tai ru y RAI | “ ASTINTTE aç RA] Do et PM DU e edi Das TR P ESTO OM o NET CAT RB + Sa Te Wii ESA o Tomo rt Dera 2O pç cre A Fonfgis Ê. Poe j ti - da à a AÊ a u a, + 4 e” A 4 4 ., 4 Cica Ds PEDOCD AA É DE ANGOLA EE CONTRA-COSTA À CONTRA-COSTA DESCRIPÇÃO DE UMA VIAGEM ATRAVEZ DO CONTINENTE AFRICANO COMPREHENDENDO NARRATIVAS DIVERSAS, AVENTURAS E IMPORTANTES DESCOBERTAS ENTRE AS QUAES FIGURAM A DAS ORIGENS DO LUALABA, CAMINHO ENTRE AS DUAS COSTAS, VISITA ÁS TERRAS DA GARANGANJA, KATANGA E AO CURSO DO LUAPULA, BEM COMO A DESCIDA DO ZAMBEZE, DO CHOA AO OCEANO POR H. CAPELLO —R. IVENS. Officiaes da Armada Real Portugueza EDIÇÃO ILLUSTRADA COM MAPPAS E GRAVURAS VoLumE II LISBOA IMPRENSA NACIONAL 1886 [474e5 o. pet ) h , É oe ci ARE AP Ns e pd INDICE DAS GRAVURAS Pag. Para ali se quedavam sendo necessario as mais energicas......... ) Desfecha, ferindo profundamente o colossal pachyderme.... opp.a 6 Eabatio mea) tio BR en ae empre sb ses ú O LPELO, SGMC O OR PERES o Ag RNP NOR RSS q! Enem Rinouebe. see sq prada vseã o 15 NE hpRaRdatze ze amplificada. cais een o o aa ato aa 23 Wimerendo no acampamentos: E .... uunsece losses opp. a 26 LETENDO o bo 6 eua dR RE e — - caE PARE URGE REAR RR ER ES 43 CO NULL DD ICC CLA SRS RS RE 53 TE ET EÇÃO ont RR CS DD RR A a! Mme een atos O E aa pe ones ara ap Rara nan anca e STJ a 65 Eine Des mrsbporcusa(binns) o ssa Spas copa sfo ves ger 13 Dec he nisiost io piCus A esc soa nasais a ci ada “ Eoraaenicerus africanas (Sehreb:)-- sm come nela se cmo 81 Elsierdolchoferda Garanganjas.s. css sense imedo sra snes esr casas 93 eee ide Bonquela- cesso rca contra dns opp. a 106 Quasi lhe rastejára com a tromba pelo lombo .................... 5 TRT GIGELGO DE a E a Ne aee OR PO RR AD 122 Meme o omir ido bien s o pre aja 129 Esmidrembando o valle-do-Eufira.... cscseuscasuness css ca mens - 13% Rede O ano es ato icnarelodo Raio e aos red SO 145 Dezesete colossaes elephantes nos surprehenderam......... opp. a 150 E encostando-nos ao colosso demos-nos ao prazer de nos photogra- IST o eg ste KERRE GARE RSA E pe opp. a 152 Aspecto de uma libata devastada em Caponda................... 157 Reveben mbaladesfacador senao session Edo 165 vI Indice das gravuras Pag. Um rhmoceronte bicormio investi opp. a 184 Cinco bufalos cairam... oe e to E opp. a 186 Eomem de Kinhamg.. =... css elo Jo go eso a ea na A 199 Typo ma-ussi (face) ... cw == o eso bio e ars tape ela ao E 207 Typo mazussi (perhh) ..s. sea ese sro nto gare aro ha E dd RR 211 Quando um formidavel leão coroado saltou na sua frente.......... ES) Typo ma-ussi de Muié. : 22. spenallapers a So pio ea ER 223 Evpo-de Irambas. ss trt arado pen ERR socos 231 Homem: de Iramba,.. oa aorsdilo sebo Mo o deeto arado ge de E 241 Mirava senhoril a carayana...... nisso sho oo a ecra RR 263 A sente de Lixeta. ul so sudo o cosrri Rag ra do - 273 Indigena ribeirinho do Zambeze... JMR 280 EDS ZULNS ss deco pe raio oe o CURSA o ovo a ra af e VR opp. a 294 Mulher deiSensa o. REDE PRP os sous 305 Asi divas ao Tepabriar=S6. ksa screen va O aba Ryo Map opp. a 326 A expedição no cabo da Boa Esperança: opp. a 318 Mappas (dois). INDICE DOS CAPITULOS CAPITULO XVII NO LUALABA O Lualaba e confusão sobre a sua origem — Os lualabas de Nyangué, de Young, de Webb, etc. — Informações gentilicas sobre este— A caça ao elephante e suas funestas con- sequencias — Fuga dos guias — Os bosques do Lualaba e perda de um homem — Pre- ludios da fome — Dois individuos mortos no mesmo dia — Aspecto dos bosques e na- tureza do solo — A phonolite — Outro companheiro caído em caminho — O esqueleto de um elephante — Morte inopinada dos bois-cavallos — Geral desmoralisação — Su- bito encontro de caçadores — Apparencia do solo— A raia do Lunda — Mulher que deserta — Continúa a fome — A nocha como precioso recurso — Repentina morte de um homem —- Os bois e a tzé-tzé — Uma quimballa de farinha e outra de feijão — Ho- mem extraviado — Perda de mala — À fauna d'aqui — Ainda duas deserções — Obito de um carregador e aspecto geral da comitiva — Em Muene Kinguebe, extracto do diario — Extingue-se a vida de mais duas pessoas e do ultimo cão — Ainda um fugi- tivo e o abandono do ultimo quartel do bote — Multiplicam-se as populações —Ta- CEE) O SEN suada Lo a Ro Ba SE LE od RR PR Bacia CAPITULO XVHI r r A TZE-TZE Tacata — Traços geraes — A estação chuvosa e a mudança em nossos habitos — Conside- rações sobre os dias de ocio — Duas linhas do diario — A mosca tzé-tzé — Influencia d'este pequeno diptero e causas de atrazo de alguns povos da Africa central — Gene- ro a que pertence — Designações varias do insecto. À Chaldaica, arabe, etc. — Re- giões por ella devastadas — O seu habitat — Influencia do frio e do vento — Animaes preferidos —Os cães e a alimentação de caça — A repugnancia da mosca pelos deje- ctos dos herbivoros — Factos consequentes à picada no homem e nos quadrupedes — Primeiros symptomas — Humores, cegueira e loucura — Enfraquecimento fatal e as- pecto do boi depois de esfolado — Hemorrhagias, sangue diminuido, coração altera- do— A tzé-tzé será venenosa? — Duvidas e nosso juizo sobre a immunidade dos animaes selvagens — D'onde provém a mosca?.........ccciccicitits Pag. 21 à 40 VIII Indice dos capitulos CAPITULO XX OS DIAS DO QUILOMBO Muene N'Tenque e duas palavras a seu respeito — Primeiras visitas trocadas — Jantar de europeus, comido à moda indigena— A prole do soba e troca de sangue — Ra- pida descripção d'esta ceremonia — Duas noivas inopinadas — Os ba-ieque ou ba- iongo —'Typo e vestuario — Os languanas. As mulheres, seus costumes — O filho de pau —Traços especiaes — Mudança de aspecto das gentes da caravana — Influencia do movimento na saude do viajante — Perigo dos acampamentos prolongados — Me- didas hygienicas a observar — Fato do explorador — Alimentação e horas proprias — Modo de fazer a cubata, coberturas e fogueira — Recapitulação — À vida serta- neja— Como se póde facilmente succumbir nos sertões centraes — Raras plantas aproveitaveis — Artigos com que se deve contar e enumeração de alguns mais ULCISS nurse ro erspateios Sibsane lá No lo (EIaN sina aa xe Nb feet ro Paaf cogio penso Late RNA RR Pag. 41 à CAPITULO XX ATRAVEZ DA GARANGANJA A noticia de nossa chegada a Tacata e suas consequencias — Um homem do mato que fallava o portuguez — Partimos, emfim, de tipoia— Um leão que nos obsequeia — As minas de Kalabi, e poucas palavras acerca d'ellas — Os sonhos da possuidora e o desabamento de uma galeria — Aptidão das gentes de Katanga no trabalho do co- bre — Paulo Mohemeri e Quitari—E explorador ou negociante? — Caponda, o soba decapitado — O elephante mysterioso e a resurreição do regulo — Espanto por nós causado — Os peitos das mulheres e o limite ao numero de filhos— O Bunqueia e o seu curso — Carta de Musiri— A gente da Garanganja— A comitiva chega a quim- pata — Duas phrases energicas enviadas ao soba — Nada ha como feitiço de branco — Os africanos e o tempo — Guerra de cinco annos — Trinta descreve um combate naval na lagoa de Kicondja — A descripção correcta pelos auctores...... Pag. 63 a CAPITULO XXI EM BUNQUEIA Como estavam as cousas à nossa chegada a Bunqueia — Os zanzibaritas ali — Depreda- ções por elles commettidas — Consequencias para as caravanas europêas que se suc- cedem — O terminus do praso da etiqueta e a modificação em nossas idéas — Uma execução e aspecto geral da quimpata — Accumulações de craneos e respectiva his- toria tetrica — Chegada á residencia — A sala em que se achava o chefe — Duas pa- lavras ácerca d'este personagem e a toilette — Musiri, o parricida, usurpa o throno Indice dos capitulos IX da Katanga — Organisação politica da Garanganja — O regulo é absoluto senhor em sua terra — Contraste que apresenta na vida particular — Maria da Fonseca, a Mis- sota — Audacioso proceder d'esta senhora para comnosco — Seu trajo e uma chuva de presentes — Musiri entra no nosso campo, pede um documento sobre a morte de Bohm e explica a hydrographia central — Ainda uma tentativa de Maria — Retrato photo- graphico do soba — Annuncio de nossa retirada e difficuldades em trazer o Trinta —Factos louvaveis — Breve noticia concernente a algumas ceremonias... Pag. 91 a 112 CAPITULO XXII VIAGEM DE REGRESSO Partida de Bunqueia — Programma de viagem — Às declarações de Trinta, e o seu azar em todos os negocios — Rosa, a constante conselheira — As chuvas de novembro e o aspecto da natureza — Facies especial dos plateaux centraes— A vegetação em re- dor — Rios em que nos achavamos — O reino animal — O elephante e seu restrictivo habitat — Antonio impressiona-se com o oriundo de Africa — Juizo de um viajante tanto ácerca d'este como do procedente da India — Traços geraes comparativos — Modo de vida do dito pachyderme e preferencia pelas acacias — Como derriba as ar- vores — Lado para que vira invariavelmente a tromba quando colhe — Numero por que se agrupa e timidez das femeas — Carinhos maternaes — Como transpõe os rios — Maneira facil de o caçar — O leão e as bestas de preza na Garanganja — O Aulaco- de swindérien — Os escorpiões e outros insectos venenosos de Bunqueia — Os lepido- pteros e a Kingandja — Longitudes da região lacustre e erros encontrados — Obser- vações lunares e impossibilidade de as fazer — Partida de Kalabi e primeiro engano de Trinta — Opiniões de André e de Dionysio — Chegada a Tacata — Mudança ope- rata DO Gon Boasas ale RNA re 5 6 Sala RR UE ERP ERR EE RR Pag. 113 a 134 CADITUEO: XXIH IGNOTA REGIÃO A guerra de Caponda e juizo de N'Tenque sobre as terras do nascente — Suas instan- cias e nossa decisão — Despedida do regulo e jornada para o Lufira — Construe-se uma ponte à gentilica — Traços geraes do rio— O sal do mato — Aspecto das terras de alem — O dia de Natal e a perda da comitiva nos bosques — Duvidas de Trinta, que desconhece o caminho — O que se passava então pela Europa, e o que ia pelo acampamento — Terra phosphorescente — Ao rumo da agulha e um quadro de parti- da — Trilho inesperado — Por algum lado haviamos de sair — Concerto de roncos e estranha descoberta de André o cabinda — Dois indigenas apparecem, e nós volve- mos costas ao norte — Subito encontro com dezesete elephantes — Antonio caça um d'elles — Extracto do diario — Morte do animal e seu peso — Homens e feras, todos comem — Macaco surprehendido — Um velho leão visita pela noite o acampamento — As hyenas e suas proezas — Esquarteja-se o elephante — Os vermes das carotidas — Regosijo de Antonio e scenas da noite — Duas photographias— A geographia e a geologia d'aqui — Terras terciarias e quaternarias, bem como a evidencia do car- vaonraquellas==AMora (e! afAn a dns EN ala torso ea RSRSRS Sd o Pag. 135 a 154 é Indice dos capitulos CAPITULO XXIV TRINTA DIAS NAS SELVAS O dia primeiro do anno e a terra de Iramba — Os ba-lamba e a fuga dos guias — O trilho do Trinta — Cuidados a ter na marcha pelas selvas — Os riachos transpostos nos primeiros dias e a angustia que nos dominava — As origens do Cafué — Dois bufalos e um leão — O dia de Reis e as libatas de Caponda — Fartos arimos e faina dos nos- sos — Angustias experimentadas na zona montanhosa — O dia 11 de janeiro e conside- rações de occasião — O lobo e a sua persistencia em seguir os trilhos do homem — Sua manha e repastos — À situação do Trinta e as horas do somno — Impressão que nos causou a terra onde estavamos — Inesperado tiroteio ao norte do quilombo — Se- ria uma guerra ou uma população pacifica? — Receios da expedição — A caminho ao romper do dia — Rasgo de valor do Trinta — O que vimos duas horas depois — O nosso guia volve prisioneiro e explica quanto observára — Licuco, o irmão de Musiri — Parlamenta-se — Exigencias dos enviados e anossaretirada para o mato — Um acam- pamento fortificado — Tudo se resolve por fim — Notavel prestigio do europeu entre as gentes do continente negro — As minas de Kandumba e desespero de um rhinoce- ronte-- Aonde ficara ONbriLholoi? pd ocaso cio aaa no o RD popa RR ER Pag. 155 a CAPITULO XXV À CAÇA Bem longe, no amago do continente — Aspecto dos chefes da expedição — A carta sobre os joelhos — Transviados no mato sob o imperio da fome — Um quadro de caça — Breves resumos do diario — Perigos d'este genero de excursões — Um rhinoceronte bicornis — Caçada de vulto — Cinco bufalos em terra — Considerações sobre o viver nos bosques — Duas palavras ácerca do rhinoceronte e dos seus habitos — Varieda- des e estranho costume d'este quadrupede — As selvas eram o nosso dominio — As matas de mupandas e os brejos marginaes — Noções sobre a natureza do solo — O Lufubo e uma ponte de 45 metros — Aspecto da natureza — Ancia em procurar o Lua- pula — Impressão que a lembrança do milho e do sorgho produzia em nossas pes- soas — Trinta, o guia desnorteado — O ultimo dia de janeiro e um caminho imprevis- 176 to — Repentino rufar de tambores pela noite — Era o Luapula....... «. Pag. 177 à 196 Cada) Sal NO LUAPULA A tristeza de outr'ora e a alegria presente — As chuvas, o vento e a humidade —Panora- ma pittoresco — Flora e fauna — Campinas alagadas — O vento e a chuva no rio — Ar- dua tarefa dos primeiros dias — Instabilidade dos acampamentos — As nossas pre- tensões de visitar o Bangueolo e evasivas dos indigenas — Obstinada reluctancia do Índice dos capitulos x1 secretario do regulo, em não consentir que se construisse uma canoa — Rasões addu- zidas em vista do proceder de um zanzibarita — A escravatura no sertão e um qua- dro das scenas a ella referentes — Terminam pelo captiveiro — Visitas a Kinhama e uma tempestade no rio — À expedição transpõe o Luapula cto, habitos, viver isolado e comprimentos originaes — Nós extrahimos fazenda das cataractas! — Uma serralheria no acampamento — Decide-se a partida — Manejos para captar as boas disposições do regulo...............cc.sscs.. Sr ago 19% ap Zi Os ma-ussi — Seu aspe- CAPITULO XXVI AO SUL Kinhama fica e nós abalâmos — Os recursos da expedição e a geologia da zona que va- mos percorrendo — O melhor caminho para o meio dia e as difficuldades em conser- var-se n'um trilho do mato — À caravana transpõe o Luapula — Um quadro da pai- zagem que se apresenta do outro lado do rio — Dez dias sustentados a gallinha e a pirão — Um mau e um bom successo — À cata do trilho do susueste— Os leões e o Trinta caçador de bufalos — Ainda no Luapula e o vento do sueste —Manifestações scorbuticas nos chefes da expedição — Indicações geraes sobre os primeiros sympto- mas, bem como o correr da doença — Inventario dos nossos haveres e ultima tenta- tiva para ver a cataracta — Era tempo, urgia proseguir — Aspecto do paiz, o deser- to e os elephantes — Pavor inspirado a estes animaes pela formiga —Javali de novo typo — Uma terra provavelmente povoada outr'ora e o unico monumento que o indi- gena deixa de si— Bando de fugitivos de Caponda e falta de fé gentilica — Causas da guerra de Caponda — À cabeça de Kalama — Os leões na noite do eclipse de 30 de março, e perigo de que Antonio escapou — Almoço feito com agua do Zaire, jantar com a do Zambeze — Vasto plateau — Novo trilho e um rhinoceronte solita- rio — Densos matos e o capim navalha ............... ooo o cedao po dodo d sei il ato CIASBEBEIE O RES VAR DIAS DE ANGUSTIA Duas considerações sobre o texto da presente obra — A descripção é uma jeremiada, mas traduz fielmente os factos — Trinta embasbacado perante os dois caminhos — Sua resolução definitiva —Um rio grande e uma primeira ponte a construir — Escas- sez de provisões e fealdade das matas — À vida das selvas habilita-nos a antever os obstaculos — Novo rio e nova ponte a construir —Considerações à sua beira— Al- guns dos nossos homens são ouvidos — As mulheres e a nossa impressão a seu res-' peito — Alfim decidimos abandonar o trilho — Á corta-mato de machados em frente — Às seis horas estavam percorridas 22 milhas — N'essa noite, para muitos, o man- timento acabava —O erguer do dia seguinte e as ultimas parcellas de carne — Mais rios e pontes a construir — De cima das arvores observa-se o horisonte — Dionysio abala e encontra um trilho — Nossa commoção á vista de tal descoberta —Uma breve allocução a proposito — A caminho sem resfolgar até às seis horas — Um corvo es- tranho e o subito apparecimento de um homem — Agarrado e trazido à nossa pre- sença — Junto a nós estava uma libata................crro. eloa ooo o not RAE 259 8 260 XII Indice dos capítulos CARENTE O XSDE ULTIMOS DIAS NO PLANALTO Os enviados do Kassongo, presentes e instancias — Offertas à gentilica e um desfecho triste das relações — Parlamentou-se alfim e partimos — De subito o caminho divi- de-se — Encurva-se em direcções differentes e nós abandonâmol-o — À corta-mato a encontrar o outro — Uma lagoa inesperada, onde a caravana vae com agua pela cinta — As pescarias no Chôa, e um homem que a expedição perde — Duas palavras sobre a vegetação e causas do seu destroço — Adiante transviâmo-nos nas faldas da serra Lupampa — Corvos, cobras e um casal leonino à vista — Entrâmos de novo no trilho — Moi Oanza e os passaros da caça — Os habitadores d'ali e os seus comprimentos — As armadilhas do bufalo e o caminho da Sitanda — O harrisbuck —' Traslado do diario sobre a descida da serra Muxinga — Panorama, vereda dificil — Sensação es- tranha pelos auctores experimentada — Radical mudança operada na flora — Mutia- tes, bao-babs e gongós — Considerações ácerca da Muxinga — A Manica e os fune- raes do regulo d'ali— Moi Kicaxi, a mulher mavorte — Os arimos do sorgho e os destroços do rhinoceronte e do unjiri — Liteta — Reputações da sua farinha — Trinta reconhece alfim o caminho — Hayphones, Livingstonia e um caetus? — Falta de sal — Processo indigena da extracção das plantas — À gente de Liteta —O tabaco polvora e os canudos de fumo —O labio das mulheres e o passaro-gato — Marchas fatigantes — Antilopes e leões — A mão esquerda d'estes — Atravez de uma zona accidentada — Anceios em ver o Zambeze — Finalmente avistâmol-o......... ooo do 1 AL En 2EP CAPITULO XXX ZAMBEZE ABAIXO A caravana à beira do Zambeze — Os negociantes portuguezes a montante e as vanta- gens em se approximar do rio — O nosso dominio no Zambeze e o que d'elle se diz — Ninguem como nós ali põe e dispõe—O acampamento e o quadro que d'elle se des- enrolava— A baixa das aguas e o vento rijo n'esta quadra —Revelações do Trinta sobre a sua segunda esposa — Subita revelação, originando uma cruel decepção — Os chuculumbes e o seu exotico penteado — Algumas considerações ácerca do rio em que nos achâmos — Curso desembaraçado e facil navegação — O Cafué — Importan- cia dos sertões em vista da proximidade dos cursos de agua — A exploração mineira, como rapido incentivo para a colonisação — Emfim o que virá a ser o caminho do Zambeze — As terras de alem — O Dande e a Chedima ou Monomotapa — Duas pa- lavras ácerca da gente do Dande — Seus adornos e espirito bellico — O cafre-zulo Chaka — As terras de aquem — O Borôma e a caça — Natureza do solo—O peixe eletrico—Quéda da folha—O Likago e seus effeitos preservativos — O idioma de Ca- mões — Sycomoros, bao-babs e hortas— Os bois e considerações sobre elles. D'onde | vem; do outro mundo — A nossos pés estava o Aruangõa.............. Pag. 283 a 302 Índice dos capitulos XII CAPITULO XXXI DO ZUMBO AO OCEANO A villa do Zumbo, sua posição e aspecto attrahente — Importancia de outr'ora, numero de fogos, periodo de abandono — Frei Pedro — Partida de Sofala — À fome no Sen- ga — Influencia do frade na prosperidade do Zumbo — Frei João que o succede — Estabelecimento alem do Aruangôa — O capitão mór do Zumbo e o chefe Banhae — Uma querella com o Boruma —Transpomos o Aruangõa, dando entrada na villa —A nevrose da leitura e um descanso de dezenove dias — Scenas diarias e considerações 2 DRIDOSNO = CEOs CO ChbnlO oo obo do da ado dB pos sc obpobaNnoc oa dos Pag. 303 a 326 PANEIEPREN DG RO e eo fores oe ora nop sans Mo! apo roma pe Va Era oa Pon EN A aa ta O oa Ea LE Pag. 327 à 378 OBSERVAÇÕES SCIENTIFICAS FEITAS DURANTE A TRAVESSIA... >» 3S7)a 445 ANA DRo 0 6000 Sb DS SPA ORA E RIR ERRA E RO PRI REI RR RE RR » d4d4la 448 ONICERAS RES o pre ale pa oia a Perna aa a] Eita a a ta 6 rea » 449 a 450 JL oco dd pI RIR E ETERNO 6 5 6 GERE RR » 4õla 464 PEDRAS Er ter selo solo e csteareio a é re ea 0 grs T era a orou ARA V A as nto PR NAO O pe na 010) 9/2 06 Eleito Gini é » 465 a 474 Us CAPITULO XVIH NO LUA LABA O Lualaba e confusão sobre a sua origem — Os lualabas de Nyanguc, de Young, de Webb, etc. — Informações gentilicas sobre este — À caça ao elephante e suas funestas consequencias — Fuga dos guias —Os bos- ques do Lualaba e perda de um homem — Preludios da fome — Dois in- dividuos mortos no mesmo dia— Aspecto dos bosques e natureza do solo —A phonolite — Outro companheiro caido em caminho —O esqueleto de um elephante — Morte inopinada dos bois-cavallos —Geral desmoralisa- ção — Subito encontro de caçadores — Apparencia do solo—A raia do Lunda — Mulher que deserta — Continúa a fome — À nocha como precioso recurso — Repentina morte de um homem —Os bois e a tzé-tzé— Uma quimballa de farinha e outra de feijão — Homem extraviado — Perda de mala— A fauna d'aqui— Ainda duas deserções — Obito de um carregador e aspecto geral da comitiva— Em Muene Kinguebe, extracto do diario — Extingue-se a vida de mais duas pessoas e do ultimo cão — Ainda um fugitivo e o abandono do ultimo quartel do bote — Multiplicam-se as po- pulações— Tacata à vista. VOL, II, | E e: «.«. PARA ALI SE QUEDAVAM SENDO NECESSARIO AS MAIS ENERGICAS ... Quando em 1877 partimos para a Africa no intuito de explorar o interior, a hydrographia da zona em que ora nos achâmos era um enigma para a sciencia geographica, um problema que aguardava solução. Apenas Cameron traçára umas linhas vagas sobre o assumpto, e os pombeiros tinham dito quanto ao tem- po se sabia, baralhando, como de costume, as indica- ções indigenas, a ponto de crearem rios Imaginarios, sem exporem cousa que podesse fazer fé. Alguns viajantes mesmo, que precederam o audaz pioneiro, como Livingstone, por exemplo, haviam pre- parado os primeiros alinhavos da confusão com lua- pulas e lualabas, de modo a existirem quatro ou cinco d'estes ultimos, misturados e indiseriminaveis. 4 De Angola á contra-costa Era o Lualaba de Nyangué, o de Young, o deWebb, era o proprio Luapula chrismado em Lualaba; e todos, correndo em direcções phantasticas, lá fam a caminho do norte confluir em pontos differentes, derivando do sul de logares diversos tambem. Stanley appareceu então de subito, com os resulta- dos da sua memoravel viagem, e descido o Lualaba de Nyangué até ao oceano, tentou pôr termo ás con- tradicções, estabelecendo como curso medio do Luala- ba-Zaire o do rio que procede do planalto de Babi- sa, e, atravessando o Bemba e Moero, segue adiante para o septentrião. Este facto, para nós e muitos outros, constituiu um golpe de morte dado no Lualaba, ou pelo menos uma imposição decidida de secundario caracter ao grande rio, que a final de maneira alguma lhe convem, quer tornando-o identico ao Luapula, quer simples tributa- rio deste. À famosa arteria que em Nyangué arrasta 120:000 pés cubicos de agua por segundo, e já na altura da la- goa Kicondja tem 600 metros de largo, conforme as indicações que nos foram fornecidas, adiante, nas ter- ras do chefe Musiri, é a mais bem definida de quan- tas pelo vasto sertão existem, e insusceptivel de con- fundir-se. Disposta de norte a sul pelo meridiano 26º e tendo origem approximadamente no parallelo 12º.30" sul, o Lualaba é na opinião dos naturaes, não um tributario das aguas do Bemba, mas o ramo medio de todo o systema hydrographico, que, derivando d'aqui, vae a caminho de Nyangué constitum o curso do Zaire. No Lualaba 5 « Não ha mais Lualabas, senhores, nos disseram os mdigenas, este é o rio-pae, que lá para baixo recebe grandes filhos de um e outro lado, entre os quaes se conta o Kaxenguenéque, que é a parte inferior do rio Luapula. «O seu nome é sempre o mesmo, e para os lados nenhum maior existe, nem possue mais amplas lagoas. «São numerosas as ilhas que lhe semeiam o leito, e n'ellas vivem e se abrigam bastas populações de Urua e de outras terras, contra os assaltos dos povos vizinhos.» E logo que, para os ouvir, nos referiamos ao Lua- pula, como podendo ser o verdadeiro Lualaba, obti- vemos constantemente como resposta uma negativa á nossa Insistencia. Assim, o colosso que envia as suas aguas ao Atlan- tico no golfo da Guiné, percorrendo o sulco que lhe serve de guia em uma extensão de 2:500 milhas geo- eraphicas, e rola na embocadura 2.000:000 de pés cubicos de agua por segundo, tinhamol-o ali perto, mesquinho e pequeno, possuindo apenas meia duzia de telhas do humido fluido; e com a sua presença haviamos tambem resolvido o celebrado problema da determinação da origem do ramo medio do Zaire, to- pando com o braço originario delle n'um paiz onde europeu algum jamais estivera e em que uma natureza selvagem como que o escondia cubiçosa. Estendia-se agora ante nós para o nascente uma ampla terra, através da qual pretendiamos cortar per- pendicularmente todas as origens do grande rio, as- sentando em definitivo a posição aos seus numerosos 6 De Angola á contra-costa afiluentes, e onde íamos soffrer crueis privações, que na tarde da mesma descoberta uma circumstancia im- prevista iniciou. Seriam seis horas. O sol abysmára-se entre o arvo- “redo; do oeste columnas de fumo se erguiam, pare- cendo que as matas d'aquella banda eram presa das chammas; descansavamos após a refeição, conversan- do com os caçadores que para ali nos haviam guiado, quando inopinadamente estranho rumor nos eviden- ciou que um grupo de elephantes se approximava. Pegámos das armas, e Antonio, o mais ligeiro, foi que primeiramente d'elles se apropmquou, apertando com um, macho, de vulto colossal. Este, vendo-se perseguido, fugiu rapido para jun- to dos congeneres; entrava o escuro, não havia tempo a perder. O nosso caçador desfecha, fermdo profun- damente o pachyderme, que, sentindo-se tocado pelo projectil, volve furioso. Ão vel-o de orelhas abertas e tromba erguida, apo- dera-se o susto de todos, e o primeiro passo que fez para investir com o grupo foi o signal de completa debandada. | Anoiteceu. Nos arredores tudo era silencio, nenhum ruido trahia a presença da formidavel manada; reco- lhemo-nos no proposito de cedo, ao alvorecer, procu- rar o animal ferido, que sabiamos não podia achar-se muito longe do logar da scena descripta. Logo, pois, que a aurora começou de aclarear a superficie da terra, eil-o Antonio em acção, acompa- nhado pelos guias, para a banda onde se presumia estivesse caído. EG fh NV) dy im k ie ANY 4 s Eh O NO EN Voy «.. DESFECHA, FERINDO PROFUNDAMENTE O COLLOSSAL PACHYDERME .. . No Lualaba q! Mal contavamos porém com a perfidia dos negros conductores, que havendo percebido o rastro, delle desviaram o nosso caçador, e ao cabo de horas de in- fructuosas pesquizas voltou, declarando não ter con- seguido encontral-o. Resolvemos abalar, e como nem sombra de trilho ou indicação houvesse sobre o rumo a seguir por meio d'esses matos ignorados, clamámos pelos guias, a fim de que, tomando a vanguarda, nos poupassem a cer- teza de um transvio. M'PALA (femea) Tirado de um croquis Não tivemos por muito tempo de nos cansar em tal exercicio, pois os infames, reconhecendo o sitio e di- recção em que o animal jazia, abandonaram a cara- vana, deixando-nos a sós no mais recondito dos ser- tões africanos! Para onde ir agora? Volver, seria uma loucura. As matas do Cabompo não eram menos perigosas do que as do Lualaba, po- dendo continuar como campo largo de soffrimento e trabalho para a comitiva, e ainda, ficando do poente, 8 De Angola á contra-costa tinham para nós o facies pouco sympathico de nos at- trahirem em direcção contraria á que justamente nos convinha tomar. 7 Tudo nos levava ou impelha para o oriente, e em- bora a gente em massa manifestasse inteira repu- | gnancia em proseguir n'esse sentido, assim se decidiu, | cortando pelas florestas um pouco ao nordeste, na idéa de que, quanto mais para o norte, tanto maior proba- bilidade teriamos de encontrar povoadores, pois para esse lado devia achar-se o antigo caminho dos pom- beiros. A 13 de outubro, tomado tal arbitrio, proseguia a expedição portugueza por meio d'esses bosques, que o diario diz «fechados, tristes, immensos, encobrindo todo o horisonte, e dominio só de rhinocerontes, bufa- los e elephantes», deixando 4 Providencia o cuidar da sua salvação. Á frente pequeno grupo, de machados em punho, rasgava, no emmaranhamento de cipós e troncos uma abertura ao rumo da agulha por nós indicado, em- quanto o resto da comitiva, melancholica e abatida, por ella ía passando de cargas ás costas. Pela tarde foi a marcha feita ao compasso do ri- bombo do trovão, e quando acampámos junto ao rio, que suppozemos ser o Mumbegje, affluente do Zambeze, a primeira noticia que tivemos foi que desapparecêra um homem. Andavamos ha sete dias embrenhados em matas desertas, durante os quaes todo o mantimento se esgo- tára, ficando como recurso a carne, que constituia a nossa unica alimentação, e amda difficil de obter, pois No Lualaba | 9 a caça andava espantada pelos ataques permanentes da mosca. A 14, pelo meio dia, matámos uma m'pala femea, de que o desenho dará idéa, e tivemos de registar a perda subita e seguida de mais dois companheiros, Cha-Cassenda e Quibanda, que se finaram quasi sob os nossos olhos, triste e miseravelmente. O primeiro, bom velho que nos entretia com seus sustos e historias, não pôde resistir á fadiga, e ao longo da nossa trilhada deixou estirado o seu corpo, rema- tando assim tanto soffrer; emquanto que o outro, junto a uma arvore, tombára para sempre. Difhicil, caro leitor, é pintar aqui a impressão es- tranha que em todos produzia a vista dos vultos es- queleticos, d'esses homens agonisantes, a quem a pro- tecção era impossivel, e que a necessidade da propria conservação nos obrigava a abandonar para nos diri- em sobre a caça que fugia, ou para occorrer à con- strucção de quilombo que evitasse as chuvas immi- nentes, ou ainda da reducção de cargas, etc. Sentados pelas clareiras em pequenos grupos, como a vinheta dará idéa, para ali se quedavam, sendo ne- cessarias as mais energicas exhortações, a fim de met- tel-os em marcha. O imteresse da geral salvação levava a proseguir, e todos sabiam que quem fraquejasse era decididamente morto ! A floresta para a banda do nascer do sol compli- cava-se de mais em mais, e, entretecendo-se de cipós, entre os quaes notámos o da borracha, a Landolphia, cobria-se de urzellas, sem um pau fendido pelo ma- 10 De Angola á contra-costa chado do homem ou arvore tisnada pelas fogueiras do estio. O solo variára tambem, apresentando-se agora co- berto de tractos argillosos, colorido de vermelho, com affloreamentos de rochas quartzosas; schistos extre- mamente micaceos (grupo archaico) se encontravam, bem como exemplares soltos do quartzo granuloso, etc. Abunda a limonite e topa-se com frequencia o ferro oxydado magnetico. Entre os exemplares por nós colhidos figura um sem duvida interessante. É a phonolite, essa rocha eruptiva moderna, e que parece indicar para aquella zona um movimento orogenico, de data relativamente recente, Eis o que sobre ella nos disse o nosso illustre amigo o sr. Nery Delgado. « Exemplar de phonolite, rocha eruptiva post-tercia- ria. É composta de numerosissimos individuos de feld- spatho potassio, dispostos parallelamente. Alguns de feldspatho triclimnico e outros maiores d'aquelle já ci- tado, dão á rocha um aspecto um tanto porphyroide, acrescendo que o ensaio microchimico aceusa clara- mente a existencia de nephalina. «Encerra ainda alguns grãos de magnetite e agu- lhas de amphibole.» À nossa passagem por esta terra, de triste aspecto, foi marcada com o registo de outro obito. À 15, Chico, um robusto companheiro, atacado de tremores e per- turbações nervosas, succumbiu junto á margem de um riacho que, desviando para o oeste, devia ser affluente do Lualaba. No Lualaba 1a Pela tarde d'esse dia encontrámos, junto á riba ala- gadiça de uma torrente de agua, o acampamento de caçadores, que quatro ou cinco dias antes ali devia ter estado a esquartejar um elephante. Grande quantidade de carne existia amda dispersa pelo solo, à qual os nossos se lançaram soffregos, em- bora estivesse já em decomposição. INDIGENA MU-SANGA Segundo um croquis Não atinámos com a procedencia d'elles, mas tudo nos levou a crer que fossem do norte, gente de Urua ou da Lunda. Cortando no dia seguinte ao rumo da agulha, prose- guimos em linha recta para les-nordeste, n'um estado verdadeiramente desesperado. Era a fome, a fraqueza, a morte da gente e os ataques da mosca que infesta todo este sertão. Zea De Angola á contra-costa A 16 succumbiu um dos quatro bois-cavallos que possuiamos, a 17 endoudeceu outro, investindo com tudo e todos, e principalmente com quem durante me- zes 0 havia cavalgado, e cujo capacete bastava para o enfurecer, morrendo pouco depois; a 18 estremalha- ram-se os restantes, perseguidos pelos ataques da tzé- tzé, fugindo matos a dentro, ao mesmo tempo que os nossos, meio desmoralisados, abandonavam a todo o momento a trilhada em procura de raizes, mel ou de qualquer cousa que lhes mitigasse a fome; e quando o acervo de tantos males como que preparava alfm a perda completa da expedição, dispersando homens e animaes por aquelle labyrmtho, cuja lembrança faz estremecer, sem norte nem imdicio que os podesse guiar, aprouve á Providencia amercear-se de tamanha angustia, deparando-nos de subito com um acampa- mento de caçadores que andavam ao mel. (Quem poderia aqui expor a estupenda sensação por todos experimentada, ao ver, após uns tiros dados n'um antilope, emergir dos bosques os vultos negros de creaturas estranhas a mirar-nos emboscadas, pre- cisamente no momento em que nos achavamos con- vencidos da nossa perda! A sensação foi tamanha, que não volvemos por al- gum tempo do nosso espanto, sem duvida maior que o experimentado pelos indigenas, muito embora fosse esta a primeira vez que elles punham os olhos n'um branco. Estavamos de novo na raia do imperio de Muata- Ianvo, pois Muene Canhinga, o regulo daqui, disse-nos ser Ca-runda. No Lualaba 13 Tinham-se estabelecido havia pouco, não possuindo por isso ainda plantações regulares, prova de que es- tas florestas vão agora sendo exploradas pelos proprios indigenas, que em pequenos grupos de caçadores se encravam por ellas. Typos em tudo similhantes aos de Muene Chilembi, partem os incisivos medios de baixo, usam soltos os cabellos, carregam buzios e contaria á cinta e pescoço, e são assás miseraveis. “O chão eleva-se gradualmente, affloreado em partes por uma rocha quartzosa muito dura. A camada superficial é constituida por uma terra argillosa vermelha, outras vezes côr de tabaco, onde Julgámos ver um deposito quaternario. Como ao mesperado contentamento do encontro dos lundas não correspondesse satisfeito o desejo de achar comestiveis, partimos para o nascente na espectativa de encontral-os. A jornada começou mal, porque ao partir de Ca- nhinga, debaixo de chuva, desertou uma mulher, pouco decidida, segundo parecia, a correr os riscos de novas travessias pelos matos. Em Muene Mocumbi nada se encontrou que nos servisse de alimento, sendo necessario abater um dos nossos magros bois para acudir à fome. D'este ponto até Muene Muana fez-se o trajecto sob a mais monu- mental das trovoadas, não se suspendendo a marcha, pela circumstancia de estarem a acabar os bois, e ser preciso aproveital-os marchando o possivel. Perante nós estendia-se em largas ondulações o pla- teau central, e ao caminhar por outeiros e ravinas, com 14 De Angola á contra-costa agua muitas vezes pelo artelho, lembrava-nos saudo- sos de quando eramos cavalleiros. Escusado será repetir que em nenhuma das habita- ções encontrámos sequer um bago de sorgho para fa- zer farinha; adiante do rio Jicula, porém, um precioso recurso se nos deparou, que o é tambem dos indige- nas aqui. Foi a nocha, fructo do Parinarium mab., do tamanho de uma ameixa, com polpa farinacea e de muito agra- davel gosto, que se acha espalhada com profusão por estas selvas. Os nossos homens, empoleirados pelas arvores, dei- tavam abaixo quantas viam, e cada qual, fazendo a sua pacotilha, partia contente, roendo-as até ao ca- rOÇo. Parallelamente com a felicidade anda no emtanto sempre o desgosto, e ao goso de encher o estomago, antepoz-se logo o lugubre silencio das scenas mortua- ras. Começára de novo a lavrar a doença e apoz o Ji- cula, caíu Catumbo como que fulminado pelo mal. Assaltando os indigenas que encontravamos carre- gados com a nocha, avançámos debaixo de agua até ao rio Mutanda, tributario do Loengue e portanto do Zambeze, cheios de fadiga, de desgosto e de parasi- tas! Oppressos pelos ataques da mosca, os derradeiros espectros de bois andavam aturdidos pelas matas, sem saber onde socegar, ameaçando-nos a todo o momento perdel-os, e com elles ver sumir-se o ultimo madeiro de salvação, para qualquer caso desesperado. No Lualaba 15 Investindo pelo meio de denso matagal, onde as mi- mosas começavam de novo a multiplicar-se, de envolta com Achantaceas e uma arvore pequena de flor ama- rella mutompose (Mucenda?), e njangos e mucaratis a rarear, attingimos a libata de um regulo chamado HOMEM DE EKEINGUEBE Tirado de um croquis Cha-Mulanda, chefe dos basanga, typos de que da- mos uma idéa pelo desenho atraz, onde tudo que nos podia ceder se resumia a uma quimbalia de luco e ou- tra de feijão da terra, Voandzeia subterranea. Em caminho, um outro homem, Cachipia, deu em terra, e a morte d'este rapaz, pouco antes robusto e alegre, causou na comitiva geral sensação. "LO De Angola á contra-costa A 23 de outubro attingiamos o rio Cabaco, ultimo affluente do Zambeze por esta banda, cortando diago- nalmente uma zona accidentada, para entrar na ba- cia do Congo. Do fundo de valles cobertos de verde folhado, erguiamo-nos a miudo a collinas elevadas, donde se gosava panorama bem differente d'aquelle a que andavamos acostumados, e isso distrahia-nos bem, com as varias sensações e esperanças, que im- pressionam quem se ergue a zonas dominantes. Difhicil é subir, mas agrada. Vae uma pessoa caminhando na idéa de ver lá de cima alguma cousa de estranho, e embora essa espe- rança seja quasi sempre ludibriada, não fenece por isso, antes renasce na subida. No centro d'esses valles, complicados de troncos e gramineas, extraviou-se um homem por andar à fru- cta, o qual jamais tornámos a ver, e o peior foi que com elle se perdeu uma mala contendo numerosos ims- trumentos e boa parte dos exemplares da fauna e mi- neralogia colhidos durante a marcha. À mosca varre n'esta região solitaria quantos anti- lopes existem, só dominando uma cigarra enorme, que tudo atroa com o seu chiar, e varios habitadores ala- dos com desusadas vozes, como um que similha o mar- tello a bater na bigorna (que julgâmos ser o Pluvianus armatus), outro cujo tin-tin-tin lembra uma campainha, o passaro cabra Schizorhis concolor, outro que espreita, do qual já fallámos no Zambeze, naturalmente o Cha- radrius caruncula, etc. Havendo-nos demorado um dia para bater os arre- dores, no intuito de encontrar a mala, que tanto mte- No Lualaba 17 ressava, tivemos de partir rapidamente, pois dois dos nossos, logo que se viram a sós, desertaram! Começára de novo a nevrose da deserção, causa de graves e constantes embaraços, e ao abeirarmo-nos do rio Cachima, fugiu um terceiro, que jamais foi possi- vel ver. Aqui marcou amda a expedição a sua passagem com o cadaver de outro companheiro, que succumbim à anemia e fadiga, urgindo abandonar metade do bote que possuiamos, para proseguir. O estado da comitiva era verdadeiramente desespe- rado. Os emmagrecidos homens pareciam espectros, mal podendo com as cargas, e o animo já debil de to- dos ía prestes extinguir-se. Nós mesmo, no meio de tamanha hecatombe, acos- sados pela mosca, fome e chuva, precisavamos reves- “tir-nos de toda a coragem para conter na disciplma e no caminho tanta gente desmoralisada, e dar alguma “ordem a esse cumulo de desalento no interesse da nossa causa. Por vezes exhortavamol-os, lembrando-lhes a proxi- midade de Garanganja, que dentro em breve teriamos comestiveis, e que em summa o peior estava passado; elles, porém, convencidos que nos dirigiamos todos a morte certa, miravam-nos indifferentes ou com ar de compaixão. Eis o que a 26 de outubro escreviamos em Muene kinguebe. | «Chegámos alfim 4 beira da terra da Garanganja, dominios do soba Musiri, onde felizmente encontrámos aquillo que ha semanas não viamos, farimha e feijão. VOL. II, a 18 De Angola á contra-costa «Nada se póde imaginar de mais cruel do que as angustias experimentadas por esse sertão que atraz nos fica, e onde só com dificuldade se estabelecerá o homem. «Se nos fôra licito bem attentar no nosso profundo desgosto e abatimento moral, veriamos que somos ou- tros, e que o isolamento e os obstaculos, tendo varri- do da memoria a idéa do convivio e a necessidade de uma energia obstinada, nos tornaram meios selvagens, identificando-nos com o modo de ser de quanto nos cerca e em que nem um só delicado sentimento tem ensejo de manifestar-se. À mesma piedade, endurecida pela constante repetição de scenas desgraçadas, vae fraquejando envolta no pensamento egoista de breve caírmos tambem, e, afastados de tudo e de todos, ficar- mos para ahi sem encontrar uma bôca que nos diga duas phrases de consolo. «Hoje caíram no caminho ainda dois homens, para não mais se levantarem, e o ultimo dos nossos cães, sem sabermos precisamente como! «E de crer que fosse victima da picada da tzé-tzé. « Embora nos achemos em terra de alguns recursos, estamos acabrunhados, tamanha é a prostração e fa- diga que nos dominam. Deprimidos, como oppressos por algemas, ao volver os olhos para a carreira feita, e relembrando as vezes que estivemos a pique de com- pleto extravio, não é possivel explicar o facto de ainda sermos viventes!» A gravura junta dará ao leitor uma idéa do typo dos naturaes daqui, que não nos pareceu em extremo at- trahente. No Lualaba jus, Em Kinguebe fugiu-nos um outro homem, sendo preciso abandonar o ultimo quartel do bote, e haven- do-se abatido um boi, que estava proximo a morrer, preparou-se larga ceia, que distribuiu uma relativa somma de alegria, não obstante o aborrecimento geral pelas trovoadas incessantes, humidade e tudo que nos cerca. As populações vão-se multiplicando: largas planta- ções se encontram, as quaes os nossos miram de olhar arregalado, convictos de que entraram alfim na terra da promissão; serpeiam numerosos rios em valles profun- dos, percorrem as lavras garridas raparigas; adiante transpomos, em cavada ravina, o rio Muachi, em Ca- lequé, mais longe, deparou-se-nos o Lufira com impor- tante volume de agua, rio que desagua no lago Ki- condja, até que alím damos vista da terra de Tacata, onde reside em ampla habitação um dos mais Impor- tantes vassallos de Musiri. ria CAPITULO XVII A PARRA Muitos são os viajantes que, por lhe haverem bois e cavallos sido destruidos por este pestifero insecto, não só viram o objecto de sua viagem completamente transtornado, mas a sua propria vida arriscada, por falta de meios de conducção. ANDERSON, Lale N'gomi, etc. Tacata— "Traços geraes — À estação chuvosa e a mudança em nossos habitos — Considerações sobre os dias de ocio— Duas linhas do diario — A mosca tzé-tzé — Influencia d'este pequeno diptero e causas de atrazo de alguns povos da Africa central —Genero a que pertence — Designa- ções varias do insecto. A Chaldaica, arabe, etc. — Regiões por ella de- vastadas —O seu habitat — Influencia do frio e do vento — Animaes pre- feridos —Os cães e a alimentação de caça— À repugnancia da mosca pelos dejectos dos herbivoros — Factos consequentes à picada no homem e nos quadrupedes — Primeiros symptomas — Humores, cegueira e loucu- ra— Enfraquecimento fatal e aspecto do boi depois de esfolado — Hemor- rhagias, sangue diminuido, coração alterado — À tzé-tzé será venenosa? — Duvidas e nosso juizo sobre a immunidade dos animaes selvagens — D'onde provém a mosca? SA E Pp E esa JE k EN mto) NO NAZ. Tas Es 7 SERA EM a NY EI BRR ASSES ESSS 4 = ES Es ES ISS ESSE == 7/0) Sa saRe SS SS fg E SS a Te Ev A ag! Ty ES qo CABEÇA DA TZÉ-TZÉ AMPLIFICADA Tacata é um districto pittoresco, rico em arbo- risação, coberto de serras que se alongam ao nor- deste-sudoeste e o refres- cam com numerosos rega- tos derivatorios de seus flancos, varrido de ventos e collocado á altitude me- dia de 1:260 metros. O aspecto e exuberante vegetação dos risonhos val- les, accentuada pela flora das terras elevadas, diverge em muito do que para oeste viramos, sobretudo no valle do Zambeze. E uma terra bastante alta, bem arejada e enxuta, que convinha muito especialmente para restabelecer OS nossos organismos e gosar alguns dias de um modo de vida mais normal. E De Angola á contra-costa Depois a estação chuvosa em que nos achávamos, alem de ageravar as dificuldades de transito no mato, trouxera as suas mudanças para os nossos habitos, originando tambem perturbações economicas. E se de ha muito nos abstmhamos-do uso da tenda, agora haviamol-a riscado totalmente da lista dos ob- jectos que possuiamos, preferindo a barraca de folhas à moda africana. Mais cedo mesmo o deveriamos ter feito, porque são perigosas e incommodas as tendas de . lona. Oscillando com extrema facilidade, ameaçam a todo o momento cair; a agua corre amda por baixo d'ellas, e sendo as nossas camas de hervas e pelles, urgia por vezes treparmos para a vara central, a fm de, segu- rando-a, evitar a enxurrada. Alem do que, impregnando-se de humidade, e não sendo sensato atear dentro fogueira, fica o viajante durante a noite mergulhado n'uma atmosphera de va- “por, que deve ser nocivo à sua saude, e exposto tam- bem ao frio intenso da manhã proprio destas alti- tudes. O melhor é fabricar cubatas com paus em forquilha ligados com o entrecasco da mupanda, e recoberto o todo de capim, encimado por carapuça bem unida, E então póde chover, pois na confortavel cama de pelles, junto a uma grande fogueira, e com a porta fechada por lençol de cautchouc, gosa-se de um rela- tivo descanso, sem receios nem humidades. O que se torna necessario é construil-as antes do cair da trovoada, para evitar o alagamento do solo argilloso. A tzê-tzé 25 Para 1sso, logo que a manhã esteja clara, põe-se a comitiva em marcha, e mesmo que pelo noroeste come- cem a formar-se grandes reuniões de cumulos, cami- nha-se até elles se approximarem de 45º de altura; logo que isto succede, convem acampar, evitando a molha de quantos artigos se transportam. Como é simples e facil de prever, a expedição aqui devia demorar-se por muitos dias. Fatigados e pouco dispostos a proseguir nas longas marchas dos ultimos tempos, os nossos homens não se sueitariam á parti- da, largando uma terra onde encontraram os recursos mdispensaveis; nem ousariamos exigir um tal sacri- ficio d'essa cohorte de desanimados, que podia ter tu- nestas consequencias, isto é, uma deserção em massa! Convem ociosidade completa durante semanas, co- mendo e dormindo, a fim de, refeitas as forças, se em- prehender o restante trabalho, que ao espirito de todos se afigurava não menos dificil do que o já realisado n'outras paragens. As nossas distracções é que eram poucas e raras, todas mais ou menos pueris pelo dia, tornando-se van- tajosamente de contemplativo caracter pelo decurso da noite. O isolamento, embora enfadonho, tem por vezes, como todos os males, os seus resultados bons. Obri- gando o homem, farto já de tudo que o cerca, a con- siderar em si mesmo, impelle-o, n'este subjectivismo, a embrenhar-se nas profundezas da sua alma, e, de escalpello em punho, a fazer estudo anatomico do es- pirito, que o leva a entrever perfeições ou corrigir de- feitos que até ali ignorava. 26 De Angola á contra-costa O espectaculo tranquillo e attento das maravilhas da natureza tambem concorre para lhe sublimar os sentimentos, e meditando na grandiosidade do que o cerca, é arrastado á melhor comprehensão do bello e do immenso, assim como o consequente ennobreci- mento do proprio sentir e surpreza do seu poderio. Quantas horas não despendemos por essas longas noites, observando a amplitude dos céus, esse vago oceano, povoado de mundos fluctuantes; quantas ve- zes nos não deixámos enlevar pela idéa de que, em- bora longe e isolados, eramos bastante superiores e felizes, para poder admirar tamanhas e tão numero- sas maravilhas! Attentando nas guardas, ora no cruzeiro do sul, ora nas nuvens de Magalhães, relembrava-nos os factos historicos á sua inicial imdicação ligados; cogitava- mos nos obstaculos então experimentados por aquelles que primeiro viram esses distinctivos do céu do sul, faziamol-as correr parallelas com as por nós sofridas, sentiamo-nos avultar aos proprios olhos, esqueciamos a Africa, a nossa situação, abalando para logares me- lhores e domimados por ephemero extase; eramos fe- lizes até volver 4 realidade e á monotonia do campo. E assim que desses muitos dias encontrâmos com frequencia no diario resenhas como a segumte: « Pela tarde, sentados à porta das cubatas, e envol- vidos pelas brisas frescas que afugentam os calores do dia, deixâmo-nos im em divagações entre o chá e o cachimbo até que a noite entra. «Concluiu o brouhha das compras no campo, e de- zenas de indigenas acabam de erguer-se, levando as = = 4 CINARO Pl = a MA EN ) pes ne E Ls / M 1 // ES S e by à , E O MERCADO NO ACAMPAMENTO A tzé-tzêé 24 quindas vastas, e em compensação fazendas e mis- sangas. «Tudo esquece, como que não lembra já o passado; só para o futuro agora se mira, apenas a idéa do re- gresso 4 Europa attrahe todos os pensamentos, exci- tando recrudescida a saudade. «Entra o escuro a tudo envolver, esmorecem com os ultimos arreboes os bulicios do dia, alenta-se a luz das fogueiras, e ainda, fronte entre as mãos, lá se vêem sentados em pequeno banco os chefes da expedição. « Paciturnos e cabisbaixos scismam. « Começou o concerto da noite, e embora os artistas que a natureza a esta hora aqui escolhe para seus vocalistas sejam mais humildes que os emplumados do dia, não deixam comtudo de despertar uma sensa- ção de certa maneira estranha. «Sapos, cigarras e grillos enchem á porfia os ares com seus gritos varios, produzindo, quando enfraque- cidos pela distancia, um como que côro harmonioso. «À familia dos Lampyrides, aqui avultada, entra de apparecer, vendo-se numerosos pyrilampos a con- stellar os ares e os reconditos sombrios do bosque; emquanto as aves emmudeceram, e nem um noitibó por cá rompe o silencio com o seu sinistro pio. «A aragem, calando os derradeiros murmurios que o folhedo recolheu, caíu tambem, deixando à calma o dominio exclusivo. «Tudo dorme. De subito estoura tremendo ruido inesperado, que, echoando pelas quebradas, vae per- der-se repercurtido ao longe. É o rei das florestas que repleto volta para o antro. 28 De Angola á contra-costa «Estremece o mundo animado; tudo acorda, des- pertando nós igualmente do fundo scismar. «Já a hora se adiantou. O firmamento, até então azulado e coberto de pontos brilhantes, povoou-se de cumulos. Fuzila ao longe, e, ao soldarem-se elles, ves- te-se a abobada de ennegrecidos nimbus; horrisono trovão estala sobre nossas cabeças: abriram-se as ca- taractas do céu; chove a torrentes. » Aproveitemos, estimavel leitor, as horas de ocio que . o diario nos concede durante estes dias, para vos fal- lar aqui de um facto curioso, que, embora já muito tratado por pennas mais habeis, não deixa de ter ca- bimento por estranho e mesmo estupendo, trazendo- nos presa a attenção por mezes em face das suas multiplicadas manifestações. Referimo-nos a esse diptero, que é hoje no sertão o terror de homens e o flagello de animaes. Nada impressiona tanto o espirito como os pheno- menos que, tendo por causa origmaria suecessos de pequeno ou não attendivel valor, se patenteiam aos nossos olhos nos effeitos mesperados! Ninguem positivamente deixa, estudando a mecha- nica, por exemplo, de admirar as multiplices manei- ras de dirigm a applicação da força, os variadissimos modos por que o homem soube della apropriar-se, tornando o seu braço, de pequeno e fraco, a mais po- tente das alavancas; mas é certo que, na ordem dos phenomenos physicos, nenhuns ferem mais a attenção do que os referentes aos esforços moleculares. Considerando nas leis que regulam a tensão elastica dos vapores, e ao ver as suas maravilhosas consequen- A tzé-tzé 29 cias traduzidas em poderosas machimas modernas; ao lembrar principios da cohesão e da repulsão molecu- lares e ao ver rebentar um canhão cheio de agua, só por simples abaixamento de temperatura, fica-se per- plexo, não sabendo como dar-se conta de taes factos! Similhantemente, quando o viajante se transporta ao sertão, comprehende logo que no curso caudaloso do rio ou no pantano pestifero, na floresta densa ou no ardente deserto, na presença de feras ou de causas meteoricas, possa a energia ser fallivel, e a humana vontade, embora influenciada pelo numero, submet- ter-se a aceidentes de caracter msuperavel. Mas ao lembrar que um mesquinho diptero tem a civilisação em afasto, que esse mesmo imsecto se tor- nou a mais grave preoccupação de um paiz como a Inglaterra; quando, ao dirigir as suas operações sobre “a Abyssinia, lhe occorreu de subito que sobre o tra- jecto da costa para lá se encontrava a tzé-tzé, que à idéa da sua presença muitos viajantes tremeram, e aleuns, como Frederick Green, apenas lhes bastou penetrar oito dias na zona dominada por esta ao nor- te do N'cami, para um dos seus companheiros perder logo trinta e seis cavallos, e quasi todo o gado vac- cum que levava, assim como Oswell e Livingstone fo- ram por mais de uma vez victimas d'ella; ou emfim como nós, que nos morreram todos os bois, sob a m- fluencia das suas picadas temiveis: não. póde o espirito aquietar-se, é impossivel ver os seus destroços sem soltar uma exclamação de espanto. Atravessa o boi e o cavallo, na companhia do ho- mem, selvas e campinas, onde dominam reptis e feras, 50 De Angola á contra-costa e consegue passar ncolume no meio de tão poderosos como temiveis inimigos; entra na região da mosca, e ahi estupefacto vê-os logo miseravelmente suecumbir, sem que a sua força, sciencia e astucia lhe sirvam do menor auxilio para evitar a morte! Fogueiras pelo dia em redor do gado, travessias pela noite nas terras empestadas, indicações preserva- tivas offerecidas pelos mdigenas, tudo é mutil, tudo se perde em presença d'esse vil animal que o mais sim- ples choque aniquila! E ao cabo de dez ou quinze dias, aquelle que alegre e bem disposto se propunha, com sua bagagem orga- nisada, viajar commodamente, vê-se de repente per- dido, observa o gado todo em terra, o material dis- perso nos matos, victima de causa que lhe não foi licito impedir! Campeando audaz por muitas das florestas da Africa central, a tzé-tzé, não só tem sido e será por muito tempo um obstaculo à marcha da civilisação, mas sem duvida um factor importante para o estado de atrazo do mdigena das terras interiores, ou, pelo menos, para o modo de vida miseravel que ahi leva. Porquanto, se na verdade o negro não apropria o boi aos trabalhos agricolas e os outros animaes domes- ticos a coadjuval-o no ardente labor de tirar á terra o seu sustento, é este quadrupede para elle um elemento de riqueza e prosperidade, e não menor incentivo de movimento, quer no negocio, quer por querelas e guerras consequentes. Em todas as zonas onde é susceptivel a creação do gado, notámos sempre que os indigenas eram mais A tzé-tzé 91 activos e dextros assim como começando pela vida la- boriosa do pastor, até rematar na defeza da sua posse, se mostram superiores áquelles que não o possuem. Á benevolencia do illustre clinico o sr. dr. May Fi- gueira devemos a seguinte nota, que não pôde ser mais extensa, attento o estado de má conservação dos dois exemplares que lhe fornecemos !. É A mosca tzé-tzé é um diptero pouco maior do que a nossa mosca ordi- naria; mede, termo medio, 12 millimetros de comprimento e 4 a 5 de largo. Os olhos oceupam a maior parte da cabeça, e são, como os d'esta ultima, facetados em exagonos, constituindo ou formando os chamados olhos com- postos, podendo-se contar ao microscopio approximadamente tres mil face- tas ou corneas em cada um dos lados da cabeça. As azas são membranosas como as da mosca commum, mas um pouco mais compridas. O abdomen, de côr clara, é composto de seis segmentos e coberto de muitos pellos resis- tentes. As antenas possuem tres articulos curtos. As pernas, em numero de seis, são delgadas e pillosas. Nas extremidades ou patas, com o auxilio do microscopio, vêem-se duas unhas em fórma de ganchos muito agudos, com as quaes a mosca se agarra aos animaes que persegue, tornando-se esta adhesão mais segura à custa de duas pequenas pás ou laminas asperas, col- locadas em frente das unhas, formando com estas uma especie de pinça. A parte ou orgão mais importante da mosca tzé-tzé é a tromba, que tem o comprimento de 2,5 millimetros e de largura 0,2 millimetros, e à custa do microscopio vê-se que é constituida por um dardo chato, pouco espesso e pontagudo, com o feitio de uma faca de corrieiro, mettido dentro de uma bainha elastica, verdadeira tromba, que serve para proteger a navalha ou dardo, e ao mesmo tempo é empregada pela mosca como sugador para absorver o sangue dos animaes que ella fere. O dardo com o seu envolu- cro estão fixos à cabeça por uma base coriacea, que lhe serve de solido ponto de apoio para mais facilmente dardejar a pelle, que procura ferir. Aos lados da tromba, e presos à cabeça, existem dois palpos ou tentaculos cobertos de numerosas celhas curtas e muito fortes, que servem de orgãos do tacto para o animal apalpar as superficies aonde pousa, e assim conhe- cer a qualidade do tecido, para com mais segurança introduzir o dardo ; são orgãos similhantes aos que existem no mosquito commum, e em quasi todos os insectos analogos. Não nos foi possivel distinguir as glandulas secretoras do veneno que as moscas introduzem nos animaes que ferem ; julgâmos porém que deverá ser segregado em orgãos analogos aos do mos- 32 De Angola á contra-costa A tzé-tzé é um diptero que pertence ao genero Glos- sina, e designa-se por Glossinia morsitans,W ester !, nos dominios da sciencia, e por muitos termos pelas gen- tes do contmente, entre os quaes figura o que mdicá- mos, embora não conhecido universalmente. Nenhum, quanto a nós, é porém mais proprio do que o de zimb, como se lê na versão arabe da Bibla, pois dá completa idéa do zumbido do animal, que é um zim-im prolongado e aspero! Muitas são as regiões da Africa central onde este msecto domina; mas encontra-se geralmente no trian- gulo que se forma desde o lago N'gami até 4 foz do Limpopo e do mesmo lago ao norte do Nyssa. Observa-se ainda na Abvssinia, no Soudão, na Costa da Mima, etc., sendo, ao que julgâmos, desconhecido na Africa meridional, do meridiano de Libonta para o oeste. Habita invariavelmente nas florestas e jamais nas grandes campmas rasas e abertas, embora alguns via- jantes tenham afiançado isso, por as terem visto em pequenas clareiras, que sempre existem entre os rios € os bosques onde vive. As mesmas matas, que são seu exclusivo dominio, têem especial aspecto e aspera dis- quito, e cremos que esse liquido serve talvez à mosca tzé-tzé, como a este ultimo diptero, para mais facilmente introduzirem o dardo na pelle dos diversos animaes do que para offender ou envenenar, apesar de ser nota- do que um grande numero de picadas destes insectos envenenam animaes corpulentos, como são os cavallos, bois, etc. O desenho que fizemos de todos estes orgãos à camara lucida do mieros- copio foi depois habilmente corrigido pelo sr. Casanova. 1 E sem duvida conhecido este insecto de longa data, pois já na versão chaldaica da Biblia d'elle se falla sob a designação de zebud. A tzé-tzé E] posição. Cobertas de urzellas embaraçadas pelos cy- pós, denotam evidentemente que o homem pouco as frequenta, encontrando-se apenas um ou outro animal bravio. O seu habitat, é tão definido, que muitas vezes se póde estar na margem esquerda de um rio emquanto da outra margem, a 40 metros de distancia, o bosque está infestado. O frio e os ventos energicos exercem sobre a mosca uma acção enervante, a ponto de nas primeiras horas da manhã as apanharmos com a maior facilidade no fato e corpo. De noite a mosca não ataca. . Ao contrario, pelas horas do calor, ella arroja-se vo- raz e Importuna, não se arreceiando dos nossos esfor- cos para a afastar, picando animaes e homens, do que fomos victimas centos de vezes. É bem conhecida a circumstancia de que o homem, “o elephante, a zebra, o bufalo, e quantas especies de antilopes divagam pelas regiões que a mosca infesta, são immunes ao veneno das suas picadas. Acrescenta-se mesmo, que os cães vivem livremen- te, quando haja o cuidado de os alimentar de caça; os nossos porém, que andavam sujeitos a este regimen, succumbiram, pelo menos os ultimos, ás picadas do temivel insecto. Affirma-se tambem que os vitellos, emquanto depen- dem da mãe, nutrmdo-se simplesmente de leite, não morrem, facto este que de resto é difficil averiguar, pois a primeira victima deve naturalmente ser a que lhe deu existencia. VOL. II. Ra De Angola á contra-costa O boi, o cavallo, o cão e o porco são os preferidos pela mosca, emquanto a mula, o burro e a cabra es- capam sempre. Quanto mais vistosa se apresenta a côr dos animaes, tanto mais repetidos são os ataques d'ella; a côr branca é a mais perigosa, pois os primeiros bois mortos foram os brancos, e a unica rez preta que possuiamos foi a ultima a expirar. Ácerca dos cães deve dar-se a mesma circumstan- cia, passando para nós como certo que o viajante pos- suidor de bois pretos será quem na zona da tzé-tzé mais tempo os poderá conservar. A mosca dardeja os seus ataques em todos os senti- dos: ao homem muito naturalmente á cara e mãos; ao gado, porém, prefere entre coxas, ventre, pernas e mãos, fugindo dos logares onde possam existir adhe- rentes restos de dejecto, que ella parece aborrecer, che- gando a acreditar-se que abandona os logares onde haja grandes accumulações de materias evacuadas por herbivoros. Os factos consequentes da picada no homem são um prurido incommodo, similhante ao produzido pelos grandes mosquitos da Guiné, mas talvez menos dura- douro, com immediata inflammação. Avermelha-se a parte tocada, incha durante umas tres horas e depois desapparecem estes incommodos sem resultado funesto. Nos animaes é de presumir que os primeiros pheno- menos sejam em tudo identicos, aggravando-se sómen- te com a repetição dos ferimentos para darem origem a accidentes de maior circumstancia. A teé-tié 35 O primeiro dos symptomas de que um boi está gra- vemente atacado consiste na completa perda do lustro do pello, arrepiamento e mvariavel tristeza. Segue-se logo fraqueza evidente, com flaceidez ge- ral dos musculos. O animal começa a emmagrecer, notando-se muitas vezes parado e absorto emquanto os outros pastam. Assim caminham as cousas durante tres ou quatro dias, até que sobrevem signaes mais positivos. Os olhos tornam-se amarellos e as amygdalas en- fartam-se gradualmente. Umas vezes sobrevem espuma amarellenta, que se conserva nos labios, com corrimento pelas narinas, outras sáem as evacuações urinarias sangumeas, ou apparece diarrhéa. Então o animal póde julgar-se perdido, e embora se afaste dos logares infestados, se conserve no qui- lombo cercado de fogueiras, se cubra com uma man- ta, se esfregue com materias dejectadas, em quatro ou cinco semanas torna-se cadaver. Durante este lapso de tempo os phenomenos que acabâmos de citar anda podem complicar-se com ou- tros de não menos serio caracter. Assim tivemos bois que cegaram e outros que imo- pinadamente enlouqueceram. Este ultimo facto e tendencia notou-se sobretudo nos bois brancos, podendo acreditar-se que tão deses- perada situação era resultado do maior numero de picadas. O enfraquecimento continúa, e de subito o animal cae, falto de forças, para não mais se erguer. 56 De Angola á contra-costa Esfolado, observa-se primeiro o tecido adiposo tu-. mefacto, com bolhas aqui e alem, e esverdeado em muitas partes. As hemorrhagias semeiam o tronco, evidenciando um derramamento incompleto entre o musculo e a derme. | A quantidade de sangue foi extraordimariamente diminuída, apresentando-se no todo com aspecto do visco e albumimoso. À carne é côr de rosa, flaceida, o figado amarellado, havendo por toda a parte signaes de extravasão biliar. O mais notavel porém é o coração. Collocado no terreno, não reconhecemos á primeira vez este Impor- tante orgão. Em logar de possuir a sua fórma bem definida, mus- cular e resistente, como é, apresentava-se molle, solto, similhando mais a vesicula do fel, do que o motor da circulação. Em resumo, o aspecto geral da carcassa do qua- drupede apresenta profundos traços de uma pertur- bação funccional dos prmcipaes orgãos, em que figura como mais affectado o figado, pelos derramamentos "que se observam e côr amarellenta de muitas secre- ções; sendo para acreditar que essa circumstancia e consequente absorpção de bilis actuem como impor- tante factor nas causas da morte. As hemorrhagias subcutaneas numerosas, pois mais de cem chegámos a contar n'um só animal, e a per- versão do fluido sanguíneo pela subita paragem, não. podem tambem, '“reabsorvidos, produzir o seu effeito p eINICIOSO ? Vá E difficil afiançal-o, não deixando porém de dizer que a isso muito nos imclinâmos. Mas a mosca tzé-tzé é um animal venenoso, e os seus effeitos sobre o organismo dos animaes domes- ticos derivam pura e exclusivamente da imoculação desse veneno? Á primeira vista, a sua acção funesta sobre os ditos quadrupedes faria assim presumir; mas o que acon- tece ao homem e aos animaes selvagens contesta si- milhante facto; posto a verdade seja que o homem d'ella se defende; bem como os animaes bravios, por mais rapidos e revestidos de espessa pelle, se põem seguramente ao seu abrigo. O bufalo, e sobretudo os antilopes, não devem, se- gundo opmâmos, ser immunes á mosca, e esse engano em que hoje se labora procede sem duvida da difh- culdade de precisar os casos mortiferos destes ani- maes pela acção da tzé-tzé, ou melhor ainda porque não succumbindo os bois a duas nem tres duzias de picadas, sendo aliás necessarias centenas para os pros- trar, os antilopes de tal numero facilmente escapam. Basta, para nos convencermos deste facto, consi- derar que tivemos alguns que, começando a ser pi- cados proximo de Libonta, só perderam a vida tres mezes depois no planalto. Os bois, em geral, marcham pacificamente atrella- dos, ou caminham em manadas sob à direcção do ho- mem, emquanto que os antilopes ao menor ataque se dispersam e fogem em todos os sentidos; está ali pois, a nosso ver, o motivo por que aquelles morrem e estes se livram. 38 De Angola á contra-costa Do elephante e rhinoceronte não fallaremos, pois não é permittido acreditar que o ferrão da mosca pe- netre em similhante pelle. Em summa, o que falia é saber precisamente se a morte dos animaes provém de algum veneno especial ou de derramamento sanguineo: se deve attribuir-se à existencia de larvas, como mais de uma vez nos occorreu, vendo corrimentos de humores por olhos e nariz, as quaes, introduzidas e dispersas pelo organis- mo produziriam similhantes phenomenos; ou se em- fim deriva de acção directa e exclusiva sobre o figado, e isto, só com aturado estudo se poderá resolver; sen- do certo, até agora, que o boi que foi pouco picado pela mosca e escapou, não fica por isso isento, ao pe- netrar de novo em terras infestadas, de succumbir miseravelmente. Resta para considerar os casos espe- ciaes da loucura, que, provindo de um virus, se po- deria talvez fazer a moculação artificial, para tornar refractario o quadrupede. Fimalisaremos estas breves considerações com duas palavras de interesse sobre a questão a que nos esta- mos referindo. Qual a procedencia da mosca, onde se desenvolvem as larvas? À primeira idéa que nos suggeriu, ao vel-as limitadas ás zonas florestaes, é que entre as variadis- simas arvores que as compunham, alguma existiria em cuja casca, folha ou fructo, a tzé-tzé depozesse os ovulos. Occorreu-nos a idéa das mupandas, por havremos visto folhas com imtumescencias um pouco á feição d'aquellas de que falla Livingistone nas bauhinias, per- A tzê-tzé 39 tencentes a um insecto do genero Homoptera, mas a final nada encontrámos no sentido que procuravamos, nem nos fructos e casca. “Notámos, porém, que a presença da mosca coincidia quasi sempre com o apparecimento do elephante, e sem querermos afiançar que similhante coexistencia seja uma necessidade, por deporem aquellas suas lar- vas nos dejectos d'este, quando aliás podem viver em commum, visto procurarem as matas mais recon- ditas, aqui deixâmos a indicação para aproveital-a quem quizer. A verdade é que sendo indubitavelmente a tzé-tzé um dos grandes flagellos do sertão africano, e cujos habitos pouco ou nada se conhecem, todo o estudo so- bre ella virá redundar em interesse para aquelles que em viagem desejem proteger os seus gados. CAPITULO XIX OS DIAS DO QUILOMBO --. Je meilleur moyen de prévenir la fievre est une vieactive, un travailintéressant, unenourriture abon- dante et saine, sans excês de table. LIVINGSTONE. Muene NºTenque e duas palavras a seu respeito— Primeiras visitas trocadas — Jantar de europeus, comido à moda indigena— À prole do soba e troca de sangue — Rapida descripção d'esta ceremonia — Duas noivas inopinadas —Os ba-ieque ou ba-iongo —Typo e vestuario. Os languanas. As mulheres, seus costumes —O filho de pau—'"Traços especiaes — Mu- - dança de aspecto das gentes da caravana — Influencia do movimento na saude do viajante — Perigo dos acampamentos prolongados — Medidas hy- gienicas a observar — Fato do explorador — Alimentação e horas proprias — Modo de fazer a cubata, coberturas e fogueira — Recapitulação — À vida sertaneja —Como se póde facilmente suceumbir nos sertões centraes — Raras plantas aproveitaveis — Artigos com que se deve contar e enu- meração de alguns mais uteis. Pittoresco é o districto onde nos achavamos, disse- mos no capitulo anterior. e bem o mostra a vinheta copia de desenho tirado do natural, e sympathico é o homem que o go- verna, acrescen- taremos nós em abono da verda- de e gratidão. N'Tenque ou Mutinguinhe, pois eram estes os seus nomes, foi um dos raros caracteres que ao acaso encon- trámos em Africa, e a quem desde logo votámos sin- cera sympathia. «an De Angola á contra-costa Alto, esbelto e senhoril, de fronte erguida e nariz aquilino, com o seu espaventoso penteado de tranças ce pande', tinha, quando de pé e envolto no amplo pan- no de Zanzibar, o quer que era: de nobre, altivo e at- trahente. O typo trahe sem duvida a sua origem do norte, pois N'Tenque é, segundo presumimos, natural do Unyamuezi, e de lá veiu com Musiri. Dois dias depois da nossa chegada, effectuou-se a | primeira visita de cumprimento em seu tembé, 4 qual correspondeu vinte e quatro horas depois, apparecen- do-nos no campo, envolvido em numerosos pannos, vistoso chapéu de sol a cobril-o, montando em um dos seus mais possantes vassallos, cercado de bombos e timbales, e trazendo na cauda da comitiva uma cohor- te de mulheres, que nos aturdiam os ouvidos com gri- tos estridentes, e cujo interesse adquirido no ruidoso exercicio era tal, que se tornou quasi impossivel fa- gel-as calar, tamanho era o prazer em vibrarem as mais discordes notas! “* Como se estivesse servindo o jantar, houve por bem N”Tenque acceitar um logar à nossa mesa, reservando o espaço no chão a seu lado para um celebre irmão mais velho, que, trajando á paraiso, coberta a cabeça por enorme chapéu alto, se conservou todo o tempo de cócoras e embasbacado para a estranha scena de uma refeição á europêa! | 1 Pande é enfeite composto de parte do envolucro de um conus, li- gado depois a dois como que bandós bordados a missanga, cobrmdo a cabeça. Os dias do Quilombo 45 Em má hora, porém, tivemos a triste lembrança de o fazer nosso commensal, porque, variando em ex- tremo das europêas as pragmaticas e praxes sertane- jas, forçoso foi sujeitar-nos ás mais exquisitas se não sordidas provas, durante o funesto repasto! Ássm, para exemplificar: O mano mais velho era desdentado! Serviu-se a sopa. N'Tenque, tomando uma colhér do seu prato, enfia pela bôca d'este excentrico senhor, que experi- menta um tremor nervoso, à feição do que assaltaria o homem a quem de subito admimistrassem a poção dos Borgias! Apenas o infeliz havia engulido meia colhér, que o regulo a retira pressuroso, para a fazer dar mgresso com o restante caldo na de Capello, o qual, assom- brado, deglute, sem lembrar-se de reagir. Ivens pretende approximar da guela o conteúdo de uma primeira colhér; N'Penque, porém, impede-o, Jança mão della, absorve o fervente caldo, deitando-a de novo no prato d'onde saíra. Então toma de novo a de Capello e prova do prato deste; mopimadamente dois filhos querem tambem provar; á confusão das colhéres succede-se a das phra- ses, o ruido augmenta; é mais a saliva que o caldo nos pratos, um... cumulo emfim! Só ao anoitecer termimou esta scena extraordimaria, onde correram parelhas o receio e a mais requintada sordidez, com o numero crescente dos filhos do soba, que ao pôr do sol se elevavam a quatorze! Muene N'Tenque, que tinha, conforme dizia, grande estima por europeus, quiz sellar o apparecimento dos 46 De Angola á contra-costa primeiros vistos na sua terra com um acto de circum- stancia, decidindo para isso fazer comnosco troca de sangue, decisão a que foi necessario annuir, sob pena de nos tornarmos desagradaveis áquelle senhor. Eis o que em nosso diario se encontra a tal res- peito: « Amanhecêra. Um enviado do soba veiu prevenir- nos que de manhã teria logar a ceremonia da troca de sangue, dirigimdo-nos portanto para a emballa. «N"Penque achava-se sentado n'um degrau do tem- bé, cercando-o apenas meia duzia dos seus intimos. Enorme panella de pombé nos aguardava, d'onde, du- rante uma hora, saíram sem cessar os copos, á mistura com varias narrativas sobre o poder e alcance das armas dos brancos. N"Penque evidenceia o desejo de possuir uma Snider; nós, justamente na occasião de nos unirmos em perpetua amisade, pela mutua troca de sangue, não ousámos recusar-lh'a. Traz-se do cam- po um vúifle e offerece-se ao illustre personagem. «Em seguida manifesta a vontade de adquirmr mais cartuchos, e logo algumas dezenas de cargas vem do quilombo. «Pensa então em ter um boi, penultimo dos miseros que conservavamos, cuja morte dentro em pouco seria mevitavel pela mosca, e o boi é logo conduzido à sua presença. Emfim considera, conforme as apparencias, 1 Existe n'esta zona uma mosca differente da tzé-tzé, que ataca tam- bem o gado. Não conservâmos nenhum exemplar d'ella, mas suppomos ser talvez aquella de que falla Schweinfurth. E pequena e inteiramente si- milhante à mosca vulgar da Europa. Os dias do Quilombo 47 firmar inteiramente a sua amisade por mais algum pe- dido, se não pela completa espoliação dos seus futuros amigos, quando Antonio, sempre em cynegeticos exer- cicios, atirou a um milhafre que pairava sobre a l- bata, e, ferimdo-o mortalmente, conseguiu distrahir a attenção do regulo. | N'ºeste momento dois latagões empennachados abrem de par as portas da residencia particular do chefe, san- ctuario que aos proprios pretos é vedado e onde só amigos da nossa monta podem ter mpgresso, annun- ciando que tudo se acha prompto. O quarto é quadrangular, vasto, escuro, revestidas as paredes com quadros brancos de hyerogliphicos a vermelho, tendo uma tarimba de bambú para cama do chefe, brazeiro a meio, monte de pontas de marfim ao lado, dois mochos, quatro garratões, varias armas, e uma mulher joven, que está acocorada junto do fogo, “remexendo o quer que seja em pequena panella. Nós entrámos. À primeira indicação fornecida foi que a ceremonia só podia prmeipiar quando aquella senhora (a favo- rita de N”Penque, é de crer) recebesse um panno novo, grande e da melhor qualidade. Do acampamento veiu um tecido n'estas condições, e esperando que a diva se lembrasse por seu turno de pretender mais alguma cousa, almejavamos pelo ap- parecimento de outro milhafre providencial, para nos livrar das aduncas garras d'aquelles que tinhamos pre- sentes. Por grande fortuna a ilustre senhora, que era uma mediocridade quanto a dotes physicos e exigencias, 48 De Angola à contra-costa ao ver o panno que lhe offereciamos, com tal pertur- bação o agarrou, que deu de banda na panella, pondo o precioso conteúdo em risco de perder-se! Restabelecido o socego, e limitado o numero dos cavalheiros que tinham de fazer acto de corpo presente, começou-se a extravagante ceremonia! Como processo micial uns despem as calças e outros arregaçam os pannos! | Seguidamente e em trajos menores teve logar a ex- hibição de coxas, o que perante uma dama não dei- xou de nos ruborisar até ás orelhas, e aos outros espe- ctadores impressionar mais do que o faria uma bem torneada e femiml canella a qualquer curioso indiscre- to de boulevard. Acocorando-nos os tres, eis-nos de pernas estendi- das, enlaçadas com as colossaes do soba, tendo à direita Antonio de faca em punho e á esquerda um macota do chefe, de instrumento cortante empolgado, promptos a proceder á operação. A um signal, a dama retira do fogo a pamela, e, avançando para nós, pousa-a no terreno juntamente com quatro folhas verdes e alguns paus. O macota empennachado, que se conservára de pé, deita por sobre ella o panno novo, e assim coberta a «conduz junto dos tres. Penetrando no pequeno intervallo que entre nós medeia, a tal senhora procura sentar-se, mas com tão mau geito o faz no restricto espaço, que caíndo des- amparada sobre o ventre de um dos figurantes da scena, o impelle a expectorar protesto brusco contra o mesperado peso. Os dias do Quilombo 49 Empunha a dita vasilha e as folhas, ageita-se então melhor, meneando-se e balbuciando umas como que phrases soltas, emquanto Antonio se lança á coxa do soba e o macota ás nossas, fazendo golpes por onde escorre logo o sangue. Os operadores largam as facas para pegar nos taes paus, deitam em duas folhas gotas do nosso sangue e nas duas restantes as do soba, esfregando as imci- sões do regulo com aquellas que contéem o liquido das veias dos chefes da expedição, e vice-versa. A mesinha entra depois em acção, e deposta me- diante scenas ridiculas sobre as mencionadas folhas, é applicada pela mão da dama a todas as feridas, re- matando a ceremonia com um prolongado amplexo dos tres. | Estrondosa gritaria dos homens e mulheres, posta- dos da parte de fóra, annuncia aos montes e valles, - sem duvida, pois toda a gente da emballa ali estava, que terminára a festança, substituindo assim com seus guinchos, e originalmente, o muito velho foguetorio europeu. Addicionando varios brmdes, bebemos um copo de pombé à saude do soba, tornando depois disso ao nosso acampamento na qualidade de intimos do chefe e com o direito de fazer impunemente o que bem nos pare- cesse em sua terra. Estavam as cousas n'este pé, e fumavamos muito socegados 4 porta das cubatas, quando excentrica ga- lanteria de Muene N”Tenque nos veiu arrancar a con- templações, lançando-nos n'um dos mais crueis em- baraços. vOoL + 50 De. Angola á contra-costa O bom amigo, contristado pelo nosso isolamento n'este valle de lagrimas, enviava para nos distrahir duas jovens, a saber: para Capello uma de doze annos (pois parece conhecia o atmado chefe o attractivo dos contrastes), para Ivens outra de vinte. Esta ultima, sobretudo, ao dar ingresso no quilombo dos brancos, similhava uma Magdalena a desfazer-se em cruel pranto, e, circumvagando o campo, com os olhos cheios de lagrimas, mais parecia decidida a fu-. eum, do que prompta a entrar a duo nos cuidados de un ménage. Pezarosos por tanto soflver, tratámos de lhes dar alivio, e envolvendo-as em bellos pannos, mandámos reconduzil-as para a libata com ampla liberdade de fazer o que quizessem. Muene N”Venque, quando tal soube, enviou um in- dividuo a mquirir da rasão por que tinhamos despre- gado quem elle tão graciosamente nos destmára para compartilhar comnosco na terra as durezas e felicida- des da vida. Indubitavelmente se comprehenderá que não era fa- cil a resposta; e assim despedimos o enviado, alle- cando um, que nunca pela mente lhe passára a idéa de mudar de estado, pois mesmo na Europa, quando ao acaso sugerida, sempre o aterrára; e o outro, quantas evasivas lhe occorreram. — E depois (acrescentámos no intuito de enternecer o delegado), não via que se desfaziam em pranto, a ponto de causar dó?! — Ah! exclamou o rufião, por chorar de certo não morrem! Os dias do Quilombo 51 Os povoadores da zona onde nos achâmos, e que é hoje conhecida por Garanganja!, denominam-se indis- tinctamente ba-ieque ou ba-iongo. Depois de summaria inspecção, chegámos a con- clum que lhes falta marca especial por onde se distin- gam dos outros povos por nós observados, e o mu- leque typico jamais se encontra, pelo simples motivo de não existir. De tudo quanto notámos, póde deprehender-se uma fusão, proveniente, é de crer, de gente da antiga Ka- tanga, de Iramba, Ulalla, etc., tendo talvez por origem as constantes luctas e guerras em que estes povos an- daram envolvidos, se não as perseguições feitas por esses denominados (anguanas, certamente esclavistas arabes e homens do Zanzibar, de que fallam sempre com profundo horror, e para fugir aos quaes elles têem explorado os ignotos sertões, que se estendem da zona “lacustre do Lualaba para o sul. O mu-ieque é, pelo geral, de estatura media, retin- to, ossudo, de typo não muito aviltado, vivo, intelli- gente, propenso a viajar, e mais bellicoso que disposto à paz. | Aquelle cujo desenho damos ao leitor é um mu- leque, mas suppomol-o originario de Caponda. 1 Garanganja ou Garanganza parece ser o nome de uma tribu do Va- niamuezi d'onde Musiri, o chefe supremo, descende. N"Penque, seu compa- nheiro, é certo ser tambem um m'niamuezi vindo do norte com elle. Vasto estado que se estende de norte a sul desde a lagoa Kicondja, ete., aos dominios do Cassongo Mona, de que adiante fallaremos, compre- hende hoje a Katanga, parte de Urua, o Mussengueri, Caponda, Tacata e o oeste de Ulalla, Iramba, etc. 52 De Angola á contra-costa Nas muitas tribus por nós visitadas o homem veste pelles, e isto porque é caçador, mister que nos matos agrestes não consente o uso de pannos; usa arma de fogo e por vezes zagaia, frechas e machada, invariavel- mente enfeitada e guarnecida com fio de cobre, muito abundante na Katanga, e por elles trabalhado com rara habilidade, trazendo sempre que póde um chifre de boi á cinta como polvorinho. Caçam o elephante por conta exclusiva dos seus. regulos. As mulheres são pouco favorecidas physicamente, anda que algumas podem mesmo considerar-se ga- lantes; enfeitam os cabellos com grossos bagos de mis- sanga, sulcam as fontes com traços verticaes feitos à faca, furam as orelhas, aguçam os dois incisivos me- dios superiores (o que é tambem usado pelos homens), traçam por vezes grandes ornatos pelo corpo e trazem sempre os filhos ás costas, habito tanto do seu gosto, que quando os não têem, collocam em seu logar um toro de madeira, e adornam a parte superior com fios de missanga, para imitarem assim a cabeça de uma creança. As da Garanganja têem vivacidade e mdependen- cia, e, ao contrario do que se vê por outros sertões, ellas, portas a dentro da habitação, e mesmo fóra, do- minam inteiramente os esposos, trazendo-os e levan- do-os para onde lhes apraz. Uma vimos nós, em Bunqueia, que, surprehenden- do em flagrante infidelidade o esposo libertmo, se en- tretinha a admimistrar-lhe de vara na mão o devido correctivo, o qual se prolongou a ponto de termos de Os dias do Quilombo 53 enviar alguem solicitando da heroina limite á exage- rada flagellação. Outra, que passeiava agora tranquilla pelos cam- pos da libata grande, asseveraram-nos ter durante a guerra de Urua azagaiado dois guerreiros, que a ha- viam apprehendido no campo da batalha, e, não que- MULHER MU-IEQUE Tirado de um croquis rendo no regresso carregar com as proprias armas, se resolveram a entregar-lh'as. É preciso ao viajante toda a cautela na sua gente por aquellas terras, e, descobrindo algum D. Juan na caravana, não o perder de vista ou amarral-o até se retirar. Quinze dias depois da chegada tinham as cousas mudado sensivelmente no campo, e à tristeza e abati- 54 De Angola á contra-costa mento profundo de outrora Ro gana a satisfação e a alegria em todos os rostos. Já se não viam vultos esqueleticos de olhar empar- voecido, encostados pelas arvores; e pelo contrario, nedios e robustos, pensavam agora mais em se ador- narem com enfeites e pennachos, do que de correrem à porfia procurando mel pelas selvas. Nós tambem, apesar das numerosas peripecias e du- ras fadigas experimentadas nos capitulos anteriores, gosavamos, mercê de Deus, saude excellente, demons- trando assim quanto um regimen serio é aturado póde evitar fatalidades nas terras centraes do continente ne- OTO. Nem uma febre ou ameaço della, embora não pa- rassemos sequer um dia na laboriosa tarefa de percor- rer e observar! Em Africa nada ha melhor que o movimento, para precaver doenças, porquanto ao exercicio das facul-. dades corresponde sempre a conservação de vigorosa saude, exactamente como na Europa. Aquelles que, guiados por velhas mformações colhi- das no litoral, vêem no clima africano um meio prom- pto a aniquilar as forças physicas e moraes do europeu, parecerá um tanto gratuita a nossa asserção e talvez exagerada a lembrança de que urge trabalhar ali para ter saude. A esses responderemos com o proprio exemplo e com os preceitos hygienicos, pedindo-lhes que sommem as milhas percorridas no nosso trajecto e as dividam pelo numero de dias empregados na travessia, para se con- vencerem do que avançâmos. Os dias do Quilombo 55 Quantas vezes nos não lembravamos da primeira viagem feita a lácca, admirando-nos dos tormentos n'ella passados, e dos dias salutiferos que n'esta expe- rimentámos! (Que contraste! Ah sempre a braços com a doença ou convalescentes, abatidos pela febre, desnorteados de espirito, cheios de canseira e aborrecimento; aqui, lestos, robustos e avidos de curiosidade, promptos a avançar, com uma saude vigorosa, poucas vezes amea- cada pelo escorbuto. Lá tudo era demora, embaraço, socego e a miudo a mdolencia; aqui tudo rapidez e vontade de ver e ca- minhar. Na primeira jornada, apenas chegados ao Bié, assen- tando arraiaes, mertes, deixámos placidamente decor- rer toda a estação chuvosa, porque era mister inver-. nar, diziamos nós. | E logo a febre investiu comnosco, e, assenhorean- do-se dos dois, só nos permittia poucos dias de resfo- lego! Cá, por meio das planuras elevadas centraes, cami- nhámos sempre sob as chuvas torrenciaes do inverno de 1885, não pensando sequer uma vez em parar, para nos livrarmos das cataractas aquosas que sobre nós se despediam. Em Cassanje, supportámos o segundo mverno, de- morando-nos ali tres mezes, sempre sob o imperio da doença; junto a NºTenque, ao curso do Luapula, ete., descansámos quando muito uns quarenta dias, e 1sso mais porque a fome nos obrigava, do que por verda- deira falta de forças para proseguir. - 56 De Angola á contra-costa Mas se do exercicio em grande parte proveiu este resultado, não é menos preciso que uma hygiene rigo- rosa e especial acompanhe as nossas indicações. Intentar uma viagem no grande continente, com os mesmo habitos de vida e de alimentação como se es- tivera na Europa, é um erro, de que seria victima quem tal pretendesse. Numerosas vezes insinuámos estas idéas em nossas conferencias, e visto tocar neste thema aproveitemos o que a tal respeito dissemos em París, deixando assim de rabiscar sobre o assumpto: «E facto que merece aqui especial menção o haver- mos ambos atravessado a Africa, sem soffrer o mais pequeno mcommodo febril. «Foi isso por certo devido ao uso permanente do quinmo:; sem embargo não julgue quem immveste com o sertão africano dever confiar-se exclusivamente à prophylaxia do sulphato; é conveniente preceder ou acompanhar a sua administração com determinadas regras hygienicas. «Não se arreceie tanto do miasma, como das re- pentinas mudanças de temperatura. Uma corrente ino- pinada de ar frio é causa quasi sempre de febre. « Use constantemente de flanellas e meias de lã, co- brindo a cabeça com chapéu em que o ar possa cireu- lar. «Jamais se deite 4 convidativa sombra, ou, desco- brindo a cabeça, respire o ar fresco sem previa transi- ção gradual. «Fuja á imgestão precipitada da agua do limpido re- gato que encontrar em caminho, demorando-se á sua Os dias do Quilombo | Da beira o tempo necessario para restabelecer a circula- ção normal. « Abstenha-se inteiramente do alcool, attente nisto bem, e logo que pisar o grande contmente esqueça tão perniciosa bebida, só empregando na costa, e apenas na costa, um pouco de vinho com agua, pela refeição da tarde. UM MU-IEQUE Segundo photographia «E um verdadeiro supplicio de Tantalo, dirão mui- tos; mas Importa a salvação, responderemos nós. « Use do pombé quando o encontre. «Ão erguer, tome invariavelmente oito grãos de quinino com agua, preparando-se logo depois para a refeição matutina. 58 De Angola á contra-costa « Almoce cedo, ás cinco horas, por exemplo, nunca depois da marcha da manhã, pondo-se a caminho pela fresca, a fim de descansar á hora de mais mtenso ca- lor. «Se tiver fructos, coma-os a esta hora, desconhe porém sempre das fructas do mato, que, por acidas ou por outras cirecumstancias, provocam abalos na eco-- nomia. «E conveniente construir, quando ser possa, uma: cubata á moda do gentio, onde o ar cireule bem, evi- tando assim os golpes provaveis n'uma tenda de lona, onde de resto, pelas horas do dia, o calor é msuppor- tavel, e pelo escuro tenha fogo. «À noite accenda Junto da sua cama de campanha, coberta com pelle de leopardo, para evitar a humida- de, uma fogueira, que será tambem o seu melhor mos- quiteiro, e meio precioso de afugentar os reptis, assás abundantes no sertão africano. «Não se arreceie da temperatura, pois no planalto chegam na estiagem as minimas da manhã a 2º cen- tigrados abaixo de zero. « Durma separado do companheiro, se o tiver, soce-. cando cada um em tenda especial. « Pelas oito horas da noite, termimadas as observa- ções, envolva-se em amplo gabão, e, cobrmdo a cabeça com um barrete de lã, deite-se, certo de que na manhã seguinte se levantará satisfeito e bem disposto, prom- pto para os labores do dia. « Discuta pouco, evite themas que possam irritar, não se preoccupe extremamente com o dia que ha de vir, habituando-se a confiar um pouco á sua boa estrella o Os dias do Quilombo 59 feliz exito dos futuros emprehendimentos. E o que podêmos aconselhar áquelles que em Africa quizerem seguir o nosso trilho. » Repetimos, abstenção completa de alcool e menos afinco na idéa do miasma, muita cautela com os res- friamentos, uso invariavel do quinino e mesmo repe- til-o pela tarde quando sinta cansaço ou comecem os bocejos e o desejo de se espreguiçar; isole-se pela noi- te, tomando previamente uma boa chavena de chá, c abafe-se bem; reparta emfim as horas da refeição, como Já indicâmos; eis as prescripções salutares para pas- sar de modo soffrivel em Africa. A vida deve regular-se cuidadosamente n'aquelle vastissimo paiz, nucleo de perigos, desde a picada de buta, Fchadna arvetans, até ás influencias telluricas e de desconhecido caracter, que affligem o viajante. Nos matos interiores tudo são obstaculos e miserias, onde a incuria e imprudencia podem constantemente “fazer victimas. É notavel como se póde suecumbir à fome no meio das florestas da Africa central, definhando-se ahi o ho- mem, sem o mais pequeno recurso para a alimenta- ção! Ao contrario das matas americanas, onde desde o palo-de-vacca até aos olhos de muitas palmeiras e ou- tras plantas, o imdigena póde escapar da morte pela fome; o negro africano, perdido no primeiro bosque, tem a certeza de caír, se não consegue libertar-se delle. Nada ahi encontrará no mundo vegetal, salvo ra- rissimas excepções, e o reino animal poder-lhe-ha ser- vir de recurso, se tiver a fortuna de caçar. 60 De Angola á contra-costa Quantas vezes, apertados pela fome, nos não oecor- reu esta idéa, e, suppondo-nos talvez illudidos, não mirámos o arvoredo em redor, esperando descobrir algum fructo! Apenas no tempo das chuvas se encontra o Chorcho- rus, especie de raiz comestivel, o ginguengue, fructo avermelhado, de sabor extremamente acido, alguns co- gumelos agigantados, e nos mezes de setembro e ou- tubro a nocha, Parinarium mobola. A folha do bao-bab tambem é de bastante aprovei- tamento. A hyphoene, Ventricosa (?) não dá fructo ingerivel; uma euphorbia, similhando ao longe o Cactus candela- brum, a qual suppomos ser a mesma de que falla Seh- weinfurth, lembrou-nos de a cortar em tiras, e cozi- nhal-a. Os nossos homens declararam, porém, que isso era impossivel. Os rebentos do espinheiro são macceitaveis, apenas a Acacia albida fornece a gom- ma arabica, que nós os companheiros ao longo do Ca- bompo ingerimos em grandes dóses. Nas margens dos rios nada ha tambem. Encontram- se as raizes do lothus, conforme presumimos, e essas raras. De fórma que n'esta lucta para fazer entrar no nosso alimento o regimen vegetal, mui necessario con- tra as gravissimas complicações da economia, démos tratos á Imagimação sem cousa alguma conseguir. E a gente, triste e cabisbaixa, continuava olhando desconfiada para a floresta, na esperança todavia de encontrar comestível; baldado empenho, onde nada se via de utilisavel, excepto o mel. Os dias do Quilombo 61 Assim pois, o viajante, quando se abalança a zonas desertas, não deve contar com recurso alem da caça abatida pela caravana, ou do que os carregadores con- duzirem ás costas, sendo certo que de conservas euro- pêas em latas, raras serão as que soffram dois imver- nos sem se avariarem totalmente. As sopas allemãs mesmo, um dos melhores artigos que o explorador póde levar, devem ser observadas e expostas ao sol a miudo, a fim de se não perderem, como nos aconteceu. Tambem é necessario examinar as latas de chá e café com muita frequencia, pois se oxyda a folha com facilidade. O melhor é supprimir quantos artigos podér, isto é, assucares, fructas, doces, etc., habituar-se aos chás e cafés sem tempero, levar em compensação muito sal, condimentos em frascos fortes, e quantos aperitivos se proporcionarem. Uma mistura de especiarias, muito frequente entre banianes no Zanzibar e toda a costa oriental, composta de açafrão, cravinho, pimenta, etc., é assás util e de grande recurso no interior, onde a carne cozida em agua fórça a miudo o paladar europeu a exigir outra comida que não lhe repugne tanto. O arroz é tambem genero de valor, caso se possa transportar. Tudo o mais, alem do que fica indicado, são artigos de mero luxo e que pouco aproveitam. CAPITULO XX ATRAVEZ DA GARANGANJA Katanga, o famoso paiz do cobre na Africa cen- tral do sul, que até à data europeu algum visitou ainda, fica ao oeste do territorio de Cazembe... etc. ArRrICA — Keith Johnston. A noticia de nossa chegada a Tacata e suas consequencias — Um ho- mem do mato que fallava o portuguez— Partimos, emfim, de tipoia— Um leão que nos obsequeia— As minas de Kalabi, e poucas palavras acerca d'ellas— Os sonhos da possuidora e o desabamento de uma gale- ria— Aptidão das gentes de Katanga no trabalho do cobre — Paulo Mo- -hemeri e Quitari —K explorador ou negociante?-—Caponda, o soba deca- pitado— O elephante mysterioso e a resurreição do regulo — Espanto por nós causado — Os peitos das mulheres e o limite ao numero de filhos — O Bunqueia e o seu curso—Carta de Musiri— A gente da Garanganja — À comitiva chega a quimpata— Duas phrases energicas enviadas ao soba— Nada ha como feitiço de branco — Os africanos e o tempo — Guerra de cinco annos — Printa descreve um combate naval na lagoa Kicondja — À descripção correcta pelos auctores. É tempo, estimavel leitor, de voltar ao as- sumpto, continuando a descrever a nossa pe- regrimação pelos ser- tões de leste. À noticia da nossa | | chegada a acata es- Pa | trtors auemar palhou-se por toda a A Garanganja, e breve soou aos ouvidos de Musimri a estranha nova RE que em sua terra se achavam uns homens brancos, vindos do sul por caminho desconhecido, sabendo nós tam- bem rapidamente que o chefe supremo da terra nos intimava a levantarmos dali, partindo logo para junto delle. O mesmo regulo nos enviou ao campo uma comi- tiva capitaneada por um homem fallando portuguez, a fim de guiar tudo a Bunqueia, onde nos esperava, o VOL. TI. > 66 De Angola á contra-costa qual transmitindo-nos a ordem que trazia, aguardou em socego a resposta dos brancos. Extremamente alto, esguio, de olhar vago e espan- tado; esse homem, que estropiava a lingua de Camões pelos matos, tinha partido ha dois annos do alto Zam- beze com uma pequena factura para negocio, que de- positára nas mãos de Musiri, esperando, segundo dizia, a todo o momento que este lh'a liquidasse. Chamava-se Trinta, nascêra na costa, percorrendo mais tarde os sertões da Manica norte, etc., até que um dia, incitado pela cubiça, se atirára mais longe. Usava como vestuario um singelo panno, possuindo apenas a arma com que caçava. Este personagem, como o leitor verá, tem de figurar mais de uma vez nas peripecias que adiante succederam á expedição portugueza. Postas as cousas n'estes termos e convencidos de que teriamos de ceder à mtimação de Musiri, para não nos arriscarmos a que elle fechasse todos os caminhos, decidiu-se que um dos exploradores (Ivens) partisse com alguns imdividuos e bom presente para o soba, emquanto o outro (Capello) ficava no sul á espera de novidades. Combinámos mesmo que, se fossem benevolas as disposições d'aquelle chefe, com relação à nossa passa- gem pela sua terra para o Kazembe, o do norte avisasse logo o do sul, a fim d'este se dirigir ali; assentando tambem que no caso contrario, e embora houvessemos de banir a idéa de cortar o Luapula n'aquelle paral- lelo, nunca seria conveniente retirarmos sem uma vI- sita completa ao lago Moero.. Atravez da Garanganga 67 A 16 de novembro, pois, e sob as mdicações dos guias dirigidos pelo celebre Trinta, partimos commo- damente recostados na tipoia que Musiri nos mandára, modo de transporte agradavel, apesar de nos achar- mos na estação das chuvas, com os caminhos maus, cobertos de vegetação e cortados em solo, resultante do desaggrego de schistos argillosos, onde os homens escorregavam, perigando a todo o momento as nossas costellas. | Uma camada de densos fetos, que evidenceia a fera- cidade desta terra, cobre todo o solo, tornando difh- cil a marcha pela impossibilidade de ver o caminho. Durante as primeiras jornadas choveu copiosamente, engrossando muito os milhares de regatos que desli- zam para leste na perpendicular à trilhada. Em todo o trajecto vimos proximo das libatas as mu- lheres empregadas no trabalho dos arimos e amanho da terra, emquanto que ao longe, até onde a vista póde “descobrir, extensos prados vestidos de verde 4 simi- lhança dos nossos campos de trigo, que se accentua notavelmente pela maneira de preparar o terreno em longas leiras, como se fóra lavrado. Entre os factos mais dignos de menção no nosso tra- jecto para o norte, figura uma rapida visita ás minas de cobre de Kalabi, onde chegámos carregados de carne, que um obsequiador leão acabava de nos offe- recer! Eis o que succedeu. Como fossemos avançando por meio dos densos bosques que vestem os plamos ao sul da serra Nicaze, a caminho de um logar denominado Capanga, fizeram de subito os nossos homens signal 68 De Angola á contra-costa de que n'uma clareira proxima tinham visto um ban- do de sefos, elands. Suspendendo a marcha, engatilhámos as armas, par- tndo tres ou quatro por sotavento, na pista dos ani- maes. Haviamos andado uns bons dez minutos, rojando- nos aqui, curvando-nos acolá, para evitar rumores e suspeitas por parte dos bichos, quando inopimada- mente um ruido estranho se faz ouvir, estoura o quer que é na nossa frente, sente-se proximo um arranco, debanda a manada, e nós todos, crendo o negocio a perder-se, avançámos a fim de deter os sefos mais atra- zados, quando visão mesperada nos sustem os impetos, fazendo-nos retrogradar inconscientes. Por terra jazia um eland formidavel, soltando em ultimo esforço o derradeiro suspiro, e sobre elle um leão enorme, que á primeira imvestida lhe arrancára metade da face e testada, arrombando-lhe profunda- mente o craneo! Ão ver-nos, a fera suspende, olha á direita e esquer- da, chicoteia os flancos com a cauda; eis que toda a: gente da comitiva chega e com algazarra immensa afugenta o feroz quadrupede, que lá vae selvas a den- tro, dando assim remate a uma das mais curiosas sce- nas que temos visto, e deixando-nos em campo carne fresca para muitos dias. Uma circumstancia digna de nota é a da variedade de porcos montezes encontrados na dita terra, e de que apresentâmos os desenhos no capitulo presente, entre os quaes figura um cujas protuberancias, em nu- mero de quatro, se acham exageradas no desenho. Atravez da Garanganja 69 As minas de Kalabi são abertas no meio de ampla formação de schistos paleozoicos, que constitue por in- teiro esta zona central, bem como julgâmos serem mui- tas outras por toda a terra da Katanga. O terreno é ondulado e coberto aqui e ali de mor- ros € cerros. Pelo geral, onde cessam as faxas da grande vege- tação começa o tapete das gramimeas, que se alonga nos plainos até encontrar um outeiro. Sendo esse mor- ro limpo de arvoredo e apenas vestido de verde relva, no cimo haverá sem duvida fosso aberto, e dentro mina de cobre. A malachite é o mimerio que se encontra com fre- quencia, ligada ao schisto e algumas vezes em blocs de maior ou menor vulto, connexa amda ao quartzo. Promiscuamente descobre-se a limonite, fragmen- tos soltos de fina quartzite, as mais das vezes ferru- “gimosa, silex acinzentados, e tudo de envolta com os schistos, pelo geral cinzentos quando lisanãos; aver- melhados quando argilosos. Um jaspe vermelho escuro ha por aqui, e mais ao norte em Kirema, de que os indigenas fazem largo consumo, talhando pederneiras para as espingardas. Galerias vimos nós na mina de Kalabi propriamente dita, em que as fissuras tinham sido aproveitadas nas partes discordantes da formação para original-as, e retirando pouco a pouco folhas do schisto, acabaram por abrir passagem triangular, Eos onde penetravam os mimeiros. Kalabi achava-se abandonada, na occasião em que a visitámos, por causa, conforme ouvimos, de um desa- ) TO De Angola á contra-costa bamento acontecido dois annos antes, que victimára muita gente. A possuidora deste jazigo é uma mulher com quem depois nos encontrámos, chamada Inafumo, e parece que, segundo determinados sonhos desta senhora, as- sim se opera a exploração em zonas especiaes da mes- ma mina. Foi ella que entreviu em noites de pesadelo o cele- brado filão, jazigo, ou o quer que fosse, causa do al- ludido desastre; e por 1sso, anda dominada pelo des- gosto de haver causado tão grande mal, a opulenta dama não consentia que se bulisse em cousa alguma n'aquelle logar. Esperava pacientemente novo sonho, para então dar começo aos trabalhos. Superíluo será citar aqui o processo indigena da exploração, que é assás primitivo e baseado na fra- gmentação. O metal derrete-se em fornos ou panellas, d'onde deriva por tubos ou calhas feitos de argilla, para moldes, que variam desde a fórma approximada da cruz de Malta, até linguados mais ou menos Jon- gos, redondos ou quadrangulares. A gente da Katanga faz com este metal numerosos artefactos, manipulando-o de modo facilimo. Assim, sujeitando-o à martellagem, reduzem-no a longas e finas barras, que depois por ficiras successi- vas elles adelgaçam até ao ponto de fazerem fios da orossura de qualquer das cordas dos imstrumentos musicaes da Europa, com que guarnecem cabos de machadas, canos de armas, e sobretudo feixes de pello da cauda do bufalo ou gnú, para confeccionar as ce- Atravez da Garanganga ra! lebradas manilhas e braceletes, que têem hoje voga por todo o sertão. Resumidamente, o paiz de Katanga ha de ser no fu- turo importante centro de exploração, attento o valor de suas minas, que devem tornar-se numerosas, como nos afirmaram os indigenas. O cobre d'ali, quer em cruzes, quer em braceletes e manilhas de fio, percorre hoje todo o sertão, desde o Manyuema e Urua, até a Genji e Bié, só esperando regular meio de transporte pelo Nyassa ou Loangua, para seguir em direitura ao mar. Um facto, porém, a mencionar amda, é que jamais caiu sobre nossa vista a menor parcella de oiro, ou objecto qualquer feito d'este metal; e os naturaes, sem- pre que lhes falláâmos d'essa preciosidade, cuja abun- dancia Cameron diz ter ouvido exaltar em Benguella, mostravam desconhecel-a completamente. — Talvez exista e até em larga escala; na verdade, porém, não o podémos testemunhar, ficando de certa maneira convencidos de que a grande zona aurifera está mais ao sul, talvez da Muxinga para lá. Aqui pela primeira vez ouvimos fallar de uma enti- dade europêa, que, tendo tentado em tempo a sua vi-. sita às minas, nos trouxe perplexos o resto da viagem, por não conseguirem Trinta nem os homens da comi- tiva exprimir nome comprehensivel. — Senhor, ainda ha pouco um branco passou ao oriente e quiz visitar este logar com a sua comitiva, observou um dos carregadores. — Quem era elle e como se chamava? inquiriamos nós. 792 De Angola á contra-costa Paulo Mohemeri, disse Trinta; Paulo Mascanhi, res- pondeu outro; Quitari, acrescentou ainda um tercei- ro!, e d'esta confusão nada se concluiu aproveitavel. Era fóra de duvida que um europeu tinha passado pouco antes pelo Lufira, mas quem fosse e qual a sua nacionalidade, eis o ponto dificil de resolver. Seria explorador ou negociante? No dizer dos ne- gros elle tambem escrevia, tal como nós, sendo mui- to provavel que estivesse longe de vir exclusivamente . para traficar. Mas quem era? Eis o mysterio, o problema que não tinha solução. Depois de umas visitas trocadas com Inafumo, e de noite passada entre lobos e pantheras, que abun- dam nos vastos cannaviaes d'aqui e vagueiam pela noite em volta das habitações, levando o arrojo a co- lherem dentro de casa quem por esquecimento deixa a porta aberta, preparámo-nos para partir. Comnosco seguia tambem uma comitiva de gente de Caponda, terra outr'ora fertil e rica, e que successivas guerras ha pouco acabavam de arrazar. Na fórma do costume conversou-se largamente, e a respeito d'ellas fizeram-se curiosas revelações, de que apresentâmos um specimen. Muene Caponda, havendo caído prisioneiro dos ba- ussi, fôra por estes condemnado á morte. O imfeliz re- 1 Mais tarde, podémos saber em nosso regresso à Europa de quem se tratava, que Quitari ou Tchitari era provavelmente Reichard, o compa- nheiro de Bohm, e Paulo Mohemeri ou Mohammed seria algum dos seus companheiros, se não creatura que houvesse fugido de leste a Victor Gi- raud, pois às vezes confundem mulatos com europeus. Atravez da Garanganga 13 gulo pediu que não o assassimassem no campo, mas sim na propria habitação, fornecendo elle o machado para o executarem, e indicando mesmo a parte onde devia levar o golpe. —* Aeceitas taes condições, conduziram-no para casa, e, chegado ahi, deceparam-lhe a cabeça. Quando lhe abriram o ventre, a população presen- ciou espantada o mais estupendo phenomeno: um ele- phante pequeno, desembaraçando-se do meio em que POTAMOCHGRUS PORCUS (Linn.) estava, saltou lesto para o chão, e, começando a soltar gritos estranhos, fugiu pelos matos! Allusão original esta, que nos parece referente á vaidade do regulo, cujas pretensões de grandeza o le- vavam ao extremo de julgar ter um elephante na bar- riga. Não param, porém, aqui os casos estranhos narra- dos pela gente de Caponda, e tão exagerado é o ter- ror que o defunto regulo inspira, que afiançavam todos ter ha pouco tempo uma comitiva, vinda do occidente, 14 De Angola á contra-costa visto o dito soba com a cabeça no seu logar, seguir sa- tisfeito a caminho do poente. As libatas multiplicavam-se á medida que íamos para o norte na linha divisoria da bacia Lufira-Liculoé. Estas compõem-se de cubatas redondas, cujos tectos saídos estão assentes em pilares, tendo em volta uma especie de varanda circular, onde agradavelmente se passam as horas do sol. Populações em massa corriam ao nosso encontro, com o mesmo afan e interesse que nas ruas de qual- quer capital europêa o povo se apertaria para ver um elephante branco; soltando as mulheres as mais dis- sonantes interjeições! Em muitas offereceu-se-nos ensejo de notar uma peculiaridade physica, que não conheciamos, isto é, tendo ellas pela maior parte os peitos muito desen- volvidos, fechavam estes perfeitamente em esphera, sem os bicos onde a creança suga, o que nos leva a crer na impossibilidade de crearem os proprios filhos. Um outro curioso facto aqui merece especial men- ção —o limite forçado ao numero dos filhos. Raras são as mulheres da Garanganja que têem mais de dois d'estes, e quando porventura a natureza como que pretende alterar esta praxe entre ellas estabele- cida, recorrem immediatamente ao infallivel quinban- da, que, mediante umas hervas especiaes, consegue o desejado fim. Não podêmos garantir similhante caso, por nos pa- recer muito fóra do vulgar, mas a verdade é serem poucas as mulheres n'aquella terra que possuem nu- merosa prole. Atravez da Garanganga 75 Lembrou-nos, ao tempo, se teria similhante pheno- meno sua causa natural n'uma especie de esterilidade precoce, e se a mulher, por ser mãe muito cedo, per- desse essa aptidão n'um praso de tempo tambem re- lativamente curto. Ao diante transpozemos o curso do rio Bunqueia, que abastece de agua a quimpata do velho regulo, e corre tortuoso n'um ravinado leito de schistos argil- losos, coberto de frondosissima vegetação, ladeado de largas plantações. À sua agua fresca e transparente era um lenitivo para o calor que nos suffocava, emquanto sentados a miudo 4 sombra dos mumoés gigantescos contempla- vamos o curso do TIO. Caprichosas e revolteadas curvas obrigam a trans- pol-o tres e quatro vezes, no curto espaço de 4 milhas. Por todos os lados se elevam morros cobertos de “denso arvoredo, entre os quaes a comitiva prosegue, ora descendo por uma ravina, ora guindando-se a en- costa alta. Rareiam as acacias, que na zona elevada abunda- vam, dando logar aos mutontos, n'dumbiros e outras arvores. Eis o que o diario diz: «Dia 21 de novembro. «Em Mucolla suspendemos a marcha, a fim de es- perar a resposta de Musiri á gente que ali mandámos, enviando-lhe a noticia da nossa chegada, resposta que só voltou pelas quatro horas. « Remetteu-nos uma ponta de marfim, como teste- munho de amisade, significação de que estavam para 16 De Angola á contra-costa nós abertos os caminhos, e a seguinte carta em gros- seiro papel, que damos na integra: «Sr. Branco Manor — Pelo portador deste Recebi «a sua carta com 16 jardas de algodão ! fico-lhe muito «obrigado porém venha cá de preça para lhe mostrar «os caminhos que quer da sua terra por isso amigo «quera conhecer este portador de nome senhor Antonio «emquanto aquelle Home que lá está mentindo e men- «tira de de que elle estava atraz d'este omme. JRemeto cuma ponta de marfim para V. M.“º «Am.º Dernd.” Se==Muxiré Maria Segunda.» «Eiste Home ou omme de que reza a carta era o cele- brado Trinta, que Musiri mandou ao sul entre os seus enviados por fallar portuguez, para acompanhar-nos. «Inferia-se da dita epistola que já com o soba o haviam intrigado, a fim de favorecer um outro, Anto- não, velho preto de Cassanje, residente n'aquelles sitios ha muitos annos, e isto mostra tambem que os portu- guezes andam por ali como por sua casa. Pelo facto do infeliz Trinta fallar a nossa lingua, quando alguma cousa se ordenasse ou fizesse que lhes fosse desagra- davel, prestes saltavam n'elle, acormando-o de culpado e traidor. «A julgar pelo procedimento da gente do Musiri que nos acompanha, devem os ba-ieque ser velhacos 1 É de uso mandar algodão, e não outra fazenda, por ser o branco signal de paz; como tambem os regulos que possuem gados, quando en- viam um boi de presente, é pelo geral mocho, e se acaso o mandam com um chifre para baixo, significa isso, que o recemchegado voltará por onde veiu. Atravez da Garangana mt e salteadores. Pelas aldeias fizeram verdadeiras raz- gias a tudo que encontravam, sem os habitadores sol- tarem sequer um queixume. Pertencem á quimpata do grande homem, e tanto basta para não escapar uma unica panella de mel, nem as bolas de tabaco e todas as tiras de carne. | «Por varias vezes quizemos impedir similhante mo- do de proceder, mas logo nos avisaram que seria bal- eli Dig URINLZ / RETO NGehALLE PHACOCHCGERUS (CETHIOPICUS MAHT dado empenho, se porventura se não suscitasse mes- mo qualquer pendencia grave entre elles e a nossa gente. E de uso, e o uso faz lei. «Afigura-se-nos fóra de toda a duvida que o paiz da Garanganja se deve considerar como o valhacouto de quantos criminosos abandonam as terras cireumvi- zinhas, attendendo que o proprio soba é um estranho aqui, oriundo, como se sabe, do Unyamuezi. “8 De Angola á contra-costa «Dia 22 de novembro. «Achando-se aberto o caminho para a quimpata, logo ao amanhecer abalâmos. Continúa o terreno a bai- xar gradualmente, proseguindo o trilho marginado por morros, nos sopés dos quaes se encontram extensos ari- mos em amanho. Estamos na epocha das lavras, ven- do-se por toda a parte em grandes grupos as mulheres, algumas de filhinhos ás costas, trabalhando sob a di- recção de homens, que à sombra de uma arvore chu- pam com todo o socego no colossal narguilé. | «Quão infeliz é a mulher por estas terras, e pequena. a estima que o rei da creação aqui tem pela sua dedi- cada companheira! «E extremamente pittoresco o paiz que hoje atraves- sámos; por todos os lados exuberante vegetação cobre a terra com a sua verde folhagem. Pelas onze horas, depois de havermos subido um alto morro, chegámos ao plateau superior, d'onde á vista se nos desenrolou o extenso valle de Bunqueia-Lufira, apertado entre a serra Conde-lundo, que se alonga por leste no extre- mo horisonte a caminho do norte, e os cerros que ao oeste nos demoram. « Aos nossos pés viam-se as numerosas cupulas das habitações dos vassallos de Musiri, cercadas pelos ma- cissos escuros de uma euphorbia, que provavelmente é a caconeira. «Um sol de chumbo nos dardejava no alto do cerro escalvado, logar disposto, segundo parece, para a pri- meira entrada das comitivas vindas do oeste, e que o soba menos delicadamente nos destinava tambem, no dizer dos enviados; entretanto nós, que não tinhamos 4 Atravez da Garanganga 79 a menor pretensão a funantes, e pelo contrario famos revestidos de um caracter de auctoridade que elle já reconhecêra, assim como dos portuguezes exclusiva- mente depende, pois só se fornece de Benguella e Zum- bo, cujos mercados, se se lhe fechassem, o poriam na mais complicada situação, resolvemos logo á chegada enviar-lhe duas phrases energicas, para o levarmos à comprehensão do valor da nossa personalidade. «Es como nos parecesse amda pouco isto, juntando á phrase o gesto, investimos direitos com a quimpata, acampando junto della. «Não se fez esperar a resposta do regulo, que des- culpando-se do modo por que procedêra, nos enviava a declaração de que o major estava em sua terra, po- dendo estabelecer-se onde lhe aprouvesse, e para cer- tificar os seus bons desejos de ser agradavel, remet- teu-nos, acto contínuo, farinha, arroz, feijão, milho, fructas, chibatos, pombé, etc., em tal quantidade, que atulhou completamente o quilombo. «Os nossos estavam encantados, e ao ver que, a uma reprehensão do branco, o poderoso regulo da Africa central respondia com esta graça, não poderam deixar de exclamar: «Tem feitiço este homem, e nada ha como feitiço de branco!» Restava agora armar-nos de paciencia e esperar, porque é praxe e marca de grandeza nas córtes de Africa interior fazer a primeira visita só tres dias de- pois da chegada. Nada afflige ou apressa estes poderosos senhores, os quaes, habituados a um sedentarismo exagerado, 80 De Angola á contra-costa que nem mesmo quebram no intuito de viajar, deixam decorrer indifferentes os dias, sem terem a menor no- ção do seu valor e aproveitamento. O tempo parece nada valer para o africano, não representando para elle factor importante que conve- nha utilisar em interesse lucrativo, e é sómente olhado como um espaço entre o berço e a tumba, que metho- dicamente se divide em monotona e indolente pas- maceira de sol a sol, e se deve despender com a maior pachorra possivel. A phrase, hoje tão conhecida e espalhada, de que o tempo é dinheiro, causaria ao africano, caso subisse á sua obtusa comprehensão, o mais extraordinario dos assombros. E tão verdadeiro é o nosso asserto, que ali mesmo, em Bunqueia, tivemos d'isso evidente prova. Musiri acabava de voltar de uma guerra dirigida em Urua contra as populações do Kassongo, segundo jul- gâmos, e como nada o apressasse, revestiu-se da sum- ma paciencia de se demorar ali cinco annos completos! Um lustro todo durára essa lucta, lapso de tempo só comparavel ao do cerco de Troia, durante o qual o excelso principe teve a coragem de observar a fei- tura de cinco plantações, vendo portanto o desenvol- vimento de cinco novidades inteiras tambem! Trinta, o nosso heroe, acompanhára-o no anno ul- timo, presenciando muitas d'essas scenas, que contou durante os tres dias de espera, em fórma de exten- sas historias, de que vamos offerecer uma ao leitor, depois de corrigida e mais accommodada ao paladar europeu. se” Ge Ec TZ N * Atravez da Garanganga 81 É a descripção de um combate naval na lagoa Ki- condja, que colhemos por alto dos labios do narrador, e agora aperfeiçoâmos. À aurora revelára-se apenas no primeiro crepusculo. Os densos vapores matutinos começavam a dissipar- se em largos farrapos. as extensas e alvacentas man - chas do cacimbo esvaiam-se no horisonte, deixando ver um purpurino fundo. POTAMOCHCGRUS AFRICANUS (Schreb.) Milhares de gorgeios enchiam em confusa melodia os ares, tudo presagiava emfim um radiante dia dos tropicos no risonho aspecto da natureza. As aguas do lago preparavam-se em suave tranquil- lidade a espelhar o astro rei, emmoldurando o vasto lençol por uma paizagem primitiva e immaculada, que encantava. No meio porém deste silencio, disse o narrador, es- tava imminente uma procella, e se de um lado as gentes de Urua se dispunham á lucta, que ía decidir da posse das suas terras, gados e mulheres, da outra os ba-ie- VOL. II. 6 82 | De Angola á contra-costa que, mstigados pelo genio ambicioso de Musiri, e pelo feiticeiro de Licuco, seu irmão, aprestavam-se auda- zes à conquista das terras do oeste. Mal suspeitavamos acrescentou elle, quanto teria- “mos de soffrer, não suppondo muitos que aquele as- tro radiante seria o ultimo visto, e os crocodilos do lago sem demora iam saboriar tão lauto banquete de cadaveres. Acabára justamente o sol de mostrar o seu diadema de oiro, quando nós, partidarios de Musiri, em grande azafama lançavamos promptas e a nado, junto da mar- cem, grande numero de canoas que nos ultimos tem- pos tinhamos pilhado ou construido nas matas do sul. Tudo se movia e se empregava com afan no serviço do regulo, que sabiamos ter o bom feitiço da guerra e os melhores quinhandas, que muita arma curaram. Em frente, no lado opposto da lagoa, distinguia-se um marulhar confuso de gente nos campos marginaes e em volta dos quilombos. Eu, que me adiantei pela margem do norte, vi gru- pos em vastos circulos com movimentos variadissimos. Plumas, pelles, zagaias, armas, tambores, agitavam- se por toda a parte em estranha confusão. Occulto pelas grammineas, consegui approximar-me e percebi que no meio dos agrupamentos alguns mais atrevidos, em exagerado gesticular, fallavam ás turbas. Como chefes, exhortavam-nos ácerca da jornada que ía mtentar-se, alentando-os para a lucta. Por vezes saía um mais sarapintado, que, subindo ás - arvores proximas, orava à multidão, reforçando o som com as mãos. Atravez da Garanganga 83 Quando concluiu, muitos, erguendo os braços, pa- reciam formular protestos contra as declarações feitas. Eram presagios da guerra que se preparava, da lucta prestes a romper. Dois homens saíram então das pr ofundezas da cu- bata, cercados de meia duzia de athletas, para os quaes todos immediatamente se voltaram. Avançando com passo firme por meio de tanta gen- te, um d'elles pela vestimenta mostrava ser chefe. À cabeça elevada e altiva, assim como a figura direi- ta, davam-lhe um ar resoluto. Completamente envolvido em amplo panno branco mundado pela luz do sol nascente, a sua fronte tis- nada destacava-se magnificamente da alva moldura. Ao chegar a meio, suspendendo a marcha, soltou com voz firme e vibrante uma phrase que eu não pude comprehender e que a multidão repetiu em côro, en- thusiasmada. Sentando-se em seguida num escabello de propo- sito conduzido, emquanto o povo se accommodava ali a seu lado, tomou das mãos dos subalternos duas caba- cas de maluvo que lhe traziam, começando uma serie de libações. º Termmadas estas, erguendo o braço com ar senho- ril, exclamou, como eu pude ouvir: « Companheiros! E hoje o sol dos trabalhos. «De longe Musiri veiu no intuito de conquistar as terras dos ma-luas, guiado pelo sonho que adivinhou aqui riqueza. | «Esta terra tem tudo: marfim, cera, borracha, gente, abunda com profusão em todas as senzallas. 84 De Angola à contra-costa «A ellas pois, foi a voz; e atravez do grande lago vem até ao coração da quimpata para fazer n'ella os seus acampamentos, ficando ahi o tempo necessario para deixar nuas as outras, como a palma da mão. « Não somos nós mais do que as arvores que ha no paiz ? « Não somos nós mais do que as formigas da terra? «(Quem poderá resistir-nos? » A multidão escutava absorta. Téque acrescentou então: «Sou eu grande ou não? » « Th-o-ah», foi a resposta. Téque repetiu amda: «O amigo de meus filhos ou não? «Ih-o-ah», diziam todos. « Vêde-me!» Levantando-se, toma uma attitude heroica, de za- gaia apontada para o firmamento, e brada: «Avante! Lancemo-nos a elles, porque amarrados virão para Urua; e gados, mulheres, riquezas, tudo nos pertencerá. » E, dando o exemplo, elle e o companheiro avança- ram na direcção das embarcações. Então eu fugi. Havia dez minutos que começára o embarque; mui- tas canoas já tripuladas cortavam as vagas em di- recção ao centro do lago; os dois chefes saltaram para uma maior, ordenando silencio, e ouviu-se proximo rufar de caixa de guerra. Foi o signal de rebate, e dezenas de tambores se- guidamente, encetando o monotono rufo, atroaram os ames: | Atravez da Garanganja 85 Os dois chefes, entreolhando-se, não comprehendiam a causa de tão imprevisto ruido: quando as canoas da vanguarda cessaram de vogar. «Ehhu-hu-é! Hihu-u-u-u!» foi o grito que estrugiu, proferido por milhares de vozes dos nossos, rolando ao longe como um trovão, surdindo subitamente, de dentro dos capins, em todas as direcções do lago, um sem numero de barcos que, operado o reconhecimento, volviam a esconder-se. Á vista disto, o primeiro chefe, comprehendendo a nova situação, ergue-se furioso de zagaia em punho, dando nervoso o grito de guerra e fazendo signal de avançar. | Eu chegára a correr ao campo, volvendo logo. O som dos tambores continuava com msolito estre- pito, de mistura com uns roncos tirados das trompas de marfim, e o canto unisono de vozes humanas, fa- zendo ruido sem igual. - Chegado ao lago, eis o que eu vi: De todos os lados surgiam embarcações, apimhadas de gente, que, agitando-se, tinham aspecto (quando vistas a distancia) de enormes myriapodes de pés ao ar. Vogavam com rapidez. Na vanguarda destacavam-se duas de maiores di- mensões. Numerosos enfeites de marfim lhes ornavam as bor- das; da proa, em elevado madeiro, pendia um enorme pennacho feito de folhas de borassus. À vante, sob uma platafórma, doze jovens guerrei- ros, com as cabeças enfeitadas de plumas vermelhas, pareciam dispostos a receber o baptismo de fogo. “86 IR "| De A contra-costa Vinte homens, de pé, em Toe parallelas, de zagaias em punho, moviam robustos os pesados madeiros. O seu aspecto cannibalesco; exagerado por enormes plumas na cabeça, tinha um não sei que capaz de ater- rar o mais audacioso. Á popa, uma ampla bancada é o logar reservado: para um chefe, que os exhorta com gestos e palavras. Rapidas, deslisando, todas as outras embarcações, não menos exoticamente decoradas, caminham a par das primeiras. | Breve só se distingue uma linha escura, longa, re- volta, na estagnada superficie das aguas, donde sãe tenebroso o grito de guerra: «Hihu-u-u-u!» em côro mais de leões do que de homens. De ambos os lados, comprehendida a necessidade do immediato combate, a isto se preparam, cerrando a columna das canoas e approximando-se da linha quanto possivel. O chefe prmcipal acha-se no centro, animando e arrastando parte da gente, que de zagaias sobre a borda, pagaiam esforçados. Na extrema direita o sobrinho de Musiri, numa vasta barca, anima quissongos e secúlos, bradando-lhes e mfluindo-os. E um quadro digno de se ver. Á similhança de uma grande regata, as embarca- ções correm á porfia, e a grande canoa, impellida pe- los possantes braços, parte como uma setta, seguida. das companheiras. Sob as esguias proas resalta a agua, espumada pe- las pagaias, que a revolvem: confusa, em redemoinhos. Atravez da Garanganga j 31 As duas fileiras gigantes approximam-se, o silencio succede. | A 20 braças de distancia suspende-se tudo! Deslisando ainda em virtude da velocidade adaui- rida, as duas grandes linhas estreitam o espaço que entre ellas medeia, o qual breve vae desapparecer por completo, entrechocando-se os longos madeiros. Nos rostos de todos pinta-se um como que receio e mistura de espanto. | Quasi á uma, e inconscientes, mettem na agua as pagaias para suspender a carreira. Ninguem ousa romper o mutismo; a minha canoa, transpondo a nossa linha, adianta-se ás outras, desta- cando-se só. Um calefrio, senhor, me percorria a espinha, ao ver as armas de fogo e zagaias dos meus adversarios; por- quanto sabia que, caído em suas mãos, não tinha a esperar misericordia, e a minha cabeça de certo paga- ria tão tola audacia. De repente, da Inha mimiga estrugiu um urro enor- me, deitando-se rapidos todos os guerreiros sobre a borda. Passado o primeiro momento de inexplicavel terror, erguem-se os tripulantes, e, fazendo meia volta, recuam ligeiros para longe dos adversarios, e acobertam-se com os escudos. As gentes de Musiri, ao ver os contrarios mudos, perfilados por detraz dos abrigos, de lanças em riste, Imitam-nos, suspendendo a voga. À isto succede uma scena impropria de tão solemne conjunctura. 88 De Angola á contra-costa Um turbilhão de injurias resoa no espaços Gestos, ameaças, que pouco a pouco se transformam n'um vacarme impossivel de descrever, multiplicam-se sem cessar. Era curioso ver esses milhares de homens, esbafo- ridos, endiabrados, acocorando-se, erguendo-se, msul- tando-se, sem lhes passar pela mente a idéa de aggres- são. Decididos a intimidarem por essa fórma, cada qual. se esforça por espavorir os contrarios, á força de pul- mão e caretas. Os proprios chefes, no centro de similhante Babel, levantam-se, berram, não conseguindo fazer-se ouvir. De subito uma canoa, cuja guarnição parece presa do delirio, surdindo de uma das margens, arroja-se audaciosa para o meio da linha, e investindo com a do chefe, envia-lhe uma nuvem de zagaias, que der- ribam tres marinheiros de vante. Á vista de tal audacia exalta-se o animo dos com- batentes, e sem que deliberação alguma fosse tomada pelos chefes, aquelles lançam-se na frente, impellidos por um movimento unanime de colera e raiva, bradan- do «Hhhu-u-u-u!» Os gritos propagam-se com a rapidez do raio, con- fundem-se, transformando-se em imprecações, que os primeiros entrechocados soltam. A lucta começa. No impeto feroz, as lanças e zagaias, topando com os escudos adversos, vergam, estalam, e, rompendo as resequidas revestimentas d'aquelles, attmngem aguça- das os corpos de quantos a elles se abrigam. Atravez da Garanganga 89 Ás mjurias seguem-se gritos de dor e de angustia. Em toda a linha se trava o combate! Ardendo em odio, entrelaçam-se furiosos os comba- tentes de uma e outra banda, derribam-se, tremem de raiva, cruzam as lanças, semeam a morte, loucos e des- vairados. Por sua parte os ba-ieque, munidos de mosquetes, enviam contínuas descargas de fusilaria, envolvendo no fumo a endemoninhada horda. Luctando corpo a corpo, uns feridos pelas zagaias, outros varados, golfando-lhes o sangue aos borbotões, tombam de chapa na agua, e mergulham n'ella mori- “bundos. Alguns, no ultimo arranco, volvendo afflictos á en- sanguentada superficie das aguas, agarram-se ás ca- noas num supremo esforço, que mclinadas ameaçam revirar. "* Breve uma se extravia, acompanhada de grito de horror, depois outra. Era aquella onde eu estava, e que, afundando-se, nos punha á mercê dos contrarios. A peleja prmcipia a transformar-se em desordem, que uma embarcação mimiga completa com repenti- na manobra. Dirigindo-se para a margem rapidamente, um dos chefes Mu-Lua ordenára aos seus a apanha de ca- pim secco, e, confeccionando uma imfinidade de archo- tes, voltou pressuroso ao logar do combate. Tudo foge. | Accesos todos a um tempo, lançou-se a canoa com grande impulso no centro da confusão. BU De Angola á contra-costa ) Especie de colossal poncheira, a veloz barca, en- volvida em labaredas, segue semeando o terror por toda a parte. | Oppondo as lanças e zagaias á approximação do brazeiro, intentam ainda os nossos impedir o mcendio, afastando-o com furia. Falha-lhe porém o desejo, e o fogo, lavrando com violencia, a tudo se communica. Pennas, cabellos, saiotes, envolvem-se n'um instante pasto das chammas, a que a polvora incendiada, os tiros disparados, acrescentam o perigo. Então começa a derrota para os aggressores. Ácom- mettidos por todos os lados recuam, e dirigindo-se para as praias, lançam-se muitos á agua por se verem na impossibilidade de as attimgir. À hora da nossa ruina soára. N'essa fuga a nado, metade d'elles ficam no lago, victimas das flechas, que fazem uma carnificma hor- rivel, e eu, ora mergulhando ora surdindo, com uma zagaiada n'um braço, d'onde borbotava o sangue, lá consegui attingir a terra, e, rolando-me por meio das gramimeas, pois se marchasse de pé poderiam ver-me, fui acoutar-me n'uma floresta, onde passei a noite. Assim acabou a guerra de Urua, que Trinta descre- veu, e nós deixámos á nossa penna ampliar e corrigir no interesse de ser agradavel ao leitor. CAPITULO XXI EM BUNQUEIA Como estavam as cousas à nossa chegada a Bunqueia—Os zanziba- ritas ali — Depredações por elles commettidas — Consequencias para as caravanas europêas que se succedem —O terminus do praso da etiqueta e a modificação em nossas idéas — Uma execução e aspecto geral da quimpata — Accumulações de craneos e respectiva historia tetrica — Che- gada à residencia — À sala em que se achava o chefe — Duas palavras acerea d'este personagem e a toilette — Musiri, o parricida, usurpa o throno da Katanga— Organisação politica da Garanganja —O regulo é absoluto senhor em sua terra — Contraste que apresenta na vida particu- lar— Maria da Fonseca, a Missota — Audacioso proceder desta senhora para comnosco—Seu trajo e uma chuva de presentes — Musiri entra no nosso campo, pede um documento sobre a morte de Bohm e explica a hy- drographia central — Ainda uma tentativa de Maria— Retrato photogra- phico do soba— Annuncio de nossa retirada e difficuldades em trazer o Trinta— Factos louvaveis— Breve noticia concernente a algumas cere- monias. + ' - Mo dns Re Ra . So ARO o q Pp 22 qua ê s o E ARS dá A AR? de p o ES Rs ada + 1) E. Rato Cm + 1 a ' o br Ta « : R PRE co pr “ ' : A a Í = PTE A) a á É y po, A UM a S] x à Miles A ; Ta, Arg ” ” 4 e! o e ' SIDA re E s : 14 - n” id nd 1 k » ho ” 7 O ah “ , A D) "e . » : LA E Ea b x ” f e. : Fm E niyte i Rr - - N br O da 1 A 7) E ' ” y , AA f 5 og . U a -% A Ed TA] El . ad ' v , ve " 4 b' s a ' ' E od , + TARA E AA po 1 Ê, ) om É " y 7 ' " ' “ q Sd 4 , hj A ko ' ê Né ; n “a a A Dao + “ SE ME, + A É a Ea E ES ad : É 4 - LIES v 1 ' , f | jd Ear , o k do E RO . k t / , , E - f r 4 - ' y 4 + o a ds E «“ Bl “A ho ” . ” ” g h (URO 4 PRA VAI , ] ; á & E É y PE RM Ev NA! UND EN AR a : SEO MUSIRI, O CHEFE DA GARANGANJA Segundo photographia A situação das cousas á nossa chegada a Bunqueia não era das melhores. Vagos rumores corriam ahi de recentes complica- ções entre o chefe do paiz e uns mdividuos brancos que lá estiveram; dizia-se que elle ordenára a sua pri- são; parecia, emfim, haver-se nublado o horisonte das boas relações com europeus, achando-se o senhor su- premo da terra muito mal disposto a seu respeito. Eis quanto se affirmava, e consta do nosso diario. | 94 De Angola á contra-costa Dois ou tres mezes approximadamente antes de che-. garmos à mussumba ou quimpata, appareceu al uma caravana de zanzibaritas e arabes do Saadani, capita- neada, no dizer dos mdigenas, por dois europeus, a cuja reunião aquelles denominavam languanas ! Musiri achava-se então em Urua, junto ao lago Ki- condja, terminando a celebrada guerra feita a Karum- ba, de que tratámos no capitulo anterior. Sabendo do seu apparecimento, mandou chamal-os, partindo elles effectivamente para o lago, e depois não sabemos se para o Lualaba; recebidos muito bem pelo regulo, com este trocaram o sangue. Parece que se dedicavam á exploração do alludido lago, e foi ahi, segundo tambem julgâmos, que o mais velho succumbiu n'um logar chamado Katapena. O seu companheiro, regressando a Bunqueia, acam- pou e preparou-se para construir uma canoa, com a qual, nos disseram, pretendia explorar o Lufira, Os zanzibaritas são indiscutivelmente pouco pol- ciados, propensos a querelas e a roubos, e o seu chefe não tinha sobre elles imteira preponderancia. À verdade é que as rixas se multiplicaram dia a dia; houve mortes, compras e raptos, e alfim complicou-se tudo com séria questão de amores entre a mulher de um parente de Musiri e um dos homens da caravana, que teve por epilogo morrer a desditosa creatura às 1 Parece que a designação languana comprehende todos os europeus e arabes vindos do lado de Zanzibar. Cremos ver n'ella uma corrupção do termo ba-lungo, designativo dos poyoadores da parte meridional do Tan- ganyka, d'onde os portuguezes fizeram lungos, lunga-nas ou lunguanas. Em Bunqueia d5 mãos do marido, atravessado o coração com a zagaia, quando numa manhã ella voltava do acampamento europeu. . Não findaram aqui os devaneios, pois, havendo ra- ptado umas mulheres da Garanganja, dirigiu-se a co- mitiva para o oriente, e, transposto o Lufira, começou de armas na mão a fazer razzia por quantas povoa- ções encontrava em caminho, a ponto de ter o chefe de mandar um troço de duzentos homens, commandados por seu irmão, a fim de os sacudir de seus dominios, trazendo-lhe, se tanto podesse ser, a cabeça do branco chefe ou maioral! Ássim corriam os negocios n'aquella terra á nossa chegada, e seja-nos licito aqui acrescentar, que é bem triste ter de nos referir a tão irregulares actos, quan- do a caravana, que os praticou, era dirigida por um “europeu! Muitos são os viajantes que, transitando no grande contmente, deixam após si caminhos abertos por onde outros podem seguros trilhar; alguns ha, porém, que, zombando de tudo e de todos, investem com preceitos e velhas praxes, offendem interesses, quebram contra- tos, e, injuriando o mdigena, lá vão entre os copos de pombé e alguma Julieta negra, sem se lembrarem de que, poucos dias atraz, um triste trabalhador da scien- cia os segue no intento de estudar e abrir o sertão até ali desconhecido, vindo a encontrar, em vez de cor- dial recepção, ageressões que podem compromettel-o e desgraçal-o. Chegára alfm o terminus do praso que a etiqueta sertaneja marca para encetar relações, enviando-nos 96 De Angola á contra-costa por isso Musiri a noticia de que ao amanhecer do quarto dia nos esperava na sua residencia. As idéas com que tinhamos vindo de Tacata ha- viam-se já então modificado profundamente, chegando nós a perder toda a esperança de cortar por Bunqueia . para o Kazembe. — Não deixará, senhor, passar a caravana, porque desde a abalada de Quitari que se fecharam os cami- nhos para os languanas, dizia o Trinta. — É mesmo, acrescentava, se tal se lhe propuzesse, viria a desconfiar que os brancos seus amigos do Moi N'Puto queriam metter-se com essa gente do Tanga- nika, que tem casas em Karema, e que só quer tirar as terras a quem as possue, e nunca fazer negocio, comportando-se como bons amigos. — E, ainda, Musiri está mal com Kazembe, a gente d'elle não vae para essa banda, sendo certo dizer-se que em breve haverá guerra entre ambos. Em presença de taes argumentos desistimos de ir junto d'este regulo, e preparando-nos para a rece- pção, fomos domimados apenas pela idéa de visitar ao menos a parte occidental do lago Moero. Não era no emtanto muito boa tambem a disposição em que íamos partir para a mossumba, pois, segundo parece, na vespera o velho soba assassmára um ho- mem, cravando-lhe a zagaia no coração, facto desani- mador para qualquer recemchegado. Como, porém, já estavamos um pouco habituados a ouvir a deseripção d'estas scenas, fechâmos os ou- vidos, e envergando o nosso uniforme militar, calçada a luva branca de tres botões, collocâmos os revolvezrs Em Bunquea 9a á cinta, partindo para a entrevista, na companhia de tres officiaes do regulo, empennachados a ponto de se lhes não verem as caras. A quimpata de Bunqueia, ou a residencia onde Mu- siri! n'esse dia se achava, e que pertence, conforme nos afiançaram, a uma de suas esposas, é cercada de uma especie de labyrintho, constituido por viellas tor- tuosas, ladeadas de euphorbias, como a caconeira e outros arbustos. Frequentes são as portas que se en- contram, por onde o recemvindo tem que enfiar a custo, curvando-se; bem como bastas as vallas, barra- gens, etc. Á medida que vae avançando, vê o viajante cres- cer o numero de craneos humanos, que por toda a parte se acham dispersos, dispostos aqui e alem em pequenos monticulos sob a caconeira. Cada craneo destes tem uma historia triste ligada à sua existencia ali, a qual muita gente da terra sabe e o explorador póde facilmente conhecer. Eis a proposito o que ouvimos, concernente a um por nós apontado, conservando aimda pedaços de pelle pela face. No dizer dos negros que nos acompanhavam, não havia amda muito tempo que na Garanganja se tra- mára revolta contra o chefe, urdida por um seu parente, que tentava derribal-o para o substituir no poder. Um vassallo do regulo estava comprado para o as- sassmar dentro da libata. Occasionalmente soube elle d'este facto e, preparando-se a frustral-o, convidou ! Musiri Maria Segunda, é o nome de que usa este chefe. VOL. II. rt 98 De Angola á contra-costa todos os importantes da terra para um n pombé matutino no dia seguinte. Logo de manhã começaram a reunir no pateo do tembé muitas dezenas de pessoas, entre as quaes se comprehendia quem premeditára a perda do soba. Ordenando que se cerrassem as portas, começaram todos a beber, até que o regulo, suspendendo, encetou | uma peroração em alta voz, narrando scenas da gua juventude, de guerras recentes, etc. Prolongando-se em divagações, contou como ás ve- zes um chefe justo se vê cercado de vassallos períidos, até que veiu a caír sobre o facto attentatorio contra a sua vida, discursando com largueza sobre elle. Er- guendo-se alfim, lançou mão de uma pequena zagaia que possue, e emprega exclusivamente n'este serviço, apontando com ella para um grupo. Encontrou ahi o imfeliz que procurava, o qual, ao Julgar-se descoberto, teve a triste idéa de se levantar, e pretendeu fugir. Colhido acto contínuo, foi amarrado, ordenando Mu- sIrl que se fizesse uma fogueira no meio do campo. Então effeituou-se a mais horripilante das scenas! Man- dando-lhe ministrar um caneco de pombé, o soba de- terminou que lhe cortassem as orelhas e as pozessem, sobre brazas, para depois de assadas e conveniente- mente apimentadas, constranger o desditoso a comel- as! Em seguida arrancaram-lhe o nariz, phalangetas e phalanges, que teve de engulir, pois, segundo dizia o sanguimario regulo, elle tinha fome, até que por fim, sendo impossivel no meio dos gritos e movimentos da victima obrigal-o mais à ingestão do proprio corpo, Em Bunqueia 99 fez-lhe decepar a cabeça, e, esquartejado o resto do cadaver, o lançaram no valle proximo! Assim foi contada durante o caminho a historia do craneo que attrahíra a nossa attenção. Ão cabo do passeio, chega-se à porta principal que fecha um grande recinto cercado por estacaria, onde está o tembé e fronteiramente duas outras habitações, um pombal, etc. . Grande accumulação de gente, por meio da qual alvejavam as cabaias arabes, se achava n'esse pateo mterior, onde iamos dar mgresso e em que tanta scena de morticinio tem oecorrido. Curiosos por ver o branco, todos os rostos se alon- garam ao darmos o primeiro passo dentro da porta, causando-lhes grande admiração a nossa farda da ma- rinha real. À verandah estava deserta, abrindo-se a meio uma porta, onde nos aguardavam dois guardas. - Os guias, dirigiram-se para ella, conduzindo-nos pelo centro da multidão. Não foi sem um sentimento de repugnancia que pe- netrámos na casa, pois feridos pela luz tropical, e achando-se o recinto mterior ás escuras, só com grave dificuldade podémos distinguir o logar que nos estava reservado. Após dez minutos de accommodação eis o que vI- mos lá dentro: Uma sala ampla, quadrada, guarnecida de cadei- ras de ferro com assentos de mola, tendo suspensos em redor das paredes tambores, caixas de guerra, ma- chados, armas, etc. Antiga pendula, collocada a meio 100 De Angola á contra-costa d'estes artigos, espera que mão de mestre a ponha em condições de dar a medida do tempo, ao passo que num movel em baixo, especie de mesa, uma chape- leira de couro entreaberta mostra o forro interior de riscado. Oito maioraes estão sentados em pequena esteira no solo, formando semi-circulo; na frente delles e junto á parede acha-se, em grande cadeira e sobre uma pelle de leão, recostado o chefe da Garanganja. Homem de sessenta annos, gordo, robusto, colos- sal, tem aspecto pouco attrahente, que parece esfor- car-se em mascarar com um permanente sorriso nos labios. O seu olhar é fimo e astuto, a pose inteiramente gra- ve e soberana, apenas desmanchando estes traços a vestimenta de certo modo grotesca. Musiri, que veste um fato preto á europêa com bota de polimento, teve a triste idéa de envergar um waterproof, sobrepujando tudo isto uma ampla capa de seda azul e branca, que lhe dá o aspecto de membro da irmandade de Nossa Senhora da Conceição! Cingem-lhe os pulsos grossas manilhas de prata, similhando um golphinho a morder a cauda; à cinta um cutello, com cabo tambem do mesmo metal, com- pleta o seu armamento. Mas a nota comica é a cobertura da cabeça, porque o celebre regulo, usando o cabello a escorrer azeite, collocára em dobras uma toalha bordada sobre elle, empoleirando-lhe em cima um chapéu novo! A photographia, no começo, apresenta Musiri em trajo de passeio. Em Bunqueia 101 Demorou-se assás a visita, pois que decorreram uns bons vinte minutos de silencio absoluto, durante os quaes nos contemplámos mutuamente com ar atolei- mado. As luvas brancas, sobretudo, attrahiam a geral at- tenção, e ao menor movimento dos braços todos os olhos n'ellas se fitavam curiosos. Trinta, empavezado de orgulho por se achar junto de um grão senhor da sua terra, como elle dizia, cuja gravidade e rigidez excediam a de uma mumia egy- pciaca, e nas suas affirmações levou depois a palma ao mais bem urdido acervo de mentiras, apresentando- nos alternadamente como governador de Benguella, de Angola, ou de Moçambique, para logo descrever com o braço a roda do horisonte, e nos apontar como domi- nadores do mundo, respondeu, quando imterrogado por um dos vassallos sobre a significação d'aquellas alper- catas brancas, que aquillo denotava só mando da nos- sa parte e nunca tiravamos d'ali as mãos para traba- lhar! Um arauto ergueu-se e encetou longa oração, fa- zendo, ao que juleámos, o elogio do seu chefe e se- nhor. Nós ouvimos pacientes, intimando em seguida a resposta ao interprete. Musiri falla pouco, cortando a miudo as phrases por breves interjeições. | Inquiriu dos nossos fins, das communicações com Benguella, sondando-nos finamente, e insistindo mais de uma vez sobre o nosso projecto de ir para leste e visitar 0 lago Tanganyka. 1092 De Angola á contra-costa Prevenidos, porém, invertemos-lhe. completamente as suspeitas, cifrando a nossa visita no desejo de o ver e no interesse de sabermos como eram tratados em sua terra os funantes portuguezes e bienos que ali vinham com frequencia. “Fez-nos uma graciosa offerta de guias para o sul, lembrando ser o nosso maior amigo, como até o seu nome indicava, igual ao de um monarcha portuguez, acrescentando que nos considerassemos na nossa ter- ra, podendo percorrel-a em todos os sentidos. Não consentiu, todavia, que vissemos o Moero, por estar mal com a gente d'ah, offerecendo-nos em com- pensação para ir a Kicondja. Despachou perante nós uma comitiva de bienos, e um muleque de Silva Porto, por quem enviámos uma carta ao velho viajante, recommendando-o. Emtim, trocados uns copos de pombé, erguemo-nos, sendo por elle acompanhados até á porta do recinto, onde o illustre personagem, apertando-nos a mão, ma- nifestou o desejo de possuir umas luvas. Musiri, depois de conversado e visto por outro pris- ma não deixa por vezes de descobrir lampejos sym- pathicos; mas se o avaliarmos pelas delações de algums dos seus, o celebre regulo é homem muito differente, barbaro, sangumario, feroz, como muitos outros prin- cipes africanos, que para dominar precisam desse pes- sImo recurso. À historia do estabelecimento da Garanganja daria a nota exacta do que avançámos; como isso, porém, seria longo, aqui vamos registar só dois ou tres factos caracteristicos. | Em Bunqueia 103 Este chefe é um m'nia-muezi, já o dissemos, e ad- ditaremos que ainda joven se fez rebelde. Encetára a sua carreira pelo parricidio, pois matou pae e mãe, saqueando-lhes a libata e fugindo; assas- smou depois os filhos do homem que foi seu bemfeitor e o fez subir áquella dignidade, o velho regulo da Ka- tanga; esteve a pontos de trucidar a mulher a quem mais particularmente tudo devia, filha do mesmo soba, quebrando-lhe, para amostra, uma das pernas, e ha pouco feriu de morte, azagaiando-o no coração, o pro- prio filho, unico que com elle se parecia, conforme nol-o afiançaram todos! O crime relativo ao soba da Katanga é E um cara- cter extremamente perverso. Musiri, que chegára áquella zona sem recursos, re- cebeu tudo das mãos do dito ancião, e imsinuando- se-lhe no espirito, conseguiu captar plena confiança, obtendo para sua mulher uma das filhas, por nome Kapapa. Na hora do passamento Moi-Katanga, que possuia muitos filhos, deixou-o encarregado de cuidar d'elles, mdicando, muito em particular, aquelle que entendia dever succeder-lhe. Foi precisamente este o primeiro que perdeu a ca- beça, se não assassmou o pae tambem, conforme se diz; e como Musiri considerasse que todos os outros lhe podiam ser embaraço na realisação dos seus proje- ctos, tratou de lhes cortar sem delongas as cabeças, reservando para si o supremo mando. É assim este homem usurpou o logar em que ora se acha. 104 De Angola á contra-costa O estado da Garanganja, de que já demos breves noções, confina de leste a oeste pelo Luapula e Lua- laba, do norte termina no curso do Lufira até Kicon- dja, do sudoeste vae ao Mumbeje, do sul limita-o ap- proximadamente a serra Muxinga. A sua organisação politica, se póde dizer-se assim, é das mais curiosas e incomparaveis. Musirl representa e personifica tudo. Não ha classes sociaes, nem direitos de ordem alguma. Ninguem ouse arrogar-se o direito de possuir ou negociar. Infeliz d'aquelle que tal imten- te, porquanto o soba confiscar-lhe-ha tudo, não inde- mnisando os commerciantes, do que resulta estes não quererem trafico com pessoa alguma dos seus esta- dos! Se um caçador abateu um elephante, tira-lhe as pontas e leva-as ao regulo; se outro obteve um pote de mel, entra com elle e dá-lhe o mesmo destmo; se terceiro fez apanha de milho, reune e leva-o ao chefe; se quarto tem uma filha galante, apresenta-a a este, que, agradando-lhe, fica com ella. Jim compensação chega uma comitiva com cem far- dos de fazenda; Musiri compra, e n'esse momento con- sidera todos como filhos, distribumdo pela ponto a fazenda em retalhos. Isto faz com que o indigena, já de si pouco propenso ao trabalho, o abandone de todo, mclimando-se á pilha- gem, onde com mais facilidade póde adquirir artigos de valor, que, entregues ao soba, lhe captem melhor as disposições a seu respeito. Esta questão de perfeita igualdade de todos perante o regulo, e a inteira ausencia de noções de proprie- ER dad Em Bunqueia 105 dade, não deixará progredir este estado, pelo menos emquanto durar tal systema. Em sua vida particular o regulo da Garanganja é uma personalidade infeliz, mesmo ridicula. Rodeado de grande numero de esposas, entre as quaes figura uma parda de proveniencia duvidosa, por nome Maria, que o aconselha em todos os negocios e o domima completamente, ao caduco regulo não so- beja o tempo para pensar n'ellas e quiçá vigial-as, passando uma vida atormentada. Musiri não tem residencia constante, receioso tal- vez de que, sabendo do seu paradeiro, lhe pozessem termo á vida. Dorme de dia, vagueando pela noite de tipoia, de casa em casa de suas predilectas, cer- cado sempre de um grupo de valentes seus serviçaes, e no intuito sem duvida de colher alguma em flagrante. Ellas porém, todas peccadoras, protegem-se reci- procamente, trazendo o velho ás escuras! Maria da Fonseca, conhecida entre elles pela Mis- sota, põe e dispõe de tudo na Garanganja, sendo pelo seu irregular proceder uma das causas dos desregra- mentos que por ali lavram. Desde a data da nossa chegada que nos annuncia- vam diariamente a visita V'aquella dama, e, effeituan- do-se, deixou estranha impressão, pela novidade de nos vermos pela primeira vez em nossa vida nas cireum- stancias mais extraordinarias em que um homem se póde achar, isto é, ter de repellir por maneira brutal as audazes pretensões de uma beldade, e abandonar a terra, para não ser victima de alguma vingança d'essa atrevida Messalina! 106 De Angola á contra-costa O seu aspecto, ao entrar no quilombo, tinha o quer que era de phantastico. Envolvida em um amplo panno de cores, de Moçam- bique, pulsos e artelhos cheios de braceletes de marfim e oiro, coberta a cabeça por um longo e bem lançado tecido azul, d'onde pendiam lateralmente duas fitas bordadas que se ligavam abaixo do queixo por grosso botão de oiro lavrado, cordão do mesmo metal ao pes- coço e colossal revolver na destra; esta mulher, cujo semblante claro nada tem de repellente, impõe, com o seu porte e modo altaneiro, um sentimento de admi- ração a quem no primeiro instante a encontra. Vinte e quatro horas depois da entrevista, enviámos os presentes a Musiri, bem como ás suas seis principaes esposas ba-córes, cujos nomes são: Maria, Margarida (parda tambem), Kapapa, Kamama, Kanfua e Muloje, que todas se dignaram visitar-nos, sem contar deze- nas de outras a quem não contemplámos, e se distm- guem por um comprido fio de latão, artisticamente en- rolado em espiral de roda do pescoço. Seguidamente a estes protestos e demonstrações de mutua amisade, vein Moi-Musiri ao nosso campo para pagar-nos a visita, pedir uma lente e uma isca para accender fogo com o sol, descrever-nos elle mesmo a morte de Bohm e solicitar um documento por nós firmado, no qual certificassemos que o dito viajante fôra victima de doença, e nunca Musiri concorrêra em cousa alguma para o seu desapparecimento. Fundado no testemunho de uns indigenas de oeste, dos arabes que estavam presentes, e emfim, conven- cidos pelas geraes indicações, passámos-lhe o docu- uia Ce 7 NS wi; PD (adiddidedidadda FEITICEIRO DE BUNQUEIA Segundo croquis Em Bunqueia 107% mento requerido, escrevendo-lhe ainda varias cartas para a costa occidental. O velho regulo dignou-se explicar no terreno e com o proprio bastão o correr das aguas do Luapula sobre o Lualaba, hydrographando por maneira tal, que hou- vemos de seguil-o n'uma milha quasi de extensão, para chegarmos ao sitio onde pretendia figurar a confluen- cia dos dois rios, bem como nos descreveu as furnas de Uncurroé, dois poços de agua fervente, ao norte de Kicondja e oeste do Lualaba, d'onde se escapam vapo- res sulfurosos e em que se dá a raridade, segundo elle, de funccionarem alternadamente. Fallou tambem de um cone de lodo de 3 metros de alto, na lagoa Lizua- la-Kowamba, d'onde sáem vapores sulfuricos, convi- dando-nos de novo a que fossemos lá, promettendo deixar-se photographar na manhã seguinte, depois de “tomarmos juntos um copo de pombé. - Acompanhava-o n'esta occasião uma especie de buf- fon, talvez feiticeiro ou doido, cuja figura apresentá- mos ao leitor, o qual não nos largou durante a entre- vista, descrevendo a todo o instante circulos a giz no solo, fazendo esgares e momices, a que o regulo sor- ria, usando mesmo para com elle, e amiudadas vezes, de certas liberdades que nos surprehenderam em ex- tremo. Trinta afiançou-nos ser o maior feiticeiro da terra, que ali se achava para conjurar todos os feitiços que podessemos fazer ao soba. Fosse por este ou outro curioso motivo, a verdade é que elle parecia louco! Ao fechar esta sessão, porém, nova difficuldade se apresentou. 108 De Angola á contra-costa Madame Marie não era senhora a recuar perante uma primeira derrota, .e havendo-se retirado para uma casa de campo 15 milhas ao norte, enviava-nos Musi- 11, à fim de convidar-nos a acompanhal-o ali, onde um grande jantar nos esperava. 7 Superfluo será dizer que de sobejo comprehendia- mos a sereia, talvez melhor que o proprio regulo, ur- gindo em nosso interesse evitar uma viagem a sua casa. | Por isso, havendo ao seguinte dia uma nova entre- vista com o soba (durante a qual o photographámos, pesámos uma serie de pontas de marfim com balan- ca romana e lhe demos uma noção do seu valor e preço por que devia vendel-o), imsistimos ainda uma vez para ir ao Moero, e como não accedesse, e ao con- trario respondia que fossemos antes à Kicondja, onde finalmente não tinhamos o menor desejo de pôr os pés, annunciámos-lhe a impossibilidade de fazer a visita a Maria, e a disposição em que estavamos de partir para o sul, a fim de nos reunirmos ao nosso companheiro. Tornou elle com solicitações de que nos demorasse- mos uns dias, esperando quadra melhor e menos chu- vosa para a partida, etc.; como, porém, pelo nordeste eram os caminhos vedados á expedição e até ao oceano ainda havia a percorrer muitas centenas de milhas, fir- mámo-nos em nosso proposito, aprestando tudo. Restava arrancar-lhe o Trinta das mãos. Trinta queria retirar comnosco para o Zambeze, e nós, cujo dever era protegel-o na qualidade de portu- guez, assim o declarámos ao regulo, que accedeu gra- ciosamente, falseando logo este consentimento, pela Em Bunqueia 109 ordem dada em particular ao dito Trinta de que não partiria. Convinha-lhe um homem que fallasse a sua Ingua, a do Zambeze e a portugueza, sabendo alem d'isso que entre os negociantes do Zambeze não podia fazer- lhe boas ausencias. Cessaram as hesitações, e desde que declarámos ao Trinta a conveniencia de ausentar-se, tivemos de sus- tentar o nosso papel; e, ordenando-lhe que preparasse tudo, enviamol-o vinte e quatro horas adiante de nós. A todo o momento suppunhamos que se iam bara- lhar as nossas relações com Musiri. Felizmente tal não succedeu, e o regulo, convencido de que nada ga- nharia com uma retirada nossa em desagradavel con- junctura, enviou-nos os seus comprimentos com os ulti- mos presentes. E mais diplomata do que parece. “Assim deixámos em paz o homem que é hoje o ter- ror de todos os sertões desde o Lufira inferior até ao sul de Ulalla, e que a par de grandes crueldades abre-se às vezes com rasgos generosos, que muito o honram, apesar de selvagem. Com João Baptista Fer- reira, por exemplo, funante portuguez que transita por Urua até ao Moio' e outros pontos, succedeu ainda ha pouco um facto frisante. Voltava do norte n'um estado de grande apuro. 1 O sertão do Moio fica, segundo se presume, ao longo de Lulua e no pa- ralello de 6º sul. Moio crêmos ser uma designação devida aos compri- mentos previos ali usados, antes de se encontrarem os individuos em transito, ou uso particular dos regulos, em remetter um presente, proximo à chegada do viajante. E CI Ci pç A tn 110 De Angola ú contra-costa Ao passar na altura da terra de Musiri, que não co- nhecia, enviou portadores a expor-lhe as circumstan- cias precarias, solicitando um auxiho. O velho regulo, deferindo logo o pedido, remetteu- lhe fato, sapatos, camisas, duas pontas de marfim, e a recommendação de que apparecesse quando quizesse. Os rapazes pardos africanos são uns Lovelaces ser- tanejos, e já não é o primeiro nem o segundo que Mu- siri surprehende em devaneios amorosos com as suas esposas. Conta-se que ainda ha pouco um destes, vindo com elle fazer negocio, foi descoberto em via de material sar, de accordo com uma dama, o poetico e fervente sentimento que os dominava; e sendo o regulo d'isso informado, ordenou que a cabeça do conquistador pas- sasse a figurar junto de tantas outras que estão pelas estacas da mussumba! Prevenido a tempo, o audacioso D. Juan pôde esca- par-se, e Musiri, mezes depois, esquecendo este nego- cio, mandou-lhe entregar no Bié, ou onde se achasse, dez pontas de marfim que lhe devia. São factos estes altamente louvaveis, e que apraz, a quem tiver de pôr a lume os vicios e defeitos do ve- lho chefe, registal-os por bons, como attenuantes dos ruins. Longo seria aqui finalmente relatar usos e costumes d'aquellas gentes, de que mais ou menos tivemos co- nhecimento, 7 Assim, dos funeraes dos sobas ouvimos as mais es- tranhas historias, com accessorios de verdadeiras heca- tombes, onde eram immoladas dezenas de victimas do Em Bunqueia AJ sexo fragil, para darem ingresso no tumulo em com- panhia de seu senhor, isto no meio de ceremonias te- tricas de sangue e fogo! E ainda de outras nos fallaram, como aquella usada nas adivinhações antes da guerra, em que uma das mulheres do soba, sorte de Pythonisa, é envolvida na pelle de um homem, cuidadosamente esfollado para esse fim, e, posta em recinto escuro, d'ahi expõe pela noite, ao regulo, as consequencias a advir-lhe da cam- panha que vae encetar. Tambem a do juramento pela agua, onde duas panellas se acham no solo, uma com agua fria, outra no fogo com agua fervente. O individuo aceusado, que deseja provar a sua inno- cencia, approxima-se, e mergulhando as mãos na agua fria, lava-as com ella, para seguidamente as imtrodu- zir estendidas na agua quente. Se as escalda, as palmas se lhe avermelham e elle as retira de subito, está provada a criminalidade, no caso contrario fica livre. Por vezes lançam agulhas no fundo da panella fer- vente, que o accusado tem de retirar uma a uma. Terminando este acervo de horrores, diremos amda que ha varios processos para acabar com os feiticei- ros e criminosos, sendo um dos mais frequentes a mhumação incompleta em vida, durante vimte e qua- tro ou quarenta e oito horas. Para isso abrem um poço vertical, e mtroduzmdo ahi a victima, a ficar só com a cabeça de fóra, enchem a cavidade de terra, calcan- do-a em redor. | Após vinte ou trinta horas retiram-no, e o desgra- cado, já meio paralytico, succumbe pouco depois. CAPITULO XXII VIAGEM DE REGRESSO Partida de Bunqueia— Programma de viagem — As declarações de Trinta, e o seu azar em todos os negocios — Rosa, a constante conselheira — Às chuvas de novembro e o aspecto da natureza — Facies especial dos piateaua centraes— À vegetação em redor — Rios em que nos achavamos — O reino animal —O elephante e seu restrictivo habitat — Antonio im- pressiona-se com o oriundo de Africa — Juizo de um viajante tanto ácerca d'este como do procedente da India — Traços geraes comparativos — Modo - “de vida do dito pachyderme e preferencia pelas acacias — Como derriba as arvores — Lado para que vira invariavelmente a tromba quando colhe — Numero por que se agrupa e timidez das femeas —Carinhos maternaes — Como transpõe os rios — Maneira facil de o caçar —O leão e as bes- tas de preza na Garanganja —O Aulacodea swindériena — Os escorpiões e outros insectos venenosos de Bunqueia — Os lepidopteros e a Kingan- dja— Longitudes da região lacustre e erros encontrados — Observações lunares e impossibilidade de as fazer — Partida de Kalabi e primeiro engano de Trinta-—Opiniões de André e de Dionysio— Chegada a Ta- cata — Mudança operada na gente. VOL. Ii. « -»- QUASI LHE RASTEJÁRA COM A TROMBA PELO LOMBO A 2 de dezembro, por uma bella manhã, deixámos a terra de Bunqueia, voltando pelo trilho por onde ti- nhamos vindo, a cammho do campo de Tacata. O nosso programma de viagem estava feito, após as necessarias modificações. Sendo impraticavel cortar pelo Kazembe, íamos de novo reunir-nos em NºTenque, e, atravez do Lufira para o oriente, tentarmos attmgimr o Luapula o mais ao norte possivel, para depois prolongal-o ou transpol-o, segundo as circumstancias, determimando o ponto de 116 De Angola á contra-costa saída do lago, que estavamos quasi certos ser na re- gião sudoeste do alludido lençol de agua, e não no noroeste, como indicára Living'stone. Pensavamos mesmo que, se se conseguisse encon- trar algum regulo de feição, poderiamos construir uma ou mais grandes canoas, para um de nós, caminhando r1o acima, visitar o Bemba dentro dos limites do tem- po e dos recursos de que dispozesse. Por sua parte Trinta, embora ha dois annos tivesse passado pelos sertões de leste, declarou nada saber para o occidente do Lufira, mas se o pozessemos ao oriente, em Caponda, procuraria o caminho por elle se- guido quando viera, o qual facilitava a nossa conduc- ção para Ulalla. E obvio que, senhores assim de um atalho para nos levar mais tarde à banda onde convinha proseguir, sem necessidade de guias ou dependencia de regulos, fica- riamos dominando aquelle sertão, dispostos a esqua- drinhal-o em todos os sentidos, porquanto tinhamos, quando fosse precisa, a retirada segura pelo trilho que Trinta nos afiançava conhecer. Mal sabiamos, infelizmente, que este leviano e za- ranza, que em tudo se mettia e de tudo fallava sem eri- terio, nos havia de preparar crueis dias de angustia, levando-nos alfim, ao contrario do que esperavamos, a servir-lhe como guias, no meio dos ignorados matos. Calixto da mais genuima qualidade, com o seu vulto esguio e olhar desconfiado, esse desditoso andava sem- pre em má sorte, a ponto de tornar-se opinião assente e acceita entre todos, que dizendo elle para oeste, era fazer logo rumo para leste! Viagem de regresso La Nem uma só vez, como adiante se verá, logrou o nosso heroe descobrir trilho aproveitavel ou dar im- dicação de geito, e quando abria a bôca para offere- cer conselho, nova desgraça estava Imminente sobre a caravana! Depois, possuia uma cara metade que, por cruel iro- nia do acaso, contrastava smgularmente com o exotico esposo, e ao passo que este estirava o seu desmesurado comprimento n'uma linha de 1”,80, ella via-se aperta- da e constrangida em mesquinha concessão de 1",35 de longo. Chamava-se Rosa, tinha um genio atroz e a triste balda de aconselhar o marido, mania de resto con- sentanea com aquella apreciavel qualidade; aggravan- do-se isto por vir para o sul mal disposta, pois Trinta possuia de ha muito outra mulher no Zambeze, cujo nome bastava pronunciar, para ver Rosa acommettida de deliquios e perturbações nervosas! | Era extremamente dada a feitiços, vendo em tudo e todos bruxarias, que o pobre homem se empenhou em conjurar com adivinhações pelo mato, onde consumia o melhor dos seus haveres! Em summa, póde afiançar-se que quem tinha de guiar era a Rosa, e do conselho d'esta senhora extra- hia sempre o Trinta a quinta essencia das suas tol- ces! | | À tão gracioso casal é que a expedição portugueza ia em breve confiar os seus destimos durante semanas. Às chuvas haviam cessado, uma virente paizagem. se descobre á nossa vista, illuminada por brilhante luz. 118 De Angola á contra-costa N'esta quadra, especie de primavera para a região de que vamos tratando, se considerarmos no movi- mento do sol, tendo as tempestades varrido e limpo a atmosphera, e a agua refrigerado o mundo vegetal, este desdobra de subito, com a nova folhagem, verda- deiras magnificencias aos olhos do viajante. O mundo animal alegra-se por sua parte, as aves gorgeiam, as borboletas volitam em torno das plantas e arbustos. Ser-nos-ía muito agradavel dar aqui em rapida des- cripção os traços caracteristicos da historia natural d'esta zona; mfelizmente pouco poderemos dizer, por- que quasi nada aproveitámos até esta data dos exem- plares trazidos, e assás breve foi a nossa demora para conseguirmos estudo de vulto, e ammda porque, com respeito à vegetação e flora d'este districto, se parece em tudo com o que vimos pelos outros sertões da Africa central. A uniformidade é o facies privativo da vegetação dos plateaua: interiores, a ausencia de complicadas divisões na geographia das suas plantas o mais frisante cara- cteristico, que se podem determmar por estes tres mo- dos de representação: o bosque denso, o matagal ou o brejo com arbustos, como a mupa e outros, e a campi- na vestida de gramimeas. De Mossamedes a Zanzibar, do Gabão á emboca- dura do Zambeze, as cousas passam-se sempre assim, e quem, fazendo uma travessia, attentar n'ellas, verá anda que 4 mesma uniformidade se reune estranha correlação, e se, ao partir, deixa a euphorbia e a Adan- sonia, para entrar com a Bauhima e as Erythrinas, e por seu turno troca estas pela acacia e as Brachyste- Viagem de regresso 119 gias, mais tarde, quando descer para o oriente, a flora se lhe apresentará com as mesmas gradações, e pela mesma ordem que a deixou ao começo da viagem. Em todo o caso diremos superficialmente que a es- pecie das leguminosas é muito dominante aqui, com representações nas sub-ordens das Mimosas, Pajlio- naceas, etc., por plantas varias como a Tephrosia vog., de grandes e vistosos cachos, e outras do genero Ce- selspina, e anda bastas acacias, etc. Os generos Bubiaceas e Combretaceas têem a sua re- presentação nos enormes mwmoés, e outros, ao passo que as Malvaceas apresentam gigantes exemplares, como o Eriodendron, o bao-bab, e tantos que não veri- ficámos. Entre as Rosaceas citaremos mais uma vez a cele- brada arvore da nocha, Parinarium mobola, e das Lilia- “ceas, algumas do genero Methonica superba, trepadeira de bellas flores rutilantes, de fundo amarello oiro, e outras do Scilla com suas espigas, e ainda algumas do genero Aspargus, etc. Commelynaceas, azues, roxas e brancas, com a flor implantada n'um spatha, são vulgares, bem como se pisam com frequencia Zingiberaceas rasteiras. — Uma saudade branca forra os campos, e tambem Aloes e Agaves diversas constituem pelo geral aquillo que mais nos chama a attenção. Essa soberba euphorbia candelabro, talhada á gui- sa do cactus americano, ostenta-se em grande quan- tidade; mas, facto notavel, e para o qual carecemos explicação, jamais a vimos na planicie, e apenas cresce e medra nas grandes habitações de termites. - 40) De Angola á contra-costa Póde o viajante percorrer muitas leguas em pro- cura destas euphorbias na planura, que desde já lhe afiançâmos que nenhuma encontrará. À causa deste facto escapou ao nosso exame. | De palmeiras ha poucas especies; para o oriente vêem-se Hyphoenes, entre as quaes a caracteristica Ven- tricosa; uma sorte de Borassus tambem é vulgar, assim como nos alagamentos as Phoenix estão representadas por arvore similhante á tamareira selvagem, natural- mente a Phoenix spinosa. É de crer que as Paphias se encontrem no Lufira e Lualaba inferiores, pois abunda para essas bandas o malufo; entretanto não podemos garantir que sob nossa vista caísse qualquer exemplar. Em resumo as grammeas têem aqui bom numero de representantes, desde as que figuram na flora eco- nomica, como por exemplo o Penisetum, até ao Arundo phr. da margem dos rios. Do reino animal que poderemos dizer? É grande a variedade de exemplares que se encontram, e mui longa seria a sua enumeração. O primeiro, assás frequente nas matas do oeste, sobretudo proximo do Lualaba, é o elephante. Abun- da em tal quantidade este quadrupede, que obtéem sempre resultado todas as tentativas de caça feitas n'aquelle sertão. Raro é o sobeta de vulto que não possua no seu quarto e em cima de uma mutalla* al- gumas duzias de pontas, assim como rara é a partida 1 Mutalla, especie de prateleira entretecida de paus, e suspensa em quatro ou seis forquilhas verticaes. Viagem de regresso NA! de caçadores que, após dez ou quinze dias de pesqui- za, não consiga abater dois ou tres d'estes animaes. Um dos nossos rapazes, portador do Abbad, na tar- de do terceiro dia de marcha, havendo-se afastado do quilombo em procura de mel, deu de frente com um que, dizia elle, quasi lhe rastejára com a tromba pelo lombo. À vinheta do começo d'este capitulo dá idéa de similhante scena. O elephante, cujo habitat dia a dia se restrmge, onde hoje com certeza mais se encontra é na zona que vae - do alto Zambeze ao Nyassa, sendo objecto de activa procura. Os caçadores de Musiri, principalmente, percorrem de contínuo estes matos em busca de marfim para o seu senhor, deixando poucas vezes de voltar carrega- dos delle, e fazendo ao pachyderme tão encarniçada guerra, que breve virá talvez a data da sua completa extincção. E já que do elephante temos fallado mais de uma vez, não deixaremos de lhe dedicar aqui duas linhas, embora a similhante respeito se tenha escripto muito em diversas obras. O elephante africano é um animal verdadeiramente respeitavel. Ao vel-o, grave e silencioso, arrastando a sua enorme massa por meio das florestas, tromba recur- vada, orelhas em movimento alternado de descanso e de attenção, sempre cauteloso, suspendendo ao menor ruido para escutar ou prevenir o bando, fugimdo á menor suspeita de perigo, para derruir em seu cami- nho quanto lhe sirva de obstaculo, nenhum viajante deixa de impressionar-se. 122 De Angola á contra-costa Tal quadrupede é um exagero que não parece per- tencer ao nosso seculo, e nada conforme com o cres- cimento da actual vegetação, pois amesquinha o arvo- redo em redor, quando apparece entre elle. E. vAN MuYDEN t Z LA444, A 74////1//44///NA / z TYPO MU-IEQUE Segundo photographia As crescidas mimosas do planalto, que o pachyder- me tanto aprecia, são verdadeiros arbustos, se as com- pararmos com as alentadas proporções do gigantesco quadrupede. Viagem de regresso 123 —Mette respeito este bicho, senhores, exclamava Antonio, o caçador, quando pela primeira vez no Lua- laba se viu de improviso em frente de um d'aquelles enormes vultos. E tinha rasão o rapaz, porque, quando ferido e iracundo, tromba alevantada, a curta cauda á guisa de vassoura erguida, impõe mais do que respeito; faz medo, é imponente! Nós, que o vimos muita vez de perto e até nos pho- tographámos n'elle sentados, como se mostra na gra- vura junta, jamais deixámos de experimentar pavor, arrepio subito, inexplicavel, como aquelle que sente o homem em presença de um perigo, conhecendo ser im- possivel evital-o! | E a final não é tão perigoso como a principio póde suppor-se, salvo circumstancias especiaes. “O elephante africano, escusado é dizel-o, differe do mdiano, não só na fórma como nos habitos. Um viajante, mais entendido em similhante assum- pto do que nós, diz: «Divergem os elephantes dos dois continentes por tres distincções peculiares. O dorso do elephante afri- cano é concavo, o do indiano convexo; a orelha V'aquel- le enorme, cobrindo a espadua quando voltada para traz, emquanto que a da variedade indiana é compa- rativamente pequena. «À fronte do elephante africano é convexa, a parte superior do craneo derivando para traz com rapida melinação, emquanto que a cabeça do indiano apre- senta uma superficie achatada logo acima da tromba. O tamanho medio do elephante do grande continente 124 De Angola á contra-costa excede o da India, sendo as femeas africanas em geral - do tamanho dos machos de Ceylão. «Pelos seus habitos os dois parecem differir tam- bem. «Em Ceylão o elephante vive na floresta durante o dia, saíndo só para a planura ao caír da tarde, em- quanto que em Africa este divaga pelas grandes pla- - nuras á hora do calor, só por acaso fugindo aos ardores do sol, para se approximar da agua.» O seu modo de viver não nos parece seja bem co- nhecido; alem d'isso os exageros dos indigenas quando se trata de elephantes são taes, que se lhes não póde dar credito. Habita no mais denso das florestas, alimentando-se das pontas das mimosas e da casca de raizes. Para isso tem que revirar as arvores, a fim de attin- gir a parte mais elevada, e isso faz elle com a maior facilidade. Escolhida a planta que pretende aproveitar, lança- lhe a tromba á parte superior do tronco, puxando. A este abalo em geral, estoura a raiz e a arvore cáe. Se, porém, não cede inteiramente a este esforço, vindo bater com a ramagem em terra, o pachyderme baixa a cabeça, e, mettendo uma defensa por entre as raizes, fal-as rebentar ao impulso da sua poderosa ala-. vanca. O elephante emprega sempre o dente esquerdo, e assim se explica a circumstancia de, ao vel-o de perfil, apresentar mais caída este do que o outro. E, circumstancia estranha, é tambem para a esquerda que vira a tromba no acto de apanhar; e por isso os Viagem de regresso 125 mdigenas recommendam que, quando alguem de perto seja perseguido pelo dito animal, corra para o lado direito. | A destruição operada em poucas horas por um ban- do de elephantes n'uma floresta é realmente extraordi- naria. De noite o ruido é espantoso, tendo nós occa- são de o testemunhar pela primeira vez na margem direita do Cabompo, onde mais de cincoenta pachy- dermes andaram toda a noite a uma milha do nosso campo, que não podiam descobrir por estar no fundo de um valle, a sotavento delles. Centenas de arvores no dia segumte jaziam no solo, umas partidas, outras com grandes rachas, cobrindo com suas ramagens as pégadas do maior dos mammi- feros, parecendo mais destroço operado por formida- vel tempestade, do que obra de um grupo de animaes. “Algumas observámos nós com 4 e 5 palmos de cir- cumferencia de tronco, não só reviradas, mas fendi- das pelo meio. Em bandos de vinte, trinta e mais, marcham cau- telosos, sobretudo quando procuram a agua, o que em. geral succede pela noite, indo quasi sempre um macho na frente, para explorar o campo. As femeas são timidas e menos pre videntes quando andam com os filhos, talvez porque, muito extremosas, estes lhes absorvam todos os desvelos, dament o -as es- quecer os perigos. As crias são para o elephante um objecto do mais serio cuidado. | Assim, não é raro ver as mães rolarem na lama e estregarém-se nos filhos, ou, tomando com a tromba 126 De Angola à contra-costa porções do mesmo lodo, distribuir-lh"o pela pelle para assim os defenderem da acção do sol e dos ataques de parasitas. E Sempre que um rio caudaloso tem de ser transpos- to, machos e femeas collocam-se em limha, de uma a outra margem, e formam uma como que barreira para moderar o impeto das aguas, ao abrigo da qual passam os filhos. Em summa, este vivente é de todos os habi- tadores do mato o mais presentido; em geral custa ao caçador approximar-se delle, tendo de lhe seguir a trilhada, e, ao sentil-o perto, desviar-se a sotavento, evitando todos os ruidos. Ao menor barulho, escapa-se. Habitualmente, antes do bando observa-se um ma- cho, que de tromba no ar perseruta quanto o rodeia, farejando quaesquer eventualidades, para fazer, sendo necessario, o signal de alarme. Poucas vezes se encontra o elephante solitario como o rhinoceronte, e só excepcionalmente e em idade mui- to avançada póde dar-se esse facto. | Como remate, diremos que, chegado à vista, não tem o caçador nenhuma difficuldade em matal-o, pois, apontando justamente ao rebordo imferior da orelha, com uma carabina raiada de doze, póde sueceder vel-o oscillar após a detonação, e acercando-se de vigorosa arvore, apoiar-se n'ella, para pouco depois caír exani- me em terra. Depois do elephante, temos a notar, nas ditas ter- ras, O leão, encontrando-se em grande quantidade os dois typos—do Nyassa, sem juba, o coroado do Cabo, sendo raro o terceiro, escuro. | Viagem de regresso 127 Este ultimo é comtudo menos frequente, ao que pa- rece, attingindo em idade adiantada proporções ex- traordinarias. D'essa especie nos deu Musiri uma pelle tamanha, que um rapaz quasi não podia com o peso. Insigne caçador, os destroços por elle feitos obser- vam-se por toda a parte, dirigimdo de preferencia os seus ataques aos bandos de elands. Promiscuamente encontram-se leopardos, hyenas, Hyena crocuta, cremos que lobos !, bem como varieda- des de gatos bravos, talvez o Feha caracal e o F. ser- val, a Viverra (?), genettas, etc., e ainda numerosos re- ptis, entre os quaes figuram cobras venenosas, como a Echidna, de que matámos varios exemplares, e outras. Nos alagamentos e margens dos grandes rios vimos um animal em tudo similhante ao Aulacode swindérien, talvez o mesmo de que falla Schweinfurth; nas pla- nuras e matas abundam antilopes que seria extenso enumerar. De uma femea do Unjiri, que abatemos então, damos o desenho. Tambem se vêem muitos insectos, entre elles alguns bastante perigosos. Assim, houve em Bunqueia ardua tarefa para acabar com os escorpiões, que de toda a banda appareciam em redor do campo, ou debaixo das pedras e ainda na lenha. Logo à chegada, um homem foi perigosamente pi- cado, bem como nós mesmo, por um muito pequeno, que se mtroduzíra na mala da roupa. Alem deste ve- nenoso msecto apparece outro, não menos incommodo 1 À existencia dos lobos é duvidosa aqui. 128 De Angola á contra-costa pela mordedura, cuja acção sobre o homem chega a attingir graves proporções. E um myriapode castanho escuro, de 0,08 e 0,10 de comprido, que os portuguezes sertanejos denominam piolho de cobra, e se encontra por toda a Garanganja. Os lepidopeteros abundam em quantidade tal, que cobrem os logares humidos e pantanosos, assim como varios orthopteros e dipteros mordazes. | Entre as aves existe uma que os mdigenas denomi- nam Kincondja, notavel pelo odio ao milhafre. Preta, pequena, do volume de um pardal, quando muito, juntam-se em grupos de tres ou quatro, e de tal modo o affligem com as picadas, que o afugentam ater- rado. À sciencia conhece-o por Dicrurus divaricatus. Proseguindo por entre os matagaes que marginam “o caminho, chegámos novamente á vista da cordilhei- ra que pelo occidente determma a bacia do Lufira, onde, segundo todas as mdicações, abunda o cobre, e pouco adiante acampámos junto a Kalabi. Desde o principio da nossa marcha por esta zona chamou a nossa attenção a diferença grande que exis- te nas longitudes, e sobretudo as da região lacustre central. Exprimiam-se os imdigenas com respeito ao Lua- pula e lago Bemba em termos taes, quando inquiridos da sua distancia, que ficavamos admirados pelo afas- tamento d'elles do logar onde acampára a expedição. O mesmo Lufira e toda a hydrographia relativa es- tava já por nós deslocada de meio grau para leste, o que nos trazia apprehensivos pela possibilidade de um er- ro nos Chronometros. | Viagem de regresso 129 Como rectifical-os, porém? Junto ao rio Cabáco fi- cára-nos a mala dos mstrumentos, e com ella uma es- plendida luneta de Cazella que possuiamos, perdendo assim toda a idéa de possivel observação dos satelli- tes de Jupiter. A luneta de Abbad foi experimentada, mas com ella nada podia fazer-se perfeito, pois, sendo de reduzida abertura, quasi não separava os pequenos astros do corpo do planeta. | UNJIRI (femea) Segundo um croquis Só tinhamos, pois, como ultimo recurso, as obser- vações de distancias lunares. Este genero de trabalhos, caro leitor, de que tantos viajantes se vangloriam, é, quanto a nós (homens do mar e affeitos ha muitos annos a observações), de im- possivel pratica no sertão ou a bordo, emquanto se não usarem outros instrumentos. Recorrer a distancias para regular chronometros, e ufanar-se disso em livros de caracter scientifico, é muito abuso da boa fé de quem as desconhece ou ignorancia completa do que significam. VOL. TI. 9 1350 De Angola á contra-costa Assim, por exemplo, junto ao Luapula, mais tarde, e para distrahir, propozemo-nos observar quarenta grupos de distancias, empregando para isso dois sex- tantes nas ditas distancias e alturas da lua, e o Abbad na altura do sol. Pois bem, calculadas que foram as primeiras dez, notámos precisamente que differiam pelo geral como média de meio grau umas das outras. E meio grau! cem a cento e vinte segundos de tempo é mais que sufficiente para endoidecer quem por ellas quizesse regular os seus chronometros, bem como o bastante para confundir toda a geographia de uma região. N'ºestas circumstancias, pois, assentou-se por me- lhor não bulix em cousa alguma, e deixar correr as longitudes assim até á costa oriental, tranquillisando- nos tambem pela idéa da possibilidade de haver exa- gero para o oeste nas ditas longitudes da região lacus- tre, pois foram determinadas por estima, e o viajante calcula ou suppõe sempre a sua marcha mais extensa do que é effectivamente. Largando as minas de Kalabi, após uma noite de tempestade, que poz tudo a nado na barraca, é tendo feito as despedidas offerecendo certo presente à sua possuidora, seguimos caminho de Tacata, com o guia e sua cara metade, que ali nos aguardavam. Com longa espmgarda raiuna ao hombro e compl- cada bagagem de cestos, saccos e muhambas, o nosso esguio companheiro, sempre na frente e seguido da sua Rosa, ía radiante, fazendo ver aqui o atalho e atra- vessando raminhos n'aquelles que não nos convinham. 1 Viagem de regresso 131 — E um bello guia, dizia-nos André, esperto cabinda que comnosco já fizera a viagem a lácca; conhece os trilhos e tem bom feitiço para elles; vae d'aqui como am fuso direito a Moçambique. Casualmente, e ao termo do periodo que completa um dia, perdeu de subito e pela primeira vez o cami- nho! Embrenhando-nos nos matos, tratámos de cortar ao rumo da agulha em direcção a Tacata, suspeitando desde logo que não iriamos, segundo André julgava, direitos a Moçambique, e que o fuso era mais torto do que elle se persuadia. Porneando morros e cerros, apesar das imstancias do nosso guia, que teimava em dizer que o trilho ficára para a banda do nascente, e para ahi queria partir, prolongámos a lmha para susudoeste, e a 5 de dezem- bro descobrimos de novo o caminho com grande es- -panto seu. Dionysio, um rapaz de Benguella, que nós a todo o momento de crise mandavamos pelos matos de macha- do em punho para marcar as arvores por onde ía pas- sando, signaes que depois a expedição seguia e mais de uma vez nos salvára, começou a chasquear do Trinta, dizendo que, entre muitas cousas d'este ignoradas, fi- guravam algumas bem triviaes, como, por exemplo, ser elle redondamente pateta! | É este atilado raciocinio, calando no espirito de mui- tos, começou desde logo a diminuir a confiança que n'elle tinham. — Veremos, volvia André, talvez que mais adiante venha a ganhar esperto! 132 De Angola á contra-costa Depois de uma jornada excedente a vinte e quatro horas, démos vista do nosso acampamento em acata, e a 6 de dezembro, pelas dez da manhã, mstallavamo- nos de novo entre os nossos. Que differenças se haviam operado nos vinte dias da digressão, em todos os companheiros de trabalhos, e quão diverso se fizera o seu aspecto n'esse curto la- pso de tempo! Onde estavam esses receios e medos, essas figuras emmagrecidas e alquebradas, fitando tudo com olhar desvairado, e parecendo a todos os instantes pedirem sete palmos de terra para dormir em paz o somno eterno? Já ninguem pensava em Lualabas, florestas e fomes, disputando a cada momento as minimas parcellas de carne; a esses quadros de tristeza e desolação que atraz pintâmos, succediam-se agora outros risonhos e cheios de vida. Durante o dia transformava-se o quilombo n'um mercado, onde farinhas, legumes, aves, peixes, tudo gi- rava e apparecia com profusão, espalhando o conforto e o contorno das fórmas por esses organismos e corpos já tão mudados. Pela tarde cozimhava-se e comia-se á larga; ao anoi- tecer, accesas as fogueiras, vinham os bombos e marim- bas arranjados para a occasião, e postas em fileiras as panellas de pombé, principiavam-se dansas ao som de córos alegres e ruidosos. Os homens das florestas do oeste tinham desappare- cido, como que por magica operação, para darem logar, assim se nos afigurava, à outros novos, robustos e ne- Viagem de | regresso 133 dios, que despreoceupados se entretinham com os fol- gares. É que o negro, assim como cáe rapidamente exhausto de forças quando lhe falta o regular sustento, sobre- tudo o vegetal, tambem arriba depressa; e o homem que amda hontem, magro, esqueletico, com o ventre eprimido, parecia prestes a succumbir, podeis vel-o, uma semana depois, gordo e bello, se for alimentado do modo preciso. No emtanto novos trabalhos e fadigas se prepara- vam, em que a vida e a tenacidade de muitos seria submettida novamente á prova. CAPIPULO: XXIII IGNOTA REGIÃO À guerra de Caponda e juizo de N"Tenque sobre as terras do nascente — Suas instancias e nossa decisão — Despedida do regulo e jornada para o Lufira—Construe-se uma ponte à gentilica-—Traços geraes do rio — O sal do mato — Aspecto das terras de alem —O dia de Natal e a perda da comitiva nos bosques — Duvidas de Trinta, que desconhece o caminho — O que se passava então pela Europa, e o que ía pelo acampamento — Terra phosphorescente — Ao rumo da agulha e um quadro de partida Trilho inesperado — Por algum lado haviamos de sair —Concerto de roncos e estranha descoberta de André, o cabinda — Dois indigenas ap- parecem, e nós volvemos costas ao norte — Subito encontro com deze- sete elephantes — Antonio caça um d'elles — Extracto do diario — Morte do animal e seu peso— Homens e feras, todos comem — Macaco surpre- “ hendido— Um velho leão visita pela noite o acampamento — As hyenas e suas proezas — Esquarteja-se o elephante—Os vermes das carotidas — Regosijo de Antonio e scenas da noite—Duas photographias— A geo- graphia e a geologia d'aqui— Terras terciarias e quaternarias, bem como a evidencia do carvão n'aquellas— À flora e fauna. vá di Bor ESQUADRINHANDO O VALLE DO LUFIRA N'Tenque insistia em que não partissemos para leste, onde de certo iriamos encontrar graves obstaculos, se não a perda total da caravana, por terem sido devas- tadas aquellas regiões pela guerra de Caponda. Nada existe por ali de comer, afiançava elle: estão fechados todos os caminhos n'essa direcção; em sum- ma, nem um só homem apparecerá para vos servir de guia no meio dos desertos. 138 De Angola á contras cota O melhor partido, segundo opinava, era deixarmos o rumo do oriente, e, cortando ao sul pelos campos de Muli-Ma-n'zovo, seu cunhado, procurar então a passa- gem para a nossa terra. Infelizmente, porém, este plano não podiamos ae- ceital-o, porque nos levaria mais rapidamente do que queriamos para o sul, privando-nos de ver aquillo que mais nos interessava, o Luapula, e, se tanto fosse pos- sivel, a sua saída do lago. Reagimdo pois contra as mdicações do regulo, come- cámos pelo mez adiante a preparar as cousas, decidi- dos, custasse o que custasse, a seguir pelo meio da terra da Katanga, e, transpondo-a, beber das aguas do lago Bemba. Faltavam lá mantimentos, diziam todos. Para re- mediar 1sso ordenámos a confecção de grande numero de saccos, com o entrecasco da mupanda, a fim de os encher de legumes e milho, que vinte e dois homens transportariam a rasão de 60 libras cada um, o que perfazia um total de 1:520 libras, ou 2 libras diarias para setenta pessoas, que eramos ao tempo, propor- cionando-nos assim dez dias de recursos, embora es- "a SSos. Completos e cheios os saccos, fizemol-os transpor- tar primeiro para a margem do Lufira, e como ahi fosse necessario construir uma ponte, pois que o rio corria caudaloso e levava grande volume de aguas, reunimos n'esse local mantimentos em abundancia, a fim de não 1 "Tivemos de abandonar as colleeções de armas e os ultimos artigos de conforto, para assim reunir este numero de individuos desembaraçados Ioqnota regiiio | 139 gastar, durante os primeiros trabalhos, aquelles que reservavamos para as difficuldades futuras. Depois, acrescentavamos nós, que valem os medos com que pretendem desviar-nos os indigenas; acaso não temos ahi o Trinta? Sabe o caminho ao nascente de Caponda, e em lá chegando logo o reconhecerá, po- dendo nós mesmo marcal-o, para n'elle entrar na volta do lago. Certamente, era a resposta, e socegados os espiritos com o precioso recurso de um guia, que nos garantiu ser suficiente pol-o em Caponda, para nos mostrar o caminho para a Muxinga (serra), e ainda seguros da re- tirada, aprestâmos tudo, e a 22 de dezembro, depois de feitas as despedidas a Moi-N”Tenque, e de lhe en- tregarmos uma bandeira e uma carta em agradeci- mento ao modo benevolo como nos tratára, partimos * para a margem do Lufira. Era tempo, emcoenta e tres dias havia que parte da expedição estava ali ociosa, comendo, dormindo e dan- - sando, sem outro pensamento mais do que continuar n'esta laboriosa tarefa, cujo fim não se conseguiu sem vermos annuviarem-se muitos rostos. Nada melhor do que viver no quilombo, parecia a geral opmião, e, dlomimados pelos attractivos de uma vida de mandriice, mostravam-se dispostos a ficar ah para sempre no coração do continente. Esquadrimhando o valle do Lufira, que corre aqui norte-sul, em leito fundo, pittoresco, bem vestido de verde na margem, ao largo de denso bosque, achámos alfim, fronteiro a uma libata abandonada, um logar onde duas grandes arvores frondosas nos garantiam 140 De Angola á contra-costa a possibilidade de na quéda se enlaçarem sobre a agua, fornecendo os primeiros elementos para uma ponte yustica. Doze homens de machados na bôca passaram logo o rio a nado para a outra margem, e, jogando-se áquella de lá, pegaram de atacal-a, emquanto nós começámos a cortar a d'esta banda. Longas horas levam estas fainas, por serem pe- quenas as machadinhas, espessas e duras as madeiras das rubiaceas e outras plantas que fornecem os paus para esta sorte de construcções, só tirando d'ellas van- tagem á força de repetidos golpes. Finalmente tudo se fez, e em logar de irem, como muitas vezes acontece, rio abaixo as arvores que pri- meiro cem, estas, entrelaçando os ramos ao tombarem, ficaram à superficie da agua. Vindo depois 4 floresta, começaram todos a cortar paus delgados e longos para prumos e estacas, e no espaço de dois dias estava prompta a ponte para per- muttir passagem 4 expedição portugueza. O Lufira é um rio muito fallado n'este sertão, não só pelo volume de agua que arrasta, e atravessar a zona mimeira, como pela exploração do sal que se opera nas suas margens. Mais ao norte do sitio onde nos achavamos, exis- tem uns amplos plamos, que o rio alaga nas chuvas, e na secca ficando a descoberto, se enchem de ef- florescencias salmas. Ahi vão os naturaes colher estes depositos, que, por estarem misturados de terra e areia, elles depuram por meio de lavagem e consequente eva- poração em grandes panellas. Ignota requio 141 Mettido depois o sal em umas muchas, com a fórma de cylindro estrangulado a meia altura, envolvem-no em folhas, e assim o levam para consumo. Foi d'este que sempre usámos, desde o Lualaba, onde ficou a ultima caixa de rancho, e com ella tam- bem os ultimos pacotes de sal refinado. O tabaco do mato em pilhas cylindricas, e de or- dinario em fermentação, encontra-se tambem aqui em abundancia e delle fizemos compra para nosso uso, pois outro não conheciamos desde o Cuando, visto que, por escassear no primeiro quartel da viagem, tivemos de ceder todo o birds-eye que guardavamos em favor dos nossos companheiros mdigenas. A 24 de dezembro transpozemos o rio, acampando na margem direita sob uma chuva torrencial. Entráramos n'um paiz inteiramente novo, virgem, como aquelle d'onde vinhamos, de pégada de europeus, e em que a cada passo havia, por assim dizer, uma noção nova a adquirir. Era propriamente a Katanga, paiz limitrophe do antigo remo de M"Panda, hoje Kazembe, fundado no seculo xvi por um dos Muropues. O seu aspecto severamente selvagem resaltára-nos à primeira vista; as adustas florestas que o cobrem, enfeitadas de trepadeiras e cryptogamicas, recorda- vam-nos sombrios esconderijos lá para o centro, antros de mysterios, onde o viver é um segredo distante da delação. Quadros estranhos estes, cuja força attractiva está na rasão da importancia do sigillo, e que fascinam sempre, mesmo os habituados ás selvas. 142 De Angola á contra-costa Lá dentro que plantas, arvores, animaes ou outras raridades existiriam? A phantasia encarregou-se logo de crear matas e brenhas, semeadas nas clareiras de lagoas, onde elephantes se deleitavam banhando-se, ao passo que indolentes crocodilos, estirando na areia todo o seu comprimento, viam mdifferentes esta scena, e perfidos, sedentos, se arremeçavam sobre timidos an- tilopes. É este fervilhar de scenas desconhecidas e attrahen- tes enredava-nos, porque, em verdade, quem não sente o prurido da curiosidade 4 lembrança de surprehen-: der um rhmoceronte no seu petit lever, ou de contem- plar um casal elephantico em devaneio amoroso pelos bosques? (Quando alvoreceu o dia de Natal do anno de 1884, ergueu-se a expedição portugueza para metter a ca- minho por um atalho, que Trinta afiançou convir e lhe tóra indicado por um indigena seu amigo. Lestos e bem dispostos avançámos a um rumo que devia approximadamente correr a les-sueste, patinhan- do a agua depositada sobre o solo impermeavel. O paiz é plano a principio, e o nosso guia Impavi- do, olhando ora para a direita ora para a esquerda, seguia por elle, como se de ha muito o conhecesse. Pouco a pouco as cousas mudaram de aspecto. À direcção, a primcipio les-sueste, desviou-se para nor- deste e seguidamente ao norte. O Trinta detimha-se a miudo, e, contemplando Rosa, reflectia alguns momentos, ora fitando-a, ora no que “o rodejiava, para em seguida encetar de novo a mar- cha. Ignota regriio 143 Então a trilhada, até ali claramente assente, come- cava de mterromper-se, umas vezes por numerosas pé- - gadas de antilopes, outras pela vegetação que a cobria, e logo elle de novo suspende, arreia a carga, e de arma ao hombro parte para um lado e outro à procura do quer que seja; encarando a miudo a Rosmha, que, com- prehendendo a rascada, lhe responde com suspiros. — Principia a entortar-se o fuso, André, o homem já anda ás aranhas, diziamos nós. — Verdade, senhor, replicava elle, o homem pareceu não sabeu caminho de Moçambique! Com effeito assim era, o guia ignorava o do Lua- pula, quanto mais o de Moçambique! Pela hora e meia da tarde perdeu-se totalmente, dando comnosco. no meio de um matagal alagadiço, cercado de bos- ques verde-negros, onde nos entregou, à imagem e similhança de chefe de gabmete que sáe do poder, as redeas do governo e os ossos do festim, para d'elles fa- zermos o que nos aprouvesse! Ao cair da tarde d'esse memoravel dia de Natal a expedição portugueza achava-se perdida no sertão da Katanga, mal acampada junto a um morro, zurzida de prumo pela mais furiosa trovoada de tal quadra, e, desde esse dia até Moçambique, nunca mais o pobre Trinta tornou a encontrar o seu celebre caminho, nem forneceu mdicação que aproveitasse. Eis as palavras do diario n'essa .conjunctura: « Nefasto dia o de hoje, e triste idéa a de trazer por guia o Trinta, ou ter-se confiado m'elle. Chove a tor- rentes, ribomba o trovão, emquanto nós, acocorados na barraca, rabiscâmos estas linhas, recordando o baru- 144 De Angola á contra-costa lho e alegria que a esta hora lavra por todo o orbe catholico. «Lautas mesas cheias de iguarias appeteciveis, que com seus fumos embaciam os crystaes pelo meio es- palhados profusamente, circumdadas de familias, que alegres fallam e gesticulam, riem e se entresaudam, esquecendo em doce convivio o rude labutar da vida; é o quadro que se nos afigura, e tão radiante de feli- cidade, que cáe de geito para melhor contraste com a amargura da nossa situação. «Ao salão iluminado, contrapõe o ironico acaso o aqui a cubata de palha; ao tepido e aromatico ambiente, uma toca alagadiça repleta de humidade e fumo dos madeiros molhados que ardem; aos lustres e candela- bros, uma cabaça partida com um morrão meio Impre- gnado em azeite de ginguba; aos convivas alegres servidos por creados de gravata, os vultos esguios e tetricos de dois homens, no centro de negros quasi nús e cuja esperança é prestar algum serviço à scien- cla; às mesas, emfim, vergando sob o peso de iguarias, um prato de feijão cozido, louvor de Deus, uma unica lata de peixe e outra de insonsas salchichas, para este dia especialmente guardadas! «Uma pouca de farinha do sorgho de mfusão em agua foi no remate o nosso Champagne, com o qual brindámos aos ausentes, convencidos de que, se o sou- bessem, lhes seria grata a lembrança, mas nunca a pos- sibilidade de se tornarem presentes! « Estamos irremessivelmente perdidos, segundo cre- mos, € começam a realisar-se os agouros de N”"Pen- que, ácerca das difficuldades a encontrar por esta terra. Ignota região | 145 «Amanhã teremos que romper a machado e ao ru- mo da agulha através desses matos, sendo certo que até ao exarar estas linhas não decidimos bem qual a direcção mais conveniente a seguir. CABEÇA DE QUIHUNO Segundo photographia « Como saber se ha algum atalho por estes bosques e a que direcção corre? Se o suspeitassemos cortaria- mos na perpendicular, mas infelizmente ignorâmol-o. « Um facto estranho é a phosphorescencia do solo argilloso, que em toda a parte scimtilla, perturbando a vista. «Devida não sabemos a que circumstancia (pois chegámos a presumir serem insectos da familia dos VOL, 1I. 10 146 De Angola á contra-costa Lampyrides, que originavam taes clarões, depois uma sorte de Pholades, typo novo, que minava a argilla, e apparecendo à superficie produzia o phenomeno em questão), apenas assegurâmos estar o terreno coberto de pontos luminosos, e que, tentando trazel-os a obser- vação, colhemos, ora pequenos pedaços de pau, ora fragmentos de folhas, ora outros differentes artigos en- volvidos em ardencia.» Acabrunhados pelas impressões da noite anteceden- te, erguemo-nos mal dispostos. A manhã contmua nublada e fria, ameaçando chuva. O horisonte, coberto por uma espessa barra de nimbus, aperta-nos em estreito campo. Pelo ar correm grossos cumulos, trazendo comsigo umas aragens frigidas e desagradaveis, que rumorejam pelo arvoredo e nos enregelam até aos ossos. O chão de argilla e alagadiço torna-se escorregadio, cedendo debaixo dos pés; os fatos, impregnados de humidade, aconchegam-se pouco confortavelmente ao corpo. Dada a voz de leva arriba partimos, seguindo a di- recção de leste verdadeiro. Uma linha de morros nos acompanha o camimho pela esquerda, que nós breve deixâmos a perder de vista no noroeste. Por vezes planuras limpas, mterca- lam com os macissos de mais denso arvoredo, vestidas de grammeas de infinitas qualidades e cores. N'ellas apenas cortam a monotonia as habitações das termites, que dispersas similham colossaes pyra- mides, mtervalladas aqui e alem por um bouquet de acacias, que à camada superficial se ligam por tortas e nodosas raizes. Ignota região Pam Alguns borassus elegantes agitam dispersos as suas palmas acima dos capins, similhando enormes venta- rolas, movidas por mão oceulta. O sol prmcipia a descobrir, e, varrendo com o seu feixe multicolor tão gigante paizagem, fal-a passar por taes gradações de côr e de aspecto, que deslumbra quem as presenceia, e dissipa a nuvem de cacimba que rasa a terra. Milhares de lindas aves empoleiradas sobre as bri- lhantes cupulas dos ramos superiores que o astro rei ilumina, entoam em gorgeios: verdadeiro hymno de alegria, que uma especie de mandrill e outros macacos se encarregam de interromper com os seus gritos es- tridentes, dispersando-as assustadas. Os grandes feli- nos erguem-se, soltando surdos grunhidos; mnumera- veis msectos enxameiam, chiam, esvoaçam; rumoreja o arvoredo com os primeiros sopros, e ali, onde o geo- erapho contemporaneo deixa nas cartas um campo sem indicações, a natureza opulenta e rica corre, salta, vivendo alegre e primitiva. Pelas doze horas, como fossemos abrindo passagem por entre troncos e ramagens, viram de subito os da vanguarda um largo trilho, que mfelizmente se dirigia ao norte. | Não muito bem dispostos, resolvemos, comtudo, se- guir por elle, na esperança de encontrar alguem que nos gulasse ou desse mformações quanto á melhor fór- ma de fazer a viagem para o Luapula. Proseguindo durante todo o dia, entre trilhadas de elephantes, acampámos ao anoitecer, sem mdicios de cente em parte alguma, descobrindo apenas as péga- 148 De Angola á contra-costa das de dois homens, que na vespera por certo tinham passado em sentido opposto ao nosso. Pela noite concordámos em continuar para diante no mesmo rumo, embora elle não conviesse, e, sor- vendo uma chavena de chá, envolvemo-nos em gabões, deitando-nos descansados. Para algum lado haveria saída, eis o remate, e se não for para Moçambique, será pelo Kasembe para o Panganyka e Zanzibar, ou para o Bemba, Nyassa e Rovuma, e como de ha muito andavamos habituados a correr matos à solta, adormecemos mais tranquillos do que qualquer caçador imdigena affeito a selvas. Pelo escuro acordavamos a miudo aos estrondos e urros que saíam dos bosques circumvizinhos, prova evidente da presença de elephantes, hyenas e outros animaes de similhante jaez, e logo que o sol se mos- trou, ingeridos oito grãos de quinimo, um prato de feijão e uma pouca de carne nadando em agua com sal do Lufira, abalámos. André Cabinda, n'essa noite memoravel, saíra da cubata e, dotado de coragem muito inferior á medio- cridade vulgar, teve ensejo de ver cousas estupendas. Compromettendo e confundindo todas as noções sobre o modo de viver dos elephantes, e exagerando o que via pela optica do medo, architectou n'uma pal- meira o gigantesco vulto de um d'estes animaes. Claro é que em similhante altura elle só podia consi- derar o bicho empoleirado, e permittindo-se uma pe- quena ampliação, afiançou mesmo vel-o passeiar pelos troncos superiores, fazendo com a tromba varios gestos facetos! 1 quota região 149 A noticia tôra dada com imteira convicção; era evi- dente, pois, que os elephantes dormiam pela noite, a/- guns, empoleirados nas arvores, imcontestavel facto, que constituia uma novidade adquirida para a sciencia! Mas como subiam elles, e que motivo levava estes animaes a escolher tal meio de repouso? Eis o problema que assoberbava André, e elle mais tarde se propunha resolver, cujo conhecimento teria como resultado corroborar a sua asserção, acrescen- tando aos numerosos livros escriptos sobre o elephante, mais uma bem curiosa pagima! Às situações pouco felizes nem sempre são duradou- ras; assim a caravana proseguia silenciosa o caminho para o norte, e nós já caleulavamos que um desvio por aqueles desertos bastaria para, que em logar de attin- gmmmos o Indico em Moçambique, só o alcançassemos em Saadani ou Zanzibar, quando o acaso nos enviou sobre o caminho dois mdigenas, que, ao ver-nos, fugi- ram espavoridos! «Cérca, agarra», foram as ordens pronunciadas, e após um certo trabalho vieram os dois á nossa pre- sença. Chamado o mterprete-guia, expoz-lhes a nossa si- tuação, obtendo a resposta, pouco lisonjeira para elle, que nós íamos em direcção opposta, se efectivamente pretendiamos ir para Caponda. Feitos os ajustes e entregues umas jardas de fa- zenda a cada um, acceitaram o guiar-nos durante tres dias, e, dando as costas ao norte, voltámos por onde tinhamos vindo. | Trinta ficára attonito, nós apenas embasbacados! 150 De Angola á contra-costa A 28 de dezembro caminhavamos socegadamente sobre as indicações dos guias. Um sol brilhante ilhumi- nava o orbe, risonho era o panorama que nos envolvia, gostosa a convicção de que fam todos os estomagos cheios. Nós mesmo, enlevados na obra da natureza, digerta- mos serenamente o quarto de litro de feijão que ser- víra de almoço e tinhamo-nos atrazado em companhia de dois moleques, para ver um bello ponto aqui, deter- minar um azimuth alem, quando subita algazarra, acompanhada de dezenas de denotações, nos detem es- pantados. «(Que é? Que foi?» Exclamámos, suppondo ataque imprevisto, e avançando na idéa de ordenar o quer que fosse, esbarrámos com umas figuras estranhas, que nos obrigaram a retroceder precipitadamente. ' Dezesete elephantes vinham sobre nós, acossados pela gente que ía na vanguarda, obrigando-nos sem protesto a desviar para dar-lhes passagem na marcha. Hixaremos em breves palavras o que do diario con- sta a este respeito. «Dia 31 de dezembro. «Está por duas horas o velho anno de 1884, de grata lembrança para a expedição portugueza, pois durante elle se conseguiu resolver muitos dos proble- mas que nos haviamos proposto, acrescendo aimda (e é este um bem raro facto) termos, durante tal tempo, transitado pelas mais doentias regiões, sem experimen- tar sequer uma febre. «Nunca exploradores africanos, a nosso ver, pode- ram gabar-se d'isso. 44 A (A/h V; dh fim ntin ENDERAM PIHANTES NOS SURPREIE E x 4 «++ DEZESETE COLLOSSAES IT Ignota regiio JS «Estamos em plena quadra da vida selvagem. «Ha quatro dias que se acha a expedição acampada neste quilombo, empregando-se na faia de esquarte- jar um elephante. «Antes de haverem topado comnosco os dezesete pachydermes no dia 28, encontraram Antonio, que, visando-os mais a geito, lhes enviou um par de balas. «Um d'elles retrocedeu mopinadamente, deixando os companheiros, que debandaram para o lado oppos- to, e perseguido sem treguas, veiu alfim a acabar no amago do bosque, a 2 kilometros de distancia. «Ahi, embora longe da agua, tivemos de fazer o acampamento, pois claro é que nnguem d'aqui o po- dia arrastar para sitio mais apropriado, e lançando-se a nossa gente a elle, levou quatro dias a reduzil-o a ti- ras, que, collocadas sobre mútallas (paus atravessados em forquilhas), se seccaram ao fumeiro para guardar. «O seu peso deve approximadamente ser de 5 to- neladas; a carne tirada já a esta hora monta a 800 kilogrammas. «Todos comem delle, homens e feras. Assim, ante- hontem foi mister conduzir as visceras para um valle aqui proximo, a fim de evitar a sua presença ao come- carem a decompor-se; pois durante toda essa noite parecia que estavamos n'uma menagerie no momento da refeição, tantos eram os urros das hyenas e dos leopardos que se atiravam ao formidavel festim. «E uma arca esta floresta, visto o grande numero de animaes que por ella divagam. «Um macaco foi surprehendido e apanhado esta manhã a tiritar de frio atraz da cubata de um dos che- 152 De Angola á contra-costa fes; um velho leão, cujo antro sem duvida está proximo, vem fazer-nos pelo luar e mvariavelmente a sua visita ás dez horas em ponto. «Sentando-se a distancia, o avelhentado senhor d'es- tes dominios, como que mostra inquirir da auctorisa- ção que temos para aqui nos estabelecer, e soltand dois ou tres roncos, parece aguardar impassivel un. “resposta, deixando Antonio, o caçador, preso de uma, nevrose, por lhe não auctorisarmos a remessa de duas balas. «Pela noite ninguem ousa transpor o bosque para mr à agua, no receio de algum encontro com as feras; a audacia das hyenas é tal que, apesar das fogueiras, vieram ao campo na noite de hontem, roubar-nos parte da pelle do elephante que se achava na palliçada. «À faina de esquartejar um bicho d'estes tem sido enorme, pois que só a machado se lhe póde extrahir é pelle e os musculos. «Quando cortavamos no primeiro dia as carotidas, a fim de separar a cabeça e as defensas, jorrou de subito o sangue, e de envolta com elle encheu-se o solo de uns vermes, em tudo similhantes aos da pu- trefacção, mas de muito maior volume, pois chegam ás dimensões de uma fava, e movem-se mais rapidos. Disseram os pretos que todos os elephantes téem estes bichos. «O Jantar do fim do amno constou da tromba do ele- phante e patas do mesmo animal, iguaria que de resto não exaltaremos, como muitas vezes temos visto fazer pelo motivo de necessitar-se uns molares de aço, para tirar d'ellas mediocre partido. BRSNS SB N MIN W A E DS q y Wes RE .E ENCOSTADOS AO COLOSSO DÉ-MOS-NOS O PRAZER DE NOS PHOTOGRAPHAR. Ignota reqão 153 «Antonio está radiante, sendo, na occasião da mor- te do bicho, conduzido em triumpho a cavallo n'um dos guias e depositado de pé sobre o cadaver do ani- mal; honraria esta que lhe valeu ter de desfazer-se de quatro jardas de algodão. «As scenas de dia e noite no quilombo são caracte- risticas e de aspecto selvagem, vendo-se sangue, ossos, carne, dispersos promiscuamente em meio do geral mo- vimento. «Duas photographias tirámos, na intenção de as re- produzir na Europa” e adornar a parte deseriptiva da nossa viagem, emquanto Antonio pelo dia contmua ca- cando gazellas, quiliunos, etc., em companhia de André e outros, havendo a final convencido o cabinda, de que não é facil a elephantes empoleirarem-se de noite pe- las arvores. «Nada de mteresse se póde dizer geographicamente da zona em que nos achâmos. Tendo atravessado na perpendicular varios riachos, sempre notámos que to- dos corriam para o noroeste, affluindo portanto ao Lu- fira, bem como tudo nos leva a crer que ao sueste de nós deve estar a linha divisoria do Zaire-Zambeze, attenta a Já pequenez destes, e afiançaram-nos os guias que os de lá correm ao sul. «O solo é aqui pela maior parte constituido por um orés argilloso, em partes ferruginoso, semeado de ca- lhaus de gneiss com quartzo roseo, de fragmentos de quartzite e pedaços de crystal de esthose n'elle inclui- dos, representando talvez pegmatites, alternando por ! Infelizmente uma d'ellas perdeu-se, a relativa ao campo. 154 De Angola á contra-costa vezes com sehistos argillosos avermelhados (paleozoi- cos), povoados de nodulos, hematite e limonite terrosa. “«Um grés fino branco e incoherente affloreia a terra, porduzmdo pelo seu desagerego a fima areia que se observa. » Uma suspeita notavel, e que na Europa vimos de certa maneira confirmar-se, foi a da existencia das ter- ras sedimentares recentes, quaternarias e terciarias por ali. | Assim o illustre geologo o sr. Nery Delgado, numa Oliva subulata que trouxemos, viu a confirmação do primeiro facto, bem como n'um molde de Mure sp. (?) e em terra argillosa vermelha e outra côr de tabaco jul gou respectivamente ver evidenciada a presença dos depositos terciarios e quartenarios n'aquella zona. Amda um exemplar digno de mencionar-se foi o do carvão, que guardâmos de lá, e sendo reconhecido como tal, ardeu bem e com o cheiro caracteristico. Specimens de malachite com quartzo branco, ete., tambem abundam por toda a Katanga, tão afamada pelas suas mimas de cobre. Terminando, diremos que uma frondosa vegetação reveste este paraizo, e se a flora é de vulto, não menos importante a fauna se mostra, representada pelos mais corpulentos animaes, como leões, bufalos, sobretudo os elephantes, e ainda por aves, reptis e insectos de variadissimas fórmas e cores. De um quihuno ali morto damos amostra na gra- vura atraz, em que a cannelura das hasteas, existente só pela parte fronteira, foi pelo desenhador casual- mente exagerada. CAPITULO XXIV . TRINTA DIAS NAS SELVAS O dia primeiro do anno e a terra de Iramba — Os ba-lamba e a fuga dos guias — O trilho do Trinta — Cuidados a ter na marcha pelas selvas — Os riachos transpostos nos primeiros dias e a angustia que nos dominava — As origens do Cafué — Dois bufalos e um leão —O dia de Reis e as libatas de Caponda— Fartos arimos e faina dos nossos— Angustias experimen- tadas na zona montanhosa—O dia 11 de janeiro e considerações de oc- casião —O lobo e a sua persistencia em seguir os trilhos do homem — Sua manha e repastos— A situação do Trinta e as horas do somno— Impressão que nos causou a terra onde estavamos —Inesperado tiroteio ao norte do quilombo — Seria uma guerra ou uma população pacifica? — Receios da expedição — A caminho ao romper do dia— Rasgo de valor do Trinta —O que vimos duas horas depois — O nosso guia volve prisioneiro e explica quanto observára —Licuco, o irmão de Musiri— Parlamenta-se— Exigencias dos enviados e a nossa retirada para o mato—Um acampa- mento fortificado —Tudo se resolve por fim —Notavel prestigio do euro- peu entre as gentes do continente negro — Às minas de Kandumba e de- Aonde ficara o trilho? sespero de um rhinoceronte ASPECTO DE UMA LIBATA DEVASTADA EM CAPONDA Alvorecêra o dia primeiro do anno claro e sorriden- te, facto de bom presagio para nós. Apartando-nos do acampamento em que fôra esquar- tejado o elephante, cujos ossos dispersos entre cinzas lá ficaram marcando a nossa passagem por ali, adiantá- mo-nos para o susueste, a fim de entrar em Iramba, terra por onde seguia, no dizer dos guias, o antigo trilho que conduz ao oriente. Jramba estava pouco menos que abandonada, e após dois dias de marcha vimos duas libatas desertas, Mus- saca e Murenga, assentes Junto ao rio chamado Tanfi, onde appareceu para maior consolação um bando de ba-lamba, salteadores de feio aspecto, que quizeram roubar-nos, e com os quaes os guias fugiram. 158 De Angola á contra-costa A situação tornára-se similhante ás anteriores, isto é, estavamos n'uma terra brava e ampla, deserta, que não conheciamos, sem guias, mettidos em densa flo- resta, faltos de farimha e feijão, mas carregados de car- ne de elephante. «E a terra de Caponda, e o trilho do Trinta?» di- z1am todos. Este andava desnorteado, afiançando á gente que os malvados guias, por terem dois corações, o haviam enganado, fazendo-se seus amigos, e até a propria Rosa, no seu dizer, o lográra ludibriar, immpondo-lhe à força tal amisade. O facto de uma comitiva achar-se de subito no mato, ' abandonada, e sobretudo desconhecendo a disposição da hydrographia, tem o inconveniente de correr o risco, caso se aventure á toa, de seguir de longe os cursos dos rios, não encontrando jamais agua. E a fome póde em Africa supportar-se um ou dois dias, mas a sede, é caso muito mais grave e de sé- ria ponderação. | Urgia portanto, em mais este angustioso transe, pro- ceder circumspectamente, e, após largo meditar, dispor as cousas de modo que não fossem num momento per- didos todos os nossos esforços. Depois de um estudo approximado d'aquella zona resolvemos, embora para o oriente fosse o nosso ver- dadeiro caminho, cortar ao nornordeste, convencidos de que assim, a não ser a mfelicidade de seguir por uma linha divisoria de aguas, encontrariamos diaria- mente afluentes, ou do Lufira pelo oeste, ou dos tri- butarios do Luapula ou Bemba por leste. “Trinta dias nas selvas 7 159 Posta pois a caravana em marcha, atravessámos juncaes e selvas aqui, para transpor ao diante matos cerrados, sempre debaixo de chuva torrencial. Mais numerosos que desejavamos, começaram a ap- parecer os riachos e rios, em numero tal, que tivemos por vezes de fazer em vinte e quatro horas tres pontes, e atravessar alternadamente outros tantos em seus leitos, com agua pela emtura. À imaginação esvaía-se contemplando o que nos cercava; a côr medonha do céu, o ruido das chuvas, o ribombar do trovão, os matagaes por toda a parte fechados; os nossos homens, nús, escorrendo agua, de machados em punho a derribarem as arvores; e nós, hirtos, encharcados, tiritando de frio, a abrir um tri- lho para o norte, tudo isto nos convencia da insolta temeridade da nossa empreza, e que aquelles mfelizes, levados pelo genio levianamente aventureiro dos seus chefes, fam ali ao final encontrar termo a tantos reve- ZES. A 5 de janeiro, pelo meio dia, andando a expedição à corta-mato, conforme dissemos, operou-se a Impor- tante descoberta da nascente do Cafué, no norte cha- mado Loengue, e deixando de subito os rios que cor- riam para a esquerda, pegámos n'um que deslisava à direita. | | No curto espaço de tres horas bebemos agua do Zaire e do Zambeze, e prestada a tal facto a attenção que merecia, proseguiu-se á aventura. Adiante acampou-se, e quando pelo redor andava- mos em procura de mimeraes para a nossa collecção, apertou Antonio com uma manada de bufalos, ferindo 160 — De Angola á contra-costa gravemente dois, um dos quaes à queima roupa, rece- beu a bala estacado e quasi a colhel-o. Infelizmente, havendo-se mettido a noite, tresmalha- ram-se, decidindo-nos por isso procural-os no dia se- gunte. Logo ao alvorecer tentaram ir em sua pista pelo rasto do sangue, não podendo effeituar a busca, pois mal haviam saído do quilombo voltaram todos espavo- ridos, declarando que um enorme leão estava deitado sobre o logar por onde o bufalo passára, e perto do nosso ponto de paragem. Não nos agradando a proximidade de tal vizinho, levantâmos o acampamento, partindo em seguida por uma campina que ficava a leste. Durante a tarde do dia de Reis vagueámos por en- tre senzallas queimadas e em rumas, achando largos caminhos e arimos com sorgho, aboboras, ete., domi- nio agora de bufalos, cujas pégadas eram aos milhares. Acampou-se junto a uma serra, açoitados por tem- pestade medonha, e emquanto a chuva caía a torren- tes e o trovão ribombava horrisono, avistavam-se, á luz dos relampagos, os nossos pelos arimos a fazer a apa- nha de tudo que havia aproveitavel. No dia segumte proseguimos por um amplo rasto que se dirigia a leste, notando em toda a parte marcas da passagem de guerra e signaes evidentes de lucta, onde os ba-zeba, habitadores de Caponda, foram victi- mados. Para a frente fomos vendo fartos arimos circum- dando libatas derrocadas, onde encontrámos aboboras, milho, e uma sorte de Cucumis sativus, pepino, coberto Printa dias nas selvas 161 de bicos, e assás agradavel, de mistura com panellas, bancos, barris de polvora e grande numero de utensi- lios em destroços. A gente tornára ao seu radioso estado, e carregan- do quanto podia, voltava de novo a imaginar-se salva e livre do perigo da fome. A trilhada, sempre limpa e plana, evidenciava que proximo era a libata grande do regulo para onde se fazia todo o movimento nos tempos da prosperidade de Caponda. Hoje era um deserto, e fôra Musiri, seu chefe, quem consentíra que estranhos lhe fizessem a guerra; singu- lar politica esta, tendo só por alvo a espoliação do opulento regulo d'ali, seu vassallo, ao qual os vence- dores saquearam as terras, repartindo os despojos com o dito Musiri, assegurando-lhe assim a serie do seu tremendo prestigio. Ao retirar d'esta parte do districto, desappareceu ainda outra vez o trilho, tendo de proseguir á toa pelo mato. Junto a um grande rio, que soubemos mais tarde ser o Lufubo !, affluente do Luapula, andámos vinte e quatro horas a vaguear para saír dos brejos e matos que o vestem, e, volvendo á esquerda por entre ser- ras e morros, entestâmos com o norte, no mais fune- bre e tetrico dos silencios. | 1 Foi n'este rio que tivemos occasião de colher um exemplar da Acha- tina, Ivenst, especie nova, terrestre, para ajuntar a tantos outros, que fize- ram da nossa pequena collecção uma das mais notaveis recentemente vindas à Europa, como se vê da nota no fim do volume. VOL. II. 11 162 De Angola á contra-costa Engolphando-nos em gargantas e desfiladeiros, fo- mos por esta via dolorosa á procura não sabiamos de que, soffrendo no primeiro dia cruelmente de sêde. Os ennegrecidos dorsos dos morros, tapando-nos o horisonte, como que abafavam as esperanças, e as tor- tuosas ravinas dos sopés, obrigando a inverter a miudo o caminho, lançavam-nos a meio do dia para a terra, abatidos pelo cansaço. Era a mais penosa das marchas por nós feitas aquel- la que se ía operando pela Imha das serras da Katanga. O solo, por sua parte, composto de calhaus fra- gmentados de rochas varias, havia posto os pés de mui- tos em deploravel estado, detendo-os por vezes nas clareiras que avistavam. E sem embargo urgia cammhar, fazendo-se por fim em tão agreste zona o exagerado trajecto de 16 e 18 milhas, entre matos de mupandas, mahambas e aca- cias, divididas pelos sulcos e fundas covas das péga- das do elephante, aqui em quantidade. À 11 de janeiro tinhamos feito 16 milhas em iden- ticas circumstancias e acampado ás seis horas, no meio de um diluvio. Quantos dias havia que nós erravamos pelas flores- tas, ora encontrando um trilho antigo, que breve se perdia no capim e por onde caminhavamos por mo- mentos, ou seguindo á corta-mato para o norte! Tudo continuava a:demonstrar que esta zona era deshabitada, quer já pela presença do maior dos qua- drupedes e falta de queimadas, quer pela basta urzella que cobria os troncos e ausencia de traços de machado nos ramos do arvoredo. Trinta dias nas selvas 163 Os mesmos trilhos de pé posto, que por vezes appa- reciam, Isso mostravam, pois eram cammmhos antigos, musgosos, cobertos de relva, quasi sempre na perpen- dicular ao rumo em que íamos, provavelmente ligando em outras epochas alguma tribu do oeste com o curso do Luapula, e agora só conhecidos de pantheras, lo- bos e leões, cujas pégadas de tempo a tempo se obser- vavam. E notavel o tino e a persistencia com que o lobo principalmente, percorre pela noite as veredas feitas pelo homem. Notámos as marcas da sua passagem, durante mi- lhas e milhas por vias que seguimos, calculando pela posição d'ellas o numero de vezes que parára, natural- mente para farejar, e aquellas que se havia afastado para fugir a algum perigo ou esconder-se. Depois parecia volver pela estreita senda, como con- victo de que por ella iria á aldeia ou logar onde a sua fome podesse saciar-se. E facto original, seguindo-lhe as pégadas, nunca de reconhecer que, ao approximar-se de qualquer po- voação, saltava para fóra do cammho, indicando cla- ramente nisto um instincto que o leva a esconder-se para dispor o ataque. O mais triste habitante das selvas, como atraz ficou dito, fundado no que vimos e nas mformações dos m- digenas, o lobo, é em nosso pensar o maior dos mfe- lizes na ausencia do leão, a quem de longe segue para aproveitar-lhe as migalhas, chegando a lançar-se aos troncos em decomposição, quando aquelle falta ou a fome aperta. 164 De Angola á contra-costa Por nossa parte observámos sempre a mesquinhez dos seus repastos, a julgar pelos dejectos espalhados no solo. Em geral evidenceia banquete de ossos, porque os excrementos são constituídos na maior parte pelo cal- careo, e com frequencia esses residuos vem cheios de pennas de aves, unhas, pelles de pequenos quadrupe- des, demonstrando quanto fôra escassa a refeição que lhe deu origem. Trinta, o desditoso guia, era victima das chufas e ameaças da caravana, tendo que intervir muitas vezes com a nossa auctoridade a seu favor, para o livrarmos de aggressões, quando, mquirmdo-o sobre sitios á vista, elle respondia com ar de aterrado: — Perdi o juizo, senhores. Não sei onde estou, tudo para mim aqui é novo! Então esses homens esfaimados, cheios de fadiga e desanimo, deitavam-lhe olhares torvos, tinham fremi- tos de o agarrar e quem sabe... comer, e a final com rasão. — E elle 0 culpado, diziam todos; se não fosse elle nunca nós viriamos parar a estas terras, talvez para aqui ver o ultimo sol! E isso era tambem em parte verdade. A 11 de janeiro fizemos, como ficou dito, uma mar- cha de 16 milhas sob chuva torrencial. Extenuados e encharcadissimos, resolvemos acam- par pelas cinco horas. | Collocada uma pouca de carne secca sobre as bra- zas, Jantou-se, e envolvidos pouco depois nas mantas, deitámo-nos. Printa dias nas selvas 165 Bem agradaveis eram para nós essas horas passa- das no regaço de Morpheu, porque só durante ellas descansava o espirito d'esse labutar incessante, que o punha a torturas, libertando-se do ferreo jugo da du- vida, do receio ou do pavor! -«- RECEBEU A BALA ESTACADO, E... Essas terras solitarias e abandonadas, onde nem um só ruido aceusava a existencia dos nossos similhan- tes, ou uma unica marca indicava a possibilidade de salvação, impressionavam-nos por maneira tal, que o mato nos parecia um vasto cemiterio que se abríra no caminho, prompto a mbumar na alluvião balofa e nas folhas caídas os esforços de mezes, com os nossos vul- tos emmagrecidos, e receber, abafando no denso da 166 De Angola á contra-costa sua ramagem, os derradeiros gemidos de despedida d'aquelles, de quem a Providencia se esquecêra. Nunca nos passou pela idéa que houvesse em Afri ca tão grandes tractos de terra deshabitada. Tinhamos adormecido, havia duas horas, quando tomos sobresaltados por alguem que nos chamava. — Ergam-se, senhores, venham, ouçam! De um pulo estavamos de pé, e em dois mmutos achavamo-nos fóra escutando. — Ha pouco, disse um, os homens que junto vela- ram da fogueira ouviram para a banda do nornoroeste tres tiros quasi seguidos. —'Piros, e a esta hora! exelamámos espantados e logo mais dois echoaram, depois quatro, oito, dez, como um tiroteio. Sit guerra, uma guerra, disseram todos: tantos ti- ros a deshoras não podem ter outra causa. Raciocinando, porém, ponderámos o segumte: Uma batalha é impossivel, de noite os indigenas não se batem; alem de que, para 1sso, era necessario que proximo houvesse villa ou aldeia de vulto; e nada por aqui o denota. Mesmo junto do acampamento viam-se numerosas pégadas de elephante prova certa de deserto. Caça tambem não era acceitavel, pois nunca vimos | o negro em África caçar de noite; elle, que depois do sol posto não sãe do campo, atrevia-se agora a percor- rer os matos em cynegetica excursão! A verdade, porém, é que perto de nós estava gran- de numero -de gente, vinda ou em marcha para guerra; que vencida vimgar-se-ia de nós por despeito, vence- Printa dias nas selvas 167 dora abusaria d'essa vantagem para espoliar-nos, que urgia evital-a ou abeirar com toda a cautela, salvo se os tiros dados n'este momento fossem devidos a acto de defeza contra subito ataque de feras. À nossa posição não era muito melhor do que até ali, e o encontro de alguem, pelo qual tanto almejava- mos, transformára-se agora em suspeitoso desagrado e serio receio de ver mais compromettida a caravana. Estranho caso. Esse grupo de homens, que, ha tanto tempo ao abandono e transviados nos matos do enor- me contmente, suspiravam por uma morada humana, preferiam agora o desamparo, a terem de encontrar-se com os seus similhantes! Tão perigoso é ás vezes esse bipede, que intitulam rei da creação, quando no estado selvagem! Incapazes de acertar com a causa dos tiros, que con- tinuavam a ouvir-se, voltámos para as camas, 4 espera do dia seguinte para tudo averiguar, não deixando de marcar com todo o cuidado o rumo a que demorava o logar onde se produzíra aquelle ruido. Apenas o sol emergiu do circulo apertado que nos limita na terra o campo visual, e a sciencia chama horisonte sensivel, pozemo-nos em marcha n'essa di- recção. Tamos alfim saber o motivo; talvez encontrar protec- ção, reflectiam muitos, sem duvida ficar prisioneiros, arrasoavam alguns em áparte, e, como em quasi todas as cireumstancias sérias em que se encontraram, cama- rada negro lá foi titubeante e cheio de receio. “O caminho a principio era plano e lodoso, marchan- do nós por elle a custo e com enfado; adiante, porém, 168 De Angola á contra-costa elevava-se suavemente, e, tornando-se enxuto, seguia por meio de uma floresta pouco espessa e facil de trans- por, carecendo só de arredar os ramos que ás vezes embaraçavam. | Ao norte quarta ao nordeste, íamos assim avançan- do de agulha em frente, quando descobrimos ao nosso lado um largo e bem pisado trilho, que corria paral- lelamente. — Oh! foi a exclamação; a final temos villas ou al- deias aqui proximas; o ruido era sem duvida produzido pelos habitantes. Entestando a carreiro adiante, encaminharam-se li- geiros e contentes aquelles que ha vinte dias desde Moi N"Penque haviam apenas visto os guias e os salteado- res de Iramba, convencidos já de que não era guerra, mas sim pacifica povoação. No curto espaço de hora e meia foram transpostas 5 milhas, e n'uma abertura da floresta démos de im- proviso com um arimo. ÀÃo longe viam-se tectos de colmo. Proseguimos em silencio, e chegados á distancia de tiro de espingarda, acoitáâmo-nos na mata. Trinta teve n'este momento um rasgo de valor, que o alevantou aos olhos de todos. — Eu vou, senhores, explorar o mato. Sei a lingua, sou o culpado de nos havermos transviado; cabe-me w em frente saber o que ha! E, sem mais dizer, abalou de arma ao hombro. Duas horas se passaram sem que d'elle houvesse noticia, tendo a nossa angustia crescido a ponto de irmos partir em sua procura, quando de subito do Printa dias nas selvas 169 meio do capim emergiram duas cabeças tisnadas, m1- rando-nos. Logo porém que os vimos, desappareceram por en- canto como haviam apparecido. Rosa chorava como uma Magdalena! —Querem ver, exclamámos, que está perdido o ho- mem? Corramos em sua pista, talvez amda possa sal- var-se. Nem um só proferiu palavra, pessoa alguma se re- cusou, e lançando mão das carabinas partimos, deixan- do mulheres e creanças atraz. Apenas andariamos 1,5 milha, vimos ao longe uma especie de libata, ou, melhor, grande acampamento. Logo que nos approximámos, os indigenas, que eram numerosissimos, pareceram espantar-se ainda mais, e agitando com grande rapidez armas, flechas, zagaias, corriam, saltavam de um para o outro lado, como de- monios, brandindo seus pendões de côres variadas. Era sem duvida um dos mais curiosos e estranhos espectaculos a que na Africa assistimos. Um rapido relancear bastou para comprehendermos que não estava a expedição em face de uma villa po- voada de pacata e hospitaleira gente; ao contrario de tudo isto, aquelles que tinhamos em frente eram ho- mens de guerra, ali reunidos por qualquer circumstan- cia por nós desconhecida. O alvoroço continuava; com a ajuda dos binoculos podiamos ver um grande grupo cercando alguem no amplo espaço, e agitando armas, enfeites e bandeiras. Está perdido o rapaz, foi a idéa, e sem mais perda de tempo avançámos direitos a elles, no intuito de salvar 170 De Angola á contra-costa a o malfadado parlamentario, que por nosso serviço tinha ido sacrificar-se. Ao verem a expedição arrear cargas, e proseguir em Imha, de arma cruzada, suspenderam os indigenas o estupendo brouhaha, destacando logo ali um grupo de quatro homens em nossa direcção. Nós fizemos alto tambem. Approximaram-se. Trinta vinha no meio, com ar enfiado e cara de quem tinha visto o quer que fosse de feio, muito de perto. Haviam- n'o desarmado, e parece até pretendido amarral-o, pois pulsos e braços traziam signaes evidentes de lucta, nas marcas de terra e rasgões. Assumindo um ar mais altaneiro e atrevido que os proprios mdigenas, circumstancia sempre de imfallivel effeito, quando dirigida com senso, avançou um de nós direito a elles, e arrancando-lhes o guia das mãos, pol-o de nosso lado. Agora podemos fallar, e, sentando-nos, acocoraram- se os demais em volta. | «Senhores, começou Trinta, por minha vida e pela da Rosa, que nunca me vi tão embaraçado e proximo a morrer como hoje. cTista libata, que ahi vêdes, não é de gente boa; ao contrario, em seu logar está acoitado um bando de tre- gentos salteadores. | «Jicuco, o irmão de Musmi, acha-se ali com o fim, segundo presumo, de preparar uma guerra, e ouvi di- zer que chegou ha dois mezes em perseguição de Paulo Mohemeri, o celebre branco cuja cabeça Musiri queria. «Logo que me viram, começaram a considerar-me como um traidor, que andava a guiar o Paulo, e, bem Printa dias nas selvas oval ao facto da terra, podia ensimar-lhé a maneira de os perder; e tirando-me a arma, dispunham-se a matar- me, rodando em volta de mim com as zagaias encos- tadas ao peito, e Rn «Mate-se, abra-se já, par a se lhe ver o coração !» E o desditoso tremia como canniço agitado por brisa doudejante, e aconchegou-se de nós, como disposto a não partir mais dah. O primeiro ponto que urgia resolver, a fim de ficar- mos em bom campo, era a entrega da arma roubada, sem o que não parlamentariamos, vendo-nos, se o re- cusassem, na necessidade de a irmos buscar. A isto accederam elles, e saíndo um, voltou com a espingarda momentos depois. Mas ao tempo já muita gente se accumulára de volta, e olhando suspeitosa, ora para os fardos, ora para aquelles que nos cerca- vam, envolveram-nos por modo, que tivemos de orde- nar aos nossos passassem todos a uma banda, para “convergir as forças e evitarmos ser ali pilhados inevi- tavelmente. Encetadas as negociações reconhecemos que Trinta dissera uma verdade, e Licuco! ali se achava por ter 1 Licuco é effectivamente irmão de Musiri, velho, baixo, magro, sor- dido e curvado, cujos olhos pequeninos e encovados faiscam a perfi- dia. O seu aspecto tem o quer que seja do mocho, e as mãos nodosas e recurvadas pela medicina feiticeira fazem lembrar as garras de um vam- piro. As barbaridades por este monstro praticadas excedem a humana concepção. Assim, contaram-nos que pouco antes da nossa chegada, ha- vendo colhido em flagrante delicto uma de suas mulheres, elle mesmo se decidira castigal-a, e pegando de um cutello fizera séance tenante, a excisão d'essa parte, que «a cobrir natura ensina, para depois de assada conve- nientemente devorar perante a infeliz. Ta De Angola á contra-costa vindo até á Katanga em perseguição de um viajante europeu, e, não podendo encontral-o, o ousado velho pretendia agora espoliar-nos, para consolar-se do revez. O seu enviado era tão atrevido e insolente, que tive- mos de metter-lhe um revolver á bôca, para fazel-o entrar na ordem, nós que só em extremos chegavamos a similhantes recursos. Licuco queria um fardo de fazenda, uma arma e farda, ordenando alem disso que acampassemos al. junto delle, para visitar-nos no dia segumte. Caleule-se com que boa vontade estariamos na pre- sença de taes exigencias, extenuados de andar pelas sel- vas, gastos os haveres nas terras de oeste, e na distan- cia ainda de 1:000 milhas do mar! O que primeiro fizemos foi romper com elles, e como abalassem quando nos viram levantar, partimos mato a dentro, a fim de construir o acampamento no bosque, onde seria facil a defeza, e sobretudo para ficarmos mais perto da agua. N'um instante derivámos para o sul 1,5 milha, e, transpondo um riacho, eis-nos de machados em punho a derribar arvores em circulo, a fim de fecharmos o quilombo. Entretanto os indigenas, havendo voltado para junto do monstro, lá diseutiam a entrevista em alta grita. Quando nos achámos fortificados, com agua perto do campo, deixámol-os approximar, e após as enfado- nhas scenas de ameaças, gritos e polemicas a proposito das exigencias do chefe e de cada um delles, chegá- mos a accordo, permittindo-lhes assim o imgresso a pouco e pouco, mas desarmados. Pronta dias nas selvas ia Durante um dia imteiro soffremos com mimitavel paciencia essa horda de salteadores, á qual, sem em- bargo, impozemos um respeito difficil em taes circum- stancias, porque Licuco gosa entre os seus extraordi- nario prestigio, acompanha-os e dirige-os na guerra, pilha, devasta e com elles divide, e contava cerca de quatrocentos homens, emquanto nós apenas tinhamos setenta, bastando uma simples ordem, para que o acam- pamento corresse o grande perigo de ser completa- mente arrazado. Mas ha o quer que seja na cara e no aspecto do europeu, cujas longas barbas amda imfundem terror e lhe facilita em Africa o dominio e prestigio sobre o “mdigena. Vendo-nos mvariavelmente graves e serios, a me- ditar o que diziamos e decidindo sempre tudo em fór- ma de justiça, promptos a proteger a nossa gente, mas tambem a corrigir o menor abuso, observando os acampamentos no mato e jamais em suas aldeias, a ordem e o socego mantidos n'elles; mformados, emfim, pelos nossos, de sabermos mais do mato, que elles to- dos reunidos, pois eramos nós que por Cabompo, Lua- laba e Iramba sempre haviamos dirigido a caravana, acrescendo ainda o phenomeno de possuirmos armas que estavam sempre a dar tiros! + os Indigenas não podiam encobrir o seu espanto, tendo-nos como crea- turas excepcionaes, conhecedoras muito naturalmente de todos os ramos da feitiçaria. 1 Estas armas eram as Winchester, que tinhamos o cuidado de carre- gar em segredo. 14 De Angola á contra-costa Resolvido tudo a contento, abalâmos a 14 de ja- neiro ao rumo de oeste até ás mmas de Kandumba, onde, no dizer dos naturaes, encontrariamos um cami- nho para o sueste; ahi chegámos pelo meio dia, mar- cando a nóssa passagem com a morte de um pato co- lossal de esporão nas azas, que deu dois jantares e um almoço para tres homens. Escusado será declarar, caro leitor, que nenhum dos salteadores se atreveu a servir-nos de guia, e que. as marchas fam proseguir, como sempre, sob as indi- cações e conhecimento dos chefes da expedição, ou do Trinta, o qual acrescentava agora que, posto nas minas estava em seu caminho e a quatro dias ao sul, | nos apresentaria a Moi Mugabi, seu velho e prezado amigo. Kandumba é uma zona ampla, deshabitada e difficil- mente trilhavel, por onde enfiámos resolutos, conven- cidos qne o Trinta a conhecia. Pendo andado cerca de 7 milhas, saltou de repente á frente da comitiva um enorme rhinoceronte preto, unicornio diziam todos, que no impeto quasi passou por cima de um dos nos- sos companheiros da vanguarda. Atirando-se-lhe duas balas, o animal deu em terra, sem que podessemos perceber muito bem o motivo, pois instantaneamente, erguendo-se, partiu a fugir na direcção opposta, deixando um rasto de sangue por todo o trajecto. Similhante peça de caça não devia desprezar-se, e, largando a vereda, lá fomos pelos matos em seu se- guimento, na doce convicção de nos fornecermos de carne para alguns dias. Printa dias nas selvas 175 Fugaz foi porém esta esperança, pois, adiantando- se muito o quadrupede, tivemos, depois de hora e meia de corrida, de abandonar a idéa de perseguil-o, tão bravos e agrestes eram os matos por onde se met- têra. Abunda aqui o porco espmho, do qual ouvimos al- cumas historias; entre estas figura a de certo meio de deteza do dito animal, que consiste em disparar, como settas contra o mimigo, as cannulas que lhe re- vestem o corpo. É original e curioso este expediente! Pomado o conveniente repouso, após a fadigosa car- reira na pista do rhimoceronte, pozemo-nos de novo em marcha. — E o caminho, diziam todos, o caminho de Moi Mugabi, o amigo do Trinta? — Ah! isso está para ali (respondia elle, apontando - para o oeste), num momento se acha. Seguindo-o, para lá atravessámos. CABITONO XXV Pu QUAQUA Bem longe, no amago do continente — Aspecto dos chefes da expedi- cão— A carta sobre os joelhos — Transviados no mato sob o imperio da fome —Um quadro de caça — Breves resumos do diario — Perigos d'este genero de excursões — Um rhinoceronte bicornis — Caçada de vulto — Cin- co bufalos em terra— Considerações sobre o viver nos bosques —Duas pa- lavras ácerca do rhinoceronte e dos seus habitos —Variedades e estranho costume d'este quadrupede — As selvas eram o nosso dominio — Às ma- tas de mupandas e os brejos marginaes — Noções sobre a natureza do solo—O Lufubo e uma ponte de 45 metros — Aspecto da natureza — An- cia em procurar o Luapula— Impressão que a lembrança do milho e do sorgho produzia em nossas pessoas — Trinta, o guia desnorteado — O ul- timo dia de janeiro e um caminho inprevisto — Repentino rufar de tam- bores pela noite — Era o Luapula. WoE IT- 12 TREGELAPHUS SCRIPTUS Segundo um croquis Disponde-vos, caro leitor, e acompanhae-nos até ao coração do contmente n'este instante. Bem longe estamos, no amago da Africa, arredados de tudo e todos, a braços com uma vida que só a nosso lado podereis comprehender. Vêde-nos. Emmagrecidos e tisnados, os nossos corpos a custo se aprumam no terreno. Dos fundos sulcos que nos cavam as faces, escorre permanente suor, que deslisa pela esqualida e meulta barba, indo alagar o fato roto e sujo, cuja qua- lidade e côr se occulta no sebo e na lama. Os cabellos em desalinho pendem-nos pelos hombros, cobertos apenas por immundo farrapo de algodão, as pernas e pés acham-se envolvidos em artigos que outr'ora ti- veram os nomes de calças e sapatos, e agora só espe- ram mais rasgões ou topadas para finalisarem a sua missão protectora. 180 De Angola á contra-costa | O nosso olhar, encovado e fundo, é mquieto e sus- peitoso, consequencia necessaria do viver entre peri- gos e receios; a voz tem inflexões roucas e asperas, à similhança dos rumores e urros a que andâmos affei- tos; os movimentos convulsos e nervosos fazem-se à medida da fraqueza e energia que luctam para nos aniquilar ou pôr a salvo. Em volta de nós um bando de homens, nús, cober- tos os rins apenas com um trapo, acocoram-se junto | a velhos saccos de couro e caixas roçadas, precioso deposito dos nossos labores, mirando-nos com olhar curioso e prescrutador. Alguns jazem pelo solo, estirando em descanso os membros entorpecidos, emquanto outros, com o rosto apoiado nos punhos, scismam melancholicos. Pelo redor densas massas de vegetação fecham o campo visual, assombreando com a sua permanencia e monotonia a negra paizagem que nos cireumda. Podos arregalam attentos olhos para o papel que temos sobre os joelhos, e que simplesmente é uma carta da África central. De que se trata ou qual o objecto de discussão? Nada menos se pensa do que sair do labyrintho onde nos achâmos envolvidos, de procurar atalho que nos afaste de similhante dedalo. «Ah! isso está para ali», dizia o Trinta a 15 de Ja- neiro, apontando para o oeste e refermdo-se ao cami- nho do seu amigo Mugabi que esperava reconhecer, e comtudo, a 31 do mesmo mez amda elle se não en- contrára! Durante a fatal segunda quinzena alludida supportou a expedição portúgueza os maiores traba- Á caça 181 lhos e fadigas que a homens é dado superar, e, diva- cando á tôa por esse sertão ignoto, sem já attender ao fim que se propunha, perseguia quanto animal bra- vio se lhe deparava. Não havia outro rumo, mdicação ou trilhada alem da pista de caça, anceio que não tivesse por fim achar cousa que se comesse, impulso dominante que não an- dasse de mãos dadas com a fome. Pairava sobre nós esse cruel vampiro que, roendo as entranhas, transforma o homem no quer que seja de monstruoso e bestial; e impellindo-nos ás cegas pelo meio dos matos, trazia-nos desvairados, indecisos na melhor resolução. Jamais saíremos d'aqui, exclamavamos por vezes um para o outro, pois nunca conseguiremos obter ali- mento sufficiente para cortar a direito ao ponto que a comitiva deseja attingir. E logo occasionalmente um eland saltava perto, um bufalo apparecia ennegrecido por entre troncos e rama- gem, um rhimoceronte galopava junto, e nós, abando- nando a trilhada que levavamos, lá íamos leguas e le- guas no seu encalço, muitas vezes em rumo contrario ao trazido. Depois, acossado o animal na carreira não via ob- staculos, e pouco adiante, encontrando um pantano, melle penetrava ligeiro. Embora oppressos pelo cansaço da fama, seguiamos com agua pelos joelhos em sua perseguição, rasgando fato e carnes nos canniços e espinhos, para mais alem, caminhando em terreno solido, achar de subito um ro, que o bicho transpozera a nado. | 182 De Angola á contra-costa Machados á mata, eis-nos a derribar o arvoredo, e, construindo logo rustica ponte, lá transpunha a expe- dição o curso esverdeado que lhe impedia a passagem, para proseguir nas pesquizas cynegeticas. Mas então quantas angustias torturavam os chefes, confiando á instabilidade de quatro ramos as caixas, saccos e mstrumentos que os pretos pouco cuidadosos conduziam; quantas occasiões se suspendia quasi a cir- culação do sangue, vendo qualquer d'elles hesitar e. tremer, prestes a caír 4 agua com o volume dos diarios e cadernetas! Jnopimadamente o animal volvia, e nós, que persis- tentes continuavamos na sua pista, eramos agora for- cados a abandonal-o por um maior grupo que appa- recêra do outro lado. Às cargas iam ao chão, cada qual partia em direcções. diferentes; tiros à direita e esquerda; transviavam-se muitos pelos matos, e ao caír da tarde a caravana, dis- persa e perdida, deixava-se ficar no mesmo sitio, espe- rando aniquilada pelos caçadores. À simples leitura do nosso diario mostra bem o vi- ver de então. Por todos esses dias se deparam com epigraphes e paragraphos como os seguintes: « Transviados no mato. — Ás nove horas da noite es- | tamos junto a um rio, que não conheciamos. Seguimos por um caminho de guerra com grandes quilombos fortificados. Ao longe vêem-se morros. Matámos um javali... « Perdidos como até aqui. — Sumiu-se o campo da guerra. Á corta-mato topámos um rio enorme (talvez o de hontem), onde construímos uma ponte. Da banda Á caça 183 d'aquem perseguimos bufalos, que não colhemos ás mãos... «Á caça pelas selvas. — Logo de manhã começâmos em perseguição de caça. Feriram-se elands, Capello matou um, Antonio outro, que se julga perdido... « Continuâmos perdidos. —De machados em punho andou-se o dia de hoje a abrir caminho na floresta. Mataram-se gazellas, perseguiram-se javalis de quatro protuberancias ... «Sempre transviados e caçando. — Caça abundante. Nada se andou, ou andámos em circulo. Abateu-se um bufalo enorme, cuja carne em longas tiras n'este mo- mento chia nas brazas. Elephante não ha, ou pelo menos d'elle não vimos signal. Considera-se... | «Invariavelmente perdidos. — Larga correria hoje atraz de caça; perdeu-se uma sorte de harrisbuck; mataram-se dois javalis de vulto, etc.» É assim como estes, continha o diario muitos outros dias de nefasta recordação, em que no cano da espin- garda andava sempre a salvação da caravana, e na rude energia dos chefes a invariavel conservação do respeito e necessaria disciplina para tão desmoralisa- dores transes. E depois não eram destituidas de risco estas corre- rias, porque, se ás vezes se topa com mansos e timidos antilopes, outras ha, em que quadrupedes de maior vulto apparecem de repente, sendo preciso todo o cui- dado e presteza para lhes evitar o encontro, e quiçá perigosos ataques. Para exemplificar eis um resumo do que se acha ainda no diario com a data de 22 de janeiro: 184 De Angola á contra-costa «À marcha continuava pelos terrenos elevados que delimitam pelo norte a bacia do Lufubo !, na esperança de encontrar vereda que nos levasse para leste, e sitio onde o caudaloso rio podesse ser transposto. «Uma estranha tristeza dominava toda a comitiva, que por vezes percorria milhas sem proferir a mais smgela phrase. O silencio das florestas, as exigencias estomacaes, a incerteza de obter alimentação no con- timgente da caça, a lembrança dos soffrimentos passa- dos e o receio de futuros, eram outras tantas idéas que absorviam o pensamento de todos, deprimindo a vontade e abalando-lhes a coragem. Parecia um acam- pamento funereo, onde apenas havia quatro ou seis, que, mais confiados, avançavam, convencidos de que deviamos bem pensar na nossa situação, pois a perda d'elles estava ligada irremissivelmente à nossa. « Antonio, o caçador, andava incansavel por meio dos campos em procura de animal para ferir, arris- cando-se muitas vezes a morte certa, se acaso, emmara- nhando-se n'esses macissos de verdura, perdesse a pista da comitiva. «Havia cinco horas que caminhavamos silenciosos sem dar vista do mais singelo vivente, nem ouvir o menor ruido que despertasse a attenção, quando os da frente foram surprehendidos, e, largando as cargas, dispersaram em todas as direcções. «Fra um charivari espantoso, uma confusão geral, em que cada individuo, nas azas do susto, procurava salvar-se a seu modo, só vindo a modificar-se as cou- 1 O nome d'este rio foi mais tarde sabido no Luapula. EESSSESESSSSSS ESSES SSSSSSSSSSS ESSSSSS SEE =s SE “== N EM = = E RS as E o Ni A E Nu Segundo croquis UM RHINOCERONTE BICORNIO INVESTIU... , Pr Uno" A caça 185 sas com duas detonações seguidas, que afastaram logo a causa que originára o perigo. «Um rhinoceronte enorme, o R. bicornis, tomado de estranho furor, tendo apercebido a caravana, emer- gira de subito da floresta, e, carregando de frente, im- vestiu na carreira com um dos chefes (Capello), que só teve ensejo de saltar ao lado para o ferir pelas espa- duas com uma bala 4 queima roupa. «Caíndo á retaguarda engatilhára de novo. «Enraivecido, o monstro ía a volver, quando An- tonio, acudindo pressuroso, o carregou pelo outro lado, e chamando-lhe a attenção, envia-lhe segundo proje- ctal, « Ào ruido da explosão e à algazarra da gente, a fe- ra, desnorteada, partiu como uma flecha pelo interior dos bosques. «Não havia que pensar. Ferido mortalmente, dili- genciámos colhel-o ás mãos, e partindo um de nós com Antonio e outros caçadores em sua perseguição, con- tinuou o outro vagaroso com o resto da gente e car- gas pela mesma trilhada, segumdo as manchas do san- gue. «Mas o rhimoceronte não é como o elephante pesado e de vulto, caminhando, mesmo quando ferido, no seu trote vagaroso. Apenas acossado, mette a todo o ga- lope, que nem um cavallo acompanharia, rasgando por estevas e restolhos onde o homem mal póde pene- trar. Por isso em breve o perdemos de vista, e após uma carreira de 3 milhas íamos a suspender, já per- didas as esperanças de o alcançarmos, quando um novo facto, não menos imsolito, se nos deparou. 186 De Angola á contra-costa «Em vasta clareira, junto ao curso de um riacho, estava uma manada de bufalos, descansando á sombra dos ramos das acacias, quando o rhinoceronte, cego, em vertiginosa carreira, atravessou pelo meio. Imme- diatamente ergueram-se todos, dispersando-se espa- voridos pelas campos em redor, vindo muitos d'elles cair de repente sobre a comitiva, que outra vez teve de largar as cargas em debandada. Depois de um momento de panico seguiu-se tiroteio geral, que dei- tou por terra cinco d'estes formidaveis animaes, a distancias varias uns dos outros. «Sem mais demora acampámos ali, afastados, é ver- dade, de nosso rumo umas poucas de milhas em con- sequencia da correria do rhmoceronte, mas satisfeitos e bem dispostos, pois havia o mais necessario — carne e agua! «E depois, que importava o logar? Mais ao norte ou mais ao sul, o mato era nosso, a este estavamos habi- tuados, e, não faltando comestiveis, adeus terrores, nem um de nós se arreceiava delle, tão affeitos chegámos a andar ao viver das selvas.» E, diga-se a verdade, se é estranho esse viver, tem um não sei que de attrahente, de candido, de primi- tivo, que seduz! (Quantas vezes pensámos assim por lá, em meio dos perigos que nos cercavam e num mo- mento tudo podiam destruir, e, posto bem ponderado o negocio, nos persuadimos que mais tarde se haviam de ter saudades dos devaneios pelas selvas, d'essas excursões que talvez não possam repetir-se, e onde o “espirito especialmente se exercita no afan contínuo de evitar os embaraços e complicações que a todo o mo- ) ES | NO ra MS AN A hi E Na Ny | CINCO BUFALOS CAÍRAM... Segundo croquis Á caça 181 mento se deparam! Ha fibras no coração humano que só vibram n'aquelle meio, e nascem e morrem ador- mecidas no remanso dos empoeirados macadams da velha Europa! Dos muitos animaes que na Africa austral se en- contram, é sem duvida um dos mais curiosos de des- crever o rhinoceronte, embora d'elle muito já se tenha dito. Habitando largas zonas do continente, onde facil- mente póde encontrar a alimentação peculiar, o rhi- noceronte vê-se com frequencia, desde as margens do Orange até ao equador, por toda a zona florestal do centro. Quatro especies ali habitam, segundo parece, dei- xando de citar uma especial de que os mdigenas muitas vezes nos fallaram, distincta por não ter defensa al- guma, e que julsâmos ser mystificação pouco vulgar. Duas, de um pardo escuro, comprehendem os chama- dos rhinocerontes negros; as outras duas, acinzenta- das, abrangem os chamados rhimocerontes brancos. São accordes os indigenas em declarar o preto (porque não distinguem as duas especies) mais pequeno e pe- rigoso, emquanto que o branco, de maior vulto, é mais pacífico, declaração que nós podemos tambem corro- borar, por havermos observado os dois, tendo notado com mais frequencia estes. Advertimos, porém, que o preto a que nos referimos tem um chifre só, ou o outro é tão pequeno que mal se observa a distancia, e não o de dois chifres iguaes, 2. Keitloa, conhecido no Kalahari, cujo habitat desconfâmos se não estende até aos lagos. 138 De Angola á contra-costa O rhmoceronte é especie de habitos solitarios, vive isolado nas florestas, nunca em bando, pasta pelo dia, recolhe-se na hora de maior calor; procura varias ve- zes a agua, não só para beber, como para se esfregar no lodo, do qual se cobre inteiramente, como observá- mos em certo dia em que de longe estivemos assistindo ás abluções de um d'estes quadrupedes. Talvez paste tambem de noite, como o elephante; jamais tivemos occasião de observar isso, sendo comtudo de crer que à claridade da lua se entregue a similhante tarefa. Apesar de feio, sordido e pellado, não é tão repel- lente como o da India, que tem dobras e refegos na pelle, quando sendo aliás a d'este lisa e continua; é desconfiado e presentido, tem os olhos pequenos e pro- ximos do focinho. Alimenta-se de vegetaes, raizes, hervas, tuberculos, sendo extremamente guloso da canna do sorgho, em que faz verdadeiros destroços. Entre os costumes do dito animal vamos registar um muito curioso. Sempre que no meio dos matos vimos os seus dejectos, achavam-se estes espalhados, e essa dispersão, acompanhada de fundos sulcos na terra, afi- gurava-se-nos fôra feita com corpo resistente. Inquirido o facto, soubemos ser costume do rhino- ceronte, quando termina as dejecções, andar em redor do local, espreitando a floresta. Certificando-se de que ninguem o observa, n'um impeto de furia arremeça pa- ra longe, com a ajuda da defensa, a materia defecada. Então ninguem ouse delle approximar-se, dizem os mdigenas, tal é o furor de que se acha possuido! E doi- do, acrescentam elles, e essa loucura effectivamente Á caça 189 se dá por vezes, pois o rhmoceronte, que em geral se afasta dos acampamentos e agelomerações de gente, apparece, ás vezes, de subito num quilombo, não se arreceiando das fogueiras ou dos homens, que deban- da e aestroe em caminho. Este smgular procedimento, assás verificado !, explicaram-nos uns caçadores, decla- rando que sempre que tinham morto algum dos ditos animaes, encontraram, ao abrir o craneo, uns bichos longos, de !/, de pollegada, cobertos de pello, aloja- dos entre as membranas que forram a massa cerebral. Estes vermes movem-se com facilidade, e aos ataques por elles dirigidos a certas regiões do encephalo, deve o bicho os momentos de raiva a que alludimos. E um dos habitadores das florestas mais respeitados, pelo seu vulto e força, pois n'esta não lhe excede muito o elephante, afastando-se d'elle os leões, bufalos, etc. Deve ter longa vida, a julgar pelo tempo que leva a completa formação da grande defensa, que no branco, conhecido por Prhin. Oswellu, chega a attmgir a altura de um homem. «Na idade de dois annos, diz Anderson, a defensa tem apenas 1 pollegada, aos seis chega a 9 ou 10, e cresce, como se vê nas especies brancas, até ao com- primento de 3 ou 4 pés.» Em summa, pela sua grandeza, é dos quadrupedes que melhor póde supprir uma comitiva quando lueta com a fome, não sendo a sua caça extremamente difhcil. 1 O rhinoceronte que el-rei D. Manuel enviou em 1513 a Leão X, parece haver compromettido o barco em que se achava, atacando tudo n'um paroxismo de cholera similhante. HESÃO De Angola á contra-costa Durante os dias 23, 24 e 25 de janeiro choveu co- piosamente, conservando-nos no quilombo, em pleno | coração de Africa e completa ociosidade, com a mes- ma indifferença e descuido como se estivessemos em partida de campo na Europa. Decididamente as selvas eram dominio nosso. Bem providos agora de alimento, com a carne dos bufalos mortos, resolvemos não pensar mais na libata de Mugabi!, o celebrado amigo do Trinta, e esforçar- mo-nos, tanto quanto possivel, por seguir em direitura a leste, procurando o Luapula. A 26 d'aquelle mez proseguiu pois a expedição no prolongamento do rio Lufubo, depois de havermos fe- rido um bufalo, que se escapou, morto um quicema “Egoceros ellips, caça por aqui abundante, e aberto o unico frasco de molho Morton que possuiamos, luxo extraordinario em tão reconditos logares. À mata é quasi exclusivamente composta de mupan- das longe do rio; junto a elle ha matagaes e brejos de espinho, que mal consentem observar-lhe o curso. O paiz baixa e deve ser msalubre. Da variada fauna desta terra observámos nós ze- bras, bufalos, palancas, quicemas, gungas e macacos. Tambem trouxemos uma especie de ostrea da vasa do rio. | O solo, pelo geral, é constituido por schistos argillo- sos, cinzento com leitos alternadamente ferrugimosos. Abunda o quartzo, a limonite, ete. 1 Mais tarde soubemos que similhante libata já não existia e que Mu- gabi desapparecêra. Á caça dd Pouco a pouco tornou-se mais tortuoso o leito d'este afluente do Luapula, desenrolando-se em caprichosas voltas, por maneira que era quasi impossivel prolon- gal-o, alargando e segumdo a direcção media do nor- deste. Não sendo conveniente continuar em tal rumo, e na incerteza da largura que o rio teria para baixo, resolvemos, depois de cinco dias de marcha, construir uma ponte e transpol-o; trabalho dificil, porque, tendo ah 50 metros de largo, grande corrente e profundida- de, as primeiras arvores derruidas foram logo arrasta- das pelas aguas. — Alfim lá se consegum conservar duas, e ligando a custo os estrados, fez-se uma ponte de 45 metros em tres tramos, que se ligou á terra. Durante os labores de tal construcção, abatemos um javali cinzento, de sedas pretas pelo lombo, e do qual já em outro capitulo demos o desenho, carne que veiu agradavelmente cortar a monotonia d'aquella de bufalo. As chuvas caíam agora mcessantemente, o que em- baraçava a marcha, sobretudo nos muchitos margimaes do rio e no humus balofo, onde se formavam atoleiros e lodaçaes, exhalando um vapor pesado, nauseabundo e abafadiço. Como é triste o caminhar em taes circumstancias, e funebre o aspecto do sertão n'esta quadra! O pardacento e nublado céu, o verde negro do ar- voredo, o assobiar do vento nas ramagens, o espelha- do da agua por entre a subvegetação, tudo fórma um quadro horroroso a quem o presenceia, e que nós, 192 De Angola á contra-costa embora muito insistamos, não somos capazes de des- crever com justeza ao leitor. E tudo quanto se póde imaginar de frio, humido e desagradavel, com mais as graves notas da fraqueza, do tedio e da fome, a emmoldurarem este conjuncto. Mas o pensamento era attingir o Luapula, esse mys- terioso e malfadado rio, em cuja busca ha tanto tem- po nos extenuavamos, e onde pretendiamos encontrar recursos, não ousando por isso lá determo-nos em | considerações e devaneios. Para ali havia povoadores com certeza, tribus fartas e espalhadas ao longo do rio, comestiveis, mandioca, milho, ete., que era o desejado. Milho!... Não se imagina a nossa alegria ao lem- bramo-nos das amarellas espigas d'esta graminea ou das branqueadas do sorgho! Caleule-se pois a ancia com que marchavamos, e o antecipado contentamento esses infelizes, que constituam a expedição portu- gueza, ao pensar n'elle. A enormidade das nossas miserias póde avaliar-se por esta candida declaração, assim como a de nos ver- mos em um acampamento 4 beira do rio, rilhando uma espiga de milho assado! Para nós a lembrança de similhante facto e a idéa da sua realisação attingia as proporções de uma ven- tura sem igual; era o cumulo do jubilo emergindo su- bito do meio dos soffrimentos, como o mimoso lirio do centro de pantano pestilento. Um prurido glutão nos dominava; esqueceramos tudo ante a asselvajada ancia de encher o estomago, positivamente animalisados, não differmdo em cousa A caça 193 alguma o nosso modo de pensar do de qualquer com- panheiro mdigena. Mas onde estava o Luapula ? Sim, esse rio por nós tão cubiçado e cuja posição nos mappas era tal que, por nossos calculos, já nos acha- vamos ao oriente, e junto do Bemba? Consultando a miudo o mappa, debalde era o im- tento de assegurar-nos da sua distancia ou afastamen- to, sem saber sobre que ponto nos determinar. Para leste estava elle com certeza; mas onde e quan- do chegariamos? Eis o problema. Trinta, era obvio, andava tonto, e mirando obliqua- mente a Rosa, que logo cravava ingenua os olhos no chão, respondia que com elle não contassem, pois a ca- beça se lhe virára desde o desapparecimento da libata do seu amigo Mugabi. Assim foram correndo as cousas até ao ultimo dia de janeiro, em que fizemos 15 milhas, por uma zona divisoria de aguas, e então deparámos com caminho batido (é o termo proprio), seguindo para o nascente. Um trilho era uma providencia. Dionysio, o explorador, enviado pela tarde a farejar os arredores, voltou pelo escuro sem esclarecimentos, declarando apenas que desconfiava existirem proximo libatas e o caminho seguia. Mas no livro do destimo parecia estar escripto que iriamos até Moçambique sempre por desertos. Que admirava pois que esta região, totalmente desconhe- cida, fosse tambem um deserto ? Entrou a noite comnosco no meio das selvas, e com ella veiu a hora do descanso e do silencio. VOL. II. 13 194 De Angola á contra-costa Mal houvera tempo para armar dois paus com um feixe de capim por cima, e estender dentro uma pelle de leopardo. N'este pequeno arrimo deitámos os fatigados corpos, entorpecidos pela marcha e calor do dia, fixando natu- ralmente a nossa attenção na maneira por que nos l- vrariamos dos embaraços e apuros para prover de sub- sistencia a caravana numa terra na apparencia erma. Nada nos occorria. Esforçavamo-nos por dormir, mas | baldado empenho; no anilado azul encravadas, brilha- vam milhares de estrellas com tropical fulgor, distra- hmdo-nos a attenção. . Fechavamos os olhos, mas breve os abriamos à contemplação. À via lactea, como um immenso gaze transparente, traçava na abobada uma smuosidade gigante. As constellações do sul, caminhando lentas, espar- giam sobre a terra uma luz fraca, sufficiente comtudo para se aperceberem os objectos. Já algumas horas se haviam passado, e a attenção continuava-nos presa, o vento caíra, tudo entrára em silencio, quando de subito julgâmos ouvir ao longe, muito longe, os sons de uma caixa de batuque ou rufo. Rufos, tambores; seria engano? Ageitando o ouvido pareceu-nos ouvil-os de novo. Chamado o pessoal, e pondo-se todos à escuta, chegou- se a concluir que eram os ruidos em questão, e, caso os animaes silvestres d'esta parte não tivessem o es- tranho costume de rufar em caixas (como André facil- mente se melinava), para o lado d'onde vinham sons “devia de haver gente. Á caça 195 Recolhemo-nos sobresaltados e curiosos, meios con- vencidos de que breve, talvez, iriamos encontrar quem nos fornecesse informações, e sobretudo milho, o cele- brado milho! Assim que rompeu a aurora de 1 de fevereiro met- teu-se a expedição em marcha, e caminhando pelas margens de um rio caudaloso, de cerca de 50 metros de largo, chegou á beira de um outro curso de agua, cuja grandeza e aspecto não podia deixar duvidas. Era effectivamente o Luapula, os ruidos provinham de um batuque! Tea EAD tp ns tola O adia EE E je págbfrca. inha o Í “ANSA E dedo can Po y Nç Y a Ê : on PR a ' 7 rei S ; mM N + vs ) j Ê as À à - Ati da tt f 1! E Ate o fo Etad o Md + : : , ” o 7 y w ] , És S N A, E k E dá CAPITULO XXVI NO LUAPULA A tristeza de outr'ora e a alegria presente — Às chuvas, o vento e à humidade — Panorama pittoresco —Flora e fauna —Campinas alaga- das—O vento e a chuva no rio— Ardua tarefa dos primeiros dias — In- stabilidade dos acampamentos — As nossas pretensões de visitar o Ban- gueolo e evasivas dos indigenas — Obstinada reluctancia do secretario do regulo, em não consentir que se construisse uma canoa — Rasões ad- duzidas em vista do proceder de um zanzibarita-— À escravatura no ser- tão e um quadro das scenas a ella referentes — Terminam pelo captiveiro — Visitas a Kinhama e uma tempestade no rio— À expedição transpõe Os ma-ussi —Seu aspecto, habitos, viver isolado e cumpri- o Luapula mentos originaes —Nós extrahimos fazenda das cataractas !-—Uma serra- lheria no acampamento — Decide-se a partida — Manejos para captar as boas disposições do regulo. HOMEM DE KINHAMA Segundo croquis Etfectivamente, sem o esperar, estavamos à beira do Luapula. Após as fadigas e emoções da viagem atravez das matas de Caponda, foi uma verdadeira felicidade o encontro do grande rio. Á tristeza tumular dos ultimos dias succedêra ago- ra uma alegria estranha; parecia uma comitiva de loucos, constituida por imfelizes, que, naufragos ainda de hontem n'esse oceano de folhagem, vestidura dos bosques do oeste, encontrava agora no rio um como que porto de abrigo, uma praia de refugio. Limpa de capms uma eminencia que se debruça sobre a margem, n'ella se construiram acto contínuo barracas espaçosas, onde nos imstallámos commoda- 200 De Angola á contra-costa mente, apesar do intenso calor e das permanentes tempestades que açoitavam o acampamento. Chove n'esta região por modo extraordinario, sendo raros os dias que se passam sem muitas horas de agua acompanhada de trovões e relampagos, elevando-se esta em pouco tempo nas grandes trovoadas a uma centena de millimetros. O rio, por onde deriva toda aquella que cáe sobre o Bangueolo, cresce então n'uma só noite de 1 metro e mais acima do nivel em que se achava. O vento sopra rijo dos quadrantes meridionaes, as trovoadas procedem do nordeste e principalmente do sueste. A humidade é al excessiva, opprimindo no mais denso dos bosques os pulmões, e a tensão do vapor da agua no ar, póde em muitos casos attingir a cifra de 30 millimetros. Dentro das barracas, embora se achassem constan- temente ateadas fogueiras, as malas, caixas e calçado cobriam-se inteiramente de bolor, logo que se não re- petissem as limpezas. A margem esquerda do Luapula está deshabitada e inculta. Ha poucos annos ainda, disseram-nos, havia ao longo della villas e largos arimos!, que hoje desappa- recem completamente, pela crescente mfluencia de Mu- sir1, e muito receio que delle têem os ma-ussãi. Nada mais pittoresco que as margens d'este gran- de tributario do Zaire n'aquelle parallelo, vestidas de 1 Arimos, plantações. No Luapula 201 tão frondosa e variada vegetação, que difficilmente se póde descrever. O seu leito tem 500 metros de largo, é pouco sinuo- so, e as ribas são revestidas de densos bosques, onde troncos enormes se vêem occultos pelos entrelaçados ramos da pimenta selvagem, ostentando seus bagos de coral, e por outros cobertos de curiosas fugeras e trepadeiras variadas. Na quadra pluviosa, esse arvoredo marginal afoga- se, tal como nos igarapés do Amazonas, deixando só ver as copas termimaes. Nos velhos ramos superiores e a elevada altura ob- servam-se as habitações do termes mordaz, assim co- mo dos madeiros seccos pendem verdadeiras grinal- das da Mucuna pruriens, inteiramente envolvidas por basta folhagem, formando perfeita abobada. A celebre cumba, de que falla Barth, arvore da - malagueta, Xilopia Ethiopica, tem por aqui exemplares que se lhe assimilham, se não são os mesmos, cobrin- do profusamente as terras ribeirinhas, por meio das quaes surgem os imponentes cachos da Combretum, cujas bracteas, de um vermelho resplandecente, bri- lham no escuro dos macissos, rivalisando em colorido com os thyrsos de bastas campanulas alaranjadas, er- guidos na extremidade dos ramos das spathodeas, e uma infinidade de outras plantas. Alegres quadrumanos saltam de ramo em ramo, en- “tre os quaes um cynocephalo, parece ser a especie mais vulgar. | Os antilopes são communs por toda a parte, bem como animaes de grande tamanho. 202 De Angola á contra-costa O rhinoceronte, ha pouco por nós descripto, é ex- tremamente abundante, povoando os bosques, sempre attento aos menores ruidos. Elephantes colossaes, de orelhas espalmadas, exer- cem por esta terra continuas depredações. Os high-lands, que pelo occeidente determinam a ba- cia d'aquelle lençol de agua, desapparecem para sem- pre, ao viajante que se acha proximo. Apenas a leste se vê uma linha de collnas diviso- ria das suas aguas e das do Bangueolo. Para alem, seguem-se as terras dos ma-ussi, onde se espraiam enormes lagos; ao oriente são os dominios do regulo Kimhama, os dos ba-lungo, o paiz da Lunda, e a zona do Bemba, pantanoso, e no limite o plateau de Babisa, tudo paizes pelo geral pouco salubres. Sulcado em todos os sentidos por grandes linhas de agua que, engrossadas pelas chuvas, alagam as cam- pinas suburbanas, o amplo districto que vamos des- crevendo é quasi intransitavel na epocha das trovoa- das. As suas extensas planuras chegam a surprehender pelo espectaculo do rapido alagamento, tornando-se então em verdadeiras bacias, que facilmente se trans- formam em pantanos. O terreno é aqui tão plano, que bastam ás vezes poucos millimetros de agua para produzirem charcos seguidos. E assim por meio d'essas lagoas e dos adustos ma- cissos das gramineas e papyrus empennachados, corre e alonga-se immenso lençol, que, como espelho gigan- te, se perde pelas matas à distancia. No Luapula 203 Adormecido em ampla bacia, durante as demoradas calmas, que por mezes reinam, esse curso interior des- perta impetuoso ao primeiro bafejar da procella, des- pedindo veloz as suas ondas esverdeadas. O espectaculo então torna-se magestoso, como ti- vemos occasião de presenciar. A agitada superficie do rio, revolta pela tempes- tade, expelle em curvas cycloidaes avalanches de agua, que, sacudida, investe os macissos marginaes, para os torcer e arrancar, abysmando-os no pelago! Seus afiluentes breve o engrossam, por milhares ir- radiam n'um momento as lagoas do seu seio, espar- ge-se o colosso pelas campinas, afogam-se os mata- gaes, e, quando brilha o relampago no meio do venda- val, só se distingue céu e agua. Fogem delle os povoadores aterrados; sendo muitas ás vezes as choupanas engulidas e numerosas as victi- mas apanhadas de improviso em frageis canoas, e a esta lucta medonha dos elementos, só é dado resistirem monstros, como o crocodilo ou o hyppopotamo! Os jejuns das ultimas semanas não nos haviam consentido nos primeiros momentos tomar estreita conta d'estes factos e da paizagem, pois o nosso ideal então era comer e beber; 4 vista do milho, das gallinhas, da carne de hypoppotamo e das panellas de pombé, que o chefe d'al, Moi-Kinhama, acabava de nos mandar, esqueceu-se tudo, pois as imperiosas e tremendas reclamações do estomago não permittiam demoras. | Foi ardua a tarefa da primeira quadra, se bem que gostosa, pois logo que voltaram os enviados do chefe 204 De Angola á contra-costa com seus presentes e o convite do soba para que fosse- mos mais para o sul 4 milhas, a fim de acampar fron- teiros delle, entabolaram-se as relações, começando as compras Incessantes. Jíra curioso de presenciar a vertigem dos nossos es- farmados perante as grandes canastras de milho; lou- cos, perdidos, quasi se queriam vender por uma es- piga. Depois do milho e das gallnhas sucecederam-se os pombos, a carne de antilope, os bellos peixes do Lua- pula, fama iminterrupta, de que se não podia abrir mão. Os dias subsequentes á nossa chegada, foram gas- tos em fazer acampamentos varios, segundo a vontade do nosso novo amigo. Como o primeiro construido tivesse ficado na con- fluencia do Lobemba-Luapula, o regulo convidou-nos para que viessemos para o sul estabelecer-nos e em logar proximo delle, desembaraçado de riachos; assim fizemos; uma noite porém, e sem o esperarmos, sub- mergiu-se o acampamento, forçando-nos a fugir do rio com agua pela cinta; facto que deu logar a instar com- nosco, para passarmos á outra margem. De campo em campo assim andámos, até definitiva- mente nos installarmos na margem direita, para onde fomos em canoas alugadas, pois outras não tinhamos, é claro, pondo-nos essa circumstancia um pouco à mercê do regulo. Kimhama, sem embargo, era um bom homem, com quem estivemos durante muitos dias nas melhores re- lações, e de quem conservâmos grata recordação. No Luapula 205 O nosso dourado sonho era visitar o lago, quer por terra, quer construndo grande canoa, que poriamos a nado a montante de uma cataracta que o rio tinha, não longe do logar em que nos achavamos, chamado Mambirima, para depois seguirmos curso acima. Nem uma nem outra cousa, porém, podémos fazer. Por terra oppunha-se elle formalmente, dizendo que eram pouco certos os ma-ussi, bastando attentar no que mezes antes Mieri-mieri, regulo d'ali, fizera a um branco! para que nos dissuadissemos d'esse proposito. Por mar não era mais provavel, e a ir, seria só à cataracta, tendo aimda assim em caminho Moi Kitum- bi, junto ao rio Luera, homem assás duvidoso para que n'elle nos fiassemos. Estavamos assim collocados entre Seylla e Caryb- dis, obrigados a ficar ali ou voltar atraz. O desapontamento era cruel: renunciar ao mais bello dos nossos sonhos no momento em que julgava- mos vel-os realisados, era positivamente uma decepção. Mas que fazer, que partido tomar? Para cumulo de infelicidade, o velho regulo não con- sentia sobretudo na construcção da canoa. Sempre que nisso lhe fallavamos, reunia-se o conselho de estado, e logo uma estranha creatura, especie de seu secre- tario particular, sustentando, que eramos agentes se- cretos de Muswra, com elle combinados a fim de, fingindo compra de mantimento, furtarmos as canoas para em breve passar uma querra enviada por este, votava enfu- recido contra toda a concessão n'esse sentido! 1 Muito provavelmente Giraud. 206 De Angola á contra-costa O proprio Kinhama chegára a espantar-se uma vez desta obstinação, e muito embora, arvorando-se em tutor, tivesse por nós uns cuidados e extremos, que mais parecia sermos dois jovens imexperientes que homens a sós atravessando o continente; não deixou de mostrar a sua estranheza ante a declaração do ca- beçudo secretario. Enviados do chefe da Garanganja, lá parecia ao velho que não podiamos ser. Alem disso, para ageravar esta ordem de cousas, descobriu aquelle senhor, que o famigerado Trinta ha- via estado largo tempo no Musiri, sabendo a lingua da localidade, e portanto era mais um espião que tinha- mos a nosso serviço, idéa de que não foi possivel ar- redal-o, abortando por isso os nossos planos e fene- cendo a insistencia da construceção da grande canoa. Pobre Trinta, mesmo à parte as suas funcções de guia, foi-nos sempre embaraço. Parece que um ou dois annos antes, um mercador de Zanzibar havia ah estado, e tendo-lhe Kimbama consentido que construisse uma embarcação, este levou a effeito a obra, e termmada ella, embarcou-se, rou- bando tres mulheres e fugindo com os seus. São a peste do interior estes mercadores de escravos e traficantes de Zanzibar, de cujo apparecimento em grandes comitivas vem sempre a desolação e a morte. O seu repellente negocio leva-os a esquadrimhar todos os sertões, e, ao que parece, não é este dos que tenha sido menos flagellado. Quão frequente não é o ouvir dizer a este ou áquelle indigena, que a terra que adiante do viajante se es- e] No Luapula 204 tende, hoje deserta, era outrora extensa campina, se- meada e farta, onde pullulavam as aldeias 4 beira de crystallinos regatos. ER VAN MuYDE Hj TYPO MA-USSI (face) Segundo photographia Que os seus habitadores eram ricos e felizes, viven- do em meio de rebanhos e da mais notoria abundan- cla. Depois ouvil-os acrescentar: Um dia das terras do nordeste, uma alluvião de languanas ou outros, trans- 208 De Angola á contra-costa pondo o Tanganika, começou a espraiar-se para 0 0es- te, e mvestindo em razzias medonhas com tudo em ca- minho, veiu mvadir a terra em questão. Bastos como formigas, acoitados pelos capins dos arredores, preparavam-se pela noite para ao romper da aurora pôr em execução seus tenebrosos planos. Sempre que um dia começava, era assaltada uma al- deia, sempre que uma aurora despontava, eram victi- mados os naturaes. E bem verdade isto é, leitor. Em meio de gritos de guerra avançavam essas co- hortes de malvados pelo mato. Chegados ás paliçadas de machado em punho, fa- zem-nas voar em pedaços, precipitando-se no interior com feroz anciedade. O espectaculo que se segue é pelo geral indeseripti- vel. Desvairados pelas rums paixões que a desregrada cubiça lhes mspira, loucos e perdidos, lançam-se a tudo e todos como verdadeiras feras, disputando entre si a posse de quanto vêem. Em dez minutos opera-se a confusão mais estupen- da, a que logo se segue um medonho concerto de gri- tos, berros, urros, exclamações, tiros, gemidos e pro- testos! Aqui é um grupo que, segurando uma joven de vmte annos, tenta manietal-a, disputando depois entre si a sua posse. Adiante está um barbaro que à propria mãe arranca o filhinho, vibrando-lhe para isso um formidavel golpe, que quasi lhe desarticula o braço. No Luapula 209 Mais longe uma dezena roubam, ferozes, os despojos do regulo, que a seus pés jaz estendido, com o coração varado por uma zagaia. Em redor ferem-se golpes em todos os sentidos, para calar protestos ou satisfazer brutaes desejos; e quan- do ao caír da tarde o sol, despedimdo-se, deixa mergu- lhar nas sombras a horrida scena, da senzalla só existe cmza, e dos naturaes uma centena de escravos! Em orgia sem igual passam a noite os conquista- dores, violentando estas, zurzimndo aquelles, até que rompe o dia e com elle recomeça o saque. Emfim homens, mulheres, creanças sem distineção de idades, acorrentados ao libambo (cadeia), lá vão car- regando os fardos que os bandidos foram pilhando. Continúa a negra quadra com todos os horrores. Durante dias, as miseras creaturas, quebradas pela fadiga, deprimidas pela fome, com os pés em chagas, os membros sulcados de profundos rasgões, que o azorra- que dos guias sem cessar reabre, assistem a innumeras scenas de morticinio, arrastando-se a custo sob as pe- sadas cadeias. Em côro de tristonhos lamentos e angustiosas supph- cas, no meio das hediondas scenas, a que taes marchas lugubres dão logar, começam a morrer por dezenas. Muitas vezes, alternando com os vivos, vêem-se à longa corrente, uns moribundos, outros já cadaveres, arrastados pelos companheiros, que os guias não soltam para não repetir um trabalho incommodo. Agora é uma pobre mãe, emmagrecida, esqueletica, que, num ultimo arranco, aperta ao peito o filhinho hirto, já morto; logo é uma outra, que, tendo succum- VOL. II. 14 210 De Angola á contra-costa bido, vae arrastada, cingindo com os resequidos braços o fructo das suas entranhas, que, ainda com alento, não póde desligar-se, sendo victima dos choques que o ca- daver experimenta de encontro ás asperezas do esca- broso terreno. E assim vae a caravana proseguindo em funebre marcha do nascer ao pôr do sol, atravez dos campos, que ennegrecidos penedos semeiam, dando-lhe um ar de luto permanente, até alfm chegar rareada ao seu destino —o captiveiro. Duras scenas são estas, que o nosso seculo enver- conham! Como Kinhama nos tivesse mtimado a mudar pela terceira vez o quilombo, aprestou-se tudo para esse fim, depois de termos despendido vinte dias em negocios e entrevistas para conseguir a exploração do curso supe- rior do Luapula, e de transposto o rio dez vezes, com o risco de algum mergulho, muito possivel n'esta epo- cha tempestuosa. Eis a tal respeito o que em nosso diario se acha, rela- tivamente a uma visita feita a 25 de fevereiro: «Permimado um formidavel aguaceiro, despedimo- nos do regulo, seguindo para a praia a fim de embar- carmos. «ira sol posto. «A esta hora o rio, assombreado pelos primeiros assomos da noite, tem aspecto menos attrahente e poetico que pelo dia. Já não é o limpido crystal, re- verberando a luz do astro rei, de margens matizadas de nenuphares e outras flores, por onde volita um mundo de alados imsectos, expondo ao sol suas cores No Luapula 211 variegadas; mas uma superficie escurecida, estirada e de tetrico aspecto, lembrando no profundo socego que ali rema, o fundo abysmo que sob nossos pés se alonga, domimio de ferozes habitadores. SVNAN MUYDEN TYPO MA-USSI (perfil) Segundo photographia «Vogavamos vagarosos rio acima, pois tinhamos 2 milhas a percorrer para chegarmos ao ponto de desem- barque, envoltos no completo escuro da noite, e en- caixados n'um estreito esquife, quando nos surprehen- deu uma tremenda tempestade. 212 De Angola á contra-costa «Em verdade e apesar de marinheiros, aos primei- ros rumores da procella, confessâmos que nos senti- mos pouco á nossa vontade em cima de agua. «lira uma navegação de novo genero. «A casca que nos transportava tinha 3 palmos de largo, sendo porém bastante comprida. «Aos continuos repellões do vento, encrespou-se rapido o humido fluido, cuja corrente a favor este ac- celerou, açoitando-nos de lado com grossos pingos a chuva. «O pequeno batel, colhido por tão variadas forças, balançava-se á doida, demonstrando na sua como que mstabilidade, que não havia sido construido para taes proezas. «Os pagaeiros vogavam energicos, agachando-se no mtuito de enxergar e reconhecer a terra fronteira, em meio d'essa confusão de chuva, vento, gemer de arvo- res, tresmalhar de vagas, ao passo que nós, a tiritar, ageitavamos o fato ao enxarcado corpo, e ferrando as mãos na borda, assistiamos como estranhos a esta me- donha scena! «Nem pio! toda a nossa sciencia de marinheiros caía perante a experiencia de dois negros de longas pagaias em punho. «Por vezes o esquife, elevando a proa, ameaçava mergulhal-a para sempre, ao passo que em redor o marulho da agua produzia ruidos estranhos, como que murmurio de orações! «Então, ao estalar a faisca, estremeciamos imvolun- tariamente; e vendo pelo deslumbrante clarão dos re- lampagos o quadro de que faziamos parte, ficavamos No Luapulo 215 por alguns segundos como que cegos e envolvidos no ribombo. « De tempo em tempo, a canôa nas ondulações era detida sem o esperarmos, pelos ramos das arvores ala- cadas, e com os balanços desencontrados quasi sosso- brava, sentindo nós calafrios, com a idéa de uma pos- sivel visita aos crocodilos. «Finalmente, após duas horas de esforços e sustos, dando em porto amigo, desembarcámos. A 1 de março transpozemos o Luapula para a mar- gem direita, visto, no dizer do regulo, só por lá haver caminhos, e por aqui matagaes e alagamentos. Os ma-ussi são os povoadores desta terra; deprimi- dos, de feio aspecto e ferozes, exageram a sua fealda- de com o repellente uso de limar todos os dentes da frente em ponta, rapando o cabello nos parietaes. Os desenhos darão d'elles idéa melhor que qualquer des- cripção. São marimheiros e pescadores, modo de vida assás lucrativo n'estas regiões, onde existe extraordinaria abundancia de grande e bom peixe, sem fallar de cro- codilos, hyppopotamos e numerosos manatus. Vivem, por ass dizer, isolados na sua terra, como quasi todos os povos d'aqui, arriscando-se ao ultra- passar-lhe as raias a perderem a cabeça. Os cumprimentos usados por estes mdigenas são tambem originaes. Rolam-se de costas perante o soba, e, batendo as palmas, operam com os labios um som similhante áquelle por nós produzido para chamar os pimtainhos, ao passo que aquelle responde por modo diferente, 214 De Angola á contra-costa isto é, aperta os beiços para forçar o ar a escapar-se, produzindo um ruido desagradavel. Fumam nas mutópas e untam as cabelleiras com azeite. Exageradamente cubiçosos e ladrões, são por isso em extremo desconfiados, e sobretudo de uma pueri- lidade sem igual. Assim, o celebrado secretario do soba teimava, que nos não deixassem ir à cataracta, porque, sendo nós homens saídos do calunga (mar), e de lá trazendo as fazendas e contaria, era de crer que da mesma cata- racta, que fazia ruido como o mar, soubessemos della tambem extrahir fazenda. E em tal caso queria que os ensmassem primeiro a tiral-a! O velho Kinhama, que via nos brancos umas creatu- ras sobrenaturaes, que tudo sabiam fazer, pensou em reorganisar o seu material de guerra, e trazendo-nos a proposito quantas armas velhas possuia, a fim de que as concertassemos, mandou dar rebate por toda a terra, para que viessem quantos esmerilhões quebrados exis- tissem. Durante dias passámos a forjar e temperar fuzis, arranjando os fechos, até que, decidido nada poder fazer-se no lago, e sobretudo vendo que a fazenda e o quinino estavam a acabar, resolvemos partir a 5 de março, e explorar a sós por nossa conta, o curso do rio até onde podesse ser e as nossas forças o permittissem. Restava porém dispor cuidadosamente o regulo, pois havendo de o atravessar novamente, só o poderiamos conseguir por graciosa concessão delle e em suas ca- No Luapula 215 nôas, arriscando-nos, caso o indispozessemos, a ficar perpetuamente entre o Luapula e o Bemba. Todo o juizo era pouco. Procedendo com toda a cautela, preparámos as cou- sas em nosso interesse, e presenteando o velho com uma arma reiuna e um bello panno de reps, alcançámos elle a promessa de enviar barcos, que tres dias a mon- tante nos passariam, com a condição de no regresso lhe trazerem um presente-surpreza. Feito isto, deixámos para sempre o lago, onde com- tudo colhemos varias e diversas informações, cujo re- sumo aqui apresentâmos. Na zona lacustre que a leste de nós ficava, existe, se- gundo elles, um lago profundo, d'onde sãe o Luapula, e se chama Bangueolo:; junto d'este e ao nascente alonga- se um outro de caracter pantanoso, chamado Bemba, que com o primeiro communica por um canal denomi- nado Imanzai. Estes dois lençoes de agua téem ilhas por meio, onde se dorme em viagem, bem como muitos afluentes, prm- cipalmente pelo sul, que n'elles desaguam na estação chuvosa. O rio corre do norte para o sul, e, proseguimdo em tortuosas voltas, passa na antiga residencia do chete Mieri-meri, corta adiante perto da terra de um outro chamado Musiri, e, despenhando-se na cataracta Mam- birima”, segue por entre cachoeiras a caminho do poen- te, para então volver ao norte. 1 Erradamente chamada nas cartas recentes Monbututa, que é o nome de um rio que proximo desagua, Mombatete. 216 De Angola á contra-costa Recebe pelo sul muitos tributarios, e, deslisando am- plo por meio de ilhas, vem por fim a passar no paral- lelo em que nos achavamos. Assim, a indicação de Livingstone sobre a passagem originaria do Luapula (do lago) estava deslocada, cir- cumstancia que nada tem de estranho, porque o illus- tre viajante não chegou ali; agora, porém, deve achar- se perfeitamente determinado o seu verdadeiro logar, em vista da viagem e esforços de V. Giraud, que lá se nos antecipou apenas-umas poucas de semanas. Mesmo o logar da morte do viajante inglez acha- se erradamente collocado nas cartas, sendo a residen- cia de Kitambo, segundo todas as indicações, muito mais para o sul e a caminho da Muxinga, facto que tambem nos leva a crer que o ousado pioneiro, ao sen- tir-se dominado pela doença, procurava o caminho do Zumbo. | 4a DE = * , E e R N e ! ) á : € mise ã ' É e Radio a e j a . : ] » "o ha " - “ x a “ aa a é E y - t nd pad Ê & a + » | ; - ' ] - 4 4 4 k Lag Po, - . 4. pis - Ei o “ F . ] . À + : s y X , À É E | E 4 “o + f dd q Ts ça rg MG DA Ta SP e ir e ir og Ap Mm a RD e a rg paper ta AO q sp es + ' a > E o t e ' o Si uero ' j ; E ” R Í v 4 / E t o t ' I À - - É af) no E , E: X y E - * , a s k ge “ 4 | pe - g ad h 3 1 . cu ç « 7 . > é » + “ Í 4 a Es = ba j a / , “ R. t > 1 y à te À % “1 & - q À a “ T e t Ê b Es , dá "a - - , E % ia 1 q . +“ - 4) : “ “ & = s 2 a E 4 ei qispi . t e ” . “ O tiras e e DIE O ra cr o dE TS E AS o CS = Zp Cholanuho s RI DEM Luuns peaçe H Ee) PES DR mano no tia E eo b cá ses as E ca Depp tn CABETULO XXVII AO SUL Kinhama fica e nós abalâmos — Os recursos da expedição e a geologia da zona que vamos percorrendo — O melhor caminho para o meio dia e as dificuldades em conservar-se n'um trilho do mato— A caravana trans- põe o Luapula — Um quadro da paizagem que se apresenta do outro lado do rio — Dez dias sustentados a gallinha e a pirão — Um mau e um bom successo — À cata do trilho do susueste — Os leões e o Trinta, caçador de bufalos — Ainda no Luapula e o vento do sueste — Manifestações scor- buticas nos chefes da expedição — Indicações geraes sobre os primeiros symptomas, bem como o correr da doença — Inventario dos nossos haveres e ultima tentativa para ver a cataracta — Era tempo, urgia proseguir— Aspecto do paiz, o deserto e os elephantes— Pavor inspirado a estes animaes pela formiga — Javali de novo typo— Uma terra provavelmente povoada outr'ora e o unico monumento que o indigena deixa de si— Ban- do de fugitivos de Caponda e falta de fé gentilica — Causas da guerra de Caponda— À cabeça do Kalama — Os leões na noite do eclipse de 30 de março, e perigo de que Antonio escapou — Almoço feito com agua do Zaire, jantar com a do Zambeze — Vasto plateau — Novo trilho e um rhi- noceronte solitario — Densos matos e o capim navalha, -.. QUANDO UM FORMIDAVEL LEÃO COROADO SALTOU NA SUA FRENTE... Kimhama, envolto no seu panno dourado, lá ficára em completa immobilidade, emquanto nós, apertando o passo, seguimos Luapula acima, decididos a cortar directamente para o Zambeze. Os exiguos recursos de que a expedição dispunha, a 15so nos obrigavam, assentando em que qualquer de- mora podia comprometter a retirada.. Se a caravana houvesse sido supprida, como foram as de Speke ou Stanley, nós teriamos continuado em frente a marcha, a despeito de quanta vontade em contrario apparecesse; se ao tempo da nossa passagem 29() De Angola à contra-costa no Luapula, possuissemos amda emcoenta fardos de fazenda e vinte de missanga, teriamos seguido atravez dos ma-ussi e, comprando canoas, navegado no lago. Mas os recursos estavam apenas em dois fardos in- completos e num punhado de contaria branca, que ninguem queria acceitar em pagamento, acrescendo ainda uma unica meia onça de quinmo para todo o trajecto. Tudo bem pensado, pois, havia-se resolvido abalar. Após tres dias de marcha em companhia do velho Mutonhi (grande macota e secretario do regulo), que parecia experimentar satisfação especial em nos sacu- dir para fóra dos domimios de seu amo, acampámos junto à beira do rio em questão, cujo curso viemos approximadamente prolongando. A depressão central, que forma a sua bacia, é ex- clusivamente constituida por schistos argillosos umas vezes cinzentos, outras avermelhado escuro, muito fi- namente micaceos em pontos e de certo pertencentes ao grupo paleozoico. Do seu desaggrego resultam esses tractos imper- meaveis e escorregadios, que tanto favorecem os depo- sitos aquosos e embaraçam a marcha das caravanas. Por toda a parte se vêem semeados de calhaus, de quartzo rolado, de lascas de silex, de accumulações emfim de hematite concrecionada. O subsolo onde o podémos observar era composto por um grés muito rijo de cimento argilloso, e outro mais fimo, argillo-micaceo, de côr ochracea, notando-se às vezes filões de quartzo com limonite em amostras dis- persas. Ao sul Su: Na opinião dos guias d'al, o melhor caminho, ou antes o unico que n'aquelle parallelo existia para dire- ctamente attingir as terras d'alem da Muxinga, ficava ao oeste do Luapula, urgindo por isso atravessal-o no ponto em que nos achavamos, e seguir para o susu- este, contornando o rio, até o encontrar no meio dos matos. Essa linha directa para o sul atravessa todo o sertão meridional na extensão de 240 milhas, deixando ao nascente Ulalla e ao poente Iramba, e vae bifurcar-se sobre a mesma Muxinga, lançando um ramal para o rio Lunsenfoa e outro para Liteta. Estavamos assim em perigo de nos vermos de novo a sós, pois todos afiançavam ser para ahi a terra de- serta, obtendo a unica indicação de que deviamos procurar nas selvas o trilho que se dirige ao sueste, e depois, mettendo por elle, fazer 200 milhas geogra- - phicas para o meio dia. O que o leitor porém não sabe, é que sendo já pro- blema serio, procurar vereda em meio de sertões adus- tos, metter por ella n'uma tal extensão, é mais do que ISSo, é um impossível. Apparece, por exemplo, o caminho, e logo a cara- vana dirige-se por elle decidida. Porém, 3 milhas mais adiante atravessa uma campima alagada e começa a ser dificil distinguil-o; 2 kilometros mais longe, uma manada de elephantes, tendo por elle passado, fize- ram-n'o totalmente desapparecer. Desnorteados cortam os homens á direita e esquerda, e se acaso téem a felicidade de o encontrar de novo, é para, ao cabo de uma hora de cuidados, o verem enfiar 222 De Angola á contra-costa de cruz, com um rio de leito profundo, e sumir-se acto contínuo da outra banda. E estes factos, repetindo-se, pelo menos, dez vezes em doze horas, é de presumir a dificuldade, durante semanas de trajecto, de proseguir sem ter por guia pessoa que o conheça. Apesar disso, a 8 de março transpozemos o Lua- pula, junto á confluencia de um novo Lubemba, e fa- zendo campo na margem esquerda, largámo-nos a con- siderar. Estavamos a salvo de alguma exigencia dos ma-ussi, e Isso não era pouco, urgia agora descansar uns dias, a fim de adquirir quanto peixe apparecesse, e leval-o em pilhas e secco, para o meio dia; bem como se pen- sou em não partir, sem tentar um ultimo esforço, e fazer uma visita a Tenho, regulo que domina na cata- racta. À paizagem que do quilombo se desdobrava aos nos- sos olhos era magnificente. O prateado lençol de agua, que aqui não tem menos de 600 metros de largo, desliza veloz para o norte por meio de ilhas e bancos, ornados por macissos de arvoredo, do meio do qual se eleva a alturas prodigiosas a Hlyphocne ventricosa. As bacias e aberturas nas margens são assoberba- das de massas de gramineas e flores aquaticas, que cobrmdo-as similham terra firme, quando ás vezes podem encharcar inteiramente um homem. Ahi socega a agua nas represas. Os -cypós das Apocinaceas ligam-se de arvore em arvore, entrelaçando a ramaria de plantas á feição do Pandanus, cujas raizes sustentam os troncos no ar, em- Ao sul 2a quanto que outros se debruçam e tocam com seus ca- chos rutilantes os lirios e nenuphares que revestem o solo. E, nie MUY DEM o “o Hd , WWW TYPO MA-USSI DE MUIÚ Segundo photographia Regosija-se o mundo alado, enchendo o ar com seus canticos e gorgeios, ao passo que quadrumanos ligei- ros saltam espavoridos á nossa approximação. Dez dias ali estivemos placidamente embevecidos perante tal panorama, despendendo as horas de tra- balho em diversas observações, entre as quaes figu- 224 De Angola á contra-costa ram as distancias lunares das quaes mais adiante fal- laremos,. gastando outros em devaneios, empregando algumas a comer gallinhas guisadas em tutano de ele- phante, que muitas ali existem, pratos de pirão de mi- lho, peixes cozidos !, e tudo regado com amplos copos de pombé. De Moi Muié vinha gente diariamente. Estavamos uns perfeitos regulos africanos, indiffe- rentes ao tempo e inclinados ao pasmo. As mulheres da caravana tambem nos forçaram a prolongar a demora, pois que, prestes a serem mães, forçoso era ter com ellas essa attenção. A 16 nasceu um robusto menino, ao qual o augusto progenitor, o Trinta, não pôde por muito tempo ter a consolação de acalentar, visto ter succumbido vinte e quatro horas depois; a 17 um outro viu a luz do dia, ficando nós na expectativa de mais dois partos, que era de crer viessem a ter logar em Ulalla! Accommodados estes negocios abalâmos com a au- rora de 18 de março, em procura do caminho que nos devia ficar a susueste, e de algum ramal que nos con- duzisse, como ficou dito, 4 cataracta; ao passo que alu- gavamos uma grande canoa, para levar as damas con- valescentes, tres dias a montante do logar em que nos achavamos. No acampamento dessa noite deu-nos o tão celebra- do Trinta serios cuidados, pois, cheio de saudades da 1 E extremamente abundante o peixe no Luapula, repetimos, haven- do talvez não menos de trinta especies diferentes. E para lamentar que a absoluta falta de alcool nos inhibissé de trazer exemplares. Ao sul 225 sua Rosa, que seguíra por mar, abalou ao escurecer matos a dentro em procura do rio e della. Muito casualmente um formidavel leão com a sua companheira, logo que as sombras nos envolveram em seu manto, veiu postar-se junto do campo, soltando ur- ros tremendos. Acontecia, porém, que por vezes o animal calava-se, deixando decorrer quartos de hora sem dar rumor de s1, facto que nos trouxe por espaços de sobreaviso, esperando a todo momento vel-o dar imgresso no qui- lombo, e sobretudo nos encheu de receios, pois podia, regressando o enamorado guia da sua entrevista, pre- cisamente n'um desses mtervallos, passar a fazer mnes- peradamente uma viagem forçada, atravez do appare- lho digestivo do felmo! E se não viajou pelo menos assustou-se, pois na volta, sentindo entre si e o quilombo o ronco do ani- “mal, não fez mais do que abandonar a arma, e, tre- pando a uma arvore, dormir ahi empoleirado, facto que por vergonha negou, dizendo haver-se perdido, por perseguir uma manada de bufalos, dos quaes matára dois de um tiro! Tres dias mais longe avistámos de novo o rio, e com elle as damas e a canoa que pretendiamos conser- var para o explorar, facto este, que não teve cffeito, por fugirem os barqueiros com a embarcação. Sopra de novo o vento sueste rijo, as chuvas acabam n'esta epocha, só no quadrante noroeste se vêem nu- vens e o fuzilar dos relampagos, e por onde primeiro começaram as trovoadas, é ahi que agora vem termi- nar. VOL, II. 226 De Angola á conira-costa Muito infelizmente, apesar da situação melhorada em que nos achavamos, começámos por nossa vez aqui a padecer, e, ou porque durante muito tempo desco- nhecemos o regimen vegetal, ou porque agora nos ali- mentavamos quasi exclusivamente de peixe, ou por. outra qualquer rasão, a verdade é que o scorbuto co- meçou a atacar-nos gravemente. Às gengivas ulceradas sangravam a miudo, a inflam- mação da bôca e o ardor constante affligiam-nos por modo, que não nos permittiam fumar e até comer, zom- bando de certa maneira do tratamento pelo chlorato de potassa. O scorbuto do sertão, como algures Já tivemos occa- sião de dizer, differe um pouco d'aquelle que conhece- mos como scorbuto do frio, e ao passo que n'este são as Inflammações e ulceras de que acabâmos de fal- lar como que as manifestações primarias da doença, n'aquelle são ao contrario tardias, e por assm dizer evidente indício de definitiva geral mfecção. Começam os primeiros symptomas por um certo prurido na parte inferior das pernas e tornozelos, que, excitando a comichão e o consequente coçar, acaba por desapparecer em parte, deixando formar pequenas fistulas. Pouco a pouco protundam estas, e augmentando em circumferencia, resistem ao tratamento da quina e camphora, ou outro qualquer, ao passo que, quando occasionalmente fecham, fica uma mancha larga e es- cura, que tarde desapparece. Este estado conserva-se em geral largo tempo, seis mezes ou um anno, até que. por fim, qualquer causa de Ao sul 2 terminante, frio, chuva ou mudança de alimentação, e talvez a imtroducção subita de alcool no novo regimen, provoca as manifestações que a miudo se observam. Bôca, mucosas, gengivas, tudo se mflamma, e esta ordem de cousas, quando se demora sem tratamento, só tarde na Europa desapparece por completo. Tendo fugido os barqueiros com as canoas, ficámos sós, e caminhando ao rumo da agulha no prolonga- mento do rio, achámos, a 10 milhas adiante, o trilho de que temos fallado. Acampou-se, decidindo então que um de nós al ficasse, emquanto o outro iria em frente reconhecer o Luapula até onde podesse. Inventariou-se o que pos- sulamos, que então se reduzia a trinta peças de fazen- da, tres latas de chá, meia onça, quando muito, de qui- nmo e duas pequenas pharmacias. À 24 portanto partiu aquelle a quem cabia essa tare- “fa e, afastando-se um pouco do caudal do tributario do Zaire, proseguiu para o susueste. Largas campinas o defrontavam. À principio começaram os ribeiros a multiplicar-se, era o Kiofochi pequeno, logo o grande, adiante ap- pareceram alagamentos que foi preciso contornar, de- pois novos rios, até que ao cabo de dois dias de marcha encontrou-se um grande curso de agua, que, sendo im- possivel dominar, o obrigou a retroceder. Estava fechada a passagem, só com ponte ou canoa se transporia; estava em resumo exarado no livro dos destmos que a recondita cataracta não seria por olhos nossos admirada. Era triste, mas paciencia; depois nós Já não estavamos, ao tempo, muito para teimas. 228 De Angola á contra-costa O Luapula proseguia limpo e largo com uma cor- rente de 4 a 5 milhas, podendo observar-se, para lá do rio já citado e ao longe, a quebrada que origina o desnivelamento. Finalmente, dizendo adeus ao grande tributario do Zaire, que tanto trabalho e fadiga nos havia propor- cionado, voltámos decididamente as costas ao norte, e, proseguindo pelo trilho junto ao qual estava acampada a caravana, marchámos decididos para Ulalla. Era tempo e urgia proseguir. «Ao sul», foi a voz. Todos os riachos, sem excepção, corriam para o nor- oeste, para irem desaguar no Lucutáboa, que agora tinhamos á nossa direita e deslisa todo elle approxima- damente do sul ao norte. A altitude acima do nivel do mar, que após a nossa chegada aos dominios dos ma-ussi, não tinha sensivel- mente variado, começava agora a crescer. O paiz era menos plano, menos fechado, os bosques menos espessos, alternando com sulcos e depressões vestidas de gramineas, onde serpeavam pequenos r1- beiros, que pouco a pouco fam decrescendo, o que. provava tambem que íamos para uma linha divisoria de aguas. E fertil e deve mais para o sul ser naturalmente saudavel esta terra, caleulando-a nós accessivel ao es- tabelecimento de europeus. Abundam n'ella os elephantes, e por modo que logo no primeiro acampamento dois mvestiram com o Trin- ta, que, apesar de ter uma bella Snider na mão, se escondeu atraz de um morro de termites, allegando Ao sul 229 depois que assim procedêra, para ver se os bichos vi- nham para junto delle! E smgular o receio que a formiga, esse insecto quasi antipoda do elephante na escala dos seres, inspira a este animal. O bisonde (formiga guerreira) sobretudo, ao appro- ximar-se, causa-lhe um verdadeiro pavor, impellindo-o a fugir acto contínuo. Se o surprehende a dormir ataca-o de subito, e logo lhe investe com as orelhas, tromba, olhos, por tal modo que, segundo nos affirmaram, chega a matar-se, cor- rendo à solta pelos matos e dando com a tromba pelas arvores! À um dia de marcha do logar atraz citado, andámos em perseguição de caça, abatendo um javali, que nos pareceu differente dos das tres especies já atraz men- cionadas, e cujo desenho não tivemos ensejo de fazer “para demonstrar talvez a existencia de um quarto ty- po destes feios viventes. O deserto volvêra a cercar-nos; sem embargo, devia esta terra em remotos tempos ter sido povoada de li- batas numerosas, de que não encontrámos vestigios, mas a prova evidente existe nas arvores outrora cor- tadas em grande numero a 1 metro de altura do solo, que mais tarde rebentaram, ficando o grosso madeiro de baixo, sobrepujado por delgadas hastes, unico ves- tigio que de si deixa o africano, elle que cousa alguma construe perduravel. Todas as suas obras, como grandes cubatas, pali- cadas, arruamentos, pontes, etc., em breve o tempo e a força vegetativa destroem, desfazendo-as e cobrindo- 230 De Angola á contra-costa as por maneira que seis annos depois o viajante passa sem que d'ellas descubra o menor vestigio. Como por magico transformar, tudo se some. Volvem-se matas e selvas, onde usualmente e de pre- ferencia o bufalo transita, em busca de alguma planta de cultivo que haja ficado esquecida pelos arimos, e onde os ratos dominam, cubiçosos de ver o que as gra- mimmeas podem dar. Afastando-se o homem, desapparece com elle o seu trabalho de annos, tornando tudo em redor ao aspecto selvagem de outr'ora, e quando o mvestigador, ao ter noticia dos movimentos migratorios de uma tribu qual- quer em um sertão desconhecido, procura as rumas das povoações onde ella domimou, póde estar certo de ter como unica indicação, os córtes das arvores pelo negro derrubadas. Pela tarde descansámos. Como o sol baixasse rapidamente, andavam os nos- sos azafamados em procura de paus proprios para a construcção de cubatas, quando um do bando, que se dirigira ao oeste, deu noticia proxima de fumo, saíndo do mato, e muito provavelmente de homens ali acou- tados. Quem poderia ser, pensavamos nós, que áquella hora se regosijava em tão reconditos sertões, abeirado de um fogo que, sem o saber, o denunciava. Posto a caminho Trinta com mais tres companheiros, eil-os que se approximam de um acampamento sordido, escondido entre as grandes hervas, sendo de subito recebidos por meio cento de homens emmagrecidos e nús, de arcos tendidos e settas apontadas! Ao sul pro | Não podendo operar rapida fuga, pelo grande nu- mero de mulheres que tinham, e peso das creanças, pareciam estes desgraçados estar decididos a defender- TYPO DE IRAMBA Segundo photogvaphia se ali, suppondo-nos aggressores do norte e caravana naturalmente de Musir. | Ao pronunciar o nome d'este regulo, tremiam os im- felizes como canniços soprados por vendaval, olhando para nós com um ar de desvairamento de quem está perdido para sempre. 252 De Angola á contra-costa Só a custo os podémos convencer de que eramos gente pacifica, e mesmo honesta, em busca de cami- nho para a nossa terra, não tendo por mister fazer mal a pessoa alguma. E logo conseguimos saber que esses infelizes eram outr'ora habitadores das terras de Ca- ponda, e, fugidos durante a guerra, erravam já de ha muito pelos matos, sem saber para que terra deveriam 1 assentar. De um de Iramba lhe fixámos o busto no cliché. Possuidores apenas de arcos e flechas, difficilmente podiam caçar, achando-se todos mais ou menos esfo- meados e em estado de magreza que mspirava dó. Distribuindo com elles alguma carne, porque pouca podiamos ceder em vista do isolamento em que nos achavamos, convidámol-os a proseguir comnosco para o sul, afiançando-lhes que para essa banda arranja- riamos terra de soba conhecido, que consentiria em re- cebel-os e deixal-os estabelecer-se em paz. Escusado é dizer que, após accederem contentes á nossa proposta, pela noite se escaparam desconfiados, não dando nós nunca mais noticia de tal gente. E quereis saber, leitor, a futil causa d'essa tremenda guerra, da qual mais de um vez temos fallado, e que arrasou todo o sertão do norte, limpando-o como a palma da mão, e pondo-nos tambem em perigo de morrer por lá á fome? Eil-a: Caponda tinha um macota grande na terra, designa- do por Kalama, e que, segundo parece, era um ousa- do perturbador da paz das familias, com os seus per- manentes requestos ás damas. Ao sul PD Collocado uma bella tarde á beira do Luapula, o famigerado D. Juan, tendo apercebido na outra mar- cem uma das companheiras de Kinhama, taes artima- nhas e feitiçarias poz em pratica, que, como sapo em face da donimha, attrahiu a imfeliz, levando-a a aban- donar o lar. Até aqui não tinha a questão para o velho senhor um jfacies de grande consequencia, porque mulheres, pensava elle, havia muitas; o que porém lhe despertou mopinadamente as iras, levando-o a lançar mão de um energico recurso repressivo, foi a cireumstancia de haver o Kalama, ao afastar-se com a sua diva, pregado um feitiço de tal ordem na margem do rio e porto, e isto muito naturalmente para se pôr a coberto de qualquer perseguição, que ninguem ali ía que não suc- cumbisse de prompto! Consultados os quinhbandas no modo de resolver o mtrincado problema, foram todos de unanime opimião, que só colhendo o Kalama e cortando-lhe pelo rente a cabeça, para a pôr no sitio onde o rapto tivera lo- gar, se poderia conjurar o maleficio. Dito e feito, resolveu-se a guerra, pediu-se e pagou- se em bom marfim a Musmri licença de a fazer a um vassallo seu, e pouco tempo depois, n'um espinheiro do porto, lá vimos nós, os chefes da expedição, a ca- beça do infeliz namorado, com bocados de pelle ainda suspensa das faces, cabeça que Kinhama nos não consentiu trouxessemos, allegando finamente não lhe convir que, ao volvermos á nossa terra, o nosso mo- narcha a visse, persuadindo-se que elle tyrannisava os povos do seu dominio. Que original! 234 De Angola á contra-costa Pullulam por modo os leões n'esta região, que na noite de 30 de março houvemos pelo escuro de abater algumas arvores e fechar o campo com uma paliçada, a fim de evitar alguma surpreza, menos delicada, deste temivel animal. | Andavam em grupos de roda do acampamento, sol- tando roncos que não permittiam conciliar o sommno, nem a observação tranquila de um echpse da lua, que n'essa noite teve logar, e terminou. às SE BM, ficando o astro da noite cercado por dois formosos halos como que prismaticos. lira de ver o espanto dos nossos, quando lhe annun- ciâmos pela tarde, que a lua nasceria tapada, e só depois de alta, envergaria o seu manto prateado! Se até ali feitiço de branco era o melhor, agora fei- tiço de branco, tinha diabo! Estavamos na linha divisoria Zaire-Zambeze, haven- do no ultimo dia do mez almoçado com agua do pri- meiro e jantado com aquella do segundo. De novo esvoaçava aqui a conhecida mosca tzé-tzé, infestando os matos em que nos achavamos. Logo que alvoreceu aprestámos tudo para nos pôr a caminho. Antonio, que estava sempre á espreita, mal a aurora havia amostrado o primeiro arrebol, des- cobriu, não longe e entre os altos capms, uma basta manada de bufalos, pastando socegadamente. Eil-o de arma 20 hombro, acompanhado apenas por dois homens, na direcção em que os bufalos se acha- vam: tão infeliz foi porém na sua empreza d'esse dia, que esteve proximo a dar contas a Deus do que cá por baixo havia feito. Ao sul 235 Occulto por entre as grammeas, caminhava baixo e com cautela, depois de descer ao fundo de uma de- pressão, para subir a encosta fronteira, quando um for- midavel leão coroado saltou na sua frente, só devendo o salvar-se ao medo que o animal tomou, pelos gritos dos negros apavorados. O rei das selvas estava tambem, segundo parece, extastado na contemplação dos bufalos, não se atre- vendo a um ataque, em vista do numero d'aquelles bi- chos. e esperando muito provavelmente que algum se tresmalhasse. Um vasto plateau se abria para alem, onde só se en- contravam lagoas e charcos, ao passo que ao oriente um cordão de serras se alonga de norte a sul, indi- cando uma separação de aguas de dois systemas hy- drographicos. Para aquem o Cafue, para alem o Luangua talvez. O trilho pelo qual partiramos do norte já ha muito se havia perdido; n'este dia, porém, como mais de uma hora estivessemos á borda de um rio de varzeas largas e lodosas impossiveis de transpor, vendo na margem opposta um rhinoceronte que pacientemente procedia a lamacentas abluções, os nossos homens, espalhados pelo mato, encontraram, sem que o esperassemos, um caminho que justamente corria na direcção desejada. É o nosso de certo, o mesmo que atraz perderamos, diziam todos, e mettendo por elle, caminhámos pelo meio de uma mata densissima que nada deixava aper- ceber em redor, contentes de ter achado mma mdica- cão que nos levaria talvez a porto de abrigo onde en- contrassemos de comer, que sempre andava escasso. 236 De Angola á contra-costa Trinta fôra o primeiro a proclamar a authenticidade do caminho, que era o delle tambem, afiançando co- nhecel-o, que estavamos salvos, e em resumo, que iriamos como fusos, direitos para o Zambeze. Sete dias já fam que andavamos novamente no mato, e se notarmos que á insufficiencia dos meios de trans- porte é devido sempre o perigo da fome, pois que um homem nas cireumstancias em que se achavam os nos- sos, pouco mais de 30 libras póde carregar, peso que representa, quando muito, a carne para oito ou dez dias, não o libertando para transportar sequer a menor caixa; ver-se-ha facilmente que o receio de nos faltar de co- mer tinha serio fundamento. E se aidéa da caça alentava os animos, a que ainda, para o caso presente, acrescia a declaração do nosso Printa, que conhecia o caminho como os seus proprios . dedos, a lembrança de nos poder ella falhar não dei- xava de nos trazer apprehensivos. Por vezes a floresta abria e, formando amplos lamei- ros, vestia-se de um capim cortante como navalha, que urgia evitar cuidadosamente para não se ficar Iitteral- mente golpeado. O habito do mato, porém, ensma a marchar pelo solo balofo e lodoso em que este assenta, não de- vendo o viajante pôr o pé á tôa quando marcha, e ao contrario, deixal-o resvalar mansamente, a fim de que as hervas, dobrando-se, lhe offereçam um seguro ponto de apoio. | Um bando numeroso parecia ter passado ha pouco tempo por esta mesma trilhada, pois nos quilombos em que penetrámos encontravam-se alguns artigos que Ao sul DS pela frescura evidenciavam ter sido recentemente ma- nipulados. Às jornadas feitas por essa gente, sem duvida de guerra, deviam ser bem compridas, visto dois e tres dias nos serem precisos para chegar de um a outro quilom- bo, podendo tambem notar-se, pelas pégadas, em que direcção haviam proseguido, e quantas as vezes elles, suspeitosos talvez de algum ruido, ou em busca de caça, haviam saído para fóra do trilho, acoitando-se pelas selvas. N'ºestes quilombos acampavamos nós, tendo unica- mente de arrancar os paus para construir as nossas cabanas ou ninhos de capim. Certa noite, junto a uma d'ellas, ruido espantoso se- meado de roncos e bufos terríveis, de envolta com es- toiros tremendos, se fez ouviu, pondo a caravana toda de pé. À nossa gente pegára em armas, e alguns tiros fo- ram dados á tôa; a algazarra no campo contrastaya com os ruidos dé tóra. Era ocaso, ao que parece, que uma manada de bufalos, achando-se acoitada não longe de nós, fôra surprehendida por um bando de elephantes, que em sua marcha devastadora haviam com elles encontrado, semeando na troupe o terror e a confusão. Debandando á doida em todos os sentidos, haviam muitos vindo passar proximo da paliçada, pondo-nos em risco de acordar pela noite, abraçados, sem que- rer, a um bufalo colossal! Limpo e batido continuava o trilho adiante, e limpo de suspeitas ía tambem o nosso espirito agora, esperan- by 38 De Angola á contra-costa do convictos a todo o mstante ver despontar ao longe, n'uma volta, os conicos tectos de qualquer libata. O vulto esguio do guia da Garanganja descortina- va-se à frente da comitiva, radioso e contente, seguido da mseparavel Rosa. Às aguas corriam á mão direita em fundas depres- sões vestidas de capim, ao passo que, nas ondulações mtervalladas, densas matas lhe cobriam os dorsos, matas tristes e sós, onde nem um só golpe de macha- do evidenciava proxima a passagem do homem ah. Gigantescos morros de termites se faziam notar em todo o trajecto, coroados por um verdadeiro bosque, onde se erguia altiva e invariavelmente uma euphor- bia, dessas de que já fallámos, 4 feição de candelabro. Nas paredes do cone viam-se aqui e alem desaggre- gos, mostrando nú o terreno mterior, polido e luzidio em resultado do trabalho dos antilopes com a lingua, que, achando-o salgado pela accumulação do segrego Vaquelles insectos, ali passam horas em consoladora tarefa. E quando precisamente iamos mais lestôs e des- preoceupados, julgando-nos possuidores de segura e certa vereda, eil-a que de subito immerge no leito de um rio, e, desenvolvendo-se em lacetes, nos lançou no mais grave dos embaraços. «Senhores (exclamaram os da vanguarda), um pam- bo»; isto queria dizer que o caminho se dividia em dois correndo cada qual em rumos muito diflerentes. CAPITULO XXVII DIAS DE ANGUSTIA Duas considerações sobre o texto da presente obra— À descripção € uma jeremiada, mas traduz fielmente os factos — Trinta embasbacado pe- rante os dois caminhos — Sua resolução definitiva — Um rio grande e uma primeira ponte a construir — Escassez de provisões e fealdade das matas — A vida das selvas habilita-nos a antever os obstaculos — Novo rio e nova ponte a construir — Considerações à sua beira — Alguns dos nossos homens são ouvidos — As mulheres e a nossa impressão a seu respeito — Alfim decidimos abandonar o trilho — À corta-mato de machados em fren- te— Às seis horas estavam percorridas 22 milhas — N'essa noite, para muitos o mantimento acabava— O erguer do dia seguinte e as ultimas parcellas de carne — Mais rios e pontes a construir — De cima das ar- vores observa-se o horisonte —Dionysio abala e encontra um trilho — Nossa commoção à vista de tal descoberta — Uma breve allocução a pro- posito — À caminho sem resfolgar até às seis horas — Um corvo estranho ec o subito apparecimento de um homem — Agarrado e trazido à nossa presença — Junto a nós estava uma libata. ra pf o cia ES a 1! : Mu. T a 1 RT , . . BRO, na E TRo d PERE Á ' be ns 4 “ ç vm h há à us ; TRA , [ AP “ix o ade 0 4 Ea a ii x + Er » ; Ria f E xi ! ; ; Ni ita : g pa i i ja pÁ ds ER | 1 . O x dE ' ea ra bi Rs: o O e a a Eloa nt Ra À Es , 4 4 [o , as y * Asa j Pr) Ros E ç " e nto a di a ) e JA dj j j oa 6 od Pan Pei » a Pa N j . E 7 sa ' a [RR “A E be tra 0 A £ ; a ] | e Era e f J a f e nor To VIA k Va [ih Teia na) e EAR Li NA quo aqi O Jd o ) N E , ! 4 R ”, b] y ua LA! 5; , = = Edi 1 7 “ 4 N 2 1 | ii Ê a E A | E aber j NU : , E [y ; | r d À k Ê . é - E as RES * . “ e | , ts v 1 - | 7 É x a E ) — HOMEM DE IRAMBA Segundo photographia Se ao correr as paginas da presente obra, o leitor amante da exposição facil e de primores litterarios, ex- clamar: mas é massudo este livro! Replicar-lhe-hemos: Sim, senhor, é uma verdade o que diz, mas casualmente a sua descoberta não attinge as proporções d'quella da polvora, pois os auctores, ao rabiscal-o, já d'isso esta- vam convictos, pela excellente rasão de que, para es- crever livros d'estes, é primeiro que tudo preciso sa- ber descrever. YOL, II. 16 242 De Angola á contra-costa Ora é isso precisamente o que elles estão certos que mal sabem fazer. Se ainda a sua audacia subir de ponto a leval-o a meio do segundo volume, e suspendendo ahi exclamar: é uma jeremiada permanente, um constante lamento, um alinhavo de decepções e desesperos, esta deseri- pção de viagem; replicar-lhe-hemos tambem, que para nos desculpar não carecemos da sua benevolencia, pois que, tornando-se a nossa primeira obrigação o ser ver- dadeiros, e havendo a dita viagem sido uma constante lucta com a fome e com o deserto, este livro, gemendo assim, não faz mais do que espelhar um a um os fa- ctos que n'ella se deram. Durante o trajecto de uma á outra costa, raro foi o dia em que nos erguemos, que não tivessemos de luctar com um embaraço: da primeira á ultima pagina do diario, rara é a linha em que se não deixa trans- parecer este estado de cousas. Se não eram fugas era a fome, se não era esta, vi- nham as perfidias e falsa fé do indigena, e na falta destas tinhamos logo como distracção o deserto ou a chuva, quando não as mortes e a mosca! Como pintar, pois, com alegres cores um quadro de si tão escuro e tetrico? Que se attente n'este instante na nossa situação e se diga, se alguma cousa póde haver de mais cruel e enfadonho, de que aquillo que acabava de nos acon- tecer junto á fronteira de Ulalla. Haviamos encontrado um novo trilho que julgava- mos ser o nosso, e desciamol-o rapido e contentes a caminho do sul; quando precisamente almejavamos Dias de angustia 243 ver um tecto de colmo, que nos evidenciasse a proxi- midade de um povoado em que nos supprissemos de mantimentos de que começavamos a carecer, o trilho dividia-se em dois, deixando-nos perplexos, sem saber que partido tomar. O mesmo Trinta estava embasbacado, não ousando aventar conselho nem fornecer indicação. Suspensos e irresolutos nos demorámos uma boa hora detidos por esta dificuldade, emquanto o nosso guia divagava pelos matos circumvizinhos, em pro- cura de indício que nos aproveitasse para o caso. Alfm veiu, e após uma ligeira conferencia com a Rosa, declarou que o caminho era o do sueste, que precisamente seguia a direcção que nós desejavamos, e que o do sudueste era trilho antigo, já de ha muito não percorrido, etc. Em vista de tal enfiámos por aquelle que nos indi- cavam, passando a correr com a nossa boa estrella e com a ignorancia do guia. Apenas 4 milhas de marcha haviam sido feitas, quando um imopinado trabalho se apresentou á cara- vana. O atalho, saíndo do bosque, emergiíra n'uma larga varzea do capim navalha e, serpeando ahi, dirigia-se para o rio que deslisava a meio, e cuja profundidade era tal, que só a nado podia transpor-se. Machados ao arvoredo se metteram logo e, após por- fiada lucta, construiu-se uma ponte por onde todos passaram. Descansando pela noite em uma encosta d'onde a vista descobria accidentes diversos de terreno, e o es- 244 De Angola á contra-costa pirito se alliviava na contemplação de mais largos ho- risontes, volvemos no dia seguinte ao afan de cami- nhar, que começava então a tornar-se uma lucta pela existencia. As provisões de bôca escasseavam, a pressa com que marchavamos e a tzé-tzé sacudiam a caça da tri- lhada, não sendo possivel colher á mão nem uma ga- zella. Observando attentamente o que nos cercava, come- cámos a suspeitar que íamos mal dirigidos. Á medida que nas matas nos atufavamos, volviam estas a tomar mais fero aspecto. Não era um bosque aberto, d'esses remexidos pela mão do homem, onde os troncos por todas as direcções têem marcas, e desembaraçados de tojo e restolhos que. as fogueiras aniquilaram, emergem de um tapete de relva; e ao contrario, fechando-se gradualmente, em- baraçava-se com uma basta subvegetação, cobrmdo-se de urzellas e entrelaçando-se de trepadeiras. Habituados á vida do mato, a nossa vista estava de ha muito costumada a reconhecer promptamente estas variantes de braveza, a notar nos traços especiaes do bosque a maior ou menor probabilidade da solidão, a ler nas pégadas dos quadrupedes e na direcção por elles tomada a rasão do seu isolamento e abandono. Por isso, na proporção em que avançavamos, cres- ciam os nossos receios pelo futuro da expedição, sen- tindo desejos de retroceder. Áo terceiro dia, eram nove horas da manhã, a comi- tiva seguia em silencio por entre uma mata, quando ao desembaraçar-se d'ella e saír, a gente da vanguar- Dias de angustia 245 da deu noticia de um rio profundo, só a nado transpo- nivel. Mandou-se fazer alto, metteram-se machados á obra, e emquanto se construia uma ponte, os chefes da ex- pedição discutiam entre si sobre o modo de vencer as dificuldades que de novo se apresentavam. (Quando muito, o comer chega para dois dias e Isso dificilmente. O aspecto de quanto nos rodeava cada vez era mais lugubre. A linha para o sueste era sem duvida vantajosa, pela direcção que levava, mas internando-se no Ulal- la, onde iría ella parar? Para o oeste era retroceder, mas para lá nos tinha ficado o outro ramo do caminho, acrescendo que nunca ouviramos dizer que os cami- nhos do Zambeze cortassem por Ulalla. Mas tambem, a existirem estes ou libatas no poente, poderiamos nós attmgil-os com os poucos recursos que possuiamos? Todas estas questões postas núa e smgelamente nos assoberbavam o espirito. Lembravamo-nos que haviamos atravessado uma grande parte do negro continente, onde mil e um ti- nham sido os obstaculos encontrados, mas que, mercê da Providencia, todos se haviam vencido; que cin- coenta vezes tinhamos estado a pique de perecer pela fome, e outros tantas com maudita felicidade havia- mos escapado; e considerar agora, que já tão pro- ximos do remate podiamos, pelo facto de errar no escolha de um trilho, ficar miseravelmente estirados no sertão, tornára-se para nós uma angustia cruel. Reunindo em conselho alguns dos mais importan- tes da comitiva, ouvimol-os tambem, mas a sua opi- 246 De Angola á contra-costa nião, menos fundamentada que a nossa em conheci- mentos geographicos, pouco adiantou. Todos respondiam: quem sabe, talvez para ahi haja gente, e talvez não haja. Eram dez horas e meia, termmára a construcção da ponte, e sobre ella passámos para a outra margem do ro. No chão, sentadas em linha, as mulheres da carava- na, com as pequenas cargas ao lado e os filhinhos ao peito, olhavam-nos com ar de quem de nós só espera- va a salvação. Ao attentar nos seus vultos, não poderam deixar de se nos marejar os olhos de lagrimas. A final, que culpa tinham as mfelizes de ter vindo a tão longe parar? Ellas que, alem da pacotilha, tinham à sua conta o carrego dos filhinhos, que, apesar de tudo, eram companheiras dedicadas e fieis, sempre promptas a receber o excesso de carga que apparecia, que ha- viam desde a costa transportado os mais delicados mstrumentos da expedição, pois sextantes, inclinome- tros, etc., tudo vinha à sua conta, iam agora talvez ser as primeiras a cair, tombando para ali cadaveres enlaçadas ao fructo querido das suas entranhas. E o delicado sentimento da maternidade, tão vivo na mulher selvagem, como na elegante habitadora do boulevard, parecia ali, em meio da braveza de cara- cter dos nossos companheiros, merecer-nos mais ele- vado respeito. Depois a mulher, por mais meiga, mais fraca e mais dedicada, captiva sempre, e a idéa de a ver cair morta, ás vezes joven, abraçada ao filho, aflige infini- Dias de angustia 247 tamente mais do que ver rolar moribundo em terra um latagão de ennegrecida barba. Não havia, porém tempo para considerar. À expedi- ção ía jogar uma ultima cartada, abandonando o trilho por que viera; e dando a voz de leva-arriba, postados em frente uma duzia de homens de armas em punho, abalámos ao rumo de oéssudoeste, deitando pelas sel- vas à corta-mato. Sob os membrudos braços dos nossos companhei- ros gemia a ramagem em frente; aos possantes golpes de machado estouravam os troncos e cypós que nos tomavam a passagem; a mtervallos, os numerosos af- fluentes do rio que transpuzeramos pelo norte e corria ao longe parallelamente a nós, enxarcavam-nos até aos- joelhos. Silenciosos e cabisbaixos caminhavam todos, bati- dos por um vento fresco do sueste. O aspecto da na- tureza continuava sendo o mesmo, o solo conservava a nvariabilidade das nossas ultimas descripções petro- logicas. Ás duas horas deu-se um momento de descanso, logo depois abriu-se de novo a marcha, Nem um ruido, nem um animal, nem uma singela arvore derribada, no mtuito de colher o mel depositado em qualquer cavidade superior. Um silencio funebre nos envolvia, e acompanhava por entre os bosques. Pelas seis, já com o sol no occaso, acampámos em uma encosta junto a um rio. Haviamos feito 22 milhas de caminho, e em todo esse longo trajecto nada tinhamos colhido de novo. 248 De Angola á contra-costa O mantimento expirava para muitos n'essa noite, a situação ía-se tornar em breve desesperada. Aconchegando o barrete ás orelhas para não ouvir os queixumes de alguns mais esfarmados, envolvemo- nos em nossos gabões, tentando conciliar um somno Impossivel. Ha bem poucos dias parecia-nos que, abeirados do Zambeze, tinhamos quasi um pé na Europa, agora afi- gurava-se-nos que esta fugia de nós para sempre, e os sinistros rumores do mato, que outr'ora nos passa- vam desapercebidos, como os lamentos da hyena e o pio da coruja, eram hoje escutados, e, sem querermos, pareciam-nos uma prece em nosso favor, um agouro do fim proximo que nos aguardava. A fadiga felizmente, como sempre, vencia-nos, e, depois de algumas horas de vigilia, caímos em somno profundo. Alvoreceu o dia seguinte, e a aurora desdo- brado o seu opalino manto, veiu illuminar com luz amarellada o campo, destacando tristemente da som- bra os vultos dos nossos companheiros. | Cada qual, curvado, amarrava a sua carga, mais de- sejoso de abandonal-a do que gastar as poucas torças sem proveito no seu transporte, e mirando os esfai- mados aquelles que mais felizes ainda conservavam uma tira de carne para o almoço, lá bebiam um ca- neco de agua, apertando o ventre deprimido com a cor- reia da cinta. O pouco que possuiamos, havia sido distribuido por aquelles em peiores circumstancias e principalmente pelas mulheres, vendo-nos obrigados a comer a nossa, magra ração dentro das cubatas, para não sermos des- Dias de angustia 2409 agradavelmente alvos dos sofregos olhares d'aquelles a quem cousa alguma coubera. Fechada em silencio esta triste scena, pozemo-nos a caminho, organisando á frente um grupo de caçadores, que infelizmente pouco nos parecia poderiam fazer, pois Antonio, estava agora com uma entorse, que mal lhe permittia andar. | Por sua banda os brechadores, pela mór parte gente de Benguella, lá iam mais satisfeitos, capitaneados por Dionysio, que jurára não parar sem encontrar o ca- minho que nos ficára para o oeste. Trinta nem ousava ir à frente da comitiva, e dei- xando-se atrazar envergonhado, marchava no couce, seguido da sua inseparavel. Durante cmmco horas successivas se caminhou, trans- pondo seis rios e construindo duas pontes, até que pelas dez e meia suspendemos, para descansar de si- milhante afan. Nada se víra ou ouvira em redor, tudo socego e si- lencio; da mesma caça nem a pista haviamos observado, e apenas uma ou outra cobra ou algum reptil haviam fugido assustados à nossa approximação. | O terreno era plano, não deixando a floresta ver por fóra cousa alguma, e embora por vezes tivessemos mandado subir ás arvores para esquadrmhar os arre- dores, cousa nenhuma se tinha apercebido. Apenas um dos homens lá de cima afiançára ter visto para o poente serras, isso porém não era uma indicação que muito aproveitasse, se bem que nos ter- renos accidentados é onde muitas vezes se encontra gente em África. 250 De Angola á contra-costa Antonio batia o mato em roda, Dionysio, o homem das occasiões, abalára sem descanso, marcando com o machado as arvores por onde passava. Uma hora havia que nos achavamos n'estes termos, e, dando ordem para proseguir, apromptavamo-nos para largar em frente pelas marcas das arvores, quan- do um tiro soou ao longe. Um tiro, para o oeste, para a banda da vedetta, era sem duvida dado por ella, mas que importava? Alguma peça de caça avistára; mau caçador, porém, não esperavamos d'elle cousa de proveito. Rumimando estas e outras considerações, ia-mos par- tir, quando mopimadamente soou outro tiro. Vae em perseguição o pateta, acrescentámos; me- lhor fôra que endireitasse para o pôr do sol e fosse caminhando sempre. De subito um terceiro soou, logo um quarto, e então muitos se seguiram. E estranho, que será? Arriba todo o mundo, o homem que assim atira é porque encontrou novidade, e, dando o exemplo, se- guimos á frente pela linha dos golpes brancos nos troncos. Em dois minutos infiltrava-se-nos no corpo uma alma nova; sorria-nos o futuro, julgavamo-nos salvos, passára de todo a fome. Dionysio não cessava de dar tiros, e embora não fosse sisudo gastar assim as munições sem proveito, ao echoar de cada detonação derramava-nos elle no espirito, sem o pensar, um alento decidido e um suave consolo. | * Dias de angustia 251 Avante, que a nossa boa estrella ha de guiar-nos, e apertando o passo corriamos pelo mato. Hora e meia trilháâmos no restolho e no capim, até que ao longe demos vista do nosso heroe, que, sentado, de carabina no braço, sorria gostoso para nós, fumando no cachimbo, muito naturalmente um pedaço de car- vão. — Então, explorador, o que é que viste para dar tantos tiros? — Aqui, senhores! E apontando-nos para o chão, mostrou-nos um bello caminho, limpo e batido de gen- te, correndo ao rumo do sul. Seria enfadonho, leitor, volver a descrever-vos a sensação experimentada, ao pormos o pé sobre essa vereda branqueada, que ía talvez salvar-nos. À nossa commoção era tamanha, que não caímos nos braços de Dionysio para evitar uma scena de et- fusão sempre ridicula aos olhos do africano, de si pou- co propenso a tiradas de transporte, mas ordenando a abertura de um fardo de fazenda, demos quanto lhe podiamos dar; doze braças de algodão, para na pri- meira terra encontrada apparecer aos olhos das da- mas, vestido como homem de subida condição; e con- trastar com os companheiros, contraste aliás facil, pois ' tudo andava esfarrapado e nú. De seguida reunimo-nos, e fazendo um pequeno discurso aos nossos, lembrámos-lhes .que ali não havia que fraquejar, que aquelle que arreasse não tinha que contar com o auxilio dos companheiros, e seria homem morto; que urgia fazer um esforço na salvação de todos, e que qualquer que ousasse soltar uma pa- 252 De Angola á contra-costa lavra de desalento, ou pretendesse transviar compa- nheiros do caminho, levaria logo como paga um tiro, acto contínuo. Era meio dia e meia hora quando nos pozemos de novo em marcha, e sem resfolegar proseguiu a cara- vana seguidamente até ás tres e meia, descansando apenas um momento, para logo continuar outra vez a marcha, até ás seis horas da tarde, em que, completa- mente extenuada, encontrou um elevado morro, acam- pando ahi. | Um corvo estranho soltou-se do pincaro, e, esvoa- cando espantado, rastejava por vezes quasi com a gente, curioso de ver tal novidade. Estirados no solo, entregavamo-nos tristes à con- templação de um ribeiro, cujas aguas murmuravam no fundo. Alguns dos homens, sentados nas cargas, começa- vam de erguer-se, e tirando da cinta os machados, preparavam-se a cortar paus para as nossas choças, quando, sem o esperarmos, um rapaz de Benguella nos apparece no mato aos saltos, trazendo na mão o quer que fosse. Mal elle se abeirou de nós, que apercebemos a cau- sa da sua alegria. O ladino, n'um passeio em redor, em busca de en- contrar cousa que comesse, topára com um cabo de machado ainda incompleto, e que n'aquelle momento o artista abandonára. O espanto e a alegria chegára ao cumulo. «Saltem rapazes, batam esse mato em redor, que te- mos ahi bicho de dois pés acoitado!» E n'um relampago Dias de angustia | 250 toda a comitiva investiu de carabimas na mão com o matagal em todos os sentidos. Não se fizeram esperar as nossas previsões, e dez minutos depois, um negro, magro e feio, agarrado por mais de vinte, era trazido como um assassino á nossa presença. O infeliz tinha mais aspecto de doido do que de paci- fico artista, em labor pelas selvas; e olhando-nos com ar abysmado, parecia esperar uma sentença de morte. «Amarra, não largues, aguenta!» eram as vozes de todos, tendo nós que intervir, para evitar o total esma- gamento do recemchegado. Collocando-se a nosso lado deixámol-o socegar, e, tirando uma braça de fazenda, demos-lh'a, acompa- nhada de uma pitada de tabaco do mato. Carregado o cachimbo foi-lhe acceso, e deixando-o fumar e accommodar-se, porque o seu tremor era tal que lhe não permittia o exprimir-se, chamámos á barra o Trinta, como o unico que sabia a lingua do paiz, para nos servir de interprete. Restabelecido ao seu normal estado, foi inquirido, sabendo-se d'elle o segumte: Era um negro do Iramba, pertencente á senzalla de Moi N”Penque (mu-lamba), cuja libata estava d'ali a 1 milha, na falda do morro que viamos; e onde n'um momento podiamos chegar. Que este N"Penque, acrescentou, estava subordina- do a um soba maior no sul chamado Kassongo Mona, que por sua vez era o mais distante vassallo do gran- de Musiri. Que a terra em resumo era farta, e n'ella encontrariamos mantimentos quantos quizessemos. 254 — De Angola á contra-costa Inquirido sobre o caminho por que tinhamos andado nos ultimos dias a leste, respondeu qué do rio onde fizeramos a ponte, chamado Motundo, proseguindo no trilho, só a dez dias encontrariamos gente, porque tudo para ali era deserto. Ao ouvir esta revelação, não podémos deixar de dar graças á Providencia, e lembrar-nos que o estra- nho presentimento que nos havia levado a apartar V'aquella zona, tinha o quer que era de extraordima- rio, e quiçá de milagroso. O que é certo é que, para este genero de viagens, aventurosas, carece-se, primeiro que tudo, ser feliz, e aquelle que, por uso e costume vir os seus propositos baldados, deixe-se de as emprehender, porque no mais simples acaso póde muito facilmente encontrar a morte. Restava ao cabo da mquirição saber se em tudo era verdadeiro o que o negro apparecido dizia, ou se uma boa parte das suas declarações seriam falsas. À primeira que nos sobreveiu foi amarral-o, guar- dando-o pela noite, com sentinella á vista. Como, po- rém, tal proceder tivesse um caracter de energia, que não convinha a quem como nós tanto dependia agora dos mdigenas, abstivemo-nos, prefermdo mandar Dio- nysio com mais alguns em companhia do homem, para reconhecer o logar da senzalla e dar um presente ao soba. Dito e feito partiram, e pelas dez horas da noite voltaram, com uma lembrança de farmha e gallmhas, que a essa mesma hora foram cozinhadas. Estava salva a expedição de uma das maiores cri- ses por que passára, e adormecendo uns de estomago Dias de angustia 255 cheio e outros vasio, é de acreditar que pelo geral so- nhassem com pratos de pirão. Pela manhã do dia subsequente proseguimos, e após uma hora de passeio achámo-nos á beira de um plateau, que, visto a descoberto, era coroado de mor- ros, terminando n'um córte abrupto de leste a oeste, de não menos de 150 metros de desnivelamento, córte que, a nosso ver, determina por esta banda a bacia do Cafué. Ao longo espraiava-se a vista a grande distancia por uma ampla planura que ía morrer nos confins do horisonte, e onde a vegetação differia muito sensivel- mente, pois terminavam de subito as acacias, para serem substituídas pelas mupandas, espinheiros de “ gomma, mucaratis tortuosos, etc. A natureza do solo era tambem inteiramente diffe- rente, e ao passo que em cima se viam as argillas ver- melhas em resultado do desaggrego schistoso, em baixo tornavamos a encontrar a celebrada areia da bacia do Zambeze, tal qual a haviamos encontrado ao oeste de Libonta, affloreada em grande extensão por placas de um sandstone ennegrecido. Junto a nós e á esquerda erguia-se o morro dos corvos, por nós assim baptisado, pelo subito appare- cimento do animal, que por sua parte tambem nos evidenciou a proximidade de gente. Descendo a vertente abrupta de que nos achavamos abeirados, viemos em baixo acampar no bosque, fron- teiros à libata de N'Tenque, matando ali não menos de cinco cobras, no logar que limpavamos para o acam- pamento. 256 De Angola á contra-costa De novo nos achavamos entre gente, que desde o Luapula esqueceramos, e o que urgia era entrar em immediatas negociações, a fm de matar aquillo que mais nos afiligia—a fome. Mas o negro nunca tem pressa, e ladino negociante, sabendo que vinhamos esfaimados, começaram a pedir exageros pela mais pequena quinda de farinha de sor- gho, que se tornava impossivel satisfazel-os. Até ás tres horas da tarde nos torturaram em dis- cussões, pedindo e não vendendo, situação critica, que os nossos compromettiam gravemente com a sua pre- sença e com instancias tolas, fazendo que os indigenas não vendessem. Ao final lográmos começar a permutação, pagando alto, é claro; mas logo que nos apanhámos com tres dias de mantimento, baixámos a cotação de tres quar- tas partes, a fim de assim nos mdemnisarmos dos des- perdicios do debute. Os povoadores d'aqui são gente de Iramba ainda, cujo typo diversifica um pouco dos do norte, e cujo atrevimento em muito os excede. Algumas photogra- phias d'elles tirámos, de que damos tres especimens aqui. Havendo saído, pouco antes da nossa chegada, inco- lumes de uma guerra que lhes dirigíra Kitumbi (chefe ma-ussi do Luapula), conservavam do facto pimpona recordação, impondo-se altaneira e mesmo atrevida- damente. N”Tenque, que, claro é, não queria tomar sobre si a responsabilidade de haver detido viajantes da nossa monta, quando o seu amo e senhor, o celebrado Ki- Dias de angustia 24 nifumpa ou Kassongo Mona, que pelos dois nomes é elle conhecido, se achava tão proximo d'ali, pediu-nos para que partissemos, promptificando-se elle mesmo a servir-nos de guia. Estava aqui a chave da questão agora. Indubitavelmente, n'esta região não se pensava em Angola, nem na sua existencia. Negociava-se para o Zambeze e para o Cafué, sendo pois mais que certo que grandes e batidos trilhos para lá deviam existir, para nós bem mais commodos de trilhar, do que fazer derribadas á corta-mato. Mas como saber onde ficava esse trilho? Um vassallo de N"Penque se encarregou de o mos- trar, mediante um pagamento de vulto, e isto envol- vido tudo no mais completo segredo. Não queria elle que o Kassongo, nem por sonhos, soubesse que alguem havia mostrado o trilho da reti- rada aos brancos, pois sabia que este se exasperaria, por ver que a tal facto era devida a sua curta demora na terra, e muito naturalmente pensaria em castigar o culpado. Espertezas gentilicas. Assim se combinou que elle partiria comnosco, de mistura com os outros, e no logar onde depozesse o seu cachimbo sobre uma pedra, volvendo-se a ponto pro- xImo para cortar um tronco, era sabido que 4 mão es- querda, estava o caminho procurado ahi, Todas essas artimanhas nos jogaram um pouco de sobresalto, porque, como já uma vez no primeiro vo- lume o aventámos, ao negro parece que lhe apraz lu- dibriar o branco, lisonjeia-lhe isso, segundo nos parece, VOL. II. Ei 258 De Angola á contra-costa o seu amor proprio, convence-se talvez o triste que, enganando-nos, é tão esperto e tão feiticeiro como nós! Como porém com tal falta de fé perderiamos, quando muito o saguate, fomos sem receio esperando ver o que as cousas davam. Pela planura areosa afóra se alongou a caravana, atravessando em companhia numerosa uns poucos de riachos, que todos corriam para a direita, recebendo em caminho a visita de um homem, chamado Moi Ka- boio, irmão de Kimfumpa, vassallo fugido de Musim, por não poder satisfazer a constantes exigencias deste em marfim, e que foi o primeiro e unico a quem Trinta por estas regiões conheceu. «Foi meu amigo, additou o nosso alongado guia; no tempo em que eu vim, tinha a sua libata proximo de Caponda sobre o rio Lubemba; e tratou-me com toda a hospitalidade.» Pequeno, de olhar imsinuante, muito mexido, muito fallador, mais tarde com as suas idas e voltas, e apre- goados bons officios junto do Kassongo, ía-nos com elle baralhando, sendo justo por isso fechar este ca- pitulo com uma pequena historieta a seu respeito. Haviamos chegado junto a um rio chamado M'pon- gué e transposto o seu curso para a outra banda, quan- do adiante, em cima de uma pedra, vimos entre o ca- pim o cachimbo fallado. «Olha, elle cá está, o narguilé!» E sem mais dizer, colhendo-o, escondemol-o, dizendo a N”Tenque, que mais para diante não íamos, que ali nos convinha acampar, que fosse elle de nossa parte ao Kassongo, dar-lhe parte do succedido, e dizer-lhe que os brancos Dias de angustia 259 ficavam al, para descansar, comprar mantimentos e esperar a sua visita. Muito felizmente ninguem suspeitou da nossa es- perteza, e, erguendo-se, lá foram ter com o chefe, em- quanto os nossos de machados em punho derribavam arvores para fazer o acampamento. Moi Kaboio fôra tambem, contente e alegre, pare- cendo o melhor e mais bem disposto dos amigos. Havia seis mezes que elle abandonára a sua libata, vagueando à tôa pelos bosques. Antes d'isto era um grande da terra, possuia muitas senzalas e numerosas mulheres por esposas. Uma tarde o sol declinava, este heroe, em poetica contemplação, sentado á porta da sua residencia, aca- bára as ultimas cabaças de pombé em companhia de amigos, e puxando do cachimbo chamou uma das suas mais galantes mulheres, ordenando-lhe que lhe cozi- nhasse o pirão. Lançou-se ella logo com afan á tarefa, e assim que terminado o considerou, pol-o n'uma tra- vessa, apresentando ao seu amo e senhor. Muito imfelizmente não ficára o prato ao gosto d'este perverso, que para castigar a infeliz do seu erro culi- nario, se não para se mostrar grande aos olhos dos amigos presentes, mandou buscar um cutelo, e vibran- do á triste um golpe de morte, fel-a depois e por sua mão em tiras, para a introduzir em uma colossal pa- nella, que acto contínuo foi posta ao fogo! Que assombro, e que tyrannias se commettem ainda por esses sertões! | Estremecem as fibras do coração, e a penna como que se recusa a registal-as. No co Pivi j , a a Eu ) o po o RR a A qo ato o ae, NA ) % A EaD E k pai no da a b 1 a E TE í | “a . . E 7 . : “ú | ; so: É k E x 1 ' . ij Há TE Ab E : , h ? Ei Due py 21 ) mia 1 n À ) À ” ! : ; , z à ' de : é l , x r é ; 4 | / , . + . 2 FE À t ! r k ) ; E ! A « y - , J + A SE A L ue TT RR E E , ; UTM MA o i , f N ” e á sã E, ER É =, gs A E, ; Z A 1 Ê - ho a, x ; e» = » « , ; - R a 2 E Es y Í p h A ) ! RUDE ; ; O o A : E " 4 : A da o “» R A, 71 De pá ed - == SU a RT TE CAPITULO XXIX ULTIMOS DIAS NO PLANALTO Os enviados do Kassongo, presentes e instancias — Offertas à genti- lica e um desfecho triste das relações — Parlamentou-se alfim e partimos — De subito o caminho divide-se — Encurva-se em direcções differentes e nós abandonâmol-o— À corta-mato a encontrar o outro— Uma lagoa inesperada, onde a caravana vae com agua pela cinta — Às pescarias no Chôa, e um homem que a expedição perde — Duas palavras sobre a ve- getação e causas do seu destroço — Adiante transviâmo-nos nas faldas da serra Lupampa— Corvos, cobras e um casal leonino à vista — Entrã- mos de novo no trilho — Moi Oanza e os passaros da caça — Os habita- dores dali e os seus cumprimentos — As armadilhas do bufalo e o cami- nho da Sitanda— O harrisbuck — Traslado do diario sobre a descida da serra Muxinga— Panorama, vereda dificil — Sensação estranha pelos au- ctores experimentada — Radical mudança operada na flora— Mutiates, bao-babs e gongós — Considerações ácerca da Muxinga — À Manica e os funeraes do regulo d'ali— Moi Kicaxi, a mulher mavorte — Os arimos do sorgho e os destroços do rhinoceronte e do unjiri— Liteta — Reputações da sua farinha — Trinta reconhece alfim o caminho — Hyphones, a Livin- gstonia e um cactus? — Falta de sal — Processo indigena da extracção das plantas — À gente de Liteta— O tabaco polvora e os canudos de fu- mo — O labio das mulheres e o passaro-gato — Marchas fatigantes — An- tilopes e leões — À mão esquerda d'estes — Atravez de uma zona acciden- tada — Anceios em ver o Zambeze — Finalmente avistâmol-o. « «-MIRAVA SENHORIL À CARAVANA... À parte da viagem que medeia entre este ponto e o alto Zambeze vae ser rabiscada na medida da rapi- dez em que foi feita, isto por convencidos irmos de que, se ao tempo almejavamos pela vista do Zambe- ze, não menos ancioso deve estar o leitor de se ver libertado, e para sempre, d'essa monotonia das selvas, por onde o arrastámos durante dezenas de capítulos. Adiante, pois. Logo que terminou o acampamento appareceram os enviados do Kassongo com um presente de farinha, gallinhas, e as costumadas promessas e arengas, pe- dindo-nos para que ficassemos ali alguns dias, pois era soba portuguez e tinha cousa importante para nos dar. 264 De Angola á contra-costa Como estivessemos fornecidos de mantimentos, re- plicâmos-lhe com um presente, e a declaração de que no dia seguinte partiriamos, sem falta, e, caso nos qui- zesse ver, que viesse. | Resumidamente, diremos que se passou todo o dia e metade da noite em idas e voltas do quilombo para a residencia do regulo, e que ás sete horas, já pelo es- curo, Kaboio nos trouxe uma ponta de marfim de 60 libras de peso, lembrança por que enviámos ao soba o melhor presente que podiamos, e que elle nos devolveu para ser augmentado. Não satisfazendo nós tal exigencia, appareceu o re- gulo ao romper do dia 8 de abril, acompanhado de todos os seus guerreiros armados, vindo na retaguarda Kaboio. Depois de grande arenga tivemos de lhe atirar aos pés com a ponta de marfim, e mandando acto con- tinuo engatilhar armas, recebemos em troca a nossa fazenda já meio roubada, lembrando-lle que elle se fornecia do Zambeze, de que nós eramos senhores, e que portanto lhe ensmariamos mais tarde a maneira delicada como devia proceder. De sobejo comprehendeu Kassongo a nossa decla- ração, e como ao tempo tivesse uma comitiva para aquellas bandas, que nós muito provavelmente havia- mos de encontrar em viagem, arreceiou-se por tal fór- ma, que ainda ao caminho nos enviou gente a descul- par-se. Em vista de tal parlamentou-se, asseverando ao fi- nal que nada fariamos a quem quer que fosse dos seus filhos, e que ao contrario lhe seria dada protecção, se acaso os topassemos para o sul. Ultimos dias no planalto 265 Uf! era tempo, e enviando-lhe uns lenços em des- pedida, abalámos pelo trilho fóra, ao grito de «para o Zambeze é o caminho!» O paiz densamente arborisado nas primeiras milhas começa ao diante a abrir em largas clareiras cobertas de basto capim. Como em muitas outras occasiões, proseguiamos a sós com os nossos recursos e conhecimentos do mato, obvio era pois que alguma complicação ou obstaculo devia estar a deparar-se-nos; effectivamente não urgiu ir longe para que o topassemos; caminhando, havia tres horas, 4 solta e contentes, trilho afóra fomos sem o esperar, surprehendidos pelos da vanguarda, que, parando, gritavam: «Dividiu-se o caminho aqui!» De nenhuma vantagem seria o repetir n'este logar as duras phrases expectoradas no mesmo sítio da sepa- ração dos trilhos, pelos chefes da expedição; mais fa- cil nos foi então dizel-o, de que hoje com socego re- lembral-o: sómente acrescentaremos que, não havendo mais rasão para enfiar por um do que por outro, to- mámos o da esquerda, pela unica circumstancia de que, vindo para o sueste, ao mesmo tempo que dava sul, ía sempre dando leste tambem. “Ao cabo de meia hora, encurvou o malfadado a les- te, dez minutos depois começou de cifrar para o nor- deste, e alfim cortou direito ao norte. Com mil jacarés! Ao norte, quando o que precisa- mente desejavamos era ir para o sul. Largando-o de vez, botámos de novo á corta-mato, postas as caras ao oessuduoeste, a fim de ver se topa- vamos aquelle que para a direita nos ficava. 266 De Angola á contra-costa Muito felizmente, após 7 milhas de marcha, n'elle entrámos, e proseguindo satisfeitos pela assente e ba- tida vereda, vimol-a, espantados, pelas quatro horas da tarde, entrar e sumir-se n'uma ampla lagoa, de 3 milhas de largo, e algumas 6 ou 8 de comprido. Hoc opus, hic labor est. À meio e a distancia viam-se ilhotas, e n'uma dºel- las mesquinhas habitações. Sem hesitar mettemo-nos a este pequeno mar, e com agua pela cmta fomos em linha até junto das palho- tas, a fim de que uns tristes pescadores que ali resi- diam nos ensimassem para onde ficára o caminho, e em resumo o que tinhamos a fazer. De dentro de agua os miravamos com ar de quem implora protecção, e de braços estendidos, pingando, mostrando-lhe o comprimento de algodão que lhes preparavamos como remuneração dos seus serviços, mais pareciamos o Crispiniano de Bocage, do que atre- vidos chefes de uma caravana que vinha da contra- costa. A lagoa chama-se Chôa, diz o diario. Abunda em peixe pequeno, que os indigenas colhem com longas paliçadas rectilmeas, tendo de espaço a espaço uma especie de portas, onde canastras collocadas a propo- sito recebem os animaes arrastados pela corrente. Secco e empilhado em esteiras, enviam-no para os sertões circumvizinhos. A terra é accidentada em redor, a lagoa despeja para o Lucanga, afiluente do Cafué. Até ás sete horas levámos a atravessal-a, perdendo no trajecto um homem de nome Kibanda, que, coberto Ultimos dias no planalto 267 de boubas e lepra, se transviou, sem ser possivel mais encontral-o. São frequentes as bestas de presa, e roncam durante toda a noite os ledes nos arredores. Para a banda de lá, pelas ravinas e por entre mor- ros e cerros, a flora começa rapidamente a avultar. Apparecem de novo os crescidos mumoés, bem como elevadas mupandas, d'onde os pretos tiram os seus pannos da casca, batendo esta com uma especie de pi- cota, até isolarem a fibra dos entrecascos que a escon- dem, e ainda mohombos, verdadeiros loureiros pela fórma e aspecto, na margem do rio, e logo molombo- tes, cujo fructo, quando verde, similha o café, etc. É facto digno de notar-se, já que fallâmos de vege- tação de vulto, que, se o arvoredo do negro continente em muitas regiões se apresenta com um aspecto de certa maneira rachitico, não é isso devido a que não existam por lá especies capazes de attingir as propor- ções das maiores arvores do Brazil, mas porque as for- migas, o fogo e os chamados caçadores do mel lhes fazem uma permanente guerra. Effectivamente é nas maiores arvores onde se en- contram com frequencia buracos, que as abelhas pelo geral aproveitam para ahi depor os seus favos, e que os exploradores derribam para colher, como são estas tambem que, pela sua idade, têem a casca que as re- veste Inferiormente mais secca e portanto mais facil- mente atacavel pelo fogo, e em summa é ás maiores que os termites se aferram com afan, a fim de as cir- cumdar com suas habitações, e consequentemente mi- nal-as e perdel-as. 268 De Angola á contra-costa Durante dois dias de marcha proseguimos pelo ata- lho que os pescadores nos indicaram; ao terceiro, porém, havendo este emergido n'uma campina lodosa que um bando de elephantes retrilhára em todos os sentidos, desappareceu. O interessante a notar é que se nos atravessava, na perpendicular ao caminho que desejavamos seguir, uma serra que sabiamos chamar-se Lupampa, e que não houve remedio senão escalar. | A 11 de abril achava-se a expedição a nosso cargo empoleirada no alto da serrania, mirando a natureza e retemperando nas brisas frescas os corpos escalda- dos, tendo morto ao acampar um dos corvos atraz fal- lados, e que aqui esvoaçavam em grupos, e colhido uma python formidavel, que se acoitava numas pedras junto ao campo. No dia seguinte tratámos de prolongar este cordão orographico, e procurar garganta que nos désse en- sejo de descer a vertente meridional. Eram seis horas, tinhamos apenas abalado, quando mopinadamente tivemos occasião de admirar um qua- dro soberbo, que dois roncos evidenciaram. N'uma emimencia pedregosa um velho leão senta- do mirava senhoril a caravana que desfilava pela terra em baixo, ao passo que uma leôa se entretmha pelo | redor em voltas e contra-voltas. Nem palavra se proferm, e, proseguindo na mesma ordem, deixámos ficar em socego o dominador d'aquel- les sitios. Descida que foi a serra, entestámos com uma longa planura, e 15 milhas adiante topámos com um acam- . Ultimos dias no planalto 269 pamento de comitiva e um largo trilho, por onde avan- cámos durante 5 milhas até ir bater junto de um pes- cador, que nos conduziu á libata de Moi Oanza. E, caso origmal, apesar de andar á corta-mato, era precisamente para este sitio que nos dirigiamos ao sair de Kinfumpa. Vimos aqui pela primeira vez umas aves, que, tendo por costume andar pairando por cima dos logares onde se acham antilopes, evidenceiam ao viajante a presença destes, e são pelos indigenas conhecidas pelos pas- saros de caça, tendo um nome que nos escapou. Os elephantes, sobretudo, são com frequencia victi- mas das suas indicações. Os habitadores d'aqui, raianos, são mistura de gente de Iramba e de outras procedencias, não tendo typo especial. Apenas os seus comprimentos nos chamaram a attenção, pois têem o habito, após acocorados, de ba- ter nas coxas prolongadas palmadas, proferindo as for- mulas de saudação. Vinte e quatro horas despendidas a comprar man- timento nos pozeram em termos de poder abalar sem receio para as terras meridionaes, e cortar pela libata de Moi Musiri para o rio Mencanda, antepenultimo dos que se encontram até 4 Muxinga. | Estavamos quasi à beira d'essa colossal quebrada, que as cartas punham a marginar pelo meio dia o lago Bemba, e nós íamos deslocar para o-sul de muitas de- zenas de milhas. Agora não faltavam guias, porque, sendo universal o uso dos pannos de casca, o menor pedaço de algodão leva os naturaes a fazerem prodigios. 270 De Angola á contra-costa Caminhando entre matos e campinas, ora seguido do €. indicator, que com o seu tché-tché parecia compri- mentar-nos, ora evitando grandes armadilhas feitas para colher os bufalos, detivemo-nos uma noite, em Moi Musiri, notando ahi o caminho de Sitanda ou Mi- tanda, onde Selous esteve, e comprando uma cabra, ani- mal que não viamos desde as terras de Moi N"Tenque. Durante o dia 15 fizemos uma grande marcha, di- vertindo-nos em pequenas correrias atraz de caça, que a final não colhemos, porque ninguem agora pensava em perder tempo com taes devaneios. Eram rhmocerontes que se viam, e sobretudo um antilope castanho escuro, o mais ladino de quantos existem no sertão, que raro se deixam approximar, e nós suppomos ser o harrisbuck dos inglezes. Ás cinco da tarde haviamos suspendido, alegres e contentes. Preparava-se para o dia segumte um caso de circumstancia, a descida da serra, e embora não quizesse isso dizer que estavam terminados os nossos affazeres, era pelo menos uma cousa nova, que nos ía furtar à monotonia da campma e do bosque, e sobre- tudo approximar-nos do Zambeze, descendo para ni- veis mais proximos d'aquelle oceano por que tanto almejavamos. Eis, letra a letra, as linhas que ao dia seguinte ra- biscámos. «Dia 16 de abril. No sopé da Muxinga. «Achâmo-nos acampados em baixo da serra, e litte- ralmente quebrados pela fadiga. Habituados de ha muito a caminhar em terreno sem accidentes, e a lan- car portanto só em jogo os musculos que determinam a Ultimos dias no planalto 271 locomoção plana e horisontal, experimentámos um bem estranho cansaço, quando por mais de uma hora ti- vemos que nos conter em equilibrio por uma encosta talhada a 45º. «Logo que amanheceu partimos ao rumo de su- sueste por uma densa mata afóra. «Ao meio dia avistámos ao longe grandes serras na direcção leste-oeste, que se fam multiplicando, escure- cendo e avultando á medida que nós caminhavamos, até que pelas tres horas chegámos á; beira de profun- dissima encosta, defrontada por elevadas montanhas e morros. «O panorama que d'ahi se gosava tinha o quer que era de soberbo e imponente. « Pransformára-se a scena. «A enganadora planura, fechada, escura, escon- dendo em seu seio lodaçaes e lameiros, e como que adormecida em toda a sua extensão em fundo lethar- go, desapparêcera então para ceder o logar a uma na- tureza mexida e convulsionada, evidenciando no seu todo um trabalho gigante de outros tempos, e cheia de movimento agora, traduzido nos varios ruidos do vento a assobiar pelas gargantas, dos regatos a des- penharem-se nas encostas, dos rios a murmurarem nos valles. «Os nossos olhos não se cansavam de admirar tão vasto scenario, e ao attentar na enfiada de gigantes morros que se multiplicavam até aos confins do hori- sonte, e ver em baixo a prateada fita do rio Molun- guiji a destacar-se em meio de verde vegetal, occor- riam-nos os panoramas da costa occidental no alto da 212 De Angola á contra-costa Chella, não ousando partir, sem dar á chapa photogra- phica a impressão d'esse quadro *. «Pelas tres e quarenta minútos começámos a des- cida que, sobretudo para os carregadores, obrigava aos mais peniveis esforços, por ser feita em atalho que as aguas trabalham na epocha pluviosa, semeado de calhaus de quartzo, que rolavam pela ladeira abaixo a todo o instante, por meio das avultadas massas de schistos micaceos, que em grande parte constituem o solo aqui. «Ás cinco horas chegámos ao sopé, rubros, afoguea- dos, tendo feito uma quéda de quasi 400 metros! «Um e outro experimentâmos, ao pousar ali, uma sensação de angustia e constricção, que nos forçou a cair em terra, e se em grande parte podia ter por ori- gem o calor e fadiga, não menos seria devido á diffe- rença de peso do ar, tão caracteristica era a oppres- são que nos dominava o peito. «O que sobretudo mais nos feriu o espirito foi a subita mudança na vegetação. «Uma hora de trajecto, e tanto bastou para que nos achassemos num como que novo mundo. «Em riba tudo viçoso, cá em baixo tudo secco, como se um prolongado estio lhe houvesse passado por cima. «Desappareceram as acacias e as mupandas, vendo nós pasmados surgir as bauhinias, que desde Capan- gombe não viamos, mutiate d'ali, pau ferro aqui cha- 1 Casualmente essa photographia, quando revelada na Europa, não mostrou o valor que lhe attribuiamos, tendo por isso de rejeital-a. Ultimos dias no planalto 213 mado, e cujas folhas têem essa propriedade, de que Julgâmos já ter fallado, a saber: pela manhã estão ho- risontaes, dando uma bella sombra, e mal o sol se er- gue, dispõem-se a cutelo por maneira que não impedem a acção dos seus raios. A GENTE DE LITETA Segundo uma photographia «Tim volta destes, avultavam os bao-babs, gongós como os de (Quillengues, espinheiros, ete., tudo envol- vido numa temperatura de 33º centigrados.» Decididamente acabára para nós o planalto, agora só restava descer para o mar. Não nos parece preciso demorar aqui sobre o facto, de ter andado sempre este desnivelamento gigante da VOL. II. 18 274 De: Angola á contra-costa Africa central erradamente collocado nas cartas, e havermos sido nós os primeiros que ao certo o collo- cámos; como não carece tambem de repetir-se, que não é elle positivamente o que se chama uma serrania a duas vertentes, e apenas uma quebrada ou profundo córte no plateau, com suas ravinas, taludes e contra- fortes a pique e volvidos ao sul; córte que até certo ponto se póde considerar a divisoria das aguas do Zaire e Zambeze, mas não absolutamente fallando, pois rios ha, que de cima deslisam para este ultimo, como pela carta se evidenceia. Para -o noroeste de nós ficava a Manica do norte, dominio do regulo Chitanda ou Sitanda, chefe cujo traço mais caracteristico da sua passagem pela terra é a nhumação feita com grande pompa, e da qual nos contaram cousas fabulosas, entre as quaes figuram o enterramento de muitas mulheres em vida, banquetes dados ao defunto um anno depois do seu desappareci- mento, etc. Engolphando-nos por entre cerros e sulcos, pernoi- támos uma noite junto de Moi Kicaxi, velha dama- chefe, proprietaria de villas e aldeias, que ao ver ap- proximar-nos, saltou para o campo com duas enormes zagalas na mão, prompta, ao que parecia, para a guerra! Estacando abysmados, houvemos que explicar á au- daz senhora, quaes os nossos fins, e a rasão do nosso apparecimento ali, facto este que, socegando-a um pou- co, a levou a abandonar uma das zagaias, que entre- gou a uma creada, reservando comtudo a outra para os casos imprevistos. Ultimos dias no planalto Bo Mais tarde, como sempre acontece com guerreiros d'este jaez, calmados os mavorticos furores, um muito particular assomo de sympathia por um de nós come- çou de apoderar-se da respeitavel proprietaria, cami- nhando as cousas por modo que estivemos quasi a pique de repetir a celebrada scena de que o Egypto foi testemunha, a saber: um homem esquecido dos seus deveres, atravessar-se com o gladio, ao passo que uma dama, culpada d'esse mal, se deixava picar, à falta de aspide, por uma sorucucú! Vastos arimos de sorgho cercam as povoações pelo campo, onde o gentio de dia, mas sobretudo pela noite, empoleirado n'uns palanques se entretem a bater em paus, fazendo um ruido que tudo desperta, para afu- gentar o rhinoceronte e o unjiri, Strespesciceros cudu, que por aqui fazem suas mcursões, devastando tudo. À tzé-tzé, que infestava o planalto, desce com o via- jante para baixo, afugentando em voltas quantos ani- maes existem. Liteta é o ponto de cruzamento das caravanas, que do planalto se dirigem para o Zambeze, afamado pelas suas boas farinhas, que o gentio, após longas marchas em cima e esfaimado, procura com avidez. Ahi acampámos a 10 de abril, para della nos for- necer tambem, e foi ahi que a final o Trinta, reconhe- ceu o caminho. Era tempo. Caracterisam n'esta zona a vegetação muitas 1Jy- phoenes sem extumecencias a meio do tronco, bem como uma outra palmeira, que pensámos ser a Livingstonia, e anda uma pequena planta, que julgámos ser um ca- 276 De Angola á contra-costa ctus, à feição do Fhipsalis cassyta, prenderam a nossa attenção. Um dos grandes flagellos n'esta terra é a falta de sal capaz. Extrahem-no os indigenas de duas especies de plantas herbaceas, uma das quaes com um caule tenro de 0" .15, terminado por pequena esphera, cresce nos pantanos. Enfeixadas e seccas, são reduzidas a cinzas, que, postas de infusão e coadas, abandonam ao depois por evaporação o sal que contêem. | A gente de Liteta é feia, picada das bexigas, rela- tivamente mais deprimida que a do plateau, como as photographias podem mostrar; limam os dentes, usam de arcos e settas, poucas armas, pannos de casca e pelles, e, caso raro, detestam o cachimbo, fumando geralmente o tabaco fortisssmo que possuem em tu- bos de canniço. E tal a energia deste, que bastou a um dos nossos homens fumar d'elle uma cachimbada, para dar em terra entontecido. Vimos pela primeira vez aqui mulheres com o labio furado e n'elle introduzida uma rodella de zinco, como é de uso entre sengas e mugoas; bem como tivemos ensejo de observar uma curiosa ave, o passaro-gato. De corpo amarello, azas pretas e face superior da cauda d'esta ultima côr, esvoaça de arvore em arvore, miando como qualquer maltez em devaneio pelos te- lhados alheios. Pana-Chane, Mutabarango, rio Muembeje, etc., fo- ram successivamente estações por nós visitadas, ao longo de um caminho assás trilhado, entre serranias pelo rumo medio de susoeste. | Ultimos dias no planalto 241 As marchas agora eram extremamente fatigantes, pois toda a zona que se estira da Muxinga à serra Kiropira é accidentada por modo que, apenas faziamos uma ascensão, logo 2 kilometros adiante tinhamos uma depressão, para mais ao longe volver de novo a subir, c assim de seguida. Escorrendo como cascatas, paravamos na encosta, depois trepavamos de novo, animados pela idéa de avistar de alguma emimencia o Zambeze; baldado em- penho, apenas em cima um profundo valle nos con- vidava a descer, e com a sua presença marcavamos mais uma decepção. São muito frequentes aqui os antilopes, pois gnús, unjiris, m'pallas, etc., vimos nós dispersos pelos matos. Leões são tambem numerosos, andando nós na tri- lhada de um par, junto ao rio Mosengache, em cami- nho para o nascente. — Mau bicho, dizia um guia que comnosco levava- mos. — Da mão esquerda d'elle é que deve a gente arre- cear-se, pois é essa a mais forte e que joga sempre em frente. Um jacies notavel de toda esta parte do continente, é a devida às alternantes de vegetação. Quando no fundo dos valles volvia sempre o reino vegetal a assimilhar-se ao que vimos no sopé da serra Muxinga, mal nos alevantavamos ao alto de qualquer cerro, que logo as mupandas e plantas companheiras nos surprehendiam. Descendo e subindo assim fomos por dias, pagando cara a Idéa que haviamos feito de toda a zona margi- 278 De Angola á contra-costa nal do largo rio, quando em Libonta, pois a julgava- mos um areal deserto e nú de arvoredo; até que a 25 de abril pela manhã démos ao longe vista de uma serrania, que soubemos ser a Kiroporia, e que o gran- de Zambeze prolonga pelo sul na distancia de 4 mi- lhas. Com o coração palpitante, para diante investimos. Queriamos ser os primeiros a vel-o, a saudal-o, o co- losso que atravessa uma das nossas mais ricas colo-. nias, e sentando-nos á sua beira socegar. Cerca de 700 milhas ainda fam d'ali ao mar. Um fardo com seis peças de fazenda e meia lata de chá era quanto possuiamos, e, sem embargo, nada nos afiligia; por lá encontrariamos mais perto ou mais longe quem nos soccorresse e em resumo por elle abaixo haviamos de mx ao oceano, esse tão anciado terminus dos nossos labores, e onde em socego poderiamos considerar nos resultados da nossa empreza. Offegantes não paravamos, exhortando com pala- vras e gestos os nossos enfraquecidos companheiros, que radiantes e enchendo-se de animo nos seguiam, convencidos que breve estariamos a salvo. Bram elles os primeiros homens do oeste, que, atra- vessando de vez todo o continente, vinham saudar n'aquelle parallelo os seus similhantes de leste, e era- mos nós tambem aquelles que, tendo tido a dita de os guiar, haviamos tido a felicidade bastante de fazer face a todos os perigos que nos rodearam, e salvar no meio das mais graves peripecias uma missão que, sendo o nosso pesadelo de cada noite, era para o nosso paiz um serviço inadiavel. Ultimos dias no planalto 219 Dez vezes subimos ao alto de cerros, ora picados pela tzé-tzé, ora fugindo à formiga, ora deixando nos espinhos das fundezas os restos do apodrecido fato, e dez vezes, após uma decepção, tivemos que tudo des- fazer, descendo o que tanto nos custára levar a cabo subindo. O grande rio parece fugir de nós, e como sempre, quando muito se anceia por attingir um ponto, mal se calcula a sua distancia, nós ardendo de impaciencia, pareciam-nos as horas seculos. «E agora!» E ao alto da serra guindavam-se os che- fes, lançando mão dos bimoculos, e logo ao attingil-a uma mais elevada os defrontava, encobrimdo-lhes o horisonte. Finalmente eram tres horas e vinte minutos quan- do escalámos a ultima, e da cumiada démos vista do colosso. Hurrah! foi o grito unanime, e, sentando-nos nos al- cantis da encosta, démos largas à commoção que nos dominava. Que panorama, que quadro d'ali se desenrola aos olhos dos recemchegados! Aos nossos pés, esboroada e por fundos sulcos ras- gada, caía quasi a prumo a encosta da serra, litteral- mente vestida de arvores, que se debruçavam sobre a campina. | Em baixo, amesquinhado pela distancia, serpeava o Zambeze, resplandente á luz do sol, com o seu leito semeado de ilhas e as varzeas cobertas de verdura. Pelo sul a dentro, rasa como a palma da mão, alon- gava-se a perder de vista uma campina, que se con- 280 De Angola á contra-costa fundia nos confins do horisonte, deixando erguer pelo. meio morros e serranias, que por aquella margem di videm as aguas, emquanto que pelo lado do pôr do sol uma terra alcantilada nos encobria a vista do rio para a banda do Cafué, por detraz da qual elle surdia de Improviso. Columnas de fumo saídas de varios pontos eviden- ciavam a existencia de aldeias e da basta população que lhe habita nas margens, accentuadas em muitos sitios pelas manchas branqueadas das plantações do sorgho ja resequido. O sol, descrevendo o seu circulo gigante na celeste abobada, começava de apropimquar-se do occaso, e anda nós, absortos na contemplação d'esta scena, con- tinuavamos pendurados em riba da serra. Attrahidos pela mirifica visão de um quadro pouco vulgar, custava-nos a apartar d'aquelle sitio aonde naturalmente jamais voltariamos. Alfim não houve remedio senão cortar pelos encan- tos, e, calando sensações, partir. À serra Kiropira, porém, do ponto em que nos acha- vamos para baixo, é por tal maneira aspera e fragosa, que só com raro tino se consegue descel-a sem caír. Com cuidado e pouco a pouco se fez a descida, mas como a ladeira fosse estreita, e o astro do dia estivesse quasi a desapparecer, tivemos de acampar no meio da encosta, n'um logar onde topámos agua, aguardando o dia, para decididamente attingir o curso do rio. Pela noite, cercados de fogueiras na serra, o pano- rama tornou-se feerico logo que a lua, com a sua mei- ga luz, pairando nos céus, esclareceu a terra. Ultimos dias no planalto 281 Incomparavel noite essa, de que conservâmos gra- “ta recordação, e em que nós, de ventre para baixo, so- bre uma penedia, passámos horas esquecidas na con- templação do rio e nas recordações da patria. Estavamos prestes a volver a ella, a voltar ao mun- do civilisado, e, sem o percebermos, começavamos a pensar e sentir de modo diverso; renascia em nós a vida de outr'ora, íamos deixar emfim de ser homens do mato. Logo que a aurora do segumte dia assomou, pres- tes e de pé estava toda a caravana, e, abandonando a meia encosta, descemos serra abaixo para a planura. Ás oito horas achavamo-nos na campina de Chôa, en- tre bao-babs, sycomoros e fechados espinheiros, acos- sados por verdadeiro martyrio. Não bastavam os parasitas que nos atormentavam os esqueleticos vultos, e no valle de um rio que nos de- frontava, picados da tzé-tze, fomos caír no meio de uma alluvião de bissonde, formiga guerreira, para fu- gr à qual, deixámos a pelle nos bicos dos espinheiros e nos enchemos de praganas de capim, atolando-nos finalmente n'um lameiro, para fugir do qual tivemos de lançar mão á subvegetação que nos cercava, co- lhendo, sem o perceber, uma leguminosa de vagens pelludas, que produz horrivel comichão, similhante originada pela Mocuna pruriens! Eram as pragas do Egypto. Ás nove horas acampá- mos na margem do rio, bebendo a tragos da sua agua esverdeada. CAPITULO XXX ZAMBEZE ABAIXO A caravana à beira do Zambeze —Os negociantes portuguezes a mon- tante e as vantagens em se approximar do rio—O nosso dominio no Zam- beze e o que delle se diz — Ninguem como nós ali põe e dispõe —O acam- pamento e o quadro que d'elle se desenrolava — À baixa das aguas e o vento rijo nesta quadra — Revelações do Trinta sobre a sua segunda esposa — Subita revelação, originando uma cruel decepção — Os chucu- lumbes e o seu exotico penteado — Algumas considerações ácerca do rio em que nos achâmos — Curso desembaraçado e facil navegação —O Cafué — Importancia dos sertões em vista da proximidade dos cursos de agua — À exploração mineira, como rapido incentivo para a colonisação — Em- fim o que virá a ser o caminho do Zambeze — As terras de alem — O Dande e a Chedima ou Monomotapa — Duas palavras ácerca da gente do Dande — Seus adornos e espirito bellico—O cafre-zulo Chaka — As ter- ras d'aquem—O Borôma e a caça— Natureza do solo—O peixe ele- ctrico— Quéda da folha—O Likago e seus effeitos preservativos — O idioma de Camões — Sycomoros, bao-babs e hortas — Os bois e conside- rações sobre elles — D'onde vem, do outro mundo — À nossos pés estava o Aruangõa. EN: VAN MUVDEN. INDIGENA RIBEIRINHO DO ZAMBEZE Segundo uma photographia A audaciosa pequena caravana, que em março de 1884 partíra da costa do oeste, e atravessando para o valle de Barótze ahi se extraviára entre lameiros e lagoas, para logo, transpondo o Liambae, cortar atre- vida pelas selvas do Cabompo, e rasgar pelos matos do Lualaba, dormindo na Katanga -e zombando dos receios indigenas, que lhe agouravam a perda em Ca- ponda, sertão d'onde, apesar de gravissimos embara- cos, se livrou galhardamente, para mais longe, extra- viada em Iramba, ver de novo a morte a dois passos; 286 De Angola á contra-costa achava-se agora, tranquillamente acampada nos plai- nos do Chôa, à beira do gigante Zambeze, cujo curso se dispunha a seguir, e mesmo explorar. | Ninguem já duvidava do exito da nossa missão, porque todos sabiam que rio abaixo pullulavam as habitações dos commerciantes portuguezes, com cujo auxilio poderiam contar estrangeiros, quanto mais na- cionaes. Mesmo a montante as topariamos tambem, pois em. RKassoque se achavam ao tempo Mendonças, Monteiro e Simões, cujos aviados percorrem o Ulenji, a Manica e os Machuculumbes diariamente, homens que não é a primeira vez que entre si se quotisam, para repatriar ou enviar para Paramatenga e caminho de Soshong mglezes transviados por aquellas terras e individuos de outras nacionalidades. Para todo aquelle que por estes sertões se perder ou for victima de roubos ou perfidias gentilicas, é in- dicação segura o abalar-se para junto do curso do rio, pois ahi encontrará sempre apoio e protecção e, em cada residencia de portuguez, uma casa onde será recebido como familia. Livingstone bem o podia testemunhar, como garan- tir o póde tambem o sr. W. Kerr, amda ha pouco pas- sado em Tete, e tantos outros viajantes, não figurando 1 O soba grande de Manica era em outro tempo Chitanda, homem que entre os seus tinha a reputação de não comer. Nunca o haviam visto se- não fumar liamba n'um enorme cachimbo. Apparece n'esta terra uma doen- ca original, com cujas causas não podemos atinar, e se manifesta pela inchação do ventre e pernas, sorte de edema de que morrem brancos e pretos. Ha tambem o carrapato da febre, de que adiante fallaremos. Zambeze abaixo 281 por menos os desgraçados, cuja insensata audacia leva a sós por aquellas terras em busca de oiro, como um celebrado mestre John, ha tempos apparecido no Zumbo sem um ceitil de seu, ao qual os nossos deram fazenda e quanto precisava, enviando-o com guias e recommen- dações para o Kassoque, a ffm de que o pozessem a caminho de Paramatenga, e um outro boer, cujo com- panheiro havia sido assassinado, e os banhiai tinham colhido, levando-o preso a Diu, para que fosse entre- gue ao capitão mór Firmino, e ainda muitos que seria longo enumerar. Apraz-nos esmiuçar estes factos e significal-os aqui, porque é tão frequente e de feição recente, o fallar-se do nosso dominio na Zambezia, como de uma phanta- sia, que nos não consente o animo cortar por falsidades sem lhes dar o conveniente correctivo. E se é certo que ninguem como nós se aventura pelo sertão africano, certo é tambem que ninguem como o governo portuguez dispõe n'um momento dado de maior força e influencia em tão reconditos logares. Basta uma ordem do governador de Tete, para que Kanhemba, capitão mór do Nhacôa, estabelecido no prazo da corôa, que pelo sul do rio vae até à emboca- dura do Kafué, e sobretudo a Araujo Lobo, capitão mór do Zumbo, cavalheiro com quem tivemos o pra- zer de mais tarde estar em contacto, e avaliar as suas apreciaveis qualidades: espalhem por aquellas terras dois a tres mil cypaes armados. À nossos pés corria, como ficou dito, o Zambeze, e durante tres dias ahi nos deixámos estar entregues a uma ociosidade de que muito careciamos. 288 De Angola á contra-costa “O acampamento, collocado 4 beira mesmo do rio, deixava vel-o desembaraçado, podendo nós pelas horas da refeição notar, ora os manejos de um crocodilo, em via de trepar para uma das ilhas do meio, ora ter de face um hyppopotamo indifferente, mergulhando aqui, soltando alem roncos, que faziam lembrar um rebecão tocado de repellão. Desde a força das chuvas já o rio tinha baixado de 5 metros, começando a soprar n'esta quadra e diaria- mente apoz as dez horas (a. m.) um vento rijo, durante o qual se torna perigoso percorrel-o em pequena em- barcação. | Manuel de Abreu, conhecido pelo Kavunda, é o homem que n'aquelle ponto está estabelecido, mas que mfelizmente n'esta occasião se achava fóra, sendo nós visitados por um seu filho, e por numerosa gente da libata, a quem ouviamos gostosamente pronunciar a saudação da nossa terra—bons dias, senhor. Foi no dia da visita de Caetano de Abreu, que o Trinta experimentou a mais cruel das decepções e Rosa a mais monumental das alegrias! Desde a descida da Muxinga, que o nosso alongado companheiro nos fallava constantemente na sua outra esposa e em termos os mais lisonjeiros, encarecendo- lhe a esperteza e a aptidão, ao ponto, dizia elle, de até saber fazer pão! E ha de fazel-o, additava, para logo volver, coçando o occiput, o que falta é o trigo! Assim que assentámos arraiaes no Chôa, o homem não socegava, e, de um lado para o outro, apoquenta- va-nos, pedia-nos fazenda para lhe levar presentes, e Zambeze abaixo 289 emfim solicitava uma demora nossa ali, emquanto elle, n'uma corrida, iria buscal-a! Não nos achavamos muito de geito a prolongar a estada em tal logar, só para lhe satisfazer um leviano desejo, davamos mesmo ao demo a lembrança do nosso heroe, quando uma circumstancia Imprevista tudo veiu resolver. Havendo chegado ao quilombo uns pretos que se de- ram por conhecidos do Trinta, e do seu antigo menage, correu este logo a elles, perguntando-lhes pela estre- mecida metade que deixára ha dois annos no Nhacôa. Olhando-o de soslaio, os dois replicaram: «Está boa, lá está à sua espera». Radiante, veiu ter comnosco a dar-nos conta da fausta nova, e acrescentando: «Lá está e ainda nos ha de fazer pão esta viagem». No entretanto a Rosa, por mais esperta, emquanto o esposo soltava aos quatro ventos da fama a novida- de, foi ter com os informadores, e, por mais manhosa e ladina, conseguiu d'elles saber a verdade. Apenas senhora do segredo, eil-a que entra pelo acampamento dentro, aos saltos e viravoltas, e n'uma explosão de alegria exclamava ante o esposo boquia- berto e estonteado: «Tem outro homem ella, já casou ha muito tempo!» Tableau: Trinta, hirto e de prumo, estava: assombrado; em volta estrondeavam as gargalhadas, e nós, apertando a cmta, suffocavamos! Entre os factos dignos de menção por nós aqui ob- servados foi aquelle de um typo chuculumbe. VOL. II. 19 290 De Angola á contra-costa Povo que habita, como já dissemos, para o oesno- roeste do logar em que nos achavamos, parece, sem ser extremamente feroz, ter habitos assás primitivos, pois todos vestem uma pequena pelle, usam zagaia, e amanham a terra, como nol-o afiançaram, com enxadas de pau. | O mais curioso traço d'estes indigenas é porém o penteado. Os machuculumbes usam puxar o cabello todo para o alto da cabeça, e á medida que este vae crescendo, vão-no emendando e torcendo, á feição de rabicho, com azeite e manteiga, chegando a attingir um comprimen- to exagerado. Estes rabichos espetados dão-lhes uma feição assás original, podendo notar-se, quando acocórados em pe- quenos grupos de roda do fogo, ao volverem as caras uns para os outros, um verdadeiro jogo de pau feito com as cabelleiras. Pela noite sobretudo vêem-se embaraçados para accommodar tal topete, tornando-se necessario a espo- sa, após deitado o marido, amarrar-lhe o extremo da trunfa ao tecto da casa! Que original! Fazer n'este logar e antes de partir uma descri- pção do nosso rio seria ocioso, depois do que sobre elle têem fallado tantos viajantes; encarecel-o como via im- portante de communicação seria repetir o que dezenas de vezes se tem tambem dito e escripto. O Zambeze, cujo curso de Kariba para jusante vae limpo de embaraços até a Kaborabassa, e d'ahi, es- praiando, corre até ao oceano sem obstaculo algum, é Zambeze abaixo 291 Já hoje o camimho por onde se fazem, embora com tra- balho, todas as permutações para as terras do mterior, caminho que só espera vehículos de moderna feição, para que se torne exclusivamente a unica débouché a todo o commercio dos amplos sertões que o marginam; e anda a imponente massa de afluentes que sobre elle convergem, lavrando as terras longmquas, podem em muitos casos vir a ser aproveitados, alargando a area de faceis transportes por via fluvial. | O Cafué, por exemplo, é um destes, que, tendo a um dia de viagem da confluencia do grande rio uma cata- racta, vae depois limpo por entre a Manica e a Iramba, até quasi proximo da Katanga, podendo ser percorri- do por embarcações de grande lote. E se é verdade que nos não é facil dizer rigorosa- mente ao leitor qual a absoluta importancia dos ser- tões de que vamos fallando, qual o seu methodo de exploração e modo de aproveitar, qual emfim o futuro que cada um d'elles espera, pois são essas questões para mais largo estudo, sendo mesmo para notar a nossa reserva pelos capitulos que atraz ficam, com respeito a este assumpto; não menos verdade é, e facil de afiançar, que, em identidade de circumstancias, o districto que regado for por maior rio será o que mais garantias terá de prosperar, acrescendo que aquelle cujo futuro depender de exploração mineira, nunca poderá ser cousa alguma, quando ficar afastado de curso caudaloso !. 1 Basta que consideremos nas riquezas mineiras do Bembe na nossa provincia do oeste e no infeliz debute da sua exploração, por via de trans- porte às costas do negro, para que d'isso nos convençamos. 292 De Angola á contra-costa Ora nestas circumstancias se acham uma grande parte das terras que acompanham o amplo tributario do Indico, bem como os seus afluentes: haja vista Iramba, Caponda, Katanga, ete. E como cousa alguma mais rapidamente chama á colonisação e á formação de grandes centros de ex- ploração mineira, urge que o governo de Sua Ma- gestade, sem perda de tempo, ordene um definitivo estudo do alto Zambeze, e mórmente dos seus afiluen- tes, como Uafué, Sanhati, etc., pois se nos afigura está n'esse estudo a pratica realisação da definitiva aber- tura e immediata prosperidade d'aquellas feracissimas terras. E mesma nossa convicção que, feito elle, viremos nós no conhecimento do imestimavel recurso que ali possuimos, como chegaremos a compenetrar-nos da idéa de que, se não é este talvez um rio em melhores termos de aproveitamento que o Zaire, é ao menos proximamente igual, levando-lhe porém a grande van- tagem de occupar uma melhor posição geographica, ser mais facilmente attingivel o seu curso medio, e drenar sertões que, por salubres, e mfinitamente mais ricos do que aquelles por onde deriva o rio de Stan- ley, são em tudo mais proprios para o estabelecimento do europeu. O caminho do Zambeze, num praso mais ou menos curto, ha de fatalmente ser o rival d'aquelle do Zaire, e convençam-se todos que o europeu que não fizer fortuna e não lograr saude em Caponda, em Ulalla, em Iramba, nunca viverá tambem em Uregga, entre os tuchilangue ou os bateke do Congo. Zambeze ha 298 Esta é a verdade. Assim que nos achámos com forças de botar a ca- minho, levantámos campo, seguindo rio abaixo pela sua margem esquerda. Da banda de alem estendia-se o grande territorio do Dande, que, defrontando por oeste com o Sanhati, vae para leste topar com outro districto de não me- nor importancia, Chedima ou Monomotapa, hoje po- voado em parte pelos banhai, sob a direcção nominal de Zuda |. E bastante difficil precisar a casta de povoadores pelo Dande espalhados, tão numerosas são as imeur- sões feitas pelos landins de Muzilicatzi e outros der- ramados por toda a banda, como os de Guároguáro, de Xiadionga ou Gurure, de Ponde, Cauere, Katan- ga, Manicusse e até Peizene, que hoje se acha ao norte do Zambeze. Summariamente o que lavra é o sangue zulo, distin- guindo-se os habitadores do Dande pela sua côr azevi- chada, robustez, grandes olhos e apparencia agrada- vel, bem como pelos adornos de cabeça, com contarias e tranças, nhunzos, cordões de missanga á cinta, kim- potes, e amda por os seus chefes ou mambos, como os de Chedima, usarem uma tatouage em fórma de cruz, que, tomando-lhes o frontal de uma fonte á outra, desce a meio e perpendicularmente, quasi 4 ponta do nariz. | Extremamente bellicosos, têem estes povos preceitos e costumes estranhos, que evidenceiam bem como entre 1 Este regulo foi batido na occasião da nossa passagem. 294 De Angola á contra-costa elles ficaram arreigados tradicionalmente os marvoti- cos furores do celebre cafre-zulo Chaka! Assim, por exemplo, é de praxe, sempre que dois mambos se encontram ao acaso, baterem-se um com o outro até que um d'elles suceumba, lucta que eviden- ceia, não só a rasão de nunca entre elles haver concor- dia, mas mais esclarece o fim que teve em vista o chefe que primeiro iniciou similhante preceito. Em resumo, são assás industriosos, pois se não vêem senão utensilios de ferro, como machados, facas, etc., feitos pelos ba-zizuro. Pelo lado de cá ficavam-nos as terras de Borôma, e para longe a Senga. A 29 de abrilao anoitecer achavamo-nos acampados na libata d'aquelle, rilhando em descanso a carne de um ZEgoceros elipsiprimnus, que por aqui abunda, e haviamos abatido em caminho. Pulava a caça em todos os sentidos, avistando nós rhinocerontes, quicemas, de que acima fallâmos, zebras de que abatemos uma tambem á saída da senzalla, enormes quadrumanos barbados, cuja especie não po- démos precisar, e uma gallimnacea, 4 feição do pavão, ! Chaka foi no começo d'este seculo o filho de um chefe zulo, que primeiro organisou disciplinarmente os seus exercitos, levando as suas conquistas até ao Natal, onde venceu Muzilicatzi, que mais tarde foi seu logar-tenente e conquistador do Transvaal, esmagando os bechuanas; e vindo por sua vez a ser impellido para o norte, estabeleceu-se na serra Matopo, onde avassallou ma-kalacas ma-chonas, fundando o reino dos matebeles, de que hoje é chefe Lo Bengula. | Foi de Chaka tambem general Manikus, que, após uma retirada pou- co feliz de Lourenço Marques, fundou o reino zulo de Gasa, onde reinou Muzilla e hoje nominalmente dirige o Gunguneana. o TYPOS ZULUS Ss ||| ESSAS À TERRA E | a ES Segundo photographia Zambeze abaixo 295 tendo porém na cauda só duas pennas compridas ter- minadas em espatula, e que suppomos ser conhecida na Huilla. Os dias 30 de abril a 1 de maio proseguiu a expe- dição, acossada pelo desejo de chegar ao Zumbo, por entre morros e serranias, que lhe castigavam severa- mente os pés. | O paiz vae tendo aqui um tom de mais em mais pitto- resco, o rio estreita, para passar ruidoso n'uma lupata. À natureza do solo é assás varia, e nas serranias, do meio da argilla vermelha e calcareos rosados emer- gem rochas de gneiss escuro, grés grosseiros incohe- rentes, amphibolites de côr negra, micachistos e pe- gmatites, fragmentos de diabase, formando provavel- mente filões nas rochas crystallographicas da região, magnetites, lascas de gabbro (?) e calcedonia verde, etc.; à mistura com blocus de quartzo, crystaes deste mineral, schistos micaceos, e outros. À tzé-tzé tende a desapparecer, gigantes bao-babs avultam pelas cam- pinas e encostas. Pelas lagoas pescam os naturaes, em armadilhas, topando-se com frequencia um peixe electrico, sorte de Clarias (bagre), no dizer dos negros, que suppomos ser especie de nós não conhecida. A flora por sua parte é que vae mudando um tanto de aspecto. Muitas arvores no Zambeze largam a folha em maio, começo do inverno, só principiando a vestir-se no mez de novembro; algumas outras não seguem porém esta regra, e na força da secta, em pleno mez de se- tembro, pegam viçosas a rebentar. 296 De Angola á contra-costa Em Capinguira, libata de mercadores, descansámos algum tempo mirando os novos typos que nos cerca- vam, e ouvindo historias a seu respeito. Uma d'ellas ouvimos citar com estranho afinco e segura garantia de successo, e vinha a ser, que exis- tia certa beberragem, ou melhor duas, de effeitos op- postos, que, quando administrada ás mulheres, tinha como consequencia o socegar o espirito dos maridos, por ter uma verdadeira acção prophylactica contra o adulterio ! Não ha Lovelace que lhe resista, era a opinião do narrador, e um olhar que ouse levantar para uma dama assim prevenida, ou melhor, couraçada contra ternos assaltos, será uma sentença de morte contra si profe- rida, a menos, é claro, que não conheça o segredo da outra bebida, verdadeiro antidoto, que só deve ser do exclusivo conhecimento do esposo. Tem este precioso e mestimavel philtro entre os na- turaes o pouco euphonico nome de Likago, e parece ser por ali usado com frequencia, o que mostra que o camarada negro é tambem egoista, e que portas a dentro, em meio do seu pequeno serralho, não com- prehende o variatio delectat, senão como conceito judi- cioso para uso particular. À lingua agora fallada era em muitos logares o por- tuguez, não se ouvindo senão estropiar, a mercadores e sua gente, o pobre idioma de Camões, cireumstan- cia esta que trazia os nossos companheiros embas- bacados, pois lhes parecia estranho, como tão longe aquelles homens sabiam a lingua que se fallava em Angola. Zambeze abaixo 29 Em caminho gigantes sycomoros abriam os seus enormes ramos numa area de muitas dezenas de me- tros de circumferencia, acobertando, por vezes, dos raios candentes do sol a comitiva mteira com a sua benefica sombra. Os bao-babs numerosissimos avultam monstruosos por entre os espinheiros, com a sua casca fendida e cerceada em muitos pontos, pela constante procura de fibra para artefactos diversos. Hortas viçosas circumdadas d'essa Verbenacea de flo- res amarellas que serve para troviscar peixe, tambem se nos deparavam junto ás libatas, onde nós compri- mentavamos cubiçosos, couves, alfaces, rabanetes, etc., que, em verdade, mais nos impressionaram com o seu subito apparecimento, do que a mesma idéa de nos acharmos abeirados do mundo que pensava. O que porém causou uma profunda sensação a toda a gente da caravana, fazendo com que suspendessemos, a fim de por momentos os mirar, foi a primeira ma- nada de gado vaccum. Ao vel-os pacientes, pastando, gordos e luzidios, sem consciencia do tremendo perigo que de tão perto os ameaçava, a tzé-tzé, que infesta toda a margem de lá do Zambeze, e a de cá mesmo em muitos pontos, não podémos deixar de recordar os nossos bois, com- panheiros que nos haviam ficado nas selvas, e tão grande serviço nos haviam prestado. Que haveria sido de nós, os chefes da expedição, se acaso não houvessemos tido a providencial idéa de trazer bois-cavallos em numero suficiente para re- sistirem ás marchas que fizemos? 298 De Angola á contra-costa - Quem poderia só de um folego marchar de Quiteve a Libonta, 800 milhas approximadamente, que tanto foi a distancia por nós percorrida, se acaso não tives- se bois de montada e em numero suficiente para fa- zer tal trajecto? ú É que seria sobretudo da caravana, no Luatuta, no M'palina, na planura do Lobale e nas matas do Ca- bompo, se acaso à sua frente não fossem sempre os bois como supporte do animo e garantia de recurso? | Teriamos succumbido fatalmente 4 fome, porque, como já mais de uma vez o dissemos, entre os nume- rosos embaraços que nos envolveram por entre as sel- vas do negro continente, figura por maior aquelle devido a este terrivel flagello, de que só nos libertá- mos muita vez, sacrificando as cabeças de gado que possulamos. Por todas estas rasões, por considerarmos mopi- nadamente em todo este alinhavo de trabalhos, é que haviamos suspendido junto aos bois, e ahi gostosa- mente scismavamos no passado. E estes devaneios, muito embora pareçam não ter valor, têem-no, pois podem ser ensmamento proveitoso para viajantes novos, que, por alheios ao modo de vi- ver nos bosques africanos, sejam levados a errar na organisação do seu pessoal. Que attente bem aquelle que se propõe transitar em zonas, onde todas as probabilidades imdicam o de- serto, e se abalançam a largas viagens no contmen- te, que os dois factores primeiro a attender são os da alimentação da sua gente, e um economico dispensar da propria energia, ao principio. Zambeze abaixo 299 Se lhe é imdispensavel o quinino, não menos neces- sario é poupar as forças, e, em logar de começar por devaneios e proezas, como muitos novos viajantes fa- zem, isto é, por marchas forçadas, a pé e a grandes distancias, por caçadas, correrias, etc., que mais não fazem senão enfraquecel-os, iniciem-se pouco a pouco nos labores da vida nova que vão encetar, por exerci- cios moderados na marcha a pé, e por aquelles a ca- vallo quando tenham oecasião. Sempre que possam façam acquisição de dois ou tres bois-cavallos e transportem-nos comsigo, que lhes serão elles de grande recurso, porque o trabalho que estes animaes dão na passagem dos pantanos e atolei- ros é sobejamente compensado pelo conforto do nosso transporte e pelas forças e saude que nos conservam. O boi é um animal incomparavel para o mato. Ali- mentando-se por sua conta e risco, não precisa o via- jante pensar n'elle e apenas, quando o possa fazer, chegar-lhe uma ração de milho ou de batata doce; ao passo que, imtelligente e affeito ás difficuldades das selvas, o boi transita-lhe por toda a parte cuidadoso, sem que uma vez o jogue a terra, ou se atole descui- dado. Abeirou-se de um rio, deixe-lhe, por assim dizer, as redeas, póde ficar certo aquelle que no lombo do ani- mal se achar bifurcado, que jamais elle se metterá á agua, se vir que o rio, por lodoso, é mtransponivel em bons termos. Com referencia ao primeiro factor de que fallâmos, isto é, a alimentação da caravana, não precisa encare- cer-se o boi como recurso precioso; mas convem lem- 300 De Angola á contra-costa brar, que alem da influencia que materialmente póde ter, tem tambem aquella moral, sustentando o animo e tibia coragem do negro, pela certeza de ver que na cabeça da comitiva vão uns poucos de milhares de kilos de carne, que lhe serão recurso no primeiro caso desesperado. Se não fossem os bois, certamente a nossa expedi- ção teria tido outro fim, e, em logar de havermos tri- lhado sem retroceder o caminho que nos propunhamos, houveramos de ter assistido ás mais desoladoras sce- nas de deserção, e quiçá a uma geral debandada pelos matos. Os bois foram a tábua de salvação, e quem quizer seguir o nosso conselho, leve ao partir do lito- ral umas poucas de duzias d'estes para abater. Como terminassemos mentalmente uma boa parte destas considerações, deixámos o rebanho em socego no meio da campina, endireitando para a banda do nascer do sol, logar onde nos ficava o Zumbo, que nos preparavamos a encontrar. O sol, então já bem alto, illumimnava com gloriosa luz o espaço e a superficie da terra, deixando destacar com mtidez em redor todos os accidentes do terreno. Desdobravam-se ao longe para o oriente aquelles que mais nos prendiam a attenção, entre os quaes fi- guravam erguidos a serra Manzoanzoé, em cujas fal- das está assente a villa do Zumbo, as altas montanhas Valem do rio, que, correndo perpendicularmente, vão perder-se no sul, e o complicado de morros e cerros, que desde a ultima lupata onde passaramos vem cor- rendo approximadamente com o Zambeze até esta ulti- ma villa. Zambeze abaixo 301 Habitantes de aldeias e povoados vinham ao ca- minho observar a caravana, que em linha, com o roto pendão nacional á frente, se dirigia para o oceano. Vem do Cafué ou de Manica, diziam uns; de Ulalla, acrescentavam outros; de longe diziam alguns; do outro mundo, additou um mais atilado, e tinha rasão, porque se o nosso aspecto não era positivamente de resuscitados, era-o a alegria e satisfação que nos do- minava. | Após a tristeza tumular de mezes volviamos de novo ao mundo. Transpostos uns elevados contrafortes dos ultimos cerros por onde vinhamos caminhando, desembocâmos alfim em ampla planura, que direitamente nos levou por entre espimheiros e bao-babs até junto do mais desenvolvido dos sycomoros que em nossa vida hemos visto. Á sombra d'elle nos quedámos estafados, transu- dando agua por todos os poros. À nossos pés corria um rio, que, açoitado por bri- sa fresca, encrespava ligeiramente a superficie da agua, deslisando de manso para o meio dia. Era o Aruangõa. À mão direita, um outro lençol de agua de mais avultadas proporções resplendia á luz do sol, des- lisando rapido por entre as serras e campinas que o marginam. Era o Zambeze. E) “ e |] ( ” 1 í “ ay A ' af Bad Fe v ui A ; The ) , ' NT dia Et é RR nd 7 am Es é a ! E Mi VAR DELA DUO | a el x O y PR a nd ' » , rn pe kra e º POR “6 b 7: ” ; Y ) à de »: 4 l q p “ o E E, “ E, cã & , - ) | R r ku PE Soy ta rn Ra e SM a. x Eta ETA 7 . o na so, RO E Vir . i a ] MH ns é n O o ' x a a + , ; f í 1 , ' 4 1 + ] Ea | ' " "a Ea - s , pá E » 4 ” a ] Ae E "q CAPITULO XXXI DO ZUMBO AO OCEANO A villa do Zumbo, sua posição e aspecto attrahente — Importancia de outr'ora, numero de fogos, periodo de abandono — Frei Pedro — Partida de Sofala — A fome na Senga— Influencia do frade na prosperidade do Zumbo — Frei João que o succede — Estabelecimento alem do Aruangõa — O capitão mór do Zumbo e o chefe do Banhae — Uma querella com o Boruma —Transpomos o Aruangõa, dando entrada na villa— A nevrose da leitura e um descanso de dezenove dias — Scenas diarias e considera- ções a proposito — Excerptos do diario— Às ruinas do Zumbo — Habitos, costumes e crenças dos Van-sua— O moave e o morungo— Os pandóôres, mambos, chamujires e zinaguros—O Varungo e o marombo — Doenças que afligem os povos dos sertões em questão — As boubas o mapert e a cherin- gosa— Indicações geraes sobre a primeira d'estas doenças — Facies espe- cial e tratamento — Manifestações na mulher — Inmunidade do homem em determinadas circumstancias — As duas ultimas doenças e breve in- formação sobre ellas— À abalada rio abaixo — Araujo Lobo— À Senga e a Chedima— Aspecto do rio— Serranias marginaes — Entre os Banhai— À guerra contra Zuda— Dio — Ataque à aringa— De novo entre a tzé- tzé —Tete. Ev. VAN MUYDEN. MULHER DE SENGA Croquis do auctor A villa do Zumbo acha-se assente na margem es- querda do Zambeze, exactamente a jusante da con- fluencia do Aruangõa com este rio. Se houveramos de fazer uma resenha debaixo do ponto de vista da salubridade, do pittoresco e do at- trahente, de quantos pontos pelo mterior vimos, diria- mos que o Zumbo, depois do plateau, da Huilla, é o ponto que mais sympathias nos mspirou. Os grandes rios que junto a elle deslisam, as serra- nias que o cireumdam, as brisas frescas que o varrem, VOL. II. 20 306 De Angola á contra-costa fazem d'este logar, sobretudo quando se attente que se trata especialmente da Zambezia, um ponto verdadei- ramente excepcional. O Zumbo, que outrora foi a chave commercial de todos os sertões circumvizinhos, permutando com a Chedima e o Dande, com a Senga, a Manica, os mui- sas e os uembas, com o Usezuro, o Arenje e Musilica- tzi, chegou a ser uma villa com duzentos fogos, tendo um amplo convento da imvocação de S. Domingos, por padroeira Nossa Senhora do Rosario, e uma po- pulação para cima de 1:000 almas; caiu mais tarde da sua grandeza, a ponto de jazer esquecido, todo o lapso de tempo que mediou desde 1836, em que o Borôma assumiu por ordem do governo do districto a sua admi- nistração, até 1863, em que foi novamente reoceupado. À historia da sua fundação e do seu abandono, tal- vez para proximo tempo dos Filppes, dificilmente se faria por nublosa, levando-nos alem dos limites im- postos a este genero de obras; o mesmo succederia com a resenha das explorações mineiras n'aquella tão rica região operadas, onde figuram as minas de Mixon- ga, na terra dos pimbes; as de Pemba, na riba es- querda do Aruangõa, em terras da Morunguja; a de Mucarúa na margem do Zambeze, e até mesmo em Tati, etc. Dos tempos recentes, eis em dois traços o que de mais frisante existe. Um dos vultos de que mais se falla na terra, por ter ah gosado de grande reputação, e, ao que parece, exer- cido alta influencia nos ultimos tempos de prosperi- dade d'aquella villa, foi um celebrado fr. Pedro da Santissima Trindade, que ha pouco menos de um se- Do Zaumbo ao oceano 307 culo por lá andou, e a cuja sepultura amda hoje os indigenas se dirigem em occasiões de grandes calami- dades. Seguindo pelo caminho de Sofala, o asceta estabe- leceu-se primeiro em terras do Dande, levantando á sua custa uma pequena ermida, onde exercia as pra- ticas do seu santo mister. Varias perseguições dos principes d'aquella zona levaram-no a abandonal-a, escolhendo mais tarde para sua residencia o districto do Zumbo, onde a muita piedade e virtude lhe grangearam rapidamente a fama de santo, e sobretudo o respeito do regulo Mazombué, que ao tempo pretendia dominar ahi. Homem de espirito superior, mas com pequenos re- cursos, foi pouco a pouco dispondo as cousas até che- gar a conseguir alguns dos altos fins que tinha em mente. Eis, para exemphficar, como elle se houve na con- strucção do enorme convento, cujas ruinas os auctores deste livro tiveram occasião de ver. Fr. Pedro organisára, logo desde a sua chegada, vastos esleiros, onde vagarosamente ía aceumulando mantimentos. Conta-se que certo anno uma fome devastadora la- vrou pelas terras do Senga, por modo que succumbiam em grande numero os naturaes d'ahi. Fr. Pedro mandou deitar pregão por toda a terra, dizendo que aquelles que quizessem escapar ao terri- vel flagello, viessem para cerca d'ella ajudal-o a levan- tar as paredes de uma igreja e convento, que elle ahi, com a ajuda de Deus, os sustentaria. 308 De Angola á contra-costa Toda a gente correu a similhante appello, e então era de ver como o austero sacerdote, esquecendo por momentos os misteres do seu piedoso officio, empu- nhava o martello, e no meio dos indigenas dirigia a construcção de um edificio, que, pelo que aimda resta, parece ter sido enorme. Chamavam-lhe o Comanhundo, de Coma-ia-nhundo (bater com o martello), em recordação de os haver li- vrado da fome, mediante pancadas de martello, e o seu nome é tão venerado ainda, que corre entre elles que o seu espirito, encarnado agora no corpo de um leão (distincção grande que os negros aqui só conce- dem aos chefes), vagueia pelo Zumbo, aconselhando aquelles com quem sympathisa. À verdade, porém, é que a construcção deste con- vento redundou para a villa n'uma aurora de grandeza, pois afiuiram de toda a parte negociantes, que, esta- belecendo-se ali, viveram em paz e abastança durante annos. Fr. Pedro não se applicava só no derramamento de beneficios espirituaes pelo rebanho a seu cargo; dedi- cando-se ao cultivo da sciencia, descobriu plantas e medicamentos especiaes com que praticou curas mila- grosas n'aquella terra, onde não havia medicos. Ainda hoje se conhece e procura o celebrado oleo, para alli- vio e cura dos rheumatismos ali abundantes. Ao tombar fr. Pedro para a sepultura, foi substi- tuido por fr. João, homem sem energia nem prestigio, e que para abreviar a quéda do Zumbo, teve a triste idéa de entender-se com Borôma, e erigir uma capella e casa na outra margem do Aruangõa, para onde foi Do Zumbo ao oceano 309 viver, deixando a sós o celebrado capitão mór, Inha- murômo, Alexandre da Costa, que por desavença com um morador d'al Caetano, atraiçoou a sua terra e gente, e entendendo-se com Zéca, chefe dos banhae, fez com que este regulo viesse de subito sobre a villa, destroçando-a. Foi isto pelo anno de 1754. Passados os negocian- tes para a margem de lá, junto do novo estabeleci- mento de fr. João, ahi estiveram assentes, dando ao sitio o nome de feira. Mais tarde uma querella entre o mambo Guênde, sexto Borôma na ordem da successão, e o capitão mór José Pedro Dimiz, a proposito da mãe d'aquelle, Nina- muame Nhamangondo, fez com que a feira fosse aban- donada, até que em 1863 foi de novo e definitivamente a villa occupada. Basta de indicações historicas que, para o presente caso, de pouco aproveitam. Transmittida a noticia da nossa chegada ao comman- dante militar do Zumbo, a fim de que desse as provi- dencias necessarias para a caravana transpor no dia segumte o Aruangõôa, adormecemos sob o amplo syco- moro que de tecto nos servia, convictos de que a nossa missão ía proxima do seu fim ; bem como estava attingi- do o resultado que nos propunhamos, isto é, chegar a Moçambique, partindo de Angola, atravez da região dos lagos. Rapidamente se propalou que estavam perto do Zumbo uns homens que se ignorava donde vinham; 1 Caetano, conhecido por Xinticué. 510 De Angola á contra-costa e logo que alvoreceu, apparecendo as canoas pedidas, passámos para o outro lado, dando entrada na villa, no meio de um concurso de povo. Por entre os vultos tisnados dos mdigenas destaca- “vam-se as caras brancas dos nossos compatriotas, os uniformes militares, as casas de paredes caiadas, o as- pecto emfim de alguma cousa differente d'aquillo a que vinhamos affeitos. Convenientemente installados numa casa construi- da ao feitio dos tembés arabes, e collocada à beira do rio, ahi passámos dezenove dias, cercados dos nossos, em ociosa indifferença e embebidos na leitura. Após uma travessia de quinze mezes, em que can- sámos os olhos a percorrer dezenas de vezes a Voyage d'un naturaliste, de Darwm, sem o recurso de poder va- riar, a não ser para o Almanach nautico ou para as Tá- buas logarithmicas, foi um verdadeiro consolo o encon- tro de livros e de letra redonda. Assim de um folego foi o Almanach de lembranças, de 1885, o Palacio de Niorres, de Capendu, O tambor da trigesima meia brigada, e quantos impressos nos vi- nham ás mãos. Não liamos, devoravamos, e a estranha sensação que essa leitura, em parte pueril, nos produzia, é amda um phenomeno de que não podêmos dar inteira conta. As descripções relativas ás scenas ali exaradas, m- teressavam-nos por modo, que nada havia que nos se- parasse dos volumes, prazer e encanto que varria por s1 todas as mais considerações. Para contraste com o activo e buliçoso pensar dos mezes atraz, a imaginação como que lhe aprazia agora Do Zumbo ao oceano SlIl o socego, e em suave tranquillidade lá ia pela França do seculo xvirr, guiada pelo enredo de Capendu, afer- rada ao ftei dos grilhetas. Pela tarde jantavamos em a nossa varanda, e após as boas chavenas de café, carregavam-se os cachim- bos, e, estirados convenientemente nas longas cadei- ras, aguardavamos a visita de quantos europeus por ali residem. (Que imaginareis, leitor, d'essas tardes de ocio, se vos dissermos que foram talvez as melhores e mais agradaveis de quantas passadas ao rematar a viagem? Depois de chegados ao oceano, tudo terminou; a rudeza do viver dos matos, os soffrimentos, tudo se es- vaiu como o fumo, em face do borborinho da tolda do vapor, do tresmalhar das vagas, do vaivem e indif- ferença dos passageiros, chegando a fazer-nos min- guar aos proprios olhos. Ali ainda nos achavamos a dois passos do sertão, campo das nossas proezas. Estavamos perante homens affeitos ao viver das selvas, unicos capazes de com- prehender e apreciar o que por lá se passa, a quem apraz dizer e contar, na certeza de que se é entendido, emquanto que as damas e os engravatados senhores que na tolda do navio escutam a narração da mais sm- cela peripecia, são auditores imdifferentes, aos quaes nem é facil approximar a idéa do perigo. Historias de que Jules Verne deu a melhor das no- tas, é o seu considerar; e mirando o viajante dos pés à cabeça, calculam-n'o talvez mui proximo do modo de ser selvagem, lançando-lhe como consolação e fingico interesse, a segumte interrogação: «Leões viu algum?» 912 De Angola á contra-costa Largas foram as conversas ali sustentadas, em que cada qual exhibia os seus conhecimentos de sertanejo, como numerosas foram as historias ouvidas ácerca das terras, povoadores, etc. Cansados de nos sustentar atravez de todos os ca- pitulos antecedentes na altura da descripção, pedimos venia para transcrever o que por lá se disse e ouviu, tal qual como na relação da viagem se encontra; certos de que o leitor, se considerar massada, restar-lhe-ha a consolação de que lhe é pregada já no limite d'este trabalho. «Dia 7 de maio. «Estamos ha tres dias no Zumbo. Alguns trabalhos se operam, mas já em limitada escala. Fizemos uma pequena excursão ás ruinas do convento e igreja (hoje cemiterio), bem como uma ou duas excavações. Um fragmento de objecto liturgico e uma colhér, foi o que achámos. «O edificio que está em ruimas é enorme, feito de blocos de rocha talhada em cubo regular. «Pelo norte ergue-se a serra Manzoanzoé, onde, se- gundo dizem, existem uma ou mais lagoas de agua. quente. «Temperatura moderada, vento fresco, ambiente alegre, paizagem pittoresca. «Dia 9 de maio. «Fallou-se hoje de habitos, costumes e crenças dos negros van-sua (zumbos); citaram-se o moáve, o morun- 90,08 pandôres, mambos, mizimos, chamugires e zmaguros, como as dansas varungo e marombo. Operação com- provativa de ser ou não verdadeira uma determinada Do Zumbo ao oceano Sta accusação, por meio do pó da casca das arvores, Ca- pande, Goncomo e Chincundo, misturado em agua, que se ministra ao individuo suspeito, ao qual só salva o recurso do vomito; é a primeira assás conhecida, para que aproveite o repetil-a. «Leva-se a effeito n'um largo, colloca-se o paciente entre duas grandes panellas de agua morna, deita-se o pó numa outra pequena, que elle toma das mãos do ciganga, seguindo-se á ingestão do pó, a da agua, ora de um ora de outro dos citados vasos. «Distendendo-se-lhe enormemente o ventre, todos aguardam o phenomeno, até que vem o desfecho. «Se vomita, enchem-lhe a cabeça de farinha, dego- lam algumas gallinhas, derramando-lhe por cima o san- gue, e mil outras scenas estranhas; mdo alfim a victima ter com o accusador, que fatalmente lhe pagará o mi- lando, ou ficará pertencendo como escravo ao accusa- do. Se porém não vomita, está perdido sem remissão, escusa contar salvar-se. «A idéa de Deus é vaga, e tem-se de todo apaga- do com o desapparecimento dos esforços dos missiona- rios. Murungo, dizem para significar o Todo-Podero- so, mas não ligam pensamento preciso ao que queira isto significar, confundindo-o, pelo geral, com os seus regulos fallecidos, ou melhor a alma d'elles, mambos e mazumos. «Entre os adimas, povos de Chedima, isto como resto de antiga influencia missionaria, ligam á idéa de murungo a existencia dos astros, da terra, etc., che- gando a haver um como quê genesi, quando preten- dem explicar o apparecimento do genero humano, di- 514 De Angola á contra-costa zendo que Deus formou o homem de uma só côr, a preta. Achando-se todos reunidos no centro da terra, separaram-se, no intuito de chegar cada qual ao logar que lhe estava marcado; como porém houvesse em ca- minho um rio que urgia atravessar, a fim de se pu- rificarem, e alguns mais preguiçosos ficasssem para traz, lavaram-se os primeiros que o transpozeram, por o acharem cheio, ficando brancos, ao passo que os ul- timos, achando-o quasi secco, n'elle só poderam be-. ber agua pelas mãos, ficando-lhes estas e as solas dos pés apenas d'aquella côr. «Resumidamente, as crenças e costumes d'estes po- vos são os mesmos que por toda a Zambezia; acredi- tam nos mangonas, feitiços e feiticeiros, procedem como em toda a parte a ombesações (adivinhações), têem simi- lhantes ceremonias nos casamentos, mesmos castigos para o adulterio, iguaes exigencias para com o sogro dumbze ou muene muxa na Chedima, identicas provas de agua e fogo, o mesmo receio pelos macauzos (cemi- terios), povoados de múizimos; praticam, em summa, a ceremonia do sémbe, logo que lhes acontece marósa (desgraça), derramando farinha e pombé no logar, que ao cabo de tempo, se é encontrada mtacta, é de bom signal, se dispersada de mau agouro. «O pandôr é uma das imdicações mais vulgarmente usadas, quando se trata de mystificações, e é esta uma entidade de que não podêmos dar inteira contanos. «Umas vezes Julgámos ver em similhante termo a significação da alma de um mambo, que se houvesse encaixado no corpo de um leão, outras vezes era sim- plesmente um homem, que attingia, quando muto, as Do LZumbo ao oceano 315 proporções de um adivinho. N'este ultimo caso o es- pertalhão que se aftaz a este modo de vida veste-se com uma pelle d'aquelle animal, outras vezes mesmo sem ella, e vae adivinhar o que lhe parece, ver se está Imminente uma guerra, se é bom o europeu que passou, se existem adulteras, etc. «Acompanhado de duas ou tres raparigas, approxi- ma-se da habitação, roja-se pela terra, pôe em pratica mil esgares e momices, e, urrando como o rei das sel- vas, começa de dizer e contar o que lhe parece, cer- cando-o toda a população, que lhe deposita em volta farinha, gallinhas, pombé e outros artigos. cAssiste a este senhor uma regalia original, e vem a ser, que, após o seu especial serviço, póde colher e le- var comsigo a mais galante rapariga que avistar. «No primeiro caso, ao que nos pareceu, o pandôr representará uma alma doroutro mundo, alma de um mambo, divagando pelos bosques, de que o zinaguro é a quinta essencia, bem como os chamugires, etc. «Dia 12 de maio. «Entre as varias doenças que afligem os povos d'es- tes sertões, ouvimos fallar das boubas, do mapére e da cherangosa como as de mais séria ponderação. São as duas primeiras, em verdade, as graves e de contagioso caracter, transmittmdo-se com estranha facilidade de um sexo ao outro, e operando destroços monumentaes. «Estão, ao que julgâmos, mal estudadas amda, e o seu caracter de universalidade, pois lavram hoje por muitos sertões, pareceu-nos bem poder attribuir-se ao elemento arabe, que, espalhado pelo interior, as trouxe da bacia do Nilo, onde se encontra algo de smilhante. DILLO De Angola á contra-costa «O que sem duvida parece certo, pelos pontos de con- tacto que observámos, principalmente na primeira, é ter esta doença por origem a syphlis, modificada e adaptada a novo meio e novas circumstancias. «Como ella tem um praso de mcubação e uma de- terminada demora na presença dos primeiros sympto- mas, que póde ir de dez dias a dois ou tres mezes, cre- mol-o nós. | « Umas placas arredondadas apparecem primeiro nas palmas das mãos ou na testa, ligeiramente córa- das, que, espalhando-se pouco a pouco, augmentam, chegando ás vezes a formar fistulas e suppurar. «Pelo geral, concomittante com esta primeira phase, apparece uma fistula mais importante, sem posição determinada, que muitas vezes um fermento póde mesmo originar, de aspecto variavel, desde alguma cousa que se parece com o cancro phagedenico, até . uma placa redonda sem bordos, suppurante, e que Julgâmos ser a bouba mãe. «Caminha essa ordem de cousas, com facies mais ou menos grave, até que se eliminam pouco a pouco as placas, para de subito se cobrir o corpo de manchas vermelhas, no negro amarelladas, sorte de roseola, que póde demorar-se de um a muitos mezes; e póde tambem, quando sem tratamento, trazer fundas com- plicações, como grande inflammação pelos musculos dos braços e coxas, chegando a formarem-se feridas enor- mes. Então a doença caminha inficionando todo o orga- nismo. Nas articulações onde primeiro appareceu uma ou outra placa, succedeu-se ao presente uma exostose, deformando-se as juntas dos dedos, mesmo às vezes as Do Zumbo ao oceano o 1 grandes articulações, como o joelho e cotovelo, ulcera- se a garganta, gengivas; em resumo a doença apode- ra-se do individuo, lançando-o com frequencia para a sepultura. «O tratamento mais aproveitavel, já que as manifes- tações primeiras d'este padecimento se assimilham ás secundarias da syphilis, parece ser o do 10deto de po- tassio, que, quando successivamente empregado, se póde alternar com o de ammonia, para evitar as conse- quencias sérias da reiterada applicação d'aquelle, como coryzas, etc. «Os grandes derivativos, os banhos quentes e um cuidadoso resguardo do corpo com flanellas, para evi- tar a estranha tendencia rheumatismal d'este padeci- mento, são indicações preciosas, como extraordina- riamente se póde recommendar o uso de preparados mercuriaes para combater as ulceras, que em geral de mau caracter, como já fica dito, só a elle cedem. «Facto notavel e por muita gente afiançado, é que este flagello, após se ter apoderado do organismo, pa- rece, quando à morte escape o paciente, desapparecer por completo ou eliminar-se ao cabo de sete annos; bem como tem ainda traços característicos e origi- naes, a saber, que sendo o homem victima das varias manifestações de que fallâmos, a mulher, pelo geral, o não é ou pelo menos tão gravemente, pois quando muito vão os symptomas até á roseola, com quéda de cabello, ete., annunciando-se as boubas por uma sim- gela leuchorrea. «E ainda poderemos citar outra circumstancia es- tranha, e, que vem a ser a immunidade futura do ma- 318 De Angola á contra-costa cho depois de tratado, embora a femea conserve evi- dencia do contagio, cireumstancia que se não dá com mdividuo estranho ao ménage. «Eis quanto sabemos e podêmos dizer sobre tão no- tavel flagello. «O mapére apparece, ao que julgâmos, ás vezes de envolta com as boubas, se não é a justa expressão destas em caso particular, outra vezes só. «E uma doença caracteristica pelo ataque directo ás articulações, chegando a haver casos estupendos de inflammação d'estas, ao ponto de caírem phalangetas, phalanges e quiçá radios e cubitos. «Não nos demorâmos sobre ella, porque pouco po- démos observar, bem como nada podêmos dizer do seu tratamento, que nos parece só poder ser assente por um estudo attento e prolongado. «À cheringoza, emfim, é um padecimento que, em- bora vulgar, não tem a gravidade d'aquelles já cita- dos, assimilhando-se muito, em nossa opinião, ao que vimos na costa do oeste, sob a designação de maculo. «Apresenta-se em geral precedida de grandes dy- senterias e logo ulceração do orificio termimus do appa- relho digestivo, vermes, etc., atirando com frequencia para a sepultura com a victima, quando se não sujeita a tratamento energico, de purgativos, cauterios e ou- tros que a therapeutica indica.» Chegou alfim o dia 23 de maio, por nós mdicado pa- ra a partida rio abaixo, e logo que amanheceu, prom- ptas as canoas que deviam transportar a expedição, nos embarcámos em companhia do commandante mi- litar e de alguns negociantes ali residentes, como Man- Do Zimbo ao oceano 319 teigas, (Goermho e outros, em direcção à embocadura do Panhame. Ahi se acha estabelecido o capitão mór Araujo Lobo, em bella e bem construida vivenda, onde nos recebeu principescamente, proporcionando-nos um dia de distracção bem agradavel; e tambem tivemos ensejo de ver gentes do norte, muizas e outros, que vinham trazer a noticia do fallecimento de um regulo do Nyvassa, e perante nós executaram dansas e me- neios, á feição d'aquelles que têem logar no Kazembe. Prolongava-se ante nós e por toda a riba direita do rio o paiz da Chedima, paiz que outrora fizera parte d'esse fallado imperio de Monomotapa, de que Ophir seria a capital, Sabá uma das suas rainhas, Salomão um dos exploradores do oiro, e começando por aqui, atirava com o seu limite oriental para Sofala no Ocea- no Indico, comprehendendo Barué, o Uzezuro, o Dan- de, a Manica, etc. D'essas grandezas, se existiram, não resta nem a sombra, divagando por ali tão sómente as tribus dos adimas, dos adenhas e outros, que conservam na tra- dição uma longinqua recordação de taes factos. E no emtanto o Zimbaué de Monomotapa devia ser grande, a sua côrte numerosa, a julgar dos titulos e occupações de que ouvimos fallar. E assim que se encontra o neuange (principe herdei- ro), os machinda e muana-mambos (principes e prince- zas seus filhos), a zingua (sua primeira mulher), as nº- handas (esposas nobres), mucarangas (concubinas), o navenanga (sorte de secretario do Monomotapa), o «i- mumo (commandante das forças), o n'tondo (sacerdote encarregado das ceremonias nas macanzas, aquelle que 520 De Angola á contra-costa dava a posse aos imperadores), o muenemuza (sorte de governador civil), os bimanze (escravos do imperador), e muitas distincções que seria longo enumerar. Foi na residencia de Araujo Lobo que primeiro ti- vemos occasião de ver e desenhar a physionomia de uma mulher do Senga, cujos beiços deformados pelo uso do Katoto, se alongam pelo modo por que a gra- vura do presente capitulo dará idéa. Da banda de áquem, as da Chedima seguem um. pouco o systema, mas não com tanto exagero, intro- duzindo apenas um botão de metal ou uma argola pe- quena a que dão o nome de pette. O uso de rasgar as orelhas para introduzir rodellas de marfim, argolas de metal e outros artigos é com- mum n'esta zona entre homens e mulheres, bem como as contarias são por elles muitissimo apreciadas. Em resumo diremos que os adimas se distinguem pelo modo por que agradecem os favores recebidos, batendo o pé com força e arrastando-o muito, ao passo que as mulheres fazem uma mesura quasi ajoelhando, dando de seguida grande palmada na nadega. Dormindo uma noite na ilha de Macata-cata, a meio do rio, passámos até ao dia 25 na residencia de duas novas auctoridades, Sebastião de Moraes, sargento mór do Macomo, prazo que pela sua posição geogra- phica merece toda a attenção, pois nos parece ser a chave da região aurifera do Mazôé e serra Macomo ': e Miguel Lobo logo a jusante. 1 Esta serra carecia de uma seria exploração, pois d'ella derivam to- dos esses rios de leitos auriferos, que tributam o Luia e Aroenha. Do Zaumbo ao oceano 221 Para o norte do rio e longe estirava-se a serra Mus- sendaruze, afamada pela sua riqueza em cobre. A 26, deslisando entre montanhas, pois tão acciden- tada e pittoresca; é a Chedima como a Senga, viemos topar com o Caxomba, fronteiro à aringa de Xaqua- niquira, regulo dos pimbis, desembarcando ahi, para por terra fazer caminho até Tete. Um simples golpe de vista nos evidenciou o estado anormal em que se achava toda a terra, pois não se viam senão libatas desertas, queimadas umas, destro- cadas outras, por toda a parte, com traços de lucta recente ainda. | | O governo ordenára, em virtude dos constantes rou- bos dos banhae, um severo castigo áquelles povos, que os capitães móres do Caxomba (Firmino), de Chicôa (Ionacio), e um certo Vicente José Ribeiro, o mesmo que primeiro encontrára o viajante Kerr em caminho para Tete, punham no momento em pratica. Nós porém, cansados de uma tão longa viagem, não nos achavamos positivamente em circumstancias de ir empenhar uma lucta, em que se agitava tanta gen- te, urgindo tomar todas as precauções. À minguada caravana havia gasto os seus recursos e forças com Jabores de outra sorte; fechar a sua car- reira com a guerra seria exigir-lhe muito n'esse mo- mento. Como proceder, porém, se para o sueste, e mesmo sobre o nosso caminho, é que a guerra contra Zuda estava mais accesa. O melhor que decidimos foi dirigir-nos ao quartel general das operações, Diu, residencia do capitão mór VOL. II. 21 322 De Angola á contra-costa Firmmo, e ahi aproveitar o ensejo da partida de al- guma força, para com ella ir em companhia, abrindo o caminho. À 29 estavamos ali, em meio de um brouhaha im- menso, de quasi mil cypaes, que para o dia seguinte muito felizmente preparavam o assalto á libata do re- gulo já fallado, topando cabeças de sobetos vencidos por todos os cantos por onde nos viravamos, e despo- jos das ultimas luctas travadas no noroeste. O paiz é falto de agua. No leito do rio Daqui, af- fluente do Zambeze, encontrámos a hulha, de que ha n'esta região um grande jazigo, que vae até Tete e alem talvez. N'uma serra proxima a Diu existe uma plantação de chinchonas (quina amarella), de cuja proveniencia não nos podémos dar conta. Os traços geraes do paiz são extremamente pittores- cos, os accidentes de terreno numerosos, as riquezas mimeraliferas grandes, no dizer de todos. Pela tarde de 29 passámos a ver distribuir muni- ções aos cypaes, e a 30 logo muito cedo nós abalámos com seiscentos d'elles, que deviam acompanhar-nos durante 15 milhas, e deixando-nos o camimho aberto para a direita, envolverem de subito pela esquerda a libata do regulo, ficando assim liberta a marcha á nossa caravana. | Não foi sem um sentimento de pena, que ao dia seguinte nos apartâmos, pois sabendo o fim a que se destinavam, e sobretudo ser um serviço do estado, sen- tiamos pruridos de com elles avançar e castigar de uma vez o rebelde chefe. D, Do Zaunbo ao oceano A) O risco de comprometter o resultado dos nossos trabalhos disso nos dissuadiu. D'ali até Tete o paiz torna-se menos pittoresco. À vegetação é pobre, a terra pedregosa, mdicando pelo geral muita seccura. Osrios areentos não têem n'esta quadra agua, vendo- se marcados por uma facha de arundo, a zona é de- serta, os matos povoados de tzé-tzé, a caça rara, o ca- lor grande. Rio Muze, Nhacanssassa, Canjeza, Nhanha Joanna, foram os pontos onde successivamente acampámos, bebendo a agua de sordidas cacimbas abertas na areia dos rios, até que a 4 de junho avistámos de novo o “curso do grande rio que atraz deixaramos, para en- trar agitado nos rapidos de Kabora-bassa!, e mais ao diante démos vista da villa de Tete, onde a caravana, pela uma hora da tarde, posta em linha, com o seu pendão á frente, deu entrada solemne, sendo saudada enthusiasticamente pelo governador Braga, membro “da sociedade de geographia de Lisboa. Estava por assim dizer terminada a nossa missão; as selvas, os matos, as feras, a fome, tudo havia termi- nado como por encanto, de um passo estavamos cer- cados de compatriotas, immersos n'um mundo meio civilisado. E ao ver o cozinheiro arrumar na grosseira moham- ba, com ar de desprezo, os pratos e copos de ferro, os gartos e os sujos cachimbos, exclamando: «Isto já não presta», tivemos um assomo de saudade das selvas do Lualaba. 1 Kabora-bassa, no dizer dos indigenas, significa, acaba o serviço. 324 De Angola á contra-costa Pouco a pouco nos habituámos. O pensamento e o brilho da civilisação europêa começaram de exercer em nós a sua fatal mfluencia, arrastando-nos; a corte- z1a hospitaleira do governador Braga, a graciosa bon- dade dos negociantes de Tete, Martins, Anacleto e ou- tros, a sua generosidade para com a nossa gente, o desejo de nos serem agradaveis emfim, tudo concorria para calmar e esquecer os soffrimentos da nossa vida atormentada. | Tres dias depois da chegada foi-nos dado um ban- quete, onde numerosos toasts se fizeram, e no dia se- guimte, tendo-se tudo aprestado, embarcou-se a expe- dição com destino ao mar. A viagem d'ahi até ao Mazaro é assás conhecida para que della aqui fallemos. Para baixo de Tete o rio desenrola-se magestoso com 800 metros de largo, e engolphando-se no passe da Lupata, contorce-se entre serranias aprumadas, alastrando para alem nas planuras de leste. A côr das suas aguas, a vegetação marginal, a mul- tidão de ilhas, os cerros que ao longe se projectam azues no panno dos céus, volveram esses dias de des- cida pelo rio dias de suave descanso e distracção para nós, consentindo cogitar e comparar o viver de agora com aquelle junto ao curso do Luapula. Adiante a sua largura é tal, que difficilmente o via- jante seguido em embarcação póde d'ella dar-se conta. O leito é limpo, e embora em logares não seja pro- fundo, póde ser muito bem navegavel, em quasi todo o anno, por embarcações que não demandem mais de pé e meio de agua. Do Zaumbo ao oceano 928) É mesmo possivel que um estudo continuado da profundidade e regimen de aguas venha de futuro a mdicar passes mais profundos e vantajosos 4 navega- ção. A Avançavamos sempre, já longe nos ficava a Lupata, as ilhas multiplicavam-se em nossa proa, acampando n'ellas pela noite; Senna estava á vista, com o seu aspecto tristonho, encravada entre pantanos, só espe- rando uma ordem para transpor o rio e assentar na Manganja de Pedra chamada, logo o Chire desembo- cava a jusante, marcando o seu apparecimento com a Psistia stratiotes, erguendo-se-lhe pelo o oriente o for- midavel morro Murrumballa, cujo vulto imponente as- sombreia as campinas suburbanas; emfim Mazaro avis- tou-se. | Um sol glorioso illuminava esta paizagem, uma bri- sa fresca e mareira rociava-nos os bustos carregada de aromas marmhos, milhares de aves esvoaçam, entre as quaes não menos de emco variedades de rollas, a Kucupoé (côr de tijolo), a Kiná-usaro (rolla commum), a Katunduro (rolla de cauda), a Nidimiga (verde), e a Bampe (de pequeno vulto), de envolta com tutimegras (Nhadwumbos), e outros passaros. Demorando-nos apenas o tempo necessario para ar- ranjar embarcações, entrámos a 24 de junho no rio Cuá- cuá, e a 26, pelas quatro horas da tarde, após uma na- vegação por lameiros, avistámos Quelimane, assente na margem esquerda, e numerosas embarcações fun- deadas. Ninguem nos reconhecêra ao desembarcar, pois, tis- nados do sol, com os fatos enxovalhados e rotos, a 526 De Angola á contra-costa longa barba, e uns farrapos brancos enrolados á ca- beça, mais pareciamos mouros do Zanzibar, que com- patriotas d'aquelles que lá residiam. Augusto de Castilho, o governador geral da provim- cia, achava-se casualmente al, de volta de uma das suas primeiras excursões ao delta do rio, e recebendo- nos de braços abertos, saudou-nos em nome do paiz. Algumas horas de navegação a bordo do paquete Dunkeld, do commando do estimavel Broadfoot, nos. transportaram d'esse ponto á embocadura que nos abria a porta do azul oceano, essa estrada e dominio do homem civilisado, e vinte e quatro horas depois fundeavamos em Moçambique. A nossa gente, já vestida de matizadas cores, de- bruçava-se da proa, admirada de como o mar podia ter tal extensão, que banhando Angola, ía tambem banhar Moçambique, ao passo que nós meditavamos na tenacidade dos musculos da humana perna, que havendo sido postos em movimento n'aquella provim- cia, haviam sem cessar funccionado até esta, na exten- são de 4:500 milhas geographicas. AS DIVAS DA EXPEDIÇÃO ÃO REPATRIAR-SE APPENDICE QI aa bu y / ço. tur ? " E E o EE Ain qd ; s Du PAD Ipea Es " go o o RE PRE A nai! Hesms: Re (4 Cê e h o Eds 7 Prata 'res PRE ça a é dista o E A S pe! o p. vio IS, te À Ê ar, Me e J é Suazrreora ZA Escala de z JovodTo E Eu EO A Zé E detircenvo Dissemos no capitulo x1 que, se o tempo nol-o per- mittisse, volveriamos a escrever duas palavras ácerca do homem africano. Não é sem escrupulo que ora o fazemos, não só pelo receio de entadar o leitor com assumpto que só imteressa aquelles avesados á espe- cialidade, mas porque não se acha elle completo, como - desejavamos fazel-o. Sem embargo dois traços ahi ficam do nosso modo de ver a este respeito, que bem podem deixar-se es- quecidos, a titulo de sciencia de appendice. Africa era o nome generico que os romanos davam aos paizes hoje correspondentes a Tunes e Tripoh, e este termo era identico, segundo Servio, grammatico do 1v seculo, a apricus, exposto ao sol, e apricari, aquecer-se- ao sol. À raiz d'esta palavra é ric, fric, fogo ou calor, que se encontra no chaldaico mn (ha- rac), quemar; no hebraico ==> (barag), relampago; no grego gpuxrês; no latim frictus, assado ao lume. 330 De Angola á contra-costa Tambem se poderia, na opinião de Bergier, achar uma etymologia mais simples, suppondo que Africa se deriva de afer, que significa rôxo e queimado, a sua raiz é phar, far d'onde se formaram o hebraico “sm (chafar), ruborisar-se, envergonhar-se; o grego rip e mopyvpa; O latim purpura e pyra. Bochart pretendeu ainda derivar Africa de poa (pheriq) espiga, em virtude da abundancia do trigo que cresce ali; uma tal fertilidade porém não nos pa- rece bastasse para a differençar de outras provincias como a Sicilia, que mais lhe cabia este nome, pois mereceu a designação de celleiro do povo romano. Alguns grammaticos latinos emfim opimaram que Africa se formava de « privativo de gpixn, frio, tremura, porque, diziam elles, nunca se treme de frio na África; etymologia esta forçada sem duvida, pois o cume do Atlas está sempre coberto de neve, d'onde sáem rios cujas aguas são frigidissimas, e que os romanos bem conheciam. Os hebreus davam aos africanos o nome de pb (lubim, loubim), derivado de loub, que significa o fogo, o calor, a sêde. Os gregos chamavam os Ava, e os latmos Libyes, sendo estes os povos que elles consi- deravam aborigenes de ali, como se infere de phrases de Sallustio, proconsul da Numidia quarenta e cinco annos antes de Christo, que diz no capitulo xvrr da Guerra de Jugurtha: Africam imitio habuere Geetuli et Labaes. Não fallando porém nos egypcios, cuja civilisação é muito anterior à dos romanos e mesmo à dos gregos, cuja situação na parte nordeste do contmente africano Appendice So marcava sem duvida o ponto inicial por onde nas epo- chas mais remotas se deviam ter feito as incursões dos povos primitivos, amda os romanos distnguiam ou- tros povos na Libya ou Africa propriamente dita. Assim no extremo oceidente do htoral Mediterraneo estavam a Mauritania Timgitana, correspondendo ao imperio de Marrocos e a sua capital era Tmgis, hoje Tanger. Occupando uma parte da região da Argelia achava-se a Mauritania Cesariana, que entestava com a Numidia, reservando-se ultimamente o nome de Afri- ca á pequena porção norte de Tunes. D'esta provincia até ao Egypto estendia-se a Cyrenaica ou Pentapole e a Libya propriamente dita. Nas Mauritanias dominavam os mauritanos, mau- rusios ou mauros; no interior para o sul estendia-se a Getulia, onde residiam os getulas, que primeiro tmham estado na Numidia, d'onde haviam tomado o nome de numidas, isto é, nomadas. Os getulas, que alguns quizeram fazer descendentes dos getas que habitaram no actual territorio da Ruma- nia antes da invasão dos barbaros no imperio romano, evidenciavam pelo geral os caracteres anthropologicos que amda hoje se reconhecem nos kabylas louros. E muito embora Sallustio nos diga que entre os li- byos e os getulas tinham vmdo estabelecer-se arme- nios, medas, persas e outros povos, e se saiba mesmo que quatro seculos depois de Sallustio vieram os van- dalos, que tmham partido da foz do Oder e do Vistula, estabelecer-se na Mauritania e Numidia, parece com- tudo que a presença da raça branca na Africa data de mais remota antiguidade. 5952 De Angola á contra-costa Efectivamente os annaes egypcios quatorze seculos antes de Christo mencionam com o nome de Tamahou, libu-tamhu uns povos habitando ao oceidente do Egy- pto, e que são descriptos e representados como des- cendentes de immigrantes louros, dolichocephalos, que em epochas prehistoricas se tinham apresentado no grande contmente. Estes povos, legitimos antepassados dos berberes e kabylas, e como elles dolichocephalos quasi no limite da sub-dolichocephalia, eram chamados pelos romanos cetulas atlantes, para os differençar dos povos que ha- bitavam para o sul do Atlas, que designavam então pelo nome de melano-getulas ou getulas pretos. Ao nascente da Getulia estavam os garamantas, cuja capital Garama deixou vestigios em Gherma no Fez- zão, e talvez no nome do remo do Baghirmi, que pro- ximo fica do lago Tchad, bem como ao sul dos getulas e melano-getulas estavam os ethiopes ou nigriticos do rio Nigris (Niger). O methodo da extracção do vmho é differente do dos imbondas, que sobem á arvore para encherem em VOL. IL 24 570 De Angola á contra-costa cima as cabaças, emquanto elles cortam a arvore pela raiz, deixando-a deitada no chão dez ou doze dias an- tes de extrahirem o cubiçado liquido. Abrindo então dois buracos quadrados, um no topo, outro ao meio, de cada uma d'ellas, tiravam de manhã até 4 noite uma cabaça, que cada arvore ía fornecendo assim durante vinte e seis dias, ao fim dos quaes se esgota e secca completamente. Em todos os logares em que se demorassem algum tempo cortavam arvores que chegassem para se for- necerem de vinho um mez, e ao expirar d'este praso, tornavam a cortar igual numero, de modo que em pouco tempo assolavam todo o paiz! Jamais se demo- ravam n'um logar senão emquanto encontravam pro- visões, e no tempo da colheita estabeleciam-se na re- gião mais fertil que podiam descobrir, para fazerem a apanha e roubarem o gado alheio; visto que nunca plantavam, nem semeavam, nem creavam rebanhos, e a sua subsistencia era sempre feita com o producto das constantes rapimas! j (Quando atacados conservavam-se na defensiva, e deixando dois ou tres dias ao mimigo para abrandar- lhe a furia, vinham alfim pela noite em emboscada a aleuma distancia do acampamento, e no dia segumte, lançando-se ao assalto, carregavam-no furiosamente, por dois lados, que de subito, não se podendo defender contra a astucia e a força combinadas, lhe caía, triste- mente nas mãos. Kalandula, ao serviço do qual Batel esteve, tinha cabellos compridos, ornados de conchinhas e usava um collar das mesmas, assim como à emtura trazia penden- Appendice eta tes ovos de avestruz e uma tanga feita de palmeira tão fina como seda. O seu corpo era marcado com varios desenhos, e todos os dias untado com gordura de gente, tendo alem d'isso atravessado no nariz um pedaço de cobre de duas pollegadas de comprido, e o mesmo adorno nas orelhas. À negrura do corpo estava encoberta por vernizes vermelhos e brancos. Invariavelmente era acompanhado de vinte ou trinta mulheres, das quaes uma trazia o seu arco e as suas frechas, e outras quatro, as taças de que elle usava para beber, ajoelhando-se quando elle bebia, e com as mãos batiam palmas, cantando. Usam as companheiras dos jageas o cabello disposto em altos topetes, entremeados de conchas, e conside- ram uma belleza ter quatro dentes de menos, dois em cima e dois em baixo. Às que não téem animo de os arrancar, são tão pouco estimadas que nem querem comer nem beber com ellas. O pescoço, braços e per- nas são cheios de collares, braceletes e manilhas, e em roda dos rins usam um panno de seda. São fecundas, mas nas suas marchas os homens não consentem que ellas criem os filhos, enterrando-os assim que véem a luz. Pal era a rasão por que estes guerreiros errantes morriam ordinariamente sem pos- teridade. Apresentavam como argumento favoravel deste procedimento o não quererem ser importunados pelo cuidado de crear os jovens, nem retardados nas suas digressões sempre precipitadas. Se acontecia, porém, tomarem alguma povoação, conservavam os rapazes e raparigas de doze ou treze É DA De Angola á contra-costa annos, como se fossem seus filhos, matando-lhes os paes e as mães para os comerem. Com elles andavam estes, acompanhando-os nas suas incursões, depois de lhes terem posto um collar, que era o distmctivo da nova condição, e que haviam de trazer até terem provado a sua coragem, offerecen- do ao chete a cabeça de um mimigo. À marca da sua mfamia desapparecia então, e, de- clarado gonso, quer dizer soldado, gosava de todas as regalias dos seus companheiros. E ainda Battel que indagou que em todo o acam- pamento não havia mais de doze jaggas verdadeiros, nem mais de quatorze ou quinze mulheres da mesma nação, em vista de terem deixado a sua patria havia mais de cimcoenta annos, tendo o exercito occasião de ser renovado mais de uma vez. No campo eram em nu- mero de dezeseis mil, e este numero ás vezes augmen- tava por novas encorporações. Bem estranhos eram seus costumes. Assim Kalan- dula nada emprehendia importante sem primeiro fazer um sacrificio ao diabo. Antes de nascer o sol tomava o seu logar com muita pompa, e havendo ornado a cebeça com pennas de pavão, collocava de cada lado um feiticeiro; cercando-se de quarenta ou cincoenta mulheres, que formavam circulo á roda delle, tendo na mão uma cauda de zebra, que ellas sacudiam can- tando acompanhadas pela musica. No centro do circulo accendia-se uma grande foguei- ra, sobre a qual collocavam uns pós brancos dentro de um vaso de barro. Os feiticeiros começavam por se servirem destes pós, para pintarem a testa e as Appendice (o fontes do grande chefe, e acto contínuo pintavam-lhe o estomago e o ventre ao travez, com encantamentos e ceremonias enfadonhas. E logo lhe apresentavam o seu Kasengala, especie de arma muito parecida com o machado, recommen- dando-lhe que não poupasse os inimigos, porque ti- nha comsigo O seu moquisso. Depois traziam-lhe uma creança do sexo masculino, que elle immolava immediatamente. Esta primeira vi- ctima era seguida de quatro homens, que elle tambem feria para os matar, e que, se não morriam do primeiro golpe, eram levados para fóra do acampamento e aca- bados por outras mãos. Quando estava para começar esta carnificina, os fei- ticeiros ordenavam a Battel que se retirasse, porque elle era christão, e o diabo, diziam elles, ía apparecer- lhes. Para ultimo acto de tão barbara tragedia, o grande senhor mandava degolar cinco vaceas dentro do acam- pamento e cinco fóra. Tambem era immolado igual numero de cabras e de cães. A fogueira era regada com o sangue, e os corpos devorados com muita alegria. A mesma festa era ás vezes celebrada com identicas ceremonias, pelos outros chefes do acampamento, como já fallâmos em nosso livro «De Benguella ás terras de Jacca», refermdo-nos ao jaggado de Cassanje. Para enterrarem os mortos, esta gente fazia uma sepultura, na qual collocava o cadaver sentado, depois de lhe terem muito bem disposto o cabello, lavado e como que embalsamado com pós odoriferos. Na sua ul- 314 De Angola á contra-costa tima morada são mtroduzidas duas das suas mulheres, que se sentam ao pé d'elle, e tambem as suas armas, que são quebradas no mesmo sitio. Depois enche-se a sepultura de terra. Os que morrem na terra d'elles, são inhumados da mesma fórma, mas põem com elles na sepultura os seus utensilios domesticos. Podos os mezes os paren- tes do defunto se reunem no logar do descanso tres dias, e fazem libações de sangue de bode e de vimho. de palmeira! Este exagerado devaneio com relação aos jaggas não deixou de ter o seu logar ao acharmo-nos para resumir o que temos dito sobre os homens de Africa, e vem a ser, que se é grande a confusão antes dos tempos historicos, se essa confusão continúa por secu- los a ter logar na constante mistura das populações do vasto contimente, não concorreram menos para a ageravar por ultimo os jaggas, nas marchas monumen- taes que fizeram pelos sertões. Cortando e recortando territorios em diversos sen- tidos, rechaçaram povos, conquistaram terras, bara- lharam populações, que dirigidas tambem por varias maneiras vieram alfim a confundir-se no labyrintho, que forma o facies actual que conhecemos, e que mais principalmente ao sul do equador se torna mdiscri- minavel, pela grande similhança que ha entre n'golas, bangalas, dámaras, amboellas, betchuanas, e mesmo cafres, etc. | 1 Em nosso livro «De Benguella às terras de Tacca», fallâmos de facto similhante com relação ao soba de Kimbunda. Appendice 315 Podem e devem, como apontámos, ter alguns d'es- tes povos origens bem differentes; ao presente, porém, o elemento syro-arabe lavrou por elles, de modo que difhicilmente se podem discrimmar. A verdade é que deve ter existido espalhada pelo continente nos tempos historicos uma população auto- chthona bastante densa; que essa população, quanto a nós, ainda é hoje representada pelo typo ba-chequelle, bushmen, fans, tikka-tikki, etc., muito embora a côr, o comprimento dos cabellos e sobretudo a conformação crancana divirjam por vezes, pois são isso variantes m- “troduzidas, ou por subito elemento estranho, ou pelo modo de ser de meio e de vida especial; que cercada e dispersada pelas raças invasoras, se mostra hoje como verdadeiras ilhas no meio do oceano agitado que as cerca, e a todo o instante ameaça engulil-as; e que, pe- “los caracteres especiaes que se lhe notam, parece ter affinidades com os povos que na noite dos tempos po- voaram o Egypto. A Arabia foi a porta muito naturalmente aberta para as invasões, e desde o Suez até ao Guardafui der- ramou-se pela Africa o sangue syro-arabe, primeiro na zona limitada pelos parallelos dos dois pontos im- dicados. De mistura com aquelle dos habitadores naturaes em boa parte, originou as primeiras populações que citámos, vindo a constituir mais tarde os typos generi- cos que conhecemos. | Depois, por um natural movimento de expansão, começou de alastrar-se para o sul esse estupendo ag- glomerar de gente, que, ora buscando as zonas que 576 De Angola á contra-costa mais os attrahiam e adaptando-se a ellas, ora percor- rendo em correrias os vastos sertões que os cercavam, foram entrecruzando-se, formando populações mais ou menos sedentarias. Nas grandes depressões e no valle dos rios crea- ram-se typos especiaes de homens pequenos, rachiti- cos, suspeitosos, de Imguagem pouco euphonica; nas montanhas, nos elevados plateaux, fizeram-se os ho- mens destros, desenvolvidos, guerreiros, dados á aren-. ga e sempre promptos a soltar-se dos cimos onde resi- diam para esmagar os habitadores de baixo. Pouco a pouco começou o movimento, e com elle a derivação a camimhos differentes destes ultimos, em ocrandes emigrações, muito principalmente pela costa oriental. Pela propria parte, os habitadores de origine, ou to- ram soffrendo a sorte de vencidos, ou, para escapar a ' ella, começaram um movimento de retrocesso, bara- lhando-se por sua vez populações puramente centraes com outras affeitas aos litoraes. Foi então que de redor do Koenia e do Kilima se despenhou a mais monumental das torrentes; que não devemos só cifrar no recente movimento dos jaggas, mas acreditar que começou n'uma epocha bem ante- rior, de seculos talvez; e que operaram na superficie do contmente uma completa revolução, deixando proxi- mamente a actual condição ethnologica. Pudo se mexeu durante esses tempos de convulsão, e povos que habitaram a bacia do Congo foram atira- dos para a Guiné e Congo imferior para dar logar a imperios como a Anzicana; outros, que possuiam a re- Appendice en ojão lacustre, abalaram para os substituir em paizes como o Unyamuezi, Unyaniambe e outros. Gentes pro- ximas destes transpozeram o Zambeze para fundar Abutua, Monomotapa, ete., que zimbas reconquista- ram e refundiram em Changamira e terras de zulos, derivando para o oeste grupos, que vieram em nossos dias chamar-se batchuana, basuto (cafres do plateau), e tantos outros. Pelo oecidente uma fórma similhante seguiram as cousas, e alem das gentes origimarias, como os mat- chena e tantos outros desconhecidos, surgiram os n'go- las e a Matamba (será o mesmo Mataman, e como tal a terra dos damáras, onde em seu tempo remou Humbi?), e ainda quantos são hoje conhecidos. E 1 -] ) | i; ais E AN Ração “Prá X » - E ) É po tua Ed aire he rar Am j + t ' mit ei F f L . dd DE ta je ) ' ' n h y - r . = E A] . v , Ea ] 1 RO Ty - x . f | < Do mit ! 5 po 1 nho, ” É . a 1 » á 4 M 2 H a. ,, , ) . z - > j é - ; x m ço La nad ! à 2" F res a v À : K q p? apo E ) ! 1 = E 1 , 4 =» TAM É lá . EEN Ê ã, . É- . A EXPEDIÇÃO NO Q Segund BOA ESPERANÇA phia A EXPEDIÇÃO NO CABO DA BOA! ESPERANÇA Segundo plilgraphja zmímiíãzíçess"2õs8zãõã m OBSERVAÇÕES SCIENTIFICAS FEITAS DURANTE A TRAVESSIA DETERMINAÇÕES GEOGRAPHICAS 382 ELEMENTOS Datas Maio 3e4 q 9 10 Junho 1 19 Posições Mossamedes Porto*Binda a S. Bento do Sul. ... Rio Coróca (a) ..... Garganta do Diabo | Giraul o e crie teria Pedra Pequena ... Fazenda Nascente... Capangombe....... Eluilla:.=;s vo lojo etecoveréro | Leva de Nampumba | Quipungo- Ji. | Lugho Caculo-Bale ....... Huilla Capiangar- Rr GamboskR rr | Cahamal RE Elim ea Moi Doangue cc... Alturas meridianas o) Do lh 76.35.38 79.23.02 69:29:95 > 69.00.11 2.19 58.30.32 4 57.44.38 5 57.20.53 56.20.24 55.30.10 « 69.37.26 O) Dir.- 162,57 Distancias zenithaes « | Inv. - 248,20 | OR IO) 50.83.43 Dir. - 160,7 Distancias zenithaes « | Inv.- 250,4 o HH 49.58.97 fo] Horas LS 29.48.00 pe = 11.23.32.00 9.03.53.30 4.06.22.00 11.14.87.54 4,05.49. 7.50.12.00 bo [elo] 37.05.00 7.02.24,30 8.39.57.00 Estados Sub. 1.41.14.45 » 1.41.23.33 » 1.41.53.45 Sub. | 1.42.34.55 » 1.42.51.85 >» 1:42:59.99 Sub. | 1.43.24.592 Add. | 1.24.49.41 » 1.26.02.59 valo, | A atol 226. 0) plol y [e 29.50.41 y [e | (a) O ponto a que se referem as coordenadas, é o que se acha na carta com a designação : Volta 385 OBSERVADOS Alturas Azimuths , HH o 30.40.19 63.16.44 26.59.27 37.03.06 23.06.10 12.19.48 321,8 64,75 Latitude DIR, 1a 245830) 15.44.40 15.49.25 16.16.40 16.18.03 15.05.00 15.23.33 15.27.54 15.46.05 16.16.41 16.42.00 16.19.58 Longitude Observações 12.13.00 12.51.52 14,04,24 14.18.18 15.00.24 15.19.40 A longitude tem para latitude calculada 16º.17/.11/1 da Garça. 384 Elementos Datas Posições Alturas meridianas Horas Estados Junho o Tim hm s piims E 22 Quiteyen O 90.17.31 7.45.34.00 | Add. | 1.30.20.11 30 Mucandona. ....... x(6 79.59.31 0.51.44.00 | > 1.31.39.11 lh suo Dir. -161,98 2 Elan dia roer tee Distancias zenithaes « — == = Inv.-248,75 BRA E ; 5 Quimpollo. cr. O 91.40.08 11.52.59.30 | Add. | 1.32.30.41 10 Cubano RE > 52.24.57 0.49.35.00 > 1.33.23.41 Dir. - 163,8 13 Daquilunda ....... Distancias zenithaes « 0.09.41.30 ) TESS lol Inv. — 246,95 (o fo HH 16 Moi Mionga si O 92.96.16 7.39.49.00 > 1.34.24.41 19 — > 99.19.01 — — — 21 EqUeD Or as tofers reter o > 53.99.14 7.31.48.30 | Add. | 1.35.12.41 25 Mana-Cangonda ... , 54.11.52 0.21.51.00 > 1.35.56.41 | Dir. - 167,44 31 LENTE) o sos ns ao Distancias zenithaes | 11.29.40.30 > 1.36.59.11 Inv.- 243,52 Agosto [ea o ll õ Moi Cuando... -=-.. IO) 57.01.26 11.18.09.30 > 1.37:49.11 9 Cumass ci > 58.18.07 0.06.04.30 ) 1.38.29.41 Dir. -173,54 17 D. Abengue........ Distancias zenithaes 11.26.35.30 2 199.008 Inv. -— 237,43 | ( Dir.-175,94 22 Rio! Curtiss ja uso | 10,55.35.00 > 1.40.43,41 Inv.- 235,05 Ê | Setembro | Di 179,13 JL Calungo-lungo ..... | 10.51.47.30 2 1.42.13.41 Inv.-231,23 | | Dix -182,39 8 MoliMiuindals Re > | 11.17.00.80 , 1.43.13.41 Inv.- 228,57 0 [ a 12 Eibonta RR IO!) 70.47.06 1135.13.30 > 1.44.09.41 (| Dir. - 187,27 18 Riolo atire Distancias zenithaes | 11.27.48.30 > 1.45.03.11 Inv. - 223,07 | Dir.- 189,81 28 Moi Cafuta ........ | 11.05.50.30 | >» | 1.45,53.41 Inv. - 221,13 [o IH , 28 À AS Dto RS PRA E CEA (+) 78.21.14 | 18.57.20.00 » 1.46.35.41 (ebxo Go A observados Alturas Azimuths Latitude | Longitude Observações E RO LN! do pe o o) O | 424427 = 16.00.45 |" 15.18.56 > 26.46.30 — 15.41.01 15.42.32 — — — 15.47.34 — IO) EMES IA — 15.20.30 16.14.19 Latitude à hora do caleulo 15º.17/.42!! » 27.01.37 — 15.09.59 16.58.51 Latitude à hora do calculo 15º.10/.59/! » 34.22.48 — 15.24.53 17.20.58 > 45.24.18 59,0 15.32.21 17.42.45 — — — 15.47.29 — O | 45.04.19 = 15.50.07 | 18.08.34 > 32.08.52 — 16.01.23 18.11.24 Latitude à hora do calculo 16º.05/.53!! > 42.05.34 — 15.51.53 | 18.43.47 > 44.20.02 — 15.54.52 MOSZiEDo > SI SU) 321,9 15.45.56 19.42.59 » 44.00.03 Ad! 15.16.09 20.25.30 >» 90.28.51 329,0 14.45.37 20.51.49 >» 91.33.99 324,8 14.52.07 DID. DD 46.04.15 — 15.04.20 22.56.00 > 41.55.51 - 15.01.25 23.13.15 >» 43.46.01 | — 14.30. 1% 23.27.00 > 48.35.27 — 14.09.52 23.59.00 - 65.15.00 | 84,4 | 13.39.56 | 24.21.00 Elementos Datas Outubro Novembro 19 Dezembro 29 1885 Janeiro Fevereiro 24 24 Março Abril 4 4 MonCahetal en Candombe. FE Loengue (perto do).. Cabacos pia MEN DNOS sngo Dados Musiri Musiri Elephante ......... Lubumbaxe Calassa Eritub O et Moi Kinhama ...... Moi Kinhama... ce. uapular Rs Lubemba Conf..... Lubemba Conf. .... Caminho de Chué .. Caminho de Chué .. Cutumunatdds o pn NºTenque (Iramba). N'Tenque (Iramba). Alturas meridianas Distancias zenithaes | AGE ) Distancias zenithaes | Distancias zenithaes | Dir. - 196,25 Inv.- 214,69 OR 62.59.27 Dir. - 201,78 Inv. -209,16 1 o to =1 [7 [ST] 1 [92) [e] pa 04.30 82.10.12 77.29.04 Dir. - 190,47 Inv. -— 220,00 78.28.44 Horas uia fé 10.21.41.00 17.09.08.30 6.45.48.00 19.04.09.30 2.31.29.00 3.92.11.00 10.20.15.00 10.49.18.30 11.04.28.06 22.49.42.00 22.56.44.00 22.34.16.00 23.34.38.90 3.59.14.30 5.46.03.30 19.52.49.30 Estados Ins dt >» 1.47.41.00 » 1.48.44.11 Add. | 1.50.14.23 >» estao rta dl Sub. | 2.10.08.54 Sub. | 2,11.16.44 Add. | 2.04.01.41 » 2.04,38.11 » 2.05.595.11 Add. | 2.14.45.20 >» 2,14..45.30 >» 2.15.49.02 Add. | 2.17.00.07 >» 2.18.46.41 Sub. — Add. |Porodioiis» observados 387 Alturas Azimuths Latitude | Longitude Observações aro Ih) ORI 0. til io) | 58.30.32 — 13.00.00 | 24.55.55 > + 44.07.37 104,6 12.38.01 25.25.44 “” = = — 12.10.01 — O 70.20.06 111,45 11.54.00 26.88:10 | À latitude é Rising. > 75.16.01 = 11.22.20 | 26.54.32 >» 93.30.50 — 10.46.41 26.99.11 = = = 10.23.12 = io) 39.47.52 = Es 27.14.10 e = = 11.32.42 = IO) 97.00.21 = 11.36.31 | 27.46.00 > 50.29.24 263,2 11.06.52 | 27%,.39.10 > do — 11.47.19 28.05.37 OR Dir. —- 284.42 io) 49.30.00 11.35.54 | 28.32.50 E Inv. — 104.50 | Dir.- 284.51 A > 49.05.42 ss — | Inv.- 105.54 >» 46.19.55 289.36 11.38.20 28.36.00 q a — 11.54.07 28.34.00 O | 50.26.42 | - 11.54.07 | 28.34.39 > | 33.26.06 | = 12.14.95 | 28.52.03 | À latitude à hora da Jongitude 12º.14/.85/! ia, = — — | 12.14.35 | 28.52.08 O | 40.59.42 | - 12.06.00 | 29.00.00 IO) 93. d.02. | — 13.25.20 28.11.08 o) 70.27.07 — 13.11.48 | — | o o 38 Datas Posições Abril 5) Moi Kimfumpa. .... 10 Serra Lupampa .... 18 Liteta; seno cs 26 Cayundas Maio 4. ID OR e 3 Zum po E 29 De feto feras AS re Junho 5 DOte. sr sinos era 6 MELe missa as 9 Meter Pe eita and 22 Quilimane RE Elementos Alturas meridianas Dir. - 183,06 Distancias zenithaes Inv.-227,45 | Dir. -180,51 Inv.-230,00 | Dir.-176,81 Inv.-234,27 Dir. - 172,44 Inv.-238,15 | Dir.- 169,78 Inv.-240,81 Dir. - 163,30 Distancias zenithaes Inv.-24 ( Dir. - 161,86 Distancias zenithaes Inv. -248,76 Horas ho msg 23.16.17.00 | Add. 21.55.23.30 22.32.13.30 21.51.04.00 22.13.35.30 21.45.40.00 21.50.08.30 23.11.10.00 | Add. N. B. As distancias zenithaes acham-se expressas em graus centesimaes. Estados 2.23.02,38 2.25.16.46 2.26.40.54 2.28.16.27 2.31.32.10 2.32.03.43 2.36.11.46 Alturas Dt o 33.00.11 47.13.55 36.99.56 42.19.97 36.12.57 97.28.01 34.48.11 Azimuths 326,24 Latitude 14.52.09 15.40.36 17.: -1 OQ pa He Fa observados 34 A) | Longitude | Do 1d) 28.13.46 28.58.43 99.92.38 Observações A latitude à hora da longitude 13º59/12/! 9 OBSERVAÇÕES MAGNETICAS SJ 2 MAGNETISMO : Temperatura Longitude E. | Altitudes Datas Localidades Latitude S. E a na — media reenwic : metros da barra 1884 O! O o Mairgop lo Porto Pinda) 15.44 11.51 4 23,8 2 Nopull doando Li Mossamedes 15.13 12.09 6 — | 7 | Leva Nampumba....... 15.00 13.08 1728 — Varios 4 22 Era Tape A 15.05 13.25 1728 25,5 | 1 [Silos Go ago av oo op Bec 16.42 15.00 106% 26,1 JUDO. oiee io ( OA Quieres e are 16.01 15.19 1110 24,0 Julho err 1 16 | Muene Dionga ......... 15.32 17.42 1188 26,1 | Rio, spo ssb ass ane 15.45 19.43 1198 26,0 ALOsto =... ( (620% Rio Cu pr 14.46 20.59 1081 28,1 2º E Calungo-lun£o) a 14.52 21.56 1032 29,8 Setembro.... |-28| Bio/Cabompo. . cus aoo 13.40 24.21 1071 34,5 Outubro. ...| 13 | Rio Mumbeje .......... 12.33 25.26 1217 LS Novembro..) 3 | Muene N'Tenque....... 11.22 26.55 1260 26,5 Dezembro ..) 17 | Muene NºTenque....... 11.22 26.55 1260 = 1885 Jameson on Calassan 11.07 27.39 1260 = 2 NbwEjdiE soco avo on ooo 11.36 28.33 1070 25,0 Bleyereixo:. 4 20 | Euapula;. ei. efe ara 11.36 28.53 1070 28,2 23 | Moi Rinhamas 11.36 28.33 1070 27,0 IMAGO je ara 0220) apela iate oro aj os in toede 12.15 28.52 1167 28,1 | (DNS) Go poco poa dos 13.30 28.08 1197 28,5 April cc. On teta 14.52 28.59 4983 30,0 | Pl ANA apos do ob ar 15.41 29.18 344 30,1 | Mo (AUD O qe no dogetopeio o pc 15.38 30.21 365 30,0 Malla er ada é (Bu e seca re 15.88 30.21 365 - ABV KO 5616 io ) So ILS ao ap amp oo adia oo 16.10 35.595 163 31,9 (a) Correcta do effeito da temperatura e reduzida a 13º.5 ec. (b) Barra Hs. (c) Barra Ha. TERRESTRE Duração Força horisontal Forca total de uma Inclinação Declinação oscillação s. NW. (a) Gus: Unidade ingleza C.g.s. Unidade ingleza | | s (DM OU! (db) 3,0153 0,2544 9,0838 0,9147 6,8269 41.52,2 22.06 = = - — — — 21.58 = a — — — — 21.17 2,9889 0,2387 9, 1776 0,9183 6,9039 41.24,8 — 2,9778 0,2405 5,2173 0,8315 7,1926 43.30,0 21.25 3,0002 0,2369 5,1390 0,3264 t,0811 43.28,1 22.18 3,0001 0,2370 5,1420 0,3275 7,1035 43.837,95 20.26 3,0000 0,2371 5,1426 0,8339 7,2433 44.45,9 18.31 2,9944 0,2981 5,1647 0,3306 T,ITOSL 43.55,5 18.28 2,9765 0,2411 5,2301 0,3592 T,2717 44.00,6 19.36 2,9562 (1,2447 3,5088 0,3380 7,3319 43.36,6 — — = — = — — 15.42 28882 0,2559 5,5523 0,8424 7,4981 41.87,2 = tas E A = =: < 14.41 e = — — — — 13.91 2,ST8I 0,2578 5,5920 0,8456 TANTA 41.45,9 = (e) 4,1972 0,2538 5,5061 0,3427 7,4236 42,12,5 = 4,1750 0,2565 9,9627 0,3469 7,59256 42,20,3 15.24 4,1625 0,2581 5,5979 0,9508 7,6103 42.38,7 — 4,2550 0,2471 2,9997 0,9441 7,4645 44.06,6 — 4,2900 0,2432 9,2752 0,3535 T,66T4 46.31,7 — 4,3150 0,2404 5,2149 0,9486 7,9612 47.23,1 17.38 4,8151 0,2405 5,2157 0,3503 7,5992 47.39,5 — = — = = = — 18.20 4,5100 0,2411 9,2913 (01,3651 7,9197 48.59,5 — NOTA SOBRE A METEOROLOGIA E MAGNETISMO As observações meteorologicas durante a viagem foram feitas nas epochas diarias seguintes: às seis horas da manhã, ao levantar o acam- pamento; às sete horas da manhã de Washington (0h.8' de Greenwich), e às oito horas da noite. As temperaturas maximas e minimas foram lidas às seis horas da ma- nhã, de modo que a maxima foi sempre attribuida ao dia anterior, cor- respondendo à maior temperatura que teve logar depois da hora a que se acampou (geralmente entre a uma e as tres horas da tarde). Quando o estacionamento se prolongava por muitos dias, faziam-se ordinariamente quatro ou mais observações diarias. As observações magneticas da componente horisontal e da inclinação executaram-se ordinariamente entre as duas e quatro horas da tarde, quando o acampamento se demorava por mais de um dia; tratando-se, sempre que foi possivel, de obter no mesmo ponto estes dois elementos magneticos. As horas de observação da declinação foram geralmente as da obser- vação do angulo horario. Os instrumentos meteorologicos, todos comparados com os padrões do observatorio do Infante D. Luiz, foram os seguintes: Dois barometros do systema (George, com dois tubos de sobresalente : Correceções Tubos das escalas e Odo SGBD silos uai 0,0 AA DIVE Dejo e ces a EEN RN PRO O — 0,5 mill. Comecção: de capilaridade -.l ui. — 1,52 mill. 396 Meteorologia e magnetismo Dois aneroides de Cazella: n.ºs 4:784 e 4:785. Hypsometros : Correcções Correcções antes da partida depois da chegada 12109 + 0º,194 ou ômm 26 —+ 0º191 ou 5mm 09 an PRP da —+ 0º,319 ou 8mn,58 + 0º,255 ou Gmm 80 UE ed REM —— 0º331 ou 8rm 89 + 0º,189 ou 5mm 04 RR (E e E —— 09,130 ou Bmm 54 partiu-se. Thermometros és Comcesass 10º 20º 30º nº 490918, si Pole qe +— 0,2 +04 1404 EO RO ONO orando (o O --0º5 +04 +08 Mi CADOZO 2 2 RR +02 +04 . +04 Thermometros de maxima GOO O gar nn rs A + 081º OM 09,0 nc one ts e Lora pe --0º2 +01 +01 Naa dog 8 RS O + 0,2 +01 09,0 Thermometros de minima: pesa OZ ai si E 09,0 0,0 001 PLA 5 EDIR RS RR ANO 00 +01 +01 SODA ora fee e A UE 0,0 + 0,1 + 09,2 Psychrometro : n:9 AZBSO Secco. E cia no 00" +01 +01 ns) molhado 050 +01 +02 Thermometros de unifilar SR A O A cu Ena — 0,5 —1º0 —1º3 ISO Ea CARRES O RASA qi — 008 —06º —06 DER CDIS pata a MPR cota ER — 005 — 07 —1º8 Um barographo Richard. Dois chronometros de Dent. INSTRUMENTOS MAGNETICOS Um unifilar com duas barras para observação de oscillações. Um inclinometro, modelo pequeno, de Dover, com duas agulhas. Duas bussolas de declinação (systema Kater) de Casella, Sextantes, horisontes artificiaes, ete., ns ge”, 7 na | E Mess o EE Ae 4% uº BEAMPO E E +. Fa Bugamoio ———— Linhas vsoclenicas DR O Ti, pa AA XdpEBE “5-7 a Zsedayranticas Lithographia da Lmporensa Maceonal S=/ = / fios a AM NR AS 98,4 fe SAR E Ea — A € daBou spo carenço LHazaruto CC AZmhamdane | Limparo farques ——— Linhas esoclinteas uv! dsogonas csodypramécas Lithegraphia da Imprensa Wiccoral Meteorologia e magnetismo 397 OBSERVAÇÕES METEOROLOGICAS Todos os dados meteorologicos que se acham nos mappas que apre- sentâmos, constam dos elementos seguintes: pressão atmospherica, tem- peratura do ar, tensão do vapor, humidade, direcção e força do vento (0-5), quantidade e qualidade das nuvens, chuva (pela duração em ho- as), trovoadas, relampagos e todos os mais phenomenos accidentaes nos intervallos das observações. As observações simultaneas feitas a 0h.8' de Greenwich, segundo as localidades, foram executadas, desde Mossamedes, a 0h.57', até Tete às 28.8. PRESSÃO ATMOSPHERICA O hypsometro serviu sempre de padrão para a pressão atmospherica, mas os instrumentos observados foram o barometro George e o aneroide compensado de Casella. O primeiro preparava-se geralmente depois de acampar, e conserva- va-se armado e cheio durante dias seguidos, quando a demora se pro- longava; mas se o acampamento tinha de se levantar no dia seguinte, não se enchia o barometro George e era o aneroide que se observava; sendo as leituras de qualquer d'elles referidas ás do hypsometro. O hypsometro foi observado sempre que havia occasião e facilidade para o fazer, empregando todos os thermometros e tomando a média dos resultados. Alem d'estes instrumentos, havia mais o barographo Richard, o qual registou perfeitamente durante toda a travessia, fornecendo os meios de comparação entre o barometro George e o aneroide. O Richard ainda prestou serviços mais importantes à meteorologia africana; quando ha- via demora de quinze, vinte ou mais dias no mesmo ponto, o seu registo forneceu as variações diurnas da pressão, como por exemplo na Huilla durante vinte e tres dias, cincoenta e um dias em Muene N'Tenque, vinte e tres dias em Luapula e dezoito dias no Zumbo. O barometro de mercurio! nas innumeras vezes que se encheu, em- pregando ora um ora outro tubo, apresentou geralmente accordo com o hypsometro, e podem-se considerar as suas leituras approximadas a ++ 1,0 millimetros. Em uma ou outra vez, que a differença para o hypsometro ! É o barometro George um instrumento precioso para o viajante, pela grande facili- dade no transporte, sem perigo de ser damnificado, rapidez com que se arma e promptifica para a observação; lembrâmos um pequeno melhoramento que tornará mais facil a leitura: consiste em um pequeno aro de folha metallica, pintado de preto, que possa correr ao longo do tubo e se deva collocar quasi tangente ao menisco da columna mercurial. VOL. II. 26 398 Meteorologia e magnetismo foi superior a 3 millimetros, suspeitou-se, com rasão, que a consideravel humidade do ar na oecasião do enchimento, junta à elevada temperatura, tinha prejudicado a operação. O aneroide mostrou sempre mui pequenas differenças para o hypso- metro, sempre que a marcha se effectuava sem grandes mudanças de altitude; assim, acompanhando o barometro e hypsometro antes de su- birmos o planalto, quando esta grande differença de nivel se transpoz, divergiu logo 8 a 10 millimetros para menos, indicando maior altitude. Tendo-se corrigido d'esta differença na Huilla, durante toda a travessa, emquanto a pressão regulou entre 640 e 680 millimetros, conseryou-se com pequenas differenças, inferiores a 1,5 millimetros, em relação ao hypsometro; porém, quando se effectuou a descida para o Zambeze, no- vamente se foram notando differenças em sentido opposto, que foram augmentando até alcançarem —+ 9 millimetros no Zumbo; isto é, sensi- velmente a mesma differença em sentido opposto, que se tinha achado na subida da serra de Chella. Note-se, que no observatorio do Infante D. Luiz, antes da partida, se fez a comparação do aneroide com um ba- rometro em um recipiente, no qual a pressão se diminuiu até 640 milli- metros, e n'estas circumstancias o aneroide não se afastou mais de 1,5 do barometro submettido à mesma pressão. As variações diurnas da pressão registadas no barographo Richard são muito curiosas e instructivas, porque foram observadas em condições de altitudes e de tempo muito differentes. Na Huilla a variação diurna foi deduzida de vinte e tres dias de observação (6 a 28 de maio de 1884), em 15º.5! latitude S., 13º.25! longi- tude E., 1:728 metros de altitude, e à distancia de 150 kilometros do mar. : Como se observa nas estações elevadas no continente do nosso paiz, o minimo da madrugada é o minimo principal do dia, isto é, a pressão ás quatro horas da manhã é inferior à das tres horas da tarde, a ampli- tude da variação diurna é consideravelmente superior à das estações elevadas da Europa. Na Huilla é mais do que dupla da da estação da serra da Estrella, em 1:441 metros de altitude. Esta grande differença provém da latitude, pois é sabido que nos paizes intertropicaes a variação diurna da pressão é a maxima do globo e regula por 3 millimetros ao nivel do mar. Comparando a curva da variação diurna do barometro na Huilla (fig. 1) com a correspondente do mez de maio do observatorio de Loan- da, (fig. 2) o que se nota immediatamente é uma consideravel elevação do minimo das tres horas da tarde n'aquella, de modo que o minimo principal é, como acima, dissemos, o da madrugada. Em Loanda dá-se o caso contrario, é o minimo das tres horas da tarde o mais consideravel, e a amplitude maxima tem logar entre as pressões das nove horas da Meteorologia e magnetismo 599 manhã e a das tres horas da tarde, no valor de 2,94 millimetros; a diffe- rença entre as pressões correspondentes a estas horas na Huilla é ape- nas de 1,06 millimetros, mas as differenças entre os minimos da madru- gada e os maximos das nove horas da manhã são mui proximamente iguaes nas duas localidades (1, 5 ou 1,6 millimetros). E o minimo da tarde que se acha modificado na Huilla, e é o mesmo que se nota nas variações diurnas do barometro no littoral de Portugal e na serra da Estrella, facto que se póde explicar pelas correntes vindas do mar, que dando accesso de ar nas horas mais quentes do dia, vão contrariar, pelo effeito do seu peso, a manifestação regular do minimo das tres horas da tarde. Não parece pois ser a altitude o unico factor do typo das variações diurnas barometricas com o minimo principal de madrugada; typo da serra da Estrella, Huilla, etc., mas sim a sua proximidade do mar, ou mais geralmente a posição da estação sobre a vertente da montanha, ou na proximidade d'ella. A discussão dos typos das variações diurnas dos outros pontos parece corroborar esta opinião, como passâmos a ver. A segunda estação onde se registaram as variações diurnas da pres- são foi Muene N"Tenque, em 11º.22/ S., 26º.55 E., 1:260 metros de alti- tude, mas a consideravel distancia do mar, visto estar mui proximamente a distancias iguaes dos oceanos Atlantico e Indico. À curva (fig. 3) representa a variação diurna d'esta estação durante cincoenta e um dias (1 de novembro a 21 de dezembro de 1884). A differença entre o minimo da madrugada e o maximo das nove horas da manhã tem sensivelmente o mesmo valor de Loanda ou da Huilla; e entre o maximo da manhã e o minimo da tarde excede de 3 millime- tros (92= 06), um pouco inferior à correspondente differença em Loanda (mm 24) (fig. 4). Vê-se portanto que a altitude não parece influir aqui no minimo da tarde; estando esta estação collocada no meio do planalto da Africa meridional; comporta-se este como se fosse um extenso mar; a viração tanto de um como de outro mar não lhes chega, não influindo directa nem indirectamente. O mesmo se póde dizer da estação seguinte, Luapula, cuja altitude ainda é consideravel (1:070 metros) e apenas differe de 1º.18/ de longi- tude mais oriental (fig. 5). A curva da fig. 6 representa a variação barometrica no Zumbo, du- rante dezoito dias de maio de 1885. Esta é cavacterisada pela mui pe- quena differença entre o maximo e o minimo nocturnos; o valor d'esta differença é apenas 0,24 millimetros; tanto o maximo como o minimo são mui fracos. A menor distancia ao mar é ainda superior a 650 kilometros; é pos- sivel que o vento SE. que n'esta epocha predomina seja causa da per- turbação que se nota. 400 Meteorologia e magnetismo São estas as observações mais notaveis que fizemos relativamente ao barometro, porquanto da variação annua, como é obvio, nada pode- mos dizer. TEMPERATURA Tambem nada podemos dizer sobre a variação annua da temperatura, apenas diremos, que entre os parallelos de 11º e 16º S., limites da nossa derrota, a maxima temperatura observada foi 35º,1, no dia 8 de setem- bro de 1884, em 15º.4' S., 12º.56! E. e 1:018 metros de altitude. Em abril e maio de 1885 observaram-se temperaturas maximas mui proximas d'aquella (34,5 e 395º,1); notaram-se portanto estas temperaturas extre- mas na passagem da estação das chuvas para a do cacimbo e vice-versa. Durante as chuvas e no tempo do cacimbo, as temperaturas maximas não excederam de 30º, mas tambem não foram inferiores a 20º, como se póde reconhecer pela fig. 6 (estampa 1.2). As temperaturas minimas foram muito alem do que geralmente se julga. Em junho, julho e agosto, observámos por vezes temperaturas abaixo de 0º, entre 1:050 e 1:250 metros de altitude; as temperaturas minimas extremas d'aquelles trez mezes foram respectivamente —1º4, —1º5e—lº5. Em a noite de 21 de junho gelou a agua que se tinha deixado em um prato exposta à irradiação nocturna e tambem se notou geada por vezes n'este mez. Na segunda e terceira decadas do mez de julho, em algumas madru- gadas obteve-se gêlo em agua que para esse fim se deixou exposta, ha- vendo geada varias vezes; o mesmo aconteceu em agosto, na terceira decada, em que a temperatura foi alguns dias abaixo de 0º, sendo ainda — 1º,5 a minima extrema no dia 24: n'esta manhã podémos obter gêlo à superficie da agua, mesmo já depois do sol estar acima do horisonte. As temperaturas minimas mais elevadas, geralmente não excedem de 10º; em julho o valor da temperatura minima mais elevada foi 69,9. Em geral, n'aquelles tres mezes, sempre que havia calma ou vento muito fraco e o céu limpo pela madrugada a temperatura do ar, e prin- cipalmente a da camada mais proxima do terreno, era inferior a 0º. Durante a estação das chuvas e principalmente nos quatro mezes de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, as temperaturas minimas regu- laram entre 14º e 18º,5, como se vê na mesma fig. 6; porém na estação secca os limites das temperaturas minimas são muito mais extensos, é mui principalmente no mez de setembro, em que esta estação termina e co- meça a das chuvas, as temperaturas minimas oscillaram entre 1º,5 e 20º,2. Pelo que respeita ás variações diurnas da temperatura do ar, são muito mais consideraveis durante a estação secca do que durante a chu- Meteorologia e magnetismo 401 vosa; são mui frequentes n'aquella quadra variações superiores a 20º; nos quatro mezes de junho, julho, agosto e setembro, as maximas variações diurnas foram respectivamente 26º,0, 27º,8, 29,1 e 26º,0 e as menores fo- ram 13º,5, 15º,2, 16º,0 e 13º,8. Na estação das chuvas, e sobretudo na força della, a variação diurna da temperatura regula por 6º a 8º, não excedendo de 16º, havendo algumas de 3º,6 e 3º,8, como em novembro e dezembro de 1884. CHUVA, TROVOADA, NUVENS, ETC. As chuvas estão tão ligadas ás trovoadas na zona tropical de Africa, que se póde affirmar de uma maneira geral, que não se dá um pheno- meno sem outro. À fig. 1 mostra bem esta relação. A força da estação chuvosa teve logar nos mezes de novembro, dezembro, janeiro e feve- reiro, entre 11º e 12º S. e 25º à 28º E., região sensivelmente equidis- tante dos dois oceanos. No mez de dezembro de 1884 registaram-se vinte e nove dias de chuva, o maximo observado. No mez de novembro regis- taram-se vinte e tres dias de trovoada, foi tambem o maximo observado das manifestações electricas. ; Em outubro e novembro foram algumas trovoadas fortissimas e du- radouras, acompanhadas de fortes bategas de agua, sendo a chuva muito grossa e o vento violento. Note-se que na maior força das chuvas e trovoadas no interior, estas não corresponderam ás que se manifestaram na costa occidental (Loan- da) e mais ao norte em S. Salvador do Congo. As maiores chuvas e trovoadas tiveram logar n'estes ultimos pontos em fevereiro, março e abril, de modo que tanto as chuvas como as tro- voadas pareceriam propagar-se de E. para W., se não fossem attribuidas a outra origem as chuvas do Iittoral. Para corroborar esta asserção notâmos mais de uma vez, que as tro- voadas, sempre que appareciam de NW. ou SW, não subiam nem da- vam chuva, e que pelo contrario davam chuva e eram fortes todas as que se apresentavam dos quadrantes NE. ou SE. Pelo meiado do mez de setembro começou a nublar-se o céu de cu- mulos, com vento do quadrante SE., fresco por vezes; na ultima decada manifestam-se as primeiras chuvas e trovoadas pelos 14º S., 24º E. e 1:100 metros de altitude. N'ºesta epocha achava-se o sol na proximidade do equador; à proporção que elle foi declinando para o sul foram suc- cessivamente augmentando em quantidade e energia os phenomenos electricos e de precipitação; assim em outubro já se contam vinte dias de chuva e doze de trovoada, em novembro vinte e cinco de chuva e vinte e tres de trovoada, em dezembro vinte e nove de chuva e vinte e um de trovoada. Em janeiro de 1885 nota-se um enfraquecimento nas 402 Meteorologia e magnetismo chuvas e trovoadas, diminuição na quantidade de nuvens, augmento nas variações diurnas de temperatura, emfim, uma modificação do tempo para melhor; mas em fevereiro todos aquelles elementos meteorologicos tomaram novo incremento; assim, os dias de chuva que em janeiro foram dezenove, passaram a ser vinte e quatro em fevereiro, a parte do céu nublado augmentcu, só o numero dos dias de trovoada diminuiu algum tanto. A esta suspensão das chuvas por esta epccha (dezembro ou ja- neiro, conforme a região), dão os naturaes o nome de Quiangalla (inter- rupção ou paragem da estação das chuvas). Às chuvas cessaram repentinamente nos ultimos dias de março pelos 12º.30' S., 28º.45! E. e 1:200 metros de altitude, muito depois de ter fir- mado o vento SE., e tambem depois de ter passado o sol do equador para o N. Note-se que as chuvas começaram quando o sol tinha transposto o equador para o S., sendo a estação de observação 150 kilometros mais ao 8. e 525 mais a E. d'esta posição. HUMIDADE, REGIMEN DO VENT O, ETC. A humidade relativa do ar apresentou-se, como é de crer, muito mais elevada na estação das chuvas do que na secca; entretanto, pelas 6 ho- ras da manhã, em todas as epochas do anno foi excessiva a humidade, entre 90º e 100º; porém, nas horas mais quentes do dia, durante a esta- ção secca, o ar apresentou-se extraordinariamente secco; assim em julho, agosto e setembro observámos frequentemente graus de humidade entre 10º e 20º; a extrema seccura em toda a travessa foi indicada por 6º, nos dias 24 e 25 de agosto. O regimen annual dos ventos tambem não é possivel formar-se idéa d'elle, em consequencia da continua mudança de local;, assim vêmos, que nos primeiros dois mezes predominou o vento dos quadrantes SW e NW emquanto estavamos entre a costa e o planalto; nos quatro mezes seguintes predominou do SE., que é o vento geral d'aquella epocha. As calmas sentiram-se em grande numero no mez de junho, porque n'este tempo occupavamos pontos com a altitude de 1:000 a 1:200 metros, rela- tivamente inferiores à serra de Chella, ficando esta a sotavento, cau- sando por isso embate. Durante a força das chuvas o vento é vario e as calmas tambem se contam em quantidade. Em fins de março declarou-se novamente o SE., e assim continuou até à chegada à costa oriental, em junho. Na fig. 2 à frequencia do vento é representada em cada mez por tra- ços na direcção dos quadrantes, correspondentes ao numero de ventos Meteorologia e magnetismo 403 observados nos mesmos quadrantes, sendo cinco observações de vento de cada um d'aquelles rumos, representado por 1 millimetro. Na mesma re- lação se representam as calmas pela grandeza dos raios dos circulos; isto é, 5 calmas por 1 millimetro. OBSERVAÇÕES MAGNETICAS As observações de oscillações para se obter a componente horisontal foram feitas empregando duas barras magmneticas cylindricas ôcas, de 16,5 millimetros de comprimento, munidas de um espelho. Estas barras eram suspensas por feixes de fios de seda, em um unifilar de Jones; nunca se fizeram menos de 100 oscillações para cada observação. Em seguida se vêem as competentes marcas das barras magneticas, seus pesos, coeficientes de temperatura (q), e os valores de Era deter- minados no observatorio do Infante D. Luiz, antes da partida e depois da chegada. q 2K fi] Peso sm em ———T o — grammas (a) Dezembro 1883 Novembro 1885 E: 157 0,00019 46,095 46,970 E. 152 000024 96,013 97,070 2K Os valores de ?-* para cada observação, foram calculados, suppon- do que o augmento era proporcional ao tempo. O tempo T de uma oscillação foi referido sempre a 13º,5 c, tempe- ratura das determinações em Lisboa. Até ao principio de fevereiro de 1885 serviu a barra Hs, d'esta data até ao fim da viagem empregou-se a barra Hss. Para determinar o valor da componente horisontal dividiu-se o valor de =É na epocha da observação, pelo valor de 'T2, correcto da tempe- ratura. No mappa correspondente vemos que entre os parallelos de 14º à 16º S. a componente horisontal apresenta sensivelmente o mesmo valor 5,2 (unid. ing.) ou 0,240 c. g. s., pois tanto no Humbe em 15º E. Gr,, como no Zumbo em 30º E., os valores obtidos da componente horisontal foram 0,2405:; seguem, pois, proximamente os parallelos as linhas de igual força horisontal. O valor da mesma componente augmenta para o N., pois nas para- gens de menor latitude a que chegámos, entre 11º e 12º S., são os valo- res observados 5,59 (0,257), correspondendo proximamente o augmento de 0,1 (ou 0,046 c. g. s.) por —1º de latitude. 404 Meteorologia e magnetismo INCLINAÇÃO A inclinação magnetica foi determinada empregando um inelinome- tro de Dover, n.º 66, de pequenas dimensões, munido de duas agulhas de 1 centimetros de comprimento. O circulo vertical tem 71 millimetros de diametro interno e é divi- dido em meios graus. Podia-se avaliar com a approximação de 6, por meio de dois microscopios, a posição de cada extremidade da agulha. As agulhas eram magnetisadas em sentido opposto em cada observação, corrigindo-se assim o erro devido ao centro de gravidade não correspon- der ao eixo de suspensão. | Deduz-se do mappa das observações que a inclinação vae augmen- tando para o S. e E. O menor valor foi observado em Muene N'Tenque, 41º.37',2, em 110.22! S. e 27º.29' E., sendo apenas inferior 15! ao que se observou em Porto Pinda, na costa occidental, em 159.44" 5. O maior valor, foi o ultimo observado, em Tete, 48º.89/,5 em 16º.10' 8. e 39º%.09! E. Em menos de 5º de latitude variou a inclinação 7º.2", DECLINAÇÃO Obteve-se a declinação empregando duas bussolas de Casella (syste- ma Kater). Observava-se o azimuth magnetico do Sol, e deduzia-se a declinação pela differença entre este e o azimuth verdadeiro que se obti- nha pelo calculo. Este elemento magnetico nem sempre pôde ser bem determinado, desprezando-se algumas observações, cujos valores, sem duvida por attracções locaes, estavam visivelmente alterados. Combinando os valores da declinação, inclinação e da força total magnetica observados na região da Africa que atravessámos, com os obtidos na mesma epocha no observatorio de Loanda e ainda com os observados na ilha de S. Thomé em maio de 1881, tendo attenção ao tempo decorrido, traçâmos as linhas que se vêem no mappa geographico junto, que representam, com alguma approximação, as linhas isogonas, isoclinicas e isodynamicas; não se deve comtudo considerar a posição d'estas linhas como resultado de calculo, pois é obvio que não era pos- sivel empregar o methodo dos menores quadrados, por exemplo. dispondo de tão pequeno numero de elementos em uma região tão consideravel Horas Huilla == roma 12 (p.m.) 621,52 621,54 621,30 621,68 621,75 -621,88 622,08 Localidades Muene N'Tenque h=1:260 m. 655,60 Luapula h=1:070 m. Zumbo ABREVIATURAS DAS OBSERVAÇÕES METEOROLOGICAS a. antes do meio dia C. cumulos C. (na casa do vento) calma C. claros no céu cac, cacimba Ci i cirrus Deo fresco hor horisonte int. intenso n. noite ne. nevoa ne. int. nevoa intensa Ni. nimbos nu. nuvens Nub. nublado p- depois do meio dia qa. quadrantes raj. rajadas seg. seguida St. stratos El: tempo told. toldado V. vento KKK trovões «& relampagos chuva —yy vento forte LESS geada ESA orvalho eXM gélo nevoeiro OBSERVAÇÕES METEOROLOGICAS Observações ADV As observações meteorologicas fizeram-se ás 6h (am), ás Th 35! do meridiano de V Para determinar a pressão barometrica e altitudes, fez-se uso invariavel do bar registador de Richard. As temperaturas maximas e minimas, são notadas da hora da observação (Th 6h da manhã immediata. As observações das 6h da manhã, correspondem, que O merediano de referencia é o de Greenwich. As altitudes são expressas em met Na casa, sob a epigraphe Notas, estão exarados todos os phenomenos e indicad logar qualquer phenomeno, deduz-se que foi à hora da leitura dos imstrume O estado do céu é representado por O (céu limpo) e 10 (céu coberto). As observações foram corrigidas no observatorio meteorologico do Infante D. e depois da viagem. MA Pressão Y Tensão Humidade atmospherica emperatura do vapor relativa De ” 4 Longitude E. Dire Maxima Minima horas Wash. 6 hora a. p. a. Pp. Latitude 8. Greenwich Altitudes 8 horas 7 horas Wash. 8 horas p 6 horas 8 horas oras a 7 horas Wash. 8 horas 7 horas Wash, 6 horas 7 | 61 ou Son 15.49.25 so Ha LES [= Do) E! a C. 59.49.29 WNW. So (ep) 5.94.00 53.94.00 32.94.00 2.04.00 5.94.00 94.00 225) 15,9] — 16,2 18,0 23,9| 29,3] 16,9] 17,4] 19,6] 18,5 N.B. Observou-se sempre, ao nascer e pôr do sol, a atmosphera avermelhada, côr intensa. | | | | meteorologicas 409 PENCIA gton, segundo o plano do general Albert Myer e às 8 (pm). jo de mercurio de mr. George, bem como de aneroides, hypsometros e do barographo, ashington) até igual hora do dia seguinte, e em viagem d'essa mesma hora até às n marcha, à latitude, longitude e altitude do dia anterior. s rumos são verdadeiros. lativas ao estado do tempo. Quando ahi se não menciona a hora precisa a que teve sim como todos os instrumentos respectivamente comparados com os padrões, antes 1884 E orça do vento Quantidade e qualidade de nuvens E —— | ————— ame eo — | & po Notas 7 horas 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas z Wash. Pp. al Wash. Pp. E a NW 2) SW. |1|- Nub 3 2 C. — — [INW. |2|] SSE. |2|- C. 5 C. = Nub. — — — =) ASMAVO. |pátii= Nub — — 10 — — — N 2 = =p Nub B) C — = = ds — — — —|8 C. — — = = — = E 2| ESE. |2/3 C., St. 4 CNI: 10 Ni. — | KK de E. às 8 a.; de SE. p.; E QD, 8-12 à E. |2 — —|— Nub. 8 C., Ni. — — — | Q'seg. den.; Za E. p. — — — — 10 C., Ni. — — — — — — = —| NW. |3|- — = = 0 = = Dom — — — —| 5 C — — — Nub. — K p-. aos. SER!) SSW. |2]3 C. 8 C. 2 C. — |-« p. ao S. (appareceu agua no rio Coróca) NW. |1| WSW. |11- Nub. 1 C. — Nub. — & p.asw. ; | meteorologicas 409 408 Observações ADyER | TENCIA ington, segundo o plano do general Albert Myer e ás 8» (pn). = - nai Ze ás Gh ús 7% 35/ do meridi le W As observações meteorologicas fizeram-se ás 6h (am), ás lano de Wash ASR TA E tro de mercurio de mr. George, bem como de aneroides, hypsometros e do barographo, Para determinar a pressão barometrica e altitudes, fez-se uso invariavel do barome registador de Richard. Washi qa : E ES =) o Washington) até igual hora do dia seguinte, e em viagem d'e. As temperaturas maximas e minimas, são notadas da hora da observação (th Ee) ) a 5 . 8! 1 e À viagem de = a - x s Gra MEL aos em marcha, à latitude, longitude e altitude do dia anterior, 6! da manhã immediata. As observações das 6! da manhã, cor espondem, quando eo À ê - o a N E es Os rumos são verdadeiros. O merediano de referencia é o de Greenwich. As altitudes são expressas em metr ati into cito á (Angra ailh a E a Saga xelativas ao estado do tempo. Quando ahi se nj riona a hora nreci Na casa, sob a epigraphe Notas, estão exarados todos os phenomenos e indicações E Não menciona a hora pre logar qualquer phenomeno, deduz-se que foi á hora da leitura dos instrument O estado do céu é representado por O (céu limpo) e 10 (céu coberto). sa mesma hora até a que teve ES : G A assim como todos os instrumentos respectivamente e: arados € simadrios ante As observações foram corrigidas no obseryatorio metcorologico do Infante D, Luiz, I nte comparados com os padrões, antes e depois da viagem. DD" —— o NU Hm DE 15884 MARÇO = Drosaà E Tensão] Humidade = |cforçado vento Quantidade e qualidade do nuvens a atmospherica Temperatura cho || MaGRa | Mig =D | E SS 5 e =! m Notas E = T horas 8 horas 6 horas Toras 8 horas ] s Bora Wash. p- a. Wa: p á ú Mto [om NW: |2) sw. [1)-| Nu. |3 (6 2 q = = 18 5/12.09.96] 60 25,98 c jo WNW. |2] ssg. |2|- (oh 5 à - Y — - 26,5/ 19,5] 28,6 WNW.|1 5 c. Nub. | = =| NW. |1]- Nub. — — 10 — — — 20 [15.54.00 = |— |2s8 q o) No JB o =|=| 0 Nud. |s [og = = É Es 21 [15.51.00 98,1) — | — NE. :|1 5.54,00/12:06,56) 69) — | > | 5 | [2 ]— sf=p=l=|=l=|p=| = | é PRA e A E Gi = = =; = |=| - |-|s (oh = = =| = E a 25 [15.54.00/12.06,56) 62 — — — — — — — (17,9) — — -|—|—|— (o) () - NE ESE. [2/9] CSt [4] Cn Ji — le E. às 8 24 [15.54.00/12.06,56] 62] — |750,0/752,0] — — | — |17,1)20,9] — |42/100) G ]0 , th IK de Os NB. |2) — [=|=) nu. |s| con |- = a Uscg. dei = |20,1/204] — | — — [100/74 | — (8 ) à » Ni O! scg. dem. > o > fo came ja = = a E = 26 = —|-—|— — /100) — | — (7 i) 27 [15.49.95] =lol=|l=h=l=losl=l=l=lh=l=l=|=| = E er = E E - = E = = =| Ny. |9)- = es = 0 Es = W p. 28 [15.49.95 = | — [754,9] = | — |20,6 —|=|=|15,8]-|-|84) — | | SA o das c. - — =| Nub. - 2015.49.98, = |14a)224) — 19,1 15,9)79)— |58) CG ]0 ; ; SSB. |1) ssw. |2]3 (oh 8 (8) 9 (é > s0 — |16,6 15,9) 82 x. |1 a al NNW: |1/ wsw.[1]=) nu. uy (0h =) Nut | 31 115. E 28,9) 20,9] 16,9] 17,4) 19,6] 18,5] 81 | 68 | 84) NE: |1 = SEU to Up Vo LS AO B. Observou:s vermelhada, côr intensa, e sempre, ao nascer e pôr do sol, a atmosphera Observações Pressão ” Tensão Humidade atmospherica emperatura. do vapor relativa | | 8 horas p Altitudes horas Wash. Greenwich q. Latitude S Longitude E. 6 horas 8 horas p 6 horas Maxima Minima ” 4 ps ep E 12.03.56 12.08.56 sSswW 9/761,8 5/760,7/768,0] 19,1] 26,7| 22,5 õ 81 | WSWi 162,6/761,6/761,6| 18, 20,0 9/ 18,5] 13,4] 4 5 SSE. — SW. 12.91.83: 96/13.01.30] 5: 13.01.30] 595 |715 17,5] 18,8|: (a) Porto Pinda. (b) Mossamedes. (c) Pedra Pequena. (d) Capangombe. NB. Observa-se aim [E sst meteorologicas 411 a do ventc Quantidade e qualidade de nuvens ; o. RSS ET e” z Notas horas 8 horas G horas 7 horas E NTE > ash. p- a. Wash. p. E MENNZ) NNW: |2]- Nub. (Ca (0) — — E: . 3) SSW. | bi Nub. — == Nub. am A p. WE | NW. q (9) Ci., O — (0) = Ee vita W. |2 — =| 8! Gis 6: CG: — — — | [X para o S. ao longe. VW. |2 Ss. 2|— Nub. C. — Nub. — | Di1-2a. W. 13] SSE. |2|- Nub. = 2 G: — | n:; — MU mp. dO lolwnw.|1]-| ud. c. 0 x a | p: : 1 — —|3| C., St., Ci. C.-St. — — — | n.; 4 pataos. [BS SW: | 2/10 Told. C. = Nub. = —Mb p. 1| SE BO CC, St. C. — Nub. — OB) 6 a.; Up. BRR 2) SW 1|— Nub. — 0 — = | Es V BRRESNVE | 219 GC (OL 10 Told. = | K n.; Ap. W. |3] SE. /11]10 Ni. C., C.-St. |10 Ni. e 6 a.,8p.; IX para SE. y BU SW [Si Cc (Ot 2 C. = A a SE.8 po Pyy p- ER 8 DE a - — Eu nu E a = E = Es fa = =] = E 9 E pa + v di ho E as VER | 2 — — |— — C. = — = = W.|2 — — |— — = — = — = —| WSW. |2|— — = 10 Es = = SW. |2)— Nub. = — Nub. — ss CI SSW. |1]— Nub. = 0 — = E = s. fat C. — 2 Gi = | KaNW.3p.; « aNW.8p. W. |2 C. 0|—| Ci., C., St. C. 10 C., Ni. — | IX para NE. p.; €« de NW. E Sme [1/5 C. E 3 e =| REA Wa | NW. 1/3 C. CNI: E) CNT — | Ka E p. meno crepuscular. e Observações ABRIL meteorologicas 18 [15.44:40] qa (154400) 18 [15.12.90] 19 [15.12.90] 20 [15,12,90] 21 [15:12:90 2.80 2.80 00] 25 [15.00.00 012,05 5/12.09,56] 19/12,09.50] 5/12.09.56] 26 [14.58,00/12.30.00] 15,00.55/12.51.08] pon 13.08.06 12,03,50 12.09.56 12.03.56 12.04.29 12.04.29 12.04.20] 12.04.29] 12,04,2] 12.04.29 12.19.00] 12.25.00 12.51.93) 5.06,50/19.01,90] 535 5,00,00/19.01,80] Pressão atmospherica CEE 154,5 22 28,2 oo [Toba 29,0] — 5 25,6] 22,1 5| 20,8 20,0, p= =[> [==] = 1 4 1 [u put sd =p =| = (pese E pese =] ud rea = | = po po po paid = 0) = |= | =| — 216 = G|-— | — | = | — |26,5] — pb =p=I=l=Ia 48 | — -— |7 528 [158,0] — 716,0) 22,0] 20,4 2/ 19,0 20,0 22,0 717,5) 18,8[ 35,2 Temperatura Tensão Humidade relativa Direcção ento É O horas Flioras 8 horas a Walk h 17,9) 10,95) 16,5] 91 [66 | 76 e, o! SSW. 2) NNW. 18,6) 11,0/21,/4/ 17,6] 88 | 71 ul 10,0/ 16,6] 92 | 70/81 Et dpi 19,1/17,0/ 20,7] — [94/67] =| ssw. |1 19,1/16,7/ 2 TO | Us e 0 JURO 70) 90 C ) SSE. 19,6) 16,5| 21,1] 17,9) 91/72/86) CC lo WAW. — [181/9827] — |88| 17] — | SW. 1 19,1/17,9/21,1/17,0/ 91/72/86) O lo 19,7/17,0/214] — [9 | 74] —| So di =| = 100] = |=|58|=| Co — [13,2/47,2]18,7]89 | 63/81) SJ W. |3) sw. — | 14,58) 15,9/16,4/ 90 | 61/81 2 WSW. |3 — [14,9/18,5/ 18,4] 90] 65/17) SSB |1 W. |3| sw. — |140) — | — |86)—|—| SW. |2 = po peito ele = IH [sp = |-|76)-| = |=] Iwsw. = Sp =|-I09]=| = || Qwsm a) — (a) Porto Pinda. (0) Mossamedos. (0) Podra Pequena. (d) Capangombe. NB, Obsorva-so ainda O E =| WSW. = —| SW. a =| SSW. wsw. [2] q. = |=| sy. WNW. 2/5 ro, 3/5 lenomeno crepuscular. Quantidade e qualidade de nuvens v|— 2|— 1|— 1/1 0|— 15 1,3 C, Ni. e SE Fold. Ni. G. -| Cn SE Sp; AM p, Notas JM py, Jp, E parvo S. ao longe. Ou; E paros. A p, AME po = OKun; =| On, Sp; parse, 8 po Up, Jp [RANW.Ip; 4a NW.8p. =| [para NE. po 4 do NW. o SW ] | | | | | | E | | Kp. | Observações Pressão T : Tensão Humidade atmospherica (Rhino tuto relativa Longitude E. Greenwich Altitudes Latitude S. Maxima Minima o DES ho 4) 13.06.00 717,6 13.16.00 629,1 d.02/13.24.31 13.24.31 2/13.24.31 13.24.31 -02/13.24.31 2113.24.31 WsY SW. 123 ,31622,3 20,0] 13,4 WSW 3.24.81/1728/623,0/623,0/623,6] £ 3.9] 5| 6, 3/35 |s Cc. 3.24.31/1728|622 624,1| 8,5 2 E SW. 3.24.31/1728/624,1]6% 624,1 22, das ) o | SW. 3.924.31/1728|623,8|624,1/624,8] 10,5] 22,5 2: 4| 4 60 | WNW 3.24.31/1728/624,1/623,8]624,3] 10,2] 23,4] 15,1] 2: ; WSW 13.24.31/1728|624,3]624,1/624,3] 10,8| 23,0] 15,0] 24, ; sw. 2/13.24.31]1728]6: 23,8/624,3 5.02/13.24.31/1728]628,: 624,8] 24,31 1728/624,6/624,1/624,6 3.24.81/1728 624,6 3.24.81/1728/624, = .24.81/1728]623,3/622,5/624,8 24,51/ 1128 23,9] — 32.24.31 24.81 624,5 .24.81/1728|624,3/624,6|- — 9/24,5| — 3.32.00/1470/622,9 640,9/10,9 13,0 13.40.00/1374/640,9 646,9] 5,2 On) 5.23.33/13.46.10/1315/646,9/649,9/651,9] 4,9/24,8] 8,9/ 25,0]. 4,6 (a) Subida para o plano alto. (b) Huilla. .N. B. O phenomeno crepuscular observa-se por vezes. 415 884 meteorologicas "a do vento Quantidade e qualidade de nuvens | Z ||| —» > —— horas 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas Vash. p. q Wash. p. SE - — Cc 0/8 — — 0) — - —| SE. |1]5 — — 8 C. - — = —|8 C. — — = — > 3 s 1/0 — 0 — 0 — RR 3) SW. |1)0 — 0 — 0) — E. ) Ss. 1/2 St. [O — O) — BR 2] WSW.|1]0 — IGN CE St CAOS! E 2) WNW.|1/0 — ) — 2 CSt- E. ERROS [12:10 — 0 — (O) — E. 2 — = (0) E 0) = == sa E. 2 — —|0 = 0 Eu = a BRR 2) SW. |1/0 — 0) — 0 — E 5) s. 1/0 — 0 — (0) cm - —| SW. |2]0 = = =— 0 Ea , 2) SW. |2]2 St. > C.-St. 0 — SEL JEIO — 0 — 0 — 2) WSW. |1/'0 2 NE. |210 =P NV ENÂUE ty o N. C., Ci. St. C., O.-St. C., C.-St. [o 1 St. Notas OK de E. 5p. Mto Cac. n.; Ulm. Caen. Um; Cac. n. Cac. n. Gac. ni Muito cac. n. Muito cac. n. Cac. n. Cac- n:; tios Cac. muito fra, n. Cae. n.; -Ullyp, Cae. n. CGae. n. Gac. n. Cac. mica Sbt qo Gac. nº Pouco cac. n. Sbt Etna p> Pouco cac. n. Pouco cac. n. Pouco cac. n. fo (pn to, Observações se meteorologicas Pressão A Tensão Humidade - RC Ni Temporatura do vapor rolativa irceção À força do vento Quantidade e qualidade de nuvens e a ——— O — 7 horus O horas o [dh e 19,06,00/1620 630,0] OK der.sp. 19.16,00/1528 17,5 2/19.24.01 13:24,81 Ap. PIER RI 6). 9,0) 20,6) 1ô 1,0) 048 5 NW. Caco; UU p, 19,24.01] 1728 28,1) 10,0] 20,2 28,1) 19 E 5 WSW. Caen, AU p, 15,05.02/155,24.81]1728]622,6 629,1) 10,0 15.05.02) 19.24.01] 1725/6022, | 10,1)2 Une. ms 15.05.02) 19.24.81 Caem, 15,05,02/ 19.24.01 s|028 ê E E 21,0) 94) dy 2/34 WSW. Muito ca, ms 19.24.91/1728/6; É 20,9 N 84 SW. Muito eae, 15.05.02] 19.24.01] 1728 : 20,0 DR S 9,0) 75 | 50] 76 | WSWo 15.05.02] 19.24.91] 1725 ' 9,4 20,6 E) E 995) 89) 0 Cac.n:; Up, 2/19,24,91/1728/022,8] 024,1 2 4 j H SW. SW. 15.24.81 624,1 624,1 /024,1 É S| 8,6] 4 j 97/80] SW. B, SW. Cac, multo fra. Dn, 19.24.81 25,8 [024,1 524,8] 23,0) 9,4] 4,5 6 WAW. SE. Caco, np AM py 15.05,02/18.24,01 624,8] 5,1] 29,7 5,0) 9,4) 8,1] 65 63 | WSW. 2) WSW. (ari 15,05,02/19,24,01 5/02 Z 3,0] > 10,6] Caen, 15,05.02/195,24,91 023,8) 3! | 9,5 Caen, 15.05,02/19.24.91 [623,9 /024,1)6: 2 5, É o) 9,9 Caen; AM po O24,6/024,1]624,0 7 1,0) Caen 15.05.02] 28 (24,9 624,1 /624,6 9] 23,6 Ú 11;? 7 E " 2.8] " q Pouco eae, ns 15.05,03] 788|G84,1) — tm, 15.05.02] 19,24,91[1788[029,8]629,5]624,8 10) 56 a j | AM Pa 5.02] 199,24, 91 [17 020,9 Pouco cac, n, 15.05.02/19,24.91/17: GM Ponco eae nm, 15.05,02/19.24,91 2 Jus Pouco cac, mn, | 15.05.02 4 BS [OM 624,6 Les a, 15.05.00) 19,02,00/ MTO [022,0] — 640,0] 10,0 15.16.00/13,40.00/ 1974 [640,0] — 640,9] 5,2 9] 19,46.10 [1915 [646,0 049,0/651,9] 4,0 (0) Subida para o plano alto, (b) Huilla. N. B. O phonomeno erepuscular observa-so por vezos. VOL. TE, y Latitude S Longitude E. Greenwich Dj) 15.27.54 15.34.00/13.50.00 Observações Pressão Altitudes 1194]653,9 atmospherica Temperatura Maxima Minima Tensão do vapor O) CR y 13.47.80/1278]652,9]654,7/654,8 15.40.00 13.55.00/1178]663,1]662,91663,9 15.46.05/ 14.04.36 15.54.00/14.09.00 16.01.00/14.12.00 16.09.00] 14.14.00 16.17.11/14.18.25 16.21.00/14.25.00 16.28.00/14.35.00 16.35.00/14.45.00 E 16.42.00/15.00.24 16.42.00/15.00.24 16.42.00/15.00.24 16.42.00/15.00.24 16.36.00/15.07.00 16.30.00/15.15.00 16.25.00/15.17.00 16.19.00/15.21.00 16.11.00/15.21.00 16.05.00/15.20.00 16.00.45/15.19.00 16.00.45/15.19.00 16.00.45/15.19.00 16.00.45/15.19.00 16.00.45/15.19.00 15.54.00/15.23.00 15.52.00/15.30.00 15.47.00/15.35.00 15.41.00/15.42.33 (a) Em viagem. 12381663,9 1198/658,4 1180/660,8 1208/663,9 658,4]658,4 661,9/662,3 659,9/664,2 661,5/661,5 1118 662,1/668,2 1098] — [670,6 1073/672,5]672,5 1080]673,3|672,5 1067 1067/674,4]673,6 1067 1067]674,1/673,0 1075 1055/673,6 1040/675,3 1080675,8 1090|674,7 1090|674,216 1110/673,7]6 1110]673,1 1110]671,8|670,0 1110/672,8/670,4 1110/671,8/669,2 1112/671,8/669,5 1115/671,6]669,4 1112]671,7/670,4 1160/673,0/668,2 674,7/673,3]6 672,1 672,5 674,1]671,8]675 671,1 671,2 671,1 671,1 670,9 671,4 668,5 84 6,0/26,2 (b) Chibemba (Gambos). 27,1 6,0 6,0 Humidade relativa 6,0 (c) Cahama. (d) Humbe. (e) Quiteve. N. B. 1884 meteorologicas 415 rca do vento - Quantidade e qualidade de nuvens : | O. MME TE ST do | Notas | horas 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas > Wash. p. a. Wash. p. & MRE 1) NE. 11]0 = 2 C. 0 — = Cac. 6 a. — — — —|2 C. = — Ee = = — [BE |2 C. 0|2 C., St. 5) C. 0 = — Pouco cac. n. E. - |2] SE | 215 C. 0 — 0 = — | V. fr. de raj. e pouco cac. n. SE |2) SE. |2]0 = O) = O) — — Pouco cac. n.; v. SE. fr. de raj. n., — Wit a. Rio) se: |1)0 — 0 = 0 da = MNE E. 1 E: 0/0 — 0 — (0) = — | Pouco cac. n.; v. SE. fr. 3-5 a. E. |1 = —|0 — 0 — = a = Pouco cac. n.; Mia, E. 2 — —|— — 0 — — — — Pouco cac. n. BS |2)] ESE. |2]0 — 0) — 0 — — Pouco cac. n. E |92 C. 0/0 — 0 — 0 — —. | Pouco cace. n.; barra de cac, p. ao N. E |2) SE..|2|3 C., St. 0 — 0) — — Pouco cac. n. E |2 — —|3 St. 0 — = — = — SE |2 e: 0/0 — 0 — 0 — pe Pouco cac. n. VE. 2 E: 0/0 — 0 = 6 — = Pouco cac. n. E 2| SSE. |1]/0 — 2 C., St 3 C — — E. | NE n Goes |8| G,0C-St. |3 C = — NERO |2) SE. |1/8] Cac. 10] *Caces "5 Cac. - Muito cac. n. SE. |2 | C. O [10] Cae. 0 — 0 — = Cac. n. E. 2 C. 0) | 0 — 0) = 0 = EE == E. 1 S. 110 — 0 — 0 — E PBoncoicacin Tora E 1 SE. 110 — ) — o) — = Pouco cac. n. E 21 SE 2/5| Cac 0 — 0 — = Pouco cac. n. ER | 2 Ss. 1/5 Cac. 0) — 5 Cac. — Pouco cac. n. ERR 2) SE. |2/5| Cac 2 St 0 — - — 1 E. 1 10] Cae. 0) == 0) — e Pouco cac. n. =| WSW.|2]0 | — 0 — > Cac. — |º Barra de cac. aW. JE: |1 SE. RE | Cae. 0) = (0) — — Cac. no hor. IE 2 NE NUS | Cae (O) — (0) — — — e! 2 C 0/13 Cac 0 — 2 St. — Cac. no hor. var-se o phenomeno crepuscular. 414 Observações JUNHO [DE 1884 meteorologicas 415 SEO IRS Tensão Humidade E atmospherie p E do vapor, relativa Direcção | o força do vento Quantidade e qualidade de nuvens = e 2 >] ===>>> 2 = Latitude S. 6 horas, Tito g O horas 7 horas Wait. a W Rios p- o Li 19.47.90/1278] 13.50.00/1194/6 18.55.00] 1178] 663,9) 29,9 Pouco cac, n, 5] 11.04,80/1238]663,9/658,4/658,4] 3,0] 25 32,6 14.09.00/1193/658,4]661,9]662,9 Ve fr. de raj. e pouco enc, n. .09.00/1193/658,4/661,9]662,º 9| — 16.01,00/14.12.00/1180/660,8/659,9/664,2 28,6 16.09.00] 14,14,00/1208/663,9 661,5] 4,8/28,9 16,17.11/ 14.18.25] 1118/662,1 K Pouco cnc. mn, UU 16.21.00] 14.25.00] 1098 Pouco cac, n. 16.28.00] 14.85.00] 1073 Pouco enc, n. 16.95.00] 14.45.00] 1080 Pouco caes, n,; barra do cac, 2 [16.42,00/15.00.24/1067/672,2)072,3 4 E 5 G 4s | 6 a so Is ON a o Ê Pouco é 16.42.00] 15.00.24/1067]674,4]678,6] 16.42.00/15.00.24/1067/074,7/673,9]078,8 Pouco cac, n. 16.42.00/15.00.24/1067]674,1]673,0]678,6 Pouco cac, n. 16.36.00/15.07.00/1075]G74,1]671,8 16.30.00/15.15.00/1055/679,6]072; 16.25.00] 15.17.00/1040]075,3]674,9]075,8| Muito eae. n 16.19.00/15.21.00] 1080]875,8/674,2]674,3] Cam. 16.11.00/15.81.00/1090]674,7/073,2]678,7 16.05.00/15.20.00/1090/674,2]673,2]678,7 Pouco cac. n:; XL in. 3 | 16.00.45/15.19.00/1110]6793,7]571,9]671,8] Pouco cac. n. 16.00.45/15.19,00/1110]673,1/671,2]670,5 Pouco cao. n. 16.00.45] 15.19.00) L110|671,3]670,0]671,1 Pouco cac, n, 16.00,45/15.19,00/ 1110|672,8|6T0,4|671,2 16.00.45/15.19,00/1110/671,8/ 66! 671,1 Pouco enc, ns 15.54,00/15,23.00/1112/671,5/669,5/6 Barra de cac. aW. 15.52.00 15.80.00] 1115/671,6/669,4 Cac, no hor. 15.47.00/15.95.00/1112]671,7/670,4 1,00/15,42,99/1160/679,0]668,2]6 b 6,0 'nc, no hor. (a) Em viagem. (4) Chibemba (Gumbos). (e) Cahama. (d) Humbe. (e) Quiteves No Di Contininb) obscrvar-se 9 phenomeno crepuscular, Observações Pressão 7 ; Tensão Humidade atmospherica Amy pras tntara! do vapor relativa Di am A | ———— o | ct Latitude S. Longitude E. Greenwich Altitudes 8 horas | (op) [= [o] 6 horas a 8 horas ) 6 horas a 7 horas 8 horas p. Maxima 8 horas ) 6 horas (o)lTo o Intos SIE 5 1 /15.47.34/15.57.00/1165/669,7/667,2/669,0] 7,7/23,5] 15,9] 24,8 15.57.00/1165/669,8/667,8/668,0 16.02.00/1209/668,3/665,21666,6 4 |15.26.00/16.08.00/1295/666,6/658,3/659,1] 1,8/22,8] 7,2/23,1 5 [15.07.42/16.14.50/1248/659,2]662,7 6 |15.06.00/16.20.00/1324/664,2]655,7]657,2] 0,5] 24,8] 84] — 6,0] 90 | 43 | 73 | SSW 7 //15,04,00/16.23.00/1339/656,8/654,8/655,8| 2,0 24,6 11,0) 25,3 6,3] 84 | 25 | 6£ | NNE 8 |15.05.00/16.33.00/1407/654,7/648,6/651,6) 2,0] 23,6] 11,5| 24,3 6,2/91]20/61| SE. 9 |15.05.00/16.44.00/1333/650,9/654,7]656,7] 3,2] 25,6] 10,9] 26,2 6,7]85 [44/69 | c. 53.10.00 16.59.00/1257/656,9] — 64/81] — |50 | SSW 5.11.00/17.03.00/1250/662,5/660,8 6,6] 88 |46 |67| sw. 17.00/17.07.00/1234/663,9/662,5/663,0] 2, s 20, ) d| 5,9] 87 | 15 | 64 | WNW 24,53 20.59/1220/663,9/663,6/665,1 2 24,6 4,8] 96 | 17 | 41 (Et 5.30.30 .27.00/1216]665,7] — 4,7] 78 | — | 55 | WNW -31,00/17.34.00 118816 5.32.21/17.42.00 1188/668,7/6 53.00/17.45.00/1146 668,5 5.34.00/17.51.00 116016 47.29/17.58.00/1215 -00.00/18.08.34/1194/661,5] — 66955 | oa o to 21 |15.50.00/18.08.34/1194/663,3/665,2/664,0| 1,5] 26,5] 11,3] 28,4 4,5] 76 | 16 | 45 | NNW .50.00/18.08.34/1194/664,2/666,1/665,4 é 3,8) 4,5] 81/20 | 44 | WSW 93.00/18.09.30 1197 INE 15.58.00/18.10.00/1223/663,8| — 3,5] 76 | — |36 | NW. 16.05.53/18.11.06 NNW 1153 16.15.50/18.13.00/1133 NW. 16.05.53/18.11.06/1132 W. .95.00/18.25.00 1142 -02.00/18.34.00/1155 9.092.00/18.39.00/1200/670,8] — 4,8/78| — |48 | SB 15.51.53/18.43.47 5,1) 90] 21 | 56.) NIME 1178|667,3]666,1/667,6 22, | (a) Handa. (b) Ás 7 p. um grande bolide, descendo verticalmente a W., rebentou ainda a grande 1884 meteorologicas rca do vento —— ———— | TT —ee A e ee 7 horas Wash. 8 horas p. Quantidade e qualidade de nuvens 6 horas a: Db W. E. Y. B. Ainda se tem [St] fio) to “co O) [to] feito) E. ENE. WNW. NE. «SW. ESE. ESE. WNW. NE. NE. NW. NW. SW. ININVE SW. NNW. SE. ENE. o [ol [4 [em] bo t9 LE] O Cac. Caec. Care. Cac. Cac. Cac. Cac., St. Cac. Cac. Cac. Cac., St. CacerCrSt- [e] Sr (SS Kas) o S [9/0] o S o 6 | Cac., C., St. | 0 7 horas Wash. (Calc Rank Cac., C., St. Cac., St. Cac., St. observado o phenomeno crepuscular. 8 horas Pp. Cac. |Chuva-horas Notas —MU p. — | JM! 9 a., Cac. a W. p. Up, Caen. Cac. n. Cac. a NW., Jp. Barra de cac. a W. em forma de St. 8 p. Cae. p. Barra de St. a W. 6 a.; Cae = up- Barra de cac. em fórma de St. 8 p., JU p. V. SE. fr. à.; cac. a W. p. CaciaNwi apitar p. Cacintit ar Cachamipa atas Cacia ps ear Cac., 6 a. Cac. no hor. a., p. Cace. no hor. 6 a. Cac. no hor., e? a. Cac. a., p.; Up. Cac., t + a.; ne. sobre o rio. “Ne. no rio, eXº Lt 1 cac. a. Cac., ne. no rio a.; Up. Gac. Eras um. Cac. a. 416 Observações JULHO | pp sei meteorologicas 417 A Eno aieniEa Temperatura vapor a Direcção Da força do vento Quantidade e qualidade de nuvens (=) É mM Nas GT Bhoras Notas à Wash. p 11656 Stem e Cb do 9) 2. |9/5) Gu [0] Crea. |o = = vp, 1165/6 SO PB pás) E. o 3 2/5 Cne. | E 0 = — | tg, Cac, a W. po Up, 8 [15.97.00/16,02.00/1200 Tt |54]73] NE |1 1/5 Cne o — 0 — > = (4 [15.96.00/16.08.00/1295 658,9]659,1 1 2) NE. |2]3 o — 0 = = rot 5 [15.07.42/16.14,50/1248] 662,7]564,9 10,5] 24,6] 1,3) 1 a Ih alla ) = io = A s 6 |15.06.00/16.20,00/1824/664,2 657,2] Sd) =| 0; 10 NE: |2! Cac 0 = õ — Cac.n. 7 |15,04.00/16.23.00/1339/656,8/654,8/655,8 11,0 2 | NNW. |8) ESE: [2/5] Cne St |O — 0 — = Cac. a NW., Up. 8 |15.05.00/16.93.00/1407]654,7]648,6/651,6] 2,0] 28,6/ 11,5] 2 4,8 44] 6,2/91)20]61] Se, |3)1 al ss Tola ro Io Ee o assar do s 9. |15.05.00/16,44.00/1393/650,9]6; 656,7 10,9] 2 5,0) 10,7) 6,7) 8544/69] co Jo) E 2) w. |2|8 Gne. 0 = 0 - = = 10 [15.10.00] 656,9] — |661,9 = | 50) SSWi = E) wa |8i5 Caco |- = 5/ Cae |—|Barradecac. a W. em forma 11 [15.11.00] 17.03.00] 1250]662,5/060,8| 662,6 do 67 So seo 2) o os 0 = 0) Ce |- De 18 [15,17.00/17.07.00/1234/663,9/652,5]663,0 o) NVeSao É) 1|5 0 = Cha = aW.6a 13 |15.94.58/17.20,59/1220]663,9/663,6)665,1 Sa (eo |O 3 10 0 - o) - = LER 14 [15.80,80[17.27.00/1216/665,7] — = [55 | NNE — |=) sm. |2/5]) Ga. |- - 0 - = aa p. 15 |15.31,00/17.94.00/1188/667,0]867,2]068,5] 44/54] SE. |1 se. |5] se; |9]- & 0 = 0 = =| CacaW. as pj : E o; tb po 16 [15.92.21] 17.42.00/1188|668,7]667,5/667,5] 24/57) SW. |1 se. |o| xy. |9|- = 0] StasE. |0 - S Cacinjtoa. 17 |15.98.00/17.45.00/1146668,5]670,2]671,2) ar|64) CO ve pu) Eis |it= = o = o - = Cane. as pj toa, 18 |15.94.00/17.51.00/1160/672,3]668,8/069,9 20) 71) NWo |1 5% Jol s |fi= & 0 = 3 St > a pjoC ia, 19 [15.47.29] 17.58.00/1215/609,8/064,4]662,0 23/48) Wi | NE. |2] 8 2/0 = -) 0 & = Cacsõa. 20 [15.50.00/18.08.94/1194]661,5] — |663,5 4,0) — | 4,0] 72] — [46] SW: |2 = |=|wnw.|2/0 = - - 0 — = = 21 |15.50.00/18.05.94]1194]663,3/065,2]664,0 4,0]-4,1] 4,5] 76/16/45) NNW: [2] | ssw. |2] np, 95 8) Gac. CU, St.)0 = - - 22 [15.50.00/18.08.34/1194/664,2/666,1]605,4 8,8) 5,2) 4,5] 81 | 20] 44 | WSW:|1 SE, |9 G. 0 — 0 — — Cac. no hor. 9, ps 28/|15.53.00/18,09.90/1197/665,1 9,0) — | 0,6] 4,5] 4,8 4,4) 90 [17/91] No 1 s. |2] nw. |alo É 0 ão 0 = = Gac. no hor. 6 a. 18,10.00/1223|663,8 10,8) — |-1,5] 8,8] — | 8,5] 76] — | 36) NW: [lo = [=| nw. |1]0 — =) — 0) - — Cae, no hor. a, 18.11.06/1153] 12,0/26,1| 0,5 8,4) 11,0] 5,0] 68] 46/48) NNW [MT sp, |5) sw. lolo e 6) Gra |O E a Cac, a, pj JU po 26 [16.15.50] 18.13.00/1139 10,8/25,9] 1,0] 4,4] — | 7,1) 89] = [73] NWo | ea Ee Ee E a = 0 = — | Gne, tas; no, sobre o rio, 27 |16.05.58/18.11.06/1132 16,3] — |-1,0) 8,5] — | 2,7] 80) = | 20) Wo |l =) =) Sw. |B]5 Cae — = 0 = —| No.no rio, &€ Lo enc, a. 28 |15.53.00/18.95.00/1142] 668,1 9,4/25,7] 9,8] 9,5] 10,9] 4,9] 57 | 45] 56) NNW: 1 SB. |3| NNW. |2]— Es 0 EA 0 = —| Cae, ne, no rio aj A ps 29 |15.52.00/18,94.00/1155] 569,7 0,8] 4,0] 2,3] 8,9] 88 | 10/37) SW [MM] exp. |3) se. |2]- - 5| CacSt |O = - One. tuas; Ali pe 30 [15.52.00] 18.39.00/1200[6 666,9 1,2 — | 4,8) 78) — [48] SE. |3 — |=| se. E o o Cr jo = 91 [15.51,59/18.48.47] 1178 667,6 0,0 4,3 5,1] 90] 21/56) NNS |! 2) exp: lala o 6] ac. 6. st)0 e E Gn. a: EO Observações Pressão m Tensão Humidade atmospherica emperatura, do vapor relativa Greenwich 8 horas p Maxima Minima Altitudes Longitude E. Wash Latitude 8. 6 horas 7 horas o Jr po dh 1 /15.51.53/18.43.47/1180/667,8/666,0 667,0 bo eo [A] pa pos [S) 15.52.00/19.07.00/1140/667,0] — [670,8 15.52.00/19.14.00]1164]670,7 15.53.00/19.23.00/1141/668,0 15.54.52) 19.22.19] 1177]669,9 15.54.52/19.22.19/1177/667,7/6 15.46.00/19.29.00/1139/668,2 15.44.00/19.87.00/1173/669,7 15.45.00/19.43.00/1198/667,3 15.35.00/19.54.00/1230/664,9/661,0 15.34.00/20.06.00/1230/662,7/661,2/662,6 15.81.00/20.10.00/1198/662,9/663,6/664,8 15.21.00/20.15.00/1197/665,0/664,2/665,9 15.28.00/20.20.00/1238[664,9) — [661,3 15.19.00/20.26.00/1171/661,5/664,9/666,2 15.18.00/20.29.00/1153]667,7/665,9]668,2 15.14.39/20.32.00/1134]669,8] — | — 15.05.00/20.32.00/1087/669,9/671,0/672,8 15.03.00/20.35.00]1052]672,5/673,5|G77,4 15.01.00/20.39.00/1048/678,1] — [675,4 14.50.00/20.51.00/1082/678,7] — 14,45.37/20.58.45]1081/673,1/671,8|672,8 4 26,5]-( : 5 | ESE. 14.39.00/20.51.00/1075/673,1|673,5/67: 5] 27: 28,0| 1, 5| 2,3] 3,8 36 | SSE. 14.46.00/20.58.00/1061/674,6/673,2]6 5) 27,8) 12,0 4 5) 3; NNE, 14.42.00/21.05.00/1082/675,1/672,3/673, 26,6 o | 3,6 3 [35 | ENE 14.42.00/21.09.00/1073]673,8/672,9/673,5 3/12 dl | 5 54 | NM: 14.44,00/21.18.00/1107|674,1] — |671,8 14.45.00/21.29.00/1125/671,6]668,3/670,3 14.48.00/21.38.00/1087|671,1|670,8/673,3 14.49.00/21.41.00/1062/673,6/673,3/674,8 14.50.00/21.44.00/1036/675,1| — [676,3 (a) Bacia do rio Cuando. (b) Rio Cuando. JSS4 meteorologicas 419 rça do vento AD —————— 7 horas 8 horas Wash. p. ———T Toe —ae ol) E. |2 SW =| NW. |1 | .ESE. |1 PS, Ny. 1 NE. |2] NW. |1 E 1) NW. |1 = || NE. |2 SEE [2] SE. |2 SE. |2| NNW. |2 SE |2 = = BRR o). € 0 SE. |2] NW. |1 SE. 2) NW. |1 | Cc. 0 do] SW... |1 BE |2| NE. |2 BR |4| SE. [1 SE. |4| ESE. |2 EM -| BSE. |2 ER | GESE. |2 BE |2] SW. |2 SER 2 | SE. |2 — —| NNE. |2 YE. [1] NE 2 IRINA V/A oz 2 C. 0 —| NW. |1 o Quantidade e qualidade de nuvens 6 horas a. St. St. Cac., St. Cac., St. Co EC [bo] 7 horas Wash. So o (=) (=) 8 horas p- | Chuva-horas Notas Cac., a., p. Cac., a., p. Cac., a.; ne. no rio. Cac., a., p. Caciamips Cac., p. Cac., a. Cac., a., p. (Caciam p. Cac., à., p. (ac as ip> Cac., a., p. Cac., n., à., Pp. Caeas p- Cac., a., p. Cac., a. Caco, a. Ulm, Gaer ar ps eim: Cac., a. Cac., a. Cacrtamip: Ne. no rio 6 a.; cac., p. Ne. no rio 6 a.; cac., a., dos 16 QCac- arm po Sum: Ne. no rio 6 a.; cac., p. Cac., a. Cac., a., p. Cac., a., p. Cac., a., p. Cac., a. 418 Observações eu Ds : meteorologicas 419 uú anda peratura o força do vento Quantidade o qualidade de nuvens É| E Ê RES o ajá Notas = Z q oras 8 horas O horas ao 8 horas É à z Nash p a p ê 1 184 [607,8/606,0/667,0] 2,9] 24,5] 11,5] 25,0] 1,2] 4,6] 5,6] 4,8] 85 | 24] 47 | ENE, a) SE. |2| E. |2]0 - o = 0 - = Cac, np. 2 19,07.00/1140/667,0] — [670,8] 3,0] — [16,0] — | 2,1) 44] — | 5,817) — |28| ng. |1 — =| Ny. |1/0 = =| => 0 - = Cao; a pe 3 19.14.00/1164/670,7] — |008,2] 2,8] — [19,9] — | 2,6] 4,2] — | 9,9) 75| = | y5 = O - = 1/1 St — — 0 — — Caes a,; no, no rio. 4 19,29.00/1141]668,0] — [670,2] 1,0] — — | 0,8] 88) — | 4mjim|= [58] c ly - |- 1/0 — - — 0 = = Ones ay Pe 5 9) 19.92,19/ 1177]669,9/666,5] 5,9) 4,8] 85/22 )45) 0, |g ENE. |2] NW. [1/1 St. 5 10) Cae. = Che, a. Pa 6 2/10,22.19 7,7/605,0 | W. a] E. 1) NW. |1/1 St, 0 — (0 > > 7 19.29.00] — = =[49) & ol = JH 9% 0 = = = 2 St - Caes ai 8 [15,44.00/19.97,00 7/607,4/66! 5,4] 5,8] 63/29/98] NW, 1! 9] SE St. 5 St 1) — — Cao, ds pe 9 [15,45,00/19.49.00/1198]667,9/664,7] 664,9 6,0) 6,47] 5,7) 6528/95) NE, |1 2) NNW. |2)0 = 0 = 0 > = Che. ne, po 10 /15,95,00/19.54.00/1290/064,9/661,0] — | 97/2477 5,4] 9,9) — | 60/43] — Cc o ESE. |2 — =/0 — 0 — — — — Cao, pe 1 |15,84,00]20.06.00]1230] 662,7]661,2/062,6] 9,0] 26,4 5,2] 4,7) 5,8) 61/1855] ENE. |1 SE. |2) CG Jo) St o = 0 = - Caes sy pe 12 [15.91,00/20,10.00/1198/662,9/663,6]604,8] 6,7] 28,0] 17,0] 25,0] 6,5] 5,4 19/30) G jo SE. |2) NW. |1/0 = 0 - 0 = - - 19 /15,21,00/20,15,00/1197/665,0/664,2]665,9] 6,8] 28,3] 16,0] 28,8] 4.2] 5,1] 2,6] 4,969] 9 [92] jo 2) NW. |1/0 = 0 - o - = Ones no pr 14 [15.29.00/20.20.00/1298/604,9] — [661,9] 4,8] — [13,0] — — | 897/60] — | 78 c lo — — Cc. 0/5 - — 0 — — Oy My My Pe 15//15.19.00/20,26.00/1171/661,5/664,9/066,2] 10,0] 81,9] 12,7) 91,5 4,9) 6,4] 51 | 14/58] NW, |U (o! (i) 1/0 = 0 — 0 — — Cae,, a po 16 [15.18.00] 1153/6677 3,8/30,0] 11,0] 30,0 4,7] 4,8] 84] 15/49] 0, | SE. |8 2/0 = 0 - 0 - = Caco a pe 17 [15.14.99 1184/669,8] — | = | 90) = | — | =| 65] 41) — | — |4s|=|— 1 = (= = ly = = = = = Caes a. 15 [15.05.00/20.92.00/1087/069,9/671,0/6 5,9) 6,9) 5,9] 79] 27 | GO (eh |) SE. |4|] SE. |1/0 > 5 C. 0) — — Caes, a; At ps 19 /15.03.00/20,85,00/ 1052] 6 3,8) 5,6] 89 | 18) 49 1 4 2/0 = ) — o) = — Cao. 1, pj AM! pr 8 15,01,00/20.99.00/1045 — | 4,588 | = |40 0 — |-| ESB. |2)0 — = - o) = - Caes, a 21 [14.50.00] 20,51,00/1082]678,7] — |674,3 — | 47)/86]) — | 58) SE |U — |-=| ESE. |2]0 - — — 1) - - Caos a, 22 [14,45,97/20,58,45]1051]679,1]671,8/672,3 3,1) 4,7] 98] 12/45) ESEs [1 SE. |2] SW. |2/0 => 0 o, o) - = Cao. as, pe 29 | 14,99,00/20,51,00] 1075] 74,2] 2.9) 98/89) 9 | 36) SSE: |1 SE, |2) se. |8|]- - 0 - o) = =| Nesnorio 6 a; ones ps 24 [14,46,00/20,58.00/1061]6 [074,7/-0,5] 27,8/12,0] — |=1,5] 3,6] 1,5] 8,0) SL| 6 NNE. |1 3) SE. |2]— — o — 0 — — MN Dn Z Des 25 [14.42.00/21,05,00/1082]675,1]672,9/678,7]-1,0] 26,6] 11,9] 27,2]=1,2] 3,4] 1,6] 3,0] 80 | 6 ENE: |? 8) NW. |2]— = 0 — (1) — = Cao, a, pe; AU pe 26 [14,42,00/21.09,00/1073/679,8]672,9]678,0] 1, 1,0] 4,4] 8,6) 5,8] 87] 18/54) NWs |! 2| NNW. |2]3 0 — ) — — Ne, no rio 6 m.; cnc pe 27 [14,/44,00/21,18,00/1107]674,1) — |671,8) 1,2] — [10,2] — | 1,0] 4,4) — | 4,4) 87) — [48 | NNW. |2 — [=| NNE. |2)0 - = - 0 - - Cuca 25 [14,15,00/21,20,00/1125/671,6]668,3/670,8] 1,2] 30,0] 13,8] 30,0) 1,0] 3,9) 5,8) 5,5] 78) 17 [46] NNW: [1 1] NE. |2]0 — 0 (ef 0 - - Cuca My Pe 24 /14,48,00/21,95.00/1087]671,1/670,8/673,9] 5,0] 29,0] 19,0] 29,9] 4,9] 5,5) 4,1] 5,9] 84/14/96) NWS Jd 1) NW. |2]- — 3 C. 5) Cc, C |= Ones, Me, De 80 [14,49,00/21,41,00/1062/679,6 GTA,S| 4,8/ 28,1] 13,5] — | 4,6] 5,8) 4,9) 4,9] 82) 17 | 42) WNNW:J1 2 o. 0/0 — 3 0, o = ai Caos Ay De 81 |14,50,00/21,44.00/1036/675,1) — 076,9] 1,8] — [10,4] — | 0,5] 4,1) — | 5,9) 81] — | 68) NNW: |1 = |=| NW. |1/0 — — = 0 - - Ono ar Observações SE TEME Pressão 7 Tensão Humidade atmospherica emperatura do vapor relativa Latitude S. Longitude E. Greenwich Altitudes 8 horas ) Minima o I Ilo IH ; ! 14.52.07/21.55.55/1032/676,8]676,6]677,6 .07/21.55.55]1032]676,9]675,3/676,9 14.54.00]22.06.00/1022]676,6|674,3/676,3 14.55.00/22.25.00/1008|675,4]676,2]677,5 14.56.00/22.31.00] 995 |677,4] — |678,4 .56.00/1018/677,3 .56.00/1018|678,0]676,4 2.57.00/1018/678,1 677,7 3.06.00| 997 |678,3]677,4|678,8 23.19.15] 988 680,7] — [679,7 3.15] 988 |681,3]679,4/679,9 23.14.00] 985 [680,9] — [681,7 23.16.00| 999 |682,0/679,5/680,9 .20.00/1010/681,0]678,1/679,7 3.23.00/1007/680,9/678,5/680,8 .26.00/1003/681,9/679,3/080,8 23.27.00/1015]680,9/677,4]677,9 7|679,4 14.22.00/23.29.00/1025]678,9|677, 14.28.00/23.32.00]1049|679,4]676,9]677,2 14.20.00/23.43.00/1082]677,4/6712,9]674,4] 11,: SE. 14.13.00/23.49.00]1106|674,9) — |671,4 NW. .08.40/23.59.00/1120|673,8/670,8|672,1 3,9 ENE. 4.01.00/24.01.00/1054|673,8/675,8|677,3 3.56.00/24.06.00/1082/677,8|673,8]675,1 3.49.00/24.11.00/1077|676,0]674,0/675,2 3.42,00/24.16.00/1097/675,2]671,2]673,5 0/34 A 3.89.56/24.21.00/1071/674,2]673,1]674,6 3: 3 8,8 13.29.00/24.29.00/1139/675,2/669,2/670,4] 20,9] 5: í ,9/ 20,2] 11,7 13.21.00/24.39.00/1119/671,7/669,7]671,5 15,5| 11,1 (a) Libonta. (b) Rio Cabompo. 1884 meteorologicas a oa rça do vento Quantidade e qualidade de nuvens É MC | o. 1 Notas 7 horas 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas = Wash. Pp. a. Wash. p. E “AA o E | NY Na e [121] O — 0 — 0 — — Cac. a.; JU3p. BRR 2) NW.:/2]0 — 0 — 0 — = | | Ne. noio 6'a.;'cae., a.; p- NE. |/2] NW. |1]/0 — 0 — O) — = Cac., a.; grande barra a W. p. S. 2| ENE. |3|0 — 0 - 0 — — | Cac., a., p.; barra a W. 6a. — =|| SOSids jli= — — — O) — — | Cae., a., p.; barra a E. 6 a. E. 2 C. 0/0 — 0 — 0) — — Cac., a., p. — RENA pó Gac, 6: |— — o C. = Cac., a. BP |3) NW. |2]2 C. 0 — 2 C. — Caes tias p- — Ee NE | 2/0 — — — 5 Cac. = Caes ap: SE. |2|] SE 1/0 — 0 — 0 — — Gac amp: — —) SE 210 — = — 0 — — Cac.; v. SE. fr. a. SE. |3|] SE 210 — 0 — 0 = — Che painta ip: , =| SE 210 — — — O) — = — SE |3) SW. |1])0 — 0 = 0 = — Calesna- pesei? E. |2) SW. |2]5 — 5) C. 5) — - Cac., a., p.; O 8 p. E 4 E 2/10 C 5 C 5 — — | V. fr. de SW. n.; cac., a., p.; tl SE: |3) SSW. |1/5 — õ Ci St 0 — = | O os, ex Siga, JE. 3] «SW. |2]3 = 0 = 0 = — Cae., a. Im: BEBE |2) NE. |2]0 — 3 C. 0 — - — N 1| ESE. |2]5 — 2 C O) = - Cac., a. E z S 1/5 — 0 — 0 = — Cac., a. E |— C. 0/0 = = — B) C. — Cac., a.; º K 4 p. N E NW. |1)5 C. 8 C. > — — Cac. arip: ER 2]; NE. |2]5 — 5 C. 0 — — Cac. ar p- Y EAN ENIO 11]5 — 5 C. 0 — | — | Cac., a., p.; ne. no rio 6 a. SE. |2] NNE. |2)0 = 3 Cc. 0 = = Cac., a., p. Mo |2|] SE Lp) o 5 C 5 C =| Cac., a., p- em lil nw. |3/5 Cc. 7 C OO Ni e Carta neo, A 8º 8 p. RE nm. |ojio) cm. |s| c,Ni lo) c,Ni. |-| er PERVI2) SW. |3]10 — 5 C. 10 CH Nm |2 Gac apo, eltiSios: QB K 8-10 p. 420 Observações SETEARO 8] meteorologicas E q Pressão e Tensão : a Bs | s atmospherica Temperatura do vapor y É Direcção | c força do vento Quantidade e qualidade de nuvens “| 8 SE |S — A me — E dp E E SEE E 7 : Aja EEE E Olhoras mhoras 8 horas horas os Notas E o! E) V S d ã 35º E É a Wash. Do 8/ 26,5 3 p, 28,5 Ne. no rio 6 a.; eae. a., p. BTA,9|676, 29,8] Cac. a; grande barra a W. po 576,26 4,6] 6,0] 84) 14/98) xy. |2 S. ND. c 30,0) Cy ey Di barra a W. Ga. ! > Caes, 5 [14.56,00| p.; barra a 6 [15.00.00 1009/678,9 33,2/10,0) 6,0] 6,0] 7,4] 54] 17/51] ENE. |1 7 /15.04,20 1018/677,9 — [10,9] 7,9) — 7,9/84| — | 42 (of 0 8 [15.04.20] 1018/678,0 95,1] 16,8] 7,5 20/44) NW. |1 9 [14.55.00 1018/678,1] — [13,9] 7,9) — | 8,2]58] — |52) NW. |1 078,9]6 11 [15.01,25/23.13.15] 988 [680,7 12 [15.01,25]23.13.15] 988 [681,9]679,4]079,9] 19,0] 91,0] 19,5] 31,0] 8,8] 7,2] 7,4) 8,9] 65/22/53) — |- 13 [14,58.00/29.14,00] 985 [680,9] — |651,7/14,8) — 110,8] — [14,0] 81] — | 6,8] 65] — [48] SE. |1 — 14 [14.50.00] 23.16.00] 999 |682,0/679,5]080,9] 11,5] 91,8] 19,5] 31,8] 9,6] 6,8] 6,1) 9,9] 67/17/55] ENE. |2 E ac. a, po; Up. asp; Sp. 1007/680,9/678,5/680,8] 14,0] 33,2] 21,2/39,4] 13,9] 7,2] 6,7] 8,4] 61/17/45] SW. |1 4 Db. H E he V. fr. de SW. us CNC Me, pj o uv SR a; Mp, SW. Caes, a; Up. ESE. |2 e NE, K — 15 [14.44.00 1010/081,0/678,1/679,7/12,5] 92,8] 23,0] 33,2] 11,8] 7,4] 6,6] 8,1] 69/18/39] ESE. |2 E E a One: 16 [14,38.00/2: 17 /14.95.00]2 1003/081,9/679,3]050,8/ 15,8] 30,6] 17,8] 31,0] 15,8] 9,2] 3,9] 6,7] 68 | 12/ 44| ESE. |2 SSW. 18 [14,90,17/2 1015/680,9/677,4/677,9/ 11,9] 31,9] 20,5] 32,0] 11,8] 6,6] 4,7] 8,2] 64/12/46] ENE. |? 19 /14.22.00/29.29,00/1025 079,4] 13,2] 32,8] 22,5] 39,0] 11,5] 6,5] 4,8] 6,7] 57 [12 20 /14.29.00/29.32.00/1049/679,4]676,9/677,2] 17,2] 32,6] 19,4] 32,8) 16,9) 7,4] 6,7] 758] 51 | 18 ESE. |2 e ESE. 2 Cac,, a. 21 [14.20.00] 1082/677,4612,9]674,4] 11,5] 33,1] 18,9] 39,4] 10,0] 6,4] 4,6] 7,0] 63/12/47] SE. |1 b b 5 Caes as 22 [14.13.00 1106]674,9 — [56] NW. |1 b Ê Cac, a O RAD: 29 [14.05.40/28,59,00] 1120/673,8 22/58| ENE; |? y bs ks (of Et; 24 |14,01.00/24.01.00/1054]679,8 18/48) NW: |1 . s (6). Caes, a, po «so; e. no rio 6a. 13.56.00/24.06,00/1082/677,8/673,8/075,1 11,1] 86 | 19/64] NNE: |1 26 [15.40.00/24.11.00/1077]676,0]674,0]675,2 7-6] 80 [19/47] No 1 a Caes, ds De 24.16.00] 1097/675,2]671,9/679,5 8075/22/46] O ]0 ; , E : Caes, au, po 28 |13.99.56/24.91.00/ 1071]G74,2 073,1/674,6] 29 /19.29.00/24 1139/675,2/669,2]670,4] 30 /13.21.00/24,99.00/1119/671,7 669,7/671,5 (a) Libonta, (b) Rio Cabompo. Observações Pressão : Tensão Humidade atmospherica Temperatura do vapor relativa | ) Greenwich Altitudes 8 horas ] . 7 horas Latitude S Longitude E. 7 horas Wash. 8 horas p Maxima Wash. Wash. Minima | 7 horas o RIA o 13.20.00/24.42.00 o) (Sto) -1 [So] > 24.46.00 to Je to oo [e] -1 [1 13.06.00/24.48.00 13.04.00/24.51.00 13.00.00]: 12.49.00: 12.47.00/25.05.00/1146]6 1155 1162 56/068,8 666,9 66,64 667,5|66; 654,2 5/651,1 .94.00/26.38.10 -00.00/26.41.00 11.45.00/26.44.00 11.40.00/26.47.00 95,1/652,0 11.35.00/26.50.00/1273/655,6/661,6/662,3 11.30.00 662,2/664,6 11.25.00/26.59. — 659,7 11.22.20/26.54.32/1260 659,8/662,0 (a) Muene NºTenque. 1884 meteorologicas us rça do vento Quantidade e qualidade de nuvens E CO TES Se Aa É Notas 7 horas 8 horas 6 horas 7 horas $ horas > Wash. p. a. Wash. p- z tl - — C. 0/10 C. 5) C. 10 — — Cacrarip- Ss. RIR NCYVO= =| e O — 10 CENT OO, Ni. 2 Cac., a.; X' QB) p- — —| NW. |1]10 (EN. 10 C., Ni. 10 C. — T. chuvoso. SE. |2| NW. |2/10 — 10 C. 10 C. — Caestarip- SW. |1| SSE. |11]10 — 8 (Na 10 C. — Cac. a. NES |) NW.. .|2]5 — 10 C. 10 Ni. — Cac., a.; [X* &' p- — ai NVVE ee PO (COEN — — 10 C., Ni = 6a; 4« aSW.8 p. JE |2) SE. |2]10 Ni. 8 (Om INSto 10 Ni. — QD a.; X 4-7 a. WE 2) NW. |2]'5 C:, Ni. 10 C., Nip 110 CNI: 1/0; Ka NW. 6a. enosq. q. SE. e SW.8 p. vm. |1) NE. |1/10 84 GL NG JOE NE -|QDo0-2n.; 2º JW 7-8p.; &'8 p. SW. |2 C 0/8 C., Ni õ C., Ni õ = — G0-1mn SW. |2] NE 2/5 — õ C 0 — — Ne., 6 a = Rd OSS 112) 0 — — — 5) = — Cas C., Ni — — — — WE |2) NW. |2/10 C 5 C., Ni 0 - — — SE. |2] sw. |2lo E GN O = é Es = |-=| sw. |3lo go a e 10 C. + AM 8 p. SW. |2| sw. |2]10 C. 10] C,Ni |10] GN |30|KaNW.12Za;p:; 4 a SW. eNW. 8P.; O) SW. |2| NNW. |2/10 Ni. 10 Ni. 10 Ni. E Dn. a. p. BERR | L) NE. |1/10) C.,Ni. 8 C., Ni. 10 Ni. - & a., p.; IS p- = =) SW. |2]/10 C., Ni. — — 5 CNH — T. chuvoso. VR] sw. 72/10 Ni. 5) (EIN 3 C. — T. chuvoso. pintar mem em TT 422 Observações OUTUBRO | DE 1854 meteorologicas 4928 Pres E Tensão E = E PA = | atmospl Temperatura do vapor. Direcção | e força do vento ntidado e qualidade de nuvens E E | —=———— E] —— | o a + É É É O horas 7 horas E horas horas horas CSA Si] a, / n- do Wasll. E Oliaalo 7/672,0] 18,0] 3 31,2 10,9/ 12,2] 88 | 84/56] SW. |1 - |-| e Jojo (Go 5 (o) 10 a 19.12.00/24.46,00/ 1105/67 3,3) 16,8) 32,0) 21,2) 32,5 7) 10,7) 11,6) 82 | 30/51) sy. | So [2] NW- [1/10 = 10 10 Ni: 13.06.00/24.48.00/ 1113 6/679,6] 16,7] 22,7] 19,5] 23,0] 16,5] 13,9] 15,4) 13,2] 94] 75] 79] 0 lp = we li) on ol gnt lo E 13.04.00/24.51.00/1095/6 74,7] 17,8) 25,2 29,9/16,8/ 12,7] 9,7 3 [69] o, | ESB. |2] NW. |2/10 — 10 (e 10 [e a Quanto 19.00.00? 5/1105] 672,5] 19,0] 30,0] 23,0/ 30,2] 17,5] 13,2) 12,9] 12,9] 21 | 39/59) ENE. |1 sw. |1 1/10) = s 10 c. = CUSTA 12.49.00]? 1155/673,1/666,5]669,9/ 18,0] 30,0] 19,0] 30,2] 17,6] 13,8] 11,4/ 14,0] 90] 36 | 56 0. Ip NE. |1) NW. |2)5 - 10 o. 10) Ni = Caes ns RO !p. 12.47.00 1146/66 — [070,5] 17,8 13,9) — [14,0] 88] — 173 Cc lo — =| NW. |2]10 O. Ni. — — 10 E Pá aSW8p: 12,45,00/25.05.00/1155/670,7 0,1/ 18,3) 13,6) 9,8] 13,9] ST | 26/73] NW. |1 NW. |2] SE. |2/10 Ni. s 10) Ni x Rá 12:40.00/25.11.00/1162/670,7/667,6/668,8| 16,9] 25,7 12,8| 17,7 14,9] 93 | 79/72] Ny SW. [2] NW. |2]5 10 10 1 12.95.00/25.15.00 1,8/662,2/664,0/ 17,5 32,8 82,8] 17,2] 13,5) 11,1] 12,6] 93 | 90) 82) NW. |o NW. |1| NE. 1/10 — s CNI 10 NI. has 12.85.00/25.20,00/1212/665,3]669,8] 6! 1a 30,0] 14,5] 12,6] 11,7] 10,0] 91 | 97/56) NY. [1 sw. |2) q o GN |5) cont |5 E e) 12.38.00/2 606,9/664,3 13,0/ 31,0] 17,2) 81,0] 12,0] 10,4] 7,4] 10,0] 94] 22/78] 010 SW. |2) NE. |2/5 — E) (0h O) = = 12.99.00/25.51.44/1217/86,64]) — |665/4/ 10,5) — | 19,5] — = |n0) NW. |1 = |=| se. |2lo es E o a = A 12.29.00/25.38.00/1227/667,9/663,0/665,0] 15,0] 28,5] 19,0] — 41/76) O o NE: |2) nw. |2l0 =] kl nm al com Il 12.25.00/25.45.00/1254]666,3] — |662,0/ 17,0) — |21,5] — = [66] 8. |1 = |=| nw. |2|s| cn |- E 8| cn |- O G [12.21.00]2 1291/603,2] — |660,1/17,5] — [19,5] — = [51 NV. |? = =| Sw |2/10) Gon |- = 10) G,Xi |2) GaNWoSW sp; Qu: 12:17.00/25.59.00/1251]660,0] — |662/6/17,1] — |20,0] — |16,2/18,8] = [14,1] 95 | — |8L| NE: 2 = | save fede qorosi | = 10) COS NT 1 R! bp, 3 [12:18.00/20.06.00/1297]663,9] — [655,9] 17,0) — | 18,8) — [15,0/ 18,7) — | 15,2] 95) = | 94) NNE 1 = |-| sw. |2j0) cos |- E, GI eso RIR es DE 12.08.00/26.19.00/1862/660,1) — [654,5] 16,9) — [19,2] — |15,9/19,9] — | 11,9] 98) = | 87] NES |! = [=| ne. |2jo) coxo |- o o st i CrEs 12.04,00]20.21.00/1367]654,5] — [654,2 16,0) — [19,0] — | 16,0/13,2] — [13,2] 98] = | 21] 8 12 = [=| sw. |1/10) Ni. = = Ga 8) Onbamawo 4 12.00.00/26,26.00/1393/059;/ 5|651,1] 16,2] 27,3/ 19,8] — | 14,8) 12,2] 15,1) 14,3] 89] 56) 88) SW: | NE, |2) sw. |2/10) Fe sb ani a onto | REA É 11.57.00/26.90.00/1450/651,5/615,5/616,6] 13,0] 29,2] 19,0/ 31,0] 12,5] 10,8] 10,9] 12,4 97/80/76] = [50] ESB. |2) o. Jolio) ae 5| GNL o Es = No into 11.59.00/26.99.00/ 1489/647,9/G41,9) — & Maj sw. |2) — [lo > 5 = =: = = 11,54.00/26.98.10/1485/644,2]639,9]642,8 Nel SW. |2] NW. |2/10 (o! 5) NRO) = = = 11.50.00/26.41.00/1497/049,4]647,0/G47,8 E SB, |2) sw: |2]0 - 5| CN jo - = = 11.45.00/26.44.00/1952/647,9] — [654,7 fo > |-| SW. |8jo =— — = 10 (e! = MUS po 11.40.00/26.47.00/1357/655,1]652,0/653,3 EXE: [3 1] ssw. |2] sw. |2lm (ch 10) CN 0) Coni |30)ZaNW A SANTA 11.95.00] 26.50.00] 1973]055,0]661,6]66243] 16,9] 1854/2258] — | — [12,2] 19,9] 10,3] 89] 58 [52] SW JB) Sw [2] xyy |2)10 Ni. 10 Ni. 10 Ni. - Ora 11,90.00/26.51.00/1242/605,9]662,2]064,0] 16,3] 24,7] 47,5] — | 14,8/ 19,1] 17,1) 12,6] 95 | 74 | Tó WS BB) SE. Ju) ne. jilo) cont Is Co Ni |10) Ni - 11.25,00/26.52.00/1255/667,9] — |659,7 = loss) = | = l13,8) — [11,9] 97) =|48] & f = JH) Sua Joelho) cante |- = 5 = 11.22,20/26,54,92/1260/665,0/659,8] 6: — | — |19,6/11,9/ 14,1] 82 | 47 [Sl AM: [10] anyy. (a) Aueno NºTenque. | Latitude 8. e sido e dd dd o papas] e dia dd 0 dd papas e. da o dad dd o dá papas cid ds cd o ds «ds Rap cido e do da Longitude E. Greenwich Pressão atmospherica 1 horas 7 Wash. Altitudes 6 horas Observações Temperatura Maxima Minima Wash. 7 horas Tensão do vapor 211260]659,8]657 2/1260/660,3 2/1260/660,8 2/1260/660,6]6: 2/1260 662,21659,4/660,5 661,2 660,2 660.216 661,6/6 1260] — 2/1260/661,3]657,8 (a) Muene NºTenque. o) [<>) [St) 19,6 20,0 14,9 15,2 14,1/ 14,5 Humidade relativa 7 horas Wash. [o 0) [0 0) Dire 6 hor: a. NSW. 1884 meteorologicas 425 rça do vento Quantidade e qualidade de nuvens — —— 7 horas 8 horas 6 horas Wash. p- a. ME | 1) NNE. | 1/10 Ni. = — C. 0/10 Ni. NW. |2 C. 0/10 CNI. NE. [3] SE. 1/—-| Ne. int. NE. |3] WNW. |2]8 CHAN: NR |1) SW. |1/5 Cae. RS) = |-lo) cn NM [2] ESE. |2/10) c.,Ni NE [2] se. |1/5| cae.,c. E | nm. |2lo) cn. N. Mi SEBO | 2/10 Cac. SB |2) SW.:|2]10 Cac. C. QURSIVVES IIS PÃO Ni. NW. |1| SE. |2/10] Cac., € E. |2 — — 10 C. VE |2) NE. |2/10 Cac. TE. |2 N. 2/10 GENE: E. |2] SW. |2/10) ce SR 2) NE. |1/10 Ni. NE. |2| SE. 1/10 CENT NE. |3 C. 0 |— Cac. TES |2) SSW. |1]8 E ICae: JE. 2! SSW. |2]8 C., Ni. ME |2) SW. |1/10] -Cac., C. ER o) = |-jo) C;Ni BR 1) ne. líjio) C,ni Ni | 1 (5 0/10 C., Ni. NE. |3 (67 0/10 Cac. BE. 1 SE. 2/10] Cac., ne. E. |1 NE. 2/15 6: Ni 7 horas Wash. Notas Chuva-horas 8 horas p- 10 Ni. 8 (ENTE 10 NI. 8 Cac. 3 Cac. 3 Cae. 10 Ni. 10 C. 3 Cac. 3 Cae. õ (CENT: 3 Cae. 10 Ni. 10 Ni. 10 CNI õ (CNI 10 Ni. 10 Ni. 3 Cac 3 Cac. 3 C. 10 Ni. õ Cr Ni. 10 Ni. 10 C.; Ni. 10 C., Ni. 10 Ni. 3 CG: 2 C. 30X a S.3p.; « do N.aoS.por 3| Qn.,a.1-2p.; Ka NW. 1-2p 4 8 n., a. ) K O r. — & a., p.; Ka SE. p.; —MV 1.58 p. — | —MU1.58p., £< asW.8p. 2 O KX de NW. n. = UM 4—-6:30 a. 2 O K'a.,p.; -M3»p. 1 O K 0.80-1.30 p.; « de SE. a SW. 8 p. —| B'6a.; WiijZa.; 4 8p. 2 |Ne. int. 6 a.; 4 nos qq. SE. e SW.; IX 10-12 p.; &) n. 8 K0-4a.; Ba. —|K 12a.,1.30-2p.; O 12 a.; &2p7.; «4 asE.8p. 2 K a SE. 8, 8.30 p. 3 IX 12 a., p.; & p.- 2 | [K ao N. 1.58 p.; 4 a NE. e SE. 8 p.; &) 10- 12 n. 8 & K p- 10 & n., a., p. 3| &n2n.,a., p.; IX do N.3 p.; < a NE. e SE. 8 p. E. 8 p.; [IX do N., JU'GOI11 p. —| Kas. B'1.58 p:;8 3 p.; « do S. a SW. 8. = K p:; Oº8 p. — W9a; [9 ap. ne 2 | Wi! 3n.; [Kn., p.; O a., p- — B a., p.; X 10-11.30 a.; [to pr 8 &n., a., p.; K p. 4 | &2., p.; Mp. 1 K € 1.30-2.30 p. 1 K 1,3 p.; O 7. 4924 Observações NOVEMBRO. [DE 1884 meteorologicas 425 Tensão Pres r h esnmointtoo Temperatura Cove Direcção. (O força do vento Quantidade e qualidade do nuvens õ q) = SS QUE :| É — a E |) horas E ioras O hor 7 horas Notas [S) E O horas A E no Aa Sioras ã de no : 2,21659,1660,5/ 17,6] 20,8] 20,3] 20,5] 16,5] 13,9] 15,5] 1 PH) nye | 1/10 Ni 10 260/662,2]659,4]660,5/ 17,6] 20,8] 20,3] 20,5] 16,8] 13,9] 15,5] 15,7] 93 | 88 | 89) — NW. i q E 9/1260] 5 5/17 5 5,9) 19,7] 93 | 88 | 89 F 10 Ni. 3) On,a. Lê p5 KZ aNW. 260/661,2] — |660,2/ 18,0) — |20,0/ 21,5] 17,4] 14,4] — 994) — | 56 à E O [0] O Ni. = = À -2p 911260] 661,9 060,2) 18,0 0| 21,5) 17,4] 14,4 14,9] 94 se cg lo Ú 8 4 On,a. 260/660,2 a | 88 NNW: |2) O lol) cni |19) ( E 1260/6060 61) ss 0 it 10 5 KO». 19606616 290] . |n/ | NNE» 8) SB) |M]=) Necimt |8) Coni |8| Ge |O RaTeE 1260/660,2] sajm| ch] NNE. [3] WNW. |2]8 (Ch If) =| uns, é E. gp. 1260/6597 870) co o) || NNW: [1] SW. [ij 8) CoNi |3 Cane. » DK denwn. 1260/659,7]658,0 N SE. |2) = |-J1o 3 (op - - - NAS 6,90 a. 1260/660,2/657,2/6. 9) 2 2/10) 10) Cy Ni ão Ni 9 vo; AMB p, 1260/660,2]658,2 |) N: 1/5 10 10 a: E Ê, 1260/661,2] (660,2 1 = = 2/10 10) CNiv | Cae, 1260/660,7 660,2 1 x, 1) SB. |2/10] 8) CN |3 Cane, 1260/660,8]6 660,9, 1 SE 2 SW. 2/10] E) C., Ni. 5 C., Ni 13 20.54.92/1260/061,7]660,7/661,7 0 O. [0] SW. | 1/10 10] G.,Ni 3 14 [11.22.20/20.54.92 1 1) Sp. |2/10 10 10] Ni 1.92) 1260) 661,7] 65 16,9/14,4]94) 68 [19] Esp: [1] || NB: [2] = J=p0 e. s 10 NÍ 16 |11.22.20/26.54.92/1260/060,2 16,8) — | 86/78) — | sw /1] || NNW |2) NES |2]10 5) CoNi lo E] KiSn:,p; Op: | 659,7]658,2]659,7] 17,9] 24,0] 20,2] 24,5] 17,2] 14,9) 15,6 15,8) 94) 71 | 87) s. [1/0 | NES |2) No Jojo 10) Co Nise. [5] CoNii |2] KaoN. 158p; T —— — — | ——— “O — em E = s Bs [2] e Re o an Nem 8 o [2 = a EANDA n A a a ps .r er = = E Sia Ss =! co Ae ve e) & ES qu | A = Soro» | RE So RE PS RE ES E | E JESVESA pESESA (| GO S aa «< =s =, SHlas|28| Ea [as = as|as| amj2elasgiagn Sds) = = E | E =jSF|=S|25|= a. H 5 (do) =” [0-0] do) E” | o = = o) =” | o o =? |oo 658,8657,4/658,8 22.2 26.54. 659,3/657,4/698,6 22.9 26.54.82/1260/659,8 659,8 ppa! = .22.20/26.094. p 3971,4]658,6 91658,9 4/698,4 .22.90/26.54.35 7/658,2/659,4] 18,4] 22,3] 20,8/ 23,6] 17,0] 15,1] 15,6] 15,5] 96 | 78 | 88 | SSW .22.20/26.54.3: 599,9/657,4/65 SW 22.9 26.54.32] 1260/659,7/657,9]659,9| 19,3] 20,5] 18,9]22,0/ 18,3] 15,7/17,1/15,3/94 |95 | 94] O. .22.20/26.54.32 660,4/658,4/658,9] 17,0] 21,6] 20,2/ 22.6] 16,8] 14,0] 16,6] 15,6] 97 | 87 | 89 | WNYV 657,9]6 .22.90/26.54.32/1260/658,9 .22.90/26.54.85 659,21656,7 656,41657,4 657,9 656,4/658,4 9.00 23.00: 259/664,5 26 |11.26.00/27.14.00/1297/659,0/653,5]655,7] 17,6| 23,2] 18,7| — — |14,0/15,8/154] 94 | 75 |96 | SS 27 /11.29.00/27.12.00/1227]655,5/659,2 ]660,7] 17,0/ 24,0] 19,0] — | 16,5] 14,0] 16,6/15,4| 97 | 75 | 94 | SSV 28 |11.30.00/27.11.00/1270/661,6/654,3]656,8| 17,8/ 25,2] 19,8] — | 17,2] 14,2] 16,8] 16,0] 94 | 71 | 93 NE 29 |11.30.00/27.11.00/1270/657,9]656,5]656,7| 18,0/25,0/ 21,1/25,5]) — | 15,0/14,7/16,4] 98 | 62 | 88 SW 30 |11.30.00/27.11.00/1270/658,9]657,4/658,9] 19,7/20,1/ 19,4/23,0| 17,5] 14,9/16,3/15,8] 96 |93 |91 |] N 11.30.00/27.11.00 D/659,9/658,4]658 (a) Muene NºTenque. 1884 rça do vento meteorologicas = ae ES — Quantidade e qualidade de nuvens 6 horas — —— 7 horas 8 horas Wash. p. W. |2 C. 0 NE. |2 NE 1 We | C. 0 E. |3 — — SEM 12] SW. |2 NE RAS VY = 4 VW 11) NNE. |1 SE. |1 = es VE. MES 2 ER 2) SW. Ii NW.|1 C. 0 C. 0 NE 3 SE. |2 — — SW. |1| SSW. |2 SW. .|2] NE 3 TE. |2 G: 0 VE. 1 aa eu WE o C. 0 N. 2 | NAN PRE 2) c lo NW. |1| NNW. |3 NW. |92 sm o NE 2) c,lo NE. 9 C. 0 (MW. |2 C. 0 NH. |2| NW. |2 IV | C. 0 Sae | 1 = Er We |2 N. 2 N. DM NAVY. 1 NE. |2 | NNE H 10 10 10 10 10 10 Cac., ne. int. Cac: C., C.-St. C., C.-St. CCE S iene: Cac., ne. int. 7 horas Wash. (CHEN Co Ni CENTO Re: Co NT Cae., C. CHEN CNI: Ni. “a Ni. “a ee o o o e 2 7a “a -. ee ele o E Q EA [f Q 8 [0 0) 10 10 [eb] [o] 10 10 8 horas p. “huva-horas | | 1 [ebo) [eóio) o [A = Notas JU 9a; K BP. KaSW. Qº p. KBºp.; 4 a NE. 8 p. [p= BITS Sp: & a.; &« a NE. e SE. 8 p. O K p- n5 as o po Ta E UUtDIS0mp. D K p- 11-12 a.,10.30-12p.; [X do NE. 12 a.; 4 a SE. e NE 8 p. n.; à., p.; [X do NW. 3 p.; elaSWaS p- &n.,a.; « a NE. 8 p. op tdos AMU o 4 a NE.8 p., 09 p. Dag Eloy 1005 AMU) joe 4 a NE. e SE. 8 p. O n.; X a NE. My 8p. D K p- QD; IX de SW. 5 p. K O p- K p:; Qº 10 n. 1 p.; 4 à NW. 8p. [6p=; bis: Q1,7-12n. Q n., p- n., p., [Ga NBop: K3 a. p:; Qa., p- K de NW. 6a.; & à., p. KaNW., Oº p.- & p.; IX de SW. 1.58 p. QB a.; « a NW. 8». E a., p.; IX de NW. p. BD a., p.; « à SE. 8 p. Observações DEZBMDRO, | DE 184 meteorologicas 492 : Pressão = a Humidade | Ê DA E | atmospherica Temperatura q Direcção | € força do vento Quantidade e qua de de nuveus E E —— LEE > E SE E E Ghors | |] Tlioms 8 horas G horas qihoras Bihoras Notas, É a a. Was. p a Wash. n 1260/658,8] 657,4 25,0) 15,0) 12,1] 15,9) 16,0] 89 | 67/91] sw. |1 SW. |2] 0: 0] o. to) Chpsio E = gn; KO p. = KaSws Op. =| KO'p; 4aNE: Sp. = [E p:; —MUU 1,58 p. 3) NE. 1/10] 26.54.32) 1260/659,9/657,4]6: 25,6] 16,0] 19,8/12,9/ 14,9] 90/55] 81) sw. |1 4 CNINi: 8 2 1260]659,8/658,1/659,5 16,8 26.5: 10] C., Ni.,c. [10] Cac. 26. 1260 6574) — 16,8 8) CGoni. |- - 26,51,92] 1200/659,1]057,4/658,6 17,0 91/75)86| ssw. 2) sw. |2]10 10) Cne, CG. |3 (e) 4) Ou; 4a NE oSE.87, 11,92.20/26.54.92/1260 057,9 17,3 54 | 84/91) sw. |1 N. |2] SW. [1/10] Cue. 10) ConNi |5 c. => OK»: 5 On a:,3p; KR A o80p, e, Ni. |10) Ni. 4 OK»: Ni [10] Cue, ou NE -—|On,a.p.; o 1260 95/96) Cc lo SW. [1] NNE: [1/10] 5 C., Nic [10] 2/1260 — | 91] NNE. |1 BSE. |1) = |=|= Ne. 5 14,9 658,7 solos) o lo NB. [1] SW. |2]-| Cac.ne. [10 12:n,,10.80-12p, Zu; Gas K do Wo 8 A Sp. NM. 3 po p: 26.514.92/1260/658,9) 14,7] 17,7] 16,9) 96 | 93 | 91 E | SW. |2 (o) (o) 1/10] Cac., O. |8 C., Ni, 10) C., Ni. (o) (o) 26.54.92/1260/659,4/698,4) — | 17,2] 19,9] 19,6/21,0/ 16,7) 14,3 95/94) SW. |1 WAW. |1 (o) 0|— — 10 +, Ni s C; 9 20.54.92/1260]660,7 23,6/17,0/15,1 78] 88 | SSW. (or 0] NE. |3]- Cac 6 INI O GEN o On. Sp; Usp. 26.54.92] 1260]659,9 18,0 24,0 16,6] 92 | 7590) SW. |3 SSE, |2) — |-|s 8) CNi [10] O, Niyo |1 Zu NE.S py D9p- 2/1260]659,7) 19,3) 2 9/22,0 15,8) 9495/94] 0. 10 SSW. [1] SSW. |2]10, Ni 10) CG. Ni. [10] Ni. 9 AUS p,; - : ssw. |o| x E “SE. Sp. 2/1260/660,4)658,4 [658,9 22,6 87/89] WNW.|1 SW: 2) NE. |9/10) Ge. 4 GR ENT O 3) On;KaNE US 1260) 91659,2) 3 |99,4 q8|s9) G& Io NE. |2] O 0/8 (e 10) C.Nic /10) ES -92/19260/659,2]656,7] — |18,0/25,8] — |25,8 69]-| 0 0 NE. |1] — |=|-|Cne. ne.int.[5) CNis |- = E) O; K de SW. 5p. 11.22.20] 26.54.92] 1260/657,9]656,4]657,4 so)92] CG Jo NW: [2] Cc: Jojio) caco) cni |3) ca. |3 KO»: 11.22.20/26.54.92/1260/657,9]656,4]658,4) 16,7] 29,0] 20,22 70 | 89) NNW: |1 N. |2) NWs [1/10 C. C:st |i0) GNi |3 Enc. = EK p:; 0º 10n. 26.54.82/1260/658,4]657,4 20,1/24, 88) 89) NNE: |1 2 €. 0 C., C.-St. [10] Cy Nic. |3 (eh — O1p; <4aNW. sp. 26.54.92] 1260/658,8/057,0 5/20,0 60/84) SSW. |1 1) NNW. |3/10/€., 2) CyNi |3 C; — EK p5 Usp. 11.24,20/27.03.90/118: 5/062,9] — = 87)— | SW |i 2 — —|10/Cac., ne. int.[10) O, Ni |— = 5 O1,7-12n. 27.03.90) 1182/604,6]663,4]664,4] 17,0] 21,2) 19,3 85) 97/ NNW: |1 Nip C. 0]— — 10) C., Ni., e, [10] Ni. — On,» 7.09.90/1182/065,1]663,6 [664,6 15,6] 19,2) 15,2] 96 | 62/97) GO NE. |2] c lol Ni. 10] C., Ni 10) CoNi 15,5) OQnypi;KaNE p. 11.23.00/27.15.00/1259]664,5/656,1 658, 8,8 16,6/ 15,4] 60 | 69/97] CG | | NW. |Z Cc. 0|— Cac, 8 10 Ni. — [3a py 027: 11,26.00/27.14,00 d [695,7 144,0] 15,8) 15,4] 94 | 75 | 96) SSB: | NNW. [2] NW. |2/10) 9 10 Ai. K deNW. 6a; ap. 11.29.00/27.12.00 660,7] 17,0] 24,0] 19,0] — | 16,5] 14,0] 16,6/ 15,4) 97 | 75 | 94] SSW: |2 | AW. |1 (0h 0/10 10 10 c. — KaNW O'p: 11.90.00/27.11,00/1 [650,8/17,8/25,2/ 19,8] — | 17,2] 14,2] 16,8/ 16,0] 94 | 71/99] NES |! SSW. |1 = |=j0] 10 10] Ni. 5) Ops deSW. 158 po 11,90,00/27-11,00 5|656,7 15,0) 14,7] 16,4) 98 | 62/88) SW: |2 NW. |2) =. |2]1) 10 10) Cane, 0. |— Da; 4a NW.8p: 11.30,00/27.11.00/1270|658,9/657,4/658,9 5) 14,9) 16,9/ 15,8) 96 | 98] 91) NWo |2 N. [2] NW. [1/10 Ni. 10 10) Ni. 5 O 2 n:; [X de NW. p. 11.30.00)27.11.00] 1270/659,9]658,4/658,6] 17,4] 21,9] 19,0) — | 16,6/ 14,0] 14,9] 14,9] 95 76/91] No |) NNE. |2| NNE. |1/10 Ni. 10) Cue.,C. [10] q. 4| Oa,p; CaSE Sp. (4) Muene N 428 Dias Observações da Pressão Tensão Humidade E Sa É atmospherica , Temperatura do vapor relativa 5 Ed lElo Tapa Vo lodo TETE EEE ENE E SS = Ea õ Etico = =. lr > |o lo |m>lo OR HH 11.85.00]27.07.00/1278]657,8]656,9/657,9/ 17,8| 20,8) 18,4] 24,0] 17,8] 14,7] 15,7] 15,0] 97 | 86 | 95 11.40.00/27.07.00/1279/658,0/656,5/657,8| 18,0] 25,0] 19,8] — | 17,0/ 14,1] 14,8] 15,4] 92] 61 | 92 11.46.00/27.10.00/1246/658,8/657,8/660,5| 18,2] 21,0] 18,5] 24,5] 17,6/ 14,9] 15,7] 14,7] 96 | 85 | 93 11.46.00/27.19.00/1370/660,5/648,8/690,8/ 17,7] 22,9] 17,0] 23,5] 15,6] 14,8] 15,8] 14,1] 98 | 78 | 98 11.45.00/27.27.00/1331]650,4]652,0/653,5] 15,1] 25,3] 20,0] 25,5] 14,2] 12,2] 17,6] 15,5] 96 | 7 | 90 11.40.00/27.30.00/1319/654,8/653,3]654,5| 15,7] 26,2] 19,8 27,0 15,3| 12,6] 13,9/ 14,6] 94 | 56 |] 85 11.35.00/27.32.00/1258|655,5/658,0]659,5] 17,0] 27,3| 18,5 55 16,2/ 13,5] 15,5] 13,8] 94 | 57 | 87 11.36.00]27.36.00/1252]660,8/659,8[660,0| 15,9] 18,6| 17,5] — | 14,5] 13,0] 14,9] 14,1] 97 | 94. | 95 11.36.00/27.38.00/1268|659,8]657,3/658,8] 15,0| 31,3] 20,0] 31,5] 14,8| 12,6] 16,1| 15,2] 99 | 48 | 88 11.26.00/27.87.00/1293/659,2] — [|656,7/16,0] — |20,0| — |15,5/13,1] — |141]97| — | 81 11.16.00/27.38.00/1254/657,4] — |659,9/18,2] — [18,0] — [17,8]15,2] — [144/98] — | 94 11.05.52/27.39.00/1260/659,6/658,2/659,4| 16,8] 27,5] 21,8| 28,0] 16,2] 13,5] 16,4] 17,5] 95 | 61 | 90 11.05.52/27.89.00/1260/660,2] — [658,9/ 17,6] 28,0] 21,5| 28,0/ 17,2] 14,4] 16,7] 17,7] 96 | 60 | 93 11.13.00/27.41.00/1285/660,8/655,1/656,8| 18,0] 24,3] 20,0] 25,0] 16,8| 14,1] 18,6] 14,5| 92 | 83 | 83 11.18.00/27.43.00/1239/656,6]659,8]660,6] 17,8| 26,5] 20,0] 26,8] 17,5] 14,6] 17,6] 16,4] 96 | 69 | 94 11.21.00/27.47.00/1220]662,0/661,01662,2] 17,7] 26,5] 20,5] 27,1] 16,0] 14,5| 17,8| 15,8| 96 | 69 | 88 11.24.00/27.50.00/1214]663,7/661,5]662,7] 18,0] 25,0] 20,1] 26,2] 17,0] 14,6] 19,1] 16,3] 95 | 81 | 93 11.26.00/27.56.00/1246|662,6/659,6]660,1] 17,8| 25,6] 19,0] 26,5/ 16,5] 14,7] 16,2 14,9] 97 | 67 | 91 11.32.00/28.00.00/1250/660,3/658,3]699,8] 18,5] 25,7] 19,2] 26,8] 17,5] 15,0] 18,1] 15,6] 95 | 74 | 94 11.39.00/28.02.00/1193/661,5]662,1]664,5| 17,4] 27,8] 20,7| 28,2] 17,0] 14,8] 17,4] 16,3] 97 | 63 | 90 11.47.00/28.06.00/1158/667,2/666,1/667,4| 18,2] 27,4] 20,9] — | 17,5] 14,8] 17,8] 16,5] 95 | 66 | 90 11.47.00/28.09.00/1148]669,4] — |668,2/18,7] — |19,8] — | — [15,7] — 15,998] — | 92 11.47.00/28.09.00/1148]667,1] — 668,38] 18,0] 24,7] 21,8] 25,0] — | 14,6] 17,1] 16,8] 95 | 74 | 84 11.47.00/28.09.00/1148/669,0] — 667,5] 18,7/ 19,7 17,0| 23,0] 15,7] 15,2] 14,3] 14,1] 95 | 84 | 98 11.42.00/28.08.00/1153]667,9]664,6/667,1| 15,2| 27,3] 18,6] 30,0] 14,6] 12,0] 17,5] 15,1] 98 | 65 | 95 11.37.00/28.08.00/1125/667,6] — 1669,4/15,5] — | 20,4] 30,5] 14,5 12,3 — |16,3/98 | — | 92 11.37.00/28.08.00/1125/670,8]668,5/670,4/17,5| 27,6| 20,3| 28,2| 16,8] 13,5] 15,8] 16,0] 91 | 68 | 91 11.97.00/28.08.00/1125/671,4/669,9/670,9] 18,9| 21,7] 20,2] 23,0] 18,0] 14,5| 16,0] 16,8| 89 | 88 | 95 11.39.00/28.07.00/1138/671,8/669,8/669,8] 18,6 27,2] 21,7] — | 17,5] 15,5] 15,7] 17,0] 97 | 98 | 88 11.39.00/28.17.00/1180/669,3] — |666,3/18,0] — [18,8] — |16,5/14,6| — |14,9]95|] — | 92 11.39.00/28.28.00/1121/667,5] — |671,2]18,5] — — |16,5/15,2] — |15,9/ 96] — | 92 (a) Licuco. JAN NW. NNW ESE. NE. 1885 meteorologicas 429 rça do vento TD ——m 7 horas 8 horas Wash. p- SW. |2|] NNW. NNW. |2) NW. SB | SE. NEEM NNW. NE. NNW. NE 2) ENE. SE. |2 SE. NE. PRI PANIW.. SE. 2 NE. — =| (Sd — E NE SME 2) NE. SE. |2 SE. NE 3) NE. [NBS | 1 NE. [NE | 2 — W. |2| ESE WE |3 SE. NR 2 NW. NE. |2|] SSE. — —| SW. w. 3| NE. SW. |2) NE SW. |2 C — — | NW. MBB) NNW. BE ARIENINVE C. 0 SE. — == NE. — — C. VOL. II. LES) b9 o [A] Quantidade e qualidade de nuvens 6 horas 10 8 |C., Ni.,C.-St. 10 10 o) 8 | 5 10 10 a [o] o 10 7 horas Wash. C., Ni. (5 NIE (CNIC IC. C., Ni. 10 [ebo) 10 oa 8 |Cac., C., Ni. 10 10 10 10 8 horas p. C., Ni. C. Ni. Ni. Cac., €. I LS Notas JEZ Dag in 4 a NE.8 p. Gas poauAras 0) à., p.; VP NW. rondando como cyclone até E. Barra de cac. a W., « doN.a S. por E. 8 p.; [X a NE. p. K p.; « a NE. 8 p. Muito cac.n.; [X de SW. e NE. 6p.; 4 asSW.8 p. K WQp.; 4 a SE.8 p. Ka SE. p.; «a SW. e SE. Sp. —ML 1 [Z de NE. ) 8 p. a, 3 P.; IG 3/p.; AMA SER esw.sp. 4« a SE. eSW.8p. Cac., a.; 4 a SE. e SW. 8 p. 1-2n.,6 a.; Ulm, S 12 a., 4 p.; K de NW.4 p. 4 a NE. e SE. 8 p. K' Ba. p. Kn:;%n., a. O IX Mp. « a SE. 8 p. Doo Eloy Jos [EX io fe) oder —MU 8 p. lag Elos EO < asW. W'a.; «4 a SW. 8 p. IS de NW.; (7) 4a; 4 aSE. Muito cac., os 4 a NE. Cac., [& de SW., a.; OB XaNW.8 pp. Elo IDE KK de SE. 0-1 p. K de NE., &) 10 a.-0.30 p.; 4« a NE. 8 p. 28 428 Observações JANBINO | pj 1655 meteorologicas 429 RE Te Humidade : =" =— = E atmospherica Temperatura do vapor relativa Direeção | c força do vento Quantidade e qualidade de nuyens E | 8 — A — SEsIa o 2—| E ss E E ) E ã É =) = U horas Bihoras Erliorar ilioras; horas E Notas 5 A p. a Wash. po g —|— - IS) 15:35:04] 88.07.00 1978 [57,8 [056,9]657,9] 17,9] 2059 1447) 15,7] 15,0/ 97 | 86 aw: |1 sw. |2| NNW. |2)8 c. 0) cx lo) comi | mam 2 07-00/1279]658,0 25,0 1dyi) dd) dopd 08 NNW | nw. |2| ny. |el10] Gac |8/C,Ni,Cst|s e. 3 G NE. Bp. 3 [11.40.00/27.10.00/1246]658;S BO Ro) a E OO O EN sw. |1| sp. |1|-| Cacyne. |10) ni lo) ni lg Ota, piada. 4 [11.46.00/27.19,00/1370/660,5 ERd 14,8) 15,8|14,1/ 98 | 78/98] co NW. |1) NNW. |2)10] CG. Ni. |10) G. Nie. |10) Ni. 2 Da. p.; JU? NNW. rondando 5 [11.45.00] 133116 2,0 25,3 12,2) 17,6] 15,0)06/) 04) 00) NE DUDA O xe, |) Ny | ]5 (en 8) cn |» c. ligada sonata a Se 6 [11.40,00] 1819 653,3 96) 89] NE. |l 2 2 Go NI IO) GNL |— 7 [11.85.00 1258/655,5]658,0]659,5) 5787) NW. |1 a 5 sa Ta a ly s | 11:86.00]2 s/660,0 18,0) 14,9) 14,1] 97) 94/95) NE: | xe. |p 9 Ni 5 a 9º |11.86.00/27.98.00 9] 48/88) NNW 1 sp. |2) NE, |1 GN || e O emisesr ean So 10 [11.26.00/27.87.00/1293 - 16,0 =| A = |=| SE: |4 - 10) Ni = vd NE. Op. 11 [11.16.00/27.98.00/1254/657,4]) — 9/18,2 = | dá ! = =) o lit - 5| Care, C. [=| Da3p; K3p; La SB, 12/[11.05 9,00 1260] 659,6 16,8 01/90) SSB: 1) À | ss. |3) np. |2)5) Cree |i0lcre, co mio) care |=| GaSBesW sp. 13 [11.05.53] 27:39.00/1260 060,2 60) 93 | SSB, |3 2) SE. |1|]-| CGne. |5 Cc. 5) Coe, CG. |—|Cac. a; a SE. e SW. Sp. 14 /11.19.00/27.41.00 060,8/655,1/656,8] 89/89) O 0 3) NE. |3)10) C.Ni |8] Cae,0. |8]Cne, C Nij—| QI-2n,6a; Jp. 15 [11.18.00/27.43.00/1239]656,6]659,8/060,6 69/94) NNE: |2 1) ne: |al10] Cac,c. |6) Cni lo) xi —|Ba2a, 4 py; KdoNW. dps 16 [11:21,00/27.47.00/1220/662,0/661,0/662,2) 31 15,8] 96) 69] 88) NNW: [1] ] [psy Seda) cao ol Grito el pu E GaNB.o SP Sp. 17 [11.24.00/27.50.00/1214/069,7/661,5]662,7 16,9) 95] 81/99) NNW: |2 NNE, |2 = lia Ni. 8 10) Ni Es K'Da,p- 18 |11.96.00/27.56.00/1246]662,6 660,1 14,9) 97 67/91] ESB: |2 NW. |2) ESB. |2/10] Coni |5 E) (6) - En; On a 19 /11.92.00/28.00.00/1250/660,8/658,3]659,8] 15,6] 95 | 74) 94] NE: |? sw. |3) sp. |2]8| Gne.,C. |8 3 c. 3 OE Up. 20 [11.39.00 02.00/1193/661,5]662,1/664,5 16,3] 97 | 63/90 SW. |1 NNW. |2) NW. |2/10] Cac., €.,e. |5 3 e. = = 21 [11.47.00/28.06.00/1155/607,2/606,1/667,4 16,5] 95 | 66] 90 WSW. |2 NE. 2) SSB. 1|s Cac., G. 8 10 Cne., C. E 4 a SB. Sp. 29 [11,47.00/28.09.00] L148/669,4] — — 92) ENS] 5) sw. |silio Ni. - = 10 Ni. s| On,a, DAS n.,8 ps 28 [11.47.00/28.09.00/1148/667,1] — 14/84) CO 10 W. |3] NE. |3/10 Ni. 10) CG. Ni |i0) C,ni |-| On: Dus a SW. 94 [11,47.00/28.09.00/1148/669,0] — s4| 98) NNE: |2 sw. |2] NB. [af 10) G,, Nic. |0 = = [) Swim 28,08.00/1153/667,9]664,6/667,1 65 2 |m ssw. |2]) 6. 0|— = 5) CNi |5| Cae,G |-| Kde E 4 a SE, 11.97,00/28.08.00/1125/667,6| — |669,4 -|92]) & o = |-| NW. |1)2] 0 Gst |— - 3) 0,,0:St. | =| Muito cnc. a. ni; 0 NE: 37 [11.87.00/28.08.00/1125/670,8/608,5]670,4 08/01) NW: |1 NW. |1) NW. |2/10) Gac, CG. |5|) Gn 0) cni |- Cr fede 2 aj 28 |11.87.00/28.08.00/1125]671,4/669,9]670,9 83 | 95 | WSW: 1 SE. |1) NW. |1|-| Cae,C. |10) CacC. |0) Gac C. |= Da 29 [11,99,00) 7.00/1138/671,9/669,5/669,8 58 | 88 0. 0 (0% 0 2 (10 Cac. 5 C., Ni. 10 Cac. — e 30//11,89.00/28.17.00 - = | 98 | Way. |À = 2/10) Cne. G. |- = Ho) one |- IX do SE. 0-1 p. 31 |11.89,00/28.28,00]1121/667,5| — |671,2 g 6,5 — | 98) NWo |2 = E oji) GN |- = E) Enio |=)| recto O pesa psd | pe em [pe pp E (4) Licuco, VOL: 1, 28 Latitude S. Longitude E. Greenwich Observações Pressão Altitudes 6 horas ar 7 horas Wash. atmospherica Tm a Temperatura —— a A | ———omm 7 horas Wash. 8 horas p (o) JÁ o 11.35.54/28.32.50 11.95.54/28.32.50 11.35.54/28.32.50 11.35.54]28.32.50 11.35.54]28. 3 11.35.54/28.32.50 11.35.54/28.32.90 1070/674,6 1070/676,4 1070]676,1 1070/675,4 1070/675,3 1070|675,7 1070/675,2 GT4,8 674,1 674,0 672,4 673,1 673,8 673,8 11.35.54/28.82.50/1070/674,1/671,8 11.35,54/28.32.50/1070/672,0/671,0 11.35.54/28.32.50/10701672,51671,8/671,5 11.35.54/28.82.50/1070/671,8/670,0 11.35,54/28.32.50/1070/672,8/670,5 11.35.54/28.32.50/1070/672,5/670,8 11.35.54/28.32.50/1070/673,1/671,0 11.35.54/28.32.50 11.35.54/28.32.50 11.35.54/28.32.50 11.35.54/28.32.50 11.35.54/28.32.50 11.35.54/28.32.50 11.35.54/28.32.50 11.35.54/28.32.50 11.35.54/28.32.50 11.35.54/28.32.50 11.35.5428.32.50 11.35.54/28.32.50 11.35.54/28.32.50 11.35.54/28.32.50 (a) Rio Luapula. 1070/674,9/67 1070|674,8 1070/674,8]6 1070/675,1 1070/675,1 1070/674,6 1070/675,8]6 1070]675,1 1070/674,8 1070/675,6 OO) pum 1070/673,3 1070|GT4,S 1070]674,6 673,1 671,5 671,3 9|674,1 673,6 31673,8 5/672,8 3/673,1 673,8 673,1 Minima Tensão do vapor FEVERI Humidade Ê relativa Dir SE E se 6a E RE ' 93 | 58/90] ESE 90 | 63] 92 = 95 | 64] 95 C. 98 | 77 | 95 | NNE OO | ENIMVE — [83/92] NNE 98 | 80 | 99 95/70] 91 SE. 94 | 68 | — SE. 94 | 64 | 93 SE. 98 | 78 | 93 = 99 | 74/91 C. 95 | 87]80] NE. 95 | 09 | 96 — 93 | 53/92] NW: 97/58|87| SSE. 921] 62]91| NE. 98/83 |87| ESE. 96 | 47 | 92 C. 97 57 | 90) NNE 98 91 95 — Om | Da 93 | NBR 95 168/91] ENE 97 | 50] — — — | 67/93 — 96 | 91 | 95 SE. 96 | 66/90 | NE. 98| — | — | NW. 1885 A ca do vento Quantidade e qualidade de nuvens É —————— | ———T—*»— o —— o | & horas 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas s da Vash. p. a. Wash. p. & O O nm. |ojo) cm. |6| cn |2 Cc. Ee D'1p.; JUW2p. MR NE. [1/0] cn: |8| com. [10] cn 2 | En.,p.; J2p.; & do N. a SE.8 »p. a nm. |1)s| c,m. |6)- c,Ni. Jl10) CG,Ni. [1.30 10; K'Q'4-5p. ERR 2) SE. 1/10 C., Ni. 8 C., Ni. 10 Ni. 3 GS a., p.; IS PD. 2] Ny. |slílCae., C., Ni.|/7| C.Ni. 10 Ni. 6 OD a. p:; K AUS p. ER 2) NW. |1/10 Ni. TO | CENT er O C., Ni 11 n., 2.; O)º p. ma) no. |2|- — Si REGENTE 4 B a. p. WE |2) NW. |2/10] Cac., C., |4 C., Ni. | TOC Nm — | KaSW.2»p.; & deN.a C.-St. SE. $ p. VE | 2 — —|10 Cac., € o plo) C., Ni. = — 3 |IW'6a.; KX'2 p., IX 3.30 p. E. |3) NE. |3/10 GERA AC Ni do) HO Ni 02:30 12 à., p.; JW p. E. |2] NE. |3/10/Cae., C.; Ni./10] C., Ni., c. |10/Cac., C., Ni./4.30/0) n., p.; « a SE., JU 8p. INV +] 2/0 Cae., € » |10/Cae., G., Ni./10 Cac. 8 1-5n.,8a-1 p. 3) NW. |2/10 ac, » [10] CG. Ni.,e. |8| CNi. |3.1502,9-12p.; M2p.; Xp. o lolol) cam ls) o,m lil ca 9 En, p; Ko. ES |3] NE mn Cac. GC: |5 C., Ni. 4| O., C.-St — —MU 2 p.; 4 à NE. 8 p. WE |2 E: 0/10] Cac., C. |8 Cm Nai Gs EGae 6 | n., p.; « do N.a SE. 8 p. WER 3) NNW: | 1/10 Ni. õ C., Ni. 3 Cae q 0-7 a.; MI2%p. E |1)WNW. |2)10) Cae.,C. |8| c,Ni lg 0.30) DKn;4GaSW.8p. 2) Nw. |2)10] C., Ni.,C. |4] Cni. lo — | Q6a.,5p.; 4 a E.8p. Fa Na [ol C, Ni. |8| C;Ni. |3|] G,G-st |2 K n., AU 6 a.; 4 a NE. E. |1| WNW. |2/10 Ni. 9) GENTE O E 115] E E na Eno p. | 2 SE. 3/10] Cae., C. 8 (Ni 10 C., Ni — KaNW.2p.; 4 a SE. ERG) nw. 2/10] cn. |8| C,mi. |2] cni 1 EO va = |-lão Ni. Ra CS NGS! | — 3 a. WE |3| sw. |2)- = TO PEGO Nie | 81 CS, Ni 4 | OD; MV 2p.; K de NE. p. E. |1] NE. |2/10 Ni o es êNi: [SC Ni 9 |On.,a; MWea;D'2p. mo nm. |2/10] Gac, C. |8| cn. |8| cmi = a meteorologicas 431 10/C., Ni., C.-St. 4 o. 430 Observações PEVEREINO | Dj 1585 meteorologicas 431 Tensão do vapor Pressão atmospherica s força do vento Quantidade e qualidade de nuvens E — — | — A E Dias Latitude S. | | Thors Glhoras: 7 horas Shora | Nash a. Wash oras (Do Lilo pl E A | 11.85.54/28.92.50] 1070 ESE. 1) wsW=|3) N. |2)10) O,Ni |6 2 Fe) B |11.95,54/28.82.50/1070] E |) NNE, |3) NE. /|1/10 C., Ni. s 10) C. Ni 3 |11.85.54]28.92.50/1070 0 ol NE. |2) NE. |[1)8) comi |6 w| O 4 [11.95.54/28.99.50]1070]675,4/672,4]675,4 77/95] NNE. |s/ |) 9) SE. |1/10)] CNi |s 10 Ni 5 |11.95.54/28.92.50/1070/675,9]673,1]G74,4 U)=) NM: |] No [2] NW. |3/10/Cae;, C. Ni:/7] Gni |19) EA ris a! J | 6 |11,95.54/28.92.50/1070]675,7/079,S|G74,8 s3) 90] xsg. 3) )) ne. |2) xy. [ho Ni. 10) CG. Ni; e: [19 Sm o o ny 2; 0ºp: 7 |11.95.54/25.8; 1070/675,2/679,S|D74,3 SO Jog) — |= NNE. |2] NE Bj= — E) 10 = Cap. 95.54/28,92.50)1070/674,1]D71,8|672,5 SEN e 8 [11.85.54/28,99.50)1070|674, ; CyNi Jo) Coxi | =| gasW.ºpsGdoNa 9 [11.95,54 1070/672,0/671,0] — 08) =| SE. |1 NW. |2) — cont |- o 5 Cn Jet 2 po E 8.90 p. 10 /11,95.54/28.92.50/1070/072,9/071,9]071,5 64/99) SE, |1 SE 3 O. Ni. |10) » Ni. |2,80] Oia, po; au 2 UA pe. 4)28.92.50/ 1070/671,8|670,0/671,5 18/99) = | NE. |2) NE. 10/Cac., O, Ni. 4.300 n., p;; & a SB, JW Sp, 28.92.50/1070]672,8 |670,5]67 99] 74/91) 010 | SE. [1| NW. Cac., €., Ni.|10 8 A ao sa á 28.92.50/1070/872,5/670,8] 95 | 87] 80 3 SE. [3] NW. GNiyc. |8 a no 28.92.50] 1070/673,1]671,0]6! 95) 59/06] = |= NW. |2] € CN. jr 9 On, p; Ep. 28.92.50] 1070]674,9)672,9 18,2) 16,6] 93) 58 | 99) NW. |1 SE. |3) NE. O) Ni |4! =| Sp; GaNE Sp. 50/1070 72,9/671,8) 17,5] 26,4]21,8) — [17,0] 14,4] 14,8] 16,8) 97 | 58 | 87 | SSB: |2 25.92 Cac. | 6 [Om pi; 4 doN.a SE. 8p. NW. [3 NNW. |1/10) Ni 5| CNi |9]) Ge, 7 00-74; Ju2p, SE. |1) WNW. 17 [11.85.54/28.92.50/ 1070 |G74,8 674,9 074,1) 18,0] 28,5/18,4] — | — | 14,1/19,3] 14,3] 92) 62/91] NE | to S 073,8/079,6] 17,5] 21,7] 20,0] 22,3] 17,0] 14,6] 16,0] 15,1] 98 | 88 | 87 | ESES |1 4/28.92,50/1070) Gac, 0. |8) GyNi |2 c. 0.80) On; 4aSW.8p. END. |2) NW. 19 [11,95,54)28.52.50/1070] 072,3/073,8] 18,2] 26,7] 19,4] 27,5] 16,7] 14,9) 12,1) 15,5] 96) 47/92] 0 JO 2/10] C., Ni, €. |4 C. Ni. 0 o. — | O6a,5p; Ga E.8p. 20 [11.35.54/28,92,50/1070/674 072,8/ 17,5] 27,2] 19,7] 27,8] 17,0] 14,4] 15,4) 15,4) 97 NM: |) | ESE. |2) NNW. |2/10) CNi. |s| Cn |3 2 0 Kn. Ga; NE. 21 [11,95,54)28.92.50] 1070 679,1] 18,0/ 22,7] 18,8/24,8/ 17,6] 15,0] 18,5] 15,3] 98 | 91/95) = [=|] ESB: [1] WNW. | 2/10 Ni. 9) MORENA O S 4.15 on; Deca 28,32.50/1070 (673,8) 18,7] 27,2] 20,1] 27,4] 18,0] 15,5/ 14,0] 16,2] 97 NE: JM) NE. |2) SE. [9/10] Cac.C. |8) CoNi |0] Gyni |—| aNW.2p; Ga SE. 28.82.50] 1070 673,1) 18,7] 24,5] 19,8 26,6] 18,5] 15,8] 15,5] 15,7] 95 | 68/91) ENE [1] NES [2] xy. |afio) cont |8) coni |2) exi a Zor 24 [11,95,54/28.92,50/1070/675,6]071,0] — [17,5/26,8] — | — [17,4] 14,4/13,0] — [97/50/=| = [5] SW: |2] — |=n0 Ni. | ChNRo |- - 3 oa. 25 |11,85,54/28.92.50] 1070) — |670,8/671,5] — |24,8/20,2] — | — | — [15,5/16,3] — | 07/98] = [5] ) SSW: [8] sw. |2]= - 10) CyNiyo |8) CNi | 4 | O; -2p; Rd NE, p. NB. [1] NE. |2/10 Ni 10) GN 26 |11.95.54/28,82,50 1070/673,3672,3/673,1] 18,2] 20,8] 19,3/21,2] — | 14,9/16,6/15,9/ 96 | 91/95] SB: | 8] Gy Ni: 9 On, a; AMGa; O'2p. O, Ni |8| CNI |- — 27 [11.95.54]28.92,50]1070/674,8/678,1]674,3]18,3/ 26,8] 19,6] 26,9] 17,8] 15,0/ 17,2] 15,2] 96 | 66] 90) NE: Cae,, O. 28 |11.95.54/28.92.50/ 1070/6746) — | — [184] — | — | — |18,0/15,4] — | — [98] = | =| Ne G.Ni,C.:St.|— = E — 4 o “ (a) Rio Luapula. Latitude S. ph «38.00 38.00 58.00 38.00 43.00 48.00 94,00 8 [11.54.00 94.00 94,00 11 111.54.00 12 /11.54.00 13 [11.54.00 94.00 94,00 16 |11.54.00 11.54.00 18 |12.04.00 10.00 20 [12.14.35 12.06.00 12.06.00 12.06.00 26 |12.14.35 27 |12.19.00 28 |12.25.00 12.30.00 30 12.40.00 31 |13.02.00 ie Im 28.36.00 28.36.00 28.36.00 28.36.00 28.36.00 28.36.00 28.34.00 28.34.00/1058/675,1/672,6 28.84.00/1058/675,1| — 28.34.00 28.84.00/1058) — [675,8 28.34.00/1058/676,4|674,1 12.14.35|2 12.14.35]2 (a) Luapula. 28.84.00/1058/675,9/673,8 28.354,00 28.34.00/1058/674,1/672,0 28.34.00/1058/674,1|673,3 Pressão RS É oe é | atmospherica = z bre) e em Ea E a > Sha SONS se | E Es E pa PE RE S o o > | Observações Temperatura e (22) EIS m & q E =| E E E SopcêlSSl Bl E = E E] É E o > oo = E 673,9 675,3 674,8 673,6 Tensão Humidade do vapor relativa 28.34.00 28.30.00/1088/674,8|672,3/6 673,6 28.52.03/1167/672,4/665,4 666,4 29.00.00 29.00.00 29.00.00 28.52.00/1174/675,1 |665,3 28.50.00/1165/667,2 [665,6 28.47.00/1196/667,7 [663,7 28.43.00/1260/665,0 |658,0 28.98.00/1238/660,0 |660,0 28.34.00 ei 660,0 666,6 666,9 664,5 661,8 660,0 13,6] 26,7 10,4/ 24,0 (b) Luapula (novo acampamento). N. B. Observou-se o phenomeno crepuscular 885 meteorologicas 433 a do vento Quantidade e qualidade de nuvens | E De e — TT eee ee de. pt Notas oras 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas > ash, Pp. a. Wash. Pp. = aço E aw. [2/10 Cac. — — 8 C., Ni. &n.; 4 a SW. e SE.8p. = |2|] ENE. |2/10)Cac.,e., ne.|5| CG. Ni. |10] C. Ni. = K p. 2] NW. |2/10/C.,Ni., C.-St.| 5 C., Ni. 314 “Cae., O. 1 2 n., IX p. W |3) ESE. |1|]5 C. 6 CE ENih 0) — — Cac., a., p.; 6) 3.30 p. Bo) Sw. |2]-| Cae., C.-St. |10] C., Ni., e. 10 — 0.80 p.; «4 a NW. e SW.8 p. RM NE. |2)-| Cac.,ne. |10) C., Ni. 0 — 0.30 D EK —M p. E. |2 — —|—| Cac., C.-St. | 8 E Ni: — — 0.30 IX de NE. p. VW. |2] NE. |2/10 Ni. 10 EGae: Ce | SG. C-St 6 1-7a; JWga.; 4 a NE. e SE. es. BR o) Com. |- E - A sá E; |2 — — |10 aço 8 GC. Ni. |- = Ro 2) SSW. |1]- = 10) Cac., G.;, |0 — = C.-St. Hs) co l|o/5| G,c-s |s| .C,Ni. lo] cn 030) U2p.;730-Sp;; ; 4 a NE. 8 p. RS | SSW. [1/4] C.; C-st. |? C 0 — — WD 2 p.; 4 a NW.8 p. AZ] SSE. |1]3] c., C.-st. |ô CHINO Ca CS RSS Gac a Ne NEI VER NE. [1/3] C. G.-st. |8 C., Ni 4| Cac., O 0.30] Muito cac., a., Q) IX p. DR | SW: |4/10 Ni. 10 RG NI es o C., Ni. = ar po [Gras SN p- RR =: |10 Ni. — - - — 1.80 n. RR sm [jo] mic |8|. Cont |3 Cc. —- | KaNW.2p.; 4 aNW. e SW.8 p. X 2 C. 0/0 C. o C., Ni. 0 — = Cac, n. ER SB | 2/0 — B) C. 0 - EH Gac. no om S arri 8 p. SE. |2]0 OA > C., Ni: 0 — Es Cae., n,; Io, 2) ENE. |2/0 — q C., Ni. 8 CNI — Pouco cac., a.; JU6a,; *4,8p. Re = 10 c NGS GS St E — | 6a; 4 aNW.2p. 2 Ss. 2|2 G., St. BUG C-St |O — — 4 à ENE p. . 13 S. q C., St. MINC C=Sto 0 MO: GS | o |Cacinç Dip a BiiSipE SBD se. julio) c;c-s |8| c,Ni (10 Cc. s O a. 1 S 1/10] Cac., C. |8 C., Ni. 0| Cac., € — 2 ». BS [2/10] Gse., O. |10) €,Ni lo) CN |- D'r. 1 = —|5| C., C-St. |5 C = E Es E 3| ESE. |2|0 de RG IG Si SG Cost | AU n.; JU 2.80 p. es pos Pe st Is) cem o cyst' | = MV 2.30 p. do dia 24, 432 Observações XANÇO DE 1885 meteorologicas 433 Es Pressão 5 “Tensão Humidade Gl ÉS | 8 | atmospherica Temperatura do vapor — all É SE [É s força do vento Quantidado e qualidade de nuyens E dE z = E ——— ——— 5 A| & és | E E ã É Es | 4 shoras O horas 7 hora! or E Notas o! EIS p a Wash ora 5 —— — õ Ni) 28.96.00) 1070/0725 [672,0 /073,6] — [15,2] — |16,9(00)| — | 95 — || sws [1/10] Coe |> - Si Po Ni Ea On; C. — ga NW. p. 10 C. 5 Cac., C — — 5) C. 0 — — = — — 0 = — Cac., n. = = 0 = — Cac., n. 0 = 0 = = Pouco cac., a. — — 0 — — Cae.,n. SC CESTO — — Cae:, n.; Usa: 2 C. ) — — SS Uttarip: 1 C. O — — —MUU p. WI GE EGSt (O — - —Mb p. = de 0 = — Cac., n. — — (O — — Cac., n. 434 Observações ABRIL DE 1585 meteorologicas 435 Latitude S. Longitude E. Greenyich Temperatura Altitudes| Maxima Humidade relativa Direcção ————| a O horas e força do vento me 7 horas Boris O horas, Walt. p- a Quantidade e qualidade de nuvens SS 7 horas 8 lioras Wash o Elo LM 19.18,00/28.27.00/1 13,90.00/2: 19.59,12/28.19.46 14,00,00/28,26,00 14,06.00/28.92.00] 14.06,00/28.92.00 14,21,00/28.99.00) 14,92,00/28.40.00) 14,53,00/28.49,00] 14,59.00/28.52,00] 14,52.00/28,58,45 29.06.00 15.08.00/29.06.00 15:14,00/29,07.00 15.29.00/29,11,00 26 [15.41,00/29,19.00] 15.32.00/29.14,00 15.41,00/29,19.00] 15.41,00/29,19.00] 15.89,00/20,96.00, 15,98.00/29.49,00 (a) Zambeze, No 19,16.00/28.21.00/ 1189/6634 13.21.00/28,16.00/1200 13.25,00/28,16.00/ 1166 13.90,00/28,08.00/1197 13.90.00/28,08.00/ 1107 .00/ 1197/6 13.40,00/28.16.00/1230) 18,46.00/28,15.00/ 1196] 14,52.00/28.58.48] 4 14.52.00/28,58.49) 49 214/660,2 664,4 663,0 5,4) 605,7 64,7 663,0 10,4 663,1 10,3 662,1 12,3 665,1 11,9 658,9 667,8|667,1] [068,6/670,1/670,1 79,4 710,0 715,6 1124/709,5]079,8/D74,8 1086/670,4) — |671,9 678,6/099,9)700,8 784,8]795,5 28,5 T32,7]793,0 28,8 733 ,9|T54,S 28, ô Ç: MM E. O phenomeno crepuscular observou-se no pôr do sol, em 5, 6, 7€ a | ] Ss: |] = Sino oo — NW. 1 O. E. EPE) SE, 91 SE. [3] NW. |2]o = = |=| ESB. |9]0 = = |-=| ENE. |2)0 = e e SU O OS is dt Notas C., Ni. — C: - Cac., C. |— = 0 = — o - = C. o Es — (o [0 - = C, Cost |0 = = — o = = Cae,, nm, Conj 4 SW. Sp, Caos mn. Caen, 4 SE Sp, mj AU Op, Cao, ms Ca NE Sp. Caen; 4 ANW.S p. Caes np AUINIO=12 Ono. mi; p= 11 a, Cacau; UU 10-11 a Caem; UU vt, Cao mn, Pouco cnc. 1; [Za NW. Sp. Ka NW p. Caos. Caos, Pouco cac,, a. Caes n. Caen AM Mt ps Wa, po Up, Up. Cao, Caes. Observações Latitude 8. Longitude E. Greenwich Altitudes Pressão atmospherica 1orAS q. [e ho Hp ho ht 5.54.00/29 56.00 5.50.00/30.06.00] « 5.35.00/30.20.00 9.98.03/30.21.25 .03/30.21.2. 3/50 21.2: 31.26.00 31.45.00 31.52 00 91.54/32.02.06 51.54/32.02.06 )/380.40.00] « 31.04.00] 365 15.56.00/32.14.00] 5 16.02.00/32.33.00] 5 [738,5 5 [748,0 739,8/7 139,6 3/738,8]7 738,8 736,6]736,0]7 738,1/736,3/7 739,6/738,7 740,9] — 741,6 743,4 143,0] — 735,4/733,5 734,8] — 9,1 724,8] — |726,8/ 10,1 Temperatura Maxima (a) Zumbo. (b) Navegando no Zambeze. (c) Por terra. Minima Tensão do vapor Humidade relativa Dire 6 hora a. 7 horas Wash. do) (6,2) is 15,8 16,8 16,0 11,4 11,4 13,5 185 bo [e] O x 1885 meteorologicas a! A ca do vento Quantidade e qualidade de nuvens E TE ARARAS o AR n Notas horas 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas z Vash. p. a. Wash. p. E Emma E E. |2:) NNE. /1]0 C., St. 0) = 0 — — Pouco cac., a. = — N. 210 — — — O) — — Pouco cac., n. E 3| SSE. |1|- — 0 — 0) = = Eus EM ese, |s]1) c,st. |3| ces. |1| GC, c-s |- MU 8 p. ES) ese. |1|3| C,c-st. |1| c,c-st. |0 E =| AY n, Bo! — lI-lo Ee NIBRG! Gus E = = = E. |2| EXE. |? St. 2) €.,€C-St. |0 = o = BB |2) c. lolo E Her GSE. |O = = = E 1] NE 1/0 — 21 RG Coste O — — — E ER NW= 41410 — 0 — 0 = — Pouco cac., a. HR 1] NW. |2]0 St 0 — 0 — — Pouce cac., a. 9 3 N. 1/0 — 0 — 0 — EA Pouco cac., a. MU Dip; BR 3| SE. |2]0 — 0 — 0 — — Cac.,n.; MU 2p. a se. lilo] Cc 1 Cc. 0 ia E = e UNESA o GC. O.-St. |1 C.-St. 0 — — |Pouco cac., a.; « a SW. 8p. W. 1 RSA CO, C-Sti |5| C.,€.-St. |2] Cae., CG — Pouco cac., a. MR ny. |3 7] C,e-s. j10) Ge |5| Gae,c. |- MBB p. BM 2) SE. |2]8| C., C-St. |0 — 0 — - — Dl NE. |1|- = OR ces Ino cre = — dp SE. [3/10] C. C.-St. |2|] C.,C.-St. |1 C. — Em a SW Sp. ER | 3 C. 0/1 CG: Ni. MIC: C=Sta il C. — Q' 0a; Mi6a.,2p. 3| ESE. |2|5| C.,C.-st. |0 C 0 = a AMU 6 a., 2. E | 2 — E Gac 0 |2 C.-St. = = — — C.-st. | = Cc 0/5 CU St: = — ) — = = = C 0/2 C., St — — 0 = =| —L 6a. = C 0/1 St. — = (O — E — = SE. |2/3| Cae., C.-St. |— — O) = =. = =| "8. 1/10) Cae., C. |- — 0 — — = BI SSE. |2])0 a 0 E 0 E |i-= ao a Es o = SE o EE p= es & =| SSE. |2]0 — — — 0 — — = 486 Observações MAIO meteorologicas ; Pressão e Humidade E g OospLRROa Temperatura rolativa, Direcção e força do vento Quantidade e qualidade do nuvens E E | — ES DL HE 253" E) 5 | Y E E O lioras 7 horas 8 horas O horas mlioras Blhoras Notas ã < Eb Wash. a Wash p- (5.91.00] 123,8/ 10,2] 29,0] 15,5] 29,0 sá 91/20/75) 0. lo 15.31.00 28,8] 10,2] 20,0] 15,5] 29, j 8] k Pouco cac., a, 15.30.00/30.06,00 793,2] 8,0] — | 19,2) — 18) — | 9,9] 92/] = [59] NE. |1 Doca 30.20,00] 345 736,9) — |29,6/22,2] — | — | — [11,5] 9,9] — | 97/47 = 90,21 50.21 15.98.03/90.21, 15.98.03/90.21 15.98.03/30.21 15.98.03/30,21 15.98.03/30.21 15.98.03/90.21 15 38.03/30 21 15.98.09/50.21 15,38.09/50.21 15.38 03/30.21 15.38.03/90.21 15.38.09/90.2 15.98.09/90 21 15.501,54 (a) Zumbo. 15.98.03/30,21,20, 15.98.09/30.21.2 15.98.03/30.21,25 15.38.09/30.21.: 15.40,00/30,40,00 15.39.00/91.04,00 15.41,00/91 26.00) ) 15.98.00/81.52 00, 15.51.54/92.02.06 15.56.00/92,14.00] 514. 16.02.00/92.99,.00] 464 +25] 365 [798,5] 736,8/797,6) 5 |799,8/737,6/797,1 +25] 365 [799,0/797,3] — O [799,1 5|195,8 m34,8)7 796,8|793,8| 194,5 «25, 65 |790,8|793,5] 734,3] Sl T34,0/784,1 7 m34,3)m d [739,0/790,2)7: TI4,S | 734,0) 735 «25 365 |796,9/795,0 25) 365 |736,9/793,8 HH] 796,6]7 +25] 365 [798,1 865 [199,4 365 [740,9] — J740,9/ 17,0 365 [741,6] — [741,8/21,8 31.45.00] 965 [748,0] — |748,9/ 18,6 810 [748,4] — |742,6]15,4 395 [743,0] — |736,0/18,0 2,02.06] 895 |735,4/739,5]793,3] 8,0 n94,8) — | — | 91 T248| — |726,8/ 10,1 (4) Navegando no Zam| = |esi| = = |159] — 28,0) 16,6] — = |20,0) — (e) Por terra, 19,6 18,1 — |so/47] = 16,0/ 76 | — | 79 13,9] 85 | — | 69 15,0/ 85 | — | 7 18,7] 85 | — | 94 847] 92 | — | 65 9,7] 90 | 88 | 69 — |86|—|— = |79|=|= ESE. ESB. WSsW. SE. ESE, ESE, (on ESE (on W3W. WSW. SB, WANW. SE. SW. NW. SE. C, CSt, Co Ni. St Gac, Cost, MM Mp, WS p, ln, Pouco cac Ponce cac., a. Pouco tac. a JU Pp, Cao, ni 2 p. [Pouco eae. aj 4 SW. 8 py Pouco cac. ar MUS p, O pi; 00 a; —Mga,2p.