproveitado como substrato, para canteiro de jardim ou mesmo para fins alimenticios. 790 Bibliographia Mallogrou infelizmente depois de 30 e tantos dias esta primeira experiencia, morrendo a rainha repentinamente por motivo ignorado, quando se viam diversas nymphas de obreiras, brunnaceas já e com to- dos os symptomas de virarem em formigas vivas dentro de dias e horas. — No trabalho, acima referendado, do Dr. J. Huber vê-se como a reto- mada d'estas experiencias foi n'esse dia coroada de pleno successo. G. 56. Dr. E. A. Goeldi, « Myrmecologische Mitteilung das Wachsen des Pilzgartens bei Atta cephalotes betreffend. » | Ibidem, Comptes-Rendus, Berne, 1904, pag. 508-509 ]. O nucleo desta communicação reside na observação por nós feita e amplamente averiguada, que as formigas obreiras transplantam inten- cionalmente feixes de hyphas do cogumelo Rhozites, apanhadas nas par- tes inferiores do ninho, para as novas partes periphericas, fincando-as entre as particulas de. folhas picadas, seguindo o processo do horteleiro que muda filhos de couve para um novo canteiro. Assim se explica por que, dentro de horas, as novas partes do stroma spongioso já se apre- sentam brancas, quaes montanhas cobertas da primeira neve invernal. G. - 57.0. Mhering, H « As abelhas sociaes do Braxil e as suas denomina- ções tupis » [ Revista do Instituto Historico de São Paulo, 1904. Pequeno estudo de 15 paginas apenas, que se recommenda aos interessados na materia, rebelde todavia a um extracto breve. eo 58. Th. Stingelin. « Die Familie der Holopedido ». [ Revue suisse de zoologie redigée par le Prof. M. Bedot, Tome 12, fasc. 1, pag. 53-65, pl. 1. — « Entomostraken gesammelt im Miindungsgebiet des Amazonas.» | Zoologische Jahrbiicher von Prof. J. W. Spengel, Iena. Vol. XX, Heft 6, 1904], pag. 575-590, Taf. 20. No primeiro d'estes trabalhos relativos a colheitas planctonicas fei- tas pelo pessoal do Museu do Pará, em diversas localidades da foz do Amazonas, o autor, especialista no grupo dos microscopicamente peque- nos crustaceos da ordem dos Cladoceros, demonstra que da familia dos Holopedidae, que se julgava até agora composto de um unico genero, Holopedium, e uma unica especie, H. gibberum ( Zaddach ), encontrado num lago de montanha no São Gotthardo, na Suissa, existe uma se- Bibliographia 791 gunda, nova especie — Holopedium amazonicum, apanhada no rio Aramã, lado interior da ilha de Marajó. No segundo trabalho descrevem-se 6 fórmas amazonicas de Clado- ceros, das quaes trez novas para a sciencia. São: 1) o supramencionado Holopedium amazonicam (Stingelin); 2) Ceriodaphnia Rigandi ( Ri- chard); 3) Moinodaphnia brasiliensis nov. espec; 5) Bosminopsis deiter- sii ( Richard); 6) Dadaya macrops ( Daday ). Em crustaceos Copepodos accresce ainda Pseudodiaptomus gracilis ( Daday). Na estampa encon- tram-se figuras do habitus das trez novas especies. G. 59. 0. Thering, H. «Fine notwendige Nomenklatwrregel mit Riicksicht auf brasilianische Bigennamen.» | Uma necessaria regra de nomen- clatura relativa aos nomes proprios de origem brazileira |. Zoologis- cher Anzeiger, Leipzig, Vol. 28, N.º 24-25. 9 Maio, 1905, pag. 85-787. Demonstra o autor que o «ç» na nomenclatura scientifica deveria ser substituido methodicamente por «ss» ou «s>, preposição com a qual concordamos e que por vezes temos applicado nos nossos trabalhos sobre historia natural do Brazil, embora não com o rigor desejavel. Apenas temos de accrescentar que, além do «ss» e «s », como substitutivos para o «ç», deveria entrar ainda em consideração 0 «z» em certos casos — lettra aliás muito em uso nas transcripções de nomes proprios da lingua mexicana. De facto, ha uma conjunctura mais absurda, do que a coacção derivada de um pedantismo revoltante e tôlo, de ter- mos de escrever, de ler e de pronunciar in secula seculorum « Felis onea », simplesmente porque o typographo que compoz o respectivo manus- cripto de Linneu esqueceu a cedilha debaixo do c, e que o erro, dahi originado, ha de ser conservado, arraigado, e sagrado em attenção ao mandamento, de nomenclatura moderna, que quer que até manifestos e palpaveis erros sejam piedosamente mantidos e seguidos? E temos de sujeitar-nos ao dictame torjado na mesa verde pela commissão de redac- ção das regras de nomenclatura de além-mar, de acceitar e usar taes atro- cidades como « Tajacu » (em vez de Tajaçúá — tajassú ), « Jacana jacana » (em vez de jaçanã — jassaná), « Ardea cocoi » (em vez de çocó-i — socoí ), « Cariama» (em vez de çariama — sariáma ), e tantas outras ? Nutri a esperança de que durante o Congresso Internacional de Zoologia em Berna em agosto de 1904 se desse uma occasião de ventilar esta questão e de formular o meu solemne protesto contra semelhantes tenta- tivas de violentação ao bom senso commum. Mas enganei-me. Não houve tempo e nunca haverá: Estas commissões trazem sempre as suas. leis já feitas e não julgam necessario consultar quem quer que seja. Resta- nos naturalmente o recurso de não acceitar taes absurdos. E” o que esta- mos resolvidos a fazer: preferimos ser consequentemente logicos do que pedantescamente modernos. G. Biblhiographia “7 NO) to PALEONTOLOGIA — GEOLOGIA 60. Erland Nordenskidld, « Ueber die Siiugethier-fossilien des Tarijatals, Siúdamerika. T Mastodon andium Quo.» | Kungl. Svenska Vetens- kaps-Akademien Handlingar, Vol. 37, N.º 4, Stockholm, 1903. 30 pags. com 6 estampas ]. Formam o assumpto d'esta Memoria, bellissimamente illustrada, os materiaes e collecções relativas ao Mastodonte fossil da região andina, trazidos pelo Barão Nordenskióld da zona limitrophe entre a Bolivia e a Republica Argentina durante a expedição sueca em 1901-1902. Inspira- nos esta Memoria tanto mais interesse, quanto nós mesmos possuimos certos materiaes da mesma categoria, provenientes porém do alto rio Ju- ruá. São fragmentos de tibias e humerus, mandibulas de dois individuos (com os dentes), dentes isolados de Mastodon e um dente de Toxodon. O Museu do Pará obteve igualmente do alto Acre um bello espe- cimen de fragmento da abobada palatina de Toxodon, com os dentes. Fica assim demonstrado, que o horizonte fornecedor de Toxodon julgado até hoje como limitado á Republica Argentina e regiões visinhas se extende muito mais para o Norte, interessando larga superficie cortada pelas ca- beceiras e aftluentes superiores dos rios Juruá, Purús e Acre. Julgamos util tornar publico finalmente este novo facto scien- tífico, que é capaz de produzir alguma surpreza nos circulos geologicos e paleontologicos. Opportunamente daremos informações mais amplas munidas de ilustrações sobre estes nossos materiacs relativos a esses grandes mammi- feros fosseis, bem como sobre os outros que estão em nossas mãos, prove- nientes dos rios Purús, Acre e diverses affluentes e se ligam com gigan- tescos Reptis, o jacaré extincto Gigantosuchus e o kágado monstro Oy- clopochelys. (as 61. Einar Lônnberg, « On some fossil remains of a Condor from Boli- via.» | Bulletin of the Geological Institute of Upsala N.º 11, Vol. VE, Part. 1. 1902 1. Como pertencendo a um condor extincto denominado Sarcorham- phus patruus descreve e figura o Sr. Prof. Lônnberg alguns ossos das extremidades, trazidos pelo Sr. Barão Erland Nordenskióld, do valle de Tarija, no Sul da Bolivia. A especie parece ter sido menor que o actual S. gryphus, o condor da cordilheira dos Andes. G. 4 Bibliographia 793 62. Katxer, Friederich. « Grundxiige der Geologie des unteren Amazonas 9 À gebietes (des Staats Pará in Brasilien). [Com mappa geologico co- lorido, quatro retratos e diversas estampas). Leipzig, 1903. (293 pags ). O autor, outrora chefe da secção geologica do nosso Museu e geologista do Estado, depois de voltar ao seu paiz, onde hoje occupa a posição de geologista do Estado, perante o Mnseu de Serajewo ( Bosnia ) continuou a occupar-se com a região amazonica e realisou antigo plano seu predilecto, reunindo e condensando em fórma de livro o cabedal de conhecimentos geologicos e paleontologicos amontoado pelos antecessores, peneirando-o atravez do criticismo justificadamente ganho por estudos proprios in loco, e frequentes e mais ou menos extensas viagens e explo- rações. Apresenta esta obra portanto um util balanço do actual saber scientifico acerca da crosta terrestre da Amazonia e quem sabe em quan- tas fontes litterarias, ás vezes de difficil accesso, era preciso procurar e colligir estes materiaes heterogeneos, ficará satisfeito em vel-o nas dimen- sões concentradas de perto de 300 paginas. E se o autor se tivesse limitado ao terreno dos factos e escolhido como norma de conducta a exposição da verdade historica nua e crua, sem subterfugios, e da lealdade plenaria para com os seus collegas de outrora, em vez de rebaixar-se ora em tecer invectivas mais ou menos mascaradas, ora em recorrer a omissões odiosas contra o estabeleci- mento, sen chefe e sen corpo scientifico (de não poucos exemplos basta citar a phrase em baixo da pag. 17 e no alto da pag. 18), quando por cá não recebeu senão beneficios, sufficientes para imprimir duradoura gra- tidão a uma entidade psychica normal, pouco ou nada deixaria a desejar até para nós, gente do Museu Paraense, este primeiro ensaio de um ma- nual de geologia amazonica. G. 63. Du Bois G. OC « Geologisch-bergmiinnische Skixxen aus Surinam. Das Prospektiren auf Goldseifen wnd die Abbawmnethoden goldhaltiger Seifen. » [Com 13 figuras, 2 estampas e uma carta geologica de Surinam |. Freiberg, 1901. (104 pags. ). G. 64. Levat, E. D. « Guide pratique pour la recherche et Vexploitation de Por en Guyane française. 1898 ». Dois trabalhos que têm por assumpto a exploração do ouro nas Guyanas hollandeza e franceza respectivamente. Sendo o ouro de alluvião, como no Calçoene [ Guyana Brazileira |], é de interesse, mesmo para 0 não especialista, ouvir por um lado pormenores sobre as circumstancias petro- 794 Bibliographia graphicas das regiões auriferas, e obter, por outro lado, informações sobre os diversos processos technicos empregados. A producção do ouro de Surinam importou no anno de 1900 em 876 kilogrammas, 277 grammas — a maior' desde 1879, com duas excep- ções sómente ( 1891: 1236 kilogrammas, 919 grammas e 1897: 903 Kilo- grammas, 124 grammias ). Muito instructivas são tambem as duas estampas no livro do Sr. Du Bois, illustrando importantes installações hydraulicas em actividade em dois diversos placers de Surinam. | G. BOTANICA 65. O Borge, « Die Algen der ersten Regnellschen Expedition II Desmi- diaceen. » | As algas da primeira Expedição Regnelliana. II. Desmidiaceas |. Extracto do Arkiv fôr Botanik. Bd. I, p. 71-138, com 5 estampas duplas. — « Die Algen der ersten Regnel"schen Expedition. II. Zuyg- nemaceen und Mesocarpeen. | Ibidem pag. 277-285, com uma estampa. Ambas estas publicações tratam da colheita de algas feita durante a primeira expedição Regnellana pelo Dr. G. Malme. Além da enumera- ção critica das especies e descripção de numerosas especies e variedades novas, o autor ainda dá uma bibliographia completa dos trabalhos que tratam das Desmidiaceas, Zuygnemaceas e Mesocarpaceas que já foram observadas no Brazil, o que com certeza será muito util aos que se querem familiarizar com este assumpto. d Ne EE 66. J. C. Branner, « The Palm-trees of Braxil. » [ As palmeiras do Bra- zil |]. Extracto do « Popular Science Monthly », III, 1902, pag. 387- 412, com 25 figs. O geologo americano bem conhecido no Brazil dá aqui um resumo interessante dos conhecimentos sobre as palmeiras do Brazil, pintando muitas vezes as observações proprias que teve ensejo de fazer durante as suas repetidas viagens ao nosso paiz. N'estas observações pessoaes e nos desenhos feitos por elle mesmo, o celebre professor da Stanford Univer- sity mostra as suas grandes aptidões de observador n'um terreno que não é propriamente a sua especialidade, tornando o seu trabalho interessante não só para o leigo, mas tambem para os botanicos. ss Bibhographia 79 67. L. Buscalioni, «Tl. Progetto dimpianto di un Istituto botanico in- ternuzionale nel Amazonia.» Extracto do « Nuovo Giornale Bota- nico Italiano » ( Nuova serie) Val. IX, N.º 1, 1902, 32 pags. 68. R. Chodat, « Plante Hassleriane » TI. Extrait du « Bulletin de VHer- bier Boissier » 1898, Appendix N.º 1, 1901 N.º 4, 1902 N.º 3, N.º & 203 pag. Enumeração dus especies que compõem a importante collecção re- unida pelo Dr. Emile Hassler. d'Aarau ( Suissa) durante as suas viagens no Paraguay. Esta lista, que é uma contribuição valiossissima para a flora d'aquelle paiz, contém um grande numero de descripções de espe- cies novas para a sciencia. J. H. 69. H. Christ, « Filices Uleane Amaxonicae. » Extracto da « Hedwigia » Vol. XLIV, pag. 359-370. Esta relação dos fetos colleccionados por Ule na sua expedição ao Amazonas contém uma serie de especies novas ( Trichomanes amaxoni- cum, T Tirckheimo, Elaphoglossum pachyeraspedon, Polypodium Ules, Pteris goeldiuna, P. Amaxonica, Lindsaya Ulei, Hieron. Aspleniwm Es- caleroense, Aspidium incanum, Alsophila Ulei, Danaea Ulei ) além de diversas subespecies e variedades. JAH 70. Daguwillon et Cowpin, « Sur les nectaires extra-florauas des Hevea. » Comptes-Rendus de [PAcadémie des Sciences CXXXVII, N.º 19, 1993, pags. 767-769. =] — Gustavo Edwall, « Plantas paulistas novas ou menos conhecidas. » T. Campinas, 1903, Extracto da « Revista do Centro de Sciencias, Le- tras e Artes de Campinas. », N.º 4, 4 pags. com 3 estampas. Descripção de 4 Orchideas novas do Estado de S. Paulo: Vanilla Dietschiana G. Edw., baunilha de caule recto, Restrepia ecrassifolia Gr. Edw., Epidendrwumn sessiliflorum G. Edw. e Ohytroglossa paulensis G. Edw. Ja 2. Rop. E. Fries « Beitriige xur Kenntniss der Ornithophilie in der Siúlumerikanischen Flora » | Contribuições ao conhecimento da orni- thophilia na flora da America do Sul]. Extracto do Arkiv fôr Bota- nik Bd. I, 1903, pag. 3779-440, com uma estampa. O autor que foi membro de uma expedição sueca nas cordilheiras da Republica Argentina e da Bolivia, communica aqui as suas observa- ções sobre a ornithophilia naquella região. Cita 35 especies vegetaes, cu- 796 Bibliographia jas flôres viu visitadas por beija-flôres. Entretanto elle não considera to- das estas especies como exclusivamente adaptadas á fecundação pelas aves, chegando pelo contrario á conclusão de que, em geral, não se póde tra- çar um limite certo entre flôres ornithophilas e entomophilas e que a mesma especie póde ser pollinisada por insectos ou por beija-flôres, não só na mesma localidade. mas tambem conforme se ache em um ou outro logar, como acontece por exemplo com a alfafa ( Medicago sativa L.), que na sua patria europea é exclusivamente entomophila, emquanto que nas visinhanças de Tarija, onde á cultivada, têm as flôres regularmente visitadas pelos beija-flôres da especie Chlorostilbon awriventris. |; El: 73. E. Heckel, H. Jacob de Cordemoy et Fr. Schlagdenhaufren. « Sur un nouveau Kino fournis le premier par le fruit et le second par le tronc et les rameaur da Dipteryo odorata Villd.» Extracto dos « Annales de VInstitut colonial de Marseille, 1904. 67 pag. com 1 estampa e 10 figs. no texto. Este trabalho de collaboração, cujo conteúdo é resumido no titulo, é um bello exemplo de actividade scientifica do Instituto colonial de Mar- selha, cujo competente e activo director é o Prof. Ed. Heckel. A desco- berta dos dois productos do Dipterya odorata | Cumará ) e da sua loca- lisação nos diversos tecidos da planta tem não só uma importancia scien- tifica, mostraudo a coexistencia de dois systemas de excreção na mesma planta, mas tambem um certo valor pratico, porque tanto o copal como o kino são productos de elevado valor commercial. Principalmente o co- pal, do qual o caroço do fructo contém 16,4º/,, valeria talvez a pena e as despezas da extracção. Como o Dipteryr odorata e tambem o D. oppost- tifolia ( Cumarú-rana ), que contém igualmente os productos acima men- cionados, são arvores que crescem nas nossas matas, não será descabido chamar a attenção sobre estes novos productos. E la 4. P. Hennings, <«Fungi amaxzonici a ecl. Ernesto Ule collecti. » I, II, II. « Hedwigia » Bd. XLIII, pags. 154-186, 242-273, 351-400, com est. III, IV, V e 63 figuras no texto. 1904. Esta enumeração dos cogumelos colligidos pelo Sr. E. Ule, de 1900 a 1903 contém, alem de um grande numero do especies novas e interes- santes, a descripção de não menos de 18 generos novos. ( Hypoxylonopsis, E outar tela, Uleopeltis, Rehmiomyces, Saccardomyces, - Perisporina, Zukaliopsis, Asteropeltis, Phaeoscutella, Metadothella, Cicinnobella, Diplo- diopsis, Septodothideopsis, Poropeltis, Peltistroma, Segnesiopstis, Phrag- mopeltis, Bactridiopsis ). O grande numero de figuras, não só em 3 es- Bibliographia 797 tampas, como intercaladas no texto, facilita muito a comprehensão deste e torna posivel uma orientação n'esse mundo de organismos geralmente microscopicos, que pela maior parte são parasiticos nas folhas das ar- vores. JH. vo. O A. M. Lindman, « Beitriige zur Kenntniss der tropisch-amerika- nischen Farnflora. » | Contribuições ao conhecimento da flora dos fetos da America tropical]. Extracto do « Arkiv fôr Botanik » Bd, I., pag. 187-275, com 8 estampas duplas. O nome de Lindman já está intimamente ligado com a historia da exploração botanica do Brazil pela parte importante que elle tomon na primeira expedição Regnelliana e na publicação dos resultados scien- tificos d'esta empreza de tal envergadura. Os pequenos fasciculos que contêm as listas das plantas colligidas, fornecem sempre grande cópia de informações preciosas e de observações criticas baseadas sobre aprofunda- dos estudos das respectivas familias. Assim a enumeração dos fetos da primeira expedição Regnelliana deu ao Sr. Lindman ensejo de não só classificar ainda algumas outras especies provenientes de expedições ante- riores, mas tambem de estudar cuidadosamente os exemplares authenticos de muitas especies cuja delimitação pouco a pouco tinha sido alterada pelos autores. Este trabalho de discriminação, motivada na introducção do folheto, den logar ao restabelecimento de diversas especies de Swartz e á descripção de diversas especies novas, quasi todas figuradas nas es- tampas que acompanham o trabalho. Jo ly 76. OC 4. M. Lindmnan, « Regnellidimwn novum genus Marsiliacearum. » Extracto do « Arkiv fôr Botanik » Bd. 3, N.º 6. 1904. 14 pags., com 10 figs. Entre os resultados da primeira expedição Regnelliana um dos mais interessentes é a descoberta de um novo genero de Marsiliaceas, que por diversas razões póde-se considerar como um typo mnito antigo, interme- diario a certo respeito entre os generos Marsilia e Pilularia. O Regnel- lidium diphyllum Lindm., que, como diz o seu nome especifico, é cara- cterisado pelos dois foliolos em logar de quatro ( no genero Marsilia ), foi descoberto por Lindman no Estado do Rio Grande do Sul. Nas 14 pags. do seu trabalho, o autor dá delle descripção completa, illustrada de bôas figuras. SEE a e O RR q q - E SM É ER e A = , E df ' E ao 798 Bibliographia 7. O A. M. Lindman, « Remarks on some american species of Tri- chomanes Sm. Sect. Didymoglossum Deste. » [ Observações sobre algumas especies americanas de Trichomanes Sm., secção Didymo- glossum Desv.] Extracto do « Arkiv fôr Botanik » Bd. 1. Stockholm, 1903, com 31 figuras no texto. Trabalho consciencioso e bem illustrado sobre algumas das minus- culas fórmas do genero Trichomanes que compõem o grupo difficil de Didymoglossum. O merito principal do trabalho consiste no estudo critico de algumas especies creadas por Swartz e na sua rehabilitação fundada no exame dos especimens authenticos conservados no Museu Nacional de Stockholm. +. JH 8. OC A. M. Lindman, «Quadros do sertão sul-americano. El Gran Chaco. Versão do original sueco por Gustavo Edwall. São Paulo, 1903. 45 pags. com 12 figuras. Foi uma idéa feliz a de traduzir esta descripção suggestiva da na- tureza e dos habitantes do (Gran Chaco para a lingua portugueza. Prin- cipalmente sob o ponto de vista botanico, o leitor, e especialmente o ha- bitante da região amazonica, achará pontos de comparação interessantes com a natureza do proprio paiz. RD: 79. John Parkin « Obsercations on latex and its functions. » | Observações sobre o latex e as snas funções ). Extracto de « Annals of Botany », Vol. IV, 1900, pag. 193-214. 1 pl Este trabalho muito suggestivo tem um interesse especial para nós, porque trata principalmente da Hevea brasiliensis e de algumas ontras arvores de borracha. O Sr. J. Parkin, que durante uma estadia na ilha de Ceylão, como assistente do Director do Horto botanico de Perade- niya, fez estudos aprofundados sobre as arvores de borracha cultivadas ali, occupou-se com muita competencia de algumas questões physiologicas e anatomicos referentes á producção do latex e á sua importancia na economia da planta. Sob sete capitulos elle reune em poucas paginas um grande numero de observações interessantes e ponderações judiciosas. No primeiro capitulo trata do papel importante das materias albuminoi- des na coagulação do latex. Como se sabe agora, a coagulação do latex pelos acidos, saes, alcool, etc. é devida ás materias albuminoides, que sob a acção de-tes ingredientes são precipitadas, englobando os globulos de borracha que se juntam assim n'uma massa mais ou menos compacta, ficando um liquido claro. A acção differente dos diversos ingredientes Bibliographia 799 sobre o latex das plantas productoras de borracha explica-se pela natu- reza das materias albuminoides contidas no latex, segundo a especie bo- tanica. O Sr. Parkin estudou a acção de muitos acidos e saes sobre o latex de Ievea brasiliensis e da Castilloa Markhamiana. No latex de Hevea, os acidos, quando empregados numa proporção de 0,1-1 º/,, pro- duzem a coagulação completa das materias albuminoides e da borracha, porem quando são empregados em excesso, a coagulação não se faz, porque as materias albuminoides são soluveis num excesso de acido. Esta questão tem um grande interesse sob o ponto de vista pratico, mas O papel das materias albuminoides no latex é tambem nm problema inte- ressante de physiologia vegetal. No segundo capitulo o autor lembra o facto, de certos leites vegetaes, como por exempio de Castilloa, tomarem ao ar uma côr escura; elle attribue este phenomeno á presença de oxy- dases, fermentos que provocam a oxydação de certos constituintes do la- tex. Pelo aquecimento do latex fresco estes fermentos ficam destruidos e n'este caso mesmo a Castilloa fornece um caucho branco e não preto. O terceiro capitulo trata dos hydratos carbonicos, assucar e amido, contidos no latex. Quanto ao primeiro, o Sr. Parkin pensa que talvez tenha ori- gem nos tecidos feridos na occasião da extracção do latex; quanto ao amido, elle se acha no latex em tão pequena quantidade, que não é pro- vavel que tenha um papel importante na nutrição da planta. O ca- pitulo IV contém algumas observações sobre a differença nas proprieda- des do latex em partes novas ou velhas das plaritas; o latex dos galhos e das folhas fornece sempre uma borracha inferior á do tronco. O effeito de ferimentos anteriores sobre o fluxo do latex é tratado no seguinte ca- pitulo. Aqui as experiencias scientificas têm confirmado plenamente os resultados de empirismo obtidos ha muito tempo pelos seringueiros da Amazonia quanto ao facto, que as seringueiras só dão o seu producto completo quando uma vez « acostumadas » por uma serie de cortes regu- larmente dispostos. Nos capitnlos VI e VII o Sr. Parkin fala de algu- mas particularidades anatomicas (exsudação de latex na base dos pecio- los de Hevea e de Plumeria, tecido laticifero especial na semente nova de Hevea ) particularidades, que interessam antes de tudo o especialista. O trabalho conclue com algumas considerações judiciosas sobre a origem e as funcções do tecido laticifero em geral, Jo. JR 80. John Parkin, « The extra-foral nectaries of Hevea brasiliensis Miill. Arg. (The Pará rubber tree), an example bud scales serving as nectaries. » | Os nectarios extra-floraes de Hevea brasiliensis. Múll. Arg. ( seringueira do Pará), um exemplo de escamas servindo como nectarios |]. Extracto de « Annals of Botany », Vol. XVIII, 1904, pag. 217-226, com 1 estampa. O autor chama a attenção sobre os nectarios que occupam a su- perficie das folhas rudimentares que se acham na parte inferior do grê- S00 Bibhographia los da Hevea brasiliensis. Homologos com os nectarios das folhas assi- milatorias, são mais desenvolvidos que estes, provavelmente á custa do desenvolvimento da parte assimilatoria. As folhas rudimentares e nectari- feras não devem ser confundidas com as escamas de funcção protectora que se acham na propria base do grêlo e não têm nectarios. Jo, H. 81. O. Penxig, « Note sul genere Mycosyrine. » [ Notas sobre o genero Mycosyrinx |. Extracto da « Malpighia » 1899, Vol. XIII. 13 pags. com 2 estampas. Muitos leitores paraenses do « Boletim » talvez tenham já reparado nas excrescencias densamente ramificadas que nascem no « cipó de fogo » e em outros cipós do genero Cissus, simulando plantas parasiticas a tal ponto, que já foram descriptas como um novo genero vegetal do paren- tesco de Jussinea. Na verdade não são plantas autonomas, mas simples- mente bugalhos do cipó, on mycocecidios, provocados por um cogumelo que provoca estas formações singulares, pertence á familia das Ustilagi- neas e soffreu a má sorte de ser descripto sob 5 nomes differentes antes de receber o nome de Mycosyrinz Cissi que provavelmente guardará. O Prof. Penzig, de (renova, bem conhecido principalmente pelos seus tra- balhos sobre a teratologia vegetal, estuda, no trabalho acima citado, a nomenclatura d'este cogumelo, o seu desenvolvimento e as modificações que provoca nos tecidos do Cissus. Elle considera as excrescencias como inflorescencias transformadas, no que aliás não posso concordar. Alem do Mycosyrinc Cissi, que é commum á America e á Africa occidental, o autor trata ainda d'uma outra especie, Marabica Henn., da Arabia e da Africa oriental. eis 82. R. Pilger, « Beitriige zur Flora der Hiúlaea nach den Sammlungen von E. Ule.» [| Contribuições á Flora da Hylaea, segundo as collee- ções de E. Ule |]. Extracto de Verhandlungen des Bot. Vereins der Provinz Brandenburg, XLVII Jahrg. 1905, pag. 100-191, com 5 fi- guras no texto e 3 estampas. A importante collecção de plantas que o Sr. Ule reuniu nos annos 1900-1903 no Amazonas, foi elaborada no Museu botanico de Berlim pelos especialistas bem conhecidos deste Instituto e por alguns outros bo- tanicos. Esta primeira contribuição trata das seguintes familias: Grami- nee ( Pilger ), Oyperacee (C. B. Clarke), Rapateacee ( Pilger ), Burman- niacee (R. Schlechter), Piperacee (C. de Candolle), Anonacee (L. Diels), Myristicacea (O. Warburg), Monimiacee (J. Perkins ), Podoste- macee (J. Mildbraed), Rosacee ( Pilger), Leguminose (H. Harms ), Bibliographia 801 Rutacee (E. Gilg e R. Pilger) Aquifoliacee (Th. Loesener), Margra- viacer (R. Pilger), Violacee (E. Ule), Flacourtiacee (R. Pilger) Thy- melacacee, Lecythidacee ( Pilger), Melastomacee ( Pilger), Araliacece (H. Harms), Labiate ( Th. Loesener), Acanthacee (G. Lindau ) Ascle- píadacee, Apocynacee, Rubiacee (K. Schumann ). Numerosas novas es- pecies são descriptas, alem de diversos generos novos, dos quaes um ( Rhabdodendron ) é tigurado em duas estampas. Terenos ainda de falar d'esta publicação que tem uma grande importancia para todos que se occupam da Flora amazonica. Jo. ER 83. E. Ule « Kautschukgewinnung am Amazonen-Strome. » | Folheto de 15 pags., sem data ]. Este folheto foi publicado como texto explicativo de 8 grandes photographias publicadas pelos Srs. G. Huebner & Amaral, de Manáos. Contém uma breve resenha da industria de borracha no Amazonas. com indicações originaes sobre as arvores de borracha, os seringaes, os proces- sos de extracção e preparação, e a exportação. JH. S4. E. Ule, « Kautschukgevinnung und Kawutschulkhandel am Amazonen- strome. » | Exploração e commercio de borracha no rio Amazonas ]. Beiheft zum Tropenpflanzer, Bd. VI, N.º 1. 1905. (71 pag., com 11 figuras no texto e um mappa ). No primeiro capitulo d'esta publicação o Sr. Ule conta as origens e a historia da sua expedição ao Amazonas. O segundo capitulo ( pag. 06-19) contém a descripção das plantas fornecedoras de borracha, que o autor encontrou durante as suas viagens. No terceiro capitulo, intitulado « Kautschukwalder », o Sr. Ule dá uma descripção summaria das matas amazonicas, insistindo sobre a distribuição das arvores de borracha nas varzeas e nas terras firmes. Segue um capitulo que trata da colheita e da preparação de borracha e do caucho. Os outros capitulos tratam das condições dos trabalhadores, do transporte da borracha, do seu valor e da producção das arvores e dos seringaes, da vida e dos costumes nos seringaes, da exportação e do commercio de borracha e do futuro do cul- tivo das arvores de borracha. Ao lado do merito incontestavel de resumir para o publico allemão uma grande parte dos conhecimeutos actuaes sobre as seringueiras ama- zonicas e sobre a industria e commercio de borracha sob uma fórma agradavel e isenta de exagerações, este trabalho ainda tem a vantagem de conter um grande numero de observações originaes, principalmente sobre algumas novas especies de arvores fornecedoras de borracha e sobre 802 Bibliographia o valor dos seus productos, assim como sobre as condições naturaes do crescimento das seringueiras nos affluentes meridionaes do Amazonas e no rio Negro, etc. Em vista da maneira judiciosa com que geralmente são feitas estas observações, parece incomprehensivel como o autor, quando descreve o methodo dos seringueiros no corte da seringueira, pôde cahir no erro de dizer, que a « arriação », que elle aliás chama de « geração », tem logar de baixo para cima (pag. 29). As figuras que são feitas se- gundo as bellas photographias do Sr. Georg Huebner, de Manáos, podem dar uma bôa idéa das diversas phases da preparação da borracha, com excepção talvez da fig. 5, que deixa a desejar. O mappa mostra a distri- buição de Hevea %rasiliensis e de Hevea discolor, assim como a area ge- ral do genero Hevea. JH. 85. B. Ule « Die Kautschukpflanzen der Amazonas — Expedition und ihre Bedeutwung fiir die Planzengeographie, » | Englers bot. Jahrbi- cher Bd. 35, p. 663-678, 1905 ] com 3 figuras no texto. Nºeste trabalho o Sr. Ule cita 13 especies de Hevea, das quaes des- creve 3 como novas para a sciencia; Hevea paludosa ( de Iquitos ), Hevea migra ( da terra firme do Juruá-miry ) e Hevea microphylla ( das ilhas do baixo rio Negro ). As outras correspondem em parte a especies já conhe- cidas, em parte não foram reconhecidas pela razão de que só foram collec- cionadas as folhas. Do genero Micrandra o Sr. Ule colleccionou a M. siphonoides Benth., que fornece uma bôa borracha. Do genero Sapium, o mesmo autor descreve a «especie typica» (die typische Sapium-Art vom Amazonenstrom ) que elle aliás só colleccionou no rio Juruá, como Sapium tubwra Ule n. esp., uma outra fórma encontrada tambem no Ju- ruá, como Sapiwm eglandulosum n. esp. Se o Sr. Ule diz: « Die im gan- zen Amazonasgebiet verbreiteten oft zur Kautschukgewinnung benutzten Sapium-Arten stehen gewiss S. biglandulosum Mill. Arg. nahe, unter- scheiden sich aber davon durch die dickeren Zweige und durch dunkel braunrote Rinde u. dadurch, dass eine fast od. ganz mânnliche Bliitenâhre, die bald abfillt und an deren Seiten die kurzen weiblichen sitzen, vorhanden ist », elle mostra bem, que não estudou a questão bastante a fundo nem com o necessario criterio, emittindo um juizo tão generalizado fundado em materiaes relativamente tão exiguos, provindo d'um unico dos nume- rosos affluentes do rio mar. De facto nem todas as especies amazonicas de Sapiwm utilizadas para extracção de borracha approximam-se de 5. biglandulosum, nem tão pouco se distinguem sempre dºella pela produc- ção de inflorescencias masculinas antes das « femininas » (que na reali- dade são provavelmente sempre mixtas, como mostrei para o 5S. Poep- pigi ). Quanto ao genero Castilloa, o trabalho do Sr. Ule marca um progresso sensivel, fixando a posição systematica do caucho, que até aqui foi considerado por mim como correspondendo á especie typica O. elas- Bibliographia 803 tica e que agora, gracas aos fructos colleccionados por Ule no rio Juruá, = > póde ser reconhecido como especie differente, que recebeu do monographo da familia das Moraceas, prof. Warburg de Berlin, o nome especifico de fo) , | Castilloa Ulei. O autor insiste finalmente sobre a importancia do genero Hevea sob o ponto do vista da geographia botanica. As Heveas são quasi ex- clusivamente limitadas á « Hylaea », e a distribuição das differentes es- pecies, facil de constatar por causa da sua importancia economica, póde fornecer indicações preciosas sobre as subdivisões da região amazonica. f 8 Ule insiste principalmente no facto que em geral as especies ao Norte e ao Sul do Amozonas são differentes, com excepção da H. guwya- nensis, que segundo elle seria a unica especie commum ás duas regiões. AE 56. E. Ule, « Bliiteneinrechtungen von Amphilophimm, einer Bignoniacee aus Siidamerika.» | Estructuras floraes de Amphilophium, Bigno- nioca da America do Sul]. Extracto de « Festschrift zu P. Ascher- sons siebzigstem (Geburtstage, Berlin, 1904, pag. 54Y-551. O autor observou em duas especies amazenicas do genero Amphi- lophiwm, das quaes uma foi descoberta por elle em Iquitos e se acha descripta n'esta nota sob o nome de 4. Aschersonii Ule, que as suas flô- res nunca se abrem espontancamente e que ellas são fecundadas por gran- des Hymenopteros (o autor fala de « Hummeln », mas é provavel que se trate de especies do genero Nylocopa ) que abrem as flôres á viva força. A estructura floral das especies de Amphilophiwm é tal, que uma autofecundação é impossivel, o que geralmente não é o caso nas outras flóres, onde Ule observou a chamada cleistopetalia. a 8%. E. Ule, « Biologische Pigentiimlichheiten der Friichte in der Hiylaca. » [ Particularidades biologicas dos fructos na Hylaea |. Beiblatt zu En- gler's bot. Jahrbiichern N.º SL, pag. 91-98, com duas figuras no texto. Nºeste trabalho interessante o Sr. Ule, depois de dar algumas in- dicações geraes sobre os meios de dispersão das plantas amazonicas, trata de algumas especies caulifloras de Aristolochia que por excepção neste genero têm sementes glutinosas que são disseminadas pelos animaes, e d'uma variedade de Tragia volubilis, que é notavel por uma heterocarpia bem pronunciada. O autor conclue com algumas observações sobre a cauliflor'a que é tão frequente nas matas amazonicas. A explicação, que elle dá deste phenomeno, me parece a mais plausivel de todas que até aqui têm apparecido. SRREÊ Ss “Ra / Ta : pá vd As ER Hs Ec 804 Bibliographia DE Mag LA o r SS. Eug. Warming, « Sur quelques Burmanniaces recuciles au Brésil — per le Dr. 4. Glaziou. » Extracto do « Bulletin de P Académie royale des sciences et des lettres de Danemark. 1901. N.º 6, pag 178-188, pl. III, IV e 6 figs. no texto. Descripção de dois generos novos: Glaxiochlaris e Triscyphus e de algumas especies novas ou pouco conhecidas da familia das Burma- miaceas. Os generos novos já foram reconhecidos e denominados por Taubert, em 1S94 mas só com descripções provisorias. O Prof. Warming conseguiu adquirir as figuras que Taubert ti- nha mandado fazer delles e lhes dá agora a publicidade merecida. Fallando da biologia floral de Dictyostegia uwmbellata Miers, D. orobanchoides Miers e Apteria lilacina Miers, o autor conclúe a uma autogamia bem pronunciada. SH 89. Hennings, P., Prof. «Zwei neve Friichte bewohnende Uredineen. » [« Hedwigia » Bd. 42, 1903, pag. 18S-189]. Quando de passagem no Rio de Janeiro a nltima vez, tivemos no- vamente occasião de observar sobre fructas da arvore « cambucá » ( Eugenia plicato-costata Berg. ), um cogumello, que cobria com um bonito pó, côr de ouro, larga parte da superficie da casca. Este cogumello tinha sido en- contrado por nós em identicas condições na Colonia Alpina, Serra dos Orgãos ( Rio de Janeiro). Resolvemos submettel-o ao exame do dis- tinctissimo mycologista herlinense, o Prof. Paul Hennings. Este o reco- nheceu como um novo membro da familia das Uredineas e introduzin-o na sciencia com o nome de Uredo goldiana P. Hennings. A diagnose é do seguinte theor: « Soris gregariis plane pulvinatis, cinereo-flavis, dein aurantio-farinosis; uredosporiis ellipsoideis vel ovoideis, intus aurantio- guttulatis, 15 — 25 X 13 — 18 u, episporio hyalino verrucoso. » G. FIM do volume. n o ) 307 1576