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Sociedade de geogr? tíèoí ie Lisboa.

i^oletim comemorativo do v centenário da toraa-"! ■"■ ^^ Couta,

BOLETIM

mMCMORATIVO

V CENTENÁRIO

'Fundada em 1875)

TOMADA DE CEUTA

SUMÁRIO: {.^,.

Mbiiquerque no Cancioneiro, por A. !JríH«níaiiip . rieire :,

Etiide prcliminaire siir La Prise de Otiilapar le\ l'ortngais—Le 2/ Aout 1415 par General C. Roma du Biicage , :

Uma planta de Ceuta de ijj4 por Rinéstó de V asconcellos -^

Ox túmulos de D. Pedro e D. Duarte de hlene^es por Aitonso de Doriiellas ,,s

Ainda a Escola de Sagres por Vicente Almeida d'Eça 53^

.l.v duaa politicas por Henrique Lopes de Meu donça ^

Marrocos por Carneiro de Moura ^^^

PLtntas toxicas, e medicinais de Mar,- ocos, poi- Joiío C;irdo<o Jiinior (,,.

Subsidio bibliográfico para a historia da con- juista por J. Farmhouse 10,

Trabalhos sociaes desde luoi até igrS Rese- nha poT KrhcíV \' n:ellos ny

21 ci'.A.s-c»stc» de X915

1910 TIPOGRAFIA UNIVERSAL

lÍLití clíj niarlo de Xotílcltií^,

RMO

G.^

Muaaico

* e Cerjimicos, a/iiIcjoh em Fiiinnça e (larifl

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Travessa do Corpo Santo, 21

LISBOII

EMPREZA NACIONAL DE NAVEGAÇÂ

Carreiras para a costa Occidental e oriental d 'Africa

Costa Occidental : Sabidas a 7 e '22 de cada iiiez para : Madeira, cente, S. Thiago, Priitcij)c, /S'. Thomé, Laiida^ia, Cabinda, Santo António d< re. Ambrizelte, Antbriz, Loanda, Novo Redondo, Benguella, Mossamedeêj Alexandre e lialiia dos Tigres.

N. B. Os vapores que sahem a V de cada niez, não tocam em : San^ tonio do Zaire, Ambrizelte, Porto Alexandre e Bahia dos Tigres ; e 08 que a 22, não tocam na : Madeira, S. Vicejite e iMndana.

Costa oriental: Sabidas a 1 de cada mcz, para: Lourenço Mc Beira, M -^birjue, com escala j)or ò'. Thomé e Loanda ; e para Quel Chinde f -'e com baldeação. Para carga, passagens e quaesqt formaçr Lisboa : Escriptorio da cmpreza, rua dos Capellist No agentes, Srs. H. Burmester & C.*, rua do I D.Ef

iario de Noticias

Fundado em 29 de Dezembro de 1864

J E IMPORTANTE JORNAL POPULAR DE INFORMAÇÕES E ANL ^ Endereço telegráfico : Noticias Lisboa 'eiefoues : 534 Redacção 365 Administração

COMPOSTO E IMPRESSO NA PERrENCF.NlE A

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SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA DE LISBOA

BOLETI

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/;OMEMORATIVO

(Fundada em 1875)

V CENTENÁRIO

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TOMADA DE CEUTA

SUMÁRIO: |>^(^

Albuquerque no Cancioneiro, por A. Braamcamp , Freire _ c

Eíude pretiminaire siir La Prise de Ceuta par íes Portitgais~Le 2/ Aout 1415 par le General C. Roma dii Bucage ,5

Uma planta de Ceuta de iyj4 por Ernesto de Vasconcellos 35

Os túmulos de D. Pedro e D. Duarte de Meneses por Atloiiso de Dornellas ^5

Ainda as Escolas de Sagres por Vicente Almeida cl'Eça 63

As duas politicas por Henrique Lopes de Men-

^''onça so

Marrocos por Carneiro de Moura g'

Plantas toxicas, e medicinais de Marrocos, por João Cardoso Júnior oq

Subsidio bibliográfico para a historia da con- quista por .]. Farmliouse ; ,01

Trabalhos sociaes desde iqoi ale iqi5 Rese- nha por Krncsto de Vasconcellos.' .... 119

21 ca.'J\.soB-to <^e X815

1915 TIPOGRAFIA UNIVERSAL

Rua do Diário de Noticias, 110

LISBOA

628084

V'

Bandeira da cidade de Lisboa e que foi hasteada na praça de Ceuta depois da conquista

Brazão dado a Ceuta pelo Rei de Portugal

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ALBUQUERQUE NO CfíNCIONEIRO

Em começos de noite fria *de inverno reluziam as salas do paço da Alcáçova iluminadas para o serão dei Rei. Do tecto pen- diam os lustres então usados, muito simples, de travessas de ma- deira, cruzadas e doiradas, tendo pregadas por baixo pequenas bandejas covas para aparar os pingos de cera das velas ; pelas pa- redes, alguns brandões; nas mãos dos pagens e moços, tochas; e... mais nada. Quão soturna não parecerá hoje a muitos esta iluminação ; pois não o era tanto como julgarão os acostumados as fulgurações da luz eléctrica e do gás incandescido. A luz da cera é uma luz quente, anima as fisionomias, as senhoras não ca. recém de pôr carmim nas faces para não parecerem mais pálidas do que realmente são. Lembra-me, muitos anos, numa casa, onde à opulência se aliava uma requintada predilecção artística, de uma brilhante festa na qual, por um capricho de original bom gosto, toda a iluminação dos lustres e candelabros era exclusiva- mente de velas de cera. Pois o efeito foi deslumbrante.

Outro tanto sucederia nas salas do paço da Alcáçova de Lis- boa, nessa noite do inverno de i5oo para i5oi, no qual os serões riais foram mais luzidos e festivos, não em atenção ao recente segundo casamento de D. Manuel, no precedente outono efectuado, mas porque as novas, havia meses chegadas, do descobrimento das terras de Santa Cruz vieram ainda ampliar a esperança num futuro de grandezas c prosperidades, devido ao desenvolvimento

do reino pelas conquistas e comércio orientais. Tudo sorria ao venturoso monarca.

Cedo, talvez ainda antes das oito horas, entraram as pessoas riais na sala, com aquele fausto inaugurado por D. íoão II e de- pois exagerado por D. Manuel. A frente os porteiros, com as suas maças de prata, os reis d'armas, arautos e passavantes, com as suas cotas d'arma?, o porteiro mor, os mestres salas, o vcador da casa, os vedores da fazenda e o mordomo mor. Dirigiram-se todos ao estrado, onde a par dos membros da régia família e dos altos di- gnatários do paço, tomaram também lugar as donzelas das rainhas e da senhora D. Filipa, grupo juvenil, alegre, risonho, zombeteiro, de roda do qual rapidamente se organizou o cerco dos namora- dos moços e velhos, e começaram a trocar-se olhares apaixonados e suspiros cavos dos tímidos, galanteios ousados dos afoitos, com sorrisos, desdéns e chistes das graciosas raparigas.

Soaram as charamelas, atabales e trombetas dos menestréis, dando o sinal de começar a festa, e por o calor com a afluência da gente ser grande e também para despejar o centro da sala, vieram os reposteiros e levaram o pesado braseiro de reluzente latão, ou talvez de fria prata, porque deste metal também os ha- via no paço, e foram colocá-lo na chaminé fronteira ao estrado, lançando a cinza sobre as brasas.

Nesta ocasião, aproveitando a remexida, abeirou-se do estrado o jovem D. Francisco, filho do Bispo de Kvora e futuro Conde do Vimioso, e a uma das donzelas da Rainha subtilmente passou um papel com estas trovas :

Olhos pêra culpar

de cousas que não tem cura ;

outros que, com fermosura,

naceram pêra matar.

Guay de quem de passar

ambas estas no serão,

se nuns sós olhos estão ! -

' Os versos são de D. Francisco e toram dirigidos a uma senhora num se- rão, é certo ; mas certo é também, que não sei se estariam escritos ao tempo e muito menos se foram entregues nesta ocasião. Advertirei ser prática de Garcia de Resende, nas epígrafes dos versos do Cancioneiro, tratar a D. Fran- cisco sempre pelo seu titulo de conde do Vimioso, o qual porem lhe foi con- cedido por carta de 2 de Fevereiro de i5i5, catorze anos depois do episódio do braseiro. Ainda advertirei que a data daquela carta anda errada por quási toda a parte.

* Cancioneiro geral, fi. clxv, aliás, cxlv, col. l

Lo}4o depois, enleado pela sua ousadia, acol!ieu-se ao outro extremo da sala com as costas viradas a chaminé, olhando de longe para os tais olhos que matavam sem cura.

Kntretanto entrava a mourisca na sala.

O que fosse esta dança nos paços de D. Manuel, não me é possivcl descrever; mas a opulência, a grandeza dela consta-me claramente do inventário do guarda-roupa do Venturoso. Cinco páginas do Arquii'o histórico ocupa a menção da «Mourisqua c cousas que a ella pertencem» !

Além de quarenta taiiis de prata, quinze anilados e vinte e cinco lavrados de cinzel, todos doirados, com suas borlas de re- trós de Granada e as perilhas de busanilho de oiro de Génova, havia trcs taiiis de oiro, um anilado, os outros esmaltados de tres- fol. O mais rico tinha no meio da face de fora uma lua em re- levo, com um rosto no centro, e nos quatro cantos da mesma face mais quatro rostos em relevo sobre chapas esmaltadas ; na face do avesso, também esmaltada de tresfol, via-se ao centro uma rosa de meio relevo. Todo este oiro, e mais o de três argolas em que andavam as borlas, pesava quatro marcos, quatro oitavas e quarenta e um grãos de oiro, uns novecentos e trinta c tantos gramas, e era obra de Fernão de Eslava '.

Seria deslocado fazer aqui um rol de todos os objectos desti- nados à mourisca, porque eram quási inúmeros. Havia espadas mouriscas, com guarnições de oiro ou de prata doirada; terçados guarnecidos de prata doirada lavrada de cinzel, com punhos de marfim ; azagaias mouriscas, ferros doirados e anilados ; adargas, algumas feitas em Granada, de anta ou de coiro, lavradas de seda, com rosas espalhadas e cercaduras, ora de seda, ora de veludo; guarnições das adargas, algumas de retrós carmesim de Granada, lavradas nas perilhas de oiro fiado de Flo-rença, ou de oiro de Gé- nova ; cordões de costa de seda ou retrós carmesim, de Granada, com seis pernas, com perilhas lavradas de oiro de Génova ; outros de seis borlas de retrós azul vis de Granada, com perilhas gran- des, feição de pêra, lavrados nos copados de liadinhos e botões a mourisca de oiro de Florença ; cintas mouriscas de cordovão ver- melho, ou forradas de cetim, com charneiras, tachões, rebites e rosas grandes de prata doirada; algumas cintas muito ricas, como

' Arq. hist. porl., it, Sgó. Este taili trazia dentro uma «íórma de pau por fortaleza, em que anda cravado^, d'onde se que o taili era objecto diverso do tali, ou talim.

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uma de cetim azul, lavrada de oiro, com duas charneiras largas, quatro fivelas com suas charneiras e biqueiras, e três rosas gran- des no meio da cinta, tudo de oiro ; xairéis de cetim aveludado, branco, encarnado, azul ou carmesim, entretalhados de cetins dou- tras cores, perfilados de oiro; fotas, penachos, toucas, bandeiri- nhas e muita outra coisa, rica e vistosa, em grande abundância. Neste inverno de i5oo para i5oi ainda não tinha decerto a dança palaciana a sumptuosidade e magnificência posteriormente ostentadas, mas de muito

sempre nas festas reaes, seram, os dias principaes, festa de Mouros havia. '

Não creio porém que esta «festa de Mouros» fosse o doce baylo de mourisca

que

mil sentidos faz perder,

ao qual alude o Goudel mor numas trovas -. Não : aquele era mer- cenário ; neste figuravam gentis donzelas, do paço não me atrevo a dizer, mas de relativa superioridade social às representantes do sexo feminino na outra dança.

Formara-se a roda dos cortesãos e seguia a mourisca nas suas marcas, às quais todos estavam atentos, menos um antigo fidalgo da casa da Rainha Princesa, como na corte se designava a pri- meira mulher de D. Manuel. Garcia de Melo se chamava êle ^ e

* Resende, Miscellania, décima i Sg

2 Cancioneiro geral, flí. 5y, col. 6.

' No Cancioneiro não vem o nome do herói da aventura do braseiro, mas revelou-mo um Nobiliário desses tempos que possuo, onde, na fl. 2o3, se : «Garsia de melo filho de vasco martinz e irmão de duarte de melo se chamou braseyro dalcunha e foy anadel mor dos besteyros e comedador de castro ma- rim da bordem de christos e hus tempos capitão de çafim e foy casado dona gimar amriques filha de afonso amriques senhor de barbasena de que tem estes filhos, s. amtonio de melloe Jerónimo de melo e duarte de melo/e eytor de mello e dona Isabell//».

A alcunha de Garcia de Melo do caso do braseiro no serão do paço lhe podia provir. era anadel mor dos besteiros do monte em 28 de Abril de

agitadamente passeava no estreito corredor deixado na sala entre os espectadores e a parede, rasgada de janelas donde de dia se gozava do admirável panorama do Tejo, mas d'onde agora ne- grume espesso se oferecia à vista.

D'um lado para o outro, profundamente preocupado, o fidalgo andava, mas não o traziam absorvido, afirmo-o, cuidados na pró- xima expedição contra os Turcos, na qual embarcaria como um dos capitães sob as ordens do Conde de Tarouca; não era isso. Outros respeitos o levavam, como fera fechada em jaula, a esfor- çar-sc por quebrar a grade humana que lhe vedava a saída ; ou, como homem desesperado da sorte, a lançar olhos ansiosos pelas janelas d'onde nenhuma trémula luz, por longínqua que fosse, mi- ragem de porto para seu anseio lhe prometia,

A. palidez era cadavérica, o suor caia-lhe em bagas pelo rosto, quando, ao fim de uma das voltas, reparou na escura boca da vasta chaminé, e então uma ideia lhe passou pelo espírito. Não pode ser ! pensou ele e encostou-se ofegante à parede. Não pode ser, repetiu consigo, mas tem de ser !

Olhou em roda, todos estavam atentos à dança e voltavam as costas ás paredes. Não pode deixar de ser! Santa Maria me valha ! Cambaleante avançou e na vasta lareira se escondeu. . .

Passados minutos outro Garcia de Melo de saía. Lançou cautelosa vista em torno, mas a felicidade que o acompanhara á entrada, abandonou-o á saída.

Como, senhor Garcia de Melo, diz-lhe o moço D. Francisco, tendes estado metido na chaminé sem dardes acordo da formosa dança! que tremuras de frio vos levaram a tal desapego?

Garcia de Melo não o comeu com os olhos, porque não pôde ', rogou-lhe porem interiormente uma praga e apenas lhe retorquiu *•

Dom Francisco, casos mais fortes que as leis.

Agora sou eu que suo para continuar; mas também que ideia de Afonso de Albuquerque de ir fazer versos ao assunto mais sujo

i5o6, data da carta em que lhe foi cometido tomar conhecimento dos agravos feitos aos privilégios daqueles besteiros (liv. 5.° de D. Manuel, fl. 20) ; distin- guiu-se nas guerras de Africa (Góes, Chronica de D. Manuel^ fl. 62V., loyv., 109, 214, 2i3v., 249 e 261V. da ed. de i6iõ), e veio a morrer num dos anos de i523, 24 ou 25 (Arch. hist. port.^ 11, 100). Sua mulher, D, Guiomar Henriques, é mencionada em 1498 nas Novas de Lisboa de João Gomes de Abreu (Cancio- neiro geral, fl. igo, col. 5 ; A gente do Cancioneiro^ na «Revista lusitana», vol- xi; pag. 338).

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uma de cetim azul, lavrada de oiro, co ^ quatro fivelas com suas charneiras e bic i des no meio da cinta, tudo de oiro •, m branco, encarnado, azul ou carmesim, ei e trás cores, perfilados de oiro-, fotas, p a. nhãs e muita outra coisa, rica e vistos e Neste inverno de i5oo para i5oi icl dança palaciana a sumptuosidade e ma íi ostentadas, mas de muito

^ cnarneiras largas, s. e três rosas gran- de cetim aveludado, ihados de cetins dou- los, toucas, bandeiri-

grande abundância, i não tinha decerto a ència posteriormente

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Não creio porém que esta festa de ouros» fosse o doce baylo de moui a

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ao qual alude o Coudel mor numas t^o^ -. Não: aquele era mer- cenário; nêstc figuravam gentis donzel , do paço não me atrevo a dizer, mas de relativa superioridade ri il is representantes do sexo feminino na outra dança.

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A alcunha de Garcia de Melo do case podia provir. era anadel mor dos beste

lia aventura do braseiro, mas ,)ossuo, onde, na f\. 2o3, se :

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^asseava no estreito corredor deixado na sala entre ;s e a parede, rasgada de janelas donde de dia se iirável panorama do Tejo, mas d'onde agora ne- se oferecia à vista.

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A. palid ' a cadavérica, o suor caia-lhe em bagas pelo rosto, quando, ao í de uma das voltas, reparou na escura boca da vasta chaminé í então uma ideia lhe passou pelo espírito. —Não pode ser ! pen u ele e encostou-se ofegante à parede. Não pode ser, repetiu cc ugo, mas tem de ser !

Olhou em da, todos estavam atentos à dança e voltavam as costas às pan is. Não pode deixar de ser! Santa Maria me valha ! Cara leante avançou e na vasta lareira se escondeu. . . Passados r lutos outro Garcia de Melo de saía. Lançou cautelosa vist£ m torno, mas a felicidade que o acompanhara à entrada, aband lou-o à saída.

Como, s hor Garcia de Melo, diz-lhe o moço D. Francisco, tendes estado ítido na chaminé sem dardes acordo da formosa dança ! que tre aras de frio vos levaram a tal desapego ?

Garcia de A lo não o comeu com os olhos, porque não pôde ; rogou-lhe porêi interiormente uma praga e apenas lhe retorquiu :

Dom Fra isco, casos mais fortes que as leis.

Agora sou e que suo para continuar; mas também que ideia de Afonso de A uquerque de ir fazer versos ao assunto mais sujo

i5o6, data da carta feitos aos privilégi guiu-se nas guerra 109, 214, 21 3v., 24c i523, 24 ou 25 (An mencionada em i4( neiro geral, fl. 190, xi; pag. 338).

n que lhe foi cometido tomar conhecimento dos agravos daqueles besteiros (liv. 5.» de D. Manuel, fl. 20) ; distin- de Africa (Góes, Chronica de D. Manuel^ fl, 62 v., 107V., 261V. da ed. de 1616), e veio a morrer num dos anos de hist. port.^ n, 100). Sua mulher, D, Guiomar Henriques, é nas Novas de Lisboa de João Gomes de Abreu (Cancio- \. 5 ; A gente do Cancioneiro, na «Revista lusitana», vol-

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de todos os que deram lugar a trovas aproveitadas por Garcia de Resende para o seu Cancioneiro !

Sim, porque não dúvida de ter sido o terribil Albuquerque o autor dos tais versos. Vou mostra lo.

No Cancioneiro aparecem dois Afonsos de Albuquerque. O mais velho nascera por 1461 filho de Gonçalo de Albuquerque, senhor de Vila Verde, e de D. Leonor de Meneses, e veio a ser o famoso governador da índia. O outro podia ter vindo ao mundo depois de 1467, ano em que seus pais casaram, e foi o filho segundogénito varão de U. Lopo de Albuquerque, conde de Pena- macor, e da condessa D. Leonor de Noronha, filha de D. Pedro de Noronha, arcebispo de Lisboa e implacável inimigo do infante D. Pedro. O Conde de Penamacor morreu desterrado em Sevilha depois de 1493 ; a Condessa se encontrava de novo em Portu- gal nos princípios do reinado de D. Manuel, que, por alvará de i5 de Dezembro de 1496, acudiu a penúria da viuva fazendo-lhe mercê da jurisdição e rendas de Abiul *.

Outros Afonsos de Albuquerque não tinha havido, nem havia então. A gente deste apelido era limitada a dois ramos: o do Conde de Penamacor, Cunhas de origem; e o dos senhores de Vila Verde daqueles derivados, que eram Gomides. Mais nenhuns existiam ao tempo em Portugal. Nem em documentos, nem em nobiliários, outros se encontrarão.

Primos em terceiro grau pela linha dos Albuquerques, homens com pequena diferença de idade e usando do mesmo nome seria fácil confundi-los, se uma particularidade os não diferençasse per- feitamente: o filho do Conde de Penamacor tinha o título de dom, o seu parente não o possuía.

De D. Afonso de Albuquerque aparecem trovas no Cancio- neiro^ escritas no verão de 1498, como mostrei -. De Afonso de Albuquerque existem outras compostas no hinverno de i5oo para i5oi, as adiante transcritas.

Que elas são do futuro conquistador de Goa, não ha dúvida nenhuma e bem assim julgo também não a haver de que ainda ninguém em Portugal o asseverou.

Barbosa Machado, o benemérito autor da Bibliotheca Lusitana^ equivocou-se atribuindo as coplas dos dois Afonsos a uma pes- soa, c declarando haver sido esta o filho do Capitão-mor da índia.

' Místicos, liv. 5.", ú. 43 V.

- A Gente do Cancioneiro, na «Revista Lusitana», vol. xi, pag. 32 1.

I I

Como era evidente o equívoco, fácil loi encontrá-lo e apontá-lo, mas não se cuidou em o explicar, nem sequer seguindo o alamiré dado desde 184Õ pelo dr. Kausler, no prólogo da edição do Cancioneiro de Stuttgart.

Nos primeiros anos de quinhentos apenas existiam na corte dois Afonsos de Albuquerque; é facto incontestável; diferença- vam-se perfeitamente pelo título de dom, privativo de um deles; no Cancioneiro registaram-se trovas compostas, umas por D. Afonso de Albuquerque, outras por Afonso de Albuquerque; as primeiras são portanto do filho do Conde de Penamacor, as segundas do outro Afonso de Albuquerque e este podia ser o futuro governador da índia. Creio não haver contestação possível.

Antes porém de voltar aos versos de Albuquerque, apontarei duas passagens do Cancioneiro, nas quais aparece o nome do he- rói da índia. Primeiro na íl. lyS, col. 2, nos Porquês:

por que Afonso dAlboquer[que] páreas a el rrey de Fez ?

A este caso ainda me referi pouco, nas Armadas,, pag,. viu, podendo apenas deixar averiguada a data, 148S, da composição da sátira dos Porquês, mas não conseguindo esclarecer a alusão contida nos dois versos.

A outra passagem está na fl. 214, col. 3, onde, entre as trovas de Francisco de Sousa, se transcreve, sob a epígrafe «Trova sua Afonso dAlboquerque, em Goa, porque lhe mandou pedir huma escrava por hum Judeu muyto feo», a seguinte décima:

Senhor, eu estou cortado de nam saber responder, porque fiquey embacado do rosto, e do recado, de quem mo veo trazer. Porem mando em fim essa, que me nam magoa. Deus vos dey poder em Goa e a mym leve a Lixboa, polo nam terdes em mym !

Para boa compreensão destas trovas tenho de rapidamente es- boçar alguns traços da biografia do seu autor.

Francisco de Sousa era filho de um .Jorge de Sousa, escrivão da sisa dos vinhos de Lisboa, teve a alcunha do Maneias devido

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a seus versos amorosos e foi, glória que não quero ocultar, o as- cendente em linha direita do nobre Duque da Terceira. Partiu para a índia na armada do ano de i5o(), capitaneando uma nau *, que era a S. Boai^enlura -. Knirou cm Goa com Afonso de A.lbu- querque a 2 de Março de iDio^, e permaneceu durante o pe- ríodo da primeira ocupação da cidade, até 17 de Maio do mesmo ano *. Foi então, quando Afonso de Albuquerque se resolveu a despejar a cidade por não poder sustentá-la, e deu ordem para tudo embarcar, que Francisco de Sousa, primeiro de todos, man- dou desferrar as velas da sua nau e, «com a pressa de voltar ao reino ^», foi demandar a barra sem ordem do Governador, que mandou atrás dele e o fez tornar, repreendendo o e tirando- lhe a capitania da nau, «de que èle ficou muito descontente "». Parece ter regressado ao reino nos fins de i5io, ou na armada de Duarte de Lemos, que chegou no ano seguinte, ou na de Gonçalo de Se- queira, que em i5i2 aportou em Lisboa ". Depreendo porem de dois versos do próprio Francisco de Sousa, ter ele voltado na primeira daquelas armadas, pois declara:

Três anos ha que sam fora quatro mil legoas daquy »,

Os três anos seriam os de i5o»), 10 e 11.

Postos estes dados, temos de inferir dos trcs liltiraos versos dirigidos por Francisco de Sousa a Afonso de Albuquerque, ha- verem êlcs sido compostos depois do seu autor receber o castigo acima apontado, e, se quisermos ligar inteiro crédito à epígrafe que os precede, ainda depois da recuperação de Goa, em 25 de Novembro de i5io. Parece-me porém mais provável, datarem os versos de Maio, do tempo cm que ainda a armada pairava a

* P^ulcão, Liv. de toda a fazenda, pag. 144; Ementai da Casa da índia, ^là^' lii da separata.

2 Castanheda, Hist. da índia, 11, 233, da ed. de i552.

^ Commentarios, pag. 229 da ed. de iSjó ; Correia, Lendas da índia., 11,59-

^ Esta data, muito variável nos historfadores, encontra-se precisada na carta de quitação de i5 de Fevereiro de i5iS, dada a Francisco Corbinel, pri- meiro feitor de Goa {Arch. hist. port., u, 355).

•' Góes, Chronica de D. Emanuel, Ú. 04 da ed. de 1619.

6 Commentarios, pag. 26S.

' Barros, Da Ásia, déc. 11. livro v, cap. viii.

* Cancioneiro, 11 i5o, col. 3.

vista da perdida cidade. Km todos os casos, daquele ano, ou meado ou quási rindo, são as trovas.

Temos de voltar ao serão do paço.

Terminada a dança, recolhidos os figurantes da mourisca, es- palhados os cortesãos pela sala, começou-se a sentir um cheiro extravagante, desagradável, fétido. Descoberta a causa, denunciado pelo moço D. Francisco o culpado, desataram os poetas pácãos a apodá-lo em trovas reunidas por Garcia de Resende no Cancio- neiro, sob este título: a Do Conde do Vymioso a hum fidalgo que no serão dei rrey se meteo em huma chiminé e fez seus feytos num braseyro e diziao que hera hum dos capitães que hyam a Torquy[a] o Conde de Tarouca».

Pois foi a este sujo caso que Afonso de Albuquerque, o Ter- ribil, dedicou as duas seguintes oitavas:

Polo cheyro, que na camará sse sentvo, se loy e ele o rreposteyro » e diz, qu'achou no braseyro

cousa que nunca se vyo. E ficou esmoreçydo, quando vyo c'omem sahya causa c'assy rreçendia.

Sahyo, nam ja fora de sseu ssyso, mas cousa que, quem a vvo e o que a descobrio, nos matou todos de rryso Em contar, cam desmedido era aquylo que jazia no braseyro, que fedya ^

Não engrandecem as trovas a figura do conquistador de Or- muz, Goa e Malaca; mas apresentam-no-lo sob um aspecto ines- perado. Foi exactamente o meu fim, proporcionar á grande maioria dos leitores uma verdadeira surpresa.

Lisboa, 7 de Julho de iqiS.

A. Braamcamp Freike.

' C^incionciro gemi, Ú. i7r), col. i.

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La Prise de Ceuta par les Portugais

LE 21 AOUT 1415

La mort de Ferdinand, dernier représentant de la première dynastie des róis de Portugal, mit en danger Tindépendance du royaume. L'union de la princesse Béatrix, unique héritière de la couronne, avec Jean i, roi de Castille et de Léon, ouvrait en eíTet la voie aux ambitions des Castillans, malgré les clauses du contraí de mariage, qui s'opposaient à la réunion des deux couronnes et confiaient la régence du Portugal à la reine douairière, Eléo- nore, jusqu'à la majorité du prince, issu de Béatrix, qui devait hé- riter un jour des droits maternels.

L'impopularité de la reine regente, dont Tinconduite était con- nue de tout le pays, et la haine contre son íavori, le comte d'Ou- rem, n'ont pas tarde à se faíre jour. Un frère du roi défunt, Jean, grand-maítre de Tordre d'Aviz, fils naturel de Pierre i, se mettant à la tête des mécontents, fut ainsi amené à tuer de sa propre main, dans le palais de sa belle-soeur, le comte d'Ourem, qui, d'ailleurs, avait déjà essayé, avec la complicité de la reine, de se débarrasscr d'un prince, dont la popularité grandissait chaque Jour et dont les mérites faisaient de lui un rival dangereux.

Jean de Castille, de son côté, s'empressa de prendre les armes pour déposséder Eléonore de la régence et vint en personne met- tre le siège b. Lisbonne, à la tête d'une puissante armée et d'une

ílotte coiisidérable ; mais le grand-maítre d'Aviz, designe par la population de la capitale comme défenseur du royaume, réussit apres une lutte acharnée à faire retirer Tassaillant, qui retourna en Espagne renonçant pour le moment à son entreprise.

L'assemblée des l^tats sctant réunie à CoTmbre, peu après le brillant exploit accompli par le bâtard de Pierre i, celui-cifut ins- tamment pric d'accepter la couronne et acclamé roi sous le titre de Jean i. La lutte conire les Castillans recommença aussitôt : une bataille rangée, livrée à Aljubarrota, oii chacun des deux róis commandait son armée, fut pour les armes portugaises une écla- tante victoire et permit bientôt au nouveau roi de reunir, sous son sceptre, tout le tcrritoire que ses ancêtres avaient conquís pied à pied, sur les Castillans et sur les Maures.

Jean de Castille s'empressa d'abandonner le terrain du combat et dans sa fuite précipitée ne s'arrêta qu'à Séville. Cependant, les hostilités sans cesse renouvelées ne se prolongèrent pas moins pendant vingt-six longues années ; car la paix définitive entre les deux états voisins ne fut signée que le 3i octobre 141 1, au nom de Jean i de Portugal et de Jean 11 de Castille, le petit-fils du vaincu d'Aljubarrota. Celui-ci, encore en minorité, était represente par sa mère, Catherine de Lancastre, soeur de la reine de Portu- gal, car elle était la filie du duc de Lancastre et de sa seconde femme Constance de Castille, tandis que la reine Philippe, que le roi Jean avait épousée un an après Ia victoire d'Aljubarrota, était issue d'un premier mariage de Jean de Gand.

De rheureuse union de Jean i avec la reine Philippe une nom- breuse lignée était issue. Cinq princes et une princesse furent ele- ves par la reine avec un soin jaloux, dans une atmosphère de vertu, de noblesse et de piété éclairée, que jamais un mauvais exemple ne vint troubler. La haute culture intellectuelle des infants de Por- tugal ainsi que la noblesse de leurs sentiments remplissaient d'admi- ration tous ceux qui les approchaient; et rhistoire, dans ie courant des siècles, n'a fait que reproduire en le confirmant le jugemen^ des contemporains.

Des trois aínés, le prince heritier, Edouard, accomplissait sa vingtième année le 3i octobre 141 1, le jour même que la paix avec la Castille fut conclue, Pierre n'avait pas dix-neuf ans et Henri devait attendre encore quatre móis ses dix-huit-, autour d'eux une nouvelle génération se pressait, née des compagnons d'armes du roi leur père, qui dès le berceau avait été élevée dans les plus sai- nes tradiíions de vaillance et de dévouement envers la patrie. Pour

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les uns comme pour les autres, fils de roi et jeunes seigneurs, la paix arrivait trop tôt ; car il fallait bien qu'on pút leur olTrir le moyen de gagner, comme leurs péres, sur les champs de bataille les éperons d'or des preux chevaliers.

Daillcurs, Ia nation tout enticre se sentait jeune, courageuse et fière ; Telíort si longtemps soutenu pour sauvegarder son indépen- dance lui avait donné le sentiment de son unité et de sa force, elle aussi voulait agir. Si Ton ne trouvait pas un nouveau but collectif à Tactivité nationale, des rivalités dangereuses, voire même des luttes intestines, étaient à craindre entre les puissants seigneurs qui se partageaient le gouvernement des provinces, dont les vas- saux n'étaient que trop enclins à suivre les bannières.

Tel était le problème qui se posait devant le roi Jean, homme <l'état aussi avise qu'il était vaillant guerrier \ et, certes, il n'était pas facile à résoudre, le Portugal n'ayant sur le continent qu'un seul voisin avec lequel la paix, une paix définitive et nécéssaire, » venait d'être signée. Cest donc au-delà des mers que le grand roi

\ a du chercher une noble mission pour son peuple entreprenant et

une moisson de gloire pour les princes ses fils et leurs jeunes com- pagnons.

Tels furent les motifs qui poussèrent le monarque portugais yers la conquête de Ceuta, réalisée le 21 aoút 141 5. Nous allons essayer de raconter comment fut preparée cette entreprise fortu- née, qui represente le premier pas vers la création de Timmense cmpire colonial dont le Portugal détient encore de si vastes do- maines. EUe fut aussi le point de départ pour les voyages de dé- couverte, bientôt entrepris sous la direction du prince Henri le navigateur, grâce auxquels la géographie fit de si grands progrès €t la terre put enfin être connue de ses habitants. Sous ce rapport, la prise de Ceuta constitue un grand événement géographique.

Aussitôt la paix signée avec le royaume de Castille, il fut ques- tion d'organiser de grandes fêtes, avec force joutes et tournois, pendant lesquelles les princes et leurs nobles compagnons pour- raient se mesurer avec des guerriers fameux, que la magnificence royale ne manquerait pas d'attirer dans le pays. Les fils du roi Jean, cependant, en Thonneur de qui ces fêtes auraient lieu, n'en étaient que médiocrement satisfaits ; ce n'était point par des com- bats à armes courtoises qu'ils voulaient mériter les honneurs de la chevalerie, c'est sur les champs de bataille, ayant pour adver- saires des ennemis de leur pays, qu'ils aspiraienl à s'en rendre dignes.

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Les trois aínés, les princes Kdouard, Pierre et Henri cn devi- saient avec leur frère le comte de Barcellos, fils naturel que le roi Jean avait cu avant son mariage, lorsque survint Jcan Alphonse dAlcmquer, Tintendant des finances, ministre experimente qui jouissait de la confiance du souverain. Les princes, désireux de connaítre son avis autorisé, lui firent part de leurs préoccupations et lui demandcrent quelle entreprise militaire, uiile autant que glo- rieuse, ils pourraient proposer au roi pour remplacer les fêtes dont on parlait.

«La conquête de Ceuta», leur répondit Jean Alphonse. L'idée de combattre les infidèles et de porter dans des pays éloignés les armes chrétiennes fut accueillie avec enthousiasme par les princes^ qui supplièrent le ministre d'en parler de suite au souverain. tJe Tai déjà fait», répliqua-t-il, «mais le roi n'a prêté à ce que je lui en ai dit qu'une oreille distraite» ^ et il engagea les princes à Ten entretenir eux-mcmes.

Ce fut bientôt fait ^ et dans Taudience vite accordée ils plaidé- rent fort bien leur cause ; Jean i, toutefois, ne se rendit pas sans résistance aux prières des infants, il discuta avec eux et les enga- gea à revenir auprès de lui, pourvus de nouveaux arguments, après mure réflexion.

Une fois munis de Tautorisation paternelle, les princes n'eurent pas de repôs tant qu'ils ne furent de nouveau reçus par le roi pour tâcher de le convaincre. Henri, le plus jeune, portait la parole pour eux, car il était le plus ardent promoteur de la campagne d'Afri- que.

Grâce à leurs efforts, Tidée faisait son chemin, toujours appuyée par Jean Alphonse, qui s'empressa de transmettre au roi et aux infants les renseignements rapportés de Ceuta par un émissaire qu'il y avait récemment envoyé afin de racheter des captifs; d'a- près celui-ci, la place était mal gardée et la conquête en serait ex- trêmeraent profitable étant donnée la situation de la ville qui, fort riche par elle même et commandant le détroit, assurerait de grands avantages au prince chrétien qui s'en rendrait maítre. Telle était Topinion souvent réiterée de Tintendant des finances, gagné d'a- vance á la cause soutenue par les princes; car il aimait mieux ap- pliquer les ressources du pays à cette expédition pleine d'avenir que de les dépenser dans des fêtes, dont il ne resterait que le sou- venir après quelles seraient terminées.

L'opposition du roi, d'ailleurs, n'était que de surface, car nul n'appréciait mieux que lui la portée de Tentreprise qu'on lui pro-

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posait ; mais sa prudence ne lui permettait pas de s'engager à !a légère.

II voulait ctudicr le problème sous ses diífércnts aspects, pen- dam qu'on préparerait patiemment tous les éléments qui pourraient en assurcf le siiccès •, et cela dans le sccret le plus absolu, car, si quelquc chose de ceite alíaire transpirait au dehors, c'en était fait de sa réussite.

Avant que de rien entreprendre de déíinilif, le souverain vou- lut rassurer sa conscience de chrétien ; il se demandait s'il pou- vait prendre Tinitiativc d'une guerre meurtrière sans avoir été of- fensc par ceux qu'il allait combattre, fussent-iis des infidèles. II consulta donc le Pcre Jean de Xira, son confesseur, ainsi que d'au- tres rcligieux aussi rcnommés par leurs vertus que par la culture de leur esprit. Laur avis unanime fut que: «la conquête de Ceuta était ceuvre chrétienne et qui plairait à Dieu». Ceei permit au roi d'envisager le problème sous d'autres aspects et d'en préparef la résolution sans trop s'y engager d'avance.

En tout état de cause, il fallait s'employer sans perte de temps à augmenter la puissance navale du Portugal et, en effet, dès le printemps de 1412, les premières mesures furent prises ; on fit de grandes coupes de bois dans les forêts de Tétat et Ton se prepara à mettre sur le cliantier autant de gros navires qu'on en pourrait construire. Quand même on n'irait pas à Ceuta, ce ne serait ja- mais peine perdue, puisque, la paix étant assurée sur la frontière terrestre, la création d'une armée navale permettrait au Portugal de tirer un meilleur parti des ports, aussi súrs que nombreux, dont ses cotes sont pourvues.

Ces armements maritimes se justifiaient d'ailleurs suffisamment par les engagements que Jean I avait pris envers la reine Cathe- rine et Ferdinand de Castille, régents au nom du jeune roi Jean. II, à qui il avait offert de prendre lui-même les armes contre les Maures d'Espagne, dans le cas ou les Castillans entreprendraient contre ceux-ci de nouvelles hostilités. Cet engagement volontaire n'était pas inscrit dans le traité du 3i octobre 141 1 ; mais, en le prenant de son plein gré, le monarque portugais n'avait pas moins contribué à rendre possible la conclusion de ce pacte, car, depuis longtemps, les Castillans s'étaient inutilement eíforcés de faire admettre cette coopération éventuelle comme une clause obliga- toire, ce à quoi les négociateurs portugais opposèrent toujours un refus formei.

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Dans de pareilles circonstances, avant de partir en guerre con- tre les musulmans d'Afrique, Jean I devait logiquement s'assurer qu'il n'aurait pas ii faire campagne contre ceux d'Kurope. La ques- tion fut posée à Ferdinand de Castille, dont la réponse ne se fit pas longtemps attendre, le vainqueur d'Antequera faisant savoir au roi de Portugal qu'aprc.s la victoire par lui remportée en sep- tembre 1410, il avait signé une trêve de dix huit móis avec Témir de Grenade et qu'il ne demandait, maintenant encore, qu'â Ia voir proroger, occupé comme il était de se faire reconnaítre roi d'Ara- gon. La sincérité de Ferdinand ainsi que la bonne foi de la reine regente, sa belle-soeur, étaient par ce fait pleinement assurées ; car l'établissement sur le trone d'Aragon d'un prince de Castille pré- sentait un tel intérêt pour cette dernière monarchie qu'il n'y avait pas à craindre de sa part le moindre agissement contre le Portu- gal, tant que cette affaire ne serait pas définitivement réglée.

Les circonstances étaient donc propices et le moment venu de se renseigner exactement au sujet de Ceuta; mais en évitant á tout prix de donner Téveil soit aux Maures d'Afrique, soit aux musulmans d'Espagne, voire même aux princes et états chrétiens riverains de la Méditerranée, qui ne verraient pas sans un mou- vement de jalousie la prise de possession d'une puissance occiden- tale sur le détroit de Gibraltar.

Une circonstance éventuelle offrit au roi Jean le pretexte dé- siré pour envoyer à Ceuta des émissaires de toute confiance. II lui fut fourni par Blanche, princesse de Navarre, veuve de Martin d'Aragon, roi de Sicile, qui cherchait à se maintenir sur le trone après le décès de son mari. En effet, cette princesse, dans Tes- poir de faire soutenir par un roi de glorieuse renommée ses droits problématiques, avait fait proposer à Jean I d'épouser le prince Edouard, héritier lui-même de la couronne paternelle, et de régner avec lui sur la Sicile.

Cette heureuse conjoncture permit au souverain portugais d'en- vo3^er auprès de Ia reine Blanche une ambassade qui, tout en fai- sant deux fois escale à Ceuta, s'en irait proposer à la veuve de Martin d'Aragon d'épouser le prince Pierre, second fils du roi, au lieu de Théritier du royaume, pour lequel on avait déjà pris des engagements. On comptait bien que Blanche de Navarre refuse- rait à son tour la main du jeune prince, qu'on ne tenait d'ailleurs pas beaucoup à lui accorder ; mais on aurait réussi à avoir les ren- seignements que Ton désirait sur la situation politique dans cette partie de la Méditerranée, et surtout au sujet de Ceuta, sans ris-

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quer de donner Téveil soit aux princes chrétiens, soit aux musul- flaans.

La mission réussit à merveille ; la reine Blanche refusa poli- ment la main du prince Picrre et les ambassadeurs, Alphonse Furtado de Mendonça, capitaine major de la mer, et Álvaro Gon- çalves Camello, grand-prieur de Tordre de THôpital, purent bien- tôt se retirer et, dès leur rentrée en Portugal, s'empresscrent de rendre compte au roi de ce qu'ils avaient vu pendant leur voyage, chaque fois qu'ils s'arrêtcrent à Ceuta.

Les chroniqueurs racontent que le Grand-prieur de THôpital se serait servi, pour bien faire connaitre la topographie locale, d'un moyen que les contemporains trouvérent fort original ; il demanda au roi de lui faire apporter du sable, des fèves et une pièce de ruban dans une des salles de château royal de Cintra, oíi il de- vait faire son rapport ; puis, do ses propres mains, le Grand-prieur dressa avec le sable un plan en relief de la ville et de ses alen- tours, pour compléter lequel les fèves représentaient les maisons et le mince ruban indiquaii les murailles. Ceei fait, il fit entrer Jean I avec ses fils et le ministre Jean Alphonse, qui, seuls avec les deux ambassadeurs, étaient dans le secret. Disons tout de suite qu'après connaissance de Tétat des lieux, si minutieusement exposé par les ambassadeurs, Texpédition fut jugée relativement facile, à la grande joie des princes et surtout du prince Henri. Mais tout n'était pas encore dit selon Tavis du souverain ; car, ja- mais il n'avait pris une résolution importante, concernant son royaume, sans qu'il eút consulte au préalable la reine son épouse et son fidèle connétable, Nuno Alvares Pereira, le glorieux capi- taine qui avait si puissamment contribué à le faire monter sur le trone et à défendre Tindépendance nationale contre Tambition des Castillans.

Laissant de côté les détails, qui foisonnent dans les chroniques portugaises, il nous suffira de dire que le connétable accueillit avec enthousiasme les projets dont le roi Tentretint et que la reine, fai- sant taire son coeur d'épouse et de raère, s'y montra elle aussi três favorable. Dès lors, les préparatifs de Texpédition prirent un plus grand essor et il devint impossible de les dissimuler.

Les démarches, dont nous avons essayé de résumer autant que possible le récit, avaient occupé plus des deux années depuis que pour la première fois la conquête de Ceuta avait êté mise sur le tapis. Nous arrivons donc au printemps de 1414, au moment oíi

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le roi fit assembler le conseíl pour le mettrc au courant de ses projets.

A Ia séance du conseil, qui eut lieu à Torres Vedras, dans le courant du móis de juin, sous Ia présidence du roi, assistaient les princes Kdouard, Picrre c Hcnri, le connétable et les titulaires des plus hautes charges de TKtat. Aprés que Jean I eut exposc Tobjet de la réunion, le connétable fut le premier à émettre son avis, ainsi qu'il avait été convenu avec le roi et le prince héritier ; et il le fit dans des termes si cloquents que nul parmi les conseillers n'osa le contredire. Le grand-enseigne de Portugal, Jean Gomes da Silva, le négociateur du traité de paix avec la Castille et Tun des vieux compagnons d'armes du roi et du connétable, resuma d'un mot Ia situation : «En avant les grisons s'écriat-il gaiement, et les nobles conseillers Tapplaudirent en riant, sans qu'un seul mot fút prononcé contre Texpédition hasardeuse.

Le point le plus difficile à atteindre pour le succès de Tentre- prise était sans conteste le secret dont il fallait Tentourer, malgré les préparatifs considérables que lon faisait dans tout le pavs, d'autant plus qu'on allait bientôt être force, pour les compléter, j de fréter des navires à Tétranger, afin de transporter d'un seul coup i toute une armée dúment aprovisionnée sur les rivages africains.

Pour donner le change au public, on decida de répandre a mots couverts qu'une expédition allait être dirigée contre le Comte de Hollande (Duc de Hollande écrivent les contemporains), es- sayant de faire croire que telle était la seule cause de tous ces ar- mements.

On s'empressa donc de faire partir une ambassade, ostensible- ment chargée de demander raison à ce prince au sujet de quel- ques déprédations commises par ses nationaux au préjudice des Portugais. Cela va sans dire que Témissaire choisi, Fernand Fo- gaça, intendant du prince Ldouard, diplomate á Tesprit délié, de- vait s'empresser de faire savoir au prince Guillaume de Bavíére, qui exerçait les pouvoirs souverains en Hollande, Zélande et Frise, que le roi Jean ne lui voulait aucun mal et ne songeait nuUement à Tattaquer.

Nous venons de reproduire, par rapport à cette négociation, ce que raconte Gomes Eannes d'Azurara, le plus digne de foi parmi les chroniqueurs portugais contemporains qui s'en sont oc- cupés. Mais nous devons ajouter que des écrivains plus récents en parlent comme si Jean-sans-peur, Duc de Bourgogne, était Comte de Hollande au lieu de Guillaume de Bavière, son beau-frère, qui

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-útait à la fois Ic mari de sa s(uur et le frère de la duchesse. Ges versions donnent à entendre que Tambassade fut adressée au pre- tnier, ce qui expliqiierait assez facilemeni son envoi \ en effet, Jean sans-peur eiitretenait avec le l^ortu^al des relations irés ami- cales et parmi ses courtisans on comptait plusieurs gentilshommes portugais, dont Álvaro Gonçalves Goutinho, le célebre Magriço, étaii le plus renommé par ses exploits et exerçait auprès du Duc de Bourgogne la charge de chambellan.

Sans qu'il nous soit encore permis de Taffirmer, faute de preu- ves, nous ne pouvons nous empecher de croire que Jean, Duc de Hourgogne, ainsi que sa soeur, la Gomtesse de Hainaut et de Hol- lande, n'auront pas refusé leur entremise auprès de Guillaume pour fournir au souverain portugais le moyen de détourner les soupçons de ses rivaux dans la Péninsule, en evitant á la fois de donner Téveil aux Maures d'Espagne et d'Afrique.

Le rapprochement tant recherché, à ce moment même, par Jean-sans-peur avec Henri V, roi d'Angleterre, três proche parent du roi de Portugal, ainsi que la médiation exercée par la Gom- tesse de Hainaut dans le but de chercher un accommodement en- tre son frère et le roi de Fraiice, ce sont autant de motifs qui nous portent à attribuer au Duc de Bourgogne et à sa soeur la meilleure .part dans l'acceuil fait à Tambassadeur portugais par le Gomte de Hollande, en acceptant de bon gré le role, assez embarrasant •d'ailleurs, que lui attribuait Jean I.

Malgré toutes ces complicités, la chancellerie portugaise ne réussit cependant pas à faire croire que les Hollandais fussent les vrais ennemis contre lesquels le Portugal faisait de si grands pré- paratifs ; les bruits les plus varies se firent jour, bien au contraire, €t trouvèrent un écho non seulement dans le pays mais au dela des frontières. Nous tâcherons de les résumer, car ils contribuent ^ placer la prise de Geuta dans le véritable cadre des circonstan- CQS qui Tentourèrent.

Des commerçants génois, établis à Lisbonne, furent, paraitil, les premiers à donner Téveil en écrivant à leurs compatriotes de Séville pour les avertir des préparatifs guerriers que Ton faisait •en Portugal, leur donnant à entendre que ces préparatifs pourraient ■bien être diriges contre leur ville même, le royaume de Gastille -étant Tennemi héréditaire de la nation portugaise ^ c'est par cette voie détournée que la nouvelle se fit jour dans le conseil de ia reine regente, ou elle fut longuement discutée.

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Malgré Tavis, émis par le sénéchal de Caçorla et bien accueillr par ses collègues, que le roi Jean I était trop loyal pour qu'il pút avoir rintention de faire la guerre á son neveu de Castille sans cause apparente, on decida tout de meme d'envover en Portugal une ambassade qui serait ofticiellement chargée de ratifier le traité de paix, signé en ociobre 14? i, et recevrait sinnultanément la mis- sion confidentielle de s'enqucrir de Tobjet que pourraient avoir des armements aussi considérables de la part d'un roi qui n'avait d'au- tres voisins que les Castillans et auquel on ne connaissait pas d'en- nemis.

L'ambassade fut três cordialement recue, les grand corps de TEtat prêierent serment de respecter le traitc de paix, puis les ambassadeurs furent congédiés avec force présents et lassurance formelle que les armements n'étaient pas diriges contre de si chers parents et de si bons voisins. Bien au contraire, le roi son oncle serait tout disposé à prêter aide et main forte au jeune souverain de Castille, si jamais il en avait besoin pour la defense de ses états.

A son tour, Ferdinand de Castille, roi d'Aragon, malgré qu'il fút déjà reconnu comme souverain dans les différents états qui dé- / pendaient de sa couronne, crut avoir de meilleures raisons que sa ' belle sceur et son neveu pour craindre TelTet des nouvelles ambitions des Portugais, dont on cachait si jalousement le but. II paraít, en effet, que parmi les papiers saisis lors de Tarrestation de la com- tesse douairière d'Urgel, la mère du seul compétiteur qui avait osé disputer les armes à la main la couronne dAragon à Theureux. Ferdinand, les agents de celui-ci avaient trouvé toute une corres- pondance dans laquelle il était question de marier deu^ des fils du roi Jean aux deux filies du Comte dUrgel, et de faire passer ainsi la couronne d'Aragon sur la tête du prince portugais qui épouse- rait Tainée, le Comte d'Urgel n'a3'ant pas d'héritier mâie. Ces of- fres engageantes, si tant est que le souverain portugais les ait con- nues et accueillies, ce dont nous navons pas la moindre preuve^ auraient avoir lieu dans le printemps de 141 3, lorsque les An- glais semblaient de leur côté assez portes à soutenir la candida- ture du comte d'Urgel contre celle de Ferdinand de Castille, tâ- chant par ce moyen d'éviter la trop grand prépondérance des Cas- tillans dans la Péninsule •, et cherchant à se créer des alliés parmi les proches voisins des territoires qu'ils occupaient eux-mêmes dans le midi de la France.

Les soucis de Ferdinand déterminèrent lenvoi d'une missioni

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spéciale auprcs de Jean I, que seuls nous signalent Ics chroni- queiirs portugais, et dont le but avoué serait de communiquer au roi de Portugal Tascension de Ferdinand au trone et de lui de- mander áon amilié, qui serait d'autant plus précicuse au roi d'Ara- gon, de Catalogue et de Valence, que celui ci cherchait à consoli- der sa souvcraineté en Sicile, cn Sardaigne et dans d'autres do- maines autrefois soumis à ses prédécesseurs.

Le roi de Portugal n'hésita pas á déclarer aux émissaires de Ferdinand qu'il ne nourrissait aucun projet contre les états de ce- lui-ci; et 11 les assura formellement qu'il serait heureux daider le fondateur de la nouvelle dynastie aragonaise à reunir de nouveau seus son sceptre tous les états auqueis il aurait droit. Les déclara- tions du souverain portugais ne sauraient être ni plus nettes ni plus amicales, elles ne laissaient de place a aucun soupçon de la part de r^erdinand.

Plus ou moins informe des assurances qu'avaient obtenues les souverains chrétiens, Témir de Grenade s'émut à son tour et après Catherine de Gastille, après Ferdinand d'Aragon, il envoya aussi une ambassade en Portugal. Celle-ci ne reçut pas des premesses formelles pour Tavenir comme les deux autres •, on se borna à ré- pondre aux ambassadeurs que pour le moment le Portugal n'avait pas le moindre motif de faire la guerre aux musulmans d'Espagne. II y eut échange de bonnes paroles et de riches cadeaux ; mais aucun engagement ferme ne fut pris par le roi Jean, car il vou- lait conserver sa liberte d'action et il prétendait surtout maintenir dans un état d'alarme et de défiance les Maures de Grenade, en leur laissant croire que tout danger pour eux n'était pas écarté, afin d'éviter qu'ils ne se joignissent à leurs corrcligionnaires d'Afri- que pour la defense de ceux-ci.

L'une après Tautre, les ambassades avaient êté éconduites sans qu'on parvint à savoir dans le public contre qui Texpédition allait. être dirigée -^ et Timagination des nouvellistes, soit dans les cercles de la cour, soit parmi le peuple, avaient beau jeu à se forger des explications plus ou moins chimériques pour ces constructions na- vales qui n'arrêtaient pas, pour ces armements toujours grandis- sants.

Les uns répandaient que Tarmée navale portugaise allait être mise à la disposition du pape de Rome pour en finir avec le schisme et remettre Téglise sous une .direction unique.

D'autres disaient que la flotte, commandée parles deux infants Pierre et Henri, allait conduire en Angleterre Tinfante Isabelle,,

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leur síuur, qui devait cpouser un prince de ce pays et que, par surcroít, cette puissante armce navale irait aider Henri V, neveu de la reine Philippe, dans la conqucte de Normandie, qu'il allait entrcprendre, á moins qu'elle ne fut employée á Ia conquête de ce même pays, mais dans le but de le soumettre au Portugal, en fai- sant valoir les droits que Jean I tenait de son aíeul Alphonse III de Portugal, comte de Boulogne, arriére grand-père de Pierre I.

Que Ton irait à Bruges», affirmait-on, sans que Ton précisat dans que! but; ou bien «contre le Comte de Hollande», contes- taient ceux que Ton avait lances sur la fausse piste de Tambassade -dont Fernand Fogaça avait été le titulaire.

Le voeu, que le roi aurait fait pendant la bataille d'Aliubarrota, de conduire une croisade en Terre Sainte, expliquait pour nom- bre de bons chréiiens tant de zele guerrier, que la conquête du saint sépulcre justifiait suffisammement.

Celle de deux royaumes le ferait encore mieux, d'après ceux qui, se rappelant la mission envoyée en Sicile deux années aupa- /

ravant, attribuaient à Jean T Tintention de sapproprier les deux royaumes de Sicile et de Naples, dont les jeunes infants épouse- raient les deux reines, veuves toutes deux, Blanche de Navarre, 1 dont nous avons déjà parle, et Jeanne de Naples, soeur et héritière -de Ladislas, récemment décédé, la trop célebre Jeanne II, dont la conduite scandaleuse n'a pu être oubliée pendant plusieurs siè- cles.

Parmi tant de bruits, plus ou moins vraisemblables, seul un vieux juif avait touché juste ; il s'appelait Judas Ncgre et apparte- nait à la maison de la reine Philippe. On raconte que celui-ci, dans une pièce de vers adressée à un seigneur de la cour, annonçait que la prise de Ceuta était le seul but de tant d'etforts ; les astres dans leur mystérieux langage le lui avaient appris.

Par bonheur, la prédiction de Tisraélite ne fut pas connue au- delà des mers et le bon roi Jean put continuer en paix ses prépa- ratifs. Le long des rives du Tage et du Douro, à Lisbonne comme à Porto, jour et nuit, des légions d'ouvriers travaiUaient à cons- truire dinnombrables navires, à les gréer, á les armer, à préparer les munitions et les provisions nécéssaires pour une armée aussi nombreuse et une flotte aussi formidable.

Le prince Henri avait de par le roi la haute main sur tous les préparatifs dans le nord du pays, secondé par son frère le comte de Barcellos, quant aux domaines de celui-ci dans la province

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d'Entre Douro et Minho. Dans Ic centre et le sud du Portugal, c'est a Tactiviíé du prince Pierre e]ue le soin de rorganisation était confie.

Quant au prince héritier, Mdouard, il partageait avec son pere les soucis du gouverncment, étant chargé de rexpédition des af- faires courantes. Le roi surveillait tout et-s'occupait personnelle- ment des armes et des munitions. Gette sage distribution du tra- vail, qui excitait le zele des princes et de leurs auxiliaires, íaisait naítre partout une incomparable activité ; le pays tout entier y ■contribuait de toutes ses forces.

Les vieux guerriers d' Aljubarrota demandaient les premiers á faire part de Ia mystérieuse expédition ; loin d'invoquer leur age et les Services déjà rendus pour s'en dispenser, ils faisáient valoir leurs campagnes passées comme autant de titres pour ne pas être écartés de celle qui allait s'ouvrir. La jeunesse, que de si beaux exemples encourageaient, brúlait d'enthousiasme. Partout on four- bissait ses armes, partout ou se préparait avec ardeur, sous le re- gard des princes, pour ce départ vers des régions ignorées.

Une vieillard de quatre-vingt-dix ans, le Nestor de cette nou- velle Iliade, Ayres Gonçalves de Figueiredo, se fait enrôler *, suivi de ses écuyers et gens de pied, il s'embarque dans Tescadre du prince Henri et se bat comme un jeune homme dans les rues de Ceuta. Deux écuyers bayonnais, qui avaient rendu autrefois des services signalés et qui, s'étant fixes à Porto y touchaient tranquil- lement leur pension, viennent demander à Tinfant de les emmener avec lui et reprennent leurs armes depuis longtemps déposées.

Des gentilshommes étrangers accourent de tous côtés, dont malheureusement on connait à peine quelques noms.

II est question dans les chroniques portugaises d'un grand-duc allemand qui vint avec une nombreuse suite oífrir ses services au roi et fut éconduit avec des présents ', car il tenait à connaitre d'avance le but de Texpédition et Jean I ne voulut pas ouvrir une exception en sa faveur. Un simple baron, avec quarante écuyers et gentilshommes de la même nationalité, accepta de bon gré les conditions du roi ; leurs noms malheureusement ne nous ont pas êié conserves et nous le regrettons d'autant plus, qu'ayant pris part à Texpédition, ils réussirent à se faire remarquer pendant le combat.

Un riche seigneur anglais, que le chroniqueur Azurara designe par le nom de Mondo, représentait dignement sa nation, car il mit au service du roi Jean quatre ou cinq vaisseaux bien garnis

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el de nombreux archers. La campagne que Hcnri V entreprenair en ce moment contre la France, explique suftisamment la partici- pation si réduite des alliés traditionnels, toujours si prompts à prendre part aux guerres dans lesquelles le Portugal se trouvait engagé. En etfet, le roi dAngleterre débarquait en Normandie et commençait cette campagne, que la bataille d'Azincourt devait ren- dre á jamais mémorable, le jour même ou son onde prenait la ville de Ceuta.

Les Espagnols manquaient à Tappel ; mais nous n'avons pas lieu de nous en étonner, si nous considérons que la consolidation du trone d'Aragon réprésentait en ce moment pour eux un trop grand intérêt, pour qu'ils eussent le loisir de participer a une en- treprise dont, d'ailleurs, le véritable but leur était si soigneuse- ment cache.

Français et Bourguignons étaient par contre assez nombreux. II s'est trouvé même parmi eux un agréable écrivain, Antoine de La Salle, le seul qui, ayant pris part au combat, en ait aussi en- trepris la description, malheureusement assez sommaire et écrite longtemps aprés. II nous donne néanmoins les noms de ses com- pagnons d'armes, dont les chroniques portugaises ont bien men- tionné quelques-uns, mais en les rendant à peu prés méconnaissa- bles.

D'après La Salle, il y en avait deux qui etaient déjà chevaliers «Henry d'Antoing, seigneur dEsceres, picart» et «messire Philippe de la Chappelle, flameng» \ trois autres furent créés chevaliers à Ceuta: «Guy le Bouttiller, normant, Martin de la Chappelle, frère du dit messire Philippe; Jacques de Lievin, picart». A eux se joi- gnaient plusieurs écuyers : «Pierret Battaille de Boullenoiz, Bri- doul de la Chaussoye» et «Hacquet Vuast», picards et «Anthoine de la Salle» écuyer du comté de Provence ; en outre, dit celui-ci : «huit gentilzhommes, sans les aulires nos serviteurs, tous bien en point et armez».

La Salle cite encore deux nobles étrangers qu'il designe comme «le seigneur de Plomellau baron et messire Henry de Donru, che- valliers de PouUaynne bien encompaigniez». Faudrait-il identifier ce baron de Plomellau, malgré qu'il soit designe comme «cheval- lier de PouUaynne», avec le baron allemand des chroniques por- tugaises ?

Nous n'oserons pas nous prononcer à ce sujet, qui ne presente d'ailleurs pas un intérét particulier ; ce à quoi nous avons tenu c'est ã faire ressortir la présence de nombreux étrangers, qui de-

vaient contribiier, on nc peut en douter, à donncr un plus grand retentisscment a la rapide conqucte de Tantique Ceuta.

Dans les premiers jours de juillet les prcparatifs étaient á peu prés termines, tant a Lisbonnc qu'à Porto, et le prince Henri put appareiller pour se rendre sur les bords du Tage avec ses sept galères et de nombreux vaisscaux de transport. Les chroniques portugaises cnumcrcnt les capitaines des galères et plusieurs parmi les gentilshommes qui sV^mbarquèrent dans les gros bâtiments, avec leurs suites composées d'écuyers et des gens de pied •, car la cavalerie, d'ailleurs trop diíTicile à transporter, ne pourrait être d'un grand secours pour la prise d'une ville comnne Ceuta.

Azurara signale le luxe avec lequel Tescadre du prince Henri avait été pourvue, et il mentionne particulicrement que tous ceux qui s'y embarquerent portaient les couleurs de Tinfant et s'hono- raicnt de sa devise «talant de bien faire».

Cest le 10 juillet que toutes les forces navales se réunirent à Lisbonne. Aussitôt signalés, le roi envoya au devant des arrivants le prince Pierre avec ses huit galères et les bâtiments legers de la flotte de Lisbonne.

Le prince Pierre, le connétable, le grand-maítre de Tordre du Christ et celui des hospitaliers, (notre connaissance Álvaro Gon- çalves Camello), d'autres encore parmi les plus grands seigneurs, voguent au devant du Prince Henri et de son escadre •, et c'était merveille de voir, dans Tample estuaire du Tage, cette flotte, bril- lamment pavoisée, la plus puissante qu'on y eCit jamais réunie, dont les joyeuses fanfares réveillaient les échos des deux rives.

La joíe, que la population de Lisbonne manifestait bruyam- ment, s'étendait à tout le pays, car le pays tout entier avait con- fiance en ses princes ; il était sur d'avance qu'ils le conduiraient à la gloire et que Tentreprise, si amoureusement et si mystérieuse- ment préparée, ne saurait manquer d'être conçue pour le bien de la nation. Jamais la popularité du souverain et de la famille royale ne fut si evidente et si méritée.

Malheureusement, à la joyeuse réception faite au prince Henri et à son escadre, une grande douleur allait succéder, qui blesse- rait profondément le grand roi et ses nobles fils, ainsi que tous les bons et fidcles portugais. A peine les princes furent reunis qu'un messager les rejoignit, venu en toute hâte pour leur annoncer que la reine était gravement malade et que Ton craignait une attaque de la peste, qui sévissait déjà à Lisbonne et dans les environs.

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Les craintes étaient fondées, et lissue de la terrible maladie ne laissait bientôt aucun espoir. La reine elle mcme se rendait compie de son état, et jusqu'a sa dernicre extrémité ceite noble princesse fit preuve de seshauies verius ; songeant á tout, elle ne manquait pas d'encourager le roi et Ics princes à ne pas rctarder Texpédition, raéme dans Ic cas d'un dénouemcnt fatal, qu^clle pré- voyait pour bientôt. Les chroniqueurs prétcndent qu'elle fixa au jcudi 25 juillet, á la fête de Saint-Jacqueb, le départ de Tarníiée pour les cotes d'Afrique, ce qui, d'après cux, aurait beaucoup con- tribué à éviter un ajournement.

La reine s'éteignit- dans raprès-midi du i8 juillet, entourée des princes r.douard, Pierre et Henri, qui ne la quittèrent pas un ins- tant pendam sa maladie. Après avoir rendu à leur mèrc les hon- neurs suprêmes, ils se rendirent à Restello, un petit village en. aval de Lisbonne, dom Templacement est aujourdhui occupé par le faubourg de Belém, prés duquel la flotte était concentrée. De là, ils partirem ensemble pour aller rejoindre le roi leur père, qui, acompagné seulement par le comte de Barcellos, s'était retire à Alhos Vedros, sur la rive gaúche du Tage, pour y pleurer dans le silence son épouse bienaimée. Force leur fut de s'entretemr avec lui des aífaires de Tétat et, en particulier, du départ de Tex- pédition. Le roi, dans sa douleur, pouvait à peine les écouter ; il les chargea donc de reunir en son nom le conseil et de prendre, d'accord avec son avis, les mesures immcdiates que les circons- tances réclameraient.

Traversant de nouveau le Tage, les princes retournèrent à Restello et convoquèrent immédiatement les conseillers du roi pour les consulter; mais les avis se partagèrent et aucune résolution ne put être prise. Les infants étaient pour le départ immédiat de Tar- mée, qui permettrait de la soustraire à Tépidémie dont les rava- ges grandissaíent de jour en Jour ; leurs opposants craignaient, au contraire, que la peste ne se développât pendam le voyage et ils invoquaient en faveur de Tajournement le deuil si récent, ainsi que les mauvais présages, qui semblaient s'opposer au nom du ciei à la mystérieuse expédition, dont on ignorait encore le véritable but.

Les princes ne se découragèrent pas ; emmenant avec eux trois des opposants, ils prirent pendant ia nuit le chemin d'Alhos-Ve- dros pour rendre compte au roi des avis qui avaient été émis pen- dam la réunion du conseil et recevoir ses ordres; car, après tout, lui seul pouvait prendre une résolution définitive. Jean I nhésita

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pas ; maítrisant sa doiileur, il fixa le jour du départ, celui que la reine avait prédit : oii preiídrait la mer le vingt-cinq juillet.

Aussitôt cette résolution prise, les jciiiics priíices repasscrent le Tage pour rejoindre la Hotte et se réunirent á díner dans la ga- Icre du priíice Henri. Oci se passait une aprcs-midi de dimanche, mais on n'apcrcevait aucun signe de fête ; la mort de la reine et les ravages de la pesie jetaient un voile de deuil sur la ville comme sur la floite ; une morne tristesse avait remplacé les acciamations joveuses qui signalèrent Tarrivée de Tescadre organisée a Porto. Au licu de songer à se divertir, la population de la ville et Ia gar- nison de la flotte se demandaient en vain si le départ se réalise- rait ; les avis se partageaient, et ceux qui parlaient d'ajournement n'étaient pas les moins nombreux ni les moins écoutés.

II fallait à tout prix modifier sans perte de temps cet état d'es- prit :, les princes le comprirent et, dans ce but, aussitôt arrivés d'Alhos-Vedros, ils échangèrent leurs vêtements de deuil contre des habits de gala, le prince Henri fit pavoiser sa galère, les trom- pettes sonnèrent en signe d'allégresse ; et la flotte toute entière, suivant Texemple que le bâtiment oCi se trouvaient les princes lui donnait, se couvrit de drapeaux et de flammes. Ge fut aux accords des musiques du bord que Ton apprit Ia grande nouvelle : on allait partir jeudi, le jour de la Saint-Jacques I

Les trois jours suivants s'écoulèrent dans la fièvre des derniers préparatifs et dans Tanxiété de savoir quelle direction prendrait la flotte. Dans la matinée du 24, le roi quitta Alhos-Vedros et rejoi- gnit celle-ci, qui appareilla aussitôt pour aller se rassembler un peu en aval, prés de Santa Catharina de Ribamar, déjà dans Tor- dre qu'elle devait observer pour le départ.

Le lendemain, le jeudi 26 juillet 141 5, les deux-cents à deux- cents vingt navires, qui composaient la flotte, levaient Tancre à la fois, larguaient leurs voiles et plongeaient d'un seul coup dans les eaux du Tage leurs rames innombrables. Un vent propice les poussait vers la cote d'Afrique, emportant avec eux les destinées du Portugal.

Laissons la flotte portugaise continuer sa route vers Ceuta, et tâchons de nous rendre un peu compte de la situation du Maghrib dans les commencements du quinzième siècle de notre ère.

Disons tout de suit^ que ce n'est pas chose facile, car les écri- vains les mieux renseignés se plaignent de Tabsence de chroniques árabes se rapportant á cette époque, peut-être la moins connue de

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Thistoire du Maroc ; et si quelqucs auteurs, parmi les plus rccents, tâchent de combler cetie lacune au moyen des chroniques portu- gaises, il faut avouer que cellesla aussi soni fort insulfisantcs.

Ce dont il n'}' a cependant pas le moindre doute, c'eat que Ceuta était alors une ville renommée et que son origine se perd dans la nuit des temps fabuleux, sa fondation ayânt été attribuée à un petit-fiis de Noé, qui lui aurait préié son nom. II nous scm- ble pourtant moins hasardeux d'attribuer à celui-ci une origine latine, qui se rapporterait aux sept collines, sur lesquelles la ville a été bâtie.

Successivemeni soumjse par des invasions reitérées, Ceuta à passer tour à tour du pouvoir des romains ã celui des nouveaux occupants de la Péninsule Ibérique et rester sous leur domination jusquau moment les musulmans en chassèrent les chrétiens et, traversant le détroit, devinrent à leur tour, grâce à la trahison du trop célebre comte Julian, les triomphateurs de Guadaléte et les conquérants de presque tous les territoires qui constituent au- jourd'hui TEspagne et le Portugal.

A partir de ce jour; Ceuta ne connut d'autres maítres que les sectaires de Tlslam et resta plus ou moins attachée au royaume de Fez, dont elle suivit les vicissitudes de déchéance ou de gloire, avec lesquelles coincidaient toujours des périodes d'indépendance plus ou moins complete, pour les gouverneurs de la ville, et une étendue également variable, pour les territoires qui en dépendaient directement.

Toujours est-il que la prospérité de Ceuta, Tétat d'avancement de ses industries, le mérite de ses ouvriers, Tabondance et la va- riété des produits qui aprovisionnaient son marche, faisaient de ^ette ville un des entrepôts commerciaux de toute la cote Médi- terranéenne, surtout en ce qui concerne les produits vénus d"Orient, soit par la voie des caravanes à travers TEgypte, la Tripolitaine et la Tunisie, soit par voie maritime, toujours plus facile et plus rapide, mais non moins périlleuse, à cause des corsaires, qui in- festaient à cette époque toutes les mers.

Les deux villes de Tétouan et de Ceuta comptaient parmi leurs repaires les plus importants et les plus dangereux pour la naviga- tion des chrétiens, à la fin du XIV« siècle et au commencement du XV'; à tel point que nous ne croyons pas formuler une thcse trop hardic en attribuant la desiruction de Tétouan par Henri III de Castille et Ia conquête de Ceuta par Jean I de Portugal, quinze ans après, à la necessite d'assurer la navigation côtière et le com-

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mercê maritime de leurs nationaux contre les corsaires majures- ques, dont les deux villcs ctaicnt les ports d'attache.

Un auteur récent, M. Auguste Cour, dans son ouvrage três <iocumenié sur arÉtablissement des dynasties des Ghérifs au Ma. roo, nous dit que le sultan mérinide Abd-el-Aziz avait ctabli un accord avec la dynastie d'Aviz régnaiit en Portugal, d ou il s'en- suivit que le commerce portugais prit un nouvel essor vers la fin <du XIV*-- siòcle; mais que Abou-Said, son successeur, négligea réxécution de ce qui avait été convenu avec les Portugais, et que les altaques des corsaires devinrent plus frequentes vers Tépoque même ou Texpédition de Ceuta fut décidée. Quoique nous n'ayons pas pu jusqu'ici contrôler par des documents portugais dignes de foi Topinion que nous venons de reproduire, nous n'hésiierons pas à Taccepter, d'autant plus que la situation intérieure dans le Ma- ghrib la rend tout à fait vraisemblable.

II n'y a pas de doute que Tétat de division intestine y devait etre à un maximmun en 1412-1415. En eífet, Abou Saíd, le jeune sultan de Fez, plus cnclin à jouir de ses richesses qu'à augmenter sa puissance, laissait à loisir son voisin de Tlemcen empiéter 11- brement dans ses ctats héréditaires, et ne cherchait même pas à maintenir en obéissance les grands feudataires de la couronne, gouverneurs quasi indépendants des provinces les plus importan- tes et les plus riches de son empire. Parmi ceux-ci, il faut com- pter Salah-ben-Salah, le gouverneur de Ceuta, qui appartenait lui-même à la famille mérinide et jouissait dans la ville d'un pou- voir absolu, tandis que dans les territoires environnants son auto- rité n'avait de limite que la résistence que lui opposaient les tribus berberes, composées pour la plupart de montagnards insoumis, lesquelles, alors comme aujourd'hui, ont presque toujours réussi à se soustraire à toute domination.

En vérité, Salah ben-Salah avait fini par se considérer seul maítre chez lui, et Abou-Saíd était de son côté assez. justifié de ne pas s'inquiéter de ce qui se passait dans ces provinces éloignées, qui ne lui étaient d'aucun secours et ne contribuaient nullement, il y a tout lieu de le croire, pour les plaisirs qui seuls le préoc- cupaient. Ceei explique suffisamment pourquoi le sultan de Fez, recevant pendant une fête la nouvelle de la prise de Ceuta par les chrétiens, n'a même pas consenti que les musiciens arrêtent leurs accords, que les danseuses interrompent leurs ébats, ou que les mets succulents cessent de circuler sur la table du festin.

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Ainsi fut prisc et définitivcmenl occupée par les chrétiens la richc et puissante villc de Ceuta: grâce à la division du Maghrib, à rindillérence du sultan de Fez et á Tincurie de son gouverneur Salah-ben-Salah.

Cet événement, qui mit entre les mains des Portugais Tune des clets du déiroit de Gibraltar, fut, sans le moindre doutc, le point de départ des inoubliables découvertes et des conquêtes glorieu- ses qui ont rendu á jamais illustre ce peuple de navigateurs. Sous ce rapport, la prise de Ceuta, dont nous venons d'esquisser la préparation intelligente, marque une des dates les plus mémora- bles dans rhistoire de la connaissance de la Terre: le 21 aoút 1415 est le jour ou Jean I de Portugal prit posséssion au nom de Ia civilisation chrétienne de Tantique cite de Ia Mauritanie Occi- dentale et initia ainsi Ia série des conquêtes et des découvertes, qui se succédèrent pendant tout le XV^ et la première moitié du XVP siècle.

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Uma planta de Ceuta

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DEDICADA AO MARQUÊS DE POMBAL

Propuzera em devido tempo a Sociedade de Geografia que, no ano de 191 5, se comemorasse não ocentenario da Tomada de Ceuta, como micio das descobertas marítimas dos portugueses, mas também o da morte de Afonso de Albuquerque, esse grande português que nos deu um império no oriente.

Motivos inteiramente alheios á vontade da Sociedade de Geo- grafia e á da respectiva comissão que, por seu pedido, fora no- meada pelo governo, não permitiram que os dois significativos acontecimentos tivessem a celebração indicada no programa ela- borado pela comissão e apresentado ao parlamento ^comtudo, não saja isso óbice para que se deixe passar em claro qualquer daque- las datas históricas, que tanto nos convém registar, embora isso se não possa realizar com a grandeza que se exigia.

Passa primeiro o centenário de Ceuta e tudo quanto concorra para remomerar a data gloriosa da conqnista, deve ser posto em evidencia.

Recordar Ceuta, é revigorar no nosso espirito a ideia do que foi a intrepidez e a f é dos que ali foram combater pelo engrande- cimento da Pátria, abrindo caminho para outros cometimentos.

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A situação geográfica de Ceuta, era realmente tentadora, para quem sonhava dilatar a sua esfera de acção.

Não era somente uma posição militar de primeira ordem, era

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um empório de preciosidades do oriente. Ali se encontravam, como diz o Visconde de Santarém, na «Introdução á Crónica de Azuraras, as drogas de preço que produzia não Alexandria e Damasco, como também a Lybia e o Egypto.

Numa pequena peninsula correndo a ENE. ligada por um es- treito istmo ao continente africano, erguia se o monte Abyla, dos árabes, o qual com o Mons Calpe ao N. formavam as colunas d'Hercules, marcando a entrada do Mediterrâneo. Para oeste, até á ponta de Tarifa, como corredor de passagem, se estende o Es-

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treito de Gibraltar, fc^rmando o traço de união entre o Atlântico e o iMediterraneo.

E' notável, que sejam duas pequenas peninsulas, com os seus promontórios, que, em situação semilhantc, quasi homologas, as- sinalem a divisória entre os dois mares. Do lado do continente eu- ropeu, Gibraltar com a ponta da Europa olhando ao Sul; do lado da Africa, Ceuta com a ponta de Santa Catarina, mirando ao norte, como duas sentinelas ali postadas, com idêntico valor mili- tar.

Para completar a semilhança da situação física em que se en- contram as duas praças de guerra, temos ainda a situação politica também idêntica. Gibraltar esteve sob o dominio dos mouros até ao século xv em que foi incorporada no reino de Granada, sendo tomada pelos ingleses em 24 de Julho de 1704 e cedida á Ingla- terra pelo tratado de Utrecht em 171 3. O tratado deVersailles de 1783, no seu artigo 2.", renova ou confirma aquela cessão, que até ao presente tem perdurado. Ceuta, tomada pelos portugueses em 1415, conservou-se sob o nosso dominio até i58o, em que o jugo espanhol, pesando sobre o país e suas colónias até 1640, nos devia privar de um tão importante ponto de apoio á entrada do Mediterrâneo, por que não foi rehavido.

O tratado de Paz entre D. Afonso vi e Carlos n rei d'Espa- nha, feito por mediação de Carlos n rei da Grã-Bretanha, e con- cluído no convento de Santo Eloy de Lisboa, aos i3 de Fevereiro de 1668, pelo seu artigo 11.", mandou restituir a Portugal as pra- ças de que a Espanha se apossara e que nessa restituição não entrasse a cidade de Ceute, que devia ficar em poder do Rei Ca- tólico, pelas 7~a\Ões que para isso se consideraram.

Parece que essas razoes se resumiram ao reconhecimento do título de Rei, pela Espanha, ao soberano de Portugal I ?

Como se vê, e a despeito dos tratados, se a Inglaterra está de posse de um território outr'ora espanhol, também a Espanha se encontra de posse de um território outr'ora português por direito de conquista durante i65 anos, e é claro que se a Espanha pre- coniza a posse de Gibraltar, nós deveríamos preconizar a de Ceuta.

Mas, ponhamos de parte estas considerações de ordem histó- rica e entremos no estudo de Ceuta, sob o ponto de vista carto- gráfico, por meio dos exemplares existentes na Sociedade de Geo- grafia.

As plantas de Ceuta são apenas duas: Uma é um trabalho ori- ginal manuscrito, feito por Dechermont et de S.^ Louis, em 1774

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c dedicado ao Marques de Pombal ; a outra é a de Alontojo, re- produzida pelo Almirantado Britânico para uzo da navegação. De resto, existem três vistas perspectivas das quais a mais im-

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portante é a do oCivitates Orbis Terrarum» por Georgius Braun e Francisco Hogenbergios. Segue-se-lhe a pequenina vista de Ceuta que se encontra no «Theatro Orbis Terrarum» na carta : Africa, tNova Descriptio», de Guiljelmo Blaeuw. Esta carta colorida, está cercada por um emolduraraento rectilíneo na parte superior e nos

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lados. No alto, estão as vistas dos principais portos e cidades da costa africana então em evidencia. E' junto ao canto esquerdo que está a perspectiva de Ceuta, que é evidentemente, uma redução da de Braun, modificada nos tipos e disposição dos navios a um e outro lado da peninsula. A ampliação quasi ao dobro que apresentamos, dcmonstra-o pela comparação com a planta ante- rior.

A terceira, a menos engenhosa de todas, e que é uma simples vista para conhecença da terra a distancia, é a do «Reise Naar Arabie en andere omliggende landen» de Carsten Niebuhr, publi- cada na Holanda.

A perspectiva de Braun (fig. i.*), tem a indicação da porta por onde os portugueses entraram na praça: Per hanc portam ingvessi sunt primuni Liisitani hoc oppidiim. Fica na enseada a oeste de S.'^ Catarina, cuja ermida se no desenho por cima da ponta do mesmo nome, ao norte da qual fica o pequeno ilhéu, isolado antes e que hoje está ligado á ponta de S.'^ Catarina. Circundando a monte Facho, no alto do qual fica o castelo, vêem-se os muros de Ceuta e no ponto de desembarque da expedição portuguesa, mar- cado por uma cruz na gravura, fica a porta a que acima fizemos referencia e que por uma cortina se liga com o castelo da Facho.

As obras de defeza junto do Isthmo e o Castelo de Ceuta dos antigos, figuram nesta interessante perspectiva, que o desenhador representou como se fora vista do lado do norte. A baia que se além da peninsula, pertence ao Mediterrâneo. Navios da época, ornamentam a gravura.

A segunda perspectiva (fig. 2.^), não nos demoramos em des- crevê-la, porque se logo ser extraída da anterior, como disse- mos.

Quanto á vista da. costa d'Africa junto de Ceuta (fig. 3.*), não é mais do que um auxilio para o navegador reconhecer a terra que vai demandar, indo do noroeste. O Facho fica-lhe sobre a es- querda ou por bombordo, as muralhas e a casaria, aparecem-lhe unto á linha da praia, escondendo-se sob a terra alta da antiga Ceuta e da ponta Benitez.

A planta de Ceuta, que motivou principalmente esta noticia, tem para nós grande interesse, não por ser exemplar único, executado á pena e aguarelado, mas também pela sua dedicatória ao Marquês de Pombal, cujo brazão encima o título, como se pôde ver no fac-simile que apresentamos, tornando assim conhecido um

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trabalho original pertencente hoje ao arquivo da Sociedade, que o . í conserva devidamente emoldurado em quadro *.

A comparação desta planta com a atual do almirantado inglês.

Reducção da Carta do Almirantado Inglês

mostra á simples vista a sua perfeição. Ha sem dúvida, umas pe. quenas divergências no contorno da península, principalmente na

1 Esta planta foi pela primeira vez descrita por mim na «Relação de Ma- pas, Cartas, Plantas e Vistas», publicada pela Comissão de Cartografia do Mi- nistério das Colónias e figurou na Exposição de Cartografia, tendo no nosso catalogo o n.° qSg. Por ordem superior foi, com outros documentos cartográ- ficos, confiada á guarda da Sociedade de Geografia de Lisboa, que a tem sa- bido estimar.

Nota do autor.

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<io promontório; mas, afinam os nomes dos pontos notáveis, fortes, dos ermitérios, etc. Na parte correspondente á cidade, principalmente nos edificios notáveis, nas obras de fortificação, baluartes, reductos e fosso, a mesma semilhança existe para nos demonstrar a perfeição do levantamento da planta.

Para provar o que fica dito, basta chamar a atenção do leitor para a situação do forte de S.'° Amaro sob o n." da legenda^ para a do forte de S.'-' Catarina sob o n." 40, para a torre do Des- narigado sob o n." 41, e comparar com a carta inglesa, onde estes pontos figuram com as mesmas designações. Outro tanto sucede com edificios notáveis, tais como o paiol da pólvora, indicado na planta pelo n." 3o da legenda e que vamos encontrar na carta bri- tânica, bem como á Sé, obra do tempo de D. João i, correspon- dendo nas localizações. O cais comercial da carta inglesa, vê-se igualmente na planta pombalina com o n.° 24, que indica o porto de desembarque.

Comparando também a planta da parte que corresponde pro- priamente á cidade, notar-se ha, por ambos os espécimens, que poucos progressos se teem realizado. Algumas novas edificações se denunciam, mas o delineamento geral mantém-se em ambas as plantas.

E' claro, que alguns melhoramentos a cidade tem sofrido, de- vidos á construção de quartéis, renovação do forte do Facho e so- bretudo á dos quebramares para o porto artificial, que vão pro- gredindo gradualmente, tanto no molhe da ponta Benitez a oeste, como no de leste e cujo projecto se na planta do almirantado.

Ceuta, é hoje um comando militar e praça de guerra depen- dente do governo militar de Cadiz e pertence ao distrito de Alge- ciras. As suas obras de fortificação, baseadas nas antigas defezas, são importantes, embora não correspondam ás modernas exigên- cias da arte da guerra. Ainda assim, as suas baterias cruzam os seus fogos com os pontos notáveis da costa.

A cidadela no alto do monte Facho, construida no tempo de Carlos III, sobre as ruinas da antiga fortificação romana, domina completamente a região.

Os espanhoes consideram-a uma bôa praça de guerra pelos meios de defeza que ali reuniram e, realmente a sua situação geo- gráfica, como uma das chaves do Estreito e ponto de apoio da in- fluencia espanhola em Africa, exige que ali se concentre grande poder militar.

Por isso mesmo deveria corresponder lhe um grande desenvol-

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Blmlle do ortg^nal exiotwito na Sociedade de Qeoçrafla

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vimento comercial que não tem. Limita-se a uma colónia militar e penitenciária, porém, com as obras do porto em que se prose- gue, é de supor que esta situação se modifique e que Ceuta read- quira a importância de outras eras.

Julho, 191 3.

Ernesto de Vasconcellos.

Os túmulos de D. Pedro e D. Duarte de Menezes

Primeiros Governadores Capitães Generais de Ceuta

D. Pedro de Menezes, Conde de Viana em Portugal e Conde <le Aguilar e Aillon em Castela, desempeniiou pela primeira vez o cargo de Governador Capitão General de Ceuta, de 141 5 a 1430 e pela segunda vez de 1484 a 1437.

Nasceu este grande guerreiro do século xv, no ano de 1367, sendo filho do i.° Conde de Viana, D. João Afonso Telo de Me- nezes e de sua mulher D. Maria Vilas Lobos Porto Carreiro.

Em 1884, acompanhou sua mãe na fuga para Castela, quando do assassinato do seu pai em Penela, por se ter manifestado con- tra o Mestre d'Aviz, depois Rei D. João i.

Passada a batalha de Aljubarrota e feitas as pazes com Cas- tela, restituiu D. João i a D. Pedro de Menezes e a sua mãe, to- das as honras e senhorios que tinham em Portugal.

Acompanhou D. João i na tomada de Ceuta em 141 5, com seis galeras equipadas e armadas á sua custa, sendo após a tomada, armado cavaleiro por D. Duarte, depois Rei.

Lutando D. João i com dificuldades para encontrar quem acei- tasse o cargo de Governador de Ceuta, D. Pedro de Menezes num rasgo de bravura que depois tantas vezes retificou, ofereceu-se para desempenhar esse cargo, garantindo na presença da corte e ■do Rei, que manteria a Barberia em respeito para o que lhes bas- taria um pequeno zambujeiro, que trazia nas mãos e que no jogo da choca lhe servia de aaleo».

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Em face do expontâneo oferecimento, D. João i, dispensando- Ihe o juramento da praxe, entregou lhe o governo da Praça, que D. Pedro de Menezes e seus descendentes sempre mantiveram^ conforme a declaração deste primeiro governador, conservando como honroso bastão o celebre zambujeiro que ainda hoje serve para dar posse aos governadores daquela Praça.

Amada da torre mais alta do castelo de Ceuta, a bandeira da cidade de Lisboa e entregue ao alferes desta cidade, João Vasques d'Almada, e arvorada a bandeira real que mostrava ao mundo a primeira conquista d'além mar pelos portugueses, ordenou D. João i a seu filho, o Infante D. Henrique, que fosse dar a posse do Cas- telo a D. Pedro de Menezes.

No dia 2 de setembro de 141 5, D. João 1 e a parte da sua ex- pedição que não ficou em Ceuta, embarcaram para Portugal, fi- cando ali aquele punhado de heroes, qqe logo no dia seguinte, 3 de setembro, começou aquela constante luta com os naturais que nunca deixaram de se manifestar contra os extranhos como ainda hoje sucede, apezar das gerações se terem sucedido, durando cinco séculos completos.

Ceuta, passou a ser uma escola de guerreiros, praticando actos que admiravam o mundo, indo ali inúmeras pessoas, grandes se- nhores, para que, nas imediações de Ceuta, naqueles campos tan- tas vezes regados de sangue, D. Pedro de Menezes os armasse cavaleiros.

A guerra passou a ser um modo de vida e um modo de vida encarado com prazer e satisfação, pois que qualquer festejo que houvesse na Praça de Ceuta, terminava pela saída dos seus habi- tantes, até encontrarem mouros com quem travassem peleja.

Isto emfim, era a vida normal, havendo, porém, ocasiões em que a colisão era enorme, sustentando cercos terríveis e por ve- zes até foram socorros.

No fim de i5 anos, para descançar desta luta tremenda e per- manente, D. Pedro de Menezes, entregou o Governo da Praça a seu filho D. Duarte de Menezes e com a devida autorização de D. João I, embarcou para Portugal, onde foi recebido com osten- tosas festas, desembarcando em Lisboa, fazendo-lhe a cidade rui- dosas manifestações, seguindo depois para Almeirim, onde estava a Corte e o Rei.

Entre as inúmeras mercês, nomeou-o D. João i. Alferes Mór do futuro Rei D. Duarte.

Assistiu á morte de D. João i em 14 de agosto de 1433, desem-

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penhando pela primeira vez o cargo de Alferes Mór do Reino, na coroação do novo Rei.

Conservou-se D. Pedro de Menezes, três anos em Portugal, onde efectuou o seu quarto matrimonio com D. Genebra Pessanha.

D. Pedro de Menezes, casou pela primeira vez com D. Marga- rida de Miranda, filha de D. Martinho Afonso de Miranda, Arce- bispo de Braga, que lhe deu um grande dote. Esta senhora não chegou a ir a Ceuta.

Deste casamento, nasceu D. Beatriz de Menezes, que casou em 1427 com D. F^ernando de Noronha, i." Conde de Vila Real c 5.° Governador Capitão General de Ceuta, e r>. Leonor de Me- nezes, que casou em 1447, ^^"^ ° ^-^ Duque de Bragança D. Fer- nando. *

Casou D. Pedro de Menezes, peia segunda vez, com D. Felipa Coutinho, filha do Mariscai de Portugal, Gonçalo Vasques Couti- nho. Este casamento-, foi por procuração, seguindo a noiva para Ceuta, morrendo no caminho.

O terceiro matrimonio, foi em 142b em Ceuta, com D. Beatriz Coutinho, tia da segunda mulher, filha de Fernão Martins Couti- nho, senhor de Mafra e da Ericeira.

Deste casamento, nasceu D. Beatriz Coutinho, que casou com D. Fernando de Vasconcelos.

Casou pela quarta vez, com D. Genebra Pessanha, filha her- deira do almirante Manuel Pessanha.

Deste casamento não houve filhos.

Fora dos casamentos, teve D. Pedro de Menezes, entre outros, a D. Duarte de Menezes, que foi o 3.° Conde de Viana, 2.° e 4.° Governador Capitão General de Ceuta e i.** Governador Geral de Alcácer Ceguer.

Volta D. Pedro de Menezes a Ceuta em 1434, tendo a satisfa- fação de vêr que seu filho, D. Duarte, tinha continuado a sua obra sem a menor alteração.

Grandes foram os festejos que Ceuta fez á chegada de D. Pe- dro, não porque a sua ausência trouxesse prejuízos, mas, pela grande admiração e estima que todos lhe tinham.

Neste seu segundo Governo, foram poucas as lutas em que en- trou, acabando por dirigir todos os combates, o seu filho D. Duarte, que tanto orgulho lhe dava.

Nos princípios de 1437, o Rei D. Duarte, bem contra sua von- tade, preparava a expedição a Tanger, que D. Pedro de Menezes reprovou por completo, apezar de se oferecer para ir no desem-

I

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penho do seu cargo, conduzindo a bandeira Real ; mas o Rei, atendendo á sua idade não consentiu.

No dia d*agosto de 1437, chegaram a Ceuta, os Infantes D. Henrique e D. Fernando, para dirigirem a expedição de triste recordação a Tanger.

D. Pedro de iMcnezes, estava bastante mal, tanto se impres- sionou com a partida desta expedição, por prever o que sucede- ria, que D. Duarte de Menezes, substituindo-o no cargo de Alfe- res Mór, teve de voltar para traz, assistindo-lhe aos últimos mo- mentos, dando-se o falecimento em 22 de setembro de 1437, con- tando 70 anos de idade.

Deixou os bens de que podia dispor, a sua filha D. Leonor, porque o mais pertencia a sua filha maior, D. Beatriz, casada com D. Fernando de Noronha, filho do Conde de Gijon. Encarregou D. Leonor, da disposição da sua alma, o que ela cumpriu, e de- pois de sumptuosas exéquias, trasladou lhe os ossos para Portu- gal, sepultando-os no Convento de Santo Agostinho de Santarém, sendo a trasladação feita no reinado de D. Afonso v e regência de D. Pedro, com grandes demonstrações de pezar.

Esse monumento tumular que encerra os restos de D. Pedro de Menezes, foi, segundo a sua disposição testamentária colocado debaixo do coro da Igreja, sendo depois este coro mudado para onde está hoje, continuando o tumulo no primitivo logar, até 21 de maio de 1726, em que foi mudado para debaixo do novo coro, sendo construída no sitio do primitivo coro, a capela de Santa Rita.

Foi na ocasião desta mudança, aberto o tumulo, sendo encon- trado o corpo de D. Beatriz Coutinho, terceira mulher de D. Pe- dro de Menezes, perfeitamente intacto e as vestes em bom estado. Esteve esta senhora exposta mais de oito dias, numa das capelas da igreja.

Sobre o tumulo de D. Pedro de Menezes, ha referencias em vários trabalhos, transcrevendo a inscrição que nele se encontra; simplesmente três auctores que são: José Soares da Silva, a pa- ginas 89S das Memorias para a historia de Portugal, que com- preendem o Governo Del- Rei D. João o I, 1731, que além de conter vários erros, lhe omite as ultimas doze palavras da quarta e toda a quinta linha. A inscrição compreende cinco linhas.

O segundo auctor é o Padre Ignacio da Piedade e Vasconce- los, na sua Historia de Santarém Edijicada^ que noticia da

sua fundação, e das cousas mais notáveis nela sucedidas, 1740, 4

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que á mistura de vários erros, omitiu-lhe as ultimas treze palavras da primeira e as primeiras seis da segunda linha.

O terceiro auctor, que por sinal é anónimo, apresenta a trans- crição nos Retratos e Bustos dos rarões e Donas que illustram a nação portugui"{'a em virtudes, letras, armas e artes^ por uma So- ciedade Philopatrica, 1806.

Este, copiou textualmente o que apresenta o acima referido Padre Inácio da Piedade e Vasconcelos.

Este terceiro auctor juntou ao seu trabalho o retrato de D. Pe- dro de Menezes que junto a este resumido estudo.

Havia, portanto, duas transcrições da inscrição que não eram iguais entre si, pelo que resolvi ir a Santarém tentar decifrar essa deteriorada inscrição, que apanha uma facha junto á boca do tu- mulo em todo o comprimento duma das paredes laterais.

Foi exactamente na altura da inscrição que quando da invasãa francesa nos principios do século xix, foram metidas alavancas para levantar a tampa, o que resultou deteriorar bastante a refe- rida inscrição.

Ao fim dumas horas de aturada análise, consegui decifrar a parte que está inteira, dando graças aos auctores citados, por, mesmo com erros e omissões, terem publicado o que conseguiram ler, pois que tanto o Padre Piedade e Vasconcelos, como Soares da Silva, leram a parte que está hoje inutilizada.

Da leitura completa dessa inscrição, vejo que ali foram sepul- tados os corpos de D. Pedro de Menezes e por sua determinação o de sua terceira mulher D. Beatriz Coutinho.

Pelo seu testamento, ficou incumbida de tratar do seu tumulo a sua filha segunda D. Leonor de Menezes tãql mandou o dito- seu padre lançar a Cõdessa dona M.'^^ : sua madre: e assy jazem todos: nosso S^"": ds Ihs queira perdoar, amen»; assim termina a inscrição.

Portanto, dentro do tumulo, além de D. Pedro e de sua ter- ceira mulher, também foi colocada a ossada ou o corpo de sua primeira mulher D. Margarida de Miranda, do que nunca encon- trei referencia.

Por entre os ornatos deste suntuoso tumulo encontra-se a con- firmação deste facto, pois que na face lateral, onde esta a inscri- ção, encontra-se o escudo dos Menezes partido em três palas e cortado em faxa, na primeira, terceira e quinta, dois lobos pas- santes ; na segunda, quarta e sexta, quatro bastões \ sobreposto um escudete.

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Este brazão é repetido por vezes no mesmo tumulo.

Na face lateral oposta encontram-se dois brazões, o primeiro do lado da cabeceira, que é partido dos mesmos Menezes e dos Mirandas— uma aspa entre quatro flores de liz.

O segundo é partido ainda dos Menezes e dos Coutinhos cinco estrelas de cinco raios em sautor.

Portanto o primeiro destes dois brazões era o da primeira mulher D Margarida de Miranda, filha do arcebispo de Braga, D. Martinho Aífonso de Miranda.

O segundo brazão é da terceira mulher D. Beatriz Coutinho, filha de Fernão Martins Coutinho, senhor de Mafra e da Ericeira.

Vejamos a interessante inscrição :

[Aqui ja\ o muilo honrado^ muy nob'' e mui fidalgo s°^• dom de meneses conde q foi de viana o p' capitã e governador q foy na ç idade de ceuta alferes mór do muito alto mu ilo pode- roso e excellcte s*"" eduarte pella g^ça de ds rey de portugal e do algar^^ : e s°^ da dita cidade filho q foy de dom Johã a°: tello/ [de meneses] co?ide q foy de viana s°'': de penella mi r anda alvito e villa nova : e neto q foy de JÕ: a°: tello de meneses: conde q foy dourem e da condessa dona guiomar de ferreira sua mu- lher ^'^neta q for dei Rey Sacho de castella q este moesteiro edificarõ: o q l conde : a dita cidade de cep'": húa so v ê africa p xpaaõs pussuyda muija desc''com: XXII ãns governou/ e contr os mouros cfiiees muy esforçadam" defendeo: e os conqlou p t?iar e p terra e fe^ afastar e p força leixar grande parte dos terrenos delia aonde por sua defensom: e ja dita conq'sta fe^ muitas peleias em ellas semp'' vccedor e nuca vêçido: de q adita cidade ouue sempr em seu têpo gloria de vêcim'° os/ moueos temo'' e os ditos regnos g''nde louvor, finou se ê a dita cidade XXII de setêb° seu ppio ctender boo e católico xpaão: ata a morte mur [esforçado cavalleiro a seu rey natu^ral muy verdadeiro fiele leal: ãno de nosso senor mil e iiifxxxbii: mandou consigo lançar a códessa dona b,ati^ continha sua molher: sua sepultura/ mandou fa^r: a muito honrada muy nobre e muy honesta sêhora dona lia- nor de meneses sua filha: e mulher q foy do muito honrado e nobr s*"" d om fernando filho do marque^ de villa viçosa/ ãql mandou o dito seu padre lançar a códessa dona m^^; sua madre: e assy ja\em todos: nosso s°'': d^ Ihs queira perdoar amen.

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O grandioso tumulo de D. Pedro de Menezes tem toda a sua ornamentação obrigada a hastes de carrasco, que nas suas capri- chosas voltas circundam por toda a parte o grito aAleo», que se repete dezenas de vezes e que, sendo nos tempos antigos, um grito de liberdade contra a opressão do feudalismo, era também o nome dado a um pau que-servia para o jogo da choca, que em França se chamava «chasse», e que consistia em libertar um certo e determinado espaço de terreno de uma bola, que um partido jogador contrario queria a todo o transe manter no mesmo espaço de terreno.

Foi com um pau de zambujeiro, um aleo, que D. Pedro de Menezes se comprometeu a manter a Barberia em respeito nos assaltos a Ceuta.

Na tampa do tumulo estão as estatuas de D. Pedro de Me- nezes e de D. Beatriz Coutinho exactamente nas mesmas posições que no respectivo tumulo estão D. João I e D. Filipa de Lencastre, parecendo que são obra do mesmo artista, com a diferença, po- rém, que o tumulo de D. Pedro de Menezes é mais rico em or- natos.

Ao lado deste tumulo está uma sepultura raza, tendo gravada a figura de D. Leonor de Menezes, que cumpriu a vontade de seu pai, mandando construir o tumulo referido, exorbitando, porém, em colocar ali o corpo de sua mãe D. Margarida, o que é muito desculpável.

A sepultura de D. Leonor de Menezes tem a seguinte inscrição :

Aqui j ai a muito liõrada e nob^e snr dona Honor de meneses molhr q foi do Jiiuy hõi^ado e nob'' s°'' fniãdo p^mogenito do w'° hõrado pr'ado e nob'' s°'' /""nado neto delrcy rwques depila viçosa e cÕde daraiolos filha do m'° hõrado e nob. s°^ Po de Meneses cÕde de viana alferes m°r delrey eduarte ca- pitã e governador q foy tia cidade de cepfa e almirãte destes reg°^ mores ê bij d de maj-o do ano nosso senõr de mil iiif^lii.

Naturalmente esta sepultura foi mandada para onde hoje se encontra, quando em 21 de maio de 1725 também o foi o tumulo de D. Pedro de Menezes, 2." conde de Vianna e i."^ e 3." gover- nador capitão general de Ceuta.

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D. Duarte de Menezes nasceu em Lisboa em 1414, sendo filho natural de D. Pedro de Menezes, 2." conde de Vianna e 1." e 3." governador capitão general de Ceuta, a quem acima me referi, e de Izabel Domingues Pecegucira, que tinha sido criada de D. Margarida de Miranda, primeira mulher de D. Pedro de Menezes.

D. Duarte de Menezes foi legitimado por carta de D. João I, datada de Santarém no dia i5 de março de 1424. a qual está re- gistada a folhas 74 do livro 4." da chancelaria do mesmo rei.

Foi D. Duarte de Menezes o 3." conde de Vianna, desempe- nhando pela primeira vez o cargo de governador capitão treneral de Ceuta de 14^0 a 1434 e pela segunda vez de 1436 a 1438 e de- pois foi o primeiro governador capitão general de Alcácer Ceguer.

Tinha apenas nove meses qnando em 141 5 o pai foi na expe- dição a Ceuta, deixandoo entregue a João Alvares Pereira, que o criou até aos o anos, época em que foi para Ceuta para a com- panhia de seu pai, que desejava que ele seguisse a vida religiosa.

Aos dez anos foi legitimado, dando-lhe o pai casa e estado, e aos treze, em 5 de janeiro de 1427, acompanhou os combatentes de Ceuta nuraa luta com os mouros, libertando Martim AlTonso de Miranda, que tinha caido prisioneiro do inimigo, pelo que foi armado cavaleiro pelo pai no próprio campo da batalha à vista do inimigo.

Tendo apenas i5 anos de idade, em (43o, entregou-lhe o pai o governo da praça, seguindo para Portugal, tendo previamente nomeado seu genro, e portanto cunhado de D. Duarte, Ruy Go- mes da Silva, para com ocargo de conselheiro acompanhar sempre o joven governador.

Sabendo os mouros da saida de Ceuta do temivel D. Pedro de Menezes, redobraram a fúria das correrias por julgarem D. Duarte inexperiente, no que se enganaram, pois que a bravura do filho era idêntica à do pai.

Em repetidas lutas chega o ano de i435 em que D. Pedro de Menezes volta a Ceuta, entregando pouco depois ao filho a defesa da praça.

Pela forma acima descrita, por morte de D. Pedro de Menezes, D. Duarte toma novamente conta do governo da praça desde o dia da morte de seu pai, 22 de setembro de 1437.

Sucedido o desastre de Tanger, o infante D. Henrique foi para Ceuta com a ideia de não sair de emquanto não fosse resgatado o Infante D. Fernando, mas este infeliz Infante nunca foi resgatado e" D. Henrique veiu para Portugal.

Tumulo de D. Duarte de Menezes

Governador Capitão General de Ceuta e i." de Alcácer Ceguer, 3 '' Conde de Vianna (Tirado iJe «A Arte e a Natureza em Portugal» Edição Emílio Biei & C.*)

Em 1438 tomou conta do governo de Ceuta, D. Fernando de Noronha, cunhado de D. Duarte de Menezes, tendo sido nomeado para este cargo por carta do Kei D. Duarte, de 18 de outubro de .1437 com todos os poderes que tinha seu sogro o conde D. Pedro de Menezes.

Em meados de 1438 veiu D. Duarte de Menezes com sua irmã D. Leonor para Portugal, seguindo para Aviz, onde estava a corte e o rei cheio de tristeza pelo sucesso de Tanger e retirado da peste que invadia Portugal.

D. Duarte de Menezes entregou sua irmã ao rei, que a acolheu na corte até 1447, ano em que casou com D. Fernando, 3 ° Duque de Bragança.

Foi D. Duarte de Menezes nomeado conselheiro, Alferes-mór de Portugal e proprietário da Tenencia do Castello de Beja com bas- tantes rendas.

Desempenhou pela primeira vez o cargo de Alferes mór na aclamação de D. Affonso V, por na antevéspera, 9 de setembro^ de 1438, ter morrido o rei D. Duarte.

Foi D. Duarte de Menezes nomeado pelo regente D. Pedro, para com dois mil cavalos entrar em Casiella por Badajoz, indo juntar-se ao Mestre de Alcântara para socorrer o Condestavel D. Álvaro de Luna.

Por fez grandes serviços e para voltou depois, acompa- nhando D. Pedro, filho maior do regente D. Pedro, com o lugar de seu conselheiro e aio, pois que aquele principe tinha apenas 1 5 anos.

Conservou-se ao serviço de D. João II de Castella como seu conselheiro até 1449, assistindo ás guerras de Granada. Quando das lutas entre o regente D. Pedro e seu sobrinho o rei D. AíTonso V^ tomou conta do castelo de Pombal pelo rei, susteniando-o até ao desastre de Alfarrobeira.

Esteve D. Duarte de Menezes na corte de 1450 a 1458 em qne acompanhou D. Affonso V a Africa, assistindo á tomada de Alcácer Geguer, onde foi o primeiro governador capitão general e onde se imortalizou pela sua valentia, sustentando cercos ter- ríveis.

Chamado pelo rei, veiu a Portugal em abril de 1460, ficando^ com o governo de Alcácer seu sobrinho Álvaro Tello de Menezes. Checado a Portugal deu-lhe D. Affonso V os títulos de conde de •Vianna e de Caminha.

Voltou a Alcácer em abril de 1461, continuando a praticar memoráveis actos de bravura.

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Volta D. Aflonso V á Africa, sendo acompanhado, nos encon- tros com os mouros, pelo seu alferes mór D. Duarte de Menezes, que no meio de uma tremenda peleja, vendo o seu rei prestes a ser prisioneiro do inimigo, avança numa fúria doida, matando para a esquerda e para a direita, estabelecendo a confusão para dar tempo a que todos se salvem, atirando se para o meio da turba, que acaba por o desfazer em centenares de migalhas para que cada um ficasse possuidor de uma recordação desse terrivel ini- migo, que passou a maior parte da vida em constantes batalhas, vencendo sempre.

Casou D. Duarte de Menezes, por desejo do rei D. Duarte, com D. Izabel de Mello, filha de Martim Affonso de Mello, se- nhor de Barbacena, guarda mór de D. João I, e alcaide mór de Évora.

Casou segunda vez com D. Izabel de Castro, irmã do i." conde de Monsanto, D. Álvaro de Castro, e filhos de Fernando de Castro, governador da casa do infante D. Henrique.

Deste casamento descendem os condes de Tarouca.

D. Izabel de Castro tinha em seu poder um fragm.ento de um dente de seu marido, quebrado em qualquer das inúmeras pelejas em que entrou e em que lutou corpo a corpo com os inimigos.

Foi a única recordação que ficou de tamanho heroe.

D. Izabel de Castro e seus filhos mandaram construir um suntuoso tumulo para encerrar o fragmento do dente, único resto de D. Duarte de Menezes.

Na igreja do convento de S. Francisco em Santarém, na ca- pela das Almas, estava o mausoléu de D. Duarte de Menezes.

Em 1834, quando da extinção das ordens religiosas em Por- tugal, foi a igreja deste convento transformada num palheiro, depois foi deposito de cantarias e depois casa de ensaio da cha- ranga de um regimento e depois qualquer outra coisa parecida.

Os extraordinários habitantes do convento e da igreja divertiam- se nas horas vagas a destruir os preciosos mausoléus e campas que existiam por toda a parte e que os poderes públicos largaram ás feras.

Como muita gente bramasse contra tamanha selvageria, transportaram o enorme mausoléu para o museu, que está insta- lado na interessante igreja de S. João de Alporão.

Para ser mudado foi aberto e dentro, numa pequena cavi- dade, foi encontrado o fragmento do dente e os fragmentos do cofre que o encerravam.

Não foi este punhado de fragmentos colocado no seu lugar, foi confiado á guarda do governador civil e hoje estão dentro de uma vitrine no mesmo museu.

Tampa do cofre mais pequeno

(Tamanho natural <

Frente do cofre mais pequeno

(Tamanho natural)

Fui ver esses restos e depois de umas horas de paciência consegui compreender a forma não de um cofre só, mas de dois.

Desenhando as poucas peças que ainda se conservam inteiras e os restos de muitas outras, reconstrui os dois cofres de que apresento os desenhos das tampas e das frentes.

As arestas e os fechos são todos metálicos ^ da tampa domais pequeno encontrei um fragmento de couro dourado, tendo gravado a palavra lAmo», e os ornatos que se vêem no desenho.

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Do cofre maior são também de metal os ornatos e os fechos? tendo um bocado de madeira agarrada á fechadura.

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Tampa do cofre maior

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Frente do cofre maior

I Tamanho natural)

O fragmento do dente está também.

Depreende-se, portanto, que este resto estava no cofre pequeno que não era fechado e este dentro de outro, que tinha uma fe- chadura.

6i

No suntuoso tumulo de Ei. Duarte de Menezes está uma ins- crição, relativamente moderna, nos seguintes termos :

Memoria de D. Duarte de Mene:{es^ terceiro conde de Viana, tronco dos condes de ta/rouca, primeiro capitão de Alcácer Seguer, em Africa. E com quinhentos soldados defen/deo esta praça contra cem mil mouros com os quaes teve muitos encontros ficando del/les sempre vencedor. Morreu çom grande honra e gloria na serra de Benacofu por sal/var a vida do sen rey D. Afjonso V. Hist. Se- raph. da Prov. de Portug. tomo I, Liv. ^, cap. 3o n.° i.

Na publicação feita em 1806, e a que me referi, «Retratos e Bustos dos Varões e Donas que ilustram a nação portuguesa em virtudes, letras, armas e artes», vem o retrato de D. Duarte de Menezes, que aqui junto.

Tanto este retrato como o de D. Pedro de Menezes são natural- mente tentativas de copias das suas respectivas estatuas existentes nos túmulos, mas deixam muito a desejar.

Aqui fica alguma coisa do que foram esses grandes homens, que •em vida se chamaram D. Pedro de Menezes e D. Duarte de Menezes e que foram os primeiros governadores capitães generais de Ceuta,

Cintra, agosto, 191 5.

Affonso de Dornellas

Da Comissão Académica dos Centenários de Ceuta e Albuquerque

Ainda a Escola de Sagi:íes

I. Ha na Historia nomes e factos que parecem ter o triste condão de provocar discussões e por vezes discórdias, sempre que alguém se lembre de os citar; encontra-se nesses nomes ou nesses factos algo de irritante, que se comunica aos que de tais casos se ocupam; e uns que atacam, outros que defendem, ou a pessoa ou o acontecimento, embrenham-se quase sempre em acesas pole- micas, que apenas teem como resultado azedar os ânimos e dei- xar a questão ainda mais embaraçada.

Bem sei eu que hisíona desapaixonada ninguém pode fazê-la, porque ninguém é isento^de paixão, no bom e no mau sentido da palavra; o próprio desejo de apurar a verdade que deve ser a paixão do historiador porque é um sentimento apaixonado, pode levá-lo a supor que lhe arrancou o veu diáfano, e, comtudo, tal não conseguiu. Os historiadores, os criticos, são homens como quaisquer outros; apaixonam-se a favor ou contra os homens e os acontecimentos que estudam; e por efeito dessa paixão, não raro se transforma o veu em espesso manto.

Exemplo disto é o Infante D. Henrique. O que se tem escrito em favor desse homem! O que se tem escrito contrai Parece que ele está ainda vivo, além, em Sagres ou sobre Tanger, e que é indispensável ou excitá-lo, para que prosiga na sua carreira de bem fa\er, ou lapidá-lo, para que não mais possa praticar male- fícios.

E a Escola de Sagres^ expressão desastrada que tanto tem dado que falar? Parece que, para uns, negar a existência da ima- ginada escola, demonstrar, com torrente caudalosa de argumen- tos, que ela não é mais que uma lenda, é obra de maior beneme- rência, pois assim se consegue demolir parte importante da imerecida fama do Infante; ao passo que outros, por sua vez, pensam que é indispensável manter, a todo o transe, como verdade histórica, a existência da escola, para que não se espedace um florão sequer da apoteose do Navegador.

Ainda ha pouco, numa risonha cidade do Minho, beijada pela vivificante aragem que vem do mar, saíram a campo dois jovens (suponho que o sejam, pelo ardor dos golpes), ambos a demons- trar que a Escola de Sagres não existiu, competindo os dois a qual o demonstraria com mais exactidão. E' a fatalidade de certos nomes e de certos acontecimentos.

Pois bem. Intimado para concorrer, em praso curtíssimo, para a celebração do Centenário de Ceuta, venho ainda uma vez (não é esta a primeira) falar da Escola de Sagres. Existiu? Não existiu?

Oxalá estas simples linhas sejam balde d'agua na fogueira, e não lenha que mais a incendeie.

2. E' bem sabido que no corpo social, como no organismo do individuo, a função cria o órgão ou desenvolve-o. Onde a função não existe ou é desnecessária, o órgão, se porventura teve exis- tência rudimentar, atrofia-se e por ultimo desaparece. Se, porém, a vida do individuo ou da colectividade exige o exercício da fun- ção, o órgão aparece, desenvolve-se e realiza esse exercício.

No nosso caso trata-se do uso do mayrt; trata-se de saber como foi que a gente portuguesa usou do mar, antes e depois do Infante D. Henrique; trata-se de averiguar o que foi a função navega- dora dos Portugueses até ao século xiv, e o que passou a ser de- pois do meado do século xv ; se houve diferença, para melhor, ou se se manteve estacionaria essa função; finalmente, no caso de ter havido melhoria, se o Infante D. Henrique, que viveu al- gum tempo em Sagi'es (dando a esta palavra a acepção mais lata), para tal concorreu de algum modo.

Também sabemos todos que as circunstancias especiais da vida dum povo resultam das particularidades do meio físico em que esse povo habita, condições de clima, de situação geográfica, de alimentação e outras. Será, pois, necessário averiguar se houve algumas condições, dessa categoria, que especialmente influíssem

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no uso que os Portugueses fizeram do mar, antes e depois do In- fante D. Henrique.

K' o que vou procurar dizer em breves palavras.

3. Por mais que, de tempos em tempos, e até bem recente- mente, se tenha afirmado e se tenha pretendido demonstrar que as condições geográficas das diversas regiões da Peninsula Ibérica são aproximadamente uniformes, a verdade c que existem diferen- <;as sensíveis entre a porção da Peninsula que constitue o nosso Portugal, e o resto. Duma dessas diferenças me ocuparei, a que se refere ao nosso planalto continental, isto é, á facha de terra, molhada pelo mar, adjacente á linha das costas, e que vai até á linha batimetrica das loo braças, facha na qual vivem quase exclusivamente as espécies ictiologicas comestiveis.

Ora sucede que o planalto continental na costa ocidental da Peninsula é o mais estreito de todos os das outras costas da Ku- ropa. Combinada esta circunstancia com a de ser a mesma costa banhada pelo ramo descendente do Gulf-Stream, e, porventura, com outras ainda pouco estudadas, certo é que do conjunto re- sulta uma consequência de primeira importância: ser o planalto continental português muito propicio á criação das espécies se- dentárias e á vida das emigrantes, ou, por palavras mais singe- las, serem as nossas costas abundantíssimas em peixe *. E não eram as costas; também, mercê das condições geográficas, os nossos rios forneciam grande abundância de peixes, tanto dos propriamente de agua doce, como dos que, em determinadas épo- cas do ano, subiam indo do mar em busca das aguas remansosas que as suas funções biológicas exigiam.

Destas condições de meio resultou uma notável consequência: os habitantes desta parte da Peninsula entregaram-se desde as mais remotas épocas ás pescas marítimas e fluviais e o peixe foi para eles alimento essencial.

Sem remontar aos séculos anteriores á fundação do Estado Português, e lembrando apenas os vestigios de estabelecimentos de pesca, do tempo dos Romanos, encontrados no Algarve, e as alusões que a essa industria se lêem nos escritores latinos, recor- darei o que dos documentos propriamente da nossa historia, na primeira dinastia, se pode concluir a tal respeito. São numerosis-

^ Refiro-me á situação normal, pondo de parte as consequências da expio.

ração exaustiva nos últimos anos.

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simas as passagens desses documentos referentes á industria da» pesca, tanto marítima como fluvial: imposições fiscais, reservas para os senhores, regras de protecção estabelecidas pelos muni- cípios, concessões, feitas pelos reis, das rendas provenientes de tais e tais pescarias, confrarias de pescadores em todas as povoa- ções da beira mar, frases, proloquios e canções populares da nossa lingua, algumas das quais através dos tempos se teem conser- vado, de tudo se encontra em abundância nesses documentos e ainda na tradição popular, e tudo concorre para demonstrar que, desde os primeiros tempos, a gente portuguesa herdou dos seus ante- cessores e desenvolveu a alimentação altamente ictiofaga e a procura^ no mar, do que lhe era necessário para prover a essa alimentação.

4. Não era, porém, somente para a alimentação própria que os Portugueses se entregavam á industria da pesca. A abundância da pescaria, no mar, e a do sal, produzido em terra, deram-lhes desde bem cedo um notável elemento de comercio externo o do peixe salgado que eles exportavam em quantidades muito apreciáveis. Diz Quintella, referindo-se ao tempo de D. Afonso iv: «. . .Uma esquadra de guarda-costas para protecção do comercio marítimo, que era então grande, principalmente tm pescarias tanta das províncias do norte de Portugal, como do Algarve, das quais se provia o reiyio todo e se exportavam grandes quantidades deste género para os países estrangeiros dentro e fora do Mediterrâ- neo 2.» E noutra passagem, referindo-se ao tempo de D. Fer- nando: «As suas pescarias eram imensas^ incluindo a da baleia e na costa do Algarve a do coral. . . Os portos de Viana, Aveiro e Vila do Conde e os do Algarve não estavam areados. . . e neles se construíam navios que levavam á Galliza, á Biscaia e aos por- tos do Mediterrâneo os produtos das marinhas de sal e pescarias ^.»

5. Indicarei especificadamente, por sua ordem cronológica^ quatro documentos ou factos que me parecem justificar por com- pleto os precedentes assertos.

* Ignacio da Costa Quintella, Annais da Marinha Portuguesa, i vol., pag. 21.

3 Quintella, op. cit., i vol., pag. 3o. Veja-se na Historia dum fogo mortos do sr. José Caldas, pag. 70, estas palavras de uma carta de D. AflFonso v aos de Vianna do Lima, em 17 de fevereiro de 1470 : «Quanto ao que dizees que a vivenda e governança desse logar he principalmente por pescaria que por ou- tra cousa. . .0.

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Fala-se muito, a propósito da secular aliança inglesa, do tra- tado de 1373 entre D. Fernando de Portugal e Eduardo iii de In- glaterra. Pois bem; vinte anos antes, um tal Afonso Mariim, por alcunha o Alho, mareante, português, obteve do mesmo Eduardo iii concessão para que os pescadores do Porto e de Lis- boa podessem ir pescar nas costas de Inglaterra. Fis a passagem essencial da convenção: «Item, que pessoners de la marisme et citées avantdites puissent venir et pescher fraunchement et sau- vement en les portz d'Engleterre et Bretaigne, et en touz les au- tres lieux et portz ou ils vorront, paiantz les droits et custumes a les seignurs du jDays» *. Dois anos antes tinha Eduardo iii feito igual concessão aos pescadores de Castela e da Biscaia ; é, pois, provável que os nossos fossem no encalço dos biscainhos, não tanto para trazerem a Portugal o produto da pesca realizada na- queles mares, como para o venderem aos próprios ingleses '.

O Leal Conselheiro! Sabe-se como este livro é o transunto de todo o alto saber português ao tempo em que o seu autor, o rei D. Duarte, o escreveu, livro tão cheio de indicações históricas pre- ciosíssimas, e das que maior confiança merecem, dada a especial e rara psicologia do seu autor. No capitulo iv, a propósito da tibia vontade^ D; Duarte classifica os cinco estados, como quem diz as classes, ou talvez melhor as forças vivas^ da nação, a saber: i.** os oradores (estado religioso); 2.° os defensores (estado militar); 3." «os lavradores e pescadores^ que assim coxx\opees, em que toda a cousa publica se mantém e soporta, sam chamados ; aos quaees perteece em esto sempre continuadamente se ocupar, seendomuyto relevados quanto se mais poder fazer dechado outro serviço, mao trilhamento, mas darlhes lugar, favor para tirarem por seu tra- balho aquelles fruitos da terra e do mar em que todos nos gover- namos» ^. Como muito bem escreve o editor e comentador Ro- quette : «Por estas expressões delrei D. Duarte se deve concluir que as bases de toda a riqueza e prosperidade nacional n'aqiiella edade eram a lavoura e a pesca, e por isso mereciam tanto a so- licitude daquelle sábio príncipe N'aquella idade, em que

Dumont, Corps Universel Diplomatique, Tomo i, Parte 2.*,pag. 256. Esta convenção foi transcrita na integra no Portugal e Inglaterra, por Jeronymo da Gamara Manoel, Lisboa, 1909, pag. 53 e segs.

5 Sobre este assunto veja-se Thomas Wemyss Fulton, Tke Sovereignty ofthe Sea, Londres, 1911, pag. 67.

•^ D. Duarte, Leal Conselheiro, pag. 3i e 32.

■J Ibidem, pag. 02, nota *.

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Ceuta fôra conquistada, note-sc bem. No 4 " estado pôs D. Duarte os oficiais (funcionários públicos) ; e finalmente no 5." estado os «que husam dalguas artes aprovadas e mesteres fos artifices, o operariado)» e enire estes os mareantes. Quer dizer: para D. Duarte os pés, os fundamentos da cousa publica, são a agricultura e a pesca; o comercio maritimo fica em logar subalterno.

Se o Leal Conselheiro é o compendio da filosofia portuguesa na primeira metade do século xv, as Taboas de S. Vicente^ os dois portentosos tripticos de Nuno Gonçalves, são a figuração, o atestado, a demonstração do que era a sociedade portuguesa no tempo de D. AíTonso v. estão os cinco estados de D. Duarte, mas por outra ordem. No estado militar tem preeminência os cavaleiros d' Africa ; nos mesteres ocupa bom lugar o comercio., representado pelos judeus; é o Portugal de D. Affonso vedo Infante D. Henrique; são processos novos, resultantes de novas orientações. Mas os pescadores não decaíram; teem o seu painel especial; estão eles, envolvidos na rede, tão singelos no trajo, tão acen- tuados nas feições, que nos parece, ao contemplal-os na pintura, ver os mesmos rostos, de olhar simples e de tez crestada do sol e do mar, dos que, hoje em dia, vêem cada ano a Lisboa receber o premio dos seus trabalhos de salvação. São os mesmos; é sempre a aplicação tradicional, persistente, dos Portugueses ás pescas ma- ritimas. ^

Passam-se mais alguns anos. D. João 11 reparte o mundo ma- rítimo e extra-europeu entre Portugal e Castella. Pois no mesmo dia e pelos mesmos negociadores que assinam o famoso Tratado de Tordesilhas (o i."), 7 de junho de 1494, outro Tratado de Tordesilhas (o 2.°) se negoceia e assina, no qual se reparte entre os dois países, o quê? as pescarias marítimas ao longo da costa africana, as quais, do Cabo Bojador para o sul, ficam pertencendo exclusivamente aos Portugueses, cessando desta maneira as con- tendas anteriores com os castelhanos: «no vayan a pescar navios algunos de los reynos de Castilla ni a fazer otras cosas algunas dei dicho cabo Bojador para abaxo fasta el dito rio dei Oro dende abaxo>, diz o tratado. ^

8 Sr. José de Figueiredo, O pintor Nuno Gonçalves, pag. 54 e noutras passagens.

^ Vem transcrito na integra em Alguns Documentos do Arquivo Nacional ácêrca djs navegações e conquistas dos Portugueses, pag. 80 e segs.

6. Fica, pois, explicado como c que o principal uso do mar pelos Portugueses foi desde o começo a pesca, e como esse uso continuou intenso, ilão obstante a nova orientação, consequência da tomada de Ceuta.

Nem se diga que dar a pesca como elemento importante, e nos primeiros tempos principal, da acção maritima dos Portugueses rebaixa ou deslustra essa acção c diminue por qualquer maneira o direito a serem eles classificados entre os povos marit imos. Não; iguais primórdios foram, em relação ao uso do mar, os de dois grandes povos maritimos, os holandeses e os ingleses. Pelas pes- carias se desenvolveu a Holanda, tornando-se rica e poderosa, a despeito da mesquinhes do território, antes que tivesse navios de guerra e disputasse o poder marítimo. Quanto á Inglaterra, pais de agricultores e criadores de gado, foi a defesa das suas pescarias, invadidas durante séculos pelos holandeses, que a levou a criar uma marinha de guerra, cuja primeira aplicação foi justamente a repulsa daquela invasão.

A este respeito é muito elucidativa a recente obra do prof. Fulton, cilada, que nos apresenta pontos de vista inteiramente novos, ou pelo menos pouco sabidos, sobre os inicios do poder maritimo britânico.

% .

7. Desenvolvi, talvez demasiadamente, o que pretendia dizer

sobre esse elemento principal da acção maritima dos Portugueses antes do Infante D. Henrique ; é que me pareceu conveniente recor- dar factos que não se lêem no comum dos livros. Não sucede o mesmo quanto aos outros elementos daquela acção, e por isso a respeito deles serei mais breve.

8. A acção militar é apenas uma aplicação da politica externa^ que pode exercer-se por terra ou por mar. Este segundo modo da acção militar exerceu-o Portugal, principalmente a contar do tempo de D. Diniz. Foi este o rei da primeira dinastia que deu organi- zação, e perfeitissima, á sua marinha de galés., convidando para isso o genovez Manuel Pezzagno. São coisas sabidas e que nâo teem sofrido contestação. Mas convém relembrar que a galé era um navio essencialmente de remos, ainda que tivesse também arvoredo e velame; era, sem duvida, o navio de guerra da época, embora também podesse servir para transporte de mercadorias. Assim, pois, temos que a actividade maritima dos portugueses, antes do Infante D. Henrique, também se exerceu na guerra naval.

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E agora, para não esquecer qualquer coisa que sirva para definir essa actividade, lembremos que frequentemente os Portu- gueses se empregavam no corso^ dando a esta palavra uma ace- pção mais lata do que a que ela teve posteriormente; andar ás presas, armar em cossayro contra o mouro aborrecido era sempre cmpreza benemérita e lucrativa, embora perigosa.

9. Temos, pois, que durante a primeira dinastia, e conside- rando principalmente os tempos a partir de D. Diniz, a função marítima era exercida pelos Portugueses nas seguintes aplicações, pela sua ordem de importância: pescarias, comercio, guerra e corso.

Segue-se apurar como era o itistrumenío^ o órgão, para exercer essa função, isto é, o navio^ e como se empregava esse orgao. como se navegava.

10. A respeito do navio na primeira dinastia alguma coisa se tem escrito; entretanto muitas lacunas subsistem; as investiga- ções dos nossos críticos e estudiosos de arqueologia naval teem-se dedicado principalmente, como para o resto, á grande época, a dos descobrimentos, tanto mais que desta época é que os do- cumentos mais abundam. Recordarei os trabalhos dos srs. João Braz de Oliveira ^^, Lopes de Mendonça **, Baldaque da Silva *2 e alguns mais '^.

Comparando essas fontes com as estrangeiras, tais como Fer- jiandez Duro **, Cecil Torr *^ e outros, ^^ e juntando-lhe alguma inferência própria, aventuro-me a resumir por esta maneira.

^^ Algumas palavras acerca da marinha portuguesa, Lisboa, i885. In- fluencia do Infante D. Henrique no progresso da marinha portuguesa. Navios e armamentos, Lisboa, 1891. E outras publicações.

11 Estudos sobre navios portugueses dos séculos xv e xyi, Lisboa, 1892, O Padre Francisco d' Oliveira e a sua obra náutica, Lisboa, 1898.

1' Noticias sobre a nau S. Gabriel, Lisboa, 1892.

^^ Sr. José Torres, O navio de vela atravej da historia, Lisboa, 1902. O sr. Quinino da Fonseca iniciou agora, nos Anais do Club Militar Naval, um estudo intitulado Alemorias de arqueologia naval portuguesa, que promete ser muito interessante.

^* D. César Fernandez Duro, La Marina de Castilla, Madrid, 1894.

*^ Cecil Torr, Ancient Ships, Londres, 1894.

16 Vice-amiral Paris, Souvenirs de Marine, Paris, 1882 e segs. Keble Chaiterton, Sailing Ships, Londres, 1909.

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Em relação a embarcações de pesca parece-me que elas podem ^ubordinar-se a três ou quatro tipos. No Norte, desde a Galiza até ao Porto, predominava a lancha^ de que ainda se conserva o nome e o tipo atenuado na lancha póveira^ mas que me parece melhor representado pela lancha valboeira^ que suponho hoje quase des- aparecida. Seria a lancha uma embarcação herdada ou imitada dos normandos ? E' possível, sabendose as frequentes invasões destes marinheiros nas rias da Galiza. *^

Na ria de Aveiro aparece o outro tipo, esse bem caracterisado e, creio eu, perfeitamente especialisado, o saveiro^ de proa e popa iguais, arqueadas em meia lua, tipo que não hesito em fazer derivar das embarcações fenícias ; basta olhar para os desenhos publicados por Cecil Torr.

Mais para o Sul poderia talvez existir naqueles tempos, nos diversos portos de pesca do Tejo, a muleta^ hoje desaparecida, e que seria por ventura de origem árabe ou mourisca. F^inalmente, está origem está para mim assegurada para as /'íircas do Algarve, de que ainda restam vestígios nas rascas, que também quase des- apareceram, e nos cahiques daquela província ; são embarcações mouriscas que, depois, aperfeiçoadas para o corso, deram os cha- recos de Argel e de Tunis. *^

Navio de guerra propriamente dito, o sabemos, era a g^a/e, embarcação aliás imprópria para largas navegações, mas que re- cebêramos das marinhas do Mediterrâneo. Bem entendido, a galé dos séculos xiii e xiv não é ainda a embarcação garrida e artis-

^^ Fernandez Duro cita este cantar galego, que considera tradicional :

«Mina lancha nova De sessenta remos, Si ficas embora Quando nos veremos

E eu recordo-me de quantas vezes, ha cincoenta anos, observei as lanchas •de Valbom, seguindo para o mar, puxadas por vinte e mais remos, que os pescadores manobravam de e com o rosto para vante, acompanhando a voga com triste melopeia.

1* Não obsta a esta opinião a de Lacaci y Diaz, que o sr. Fernandez Duro parece perfilhar (op. cit., pag. i6), e pela qual os mouros andaluzes, tendo apresado alguns navios normandos, fabricaram outros por esse modelo, para se defenderem de subsequentes ataques. Sendo isto assim, teríamos que a lancha do Norte e a barca do Sul seriam ambas de origem normanda, fi- cando para o saveiro a origem fenicia.

tica, pela obra de talha do painel da popa e pelo variegado dos- estandartes e flâmulas, dos venezianos dos séculos xv e xvi ; é mais rude, de que resta um desenho precioso no manuscrito de uma das crónicas de Fernão Lopes ".

Finalmenre, a embarcação mercante para as largas viagens de França e de Flandres é a uave^ a «a«, o navio de pano redondo, pesadão, ronceiro, deselegante, de que existem numerosas repre- sentações em manuscritos e monumentos. Também escusados será recordar que a uape se aplicava na guerra desde bem cedo entre nós, como aliás nos restantes países banhados pelo Atlân- tico.

Sem duvida, nas crónicas e nos documentos aparecem varia- das denominações de embarcações, ou maritimas ou fluviais ; pois se ainda hoje, principalmente em relação a esta segunda catego- ria, temos dezenas de tipos e de nomes!

Parece me, porém, que tudo se pôde reduzir a quatro tipos: para a guerra a galé^ para o comercio e navegação longinqua a «a^e, para a pesca a pequena distancias dos portos a lancha^ para a pequena cabotagem e pescas mais afastadas, principalmente no Algarve, a barca.

Da barca saiu a caravela.^ empregada por D. Henrique de certa época em diante ? E' o que exigiria, para se averiguar, mais tempo do que neste momento me é concedido.

1 1. Finalmente falemos da arte de navegar, da marinharia no sentido restrito, antes do Infante D. Henrique. Este é o ponto ca- pital para o exame comparativo que pretendo fazer.

A marinharia portuguesa tem sido assunto predilecto de in- vestigações históricas entre nós, principalmente ha uns cincoenta a esta parte. A obra monumental do Visconde de Santarém, a impressão dos Roteiros inéditos, a começar pelos três de D. João de Castro e a Viagem de Vasco da Gama., e a terminar nos do Livro de Marinharia., editado pelo sr. Brito Rebello, os traba- lhos de Alexandre de Castilho, de Luciano Cordeiro, de Sousa Viterbo, de Gabriel Pereira e de outros, as reproduções primoro- sas que está dirigindo o sr. Joaquim Bensaude, precedidas do seu notável trabalho U Astronomie nautique au Portugal à Vépoqua des grandes découvertes, os estudos sobre o grande matemático português Pedro Nunes, que está preparando o Sr. Rodolfo Gui-

19 Reproduzido na obra de Fernandez Duro, pag. 440.

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marães, o preciosíssimo trabalho do Sr. Luciano Pereira da Silva, publicado em formoso volume ha poucas semanas, sobre a As- tronomia dos Lusíadas, tudo isto e muito mais, que por brevidade omito, constitue um conjunto de documentos próprios para se en- tender o que foi a marinharia portuguesa depois do Infante D. Henrique.

Mas apurar como se navegava antes do tempo do Infante, é cv que não tem sido possivel fazer-sc com a necessária exactidão, certamente por falta de documentação impressa ou por falta de publicação do que porventura exista nos arquivos a tal respeito, ou ainda, e não será esta uma razão secundaria, por que os his- toriadores, deslumbrados com o brilho dos descobrimentos, pouco se teem aplicado ao que anteriormente se fazia.

Nesta mingoa de informação procuremos alguma coisa que nos dê, ao menos, uma ideia geral de como se navegava no século xiv.

12. Navarrete, oficial da marinha espanhola e investigador his- tórico de todo o credito, escreveu o seguinte na sua Historia de la A\2utica: o A' vista de tantos e tan autorisados testimonios, no pudemos dudar que la aguja náutica era conocida en Kuropa desde el siglo xii por lo menos : y que á principios dei xiv reci- bio dei amalfitano Gioya las mejoras que hicieron su uso mas sencillo y general entre los navegantes \ pêro estos, ó bien fucse por la fiierja de la costumbre ó por su poça confian\a en una guia nueva, no sacaron de aquella maravillosa invencion todas las vantajas que les oferecia para abandonar las costas y engolfar-se ó a busca de nuevos descobrimentos ó con el fin de abreviar sus viages e derrotas. -''».

E segue, apontando com estranhesa diversas viagens notáveis no Atlântico e no Mediterrâneo, no começo do século xv, de arma- das que iam em serviço militar urgente, mas que, não obstante, na- vegaram sempre á vista das costas, como consta das respectivas relações.

N'uma carta régia de D. Affonso v, datada de 22 de outubro de 1443, lê-se : «Até então (até ao tempo do Infante D. Henri- que). . . nem direitamente nas cartas de marcar nem mapa mundo não estavam debuxadas (as novas terras) senão a pra\er dos ho- mens, -'d.

-" Navarrete, Historia de la Náutica, Madrid, i84'5, pag. 70. 21 Alguns Documentos, etc, pag. 8.

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A primeira das cinco ra^ões^ indicadas por Azurara, que le- varam o Infante a entregar-se á faina dos descobrimentos, é esta : fE porque o dito senhor quiz desto (o que havia além das Caná- rias e do Bojador) saber a verdade parecendo-lhe que se ele ou algum outro senhor se não trabalhasse de o fazer, nenhuns ma- reantes nem mercadores, nunca se dello se antremeteriam, por- que claro está que nunca nenhuns daqueles se trabalham de na- vegar senão para donde conhecidamente esperam proveito... ^^».

Ha outra passagem da mesma Chronica que tem sido bastas vezes citada, e que vale muitissimo; é- aquela em que Azurara põe na boca do Infante as palavras de insistência e incitamento para que Gil Eanes perca o receio de se aventurar para o sul : «...mas quereisme dizer que por opinião de quatro mareantes^ os quaes como são tirados da carreira de Flandres ou de alguns outros portos para que comumente navegam, não sabem mais ter carta nem agulha de marear. . . -^»

Gaspar Correia, na Lenda de Vasco da Gama, escreveu :». . porque então nom havia navegar per altura nem cartear., so- mente agulha para conhecer os ventos, e as sondas de prumo correndo costas, conhecença das terras e boa estimativa do en- tendimento que lhe (aos navegantes anteriores) Deos dava. 2*.>

E, por ultimo, ainda uma citação de Azurara. Quando o Prior do Hospital, no paço de Cintra, deu conta a D. João i do que vira na sua viagem a explorar Ceuta, sabemos bem o que ele fez, con- forme aquela encantadora narrativa do cronista. Pediu duas car- gas de areia, um novelo de fitas, meio alqueire de favas e uma escu- dela, e com estes materiais se propoz mostrar o que tinha obser- vado -^. Como assim ? Pois não lhe seria mais faci! desenrolar um mapa e apontar nele a navegação a fazer, os preliminares do ata- que, o plano do desembarque ? Ou, á falta de mapa, tomar da pena e em pergaminho bem raspado debuxar a planta de Ceuta

22 Azurara, Crónica do descobrimento e conquista de Guiné, cap. vii, pag.45.

-'' Azurara, ibid-, Cap. ix, pag. b-j. No Esmeraldo (edição da Sociedadfe de Geografia de Lisboa, liv. i.», cap. 22, pag. 71). Duarte Pacheco, transcreve quase ipsis verbis esse famoso trecho. O sr. Epiphanio Dias, autor da nova edição do Esmeraldo^ muito bem observa a conformidade das duas passagens, sugerindo que, ou Duarte Pacheco copiou de Zurara, ou ambos transcreveram da obra de Afonso Cerveira, que desapareceu.

2^ Gaspar Correia, Lendas da índia, vol. I, pag. 14.

2i Azurara, Crónica de D. João i, cap. iii, pag. 16.

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e seus arredores por terra e mar ? Não ; o Prior do Hospital não tinha mapa nem carta, nem sabia descnhal-a; fez, porém, melhor construiu ali, diante do rei e dos infantes, uma carta cm relevo^ como nos nossos dias se fazem e se mostram aos estudantes, fa- bricadas, é certo, de material mais duradouro.

i3. Nestas citações encontra-se, se não estou em erro, a in- dicação do saber pratico dos mareantes portugueses no século XIV, como aliás dos do resto da Península, porventura com alguma vantagem para os catalães.

Agulha^ sim, empregavam-na, a agulha informe desses tem- pos, sujeita á variação e ao desvio, então, ainda desconhecidos; mas a agulha servia-lhes apenas para conhecer os ventos^ isto é, os rumos, a que se devia navegar, conforme o ensinamento que a pratica e a tradição transmitiam.

Soihia^ sem duvida ; instrumento herdado dos antigos e que ainda hoje é auxiliar utilissimo da navegação ; sabiam os marean- tes do século XIV, como os dos séculos anteriores, que em tal pa- ragem devia haver tal fundo; a sonda permitia-lhes verificar se, em verdade, se encontravam na paragem desejada. Servia-lhes também a sonda, é claro, para se acautelarem nos passes peri- gosos ou de fundos variáveis.

Conhecença das terras; este, sim, este era o principal guia dos navegadores d'aqueles tempos. A feição, a fisionomia espe- cial de cada promontório, de cada reinterancia da costa, uma ar- vore, um grupo de arvores, a ermida branquejando no alto das arribas, o casario da cidade ou da vila, os muros do castelo, o moinho alcandorado, a azinhaga serpeando na encosta, a pedra enegrecida que se projecta no arial dourado, o sombreiro, o manto que as nuvens fazem, cobrindo certas alturas (tão caracte- risticos na nossa Serra de Cintra), os rolos de névoa que o sol nascente enxota dos rios para o mar, todas estas conhecenças das terras as sabia o mareante na perfeição, sem se enganar, sem confundir uma com outra, por mais semelhantes que parecessem ao inexperiente. Sabia-as de cór, pela pratica, como hoje as sabe o rude pescador das nossas costas, que não se perde, quando, vindo do largo, a neblina lhe encobriu a terra, e de repente um rasgão lh'a descobre e ele diz logo: <Lá «está a 'Nhora d'Ago- nia ou : a está o focinho da Roca.»

14. E carta ?

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A este respeito parece-me que lemos de nos penitenciar todos os que, como maior ou menor cabedal de conhecimentos, temos atribuído importância à caria de marear antes do século xiv *^. Sem duvida, pelo menos desde o século xiii, havia cartógra- fos \ são conhecidos os exemplares preciosíssimos, guardados como jóias de inestimável valor, dos trabalhos desses debuxadores ^ o Santarém os copiou e reproduziu no seu Atlas monumental ; a respeito deles se tem discreteado muito. Mas, perguntarei, eram esses desenhos de uso comum para os mareantes r O sr. F^cr- nandez Duro, que é autoridade de respeito, esereveu em relação ao século .\v : «Cartas castellanas no se conocen ; han perecido ó se ocultan entre el polvo de archivos inexplorados. De que las naves las llevaran hay testemonios, y de su perfeción es muestra la que Juan de la Cosa presentó á los reyes acabando el siglo (xvj, á la vez que indica la existência de cartógrafos en Santofía, en Laredo, en Santander, pues no sin ensenanza y larga pratica pudo adquirir el piloto de Cólon la seguridad de pulso con que está dibujada, y por la cual le titularon maestro de hacer cartas '*'^ d . Isto diz o notável escritor em referencia ao século xv^ note-se bem \ mas, em relação ao anterior, escreve o seguinte : aindicios de los conocimentos de los maestros y pilotos oferecen la certeza de que muchos, acaso los más, ;/o sabian escribir. En las obliga- ciones de la legislación que conocemos se limitan las exigências á la perícia marinera, á la sabidui^ia pratica de cuestas y puer- tos 28.»

Ora aqui está indicado o problema. Sabiam ler e escrever os patrões e mestres dos nossos navios mercantes do século xiv ? Considere-se que, mesmo hoje em dia, ler uma carta não é tra- balho que facilmente realize quem não estiver habituado. De que serviria, pois, a carta a quem não soubesse ler os seus dizeres ?

O que o escritor espanhol afirma de não se conhecerem cartas castelhanas daqueles tempos, podemos dize-lo de nós. Perde- ram-se ? Estão sepultadas nos arquivos ? Esta ultima hipótese, sendo possível, não me parece provável, tanta tem sido a investigação que neles se tem feito.

26 Meto-me no rol dos penitentes, porque em escritos anteriores e desi- gnadamente na conferencia O Infante D. Henrique e a arte de navegar dos Portugueses, Lisboa, 1894, me parece hoje que avancei demasiado neste ponto.

-^ Fernandez Duro, op. cit.^ pag- 279.

2" Ibidem^ pag. 1Ó4.

I

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Tenho, pois, para mim que essa maravilhosa cartografia an- terior ao século xv era principalmente obra para principes e priores de mosteiros ricos ; serviam esses mapas e portulanos para demonstrar relações de viagens, para enriquecer livrarias, para ilustrar manuscritos preciosos. Mas instrumento pratico de nave- gação, transunto debuxado da forma das costas, onde o mareante podesse verificar a terra que demandava, onde podesse pór o ponto e soltar o rumo (que para isto é que servem as cartas ma- rítimas), estou convencido que em alguma armada muito bem abastecida haveria cartas de marear antes do começo do século XV ou, pelo menos, antes dos meados do século anterior, e assim mesmo talvez mais para os italianos, catalães e malhorquinos do que para os castelhanos, portugueses e outros.

E' como para a astronomia. Sabe-se que «o renascimento da astronomia na Europa resultou do conhecimento das obras dos Árabes que, desde o século ix, vinham sendo os cultores da sciencia dos astros -^.» Dos Árabes passou o cultivo da sciencia para os Judeus, na Península ; depois a ele se aplicaram outros, como o rei AíTonso x de Castela. Mas toda essa astronomia era ainda muito astrológica, entretenimento de sábios e de alguns principes, sem aplicação pratica aos problemas da navegação.

i6. Por tudo isto penso que para os mareantes portugueses, como provavelmente para todos ou quase todos os outros da Eu- ropa, nos tempos anteriores ao século xv, o principal, o mais seguro instrumento da navegação era a conhecença das terras. Agulha levariam, mas de pouco lhes serviria ^o. Cartas de marear, creio bem que eram rarissimas, e em todo o caso de limitado pro- veito.

E de resto nada mais era preciso, porque a navegação fazia-se -essencialmente á vista das costas. E' claro que esta asserção não tem que ser tomada ao da letra. No Mediterrâneo, pelo menos as Baleares não são avistados de nenhum dos continentes visi- nhos. Nesmo navegando junto a uma costa, ela pode ser de repente encoberta pelo nevoeiro, e nem por isso se deixará de continuar

29 Sr. Luciano Pereira da Siva, Astronomia dos Lusíadas, Coimbra, 191 5, pag. 8.

30 Observe-se que Pedro Nunes, isto mesmo nega o «Navegavam sem agu- lha diz ele na Defensam da carta de marear.» (Citado pelo sr. Luciano Pe- reira da Silva, Astronomia dos Lusíadas, pag. 149).

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a viagem. O que se quer dizer é que, pela falta de estimulo ou de necessidade e pela falta de instrumentos de navegação, o ma- reante, até ao século XIV, navegava no Mediterrâneo e no Atlântico próximo das costas, e não se aventurava ao largo ; não tinha que fazer lá, não ia, porque, e é natural, «nenhuns daqueles se traba- lham de navegar senão para onde conhecidamente csperani proveito», como dizia o Infante D. Henrique a Gil Eanes.

i6. Resumamos o exposto até agora, o primeiro termo da nossa comparação de factos.

Antes do Infante D. Henrique, os Portugueses usavam do mar pela pesca, por algum comercio, ocasionalmente pela guerra naval , empregavam lanchas, barcas, naves, galés; navegavam ao longa das costas, pela conhecença das terras, com sonda, porventura com agulha e alguns raros com carta.

17. O outro termo do uosso estudo comparativo parece-mc mais fácil de estabelecer. Acabamos de ver como se exercia, entre nós, a função marítima nos fins do século xiv ; saltemos três quartéis e vejamos o quadro maritimo no ultimo do século xv.

Do Painel do Infante^ de Nuno Gonçalves, passaram á His- toria todas as figuras, menos uma -, morreu D. Henrique, o do^ rosto severo, também morreu D. Affonso v, visionário de tez amorenada pelas cavalgadas de Africa ; é vivo e reina agora aquele príncipe, triste, grave, pálido, que no painel segura bem, de encontro ao cinto, a espada do poder. Que lhe deixou o pai em herança ? As estradas de Portugal.

Mas não herdou ele mais alguma coisa ? Na Ribeira Nova de Lisboa começa-se a construir a Casa da Mina ; ao lado ba- tem-se cavilhas-mestras de naus e caravelas ; pela cidade ha mestres de cartas e fazedores de agulhas; em cima, no Paço, realizam-se sessões frequentes da Junta dos Matemáticos; a as- tronomia passou a ter proveito pratico na navegação ; o astrolá- bio e as taboas de declinação, inventadas fora de Portugal, teem neste país a sua primeira aplicação de utilidade ^^ ; de vez

31 De ha muito que se gasta (tanto entre nós como no estrangeiro) de- masiado tempo e mal empregado esforço nas chamadas reivindicações, de certas prioridades de inventos ou de descobrimentos geográficos, principal- mente destes. Quasi sempre esses esforços surtem pouco efeito; faz se sobre elas a conspiração do silencio; o escritor estrangeiro, por mais escrupuloso, é*

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em quando chegam navios dos Açores e da Madeira, estes prin- cipalmente carregados dos assucares que se espalham sofrega- mente pelos portos da Kuropa ; esquadrilhas de caravelas saem para a costa ocidental d'Africa, para as ilhas de Gabo Verde, para S. Thomé e Principe ; vão á popa arrazada com os ventos dos quadrantes do Norte e regressam depois, cingindo-se á bolina, e elas podem fa^er essa navegação, lenda politica, espalhada adrede, embora com algum fundo de verdade, se se considerar que os navios redondos da época quase á popa navegavam; do Algarve saem, em bandos, barcos de pesca que vão a Larache e a Arguim ; as praças d'Africa são abastecidas e fornecem, de vez^ em quando, algum despojo valioso ; no Tejo balouçam galés e navios de gavia, prontos a acudir onde seja necessário aplicar o

patriota, quase sempre demasiado patriota ; não cede polegada no que ima- gina pertencer á gloria do seu país. E' assim que em livros franceses se conti- nua a dizer que Dieppeses foram á Guiné no século xiv e fundaram o Petit Paris e o Petit Dieppe e La Mine. Em livros italianos continua a fazer-sa grande estendal das viagens dum Dória e dum Vivaldi. Nenhum inglês cede ne historia de Machin e de Anna d'Aríet. E depois vem a comparação dos ma- pas; os portugueses não descobriram cohsi alguma; tudo esteve marcado na cartografia dos séculos anteriores. Por nosso lado também lutamos, para mos- trar que, antes de Colombo chegar á America, ja tinham ido os nossos que, antes de Montgolfier francês, voou o Bartholomeu de Gusmão português.

Considero de pouca utilidade todo esse trabalho, nosso e dos estrangei- ros. Continua a escrever-se que franceses, italianos, castelhanos e outros, fo- ram á Guiné antes de nós ? Pois deixe-se dizer. Esteve o Machin com a sua namorada na Madeira ? Pois que lhes fizesse bom proveito. Nas cartas ante- riores ao tempo de D. Henrique estava tudo muito bem marcado e desenhado os Açores, a Madeira, o Cabo da Boa Esperança, tudo, tudo? Pois estaria.

E daí? Tanta gente tinha ido àquelas terras, tantos mapas as indica- vam... e ninguém se havia aproveitado dos conhecimentos adquiridos, e quando os Portugueses chegaram depois, não encontraram ninguém na Ma- deira ou nos Açores, não viram um resquício do Petit Dieppe ou do Petit Pa- ris na costa africana !

E' sempre o ovo de Colombo ; e ha-de ser sempre assim.

Comparando mapas desenhados antes de D. Henrique e depois, acertada- mente escreve um dos mais recentes historiadores do Infante, o qual aliás não deixa de citar o incidente romântico de Machin, sem aliás parecer acreditar mais nele que no Petit Dieppe e no Petit Paris : «Do they (os mapas) belong to the same civilisation in any kind of way ? Whot woonld the highest criti- cism answer, out of its infallible evidence tests ? Of course, they are quite dif- ferent. The one is merely a collection of the scratchings of savages ; the other is lhe prototype of modem maps.» (Raymond Beazley, Prinse Henry the Na- vigator, Londres, iSgS, pag. 3o2).

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poder maritimo \ Diogo Cam está prestes a largar para o sul da linha.

Tal é, em rápido esboço, o contraste que nos oferece o que se passava em Portugal nos primeiros anos do século XIV^ com o que se realiza agora, decorridos três quartéis, em referencia á acção maritima e ultramarina.

Dcve-se a alguém esta transformação radical ? Houve algum centro de locubrações, alguma reunião de homens de boa vontade e de agudeza de engenho que a prepararam?

i8. Se o precedente esboço está certo, se em verdade a acção maritima dos Portugueses se transformara tão grandemente naqueles cincoenta anos decorridos, é tempo de averiguar a que homem, a que circunstancias essa transformação foi devida.

Cada dia me persuado mais que não ha grandes homens, mas sim grandes épocas. Quando chega para um povo a hora do grande esforço, ou este resulte da pujança da seiva que o impele para fora do apertado âmbito anterior, ou da necessidade absoluta de repelir a tirania interna ou externa, quando a gente está disposta a querer e a proceder, aparece então o grande homem. Este é apenas coordenador das forças latentes, guia e transmissor da corrente única, somatório e resultante de muitas correntes dis- persas, que sem aquele guia se perderiam, ou porventura mesmo se anulariam umas ás outras. Mas como os homens são sempre simplistas nos seus conceitos e apreciações, na própria ocasião do grande movimento, os que impulsionaram, pensam que obedecem ao chefe, e mais tarde, na rememoração histórica, fala-se tão so- mente do grande homem e não dos que o ajudaram, o excitaram, e estes ficam sendo os esquecidos.

De modo algum pretendo apoucar os grandes vultos da nossa Historia e da alheia; apenas pretendo dizer que não é grande homem quem quer; para que o seja é necessário que sobre- venha uma grande época, em que esse espirito superior tome o papel acima indicado; e então a época fica-se denominando pelo nome do dirigente, o século de Augusto, o século de Luiz xiv. Fora disto pode um iluminado ou um violento, empossado no poder, tentar galvanizar a gente., pretender fazer-lhe seguir caminho diverso do que ela quer; ha então uma falsa grande época que ter- mina, logo que ao dirigente falte a vida ou a força. Foi o que sucedeu em Portugal, se não estou em erro, no século xviii ; é o que talvez venha a acontecer na Terra inteira, se o colosso fôr dominado.

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Vem isto a propósito, parece-me, para recordar que a nossa Historia tem uma grande cpoca, a dos, descobrimentos marítimos ; e porque essa época, no desenrolar dos tempos, chegou, então apareceram, a ponto, os grandes homens que a compreenderam e a guiaram o Infante D. Henrique e D. João ii.

E posto assim o Infante no seu verdadeiro lugar na Historia, sem deixar de o considerar como um homem^ mas sem o ames- quinhar, exagerando-lhe os senões, vejamos se foi a ele que se deveu a transformação da nossa vida quanto ao ?/so íVo mar, trans- formação de tal modo grande, que por completo modificou toda a nossa vida social.

19. Para mim, a empreza de Ceuta foi a manifestação incons- ciente dum daqueles impulsos que movem os povos em determi- nadas épocas da sua vida. Digo inconsciente, porque é bem sabido que, de principio, se hesitou muito para onde se deveria ir ; para Gibraltar ? para Ceuta ? para outra qualquer parte ? A. questão era ir.

Decidiram-se por Ceuta ; e, é curioso, não tardaram a arre- pender-se. Com efeito, tomada Ceuta, viu-se que era necessário mantela com as armas na mão; desenharam-se então duas cor- rentes: uns achavam que os lucros da empreza não compensavam as despezas, em dinheiro e em sangue \ outros entendiam que, após Ceuta, novos lugares de Africa se conquistariam, ç. sobretudo, que de Ceuta se iria, por mar, ás novas terras, na costa africana e no Oceano. As duas correntes, uma que pode dizer-se formada pelos lavradores, a outra pelos pescadores e mareantes, tiveram por chefes dois infantes, D. Pedro e D. Henrique. Assim se explica o resfriamento entre os dois. Venceu a corrente marítima, iniciou-se a grande época.

Ora bem. Creio que, por pirronismo ou por desejo doentio de defender paradoxos, alguém poderia negar os seguintes factos.

i.° O Infante D. Henrique passou largas temporadas em Sa- gres, dando-se a esta designação a acepção mais lata, isto é, en- tendendo-se que viver em Sagres não é morar, habitar numa casa construida na ponta de Sagres, e sendo muito possível que desde o próprio tempo do Infante se falasse mais de Sagres, por ser da pequena baía deste nome que partiam navios para descobrir, em- bora muitos deles fossem equipados em Lagos.

2.° Existiu um homem chamado Jayme ou Jacome, natural de Malhorca, perito em debuxar cartas de marear ; esse homem esteve «m Sagres com o Infante durante algum tempo.

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3." O Infante D. Pedro, regressando ao reino depois das suas largas viagens, trouxe de Veneza uma copia do livro de Marco Polo e um mapa-mundo, se não foi mais que um, preciosidades com que presenteou seu irmão D. Henrique.

4.** Homens do Infante descobriram, encontraram, como se queria, as ilhas de Porto Santo c Madeira e as dos Açores.

b.^ Homens do Infante dobraram o Gabo Bojador e navegaram muito para o sul.

6.° Estrangeiros, atraídos pelo Infante ou pela fama dos seus trabalhos, cooperaram nos descobrimentos, ao longo da costa africana e no Atlântico.

7.° Esses navegadores levavam instruções, tão precisas quanto possível, e iam munidos de cartas sucessivamente aperfeiçoadas (assim mesmo rudes) e de agulhas melhoradas, principalmente quanto ás rosas.

8.° Esses navegadores, de certo tempo em diante, passaram a embarcar em caravelas^ navios de pano latino, se não originais portugueses, pelo menos tão aperfeiçoados no aparelho e tão aumentados na tonelagem que passaram a ser considerados como se fossem invento essencialmente português.

Q." De Lagos saíram, sob a protecção e autorização do Infante, numerosas expedições destinadas especialmente á pesca nas costas marítimas novamente descobertas; e tão intensas e produtivas foram essas pescarias que deram origem a contendas com os castelhanos, que também iam, contendas que foram liquidadas pelo segundo tratado das Tordesilhas.

10.° Falecido o Infante D. Henrique em 1460, a sua vila foi abandonada e a breve trecho começou a cair em ruinas. mais tarde D. João 11 assume a direcção da continuação dos descobri- mentos, e então o centro da acção passa para Lisboa, com o- resultado que acima ficou resumido.

ii.° Mas os comandantes dos navios que D. João 11 manda a descobrir não são patrões ou arrai\es de galés, nem mestres de barcas ou barineis, são pilotos das caravelas, e a categoria, a importância do piloto, tão preeminente durante toda a primeira fase da época dos descobrimentos, até que na segunda fase a acção militar e politica fez subordinar o piloto ao capitão^ essa categoria foi criada pelo Infante ou resultou da sua aplicação aos descobri- mentos. O piloto foi o agente marinheiro de D. Henrique e de D. João II, como o capitão foi o agente diplomático e militar de D, Manuel.

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Sc todos esses factos são verdadeiros, ao Infante D. Henrique se deve a coordenação das forças que impeliram a gente portuguesa a alargar, para o ocidente e para o sul, a sua anterior aptidão para a acção marítima.

Se todos esses factos são verdadeiros, Sagres c a palavra simbólica do esforço do Infante e dos seus homens, Sagres foi a escola da navegação no tempo do Infante D. Henrique, como as praças d' Africa foram a escola da arte de guerra por aqueles mesmos tempos, como as preciosidades pictóricas de Nuno Gon- çalves e dos seus contemporâneos foram a escola da pintura por- tuguesa no século XV.

Se isto assim é, houve escola de Sagres.

Se tudo isto c sonho ou alucinação, não houve escola de Sa- gres.

20. Deveria talvez ficar-me por aqui, nesta redacção apressada do que ha muito penso a respeito da debatida questão. Mas, agora, e a propósito duma passagem de A lenda de Sagres, do sr. João Rocha ^"^, vou ver se descubro quem primeiro praticou o negregado delicto de falar na Escola de Sagres.

A diversos se tem atribuído o malefício, escrevéndo-se em ge- ral que ele começou a ser praticado nos fins do século xviii. Ora em 1758 publicou-se em Lisboa um livro intitulado A vida do Infante D. Henriqite., de que foi autor Francisco José Freire, que nas letras adoptara o nome poético de Cândido Lusitano; edi- ção excelente, bom papel, óptima letra, como se imprimia naquela época ; estilo empolado com falas á Tito Livio, como também era da época; critica de pouco ou nenhum valor; pobresa de fontes, pois quase se reduzem a João de Barros. Não sei que efeito pro- duziu a obra ao sair a publico : sei que mais tarde se disse mal dela e ninguém a leu. Mas, em verdade, todo o livro tem alguma vantagem, pelo menos, para evitar os erros que nele se descu- bram. E' o caso com a obra de Cândido Lusitano ; denunciemos as passagem criminosas: >iO estudo da geografia lhe havia levado^ grande aplicação... Na sua vila, a que dera o nome da Terça Nabal, e depois Uio trocaram pelo de Sagres^ fundada por ele na enseada do Sacro Promontório, como sitio mais acomodado para suas observações., facilitando-lh'as a desmedida eminência daquele

'2 «Essa palavra (escola), como poucas sujeita a varias ín/erpre/afÕes». A lenda de Sagres, por João Ninguém, Vianna, 191 5, pag. 65.

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Cabo... Para isso os instruiu (a Zarco e Tristão Vaz) nas Ta- boas de Ptolotneu, em que tinha um estudo de professor í'pag. i5o a i54)... O seu palácio seminário de Sábios astrónomos e professores ... t . E por fim, na peroração do altisonante elo- gio: «Com efeito a sua casa era uma escola, onde os reis se proviam dos fidalgos mais dignos para os cargos da guerra e da politica. . . O palácio de tão grande príncipe. . . seminário de sa' bios astrónomos e geógrafos., que deram luz àqueles tempos pouco experimentados, a que outros cnamarão rudes. Tais quais foram, o mundo os reconhece ainda hoje por mestres da navegação; tna- gisterio alcançado ora pela disciplina do Infante, ora pela lição perigosa de mares escondidos, sulcados com tal atrevimento, que se a empreza se contara de idades mais escuras, que não teria fabulado a fama dos novos Argonautas?» (pag. 373).

Que tal ? Instruir, taboas de Ptolomeu, professor., seminário., observações., sábios astrónomos., estudo da geografia., escola., yna- gistet^io. mestres^ lição não ha que ver; é a Escola de Sagres, inteira e acabada. Caiu o livro sob os olhos d'algum estrangeiro, pouco entendido no nosso estilo retumbante do século xviii ; to- mou a nuvem por Juno; e assim nasceu e correu mundo a fanta- sia, a lenda. Tolle! Tolle! Fora com o malfeitor.

E, comtudo, sinto-me propenso a acreditar que o próprio Cân- dido Lusitano confessaria, de boa mente, que toda a sua retórica era apenas a amplificação de uma coisa muito simples, embora de primordial importância.

21. Existiu a Escola de Sagres? Não existiu? Oxalá estas simples linhas sejam balde d'agua na fogueira e não lenha que a incendeie.

22. Estas simples linhas termino-as por tarde calmosa de ju- lho, no meu quarto de trabalho, sobre a baia de Cascaes.

Levanto-me, chego á janela a comtemplar mais uma vez o fei- ticeiro espectáculo. Ceu de safira completamente limpo; só, ao norte, sobre a Serra de Cintra, pousa, e por completo a encobre, o alvo manto das nuvens que a nortada acumulou nas quebradas; horizontes extensos, em que se desenham nítidas as torres da Guia e de Santa Martha, o focinho do Espichel; mar de esmeralda junto ás ribas, azulando-se para o largo, a confundir-se com a cor do ceu, levemente ondulado quase todo ele, a espaços frizado pela brisa que o arrepia, e somente arqueando-se um tanto em corco- vas sobre o Cachopo.

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Encantador espectáculo! Mas, ao mesmo tempo, que tristeza! Nem um transatlântico a enfiar pela Barra Grande; nem um pe- nacho de íumo a negrejar no horizonte. Apenas na baía dois mes- quinhos hiates aguardam vento propicio para seguirem para o Norte. A guerra^ a tJialdila, varreu a navegação, despovoou os mares, como anda, ha um ano já, a despovoar a Terra. Talvez, quem sabe? neste mar tão feiticeiro se esconda algum desses monstros submarinos que ande á babugem dum incauto ou dum ousado. Que tristeza!

Mais eis que a pintura se anima. dobrou agora o Cabo Razo uma vela triangular, e outra, e outra; são os barcos do Sei- xal que vem do mar, de bolina folgada; são os meus queridos pescadores, são os primitivos nos processos e na singeleza, mais felizes, entretanto, que os seus irmãos do Mar do Norte, a quem a guerra, a maldita, não consente que trabalhem.

Um bando de gaivotas passava alto, em direcção ao Sul ; bai- xaram junto á costa e levaram-me. . .

23. Não sou o velho entristecido pela desolação da hora presente, o mesquinho escolar do Direito e da Historia, quase des- crente de quanto aprendeu.

Estou na força da vida ; sou criado do Infante D. Henrique e seu escrivão em Sagres.

Findara a breve sesta. Na estreita quadra, severa como cela de monge, que serve de casa de trabalho ao Navegador, vae começar a sessão da tarde.

Entra primeiro o mestre dos alvaneiis. D. Henrique não está satisfeito; as obras do modesto paço demoram-se na conclusão; diz isto em phrases sacudidas ; espera em breves dias uns marean- tes genoeses e não tem onde acomodal-os honradamente ; as so- brancelhas arqueam-se-lhe ; aquilo não é Alcáçova de Lisboa nem Castello de Cintra, que leve anos e anos a edificar; e a sanha começa a arrebatal-o. O pedreiro, todo encolhido, tenta descul- par-se : o canto é duro de lavrar, os cinzéis não são de boa tempera, os oficiais... D. Henrique detem-no com um gesto: «Dou-vos a Deus, sejaes de boa ventura E o mestre dos alva- neus sai.

Vem agora o mestre velas. D. Henrique está sereno. Tra- tase de uma modificação no velame das caravelas. O mestre tira da manga do gibão um modelo fabricado de grosseira tela; e ex- plica o novo corte do pano, a vestidura, os cabos, o poleame. O

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Infante lembra uma pequena alteração; o outro concorda. Est^ aprovado o modelo.

Chega a vez do mestre tanoeiro. O caso é grave. Tinham-se queixado os pilotos do Infante de que, por vezes, lhes faltava a aguada ; os toneis bojudos tornavam muito espaço no pram, e com os calores d'Africa rebentavam os arcos e esvasiavam-se as vasilhas. Discutiram os dois ; alvitraram modificações; assentou-se em experimentar um feitio novo de toneis.

Por ultimo, entrou Mestre Jayme. Abriu-se a fisionomia do Infante. Como de costume, tirei da arca de carvalho o livro e o mapa-rpundo. O livro era o de Marco Polo. Começou a leitura, ou melhor a tradução, que o malhorquim ia fazendo pau- sadamente, do italiano para a suave língua catalã, tão parecida com a nossa, que o Infante falava na perfeição e que eu ia en- tendendo. Mestre Jayme lia, o Infante ouvia. De quando em quando parava a leitura; curvavam-se sobre o mapa ; verificavam a narrativa; discutiam; e o rosto de D. Henrique mais se ilumi- nava.

A tarde ia-se adiantando. Acabou a leitura. Então mestre Jayme desenrolou um grande pergaminho, onde trabalhava desde dias em debuxar a costa africana. Explicou o que desenhara naquela manhã. Em certa altura, o Infante discordou ; havia engano ; aquele lugar não estava a xxx legoas do outro, mas sim a xxv. Mestre Jayme encrespou-se : saiu de corrida a buscar as informa- ções escritas pelo piloto. Voltou triunfante ; eram xxx legoas. D, Henrique leu; eram xxv; que mestre Jayme visse bem. O malhorquim mira e remira o tosco apontamento ; empalidece ; ti- nha lido mal. oNão vos agonieis, amigo, todos somos sujeitos a errar;» diz-lhe D. Henrique benévolo, «vossa obra é boa.»

Conversaram um pouco mais ; retirou-se o fazedor de cartas.

Estavam findos os trabalhos daquele dia.

24. Na acanhada quadra, voltada ao sudoeste, o calor era in- tenso. O Infante bebeu a haustos, por pucara de barro, a agua contida em bilha de Estremoz. Depois, sentado na ampla cadeira de Córdova, quedou-se a scismar. Adormecera ? Sonhava ? Ou apenas exprimia alto os pensamentos que lhe referviam na mente? «Pescarias... ouro... marfim... Preste Joham... Cathay. . . Zipango. . . Para3'zo Terreal. . . »

Levantou-se de súbito ; saiu ao eirado. Eu fiquei a arrumar os papeis, o //>ro, o mapa-mundo.

8?

De repente, a voz imperiosa do Infante bradou : «Olá, moço Acorri ; a nortada açoutava dura ; o mar trepava em espuma a penedia do Cabo; ao longe uma caravela, cingida á bolina, toda deitada a sotavento, galgava sobre as ondas floreadas.

«Olhae fito», ordenou D. Henrique, aferrando-me pelo hom- bro, «que divisa vedes na vela?»

Apurei a vista : «Parece. . . parece a cruz. . . »

«Sim, é a cruz de Ghristus ! E' o meu Gil Eanes que volta! Que novas me trará elle ?p

26. Desfez-se a visão. Achei-me no meu quarto, sobre a baía de Cascaes.

Teria estado por encantamento na Escola de Sagres ?

Julho de iqi5.

Vicente Almeida d'Eça. S.S.G.L.

AS DUAS POLITICAS

O século, contido entre as datas de 21 de agosto de 141b e 16 de dezembro de i6i5, pode considerar-se o mais grandioso da nacionalidade portuguesa. E a ascensão inverosimil de um pe- queno povo ás eminenci.is da Historia. E o esforço vitorioso de um pigmeu numa empresa de Titans. E a dadiva definitiva do planeta á Humanidade, feita por um reduzido feixe de mãos he- róicas.

No inicio, paira a figura taciturna, algo misteriosa, do Infante D. Henrique, um profeta. No extremo, cerram-se á luz terrestre os olhos de um semi- deus, Afonso de Albuquerque. Eles con- substanciam dois factos capitais da historia de Portugal... direi antes, da historia do mundo: o franqueio do globo á exploração dos homens, o advento do imperialismo cristão fora da Europa. A admitir-se o asserto de Carlyle, de que a historia universal é no fundo a historia dos grandes homens, o concorno dessa era por- tentosa acha-se delineado pelas biografias dos dois excelsos por- tugueses.

Ceuta é nos fastos nacionais uma encruzilhada. Por dois cami- nhos alonga o Infante o seu olhar de vidente, ao encontrar-se nessa exigua península que reparte a vaga atlântica, turva ainda de mis- térios, da onda azul do Mediterrâneo, espelhada de civilisações. Dois destinos se antolham á pequena grei que ousa encetar a nova

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c definitiva cruzada. A politica pratica aconselha a que se aperte Marrocos numa cinta de ferro ate espremer desse solo feraz a abastança e substituir pelos benefícios do trafico as devastações da pirataria barbaresca. Este propósito utilitário tem comtudo a san- tifical-o o fero antagonismo de crenças. Admiravelmente sintetisa o velho do Restello o duplo aspecto do problema na estancia bem conhecida dos Lusíadas (G do canto IV) :

Não tens junto comtigo o Ismaelita,

Com quem sempre terás guerras sobejas ?

Não segue elle do Arábio a lei maldita,

Se tu pela de Christo pelejas ?

Não tem cidades mil, terra infinita,

Se terras e riqueza mais desejas ?

Não é elle por armas esforçado,

Se queres por victorias ser louvado ?

E esta politica de imediato interesse material que, fomentando a expansão da raça pelas visinhas regiões de Africa, lançando mão de, um inexgotavel celeiro que entesta com o litoral fronteiriço, desafogando os mares territoriais para o comercio pacifico, poderá chamar-se a politica nacional.

A outra, que se abre diante dos alvoroçados aventureiros, é a politica mundial, aquela que, dada a desproporção entre os recursos e as aspirações, pode caber em cérebros de sonhadores. E a luta peito a peito com o Mistério, temerosa como o combate de Israel contra o anjo. E o desafio lançado ao Mar Tenebroso, aos monstros das Terras Ignotas, ao fogo devorador dos Trópicos, a todas as pavorosas quimeras da velha geografia. E a conquista integral do planeta em proveito do homem. E a visão fascinante de um império colossal, dentro do qual caibam á larga os maiores impérios da Antiguidade, e pareça mancha imperceptível o mais recente senhorio de Carlos Magno. E o domínio incontestado dos Oceanos, a absorpçao do poder marítimo e comercial, a transfor- mação da exigua pátria no empório das máximas riquesas do Orbe. E um prodigio, superior a todas as efabulações do Oriente, rea- lizado para suprema gloria de Cristo e transcendente fortuna de um povo eleito.

Entre essas duas tendências, Portugal não escoltieu. Resolu- tamente, adoptou as a ambas.

E viu-se então um espectáculo singular, Dentro de um século, a politica idealista, a politica impossível, impulsionada pelo grande

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Infante, rematada por Albuquerque, erguia Portugal ao acumen do poderio e da gloria. O seu domínio orlava a Africa misteriosa, aferrava de passagem regiões opulentas do Novo Mundo, abarcava o mar das índias, roçava pela China e pelo Japão, alastrava pelas ilhas do Pacifico. A tenacidade heróica havia realizado um milagre. E esse maravilhoso edifício aluiu sobretudo quando a politica uti- litária, ondulante e trôpega, veiu sossobrar nos campos de Alcácer Quibir.

Extraordinário contraste I Foram principalmente os visionários da dinastia de Aviz que mobilizaram as forças portuguesas para a conquista de uma prosperidade material e estável. Foi D. Duarte, filosofo como Marco Aurélio, ascético como S. Luiz, comprome- tendo-as numa empresa temerária. Foi D. Alíonso V, o derradeiro representante da cavalaria medieval, unindo os elos de Alcácer Seguer, de Tanger, de Arzila, de Anafe, á golilha encetada em Ceuta para o estrangulamento do poder islamitico de Marrocos. Foi o místico D. Sebastião, empenhando as ultimas gotas do ge- neroso sangue português para dar uma significação efectiva á realeza honorária dos Algarves.

E quais foram os monarcas que deram especial alento á po- litica do sonho ? O sagaz D. João II, abrindo o Mar das índias á navegação dos europeus; o faustuoso D. Manuel, traçando a nova rota mercantil entre o Oriente e o Ocidente ; o sombrio D. João III, largando mão das praças de Africa para a ilusória consoli- dação do mais vasto dos impérios, nas mais remotas regiões do Orbe.

Assim, das duas politicas derivadas de Ceuta, foi a do inte- resse pratico e próximo a que baqueou primeiro, a menos de dois séculos dos seus fundamentos. Após o desastre de Alcácer, a so- brevivência da própria Ceuta, de Tanger e de Mazagão é apenas o arfar estertoroso de um moribundo aferrado á vida. E o ultimo alento solta-o ele nos braços do marquês de Pombal, o estadista menos propenso a quimeras.

A outra, a politica idealista, alcançou por um momento o fa- buloso desideratum. O pequeno Portugal chegou a ser a primeira potencia naval do mundo, Lisboa o maior empório do comercio na Terra. Mais tarde, dissipada essa fulgente aureola, o ouro e os diamantes do Brasil foram matérias primas de novo diadema. E ainda hoje, após mais de três séculos de decadência, nos restos opulentos do poder imperial encontra o mais solido dos seus am- paros a nação portuguesa.

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Foi, pois, mais fecunda em resultados práticos essa corrente do sonho, que á distancia de cinco séculos ainda nos aquece. E a mais alta personificação dessa politica é certamente Afonso de Albuquerque, figura tão sobrehumana, que encontra emulos no heroe da Macedónia ou no gigante da Córsega. Ao passo que Marrocos não é para nós mais que uma saudosa recordação his- tórica, que nem mãos francesas ou espanholas conseguem delir de todo, Goa refulge ainda no diadema imperial da Pátria coma uma jóia sem preço ali cravada pelo punho esforçado de Albu- querque.

E por isso que, neste ano fatidico de igib, cheio dos horrores da guerra, Portugal deve saudar com entusiasmo patriótico essas duas grandes tradições : Ceuta, uma aurora ; Albuquerque, um zenith. O eco longinquo das bombardas de Ceuta deve sobrelevar para nós, por um instante, o estrondear dos tremendos howitzers, empenhados em destruir uma civilização de que nós fomos pioneiros. E acima do estertor dos agonizantes, caidos nos campes do Velho Mundo devastado, ouça-se o derradeiro suspiro de Albuquerque, o precursor do imperialismo moderno, o maior dos portugueses nos dominios da acção.

Henrique Lopes de Mendonça

MARROCOS

Na consciência colectiva dos povos debate-se o problema do determinismo da sua trajectória histórica.

Qual teria sido o destino de Portugal se, em vez de se expan- dir em actividades aventurosas através os mares, houvesse con- centrado a sua acção e dominio nas duas zonas do Gharb, d'áquem e d'álem mar?

E' uma lei histórica a efémera grandeza dos povos que perdem energia pela dispersão. Os phenicios não puderam adquirir con- sistência nacional porque se expandiram excessivamente. Os gre- gos enfraqueceram-se pela dispersão mediterrânica nas colónias distantes. Os romanos desm.oralizaramse e cairam pouco depois de haverem alargado pelo mundo o seu esplendido dominio. Os espanhóis foram arrastando a sua vida incerta de aventura numa linha de acentuada e sucessiva decadência até que viram perder as colónias esparsas.

E emquanto estes povos expansivos pagavam com a decadên- cia o Ímpeto desordenado da sua dispersão, os habitantes da Hel- vécia, concentrados no planalto alpino, adquiriam aquela nobre e forte contestura, que ás nacionalidades uma resistência imortal.

Os povos germânicos, emquanto portugueses e espanhóis se enfraqueciam na anciã desordenada de percorrer o mundo, con- centraram-se no seu habitat histórico, e puderam, no século xx, surpreender o mundo com a mais formidável organização que ainda a historia das civilizações pôde registar.

Os anglo-saxÕes, apesar de saberem como nenhum outro povo

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coordenar o poder dispersivo com a concentrada e sistemática or- ganização, eles próprios estão ameaçados de assistir á rápida de- cadência do grande império que puderam estabelecer desde as suas ilhas normandas ate ao Canadá, á Africa do Sul e á Austrá- lia, aliás conservado por uma hábil e discreta autonomia.

Os Estados modernos, originados no espirito centralizador do século XVII, embora o poder da soberania popular se tenha subs- tituído ao poder absoluto da realeza, carecem duma firme contes- tura para não se fragmentarem.

E a dispersão colonial não é propicia a essa contestura. A Alemanha atingiu uma extraordinária grandeza nos últimos qua- renta anos, porque pôde viver sem dispersão de forças. O poder expansivo dos povos, quando não é realizado por meios materiais, tende a engrandecê-los. Assim se engrandeceram a Itália e a França, emquanto expandiram o seu génio intelectual e artístico, sem dispêndios de ordem material.

Portugal, desde que nos séculos xi, xii e xiii criou uma alma colectiva, afirmadora duma nacionalidade poderosa e característi- ca, devia expandir certamente a sua civilização. E como o fez? E como o poderia ter feito ?

O que Portugal, por uma hábil politica, deveria ter feito, era expandir o seu génio civilizador por toda a parte onde chegassem os seus navegantes e os seus empreendedores homens de comer- cio, mas correu perigo a sua consistência de Estado, desde que tentou deixar governos e leis, militares e funcionários, por toda a superfície da terra.

Foi excessiva a dispersão. Portugal, que não fora pequeno e insuficiente para levar o seu génio civilizador ás costas do oriente e do ocidente d'Africa, deixando pelo Atlântico o rasto duma pas- sagem heróica, e que pôde afirmar a sua mentalidade no Industão e no oriente asiático, no Japão e no arquipélago de Sonda, pre- parou a sua ruina quando pretendeu materializar o seu grande poder expansivo em instituições politicas de organizações disper- sas e enfraquecedoras.

Se Portugal, depois de levar a toda a parte a influencia da sua civilização, se tem confinado na obra politica e de dominio que se limitasse á acção mediterrânica, com base no dominio marroqui- no, outro teria sido o seu caminho através a Historia. Tudo teria mudado.

No século XVI ocuparam os portugueses vários pontos da costa marroquina do Atlântico. Não soubemos, porém, herdar o poder

dos Merinides de Fez, como os espanhóis não puderam rccebc-lo dos Zianides de Tlemcen, quando estas duas dinastias desapare- ceram em 1554.

Se no século xvi não andássemos empenhados na absorvente aventura marítima, teriam compreendido os portugueses dirigentes d'então que, que era impossivel proseguir nas conquistas dentro da península, estava aberto e indicado o caminho para realizar um maior Portugal no Gharb d'álem mar. Marrocos seria natural- mente a proiongação do Algarve (o Gharb d'áquem mar), que AtTonso III conquistara aos mouros.

Dois cherífes, descendentes de Ali, fixaram-se, no fim do sé- culo XIII, no sul de Marrocos. O primeiro, estabelecido no vale de Draa, originou a dinastia dos cherífes saadios, que, depois de vencer os Merinides, governou em Marrocos até i6bg. O segun- do, estabelecendo-se em Sidjilmassa, é o fundador dos cherifes hassanides que substituíram os cherífes saadios, cujos descenden- tes ainda hoje governam em Marrocos.

A dinastia hassaníde atingiu o apogeu do seu poder sob Mu- lai-Abu-Nacer-Ismais (1Ô72-1727), o qual, apoiado por pretos, do- minou os berberes, rasgou o país de estradas, engrandeceu a sua residência em Meknes, expulsou os portugueses das costas do Atlântico e em 1684 tirou Tanger á Inglaterra (que nós lhe ha- víamos cedido em 166 1). A Espanha continuou na posse de Ceuta, que Portugal lhe cedera em 1668.

Morto aquele enérgico chefe, a sua dinastia foi enfraquecendo^ sempre e as tribus berberas de Marrocos teem, depois daquela morte, vivido independentes.

Quer dizer : teria sido possível a Portugal, com firme e hábil política, criar, defendei, sustentar e engrandecer uma proiongação- do seu domínio no Gharb d'álem mar. Mais facilmente o teria feito do que sustentar o império da índia, onde ficou perdido muito e mal empregado esforço de gente portuguesa. Hoje, Marrocos é um anacronismo junto á civilização europeia.

O Maghreb e Aksa é o extremo ocidente impenetrável e feroz» Ainda até ha pouco os navios que se aproximavam das costas do Rif corriam grave risco.

As potencias rivais deixaram prolongar aquele desafio contra a civilização.

A França, que tem em Marrocos uma fronteira de 1000 kilo- metros, justifica os seus direitos sobre o desmantelado império. pela declaração de 8 de abril de 1904 a Inglaterra reconhecera

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os direitos da França sobre Marrocos pela sua ligação com a Algéria a Tunisia.

Portugal poderia ter realizado em Marrocos a obra que a França pôde realizar na Algéria, a nova França.

Marrocos é a região do norte de Africa mais valiosa e favo- recida ; a invasão árabe não foi devastadora. A região marro- quina é a mais arborisada, e ali as chuvas são abundantes e regulares.

A cordilheira do Atlas defende Marrocos da devastação do deserto. O litoral marroquino é extraordinariamente fértil. O sub- solo, pouco conhecido, é presuntivamente tão rico como o da Argélia e o da Espanha. Está ali uma granderiqueza a explorar, e que grandeza não teria Portugal atingido, se, em vez de andar mundo fora a procurar experiências distantes, se habilitasse, na tradição mineira de Adiça, a desenvolver as industrias agrícola e extrativa nos campos vastos dos seus naturais domínios.

E' Marrocos a região do norte africano onde a influencia dos invasores tem sido mais passageira. Ali domina o fanatismo mus- sulmano mais vivo. Os dez milhões de marroquinos são ferozes contra os cristãos. Mas isso não prova que os portugueses não podessem, ali mais facilmente do que na índia, prolongar o seu império. Os marroquinos nunca poderam organizar se em poder regular. Ao lado do blad-el-magh^en (país do governo) existe o bad-el-esciva (país dos insubmissos). A região de Marrakech e a de Fez, bem como o Gharb propriamente dito, teem organização de governo. O Gharb é um maravilhoso país agrícola, sobretudo para a criação de gados.

O Rif e a região montanhosa dos Braber são ocupados por sociedades anárquicas, sectárias e incultas. O país de Jabala é de gente insubmissa, como em regra toda a região montanhosa mar- roquina. No século XVI, como hoje, Marrocos era um país sem segurança, sem governo, e, graças a certas aproximações étnicas, nenhum povo europeu poderia melhor que o português realizar a obra da civilização e organização marroquina. Esta obra, porfiada •e útil, não a quizeram realizar os homens de Portugal, enleados na obra aventurosa e dispersiva do domínio atravez os mares. E grande podia ter sido a obra de Portugal em Marrocos, onde ainda hoje não ha comunicações com o interior. Ha apenas, nas regiões menos desorganizadas, algumas n^alas, espécie de casas de refugio. Ainda hoje, para ir de Marrakech a F^ez, é necessário passar pela região de Rabat para evitar os latrocínios de Zaian e

Zemmur. E porque nenhuma potencia europeia tentou a tempo dominar Marrocos, por processos eficientes e babeis, aquele im- pério anacrónico ainda de (873 a 1804 apresentou ao mundo culto o espectáculo das guerras de Mulej^-Hassan. Depois, Mule3'-Abd- el-AzÍ7. interessou se pela civilização europeia, mas tudo limitou a divertir-se. . . á europeia, e a estabelecer o tcrlib, sistema de im- postos que os súbditos receberam mal. O fuzilamento do assassino do dr. Cooper originou a revolta que trouxe á superfície a figura tra^gica de Bu-Hamara. A revolta de 1902 chamou sobre Marrocos a especial atenção das potencias. Outro seria o problema marro- quino se as potencias, e mais facilmente do que qualquer outra, Portugal, tivessem pensado em integrar Marrocos na civilização europeia, nos séculos XVI c X\'II.

O farol de Cabo Spartel, segundo a convenção de Tanger de 3i de maio de i8(i5, e a protecção dos estrangeiros, segundo a convenção de Madrid, de 3 de julho de 1880, foram pequejsas sa- tisfações ás exigências da Europa. '

A Espanha tem na costa de Marrocos direitos territoriais, aliás secundários. Ceuta e Melilla são mediocres fortalezas fora de cujas defesas os espanhóis teem encontrado dificuldades.

Mas hoje é mais difícil á Espanha desenvolver a sua acção em Marrocos, onde as potencias intrigam, do que o teria sido a Por- tugal nos séculos XVI e XVII.

Os marroquinos odeiam os espanhóis, sobretudo depois da ex- pedição de Tetuan, em 1859. A Grã-Bretanha não tem querido haver de Marrocos mais que as vantagens comerciais. A Bélgica e a AUemanha, depois que esta potencia realizou em 1886 a sua expedição comercial, seguida do estabelecimento de uma carreira regular de vapores, seguiu em Marrocos a orientação dos ingleses.

Foi em 1892 que a França concedeu a Marrocos o tratamento de nação mais favorecida. Portugal, perdida a oportunidade da sua eficaz acção em Marrocos, olha indiferente para tão compli- cado problema.

Hoje tudo parece perdido para Portugal, em Marrocos. As circunstancias favoráveis desapareceram. A declaração franco in- glesa de 8 de abril de 1904 assegurou á França o assentimento da Inglaterra ao plano do governo de Paris, com compensações no Egypto.

Hoje a França pensa fazer na Africa do norte o que a Grã- Bretanha fez na índia um grande império.

E os portugueses esparsa a sua acção colonial que vai do

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._9i_

Atlântico ao Indico, que ainda tem sobrevivcncias no Industão e no arquipélago de Sonda, assistem ao desenvolvimento de uma grandeza nova no Gharb d'alemmar, e ao comemorarem a tomada de Ceuta sentem que melhor destino económico e histórico pode- riam ter procurado os homens heróicos da conquinta se houvessem conseguido a prolongação da Pátria na região feracissima do Kíaghreb,

Lisboa, julho de 191 5.

Carneiro de Moura

Professor da Escola Colonial

plantas toxicas e medicinais de Marrocos

(Comemoração da Tomada de Ceuta)

Ha dois pontos de vista sob os quais não nos consta que Mar- rocos haja sido, antes de nós, estudado.

São os que dizem respeito ás suas plantas medicinais e ás suas plantas toxicas.

Numerosissimas as espécies medicinais, e pequeno, já, o espaço I neste numero do Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa^ para delas podermos convenientemente tratar, somos obrigados a pô-las de parte, para nos ocuparmos tão somente, agora, das que, em menor numero, ha a registrar as toxicas; e isto, ainda, da maneira a mais simples, como breve ou rápida.

Pelo motivo apontado, também eliminaremos o que, a propósito, viria dizer-se, e a vários respeitos, sobre a importante Flora de Marrocos que, seja dito de passagem, tão larga representação de espécies comuns acusa para a Flora de Portugal, continental, Ilhas da Madeira e Açores, e Flora das Ilhas de Cabo Verde.

Marrocos "Toxico

Enumeração d'Especies

Aquilegia vulgaris *. Glematis flammula.

' Huma planta he exactamente nomeada, dando- se-lhe um nome genérico e outro especifico.

Fundamentos Botânicos de Carlos Linneo, Que Expõem, Em Forma de Aforismos, A Theoria da Sciencia Botânica, Vertidos de Latim Em Portuguez, Illustrados e Accrescentados Por Manoel Joaquim Henriques de Paiva. Lisboa, '.819. Na Of. de Joaquim Thomaz de Aquino Bulhões, Com Licença da Meza do Dezembargo do Paço.

VIU. As Differenças. 256. Paginas 87.

100

Conium maculatum. Coriandrum sativum. Coriaria myriifolia.

glauca. Eringium campestre. Euphorbia charadas.

helioscopia. Ferula communis. Glacium luteum. Hvosciamus albus. Lathyrus aphaca. cicera. clysmenum. sativus. Mercurialis annua. Oenanlhe apiifolia. Pancratium maritimum. Papaver dubium.

rhoeas. Ranunculus arvensis. bulbosus. Ficaria. Raphanus raphanistrium. Sambucus Ebulis.

nigra. Sedum acre. Solanum nigum. Trifolium repens.

Lisboa, 23-V11-1915.

João Cardoso Júnior.

SUBSIDIO BIBLIOGRÁFICO

Historia da Conquista de Ceuta

Estas notas bibliográficas respeitam somente á indicação das obras existentes na biblioteca da Sociedade de Geografia de Lis- boa, que tratam da conquista de Ceuta, dalguns assuntos que se relacionam com aquela e do pouco mais que se nos deparou nas buscas que fizemos, para o fim primacial. Não teem, pois, preten- çÕes descabidas, por motivos óbvios.

A seriação das espécies obedeceu, tanto quanto possivel e na maioria dos casos, á cronologia da narrativa, prcstando-se ao es- tudo da evolução da critica da nossa primeira Conquista para além do continente.

J. F.

1. Um aventureiro na empresa de Ceuta, por Anselmo Braam-

camp Freire. 191 3. Livraria Ferin. Lisboa 3o p.

Neste opúsculo o Ex."" Sr. Braamcamp Freire uma nova edição critica da narrativa da Conquista de Ceuta, de Antoine de La Salle, Du réconfort de Madame du Fresne, escrito entre 1457 e 1459 e pu- blicado no livro de Joseph Nove, Antoine de La Salle. Sa vie et ses Ouvrages. (Paris-Bruxelles, igoS).

De la Salle, tendo-sealistadonaexpediçãoaCeuta, foi testemunha ocular da Conquista e a sua narrativB concorda com as de Pisano e Azurara.

2. Terceira parte Da Chronica d'EiRei D. João, o Primeiro e dos

Reis de Portugal o decimo Em que se contem a Tomada

102

de Ceuta composta por Gomes Eannes de Azurara Chro- nista mór d'estes Reinos. (Bibliotheca dos Clássicos Portuguezes). Lisboa, 3 vol. 1899- 1900.

Odirector-literario desta biblioteca, era ao tempo Luciano Cordeiro. Os três vol. que constituem, como o titulo indica, a 3.' parte da crónica de D. João i, da qual as duas primeiras se devem a Fernão Lo- pes, são os vol. viii-ix-x da coleção da Biblioteca.

3. Chronica do descobrimento e conquista de Guiné escrita por mandado de Elrei b. AfFonso v sob a direcção scientifica, e segundo as instrucções do illustre Infante D. Henrique pelo chronista Gomes Eannes de Azurara ; fielmente tras- ladada do manuscripto original contemporâneo, que se cou- serva na Bibliotheca Real de Pariz, e dada pela primeira vez á luz por diligencia do Visconde da Carreira, enviado extraordinário e iMinistro Plenipotenciário de S. Magestade Fidelíssima na Corte de França; precedida de uma introducção e illustrada com algumas notas, pelo Visconde de Santarém, e seguida d'um Glosssrio das palavras e phrases antiquadas e obsoletas. Pariz. Publicada por J. P. Aillaud mdcccxli. Vol. de xxv-l-474 p- e uma de erratas. Abre esta edição com o retrato colorido do infante D. Henrique. O texto, em to- das as paginas, é enquadrado por largas vinhetas de três cm. de largura, todas do mesmo desenho.

O sábio escritor que fez a introdução desta obra, e que a anotou, escreveu, a respeito das particulari- dades históricas que ela contém, que, entre outras não devia deixar de mencionar «a que nos revela a sabedoria dos planos do grande rei D. João i, acerca da ocupação e posse de Ceuta e ao mesmo tempo a de Gibraltar afim de ficarem por tal modo os por- tuguezes senhores do Mediterrâneo, e ao mesmo tempo da Africa septentrionaU.

Sem dúvida este livro é clássico no que respeita á Conquista de Ceuta e aos fins a que essa conquista visava. Mencionar as citações que contém sobre o assunto que é objecto destas notas bibliográficas, é o mesmo que aconselhar a sua completa leitura posto que fastidiosa mesmo para quem esteja afeito a con- sulta das obras eruditas dos sec. xv e xvi.

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4. Gomes Kanncs do Azurara, por Alexandre Herculano, (in

«Opúsculos», tomo v Controvérsias e Estudos Históri- cos^ tomo ii).

5. Livro da guerra de Ceuta escrito por mestre Matheus de Pi-

sano em 1460.

E esta li primeira obra publicada na Coilecção de livros inéditos da Historia Portuguesa, da Acade- mia Real das Scicncias de Lisboa. K escrita em la- tim e precedida duma introdução em português em que se noticia de Mateus de Pisano.

O titulo da obra em latim é o seguinte: «... Gesta lllustrissimi Regis Johannis de Bello Septensi, acta per Reverendum Matthicum de Pisano, Artium Magistrum Poetamque laureatum».

Esta obra foi escrita 45 anos depois da tomada de Ceuta.

6. Chronica do Conde D. Pedro continvada aa tomada de Cepta

a qual mandou KlRev D. AlTonso v deste nome, e dos Reys de Portugal xii. escrepver. [Por] Gomes Eannes de Zurara.

E' a V obra publicada na Coilecção de Livros Inéditos da Historia Portugue:ça, da Academia Real das Sciencias de Lisboa, (tomo 11).

Na introdução que a precede, diz-se que foi ver- tida em latim por Mateus de Pisano.

A letra do ms. era dos fins do sec. xv ou do prin- cipio do sec. XVI.

Este conde D. Pedro foi, como é sabido, o pri- meiro Capitão da cidade de Ceuta.

7. Chronica do Condestabre de Portugal Dom Nuno Alvarez Pe-

reira com revisão, prefacio e notas por Mendes dos Remé- dios. (Subsídios para o estudo da Historia da Literatura Portuguesa, xiv). Coimbra, Composto e impresso na T3^p. França Amado. Editor 191 1.

Esta crónica, da qual é esta a edição ultima, não tem nome de A. O douto prefaciador, diz a p. xii o seguinte, acerca da simplicidade da forma como os factos são narrados e da maneira como a vida do Condestavel foi apanhada em flagrante: «E' por isso de crer que algum contemporâneo de D. Nuno Alva- rez Pereira, companheiro das suas lides de guerra, testemunha ocular das suas façanhas heróicas, fosse

104

o auctor da Chronica, no qual não quiz deixar o seu nome, que nada era, em frente do do seu heroe, que era tudo».

No que respeita ao especial motivo d'estas no- tas o cap. i.xxviii tem o seguinte título «Como elrey foy tomar Cepta : e o Côdestabre elle».

8. Chronica d'P3Irev Dom Duarte, d'este nome ho primeiro, dos

Reys de Portugal ho onzeno, dirigido a Klrey Dom Manuel, deste nome ho primeiro, seu neto nosso Senhor; por cujo mandado Ruv de Pina, Cavalleiro de sua Casa, e seu Cro- nista-Moor e Guarda Moor de Torre do Tombo primeiro a compoz.

E' a segunda obra publicada na Col. dos livros inéditos da Historia Portuguesa da Academia Real das Sciencias de Lisboa, (vol. i). E' precedida de uma introdução em que é feita uma síntese das obras de Ruy de Pina.

Do Cap. X em diante trata das expedições ao Norte d'Africa.

9. Chronica do sereníssimo príncipe D. João escrita por Damião

de Góes, dirigida ao munto magnânimo e poderoso Rei D. João III do nome. Coimbra : Na Real Officina da Uni- versidade, Anno de mdcclxxx.

No Cap. VI refere-se á tomada de Ceuta e ao cerco que quatro anos depois lhe fizeram os mouros se refere nos capítulos seguintes.

10. Histoire et description de TAfrique et de ses choses memora- bles contenues en Icelle. (Encadernação de carneira, com outros).

Faz parte esta obra, editada em i556. do Histo- riale de João Temporal, de Leão. O A. João Leão, o Africano, foi um letrado musulmano de origem es- panhola (Granada ) ; Hassan, filho de Mohammed, ti- nha o apelido de Ouazzan. Acerca da vida de Has- san-ibn-Mohammed, veja-se a edição anotada por Ch. Scheffer no Recueil de Voyages et de Documents poiír servir à Ihistoire de la Géographie depuis le XUI^ jusquà la fin du XVI^ siecle. Paris, Ernesl Le- roux. Paris, 1896.

João Leão, faz no livro terceiro da sua obra, es- \ crita em árabe mas cuja i.* tradução é aquela de que

tratamos, a descrição de Ceuta e da sua origem.

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A propósito, diremos que o exemplar do Histo- riaíe que a S.Íj.I.. possua na sua Bihliotecíi, tem as 20 primeiriís paginas incluindo a do rosto, manuscri- tas, assim como as ultimas i6. Consta de dois tomos em um volume, sendo o i." vol. dividido cm duas partes e contém as seguintes obras como todos os exemplares completos : i.° tomo Navigation d'Hanno, Capitaine Cartagi-

noys, premier qui à decouvert les parties d'Atri-

que. 3 p. in.

Discours sur icelle Navigatiõ fait par vn pilot Por-

tuguês. 8 p. in.

Description de TAfrique par Jean l.eon, African

I 394.

Discours sur la Navigation du Seigneur Alouys de

Cademoste, 2 p. (3g5-396).

Navigation du dit Seigneur de Cademoste, au país

des Noirs, p. 400-452

Navigation de Pierre de Sintre, escrite par le

dit de Cademoste, 453-455.

Navigation de Lisbone à Tile S. Thomas par vn

pilot português, p. 477-495.

Lettres d'Americ Vespuce, p. 457-476.

Seguem-se 22 p. de indica do i.° tomo rosto do n tomo 7 p. com dedicatória, prefácios, pri- vilégios e carta de Africa, e 8 p. de índices 2.'* tomo Les navigations des capitaines Vasque de Gamme & Pierre Aluares, de Thomas Lopes & Jean d'F'.mpoli, 70 p.

Le voyage de Louys da Bartheme, 1 1 1 p. e grav.

La navigation de Jambol, ii3-i25 grav.

Discours sur les lettres de André Corsal, 126-129.

Lettres de la Royne Helene, Mere de Preste.

Jan à Emmanuel, Roy de Portugal, i3o-i32.

Lettres de André Corsal, contenant son voyage,

i33-i6o.

Segue-se o rosto da ultima parte do 2.° tomo e 14 p. de Índice.

Description de rEthiopie par Francisque Aluares,

243 p.

Lettres de Dauid, Prete-Jan au Pape Clement vii.

& à Jean & Emmanuel Roys de Portugal, 244- 263. e uma p. com mapa.

Discours sur le flevue du Nil, par Jean Baptiste

Rhamusio, avec la response de Hierome Fra-

castor, 261-3 16.

Ainda acerca da obra de João Leão, também João de Granada, o Africano, diremos que muitos autores do século xvii foram ali buscar muitos ele-

io6

mentos, que são considerados ainda valiosos, para escrever sobre o continente africano.

11. Tratado de paz entre EI-Rei o Senhor D. Affonso vi e Car-

los II Rei de Hespanha, por mediação de Carlos ii Rei da Gran-Bretanha, feito e concluído no convento de Santo Eloy da cidade de Lisboa, a i3 de Fevereiro de 1668, ratificado por parte de Portugal, em 3 de março, e pela de Hespa- nha, em 23 de fevereiro do dito anno.

Este tratado vem inserto a p. 35~ do tomo 1 da «Collecção dos tratados, convenções, contratos e actos públicos celebrados entre a Coroa de Portugal e as mais Potencias desde 1640 até ao presente, compila- dos^ coordenados e annotados por José Ferreira Bor- ges de Castro. Lisboa, Imprensa Nacional, i856.

O artigo II do tratado, em que se acordou na res- tituição das Praças tomadas a Portugal reza no pe- núltimo período : «Declarão porem, que nesta resti- tuição das Praças não entra a cidade de Ceuta, que ha de ficar em [>oder de El-Rey Catholico, pellas ra- zoens que para isso se considerarão».

Este tratado foi renovado pelo Art. xy do Tra- tado de AUiança de 19 de Junho de 1701 pelo Ar- tigo xiii do de 6 de Fevereiro de 171 5 pelo Art. 11 do de 10 de Fevereiro de 1763 pelos Tratados do 1.° de Outubro de 1777 e de 1 1 de Março de 1778- {Op. cit.J.

12. Africa Portugvesa por Sv avtor Manvel de Faria, y Sovsa

Cavallero de la Orden de Christo, y de la Casa Real. Tomo único dedicala António Craesbeeck de Mello ai Sereníssimo Príncipe Don Pedro regente, y gobernador de Portugal & C. A costa d'Antonio Craesbeeck de Mello, Impressor de Su Alteza. Lisboa, Ano 1681.

O capitulo II intitula-se : «De la expugnacion de la fortissima Plaza de Ceuta, por el Rey Don Juan i dei nombre, y x de los Reys de Portugal».

E' historia mais ou menos minuciosa da Con- quista de Ceuta.

13. Vida de D. Nuno Alvares Pereira, segundo Condestavel de

Portugal, Conde de Ourem, Arrayolos, e Barcellos, mor_ domo-mor de ElRey D. João o Primeiro; senhor donatário das villas de Valença, Basto, Bouças, Baltar, Penafiel, cas-

107

tello de Piconlia, Portello, Chaves, Barrozo, Monte Alegre, Ribeyra de Penna, Louzada, Payvn, Almada, Alvayazcre, Rabaçal, Charneca, Porto de Moz, Rio Mayor, V^illaviçosa, Borba, Kstremoz, Kvora monte, í^ortei, Montemor o Novo, Souzel, Alter do Chão, Monsaraz, VJUa de Frades, Vidi- gueyra, Villa Ruiva, Landroal, Monforte, Loulé, &. Proge- nitor da Casa Real, pela Sereníssima de Bragança, em Por- tugal, ascendente das de Castella, França, Áustria, Saboya, e dos mais dos Monarcas, Soberanos, Príncipes, Potenta- dos, Senhores e illustres famílias da Europa. Novamente composto pelo M. R. Padre Fr, Domingos Teixeyra, reli- gioso eremita de Santo Agostinho, oíTerecida á Magestade de Elrey D. João v Nosso Senhor. Lisboa Occidental, na Officina de Musica, mdccxxiii. Com todas as licenças neces- sárias, e Privilegio Real. Vende-se na mesma Officina na rua dos Gallegos.

De p. 690 em deante traz esta obra a descrição da partida da armada que foi á Conquista de Ceuta, enunciando os nomes dos principais capitães a que se segue a narração de factos relativos á tomada da- quela cidade.

14. A vida de Nun'Alvares. Historia do estabelecimento da dynas-

tia de Aviz. [Por] J. P. Oliveira Martins. Lisboa, Livraria de António Maria Pereira editor, mdcccxciii.

15. Os filhos de D. João i por J. P. Oliveira Martins. 2.* edição.

Lisboa, Parceria António Maria Pereira, livreiro editor, j 90 1 .

O II Capitulo desta notável obra de Oliveira Mar- tins, intitula se «Ceuta».

E' uma das mais belas paginas de romantismo histórico acerca da conquista daquela praça.

16. Crónicas dei Rey Dom João de gloriosa memoria, o i deste

nome, e dos reys de Portugal o x, e as dos reys D. Duarte, e D. AfFonso o v por Duarte Nunes de Leão. Lisboa Na Offic. de Jozé de Aquino Bulhoens. Anno mdcclxxx. 2 vo- lumes.

Desde o capitulo lxxxii p. 3q2 do i.* vol. até ao fim do capitulo xcvii, p. 475, trata o Autor da Con- quista de Ceuta.

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17. Vida do Infante D. Henrique, escrita, e dedicada á Magestade

Fidelíssima de EIrey D. Joseph i, Nosso Senhor, por Cân- dido Lusitano. Lisboa, na Officina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno mdcclvui. Vol. de xii paginas in. mais 3q3 e II de licenças do Santo Oíficio. Frente ao rosto o retrato do Infante D. Henrique.

O livro I que abrange as 102 primeiras paginas trata da tomada de Ceuta.

18. Vida do Infante D. Henrique de Portugal appellidado o nave-

gador e seus resultados comprehendendo o descobrimento, no espaço de um século, de metade do mundo com factos novos quanto ao descobrimento das ilhas atlânticas, uma re- futação das pretensões dos francezes á prioridade nos des- cobrimentos, provas de que os portuguezes tiveram conhe- cimento (subsequentemente perdido) dos Lagos do Nilo e com a historia do nome da America. Conforme documen- tos authenticos contemporâneos por Richard Henry Major Vertida do inglez por José António Ferreira Brandão. Lisboa. Imprensa Nacional, 1876.

O cap. ni desta obra, que se intitula «Ceuta», e que inclue o retrato da Rainha D. Filippa e uma planta daquela cidade, abrange 19 paginas tratando da embaixada á Sicilia, da morte da Rainha e da to- mada de Ceuta, factos que andam em todas as obras ligados pela sua sequencia.

19. Historia de S. Domingos particular do reino e conquistas de

Portugal por Fr. Luis de Cacegas da mesma ordem e pro- vincia, e chronista d'ella. Reformada em estilo e ordem, e amplificada em successos e particularidades por Fr. Luis de Sousa, Terceira edição, Lisboa, Typ. do Panorama. Rua do Arco do Bandeira 112. mdccclxvi. 3 vol.

No capitulo XXIII do livro vi contem o epitáfio latino da sepultura de D. João i, e no capitulo se- guinte a tradução em português do mesmo epitáfio. Como se sabe, foi pela letra do epitáfio que se veri- ficou que fora a 21 e não a i5 de agosto de 141 5 que se fez a conquista de Ceuta.

No capitulo XX e seguintes do livro 11 da Segunda Parte da Hist. de S. Domingos estuda-se a origem de Ceuta e a sua conquista.

109

20. Kpitome de Ias historias portvgvesas, dividido en quatro par-

tes : por Manuel de Faria y Sousa. Adornado de los retra- tos de sus Keyes con sus principales liazanas. * En Brusselas, por Francisco Foppcns, Impressor y Mercador de Libros. M.DC.LXxyii.

A p. 145-146 referencias á Conquista de Ceuta.

21. Historia de Portugal restaurado, ofTerecida ao Illust.'"" e Ex-

cellent."" Senhor D. Joseph Mascarenhas, escrita por D. Luiz de Menezes, conde da Ericeira. Lisboa na Officina de Domingos Rodrigues, aos Anjos mdccii. 4 vol.

A p. Q do 1." vol. Part. i. L.° i refere-se á con- quista de Ceuta.

22. Noticias chronologicas da Universidade de Coimbra, dedica-

das á Magcstade Delre}' Nosso Senhor D. João v. Escritos pelo Beneficiado Francisco Leitão Ferreira, académico real de numero. Primeira parte, que comprehende os annos, que discorrem desde o de 1288, até principios do de 1537. Lis- boa Occidental, na Officina de Joseph António da Sylva, Impressor da Academia Real, m.dcc.xxix.

De pag. 3i3 em diante trata o A., a propósito da veracidade do epitáfio na sepultura do Mestre d'Aviz, da data da expugnaçso de Ceuta, acabando por trans- crever de Gomes Eannes da Azurara o diário da ex- pedição, cujas datas discute com grande soma de ci- tações.

23. Tratado dos descobrimentos antigos, e modernos, feitos até a

Era de i55o, com os nomes particulares das pessoas que os fizerão : e em que tempos, e as suas alturas, e dos desvai- rados caminhos para onde a pimenta, e especiaria veyo da índia ás nossas partes ; obra certa muy notável, e copiosa. Composto pelo famoso António Galvão offerecido ao excel- lentissimo senhor Dom Luiz de Menezes quinto Conde da Ericeira. Lisboa Occidental na Officina Ferreiriana. m.dcc.xxxi.

Referencia a p. 19, á tomada de Ceuta.

I IO

24. Historia de Tangere, que comprehende as noticias desde a

sua primeira conquista até a sua ruina. Escrita por D. Fer- nando de Menezes, Conde da Ericeira Ofterecida a Elre^ D, João V. Nosso Senhor. Lisboa Occidental, na ofticina Ferreiriana. m.dcc.xxxh.

No livro primeiro, paragrafo 21, pagina i3, ha referencia á armada que foi á conquista de Ceuta.

25. Historia Genealógica da Casa Real Portugueza desde a sua

erigem até o presente, com as famílias illustres que proce- dem dos Reis, e dos Sereníssimos Duques de Bragança, justificada com instrumentos e escriptores de inviolável e offerecida a El Rey D. João v. Por D. António Caetano de Sousa. Lisboa 1735 a 1748. 12 tomos em i3 volumes e 1 de Índice geral.

A consulta do «índice Geral», sob a e[>igrafe ftCeula» indica as seguintes citações : «A cidade de Ceuta, erecta em Bispado», tomo 11, p. 27 «Por quem foi ganhada aos Mouros», tomo II, p. i3 «Que depojos tirou da sua Conquista o Duque D. AfTonso, e o que lhe disse Elrey seu pay» tomo v p. 75 «Como a soccorreu El-Rey D. Pedro Segundo», tomo VII, p. 674 «Refere-se o sitio desta Praça, e o que obrarão nelle os Portuguezes, e Castelhanos», tomo xii, P. I, p. 401, e seg.

26. Dialogo de varia historia, em que se referem as vidas dos se-

nhores reis de Portugal com os seus retratos, e noticias dos nossos reinos, e conquistas, e vários successos do mundo, por Pedro de Mariz. Quinta impressão accrescentada até á regência de Sua Alteza Real o Príncipe Regente N. S. Lis- boa na Impressão Regia. Anno mdcccvi. 2 vol.

Esta edição, diz Figanière, é a 6.« e não a 5.* como reza o frontispício.

No I." vol, p. 369-370 refere-se á tomada de Ceuta : «...cidade muito populosa, opulentissima, e muito forte, e mais cruel competidora da Hespanha,. do que foi Carthego de Itália.»

II I

27. Annaes da Marinha Portugueza por Ignacio da Costa Quin-

tella. ^

Lisboa, i83y. 2 vol.

Esta obra foi impressa na tipografia da Acade- mia Real das Sciencias. De p. 57 a G2 refere-se á to- mada de Ceuta.

28. Annaes Maritimos e Coloniaes. Publicação sob a direcção da

Associação Maritima e Colonial. N." i. Novembro de 1840. Lisboa. Na Imprensa Nacional.

A p. 7, referencia á expedição de Ceuta : «Em 1415, indo ElRei á grande e gloriosa expedição de Ceuta, armou 220 vasos, em que entravam 33 náos grossas, 59 galeras, e muitos galeões, caravellas, e outros navios de difterentes postos, sahindo da Barra do Douro 70 velas, em que entravam 17 gale- ras.»

29. índice chronologico das navegações, viagens, descobrimentos,

e conquistas dos portuguezes nos paizes ultramarinos desde o principio do século xv [por D. Frei Francisco de S. Luiz]. Lisboa na Imprensa Nacional.

A p. 6 refere-se, á expugnação de Ceuta discu- tindo a data em que se deu a referida conquista que infere foi a 21 de agosto.

30. Memoria histórica sobre os bispados de Ceuta e Tanger por

Levy Maria Jordão. Lisboa. T3'pographia da Academia Real das Sciencias, i858.

E' separata de Hist. e Memorias N. S. 2." ed. ; II, parte u da Academia Real das Sciencias de Lis- boa.

Abundam nesta obra as citações das fontes.

3L Historia Ecclesiastica Ultramarina pelo Visconde de Paiva Manso Tomo i. Africa Septentrional. Bispados de Ceuta, Tanger, Safim e Marrocos. Lisboa, Imprensa Nacional. 1872.

O A. não publicou mais vol. algum desta obra. Preciosa indicação é a que se contem de p. xciii a xcvii de alguns escriptos mais importantes dos sec. XVI e xvii para a historia da Africa Septentrional.

I 12

32. L'Expédition de Ceuta en 141 3 par Le Baron Ed. de Spten-

ville. Paris, Librairie General 72, Boulevard Haussmann, 1879 Imprimerie de I. Durand F^écamp.

O barão de Septenville que escreveu alguns vo- lumes da historia portuguesa ofereceu, esta obra a J. da Silva Mendes Leal. L' Expédition de Ceuta,como o seu titulo indica, é uma descrição do que íd\ a con- quista de Ceuta precedida de uma introdução refe- rente ao Infante D. Henrique e um capitulo em que se esboça o estado geral de Portugal no principio da dinastia de Aviz.

AS obras deste autor respeitantes ao nosso país constituem uma colecção com o titulo geral de : uFastes Militau-es & Maritimes du Portugal» e cons- tituem sete volumes além deste, com os seguintes titulos:

«Découvertes et Conquêtes du Portugal dans les deux Mondes» «Etude historique sur le Marquis de Pombal 17381777». «Le Portugal et Tunité ibé- rique» «Le Portugal et ses colonies» «Notice biographique sur S. M. L don Pedro iv» «Les droits de la Coloine de Portugal sur la baie de Lourenço Marques» «Le Brésil sous la domination portu- gaise».

33. Obras completas do Cardeal Saraiva (D. Francisco de S. Luiz)

Patriarcha de Lisboa. Precedidas de uma introducção pelo Marquez de Rezende publicadas por António Correia Cal- deira. Lisboa. Imprensa Nacional, 1872-1883. 10 volumes.

Nesta colecção encontram diferentes referencias á tomada de Ceuta, que enumeramos : Vol. I No artigo intitulado : Breve noticia dos bis- pos de Portugal, a p. 53, acerca do estabeleci- mento da Catedral logo depois da conquista de Ceuta. Vol. Ill No artigo intitulado : Memoria sobre a Ex- pedição de Tanger no ano de i43j, a p. 3 18, acerca das razoes com que se justificava a em- preza de Ceuta. Vol. IV Na Chronologia de El- Rei D. João i de Boa Memoria^ a p. 70, noticia da tomada de Ceuta. Vol. V Em nota a p. 24 acerca dos estrangeiros que foram na armada no «Indico chronologi-

ii3

CO», a p. 52, a noticia da conquista em que se precisa a data daquela e se contem o numero de navios da expedição. Esta noticia foi citada em outra edição do «Indico chronologico», de 1841. (Veja o n.° 28).

34. f)- João I e a alliança ingleza. Investigações historico-sociaes

pelo Conde de Villa Franca. Lisboa. Livraria F^erreira. iS84.

Esta obra foi impressa na Imprensa da Univer- sidade de Coimbra,

A p. 25 a definição de galé e de nau mencio- nando a conquista de Ceuta e o comando da frota.

De resto, este trabalho é muito curioso pelos costumes que nos descreve e pela simplicidade do estilo.

35. Histeria de Portugal desde a fundação da monarchia até á

revolução de 1820 [por Henrique Schaefer]. Vertida fiel integral e directamente por F. de Assis Lopes continuada, sob o mesmo plano, até os nossos dias por J. Pereira de Sampaio (Bruno). Porto, Escriptorio da Empreza Editora, 414. Rua do Bomjardim. 1893-1899. 5 vol.

De p. i38 em diante do vol. 11 encontra-se a descrição da conquista de Ceuta, dos factos que a precederam e se lhe seguiram e que com ela se re- lacionam.

36. A obra do infante. Publicação destinada a commemorar o

quinto centenário do nascimento do Infante D. Henrique i Duque de Vizeu [por] Lino de Macedo. Macedo & C.^, 27, rua do Lorelo, 29. Lisboa.

No cap. II, que se intitula Ceuta, o autor dis- cute a hipótese da conquista da cidade de Ceuta ter obedecido a um plano previamente meditado e de consequências previstas.

37. Homenagem ao Infante D. Henrique no quingentesimo anni-

versario de seu nascimento no Porto em 4 de março de março de 1394, por António Francisco Barata. 1894. Livraria Ferreira. Lisboa.

A p. 14-15 refere-se á tomada de Ceuta.

114

38. O Infante de Sagres, por Fortunato de Almeida]. Obra pre-

miada no concurso de Memorias sobre o Infante D. Henri- que, por ocasião das festas do quinto centenário do nasci- mento do mesmo infante. Porto. Livraria Portuense de Lopes & C.'' Successores de Clavel & C* 1894. Typ. A. F. Vasconcellos, rua de Noronha, 5i.

O cap. II trata da expedição a Ceuta.

39. O Infante D. Henrique.

Traços biographicos do Ínclito «iNavegador» por Tristão Mo- reno precedidos do retrato do infante e seguidos do pro- grama dos festejos que se hão de effectuar no Porto para commemorar o seu 5.° Centenário. Edição popular.

Imprensa Commercial. Porto, 1804.

O autor desta brochura, da p. 8 em diante, tratn da disposição do Infante D. Henrique para a con- quista de Ceuta e do valor que mostrou na tomada da praça.

40. O Infante D. Henrique e a arte de Navegar dos Portuguezes.

Conferencia feita em 19 de fevereiro de 1894 no Club Mi- litar Naval, por Vicente M. M. C. Almeida d'Eça. Se- gunda edição revista e aumentada com algumas notas. (Com- memoração de Centenário Henriquino). Lisboa. Imprensa Nacional, 1894. 49 p.

O autor, da p. 11 a i3, apresenta em síntese,, quais os conhecimentos do mundo físico á data do regresso da conquista de Ceuta, conhecimentos que ao espirito do Infante D. Henrique se apresentaram.

(Fez-se deste trabalho uma edição em papel Whatman de que se tiraram cinco exemplares nu- merados e rubricados pelo autor e uma outra, em papel de linho, de 25o exempi. também assignados e rubricados pelo autor ; desta possue a S. G. o n." 35 e saiu da Imprensa Libanio da Silva, Lisboa, 47, rua das Gáveas).

41. O Infante D. Henrique [por] Manuel Barradas. Lisboa. An-

tiga Casa Bertrand. José Bastos. Livreiro-editor, Rua Garrett, (Chiado), 73 e 7D. 1894. Typographia da Compa- nhia Nacional Editora.

No que respeita a Ceuta este livro contém, a p. 20, um periodo em que se faz um asserto discutível

ii5

c que deve interessar os estudiosos. Diz o autor : Hoje, c facto assente, que depois da envestida de Ceuta c que o infante navegador ccmeçou a ali- mentar a ideia de encontrar a rota para a índia».

42. Sagres e a nossa gloria [por{ Renato Franco. Minerva Acadé-

mica. Aveiro 1894.

Nas primeiras 17 paginas desta pequena bro- chura o A. trata da empreza de (^euta.

43. Um Contemporâneo do Infante D. Henrique. Carta a Mr.

Mathieu Lugan por Alberto Pimentel. Porto, Typ. de A. J. da Silva Teixeira, 1894.

Este interessante trabalho refere-se a João Vaz de Almada, a quem D. João i, diz o A., deu a capitania e guarda da fortaleza de Ceuta e que a teve até que o rei partiu para Portugal deixando por capitão da ci- dade D. Pedro de Menezes.

O contemporâneo do Infante D. Henrique de que o A. trata, porem, é D. Álvaro Vaz de Almada, filho- daquele.

44. Historia de Portugal popular e illustrada Jporj Manuel Pinheiro

Chagas. Terceira edição. Lisboa. Empreza da Historia de Portugal. Sociedade Editora. Livraria Moderna. 96, Rua Augusta. MDccGxcrx-MDCCCCiír. 8 vol.

Os capítulos vu, VIII e ix do segundo volume tratam da expedição e conquista de Ceuta e da sua importância.

45. Esmeraldo De Situ Orbis de Duarte Pacheco Pereira. Edição

critica annotada por Augusto Epiphanio da Silva Dias. Lis- boa. Typographia Universal. igo5.

E' separata da 22.* serie do Boletim da Socie- dade de Geografia de Lisboa. Esta obra tem algumas referencias á cidade de Ceuta e tem especial impor- tância por que nessas referencias se define, em ge- ral, e situação geográfica da cidade. A consulta do respectivo indice dos nomes próprios da mesma, dis- pensa-nos da citação dos lugares, limitando-nos a in- dicação da obra.

iib

Do Esmeraldo De Sitii Orbis ha uma outra edi- ção, impressa em 1892 em celebração do quarto cen- tenário do descobrimento do Novo Mundo. Esta edi- ção foi publicada pela Inspecção Geral dos Arquivos e Bibliotecas Publicas.

46. Ktude préiiminaire sur la prise de Ceuta par les portugais.

Le 2 1 aoút 1415 Par le general C. R. du Bocage. Lis- boa. Typographia da Cooperativa Militar 3o, Rua de S. José, 42. 1912.

Este trabalho foi escripto para o X Congresso Internacional de Geografia mas não chegou a ser distribuído. E inserto no «Boletim Comemorativo do V Centenário de Ceuta», da S. G. L.

47. o Sino de Ceuta. Documentos do Arquivo Nacional da Torre

do Tombo publicados por José Joaquim d'Ascensão Val- dez. Subsidio histórico para a celebração do 6.^^ Centená- rio da Tomada de Ceuta. Lisboa, 1914. Composto e impresso na Tipografia Casa Por- tuguesa.

E' uma pequena monografia, com documentos, pela qual se mostra ter sido fundido para Ceuta, por mandado de D. Nuno Alvares Pereira, um sino des- tinado a ser colocado em uma atalaia da fortaleza da praça para chamar as gentes a recolherem á praça, quando fosse necessário.

48. Historia e Genealogia por Affonso de Dornellas. Lisboa.

MCMXUI-MCMXIV. 2 Vol.

Nos dois volumes publicados, desta colecção, en- contram-se as monografias seguintes :

i.° vol. p. 1 1-21 Uma planta de Ceuta, com 2 grav. e mais i desdobrável Uma lapide em Ceuta p. 75-86 Bases genealógicas dos Ataides p. 107- 142.

II vol. : Nossa Senhora Conquistadora A Por- tuguesa em Ceuta, p. 5- 12 Um tratado de Com- mercio em Ceuta no século XF, p. iS-ig e 2 grav. A bandeira de Ceuta. Subsidios p. 41-59 e grav. | Pereiras de Ceuta, p. 61-75 e i grav. O brasão de Ceuta, p. 127-147 e grav.

O I." vol. de 200 p. e muitas grav , com o retrato do A., foi composto e impresso na tipografia da li- vraria Ferin, 70, R. Nova do Almada, 74 ; o 2.° vol.

^'7

de 200 p. e grav. foi composto e impresso na Ca^a Portuguesa, ijq, Rua do Mundo, 141.

49. Documentos vários. I. Uma planta de Ceuta por] AlVonso de

Dornellas. A propósito do 5." Centenário da tomada de Ceuta e do 4." da morte de AíTonso d'Albuquerque. 1913. Livraria Ferin. Lisboa, lí- p. e mapa.

E' separata da obra anteriormente citada.

50. Brasões da Sala de Cintra de Anselmo Braamcamp Freire.

Esta obra notável sob muitos pontos de vista é dividida em três livros tendo sido o Primeiro «im- presso por Francisco Luiz Gls em Lisboa aos iii dias de Junho de mdccc.xcix» o livro segundo foi im- presso pelo mesmo «aos xxij dias de Fevereiro de M.DCD.i» o livro terceiro foi «Impresso por Augusto Lima & parceiro em Lisboa aos xxxj dias de Janeiro

de M.DCD.V.»

A tiragem desta edição foi de setenta e um exem- plares, todos numerados e assinados pelo autor, sendo o da Biblioteca da S G.L. o n." v^. A obra é ornada de muitas gravuras de brazões.

O terceiro livro contem um Índice geral dos dois livros anteriores, seguindo-se da p. lyS a 3 10 os «Re- toques» ; da p. 3i3 a 340 o indice dos «Retoques» e mais uma pagina de correcções e uma outra com o indice de matérias. Os dois Índices apontam noventa e três citações sobre a epigrafe de Ceuta, tratando especialmente dos capitães, do bispado, da expedi- ção e da tomada de Ceuta.

51. Archivo Histórico F^rtuguez. Directores : Anselmo Braamcamp

Freire e D. José da Silva Pessanha. Redacção e Adminis- tração, Rua do Salitre, 3 14, Lisboa.

Esta excelente publicação que começou a pu- blicar se mensalmente em janeiro de igoS, vai no seu IX volume e constitue um precioso repositório de ar- tigos sobre assuntos históricos.

Nos Índices respectivos a cada volume encon- tram-se muitas indicações sob a epigrafe «Ceuta» que não podem deixar de consultar-se.

O «Arquivo Histórico» publicou uma edição da «Primeira Parte da Crónica de D. João i por Fernão Lopes», em apêndice, imprimindo mais duzentos exemplares assinados e rubricados pelo seu director o Ex.»"° Sr. Anselmo Bramcamp Freire. A edição da crónica é do corrente ano.

TRARALHOS SOCIAIS

190X a^tié X915

roR

Ernesto dk Vasconcellos

Não quiz a Sociedade de Geografia de Lisboa deixar passar o ano de iqi5, em que duas datas celebres da nossa epopêa teem os seus centenários, sem de qualquer forma os comemorar.

A conquista de Ceuta, realizada a 21 de agosto de 141 5, sim- bolisa, como, com tanta justiça se tem dito, o ponto de partida para a serie das descobertas maritimas, que tiveram como conse- quência a posse de um vasto dominio colonial que, embora não integralmente como foi havido, é honra e brilho do nome portu- guês. O que, desse dominio, se nos foi, não apresenta, apesar de tudo, menos honra e menos brilho. O Brasil, por exemplo, en- che-nos de um Justo orgulho, porque é a demonstração viva, evi- dente, das nossas apidões colonisadoras.

A Sociedade de Geografia, que tem por principio a afirmação constante, ininterrupta, da nossa vitalidade de nação colonial, não encontraria, por certo maneira mais significativa de comemorar um tal acontecimento, como aquele a que acima fizemos referen- cia, do que a de apresentar, no seu Boletim especial^ uma rese- nha dos seus trabalhos, como documentação do que vem de di- zer; procedendo de uma forma análoga á que pôs em pratica na ocasião de inaugurar o Congresso Colonial Nacional, em 1901, em que tivemos a honra de lér o relatório dos trabalhos empre. endidos pela Sociedade, durante os primeiros 25 anos da sua existência, que naquele ano tiveram lugar.

Não tem, por vezes, esta instituição verdadeiramente nacional, sido apreciada como devia sê-lo, pelos seus grandes serviços ao país e ás colónias e pelo alto renome que tem sabido grangear nos países cultos da Europa e da America ; renome que lhe me-

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receu as visitas de alguns chefes de Estado e príncipes estrangei- ros adiante enumerados e o ser considerada uma das primeiras sociedades no seu género, cuja instalação pelo método e correc- ção scientifica nas suas diversas secções empregada, a colocam acima de outras bem conhecidas instituições de caracter geográ- fico.

O próprio Estado pouco conhece os nossos trabalhos, os nos- sos serviços e a nossa incessante propaganda colonial; porque infelizmente não os tem devidamente apreciado.

Efectivamente, a Sociedade de Geografia tem feito com que o nome português não fique esquecido em nenhum congresso scien- tifico de caracter geográfico no estrangeiro, pois neles se tem re- presentado, quando mesmo o Estado o não tem feito, o que su- cede na maioria dos casos. Igualmente tem concorrido a peque- nas exposições realisadas fora. Dentro do país organisou varias exposições tais como : a de Cartografia Nacional, que foi um ver- dadeiro sucesso scientifico e histórico ; a dos quatro produtos ri- cos das nossas calonias ; a de meios de transporte e pescas indí- genas e ainda, ultimamente, a de gomas, resinas e cereais das colónias portuguesas. Pelos catálogos de todas estas exposições, publicados e anotados sob a nossa individual direcção, se pode bem ver a importância daquelas exposições.

Sobre tudo isto, realizou a Sociedade de Geografia o Congresso Colonial Nacional, cujos trabalhos o Estado, embora não o con- fessando, tem aproveitado, sendo para notar que a autonomia ad- ministrativa e financeira das colónias, pedida por esse Congresso no voto XVI, ha pouco tempo fosse convertida em lei. O mesmo poderíamos dizer sobre a regulamentação do trabalho indígena e de outras questões então votadas.

A sua sede tem estado sempre aberta ás grandes iniciativas e aos congressos internacionais, que se teem realizado em Lisboa.

A defesa da mão d'obra indígena foi tratada também pela Socie- dade, e a respectiva Memoria foi uma das primeiras, que teve éco na Inglaterra. Ainda o ano passado se ocupou ela, com grande des- envolvimento, dos Problemas Coloniais mais instantes e o relató- rio, a tal respeito publicado, teve uma larga distribuição dentro e fora do país com êxito acima da espectativa, como no-lo mani- festou o celebre colonialista Zimmerman.

O estudo desses problemas coloniais, que tivemos a honra de propor, representa por si a base de uma prudente administra- ção ultramarina, que, afinal, se terá de levar á pratica ; tanto

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nisso a Sociedade de Geografia insistirá. Isto para não citarmos outros serviços, mais anti<T0s, em que teve papel preponderante.

Kmfim, á sua incessante propaganda se deve exclusivamente o interesse que as questões coloniais hoje despertam entre nós e de que a imprensa se ocupa quasi quotidianamente.

Sim, tudo isto tem feito pelo manifesto patriotismo que a anima e que a não deixa um momento, sem versar os assuntos ultramarinos e geográficos em conferencias, comunicações, rela- tórios, memorias, pareceres, etc, de que o Boletim é um belo repositório, para demonstrar e confirmar o que vimos de expor.

Movida pelo mais acrisolado amor ao seu país, embora con- servando-se numa linha de conduta altamente cordata e serena, não vindo combater para a liça com a espada acerada ou com a carabina aperrada, votam-a, talvez por isso, ao ostracismo e ne- gam-lhe o auxilio tão necessário para que não esmoreça em novos cometimentos que, na fase actual da vida europeia, são mais in- dispensáveis de que nunca e servirão de apoio aos Governos, para o decretamento de medidas úteis ao engrandecimento do dominio colonial português.

Neste caminho se tem conservado para não traçar outro em que não desejaria entrar, pois está certa de que o Governo ainda ha de recouhecer-lhe os serviços em toda a plenitude; porque não parará no caminho que se traçou em prol da pátria, sem que o Estado a reconheça como instituição de Utilidade Publica com as inherentes vantagens.

Quizemos, apesar de tudo, levantar o espirito publico por meio de uma celebração nacional, comemorando dois acontecimentos mundiais : o Centenário da Tomada de Ceuta, como inicio das descobertas portuguesas, e o da Morte de Affonso de Albuquer- que, marcando o apogeu das nossas grandezas ; mas, não fomos atendidos, antes se votou verba para uma despesa no estrangeiro a Exposição Panamá-Pacifico, que, em coisa alguma, trará a animação e a vida ao nosso comercio, que seria regado com o ouro que os estrangeiros aqui viriam deixar, se a iniciativa desta Sociedade fosse levada á pratica.

Não poude ouvir se mais este patriótico e útil pedido da So- ciedade de Geografia e aquela comemoração deixa de fazer-se, com o alcance que deveria ter.

Nas instalações da Sociedade funciona o Museu Colonial e a Escola Colonial, com tão manifesta e vantajosa economia que, se não fosse a Sociedade, nem aquele nem esta talvez existissem.

122

OU representariam então uma enorme despesa, como acontecia com o Museu que, antes de ser entregue á conservação da Sociedade, custava ao Governo 4:600 escudos e actualmente liie dispensa apenas o exiguo subsidio de 1:000 escudos, que não chega para as suas despesas, como se prova pelas contas anualmente publi- cadas com o Relatório da Direcção.

Temos resumidamente provado que a Sociedade de Geografia não tem desalentos, continua sempre fiel á sua divisa, e, quando outra coisa não bastasse para o provar, seria suficiente demons- tração ter-se instituído a Comissão de Protecção aos Indígenas ■das nossas colónias, cuja proposta, por dever do cargo, relatámos á Direcção e foi aprovada na assembleia geral de 10 de Maio de 191 3, e que, pela importância do assunto, merecia larga referen- cia se coubesse no espaço de que dispomos ; mas não podemos deixar de dizer que os frutos da iniciativa da Sociedade se estão fazendo sentir nas colónias da Africa Portuguesa para onde man- dámos, no ano passado, ao interior de Benguela, uma Missão Va- cinica que obteve um êxito verdadeiramente colossal e a que ou- tras se hão de seguir.

Na resenha que ao diante segue "tem o leitor a sintese dos tra- balhos empreendidos pela Sociedade desde igoi até ao presente, visto que até àquele ano o fizemos, por ocasião de se inaugurar o Congresso Colonial, a que nos referimos.

Movimento social desde 1901 a 1914

1901

Sessão solene comemorativa do 25.° aniversario da Sociedade e inaugura' cão do Congresso Colonial.

Sessão solene consagrada á memoria de Luciano Cordeiro, sendo o elo- gio histórico pronunciado por Consiglieri Pedroso.

No intuito de melhor conhecer o que nos principais países coloniais se tem feito em matéria de ensino colonial, dirigiu-se a Sociedade aos ministérios do Ultramar, de Inglaterra, França, Alemanha, Holanda e Bélgica.

Por proposta da Direcção de i de Abril é criada a secção de Geografia Fisica e Politica.

Visita a Sociedade a missão especial da Sociedade de Oceanografia do Golfo de Gasconha, e, conforme fora anunciado em oficio dirigido de Bordéus pelo sr. Charles Bénard, ilustre presidente daquela Sociedade.

Comissões e Secções : Reuniram as Comissões : Africana, Asiática ■d'Emigração, de Paz e arbitragem e as Secções de Fisica e Climalogia, Quí- mica, Antropologia, Etnografia, Industria, Economia politica, Estatística, Scien- cias sociais e jurisprudência, Arte, Historia, Engenharia e comunicações ter-

123

restres, Sciencias milit;ires, Sciencias navais, Sciencias medicas, Cartografia, Ensino geográfico, Instrução puhlica e Geografia fisica e politica, para se oca- parem dos trabalhos a apresentar ao Congresso Clolonial.

Na Secção de Química por proposta do sócio Francisco João Rosa resol ve-se promover um inquérito ás industrias quimicas cm Portugal, ilhas adja- centes e colónias.

Keunião da Comissão Geral que fora eleita em sessão de 3 de Junho a fim de se constituir e apreciar o importante projecto que, sobre a generalidade de assuntos de largo estudo do país fora aprovado em tempo pela Direcção. A base para esses estudos abrange uma larga perspectiva de estudos interes- santes e como resultado um seguro elemento para trabalhos de larga remode- lação do nosso meio social, artístico e económico.

Boletim. Entre outros artigos publicaram-se os seguintes : Numismá- tica Indo- Portuguesa, por Manuel Joaquim de Campos ; Conferencias e memo- rias para o Congresso Colonial.

Museu. Reunem-se por procedências e espécies os ot)jectos expostos. Tendo sofrido, com o naufrágio do vapor Santo André, a perda dalguns exem- plares de madeira, que haviam sido enviados á Exposição de Paris, 1900, or- denou o Governo com a maior solicitude aos Governadores do Ultramar, que reunissem novas amostras para substituírem aquelas.

1902

Proposta para ser galardoado com a medalha d'honra o sócio João d'Aze- vedo Coutinho pelos serviços prestados á pátria em varias campanhas da Zam- bezia e nomeadamente na do Barué. Relator, Ernesto de Vasconcelos.

Elogios de Mousinho d'Albuquerque, Tito de Carvalho e almirante Bap- tista d'Andrade, respectivamente por Ayres d'Ornellas, Belchior Machado e Ramada Curto.

Comissões e Secções : Comissão Africana : Estudo das condições da cultura do algodão no Congo Português.

Plano colonial, e dos assuntos que se pendem com a demarcação da fron- teira do Barotze.

Secção de Geografia Física e Politica : Apreciação do parecer, de que é relator o sr. Ernesto de Vasconcelos, sobre qual devia ser a parte do mundo era que scientificamente se deviam encorporar os Açores, encarando-se a ques- tão sobre o ponto de vista geológico, posição geográfica e oceanografica, bio- logia e situação económica.

Secção de Ensino Geográfico : Trata de assuntos relativos ao i.° Con- gresso Colonial Nacional.

Museu. Organização de um mostruário de produtos de industria na- cional destinados ao comercio do ultramar, dirigindo-se, para isso, a direcção ás principais associações industriais e comerciais, tanto do norte como do cen- tro e sul do país, das quais teve o melhor acolhimento.

Por iniciativa do secretario perpetuo, são colocados junto das colecções expostas, pequenos quadros ou mapas geográficos da província, donde provêm os produtos expostos. Ficando assim elucidada a procedência dos objectos ex- postos, difunde-se melhor o conhecimento da geografia colonial e torna-se mais interessante o Museu.

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Coniinuou-se a organização do catalogo geral para a formação dos verbe- tes ou etiquetas dos produtos.

A Sociedade concorre com duplicados do Museu á Exposição de Pesca e Caça que tem lugar no Porto.

Boletim. -— Introduzem-se modificações na forma da sua publicação, apro- ximando-se o mais possível com as suas congéneres. Consegue-se do Go- verno, a inscripção na tabela de despesa anual do Ministério da Marinha^ da verba destinada á publicação do Boletim prontificandose a Sociedade a pu- blicar nele os relatórios ou memorias que o Governo entenda e sejam de Ín- dole própria do Boletim.

1903

Visita a Sociedade S. M. o Rei de Inglaterra Eduardo Vil que mostra de- sejos de ser inscripto como sócio. A Direcção promove que seja aclamado só- cio honorário na sessão de 20 de Abril, sendo-lhe entregue o diploma e insí- gnia social, em Londres, pelo presidente da Sociedade.

Em sessões solenes são entregues as medalhas de ouro ao venerando sábio dr. Barbosa du Bocage e bem assim a João d'Azevedo Coutinho, coman- dante da expedição ao Barué.

Em sessão solene inaugura-se a exposição de cartografia nacional ; pu- blicando-se o respectivo catalogo em que são descritas e anotadas cerca de mil e duzentas cartas e mapas geográficos, sob a direcção de Ernesto de Vas- concelos.

Elogio histórico do conde de Fícalho pelo conde de Arnoso. **

Na sessão legislativa de 1902 o nosso antigo consócio e deputado da nação sr. Júlio Augusto Petra Viana apresentou um projecto de lei para ser concedida á Sociedade de Geografia a isenção da franquia postal na sua cor- respondência que transitasse aberta pelo correio, e para se legalisarem os sub- sídios que em troca dos seus serviços na conservação do Museu Colonial rece- bia do Estado, tornando-se assim permanentes. na ultima sessão legislativa foi o projecto submetido á discussão do parlamento, e depois de unanimemente aprovado subiu á sanção real, sendo promulgado em lei do país em i de Ju- lho de iqoS.

Representa esta lei um grande beneficio material para a Sociedade de Geografia, libertando-a de um grande encargo no seu orçamento, mas princi- palmente constitue uma justa consagração pelos poderes do Estado aos servi- ços patrióticos e desinteressados que a Sociedade de Geografia tem prestado ao país desde ha largos anos e não menos importantes do que os doutras cor- porações ha muito tempo favorecidas com igual beneficio.

Comissões e Secções : Comissão Americana : Resolve-se pedir ao Go- verno a conservação da Egreja da Graça em Santarém, onde está a sepultura de Pedro Alvares Cabral.

Nas Secções de Antropologia, Sciencias Sociais e Sciencias Medicas, em reunião conjunta, tratou-se do estudo sobre o regime penal nas colónias e de trabalhos preparatórios para o Congresso Internacional de Medicina de 1905.

Boletim : Publica-se a edição crítica do Esmeraldo de Situ Orbis de Duarte Pacheco, importante trabalho do sr. A. Epiphanio da Silva Dias.

Notáveis escritores, investigadores estrangeiros como dr. Jules Mees, F.

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P. Garofalo, dr. Oscar Nobiling, Paul lierthoud publicaram importantes tra- balhos* seus.

Museu: Procedeu-se a vários arranjos, beneliciaçÕes e restaurações de mobiliário e por indicação do governo enviaram-se para o Porto, em agosto, ig volumes contendo diversos produtos coloniais com destino á Exposição Agrícola e Mineralógica do Palácio de Cristal.

1904

Tem lugar na Sociedade o Congresso Internacional Maritimo inaugurado •com a Exposição de oceanografia, de S. M. o f<ei D. Carlos.

A Sociedade de Geografia, possuindo um vasto deposito de publicações remanescentes do congresso dos orientalistas, do centenário da índia e dou- tras obras por ela editadas ou doadas pelo Estado, não cessa de contribuir dentro das suas forças para o derramamento da instrução e divulgação do nosso movimento geográfico, por isso acedendo a repetidas solicitações que corporações menos favorecidas, mas não menos altruistas lhe dirigem, deferiu ^sses pedides. Nesta ordem de idéas, durante o ano, cedeu a diversas bibliote- cas de sociedades scientificas, institutos de ensino, associações populares, a bi- bliotecas municipais e á Casa da Correcção, SgS volumes diversos que foram efusivamente agradecidos.

Comissões e Secções.— Comissão Insular : Em sua sessão de 23 de Janeiro resolve-se solicitar, de novo, ao Governo a ligação telegráfica da ilha das Flo- res com as demais do arquipélago açoriano, e pedir também á Direcção Geral dos Trabalhos Geodésicos a publicação, com a possivel brevidade, das cartas ■das ilhas de S. Jorge, Graciosa, Fayal, Pico, Flores e Corvo.

A Secção de Meteorologia, em sua sessão de 17 de Junho, ocupa-se dos tra- balhos preparatórios para a organização dos serviços meteorológicos das coló- nias portuguesas.

Boletim : Continua a sua publicação a ser feita com regularidade e a colaboração de distintos investigadores estrangeiros, como Garofalo, Joubert e P. Berthoud. Neste ano concluiu-se a publicação da edição critica do Esme- raldo de Si tu Orbis.

1905

Visita-n a Sociedade S. M. e Imperador da Alemanha ; o Presidente da Re- publica Francesa, Mr. í.oubet ; o Príncipe Luiz de Battenberg e o Grão Duque de Mekleanburg.

Na sessão ordinária de Junho são apresentadas as seguintes propostas : do sr. Melo Matos sobre edificações económicas e do sr. César da Silva sobre excursões scientificas e corografia geral do país.

E' apresentada á assembléa uma proposta pelo sr. Moreira d'Almeida sobre a questão dos passaportes, refundindo toda a legislação vigente a tal res- peito existente.

O sr. Presidente congratula-se pelo resultado que deriva para Portugal da sentença arbitral sobre a fronteira do Barotse a propósito do que o sr. Se- cretario Geral, Ernesto de Vasconcelos, comunica á assembléa a marcha que haviam tido as negociações respectivas para o resultado das quais, por sua parte, se esforçou.

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Comissões e Secções : Ficou definitivamente organizada uma nova Secção de Excursões que realisou uma visita ao histórico mosteiro de Thomar, que foi bastante animada.

Boletim : Alem das conferencias e dos artigos sobre o Regime do sal e do abkary e das Alfandegas da índia, trabalho minucioso, é digno de especial menção a serie de cartas inéditas do Visconde de Santarém.

1906

Dois factos notáveis se deram neste ano ; a realisação, por iniciativa do secretario geral Ernesto de Vasconcelos, da exposição dos quatro produtos ricos das nossas possessões : algodão, borracha, cacau e café da qual e sob, a direcção do mesmo secretario, se publicou o respectivo catalogo, A creaçãoda Escola Colonial, por decreto de 18 de Janeiro do ilustre ministro da marinha e ultramar, sr. conselheiro Moreira Júnior e cuja inauguração teve lugar sole- nemente em outubro deste ano, ficando assim preenchida uma lacuna muito reclamada em matéria de ensino colonial.

Cooperando na realisação de todos os ideais patrióticos a nossa Socie- dade franqueou as suas salas para os seguintes fins: Congresso Mutualista Sessão solene fúnebre |)romovida pela Comissão das demonstrações ao Brazil pela catástrofe do Aquidaban ; Conferencia do sr. Abel Botelho, Silva Poria e a sua obra, promovida pela Sociedade Silva Porto Inauguração do XV Congresso de Medicina, com a assistência de Suas Majestades e sarau oíere- cido aos congressistas Sessão de esgrima em honra de Franco Vega, promo- vida por um grupo de esgrimistas Sessão preparatória da Associação Inter- nacional de Agronomia Colonial Sessão preparatória da Associação Colonial Algodoeira Conferencia do sr. Borges Grainha sobre Instrução primaria e superior, promovida pela Associação dos Jornalistas.

Na sessão de 2 de Abril é apresentada pela Direcção uma proposta para que seja constituída a Comissão Marroquina a quem seria dado o encargo ds estudar o Império de Marrocos sob o ponto de vista das suas relações com Por- tugal, quer pelo que respeita ao periodo em que exercemos dominio, quer no tocante aos interesses do comercio, navegação e pesca e aos meios de pro- mover o seu desenvolvimento progressivo.

Comissões e Secções : A Comissão de Paz e Arbitragem, em sua ses- são de 28 de Março, trata dos trabalhos a apresentar ao Congresso Nacional, promovido pela Liga da Paz, em que o sr. dr. Magalhães Lima apresentaria o seu trabalho sobre as causas que actualmente se opõem á fixação do estado jurídico entre as nações e o meio de as ir debelando. Outros vogais tratarain de assuntos sobre arbitragem e idiais pacíficos.

Museu: Foi enriquecido com valiosos donativos, dos quais citamos a colecção de amostras de algodão, borracha, cacau e café das nossas coló- nias que, segundo o estabelecido no programa da Exposição Colonial, ficariam fazendo parte dos nossos mostruários, se não fossem reclamados.

Fez-se também a aquisição de pequenos exemplares etnográficos, em barro, com o intuito de enriquecer a nossa coleeção, muito interessante.

Boletim : Além das conferencias realizadas na Sociedade foram pu- blicados no Boletim artigos sobre a influencia islâmica da Costa Oriental de Africa e outros, principalmente gráficos, dos srs. Wenceslau de Moraes e Jo- seph Joubert.

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1907

No decurso do ano, e por iniciativa do secretario Rcral sr. Krnesto de Vascencellos, preparou a direcção o phino para se re<ilizar na sala Portugal uma exposição de fotografias coloniais, em que se representasse, bem eviden- temente, a obra civiiisàdora colonial portuguesa. Para isso se dirigiu directa- mente aos diversos governadores do Ultramar, que uma circunstancia ocasional permitiu que todos fossem nossos dignos consócios. O governo central, a pe- dido da Sociedade, recomendou com vivo interesse este assunto a todos os governadores e todos porfiaram em enviar as mais belas colecções fotográfi- cas, representando os principais melhoramentos materiais, os mais belos tipos das raças, os monumentos históricos da nossa acção no Oriente, as fases da vida rural e tantos outros pontos de capital interesse, que em 5 de dezembro findo se expuzeram ao publico, vindo nesse dia o Ministro da Marinha e o Director Geral do Ultramar examinar as 1.765 fotografias exposias.

Para o brilho desta exposição concorreram poderosamente dois dos mais notáveis agricultores de S. Thomé, que foram de uma gentileza extrema para com a nossa Sociedade, oferecendolhe valiosas fotografias em cartão e em vidro para estereoscópio e para projecção luminosa. Foram esses dedicados agricultores e nossos estimáveis consócios os srs. marquês de Vai Flor e Hen- rique de Mendonça, aos quais reiteramos os nossos melhores agradecimentos, bem como a mais alguns consócios que nos auxiliaram neste empreendimento^ sem esquecer as Companhias de Moçambique, Niassa e da Zambezia, que igualmente teem jus á nossa gratidão.

Do êxito deste certame, sem duvida alguma o mais sugestivo de quantos aqui temos levado a efeito, dil-o-ão os 8:000 visitantes que o examinaram,, segundo o nosso registo.

Realizou-se uma sessão solene para inauguração dos retratos do vis- conde de Santarém, grande geógrafo e distinto diplomata, e de Salvador Cor- reia de Sá, o brilhante libertador de Angola do jugo holandês. Fizeram respe- ctivamente o elogio histórico daqueles vultos os srs. Vicente de Almeida d'Eça e visconde de Asseca (Salvador). Nessa sessão distribuiram-se os prémios aos expositores que haviam concorrido á Exposição Colonial dos quatro produtos ricos, realizada no ano anterior.

Pela direcção é apresentada á assembleia uma proposta para ser con- ferida a medalha de honra á expedição ao Sul de Angola na pessoa do seu comandante sr. Alves Roçadas, sendo este elevado a sócio honorário. Nessa mesma sessão, e pelo sr. dr. Ramada Curto, foi feito o elogio daquele oficial.

Elogios históricos de Vasconcellos Abreu por Consiglieri Pedroso e de Eduardo Costa por Garcia Rosado.

Comissões e Secções : Reunem-se as secções de Arte, Cartografia, Astronomia, Meteorologia e Geografia Fisica e Politica para se ocuparem do convite progrania do ix Congresso Internacional em Genebra, que deve ter lugar em 190S, a fim de se organisarem os trabalhos a apresentar no referido Congresso.

Museu . A' Exposição de Produtos Tropicais de Liverpool, e acedendo ao convite feito pelo governo português, enviou a Sociedade 467 amostras de produtos coloniais para ali figurarem.

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Adquire-se um aparelho para projecções electro-luminosas Zeiss, por ini- ciativa do secretario perpetuo.

Boletim: Além das conferencias loram publicados os seguintes arti- gos : No Centenário de Bento de Coes (1G07-1907), por Augusto Ribeiro e Er- nesto de Vasconcellos ; Cartas de Rajá Singa, rei de Cândia, aos holandeses, por David Lopes ; Ementa da Casada índia, por Anselmo Braamcamp Freire.

1908

Na sessão de i3 de janeiro é apresentada pela direcção uma proposta para serem nomeados sócios honorários os srs. Alves Roçadas, Eduardo A. Marques, Francelino Pimentel e Victor Sepúlveda, comandantes das unidades da expedição aos Cuamatos.

Na sessão solene de 3i de maio é entregue a medalha de ouro ao sr- Alves Roçadas e os diplomas de sócios honorários aos oficiais, a quem haviam sido conferidos.

Visitam a Sociedade: Sir Clemente Markham, antigo presidente da Real Sociedade de Geografia de Londres ; Mr. Millies Lacroix, ministro das colónias de França, que ficou agradavelmente impressionado pela boa orga- nização dos serviços das instalações da Sociedade, mandando a Lisboa uma missão pêra o estudo dessa organização.

Comissões e Secções: Comissão americana e de Emigração Re- união conjunta em 21 de dezembro, presidida pela mesa da Sociedade. Tra- tou-se de uma proposta enviada pela Direcção acerca de um premio a conce- der ao autor da melhor memoria sobre «o modo mais eficaz de promover a completa união moral da colónia portuguesa no Brasil com a mãe pátria».

Boletim: Todas as conferencias foram publicadas e outros artigos como o da Etnografia de Benguella, por Augusto Bastos. índice da obra do conde de Ficalho, «Plantas úteis da Africa Portuguesa», publicado em anexo ao Boletim. «Distribuição topográfica da doença do sono na Africa tropical francesa», pelo dr. Paulo Gousien. «Toponymia dopais dos Benadires», por J. Joubert, e ainda artigos de Louis Lorthiois e E. Cantineau.

Publicações : Abertura dos portos do Brasil, ensaio histórico, por Vi- cente de Almeida d'Eça. Contribuição da Sociedade para a comemoração do Centenário da Descoberta do Brasil.

1909

Na sessão de 8 de fevereiro é pela Direcção apresentada a proposta da iniciativa de Consiglieri Pedroso acerca de «o modo mais eficaz de promover a união moral da colónia portuguesa no Brasil com a mãe pátria», criando-se um premio de 200 escudos para a melhor memoria que fosse apresentada.

Em sessão solene de 21 de junho é inaugurado o busto, doado pela sr.' Duquesa de Palmella, sua autora, do grande colonial Marquês de da Bandeira, cujo elogio histórico foi feito pelo vice-presidente da Sociedade, Vicente de Almeida d'Eça.

Em 3 de outubro inaugura-se a Exposição parcelar dos meios de trans- porte coloniais, devida á iniciativa do secretario perpetuo, publicando-se sob

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a sua direcção o respectivo catalogo ilustrado. Foi muito visitada esta exposi- ção e a que a imprensa se referiu com largos elogios.

Na sessão de lo de novembro foi pelo presidente da Sociedade, Consi- glieri Pedroso, apresentada a proposta da sua iniciativa, de um acordo luso- brasileiro, tendo assistido a essa sessão o sr. ministro do Brasil e a oticialidade do navio-escola Benjamim Constant. Resolve-se convocar a imprensa no sen- tido de se mostrarem as vantagens da intima aproximação dos dois países.

Na sessão de •> de dezembro pelo secretario perpetuo foi apresentada a proposta, de sua iniciativa, acerca do estado em que se encontra a nossa emi- gração para os países estrangeiros, visando principalmente a America e Ilhas Sandwich. Teve esta proposta o natural seguimento c- ao governo foi comuni- cada para os fins convenientes.

Na mesma sessão fci pela Direcção apresentada uma proposta inicial do presidente sobre a forma pratica de combater a campanha de descrédito acerca do cacau de S. Thomc.

Por encargo e conta do governo e com a cooperação da Sociedade Por- tuguesa de Fotografia concorreu a Sociedade á exposição internacional de P"otografias de Dresde com 174 fotografias do continente, 35; das colónias, sendo-llie conferido um diploma e respectiva medalha, publicando-se o respe- ctivo catalogo anotado.

A favor das vitimas do terramoto de Messina e Reggio realizou a So- ciedade, no Teatro Nacional, um sarau de arte com o ci incurso de oradores, amadores e a colaboração dos artistas daquele teatro.

Comissões e Secções : Na comissão africana, em sua sessão de 3 de junho, aprecia-se a proposta apresentada em assembleia pelo sr. Petra Vianna sobre o tratado com o Transvaal.

A Secção de Arte pronuncia-se acerca da consulta feita pelo representante da Republica Argentina em Portugal com relação á representação do nosso país na Exposição de Arte no Centenário a realizar em Buenos-Ayres.

Boletim : Entre outros estudos publicados no Boletim^ citaremos a tradução do alemão da obra do dr. Doelter sobre os vulcões de Cabo Verde e os seus produtos, que contem noticias muito apreciáveis sobre a minera- logia e a petrografia das ilhas de Cabo Verde.

Piibliccções : Bartholomeu Dias, descobridor do Cabo da Boa Espe- rança, por Arenas de Lima.

1910

Visita a Sociedade, o Príncipe Lcewenstein, que lhe prodigalisou as melhores referencias, enaltecendo a sua importância scientifica e mostrando claramente o alto conceito em que ela é tida no estrangeiro.

Também foi recebida a visita do Marechal Hermes da Fonseca, Presi- dente dos Estados Unidos do Brazil, sendo por essa ocasião lida uma mensa- gem de congratulação, oferecendo-se-ihe uma edição autografica dos Lu^iadas luxuosamente encadernada.

Sessão solene, sob a presidência do chefe do Estado, para elogio de S. M. o Rei de Inglaterra, Eduardo vii. Uzaram da palavra, o presidente Con- siglieri Pedroso e Wen:eslau de Lima, ministro dos Estrangeiros, exaltando as qualidades do finado Rei que era sócio honorário da Sociedade.

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Sob a presidência do Chefe do Estado, 6 instalada a Comissão Luso- Brazileira, para dar inicio á proposta «O acordo Luso-Brazileiro».

Para combater a campanha de descrédito acerca de S. Tomé, é apre- sentada uma Hta animatografica, sobre o desinvolvimento de trabalho em algu- mas das principais Roças daquela ilha, sendo acompanhada de algumas expli- cações sobre o assunto, pelo sr. Ernesto de Vasconcelos.

Comissões e secções : A Comissão Africana em sua sessão de 4 de fe- vereiro, ocupou-se de uma proposta do sr. Dr. Amaro Conde, sobre o traba- lho indígena em S. Tomé e a questão do cacau. O sr. Júdice Biker, como re lator da sub-comissão encarregada de estudar o tratado com o Transvaal, leu o relatório da parte de que se havia encarregado.

A Comissão de Paz e Arbitragem, ocupou-se dos trabalhos para a futura conferencia da Haya.

Reunem-se as sub-comissões de: Relações intelectuais e Juridicas, Re- lações Diplomáticas, e Relações Económicas para se ocuparem da proposta «O acordo luso-brazileiro».

Reúne a secção de Sciencias Medicas, para resolver sobre a forma de colaborar para a criação de um Instituto de Maternidade, cujas bases foram elaboradas pelo falecido clinico Alfredo Costa.

Reunião do jury para as memorias sobre a colónia portuguesa no Bra- zil.

Congresso Nacional, em que variados problemas de alta importância, foram apresentados e discutidos, tendo-se realizado varias conferencias prepa- ratórias do mesmo Congresso

Tendo passado neste ano o Centenário de Alexandre Herculano, deu a Sociedade, inteira adesão a esta consagração, que se antecipou por uma serie de conferencias alusivas ao grande historiador,

Boletim: Além das conferencias, foram publicados outros artigos, tais como : «O ensino da geografia na Universidade de Oxford», pelo sr. Siqueira Coutinho; «Subsidio para o estudo comparativo do ensino colonial no estran- geiro», por B. J. ; «A monografia de Catumbella», por Augusto Bastos.

Publicações: «Guiné, finanças e economia», por Loureiro da Fonseca.

1911

A' assembleia geral foi, pela Direcção apresentada, uma proposta sobre os problemas coloniais mais instantes, de iniciativa do secretario perpetuo, tendo em vista despertar no país uma corrente em íavor das nossas colónias. Mere- ceu esta proposta, os aplausos da assembleia e da imprensa, empreendendo as secções o estudo das questões que lhes cumpria considerar.

Procedeu-se solenemente á inauguração, em Santarém, da capela res- taurada da Igreja da Graça, onde repousam os restos mortais do grande nave- gador Pedro Alvares Cabral. Tendo o Jornal do Comercio do Rio de Janeiro, aberto uma subscrição, por iniciativa do sr. Dr. Alberto de Carvalho, para a restauração daquela capela, mas não tendo a subscrição atingido a soma es- sencial para cobrir todas as despesas, encarregou-se a Sociedade de ocorrer a elas para a conclusão dos trabalhos, que foram dirigidos hábil e desinteressada- mente, pelo distinto arquiteto, sr. Rozendo Carvalheira.

Por parte do Instituto Histórico e Geográfico Brazileiro, e por incessan-

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tes diligencias da Sociedade de Geografia, veio a Lislioa, o sr. Dr. Pedro de Souto Maior, que teve uma conferencia especial com a Direcção da Socicdíide, sobre a forma mais proveitosa de se levar a efeito um Congresso Luso-Brazileiro. Tomaram-se varias resoluções, tendentes todas a dar maior eficácia e tornar mais utcis os esforços que, em comum, fossem empregados pelas duas colecti- vidades.

Acerca do estado atual da imigração de portugueses em países estran- geiros, e, em harmonia com a proposta de Ernesto de Vasconcelos, aprovada pela Direcção e submetida á assembleia geral de janeiro de 1910, solicitou-se de todos os cônsules portugueses, nesses países, intbrmações no sentido do questionário enviado.

Comissões e secções; Comissão de Paz e Arbitragem, em sua sessão de 28 de abril, tratou do projecto apresentado, pelo seu presidente, Dr. João de Paiva, sobre a organização da junta consultiva de negócios internacionais.

A Secção de (íeografia Física e Politica, discute o parecer da consulta enviada pelo Ministro do Interior, sobre a Grande Geografia Bong, ilustrada.

A Comissão Organizadora do 1." Congresso Luso-Brazileíro, elege a sub- comissão que ha-de elaborar o programa do congjesso.

Museu: Tendo a Direcção, no intuito de renovar alguns dos exem- plares do Museu, dirigido nesse sentido, pedidos aos governos ultramarinos, logo os governos de Moçambique e índia, apressaram-se a satisfazer o pedido

Pelo falecimento do sócio doador. Pereira Marques, foi enriquecida a secção chinesa de Macau, com os produtos da industria macaista e da China, que por seu legado foram enviados pelos seus herdeiros.

Para a Secção (Comercial do Museu, receberam-se novos e variados produtos da industria nacional, podendo assim, refundir-se a secção, publican- do-se o respectivo catalogo elucidativo, como que se deu cumprimento ao dis- posto na portaria de 21 de Dezembro de iqoõ, do Ministério da Marinha, sobre a Escola Colonial.

Boletim: Além das conferenci;is, publicou se o importante trabalho executado pela Direcção dos Estudos de Hidráulica na índia Portuguesa, sob a direcção do sr. general José Emilio Sant'Ana Castelo-Branco. Artigos de Hugo I.uyten, K. Singelmann, Philéas Leb^sgue e «Regimen monetário colo- nial», por Ruv Ulrich.

1912

E' aprovada uma proposta da Direcção para se nomear uma comissão especial incumbida de estudar a influencia da abertura do canal de Panamá sobre os portugueses nomeadamente os de Lisboa e Açores. E' aprovado o parecer acerca da influencia da abertura do canal nos portos de Lisboa e Açores, relatado pelo sr. Ernesto de Vasconcellos.

Formulou a Direcção uma proposta, por iniciativa do secretario perpe- tuo, que foi aprovada em assembleia geral, para que se fizesse em 1915 a ce- lebração dos Centenários da Tomada de Ceuta e da morte de Afonso de Al- buquerque, e neste sentido conseguiu a Sociedade, do governo, a nomeação da respectiva Comissão Oficial por decreto de 27 de outubro de 1912.

Devido á deliberação da Direcção e iniciativa do secretario perpetuo inaugurou-se na sala Portugal a exposição de cereais, gomas, resinas e borra-

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cha das nossas colónias, em que figuraram variadíssimos exemplares d'aqueles produtos, publicando-se o respectivo catalogo. Esta exposição foi inaugurada por ocasião da visita oficial do chefe do Estado o qual foi acompanhado pelo Sr. Ministro das Colónias.

DeJegaram-se no Sr. Augusto de I-acerda poderes para no norte do Brasil tratar da questão luso-brasileira.

Reúnem na Sociedade os delegados das Associações Comerciais, In- dustriais e Agrícolas do país, o delegado do governo, Sr. Batalha de Freitas,

'juntamente com a Direcção da Sociedade de Geografia, representantes dos Ministérios das Colónias e Fomento para trocar impressões e formular-se um questionário acerca da Exposição International de S. Francisco da Califórnia.

Visita a Sociedade a missão americana, Panamá-Pacifico, que em nome do governo dos Estados Unidos veiu a Lisboa convidar o governo partuguês a fazer-se representar na Exposição Internacional de S. Francisco da (Califórnia. A esta visita assistiram os Ministros dos Estrangeiros e da Justiça. A Socie- dade em consideração á honra que lhe foi concedida com tal visita e alta in- combencia que a trouxe ao nosso país ofereceu-lhe um exemplar luxuosa- mente encadernado, dos Lusíadas edição autografica destinada ao Presidente da Republica dos Estados Unidos oferecendo também ao Presidente da Mis- são um exemplar encadernado da obra Frei Gonçalo Velho.

Pela Direcção foi solicitado ao governo para ser considerado feriado o dia 3 de maio, aniversario da descoberta do Brasil, sendo promulgado o res- pectivo decreto.

Comissões e secções. A Comissão Luso-Brasileira, na sua sessão de 22 de junho, tratou da navegação nacional para o Brasil, exposição de produtos de industria portuguesa no Rio de Janeiro, facilidades e estudo das questões de emigração, etc.

A Secção de Engenharia e Comunicações Terrestres, em sua sessão de 4 de maio, discute as bases dum estudo sobre as condições do trafego nos por- tos coloniais da Africa Oriental e Ocidental que tem de ser o terminus natu- ral das linhas de penetração naquele continente. A propósito das estradas do país o engenheiro Sr. Costa Couraça encarregou-se de apresentar um estudo sobre vias de comunicação.

As secções de Geodesia, Geologia, Zoologia e Botânica, elaboraram pa- receres acerca das explorações parcelares da proposta inicial sobre os proble- mas coloniais.

A Comissão Especial subdividida em varias sub-comissões para tratar da elaboração dos respectivos pareceres das alíneas bj c) d), das quais foram im- pressas as seguintes:

Alínea c) n.° i Organização da Administração Central, fi parecer).

Alínea b) n." 4 Leis da terra. Concessões. Regime dos prasos. (i pa- recer).

Alínea c) n.° 2 Organização fazendaria, regimen tributário e impostos. Regime Aduaneiro. Direcção Central dos serviços de fazenda das Colónias. (I parecer).

Alínea b] n." 5 Navegação nacional para as nossas colónias. Necessi- dade da sua extensão para os nossos domínios no Oriente, meios e processos para que tal se realize.

Alínea c) n." 4 Deve a marinha colonial ser privativa de cada colónia

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c formada jior pessoal tirado da marinha de guerra nacional ? (^)Lial a sua or- ganização e constituição? (t paiecer).

Alinea c) n." 4 Bases sobre que assenta, projecto c organização do exercito colonial.

Alinea c) n." 5 Estudo dos portos coloniais que podem pelas suas con- dições naturais c geográficas ser adoptados para formação de bases navais para uma esquadra.

Alinea ^J :>." Comercio e Industria. Regime pautal e liscal que mais convém ás nossas colónias. Politica Comercial luso colonial. (Centros Comer- ciais e entrepostos. .Xplicação dos recursos indígenas das Colónias á industria portuguesa.

Alinea dj Politica colonial As colónias portuguesas em relação com as das outras nações. Meios a empregar para garantir o nosso dominio Colo- nial.

Alinea b) 2." Vias de comunicação terrestres e Huviais, meios de trans- porte, estudo da rede ferro-viaria de Angola e de Moçambique, gares e portos marítimos, funções dos portos e Caminhos de Ferro, em relação ás Colónias estrangeiras limítrofes.

liolcthii Além das conferencias e de outros artigos, publicou uma parte do inquérito acerca das colónias portuguesas em países estrangeiros.

Publicações Le Climat de Lisbonne et sa variation par Almeida Lima.

1913

Publica se o relatório sobre o trabalho da (Comissão dos Problemas Co- loniais por Ernesto de Vasconcellos, sendo enviado ao governo, a fim de po- der servir de subsidio ás medidas governativas a aplicar aos nossos domiuios ultramarinos. Traduziu-se em francês o mesmo relatório que foi largamente distribuído no estrangeiro ás Sociedades congéneres t: Institutos Coloniais.

Em 10 de Junho é inaugurada a Exposição Camoneana, na Sala «Por- tugal», com assistência do Chefe do Estado, Camará Municipal e Comissão das Festas da Cidade,

Visita a Sociedade a comissão de parlamentares franceses, da presidên- cia de Mr. Mascuraud, tendo logar nessa ocasião uma sessão solene em sua honra, usando da palavra, depois de feita a saudação pelo presidente da Socie- dade, o senador Mr. Decher David, que pronunciou um entusiástico discurso? manifestando calorosa simpatia pelo nosso país e afirmando que jamais do seu espírito se dissipariam as gratas recordações do belo acolhimento feito á co- missão. Seguiu-se a conferencia sobre Marrocos pelo Sr. Gonçalo Reparaz.

Sessão dedicada aos jornalistas ingleses que visitaram o nosso país e em que o Secretario Perpetuo fez a descrição geográfica do continente e domí- nios ultramarinos e o Vice-Presidente Sr. Joaquim José Machado, pronun- ciou em inglês um discurso de boas vindas.

Recebeu também a Sociedade nas suas salas o grupo de boysscouts de Has- tings, que veiu a Lisboa visitar os seus colegas portugueses

Pela sua naturesa foi essa recepção de muito interesse, fazendo os l^oys scoiits inglezes algumas evoluções, demonstrativas da muita vantagem daque- les grupos de escoteiros britânicos.

Usou depois da palavra, referindo- se á historia do boy scouting o nosso

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consócio Sr. l)r. Reis Santos, que demonstrou quão profícua é para o desen- volvimento de uma raça a constituição de grupos daquela naturesa.

Comissões e SecçSes : Por iniciativa dos Srs. General Joaquim José Ma- chado e Ernesto de Vasconcelos, secretario perpetuo da Sociedade^ é crcada de harmonia com o Estatuto, uma comissão permanente de Proteção aos in- dígenas das colónias Portuguesas.

Para se ocorrer aos elevados encargos desta iniciativa, fez-se um apelo ás companhias coloniais e ás individualidades com interesses nas colónias, as quais corresponderam dignamente a essa chamada, enviando o seu auxilio ma- terial, o que demonstra haver, da parte dessas personalidades, a verdadeira concepção da necessidade da existência de uma Comissão do género referido, em analogia com as que possuem outros países coloniais.

A Sub-Comissão do porto-Lisboa resolve estudar as propostas sobre a si- tuação actual do porto de Lisboa em relação a tudo o que possa interessar á navegação e ao trafego maritimo de mercadorias e passageiros quer se des- tinem ao nosso porto quer por ele passem apenas para o hinterland. Que idên- tico estudo se faça acerca dos portos que se possam considerar concorrentes do de Lisboa no trafego maritimo em geral e em especial no que possa deri- var da abertura do Canal de Panamá.

A Secção de Sciencias Navaes e Comunicações Marítimas ocupou-se da navegação para o Brasil, em conformidade com o que fora solicitado em ofi- cio da União de Agricultura Comercio e Industria.

Boletim : Além das conferencias publicadas ocupou-se o Boletim de outros artigos tais como : o Canal de Panamá, sua influencia nas relações co- merciais com a Europa e em especial com o nosso país por Ernesto de Vas- concelos. Vocabulário Portuguez-AlôloLomué pelo Sr. Dr. António Soveral. Os Portuguezes na Abissínia, subsidio para a historia da descoberta da Africa pelo Sr. Dr. Kurt Krause.

1914

Pela Comissão de Protecção aos Indígenas das Colónias Portuguezas c en- viada ao interior de Benguella uma Missão Vacinica dirigida pelo Sr. Dr. An- tónio Vasco Fernandes, director do Instituto Bacteriológico de S. Tomé. Indí- genas vacinados 2.048 cuja percentagem positiva foi de gS por cento.

Abre-se concurso para o melhor estudo que fór apresentado relativamente á maneira mais eficaz de combater a doença do sono, com um premio de Soo escudos.

Por acordo com a Sociedade Promotora de Educação Física Nacional rea- lisa-se uma sessão especial em homenagem á memoria do grande educador Dr» Mauperrín Santos, Presidente da Secção de Botânica da Sociedade de Geografia.

Boletim : .A.lém das conferencias publicadas cita-se em especial os se- guintes artigos : Ovambcland por A. C. d'01iveira Moura Braz. Movimento co- mercial da Guiné por Alfredo Loureiro da Fonseca. Memorias d'Africa por J- H. Faria Leal.

Publicações : Subsídios para o conhecimento das ilhas de Cabo Verde por Immanuel Fríedlander, tradução de Garcia Guerreiro.

António Andrade. Viajante do Himalaia e no Tibete (1624-1630) por C- Wessels, tradução de Gonçalves Viana.

.35

* Conferencias e comunicações

1901

Koram iii as contcrencias sobre questões ul(ram;irinas que tiveram lugar neste ano como preparação para o (>ongrcsso Colonial Nacional :

C^onsiderações sobre a importância das questões coloniais e a signitica- ção do Congresso, por Consiglieri Pedroso.

As colónias nas suas relações com o mar, por lirnesto de Vasconcelos*

A transportação penal e a colonisação, pelo dr. Silva Teles.

Crise agricola c comercial em Angola, por Sousa Lara.

O problema das Obras Publicas e o desenvolvimento dos nossos domí- nios africanos, por Henrique Barahona.

Iniciativas económicas e financeiras no ultramar, por y\. J. Simões d'Al- meida.

Impressões duma viagem ás ilhas de S. Tomé e Príncipe, por Paulo Cancela.

A nossa legislação ultramarina, por J. C. de Carvalho Pessoa.

A colonisação de Moçambique, pelo dr. Moreira Feio.

Duas palavras sobre a administração colonial em Macau e Timor, pelo conde de Penha Garcia.

Instrução e (Colónias, por José Francisco da Silva.

(Considerações gerais sobre historia colonial. Esboço geográfico, por V. Almeida d'Eça.

Considerações sobre a Zambezia, por A. Portugal Durão.

Ocupação militar e domínio efectivo das nossas colónias, por Eduardo Costa.

A nossa administração o que é e o que deve ser, por Aires de Orneias

1902

Pesca das Perdas de Bazaruto, pelo sócio Ivens Ferraz.

Influencia da marinha mercante no desenvolvimento das nossas coló- nias, pelo sócio Marcos Vieira da Silva.

Terramoto de Lisboa e as erupções vulcânicas nas Antilhas, pelo emi- nente geólogo Paul Choffat.

Telegrafia sem fios, pelo ilustre oficial da armada, Gago Coutmho.

Sobre a organização do 7.° congresso colonial alemão e do futuro con- gresso colonial português, pelo dr. Silva Teles.

1903

A região fronteiriça de Angola com o Estado Independente do Congo, pelo sócio Moraes e Castro.

A respeito do Sul de Angola, pelo sócio Filipe de Carvalho.

1904

Sobre geografia e antropologia da Ásia Oriental principalmente da Mand- churia e Corêa, pelo dr. Silva Teles.

i36

Sobre o porlo de Lourenço Marques e o caminho de forro da Swazilan- dia, pelo sócio Lisboa de Limu.

1905

Mandchuriíi, Corça c Japão, pelo sócio Ernest Messe de Wartegg.

A (juinc, por I^oureiro da i'"onseca.

Marrocos, pelo (^onde de Penha (Jarcia.

Gabo Verde, pof Barjona de Freitas.

A Influencia da Industria Mineira na valorisação de Moçambique, por Portugal Durão.

1906

As artérias de comunicação em Sofala e Manica, por Carlos Roma Ma- chado.

A excursão á America do Norte, por Mendonça e Costa.

Zambezia e Barué, por Augusto Neuparth.

O caminho de ferro de Benguela á Catanga, por Augusto Leão.

1907

Zambezia e Barué, por Augusto Eduardo Neuparth.

Timor, por Alfredo da (>osta Andrade. [

Lourenço Marques, por Hugo de Lacerda. (■

1908

Guiné, por Loureiro da Fonseca.

Timor, por Montalvão e Silva.

Inhambane, por Almeida Garrett.

Cabo Verde, por Cristiano Barcelos. S. Tomé, por Izequiel de Campos.

A índia e seus monumentos, por Hypacio de Brion.

A riqueza petrolifera de Angola, por João Carlos da Costa. Todas estas conferencias foram acompanhadas de projecçõeselectro-luminosas

O Escudo de Armas de Portugal, por Santos Ferreira.

O Petróleo em Portugal, por E. Ackermann.

Os quatro grandes flagelos do século xx, pelo dr. Ardisson Ferreira.

Linhites em Portugal, por E. Ackermann.

O Congresso de Geografia de Genebra, pelo dr. Silva Teles.

Os pretos de Moçambique, acompanhada de projecções coloridas c can- tos rongas, pelo reverendo missionário Charles Bourquin.

1909

Causas prováveis da catástrofe de Messina, pelo dr. Silva Teles.

Uma excursão na alta Sabóia, pelo dr. Silva Teles.

A Cidade de Londres, por J. da Gamara Manuel.

O estado económico e financeiro da índia Portuguesa, seu desenvolvi- mento e progresso, por Manuel F. Viegas Júnior.

o Oceano Glacial Artico c a ilha de Nova /embla, pelo sócio corres- pondente Charles HernarJ, presidente da Sociedade Oceanografica do (lolfo de (jasconlia.

Os tremores de torra, pelo sr. dr. Silva Teles.

A Mulher na sociedade moderna, o seu papel e a sua acção, por l.éon Poinsard.

As Duas Pátrias, por Autíusto de Lacerda.

Da necessidade urgente de um acordo Luso- Brasileiro, pelo dr. ICs- cragiioUe Dória. Quasi todas estas conferencias foram acompanhadas de pro- jecções eltíctro-luminosas.

1910

A celebração scientifica de Darwin e a Universidade de Cambridge, pelo dr. Silva Teles.

O Egypto moderno, pelo conde de Penha Garcia.

O desenvolvimento da Republica Argentina, por Atilio Chiappori.

A travessia da Africa Central, por Alfredo Bertrand.

O direito internacional maritimo, por H. Boech.

Outras conferencias se realisaram, não promovidas pela Sociedade, como as do Centenário de Alexandre Herculano e do Congresso Nacional.

1911

Um concorrente do porto de Lisboa que é para receiar, por sr. J. Maria de Melo Matos.

O Algarve ocidental, região de Monchique, paizagens e caracter geo- gráficos, pelo Dr. Silva Telles.

Quanto renderam e quanto custaram as colónias portuguesas, por Al- meida Garrett.

Melhoramentos matérias em S. Tomé e Principe, por IL de Baraona e Costa.

A ocupação do distrito de Moçambique, por Pedro Massano de Amo- rim.

A politica portuguesa na índia, por Silva Telles.

Lourenço Marques e a Africa do Sul, por Lisboa de Lima.

A colónia portuguesa no norte do Brasil pelo sócio correspondente Dr- J. A. de Magalhães.

'A cidade e o estado de S. Paulo, pelo secretario prepetuo Ernesto de Vasconcellos, membro da missão do Brasil. {Esta conferencia foi publicada em separado).

As colónias portuguesas nas ilhas de Sandwich e na America do Norte, por Joaquim Costa.

Portugal e Macau, problemas económicos e políticos, por Carlos Mon- lalto de Jesus.

Pelo antigo director, sr. Conde de Penha Garcia, foram feitas conferencias acerca do nosso país e suas possessões em Bordéus, Paris, Londres e Berlim, cujo objectivo patriótico foi somente inaltecer a obra colonial portuguesa nos últimos anos.

i38

1912

O Oriente iModernisado, por C. A. Montalto de Jesus.

A transformação económica de Marrocos, sua ipAuencia provável em Portugiil, por D. Gonçalo Reparaz.

A Oceanografia, por Odon Buen.

Sobre radiotelegraíia pelo celebre inventor G. Marcni. N'esta conferencia feita em sessão especial, a que assistiu o Chefe do Estado, usaram da palavra» alem de G. Marconi, os srs. Almeida Lima, Almeida d'Eça e Hypacio de Brion.

1913

A Africa do Sul por Alfredo Vaz Pinto da Veiga,

Anatole France e Pierre Mille 6 conferencias por Jean Jablonski.

Os Alpes e suas transformações pelo Barão de Hesse Wartegg.

A Zambezia e o seu estado de decadência por J, Teixeira de Mattos.

Preparação militar de Portugal e factores morais dos combates modernos por João Correia dos Santos.

O presente e o futuro de Macau por Jayme do Inso.

Inglaterra Sua constituição politica e sua importância industriai e co- mercial por Jeronymo da Camará Manoel.

A vida social e intelectual dos indígenas de Lourenço Marques por Henry A. Junod.

Os Açores por Francisco Affonso Chaves.

A defeza e a propaganda da arvore por Alberto Velloso de Araújo.

Uma viagem a Timor por Jayme do Inso.

Importância da obra de Camões por Catanho de Menezes Júnior.

Educação Fisica por Luis Furtado Coelho.

Os Alpes Italianos pelo Dr. Silva Telles.

A Argentina Económica por Abel Botelho.

Estudo comparativo entre as colónias africanas dos vários estudos euro- peus por Francisco Passos.

Portugal perante as nações estrangeiras pelo Dr. António Macieira, mi- nistro dos estrangeiros.

Comunicação scientitica do Dr. Silva Telles acerca do «Projecto de uma carta de distribuição das civilisações» Inquérito da Universidade de Yale Estados Unidos da America.

1914

Situação Económica e Financeira da província de Moçambique, por Al- fredo Augusto Lisboa de Lima.

O Districto de Quelimane, Agricultura e Mão de Obra, por Portugal Durão.

O Congo Belga, pelo Dr, Emile Deladrier.

Colombo nasceu em Pontevedra, pelo Dr. Henrique Turrul.

O Districto de Tete, por João Luiz Carrilho.

As ruaquettes premiadas para o monumento do Marquez de Pombal, por A. Arroyo.

A provincin de Timor, por Jayme do Inso.

A F.xposição l'anam;i Pacifico, pelo Dr. Sousa Bcttencout.

A importância social das associações Académicas, por Almeida Uma.

A Implantação da Industria do Ferroem Portugal, por Pedro A. Vieira.

Crise ICuropeia, as Colónias Portuguesas, por Krnesto de Villiena.

O que será a fabrica de ferro e aço em Portugal, por Pedro António Vieira.

O Cacau nas Antilhas e Guianas e a depreciação do C>acau de S. Tomé, por Armando (^ortezão.

A salvação Maritima, por Hypacio de Brion.

Congressos a que a Sociedade aderiu

1901

Internacional de Pesca e Piscicultura em S. Petersburgo, sendo delegado da Sociedade, o sócio correspondente, Juies Schokalski.

1902

Maritimo de Dusseldorf e de Copenhague, delegado, sr. Pereira de Matos.

Congresso Orientalista e Geográfico de Nápoles, delegado, António Padula.

Exposição industrial de Osaka, representante, Wenceslau de Morais.

Por convite da Universidade de luriew, toma parte na sessão comemora- tiva do centenário da sua fundação, sendo representada a Sociedade, pelo sr« J. de Faria e Castro.

*- 1903

Geológico e Internacional de Vienna.

XI Conferencia interparlamentar da Paz em Vienna, delegado, Dr. João de Paiva.

1904

Conferencia de Paz e Arbitragem em S. Luiz. E. W., delegado, Dr. João de Paiva.

Congresso dos Americanistas de Stuttgart, delegacia da ex.°" senhora D. Josefa Teixeira de Vasconcelos.

Congresso Geográfico de Washington.

Congresso Internacional Maritimo de Washington,

1905

Os de Minas, Comercio dos Vinhos, da Atmosfera, Educação Física, todos em Liège, delegado, o sócio sr. Oscar Godin.

Congresso Nacional das Sociedades Francesas em Saint-Etiènne, Orien- talistas em Alger, delegado, o sócio sr. René Basset.

14-0

1906

International de Antropologia em Mónaco, delegado, Alberto Girard.

XXVIli- Congrcs National des Sociétés de Géograf hie, de Dunkerque, de- legado, Oscar Godin.

Congrès Prehistorique de France.

Congreso Geológico inicrnacional, no México.

Congrcs International pour TLtude des Régions Polaires, em Bruxellas.

XVe Congrcs International des Americanistes, Quebec.

Congrès de la AUiance Française et des Sociétés de Géographie, Marselha-

Nas festas do 5o." aniversario da K.K. Geographische Gesellschaft de Vienne (Áustria), foi representada a Sociedade, pelo sócio sr. Eduardo Moreira Mar- ques, encarregado dos negócios de Portugal, naquela cidade e pelos sócios, srs Nictor Levy e Eisner Eisenhof.

Pelo Principe do Mónaco, foi a Sociedade convidada a fazer-se represen- tar na Exposição Oceanografica que ali se realizou.

1907

6.° Congresso Geogratico Italiano. Veneza.

Congrès International du Commerce de Vins, Cidres etc. Bordéus.

Congrès International d'Architecture Navale. Bordéus.

XXVIIF Congrès National des Sociétés Françaises de Géographie. Bordéus.

Congrès Prehistorique de France.

Congrès Colonial. Bordéus.

Congrès International des Sciences Sociales et Economiques. Bordéus.

XVI" Congrès Universel de la Paix. Munich.

XIV Congrès International de Hygiène et Dcmographie. Berlim.

Congrès International de Navigation. Saint-Petersbourg.

A' Exposição Internacional Maritima de Bordéus, enviou a Sociedade uma colecção de publicações feitas em diversas épocas, tratando de assuntos daquela especialidade e que otiveram o Grand Prix.

1908

Congresso de Geografia de Genebra, representação portuguesa e da So- ciedade, pelos srs. Ernesto de Vasconccllos e l)r. Silva Telles, e onde foram apresentadas algumas memorias enviadas pela Sociedade.

XK Congrès International de Navigation. Saint-Petersbourg.

XVF' Congros International des Americanistes. Vienne.

Ic Congrès du Froid. Paris.

IVe Congrès Prehistorique de France. Chambéry.

VII International Moral Education Congress. Eondres.

Congresso Histórico Internacional da Guerra da Independência. Zaragosa.

Comemoração do Centenário de Darvin, representação da Sociedade, pelo sr. Dr. Silva Teles.

Ml

1909

VI Congros International d'Actuaires, Vienne. II Congrés de la Proprictc Miniòre, Nancy. V Congros 1'rchistoriqiie de Krance, Beauvais. x\i (Congros Archcologique et HistoriciLie,.l.icge. \xiii Congrés llniversel de la Paiv, Stokholmo.

1910

II Congros International de Froid, Vienne.

III Congros International de Tourisme, Toulouse.

I Congros International des Sciences Administratives, Bruxelles. III Congros do la Propriétó Miniòre, Bruxelles.

Congresso Scientilico Internacionrd Americano, Buenos-Ayres.

II Congresso Brasileiro de Geografia, S. Paulo (com iima delagação espe ciai).

XI Congros Céologique International, Stockholm.

II Congros International de Agronomie Coloniale, Bruxelles.

A missão especial ao Brasil e que foi assistir ao ii Congresso Nacional Brasileiro de Geografia, realisado em S. Paulo, era composta dos srs. Ernesto de Vasconcellcis, Abel Botelho e 1 oho d'Avila Lima. Esta missão percorreu varias cidades, tais como Rio de Janeiro, S. Paulo, Santos e Campinas, onde em conferencias procurou mostrar o adiantamento do nosso país nas diversas sciencias, divulgando por tal meio a iniciativa de Consiglieri Pedroso sobre o acordo Luso-Brasileiro.

1911

International Congress of Americanist, Londres. \!x Congresso Uuiversal da Paz, Roma. VII Congros International d*Actuaires, Amsterdam. IV Congros de la Propriété Minière, Lille. XII Congros Internationale Contro la Tuberculosi, Roma. I Congresso Universal das Raças, Londres. Congros Próhistorique de France, Nimes. Congresso TNacional Agronómico, Lisboa.

Prestou a sua adesão ao Congresso Internacional de Turismo, qurfrealisou as suas sessões na Sociedade de Geografia.

1912

Congresso Internacional de Turismo, Madrid. Congros de la Propriété Miniòre, Licge.

XIV Congros International d'Anthropologie et Archéologie Préhistorique, Genève, delegado o sr. conde de Penha Garcia.

VIII Congros Préhistorique de France, Angouleme (Charente). Fifth International Congress of Chambers of commerce, Boston. Congrés Géologique International, Ottawa, Canadá.

142

Congros Forestier International, Paris.

Congros International des Amcricanistes, Londre?, delegado o sr, J. da Camará Manuel.

1913

III Congros International de (iand.

IX Congros Préhistorique de France. VI Congrcs de la Propriété Minière, Gand.

II Congresso Internacional de Hidrologia, Climatologia e ííeologia, Ma- drid. ^

II Congresso Hespanhol de (ieograíia Colonial y Mercantil, Barcelona, sendo delegado da Sociedade o sr. Joaquim Heliodoro Calado Crespo, nosso cônsul naquela cidade, que enviou a esta Sociedade um completo relatório sobre os trabalhos do referido Congresso.

Congros Géologique International, Canadá. Y

Congrès Forestier International, Paris.

X Congrés International de (jéographie, Roma, com representação portu- guesK e da Sociedade pelos srs. Ernesto de Vasconcellos e dr. Silva Telles.

IX Congrès International de Americanistes, Washington.

III Congrès ínternationale d'Agriculture Tropicale, Londres. I Congresso Nacional das Associações Comerciais e Industriais Portugue- sas, que se realisou na Sociedade de Geografia.

1914

Congrès de la Propriété Minière, Caen. XIX Congrès International des Americanistes, Washington. Congresso Internacional de Americanistas, La Pax. Congrès Préhistorique de France, Aurillac. Third International Congress of Tropical Agriculture, Londres. Congresso Internacional de Etnologia e Etnografia, Neuchatel, delegado da Sociedade, sr. conde de Penha Garcia.

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