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CORRESPONDÊNCIA

DO

MARECHAL DIDE BE SALDAIA

III

CARTAS E OFFICIOS CONFIDENCIAES DE

RODRIGO DA FONSECA MAGALHÃES

OFFICIOS RESERVADOS E CONFIDENCIAES

DO MARECHAL DUQUE DE SALDANHA

ENVIADOS DE MADRID

AO MINISTRO RODRIGO DA FONSECA MAGALHÃES

DURANTE A MISSÃO DE 1H40 -H

INSTRUCÇÓES QUE O MARECHAL I. VOU

PARA AQUELLA MISSÃO

CORRESPONDÊNCIA

DO

IRECHAL DUOOE DE SiLDiHA

EDITADA POR

Guilherme J. C. Henriques (da Carnota)

111

CARTAS E OFFICIOS CONFIDENCIAES

DE RODRIGO DA FONSECA MAGALHÃES

OFFICIOS RESERVADOS E CONFIDENCIAES

DO MARECHAL DUQUE DE SALDANHA

ENVIADOS DE MADRID

AO MINISTRO RODRIGO DA FONSECA MAGALHÃES

DURANTE A MISSÃO DE 1840-41

INSTRUCÇÓES QUE O MARECHAL LEVOU

PARA AQUELLA MISSÃO

'^(T-Q^SÍ'

LISBOA

Typ. da Enipre^.i da Historia de Portuifal

.;5-Kt.A IV1:N>-47

INTRODUCÇÁO

ESTA terceira parle da correspondência do Marechal Duque de Saldanha constitue, talvez, debaixo do ponto de vista historico-politico, a serie mais in- teressante d'ella, porque se refere, na maior parte, á epocha do Ultimatum hespanhol, epocha tão grave para Portugal que o espirito verdadeiramente patriótico não pode deixar de ficar impressionadíssimo, pezando bem as consequências que podia ter tido, e que, devido á grande consideração e estima que Saldanha gozava, tanto em Hespanha, como e.itre os politicos inglezes, foram evitadas.

Não c em Portugal que estes documentos serão lidos com interesse; terão valor para os que. n(^ visinho reino, estudam a historia moderna da Hespanha.

Os originaes foram depositados na (>oi i ixr.Áo (^\r- NOTENSK, na Bibliotheca Nacional de Lisboa.

Apesar de toda a nossa boa vontade, não nos foi possível collocar todos os documentos na devida or- dem chronologica, não pela deficiência de datas d'es- ses documentos, mas ainda, porque, como andavam dis- persos, alguns d'elles foram encontrados depois de estar muito adiantada a impressão d'este volume.

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Tendo aprendido em Condeixa as primeiras letras e o latim, passou a frequentar as aulas do Colíegio das Artes, cm Coimbra, matricuhindo-se em seguida r?^ Fanuidadc de Ihco- logia, por ser vontade da família que se dedicas*"" -* "'"•ds '"■cclesia>;ica ; mas, ao passo qutí trc juentíiva as auly ícgia, eN?uJí!.'a ramoem F^hilosoí-uia e M;*'' 'm .í»- ra

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AL&UMAS NOTAS BIOGRAPHICAS

SOBRE

RODRIGO DA FONSECA MAGALHÃES

Nasceu este estadista notável em Condeixa, a 24 de julho de 1787, e era filho de Luiz da Fonseca Magalhães, proprie- tário e senhor d'Azenhas, em Condeixa, e natural da villa de Midões, e de D. Joanna da Costa Carvalho, natural de Santa Christina de Condeixa, filha de António de Carvalho Serrano e de D. Maria Antónia da Costa, ambos naturaes da mesma freguezia. Pelo lado paterno, seus avós eram Manuel da Fon- seca Magalhães, proprietário, capitão das Ordenanças da villa de Midões, e sua mulher D. Michaela Soares de Albergaria, natural da mesma villa.

Tendo aprendido em Condeixa as primeiras letras e o latim, passou a frequentar as aulas do Collegio das Artes, em Coimbra, matriculando-se em seguida na Faculdade de Theo- logia, por ser vontade da família que se dedicasse á vida ecclesiastica; mas, ao passo que frequentava as aulas de Theo- logia, estudava também Philosophia e Mathematica. A primeira invasão franceza, em 1808, obrigou a fechar as aulas da Uni versidade, vendose Rodrigo da Fonseca na necessidade de tomar a espingarda para defender a pátria. Fci por este tempo que escreveu e publicou algumas poesias, para acccnder no espirito dos seus compatriotas o quasi apagado amor da pá- tria, instigando os a pele)ar peia defeza dos lares tão injusta- mente flagelados pelos soldados de Napoleão.

Do Batalhão Académico, onde primeiramente se alistara, passou para o corpo de Guias, onde permaneceu até que foi collocado, como alferes, no regimento de Infanteria n.° i5, com o qual tomou parte na guerra da Península. Durante a cam- panha chegou ao posto de tenente, e foi agraciado com a me-

VIII

dalha portugueza da Guerra Peninsular, de 4 campanhas, e com a medalha britannica de 5 batalhas.

Em 18 17, achando-se em Lisboa, fez parte da mallograda conspiração liberal de que foram victimas o general Gomes Freire e mais alguns otíiciaes, ignominosamente mortos no Campo de Sant'Anna. Escapando ás pesquizas de Beresford, mas não se julgando seguro em Lisboa, embarcou para o Bra- zil, onde ao tempo o seu antigo commandante, Luiz do Rego, estava governando Pernambuco. N'aquella cidade encontrou o nosso biographado o mais benévolo acolhimento, dispensando- Ihe Luiz do Rego toda a protecção.

Em 1821 publicou, em Pernambuco, a Aurora Pernambu- cana, primeiro jornal politico que appareceu em Pernambuco. Luiz do Rego voltou para Portugal, em 1821, acompanhado de Rodrigo da Fonseca Magalhães, que, pouco tempo depois de chegar á pátria, casou, em 1822, em Vianna do Castello, com D. Ignacia Cândida do Rego Barreto, que nasceu a i de dezembro de i8o3 e morreu a i de junho de i838, segunda filha do general do mesmo nome, depois i.° visconde de Ge- raz de Lima, seu intimo amigo e antigo commandante.

No mesmo anno foi Rodrigo da Fonseca nomeado Official da Secretaria da Justiça, conforme o respectivo Diário cio Go- verno. Restabelecido, em fevereiro de 1828, o Governo Abso- luto, e sendo notórios os talentos de Rodrigo da Fonseca^ quizeram os Miguelistas chamal-o ao seu Partido, oíferecendo- Ihe honras e mercês. Recusou o nosso biographado acceitar as honrarias provenientes dos sectários do Absolutismo, mas pre- vendo os perigos a que ficava sujeiío, homi^iou se do paiz em- barcando, com o seu amigo José da Silva Carvalho, para In- glaterra, chegando a Londres em fins de setembro de 18215.

Em Londres publicou vários artigos, em defesa do Systema Liberal, na Aurora e no Paquete de Portugal, jornaes que os emigrados alli crearam e sustentaram, e fez umas annotaçÕes ao denominado Manifesto do Infante D. Miguel.

Regressando á pátria, pouco depois do desembarque do exercito de D. Pedro na praia do Mindcllo, foi encarregado, entre outros serviços, de ir a Inglaterra entender-se com Luiz António de Abreu Lima, João António Alvares, Mendizabal e Francisco António Wanzeller acerca da promptificação dos vapores e das munições de guerra e de bocca ; commissão esta que, á mingua de recursos pecuniários, fracassou completa- mente.

Tempos depois, coadjuvou muito Abreu Lima nos arranjos da expedição que se organisou sob o commando de Napier.

IX

Quando voltou a Portugal, achando-se o Governo Con- stitucional restabelecido, foi logo nomeado Director Geral do Ministério da Justiça, e Administrador da Imprensa Nacional, logares que conservou até entrar, pela primeira vez, em Minis- tério.

Eleito Deputado ás Cortes que se reuniram em ib d'agosto de 1834, diz um seu biographo, alli revelou logo os seus talen- tos oratórios, e o espirito de tolerância e conciliação, que foi uma das suas qualidades caracteristicas durante toda a sua car- reira politica.

Aos créditos de orador eloquente e de jornalista distincto, deveu Rodrigo da Fonseca o ser nomeado, em i5 de julho de »835, Ministro do Reino, cm cujo Ministério se conservou qua- tro mezes apenas, sahindo a 18 de novembro seguinte.

Por alvará de 2 de agosto de iSJS, foi nomeado Fidalgo Cavalleiro da Casa Real.

A Revolução de Setembro teve, em F^onseca Magalhães, um dos seus mais resolutos adversários, e os Cartistas acharam no intemerato Liberal um dos seus mais galhardos campeões.

Entrou novamente para o Ministério, juntamf^nte com Costa Cabral, Florido Ferraz, Conde de Bomfim e Conde de Villa Real. N'este Gabinete, teve a pasta do Reino desde 2i'> de no- vembro de 1839 até 9 de junho de 1841, e a dos Estrangei- ros de 23 de junho de 1840 até 7 de fevereiro de ií<42, sendo da primeira data até 12 de março de 1841 interino, daquella data até 21 de abril do mesmo anno como substituto do Barão de Moncorvo, que não chegou a exercer, c effectivo desde u de junho de 1841 até ao fim. D'este modo achava-se á frente da administração publica na occasião da restauração da Carta, effectuada em janeiro de 1842, tendo dirigido todas 2s nego- ciações com a Cúria para o restabelecimento das relações en- tre a Corte de Lisboa e a Santa Sé, que se achavam interrom- pidas desde a entrada de D. Pedro.

Foi nomeado Par do Reino por Carta Regia de l'2 d'cutu- bro de 1847, prestando juramento c tomando posse em Sessão da Camará do* Dignos Pares, a i3 de janeiro de 1849.

Levantado o gruo da Regeneração pelo Duque de Salda- nha, foi Rodrigo indigitado para Ministro do Reno, cu)a pasta sobraçou a 7 de julho de i83i e conservou até (> de junho de i856. No mesmo Gabinete teve, interinamente, a pasta da Jus- tiça desde 7 de julho de i8i)i até 4 de março de i852. por au- sência do Bispo do Alííarvc, que não chegou a exercer, e de- pois, desde 19 de agosto de ibb2 até 3 de setembro de iS:.'.. Também, teve a pasta das Obras Publicas de !^ de novembro

de i855 a 3 de janeiro de i856, por ausência de A. M. de Fon- tes Pereira de Mello.

Durante os cinco annos que esteve no poder, manifestou, em tudo, o espirito de tolerância a que sempre foi aôeiçoado.

A Rodrigo da Fonseca Magalhães deve o paiz a maior parte dos melhoramentos materiaes que a Regeneração introduziu no paiz, bem como a creação de vários estabelecimentos scienti- ficos e de Bellas Artes. Foi Sócio Emérito da Academia Real das Sciencias. Além da medalha das campanhas peninsulares, e do gráo de Cavalleiro da Ordem da Torre e Espada, teve Rodrigo a Gra-Cruz de Christo, que, no ultimo quartel da vida, se viu forçado a acceitar para satisfazer aos desejos de Sua Magestade a Rainha, que tinha por Rodrigo da Fonseca a maior estima e consideração. A 1 1 de maio de i858, falleceu, em Lisboa, este notável estadista, que foi, incontestavelmente, um dos maiores homens que no século xix honraram a nação.

Do seu consorcio houve um filho, e uma filha que nasceu a o de julho de i836 e falleceu a 1 1 de agosto de i838, isto é, dois mezes depois da morte da mãe. O filho, Luiz do Rego da Fonseca Magalhães, nasceu a i5 de outubro de 1827 e falleceu a 3i de iulho de 1868, tendo casado, a 21 de maio de 1849, com D. Júlia Sophia de Almeida Brandão e Sousa, que, em seguida ao fallecimento do marido, isto é, a 26 de agosto de 1868, foi agraciada com o titulo de Condessa de Geraz de Li- ma, e passou a segundas núpcias, em 1870, com António Joa- quim da Veiga Barreira, e a terceiras núpcias, em 1880, com o Conde da Folgosa. Do primeiro matrimonio teve dous filhos e duas filhas, e de três d'elles parece haver geração.

CARTAS

DE

RODRIGO DA FONSECA MAGALHÃES

CARTAS

DE

RODRIGO DA FONSECA MAGALHÃES

I

Lisboa, em 29 de Maio de 1840.

111.'»° e Ex.""» Sr.

Tenho a satisfação de annunciar a V. Ex.^ que Sua Mages- tade concede ao general de Brack, Chefe da Eschola de Caval- laria, e ao Dr. Sichele, medico oculista de S. M. o Rei dos Francezes, ambos súbditos do referido Monarcha, a commenda da ordem de Christo.

Fiz presente a Sua Magestade quanto V. Ex* se interes- sava nestes despachos, o que por certo concorreu, como parte principal, para que a mesma Augusta Senhora se dignasse de condecorar as duas beneméritas pessoas.

Fiz procurar em um Almanack francez os nomes de Ba- ptismo dos agvacianaos, para que os seus Diplomas fossem excedidos na melhor forma; se, porém, não forem encontrados, se fará menção dos seus appellidos unicamente, a fim de não demorar a remessa dos mesmos Diplomas, que serão dirigidos a V. Ex.* pelo seguinte paquete.

Pode pois y. Ex.*, desde já, annunciar aos interessados a concessão da graça com que Sua Magestade os distingue.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.* Am.'' Att.° V.»' e Cr.''" Obg.'°

R. Fonseca Magalhães. III."'" e Ex.™" Sr. xMarquez de Saldanha.

II

Lisboa, 6 de Junho de 1840.

111.""' e Ex."° Sr.

Conforme escrevi a V. Ex.* pelo paquete passado, tenho a honra de remetter a V. Ex.* as duas Cartas Regias, uma para o general de Brack e a outra para o Dr. Sichele.

Este objecto fora por V. Ex.* entregue ao meu cuidado, e com esta remessa me lisongeio de ter cumprido as ordens de V. Ex.*

Tenho a honra de ser

De V. Ex.» Am.° Att." V.o»- e Cr/'« Obg.""»

R. Fonseca Magalhães.

Ill

Lisboa, em 11 de Setembro de 1840.

111.'"'' e Ex.""" Sr.

Com muita satisfação tenho a honra de enviar a V. Ex.* a junta Carta Regia, em que S. M., de modo mui explicito, tes- temunha a V. Ex.^ a sua Real approvação pela maneira com que V. Ex.'* se houve no desempenho da commissão a que A Mesma Senhora se refere. Quanto em mim cabe ajunto, tao- bem, a minha débil voz de applauso ao procedimento de V. Ex.*, applauso de que V. Ex.* não carece, porque o seu nome é conhecido, e o seu zelo pelo serviço de Sua Magestade e da Nação formam o brazao da sua gloria.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.* Am.° Att.° V°' e Gr.''" Obg.""

R. Fonseca Magalhães. 111.™* e Ex.'"" Sr. Marquez de Saldanha.

IV

Secretaria d'Estado dos Negócios Estrangeiros, em 28 de Ouiubro de 1840.

111."'* e Ex."' Sr. Particular.

Estimarei muito que V. Ex.* me faça saber que foi e che- gou felizmente.

Parece me que a sua ida teve todas as circumstancias da opportunidade.

Tãobem me parece que o bom êxito da commissão de que V. Ex.* está incumbido depende do ar com que V. Ex.* se houver na primeira apresentação, e como eu sei que ninguém o teria melhor, confio, e seriamente o allirmo, em que tirare- mos feliz resultado.

Nós somos conformes com os principios ahi proclamados, de que é preciso um governo nacional e sinceramente liberal, e verdadeiramente representativo. Ha difterença na respe- ctiva situação dos dois paizes.

Para que bem nos entendamos, e ambos os Governos con- corram para a prosperidade das nações que representam, care- cemos de obrar em tudo com lisura e franqueza. Da parte de Portugal sempre a haverá; e o nosso proceder, principalmente desde que appareceram os últimos acontecimentos n'esse Reino, é tão claro e patente que não receamos os mais minu- ciosos exames.

E' tempo de que nos entendamos como povos, e governos amigos : se o fizermos daremos a Portugal e a Hespanha um manancial de prosperidades.

Em Hc«;panha fez se um grande movimento para tornar firme e estável uma ordem de cousas qual convém á Nação ; em Portugal qualquer movimento imitativo destruiria o n.uito que se tem feito no caminho do verdadeiro progresso. V. Ex.* poderá desenvolver estas proposições em vantagem nossa, e ainda de Hespanha, que eu não concebo verdadeiro bem para um d'estcs paizes que o não seja para o outro; aliás esse bem é um sonho.

Para remover toda a desconfiança da nossa parte, descon- fiança que eu não tenho, mas que se procura levantar nos âni- mos da gente incauta, e até da gente turbulenta, cumpre que o governo Hespanhol ordene e torne etícctiva a retirada dos refugiados Portuguezes dos Povos da Fronteira e ordene ás

autoridades que cumpram litteralmente os Tratados que nos unem. Ultimamente annuiram essas autoridades á remoção do major Cabral, de Ayamonte; mas deram-lhe quartel em Huelba, e deixaram na primeira d'estas terras os seus companheiros. Em Huelba está elle concitando, como fazia em Ayamonte, os seus copartidarios á revolta. Em S. Vicente, em Zarza Maior, e em outras povoações limítrofes, toleram-se e se fes- tejam os nossos refugiados: de um desses legares fizeram uma incursão em Portalegre, tirando um preso da cadeia. Agora fizeram correr que uma força destinada para Ayamonte (que está) e oatra que se espera em Badajoz, vem des- tinadas a fomentar a revolução em Portugal.

V. Ex.* terá a bondade de fazer sobre isto as observações que são obvias, e certo estou que serão attendidas, porque são justas. Pedirá que se dêem ordens positivas para a effectiva remoção dos turbulentos refugiados, e para que as autoridades dêem todas as seguranças que satisfaçam os timidos, e conte- nham os aspirantes ao resultado das revoluções.

Isto é de summa urgência ; po'-que os homens inimigos da paz ganham esperanças com essas que lhes parecem demons- trações de parcialidade da parte do Governo de Hespanha a favor das suas tentativas.

Por este motivo sollicito eu toda a actividade, todo o zelo de V. Ex.*, em objecto de tamanha importância.

Por agora vão as cousas regularmente ; e poderia alte- rar-lhes o andamento algumas d'essas occorrencias, a que desse logar o proceder menos justo que tanto se receia das autorida- des Hespanholas —proceder que eu sei que ha de ser repro- vado e enfreado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, o sr. Ferrer, de cu)a capacidade e honra eu tenho a mais ele- vada idea.

Sua Magestade continua em suas melhoras.

Peço a V. Ex.* que se vir o sr. Arguelles me recommende a elle mesmo como constante amigo e admirador.

Saudades ao Ximenes, e ao Conde de Almoster.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.* Am.» Att.° V.°r e Cr.'^° Obg.""

R. Fonseca Magalhães. 111.""" e Ex.""" Sr. Marquez de Saldanha.

Lisboa, 3i de Outubro de 1840. Confidencial. 111.""' e Ex."'" Sr.

V. Ex.' terá chegado a essa corte, e estou ancioso por saber qual o recebimento que n'ella teve.

Tenho esperança de que fosse em tudo conforme.

Sua Magestade a Rainha vae sem novidade, antes direi que se acha de todo boa, porque assim o parece.

Recebi aqui o sr. Viniegra, na quahdade de Encarregado de Negócios, antes de apresentar as suas credenciaes, e com elle tenho talado oflicialmente sobre as occorrencias da fronteira de Hespanha, pelo lado do sul, com a devida franqueza.

Chamo sobre este assumpto a attenção de V. Ex.'. Rogo- Ihe que veja V. Ex.* o Nacional^ de Gadiz, de ig do presente, e achará n'elle uma propaganda furiosa para as doutrinas mais subversivas. Longe estou de crer que o Governo de uma nação tão grave como a Hespanhola, auctorise tal abuso ; mas é certo que, sendo seguidos artigos de tal natureza por movimentos de tropas sobre a nossa fronteira, e armamento de fortalezas as- sestando artilharia para o lado de Portugal, como se fez em Ayamonte, ninguém dirá que deixa de haver intenções que cau- sam vivas suspeitas, e até mais do que isso.

As participações olHciaes das autoridades expõem estes factos, positivamente; o da entrada de forças em Ayamonte, e a marcha de outras que formarão uma espécie de cordão sa- nitário desde aquella cidade até Badajoz. Os agitadores exag- geram, mas se exaggera o positivo; e este procedimento é ver- dadeiramente hostil.

Os ollicios que temos sobre taes movimentos do visinho Reino, são do Governador do Algarve, e de Klvas e dos Admi- nistradores Geraes respectivos.

Em nenhum ponto tem as autoridades attendido ás recla- mações feitas pelos nossos a respeito dos refugiados ; quando nós, pelo contrario, temos feito internar os de Hespanha a vinte léguas da fronteira : temos todo o direito para exigir cor- respondência ao nosso modo de proceder, que é franco e leal, e não deve ser correspondido por maneira tão imprópria.

\. Ex.' terá a bondade de fazer valer, com a sua energia, estas razões de bom comportamento da nossa parte, e da jus- tiça e direito para com o Governo de Hespanha : e poderá eii-

tender-se, directamente, com o sr. Aston, ministro de S. M. Britannica, do qual estou certo que cooperará com V. Ex.* para haver um reparo a este proceder, tão injusto e pouco amigo, das autoridades dos districtos da fronteira.

Isto é tanto mais urgente quanto os homens, que fomentam a desordem no nosso paiz, se valem de taes occorrencias para levantarem o espirito dos seus confrades e excital-os á anar- chia. Espalham noticias fabulosas, mas que tendo por funda- mento factos existentes induzem os ânimos á credulidade, uns por esperanças e outros por temores.

N'estes termos V. Ex.* pode avaliar de quanta utilidade será que V. Ex.* obtenha, quanto antes, medidas terminantes a respeito d'esses movimentos de tropas, e sobre a internação dos nossos emigrados, publicando-se as que forem convenien- tes nos jornaes d'essa capital. Da nossa parte correspondere- mos lealmente a tudo quanto se julgar justo, e d'esta sorte affastaremos para longe as desconfianças e receios de que não vem bem a nenhuma das duas nações.

Talvez ainda hoje escreva a V. Ex.* de officio sobre esta matéria ; mas, em todo o caso, tome V. Ex.* esta por official.

Repito, V. Ex.* pode dar todas as seguranças da nossa leal- dade; e se continuarmos n'ella, correspondidos por esse Minis- tério, poderemos, emquanto V. Ex.* ahi estiver, terminar al- guns negócios importantes.

Tenho a honra de ser

111.""° e Ex.'"° Sr. Marquez de Saldanha.

De V. Ex.*

Am." Att.'' V.*"- e Cr." Obg.""

R. Fo7iseca Magalhães.

VI

Em 2 de Novembro (de 1840?).

111.'^'^ e Ex.""" Sr.

Homem recebi a muito estimada de V. Ex.*, de 26 do p. p.

Li-a a Suas Magestades, que folgaram muito da fortuna que V. Ex.* teve, ficando incólume no accidente de que tantos sahiram maltratados, e que na verdade é perigosíssimo.

Não occulto a V. Ex.* que houve riso Real na passagem

em que V. Ex.' se declarou naturalmente assentado sobre o seu companheiro de coupé.

P^olgo no intimo do coração que V. Ex.* losse bem rece- bido pelos Ministros e pela Duqueza de Victoria ; nunca pude persuadir-mc de que o contrario succederia.

Tão bem estimo muito que esse Governo apreciasse o tes- temunho dado por S. M. a S. M. Catholica, de haver, por be- neficio da Providencia, escapado ao perigo em que estivera na noute de 7 para 8 do próximo passado. O Governo Portuguez considerou na tentativa, que então se fez, de arrebatar S. M. Catholica, um facto gravíssimo de desacato á Sagrada Pessoa da Rainha de Hespanha, em quebra do principio monarchico, ainda prescindindo de outras considerações dignas da mais sé- ria ponderação.

Felizmente, a tormenta está passada ; e praza a Deus que á severidade na execução das Leis succedesse a clemência e a generosidade próprias de um governo forte e consciencioso da sua força.

Em otficio separado participarei a V. Ex.* o conteúdo em uma nota do snr. Aguilar, que, em nome do seu Governo, pede a entrega dos olHciaes que vieram refugiar se n'este paiz, pedindo a hospitalidade que o direito das gentes concede em casos d'esta natureza.

Sou,

De V. Ex.*,

Amigo e Cr.^° Obrg.*^**

R. F. Magalhães.

VII

Lisboa, em 7 de Novembro, 1840.

111."^° e Ex."'o Sr.

A'manhã, ou depois de amanhã, ou o mais tardar a 10 do corrente, parte d'aqui o Secretario d'essa Legação, pelo qual a V. Ex.* escreverei sobre objectos de maior monta. Por agora basta que V. Ex.* saiba que o Reino está em paz, que o Corpo Legislativo continua em suas regulares discussões, e que, ge- ralmente falando, se espera feliz resultado da missão de V. Ex.'

Estou ancioso por haver noticias da chegada de V. Ex* a essa Corte, aonde o bando dcs que tudo acham mau e desgra-

8

çado quanto é feito pelo Governo, diz que V. Ex.* não ha sido recebido n'essa Corte (sicj. O sobredito Secretario chegará quanto antes ; mas talvez ainda antes d'elle cheguem ás mãos de V. Ex.* alguns officios ou cartas do correio seguinte.

Consta aqui, ha alguns dias, que a força H espanhola que viera a Ayamonte se retirara, mas não assim os refugiados por- tuguezes que se achavam em S. Vicente, os quaes continuam a permanecer, havendo alli chegado o Barão de Oleiros e ou- tros que foram sócios ou cooperadores da revolta do batalhão n.° 6, em Castello Branco.

De novo chamo sobre este negocio a attençao de V. Ex.% porque é elle o mais interessante.

A questão do Douro será tratada na Camará dos Deputa- dos segunda-íeira, 9 do corrente. está dada para Ordem do Dia. Haverá opposição grande, e V. Ex.^ notará que esta é feita pelos que dizem que seguem a politica progressista do Governo d'esse paiz! Taes são as inconsequencias d'estes ho- mens, que nada mais são, em realidade, do que inimigos de todos aquelles que occupam os logares que elles desejam oc- cupar.

SS. MM. e AA. passam sem novidade em sua saúde. A'manhã ha grande festa na Cathedral, de acção de graças pelas melhoras e restabelecimento de Sua Magestade.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.a, Amigo Att.« Ven.°' e Cr.° Obrg.°,

111.'"° e Ex.n^o Snr. Marquez de Saldanha.

R. Fonseca Magalhães.

VIII Em 18 de Novembro de 1S40. Confidencial.

Jll.""' e Ex.""" Sr.

Finalmente tive noticias da chegada de V. Ex.* a essa ca- pital. A sua tardança na jornada deume acerbos cuidados que tive a cautella de guardar em segredo, e que por isso mais pesados se me tornavam.

Sempre entendi que os homens da desordem procurariam pelos seus meios em que não reina escrúpulo nem o menor respeito á verdade, desfavorecer a pessoa politica de V. Excel- lencia junto a esse Governo. De facto conseguiram parte do que desejavam ; mas comtanto que o deixassem chegar a Ma- dridy seguro estava eu de que V. Ex.* faria desapparecer a sombra de suspeitas levantada pelos calumniadores. Eis aqui o motivo dos meus cuidados que, felizmente, estão dissi- pados.

Não preciso eu de insinuar a V. Ex/ qual deve ser a sua marcha nas presentes circumstancias; porque como V. Ex.* a enceta a seguirá com a franqueza própria do seu caracter, e a única maneira adopiavel hoje para negociações diplomáticas e politicas.

Segundo vejo do officio de V. Ex.*, não me parece o Mi- nistro dos Negócios Estrangeiros muito franco e sincero a res- peito dos Portuguezes reunidos em vários pontos da fronteira, e concitando os povos á desordem. no correio passado fiz passar a essa Legação copia dos escritos que os mesmos refu- giados estão introduzindo no Reino, com escandalosa infracção de todos os principios, e dos tratados subsistentes entre as duas nações. Conto receber no correio seguinte alguma expli- cação obtida por V. P^x.* sobre este objecto, sendo certo que se o Governo Hespanhol se obstinar a permittir esses ajunta- mentos, obra hostilmente contra nós, e manifesta flagrante contradicção entre seus actos e protestações, ao que nós não podtremos ser insensíveis. Ao mesmo tempo insta esse Go- verno pelo final ajuste do Regulamento para a navegação do Douro; e por uma d'estas contradicçóes miseráveis que reve- lam a incerteza dos principios, e a hesitação nas escolhas, ao mesmo tempo que deixa dar calor aos revoltosos de Portugal, é hostilisado na Gamara dos Deputados, pelos representantes do Progresso, que se oppÕcm furiosamente a esse Tratado, dizendo que sympathisam com os movimentos de Hcspanha !

O Tratado foi decidido válido, e ratificado por uma boa maioria; mas o Regulamento tem pontos árduo-, e clausulas que, sendo em si ridiculas, apresentam uma desigualdade que não deixa de excitar murmuração.

Não posso ainda assegurar que não liaja alguma modifica- ção inevitável ; e eu a concederia, depois de ex^otados todos os meios de resistência, uma vez que esse (níverno, confidencial- mente, estivesse de acordo, até por seu próprio interesse; por- que lhe não pode convir que o negocio se vença de esp.ida na mão, antes sim com todas as demonstrações de boa intelligen-

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cia, e com o intuito de igualdade de interesses para ambas as Nações.

Um receio tenho eu, e é de que não seja possivel acabar-se a discussão do Regulamento em ambas as Gamaras, na sessão actual. A dos Senadores vai ficar sem o numero legal se os trabalhos continuarem alem do fim deste mez; e eu mesmo duvido que chegue a assistência dos que o formam. Isto peço eu a V. Ex* que diga a esse Governo, verbalmente, pre- parando-o para a demora que d'aqui se seguirá até janeiro de- mora, a meu entender, útil, e durante a qual cederá a irritação excitada em todo o Ribatejo e Alemtejo contra o negocio da Gonvenção. Não se creia que eu receio os maus resultados d'ella, nem as inundações de contrabando; mas na verdade as classes interessadas em que tal negociação não tenha logar, e os seus protectores políticos no Parlamento, fazem um alarido enorme, e convém deixar passar a tempestade, e ir illustrando os preconceituados que não são poucos.

Espero que V. Ex.* possa interessar em nossas cousas o sr. Mendizabal, que conhece melhor do que ninguém ahi o nosso estado, e as nossas tendências. Não duvido que, pessoal- mente, me não esteja affeiçoado, porque jamais se dignou res- ponder a três ou quatro cartas que lhe escrevi; e porque eu, em memoria, deixei sem resposta uma sua em que me propu- nha um objecto de grave inconveniência, então, para o nosso estado de cousas.

Reconheço, com tudo, em Mendizabal um espirito vasto, e coração proporcional. No Duque da ^'ictoria estou certo que V. Ex.* achará mais franqueza do que me parece ter encon- trado no sr. Ferrer.

Parece me que V. Ex.* não interpretou a minha verdadeira idea sobre a vinda do sr. Aguilar para o exercicio de Ministro d'essa corte, porque me procura persuadir da conveniência d'essa vinda, quando eu tinha escrito a V. Ex.* precisamente n'esse sentido. O que eu desejo é que elle venha quanto antes. Nada tenho contra o actual Encarregado de Negócios, o sr. Viniegra, mas é certo que durante o tempo em que serviu de Gonsul Geral aqui, se manifestou partidista caloroso das dou- trinas setembristas, e não poucas vezes (segundo constou) fez coro com os inimigos da actual Administração, condemnando-a como fautora dos principies absolutistas.

E posto que no dia de hoje elle me proteste que avalie a differença que existe entre os exaltados d'este paiz e os Pro- gressistas de Hespanha, é bem certo que os nossos amigos politicos que o viram e ouviram, desconfiam da sua sinceri-

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dade a respeito do syslema do Governo, c por conseguinte da exactidão das suas participações ao Governo Hespannol.

O sr. Aguilar é um antigo Liberal, mas homem de mais largo trato do mundo, cavalheiro de sentimentos generosos, e que por isso merece aqui o conceito de todos os Liberaes mais ou menos exaltados.

O sr. Viniegra perguntou-me se eu tinha noticia da vinda do sr. Aguilar, ao que respondi negativamente, e vi que esta resposta o satisfez rasão de mais para que eu deseje a prom- pta partida d'aquelle cavalheiro.

V. Ex." verá pelos jornaes o caminho que levam os debates nas Cortes. Os bandidos do Alemtejo e Algarve hão sido bati- dos, e dispersados, e continuam a ser perseguidos. Por essa parte vamos melhor: na parte do norte do Reino tãobem ha mais ordem c menos bandoleiros.

Os homens das revoluções fazem contínuos ajuntamentos, e procuram ter sempre em as esperanças da sua soldadesca, donde vem que lhes dão repetidas ordens para estarem prom- ptos; mas até aqui não creio que hajam accrescentado o seu numero.

Não posso mais; porem não creio que seja pouco o escrito.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.* Am.* Att.° V.»"- e Cr.''*

R. Fonseca Magalhães.

/*. 6\ Peço a V. Ex.* que previna o amigo X.* de que é mister não escrever para aqui o que não convém se divulgue, c sobre tudo cousas tendentes ao assumpto politico de V. Ex.*

IK

Lisboa, em 21 de Novembro, 1840.

Confidencial. 111.'"° e Ex."'" Sr.

Levei á presença de S.S. Majestades a carta, cilicio e bi- lhete de V. Ex.', datados de i3 do corrente, e posso asseverar a V. Ex.-* que foram lidos com o maior interesse.

1 Manuel Ximenes, depois Visconde do Pinheiro.

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Posto que, em officio, eu diga a V. Ex.* o que me parece mais interessante, sempre n'esta mais claramente desejo que V. Ex.* leia qual o verdadeiro estado da discussão sobre o Douro. O Regulamento está pessimamente redigido, e da redacção nasce o motivo da maior parte das questões, que so- bre os seus artigos se ventilam. Os nossos adversários na Ga- mara dos Deputados, tanto os exaggerados do movimento, como os extremosos Cartistas, tem-lhe feito muita guerra, aprovei- tando-se do terror pânico dos Lavradores, mas este terror cederá breve, uma vez que não suffoquemos despoticamente a discussão. O grande passo do reconhecimento do Tratado deu- se: o Regulamento, mais semana menos semana, passa. A ses- são está muito adiantada, e entre ella e a que vem, a 2 de ja- neiro, é força que medeie ao menos um mez. Além d'isto, mui- tos dos nos^^os mais seguros deputados faltam agora, e duvido muito que os Senadores estejem em numero além do fim d'este mez, o que, se acontecer, obriga o Governo a cerrar as Gôr- tes até janeiro, deixando por concluir boa parte de negócios, e sem meios além do fim de Janeiro. Tenha, pois, V. Ex.* a bondade de fazer, por todos os modos, entender a esse Governo que temos procedido com a maior diligencia e boa fé, na per- suasão intima de que o Tratado, depois de efíeituado, mostrará as vantagens que a ambos os paizes; e por isso anhelamos reduzil-o a efteito quanto antes; mas que, se não for possível por íalta de tempo, o primeiro cuidado do Governo, na sessão de janeiro, será terminar este negocio, tanto mais fácil então de concluir, quanto teremos os amigos agora ausentes. V. Ex.^ terá a bondade de fazer bem sentir quaes são as nossas cir- cumstancias, e como ha sido necessário tudo isto, e ainda mais, para tirar bom resultado, sem excitar no povo movimentos que sopram os chamados aqui Progressistas, que muito differem dos d'esse paiz.

Note bem V. Ex.* que esses Progressistas são os que hoje accusam o Governo, e principalmente a mim, por haver dito que Hespanha não estava em revolução ; e agora, na questão do Douro, se tem elles distinguido com uma grande animosi- dade contra os Hespanhoes, procurando tornai os odiosos e figurando-os como nossos mais implacáveis inimigos.

Não entendo isto, ou se o entendo fica-me a convicção des- graçada de que poucos homens ha de caracter e honra, quan- do se trata dos seus interesses suppostos ou verdadeiros. Te- nho muito empenho em que V. Ex.* alcance que d'ahi parta, quanto antes, o sr. Aguilar. Escuso de declarar a V. Ex."* os mo- tivos, porque basta que V. Ex.'^ presuma um d'elles ; e estou

certo que me faz a justiça de crer que não faço esta instancia sem causa. V. Ex *, no caso de que elle venha, lhe dará uma carta para o Duque de Palmella, e eu me encarrego de que aqui SS. MM. o recebam optimamente. O Hincarregado de Negócios que aqui está excita no P. uma certa desconfiança, em attenção a dizer-se que frequentava (d'antes) os clubs mais ferventes do partido ultra-liberal, ou republicano. E. sem em- bargo de que, pelo que a mim diz respeito, tanto me im- porta essa opinião como outra qualquer, não succede o mes- mo com quem cuida que de tacs opiniões nascem factos infal- liveis e necessários. E como seja sempre mais de meio cami- nho andado que haja confiança, e eu sei que a reputação de probidade e honra do sr. Aguilar é aqui muita; por isso, além do que omitto, insto com V. Ex.* para que veja se obtém a sua prompta vinda.

Repito a V. Ex.* o meu empenho em que certifique o Du- que da Victoria e o Sr. Eerrer das circumstancias em que es- tamos, quanto ao Oouro, e obtenha d'elles uma declaração de convicção sobre a impossibilidade de que se discuta n'esta ses- são; isto na certeza de que é o primeiro negocio que levamos ás Cortes na sessão seguinte. Considere V. Ex.* que o Senado está com o numero certo, e mais um ou dois : nem ha forças humanas que os façam demorar mais do que até o fim do mez.

Lord Howard parece-me satisfeito. Se V. Ex.*, de quando cm quando, lhe escrever uma cartinha, elle a estimará.

Agora deu aqui a Relação uma sentença, que geralmente se crê muito injusta, na causa de um negociante inglez com o celebre Manuel dos Contos, em ódio aos Inglezes. Letrados e jurisconsultos me tem assegurado que é um escândalo; e este escândalo faz nos o maior transtorno em nossas negociações. Quem votou contra, por votar contra Inglezes, foram juizes do progresso, e entre elles os Campos.

Lord Howard me disse, que bem sabia que o Governo não podia intrometter-se ne<>tes negócios, mas que sentia dizer me quanto este caso retardaria o nosso Tratado, principalmente emquanto á cessação do privilegio do foro. Isto mesmo faz com que eu me abstenha de fazer aquelle negocio de que V. Ex.' me falou para bem do Ximenes ; porque isso será ins- pirar desconfianças que quero remover ; porque não ha nada mais desgraçado do que parecer que o Governo tem parciali- dades que realmente não tem, principalmente quando se reco- nhece porque lado está a Justiça.

Veremos se ha revista, o que não sei se terá logar, e se se remove o preconceito : o que será ditficil.

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Muito confio das diligencias e amor ao nosso paiz, de que V. Ex.* nunca se esquece de dar provas, para remover as dif- ficuldades dos negocies. Da nossa parte ha sinceridade ; oxalá que haja a mesma d'esse Governo.

Pareceme que são objecto de alguma reclamação os arti- gos de jornaes e jornaes inteiros que se dedicam a pregar a união dos dois paizes. V. Ex.* os verá; mas de qualquer modo que seja, estando nós em paz e boa harmonia, pareceme insó- lito que se deva consentir estes ataques á soberania da Nação e da Coroa; nem sei que o direito das gentes permitta similhan- tes publicações impunemente.

Ao Ximenes rogo a V. Ex.* que recommende que não es- creva ao Carvalho, da Rua dos Fanqueiros, que é um grande pateta, e que ha de continuar a mostrar as suas cartas, em que faz ler cousas que são de segredo, ou ao menos de reserva: isso é facilidade de mais.

O Sr. Marquez tem sido entregue das cartas de V. Ex.*

Sou de V. Ex.*

Am.° Verd.« e Cr." Obg.°,

R. Fonseca Magalhães.

X

Lisboa, 24 de Novembro de 1840. ParUicidar Confidencial.

111.'"» e Ex.-"" Sr.

Tenho presente a que V. Ex.* me escreveu em data de 17, sentindo muito a falta de que V. Ex.* se queixa de officios ou carta minha, porque me parece que nenhum correio se tem passado, desde que me constou a chegada de V. Ex.* a Ma- drid, sem que eu lhe escrevesse. Mandei averiguar na Secre- taria se ha oíficios que venham a corresponder á chegada a essa Corte no dia 16. Digo isto porque tenho algumas des- confianças sobre a fiel entrega dos correios.

tive a honra de escrever a V. Ex.* sobre a discussão do Regulamento da navegação do Douro que tem sido buliçosa, mais por falta da nossa gente na Camará do que pelo resul- tado. Ganhamos o principal ; o accessorio não pode deixar de

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ganhar se táobem ; mas é impossível que isto tenha locar antes de janeiro, que está á porta, e os Senadores querem descançar um mez, e ameaçam-me de sairem, deixando o Governo sem elles, se não se encerra esta sessão. Qualquer que fosse a de- mora já não podia este objecto ser decidido em ambas as Ga- maras. V, Ex * terá a bondade, pois, de significar isto a esse Governo, e dizer-lhe que na falia do Throno, da abertura das Gamaras, a 2 de Janeiro, a Rainha dará a discussão do Douro como assumpto a que se deve dar fim quanto antes ; que os Deputados, nossos amigos, virão então ajudarnos; e que o negocio se levará, ligeiramente, em metade do tempo que agora gastaria. Não podemos deixar de fechar as Gôrtes no fim d'este mez para não passarmos pelo desaire de ficar sem gente.

Gontinuam os facciosos portuguezes a achar guarida na fronteira visinha, e, ao mesmo tempo que de inundem o Alemtejo e Algarve de Proclamações, representa aqui o sr. de Viniegra sobre os armamentos da tiossa margem do Guadiana, digo armamentos de fortalezas e augmenio de forças ! !

Isto ou é uma irrisão e ironia insuliante, ou é a mais com- pleta estolidez. Mandou se levantar duas carretas do forte de Villa Real, e ter cuidado em que algum ponto da nossa fron- teira não fosse, para dar começo a algum tumulto, invadido pelos refugiados Portuguezes; mas nem um homem se acrescentou, nem um soldado passou as províncias do sul, a não serem três destacamentos de cavallaria, em busca dos ban- doleiros, que se intitulam guerrilhas de D. Miguel, e que tem commettido muitas depredações no Alemtejo e Algarve; e que hão sido perseguidos e balidos n'estes últimos dias.

E', pois, para mim muito estranho que, ao passo em que d'esse paiz se zomba de todas as nossas reclamações, esteja aqui este Encarregado de Negócios a inventar movimentos, e a fazer noticias cuja redacção não é das mais polidas ; e pede de cada cousa uma explicação, com tal arrogância que me pa- rece um diplomata de Napoleão nos dias da gloria imperial.

Peço a V. Ex.* que inste pela vinda do sr. Aguilar, homem com quem estou certo que conservaremos boa inielligencia, porque nos unem a elle laços de antigo liberalismo, que hoje é fidalgo, e sem as pequenezas e ridicularias de quem é diplo- mático desde hontem, e ligado a outras pessoas aqui.

P^ste homem devia ver que hontem se deu na Gamara o negocio da navegação do Douro para Ordem da Dia ; mas, apesar d'isto, me pergunta, cm uma longa nota, cheia de im- pertinências, se o Governo tinha posto a questão do Douro de parte indefinidamente r

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Isto é insofrível, quando elle tem visto a força com que temos defendido o negocio, contra todas as prevenções do paiz. Repito, peço a V. Ex.* que empenhe o amigo Mendizabal, e todos os meios que puder, para que venha Aguiiar quanto antes, porque aUás a petulância do sr. Viniegra nos pode cau- sar desgosto.

SS. MM. tem recebido, gostosamente, as noticias e officios de V. Ex.* que lhes tenho mostrado, mui contentes de V. Ex.*

Tenho a honra de ser

De V. Ex.» Am.° Att.'» V.»'- e Cr.''"

Rodrigo da F. Magalhães,

XI

25 de Novembro (de 1840?).

111.™° e Ex."'" Sr.

Agora, que são 10 da manha, recebo a de V. Ex.* de 20, e o officio correspondente que, d'aqui a uma hora, será pre- sente a SS. MM. O Leal está armado de pied eu cap, com látego a tiracol, faltando lhe a corneta de correio á antiga.

Veja V. Ex.* a carta que por elle escrevo a V. Ex.*, sen- tindo muito que V. Ex.* não tenha recebido as minhas cartas e officios, que todos os correios tenho escripto.

O negocio da navegação do Douro é o que mais me afflige; mas saiba V. Ex.^ que não é possível ter as Cortes abertas além do fim do mez : antes de chegar se ausentam os mem- bros do Senado, e muitos deputados fazem o mesmo, de sorte que podemos passar por uma desfeita se não fecharmos.

Em janeiro vencemos tudo. V. Ex.* o pôde assegurar ao Governo, com a reserva necessária, porque a Maioria nos ajuda. Porém d'essa Maioria faltam agora muitos membros, e é pre- ciso contemplai os. V. Ex.* fará o mais importante serviço a Sua Magestade, fazendo convencer a Regência da nossa boa vontade, e da lealdade do nosso proceder n'este assumpto.

Não quero demorar a partida do Leal, que chegará ao mesmo tempo que o correio. Leva uma carta da sr.' Marqueza de Saldanha.

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Responderei ao oíficio de V. Ex/, c estimo muito que se explicasse no sentido em que o fez, e deixar faliar estes po- liticos de cá, que são fraca cousa, ou fingem que não en- tendem.

De V. Ex.S Am.° e Cr.« Obg."*»

111.'"° e Ex.""*» Sr. Marquez de Saldanha.

R. Fonseca Magalhães,

XII

Lisboa, 28 de Novembro, 1840. Reservado .

111.-"» e Ex."»» Sr.

Pouco extenso posso ser hoje.

Depois de amanhã fecha Sua Magestade a sessão ordiná- ria, para ter algum descanso o Governo e para dar algum re- pouso aos membros do Corpo Legislativo.

Pela copia da nota que enviei ao sr. Viniegra, verá V. Ex.* quaes os motivos que o Governo teve para terminar a sessão, accrescentando eu a V. Ex.* que os Senadores e Deputados se ausentariam se não condescendêssemos com elles em dar- Ihes o descanço de um mez. Não ha razão de queixume da parte dVsse Governo do comportamento do nosso. A discus- são do Regulamento não podia terminar em i5 dias, e com muitos deputados nossos ausentes, não digo que nos arriscáva- mos a perder, mas tinhamos certa uma dilação indefinida; e accrescendo a tudo isto a certeza da retirada dos membros das Camarás, bem se vc que o Ministério padeceria dois desaires : o de não acabar, e o de se mostrar um desaccordo entre o Go- verno e as Cortes, que nos podia ser funesto, digo á causa publica. O parecer de Lord Howard, a quem consultei, toi conforme o meu ; e elle que aqui está e conhece, não o es- tado das cousas, mas tão bem as minhas opiniões sobre esta matéria, achou que o (ioverno obrava com muito fundamento, e que a tardança de um mcz é nada para o andamento da questão.

Vi o discurso da apresentação que V Ex.* teve a bondade de dirigir-me, e o approvo, porque é elle uma prova de que

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V. Ex.* aprecia a situação dos dois paizes, e conhece quanto convém que estejamos de inteiligencia. Além d'isso a Índole dos nossos (rovernos acceita como apropriadas as idéas e as palavras e até o esiylo por V. Ex.^ usado.

Uma observação amigável me permittirá, comtudo, V. Ex.% na confidencia da amisade, e vem a ser que no seu logar eu fallaria e escreveria, ou em Portuguez ou em Francez, porque se me afligura, na adopção do idioma, uma espécie de confis- são de superioridade moral que não desejo que confessemos, por attenção nenhuma. Tãobem eu gosto de fallar e?sa lingua, que é belia, mas em acto solemne não o faria.

O nosso Ministro em Londres usa, por ordem minha, de lingua portugueza em suas communicações ; porque o Governo Inglez usa da lingua ingleza.

Gomo dizia ; isto é uma simples observação amigável, que V. Ex.* permitte a um collega que sempre foi amigo.

SS. MM. acceitaram, com muito gosto, as expressões de V. Ex.«

Serei mais extenso no correio seguinte, porque hoje mal posso acudir a metade do que tenho que fazer.

Em que termos está esse Governo com a Guria Romana ?

Esta pergunta requer o trabalho que dou a V. Ex.^ de fa- zer algumas indagações sobre este negocio.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.% Am.» e Gr,° Obg."^«

R. Fonseca Magalhães.

XIII Lisboa, 2 de Dezembro, 18^0. Particular.

111.™° e Ex.™° Sr.

Fecharam-se as Gortes no dia 3o, como havia annunciado a V. Ex.*, pela rasão mui ponderosa de irmos, dentro de 8 dias, ficar sem Senadores, em numero, e até sem Deputados. Esta falta seria um desaire, e levaria o desgosto aos nossos amigos políticos —áquelles que mais nos apoiam em Parla- mento.

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Consideradas todas as cousas, e consultados todos os inte- resses, vi que eíte era o único meio de levar por diante, na próxima sessão, o negocio do Douro, que a mim me pesa tanto como áquelle, cl'enire os Ministros actuaes, que mais compro- metiido está; porque, de facto, foi a Convenção feita no nosso Ministério, digo n'aquelle em que V. Ex.* era Presidente do Conselho, e eu Ministro do Reino.

Fallei sobre este assumpto a Lord Howard, que me achou rasão; porque, mui conhecedor das nossas cousas, as pôde avahar melhor do que o sr. Ferrer; alem de que, mais do que esse snr. avalia elle as intenções do Governo, e até o meu ca- racter pessoal, que é de nunca faltar ás minhas promessas, qualidade que me preso de possuir sem a invejar a ninguém.

Para tirar toda a duvida, não esperei para a falia do Throno da sessão futura, na qual eu prometii ao sr. Viniegra que inse- riria a espécie ; porque a mencionei no discurso de encerra- mento. Eis quanto o Governo podia fazer, como caução da sua sinceridade: este caminho é franco, e mal merecemos nós as des- confianças que esse Governo quer nutrir, de um proceder que tem por fim obter a conclusão de matéria grave pelo meio mais próprio e menos violento. Espero que V. Ex.^ faça sentir ao Governo Hespanhol quão longe está o Ministério Portuguez de participar das prevenções fictícias, que são obra d'aquelles homens que neste paiz se chamam do progresso que fingem querer irmanar os interesses de ambas as nações, quando, n i verdade, de Hespanha querem auxilio de perturbação e de desordem, aquecendo com elle as paixões obscuras de meia dúzia de indivíduos, entre quem faz figura o França e o Man- tas! Se V. Ex.* puder, ou quizcr, descrever as qualidades des- tes chefes de partido, conseguirá desenganar esse Governo, de que cousa são os Moderados Líberacs d'aquí, e quanto mais se igualam, se é que não precedem, aos Progressistas de Hespa- nha. Creio que o partido do Huracan seja parente próximo do nosso Arsenal ; e o Arsenal é o Capitólio dos Progressistas de !

No ofilcio confidencial n." 2, que hoje recebi, me declara V. Ex.* que esse Governo dera as ordens para serem interna- dos, a 20 léguas, os refugiados portuguezes, e que estas ordens seriam mandadas aos Capitães Generaes de Galiza, Castella, e Extremadiira: peço a V. Ex."* que seja comprehcndido o de Andaluzia tãobem. Pelo que respeita aos d>;sertores. entendo que os otíiciaes se devem considerar refugiados políticos; mas attenda V. Ex.'^ que, convindo eu em que assim se avaliem as praças de pret que, ás ordens dos mesmos, entraram no visinho

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Reino para n'elle obterem hospitalidade, não daria egual qua- lificação aos soldados da Guarda Municipal de Portalegre, e de algum outro corpo militar, que, um apoz outro, tem deser- tado de suas bandeiras, e ido ajuntar-se aos outros que mor- mente (?) se hão consentido nas ])ovoaçÕes ultimas da raia de Hespanha. Nenhum acontecimento os levou ali ; nenhum offi- cial os commandou: hão desertado a occultas, como se deserta em tempos ordinários. Se isto valesse, facilmente seriam illu- didos os Tratados ; porque, d'aqui a dez annos, os desertores de ambos os paizes poderiam allegar motivos politicos e até referir- se ao anno de 1840!

Um Governo illustrado como esse, cujos membros são tão superiores ás conveniências insignificantes das subdivisões dos partidos ; um Governo que abrange de um lançar de olhos a nossa respectiva situação, e calcula os seus resultados, não é possivel que se negue a fazer a distincção que eu faço, que é sem duvida mais generosa, em quanto ás applicações, do que restricta. Tãobem eu me lembro de que V. Ex.^ e muitos ou- tros militares e não militares, nossos amigos, correram na adversa fortuna ao azilo do reino visinho.

Esses respeitoos eu ; mas não posso applicar o principio á sequencia de deserções que são promovidas por esses homens.

Nada V. Ex.* exija que seja impróprio; porque o caracter hespanhol é pundonoroso ; mas não deixe de considerar o que é justo *, porque devemos pôr um tropeço ás deserções.

Adeus ! não posso mais. A festa da Estrella, os annos do Imperador do Brazil * , e mil cousas, me roubam o tempo.

De V. Ex.* Am." e Cr." Obg."

R. F. Magalhães.

P. S. SS. MM. folgam sempre de ter noticias de V. Ex.', e ouvem com satisfação as expressões da sua respeitosa lem- brança.

Saudades ao Ximenes ; bom é que não escreva a tolos.

' O Imperador D. Pedro II nasceu a 2 de Dezembro de iSzS, no Pa- lácio da BoaVista, no Hio de Janeiro.

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XIV

Em b de Dezembro de 1840.

III."*' c Ex.'*" Sr.

Não ha cousa de nome que possa dizer-lhe hoje. Estou an- cioso por saber de que modo ahi se tomou o encerramento das nossas Cortes, que foi uma necessidade politica, pelas razões que escrevi a V. Ex.*

Aqui ha socego, sem embargo de que não falta quem de- seje perturbai o. Constou-me que um dos membros d'esse Go- verno escrevera a uma pessoa residente nesta capital, pergun- tando lhe que homens seriam esses que pretendem d'aqui diri- gir á Hespanha uma espécie de manifesto-protesto 011 cousa que o valne; não sei se para tratarem de federação, de união, ou para que cousa. Constou me que os varões, que tanta nacio- nalidade nutrem no coração, pertencem ao partido esquerdo, e que são Deputados e Senadores. Uma reflexão ouso cu fazer a V. Ex.**, e que me parece justo iransmittir ás pessoas a quem o negocio pôde interessar, e vem a ser que esse partido é o que hostilisa a navegação do Douro, é o que nos accusou de querer entregar á Hespanha, etc. Os nomes d'esses homens bem conhecidos são; e V. Ex.*, melhor do que ninguém, sabe quaes são os fins e intentos d'essa gente, e se elles podem dar as cauções que nós damos de ordem boa, e leal inielligencia, de que reciprocamente carecem os dois Governos para manter a paz e a liberdade em ambos os paizes.

Constou me que os refugiados em Cidade de Rodrigo, ha- viam recebido ordem de recolher-se a Salamanca. Isto me escreve o Administrador (ieral de Vizeu, bem como o da Guarda, mas não sei até que ponto se pódc a noticia considerar exacta: o que sei é que os do Sul do Reino, digo da fronteira do Alemtejo, estão, e inquietando, como sempre, a gente da terra visinha, promettendo muitos auxilios aos que fugirem, e ameaçando de invasões.

Estou certo de que V. Kx.' se não descuidará deste nego- cio importaniissimo, e tomará sobre o primeiro as medidas que entender justas, para desenganar esses senhores de quem são os nossos f-*rogressistas.

Hoje não posso ser mais extenso; achome muito doente c Deus sabe com que trabalho comecei e acabei esta carta.

Pareceme muito dillicil conseguir a vinda do sr. Aguilar que seria um grande meio de firmar a nossa boa intelligencia

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pelos motivos que a V. Ex.* expuz na minha anterior; mas, paciência!

Tenho a honra de ser

111.'"" e Ex.'"" Sr. Marquez de Saldanha.

De V. Ex.»

O mais Att.° Am." V.<"-

R. Fonseca Magalhães.

P. S. Remetto debaixo de sobrescripto a V. Ex.* essa carta, dentro da qual vai uma cadeia de ouro * , remettida pelo amigo Joaquim Larcher.

R. F. Magalhães.

XV

Lisboa, 9 de Dezembro de 1840. Reservado.

111.""' e Ex.™" Sr.

Em additamento a tudo quanto de officio escrevi a V. Ex.*, accrescentarei, confidencialmente, para seu conhecimento, que Lord Howard abunda no assumpto da nossa justiça, como V, Ex* saberá por Mr. Aston, o que nos a mais fundada es- perança da resolução que, em caso extremo, tomará o Governo inglez.

Nas conferencias que V. Ex.* tiver com os membros d'essc Governo convirá que procure, sobretudo, fazer impressão no seu animo, mostrando lhes que a resolução que tomaram os des- acreditaria em toda a Europa, por ser fundada em um motivo fútil, e ter toda a apparencia de uma condescendência com partidos revolucionários, com o qual convém muito aos seus interesses que elles se não confundam.

Convirá, também, que lhes faça ver que o resultado do meio que pretendem empregar, viria a ser o opposto dos seus desejos, porque se o Governo Portuguez se vir obrigado (o que não fará senão na ultima extremidade) a patentear á na-

* Ou crina.

ção a injustiça da exigência dos Hespanhoes, e a chamal-a ás armas, excitando o patriotismo nacional, e exaltando os senti- mentos de antipathia entre os dois povos, ficará impraticável, ou pelo menos muito mais diílicil, para o futuro, a execução da Convenção que se pretende pôr em pratica, perdendo-se, assim, por uma precipitação mal entendida e inútil, o objecto mesmo que se quer promover.

Em todo o caso, o Governo de Sua Magestade confia em que V. Ex.*, dando o devido valor á gravidade das circum- siancias, lhe enviará a tempo o aviso e informações necessá- rias para lançar mão dos meios de defesa que, per agora, se- rão só limitados ao objecto indispensável de abastecer, com a possível reserva, e pôr em estado de segurança, as praças da fronteira.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.^ Amigo o mais Aitento Ven.""" Obg."

Rodrigo da Fonseca Magalhães.

XVI

Lisboa, 12 de Dezembro, 1840. ConJidcnciaU

111.""' e Ex.'"'^ Sr.

No dia g, ás 7 horas da noute, me escreveu o sr. Viniegra ia cujas iníormaçóes, pela maior parte, segundo me consta, inspiradas pelo sr. Manuel de Castro Pereira, se deve a reso- lução do Governo Hespanhol) pedindo me uma audiência para assumpto importaniissimo aquella noutc.

Falou-me, no dia seguinte, ás 10 horas da manhã, e me entregou a nota, bem pouco cortezã, d'esse Governo que, in- consideradamente, accrescenta os quilates da nossa justiça no modo e estylo insolente de que faz uso, tomando, errado, a arrogância por dignidade, c grosseria como prova de torça. Esta nota, que é de 9 do corrente, a envio por copia a V. Ex.* para que a mostre a Mr. Aston, c faça do seu conteúdo o )UÍzo que lhe parecer e o uso que fòr conveniente.

Não a abri deante do portador, que tratei com a benevo- lência do costume, apesar de saber que ellc, porque não rece- bia no Paço distincções que lhe não pertenciam, (posto que

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jamais foi mal acolhido), ousou, durante muito tempo, tomaf informações das sociedades progressistas, com quem sempre esteve de inteliigencia, e dalas erróneas, deturpadas e sole- mnemente falsificadas, para a sua Corte, affirmando até, com insólita imprudência, que o Governo tratava de illudir o Ga- binete Hespanhol sobre o negocio da navegação do Douro ! Como V. Ex.* sabe já, a este tempo, havia eu dirigido a Lord Howard uma nota reclamando a intervenção do Governo Britannico, e discutido com o mesmo Ministro, nos termos da mais perfeita inteliigencia, o assumpto da invasão pelo Go- verno de Hespanha. Lord Howard, testemunha do nosso pro- cedimento e sabedor da lealdade do Governo, assim como das causas que tornaram inevitável o encerramento das Camarás, antes de terminada a discussão da navegação do Douro, escre- veu a Mr. Astoa, que, segundo vi do teor da sua correspon- dência, e do fundamento das suas opiniões, estava pouco ou nada instruído da historia da questão, que para elle era pouco menos do que inteiramente nova : d'onde eu coUigi que o sr. Lima, que tão familiar era com este negocio, nunca se tinha lembrado de informar d'elle, e da razão que nos assistia, ao Ministro de S. M. B , dando, por ventura, pouca attenção a um objecto que, no meu pensar, merecia o mais sério cuidado. Nem posso entender porque razão deixou, por tanto tempo, ignorante Mr. Aston do assumpto mais delicado que podia ira- tar-se entre os dois Governos.

Em seu officio n." 41, reservado^ affirma o sr. Lima que ao Governo informava que eram criticas as circumstancias, em ra- zão de que todos os partidos n'esse paiz desejavam romper comnosco; ao mesmo passo que por certo que o Governo não tem, a nosso respeito, vistas sinistras. Não sei quacs se poderão, cm tal caso, reputar vistas sinistras, se o não são es- sas d'esse Governo, que, resistindo á força da evidencia, chega a criminar-nos de não ter violado a Constituição; e resiste ao conhecimento dos factos, accusando-nos até pelo que escrevem ao Governo nossos adversários! Na verdade não posso deixar de sentir o descuido do nosso Ministro residente, em ter bem informado a Mr. Aston, que, se soubesse bem os factos, teria talvez conseguido invalidar a tentativa.

Hoje estava este cavalheiro instruído dos mesmos factos, e da justiça que nos assiste; porque sei como Lord Howard, que tão bem conhece o espirito e pretençÕes dos nossos parti- dos, o teria habilitado com informações da maior exactidão e verdade, tanto pelo que respeita ao progresso do negocio até hoje, como da incontestável justiça que, como digo, nos as*

sistc; e por este correio receberá elle, além de mais esclare- cimentos, uma série de demonstrações sobre a falsidade e hy- pocnsia que esse Governo emprega em quanto escreve a tal respeito.

Dei a Lord Howard uma breve analyse ao Memorandum, apresentado a Mr. Aston; e, naturalmente, como o não pude escrever em francez, Mr. Aston, com quem, felizmente, V. Ex.* entretém boas relações, provavelmente recorrerá a V. Ex.* para mais alguns esclarewimentos, até mesmo pelo que respeita á linguagem.

Tenho eu, para mandar a V, Ex.', um projecto de nota, ou antes um otiicio, com as reflexões que pareceram acerta- das sobre o rompimento projectado n'e>se paiz; mas, prova- velmente, só o mandarei pelo seguinte correio, isto é, pelo que veiu a Lord Howard, e me entregou hoje os despachos de V. Ex.', de 5 e 8 do corrente, e o bilhete de 9 com a Gazeta em que vem essa tal qual mal guisada, e violenta satisfação á injuria recebida nos três ou quatro números anteriores.

A este respeito limito-me a approvar o comportamento de V. Ex.', que é digno da sua pessoa e caracter, e estou certo que procederá sempre, em casos de honra, com toda a que possue; mas eu, pessoalmente, despreso os insultos dos jorna- listas, e náo reputo a nação portugueza tão desgraçada que possa perder ou ganhar do que d'ella escreve um hespanhol mal creado.

Nas circumstancias actuaes, entendo que feria conveniente que V. Ex.* ainda estivesse ahi por alguns dias, sem commu- nicação ostensiva, e combinando com Mr. Aston o que pare- cesse conveniente, até haver mais algum esclarecimento, e tal- vez instrucções do Gabinete Britannico a esse Ministro sobre o assumpto, a vêr se o Gabinete Hespanhol, desenganado do seu desaccordo, e de que não é hoie cousa tão fácil como ani se julga, invadir hostilmente o território de um Estado alheio, torna a si, e expedir o sr. Aguilar para, antes de uma resolu- ção fatal, se ajustar ainda a questão pendente.

Em todo a caso, eu mandarei o despacho a que alludi acima, o mais tardar d'aqui a três dias, pelo correio que d'ahi expediu Mr. Aston, se ainda o não mandar por este; reduzin- do se o ponto d'elle a fazer saber ao Governo de Madrid que se comnrctter um acto de hostilidade, da parte de Ilcí^panha^ ficarão, ipso facto^ annuUados todos os Triitados, e com elles, em primeiro logar, o da navegação do Douro.

Bem sei eu que com isto nada diremos de novo a esse Governo; mas estabeleceremos uma espécie de protesto do nosso direito

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fundado nos principies irrefragaveis d'elle, e do qual jamais de- sistiremos.

Logo que tenhamos perdido toda a esperança do accordo decente, que ahi se pretende, loucamente, tornar impossível, V. Ex.* virá tomar, na defeza da nossa Pátria, o logar que lhe compete, sem que esta distincção se possa attribuir a favor ; ou desejo de o lisongear, e dentro de mui poucos dias teremos decidido este ponto.

Confidencialmente, fiz ver a Lord Howard a opinião de V. Ex.* a respeito do Ministério de fusão, de que V. Ex.* me es- creve na sua carta de 8; porque, no presente estado das cou- sas, não poderia ter logar qualquer operação d'essa natureza sem a sua concorrência; e posso dizer a V. Ex.* que a opinião de Lord Howard é opposta a essa fusão, e ás pessoas que V. Ex.* pôde prezumir; julgando elle que, se V. Ex.^ aqui estivesse, pensaria de diverso modo.

Muito desejo eu que o Duque queira entrar na Repartição que eu interinamente occupo com tão pouca aptidão, e de con- seguir isto alguma esperança tenho; porque, na realidade, es- tou opprimido de trabalhos e cuidados,, para desenvolver-me dos quaes são insufficientes as minhas forças. A carta de V. Ex.* está fechada para todos; nem d'ella fiz menção no Paço.

Preparamo-nos para a guerra ; poucos homens vis querem que as armas da nação estranha infamem a nossa terra, para lhes dar o auxilio que não acham na opinião dos nossos con- cidadãos. Esses clubistas fazem votos porque as nossas praças sejam tomadas, e as nossas cidades preza de Hespanhoes, pa- ra que elles se levantem, e proclamem a União, e desneguem o seu nascimento e reneguem do seu nome. Porém a nação portugueza tem mais nobres sentimentos. O Governo, obriga- do pilas ameaças, cuida de se defender, e faz para isto os possíveis esforços; e Deus os ha de coroar se fôr preciso. Es- ses senhores nos crêem abatidos; mas elles enganam se. A Europa fará justiça á nossa causa; os nossos alliados não nos desampararão, especialmente vendo que merecemos o seu au- xilio pela nossa resolução c denodo.

Para isto mesmo será conveniente que V. Ex.*, a ser pos- sível e decente, se detenha ahi alguns dias; será mesmo bom que algumas explicações 5obre a necessidade de cuidarmos de medidas de defeza; porque, aliás, não subsistiríamos uma hora ; e ficaríamos eternamente cobertos de opprobrio e igno- minia; que tudo faríamos quanto fosse decente para ambos os paizes ; mas, conhecidas as brutaes provocações do Governo, e dos seus escriptores assalariados, não poderíamos deixar de

merecer o ferrete da infâmia, se não mostrássemos que zela- mos a honra e a independência nacional.

No caso cm que V. Ex.* se retire, cumpre que o sr. Lima faça o mesmo, desde logo, ou, cessando as suas funcçóes abso- lutamente, siga a V. Ex.' de perto. E n'este caso, convirá pôr em seguro recado o que ha de mais importante d'essa Legação.

V. Ex.* despachará o correio, portador d'estes despachos, na opportunidade que achar mellior.

Pelo que no começo d'esta carta expuz a V. Ex.* acerca da apresentação da nota-ultimatum^ no dia 8 do corrente, verá y. Ex.* que o seu pensar acerca das credenciacs do novo En- carregado de Negócios, que o sr. Ferrer disse a V. Ex* e a Mr. Aston, haviam sido enviadas a um individuo insignificante que aqui me foi apresentado, chamado Soler, não foi corres- pondido pelo resultado. O dia 14, da apresentação, antecipou- -se para o dia 10, e Viniegra queria que fosse para o 9, com estúpida finura tão desprezível quanto ridiculamente aíTectada.

Em tal caso o sr. Ferrer illudiu a V. Ex.* e a Mr. Aston ; e V. Ex.* verá, do conteúdo da nota do mesmo Viniegra, guaes foram as credenciaes enviadas a Soler. Desejo que V. Ex.* faça apreciar, por Mr. Aston, a lisura e generosidade castelhana do procedimento do Ministro dos Negócios Estran- geiros d'esse paiz. Nem é muit^o que assim o obre o Governo que entregou o celebre memoraudum^ sobre a transacção do Douro, em que confessa que os seus commisarios canharam, isto é, seduziram ou corromperam um dos nossos para te- rem maiorias de votos em um artigo essencialissimo do mes- mo Regulamento.

O espirito publico vae-se desenvolvendo, e quem para isso conlribue são o Nacional e outros periódicos d'cste jaez, per- tencentes iis associaçÕ^is para a federação e união á Hes- panha ! I

O Governo tem sido tão moderado que lhe vão chaman- do servil em demasia não o é mas deseja ter em tudo ra- zão, até na sua frase, cuja circumspecção não costuma tirar mas sim dar força; porque a força verdadeira é acompanhada da Justiça.

Tenho a honra de ser

De V. E\' Am." e (>.° Obg."

R. I'\ .\/j-j//kíc'5

P. S. Diga-mc V. Kx.' se Leonel está n'essa capital.

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XVII Em i3 de Dezembro de 1840. P,S.

111.""' e Ex."'° Sr.

No caso da retirada de V. Ex.* d'ahi, é indispensável dei- xar ahi pessoa de confiança para nos informar de tudo quanto V. Ex.* sabe que é preciso não ignorar. Escuso dizer-Ihe mais.

De V. Ex.% Amigo e Gr." Óbg."

R. F. Magalhães.

XVIIl

i3 de Dezembro, 1840.

Addenda.

111."'*^ e Ex.""» Sr.

Combine V. Ex.* com Mr. Aston se convém, e quando, fazer saber a esse Governo que, depois de violado por forças hespanholas o nosso território, cessarão de todo os Tratados existentes, que, por isso, corre grave risco ver-se Hespanha e Portugal privados ambos do beneficio da navegação. Este ponto deve merecer as mais sérias attençÕes ao Governo de Hespa- nha, porque, qualquer que seja o seu procedimento para com- nosco, o resultado de certo ha de depender de mais de uma combinação em que hão de ter parte Governos alliados. E' n'este sentido que enviarei a V. Ex.* o oííicio de que falo na minha carta, datada de hontem, e que vae por este mesmo correio.

Em officio separado verá V. Ex.* que o governo se lembra da sua collocação ahi, nem permitte que a Y. Ex.* faltem os meios necessários.

E se for necessário para o sr. Lima regressar, V. Ex.* lhe ministrará a somma necessária.

De V. Ex.* Amigo Obg.°

R. F. Magalhães.

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XIX

Lisboa, i6 de Dezembro, 1840.

111.""» e Ex.""» Sr.

A' pressa lhe escrevo esta, e dou resposta ao seu officio de II do corrente. Hoje espero eu que V. Ex.' receba a corres- pondência que d'aqui enviei pelo extraordinário que partiu a i3 do corrente, pelo qual tambenn forneci a Mr. Aston algu- mas considerações sobre o Memorandum e nota d'esse Minis- tério ao mesmo Mr. Aston, a respeito da questão do Douro. Parecem me concludentes (porque na verdade não houve arguições mais notoriamente injustas) os argumentos da res- posta. Não mando d'esra peça uma copia a V. Ex.* porque, como lhe escrevi, é muito provável que, para a melhor intelli- gencia d'ella, o próprio Mr. Aston consulte a V. Ex.'; e, em tal caso, ahi terá V. Ex." tudo quanto occorreu até áquelle momento, sem embargo de que em cada linha do insólito Me- morandum se desse logar a contrapôr-se a razão e a verdade ao delírio das exaggeraçÕes, e ao transtorno dos factos mais públicos.

Nunca se injuriou Governo algum, com tantas falsas imputa- ções, como foi injuriado o Governo Portuguez. Nunca se viu ser casus belli a inevitável demora de um mez, de uma discus- são de parlamento; nunca se viu negar a obrigação a um Go- verno Constitucional de apresentar ao Corpo Legislativo pro- visões penaes e de impostos : isto depois de se haver consen- tido, por parte d'es e Governo, em tal apresentação!

Comtudo, nós esperamos que a paz não seja rota ; que ain- da possamos entender nos rasoavelmente ; que esse Governo veja que, sem razão, offendeu, e que mande o sr. Aguilar a Lisboa, passo este que não lhe está mal, porque Hespa- nha não perde em ceder, quando foi injusta, e nós não deve mos porque tomos injuriados, e não poderiamos nunca mais apparecer deante dos nossos concidadãos se nos deixássemos deshonrar.

O espirito publico é bom e patriótico. Muitos Miguelistas correm ás armas. Os falsos Progressistas d'aqui, que chama- vam uma nação para que lhes viesse pôr, por meio das armas, o Ministério em terra, e os collocasse nos logares vazios, met- teram-se em grande compromctiimento; porque a sua naciona- lidade voou por esses ares, e, o que fica d'clla, é a vergonha de confessar, por factos, a sua miserável fraqueza, tamanha

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que, para uma mudança ministerial, chegou a sacrificar a pró- pria independência !

Tenho todos os motivos para crer que o Gabinete inglez, na qualidade de nosso alliado, e de obrigado pelos Tratados a intervir na questão, ha de intervir a nosso favor; porque o Go- verno de Hespanha é aggressor injusto : apezar d'isso, não per- demos um momento de preparo, e pôde Hespanha ter a cer- teza de que poderemos ser vencidos em alguns encontros, mas havemos de mostrar que a liicta sem gloria^ de que fala o insolente Ultimatum do sr. Viniegra, é mais laborioso do que o seu Governo imagina.

Todo o meu empenho ha sido evitar expressões de offensa, e tem o Governo dado tal documento de moderação, que até por elle é accusado de pusilânime. Se publicasserros a Nota de Viniegra, a nação inteira se abrazaria, e depois fora impos- sivel a conclusão de nenhum convénio. E quereria o Governo Hespanhol a navegação do Douro ganha pelas armas ! Que falta de reflexão ! Que leveza, ou que cegueira !

Ninguém mais do que o Governo aprecia as mutuas vanta- gens d'essa navegação; mas querer praticai a augmentando ou resuscitando antipathias de tempos bárbaros, não me pareceu nunca intuito de um Governo illustrado.

Escrevo ao Mendizabal. Trabalhe V. Ex.* ; evitemos a guerra emquanto é tempo ; nós o faremos até onde a decência e a honra o permittirem.

De V. Ex.% Amigo Obg."^"

R. F. Magalhães.

XX

Em 17 de Dezembro de 1840.

111."'° e Ex.""° Sr.

V. Ex. verá um Supplemento ao Diário em que algumas providencias de preparativos se publicam, com toda a mode- ração. E' preciso que V. Ex.* e Mr. Aston façam ver que era impossivel, depois da publicação de tantos insultos, deixar de dizer alguma cousa, e de fazer o que cumpre para defender a

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nossa honra ultrajada. Lord Howard foi de opinião de que nos cumpria fazer taes preparativos, e se for preciso, havemos de defendermos.

Ue V. Ex.^' Am.» e Cr." Ob.»

R. F. Magalhães.

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(Sem data)

111.'"*» e Ex.'"" Sr.

Ainda aqui está o Correio que Mr. Aston enviou a Lord Howard, que espera, segundo me disse o mesmo Ministro Britannico, alguma noticia importante de Inglaterra para o despachar. Por elle escreverei eu a V. Ex.* o que convier. No correio passado escrevi uma carta a Mendizabal que d pressa foi bem pouco explicativa, uma pura declamação, que mais indicava o estado de desgosto em que me achava, com o iní- quo procedimento de um Governo que tantos motivos tem de estimar nos e que nos vilipendeia para dar gosto a nossos ini- migos, que são seus falsos amigos, do que pura vontade que eu tivesse de arrasoar com o meu antigo amigo.

N'aquella carta que foi com a de Mendizabal, disse eu a V. Ex.* que muito me havia ajudado Lord Howard, o qual. melhor do que Mendizabal conhece a rasão que nos assiste.

Este, escrevendo ao meu amigo De. . ., assegura que esse Governo tem carradas de justiça nos seus procedimentos, po- rém não terá V. Ex * diíHculdade cm persuadil-o de que ain- da, dado que o fundo da questão fosse a favor do 'Governo Hespanhol, a forma que elle adoptou, de todo o pôi em esta- do desvantajoso.

V. Ex.* receberá os papeis públicos, dos quaes consta qual a resolução que tomamos de prepararnos para a defensa dos mais injustos de todos os accommeitimentos.

Os homens que d'aqiii o fomentavam, traidores abjectos, creram que que as sublevações internas não puderam dar aos seus a entrada nos negócios públicos, para, outra vez, nos lançarem á mercê do Arsenal, convinha que forças estrangei- ras isto etfeituassem, Vifiic^ra, com elles intromettido ha annos, e um dos mais fáceis e activos instrumentos seus, fez- Ihes grande serviço. Assim que recebeu o ctlicio contendo o

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Ultimatum d'esse Governo, o foi mostrar a Manuel de Castro, que, victoriando o acontecimento, o foi publicar ao Club de Lisboa, ao som de insolentes risadas. Foi um festejo geral en- tre os homens de Setembro exaltados; porque esperavam no dia seguinte a torpe entrega das nossas pastas, e o seu chama- mento para obedecer a intimação. Isto era agourado nos papeis inimigos, aonde se fazia grande elogio á resolução dos valentes castelhanos. Nós entendemos que o dever de minis- tros nos dictava outro proceder; e que, sendo para nós uma voz salutar a que nos significasse a nossa demissão, nunca a iriamos offerecer em conjunctura tal; porque semelhante offer- ta seria uma deshonra.

Succedeu o que não era difficil de presumir; que o publico em geral se indignou do procedimento: (i.°) porque era notó- rio o nosso desejo de acabar a discussão, e vencer a approva- ção do Regulamento; e (2.") porque ioda a gente conheceu que havia um chamamento estrangeiro, debaixo de fútil pretexto, com o único intento verdadeiro de nos metter a guerra civil em casa, e d'ahi talvez, quem sabe. . .

Mais parsimonia de expressões, mais paciência e tolerân- cia do que as que temos iido, era impossivel. Os nossos ini- migos domésticos foram presos nas suas próprias redes; e ago- ra clamam que o Governo Hespanhol não nos era hostil, não nos ameaçou, não queria nada de nós senão que fizéssemos breve discutir o Regulamento; e que nós, aleivosamente, dê- mos a entender o contrario, para nos pormos em estado de opprimir a nação com as forças que levantamos.

Veja esse Governo ! Vejam os nossos amigos, se alguns temos ahi, que gente esta a que elles pretendem coiiocar so- bre nós, impondo á Nação Portugueza um Governo de ho- mens furiosos, taes como estes, uns embusteiros indecentes, para quem não ha nem honra nem virtude.

Hoje enfÉTa V. Ex.* um officio contendo a espécie de que repetidamente tenho feito menção a V. Ex.*, desde a minha carta de 5 do corrente, e vem a ser de que, rotas por esse Go- verno as hostilidades contra nós, cessaram de existir todos os Tratados que vigoravam entre ambas as nações; e com esta cessação se dará por acabado, ou, como nunca feito, o que tem por objecto a navegação do Douro. Ainda espero que ahi se tome melhor accordo, e que os conselhos de Inglaterra se- jam ouvidos. V. Ex.* combinará com Mr. Aston se convém, ou ler o sobredito officio, e dar copia d'elle ao Ministro respe- ctivo, ou fazer uma Nota, com as forças d'elle, ou demorar al- guns dias, etc. Emfim n'este assumpto, tão delicado, V. Ex."

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irá do mais perfeito accordo com o dito ministro; porque isso mesmo deseja Lord Hovvard de quem, repito, tenho recebido todas as provas do mais sincero interesse. Tenho a honra de ser

De V. Ex.^

Am." Att.<» V."^ e C." Ob."

R. Fonseca Magalhães.

<Nota, na leitra de Saldanha).

Não tem data; mas foi hoje recebida com o officio reservado n.' ô, a que se retere, o qual é datado em 17 de Dezembro de 1840. Madrid, 26 de Dezembro, 1810. Saldanha.

As cartas de Lisboa, pelo correio que trouxe esta, são de 19.

Saldanha.

XXII

Lisboa, 26 de Dezembro de 1(^40.

111.°»° e Ex.""" Sr.

Recebi, em tempo competente, o officio e carta de V. Ex.* de i8 do corrente. Bem vejo quaes as diligencias que V. Ex.* faz para chamar a um terreno amigável esse Governo que, por informações todas fraudulentas, procedeu comnosco da maneira mais insólita. Espero, a cada instante, a volta do correio que d'aqui expedi no dia i3, e que, desgraçadamente, chegou no dia ib, á noite, a tempo em que V. Ex.' me não pôde escre- ver nada sobre o conteúdo dos despachos de que foi portador. E' de esperar que esse Governo, conhecendo a justiça que nos assiste, e a sua sem razão, venha a bons termos, e se accom- mode em o espaço que pedimos, ou que promettemos, e que, se fôr acceite, e como não enviado o insolente Ultimatum, summamente oflensivo e impoliiico. apresentado por Viniegra, tenhamos uma discussão decente, e o negocio arranjado.

Segundo hoje soube, por ofricio do Barão de Moncorvo, elle

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achou Lord Palmerston inclinado a nosso favor, isto é, dando- nos razão em nosso procedimento; e Milord lhe prometteu que, n'este sentido, escreveria no dia i8 a Mr. Aston.

Gomtudo, o navio em que iam despachos de Lord Howard, e a Nota reclamando o soccorro da Grã Bretanha, devido pe- los Tratados em caso de guerra e aggressão, ainda não tinha chegado, o que me afflige muito; porém, ainda assim, espero que xMr. Aston tenha ahi instpucções bastantes para obstar ao passo imprudente e arriscado d'esse Governo. Aqui toda a gente diz que este negocio foi manejado pelos arsenalistas d'esta Capital, e que a navegação do Douro é mero pretexto: que o objecto é metter a desordem n'este paiz, e enthronisar o partido que aqui tantos males tem causado.

Este partido creu que, á intimação de Hespanha, o Go- verno cederia, ou fazendo executar o Tratado, contra o seu dever, ou largando os logares. Em um e outro caso, se apre- sentava a alternativa desejada da sua vez para entrar na admi- nistração dos negócios, desprezando tudo quanto tenhamos feito para bem da ordem. Mas o espirito publico, em geral, foi outro diíTerente do que julgava esta gente. V. Ex.^ fará saber que nós não temos querido nem sequer publicar a minima parte dos insultos que foram dirigidos á Nação e ao Governo; que nunca perdemos a esperança de boa mtelligencia ; que, longe de pretender suscitar difficuldades, o nosso empenho é removel-as ; o que se fará, decerto, se viermos ao caso em que estávamos quando se cerrou a Sessão; e dando como não feito o insulto do Ultimatum.

O espirito publxo é óptimo; e graças a Deus que não pre- cisamos de o exaltar com a publicação de documentos que fa- riam reviver ódios antigos, que é conveniente acabar para sempre.

V. Ex.^ escreve me demasiadamente lacónico, o que me dei- xa ignorar circumstancias que me ajudariam a apreciar as cousas e os homens. Gomtudo, um paragrapho da sua carta confidencial me deu bastante luz.

Por não haver tempo, não escrevo de officio a V. Ex.* e ao sr. Limi, o qual deve partir, d'essa capital para esta, quanto antes; porque não está ahi agora acceite, e quando aqui não temos ninguém não é justo que haja n'essa Corte dois Minis- tros. No correio seguinte lhe será enviada ordem official ; no entretanto V. Ex.^* terá a bondade de lhe dizer, da minha par- te, que se prepare para partir o mais breve que seja possivel.

Não posso hoje mais, nem ha mais cousa essencial que communicar a V. Éx.*, visto que nem d'ahi tenho respostas aos

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despachos de i3, nem de Inglaterra aos de g do corrente, tu- do devido aos rigores da Estaçíío. Tenlio a honra de ser

De V. Ex.* Am." Att° V.^r

III.'"" e Kx."'" Sr. Marque^ de Saldanha.

A'. Fonseca Magalhães.

XXIII Em 28 de Dezembro de 1840. I^eseri^ada.

III.'"" e Ex.""' Sr.

Recebi, pelo correio que homem chegou, os ollicios de \'. Ex.* e do conselheiro Lima, daiados de 23 do corrente, bem como a carta cuja reserva V. Ex.* muito me recommenda.

Deixando respondida a parte official das suas perguntas, cumpre-me agradecer a V. Ex.^ a exposição que faz das cou- sas d'esse Reino, que é interessante, principalmente para nós, que tão próximos nos achamos, e que, por muitos motivos, podemos ter parte, mais ou menos importante, em quaesquer successos d'esse Paiz.

A demora das correspondências maritimas, occasionada pelos temporaes que tem reinado desde o principio d'este mez, foi parte para que a Nota que eu dirigi a Lord Howard, em 7 do corrente, em consequência do otficio que V. Ex.^ me di- rigiu pelo 1." expresso, e que aqui recebi a 6 do mesmo, não chegasse a Inglaterra ainda no dia 19 digo a Londres. porque n'esta data recebi eu, d'aquella capital, ollicios do Ba- rão de Moncorvo, que nenhuma referencia fazem de ta! cousa.

Mas, por um desses orticios, vejo que esse (joverno par- ticipara ao general Alava o passo que dera a nosso respeito; e, segunda colligi, Lord Palmerston, informado dclle, aconse- lhara ao dito Ministro a conveniência de f>edir, por parte de Hespanha, a mediação ingleza para se ajustarem as dilkren- ças entre nós e os nossos visinhos, sem recurso ás armas.

O Barão de Moncorvo, informado de que se tratava deste negocio, dirigiu se a Lord Palmerston, com quem teve uma larga conferencia, e persuade-se qu. o deixava convencido da sem

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•>.

rasío e injustiça do procedimento de Hespanha para comnos- co. Ma5, como o tempo é precioso, e ainda não veio resposta á Nota de 7, que Lord Howard dirigiu por um navio de guer- ra, que pôde ter sido contrariado pelos ventos é marés, cum- pre que se aproveite a occasião de entrar em inteliigencia com esse Governo, acceitandose a mediação, e procurando evitar as hostilidades, tanto quanto fôr possível, para nos não envol- vermos em uma guerra, quando tanto precisamos de paz e ordem para melnorar o nosso estado.

V. Ex.'* advertirá, que tanto a expediçrío da minha citada Nota a Lord Hovvard, como as medidas de defeza e prepara- tivos de resistência, de que o Governo se tem occupado, são consequência da participação que V. Ex.* tez, no officio que acima mencionei, e não do idtimatum aqui apresentado por Viniegra, no dia 10 do corrente.

Este ultimãttim^ redigida de um modo insólito, e cheio de ofFensas, que mais mal estão aos seus auctores, do que a quem as recebe, ficou sem resposta, e devia ficar, porque nem aqui existe quem a receba, nem se lhe pôde dar condigna, sem ar- riscar a paz dos dois paizes, uma vez que venha a publicar-se. E, pois que eu espero ainda que esta paz seja conservada, e que, vindo o Governo Hespanhol a melhores ideias, o ultimaíum seja, ou retirado, ou retractado, por elle, ficando um e outro Governo com a porta aberta para uma reconciliação, tive todo o cuidado em não publicar tal documento; e muito mais em não lhe responder. Doesta sorte me parece que, á vista do nosso comedimento e reserva, poderá V. Ex.* instar^ com a maior efficacia com Mr. Aston, para que se um passo que aqui nos salve da imputação, que necessariamente se nos fará, de não havermos respondido imputação que deverão fa- zer, não os membros que são nossos adversários políticos, mas ainda aquelles que, não o sendo, e sabedores das phrases infamantes que se usaram para comnosco, tenham escrúpulo de consentir no accordo amigável, emquanto existir aquelle monumento de ultrage com que esse Governo nos tratou.

Segundo a ideia que eu formo da inteliigencia e sincerida- de de Mr. Aston, não posso persuadir-me que elle deixe de forcejar, por todos os modos de que possa usar, para remo- ver essa causa desgraçada de desgosto geral da nação Portu- gueza, e que de tamanho obstáculo deve ser para a discussão do Regulamento, e termo provável d'elle. Mais digo que, se subsistisse sem retratação, ou sem ser retirada a Nota ultima- tum, difficilmente conseguiríamos pôr-se em execução, pacifi- camente, a Convenção do Douro; e o trato amigável que deve

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existir entre os dois povos, em suas relações de mutuo interes- se, seria um permanente incentivo de rixas e desordens, cu)0 termo nunca seria favorável a nenhuma das duas nações.

Se ahi se disser a tudo isto que Hespanha obrigaria pelas armas os Portuguezes a manterem essas relações, sob pena de guerra destruidora, ou de conquista ou, o que mais na- tural é, que outro Governo, outros homens, conseguiriam apagar essas antipathias, peço a V. Ex." que desengane quem assim discorrer.

Pôde haver aqui, e ha, um pequeno numero de individuos que chamaram sobre nós as ameaças de Hespanha, crendo que a consequência d'ellas seria passar-lhes ás mãos o poder; mas elles se enganaram. Esse poder, exercido no intuito que ahi se julgava, não teria séquito nem applauso; porque o es- pirito nacional havia de reagir contra taes Ministros seriam acclamados traidores, despedaçados, e não sei que bem, de tantas desventuras, poderia colher a Hespanha; porque a so- nhada união, ou federação, de certo nunca seria consentida, nem por Portugal, nem por nenhuma das Potencias influentes na Europa.

Bem vê, pois, V. Ex.'\ que esse Governo, preoccupado pe- las falsas informações de Viniegra, illudidos alguns dos >eus membros pelo que d'aqui se lhes dizia ser opinião publica, deu um passo que, longe de o guiar para o seu dcsideratum^ lho dif- ticultou muito mais do que se confiasse no Governo, e avalias- se o procedimento l"al c franco que este observou na questão.

V. Ex.* pôde dirigir se ao Duque da Victoria, que, como militar, tem hábitos generosos e sentimentos leaes, e achará n'elle, por certo, acolhida a estas reflexões elle será, sem du- vida, o primeiro a condemnar o modo insolente com que fo- mos tratados, e a exigência impossível que, sem consideração, nos fez o Gabinete Hespanhol, querendo que violássemos as leis constitucionaes do paiz, por etTeito de uma ameaça; pro- curando deshonrar o Governo com quem queria estabelecer relações amigáveis e de interesse.

A opinião de que o Governo devia ceder á dita ameaça, bem se que é cmittida. ou por quem ignora as nossóis atiri- buiçõcs, ou por qu(.m )uI^'ou que uma violação tal podia ser levada a clVeiio sem risco de compromctter o próprio objecto que se queria a'caiiçar e. se nada disto é. então força será assentar que o intuito era fraudulento: porque se dirigia a metter nos em casa a desordem, ajudando os visionários da Fiepublica, que julg-^m possível o estabclccirrcnto d'esta forma de governo em l^ortugal.

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Peço muito a V. Ex.'* a maior circumspecção em suas re- lações n'essa Gôrte com certos diplomatas. A. nossa alliança é com Inglaterra. Talvez alguém quizese que, em momento tão critico, aberrássemos d'este caminho, e fossemos pedir auxi- lio a outrem. N'isto não veria eu mais que o desejo de tornar- nos victimas expiatórias, afim de se conseguirem, á nossa cus- ta, certos fins em que jamais podemos ser interessados.

Longe estou eu de julgar que V. Ex.* pensa diversamente do que eu digo; mas recommendo-lhe circumspecção em seus ditos, e cuidado em proceder sempre francamente, procuran- do que Mr. Aston não cesse de coadjuvar a V. Ex.*, no empe- nho que agora mais nos deve dar cuidado.

Os nossos preparativos tem progredido; o desejo de man- ter a honra nacional é verdadeiro: muito padeceremos se a guerra houver de romper; mas resistiremos, e os nossos ini- migos o conhecerão.

Acceitando a mediação, e mostrando os nossos desejos de paz, em quanto nos preparamos para a guerra, fazemos, en- tendo eu, o nosso dever.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.* Am." Verdad." e Cr/^ Obrg.""

R. Fonseca Magalhães.

P. S. Em carta que V. Ex.^ poderá mostrar ao sr. Lima, explico o motivo da sua sahida, e deixo a demora d'elle ao ar- bitno de V. Ex/, pelos motivos que ahi exponho.

I\, F. Magalhães.

XXIV

Lisboa em 28 de Dezembro, 18^0.

111."" e ExT" Sr. Coti/idencial.

P. Scriptum.

Digo ao sr. Lima que é preciso retirar-sc d'cssa a titulo de licençí.; explico lhe a causa, a da repulsão á acceitação da sua credencial.

39

Mas se V. Ex.* julgar que a sabida d'elle, assim rápida, po- de produzir algum inconveniente, V. Ex.* a poderá fazer suspen- der, peio tempo que julgar necessário, sem comtudo instar nunca mais pela acceitação.

O í.r. Lima ou voltará ou terá outro destino; mas é preci- so guardar o decoro devido ao Governo.

De V. Ex.» Am.*» e Cr.» Ob."

R. F. Magalhães.

XXV

Em 3o de Dezembro, 1840.

11!.-°° e Ex."" Sr.

Por um expresso que d'aqui partiu hontem, á i hora da tarde, c que terá chegado muito antes d'este correio, V. Ex.' deve haver recebido rt-cepção da presente), a resposta am- pla ao seu oliicio de do corrente.

O que hoje me foi entregue, datado de 25, fiz presente a S. M.; porém não me parece que haja que dar-lhe particular resposta, visto não occorrer cousa nova. Saiba V. Ex.* que a nota do ulíimaium não foi respondida, porque esse passo não podia deixar de diíficultar os nossos negócios. Esta opinião não ditTere da de Lord Howard, como elle communicou a Mr. Aston e a Lord Palmerston.

Também eu, como V. Ex.*, tenho esperanças de que evite- mos a guerra. Peço a V. Ex.* que vamos daccordo com Mr. Aston e Lord Howard, que se tem mostrado mui grande de fensor da justiça que nos assiste.

(Sí'^ arata).

y. Ex.^ não escreveu á sr.* Marqueza em data de 25. S. Ex.* não escreve hoje talvez por pensar que eu não escreve- ria a V. Kx.*

A prenda de annos foi entregue um dia depois do próprio.

De V. Ex.* Am.'^ c Cr.° Ob.''

A'. ! ousccã Mjf^alhães.

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XKVI

Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros. Em 2 de Janeiro de 184 1.

III.'»'' e Ex.*"" Sr. Cnnjidencial .

Pelos oíficios que hontem recebemos do Barão de Moncor- vo, soubemos que, ainda a 24 do passado, não tinha chegada o Brigue de Guerra, «Espoir», com a nossa reclamação for- mal da intervenção ingleza no casus foederi, sobre a desintelli- gencia d'esse Gabinete com o nosso.

E' verdade que fomos informados das instrucçÕes enviadas a Mr. Aston por Lord Palmerston, e da esperança do primei- ro de que se conseguisse vir Hespanha a meios pacíficos com- nosco, entendendo a injustiça com que procedeu na sua des- arrazoada exigência.

Comtado, em quanto não chegarmos a termos decentes e conciliadores, continuam os nossos preparativos, e grande cul- pa tem de tantos sacrifícios esses senhores que podiam, na me- lhor harmonia, esperar um ou dois mezes pela discussão, mais ou menos renhida, porém franca e livre, do Regulamento, que terminaria a aprazimento de ambas as partes, e sob feli- zes auspícios.

Muitas reluctancias temos hoje que vencer, muitas antipa- thias se levantaram contra castelhanos, antipathias que haviam morrido, e que tanto convinha deixar sepultadas.

O maior cuidado do Governo, ha sido enfreiar o espirito publico, sempre violento e irreflexivo, e que nada attende ás consequências de uma guerra, que, ainda que prospera, é sem- pre uma calamidade.

Havíamos nós procurado derramar pelo Reino escriptos pró- prios para desenganar a gente embahida pelos inimigos da na- vegação do Douro, e abrir-lhes os olhos. Em prova d'isto, en- vio a V. F^x.* um folheto escripto pelo Agostinho Albano que, ao saber da ameaça, fez a nota que V. Ex.^ verá.

Peço a V. Ex.* que d'isto faça uso para mostrar quão tor- pemente esse Governo se deixou illudir pelo sr. Viniegra, e pelos homens que, oppondo-se aqui ao Regulamento, faziam causa com aquelle cavalheiro para provocar vias de facto, afim de que triumphasse o espirito faccioso que aqui pretende remedar o que ahi se faz, como se para tanto houvesse o me-

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nor íundamejito, ou as circumstancias oflerecessem alguma analogia.

Também remetlo a V. Ex.* a fala doThrcno do dia de ho- je, e V. I'^x.' fará notar a moderação com que foi escripia, tan- to que a nossa prudência passa nor condescendente baixeza, no animo da gente que mais nO'. deseja apoiar.

Estou ancioso por saber como ahi se encaminha este nego- cio; c, com a mais viva instancia, lhe rogo que faça quantos es- forços forem possíveis para que esse Governo retire o inso- lente uitimitum de Vinicgra. Pôde até declarar que aquelle funccionario excedeu as suas instrucções; e assim foi, porque elle não teve instrucções para dar a copia do officio recebido, mas sim para escrever uma Nota. Seja o que fôr. esta retira- da é essen:ial, se esse Governo deseja, como deve desejar, que a navegação se ponha em practica a bem das duas na çóes. Se V. Ex." obtiver isto, asseguro lhe que o Regulamento será discutido breve, e até vantajosamente. Empenhe V. Ex.* Mr. Aston em conseguir este passo, que lança lodo o decoro na estipulção, faz esquecer a otíensa, e restitue á amizade duas nações que nunca devem ser inimigas.

Excuso de instar mais com V. p]x.* sobre este ponto, por- que o conseguil-o é summamente honroso para V. Ex.*

Nada mais digo, mas entendo terme explicado assaz sobre a importância d'esic negocio.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.^ Am." Att." Cr.*^ Ob.*

R. Fonseca Maí^alliãQS.

XXVIÍ Lisboa, i3 de J.ineiro, 1841.

III.'"" Ex.""^ Sr.

Tenho presentes o ofíicio e carta de \'. Ex.* de data de 8 do corrente, por signal que ainda até este momento, que são 6 da tarde, não tive tempo de decifrar a parte escripta em se- gredo : tacs tecm sido hoje os meus trabalhos e atllicçÕes.

O conteúdo do mesmo fez me grave impressão; e revela-

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me que se busca achar em toda a phrase, em todo o" acto, por insignificante e innocente que seja, um pretexto para hos- tilidade.

Diga-se o que se quizer. estou certo que um arbitro impar- cial, seja de que partido fôr, ha de achar rasão ao Governo Portuguez.

O que sobremodo estimo, é que V. Ex.^ esteja tão unido com Mr. Aston: até d'essa boa harmonia nos farão carga os inimigos da paz, os que prezam bem pouco a nossa indepen- dência e honra; mas estou seguro que, passado o calor das paixões, se nos ha de fazer justiça.

Mas agora, nem o tempo nem o estado do meu espirito permittem que eu toda a attenção á matéria do oíficio de V. Ex.*, o que farei amanhã, e sobre o que escreverei a V. Ex.*, no correio seguinte; porém desde devo dizer a V. Ex.* que o sr. Lima pôde ftcar, por agora, se da sua sahida V. Ex.* e Mr. Aston entenderem que haja de resultar incon- veniente; porque todos os desejo eu remover; porém é força entender que na qualidade ambigua em que elle se acha, in- sistindo esse Governo na questão fútil dos dois Ministros Ex- traordinários, parece-me pouco propicia a sua estada ahi ; e o pretexto de uma licença para elle se ausentar, sem parecer que foi desairado, o julgo eu adoptavel, a não haver motivo attendivel para o contrario.

O sr. Lima faz-me uma reflexão, algum tanto, ou muito, fundada, e vem a ser que, no caso de partir, seria melhor fa- zel-o para França, aonde tem a sua senhora, e para onde mui natural seria que elle fosse usar de licença temporária. Isto mesmo deixo á consideração de V. Ex.', sendo em todo o ca- so julgado o expediente pela conveniência, e na certeza de que não ha outro motivo que me obrigou a fallar mais n'isto do que o de decoro.

Emquanto á outra parte em que V. Ex.* mostra ter ficado incerto da significação das minhas phrases, eu declaro que pe- di a V. Ex.* pouca communicação com es diplomáticos que se acham n'essa Corte, porque entendo que nos cumpre mostrar toda a confiança, primeiro na nossa justiça, e esforços, e logo em nossos alliados mais Íntimos; e porque n'este tempo, e em circumstancias criticas, surgem as desconfianças debaixo dos pés. e de cada vez maiores embaraços se suscitam: lembrei a V. Ex.% com a franqueza da amizade que lhe consagro, quan- to me parecia conveniente mostrar essa reserva; porquanto aquelles que com V. Ex.* fallarem, e que não estejam certos na situação das cousas, quererão sabel-a para affectarern pe-

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neirar segredos, e não deixarão de escrever para os seus Go- vernos, Deus sabe como.

Sinto a moléstia do pobre Ximenes, a favor de quem fallei ao Conde de Bomfim, e procurarei fazer alguma cousa. O Conde de Almoster está bom, c cm breve o enviarei \ c de- sejarei fazel-o sob bons auspicios.

Agora rematarei esta com a parte mais interessante d'ella.

Hontem, ainda mesmo antes da apresentação da resposta á falia do Throno, pedi a discussão do Regulamento na Ca- mará dos Deputados. í^oi dada para ordem do dia de hoje.

As duas Opposições, ho/e uma, levantaram, pela bocca do Seabra, uma questão prévia. Hoje se apresentou com a vehe- mencia da desesperação. Não se queria tal discussão antes de tratada a questão politica, tle examinado o proceder do Mi- nistério nas medidas extraordinárias; e, em uma palavra, os homens que se oppozeram, na Sessão passada, ao Tratado, ao Regulamento, e a toda a qualidade de accordo para o cum- primento do mesmo Tratado, appareccram contra o seu pró- prio facto, culpando o Governo pelos mesmos motivos por que o Governo Hespanhol o culpa, Fallei-lhes bem claro, cha- meios á verdade dos factos, e apanliei menos mal o Magalhães, que fora quem me tinha aconselhado que deixasse, pro bnno pacis, discutir o Regulamento, artigo por artigo.

Destruímos uma grande cabala. Os homens queriam a pro- crastinação para nos accusarem de procrastinadores; pareciam energúmenos. O judeu José Alexandre, José Estevão, Sea- bra, Marreca, e Ferreri, fizeram maravilhas. Do nosso lado fallou o C da Taipa e eu, unicamente, e tivemos, em duas vota- ções nominaes, a maioria de cSj fuíos contra 21 ou 22. O Re- gulamento está, pois, na Camará: declarei que o queria dis- cutido; e conto com que vençamos tudo dentro de poucos dias. Aqui tem V^ Ex.^ o estado do negocio. José Estevão ci- tou todas as notas que se teem pass.ido entre os dois Gover- nos, por suas datas: foram-lhe communicadas da Legação Hcspanhola. Mas elle foi o que mais embaraçou o (Governo e o Regulamento na sessão passada, quem mais blasphemou contra o Tratado, e agora o vejo escolhido para criminar o Governo de remisso, pretendendo chamar sobre eile ainda maiores increpações, obstando a que á discussão se prosiga.

\'eja V. Kx.* se é possível crer que ha boa n"esta gente, e até se o Governo pôde deixar de juigar que ha uma conspira- ção occulta, combinada entre Portu^^iiezes e Hcspanhoes, para chamar sobre nós as forças d'essa nação, ahm de destruir a nossa independência! Mas foram derrotados, e eu conto que,

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dentro em pouco, cessará o motivo, se é verdadeiro, da des- confiança d'esse Governo, que nos fez a maior injustiça, leva- do por falsas noções de seus empregados, fallo de Viniegra^ aqui mettido com Manoel de Castro, homem que, fazendo parte dos que se oppunham ao Tratado, desejava que ahi se accreditasse que o Governo o não queria. Lord Howard es- creve a Mr. Aston. V. Ex.* argumente com esta prova evidente da nossa boa fe e deliberação : faça ver as vergonhosas con- tradicções, as infâmias d'aquelles que nos accusaram, e que agora se apresentam a demorar quanto podem o negocio, para envolver-nos em guerra, guerra que não pôde deixar de ser funesta a ambos os paizes, porque, em fim, d'ella tiraríamos a destruição e o excitamento de novos ódios.

Emquanto á suspeita de que o Governo da Rainha é inimi- go do Governo actual de Hespanha, por princípios políticos, V. Ex.^ pôde desmentir essa asserção com toda a força da af- firmativa: nós não approvamos a politica daquelles que se parecem com os nossos Arsenalistas, como em Hespanha o Governo desapprova a politica dos seus exaggerados, ou Re- publicanos. Qual acto, qual expressão nossa deu aso a tal con- jectura ?

Serei mais extenso no correio seguinte, pois agora tra- tei de noticiar a V. Ex.^ uma víctoria do Governo, em casa, e uma prova da nossa honra e boa para com o Gabinete Hes- panhol, e para com a Europa.

De V. Ex.« Am.° Velho e Cr.° Obrg.^"'

R. Fonseca Magalhães.

XXVIII

Lisboa, no Palácio das Necessidades. Em i6 de Janeiro de 1841.

Ill."'« e Ex.'"" Sr.

São quatro horas e meia, e eu acho me no Paço, aonde vim dar parte a SS. MM. de haver passado na Gamara dos Deputados todo o Regulamento sobre a Convenção do Douro.

Nenhuma alteração lhe foi feita, apezar dos esforços deses- perados das duas Oposições, que tiveram por conveniente

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accusar o Governo pelas mesmas palavras que usou o Gabine- te de Hcspanha e os seus órgãos olhciaes e gratuitos, quando a verdade é que, se o Governo c imputável, o pôde ser de haver tido alguma condescendência com essa fraudulenta Op- posiçâo que, tintas vezes, forcejou para que a Convenção fos- se inutilizada.

No meio das contradicções humanas, não pôde negar-se o grande vulto que tem esta em que se acham os nossos adver- sários n este Reino; e o Governo d'esse, em quanto no seu pro- cedimento para comnosco, parece cumprir com os desejos do partido exaltado d'esie paiz; V. Kx.* observará que é de noto- riedade publica haver o Governo declarado em Cortes a re- dacção do Regulamento ser sua própria (no que não mostrou muito escrúpulo), e que, pelo contrario, a Opposição fulminou a Convenção e o mesmo Regulamento. E da parte de Hespanha, apparece a queixa contra o Governo e a complacência com os inimigos da Convenção, procurando, talvez, e provavel- mente a pedido de muitos dos órgãos d'ella, trazer a desor- dem a este paiz, dar auxilio a gente que a deseja, e comprazer com o criminoso intento dos seus mais declarados inimigos na questão pendente.

Tudj isto toca a evidencia; porque é o resumo dos factos públicos, e o coroUario, único possivel de admitiir-se, do exa- me imparcial d'elles.

Então que hei-de eu concluir do absurdo procedimento que observo? da contrariedade entre os factos e as palavras? da pertinácia com que ahi se cerram os olhos ás noções mais simples e naturaes? Não sei: e se não fosse a continua segu- rança que V. Ex.*, na etTusão das suas convicções, me tem dado, cu aíTirmaria que a questão do Douro é o pretexto com que se pretende cobrir uma pretenção insidiosa de attentar á independência da Coroa Portugueza, em defensão da qual pôde V. Ex.* estar seguro, achará o Governo de Portugal, meios de pugnar e de vencer.

Bem vejo os artigos dos jornaes, que, debalde, rrc querem fazer persuadir que são órgãos de facções que o Governo de- testa; bem vejo a maneira por que se cumprem as ordens do mesmo Governo, pelo que respeita á internação dos revolucio- nários que foram buscar guarida n'esse Reino; e eu não es- tranho que se lhe desse. Vejo, finalmente, a arte e fina intelli- gencia com que são reputados crime, abuso e iniquidade, as palavras mais conciliadores usadas pelo Governo Portuguez, ainda depois da insolente Nota apresentada aqui pelo sr. Vi- niegra, de quem me consta que tudo enegreceu, tudo detur-

pou, perante o seu Governo. E confio não havia de ser assim, se aqui os seus amigos e relações eram Manuel de Castro e Theophilo e outros que taes?

Em fim, o pretexto está removido; o Regulamento passará incólume na Camará dos Senadores, em quatro ou seis dias. V. Ex.* se recordará que o êxito d'esta discussão é tal qual eu lhe annunciei em i3 do mez passado, sem comtudo me obri- gar directamente para com esse Governo, desde que me pa- receu que isso compromettia a dignidade do Governo Por- tuguez.

V. Ex.* communicará esta a Mr. Aston, com quem estimo que V. Ex.* esteja em perfeito accordo, e com elle tratará, á vista de tal proceder de nossa parte, de fazer retirar, por acto expontâneo do Governo Hespanhol, a Nota de Viniegra de 9 de Dezembro.

V. Ex.* fará entender ao Ministro competente, pelo meio que mais digno fôr, e sempre de combinação com o Ministro Britannico, a cegueira com que elle accreditou n'essas corres- pondências de Vigo, ou mandadas d'aqui por Vigo, unicamen- te com o criminoso objecto de dar calor á guerra, que, além de iniqua, seria desgraçada para os dois paizes.

O secretario Soler, que secretario se intitula sem por nós ser reconhecido, está aqui mettido com os mais encarniçados inimigos do Governo, e está tão bem orientado nos negócios d'este paiz, que ainda ha 4 dias assegurava a Lord Howard, que esta questão era perdida, pela Administração, por uma terrível maioria de opposição, e que^ logo em seguida, entraria o Partido Setembrista nos negócios, d'onde se seguiria a appro- vação immediata do Regulamento.

Nunca o Ministério teve maioria egual á que o ajudou n'esta questão : nunca a opposição foi mais exigua e mais des- considerada; e o sr. Soler tinha a convicção, a certeza, dizia elle, de que o Ministério soffria uma derrota!

Esta era a linguagem dos clubs mais tenebrosos, estes os sonhos dos conspiradores, como o Governo sabe perfeitamen- te; e note V. Ex.^ que quem estas iníormaçÕes teve, de tal origem os recebeu; porque nas sociedades decente^s d'esta ca- pital nunca deixou de ser constante que o Governo trium- pharia.

Faça V. Ex * uso confidencial d'esta circumstancia, porque eu não posso crer que o Governo de Sua Magestade Catholi- ca deseje que os seus agentes o sirvam junto aos clubs dos carbonários de Lisboa.

Em breve enviarei a V. Ex.^ o Conde de Almoster, com a

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terminação d'esta questão, o momento será para elle opportu- no, e então escreverei largamente.

V. Ex.* se valerá de tudo quanto acabo de referir-lhe para fazer entender ao Duque da Victona quanto seria estranho, quanto inspiraria desconfianças a toda a Europa, a continua- ção da marcha de tropas sobre a nossa fronteira; e por isso é de toda a evidencia a necessidade de adoptar um porte franco e amigável, retirando o mesmo Governo a sua Noia. V. Ex.* observará que a repulsão de a retirar, é mais opprobriosa ao Governo Hespanhol do que a nós, que lhe não respondemos, nem d'elle fazemos caso algum.

Tive a honra de beijar as reaes mãos de S. M. por V. Ex.*, e esta carta foi escripta no meio da inquietação e ruído que SS. AA. faziam, brincando á roda de mim, cheios de belleza, e de saúde.

Tenho a honra de ser

De V. E.»

Am." Velho e Cr." Ob.''

R. Fonseca Magalhães.

XXIX

iG de Janeiro, 1841

111.'"" Ex.""' Sr.

Chegou neste momento o Leal, Nada tenho que accrcs- cenlar senão que hoje tivemos um triumpho.

No Senado passa o nf^gocio cm 4 dias. de sorte que. cm •25 d'estc mez, conto expedir o Conde de Almoster com a no- ticia da passagem em ambas as Gamaras.

Remetto a inclusa de Lord Howard para Mr. Aston. Per- doe V. Kx.*, que o correio foi apanhado a passar o Tejo.

De V. Kx.^

Am.'^ c Obrg."

R. F. Mjí^.ilhãis

4^ XXX

Em 20 de Janeiro, 1841. Confidtncial.

111.™° Ex."'° Sr.

Accuso hoje, de officio, os que V, Ex.* dirigiu pelo sr. Leal, que, segundo vejo, se offereceu para d'ahi ser portador do que V. Ex.^ quizesse.

Em casos de summa gravidade, approvaria eu que se con- fiassem despachos a mãos mais seguras do que ás do simples correio, mas esses casos são sempre raros, e esta continuada marcha de pessoas qualificadas das Legações, indica a exis- tência de grandes negócios; e, no nosso caso, do grave peri- go, o que produz muito mau eíFeito.

Esteja V. PJx.* certo de que não alludo á vinda do Conde de Almoster, que desejo fazer portador da conclusão do nos- so negocio, mas se V. Ex.* attendeu a esta circumstancia quan- do o expediu não sei como, por isso mesmo, deixou vir o se- cretario da Legação. Este moço que, aliás, tem bastante me- recimento, é de sua condição um tan^o ostentoso ; e, no Paço, menos agradável do que eu quizera. Gosta, alem d'isto, de dar estes passeios, e, como eíTeito d'elles, se deve ahi sentir atra- zo no serviço que lhe pertence ; de tudo isto se segue que V. Ex * terá a bondade de resistir ás suas supplicas, ou de agra- decer os seus offerecimentos, excepto quando a natureza do negocio torna necessário que viage.

Finda que foi a discussão do Regulamento, na Camará dos Deputados, passou para a dos Senadores, aonde passará em dois ou três dias, como disse a V. Ex.'^, mas alli succedeu o que eu muito premeditava, isto é, que Manuel de Castro, Ma- nuel Duarte Leitão e Foscôa (que renunciou ad hoc)^ faltam maliciosamente, e Raivoso, não sei se doente ou não, diz que o está. Achavam-se ausentes os dois Serpas Machados, Crespo, Faria e Trigueiros; os últimos três em Leiria e es dois primei- ros em Coimbra.

Dei ordem para que viessem já, antevendo que esta mano- bra dos Amigos do Progresso havia de ter logar, e hoje es- perava que apparecessem em numero o que, comtudo, não suc- cedeu.

Mas ficarão sem efteito estas diligencias que os inimigos do Governo e do Tratado põem em pratica para comprometter- nos, emquanto ahi a Regência, ou alguns dos seus membros,

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crêem em pérfidas informações que sahem dos clubs d'esta ca- pital, e pensam que o Governo tem vontade á Convenção, e procede, para a inutilisar, contra os jornaes que, miseravel- mente, atiirmam que foram supprimidos.

Mas tenha V. Ex.* a certeza de que o contrario de tudo isto é o que succede, e que eu sei muito bem quaes são os informadores de Soler, e a gente cujas inspirações elle recebe.

Por tudo quanto vejo sou obrigado a crer que, até agora, se teem buscado pretextos para nos aggredir, e justificar os procedimentos que, sem rasáo, houve comnosco. Não será as- sim; porque ainda quando, o que não ha de succeder, conse- guissem os homens da Opposição, que ahi se reputam ami- gos do Regulamento, e que aqui o combatem, não haver no Senado numero legal, o Regulamento seria discutido e appro- vado pelos indivíduos que quizessem comparecer, embora fos- sem só trinta e quatro, como hoje foram, ficando apenas com dois de falta.

Repito que não ha de haver ainda esse pretexto; e que, quanto mais breve possivel, o negocio será expedido.

Se esse Governo tem a coragem de confessar um erro, que para isso ás vezes muita é necessário, verá, pelo resultado da Gamara dos Deputados, que todas as suas suspeitas eram sem fundamento, assim como deveria ser quem tem, em todo este negocio, abraçado a nuvem por Juno.

Quem, á vista de tudo o que ha occorrido, e das incre- pações estólidas que d'ahi se nos fazem, dirá que o Gabinete de Madrid, crê, de boa fé, que da parte do Governo Portu- guez ha falta de vontade e de sinceridade?

Esta falta a vejo eu em tudo quanto ahi se affirma e se faz. Vejo que se guarida aos mancebos que fogem ao re- crutamento; e se lhes expedem bilhetes de seguridade. Vejo que se dão armas aos nossos transfugos. V^ejo que se dissol- vem, perto da nossa fronteira, corpos francos como para dei- xar junto a Portugal um montão de indivíduos promptos a cometter crimes, c a passarem ás nossas terras para as de- vastar.

Da parte d'essc Governo decerto não pôde ignorar-se que tudo isto são actos de hostilidade, emquanto nós, com a mais exemplar moderação procedemos, cm actos, em pa- lavras.

V. Ex.'' communícará a Mr. Aston o contheudo n'esta car- ta, assegurandoo de que, apesar das diligencias dos opposi- cionistas, que são aqui os do partido chamado «do Progresso»,

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e intimamente unidos aos Federalistas d'ahi, o Governo te'á Senadores para discutir; e que espero, ainda esta semana, is- to é, dentro de 6 dias, estará este negocio concluido, ou, ao mais tardar, 8; mas, emfim, não tenho querido até hoje obri- gar-me a praso de discussão, o que seria vergonhoso. Mr. As- ton, á vista da resolução do Governo de levar por diante o ne- gocio que fez sahir da maior difficuldade a da Gamara dos Deputados, poderá fallar francamente ao Governo H es- panhol; e estou certo que o fará, fundado na mais clara ra- são e justiça.

Esta carta foi escripta á hora da partida do correio, e tal- vez eu mais extensamente informe a V. Ex.* por um expresso, que será o sr. Leal, que aqui está, se com effeito me vir obrigado a tomar alguma medida extraordinária para vencer o industrioso expediente dos nossos adversários.

P. S. Agora sei que chegou o Senador Trigueiros. Pro- vavelmente chegarão também os seus collegas Crespo e Fa- ria, e assim não duvido que amanha teremos numero. Lo- go n'esta occasião adoeceu o Conde da Terena e Almeidinha que são seguros, mas o ultimo sei eu que comparece amanhã.

Adeus. Tenha V. Ex.* mil venturas que lhe desejo.

Sou de V. Ex.*

Am." Verdad." e Obrg.»

R. Fonseca Magalhães.

XXXI

Em 21 de Janeiro de 1841. Particular.

Jll^mo ^ £^ mo Sf-,

O cônsul Hespanhol, no Porto, passou aviso aos residen- tes da mesma nação que se preparassem para sahir da Cidade e do Reino, porque haveria uma invasão se, no fim do mez, não estivesse em obra o Regulamento para a navegação do Douro. Isto é mais um incentivo para suscitar ditiiculdades; é feito de propósito para levantar gritarias contra nós, a ver se, em qualquer das Camarás, se diz, que debaixo de coacção se não pode discutir. Haverá procedimento mais hostil do que

5i

este ? Não V. Ex.' que o que esse Governo pretende, é que tal Regulannento se não discuta, para se considerar livre e au- ctorisado para nos aggredir? Lembre V. Ex.* esta espécie a Mr. Aston, que é mais uma para o desenganar da boa d'es- se Governo.

Não posso, á vista das injustas e absurdas arguições que esses srs. nos fazem, deixar de desconfiar da sua lizura; por- que, depois de tantos documentos de lealdade e franqueza, dados por nós, repetem-se as mesmas insinuações, da parte de Hespanha, parecendo que falamos a medo, e procedemos deante de gente cega.

O Leal dirá a V. Ex.* o que pensei relativamente ao Bu- chanan (?) Será bom que V. Ex.^ me escreva bem de propósi- to a respeito d'elle. Não pense que deixo de cumprir pelo que respeita a seu bom filho. Elle jantou hontem commigo, em ca- sa de Lord Howard, que lhe quer muito bem.

Adeus ! não posso mais ! Vae essa para Mendizabal, que, na verdade, é homem nosso amigo, mas que não quer confessar que esse Governo pretende envolver-nos em desordens e confusão.

Estou seguro que Mr. Aston poderá enfrear as pretençÕes traiçoeiras do sr Ferrer, a quem, por mais que eu queira, não posso attribuir boamente a nosso respeito.

Faça me V. Ex.* o favor de mandar copiar esta carta, e enviar-me a copia pelo primeiro correio que vier em expresso, ou em cifra, para se tirar.

De V. Ex.* Am." Verdad.° e Cr." Ob.°

P. S. Não careço da copia,

R. Fonseca Ma<jalhães.

XXXII

Lisboa, em 23 de Janeiro, de 1841

111."" e Ex.™' Sr.

Hontem escrevi a V. Ex.* longamente, pelo Leal, que, esta noute, ás duas horas, sahiu de Aldegallega, tendo passado a noute no mar.

Nada, desde hontem, occorreu de consideração, senão que o Regulamento está no Senado: houve sessão sobre elle;

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e 2.* ou 3.', o mais tardar, será approvado, e logo posta em exercício a Convenção.

Apezar de tudo quanto tem occorrido aqui, entendo que esse Governo busca pretextos para nos agredir, e excitar des- ordens entre nós; mas espero que venha a melhores ideias, porque á vista do nosso procedimento, qualquer, menos leal, da parte do Gabinete de Madrid, seria um escândalo.

No Porto, o Vice- Cônsul affixou um edital, annunciando que haveria invasão no fim do mez se a navegação não estives- se posta em practica : isto é um meio insidioso de nos pertur- bar. V. Ex.* tomará este assumpto a peito ; porque qualquer passo de aggressão, dado agora, teria a qualidade de desenga- nar toda a Europa de que o objecto de Hespanha não é o Regulamento.

De V. Ex.* Am.° e Cr.° Ob.°

R. Fonseca ^Magalhães P. S. Espero mandar d'aqui, na 4.* feira ou na 5.^, o Conde de Almoster com o resultado da navegação.

XXXIII

Lisboa, em 27 de Janeiro de 1841. Confidencial.

Não chega o tempo para largamente escrever a V. Ex.* Tenho descido aos mais insignificantes pormenores, para po- der hoje mandar o Conde de Almoster diante de um correio de Soler, e com a decisão do negocio, porque o mesmo Soler tem tido a insensatez, se é isso, de persuadir-se, ou fingir- se persuadido, que S. M. negaria a sancção ao Decreto das Cortes.

Creio que o conseguirei ; porque amanhã dou parte, officialmente, a Lord Howard, de se achar sanccionado o Decreto do Regulamento, e, antes de receber esta communi- cação, entendo que o dito Soler não expedirá o seu cor- reio.

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Hontem á noute veiu uma pessoa pedir-me para que admit- tisse eu aquelle cavalheiro a uma visita secreta. V. Ex.* pôde suppor que a recusei; nem entendo como elleteve o desaccor- do de propôr-m'a, estando certo, como deve estar, que me não são desconhecidas as suas intimas relações com todos os ini- migos do Governo aqui ; isto c com aquellcs que mais hão querido oppôrse a que passasse o Regulamento, para se approximarem tropas inimigas, e levaniar-sc aqui a bandeira da revolução. Kste homem ha recebido de Vinicgra o triste legado d'estas amizades e d'estes desgraçados meios ; nem jamais pôde elle deixar de ser o que é, um demagogo estou- vado, em cuja bocca é um insignificante o Duque da Victo- ria, o sr. Ferrer um chocho, etc, etc.

Pelo que V. Ex.* me refere, vejo eu, também, que Viniegra quereria voltar aqui. Seria começar esse Governo o restabeleci- mento de nossas relações amigáveis por um insulto ao Gover- no de Sua Magestade —ainda mais ás Pessoas de SS. MM., de quem esse homem a^ui fallou com uma descortezia e um descommedimento notórios.

Espero que V. Ex.* empregue toda a sua influencia para cuc saia o que está, e não volte o que foi.

Do mesmo papel que V. Ex.* faz menção, em seu oíficio de 22 do corrente, vejo eu quão impossível é que esse homem vol- te aqui, a lançar se de novo nos braços dos traidores que pre- tendiam assassinar a sua pátria.

A franqueza do sr. Ferrer fez-me grande abalo no animo, e, se bem que parece impossivcl que homem tão distincto tenha acreditado os mais monstruosos absurdos, fechando os olhos aos factos qualificados pelo Governo e pelos seus adversários. sou forçado a indinarme á opinião que V^. Kx.^ me da since- ridade d'esse Ministro, em uma questão em que nunca lh'a tenho podido achar, porque nada me parece mais claro do qiic o comportamento da Administração actual na questão do Rio Douro.

F.ntrego ao cuidado e actividade de V. Kx.^, a sollicitação de providencias enérgicas c eilicazes para remover dos povos das nossas fronteiras, c especialmente de Zarza .Maior, os ajun- tamentos de emigrados portuguezes que alli estão, armados pelas auctoridades de Hespanha, engrossando se e ameaçando entrarem no território portuguez.

O Rarão de Oleiros, o celebre Albuquerque, é o chefe d'esses desgraçados, e a primeira prova que V. Kx.' desejará obter dos etVeitos da nossa reconciliação, será, sem duvida, uma medida que inutilise os esforços desses furiosos, que

_J4_

chamam a si gente incauta e perversa, e se preparam para nos trazerem o presente de uma incursão.

O mesmo digo pelo que diz respeito aos mancebos fugidos ao recrutamento.

V. Ex.* sabe que devemos completar o Exercito, por au- ctorisação das Cortes, na sessão passada, e dar baixa aos an- tigos soldados; assim o recrutamento deve continuar segundo a lei; e o refugio dos moços n'esse Reino é uma desgraça pa- ra a agricultura e para o serviço do Exercito.

Resta-me acabar esta com uma espécie que me é summa- mente desagradável.

V. Ex.*, em seu officio de 18, me faz uma injustiça que eu não mereço.

Não lhe dei reprehensão; não assignei officio apresentado por Oliveira; eu o escrevi e sem animo offensivo. Sentimento de desgosto tinha, sim, porque havia ficado mal em uma reu- nião de Deputados e Senadores aonde um que tinha falado em Lord Howard, disse que marchava artilharia pesada direi- to a Elvas.

Em prova do que digo, escolha V. Ex.^ se quer enviar me o officio, que não foi registado e está no masso da correspon- dência reservada, em minha casa, ou como quer, na certeza de que eu pretendo que V. Ex.* restabeleça a opinião do Oli- veira, que não foi culpado em nada, porque nem uma letra tem escripto a V. Ex.^, e sim eu; e de mim pôde V. Ex.* es- perar alguma expressão que denote a afflicção do meu animo, porém nunca espirito offensivo.

Agora mesmo estive aqui com o velho do seujilho^ a quem pedi que me copiasse esta e m'a mandasse; porque o tempo não permitte que eu me demore nem mais um instante. Serei mais extenso.

O Conde será, esta nout^, nomeado 1.° Addido.

De V. Ex.*

Verdad.^ Am.° e Cr.^" Ob.°

R. Fonseca Magalhães.

bb

XXXIV

Em 3o de Janeiro (1841 ?)

111.'"» e Ex.""» Sr.

Não posso mais do que escrever duas letras a V. Ex.' São 8 horas da noite, e saio d'uma conferencia. Temos Ministro da F'azenda o nosso Miranda. O meu compadre Florido, le- vado de um bom zelo, e talvez não entendendo inconveniente, apresentou um projecto de finanças (?) que sublevou tudo, e isto fez sem nos mostrar tal cousa. Além disso explicou se na Camará dos Deputados, sobre pagamentos, de um modo que fez saltar pelos ares o Banco, e, na mesma semana, foi ao Se- nado aonde teve pouca felicidade n'uma satisfação que pediu. Tudo isto foi paríe para que tudo se puzesse em des- gosto; e elle pediu a sua demissão muno a nosso desprazer.

O Conde de Almoster não íoi ainda hoje despachado. Quando eu ia para o Paço, a caminho, mandou me chamar o Miranda á Camará, porque havia trovoada.

O mesmo Miranda é bom Ministro Parlamentar. Desejo sa- ber se o Conde chegou antes do correio hespanhol. SS. MM. vão bem de saúde, e sempre recebem com prazer novas de V. Ex.»

Tenho o gosto de ser

Saudades ao amigo Mendizabal.

De V. Ex.*,

Am." e Cr." (Jbr.*^

R. F. Magalhães.

XXXV

Lisboa, 2 de P^evereiro, 1841. Muilo particular.

111.'"'^ e Ex."' Sr.

Muito agradeço a V. Ex.-^ o interesse que por mim se di- gnou tomar. A sua lembrança do testemunho d'esse Governo é realmente de amigo; porém peço licença para lembrar a V. Ex.* que se se realisasse o obsequio, ainda depois de ser

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retirada a Nota oífensiva, sobre mim recairia grande suspeita de haver sido o meu procedimento falsamente apregoado, por mim, de independente e verdadeiramente nacional. Basta esta consideração para que V. Ex.* avalie a importância do assum- pto, parecendo-me que o testemunho de estima que esse Go- verno quer dar, pelo feliz acabamento do negocio, deve recair em V. Ex.*; e eu, decerto, apreciarei como tal, qualquer graça, digna de V. Ex.% que a Regência lhe fizer.

O Duque de Palmella tem o Tosão.

Além d'isto, é força ponderar que eu sou de origem ple- beu, pobre de fortuna, e sem pretenção alguma, a não ser a de continuar em honesta obscuridade.

Adeus. Acredite V. Ex.'^ na minha amisade e gratidão.

De V. Ex.''

Am.° Verdad.°

R. Fonseca Magalhães.

P. S. Agradeço a boa vontade de Mr. Aston. V. Ex.* terá a bondade de lhe expressar este meu sentimento; mas, quando elle saiba de V. Ex.* o motivo que exponho, é impos- sível que o não pese, e não veja que em V. Ex.'' pôde, sem suspeita, recair o testemunho de satisfação que eu desejo que o Governo Hespanhcl pelo feliz termo de nossas pendências.

R. F. Magalhães.

XXXVI

2 de Fevareiro, 1841.

Ill mo |7x.n>o Sr.

Confidencial.

Tenho presentes o officio de V. Ex.*, de 26 do próximo passado, e as duas cartas que o acompanharam.

O conteúdo no primeiro, e a parte das ditas cartas que di- zia relação a objectos de serviço publico, eu fiz presentes a SS. MM., que ficaram satisfeitos. A's duvidas da Regência, e especialmente do sr. Ferrer, respondeu o Governo pelo Conde d' Almoster, que, de propósito, aqui detive, como elle disse a V. Ex.*, para ser portador da decisão final.

As injustiças feitas, não direi a mim pessoalmente, que as

5?

soffro de bom animo, e não aspiro a figurar no mundo, mas á Nação Portugueza, e aos homens illustres d'ella, me pesam sobre o coração ; e não são os protestos verbaes d'esses srs. que me contentam, nem contentarão de certo a V. Ex.*, a pon- to de prescindirmos de qualquer demonstração de boa que esse Governo, se quer parecer justo, nos deve dar.

A promessa formal e solemne da retirada da Nota insolen- tissima do sr. Viniegra, deve realisar-se já. Rogo a V. Ex.*, em nome da nossa amizade e do nosso amor á Pátria cm que nascemos, que a faça retirar com a devida formalidade. Se se tratasse de ponto de honra, eu seria o primeiro a abster-me d'esta exigência; mas não o ha, e somente o reparo de um aggravo não merecido, subsistindo o qual não pôde, de modo algum, tornar a darse aquella confiança aquella irâ-nandade,

ãue tão essencial é que exista entre os dois povos, para bem e ambos.

V. Ex.* pôde assegurar o sr. Ferrer de que tratámos das nomeações e das coUocações dos postos fiscaes; que ajustei hoje com o xMiranda, grande advogado da navegação do Dou- ro (uma das principacs rasões porque foi proposto a S. M), para se officiar aos Administradores Geraes a fim de, sem perda de tempo, se pôr em pratica o Regulamento; e espero que no sabbado olliciarei a V. Ex.* para que, por parte de Hespanha, se tomem as medidas correspondentes.

Em fim, nem um momento se tem perdido n'este caminho; e ter-sc-hiam egualmentc passado, sem o desgosto de uma af- fronta, as despezas de preparativos de guerra, e todas as suas consequências, se esse Governo tivesse prestado a V. Ex.* a attenção que V. Ex.* lhe m:recia, e o Governo Pormguez. Mas o passado não pôde deixar de ser: o meio de remediar os maus etíeitos da otVensa, cístá na retirada da Nota. Ksse go- verno a deve fazer expoutaneamente \ este acto é de justiça, e não diminue a força de quem o pratica ; desde que elle lôr executado, eu crerei, amplamente, na boa do Governo Hes- panhol para comnosco : as nossas relações se estreitarão, e nos coadjuvaremos, mutuamente, com toda a eílicacia de Gover- nos que professam pr:ncipios de verdadeira liberdade. K' im- possível que esses senhores ignorem que nós seguimos a ver- dadeira senda do progresso; e que os nossos adversários cn- minham pela estrada da confusão e da 3narchia, como tecm feito sempre que entre nós hão tomado as rédeas do poder.

Amanhã mando escolher o armazém de deposito no Porto: o Miranda diz que as duas casas, ou est;íções fiscaes, serão collocadas na Fregcneda, ou perto, e no coníluente do Sabor:

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isto vae sem demora ser dado á execução ; e o sr. Ferrer po- derá ter a gloria de ver a navegação; mas é preciso lembrar- se que, para eila ser proveitosa, cumpre remover causam odii e esta existe emquanto a Nota oífensiva não fôr retirada.

Vou fazer o relatório da negociação: habilite me esse Go- verno para o representar generoso e leal, que eu o farei, uma vez que possua o instrumento official que peço. Lembre V. Ex.% tanto ao sr. Ferrer como ao Duque da Victoria, de quanta uti- lidade é que Hespanha á Europa esse documento de boa para comnosco; e quanto convém que as duas nações, cujos interesses são os mesmos, tenham motivos de amar-se, e de confiar um no outro.

Eu possuo uma Nota de Lord How ard, em que se refere á explicação dada pelo sr. Ferrer ás expressões offensivas do referido ultimatum de Viniegra ; mas é mais nobre e mais franco que uma communicação original seja feita directamen- te: e assim essa poderá crêr-se sincera.

Devo declarar a V. Ex.^ que tal é o desejo dos nossos ami- gos políticos, com os quaes me comprometti, em certo modo, a uma reparação da parte do Governo Hespanhol, que sem- pre hei procurado apresentar-lhes despido de intenções hostis a nosso respeito. Elles me acreditaram; elles deram pressa á approvação; e doloroso me seria ver fraudadas essas promesas por um capricho mal entendido d'esse Governo. Vamos man- dar recolher o Duque da Terceira, desfazer os Estados Maio- res e as Divisões do Exercito: mandei sobrecitar no recru- tamento geral, e seguir os tramites da lei para o preenchi- mento dos corpos, conforme fora decretado antes das amea- ças das hostilidades. Espero que o Governo de Hespanha as ordens necessárias, pelo que respeita aos prófugos portu- guezes, e que faça sair d'ahi os mancebos que se escaparam ao recrutamento, e entregue as decretaes em conformidade com a Convenção de iSiS. O major Cabral está em Ayamonte ; as proclamações incendiarias fervem; mas a nós pouco cuidado nos isso, comtanto que esse Governo obre o que deve para comnosco. Desde esse momento morrerão as esperanças dos Anarchistas.

O sr. Lima me deu parte de se achar nomeado para esta um Cônsul, homem honrado: muito o estimo: o que peço a V. Ex.* é que para o Porto se nomeie outro; porque o actual se pronunciou de tal modo a favor da guerra, e está em tão intimas relações com os exaltados d'aquella cidade, que não pôde deixar de ser muito muito mal visto por todos os homens que querem a paz e a boa intelligencia entre ambas as nações.

o porte traiçoeiro que elle teve com o Administrador Geral, acabou de o tornar odioso.

Também estimo que aqui venha o sr. Aguilar, antigo amigo dos homens de 1820, que hoje são os maiores amigos do sys- tema actual; e posto que eu tenha tido informações de que elle era um dos que instigaram a Regência á guerra, creio bem que isto fosse effeito da sua persuasão da nossa falta de sin- ceridade. O mesmo não direi de Soler, que miseravelmente se apresentou em relações ostensivas com os nossos inimigos, e que louco andou clamando, até os últimos momentos, que sabia de certo que a Rainha não daria a sua sanccão ao He- fçulamento. Fez aqui uma figura tristissima ; e no fim, quando viu que nada podia conseguir, pediu-me, por interposta pessoa, uma conferencia em casa que não fosse a minha! ! !

Toda esta ignóbil gerência de negócios, mostra que este ho- mem é incapaz, e que não convém em Lisboa, excepto se se quizesse que elle fizesse aqui, formalmente, o papel de repre- sentante junto aos clubs revolucionários.

Certo estou que esse Governo o não quererá para isso: tpnto mais quanto elle desautorisa, em seus imprudentes discursos, ao Duque, representandoo um imbecil, inferior á situação que occupa, e lhe prognostica uma queda estrepitosa. Segundo elle diz, a Regência não tem senão o sr. Cortinas que se)a ho- mem de pulso ! !

Até aqui de otíicio ou semiofiicial ; o resto e pessoal. Vou mandar dar ao Ximenes uma gratificação.

Espero que V. Ex.* se não apresse, até poder deixar ahi bem estabelecidas as nossas relações.

Também espero que Y . Ex.* esteja certo, peio que lhe es- crevi, e pelo que lhe mandei dizer pelo conde d'Almoster, que me deve dar credito, e que de mim pôde sempre confiar como em amigo verdadeiro. A minha proposta subsiste.

No sabbado mandarei a participação ao Conde. por ve- zes tenho dito á sr.* Marqueza que me occupc em seu serviço quando S. Ex.* o entender nccssario: será preciso que ^'. Ex.* lhe diga o mesmo?

Saudades ao Mendizabal, a quem dou os parabéns.

De V. };x.*

Am." Obg."

A'. 1'otiscca Magalhães.

6o

Postscript um da carta de 2 de Fevereiro 1841.

Não rrje causou admiração o que o sr. Ferrer communicou a V. Ex.* da parte do tr. Olosaga. Creio que isso seja ver- dade, ainda que agora, depois de acabados os motivos de guerra, ha de também o Governo Francez ostentar os seus bons officios.

E não creia V. Ex.^ que isto escrevo de imaginação; por- que ha dias que recebi uma visita de M. de Varenne, que, em forma de exprobação, me disse que eu fora sacrificar a inde- pendência da Nação, pedindo a intervenção ingleza, quando Íamos, pouco a pouco, emancipando-nos da tutella d'aquelle Governo; e accrescentou que me não diria cousas bem impor- tantes por eu haver sollicitado essa intervenção.

Respondi-lhe de modo que nunca mais me fallou. Entre outras cousas, lhe toquei no seu amigo Manuel de Castro, do qual elle me affirmou que a linguagem era: «que antes que- ria ser Hespanhol do que Inglez.» «A alternativa não é essa» repliquei eu, atrata-se de escolher entre Hespanhol e Portu- guezí.

Este post-scriptum peço a V. Ex.^ que o repute commu- nicação pessoal, que deve por V. Ex.'' ser havida para sua in- telligencia, e não para figurar na serie de nossas communica- ções. D'esta conferencia dei comtudo parte a S. M., em tempo competente.

R. F. Magalhães.

XXXVII

Secretaria, em 6 de Fevereiro, de 1841.

111.'"" e Ex.'"o Sr.

Tenho presentes o officio de V. Ex.* de 29 do p. p., e car- tas de 3i, que vieram pelo expresso ao Ministro de França.

Fiz logo presente o conteúdo de um e das outras a SS. MM., que, bem como eu, não deram credito á passagem de D. Mi- guel por Toulouse segundo se reteria no Aviso Telegraphico que o mesmo Ministro de França me enviou por copia. Quan- do muito, reputo este acontecimento dentro da esphera dos possíveis; mas a sua improbabilidade salta aos olhos, atten- tas todas as circumstancias.

6i

Ainda assim, como é possive!, entendo que se não deve desprezar a noticia. V. Ex.* a estas horas saberá ahi melhor se sim ou não o facto é certo ou fabuloso.

A SS. MM. participei o que o Duque da Victoria disse a V. Kx.* quando lhe deu a noticia telegraphica: li o próprio bi- lhete de V. Ex.*, dando-lhc todo o peso que merecia a expres- são cordeal do Duque, c vi que SS. MAl. ficaram na intelli- gencia de que taes palavras revelavam um espirito nobre e cavalheiro, e me encarregaram de transmittir a V. Ex.* que ouviram o olícrecimcnto do mesmo Duque, e a agradável im- pressão que lhes causou, certos de que, se o caso se realizas- se, e fosse preciso qualquer auxilio, o (ioverno Hespanhol o prestaria sem hesitar.

A y. Ex.* rogo que isto faça saber ao nobre Presidente da Regência.

Não ha occorrencia que mereça mencionar se; porque ago- ra espero, pelo primeiro correio, noticias da chegada do Conde de Almoster, cujo Decreto hoje pude ter assignado por S. M. O sr. Ministro da Fazenda está cuidando no arranjo e collocação dos agentes fiscaes, nos pontos marcados no Regu- lamento, e vão ser, desde já, dadas as providencias. Da parte desse Governo, entendo que algumas também se devem dar emquanto ao objecto. Miranda crê que poderia haver uma al- fandega mixia * para mais facilidade a ambas as partes ; mas cu não estou muito por isso : d'aqui vou á Secretaria a ver em <]ue accordo ficamos. O certo é que não podia haver homem mais apaixonado, por profunda convicção, do que o mesmo Miranda, da navegnção do Douro; e se elle tivesse estado no Ministério ha mais tempo, cu teria lido um grande auxiliar.

Tenho toda a esperança que ás mãos de V. Kx.' chegue, a tempo, a carta particular que lhe escrevi, pelo correio passa- do, sobre o assumpto de um íj importante da que V. Ex.* me remetteu com a data de 22, c que me dizia pessoalmente res peito. Creia \'. Kx.* que usei de franqueza; que tenho rasão ; que não posso proceder senão assim; e que é minha determi- nação irrci'OLi\it'cl permanecer no que disse. Estou certo de que seria muito agradável a SS. MM. o que observei a respei- to de V. Ex.*.

Os nossos inimigos politicos que. sem fundamento algum, esperavam que o -Ministério perdesse na resposta á fala do Ttirono, appellam agora para um tumulto que desejam e pro-

' Isto c um tiscal portULiucz na íilfdnJcga Hespanhola.

t Ò2

jectam fazer aqui. Estes homens lançam mão de todos os meios; e o que V. Ex.* viu nas mãos do sr. Ferrer, explica a moralidade de tal gente.

dei ordem para a cessação de fortificações, e outros serviços extraordinários. Com toda a sinceridade digo que não posso esquecerme de que esse Governo nos fez incorrer em uma enorme despeza, sem necessidade ; porque obtinhamos o que obtivemos, e ainda mais facilmente, sem o recurso de que elle lançou mão. O mal que nos fez foi horroroso, não no capitulo das despezas, mas ainda a outros respeitos, como V. Ex.^ pôde julgar. Mas, se como vejo, houve boa fé, se não aconteceu o que teve logar senão por virtude de falsas infor- mações, se a ofFensa foi não merecida, o facto da solemne re- tirada da Nota aplanará muitas difficuldades para o futuro; e eu espero que a promessa feita a V. Ex.* se cumpra quanto antes. Este acto desenganará SS. MM. e a mim, pessoalmen- te, e como V. Ex.* assegura, creio bem que com taes demons- trações se restabelecerão as nossas antigas relações de ami- zade.

Beijei, em nome de V. Ex.*, a mão a SS. MM., que sem- pre recebem esta recommendação com a mais expressiva be- nevolência.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.* Am.» e Cr.° Obg."

R. Fonseca Magalhães

XXXVIII

Em 7 de Fevereiro de 1841.

lll.'^» e Ex.™» Sr.

Ainda agora posso responder á carta de V. Ex.^ de 29 de Dezembro, em que V. Ex.* se queixa de mim pelo desconto pela 5.* parte que se fez nos seus ordenados da somma anti- gamente recebida.

Sinto que V. Ex.^ julgue que n'esta operação houve propó- sito deliberado de diminuir os seus pagamentos, quando não foi mais do que a pratica de uma lei que jamais deixou de exe- cutar-se, e que está ainda hoje em vigor. Nem eu dei ordem, nem na Secretaria podia deixar de fazer-se o que se fez. Mui-

63 .

to desejo eu que V. Ex.' não presuma tão mal de um homem que é seu amigo, e que tanto deseja mostrar-lh'o.

Muito estimarei que V. Ex.* me escreva de oíficio sobre este assumpto, agora que está o sr. Miranda na Fazenda, e que sei de certo que também o deseja obsequiar; e esteja V. Ex.' certo de que faremos o possivel em seu obsequio.

O que poderia ser fora fazer o desconto pelas quantias que V. Ex."* agora recebeu, deixando o atrazado.

Emfim, eu estou prompto a diligenciar quanto seja a favor de V. Ex.*, até o extremo da possibilidade.

Pelo que respeita ás contas, e ao augmenio dos dias, ahi remetto a V. Ex,*, de novo, o calculo e explicação que se me deu da Contadoria.

Fique V. Ex.' certo de que sou sincero e

De V. Ex.'

Am." Obg.™°

R. Fonseca Magalhães.

XXXIX

Paço das Necessidades, em lo de Feverei:o de 1841.

III.'»'' e Ex.""' Sr.

Sua Magestade E' servido conceder a V. Ex.' licença para usar da insignia da Grão Cruz da Real e distincia Ordem de Carlos III, com que a Regência, em Nome de S. M. C, hon- rou V. Ex.*

A mesma concessão Ha S. M. por bem fazer ao Conde de Almoster, i.*' Addido, e ao Ajudante de Ordens de V. Ex.*, D. Miguel Ximenes, para usarem das insígnias que a Regên- cia lhes conferiu da Cruz de Numero Extraordinário, da mes- ma distincta Ordem.

O que, de mandado de S. Magestade, e com muito prazer meu, communico a V. Ex.*

Deus guarde a V. Ex.'

II."'* e Ex "'<* Sr. Marquez de Saldanha.

Rodrigo da Fohscca Magalhães.

64

XL

(Sem data).

111."" e Ex."'" Sr.

Agradeço, muito do coração, a expressão dos senti- mentos de V. Ex.* a meu respeito, expressão que muito sua- visa os grandes desgostos que padeço, e que me teem acom- panhado desde o primeiro dia que entrei n'esta Administração, de que eu tanto devera fugir.

Creia V. Ex.* que eu reputo sinceras as suas palavras; nem V. Ex.* tem motivo para deixar de desejar-me bem, por- que lh'o mereço sinceramente.

Bem sei quão grande zelo e ardentes desejos animam a V. Ex.* no serviço da sua Soberana, e da nossa pátria, e que as recompensas por tantos sacrifícios não avultam nada; mas, ao menos, V. Ex.* tem a estima de todos os homens de bem, e que não é pouca.

Paliei a S. M. nas decorações sobre que V. Ex.* me es- creveu \ e, a dizer a verdade, achei a repugnância que não es- perava. Seja qual for o motivo, eu vi uma inpassibilidade a todas as rasões que expuz, que admirou ; e a posso attri- buir á lembrança de que fomos maltratados, e nem ainda a retirada do iiliimaíiim teve logar. Venha esse documento da boa da Regência, e eu creio que muito se poderá fazer.

Não consultei a ninguém antes de escrever a V. Ex.* sobre a primeira noticia que V. Ex.* me deu da tenção da Regência em honrar-me com uma grão-cruz. Examinei qual effeito isso produziria, e apressei-me a escrever a V. Ex.% em 2 do cor- rente, desejando muito que a minha carta chegasse a tempo; mas não chegou.

Comtudo, espero que V. Ex.* me favoreça declarando aos srs. Duque da Victoria e Ferrer a causa que me obriga a não acceitar a alta e honrosa distincção que a Regência me con- feriu. E' preciso conhecer bem o estado das opiniões, para se saber qual o caminho que temos a seguir. Toda a gente ap- plaude o testemunho dado por esse Governo a V. Ex.*. Toda a gente me excommungaria se eu tivesse uma fita larga a tira- colo. A minha acceitação tornaria mais odiosa a navegação do Douro do que ella é. Este preconceito pôde acabar; e, para que isso succeda mais depressa, importa não levantar novas suspeitas, ou antes novos pretextos para ellas.

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Ho)c vieram amigos dizer-me que constava haver cu sido condecorado, o que produziu péssimo etíeiío: e esses mesmos me asseguravam que, se V. Ex/* o não tivesse sido, seria mais um insulto d'esse Governo.

Peço a V. Ex.* que faça suas as minhas rasões, e que ex- ponha a esse Governo o caso singular em que me acho, relati- vamente a este paiz, a favor de cuja paz seria eu capaz de fa- zer todos os sacrifícios.

S. M. mostrou a melhor vontade cm condecorar, desde lo- go, o sr. Ferrer, e mais dois, correspondentes ao Conde e ao Ximenez; mas vi, ou pareceume ver, que em quanto não fôr retirada a Nota, lhe seria extremamente penoso dar outras de- monstrações, que S. M. entende serem recebidas como uma espécie de servilidade.

Muito folguei de ler o que V. Ex.'^ escreve do sr. Lima. Com sentimento vejo que não é tempo de servir o afilhado de V. Ex.*; porque o Miranda havia dois dias antes nomeado o Francisco Viseu Pinheiro, homem muito honrado e intelli- gente, para a Fregeneda.

No correio seguinte faremos a esse Governo as communi- cações respectivas; porque o estado do Douro não permitte, nem por estes dois mezes, navegação.

Veremos se cu posso servir o sr. Geraldo Lourenço em outro logar.

N'este é impossivel; porque o nomeado ji tem ordem para se apromptar.

Pelo que respeita ás senhoras, asseguro a V. Ex.* que não me é dado obter cousa alguma; e creio poder dizer que vi um desejo de que V. Ex.\ na sua volta, pedisse isto a S. M. Todos querem que lhes peçam!

Em quanto á volta de V. Ex.* rogo-lhe que se não apresse em efTectual-a; não porque eu desejo que se prolongue a sua demora, mas sim porque me parece que, sem estar tudo intei- ramente ultimado, seria imprudência partir. Desejo a \'. Fx.^ nesta Côrtc; mas, sem ser tempo, não deve vir. Emquanto ao que V. K\.* me diz sobre os seus sentimentos políticos a nosso respeito, eu o accrediío.

Não me o tempo para mais. porque agora estod eu es- crevendo, tendo passado muito a hora do correio; o que é ine- vitável no meio de tanto trabalho.

Tenho na minha mão aquelle celebre cilicio de que V. Ex.* se zangou; mandai o hei a V. Ex.* corregido. e sem as passa- gens que lhe causaram desgosto; e W Ex.^ me restituirá o ou- tro.

66

Creio que assim está tudo bem; porque não ha regista nenhum do primeiro.

Muitos parabéns ao Conde do despacho de i.° Addido.

De V. Ex.»

Amigo e Cr.'^° Obrg.'^°

R. Fonseca Magalhães.

P. S. Creio quanto devemos ao Duque e ao sr. Gam- boa. Isso fiz presente a SS. MM., que me disseram a este respeito as coisas mais agradáveis em agradecimento.

(Nota, na lettra de Saldanha).

R. F. Magalhães.

Recebida no dia 17 de Fevereiro, pelo correio que trouxe gazetas e outras cartas do dia 10. 1841.

XLI

Em i3 de Fevereiro de 1841.

111.'"'' e Ex.'"" Sr.

Escrevo a V. Ex.^ de cama, com um terrível ataque d'a- quelles que em i835 me tiveram á morte; e, comtudo, nem tempo ha para estar doente.

Serei breve e brevíssimo.

Desejo que V. Ex.* venha; mas não quizera que fosse já, já, isto é, antes de ficar assente, de uma vez, a nossa boa in- telligencia para restaurar a qual tanto V. Ex.* concorreu. Em- quanto este fim não fosse conseguido, mal poderia eu annuir â retirada de V, Ex.^ Por outra parte, aqui o quizera ter para desenganar muitas pessoas que jalgam que nada fizemos, e que o perigo da guerra foi phantastico. Emfim, ha cousas que não posso escrever; a natureza d'ellas não admitte cifra, por- que não tenho tempo de entender-me com isso, nem posso con- fiar certos pontos a terceiro.

Pelo que respeita ás decorações, entendi eu que seria justo dar ás pessoas que V. Ex.^ lembrou, e pela mesma razão dada por V. Ex.", que se refere a cousas que eu sabia.

Achei muito grande resistência, e não a pude abalar, es- perando que V. Ex.* o conseguirá cm vindo.

Pelo que a mim me pertence, estou certo que V. Ex.* conhecerá com quanta sinceridade lhe escrevi a tal respeito, e quanto perderia o negocio da sua justiça, no conceito de muita gente, se eu acceitasse a consideração que a Regência mui bi- zarramente se lembrou de conferir-me.

V. Ex * nada me diz de Mendizabal, a quem respondi bem francamente. Estou certo do bom caracter d'esse amigo nosso, e que não participa dos ruins pensamentos que descubro do modo de escrever que usa o sr. Ferrer, emquanto ao ultima- tum, tanto que, em meu Relatório, provavelmente me não ser- virei da Nota delle, e sim da de Lord Howard, sobre tal obje- cto, porque ao menos nas explicações do mesmo sr. F^errer, nessa Nota referidas pelo Ministro Inglez, cu vejo uma satis- fação incondicional.

Sua Magestade dignou se conferir a Lord Howard a Grão Cruz da Torre e Espada, que elle talvez agora não receba, e sim quando d'aqui partir, por morivos de delicadeza. Sou- Ihe muito obrigado, c ao Governo fez grandes favores n'esta passada transacção.

Vou escrever ao Barão de Moncorvo para se fazer egual otferecimenio a Lord Palmerston ; e hei de escrever que Mr. Aston se houve comnosco da maneira mais nobre. Sobre este falaremos.

Não posso mais, e soa

De \. Ex.^ Am." Verd." e Obg.^

R. F. Magalhães.

>'Lll

Secretaria d' Estado dos Negócios llstrangciros, em 17 de P^cverciro de 1841.

111.'^ e Ex.' (lonfidenciAl.

«r.

Neste momento, que são cinco horas da tarde, recebo o ollicio de V. Ex.', datado de 6 do corrente, que vem retarda- do, porque as chuvas excessivas que tecm caido de\em haver dado causa o maiores dithculdades no transito.

68

O mesmo officio tra? appensa a copia da Nota do sr. Fer- rer, datada de 4, a cujo respeito devo assegurar a V. Ex/ que muito agradável será a Sua Magestade o conteúdo na mesma Nota.

Não posso ser mais extenso, porque o serviço exige, n'este momento, graves cuidados.

Devo esperar, no seguinte correio, resposta de V. Ex.* ás minhas antecedentes, e aos officios que n'estes últimos três correios tenho dirigido a V. Ex *

Tenho a honra de ser

De V. Ex.» Am." Att." e Verdad/<»

R. Fonseca Magalhães.

XLIII Em 19 de Fevereiro, de 1841.

111.""» e Ex.""" Sr.

Como digo no cfficio de data de hoje, estou incerto se V. Ex.* terá ou não deixado Madrid.

O assumpto do mesmo officio é para nós de importância maior, e por isso eu desejava que V. Ex.^ o terminasse: mais honra era a que V. Ex.* ganharia para o Governo, e proveito para o paiz. Entendo que a occasião é a mais favorável, e a disposição de Lord Howard propicia para nos ajudar a enca- minhar o assumpto; e até chego a crer que, se fosse necessá- rio, o Ministério Inglez, ainda que a geito, entraria por nós na questão. Mas creia V. Ex." que a sua pessoa é elemento de negociação: digo-lh'o porque assim o entendo, e não creio en- ganar-me, porque julgo sobre dados.

Custa-me voltar ao assumpto das decorações; mas eu conto com os bons ofticios de Lord Howard pelo que respeita á Du- queza. Bem sabe V. Ex.* que não é do meu systema ser mesquinho n'estes testemunhos; e até julgo que, na occasião presente, deveríamos ser liberaes; mas não pude obter que da nossa parte houvesse mais largueza; e penso que V. Ex.* será mais feliz do que eu.

E como não posso deixar de ser franco para com V. Ex.*, tenho de Jeclarar-lhe qual é a minha opinião.

69

histou pela sinceridade do Duque, e de Gamboa : desejo manifestar a ambos a alta consideração que merecem; mas não assim emauanto a Ferrer ; e a chicana por este usada a res- peito do uttimatum^ acaba de dar-me o desengano. Aqui conti- nua Soler convivendo com os nossos mais encarniçados inimi- gos, e ha poucos dias declarou que daria a vida quando Fer- rer retirasse a Nota do ultimatum: isto disse elle ao Conde de Leickner (?) que lhe havia referido o que Lord Howard lhe contara. Este miserável Soler pensa ter no corpo a alma de Ferrer e de Cortina.

Ha poucos dias recebi do nosso cônsul de Vigo, excellentc pessoa, noticia de que pela fronteira da Galliza estão ainda os mancebos retirados com protecção das auctoridades.

O cônsul do Porto, que, sabendo bem os termos em que as cousas corriam, quiz fazer bulha com o seu aviso aos Hes- panhóes residentes, está, e apesar de que o seu passo foi dado para nos fazer recrescer os embaraços, ahi o Governo não pensa assim.

Soler fazia a mesma cousa, se não fosse Lord Howard; a vontade sobejou-lhe, e fingia que tinha informações extrava- gantes, taes como a de que S. M. resistiria á sancção do Re- gulamento.

Nem elle podia ter taes informações, nem ninguém duvi- dou da sancção; mas como o empenho d'esta creatura era que houvesse barulho, porque assim o desejavam os Setembristas exaltados, em cujo grémio elle está, inventava temores para cohonestar o acto d'um edital como o do Porto.

Emfim, esse negocio concluiu-se; ainda ha de fazer muita bulha nas Camarás, porque a Opposição ha de, de certo, na discussão das medidas extraordinárias, fazer grande ruido e in- crepar-me. O Magalhães prepara-se para grandes tempestades; deixal-o e a todos os demais.

Estou ancioso por ter noticias de V. Kx.'', de data muito .moderna.

Ue V. Kx/ Am." Obrg.^

R. /•'. MãíTãlhães.

XLIV

Em 20 (de Fevereiro de 1841 })

111.'"° e Ex.«" Sr.

Duas palavras a correr, que o correio parte in continente, e não convém demoral-o por causa da maré.

Escrevo ao amigo Mendizabal sobre o negocio de que trata o meu officio de hontem, e rogo a V. Ex.* o faça interessar n'este importante assumpto. Mandei hontem duas cartas da senhora Marqueza, e creio que hoje não ha nenhuma.

De V. Ex.%

Am.° Obg.%

R. F. Magalhães.

XLV

Lisboa, 10 de Março, 1841.

111."^» Ex.'"" Sr.

N'este momento, isto é, ás to da manhã, recebo os officios c carta de V. Ex.'*, datados de 5 do corrente, e vejo que V. Ex.* conta deter-se n'essa Corte ainda até á abertura do Corpo Legislativo.

A incerteza em que as cartas de V. Ex.^ me tem posto, até agora, sobre este ponto, ha sido causa da minha falta de com- municações particulares pelos dois últimos correios : porquanto V. Ex.^ me ha escripto, devia eu concluir, ha mais de ib dias, que V. Ex.^ não receberia os meus officios n'essa capital. N'esta intelligencia, enviei pelo correio antecedente a carta re- credencial, ao sr. Lima, para que elle, no caso por mim havi- do por quasi certo, da sahida de V. Ex.*, a apresentasse, de- vidamente, com o fim de ser preenchida a formalidade perante esse Governo.

Segundo posso deprehender das phrases de V. Ex.^, tanto officiaes como particulares, o creio indisposto commigo. Não o estranho, porque ha muitos annos que estou no uso de dar de mim suspeitas a quem se compraz de suppôr-me menos leal, e menos sincero no trato familiar e official ; mas de tal não me accusa a consciência, e n'ella descanço.

7'

Não sei eu com que razão V. Ex.* acredita o que escrevem os )ornaes da Opposição, e os reputa instruidos nas particula- ridades ministeriaes que referem. Eu juro que tudo quanto el- les escrevem, a respeito das mudanças ministeriaes, é de in- venção d'elles.

V. Ex." queixa-se de falta de franqueza em mim, porque lhe não conto historias fabulosas ? Estou pasmado do que V. Ex.* pensa do meu comportamento. Não me lembrei de fazer demorar a V. Ex.* com o pretexto do arranjo das nossas con- tas; combinei com Lord Howard para achar um meio de sa- hirmos airosos de todas as nossas transacções com esse Go- verno, e nenhum nos pareceu mais plausivel.

V. Ex.* levou instrucções para fazer esse arranjo; nem sei que outras lhe poderia dar agora senão deixar á sua discre- ção compor vantajosamente a transacção.

A proposta que V. Ex.* me manda do sr. Caru deve ser pensada; não porque não seja vantajosa no estado em que todos nos vemos, mas sim porque não sei bem se está a sua acceitação nas aitribuições do Governo : darei a V. Ex.* conta disto no seguinte.

Não seja tão suspeitoso a meu respeito. Desejo sahir do in- ferno em que me vejo: não contríbue pouco o estylo das car- tas de V. Ex.'"', ha alguns correios, para pugmentar o meu em- penho ; e, assim, se cu suppozesse que a vinda de V. Ex.* ti- nha o effeito de me livrar dos meus cuidados, longe de oppôr- me a essa vinda, eu seria o primeiro a sollicital-a e a promo- vei a.

V. Ex.^ parece cançado do serviço publico, mais e mil ve- zes mais o estou cu ; nem acho nada que compense as atllic- ções, que padeço, e as injustiças dos homens.

V. Ex." receberá a ordem que lhe mandei para haver o seu pagamento: este tinha se suspendido pela razão da íé em que eu estava de que V. I^x.-' não tardaria a chegar aqui.

Tempo virá, e não distante, em que \. Kx.* se arrependa das injustiças que me faz em suas suspeitas ; mas isso não me obviará do desgosto que me punge.

Se V. Ex * puder ultimar o negocio do pagamento, bom será; eu lhe direi o que entender sobre isso. Ahi chegará a revocatoria; e depois ficará livre a V. Ex.* partir, desejando eu agora que se efíectue quanto antes.

Tenho a honra de ser De \ . Ex *,

Muito Att.° \'en.^-

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XLVI

Em 17 de Março (de 1841 ?) Pai-íicular

111.'"° e Ex.""" Sr.

Recebi a de V. Ex.* de 9 do corrente. Não me é possível deixar de francamente affirmar a V. Ex.* quanto sinto não lhe merecer o conceito de homem franco e verdadeiro, como creio que V. Ex.^ tem motivos de suppôr-me.

Declaro a V. Ex.% que não houve crise ministerial quando o Nacional o annunciou. Não se tratou de tal ; não havia nem a menor alteração no Gabinete, e V. Ex.^ entendeu que era verdade o que referia aquelle jornal, e que eu lh'o occultára, por não querer que V. Ex.* viesse ter parte em tal negocio ! Isto na verdade é ser pouco justo para commigo; e V. Ex.*, que sabe a boa vontade com que me embarquei n'este chaveco, não pôde deixar de conhecer que o favor de me tirarem d'aqui, devido a quem quer que seja, é para mim de agradecer. Deus quizesse que fosse V. Ex.* o órgão de tal serviço; porque ao menos dava me a certeza de que os negócios não passariam para mãos desorganisadoras; e, em todo o caso, o paiz ficaria commettido a homens de bem.

Muito sinto que o sr. Gamboa saisse da Administração. Tive sempre muito boa vontade a uma pessoa que, nas nossas pas- sadas transacções, mostrou excellentes intenções, e propenção formal para a paz.

Deus arrede d'esse paiz, como do nosso, o anjo extermi- nador de quem temos recebido algumas visitas, por mal de nossos peccados: a firmeza e distincto bom senso do Duque da Victoria nos valerão, segundo espero.

Em meu conceito elle, uma vez Regente, ainda quando te- nha dois companheiros, tomará na mão os destinos d'essa es- timável nação que, cheia de recursos, carece, para se des- envolver, de paz e de ordem.

Acabamos de passar por uma verdadeira crise. O bom Mi- randa não pôde, por falta de saúde, aguentar as fadigas do Mi- nistério da Fazenda: passou para a Marinha; entrou o Barão de Tojal; houve algum desgosto entre os nossos amigos; para preenchimento das Repartições foi nomeado o Moncorvo; creio que tão pouco foi agradável a nomeação: offereceu se, ao mesmo tempo, á discussão, a proposta do Governo para o ha- bilitar a contratar sobre rendimentos vencidos; estivemos a

ponto de a perder: contra a minha convicção ganhouse hon- tcm. Se se perdesse, cumprir-se-hia o meu desejo de sair d'este Ceo, e affirmo a V. Ex.* que os meus collegas sentem, como eu, vontade de atfastar-se da cama de rosas em que alguém por aqui nos suppõe lançados.

Homem seria um grande dia para mim se fosse derrotado, e bem claramente o deixei entender á Camará dos Deputados, sentindo que a Opposição chamada Cartista, em logar de se chamar pasítsta, nos derribasse. Nunca vi tanto pretendente ao Ministério: creio que a pátria excusa de desmaiar, porque quem a queira governar não falta. Ainda o Ministério não es- tava morto, e lhe dividiam a túnica !

Mas não succedeu assim; e nunca vi tanto rosto pallido, tanto beiço caido. Que misérias presenciei no dia de hontem ! Até Manuel António de Carvalho foi presenciar a derrota do Ministério que o fez Barão ainda ha poucos dias. Os Setem- bristas moviam-se nos corredores e tribunas da Camará em uma atmosphera de gloriai que recados! que parabéns! E fo- ram elles, ou antes o seu chefe, José Esievam, mui galucho em táctica de parlamentos, que mais concorreu para a perda da batalha.

Em quanto á proposta do sr. Caru, sabbado vae decidida, e conte V. Ex.* com acceitação delia. Oxalá o sr. Ferrer não lhe ponha dilHculdades.

Em fim, direi a V. Ex.^ que a idéa de encontros se não pôde admittir, em quanto ás lettras, porque temos muitas ou- tras sommas de credito sobre Hespanha, em que podemos fa- zer taes encontros, como também farei saber a V. Ex.*

Peço muitas visitas para o Conde, e o Ximenes será at- tendido, assim que chegar, se V. Ex.* não quer que seja an- tes. Como esperamos a V. Ex.* a cada momento, não julguei conveniente antecipar a vinda d'elle.

De V. Ex.* Am. e Cr." Obr."

U. F. Mcmalhães

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XLVII

Em 24 de Março de 1841.

111."'» c Ex."" Sr.

Recebi as duas de V. Ex.» de 16 e 19 do corrente, dei conhecimento a SS. MM. do seu conteúdo, que é interessante. Gausa-me grande cuidado a situação d'esse paiz, e muito an- cioso estou pelo resultado da questão da Regência. Os meus desejos, e os de todos os homens que podem avaliar as* cousas politicas, são que o Governo de Hespanha seja fortemente liberal, para poder manter as instituições e enfrear todos os facciosos : se estes chegam, um dia, a assoberbar o Governo, grandes calamidades devemos esperar.

Os Moderados n'esse reino mostram bem pouca modera- ção. Se os de Portugal tivessem seguido o mesmo caminho, a anarchia houvera triumphado. A questão entre nós sahiu das pessoas para as cousas, e nos temos visto em apuros, quando pessoas teem querido ser objecto de discussão.

Pelo que respeita ao que V. Ex." me refere, sobre o nosso Ministério, declaro a V. Ex.^ que de cada vez elle me causa mais dissabor elle digo o serviço publico. Demasiados esfor- ços tenho feito, animado pelos mais ardentes desejos de acer- tar, e com a mais sincera abnegação. Mas isto é perder tempo e trabalho.

Ha cousas que poderei dizer á vista; entretanto, de- claro a V. Ex.* que, quando ahi recebeu noticias de crises mi- nisteriaes, não as havia: uma veiu depois, inesperada e ines- peravel. Passou; mas deixou algum resultado que oxalá não por deante.

Addiaram-se as Gamaras, para se tratar de um arranjo possivel de Fazenda. V. Ex.^ verá como creamos uma Gom- missão que nos ajuda, e Deus queira que ella o possa fazer. Arripia-me o considerar como este ramo está, n'esse paiz, e receio muito que caiamos em tamanha desventura; por isso lançamos mão do meio proposto e adoptado hoje.

V. Ex.* faz justiça ao meu coração, e exaggera os meus ser- viços e habilidade. Declaro a V. Ex." que pouco tenho feito a favor da nossa pátria, porque não sei fazer mais; e que aqui mereço muito menos conceito, se é que mereço algum, do que o que V. Ex."* tem de mim. As recompensas são contínuos dissabores e maguas pungentes: quem poderá crer que se re- puta mérito o serviço, quando o galardão é este ?

Dizem que sou, de minha compleição, melancólico e descon- fiado; tudo pôde ser, mas não desconfio de V. Ex.*, porque lhe conheço sinceridade; queixei-me da sua injustiça, mas ja- mais lh'a farei de me escrever o contrario do que sente e pensa de mim.

Estamos em circumstancias de renovar as nossas relações com os nossos antigos alliados. Desejo obter para nós este bem: se o consigo, fico satisfeito, e me retiro com a consciên- cia tranquilla.

As decorações para o sr. Ferrer e para os cavalheiros que formam a lista dos agraciados, estão promptas ha dias. De- morei a remessa d'cllas: foi porque, esperando a V". Ex.*, en- tendi ser do seu agrado envial-as: deixeilhe uma occasião de obrigar aos seus amigos. Emquanto ao sr. Gamboa, realmente não acho motivo algum de demorar a noticia: pelo que res- peita á Duqueza, essa entendo bem que \'. Ex.* e o sr. Aston teem razão.

Não me chame V. Kx.* obstinado em recusar o favor e dis- tincção com que esse Governo quiz honrar me; nem foi em mim egoísmo, como disse o sr. Ferrer. Se V. Ex.* tivesse a bondade de informal-o de que fui um pobre Otlicial de Secre- taria; que não tenho bens de fortuna, nem poucos nem mui- tos; que gemo debaixo dos preconceitos mais estúpidos e mais ardilosos; que faria mal á navegação o levanlar-se que fora comprado o Ministro que o defendera; e, finalmente, que eu mesmo fingira as ameaças de uma guerra; não me accusaria esse Ministro nem de egoísta, nem de covarde.

Dé-me V. Ex.* muitas saudades ao Conde de Almoster e ao Ximenes.

De V. Fx.» Am.'^ Velho e Cr." Obg ".

o

A'. /•". MJiialhãcs.

XLVIII

Em 27 de Março de 1841.

Coiitidcncial. 111."" c Ex.' " Sr.

Chegou hontcm o sr. Aguílar, e hoje recebi d"elle uma carta mm cortcz, pcdindo-mc audiência que lhe darei ámanhS.

S. Magestade deseja recebel-o quanto antes; e me disse que, na segunda-feira, depois d'amanhã, o receberia, se a elle isso não incommodasse.

Estimarei muito que este diplomático se mostre animado de espirito conciliador, e não faça, como o secretario Soler, um coro continuado com os inimigos do Governo e da Rainha.

Longe estou de o suppôr de egual estofo; e ainda mais, creio que não haverá motivo algum que altere a melhor intel- ligencia entre os dois Governos; porque ella venha a existir en- tre o Ministro dos N. E. e o Ministro de Hespanha. O sr. Aguilar tem relações com antigos amigos meus e nossos; o que é menos garantia de paz e harmonia politica.

Foram as sessões das Cortes addiadas para 25 de maio. Muitas razões havia que aconselhavam este expediente; mas o principal foi a necessidade de olhar attentamente para o estado da Fazenda: desprezadas, como foram, algumas propostas de receita que o sr. Florido havia elaborado, com muita habili- dade, mas que foram imprudências inexequíveis. Falo, princi- palmente, dos foraes: era preciso isto, ou outra cousa.

Desde a sahida d'esse Ministro, mui digno e mui honrado, não temos sido felizes; porque o sr. Miranda (que ora se acha bem doente) não pôde com o trabalho, e muito menos com os combates da Gamara dos Deputados. Passado das aguas mor- nas do Senado para o tempestuoso mar da outra casa, aonde, por estratégia singular, as Opposições, que umas a outras se entre odeiam soberanamente, se ligam contra o Ministério, o nosso bom e honradíssimo collega viu-se em uma difficuldade com que não contava, e a que eu tenho resistido não sei por- quê, a não ser porque estou costumado a estes contratem- pos, e que me deixo ir á mercê dos vendavaes, rindo do que os outros choram, e desejando, no meu coração, uma catas- trophe que me ponha em disponibilidade, para que nunca mais se disponha de mim. Se não fossem considerações mais nobres do que o vulgo dos meus inimigos me suppõe, ha quantos me- zes estaria eu livre de angustias politicas, que matam a fogo lento?

Greouse uma Gommissão de Finanças, para formalisar tra- balhos no intervallo. Esta medida, que julguei sempre interes- sante e politica, também, por circumstancias inesperadas, nos incommodo e desgosto, que é preciso devorar, ou morrer na brecha. Vamos indo.

Estou ancioso de saber como ahi se solve a questão da Re- gência; e faço votos pela paz de Hespanha, e pela sua liber- dade, como pela de Portugal sem differença. Bem conheço

77

ca quanto a nossa sorte é uma e a mesma como a desse paiz.

Reconheço que V. Ex.^ me não quer mal: a consciência me diz que lh'o não mereço; mas não supponha V. Ex.* que uso de finura para dar más interpretações ás suas palavras. Se V. Ex.* cotejar algumas das suas estimáveis cartas com outras, achará que não erro no sentido e intelligencia.

A Grã Cruz do sr. Ferrer está prompta, e promptas as Commendas dos três cavalheiros apontados ahi em troca. Es- tão promptos os Diplomas do sr. Gamboa, e o da Duqueza da Victoria, que vi não poder servir, porque lhe faltam nomes e appellidos, que V. Ex.* logo me remetterá.

Não mandei os primeiros, isto é, a Grã-Cruz c as Com- mendas, por medo. Quasi todas as semanas se roubam cor- reios: tenho esperado um extraordinário; e não ouso envial-os por ordinário. O meu ultimo expediente é enviar a Cadiz, ao nosso Cônsul, que remetterá tudo a Madrid,

Isto tenho resolvido depois que soube que V. Ex.* se de- morava, porque a minha primeira idéa foi esperar que V. Ex.* chegasse, para dar lhe o gosto de fazer a remessa.

Adeus, que não posso mais. Deus sabe o que me resta ainda hoje para fazer.

Mil saudades ao Conde de Almoster e Ximenes.

De V. Ex.*

Am. e Cr.'^ Obg.",

R. Fonseca Magalhães.

XLIX

Em 3i de Março de 1^41.

111.'^^ e Ex.^° Sr.

Foi hoje recebido, solemnemenle, o sr. Aguilar. Sua Ma- gestade a Rainha estava muito rouca ; assim mesmo leu as pa- lavrinhas, em resposta á mui elegante allocucão do Ministro, com toda a energia. El-Rei falou depois com elle, e com a Le- gação que o acompanhava, e muito bem.

Emquanto a mim, deliciei tratal-o com distincção, posto que mal collocado n'e«5ta Repartição, não sei bem como havcr- me em tempos tão ditliccis.

F>' verdade que, tanto no Porto como aqui. o sr. Aguilar

78

tem sido buscado e festejado pelos mais furiosos movimentis- tas, que elle trata mil vezes bem; não sei o que ha n'isto, mas crerei que é pura urbanidade, porque me parece impossível que elle queira fazer causa commum com os inimigos do Go- verno, junto ao qual se acha acreditado.

E' verdade que me fez grandes elogios de Soler, o qual tem levado a sua insolência até ponto mui alto, chegando a di- zer que o sr. Campuzano, assim que entrasse no Ministério, daria a Gran Cruz de Carlos III ao porteiro da sua Secretaria, para mostrar como apreciava o presente que eu recusei.

Isto não são ballelas; são verdades reaes, E ao ver como o sr. Aguilar o trata de intimo amigo, não sei que dizer. Mas é verdade que pouco me importam estas cousas, que refiro para que V. Ex.* as saiba.

Estivemos a ponto de ter um desgosto. Adiaram-se as Ca- marás; nomeou-se uma Commissão de Fazenda; n'isto se ac- cordou com o Duque de Palmella; este desejou que entrasse o Conde da Taipa. A Rainha não gostou; os Ministros, me- nos eu, que não estava presente, cederam ; o Duque es- tava compromeitido com o excluso ; d'aqui seguiu-se teima ; o negocio demorou-se ; esta demora foi para o Ministério, para o Duque, e não sei se para mais alguém. Sobre esta quasi insignificante disputa, levantou a calumnia milhares de torpe- zas e de asneiras; emfim, acabou cedendo o Conde, e desobri- gando o Duque da promessa. Ahi está a Commissão installada e nos trabalhos. Deus a guie.

O Miranda está a morrer, o que me causa desgosto gran- de. Coitado! nos poucos dias que serviu, t^nto se maguou das cousas por que passamos que a sua constituição de bronze se quebrou. E' preciso ter o calo na paciência que eu tenho, e ainda assim estou estragado. Um negocio tenho entre n?wos, findo o qual ninguém me demora nem um dia no Ministério ; ainda desejo viver até ver meu filho em caminho de poder vi- ver também.

Tomara saber terminado esse negocio da Regência. Aqui tem vindo do Algarve noticias de revoluções republicanas em Hespanha, isto é, Cadiz e Sevilha. Não creio muito na exacti- dão do facto. Adeus : mil saudades ao Conde de Almoster e Ximenes.

De V. Ex.', Am." e Cr.° ODg/'

R. Fonseca Magalhães.

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Em 7 de Abril, 1841.

111.""' e Ex.»° Sr.

Falleceu o nosso infeliz amigo Miranda, no dia de antes de hontem, e homem se deu á sepultura. Tive pena. O seu fado o trouxe ao Ministério em tempo tão difficil. Não lhe foi pos- sível solVrer, de animo sereno, os contratempos parlamentares. O seu coração não estava como o meu, insensível, ou an- tes calejado, aos golpes da calumnia e da mordacidade. Bem lhe dizia eu que não se atíastasse do caminho que me via se- guir; mas como homem bom e innocente, parecia lhe impos- sível que houvesse de tolerar se, de animo sereno, o que eu tolerava.

Vejo que as cousas vão ahi mal-, mas não perco ainda a esperança nos homens de bom conselho de que esse paiz abun- da. Ainda não pude decifrar o officio reservado de V. Ex.'; porque recebi as cartas tarde. Levei-as ao Paço; vim de ás 4 horas e meia; e por isso sabbado responderei.

Também sabbado mandarei alguma cousa ao bom Xime- nes. Não posso mais.

Peço a V. Ex.* todo o esforço para o acabamento do ne- gocio dos 5 milhões de reales.

Veja V. Ex.^ se podemos terminar isso, e pôr a questão fora da acção do Governo, assegurando a satisfação da somma, embora seja mais tardia.

De V. Ex.^ Am." e Cr." Obg."

Rodrigo da Fonseca M.igalhães.

LI

Em 10 de Abnl de 1841.

111.'=" e K.\."'* Sr.

Ja tenho a cana Regia da Grã-Cruz do sr. Gamboa, a quem dou os parabéns.

O nosso amigo Mendizabal crè que elle não acceitara. Ni"o serei eu quem intervenha nos escrúpulos de homem tão respe;-

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tavel e digno: se não julgar a propósito receber esta distincçao da Rainha de Portugal, ao menos estou certo que não recusará grosseiramente, sabendo bem que, por puro sentimento de benevolenca, foi S. M. movida a confenr-lhe tamanha dis- tincçao.

Recebi o officio de V. Ex.* de 2 do corrente e a carta par- ticular da mesma data. Bem vejo o estado das cousas n'esse paiz, que V. Ex.^ tão séria quanto judiciosamente avalia. Faço votos ao Céo para que a paz não seia alterada, e para que essa nação reconheça quanto deve ao Duque da Victoria, que une á fortuna de um militar famoso, o mais decidido amor á Liberdade. De de longe, mal posso eu conjecturar, com acerto, dos homens e das cousas; mas afigura-se-me que elle só— o general mais garantias á Hespanha liberal do que todas as suas juntas e congressos governativos, que a cegueira dos partidos prefere ao regimen de um homem forte. Infeliz- mente as gentes, á força de desconfianças dos que adminis- tram, enfraquecem as suas attribuições crendo que lhes tiram os meios de abusar-, e, quando mal se descuidam, constituem um governo débil, ludibriado, e incapaz de nada bom.

No correio seguinte mandarei ao Ximenes uma ajuda de custo. Coitado! muito deseio ser-lhe útil. E' moço fiel como a sua espada, e merece muita contemplação.

Emquanto ao Conde de Almoster, V. Ex.* sabe que por elle tenho muita parcialidade.

Falleceu o Barão da Ribeira de uma repetição de apople- xia, em 7 do corrente, estando em Villa Real, creio eu. Não posso acompanhar alguns amigos nossos na alegria que mos- tram por este acontecimento. Não fui amigo d'elle em politica, nem inimigo como homem.

Administrou com limpeza de mãos e intelligencia. No Se- nado combatemos; porém, a sua opposição, posto que violenta, nunca chegou a offensiva ; e alguma occasião me deu de, não digo brilhar, porque os seus talentos eram superiores aos meus poucos, porém sim de justificar-me.

Quando vejo desapparecerem os nossos contemporâneos, amigos ou não inimigos, olho para a meta da minha carreira, que diviso de bem perto: esta consideração não me move a riso de alegria.

Creio que serei feliz em concluir o tratado com Inglaterra, para o que vale muito alguma opinião de sinceridade e boa que mereço a Lord Howard, e que realmente mereço; porque nas minhas transacções não posso, nem quero, deixar de ser verdadeiro. Ha muito estou persuadido de que finuras c sub-

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tilezas, são moeda sem valia razão, justiça e verdade podem mais que tudo.

Vamos trabalhando em organisar a Fazenda; e, pelo que toca aos fundos e divida de Inglaterra, não está o negocio mal afigurado.

Adeus. Creia V. Ex." que sou

De V. Ex.* Am e Cr." Obg.%

/^. F. Magalhães.

LII

Lisboa, em 17 de Abril, de 1841

III.'"^ e Ex.""' Sr.

Não recebi carta de V. Ex.* no correio passado, nem sou- be o motivo d'esta falta; mas ella me deu cuidado, porque re- ceei que algum motivo de moléstia fosse parte para eu ficar privado das suas lettras. Por um otVicio que tive do sr. Lima, e uma carta do sr. Leal, alguma cousa me constou do estado d'essa Corte relativarrente á questão da Regência.

A estas horas considero essa questão terminada: oxalá que o resultado seja qual convém a esse paiz. Não sei pronunciar- me entre unos e trenos: esta distincção, explicada em termos mysteriosos, parece-me de difficil escolha; e o que posso con- ceber d'ella é que ahi, como aqui, nada importa aos partidos o bem publico, e que patriotismo é a palavra mais profanada de quantos se usam nos dois idiomas, que parecem um.

A dizer a \ . Ex.'^ a verdade, não fiquei satisfeito de ver a ^^ Ex.' enredado na mediação entre uns e outros partidistas. Entendo que a grande consideração que é devida á pessoa de V. Ex.*, faz com que ambos o chamem; porém cu gosto de reduzir as cousas a idéa simples. Se V. Ex.* pender para uns, pode desgostar os contrários: ganhará (politicamente), alguns amigos, que nunca o serão muno, e levantará alguns, ou mui- tos, inimigos, que sempre seivtm para fazer mal. Nada d'isto significa censura; porque considero que nem V. Ex.* poderia eximir-se de entrar n'essas transacções, nem o chamamento a ellas foi senão efleito da estima que ha por V. Ex.*; mas, em todo o caso, parece-me que será bom que V. Ex.* possa evi-

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tar esse compromettimento. Esta mesma é a opinião de Suas Magestades, a quem tive a honra de lêr o officio de V. Ex/, como leio todos os que recebo.

Vi o artigo do Eco, relativamente ao nosso tratado com Inglaterra. Esse o considero eu escripto ahi mesmo, e conhe- ço que é dictado por aquelle espirito de união que tanto cui- dado me tem dado. Peço a V. Ex.* o favor de communicar- me que effeito produziria no Governo Hespanhol. V. Ex.* observará que a pretenção de dominar a nossa politica, e até de influir em nossas relações commerciaes, a ponto de nos col- locar debaixo dos mesmos regulamentos e prohibições, é muito singular. Será isso escripto sem referencia a cousas menos publicas ?

O tratado com Inglaterra, digo o de commercio, tem sido assumpto de muitos trabalhos meus. Deus permitta que eu o possa concluir em breve.

Pelo que respeita ao Ximenes, estando com a penna na mão para passar a ordem, observei que V. Ex.*, terminada a questão da Regência, se pÕe a caminho. A sua falta de carta no correio passado indica-me a próxima pardda de V. Ex.* c d'elle para Lisboa. Gomo, pois, mandar ordem á Agencia Fi- nanceira ? Será melhor dar-lhe aqui ao Ximenes a somma que eu, em outro caso, lhe remetteria. Eis aqui o motivo da falta.

Não foi a Grã Cruz para o sr. Gamboa, porque não apromptaram o esmalte a tempo; e no paquete seguinte irá a de Santa Izabel para a Duqueza, e a sobredita da Or- dem de Christo.

Não posso mais; acabo protestando que sou

De V. Ex.** Am.° Obg.

mo

R. F. Magalhães. Muitas saudades ao Conde de Almoster.

LIII

Em 21 de Abril (de 1841?)

111.'"° c Ex.""" Sr.

Recebi hoje a de V. Ex.^ de 16, á qual não me é possivel, n'este momento, responder, porque é noute e noute de zan^a para mim, porque tenho que jantar e estou doente de trabalho

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e alllicções, que não faltam. Vejo esses negócios em situa- ção, e isto redobra as minhas angustias, c estou ancioso por ver o fim d'essas questões desgraçadas. Ha uma verdade no meio de tudo o que acontece, e vem a ser que d'ahi se intri- ga para esta capital, e a idéa da juncção não sahe da cabeça dos mesmos homens que se fizeram bota-fo^os d'essa preten- ção. (>onsta que a personagem chegada ha pouco não deixa de caminhar nessa direcção. Adeus; que não tenho um minuto para mais.

De V. Ex.^» Am." Obrg."

R. F. Magalhães.

P. .S. Guardarei a sua carta para ser copiada. Saudades ao Conde de Almoster.

LIV

E!m 24 de Abril, 1841.

111."° e Ex.'"^ Sr.

Nada ha hoje que possa communicar a \. Ex.^. A Ilainha está restabelecida de um forte ataque de garganta que teve. Progridem os trabalhos da Commissão de Fazenda, e creio que d'e.la tiraremos fructo; ao menos tudo quanto se pôde fazer se faz para alliviar o Thesouro, c chegarmos a circums- lancias de pagar em dia aos funccionarios e credores do Es- tado.

Deus nos socego por essa parte da Península. Subsis- tem os meus cuidados a respeito da Regência. Como tenho, no Duque da Victoria. fundadas as minhas esperanças a bem da sua pátria, quizera eu que, ou i/ua ou ífitia, a Regência fosse formada com bom accordo d'clle.

Mandei a Cruz de (iamboa e a Banda de Santa Izabel: não sei ainda com quem trocar esta banda; porque S. M. ain- da me não disse qual era a pessoa que queria nomear: disse me que mo dizia brevemente para eu o fazer saber a V. Ex.*

Aqui continua o ministro d'essa Potencia a ser visitado pelos mais encarniçados dos nossos inimigos. Elle é bom ho- mem, segundo creio; mas realmente o considero fascinado pc los nossos falsos Libcraes. Antes que \ . Ex.^ saia dessa (^ôr-

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te, espero que receba as insígnias de que faço menção e que obre de modo que haja c.ontentamento na sua recepção.

Tenha V. Ex.* quantas felicidades lhe deseja o de V. Ex.*

Am." e Cr." Ofarg."""

R. F. Magalhães.

P. S.— Muito desejo que possamos fazer alguma cousa so- bre as nossas contas. V. Ex.* ainda me não disse o que seria possivel arranjar-se.

LV

Lisboa, 28 de Abril de 1841.

111.'"° e Ex."^» Sr.

Recebi hoje, e tarde, a carta e oôicio de V. Ex.* de 23 do corrente. A Sua Magestade fiz presente o conteúdo, mui interessante, de um e outro documento, que mostram o estado inquieto e incerto d'esse paiz. Tenho ainda esperanças de que a Divina Providencia não abandonará mais uma vez essa Na- ção ao açoute da Anarchia; e que o braço do Duque da Victo- ria, auxiliado pelos amigos que tem, obstará a que se reali- ze o mal que temo tanto.

A minha carta de 17 foi dictada pela amizade que consa- gro a V. Ex.% e pelos desejos que tenho de que V. Ex.* saia de quaesquer transacções livre de compromettimento que, de ordinário, são a recompensa de intervenções officiosas, ainda dirigidas pelas mais rectas e puras intenções. Felizmente y. Ex.* me assegura contra a aprehensão que me dominava, dando-me a certeza de que nada havia de que pudesse quei- xar-se. A amizade que V. Ex.*, por suas altas qualidades, ge- ralmente merece, e o respeito que lhe tributam todas as pes- soas de consideração, pode servir de muito; mas não é escu- do impenetrável aos tiros da mordacidade.

O que li ro v< da Constitucion que V. Ex.* me enviou, con- forma-se, perfeitamente, com a opinião que tenho tido e ainda tenho sobre a questão da votação, e não sei como possa dis- correr-se por outros principios; mas é certo que a lógica dos partidos tem suas regras particulares, que não são as por que se aprende, nem as que se observam.

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O Barão de Moncorvo não acceiíou a pasta dos Negócios Estrangeiros, torna por conseguinte a questão do complemen- to ministerial. Não sei o que será d'este novo balanço: cha- mou-se o Sr. Florido para me substituir no Reino, elle não quer: não sei quem ha de occupar o Ministério da Marinha; e o meu cançaço é tamanho, que ainda duvido muito de poder por mais tempo supportar horríveis fadigas de animo e de coração que me tem attenuado as forças çie todo, e adianta- do consideravelmente os dias d'esta mesquinha vida vida agitada, escrava, desacreditada e pobre, e miserável.

As instancias de S. M. c de El-Rei, me tem sustido n'este posto de perigo e desgosto, mas não de proveito. Dizem que é de honra; eu o creio; mas de descrédito é também; e de certo ha de ser difíicil fizer casar uma cousa com a outra.

Não posso hoje responder ao postscriptum sobre o Miguel, fal-ohei no seguinte. Digo que não posso; porque mnguem es- tá já na Secretaria que me informações em quanto ao que me é possivel adjudicar.

Nós ainda aqui não estamos até ás 2 da manhã; mas nun- ca me retiro menos de noute fechada. Talvez ahi durmam de dia.

Creio que será a Duqueza da Terceira a Dama que rece- berá, em troca, a Banda de Santa Izabel; mas não o posso ainda dizer positivamente.

Vae esse memorandum, cuja letra V. Ex.^ conhece, é do bom e honrado Serpa. Se fosse possivel obter, para elle e para o outro otliciaU as commendas, pelos motivos expostos, que são mui verdadeiros, seria para mim summo o prazer. Creio que V. Ex.* conseguirá isto com a sua bizarria do cos- tume.

Peço saudades para o Ximencs, e um abraço ao Conde de Almoster.

De V. Ex.» Am.° e Cr." Obg."""

R. /•". MaíTjlhães.

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LVI

Em I de Maio (de 1841 ?j

111.'"^ c Ex.'"» Sr.

A' pressa, cheio de fome e de trabalho, accuso a recepção da de V. Ex.*, de 23, e muito agradeço a V. Ex.* a intorma- ção do verdadeiro estado de cousas d'esse paiz. SS. MM. tam- bém estimaram muito a dita informação, mui judiciosa e viva- mente escripta.

De cada vez ando mais cuidadoso d'esse negocio, e Deus sabe quantas horas de somno elle me rouba.

Devo prevenir a V. Ex.* de que será agradável a S. M. a Rainha que a banda que a Regência enviar, em troca da que S. M. concedeu á Duqueza da Victoria, seja dada á Duqueza da Terceira; e ao Conde do Bomfim a Grão Cruz que se derem troca da que S. M. enviou ao sr. Gamboa.

V. Ex.* terá, pois, a bondade de fazer saber que esta é a vontade da Rainha, para que assim se faça, segundo é d'estylo.

Estamos com uma questão de preenchimento de Ministério, que a mim me tem dado algurn cuidado. Occorreu a ideia de fazer entrar o sr. Florido no Ministério do Reino; mas isto tem offerecido difficuldades.

Não sei o que succederá, porque acho muita opposição.

No correio seguinte serei mais extenso : é forçoso fechar

esta )a, ja.

De V. Ex/

Am.*^ Obg."^°,

R. F. Magalhães.

LVII

Lisboa, cm 5 de Maio de 1841, '^Particularissimo.

111."'" e Ex."'° Sr.

Recebi hoje a de V. Ex.* de 3o do passado, cujo interes- sante conteúdo puz logo na presença de S. Magestade. Vejo, se me não erra o juizo, que haverá triumpho a Regência única na pessoa do Duque da Victoria.

Isto, individualmente, o estimo em muito, e, como homem publico e politico, também entendo ser de grande conveniên- cia para esse paiz, em cuja prosperidade e boa ordem, muito me interesso, e muito se interessa o nosso.

Não sabia eu, até hoje, que o amigo Mendizabal pertencia á pequena fracção dos quintos, na Regência ; e parece-me im- possivel que elle não conceba o absurdo da instituição assim organisada. Nem um Regente e quatro Conselheiros julgo admissivel, quanto mais cinco mandões! Na verdade a paixão politica é a mais cega das paixões-, o amor fica a perder de vista; e creio que isto succede, porque a politica se forma e encor- porá de muitas outras e todas violentas.

Seja o que fôr; tomara eu que passasse essa crise, e que víssemos claro no futuro próximo.

Bem considero quanto V. Ex.* tem andado prudente t pre- visor em muitas cousas ; nem é necessário que V. Ex.* m'o faça notar.

Aqui vou bem com o sr. Aguilar, que é excellente pessoa; mas achoo um tanto desconfiado, o que provém das más vi- sitas que recebe, Manuel de Castro e outros do mesmo jaez o buscam, e frequentam: elle se deixa levar pelos seus cânti- cos, e os crê os verdadeiros Liberaes. Veja V. Ex."* Manuel de Castro alii>tado entre os Liberaes! Por este motivo sei eu que o sr. Aguilar suppõe que não amamos a nova ordem de cousas d'esse paiz, e que, de bom grado veríamos um retro- cesso ás cousas antecedentes, no que muito se engana; porque nos não podemos crer que deixasse de ser fatal esse retrocesso, por isso mesmo que d'elle não podia deixar de surgir um mon- tão de desordens e reacções infernaes.

O que me parece, é que este senhor mira um pouco á po- pularidade das turbas, que eu creio falsa em toda a parte, e que, em todos os tempos, a foi!

Soler disse, ha poucos dias, que por princípios era elle re- rolucionario!

Hontem houve no Paço um jantar diplomático. O dito So- ler ali foi, e El Rei lhe falou com agrado, posto que sabe (não por mim) os maus oííicios que o dito Soler faz á sua própria pessoa. Mas ElRei é um Príncipe generoso, e de animo eleva- díssimo.

Consta-me que, em Badajoz, entrou ultimamente cousa de uma força de dois batalhões de mil praças cada um. E' certo que em Olivença, e terras próximas, ha bastante tempo, foi sempre uso dizerem os Ministros Hespanhoes isto, quando taes movimentos tinham logar; mas este nada me disse. Terei com

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elle uma conferencia amanhã sobre medidas de policia, e a res- peito dos scismaticos; e talvez lhe toque n'este ponto.

Da nossa parte continuaremos a proceder com franqueza e lealdade; e se alguém faltar a ella não será o Governo Portu- guez.

Recebi, ou mandado por V. Ex.* ou pelo sr. Lima, entre outros folhetos um intitulado Reseíía dos actos do Ministério do sr. Ferrer, em que se nos faz uma injuria bem mal mere- cida. Peço a V. Ex.* que veja a pag. 7 do dito folheto, a ma- neira por que se relata e termina o epitome das transacções com Portugal sobre a navegação do Douro.

Na verdade o sr. Ferrer a entender que, obrigados pela força, lhe abrimos as portas do Douro; o que, na verdade, é injustiça que Portugal não merecia, porque assim não aconte- ceu. Não fazia eu tenção, nem sequer de levar ás Cortes rela- tório sobre esta transacção, em que, da nossa parte não vejo,, ao menos durante o Ministério de 26 de Novembro, passo al- gum que mereça a censura de fé. Não fazia tal tenção, para não tocar, ape\ar de todos os desejos de guardar as con- veniências^ em algum ponto de que pudesse sentir-se o Go- verno de Hespanha; mas depois do desabrimento do sr. Fer- rer, não tenho remédio senão enumerar os factos e citar os documentos, sem introduzir reflexão nem opinião alguma a res- peito d'elles.

Sobre este assumpto não estou resolvido a tocar ao sr. Agui- lar. V. Ex.* terá a bondade de dizer me, sobre elle, o que lhe parecer; porque eu nem a S. M. ainda fiz menção do folheto, envergonhado de ver contradicto, por meia dúzia de linhas, tudo quanto eu havia affirmado da boa com que éramos tra- tados.

Ao pobre Ximenes mandarei 2oO':t^ooo réis; não me é pos- sível mais; pôde ser que á sua chegada aqui mais se possa fazer.

Peço a V. Ex.* o favor de me recommendar ao Conde de Almoster.

De V. Ex.» Am.° e Cr.° Obr."'»

/?. F. Magalhães

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LVIIl

Em 8 de Maio (1841 ?)

111.'"» e Ex."»» Sr.

Estamos anciosos pelo resultado da nomeação da Regência o que nos acerbo cuidado.

De In^Jaterra veiu noticia de uma crise ministerial, o que muito me afflige.

Mudanças são, por via de regra, sempre más; e o provér- bio do após de mim virá quem me vingará quasi sempre se verifica.

Temos, estes dias, tido horrível trabalho com o pagamento dos dividendos. O negocio das reclamações foi um raio que desceu sobre nós, c não yei como curaremos a ferida que nos deixou.

SS. MM., também, anciosamente desejam ter noticia do desenlace da questão da Regência. Oxalá que d'ahi nos não venha mais que sentir. Desejo eu, mais que todos, saber que juizo V, Ex.* faz da resenha do sr. Ferrer. De cada vez estou mais duvidoso da encarecida boa que me protestam. Os fa- ctos contrariam sempre as palavras.

Mal para nós todos se a mudança do Ministério em Ingla- terra tem logar para os retrógrados.

Acceite V. Ex.'^ muitas saudades minhas para o Conde de Almoster.

DeV. Ex.* Am.° Obg.'""

R. F. Magalhães.

LIX

Em 12 de Maio de 1841.

111.""^ e Ex.™" Sr.

Recebi hoje, e levei á Presença de SS. MM., as duas car- tas de V. Ex.* de 7 e 8 do corrente. A noticia da nomeação da Regência do Duque da Victoria, foi muito agradável a SS. MM., porque é este facto uma garantia de ordem, não pa- ra Hespanha. mas também para este paiz, que muito ganha

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com o restabelecimento de um governo forte e enérgico, que mantenha a Liberdade com ordem, e defenda as pessoas e propriedades.

Assim veremos surgir a fortuna publica, que parece que liicta com as difficuldades que se oppõem ao seu desenvolvi- mento ; e, apesar d'ellas, faz progressos em um e outro paiz.

Se V. Ex.* entendesse que não era desconveniente, nem impróprio da sua elevada missão, muito estimaria eu que V. Ex.*, da minha parte, fizesse saber ao Duque da Victoria que me causa immenso regosijo a sua nomeação para Pegente único. E', no meu conceito, esta nomeação um triumpho dos bons principios governativos da Monarchia Constitucional de Hespanha.

Achei mui curioso quanto V. Ex/ refere na sua de 7, a respeito da applicaçao do provérbio ralham as comadres, etc.j e vejo que de outro provérbio posso usar, sem erro de applicaçao, e más fadas ha . Aqui, também, todas as questões se reduzem a personalidades odiosas, d'onde pro- vêem, em grande parte, os males que padecemos. O meu sys- tema tem sido aqui alcunhado de pastellarta\ mas é certo que o contrario, o das exclusões, é sobre todos péssimo.

Deus queira que os homens de que agora vae ser forma- da a nova Administração do Duque da Victoria, sejam seus amigos verdadeiros, generosos como elle e assas políticos para quererem e poderem, seguindo o seu exemplo, e lançando o passado á conta de licções para o futuro, abstrahir de pessoas c assentar que morreram todos os homens que foram de idéas oppostas ; e que a gente Hespanhola nasceu toda depois da Revolução de Setembro.

Bem sabe V. Ex.* que não é por fazer-me padre-mestre que assim escrevo. Não conheço hoje outros partidos senão o da ordem e o da desordem: desejo prestar a este os caudilhos que o dirigem, e engrossar o numero dos bons com deserções dos arrependidos, de crédulos, de fascinados que se desenga- naram.

Para isto é precisa muita e muita paciência, e ter a cons- tância de desprezar os furores de partido, de que tenho sido e ainda estou sendo victima.

Estimarei muito que V. Ex.*, ao despedir- se d'esses senho- res, os deixe a todos impressionados da ideia da sua franque- za e lealdade; e elles se persuadam que o Governo de S. M. falou pela bocca de V. Ex.*, e V, Ex.^ procedeu segundo o espirito, e, para assim dizer, o coração do Governo.

Os nossos homens do progresso sentiram hoje grande aba-

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lo desagradável, pelo iriumpho que o Duque da Victoria al- cançou na ifrande questão. Hão de escrever o contrario, por certo, porque aqui, como ahi, a moralidade e a coherencia não são as virtudes da Opposição. Mas, saiba V. Ex.*, que é ver- dade quanto lhe escrevo; e que, por isso mesmo que sou ho- mem irio para as paixões, raro será que, cm meus juizos, eu faça injustiça aos individuos de quem me occupo em minhas correspondências.

Não sei se esta ainda alcançará a V. Ex.* n'essa Corte; deseiarei que sim. Muitas saudades ao Conde de Almoster e ao Ximenes.

De V. Ex.* Am." e Cr.» Obg.°

JR. F. Magalhães

Km i5 de Maio de 1S41. Particular.

111."^° e Ex.'^° Sr.

Estou doentissimo, de uma constipação e violente dôr de dentes, e com ella mal posso ver o que escrevo a V. Ex.* que, cmfim, se reduz a esperar receber, amanhã, novas da partida de V. Ex.* d'essa capital, e da nomeação do Ministério do Regente. Aqui, os chamados homens do movimento e progresso, arderam com tal nomeação, como a do Duque da Victoria. \'cem n'elle uma garantia de ordem, que os aillige ; e am- bicionam o estado de perfectibilidade que se deriva de elemen- tos de divisão e de reacção.

Agora appellam esses homens assim o declararam em seus conselhos, para uma manifestação popular contra o Duque; para uma defecoão de grande parte do exercito; e, fi- milmcnle, para os dias ditosos de extermínio da Monarchia. Não posso ilizer ao certo que sejam desprezadas estas insi- nuações; a gcnt(t moça não pensa como a gente velha; e é mais facil \'cr veliios rapazes do que mancebos anciãos. Com- tudo, não me parece que estas doutrinas façam, entre nós. ta- manho numero de satélites aue possam compromelter o Es- tado.

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De Inglaterra tivemos hoje noticias pouco agradáveis; porque se dá, como infallivel, a caída do Ministério e a en- trada de Mr. Peei. Em nossas actuaes circumstancias, nada d'isto me agrada; porque iamos agora tomando algum cami- nho de intelligencia, que deveria ter menos mau resultado. Seja o que a Providencia quizer determinar. O que eu quizera é que as nossas relações com esse paiz fossem, da parte da Hespanha, cultivadas de boa fé; o que ainda não ouso acredi- tar, sem embargo de que o nosso procedimento é, sobretudo, franco e leal, qual se poderia desejar em quaesquer transac- ções da vida. Que assim não succede da parte da Hespanha, entre outros factos, o prova a continuação de Soler aqui, tendo toda a confiança do Ministério, apezar de ser, por elle mesmo, apregoado que é revolucionário por princípios l !

A falar a verdade, desejo ver a V. Ex.* antes de apresen- tar em Cortes o meu Relatório do negocio do Douro, que le- varei ás mesmas Cortes que o Sr. Ferrer teve a bem insul- tar-nos tanto n'aquelle que publicou, e de que os inimigos do Governo tiraram argumentos. Se a boa se mostra como esse Ministro a manifesta, declaro que a regeito.

Não posso mais, creia V. Ex.* na sinceridade e verdade com que sou

De V. Ex.* Am.» Att.° V." e Obg."

R. Fonseca Magalhães

LXI

Secretaria d'Estado dos Negócios Estrangeiros, em 19 de Maio de 1841.

111.°'" e Ex."'" Sr. Particular.

Hoje recebi a de V. Ex.*, datada de 14 do corrente. Não a fiz ver por SS. MM., porque não estão na capital: foram vi- sitar o estabelecimento que o barão do To)al tem na quinta da Abelheira, de uma excellente tabrica de papel. SS. MM. lhe annunciaram este desejo ; e, para tornar a ida mais alegre, o Barão convidou o Corpo Diplomático, e muitas damas e se- nhoras que estão, a estas horas, que são quasi cinco da tar- de. Lá para as 7 ou 8 da noute a bella companhia estará dis-

tribuida pelas casas que possue em Lisboa. Foram os Minis- tros, menos eu, que representei a Sua Magestade ser útil pri- var-me da honra que receberam os demais, para que Lisboa não ficasse sem um Ministro ao menos. Graças a Deus, não seria necessário, nem é, mas sempre tive que fazer, e cousa que máu íóra se não se fizesse hoje mesmo.

Vejo quão de perto V. Kx." acompanha os successos n'essa capital, e quão úteis me são as noticias que dos movi- mentos ministeriaes e governativos V. Ex.* me dá. Se eu pos- so estimar bem deveras quaesquer noticias, são as d'essa e de Londres, as que me levam toda a attenção. Desejo saber quaes são as opiniões do Sr. Olosaga, não direi em politica, essas conheço eu, e sei, ou antes presumo, que, no Governo, as modificará como sempre theorias se modificam na sua ap- plicação. Refirome a nós. Importa saber se eile participa desse frenesi dominador que se apoderou de todos os meios intellectuaes do Sr. Ferrer que, em seu Relatório, tão pouca honra faz á verdade com allusão á nossa desintelligencia pas- sada; que continua em todos os actos, e pelos modos que pô- de, a demonstrar a sua vontade, apezar dos decantados protestos de pureza de sentimentos e innocencia de pretenções.

Com V. Fx.* estava eu conforme sobre o caracter do Du- que da Victoria que de certo não participa das opiniões dos homens que fazem consistir o mérito e o talento em disfar- çar a verdade, e que crêem que se governa bem quando se engana.

Para dizer a V. Ex.'^ a verdade, não estou prevenido con- tra o Sr. Olosaga, que, em seus discursos, me ha parecido tranco adversário, e constante em suas opiniões, falando pou- co de si, e não avançando proposições sem factos: veremos o que elle fará como Ministro.

Aqui dizem os políticos do movimento a quem soberana- mente desagrada a Regência única de Hespanha, que não lhe são tão oppostas como fazem crer; porque sabem, com certe- za, que esta Regência desgosta ao Gabinete Inglez, emquanto é muito do agrado de França; e como o seu ódio á Inglaterra seja a sua paixão mais forte, dizem folgar por uma occorren- cia que pôde ter em resultado o maior intiuxo do Gabinete Francez, e o perdimento do ascenden^^e de S. James II Eis aqui como andam acertados os nossos coripheus em politica, c o que cUes são, neste ponto, força é convir que são em to- dos os demais.

tlstimo muito saber que o Sr. Fcrrcr estimou ornar-se com a (irãoCruz de Chrisio Portugueza; sempre eu entendi

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que a minha resolução de não receber a de Hespanha estava longe de produzir a sua repulsão á honra que S. M. fez a esse Ministro.

A minha situação, a minha obscuridade e pobreza, e o de- sejo de evitar accusaçÕes, que não faltariam, e com algum plausível pretexto, fez que eu procedesse como procedi; e pa- ra não parecer que obrei de puro despeito para com Hespa- nha, obrei do mesmo modo para com a Bélgica, obstando a que o nosso Ministro accedesse á acceitação de egual honra para mim, e com o Brasil, apezar de todas quantas diligen- cias se fizeram para eu acceitar a Grão-Cruz do Cruzeiro. Peço a V. Ex.* que, se ha algum rancor ainda existente contra mim pelo facto a que alludo, V. Ex.* procure fazer com que se aca- be, referindo qual foi meu modo de proceder, a respeito de objecto similhante, com Governos que jamais tiveram ques- tões comnosco, e que, pelo contrario, manteem com Portugal a mais perfeita intelligencia.

Espero ancioso a nomeação do Ministério de Hespanha e do de Inglaterra, que me penosíssimo cuidado.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.* Am.'' e Cr." Ob.''

R. Fonseca Magalhães.

LXII

Lisboa, em 22 de Maio de 1841.

111.°"^ e Ex.""^ Sr. Reset^pado.

Não sei se esta encontrará ainda a V. Ex.^ em Madrid. Es- timarei que não, porque seria muito agradável para mim po- der combinar com V. Ex.'' o meu Relatório sobre a navegação do Douro. Este eterno objecto de desgostos, não cessa de can- çar-nos ; e o sr. Aguilar, que não desiste de escutar pessoas que nos são adversas, creio eu quererá sempre ter uma espé- cie de ponlo de apoio para polemicas desagradáveis. Ha as- sumptos que o não podem ser de escripta, nas circumstancias em que estamos, e ficam para a vista \ mas bom é que V. Ex."\ se ainda abrir esta em Madrid, saiba que se não desiste de

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formar defecção entre os verdadeiros amigos da Independên- cia Nacional, e que até se disse que, se nós acabássemos a questão com Roma, chamaríamos contra nós a animadversão de Hespanha, mais, e que, em tal caso, se promoveria aqui reacção. Se isto é dito sem auctorisação; se isto é encom- mendado, não o sei eu; mas sei que o facto é verdadeiro.

Espero amanhã carta de V. Ex.*; porque, na sua de 14, não sei se possa entender annuncio da proximidade da sua vinda. Se, pela seguinte, eu vir que V. Ex.* se demora, escre verei, cautelosam.ente, sobre um assumpto importante, que, até hoje, não tenho querido confiar ao papel.

Meu querido Marquez; é torça que escreva uma verdade. V. Ex *, bem como eu, tem motivos de conhecer que ha jul- gado de alguns homens demasiado bem. Adeus.

De V. Ex.*

Am.° Verdad." e Cr.'^ Obrg.™",

R. Fonseca Magalhães.

LXIII Em 26 de Maio de i>4i.

111.™' e Ex."'" Sr.

Tenho presente a estimadíssima de V. Ex.*, datada de 21, recebida esta manhã. \'ejo que, finalmente, se acabou a crise ministerial com a acceitação dos membros da nova Adminis- tração, a quem Deus ajude a levar por deante a obra da or- ganisação d'esse bello paiz. Grandes esperanças tenho na pru- dência do Regente, e nos escolhidos Ministros que entram na gerência dos Negócios ; e é um facto que ainda hoje não dei- xarei de repetir a V. Ex."*, que os nossos homens do progresso toram um tanto logrados, em suas esperanças, com a nomea- ção do liegente único, principalmente por este ser o Duque da \'ictoria.

Mas \. Ex.' sabe quão facilmente estes homens mudam. boje estão mais affoutados: esperam que, d'aqui a pou CO tempo, teremos dcsintelligcncias com Hespanha, e se etle- ctuará a suspirada união para que elles conspiram.

O certo é que hoje faz toda a gente de Setembro grandes elogios ao Sr. Aguilar que, segundo me consta, e eu não pos-

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so deixar de crer, lhe falia segundo o seu gosto e appetite. José Estevão apparece no seu cannarote no theatro ; e os de- mais, do mesmo partido, são altamente festejados. Não quero eu n'isto fazer censura ao Ministro, que pôde receber em sua casa quem quizer, e ir a quantas casas quizer e lhe parecer, mas isto, e algumas expressões d'elle, e um conjuncto de cir- cumstancias, que todas concorrem para fazer crer quaes são as opiniões, os desejos (e até as instrucções) do Sr. Aguilar, causa graves inquietações aos homens que vêem risco e gran- de probabilidade de perturbações em nosso estado. Estes ho- mens são muitos, e não é possivel persuadil-os de que nada ha que receiar.

As Cortes abriram se para continuar hontem. Emquanto a mim, ha dificuldades grandes para conservar a maioria que tivemos. O nosso estado de fazenda obriga a sacrifícios; va- mos propol-os, adoptando, em geral, o systema de Gommis- são Financeira. Teremos contra esse systema uma grande bor- rasca, e quem sabe se lhe resistiremos?

Estamos em um campo difficil o mais difficil em que, até hoje, nos temos visto. Não ouso prognosticar qualquer resul- tado; mas é bem certo que, sem coragem, nada se faz ; e que a cura de grandes moléstias não se consegue com tisanas.

A crise do Ministério Inglez eu a considero séria ; posto que esse Governo tem, para segurar-se, grandíssimos elemen- tos. Pôde ser que continue por alguns dias, e que chegue ain- da a durar finta ou quarenta ; mas, se não houver uma rea- cção nas tendências publicas, mal poderá conseguir sustenlar- se por mais tempo, e reconquistar a maioria perdida. Com tudo, não será impossível que essa reacção se faça.

V. Ex.* me assegura que aqui estará até meado do mez,o que muito estimo. Cousas ha que se não podem escrever ; e eu as guardo para quando puder fallar com V. Ex.*

Adeus: hoje creio que perderei a noite: Assim esta perda trouxesse em resultado algum ]>roveito para o paiz.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.* Am.° Verdad." e Cr.° Ob.°

R. Fonseca Magalhães.

LXIV

f!m 29 de Maio, 1841.

Hl."'** e Ex.-"' Sr.

Verei se posso dizer, em poucas palavras, ao menos a parte mais essencial do que tenho para noticiar lhe.

A Gamara dos Deputados estava, desde mar»;o, dividida em fracções, cuja existência tornava diflicil haver n'ella maioria pelo Ministério. A causa d'este scisma é de longa explicação : ficará para a vista.

Durante o intervallo do addiamento, não diminuiu o mal, parece que augmentou: a entrada do Barão do Tojal concor- reu para desviar alguns votos.

Abriram se as L.amaras a 25, e eu vi, no terceiro dia, que existia uma fracção contra a minha pessoa. eu o tinha adi- vinhado, e pedido a minha demissão, que S. M. não quizéra dar-me.

Questões de irritação tinham ficado pendentes; a da manu- tenção dos Batalhões j rovisorios era uma das mais vivas.

Por motivos que não derivavam de mim não se illudiu esta questão, que eu não podia considerar valiosa; os meus colle- gas quizeram sustentai a.

Para não parecer aspirar a um partido separado dos Mi- nistros, annuí, porque se permittiu que eu insistisse no que havia declarado em dias de Março.

Não se chamou conferencia alguma de Deputados: a ques- tão foi pedida pela Opposição Cartista; o Ministério veiu a ella sem preparativo; sustentei a como pude, desajudado de todos, e hontem ficou empatada, 38 contra 38. A Camará nos dava, regularmente. 44 de maioria! E' verdade que lemos i5 ou 16 votos em caminho. Fomos pedir a demissão. A Rai- nha não a acceitou; mas cila foi pedida. Moje abriu-se de rovo o debate. O Ministério não falou: na votação ganhou por 7 de maioria, e depois d'esta votação declarei eu que os Ministros haviam pedido a demissão, e continuavam no expediente até que S. M. provesse. Eis o que ha. Aguilar, que csld mm inti mo de José Estcvam, deu me os parabéns da minha sabida I Não se contará outro exemplo de parabéns cguacs I ! I

De V. Ex \

Am." e M.' Obg.""

/(•. /•'. Maij^alhãcs.

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98 LXV

Em 2 de Junho de 1841.

III.»'» e Ex.">° Sr.

Recebi a de V. Ex.^ de 28 do p. p. Pela minha anterior^ veria V. Ex.* a situação em que ficamos, em consequência das votações de 28 e 29. N'ella estamos ainda, porque apparecem difficuldades para a recomposição da Administração ; difficul- dades que seriam agora longas de enumerar. Não ha, agora, meio de conciHar as cousas, porque a Gommissão de Finanças, que o Governo criou, ao addiar as Cortes, apresenta um sys- tema com que não concorda o Ministro da Fazenda. Isto traz considerações sérias, porque o Ministro se oppõe a um salto nos pagamentos, e a certos impostos sobre os públicos func- cionarios. Esta opposição faz com que nós não possamos ficar; porque o motivo da sahida do nosso collega, dando-lhe popu- laridade, a tira a nós. Estas circumstancias são reforçadas com outras, e todas me fazem crer que não pôde deixar de haver um novo Ministério. Oxalá que possa sahir da nossa cor poli- tica; mas talvez seja difficil. Em todo o caso, nós não perde- mos a maioria, e esta, se d'ella sahir a nova Administração, terá a nossa concorrência.

Acho extraordinário quanto V. Ex.* me diz do espirito d'esse Governo, tão contradictorio com os actos do sr. Agui- lar, até, positivamente, sobre as cousas de Roma. Não sei se esta achará ainda a V. Ex.* em Madrid; na duvida, abstenho- me de continuar ; até prometto ficar calado sobre pontos im- portantes, á espera de que me seja dado abraçar a V. Ex.^

De V. Ex.^ Am." e Cr.*^ Obg."

R. F. Magalhães.

LXVI

Em 21 de Julho, (1841 ?j

III.'"" e Ex.'"° Sr.

Tenha V. Ex.^ a bondade de ver se o protesto, por V. Ex.* enviado d'aqui para o Moncorvo, afim de ser apresentado com

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as letras, é do exacto theor cl'este que envio a V. Ex.', e que foi datado de Londres, em 3o de junho. Se é o mesmo, falta saber em que data íoi escripto em Lisboa.

V. Ex." terá a bondade, em todo o caso, de devolver me a copia Junta, seja ou não o próprio; porque sendo aquella, se restituirá a V. Ex.* este.

Parece-me que o Ministério da Fazenda tem a Nota de Lord Pdlmerston de que falei a V. Ex.*; se a tiver excuso de mandar a outra; mas, em todo caso, se S. M. tem os papeis será bom que venham.

De V. E.x ' Am.° Ob-.-^

A*. Fonseca Magalhães.

Le traitt* de la Navigaiion du Douro, conclu depuis iong- temps entre lEspagne et le Portugal, ne pouvait être mis en execution sans un rcglement que les Commissaires Imbrecnt et Grambonaro n'avoient pu conclure. Get objet vicnt d'etre reglé, grâce au zele et intelligence de Monsieur Greus, Ghar- d'Affaires de S. M. G. (d'aprés les instructions de Mr. Pe- res de Gastro) par une Gommission composée, de la part de TEspagne, par Mr. Greus, et Mr. Blanco, Negociants á Lisbon- ne, et, de la part au Portugal, Mr. Maya e Mr. Santos Silva, Negociants á Porto. Ge Gouvernement va mcttre le traité et le règlement em execution, maintenant, sans le présenter aux Ghambres, comme 11 peut le faire légalement.

Les poinis principaux du traité sont : Que le Gouverne ment Portugais établira une Douane á Fregeneda, au Fron- ticre de TEspagne sur le Douro.

Que les Gercaux et autres productions Kspagnoles pour- ront passer, par transit, (hs vins e eaux de vic exceptcsj de la Douane de la Frontiére, jusqua Porto, pour ctre exportes, les C.creaux (qui doivcnt vcnir en sacs d"une mesure rixé, qui seront vides et r-ímesurés a Porto) payant un droit de transit de 40 réis par Fanega, et les autres articles, selon le tant, de 20 a 40 réis par quintal de 128 Ibs.

Qu'il y aura une seconde Douane á Saborra, pour les ar- ticles admis a Ia consommation, dont la décharge serai conve- nable a ce point. II n'y aura pas de transit ou diminution de droits pour les marchandises chargées a Porto pour la Fron- tiére, cc qui est, dans nôtre opinion. un desavantage pour le

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Portugal: elles payeront, à Porto, la totalité des droits de con- sommation. Em cas de guerre, les rnarchandises qui seront en mouvement sur le Douro sont considerées neutres. Les droits de transit sont appliqués à Tamelioration de la naviga- tion du Douro.

LXVII

Secretaria d' Estado dos Negócios Estrangeiros. Em 9 de Outubro de 1841

A feliz situação geographica da Áustria, o vastissimo e fér- til território, mui vantajosamente augmentado nos nossos dias, os seus numerosos e bem disciplinados exércitos, a justa consi- deração da sua antiga Dynastia Reinante, ligada por laços de familia com os pnncipaes Soberanos da Europa, e com o que modernamente erigiu seu throno na America, lhe tem feito constantemente gosar de uma poderosa, e bem merecida pre- ponderância, que a notória capacidade dos seus Ministros, muito especialmente do actual Príncipe de Metternich, tem sa- bido consolidar cada vez mais.

Essa mesma preponderância, e as estreitas relações de pa- rentesco que ligam a Casa de Bragança á Casa d'Austria, tor- nam a Missão de Vienna uma das de maior importância para este Reino. Por taes motivos recahiu a escolha de Sua Mages- tade no >nr. Marquez de Saldanha, para a representar n'a- quella Corte, como Seu Enviado Extra(»rdinario e Ministro Plenipotenciário, na certeza de que, por suas distinctas qualida- des e reconhecido mérito, alli será benevolamente acolhido pelo Imperador, e tratado com a devida distincção pelo Prín- cipe de Metternich e mais Ministros d'aquelle Soberano, ao qual, assim como áquelles, deve lisongear a nomeação de S. Ex.*, como a mais evidente prova que S. Magestade podia dar da consideração que realmente deve e deseja manifestar para com Seu Augusto Tio.

Todas as referidas rasões fazem esperar que a Missão de S. Ex.*, n'aquella Corte, vae principiar sob os melhores aus- pícios, e lhe offerecerá mais um vasto campo para exercitar, em serviço da nossa Soberana, e em honra da Nação, os co- nhecidos talentos e eminentes qualidades que tanto o distin- guem.

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Tanto ao Imperador, como aos Ministros, fará S. Ex.' ver quanto Sua Magestade estima haverem-se restabelecido as re- lações diplomáticas entre as duas Cortes ; e quanto altamente aprecia a grande parte que, n'este feliz acontecimento, tomara Sua Magestade o Imperador.

S. Ex/ se empenhará em convencel-os de que a Nação Fortugueza, regida pelo systema representativo, ou de Monar- chia limitada, e tal como nossos antepassados a estabeleceram no século xii, á imitação dos povos do Norte, de que eram des- cendentes, presa, em sua máxima generalidade, o Governo Mo narchico, sem estimar menos o governo da liberdade legal. Esta liberdade nem diminue no povo o respeito devido aos Monarchas, nem torna menos efficazes as prerogativas da Co- roa, que. segundo a Lei fundamental, são assaz poderosas para manter o justo equilíbrio dos poderes politicos ; depen- dendo o melhor regimen antes de rovas ou reformadas Leis ci vis e criminaes, do que de alterações na Lei fundamental. Que, existindo esta em todo o seu rigor, o Governo teve os meios necessários para reprimir as facções, e conter o paiz em or- dem e obediência á Soberana ; obediência que é o sentimento geral dos Portuguezes, que, se não fossem as vicissitudes po- liticas occorridas no Reino de He^panha, é de crer que jamais houvessem sido levados a etleituar movimentos populares, de que resultou grave transtorno da boa ordem, e que é de esperar se não repitam; porque, felizmente, não tiveram logar, quando mais alterados andaram os nossos visinhos, e mais os chefes das facções castelhanas procuraram imitadores em Portugal.

S. Ex.* affirmará que Sua Magestade, e o seu Governo, põem toda a sua confiança no poderoso apoio de Sua Mages- tade o Imperador, para poder proseguir, com mais segurança e firmeza, na prudente marcha politica que tem adoptado; apoio que muito necessário se lhe torna, também, nas 5uas relações com as outras potencias, para melhor tazer valer a Justiça que possa assistir a Portugal n'aquelles negócios que com ellas te- nha a discutir.

A Casa de Bragança tem estado sempre na diuturna posse de contar com este apoio, e de recebel-o; e Sua Magestade a Rainha, unida á Casa d'Austria por tão estreitos laços de pa- rentesco, espera da magnanimidade de seu Augusto Tio que nunca recorrerá a ella em vão.

S. Ex/ procurará aproveitar a primeira opportunidadc que se lhe otíereça, para dizer ao Principc de Metternich que uma das principaes recommendações que Sua .Magestade lhe fizera fora, que, no seu Real Nome, agradecesse a Sua Magestade o

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Imperador, e também a Sua Alteza, o impulso dado peio Go- verno Austríaco em favor de Portugal para fazer cessar a in- terrupção que, por alguns annos, houve nas relações de Por- tugal com a Corte de Roma.

S. Ex.* está perfeitamente inteirado dos aggravos que Sua Magestade tem recebido d'aquella Guria, não pela confirma- ção que fez o Papa Reinante, da nomeação dos Bispos apre- sentados pelo Usurpador, como do ultimo Núncio Apostólico que aqui residiu, e do seu Auditor, cujo estranho comporta- mento obrigou o Governo a mandalos sahir do Reino.

Igualmente é conhecida a S. Ex.* a violenta usurpação que a Congregação da Propaganda tem feito á Coroa de Portugal, durante o mencionado periodo, e ainda actualmente, por meio dos Vigários Apostólicos que tem mandado á índia apoderar- se das Igrejas da Ásia, situadas nos Domínios Britannicos, e até de algumas próximas á cidade de Goa, todas pertencentes ao Real Padroado da Coroa Portugueza, pelos direitos incon- testáveis de descoberta, fundação e dotação ; estando expres- samente declarado nas Bulias da erecção dos Bispados da índia, confirmadas subsequentemente por muitas outras, que, no Pa- droado de taes Igrejas, nenhuma innovação se poderia jamais fazer, sem expresso consentimento dos Soberanos de Portugal.

Apezar de tão justos motivos de queixa, Sua Magestade, desejando terminar, quanto antes, a desíntelligencia com a Corte de Roma, para evitar que a Religião Catholica viesse, de futuro, a padecer quebra, e até para dar a Sua Santidade a mr.ior prova da sua consideração e respeito filial, resolveu admittir n'este reino, ao exercício das suas sagradas funcçÕes, os Bispos nomeados durante a Usurpação. Outro tanto se con- tinuou a praticar, como de muito antes se praticava, em favor dos Parochos nomeados n'aquella infausta época, e muito po- sitivamente se ordenou aos Prelados do Reino que não conce- dessem as dispensas matrimoniaes, que, abertas as relações com a Corte Romana, allí se deviam pedir.

Muito lia sentido Sua Magestade, que este leal e franco procedimento não tenha achado a esperada e devida correspon- dência no Governo Pontificio, porquanto não continuam a chegar da índia participações de novas invasões allí praticadas pelos Vigários Apostólicos \ mas, sendo indispensável tratar- se da competente habilitação dos Bispos nomeados por Sua Magestade a Rainha, para receberem a Confirmação Pontíficia, e irem reger as suas competentes Dioceses, não tem Sua San- tidade, até agora, nomeado nenhum Núncio ou Internuncio para este Reino, que possa legalisar aquellas habilitações, nem

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mandado os seus Poderes a alguns dos Prelados aqui existen- tes, para, interinamente, proceder a ellas, bem como á^conces- são das dispensas matrimoniaes, em graus mais remotos, como sempre se praticou ; o que também causa grave prejuizo á mo- ral publica e á mesma Religião; porque os pobres, não tendo meios para recorrer a Roma, contrahem relações peccaminosas, cm que depois persistem.

Deverá, pois, S. Ex." sollicitar do Principc de Metternich, que o Embaixador Austriaco, cm l<oma, receba ordem para apoiar o Ministro de Sua Magestade Fidelíssima n'aquella Corte, na justa pretensão de que o Governo Pontifício faça pôr termo as usurpações que os Vigários Apostólicos na índia tem prati- cado, contra os legítimos direitos do Padroado da Coroa Por- tugueza, e se reponha tudo no seu antigo estado, e de que seja quanto antes enviado a esta Corte um Agente Pontifício, devi- damente auctorisado para os fins indicados; sendo este um dos meios mais promptos para se remediarem os males que affli- gem a Igreja Lusitana, e cuja prolongaçao Sua Magestade Fi- delissima tem feito quanto estava da sua parte para evitar, na plena confiança de que o Santo Padre não pôde deixar de es- tar animado de iguaes sentimentos.

Accrescentará S. Ex.* que, havendo sido o Governo Aus- triaco quem dera o principal impulso para se terminar a nossa desintelligencia com a Corte de Roma, com muita razão es- pera Sua Magestade que o mesmo Governo se empenhe em levar ao fim a sua própria obra, concorrendo com a sua pode- rosa influencia para que ella se consolide quanto antes.

S. Ex.* perfeitissimamente conhece quanto convém que consiga a benevolência e confiança do Principc de Metternich, e das pessoas que mais immediata influencia n'elle possam ter, e por isso nenhuma recommendação é preciso fazer-lhe a tal respeito, e muito menos sobre a grande circumspccção que cumpre ter nas conversações, e ainda nas relações que se con- trahem em um paiz onde se olha com desconfiança tudo quanto occorre nos paizes governados constitucionalmente, e onde, desde a entrada nas fronteiras, se está sujeito ao rigor da po- licia mais vigilante e suspeitosa.

Podendo considcrar-se a Corte de \'ienna o ponto central das mais imiportantes negociações diplomáticas, está alli S. Ex.* em uma feliz situação para obter, por meio das intimas rela- ções que lhe será fácil de estabelecer, não com outros Mi- nistros Estrangeiros, mas com as pessoas do paiz mais bem informadas, exactas e promptas noticias de quanto convenha ao Governo de Sua Magestade ter conhecimento.

I04 *

Além d'estas noticias são, sem duvida, muito interessantes as que se podem alcançar do estado e forças do exercito, for- ças de mar, dos recursos do paiz, dos melhoramentos que se tenham introduzido nos diversos ramos da administração publica, e novos inventos e producções litterarias de maior influencia politica e social; objectos estes dignos, por certo, da maior attenção, e que não escaparão ao entendimento illusira- do de S. Ex.*

Rodrigo Fonseca Magalhães.

LXVÍII

Em 14 de Outubro (1841?)

111."'° e Ex.™" Sr.

Os 4:5ooíí'00o réis valem, ao cambio de 67 V2, £ 1:277. 12.6.. disse a V. Ex.* que poderia saccar, mensalmente, pelo seu ordenado e que eu ordenaria que se lhe pagasse por inteiro, emquanto V. Ex.* não pudesse soíFrer a deducção do adeanta- mento. Não me é possível fazer mais do que isto; porque excede as minhas faculdades declarar que nunca essa deducção ew tempo nenhum terá logar. Disse e repito, que mandaria pagar a V. Ex.* por inteiro, emquanto não pudesse dispensar a deducção; isto é pouco, e é quanto eu posso prometter. Nem V. Ex.* de certo quereria que eu inutilmente me compromettesse a mais.

De V. Ex.* Am.^eCr.^Obg.»

R. F. Magalhães.

P. S. A respeito do Conde d' Almoster, o seu ordenado- será pago também como o de V. Ex.*

R. F. Magalhães.

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LXIX

Em i5 (de Outubro de 1841?)

111.""" e Ex."'° Sr.

Hontem mandei a V. Ex.* a reducção a £ E. do seu orde- nado, isto é, dos 3 quartéis adeantados. Disseram me a coma que mandei a V. Ex."; mas sou informado de que houve engano, porque em logar de 1* 1:277.12.6, corresponde ao conto e quinhentos, t 1:265.12.6. Faço a V. Ex.* este aviso cara quando saccar; sendo certo que o cambio é qual escrevi a V. Ex.*., de 6j *,'<i ao par.

Os Diplomas reformados os mandei agora á assignatura Real. Os looír^ooo para o Vice Cônsul estão promptos. Eu mando reduzir essa somma (3.* parte em cobre), a ouro hes- panhol, para ser menos pesado a V. Ex.^. Emquan^o ao Diploma para o seu afilhado, consta-me que veiu, mas hoje não está o Official Mór na Secretaria, e poderá ser enviado a V, Ex."* se elle não puder apromptar-se antes.

De V. Ex.'' Am.'^ e Cr.° Obg.**

/?. F. Magalhães

LXX

Em 3 de Novembro, de 1841.

111.'"» e Ex.'"" Sr.

Recebi hoje a de V. Ex ' de 28, e sinto muito que se ache encommodado de saúde. Emquanto ao que V. Ex.* me diz dos seus vencimentos, vou tratar d'isso seriamente, não esquecendo o Conde d'Almoster, a quem V. Ex.* sabe quanto sou afeiçoa- do. Ao sr. Lima escrevo, em resposta a uma delle, e digo- Ihe que toco a V. F^x.' em mudança de Secretario. Escuso aqui repetir o que a elle escrevo; e V. Kx.* bem sabe a razão d'isto : quero dizer porque omitto referir o caso, e as razões do passo que dou. V. Kx.* me fará o obsequio de responder- me com franqueza, contando que eu desejo evitar todo o mo tivo de desgosto. Não são poucos os que d'ahi me vem.

Hontem recebi uma Nota do sr. Aguilar pedindo-me, da

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parte do seu Governo, a prisão e entrega dos officiaes que vieram, ultimamente, refugiar-se n'este Reino: são Oribe, com tres capitães e creio que três ou quatro subalternos, por Bra- gança, e o Brigadeiro La Pezuela, por Gastello Branco.

Terei conta com elles ; vigiarei no seu procedimento ; não será elle, de modo algum, offensivo á Hespanha; tel-os hei se- parados e distantes, e em situação de nenhum mal obrarem ; porém entregalos, isso jamais: essa vergonha não creio que a tome sobre si nenhum Portuguez.

Faço justiça ao Governo Hespanhol, não accreditando que por tal insista.

Fala me Aguilar da tentativa que se fará, por parte d'esse Governo, para a navegação do Tejo : creio que o tempo para isso é inopportuno: emquanto as duas nações não entrarem em intimas relações de confiança mútua, é impossivel tratar negócios de tal magnitude. Além de que, na navegação do Te- jo, ha muitas cousas a considerar, não sendo a menor a justa exigência da nossa parte de que o rio se torne perfeitamente navegável em Hespanha até Toledo. Este assumpto, pois, de- ve attender-se como um dos mais graves.

Desejo que V. Ex.* veja a senhora (?) de Aguilar.

São tristes as noticias que V. Ex.' me dos 40oí!t'00o reales; e, quando se não trate do mais, ao menos esta peque- na somma desejo que se receba; porque d'elle poderia eu dis- por para despezas do serviço. Ainda peço a V. Ex.* que tome todo o interesse em tal negocio.

Remetto a Nota que V. Ex.* pede, do sr. Silvestre Pi- nheiro, ao sr. Aguilar, de Março de 1823.

Peço a V. Ex.* que escreva, de officio, sobre os assumptos que forem d'elle; porque, na verdade, as cartas particulares as considero minhas; e, na Secretaria, o serviço deve correspon- der-se em devida ordem para ter validade o que se escreve.

O sr. Lima poderá affiançar a V. Ex.* o nosso honrado Vice-Consul, de quem eu tenho boas informações, assim como todo o desejo de ser-lhe útil. E' para mim muito agradável que a nossa Legação não fossse insultada nos últimos aconteci- mentos, o que attribuo ao porte judicioso do chefe da mesma.

Não quererei que elle entre em polemicas de periódicos; mas seria bom ter um defensor contra as calumnias que aqui se forjam, e se enviara para serem datadas de Badajoz; um defensor, digo, d'entre os jornaes do Governo, que eu não quizera que os do partido contrario tomassem essa tarefa. Se para isto fosse necessário fazer alguma despeza, não resistirei a satisfazei a.

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V. Ex.* me fará a honra de tocar n'este objecto ao Sr. Li- ma; porque serem aqui as accusações rebatidas, não vai nada para ahi; por quanto os nossos artigos não terão logar n'esses periódicos.

Lembro-me do Patriota.

Tomara de volta o Regente, de quem espero que V. Ex.* ha de ser perfeitamente recebido.

Hoje estou alguma cousa impaciente com a Corte de Ro- ma, que é a que sempre foi, íracassière et fourbe.

fiz maiores sacrifícios do que os que eu queria fazer, e estou resolvido a não ter mais a mínima condescendência com cila, embora nada consigamos.

Este motivo me faz, além de outros, crer necessário que V. Ex.* se demore pouco n'essa Corte; mas, em todo o caso, espero que á sua partida fique o Governo de S. M. C. certo e seguro da nossa leal e franca maneira de proceder, e que da nossa parte nada ha que obste a . ue a nossa intelligencia seja sempre a melhor.

SS. MM. estimaram muito as noticias de V, Ex.'

Tenho a honra de ser

De V. Ex.* Am." e Cr.° Obrg."

/?. Fonseca Magalhães.

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Em 6 de Novembro, 1841.

III."'" Ex.""^ Sr.

Venho das Cortes, ás 5 da tarde. A minha carta deve ser ião pequena como a de V. Ex.» de 3o do p. p. Sinto do cora- ção o incommodo de V. Ex.", por todas as razões, não sendo a segunda nem ultima a de ser seu amigo.

Dánjs cuidado a situação d'esse paiz, e tememos que a continuação no estabelecimento de Juntas de \'igilancia, que ainda agora se vão fundando na Galisa, venha a enfraquecer a acção do Governo; e fazemos votos porque este a tenha, para promover, como ia fazendo, a publica prosperidade e a manutenção da Constituição do Estado. Estes são os nossos votos; e o Governo Hespanhol pódc estar certo de que todos se encaminham á sustentação do systema de Governo que ahi

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rege, causando-nos grande desgosto todas as tentativas que se façam para interromper a marcha patriótica em que o Regente e seus Ministros haviam entrado.

O Brigadeiro que foi obrigado a entrar em Portugal, pe- dindo asylo, chama-se Pezuela. (Não falo de Oribe que acom- panhou parte do Regimento hoje de Izabelia 2.^, e fez a sua entrada em Braga). O dito Pezuela está agora caminhando para Coimbra, e se deu ordem para ir residir em Thomar. Mas elle pede passaporte para França, vindo embarcar a Lis- boa. Darlhe-hei passaporte, depois de ver aonde seja bem que elle embarque; fazendo isto de modo que mais conveniente pareça.

Tomara eu que ahi se desse indulto aos soldados que, pro- vavelmente, o acceitarão para voltar á sua Pátria. Emquanto aos officiaes, creio haver escripto a V. Ex.% participando-lhe que o Governo hespanhol reclama a sua prisão, o que é im- possivel fazer-se, sem embargo de que importa, e é, um dever obstar a que elles maquinem contra o seu Governo. O que este de Portugal evitará, decerto, apezar de que o ex-major Cabral tem ahi podido fazer, impunemente, o mais que pôde para mortificar-nos. Pouco importa: nós fazemos o que nos parece justo.

De V. Ex.» Am.° Obg°,

R. F. Magalhães.

LXXII

Em 10 de Novembro, 1841.

111."»'* e Ex.'"" Sr.

A' pressa accuso a de V. Ex.* de 4 do corrente. Agradeço a V. Ex.* a diligencia feita para que o sr. Espronceda não viesse augmentar o numero dos nossos inimigos da Legação Hespanhola.

Os membros d'ella fazem causa commum com a nossa Opposição, e falam iodos contra o Governo, em toda a parte, com o maior despejo.

O nosso proceder tem sido nobre e leal; mas a recom- pensa é a mais iniqua. Isto dá-me que- pensar, e não estou disposto para comprazer, quando vejo a deslealdade com que se procede comnosco.

log

No seguinte correio serei extenso; porque agora, que são 6 horas, chego das Cortes mais morto que vivo.

Não quero deter ahi a V. Ex *; mas custa-me que saia sem ver o Regente, e fallar lhe, com franqueza, das exigências que nos fazem da entrega dos otticiaes que vieram buscar refugio.

Que provas de consideração que nos dão !

De V. Ex-

Am." Verdad.-"» e Obg. '

R. F. Magalhães.

LXXIII Em i3 de Novembro de 1841.

Illr" e Ex."" Sr.

Recebi a de V. Ex.* de 6 do corrente. Desde logo me sur- prehendeu a falta que V. Ex.' tem tido de cartas minhas, sen- do certo, como é, que ainda não passou um correio sem que eu a V. Ex.* escrevesse particularmente, mas sempre sobre objectos do serviço.

Esta, a remetterei dentro do officio ao sr. Lima ; e não posso occultar que me causa grave sentimento a falta, que desconfio se deve á pouca fidelidade de algum agente subal- terno, ou a curiosidade encommendada de algum individuo que julga poder tirar partido, para fins cuja ruindade é clara, da violação do segredo da nossa correspondência.

E' certo que nenhum dos negócios de que tenho tratado, nas vezes que hei escrito a V. Ex.*, perde por ser visto e exa- minado; antes, em certo modo, eu estimo que se commeita es- ta violação, para desengano de suspeitos e confusão de calum- niadores; porém ncío posso deixar de lastimar tal procedi- mento.

E' da maior importância que o Governo de S. M. Catholi- ca cohiba os excessos de líarcclona, como pôde obstar ao pro- gresso da revolução das Províncias. Se o Regente isto conse- guir, como desejo e espero, saberão todos os re\ olucionanos como devem viver, e se absterão de perturbar o paiz que pre- cisH e merece toda a attcncão do Governo,

Não estranho que, em algumas partes, a desconfiança po- pular fosse exaggerada, e como tal chegasse a commetter íal

I IO

tas de importância e gravidade, como essa loucura da demoli- ção de muros e cidadellas de defensa; mas esse delírio é pas- sageiro, e persuado-me que a presença da força armada será bastante para que tudo entre no caminho legal.

Estimarei muito que V. Ex.* possa concordar com o sr. Gonzalez, no negocio do Tratado da Escravatura, e con- siga d'elle o ficar persuadido, como deve, da franqueza e boa com que procedemos em todas as nossas relações. V. Ex.* sabe o porte que tem, relativamente a nós, algum individuo da Legação n'esta capital, e eu nunca instaurei um queixume formal a similhante respeito, esperando, com o tempo, fazer obliterar todas essas suspeitas, que se fundam em calum- nias, que quasi sempre tenho desprezado. Chega, porém, ás vezes, o sentimento a ponto de se não poder occultar.

O sr. Aguilar pediu-me a prisão dos ex generaes Oribe e La Pezuela, assim como dos outros que entraram com a for- ça que veiu, por Bragança, refugiar-^e em Portugal. Não me é possível assentir a tal procedimento, sem embargo de que o Governo velará porque não se abalancem ao menor abuso do asilo que se lhes dá; e d'isto pôde esse Governo estar se- guro. Também pediu o regresso dos soldados, como indulta- dos, reservando-se a reclamar depois, como desertores, al- guns que não acceitam o indulto. Os que o receberem serão entregues; m;s não assim os que o recusarem; porque não po- demos desconhecer o motivo da sua vinda. O que o Governo fará, de certo, será collocal-os de modo que os inhabilite de practicar acto algum impróprio, dando assim a maior prova possível da lealdade e boa vontade. N'este assumpto o Gover- no tomará todas as medidas de cautella, porém não de vio- lência, excepto no caso de abuso.

Estou esperando o resultado da conferencia que V. Ex.* deve ter tido com o sr. Gonzalez ; e será para mim causa de grande satisfação, poder ver removidos quaesquer obstáculos que se levantem á boa íntelligencia entre os dois paizes.

SS. MM. viram e teem sempre visto todas as cartas de V. Ex.*; e eu desempenho, com muito gosto, a honrosa com- missão de que V. Ex.* me incun:be.

Tenho a honra de ser

De ^^ Ex.* Am.° Ati."* V.o^e Gr."

R. Fonseca Magalhães.

II 1

LXXIV

Lisboa, em i3 de Novembro de 1841.

111."^'^ e Ex."° Sr.

Tenho presente a sua presadissima de 9 do actual. Por ella vejo que V. Ex.* vae reduzir á forma de cfficio a carta que me tinha escripto, e na qual dava ao Governo parte da sua commissão.

Parece-me assim melhor, não só, como V. Ex.* sabe, por- que os objectos de serviço se devem formular propriamente, mas, também, porque os nossos successores nos tachariam de tratarmos assumptos políticos com pouca reverencia.

Tem-me causado verdadeiro desgosto as occorrencias que dão logar ao« cuidados d'esse Governe. Espero, comtudo, que a sua energia, apoiada pela opinião do immenso numero da gente sensata, lhe conquiste o triumpho sobre os novos Anar- chistas, depois de haver debellado os primeiros. K\ comtudo, para desejar que não seja necessário, para enfrear os excessos populares, fazer uso de tanto rigor como se ha empregado para com os criminosos de 7 de outubro. A tamanha distancia mal se pôde julgar das particulares circumstancias em que o Governo se acha; porém eu entendo que na severidade os ex- cessos são mais nocivos do que na clemência.

Sentirei muito que V. Ex.* saia d'esse Reino antes de falar ao Ivegentc. V. Kx.* se lembrará do que ambos conversamos quando se decidiu a sua partida por Madrid para Vienna, emquanto a bons ottícios que V. Ex.* poderia prestar a esse Governo, e a essa nação: o que eu muito estimaria porque, apesar de todas as vozes calumniosas que se levantam contra o Governo Portugucz, e especialmente contra mim, suppon- do me inimigo do systema que rege n"esse Reino, considero que a forma de monarchia constitucional, qual convém aos dois paizes, perigará sempre cm um., quando perigar no outro ; e que a sua mutua garantia é a melhor base da duração para ambos.

Assim cumpre que, reciprocamente, nos aiudemos com quantos esforços seja possivel fazer.

Excellcntc será o elVeito da resolução do sr. Gonzalcz, de cohibir excessos taes como os do Iluracan: bem se que os seus coliaboradorcs tudo quererão menos Liberdade e Monar-

na

chia: o elemento que mais lhes convém é o da desordem, cujas consequências ninguém deixa de considerar fataes.

Não posso saber a quaes clubs se referiu o sr. Gonzalez, quando disse a V. Ex.* que, nos de Lisboa, se havia decre- tado o assassinio do Regente. Este assumpto não deve ser tra- tado de leve;, nem eu posso consentir em que deixe de dar-se- Ihe a mais severa attenção.

V. Ex.* sabe talvez, e, senão, eu agora lh'o participo, que o Governo mandou perseguir, em juizo, o periódico Portugal Ve- lho, por convicios, escriptos em um de seus números contra o Regente de Hespanha: está accusado e prosegue a causa. Este proceder é consequente com todas as minhas palavras, e com todos os meus actos; mas estes não são eífeitos da os- tentação fingida. O Governo de S. M. G., se tem a certeza que o sr. Gonzalez affirma a V. Ex.* que tinha, pôde ser mais explicito; porque o Governo de S. Magestade quer perseguir e punir os criminosos assassinos. E' justo, pois, que V. Ex.* fale a S. Ex.^ n'este negocio; e ninguém melhor do que V. Ex.* o poderá avaliar. Espero, pois, que o tome em toda a conside- ração, e me parte do resultado.

Não posso, comtudo, deixar de ponderar aqui quanto me parece incrivel o facto, se se refere ás desmantelladas socie- dades secretas do partido do Governo que nós conhecemos. Estas compõese de individuos incapazes de tal malefício, nem mesmo de se lembrarem d'elle. O que eu sei de similhante fonte, me força desde a affirmar que a informação é desti- tuida de todo o fundamento. Outros clubs não existem, exce- pto os dos Miguelistas; que, na verdade, são mais sanguinários; mas que, tão pouco, me parecem capazes de tal arrojo. Os homens das ameaças de assassínios são os Setembristas d'aqui; esses teem até, por vezes, chamado da costa, ao sul da Tra- faria, alguns facinorosos para virem exercer o seu officio sobre os membros do Governo, objecto de todos os seus cuidados. Dizem se addictos á Revolução de Setembro Hespanhola, e declaram que esperam d'ella auxilio para nos debellar: buscam relações, e as tem, com pesíoas que sejam exaltadas n'esse partido politico: como pois sairia de tal gente a tentativa a que se refere o sr. Gonzalez? Eu sei que, ha muitos annos, sou annualmente sentenciado; que fui processado; que se fez um simulacro de tribunal em uma d'essas furnas, e até se me nomeou um defensor, para tornar o acto mais ridículo. Mas o que é certo, ou o que eu por tal respeito, é que estas idéas, estes furores e delírios, nunca tiveram logar nas assem- bléas da gente contraria aos Anarchistas d'este paiz; e receio

m3

que a noticia seja mais um embuste para augmentar as suspei- tas desse Governo. Por isso de novo peço a V. Ex.* que não deixe o assumpto sem que cheguemos ao seu âmago; porque, se o facto existisse, o Governo procederia sobre elle como a rasão, a justiça e a lealdade requerem; e o Governo Hespa- nhol teria mais um argumento para julgar de nós.

Emquanto á mudança sobre que V. Ex.* me responde, os motivos d'ella são sabidos por V. Ex.* e não podem deixar de merecer alguma attenção.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.»

Am." Verdad.™ e Cr." Obg. R. Fonseca Magalhães.

LXXV

Em 17 de Novembro (de 1K41?)

111.°"» e Ex."» Sr.

Ao officio de V. Ex.* de 1 1, apenas tenho tempo de accusar a recepção. Amanhã é a sessão do encerramento. Sempre ha trabalr>o e zangas n'estas vésperas. E' muito durar de Cor- tes este anno.

O artigo do Hcco que o sr. Lima me mandou, é um aggre- gado de infâmias. Bem sabe V. Ex.* quem aqui as vende e despacha para essa.

Sinto que V. Ex.* saia d'ahi sem ver o Regente; e creio que elle não poderá tardar.

Se todas as declarações que V. Ex.' refere são verdadei- ras, bem; mas quando observo a coniradicção em que as ditas ahi estão com as exigências aqui, não sei que pense.

O sr. Lima mostrará a V. Kx.* a que lhe escrevo sobre o assumpto a que me refiro.

Mal estamos sobre dinheiro; é sorte nossa. Eu não cesso de soliicitar para que não falte a V Ex.'. e espero que não ha de faltar em Vienna.

Fm manto ao Tratado de Ccmmercio, digo da Repressão do Tratico, cu o creio necessário e escreverei ao sr. Lima.

s

'14

Deus queira que a senhora Marqueza nada tenha tido que sentir em sua viagem. Abraços ao Conde d' Almoster.

De V. Ex.*

Am.° e Cr.° Obr.'» R. F. Magalhães.

LXXVI

Em 20 de Novembro, I^4I. Particular.

III."»'' e Ex.""' Sr.

Hoje escrevo officio confidencial ao sr. Lima, sobre o ne- gocio das reclamações da prisão dos emigrados. V. Ex.* o verá, e estou certo que o sr. Ferrer não terá duvida de annuir ao que se propõe no mesmo, porque, em realidade, a Conven- ção de 1823 deve ser entendida como nós a entendemos, a respeito dos emigrados que pedem asylo em um ou outro paiz.

Conte V. Ex.* que serei sempre o seu procurador, para que lhe não falte nada. Deus queira que o Regente conclua, brevemente, com as desordens de todos os bandos que, todos, em chegando aos excessos, são altamente nocivos. Não posso mais senão queixar me de que V. Ex.* me não escrevesse duas linhas o correio passado. Adeus.

De V. Ex.*

Am." Verdad." e Cr." Obrg.»

R. F. Magalhães.

Esta vae quasi na certeza de o não achar em Madrid; por isso fiz o officio ao sr. Lima; mas V. Ex.* ihe dará cumpri- mento se ahi estiver ainda.

LXXVII

Lisboa, em 24 de Novembro, 1841.

111.»° e Ex."" Sr.

Accuso recebidas as duas de V. Ex.* em data de 18. Es- timo muito as noticias que V. Ex * me a respeito dos negó- cios de Barcelona, e S. M. tem muita satisfação de saber que o Governo de S. M. Catholica se ache desappressado das di- fficuldades que os movimentos alli occorridos suscitavam ao mesmo Governo.

Estimarei que V. Ex.* possa ver o Regente, antes da sua partida para Vienna.

Emquanto ao importante assumpto do pagamento dos 5 milhões de Reales, darei decisiva resposta a V, Ex.» no cor- reio seguinte: e desejarei que o Governo possa annuir á pro- posta, por todas as razões.

Tenho a honra de ser

De V. Ex.^

Am.'' Verdad." e Cr.*' Obg.« R. Fonseca Magalhães.

LXXVIIl

Em 27 de Novembro, 1841.

111."'» e Ex."**' Sr.

Estou desejoso de receber noticias de V. Ex.*, relativamente á exigência repetida do sr. Aguilar para a prisão dos othciaes Hespanhoes emigrados, e restituição dos soldados, sargentos, etc. Todas as medidas para induzir estes últimos a aprovei- tar-se da amnistia, o Governo as toma, e surtirão effeito; mas o acto de os obrigar, á força, parece me violento. se orde- nou aos otHciaes Portuguezes que os aconselhassem a partir, e espero que partam todos; e, em ultimo caso, serão privados dos subsídios; porque eu entendo que praças de pret que tem indulto, devem ir cumprir os seus annos de serviço.

Emquanto aos officiaes, realmente o Governo Hespanhol ha de olhar o negocio mais liberalmente. Estes homens não estão no caso dos fugitivos que passam de um paiz para outro a conspirar: vieram depor as armas, e francamente pedir asylo:

ii6

ciar-lh'o para os prender é acto que deshonraria a um governo como a um particular. V. Ex.* fará sobre isto o que sabe ; e sustentará o nosso decoro. Em ultimo caso estava prompto a su)eitar-me á intelligencia da Convenção por um Governo amigo a Inglaterra se tanto for necessário ; tão certo estou em que, sem subtilezas, e mui conscienciosamente, hei proce- dido n'este negocio.

Emquanto á pergunta do sr. Salamanca, devo assegurar a V. Ex.* que, na segunda feira, mando a resposta do Governo: o assumpto é delicado, até pelo que se dirá de nós; mas o Procurador da Fazenda inclina-se a que deve acceitar-se. O que desejo é que o Governo Hespanhol se não escandalise comnosco; porque senão carecêssemos tanto, não proporíamos transacção alguma com ninguém. Creio, comtudo, queomesmo Governo não será insciente da negociação; e se ella convier, melhor para nós. Penso que se acceitar ; mas antes de se gunda feira depois d'ámanhã não posso declaradamente assegurar d'isto a V, Ex.*

Tenho uma nota para responder ao sr. Aguilar, e desejava demorala até receber a resposta de V. Ex.* sobre o tal assum pto da reclamação. Espero qut V. F.x.* tenha feito ver ao sr. Gonzales que melhor fará em dar credito a um Governo cujos interesses consistem na boa harmonia com Hespanha, do que ás intrigas de clubistas de cá, que são tão furiosos como os de lá.

O procedimento do Governo Portuguez é tal, que eu qui- zera bem que todo elle. sem reserva de nenhuma parte, fosse patente á Europa.

Tomara ter noticias da entrada do Regente em Madrid.

V. Ex.* sabe que aqui e ahi ha muitas gentes que deseja riam ver repetidas, em Barcelona, as scenas patibulares de Madrid e Biscaia; porque assim crêem que ficaria claro que o Governo, in médio tutissimiis ibit\ eu não penso assim. Basta de sangue. Castiguem-se os excessos de ambos os lados, mas não se familiarise a Nação com os supplicios, que lhes perde o respeito; e, roto elle, quem sabe como tudo acabará?

Os de Barcelona fugiram; deixal-os ir; oxalá que por ne- nhum lado haja mais victimas.

Beijei por V. Ex.* a mão a SS. MM., que sempre estimam receber novas de V. Ex.*.

Sou

De V. Ex.* Am.*» Verdad.^° e Cr." Obg.»

R. F. Magalhães.

»'7

LXXIX

Em 6 Dezembro (de 1840?)

111."» e Ex.""" Sr.

Duvido que V. Ex' espere em Madrid a chegada d'esta carta. Hoje respondo de officio ao seu reservado n." 2.

Muito folgou S. M. de ouvir lêr a conferencia que V. Ex.* teve com o sr. Gonzales, em todas as suas partes.

Chegou o Barão Mareschal, no paquete.

Esta chegada torna necessária a partida de V. Ex.' para o seu destino.

Não falou V. Ex.* com o Duque sobre alguma cousa do que tratamos ?

Adeus.

Creia V. Ex.* que sou

De V. Ex.*

Am.° Verdad.» e Cr."

R. F. Magalhães.

LXXX

(Deslocada) Em 3o de Outubro (de I^4o?)

111."'° e Ex ""^ Sr.

Creio que esta irá achar a V. Ex.' em Madrid.

Pela correspondência official e não oííicial o sr. Lima po- derá fazer ver a V. Ex.* qual o caminho diverso e franco que o Governo ha seguido, na occasião difícil da revolta dos Mili- tares n'esse paiz. Sem esperar pelos acontecimentos, e quan- do aqui, como é natural, se figuravam muito e muito perigo- sos, eu tomei uma prompta deliberação. S. M. a approvou lo- go e o Governo foi concorde em seguir a linha que traçou a respeito do Governo visinho, o qual, reconhecido por nós, e com boa intelligencia, apezar dos esforços e cabalas dos nos- sos movimeuíisías, tinha de esperar, de um visinho leal, a mais franca declaração. Esta foi contida na carta do Gabinete de S. M., e apparece em todos os actos do Governo.

n8

Não me alargo mais, porque espero novas de V. Ex.* Tenho a honra de ser

De V. Ex.*

Am.° e Cr.° Obg.»

R. F. Magalhães.

LXXXI

Em 23 (de Outubro, de 1841?)

111."»» e Ex.-"" Sr.

Duas palavras só, que o tempo não permitte mais. Entra- ram por Bragança 240 homens, e um brigadeiro, com 6 ou 7 officiaes do Regimento da Rainha. . Serão tratados como manda o direito das gentes e internados o mais possivel. Deus queira que breve indultem os soldados para nos vermos livres de mais estes incommodos. O Governo aqui olhou logo, desde o principio, os acontecimentos como furiosas loucuras de am- biciosos imprudentes que foram lançar, sobre si e sobre a sua pátria, calamidades que se evitariam pela prudência do Gover- no de Espartero, e pela sua exemplar tolerância. Tolerância com certa gente é impolitica. Não sei se a minha, que ha sido excessiva, talvez ainda me fará bem mal. Agora, o que eu de- sejo é que o Regente e os seus Ministros conheçam bem até onde é necessário ir no caminho da severidade : a demasiada faz mal a quem a exerce; mas convenho que, ás vezes, de algu- ma se carece, principalmente depois de actos tão flagrantes. Aqui vamos resistindo ás difficuldades; mas os nossos Pro- gressistas, feitos á pressa, não cessam de maquinar.

No correio seguinte escreverei a V. Ex.* sobre um tacto particular.

Estou ancioso por noticias de V. Ex.*

De V. Ex.^'

Am.° Obrg.*'

R. F. Magalhães.

Muitas saudades ao Conde, se foi com V. Ex.*

"9 LXXXII

(Não parece ser escripta ao Saldanha)

22 de Outubro de 1837.

111.""» Am." e Sr.

Muito estimei o obsequio da sua carta, que me deu a cer- teza de que V. S." tinha escapado aos lances a que generosa- mente se expoz. Tirei grande satisfação de o ver, e creio que não tardará esse momento, porque não conto demorar-me fora de Lisboa.

A fortuna dispôz contra nós o resultado dos acontecimen- tos. Por fortuna, boa ou má, entendo a boa ou disposição dos meios. De alguém seria a falta, que não posso attribuir aos dois homens principaes, apesar de tudo o que diz gente enthusiasta, que, de ordinário, faz recair a culpa dos grandes males sobre as pessoas mais elevadas; quando não raras vezes um defeito, que parece uma consequência, as produz gravis- simas. Por ser instruido por pessoa tão judiciosa como V. S.', também desejo ter o gosto de nos avistarmos.

Restituo a carta do S., cujo conhecimento é, segundo avalio, uma prova da franca e cordeal amisade que devo a V. S.*, e que pago em egual.

A dizer lhe o que penso tenho para D. Miguel uma re- pugnância invencivel, e prefiro ser ludibrio de toda a sorte de desgraças, a ser venturoso sob o seu dominio. Isto é seguindo a hypothese do escriptor da missiva; porque admitto asup- posição arfçumenianii forma. Tenho fortíssimas razões para crer que D. M. é extranho a todas as combinações politicas da Europa, a cujos olhos, com razão, se desacredita. Não digo com isto que os milvados que desolam este paiz devam, ou possam por muito tempo, devorar-lhe os restos, lon:Te d'isso; e até creio um dever de justiça para todo o homem de bem, não desconfiar da salvação da pátria; porém, o plano do ho- mem é verdadeiramente extravagante, e o juízo que faz das cousas e dos indivíduos sobre modo ridículo e juvenil.

Paliaremos dentro em breve. A única idéa do correspon- dente, que me parece verdadeira, é a que elle faz da capaci- dade e préstimo de V. S.*, porém o emprego d'este não me parece dever ser o que elle lhe propõe. Talvez nós chegue- mos mais depressa a um fim justo, trabalhando em vista de objecto que pareça mais remoto; mas trabalhando.

Adeus meu estimável amigo e senhor. A franqueza com

120

que lhe escrevo sirva de prova, á falta de outros, da minha es- tima para com V. S.', de quem me honro de ser

Am.° Att. Ven.o'- Cr.° Obg.° R. F. Magalhães.

LXXXIII 24 de Dezembro.

111.""» e Ex.°"' Sr. Confidencial.

Rogo a V. Ex.* o favor de attentar ao conteúdo d'esta cartinha sem me notar de temeridade.

Estão, ha oito dias, presos os homens do Commercio: hoje é véspera de Natal. O Governo deu uma demonstração da sua força, e da razão que teve. Parece-me que hoje é dia de ge- nerosidade: rogo a V. Ex.* que faça soltar os ditos presos. Olhe que não é a pedido de ninguém.

A causa (sou bem informado) da não ida dos taes officiaes, proveiu da inutilidade de uma representação que fizeram con- tra a conservação de certas praças do corpo, cortadores e outros mesteres, verdadeiras marcas do commercio. Uma commissão julgou que taes figurões deviam ser expulsos. E' certo que os mesmos officiaes representantes havidm sido e eram, e são insultados pelas ditas marcas; e então os quei- xosos, imprudentemente, ousaram desobedecer.

Não os justifico; mas se que a sua desobediência não foi effeito de espirito de partido; e isto me assegura pessoa que a V. Ex.* mesmo merece confiança.

Se a V. Ex.* parecer, será bom dar-lhes liberdade já: elles, depois de presos, têem sympathias; essas V. Ex.* as ganhará pelo acto generoso, e depois pensar-se ha como V. Ex.* que- rerá providenciar.

Não ha nada que obste ás medidas que V. Ex." tiver por acertadas.

Faça-me V. Ex.*" o favor de dizer-me o que lhe parece so- bre o assumpto ; mas sem zangar-se comigo por intromettido in bellica .

De V. Ex.* Am." e Golg.»

R. F. Magalhães.

121

LXXXIV

(?).

111.""» e Ex.""" Sr.

Meu caro Duque

Restituo a parte telegraphica. V. Ex.* não fallou em Minis- tério mas sim em Ministro.

Está de braços soltos a respeito do Aviia. Espero que na Canr.ara dos Pares haja temperança de phrazes e que V. Ex* possa fazer um excellente papel n'esse e nos demais pontos.

Por maiorias entende-se com elle; estavam organisadas en- tão, nem se referia nada a individuos que, por qualquer mo- tivo, os apoiavam— digo ao Cabral.

Nós fallaremos sobre o modo de evitar a resurreição das recriminações; porque felizmente não temos Cabraes Tho- mares.

E se a V. Ex.* parece, eu fallarei no sentido que concor- damos, e V. Ex.' approvará se assim lhe parecer melhor. Até logo.

De V. Ex.* Am.° Obg." e Coll.*

R. F. Magalhães.

LXXXV

i8 de Janeiro (de i852?)

111.'"" e Ex.*"" Sr.

Meu caro Duque.

Sinto muito que V. Ex.* ao escrever-me se achasse pos- suido de apprehensÕes fortes a meu respeito.

Eu fiz, sem suggestão alheia, negocio grave e ministerial, a Presidência da Camará, porque lhe não posso mudar a natu- reza. Não atiendi ás particulares circumsiancias transitórias que se davam entre os Passos e alguns dos seus amigos. Quem pôde fundar-se n'elles, que todos os dias variam tanto?

Desejo que V. Ex.'^ tranquillise o seu espirito.

Não é meu intento dissolver a Camará; mas entendo que é impossível governar ás ordens de uma Maioria, hostil em prin- cípios, e systematica em manifestar que nos domina.

Veja V. F]x.* bem que nem quero que o absolutismo volte, nem que a demagogia se apodere do Governo mediata ou im-

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mediatamente. Estas duas paixões politicas podem ser moderadas pelo poder, em mãos prudentes; mas, a não o serem, ignoro o que virá porque os exaltados liberaes, 'pelos seus excessos, cha- mam as reacções dos retrógrados, e estes podem conter- se se aquelles se contiverem.

Os meus desejos são esses, querido Duque, e, se não fos- sem, eu mesmo lh'o teria dito. Esta matéria não pôde tratar-se escrevendo á pressa; porque temos a decidir um ponto gra- víssimo. Se a Montanha quizer, como desconfio, tornar as suas ordens, deveremos nós obtemperar as suas pretenções, e não tomar outras medidas mais do que obedecer, ou sair?

Isto lhe peço que decidamos ambos. Eu sou um seu leal amigo ; achal-o-ha em tudo quanto tratar comigo ; e lhe peço que attenda bem ás pretenções, ao pensamento antigo de Passos e Companhia ! Olhe que eu não posso, sob pena de abdicar todos os dictames da razão e da critica, dar crédito ás suas protestações d'elles. Paliemos pausados, e investiguemos o que este negocio offerece de considerações sobre o que cumpre fazer.

accrescento que, para termos a liberdade segura, é mis- ter contermo-nos dentro dos limites do justo. Aliás não faltarão protestos aquelles que nol a querem fazer perder.

Não posso mais. Estou com Duarte Leitão e Garrett sobre o Acto Addicional, para ficar hoje prompto.

De V. Ex.*

Am.° e CÓll.* bbg.»

R. Fonseca Magalhães.

LXXXVI

22 de Janeiro (de i852?)

111."'° Ex.'"' Sr.

Meu caro Duque

N'este momento, ás 7 horas da tarde, recebo essa carta da Condessa de Thomar, escripta por algum doutor que nem se- quer se lembrou de que uma senhora, escrevendo a um ho- mem que jamais a offendeu, devia ser pelo menos polida e bem criada.

Não respondi; porque o não quiz fazer sem que V. Ex.* visse esta peça. Se V. Ex.* a quer mostrar á Rainha, muito

123

bem; c amanhã terá a bondade de dar-m'a e dizer-me a sua opinião sobre a resposta.

Bem vejo que a missiva foi escripta em consequência de communicaçôes recebidas pela Esposa do Esposo pelo pa- quete.

Por minha parte Deus me seja testemunha de que nada temo da vinda de tamanho gigante como o Conde de Thomar. Nem creio que elle tenha força de per si e seus amigos, para nos transtornar.

Deve me V. Ex.* e o exercito tamanho conceito, que nem sequer me passa pela cabeça recear a vinda d'esse liomem.

As scenas de 47 não se repetem duas vezes.

Mas V. Ex."*, desattendendo tudo quanto tenho escripto, te- rá a bondade de dar-me a sua opinião, e dizer-me se ainda hoje quer que lhe responda e como.

De V. Ex.* CoU.* Am." e Obg.»

R. F. Magalhães.

LXXXVII

23 (de Janeiro de iH52?)

Ill™" e Ex."^' Sr. Meu caro Duque.

Não posso ir ao Paço hoje: mando algum despacho da Justiça.

Estou no Reino com o Seabra, ainda sobre o inferno do Croft.

Eu não sabia que W. Ex " iam hoje. O Acto está prompto. Levo-o ás Cortes, para ser assignado e lido por V. Ex.»

Estarei ao meio dia ; mas agora é impossível sahir de aqui.

De V. Ex.* Am.« e Coll.^

R. F. Maíialhães.

Vae o exemplar do Acto, corregido. para VV. Ex." assignarem. tem o meu nome.

LXXXVllI

(Tetn tarja estreitinha)

I, Março (de i852?)

111."° e Ex.""» Sr.

Meu querido Duque.

Deixa-me em grande cuidado o estado da Rainha. Estas suas valentias podem ter um resultado funesto. V. Ex.* não me diz o que os médicos informaram da moléstia.

Muito estimo o que V. Ex.* me diz do negocio: devemos, amanhã, fallar com os nossos honrados collegas. Sinto que V. Ex.* se não demorasse esta noite, para amanhã vir com maior certeza das melhoras.

Muito estimo a não opposição que V. Ex.* achou. Fallare- mos amanhã ao nosso João, que espero será bom collega. Veremos o outro. Antes de tudo, nós, os quatro, devemos conferenciar. A cousa deve dar-se por decidida quinta feira ; porque temos de fazer, o collega da Marinha e eu, algum tes- tamento a favor de amigos. Adeus.

De V. Ex.* Am.° e Coll.'

R. F. Magalhães.

LXXXIX

Em 28 de Abril, 1862.

111. ""^ e Ex.™° Sr.

Meu caro Duque.

Passou-se o dia sem que eu escrevesse a V. Ex.* e pas- soume da memoria, por causa das mil e uma cousas que me occupam em uma immensa variedade. Temos mais bernardas. Nem mando as participações a V. Ex.*, para o não fazer zan- gar. Hoje, no Theatro, estamos ameaçados de uns Vivas á Carta, porém torno a dizer não o temo e custa a crêl o ; mas seria imprudência desprezar tudo. E' certo que Fronteira e D. Carlos andam ufanos, e que fazem quanto podem para corromper a Guarda. Esses senhores, que se dizem fidelissi- mos á Rainha, fazem-lhe bem pouco serviço ; porque, n'essas misérias, conseguem dar importância ao partido opposto,

que não deixa de assumil-a. Temos a historia do Centro de José Cabral, que fez aqui succumbir a Patuleia; e nós que pretendenrios nivellar todos e tudo, debaixo de medidas de jus- tiça, vemo nos obrigados a dar consideração áquelles que nos defendem. Valha me Deus com esta gente. O Barão da Luz terá dito a V. t£x.* o que ha, e que temos tomado algumas medidas de precaução, que são uma desgraça, porque mos- tram pouca estabilidide nas coisas, damnam ós nossos valores de credito, e até impedem as transacções. E' verdade que esses homens, que não soffrem outro governo senão o d'elles, pouco interesse tem na fortuna publica.

Mas repito, não temo nada ; e, se alguma asneira appare- cer, é provável que os auctores d*ella se arrependam.

Em quanto ao Decreto de S. Payo, V. Kx.^ bem sabe se é por meu gosto; mas quantas vezes cedemos a circumstancias.

Tomara saber da entrada no Porto. Fiz um Relatório ao Ministro Ingiez sobre a viagem da Rainha; porque clle me disse que seria muito interessante para S. M. Briíannica.

Adeus. O Jervis irá, depois de amanhã, passado o dia da grande ameaça ; ainda irá a tempo.

De V. Ex.* Am.» e CÔll.» Obg.»

R. F. Magalhães.

Em meu nome e dos collegas, peço a V. Ex.* que se sirva de Beijar as Reaes Mãos.

XC

II de Maio, ás 2 '/i P- m., (de i853?)

III."'^' e Kx.""" Sr.

Hontem á noute participei á Rainha os motivos porque V. Ex."* não comparecia na cerimonia; hoje me escreveu o Ba- rão da Luz, de ordem de V. Ex.^, para que se provesse na substituição das funcções do Mordomo Mór, e S. M , a quem li também a carta do Barão, ordenou que fosse D. Manuel de Portugal o substituto. Isto mesmo communiquei ao Marquez de Rezende e á Imperatriz. A S. M. I. disse eu que V. Ex.' sentia muito não poder desempenhar as suas funcções e, em

126

nome de V. Ex.*, lhe beijei a mão na Gamara Ardente, logar em que S. M. I. recebeu os Ministros e as deputações das Gamaras.

Estava muita gente, e entre ella a Legação Brasileira, com Drumond á sua testa.

A Rainha não fez o menor cabedal d'aquelle Diplomático, e levava tenção de assim proceder.

A Imperatriz appareceu lavada em lagrimas: pareceu-me enfraquecida e rugosa, muito mais do que ao sahir de Lisboa. O Marquez de Rezende me referiu quanto se havia praticado nos actos fúnebres que tiveram logar no Funchal, asseveran- do-me que alli se fizera tudo o que cabia nos meios para tornar esses actos mais solemnes e demonstrativos do sentimento de dôr e de respeito, devidos a b. M. Imperial.

A Rainha e El-Rei chegaram ao Arsenal meia hora depois de meio dia: esperou se mais de outra meia que o vapor Du- que de Saldanha amarrasse, e se segurasse no fundeadouro. depois d'isto embarcaram SS. MM. na galeota: os Minis- tros sairam em seguida. As deputações das Gamaras ficaram esperando a designação da hora em que seriam recebidas.

Pouco depois de estarmos a bordo, aonde SS. MM. e a Imperatriz se entretiveram por algum tempo na Gamara Ar- dente, junto á qual, e communicando com ella, tem, segundo entrevi, a Imperatriz o seu quarto, chegaram as deputações, que foram recebidas depois da despedida de ElRei e da Rainha; mas primeiro desceram os Ministros, que nada dis- seram : eu não ousei proferir palavra. Ajoelhei ante o Grucifi- xo, com os nossos collegas, e beijamos a mão á Imperatriz, que chorava e mal articulava algumas palavras, que eu não pude entender, e que mostrei apreciar, mencionando que era força sujeitar-nos, resignados, aos decretos da Providencia. Sahindo d'esta espécie de caverna de dôr, achei no tombadi lho Madame Moncomble (se assim se escreve), e as senhoras Gantagallos, com outras mais, mostrando os olhos inflamma- dos de quem tinha chorado, ou quizera chorar; e atraz d'eilas, em certa distancia, no fundo do quadro, divisei o sr. Drumond e Gorreia Galdeira, ternamente abraçados, com ambos os ros- tos festivos e risonhos, como dando e recebendo parabéns por algum fausto acontecimento, ou porque o Deputado havia cor- respondido aos desejos do famoso politico.

Depois d'este contraste, não me demorei muito: os colle- gas e eu saímos, deixando as Deputações a descer para o lo- gar da recepção, porque assentei que nada havia que fazer ex-officio. Soube que a Imperatriz tinha promptas as respos-

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tas para as falas das deputações, posto que da que levava a Ga- mara dos Deputados, pela sua Deputação, se não tivesse dado previamente copia; mas como sobre o objecto não pôde haver outra expressão que de sentimento e dôr, por um lado, e agra- decimentos por outro, tudo quadrará bem. Não sei se estas talas deverão ser insertas no Diário do Governo d'amanhã: sel-o-hão se eu as receber, ou a tempo forem mandadas á Im- prensa. Talvez o sr. Mordomo Mór improvisado ache mais fá- cil enviar, ellc mesmo, tudo á Imprensa do Rebello, como fez, se me não engano, com certas cousas da Madeira.

Também vi o padre que a Rainha elevou á dignidade de Deão, e que, segundo me disse o Marquez, não ousou encarrc- garse da oração fúnebre, de medo de algum ataque histérico. Também se receava de chegar maltratado da viagem, por ser sujeito a náuseas maritimas; mas d'isto não vi signaes, antes pelo contrario, muita frescura de semblante.

Falei ao Kcclesiastico, ao qual o ouvir o meu nome fez certa impressão que me não pareceu lisongeira para mim.

Entendo que a falta de oração fúnebre não é cousa que se torne desagradável; porque o Marquez notou que, se a houves- se, seria muito demorada a ceremonia.

Soube que o Conde de Tavarede, á saida de S. M. I., se achava em caminho de convalescença, com muito boas espe- ranças, emquanto ao etíeito da sua viagem ; da senhora Con- dessa e rapaz me deram boas informações. V. Ex.* terá tido cartas que espero confirmem estas noticias.

Depois que saí de bordo para a Secretaria, escrevi a D. Ma- nuel e ao Conde d'Alva. Este, na falta do Duque Palmella, será capitão da Guarda de Archeiros: disseram-me que hontem se procurava para elle uma farda emprestada. Espero que a terá achado, mais boa ou mais má.

Estou vendo se se engendra um artigo para o Diário d*a- manhã com a noticia da chegada dos navios, e da fúnebre comitiva, etc.

O Jervis, a quem pedi que me desse os esclarecimentos marítimos, não os mandou, e eu não sei como haver-me.

Ho)e é dia de grande faina.

C Particular)

Reparou o respeitivel que a Rainha e el Rei fossem ao Ar- senal em carro descoberto; que a Rainha em tal dia trajasse lucto alliviado com chapéu branco: parece me que houve falta de cuidado no traje. El-Rei estava de sobrecasaca.

128

Veremos sobre qual de nós cae a imputação d'isto que me parece falta de reparo. E' certo que nada custava vestir um vestido de preta e levar chapéu da mesma cór.

Quem mais que todos repararia conto eu que havia de ser a Imperatriz.

Fui extenso, porque V. Ex.* está longe, e gosta de saber as cousas.

Mandeme dizer, eu lh'o rogo, como hoje está. Acceite vi- sitas dos coUegas, e minhas, que todos o estimamos quanto é possivel.

/>. S.

A Rainha mostrou-me hoje muito desejo de que V. Ex.* apparecesse; porque, disse S. M., não se descuidaria de intri- gar sobre isso mesmo.

Contarei a V. Ev.'* viva você, o dialogo entre el-Rei e o Dr. Kepler, por causa de um artigo que trouxe hontem a Re- volução de Setembro.

Tem certo picante, referido como foi por El Rei. se en- tende o Dr. o attribuiu a quem ? Ao Rodrigo.

De V. Ex.*

Am.° e CÓll." bbg.°

R- F. Magalhães.

XCI

Outubro, 16, i853.

111."'° e Ex.""" Sr.

Meu querido Duque.

Tencionava hoje ir ver a V. Ex.^, mas passei mal a noute com uma seductora banana, que hontem comi depois do jan- tar, e que me fez dores terríveis de estômago, com vómitos, etc. Não me atrevi a cumprir o desejo de ir abraçar a V. Ex '

Mando com esta a carta que o nosso collega Frederico me deixou, na sua partida hontem para Santarém.

Reduzirei pois a escripta os meus pontos de conversação com V. Ex.'*. se sabe que isso está longe de satisfazerme ; porém não ha outro meio de supprir a falta que sinto de o não ver.

129

Recebi a carta do Gaspar de Azevedo a V. Ex.", sobre a eleição pelos Arcos de meu filho. elle me tinha cscripto no mesmo sentido. Aquelles homens nem pesam os nossos com- promissos, nem avaliam as conveniências da nossa situação, bepois da promessa que se fez ao Conde da Ponte, a fim de satisfazer o Pires, que na eleição passada ficou de fora, sacri- ficado ao Nogueira Soares, como podia eu consentir que se faltasse a tudo, porque era a favor de meu filho? Parece- me que dorme a maior parte da gente. Ainda se o preferido fosse algum minhoto de solar conhecido^ parente de El-Rei Ra- miro, ou algum Demosthenes do Lima ou do Gerez, paciência; nós não podemos impor candidatos á Costa Cabral; mas sub- stituir o homem trahido por um filho do Ministro do Reino, é grosseira popularidade essa que viria a ser vencedora.

Respondi ao Gaspar fulminando a obsequiosa traição, e até pelo telegrapho recommendei ao Conde da Ponte que lhe fi- zesse saber que nem V. Ex.* nem eu o permettiamos.

Parece-me que teremos o Lopes de Mendonça. E' um tanto ousada da nossa parte; mas ambos nós tínhamos dito ao Osó- rio e ao Mendonça que o acceitariamos. Talvez este não desça nunca á vileza de Carlos Bento, que nem hoje me fala. As du- vidas do Governador Civil, e as suas desintelligencias com o Osório e os demais Deputados, estão aplanadas.

O Aguiar está de muito mau humor comnosco, e entendo que mais ainda comigo, por causa de um tal Jardim que eu, ha muitos tempos, diz elle e talvez seja assim, prometti propor por Oliveira d'Azemeis. Esqueci-me de mencionar a promessa quando tratamos da distribuição dos candidatos: entrou o tal Forjaz, recommendado pelo General Ferreira, e como de simi- Ihante homem não fizéramos menção, ficou de fora.

Disse-me Aguiar que V. Ex.^ lhe declarara que duvida nenhuma teria em propor o seu parente por Castello Branco; mas alli estava proposto o Celestino, e cu alfirmei ao Aguiar que faria com que este ainda pela terceira vez fosse sacudido do logar de Castello Branco. Elle atlirmou-me que não queria fazer mal ao Celestino, que estimava, e a favor do qual trabalharia se pudesse. Percebi que desejava ficar bem com todos, e poder dizer ao Celestino que, a seu pesar dellc, o Go- verno o mudara ou deixara de fora. Desconfiando d'cste pen- samento, não insisti e falleilhe na Terceira, o que me parece haver-lhe «.icsagradado. Não alterei, pois, a recommendação de Castello Branco, aonde haverá ditficuldades para o próprio candidato nosso, c do qual W Ex.^ talvez estivesse esquecido quando o Aguiar lhe íallou.

o

i3o

Emquanto á Terceira, diga-me V. Ex.* se lhe parece que para recommende o homem do Aguiar.

Pelo que respeita a Portalegre, temos muitas difficuldades em fazer vencer o D. João. Peço a V. Ex.* o favor de dizer-me se posso annunciar ao Governador Civil o nosso consentimento em que (no caso de impossibilidade) elle acceite outro, com tanto que seja do Governo.

Fallei com o Bivar, fazendo-lhe ver quanto nós querería- mos que elle trabalhasse pelo Manuel Maria. Escreva V. Ex.* ao Zêzere n'esse sentido. Bivar é bom moço, e fará ó que poder.

O pobre José Paulo Pereira está de fora; nem vejo como remediar este mal. Tenho pena d'isto porque elle é excellente pessoa.

A'manhã verei o que ha de meudezas sobre as exigências dos Governadores Civis de Traz-os-Montes e Algarve.

Tive noticia de que o Pinto de Lemos se porta bem, e dadas por um Setembrista puro. O negocio do Douro está me- nos mal. O povo, longe de descontentamento, mostra satisfa- ção comnosco.

Dos Governadores Civis nada tenho que desconsole. O que me cuidado é a colheita; não porque ella não chegue, mas sim porque receio exportações que venham a trazer le- vantamento de preço aos cereaes.

Temos milho abundante nas províncias do Norte; porém, se elle sair, receio grande carestia. A isto devemos attender.

O Aires de mereceu os galões do jcrnahsmo adverso, por uma lembrança tola. Ha dois mezes que eu lembro aos nossos collegas este ponto de subsistências, que hoje me não pertence. Quando V. Ex.* vier, que espero seja brevemente, tratemos d'isto que é serio.

Ha mil outras cousas, meu caro Duque, de que devemos occupar-nos, e para tratar das quaes é força que estejamos todos.

V. Ex.* não pôde estar ahi com proveito seu, e de certo está com grande detrimento de nós todos. Venha, eu lho ro- go agora deveras, que todos ganharemos com a sua vinda.

E' necessário. A R. mostra grande desejo com a sua vin- da. Eu li a SS. MM. a parte da policia que remetto. Pareceu- me que temeram que eu accreditasse o conteúdo: affirmei que o não accreditava; mas Deus super omnia.

Deixo de mencionar, como disse, muitas cousas que nem sempre que se quer lembram, e termino pedindo a V. Ex.* que me ponha aos pés da senhora Duqueza a quem vivo agra-

l3!

decidissimo, pela bondade com que S. Ex.* fala e ajuiza de mim e da minha probidade e honra.

De V. Ex.»

Sincero e Grato Am." e Obg.° Coll.*

R. F. Magalhães.

P. S. A minha causa no Porto leva bons termos de ven cimente; mas— até o lavar dos cestos^ etc.

A respeito de vindima, tive espantosa diminuição no Douro.

Não tive noticias da chegada do Fontes, por não haver possibilidade de passagem dos annuncios o que muito me zanga.

XCII

20 de Setembro (tem tarja mediana).

111.'"'' e Ex."^" Sr.

Meu querido Duque.

Cheguei estafado. Escrevi hoje 84 cartas. Algumas exten- sas. Poí»to que me dóe terrivelmente a cabeça, sempre conto ir ao Estoril.

Não sei se V. Ex.* e alguns dos nossos collegas tem ido ao Paço, depois da 5.* feira. F^m todo o caso, supplico a V. Ex.* que não deixe de ir amanhã de manhã, na supposição de não ter ido hoje: ou por melhor dizer, ainda no caso de ter ido.

Perdoe me V. Ex.* se é liberdade demasiada esta que to- mo, de lembrar-lhe cousas de que, provavelmente, se não es- quece: julgome por mim, a quem L)cus deu absoluta negação para homem da Corte

Parece-me, pelo silencio tclegraphico do Porto, que os meus otlicios, com os do (Conselho de Saúde, mandados pelo vapor inglcz, não foram alli recebidos, ainda que cu tinha, te- legraphicamente, prevenido o Pedro para que tivesse fora uma catraia.

Isto zanga-me; porque indica descuido no serviço. Se assim foi, o Hortega, a quem me dirigi, mandaria os tacs ofhcios que

l32

continham, conr>o hoje disse a V. Ex.*, instrucções sanitárias.

Se V. Ex.* fôr segunda feira a Cintra, deixe-me as suas or- dens, e alguma noticia que tenha.

Não estou nada satisfeito com os taes progressos de saúde no Porto.

Esqueci-me dizer a V. Ex.*, que o Procurador Civil de Bra- gança me diz, em data de i3, que tem bem hgurada a eleição, apezar de Paradinha, Vargas, e Pinto de Lemos! Veja V. Ex.* se pergunta ao Vinháes alguma cousa sobre isto, que é serio.

De V. Ex.* Am.° e Coll.* Obg.""»

R. F. Magalhães.

XCIII

i3 de Novembro (tem tarja mediana).

Iir° e Ex.""" Sr.

Meu querido Duque.

Não fui hontem ver V. Ex.*, porque vim ás 9 horas da Se- cretaria; jantei mal, com dores de cabeça, e não me atrevi a sahir de casa. Não ha más noticias do estado eleitoral. Deus queira que o fim nos seja favorável.

Esteve na Secretaria o Aguiar que está zangado com o Conde das Antas; não porque este nos seja infiel, mas por- que foi demasiadamente franco com a patulea dos Eleitores. EUe, Aguiar, estava, comtudo, mais esperançado do que nos dias anteriores, porque havia conseguido angariar alguns e convencer outros; não converter á razão, porque a essa não vão senão mui poucos; mas sim ao medo de que o que os exaltados querem, não se não consegue, mas até os leve atrás do que estamos.

No fim de tudo, teremos de aturar aqui um par de furio- sos; deixal-os.

Não sei se V. Ex.* foi ao Paço. Se não foi, talvez seja prudente não tratar do objecto de Garrett: se foi, desejo saber se V. Ex.* fallou n'elle, e como achou o terreno; por- que supponho não dever arriscar a matéria em pleno Conse- lho, o que me colloca cm posição critica, e até aos meus col- legas.

i33

Tenha V. Ex.* a bondade de dizer-me o que se passou, e a sua respeitável opinião, e, sobretudo, se está melhor.

De V. Ex.»

Am.° Coll.* Obg.

R. F. Magalhães.

XCIV

(Tem tarja mínima) 17, á meia noite (de novembro de i853?)

III.""' e Ex.""" Sr.

Meu caro Duque.

Nem hoje pude dispensar um momento para abraçar a V. Ex.* no dia dos seus annos! Tal tem sido a faina a bordo do nosso navio. Esta carta será entregue amanhã, ja passado o dia próprio; mas V. Ex.* sabe bem a razão da minha falta, e acceita esta expressão de affecto e verdadeira amisade que lhe consagro, e que durará emquanto eu durar.

Cheguei do Paço ás 11 horas; tomei um caldo, que me serviu de jantar, por medo de comer a taes horas.

Temos de ir hoje, digo amanhã, ao simulacro do Beija- mão. Peço a V. Ex.* o favor de mandar-me dizer com que uniforme devemos ir? De farda simples e calças pretas? De calças de galão e gr. cruz ?

Isto desejo saber, para ir convenientemente. O Duque da Terceira parece ter dito que este acto não exigia mais do que o uniforme d'estes dois dias; mas eu duvido, porque é um beija mão, embora de lenço preto. Não sei.

Depois d'amanhã temos o funeral, que nos consome o dia. No Domingo haverá o acompanhamento ao Infante mallo- grado, ás 8 da noite. Na tcrça-feira, missa e exéquias no Hos- pital de S. José ; e na quarta feira, Beijamão de pezamcs, E' um nunca acabar ; e os negócios públicos hão de padecer, de certo. Paciência !

Ainda assim que expressão de amor e fidelidade á nossa perdida Soberana !

Creio saber os pontos em que El-Rei tocou hoje a V. Ex.^; mas será bom fallarmos n'esses objectos, que S. M. parece

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impaciente em determinar. Não é bom fazer as cousas antes de tempo \ e temo que Eile precipite a decisão de negócios graves.

Como está o Conde de Tavarede ?

Como estará V. Ex.*, com tantas afflicções ?

Adeus.

De V. Ex.° Coll.* e Am." Obg."

R. F. Magalhães.

Oxalá que eu possa fallar-Ihe hoje, sobre negocio grave que me respeita, e que é a descoberta de mais um tratante.

XCV

23. (Tem tarja minima.)

III.'"" e Ex."-" Sr.

Meu caro Duque.

Não tive noticias do Lavradio, e sei que não escreveu. De- sejo saber se V. Ex.^ teve alguma cousa. O que prevejo é que, pois nos achamos em leito de rosas, o homem, para nos di- vertir, quererá misturar alguns espinhos para nos disciplinar, e obrigar a coçar-nos.

Sc é o que eu penso, como não pôde deixar de ser, vamos tratar do que se deve fazer. Para augmentar os meus praze- res, recebi hontem á noite uma carta do Conde de Sobral, muito escandalisado por lhe não fazer o seu padre, Cónego, e pedindo a sua demissão.

Eu, na verdade, como disse a V. Ex.% tinha-lhe promet- tido fazel-o na primeira vacatura. Occorreu ella, e deu se o que elle soube; porque eu lhe disse que V. Ex^ queria des pachado seu sobrinho.

Mas, perguntado pelo Conde se havia deixado o despacho por fazer, eu, esquecido de que tinha assignado o Decreto, disse-lhe que me não lembrava de o haver levado á assigna- tura (e na verdade me não lembrava); e quando o homem soube que sim, deu-se por despresado; por desattendidos os seus serviços, e sáe com a demissão. '

Sinto isto, porque tudo são desgostos e difficuldades. A

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este respeito V. Ex.'' poderá dizer lhe alguma cousa; porque, na verdade, eu tinha feito a promessa ao Conde, e, até certo ponto, a falta me é imputável, e o esquecimento pouco crivei, posto que protesto que, por me não lembrar, lhe disse que deixava o negocio por fazer. Vejo que a elevação á dignidade de Par, a considera o homem como nada; e assim são todos. Tomara eu que se acabasse este meu tormento, que me é insuportável.

De V. Ex.» Am." e Goll.»

R. /' Magalhães.

XCVI

26. (Tem tarja minima).

IllT'^ e Ex.""^ Sr.

Mando a V. Ex.* os papeis juntos para que tenha a bon- dade de os ver e de dizer-me o que quer que faça sobre o seu conteúdo.

O amigo Medifaco (?) fez-se brazileiro no Brazil; veiu para Portugal, n'esta qualidade, e como tal, se legitimou em 1840. Foi brazileiro até 5i, apezar de empregarse em nosso servi- ço. Foi despachado em 52; e, quando quiz passaporte para a Ilha, no Governo Civil lh'o não deram, porque era brazileiro, e o pedia como portuguez. Vendo isto, foi declarar na Cama- rá ]\Iunicipal que queria ser portuguez, depois de haver occul- tado que o não era quando soUicitou e obteve o despacho de Guarda mór em S. Miguel. O despacho, em rigor, está nuUo; porque foi obtido dolosamente, como se fosse nacional o agra- ciado. Este, segundo o decreto de outubro de 36, deveria, lo- go que regressasse, fazer a declaração de que reassumia a qua- lidade de portuguez.

Esta circumstancia é attendivel; porque o Governo pôde ser increpado de haver dado despacho a um estrangeiro quan- do tantos portuguezes os pedem debalde. E" verdade que elle foi fazer, á Gamara, a sua declaração; mas fcl-a depois que se lhe negou o passaporte, e depois de despachado.

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Aqui tem V. Ex.* como andamos vendidos, no meio d'es- tes homens que nos compromettem sem cerimonia alguma.

De V. Ex.*

Coll.* e Am.° Òbg."°

R. F. Magalhães.

P. S. Acho este ofi&cio do Governo Civil na Repartição, quando elle foi dirigido á Fazenda.

Peço a V. Ex.* o favor de responder-me enviando-me os papeis.

XCVII

3i. (Tem tarja minima).

111.°»° e Ex.""» Sr. Meu caro Duque

A carta de V. Ex.* tem para mim transcendente importân- cia. Não é com outra que eu posso responder-lhe. Irei d'aqui a pouco falar a V. Ex.*.

O negocio não é commigo, é com todos os nossos col- legas. Para não aventurar um juizo definitivo sobre elle, pre- ciso discutir ou reflexionar com V. Ex.^, serenamente e since- ramente, posto que posso dizer que eu tenho a minha tenção formada, e a minha resolução, provavelmente será conforme a ella^ mas não antecipo cousa alguma.

N'estes termos, tenho a esperança de que V. Ex.^ me creia seu verdadeiro amigo, e movido por inspiração de aífecto e interesse pela sua pessoa, muito mais do que por ne- nhuma outra, incluindo a minha própria. Até logo.

De V. Ex.* Am.° e GolL* bòg."""

R. F. Magalhães.

XCVIII

(Tem tarja minima).

111.'"° e Ex.""* Sr. Meu caro Duque

Por minha parle não ponho objecção ao decreto; mas pa- rece me um tanto durete. V. Ex.* crê que terá cavallos de graça para o Exercito? Eu não o creio.

Não tenho objecções aos seus candidatos; o que precisa- mos é resolver hoje esse negocio infallivelmente, porque tenho grandes causas de desgosto por elle.

De V. Ex.* Am.° e Coll.'' Obg.°

R. F. Magalhães.

Oxalá que se possa acabar o negocio da França sem guer- ra civil.

XCIX

28 de Julho, 1854.

111.™° Ex.""» Sr.

Meu caro Duque.

Está assignado o Decreto para o sr. Ferreira e não Tei- xeira.

Falei ao Jervis sobre o Major General. V. Ex."* via bem o negocio. E' um velho honrado, mas prcconceituado por alguns d'aquelles figurões que lhe metteram nos ouvidos chimeras e vaidades que não servem de nada.

O Miudello, entregue ao Inspector para o aceiar e prepa- rar de modo que sáia prompto e decente, não desarma para ficar em abandono.

Os officiaes queriam estar n'elle para irem recebendo as gratificações e comedorias, o que sempre querem.

Ora seria isto motivo para pedir a demissão? E' acaso of- fensa pessoal, ou é dese)o de melhor serviço? Que faria o na- vio no Tejo? Nada, senão continuar a estar enxovalhado, e a ter otViciaes cm conezia, que é o que elles todos tratam de arranjar. Mas creia V. E.x.* que o é victima dos con- selhos d'aquelles ou aquelle que quer ir subslituilo na Com

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missão. Isso sei eu. Falei ao Jervis para que não desse tal de- missão ao homem; e eu estou prompto a apresentar o decreto de que V. Ex.* fala. Diga-me V. Ex.* se convém que elle seja despachado antes das outras pessoas que acompanhavam El- Rei, ou se será conveniente fazer taes despachos antes do re- gresso de S. M. o Sr. D. Pedro,

V. Ex.* me dirá o que sobre isto lhe parecer. Pedi ao Fre- derico que fosse a Cintra, para informar a V. Ex.* do que oc- correu hontem, e da nossa zanga pela dissenção entre o Júlio e José Estevão. Não sei se elle partiu. Senão, irá hoje, com certeza, visto que eu não tenho podido sair d'este inferno, que o é deveras para mim, ha muito tempo,

Desejo que fallemos sobre as coisas de Hespanha, e, haja o que houver, depois d'ámanhã verei a V. Ex.^; porque as cir- cumstancias exigem que fallemos sobre ellas.

Adeus meu caro Duque.

De V. Ex.* Am.° e Coll.'» Obg.°

JR. F. Magalhães.

Lisboa, 3o de Julho, 1854.

Ulmo e Ex."'° Sr.

Meu caro Duque.

De ordem de Sua Magestade tenho a honra de participar a V. Ex.* que o mesmo Augusto Senhor Ha por bem conce- der a V. Ex.*, de juro e herdade, o titulo que V. Ex.* possue de Duque de Saldanha, verificandose, como V. Ex* deseja, desde logo, o mesmo titulo na pessoa de seu filho, o sr. Con- da de Saldanha, por occasião do casmento do mesmo Senhor.

Fica dependente de V, Ex.* a passagem do competente Diploma, que levarei á Real assignatura logo que V, Ex.* m'o indique.

Dou a V. Ex.^ e a Duqueza os meus parabéns, mui ver- dadeiros.

Tenho a honra de ser

De Ex ^ Am.» e CoU.^ Obg.°

/^. Fonseca Magalhães.

i39 Cl

8 de Janeiro (de ib55?)

111.°"» e Ex."» Sr.

Meu querido Duque.

Estimo que V. Kx. ' achasse rasoavel o expediente quanto á Bulia. Creio que foi bem assim: amanha trataremos d'esse ponto na nossa conferencia.

Na verdade as restricçÕcs são todas do foro espiritual, e não sei como pode o poder temporal disputar ao Papa o que é da sua exclusiva jurisdicçSo.

Emquanto á demissão do Frederico, devo assegurar de novo a V. Ex.' que, saindo elle ou qualquer dos collegas, eu não posso ficar. Sobejos motivos tenho para não perder a occasião de recolner-me, de uma vez, a casa, dizendo á poli- tica o ultimo adeus.

Devo-lhe uma não merecida elevação na ordem politica; mas bem caro a tenho pago.

O que me tem feito estar aonde estou, é a amisade de V. Ex.'\ a sua franqueza, e o amor que V. Kx.^ tem tido sem- pre ao nosso paiz, que o torna merecedor de leal coadjuva- ção*,— é a bella correspondência dos nossos collegas, e o ca- racter nobre e fiel de todos sem excepção.

Mas, quebrada a cadeia de que eu sou o elo mais inferior, não fico por nenhum caso.

Estou exasperado com o desaforo do Gymnasio. Escrevi ao Carlos para logo prohibir a continuação ; disse-lhe que me fosse tallar, e esperei até ás 6 V2; não appareceu.

E' immenso o desaforo; porém espero pôr-lhe cobro. A ultima meia pagina da carta de V. Ex.' foi escripta com de- masiada confiança na minha aptidão, em quanto a leitura. Nunca me vi tão embaraçado. Espero amanhã de V. Ex.' uma lição que me ha de aproveitar.

De V. Ex.' Col!.' e Am.^ Obg.°

h\ F. Mãíialhães.

140

CIl

Em 14 de Janeiro (de i855?)

111.'"° e Ex.-"" Sr.

Estive no Paço e disse a S. M. que tinha que fazer, e que, provavelmente, não iria á noite. S. M. conveio.

O Ministro Inglez é um grande estopada. Agora acabo de escrever-lhe para informal-o de que um cómico, a quem os de S. Gados devem não sei que somma, será pago; e o tem sido de parte da divida.

Pelo que respeita aos passageiros do paquete, não sei se a demora é devida ao desmancho da machina, ou a que, por quanto o que se me pediu foi que se não demorasse o con- certo, por falta de operários, os quaes não deviam esperar que acabasse a quarentena. Mandei ao Conselho de Saúde que não impedisse o prompto reparo do navio, e que, a res- peito dos operários, se fizesse como de costume; isto é, sabido e praticado sempre. Quando vae gente a bordo dos navios im- pedidos, essa gente fica depois em quarentena, e nada obsta á sahida do vapor reparado. Poderá acontecer que os reparos se não façam a tempo; mas que culpa temos d'isso? O Con- selho não fez observações á ordem que, antes de hontem, lhe expedi. O Wanzeller e o Cônsul estiveram commigo na sexta feira, e ainda se não tinham dirigido ao Conselho para pedi- rem o que, officiosamente, o Cônsul me pediu a mim. Entendi que tudo estava em regra ; porque nenhuma reclamação ou re- sistência me chegou á noticia até agora.

Emquanto ao Frederico, disse-me o mesmo que escreveu a V. Ex.^. e eu repeti-lhe o que sempre tenho declarado: o pri- meiro dos collegas que sair leva-me comsigo; e muito estima- rei que essa occasião se apresente quanto antes; porque des- fallecido, cansado e summamente desgostoso com as cousas que nos contrariam, suspiro pelo momento da liberdade.

A amisade de V. Ex.', e as obrigações que lhe devo, são os motivos da minha demora.

Vou á Secretaria, e, se V. Ex.^ por apparecer, fallare- mos sobre o Frederico e outras cousas.

De V. Ex.^

Coll.^^ e Am.° Obg.°

R. F. Magalhães.

141

cm

i.° de Abril, (de i855?)

111.'"=' e Ex."*" Sr.

Meu caro Duque,

Bem sei que não dou novidade; mas entendo dever man- dar a V. Ex.* a carta do Machado, que denota o extasi em que aquelle espirito se achava, opprimido de prazer, pela vi- ctoria que a causa da justiça e da innocencia havia alcançado, sendo elle o General da Campanha.

De V. Ex.* Coll.» e Am." Obg.'°°

R. F. Magalhães.

CIV

2 de Abril, (de i855?)

111.'"° e Ex.'"° Sr.

Meu caro Duque,

Hontem não fui ver a V. Ex.-', como desejava, porque me sobreveiu de tarde uma grande dôr de cabeça, que padeci to- da a noite. Constipei-me no Passeio; creio qu2 por estar um pojco de tempo de chapéu na mão deante d'el Rei.

Estou agora melhor; mas ainda sinto dôr e não pequena.

Mando a V. Ex.* essa carta de um jurado ao V. da Jun- queira; foi parte do jury do Porto, e foi este, porque o ou- tro, a quem o Visconde escrevera, não saiu sorteado.

Pelo que o homem escreve, não foi maioria, mas sim una- nimidade a que houve na decisão. Comtudo, crerei que ha- veria um ou dois tafues que não quizeram condemnar, unani- memente, o grandissimo vilão do Torcaio jumento, auctor ou principal manobrador, na campanha do rapto.

Estimarei muito que V. Ex.'^ escreva duas linhas ao Jun- queira, restituindolhe a carta. O jurado não encarece o seu serviço muito; pelo contrario, mostra que a opinião de todos os seus collcgas foi a sua d'elle, o que, para mim, vale muito.

Como está V. Ex.'^? \'erei se me é possivel ir hoje ver o meu nobre Presidente.

De V. Ex.'

Coll.» e Am." Obg.""^

A'. /•". Mai^alhãcs.

142

CV

25 de Julho, i855.

111.™° e Ex."» Sr.

Meu querido Duque,

Mui cordialmente abraço a V. Ex.*, no dia 2-4 de Julho, tão glorioso para o Marechal Saldanha, nas débeis linhas do Porto. De certo que eu não sei de feito d'armas que possa egualar-se ao de 33, n'este dia.

Agradeço a V. Ex.* a menção que faz dos meus 68: foi no dia de hontem que nasci, em uma quasi choupana, junto á minha aldeia.

Nem me cabe o gosto de coincidir a minha obscura appa- rição no mundo com o dia da sua victoria, não direi principal, mas uma das mais brilhantes da sua carreira.

Hontem passei incommodado: ainda o estou-, mas não des- espero de melhorar.

Não foi porque jantasse de mais; porque, estando com meus filhos na quinta, antes de ir para a mesa me senti aftli- cto e doente até ás 1 1 da noite.

ho)e com os collegas da Fazenda vimos Rilhafolles, onde está o retrato de V. Ex.* para recordação da sua bella obra, que não desmerece o nome de victoria. Depois passá- mos ao Jazigo Real de S. Vicente, que está acabado; e ainda depois á prisão do Limoeiro, que achámos em bom estado de salubridade.

Estas visitas, todas melancólicas, as fizemos sem desgosto; porque, se nos fazem ver o que é a humanidade, também nos mostram que nas mesmas desgraças d'ella se pôde tornar sen- sivel o beneficio da caridade e da civilização.

Adeus.

De V. Ex.=^ Am." e Goll.* Obg Z'

R. F. Magalhães.

P. S. —V. Ex^ está óptimo! E' para mim óptimo.

143 CVI

Ministério do Reino Secretaria Geral JH mo g pj. mo c_

2.* Repartição

Sua magestade El Rei, Regente em Nome do Rei, sendo- lhe presente que V. Ex.* se acha de nojo por motivo do falle- cimento da sua Esposa a Ex."* Sr.* Duqueza de Saldanha, que Deus haja em gloria, manda alliviar a V. Ex.* do referido nojo.

O que de Ordem do mesmo Augusto Senhor tenho a hon- ra de participar a V. Kx.* para seu conhecimento.

Deus Guarde a V. Ex.^ Paço de Cintra em 14 de Agosto de i855.

111.'"" e Ex*"". Sr. Duque de Saldanha, Presidente do Conselho de Ministros

R. F. Magalhães

CVII

Ministério do Reino Secretaria Geral 2." Repartição Jjj mo g ^^ mo gp

N.'" i 17. L." 14."

Devendo celebrar-se, no dia 22 do corrente mez, a Festivi- dade do Corpo de Deus, sahindo a Procissão da Santa Pa- triarchal, pelas quatro horas e meia da tarde, Manda Sua Ma- gestade El Rei remetter a V. Ex.^ a portaria inclusa, para ser enviada ao Porteiro da Camará de Cavallo de Numero que V. Ex/* nomear para distribuir durante a Procissão as ordens do estylo.

Deus Guarde a V. Ex.* Paço das Necessidades em iS de Maio de i856.

111. "^« e Ex."^° Sr. Duque Mordomo-Mór.

R. F. Mau^alhães.

'44

CVIII Lisboa, 23 de Maio, de i856. Confidencial

Ill.™o e Ex.""" Sr.

Meu querido Marechal,

Em oííicio confidencial de 28 de Abril ultimo que enviei directamente ás mãos de V. Ex.* lhe pedia eu que se dignas- se de adoptar as providencias que melhor lhe parecessem pa- ra mandar sahir d' Aveiro, sob qualquer pretexto, ainda mes- mo em Gommissão, o Capitão Ignacio Ferreira Pinto, que ainda alli se conserva, e é um agente de Lopes Branco, que, nos logares mais públicos, vocifera indignidades contra o Go- verno em geral e, em especial, contra V. Ex.* e contra mim. Este homem, que se mette nas atribuições das Auctoridades, que procura estorvar a sua acção e traz tudo inquieto, é além d'isto, um jogador perigoso, e muitos chefes de familia se queixam d'elle ter arrastado seus filhos para este funesto vicio.

Veja pois, meu caro Marechal, se faz sahir d'alli aquelle energúmeno.

Sou com a mais elevada consideração

De V. Ex.*

Am.° e Coll.^ Obg."^"

R. F. Magalhães.

Nota Apenas o fecho da carta e a assignatura são da lettra de R. F. Magalhães

CIX

Em i5 de fevereiro (?)

111.™° e Ex."^" Sr.

Meu caro Duque.

Fazia eu tenção de ir hoje, com os coUegas, ver V. Ex.''; mas saimos tarde do Paço e eu, desde hontem, estou muito aborrecido com a votação de uma emenda do Nogueira Soa- res na Lei do Recrutamento, que me fere sensivelmente.

V. Ex." terá sabido do caso, e avaliará quanto deve eile ter-me affligido, vindo o procedimento de homem da Maioria, a quem sempre dei testemunhos de consideração e amisade. K" negocio que, em regra ordinária, me deve fazer sair da Administração. K foi na minha ausência que se votou, depois de haver sido por mim declarado que o Governo não podia íicceitar a emenda, que pedia ao meu tUustre amigo se ser- visse de retirar.

Valha-me Deus, que tanto tratei de mimi Basta: amanhã consultarei alguns amigos, e veremos o que é decente fazer.

Emquanto ao ponto principal, que é a carta de V. Ex.', ■dizia eu que amanhã fallariamos a V. Ex.'; e é certo que eu devo encarregar me da resposta que, na ausência do Presi- dente do Conselho, me pertence dar; e estimo que assim seja.

Veremos como vem formulada quando a apresentar, a in- terpellação com que nos ameaçam A carta de V. Ex.', offi- ciai, está bem ; mas eu devo ter a tal Independência Belga, e ver a carta de V. Ex.' em francez; porque assim podere- mos ser restrictos emquanto ao sentido. Farei, como devo, as minhas diligencias para apresentar o pensamento de V. Ex.' e, saia o que sair. Do que se na carta de V. Ex. ', não ha mo- tivo de tanta sensibilidade como a que apresenta o sr. Conde.

Como digo, amanhã nos veremos: tenho, também, de res- ponder ao mesmo sr. Conde sobre o theatro do Rocio, e seus regulamentos, que S. Ex.' acha péssimos, comparados com os seus d'elle. Verei se o Sebastião me acode; mas elle está com sarampo, o que é para mim tão mau coma para elle.

Não vou ao Theatro Francez, porque o tempo está péssimo; e se eu pudesse aconselhar a V. Ex." dir-lhe-hia que jogasse antes ás damas com o sr. Prior; * e ouvisse alguma composi- ção da Condessinha no piano a intervallos.

Que pavoroso inverno I e o collega Fontes quer, debaixo delle, ir a Coimbra.

Adeus meu caro duque.

Sou de V. Ex.'

Am." Obg.'^ e Coll.'

R. F. Magalhães.

* Neta: O Padre Tavares, enião prior em Cintra e depois da egrejj >tje Santa Izabel, de Lisboa.

10

146

cx

111."^ e Ex." Sr. II (?)

Ha duas horas, digo ha três, estive em casa do Collega da Marinha aonde se acha também o sr. Rebello.

Muito tinhamos que fallar, e scbre objectos importantes; creio que V. Ex.* se esqueceu.

Hoje adverti o Fonseca Telles da falta dos avisos para o Conselho d'Estado de amanhã. Chegaram agora esses avisos feitos \ mas é indecente expedir ao Patriarcha e aos demais, ofíicios, á noite, para amanhã ás 1 1 horas.

Parece-me e ao sr. Fontes, que devemos alterar a data de 12 para i3, e enviar os ofíicios hoje, para depois d'ámanhã.

Mas, para que isto assim seja, é necessário que V. Ex.* approve e o annuncie a S Magestade.

Quer V. Ex.* ter a bondade de me fazer saber a sua de- cisão ?

Pelo que respeita ao objecto da conferencia, muito sinto que não tivéssemos fallado.

De V. Ex.» Am.° e Coll.» Ubg.»

/?. F. Magalhães.

CXI

14 (?)

111.'"° e Ex.-" Sr.

Vejo os ofíicios do Bello, e coincidem ambos no mesmo es- pirito com o que hoje recebi do Conselheiro de Districto, que ficou servindo de Governador Civil, na ausência do Vaz.

Em tudo, tudo, vejo o espirito de partido muito pronun- ciado. Veremos o que dizem Mesquita e o d Évora; ma>', em- quanto a mim, reputo indispensável o desarmamento do Bata- lhão do Mariano, que é a alma de toda estas desordens.

Alli ha o partido do Galamba e do Batalhão; estes estão ás mão<

O Bello é pouco sincero quando se por surprehendido

147

pelo motim do dia 7 c pelo do dia 11. Náo lhe sabe a origem, e nem suspeita o instigador ou instigadores. Veremos. Oxalá que o Governador d'Evora se não incline excessivamente á parte opposta ao tal Conselheiro de Districto e ao Bello.

Ha, em tudo isto, de verdade, que este Bello não deu, ra- pidamente, as providencias que lhe foram pedidas, e que o pobre Vaz tem pouco geito para viver com aquelles selvagens.

Devolvo a V. Ex.* os oíHcios, e espero que havemos de restituir a ordem ao districto de V. Ex.*

Coll." e Am.* Obg.°

/?. Fonseca Magalhães.

|3(?)

GXIl

111.'"^ e Ex."^ Sr.

E' cousa difficil ir aos Senadores e á Fazenda; mas V. Ex.* pode ter a bondade de ir, porque nada ha que alterar no que assentámos, e, feito assim o negocio da entrega ao Lord Ho- ward por V. Ex.% officialmente, mandámos dizer isto ao Mon- corvo, e V. Ex.* escreve ao Lord Palmerston.

O Official Maior dos Estrangeiros irá á Fazenda; e V. Ex.* me fará o obsequio de dizer-lhe o que elle tem que escrever, para éu assignar, isto é, ao Moncorvo. V. Ex.*, depois da en- trega, escreve para a Repartição, e combinemos no officio que eu devo dirigir a V. Ex.' Em todo o caso, cumpre fazer hoje a cousa, para V. Ex.* cumprir a sua palavra, e o Governo mostrar que não tinha nem tem mão (.''). Se, não obstante a necessidade que tenho de estar no Senado, V. Ex.* julgar que sou preciso na Fazenda irei.

De V. Ex.* Am.* Att.^^ Ven.°' e Cr.»

R. Fonseca Magalhães.

148 CXIII

27(?)

III.™" e Ex.'"" Sr.

Meu querido Duque.

Restituo a V. Ex.* a carta do sr. Blanc. Sobre o negocio da eleição de Lisboa, ainda nada me foi dito, além do que ha muito havia sido concordado com os nossos amigos quanto ao sr. Frederico Pereira. Ignoro por qual dos circulos ha ten- ção de o propor, ainda que me parece haver-se acordado em que seja pelo 27.

Duvido muito que os nossos amigos acceitem, como candi- dato, o sr. Blanco, não obstante ser bem avaliado o seu mere- cimento; porque tem todos contraído deveres com homens que apoiavam as nossas doutrinas politicas e económicas. Quando eu me mostro tão distante do conhecimento das in- tenções dos cavalheiros que compõem o Centro Eleitoral da Regeneração, não creia V, Ex.* que lhe falte á mais rigorosa verdade; e V. Ex.* me acreditará, desde que tenha a infor- mação que lhe dou, de que eu não pertenço á Commissão encarregada de tratar d'esse negocio.

Não me nego, comtudo, a procurar informar-me d'elle ; e, no caso de não haver algum compromettimento, farei men- ção do sr. Blanc, como de pessoa que V. Ex.* deseja ver con- templada.

Adeus.

De V. Ex.'' Am." Ubg.""» e CoUega

R. F. Magalhães.

CXIV

111.™" e Ex.™" Sr.

3Q (?) \le

Meu querido Duque

Bem haja o Doutor. Agouro muito felizmente da receita do banho, e da partida matutina. Vou ao Paço; darei parte a SS. MM. Sei que teem cuidado amigável por V. Ex.% e eu o tenho muito e muito verdadeiro, porque folga o meu coração

'49

de amar a V. Ex.* Adeus. Mande-me como se acha : cu e os collegas nos interessamos, verdadeiramente, na sua saúde que é cara a todos que amam a nossa terra.

Estive çom o B. da Vargem. Està-se assignando a repre- sentação das Juntas a pedir as inscripções.

O Banco, digo, a Junta só, perguntou de que semestre pa- garia o dividendo; mas sjm tenção de passar inscripçÕes. Ella quer paz com o Governo, mas L. J. Ribeiro tem o desejito de fazer caramunha, se lhe fôr possivel. Adeus, repito.

Adous muito saudoso

De V. Ex.' Coll.* e verdadeiro am."

H. F. Maf^alliães.

CXV

111."'" c Ex."" Sr.

22.

Meu caro Duque.

Abri a carta que V. Ex.'^ para mim sobrescriptou ou man- dou sobrescriptar. Vi que era dirigida ao sr. Fontes ; nem po- dia sei o a outrem, e logo lha dirigi, d'aqui mesmo do Paço, aonde o amigo Larcher me pediu que o apresentasse.

Deploro extremamente a falta que padecem as divisões militares que V. E\.^ menciona; mas espero que o nosso bom collega o remedeie.

De V. Ex.^ Am." c Coll.» Obr.^^

A'. /-'. \Lií,ralliães

C.KVI

27 (?)

111. ''" e Kx."" Sr.

Meu caro Duque,

Desejo que falasse com o collega da Marinha em quanto á saída do amií^o Pinheiro, que não convenho que saia n o dia i.^

i5o

Não tratamos ainda da nossa lista de Pares e, por isso^ não me preparei para assignatura Real.

Seria bom que amanhã nos preparássemos para a tal lista, c que 2.* feira fossemos á carga. Se a V. Ex * parecer bem isto, peço-lhe que me avise.

De V. Ex.» Am." e Collega

R. F. Magalhães

CXVII

12 (?) 111."»" e Ex.""* Sr.

Meu caro Duque.

Remetto a V. Ex. a carta junta. Vejo que o G. de L. deu passaporte ao G. de Th., porque não recebeu aviso contrario, nem tinha tempo de o re:eber. Sobre este ponto parece-me que devemos falar, e também a SS. MM.

Depois do attentado de Hespanha, não sei se a questão pôde considerar-se a mesma.

De V. Ex.* Coll.* e Am.** Obg.«

R. F. Magalhães

Também hoje devemos falar sobre o Douro... do anno.

GXVIII

(Sem data alguma. Deve ser entre 7 de julho de i85i e maio de i852, quando o Gondc das Antas falleceu.)

111."'^ e Ex.*"" Sr. Meu caro Duque.

Hontem á noite não pude fallar no negocio do pobre G. das Antas, porque não estive com SS. MM. Ali esteve o Duque da Terceira, Thomaz de Mello, etc.

A. R. perguntou-me por V. P]x.'' Eu disselhe que alli o espe- rava, mas que achara a V. Ex.* adoentado. Perguntou-me de que? Respondilhe que me pareceu falto de respiração. Isto i respondido de propósito; como quem dizia que tinha em

i5i

si alguma cousa que occultava. Se n'isso lhe tocarem, terá V. Ex.* bom fundamento de explicar-se.

Peçolhe que não fique sem observação o que lhe disse a R. sobre a violência da R. Victoria, que %offra; porque outras soffrem Ministros contra vontade. Eu chego a desesperar, ao vêr os sacrifícios que fazemos, e que eu faço mais do que ne- nhum, porque sou de todos o mais cançado e incapaz, e a paga que d'elles recebemos ! ! Tomara que Deus me livrasse do tormento em que vivo.

Peço mais a V. Ex' que observe bem as phisionomias; porque ha um certo sacudimento de modos, e uma tal soltura de lingua, ha tempos a esta parte, que disfarçam pouco alguma vontade que, se sempre existiu, ao menos existiu menos descoberta.

De tudo isto não se segue que seja verdade o negocio do Dias d'01iveira; porém, cautellal E' possivel que elle mesmo tenha basofiado da admissão graciosa que recebe, e dizer de mais para ser crido. Mas de tudo isto seria bom, por ora, não instruir os novos collegas. V. Ex.*, comtudo, fará o que lhe parecer.

De V. Ex/ Am." e Coll.'' Obg.»

R. F. Magalhães

O que digo a V. F]x.* é relativo á R., que em elR. não tenho achado a rainima diíTerenca.

CXIX

III.'"" e Ex.'"'» Sr.

20, ás 6 iioras (?)

Estou ainda com alguma inquietação sobre a saúde de V. Ex.* Para me tranquillisar basta que um creado de V. Ex.* diga ao portador que V. Ex.* se ach^i melhor. P>' escusado of- ferecer a minha sincera bja vontade, que é em tudo obediente aos seus preceitos.

De V. Ex.- Am." e Coll.* Obg.°

R. F. MagJilhães

l52

CXX

Em 20 de outubro (de i853?)

111."^° e Ex."» Sr.

Meu querido Duque.

Recebi hoje a carta de V. Ex.* pelo Visconde da Luz. O objecto d'ella é de summa gravidade. Amanha nos reunire- mos, os collegas, para tratar do assumpto, a que El-Rei não pode ser estranho. Da minha parte não estou prevenido a favor da proposta de V. Ex.*; porque o tj^io velho, sem o Ma- rechal Saldanha, não pode existir. Mas trataremos de dar re- médio aos inconvenientes que appareçam, de forma que não- façamos a quebra que não podia deixar de haver, seguindo se o plano do Presidente do Conselho. Mas isto nada é resolução dos collegas ', é a expressão pura dos meus sentimentos, que são sempre os mesmos para com V. Ex.*, a quem amo sobre todas as cousas de Ceo abaixo, não sei se incluindo mesma filhos e netos.

Deixe-me rectificar uma expressão sua descrédito de repartição se houvesse uma repartição desacreditada, sendo V. Ex.^ o seu chefe, e sendo esta a Repartição da Guerra, ha- veria alguém hábil para acredital-a ? Ha cousas que poderiam ir melhor, se V. Ex.» tivesse tido saúde. Resta, em tudo, ver se a essa saída compensará o mal que ha, emendando-o, ou se ella trazia, sobre esse que existe, mil outros irremediáveis.

Mas isto não é senão sentimento meu; ainda não conferi- mos; e eu mesmo ainda não meditei no negocio, que pode ser resolvido na presença de V. Ex.^, indispensável ainda que nós fossemos fallar a V. Ex.*, á Grécia ou á Palestina.

Serei sobre isto mais explicito quando nos reunirmos, que espero seja amanhã, pois que hoje ha cousas que não posso deixar de fazer.

Mando a V. Ex.* essa carta de José Lourenço, que é sem- pre o homem leal por excellencia, e seu adorador. Hoje re- metto ao mesmo os papeis que me entregou o Frederico, e os números dos jornaes que devem ser accusados.

Eu fallei lhe no Brito, ao menos para o neutralizar. Espero que tenhamos bom resultado; e V. Ex.* ainda ha de estimar haverem-lhe dado os nossos inimigos mais uma occasião de mostrar quem V. Ex.* é, e elles são.

O que me afílige é o estado da sua ferida. Venha V. Ex.* para Lisboa, e decidamos, em fim, que partido convém tomar.

i53

Mandemos vir esse homem de França, ou lome-se uma reso- lução; porque vou perdendo de lodo a paciência, de cada vez mais desconfiado do acerto da cura. Isto peço-lhe que fique para V. Ex.*

Adeus meu caro Marechal. Chegaram seus bons filhos e neto ?

De V. Ex.» Am." do coração

liodrigo.

CXXI

(Sem daia alguma)

III.'"'' e Ex."«= Sr.

Meu caro Duque.

Não era nada. Ditosos olhos! Ha um século que o não vejo. Que vae de novo? Gomo estão os deputados? Vamos para dentro. Pelo caminho fallei no rapto das raparigas objecto da conversação que tive com El Rei no seu quarto. Falíamos quasi nada de Hespanha, e duas cousas da procis- são de Corpus Chrisii. Elle inclinado a que ella fosse de tarde; e a R. a que fosse de manhã ;e disse-lhes adeus. (3 chamamento pois não tinha outro objecto além de saber o que havia de novo.

Agora são 3 horas: temos de ir ao Drumond. Devo escre- ver para Beja e para Vizeu, com especialidade sobre o tal rapto. N'este caso, a não ser necessário, não irei ás Cortes, e vou á Secretaria para poder ainda fazer o que digo, e não faltar ao cunvite, que é cousa importante. Mas se fôr indis- pensável a minha presença, irei promptamente.

De W Ex.'

Am." e Coli.^ Obg.**

R. F. Mj L'j lluLS.

i54

CXXII

111."" e Ex.»»*» Sr.

i4(?)

Meu caro Duque.

Estou ancioso por saber o que V. Ex.* passou com El-Rei. Nunca tive nada mais afflictivo do que a miséria da publicação d'aquelles negregados papeis, que V. Ex.* sabe como se fez por tolice grande de quem não reflectiu na inconveniência. Mas, emfim, a culpa foi minha. A falta dos outros foi não advertirem na minha, e não me fazerem observações que eu sempre recommendo que se façam.

agora para este caso não ha remédio. Diga-me V. Ex.* como está este deplorável negocio.

De V. Ex.* Fiel Am.o e CoU.»

Rodrigo.

1 1 de abril, (?)

CXXIII

111.°^° e Ex."° Sr.

Os tolos dos Inglezes viram, na maneira porque o Go- verno se houve na crise ministerial passada, um penhor de estabilidade e ordem. D'este modo, no dia 5 do corrente, ao saber-se em Londres que o Ministério Portuguez não saía dos negócios, estavam os fundos a 36, e no dia 7 subiram a 3/ e a 37 e meio.

me vae parecendo que valemos mais alguma cousa do que os nossos patuscos, que a si próprios se denominam Pro- gressistas.

Como chegou V. Ex.^ ?

Vou escrever duas rabiscas para a Reforma, que está mui chocha.

De V. Ex.^ Am." e CoU.»

R. F. Magalhães.

i65

CXXIV

III."" c Ex."*» Sr. Lisboa, 26 de Abril (?)

Meu caro Duque,

Tenho a sua estimadíssima de 24, com os exemplares do jornal. Se eu estivesse muito disposto para a melancholia, a simples leitura da relação da entrada em Coimbra me faria alegrar; mas eu não estava, graças a Deus, e a mim mesmo; porque no meio das minhas zangas pelas injustiças dos ho- mens, tenho recursos bastantes para considerar que basta não merecer essas injustiças que a consciência de não haver fal- tado nunca aos deveres de homem, me influem espíritos e al- tivezas, que desesperam os meus detractores. Sei, além d'isto, que V. Ex.* me conhece— e basta.

Sim, senhor: Deus livre a R. de cair nas mãos dos exal- tados; mas não se chamam aswm os partidos: todos se dão por modelos de moderação e justiça: até o Passos, até o Leo- nel e talvez o Holtreman.

V. ;Ex.^ sabe o que todos querem de mim: amar-me híam seu instrumento, não o posso ser de nenhuns; inde irce. O Rebello acha-me frouxo, dormilão, descuidado, porque não excluo; porque tem visto Progressistas em alguns funccíonarios nomeados ultimamente; e o Pjtriota chama me Cabral, porque não dou exclusivamente todos os logares públicos á sua gente, e não demitlo todos aquelles que reputa seus adversários.

Uns tratam os seus inimigos de Cabralistas, outros os seus de Setembristas: o Governo não pôde ser echo de nenhuma d'estas vozes; porque seria echo da mentira. Ahi está tudo.

Pelo que respeita ao Rebellinho, não o reputo Cabralísta ; e presumo que não quer d'essa gente; mas ainda está em maior distancia dos montanheses. E' verdade que me não tem tratado carinhosamente; porém, que diflerença entre elle e o Leonel ? Este bárbaro que me chama Costa Cabral, que faz derramar por entre os seus. e pelos seus, que eu tenho feito pactas com o conde de Thorn^r, sabe, decerto, que é falso o que allirma e faz espalhar ! O Camará, que vae alli re- ceber inspirações, escreve as sandices que se vêem em suas papeletas, presumindo que o Conde de Sobral não desestima- rá de que o meu nome seja assim ennegrecido pelo seu Jt- docq. Ja disse a V, Ex * que hontem o forcei a que ordenasse ao seu agente a ir buscar a raiz da arvore, e a apresentar-lhe donde sahem esses boatos que elle se compraz em repetir.

i56

Isso não me cuidado; nunca me causou essa calumnia a menor inquietação de espirito, senão porque vejo a Auctorida- de contentarse com a leitura de umas poucas de infâmias, muito insensatas, as quaes serão repetidas pelo Secretario, que é animal insupportavel.

Não tenho por cousa muito amável a dissolução da Gama- ra; faço votos para que se não o caso; mas não é porque receie, em outra eleição, o predomínio Cabral, nem mais exal- tação da parte contraria do que houve na ultima. Os elei- tos que agora sairam são, na máxima parte, se não todos, ho-' mens moderados governamentaes, não excessivos em libe- ralismo, não tem a menor suspeita de Gabralistas. Pois, senhor, não ha, entre nós, muito d'essa gente, que deteste aquelle homem e os abusos por elle commettidos, mas que, tão pouco, approva a politica dissolvente e tumultuosa dos Proges3Ístas exaltados? E' impossível que não haja sabemos que ha e se não triumpha é porque nem ha quem se empe- nhe no triumpho, nem quem cerre os ouvidos á impostura e á trapaça d'uns e outros agiotas eleitoraes. Ha de chegar tempo em que se conseguirá fazer a escolha de gente moderada, liberal, que prescinda de homens, menos de um, e que quer ver o termo das nossas dissensões politicas.

Bem; emquanto ao perdão de acto aos estudantes de Coim- bra. Estimo que S. M. queira dar essa prova de carinho á ra- paziada.

Em quanto a alteração do itinerário, também a approvo; e lembro que, ainda apezar de algum custo, se deve tomar uma direcção diversa da que tiveram; scenas como as de Coimbra não se repetem. Parece-me politico seguir o caminho do Porto a Ovar e Aveiro, na volta, c (Faili á Figueira, cujas povoações, isto é, as do caminho d'aquella cidade a esta villa, chegarão para passar mal uma noite. Estimo muito que assim se faça.

Desejo saber se SS. MM., na volta, querem vir á Sé, dar graças, se ficam em Mafra, ou vem d'alli aqui, preparados para essa festa de dar graças ? Os Camaristas desejam uma festa, também, mas estão descorçoados, porque aqui não pode haver tanto estrépito, è elles não tem dinheiro.

Adeus, meu caro Duque. Hoje ainda lhe escreverei, pro- vavelmente. Saudades de todos os collegas. Elles e eu beja- mos as Reaes Mãos.

De V. Ex.^ Am." e Coll." Obg "

A\ F. Ma<ialhães

'^7

cxxv

111."" e Ex.'"' Sr.

Meu caro Duque

Venha quanto antes para o Conselho, se quer propor a tal amnistia.

De V. Ex/ Am." e Coll.»

R. F. Magalhães.

CXXVI

1 de )unho (?)

Iil°>' e ExT" Sr.

Meu querido Duque

Agradeço a V Ex." a promptidão da sua vinda. Amanhã, ao meio dia, estarei com V. Ex.* e o amigo Fomes, a quem ja avisei. Escreverei também ao Jervis, e tallaremos sobre os negócios eleitorae?; porque os nossos amigos o desejam e eu não consinto que um passo demos sem V. Ex.^ por nos- so Chefe, como sempre foi e será.

De V. Ex * CoU.* e Am." Obg."

R. F. Magalhães

CXXVII

Meu caro Duque

Peço a V. Ex.* que veja se levou um papel, pelo formato d este, em que eu escrevi uns apontamentos quando taliava o Thomar.

Não o acho, por mais que me mate, e não me é possível fazer nada sem aquelles rabiscos; porque, confiando-os ao pa- pel, deixei vasia a memoria. Flstou com isto muito zangado.

De V. Ex.'

Coll.^ e Am." Ded."

R. F. Magalhães

i58 CXXVIII

(Não tem data nem assignatura, mas é da lettra de R. F. Magalhães;

III.'»» e Ex.""" Sr.

Entre o possível e o bom abstracto, ha distancias, ás vezes, infinitas. O possivel, ninguém melhoro conhece do que aqufille que vive na pratica dos negócios.

As commissões não podem ter logar:

1." Porque o que se quer o que esses senhores que- rem— a paz da Egreja e dos fieis, começa a obter-se sem es- ses apparatos, que, se agradariam a uns, seriam decerto des- agradáveis a muitos outros. O caminho está aberto pelo Go- verno; a pedra da base das negociações com Roma está lan- çada, e essas negociações a caminho. Recomeçar, quando vamos bem, é não querer acabar.

2.° As negociações com Roma, nunca o que está as abrirá sem impulso de outra mão; e esse está dado.

A expressão que se pede seja obliterada, o será. Nem o que anda escripto demonstra outra intenção: bem se que se caminha á rehabilitação de todos, não de salto, mas pro- gressivamente, e breve será completa.

A missão dos Pregadores apostolicos-politicos, é recurso obsoleto*, e tem de mal ser imitação da pratica de D. Miguel, por meio de Jesuitas e outros.

se tem convidado todos os nobres que quizeram ir ao Paço; convidar os que não querem é indecente. Se se pre- tende acatar a R. não se queira vel-a reduzida á classe de supplicante.

Muitas provas está ella dando de que deseja o termo da exclusão. Quem deve pedir ?

Bem está emquanto ao G. das Antas.

O sr. S. Luiz não quer ir para a Universidade: dar-lhe pode- res de reformador seria commetter excesso. Se se diz que se guarde a Gonstituição, como se pretende que o Governo a viole ?

A commissão ao Lacerda é outro excesso: que quer dizer auctoridade de mudar funccionarios?

A guerra do Algarve deve acabar com uma amnistia, en- viando ali um homem qualificado da província, e n'elle que- rido, que inspire confiança ao povo: d'isso se trata.

t39

E' preciso descriminar entre habitantes desgraçados, e ban- doleiros foragidos; os segundos são peste.

As pessoas para as administrações são objecto serio: uma ou outra successivamente pode ter logar; mas é preciso não impor condições mysteriosas ; porque, n'cste caso, de modo algum se deve faltar á franqueza. Quaes pessoas?

Está approvado o plano do Martens. Como condições, não são admissiveis, nem adiantamento de Cortes, nem dissolução d'ellas ou das Camarás.

A duodécima condição é uma proposta de capitulação in- admissivel.

O que pertence aos abusos da imprensa, e outras publica- ções, devem ser corrigidos opportunamente.

Pelo que se vê, pretende-se passar a administração, em todos os seus r^^mos, para certas mãos ; e isso é absurdo.

O nosso principio é o de Liberdade, justa e bem regrada : garantias a todos os Portuguezes, respeito á R. e ás Leis fei- tas pelas Cortes. Todos os meios de conciliação e de união são acceitaveis : preferencias e victorias de uns contra os ou- tros, não.

A maior parte, se não todos os que se reputavam perse- guidos, e que de facto o não são, parecem sonhar n'outro he- mispherio. Quem os persegue, quem lhes nega egualdade de direitos poliiicos ? Se elles fogem, se clamam que os querem assassinar, que culpa tem d'isso aquelles mesmos que lhes abrem os braços para os receber ? O que se lhes nega é a en- trada da casa para serem exclusivos senhores d'ella.

Estas linhas as encarrego ao Ex.""" Marquez de Saldanha para as fazer ver, e não para as dar da sua mão para fora. Quem disfarça a letra, e occulta, obstinadamente, o nome, não tem direito a menos reserva.

CXXLX.

III.'"' e Ex.'"" Sr. 20, (?)

Obedecerei a V. Ex.-*, e apontarei o que me parece que deverá ser dito por V. Ex * aquelles senhores.

Esta convocação era inevitável*, porque, aliás, iriam cada ho- mem fazer um grupo, e depois unir-se com os grupos Passos e Pinto Bastos, donde não poderemos tirar muitos; porém a

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cousa, por zangadora que seja, não nos deve levar a explica- ções compromettedoras. Talvez se diga que a reforma deve hcar para o fim; o que, de nenhum modo, se pode admittir. Pode ser que se prometta apoio ao Ministério, salvo a mim. Veja V. Ex.* até que ponto devemos resistir a isto, uma vez que não seja pedido com ameaças, etc.

Até logo.

De V, Ex.» Am.** e Coll.*

R. F. Magalhães.

CXXX

Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Manda Sua Majestade a Rainha, pela Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, remetter ao Conde de Almoster, para seu conhecimento e satisfação, a copia inclusa, assignada pelo Conselheiro Official Maior da mesma Secretaria de Es- tado, do Decreto com data de 26 de Janeiro ultimo, pelo qual a mesma Augusta Senhora Houve por bem promovel-o a Pri- meiro Addido á Sua Missão Extraordinária em Madrid, sem prejuizo da antiguidade dos que a tiverem maior.

Palácio das Necessidades em 6 de Fevereiro de 1841.

Rodrigo da Fonseca Magalhães.

GXXXI

Ministério do Reino Secretaria Geral

2.» Repartição 111.™° e Ex."" Sr.

N.» 520. Livro 9."

Sua Magestade A Rainha Tem resolvido Assistir no Thro- no á Funcção da Ordem de Nossa Senhora da Conceição, que ha de celebrar-se, na Santa Patriarchal, no dia 8 de Dezembro corrente, pelas 11 horas da manhã; e Determina que V. Ex.* faça avisar os Moços e Músicos da Real Camará para alli se acharem á hora marcada, designando V. Ex.* um dos dignos Moços da Camará para acompanhar o Esmoler

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Mór no acto da ofFerta, e dando todas as mais providencias que forem do costume c da competência da Mordomia Mór, por occasião d'esta solemnidade.

Deus Guarde a V. Ex.* Paço das Necessidades em i de Dezembro de i85i.

lU.'"'' Ex.""» Sr. Duque Mordomo Mór,

R. Fonseca Magalhães.

GXXXII

N.» I

Accuso a recepção do otlicio que V. Ex.' me dirigiu com o numero i, e muito estimo que V. Ex.^ chegasse, felizmente, a essa Corte, e fizesse desvanecer, como era de esperar, a impressão que, insidiosamente, se procurou ahi causar a res- peito do objecto da sua missão.

Vejo o que a V. Ex.* observara o sr. Ferrer sobre o nego- cio da livre navegação do Douro; e a este respeito cumpre me ponderar, que nenhuma justa queixa pôde o Governo Hespa- nhol formar da demora que tem havido em ultimar o dito ne- gocio, aliás summamente melindroso c delicado, em conse- quência da opposição que até agora havia encontrado na Im- prensa Periódica, e mesmo nas Gamaras; e que o Governo somente apresentou c fez progredir na sua discussão quando julgou a opinião seguramente esclarecida. O resultado mais importante, e que podia, por certo, ser o mais ditficil de con- seguir, já se obteve, qual era o de julgar valida a ratificação da Convenção de 3i de Agosto de i835. Vencido este essen- cialissimo ponto, mais facil será conseguir, posto que com al- gum.a demora, a approvação do respectivo Regulamento, no que o Governo tem trabalhado com o mesmo empenho com que diligenciou que se reconhecesse a legalidade da ratificação da citada Convenção; e as dilliculdades que n'Í5SO tive a supe- rar são bem constantes, mesmo dos extractos da discussão da Gamara dos Deputados que tem vindo no Diário do Governo.

A internação do Major Cabral e de todos os revoltosos re- fugiados em Hespanha, c um dos objectos que V. Ex.* deve ter sempre muito em vista pela diligencia que elles estão fa- zendo, nas terras da fronteira, para perturbar a tranquilidade

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das Províncias limitrophes d'este Reino, excitando o animo dos descontentes á desordem, e offerecendolhes apoio e aco- lhimento em Hespanha, em proclamações que, das ditas ter- ras, têem mandado espalhar em Portugal, e em editaes ou avisos que têem ousado affixar n'este Remo.

O Governo de S. M. leu, com prazer, o que V. Ex.* refe- re acerca da vinda do sr. Aguilar, de quem tem as melhores informações, devendo eu accrescentar que será até convenien- te que V. Ex.*, se achar para isso occasião, influa para que ella se verifique quanto antes.

Espero que V. Ex.* tenha feito entrega da sua Creden- cial a esse Governo, e que aproveitará, sempre que a julgue necessária, a cooperação oíferecida por Mr. Aston.

Suas Magestades e Altezas acham se, felizmente, gozando da melhor saúde.

Deus Guarde a V. Ex.* Palácio das Necessidades em 18^ de Novembro de i84o.

111.""" e Ex."'^ Sr. Marquez de Saldanha.

Rodrigo da Fonseca Magalhães.

(Respondido em 24 de Novembro com o ofíicio n.° 5).

MISSÃO DE MADRID

OFFICIOS CONFIDENCIAES

ENVIADOS DE MADRID

PELO

MARQUEZ DE SALDANHA

AO

MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

N.° I . Confidencial.

Ill.">'' e Ex.""" Sr.

Na sexta feira, 20, tinha visto, peio Diário do Governo^ a terminação, na Gamara dos Deputados, da questão prévia apresentada pelo Deputado Campos, e no sabbado fui ver o sr. Ferrer, esperando que o acharia satisfeito por aquelle re- sultado; e exigir a internação dos revoltosos que se acham nas fronteiras. Não posso sufficientemente descrever a V. Ex.* a agitação em que achei aquelle Ministro, que, logo depois dos primeiros cumprimentos, me disse: tMeu amigo! Não pôde V. «fazer ideia da consternação em que estamos desde que hon- •tem á noite recebemos os Diários, de Lisboa.»

Mostrei-lhe a minha admiração; porque, tendo-os lido, tinha achado motivos para o contrario.

«Pois que», me replicou, «V. não viu que oGoverno per- «mittiu se pozcsse em duvida se o Tratado da livre navegação «do Douro era valido? Quaes seriam as consequências se essa «Gamara de Deputados tivesse decidido que o não era? O «dever dos Ministros era protestar immediatamente contra «tal procedimento, e não fazendo assim, provaram ao mundo «inteiro o nenhum caso que fazem de nós! Cinco annos de «paciência, nos quaes temos dado as mais evidentes provas, anão de moderação, mas de abnegação dos nossos interes- «ses para conservar amisade com os nossos visinhos, pois «que consentimos em alterar um artigo que torna nuUa a ex- «portação de nossos vinhos e a introducçao de géneros ex- «trangeiros, são mais que sufficientes para fazer ver á Europa ua necessidade em que estamos de usar de outros meios. A «Hegencia, hontem mesmo, tomou a sua deliberação, e hon- atem á noite escrevemos ao Encarregado de Negócios em «Lisboa».

Principiei por pedir lhe me dissesse qual era a sua opinião a respeito da força do seu próprio Governo. Respondeu-me que julgava nunca tinha havido em Hespanha um tão forte como era, n'este momento, o actual. Continuei que tal era a minha persuasão, por isso que o Presidente era o chefe da

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força armada, e o Vice-presidente (elle Ferrer) era o chefe do povo; e perguntei-lhe se, não obstante a convicção da immen- sa força moral e physica de que dispunham, não tinha havido mais de uma occasião em que a Regência, por contempla- ção com a opinião publica, tinha deixado de obrar como faria se não tivesse aquelie obstáculo?

«Ohl amigo. Despues que uno sube tan alto se ve la co- «media por a dentro».

«Pois bem», continuei, «se V. imaginasse os preconceitos «que ha a vencer, as diííiculdades que tem suscitado a Im- « prensa Periódica, os homens que vivem pelo contrabando dos «cereaes, e os lavradores do Tejo e Douro, dificuldades de «qu2 a Opposição nas Gamaras se tem aproveitado para ga- «nhar popularidade e desacreditar o Governo, V. se conven- «ceria que os Ministros não podiam suffocar a discussão sem se «exporem a uma revolução, e a Regência, dando peso a to- «das estas considerações, longe de criminar o Ministério, não «pôde desconhecer quanto elle se tempenhado em levar ao fim '«este negocio».

«Nós decerto não podemos negar ao sr. Magalhães e á «maioria da Gamara a justiça que merecem, e vamos dar pu- «blicidade ao seu discurso; mas, vamos fallar com a franque- «za de amigos; leia essa carta que, também, hontem á noite «recebi do General que commanda a Gastella Velha. E' meu «amigo intimo, e de toda a minha confiança». Pintava-Ihe o estado em que tinha achado a Provinda; entrava em detalhes a respeito das Juntas e empregados; e, afinal, assegurava-lhe que podiam contar com socego, e todo o apoio n'aquella Pro- víncia, comtanto que, sem demora, concluíssem o negocio da livre navegação do Douro, na certeza que toda a Gastella se levantaria contra o Governo se visse que continuava a seguir a frouxidão dos Governos passados n'este neiiocio vital para aquella Província. Gontinuou o sr. Ferrer, fazendo-me ver que a questão do Douro era mais popular em Hespanha do que a abolição do commercio dos escravos em Inglaterra; e que, sem quererem a sua queda, e, com ella, ser a Hespanha entregue á mais horrorosa anarchia, não podia deixar de usar de todos os meios de que podtssem dispor para o levar a exe- cução quanto antes.

Gertifiquei-lhe que eguaes eram os desejos do Governo de S. M., o que era evidente pela parte que V, Ex.*^ tomava nas discussões. Mostrei-lhe, depois, a necessidade que havia de internar os revoltosos que estavam nas fronteiras, até para satisfazer a maioria da Gamara, á qual elle tinha feito justiça.

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Assegurou-me que me havia tratado com completa franqueza ; que eu poderia achar n'elle alguma vez grosseria, mas que não era Irancez e por isso, assegurando-me que me tratava com a franqueza de amigo, devia ter a certeza que sempre o acharia leal e sincero; e mandou chamar o Otlicial Maior, e deante de mim lhe ordenou que passasse as communicaçóes necessárias, aos diíferentes Ministérios, para que, sem demo- ra, se fizessem internar os refugiados portuguezes que estavam nas fronteiras.

Emquanto o Official não chegou, tinha-lhe eu perguntado, com a franqueza com que elle me queria tratar, se seria pos- sivel saber qual tinha sido a resolução da Regência de que elle tinha fallado. Respondeu-me que fora o mandar preparar um Manifesto, fazendo ver á Europa a necessidade em que estava de lançar mão de meios ditlerentes daquelles de que a Hes- panha tinha usado por estes cinco annos; e expedir um Officio ao Encarregado de Negócios em Lisboa, de que elle, confiden- cialmente, me daria uma copia, a qual V. Ex.* achará inclusa. Não deixei de notar os males que uma falta de intelligencia entre os dois Governos acarretaria sobre as duas nações, e que estava persuadido que o Manifesto, de que me fallava, não chegaria a publicar-se.

Disse-me que queriam estar promptos, de modo que não houvesse demora nenhuma na publicação dos meios que em- pregariam logo que constasse que o Regulamento em discus- são tivesse recebido alteração tal que destruísse alguma das estipulações do Tratado. Asseguroume que, em tudo o mais. eu podia contar que o acharia prompto a provar o desejo da mais perfeita harmonia e reciproco apoio que devem existir entre Hespanha e Portugal.

Concluirei assegurando a V. Ex.* que o sr, Ferrer não exaggerou quando disse que a questão do Douro era tão po- pular em Hespanha como a extincção do commercio da escra- vatura em Inglaterra. Desde Sevilha, aonde me demorei alguns dias, até aqui, não tenho deixado de notar, em todas as clas- ses, o mesmo interesse n'este assumpto, uns pelas vantagens que devem resultar ao paiz; mas o maior numero porque jul- gam que a n ição tem sido menoscabada pelo Governo Portu- guez, que tem, por cinco annos, illudido o Governo Hespanhol, deixando de executar um Tratado ratificado ha tonto tempo.

Deus Guarde a V. Ex.*, Madrid 24 de Novembro 1840.

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Copia n.° i. Discurso do Marque^ de Saldanha.

Tengo el honor de poner en los manos de Ia Regência la Carta Credencial por la cual Su Magestad Fidelíssima se di- gno nombrarme su Enviado Extraordinário y Ministro Pleni- potenciário en Mision Extraordinária junto ai Gobierno de Su Magestad Católica.

Constante defensor de la Libertad y de la independência de mi Pátria, fue con gran placer que, en la actualidad, acepté esta Mision que tiene por fin principal el estrechar más y más las relaciones existentes entre los dós Gobiernos.

Se la Guerra de la Independência hizo nascer la armonia entre los pueblos de nuestras fronteras, los sucesos posterio- res han identificado las dós naciones á tal punto que las heri- das que una de ellas reciba no pueden dejar de ser profunda- mente sentidas por la otra ; que nuestras necesidades, nuestros intereses son unos y los mismos.

El invicto Guerrero que se halla ai frente de la Regência, ha logrado en más de cien batallas y asaltos conservar intacta, pura y sin mancha la Bandera que habia desarrolado, y en ella se escrito, Isabel 2* y Constitucion de 87. Mana 2* y Constitucion de 38 es hoy nuestra Bandera, y no tengo la menor hesitacion en afirmar que nuestra felicidad se cifra hoy en la conservacion de la Monarquia Constitucional, en la es- tabilidad de las Constituciones vigentes.

Y que necesitamos nós otros para lograr tan prospera suerte ? Nada más que una perfecta inteligência, buena y el mas firme y recproco apoio entre los dós Gobiernos.

Tal és el deseo de S. M. F., de su Gobierno, y de los hombres ilustrados de mi pais.

Nutro la más bien fundada esperanza que asi se verificará, y tengo la conviccion la más intima, que, ai fin de mi Mision, los Membros de la Regência me haran la justicia de decir: Saldana ha hecho todo lo posible para llevar á efecto lo que nós anuncio el dia de su presentacion.

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COPIA N. 2

Palácio, 20 de Noviembro de 1840.

Al Encargado de Negócios de S. M. en Lisboa.

Por el despacho de V. S. n." 24 de i4 dei actual y diários que le acompanan se ha enterado la Regência de que esa Ga- mara de Diputados, desconociendo todos los princípios de derecho publico, y faltando ai respecto que se debe á estipu- laciones perfectas y vigentes, entre Espana y Portugal, ha puesto en discusion y sujetado á su fallo la validez dei tratado concluído y ratificado por las Cortes de Madrid y Lisboa para la libre navigacion dei Duero. En fin es ya un negocio ternni- nado y terminado felizmente, y escuso por lo tanto encarecer a V. S. las terribles consecuencias que hubiera producidotoda alteracion que en consecuencia de esa revision ilegal hubiera intentado la Gamara introducir en dicho documento, sin tener in cuenta las instancias, las diversas reclamaciones y protestos com que el Gobierno de S. M. hizo entender ai de Portugal que no asenteria de modo alguno á ninguna discusion, ni ótro acto que tendiese á despojar dicho tratado dei caracter de contrato estable y períecto que habia recibido com la san- cion de las dós Reinas, Católica y Fidelíssima.

Harto más valiera que el tiempo malgastado em seme- jante discusion se hubiera empleado em examinar y aprobar el Reglamento, haciendo de este modo que cesase el escân- dalo que por cinco anos consecutivos se está dando ai Mundo entero con esa inconcevible resistência dei Portugal á poner en planta una navegacion que tantos bienes materiales hade producirle, una navegacion que, para Uevarla á cabo, ha pre- sentado el Gobierno de S. M. tantas facilidades ccn una constante longanimidade y tal deferência á los reparos de la Corte de Lisboa, qus ha consentido ya la formacion, mo- dification y revision dei dicho Reglamento en todas las par- tes objetad.is por ella, sino lo que es más, permitiendo se in- fringiese un Articulo dei mismo tratado á fin de conciliar, amistosamente, las diferencias. Esto conviene manifestar a ese senor Ministro de Relaciones Esteriores ; isto conviene con- testar á sus temores de que aun se introdusca algumas mo- dificaciones cn cl Reglamento. Poças y poço sustanciales ha- bran de ser, pues de outro modo el Gobierno de S. M., en el triste caso de haber apurado ya toda sucrte de condescenden-

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cias, seguro de la justicia de su causa, y teniendo presente que en este asunto se hallan perfectamente combinados los intereses de unos y de otros súbditos, acaso empleará médios de negociacion menos suaves y conciliadores en lo sucesivo. De orden de la Regência, eic.

N.° 2. Reservado.

Ill.">° e Ex.""^ Sr.

Hontem tive a honra de receber o officio de V. Ex.^ oRe- servado N.° 2», e amanhã irei fazer sentir ao Duque da Vito- ria quanto Sua Magestade prezou as suas expressões de oífer- ta de serviços.

Tendo ido hoje verificar, nos differentes Ministérios, se se tinham expedido as ordens para a internação dos revoltosos e refugiados nas fronteiras, me asseguraram os senhores Becer- ra e Cortina, Ministros do Reino e da Justiça, que a Regên- cia tinha deliberado sobre este objecto, mas que ainda não ti- nham recebido a necessária communicação do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Parti immediatamente a ver o sr. Fer- rer, o qual fez expedir as communicaçÕes, que eu acompanhei ao Ministério do Reino. O sr. Cortina, adeante de mim, de- terminou que se passassem pelo correio de hoje, as necessá- rias ordens para todas as Provincias, afim de serem interna- dos os refugiados pelo menos a distancia de vinte léguas da fronteira; e disse-me que assegurasse ao meu Governo que as ordens eram expedidas hoje; porque rhe dava a sua palavra de honra que não sahiria da Secretaria sem que isso se verifi- casse.

O sr. Ferrer, a quem estou muito obrigado pela franqueza com que me trata, me assegurou hoje que a Regência tinha resolvido acabar com todas as Juntas, e que se estava redi- gindo o Decreto, que em breve appareceria. Pediu-me lhe mandasse os jornaes de Sevilha e Córdova, que tem falado da união entre Portugal e Hespanha, promettendo mandar publi- car na Gaceta um artigo conveniente. Entre tanto, permitta- me V. Ex.^ que lhe diga que o abuso que continua a fazer-se da liberdade da Imprensa n'este paiz, e o nenhum credito dos jornaes que se teem cccupado d'aquelle assumpto, lhe tiram a maior importância que teriam n'outras circumstancias.

Não me consta que tenha chegado a esta Cone o Barão

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de Oleiros; mas farei as diligencias pelo verificar, e obrarei em consequência.

De accordo com Mr. Aston e o conselheiro Lima, tratarei de desvanecer a duvida que tem este Governo sobre a sua credencial.

Mr. Aston acaba de dizer-me que, tendo me offerecido a sua cooperação, logo que eu cheguei, por isso que anteviu taes seriam os desejos do seu Governo, agora tinha a satisfa- cção de annunciar-me que acabava de receber ordens de Lord Palmerston para me coadjuvar em todos os negócios que eu lhe recommendasse. Falei-lhe da conveniência da próxima par- tida do sr. Aguilar; mas respondeu me que, sobre isto, sabia ter o Governo tomado a deliberação de o não mandar sair emquanto se não concluisse o negocio da navegação do Douro.

Sem embargo fazia a diligencia para que elle parta, segun- do os desejos manifestados por V. Ex.*.

Hontem á noite chegou a esta Corte Mr. Pajean, que vem com o caracter de Encarregado de Negócios, e hoje parte Mr. de la Redorte. Sua Magestade a Rainha Christina chegou a Fontainebleau no dia 20, para onde, no dia 21, partiu Sua Magestade Luiz Felippe, a Rainha e toda a Família Real, a encontrar a mesma Senhora.

Rogo a V. Ex.* me faça a honra de beijar, em meu nome, a Mão de Suas Magestades e Altezas.

Deus Guarde á V. Ex.* Madrid, 27 de Novembro, 1840.

N.'' 3. Reservado.

111.""^ e Ex.'»" Sr.

Não obstante ter-me Mr. Aston assegurado que a Regên- cia tinha tomado a resolução de não dar as credenciaes ao sr. Aguilar até que se tivesse Analisado o negocio da livre na- vegação do Douro, escusando-se, por aquelle modo, de fallar n'este assumpto, eu fui ver o Duque da Vitoria, e depois de lhe mostrar a utilidade que devia resultar da immediata ida do Ministro nomeado para Lisboa, lhe disse que eu mesmo n^o podia deixar de sentir a demora do sr. Aguilar, porque seria uma prova do pouco apreço que este Governo linha feito da minha Missão, conservando como seu representante a um Cônsul, Encarregado de Neiiocios, na Corte que estava representada por um Marechal do Exercito, e que lhe pedia

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fizesse com que se expedissem as ordens para a sua prompta partida.

Assim o prometteu, assegurando-me que eu tinha apre- sentado este negocio de um modo por que elle o não tinha encarado.

No dia seguinte, fui ver o Ministro dos Negócios Estran- geiros, que me assegurou que, não querendo a Regência que o sr. Aguilar principiasse as suas relações com o Governo Portuguez por assumptos desagradáveis, 'e que podiam ter as mais sérias consequências, havia tomado a resolução de o não mandar até que se concluísse o malfadado negocio do Dou- ro; mas que o Duque tinha feito alterar aquella resolução. Que Don Manuel Maria Aguilar tinha recebido ordem de partir immediatamente; e que rs suas credenciaes estavam promptas.

Procurei Aguilar, e por elle soube ter recebido a ordem de partir quanto antes; mas que o poderia verificar em oito ou dez dias. Vai o Secretario de Legação Don Carlos Soler, que foi Cônsul em Faro, e Secretario de Legação no Rio de Janeiro; e Addido o filho do Ministro; sendo nomeado Cônsul Geral em Pariz, o actual Encarregado de Negócios, Viniegra.

Eu creio que o sr. Ferrer, em negócios diplomáticos que apresentam alguma duvida, não despreza ouvir a opinião de Mr. Aston. Este diplomático julgou fundada a objecção feita pelo Ministro de Estado sobre a identidade da credencial do Conselheiro Lima com a minha, sendo de opinião que, ao me- nos, teria sido indispensável que, na que eu apresentei, se de- clarasse que a minha Missão era extraordinária e temporária. O sr. Ferrer, vendo que a duvida suscitada na sua Secretaria tinha achado apoio em Mr. Aston, está firme em não consen- tir na apresentação do Conselheiro Lima emquanto a sua cre- dencial não fôr alterada, ou eu me não retirar.

Hontem, vendo que pouco apoio poderia achar em Mr. As- ton, por ter emittido a sua opinião n'este negocio, fui ver o sr. Ferrer, e, em uma larga conferencia, procurei mostrar- Ihe o pouco fundamento da sua duvida. Que era direito, sanc- cionado pela practica, o poderem os Estados independentes acreditar junto dos outros Governos tantos representantes quantos julgassem necessários, da mesma ou de diíFerente ca- tegoria. Que não podia deixar de ser licito a todo o Governo o repartir a sua confiança pelas differentes pessoas em quem achasse conhecimentos especiaes para tratar dos differentes negócios que tivessem de ser discutidos. Que não era nos Congressos que isto tinha logar. Que, ultimamente, quando

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estava em Londres, ali vi dois Ministros Russos e dois Aus- triacos. Que se alguma cousa podia provar o mandar mais de um representante, era a deferência do Governo que assim obrava para com aquelle junto do qual eram acreditados. Que na coroação dos Imperadores d'Allemanha, os Eleitores envia- vam três e quatro embaixadores. Que a Republica de Veneza, sempre que um imperador ou Rei subia ao Throno, man- dava dois embaixadores e ao Papa mandava quatro. Que mui- tos Estados, e especialmente a França, por muito tempo con- servaram mais de um residente em diversas Cortes. Que mui- tos outros exemplos havia; e que, tendo a França, em 1741, na coroação de Carlos Vil, feito ditíiculdade em receber uns poucos de embaixadores, mandados por um dos lileitores, por fim cedeu; não tendo, até agora, havido outra vez diliiculdade de semelhante natureza da parte de qualquer outro Governo.

O Ministro, depois de me ouvir com muita attenção, disse- me que pensaria no negocio, e depois fallaria commigo.

Pelo correio de homem não recebi officios nem cartas.

Hoje devem apparecer, pela primeira vez, dois novo jor- naes: O Povo Soberano e o Trueíio. Este, órgão do Partido Moderado, é redigido pelos mesmos homens que redigiram o periódico hl Mundo, que acabou com a revolução da Granja; é no sentido do Fif^aro, Charivari e Artilheiro. Aquelle, pu- ramente democrático, terá por fim especial, segundo me affir- mam, o fazer guerra ao Duque da Vitoria. E' o seu principal redactor Don Fernando Corradi, Secretario que foi da Junta de Madrid.

Deve, em poucos dias, sair á luz uma obra de muito in- teresse, pois é uma exposição, comprovada por muitos docu- mentos, de todas as transacções que tiveram logar, desde que D. Carlos entrou cm Hespanha até que saiu. E' escripta pelo Auditor em Chefe do Exercito do Pretendente. O seu fim po- litico, segundo me aflirmou alguém que trabalhou na mesma obra, é a fusão dos dois partidos, Moderado e Realista puro. Apenas receba os exemplares que me prometteram, me apres- sarei a enviar alguns a V. Ex.*

se publicaram os Decretos de que nos meus anteriores officios fallei a V. Ex.^ relativamente ás Juntas e ao (?).

Rogo a V. Ex.* queira beijar em meu nome as mãos de Suas Magestades e Altezas.

Deus Guarde, etc, i de Dezembro 1840.

174

N.° ^.— Confidencial.

111.'»" e Ex.'"'^ Sr.

Hontem, ás quatro horas, veio á minha casa Mr. Aston e, não me achando, disse aos meus criados que era indis- pensável que nos encontrássemos hontem mesmo. Logo que recolhi fui velo, e me disse que o sr. Ferrer o tinha con- vidado a passar á Secretaria, e ali lhe tinha feito ver todas as razões de queixa que o seu Governo tinha contra o de Portugal, e lhe participara, depois de uma longa exposição, que a Regência tinha tomado a deliberação de mandar mar- char o Duque da Vitoria sobre o Porto, á frente de 5o:ooo homens, se, dentro em quinze dias, não recebesse a noticia official de ter o Governo Portuguez mandado pôr em exe- cução o Regulamento, ajustado entre os dous Governos, pa- ra a livre navegação do Douro. Acrescentou Mr. Aston que tinha a convicção assim o poriam em pratica. Hoje pela manhã fui ver o Ministro de Estado e levei as cartas de V. Ex.*^ que, ás 8 da noute, tinha recebido pelo Leal. A con- ferencia durou mais de duas horas. Ferrer leu-me a historia da negociação, fazendo apparecer a nimia condescendência que tem havido nos differentes Ministérios que teem gover- nado Hespanha, e as exigências successivas da parte do Go- verno Portuguez a proporção que o Hespanhol cedia, notan- do a ultima, á qual se tinha sugeitado por haver V. Ex.^ de- clarado que, por aquelle modo, se tornaria desnecessário o submetter o Regulamento á approvação das Gamaras.

Depois de um numero infinito de queixas, assegurou me que a Regência tinha hontem tomado a sua resolução sobre este negocio. Que Aguilar não partiria por agora. Que Soler tinha saido esta madrugada para Lisboa, afim de tomar con- ta do archivo. Que Viniegra sairia para Marselha immedia- tamente elle chegasse. Que se, em quinze dias, contados de hoje, o Ministério não recebesse parte official de ter o Go- verno Portuguez mandado pôr em execução o Regulamento feito pela Gommissão Mixta, a Regência consideraria o mes- mo Regulamento nullo e de nenhum effeito, o que seria grande vantagem, porque não se podia conceber como tivesse havi- do um hespanhol que houvesse consentido na alteração dos Artigos relativos á exportação dos vinhos e aguas ardentes e á introducção dos géneros estrangeiros. Que o Duque da Vitoria, á testa de cincoenta mil homens, marcharia sobre o Porto para fazer executar o Tratado, e que estava certo a

_i7!_

Europa faria justiça do seu procedimento, quando lesse o Manifesto que publicariam.

A' proporção que o Ministro foi lendo o papel de que fallei, e que eu )ulgo ser o Manifesto, fui fazendo as in- dispensáveis reHexões, e, para provar a solicitude de V. Ex.* n'este negocio, li lhe as duas cartas de V. Ex/ que hontem ti- nha recebido. Vi, porem, que não produziram efleito algum, dizendo o sr. Ferrer que V. Ex.* tinha abandonado a questão, tendo dito ao Encarregado de Negócios que assumptos de, maior importância não deixavam continuar a discussão do Re- gulamento, e indo o mesmo Encarregado, em seguida, de V. Ex.' á Camará dos Deputados, e depois á dos Senadores, vi- ra que objecto nenhum importante se tinha discutido.

Ponderei-lhe, de novo, a situação cm que o Ministério se acha; que era o único que tinha provado, evidentemente, o desejo e resolução de fazer executar o Tratado, e que, para dar o justo valor ás communicações do Viniegra, era neces- sário conhecel-o e estar ao facto das suas relações em Lisboa.

Continuei: tPelo que tenho ouvido a V. Ex.^, vejo que a tRegencia mudou de opinião, e que, longe de querer a har- «monia com Portugal, e a boa intelligencia que V. Ex.* e os «outros Ministros tão repelidas vezes me tem assegurado, que- «rem hostilisar-nos promovendo até uma revolução». Assegu- rou-me que tal não era o desejo da Regência ; que eu bem via a maneira por que estavam promptos para tudo quanto eu lhe havia exigido; que sentia infinito verse n'aquella situação, mas que eram absolutamente forçados a obrar assim. Fiz-lhe ver que uma mudança de Ministério poder. a levar ao poder os mais acérrimos oppositores da execução do Tratado. Respon- deu que sentiria muito que succedesse uma mudança de Mi- nistério, mas que elles tinham obrigação de tratar primeiro da sua conservação, e que, se não obrassem assim, não poderiam resistir. Que era este o único lado vulnerável do seu Ministé- rio, c que, n'esta questão, não havia divisões de partidos; que a voz dos Hespanhocs era uma só, exigindo a immediata exe- cução do Tratado. Assegureilhe que, devendo as Cortes es- tar reunidas no dia 2 de janeiro, por tudo quanto eu sabia, não tinha duvida em me comprometter a assegurar-lhe que, até ao fim de Fevereiro, o Governo de S. M. C. receberia a participação ollicial da conclusão do negocio.

«Viria», me disse, «talvez a tempo de nós apresentarmos «bem nas Gamaras, mas de que serviria se as eleições tives- «sem sido más; e asseguro lhe que serão péssimas, e que nós «não poderiamos resistir-lhe, se, antes das eleições, não tiver-

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«mos feito ver á Hespanha, ou o Tratado em execução, ou os «meios vigorosos que vamos empregar para o conseguir.»

Ponderei-lhe a satisfação que dariam aos nossos com- muns inimigos na Europa. Sentia-o tanto como eu; mas tinliam a convicção da sua morte politica, se obrassem de outro modo. Instei que como não estávamos isolados na Europa, e que, em oito dias, se podiam reunir os 62:000 soldados que em 35 tinham sido a admiração da mesma Europa, o procedimento do seu Governo poderia trazer comsigo uma lucta renhida e prenhe de gravíssimas consequências para ambas as nações. Respondeume que a culpa seria do Governo Portuguez, que o podia evitar mandando executar o Regulamento. Que em Hespanha eram Constitucionaes mais antigos do que nós, e que ninguém via a necessidade de submetter um regulamento á discussão das Gamaras; e que, finalmente, não me canças- se, porque a resolução da Regência não se alterava.

Perguntei-lhe, então, se o Secretario Soler tinha ido encar- regado de fazer alguma communicação ao Governo em Lis- boa? Disse-me que não: que o Encarregado de Negócios se re- tirava, e Soler tinha ido tomar conta do archivo; porque suspendiam todas as relações com o Governo. «N'esse caso», lhe repliquei eu, «é necessário que V. me mande dar o meu «passaporte». «Não, isso não; nós continuaremos as nossas «relações por sua via. Nós vamos dar conhecimento da nossa «resolução ao Governo Inglez, e por elle constará em Lisboa».

Fui, immediatamente, ver Mr. Aston, ao qual informei da partida do Soler, e seu fim, o que elle completamente igno- rava, e do que acabava de passar com o sr. Ferrer. Mr. Aston ficou espantado, e pediu-me que fosse ver o Duque da Vitoria; porque sabia que elle me estimava muitíssimo.

Fez me o Duque milhares de profissões pela felicidade, glo- ria, independência e liberdade de Portugal, que tão sincera- mente desejava como a de Hespanha. Repetiu-me que, na occasião da Lei dos Ayuntamientos, tinha dito á Rainha Re- gente que S. AL se expunha a uma revolução na qual o san- tue lhe chegaria ás ligas, se insistisse na execução d'aquella Lei; que agora tinha a mesma inteira convicção que, se não se executasse o que a Regência tinha decidido, toda a Hespa- nha se declararia sua inimiga; que a socegadissima província de Casiella estava decidida a levantar se, como um homem, se não se executasse, desde já, o Tratado da Navegação do Douro; que vti'o podia provar, por milhares de representações que tinha em seu poder, e muitas outras dirigidas de todos os lados do Reino á Regência. Que estavam promptos a dar-nos

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todas as provas que eu exigisse para mostrar a sinceridade das suas expressões, comtanto que se acabasse o malfadado nego- cio do Douro. Que o Governo Portuguez faria o maior serviço possível aos doisThronos da Península, mandando executar o Tratado; porque, de contrario, elle bem via que grandes ma- les se podiam seguir; mas que, enire a possibilidade de um mal, e a certeza de outro maior, a escolha não era duvidosa.

Voltei á casa de Mr. Aston, a quem, depois de lhe contar o que tinha passado com o Duque, li as cartas de V. Ex.', recebidas homem, para o convencer dos deiejos de V. Ex.* a respeito d'esta questão, e notei a Mr. Aston a irregularidade com que a Regência procedia, pois que, mesmo no caso de declaração de guerra, deviam apresentar o seu uVimatum.

Sahiu, immediatamente, Mr. Aston a encontrar-se com o Djque e com o sr. F^errer, e acaba agora de me dizer que ambos aquelles Senhores, assegurando-lhe dos sentimentos pa- cíficos da Regência para com o actual Governo de Portugal, lhe não dissimularam o aborrecimento em qje estavam por darem, talvez, causa a que viessem ao poder, em Portugal, iiomens que elles hoje reconhecem seus inimigos, procurando convencel-o da necessidade com que obravam; e á reHexão de Mr. Aston, sobre não terem feito communicação directa ao Governo de Portugal, e terem retirado o Encarregado de Ne- gócios, responderam que julgavam sufíiciente a communicação que, verbalmente, me tinha feito o Ministro dos Negócios Es- trangeiros, e que, se o Governo Portuguez. obrasse como con- vinha a ambas as nações, o sr. Aguilar partiria em vinte e quatro horas. Que, sem demora, elle, Mr. Aston, receberia, para conhecimento do seu Governo, uma exposição dos moti- vos que obrigavam a Regência a obrar d'este modo.

Mr. Aston escreve, por este correio extraordinário, a Lord Howard, e, muito positivamente, me affirmou que não tinha a menor duvida sobre o levar a Regência a etleito a deliberação tomada.

Julíío desnecessárias reflexões sobre o que acabo de expor a V. Ex.*. O sr. Ferrer toi tranco, pois me disse que antes queria correr o risco de envolver a Hespanha em uma guerra, do que apresentar se nas eleições sem concluir o negocio do Douro. Que ninguém ignorava em Hespanha que tanto o. . . . como Peres de Gastro tinham resolvido decidir o nego- cio pelas armas logo que se acabasse a guerra civil, e que to- dos lhe deitavam em cara a sua inacção, agora que não havia guerra civil, e tinham á sua disposição um exercito de duzen- tos mil homens, sem ter que lhe dar a fazer.

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Ancioso fico esperando as ordens de S. M. que peço sejam expedidas por este mesmo correio, por isso que se prompti- ficou a ir com a promessa de ser mandado voltar do mesmo modo.

Rogo a V. Ex.* queira, em meu nome, beijar as mãos de SS. MM. e AA.

Deus Guarde a V. Ex.*, Madrid em 3 de Dezembro de 1840.

N." b. Conjidencial.

III."" e ExT» Sr.

Tenho a satisfação de annunciar a V. Ex.*, para conheci- mento de S. M., que foi possivel convencer este Governo da irregularidade com que tinha procedido, mandando retirar o seu representante d'essa Corte, e deixando de dirigir, directa- mente ao Governo de S. M. F., communicação da resolução tomada pela Regência sobre a prompta execução do Regula- mento relativo á livre navegação do Douro.

Amanhã manda o sr. Ferrer um extraordinário com as cre- denciaes para D. Carlos Soler, como Encarregado de Negó- cios, e lhe ordena partecipe ao Governo Portuguez a resolu- ção da Regência de annullar aquelle Regulamento, e de man- dar marchar um corpo de Exercito sobre Portugal, se, dentro de vinte e cinco dias, não tiver o Governo de S. M. F. man- dado pôr em execução o mesmo Regulamento.

Fizeram-se todas as diligencias possíveis para conseguir quarenta em logar de vinte e cinco dias. Assim mesmo, i>up- pondo que D. Carlos Soler apresente as suas credenciaes no dia 14, o praso acabará depois de sete dias de estarem reunidas as Camarás. Rogo a V. Ex.* queira beijar por mim as mãos de SS. MM. e AA.

Deus Guarde a V. Ex.*, Madrid em 5 de Dezembro de 1840.

N.* 6. Confidencial.

111.»" c Ex.""" Sr.

O correio que o sr. Ferrer me disse partiria, no domingo de manhã, com as credenciaes para Don Carlos Soler, sahiu

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á uma hora da noite, e, por esse motivo, não levou o meu of- ficio confidencial N.° b, que agora tenho a honra de enviar a

Pelo que tinha passado no dia 5 com o sr. Kerrer, mal podia eu esperar que, na Gaceta de Madrid^áo dia 6, se publi- casse o artigo de fundo que V. Ex.* achará marcado na mesma Gaceta. Por ser domingo, não me foi possível encontrar ne- nhum dos Ministros de Estado; e no dia seguinte, com a indi- gnação que V, Ex.' experimentará, li o artigo de fundo da mesma Gaceta do dia 7.

Corri a casa de Mr. Aston c, depois de lhe fazer sentir a força das expressões empregados na Gaceta^ em dcshonra e desdouro da Nação e Governo Portuguez, lhe disse que, encar- regado como elle se acha, pelo seu Governo, de apoiar as mi- nhas negociações com o Governo Hespanhol, era chegado o momento de eu exigir a sua mais eílicaz cooperação, fazendo com que a Regência mandasse dar a satisfação indispensável, sem a qual eu não podia continuar a minha missão, e me reti- raria immediatamente.

Mr. Aston assim o prometteu, dando provas bem evidentes do desgosto que lhe causara taes artigos. Asscgurou-me que ia tratar do negocio, e que, até hoje pela manhã, em que viria ver- me, não desse passo algum áquelle respeito. Disse-me hoje Mr Aston, que vira o Duque da Vitoria, e vira, depois, o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Que o Duque se tinha mostrado perfeitamente indignado, e lhe dissera que era uma torpesa, e que elle deixaria de ser meu amigo se me tivesse mostrado indilTerentc a semelhante publicação. O sr. Ferrer mostrou-se sentido por este acontecimento, e prometteu que não tornariam a apparecer artigos semelhantes. Mostrei a Mr. Aston a Nota que eu ia dirigir ao sr. Ferrer, exigindo uma satisfação ou os meus passaportes. Pediu-me que visse, antes, os outros membros da Regência. Vi o Duque que, desgra- çadamente, se acha, ha três dias, de cama, e os Ministros Cortina e Gamboa, os quacs, depois de longas conferencias. me pediram que lhes desse três dias para poderem tratar d'este negocio convenientemente. Vi, depois, o Ministro dos Ne- gócios Estrangeiros, a quem pedi que, da minha parte, fizesse saber á Regência que eu pedia me fossem mandados os meus passaportes, no dia 11, se, até então, a mesma Regência não tivesse mandado dar uma satisfação conveniente pelos insul- tos feitos ao Governo e Nação Portugueza no seu iornal otficial. O sr. Ferrer disse me que, na Gaceta, havia uma parte que não era ofllcial, e que tinha sido, ate agora, permii-

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tido ao Redactor publicar os artigos que quizesse; mas que me dava a sua palavra que não tornaria a apparecer ne- nhum que podesse offender o nosso melindre; e vendo que eu estava decidido, como estou, a partir no dia 12, se até então não tivermos recebido uma satisfação, perguntou que satis- fação era que eu queria. Respondi-lhe que a destituição do redactor, declarando a Regência que o destituía por ter usado de termos injuriosos a uma nação vizinha, e impróprios da di- gnidade do Governo Hespanhol, ou qualquer outra que podes- se satisfazer a delicadeza de um representante da Rainha de Portugal, a quem tinham nascido e encanecido as barbas fa- zendo a guerra pela independência e liberdade da sua Pátria. Disse-me que levaria á presença da Regência a minha com- municação.

N'estes três dias serei incansável: continuarei a fazer uso da linguagem forte que tenho empregado e, se até ao dia marcado não receber a satisíaç'o indispensável, immediata- mente me porei a caminho.

Antes de hontem resolveu a Regência mandar marchar três divisões, de 10:000 homens cada uma, sobre as nossas fronteiras. Foram consultados alguns Generaes sobre o pla- no de campanha, e foram de opinião que, ao mesmo tempo que se marchasse sobre o Porto, se devia tomar a Praça de Elvas, na qual deixariam fluctuando a bandeira Portugueza para mostrar que a occupavam como reféns. O Duque da Vitoria deu-me a sua palavra de honra que emquanto se não soubesse a resolução do Governo de S. M. F., elle não permit- tiria que um homem se approximasse da nossa fronteira. Egual palavra de honra deu a Mr. Aston, e julf"oo incapaz de faltar.

Desejando que estes factos cheguem quanto antes ao co- nhecimento do Governo, tinha resolvido mandar um correio extraordinário, e Mr. Aston, sabendo que não tínhamos ne- nhum de confiança, mandou pôr um dos seus á minha dispo- sição. Elle não cessa de me recomendar inste o mais que pos- sa com V. Ex.*, afim de o convencer da absoluta necessidade de mandar pôr em execução o Regulamento sobre a livre na- vegação do Douro. Lord Howard, cujas cartas Mr. Aston me tem lido, tem completamente justificado o proceder do (iover- no a este respeito, não obstante o que, Mr. Aston como o único modo de evitar uma collisão entre as duas nações, a prompta execução do Regulamento.

Desagradável é, por ceno, a nossa situação; mas talvez, como eu hoje disse ao sr. Ferrer, será ella a causa de vermos

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unida toda a tamilia Portugueza em volta do Throno da Rai- nha, se continuarem a insultar a dignidade e a honra nacional.

Rogo a V. Ex.* queira, em meu nome, ter a honra de beijar a mão a SS. MM. e A A.

Madrid, 8 de Dezembro de 1840.

N." 7. Reservado.

111.""' e Ex."" Sr.

tive a honra de enviar a V. Ex.' a Gaceía de Madrid do dia 9. N'esse dia vieram á minha casa todos os membros do Corpo Diplomático que conheciam os passos que eu tenho dado em consequência dos artigos publicados nas Gacetas de ó e 7, e todos são de opinião que eu devo estar mui satisfeito com a publicação do artigo do dia 9. O Conselheiro Lima c tanto mais desta opinião quanto conhece o que tem acontecido outras vezes que se tem exigido alguma satisfação do Governo Hespanhol, mencionando, entre outras, a que Mr. Villers pe- diu por ter publicavio a Gaceta Ottícial que o Secretario da Legação Ingleza, pertencendo a todas as sociedades secretas de Madrid, tinha ido a Catalunha fazer revolucionar aquella província; que Mr. Villers tinha deixado de ir á Corte em dias de Beija-Mão, etc; mas que, afinal, cedeu sem ter recebido a satisfação exigida. Da mesma opinião são muitos indivíduos, es- trangeiros e hespanhoes, que sinceramente se tinham indignado com a leitura daquelles artigos. A minha opinião é contraria; porque queria que na parte oíiicial se nos desse a satisfação que pedi; mas sendo única, e de outro modo de pensar tantas pessoas de consideração, e a delicadeza do negocio, me decidi a não dar um passo cmquanto não receber a este respeito as ordens de S. M., deixando de ter communicação alguma directa com este Governo, emquanto não cheguem.

V. p]x.''* yS. sabe qual é o meu modo de pensar a este res peito, e que considero este acontecimento como um favor da Providencia que, aproveitado, poderá reunir a todos os Por- tuguezes cm redor do 1 hrono de S. .M. a Rainha. A falta de recursos pecuniários será, talvez, a dilViculdade mais conside- vel Que se apresente; mas, lembro se \. l^x * que, no Porto, tanto o General como o Alferes, o Ministro d'K.stado como o Amanuense, todos recebíamos n-r-coo réis por mez; e que talvez este acontecimento possa egualmente produzir a rege-

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neração das nossas finanças. A minha opinião não pode ser mais desinteressada ; porque todos sabem que vivo dos meus soldos.

Tenho a honra de accusar a recepção do O.fficio reser- vado n.° 2.

Queira V. Ex.* etc.

N.*» 8. Confidencial.

111."'° e Ex.™" Sr.

Antes de hontem, ás duas horas da tarde, chegou o correio que V. Ex.* despachou no dia 9, e tive a honra de receber a correspondência de que vinha encarregado. Logo que a li, fui eu mesmo levar a Mr. Aston a que lhe dirigiu Lord Howard de Walden, e convidei-lhe a que me ajudasse a conseguir d'este Governo que, sem nenhuma referencia, prolongasse até fim de Fevereiro o praso marcado para se effectuar o Tratado dl Livre Navegação do Douro. Mr. Aston, sendo de opinião que era a milhor cousa que este Ministério podia fazer, com- binamos em ir eu hontem ver os Ministros da Regência e lêr- Ihes o Officio que V. Ex.* me dirigiu, em data de 8, e a sua Nota a Lord Howard, e que elle iria hoje vel-os e fallar lhes no mesmo sentido.

O Duque da Vitoria e os Ministros Gamboa e Becerra mos- traram-se convencidos da utilidade do que eu propunha; os outros não qaizeram emittir uma opinião decisiva até que, em Conselho de Regência, se tratasse do negocio. A nenhum d'es- tes senhores fallei sobre os artigos publicados na Gaceta, es- perando, áiuelle respeito, as ordens de S. M.

Mr. Aston tem mostrado o mais vivo interesse nos nossos negócios. De combinação com elle, temos feito diligencias para verificar se existe a correspondência que V. Ex.* menciona cm data de 5, e ambos estamos persuadidos que o único dos membros da Regência com quem pode ter logar é o Cortina, pelas relações que teve com Leonel Tavares quando veiu a Cadiz —(Cifra). Aborreceu-lhe muito a opposição obstinada de Ferrer e Cortina nos quarenta dias cm logar dos vinte e cinco que obtivemos.

O Duque da Vitoria tornou-mc a ratificar a promessa de não consentir que um soldado se approxime á nossa fron- teira cmquanto se não soubesse a resolução que tomava o Go- verno de b. M. F.

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Por extraordinário communicarei a V. Ex.' qualquer mo- vimento ou decisão importante.

Peço a V. Ex.* que, em meu nome, tenha a honra de bei- jar a mão de SS. MM. e AA.

Madrid, i5 de Dezembro de 1840.

N.° 9 —Con/Ueucial

III."*" e Ex.""" Sr.

Ainda não chegou o correio que devia entrar hontem e. Delo extraordinário que veio a este Governo, nenhuma com- municação recebi.

Mr. Aston, por doente, não tem podido sair, e, desde o uhimo correio, nada temos adiantado; parecendo-me que a Regência deseja receber a resposta do Governo de S. M. F. ao ultimatum apresentado pelo seu Encarregado de Negócios, primeiro que me responda.

(Cifra) Dom António Gonzales, que foi nomeado Presiden- te do Conselho em Barcelona, é hoje a pessoa que mais inriuen- cia exerce sobre Espartero. estou em relações com elle, e atlirmou-me hontem que o Duque o tinha chamado, e lhe pedi- ra a sua opinião a respeito do que eu, desde o principio, tenho buscado convencel-o, isto é que o Regulamento faz parte inte- grante do Tratado; que cmquanco não estiver concluído não somos obrigados a executal-o; e que o querer-nos forçar a pôl-o em execução seria uma agressão injusta que obrigaria a Inglaterra a vir em nosso soccorro. Gonzales atlirmou ao Du- que que era exacto o que eu lhe havia dito. e disse-me que elle tinha ficado decidido a fazer com que a R-gencia me an- nunciasse a resolução de esperar até ao fim de Fevereiro, Gonzales é inim go do Cortina, e pouco atTccto ao Ferrer.

Peço a \'. Kx.* me faça a honra de beijar, em meu nome, a mão de SS. MM. e Altezas.

Deus Guarde, etc. Madrid, 18 de Dezembro 1840.

R. de F. M. .S.

i84 N.° IO. Reservado.

111.»° e Ex."" Sr.

Seria mui longo, e julgo desnecessário, entrar em detalhes do muito que tenho trabalhado estes dias, apesar de bastante incommodado.

E' de absoluta necessidade que, se fôr possivel, no mesmo dia em que V. Ex.* receber este Officio, me diga, por um ex- presso, clara e terminantemente o que devo fazer:

i.° Dado o caso de oíFerecer o Governo Britannico a sua mediação na questão sobre a livre navegação do Douro, e que o Governo H espanhol a acceite, obrigando-se a cumprir a de- cisão d'aquelle Governo, uma vez que eu, em nome do Go- verno de S. M. F., faça outro tanto;

2." Não verificando o primeiro caso, se sou auctorisado a dirigir ao Governo de S. M. C. uma Nota na qual diga que, havendo o Ministério Portuguez feito da questão do Douro uma questão ministerial, V. Ex.** se demittirão dos seus logarés se, no fim de Fevereiro, não tiverem conseguido fazer passar, em ambas as Gamaras, o Regulamento principiado a discutir na de Deputados.

Marcham alguns regimentos para Talavera; mas o Duque da Vitoria assegurou-me que marchavam sem referencia ne- nhuma á nossa questão, e unicamente em consequência do detalhe geral feito muito antes; o que me faria mostrar pelo Ministro da Guerra, se eu o exigisse.

Deus Guarde, etc. Madrid 23 de Dezembro de 1840.

N.° II. Confidencial.

111.""" e Ex.-"-^ Sr.

I." Tenho verificado que este Governo poderá empregar contra Portugal setenta mil homens, se se resolver a deixar na Catalunha, Aragão, Navarra e Províncias Vascongadas uni- camente as guarnições das praças;

2.° Com mui poucas excepções, todos aqui julgam a guerra inevitável. Eu, porém, não deixo de ter esperanças que cila se evitará;

3."— Os membros da Regência mostram-se muito sentidos por não terem ainda recebido resposta ao seu iiltimatuni. Não me parece rasoavel. (Até aqui em cifra).

Em doze do corrente me dizia V. Kx.* que, o mais tardar em três dias, me enviaria o orticio importante a que se refe- ria; e ainda não chegou. A crise em que estamos é tão deli- cada que V. Ex.* me fará a justiça de acreditar que eu me conservarei, resirictamente, dentro, não do espirito, mas da leitra, das ordens ou instrucções que tenho recebido.

Hontem fui convidado pelo Duque da Vit-rria para assistir ás exéquias que elle e os ofHciaes que entraram na batalha de Luchon fizeram pelos que ali morreram. Entendi não de- ver faltar.

Rogo, etc. Deus Guarde, etc. Madrid, 25 de Dezembro de ií>40.

N." 12. Confidencial.

111.'^° e Ex."° Sr.

No dia 25, ás 1 1 da noite, tive a honra de receber o olTicio de V. Ex.*, reservado N.° 6, de 17 do corrente, e a confiden- cial que o acompanhava.

No dia 26, pela manha, fui ler a Mr. Aston o mesmo offi- cio, o qual me pediu que não fizesse uso d'elle, ao que annui, pois que, n'aquella confidencial, V, Ex.** me dizia:— tV. Ex."* tcombinará com Mr. Aston se convém, ou ler o sobredito otti- «cio e dar copia d'elle ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, tou fazer uma Nota, como as forças d'elle, ou demorar alguns fdias, etc. Emfim n'este assumpto, tão delicado, V. Ex.^ irá tdo mais perfeito accordo com o dito Ministro.»

No mesmo dia 26, tinha Mr. Aston recebido um correio extraordinário da sua Corte, pelo qual lhe ordenavam otíere- cesse ao Governo de S. M. C. a mediação do Governo de S. M. B. sobre a questão relativa á execução do Tratado da Navegação do Douro.

Mr. Aston viu, immediatamcnte, o Duque da Vitoria, o qual, mui positivamente, lhe significou a sua grande satisfação por ver que, por aquellc modo. a desagradável questão or<i existente entre o Governo de S. M. F. e a Regência, conclui- ria sem quebra da dignidade de qualquer dos dois (lovernos. O sr. Ferrer, a quem Mr. Aston viu logo depois, não foi tã<j explicito, referindo o negocio á decisão da Regência. Mr. As- ton não se demorou em cumprir, oílicialmente, as ordens do seu Governo, remettendo ao sr. Ferrer uma Nota, oíTeiecendo a Regência a mediação do Governo Britannico. Até hoje ás

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ires horas da tarde, ainda Mr. Aston não tinha recebido res- posta áquelle respeito.

Hontem, ás nove horas da noite, se apresentou Viniegra ao sr. Ferrer, em sua casa, e continuou a fazer uso de lingua- gem pouco lisongeira para o Governo Portuguez.

(Cifra). Ferrer disse, a pessoa de intima confiança que ali se achava, e que hontem á noite, mesmo, me avisou, que, não obstante o que acabava de ouvir a Viniegra, a guerra não teria logar, porque a Regência estava decidida a esperar, até ao fim de Janeiro, pela resolução do Governo Portuguez.

Outra pessoa, homem de honra, e que não poie deixar de se interessar por nossos negócios, me affirmou que Soler tem tido varias conferencias com todos os homens reputados chefes dos Setembristas, e que tem escripto para este Governo assegurando lhe que, se os Setembristas entrassem no Minis- tério, fariam immediatamente pôr em execução o Regulamen- to sobre a navegação do Douro; e dando a entender que, no caso de uma invasão, muitos dos corpos do nosso exercito se uniriam aos hespanhoes. Custa-me a crer que se atrevessem a esta ultima parte. (Fim da Cifra.)

Agora acabo de receber o officio reservado n.° 7, de 23 do corrente, e em resposta, tenho a honra de affirmar a V. Ex.* que é impossível haver mais perfeita intelligencia e mais com- pleta e reciproca confiança do que existe entre mim e o Minis- tro de S. M. Britannica n'esta Corte.

Queira V. Ex.^ beijar a mão, etc. Madrid, 29 de Dezem- bro 1840.

S.

N.° i3. Confidencial.

111.""' e Ex."'° Sr.

Pelo correio ordinário do dia 29 tive a honra de informar a V. Ex.* que, tendo Mr. Aston recebido, no dia 26, ordem do seu Governo para oíferecer ao de S. M. C. a mediação do Governo Britannico, na questão da navegação do Douro, ha- via, no mesmo dia, dirigido uma Nota ao Ministério dos Ne- gócios Estrangeiros, á qual ainda não tinha recebido resposta. Hontem, de tarde, veiu Mr. Aston mostrar-me a Nota do sr. Ferrer, em resposta á que lhe havia dirigido, e da qual man- da copia a Lord Howard de Walden pelo Addido a esta Le- gação C. de A. que, para aquelle fim, puz á sua disposição.

Não obstante a rápida leitura que fiz d'aquella resposia,

parece-me não me enganar dizendo que cila se reduz a quatro artigos: i.° Accei^a a Regência, com gratidão, a mediação ofFerecida; 2.° Pela delonga de cinco annos que tem havido, e, principalmente, pelos motivos que, verbalmente, o Ministro dos Negócios Estrangeiros exporia a Mr. Aston, a Regência pede ao Governo Britannico use dos seus bons oíficios para que, no fim de Janeiro, se ponha em execução o Tratado So- bre a Livre Navegação do Douro; 3." Que se, no fim d'este praso, as diligencias do (ioverno Britannico tiverem sido tão infructiferas como até agora tem sido as do Governo Hespa- nhol, então a Regência se consideraria livre para obrar como a dignidade e os interesses da Hespanha exigissem; 4.° Que, não obstante a mediação, a Regência continuará a adoptar as medidas indispensáveis à vista da altitude hostil tomada pelo Governo Portuguez.

O Duque da Vitoria c os Ministros Gamboa e Bccerra, sustentaram, por algum tempo, a idca de se entregar a Re- gência, sem reserva, á mediação ingleza, obrigando-se a estar pela decisão do Governo Britannico; F'errer c Cortina de ma- neira alguma queriam annuir a tal opinião; e Chaccn e hrias estavam indecisos quando eu dirigi a V. Kx."^ o meu OíTicio reservado, n.'^ 10, de 23 do corrente.

Desde então, a guerra que todos os jornacs tem feito á Re- gência, na supposição de que a Inglaterra não deixaria de se apresentar como mediadora entre Portugal e Hespanha, e que a Regência se submctteria e faltaria á sua dignidade, fez de- cidir os Ministros da Guerra e da Marinha, e a não ser o Duque da Vitoria, talvez que a otíerta do Governo Britannico fosse de todo recusada.

As explicações verbaes que, segundo a Nota em resposta a de Mr. Aston, lhe devia dar o Ministro dos Negócios Estran- geiros, reduziam-se a ponderar-ihe o estado da opinião a este respeito, a situação da Regência, atacada, diariamente, sobre o negocio do Douro, pelos órgãos de todos os partidos, e a que, se o Governo Portuguez tinha os sinceros desejos que mani- festava, sem ditíiculdadc podéra fazer passar o Regulamento i;té ao fim de Janeiro, tendo, como ctTcciivamcnte tem, uma grande maioria cm ambas as Gamaras.

Mr. Aston instou comigo, o mais que lhe foi possivcl, para que buscasse todos os meios de fazer persuadir ao Governo de S. M. F. quão útil e indispcn>avel é, para a continuação da boa intelligencia, que se descontinuassem os armamentos em Portugal, c sobretudo, que de modo nenhum, se approximas- sem tropas ás Fronteiras.

Já, em outra occasião, fiz ver a V. Ex.* a minha opinião sobre a posição relativa de cada um dos Partidos n'este paiz, e posso assegurar a V. Ex.* que estou convencido que mui poucos são os homens, em todos elles, que hoje não desejem a guerra com Portugal. O Partido Governamental porque es- pera conservar a Regência pela gloria que, segundo elles, Es- partero adquiriria; todos os outros porque o seu fim principal é envolver a Regência em maiores difficuldades. Eu faltaria á Justiça se não dissesse a V. Ex.* que, no pequeno numero dos que não querem a Guerra, eu conto como o primeiro, o Du- que da Vitoria, o qual, não obstante isto, não duvidará de se pôr á testa do. Exercito, no momento que a Regência o de- termine.

Estes dias tem marchado, na direcção de Talavera, alguns corpos de infanteria que se achavam n'esta capital, e alguma artilheria.

Deus Guarde, etc. Madrid, 3i de Dezembro de 1840.

N." \^.— Confidencial.

111.'"° e Ex."^° Sr.

Tenho a honra de accusar a recepção dos despachos de V. Ex.* de 26, 28 e 3o de Dezembro, no dia de hontem, e hoje o do dia 2 do corrente.

Hontem mesmo passei a ver a Mr. Aston, para combinar com eile sobre o modo mais efficaz de conseguirmos que a Regência retire a Nota de q ds Dezembro, apresentada pelo sr. D. M. de Viniegra. F^ui, logo depois, a casa do Duque da Vitoria, e principiei por lhe perguntar se tinha lido o Correio Nacional d'aquelle dia, e dizendo-me que não, mostrei-lhe o artigo firmado A. B., e depois de o ler, disselhe que aquellas iniciaes queriam dizer Andres Borrego, que não sabia se ellc o conhecia, (Borrego é amigo do General Narvaez, e o homem que maior opposição tem feito ao General Espartero). Respon- deu-me que muito e muito o conhecia; que era o «danzantemas indecente de todos los periodigueros;» que era seu inimigo pes soai, por ter desprezado os olferecimentos que Borrego lhe tinha feito da sua penna; e então fácil foi combinarmos nos fins a que aquelle artigo se dirigia, e fallarmos muito sobre a utili- dade de acabar-se a questão do Douro, não como convinha ao interesse de ambas as nações, mas de um modo que fosse

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decoroso aos dous Governos; pois que, querendo c necessitan- do que entre elles existisse a mais perfeita harmonia e cordea- lidade, era do interesse de cada um que o outro fosse um Go- verno respeitado, e digno da Nação cujos negócios dirigia. En- tão fiz-lhe sentir a posição desagradável em que a Nota do dia 1) de Dezembro tinha collocado o Governo Portuguez, o qual, mui prudentemente, tinha deixado de lhe responder, seguro das terriveis consequências que produzia no animo de todos os Portu^ezes, se chegassem a ter d'ella conhecimento; que o Ministério contava com uma grande maioria nas Gamaras, mas que essa maioria era independente de ligações pessoaes com os Ministros, e que deixaria de votar a íavor em qualquer medida que julgasse o Ministério unha sido menos zelozo pelo decoro, honra e dignidade nacional, e que era indispensável que a Regência retirasse ou retractasse o ultimalum apresen- tado por D. M. Viniegra.

Gontestou-me que bom seria; mas que não imaginava co- mo combinar esse passo com a dignidade da Regência. Res- pondi-lhe que, depois da apresentação de aquella Nota, tinha a Regência acceitado a mediação do Governo Inglez e que não não era faltar a sua dignidade, mas era cousa mui natural o passar-me uma Nota, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, avizando-me de haver a Regência acceitado a mediação, e que, cm consequência, ficava de nenhum effeito o ultimaíum do dia 9. Fiz-lhe egualmcnte ver que o Governo Portuguez accei- tava a mediação do Governo Britannico, uma vez que tinha sido acceite pelo Governo H espanhol; e que Ministério algum, cm um Governo Representativo, podia fazer mais do que o actual Gabinete Portuguez, por isso que declarara a questão do Regulamento para a navegação do Douro como ministe- rial, em todo o sentido, e que, portanto, a regeição do Regu- lamento traria comsigo a dissolução do Gabinete. Retirei-me mui satisfeito da disposição cm que ficou o Duque da V^itoria.

(Cifra). Fui, immediatamente, ver o Ministro da Fazen- da, que me prometteu fazer todo o possível para que o ultima- tum seja retirado. (Acaba).

Passei á Secrctara dos Negócios Estrangeiros, c apresentei o negocio do modo que me pareceu mais conveniente, repe- lindo parte do que tinha dito ao Duque da Vitoria, acrescen- tando algumas outras ponderações, e pedindo ao sr. Ferrer que me não respondesse immediatamente e que pensasse, ao menos, vinte e quatro horas sobre o que eu propunha.

Disse-me que não tinha que pensar, porque bem via que, â.Q. facto, de qualquer forma que a cousa se fizesse, seria fir-

mar a sua deshonra. Notei-lhe que, tendo eu lido o projecto do iiltimatum que elle tinha dado a Mr. Aston, e tendo uma copia do mesmo ullimatum, me parecia ter encontrado n'este, expressões que não tinha visto no outro, e que me não admi- rava que assim fosse, a vista do conhecimento que tinha de Viniegra e das pessoas que o rodeavam em Lisboa. (EíFectiva- mente, Mr. Aston pensa que o ultimalum não é idêntico com o projecto que d'elle lhe deu o Ministro). O sr. Ferrer ficou de verificar esta circumstancia, e depois disse-me que, desgra- çadamente, estava persuadido que este malfadado negocio se não terminaria sem guerra ; porque era evidente que taes eram as idéas do Governo Portuguez que, até no Porto, tinha fechado as portas das egrejas para prender para soldados a todos os homens; e que era tal a perseguição, que tinha recebido parte de se terem refugiado na Galiza mais de cin- coenta moços portuguezes. Mostrei-lhe que taes não eram, nem os desejos, nem as idéas do Governo Portuguez; mas que, ameaçados de uma invasão para o dia 3 de Janeiro, como ima- ginava elle que houvesse um Governo que, no mez de Dezem- bro, não lançasse mão de todos os recursos para se defender; que os Partidos Politicos tinham desapparecido, como eu lhe tinha prognosticado; que todos tinham corrido ás armas; mas que, decerto, tão pouco desejava o Governo a guerra, que. gostoso, acceitava a mediação do Governo Britannico, visto que a Regência a tinha acceitado, e que, officialmente, decla- rava que a discussão do Regulamento para a navegação era questão ministerial, em todo o rigor, a ponto de trazer com- sigo a dissolução do Ministério a sua regeição. «Deus queira «que assim seja, e que o seu filho nos traga a conclusão do «negocio, para jantarmos juntos no dia seguinte; mas, pelas «noticias que recebi por Galiza, não posso deixar de escrever «uma Nota sobre este assumpto ao Ministro Inglez.

«Eu bem sei que Lord Howard tem muita culpa n'este ne- «gocio; mas, á hora em que estamos fallando, o Governo «Portuguez saberá que não acha, ro Gabinete Britannico, o «apoio que L. H. lhe tinha promettido.»

Pelo correio passado, mui á pressa e ás 1 1 e '/a da noite, escrevi a V. Ex.* que acabara de informar-me pessoa que vi- nha de estar com o sr. Ferrer, que elle tinha, n'aquelle dia ?, recebido noticias de Lisboa, vindas por Vigo, que o tinham incommodado muito, a ponto de dizer que ia mandar uma No- ta ao Ministro Inglez, porque lhe affirmavam que, em Por- tugal, só se queria ganhar tempo para acabar os armamentos.

Hoje, assim que entrei em casa de Mr. Aston, a primeira

cousa que me disse foi: t Acabo de receber a Nota que V. me tannunciou antes de hontem», e deu-m'a para ler. Queixase o sr Ferrer de ter o Governo Portuguez suspendido as garan- tias individuaes; a liberdade da Imprensa, nos jornaes que lhe não eram favoráveis; de ter fechado as porias de egrejas para prender toda a gente, para os obrigar a pegar em armas; exci- tando antigos odios nacionaes, etc, etc. A' vista de tudo isto a Regência se via obrigada a pedir lhe que instasse com o seu Governo para usar de toda a suj influencia com o Gabi- nete Portuguez, afim de se ter concluido o negocio do Douro, até ao fim de Janeiro, prazo que, pelos motivos que, verbal- mente, o sr. F^errer tinha communicado, não seria, por certo, prolongado.

Perguntou-me Mr. Aston qual era a minha opinião. Dis- se-lhe que me custaria a achar termo para qualificar aquelle documento diplomático; que a linguagem do Governo Portu guez e dos seus órgãos, não podia ser mais commedida, que era a única cousa que poderia importar á Regência, porque, de tudo mais de que a Nota fazia menção, ainda quando fosse exacto, o Gabinete Portuguez tinha que dar ccnta á Nação Portugueza, representada nas Camarás. Mr. Aston affirmou me que a sua opinião era conforme com a minha, e que, pela consideração que tinha pelo Duque, iria pedir lhe que fizesse retirar aqueila Nota, para não ter que lhe responder, e man- dal-a para Londres. Mostrei lhe a carta de V. Kx* de 2 do corrente, e o folheto publicado por Agostinho Albano, c fica- mos de nos encontrar depois que eu visse ao sr. Ferrer, e elle ao Duque.

Achei o Ministro dos Negócios Kstrangeiros muito inconn- modado com o discurso do Throno, na abertura da sessão, com o Periódico dos Pobres^ do Porto, e com toda a corres- pondência que tinha recebido de Portugal. Leu, elle mesmo, a carta de V. Fx.* de dous, na qual eu não tinha encontrado uma expressão que fossse necessário occultarlhe; rrosirei- Ihe o folheto que V. Fx.' me enviou; e o resultado de tudo foi dizer-me: «Tenho, desgraçadamente, a convicção que to fdos os seus esforços, e todos os meus bons desejos, são bal- idados, e que esta desgraçada questão não termina sem a tguerra; porque não posso, também, deixar de estar conven- «cido que o Governo l^oríuguez tem, desde que a Regência «se instaurou, demorado a conclusão do negocio, com o fim «de causar a nossa ruina, e promover uma mudança de go- «verno em Hespanha.»

Mostrei-lhe, evidentemente, que era infundada a accusação

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que fazia ao Governo Portuguez. Respondeu-me, mui triste e socegadamente, que de quatro dias para a sua convicção era ião profunda, a este respeito, que ninguém n'esie mundo seria capaz de o fazer mudar de opinião, e accrescentou que o Ministro Inglez teria recebido a Nota de que hontem me falara.

Fui encontrar me com Mr. Aston, a quem relatei o que ti- nha passado com o sr, Ferrer, e d'elle soube que tinha acha- do o Duque de mui máo humor, em consequência do Discur- so do Throno. O Duque tinha visto a Nota, e não se encarre- gava de a fazer retirar^ portanto Mr. Aston será obrigado a responder-lhe amanhã.

(Cifra). A sessão da Regência do dia 6 foi mui tempes- tuosa, porque, ao mesmo tempo que Ferrer apresentou a cor- respondência que tinha recebido de Portugal, apresentou Gam- boa a que tinha recebido de Londres pela qual mostrava que a melhor e a mais bella combinação financeira que jamais se ha- via concebido^ falhou completamente, em consequência do esta- do em que Ferrer po-; a questão do Douro. Chegou a ponto de Ferrer chamar Portugue^ a Gamboa.^ e, se fosse possivel, de certo Ferrer teria saído do Ministério. (Fim da Cifra).

Os recursos pecuniários são cada vez mais escassos; mas tenho algum motivo para pensar que tratam de excitar os po vos de iíixtremadura e Castella contra nós, e que, talvez, não tardarão a apparecer representações dos corpos do Exercito pedindo a guerra com Portugal.

O sr. Ferrer mostrou-me um oíficio do General Alava, em que lhe recommendava a leitura do Morning Chronicle, do dia 28, como prova de que o Governo Inglez, tendo passa- do a primeira impressão causada pelas participações recebidas de Lisboa, estava persuadido da justiça que assistia á Regên- cia na questão do Douro.

Consta-me, que, tanto o sr. Olozaga como o sr. Marliani, nomeados, o primeiro Ministro e o segundo Cônsul, em Pariz, tem encontrado difficuldades em serem recebidos pelo Gover- no Francez.

íCifra). —O Partido Moderado conta que a Rainha Chris- tina estará de volta em França, no principio de Março

Deus Guarde, etc. Madrid, 8 de Janeiro 1841.

ig3 N.** 1 5. Confidencial.

III.""" e Ex."" Sr.

A minha situação, bastante desagradável n'esta Côrle, de- pois que se encerraram as Gamaras sem se ter concluído a discussão do Regulamento sobre a livre Navegação do Douro, tornou-se terrível quando se recebeu o Discurso da Abertura. A parte da Regência que deseja a guerra, tomou a preponde- rância sobre a outra que, preferindo a felicidade da Nação a sustentar caprichos c exigências injustas, e aborrecendo as ideas de propagandismo, tem sempre trabalhado pela conti- nuação da paz entre as duas nações. Sem uma única excepção, todos os homens esclarecidos que me teem ajudado, perderam as esperanças de se poder evitar a guerra; queriam que em logar da phrase texigencias injustas», se lesse «exigências taes que eram inadmissiveis», phrase que, sem dar logar a irrita- ção, seria ainda mais forte, porque, debaixo de adjectivos taes se poderia subentender injustos, ridículos, etc. Como disse a V. Ex.'^, Mr. Aston tinha encontrado o Duque da Vitoria, no dia 8, no estado da maior excitação. Ainda que tenho pas- sado os melhores dezezeis annos da minha vida na guerra, e que, permitta-me V. Ex.^ a expressão, a posso considerar co- mo o meu elemento, ninguém deseja mais do que eu aflastar da minha pátria as consequências horríveis, inevitáveis, que ella traz comsigo. Sei, tenho a convicção que os invasores ca- ro pagariam o seu atrevimento; mas nem por isso deixam de ficar taladas e devastadas algumas das nossas províncias, e arruinadas milhares de ínnocentes famílias. Nestas circum- stancias, julguei dever fazer uso da auctorisação de S. M. enviada no otiicio de V. Ex.' de 28 de Dezembro— Reservado N.° 8, e, em data de 8, escrevi ao Ministro dos Negócios Extrangeiros a Nota (Copia n." i). No dia 9, por extraordiná- rio, escrevi ao B. de Moncorvo a carta (Copia n." 2) e fui di- zer a Mr. Aston que pelas ordens que se tinham expedido pa- ra marcha de tropas, e pelas expressões usadas por Espartero na conversação com ditlerentcs pessoas, eu tinha escripto ao B. de Moncorvo dizendo lho que unia a minha á opinião geral, e que acabava de me persuadir que o Duque queria a guerra mais do que nenhuma outra pessoa, c pedi-lhc que fosse falar com o sr. Ferrer de um modo que lhe não deixasse a menor duvida sobre o procedimento que a Inglaterra teria em caso de invasão; e qi;e cu julgava isto indispensável, por me haver dito l-\>rrer que, ;i hora em que talávamos, o Governo Por-

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tuguez teria a certeza de não ter, no Governo Britannico, o apoio que lhe tinha promettido Lord Howard.

Mr. Aston, que repelidas vezes me tinha dado os seus agradecimentos pe)a mintia Nota de 8, assim m'o prometteu. O eífeito d'aquella Nota foi prodigioso; mudou completamente a posição dos Partidos na Regência, dando toda a força aos que preferem a paz. Hontem á noite recebi a Nota, (Copia n.° 3, incluindo o n.° 4) na qual se diz que o documento a que se refere constitue «el ultimaíiim en el estado actual dei cues- tion». Peço a V. Ex.* que se lembre que esta Nota é assignada pelo sr. Ferrer, e que a expressão referida, segundo a opinião dos homens sensatos com que tenho conversado, é a annulla- ção positiva do ultimaium apresentado por Viniegra.

tive a honra de dizer a V. Ex.^ que eu tinha dito ao sr. Ferrer que me parecia ter notado differença entre o pro- jecto do ultimatum recebido por Mr. Aston e o que Viniegra apresentou, e que o sr. Ferrer me prometteu verificar esta circumstancia. Hontem veiu Mr. Aston dizer-me que o sr. Fer- rer lhe tinha pedido me assegurasse que, eftectivamente, Vinie- gra tinha posto, no ultimatum, de seu moíu próprio, a palavra FALSiA, e que tinha sido, por isso, asperamente reprehendido. Que, além d'isto, tinham, em Portugal, interpretado mal a força de certas expressões, como, por exemplo, traduzindo fraco ou cobarde por fíaco; dando, egualmente, explicações sobre a outra phrase «lucta sem gloriaw, etc, ele.

Por estes factos, e por todas as informações que hoje tenho recebido, persuado-me que o Governo de S. M. poderá evitar a guerra, fazendo pôr em andamento a discussão do Regula- mento, e continuando V. Ex.*, e os outros membros da Admi- nistração, a ter na discussão cuidado em não soltar expressões que, ainda que justas e merecidas, possam dar força aos que pretendem irritar o animo do Duque da Vitoria.

Difficilmente se pode form.ar idéa da exaltação causada pela phrase «exigências injustas»-, e ella deu logar a dois artigos da Gaceta, que me incommodaram a ponto de querer sair de Ma- drid; porém Mr. Aston, depois de me notar que não havia uma expressão menos delicada a respeito de S. M. ou da Nação Portugueza, encarregando-se de faliar a este respeito ao Ministro Ferrer, exigiu de mim o desprezar aquelles artigos, dizendo-me «por tudo quanto ha de sagrado, e como o repre- sentante do Poder Moderador, / implcrc you (eu lhe rogo) que não taça caso dos artigos da Gacetao.

Logo que se recebeu o Discurso da Abertura, houve Con- selho da Regência, em resultado do qual, na mesma tarde,.

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sahiram quatro correios de Gabinetes, com ordens para movi- mentos de tropas que devem fazer parle do exercito que des- tinam a entrar em Portugal, o qual se compõe de 5o:ooo h. de infanteria, 6o peças de bater, 12 baterias de campanha e esquadrões de cavallaria, divididos em dois corpos de 25:ooo infantes cada, e >< esquadrões, o destinado o entrar pe- las províncias do norte, e 28 o outro. Isto é exacto.

Julguei não dever retardar estas informações, e aproveito o of!erecimento do Secretario de Legação, José Leal, o qual poderá dar a V. Ex.'^ mais detalhadas informações.

Muito desejo que a minha conducta possa merecer a apro- vação de S. M., que os meus esforços possam concorrer para evitar a guerra, e que eu^ dentro em pouco, possa concluir esta missão, que me tem fatigado mais do que nenhuma das minhas campanhas.

Rogo a V. Ex. queira, em meu nome, ter a honra de bei- jar a mão de SS. MM. e Alteza<*.

Madrid, 11 de Janeiro 1841.

P. S. Acabo de ter a honra de receber o otlicio de V. Ex.^, Reservado n." i de 5 do corrente.

Copia n." i

O abaixo assignado. Enviado Extraordinário c Ministro Plenipotenciário de Sua M lícstade P^ideHssima. cm Missão Extraordinária junto ao Ciovcrno de Sua >Ligcstade (^atholica, tem a satisfação de communicar ao Ex.'"' Sr. Don Joaquin Maria de Ecrrcr, Vice-Presidente do Conselho e Primeiro Se- cretario d'Estado, que recebeu auctorisação do Governo de Sua Magestadc Eidehssima para declarar ao (iovcino de Sua Mai^estade Catholica. que o (jovcrno Portiigucz nenhuma du- vida tem em acceitar a mediação do Governo Bntannico para o ajuste da questão pendente entre Portuual e Hespanha, se o Governo de Sua Magestadc C^ itiioiica a ;.cceitar egualmentc.

O abaixo assignado aprovciía esta occa^^ião para renovar ao Ex."'" Sr. Don Joaqu'n Mana o!c Ecrrcr. o-, protestos de sua alta consideração e estima.

.Madrid, de Janeiro de \^\\-

19^ Copia n.° i

\\\T e Ex.""" Sr.

Ainda que não tenho hoje tempo de entrar nos detalhes que desejava, não devo deixar de informar a V. Ex.* das cir- cumstancias em que julgo nos achamos, com relação a este Governo.

A mediação oíferecida pelo Governo Inglez foi acceita pela Regência, mas unicamente pela espaço de vinte e seis dias^ por- que, sendo o termo do praso marcado no ultimatiim o dia 4 de Janeiro, este Governo, na sua resposta á Nota de Mr. As- ton oflerecendo a mediação do seu Governo, diz que acceita, esperando que o Governo Britannico fará com que o Regula- mento sobre a navegação do Douro se ponha em execução, por todo o mez de Janeiro, findo o qual a Regência obrará como julgar conveniente. Não sei como Lord Palmerston tomará esta restricção; mas o caso é que por ella se reserva a Re- gência o direito de mandar entrar o Duque da Vitoria, á testa de 60:000 homens, em Portugal, desde o i.° de Fevereiro, se até então se não tiver posto em execução o Regulamento. Ora é quasi impossivel e, de certo, impraticável, no estado de irri- tação em que se acha Portugal, que o Ministério obtenha con- seguir fazer concluir a discussão em ambas as Gamaras, a tempo de mandar pôr o Regulamento em execução antes de Fevereiro, e as mais fortes e sérias admoestações do Gover- no Inglez poderão evitar as desgraças que devem resultar a ambos os paizes e, particularmente, ao nosso, porque, apesar de não ter a menor duvida que resistiriamos, com gloria, á in- vasão, nem por isso deixariam de ficar taladas e arruinadas algumas das nossas provindas. Ainda, antes de hontem, o Du- que da Vitoria, tratando do dinheiro necessário para a des- peza do Exercito, calculava com 60:000 homens menos, porque esses seriam sustentados e pagos á custa de Portcgal. Eu te- nho, com o Duque, bastante intimidade, e, até agora, eu acre- ditava tanto nos seus sinceros desejos de evitar a guerra, como Mr. Aston. Mas ha dois dias para que principio a unir a mi- nha á opinião geral, isto é que elle a deseja, e a promoverá ou, ao menos, não terá força de resistir aos que a isso o levam. Mr. Aston, com quem estou com a mesma perfeita intel- ligencia com que sempre tenho vivido com L. H., (Lord How- ard?) trabalha, incessantemente, e muito bons serviços nos tem feito*, está, porém, persuadido que a Regência não deseja a guerra; e eu estou convencido de que alguns dos seus mem-

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bros muito a querem. Hoje mesmo, duas pessoas aqui influen- tes, uma por escripto e a outra de palavra, me fizeram lem- brar que a Hcspanha tinha resistido ás forças de Napoleão, e em 23 succumbiu ao Duque de Angouleme, porque apoiava um partido, e que o mesmo faria Espartero entrando em Por- tugal; e teria por si todos os exaltados. O jornal incluso é li- cenciado e pago pela Regência; e rogo a V. Kx.* que leia o ar- tigo que vae marcado.

Trabalhe V. Ex.' para que esse Governo tome, e sem de- mora, o tom que lhe convém, sem o que serão inevitáveis gran- des desgraças.

Estimarei saber que V. Ex.* goze de perfeita saúde e todo o seu interessante rancho, e que não duvide da sinceridade com que sou, etc.

Madrid, 9 de Janeiro 1841.

N.° 16. Confidencial.

111.™° e Ex."'" Sr.

Hontem á noite tive a honra de receber o otlicio de V. Ex.% Confidencial N.*^ 2, cm 9 do corrente, no qual \'. Ex.* accusa a recepção dos despachos de que foi portador o Conde de Almoster, e me annuncia que, com brevidade, expediria um correio extraordinário.

As noticias recebidas por este Governo, com data de 6, de Lisboa, causaram bastante sensação ao Duque da \'itoria, ao Sr. Ferrer e a outros Membros da Regência, porque se lhes annunciava, quasi como inevitável, uma mudança de Ministé- rio, o que traria, infelizmente, muito maior demora na conclu- são do importante negocio pendente entre os dois Governos. Mr. Aston olhava tal mudança como uma calamidade, nas circumstancias a que tinha chegado este negocio. Eu assegurei a todos que tal receio me parecia infundado; que a esperança dos que desejavam essa mudança tinha tido por base. até ao dia 2 de Janeiro, a persuasão de que não concorria o numero necessário de Deputados e Senadores para se constituírem as Camarás; mas, vendo baldada aquella esperança, recorriam agora á reunião das duas OpposiçÕes, que se dão a si o nome de Cartistas Puros e de Setembristas, com outros membros da maioria que votariam contra o Regulamento; mas que, não obstante isto, eu estava persuadido que o Ministério teria uma

maioria respeitável, e que não haveria mudança. O sr. Ferrer disse-me que sabia que o sr. Ministro da Fazejada tinha, effe- ctivamente, pedido a sua demissão. Respondi-lhe que nada sabia a tal respeito.

As eleições começam no i.° de Fevereiro e acabam em poucos dias. Desejam os Regentes, com a maior anciedade, receber noticias, até ao dia 27, de ter acabado a discussão do Regulamento, pelo menos na Gamara dos Deputados; porque estão convencidos que, se podessem publicar aquelle resultado a tempo, as Gamaras futuras não serão puramente democrá- ticas e propagandistas; e exforçam-se em me fazer ver que este resultado de vida ou morte para elles, não deixará de ser seguido das mais graves consequências para Portugal.

Os Officios recebidos no dia 10, á noite, do Gapitão Gene- ral da Gatalunha, Van Holen, Gonde de Verocamps (?) obri- garam o Ministro da Fazenda a mandar chamar um capitalista d'esta cidade e, sobre seu credito particular, pedir-lhe para a seguinte manha, um milhão de reales de vellon, que remetteu para a Gatalunha.

Hoje foi apresentada á Regência uma proposta para um empréstimo, assignada Safon e Gompanhia. A somma é de quinhentos milhões de reales de vellon, ou dois mil contos de réis a 65 com juro de 5 "/o. No preambulo declaram que fazem a proposta na intelligencia que a paz continuará com as Poten- cias limitrophes.

(Cifra). Tenho a certeza de ser informado a tempo e com exactidão de tudo que se passar nas Secretarias do Reino, Fa- zenda, Guerra e Estrangeiros que nos possa dizer respeito.

Rogo a V. Ex.* tenha a honra, etc. Madrid, i5 de janeiro de 1841.

N.'^ i"!. Confidencial.

111."'° e Ex."^" Sr.

No dia i5; pelas oito horas da manhã, chegou o correio extraordinário que me entregou o officio reservado n.° 3, de 10 do corrente, e o n.° 12 da serie ostensiva.

Julgando não dever demorar as explicações convenientes sobre o acontecimento que teve logar a Barca de Fialhosa, não podendo sair por estar incommodado, pedi ao Gonselhei- ro Lima quizesse encarregar-se de ver o sr. Ferrer a este res-

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peito, e pedi-lhe que lhe dissesse que V. Fx.' me tinha parti- cipado que, no dia 12 ou i3, o Governo exigiria, na Gamara dos Deputados, a discussão do Regulamento relativo á nave- gação do Douro, sem dependência de terminar a da resposta á Fala do Throno e que, da minha parte, lhe podia atHrmar que, não obstante haverem alguns membros que deixariam de votar a favor, em consequência do que se tinha passado no intervallo das sessões, o Governo teria a maioria em ambas as Gamaras. O sr. Lima teve a bondade de me informar que não dariam peso ao acontecimento da Barca de Fialhosa; e que o sr. Ferrer se tinha mostrado satisteito com as outras informações.

No mesmo dia i5 me mostrou Mr. Aston uma proclama- ção que lhe tinham remettido, assignada pelo major Gabral, da qual envio copia, dizendo me que lhe asseguravam que agentes Francezes buscavam, por todos os modos, promover um movimento aqui contra a Regência, e, em Portugal, con- tra o actual Governo de S. M. Que sabia que dous d'estes agentes tinham marchado para Portugal, devendo estar hoje no Algarve Mr. Garnier-Pagés, irmão do celebre Deputado Republicano deste nome; que não estava certo como se cha- mava o outro, mas que julgava ser iMr, Maillefaire, a respei- to de quem escrevi a V. F2x.*

Passarei agora a responder aos dous paragraphos que se- guem, transcriptos do officio Reservado de 10, em resposta ao meu confidencial de 3 i do p. p.

«A phrase de que V. Ex.^ usa no seu ollicio reproduzin- do, etc».

«Sobre este ponto sinto eu muito, ctc». O paragrapho com que conclue o meu ollicio de ? 1 é o se- guinte:

«Fstes dias tem marchado, na direcção de Ta[avera, al- guns corpos de infantaria que se achavam n'est2 capital, e al- guma artilharia».

Foi isto mesmo que eu communiquei ao Visconde de acrescentando, unicamente, que me parecia que a praça de Klvas seria um dos primeiros pontos atacadas.

Se, pelo que acabo de dizer, é evidente a injustiça d'esta accusação que se me faz, quem acreditará, \ . Kx,' mesmo se admiraria, que a outra ter.ha por base. não uma conferencia que eu tivesse tido com algum dos membros d'este Governo, na -,ual tivesse deixado de responder convenientemente a ex- pressão pela qual se tivessem denominado hostis as medidas tomadas pelo Governo Portuguez, mas sim a participação que

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faço a V. Ex.* do que se continha na Nota do Sr. Ferrer, em resposta á de Mr. Aston oíferecendo a mediação do seu Go- verno, cuja leitura eu tinha feito, muito á pressa, quando Mr. Aston m'a fez ver.

No meu officio n.° 14, em que relato a conferencia que ti- ve com o sr. Ferrer, no dia 8 do corrente, V. Ex.* terá visto que, quando aquelle Ministro se me queixou das prisões que, em Portugal, se faziam para soldados, eu lhe respondi: Co- mo imaginava elle que houvesse um Governo que, ameaçado de uma invasão para o dia 3 de Janeiro, não lançasse mão, no mez de Dezembro, de todos os recursos para se defender?

Do que acabo de expor, é tão evidente e absurdo, e a in- justiça da reprehensão que se me dá, como a vontade de me insultar do argucioso Official Maior d'essa Secretaria dos Ne- gócios Estrangeiros quando redige algum officio que V. Ex.*, por falta de tempo, não pôde escrever do seu próprio pu- nho.

Mal podia esperar o Marechal Marquez de Saldanha, de- pois de trinta e seis annos de serviço, tendo exercido todos os mais elevados empregos do Estado, sem nunca ter sido repre- hendido; condemnado á morte em 1828, e havido, em 1837, por nunca ter sido Miguelista nem Setembrista, que, annuindo ás repetidas instancias dos Ministros da Coroa, acceitando, com muita repugnância, esta missão extraordinária e temporária, porque deveria durar dois ou três mezes, mal podia pensar, digo, que no fim da sua vida se expunha a ser o divertimento do sr. António Joaquim Gomes d'01iveira. Se tal é a sua con- ducta para comigo, que sou completamente independente da carreira diplomática, fácil é de imaginar o que lhe terão sof- frido e aquillo a que estão expostos os membros do Corpo Di- plomático a quem elle considera em outras circumstancias. O Ex.™° sr. C. da Bahia, por efleito da sua natural bondade, fez com que o Encarregado de Negócios de Hespanha, Cruix (?) re- tirasse uma Nota em que apresentava factos que iam corro- borar as exigências do Ministro Inglez, relativas áquelle empre- gado publico, o que valeu a Cruix (?) uma severa reprehensão do seu Governo. V. Ex.* não tem querido acreditar que o«; máos officios d'esse Official Maior mui poderosamente contribuíssem para a desintelligencia e irritação que existia entre o Governo de S. M. e o da Grã-Bretanha, quando se formou o Ministé- rio de 26 de Novembro; mas julgo que não deixará de ver, no seu procedimento para comigo, o desejo de me indispor com V. Ex.^, o que infallivelmente teria logar se eu não soubesse a necessidade com que os Ministros muitas vezes são obrigados a

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assignar, sem ler, officios redigidos e apresentados por pessoas da sua confiança.

Eu tinha tenção de me demorar aqui até Maio, para obser- var a marcha das Cortes e estabelecer relações com o novo Regente ou Regentes e seus Ministros; mas a minha dignidade exige, porque eu não devo nem quero receber outro insulto, que acabe esta Missão, e me retire para Lisboa, no momento em que veja que tem desapparecido o receio de guerra pela questão do Douro.

Deus Guarde, etc. Madrid, i8 de Janeiro 1841.

N." 18 Confidencial.

111.™'' e Ex.'^'' Sr.

Pelo correio passado tive a honra de enviar a V. Ex.* a copia do confidencial que dirigi ao Ministro dos Negócios Es- trangeiros em 19 do corrente, apenas recebi a carta de V. Ex.* de i3; e, inclusa, achará V. Ex.^ a copia da sua resposta.

No dia seguinte fui ver o sr. Ferrer, o qual deu as mais evidentes provas da satisfação que lhe causavam as noticias de Lisboa. Entrou em immcnsos detalhes sobre a situação da Regência com os differentes Governos da Europa, especial- mente do que, ultimamente, se tinha passado entre elle e Mr. Guizot, esforçando-se por me fazer ver a grande utilidade que resultaria á Península se os Governos de Portugal e Hes- panha, em todas as questões Europeas, se apresentassem sempre identificados um com o outro. Li-lhe a ultima parte da carta de V. Ex.*, e quando cheguei ao paragrapho em que V. Ex,* diz: «Conto que, dentro em pouco, cessará o motivo SC é verdadeiro, da desconfiança desse Governo», levantou- se, abriu uma gaveta do seu bufete c tirou um papel, e disse- me: aPara lhe provar que não ha nenhum outro motivo, e a anossa boa e probidade para com o Governo de S. M. a aRainha de Portugal, de cavalheiro a cavalheiro, para V., o veja esse papel.»

Era um documento original, assignado por mais de um in- dividuo, que lhe tinha sido remettido por Viniegra quando es- teve Encarregado de Negócios em Lisboa II

O espirito de Partido a tudo se abalança; nada respeita; e por esta convicção não julguei apocrypho aquellc do cumento.

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O sr. Ferrer assegurou-me que estava persuadido que nin- guém que soubesse o que era Governo Representativo pode- ria deixar de confessar que era impossível dar um passo mais decidido do que o tinha daao o Ministério Portuguez, fa- zendo antepor a discussão do Regulamento á da Resposta ao Discurso do Throno; mas que esta prova immensa da sua for- ça provava, evidentemente, que podia acabar a discussão guando quizesse, e por isso instava e esperava que o Regula- mento passasse a tempo de se publicar antes das eleições. Todos os outros Ministros da Regência com quem tenho es- tado, se mostram egualmente satisfeitos, e anciosos pela con- clusão do negocio do Douro.

Fallei ao Ministro dos Negócios Estrangeiros relativamente aos mancebos portuguezes que se teem refugiado n'este Reino, fugindo ao Recrutamento. Respondeu-me: «V. sabe o ter- oreno que pizamos, e o effeito que produziria, antes da con- «clusão do Regulamento, qualquer medida que tomássemos a «esse respeito. Logo que não haja esse motivo, faremos tudo «quanto V. quizer, e que possa mostrar a nossa sinceridade e «boa fé.»

Mr. Garnier-Pagés chegou hontem a Madrid, tendo estado no Alemtejo. Mr. Maillefere deve ir ás províncias do Norte, e depois á Galiza, pôr em harmonia e regularisar a correspon- dência entre os Clubs republicanos da Península com os da França; tal me asseguraram ser o fim dos seus trabalhos.

Rogo a V. Ex."^ que em meu nome, etc.

Deus Guarde, etc. Madrid, 22 de janeiro 1841.

N.° 19. Confidencial.

111.'"'' e Ex."" Sr.

Todas as conferencias que tenho tido comi os Regentes-Mi- nistros, depois da recepção do Officio de V. Ex.^ do dia 16 do corrente, são as mais satisfatórias possível, e provam, eviden- temente, que, pelo menos a maioria da Regência, não se ser- via da questão do Douro para encobrir tenções secretas contra a nossa independência nacional ou contra o actual Gabinete Portugucz, depois que conheceu quem eram os homens que, em Portugal, se intitulavam Progressistas. Logo depois de ter obtido do Duque da Vitoria a promessa formal e solcmne, a qual clle, no dia seguinte, repetiu a Mr. Aston, de fazer reti-

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rar a Nota apresentada por Viniegra no dia 9 de Dezembro, tive uma conferencia com o sr. Ferrer, e quando lhe dei co- nhecimento da conducta de Soler, em nossa Côrie, perguntei- Ihe se eu tivesse seguido o mesmo caminho, e que, em logar de ler relações com Don António Gamboa, com Quadra, e outros bons Hespanhoes, homens de saber e prudência, e sin- ceros amigos da Regência, e, com o Ministro Inglez, eu ti- vesse ido receber as inspirações dos redactores do Trueíio e do Huracan, c dos agentes Francczes, e tivesse apresentado o procedimento e as intenções dos Regentes com as mesmas cores que Viniegra e Soler o fizeram, a respeito do Gabinete Portuguez, em que estado estaria hoje a navegação do Douro? Respondeu-me com mil cousas lisonjeiras para mim, e assegu- rou-me que ia fazer partir D. Manuel M. de Aguilar, que era homem de boas intenções, e que eslava persuadido mereceria a benevolência de S. M. e do seu Governo.

Fiz-lhe vêr a necessidade de fazer desapparecer todas as causas de irritação e que manifestassem a desconfiança que havia existido entre os dois Governos; e que. portanto, era de absoluta necessidade retirar a Nota de g de Dezembro. O sr. Ferrer, protestando quanto anciava, evidentemente, phrazear a sinceridade dos seus sentimentos, me assegurou que, de certo, se não opporia a que a Nota fosse retirada, e removido qual- quer pretexto de desconfiança. Era para mim suficiente ga- rantia a promessa do Duque da Vitoria; mas não quiz omittir o que me disse o sr. Ferrer; porque, tendo passado da casa do Duque á Secretaria d'Estado, a resposta do Ministro dos Negócios Estrangeiros foi espontânea, e não obrigada pela re- solução do Duque, como poderíamos julgar. O sr. Ferrer de- seja, o mais vivamente possível, que, quanto antes, se verifique a passagem de um barco qualquer pelo Douro, ainda oue seja tão pequeno que apenas possa conduzir uma ou duas fanegas de trigo. Olhará como um brazão da sua gloria se a navega- ção começar no seu Ministério, ainda que seja na menor escalla imaginável.

Logo que se receba a noticia de ter passado o Regulamento na Gamara dos Senadores, a Regência mandará dar baixa a todas as praças de prèt que a ella têem direito, cujo numero excede a oitenta mil homens.

A noticia de ter passado o Regulamento na Gamara dos Deputados, que tanto encheu de alegria e satisfação a Regên- cia e seus amigos, causou uma impressão tão desagradável no Partido Moderado que de mim mesmo a não poderam occul-

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tar; e a allocução do Duque da Vitoria á Guarda Nacional, na revista do dia 23, tem os exacerbado ao ultimo ponto.

Na ultima conferencia que tive com o sr. Ferrer, tornou a falar-me no estado das relações da Regência com as Poten- cias do Norte, que elle julga em muito bom andamento, e com o Governo Francez, de que elle tem as maiores descon- fianças. Acabava o sr. Ferrer de receber um despacho do sr. Òlosaga, Ministro da Regência em Pariz, no qual lhe di- zia que Mr. Guizot o tinha, directamente, chamado sobre a questão com Portugal, e, afinal, lhe tinha dito que não receas- sem a menor opposição ou incommcdo da parte da França, no caso de levarem a efteito a guerra com Portugal.

Este facto está bem pouco de accordo com a segurança dada por Mr. Guizot a Lord Palmerston, sobre as instrucções enviadas ao Ministro Francez na Corte de Lisboa.

Rogo a V. Ex.* queira, em meu nome^ ter a honra de bei- jar a mão de SS. MM. e Altezas.

N'este momento me informam que hoje se expediram or- dens para terem baixa todos os que a deviam ter recebido em i833, 34 e 25, e, segundo a opinião do meu informante, que está em circumstancias de o saber, o numero dos homens que, em consequência, deixam o serviço, excede 3o:ooo (trinta mil).

Madrid, de Janeiro 1841.

N.*^ 20. Cotifidencial.

111."^^ e Ex.™"' Sr.

Antes de hontem á tarde chegou o Secretario da Legação, Leal, e me entregou o officio e carta de V. Ex.''' de 21, e os despachos de L. Howard para Mr. Aston.

Eu julgo que a natureza dos factos especificados nos meus últimos despachos, terá feito convencer a V. Ex.* de que me não enganava, quando affirmava que a questão da navegação do Douro não era o pretexto que encobria tenções secretas da parte da Regência.

Tendo, antes de hontem mesmo, ido dar conhecimento a Mr. Aston do officio de 21, e concertado com elle sobre o que convinha fazer, fui hontem de manhã ver o Duque da Vitoria e o sr. Ferrer, e a ambos fiz ver qual tem sido a conducta do Senador Manuel de Castro Pereira, e dos outros Senadores, membros da Opposição, e a resolução em que V. Ex.* se achava: que a discussão do Regulamento estava dado para

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a Ordem do dia 2^\ que eu falasse uma palavra sobre o que, n'aquelle offlcio, V. Ex," me diz do Soler; e, finalmente, os embaraços qui os empregados da Regência, tanto no Porto como em Lisboa, suscitavam, de propósito, para evitar a con- clusão da questão, o que era mui injurioso á Regência, porque dava força ás suspeitas sobre tenções occulias d'este Governo, e a que deixariam de dar credito as pessoas que, como eu, conheciam pessoalmente o modo de pensar dos Regentes.

Primeiro que eu tivesse dito uma palavra a respeito do que V. Ex.* me participa relativamente ao sr. Soler, fui informado que, lendo o sr. Ferrer feito ver á Regência o que eu lhe havia communicado na conferencia que relato no meu officio confidencial n '^ 19, se havia tomado a resolução de nomear outro Secretario em logar de Soler; porque a Regência está decidida a fazer ver, por todos os modos, os seus ardentes de- sejos pelo restabelecimento da mais perfeita harmonia e intel- ligencia com o Governo de S. M.

O sr. Ferrer accrescentou: «Logo que as Cortes se re- «unam, verá os elogios que ali hei de fazer ao actual Gabinete aPortuguez. Eu não conhecia Soler; foi Compusano e Agui- €lar que se empenharam em que elle fosse de Secretario para «Lisboa, e é um desgraçado que não tem de que viver; mas «torne a si a culpa».

Hontem me esteve mostrando o Duque da Vitoria o mappa que indica a collocação que foi destinada ao exercito depois da guerra. A divisão do commando do General Alençon, que se compõe de três brigadas de infanteria, era destinada a oc- cupar Ciudad Rodrigo, Salamanca e Valladolid. O regimento de Couraceiros da Rainha deve ter o seu quartel em Ciudad Rodrigo; e o Duque, em consequência das minhas reflexões e de iMr. Aston sobre a approximação de tropas a Fronteira, não consentiu que esta divisão fosse ao seu destino, e está hoje occupando Burgos e Valladolid, e o regimento de Couraceiros está em Aranjuez, para onde devia ir outro regimento que está em Catalunha. O mesmo aconteceu a outras divisões. A con- ducta do Duque, a nosso respeito, não se pôde exceder em franqueza e verdade.

Permitta-me V, Ex.^ que eu lenha a satisfação de lhe dizer que, tendo Mr. Aston a bondade de me deixar ler os despa- chos que envia e recebe a respeito da nossa questão, eu lenho lido os otlicios de Lord Howard ao seu Governo sobre a ques- tão do Douro, e é impossível que nenhum Portuguez advcj^assc a nossa causa com mais interesse, mais etVicacia e mais ener- gia do que o mesmo Lord o tem feito. Muito devemos, egual-

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mente, a Mr. Aston, e, sem a sua prudência e maneiras conci- liadoras, não teriamos evitado as terriveis consequências das intrigas forjadas em Lisboa.

A'manhã deve sair d'esta Corte Don Manuel de Barros, nomeado Cônsul General d'Hespanha em Portugal. Tendo, anteriormente, seguido a carreira diplomática, serviu duas ve- zes como Secretario de Legação, e são boas as informações que tenho obtido a seu respeito.

Queira V. Ex.*, em meu nome, ter a honra de beijar a mão de SS. MM., etc, etc.

Deus Guarde a V. Ex.^ Madrid, 29 de Janeiro 1841.

N.° 21. Confidencial.

111."^'» e Ex.'"" Sr.

No dia 3i, de manha, escrevi a Ex.^ pelo correio que ex- pediu Mr. Pageot, participando a noticia de haver passado em Toulouse, na noite de 23 para 24, o ex-Infante D. Miguel, e referia a V. Ex.^ os offerecimentos que, em consequência d'esta noticia, me tinha feito o Duque da Vitoria. Quando me dispunha a ir ver o sr. Ferrer, recebi a communicação, copia n." I, e respondi immediatamente, como V. Ex.^ verá da copia n.*^ 2, em consequência da qual recebi, no dia seguinte, a de que é copia o n.° 3.

A's três horas do dia 3i, chegando a casa, achei o Conde de Almoster, que me entregou os despachos de V. Ex.* do dia 27.

Sem perder um momento, o communiquei ao sr. Ferrer, coroiO V. Ex.^ verá da copia n.^' 4, e, pessoalmente, lhe entre- guei o Memorandum, copia n.° 5. O sr. Ferrer, depois das mais evidentes provas da sua grande satisfação, pediu-me que voltasse no dia seguinte, porque não queria demorar um ins- tante o dar a noticia aos seus collegas, e expedir correios ex- traordinários para as provincias de Castilla.

Voltei hontem á Secretaria d'Estado, e o sr. Ferrer leu o meu memorandum, e foi-me respondendo, no fim de cada arti- go, assegurando que tudo, tudo, se poria em execução imediata- mente; mas esperando, comtudo, que não seriam castigados os mancebos que tinham fugido do recrutamento e buscado asilo n'este paiz.

Sena impoísivel referir a V. Ex.-' tudo quanto hontem me

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disseram os Ministros, que todos vieram a minha casa felici- tar-me pela feliz conclusão do terrivel negocio que tanto nos incommodou. O Duque da Vitoria me encarregou de atliançar a Sua Magestade que podia dispor do Exercito Hespanhol, no caso que D. Miguel reunisse alguma íorça, ou para estabele- cer algum cordão nas fronteiras, ou para entrar em Portugal contra o Pretendente, e que, mesmo no caso em que o Gover- no Portuguez pedisse a entrada de dous ou três mil ho- mens, elle tomaria o commando, pois que, depois do serviço de S. M. Catholica, nada ambicionava tanto como poder pres- tar serviço a S. M. Fidellissima, e mostrar a sua constante sympathia pela briosa Nação Portugueza.

Quando eu estava jantando, entrou o sr. Ferrer, e me en- tregou a participação de que é copia o n." 6, pela qual V. Ex.'* me permittirá que eu o felicite, pois que a Regência, desejan- do mostrar o apreço que faz da pessoa de V Ex.*, pela parte que teve na feliz solução da negociação relativa á livre nave- gação do Douro, o nomeava Grão Cruz da Real e distinguida Ordem de Carlos III. Da mesma copia verá V. Ex.* que, tan- to eu como o Conde de Almoster e o meu Ajudante d'Orden'3 Don Miguel Ximenes, recebemos uma prova de apreço da Regência, e peço a V. Ex."* queira rogar a S. M. a permissão de podermos fazer uso das insígnias correspondentes.

As noticias de Pariz pelo ultimo correio parecem confirmar a passagem do ex-Infante D. Miguel por França ; mas talvez se refiram ás que deviam ter recebido de Toulouse.

Rogo a V. Ex.' me queira, etc.

Madrid, 2 de Fevereiro 1841.

N.° 22. Confidencial.

111.'"" e Ex."^'^ Sr.

Tenho a honra de enviar a V. Ex.''* a copia da commun;- cação que acabo de receber, n'este momento, do Ministro dos Negócios Estrans^^eiros em resposta ao meu Memorandum do dia 3i de Janeiro, ainda que datado de 3 do corrente. (_) quinto Artigo, relativamente ao Ultimatufiu estava redigido de modo que julguei dever instar por que fosse alterado; é esta a razão da diflerença que V. Ex.* notara na data e dia em que o re- cebi.

Don Manuel Maria d'AguiIar partirá em poucos dias, e ]~}

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se expediram as ordens para se levarem a effeito as medidas exigidas nos outros Artigos.

Eu farei ao sr. Ferrer as reflexões convenientes acerca da entrega de desertores e criminosos.

Rogo a V. Ex.* queira, etc.

Madrid, 8 de Fevereiro 1841.

N.° 23. Confidencial.

Ill."° e Ex.""" Sr.

Tenho a honra de enviar a V. Ex.^ a inclusa copia do oífi- cio do Ministro d'Estado dos Negócios Estrangeiros, que, agora mesmo, recebo, não obstante trazer data de 4.

As noticias que hontem se receberam de Geneva não fazem menção do ex-Infante D. Miguel.

Rogo a V. Ex.^, etc.

Deus Guarde a V. Ex.^— Madrid, 9 de Fevereiro 1841.

N.° 24. Confidencial.

111.""" e Ex.''» Sr.

Antes de hontem, 14, tive a honra de receber o officio de V. Ex.*, reservado N.° 11, acompanhado de três documentos pelos quaes constava que o ex-Major Cabral havia chegado, no dia 23 do p. p., a Ayamonte, acompanhado por quatro soldados, e ostenta as tentativas que elle tinha empregado. Passei, immediatamente, á Secretaria da Guerra, e o Ministro Chacon, á minha vista, fez expedir as mais positivas ordens para que aquelle refugiado fosse, sem a menor demora, con- duzido a Cuenca, onde ficaria residindo; fui, depois, vêr o sr. Ferrer, afim de passar a indispensável communicaçáo ao Ministério da Guerra. O sr. Chacon, prestando-se a expedir aquella ordem antes da competente participação dos Negócios Estrangeiros, adiantou o negocio cinco ou seis dias,

Don António Gonzales partiu, hontem á noite, para Lon- dres. Pela manhã veiu ter commigo uma conferencia que, ver- balmente, terei a honra de communicar a V. Ex.'\ Elle conta demorar-se poucas semanas em Londres; e espera poder ter

20^

tempo para regressar por Lisboa. O sr. Gonzales, segundo a minha opinião, é a maior capacidade politica dos homens da época.

Muito se trabalha para que o Duque da Vitoria seja o único Regente, conservando o commando do Exercito. Se isto acon- tecer, o que me parece provável, Gonzales, segundo creio, será o I.** Ministro: no caso contrario, será um dos Regentes.

Desde o principio da passada semana, que o sr. Ferrer me disse que a Regência estava prompta a receber as creden- ciaes do sr. Lima, e que desejava, ao mesmo tempo, apro- veitar a occasião de se reunirem os Officiaes-móres da Casa Real, etc, para celebrar a ceremonia de me armar cavalleiro, e pôr as insignias de Grão Cruz de Carlos 3.°; mas, mesmo no caso que eu, ainda hoje, não tenha a honra de receber a permissão de S. M., a recepção do sr. Lima está definitiva- mente determinada para o dia de amanhã.

Em outra occasião tive a honra de assegurar a V. Ex*, pela gloria de S. M., e pela felicidade da nossa Pátria, que a ques- tão do Douro não era o pretexto com que a Regência encobria tenções secretas a nosso respeito; e é com a maior satisfação que estou hoje tão convencido de que me não enganei, como o estou da minha própria existência.

Parece-me que os negócios da Europa se têem complicado, ultimamente, sem embargo da feliz terminação da questão Egypcia.

Espero poder partir no domingo, 21, e, nesse caso, terei no sabbado a minha audiência de despedida.

Rogo a V. Ex.* queira, em meu nome, etc.

Madrid. 16 de Fevereiro de 1841.

N ° 25 Confidencial.

111.""" e Ex.""^ Sr.

hontem, de tarde, recebi o officio de V. Ex.*, confiden- cial n.° 12, de i3 decorrente. Fui, immedialamente, ver o sr. Ferrer, a quem disse que V. Ex.* estava tão pouco satisfeito com a redacção do Art. b.° da sua resposta ao seu Memorandum de 3i, que até estava resolvido a não fazer menção d'ella no Relatório que estava preparando para apresentar as Camarás.

iValha-me Deosl Eu quero satisfazer ao sr. Magalhães; «mas é necessário que elle se lembre qu; também temos Ca- tmaras, e Camarás nas quaes ha de ser necessário ganhar

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«e formar maioria. Vamos a ver por que não serve aquella redacção.»

Taes íoram as palavras do sr. Ferrer.

Disselhe que a palavra «solicitud» fazia ver que a Regên- cia tinha cedido a exigências nossas; e que, a não apparecer como um acto seu, espontâneo, perdia toda a efficacia, e não mostrava sinceros desejos de fazer esquecer tudo quanto tinha havido de desagradável. Immediatamente o sr. Ferrer redigiu o Artigo que V. Ex.* verá da copia induza que, hontem á noi- te mesmo, recebi, e com o qual julgo que V. Ex.* ficará satis- feito.

Quando sahia do Gabinete do Ministro, achei na sala im- mediata Mr. Aston, a quem disse o que acabava de se passar, e o qual julgou que eu não devia demorar a sua participação a V. Ex.*, e conformando-me, com a sua idea, a mandar por ex- traordinário, esperando que possa chegar antes de V. Ex.*ter apresentado o seu Relatório.

Pelo correio ordinário poderia chegar na segunda feira, i.° de Março.

Rogo a V. Ex.'* me queira fazer a honra, etc.

Madrid, 21 de Fevereiro 1841. (por extraordinário^.

N.° 26 Confidencial

111."^° e Ex.°'° Sr.

No dia 24 tive a honra de receber o officio reservado, sem numero, de 19 do corrente no qual V. Ex *, de ordem de S. M., chama a minha attenção sobre o objecto do pagamento da di- vida d'este Governo ao de Portugal pelas despezas da Divi- são Auxiliar que, em i835, veio reforçar as tropas de S. M. C. contra o Pretendente, recommendando-me qie falle com Mr. Aston, a quem Lord Howard escrevia, na mesma data, sobre o mesmo objecto.

Passei, immediatamente, a verme com o Ministro de S. M. B., o qual me leu o que Lord Howard lhe escreveu, assegu- rando-lhe que o Governo de S. M. ficaria mui satisfeito que se conseguisse do Governo Hcspanhol que conviesse na nomea- ção de uma Commissão Mixta para liquidar as contas, e que, depois de feita a liquidação, se estabelecessem prasos certos de pagamento, ainda que mui prolong?dos fossem. Fui, em seguida, a casa do Conselheiro Lima, e alli obtive os esclare- cimentos que me eram indispensáveis, e, depois de ter visto

21 I

ao Duque da Vitoria e aos senhores Gamboa e Chacon, redi- gi a Nota ou Otficio, (copia n." i.) Fui, eu mesmo, entregai o ao sr. de Ferrer, que me prometteu que o submetteria, sem demora, á Regência, a qual se devia reunir n'aquella mesma tarde. Assim se verificou, e tenho a satisfação de informar a V. Ex.* que a decisão da Regência foi, em tudo, conforme ao que eu pedi, como V. Ex * verá da resposta do sr. Ferrer (copia n." 2). Em poucos dias espero poder receber as lettras, que não serão a seis c a doze mezes, mas a um e dois annus, por- que, até então, aquelles fundos estam applicados. Mas, como as lettras sobre a Havana vencem o juro de seis por cento, po- derá o Governo de S.M. negocial as facilmente.

Amanhã verei o Ministro da Guerra, e combinarei com ellc o necessário para que a Commissão Mixta tenha logar.

Peço a V. Ex.* que não deixe de notar que foi no mesmo dia em que eu recebi as ordens de Sua Magestade a este res- peito, que tratei com o Presidente da Regência e com os Mi- nistros da Guerra, Fazenda e Estrangeiros, e que a Regência deliberou sobre a minha Nota, e de um modo tão satisfatório.

Este procedimento justifica, completamente, as minhas re- petidas asserções quanto aos sinceros desejos da parte da Re- gência sobre o restabelecimento das mais intimas relações com- nosco.

A copia n.° 3, é de um impresso em papel côr de sangue que hoje recebi. Não mando o original, porque o quero mostrar aos Regentes.

Rogo a V. Ex.* me faça a honra de beijar a mão a S.M. e Altezas.

Madrid, 26 de Fevereiro 1841.

N.*" 27 Confidencial Rcservadissimo.

lil."^» e Kx.™° Sr.

V. Ex.'^ sabe, perfeitamente, que eu acccitei esta missão extraordinária unicamente para o fim de restabelecer as nos- sas relações com o Governo produzido pela revolução de Se- tembro, e que, na presença de S. M , repetidas vezes se me disse que se exigia de mim o sacrificio de dois ou três me- zes. Annui. Achavam-se restabelecidas estas relações, e tinham decorrido quatro mezes, quando V. Ex.* se lembrou de

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me encarregar, em 19 de Fevereiro, de solicitar o pagamento da divida em que este Governo está para com o de Portugal, pelas despezas da Divisão Auxiliar que entrou em Hespanha contra o Pretendente, dando-me, por única instrucção, que me entendesse a este respeito com o Ministro de S. M. B. n esta Corte.

Por aquella espontaneidade com que sempre me dedico ao serviço de S. M. e do Paiz, no mesmo dia 24 em que re- cebi aquelle officio, não obstante estar prompto a partir, diri- gi ao Ministro dos Negócios Estrangeiros a Nota de que re- metti copia em 26, e, quasi que, sem o saber, me acho envol- vido em um negocio para mim mui melindroso e mui desagra- dável; porque para mim sempre o foi ter que tratar negócios pecuniários. Mas, que assim acontece, buscarei sair d'elle o melhor possivel, pondo o Governo de S. M. ao facto das cir- cumstancias aqui existentes, e não tomando resolução alguma sem a determinação de S. M.

Pelas ultimas noticias vindas da Havana, soube este Go- verno que o da ilha de Cuba, para não deixar de satisfazer as lettras saccadas sobre elle pelo Ministro das Finanças, se tinha visto na necessidade de deixar de pagar o soldo, por inteiro, ás tropas da guarnição, a qual, nos dois mezes anteriores, ti- nha recebido meio soldo, acontecimento que nunca tinha logar n'aquella Colónia, e que antevia a necessidade de demo- rar os pagamentos successivos. Esta noticia divulgou-se no dia 28, e a consequência immediata foi que os possuidores de let- tras sobre a Havana, querendo-as hoje descontar, recebe- ram 45 %. Apesar de estar doente de cama, logo que isto me constou escrevi, dizendo ao Ministro dos Negócios de Fazenda que eu necessitava vel-o antes de se levar a effeito qualquer resolução relativa ao modo de se verificar o pagamento das lettras acceites e protestadas.

Pela primeira vez me foi hontem possivel sair de casa, e es- tive com o sr. Don Agostin de Gamboa, a respeito de quem já, por muitas vezes, tenho tido a honra de dizer a V. Ex.* o verdadeiro interesse que sempre evidenciou em tudo que diz respeito a S. M. F. e a Portugal. Animado dos melhores de- sejos, está prompto a fazer tudo que seja possivel e efficaz; mas a situação é tal que não foi possivel virmos a uma con- clusão.

Em officio confidencial n." 16, de i5 de Janeiro, eu disse a V. Ex.* (o paragrapho d'este officio que principia: «Osofficios recebidos no dia 10», etc.) Até hontem não tinha o sr. Gamboa podido satisfazer aquella somma.

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Exceptuando os cincoenta mil homens que estão n'estas immediaçÕes, o exercito, que esteve sempre pago em dia, está com dois mezes de atrazo. O do norte, que occupa as pro- víncias vascongadas, apenas recebeu seis dias do mez de Ja- neiro; e no i." do corrente chegou pela posta um Ajudante d'Ordens do General Ribero, commandante d'aquelle exercito, avizando ter saccado sobre o Thesouro, e á vista, pela somma de quarenta mil duros. A's dez horas da noite houve grande reunião no Ministério das Finanças para ver como accudir, no dia seguinte, áquelle pagamento que, a não se verificar, teria sérias consequências, segundo avisava o General Ribero. Não foi possivel descobrir modo de haver aquella somma, e con- cluiu a reunião por dizer o Duque da Vitoria que, na manhã seguinte, elle daria os quarenta mil duros, comtanto que Ih os restituíssem em três semanas; e assim se lhe prometteu.

O deficit mensal é de trinta e três milhões de reales de vellon, ou mil trezentos e vinte contos de reis.

As rendas sobre os arrendatários das aguas ardentes, e sobre os arrendatários de puertos, etc, estam adiantadas sem que o mesmo Governo saiba até quando. Sobre as aguas ar- dentes me disse o sr. Gamboa, hontem, que tinha livrado a fa- vor de Sopo. ..(?), dezoito milhões, um a favor de Beltrão de Lis, e cinco mais a favor de um Biscainho cujo nome me esquece.

Uma companhia de capitalistas estrangeiros pertendia es- tabelecer um contracto do tabaco aqui, em tudo semelhante ao que existe em Portugal, e, em logar de dous milhões de duros que o tabaco hoje rende ao Estado, queriam dar cinco milhões e meio. O Governo, com muito gosto, annuiu; mas hoje os ca- pitalistas recusam-se, porque não se atrevem a fazer o deposito de um milhão de duros, necessário, á vista do estado politico do paiz, o que tem contrariado muito o Ministro da Fazenda. Parece-me que é desnecessário entrar em mais detalhes, cha- mando a attenção de V. Ex.^ sobre as circulares do Ministro da Fazenda que se tem publicado nos jornaes, e pedindo a V. Ex.* que leia o artigo de fundo do Correo Nacional de hoje, pelo qual V. Ex.* verá que, apesar dos maiores esforços das auctondades, em consequência das ordens do Governo e du- rante repetidos dias, não foi possível achar em \'alhadolid oi- to mil duros.

E' fácil imaginar as scenas que este estado de finanças tem produzido entre os Regentes; e a que hontem á noite teve lo- gar entre os Ministros do Reino, Justiça, Estrangeiros e Fazen- da foi tal, que muito trabalho custou ao Duque conseguir que o sr. Gamboa não abandonasse o Ministério.

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Attendendo ao estado das finanças, á divergência ena que se acham os mesmos poucos homens de boa e independên- cia, relativamente á questão da Regência, querendo uns que sejam três os Regentes, e outros que seja um só, sustentan- do qualquer das opiniões com razões de muitíssimo peso: at- tendendojá actividade dos Republicanos, á terrível opposição dos Moderados, e ás diligencias que uns e outros fazem» sem cessar, para alienar de Espartero a confiança do Exercito; é absolutamente impossível que o espirito o mais perspicaz, que o pensador o mais profundo, possa antever a sorte d'este paiz no fim do próximo mez de Abril.

Espartero foi avisado de se terem afiliado nas sociedades patrióticas os sargentos do seu regimento de Luchona. A's onze horas da noite mandou dois officiaes do seu Estado Maior ve- rificar se os sargentos estavam no Quartel, e apenas se en- contraram quatro.

O regimento saiu de Madrid, e as sociedades patrióticas fo- ram mandadas dissolver. Triste é, por certo, este quadro, e, pelo bem da humanidade e pelo nosso próprio interesse, como Portuguez, anciosamente desejo que o Duque da Vitoria possa conservar no Exercito a preponderância que sobre elle tem exercido até agora.

Do que levo dito verá V. Ex.* (i.°) que é impossível que este Governo nos pague em dinheiro; (2.°) que qualquer lettra ou promessa, por mais formal e solemne que seja, ficará, se- gundo toda a probabilidade, reduzida ao mesmo estado em que se acham as lettras saccadas, no principio do anno de 1837, pelo Governo Portuguez e acceites pelo Hespanhol.

Na conferencia que hontem tive com o sr. Gamboa, quan- do ponderamos a incerteza das cousas existentes, lembrou-se elle que talvez fosse útil e, em particular, na situação das nossas finanças, que talvez o Governo Portuguez quizesse fazer al- guma transacção e que, não obstante não poder elle dar or- dens para pagamentos sobre o arrendatário collectivo das aguas ardentes, pelos adiantamentos que tinha feito, comtudo, como era uma Companhia de homens poderosos, talvez lhes fizesse conta entrar em alguma transacção, e ficou de lhes fa- lar e de me avizar.

que comecei este negocio, e como não tomarei uma deci- são final sem receber, a este respeito, ordens mui terminantes e claras, rogo a V. Ex.* queira, sem demora, transmittir-m.'as.

Queira V. Ex.^ em meu nome, etc.

Madrid, 5 de Março 1841.

2lS

N.» 2S.— Confidencial.

111.""° e Ex."» Sr.

N'este momento, hora de se fechar o correio, recebo a in- clusa proposta que apenas tenho tempo de escrever.

De novo peço as ordens de S. M. a este respeito.

Deus Guarde, eic— Madrid, 5 de Março 1841, ás 12 'i da noite.

N.° 29 Conjidencial Reservadissimo.

111.'"° e Ex.'"° Sr.

No dia 6, ás 8 da manhã, recebi um bilhete em que se me dizia: t Ha grande novidade; e pede se-lhe que esteja em ca- sa de Gamboa ás 11 horas.»

Ali encontrei três dos amigos do dono da casa, e pouco de- pois chegou Mr. Aston. No meu officio confidencial n.° 27, de 5, tive a honra de dizer a V. Ex.* que na noute de 4 para 5, na sessão da Regência, tinha havido uma scena tão séria entre os Ministros do Reino, Justiça, Estrangeiros e F^azenda, que, a muito custo, tinha o Duque da Vitoria podido conse- guir que o sr. Gamboa deixasse de resignar o seu logar. Na sessão seguinte, na tarde do mesmo dia 5, a questão entre aquelles Regentes foi de tal natureza que o Ministro da Fa- zenda tomou a resolução de se demittir.

Para ver se era possivel evitar que elle desse aquelle pas- so, teve logar a reunião em sua casa. A's duas, fui á casa do Duque da Vitoria, e o Ajudante de Campo, de serviço, me dis- se que os Regentes estavam com o Duque; mas que, como a ordem era para eu entrar sempre, sem annuncio, que me pre- venia que o Duque estava no seu quarto. Ali achei todos os Regentes, menos o Ministro da Guerra. Falei na demissão de Gamboa, ponderando os inconvenientes graves que se segui- riam, particularmente faltando tão poucos dias para se abri- rem as Gamaras. Respondeu-me o sr. Cortina, dizendo-me : «V. es estimado e considerado como uno de nosotros, e asi lo >itratamos com toda la franqueza.»

Especificou os motivos de queixa que tinha contra o Mi- nistro da Fazenda, e concluiu: «Esto ha llegado a tal punto «que si Don Agostin no hoy su demision, lo daré yo, el tsenor de Ferrer y el seiíor de Becerra.»

O Duque estava mortificado; porque o sr. Gamboa era o

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único amigo verdadeiro que elle tinha na Regência. Compa- nheiros de Collegio, têem constantemente conservado a mais estreita amisade.

Voltei a casa de Gamboa e, ás três horas, officiou elle á Re- gência dizendo, em seis linhas, que a divergência de opiniões que existia entre elle e alguns dos Regentes sobre objectos da maior gravidade, o obrigava a pedir á Regência a sua de- missão de Regente e de Ministro da Fazenda, se, constitucio- nalmente, o podia fazer.

Antes das quatro, recebeu resposta na qual se lhe diz que a Regência, annuindo á sua representação, havia por bem acceitar-lhe a demissão de Ministro d'Estado, deixando, d'este modo, intacta a questão de Regente.

Ás 5 entrou o sub-Secretario d'Estado, Don Cesário, di- zendo que Don J. M. Ferrer acabava de tomar conta do Mi- nistério da Fazenda,

Muitas pessoas de consideração se reuniram, depois, em casa do sr. Gamboa; e a opinião ali manifestada era que D. Agostin continuava a ser um dos Regentes, e que a Re- gência não tem a faculdade de nomear-lhe successor. O sr. Gamboa conta entra os seus amigos o Arguelles, Quadros, e outras pessoas de muito peso. E' um homem da maior honra e bondade; e todos que com elle tratavam estavam certos da sua sinceridade e boa fé.

O ex-Ministro da Fazenda diz que a opposição dos seus coUegas, evitando que elle levasse a effeito as medidas finan- ceiras que tinha apresentado, é a causa da falta de dinheiro em que está o Thesouro, e que assim o mostrará nas Cama- rás. Os outros, fazendo justiça ás qualidades do sr. Gamboa como homem particular, põem em duvida a sua habilidade para dirigir as finanças do paiz em taes circumstancias. Uma pretenção do Ayuntamiento de Cadiz, a respeito do direito de Puertos, apoiada pelo sr. Cortina, e a que o sr. Gamboa não annuiu, foi um dos motivos da ultima altercação; mas o motivo principal é a inimisade que os srs. Ferrer e Cortina tem ao sr. Mendizabal, o mais intimo amigo de Gamboa.

Em 22 de Dezembro, expondo a V. Ex.* as minhas idéas acerca da situação d'este paiz, disse a V. Ex^: «Mas o que ninguém duvida é que o Ministério morrerá aos poucos dias de nomeada a nova Regência». Os Ministros conhecem isto mesmo; e, desde já, se fazem a guerra entre si para que a mudança não seja completa, e poder cada um, de per si, con- servar a sua pasta. A demissão do Ministro da F"azenda, as- sim como a completa ausência do Partido Moderado nas elei-

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çôcs, que também, na mesma carta annunciei a V. Ex.*, e outros factos, provam que me não enganei no juizo que então tinha formado do estado politico d'este paiz.

No dia 7 fui entregar ao sr. Ferrer a Nota de que é copia a inclusa. Achei-o triste. Renovou os protestos dos seus bons desejos a nosso respeito, e pediu alguns dias para me res- ponder.

Esperando instrucções relativamente ao modo por que o Governo de S. M. quererá que se proceda á liquidação da di- vida, nada tenho adiantado com o Ministro da Uuerra. O Go- verno Hespanhol tem reclamações contra o nosso Governo, que fará valer na occasião da liquidação.

Resta-me a honra de accusar a recepção do Officio confi- dencial de V. Ex.', n." i5, que recebi hontem, com data de 3 do corrente, de cujo conteúdo fico inteirado.

Rogo a V, Ex.* me faça a honra, etc.

Madrid, 9 de Março de 1841.

INSTRUCÇÔES

PARA A

MISSÃO DE MADRID

111.""" e Ex.'"'^ Sr.

O acontecimento muito sério que acaba de ter logar eno Hespanha, e que torna, n'esie momento, sobremaneira impor- tante a Missão Portugueza n'aquella Corte, determinou o Ga- binete de S. M. F. a confial-a, temporariamente, ao experimen- tado zelo e capacidade de V. E.*, na persuasão de que, em circumstancias tão graves, quanto melindrosas, n?.o poderia dei- xar de ser muito útil ao serviço da mesma Augusta Senhora, o ter em Madrid um Ministro que, pela justa consideração de que goza, pela sua posição na sociedade, e pela sua intelligen- cia dos negócios públicos, pode representar dignamente, em Hespanha, os interesses de Portugal.

A abdicação da Rainha Maria Christina é um facto con- sumado i e, por consequência, deverá V. Ex." prudentemente abster-se de enunciar a esse respeito, de uma maneira mani- festa, opinião alguma que possa compromcitel-o, ou ser mal interpretada pelo espirito de partido.

As suas primeiras diligencias, antes mesmo de entregar a sua credencial, deverão dirigir-se a obter, não do Ministro de Sua Magcstade em Madrid, mas muito principalmente dos Ministros de Inglaterra e de França, e dos demais Membros do Corpo Diplomático, as informações necessárias para se orien- tar, evitando dar qualquer passo que possa singularizal-o e ser considerado, por um ou outro partido politico, como

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uma manifestação da opinião do seu Governo. Esta recom- mendação, aliaz escusada para uma pessoa como V. Ex.% appHca-se, entre outras cousas, ao pequeno discurso que po- derá pronunciar na occasião da sua apresentação, e mesmo á época da entrega da sua credencial, que talvez convirá não apressar (uma vez que isso possa ser sem affectação) no caso de as não haver ainda apresentado nenhum dos outros Mi- nistros Estrangeiros.

Ao Presidente do Conselho e aos seus Collegas, mani- festará V. Ex.*, desde logo, alem do vivo interesse que Sua Magestade toma na felicidade da sua Augusta Prima, a Rai- nha Catholica, o desejo, não menos sincero, que anima o Ga- binete Portuguez de manter e cultivar as relações de intima amizade entre dois Reinos visinhos, que, por tantos motivos de analogia devem, reciprocamente, considerar- se como Allia- dos naturaes.

V. Ex.*, pela sua graduação e reputação militar, achará naturalmente, as maiores facilidades de contrair relações de confiança com o Marechal Duque da Vittoria, e deverá apro- veital-as pelos meios de decorosa seducçao, á qual aquelle afor- tunado General não será, naturalmente, insensível, para lhe inspirar disposições amigáveis.

Com o> demais Ministros e pessoas notáveis convirá que V. Ex.'^, successivamente, forme relações, para o que lhe não serão, certamente, inúteis as que tem contraído durante a Guerra da Península, e na emigração; e, sobretudo, deverão tender as suas diligencias a ligar-se com aquellas pessoas, ou sejam do Ministério, ou de fora d'elle, que exercerem maior influencia sobre o Presidente do Conselho.

V. Ex.*, que perfeitamente conhece o caracter da Nação Hepanhola, saberá conseguir o fim acima dito sem grande difficuldade. Os Hespanhoes são, geralmente, francos e um tanto fastosos, resistentes a toda a influencia estrangeira os- tensiva, e cedendo a ella somente quando é exercida indire- ctamente. As idéas que querem manifestar do seu poder e da sua independência, os excitam, naturalmente, a uma espécie de antipathia contra as duas Nações que, no fundo, reconhecem como superiores, a Ingleza e a Franceza. Mas essa razão não existe para com Portugal e, em geral, todos os Hespanhoes, á excepção das classes populares, se acham naturalmente dis- postos a favor dos Portuguezes que, a muitos títulos, conside- ram como irmãos.

A linguagem de V. Ex.*, tanto official como particular, de- ve ser explicita e singela. Os desejos de S. M. F., dos seus

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Ministros, e de toda a parte sizuda da Nação Portugucza, são os mais justos, e por isso se devem, altamente, declarar.

i." A conservação do Throno da Rainha, e do principio monarchico, principal garantia da paz interna; 2.° A conser- vação da Liberdade, conseguida a tão caro preço, e aue os Portuguezes a todo o risco saberão defender; 3.° A Consti- tuição de i838, pacto de alliança e de reconciliação entre os Liberaes portuguezes, 4.° A tranquillidade, a boa ordem pu- blica, principal necessidade dos povos e principal obrigação do Governo.

Este programma é o que o Ministério de S. M. se propõe, regeitando com de^^prezo as accusaçõas de idéas retrogradas, no sentido que, actualmente, se a essa palavra, e ainda mais das de falta de nacionalidade, e de tendência a sacrificar os interesses portuguezes aos Governos Estrangeiros.

A Missão de V. Ex.* não é, por agora, destinada a negocia- ções activas sobre as questões que existem entre osdois paizes. E' uma Missão de vigilância, de observação, e de prevenção. O maior serviço que V. Ex.* poderá fazer ao Throno e á Nação Por- tugueza, será o de contribuir, pela sua parte, quanto seja possí- vel, para garantir este Reino das consequências que a revolu- ção ultimamente eíTeituada na Hespanha pode fazer rectiar, visto que a experiência tem mostrado que as mudanças politi- cas, n'um dos dois Reinos, frequentemente se reproduzem no outro. Não tratamos agora de apreciar a revolução de Hespa- nha, mas o que é certo e que as circumstancias dos dois pai- zes, n'este momento, são mui diversas e, sobretudo, as accusa- çÕes dirigidas contra a Rainha Regente de Hespanha, estam bem longe de poder applicar-se, nem á conducta politica, nem ao illibado caracter pessoal da nossa Augusta Soberana.

Aos Ministros Hespanhoes e aos Ministros Extrangeiros, convencerá V. Ex.*, sem duvida, de quanto importa que se mantenha, nas circumstancias actuaes, a paz interna n'cste Reino; porque, prescindindo dos argumentos de moralidade que assim o provam, a toda a Europa interessa que se se acal- mem as paixões, e se ponha um termo ás reacções, que in- fluem, também, nos corpos politicos, de massas menores para as maiores, assim como acontece no mundo phisico.

Para fallar sem mvsierio, ao movimento que acaba de ef fectuar se em Hespanha, não se podem reputar extranhas as Sociedades Secretas e os Clubs que, sem duvida, extendem as suas ramificações a todos os pontos da Península. V. Ex.* portanto, fará as maiores diligencias para descobrir e vigiar as relações d'essa natureza que possam existir com Portugal, e

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para contrariar as suas intrigas clandestinas, por meios de per- suasão, junto ás pessoas mais influentes nos mesmos Glubs e, sobre tudo, solicitando para esse fim a cooperação amigável e franca do Governo Hespanhol, cujo interesse, sem duvida, con- siste agora em pôr termo á Revolução, e que deverá conven- cer-se de que os principios que elle professa, publicamente, não são contrariados pelos principios, sinceramente liberaes, que dirigem o Governo Portuguez.

Estas verdades ainda mais fácil accesso deverão encontrar nos Ministros de Inglaterra e de França, e V. Ex.* reclamará o seu auxilio efficaz, para apoiar as suas diligencias. A influen- cia Ingleza parece ser a que prevalece agora em Madrid; e, por isso mesmo que ella não foi, talvez, estranha, inteiramente, aos últimos acontecimentos d'aquelle paiz, poderá, com mais proveito e sem suspeita, exercer-se a nosso favor, visto que, certamente, não entra nas idéas do Gabinete Britannico o aba- lar os dois Thronos da Peninsula, nem mesmo occasionar, em Portugal, qualquer transtorno.

Com estes dois Agentes Diplomáticos escusado é recom- mendar a V. Ex.^ as precauções dictadas pela prudência para se não comprommetter nem com um nem com outro, nas in- trigas que, infelizmente, os dividem; pois que o Governo de S. M, deseja, sobretudo, manter-se, não neutral, mas extranho, quanto seja possível, a taes dissidências. Em caso porém, não previsto, de colisões inevitáveis, exige a nossa po- sição, que a Inglaterra seja considerada nossa primeira Allia- da, visto que essa Potencia é a que, em casos extremos, tem mais meios de nos offender, assim como mais interesses em nos defender.

Não se pode deixar de fazer menção aqui de um dos obje- ctos essenciaes que V. Ex.* deverá levar em vista, e vem a ser a nomeação, quanto antes, de um Ministro d'Hespanha para a nossa Corte, cujo caracter oífereça garantias, e mereça con- fiança, e que não venha estabelecer em Lisboa, ou de seu pró- prio motu ou por condescendência com os intrigantes hespa- nhoes e portuguezes, pelos quaes será instigado, um foco de dezordem e de embaraços para o Governo. Este negocio é tanto mais urgente quanto acaba de ser demittido o Encarre- gado de Negócios «Creuz», e substituído pelo Cônsul, que di- zem pertencer ao partido exaltado.

Pouco mais resta a acrescentar ás idéas geraes indicadas nas presentes instrucções. A Quadrupla Alliança cessou de facto; porque acabou o objecto para que tinha sido contraída, e porque as dissenções entre a França e a Inglaterra as con-

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stituem antes como rivaes do que como amigas, relativamente a Hespanha. O antigo Pacto cie Família morreu em 1808: va- riam, portanto, todos os dados em que, ha séculos, se funda- vam as relações da Península com o resto da Europa. Esta consideração merece ser seriamente pezada, e o ha de ser pelo Governo Hespanhol, se lhe for, opportunamente, apresentada como motivo para estreitar relações de uma amizade com Por- tugal, fundada sobre a base de mutua independência, á seme- lhança das que se tem estabelecido entre a Prússia e a Áus- tria, para se defenderem, tanto da ambição da Rússia, como da aggressão da França.

Não consta, aié agora, que se tenha tratado do ajuste de casamento da Rainha Catholica; e V. Ex.^ informará a este respeito, assim como sobre tudo o mais e, especialmente, so- bre a origem da ultima revolução, e perspectiva que actual- mente apresente, expedindo para esse fim Correios, quando for necessário, ou servindo-se da cifra que lhe será fornecida. Emquanto á questão do casamento, não tem o Governo de S. M. idéas antecipadas. De entre todos os noivos de que se tem íallado, o que menos inconvenientes parecia apresentar seria o Filho do Infante D. Francisco de Paula \ mas se V. Ex.*, directa ou indirectamente, poder n'isto exercer alguma influen- cia, o mai^ conveniente seria não se concluir, por agora, ne- nhum ajuste, e ficar este importante negocio suspenso até á época da nubilidade da Rainha.

Os quatro negócios que haveria a tratar, seriam: i.° A reclamação de Olivença; 2.° A divida do Governo Hespa- nhol pela manutenção das nossas tropas; 3." A navegação do Douro; 4.° A ilhota na fóz do Guadiana.

Emquanto ao primeiro, deve-se esperar occasiao favorável, sem, comtudo, dar logar, por um silencio absoluto, a que se considere o negocio como prescripto, tendo em vista as cir- cumstancias que, explicitamente, serão expostas n'uma Memo- ria que se remettera a V. Ex.*, devendo-se notar que existe uma promessa, por escripto, do sr. Mendizabal, durante o seu Ministério, de que este negocio seria terminado por mediação ou arbitragem das Potencias amigas, depois da guerra civil.

Flmquanto ao segundo das reclamações, informará a V. Ex.*, cabalmente, o sr. Lima; devendo sempre promover-se, e d'aqui se expedirão, com a possivel brevidade, os esclarecimentos, cuja falta tem sido indicada, e que se poderem obter. Talvez que este negocio, habilmente tratado, oftercça a única alter- nativa razoável de obter a restituição de Olivença, encontran- do-se uma cousa com a outra; mas com muita delicadeza,

e aproveitando uma occasião favorável, é que este encontro se poderá promover.

Emquanto ao terceiro, a Convenção relativa ao Douro, foi apresentada, com o competente Regulamento, ás Gamaras, e não tem sido solicitada a brevidade da decisão, por se jul- gar necessário algum tempo para preparar a esse respeito a opinião publica, que, até agora, se tem manifestado adversa, por falta da necessária illustração.

Emquanto ao quarto, a ilhota da fóz do Guadiana, é ne- gocio que deveria ficar esquecido, e in statu quo, para não suscitar uma contenda difficil de terminar, e sobre um objecto de tão pouca monta para ambas as partis.

Sendo considerada a Missão de V. Ex.* como temporária, claro está que não exige, por agora, despezas de apparato, que aliaz seriam inúteis, vista a consideração pessoal que V. Ex.% independente de taes despezas, ha de, por certo gran- gear.

Incluso tenho a honra de enviar a V. Ex.' o autographo e competente copia da sua Gredencial, bem como o Passaporte para V. Ex.* e para o sr. Gonde de Almoster, e Gapitão D. Miguel Ximenes, e comitiva.

Deus Guarde a V. Ex.* Secretaria d'Estado dos Negócios Estrangeiros, em 23 de Outubro de 1840.

111."°° e Ex.™" Sr. Marquez de Saldanha.

Rodrigo da Fonseca Magalhães.

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