DIOGO DE MACEDO 1 miu li iiMco NAS VÍNIÍAS DO DOURO PORTO EDITOR — AFFONSO ALYES DO CARMO JÚNIOR 1883 A CULTURA DO TABACO DIOGO DE MACEDO > CULTURA DO TABACO NAS VINHAS DO DOURO AG^-Oe-^^Cte'-t; PO RTO EDITOR— APFONSO ALVES DO CARMO JÚNIOR 1883 TYP. UNIVERSAL DE NOGUEIRA 800 e a 3?5200 réis a pipa.. .» Em 1756 instituiu-se a Companhia geral da agri- cultura das vinhas do Alio Douro e desde então maio- res créditos . foram successivamente alcançando os vi- nhos do Porto. «O preço (referem os apologistas da ce- lebre instituição) immediatamenle deu alta; as vinhas arruinadas pela falta e cultura foram logo melhoradas; — 12 — íizeram-se novas plantações; aperfeiçoou-se a agricul- tura, dando ás vinhas toda a qualidade de lavor e gran- jeio que pôde concorrer para o augmento da producção e adoptou-se a enxertia das cepas, com que se melho- rou muito a quaUdade das uvas. O methodo de fazer os vinhos também foi aperfeiçoado e inventaram-se os gran- des toneis, que muito contribuem para o mehioramento dos vinhos pelo ajuntamento de grandes quantidades. O grande augmento na população do Douro bem deixa ver o augmento na sua riqueza, porque a popu- lação cresce segundo se multiplicam os meios de subsis- tência. La papulazíone, como observa Filangieri, cresce d mizura ché si moltipUca la sussistencia . Quanto ella está hoje augmentada pôde ver-se comparando os diver- sos tempos. A freguezia de Sever em 1733 tinha 508 almas, em 1781 tinha 675, em 1821 tinha 952; a fre- guezia de Lobrigos em 1733 tinha 576 almas, em 1781 tinha 750, em 1821 tinha 1164; a freguezia de Pena* guião em 1733 tinha 508 almas, em 1775 tinha 675^ em 1821 tinha 952; a freguezia da Gumieira em 1733 tinha 604 almas, em 1781 tinha 866, em 1821 tinha 1267; a freguezia do Pezo da Régua em 1781 tinha 1248 almas e em 1821 tinha 1622; a freguezia de S. João da Pesqueira em 1733 tinha 1208 almas e em 1781 tinha 1210, augmenlando em riqueza, luxo e popula- ção quando pela demarcação subsidiaria entrou para feitoria (Memoria de Borges Peixoto, Memorias econo- — 13 — micas da academia real das sciencías. Discurso de A. Albano da Silveira Pinto), Foi efFectivamente desde 1756 que «os mais em- brenhados montes e as mais elevadas collinas se me- tamorfosearam em fructiferas vinhas : ladeiras inacces- siveis foram reduzidas a plainos por meio de inniime- raveis socalcos ; romperam-se os mais duros rochedos e o que em outro tempo foi habitação das feras se vê se- meado das mais bellas aldeias talvez da Europa, com magnifiGOs edifícios, fazendo inveja a terras grandes pela sua civihdade, luxo e polidos costumes.» Além de outros escriptores estrangeiros, Balbi corro- bora estas mesmas opiniões. «Este pequeno espaço que antes era quasi deserto e inculto (coníirma elle) passou a ser um dos mais poderosos cantões de Portugal . . . Dá aos seus numerosos habitantes 8 a 9 milhões de cruzados de renda annual, afora quasi milhão e meio de direitos que o governo percebe pela exportação, sem contar o imposto territorial ...» Nem todos os escriptores, é verdade, pensam de tal forma. M. J. xM., auctor de dous opúsculos impressos em Paris e Lisboa no anno de 1821, declara, por exemplo, que «a producção do Alto-Douro anteriormente a 1756 andava de 30 a 40^(000 pipas; que pelo menos do Corgo para baixo posteriormente a 1757 peorou muito a belleza dos edifícios e das povoações, sendo anterio- res quasi sem excepção todas as casas que apparecem — 14 — de medíocre grandeza ou de architectura algum tanto mageslosa»; que antes de 1757 «o preço médio do vi- nho era de 60,^000 réis para cima á porta da adega, vendendo-se até 1753 de 50 a 70í»000 réis e até por 20 moedas, tendo diminuído em 1754 a 1755 de 6??000 a lOíSOOO réis por bem" notórias machinações.» Sem embargo, o que merece mais credito é "ter-se operado uma prodigiosa metamorfose com a instituição da Companhia geral da agricuíkira das vinhas do Alio- Douro. Gonstruiram-se espaçosas adegas, ímmensos armazéns, grandiosas quintas, soberbos edifícios parti- culares e públicos. i\Iultiplicou-se a riqueza e cresceu a população nas aldeias e nas villas, attínguiiido de 1790 a 1810 a exportação para Inglaterra de 40 a 60 mil pipas, fenómeno dos mais lisongeiros e animadores, em- bora naturalmente se deva attribuir a serem os portu- guezes, em consequência da guerra continental, os úni- cos exportadores de vinho para os mercados inglezes. Desde então até hoje a sorte do Douro tem passado por varias alternativas. Alguns annos foram as colheitas das mais abundantes e rendosas; outros annos os la- vradores luctaram com diífi cuida des, soíh-eram prejuisos, fizeram sacriíicios. De vez em quando as lesmas, as aves, o pulgão, o perílhão, a aranha, o besouro, a abelha en carrega vam-se de prejudicar extraordinariamente as raízes, os pâmpa- nos, as folhas, os bagos das videiras; outras vezes o - 15 - oidium, parecendo destinado a destruir completamente os cachos e a acabar de todo com a cultura das vinhas, zombava de todas as despezas e de todos os esforços dos lavradores. Fehzmente para tudo se descobriu remédio. A vi- deira restaurou-se, saivaram-se as colheitas, pagava-se menos mal o preço dos vinhos. Não se lastimavam os lavradores, vivendo todos, senão ricos, fartos e conten- tes. Vaha a pena empregar os braços, a intelligencia, os capitães no grangeio das vinhas. Se um por outro anno as vindimas deixavam pouco resuhado, paciência: succediam logo melhores epochas, de modo que a si- tuação económica do Douro nunca chegou a desesperar ninguém. Se não quando apparece o fylloxera! Denuncian- do-se apenas em algumas cepas de Gouvinhas, causou a principio (1864-1870) pouco susto e pouca surpreza. Talvez não se propague e talvez não faça mal, pensava- se então geralmente. Mas longe de se tornar inoíTensivo, o damninho insecto, vendo-se á vontade, aclimou-se, domiciliou-se, propagou-se por toda a parte com uma actividade prodigiosa. Numerosas manchas amarelladas invadiram de anno para anno todos os concelhos. Inces- santemente as folhas desmaiavam, os cachos murcha- vam, as varas perdiam a seiva, as raizes deixavam de sorver os suecos e óleos que as sustentavam. Converte- ra-se o fylloxera em tam horrorosa epidemia que se pre- — 16 — para para causar mais estragos e mais prejuizos que os ílagellos da guerra e do fogo. O fylloxera continuará ainda a zombar do sulfureto de carbone e de quaesquer outras descobertas insecti- cidas? O fylloxera em maior ou menor prazo dará cabo irremediavelmente de todas as vinhas europeias? Será pena que tal succeda, porque «entre os diversos géneros de bebidas que se extraem dos fructos das plan- tas para a vida do homem (Memoria sobre a cultura das vinhas e sobre os vinhos por José Verissimo Alvares da Silva) não ha nenhuma mais genérica nem mais estima- da que o vinho, liste licor tam louvado pelos antigos poetas, tomado com moderação não só conserva a saúde com robustez, porem prolonga a vida, reproduz as forças perdidas e cura infinidade de doenças. S. Paulo o re- commenda a Timotheu por causa de certa enfermidade do estômago. Hypocrates, Galeno, Hoífman e outros ce- lebres médicos lhe dão louvores proporcionados ás uti- lidades que elle procura ao género humano. O vinho considerado como objecto de commercio é um dos ra- mos mais extensos que podem ter as nações que vivem nas zonas temperadas. A exclusão que a natureza fez d'este género nos povos septentrionaes, merece que as outras nações que o possuem ponham todo o cuidado na sua cultura. x\s riquezas famigeradas que os reis an- tigos portuguezes possuíam antes da acquisição das co- — 17 — lonias provinham das grandes extracções que se faziam d'este género . . . >> Não ha, em summa, quem deixe de elogiar as qua- lidades e virtudes do vinho. Principalmente o do Douro, anima o espirito, fortalece o coração, faz circular o san- gue, restabelece as forças, conserva a saúde, inspira boas ideias. Quem deixa de beber vinho ignora o que é bom. EUe é itni bello companheiro quando se não abusa ^ diz Yago a Cassio no Othello. W o pai do prazer, a alma da alegria, o nume da fehcidade. Não consta que no Olympo se usasse de agua, embora a agua não seja bebida desagi-adavel. O que os deuses bebiam era néctar e ambrósia. Trisíezas, maguas, dores, lagrim.as volatizam- se logo pela influencia dos vapores do vinho, porque real- mente o vinho tudo anima, tudo rejuvenece, tudo melho- ra. Dá coragem aos fracos, dá forças ao trôpego, dá espe- rança aos desalentados, dá sangue aos velhos. É capaz também de dar vista aos cegos e movimento aos para- lyticos. Aquece a imaginação, exalta o espirito, aper- feiçoa as ideias, retempera o cérebro, chega a fazer milagres até. Os poetas a elle devem os principaes tí- tulos da sua vaidade e os principaes lauréis da sua glo- ria. Que seria da lyra de Anecreonte sem o sumo das uvas de Cos e de Lesbos; que succederia a Horácio sem o cecubo, sem o massico, sem o falerno; como pensaria Lord Bwon sem o cJiampagne e sem o Port ivine? Fal- tando esta inspiradora bebida, certamente no mundo não — 18 — haveria poetas, não haveria cantores, não haveria mathe- malicos . . . — Mathematicos tamhem! Porque motivo os não haveria? ha de haver quem ingenuamente pergunte. Responde-se com facihdade: — Porque os que bebem vinho são os que sabem descrever melhores curvas. II Origens do vinho — Opiniões de varies auctores— Praparaçoea, virtudes e antiguidade do vinho — Os vinhos modernos — O celebre rosenwein. O vinlio, esse Uquido agradável, tónico, nutriente, considerou-se sempre em todos os tempos e em todas as nações a mais preciosa das bebidas. E' diíficil determinar a epocha em que os homens começaram de o faljricar. A sua origem, perdendo-se na escuridão dos tempos, estcá cheia de fabulas. Atheneu diz que Orestes, fdho de Deucahão, plan- — lo- tou a videira no Etna e todos os historiadores concor- dam em olhar Noé como o primeiro que fez vinho na íllyria, Saturno em Greta, Baccho na índia, Osiris no Egypto, Geryão na Espanha. Os romanos tiravam os seus melhores vinhos da Campania. O falerno e o massico provinham das plan- tações das visinhanças de Mondragon. Os vinhos de Amiela e de Fondi colhiam-se perto de Gaieta. A uva de Luessa crescia ao pé do mar. . . Todavia, apesar da grande variedade de vinhos produzidos nos terrenos da Itália, o luxo obrigou os romanos a aproveitarem os da Ásia, chegando-se a servir em todos as suas mezas os ricos vinhos de Chio, de Lesbos, de Efeso, de Cos, de Clasomena. Quando lemos com attenção o que Aristóteles e Galeno referem acerca da preparação e das virtudes dos vinhos mais afamados do seu tempo, não podemos deixar de admittir que os antigos sabiam inspissar e seccar certos vinhos para os conservarem largos annos. Aris- tóteles declara expressamente que os vinhos da Arcá- dia se sohdificavam de tal modo nos odres que era ne- cessário raspal-os e diluil-os em agua para se poderem beber. Plinio falia de vinhos conservados cem annos, sendo igualmente indispensável diluil-os em agua e coal-os por um panno. Também Marcial aconselha que se fdtre o cecubo. Galeno fmalmente refere-se a alguns vinhos da Ásia que, deitados em garrafues que se pen- — 20 — duravam nos cantos das chaminés, adquiriam pela eva- poração a dureza do sal. Eram naturalmente vinhos doces, espessos, pouco fermentados. Eram mais extractos que hquidos. Talvez um arrobe análogo ao que formamos hoje pela inspissa- ção e concentração dos suecos da uva. iModernamente bebe-se o vinho logo ao sair dos la- gares, o que damnifica a saúde; mas os antigos deixa- vam-no adquirir, segundo as suas quahdades, mais ou menos annos de velhice. Dioscorides determina o séti- mo anno como o termo médio de elle se beber. Pelas informações de Galeno e Atheneu, o falerno não se be- bia geralmente nem antes de dez nem depois de ter vinte annos. Os vinhos de Alba exigiam vinte e o sur- rentino vinte e cinco annos de conservação. Macrobio relata que, ceando com Cicero em. casa de Damasippo, lhe serviram falerno de quarenta annos, uma deliciosa bebida que podia bem com a sua idade: bene, inquit, ata tem fert. Mais ainda. PUnio falia de um vinho, ser- vido na meza de Cahgula, que passava de cento e ses- senta annos. Horácio também cantou um vinho de cem follias. Os modernos vinhos, esses são perfeitamente conhe- cidos. Não ha povo que desde longe os não cuhive, os não fabrique e os não aprecie. vSão um dos mais con- sideráveis ramos do commercio europeu e são a princi- pal riqueza de muitas nações. — 21 — ])e todos o mais caro e mais celebre é, sem duvida, o rosenwein. «Entre os extraordinários objectos de luxo da Alle- manha que se apresentam na meza do rei de Wurtemberg por occasiào da reunião dos hospedes imperiaes Napo- leão iii e Alexandre ii (Archivo pittorcsco de 1858) flgu- rava este celebre vinho, de cuja posse se ufana a ci- dade de Breme. Sabido é que unicamente aos burgo- mestres d^aquella cidade se permitte extrahir algumas garrafas d'elle para seu uso particular ou para presen- tearem os príncipes reinantes. A sua historia, fazendo representar cada garrafa o valor de onze milhões de francos, contem o maravilhoso das lendas. «A adega de Breme é a mais antiga da Allemanha. Está collocada por baixo do paço municipal. Uma das cavas, chamada a Roscf, encerra o famoso vinho ro- senwein, que na actuahdade conta mais de dous sécu- los e meio. Em 1694 pozeram-lhe lá seis toneis de vinho do Rheno e outros tantos de Nocheimer. «Nos outros compartimentos da adega ha também vi- nhos da mesma qualidade, ainda que menos antigos, arracadados em 12 grandes estancias, cada uma das quaes se designa pelo nome de um dos apóstolos. «N'outras galerias acham-se vinhos mais novos e quando se tira uma garrafa do rosemvein se preenche com vinho dos apóstolos, este por outro mais moderno 22 e assim por diante, de sorte que, ao contrario do tonel das danaides, as vasilhas estão sempre atestadas. «Assim se explica o custar uma garrafa áorosenwein mais de dous milhões de rixdallers (cada rixdrdlers vale cerca de quatro francos ou 680 réis da nossa moe- da). Um casco de vinho de 1020 garrafas custava 500 rixdallers em 1624; contando as despezas de concer- tos da adega, as contribuições, os juros e os juros ca- pitalisados, custaria hoje 2,778,288,200 rixdallers (1,889, 235, 976ÍÍ0O0 réis); um copo ou a oitava parte de uma garrafa representa o valor de 340,476 rixdallers (aproximadamente francos 1,361,904 ou 281, 523?$680 réis) ; por ultimo cada gota, contando mil gotas cada copo, 500 rixdallers, perto de 1,262 francos ou 23 1?>540 réis. «Os cidadãos de Breme tem direito a uma garrafa quando hospedam algum personagem de nome celebre na Allemanha e no resto da Europa. «A cidade de Breme ás vezes mandava a Grethe, no dia dos seus annos, uma garrafa de Iam precioso vi- nho, sentindo-se deveras que não nol-a mande agora também a nós ! » 23 — III A vitis viuifera. — Sua longevidade e sua grandeza. — Versos de Lamartine. — As portas da catliedral de Ravemia. — As vinhas da Itália, da Carolina e da America Septen- trional. Fallando-se do vinho deve fallar-se da videira. To- dos a conhecem menos mal, sem duvida; mas como poucos estarão perfeitamente informados da sua historia, não se tacharão de ociosas algumas breves noções a respeito d'ella. A videira, vitis viuifera de Linneu e de Tournefor, pôde considerar-se a maravilha das plantas sarmentosas. Os antigos naturalistas e os modernos viajantes con- cordam todos no tocante á sua longevidade e á sua pasmosa grandeza. Strabão, que vivia no tempo de Au- gusto, refere que na Margiana havia cepas de tamanho tal que dous homens diíficilmente conseguiam abra- çal-as : tinham de três a quatro melros de circumferen- cia. Plinio diz também que os antigos com razão clas- sificaram a videira entre as arvores em vista das di- mensões a que podia chegar, continuando assim: «Em Populonio ha uma estatua de Júpiter feita de um único pedaço d'esta madeira e que, apezar de existir ha mui- tos séculos, não mostra ainda signaes de destroço. Os templos de Juno em Patera, Massilia e Metaponto eram sustentados por columnas de videiras e ainda actualmente o madeiramento do templo de Diana em Efeso é feito das cepas de Ch^^re. Não ha madeira mais duradoura.» O mesmo naturalista falia em outra parte de videi- ras que tinham para cima de seiscentos annos. Strabão e Columella igualmente contam coisas espantosas. Os escriptores modernos também confirmam que não ha planta nem arvore que adquira maiores proporções nem que resista por mais tempo. Còllossos vegetaes como são, podem apphcar-se-lhes, do mesmo modo que aos cedros do Libano, os celebres versos de Lamartine: Arvores sem rival, jóias da natureza, gigantes vegetaes, eternas sentinelias, riquíssimos dóceis de esplendida belleza destinados ao dons do raio e das procellas l A sombra nos inunda as almas de pavor como as trevas de um templo onde impera o terror ; o tronco, não havendo em dimensões segundo, resiste para sempre ás convulsões do mundo: da sua immensidade esmaga-nos a ideia, ao contornar-lhc a baze o passo nos fraqueia e impossível será no circulo dos braços cingir da casca um só dos collossaes pedaços. De umas arvores taes a gente pendurada parece uma formiga, um ponto, um quasi nada ! Não se exagera. Os modernos (Dicc. de agricultura de FraD cisco Soares Franco) sabem que as grandes por- tas da cathedral de Ravenna são feitas de pau de vi- deira: as tábuas medem mais de quatro metros de al- tura e três ou quatro decimetros de largura. Miller, fat- iando das vinhas de Itália, refere mais que em certos territórios se encontram videiras plantadas ha mais de trezentos annos e chama novas ás que somente contam um século. Gatesby também falia da videira por estas palavras : «Não só cresce espontaneamente na Carolina, mas por toda a America Septentrional desde o 25 até o 45 grau de latitude. É tam commum nas matas que os seus ramos oppoem grandes obstáculos á passagem dos viajantes e dos cavallos : trepa facilmente pelas ar- vores mais altas e até ás vezes parece suíTocal-as com os seus abraços.)) 26 — X-\r Yiiihíis destruídas. — Replantaçào da videira. — O sulfureto de carbone e as cepas americanas. — Será possivel a restau- ração da vinha? — A cultura do tabaco. Apesar de tudo a videira, sem lhe poderem valer os seus venerandos privilégios de existência secular nem os seus nohilissimos títulos de rainha das planlas sar- raentosas, está sendo ameaçada de uma tam cruel e ge- ral enfermidade que não falta quem receie que venha a desapparecer completamente das terras do Douro. Se não se descobrirem melhores processos de com- bater o fylloxera, com toda a certeza a videira morrerá dentro de uma dúzia de annos. O fylloxera invade tudo. Algumas freguezias ainda regularmente produzem vi- nho; mas muitas outras ficaram já destruídas de todo. Desde o Roncão até Covelhnhas e desde Roriz até Ba- gausle, que destruição total! Todas ou quasi todas as vinhas estão perdidas como se fossem devoradas por um incêndio. A videira perdeu a seiva, deixou de flo- rescer, seccou. Já se não aproveita um cacho. Gomo únicos remédios aconselham-se a replantação — 27 — e o sulfureto de carbone. «Morreram as videiras anti- gas? Plantem-se videiras novas. Ha fylloxera? Appli- que-se o sulfureto.» Alvitres e conselhos não faltam. Mas quem pôde garantir que as cepas americanas são resistentes e quem pôde garantir que o sulfureto de earbone destroe todos os fylloxeras? Em consequência da sua prodigiosa propagação, o fylloxera avança todos os dias. Quem o obriga a recuar? De que terrenos o expulsaram até hoje? Apesar das suas pequeníssimas fauces e da sua microscópica esta- tura, nada o intimida, nada lhe retarda o passo, nada o desarma. Peor que a hydra de Lema, ainda não se apresentou Hercules que o exterminasse. É um déspota invencível, um conquistador sem rival, um demónio. Triunfa por toda a parte, não poupando coisa alguma. Causar a destruição de enormes valores, sacrificar mi- lhares de famílias, reduzir ás condições de um deserto a mais rica e mais importante região vinícola de Por- tugal, pouca importa aos seus instinctos ferozes. Não escuta clamores de piedade, não vê os prejuízos que causa, não se commove com as lagrimas que faz ver- ter. Devora como o fogo, fulmina como o raio, é mais cruel que todos os flagellos do mar e da terra. Sem duvida alguma a vinha encontrou o seu maior inimigo, o seu implacável destruidor. É possível que so- brevenham melhoras épocas ; todavia esperar que a vi- nha se restaure não será tempo perdido ? Contar com o desapparecimento casual do fylloxera não será calculo maliogrado? Luctar é conveniente; mas quantos lavra- dores ainda dispõem de coragem e de meios pecuniários para proseguir na lucta? Meios de luctar e esperanças de vencer vão falhando já e por isso é que em todas as aldeias, em todas as villas, em todas as freguezias, em todos os concelhos se pensa, como ultimo recurso, na livre cultura do tabaco. V" Os tempos antigos e os tempos «ictufies. — Relatórios da com- missâo central anti-fylloxerlca do norte. — Cumulo de des- graça.— Abundância e deficiência da producção vinicola. — A exportação. — Os negociantes inglezes. — Concorrên- cia de outros vinhos. Decididamente o Douro, bem longe de se afogar em dinheiro, vai caminhando para a sua total ruina. Tempos de prosperidade, annos de fartura, dias de ri- queza, se os teve, desappareceram já. Hoje está pobre. Centenas e milhares de hectares de vinha estão perdi- — 29 — dos completamente, não chegando a produzir uma cesta de uvas, um simples cacho, um hago. Pelo menos de vinte a trinta mil pipas dos melhores vinhos foram de- vastadas já pela mandibula do fylloxera. Se merece credito a commissão central anli-fylloxe- rica do norte, leiam-se os relatórios oííiciaes que ella tem pubhcado e ver-se-ha então que, pintando nós a crise vinícola com cores á Rembrantd, não exageramosí Se alguém exagera é quem não está bem ao facto do que se passa pelo Douro. E' quem imagina que todas as povoações prosperam tanto como o Porto e Lisboa, que todas as províncias andam tão favorecidas pela natureza e pelos poderes pubUcos como a Estremadura e o Mi- nho. Para cumulo de desgraça, o pouco vinho que ainda se colhe vende-se cada vez mais barato e cada vez com mais diíficuldade, o que parece um paradoxo, porque era toda a parte a falta de producção augmenta o valor do producto ! Dispensam-se largas prelecções de economia poli- tica para se comprehender que a escassez estabelece a carestia do mesmo modo que a abundância estabelece a barateza. Nada mais claro. Todavia porque succede isto? A razão é simples. E' que a deficiência de producção apenas se sente nas vinhas do Douro, não em todo o — 30 — paiz. Na Bairrada e em todos os outros districtos vinha- teiros houve mais que regular abundância. Desde muitos annos que a maior parte do vinho exportado para Londres, para Bordéus, para o Brazil não sai das adegas do Douro. Ninguém ignora que nos armazéns de Yilla Nova de Gaya, o nosso principal de- posito de vinhos de exportação, entram todos os annos com o nome de vinho do Douro milhares de pipas da Bairrada e de outras procedências. Houve tempo em que o vinho do Douro era espe- cialmente procurado por nacionaes e estrangeiros, pa- gando-se muito mais caro e preferindo-se a todos os outros vinhos. iMas hoje não tem os mesmos aprecia- dores. Os negociantes o que pertendem é comprar ba- rato, o mais barato possível. Todos nos lembramos do que succedeu na vindima de 1882. As casas inglezas despediram os seus fregue- zes, ainda os mais antigos e mais respeitáveis. Fizeram (jréve, seguindo-se que em grande parte os lavradores se viram obrigados a envazilhar os vinhos por sua conta, na esperança de que elles mais tarde tivessem procura. O tempo decorreu e as casas inglezas continuaram a retrahir-se. Seria porque decidiram acabar com as es- peculações vinícolas? Não. Foi porque se sortiram das adegas de Pinhal, de Mogofores, de Azambuja, onde o preço costuma ser mais diminuto. Os vinhos da Bairrada, como ainda os de outras — 31 — quaesquer procedências, nào podem, é certo, competir com o do Douro, o qual por toda a gente de fino pala- ladar tem sido sempre considerado uma preciosidade hors ligne. Mas os negociantes, sejam elles estrangeiros ou nacionaes, pouco se importam hoje coín taes bondades e taes \irtudes. Preferem género barato, porque assim fazem melhor negocio, tiram mais proveito, ganham mais dinheiro. Se não fosse a concorrência, certamente o vinho do Douro alcançaria preços importantes. Ha muito pouco em proporção das colheitas antigas e principalmenta das necessidades do consumo actual, bastando talvez a ci- dade do Porto para o consumir todo. A concorrência, todavia, falo embaratecer muitíssimo. Que importa que elle falte, que não abunde, que cada anno haja menos se ha abundância em todas as outras nossas regiões vi- nhateiras ? A producção do iMinho, das duas Beiras, da Estremadura, do Alemtejo tem sido nos últimos annos bem mais considerável do que nunca foi desde que se plantou a vinha em Portugal. — 32 — "^TI Cultura do t.ibaco. — O fylloxerci. — Replantaçuo da vinha. — Culturas mais lucrativas. — Qualidade do tabaco. — 0]3Íuiõe3 favoráveis. — Imposto. — A comissí^io central anti-fylloxeri- ca do norte. — A «régie«. — Apprchensões do governo. — Receitas publicas. — Alvitre. Libertar a cultura do tabaco é, por conseguinte, o maior serviço que os poderes públicos podem prestar' ao districto vinhateiro do Douro. Já eslão descobertos e ainda se descobrirão de futu- T'o muitos remédios com o louvável intento de se com- baterem elficazmente os estragos do fylloxera; mas o que não padece duvida é que os vinhedos vão desap- parecendo de anno para anno como se fossem devo- rados pelas chammas de um incêndio. Valerá a pena replantar-se a vinha? Não nos parece rasoavel o expediente da replanta- rão se a vinha se arriscar facilmente a ser outra vez destruída pelo fylloxera. Seria trabalho sem proveito; — 33 — seria lançar dinheiro lora ; seria uma ideia insen- sata. A cepa, digam o que disserem, não vive com o fyl- loxera. Hesisle mais ou menos tempo, é cerlo; mas afi- nal o fylloxera triunfa, a videira deixa de produzir, os vinhedos moriem completamente. Logo não sendo possível, ou, no caso de possível, 5endo muito dispendiosa a replantação, os terrenos fyl- loxerados do 'Jouro hão de reduzir-se a terrenos mani-. iihos ? As suas condições chmatericas e geológicas são especiaes. O que se produz é bom, é de qualidade su- perior; mas o Douro não tem o privilegio da cornuco- pia de Ceres, não produz tudo a esmo e a eito. Em poucas palavras, as únicas culturas lucrativas são o vinho e o tabaco. Outras mais estão longe de ga- rantir um rendimento satisfatório, por exemplo a olivei- ra, o sabugueiro, o castanheiro, o carvalho, a amen- doeira, o ópio, a horta, os pomares, de todas, ainda assim, as melhores. O, vinho, infelizmente, desapparece por mais esfor- ços que empreguemos para o salvar. Aproveitemos pois o tabaco.* E' uma solução que dispensa cálculos e es- tudos. Nada de mais simples intuição. Nada mais cla- ro nem mais concludente. Acerca da bondade do tabaco já ninguém duvida. A nicociana cria-se no Douro como na Virgínia, como — 34 — na Turquia, como na HoUanda, como na própria ilha de Cuba. Consultem-se os membros da commissão central anli- fylloxerica da norte, que a principio, por signal, con- trariavam a cultura da herva-santa; consultem-se tam- bém os donos das fabricas do Porto, os quaes julgaram já os nossos charutos de qualidade igual aos tabacos da Virginia e do Maryland ; consultem-se ainda os peritos estrangeiros, cuja opinião, como se deriva da carta en- viada de Londres ao snr. barão da Roeda, é das mais hsongeiras para os créditos do tabaco produzido na re- gião do Douro. O que se conclue? Que o único argu- mento que ainda obriga a reflectir o governo é o re- ceio de diminuirem as receitas geraes do estado. Liber- ta a cultura do tabaco, as fabricas teriam de sorti r-se do produzido cá e assim forçosamente baixaria a importa- ção dos tabacos estrangeiros. O estado, pelos actuaes processos fiscaes, aufere uma receita correspondente^ pouco mais ou menos, a 3:200 contos. Seria possivel sobrecarregar-se o tabaco nacional com impostos equi- valentes ? Pensam que não os ministros. A commissão central anti-fylloxerica do norte ob- serva, ao contrario, que o governo nada terá* que per- der se se adoptar o systema francez. «O único inconve- niente de vulto que se podia oíTerecer, diminuição de receita, não tem rasão de ser, porque nada mais fácil N do que pôr em pratica o systema de vigilância usado lá fora» (Officio do snr. Manuel Rodrigues Gondim). Rasão melhor, se fosse aproveitável, não se en- contraria. O estado fiscalisando rigorosamente e cobran- do sem perda de um real todos os direitos equivalentes ás receitas dos tabacos estrangeiros, perderia alguma coisa? Não perderia. Mas o problema não se resolve com tanta facilida- de. Sabe se perfeitamente que o que ha mais diíficil e mais contingente é o servido da fiscalisação. Escusamos de iiludir-nos. Permittida a cultura do tabaco, hão de com toda a certeza, adoptados ou não os processos da régic^ diminuir, consideravelmente as receitas, nos primeiros annos principalmente. Será im- possível que os plantadores e os fabricantes se habili- tem desde logo a pagar 3::200 contos de reis, algarismos redondos. Em face de taes exigências, plantadores e fa- bricantes apertariam com desespero as mãos na cabeça e de guelas implacáveis gritariam desde madrugada à noite que lhes acudissem por amor de Deus. N'este caso são fáceis de rasgar as névoas que em- panam os horisontes do futuro. Pôde calcular-se bem que nos primeiros annos o imposto sobre a cultura, fa- brico geral, consumo interno, exportação e todos os meios de vendagem ha de ser forçosamente inferior a 3:000 contos. Eis no que, sem duvida, consiste o estorvo, o em- — 36 — bargo, o obstáculo. O governo não duvidaria apresen- tar qualquer medida legislativa destinada a satisfazer os desejos dos lavradores do Douro se não tivesse fun- dados receios de diminuírem as receitas publicas, de se prejudicar o equilíbrio orçamental, de estremecer a si- tuação financeira. Proponliara-lhe pagar annualmente, sem diminuição de um real, as acluaes receitas prove- nientes do imposto sobre a industria do tabaco e hão de ver que sem perda de tempo o governo, como sen- do a aza protectora dos lavradores do Douro, deixará de impedir, de retardar, de julgar prejudicial a cultura do tabaco. Pense-se um pouco nas vantagens d'este alvitre. Hyperbolico, irrisório, fantástico não é. Poderá utilisar-se porque tem base, porque tem solidez, porquê tem fun- damento. Supponhamos que se organisava uma empreza com o nome, pouco mais ou menos, de Companhia dos ta- bacos do Douro^ proporcionada por um lado a garantir ao governo as acluaes receitas provenientes do imposto sobre o tabaco e destinada por outro lado a explorar a cultura e fabrico d'este género em todo o paiz. Dis- pondo de suíficientes capitães e sendo sempre bem ad- ministrada, não poderia alcançar proporções de uma em- preza collossal e preslar-nos ainda mais valiosos servi- ços que os prestados pela antiga Companhia geral da agricultura das vinhas do Alto-Douro? — 37 Vil As suas vantagens. — Avultado capital. — Fins a qnc so desti- na*— O monopólio. — Queixas. — Quem perde e quem lucra. ■ — Difificuldades. — Um milhão de libras. — O fisco. — A ]Dro- ducção do Douro comparada com a dos outros paizes. Não ha negocio sem risco ; não ha industria de hi- cros infaUiveis; nada ha no mundo que não seja duvi- doso e contingente. Sem embargo a Companhia dos tabacos do Douro, organisada como se deve organisar, seria incontestavelmente das emprezas mais rendosas e menos arriscadas. Reclama-se sem duvida um avultado capital social. Torna-se indispensável recorrer ao auxiho de bolsas po- derosas. Todavia o aguilhão do interesse garantido não — 38 — faz mover immediatamente os capitalistas? Por falta de dinheiro não abortará a Companhia dos tabacos do Douro. Admittindo-se pois que se organise, qual a doutrina dos seus estatutos, que intuitos serão os seus, de que privilégios carece, que proporj^ões deve attingir e que papel deve representar em competência com as indus- trias nacionaes? Destinada a explorar os tabacos do Douro, poderá comprar e arrendar terrenos, montar e administrar fa- bricas, estabelecer depósitos nas povoações principaes do reino, eniregar-se a operações de exportação e de qualquer outra natureza. «E', pouco mais ou menos, a resm-reição do mono- pólio que findou em 1864, dirão talvez. E sendo um monopólio, que destino se ha de dar á fabrica de Xa- bregas e a todas as outras fabricas congéneres? Não devem faltar embaraços nem reclamações!» Terá e não terá o caracter de monopólio. Poderá considerar -se assim por ter o exclusivo da venda dos tabacos do Douro ; não se considerará assim porque a tod^s aí outras fabricas continua a permittir-se a li- berdade de que actualmente gosam. Terá direitos especiaes ; mas sem prejuízo de direi- tos alheios. Administrará, receberá, comprará, venderá os tabacos nacionaes, podendo fabrical-os por sua conta -em estabelecimentos próprios, podendo vendel-os em — 39 — folha ás outras fabricas, podendo finalmente dispor d'el- les conforme lhe convier mais e não podendo nenhuma outra empreza, sem seu expresso consentimento, usar dos tabacos prodtrzidos no Douro. Quem se queixará com fundamento ? Quem se po- derá considerar prejudicado? Quem terá direito de im- pedir que sob taes bases se organise qualquer associa- ção agricola ou qualquer sociedade industrial? Ninguém perde. Não perdem os particulares porque se lhes permitte, como succede hoje, o exercício das suas industrias ; não perdem também os cofres do es- tado porque recebem integralmente as quantias que o •fisco lhes garante-. Querem agora saber qaem lucra ? Em primeiro lugar lucram os povos do Douro, por- que os seus terrenos, sendo destinados á cultura do tabaco, readquirirão parte da sua primitiva riqueza; em segundo lugar lucra o paiz todo porque, deixando-se de importar o tabaco estrangeiro, deixam os nossos capi- tães de sair do reino em cifra excedente a 400 contos e ainda porque se cria, nascendo a industria, dos taba- cos portuguezes, uma nova fonte de riqueza publica. As maiores diííiculdades para a organisação da Com- pavhia dos tabacos do Douro afigura-sa-nos, portanto, que não hão de ser as suscitadas pelos interesses par- ticulares nem pelos interesses dos poderes pubhcos. Se.- Tão naturalmente originadas pelo receio de não rende- — 40 — rem juro animador os capitães assim empregados. Alle- gar-se-ha ser inua empreza excessivamente grandiosa que, exigindo grossas quantias, pode arruinar de um para outro dia a fortuna de algumas dúzias de capita- listas. Sem duvida que as suas proporções lhe grangearão os encargos de uma das mais vastas companhias portu- guezas. Entre outras verhas, terá de dispender todos os annos com o estado algumas centenas de contos; terá de empregar em arrendamentos, compra e gran- geios de terrenos verbas importantíssimas; terá de»gastar na construccão de fabricas e armazéns sommas avulta- das; terá de consumir em despezas de fiscalisação, de serviço e de administração numerosas quantias. Segue-se que o seu fundo social deverá exceder talvez um mi- lhão de libras esterlinas. Calculemos, porém, as receitas. Será possível haver ganho ém vez de prejuízos? O Douro poderá dispor, pelo menos, de 6.000 hecta- res de bons terrenos. Calculando GOO kilos por cada hectare, a produccão geral será de 3.600.000 kilos. Cada kilo, rendendo iOO reis para o productor e 1.600 reis para o fisco, valerá pelo menos -3.000 reis e por- tanto o resultado total da produccão será 3.600.000 X 2.000=7.200.000.000. É claro que, para a Cnriiproihia dos fahacns do Douro render annualmeníe 7.200 contos, precisa de — 41 — cobrar o imposto que o estado actualmente percebe; mas se ella o garante ao estado, porque motivo o não ha de receber dos consumidores? A Companhia do^ tabacos do Douro, em vez de vender ás outras fa- bricas por 400 reis, venderá por 2.000 reis cada kilo de folha de tabaco. Nada mais simples. Um dos argumentos contrários é que se deve julgar exagerado o calculo de 400 reis para cada kilo de fo- lha de tabaco. No districto do Funchal o kilo chega a vender-se a menos de 200 reis; nos Açores algumas vezes nem sequer se encontra com.prador; no norte da França, como assevera Royer, não se paga por mais de 54 cêntimos; no Lot-eL-Garonne, onde se produz o melhor tabaco da França, nunca vale mais de 87 cêntimos. Este argumento, porem, não é assaz concludente. No Funchal, nos Açores e em quasi todos os pontos da França a qualidade do tabaco, nicotiana rústica, passa como das mais ordinárias, não servindo algumas ve- zes senão para rapé. Certamente ' que terão sempre mais valor os tabacos do Douro. Allegar-se-ha também que os schistos do Douro pro- duzirão menos de 600 kilos por hectare ; mas ainda é fácil provar-se que não podem produzir menos. Segundo Gasparin, na França, cujo terreno é pouco adequado á cultura do tabaco, regula 3.850 kilos por hectare o rendimento máximo e 1.200 kilos por hectare o rendimento minimo. Na Bélgica, segundo Deraoor, a — 42 — producção media é ainda de 3.700 kilos por hectare. Na Itália, segundo Bertti Pichat, não ha colheita infe- rior a 2.000 kilos por hectare. Nas Filippinas, segundo D. Victoriano FeUpe, o rendimento médio por hectare é sempre superior a 900 kilos. Por conseguinte não se exagera 'quando se conce- dam 600 kilos para os terrenos do IJom'o, sendo, alem disso, corrohorado este calculo pelas experiências feitas nas quintas da Roeda, da Vaccaria, da Varoza, do Porto e das Lages. — 43 ■VIII Empreza das de mais importância.. — Cultura do tabaco.— Uma das ultimas sessões parlamentares.— Declaração do presi- dente de ministros. — A vinha considera. la brazão glorioso. — O Douro convertido em charneca. — Perguntas e respos- tas. Diíficilmente se organisará uma empreza de mais utilidade e mais importância pela razão de que a Compa- nhia dos tabacos do Douro estaria determinada a ser um elemento de riqueza e de forf^a, representaria sem duvi- da a reunião de poderosas actividades monetárias, seria naturalmente uma potencia industrial de primeira or" dem, poderia emílm considerar-se a causa, sine qua non, de melhorarem profundamente as nossas condições agrícolas e económicas. Tam útil 6 necessária a reputamos, que sem ella aíigura-se-nos impossível consentir tam cedo o governo na liberdade de cultura do tabacD. N'ama das ultimas sessões parlamentares o nobre presidente de ministros, Fontes Pereira de Mello, decla- rou que se por um lado se precisava de acudir ás cir- cumstancias precárias do Douro, portiutro lado convinha não alterar sensivelmente as receitas do estado, ten- cionando todavia apresentar dentro de curto praso, de accordo com as commissões, algumas providencias le- gislativas n'este sentido. Depois de tal declaração devemos aguardar que o governo se anime a resolver a crise, que por toda a parte nos está assoberbando com as mais horrorosas ameaças de um futuro de miséria? Não. Algumas con- cessões se farão talvez ; mas de um modo tam exiguo e tam acanhado que pouco ou nada se adiantará infe- lizmente. O mais provável é limitar-se o governo a providenciar no sentido de se combater o fylloxera. «A vinha, pensa elle, áeve considerar-se a honra do Douro. E' o brazão mais glorioso de Portugal.» Nós também preferíamos a vinha ao tabaco. Se ha ingrediente, se ha veneno, se ha arte que extermine o fylloxera, deixemo-nos de culturas novas. .V^as, res- pondam-nos, que profeta nos assegura que a vinha re- sista ao fylloxera ? Resistir mais ou menos não é o que nos convém. Convém que resista sempre ou, pelo me- nos, durante largos annos. Resistirá? Não resiste e por- tanto a necessidade de se cuUivar o tabaco é evi-. dente. Sem o tabaco tornar-se-lia o Douro uma charneca. Perigosa e má administracrão seria impedir esta cul- lm'a, porque, alí'm de estar destinada a salvar o Douro, poderá, ser para Portugal um dos melhores mananciaes de riqueza publica.- Ninguém nos desvia d'esta opinião, embora corresponda a perdermos o nosso tempo con- fiar que o governo, deixando de temer que se arruinem as fmaças, consinta, para annuir aos nossos pedidos, para satisfazer os nossos desejos, para acudir ás nossas conveniencias,"para agradar ás nossas pessoas, que nas encostas das nossas collinas e nas quebradas das nos- sas montanhas se cultive a nicociana como se cultiva qualquer outra semente agricola ou qualquer outro gé- nero de lavoura, nem mais nem menos como actual- mente succede nas nossas ilhas adjacentes, como actual- mente succede na França e na Itália, como actualmente succede na Bélgica e na HoUanda. Ha só um meio de convencer o governo. E' asse- gurar-lhe que o estado nada perde, que ninguém desa- cata o fisco e finalmente que as receitas publicas não soff^rem a mini ma alterarão. — Quanto, pergunte-se, rende hoje o imposto sobre o tabaco? — 3.145.000í)000 no continente, segundo as leis de 13 de maio de 1864, 27 de abril de 1871, 11 de abril de 1878 e 31 de março de 1879. ~ 46 — — Pagam-se sem desconto de um real único ; mas faça-se emíim a vontade á gente do Douro ! Desappareceriam logo os escrúpulos e as reluctan- cias do governo. O meio é óptimo, não ha de faltar quem observe ; mas a que Potosi iremos buscar os 3.145 contos? Resposta simples : — Não se precisa de tanta fartura de dinheiro. O tabaco estrangeiro continua ainda a ser consumido e por conseguinte continuará também a produzir uma certa receita. Haverá a dispender somente a differença do rendimento aduaneiro proveniente do consumo do tabaco nacional. E' certo que ainda assim será necessário dispor de gi'ossos capitães ; mas quem duvida de que esses ca- pitães possam ser sem diííiculdade fornecidos por uma companhia para esse íim expressamente organisada ? 47 IX Objecções. — Opinião de alguns dignos pares do reino. — Pro- ducçào por hectare. — Despezas e rendimento liquido. — Rendimento vinicola. — Poderá fumar-se o tabaco do Douro ? — Confronto dos povos do Douro com os da Ma- deira. Pôde facilmente objectar-se-nos que para se susten- tar sem risco de desastre uma companhia em taes cir- cumstancias monetárias seria preciso que o tabaco do Douro fosse da melhor qualidade e ainda assim se podesse vender a preço barato. Sabemos que na camará dos dignos pares do reino se propalou pela boca do snr. conde de Valbom e do sor. António Augusto de Aguiar que era carissimo e detestável o tabaco produzido pelos schistos das nossas collinas. ((Km que se fundou, perguntaram suas exc."", a commissão central anti-fylloxerica do norte para repu- tar o tabaco do Douro de Iam boa qualidade que se possa vender a 400 reis o kilo?» ((O tabaco do Douro não é bom, acrescentaram. Os charutos examinados no ministério das obras publicas eram, apesar de terem mistura de tabaco estrangeiro, nada mais e nada menos que detestáveis !» Eiiectivameute assim eram então. Mas indagaram o snr. conde de Valbom e o snr. António Augusto de Aguiar a causa da ruindade do tabaco do Douro ? Se a inda- gassem, ficariam sabendo s:ias exc.^^ que a bondade d'es- te género de consumo não depende só da nalm-eza das sementes, das condições geológicas, da influencia climata- rica, dos processos culturaes. Depende da manipulação principalmente. E' necessário que a nicociana seja fer- mentada, preparada, fabricada com lodo o cuidado. Se os processos industriaes forem maus, oproducto agrícola re- velar-se-ha mal. Torná-se indispensável que a natureza e a arte cooperem mutuamente. Da excellencia do producto agrícola e da perfeição do fabrico é que resultam os verdadeiros predicados de bondade. Os primeiros charutos enviados pela commissão cen- tral anti-fylloxerica do norte para o ministério das obras publicas certo é que não agradaram nem podiam agra- dar. Queimavam as guelas, arruinavam o paladar, pa- reciam pólvora. Eram amargos, negros, detestáveis, — 49 — uns simples rolos de folha de tabaco, verdes, sem fer- mentação, sem escolha, sem preparo algum. A julgar-se por esta primeira experiência, o tabaco do Dom*o irremediavelmente ficaria condemnado para sempre ; mas procedenlo-se a novas experiências, fer- raentando-se convenientemente, sujeitando se a bons processos, manipulando-se como se deve manipular, deixará elle de ser de qualidade ordinária para se con- siderar bom, excellente, magnifico. Portanto o preço de 400 reis será effectivamente caríssimo? Deverá comparar- se a qualidade do tabaco do Douro aos tabacos da França, da Allemanha, da Bél- gica, da Hollanda, da Itália ? ' Gomo informam Gasparín e Royer, no norte da França regula cada kilo por 54 cêntimos e no sul da França não passa o kilo de 87 cêntimos. Na Bélgica, na Hollanda, na Hungria, na Itália, segundo Demoor, Berth Pichat, Barrai e outros escriplores especiaes, nunca um kilo de folha de tabaco excede 1 franco. Logo para o Douro valer duas e três vezes mais, seria indispensável que fosse, por exemplo como o das Antilhas, um género de prímeira ordem. Chegará porventura a merecer es- tes créditos, a ganhar esta fama ? E' claro que a ser de qualidade igual aos tabacos europeus, diíTicilmente encontrará procura nos nossos mercados e ainda menos nos mercados estrangeiros. Enca- remos, porém, a questão pelo seu peor lado. Supponhe- 4 — so- mos que o preço de 400 réis é excessivo. Poderá veuder- se por metade d'este preço, 200 réis, lucrando ainda as- sim suíficientemente o cultivador? Vejamos quantos hectares poderá o Douro dispensar. Quantos ? Pelo rnenos 6.000 hectares, conforme o pa- recer da commissão central anti-fylloxerica do norte. Mais. Quanto produzirá cada hectare ? 600 kilos, sem hyperbole, visto que em nenhum paiz do mundo é mais exigua a producção. Por conseguinte 6.000 hectares produzirão 3.600.000 -kilos ou aproximadamente 1 kilo por habitante, o que é a media do consumo em toda a parte onde se fuma. Em seguida multipliquem-se os 3 milhões e 600 mil kilos por 200 reis, preço áe venda. Apurar-se-ha que os 6.000 hectares renderão, captivos das despezas culturaes, 720- contos. Calculemos agora as despezas. Na França, segundo Royer, gasta cada hectare de 600 a 699 francos, ou 108.000 a 125.820 reis em moeda portugueza. As despezas da Bélgica, da ItaUa e da Allemanha, segundo Demoor e Berth Pichat, não baixam também de 100.000 reis. Conceda-se pois para os terrenos do Douro, embora seja muito mais escassa a producção (600 kilos só) esta mesma verba de 100.000 reis. Teremos: 6.000X 100.000=600.000.000 Abatendo-se estes 600 contos ao producto bruto de 720 contos, vé-se finalmente que a differença dará ain- da uma receita liquida de 130 contos, o que decerto não deve considerar-se receita em demasia lisongeira. Valerá por Iam pouco desassoce^far o espirito dos mi- nistros, ameaçar o equilibrio orçamental, obrigar os nossos legisladores a pensarem por alguns momentos nos interesses do Douro? A vinha renderá mais, sem duvida. Um hectare de vinha nunca produz menos de 3 pipas e portanto 6.000 hectares produzirão, o minimo, 18.000 pipas de vinho. A que preço? Mais de 30.000, 40.000 ou 60.000 reis? Se o vinho de algumas adegas especiaes se ven-' de a 50, 60 e 70.000 reis, geralmente vende se de 20 a 30.000 reis. Calculemos pois 40.000 reis por pipa. O rendimento bruto será (18.000X40.000) igual a 720 contos. Os grangeios e outros encargos agrícolas absorverão metade. D'antes seria excessivo este computo; mas ho- je, em relação aos vinhedos finos principalmente, não deixa de se aceitar como rasoavel. Teremos conseguin- temente (18.000X20.000) que a despeza total será de 360 contos, despeza total que, deduzida de 720 con- tos, rendimento bruto, abonará uma receita liquida de outros 360 contos, mais 240 contos que o rendimento do tabaco vendido a 200 reis o kilo. Em face de taes cálculos e taes considerações, cálcu- los e considerações resultantes das experiências feitas e — 52 — portanto muito conformes com a verdade, flcar-se-ha com- prehendendo bem que a cultura do tabaco do Douro depen- derá unicamente da sua qualidade superior, sendo evi- dente e sendo incontestável que se o tabaco fôr mau não ha de haver quem o consuma nem quem o cultive. O tabaco do Douro poderá fumar-se ? Será preferi- vel ao tabaco europeu? Rivalisará com os tabacos da Bahia, da Virginia, de Cuba? Se fôr mau, se não fôr muito bom, se o não re- commendarem excellentes qualidades de combustibilida- de, perfume e sabor, deixemo-nos então de pedir pro- videncias aos poderes públicos. Em tam precárias con- dições que proveito subministraria este novo ramo agri- coia? Seria possível que um dia as nossas coUinas re- cuperassem a sua gloriosa fama e o seu inexcedivel es- plendor ? Em vez das scenas de pobreza e dos horrores da fome, voltariam ainda a abundância e a riqueza aos nossos lares? Não. Os povos do Douro não seriam mais afortunados que os povos da Madeira, os quaes, decor- ridos alguns annos de inúteis e desconsoladoras expe- riências, à saciedade se convenceram de que nada lu- cravam com a cultura do tabaco. Na ilha da Madeira, como se sabe, está longe de fa- zer fortuna o cultivador d'este género. A folha do tabaco não é procurada, não tem merecido boa fama, não se exporta. Ha só duas fabricas, ambas estabelecidas no Fuu- — 53 — chal, pertencendo uma ao visconde de Montebello e a outra a João de Salles Caldeira. Dispondo de suíTicientes capitães, os proprietários d'ellas são também cultivadores e todos os an nos procu- ram adquirir novos terrenos com o propósito natural- mente de monopolisarem toda a industria e ainda toda a cultura da herva santa. Os outros cultivadores lucram pouco, por isso. Não havendo mais ninguém que lhes compre o tabaco, ven- dem-no só a estes dous fabricantes, os quaes então es- tabelecem o preço que mais conta lhes faz, nunca ex- cedendo de 200 a 240 réis por kilo. Se o tabaco fosse de melhor qualidade, merecia a pena exportal-o; mas não é de qualidade fina, não pôde concorrer com o de outras acreditadas procedências, está forçosamente condemnado a i:estringir-se ao consu- mo da ilha da Madeira. Se no Douro se dessem as mesmas circumstancias, decerto que o resultado seria mau igualmente. iMas succederá assim ? Não será o do Douro preferível aos tabacos produzidos nas nossas ilhas adjacentes ? Não valerá o kilo de tabaco do Douro nos nossos mercados e nos mercados estrangeiros 400 reis pelo menos? O Douro, cujos productos agrícolas foram considerados sem- pre de qualidade magnifica, produzirá excepcionalmente ruim tabaco? x: Magna questão. — Opiniões, conselhos c alviti-es. — Argu- mentos contrários. — Impugnadores da livre cultura.— O «Economista". — Preços do tabaco da Bélgica. — Compara- ção do tabaco do Douro com os tabacos estrangeiros. A livre cultura do tabaco vai tomando o caracter de unia questão de magna importância, questão que, não se circumscrevendo unicamente ao dislricto vinha- teiro do Douro, alastra por todo o paiz. Preoccupando todas as attenções, debate-se com suíRciente calor nas reuniões publicas, na imprensa, no parlamento. Mais que uma questão agrícola, toma proporções de um pro- blema social. Não faltam por isso opiniões, conselhos e alvitres. Ha defensores e ha adversários. Ha optimistas que fa- 00 — zem depender do tabaco a salvação do Douro e ha pes- ■simistas que simultaneamente o consideram a ruina das íinanças. Podem reduzir-se a três os argumentos contrários. O pri-meiro refere-se sem duvida ao desfalque das re- ceitas publicas; o segundo estriba-se na barateza do tabaco estrangeiro; o terceiro vem a ser o das despe- zas culturaes. Facilmente os dous últimos argumentos se des- troem. Não prevalece o das despezas culturaes desde que seja compensador o preço da venda. Sempre que as despezas culturaes se deduzam do valor do producto não podem considerar-se onerosos os resultados da pro- ducção. Podem ellas ser insignlQcantes sem que o pro- ducto deixe de ser um elemento de riqueza; podem ser aliás muito avultadas e todavia contribuírem para a for- tuna do productor. Pouco importa que sejam maiores ou menores. Como o bom resultado das colheitas deriva do excedente da importância da venda sobre a totahda- de dos gastos, succede naturalmente que os lucros ou prejuízos dependem da quantidade e qualidade, da pro- ducção e valor dos productos. Também não prevalece o argumento da barateza logo que se prove quô o Douro pôde vender o seu ta- baco de 300 a 500 réis o kilo. E' certo que alguns tabacos estrangeiros alcançam baixo preço; mas acon- — 56 — tece que não passa de ordinária a sua qualidade : qualidade fina vende-se sempre por bom preço. O ta- baco da Bahia e da Havana custa muito caro. Reputan- do-se o da Hungria a 40 réis o kilo, o francez de 47 a 86 cêntimos, o belga de 140 a 306 réis, o italia- no e o allemão pelo mesmo valor pouco mais ou me- nos, não se segue que todo o tabaco seja barato. O d(> Douro vender-se-ha mal se fôr muito ruim; mas rivali- sando com os melhores productos similares dos merca- dos estrangeiros ha de com certeza obter um valor ex- cedente a 400, 600, 800 e I/JOOO réis, exactamente- como acontece aos da Bahia, dos Estados Unidos e das possessões espanholas. ^ Entre as falanges dos principaes impugnadores da liberdade de cultura distingue-se o Economista. Redi- ge-o um dos homens mais competentes em assumptos económicos, um jornahsta illustrado e judicioso, um de- putado de merecida celebridade, muito no caso por seus talentos especiaes e sua posição politica de se recear como terrivel adversário. Tem-se incumbido de orga- nisar os orçamentos da receita e despeza do estado, gosa de grande influencia no seio das commissòes par- lamentares e impõe-se nas lides da imprensa como cam- peão dos mais esforçados. A sua maneira de ver as questões pubhcas deve por isso despertar toda a con- sideração, principalmente reconhecendo -se ser essa sua — b/ — maneira de ver o resultado das intenções e pensamen- tos do governo. Vejamos conseguintemente como se expressa o Eco- nomista. A livre cultura do tabaco, segundo se collige da linguagem d'este jornal, desfalca as receitas do es- tado sem de modo algum minorar a situação agríco- la do Douro. Desfalca as receitas do estado porque é impossível fiscalisar bem e porque é impossível impe- dir o contrabando; não melhora a situação agrícola do Douro porque o preço do tabaco, regulando pe- lo dos mercados belgas, ha de ser tam insignificante que não poderá compensar as despezas culturaes, pesadas e numerosas como costumam ser em todos os paizes. São ainda do Economista os períodos que se se- guem: «Para desengano dos homens de boa fé na questão da livre cultura do tabaco, vamos dar a nota dos pre- ços d'essa mercadoria no mercado de Antuérpia. Preço por 500 grammas : Kentucky commum a bom, réis 70 a 88 » ordinário até bom ordinário » 88 a 94 )) bom médio » 99 a 108 » muito bom a supe- )) rior )) 1 13 a 117 )) superior » 112 a 135 Virgínia ordinário até bom » 47 a 82 — 58 — Virgínia bom médio réis 8G a 97 )) muito bom a superior. . » 99 a 108 )) superior » 108 a 1 1 1 Maryland e Oliio : )) ordinário a bom médio » 81a 99 )) bom a superior » 108 a 126 » muito bom » 1 26 a 1 53 Isto são preços do tabaco preparado e ' posto nos •depósitos, sendo também estas as qualidades que prin- cipalmente se consomem no paiz. Como é que a cultura de uma planta que obtém tal preço pôde alliviar o Douro dos seus soíTrimentos ? Valha-nos Deus com as exagerações! » Pela nossa parte não pensamos d'este modo. Quem exagera e quem está enganado é unicamente o Econo- mista. As suas próprias apreciações se encarregam de lhe responder a nosso favor. Custando, como diz o Economista^ o Kentucky de 70 a 135 réis, o Virgínia de 47 a 117 réis, o Maryland de 81 a 153 réis por 500 grammas, succede que esse mesmo tabaco, sujei- to a despezas de fretes, seguro, commissões e outras mais com exclusão do imposto, não se poderá vender nos mercados portuguezes por menos de 200 a 400 ou 500 réis o kilo, preço que para o tabaco de proce- dência belga, sem duvida inferior ao de procedência — 51) — americana ou espanhola, corresponde a um preço assaz vantajoso. O que resta portanto averiguar com exactidão é se o Douro produz tabaco peor, igual ou melhor que o de procedência estrangeira. Só produzindo-o peor, o que não deve presumir -se, é que entre nós seria oneroso este ramo agrícola. Sendo igual, vender-se-ha por mais de 300 réis o kilo e por conseguinte prejuízo não pôde haver; sendo superior, então claro é que, sem temer a concorrência de outros quaesquer productos simila- res, se venderá melhor ainda. — 60 XI Liberdade de cultura. — Alguns annos de atrazo em matéria dtí liberdade e civilisaçao. — O direito de propriedade. — Leis restrictivas. — A Inglaterra considerada mestra em doutrinas liberaes. — Systema fiscal dos paizes estrangei- ros. Os melhores rendimentos agricolas. — O Douro primi- tivo e o Douro actual. Será possível a liberdade de cultura com a liberda- de de consumo e de fabrico? Tudo é possível. Só o que parece impossível é que no reino de Portugal hoje em dia, assim em tal cyclo de illustração e progresso, no ultimo quartel do século XIX, haja ainda impugnadores da liberdade. Fenómeno inexplicável é realmente o que ás vezes se passa entre nós. Sc se falia de monopólios, levanta- se logo uma celeuma furiosa; se se falia do regimen — 01 — absoluto, ninguém deixa de horrorisar-se ; se se falia de fanatismo, indigna- se toda a gente. Será porque o respeito e o amor pela liberdade refervem em lodos os corações e germinam em todos os cérebros? Talvez. Comtudo não faltam desacatos, não faltam irreverências, não faltam aggravos de toda a espécie contra essa do- nairosa e heróica matrona que a tantos sacrifícios obri- gou os defensores do cerco do Porto. Ainda não possuímos tudo em matéria de civilisa- fão. Andamos atrazados alguns annos. Esta velha roti- na da nossa publica administração, este nosso acanha- do systema de governar, estas falsas regras da nossa sciencia económica e financeira hão de, mais tarde ou mais cedo, remodelar-se, refundir-se, aperfeiçoar-se. Experimentarão nova atmosfera as nossas ideias geraes. Virá tempo em que as doutrinas hberaes principalmente hão de merecer sincero acatamento aos nossos legisla- dores e aos nossos estadistas. Entre outras coisas mais, o direito de propriedade, apesar das disposições da constituição vigente, por emquanto não está perfeitamente garantido : é um di- reito duvidoso. Ensina-se nas aulas e proclamam os li- vros que esse direito, herança da velha legislação ro- mana, é o uso e abuso da propriedade, sem prejuízo da propriedade alheia, bem entendido; mas succede assim? Não, que se prohibe ao proprietário semear, plantar, colher tudo o que lhe faça conta e de proveito. — 62 — No Douro ha necessidade de se cultivar o. tabaco e o governo, fiscal das leis, não o deixa cultivar. As leis prohibem e devem prohibir muita coisa, por exemplo o que é nocivo, o que é immoial, o que é mau, o que não convém á ordem publica. Probibem e devem probibir os abusos, os escândalos, os crimes, os males sociaes. Logo se se prohibe a nicociana é porque esta planta herbácea será prejudicial á saúde, será um veneno? Sem duvida, como nos obrigam a presuppor a lógica e o bom senso. Entretanto a razão é outra. Prohibe-se em Portugal para imitarmos a Inglaterra, a nossa mestra em lipões de liberdade. Na Inglaterra, da probibição da cultura do tabaco promana uma fonte de receita— observaram os nossos ministros. Porque não ha de succeder a mesma coisa em Portugal? Prohiba-se lambem esta cultura. E prohibiu-se. Mas, argumentemos nós agora, em que motivos se fundou a Inglaterra para a prohibir? Porque reconheceu que a nicociana de na- da aproveitaria aos interesses da sua lavoura. A cons- tituição geológica e as condições climatéricas da Ingla- terra são adversas à cultura da herva santa como são adversas á cultura da videira. O agricultor inglez pou- co se incommoda portanto com tal prohibicão; mas convencesse-se elle de que qualquer género agricola prohibido pelas leis era um elemento de riqueza, de- pressa as suas reclamações se imporiam ao governo e ao parlamento. Razões de se prejudicarem as rendas publicas — 63 — iiào prevaleceriam. O que se desejava da parte da parlamento e do governo era melhorar a sorte dos agri- cultores. Todos em boa paz se compenetravam de que se diminuiam as receitas do thesouro, augmentavam em compensarão a fortuna publica, a riqueza nacional^ o património do povo. Xão se mostra muiío mais gra- ve a questão irlandeza? O governo iriglez, todavia, em- penha-se em resolvel-a favoravelmente. Ao avesso de re- sistir^ cede, submette-se, não por fraqueza, mas por estar persuadido de que cumpre com o seu dever. Por conseguinte escusamos de invocar o systema fiscal e a sciencia administrativa das nações eslrangei- ras. Só em igualdade de circumstancias nos podemos comparar. Ha em alguma parte do mundo" uma crise como a do Douro? Não, certamente. Logo será graciosa qualquer comparação. São especiaes as condições geológicas e climatéri- cas do Douro. Aqui o terreno, geralmente schistoso e sécco, não produz tudo com vantagem. Parece destina- do quasi exclusivamente á producção da uva. A oliveira cresce, conserva-se, fructifica, é verda- de; mas, anneira e precária sempre, recusa-se a uma producção regular. Em Traz-os-Montes, no Alemtejo, nas duas Beiras e na Estremadura prospera admiravelmente. No Douro, ao contrario, quem não contar com outros meios morre á fome. Dirão que se a oliveira é arvore pouco lucrativa — 64 — não faltam espécies vegetaes de mais rendimento, como a amendoeira, a figueira, as hortas, os pomares, os ce- reaes. De que viviam os habitantes do Douro anles do grangeio das vinlias? Seria então o Douro uma simples charneca ? Responde-se que tudo está mudado. Antigamente a população era raríssima. Quasi que havia só pasto- res e pescadores, gente de costumes frugaes e de exis- tência humilissima. Tm fraco rendimento bastava para sustentação de uma familia. Os comestíveis alcança- vam-se a troco de fácil dispêndio ; os servos e operá- rios contentavam-se com um salário diminuto; os alu- gueres das casas estavam longe de attingir proporções assustadoras ; a garra do fisco espoliava com muito me- nos crueldade as algibeiras dos contribuintes; o luxo não existia. Uma porção de batatas, meia dúzia de couves, algumas cestas de legumes, alguns alqueires de cereaes, algumas abadas de fructa, alguns cântaros de azeite constituíam a fortuna dos melhores cazaes. Tal era o Douro primitivo; mas depois nasceram outras aspirações e experimentaram-se outras necessi- dades. Augmentou a população, as exigências domesti- cas mudaram, o meio social variou, succederam novos costumes, adquiriu-se vida nova. O Douro, perdendo pouco a pouco 03 seus hábitos de modesto patriarcha 6 de económico aldeão, está hoje passando pelos tran- ses de um fidalgo arruinado. 65 :k.ix As priucipaes fontes da riqueza nacional. — O governo. — A fis- calisaçào. — Duvidas e receios. — Guardas fiscaes. — Ponto de fé. — Elogio dos ministros. Está visto que não se torna imçompativel a liberdade de cultura com a liberdade de consumo e fabrico. As rendas fiscaes podem soffrer consideravelmente; mas, dado o caso que assim seja, em compensação lucram algumas das principaes fontes da riqueza nacional, a agricultura, a industria, o commercio. Que o governo deve olhar com todo o melindre para esta questão, ninguém contesta. Longe de a resolver de afogadilho, cumpre-lhe informar-se, colher todos os es- clarecimentos favoráveis ou contrários, compenetrar-se de que presta um valioso serviço ao Douro. Mas que 5 — 66 — afmal resolva alguma coisa ! Sim ou não. Gastar-se a tempo cá espera de eternas experiências, não é pro- cedimento serio. Está convencido o governo da im- possibilidade de se resolver a crise vinícola? Está conven- cido o governo de que a livre cultura do tabaco pro- move a ruina do thesouro? Em tal caso diga-se com franqueza: «Senhores lavradores, a cultura do tabaco é um logro, uma utopia, um sonho. Não lhes serve de nada e pôde causar-nos a ruina das fmanças. Deixem-se de taes pretensões.» Parece-nos, todavia, que o governo de boamente se conformará com os pedidos que lhe fazem- As suas informações, os seus esclarecimentos, os seus estudos hão de perfeitamente comprovar duas coisas : boa quah- dade e preço vantajoso com referencia á cultura do ta- baco. Se os lavradores do Douro fossem exigentes, razões haveria para lhes não satisfazerem tudo. Mas o que é que elles pretendem? Simplesmente usar de um direito i o de poderem tirar o máximo proveito dos seus terre- nos. E' certo que as razões de fiscalisação hão de, ape- sar de toda a boa vontade, custar a desvanecer. A íisca- hsação será o Rubicon, o nó gordio, o grande cavallo de batalha. Como se ha de evitar o contrabando? Poder-se-ha fiscahsar tam rigorosamente que o imposto sobre o taba- co não baixe dos actuaes três mil e tantos contos? Nãa — 67 — faltarão duvidas nem receios, duvidas e receios que fe- lizmente se desvanecerão com o andar dos tempos por- que fiscalisação houve-a sempre. Já desde longe se fis- calisam o litoral, a raia sêcca, as fabricas. Temos um formidável exercito de guardas flscaes. Esse exercito não trabalha, fecha os olhos, cruza os braços, é um exercito de inválidos? O argumento da íiscalisação tem alguma coisa de ridículo por mais de um motivo, prin- cipalmente porque serve só para agora. Não se fiscaUsa o real de agua e não se fiscahza tudo o mais? Serão enormes as despezas e insuperáveis as diíficuldades em íiscaUsar uns tantos hectares de terreno? Estartá á ulti- ma hora o nosso systema fiscal subordinado a regras fixas e a preceitos invioláveis? Para nós é ponto de fé que será decretada a hvre cultura do tabaco. Se desde já se não escutarem os nos- sos clamores, tempo virá, querendo Deus, em que se hão de escutar. Propósito de contrariar os interesses dos lavradores do Douro não pôde haver da parte dos mmistros. Sen- do todos elles espíritos illustrados e caracteres ho- nestos, saberão proceder sempre com sentimentos de patriotismo e jamais se esquecerão de dirigir os pensa- mentos e as acções para a felicidade publica. Certamente conhecem quaes são os seus deveres e quaes devem ser os seus cuidados. Não é licito fantasiar que sejam uns caturras de comedia, uns pohticos anachronicos, uns — 68 — estadistas encolhidos e meticulosos, uma nova espécie de morcegos apostados a aborrecer a luz da civilisaçao e a odiar os progressos da sciencia. São-lhesa lias familia- res as lições dos Tocquevilles, dos Spensers, dos Stuarts MDl, não ignorando que a segurança das pessoas e das propriedades, a liberdade e o bem estar de todos, justiça igual para todos, se consideram as primeiras necessi- dades sociaes e os primeiros cuidados dos governos. — 69 — XIII Condições geológicas e influencias climatéricas. — O tabaco produz-se em todos os terrenos. — Maneira de se alimen- tarem as plantas. — Quaes as terras mais adequadas á vegetação. — Exigências da cultura do tabaco. — Compo- sição dos nossos terrenos. — As dunas. — O cultivador es- trangeiro e o cultivador do Douro. — O rendimento do tabaco e o da vinha. Não havendo nada que não conspire contra a ideia da livre cultura do tabaco, até ainda se allega a im- propriedade das condições geológicas e influencias cli- matéricas do Douro. O tabaco, precisando de terras fundáveis e gordas, precisando de huniidade e.de regas, precisando de es- trumes e de cuidadosos amanhos, não é no Douro que se produz — dizem. Nós, porém, responderemos: — 70 — «Pois venham ver e depressa se convencerão de que nasce, cresce e vinga menos mal por toda a parte.» Dá-se nos sitios húmidos e nos séccos, nos mais frios e nos mais qu'entes, nos mais gordos e nos mais delgados, nos mais soltos e nos mais compactos, nos mais e nos menos fundos. Vegeta nas margens dos rios e nas cumieiras das montanhas, nos flancos dos outeiros e no meio dos valles. Cresce sem grande re- vê z no próprio Marão. Longe de ser uma planta exótica, cheia de mimo, exigindo estufa, todo o terreno lhe serve. Dispensa terrenos exclusivos. Não é planta mais deUcada que outras quaesquer espécies vegetaes. As argillas não deixam de convir; as camadas silícosas não lhe repu- gnam; as massas calcareas não lhe são adversas; os schistos e os granitos não lhe causam damno. Como sabem os que não ignoram as leis geraes da fysiologia vegetal, as plantas não vivem exclusiva- mente dos saes e óleos da terra. Também precisam de ar e agua, de luz e calor. Ao ar atmosférico devem os gazes e suecos saponaceos que ellas absorvem pelos poros da casca e pelas tracheas das folhas; a luz e o calor não menos poderosamente contribuem para as diversas funcções da sua regular existência; a agua finalmente, alem de dissolver o carbone, encarrega-se de lhes ministrar o oxygenio e o hydrogenio, elemen- tos principaes da seiva. Ha plantas que absorvem maior numero de princípios nutritivos pelas folhas que pelas raizes, por exemplo a videira. Outras até pres- cindem absolutamente da terra, bastando-lhes a agua, a luz, o calor e o ar atmosférico. Quaes são as terras mais adequadas á vegetação? A argilla, o silex, a magnesia, as massas calcareas, os granitos? Gonsideram-se mais apropriadas á vegetação as que resultam de uma proporcional mistura de sili- ca, alumina e cal; mas, ainda assim, convém que a esta mistura de diversas terras se juntem, com o oxy- genio, o hydrogenio e o carbone provenientes dos es- trumes animaes ou vegetaes ou mineraes, novas subs- tancias alimentosas. Mais ainda. Também ás vezes se reconhece a necessidade do emprego das crés e dos marnes como agentes destinados a imprimir a humi- dade e o calor, a desaggregar as moléculas, a tornar mais permeáveis as terras. O tabaco, planta esgotante como é, necessita de óleos e saes de bastante riqueza, não dispensa a humi- dade, demanda amanhos cuidadosos; mas as hortas, as outras plantas herbáceas, os cereaes, o meloal, as próprias videiras em que abençoada região vegetam com proveito espontaneamente ? Os terrenos do Douro compoem-se de schistos mis- turados com mais ou menos porção de argilla e calca- reo. São magros, são séccos, são ardentes? Da mesma natureza ha em França regiões que produzem o tabaco, taes como Gôte-Rotie, Malgue, Anjou e uma parte dos Pyreneus-Orientaes. Em outros paizes onde se cultiva o tabaco, também não faltam idênticas zonas. Produzem tabaco todos os terrenos schistosos que são delgados, soltos, cascalhudos, fáceis de se revolver pela enxada, podendo os orvalhos e as chuvas pene- trar sem difficuldade e podendo raraiíicar-se Uvre- mente as raizes. Os mais fracos e os mais pobres são os arenosos; sem embargo nas dunas de Cuba, do Missouri, do Lot-et-Garonne e em muilas outras mais prospera admiravelmente a nicociana. Será porque as areias convém, mais que a argilla ou a cal, o quartza ou os schistos, a esta cultura ? Não convém, decerto. A expKcação consiste em que as areias comprehendem as camadas superficiaes somente; as camadas inferio- res abundam em húmus, em saes, em óleos, em suecos nutritivos muito favoráveis á vegetação. Nos terrenos magros e séccos do Douro a producção tem de ser menor forçosamente ; mas a quahdade, como succede cora o vinho, será das mais finas e mais apre- ciáveis. Dos mais velhos preceitos agronómicos é andar sempre a qualidade em desavença com a quantidade. Pela nossa parte não admiíte duvida que preferiríamos que menos generosa fosse a qualidade com tanto que, em compensação, a quantidade supprisse mais. Se na Bélgica, na França, na Allemanha, na Hungria, na Itaha, LO Brazil, nos Estados-Unidos se queixa o agricultor que ~ 73 — colhe menos de 2:000 a 3:000 kilos por hectare, como ha de ficar de todo satisfeito o cultivador do Douro com uma producção de 600 kilos apenas, em- bora seja das melhores a qualidade? «Ha de resultar por isso, acudirão os impugnadores d'este ramo agiicola, que o tabaco não poderá ser en- tre nós uma grande fonte de .riqueza.» Decerto ninguém espera enriquecer com os proven- tos da nova cultura. Todos sabemos que não ha rendi- mento que substitua o da vinha. Com applauso de todo o mundo fructifica a videira no meio do pedregulho e das rochas de todos os nossos outeiros. Bachus amai col- les. Mas, louvado Deus, sempre ha de o rendimento do tabaco servir de algum recurso. Se o fylloxera destruir completamente a vinha, que outro qualquer género de cultura mais ou menos lucrativo se poderá aproveitar? XIV Vantagens da «Companhia dos tabacos do Douro». — Os mo- nopólios.— A régie, a íiscalisação, o contrabando, as fi- nanças.— Duvidas, apprehensões, receios. — O snr. vis- conde de Arriaga e as cepas americanas. — O fylloxera julgado flagello implacável (^).— O snr. visconde de Villar Allen considerado o maior campeão da viticul- tura portugueza. — Como devem proceder o parlamento e o governo. — Memoria sobre o estado da agricultura e commercio do Alto Douro. Vimos, olhando a questão por differentes faces, que, destinado o fylloxera a destruir completamente as vinhas, deve decretar-se a livre cultura do tabaco ; vimos que a livre cultura do tabaco não se torna incompati- (1) Talvez não seja ocioso observar -se que se usamos da palavra fylloxera no género masculino é porque assim lhe com- pete em consequência da sua derivação grega. Não a empregam também de outro modo os entomologistas fraucezes, escreven- do le phylloxera e não la phylloxera. Em Portugal é que, no louvável propósito de a naturalizarem, alguns escriptores mais ciosos da linguagem vernácula lhe transmudam o género. Até vel com a liberdade de consumo e fabrico; vimos que não obriga a oneroso dispêndio nem a insuperáveis dif- ficuldades o serviço da fiscalisação ; vimos que não prevalece o argumento da impropriedade da constituição geológica e das influencias climatéricas; vimos que as rendas fiscaes poderão ser integralmente garantidas pe- los recursos de uma empreza agrícola e industrial desi- gnada pelo nome de Companliia dos tabacos do Douro. Talvez a muita gente mais ou menos rosnadora pa- reça especulativa e egoista a ideia de se organisar uma empreza do theor da Companhia dos tabacos do Dovro ; mas, embora se pense assim, pela nossa parte nos per- suadimos de que será antes uma empreza de seguras vantagens e bons resultados para os accionistas, para a lavoura, para a industria eni geral. Que prejuízos im- mediatos ou remotos poderia causar ella? Nenhuns. O seu caracter do monopólio poderá suscitar clamores, já uma vez o snr. Míirianno de Carvalho se queixou iio parla- mento de que se attentava contra as regras grammatieaes e contra a pureza clássica não se dizendo a fylloxera. A termi- nação soa, sem duvida, como feminina ; mas quantas palavras análogas, principalmente de derivação grega, não conservam na liugua portugueza o mesmo género masculino ! Que nos conste, ninguém costuma empregar no género feminino as pa- lavras farmacopola, homeopatha, allopatha, kilogramma, ca- rola, mariola e outras que taes. — 76 — alvoroçar a opinião publica, provocar manifestações re- volucionarias ? Não. No nosso paiz não faltam monopó- lios. Entre vários outros, o Banco de Portugal, o qual se sustenta e prospera sem grandes nem pequenas in- dignações, sem grande nem pequeno escândalo. Sem duvida a organisação de uma empreza sob taes bases e com taes fins seria a melhor forma de se resolver o problema. O governo não se inclina a favor da régie nem a favor da liberdade de cultura por lhe causar embaraços o serviço da fiscaUsação e presuppor que o contrabando arruina as finanças; mas se lhe garantissem o pagamento hquido e integral do actual imposto sobre o tabaco, ima- gina alguém que elle ainda assim, acerca da livre cultura do tabaco, teria duvidas, teria apprehensões, teria re- ceios ? Pelo menos esle alvitre não se poderá considerar peor que o apresentado na camará alta pelo snr. vis- conde de Arriaga. Alvitrava s. exc."" que se estabele- cesse um banco rural destinado a emprestar aos lavra- dores o dinheiro de que precisassem para a replanta- ção das vinhas. Nada mais rasoavel se se podessem es- perar favoráveis resultados da replantação. Mas admitta- se que a cepa torna a morrer em curto prazo. Será ne- cessário adiantar meios para novas replantações, succe- dendo conseguintemente que o governo terá de fazer, em vez de um só, successivos empréstimos aos lavra- dores. — 77 — E succedendo assim, não seria melhor coneeder-se- desde já a livre cultura do tabaco? Seria bem melhor. O tabaco, embora não seja muito rendoso, produz al- gum rendimento, ao passo que a insistência em gran- gear as vinhas, dado o caso muitíssimo provável de não se resistirão fylloxera, será sempre gravoso expediente. Quem asseverou ao digno par que a vide americana resiste, vinga, refloresce com o fylloxera? «Ha alguns annos, ingenuamente declarou sua ex/'',- o snr. barão de Mendonça trouxe-me da França a consoladora noti- cia de que nos vinhedos de Bordéus se aproveitavam com todo o êxito as videiras americanas...» Não se con- testa que em muitas partes as videiras dos Estados-Uni- dos alcançaram a principio grande fama. Isso^ porém, illudiu por pouco tempo os viticultores. Foi uma indus- tria particular como outra qualquer, uma simples espe- culação. Se felizmente o snr. barão de Mendonça não morresse, é provável que o digno par chegasse a saber já que as Laes vides americanas plantadas em Bordéus vai em seis annos não resistiram à maxilla do fylloxera. Experimentaram a sorte das suas pobres irmans euro- peias. Estão hoje totalmente perdidas. Morreram também. Replantar as vinhas é, sabe-se bem, mau expedien- te, má resolução, trabalho baldado. Corresponde pouco mais ou menos a deitar o dinheiro á rua. O fylloxera não deixa de ser um flagello implacável. Como diria Vieira, <• quanto mais come e consom^e, tanto menos se farta.» Um só converíe-se depressa em milhões. «São, renovando a linguagem de fr. Luiz de Sousa, tantos os que cada dia apparecem de novo que não lança mais for- migas do centro da terra um sécco outono.» E' certo que a commissão central anti-fylloxerica do norte aconselha a replantação. Mas com que fundamen- to ella mesma aconselha, preconisa, defende heroicamen- te a cultura do tabaco ? A razão principal não é a de obterem os lavradores meios sufficientes de restaurar as suas vinhas. E' porque as descobertas insecticidas e os processos chimicos até hoje empregados de nada ser- vem por ineíficazes e por inúteis. Cremos que não ha nem houve nunca maior apolo- gista e maior campeão da viticultura portugueza que o snr. visconde de Villar de Allen, um dos principaes la- vradores e um dos principaes negociantes de vinhos. Ver- sado perfeitamente nos processos e segredos agricolas, sabendo tudo o que acerca das sciencias agronómicas está cUvulgado desde Phnio e Golumella até Rosier, até Guyot, até o nosso venerando visconde de Villa Maior^ possuindo, além de tudo isso, o coração magnânimo e a alma heróica do sempre saudoso e sempre memorá- vel barão de Forrester, o primeiro apostolo do Douro, nun- ca deixou de empregar a sua intelligencia, a sua cora- gem, a sua actividade e a sua fortuna em manter a gloria dos nossos vinhos nas exposições e nos mercados estran- geiros. Ninguém com mais desinteresse e maior compe- — 79 — tencia tem sabido acreditar e defender em todo o mun- do o nome do districto vinhateiro do Douro, este bra- zão glorioso, esta principal gloria da lavoura e do com- merciodosportuguezes. Se fosse ministro, ficar-lhe-hiara devendo o commercio e a agricultura ainda maior nu- mero de valiosos serviços que os prestados pelo pró- prio marquez de Pombal, o estadista que mais contri- buiu para os créditos e prosperidades dos nossos vi- nhedos. Tratemos portanto de averiguar a opinião de s. exc.^ E' uma opinião honesta, insuspeita, fidedigna. Não se deve regeitar, porque isso significaria uma revoltante injustiça. A principio era sua exc."" adversário da cultura do tabaco. Pensava que só se deviam plantar videiras. Mas afinal o snr. visconde de Villar de Allen reconheceu também que esperar novas epochas de safra vinícola seria pouco mais ou menos esperar pelas cebolas do Egypto. Decididamente os que se resignarem a viver ape- nas do rendimento das vinhas terão um futuro atribu- lado. Convém recorrer a outro modo de vida. Convém tirar de nova cultura novos recursos. Se os terrenos fossem outros, essa nova cultura poderia ser qualquer, sem duvida. Os cereaes, as hortas, os pomares, o oU- val, o ópio serviriam perfeitamente. Mas a região do Douro, especial como é, não produz tudo com vantagem. — 80 — Eis o que pretendíamos dizer. Sem difficuldade po- deríamos alongar-nos por muito mais tempo em argu- mentos, em exemplos, em citações, em alvitres; mas basta. Julgamos supérfluas quaesquer outras conside- rações. Embora grave e complicada, visto apresentar o caracter de um problema social, esta questão pôde re- sumir-se muito bem em pouquíssimas pala\Tas, taes como : «A livre cultura do tabaco prejudica sensivelmente os redditos do thesouro, altera o nosso systema finan- ceiro, cerceia os interesses públicos? «Não. «Pôde aliás considerar-se uma fonte de receita, um elemento de riqueza, um progresso agrícola? «Pôde. «O governo e o parlamento, convencidos de que os interesses do Douro não repugnam aos interesses pú- blicos, devem permittil-a sem receio e sem demora? «Devem.)) Governo e parlamento, se ainda o não sabem, fi- quem sabendo que não se trata só de uma cultura nova: trata-se principalmente da subsistência de mi- lhares de lavradores! O Douro está em decadência, vai atravessando uma tremenda crise, vé que lhe bate ás portas a miséria : logo, precisa de providencias imme- dialas. Não se lhe acudindo com brevidade, voltará fatalmente áquelles sombrios e miserandos tempos a — 81 — que na sua Memoria sobre o estado da agricultura e commercio do AUo-Douro se refere Francisco Pereira Rebello. «Nos tempos antecedentes ao anno de 1757, recorda elle, poucos lagares se conheciam que exce- dessem de 3 a 4 pipas, sendo os toneis regularmente da mesma grandeza. . . E d'este modo era este terri- tório um dos mais pobres do reino, o que se prova da pobreza com que antigamente se edificava em todo elle, não se vendo hoje (1782) nem ainda vestigios de um só edifício antigo, magnifico e sumptuoso, por- que, supposto se encontrem agora n'elle a cada passo excellentes casas com magnificência e muito bons tem- plos, tudo isto é de fabrica moderna e tem sido edifi- cado ha poucos annos, achando-se difllcultosissima- mente um d'estes edificios que possa contar 100 an- nos.» — 82 — XV 08 nossos argumentos. — De que lado está a rasão. - O direito de propriedade segundo a carta constitucional da monar- chia portugueza. — O que pretendem os lavradores do Douro. Talvez que os nossos argumentos não logrem con- vencer ninguém; mas é certo que a razão esttá do nos- so lado, não do lado dos que se julgam auctorisados a restringir o direito de propriedade, direito absolutamen- te garantido pelo art. 145.*^ § 21.'' da carta constitucio- nal da monarchia portugueza. E' garantido^ estabelece esse artigo, o direito de propriedade em toda a sua plenitude. Mais ainda. O | 23.° do mesmo art. 145.'' prescre- ve também: Nenhum género de trabalho, cultura, industria ou commercio pôde ser prohíbido, uma vez (pie não se opponfia aos costumes públicos, cl segurança e saúde dos cidadãos. Que mais será preciso para justiflcapão e defeza das pretensões dos lavradores do Douro? Comprovado fica á saciedade quetaes pretensões nada lem de arbitrarias, nada tem de insensatas, nada tem de illegaes. Não ha intenção de causar desfalques financeiros, não ha propósito de provocar difíiculdades pohticas. Tra- ta-se unicamente de restabelecer a producção agricola, de criar novos elementos de riqueza nacional, de tirar a cultura da terra o único proveito possiveL 84 — XVI Accusações jornalísticas. — El-rei, o parlamento e o governo. — Patriótico procedimento da commissâo central anti- fylloxerica do norte. — Novas experiências. — Palavras de fr. Luiz de Sousa. Com mais ou menos acrimonia tem alguns jornaes políticos attribuido a el-rei a culpa de ainda se não li- bertar a cultura do tabaco. El-rei será culpado? Não é licito denegar-lhe sentimentos de bondade e justiça. To- mara elle que toda a gente fosse rica e feliz ! Para que el-rei fosse culpado era preciso que in- fluísse nos trabalhos parlamentares. Influe ? Todos sa- bemos á saciedade que os monarchas não exercem o cargo de deputados nem de pares. Também, sem embargo da doutrina do art. 72 da carta constitucional {a pessoa do rei^ inviolável e sa- grada, não está sujeita a responsabilidade alguma) se lhe poderia attribuir alguma culpa se elle se recu- — 85 — sasse a sanccionar o decreto da livre ciiUura do taba- co; mas não consta que as cortes a votassem ainda. Discussões não faltaram já. Assim na camará alta como na camará electiva foi por varias vezes instado o governo a acudir á crise vinícola do Douro. O gover- no prometteu acudir, mas sem precipitação. Precisa primeiramente, segundo as suas declarações, conhecer se é boa a qualidade do tabaco, se os resultados de tal cultura remedeiam os effeitos da crise vinícola, se o tabaco produzido nos terrenos do Douro poderá a prepo vantajoso ter procura nos mercados nacionaes e nos mercados estrangeiros. Assevera-se geralmente que o tabaco do Douro é fino, é magnifico, é dos melhores do mundo ; entretanto o governo conserva a tal respeito algumas duvidas desde que os charutos experimentados no ministério das obras pubHcas foram desmentir os mais fracos louvores que todo o nosso patriotismo se dignasse dispensar- Ihes. Já de uma vez os dignos membros da commissão anti-fylloxerica do norte, enfadados com a falta de provi- dencias legislativas, intentaram pedir a sua exoneração; mas afinal, conferencionado com o illustre ministro das obras publicas, mudaram de propósito. Convenceram-se tam plenamente com as razões simples e claras que em Lisboa lhes adduziram, que em seguida recolheram ao Porto sem desanimo, sem resentimento, sem des- — 86 — confianças, aliás decedidos com maior enthusiasmo a continuarem a prestar, na sua mesma qualidade de membros da commissão central anti-fylloxerica do norte, os seus illustrados e valiosíssimos serviços. O governo só exigiu d'eiles que apresentassem bom tabaco. Sendo mau, que proveito se tirava? Não se po- deria exportar, não se poderia vender nos mercados nacionaes, ninguém o compraria. Em taes condições seria um género sem valor, não um importante ramo agrícola, não um elemento de riqueza publica. Espere-se com paciência, portanto. Havendo-se pro- cedido a novas experiências, dentro de breves sema- nas saber-se-ha perfeitamente se o tabaco do Douro é bom ou mau. Sendo bom, com certeza serão attendidas as pretensões dos povos do Douro. Então «muito de bronze, como diria fr. Luiz de Sousa, fora o peito que se não quebrantara com tanto mál junto!» Duas palavras I. — Bellezas naturaes, clima e historia antiga e moderna do Douro. — A cultura das vinhas. — População de algumas freguezias. — O oididm e o fylloxera. — Apreciação das qualidades e virtudes do vinho .... 7 II. — Origens do vinho. — Opiniões de vários auctores. — Preparações, virtudes e antiguidade do vinho. — Os vinhos modernos. — O celebre «rosenwein» 18 III. — A vitis vinifera. — Sua longevidade e sua grandeza. — Versos de Lamartine. — As portas da cathedral de Ravenna. — As vinhas da Itália, da Carolina e da America Septentrional 23 IV. — Vinhas destruidas. — Replantação da videira. — O sulfureto de carbone e as cepas americanas. — Será possivel a restauração da vinha? — A cultura do ta- baco 26 V.— Os tempos antigos e os tempos actuaes. — Relatórios da commissão central anti-fylloxerica do norte. — Cumulo de desgraça. — Abundância e deficiência da producção vinícola. — A exportação.— Os negocian- tes inglezes. — Concorrência de outros vinhos 28 VI. — Cultura do tabaco. — O fylloxera.— Replantação da vinha.— Culturas mais lucrativas. — Qualidade do tabaco.— Opiniões favoráveis. — Imposto. — A com- missão central anti-fylloxerica do norte. — A «régie». — Apprehensões do governo. — Receitas publicas. — Alvitre 32 VII. — As suas vantagens. — Avultado capital. — Fins a que se destina.— O monopólio. — Queixas. — Quem perde e quem lucra. — Difficuldades. — Um milhão de libras. — O fisco. —A producção do Douro comparada com a dos outros paizes 37 VIII. — Empreza das de mais importância. — Cultura do tabaco. — Uma das ultimas sessões parlamentares. — Declaração do presidente de ministros. — A vinha considerada brazão glorioso. — O Douro convertido em charneca. — Perguntas e respostas 43 IX. — Objecções. — Opinião de alguns dignos pares do rei- no. — Producção por hectare. — Despezas e rendi- mento liquido. — Rendimento vinicola. — Poderá fu- mar-se o tabaco do Douro ? — Confronto dos povos do Douro com os da Madeira 4:7 X. — Magna questão. — Opiniões, conselhos e alvitres. — Argumentos contrários. — Impugnadores da livre cultura. — O «Economista».— Preços do tabaco da Bélgica. -Comparação do tabaco do Douro com os tabacos estrangeiros 54 XI. — Liberdade de cultura. — Alguns annos de atrazo em matéria de liberdade e civilisação. — O direito de propriedade.— Leis restrictivas. -A Liglaterra con- siderada mestra em doutrinas liberaes. — Systema fiscal dos paizes estrangeiros. Os melhores rendi- mentos agricolas. — O Douro primitivo e o Douro hodierno 60 XII. — As principaes fontes da riqueza nacional. — O go- verno.— A fiscalisação. — Duvidas e receios. — Guar- das fiscaes. — Ponto de fé. — Elogio dos ministros.. 65 XIII. —Condições geológicas e influencias climatéricas. — O tabaco produz-se em todos os terrenos. — Ma- neira de se alimentarem as plantas. — Quaes as ter- ras mais adequadas á vegetação. — Exigências da cultura do tabaco. — Composição dos nossos terrenos. — As dunas. — O cultivador estrangeiro e o cultiva- dor do Douro. — O rendimento do tabaco e o da vi- nha 69 XIV. — Vantagens da «Companhia dos tabacos do Dou- ro» . — Os monopólios. — A régie, a fiscalisação, o con- trabando, as finanças. — Duvidas, apprehensões, re- ceios.— O snr. visconde de Arriaga e as cepas ame- ricanas.— O fylloxera julgado flagello implacável.— O snr. visconde de Villar de Allen considerado o maior campeão da viticultura portugueza. — Como devem proceder o parlamento e o governo. — Memoria so- bre o estado da agricultura e commercio do Alto Douro 74 VX.— Os nossos argumentos.— De que lado está a rasão. — O direito de propriedade segundo a carta consti- tucional.—O que pretendem os lavradores do Douro. 82 XVI. — Accusações jornalisticas. -El-rci, o parlamento e^o governo.— Patriótico procedimeeto da commis- são central anti-fylloxerica do norte.— Novas expe- jiencias.— Palavras de fr. Luiz de Sousa 84 A OBRâS DO MISMO áUCTCR A rainha das aguas (1882) romance, 1 vol. 8.° 500 réis Viagens^ impressões de Espanha, Franpa, Bélgica e Inglaterra (1881) 1 vol. 8.^ 800 » O chnstão novo (1876) romance histórico, 1 vol. 8.° 500 )) O filloxera (1874) opúsculo 200 » No PI^ELO A provinciana^ romance, 1 vol. 8." Em via de publicação Eccos da montanJia^ poesias, 1 vol. Do Porto a Vigo^ impressões de viagem, 1 vol. ^fi* PREÇO 300 REIS