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DE ANGOLA
EE CONTRA-COSTA
À CONTRA-COSTA
DESCRIPÇÃO DE UMA VIAGEM
ATRAVEZ DO
CONTINENTE AFRICANO
COMPREHENDENDO
NARRATIVAS DIVERSAS, AVENTURAS E IMPORTANTES DESCOBERTAS
ENTRE AS QUAES FIGURAM A DAS ORIGENS DO LUALABA,
CAMINHO ENTRE AS DUAS COSTAS,
VISITA ÁS TERRAS DA GARANGANJA, KATANGA
E AO CURSO DO LUAPULA,
BEM COMO A DESCIDA DO ZAMBEZE, DO CHOA AO OCEANO
POR
H. CAPELLO —R. IVENS.
Officiaes da Armada Real Portugueza
EDIÇÃO ILLUSTRADA COM MAPPAS E GRAVURAS
VoLumE II
LISBOA
IMPRENSA NACIONAL
1886
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INDICE DAS GRAVURAS
Pag.
Para ali se quedavam sendo necessario as mais energicas......... )
Desfecha, ferindo profundamente o colossal pachyderme.... opp.a 6
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Quasi lhe rastejára com a tromba pelo lombo .................... 5
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Esmidrembando o valle-do-Eufira.... cscseuscasuness css ca mens - 13%
Rede O ano es ato icnarelodo Raio e aos red SO 145
Dezesete colossaes elephantes nos surprehenderam......... opp. a 150
E encostando-nos ao colosso demos-nos ao prazer de nos photogra-
IST o eg ste KERRE GARE RSA E pe opp. a 152
Aspecto de uma libata devastada em Caponda................... 157
Reveben mbaladesfacador senao session Edo 165
vI Indice das gravuras
Pag.
Um rhmoceronte bicormio investi opp. a 184
Cinco bufalos cairam... oe e to E opp. a 186
Eomem de Kinhamg.. =... css elo Jo go eso a ea na A 199
Typo ma-ussi (face) ... cw == o eso bio e ars tape ela ao E 207
Typo mazussi (perhh) ..s. sea ese sro nto gare aro ha E dd RR 211
Quando um formidavel leão coroado saltou na sua frente.......... ES)
Typo ma-ussi de Muié. : 22. spenallapers a So pio ea ER 223
Evpo-de Irambas. ss trt arado pen ERR socos 231
Homem: de Iramba,.. oa aorsdilo sebo Mo o deeto arado ge de E 241
Mirava senhoril a carayana...... nisso sho oo a ecra RR 263
A sente de Lixeta. ul so sudo o cosrri Rag ra do - 273
Indigena ribeirinho do Zambeze... JMR 280
EDS ZULNS ss deco pe raio oe o CURSA o ovo a ra af e VR opp. a 294
Mulher deiSensa o. REDE PRP os sous 305
Asi divas ao Tepabriar=S6. ksa screen va O aba Ryo Map opp. a 326
A expedição no cabo da Boa Esperança: opp. a 318
Mappas (dois).
INDICE DOS CAPITULOS
CAPITULO XVII
NO LUALABA
O Lualaba e confusão sobre a sua origem — Os lualabas de Nyangué, de Young, de Webb,
etc. — Informações gentilicas sobre este— A caça ao elephante e suas funestas con-
sequencias — Fuga dos guias — Os bosques do Lualaba e perda de um homem — Pre-
ludios da fome — Dois individuos mortos no mesmo dia — Aspecto dos bosques e na-
tureza do solo — A phonolite — Outro companheiro caído em caminho — O esqueleto
de um elephante — Morte inopinada dos bois-cavallos — Geral desmoralisação — Su-
bito encontro de caçadores — Apparencia do solo— A raia do Lunda — Mulher que
deserta — Continúa a fome — A nocha como precioso recurso — Repentina morte de
um homem —- Os bois e a tzé-tzé — Uma quimballa de farinha e outra de feijão — Ho-
mem extraviado — Perda de mala — À fauna d'aqui — Ainda duas deserções — Obito
de um carregador e aspecto geral da comitiva — Em Muene Kinguebe, extracto do
diario — Extingue-se a vida de mais duas pessoas e do ultimo cão — Ainda um fugi-
tivo e o abandono do ultimo quartel do bote — Multiplicam-se as populações —Ta-
CEE) O SEN suada Lo a Ro Ba SE LE od RR PR Bacia
CAPITULO XVHI
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A TZE-TZE
Tacata — Traços geraes — A estação chuvosa e a mudança em nossos habitos — Conside-
rações sobre os dias de ocio — Duas linhas do diario — A mosca tzé-tzé — Influencia
d'este pequeno diptero e causas de atrazo de alguns povos da Africa central — Gene-
ro a que pertence — Designações varias do insecto. À Chaldaica, arabe, etc. — Re-
giões por ella devastadas — O seu habitat — Influencia do frio e do vento — Animaes
preferidos —Os cães e a alimentação de caça — A repugnancia da mosca pelos deje-
ctos dos herbivoros — Factos consequentes à picada no homem e nos quadrupedes —
Primeiros symptomas — Humores, cegueira e loucura — Enfraquecimento fatal e as-
pecto do boi depois de esfolado — Hemorrhagias, sangue diminuido, coração altera-
do— A tzé-tzé será venenosa? — Duvidas e nosso juizo sobre a immunidade dos
animaes selvagens — D'onde provém a mosca?.........ccciccicitits Pag. 21 à
40
VIII Indice dos capitulos
CAPITULO XX
OS DIAS DO QUILOMBO
Muene N'Tenque e duas palavras a seu respeito — Primeiras visitas trocadas — Jantar
de europeus, comido à moda indigena— A prole do soba e troca de sangue — Ra-
pida descripção d'esta ceremonia — Duas noivas inopinadas — Os ba-ieque ou ba-
iongo —'Typo e vestuario — Os languanas. As mulheres, seus costumes — O filho de
pau —Traços especiaes — Mudança de aspecto das gentes da caravana — Influencia
do movimento na saude do viajante — Perigo dos acampamentos prolongados — Me-
didas hygienicas a observar — Fato do explorador — Alimentação e horas proprias
— Modo de fazer a cubata, coberturas e fogueira — Recapitulação — À vida serta-
neja— Como se póde facilmente succumbir nos sertões centraes — Raras plantas
aproveitaveis — Artigos com que se deve contar e enumeração de alguns mais
ULCISS nurse ro erspateios Sibsane lá No lo (EIaN sina aa xe Nb feet ro Paaf cogio penso Late RNA RR Pag. 41 à
CAPITULO XX
ATRAVEZ DA GARANGANJA
A noticia de nossa chegada a Tacata e suas consequencias — Um homem do mato que
fallava o portuguez — Partimos, emfim, de tipoia— Um leão que nos obsequeia —
As minas de Kalabi, e poucas palavras acerca d'ellas — Os sonhos da possuidora e
o desabamento de uma galeria — Aptidão das gentes de Katanga no trabalho do co-
bre — Paulo Mohemeri e Quitari—E explorador ou negociante? — Caponda, o soba
decapitado — O elephante mysterioso e a resurreição do regulo — Espanto por nós
causado — Os peitos das mulheres e o limite ao numero de filhos— O Bunqueia e o
seu curso — Carta de Musiri— A gente da Garanganja— A comitiva chega a quim-
pata — Duas phrases energicas enviadas ao soba — Nada ha como feitiço de branco
— Os africanos e o tempo — Guerra de cinco annos — Trinta descreve um combate
naval na lagoa de Kicondja — A descripção correcta pelos auctores...... Pag. 63 a
CAPITULO XXI
EM BUNQUEIA
Como estavam as cousas à nossa chegada a Bunqueia — Os zanzibaritas ali — Depreda-
ções por elles commettidas — Consequencias para as caravanas europêas que se suc-
cedem — O terminus do praso da etiqueta e a modificação em nossas idéas — Uma
execução e aspecto geral da quimpata — Accumulações de craneos e respectiva his-
toria tetrica — Chegada á residencia — A sala em que se achava o chefe — Duas pa-
lavras ácerca d'este personagem e a toilette — Musiri, o parricida, usurpa o throno
Indice dos capitulos IX
da Katanga — Organisação politica da Garanganja — O regulo é absoluto senhor em
sua terra — Contraste que apresenta na vida particular — Maria da Fonseca, a Mis-
sota — Audacioso proceder d'esta senhora para comnosco — Seu trajo e uma chuva de
presentes — Musiri entra no nosso campo, pede um documento sobre a morte de Bohm
e explica a hydrographia central — Ainda uma tentativa de Maria — Retrato photo-
graphico do soba — Annuncio de nossa retirada e difficuldades em trazer o Trinta
—Factos louvaveis — Breve noticia concernente a algumas ceremonias... Pag. 91 a 112
CAPITULO XXII
VIAGEM DE REGRESSO
Partida de Bunqueia — Programma de viagem — Às declarações de Trinta, e o seu azar
em todos os negocios — Rosa, a constante conselheira — As chuvas de novembro e o
aspecto da natureza — Facies especial dos plateaux centraes— A vegetação em re-
dor — Rios em que nos achavamos — O reino animal — O elephante e seu restrictivo
habitat — Antonio impressiona-se com o oriundo de Africa — Juizo de um viajante
tanto ácerca d'este como do procedente da India — Traços geraes comparativos —
Modo de vida do dito pachyderme e preferencia pelas acacias — Como derriba as ar-
vores — Lado para que vira invariavelmente a tromba quando colhe — Numero por
que se agrupa e timidez das femeas — Carinhos maternaes — Como transpõe os rios
— Maneira facil de o caçar — O leão e as bestas de preza na Garanganja — O Aulaco-
de swindérien — Os escorpiões e outros insectos venenosos de Bunqueia — Os lepido-
pteros e a Kingandja — Longitudes da região lacustre e erros encontrados — Obser-
vações lunares e impossibilidade de as fazer — Partida de Kalabi e primeiro engano
de Trinta — Opiniões de André e de Dionysio — Chegada a Tacata — Mudança ope-
rata DO Gon Boasas ale RNA re 5 6 Sala RR UE ERP ERR EE RR Pag. 113 a 134
CADITUEO: XXIH
IGNOTA REGIÃO
A guerra de Caponda e juizo de N'Tenque sobre as terras do nascente — Suas instan-
cias e nossa decisão — Despedida do regulo e jornada para o Lufira — Construe-se
uma ponte à gentilica — Traços geraes do rio— O sal do mato — Aspecto das terras
de alem — O dia de Natal e a perda da comitiva nos bosques — Duvidas de Trinta,
que desconhece o caminho — O que se passava então pela Europa, e o que ia pelo
acampamento — Terra phosphorescente — Ao rumo da agulha e um quadro de parti-
da — Trilho inesperado — Por algum lado haviamos de sair — Concerto de roncos e
estranha descoberta de André o cabinda — Dois indigenas apparecem, e nós volve-
mos costas ao norte — Subito encontro com dezesete elephantes — Antonio caça um
d'elles — Extracto do diario — Morte do animal e seu peso — Homens e feras, todos
comem — Macaco surprehendido — Um velho leão visita pela noite o acampamento —
As hyenas e suas proezas — Esquarteja-se o elephante — Os vermes das carotidas
— Regosijo de Antonio e scenas da noite — Duas photographias— A geographia e
a geologia d'aqui — Terras terciarias e quaternarias, bem como a evidencia do car-
vaonraquellas==AMora (e! afAn a dns EN ala torso ea RSRSRS Sd o Pag. 135 a 154
é
Indice dos capitulos
CAPITULO XXIV
TRINTA DIAS NAS SELVAS
O dia primeiro do anno e a terra de Iramba — Os ba-lamba e a fuga dos guias — O trilho
do Trinta — Cuidados a ter na marcha pelas selvas — Os riachos transpostos nos
primeiros dias e a angustia que nos dominava — As origens do Cafué — Dois bufalos
e um leão — O dia de Reis e as libatas de Caponda — Fartos arimos e faina dos nos-
sos — Angustias experimentadas na zona montanhosa — O dia 11 de janeiro e conside-
rações de occasião — O lobo e a sua persistencia em seguir os trilhos do homem —
Sua manha e repastos — À situação do Trinta e as horas do somno — Impressão que
nos causou a terra onde estavamos — Inesperado tiroteio ao norte do quilombo — Se-
ria uma guerra ou uma população pacifica? — Receios da expedição — A caminho ao
romper do dia — Rasgo de valor do Trinta — O que vimos duas horas depois — O nosso
guia volve prisioneiro e explica quanto observára — Licuco, o irmão de Musiri —
Parlamenta-se — Exigencias dos enviados e anossaretirada para o mato — Um acam-
pamento fortificado — Tudo se resolve por fim — Notavel prestigio do europeu entre
as gentes do continente negro — As minas de Kandumba e desespero de um rhinoce-
ronte-- Aonde ficara ONbriLholoi? pd ocaso cio aaa no o RD popa RR ER Pag. 155 a
CAPITULO XXV
À CAÇA
Bem longe, no amago do continente — Aspecto dos chefes da expedição — A carta sobre
os joelhos — Transviados no mato sob o imperio da fome — Um quadro de caça —
Breves resumos do diario — Perigos d'este genero de excursões — Um rhinoceronte
bicornis — Caçada de vulto — Cinco bufalos em terra — Considerações sobre o viver
nos bosques — Duas palavras ácerca do rhinoceronte e dos seus habitos — Varieda-
des e estranho costume d'este quadrupede — As selvas eram o nosso dominio — As
matas de mupandas e os brejos marginaes — Noções sobre a natureza do solo — O
Lufubo e uma ponte de 45 metros — Aspecto da natureza — Ancia em procurar o Lua-
pula — Impressão que a lembrança do milho e do sorgho produzia em nossas pes-
soas — Trinta, o guia desnorteado — O ultimo dia de janeiro e um caminho imprevis-
176
to — Repentino rufar de tambores pela noite — Era o Luapula....... «. Pag. 177 à 196
Cada) Sal
NO LUAPULA
A tristeza de outr'ora e a alegria presente — As chuvas, o vento e a humidade —Panora-
ma pittoresco — Flora e fauna — Campinas alagadas — O vento e a chuva no rio — Ar-
dua tarefa dos primeiros dias — Instabilidade dos acampamentos — As nossas pre-
tensões de visitar o Bangueolo e evasivas dos indigenas — Obstinada reluctancia do
Índice dos capitulos x1
secretario do regulo, em não consentir que se construisse uma canoa — Rasões addu-
zidas em vista do proceder de um zanzibarita — A escravatura no sertão e um qua-
dro das scenas a ella referentes — Terminam pelo captiveiro — Visitas a Kinhama e
uma tempestade no rio — À expedição transpõe o Luapula
cto, habitos, viver isolado e comprimentos originaes — Nós extrahimos fazenda das
cataractas! — Uma serralheria no acampamento — Decide-se a partida — Manejos
para captar as boas disposições do regulo...............cc.sscs.. Sr ago 19% ap Zi
Os ma-ussi — Seu aspe-
CAPITULO XXVI
AO SUL
Kinhama fica e nós abalâmos — Os recursos da expedição e a geologia da zona que va-
mos percorrendo — O melhor caminho para o meio dia e as difficuldades em conser-
var-se n'um trilho do mato — À caravana transpõe o Luapula — Um quadro da pai-
zagem que se apresenta do outro lado do rio — Dez dias sustentados a gallinha e a
pirão — Um mau e um bom successo — À cata do trilho do susueste— Os leões e o
Trinta caçador de bufalos — Ainda no Luapula e o vento do sueste —Manifestações
scorbuticas nos chefes da expedição — Indicações geraes sobre os primeiros sympto-
mas, bem como o correr da doença — Inventario dos nossos haveres e ultima tenta-
tiva para ver a cataracta — Era tempo, urgia proseguir — Aspecto do paiz, o deser-
to e os elephantes — Pavor inspirado a estes animaes pela formiga —Javali de novo
typo — Uma terra provavelmente povoada outr'ora e o unico monumento que o indi-
gena deixa de si— Bando de fugitivos de Caponda e falta de fé gentilica — Causas
da guerra de Caponda — À cabeça de Kalama — Os leões na noite do eclipse de 30
de março, e perigo de que Antonio escapou — Almoço feito com agua do Zaire,
jantar com a do Zambeze — Vasto plateau — Novo trilho e um rhinoceronte solita-
rio — Densos matos e o capim navalha ............... ooo o cedao po dodo d sei il ato
CIASBEBEIE O RES VAR
DIAS DE ANGUSTIA
Duas considerações sobre o texto da presente obra — A descripção é uma jeremiada,
mas traduz fielmente os factos — Trinta embasbacado perante os dois caminhos —
Sua resolução definitiva —Um rio grande e uma primeira ponte a construir — Escas-
sez de provisões e fealdade das matas — À vida das selvas habilita-nos a antever os
obstaculos — Novo rio e nova ponte a construir —Considerações à sua beira— Al-
guns dos nossos homens são ouvidos — As mulheres e a nossa impressão a seu res-'
peito — Alfim decidimos abandonar o trilho — Á corta-mato de machados em frente
— Às seis horas estavam percorridas 22 milhas — N'essa noite, para muitos, o man-
timento acabava —O erguer do dia seguinte e as ultimas parcellas de carne — Mais
rios e pontes a construir — De cima das arvores observa-se o horisonte — Dionysio
abala e encontra um trilho — Nossa commoção á vista de tal descoberta —Uma breve
allocução a proposito — A caminho sem resfolgar até às seis horas — Um corvo es-
tranho e o subito apparecimento de um homem — Agarrado e trazido à nossa pre-
sença — Junto a nós estava uma libata................crro. eloa ooo o not RAE 259 8 260
XII Indice dos capítulos
CARENTE O XSDE
ULTIMOS DIAS NO PLANALTO
Os enviados do Kassongo, presentes e instancias — Offertas à gentilica e um desfecho
triste das relações — Parlamentou-se alfim e partimos — De subito o caminho divi-
de-se — Encurva-se em direcções differentes e nós abandonâmol-o — À corta-mato a
encontrar o outro — Uma lagoa inesperada, onde a caravana vae com agua pela cinta
— As pescarias no Chôa, e um homem que a expedição perde — Duas palavras sobre
a vegetação e causas do seu destroço — Adiante transviâmo-nos nas faldas da serra
Lupampa — Corvos, cobras e um casal leonino à vista — Entrâmos de novo no trilho
— Moi Oanza e os passaros da caça — Os habitadores d'ali e os seus comprimentos
— As armadilhas do bufalo e o caminho da Sitanda — O harrisbuck —' Traslado do
diario sobre a descida da serra Muxinga — Panorama, vereda dificil — Sensação es-
tranha pelos auctores experimentada — Radical mudança operada na flora — Mutia-
tes, bao-babs e gongós — Considerações ácerca da Muxinga — A Manica e os fune-
raes do regulo d'ali— Moi Kicaxi, a mulher mavorte — Os arimos do sorgho e os
destroços do rhinoceronte e do unjiri — Liteta — Reputações da sua farinha — Trinta
reconhece alfim o caminho — Hayphones, Livingstonia e um caetus? — Falta de sal —
Processo indigena da extracção das plantas — À gente de Liteta —O tabaco polvora
e os canudos de fumo —O labio das mulheres e o passaro-gato — Marchas fatigantes
— Antilopes e leões — A mão esquerda d'estes — Atravez de uma zona accidentada
— Anceios em ver o Zambeze — Finalmente avistâmol-o......... ooo do 1 AL En 2EP
CAPITULO XXX
ZAMBEZE ABAIXO
A caravana à beira do Zambeze — Os negociantes portuguezes a montante e as vanta-
gens em se approximar do rio — O nosso dominio no Zambeze e o que d'elle se diz
— Ninguem como nós ali põe e dispõe—O acampamento e o quadro que d'elle se des-
enrolava— A baixa das aguas e o vento rijo n'esta quadra —Revelações do Trinta
sobre a sua segunda esposa — Subita revelação, originando uma cruel decepção —
Os chuculumbes e o seu exotico penteado — Algumas considerações ácerca do rio em
que nos achâmos — Curso desembaraçado e facil navegação — O Cafué — Importan-
cia dos sertões em vista da proximidade dos cursos de agua — A exploração mineira,
como rapido incentivo para a colonisação — Emfim o que virá a ser o caminho do
Zambeze — As terras de alem — O Dande e a Chedima ou Monomotapa — Duas pa-
lavras ácerca da gente do Dande — Seus adornos e espirito bellico — O cafre-zulo
Chaka — As terras de aquem — O Borôma e a caça — Natureza do solo—O peixe
eletrico—Quéda da folha—O Likago e seus effeitos preservativos — O idioma de Ca-
mões — Sycomoros, bao-babs e hortas— Os bois e considerações sobre elles. D'onde |
vem; do outro mundo — A nossos pés estava o Aruangõa.............. Pag. 283 a 302
Índice dos capitulos XII
CAPITULO XXXI
DO ZUMBO AO OCEANO
A villa do Zumbo, sua posição e aspecto attrahente — Importancia de outr'ora, numero
de fogos, periodo de abandono — Frei Pedro — Partida de Sofala — À fome no Sen-
ga — Influencia do frade na prosperidade do Zumbo — Frei João que o succede —
Estabelecimento alem do Aruangôa — O capitão mór do Zumbo e o chefe Banhae —
Uma querella com o Boruma —Transpomos o Aruangõa, dando entrada na villa —A
nevrose da leitura e um descanso de dezenove dias — Scenas diarias e considerações
2 DRIDOSNO = CEOs CO ChbnlO oo obo do da ado dB pos sc obpobaNnoc oa dos Pag. 303 a 326
PANEIEPREN DG RO e eo fores oe ora nop sans Mo! apo roma pe Va Era oa Pon EN A aa ta O oa Ea LE Pag. 327 à 378
OBSERVAÇÕES SCIENTIFICAS FEITAS DURANTE A TRAVESSIA... >» 3S7)a 445
ANA DRo 0 6000 Sb DS SPA ORA E RIR ERRA E RO PRI REI RR RE RR » d4d4la 448
ONICERAS RES o pre ale pa oia a Perna aa a] Eita a a ta 6 rea » 449 a 450
JL oco dd pI RIR E ETERNO 6 5 6 GERE RR » 4õla 464
PEDRAS Er ter selo solo e csteareio a é re ea 0 grs T era a orou ARA V A as nto PR NAO O pe na 010) 9/2 06 Eleito Gini é » 465 a 474
Us
CAPITULO XVIH
NO LUA LABA
O Lualaba e confusão sobre a sua origem — Os lualabas de Nyanguc,
de Young, de Webb, etc. — Informações gentilicas sobre este — À caça ao
elephante e suas funestas consequencias — Fuga dos guias —Os bos-
ques do Lualaba e perda de um homem — Preludios da fome — Dois in-
dividuos mortos no mesmo dia— Aspecto dos bosques e natureza do solo
—A phonolite — Outro companheiro caido em caminho —O esqueleto de
um elephante — Morte inopinada dos bois-cavallos —Geral desmoralisa-
ção — Subito encontro de caçadores — Apparencia do solo—A raia do
Lunda — Mulher que deserta — Continúa a fome — À nocha como precioso
recurso — Repentina morte de um homem —Os bois e a tzé-tzé— Uma
quimballa de farinha e outra de feijão — Homem extraviado — Perda de
mala— A fauna d'aqui— Ainda duas deserções — Obito de um carregador
e aspecto geral da comitiva— Em Muene Kinguebe, extracto do diario —
Extingue-se a vida de mais duas pessoas e do ultimo cão — Ainda um
fugitivo e o abandono do ultimo quartel do bote — Multiplicam-se as po-
pulações— Tacata à vista.
VOL, II, |
E
e:
«.«. PARA ALI SE QUEDAVAM SENDO NECESSARIO AS MAIS ENERGICAS ...
Quando em 1877 partimos para a Africa no intuito
de explorar o interior, a hydrographia da zona em
que ora nos achâmos era um enigma para a sciencia
geographica, um problema que aguardava solução.
Apenas Cameron traçára umas linhas vagas sobre
o assumpto, e os pombeiros tinham dito quanto ao tem-
po se sabia, baralhando, como de costume, as indica-
ções indigenas, a ponto de crearem rios Imaginarios,
sem exporem cousa que podesse fazer fé.
Alguns viajantes mesmo, que precederam o audaz
pioneiro, como Livingstone, por exemplo, haviam pre-
parado os primeiros alinhavos da confusão com lua-
pulas e lualabas, de modo a existirem quatro ou cinco
d'estes ultimos, misturados e indiseriminaveis.
4 De Angola á contra-costa
Era o Lualaba de Nyangué, o de Young, o deWebb,
era o proprio Luapula chrismado em Lualaba; e todos,
correndo em direcções phantasticas, lá fam a caminho
do norte confluir em pontos differentes, derivando do
sul de logares diversos tambem.
Stanley appareceu então de subito, com os resulta-
dos da sua memoravel viagem, e descido o Lualaba
de Nyangué até ao oceano, tentou pôr termo ás con-
tradicções, estabelecendo como curso medio do Luala-
ba-Zaire o do rio que procede do planalto de Babi-
sa, e, atravessando o Bemba e Moero, segue adiante
para o septentrião.
Este facto, para nós e muitos outros, constituiu um
golpe de morte dado no Lualaba, ou pelo menos uma
imposição decidida de secundario caracter ao grande
rio, que a final de maneira alguma lhe convem, quer
tornando-o identico ao Luapula, quer simples tributa-
rio deste.
À famosa arteria que em Nyangué arrasta 120:000
pés cubicos de agua por segundo, e já na altura da la-
goa Kicondja tem 600 metros de largo, conforme as
indicações que nos foram fornecidas, adiante, nas ter-
ras do chefe Musiri, é a mais bem definida de quan-
tas pelo vasto sertão existem, e insusceptivel de con-
fundir-se.
Disposta de norte a sul pelo meridiano 26º e tendo
origem approximadamente no parallelo 12º.30" sul, o
Lualaba é na opinião dos naturaes, não um tributario
das aguas do Bemba, mas o ramo medio de todo o
systema hydrographico, que, derivando d'aqui, vae a
caminho de Nyangué constitum o curso do Zaire.
No Lualaba 5
« Não ha mais Lualabas, senhores, nos disseram os
mdigenas, este é o rio-pae, que lá para baixo recebe
grandes filhos de um e outro lado, entre os quaes se
conta o Kaxenguenéque, que é a parte inferior do rio
Luapula.
«O seu nome é sempre o mesmo, e para os lados
nenhum maior existe, nem possue mais amplas lagoas.
«São numerosas as ilhas que lhe semeiam o leito,
e n'ellas vivem e se abrigam bastas populações de
Urua e de outras terras, contra os assaltos dos povos
vizinhos.»
E logo que, para os ouvir, nos referiamos ao Lua-
pula, como podendo ser o verdadeiro Lualaba, obti-
vemos constantemente como resposta uma negativa á
nossa Insistencia.
Assim, o colosso que envia as suas aguas ao Atlan-
tico no golfo da Guiné, percorrendo o sulco que lhe
serve de guia em uma extensão de 2:500 milhas geo-
eraphicas, e rola na embocadura 2.000:000 de pés
cubicos de agua por segundo, tinhamol-o ali perto,
mesquinho e pequeno, possuindo apenas meia duzia
de telhas do humido fluido; e com a sua presença
haviamos tambem resolvido o celebrado problema da
determinação da origem do ramo medio do Zaire, to-
pando com o braço originario delle n'um paiz onde
europeu algum jamais estivera e em que uma natureza
selvagem como que o escondia cubiçosa.
Estendia-se agora ante nós para o nascente uma
ampla terra, através da qual pretendiamos cortar per-
pendicularmente todas as origens do grande rio, as-
sentando em definitivo a posição aos seus numerosos
6 De Angola á contra-costa
afiluentes, e onde íamos soffrer crueis privações, que
na tarde da mesma descoberta uma circumstancia im-
prevista iniciou.
Seriam seis horas. O sol abysmára-se entre o arvo-
“redo; do oeste columnas de fumo se erguiam, pare-
cendo que as matas d'aquella banda eram presa das
chammas; descansavamos após a refeição, conversan-
do com os caçadores que para ali nos haviam guiado,
quando inopinadamente estranho rumor nos eviden-
ciou que um grupo de elephantes se approximava.
Pegámos das armas, e Antonio, o mais ligeiro, foi
que primeiramente d'elles se apropmquou, apertando
com um, macho, de vulto colossal.
Este, vendo-se perseguido, fugiu rapido para jun-
to dos congeneres; entrava o escuro, não havia tempo
a perder. O nosso caçador desfecha, fermdo profun-
damente o pachyderme, que, sentindo-se tocado pelo
projectil, volve furioso.
Ão vel-o de orelhas abertas e tromba erguida, apo-
dera-se o susto de todos, e o primeiro passo que fez
para investir com o grupo foi o signal de completa
debandada. |
Anoiteceu. Nos arredores tudo era silencio, nenhum
ruido trahia a presença da formidavel manada; reco-
lhemo-nos no proposito de cedo, ao alvorecer, procu-
rar o animal ferido, que sabiamos não podia achar-se
muito longe do logar da scena descripta.
Logo, pois, que a aurora começou de aclarear a
superficie da terra, eil-o Antonio em acção, acompa-
nhado pelos guias, para a banda onde se presumia
estivesse caído.
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O
NO EN Voy
«.. DESFECHA, FERINDO PROFUNDAMENTE O COLLOSSAL PACHYDERME .. .
No Lualaba q!
Mal contavamos porém com a perfidia dos negros
conductores, que havendo percebido o rastro, delle
desviaram o nosso caçador, e ao cabo de horas de in-
fructuosas pesquizas voltou, declarando não ter con-
seguido encontral-o.
Resolvemos abalar, e como nem sombra de trilho
ou indicação houvesse sobre o rumo a seguir por meio
d'esses matos ignorados, clamámos pelos guias, a fim
de que, tomando a vanguarda, nos poupassem a cer-
teza de um transvio.
M'PALA (femea)
Tirado de um croquis
Não tivemos por muito tempo de nos cansar em tal
exercicio, pois os infames, reconhecendo o sitio e di-
recção em que o animal jazia, abandonaram a cara-
vana, deixando-nos a sós no mais recondito dos ser-
tões africanos!
Para onde ir agora?
Volver, seria uma loucura. As matas do Cabompo
não eram menos perigosas do que as do Lualaba, po-
dendo continuar como campo largo de soffrimento e
trabalho para a comitiva, e ainda, ficando do poente,
8 De Angola á contra-costa
tinham para nós o facies pouco sympathico de nos at-
trahirem em direcção contraria á que justamente nos
convinha tomar. 7
Tudo nos levava ou impelha para o oriente, e em-
bora a gente em massa manifestasse inteira repu- |
gnancia em proseguir n'esse sentido, assim se decidiu, |
cortando pelas florestas um pouco ao nordeste, na idéa
de que, quanto mais para o norte, tanto maior proba-
bilidade teriamos de encontrar povoadores, pois para
esse lado devia achar-se o antigo caminho dos pom-
beiros.
A 13 de outubro, tomado tal arbitrio, proseguia a
expedição portugueza por meio d'esses bosques, que
o diario diz «fechados, tristes, immensos, encobrindo
todo o horisonte, e dominio só de rhinocerontes, bufa-
los e elephantes», deixando 4 Providencia o cuidar da
sua salvação.
Á frente pequeno grupo, de machados em punho,
rasgava, no emmaranhamento de cipós e troncos uma
abertura ao rumo da agulha por nós indicado, em-
quanto o resto da comitiva, melancholica e abatida,
por ella ía passando de cargas ás costas.
Pela tarde foi a marcha feita ao compasso do ri-
bombo do trovão, e quando acampámos junto ao rio,
que suppozemos ser o Mumbegje, affluente do Zambeze,
a primeira noticia que tivemos foi que desapparecêra
um homem.
Andavamos ha sete dias embrenhados em matas
desertas, durante os quaes todo o mantimento se esgo-
tára, ficando como recurso a carne, que constituia a
nossa unica alimentação, e amda difficil de obter, pois
No Lualaba | 9
a caça andava espantada pelos ataques permanentes
da mosca.
A 14, pelo meio dia, matámos uma m'pala femea,
de que o desenho dará idéa, e tivemos de registar a
perda subita e seguida de mais dois companheiros,
Cha-Cassenda e Quibanda, que se finaram quasi sob
os nossos olhos, triste e miseravelmente.
O primeiro, bom velho que nos entretia com seus
sustos e historias, não pôde resistir á fadiga, e ao longo
da nossa trilhada deixou estirado o seu corpo, rema-
tando assim tanto soffrer; emquanto que o outro, junto
a uma arvore, tombára para sempre.
Difhicil, caro leitor, é pintar aqui a impressão es-
tranha que em todos produzia a vista dos vultos es-
queleticos, d'esses homens agonisantes, a quem a pro-
tecção era impossivel, e que a necessidade da propria
conservação nos obrigava a abandonar para nos diri-
em sobre a caça que fugia, ou para occorrer à con-
strucção de quilombo que evitasse as chuvas immi-
nentes, ou ainda da reducção de cargas, etc.
Sentados pelas clareiras em pequenos grupos, como
a vinheta dará idéa, para ali se quedavam, sendo ne-
cessarias as mais energicas exhortações, a fim de met-
tel-os em marcha.
O imteresse da geral salvação levava a proseguir, e
todos sabiam que quem fraquejasse era decididamente
morto !
A floresta para a banda do nascer do sol compli-
cava-se de mais em mais, e, entretecendo-se de cipós,
entre os quaes notámos o da borracha, a Landolphia,
cobria-se de urzellas, sem um pau fendido pelo ma-
10 De Angola á contra-costa
chado do homem ou arvore tisnada pelas fogueiras
do estio.
O solo variára tambem, apresentando-se agora co-
berto de tractos argillosos, colorido de vermelho, com
affloreamentos de rochas quartzosas; schistos extre-
mamente micaceos (grupo archaico) se encontravam,
bem como exemplares soltos do quartzo granuloso,
etc. Abunda a limonite e topa-se com frequencia o
ferro oxydado magnetico.
Entre os exemplares por nós colhidos figura um
sem duvida interessante. É a phonolite, essa rocha
eruptiva moderna, e que parece indicar para aquella
zona um movimento orogenico, de data relativamente
recente,
Eis o que sobre ella nos disse o nosso illustre amigo
o sr. Nery Delgado.
« Exemplar de phonolite, rocha eruptiva post-tercia-
ria. É composta de numerosissimos individuos de feld-
spatho potassio, dispostos parallelamente. Alguns de
feldspatho triclimnico e outros maiores d'aquelle já ci-
tado, dão á rocha um aspecto um tanto porphyroide,
acrescendo que o ensaio microchimico aceusa clara-
mente a existencia de nephalina.
«Encerra ainda alguns grãos de magnetite e agu-
lhas de amphibole.»
À nossa passagem por esta terra, de triste aspecto,
foi marcada com o registo de outro obito. À 15, Chico,
um robusto companheiro, atacado de tremores e per-
turbações nervosas, succumbiu junto á margem de um
riacho que, desviando para o oeste, devia ser affluente
do Lualaba.
No Lualaba 1a
Pela tarde d'esse dia encontrámos, junto á riba ala-
gadiça de uma torrente de agua, o acampamento de
caçadores, que quatro ou cinco dias antes ali devia ter
estado a esquartejar um elephante.
Grande quantidade de carne existia amda dispersa
pelo solo, à qual os nossos se lançaram soffregos, em-
bora estivesse já em decomposição.
INDIGENA MU-SANGA
Segundo um croquis
Não atinámos com a procedencia d'elles, mas tudo
nos levou a crer que fossem do norte, gente de Urua
ou da Lunda.
Cortando no dia seguinte ao rumo da agulha, prose-
guimos em linha recta para les-nordeste, n'um estado
verdadeiramente desesperado. Era a fome, a fraqueza,
a morte da gente e os ataques da mosca que infesta
todo este sertão.
Zea De Angola á contra-costa
A 16 succumbiu um dos quatro bois-cavallos que
possuiamos, a 17 endoudeceu outro, investindo com
tudo e todos, e principalmente com quem durante me-
zes 0 havia cavalgado, e cujo capacete bastava para o
enfurecer, morrendo pouco depois; a 18 estremalha-
ram-se os restantes, perseguidos pelos ataques da tzé-
tzé, fugindo matos a dentro, ao mesmo tempo que os
nossos, meio desmoralisados, abandonavam a todo o
momento a trilhada em procura de raizes, mel ou de
qualquer cousa que lhes mitigasse a fome; e quando o
acervo de tantos males como que preparava alfm a
perda completa da expedição, dispersando homens e
animaes por aquelle labyrmtho, cuja lembrança faz
estremecer, sem norte nem imdicio que os podesse
guiar, aprouve á Providencia amercear-se de tamanha
angustia, deparando-nos de subito com um acampa-
mento de caçadores que andavam ao mel.
(Quem poderia aqui expor a estupenda sensação por
todos experimentada, ao ver, após uns tiros dados
n'um antilope, emergir dos bosques os vultos negros
de creaturas estranhas a mirar-nos emboscadas, pre-
cisamente no momento em que nos achavamos con-
vencidos da nossa perda!
A sensação foi tamanha, que não volvemos por al-
gum tempo do nosso espanto, sem duvida maior que o
experimentado pelos indigenas, muito embora fosse
esta a primeira vez que elles punham os olhos n'um
branco.
Estavamos de novo na raia do imperio de Muata-
Ianvo, pois Muene Canhinga, o regulo daqui, disse-nos
ser Ca-runda.
No Lualaba 13
Tinham-se estabelecido havia pouco, não possuindo
por isso ainda plantações regulares, prova de que es-
tas florestas vão agora sendo exploradas pelos proprios
indigenas, que em pequenos grupos de caçadores se
encravam por ellas.
Typos em tudo similhantes aos de Muene Chilembi,
partem os incisivos medios de baixo, usam soltos os
cabellos, carregam buzios e contaria á cinta e pescoço,
e são assás miseraveis.
“O chão eleva-se gradualmente, affloreado em partes
por uma rocha quartzosa muito dura.
A camada superficial é constituida por uma terra
argillosa vermelha, outras vezes côr de tabaco, onde
Julgámos ver um deposito quaternario.
Como ao mesperado contentamento do encontro dos
lundas não correspondesse satisfeito o desejo de achar
comestiveis, partimos para o nascente na espectativa
de encontral-os.
A jornada começou mal, porque ao partir de Ca-
nhinga, debaixo de chuva, desertou uma mulher, pouco
decidida, segundo parecia, a correr os riscos de novas
travessias pelos matos.
Em Muene Mocumbi nada se encontrou que nos
servisse de alimento, sendo necessario abater um dos
nossos magros bois para acudir à fome. D'este ponto
até Muene Muana fez-se o trajecto sob a mais monu-
mental das trovoadas, não se suspendendo a marcha,
pela circumstancia de estarem a acabar os bois, e ser
preciso aproveital-os marchando o possivel.
Perante nós estendia-se em largas ondulações o pla-
teau central, e ao caminhar por outeiros e ravinas, com
14 De Angola á contra-costa
agua muitas vezes pelo artelho, lembrava-nos saudo-
sos de quando eramos cavalleiros.
Escusado será repetir que em nenhuma das habita-
ções encontrámos sequer um bago de sorgho para fa-
zer farinha; adiante do rio Jicula, porém, um precioso
recurso se nos deparou, que o é tambem dos indige-
nas aqui.
Foi a nocha, fructo do Parinarium mab., do tamanho
de uma ameixa, com polpa farinacea e de muito agra-
davel gosto, que se acha espalhada com profusão por
estas selvas.
Os nossos homens, empoleirados pelas arvores, dei-
tavam abaixo quantas viam, e cada qual, fazendo a
sua pacotilha, partia contente, roendo-as até ao ca-
rOÇo.
Parallelamente com a felicidade anda no emtanto
sempre o desgosto, e ao goso de encher o estomago,
antepoz-se logo o lugubre silencio das scenas mortua-
ras.
Começára de novo a lavrar a doença e apoz o Ji-
cula, caíu Catumbo como que fulminado pelo mal.
Assaltando os indigenas que encontravamos carre-
gados com a nocha, avançámos debaixo de agua até
ao rio Mutanda, tributario do Loengue e portanto do
Zambeze, cheios de fadiga, de desgosto e de parasi-
tas!
Oppressos pelos ataques da mosca, os derradeiros
espectros de bois andavam aturdidos pelas matas, sem
saber onde socegar, ameaçando-nos a todo o momento
perdel-os, e com elles ver sumir-se o ultimo madeiro
de salvação, para qualquer caso desesperado.
No Lualaba 15
Investindo pelo meio de denso matagal, onde as mi-
mosas começavam de novo a multiplicar-se, de envolta
com Achantaceas e uma arvore pequena de flor ama-
rella mutompose (Mucenda?), e njangos e mucaratis
a rarear, attingimos a libata de um regulo chamado
HOMEM DE EKEINGUEBE
Tirado de um croquis
Cha-Mulanda, chefe dos basanga, typos de que da-
mos uma idéa pelo desenho atraz, onde tudo que nos
podia ceder se resumia a uma quimbalia de luco e ou-
tra de feijão da terra, Voandzeia subterranea.
Em caminho, um outro homem, Cachipia, deu em
terra, e a morte d'este rapaz, pouco antes robusto e
alegre, causou na comitiva geral sensação.
"LO De Angola á contra-costa
A 23 de outubro attingiamos o rio Cabaco, ultimo
affluente do Zambeze por esta banda, cortando diago-
nalmente uma zona accidentada, para entrar na ba-
cia do Congo. Do fundo de valles cobertos de verde
folhado, erguiamo-nos a miudo a collinas elevadas,
donde se gosava panorama bem differente d'aquelle
a que andavamos acostumados, e isso distrahia-nos
bem, com as varias sensações e esperanças, que im-
pressionam quem se ergue a zonas dominantes.
Difhicil é subir, mas agrada.
Vae uma pessoa caminhando na idéa de ver lá de
cima alguma cousa de estranho, e embora essa espe-
rança seja quasi sempre ludibriada, não fenece por
isso, antes renasce na subida.
No centro d'esses valles, complicados de troncos e
gramineas, extraviou-se um homem por andar à fru-
cta, o qual jamais tornámos a ver, e o peior foi que
com elle se perdeu uma mala contendo numerosos ims-
trumentos e boa parte dos exemplares da fauna e mi-
neralogia colhidos durante a marcha.
À mosca varre n'esta região solitaria quantos anti-
lopes existem, só dominando uma cigarra enorme, que
tudo atroa com o seu chiar, e varios habitadores ala-
dos com desusadas vozes, como um que similha o mar-
tello a bater na bigorna (que julgâmos ser o Pluvianus
armatus), outro cujo tin-tin-tin lembra uma campainha,
o passaro cabra Schizorhis concolor, outro que espreita,
do qual já fallámos no Zambeze, naturalmente o Cha-
radrius caruncula, etc.
Havendo-nos demorado um dia para bater os arre-
dores, no intuito de encontrar a mala, que tanto mte-
No Lualaba 17
ressava, tivemos de partir rapidamente, pois dois dos
nossos, logo que se viram a sós, desertaram!
Começára de novo a nevrose da deserção, causa de
graves e constantes embaraços, e ao abeirarmo-nos do
rio Cachima, fugiu um terceiro, que jamais foi possi-
vel ver.
Aqui marcou amda a expedição a sua passagem
com o cadaver de outro companheiro, que succumbim
à anemia e fadiga, urgindo abandonar metade do bote
que possuiamos, para proseguir.
O estado da comitiva era verdadeiramente desespe-
rado. Os emmagrecidos homens pareciam espectros,
mal podendo com as cargas, e o animo já debil de to-
dos ía prestes extinguir-se.
Nós mesmo, no meio de tamanha hecatombe, acos-
sados pela mosca, fome e chuva, precisavamos reves-
“tir-nos de toda a coragem para conter na disciplma e
no caminho tanta gente desmoralisada, e dar alguma
“ordem a esse cumulo de desalento no interesse da
nossa causa.
Por vezes exhortavamol-os, lembrando-lhes a proxi-
midade de Garanganja, que dentro em breve teriamos
comestiveis, e que em summa o peior estava passado;
elles, porém, convencidos que nos dirigiamos todos a
morte certa, miravam-nos indifferentes ou com ar de
compaixão.
Eis o que a 26 de outubro escreviamos em Muene
kinguebe. |
«Chegámos alfim 4 beira da terra da Garanganja,
dominios do soba Musiri, onde felizmente encontrámos
aquillo que ha semanas não viamos, farimha e feijão.
VOL. II, a
18 De Angola á contra-costa
«Nada se póde imaginar de mais cruel do que as
angustias experimentadas por esse sertão que atraz
nos fica, e onde só com dificuldade se estabelecerá o
homem.
«Se nos fôra licito bem attentar no nosso profundo
desgosto e abatimento moral, veriamos que somos ou-
tros, e que o isolamento e os obstaculos, tendo varri-
do da memoria a idéa do convivio e a necessidade de
uma energia obstinada, nos tornaram meios selvagens,
identificando-nos com o modo de ser de quanto nos
cerca e em que nem um só delicado sentimento tem
ensejo de manifestar-se. À mesma piedade, endurecida
pela constante repetição de scenas desgraçadas, vae
fraquejando envolta no pensamento egoista de breve
caírmos tambem, e, afastados de tudo e de todos, ficar-
mos para ahi sem encontrar uma bôca que nos diga
duas phrases de consolo.
«Hoje caíram no caminho ainda dois homens, para
não mais se levantarem, e o ultimo dos nossos cães,
sem sabermos precisamente como!
«E de crer que fosse victima da picada da tzé-tzé.
« Embora nos achemos em terra de alguns recursos,
estamos acabrunhados, tamanha é a prostração e fa-
diga que nos dominam. Deprimidos, como oppressos
por algemas, ao volver os olhos para a carreira feita,
e relembrando as vezes que estivemos a pique de com-
pleto extravio, não é possivel explicar o facto de ainda
sermos viventes!»
A gravura junta dará ao leitor uma idéa do typo dos
naturaes daqui, que não nos pareceu em extremo at-
trahente.
No Lualaba jus,
Em Kinguebe fugiu-nos um outro homem, sendo
preciso abandonar o ultimo quartel do bote, e haven-
do-se abatido um boi, que estava proximo a morrer,
preparou-se larga ceia, que distribuiu uma relativa
somma de alegria, não obstante o aborrecimento geral
pelas trovoadas incessantes, humidade e tudo que nos
cerca.
As populações vão-se multiplicando: largas planta-
ções se encontram, as quaes os nossos miram de olhar
arregalado, convictos de que entraram alfim na terra da
promissão; serpeiam numerosos rios em valles profun-
dos, percorrem as lavras garridas raparigas; adiante
transpomos, em cavada ravina, o rio Muachi, em Ca-
lequé, mais longe, deparou-se-nos o Lufira com impor-
tante volume de agua, rio que desagua no lago Ki-
condja, até que alím damos vista da terra de Tacata,
onde reside em ampla habitação um dos mais Impor-
tantes vassallos de Musiri.
ria
CAPITULO XVII
A PARRA
Muitos são os viajantes que, por lhe haverem bois
e cavallos sido destruidos por este pestifero insecto,
não só viram o objecto de sua viagem completamente
transtornado, mas a sua propria vida arriscada, por
falta de meios de conducção.
ANDERSON, Lale N'gomi, etc.
Tacata— "Traços geraes — À estação chuvosa e a mudança em nossos
habitos — Considerações sobre os dias de ocio— Duas linhas do diario —
A mosca tzé-tzé — Influencia d'este pequeno diptero e causas de atrazo
de alguns povos da Africa central —Genero a que pertence — Designa-
ções varias do insecto. A Chaldaica, arabe, etc. — Regiões por ella de-
vastadas —O seu habitat — Influencia do frio e do vento — Animaes pre-
feridos —Os cães e a alimentação de caça— À repugnancia da mosca
pelos dejectos dos herbivoros — Factos consequentes à picada no homem
e nos quadrupedes — Primeiros symptomas — Humores, cegueira e loucu-
ra— Enfraquecimento fatal e aspecto do boi depois de esfolado — Hemor-
rhagias, sangue diminuido, coração alterado — À tzé-tzé será venenosa?
— Duvidas e nosso juizo sobre a immunidade dos animaes selvagens —
D'onde provém a mosca?
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CABEÇA DA TZÉ-TZÉ AMPLIFICADA
Tacata é um districto
pittoresco, rico em arbo-
risação, coberto de serras
que se alongam ao nor-
deste-sudoeste e o refres-
cam com numerosos rega-
tos derivatorios de seus
flancos, varrido de ventos
e collocado á altitude me-
dia de 1:260 metros.
O aspecto e exuberante vegetação dos risonhos val-
les, accentuada pela flora das terras elevadas, diverge
em muito do que para oeste viramos, sobretudo no valle
do Zambeze.
E uma terra bastante alta, bem arejada e enxuta,
que convinha muito especialmente para restabelecer
OS nossos organismos e gosar alguns dias de um modo
de vida mais normal.
E De Angola á contra-costa
Depois a estação chuvosa em que nos achávamos,
alem de ageravar as dificuldades de transito no mato,
trouxera as suas mudanças para os nossos habitos,
originando tambem perturbações economicas.
E se de ha muito nos abstmhamos-do uso da tenda,
agora haviamol-a riscado totalmente da lista dos ob-
jectos que possuiamos, preferindo a barraca de folhas
à moda africana. Mais cedo mesmo o deveriamos ter
feito, porque são perigosas e incommodas as tendas de .
lona.
Oscillando com extrema facilidade, ameaçam a todo
o momento cair; a agua corre amda por baixo d'ellas,
e sendo as nossas camas de hervas e pelles, urgia por
vezes treparmos para a vara central, a fm de, segu-
rando-a, evitar a enxurrada.
Alem do que, impregnando-se de humidade, e não
sendo sensato atear dentro fogueira, fica o viajante
durante a noite mergulhado n'uma atmosphera de va-
“por, que deve ser nocivo à sua saude, e exposto tam-
bem ao frio intenso da manhã proprio destas alti-
tudes.
O melhor é fabricar cubatas com paus em forquilha
ligados com o entrecasco da mupanda, e recoberto o
todo de capim, encimado por carapuça bem unida,
E então póde chover, pois na confortavel cama de
pelles, junto a uma grande fogueira, e com a porta
fechada por lençol de cautchouc, gosa-se de um rela-
tivo descanso, sem receios nem humidades.
O que se torna necessario é construil-as antes do
cair da trovoada, para evitar o alagamento do solo
argilloso.
A tzê-tzé 25
Para 1sso, logo que a manhã esteja clara, põe-se a
comitiva em marcha, e mesmo que pelo noroeste come-
cem a formar-se grandes reuniões de cumulos, cami-
nha-se até elles se approximarem de 45º de altura;
logo que isto succede, convem acampar, evitando a
molha de quantos artigos se transportam.
Como é simples e facil de prever, a expedição aqui
devia demorar-se por muitos dias. Fatigados e pouco
dispostos a proseguir nas longas marchas dos ultimos
tempos, os nossos homens não se sueitariam á parti-
da, largando uma terra onde encontraram os recursos
mdispensaveis; nem ousariamos exigir um tal sacri-
ficio d'essa cohorte de desanimados, que podia ter tu-
nestas consequencias, isto é, uma deserção em massa!
Convem ociosidade completa durante semanas, co-
mendo e dormindo, a fim de, refeitas as forças, se em-
prehender o restante trabalho, que ao espirito de todos
se afigurava não menos dificil do que o já realisado
n'outras paragens.
As nossas distracções é que eram poucas e raras,
todas mais ou menos pueris pelo dia, tornando-se van-
tajosamente de contemplativo caracter pelo decurso da
noite.
O isolamento, embora enfadonho, tem por vezes,
como todos os males, os seus resultados bons. Obri-
gando o homem, farto já de tudo que o cerca, a con-
siderar em si mesmo, impelle-o, n'este subjectivismo,
a embrenhar-se nas profundezas da sua alma, e, de
escalpello em punho, a fazer estudo anatomico do es-
pirito, que o leva a entrever perfeições ou corrigir de-
feitos que até ali ignorava.
26 De Angola á contra-costa
O espectaculo tranquillo e attento das maravilhas
da natureza tambem concorre para lhe sublimar os
sentimentos, e meditando na grandiosidade do que o
cerca, é arrastado á melhor comprehensão do bello e
do immenso, assim como o consequente ennobreci-
mento do proprio sentir e surpreza do seu poderio.
Quantas horas não despendemos por essas longas
noites, observando a amplitude dos céus, esse vago
oceano, povoado de mundos fluctuantes; quantas ve-
zes nos não deixámos enlevar pela idéa de que, em-
bora longe e isolados, eramos bastante superiores e
felizes, para poder admirar tamanhas e tão numero-
sas maravilhas!
Attentando nas guardas, ora no cruzeiro do sul, ora
nas nuvens de Magalhães, relembrava-nos os factos
historicos á sua inicial imdicação ligados; cogitava-
mos nos obstaculos então experimentados por aquelles
que primeiro viram esses distinctivos do céu do sul,
faziamol-as correr parallelas com as por nós sofridas,
sentiamo-nos avultar aos proprios olhos, esqueciamos
a Africa, a nossa situação, abalando para logares me-
lhores e domimados por ephemero extase; eramos fe-
lizes até volver 4 realidade e á monotonia do campo.
E assim que desses muitos dias encontrâmos com
frequencia no diario resenhas como a segumte:
« Pela tarde, sentados à porta das cubatas, e envol-
vidos pelas brisas frescas que afugentam os calores
do dia, deixâmo-nos im em divagações entre o chá e o
cachimbo até que a noite entra.
«Concluiu o brouhha das compras no campo, e de-
zenas de indigenas acabam de erguer-se, levando as
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O MERCADO NO ACAMPAMENTO
A tzé-tzêé 24
quindas vastas, e em compensação fazendas e mis-
sangas.
«Tudo esquece, como que não lembra já o passado;
só para o futuro agora se mira, apenas a idéa do re-
gresso 4 Europa attrahe todos os pensamentos, exci-
tando recrudescida a saudade.
«Entra o escuro a tudo envolver, esmorecem com
os ultimos arreboes os bulicios do dia, alenta-se a luz
das fogueiras, e ainda, fronte entre as mãos, lá se vêem
sentados em pequeno banco os chefes da expedição.
« Paciturnos e cabisbaixos scismam.
« Começou o concerto da noite, e embora os artistas
que a natureza a esta hora aqui escolhe para seus
vocalistas sejam mais humildes que os emplumados
do dia, não deixam comtudo de despertar uma sensa-
ção de certa maneira estranha.
«Sapos, cigarras e grillos enchem á porfia os ares
com seus gritos varios, produzindo, quando enfraque-
cidos pela distancia, um como que côro harmonioso.
«À familia dos Lampyrides, aqui avultada, entra
de apparecer, vendo-se numerosos pyrilampos a con-
stellar os ares e os reconditos sombrios do bosque;
emquanto as aves emmudeceram, e nem um noitibó
por cá rompe o silencio com o seu sinistro pio.
«A aragem, calando os derradeiros murmurios que
o folhedo recolheu, caíu tambem, deixando à calma
o dominio exclusivo.
«Tudo dorme. De subito estoura tremendo ruido
inesperado, que, echoando pelas quebradas, vae per-
der-se repercurtido ao longe. É o rei das florestas que
repleto volta para o antro.
28 De Angola á contra-costa
«Estremece o mundo animado; tudo acorda, des-
pertando nós igualmente do fundo scismar.
«Já a hora se adiantou. O firmamento, até então
azulado e coberto de pontos brilhantes, povoou-se de
cumulos. Fuzila ao longe, e, ao soldarem-se elles, ves-
te-se a abobada de ennegrecidos nimbus; horrisono
trovão estala sobre nossas cabeças: abriram-se as ca-
taractas do céu; chove a torrentes. »
Aproveitemos, estimavel leitor, as horas de ocio que .
o diario nos concede durante estes dias, para vos fal-
lar aqui de um facto curioso, que, embora já muito
tratado por pennas mais habeis, não deixa de ter ca-
bimento por estranho e mesmo estupendo, trazendo-
nos presa a attenção por mezes em face das suas
multiplicadas manifestações.
Referimo-nos a esse diptero, que é hoje no sertão o
terror de homens e o flagello de animaes.
Nada impressiona tanto o espirito como os pheno-
menos que, tendo por causa origmaria suecessos de
pequeno ou não attendivel valor, se patenteiam aos
nossos olhos nos effeitos mesperados!
Ninguem positivamente deixa, estudando a mecha-
nica, por exemplo, de admirar as multiplices manei-
ras de dirigm a applicação da força, os variadissimos
modos por que o homem soube della apropriar-se,
tornando o seu braço, de pequeno e fraco, a mais po-
tente das alavancas; mas é certo que, na ordem dos
phenomenos physicos, nenhuns ferem mais a attenção
do que os referentes aos esforços moleculares.
Considerando nas leis que regulam a tensão elastica
dos vapores, e ao ver as suas maravilhosas consequen-
A tzé-tzé 29
cias traduzidas em poderosas machimas modernas; ao
lembrar principios da cohesão e da repulsão molecu-
lares e ao ver rebentar um canhão cheio de agua, só
por simples abaixamento de temperatura, fica-se per-
plexo, não sabendo como dar-se conta de taes factos!
Similhantemente, quando o viajante se transporta
ao sertão, comprehende logo que no curso caudaloso
do rio ou no pantano pestifero, na floresta densa ou
no ardente deserto, na presença de feras ou de causas
meteoricas, possa a energia ser fallivel, e a humana
vontade, embora influenciada pelo numero, submet-
ter-se a aceidentes de caracter msuperavel.
Mas ao lembrar que um mesquinho diptero tem a
civilisação em afasto, que esse mesmo imsecto se tor-
nou a mais grave preoccupação de um paiz como a
Inglaterra; quando, ao dirigir as suas operações sobre
“a Abyssinia, lhe occorreu de subito que sobre o tra-
jecto da costa para lá se encontrava a tzé-tzé, que à
idéa da sua presença muitos viajantes tremeram, e
aleuns, como Frederick Green, apenas lhes bastou
penetrar oito dias na zona dominada por esta ao nor-
te do N'cami, para um dos seus companheiros perder
logo trinta e seis cavallos, e quasi todo o gado vac-
cum que levava, assim como Oswell e Livingstone fo-
ram por mais de uma vez victimas d'ella; ou emfim
como nós, que nos morreram todos os bois, sob a m-
fluencia das suas picadas temiveis: não. póde o espirito
aquietar-se, é impossivel ver os seus destroços sem
soltar uma exclamação de espanto.
Atravessa o boi e o cavallo, na companhia do ho-
mem, selvas e campinas, onde dominam reptis e feras,
50 De Angola á contra-costa
e consegue passar ncolume no meio de tão poderosos
como temiveis inimigos; entra na região da mosca, e
ahi estupefacto vê-os logo miseravelmente suecumbir,
sem que a sua força, sciencia e astucia lhe sirvam do
menor auxilio para evitar a morte!
Fogueiras pelo dia em redor do gado, travessias
pela noite nas terras empestadas, indicações preserva-
tivas offerecidas pelos mdigenas, tudo é mutil, tudo se
perde em presença d'esse vil animal que o mais sim-
ples choque aniquila!
E ao cabo de dez ou quinze dias, aquelle que alegre
e bem disposto se propunha, com sua bagagem orga-
nisada, viajar commodamente, vê-se de repente per-
dido, observa o gado todo em terra, o material dis-
perso nos matos, victima de causa que lhe não foi
licito impedir!
Campeando audaz por muitas das florestas da Africa
central, a tzé-tzé, não só tem sido e será por muito
tempo um obstaculo à marcha da civilisação, mas sem
duvida um factor importante para o estado de atrazo
do mdigena das terras interiores, ou, pelo menos, para
o modo de vida miseravel que ahi leva.
Porquanto, se na verdade o negro não apropria o
boi aos trabalhos agricolas e os outros animaes domes-
ticos a coadjuval-o no ardente labor de tirar á terra o
seu sustento, é este quadrupede para elle um elemento
de riqueza e prosperidade, e não menor incentivo de
movimento, quer no negocio, quer por querelas e
guerras consequentes.
Em todas as zonas onde é susceptivel a creação do
gado, notámos sempre que os indigenas eram mais
A tzé-tzé 91
activos e dextros assim como começando pela vida la-
boriosa do pastor, até rematar na defeza da sua posse,
se mostram superiores áquelles que não o possuem.
Á benevolencia do illustre clinico o sr. dr. May Fi-
gueira devemos a seguinte nota, que não pôde ser mais
extensa, attento o estado de má conservação dos dois
exemplares que lhe fornecemos !.
É A mosca tzé-tzé é um diptero pouco maior do que a nossa mosca ordi-
naria; mede, termo medio, 12 millimetros de comprimento e 4 a 5 de largo.
Os olhos oceupam a maior parte da cabeça, e são, como os d'esta ultima,
facetados em exagonos, constituindo ou formando os chamados olhos com-
postos, podendo-se contar ao microscopio approximadamente tres mil face-
tas ou corneas em cada um dos lados da cabeça. As azas são membranosas
como as da mosca commum, mas um pouco mais compridas. O abdomen,
de côr clara, é composto de seis segmentos e coberto de muitos pellos resis-
tentes. As antenas possuem tres articulos curtos. As pernas, em numero de
seis, são delgadas e pillosas. Nas extremidades ou patas, com o auxilio do
microscopio, vêem-se duas unhas em fórma de ganchos muito agudos, com
as quaes a mosca se agarra aos animaes que persegue, tornando-se esta
adhesão mais segura à custa de duas pequenas pás ou laminas asperas, col-
locadas em frente das unhas, formando com estas uma especie de pinça.
A parte ou orgão mais importante da mosca tzé-tzé é a tromba, que tem
o comprimento de 2,5 millimetros e de largura 0,2 millimetros, e à custa
do microscopio vê-se que é constituida por um dardo chato, pouco espesso
e pontagudo, com o feitio de uma faca de corrieiro, mettido dentro de uma
bainha elastica, verdadeira tromba, que serve para proteger a navalha ou
dardo, e ao mesmo tempo é empregada pela mosca como sugador para
absorver o sangue dos animaes que ella fere. O dardo com o seu envolu-
cro estão fixos à cabeça por uma base coriacea, que lhe serve de solido
ponto de apoio para mais facilmente dardejar a pelle, que procura ferir.
Aos lados da tromba, e presos à cabeça, existem dois palpos ou tentaculos
cobertos de numerosas celhas curtas e muito fortes, que servem de orgãos
do tacto para o animal apalpar as superficies aonde pousa, e assim conhe-
cer a qualidade do tecido, para com mais segurança introduzir o dardo ;
são orgãos similhantes aos que existem no mosquito commum, e em quasi
todos os insectos analogos. Não nos foi possivel distinguir as glandulas
secretoras do veneno que as moscas introduzem nos animaes que ferem ;
julgâmos porém que deverá ser segregado em orgãos analogos aos do mos-
32 De Angola á contra-costa
A tzé-tzé é um diptero que pertence ao genero Glos-
sina, e designa-se por Glossinia morsitans,W ester !, nos
dominios da sciencia, e por muitos termos pelas gen-
tes do contmente, entre os quaes figura o que mdicá-
mos, embora não conhecido universalmente.
Nenhum, quanto a nós, é porém mais proprio do que
o de zimb, como se lê na versão arabe da Bibla, pois dá
completa idéa do zumbido do animal, que é um zim-im
prolongado e aspero!
Muitas são as regiões da Africa central onde este
msecto domina; mas encontra-se geralmente no trian-
gulo que se forma desde o lago N'gami até 4 foz do
Limpopo e do mesmo lago ao norte do Nyssa.
Observa-se ainda na Abvssinia, no Soudão, na Costa
da Mima, etc., sendo, ao que julgâmos, desconhecido na
Africa meridional, do meridiano de Libonta para o
oeste.
Habita invariavelmente nas florestas e jamais nas
grandes campmas rasas e abertas, embora alguns via-
jantes tenham afiançado isso, por as terem visto em
pequenas clareiras, que sempre existem entre os rios €
os bosques onde vive. As mesmas matas, que são seu
exclusivo dominio, têem especial aspecto e aspera dis-
quito, e cremos que esse liquido serve talvez à mosca tzé-tzé, como a este
ultimo diptero, para mais facilmente introduzirem o dardo na pelle dos
diversos animaes do que para offender ou envenenar, apesar de ser nota-
do que um grande numero de picadas destes insectos envenenam animaes
corpulentos, como são os cavallos, bois, etc.
O desenho que fizemos de todos estes orgãos à camara lucida do mieros-
copio foi depois habilmente corrigido pelo sr. Casanova.
1 E sem duvida conhecido este insecto de longa data, pois já na versão
chaldaica da Biblia d'elle se falla sob a designação de zebud.
A tzé-tzé E]
posição. Cobertas de urzellas embaraçadas pelos cy-
pós, denotam evidentemente que o homem pouco as
frequenta, encontrando-se apenas um ou outro animal
bravio.
O seu habitat, é tão definido, que muitas vezes se
póde estar na margem esquerda de um rio emquanto
da outra margem, a 40 metros de distancia, o bosque
está infestado.
O frio e os ventos energicos exercem sobre a mosca
uma acção enervante, a ponto de nas primeiras horas
da manhã as apanharmos com a maior facilidade no
fato e corpo.
De noite a mosca não ataca. .
Ao contrario, pelas horas do calor, ella arroja-se vo-
raz e Importuna, não se arreceiando dos nossos esfor-
cos para a afastar, picando animaes e homens, do que
fomos victimas centos de vezes.
É bem conhecida a circumstancia de que o homem,
“o elephante, a zebra, o bufalo, e quantas especies de
antilopes divagam pelas regiões que a mosca infesta,
são immunes ao veneno das suas picadas.
Acrescenta-se mesmo, que os cães vivem livremen-
te, quando haja o cuidado de os alimentar de caça; os
nossos porém, que andavam sujeitos a este regimen,
succumbiram, pelo menos os ultimos, ás picadas do
temivel insecto.
Affirma-se tambem que os vitellos, emquanto depen-
dem da mãe, nutrmdo-se simplesmente de leite, não
morrem, facto este que de resto é difficil averiguar,
pois a primeira victima deve naturalmente ser a que
lhe deu existencia.
VOL. II.
Ra De Angola á contra-costa
O boi, o cavallo, o cão e o porco são os preferidos
pela mosca, emquanto a mula, o burro e a cabra es-
capam sempre.
Quanto mais vistosa se apresenta a côr dos animaes,
tanto mais repetidos são os ataques d'ella; a côr branca
é a mais perigosa, pois os primeiros bois mortos foram
os brancos, e a unica rez preta que possuiamos foi a
ultima a expirar.
Ácerca dos cães deve dar-se a mesma circumstan-
cia, passando para nós como certo que o viajante pos-
suidor de bois pretos será quem na zona da tzé-tzé
mais tempo os poderá conservar.
A mosca dardeja os seus ataques em todos os senti-
dos: ao homem muito naturalmente á cara e mãos;
ao gado, porém, prefere entre coxas, ventre, pernas e
mãos, fugindo dos logares onde possam existir adhe-
rentes restos de dejecto, que ella parece aborrecer, che-
gando a acreditar-se que abandona os logares onde
haja grandes accumulações de materias evacuadas por
herbivoros.
Os factos consequentes da picada no homem são um
prurido incommodo, similhante ao produzido pelos
grandes mosquitos da Guiné, mas talvez menos dura-
douro, com immediata inflammação.
Avermelha-se a parte tocada, incha durante umas
tres horas e depois desapparecem estes incommodos
sem resultado funesto.
Nos animaes é de presumir que os primeiros pheno-
menos sejam em tudo identicos, aggravando-se sómen-
te com a repetição dos ferimentos para darem origem
a accidentes de maior circumstancia.
A teé-tié 35
O primeiro dos symptomas de que um boi está gra-
vemente atacado consiste na completa perda do lustro
do pello, arrepiamento e mvariavel tristeza.
Segue-se logo fraqueza evidente, com flaceidez ge-
ral dos musculos. O animal começa a emmagrecer,
notando-se muitas vezes parado e absorto emquanto
os outros pastam.
Assim caminham as cousas durante tres ou quatro
dias, até que sobrevem signaes mais positivos.
Os olhos tornam-se amarellos e as amygdalas en-
fartam-se gradualmente.
Umas vezes sobrevem espuma amarellenta, que se
conserva nos labios, com corrimento pelas narinas,
outras sáem as evacuações urinarias sangumeas, ou
apparece diarrhéa.
Então o animal póde julgar-se perdido, e embora
se afaste dos logares infestados, se conserve no qui-
lombo cercado de fogueiras, se cubra com uma man-
ta, se esfregue com materias dejectadas, em quatro ou
cinco semanas torna-se cadaver.
Durante este lapso de tempo os phenomenos que
acabâmos de citar anda podem complicar-se com ou-
tros de não menos serio caracter.
Assim tivemos bois que cegaram e outros que imo-
pinadamente enlouqueceram.
Este ultimo facto e tendencia notou-se sobretudo
nos bois brancos, podendo acreditar-se que tão deses-
perada situação era resultado do maior numero de
picadas.
O enfraquecimento continúa, e de subito o animal
cae, falto de forças, para não mais se erguer.
56 De Angola á contra-costa
Esfolado, observa-se primeiro o tecido adiposo tu-.
mefacto, com bolhas aqui e alem, e esverdeado em
muitas partes.
As hemorrhagias semeiam o tronco, evidenciando
um derramamento incompleto entre o musculo e a
derme. |
A quantidade de sangue foi extraordimariamente
diminuída, apresentando-se no todo com aspecto do
visco e albumimoso. À carne é côr de rosa, flaceida, o
figado amarellado, havendo por toda a parte signaes
de extravasão biliar.
O mais notavel porém é o coração. Collocado no
terreno, não reconhecemos á primeira vez este Impor-
tante orgão.
Em logar de possuir a sua fórma bem definida, mus-
cular e resistente, como é, apresentava-se molle, solto,
similhando mais a vesicula do fel, do que o motor da
circulação.
Em resumo, o aspecto geral da carcassa do qua-
drupede apresenta profundos traços de uma pertur-
bação funccional dos prmcipaes orgãos, em que figura
como mais affectado o figado, pelos derramamentos
"que se observam e côr amarellenta de muitas secre-
ções; sendo para acreditar que essa circumstancia e
consequente absorpção de bilis actuem como impor-
tante factor nas causas da morte.
As hemorrhagias subcutaneas numerosas, pois mais
de cem chegámos a contar n'um só animal, e a per-
versão do fluido sanguíneo pela subita paragem, não.
podem tambem, '“reabsorvidos, produzir o seu effeito
p eINICIOSO ?
Vá
E difficil afiançal-o, não deixando porém de dizer
que a isso muito nos imclinâmos.
Mas a mosca tzé-tzé é um animal venenoso, e os
seus effeitos sobre o organismo dos animaes domes-
ticos derivam pura e exclusivamente da imoculação
desse veneno?
Á primeira vista, a sua acção funesta sobre os ditos
quadrupedes faria assim presumir; mas o que acon-
tece ao homem e aos animaes selvagens contesta si-
milhante facto; posto a verdade seja que o homem
d'ella se defende; bem como os animaes bravios, por
mais rapidos e revestidos de espessa pelle, se põem
seguramente ao seu abrigo.
O bufalo, e sobretudo os antilopes, não devem, se-
gundo opmâmos, ser immunes á mosca, e esse engano
em que hoje se labora procede sem duvida da difh-
culdade de precisar os casos mortiferos destes ani-
maes pela acção da tzé-tzé, ou melhor ainda porque
não succumbindo os bois a duas nem tres duzias de
picadas, sendo aliás necessarias centenas para os pros-
trar, os antilopes de tal numero facilmente escapam.
Basta, para nos convencermos deste facto, consi-
derar que tivemos alguns que, começando a ser pi-
cados proximo de Libonta, só perderam a vida tres
mezes depois no planalto.
Os bois, em geral, marcham pacificamente atrella-
dos, ou caminham em manadas sob à direcção do ho-
mem, emquanto que os antilopes ao menor ataque se
dispersam e fogem em todos os sentidos; está ali pois,
a nosso ver, o motivo por que aquelles morrem e estes
se livram.
38 De Angola á contra-costa
Do elephante e rhinoceronte não fallaremos, pois
não é permittido acreditar que o ferrão da mosca pe-
netre em similhante pelle.
Em summa, o que falia é saber precisamente se a
morte dos animaes provém de algum veneno especial
ou de derramamento sanguineo: se deve attribuir-se
à existencia de larvas, como mais de uma vez nos
occorreu, vendo corrimentos de humores por olhos e
nariz, as quaes, introduzidas e dispersas pelo organis-
mo produziriam similhantes phenomenos; ou se em-
fim deriva de acção directa e exclusiva sobre o figado,
e isto, só com aturado estudo se poderá resolver; sen-
do certo, até agora, que o boi que foi pouco picado
pela mosca e escapou, não fica por isso isento, ao pe-
netrar de novo em terras infestadas, de succumbir
miseravelmente. Resta para considerar os casos espe-
ciaes da loucura, que, provindo de um virus, se po-
deria talvez fazer a moculação artificial, para tornar
refractario o quadrupede.
Fimalisaremos estas breves considerações com duas
palavras de interesse sobre a questão a que nos esta-
mos referindo.
Qual a procedencia da mosca, onde se desenvolvem
as larvas? À primeira idéa que nos suggeriu, ao vel-as
limitadas ás zonas florestaes, é que entre as variadis-
simas arvores que as compunham, alguma existiria
em cuja casca, folha ou fructo, a tzé-tzé depozesse os
ovulos.
Occorreu-nos a idéa das mupandas, por havremos
visto folhas com imtumescencias um pouco á feição
d'aquellas de que falla Livingistone nas bauhinias, per-
A tzê-tzé 39
tencentes a um insecto do genero Homoptera, mas a
final nada encontrámos no sentido que procuravamos,
nem nos fructos e casca.
“Notámos, porém, que a presença da mosca coincidia
quasi sempre com o apparecimento do elephante, e
sem querermos afiançar que similhante coexistencia
seja uma necessidade, por deporem aquellas suas lar-
vas nos dejectos d'este, quando aliás podem viver
em commum, visto procurarem as matas mais recon-
ditas, aqui deixâmos a indicação para aproveital-a
quem quizer.
A verdade é que sendo indubitavelmente a tzé-tzé
um dos grandes flagellos do sertão africano, e cujos
habitos pouco ou nada se conhecem, todo o estudo so-
bre ella virá redundar em interesse para aquelles que
em viagem desejem proteger os seus gados.
CAPITULO XIX
OS DIAS DO QUILOMBO
--. Je meilleur moyen de prévenir la fievre est une
vieactive, un travailintéressant, unenourriture abon-
dante et saine, sans excês de table.
LIVINGSTONE.
Muene NºTenque e duas palavras a seu respeito— Primeiras visitas
trocadas — Jantar de europeus, comido à moda indigena— À prole do soba
e troca de sangue — Rapida descripção d'esta ceremonia — Duas noivas
inopinadas —Os ba-ieque ou ba-iongo —Typo e vestuario. Os languanas.
As mulheres, seus costumes —O filho de pau—'"Traços especiaes — Mu-
- dança de aspecto das gentes da caravana — Influencia do movimento na
saude do viajante — Perigo dos acampamentos prolongados — Medidas hy-
gienicas a observar — Fato do explorador — Alimentação e horas proprias
— Modo de fazer a cubata, coberturas e fogueira — Recapitulação — À
vida sertaneja —Como se póde facilmente suceumbir nos sertões centraes
— Raras plantas aproveitaveis — Artigos com que se deve contar e enu-
meração de alguns mais uteis.
Pittoresco é o
districto onde nos
achavamos, disse-
mos no capitulo
anterior. e bem o
mostra a vinheta
copia de desenho
tirado do natural,
e sympathico é o
homem que o go-
verna, acrescen-
taremos nós em
abono da verda-
de e gratidão.
N'Tenque ou Mutinguinhe, pois eram estes os seus
nomes, foi um dos raros caracteres que ao acaso encon-
trámos em Africa, e a quem desde logo votámos sin-
cera sympathia.
«an De Angola á contra-costa
Alto, esbelto e senhoril, de fronte erguida e nariz
aquilino, com o seu espaventoso penteado de tranças
ce pande', tinha, quando de pé e envolto no amplo pan-
no de Zanzibar, o quer que era: de nobre, altivo e at-
trahente.
O typo trahe sem duvida a sua origem do norte,
pois N'Tenque é, segundo presumimos, natural do
Unyamuezi, e de lá veiu com Musiri.
Dois dias depois da nossa chegada, effectuou-se a |
primeira visita de cumprimento em seu tembé, 4 qual
correspondeu vinte e quatro horas depois, apparecen-
do-nos no campo, envolvido em numerosos pannos,
vistoso chapéu de sol a cobril-o, montando em um dos
seus mais possantes vassallos, cercado de bombos e
timbales, e trazendo na cauda da comitiva uma cohor-
te de mulheres, que nos aturdiam os ouvidos com gri-
tos estridentes, e cujo interesse adquirido no ruidoso
exercicio era tal, que se tornou quasi impossivel fa-
gel-as calar, tamanho era o prazer em vibrarem as
mais discordes notas!
“* Como se estivesse servindo o jantar, houve por bem
N”Tenque acceitar um logar à nossa mesa, reservando
o espaço no chão a seu lado para um celebre irmão
mais velho, que, trajando á paraiso, coberta a cabeça
por enorme chapéu alto, se conservou todo o tempo
de cócoras e embasbacado para a estranha scena de
uma refeição á europêa! |
1 Pande é enfeite composto de parte do envolucro de um conus, li-
gado depois a dois como que bandós bordados a missanga, cobrmdo a
cabeça.
Os dias do Quilombo 45
Em má hora, porém, tivemos a triste lembrança
de o fazer nosso commensal, porque, variando em ex-
tremo das europêas as pragmaticas e praxes sertane-
jas, forçoso foi sujeitar-nos ás mais exquisitas se não
sordidas provas, durante o funesto repasto!
Ássm, para exemplificar:
O mano mais velho era desdentado! Serviu-se a
sopa. N'Tenque, tomando uma colhér do seu prato,
enfia pela bôca d'este excentrico senhor, que experi-
menta um tremor nervoso, à feição do que assaltaria
o homem a quem de subito admimistrassem a poção
dos Borgias!
Apenas o infeliz havia engulido meia colhér, que o
regulo a retira pressuroso, para a fazer dar mgresso
com o restante caldo na de Capello, o qual, assom-
brado, deglute, sem lembrar-se de reagir.
Ivens pretende approximar da guela o conteúdo de
uma primeira colhér; N'Penque, porém, impede-o,
Jança mão della, absorve o fervente caldo, deitando-a
de novo no prato d'onde saíra.
Então toma de novo a de Capello e prova do prato
deste; mopimadamente dois filhos querem tambem
provar; á confusão das colhéres succede-se a das phra-
ses, o ruido augmenta; é mais a saliva que o caldo nos
pratos, um... cumulo emfim!
Só ao anoitecer termimou esta scena extraordimaria,
onde correram parelhas o receio e a mais requintada
sordidez, com o numero crescente dos filhos do soba,
que ao pôr do sol se elevavam a quatorze!
Muene N'Tenque, que tinha, conforme dizia, grande
estima por europeus, quiz sellar o apparecimento dos
46 De Angola á contra-costa
primeiros vistos na sua terra com um acto de circum-
stancia, decidindo para isso fazer comnosco troca de
sangue, decisão a que foi necessario annuir, sob pena
de nos tornarmos desagradaveis áquelle senhor.
Eis o que em nosso diario se encontra a tal res-
peito:
« Amanhecêra. Um enviado do soba veiu prevenir-
nos que de manhã teria logar a ceremonia da troca de
sangue, dirigimdo-nos portanto para a emballa.
«N"Penque achava-se sentado n'um degrau do tem-
bé, cercando-o apenas meia duzia dos seus intimos.
Enorme panella de pombé nos aguardava, d'onde, du-
rante uma hora, saíram sem cessar os copos, á mistura
com varias narrativas sobre o poder e alcance das
armas dos brancos. N"Penque evidenceia o desejo de
possuir uma Snider; nós, justamente na occasião de
nos unirmos em perpetua amisade, pela mutua troca
de sangue, não ousámos recusar-lh'a. Traz-se do cam-
po um vúifle e offerece-se ao illustre personagem.
«Em seguida manifesta a vontade de adquirmr mais
cartuchos, e logo algumas dezenas de cargas vem do
quilombo.
«Pensa então em ter um boi, penultimo dos miseros
que conservavamos, cuja morte dentro em pouco seria
mevitavel pela mosca, e o boi é logo conduzido à sua
presença. Emfim considera, conforme as apparencias,
1 Existe n'esta zona uma mosca differente da tzé-tzé, que ataca tam-
bem o gado. Não conservâmos nenhum exemplar d'ella, mas suppomos ser
talvez aquella de que falla Schweinfurth. E pequena e inteiramente si-
milhante à mosca vulgar da Europa.
Os dias do Quilombo 47
firmar inteiramente a sua amisade por mais algum pe-
dido, se não pela completa espoliação dos seus futuros
amigos, quando Antonio, sempre em cynegeticos exer-
cicios, atirou a um milhafre que pairava sobre a l-
bata, e, ferimdo-o mortalmente, conseguiu distrahir a
attenção do regulo. |
N'ºeste momento dois latagões empennachados abrem
de par as portas da residencia particular do chefe, san-
ctuario que aos proprios pretos é vedado e onde só
amigos da nossa monta podem ter mpgresso, annun-
ciando que tudo se acha prompto.
O quarto é quadrangular, vasto, escuro, revestidas
as paredes com quadros brancos de hyerogliphicos a
vermelho, tendo uma tarimba de bambú para cama do
chefe, brazeiro a meio, monte de pontas de marfim
ao lado, dois mochos, quatro garratões, varias armas,
e uma mulher joven, que está acocorada junto do fogo,
“remexendo o quer que seja em pequena panella.
Nós entrámos.
À primeira indicação fornecida foi que a ceremonia
só podia prmeipiar quando aquella senhora (a favo-
rita de N”Penque, é de crer) recebesse um panno novo,
grande e da melhor qualidade.
Do acampamento veiu um tecido n'estas condições,
e esperando que a diva se lembrasse por seu turno de
pretender mais alguma cousa, almejavamos pelo ap-
parecimento de outro milhafre providencial, para nos
livrar das aduncas garras d'aquelles que tinhamos pre-
sentes.
Por grande fortuna a ilustre senhora, que era uma
mediocridade quanto a dotes physicos e exigencias,
48 De Angola à contra-costa
ao ver o panno que lhe offereciamos, com tal pertur-
bação o agarrou, que deu de banda na panella, pondo
o precioso conteúdo em risco de perder-se!
Restabelecido o socego, e limitado o numero dos
cavalheiros que tinham de fazer acto de corpo presente,
começou-se a extravagante ceremonia!
Como processo micial uns despem as calças e outros
arregaçam os pannos! |
Seguidamente e em trajos menores teve logar a ex-
hibição de coxas, o que perante uma dama não dei-
xou de nos ruborisar até ás orelhas, e aos outros espe-
ctadores impressionar mais do que o faria uma bem
torneada e femiml canella a qualquer curioso indiscre-
to de boulevard.
Acocorando-nos os tres, eis-nos de pernas estendi-
das, enlaçadas com as colossaes do soba, tendo à
direita Antonio de faca em punho e á esquerda um
macota do chefe, de instrumento cortante empolgado,
promptos a proceder á operação.
A um signal, a dama retira do fogo a pamela, e,
avançando para nós, pousa-a no terreno juntamente
com quatro folhas verdes e alguns paus.
O macota empennachado, que se conservára de pé,
deita por sobre ella o panno novo, e assim coberta a
«conduz junto dos tres.
Penetrando no pequeno intervallo que entre nós
medeia, a tal senhora procura sentar-se, mas com tão
mau geito o faz no restricto espaço, que caíndo des-
amparada sobre o ventre de um dos figurantes da
scena, o impelle a expectorar protesto brusco contra o
mesperado peso.
Os dias do Quilombo 49
Empunha a dita vasilha e as folhas, ageita-se então
melhor, meneando-se e balbuciando umas como que
phrases soltas, emquanto Antonio se lança á coxa do
soba e o macota ás nossas, fazendo golpes por onde
escorre logo o sangue.
Os operadores largam as facas para pegar nos taes
paus, deitam em duas folhas gotas do nosso sangue
e nas duas restantes as do soba, esfregando as imci-
sões do regulo com aquellas que contéem o liquido das
veias dos chefes da expedição, e vice-versa.
A mesinha entra depois em acção, e deposta me-
diante scenas ridiculas sobre as mencionadas folhas,
é applicada pela mão da dama a todas as feridas, re-
matando a ceremonia com um prolongado amplexo
dos tres. |
Estrondosa gritaria dos homens e mulheres, posta-
dos da parte de fóra, annuncia aos montes e valles,
- sem duvida, pois toda a gente da emballa ali estava,
que terminára a festança, substituindo assim com seus
guinchos, e originalmente, o muito velho foguetorio
europeu.
Addicionando varios brmdes, bebemos um copo de
pombé à saude do soba, tornando depois disso ao nosso
acampamento na qualidade de intimos do chefe e com
o direito de fazer impunemente o que bem nos pare-
cesse em sua terra.
Estavam as cousas n'este pé, e fumavamos muito
socegados 4 porta das cubatas, quando excentrica ga-
lanteria de Muene N”Tenque nos veiu arrancar a con-
templações, lançando-nos n'um dos mais crueis em-
baraços.
vOoL +
50 De. Angola á contra-costa
O bom amigo, contristado pelo nosso isolamento
n'este valle de lagrimas, enviava para nos distrahir
duas jovens, a saber: para Capello uma de doze annos
(pois parece conhecia o atmado chefe o attractivo dos
contrastes), para Ivens outra de vinte.
Esta ultima, sobretudo, ao dar ingresso no quilombo
dos brancos, similhava uma Magdalena a desfazer-se
em cruel pranto, e, circumvagando o campo, com os
olhos cheios de lagrimas, mais parecia decidida a fu-.
eum, do que prompta a entrar a duo nos cuidados de
un ménage.
Pezarosos por tanto soflver, tratámos de lhes dar
alivio, e envolvendo-as em bellos pannos, mandámos
reconduzil-as para a libata com ampla liberdade de
fazer o que quizessem.
Muene N”Venque, quando tal soube, enviou um in-
dividuo a mquirir da rasão por que tinhamos despre-
gado quem elle tão graciosamente nos destmára para
compartilhar comnosco na terra as durezas e felicida-
des da vida.
Indubitavelmente se comprehenderá que não era fa-
cil a resposta; e assim despedimos o enviado, alle-
cando um, que nunca pela mente lhe passára a idéa de
mudar de estado, pois mesmo na Europa, quando ao
acaso sugerida, sempre o aterrára; e o outro, quantas
evasivas lhe occorreram.
— E depois (acrescentámos no intuito de enternecer
o delegado), não via que se desfaziam em pranto, a
ponto de causar dó?!
— Ah! exclamou o rufião, por chorar de certo não
morrem!
Os dias do Quilombo 51
Os povoadores da zona onde nos achâmos, e que é
hoje conhecida por Garanganja!, denominam-se indis-
tinctamente ba-ieque ou ba-iongo.
Depois de summaria inspecção, chegámos a con-
clum que lhes falta marca especial por onde se distin-
gam dos outros povos por nós observados, e o mu-
leque typico jamais se encontra, pelo simples motivo
de não existir.
De tudo quanto notámos, póde deprehender-se uma
fusão, proveniente, é de crer, de gente da antiga Ka-
tanga, de Iramba, Ulalla, etc., tendo talvez por origem
as constantes luctas e guerras em que estes povos an-
daram envolvidos, se não as perseguições feitas por
esses denominados (anguanas, certamente esclavistas
arabes e homens do Zanzibar, de que fallam sempre
com profundo horror, e para fugir aos quaes elles têem
explorado os ignotos sertões, que se estendem da zona
“lacustre do Lualaba para o sul.
O mu-ieque é, pelo geral, de estatura media, retin-
to, ossudo, de typo não muito aviltado, vivo, intelli-
gente, propenso a viajar, e mais bellicoso que disposto
à paz. |
Aquelle cujo desenho damos ao leitor é um mu-
leque, mas suppomol-o originario de Caponda.
1 Garanganja ou Garanganza parece ser o nome de uma tribu do Va-
niamuezi d'onde Musiri, o chefe supremo, descende. N"Penque, seu compa-
nheiro, é certo ser tambem um m'niamuezi vindo do norte com elle.
Vasto estado que se estende de norte a sul desde a lagoa Kicondja,
ete., aos dominios do Cassongo Mona, de que adiante fallaremos, compre-
hende hoje a Katanga, parte de Urua, o Mussengueri, Caponda, Tacata e
o oeste de Ulalla, Iramba, etc.
52 De Angola á contra-costa
Nas muitas tribus por nós visitadas o homem veste
pelles, e isto porque é caçador, mister que nos matos
agrestes não consente o uso de pannos; usa arma de
fogo e por vezes zagaia, frechas e machada, invariavel-
mente enfeitada e guarnecida com fio de cobre, muito
abundante na Katanga, e por elles trabalhado com rara
habilidade, trazendo sempre que póde um chifre de
boi á cinta como polvorinho.
Caçam o elephante por conta exclusiva dos seus.
regulos.
As mulheres são pouco favorecidas physicamente,
anda que algumas podem mesmo considerar-se ga-
lantes; enfeitam os cabellos com grossos bagos de mis-
sanga, sulcam as fontes com traços verticaes feitos à
faca, furam as orelhas, aguçam os dois incisivos me-
dios superiores (o que é tambem usado pelos homens),
traçam por vezes grandes ornatos pelo corpo e trazem
sempre os filhos ás costas, habito tanto do seu gosto,
que quando os não têem, collocam em seu logar um
toro de madeira, e adornam a parte superior com fios
de missanga, para imitarem assim a cabeça de uma
creança.
As da Garanganja têem vivacidade e mdependen-
cia, e, ao contrario do que se vê por outros sertões,
ellas, portas a dentro da habitação, e mesmo fóra, do-
minam inteiramente os esposos, trazendo-os e levan-
do-os para onde lhes apraz.
Uma vimos nós, em Bunqueia, que, surprehenden-
do em flagrante infidelidade o esposo libertmo, se en-
tretinha a admimistrar-lhe de vara na mão o devido
correctivo, o qual se prolongou a ponto de termos de
Os dias do Quilombo 53
enviar alguem solicitando da heroina limite á exage-
rada flagellação.
Outra, que passeiava agora tranquilla pelos cam-
pos da libata grande, asseveraram-nos ter durante a
guerra de Urua azagaiado dois guerreiros, que a ha-
viam apprehendido no campo da batalha, e, não que-
MULHER MU-IEQUE
Tirado de um croquis
rendo no regresso carregar com as proprias armas,
se resolveram a entregar-lh'as.
É preciso ao viajante toda a cautela na sua gente
por aquellas terras, e, descobrindo algum D. Juan na
caravana, não o perder de vista ou amarral-o até se
retirar.
Quinze dias depois da chegada tinham as cousas
mudado sensivelmente no campo, e à tristeza e abati-
54 De Angola á contra-costa
mento profundo de outrora Ro gana a satisfação e
a alegria em todos os rostos.
Já se não viam vultos esqueleticos de olhar empar-
voecido, encostados pelas arvores; e pelo contrario,
nedios e robustos, pensavam agora mais em se ador-
narem com enfeites e pennachos, do que de correrem
à porfia procurando mel pelas selvas.
Nós tambem, apesar das numerosas peripecias e du-
ras fadigas experimentadas nos capitulos anteriores,
gosavamos, mercê de Deus, saude excellente, demons-
trando assim quanto um regimen serio é aturado póde
evitar fatalidades nas terras centraes do continente ne-
OTO.
Nem uma febre ou ameaço della, embora não pa-
rassemos sequer um dia na laboriosa tarefa de percor-
rer e observar!
Em Africa nada ha melhor que o movimento, para
precaver doenças, porquanto ao exercicio das facul-.
dades corresponde sempre a conservação de vigorosa
saude, exactamente como na Europa.
Aquelles que, guiados por velhas mformações colhi-
das no litoral, vêem no clima africano um meio prom-
pto a aniquilar as forças physicas e moraes do europeu,
parecerá um tanto gratuita a nossa asserção e talvez
exagerada a lembrança de que urge trabalhar ali para
ter saude.
A esses responderemos com o proprio exemplo e com
os preceitos hygienicos, pedindo-lhes que sommem as
milhas percorridas no nosso trajecto e as dividam pelo
numero de dias empregados na travessia, para se con-
vencerem do que avançâmos.
Os dias do Quilombo 55
Quantas vezes nos não lembravamos da primeira
viagem feita a lácca, admirando-nos dos tormentos
n'ella passados, e dos dias salutiferos que n'esta expe-
rimentámos!
(Que contraste! Ah sempre a braços com a doença
ou convalescentes, abatidos pela febre, desnorteados
de espirito, cheios de canseira e aborrecimento; aqui,
lestos, robustos e avidos de curiosidade, promptos a
avançar, com uma saude vigorosa, poucas vezes amea-
cada pelo escorbuto.
Lá tudo era demora, embaraço, socego e a miudo a
mdolencia; aqui tudo rapidez e vontade de ver e ca-
minhar.
Na primeira jornada, apenas chegados ao Bié, assen-
tando arraiaes, mertes, deixámos placidamente decor-
rer toda a estação chuvosa, porque era mister inver-.
nar, diziamos nós. |
E logo a febre investiu comnosco, e, assenhorean-
do-se dos dois, só nos permittia poucos dias de resfo-
lego!
Cá, por meio das planuras elevadas centraes, cami-
nhámos sempre sob as chuvas torrenciaes do inverno
de 1885, não pensando sequer uma vez em parar, para
nos livrarmos das cataractas aquosas que sobre nós se
despediam.
Em Cassanje, supportámos o segundo mverno, de-
morando-nos ali tres mezes, sempre sob o imperio da
doença; junto a NºTenque, ao curso do Luapula, ete.,
descansámos quando muito uns quarenta dias, e 1sso
mais porque a fome nos obrigava, do que por verda-
deira falta de forças para proseguir.
-
56 De Angola á contra-costa
Mas se do exercicio em grande parte proveiu este
resultado, não é menos preciso que uma hygiene rigo-
rosa e especial acompanhe as nossas indicações.
Intentar uma viagem no grande continente, com os
mesmo habitos de vida e de alimentação como se es-
tivera na Europa, é um erro, de que seria victima quem
tal pretendesse.
Numerosas vezes insinuámos estas idéas em nossas
conferencias, e visto tocar neste thema aproveitemos
o que a tal respeito dissemos em París, deixando assim
de rabiscar sobre o assumpto:
«E facto que merece aqui especial menção o haver-
mos ambos atravessado a Africa, sem soffrer o mais
pequeno mcommodo febril.
«Foi isso por certo devido ao uso permanente do
quinmo:; sem embargo não julgue quem immveste com
o sertão africano dever confiar-se exclusivamente à
prophylaxia do sulphato; é conveniente preceder ou
acompanhar a sua administração com determinadas
regras hygienicas.
«Não se arreceie tanto do miasma, como das re-
pentinas mudanças de temperatura. Uma corrente ino-
pinada de ar frio é causa quasi sempre de febre.
« Use constantemente de flanellas e meias de lã, co-
brindo a cabeça com chapéu em que o ar possa cireu-
lar.
«Jamais se deite 4 convidativa sombra, ou, desco-
brindo a cabeça, respire o ar fresco sem previa transi-
ção gradual.
«Fuja á imgestão precipitada da agua do limpido re-
gato que encontrar em caminho, demorando-se á sua
Os dias do Quilombo | Da
beira o tempo necessario para restabelecer a circula-
ção normal.
« Abstenha-se inteiramente do alcool, attente nisto
bem, e logo que pisar o grande contmente esqueça tão
perniciosa bebida, só empregando na costa, e apenas
na costa, um pouco de vinho com agua, pela refeição
da tarde.
UM MU-IEQUE
Segundo photographia
«E um verdadeiro supplicio de Tantalo, dirão mui-
tos; mas Importa a salvação, responderemos nós.
« Use do pombé quando o encontre.
«Ão erguer, tome invariavelmente oito grãos de
quinino com agua, preparando-se logo depois para a
refeição matutina.
58 De Angola á contra-costa
« Almoce cedo, ás cinco horas, por exemplo, nunca
depois da marcha da manhã, pondo-se a caminho pela
fresca, a fim de descansar á hora de mais mtenso ca-
lor.
«Se tiver fructos, coma-os a esta hora, desconhe
porém sempre das fructas do mato, que, por acidas ou
por outras cirecumstancias, provocam abalos na eco--
nomia.
«E conveniente construir, quando ser possa, uma:
cubata á moda do gentio, onde o ar cireule bem, evi-
tando assim os golpes provaveis n'uma tenda de lona,
onde de resto, pelas horas do dia, o calor é msuppor-
tavel, e pelo escuro tenha fogo.
«À noite accenda Junto da sua cama de campanha,
coberta com pelle de leopardo, para evitar a humida-
de, uma fogueira, que será tambem o seu melhor mos-
quiteiro, e meio precioso de afugentar os reptis, assás
abundantes no sertão africano.
«Não se arreceie da temperatura, pois no planalto
chegam na estiagem as minimas da manhã a 2º cen-
tigrados abaixo de zero.
« Durma separado do companheiro, se o tiver, soce-.
cando cada um em tenda especial.
« Pelas oito horas da noite, termimadas as observa-
ções, envolva-se em amplo gabão, e, cobrmdo a cabeça
com um barrete de lã, deite-se, certo de que na manhã
seguinte se levantará satisfeito e bem disposto, prom-
pto para os labores do dia.
« Discuta pouco, evite themas que possam irritar, não
se preoccupe extremamente com o dia que ha de vir,
habituando-se a confiar um pouco á sua boa estrella o
Os dias do Quilombo 59
feliz exito dos futuros emprehendimentos. E o que
podêmos aconselhar áquelles que em Africa quizerem
seguir o nosso trilho. »
Repetimos, abstenção completa de alcool e menos
afinco na idéa do miasma, muita cautela com os res-
friamentos, uso invariavel do quinino e mesmo repe-
til-o pela tarde quando sinta cansaço ou comecem os
bocejos e o desejo de se espreguiçar; isole-se pela noi-
te, tomando previamente uma boa chavena de chá, c
abafe-se bem; reparta emfim as horas da refeição, como
Já indicâmos; eis as prescripções salutares para pas-
sar de modo soffrivel em Africa.
A vida deve regular-se cuidadosamente n'aquelle
vastissimo paiz, nucleo de perigos, desde a picada de
buta, Fchadna arvetans, até ás influencias telluricas e
de desconhecido caracter, que affligem o viajante.
Nos matos interiores tudo são obstaculos e miserias,
onde a incuria e imprudencia podem constantemente
“fazer victimas.
É notavel como se póde suecumbir à fome no meio
das florestas da Africa central, definhando-se ahi o ho-
mem, sem o mais pequeno recurso para a alimenta-
ção!
Ao contrario das matas americanas, onde desde o
palo-de-vacca até aos olhos de muitas palmeiras e ou-
tras plantas, o imdigena póde escapar da morte pela
fome; o negro africano, perdido no primeiro bosque,
tem a certeza de caír, se não consegue libertar-se delle.
Nada ahi encontrará no mundo vegetal, salvo ra-
rissimas excepções, e o reino animal poder-lhe-ha ser-
vir de recurso, se tiver a fortuna de caçar.
60 De Angola á contra-costa
Quantas vezes, apertados pela fome, nos não oecor-
reu esta idéa, e, suppondo-nos talvez illudidos, não
mirámos o arvoredo em redor, esperando descobrir
algum fructo!
Apenas no tempo das chuvas se encontra o Chorcho-
rus, especie de raiz comestivel, o ginguengue, fructo
avermelhado, de sabor extremamente acido, alguns co-
gumelos agigantados, e nos mezes de setembro e ou-
tubro a nocha, Parinarium mobola.
A folha do bao-bab tambem é de bastante aprovei-
tamento.
A hyphoene, Ventricosa (?) não dá fructo ingerivel;
uma euphorbia, similhando ao longe o Cactus candela-
brum, a qual suppomos ser a mesma de que falla Seh-
weinfurth, lembrou-nos de a cortar em tiras, e cozi-
nhal-a. Os nossos homens declararam, porém, que
isso era impossivel. Os rebentos do espinheiro são
macceitaveis, apenas a Acacia albida fornece a gom-
ma arabica, que nós os companheiros ao longo do Ca-
bompo ingerimos em grandes dóses.
Nas margens dos rios nada ha tambem. Encontram-
se as raizes do lothus, conforme presumimos, e essas
raras.
De fórma que n'esta lucta para fazer entrar no
nosso alimento o regimen vegetal, mui necessario con-
tra as gravissimas complicações da economia, démos
tratos á Imagimação sem cousa alguma conseguir.
E a gente, triste e cabisbaixa, continuava olhando
desconfiada para a floresta, na esperança todavia de
encontrar comestível; baldado empenho, onde nada se
via de utilisavel, excepto o mel.
Os dias do Quilombo 61
Assim pois, o viajante, quando se abalança a zonas
desertas, não deve contar com recurso alem da caça
abatida pela caravana, ou do que os carregadores con-
duzirem ás costas, sendo certo que de conservas euro-
pêas em latas, raras serão as que soffram dois imver-
nos sem se avariarem totalmente.
As sopas allemãs mesmo, um dos melhores artigos
que o explorador póde levar, devem ser observadas e
expostas ao sol a miudo, a fim de se não perderem,
como nos aconteceu. Tambem é necessario examinar
as latas de chá e café com muita frequencia, pois se
oxyda a folha com facilidade.
O melhor é supprimir quantos artigos podér, isto é,
assucares, fructas, doces, etc., habituar-se aos chás e
cafés sem tempero, levar em compensação muito sal,
condimentos em frascos fortes, e quantos aperitivos
se proporcionarem.
Uma mistura de especiarias, muito frequente entre
banianes no Zanzibar e toda a costa oriental, composta
de açafrão, cravinho, pimenta, etc., é assás util e de
grande recurso no interior, onde a carne cozida em
agua fórça a miudo o paladar europeu a exigir outra
comida que não lhe repugne tanto.
O arroz é tambem genero de valor, caso se possa
transportar. Tudo o mais, alem do que fica indicado,
são artigos de mero luxo e que pouco aproveitam.
CAPITULO XX
ATRAVEZ DA GARANGANJA
Katanga, o famoso paiz do cobre na Africa cen-
tral do sul, que até à data europeu algum visitou
ainda, fica ao oeste do territorio de Cazembe... etc.
ArRrICA — Keith Johnston.
A noticia de nossa chegada a Tacata e suas consequencias — Um ho-
mem do mato que fallava o portuguez— Partimos, emfim, de tipoia—
Um leão que nos obsequeia— As minas de Kalabi, e poucas palavras
acerca d'ellas— Os sonhos da possuidora e o desabamento de uma gale-
ria— Aptidão das gentes de Katanga no trabalho do cobre — Paulo Mo-
-hemeri e Quitari —K explorador ou negociante?-—Caponda, o soba deca-
pitado— O elephante mysterioso e a resurreição do regulo — Espanto por
nós causado — Os peitos das mulheres e o limite ao numero de filhos —
O Bunqueia e o seu curso—Carta de Musiri— A gente da Garanganja
— À comitiva chega a quimpata— Duas phrases energicas enviadas ao
soba— Nada ha como feitiço de branco — Os africanos e o tempo — Guerra
de cinco annos — Printa descreve um combate naval na lagoa Kicondja
— À descripção correcta pelos auctores.
É tempo, estimavel
leitor, de voltar ao as-
sumpto, continuando a
descrever a nossa pe-
regrimação pelos ser-
tões de leste.
À noticia da nossa
| | chegada a acata es-
Pa | trtors auemar palhou-se por toda a
A Garanganja, e breve
soou aos ouvidos de Musimri a estranha nova RE que
em sua terra se achavam uns homens brancos, vindos
do sul por caminho desconhecido, sabendo nós tam-
bem rapidamente que o chefe supremo da terra nos
intimava a levantarmos dali, partindo logo para junto
delle.
O mesmo regulo nos enviou ao campo uma comi-
tiva capitaneada por um homem fallando portuguez, a
fim de guiar tudo a Bunqueia, onde nos esperava, o
VOL. TI. >
66 De Angola á contra-costa
qual transmitindo-nos a ordem que trazia, aguardou
em socego a resposta dos brancos.
Extremamente alto, esguio, de olhar vago e espan-
tado; esse homem, que estropiava a lingua de Camões
pelos matos, tinha partido ha dois annos do alto Zam-
beze com uma pequena factura para negocio, que de-
positára nas mãos de Musiri, esperando, segundo dizia,
a todo o momento que este lh'a liquidasse.
Chamava-se Trinta, nascêra na costa, percorrendo
mais tarde os sertões da Manica norte, etc., até que
um dia, incitado pela cubiça, se atirára mais longe.
Usava como vestuario um singelo panno, possuindo
apenas a arma com que caçava. Este personagem,
como o leitor verá, tem de figurar mais de uma vez
nas peripecias que adiante succederam á expedição
portugueza.
Postas as cousas n'estes termos e convencidos de
que teriamos de ceder à mtimação de Musiri, para não
nos arriscarmos a que elle fechasse todos os caminhos,
decidiu-se que um dos exploradores (Ivens) partisse
com alguns imdividuos e bom presente para o soba,
emquanto o outro (Capello) ficava no sul á espera de
novidades.
Combinámos mesmo que, se fossem benevolas as
disposições d'aquelle chefe, com relação à nossa passa-
gem pela sua terra para o Kazembe, o do norte avisasse
logo o do sul, a fim d'este se dirigir ali; assentando
tambem que no caso contrario, e embora houvessemos
de banir a idéa de cortar o Luapula n'aquelle paral-
lelo, nunca seria conveniente retirarmos sem uma vI-
sita completa ao lago Moero..
Atravez da Garanganga 67
A 16 de novembro, pois, e sob as mdicações dos
guias dirigidos pelo celebre Trinta, partimos commo-
damente recostados na tipoia que Musiri nos mandára,
modo de transporte agradavel, apesar de nos achar-
mos na estação das chuvas, com os caminhos maus,
cobertos de vegetação e cortados em solo, resultante
do desaggrego de schistos argillosos, onde os homens
escorregavam, perigando a todo o momento as nossas
costellas. |
Uma camada de densos fetos, que evidenceia a fera-
cidade desta terra, cobre todo o solo, tornando difh-
cil a marcha pela impossibilidade de ver o caminho.
Durante as primeiras jornadas choveu copiosamente,
engrossando muito os milhares de regatos que desli-
zam para leste na perpendicular à trilhada.
Em todo o trajecto vimos proximo das libatas as mu-
lheres empregadas no trabalho dos arimos e amanho
da terra, emquanto que ao longe, até onde a vista póde
“descobrir, extensos prados vestidos de verde 4 simi-
lhança dos nossos campos de trigo, que se accentua
notavelmente pela maneira de preparar o terreno em
longas leiras, como se fóra lavrado.
Entre os factos mais dignos de menção no nosso tra-
jecto para o norte, figura uma rapida visita ás minas
de cobre de Kalabi, onde chegámos carregados de
carne, que um obsequiador leão acabava de nos offe-
recer!
Eis o que succedeu. Como fossemos avançando por
meio dos densos bosques que vestem os plamos ao sul
da serra Nicaze, a caminho de um logar denominado
Capanga, fizeram de subito os nossos homens signal
68 De Angola á contra-costa
de que n'uma clareira proxima tinham visto um ban-
do de sefos, elands.
Suspendendo a marcha, engatilhámos as armas, par-
tndo tres ou quatro por sotavento, na pista dos ani-
maes.
Haviamos andado uns bons dez minutos, rojando-
nos aqui, curvando-nos acolá, para evitar rumores
e suspeitas por parte dos bichos, quando inopimada-
mente um ruido estranho se faz ouvir, estoura o quer
que é na nossa frente, sente-se proximo um arranco,
debanda a manada, e nós todos, crendo o negocio a
perder-se, avançámos a fim de deter os sefos mais atra-
zados, quando visão mesperada nos sustem os impetos,
fazendo-nos retrogradar inconscientes.
Por terra jazia um eland formidavel, soltando em
ultimo esforço o derradeiro suspiro, e sobre elle um
leão enorme, que á primeira imvestida lhe arrancára
metade da face e testada, arrombando-lhe profunda-
mente o craneo!
Ão ver-nos, a fera suspende, olha á direita e esquer-
da, chicoteia os flancos com a cauda; eis que toda a:
gente da comitiva chega e com algazarra immensa
afugenta o feroz quadrupede, que lá vae selvas a den-
tro, dando assim remate a uma das mais curiosas sce-
nas que temos visto, e deixando-nos em campo carne
fresca para muitos dias.
Uma circumstancia digna de nota é a da variedade
de porcos montezes encontrados na dita terra, e de
que apresentâmos os desenhos no capitulo presente,
entre os quaes figura um cujas protuberancias, em nu-
mero de quatro, se acham exageradas no desenho.
Atravez da Garanganja 69
As minas de Kalabi são abertas no meio de ampla
formação de schistos paleozoicos, que constitue por in-
teiro esta zona central, bem como julgâmos serem mui-
tas outras por toda a terra da Katanga.
O terreno é ondulado e coberto aqui e ali de mor-
ros € cerros.
Pelo geral, onde cessam as faxas da grande vege-
tação começa o tapete das gramimeas, que se alonga
nos plainos até encontrar um outeiro. Sendo esse mor-
ro limpo de arvoredo e apenas vestido de verde relva,
no cimo haverá sem duvida fosso aberto, e dentro
mina de cobre.
A malachite é o mimerio que se encontra com fre-
quencia, ligada ao schisto e algumas vezes em blocs
de maior ou menor vulto, connexa amda ao quartzo.
Promiscuamente descobre-se a limonite, fragmen-
tos soltos de fina quartzite, as mais das vezes ferru-
“gimosa, silex acinzentados, e tudo de envolta com os
schistos, pelo geral cinzentos quando lisanãos; aver-
melhados quando argilosos.
Um jaspe vermelho escuro ha por aqui, e mais ao
norte em Kirema, de que os indigenas fazem largo
consumo, talhando pederneiras para as espingardas.
Galerias vimos nós na mina de Kalabi propriamente
dita, em que as fissuras tinham sido aproveitadas nas
partes discordantes da formação para original-as, e
retirando pouco a pouco folhas do schisto, acabaram
por abrir passagem triangular, Eos onde penetravam
os mimeiros.
Kalabi achava-se abandonada, na occasião em que
a visitámos, por causa, conforme ouvimos, de um desa-
)
TO De Angola á contra-costa
bamento acontecido dois annos antes, que victimára
muita gente.
A possuidora deste jazigo é uma mulher com quem
depois nos encontrámos, chamada Inafumo, e parece
que, segundo determinados sonhos desta senhora, as-
sim se opera a exploração em zonas especiaes da mes-
ma mina.
Foi ella que entreviu em noites de pesadelo o cele-
brado filão, jazigo, ou o quer que fosse, causa do al-
ludido desastre; e por 1sso, anda dominada pelo des-
gosto de haver causado tão grande mal, a opulenta
dama não consentia que se bulisse em cousa alguma
n'aquelle logar.
Esperava pacientemente novo sonho, para então dar
começo aos trabalhos.
Superíluo será citar aqui o processo indigena da
exploração, que é assás primitivo e baseado na fra-
gmentação. O metal derrete-se em fornos ou panellas,
d'onde deriva por tubos ou calhas feitos de argilla,
para moldes, que variam desde a fórma approximada
da cruz de Malta, até linguados mais ou menos Jon-
gos, redondos ou quadrangulares.
A gente da Katanga faz com este metal numerosos
artefactos, manipulando-o de modo facilimo.
Assim, sujeitando-o à martellagem, reduzem-no a
longas e finas barras, que depois por ficiras successi-
vas elles adelgaçam até ao ponto de fazerem fios da
orossura de qualquer das cordas dos imstrumentos
musicaes da Europa, com que guarnecem cabos de
machadas, canos de armas, e sobretudo feixes de pello
da cauda do bufalo ou gnú, para confeccionar as ce-
Atravez da Garanganga ra!
lebradas manilhas e braceletes, que têem hoje voga
por todo o sertão.
Resumidamente, o paiz de Katanga ha de ser no fu-
turo importante centro de exploração, attento o valor
de suas minas, que devem tornar-se numerosas, como
nos afirmaram os indigenas. O cobre d'ali, quer em
cruzes, quer em braceletes e manilhas de fio, percorre
hoje todo o sertão, desde o Manyuema e Urua, até a
Genji e Bié, só esperando regular meio de transporte
pelo Nyassa ou Loangua, para seguir em direitura ao
mar.
Um facto, porém, a mencionar amda, é que jamais
caiu sobre nossa vista a menor parcella de oiro, ou
objecto qualquer feito d'este metal; e os naturaes, sem-
pre que lhes falláâmos d'essa preciosidade, cuja abun-
dancia Cameron diz ter ouvido exaltar em Benguella,
mostravam desconhecel-a completamente.
— Talvez exista e até em larga escala; na verdade,
porém, não o podémos testemunhar, ficando de certa
maneira convencidos de que a grande zona aurifera
está mais ao sul, talvez da Muxinga para lá.
Aqui pela primeira vez ouvimos fallar de uma enti-
dade europêa, que, tendo tentado em tempo a sua vi-.
sita às minas, nos trouxe perplexos o resto da viagem,
por não conseguirem Trinta nem os homens da comi-
tiva exprimir nome comprehensivel.
— Senhor, ainda ha pouco um branco passou ao
oriente e quiz visitar este logar com a sua comitiva,
observou um dos carregadores.
— Quem era elle e como se chamava? inquiriamos
nós.
792 De Angola á contra-costa
Paulo Mohemeri, disse Trinta; Paulo Mascanhi, res-
pondeu outro; Quitari, acrescentou ainda um tercei-
ro!, e d'esta confusão nada se concluiu aproveitavel.
Era fóra de duvida que um europeu tinha passado
pouco antes pelo Lufira, mas quem fosse e qual a sua
nacionalidade, eis o ponto dificil de resolver.
Seria explorador ou negociante? No dizer dos ne-
gros elle tambem escrevia, tal como nós, sendo mui-
to provavel que estivesse longe de vir exclusivamente .
para traficar.
Mas quem era?
Eis o mysterio, o problema que não tinha solução.
Depois de umas visitas trocadas com Inafumo, e
de noite passada entre lobos e pantheras, que abun-
dam nos vastos cannaviaes d'aqui e vagueiam pela
noite em volta das habitações, levando o arrojo a co-
lherem dentro de casa quem por esquecimento deixa
a porta aberta, preparámo-nos para partir.
Comnosco seguia tambem uma comitiva de gente de
Caponda, terra outr'ora fertil e rica, e que successivas
guerras ha pouco acabavam de arrazar.
Na fórma do costume conversou-se largamente, e a
respeito d'ellas fizeram-se curiosas revelações, de que
apresentâmos um specimen.
Muene Caponda, havendo caído prisioneiro dos ba-
ussi, fôra por estes condemnado á morte. O imfeliz re-
1 Mais tarde, podémos saber em nosso regresso à Europa de quem se
tratava, que Quitari ou Tchitari era provavelmente Reichard, o compa-
nheiro de Bohm, e Paulo Mohemeri ou Mohammed seria algum dos seus
companheiros, se não creatura que houvesse fugido de leste a Victor Gi-
raud, pois às vezes confundem mulatos com europeus.
Atravez da Garanganga 13
gulo pediu que não o assassimassem no campo, mas
sim na propria habitação, fornecendo elle o machado
para o executarem, e indicando mesmo a parte onde
devia levar o golpe.
—* Aeceitas taes condições, conduziram-no para casa,
e, chegado ahi, deceparam-lhe a cabeça.
Quando lhe abriram o ventre, a população presen-
ciou espantada o mais estupendo phenomeno: um ele-
phante pequeno, desembaraçando-se do meio em que
POTAMOCHGRUS PORCUS (Linn.)
estava, saltou lesto para o chão, e, começando a soltar
gritos estranhos, fugiu pelos matos!
Allusão original esta, que nos parece referente á
vaidade do regulo, cujas pretensões de grandeza o le-
vavam ao extremo de julgar ter um elephante na bar-
riga.
Não param, porém, aqui os casos estranhos narra-
dos pela gente de Caponda, e tão exagerado é o ter-
ror que o defunto regulo inspira, que afiançavam todos
ter ha pouco tempo uma comitiva, vinda do occidente,
14 De Angola á contra-costa
visto o dito soba com a cabeça no seu logar, seguir sa-
tisfeito a caminho do poente.
As libatas multiplicavam-se á medida que íamos
para o norte na linha divisoria da bacia Lufira-Liculoé.
Estas compõem-se de cubatas redondas, cujos tectos
saídos estão assentes em pilares, tendo em volta uma
especie de varanda circular, onde agradavelmente se
passam as horas do sol.
Populações em massa corriam ao nosso encontro,
com o mesmo afan e interesse que nas ruas de qual-
quer capital europêa o povo se apertaria para ver um
elephante branco; soltando as mulheres as mais dis-
sonantes interjeições!
Em muitas offereceu-se-nos ensejo de notar uma
peculiaridade physica, que não conheciamos, isto é,
tendo ellas pela maior parte os peitos muito desen-
volvidos, fechavam estes perfeitamente em esphera,
sem os bicos onde a creança suga, o que nos leva a
crer na impossibilidade de crearem os proprios filhos.
Um outro curioso facto aqui merece especial men-
ção —o limite forçado ao numero dos filhos.
Raras são as mulheres da Garanganja que têem mais
de dois d'estes, e quando porventura a natureza como
que pretende alterar esta praxe entre ellas estabele-
cida, recorrem immediatamente ao infallivel quinban-
da, que, mediante umas hervas especiaes, consegue o
desejado fim.
Não podêmos garantir similhante caso, por nos pa-
recer muito fóra do vulgar, mas a verdade é serem
poucas as mulheres n'aquella terra que possuem nu-
merosa prole.
Atravez da Garanganga 75
Lembrou-nos, ao tempo, se teria similhante pheno-
meno sua causa natural n'uma especie de esterilidade
precoce, e se a mulher, por ser mãe muito cedo, per-
desse essa aptidão n'um praso de tempo tambem re-
lativamente curto.
Ao diante transpozemos o curso do rio Bunqueia,
que abastece de agua a quimpata do velho regulo, e
corre tortuoso n'um ravinado leito de schistos argil-
losos, coberto de frondosissima vegetação, ladeado de
largas plantações.
À sua agua fresca e transparente era um lenitivo
para o calor que nos suffocava, emquanto sentados a
miudo 4 sombra dos mumoés gigantescos contempla-
vamos o curso do TIO.
Caprichosas e revolteadas curvas obrigam a trans-
pol-o tres e quatro vezes, no curto espaço de 4 milhas.
Por todos os lados se elevam morros cobertos de
“denso arvoredo, entre os quaes a comitiva prosegue,
ora descendo por uma ravina, ora guindando-se a en-
costa alta.
Rareiam as acacias, que na zona elevada abunda-
vam, dando logar aos mutontos, n'dumbiros e outras
arvores.
Eis o que o diario diz:
«Dia 21 de novembro.
«Em Mucolla suspendemos a marcha, a fim de es-
perar a resposta de Musiri á gente que ali mandámos,
enviando-lhe a noticia da nossa chegada, resposta que
só voltou pelas quatro horas.
« Remetteu-nos uma ponta de marfim, como teste-
munho de amisade, significação de que estavam para
16 De Angola á contra-costa
nós abertos os caminhos, e a seguinte carta em gros-
seiro papel, que damos na integra:
«Sr. Branco Manor — Pelo portador deste Recebi
«a sua carta com 16 jardas de algodão ! fico-lhe muito
«obrigado porém venha cá de preça para lhe mostrar
«os caminhos que quer da sua terra por isso amigo
«quera conhecer este portador de nome senhor Antonio
«emquanto aquelle Home que lá está mentindo e men-
«tira de de que elle estava atraz d'este omme. JRemeto
cuma ponta de marfim para V. M.Ҽ
«Am.º Dernd.” Se==Muxiré Maria Segunda.»
«Eiste Home ou omme de que reza a carta era o cele-
brado Trinta, que Musiri mandou ao sul entre os seus
enviados por fallar portuguez, para acompanhar-nos.
«Inferia-se da dita epistola que já com o soba o
haviam intrigado, a fim de favorecer um outro, Anto-
não, velho preto de Cassanje, residente n'aquelles sitios
ha muitos annos, e isto mostra tambem que os portu-
guezes andam por ali como por sua casa. Pelo facto
do infeliz Trinta fallar a nossa lingua, quando alguma
cousa se ordenasse ou fizesse que lhes fosse desagra-
davel, prestes saltavam n'elle, acormando-o de culpado
e traidor.
«A julgar pelo procedimento da gente do Musiri
que nos acompanha, devem os ba-ieque ser velhacos
1 É de uso mandar algodão, e não outra fazenda, por ser o branco
signal de paz; como tambem os regulos que possuem gados, quando en-
viam um boi de presente, é pelo geral mocho, e se acaso o mandam com
um chifre para baixo, significa isso, que o recemchegado voltará por onde
veiu.
Atravez da Garangana mt
e salteadores. Pelas aldeias fizeram verdadeiras raz-
gias a tudo que encontravam, sem os habitadores sol-
tarem sequer um queixume. Pertencem á quimpata do
grande homem, e tanto basta para não escapar uma
unica panella de mel, nem as bolas de tabaco e todas
as tiras de carne. |
«Por varias vezes quizemos impedir similhante mo-
do de proceder, mas logo nos avisaram que seria bal-
eli Dig URINLZ /
RETO NGehALLE
PHACOCHCGERUS (CETHIOPICUS
MAHT
dado empenho, se porventura se não suscitasse mes-
mo qualquer pendencia grave entre elles e a nossa
gente.
E de uso, e o uso faz lei.
«Afigura-se-nos fóra de toda a duvida que o paiz
da Garanganja se deve considerar como o valhacouto
de quantos criminosos abandonam as terras cireumvi-
zinhas, attendendo que o proprio soba é um estranho
aqui, oriundo, como se sabe, do Unyamuezi.
“8 De Angola á contra-costa
«Dia 22 de novembro.
«Achando-se aberto o caminho para a quimpata,
logo ao amanhecer abalâmos. Continúa o terreno a bai-
xar gradualmente, proseguindo o trilho marginado por
morros, nos sopés dos quaes se encontram extensos ari-
mos em amanho. Estamos na epocha das lavras, ven-
do-se por toda a parte em grandes grupos as mulheres,
algumas de filhinhos ás costas, trabalhando sob a di-
recção de homens, que à sombra de uma arvore chu-
pam com todo o socego no colossal narguilé. |
«Quão infeliz é a mulher por estas terras, e pequena.
a estima que o rei da creação aqui tem pela sua dedi-
cada companheira!
«E extremamente pittoresco o paiz que hoje atraves-
sámos; por todos os lados exuberante vegetação cobre
a terra com a sua verde folhagem. Pelas onze horas,
depois de havermos subido um alto morro, chegámos
ao plateau superior, d'onde á vista se nos desenrolou
o extenso valle de Bunqueia-Lufira, apertado entre a
serra Conde-lundo, que se alonga por leste no extre-
mo horisonte a caminho do norte, e os cerros que ao
oeste nos demoram.
« Aos nossos pés viam-se as numerosas cupulas das
habitações dos vassallos de Musiri, cercadas pelos ma-
cissos escuros de uma euphorbia, que provavelmente é
a caconeira.
«Um sol de chumbo nos dardejava no alto do cerro
escalvado, logar disposto, segundo parece, para a pri-
meira entrada das comitivas vindas do oeste, e que o
soba menos delicadamente nos destinava tambem, no
dizer dos enviados; entretanto nós, que não tinhamos
4
Atravez da Garanganga 79
a menor pretensão a funantes, e pelo contrario famos
revestidos de um caracter de auctoridade que elle já
reconhecêra, assim como dos portuguezes exclusiva-
mente depende, pois só se fornece de Benguella e Zum-
bo, cujos mercados, se se lhe fechassem, o poriam na
mais complicada situação, resolvemos logo á chegada
enviar-lhe duas phrases energicas, para o levarmos
à comprehensão do valor da nossa personalidade.
«Es como nos parecesse amda pouco isto, juntando á
phrase o gesto, investimos direitos com a quimpata,
acampando junto della.
«Não se fez esperar a resposta do regulo, que des-
culpando-se do modo por que procedêra, nos enviava
a declaração de que o major estava em sua terra, po-
dendo estabelecer-se onde lhe aprouvesse, e para cer-
tificar os seus bons desejos de ser agradavel, remet-
teu-nos, acto contínuo, farinha, arroz, feijão, milho,
fructas, chibatos, pombé, etc., em tal quantidade, que
atulhou completamente o quilombo.
«Os nossos estavam encantados, e ao ver que, a uma
reprehensão do branco, o poderoso regulo da Africa
central respondia com esta graça, não poderam deixar
de exclamar:
«Tem feitiço este homem, e nada ha como feitiço
de branco!»
Restava agora armar-nos de paciencia e esperar,
porque é praxe e marca de grandeza nas córtes de
Africa interior fazer a primeira visita só tres dias de-
pois da chegada.
Nada afflige ou apressa estes poderosos senhores,
os quaes, habituados a um sedentarismo exagerado,
80 De Angola á contra-costa
que nem mesmo quebram no intuito de viajar, deixam
decorrer indifferentes os dias, sem terem a menor no-
ção do seu valor e aproveitamento.
O tempo parece nada valer para o africano, não
representando para elle factor importante que conve-
nha utilisar em interesse lucrativo, e é sómente olhado
como um espaço entre o berço e a tumba, que metho-
dicamente se divide em monotona e indolente pas-
maceira de sol a sol, e se deve despender com a maior
pachorra possivel.
A phrase, hoje tão conhecida e espalhada, de que o
tempo é dinheiro, causaria ao africano, caso subisse á
sua obtusa comprehensão, o mais extraordinario dos
assombros.
E tão verdadeiro é o nosso asserto, que ali mesmo,
em Bunqueia, tivemos d'isso evidente prova.
Musiri acabava de voltar de uma guerra dirigida em
Urua contra as populações do Kassongo, segundo jul-
gâmos, e como nada o apressasse, revestiu-se da sum-
ma paciencia de se demorar ali cinco annos completos!
Um lustro todo durára essa lucta, lapso de tempo
só comparavel ao do cerco de Troia, durante o qual
o excelso principe teve a coragem de observar a fei-
tura de cinco plantações, vendo portanto o desenvol-
vimento de cinco novidades inteiras tambem!
Trinta, o nosso heroe, acompanhára-o no anno ul-
timo, presenciando muitas d'essas scenas, que contou
durante os tres dias de espera, em fórma de exten-
sas historias, de que vamos offerecer uma ao leitor,
depois de corrigida e mais accommodada ao paladar
europeu.
se”
Ge
Ec TZ N
*
Atravez da Garanganga 81
É a descripção de um combate naval na lagoa Ki-
condja, que colhemos por alto dos labios do narrador,
e agora aperfeiçoâmos.
À aurora revelára-se apenas no primeiro crepusculo.
Os densos vapores matutinos começavam a dissipar-
se em largos farrapos. as extensas e alvacentas man -
chas do cacimbo esvaiam-se no horisonte, deixando
ver um purpurino fundo.
POTAMOCHCGRUS AFRICANUS (Schreb.)
Milhares de gorgeios enchiam em confusa melodia
os ares, tudo presagiava emfim um radiante dia dos
tropicos no risonho aspecto da natureza.
As aguas do lago preparavam-se em suave tranquil-
lidade a espelhar o astro rei, emmoldurando o vasto
lençol por uma paizagem primitiva e immaculada, que
encantava.
No meio porém deste silencio, disse o narrador, es-
tava imminente uma procella, e se de um lado as gentes
de Urua se dispunham á lucta, que ía decidir da posse
das suas terras, gados e mulheres, da outra os ba-ie-
VOL. II. 6
82 | De Angola á contra-costa
que, mstigados pelo genio ambicioso de Musiri, e pelo
feiticeiro de Licuco, seu irmão, aprestavam-se auda-
zes à conquista das terras do oeste.
Mal suspeitavamos acrescentou elle, quanto teria-
“mos de soffrer, não suppondo muitos que aquele as-
tro radiante seria o ultimo visto, e os crocodilos do
lago sem demora iam saboriar tão lauto banquete de
cadaveres.
Acabára justamente o sol de mostrar o seu diadema
de oiro, quando nós, partidarios de Musiri, em grande
azafama lançavamos promptas e a nado, junto da mar-
cem, grande numero de canoas que nos ultimos tem-
pos tinhamos pilhado ou construido nas matas do sul.
Tudo se movia e se empregava com afan no serviço
do regulo, que sabiamos ter o bom feitiço da guerra e
os melhores quinhandas, que muita arma curaram.
Em frente, no lado opposto da lagoa, distinguia-se
um marulhar confuso de gente nos campos marginaes
e em volta dos quilombos.
Eu, que me adiantei pela margem do norte, vi gru-
pos em vastos circulos com movimentos variadissimos.
Plumas, pelles, zagaias, armas, tambores, agitavam-
se por toda a parte em estranha confusão.
Occulto pelas grammineas, consegui approximar-me
e percebi que no meio dos agrupamentos alguns mais
atrevidos, em exagerado gesticular, fallavam ás turbas.
Como chefes, exhortavam-nos ácerca da jornada
que ía mtentar-se, alentando-os para a lucta.
Por vezes saía um mais sarapintado, que, subindo ás -
arvores proximas, orava à multidão, reforçando o som
com as mãos.
Atravez da Garanganga 83
Quando concluiu, muitos, erguendo os braços, pa-
reciam formular protestos contra as declarações feitas.
Eram presagios da guerra que se preparava, da
lucta prestes a romper.
Dois homens saíram então das pr ofundezas da cu-
bata, cercados de meia duzia de athletas, para os quaes
todos immediatamente se voltaram.
Avançando com passo firme por meio de tanta gen-
te, um d'elles pela vestimenta mostrava ser chefe.
À cabeça elevada e altiva, assim como a figura direi-
ta, davam-lhe um ar resoluto.
Completamente envolvido em amplo panno branco
mundado pela luz do sol nascente, a sua fronte tis-
nada destacava-se magnificamente da alva moldura.
Ao chegar a meio, suspendendo a marcha, soltou
com voz firme e vibrante uma phrase que eu não pude
comprehender e que a multidão repetiu em côro, en-
thusiasmada.
Sentando-se em seguida num escabello de propo-
sito conduzido, emquanto o povo se accommodava ali a
seu lado, tomou das mãos dos subalternos duas caba-
cas de maluvo que lhe traziam, começando uma serie
de libações. º
Termmadas estas, erguendo o braço com ar senho-
ril, exclamou, como eu pude ouvir:
« Companheiros! E hoje o sol dos trabalhos.
«De longe Musiri veiu no intuito de conquistar as
terras dos ma-luas, guiado pelo sonho que adivinhou
aqui riqueza. |
«Esta terra tem tudo: marfim, cera, borracha, gente,
abunda com profusão em todas as senzallas.
84 De Angola à contra-costa
«A ellas pois, foi a voz; e atravez do grande lago
vem até ao coração da quimpata para fazer n'ella os
seus acampamentos, ficando ahi o tempo necessario
para deixar nuas as outras, como a palma da mão.
« Não somos nós mais do que as arvores que ha no
paiz ?
« Não somos nós mais do que as formigas da terra?
«(Quem poderá resistir-nos? »
A multidão escutava absorta.
Téque acrescentou então:
«Sou eu grande ou não? »
« Th-o-ah», foi a resposta.
Téque repetiu amda:
«O amigo de meus filhos ou não?
«Ih-o-ah», diziam todos.
« Vêde-me!»
Levantando-se, toma uma attitude heroica, de za-
gaia apontada para o firmamento, e brada:
«Avante! Lancemo-nos a elles, porque amarrados
virão para Urua; e gados, mulheres, riquezas, tudo nos
pertencerá. »
E, dando o exemplo, elle e o companheiro avança-
ram na direcção das embarcações. Então eu fugi.
Havia dez minutos que começára o embarque; mui-
tas canoas já tripuladas cortavam as vagas em di-
recção ao centro do lago; os dois chefes saltaram para
uma maior, ordenando silencio, e ouviu-se proximo
rufar de caixa de guerra.
Foi o signal de rebate, e dezenas de tambores se-
guidamente, encetando o monotono rufo, atroaram os
ames: |
Atravez da Garanganja 85
Os dois chefes, entreolhando-se, não comprehendiam
a causa de tão imprevisto ruido: quando as canoas da
vanguarda cessaram de vogar.
«Ehhu-hu-é! Hihu-u-u-u!» foi o grito que estrugiu,
proferido por milhares de vozes dos nossos, rolando
ao longe como um trovão, surdindo subitamente, de
dentro dos capins, em todas as direcções do lago, um
sem numero de barcos que, operado o reconhecimento,
volviam a esconder-se.
Á vista disto, o primeiro chefe, comprehendendo a
nova situação, ergue-se furioso de zagaia em punho,
dando nervoso o grito de guerra e fazendo signal de
avançar. |
Eu chegára a correr ao campo, volvendo logo.
O som dos tambores continuava com msolito estre-
pito, de mistura com uns roncos tirados das trompas
de marfim, e o canto unisono de vozes humanas, fa-
zendo ruido sem igual.
- Chegado ao lago, eis o que eu vi:
De todos os lados surgiam embarcações, apimhadas
de gente, que, agitando-se, tinham aspecto (quando
vistas a distancia) de enormes myriapodes de pés ao ar.
Vogavam com rapidez.
Na vanguarda destacavam-se duas de maiores di-
mensões.
Numerosos enfeites de marfim lhes ornavam as bor-
das; da proa, em elevado madeiro, pendia um enorme
pennacho feito de folhas de borassus.
À vante, sob uma platafórma, doze jovens guerrei-
ros, com as cabeças enfeitadas de plumas vermelhas,
pareciam dispostos a receber o baptismo de fogo.
“86 IR "| De A contra-costa
Vinte homens, de pé, em Toe parallelas, de zagaias
em punho, moviam robustos os pesados madeiros.
O seu aspecto cannibalesco; exagerado por enormes
plumas na cabeça, tinha um não sei que capaz de ater-
rar o mais audacioso.
Á popa, uma ampla bancada é o logar reservado:
para um chefe, que os exhorta com gestos e palavras.
Rapidas, deslisando, todas as outras embarcações,
não menos exoticamente decoradas, caminham a par
das primeiras. |
Breve só se distingue uma linha escura, longa, re-
volta, na estagnada superficie das aguas, donde sãe
tenebroso o grito de guerra: «Hihu-u-u-u!» em côro
mais de leões do que de homens.
De ambos os lados, comprehendida a necessidade
do immediato combate, a isto se preparam, cerrando
a columna das canoas e approximando-se da linha
quanto possivel.
O chefe prmcipal acha-se no centro, animando e
arrastando parte da gente, que de zagaias sobre a
borda, pagaiam esforçados.
Na extrema direita o sobrinho de Musiri, numa
vasta barca, anima quissongos e secúlos, bradando-lhes
e mfluindo-os.
E um quadro digno de se ver.
Á similhança de uma grande regata, as embarca-
ções correm á porfia, e a grande canoa, impellida pe-
los possantes braços, parte como uma setta, seguida.
das companheiras.
Sob as esguias proas resalta a agua, espumada pe-
las pagaias, que a revolvem: confusa, em redemoinhos.
Atravez da Garanganga j 31
As duas fileiras gigantes approximam-se, o silencio
succede. |
A 20 braças de distancia suspende-se tudo!
Deslisando ainda em virtude da velocidade adaui-
rida, as duas grandes linhas estreitam o espaço que
entre ellas medeia, o qual breve vae desapparecer por
completo, entrechocando-se os longos madeiros.
Nos rostos de todos pinta-se um como que receio
e mistura de espanto. |
Quasi á uma, e inconscientes, mettem na agua as
pagaias para suspender a carreira.
Ninguem ousa romper o mutismo; a minha canoa,
transpondo a nossa linha, adianta-se ás outras, desta-
cando-se só.
Um calefrio, senhor, me percorria a espinha, ao ver
as armas de fogo e zagaias dos meus adversarios; por-
quanto sabia que, caído em suas mãos, não tinha a
esperar misericordia, e a minha cabeça de certo paga-
ria tão tola audacia.
De repente, da Inha mimiga estrugiu um urro enor-
me, deitando-se rapidos todos os guerreiros sobre a
borda.
Passado o primeiro momento de inexplicavel terror,
erguem-se os tripulantes, e, fazendo meia volta, recuam
ligeiros para longe dos adversarios, e acobertam-se
com os escudos.
As gentes de Musiri, ao ver os contrarios mudos,
perfilados por detraz dos abrigos, de lanças em riste,
Imitam-nos, suspendendo a voga.
À isto succede uma scena impropria de tão solemne
conjunctura.
88 De Angola á contra-costa
Um turbilhão de injurias resoa no espaços
Gestos, ameaças, que pouco a pouco se transformam
n'um vacarme impossivel de descrever, multiplicam-se
sem cessar.
Era curioso ver esses milhares de homens, esbafo-
ridos, endiabrados, acocorando-se, erguendo-se, msul-
tando-se, sem lhes passar pela mente a idéa de aggres-
são.
Decididos a intimidarem por essa fórma, cada qual.
se esforça por espavorir os contrarios, á força de pul-
mão e caretas.
Os proprios chefes, no centro de similhante Babel,
levantam-se, berram, não conseguindo fazer-se ouvir.
De subito uma canoa, cuja guarnição parece presa
do delirio, surdindo de uma das margens, arroja-se
audaciosa para o meio da linha, e investindo com a
do chefe, envia-lhe uma nuvem de zagaias, que der-
ribam tres marinheiros de vante.
Á vista de tal audacia exalta-se o animo dos com-
batentes, e sem que deliberação alguma fosse tomada
pelos chefes, aquelles lançam-se na frente, impellidos
por um movimento unanime de colera e raiva, bradan-
do «Hhhu-u-u-u!»
Os gritos propagam-se com a rapidez do raio, con-
fundem-se, transformando-se em imprecações, que os
primeiros entrechocados soltam.
A lucta começa.
No impeto feroz, as lanças e zagaias, topando com
os escudos adversos, vergam, estalam, e, rompendo as
resequidas revestimentas d'aquelles, attmngem aguça-
das os corpos de quantos a elles se abrigam.
Atravez da Garanganga 89
Ás mjurias seguem-se gritos de dor e de angustia.
Em toda a linha se trava o combate!
Ardendo em odio, entrelaçam-se furiosos os comba-
tentes de uma e outra banda, derribam-se, tremem de
raiva, cruzam as lanças, semeam a morte, loucos e des-
vairados.
Por sua parte os ba-ieque, munidos de mosquetes,
enviam contínuas descargas de fusilaria, envolvendo
no fumo a endemoninhada horda.
Luctando corpo a corpo, uns feridos pelas zagaias,
outros varados, golfando-lhes o sangue aos borbotões,
tombam de chapa na agua, e mergulham n'ella mori-
“bundos.
Alguns, no ultimo arranco, volvendo afflictos á en-
sanguentada superficie das aguas, agarram-se ás ca-
noas num supremo esforço, que mclinadas ameaçam
revirar.
"* Breve uma se extravia, acompanhada de grito de
horror, depois outra.
Era aquella onde eu estava, e que, afundando-se,
nos punha á mercê dos contrarios.
A peleja prmcipia a transformar-se em desordem,
que uma embarcação mimiga completa com repenti-
na manobra.
Dirigindo-se para a margem rapidamente, um dos
chefes Mu-Lua ordenára aos seus a apanha de ca-
pim secco, e, confeccionando uma imfinidade de archo-
tes, voltou pressuroso ao logar do combate.
Tudo foge. |
Accesos todos a um tempo, lançou-se a canoa com
grande impulso no centro da confusão.
BU De Angola á contra-costa
)
Especie de colossal poncheira, a veloz barca, en-
volvida em labaredas, segue semeando o terror por
toda a parte. |
Oppondo as lanças e zagaias á approximação do
brazeiro, intentam ainda os nossos impedir o mcendio,
afastando-o com furia.
Falha-lhe porém o desejo, e o fogo, lavrando com
violencia, a tudo se communica.
Pennas, cabellos, saiotes, envolvem-se n'um instante
pasto das chammas, a que a polvora incendiada, os
tiros disparados, acrescentam o perigo.
Então começa a derrota para os aggressores. Ácom-
mettidos por todos os lados recuam, e dirigindo-se
para as praias, lançam-se muitos á agua por se verem
na impossibilidade de as attimgir.
À hora da nossa ruina soára.
N'essa fuga a nado, metade d'elles ficam no lago,
victimas das flechas, que fazem uma carnificma hor-
rivel, e eu, ora mergulhando ora surdindo, com uma
zagaiada n'um braço, d'onde borbotava o sangue, lá
consegui attingir a terra, e, rolando-me por meio das
gramimeas, pois se marchasse de pé poderiam ver-me,
fui acoutar-me n'uma floresta, onde passei a noite.
Assim acabou a guerra de Urua, que Trinta descre-
veu, e nós deixámos á nossa penna ampliar e corrigir
no interesse de ser agradavel ao leitor.
CAPITULO XXI
EM BUNQUEIA
Como estavam as cousas à nossa chegada a Bunqueia—Os zanziba-
ritas ali — Depredações por elles commettidas — Consequencias para as
caravanas europêas que se succedem —O terminus do praso da etiqueta
e a modificação em nossas idéas — Uma execução e aspecto geral da
quimpata — Accumulações de craneos e respectiva historia tetrica — Che-
gada à residencia — À sala em que se achava o chefe — Duas palavras
acerea d'este personagem e a toilette — Musiri, o parricida, usurpa o
throno da Katanga— Organisação politica da Garanganja —O regulo é
absoluto senhor em sua terra — Contraste que apresenta na vida particu-
lar— Maria da Fonseca, a Missota — Audacioso proceder desta senhora
para comnosco—Seu trajo e uma chuva de presentes — Musiri entra no
nosso campo, pede um documento sobre a morte de Bohm e explica a hy-
drographia central — Ainda uma tentativa de Maria— Retrato photogra-
phico do soba— Annuncio de nossa retirada e difficuldades em trazer o
Trinta— Factos louvaveis— Breve noticia concernente a algumas cere-
monias.
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MUSIRI, O CHEFE DA GARANGANJA
Segundo photographia
A situação das cousas á nossa chegada a Bunqueia
não era das melhores.
Vagos rumores corriam ahi de recentes complica-
ções entre o chefe do paiz e uns mdividuos brancos
que lá estiveram; dizia-se que elle ordenára a sua pri-
são; parecia, emfim, haver-se nublado o horisonte das
boas relações com europeus, achando-se o senhor su-
premo da terra muito mal disposto a seu respeito.
Eis quanto se affirmava, e consta do nosso diario. |
94 De Angola á contra-costa
Dois ou tres mezes approximadamente antes de che-.
garmos à mussumba ou quimpata, appareceu al uma
caravana de zanzibaritas e arabes do Saadani, capita-
neada, no dizer dos mdigenas, por dois europeus, a
cuja reunião aquelles denominavam languanas !
Musiri achava-se então em Urua, junto ao lago Ki-
condja, terminando a celebrada guerra feita a Karum-
ba, de que tratámos no capitulo anterior.
Sabendo do seu apparecimento, mandou chamal-os,
partindo elles effectivamente para o lago, e depois não
sabemos se para o Lualaba; recebidos muito bem pelo
regulo, com este trocaram o sangue.
Parece que se dedicavam á exploração do alludido
lago, e foi ahi, segundo tambem julgâmos, que o mais
velho succumbiu n'um logar chamado Katapena.
O seu companheiro, regressando a Bunqueia, acam-
pou e preparou-se para construir uma canoa, com a
qual, nos disseram, pretendia explorar o Lufira,
Os zanzibaritas são indiscutivelmente pouco pol-
ciados, propensos a querelas e a roubos, e o seu chefe
não tinha sobre elles imteira preponderancia.
À verdade é que as rixas se multiplicaram dia a dia;
houve mortes, compras e raptos, e alfim complicou-se
tudo com séria questão de amores entre a mulher de
um parente de Musiri e um dos homens da caravana,
que teve por epilogo morrer a desditosa creatura às
1 Parece que a designação languana comprehende todos os europeus
e arabes vindos do lado de Zanzibar. Cremos ver n'ella uma corrupção
do termo ba-lungo, designativo dos poyoadores da parte meridional do Tan-
ganyka, d'onde os portuguezes fizeram lungos, lunga-nas ou lunguanas.
Em Bunqueia d5
mãos do marido, atravessado o coração com a zagaia,
quando numa manhã ella voltava do acampamento
europeu. .
Não findaram aqui os devaneios, pois, havendo ra-
ptado umas mulheres da Garanganja, dirigiu-se a co-
mitiva para o oriente, e, transposto o Lufira, começou
de armas na mão a fazer razzia por quantas povoa-
ções encontrava em caminho, a ponto de ter o chefe de
mandar um troço de duzentos homens, commandados
por seu irmão, a fim de os sacudir de seus dominios,
trazendo-lhe, se tanto podesse ser, a cabeça do branco
chefe ou maioral!
Ássim corriam os negocios n'aquella terra á nossa
chegada, e seja-nos licito aqui acrescentar, que é bem
triste ter de nos referir a tão irregulares actos, quan-
do a caravana, que os praticou, era dirigida por um
“europeu!
Muitos são os viajantes que, transitando no grande
contmente, deixam após si caminhos abertos por onde
outros podem seguros trilhar; alguns ha, porém, que,
zombando de tudo e de todos, investem com preceitos
e velhas praxes, offendem interesses, quebram contra-
tos, e, injuriando o mdigena, lá vão entre os copos de
pombé e alguma Julieta negra, sem se lembrarem de
que, poucos dias atraz, um triste trabalhador da scien-
cia os segue no intento de estudar e abrir o sertão até
ali desconhecido, vindo a encontrar, em vez de cor-
dial recepção, ageressões que podem compromettel-o
e desgraçal-o.
Chegára alfm o terminus do praso que a etiqueta
sertaneja marca para encetar relações, enviando-nos
96 De Angola á contra-costa
por isso Musiri a noticia de que ao amanhecer do
quarto dia nos esperava na sua residencia.
As idéas com que tinhamos vindo de Tacata ha-
viam-se já então modificado profundamente, chegando
nós a perder toda a esperança de cortar por Bunqueia .
para o Kazembe.
— Não deixará, senhor, passar a caravana, porque
desde a abalada de Quitari que se fecharam os cami-
nhos para os languanas, dizia o Trinta.
— É mesmo, acrescentava, se tal se lhe propuzesse,
viria a desconfiar que os brancos seus amigos do Moi
N'Puto queriam metter-se com essa gente do Tanga-
nika, que tem casas em Karema, e que só quer tirar
as terras a quem as possue, e nunca fazer negocio,
comportando-se como bons amigos.
— E, ainda, Musiri está mal com Kazembe, a gente
d'elle não vae para essa banda, sendo certo dizer-se
que em breve haverá guerra entre ambos.
Em presença de taes argumentos desistimos de ir
junto d'este regulo, e preparando-nos para a rece-
pção, fomos domimados apenas pela idéa de visitar ao
menos a parte occidental do lago Moero.
Não era no emtanto muito boa tambem a disposição
em que íamos partir para a mossumba, pois, segundo
parece, na vespera o velho soba assassmára um ho-
mem, cravando-lhe a zagaia no coração, facto desani-
mador para qualquer recemchegado.
Como, porém, já estavamos um pouco habituados
a ouvir a deseripção d'estas scenas, fechâmos os ou-
vidos, e envergando o nosso uniforme militar, calçada
a luva branca de tres botões, collocâmos os revolvezrs
Em Bunquea 9a
á cinta, partindo para a entrevista, na companhia de
tres officiaes do regulo, empennachados a ponto de se
lhes não verem as caras.
A quimpata de Bunqueia, ou a residencia onde Mu-
siri! n'esse dia se achava, e que pertence, conforme
nos afiançaram, a uma de suas esposas, é cercada de
uma especie de labyrintho, constituido por viellas tor-
tuosas, ladeadas de euphorbias, como a caconeira e
outros arbustos. Frequentes são as portas que se en-
contram, por onde o recemvindo tem que enfiar a
custo, curvando-se; bem como bastas as vallas, barra-
gens, etc.
Á medida que vae avançando, vê o viajante cres-
cer o numero de craneos humanos, que por toda a parte
se acham dispersos, dispostos aqui e alem em pequenos
monticulos sob a caconeira.
Cada craneo destes tem uma historia triste ligada
à sua existencia ali, a qual muita gente da terra sabe
e o explorador póde facilmente conhecer.
Eis a proposito o que ouvimos, concernente a um
por nós apontado, conservando aimda pedaços de pelle
pela face.
No dizer dos negros que nos acompanhavam, não
havia amda muito tempo que na Garanganja se tra-
mára revolta contra o chefe, urdida por um seu parente,
que tentava derribal-o para o substituir no poder.
Um vassallo do regulo estava comprado para o as-
sassmar dentro da libata. Occasionalmente soube elle
d'este facto e, preparando-se a frustral-o, convidou
! Musiri Maria Segunda, é o nome de que usa este chefe.
VOL. II. rt
98 De Angola á contra-costa
todos os importantes da terra para um n pombé matutino
no dia seguinte.
Logo de manhã começaram a reunir no pateo do
tembé muitas dezenas de pessoas, entre as quaes se
comprehendia quem premeditára a perda do soba.
Ordenando que se cerrassem as portas, começaram
todos a beber, até que o regulo, suspendendo, encetou |
uma peroração em alta voz, narrando scenas da gua
juventude, de guerras recentes, etc.
Prolongando-se em divagações, contou como ás ve-
zes um chefe justo se vê cercado de vassallos períidos,
até que veiu a caír sobre o facto attentatorio contra
a sua vida, discursando com largueza sobre elle. Er-
guendo-se alfim, lançou mão de uma pequena zagaia
que possue, e emprega exclusivamente n'este serviço,
apontando com ella para um grupo.
Encontrou ahi o imfeliz que procurava, o qual, ao
Julgar-se descoberto, teve a triste idéa de se levantar,
e pretendeu fugir.
Colhido acto contínuo, foi amarrado, ordenando Mu-
sIrl que se fizesse uma fogueira no meio do campo.
Então effeituou-se a mais horripilante das scenas! Man-
dando-lhe ministrar um caneco de pombé, o soba de-
terminou que lhe cortassem as orelhas e as pozessem,
sobre brazas, para depois de assadas e conveniente-
mente apimentadas, constranger o desditoso a comel-
as! Em seguida arrancaram-lhe o nariz, phalangetas
e phalanges, que teve de engulir, pois, segundo dizia
o sanguimario regulo, elle tinha fome, até que por fim,
sendo impossivel no meio dos gritos e movimentos
da victima obrigal-o mais à ingestão do proprio corpo,
Em Bunqueia 99
fez-lhe decepar a cabeça, e, esquartejado o resto do
cadaver, o lançaram no valle proximo!
Assim foi contada durante o caminho a historia do
craneo que attrahíra a nossa attenção.
Ão cabo do passeio, chega-se à porta principal que
fecha um grande recinto cercado por estacaria, onde
está o tembé e fronteiramente duas outras habitações,
um pombal, etc. .
Grande accumulação de gente, por meio da qual
alvejavam as cabaias arabes, se achava n'esse pateo
mterior, onde iamos dar mgresso e em que tanta scena
de morticinio tem oecorrido.
Curiosos por ver o branco, todos os rostos se alon-
garam ao darmos o primeiro passo dentro da porta,
causando-lhes grande admiração a nossa farda da ma-
rinha real.
À verandah estava deserta, abrindo-se a meio uma
porta, onde nos aguardavam dois guardas.
- Os guias, dirigiram-se para ella, conduzindo-nos
pelo centro da multidão.
Não foi sem um sentimento de repugnancia que pe-
netrámos na casa, pois feridos pela luz tropical, e
achando-se o recinto mterior ás escuras, só com grave
dificuldade podémos distinguir o logar que nos estava
reservado.
Após dez minutos de accommodação eis o que vI-
mos lá dentro:
Uma sala ampla, quadrada, guarnecida de cadei-
ras de ferro com assentos de mola, tendo suspensos
em redor das paredes tambores, caixas de guerra, ma-
chados, armas, etc. Antiga pendula, collocada a meio
100 De Angola á contra-costa
d'estes artigos, espera que mão de mestre a ponha
em condições de dar a medida do tempo, ao passo que
num movel em baixo, especie de mesa, uma chape-
leira de couro entreaberta mostra o forro interior de
riscado.
Oito maioraes estão sentados em pequena esteira
no solo, formando semi-circulo; na frente delles e junto
á parede acha-se, em grande cadeira e sobre uma pelle
de leão, recostado o chefe da Garanganja.
Homem de sessenta annos, gordo, robusto, colos-
sal, tem aspecto pouco attrahente, que parece esfor-
car-se em mascarar com um permanente sorriso nos
labios.
O seu olhar é fimo e astuto, a pose inteiramente gra-
ve e soberana, apenas desmanchando estes traços a
vestimenta de certo modo grotesca. Musiri, que veste
um fato preto á europêa com bota de polimento, teve
a triste idéa de envergar um waterproof, sobrepujando
tudo isto uma ampla capa de seda azul e branca, que
lhe dá o aspecto de membro da irmandade de Nossa
Senhora da Conceição!
Cingem-lhe os pulsos grossas manilhas de prata,
similhando um golphinho a morder a cauda; à cinta
um cutello, com cabo tambem do mesmo metal, com-
pleta o seu armamento.
Mas a nota comica é a cobertura da cabeça, porque
o celebre regulo, usando o cabello a escorrer azeite,
collocára em dobras uma toalha bordada sobre elle,
empoleirando-lhe em cima um chapéu novo!
A photographia, no começo, apresenta Musiri em
trajo de passeio.
Em Bunqueia 101
Demorou-se assás a visita, pois que decorreram uns
bons vinte minutos de silencio absoluto, durante os
quaes nos contemplámos mutuamente com ar atolei-
mado.
As luvas brancas, sobretudo, attrahiam a geral at-
tenção, e ao menor movimento dos braços todos os
olhos n'ellas se fitavam curiosos.
Trinta, empavezado de orgulho por se achar junto
de um grão senhor da sua terra, como elle dizia, cuja
gravidade e rigidez excediam a de uma mumia egy-
pciaca, e nas suas affirmações levou depois a palma ao
mais bem urdido acervo de mentiras, apresentando-
nos alternadamente como governador de Benguella, de
Angola, ou de Moçambique, para logo descrever com
o braço a roda do horisonte, e nos apontar como domi-
nadores do mundo, respondeu, quando imterrogado por
um dos vassallos sobre a significação d'aquellas alper-
catas brancas, que aquillo denotava só mando da nos-
sa parte e nunca tiravamos d'ali as mãos para traba-
lhar!
Um arauto ergueu-se e encetou longa oração, fa-
zendo, ao que juleámos, o elogio do seu chefe e se-
nhor.
Nós ouvimos pacientes, intimando em seguida a
resposta ao interprete.
Musiri falla pouco, cortando a miudo as phrases
por breves interjeições. |
Inquiriu dos nossos fins, das communicações com
Benguella, sondando-nos finamente, e insistindo mais
de uma vez sobre o nosso projecto de ir para leste e
visitar 0 lago Tanganyka.
1092 De Angola á contra-costa
Prevenidos, porém, invertemos-lhe. completamente
as suspeitas, cifrando a nossa visita no desejo de o ver
e no interesse de sabermos como eram tratados em sua
terra os funantes portuguezes e bienos que ali vinham
com frequencia.
“Fez-nos uma graciosa offerta de guias para o sul,
lembrando ser o nosso maior amigo, como até o seu
nome indicava, igual ao de um monarcha portuguez,
acrescentando que nos considerassemos na nossa ter-
ra, podendo percorrel-a em todos os sentidos.
Não consentiu, todavia, que vissemos o Moero, por
estar mal com a gente d'ah, offerecendo-nos em com-
pensação para ir a Kicondja.
Despachou perante nós uma comitiva de bienos, e
um muleque de Silva Porto, por quem enviámos uma
carta ao velho viajante, recommendando-o.
Emtim, trocados uns copos de pombé, erguemo-nos,
sendo por elle acompanhados até á porta do recinto,
onde o illustre personagem, apertando-nos a mão, ma-
nifestou o desejo de possuir umas luvas.
Musiri, depois de conversado e visto por outro pris-
ma não deixa por vezes de descobrir lampejos sym-
pathicos; mas se o avaliarmos pelas delações de algums
dos seus, o celebre regulo é homem muito differente,
barbaro, sangumario, feroz, como muitos outros prin-
cipes africanos, que para dominar precisam desse pes-
sImo recurso.
À historia do estabelecimento da Garanganja daria
a nota exacta do que avançámos; como isso, porém,
seria longo, aqui vamos registar só dois ou tres factos
caracteristicos. |
Em Bunqueia 103
Este chefe é um m'nia-muezi, já o dissemos, e ad-
ditaremos que ainda joven se fez rebelde.
Encetára a sua carreira pelo parricidio, pois matou
pae e mãe, saqueando-lhes a libata e fugindo; assas-
smou depois os filhos do homem que foi seu bemfeitor
e o fez subir áquella dignidade, o velho regulo da Ka-
tanga; esteve a pontos de trucidar a mulher a quem
mais particularmente tudo devia, filha do mesmo soba,
quebrando-lhe, para amostra, uma das pernas, e ha
pouco feriu de morte, azagaiando-o no coração, o pro-
prio filho, unico que com elle se parecia, conforme nol-o
afiançaram todos!
O crime relativo ao soba da Katanga é E um cara-
cter extremamente perverso.
Musiri, que chegára áquella zona sem recursos, re-
cebeu tudo das mãos do dito ancião, e imsinuando-
se-lhe no espirito, conseguiu captar plena confiança,
obtendo para sua mulher uma das filhas, por nome
Kapapa.
Na hora do passamento Moi-Katanga, que possuia
muitos filhos, deixou-o encarregado de cuidar d'elles,
mdicando, muito em particular, aquelle que entendia
dever succeder-lhe.
Foi precisamente este o primeiro que perdeu a ca-
beça, se não assassmou o pae tambem, conforme se
diz; e como Musiri considerasse que todos os outros
lhe podiam ser embaraço na realisação dos seus proje-
ctos, tratou de lhes cortar sem delongas as cabeças,
reservando para si o supremo mando.
É assim este homem usurpou o logar em que ora
se acha.
104 De Angola á contra-costa
O estado da Garanganja, de que já demos breves
noções, confina de leste a oeste pelo Luapula e Lua-
laba, do norte termina no curso do Lufira até Kicon-
dja, do sudoeste vae ao Mumbeje, do sul limita-o ap-
proximadamente a serra Muxinga.
A sua organisação politica, se póde dizer-se assim,
é das mais curiosas e incomparaveis. Musirl representa
e personifica tudo. Não ha classes sociaes, nem direitos
de ordem alguma. Ninguem ouse arrogar-se o direito
de possuir ou negociar. Infeliz d'aquelle que tal imten-
te, porquanto o soba confiscar-lhe-ha tudo, não inde-
mnisando os commerciantes, do que resulta estes não
quererem trafico com pessoa alguma dos seus esta-
dos!
Se um caçador abateu um elephante, tira-lhe as
pontas e leva-as ao regulo; se outro obteve um pote
de mel, entra com elle e dá-lhe o mesmo destmo; se
terceiro fez apanha de milho, reune e leva-o ao chefe;
se quarto tem uma filha galante, apresenta-a a este,
que, agradando-lhe, fica com ella.
Jim compensação chega uma comitiva com cem far-
dos de fazenda; Musiri compra, e n'esse momento con-
sidera todos como filhos, distribumdo pela ponto a
fazenda em retalhos.
Isto faz com que o indigena, já de si pouco propenso
ao trabalho, o abandone de todo, mclimando-se á pilha-
gem, onde com mais facilidade póde adquirir artigos
de valor, que, entregues ao soba, lhe captem melhor
as disposições a seu respeito.
Esta questão de perfeita igualdade de todos perante
o regulo, e a inteira ausencia de noções de proprie-
ER dad
Em Bunqueia 105
dade, não deixará progredir este estado, pelo menos
emquanto durar tal systema.
Em sua vida particular o regulo da Garanganja é
uma personalidade infeliz, mesmo ridicula.
Rodeado de grande numero de esposas, entre as
quaes figura uma parda de proveniencia duvidosa,
por nome Maria, que o aconselha em todos os negocios
e o domima completamente, ao caduco regulo não so-
beja o tempo para pensar n'ellas e quiçá vigial-as,
passando uma vida atormentada.
Musiri não tem residencia constante, receioso tal-
vez de que, sabendo do seu paradeiro, lhe pozessem
termo á vida. Dorme de dia, vagueando pela noite
de tipoia, de casa em casa de suas predilectas, cer-
cado sempre de um grupo de valentes seus serviçaes,
e no intuito sem duvida de colher alguma em flagrante.
Ellas porém, todas peccadoras, protegem-se reci-
procamente, trazendo o velho ás escuras!
Maria da Fonseca, conhecida entre elles pela Mis-
sota, põe e dispõe de tudo na Garanganja, sendo pelo
seu irregular proceder uma das causas dos desregra-
mentos que por ali lavram.
Desde a data da nossa chegada que nos annuncia-
vam diariamente a visita V'aquella dama, e, effeituan-
do-se, deixou estranha impressão, pela novidade de nos
vermos pela primeira vez em nossa vida nas cireum-
stancias mais extraordinarias em que um homem se
póde achar, isto é, ter de repellir por maneira brutal as
audazes pretensões de uma beldade, e abandonar a
terra, para não ser victima de alguma vingança d'essa
atrevida Messalina!
106 De Angola á contra-costa
O seu aspecto, ao entrar no quilombo, tinha o quer
que era de phantastico.
Envolvida em um amplo panno de cores, de Moçam-
bique, pulsos e artelhos cheios de braceletes de marfim
e oiro, coberta a cabeça por um longo e bem lançado
tecido azul, d'onde pendiam lateralmente duas fitas
bordadas que se ligavam abaixo do queixo por grosso
botão de oiro lavrado, cordão do mesmo metal ao pes-
coço e colossal revolver na destra; esta mulher, cujo
semblante claro nada tem de repellente, impõe, com
o seu porte e modo altaneiro, um sentimento de admi-
ração a quem no primeiro instante a encontra.
Vinte e quatro horas depois da entrevista, enviámos
os presentes a Musiri, bem como ás suas seis principaes
esposas ba-córes, cujos nomes são: Maria, Margarida
(parda tambem), Kapapa, Kamama, Kanfua e Muloje,
que todas se dignaram visitar-nos, sem contar deze-
nas de outras a quem não contemplámos, e se distm-
guem por um comprido fio de latão, artisticamente en-
rolado em espiral de roda do pescoço.
Seguidamente a estes protestos e demonstrações
de mutua amisade, vein Moi-Musiri ao nosso campo
para pagar-nos a visita, pedir uma lente e uma isca
para accender fogo com o sol, descrever-nos elle mesmo
a morte de Bohm e solicitar um documento por nós
firmado, no qual certificassemos que o dito viajante
fôra victima de doença, e nunca Musiri concorrêra em
cousa alguma para o seu desapparecimento.
Fundado no testemunho de uns indigenas de oeste,
dos arabes que estavam presentes, e emfim, conven-
cidos pelas geraes indicações, passámos-lhe o docu-
uia Ce
7
NS
wi;
PD (adiddidedidadda
FEITICEIRO DE BUNQUEIA
Segundo croquis
Em Bunqueia 107%
mento requerido, escrevendo-lhe ainda varias cartas
para a costa occidental.
O velho regulo dignou-se explicar no terreno e com
o proprio bastão o correr das aguas do Luapula sobre
o Lualaba, hydrographando por maneira tal, que hou-
vemos de seguil-o n'uma milha quasi de extensão, para
chegarmos ao sitio onde pretendia figurar a confluen-
cia dos dois rios, bem como nos descreveu as furnas
de Uncurroé, dois poços de agua fervente, ao norte de
Kicondja e oeste do Lualaba, d'onde se escapam vapo-
res sulfurosos e em que se dá a raridade, segundo elle,
de funccionarem alternadamente. Fallou tambem de
um cone de lodo de 3 metros de alto, na lagoa Lizua-
la-Kowamba, d'onde sáem vapores sulfuricos, convi-
dando-nos de novo a que fossemos lá, promettendo
deixar-se photographar na manhã seguinte, depois de
“tomarmos juntos um copo de pombé.
- Acompanhava-o n'esta occasião uma especie de buf-
fon, talvez feiticeiro ou doido, cuja figura apresentá-
mos ao leitor, o qual não nos largou durante a entre-
vista, descrevendo a todo o instante circulos a giz no
solo, fazendo esgares e momices, a que o regulo sor-
ria, usando mesmo para com elle, e amiudadas vezes,
de certas liberdades que nos surprehenderam em ex-
tremo.
Trinta afiançou-nos ser o maior feiticeiro da terra,
que ali se achava para conjurar todos os feitiços que
podessemos fazer ao soba. Fosse por este ou outro
curioso motivo, a verdade é que elle parecia louco!
Ao fechar esta sessão, porém, nova difficuldade se
apresentou.
108 De Angola á contra-costa
Madame Marie não era senhora a recuar perante
uma primeira derrota, .e havendo-se retirado para uma
casa de campo 15 milhas ao norte, enviava-nos Musi-
11, à fim de convidar-nos a acompanhal-o ali, onde um
grande jantar nos esperava. 7
Superfluo será dizer que de sobejo comprehendia-
mos a sereia, talvez melhor que o proprio regulo, ur-
gindo em nosso interesse evitar uma viagem a sua
casa. |
Por isso, havendo ao seguinte dia uma nova entre-
vista com o soba (durante a qual o photographámos,
pesámos uma serie de pontas de marfim com balan-
ca romana e lhe demos uma noção do seu valor e
preço por que devia vendel-o), imsistimos ainda uma
vez para ir ao Moero, e como não accedesse, e ao con-
trario respondia que fossemos antes à Kicondja, onde
finalmente não tinhamos o menor desejo de pôr os pés,
annunciámos-lhe a impossibilidade de fazer a visita a
Maria, e a disposição em que estavamos de partir para
o sul, a fim de nos reunirmos ao nosso companheiro.
Tornou elle com solicitações de que nos demorasse-
mos uns dias, esperando quadra melhor e menos chu-
vosa para a partida, etc.; como, porém, pelo nordeste
eram os caminhos vedados á expedição e até ao oceano
ainda havia a percorrer muitas centenas de milhas, fir-
mámo-nos em nosso proposito, aprestando tudo.
Restava arrancar-lhe o Trinta das mãos.
Trinta queria retirar comnosco para o Zambeze, e
nós, cujo dever era protegel-o na qualidade de portu-
guez, assim o declarámos ao regulo, que accedeu gra-
ciosamente, falseando logo este consentimento, pela
Em Bunqueia 109
ordem dada em particular ao dito Trinta de que não
partiria.
Convinha-lhe um homem que fallasse a sua Ingua,
a do Zambeze e a portugueza, sabendo alem d'isso
que entre os negociantes do Zambeze não podia fazer-
lhe boas ausencias.
Cessaram as hesitações, e desde que declarámos ao
Trinta a conveniencia de ausentar-se, tivemos de sus-
tentar o nosso papel; e, ordenando-lhe que preparasse
tudo, enviamol-o vinte e quatro horas adiante de nós.
A todo o momento suppunhamos que se iam bara-
lhar as nossas relações com Musiri. Felizmente tal
não succedeu, e o regulo, convencido de que nada ga-
nharia com uma retirada nossa em desagradavel con-
junctura, enviou-nos os seus comprimentos com os ulti-
mos presentes.
E mais diplomata do que parece.
“Assim deixámos em paz o homem que é hoje o ter-
ror de todos os sertões desde o Lufira inferior até
ao sul de Ulalla, e que a par de grandes crueldades
abre-se às vezes com rasgos generosos, que muito o
honram, apesar de selvagem. Com João Baptista Fer-
reira, por exemplo, funante portuguez que transita por
Urua até ao Moio' e outros pontos, succedeu ainda ha
pouco um facto frisante.
Voltava do norte n'um estado de grande apuro.
1 O sertão do Moio fica, segundo se presume, ao longo de Lulua e no pa-
ralello de 6º sul. Moio crêmos ser uma designação devida aos compri-
mentos previos ali usados, antes de se encontrarem os individuos em
transito, ou uso particular dos regulos, em remetter um presente, proximo
à chegada do viajante.
E CI Ci pç
A tn
110 De Angola ú contra-costa
Ao passar na altura da terra de Musiri, que não co-
nhecia, enviou portadores a expor-lhe as circumstan-
cias precarias, solicitando um auxiho.
O velho regulo, deferindo logo o pedido, remetteu-
lhe fato, sapatos, camisas, duas pontas de marfim, e a
recommendação de que apparecesse quando quizesse.
Os rapazes pardos africanos são uns Lovelaces ser-
tanejos, e já não é o primeiro nem o segundo que Mu-
siri surprehende em devaneios amorosos com as suas
esposas.
Conta-se que ainda ha pouco um destes, vindo com
elle fazer negocio, foi descoberto em via de material
sar, de accordo com uma dama, o poetico e fervente
sentimento que os dominava; e sendo o regulo d'isso
informado, ordenou que a cabeça do conquistador pas-
sasse a figurar junto de tantas outras que estão pelas
estacas da mussumba!
Prevenido a tempo, o audacioso D. Juan pôde esca-
par-se, e Musiri, mezes depois, esquecendo este nego-
cio, mandou-lhe entregar no Bié, ou onde se achasse,
dez pontas de marfim que lhe devia.
São factos estes altamente louvaveis, e que apraz,
a quem tiver de pôr a lume os vicios e defeitos do ve-
lho chefe, registal-os por bons, como attenuantes dos
ruins.
Longo seria aqui finalmente relatar usos e costumes
d'aquellas gentes, de que mais ou menos tivemos co-
nhecimento, 7
Assim, dos funeraes dos sobas ouvimos as mais es-
tranhas historias, com accessorios de verdadeiras heca-
tombes, onde eram immoladas dezenas de victimas do
Em Bunqueia AJ
sexo fragil, para darem ingresso no tumulo em com-
panhia de seu senhor, isto no meio de ceremonias te-
tricas de sangue e fogo!
E ainda de outras nos fallaram, como aquella usada
nas adivinhações antes da guerra, em que uma das
mulheres do soba, sorte de Pythonisa, é envolvida na
pelle de um homem, cuidadosamente esfollado para
esse fim, e, posta em recinto escuro, d'ahi expõe pela
noite, ao regulo, as consequencias a advir-lhe da cam-
panha que vae encetar. Tambem a do juramento pela
agua, onde duas panellas se acham no solo, uma com
agua fria, outra no fogo com agua fervente.
O individuo aceusado, que deseja provar a sua inno-
cencia, approxima-se, e mergulhando as mãos na agua
fria, lava-as com ella, para seguidamente as imtrodu-
zir estendidas na agua quente.
Se as escalda, as palmas se lhe avermelham e elle
as retira de subito, está provada a criminalidade, no
caso contrario fica livre.
Por vezes lançam agulhas no fundo da panella fer-
vente, que o accusado tem de retirar uma a uma.
Terminando este acervo de horrores, diremos amda
que ha varios processos para acabar com os feiticei-
ros e criminosos, sendo um dos mais frequentes a
mhumação incompleta em vida, durante vimte e qua-
tro ou quarenta e oito horas. Para isso abrem um poço
vertical, e mtroduzmdo ahi a victima, a ficar só com a
cabeça de fóra, enchem a cavidade de terra, calcan-
do-a em redor. |
Após vinte ou trinta horas retiram-no, e o desgra-
cado, já meio paralytico, succumbe pouco depois.
CAPITULO XXII
VIAGEM DE REGRESSO
Partida de Bunqueia— Programma de viagem — As declarações de
Trinta, e o seu azar em todos os negocios — Rosa, a constante conselheira
— Às chuvas de novembro e o aspecto da natureza — Facies especial dos
piateaua centraes— À vegetação em redor — Rios em que nos achavamos
— O reino animal —O elephante e seu restrictivo habitat — Antonio im-
pressiona-se com o oriundo de Africa — Juizo de um viajante tanto ácerca
d'este como do procedente da India — Traços geraes comparativos — Modo -
“de vida do dito pachyderme e preferencia pelas acacias — Como derriba as
arvores — Lado para que vira invariavelmente a tromba quando colhe —
Numero por que se agrupa e timidez das femeas —Carinhos maternaes
— Como transpõe os rios — Maneira facil de o caçar —O leão e as bes-
tas de preza na Garanganja —O Aulacodea swindériena — Os escorpiões e
outros insectos venenosos de Bunqueia — Os lepidopteros e a Kingan-
dja— Longitudes da região lacustre e erros encontrados — Observações
lunares e impossibilidade de as fazer — Partida de Kalabi e primeiro
engano de Trinta-—Opiniões de André e de Dionysio— Chegada a Ta-
cata — Mudança operada na gente.
VOL. Ii.
« -»- QUASI LHE RASTEJÁRA COM A TROMBA PELO LOMBO
A 2 de dezembro, por uma bella manhã, deixámos
a terra de Bunqueia, voltando pelo trilho por onde ti-
nhamos vindo, a cammho do campo de Tacata.
O nosso programma de viagem estava feito, após as
necessarias modificações.
Sendo impraticavel cortar pelo Kazembe, íamos de
novo reunir-nos em NºTenque, e, atravez do Lufira
para o oriente, tentarmos attmgimr o Luapula o mais ao
norte possivel, para depois prolongal-o ou transpol-o,
segundo as circumstancias, determimando o ponto de
116 De Angola á contra-costa
saída do lago, que estavamos quasi certos ser na re-
gião sudoeste do alludido lençol de agua, e não no
noroeste, como indicára Living'stone.
Pensavamos mesmo que, se se conseguisse encon-
trar algum regulo de feição, poderiamos construir uma
ou mais grandes canoas, para um de nós, caminhando
r1o acima, visitar o Bemba dentro dos limites do tem-
po e dos recursos de que dispozesse.
Por sua parte Trinta, embora ha dois annos tivesse
passado pelos sertões de leste, declarou nada saber
para o occidente do Lufira, mas se o pozessemos ao
oriente, em Caponda, procuraria o caminho por elle se-
guido quando viera, o qual facilitava a nossa conduc-
ção para Ulalla.
E obvio que, senhores assim de um atalho para nos
levar mais tarde à banda onde convinha proseguir, sem
necessidade de guias ou dependencia de regulos, fica-
riamos dominando aquelle sertão, dispostos a esqua-
drinhal-o em todos os sentidos, porquanto tinhamos,
quando fosse precisa, a retirada segura pelo trilho que
Trinta nos afiançava conhecer.
Mal sabiamos, infelizmente, que este leviano e za-
ranza, que em tudo se mettia e de tudo fallava sem eri-
terio, nos havia de preparar crueis dias de angustia,
levando-nos alfim, ao contrario do que esperavamos,
a servir-lhe como guias, no meio dos ignorados matos.
Calixto da mais genuima qualidade, com o seu vulto
esguio e olhar desconfiado, esse desditoso andava sem-
pre em má sorte, a ponto de tornar-se opinião assente
e acceita entre todos, que dizendo elle para oeste, era
fazer logo rumo para leste!
Viagem de regresso La
Nem uma só vez, como adiante se verá, logrou o
nosso heroe descobrir trilho aproveitavel ou dar im-
dicação de geito, e quando abria a bôca para offere-
cer conselho, nova desgraça estava Imminente sobre
a caravana!
Depois, possuia uma cara metade que, por cruel iro-
nia do acaso, contrastava smgularmente com o exotico
esposo, e ao passo que este estirava o seu desmesurado
comprimento n'uma linha de 1”,80, ella via-se aperta-
da e constrangida em mesquinha concessão de 1",35
de longo.
Chamava-se Rosa, tinha um genio atroz e a triste
balda de aconselhar o marido, mania de resto con-
sentanea com aquella apreciavel qualidade; aggravan-
do-se isto por vir para o sul mal disposta, pois Trinta
possuia de ha muito outra mulher no Zambeze, cujo
nome bastava pronunciar, para ver Rosa acommettida
de deliquios e perturbações nervosas! |
Era extremamente dada a feitiços, vendo em tudo e
todos bruxarias, que o pobre homem se empenhou em
conjurar com adivinhações pelo mato, onde consumia
o melhor dos seus haveres!
Em summa, póde afiançar-se que quem tinha de
guiar era a Rosa, e do conselho d'esta senhora extra-
hia sempre o Trinta a quinta essencia das suas tol-
ces! | |
À tão gracioso casal é que a expedição portugueza
ia em breve confiar os seus destimos durante semanas.
Às chuvas haviam cessado, uma virente paizagem.
se descobre á nossa vista, illuminada por brilhante
luz.
118 De Angola á contra-costa
N'esta quadra, especie de primavera para a região
de que vamos tratando, se considerarmos no movi-
mento do sol, tendo as tempestades varrido e limpo a
atmosphera, e a agua refrigerado o mundo vegetal,
este desdobra de subito, com a nova folhagem, verda-
deiras magnificencias aos olhos do viajante. O mundo
animal alegra-se por sua parte, as aves gorgeiam, as
borboletas volitam em torno das plantas e arbustos.
Ser-nos-ía muito agradavel dar aqui em rapida des-
cripção os traços caracteristicos da historia natural
d'esta zona; mfelizmente pouco poderemos dizer, por-
que quasi nada aproveitámos até esta data dos exem-
plares trazidos, e assás breve foi a nossa demora para
conseguirmos estudo de vulto, e ammda porque, com
respeito à vegetação e flora d'este districto, se parece
em tudo com o que vimos pelos outros sertões da Africa
central.
A uniformidade é o facies privativo da vegetação dos
plateaua: interiores, a ausencia de complicadas divisões
na geographia das suas plantas o mais frisante cara-
cteristico, que se podem determmar por estes tres mo-
dos de representação: o bosque denso, o matagal ou o
brejo com arbustos, como a mupa e outros, e a campi-
na vestida de gramimeas.
De Mossamedes a Zanzibar, do Gabão á emboca-
dura do Zambeze, as cousas passam-se sempre assim,
e quem, fazendo uma travessia, attentar n'ellas, verá
anda que 4 mesma uniformidade se reune estranha
correlação, e se, ao partir, deixa a euphorbia e a Adan-
sonia, para entrar com a Bauhima e as Erythrinas, e
por seu turno troca estas pela acacia e as Brachyste-
Viagem de regresso 119
gias, mais tarde, quando descer para o oriente, a flora
se lhe apresentará com as mesmas gradações, e pela
mesma ordem que a deixou ao começo da viagem.
Em todo o caso diremos superficialmente que a es-
pecie das leguminosas é muito dominante aqui, com
representações nas sub-ordens das Mimosas, Pajlio-
naceas, etc., por plantas varias como a Tephrosia vog.,
de grandes e vistosos cachos, e outras do genero Ce-
selspina, e anda bastas acacias, etc.
Os generos Bubiaceas e Combretaceas têem a sua re-
presentação nos enormes mwmoés, e outros, ao passo
que as Malvaceas apresentam gigantes exemplares,
como o Eriodendron, o bao-bab, e tantos que não veri-
ficámos.
Entre as Rosaceas citaremos mais uma vez a cele-
brada arvore da nocha, Parinarium mobola, e das Lilia-
“ceas, algumas do genero Methonica superba, trepadeira
de bellas flores rutilantes, de fundo amarello oiro, e
outras do Scilla com suas espigas, e ainda algumas do
genero Aspargus, etc.
Commelynaceas, azues, roxas e brancas, com a flor
implantada n'um spatha, são vulgares, bem como se
pisam com frequencia Zingiberaceas rasteiras.
— Uma saudade branca forra os campos, e tambem
Aloes e Agaves diversas constituem pelo geral aquillo
que mais nos chama a attenção.
Essa soberba euphorbia candelabro, talhada á gui-
sa do cactus americano, ostenta-se em grande quan-
tidade; mas, facto notavel, e para o qual carecemos
explicação, jamais a vimos na planicie, e apenas cresce
e medra nas grandes habitações de termites.
-
40) De Angola á contra-costa
Póde o viajante percorrer muitas leguas em pro-
cura destas euphorbias na planura, que desde já lhe
afiançâmos que nenhuma encontrará. À causa deste
facto escapou ao nosso exame. |
De palmeiras ha poucas especies; para o oriente
vêem-se Hyphoenes, entre as quaes a caracteristica Ven-
tricosa; uma sorte de Borassus tambem é vulgar, assim
como nos alagamentos as Phoenix estão representadas
por arvore similhante á tamareira selvagem, natural-
mente a Phoenix spinosa.
É de crer que as Paphias se encontrem no Lufira
e Lualaba inferiores, pois abunda para essas bandas
o malufo; entretanto não podemos garantir que sob
nossa vista caísse qualquer exemplar.
Em resumo as grammeas têem aqui bom numero
de representantes, desde as que figuram na flora eco-
nomica, como por exemplo o Penisetum, até ao Arundo
phr. da margem dos rios.
Do reino animal que poderemos dizer? É grande a
variedade de exemplares que se encontram, e mui
longa seria a sua enumeração.
O primeiro, assás frequente nas matas do oeste,
sobretudo proximo do Lualaba, é o elephante. Abun-
da em tal quantidade este quadrupede, que obtéem
sempre resultado todas as tentativas de caça feitas
n'aquelle sertão. Raro é o sobeta de vulto que não
possua no seu quarto e em cima de uma mutalla* al-
gumas duzias de pontas, assim como rara é a partida
1 Mutalla, especie de prateleira entretecida de paus, e suspensa em
quatro ou seis forquilhas verticaes.
Viagem de regresso NA!
de caçadores que, após dez ou quinze dias de pesqui-
za, não consiga abater dois ou tres d'estes animaes.
Um dos nossos rapazes, portador do Abbad, na tar-
de do terceiro dia de marcha, havendo-se afastado do
quilombo em procura de mel, deu de frente com um
que, dizia elle, quasi lhe rastejára com a tromba pelo
lombo. À vinheta do começo d'este capitulo dá idéa
de similhante scena.
O elephante, cujo habitat dia a dia se restrmge, onde
hoje com certeza mais se encontra é na zona que vae
- do alto Zambeze ao Nyassa, sendo objecto de activa
procura.
Os caçadores de Musiri, principalmente, percorrem
de contínuo estes matos em busca de marfim para o
seu senhor, deixando poucas vezes de voltar carrega-
dos delle, e fazendo ao pachyderme tão encarniçada
guerra, que breve virá talvez a data da sua completa
extincção.
E já que do elephante temos fallado mais de uma
vez, não deixaremos de lhe dedicar aqui duas linhas,
embora a similhante respeito se tenha escripto muito
em diversas obras.
O elephante africano é um animal verdadeiramente
respeitavel. Ao vel-o, grave e silencioso, arrastando a
sua enorme massa por meio das florestas, tromba recur-
vada, orelhas em movimento alternado de descanso e
de attenção, sempre cauteloso, suspendendo ao menor
ruido para escutar ou prevenir o bando, fugimdo á
menor suspeita de perigo, para derruir em seu cami-
nho quanto lhe sirva de obstaculo, nenhum viajante
deixa de impressionar-se.
122 De Angola á contra-costa
Tal quadrupede é um exagero que não parece per-
tencer ao nosso seculo, e nada conforme com o cres-
cimento da actual vegetação, pois amesquinha o arvo-
redo em redor, quando apparece entre elle.
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TYPO MU-IEQUE
Segundo photographia
As crescidas mimosas do planalto, que o pachyder-
me tanto aprecia, são verdadeiros arbustos, se as com-
pararmos com as alentadas proporções do gigantesco
quadrupede.
Viagem de regresso 123
—Mette respeito este bicho, senhores, exclamava
Antonio, o caçador, quando pela primeira vez no Lua-
laba se viu de improviso em frente de um d'aquelles
enormes vultos.
E tinha rasão o rapaz, porque, quando ferido e
iracundo, tromba alevantada, a curta cauda á guisa
de vassoura erguida, impõe mais do que respeito; faz
medo, é imponente!
Nós, que o vimos muita vez de perto e até nos pho-
tographámos n'elle sentados, como se mostra na gra-
vura junta, jamais deixámos de experimentar pavor,
arrepio subito, inexplicavel, como aquelle que sente o
homem em presença de um perigo, conhecendo ser im-
possivel evital-o! |
E a final não é tão perigoso como a principio póde
suppor-se, salvo circumstancias especiaes.
“O elephante africano, escusado é dizel-o, differe do
mdiano, não só na fórma como nos habitos.
Um viajante, mais entendido em similhante assum-
pto do que nós, diz:
«Divergem os elephantes dos dois continentes por
tres distincções peculiares. O dorso do elephante afri-
cano é concavo, o do indiano convexo; a orelha V'aquel-
le enorme, cobrindo a espadua quando voltada para
traz, emquanto que a da variedade indiana é compa-
rativamente pequena.
«À fronte do elephante africano é convexa, a parte
superior do craneo derivando para traz com rapida
melinação, emquanto que a cabeça do indiano apre-
senta uma superficie achatada logo acima da tromba.
O tamanho medio do elephante do grande continente
124 De Angola á contra-costa
excede o da India, sendo as femeas africanas em geral -
do tamanho dos machos de Ceylão.
«Pelos seus habitos os dois parecem differir tam-
bem.
«Em Ceylão o elephante vive na floresta durante o
dia, saíndo só para a planura ao caír da tarde, em-
quanto que em Africa este divaga pelas grandes pla- -
nuras á hora do calor, só por acaso fugindo aos ardores
do sol, para se approximar da agua.»
O seu modo de viver não nos parece seja bem co-
nhecido; alem d'isso os exageros dos indigenas quando
se trata de elephantes são taes, que se lhes não póde
dar credito.
Habita no mais denso das florestas, alimentando-se
das pontas das mimosas e da casca de raizes.
Para isso tem que revirar as arvores, a fim de attin-
gir a parte mais elevada, e isso faz elle com a maior
facilidade.
Escolhida a planta que pretende aproveitar, lança-
lhe a tromba á parte superior do tronco, puxando.
A este abalo em geral, estoura a raiz e a arvore
cáe. Se, porém, não cede inteiramente a este esforço,
vindo bater com a ramagem em terra, o pachyderme
baixa a cabeça, e, mettendo uma defensa por entre as
raizes, fal-as rebentar ao impulso da sua poderosa ala-.
vanca.
O elephante emprega sempre o dente esquerdo, e
assim se explica a circumstancia de, ao vel-o de perfil,
apresentar mais caída este do que o outro.
E, circumstancia estranha, é tambem para a esquerda
que vira a tromba no acto de apanhar; e por isso os
Viagem de regresso 125
mdigenas recommendam que, quando alguem de perto
seja perseguido pelo dito animal, corra para o lado
direito. |
A destruição operada em poucas horas por um ban-
do de elephantes n'uma floresta é realmente extraordi-
naria. De noite o ruido é espantoso, tendo nós occa-
são de o testemunhar pela primeira vez na margem
direita do Cabompo, onde mais de cincoenta pachy-
dermes andaram toda a noite a uma milha do nosso
campo, que não podiam descobrir por estar no fundo
de um valle, a sotavento delles.
Centenas de arvores no dia segumte jaziam no solo,
umas partidas, outras com grandes rachas, cobrindo
com suas ramagens as pégadas do maior dos mammi-
feros, parecendo mais destroço operado por formida-
vel tempestade, do que obra de um grupo de animaes.
“Algumas observámos nós com 4 e 5 palmos de cir-
cumferencia de tronco, não só reviradas, mas fendi-
das pelo meio.
Em bandos de vinte, trinta e mais, marcham cau-
telosos, sobretudo quando procuram a agua, o que em.
geral succede pela noite, indo quasi sempre um macho
na frente, para explorar o campo.
As femeas são timidas e menos pre videntes quando
andam com os filhos, talvez porque, muito extremosas,
estes lhes absorvam todos os desvelos, dament o -as es-
quecer os perigos.
As crias são para o elephante um objecto do mais
serio cuidado. |
Assim, não é raro ver as mães rolarem na lama e
estregarém-se nos filhos, ou, tomando com a tromba
126 De Angola à contra-costa
porções do mesmo lodo, distribuir-lh"o pela pelle para
assim os defenderem da acção do sol e dos ataques de
parasitas. E
Sempre que um rio caudaloso tem de ser transpos-
to, machos e femeas collocam-se em limha, de uma a
outra margem, e formam uma como que barreira para
moderar o impeto das aguas, ao abrigo da qual passam
os filhos. Em summa, este vivente é de todos os habi-
tadores do mato o mais presentido; em geral custa
ao caçador approximar-se delle, tendo de lhe seguir a
trilhada, e, ao sentil-o perto, desviar-se a sotavento,
evitando todos os ruidos.
Ao menor barulho, escapa-se.
Habitualmente, antes do bando observa-se um ma-
cho, que de tromba no ar perseruta quanto o rodeia,
farejando quaesquer eventualidades, para fazer, sendo
necessario, o signal de alarme.
Poucas vezes se encontra o elephante solitario como
o rhinoceronte, e só excepcionalmente e em idade mui-
to avançada póde dar-se esse facto. |
Como remate, diremos que, chegado à vista, não
tem o caçador nenhuma difficuldade em matal-o, pois,
apontando justamente ao rebordo imferior da orelha,
com uma carabina raiada de doze, póde sueceder vel-o
oscillar após a detonação, e acercando-se de vigorosa
arvore, apoiar-se n'ella, para pouco depois caír exani-
me em terra.
Depois do elephante, temos a notar, nas ditas ter-
ras, O leão, encontrando-se em grande quantidade os
dois typos—do Nyassa, sem juba, o coroado do Cabo,
sendo raro o terceiro, escuro. |
Viagem de regresso 127
Este ultimo é comtudo menos frequente, ao que pa-
rece, attingindo em idade adiantada proporções ex-
traordinarias.
D'essa especie nos deu Musiri uma pelle tamanha,
que um rapaz quasi não podia com o peso.
Insigne caçador, os destroços por elle feitos obser-
vam-se por toda a parte, dirigimdo de preferencia os
seus ataques aos bandos de elands.
Promiscuamente encontram-se leopardos, hyenas,
Hyena crocuta, cremos que lobos !, bem como varieda-
des de gatos bravos, talvez o Feha caracal e o F. ser-
val, a Viverra (?), genettas, etc., e ainda numerosos re-
ptis, entre os quaes figuram cobras venenosas, como a
Echidna, de que matámos varios exemplares, e outras.
Nos alagamentos e margens dos grandes rios vimos
um animal em tudo similhante ao Aulacode swindérien,
talvez o mesmo de que falla Schweinfurth; nas pla-
nuras e matas abundam antilopes que seria extenso
enumerar. De uma femea do Unjiri, que abatemos
então, damos o desenho.
Tambem se vêem muitos insectos, entre elles alguns
bastante perigosos. Assim, houve em Bunqueia ardua
tarefa para acabar com os escorpiões, que de toda a
banda appareciam em redor do campo, ou debaixo das
pedras e ainda na lenha.
Logo à chegada, um homem foi perigosamente pi-
cado, bem como nós mesmo, por um muito pequeno,
que se mtroduzíra na mala da roupa. Alem deste ve-
nenoso msecto apparece outro, não menos incommodo
1 À existencia dos lobos é duvidosa aqui.
128 De Angola á contra-costa
pela mordedura, cuja acção sobre o homem chega a
attingir graves proporções.
E um myriapode castanho escuro, de 0,08 e 0,10 de
comprido, que os portuguezes sertanejos denominam
piolho de cobra, e se encontra por toda a Garanganja.
Os lepidopeteros abundam em quantidade tal, que
cobrem os logares humidos e pantanosos, assim como
varios orthopteros e dipteros mordazes. |
Entre as aves existe uma que os mdigenas denomi-
nam Kincondja, notavel pelo odio ao milhafre.
Preta, pequena, do volume de um pardal, quando
muito, juntam-se em grupos de tres ou quatro, e de tal
modo o affligem com as picadas, que o afugentam ater-
rado. À sciencia conhece-o por Dicrurus divaricatus.
Proseguindo por entre os matagaes que marginam
“o caminho, chegámos novamente á vista da cordilhei-
ra que pelo occidente determma a bacia do Lufira,
onde, segundo todas as mdicações, abunda o cobre,
e pouco adiante acampámos junto a Kalabi.
Desde o principio da nossa marcha por esta zona
chamou a nossa attenção a diferença grande que exis-
te nas longitudes, e sobretudo as da região lacustre
central.
Exprimiam-se os imdigenas com respeito ao Lua-
pula e lago Bemba em termos taes, quando inquiridos
da sua distancia, que ficavamos admirados pelo afas-
tamento d'elles do logar onde acampára a expedição.
O mesmo Lufira e toda a hydrographia relativa es-
tava já por nós deslocada de meio grau para leste, o que
nos trazia apprehensivos pela possibilidade de um er-
ro nos Chronometros. |
Viagem de regresso 129
Como rectifical-os, porém? Junto ao rio Cabáco fi-
cára-nos a mala dos mstrumentos, e com ella uma es-
plendida luneta de Cazella que possuiamos, perdendo
assim toda a idéa de possivel observação dos satelli-
tes de Jupiter.
A luneta de Abbad foi experimentada, mas com ella
nada podia fazer-se perfeito, pois, sendo de reduzida
abertura, quasi não separava os pequenos astros do
corpo do planeta. |
UNJIRI (femea)
Segundo um croquis
Só tinhamos, pois, como ultimo recurso, as obser-
vações de distancias lunares.
Este genero de trabalhos, caro leitor, de que tantos
viajantes se vangloriam, é, quanto a nós (homens do
mar e affeitos ha muitos annos a observações), de im-
possivel pratica no sertão ou a bordo, emquanto se
não usarem outros instrumentos.
Recorrer a distancias para regular chronometros, e
ufanar-se disso em livros de caracter scientifico, é
muito abuso da boa fé de quem as desconhece ou
ignorancia completa do que significam.
VOL. TI. 9
1350 De Angola á contra-costa
Assim, por exemplo, junto ao Luapula, mais tarde,
e para distrahir, propozemo-nos observar quarenta
grupos de distancias, empregando para isso dois sex-
tantes nas ditas distancias e alturas da lua, e o Abbad
na altura do sol.
Pois bem, calculadas que foram as primeiras dez,
notámos precisamente que differiam pelo geral como
média de meio grau umas das outras.
E meio grau! cem a cento e vinte segundos de
tempo é mais que sufficiente para endoidecer quem
por ellas quizesse regular os seus chronometros, bem
como o bastante para confundir toda a geographia de
uma região.
N'ºestas circumstancias, pois, assentou-se por me-
lhor não bulix em cousa alguma, e deixar correr as
longitudes assim até á costa oriental, tranquillisando-
nos tambem pela idéa da possibilidade de haver exa-
gero para o oeste nas ditas longitudes da região lacus-
tre, pois foram determinadas por estima, e o viajante
calcula ou suppõe sempre a sua marcha mais extensa
do que é effectivamente.
Largando as minas de Kalabi, após uma noite de
tempestade, que poz tudo a nado na barraca, é tendo
feito as despedidas offerecendo certo presente à sua
possuidora, seguimos caminho de Tacata, com o guia
e sua cara metade, que ali nos aguardavam.
Com longa espmgarda raiuna ao hombro e compl-
cada bagagem de cestos, saccos e muhambas, o nosso
esguio companheiro, sempre na frente e seguido da
sua Rosa, ía radiante, fazendo ver aqui o atalho e atra-
vessando raminhos n'aquelles que não nos convinham.
1
Viagem de regresso 131
— E um bello guia, dizia-nos André, esperto cabinda
que comnosco já fizera a viagem a lácca; conhece os
trilhos e tem bom feitiço para elles; vae d'aqui como
am fuso direito a Moçambique.
Casualmente, e ao termo do periodo que completa
um dia, perdeu de subito e pela primeira vez o cami-
nho!
Embrenhando-nos nos matos, tratámos de cortar ao
rumo da agulha em direcção a Tacata, suspeitando
desde logo que não iriamos, segundo André julgava,
direitos a Moçambique, e que o fuso era mais torto do
que elle se persuadia.
Porneando morros e cerros, apesar das imstancias
do nosso guia, que teimava em dizer que o trilho ficára
para a banda do nascente, e para ahi queria partir,
prolongámos a lmha para susudoeste, e a 5 de dezem-
bro descobrimos de novo o caminho com grande es-
-panto seu.
Dionysio, um rapaz de Benguella, que nós a todo o
momento de crise mandavamos pelos matos de macha-
do em punho para marcar as arvores por onde ía pas-
sando, signaes que depois a expedição seguia e mais
de uma vez nos salvára, começou a chasquear do Trinta,
dizendo que, entre muitas cousas d'este ignoradas, fi-
guravam algumas bem triviaes, como, por exemplo,
ser elle redondamente pateta! |
É este atilado raciocinio, calando no espirito de mui-
tos, começou desde logo a diminuir a confiança que
n'elle tinham.
— Veremos, volvia André, talvez que mais adiante
venha a ganhar esperto!
132 De Angola á contra-costa
Depois de uma jornada excedente a vinte e quatro
horas, démos vista do nosso acampamento em acata,
e a 6 de dezembro, pelas dez da manhã, mstallavamo-
nos de novo entre os nossos.
Que differenças se haviam operado nos vinte dias
da digressão, em todos os companheiros de trabalhos,
e quão diverso se fizera o seu aspecto n'esse curto la-
pso de tempo!
Onde estavam esses receios e medos, essas figuras
emmagrecidas e alquebradas, fitando tudo com olhar
desvairado, e parecendo a todos os instantes pedirem
sete palmos de terra para dormir em paz o somno
eterno?
Já ninguem pensava em Lualabas, florestas e fomes,
disputando a cada momento as minimas parcellas de
carne; a esses quadros de tristeza e desolação que
atraz pintâmos, succediam-se agora outros risonhos e
cheios de vida.
Durante o dia transformava-se o quilombo n'um
mercado, onde farinhas, legumes, aves, peixes, tudo gi-
rava e apparecia com profusão, espalhando o conforto
e o contorno das fórmas por esses organismos e corpos
já tão mudados.
Pela tarde cozimhava-se e comia-se á larga; ao anoi-
tecer, accesas as fogueiras, vinham os bombos e marim-
bas arranjados para a occasião, e postas em fileiras
as panellas de pombé, principiavam-se dansas ao som
de córos alegres e ruidosos.
Os homens das florestas do oeste tinham desappare-
cido, como que por magica operação, para darem logar,
assim se nos afigurava, à outros novos, robustos e ne-
Viagem de | regresso 133
dios, que despreoceupados se entretinham com os fol-
gares.
É que o negro, assim como cáe rapidamente exhausto
de forças quando lhe falta o regular sustento, sobre-
tudo o vegetal, tambem arriba depressa; e o homem
que amda hontem, magro, esqueletico, com o ventre
eprimido, parecia prestes a succumbir, podeis vel-o,
uma semana depois, gordo e bello, se for alimentado
do modo preciso.
No emtanto novos trabalhos e fadigas se prepara-
vam, em que a vida e a tenacidade de muitos seria
submettida novamente á prova.
CAPIPULO: XXIII
IGNOTA REGIÃO
À guerra de Caponda e juizo de N"Tenque sobre as terras do nascente
— Suas instancias e nossa decisão — Despedida do regulo e jornada para
o Lufira—Construe-se uma ponte à gentilica-—Traços geraes do rio —
O sal do mato — Aspecto das terras de alem —O dia de Natal e a perda
da comitiva nos bosques — Duvidas de Trinta, que desconhece o caminho
— O que se passava então pela Europa, e o que ía pelo acampamento —
Terra phosphorescente — Ao rumo da agulha e um quadro de partida
Trilho inesperado — Por algum lado haviamos de sair —Concerto de
roncos e estranha descoberta de André, o cabinda — Dois indigenas ap-
parecem, e nós volvemos costas ao norte — Subito encontro com deze-
sete elephantes — Antonio caça um d'elles — Extracto do diario — Morte
do animal e seu peso— Homens e feras, todos comem — Macaco surpre-
“ hendido— Um velho leão visita pela noite o acampamento — As hyenas e
suas proezas — Esquarteja-se o elephante—Os vermes das carotidas —
Regosijo de Antonio e scenas da noite—Duas photographias— A geo-
graphia e a geologia d'aqui— Terras terciarias e quaternarias, bem como
a evidencia do carvão n'aquellas— À flora e fauna.
vá di
Bor
ESQUADRINHANDO O VALLE DO LUFIRA
N'Tenque insistia em que não partissemos para leste,
onde de certo iriamos encontrar graves obstaculos, se
não a perda total da caravana, por terem sido devas-
tadas aquellas regiões pela guerra de Caponda.
Nada existe por ali de comer, afiançava elle: estão
fechados todos os caminhos n'essa direcção; em sum-
ma, nem um só homem apparecerá para vos servir de
guia no meio dos desertos.
138 De Angola á contras cota
O melhor partido, segundo opinava, era deixarmos
o rumo do oriente, e, cortando ao sul pelos campos de
Muli-Ma-n'zovo, seu cunhado, procurar então a passa-
gem para a nossa terra.
Infelizmente, porém, este plano não podiamos ae-
ceital-o, porque nos levaria mais rapidamente do que
queriamos para o sul, privando-nos de ver aquillo que
mais nos interessava, o Luapula, e, se tanto fosse pos-
sivel, a sua saída do lago.
Reagimdo pois contra as mdicações do regulo, come-
cámos pelo mez adiante a preparar as cousas, decidi-
dos, custasse o que custasse, a seguir pelo meio da terra
da Katanga, e, transpondo-a, beber das aguas do lago
Bemba.
Faltavam lá mantimentos, diziam todos. Para re-
mediar 1sso ordenámos a confecção de grande numero
de saccos, com o entrecasco da mupanda, a fim de os
encher de legumes e milho, que vinte e dois homens
transportariam a rasão de 60 libras cada um, o que
perfazia um total de 1:520 libras, ou 2 libras diarias
para setenta pessoas, que eramos ao tempo, propor-
cionando-nos assim dez dias de recursos, embora es-
"a SSos.
Completos e cheios os saccos, fizemol-os transpor-
tar primeiro para a margem do Lufira, e como ahi fosse
necessario construir uma ponte, pois que o rio corria
caudaloso e levava grande volume de aguas, reunimos
n'esse local mantimentos em abundancia, a fim de não
1 "Tivemos de abandonar as colleeções de armas e os ultimos artigos de
conforto, para assim reunir este numero de individuos desembaraçados
Ioqnota regiiio | 139
gastar, durante os primeiros trabalhos, aquelles que
reservavamos para as difficuldades futuras.
Depois, acrescentavamos nós, que valem os medos
com que pretendem desviar-nos os indigenas; acaso
não temos ahi o Trinta? Sabe o caminho ao nascente
de Caponda, e em lá chegando logo o reconhecerá, po-
dendo nós mesmo marcal-o, para n'elle entrar na volta
do lago.
Certamente, era a resposta, e socegados os espiritos
com o precioso recurso de um guia, que nos garantiu
ser suficiente pol-o em Caponda, para nos mostrar o
caminho para a Muxinga (serra), e ainda seguros da re-
tirada, aprestâmos tudo, e a 22 de dezembro, depois
de feitas as despedidas a Moi-N”Tenque, e de lhe en-
tregarmos uma bandeira e uma carta em agradeci-
mento ao modo benevolo como nos tratára, partimos
* para a margem do Lufira.
Era tempo, emcoenta e tres dias havia que parte da
expedição estava ali ociosa, comendo, dormindo e dan-
- sando, sem outro pensamento mais do que continuar
n'esta laboriosa tarefa, cujo fim não se conseguiu sem
vermos annuviarem-se muitos rostos.
Nada melhor do que viver no quilombo, parecia a
geral opmião, e, dlomimados pelos attractivos de uma
vida de mandriice, mostravam-se dispostos a ficar ah
para sempre no coração do continente.
Esquadrimhando o valle do Lufira, que corre aqui
norte-sul, em leito fundo, pittoresco, bem vestido de
verde na margem, ao largo de denso bosque, achámos
alfim, fronteiro a uma libata abandonada, um logar
onde duas grandes arvores frondosas nos garantiam
140 De Angola á contra-costa
a possibilidade de na quéda se enlaçarem sobre a agua,
fornecendo os primeiros elementos para uma ponte
yustica.
Doze homens de machados na bôca passaram logo o
rio a nado para a outra margem, e, jogando-se áquella
de lá, pegaram de atacal-a, emquanto nós começámos
a cortar a d'esta banda.
Longas horas levam estas fainas, por serem pe-
quenas as machadinhas, espessas e duras as madeiras
das rubiaceas e outras plantas que fornecem os paus
para esta sorte de construcções, só tirando d'ellas van-
tagem á força de repetidos golpes.
Finalmente tudo se fez, e em logar de irem, como
muitas vezes acontece, rio abaixo as arvores que pri-
meiro cem, estas, entrelaçando os ramos ao tombarem,
ficaram à superficie da agua.
Vindo depois 4 floresta, começaram todos a cortar
paus delgados e longos para prumos e estacas, e no
espaço de dois dias estava prompta a ponte para per-
muttir passagem 4 expedição portugueza.
O Lufira é um rio muito fallado n'este sertão, não
só pelo volume de agua que arrasta, e atravessar a zona
mimeira, como pela exploração do sal que se opera nas
suas margens.
Mais ao norte do sitio onde nos achavamos, exis-
tem uns amplos plamos, que o rio alaga nas chuvas,
e na secca ficando a descoberto, se enchem de ef-
florescencias salmas. Ahi vão os naturaes colher estes
depositos, que, por estarem misturados de terra e areia,
elles depuram por meio de lavagem e consequente eva-
poração em grandes panellas.
Ignota requio 141
Mettido depois o sal em umas muchas, com a fórma
de cylindro estrangulado a meia altura, envolvem-no
em folhas, e assim o levam para consumo.
Foi d'este que sempre usámos, desde o Lualaba,
onde ficou a ultima caixa de rancho, e com ella tam-
bem os ultimos pacotes de sal refinado.
O tabaco do mato em pilhas cylindricas, e de or-
dinario em fermentação, encontra-se tambem aqui em
abundancia e delle fizemos compra para nosso uso,
pois outro não conheciamos desde o Cuando, visto
que, por escassear no primeiro quartel da viagem,
tivemos de ceder todo o birds-eye que guardavamos
em favor dos nossos companheiros mdigenas.
A 24 de dezembro transpozemos o rio, acampando
na margem direita sob uma chuva torrencial.
Entráramos n'um paiz inteiramente novo, virgem,
como aquelle d'onde vinhamos, de pégada de europeus,
e em que a cada passo havia, por assim dizer, uma
noção nova a adquirir.
Era propriamente a Katanga, paiz limitrophe do
antigo remo de M"Panda, hoje Kazembe, fundado no
seculo xvi por um dos Muropues.
O seu aspecto severamente selvagem resaltára-nos
à primeira vista; as adustas florestas que o cobrem,
enfeitadas de trepadeiras e cryptogamicas, recorda-
vam-nos sombrios esconderijos lá para o centro, antros
de mysterios, onde o viver é um segredo distante da
delação.
Quadros estranhos estes, cuja força attractiva está
na rasão da importancia do sigillo, e que fascinam
sempre, mesmo os habituados ás selvas.
142 De Angola á contra-costa
Lá dentro que plantas, arvores, animaes ou outras
raridades existiriam? A phantasia encarregou-se logo
de crear matas e brenhas, semeadas nas clareiras de
lagoas, onde elephantes se deleitavam banhando-se,
ao passo que indolentes crocodilos, estirando na areia
todo o seu comprimento, viam mdifferentes esta scena,
e perfidos, sedentos, se arremeçavam sobre timidos an-
tilopes.
É este fervilhar de scenas desconhecidas e attrahen-
tes enredava-nos, porque, em verdade, quem não sente
o prurido da curiosidade 4 lembrança de surprehen-:
der um rhmoceronte no seu petit lever, ou de contem-
plar um casal elephantico em devaneio amoroso pelos
bosques?
(Quando alvoreceu o dia de Natal do anno de 1884,
ergueu-se a expedição portugueza para metter a ca-
minho por um atalho, que Trinta afiançou convir e lhe
tóra indicado por um indigena seu amigo.
Lestos e bem dispostos avançámos a um rumo que
devia approximadamente correr a les-sueste, patinhan-
do a agua depositada sobre o solo impermeavel.
O paiz é plano a principio, e o nosso guia Impavi-
do, olhando ora para a direita ora para a esquerda,
seguia por elle, como se de ha muito o conhecesse.
Pouco a pouco as cousas mudaram de aspecto. À
direcção, a primcipio les-sueste, desviou-se para nor-
deste e seguidamente ao norte.
O Trinta detimha-se a miudo, e, contemplando Rosa,
reflectia alguns momentos, ora fitando-a, ora no que
“o rodejiava, para em seguida encetar de novo a mar-
cha.
Ignota regriio 143
Então a trilhada, até ali claramente assente, come-
cava de mterromper-se, umas vezes por numerosas pé-
- gadas de antilopes, outras pela vegetação que a cobria,
e logo elle de novo suspende, arreia a carga, e de arma
ao hombro parte para um lado e outro à procura do
quer que seja; encarando a miudo a Rosmha, que, com-
prehendendo a rascada, lhe responde com suspiros.
— Principia a entortar-se o fuso, André, o homem
já anda ás aranhas, diziamos nós.
— Verdade, senhor, replicava elle, o homem pareceu
não sabeu caminho de Moçambique!
Com effeito assim era, o guia ignorava o do Lua-
pula, quanto mais o de Moçambique! Pela hora e
meia da tarde perdeu-se totalmente, dando comnosco.
no meio de um matagal alagadiço, cercado de bos-
ques verde-negros, onde nos entregou, à imagem e
similhança de chefe de gabmete que sáe do poder, as
redeas do governo e os ossos do festim, para d'elles fa-
zermos o que nos aprouvesse!
Ao cair da tarde d'esse memoravel dia de Natal a
expedição portugueza achava-se perdida no sertão da
Katanga, mal acampada junto a um morro, zurzida
de prumo pela mais furiosa trovoada de tal quadra,
e, desde esse dia até Moçambique, nunca mais o pobre
Trinta tornou a encontrar o seu celebre caminho, nem
forneceu mdicação que aproveitasse.
Eis as palavras do diario n'essa .conjunctura:
« Nefasto dia o de hoje, e triste idéa a de trazer por
guia o Trinta, ou ter-se confiado m'elle. Chove a tor-
rentes, ribomba o trovão, emquanto nós, acocorados
na barraca, rabiscâmos estas linhas, recordando o baru-
144 De Angola á contra-costa
lho e alegria que a esta hora lavra por todo o orbe
catholico.
«Lautas mesas cheias de iguarias appeteciveis, que
com seus fumos embaciam os crystaes pelo meio es-
palhados profusamente, circumdadas de familias, que
alegres fallam e gesticulam, riem e se entresaudam,
esquecendo em doce convivio o rude labutar da vida;
é o quadro que se nos afigura, e tão radiante de feli-
cidade, que cáe de geito para melhor contraste com a
amargura da nossa situação.
«Ao salão iluminado, contrapõe o ironico acaso o aqui
a cubata de palha; ao tepido e aromatico ambiente,
uma toca alagadiça repleta de humidade e fumo dos
madeiros molhados que ardem; aos lustres e candela-
bros, uma cabaça partida com um morrão meio Impre-
gnado em azeite de ginguba; aos convivas alegres
servidos por creados de gravata, os vultos esguios e
tetricos de dois homens, no centro de negros quasi
nús e cuja esperança é prestar algum serviço à scien-
cla; às mesas, emfim, vergando sob o peso de iguarias,
um prato de feijão cozido, louvor de Deus, uma unica
lata de peixe e outra de insonsas salchichas, para este
dia especialmente guardadas!
«Uma pouca de farinha do sorgho de mfusão em
agua foi no remate o nosso Champagne, com o qual
brindámos aos ausentes, convencidos de que, se o sou-
bessem, lhes seria grata a lembrança, mas nunca a pos-
sibilidade de se tornarem presentes!
« Estamos irremessivelmente perdidos, segundo cre-
mos, € começam a realisar-se os agouros de N”"Pen-
que, ácerca das difficuldades a encontrar por esta terra.
Ignota região | 145
«Amanhã teremos que romper a machado e ao ru-
mo da agulha através desses matos, sendo certo que
até ao exarar estas linhas não decidimos bem qual a
direcção mais conveniente a seguir.
CABEÇA DE QUIHUNO
Segundo photographia
« Como saber se ha algum atalho por estes bosques
e a que direcção corre? Se o suspeitassemos cortaria-
mos na perpendicular, mas infelizmente ignorâmol-o.
« Um facto estranho é a phosphorescencia do solo
argilloso, que em toda a parte scimtilla, perturbando a
vista.
«Devida não sabemos a que circumstancia (pois
chegámos a presumir serem insectos da familia dos
VOL, 1I. 10
146 De Angola á contra-costa
Lampyrides, que originavam taes clarões, depois uma
sorte de Pholades, typo novo, que minava a argilla, e
apparecendo à superficie produzia o phenomeno em
questão), apenas assegurâmos estar o terreno coberto
de pontos luminosos, e que, tentando trazel-os a obser-
vação, colhemos, ora pequenos pedaços de pau, ora
fragmentos de folhas, ora outros differentes artigos en-
volvidos em ardencia.»
Acabrunhados pelas impressões da noite anteceden-
te, erguemo-nos mal dispostos.
A manhã contmua nublada e fria, ameaçando chuva.
O horisonte, coberto por uma espessa barra de nimbus,
aperta-nos em estreito campo.
Pelo ar correm grossos cumulos, trazendo comsigo
umas aragens frigidas e desagradaveis, que rumorejam
pelo arvoredo e nos enregelam até aos ossos. O chão
de argilla e alagadiço torna-se escorregadio, cedendo
debaixo dos pés; os fatos, impregnados de humidade,
aconchegam-se pouco confortavelmente ao corpo.
Dada a voz de leva arriba partimos, seguindo a di-
recção de leste verdadeiro.
Uma linha de morros nos acompanha o camimho
pela esquerda, que nós breve deixâmos a perder de
vista no noroeste. Por vezes planuras limpas, mterca-
lam com os macissos de mais denso arvoredo, vestidas
de grammeas de infinitas qualidades e cores.
N'ellas apenas cortam a monotonia as habitações
das termites, que dispersas similham colossaes pyra-
mides, mtervalladas aqui e alem por um bouquet de
acacias, que à camada superficial se ligam por tortas
e nodosas raizes.
Ignota região Pam
Alguns borassus elegantes agitam dispersos as suas
palmas acima dos capins, similhando enormes venta-
rolas, movidas por mão oceulta.
O sol prmcipia a descobrir, e, varrendo com o seu
feixe multicolor tão gigante paizagem, fal-a passar por
taes gradações de côr e de aspecto, que deslumbra
quem as presenceia, e dissipa a nuvem de cacimba
que rasa a terra.
Milhares de lindas aves empoleiradas sobre as bri-
lhantes cupulas dos ramos superiores que o astro rei
ilumina, entoam em gorgeios: verdadeiro hymno de
alegria, que uma especie de mandrill e outros macacos
se encarregam de interromper com os seus gritos es-
tridentes, dispersando-as assustadas. Os grandes feli-
nos erguem-se, soltando surdos grunhidos; mnumera-
veis msectos enxameiam, chiam, esvoaçam; rumoreja
o arvoredo com os primeiros sopros, e ali, onde o geo-
erapho contemporaneo deixa nas cartas um campo
sem indicações, a natureza opulenta e rica corre, salta,
vivendo alegre e primitiva.
Pelas doze horas, como fossemos abrindo passagem
por entre troncos e ramagens, viram de subito os da
vanguarda um largo trilho, que mfelizmente se dirigia
ao norte. |
Não muito bem dispostos, resolvemos, comtudo, se-
guir por elle, na esperança de encontrar alguem que
nos gulasse ou desse mformações quanto á melhor fór-
ma de fazer a viagem para o Luapula.
Proseguindo durante todo o dia, entre trilhadas de
elephantes, acampámos ao anoitecer, sem mdicios de
cente em parte alguma, descobrindo apenas as péga-
148 De Angola á contra-costa
das de dois homens, que na vespera por certo tinham
passado em sentido opposto ao nosso.
Pela noite concordámos em continuar para diante
no mesmo rumo, embora elle não conviesse, e, sor-
vendo uma chavena de chá, envolvemo-nos em gabões,
deitando-nos descansados.
Para algum lado haveria saída, eis o remate, e se
não for para Moçambique, será pelo Kasembe para o
Panganyka e Zanzibar, ou para o Bemba, Nyassa e
Rovuma, e como de ha muito andavamos habituados a
correr matos à solta, adormecemos mais tranquillos do
que qualquer caçador imdigena affeito a selvas.
Pelo escuro acordavamos a miudo aos estrondos e
urros que saíam dos bosques circumvizinhos, prova
evidente da presença de elephantes, hyenas e outros
animaes de similhante jaez, e logo que o sol se mos-
trou, ingeridos oito grãos de quinimo, um prato de
feijão e uma pouca de carne nadando em agua com
sal do Lufira, abalámos.
André Cabinda, n'essa noite memoravel, saíra da
cubata e, dotado de coragem muito inferior á medio-
cridade vulgar, teve ensejo de ver cousas estupendas.
Compromettendo e confundindo todas as noções
sobre o modo de viver dos elephantes, e exagerando
o que via pela optica do medo, architectou n'uma pal-
meira o gigantesco vulto de um d'estes animaes.
Claro é que em similhante altura elle só podia consi-
derar o bicho empoleirado, e permittindo-se uma pe-
quena ampliação, afiançou mesmo vel-o passeiar pelos
troncos superiores, fazendo com a tromba varios gestos
facetos!
1 quota região 149
A noticia tôra dada com imteira convicção; era evi-
dente, pois, que os elephantes dormiam pela noite, a/-
guns, empoleirados nas arvores, imcontestavel facto,
que constituia uma novidade adquirida para a sciencia!
Mas como subiam elles, e que motivo levava estes
animaes a escolher tal meio de repouso?
Eis o problema que assoberbava André, e elle mais
tarde se propunha resolver, cujo conhecimento teria
como resultado corroborar a sua asserção, acrescen-
tando aos numerosos livros escriptos sobre o elephante,
mais uma bem curiosa pagima!
Às situações pouco felizes nem sempre são duradou-
ras; assim a caravana proseguia silenciosa o caminho
para o norte, e nós já caleulavamos que um desvio por
aqueles desertos bastaria para, que em logar de attin-
gmmmos o Indico em Moçambique, só o alcançassemos
em Saadani ou Zanzibar, quando o acaso nos enviou
sobre o caminho dois mdigenas, que, ao ver-nos, fugi-
ram espavoridos!
«Cérca, agarra», foram as ordens pronunciadas, e
após um certo trabalho vieram os dois á nossa pre-
sença.
Chamado o mterprete-guia, expoz-lhes a nossa si-
tuação, obtendo a resposta, pouco lisonjeira para elle,
que nós íamos em direcção opposta, se efectivamente
pretendiamos ir para Caponda.
Feitos os ajustes e entregues umas jardas de fa-
zenda a cada um, acceitaram o guiar-nos durante tres
dias, e, dando as costas ao norte, voltámos por onde
tinhamos vindo. |
Trinta ficára attonito, nós apenas embasbacados!
150 De Angola á contra-costa
A 28 de dezembro caminhavamos socegadamente
sobre as indicações dos guias. Um sol brilhante ilhumi-
nava o orbe, risonho era o panorama que nos envolvia,
gostosa a convicção de que fam todos os estomagos
cheios.
Nós mesmo, enlevados na obra da natureza, digerta-
mos serenamente o quarto de litro de feijão que ser-
víra de almoço e tinhamo-nos atrazado em companhia
de dois moleques, para ver um bello ponto aqui, deter-
minar um azimuth alem, quando subita algazarra,
acompanhada de dezenas de denotações, nos detem es-
pantados.
«(Que é? Que foi?» Exclamámos, suppondo ataque
imprevisto, e avançando na idéa de ordenar o quer
que fosse, esbarrámos com umas figuras estranhas,
que nos obrigaram a retroceder precipitadamente. '
Dezesete elephantes vinham sobre nós, acossados
pela gente que ía na vanguarda, obrigando-nos sem
protesto a desviar para dar-lhes passagem na marcha.
Hixaremos em breves palavras o que do diario con-
sta a este respeito.
«Dia 31 de dezembro.
«Está por duas horas o velho anno de 1884, de
grata lembrança para a expedição portugueza, pois
durante elle se conseguiu resolver muitos dos proble-
mas que nos haviamos proposto, acrescendo aimda (e
é este um bem raro facto) termos, durante tal tempo,
transitado pelas mais doentias regiões, sem experimen-
tar sequer uma febre.
«Nunca exploradores africanos, a nosso ver, pode-
ram gabar-se d'isso.
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ENDERAM
PIHANTES NOS SURPREIE
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«++ DEZESETE COLLOSSAES IT
Ignota regiio JS
«Estamos em plena quadra da vida selvagem.
«Ha quatro dias que se acha a expedição acampada
neste quilombo, empregando-se na faia de esquarte-
jar um elephante.
«Antes de haverem topado comnosco os dezesete
pachydermes no dia 28, encontraram Antonio, que,
visando-os mais a geito, lhes enviou um par de balas.
«Um d'elles retrocedeu mopinadamente, deixando
os companheiros, que debandaram para o lado oppos-
to, e perseguido sem treguas, veiu alfim a acabar no
amago do bosque, a 2 kilometros de distancia.
«Ahi, embora longe da agua, tivemos de fazer o
acampamento, pois claro é que nnguem d'aqui o po-
dia arrastar para sitio mais apropriado, e lançando-se
a nossa gente a elle, levou quatro dias a reduzil-o a ti-
ras, que, collocadas sobre mútallas (paus atravessados
em forquilhas), se seccaram ao fumeiro para guardar.
«O seu peso deve approximadamente ser de 5 to-
neladas; a carne tirada já a esta hora monta a 800
kilogrammas.
«Todos comem delle, homens e feras. Assim, ante-
hontem foi mister conduzir as visceras para um valle
aqui proximo, a fim de evitar a sua presença ao come-
carem a decompor-se; pois durante toda essa noite
parecia que estavamos n'uma menagerie no momento
da refeição, tantos eram os urros das hyenas e dos
leopardos que se atiravam ao formidavel festim.
«E uma arca esta floresta, visto o grande numero
de animaes que por ella divagam.
«Um macaco foi surprehendido e apanhado esta
manhã a tiritar de frio atraz da cubata de um dos che-
152 De Angola á contra-costa
fes; um velho leão, cujo antro sem duvida está proximo,
vem fazer-nos pelo luar e mvariavelmente a sua visita
ás dez horas em ponto.
«Sentando-se a distancia, o avelhentado senhor d'es-
tes dominios, como que mostra inquirir da auctorisa-
ção que temos para aqui nos estabelecer, e soltand
dois ou tres roncos, parece aguardar impassivel un.
“resposta, deixando Antonio, o caçador, preso de uma,
nevrose, por lhe não auctorisarmos a remessa de duas
balas.
«Pela noite ninguem ousa transpor o bosque para
mr à agua, no receio de algum encontro com as feras;
a audacia das hyenas é tal que, apesar das fogueiras,
vieram ao campo na noite de hontem, roubar-nos parte
da pelle do elephante que se achava na palliçada.
«À faina de esquartejar um bicho d'estes tem sido
enorme, pois que só a machado se lhe póde extrahir é
pelle e os musculos.
«Quando cortavamos no primeiro dia as carotidas,
a fim de separar a cabeça e as defensas, jorrou de
subito o sangue, e de envolta com elle encheu-se o
solo de uns vermes, em tudo similhantes aos da pu-
trefacção, mas de muito maior volume, pois chegam
ás dimensões de uma fava, e movem-se mais rapidos.
Disseram os pretos que todos os elephantes téem estes
bichos.
«O Jantar do fim do amno constou da tromba do ele-
phante e patas do mesmo animal, iguaria que de resto
não exaltaremos, como muitas vezes temos visto fazer
pelo motivo de necessitar-se uns molares de aço, para
tirar d'ellas mediocre partido.
BRSNS
SB
N MIN W
A E
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.E ENCOSTADOS AO COLOSSO DÉ-MOS-NOS O PRAZER DE NOS PHOTOGRAPHAR.
Ignota reqão 153
«Antonio está radiante, sendo, na occasião da mor-
te do bicho, conduzido em triumpho a cavallo n'um
dos guias e depositado de pé sobre o cadaver do ani-
mal; honraria esta que lhe valeu ter de desfazer-se
de quatro jardas de algodão.
«As scenas de dia e noite no quilombo são caracte-
risticas e de aspecto selvagem, vendo-se sangue, ossos,
carne, dispersos promiscuamente em meio do geral mo-
vimento.
«Duas photographias tirámos, na intenção de as re-
produzir na Europa” e adornar a parte deseriptiva da
nossa viagem, emquanto Antonio pelo dia contmua ca-
cando gazellas, quiliunos, etc., em companhia de André
e outros, havendo a final convencido o cabinda, de que
não é facil a elephantes empoleirarem-se de noite pe-
las arvores.
«Nada de mteresse se póde dizer geographicamente
da zona em que nos achâmos. Tendo atravessado na
perpendicular varios riachos, sempre notámos que to-
dos corriam para o noroeste, affluindo portanto ao Lu-
fira, bem como tudo nos leva a crer que ao sueste de
nós deve estar a linha divisoria do Zaire-Zambeze,
attenta a Já pequenez destes, e afiançaram-nos os guias
que os de lá correm ao sul.
«O solo é aqui pela maior parte constituido por um
orés argilloso, em partes ferruginoso, semeado de ca-
lhaus de gneiss com quartzo roseo, de fragmentos de
quartzite e pedaços de crystal de esthose n'elle inclui-
dos, representando talvez pegmatites, alternando por
! Infelizmente uma d'ellas perdeu-se, a relativa ao campo.
154 De Angola á contra-costa
vezes com sehistos argillosos avermelhados (paleozoi-
cos), povoados de nodulos, hematite e limonite terrosa.
“«Um grés fino branco e incoherente affloreia a terra,
porduzmdo pelo seu desagerego a fima areia que se
observa. »
Uma suspeita notavel, e que na Europa vimos de
certa maneira confirmar-se, foi a da existencia das ter-
ras sedimentares recentes, quaternarias e terciarias
por ali. |
Assim o illustre geologo o sr. Nery Delgado, numa
Oliva subulata que trouxemos, viu a confirmação do
primeiro facto, bem como n'um molde de Mure sp. (?)
e em terra argillosa vermelha e outra côr de tabaco jul
gou respectivamente ver evidenciada a presença dos
depositos terciarios e quartenarios n'aquella zona.
Amda um exemplar digno de mencionar-se foi o do
carvão, que guardâmos de lá, e sendo reconhecido
como tal, ardeu bem e com o cheiro caracteristico.
Specimens de malachite com quartzo branco, ete.,
tambem abundam por toda a Katanga, tão afamada
pelas suas mimas de cobre.
Terminando, diremos que uma frondosa vegetação
reveste este paraizo, e se a flora é de vulto, não menos
importante a fauna se mostra, representada pelos mais
corpulentos animaes, como leões, bufalos, sobretudo
os elephantes, e ainda por aves, reptis e insectos de
variadissimas fórmas e cores.
De um quihuno ali morto damos amostra na gra-
vura atraz, em que a cannelura das hasteas, existente
só pela parte fronteira, foi pelo desenhador casual-
mente exagerada.
CAPITULO XXIV
.
TRINTA DIAS NAS SELVAS
O dia primeiro do anno e a terra de Iramba — Os ba-lamba e a fuga
dos guias — O trilho do Trinta — Cuidados a ter na marcha pelas selvas —
Os riachos transpostos nos primeiros dias e a angustia que nos dominava —
As origens do Cafué — Dois bufalos e um leão —O dia de Reis e as libatas
de Caponda— Fartos arimos e faina dos nossos— Angustias experimen-
tadas na zona montanhosa—O dia 11 de janeiro e considerações de oc-
casião —O lobo e a sua persistencia em seguir os trilhos do homem —
Sua manha e repastos— A situação do Trinta e as horas do somno—
Impressão que nos causou a terra onde estavamos —Inesperado tiroteio
ao norte do quilombo — Seria uma guerra ou uma população pacifica? —
Receios da expedição — A caminho ao romper do dia— Rasgo de valor do
Trinta —O que vimos duas horas depois — O nosso guia volve prisioneiro
e explica quanto observára —Licuco, o irmão de Musiri— Parlamenta-se—
Exigencias dos enviados e a nossa retirada para o mato—Um acampa-
mento fortificado —Tudo se resolve por fim —Notavel prestigio do euro-
peu entre as gentes do continente negro — Às minas de Kandumba e de-
Aonde ficara o trilho?
sespero de um rhinoceronte
ASPECTO DE UMA LIBATA DEVASTADA EM CAPONDA
Alvorecêra o dia primeiro do anno claro e sorriden-
te, facto de bom presagio para nós.
Apartando-nos do acampamento em que fôra esquar-
tejado o elephante, cujos ossos dispersos entre cinzas lá
ficaram marcando a nossa passagem por ali, adiantá-
mo-nos para o susueste, a fim de entrar em Iramba,
terra por onde seguia, no dizer dos guias, o antigo
trilho que conduz ao oriente.
Jramba estava pouco menos que abandonada, e após
dois dias de marcha vimos duas libatas desertas, Mus-
saca e Murenga, assentes Junto ao rio chamado Tanfi,
onde appareceu para maior consolação um bando de
ba-lamba, salteadores de feio aspecto, que quizeram
roubar-nos, e com os quaes os guias fugiram.
158 De Angola á contra-costa
A situação tornára-se similhante ás anteriores, isto
é, estavamos n'uma terra brava e ampla, deserta, que
não conheciamos, sem guias, mettidos em densa flo-
resta, faltos de farimha e feijão, mas carregados de car-
ne de elephante.
«E a terra de Caponda, e o trilho do Trinta?» di-
z1am todos.
Este andava desnorteado, afiançando á gente que
os malvados guias, por terem dois corações, o haviam
enganado, fazendo-se seus amigos, e até a propria
Rosa, no seu dizer, o lográra ludibriar, immpondo-lhe
à força tal amisade.
O facto de uma comitiva achar-se de subito no mato, '
abandonada, e sobretudo desconhecendo a disposição
da hydrographia, tem o inconveniente de correr o
risco, caso se aventure á toa, de seguir de longe os
cursos dos rios, não encontrando jamais agua.
E a fome póde em Africa supportar-se um ou dois
dias, mas a sede, é caso muito mais grave e de sé-
ria ponderação. |
Urgia portanto, em mais este angustioso transe, pro-
ceder circumspectamente, e, após largo meditar, dispor
as cousas de modo que não fossem num momento per-
didos todos os nossos esforços.
Depois de um estudo approximado d'aquella zona
resolvemos, embora para o oriente fosse o nosso ver-
dadeiro caminho, cortar ao nornordeste, convencidos
de que assim, a não ser a mfelicidade de seguir por
uma linha divisoria de aguas, encontrariamos diaria-
mente afluentes, ou do Lufira pelo oeste, ou dos tri-
butarios do Luapula ou Bemba por leste.
“Trinta dias nas selvas 7 159
Posta pois a caravana em marcha, atravessámos
juncaes e selvas aqui, para transpor ao diante matos
cerrados, sempre debaixo de chuva torrencial.
Mais numerosos que desejavamos, começaram a ap-
parecer os riachos e rios, em numero tal, que tivemos
por vezes de fazer em vinte e quatro horas tres pontes,
e atravessar alternadamente outros tantos em seus
leitos, com agua pela emtura.
À imaginação esvaía-se contemplando o que nos
cercava; a côr medonha do céu, o ruido das chuvas,
o ribombar do trovão, os matagaes por toda a parte
fechados; os nossos homens, nús, escorrendo agua, de
machados em punho a derribarem as arvores; e nós,
hirtos, encharcados, tiritando de frio, a abrir um tri-
lho para o norte, tudo isto nos convencia da insolta
temeridade da nossa empreza, e que aquelles mfelizes,
levados pelo genio levianamente aventureiro dos seus
chefes, fam ali ao final encontrar termo a tantos reve-
ZES.
A 5 de janeiro, pelo meio dia, andando a expedição
à corta-mato, conforme dissemos, operou-se a Impor-
tante descoberta da nascente do Cafué, no norte cha-
mado Loengue, e deixando de subito os rios que cor-
riam para a esquerda, pegámos n'um que deslisava
à direita. | |
No curto espaço de tres horas bebemos agua do
Zaire e do Zambeze, e prestada a tal facto a attenção
que merecia, proseguiu-se á aventura.
Adiante acampou-se, e quando pelo redor andava-
mos em procura de mimeraes para a nossa collecção,
apertou Antonio com uma manada de bufalos, ferindo
160 — De Angola á contra-costa
gravemente dois, um dos quaes à queima roupa, rece-
beu a bala estacado e quasi a colhel-o.
Infelizmente, havendo-se mettido a noite, tresmalha-
ram-se, decidindo-nos por isso procural-os no dia se-
gunte.
Logo ao alvorecer tentaram ir em sua pista pelo
rasto do sangue, não podendo effeituar a busca, pois
mal haviam saído do quilombo voltaram todos espavo-
ridos, declarando que um enorme leão estava deitado
sobre o logar por onde o bufalo passára, e perto do
nosso ponto de paragem.
Não nos agradando a proximidade de tal vizinho,
levantâmos o acampamento, partindo em seguida por
uma campina que ficava a leste.
Durante a tarde do dia de Reis vagueámos por en-
tre senzallas queimadas e em rumas, achando largos
caminhos e arimos com sorgho, aboboras, ete., domi-
nio agora de bufalos, cujas pégadas eram aos milhares.
Acampou-se junto a uma serra, açoitados por tem-
pestade medonha, e emquanto a chuva caía a torren-
tes e o trovão ribombava horrisono, avistavam-se, á luz
dos relampagos, os nossos pelos arimos a fazer a apa-
nha de tudo que havia aproveitavel.
No dia segumte proseguimos por um amplo rasto
que se dirigia a leste, notando em toda a parte marcas
da passagem de guerra e signaes evidentes de lucta,
onde os ba-zeba, habitadores de Caponda, foram victi-
mados.
Para a frente fomos vendo fartos arimos circum-
dando libatas derrocadas, onde encontrámos aboboras,
milho, e uma sorte de Cucumis sativus, pepino, coberto
Printa dias nas selvas 161
de bicos, e assás agradavel, de mistura com panellas,
bancos, barris de polvora e grande numero de utensi-
lios em destroços.
A gente tornára ao seu radioso estado, e carregan-
do quanto podia, voltava de novo a imaginar-se salva
e livre do perigo da fome.
A trilhada, sempre limpa e plana, evidenciava que
proximo era a libata grande do regulo para onde se
fazia todo o movimento nos tempos da prosperidade
de Caponda.
Hoje era um deserto, e fôra Musiri, seu chefe, quem
consentíra que estranhos lhe fizessem a guerra; singu-
lar politica esta, tendo só por alvo a espoliação do
opulento regulo d'ali, seu vassallo, ao qual os vence-
dores saquearam as terras, repartindo os despojos com
o dito Musiri, assegurando-lhe assim a serie do seu
tremendo prestigio.
Ao retirar d'esta parte do districto, desappareceu
ainda outra vez o trilho, tendo de proseguir á toa pelo
mato.
Junto a um grande rio, que soubemos mais tarde
ser o Lufubo !, affluente do Luapula, andámos vinte e
quatro horas a vaguear para saír dos brejos e matos
que o vestem, e, volvendo á esquerda por entre ser-
ras e morros, entestâmos com o norte, no mais fune-
bre e tetrico dos silencios. |
1 Foi n'este rio que tivemos occasião de colher um exemplar da Acha-
tina, Ivenst, especie nova, terrestre, para ajuntar a tantos outros, que fize-
ram da nossa pequena collecção uma das mais notaveis recentemente
vindas à Europa, como se vê da nota no fim do volume.
VOL. II. 11
162 De Angola á contra-costa
Engolphando-nos em gargantas e desfiladeiros, fo-
mos por esta via dolorosa á procura não sabiamos de
que, soffrendo no primeiro dia cruelmente de sêde.
Os ennegrecidos dorsos dos morros, tapando-nos o
horisonte, como que abafavam as esperanças, e as tor-
tuosas ravinas dos sopés, obrigando a inverter a miudo
o caminho, lançavam-nos a meio do dia para a terra,
abatidos pelo cansaço.
Era a mais penosa das marchas por nós feitas aquel-
la que se ía operando pela Imha das serras da Katanga.
O solo, por sua parte, composto de calhaus fra-
gmentados de rochas varias, havia posto os pés de mui-
tos em deploravel estado, detendo-os por vezes nas
clareiras que avistavam.
E sem embargo urgia cammhar, fazendo-se por fim
em tão agreste zona o exagerado trajecto de 16 e 18
milhas, entre matos de mupandas, mahambas e aca-
cias, divididas pelos sulcos e fundas covas das péga-
das do elephante, aqui em quantidade.
À 11 de janeiro tinhamos feito 16 milhas em iden-
ticas circumstancias e acampado ás seis horas, no meio
de um diluvio.
Quantos dias havia que nós erravamos pelas flores-
tas, ora encontrando um trilho antigo, que breve se
perdia no capim e por onde caminhavamos por mo-
mentos, ou seguindo á corta-mato para o norte!
Tudo continuava a:demonstrar que esta zona era
deshabitada, quer já pela presença do maior dos qua-
drupedes e falta de queimadas, quer pela basta urzella
que cobria os troncos e ausencia de traços de machado
nos ramos do arvoredo.
Trinta dias nas selvas 163
Os mesmos trilhos de pé posto, que por vezes appa-
reciam, Isso mostravam, pois eram cammmhos antigos,
musgosos, cobertos de relva, quasi sempre na perpen-
dicular ao rumo em que íamos, provavelmente ligando
em outras epochas alguma tribu do oeste com o curso
do Luapula, e agora só conhecidos de pantheras, lo-
bos e leões, cujas pégadas de tempo a tempo se obser-
vavam.
E notavel o tino e a persistencia com que o lobo
principalmente, percorre pela noite as veredas feitas
pelo homem.
Notámos as marcas da sua passagem, durante mi-
lhas e milhas por vias que seguimos, calculando pela
posição d'ellas o numero de vezes que parára, natural-
mente para farejar, e aquellas que se havia afastado
para fugir a algum perigo ou esconder-se.
Depois parecia volver pela estreita senda, como con-
victo de que por ella iria á aldeia ou logar onde a sua
fome podesse saciar-se.
E facto original, seguindo-lhe as pégadas, nunca
de reconhecer que, ao approximar-se de qualquer po-
voação, saltava para fóra do cammho, indicando cla-
ramente nisto um instincto que o leva a esconder-se
para dispor o ataque.
O mais triste habitante das selvas, como atraz ficou
dito, fundado no que vimos e nas mformações dos m-
digenas, o lobo, é em nosso pensar o maior dos mfe-
lizes na ausencia do leão, a quem de longe segue para
aproveitar-lhe as migalhas, chegando a lançar-se aos
troncos em decomposição, quando aquelle falta ou a
fome aperta.
164 De Angola á contra-costa
Por nossa parte observámos sempre a mesquinhez
dos seus repastos, a julgar pelos dejectos espalhados
no solo.
Em geral evidenceia banquete de ossos, porque os
excrementos são constituídos na maior parte pelo cal-
careo, e com frequencia esses residuos vem cheios de
pennas de aves, unhas, pelles de pequenos quadrupe-
des, demonstrando quanto fôra escassa a refeição que
lhe deu origem.
Trinta, o desditoso guia, era victima das chufas e
ameaças da caravana, tendo que intervir muitas vezes
com a nossa auctoridade a seu favor, para o livrarmos
de aggressões, quando, mquirmdo-o sobre sitios á vista,
elle respondia com ar de aterrado:
— Perdi o juizo, senhores. Não sei onde estou, tudo
para mim aqui é novo!
Então esses homens esfaimados, cheios de fadiga e
desanimo, deitavam-lhe olhares torvos, tinham fremi-
tos de o agarrar e quem sabe... comer, e a final com
rasão.
— E elle 0 culpado, diziam todos; se não fosse elle
nunca nós viriamos parar a estas terras, talvez para
aqui ver o ultimo sol!
E isso era tambem em parte verdade.
A 11 de janeiro fizemos, como ficou dito, uma mar-
cha de 16 milhas sob chuva torrencial.
Extenuados e encharcadissimos, resolvemos acam-
par pelas cinco horas. |
Collocada uma pouca de carne secca sobre as bra-
zas, Jantou-se, e envolvidos pouco depois nas mantas,
deitámo-nos.
Printa dias nas selvas 165
Bem agradaveis eram para nós essas horas passa-
das no regaço de Morpheu, porque só durante ellas
descansava o espirito d'esse labutar incessante, que o
punha a torturas, libertando-se do ferreo jugo da du-
vida, do receio ou do pavor!
-«- RECEBEU A BALA ESTACADO, E...
Essas terras solitarias e abandonadas, onde nem um
só ruido aceusava a existencia dos nossos similhan-
tes, ou uma unica marca indicava a possibilidade de
salvação, impressionavam-nos por maneira tal, que o
mato nos parecia um vasto cemiterio que se abríra no
caminho, prompto a mbumar na alluvião balofa e nas
folhas caídas os esforços de mezes, com os nossos vul-
tos emmagrecidos, e receber, abafando no denso da
166 De Angola á contra-costa
sua ramagem, os derradeiros gemidos de despedida
d'aquelles, de quem a Providencia se esquecêra.
Nunca nos passou pela idéa que houvesse em Afri
ca tão grandes tractos de terra deshabitada.
Tinhamos adormecido, havia duas horas, quando
tomos sobresaltados por alguem que nos chamava.
— Ergam-se, senhores, venham, ouçam!
De um pulo estavamos de pé, e em dois mmutos
achavamo-nos fóra escutando.
— Ha pouco, disse um, os homens que junto vela-
ram da fogueira ouviram para a banda do nornoroeste
tres tiros quasi seguidos.
—'Piros, e a esta hora! exelamámos espantados e
logo mais dois echoaram, depois quatro, oito, dez, como
um tiroteio.
Sit guerra, uma guerra, disseram todos: tantos ti-
ros a deshoras não podem ter outra causa.
Raciocinando, porém, ponderámos o segumte:
Uma batalha é impossivel, de noite os indigenas não
se batem; alem de que, para 1sso, era necessario que
proximo houvesse villa ou aldeia de vulto; e nada por
aqui o denota.
Mesmo junto do acampamento viam-se numerosas
pégadas de elephante prova certa de deserto.
Caça tambem não era acceitavel, pois nunca vimos |
o negro em África caçar de noite; elle, que depois do
sol posto não sãe do campo, atrevia-se agora a percor-
rer os matos em cynegetica excursão!
A verdade, porém, é que perto de nós estava gran-
de numero -de gente, vinda ou em marcha para guerra;
que vencida vimgar-se-ia de nós por despeito, vence-
Printa dias nas selvas 167
dora abusaria d'essa vantagem para espoliar-nos, que
urgia evital-a ou abeirar com toda a cautela, salvo se
os tiros dados n'este momento fossem devidos a acto
de defeza contra subito ataque de feras.
À nossa posição não era muito melhor do que até
ali, e o encontro de alguem, pelo qual tanto almejava-
mos, transformára-se agora em suspeitoso desagrado
e serio receio de ver mais compromettida a caravana.
Estranho caso. Esse grupo de homens, que, ha tanto
tempo ao abandono e transviados nos matos do enor-
me contmente, suspiravam por uma morada humana,
preferiam agora o desamparo, a terem de encontrar-se
com os seus similhantes!
Tão perigoso é ás vezes esse bipede, que intitulam
rei da creação, quando no estado selvagem!
Incapazes de acertar com a causa dos tiros, que con-
tinuavam a ouvir-se, voltámos para as camas, 4 espera
do dia seguinte para tudo averiguar, não deixando de
marcar com todo o cuidado o rumo a que demorava o
logar onde se produzíra aquelle ruido.
Apenas o sol emergiu do circulo apertado que nos
limita na terra o campo visual, e a sciencia chama
horisonte sensivel, pozemo-nos em marcha n'essa di-
recção.
Tamos alfim saber o motivo; talvez encontrar protec-
ção, reflectiam muitos, sem duvida ficar prisioneiros,
arrasoavam alguns em áparte, e, como em quasi todas
as cireumstancias sérias em que se encontraram, cama-
rada negro lá foi titubeante e cheio de receio.
“O caminho a principio era plano e lodoso, marchan-
do nós por elle a custo e com enfado; adiante, porém,
168 De Angola á contra-costa
elevava-se suavemente, e, tornando-se enxuto, seguia
por meio de uma floresta pouco espessa e facil de trans-
por, carecendo só de arredar os ramos que ás vezes
embaraçavam. |
Ao norte quarta ao nordeste, íamos assim avançan-
do de agulha em frente, quando descobrimos ao nosso
lado um largo e bem pisado trilho, que corria paral-
lelamente.
— Oh! foi a exclamação; a final temos villas ou al-
deias aqui proximas; o ruido era sem duvida produzido
pelos habitantes.
Entestando a carreiro adiante, encaminharam-se li-
geiros e contentes aquelles que ha vinte dias desde Moi
N"Penque haviam apenas visto os guias e os salteado-
res de Iramba, convencidos já de que não era guerra,
mas sim pacifica povoação.
No curto espaço de hora e meia foram transpostas
5 milhas, e n'uma abertura da floresta démos de im-
proviso com um arimo. ÀÃo longe viam-se tectos de
colmo.
Proseguimos em silencio, e chegados á distancia de
tiro de espingarda, acoitáâmo-nos na mata.
Trinta teve n'este momento um rasgo de valor, que
o alevantou aos olhos de todos.
— Eu vou, senhores, explorar o mato. Sei a lingua,
sou o culpado de nos havermos transviado; cabe-me
w em frente saber o que ha!
E, sem mais dizer, abalou de arma ao hombro.
Duas horas se passaram sem que d'elle houvesse
noticia, tendo a nossa angustia crescido a ponto de
irmos partir em sua procura, quando de subito do
Printa dias nas selvas 169
meio do capim emergiram duas cabeças tisnadas, m1-
rando-nos.
Logo porém que os vimos, desappareceram por en-
canto como haviam apparecido. Rosa chorava como
uma Magdalena!
—Querem ver, exclamámos, que está perdido o ho-
mem? Corramos em sua pista, talvez amda possa sal-
var-se.
Nem um só proferiu palavra, pessoa alguma se re-
cusou, e lançando mão das carabinas partimos, deixan-
do mulheres e creanças atraz.
Apenas andariamos 1,5 milha, vimos ao longe uma
especie de libata, ou, melhor, grande acampamento.
Logo que nos approximámos, os indigenas, que eram
numerosissimos, pareceram espantar-se ainda mais, e
agitando com grande rapidez armas, flechas, zagaias,
corriam, saltavam de um para o outro lado, como de-
monios, brandindo seus pendões de côres variadas.
Era sem duvida um dos mais curiosos e estranhos
espectaculos a que na Africa assistimos.
Um rapido relancear bastou para comprehendermos
que não estava a expedição em face de uma villa po-
voada de pacata e hospitaleira gente; ao contrario de
tudo isto, aquelles que tinhamos em frente eram ho-
mens de guerra, ali reunidos por qualquer circumstan-
cia por nós desconhecida.
O alvoroço continuava; com a ajuda dos binoculos
podiamos ver um grande grupo cercando alguem no
amplo espaço, e agitando armas, enfeites e bandeiras.
Está perdido o rapaz, foi a idéa, e sem mais perda de
tempo avançámos direitos a elles, no intuito de salvar
170 De Angola á contra-costa a
o malfadado parlamentario, que por nosso serviço tinha
ido sacrificar-se.
Ao verem a expedição arrear cargas, e proseguir em
Imha, de arma cruzada, suspenderam os indigenas o
estupendo brouhaha, destacando logo ali um grupo de
quatro homens em nossa direcção.
Nós fizemos alto tambem. Approximaram-se. Trinta
vinha no meio, com ar enfiado e cara de quem tinha
visto o quer que fosse de feio, muito de perto. Haviam-
n'o desarmado, e parece até pretendido amarral-o, pois
pulsos e braços traziam signaes evidentes de lucta, nas
marcas de terra e rasgões.
Assumindo um ar mais altaneiro e atrevido que os
proprios mdigenas, circumstancia sempre de imfallivel
effeito, quando dirigida com senso, avançou um de
nós direito a elles, e arrancando-lhes o guia das mãos,
pol-o de nosso lado.
Agora podemos fallar, e, sentando-nos, acocoraram-
se os demais em volta. |
«Senhores, começou Trinta, por minha vida e pela
da Rosa, que nunca me vi tão embaraçado e proximo
a morrer como hoje.
cTista libata, que ahi vêdes, não é de gente boa; ao
contrario, em seu logar está acoitado um bando de tre-
gentos salteadores. |
«Jicuco, o irmão de Musmi, acha-se ali com o fim,
segundo presumo, de preparar uma guerra, e ouvi di-
zer que chegou ha dois mezes em perseguição de Paulo
Mohemeri, o celebre branco cuja cabeça Musiri queria.
«Logo que me viram, começaram a considerar-me
como um traidor, que andava a guiar o Paulo, e, bem
Printa dias nas selvas oval
ao facto da terra, podia ensimar-lhé a maneira de os
perder; e tirando-me a arma, dispunham-se a matar-
me, rodando em volta de mim com as zagaias encos-
tadas ao peito, e Rn «Mate-se, abra-se já, par a
se lhe ver o coração !»
E o desditoso tremia como canniço agitado por brisa
doudejante, e aconchegou-se de nós, como disposto a
não partir mais dah.
O primeiro ponto que urgia resolver, a fim de ficar-
mos em bom campo, era a entrega da arma roubada,
sem o que não parlamentariamos, vendo-nos, se o re-
cusassem, na necessidade de a irmos buscar.
A isto accederam elles, e saíndo um, voltou com a
espingarda momentos depois. Mas ao tempo já muita
gente se accumulára de volta, e olhando suspeitosa,
ora para os fardos, ora para aquelles que nos cerca-
vam, envolveram-nos por modo, que tivemos de orde-
nar aos nossos passassem todos a uma banda, para
“convergir as forças e evitarmos ser ali pilhados inevi-
tavelmente.
Encetadas as negociações reconhecemos que Trinta
dissera uma verdade, e Licuco! ali se achava por ter
1 Licuco é effectivamente irmão de Musiri, velho, baixo, magro, sor-
dido e curvado, cujos olhos pequeninos e encovados faiscam a perfi-
dia. O seu aspecto tem o quer que seja do mocho, e as mãos nodosas e
recurvadas pela medicina feiticeira fazem lembrar as garras de um vam-
piro. As barbaridades por este monstro praticadas excedem a humana
concepção. Assim, contaram-nos que pouco antes da nossa chegada, ha-
vendo colhido em flagrante delicto uma de suas mulheres, elle mesmo se
decidira castigal-a, e pegando de um cutello fizera séance tenante, a excisão
d'essa parte, que «a cobrir natura ensina, para depois de assada conve-
nientemente devorar perante a infeliz.
Ta De Angola á contra-costa
vindo até á Katanga em perseguição de um viajante
europeu, e, não podendo encontral-o, o ousado velho
pretendia agora espoliar-nos, para consolar-se do revez.
O seu enviado era tão atrevido e insolente, que tive-
mos de metter-lhe um revolver á bôca, para fazel-o
entrar na ordem, nós que só em extremos chegavamos
a similhantes recursos.
Licuco queria um fardo de fazenda, uma arma e
farda, ordenando alem disso que acampassemos al.
junto delle, para visitar-nos no dia segumte.
Caleule-se com que boa vontade estariamos na pre-
sença de taes exigencias, extenuados de andar pelas sel-
vas, gastos os haveres nas terras de oeste, e na distan-
cia ainda de 1:000 milhas do mar!
O que primeiro fizemos foi romper com elles, e como
abalassem quando nos viram levantar, partimos mato
a dentro, a fim de construir o acampamento no bosque,
onde seria facil a defeza, e sobretudo para ficarmos
mais perto da agua.
N'um instante derivámos para o sul 1,5 milha, e,
transpondo um riacho, eis-nos de machados em punho
a derribar arvores em circulo, a fim de fecharmos o
quilombo. Entretanto os indigenas, havendo voltado
para junto do monstro, lá diseutiam a entrevista em
alta grita.
Quando nos achámos fortificados, com agua perto
do campo, deixámol-os approximar, e após as enfado-
nhas scenas de ameaças, gritos e polemicas a proposito
das exigencias do chefe e de cada um delles, chegá-
mos a accordo, permittindo-lhes assim o imgresso a
pouco e pouco, mas desarmados.
Pronta dias nas selvas ia
Durante um dia imteiro soffremos com mimitavel
paciencia essa horda de salteadores, á qual, sem em-
bargo, impozemos um respeito difficil em taes circum-
stancias, porque Licuco gosa entre os seus extraordi-
nario prestigio, acompanha-os e dirige-os na guerra,
pilha, devasta e com elles divide, e contava cerca de
quatrocentos homens, emquanto nós apenas tinhamos
setenta, bastando uma simples ordem, para que o acam-
pamento corresse o grande perigo de ser completa-
mente arrazado.
Mas ha o quer que seja na cara e no aspecto do
europeu, cujas longas barbas amda imfundem terror
e lhe facilita em Africa o dominio e prestigio sobre o
“mdigena.
Vendo-nos mvariavelmente graves e serios, a me-
ditar o que diziamos e decidindo sempre tudo em fór-
ma de justiça, promptos a proteger a nossa gente, mas
tambem a corrigir o menor abuso, observando os
acampamentos no mato e jamais em suas aldeias, a
ordem e o socego mantidos n'elles; mformados, emfim,
pelos nossos, de sabermos mais do mato, que elles to-
dos reunidos, pois eramos nós que por Cabompo, Lua-
laba e Iramba sempre haviamos dirigido a caravana,
acrescendo ainda o phenomeno de possuirmos armas
que estavam sempre a dar tiros!
+ os Indigenas não
podiam encobrir o seu espanto, tendo-nos como crea-
turas excepcionaes, conhecedoras muito naturalmente
de todos os ramos da feitiçaria.
1 Estas armas eram as Winchester, que tinhamos o cuidado de carre-
gar em segredo.
14 De Angola á contra-costa
Resolvido tudo a contento, abalâmos a 14 de ja-
neiro ao rumo de oeste até ás mmas de Kandumba,
onde, no dizer dos naturaes, encontrariamos um cami-
nho para o sueste; ahi chegámos pelo meio dia, mar-
cando a nóssa passagem com a morte de um pato co-
lossal de esporão nas azas, que deu dois jantares e um
almoço para tres homens.
Escusado será declarar, caro leitor, que nenhum dos
salteadores se atreveu a servir-nos de guia, e que.
as marchas fam proseguir, como sempre, sob as indi-
cações e conhecimento dos chefes da expedição, ou
do Trinta, o qual acrescentava agora que, posto nas
minas estava em seu caminho e a quatro dias ao sul, |
nos apresentaria a Moi Mugabi, seu velho e prezado
amigo.
Kandumba é uma zona ampla, deshabitada e difficil-
mente trilhavel, por onde enfiámos resolutos, conven-
cidos qne o Trinta a conhecia. Pendo andado cerca de
7 milhas, saltou de repente á frente da comitiva um
enorme rhinoceronte preto, unicornio diziam todos,
que no impeto quasi passou por cima de um dos nos-
sos companheiros da vanguarda.
Atirando-se-lhe duas balas, o animal deu em terra,
sem que podessemos perceber muito bem o motivo,
pois instantaneamente, erguendo-se, partiu a fugir na
direcção opposta, deixando um rasto de sangue por
todo o trajecto.
Similhante peça de caça não devia desprezar-se, e,
largando a vereda, lá fomos pelos matos em seu se-
guimento, na doce convicção de nos fornecermos de
carne para alguns dias.
Printa dias nas selvas 175
Fugaz foi porém esta esperança, pois, adiantando-
se muito o quadrupede, tivemos, depois de hora e
meia de corrida, de abandonar a idéa de perseguil-o,
tão bravos e agrestes eram os matos por onde se met-
têra.
Abunda aqui o porco espmho, do qual ouvimos al-
cumas historias; entre estas figura a de certo meio
de deteza do dito animal, que consiste em disparar,
como settas contra o mimigo, as cannulas que lhe re-
vestem o corpo.
É original e curioso este expediente!
Pomado o conveniente repouso, após a fadigosa car-
reira na pista do rhimoceronte, pozemo-nos de novo
em marcha.
— E o caminho, diziam todos, o caminho de Moi
Mugabi, o amigo do Trinta?
— Ah! isso está para ali (respondia elle, apontando
- para o oeste), num momento se acha.
Seguindo-o, para lá atravessámos.
CABITONO XXV
Pu QUAQUA
Bem longe, no amago do continente — Aspecto dos chefes da expedi-
cão— A carta sobre os joelhos — Transviados no mato sob o imperio da
fome —Um quadro de caça — Breves resumos do diario — Perigos d'este
genero de excursões — Um rhinoceronte bicornis — Caçada de vulto — Cin-
co bufalos em terra— Considerações sobre o viver nos bosques —Duas pa-
lavras ácerca do rhinoceronte e dos seus habitos —Variedades e estranho
costume d'este quadrupede — As selvas eram o nosso dominio — Às ma-
tas de mupandas e os brejos marginaes — Noções sobre a natureza do
solo—O Lufubo e uma ponte de 45 metros — Aspecto da natureza — An-
cia em procurar o Luapula— Impressão que a lembrança do milho e do
sorgho produzia em nossas pessoas — Trinta, o guia desnorteado — O ul-
timo dia de janeiro e um caminho inprevisto — Repentino rufar de tam-
bores pela noite — Era o Luapula.
WoE IT- 12
TREGELAPHUS SCRIPTUS
Segundo um croquis
Disponde-vos, caro leitor, e acompanhae-nos até ao
coração do contmente n'este instante.
Bem longe estamos, no amago da Africa, arredados
de tudo e todos, a braços com uma vida que só a nosso
lado podereis comprehender. Vêde-nos. Emmagrecidos
e tisnados, os nossos corpos a custo se aprumam no
terreno. Dos fundos sulcos que nos cavam as faces,
escorre permanente suor, que deslisa pela esqualida e
meulta barba, indo alagar o fato roto e sujo, cuja qua-
lidade e côr se occulta no sebo e na lama. Os cabellos
em desalinho pendem-nos pelos hombros, cobertos
apenas por immundo farrapo de algodão, as pernas
e pés acham-se envolvidos em artigos que outr'ora ti-
veram os nomes de calças e sapatos, e agora só espe-
ram mais rasgões ou topadas para finalisarem a sua
missão protectora.
180 De Angola á contra-costa |
O nosso olhar, encovado e fundo, é mquieto e sus-
peitoso, consequencia necessaria do viver entre peri-
gos e receios; a voz tem inflexões roucas e asperas, à
similhança dos rumores e urros a que andâmos affei-
tos; os movimentos convulsos e nervosos fazem-se à
medida da fraqueza e energia que luctam para nos
aniquilar ou pôr a salvo.
Em volta de nós um bando de homens, nús, cober-
tos os rins apenas com um trapo, acocoram-se junto |
a velhos saccos de couro e caixas roçadas, precioso
deposito dos nossos labores, mirando-nos com olhar
curioso e prescrutador.
Alguns jazem pelo solo, estirando em descanso os
membros entorpecidos, emquanto outros, com o rosto
apoiado nos punhos, scismam melancholicos.
Pelo redor densas massas de vegetação fecham o
campo visual, assombreando com a sua permanencia
e monotonia a negra paizagem que nos cireumda.
Podos arregalam attentos olhos para o papel que
temos sobre os joelhos, e que simplesmente é uma
carta da África central.
De que se trata ou qual o objecto de discussão?
Nada menos se pensa do que sair do labyrintho
onde nos achâmos envolvidos, de procurar atalho que
nos afaste de similhante dedalo.
«Ah! isso está para ali», dizia o Trinta a 15 de Ja-
neiro, apontando para o oeste e refermdo-se ao cami-
nho do seu amigo Mugabi que esperava reconhecer,
e comtudo, a 31 do mesmo mez amda elle se não en-
contrára! Durante a fatal segunda quinzena alludida
supportou a expedição portúgueza os maiores traba-
Á caça 181
lhos e fadigas que a homens é dado superar, e, diva-
cando á tôa por esse sertão ignoto, sem já attender
ao fim que se propunha, perseguia quanto animal bra-
vio se lhe deparava.
Não havia outro rumo, mdicação ou trilhada alem
da pista de caça, anceio que não tivesse por fim achar
cousa que se comesse, impulso dominante que não an-
dasse de mãos dadas com a fome.
Pairava sobre nós esse cruel vampiro que, roendo
as entranhas, transforma o homem no quer que seja
de monstruoso e bestial; e impellindo-nos ás cegas pelo
meio dos matos, trazia-nos desvairados, indecisos na
melhor resolução.
Jamais saíremos d'aqui, exclamavamos por vezes
um para o outro, pois nunca conseguiremos obter ali-
mento sufficiente para cortar a direito ao ponto que
a comitiva deseja attingir.
E logo occasionalmente um eland saltava perto, um
bufalo apparecia ennegrecido por entre troncos e rama-
gem, um rhimoceronte galopava junto, e nós, abando-
nando a trilhada que levavamos, lá íamos leguas e le-
guas no seu encalço, muitas vezes em rumo contrario
ao trazido.
Depois, acossado o animal na carreira não via ob-
staculos, e pouco adiante, encontrando um pantano,
melle penetrava ligeiro.
Embora oppressos pelo cansaço da fama, seguiamos
com agua pelos joelhos em sua perseguição, rasgando
fato e carnes nos canniços e espinhos, para mais alem,
caminhando em terreno solido, achar de subito um
ro, que o bicho transpozera a nado. |
182 De Angola á contra-costa
Machados á mata, eis-nos a derribar o arvoredo, e,
construindo logo rustica ponte, lá transpunha a expe-
dição o curso esverdeado que lhe impedia a passagem,
para proseguir nas pesquizas cynegeticas.
Mas então quantas angustias torturavam os chefes,
confiando á instabilidade de quatro ramos as caixas,
saccos e mstrumentos que os pretos pouco cuidadosos
conduziam; quantas occasiões se suspendia quasi a cir-
culação do sangue, vendo qualquer d'elles hesitar e.
tremer, prestes a caír 4 agua com o volume dos diarios
e cadernetas!
Jnopimadamente o animal volvia, e nós, que persis-
tentes continuavamos na sua pista, eramos agora for-
cados a abandonal-o por um maior grupo que appa-
recêra do outro lado.
Às cargas iam ao chão, cada qual partia em direcções.
diferentes; tiros à direita e esquerda; transviavam-se
muitos pelos matos, e ao caír da tarde a caravana, dis-
persa e perdida, deixava-se ficar no mesmo sitio, espe-
rando aniquilada pelos caçadores.
À simples leitura do nosso diario mostra bem o vi-
ver de então. Por todos esses dias se deparam com
epigraphes e paragraphos como os seguintes:
« Transviados no mato. — Ás nove horas da noite es- |
tamos junto a um rio, que não conheciamos. Seguimos
por um caminho de guerra com grandes quilombos
fortificados. Ao longe vêem-se morros. Matámos um
javali...
« Perdidos como até aqui. — Sumiu-se o campo da
guerra. Á corta-mato topámos um rio enorme (talvez
o de hontem), onde construímos uma ponte. Da banda
Á caça 183
d'aquem perseguimos bufalos, que não colhemos ás
mãos...
«Á caça pelas selvas. — Logo de manhã começâmos
em perseguição de caça. Feriram-se elands, Capello
matou um, Antonio outro, que se julga perdido...
« Continuâmos perdidos. —De machados em punho
andou-se o dia de hoje a abrir caminho na floresta.
Mataram-se gazellas, perseguiram-se javalis de quatro
protuberancias ...
«Sempre transviados e caçando. — Caça abundante.
Nada se andou, ou andámos em circulo. Abateu-se um
bufalo enorme, cuja carne em longas tiras n'este mo-
mento chia nas brazas. Elephante não ha, ou pelo
menos d'elle não vimos signal. Considera-se... |
«Invariavelmente perdidos. — Larga correria hoje
atraz de caça; perdeu-se uma sorte de harrisbuck;
mataram-se dois javalis de vulto, etc.»
É assim como estes, continha o diario muitos outros
dias de nefasta recordação, em que no cano da espin-
garda andava sempre a salvação da caravana, e na
rude energia dos chefes a invariavel conservação do
respeito e necessaria disciplina para tão desmoralisa-
dores transes.
E depois não eram destituidas de risco estas corre-
rias, porque, se ás vezes se topa com mansos e timidos
antilopes, outras ha, em que quadrupedes de maior
vulto apparecem de repente, sendo preciso todo o cui-
dado e presteza para lhes evitar o encontro, e quiçá
perigosos ataques. Para exemplificar eis um resumo
do que se acha ainda no diario com a data de 22 de
janeiro:
184 De Angola á contra-costa
«À marcha continuava pelos terrenos elevados que
delimitam pelo norte a bacia do Lufubo !, na esperança
de encontrar vereda que nos levasse para leste, e sitio
onde o caudaloso rio podesse ser transposto.
«Uma estranha tristeza dominava toda a comitiva,
que por vezes percorria milhas sem proferir a mais
smgela phrase. O silencio das florestas, as exigencias
estomacaes, a incerteza de obter alimentação no con-
timgente da caça, a lembrança dos soffrimentos passa-
dos e o receio de futuros, eram outras tantas idéas
que absorviam o pensamento de todos, deprimindo a
vontade e abalando-lhes a coragem. Parecia um acam-
pamento funereo, onde apenas havia quatro ou seis,
que, mais confiados, avançavam, convencidos de que
deviamos bem pensar na nossa situação, pois a perda
d'elles estava ligada irremissivelmente à nossa.
« Antonio, o caçador, andava incansavel por meio
dos campos em procura de animal para ferir, arris-
cando-se muitas vezes a morte certa, se acaso, emmara-
nhando-se n'esses macissos de verdura, perdesse a pista
da comitiva.
«Havia cinco horas que caminhavamos silenciosos
sem dar vista do mais singelo vivente, nem ouvir o
menor ruido que despertasse a attenção, quando os da
frente foram surprehendidos, e, largando as cargas,
dispersaram em todas as direcções.
«Fra um charivari espantoso, uma confusão geral,
em que cada individuo, nas azas do susto, procurava
salvar-se a seu modo, só vindo a modificar-se as cou-
1 O nome d'este rio foi mais tarde sabido no Luapula.
EESSSESESSSSSS
ESSES SSSSSSSSSSS
ESSSSSS
SEE =s SE
“==
N
EM
= =
E
RS
as
E
o Ni A
E Nu
Segundo croquis
UM RHINOCERONTE BICORNIO INVESTIU...
, Pr
Uno"
A caça 185
sas com duas detonações seguidas, que afastaram logo
a causa que originára o perigo.
«Um rhinoceronte enorme, o R. bicornis, tomado de
estranho furor, tendo apercebido a caravana, emer-
gira de subito da floresta, e, carregando de frente, im-
vestiu na carreira com um dos chefes (Capello), que só
teve ensejo de saltar ao lado para o ferir pelas espa-
duas com uma bala 4 queima roupa.
«Caíndo á retaguarda engatilhára de novo.
«Enraivecido, o monstro ía a volver, quando An-
tonio, acudindo pressuroso, o carregou pelo outro lado,
e chamando-lhe a attenção, envia-lhe segundo proje-
ctal,
« Ào ruido da explosão e à algazarra da gente, a fe-
ra, desnorteada, partiu como uma flecha pelo interior
dos bosques.
«Não havia que pensar. Ferido mortalmente, dili-
genciámos colhel-o ás mãos, e partindo um de nós com
Antonio e outros caçadores em sua perseguição, con-
tinuou o outro vagaroso com o resto da gente e car-
gas pela mesma trilhada, segumdo as manchas do san-
gue.
«Mas o rhimoceronte não é como o elephante pesado
e de vulto, caminhando, mesmo quando ferido, no seu
trote vagaroso. Apenas acossado, mette a todo o ga-
lope, que nem um cavallo acompanharia, rasgando
por estevas e restolhos onde o homem mal póde pene-
trar. Por isso em breve o perdemos de vista, e após
uma carreira de 3 milhas íamos a suspender, já per-
didas as esperanças de o alcançarmos, quando um
novo facto, não menos imsolito, se nos deparou.
186 De Angola á contra-costa
«Em vasta clareira, junto ao curso de um riacho,
estava uma manada de bufalos, descansando á sombra
dos ramos das acacias, quando o rhinoceronte, cego,
em vertiginosa carreira, atravessou pelo meio. Imme-
diatamente ergueram-se todos, dispersando-se espa-
voridos pelas campos em redor, vindo muitos d'elles
cair de repente sobre a comitiva, que outra vez teve
de largar as cargas em debandada. Depois de um
momento de panico seguiu-se tiroteio geral, que dei-
tou por terra cinco d'estes formidaveis animaes, a
distancias varias uns dos outros.
«Sem mais demora acampámos ali, afastados, é ver-
dade, de nosso rumo umas poucas de milhas em con-
sequencia da correria do rhmoceronte, mas satisfeitos
e bem dispostos, pois havia o mais necessario — carne
e agua!
«E depois, que importava o logar? Mais ao norte ou
mais ao sul, o mato era nosso, a este estavamos habi-
tuados, e, não faltando comestiveis, adeus terrores, nem
um de nós se arreceiava delle, tão affeitos chegámos
a andar ao viver das selvas.»
E, diga-se a verdade, se é estranho esse viver, tem
um não sei que de attrahente, de candido, de primi-
tivo, que seduz! (Quantas vezes pensámos assim por
lá, em meio dos perigos que nos cercavam e num mo-
mento tudo podiam destruir, e, posto bem ponderado
o negocio, nos persuadimos que mais tarde se haviam
de ter saudades dos devaneios pelas selvas, d'essas
excursões que talvez não possam repetir-se, e onde o
“espirito especialmente se exercita no afan contínuo de
evitar os embaraços e complicações que a todo o mo-
) ES
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CINCO BUFALOS CAÍRAM...
Segundo croquis
Á caça 181
mento se deparam! Ha fibras no coração humano que
só vibram n'aquelle meio, e nascem e morrem ador-
mecidas no remanso dos empoeirados macadams da
velha Europa!
Dos muitos animaes que na Africa austral se en-
contram, é sem duvida um dos mais curiosos de des-
crever o rhinoceronte, embora d'elle muito já se tenha
dito.
Habitando largas zonas do continente, onde facil-
mente póde encontrar a alimentação peculiar, o rhi-
noceronte vê-se com frequencia, desde as margens do
Orange até ao equador, por toda a zona florestal do
centro.
Quatro especies ali habitam, segundo parece, dei-
xando de citar uma especial de que os mdigenas muitas
vezes nos fallaram, distincta por não ter defensa al-
guma, e que julsâmos ser mystificação pouco vulgar.
Duas, de um pardo escuro, comprehendem os chama-
dos rhinocerontes negros; as outras duas, acinzenta-
das, abrangem os chamados rhimocerontes brancos.
São accordes os indigenas em declarar o preto (porque
não distinguem as duas especies) mais pequeno e pe-
rigoso, emquanto que o branco, de maior vulto, é mais
pacífico, declaração que nós podemos tambem corro-
borar, por havermos observado os dois, tendo notado
com mais frequencia estes. Advertimos, porém, que
o preto a que nos referimos tem um chifre só, ou o
outro é tão pequeno que mal se observa a distancia,
e não o de dois chifres iguaes, 2. Keitloa, conhecido
no Kalahari, cujo habitat desconfâmos se não estende
até aos lagos.
138 De Angola á contra-costa
O rhmoceronte é especie de habitos solitarios, vive
isolado nas florestas, nunca em bando, pasta pelo dia,
recolhe-se na hora de maior calor; procura varias ve-
zes a agua, não só para beber, como para se esfregar
no lodo, do qual se cobre inteiramente, como observá-
mos em certo dia em que de longe estivemos assistindo
ás abluções de um d'estes quadrupedes. Talvez paste
tambem de noite, como o elephante; jamais tivemos
occasião de observar isso, sendo comtudo de crer que
à claridade da lua se entregue a similhante tarefa.
Apesar de feio, sordido e pellado, não é tão repel-
lente como o da India, que tem dobras e refegos na
pelle, quando sendo aliás a d'este lisa e continua; é
desconfiado e presentido, tem os olhos pequenos e pro-
ximos do focinho.
Alimenta-se de vegetaes, raizes, hervas, tuberculos,
sendo extremamente guloso da canna do sorgho, em
que faz verdadeiros destroços.
Entre os costumes do dito animal vamos registar um
muito curioso. Sempre que no meio dos matos vimos
os seus dejectos, achavam-se estes espalhados, e essa
dispersão, acompanhada de fundos sulcos na terra, afi-
gurava-se-nos fôra feita com corpo resistente.
Inquirido o facto, soubemos ser costume do rhino-
ceronte, quando termina as dejecções, andar em redor
do local, espreitando a floresta. Certificando-se de que
ninguem o observa, n'um impeto de furia arremeça pa-
ra longe, com a ajuda da defensa, a materia defecada.
Então ninguem ouse delle approximar-se, dizem os
mdigenas, tal é o furor de que se acha possuido! E doi-
do, acrescentam elles, e essa loucura effectivamente
Á caça 189
se dá por vezes, pois o rhmoceronte, que em geral se
afasta dos acampamentos e agelomerações de gente,
apparece, ás vezes, de subito num quilombo, não se
arreceiando das fogueiras ou dos homens, que deban-
da e aestroe em caminho. Este smgular procedimento,
assás verificado !, explicaram-nos uns caçadores, decla-
rando que sempre que tinham morto algum dos ditos
animaes, encontraram, ao abrir o craneo, uns bichos
longos, de !/, de pollegada, cobertos de pello, aloja-
dos entre as membranas que forram a massa cerebral.
Estes vermes movem-se com facilidade, e aos ataques
por elles dirigidos a certas regiões do encephalo, deve
o bicho os momentos de raiva a que alludimos.
E um dos habitadores das florestas mais respeitados,
pelo seu vulto e força, pois n'esta não lhe excede muito
o elephante, afastando-se d'elle os leões, bufalos, etc.
Deve ter longa vida, a julgar pelo tempo que leva a
completa formação da grande defensa, que no branco,
conhecido por Prhin. Oswellu, chega a attmgir a altura
de um homem.
«Na idade de dois annos, diz Anderson, a defensa
tem apenas 1 pollegada, aos seis chega a 9 ou 10, e
cresce, como se vê nas especies brancas, até ao com-
primento de 3 ou 4 pés.»
Em summa, pela sua grandeza, é dos quadrupedes
que melhor póde supprir uma comitiva quando lueta
com a fome, não sendo a sua caça extremamente difhcil.
1 O rhinoceronte que el-rei D. Manuel enviou em 1513 a Leão X,
parece haver compromettido o barco em que se achava, atacando tudo
n'um paroxismo de cholera similhante.
HESÃO De Angola á contra-costa
Durante os dias 23, 24 e 25 de janeiro choveu co-
piosamente, conservando-nos no quilombo, em pleno |
coração de Africa e completa ociosidade, com a mes-
ma indifferença e descuido como se estivessemos em
partida de campo na Europa.
Decididamente as selvas eram dominio nosso.
Bem providos agora de alimento, com a carne dos
bufalos mortos, resolvemos não pensar mais na libata
de Mugabi!, o celebrado amigo do Trinta, e esforçar-
mo-nos, tanto quanto possivel, por seguir em direitura
a leste, procurando o Luapula.
A 26 d'aquelle mez proseguiu pois a expedição no
prolongamento do rio Lufubo, depois de havermos fe-
rido um bufalo, que se escapou, morto um quicema
“Egoceros ellips, caça por aqui abundante, e aberto o
unico frasco de molho Morton que possuiamos, luxo
extraordinario em tão reconditos logares.
À mata é quasi exclusivamente composta de mupan-
das longe do rio; junto a elle ha matagaes e brejos
de espinho, que mal consentem observar-lhe o curso.
O paiz baixa e deve ser msalubre.
Da variada fauna desta terra observámos nós ze-
bras, bufalos, palancas, quicemas, gungas e macacos.
Tambem trouxemos uma especie de ostrea da vasa
do rio. |
O solo, pelo geral, é constituido por schistos argillo-
sos, cinzento com leitos alternadamente ferrugimosos.
Abunda o quartzo, a limonite, ete.
1 Mais tarde soubemos que similhante libata já não existia e que Mu-
gabi desapparecêra.
Á caça dd
Pouco a pouco tornou-se mais tortuoso o leito d'este
afluente do Luapula, desenrolando-se em caprichosas
voltas, por maneira que era quasi impossivel prolon-
gal-o, alargando e segumdo a direcção media do nor-
deste.
Não sendo conveniente continuar em tal rumo, e
na incerteza da largura que o rio teria para baixo,
resolvemos, depois de cinco dias de marcha, construir
uma ponte e transpol-o; trabalho dificil, porque, tendo
ah 50 metros de largo, grande corrente e profundida-
de, as primeiras arvores derruidas foram logo arrasta-
das pelas aguas.
— Alfim lá se consegum conservar duas, e ligando a
custo os estrados, fez-se uma ponte de 45 metros em
tres tramos, que se ligou á terra.
Durante os labores de tal construcção, abatemos
um javali cinzento, de sedas pretas pelo lombo, e do
qual já em outro capitulo demos o desenho, carne que
veiu agradavelmente cortar a monotonia d'aquella de
bufalo.
As chuvas caíam agora mcessantemente, o que em-
baraçava a marcha, sobretudo nos muchitos margimaes
do rio e no humus balofo, onde se formavam atoleiros
e lodaçaes, exhalando um vapor pesado, nauseabundo
e abafadiço.
Como é triste o caminhar em taes circumstancias,
e funebre o aspecto do sertão n'esta quadra!
O pardacento e nublado céu, o verde negro do ar-
voredo, o assobiar do vento nas ramagens, o espelha-
do da agua por entre a subvegetação, tudo fórma um
quadro horroroso a quem o presenceia, e que nós,
192 De Angola á contra-costa
embora muito insistamos, não somos capazes de des-
crever com justeza ao leitor.
E tudo quanto se póde imaginar de frio, humido e
desagradavel, com mais as graves notas da fraqueza,
do tedio e da fome, a emmoldurarem este conjuncto.
Mas o pensamento era attingir o Luapula, esse mys-
terioso e malfadado rio, em cuja busca ha tanto tem-
po nos extenuavamos, e onde pretendiamos encontrar
recursos, não ousando por isso lá determo-nos em |
considerações e devaneios.
Para ali havia povoadores com certeza, tribus fartas
e espalhadas ao longo do rio, comestiveis, mandioca,
milho, ete., que era o desejado.
Milho!... Não se imagina a nossa alegria ao lem-
bramo-nos das amarellas espigas d'esta graminea ou
das branqueadas do sorgho! Caleule-se pois a ancia
com que marchavamos, e o antecipado contentamento
esses infelizes, que constituam a expedição portu-
gueza, ao pensar n'elle.
A enormidade das nossas miserias póde avaliar-se
por esta candida declaração, assim como a de nos ver-
mos em um acampamento 4 beira do rio, rilhando uma
espiga de milho assado!
Para nós a lembrança de similhante facto e a idéa
da sua realisação attingia as proporções de uma ven-
tura sem igual; era o cumulo do jubilo emergindo su-
bito do meio dos soffrimentos, como o mimoso lirio do
centro de pantano pestilento.
Um prurido glutão nos dominava; esqueceramos
tudo ante a asselvajada ancia de encher o estomago,
positivamente animalisados, não differmdo em cousa
A caça 193
alguma o nosso modo de pensar do de qualquer com-
panheiro mdigena.
Mas onde estava o Luapula ?
Sim, esse rio por nós tão cubiçado e cuja posição nos
mappas era tal que, por nossos calculos, já nos acha-
vamos ao oriente, e junto do Bemba?
Consultando a miudo o mappa, debalde era o im-
tento de assegurar-nos da sua distancia ou afastamen-
to, sem saber sobre que ponto nos determinar.
Para leste estava elle com certeza; mas onde e quan-
do chegariamos? Eis o problema.
Trinta, era obvio, andava tonto, e mirando obliqua-
mente a Rosa, que logo cravava ingenua os olhos no
chão, respondia que com elle não contassem, pois a ca-
beça se lhe virára desde o desapparecimento da libata
do seu amigo Mugabi.
Assim foram correndo as cousas até ao ultimo dia
de janeiro, em que fizemos 15 milhas, por uma zona
divisoria de aguas, e então deparámos com caminho
batido (é o termo proprio), seguindo para o nascente.
Um trilho era uma providencia.
Dionysio, o explorador, enviado pela tarde a farejar
os arredores, voltou pelo escuro sem esclarecimentos,
declarando apenas que desconfiava existirem proximo
libatas e o caminho seguia.
Mas no livro do destimo parecia estar escripto que
iriamos até Moçambique sempre por desertos. Que
admirava pois que esta região, totalmente desconhe-
cida, fosse tambem um deserto ?
Entrou a noite comnosco no meio das selvas, e com
ella veiu a hora do descanso e do silencio.
VOL. II. 13
194 De Angola á contra-costa
Mal houvera tempo para armar dois paus com um
feixe de capim por cima, e estender dentro uma pelle
de leopardo.
N'este pequeno arrimo deitámos os fatigados corpos,
entorpecidos pela marcha e calor do dia, fixando natu-
ralmente a nossa attenção na maneira por que nos l-
vrariamos dos embaraços e apuros para prover de sub-
sistencia a caravana numa terra na apparencia erma.
Nada nos occorria. Esforçavamo-nos por dormir, mas |
baldado empenho; no anilado azul encravadas, brilha-
vam milhares de estrellas com tropical fulgor, distra-
hmdo-nos a attenção. .
Fechavamos os olhos, mas breve os abriamos à
contemplação.
À via lactea, como um immenso gaze transparente,
traçava na abobada uma smuosidade gigante.
As constellações do sul, caminhando lentas, espar-
giam sobre a terra uma luz fraca, sufficiente comtudo
para se aperceberem os objectos.
Já algumas horas se haviam passado, e a attenção
continuava-nos presa, o vento caíra, tudo entrára em
silencio, quando de subito julgâmos ouvir ao longe,
muito longe, os sons de uma caixa de batuque ou rufo.
Rufos, tambores; seria engano?
Ageitando o ouvido pareceu-nos ouvil-os de novo.
Chamado o pessoal, e pondo-se todos à escuta, chegou-
se a concluir que eram os ruidos em questão, e, caso
os animaes silvestres d'esta parte não tivessem o es-
tranho costume de rufar em caixas (como André facil-
mente se melinava), para o lado d'onde vinham sons
“devia de haver gente.
Á caça 195
Recolhemo-nos sobresaltados e curiosos, meios con-
vencidos de que breve, talvez, iriamos encontrar quem
nos fornecesse informações, e sobretudo milho, o cele-
brado milho!
Assim que rompeu a aurora de 1 de fevereiro met-
teu-se a expedição em marcha, e caminhando pelas
margens de um rio caudaloso, de cerca de 50 metros
de largo, chegou á beira de um outro curso de agua,
cuja grandeza e aspecto não podia deixar duvidas.
Era effectivamente o Luapula, os ruidos provinham
de um batuque!
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CAPITULO XXVI
NO LUAPULA
A tristeza de outr'ora e a alegria presente — Às chuvas, o vento e à
humidade — Panorama pittoresco —Flora e fauna —Campinas alaga-
das—O vento e a chuva no rio— Ardua tarefa dos primeiros dias — In-
stabilidade dos acampamentos — As nossas pretensões de visitar o Ban-
gueolo e evasivas dos indigenas — Obstinada reluctancia do secretario
do regulo, em não consentir que se construisse uma canoa — Rasões ad-
duzidas em vista do proceder de um zanzibarita-— À escravatura no ser-
tão e um quadro das scenas a ella referentes — Terminam pelo captiveiro
— Visitas a Kinhama e uma tempestade no rio— À expedição transpõe
Os ma-ussi —Seu aspecto, habitos, viver isolado e cumpri-
o Luapula
mentos originaes —Nós extrahimos fazenda das cataractas !-—Uma serra-
lheria no acampamento — Decide-se a partida — Manejos para captar as
boas disposições do regulo.
HOMEM DE KINHAMA
Segundo croquis
Etfectivamente, sem o esperar, estavamos à beira
do Luapula.
Após as fadigas e emoções da viagem atravez das
matas de Caponda, foi uma verdadeira felicidade o
encontro do grande rio.
Á tristeza tumular dos ultimos dias succedêra ago-
ra uma alegria estranha; parecia uma comitiva de
loucos, constituida por imfelizes, que, naufragos ainda
de hontem n'esse oceano de folhagem, vestidura dos
bosques do oeste, encontrava agora no rio um como
que porto de abrigo, uma praia de refugio.
Limpa de capms uma eminencia que se debruça
sobre a margem, n'ella se construiram acto contínuo
barracas espaçosas, onde nos imstallámos commoda-
200 De Angola á contra-costa
mente, apesar do intenso calor e das permanentes
tempestades que açoitavam o acampamento.
Chove n'esta região por modo extraordinario, sendo
raros os dias que se passam sem muitas horas de agua
acompanhada de trovões e relampagos, elevando-se
esta em pouco tempo nas grandes trovoadas a uma
centena de millimetros.
O rio, por onde deriva toda aquella que cáe sobre
o Bangueolo, cresce então n'uma só noite de 1 metro
e mais acima do nivel em que se achava.
O vento sopra rijo dos quadrantes meridionaes, as
trovoadas procedem do nordeste e principalmente do
sueste.
A humidade é al excessiva, opprimindo no mais
denso dos bosques os pulmões, e a tensão do vapor
da agua no ar, póde em muitos casos attingir a cifra
de 30 millimetros.
Dentro das barracas, embora se achassem constan-
temente ateadas fogueiras, as malas, caixas e calçado
cobriam-se inteiramente de bolor, logo que se não re-
petissem as limpezas.
A margem esquerda do Luapula está deshabitada e
inculta.
Ha poucos annos ainda, disseram-nos, havia ao
longo della villas e largos arimos!, que hoje desappa-
recem completamente, pela crescente mfluencia de Mu-
sir1, e muito receio que delle têem os ma-ussãi.
Nada mais pittoresco que as margens d'este gran-
de tributario do Zaire n'aquelle parallelo, vestidas de
1 Arimos, plantações.
No Luapula 201
tão frondosa e variada vegetação, que difficilmente se
póde descrever.
O seu leito tem 500 metros de largo, é pouco sinuo-
so, e as ribas são revestidas de densos bosques, onde
troncos enormes se vêem occultos pelos entrelaçados
ramos da pimenta selvagem, ostentando seus bagos
de coral, e por outros cobertos de curiosas fugeras e
trepadeiras variadas.
Na quadra pluviosa, esse arvoredo marginal afoga-
se, tal como nos igarapés do Amazonas, deixando só
ver as copas termimaes.
Nos velhos ramos superiores e a elevada altura ob-
servam-se as habitações do termes mordaz, assim co-
mo dos madeiros seccos pendem verdadeiras grinal-
das da Mucuna pruriens, inteiramente envolvidas por
basta folhagem, formando perfeita abobada.
A celebre cumba, de que falla Barth, arvore da
- malagueta, Xilopia Ethiopica, tem por aqui exemplares
que se lhe assimilham, se não são os mesmos, cobrin-
do profusamente as terras ribeirinhas, por meio das
quaes surgem os imponentes cachos da Combretum,
cujas bracteas, de um vermelho resplandecente, bri-
lham no escuro dos macissos, rivalisando em colorido
com os thyrsos de bastas campanulas alaranjadas, er-
guidos na extremidade dos ramos das spathodeas, e
uma infinidade de outras plantas.
Alegres quadrumanos saltam de ramo em ramo, en-
“tre os quaes um cynocephalo, parece ser a especie mais
vulgar. |
Os antilopes são communs por toda a parte, bem
como animaes de grande tamanho.
202 De Angola á contra-costa
O rhinoceronte, ha pouco por nós descripto, é ex-
tremamente abundante, povoando os bosques, sempre
attento aos menores ruidos.
Elephantes colossaes, de orelhas espalmadas, exer-
cem por esta terra continuas depredações.
Os high-lands, que pelo occeidente determinam a ba-
cia d'aquelle lençol de agua, desapparecem para sem-
pre, ao viajante que se acha proximo.
Apenas a leste se vê uma linha de collnas diviso-
ria das suas aguas e das do Bangueolo.
Para alem, seguem-se as terras dos ma-ussi, onde
se espraiam enormes lagos; ao oriente são os dominios
do regulo Kimhama, os dos ba-lungo, o paiz da Lunda,
e a zona do Bemba, pantanoso, e no limite o plateau
de Babisa, tudo paizes pelo geral pouco salubres.
Sulcado em todos os sentidos por grandes linhas de
agua que, engrossadas pelas chuvas, alagam as cam-
pinas suburbanas, o amplo districto que vamos des-
crevendo é quasi intransitavel na epocha das trovoa-
das.
As suas extensas planuras chegam a surprehender
pelo espectaculo do rapido alagamento, tornando-se
então em verdadeiras bacias, que facilmente se trans-
formam em pantanos.
O terreno é aqui tão plano, que bastam ás vezes
poucos millimetros de agua para produzirem charcos
seguidos.
E assim por meio d'essas lagoas e dos adustos ma-
cissos das gramineas e papyrus empennachados, corre
e alonga-se immenso lençol, que, como espelho gigan-
te, se perde pelas matas à distancia.
No Luapula 203
Adormecido em ampla bacia, durante as demoradas
calmas, que por mezes reinam, esse curso interior des-
perta impetuoso ao primeiro bafejar da procella, des-
pedindo veloz as suas ondas esverdeadas.
O espectaculo então torna-se magestoso, como ti-
vemos occasião de presenciar.
A agitada superficie do rio, revolta pela tempes-
tade, expelle em curvas cycloidaes avalanches de agua,
que, sacudida, investe os macissos marginaes, para os
torcer e arrancar, abysmando-os no pelago!
Seus afiluentes breve o engrossam, por milhares ir-
radiam n'um momento as lagoas do seu seio, espar-
ge-se o colosso pelas campinas, afogam-se os mata-
gaes, e, quando brilha o relampago no meio do venda-
val, só se distingue céu e agua.
Fogem delle os povoadores aterrados; sendo muitas
ás vezes as choupanas engulidas e numerosas as victi-
mas apanhadas de improviso em frageis canoas, e a
esta lucta medonha dos elementos, só é dado resistirem
monstros, como o crocodilo ou o hyppopotamo!
Os jejuns das ultimas semanas não nos haviam
consentido nos primeiros momentos tomar estreita
conta d'estes factos e da paizagem, pois o nosso
ideal então era comer e beber; 4 vista do milho, das
gallinhas, da carne de hypoppotamo e das panellas
de pombé, que o chefe d'al, Moi-Kinhama, acabava
de nos mandar, esqueceu-se tudo, pois as imperiosas
e tremendas reclamações do estomago não permittiam
demoras. |
Foi ardua a tarefa da primeira quadra, se bem que
gostosa, pois logo que voltaram os enviados do chefe
204 De Angola á contra-costa
com seus presentes e o convite do soba para que fosse-
mos mais para o sul 4 milhas, a fim de acampar fron-
teiros delle, entabolaram-se as relações, começando
as compras Incessantes.
Jíra curioso de presenciar a vertigem dos nossos es-
farmados perante as grandes canastras de milho; lou-
cos, perdidos, quasi se queriam vender por uma es-
piga.
Depois do milho e das gallnhas sucecederam-se os
pombos, a carne de antilope, os bellos peixes do Lua-
pula, fama iminterrupta, de que se não podia abrir
mão.
Os dias subsequentes á nossa chegada, foram gas-
tos em fazer acampamentos varios, segundo a vontade
do nosso novo amigo.
Como o primeiro construido tivesse ficado na con-
fluencia do Lobemba-Luapula, o regulo convidou-nos
para que viessemos para o sul estabelecer-nos e em
logar proximo delle, desembaraçado de riachos; assim
fizemos; uma noite porém, e sem o esperarmos, sub-
mergiu-se o acampamento, forçando-nos a fugir do rio
com agua pela cinta; facto que deu logar a instar com-
nosco, para passarmos á outra margem.
De campo em campo assim andámos, até definitiva-
mente nos installarmos na margem direita, para onde
fomos em canoas alugadas, pois outras não tinhamos,
é claro, pondo-nos essa circumstancia um pouco à
mercê do regulo.
Kimhama, sem embargo, era um bom homem, com
quem estivemos durante muitos dias nas melhores re-
lações, e de quem conservâmos grata recordação.
No Luapula 205
O nosso dourado sonho era visitar o lago, quer por
terra, quer construndo grande canoa, que poriamos a
nado a montante de uma cataracta que o rio tinha,
não longe do logar em que nos achavamos, chamado
Mambirima, para depois seguirmos curso acima.
Nem uma nem outra cousa, porém, podémos fazer.
Por terra oppunha-se elle formalmente, dizendo que
eram pouco certos os ma-ussi, bastando attentar no
que mezes antes Mieri-mieri, regulo d'ali, fizera a um
branco! para que nos dissuadissemos d'esse proposito.
Por mar não era mais provavel, e a ir, seria só à
cataracta, tendo aimda assim em caminho Moi Kitum-
bi, junto ao rio Luera, homem assás duvidoso para
que n'elle nos fiassemos.
Estavamos assim collocados entre Seylla e Caryb-
dis, obrigados a ficar ali ou voltar atraz.
O desapontamento era cruel: renunciar ao mais
bello dos nossos sonhos no momento em que julgava-
mos vel-os realisados, era positivamente uma decepção.
Mas que fazer, que partido tomar?
Para cumulo de infelicidade, o velho regulo não con-
sentia sobretudo na construcção da canoa. Sempre que
nisso lhe fallavamos, reunia-se o conselho de estado,
e logo uma estranha creatura, especie de seu secre-
tario particular, sustentando, que eramos agentes se-
cretos de Muswra, com elle combinados a fim de, fingindo
compra de mantimento, furtarmos as canoas para em
breve passar uma querra enviada por este, votava enfu-
recido contra toda a concessão n'esse sentido!
1 Muito provavelmente Giraud.
206 De Angola á contra-costa
O proprio Kinhama chegára a espantar-se uma vez
desta obstinação, e muito embora, arvorando-se em
tutor, tivesse por nós uns cuidados e extremos, que
mais parecia sermos dois jovens imexperientes que
homens a sós atravessando o continente; não deixou
de mostrar a sua estranheza ante a declaração do ca-
beçudo secretario.
Enviados do chefe da Garanganja, lá parecia ao
velho que não podiamos ser.
Alem disso, para ageravar esta ordem de cousas,
descobriu aquelle senhor, que o famigerado Trinta ha-
via estado largo tempo no Musiri, sabendo a lingua
da localidade, e portanto era mais um espião que tinha-
mos a nosso serviço, idéa de que não foi possivel ar-
redal-o, abortando por isso os nossos planos e fene-
cendo a insistencia da construceção da grande canoa.
Pobre Trinta, mesmo à parte as suas funcções de guia,
foi-nos sempre embaraço.
Parece que um ou dois annos antes, um mercador
de Zanzibar havia ah estado, e tendo-lhe Kimbama
consentido que construisse uma embarcação, este levou
a effeito a obra, e termmada ella, embarcou-se, rou-
bando tres mulheres e fugindo com os seus.
São a peste do interior estes mercadores de escravos
e traficantes de Zanzibar, de cujo apparecimento em
grandes comitivas vem sempre a desolação e a morte.
O seu repellente negocio leva-os a esquadrimhar
todos os sertões, e, ao que parece, não é este dos que
tenha sido menos flagellado.
Quão frequente não é o ouvir dizer a este ou áquelle
indigena, que a terra que adiante do viajante se es-
e]
No Luapula 204
tende, hoje deserta, era outrora extensa campina, se-
meada e farta, onde pullulavam as aldeias 4 beira de
crystallinos regatos.
ER VAN MuYDE Hj
TYPO MA-USSI (face)
Segundo photographia
Que os seus habitadores eram ricos e felizes, viven-
do em meio de rebanhos e da mais notoria abundan-
cla.
Depois ouvil-os acrescentar: Um dia das terras do
nordeste, uma alluvião de languanas ou outros, trans-
208 De Angola á contra-costa
pondo o Tanganika, começou a espraiar-se para 0 0es-
te, e mvestindo em razzias medonhas com tudo em ca-
minho, veiu mvadir a terra em questão.
Bastos como formigas, acoitados pelos capins dos
arredores, preparavam-se pela noite para ao romper
da aurora pôr em execução seus tenebrosos planos.
Sempre que um dia começava, era assaltada uma al-
deia, sempre que uma aurora despontava, eram victi-
mados os naturaes.
E bem verdade isto é, leitor.
Em meio de gritos de guerra avançavam essas co-
hortes de malvados pelo mato.
Chegados ás paliçadas de machado em punho, fa-
zem-nas voar em pedaços, precipitando-se no interior
com feroz anciedade.
O espectaculo que se segue é pelo geral indeseripti-
vel.
Desvairados pelas rums paixões que a desregrada
cubiça lhes mspira, loucos e perdidos, lançam-se a tudo
e todos como verdadeiras feras, disputando entre si a
posse de quanto vêem.
Em dez minutos opera-se a confusão mais estupen-
da, a que logo se segue um medonho concerto de gri-
tos, berros, urros, exclamações, tiros, gemidos e pro-
testos!
Aqui é um grupo que, segurando uma joven de vmte
annos, tenta manietal-a, disputando depois entre si a
sua posse.
Adiante está um barbaro que à propria mãe arranca
o filhinho, vibrando-lhe para isso um formidavel golpe,
que quasi lhe desarticula o braço.
No Luapula 209
Mais longe uma dezena roubam, ferozes, os despojos
do regulo, que a seus pés jaz estendido, com o coração
varado por uma zagaia.
Em redor ferem-se golpes em todos os sentidos, para
calar protestos ou satisfazer brutaes desejos; e quan-
do ao caír da tarde o sol, despedimdo-se, deixa mergu-
lhar nas sombras a horrida scena, da senzalla só existe
cmza, e dos naturaes uma centena de escravos!
Em orgia sem igual passam a noite os conquista-
dores, violentando estas, zurzimndo aquelles, até que
rompe o dia e com elle recomeça o saque.
Emfim homens, mulheres, creanças sem distineção
de idades, acorrentados ao libambo (cadeia), lá vão car-
regando os fardos que os bandidos foram pilhando.
Continúa a negra quadra com todos os horrores.
Durante dias, as miseras creaturas, quebradas pela
fadiga, deprimidas pela fome, com os pés em chagas, os
membros sulcados de profundos rasgões, que o azorra-
que dos guias sem cessar reabre, assistem a innumeras
scenas de morticinio, arrastando-se a custo sob as pe-
sadas cadeias.
Em côro de tristonhos lamentos e angustiosas supph-
cas, no meio das hediondas scenas, a que taes marchas
lugubres dão logar, começam a morrer por dezenas.
Muitas vezes, alternando com os vivos, vêem-se à
longa corrente, uns moribundos, outros já cadaveres,
arrastados pelos companheiros, que os guias não soltam
para não repetir um trabalho incommodo.
Agora é uma pobre mãe, emmagrecida, esqueletica,
que, num ultimo arranco, aperta ao peito o filhinho
hirto, já morto; logo é uma outra, que, tendo succum-
VOL. II. 14
210 De Angola á contra-costa
bido, vae arrastada, cingindo com os resequidos braços
o fructo das suas entranhas, que, ainda com alento, não
póde desligar-se, sendo victima dos choques que o ca-
daver experimenta de encontro ás asperezas do esca-
broso terreno.
E assim vae a caravana proseguindo em funebre
marcha do nascer ao pôr do sol, atravez dos campos,
que ennegrecidos penedos semeiam, dando-lhe um ar
de luto permanente, até alfm chegar rareada ao seu
destino —o captiveiro.
Duras scenas são estas, que o nosso seculo enver-
conham!
Como Kinhama nos tivesse mtimado a mudar pela
terceira vez o quilombo, aprestou-se tudo para esse fim,
depois de termos despendido vinte dias em negocios e
entrevistas para conseguir a exploração do curso supe-
rior do Luapula, e de transposto o rio dez vezes, com
o risco de algum mergulho, muito possivel n'esta epo-
cha tempestuosa.
Eis a tal respeito o que em nosso diario se acha, rela-
tivamente a uma visita feita a 25 de fevereiro:
«Permimado um formidavel aguaceiro, despedimo-
nos do regulo, seguindo para a praia a fim de embar-
carmos.
«ira sol posto.
«A esta hora o rio, assombreado pelos primeiros
assomos da noite, tem aspecto menos attrahente e
poetico que pelo dia. Já não é o limpido crystal, re-
verberando a luz do astro rei, de margens matizadas
de nenuphares e outras flores, por onde volita um
mundo de alados imsectos, expondo ao sol suas cores
No Luapula 211
variegadas; mas uma superficie escurecida, estirada e
de tetrico aspecto, lembrando no profundo socego que
ali rema, o fundo abysmo que sob nossos pés se
alonga, domimio de ferozes habitadores.
SVNAN MUYDEN
TYPO MA-USSI (perfil)
Segundo photographia
«Vogavamos vagarosos rio acima, pois tinhamos 2
milhas a percorrer para chegarmos ao ponto de desem-
barque, envoltos no completo escuro da noite, e en-
caixados n'um estreito esquife, quando nos surprehen-
deu uma tremenda tempestade.
212 De Angola á contra-costa
«Em verdade e apesar de marinheiros, aos primei-
ros rumores da procella, confessâmos que nos senti-
mos pouco á nossa vontade em cima de agua.
«lira uma navegação de novo genero.
«A casca que nos transportava tinha 3 palmos de
largo, sendo porém bastante comprida.
«Aos continuos repellões do vento, encrespou-se
rapido o humido fluido, cuja corrente a favor este ac-
celerou, açoitando-nos de lado com grossos pingos a
chuva.
«O pequeno batel, colhido por tão variadas forças,
balançava-se á doida, demonstrando na sua como que
mstabilidade, que não havia sido construido para taes
proezas.
«Os pagaeiros vogavam energicos, agachando-se no
mtuito de enxergar e reconhecer a terra fronteira, em
meio d'essa confusão de chuva, vento, gemer de arvo-
res, tresmalhar de vagas, ao passo que nós, a tiritar,
ageitavamos o fato ao enxarcado corpo, e ferrando as
mãos na borda, assistiamos como estranhos a esta me-
donha scena!
«Nem pio! toda a nossa sciencia de marinheiros
caía perante a experiencia de dois negros de longas
pagaias em punho.
«Por vezes o esquife, elevando a proa, ameaçava
mergulhal-a para sempre, ao passo que em redor o
marulho da agua produzia ruidos estranhos, como que
murmurio de orações!
«Então, ao estalar a faisca, estremeciamos imvolun-
tariamente; e vendo pelo deslumbrante clarão dos re-
lampagos o quadro de que faziamos parte, ficavamos
No Luapulo 215
por alguns segundos como que cegos e envolvidos
no ribombo.
« De tempo em tempo, a canôa nas ondulações era
detida sem o esperarmos, pelos ramos das arvores ala-
cadas, e com os balanços desencontrados quasi sosso-
brava, sentindo nós calafrios, com a idéa de uma pos-
sivel visita aos crocodilos.
«Finalmente, após duas horas de esforços e sustos,
dando em porto amigo, desembarcámos.
A 1 de março transpozemos o Luapula para a mar-
gem direita, visto, no dizer do regulo, só por lá haver
caminhos, e por aqui matagaes e alagamentos.
Os ma-ussi são os povoadores desta terra; deprimi-
dos, de feio aspecto e ferozes, exageram a sua fealda-
de com o repellente uso de limar todos os dentes da
frente em ponta, rapando o cabello nos parietaes. Os
desenhos darão d'elles idéa melhor que qualquer des-
cripção.
São marimheiros e pescadores, modo de vida assás
lucrativo n'estas regiões, onde existe extraordinaria
abundancia de grande e bom peixe, sem fallar de cro-
codilos, hyppopotamos e numerosos manatus.
Vivem, por ass dizer, isolados na sua terra, como
quasi todos os povos d'aqui, arriscando-se ao ultra-
passar-lhe as raias a perderem a cabeça.
Os cumprimentos usados por estes mdigenas são
tambem originaes.
Rolam-se de costas perante o soba, e, batendo as
palmas, operam com os labios um som similhante
áquelle por nós produzido para chamar os pimtainhos,
ao passo que aquelle responde por modo diferente,
214 De Angola á contra-costa
isto é, aperta os beiços para forçar o ar a escapar-se,
produzindo um ruido desagradavel.
Fumam nas mutópas e untam as cabelleiras com
azeite.
Exageradamente cubiçosos e ladrões, são por isso
em extremo desconfiados, e sobretudo de uma pueri-
lidade sem igual.
Assim, o celebrado secretario do soba teimava, que
nos não deixassem ir à cataracta, porque, sendo nós
homens saídos do calunga (mar), e de lá trazendo as
fazendas e contaria, era de crer que da mesma cata-
racta, que fazia ruido como o mar, soubessemos della
tambem extrahir fazenda.
E em tal caso queria que os ensmassem primeiro a
tiral-a!
O velho Kinhama, que via nos brancos umas creatu-
ras sobrenaturaes, que tudo sabiam fazer, pensou em
reorganisar o seu material de guerra, e trazendo-nos
a proposito quantas armas velhas possuia, a fim de que
as concertassemos, mandou dar rebate por toda a terra,
para que viessem quantos esmerilhões quebrados exis-
tissem.
Durante dias passámos a forjar e temperar fuzis,
arranjando os fechos, até que, decidido nada poder
fazer-se no lago, e sobretudo vendo que a fazenda e o
quinino estavam a acabar, resolvemos partir a 5 de
março, e explorar a sós por nossa conta, o curso do rio
até onde podesse ser e as nossas forças o permittissem.
Restava porém dispor cuidadosamente o regulo, pois
havendo de o atravessar novamente, só o poderiamos
conseguir por graciosa concessão delle e em suas ca-
No Luapula 215
nôas, arriscando-nos, caso o indispozessemos, a ficar
perpetuamente entre o Luapula e o Bemba.
Todo o juizo era pouco.
Procedendo com toda a cautela, preparámos as cou-
sas em nosso interesse, e presenteando o velho com uma
arma reiuna e um bello panno de reps, alcançámos
elle a promessa de enviar barcos, que tres dias a mon-
tante nos passariam, com a condição de no regresso lhe
trazerem um presente-surpreza.
Feito isto, deixámos para sempre o lago, onde com-
tudo colhemos varias e diversas informações, cujo re-
sumo aqui apresentâmos.
Na zona lacustre que a leste de nós ficava, existe, se-
gundo elles, um lago profundo, d'onde sãe o Luapula, e
se chama Bangueolo:; junto d'este e ao nascente alonga-
se um outro de caracter pantanoso, chamado Bemba,
que com o primeiro communica por um canal denomi-
nado Imanzai.
Estes dois lençoes de agua téem ilhas por meio, onde
se dorme em viagem, bem como muitos afluentes, prm-
cipalmente pelo sul, que n'elles desaguam na estação
chuvosa.
O rio corre do norte para o sul, e, proseguimdo em
tortuosas voltas, passa na antiga residencia do chete
Mieri-meri, corta adiante perto da terra de um outro
chamado Musiri, e, despenhando-se na cataracta Mam-
birima”, segue por entre cachoeiras a caminho do poen-
te, para então volver ao norte.
1 Erradamente chamada nas cartas recentes Monbututa, que é o nome
de um rio que proximo desagua, Mombatete.
216 De Angola á contra-costa
Recebe pelo sul muitos tributarios, e, deslisando am-
plo por meio de ilhas, vem por fim a passar no paral-
lelo em que nos achavamos.
Assim, a indicação de Livingstone sobre a passagem
originaria do Luapula (do lago) estava deslocada, cir-
cumstancia que nada tem de estranho, porque o illus-
tre viajante não chegou ali; agora, porém, deve achar-
se perfeitamente determinado o seu verdadeiro logar,
em vista da viagem e esforços de V. Giraud, que lá se
nos antecipou apenas-umas poucas de semanas.
Mesmo o logar da morte do viajante inglez acha-
se erradamente collocado nas cartas, sendo a residen-
cia de Kitambo, segundo todas as indicações, muito
mais para o sul e a caminho da Muxinga, facto que
tambem nos leva a crer que o ousado pioneiro, ao sen-
tir-se dominado pela doença, procurava o caminho do
Zumbo. |
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CABETULO XXVII
AO SUL
Kinhama fica e nós abalâmos — Os recursos da expedição e a geologia
da zona que vamos percorrendo — O melhor caminho para o meio dia e
as dificuldades em conservar-se n'um trilho do mato— A caravana trans-
põe o Luapula — Um quadro da paizagem que se apresenta do outro lado
do rio — Dez dias sustentados a gallinha e a pirão — Um mau e um bom
successo — À cata do trilho do susueste — Os leões e o Trinta, caçador de
bufalos — Ainda no Luapula e o vento do sueste — Manifestações scor-
buticas nos chefes da expedição — Indicações geraes sobre os primeiros
symptomas, bem como o correr da doença — Inventario dos nossos haveres
e ultima tentativa para ver a cataracta — Era tempo, urgia proseguir—
Aspecto do paiz, o deserto e os elephantes— Pavor inspirado a estes
animaes pela formiga — Javali de novo typo— Uma terra provavelmente
povoada outr'ora e o unico monumento que o indigena deixa de si— Ban-
do de fugitivos de Caponda e falta de fé gentilica — Causas da guerra de
Caponda— À cabeça do Kalama — Os leões na noite do eclipse de 30 de
março, e perigo de que Antonio escapou — Almoço feito com agua do
Zaire, jantar com a do Zambeze — Vasto plateau — Novo trilho e um rhi-
noceronte solitario — Densos matos e o capim navalha,
-.. QUANDO UM FORMIDAVEL LEÃO COROADO SALTOU NA SUA FRENTE...
Kimhama, envolto no seu panno dourado, lá ficára
em completa immobilidade, emquanto nós, apertando
o passo, seguimos Luapula acima, decididos a cortar
directamente para o Zambeze.
Os exiguos recursos de que a expedição dispunha,
a 15so nos obrigavam, assentando em que qualquer de-
mora podia comprometter a retirada..
Se a caravana houvesse sido supprida, como foram
as de Speke ou Stanley, nós teriamos continuado em
frente a marcha, a despeito de quanta vontade em
contrario apparecesse; se ao tempo da nossa passagem
29() De Angola à contra-costa
no Luapula, possuissemos amda emcoenta fardos de
fazenda e vinte de missanga, teriamos seguido atravez
dos ma-ussi e, comprando canoas, navegado no lago.
Mas os recursos estavam apenas em dois fardos in-
completos e num punhado de contaria branca, que
ninguem queria acceitar em pagamento, acrescendo
ainda uma unica meia onça de quinmo para todo o
trajecto.
Tudo bem pensado, pois, havia-se resolvido abalar.
Após tres dias de marcha em companhia do velho
Mutonhi (grande macota e secretario do regulo), que
parecia experimentar satisfação especial em nos sacu-
dir para fóra dos domimios de seu amo, acampámos
junto à beira do rio em questão, cujo curso viemos
approximadamente prolongando.
A depressão central, que forma a sua bacia, é ex-
clusivamente constituida por schistos argillosos umas
vezes cinzentos, outras avermelhado escuro, muito fi-
namente micaceos em pontos e de certo pertencentes
ao grupo paleozoico.
Do seu desaggrego resultam esses tractos imper-
meaveis e escorregadios, que tanto favorecem os depo-
sitos aquosos e embaraçam a marcha das caravanas.
Por toda a parte se vêem semeados de calhaus, de
quartzo rolado, de lascas de silex, de accumulações
emfim de hematite concrecionada.
O subsolo onde o podémos observar era composto
por um grés muito rijo de cimento argilloso, e outro mais
fimo, argillo-micaceo, de côr ochracea, notando-se às
vezes filões de quartzo com limonite em amostras dis-
persas.
Ao sul Su:
Na opinião dos guias d'al, o melhor caminho, ou
antes o unico que n'aquelle parallelo existia para dire-
ctamente attingir as terras d'alem da Muxinga, ficava
ao oeste do Luapula, urgindo por isso atravessal-o no
ponto em que nos achavamos, e seguir para o susu-
este, contornando o rio, até o encontrar no meio dos
matos.
Essa linha directa para o sul atravessa todo o sertão
meridional na extensão de 240 milhas, deixando ao
nascente Ulalla e ao poente Iramba, e vae bifurcar-se
sobre a mesma Muxinga, lançando um ramal para o
rio Lunsenfoa e outro para Liteta.
Estavamos assim em perigo de nos vermos de novo a
sós, pois todos afiançavam ser para ahi a terra de-
serta, obtendo a unica indicação de que deviamos
procurar nas selvas o trilho que se dirige ao sueste,
e depois, mettendo por elle, fazer 200 milhas geogra-
- phicas para o meio dia.
O que o leitor porém não sabe, é que sendo já pro-
blema serio, procurar vereda em meio de sertões adus-
tos, metter por ella n'uma tal extensão, é mais do que
ISSo, é um impossível.
Apparece, por exemplo, o caminho, e logo a cara-
vana dirige-se por elle decidida. Porém, 3 milhas mais
adiante atravessa uma campima alagada e começa a
ser dificil distinguil-o; 2 kilometros mais longe, uma
manada de elephantes, tendo por elle passado, fize-
ram-n'o totalmente desapparecer.
Desnorteados cortam os homens á direita e esquerda,
e se acaso téem a felicidade de o encontrar de novo, é
para, ao cabo de uma hora de cuidados, o verem enfiar
222 De Angola á contra-costa
de cruz, com um rio de leito profundo, e sumir-se acto
contínuo da outra banda.
E estes factos, repetindo-se, pelo menos, dez vezes
em doze horas, é de presumir a dificuldade, durante
semanas de trajecto, de proseguir sem ter por guia
pessoa que o conheça.
Apesar disso, a 8 de março transpozemos o Lua-
pula, junto á confluencia de um novo Lubemba, e fa-
zendo campo na margem esquerda, largámo-nos a con-
siderar.
Estavamos a salvo de alguma exigencia dos ma-ussi,
e Isso não era pouco, urgia agora descansar uns dias,
a fim de adquirir quanto peixe apparecesse, e leval-o
em pilhas e secco, para o meio dia; bem como se pen-
sou em não partir, sem tentar um ultimo esforço, e
fazer uma visita a Tenho, regulo que domina na cata-
racta.
À paizagem que do quilombo se desdobrava aos nos-
sos olhos era magnificente. O prateado lençol de agua,
que aqui não tem menos de 600 metros de largo, desliza
veloz para o norte por meio de ilhas e bancos, ornados
por macissos de arvoredo, do meio do qual se eleva
a alturas prodigiosas a Hlyphocne ventricosa.
As bacias e aberturas nas margens são assoberba-
das de massas de gramineas e flores aquaticas, que
cobrmdo-as similham terra firme, quando ás vezes
podem encharcar inteiramente um homem.
Ahi socega a agua nas represas.
Os -cypós das Apocinaceas ligam-se de arvore em
arvore, entrelaçando a ramaria de plantas á feição do
Pandanus, cujas raizes sustentam os troncos no ar, em-
Ao sul 2a
quanto que outros se debruçam e tocam com seus ca-
chos rutilantes os lirios e nenuphares que revestem o
solo.
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TYPO MA-USSI DE MUIÚ
Segundo photographia
Regosija-se o mundo alado, enchendo o ar com seus
canticos e gorgeios, ao passo que quadrumanos ligei-
ros saltam espavoridos á nossa approximação.
Dez dias ali estivemos placidamente embevecidos
perante tal panorama, despendendo as horas de tra-
balho em diversas observações, entre as quaes figu-
224 De Angola á contra-costa
ram as distancias lunares das quaes mais adiante fal-
laremos,. gastando outros em devaneios, empregando
algumas a comer gallinhas guisadas em tutano de ele-
phante, que muitas ali existem, pratos de pirão de mi-
lho, peixes cozidos !, e tudo regado com amplos copos
de pombé.
De Moi Muié vinha gente diariamente.
Estavamos uns perfeitos regulos africanos, indiffe-
rentes ao tempo e inclinados ao pasmo.
As mulheres da caravana tambem nos forçaram a
prolongar a demora, pois que, prestes a serem mães,
forçoso era ter com ellas essa attenção.
A 16 nasceu um robusto menino, ao qual o augusto
progenitor, o Trinta, não pôde por muito tempo ter a
consolação de acalentar, visto ter succumbido vinte e
quatro horas depois; a 17 um outro viu a luz do dia,
ficando nós na expectativa de mais dois partos, que era
de crer viessem a ter logar em Ulalla!
Accommodados estes negocios abalâmos com a au-
rora de 18 de março, em procura do caminho que nos
devia ficar a susueste, e de algum ramal que nos con-
duzisse, como ficou dito, 4 cataracta; ao passo que alu-
gavamos uma grande canoa, para levar as damas con-
valescentes, tres dias a montante do logar em que nos
achavamos.
No acampamento dessa noite deu-nos o tão celebra-
do Trinta serios cuidados, pois, cheio de saudades da
1 E extremamente abundante o peixe no Luapula, repetimos, haven-
do talvez não menos de trinta especies diferentes. E para lamentar que
a absoluta falta de alcool nos inhibissé de trazer exemplares.
Ao sul 225
sua Rosa, que seguíra por mar, abalou ao escurecer
matos a dentro em procura do rio e della.
Muito casualmente um formidavel leão com a sua
companheira, logo que as sombras nos envolveram em
seu manto, veiu postar-se junto do campo, soltando ur-
ros tremendos.
Acontecia, porém, que por vezes o animal calava-se,
deixando decorrer quartos de hora sem dar rumor de
s1, facto que nos trouxe por espaços de sobreaviso,
esperando a todo momento vel-o dar imgresso no qui-
lombo, e sobretudo nos encheu de receios, pois podia,
regressando o enamorado guia da sua entrevista, pre-
cisamente n'um desses mtervallos, passar a fazer mnes-
peradamente uma viagem forçada, atravez do appare-
lho digestivo do felmo!
E se não viajou pelo menos assustou-se, pois na
volta, sentindo entre si e o quilombo o ronco do ani-
“mal, não fez mais do que abandonar a arma, e, tre-
pando a uma arvore, dormir ahi empoleirado, facto que
por vergonha negou, dizendo haver-se perdido, por
perseguir uma manada de bufalos, dos quaes matára
dois de um tiro!
Tres dias mais longe avistámos de novo o rio, e
com elle as damas e a canoa que pretendiamos conser-
var para o explorar, facto este, que não teve cffeito,
por fugirem os barqueiros com a embarcação.
Sopra de novo o vento sueste rijo, as chuvas acabam
n'esta epocha, só no quadrante noroeste se vêem nu-
vens e o fuzilar dos relampagos, e por onde primeiro
começaram as trovoadas, é ahi que agora vem termi-
nar.
VOL, II.
226 De Angola á conira-costa
Muito infelizmente, apesar da situação melhorada
em que nos achavamos, começámos por nossa vez aqui
a padecer, e, ou porque durante muito tempo desco-
nhecemos o regimen vegetal, ou porque agora nos ali-
mentavamos quasi exclusivamente de peixe, ou por.
outra qualquer rasão, a verdade é que o scorbuto co-
meçou a atacar-nos gravemente.
Às gengivas ulceradas sangravam a miudo, a inflam-
mação da bôca e o ardor constante affligiam-nos por
modo, que não nos permittiam fumar e até comer, zom-
bando de certa maneira do tratamento pelo chlorato
de potassa.
O scorbuto do sertão, como algures Já tivemos occa-
sião de dizer, differe um pouco d'aquelle que conhece-
mos como scorbuto do frio, e ao passo que n'este são
as Inflammações e ulceras de que acabâmos de fal-
lar como que as manifestações primarias da doença,
n'aquelle são ao contrario tardias, e por assm dizer
evidente indício de definitiva geral mfecção.
Começam os primeiros symptomas por um certo
prurido na parte inferior das pernas e tornozelos,
que, excitando a comichão e o consequente coçar, acaba
por desapparecer em parte, deixando formar pequenas
fistulas.
Pouco a pouco protundam estas, e augmentando em
circumferencia, resistem ao tratamento da quina e
camphora, ou outro qualquer, ao passo que, quando
occasionalmente fecham, fica uma mancha larga e es-
cura, que tarde desapparece.
Este estado conserva-se em geral largo tempo, seis
mezes ou um anno, até que. por fim, qualquer causa de
Ao sul 2
terminante, frio, chuva ou mudança de alimentação, e
talvez a imtroducção subita de alcool no novo regimen,
provoca as manifestações que a miudo se observam.
Bôca, mucosas, gengivas, tudo se mflamma, e esta
ordem de cousas, quando se demora sem tratamento,
só tarde na Europa desapparece por completo.
Tendo fugido os barqueiros com as canoas, ficámos
sós, e caminhando ao rumo da agulha no prolonga-
mento do rio, achámos, a 10 milhas adiante, o trilho
de que temos fallado.
Acampou-se, decidindo então que um de nós al
ficasse, emquanto o outro iria em frente reconhecer o
Luapula até onde podesse. Inventariou-se o que pos-
sulamos, que então se reduzia a trinta peças de fazen-
da, tres latas de chá, meia onça, quando muito, de qui-
nmo e duas pequenas pharmacias.
À 24 portanto partiu aquelle a quem cabia essa tare-
“fa e, afastando-se um pouco do caudal do tributario do
Zaire, proseguiu para o susueste.
Largas campinas o defrontavam.
À principio começaram os ribeiros a multiplicar-se,
era o Kiofochi pequeno, logo o grande, adiante ap-
pareceram alagamentos que foi preciso contornar, de-
pois novos rios, até que ao cabo de dois dias de marcha
encontrou-se um grande curso de agua, que, sendo im-
possivel dominar, o obrigou a retroceder.
Estava fechada a passagem, só com ponte ou canoa
se transporia; estava em resumo exarado no livro dos
destmos que a recondita cataracta não seria por olhos
nossos admirada. Era triste, mas paciencia; depois nós
Já não estavamos, ao tempo, muito para teimas.
228 De Angola á contra-costa
O Luapula proseguia limpo e largo com uma cor-
rente de 4 a 5 milhas, podendo observar-se, para lá
do rio já citado e ao longe, a quebrada que origina o
desnivelamento.
Finalmente, dizendo adeus ao grande tributario do
Zaire, que tanto trabalho e fadiga nos havia propor-
cionado, voltámos decididamente as costas ao norte, e,
proseguindo pelo trilho junto ao qual estava acampada
a caravana, marchámos decididos para Ulalla.
Era tempo e urgia proseguir.
«Ao sul», foi a voz.
Todos os riachos, sem excepção, corriam para o nor-
oeste, para irem desaguar no Lucutáboa, que agora
tinhamos á nossa direita e deslisa todo elle approxima-
damente do sul ao norte.
A altitude acima do nivel do mar, que após a nossa
chegada aos dominios dos ma-ussi, não tinha sensivel-
mente variado, começava agora a crescer.
O paiz era menos plano, menos fechado, os bosques
menos espessos, alternando com sulcos e depressões
vestidas de gramineas, onde serpeavam pequenos r1-
beiros, que pouco a pouco fam decrescendo, o que.
provava tambem que íamos para uma linha divisoria
de aguas.
E fertil e deve mais para o sul ser naturalmente
saudavel esta terra, caleulando-a nós accessivel ao es-
tabelecimento de europeus.
Abundam n'ella os elephantes, e por modo que logo
no primeiro acampamento dois mvestiram com o Trin-
ta, que, apesar de ter uma bella Snider na mão, se
escondeu atraz de um morro de termites, allegando
Ao sul 229
depois que assim procedêra, para ver se os bichos vi-
nham para junto delle!
E smgular o receio que a formiga, esse insecto quasi
antipoda do elephante na escala dos seres, inspira a
este animal.
O bisonde (formiga guerreira) sobretudo, ao appro-
ximar-se, causa-lhe um verdadeiro pavor, impellindo-o
a fugir acto contínuo.
Se o surprehende a dormir ataca-o de subito, e logo
lhe investe com as orelhas, tromba, olhos, por tal modo
que, segundo nos affirmaram, chega a matar-se, cor-
rendo à solta pelos matos e dando com a tromba pelas
arvores!
À um dia de marcha do logar atraz citado, andámos
em perseguição de caça, abatendo um javali, que nos
pareceu differente dos das tres especies já atraz men-
cionadas, e cujo desenho não tivemos ensejo de fazer
“para demonstrar talvez a existencia de um quarto ty-
po destes feios viventes.
O deserto volvêra a cercar-nos; sem embargo, devia
esta terra em remotos tempos ter sido povoada de li-
batas numerosas, de que não encontrámos vestigios,
mas a prova evidente existe nas arvores outrora cor-
tadas em grande numero a 1 metro de altura do solo,
que mais tarde rebentaram, ficando o grosso madeiro
de baixo, sobrepujado por delgadas hastes, unico ves-
tigio que de si deixa o africano, elle que cousa alguma
construe perduravel.
Todas as suas obras, como grandes cubatas, pali-
cadas, arruamentos, pontes, etc., em breve o tempo e a
força vegetativa destroem, desfazendo-as e cobrindo-
230 De Angola á contra-costa
as por maneira que seis annos depois o viajante passa
sem que d'ellas descubra o menor vestigio.
Como por magico transformar, tudo se some.
Volvem-se matas e selvas, onde usualmente e de pre-
ferencia o bufalo transita, em busca de alguma planta
de cultivo que haja ficado esquecida pelos arimos, e
onde os ratos dominam, cubiçosos de ver o que as gra-
mimmeas podem dar.
Afastando-se o homem, desapparece com elle o seu
trabalho de annos, tornando tudo em redor ao aspecto
selvagem de outr'ora, e quando o mvestigador, ao ter
noticia dos movimentos migratorios de uma tribu qual-
quer em um sertão desconhecido, procura as rumas
das povoações onde ella domimou, póde estar certo de
ter como unica indicação, os córtes das arvores pelo
negro derrubadas.
Pela tarde descansámos.
Como o sol baixasse rapidamente, andavam os nos-
sos azafamados em procura de paus proprios para a
construcção de cubatas, quando um do bando, que se
dirigira ao oeste, deu noticia proxima de fumo, saíndo
do mato, e muito provavelmente de homens ali acou-
tados.
Quem poderia ser, pensavamos nós, que áquella
hora se regosijava em tão reconditos sertões, abeirado
de um fogo que, sem o saber, o denunciava.
Posto a caminho Trinta com mais tres companheiros,
eil-os que se approximam de um acampamento sordido,
escondido entre as grandes hervas, sendo de subito
recebidos por meio cento de homens emmagrecidos e
nús, de arcos tendidos e settas apontadas!
Ao sul pro |
Não podendo operar rapida fuga, pelo grande nu-
mero de mulheres que tinham, e peso das creanças,
pareciam estes desgraçados estar decididos a defender-
TYPO DE IRAMBA
Segundo photogvaphia
se ali, suppondo-nos aggressores do norte e caravana
naturalmente de Musir. |
Ao pronunciar o nome d'este regulo, tremiam os im-
felizes como canniços soprados por vendaval, olhando
para nós com um ar de desvairamento de quem está
perdido para sempre.
252 De Angola á contra-costa
Só a custo os podémos convencer de que eramos
gente pacifica, e mesmo honesta, em busca de cami-
nho para a nossa terra, não tendo por mister fazer mal
a pessoa alguma. E logo conseguimos saber que esses
infelizes eram outr'ora habitadores das terras de Ca-
ponda, e, fugidos durante a guerra, erravam já de ha
muito pelos matos, sem saber para que terra deveriam
1 assentar.
De um de Iramba lhe fixámos o busto no cliché.
Possuidores apenas de arcos e flechas, difficilmente
podiam caçar, achando-se todos mais ou menos esfo-
meados e em estado de magreza que mspirava dó.
Distribuindo com elles alguma carne, porque pouca
podiamos ceder em vista do isolamento em que nos
achavamos, convidámol-os a proseguir comnosco para
o sul, afiançando-lhes que para essa banda arranja-
riamos terra de soba conhecido, que consentiria em re-
cebel-os e deixal-os estabelecer-se em paz.
Escusado é dizer que, após accederem contentes á
nossa proposta, pela noite se escaparam desconfiados,
não dando nós nunca mais noticia de tal gente.
E quereis saber, leitor, a futil causa d'essa tremenda
guerra, da qual mais de um vez temos fallado, e que
arrasou todo o sertão do norte, limpando-o como a
palma da mão, e pondo-nos tambem em perigo de
morrer por lá á fome?
Eil-a:
Caponda tinha um macota grande na terra, designa-
do por Kalama, e que, segundo parece, era um ousa-
do perturbador da paz das familias, com os seus per-
manentes requestos ás damas.
Ao sul PD
Collocado uma bella tarde á beira do Luapula, o
famigerado D. Juan, tendo apercebido na outra mar-
cem uma das companheiras de Kinhama, taes artima-
nhas e feitiçarias poz em pratica, que, como sapo em
face da donimha, attrahiu a imfeliz, levando-a a aban-
donar o lar.
Até aqui não tinha a questão para o velho senhor
um jfacies de grande consequencia, porque mulheres,
pensava elle, havia muitas; o que porém lhe despertou
mopinadamente as iras, levando-o a lançar mão de um
energico recurso repressivo, foi a cireumstancia de
haver o Kalama, ao afastar-se com a sua diva, pregado
um feitiço de tal ordem na margem do rio e porto, e
isto muito naturalmente para se pôr a coberto de
qualquer perseguição, que ninguem ali ía que não suc-
cumbisse de prompto!
Consultados os quinhbandas no modo de resolver o
mtrincado problema, foram todos de unanime opimião,
que só colhendo o Kalama e cortando-lhe pelo rente
a cabeça, para a pôr no sitio onde o rapto tivera lo-
gar, se poderia conjurar o maleficio.
Dito e feito, resolveu-se a guerra, pediu-se e pagou-
se em bom marfim a Musmri licença de a fazer a um
vassallo seu, e pouco tempo depois, n'um espinheiro
do porto, lá vimos nós, os chefes da expedição, a ca-
beça do infeliz namorado, com bocados de pelle ainda
suspensa das faces, cabeça que Kinhama nos não
consentiu trouxessemos, allegando finamente não lhe
convir que, ao volvermos á nossa terra, o nosso mo-
narcha a visse, persuadindo-se que elle tyrannisava os
povos do seu dominio. Que original!
234 De Angola á contra-costa
Pullulam por modo os leões n'esta região, que na
noite de 30 de março houvemos pelo escuro de abater
algumas arvores e fechar o campo com uma paliçada,
a fim de evitar alguma surpreza, menos delicada, deste
temivel animal. |
Andavam em grupos de roda do acampamento, sol-
tando roncos que não permittiam conciliar o sommno,
nem a observação tranquila de um echpse da lua,
que n'essa noite teve logar, e terminou. às SE BM,
ficando o astro da noite cercado por dois formosos
halos como que prismaticos.
lira de ver o espanto dos nossos, quando lhe annun-
ciâmos pela tarde, que a lua nasceria tapada, e só
depois de alta, envergaria o seu manto prateado!
Se até ali feitiço de branco era o melhor, agora fei-
tiço de branco, tinha diabo!
Estavamos na linha divisoria Zaire-Zambeze, haven-
do no ultimo dia do mez almoçado com agua do pri-
meiro e jantado com aquella do segundo.
De novo esvoaçava aqui a conhecida mosca tzé-tzé,
infestando os matos em que nos achavamos.
Logo que alvoreceu aprestámos tudo para nos pôr
a caminho. Antonio, que estava sempre á espreita,
mal a aurora havia amostrado o primeiro arrebol, des-
cobriu, não longe e entre os altos capms, uma basta
manada de bufalos, pastando socegadamente.
Eil-o de arma 20 hombro, acompanhado apenas por
dois homens, na direcção em que os bufalos se acha-
vam: tão infeliz foi porém na sua empreza d'esse dia,
que esteve proximo a dar contas a Deus do que cá por
baixo havia feito.
Ao sul 235
Occulto por entre as grammeas, caminhava baixo
e com cautela, depois de descer ao fundo de uma de-
pressão, para subir a encosta fronteira, quando um for-
midavel leão coroado saltou na sua frente, só devendo
o salvar-se ao medo que o animal tomou, pelos gritos
dos negros apavorados.
O rei das selvas estava tambem, segundo parece,
extastado na contemplação dos bufalos, não se atre-
vendo a um ataque, em vista do numero d'aquelles bi-
chos. e esperando muito provavelmente que algum se
tresmalhasse.
Um vasto plateau se abria para alem, onde só se en-
contravam lagoas e charcos, ao passo que ao oriente
um cordão de serras se alonga de norte a sul, indi-
cando uma separação de aguas de dois systemas hy-
drographicos.
Para aquem o Cafue, para alem o Luangua talvez.
O trilho pelo qual partiramos do norte já ha muito
se havia perdido; n'este dia, porém, como mais de uma
hora estivessemos á borda de um rio de varzeas largas
e lodosas impossiveis de transpor, vendo na margem
opposta um rhinoceronte que pacientemente procedia
a lamacentas abluções, os nossos homens, espalhados
pelo mato, encontraram, sem que o esperassemos, um
caminho que justamente corria na direcção desejada.
É o nosso de certo, o mesmo que atraz perderamos,
diziam todos, e mettendo por elle, caminhámos pelo
meio de uma mata densissima que nada deixava aper-
ceber em redor, contentes de ter achado mma mdica-
cão que nos levaria talvez a porto de abrigo onde en-
contrassemos de comer, que sempre andava escasso.
236 De Angola á contra-costa
Trinta fôra o primeiro a proclamar a authenticidade
do caminho, que era o delle tambem, afiançando co-
nhecel-o, que estavamos salvos, e em resumo, que
iriamos como fusos, direitos para o Zambeze.
Sete dias já fam que andavamos novamente no mato,
e se notarmos que á insufficiencia dos meios de trans-
porte é devido sempre o perigo da fome, pois que um
homem nas cireumstancias em que se achavam os nos-
sos, pouco mais de 30 libras póde carregar, peso que
representa, quando muito, a carne para oito ou dez dias,
não o libertando para transportar sequer a menor caixa;
ver-se-ha facilmente que o receio de nos faltar de co-
mer tinha serio fundamento.
E se aidéa da caça alentava os animos, a que ainda,
para o caso presente, acrescia a declaração do nosso
Printa, que conhecia o caminho como os seus proprios .
dedos, a lembrança de nos poder ella falhar não dei-
xava de nos trazer apprehensivos.
Por vezes a floresta abria e, formando amplos lamei-
ros, vestia-se de um capim cortante como navalha, que
urgia evitar cuidadosamente para não se ficar Iitteral-
mente golpeado.
O habito do mato, porém, ensma a marchar pelo
solo balofo e lodoso em que este assenta, não de-
vendo o viajante pôr o pé á tôa quando marcha, e ao
contrario, deixal-o resvalar mansamente, a fim de que
as hervas, dobrando-se, lhe offereçam um seguro ponto
de apoio. |
Um bando numeroso parecia ter passado ha pouco
tempo por esta mesma trilhada, pois nos quilombos
em que penetrámos encontravam-se alguns artigos que
Ao sul DS
pela frescura evidenciavam ter sido recentemente ma-
nipulados.
Às jornadas feitas por essa gente, sem duvida de
guerra, deviam ser bem compridas, visto dois e tres dias
nos serem precisos para chegar de um a outro quilom-
bo, podendo tambem notar-se, pelas pégadas, em que
direcção haviam proseguido, e quantas as vezes elles,
suspeitosos talvez de algum ruido, ou em busca de
caça, haviam saído para fóra do trilho, acoitando-se
pelas selvas.
N'ºestes quilombos acampavamos nós, tendo unica-
mente de arrancar os paus para construir as nossas
cabanas ou ninhos de capim.
Certa noite, junto a uma d'ellas, ruido espantoso se-
meado de roncos e bufos terríveis, de envolta com es-
toiros tremendos, se fez ouviu, pondo a caravana toda
de pé.
À nossa gente pegára em armas, e alguns tiros fo-
ram dados á tôa; a algazarra no campo contrastaya
com os ruidos dé tóra.
Era ocaso, ao que parece, que uma manada de
bufalos, achando-se acoitada não longe de nós, fôra
surprehendida por um bando de elephantes, que em
sua marcha devastadora haviam com elles encontrado,
semeando na troupe o terror e a confusão.
Debandando á doida em todos os sentidos, haviam
muitos vindo passar proximo da paliçada, pondo-nos
em risco de acordar pela noite, abraçados, sem que-
rer, a um bufalo colossal!
Limpo e batido continuava o trilho adiante, e limpo
de suspeitas ía tambem o nosso espirito agora, esperan-
by
38 De Angola á contra-costa
do convictos a todo o mstante ver despontar ao longe,
n'uma volta, os conicos tectos de qualquer libata.
O vulto esguio do guia da Garanganja descortina-
va-se à frente da comitiva, radioso e contente, seguido
da mseparavel Rosa.
Às aguas corriam á mão direita em fundas depres-
sões vestidas de capim, ao passo que, nas ondulações
mtervalladas, densas matas lhe cobriam os dorsos,
matas tristes e sós, onde nem um só golpe de macha-
do evidenciava proxima a passagem do homem ah.
Gigantescos morros de termites se faziam notar em
todo o trajecto, coroados por um verdadeiro bosque,
onde se erguia altiva e invariavelmente uma euphor-
bia, dessas de que já fallámos, 4 feição de candelabro.
Nas paredes do cone viam-se aqui e alem desaggre-
gos, mostrando nú o terreno mterior, polido e luzidio
em resultado do trabalho dos antilopes com a lingua,
que, achando-o salgado pela accumulação do segrego
Vaquelles insectos, ali passam horas em consoladora
tarefa.
E quando precisamente iamos mais lestôs e des-
preoceupados, julgando-nos possuidores de segura e
certa vereda, eil-a que de subito immerge no leito de
um rio, e, desenvolvendo-se em lacetes, nos lançou no
mais grave dos embaraços.
«Senhores (exclamaram os da vanguarda), um pam-
bo»; isto queria dizer que o caminho se dividia em dois
correndo cada qual em rumos muito diflerentes.
CAPITULO XXVII
DIAS DE ANGUSTIA
Duas considerações sobre o texto da presente obra— À descripção €
uma jeremiada, mas traduz fielmente os factos — Trinta embasbacado pe-
rante os dois caminhos — Sua resolução definitiva — Um rio grande e uma
primeira ponte a construir — Escassez de provisões e fealdade das matas
— A vida das selvas habilita-nos a antever os obstaculos — Novo rio e
nova ponte a construir — Considerações à sua beira — Alguns dos nossos
homens são ouvidos — As mulheres e a nossa impressão a seu respeito —
Alfim decidimos abandonar o trilho — À corta-mato de machados em fren-
te— Às seis horas estavam percorridas 22 milhas — N'essa noite, para
muitos o mantimento acabava— O erguer do dia seguinte e as ultimas
parcellas de carne — Mais rios e pontes a construir — De cima das ar-
vores observa-se o horisonte —Dionysio abala e encontra um trilho —
Nossa commoção à vista de tal descoberta — Uma breve allocução a pro-
posito — À caminho sem resfolgar até às seis horas — Um corvo estranho
ec o subito apparecimento de um homem — Agarrado e trazido à nossa
presença — Junto a nós estava uma libata.
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HOMEM DE IRAMBA
Segundo photographia
Se ao correr as paginas da presente obra, o leitor
amante da exposição facil e de primores litterarios, ex-
clamar: mas é massudo este livro! Replicar-lhe-hemos:
Sim, senhor, é uma verdade o que diz, mas casualmente
a sua descoberta não attinge as proporções d'quella da
polvora, pois os auctores, ao rabiscal-o, já d'isso esta-
vam convictos, pela excellente rasão de que, para es-
crever livros d'estes, é primeiro que tudo preciso sa-
ber descrever.
YOL, II. 16
242 De Angola á contra-costa
Ora é isso precisamente o que elles estão certos que
mal sabem fazer.
Se ainda a sua audacia subir de ponto a leval-o a
meio do segundo volume, e suspendendo ahi exclamar:
é uma jeremiada permanente, um constante lamento,
um alinhavo de decepções e desesperos, esta deseri-
pção de viagem; replicar-lhe-hemos tambem, que para
nos desculpar não carecemos da sua benevolencia, pois
que, tornando-se a nossa primeira obrigação o ser ver-
dadeiros, e havendo a dita viagem sido uma constante
lucta com a fome e com o deserto, este livro, gemendo
assim, não faz mais do que espelhar um a um os fa-
ctos que n'ella se deram.
Durante o trajecto de uma á outra costa, raro foi
o dia em que nos erguemos, que não tivessemos de
luctar com um embaraço: da primeira á ultima pagina
do diario, rara é a linha em que se não deixa trans-
parecer este estado de cousas.
Se não eram fugas era a fome, se não era esta, vi-
nham as perfidias e falsa fé do indigena, e na falta
destas tinhamos logo como distracção o deserto ou a
chuva, quando não as mortes e a mosca!
Como pintar, pois, com alegres cores um quadro
de si tão escuro e tetrico?
Que se attente n'este instante na nossa situação e
se diga, se alguma cousa póde haver de mais cruel e
enfadonho, de que aquillo que acabava de nos acon-
tecer junto á fronteira de Ulalla.
Haviamos encontrado um novo trilho que julgava-
mos ser o nosso, e desciamol-o rapido e contentes a
caminho do sul; quando precisamente almejavamos
Dias de angustia 243
ver um tecto de colmo, que nos evidenciasse a proxi-
midade de um povoado em que nos supprissemos de
mantimentos de que começavamos a carecer, o trilho
dividia-se em dois, deixando-nos perplexos, sem saber
que partido tomar.
O mesmo Trinta estava embasbacado, não ousando
aventar conselho nem fornecer indicação.
Suspensos e irresolutos nos demorámos uma boa
hora detidos por esta dificuldade, emquanto o nosso
guia divagava pelos matos circumvizinhos, em pro-
cura de indício que nos aproveitasse para o caso.
Alfm veiu, e após uma ligeira conferencia com a
Rosa, declarou que o caminho era o do sueste, que
precisamente seguia a direcção que nós desejavamos,
e que o do sudueste era trilho antigo, já de ha muito
não percorrido, etc.
Em vista de tal enfiámos por aquelle que nos indi-
cavam, passando a correr com a nossa boa estrella e
com a ignorancia do guia.
Apenas 4 milhas de marcha haviam sido feitas,
quando um imopinado trabalho se apresentou á cara-
vana.
O atalho, saíndo do bosque, emergiíra n'uma larga
varzea do capim navalha e, serpeando ahi, dirigia-se
para o rio que deslisava a meio, e cuja profundidade
era tal, que só a nado podia transpor-se.
Machados ao arvoredo se metteram logo e, após por-
fiada lucta, construiu-se uma ponte por onde todos
passaram.
Descansando pela noite em uma encosta d'onde a
vista descobria accidentes diversos de terreno, e o es-
244 De Angola á contra-costa
pirito se alliviava na contemplação de mais largos ho-
risontes, volvemos no dia seguinte ao afan de cami-
nhar, que começava então a tornar-se uma lucta pela
existencia.
As provisões de bôca escasseavam, a pressa com
que marchavamos e a tzé-tzé sacudiam a caça da tri-
lhada, não sendo possivel colher á mão nem uma ga-
zella.
Observando attentamente o que nos cercava, come-
cámos a suspeitar que íamos mal dirigidos.
Á medida que nas matas nos atufavamos, volviam
estas a tomar mais fero aspecto.
Não era um bosque aberto, d'esses remexidos pela
mão do homem, onde os troncos por todas as direcções
têem marcas, e desembaraçados de tojo e restolhos que.
as fogueiras aniquilaram, emergem de um tapete de
relva; e ao contrario, fechando-se gradualmente, em-
baraçava-se com uma basta subvegetação, cobrmdo-se
de urzellas e entrelaçando-se de trepadeiras.
Habituados á vida do mato, a nossa vista estava de
ha muito costumada a reconhecer promptamente estas
variantes de braveza, a notar nos traços especiaes do
bosque a maior ou menor probabilidade da solidão, a
ler nas pégadas dos quadrupedes e na direcção por
elles tomada a rasão do seu isolamento e abandono.
Por isso, na proporção em que avançavamos, cres-
ciam os nossos receios pelo futuro da expedição, sen-
tindo desejos de retroceder.
Áo terceiro dia, eram nove horas da manhã, a comi-
tiva seguia em silencio por entre uma mata, quando
ao desembaraçar-se d'ella e saír, a gente da vanguar-
Dias de angustia 245
da deu noticia de um rio profundo, só a nado transpo-
nivel.
Mandou-se fazer alto, metteram-se machados á obra,
e emquanto se construia uma ponte, os chefes da ex-
pedição discutiam entre si sobre o modo de vencer as
dificuldades que de novo se apresentavam.
(Quando muito, o comer chega para dois dias e Isso
dificilmente. O aspecto de quanto nos rodeava cada
vez era mais lugubre.
A linha para o sueste era sem duvida vantajosa,
pela direcção que levava, mas internando-se no Ulal-
la, onde iría ella parar? Para o oeste era retroceder,
mas para lá nos tinha ficado o outro ramo do caminho,
acrescendo que nunca ouviramos dizer que os cami-
nhos do Zambeze cortassem por Ulalla. Mas tambem,
a existirem estes ou libatas no poente, poderiamos nós
attmgil-os com os poucos recursos que possuiamos?
Todas estas questões postas núa e smgelamente nos
assoberbavam o espirito.
Lembravamo-nos que haviamos atravessado uma
grande parte do negro continente, onde mil e um ti-
nham sido os obstaculos encontrados, mas que, mercê
da Providencia, todos se haviam vencido; que cin-
coenta vezes tinhamos estado a pique de perecer pela
fome, e outros tantas com maudita felicidade havia-
mos escapado; e considerar agora, que já tão pro-
ximos do remate podiamos, pelo facto de errar no
escolha de um trilho, ficar miseravelmente estirados
no sertão, tornára-se para nós uma angustia cruel.
Reunindo em conselho alguns dos mais importan-
tes da comitiva, ouvimol-os tambem, mas a sua opi-
246 De Angola á contra-costa
nião, menos fundamentada que a nossa em conheci-
mentos geographicos, pouco adiantou.
Todos respondiam: quem sabe, talvez para ahi haja
gente, e talvez não haja.
Eram dez horas e meia, termmára a construcção da
ponte, e sobre ella passámos para a outra margem do
ro.
No chão, sentadas em linha, as mulheres da carava-
na, com as pequenas cargas ao lado e os filhinhos ao
peito, olhavam-nos com ar de quem de nós só espera-
va a salvação.
Ao attentar nos seus vultos, não poderam deixar de
se nos marejar os olhos de lagrimas.
A final, que culpa tinham as mfelizes de ter vindo a
tão longe parar? Ellas que, alem da pacotilha, tinham
à sua conta o carrego dos filhinhos, que, apesar de tudo,
eram companheiras dedicadas e fieis, sempre promptas
a receber o excesso de carga que apparecia, que ha-
viam desde a costa transportado os mais delicados
mstrumentos da expedição, pois sextantes, inclinome-
tros, etc., tudo vinha à sua conta, iam agora talvez
ser as primeiras a cair, tombando para ali cadaveres
enlaçadas ao fructo querido das suas entranhas.
E o delicado sentimento da maternidade, tão vivo
na mulher selvagem, como na elegante habitadora do
boulevard, parecia ali, em meio da braveza de cara-
cter dos nossos companheiros, merecer-nos mais ele-
vado respeito.
Depois a mulher, por mais meiga, mais fraca e mais
dedicada, captiva sempre, e a idéa de a ver cair
morta, ás vezes joven, abraçada ao filho, aflige infini-
Dias de angustia 247
tamente mais do que ver rolar moribundo em terra
um latagão de ennegrecida barba.
Não havia, porém tempo para considerar. À expedi-
ção ía jogar uma ultima cartada, abandonando o trilho
por que viera; e dando a voz de leva-arriba, postados
em frente uma duzia de homens de armas em punho,
abalámos ao rumo de oéssudoeste, deitando pelas sel-
vas à corta-mato.
Sob os membrudos braços dos nossos companhei-
ros gemia a ramagem em frente; aos possantes golpes
de machado estouravam os troncos e cypós que nos
tomavam a passagem; a mtervallos, os numerosos af-
fluentes do rio que transpuzeramos pelo norte e corria
ao longe parallelamente a nós, enxarcavam-nos até aos-
joelhos.
Silenciosos e cabisbaixos caminhavam todos, bati-
dos por um vento fresco do sueste. O aspecto da na-
tureza continuava sendo o mesmo, o solo conservava
a nvariabilidade das nossas ultimas descripções petro-
logicas.
Ás duas horas deu-se um momento de descanso,
logo depois abriu-se de novo a marcha,
Nem um ruido, nem um animal, nem uma singela
arvore derribada, no mtuito de colher o mel depositado
em qualquer cavidade superior.
Um silencio funebre nos envolvia, e acompanhava
por entre os bosques.
Pelas seis, já com o sol no occaso, acampámos em
uma encosta junto a um rio.
Haviamos feito 22 milhas de caminho, e em todo
esse longo trajecto nada tinhamos colhido de novo.
248 De Angola á contra-costa
O mantimento expirava para muitos n'essa noite,
a situação ía-se tornar em breve desesperada.
Aconchegando o barrete ás orelhas para não ouvir
os queixumes de alguns mais esfarmados, envolvemo-
nos em nossos gabões, tentando conciliar um somno
Impossivel.
Ha bem poucos dias parecia-nos que, abeirados do
Zambeze, tinhamos quasi um pé na Europa, agora afi-
gurava-se-nos que esta fugia de nós para sempre, e
os sinistros rumores do mato, que outr'ora nos passa-
vam desapercebidos, como os lamentos da hyena e o
pio da coruja, eram hoje escutados, e, sem querermos,
pareciam-nos uma prece em nosso favor, um agouro
do fim proximo que nos aguardava.
A fadiga felizmente, como sempre, vencia-nos, e,
depois de algumas horas de vigilia, caímos em somno
profundo. Alvoreceu o dia seguinte, e a aurora desdo-
brado o seu opalino manto, veiu illuminar com luz
amarellada o campo, destacando tristemente da som-
bra os vultos dos nossos companheiros. |
Cada qual, curvado, amarrava a sua carga, mais de-
sejoso de abandonal-a do que gastar as poucas torças
sem proveito no seu transporte, e mirando os esfai-
mados aquelles que mais felizes ainda conservavam
uma tira de carne para o almoço, lá bebiam um ca-
neco de agua, apertando o ventre deprimido com a cor-
reia da cinta.
O pouco que possuiamos, havia sido distribuido por
aquelles em peiores circumstancias e principalmente
pelas mulheres, vendo-nos obrigados a comer a nossa,
magra ração dentro das cubatas, para não sermos des-
Dias de angustia 2409
agradavelmente alvos dos sofregos olhares d'aquelles
a quem cousa alguma coubera.
Fechada em silencio esta triste scena, pozemo-nos a
caminho, organisando á frente um grupo de caçadores,
que infelizmente pouco nos parecia poderiam fazer,
pois Antonio, estava agora com uma entorse, que mal
lhe permittia andar. |
Por sua banda os brechadores, pela mór parte gente
de Benguella, lá iam mais satisfeitos, capitaneados por
Dionysio, que jurára não parar sem encontrar o ca-
minho que nos ficára para o oeste.
Trinta nem ousava ir à frente da comitiva, e dei-
xando-se atrazar envergonhado, marchava no couce,
seguido da sua inseparavel.
Durante cmmco horas successivas se caminhou, trans-
pondo seis rios e construindo duas pontes, até que
pelas dez e meia suspendemos, para descansar de si-
milhante afan.
Nada se víra ou ouvira em redor, tudo socego e si-
lencio; da mesma caça nem a pista haviamos observado,
e apenas uma ou outra cobra ou algum reptil haviam
fugido assustados à nossa approximação. |
O terreno era plano, não deixando a floresta ver
por fóra cousa alguma, e embora por vezes tivessemos
mandado subir ás arvores para esquadrmhar os arre-
dores, cousa nenhuma se tinha apercebido.
Apenas um dos homens lá de cima afiançára ter
visto para o poente serras, isso porém não era uma
indicação que muito aproveitasse, se bem que nos ter-
renos accidentados é onde muitas vezes se encontra
gente em África.
250 De Angola á contra-costa
Antonio batia o mato em roda, Dionysio, o homem
das occasiões, abalára sem descanso, marcando com o
machado as arvores por onde passava.
Uma hora havia que nos achavamos n'estes termos,
e, dando ordem para proseguir, apromptavamo-nos
para largar em frente pelas marcas das arvores, quan-
do um tiro soou ao longe.
Um tiro, para o oeste, para a banda da vedetta,
era sem duvida dado por ella, mas que importava?
Alguma peça de caça avistára; mau caçador, porém,
não esperavamos d'elle cousa de proveito.
Rumimando estas e outras considerações, ia-mos par-
tir, quando mopimadamente soou outro tiro.
Vae em perseguição o pateta, acrescentámos; me-
lhor fôra que endireitasse para o pôr do sol e fosse
caminhando sempre.
De subito um terceiro soou, logo um quarto, e então
muitos se seguiram.
E estranho, que será?
Arriba todo o mundo, o homem que assim atira é
porque encontrou novidade, e, dando o exemplo, se-
guimos á frente pela linha dos golpes brancos nos
troncos.
Em dois minutos infiltrava-se-nos no corpo uma
alma nova; sorria-nos o futuro, julgavamo-nos salvos,
passára de todo a fome.
Dionysio não cessava de dar tiros, e embora não
fosse sisudo gastar assim as munições sem proveito,
ao echoar de cada detonação derramava-nos elle no
espirito, sem o pensar, um alento decidido e um suave
consolo. |
*
Dias de angustia 251
Avante, que a nossa boa estrella ha de guiar-nos, e
apertando o passo corriamos pelo mato.
Hora e meia trilháâmos no restolho e no capim, até
que ao longe demos vista do nosso heroe, que, sentado,
de carabina no braço, sorria gostoso para nós, fumando
no cachimbo, muito naturalmente um pedaço de car-
vão.
— Então, explorador, o que é que viste para dar
tantos tiros?
— Aqui, senhores! E apontando-nos para o chão,
mostrou-nos um bello caminho, limpo e batido de gen-
te, correndo ao rumo do sul.
Seria enfadonho, leitor, volver a descrever-vos a
sensação experimentada, ao pormos o pé sobre essa
vereda branqueada, que ía talvez salvar-nos.
À nossa commoção era tamanha, que não caímos
nos braços de Dionysio para evitar uma scena de et-
fusão sempre ridicula aos olhos do africano, de si pou-
co propenso a tiradas de transporte, mas ordenando
a abertura de um fardo de fazenda, demos quanto lhe
podiamos dar; doze braças de algodão, para na pri-
meira terra encontrada apparecer aos olhos das da-
mas, vestido como homem de subida condição; e con-
trastar com os companheiros, contraste aliás facil, pois
' tudo andava esfarrapado e nú.
De seguida reunimo-nos, e fazendo um pequeno
discurso aos nossos, lembrámos-lhes .que ali não havia
que fraquejar, que aquelle que arreasse não tinha
que contar com o auxilio dos companheiros, e seria
homem morto; que urgia fazer um esforço na salvação
de todos, e que qualquer que ousasse soltar uma pa-
252 De Angola á contra-costa
lavra de desalento, ou pretendesse transviar compa-
nheiros do caminho, levaria logo como paga um tiro,
acto contínuo.
Era meio dia e meia hora quando nos pozemos de
novo em marcha, e sem resfolegar proseguiu a cara-
vana seguidamente até ás tres e meia, descansando
apenas um momento, para logo continuar outra vez a
marcha, até ás seis horas da tarde, em que, completa-
mente extenuada, encontrou um elevado morro, acam-
pando ahi. |
Um corvo estranho soltou-se do pincaro, e, esvoa-
cando espantado, rastejava por vezes quasi com a
gente, curioso de ver tal novidade.
Estirados no solo, entregavamo-nos tristes à con-
templação de um ribeiro, cujas aguas murmuravam
no fundo.
Alguns dos homens, sentados nas cargas, começa-
vam de erguer-se, e tirando da cinta os machados,
preparavam-se a cortar paus para as nossas choças,
quando, sem o esperarmos, um rapaz de Benguella
nos apparece no mato aos saltos, trazendo na mão o
quer que fosse.
Mal elle se abeirou de nós, que apercebemos a cau-
sa da sua alegria.
O ladino, n'um passeio em redor, em busca de en-
contrar cousa que comesse, topára com um cabo de
machado ainda incompleto, e que n'aquelle momento
o artista abandonára.
O espanto e a alegria chegára ao cumulo.
«Saltem rapazes, batam esse mato em redor, que te-
mos ahi bicho de dois pés acoitado!» E n'um relampago
Dias de angustia | 250
toda a comitiva investiu de carabimas na mão com o
matagal em todos os sentidos.
Não se fizeram esperar as nossas previsões, e dez
minutos depois, um negro, magro e feio, agarrado por
mais de vinte, era trazido como um assassino á nossa
presença.
O infeliz tinha mais aspecto de doido do que de paci-
fico artista, em labor pelas selvas; e olhando-nos com
ar abysmado, parecia esperar uma sentença de morte.
«Amarra, não largues, aguenta!» eram as vozes de
todos, tendo nós que intervir, para evitar o total esma-
gamento do recemchegado.
Collocando-se a nosso lado deixámol-o socegar, e,
tirando uma braça de fazenda, demos-lh'a, acompa-
nhada de uma pitada de tabaco do mato.
Carregado o cachimbo foi-lhe acceso, e deixando-o
fumar e accommodar-se, porque o seu tremor era tal
que lhe não permittia o exprimir-se, chamámos á barra
o Trinta, como o unico que sabia a lingua do paiz,
para nos servir de interprete.
Restabelecido ao seu normal estado, foi inquirido,
sabendo-se d'elle o segumte:
Era um negro do Iramba, pertencente á senzalla
de Moi N”Penque (mu-lamba), cuja libata estava d'ali
a 1 milha, na falda do morro que viamos; e onde n'um
momento podiamos chegar.
Que este N"Penque, acrescentou, estava subordina-
do a um soba maior no sul chamado Kassongo Mona,
que por sua vez era o mais distante vassallo do gran-
de Musiri. Que a terra em resumo era farta, e n'ella
encontrariamos mantimentos quantos quizessemos.
254 — De Angola á contra-costa
Inquirido sobre o caminho por que tinhamos andado
nos ultimos dias a leste, respondeu qué do rio onde
fizeramos a ponte, chamado Motundo, proseguindo no
trilho, só a dez dias encontrariamos gente, porque tudo
para ali era deserto.
Ao ouvir esta revelação, não podémos deixar de
dar graças á Providencia, e lembrar-nos que o estra-
nho presentimento que nos havia levado a apartar
V'aquella zona, tinha o quer que era de extraordima-
rio, e quiçá de milagroso.
O que é certo é que, para este genero de viagens,
aventurosas, carece-se, primeiro que tudo, ser feliz, e
aquelle que, por uso e costume vir os seus propositos
baldados, deixe-se de as emprehender, porque no mais
simples acaso póde muito facilmente encontrar a morte.
Restava ao cabo da mquirição saber se em tudo era
verdadeiro o que o negro apparecido dizia, ou se uma
boa parte das suas declarações seriam falsas.
À primeira que nos sobreveiu foi amarral-o, guar-
dando-o pela noite, com sentinella á vista. Como, po-
rém, tal proceder tivesse um caracter de energia, que
não convinha a quem como nós tanto dependia agora
dos mdigenas, abstivemo-nos, prefermdo mandar Dio-
nysio com mais alguns em companhia do homem, para
reconhecer o logar da senzalla e dar um presente ao
soba.
Dito e feito partiram, e pelas dez horas da noite
voltaram, com uma lembrança de farmha e gallmhas,
que a essa mesma hora foram cozinhadas.
Estava salva a expedição de uma das maiores cri-
ses por que passára, e adormecendo uns de estomago
Dias de angustia 255
cheio e outros vasio, é de acreditar que pelo geral so-
nhassem com pratos de pirão.
Pela manhã do dia subsequente proseguimos, e
após uma hora de passeio achámo-nos á beira de um
plateau, que, visto a descoberto, era coroado de mor-
ros, terminando n'um córte abrupto de leste a oeste,
de não menos de 150 metros de desnivelamento, córte
que, a nosso ver, determina por esta banda a bacia do
Cafué.
Ao longo espraiava-se a vista a grande distancia
por uma ampla planura que ía morrer nos confins do
horisonte, e onde a vegetação differia muito sensivel-
mente, pois terminavam de subito as acacias, para
serem substituídas pelas mupandas, espinheiros de
“ gomma, mucaratis tortuosos, etc.
A natureza do solo era tambem inteiramente diffe-
rente, e ao passo que em cima se viam as argillas ver-
melhas em resultado do desaggrego schistoso, em baixo
tornavamos a encontrar a celebrada areia da bacia do
Zambeze, tal qual a haviamos encontrado ao oeste de
Libonta, affloreada em grande extensão por placas de
um sandstone ennegrecido.
Junto a nós e á esquerda erguia-se o morro dos
corvos, por nós assim baptisado, pelo subito appare-
cimento do animal, que por sua parte tambem nos
evidenciou a proximidade de gente.
Descendo a vertente abrupta de que nos achavamos
abeirados, viemos em baixo acampar no bosque, fron-
teiros à libata de N'Tenque, matando ali não menos
de cinco cobras, no logar que limpavamos para o acam-
pamento.
256 De Angola á contra-costa
De novo nos achavamos entre gente, que desde o
Luapula esqueceramos, e o que urgia era entrar em
immediatas negociações, a fm de matar aquillo que
mais nos afiligia—a fome.
Mas o negro nunca tem pressa, e ladino negociante,
sabendo que vinhamos esfaimados, começaram a pedir
exageros pela mais pequena quinda de farinha de sor-
gho, que se tornava impossivel satisfazel-os.
Até ás tres horas da tarde nos torturaram em dis-
cussões, pedindo e não vendendo, situação critica, que
os nossos compromettiam gravemente com a sua pre-
sença e com instancias tolas, fazendo que os indigenas
não vendessem.
Ao final lográmos começar a permutação, pagando
alto, é claro; mas logo que nos apanhámos com tres
dias de mantimento, baixámos a cotação de tres quar-
tas partes, a fim de assim nos mdemnisarmos dos des-
perdicios do debute.
Os povoadores d'aqui são gente de Iramba ainda,
cujo typo diversifica um pouco dos do norte, e cujo
atrevimento em muito os excede. Algumas photogra-
phias d'elles tirámos, de que damos tres especimens
aqui.
Havendo saído, pouco antes da nossa chegada, inco-
lumes de uma guerra que lhes dirigíra Kitumbi (chefe
ma-ussi do Luapula), conservavam do facto pimpona
recordação, impondo-se altaneira e mesmo atrevida-
damente.
N”Tenque, que, claro é, não queria tomar sobre si a
responsabilidade de haver detido viajantes da nossa
monta, quando o seu amo e senhor, o celebrado Ki-
Dias de angustia 24
nifumpa ou Kassongo Mona, que pelos dois nomes é
elle conhecido, se achava tão proximo d'ali, pediu-nos
para que partissemos, promptificando-se elle mesmo
a servir-nos de guia.
Estava aqui a chave da questão agora.
Indubitavelmente, n'esta região não se pensava em
Angola, nem na sua existencia. Negociava-se para o
Zambeze e para o Cafué, sendo pois mais que certo
que grandes e batidos trilhos para lá deviam existir,
para nós bem mais commodos de trilhar, do que fazer
derribadas á corta-mato.
Mas como saber onde ficava esse trilho?
Um vassallo de N"Penque se encarregou de o mos-
trar, mediante um pagamento de vulto, e isto envol-
vido tudo no mais completo segredo.
Não queria elle que o Kassongo, nem por sonhos,
soubesse que alguem havia mostrado o trilho da reti-
rada aos brancos, pois sabia que este se exasperaria,
por ver que a tal facto era devida a sua curta demora
na terra, e muito naturalmente pensaria em castigar
o culpado.
Espertezas gentilicas.
Assim se combinou que elle partiria comnosco, de
mistura com os outros, e no logar onde depozesse o seu
cachimbo sobre uma pedra, volvendo-se a ponto pro-
xImo para cortar um tronco, era sabido que 4 mão es-
querda, estava o caminho procurado ahi,
Todas essas artimanhas nos jogaram um pouco de
sobresalto, porque, como já uma vez no primeiro vo-
lume o aventámos, ao negro parece que lhe apraz lu-
dibriar o branco, lisonjeia-lhe isso, segundo nos parece,
VOL. II. Ei
258 De Angola á contra-costa
o seu amor proprio, convence-se talvez o triste que,
enganando-nos, é tão esperto e tão feiticeiro como nós!
Como porém com tal falta de fé perderiamos, quando
muito o saguate, fomos sem receio esperando ver o que
as cousas davam.
Pela planura areosa afóra se alongou a caravana,
atravessando em companhia numerosa uns poucos de
riachos, que todos corriam para a direita, recebendo
em caminho a visita de um homem, chamado Moi Ka-
boio, irmão de Kimfumpa, vassallo fugido de Musim,
por não poder satisfazer a constantes exigencias deste
em marfim, e que foi o primeiro e unico a quem Trinta
por estas regiões conheceu.
«Foi meu amigo, additou o nosso alongado guia;
no tempo em que eu vim, tinha a sua libata proximo
de Caponda sobre o rio Lubemba; e tratou-me com
toda a hospitalidade.»
Pequeno, de olhar imsinuante, muito mexido, muito
fallador, mais tarde com as suas idas e voltas, e apre-
goados bons officios junto do Kassongo, ía-nos com
elle baralhando, sendo justo por isso fechar este ca-
pitulo com uma pequena historieta a seu respeito.
Haviamos chegado junto a um rio chamado M'pon-
gué e transposto o seu curso para a outra banda, quan-
do adiante, em cima de uma pedra, vimos entre o ca-
pim o cachimbo fallado.
«Olha, elle cá está, o narguilé!» E sem mais dizer,
colhendo-o, escondemol-o, dizendo a N”Tenque, que
mais para diante não íamos, que ali nos convinha
acampar, que fosse elle de nossa parte ao Kassongo,
dar-lhe parte do succedido, e dizer-lhe que os brancos
Dias de angustia 259
ficavam al, para descansar, comprar mantimentos e
esperar a sua visita.
Muito felizmente ninguem suspeitou da nossa es-
perteza, e, erguendo-se, lá foram ter com o chefe, em-
quanto os nossos de machados em punho derribavam
arvores para fazer o acampamento.
Moi Kaboio fôra tambem, contente e alegre, pare-
cendo o melhor e mais bem disposto dos amigos.
Havia seis mezes que elle abandonára a sua libata,
vagueando à tôa pelos bosques.
Antes d'isto era um grande da terra, possuia muitas
senzalas e numerosas mulheres por esposas.
Uma tarde o sol declinava, este heroe, em poetica
contemplação, sentado á porta da sua residencia, aca-
bára as ultimas cabaças de pombé em companhia de
amigos, e puxando do cachimbo chamou uma das suas
mais galantes mulheres, ordenando-lhe que lhe cozi-
nhasse o pirão. Lançou-se ella logo com afan á tarefa,
e assim que terminado o considerou, pol-o n'uma tra-
vessa, apresentando ao seu amo e senhor.
Muito imfelizmente não ficára o prato ao gosto d'este
perverso, que para castigar a infeliz do seu erro culi-
nario, se não para se mostrar grande aos olhos dos
amigos presentes, mandou buscar um cutelo, e vibran-
do á triste um golpe de morte, fel-a depois e por sua
mão em tiras, para a introduzir em uma colossal pa-
nella, que acto contínuo foi posta ao fogo!
Que assombro, e que tyrannias se commettem ainda
por esses sertões! |
Estremecem as fibras do coração, e a penna como
que se recusa a registal-as.
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CAPITULO XXIX
ULTIMOS DIAS NO PLANALTO
Os enviados do Kassongo, presentes e instancias — Offertas à genti-
lica e um desfecho triste das relações — Parlamentou-se alfim e partimos
— De subito o caminho divide-se — Encurva-se em direcções differentes
e nós abandonâmol-o— À corta-mato a encontrar o outro— Uma lagoa
inesperada, onde a caravana vae com agua pela cinta — Às pescarias no
Chôa, e um homem que a expedição perde — Duas palavras sobre a ve-
getação e causas do seu destroço — Adiante transviâmo-nos nas faldas
da serra Lupampa— Corvos, cobras e um casal leonino à vista — Entrã-
mos de novo no trilho — Moi Oanza e os passaros da caça — Os habita-
dores dali e os seus cumprimentos — As armadilhas do bufalo e o cami-
nho da Sitanda— O harrisbuck — Traslado do diario sobre a descida da
serra Muxinga— Panorama, vereda dificil — Sensação estranha pelos au-
ctores experimentada — Radical mudança operada na flora— Mutiates,
bao-babs e gongós — Considerações ácerca da Muxinga — À Manica e os
funeraes do regulo d'ali— Moi Kicaxi, a mulher mavorte — Os arimos do
sorgho e os destroços do rhinoceronte e do unjiri— Liteta — Reputações
da sua farinha — Trinta reconhece alfim o caminho — Hyphones, a Livin-
gstonia e um cactus? — Falta de sal — Processo indigena da extracção
das plantas — À gente de Liteta— O tabaco polvora e os canudos de fu-
mo — O labio das mulheres e o passaro-gato — Marchas fatigantes — An-
tilopes e leões — À mão esquerda d'estes — Atravez de uma zona acciden-
tada — Anceios em ver o Zambeze — Finalmente avistâmol-o.
« «-MIRAVA SENHORIL À CARAVANA...
À parte da viagem que medeia entre este ponto e o
alto Zambeze vae ser rabiscada na medida da rapi-
dez em que foi feita, isto por convencidos irmos de
que, se ao tempo almejavamos pela vista do Zambe-
ze, não menos ancioso deve estar o leitor de se ver
libertado, e para sempre, d'essa monotonia das selvas,
por onde o arrastámos durante dezenas de capítulos.
Adiante, pois.
Logo que terminou o acampamento appareceram os
enviados do Kassongo com um presente de farinha,
gallinhas, e as costumadas promessas e arengas, pe-
dindo-nos para que ficassemos ali alguns dias, pois
era soba portuguez e tinha cousa importante para nos
dar.
264 De Angola á contra-costa
Como estivessemos fornecidos de mantimentos, re-
plicâmos-lhe com um presente, e a declaração de que
no dia seguinte partiriamos, sem falta, e, caso nos qui-
zesse ver, que viesse. |
Resumidamente, diremos que se passou todo o dia
e metade da noite em idas e voltas do quilombo para
a residencia do regulo, e que ás sete horas, já pelo es-
curo, Kaboio nos trouxe uma ponta de marfim de 60
libras de peso, lembrança por que enviámos ao soba o
melhor presente que podiamos, e que elle nos devolveu
para ser augmentado.
Não satisfazendo nós tal exigencia, appareceu o re-
gulo ao romper do dia 8 de abril, acompanhado de
todos os seus guerreiros armados, vindo na retaguarda
Kaboio. Depois de grande arenga tivemos de lhe atirar
aos pés com a ponta de marfim, e mandando acto con-
tinuo engatilhar armas, recebemos em troca a nossa
fazenda já meio roubada, lembrando-lle que elle se
fornecia do Zambeze, de que nós eramos senhores, e
que portanto lhe ensmariamos mais tarde a maneira
delicada como devia proceder.
De sobejo comprehendeu Kassongo a nossa decla-
ração, e como ao tempo tivesse uma comitiva para
aquellas bandas, que nós muito provavelmente havia-
mos de encontrar em viagem, arreceiou-se por tal fór-
ma, que ainda ao caminho nos enviou gente a descul-
par-se.
Em vista de tal parlamentou-se, asseverando ao fi-
nal que nada fariamos a quem quer que fosse dos seus
filhos, e que ao contrario lhe seria dada protecção, se
acaso os topassemos para o sul.
Ultimos dias no planalto 265
Uf! era tempo, e enviando-lhe uns lenços em des-
pedida, abalámos pelo trilho fóra, ao grito de «para
o Zambeze é o caminho!»
O paiz densamente arborisado nas primeiras milhas
começa ao diante a abrir em largas clareiras cobertas
de basto capim.
Como em muitas outras occasiões, proseguiamos a
sós com os nossos recursos e conhecimentos do mato,
obvio era pois que alguma complicação ou obstaculo
devia estar a deparar-se-nos; effectivamente não urgiu
ir longe para que o topassemos; caminhando, havia
tres horas, 4 solta e contentes, trilho afóra fomos sem
o esperar, surprehendidos pelos da vanguarda, que,
parando, gritavam: «Dividiu-se o caminho aqui!»
De nenhuma vantagem seria o repetir n'este logar
as duras phrases expectoradas no mesmo sítio da sepa-
ração dos trilhos, pelos chefes da expedição; mais fa-
cil nos foi então dizel-o, de que hoje com socego re-
lembral-o: sómente acrescentaremos que, não havendo
mais rasão para enfiar por um do que por outro, to-
mámos o da esquerda, pela unica circumstancia de que,
vindo para o sueste, ao mesmo tempo que dava sul, ía
sempre dando leste tambem.
“Ao cabo de meia hora, encurvou o malfadado a les-
te, dez minutos depois começou de cifrar para o nor-
deste, e alfim cortou direito ao norte.
Com mil jacarés! Ao norte, quando o que precisa-
mente desejavamos era ir para o sul.
Largando-o de vez, botámos de novo á corta-mato,
postas as caras ao oessuduoeste, a fim de ver se topa-
vamos aquelle que para a direita nos ficava.
266 De Angola á contra-costa
Muito felizmente, após 7 milhas de marcha, n'elle
entrámos, e proseguindo satisfeitos pela assente e ba-
tida vereda, vimol-a, espantados, pelas quatro horas
da tarde, entrar e sumir-se n'uma ampla lagoa, de 3
milhas de largo, e algumas 6 ou 8 de comprido.
Hoc opus, hic labor est.
À meio e a distancia viam-se ilhotas, e n'uma dºel-
las mesquinhas habitações.
Sem hesitar mettemo-nos a este pequeno mar, e com
agua pela cmta fomos em linha até junto das palho-
tas, a fim de que uns tristes pescadores que ali resi-
diam nos ensimassem para onde ficára o caminho, e
em resumo o que tinhamos a fazer.
De dentro de agua os miravamos com ar de quem
implora protecção, e de braços estendidos, pingando,
mostrando-lhe o comprimento de algodão que lhes
preparavamos como remuneração dos seus serviços,
mais pareciamos o Crispiniano de Bocage, do que atre-
vidos chefes de uma caravana que vinha da contra-
costa.
A lagoa chama-se Chôa, diz o diario. Abunda em
peixe pequeno, que os indigenas colhem com longas
paliçadas rectilmeas, tendo de espaço a espaço uma
especie de portas, onde canastras collocadas a propo-
sito recebem os animaes arrastados pela corrente.
Secco e empilhado em esteiras, enviam-no para os
sertões circumvizinhos.
A terra é accidentada em redor, a lagoa despeja
para o Lucanga, afiluente do Cafué.
Até ás sete horas levámos a atravessal-a, perdendo
no trajecto um homem de nome Kibanda, que, coberto
Ultimos dias no planalto 267
de boubas e lepra, se transviou, sem ser possivel mais
encontral-o.
São frequentes as bestas de presa, e roncam durante
toda a noite os ledes nos arredores.
Para a banda de lá, pelas ravinas e por entre mor-
ros e cerros, a flora começa rapidamente a avultar.
Apparecem de novo os crescidos mumoés, bem como
elevadas mupandas, d'onde os pretos tiram os seus
pannos da casca, batendo esta com uma especie de pi-
cota, até isolarem a fibra dos entrecascos que a escon-
dem, e ainda mohombos, verdadeiros loureiros pela
fórma e aspecto, na margem do rio, e logo molombo-
tes, cujo fructo, quando verde, similha o café, etc.
É facto digno de notar-se, já que fallâmos de vege-
tação de vulto, que, se o arvoredo do negro continente
em muitas regiões se apresenta com um aspecto de
certa maneira rachitico, não é isso devido a que não
existam por lá especies capazes de attingir as propor-
ções das maiores arvores do Brazil, mas porque as for-
migas, o fogo e os chamados caçadores do mel lhes
fazem uma permanente guerra.
Effectivamente é nas maiores arvores onde se en-
contram com frequencia buracos, que as abelhas pelo
geral aproveitam para ahi depor os seus favos, e que
os exploradores derribam para colher, como são estas
tambem que, pela sua idade, têem a casca que as re-
veste Inferiormente mais secca e portanto mais facil-
mente atacavel pelo fogo, e em summa é ás maiores
que os termites se aferram com afan, a fim de as cir-
cumdar com suas habitações, e consequentemente mi-
nal-as e perdel-as.
268 De Angola á contra-costa
Durante dois dias de marcha proseguimos pelo ata-
lho que os pescadores nos indicaram; ao terceiro, porém,
havendo este emergido n'uma campina lodosa que um
bando de elephantes retrilhára em todos os sentidos,
desappareceu.
O interessante a notar é que se nos atravessava, na
perpendicular ao caminho que desejavamos seguir,
uma serra que sabiamos chamar-se Lupampa, e que
não houve remedio senão escalar. |
A 11 de abril achava-se a expedição a nosso cargo
empoleirada no alto da serrania, mirando a natureza
e retemperando nas brisas frescas os corpos escalda-
dos, tendo morto ao acampar um dos corvos atraz fal-
lados, e que aqui esvoaçavam em grupos, e colhido
uma python formidavel, que se acoitava numas pedras
junto ao campo.
No dia seguinte tratámos de prolongar este cordão
orographico, e procurar garganta que nos désse en-
sejo de descer a vertente meridional.
Eram seis horas, tinhamos apenas abalado, quando
mopinadamente tivemos occasião de admirar um qua-
dro soberbo, que dois roncos evidenciaram.
N'uma emimencia pedregosa um velho leão senta-
do mirava senhoril a caravana que desfilava pela terra
em baixo, ao passo que uma leôa se entretmha pelo |
redor em voltas e contra-voltas.
Nem palavra se proferm, e, proseguindo na mesma
ordem, deixámos ficar em socego o dominador d'aquel-
les sitios.
Descida que foi a serra, entestámos com uma longa
planura, e 15 milhas adiante topámos com um acam-
.
Ultimos dias no planalto 269
pamento de comitiva e um largo trilho, por onde avan-
cámos durante 5 milhas até ir bater junto de um pes-
cador, que nos conduziu á libata de Moi Oanza.
E, caso origmal, apesar de andar á corta-mato, era
precisamente para este sitio que nos dirigiamos ao
sair de Kinfumpa.
Vimos aqui pela primeira vez umas aves, que, tendo
por costume andar pairando por cima dos logares onde
se acham antilopes, evidenceiam ao viajante a presença
destes, e são pelos indigenas conhecidas pelos pas-
saros de caça, tendo um nome que nos escapou.
Os elephantes, sobretudo, são com frequencia victi-
mas das suas indicações.
Os habitadores d'aqui, raianos, são mistura de gente
de Iramba e de outras procedencias, não tendo typo
especial. Apenas os seus comprimentos nos chamaram
a attenção, pois têem o habito, após acocorados, de ba-
ter nas coxas prolongadas palmadas, proferindo as for-
mulas de saudação.
Vinte e quatro horas despendidas a comprar man-
timento nos pozeram em termos de poder abalar sem
receio para as terras meridionaes, e cortar pela libata
de Moi Musiri para o rio Mencanda, antepenultimo dos
que se encontram até 4 Muxinga. |
Estavamos quasi à beira d'essa colossal quebrada,
que as cartas punham a marginar pelo meio dia o lago
Bemba, e nós íamos deslocar para o-sul de muitas de-
zenas de milhas.
Agora não faltavam guias, porque, sendo universal
o uso dos pannos de casca, o menor pedaço de algodão
leva os naturaes a fazerem prodigios.
270 De Angola á contra-costa
Caminhando entre matos e campinas, ora seguido
do €. indicator, que com o seu tché-tché parecia compri-
mentar-nos, ora evitando grandes armadilhas feitas
para colher os bufalos, detivemo-nos uma noite, em
Moi Musiri, notando ahi o caminho de Sitanda ou Mi-
tanda, onde Selous esteve, e comprando uma cabra, ani-
mal que não viamos desde as terras de Moi N"Tenque.
Durante o dia 15 fizemos uma grande marcha, di-
vertindo-nos em pequenas correrias atraz de caça, que
a final não colhemos, porque ninguem agora pensava
em perder tempo com taes devaneios.
Eram rhmocerontes que se viam, e sobretudo um
antilope castanho escuro, o mais ladino de quantos
existem no sertão, que raro se deixam approximar, e
nós suppomos ser o harrisbuck dos inglezes.
Ás cinco da tarde haviamos suspendido, alegres e
contentes. Preparava-se para o dia segumte um caso
de circumstancia, a descida da serra, e embora não
quizesse isso dizer que estavam terminados os nossos
affazeres, era pelo menos uma cousa nova, que nos ía
furtar à monotonia da campma e do bosque, e sobre-
tudo approximar-nos do Zambeze, descendo para ni-
veis mais proximos d'aquelle oceano por que tanto
almejavamos.
Eis, letra a letra, as linhas que ao dia seguinte ra-
biscámos.
«Dia 16 de abril. No sopé da Muxinga.
«Achâmo-nos acampados em baixo da serra, e litte-
ralmente quebrados pela fadiga. Habituados de ha
muito a caminhar em terreno sem accidentes, e a lan-
car portanto só em jogo os musculos que determinam a
Ultimos dias no planalto 271
locomoção plana e horisontal, experimentámos um bem
estranho cansaço, quando por mais de uma hora ti-
vemos que nos conter em equilibrio por uma encosta
talhada a 45º.
«Logo que amanheceu partimos ao rumo de su-
sueste por uma densa mata afóra.
«Ao meio dia avistámos ao longe grandes serras na
direcção leste-oeste, que se fam multiplicando, escure-
cendo e avultando á medida que nós caminhavamos,
até que pelas tres horas chegámos á; beira de profun-
dissima encosta, defrontada por elevadas montanhas
e morros.
«O panorama que d'ahi se gosava tinha o quer que
era de soberbo e imponente.
« Pransformára-se a scena.
«A enganadora planura, fechada, escura, escon-
dendo em seu seio lodaçaes e lameiros, e como que
adormecida em toda a sua extensão em fundo lethar-
go, desapparêcera então para ceder o logar a uma na-
tureza mexida e convulsionada, evidenciando no seu
todo um trabalho gigante de outros tempos, e cheia
de movimento agora, traduzido nos varios ruidos do
vento a assobiar pelas gargantas, dos regatos a des-
penharem-se nas encostas, dos rios a murmurarem nos
valles.
«Os nossos olhos não se cansavam de admirar tão
vasto scenario, e ao attentar na enfiada de gigantes
morros que se multiplicavam até aos confins do hori-
sonte, e ver em baixo a prateada fita do rio Molun-
guiji a destacar-se em meio de verde vegetal, occor-
riam-nos os panoramas da costa occidental no alto da
212 De Angola á contra-costa
Chella, não ousando partir, sem dar á chapa photogra-
phica a impressão d'esse quadro *.
«Pelas tres e quarenta minútos começámos a des-
cida que, sobretudo para os carregadores, obrigava
aos mais peniveis esforços, por ser feita em atalho que
as aguas trabalham na epocha pluviosa, semeado de
calhaus de quartzo, que rolavam pela ladeira abaixo a
todo o instante, por meio das avultadas massas de
schistos micaceos, que em grande parte constituem o
solo aqui.
«Ás cinco horas chegámos ao sopé, rubros, afoguea-
dos, tendo feito uma quéda de quasi 400 metros!
«Um e outro experimentâmos, ao pousar ali, uma
sensação de angustia e constricção, que nos forçou a
cair em terra, e se em grande parte podia ter por ori-
gem o calor e fadiga, não menos seria devido á diffe-
rença de peso do ar, tão caracteristica era a oppres-
são que nos dominava o peito.
«O que sobretudo mais nos feriu o espirito foi a
subita mudança na vegetação.
«Uma hora de trajecto, e tanto bastou para que nos
achassemos num como que novo mundo.
«Em riba tudo viçoso, cá em baixo tudo secco,
como se um prolongado estio lhe houvesse passado
por cima.
«Desappareceram as acacias e as mupandas, vendo
nós pasmados surgir as bauhinias, que desde Capan-
gombe não viamos, mutiate d'ali, pau ferro aqui cha-
1 Casualmente essa photographia, quando revelada na Europa, não
mostrou o valor que lhe attribuiamos, tendo por isso de rejeital-a.
Ultimos dias no planalto 213
mado, e cujas folhas têem essa propriedade, de que
Julgâmos já ter fallado, a saber: pela manhã estão ho-
risontaes, dando uma bella sombra, e mal o sol se er-
gue, dispõem-se a cutelo por maneira que não impedem
a acção dos seus raios.
A GENTE DE LITETA
Segundo uma photographia
«Tim volta destes, avultavam os bao-babs, gongós
como os de (Quillengues, espinheiros, ete., tudo envol-
vido numa temperatura de 33º centigrados.»
Decididamente acabára para nós o planalto, agora
só restava descer para o mar.
Não nos parece preciso demorar aqui sobre o facto,
de ter andado sempre este desnivelamento gigante da
VOL. II. 18
274 De: Angola á contra-costa
Africa central erradamente collocado nas cartas, e
havermos sido nós os primeiros que ao certo o collo-
cámos; como não carece tambem de repetir-se, que
não é elle positivamente o que se chama uma serrania
a duas vertentes, e apenas uma quebrada ou profundo
córte no plateau, com suas ravinas, taludes e contra-
fortes a pique e volvidos ao sul; córte que até certo
ponto se póde considerar a divisoria das aguas do
Zaire e Zambeze, mas não absolutamente fallando,
pois rios ha, que de cima deslisam para este ultimo,
como pela carta se evidenceia.
Para -o noroeste de nós ficava a Manica do norte,
dominio do regulo Chitanda ou Sitanda, chefe cujo
traço mais caracteristico da sua passagem pela terra
é a nhumação feita com grande pompa, e da qual nos
contaram cousas fabulosas, entre as quaes figuram o
enterramento de muitas mulheres em vida, banquetes
dados ao defunto um anno depois do seu desappareci-
mento, etc.
Engolphando-nos por entre cerros e sulcos, pernoi-
támos uma noite junto de Moi Kicaxi, velha dama-
chefe, proprietaria de villas e aldeias, que ao ver ap-
proximar-nos, saltou para o campo com duas enormes
zagalas na mão, prompta, ao que parecia, para a
guerra!
Estacando abysmados, houvemos que explicar á au-
daz senhora, quaes os nossos fins, e a rasão do nosso
apparecimento ali, facto este que, socegando-a um pou-
co, a levou a abandonar uma das zagaias, que entre-
gou a uma creada, reservando comtudo a outra para
os casos imprevistos.
Ultimos dias no planalto Bo
Mais tarde, como sempre acontece com guerreiros
d'este jaez, calmados os mavorticos furores, um muito
particular assomo de sympathia por um de nós come-
çou de apoderar-se da respeitavel proprietaria, cami-
nhando as cousas por modo que estivemos quasi a
pique de repetir a celebrada scena de que o Egypto
foi testemunha, a saber: um homem esquecido dos
seus deveres, atravessar-se com o gladio, ao passo que
uma dama, culpada d'esse mal, se deixava picar, à falta
de aspide, por uma sorucucú!
Vastos arimos de sorgho cercam as povoações pelo
campo, onde o gentio de dia, mas sobretudo pela noite,
empoleirado n'uns palanques se entretem a bater em
paus, fazendo um ruido que tudo desperta, para afu-
gentar o rhinoceronte e o unjiri, Strespesciceros cudu,
que por aqui fazem suas mcursões, devastando tudo.
À tzé-tzé, que infestava o planalto, desce com o via-
jante para baixo, afugentando em voltas quantos ani-
maes existem.
Liteta é o ponto de cruzamento das caravanas, que
do planalto se dirigem para o Zambeze, afamado pelas
suas boas farinhas, que o gentio, após longas marchas
em cima e esfaimado, procura com avidez.
Ahi acampámos a 10 de abril, para della nos for-
necer tambem, e foi ahi que a final o Trinta, reconhe-
ceu o caminho.
Era tempo.
Caracterisam n'esta zona a vegetação muitas 1Jy-
phoenes sem extumecencias a meio do tronco, bem como
uma outra palmeira, que pensámos ser a Livingstonia,
e anda uma pequena planta, que julgámos ser um ca-
276 De Angola á contra-costa
ctus, à feição do Fhipsalis cassyta, prenderam a nossa
attenção.
Um dos grandes flagellos n'esta terra é a falta de
sal capaz. Extrahem-no os indigenas de duas especies
de plantas herbaceas, uma das quaes com um caule
tenro de 0" .15, terminado por pequena esphera, cresce
nos pantanos. Enfeixadas e seccas, são reduzidas a
cinzas, que, postas de infusão e coadas, abandonam
ao depois por evaporação o sal que contêem. |
A gente de Liteta é feia, picada das bexigas, rela-
tivamente mais deprimida que a do plateau, como as
photographias podem mostrar; limam os dentes, usam
de arcos e settas, poucas armas, pannos de casca e
pelles, e, caso raro, detestam o cachimbo, fumando
geralmente o tabaco fortisssmo que possuem em tu-
bos de canniço.
E tal a energia deste, que bastou a um dos nossos
homens fumar d'elle uma cachimbada, para dar em
terra entontecido.
Vimos pela primeira vez aqui mulheres com o labio
furado e n'elle introduzida uma rodella de zinco, como
é de uso entre sengas e mugoas; bem como tivemos
ensejo de observar uma curiosa ave, o passaro-gato.
De corpo amarello, azas pretas e face superior da
cauda d'esta ultima côr, esvoaça de arvore em arvore,
miando como qualquer maltez em devaneio pelos te-
lhados alheios.
Pana-Chane, Mutabarango, rio Muembeje, etc., fo-
ram successivamente estações por nós visitadas, ao
longo de um caminho assás trilhado, entre serranias
pelo rumo medio de susoeste. |
Ultimos dias no planalto 241
As marchas agora eram extremamente fatigantes,
pois toda a zona que se estira da Muxinga à serra
Kiropira é accidentada por modo que, apenas faziamos
uma ascensão, logo 2 kilometros adiante tinhamos uma
depressão, para mais ao longe volver de novo a subir,
c assim de seguida.
Escorrendo como cascatas, paravamos na encosta,
depois trepavamos de novo, animados pela idéa de
avistar de alguma emimencia o Zambeze; baldado em-
penho, apenas em cima um profundo valle nos con-
vidava a descer, e com a sua presença marcavamos
mais uma decepção.
São muito frequentes aqui os antilopes, pois gnús,
unjiris, m'pallas, etc., vimos nós dispersos pelos matos.
Leões são tambem numerosos, andando nós na tri-
lhada de um par, junto ao rio Mosengache, em cami-
nho para o nascente.
— Mau bicho, dizia um guia que comnosco levava-
mos.
— Da mão esquerda d'elle é que deve a gente arre-
cear-se, pois é essa a mais forte e que joga sempre
em frente.
Um jacies notavel de toda esta parte do continente,
é a devida às alternantes de vegetação.
Quando no fundo dos valles volvia sempre o reino
vegetal a assimilhar-se ao que vimos no sopé da serra
Muxinga, mal nos alevantavamos ao alto de qualquer
cerro, que logo as mupandas e plantas companheiras
nos surprehendiam.
Descendo e subindo assim fomos por dias, pagando
cara a Idéa que haviamos feito de toda a zona margi-
278 De Angola á contra-costa
nal do largo rio, quando em Libonta, pois a julgava-
mos um areal deserto e nú de arvoredo; até que a 25
de abril pela manhã démos ao longe vista de uma
serrania, que soubemos ser a Kiroporia, e que o gran-
de Zambeze prolonga pelo sul na distancia de 4 mi-
lhas.
Com o coração palpitante, para diante investimos.
Queriamos ser os primeiros a vel-o, a saudal-o, o co-
losso que atravessa uma das nossas mais ricas colo-.
nias, e sentando-nos á sua beira socegar.
Cerca de 700 milhas ainda fam d'ali ao mar. Um
fardo com seis peças de fazenda e meia lata de chá era
quanto possuiamos, e, sem embargo, nada nos afiligia;
por lá encontrariamos mais perto ou mais longe quem
nos soccorresse e em resumo por elle abaixo haviamos
de mx ao oceano, esse tão anciado terminus dos nossos
labores, e onde em socego poderiamos considerar nos
resultados da nossa empreza.
Offegantes não paravamos, exhortando com pala-
vras e gestos os nossos enfraquecidos companheiros,
que radiantes e enchendo-se de animo nos seguiam,
convencidos que breve estariamos a salvo.
Bram elles os primeiros homens do oeste, que, atra-
vessando de vez todo o continente, vinham saudar
n'aquelle parallelo os seus similhantes de leste, e era-
mos nós tambem aquelles que, tendo tido a dita de
os guiar, haviamos tido a felicidade bastante de fazer
face a todos os perigos que nos rodearam, e salvar no
meio das mais graves peripecias uma missão que, sendo
o nosso pesadelo de cada noite, era para o nosso paiz
um serviço inadiavel.
Ultimos dias no planalto 219
Dez vezes subimos ao alto de cerros, ora picados
pela tzé-tzé, ora fugindo à formiga, ora deixando nos
espinhos das fundezas os restos do apodrecido fato, e
dez vezes, após uma decepção, tivemos que tudo des-
fazer, descendo o que tanto nos custára levar a cabo
subindo.
O grande rio parece fugir de nós, e como sempre,
quando muito se anceia por attingir um ponto, mal se
calcula a sua distancia, nós ardendo de impaciencia,
pareciam-nos as horas seculos.
«E agora!» E ao alto da serra guindavam-se os che-
fes, lançando mão dos bimoculos, e logo ao attingil-a
uma mais elevada os defrontava, encobrimdo-lhes o
horisonte.
Finalmente eram tres horas e vinte minutos quan-
do escalámos a ultima, e da cumiada démos vista do
colosso.
Hurrah! foi o grito unanime, e, sentando-nos nos al-
cantis da encosta, démos largas à commoção que nos
dominava.
Que panorama, que quadro d'ali se desenrola aos
olhos dos recemchegados!
Aos nossos pés, esboroada e por fundos sulcos ras-
gada, caía quasi a prumo a encosta da serra, litteral-
mente vestida de arvores, que se debruçavam sobre
a campina. |
Em baixo, amesquinhado pela distancia, serpeava
o Zambeze, resplandente á luz do sol, com o seu leito
semeado de ilhas e as varzeas cobertas de verdura.
Pelo sul a dentro, rasa como a palma da mão, alon-
gava-se a perder de vista uma campina, que se con-
280 De Angola á contra-costa
fundia nos confins do horisonte, deixando erguer pelo.
meio morros e serranias, que por aquella margem di
videm as aguas, emquanto que pelo lado do pôr do sol
uma terra alcantilada nos encobria a vista do rio para
a banda do Cafué, por detraz da qual elle surdia de
Improviso.
Columnas de fumo saídas de varios pontos eviden-
ciavam a existencia de aldeias e da basta população que
lhe habita nas margens, accentuadas em muitos sitios
pelas manchas branqueadas das plantações do sorgho
ja resequido.
O sol, descrevendo o seu circulo gigante na celeste
abobada, começava de apropimquar-se do occaso, e
anda nós, absortos na contemplação d'esta scena, con-
tinuavamos pendurados em riba da serra.
Attrahidos pela mirifica visão de um quadro pouco
vulgar, custava-nos a apartar d'aquelle sitio aonde
naturalmente jamais voltariamos.
Alfim não houve remedio senão cortar pelos encan-
tos, e, calando sensações, partir.
À serra Kiropira, porém, do ponto em que nos acha-
vamos para baixo, é por tal maneira aspera e fragosa,
que só com raro tino se consegue descel-a sem caír.
Com cuidado e pouco a pouco se fez a descida, mas
como a ladeira fosse estreita, e o astro do dia estivesse
quasi a desapparecer, tivemos de acampar no meio da
encosta, n'um logar onde topámos agua, aguardando
o dia, para decididamente attingir o curso do rio.
Pela noite, cercados de fogueiras na serra, o pano-
rama tornou-se feerico logo que a lua, com a sua mei-
ga luz, pairando nos céus, esclareceu a terra.
Ultimos dias no planalto 281
Incomparavel noite essa, de que conservâmos gra-
“ta recordação, e em que nós, de ventre para baixo, so-
bre uma penedia, passámos horas esquecidas na con-
templação do rio e nas recordações da patria.
Estavamos prestes a volver a ella, a voltar ao mun-
do civilisado, e, sem o percebermos, começavamos a
pensar e sentir de modo diverso; renascia em nós a
vida de outr'ora, íamos deixar emfim de ser homens
do mato.
Logo que a aurora do segumte dia assomou, pres-
tes e de pé estava toda a caravana, e, abandonando a
meia encosta, descemos serra abaixo para a planura.
Ás oito horas achavamo-nos na campina de Chôa, en-
tre bao-babs, sycomoros e fechados espinheiros, acos-
sados por verdadeiro martyrio.
Não bastavam os parasitas que nos atormentavam
os esqueleticos vultos, e no valle de um rio que nos de-
frontava, picados da tzé-tze, fomos caír no meio de
uma alluvião de bissonde, formiga guerreira, para fu-
gr à qual, deixámos a pelle nos bicos dos espinheiros
e nos enchemos de praganas de capim, atolando-nos
finalmente n'um lameiro, para fugir do qual tivemos
de lançar mão á subvegetação que nos cercava, co-
lhendo, sem o perceber, uma leguminosa de vagens
pelludas, que produz horrivel comichão, similhante
originada pela Mocuna pruriens!
Eram as pragas do Egypto. Ás nove horas acampá-
mos na margem do rio, bebendo a tragos da sua agua
esverdeada.
CAPITULO XXX
ZAMBEZE ABAIXO
A caravana à beira do Zambeze —Os negociantes portuguezes a mon-
tante e as vantagens em se approximar do rio—O nosso dominio no Zam-
beze e o que delle se diz — Ninguem como nós ali põe e dispõe —O acam-
pamento e o quadro que d'elle se desenrolava — À baixa das aguas e o
vento rijo nesta quadra — Revelações do Trinta sobre a sua segunda
esposa — Subita revelação, originando uma cruel decepção — Os chucu-
lumbes e o seu exotico penteado — Algumas considerações ácerca do rio
em que nos achâmos — Curso desembaraçado e facil navegação —O Cafué
— Importancia dos sertões em vista da proximidade dos cursos de agua
— À exploração mineira, como rapido incentivo para a colonisação — Em-
fim o que virá a ser o caminho do Zambeze — As terras de alem — O
Dande e a Chedima ou Monomotapa — Duas palavras ácerca da gente do
Dande — Seus adornos e espirito bellico—O cafre-zulo Chaka — As ter-
ras d'aquem—O Borôma e a caça— Natureza do solo—O peixe ele-
ctrico— Quéda da folha—O Likago e seus effeitos preservativos — O
idioma de Camões — Sycomoros, bao-babs e hortas — Os bois e conside-
rações sobre elles — D'onde vem, do outro mundo — À nossos pés estava
o Aruangõa.
EN: VAN MUVDEN.
INDIGENA RIBEIRINHO DO ZAMBEZE
Segundo uma photographia
A audaciosa pequena caravana, que em março de
1884 partíra da costa do oeste, e atravessando para o
valle de Barótze ahi se extraviára entre lameiros e
lagoas, para logo, transpondo o Liambae, cortar atre-
vida pelas selvas do Cabompo, e rasgar pelos matos
do Lualaba, dormindo na Katanga -e zombando dos
receios indigenas, que lhe agouravam a perda em Ca-
ponda, sertão d'onde, apesar de gravissimos embara-
cos, se livrou galhardamente, para mais longe, extra-
viada em Iramba, ver de novo a morte a dois passos;
286 De Angola á contra-costa
achava-se agora, tranquillamente acampada nos plai-
nos do Chôa, à beira do gigante Zambeze, cujo curso
se dispunha a seguir, e mesmo explorar. |
Ninguem já duvidava do exito da nossa missão,
porque todos sabiam que rio abaixo pullulavam as
habitações dos commerciantes portuguezes, com cujo
auxilio poderiam contar estrangeiros, quanto mais na-
cionaes.
Mesmo a montante as topariamos tambem, pois em.
RKassoque se achavam ao tempo Mendonças, Monteiro
e Simões, cujos aviados percorrem o Ulenji, a Manica
e os Machuculumbes diariamente, homens que não é a
primeira vez que entre si se quotisam, para repatriar
ou enviar para Paramatenga e caminho de Soshong
mglezes transviados por aquellas terras e individuos
de outras nacionalidades.
Para todo aquelle que por estes sertões se perder
ou for victima de roubos ou perfidias gentilicas, é in-
dicação segura o abalar-se para junto do curso do rio,
pois ahi encontrará sempre apoio e protecção e, em
cada residencia de portuguez, uma casa onde será
recebido como familia.
Livingstone bem o podia testemunhar, como garan-
tir o póde tambem o sr. W. Kerr, amda ha pouco pas-
sado em Tete, e tantos outros viajantes, não figurando
1 O soba grande de Manica era em outro tempo Chitanda, homem que
entre os seus tinha a reputação de não comer. Nunca o haviam visto se-
não fumar liamba n'um enorme cachimbo. Apparece n'esta terra uma doen-
ca original, com cujas causas não podemos atinar, e se manifesta pela
inchação do ventre e pernas, sorte de edema de que morrem brancos e
pretos. Ha tambem o carrapato da febre, de que adiante fallaremos.
Zambeze abaixo 281
por menos os desgraçados, cuja insensata audacia leva
a sós por aquellas terras em busca de oiro, como um
celebrado mestre John, ha tempos apparecido no Zumbo
sem um ceitil de seu, ao qual os nossos deram fazenda
e quanto precisava, enviando-o com guias e recommen-
dações para o Kassoque, a ffm de que o pozessem a
caminho de Paramatenga, e um outro boer, cujo com-
panheiro havia sido assassinado, e os banhiai tinham
colhido, levando-o preso a Diu, para que fosse entre-
gue ao capitão mór Firmino, e ainda muitos que seria
longo enumerar.
Apraz-nos esmiuçar estes factos e significal-os aqui,
porque é tão frequente e de feição recente, o fallar-se
do nosso dominio na Zambezia, como de uma phanta-
sia, que nos não consente o animo cortar por falsidades
sem lhes dar o conveniente correctivo.
E se é certo que ninguem como nós se aventura
pelo sertão africano, certo é tambem que ninguem
como o governo portuguez dispõe n'um momento dado
de maior força e influencia em tão reconditos logares.
Basta uma ordem do governador de Tete, para que
Kanhemba, capitão mór do Nhacôa, estabelecido no
prazo da corôa, que pelo sul do rio vae até à emboca-
dura do Kafué, e sobretudo a Araujo Lobo, capitão
mór do Zumbo, cavalheiro com quem tivemos o pra-
zer de mais tarde estar em contacto, e avaliar as suas
apreciaveis qualidades: espalhem por aquellas terras
dois a tres mil cypaes armados.
À nossos pés corria, como ficou dito, o Zambeze, e
durante tres dias ahi nos deixámos estar entregues a
uma ociosidade de que muito careciamos.
288 De Angola á contra-costa
“O acampamento, collocado 4 beira mesmo do rio,
deixava vel-o desembaraçado, podendo nós pelas horas
da refeição notar, ora os manejos de um crocodilo,
em via de trepar para uma das ilhas do meio, ora ter
de face um hyppopotamo indifferente, mergulhando
aqui, soltando alem roncos, que faziam lembrar um
rebecão tocado de repellão.
Desde a força das chuvas já o rio tinha baixado de
5 metros, começando a soprar n'esta quadra e diaria-
mente apoz as dez horas (a. m.) um vento rijo, durante
o qual se torna perigoso percorrel-o em pequena em-
barcação. |
Manuel de Abreu, conhecido pelo Kavunda, é o
homem que n'aquelle ponto está estabelecido, mas que
mfelizmente n'esta occasião se achava fóra, sendo nós
visitados por um seu filho, e por numerosa gente da
libata, a quem ouviamos gostosamente pronunciar a
saudação da nossa terra—bons dias, senhor.
Foi no dia da visita de Caetano de Abreu, que o
Trinta experimentou a mais cruel das decepções e Rosa
a mais monumental das alegrias!
Desde a descida da Muxinga, que o nosso alongado
companheiro nos fallava constantemente na sua outra
esposa e em termos os mais lisonjeiros, encarecendo-
lhe a esperteza e a aptidão, ao ponto, dizia elle, de
até saber fazer pão!
E ha de fazel-o, additava, para logo volver, coçando
o occiput, o que falta é o trigo!
Assim que assentámos arraiaes no Chôa, o homem
não socegava, e, de um lado para o outro, apoquenta-
va-nos, pedia-nos fazenda para lhe levar presentes, e
Zambeze abaixo 289
emfim solicitava uma demora nossa ali, emquanto elle,
n'uma corrida, iria buscal-a!
Não nos achavamos muito de geito a prolongar a
estada em tal logar, só para lhe satisfazer um leviano
desejo, davamos mesmo ao demo a lembrança do nosso
heroe, quando uma circumstancia Imprevista tudo veiu
resolver.
Havendo chegado ao quilombo uns pretos que se de-
ram por conhecidos do Trinta, e do seu antigo menage,
correu este logo a elles, perguntando-lhes pela estre-
mecida metade que deixára ha dois annos no Nhacôa.
Olhando-o de soslaio, os dois replicaram: «Está boa,
lá está à sua espera».
Radiante, veiu ter comnosco a dar-nos conta da
fausta nova, e acrescentando: «Lá está e ainda nos ha
de fazer pão esta viagem».
No entretanto a Rosa, por mais esperta, emquanto
o esposo soltava aos quatro ventos da fama a novida-
de, foi ter com os informadores, e, por mais manhosa
e ladina, conseguiu d'elles saber a verdade.
Apenas senhora do segredo, eil-a que entra pelo
acampamento dentro, aos saltos e viravoltas, e n'uma
explosão de alegria exclamava ante o esposo boquia-
berto e estonteado:
«Tem outro homem ella, já casou ha muito tempo!»
Tableau:
Trinta, hirto e de prumo, estava: assombrado; em
volta estrondeavam as gargalhadas, e nós, apertando
a cmta, suffocavamos!
Entre os factos dignos de menção por nós aqui ob-
servados foi aquelle de um typo chuculumbe.
VOL. II. 19
290 De Angola á contra-costa
Povo que habita, como já dissemos, para o oesno-
roeste do logar em que nos achavamos, parece, sem
ser extremamente feroz, ter habitos assás primitivos,
pois todos vestem uma pequena pelle, usam zagaia, e
amanham a terra, como nol-o afiançaram, com enxadas
de pau. |
O mais curioso traço d'estes indigenas é porém o
penteado.
Os machuculumbes usam puxar o cabello todo para
o alto da cabeça, e á medida que este vae crescendo,
vão-no emendando e torcendo, á feição de rabicho, com
azeite e manteiga, chegando a attingir um comprimen-
to exagerado.
Estes rabichos espetados dão-lhes uma feição assás
original, podendo notar-se, quando acocórados em pe-
quenos grupos de roda do fogo, ao volverem as caras
uns para os outros, um verdadeiro jogo de pau feito
com as cabelleiras.
Pela noite sobretudo vêem-se embaraçados para
accommodar tal topete, tornando-se necessario a espo-
sa, após deitado o marido, amarrar-lhe o extremo da
trunfa ao tecto da casa!
Que original!
Fazer n'este logar e antes de partir uma descri-
pção do nosso rio seria ocioso, depois do que sobre elle
têem fallado tantos viajantes; encarecel-o como via im-
portante de communicação seria repetir o que dezenas
de vezes se tem tambem dito e escripto.
O Zambeze, cujo curso de Kariba para jusante vae
limpo de embaraços até a Kaborabassa, e d'ahi, es-
praiando, corre até ao oceano sem obstaculo algum, é
Zambeze abaixo 291
Já hoje o camimho por onde se fazem, embora com tra-
balho, todas as permutações para as terras do mterior,
caminho que só espera vehículos de moderna feição,
para que se torne exclusivamente a unica débouché a
todo o commercio dos amplos sertões que o marginam;
e anda a imponente massa de afluentes que sobre
elle convergem, lavrando as terras longmquas, podem
em muitos casos vir a ser aproveitados, alargando a
area de faceis transportes por via fluvial. |
O Cafué, por exemplo, é um destes, que, tendo a um
dia de viagem da confluencia do grande rio uma cata-
racta, vae depois limpo por entre a Manica e a Iramba,
até quasi proximo da Katanga, podendo ser percorri-
do por embarcações de grande lote.
E se é verdade que nos não é facil dizer rigorosa-
mente ao leitor qual a absoluta importancia dos ser-
tões de que vamos fallando, qual o seu methodo de
exploração e modo de aproveitar, qual emfim o futuro
que cada um d'elles espera, pois são essas questões
para mais largo estudo, sendo mesmo para notar a
nossa reserva pelos capitulos que atraz ficam, com
respeito a este assumpto; não menos verdade é, e facil
de afiançar, que, em identidade de circumstancias, o
districto que regado for por maior rio será o que mais
garantias terá de prosperar, acrescendo que aquelle
cujo futuro depender de exploração mineira, nunca
poderá ser cousa alguma, quando ficar afastado de
curso caudaloso !.
1 Basta que consideremos nas riquezas mineiras do Bembe na nossa
provincia do oeste e no infeliz debute da sua exploração, por via de trans-
porte às costas do negro, para que d'isso nos convençamos.
292 De Angola á contra-costa
Ora nestas circumstancias se acham uma grande
parte das terras que acompanham o amplo tributario
do Indico, bem como os seus afluentes: haja vista
Iramba, Caponda, Katanga, ete.
E como cousa alguma mais rapidamente chama á
colonisação e á formação de grandes centros de ex-
ploração mineira, urge que o governo de Sua Ma-
gestade, sem perda de tempo, ordene um definitivo
estudo do alto Zambeze, e mórmente dos seus afiluen-
tes, como Uafué, Sanhati, etc., pois se nos afigura está
n'esse estudo a pratica realisação da definitiva aber-
tura e immediata prosperidade d'aquellas feracissimas
terras.
E mesma nossa convicção que, feito elle, viremos
nós no conhecimento do imestimavel recurso que ali
possuimos, como chegaremos a compenetrar-nos da
idéa de que, se não é este talvez um rio em melhores
termos de aproveitamento que o Zaire, é ao menos
proximamente igual, levando-lhe porém a grande van-
tagem de occupar uma melhor posição geographica,
ser mais facilmente attingivel o seu curso medio, e
drenar sertões que, por salubres, e mfinitamente mais
ricos do que aquelles por onde deriva o rio de Stan-
ley, são em tudo mais proprios para o estabelecimento
do europeu.
O caminho do Zambeze, num praso mais ou menos
curto, ha de fatalmente ser o rival d'aquelle do Zaire,
e convençam-se todos que o europeu que não fizer
fortuna e não lograr saude em Caponda, em Ulalla,
em Iramba, nunca viverá tambem em Uregga, entre
os tuchilangue ou os bateke do Congo.
Zambeze ha 298
Esta é a verdade.
Assim que nos achámos com forças de botar a ca-
minho, levantámos campo, seguindo rio abaixo pela sua
margem esquerda.
Da banda de alem estendia-se o grande territorio
do Dande, que, defrontando por oeste com o Sanhati,
vae para leste topar com outro districto de não me-
nor importancia, Chedima ou Monomotapa, hoje po-
voado em parte pelos banhai, sob a direcção nominal
de Zuda |.
E bastante difficil precisar a casta de povoadores
pelo Dande espalhados, tão numerosas são as imeur-
sões feitas pelos landins de Muzilicatzi e outros der-
ramados por toda a banda, como os de Guároguáro,
de Xiadionga ou Gurure, de Ponde, Cauere, Katan-
ga, Manicusse e até Peizene, que hoje se acha ao norte
do Zambeze.
Summariamente o que lavra é o sangue zulo, distin-
guindo-se os habitadores do Dande pela sua côr azevi-
chada, robustez, grandes olhos e apparencia agrada-
vel, bem como pelos adornos de cabeça, com contarias
e tranças, nhunzos, cordões de missanga á cinta, kim-
potes, e amda por os seus chefes ou mambos, como os
de Chedima, usarem uma tatouage em fórma de cruz,
que, tomando-lhes o frontal de uma fonte á outra,
desce a meio e perpendicularmente, quasi 4 ponta do
nariz. |
Extremamente bellicosos, têem estes povos preceitos
e costumes estranhos, que evidenceiam bem como entre
1 Este regulo foi batido na occasião da nossa passagem.
294 De Angola á contra-costa
elles ficaram arreigados tradicionalmente os marvoti-
cos furores do celebre cafre-zulo Chaka!
Assim, por exemplo, é de praxe, sempre que dois
mambos se encontram ao acaso, baterem-se um com o
outro até que um d'elles suceumba, lucta que eviden-
ceia, não só a rasão de nunca entre elles haver concor-
dia, mas mais esclarece o fim que teve em vista o chefe
que primeiro iniciou similhante preceito.
Em resumo, são assás industriosos, pois se não vêem
senão utensilios de ferro, como machados, facas, etc.,
feitos pelos ba-zizuro.
Pelo lado de cá ficavam-nos as terras de Borôma, e
para longe a Senga.
A 29 de abrilao anoitecer achavamo-nos acampados
na libata d'aquelle, rilhando em descanso a carne de
um ZEgoceros elipsiprimnus, que por aqui abunda, e
haviamos abatido em caminho.
Pulava a caça em todos os sentidos, avistando nós
rhinocerontes, quicemas, de que acima fallâmos, zebras
de que abatemos uma tambem á saída da senzalla,
enormes quadrumanos barbados, cuja especie não po-
démos precisar, e uma gallimnacea, 4 feição do pavão,
! Chaka foi no começo d'este seculo o filho de um chefe zulo, que
primeiro organisou disciplinarmente os seus exercitos, levando as suas
conquistas até ao Natal, onde venceu Muzilicatzi, que mais tarde foi seu
logar-tenente e conquistador do Transvaal, esmagando os bechuanas; e
vindo por sua vez a ser impellido para o norte, estabeleceu-se na serra
Matopo, onde avassallou ma-kalacas ma-chonas, fundando o reino dos
matebeles, de que hoje é chefe Lo Bengula. |
Foi de Chaka tambem general Manikus, que, após uma retirada pou-
co feliz de Lourenço Marques, fundou o reino zulo de Gasa, onde reinou
Muzilla e hoje nominalmente dirige o Gunguneana.
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TYPOS ZULUS
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Segundo photographia
Zambeze abaixo 295
tendo porém na cauda só duas pennas compridas ter-
minadas em espatula, e que suppomos ser conhecida
na Huilla.
Os dias 30 de abril a 1 de maio proseguiu a expe-
dição, acossada pelo desejo de chegar ao Zumbo, por
entre morros e serranias, que lhe castigavam severa-
mente os pés. |
O paiz vae tendo aqui um tom de mais em mais pitto-
resco, o rio estreita, para passar ruidoso n'uma lupata.
À natureza do solo é assás varia, e nas serranias,
do meio da argilla vermelha e calcareos rosados emer-
gem rochas de gneiss escuro, grés grosseiros incohe-
rentes, amphibolites de côr negra, micachistos e pe-
gmatites, fragmentos de diabase, formando provavel-
mente filões nas rochas crystallographicas da região,
magnetites, lascas de gabbro (?) e calcedonia verde,
etc.; à mistura com blocus de quartzo, crystaes deste
mineral, schistos micaceos, e outros. À tzé-tzé tende a
desapparecer, gigantes bao-babs avultam pelas cam-
pinas e encostas.
Pelas lagoas pescam os naturaes, em armadilhas,
topando-se com frequencia um peixe electrico, sorte de
Clarias (bagre), no dizer dos negros, que suppomos ser
especie de nós não conhecida.
A flora por sua parte é que vae mudando um tanto
de aspecto.
Muitas arvores no Zambeze largam a folha em maio,
começo do inverno, só principiando a vestir-se no
mez de novembro; algumas outras não seguem porém
esta regra, e na força da secta, em pleno mez de se-
tembro, pegam viçosas a rebentar.
296 De Angola á contra-costa
Em Capinguira, libata de mercadores, descansámos
algum tempo mirando os novos typos que nos cerca-
vam, e ouvindo historias a seu respeito.
Uma d'ellas ouvimos citar com estranho afinco e
segura garantia de successo, e vinha a ser, que exis-
tia certa beberragem, ou melhor duas, de effeitos op-
postos, que, quando administrada ás mulheres, tinha
como consequencia o socegar o espirito dos maridos,
por ter uma verdadeira acção prophylactica contra o
adulterio !
Não ha Lovelace que lhe resista, era a opinião do
narrador, e um olhar que ouse levantar para uma dama
assim prevenida, ou melhor, couraçada contra ternos
assaltos, será uma sentença de morte contra si profe-
rida, a menos, é claro, que não conheça o segredo
da outra bebida, verdadeiro antidoto, que só deve ser
do exclusivo conhecimento do esposo.
Tem este precioso e mestimavel philtro entre os na-
turaes o pouco euphonico nome de Likago, e parece
ser por ali usado com frequencia, o que mostra que
o camarada negro é tambem egoista, e que portas
a dentro, em meio do seu pequeno serralho, não com-
prehende o variatio delectat, senão como conceito judi-
cioso para uso particular.
À lingua agora fallada era em muitos logares o por-
tuguez, não se ouvindo senão estropiar, a mercadores
e sua gente, o pobre idioma de Camões, cireumstan-
cia esta que trazia os nossos companheiros embas-
bacados, pois lhes parecia estranho, como tão longe
aquelles homens sabiam a lingua que se fallava em
Angola.
Zambeze abaixo 29
Em caminho gigantes sycomoros abriam os seus
enormes ramos numa area de muitas dezenas de me-
tros de circumferencia, acobertando, por vezes, dos
raios candentes do sol a comitiva mteira com a sua
benefica sombra.
Os bao-babs numerosissimos avultam monstruosos
por entre os espinheiros, com a sua casca fendida e
cerceada em muitos pontos, pela constante procura
de fibra para artefactos diversos.
Hortas viçosas circumdadas d'essa Verbenacea de flo-
res amarellas que serve para troviscar peixe, tambem
se nos deparavam junto ás libatas, onde nós compri-
mentavamos cubiçosos, couves, alfaces, rabanetes, etc.,
que, em verdade, mais nos impressionaram com o seu
subito apparecimento, do que a mesma idéa de nos
acharmos abeirados do mundo que pensava.
O que porém causou uma profunda sensação a toda
a gente da caravana, fazendo com que suspendessemos,
a fim de por momentos os mirar, foi a primeira ma-
nada de gado vaccum.
Ao vel-os pacientes, pastando, gordos e luzidios,
sem consciencia do tremendo perigo que de tão perto
os ameaçava, a tzé-tzé, que infesta toda a margem de
lá do Zambeze, e a de cá mesmo em muitos pontos,
não podémos deixar de recordar os nossos bois, com-
panheiros que nos haviam ficado nas selvas, e tão
grande serviço nos haviam prestado.
Que haveria sido de nós, os chefes da expedição,
se acaso não houvessemos tido a providencial idéa
de trazer bois-cavallos em numero suficiente para re-
sistirem ás marchas que fizemos?
298 De Angola á contra-costa
- Quem poderia só de um folego marchar de Quiteve
a Libonta, 800 milhas approximadamente, que tanto
foi a distancia por nós percorrida, se acaso não tives-
se bois de montada e em numero suficiente para fa-
zer tal trajecto? ú
É que seria sobretudo da caravana, no Luatuta, no
M'palina, na planura do Lobale e nas matas do Ca-
bompo, se acaso à sua frente não fossem sempre os
bois como supporte do animo e garantia de recurso? |
Teriamos succumbido fatalmente 4 fome, porque,
como já mais de uma vez o dissemos, entre os nume-
rosos embaraços que nos envolveram por entre as sel-
vas do negro continente, figura por maior aquelle
devido a este terrivel flagello, de que só nos libertá-
mos muita vez, sacrificando as cabeças de gado que
possulamos.
Por todas estas rasões, por considerarmos mopi-
nadamente em todo este alinhavo de trabalhos, é que
haviamos suspendido junto aos bois, e ahi gostosa-
mente scismavamos no passado.
E estes devaneios, muito embora pareçam não ter
valor, têem-no, pois podem ser ensmamento proveitoso
para viajantes novos, que, por alheios ao modo de vi-
ver nos bosques africanos, sejam levados a errar na
organisação do seu pessoal.
Que attente bem aquelle que se propõe transitar
em zonas, onde todas as probabilidades imdicam o de-
serto, e se abalançam a largas viagens no contmen-
te, que os dois factores primeiro a attender são os da
alimentação da sua gente, e um economico dispensar
da propria energia, ao principio.
Zambeze abaixo 299
Se lhe é imdispensavel o quinino, não menos neces-
sario é poupar as forças, e, em logar de começar por
devaneios e proezas, como muitos novos viajantes fa-
zem, isto é, por marchas forçadas, a pé e a grandes
distancias, por caçadas, correrias, etc., que mais não
fazem senão enfraquecel-os, iniciem-se pouco a pouco
nos labores da vida nova que vão encetar, por exerci-
cios moderados na marcha a pé, e por aquelles a ca-
vallo quando tenham oecasião.
Sempre que possam façam acquisição de dois ou
tres bois-cavallos e transportem-nos comsigo, que lhes
serão elles de grande recurso, porque o trabalho que
estes animaes dão na passagem dos pantanos e atolei-
ros é sobejamente compensado pelo conforto do nosso
transporte e pelas forças e saude que nos conservam.
O boi é um animal incomparavel para o mato. Ali-
mentando-se por sua conta e risco, não precisa o via-
jante pensar n'elle e apenas, quando o possa fazer,
chegar-lhe uma ração de milho ou de batata doce; ao
passo que, imtelligente e affeito ás difficuldades das
selvas, o boi transita-lhe por toda a parte cuidadoso,
sem que uma vez o jogue a terra, ou se atole descui-
dado.
Abeirou-se de um rio, deixe-lhe, por assim dizer, as
redeas, póde ficar certo aquelle que no lombo do ani-
mal se achar bifurcado, que jamais elle se metterá á
agua, se vir que o rio, por lodoso, é mtransponivel em
bons termos.
Com referencia ao primeiro factor de que fallâmos,
isto é, a alimentação da caravana, não precisa encare-
cer-se o boi como recurso precioso; mas convem lem-
300 De Angola á contra-costa
brar, que alem da influencia que materialmente póde
ter, tem tambem aquella moral, sustentando o animo
e tibia coragem do negro, pela certeza de ver que na
cabeça da comitiva vão uns poucos de milhares de
kilos de carne, que lhe serão recurso no primeiro caso
desesperado.
Se não fossem os bois, certamente a nossa expedi-
ção teria tido outro fim, e, em logar de havermos tri-
lhado sem retroceder o caminho que nos propunhamos,
houveramos de ter assistido ás mais desoladoras sce-
nas de deserção, e quiçá a uma geral debandada pelos
matos. Os bois foram a tábua de salvação, e quem
quizer seguir o nosso conselho, leve ao partir do lito-
ral umas poucas de duzias d'estes para abater.
Como terminassemos mentalmente uma boa parte
destas considerações, deixámos o rebanho em socego
no meio da campina, endireitando para a banda do
nascer do sol, logar onde nos ficava o Zumbo, que nos
preparavamos a encontrar.
O sol, então já bem alto, illumimnava com gloriosa
luz o espaço e a superficie da terra, deixando destacar
com mtidez em redor todos os accidentes do terreno.
Desdobravam-se ao longe para o oriente aquelles
que mais nos prendiam a attenção, entre os quaes fi-
guravam erguidos a serra Manzoanzoé, em cujas fal-
das está assente a villa do Zumbo, as altas montanhas
Valem do rio, que, correndo perpendicularmente, vão
perder-se no sul, e o complicado de morros e cerros,
que desde a ultima lupata onde passaramos vem cor-
rendo approximadamente com o Zambeze até esta ulti-
ma villa.
Zambeze abaixo 301
Habitantes de aldeias e povoados vinham ao ca-
minho observar a caravana, que em linha, com o roto
pendão nacional á frente, se dirigia para o oceano.
Vem do Cafué ou de Manica, diziam uns; de Ulalla,
acrescentavam outros; de longe diziam alguns; do
outro mundo, additou um mais atilado, e tinha rasão,
porque se o nosso aspecto não era positivamente de
resuscitados, era-o a alegria e satisfação que nos do-
minava. |
Após a tristeza tumular de mezes volviamos de
novo ao mundo.
Transpostos uns elevados contrafortes dos ultimos
cerros por onde vinhamos caminhando, desembocâmos
alfim em ampla planura, que direitamente nos levou
por entre espimheiros e bao-babs até junto do mais
desenvolvido dos sycomoros que em nossa vida hemos
visto.
Á sombra d'elle nos quedámos estafados, transu-
dando agua por todos os poros.
À nossos pés corria um rio, que, açoitado por bri-
sa fresca, encrespava ligeiramente a superficie da
agua, deslisando de manso para o meio dia. Era o
Aruangõa. À mão direita, um outro lençol de agua de
mais avultadas proporções resplendia á luz do sol, des-
lisando rapido por entre as serras e campinas que o
marginam.
Era o Zambeze.
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CAPITULO XXXI
DO ZUMBO AO OCEANO
A villa do Zumbo, sua posição e aspecto attrahente — Importancia de
outr'ora, numero de fogos, periodo de abandono — Frei Pedro — Partida
de Sofala — A fome na Senga— Influencia do frade na prosperidade do
Zumbo — Frei João que o succede — Estabelecimento alem do Aruangõa
— O capitão mór do Zumbo e o chefe do Banhae — Uma querella com o
Boruma —Transpomos o Aruangõa, dando entrada na villa— A nevrose
da leitura e um descanso de dezenove dias — Scenas diarias e considera-
ções a proposito — Excerptos do diario— Às ruinas do Zumbo — Habitos,
costumes e crenças dos Van-sua— O moave e o morungo— Os pandóôres,
mambos, chamujires e zinaguros—O Varungo e o marombo — Doenças que
afligem os povos dos sertões em questão — As boubas o mapert e a cherin-
gosa— Indicações geraes sobre a primeira d'estas doenças — Facies espe-
cial e tratamento — Manifestações na mulher — Inmunidade do homem
em determinadas circumstancias — As duas ultimas doenças e breve in-
formação sobre ellas— À abalada rio abaixo — Araujo Lobo— À Senga e
a Chedima— Aspecto do rio— Serranias marginaes — Entre os Banhai—
À guerra contra Zuda— Dio — Ataque à aringa— De novo entre a tzé-
tzé —Tete.
Ev. VAN MUYDEN.
MULHER DE SENGA
Croquis do auctor
A villa do Zumbo acha-se assente na margem es-
querda do Zambeze, exactamente a jusante da con-
fluencia do Aruangõa com este rio.
Se houveramos de fazer uma resenha debaixo do
ponto de vista da salubridade, do pittoresco e do at-
trahente, de quantos pontos pelo mterior vimos, diria-
mos que o Zumbo, depois do plateau, da Huilla, é o
ponto que mais sympathias nos mspirou.
Os grandes rios que junto a elle deslisam, as serra-
nias que o cireumdam, as brisas frescas que o varrem,
VOL. II. 20
306 De Angola á contra-costa
fazem d'este logar, sobretudo quando se attente que se
trata especialmente da Zambezia, um ponto verdadei-
ramente excepcional.
O Zumbo, que outrora foi a chave commercial de
todos os sertões circumvizinhos, permutando com a
Chedima e o Dande, com a Senga, a Manica, os mui-
sas e os uembas, com o Usezuro, o Arenje e Musilica-
tzi, chegou a ser uma villa com duzentos fogos, tendo
um amplo convento da imvocação de S. Domingos,
por padroeira Nossa Senhora do Rosario, e uma po-
pulação para cima de 1:000 almas; caiu mais tarde da
sua grandeza, a ponto de jazer esquecido, todo o lapso
de tempo que mediou desde 1836, em que o Borôma
assumiu por ordem do governo do districto a sua admi-
nistração, até 1863, em que foi novamente reoceupado.
À historia da sua fundação e do seu abandono, tal-
vez para proximo tempo dos Filppes, dificilmente se
faria por nublosa, levando-nos alem dos limites im-
postos a este genero de obras; o mesmo succederia
com a resenha das explorações mineiras n'aquella tão
rica região operadas, onde figuram as minas de Mixon-
ga, na terra dos pimbes; as de Pemba, na riba es-
querda do Aruangõa, em terras da Morunguja; a de
Mucarúa na margem do Zambeze, e até mesmo em
Tati, etc. Dos tempos recentes, eis em dois traços o que
de mais frisante existe.
Um dos vultos de que mais se falla na terra, por ter
ah gosado de grande reputação, e, ao que parece, exer-
cido alta influencia nos ultimos tempos de prosperi-
dade d'aquella villa, foi um celebrado fr. Pedro da
Santissima Trindade, que ha pouco menos de um se-
Do Zaumbo ao oceano 307
culo por lá andou, e a cuja sepultura amda hoje os
indigenas se dirigem em occasiões de grandes calami-
dades.
Seguindo pelo caminho de Sofala, o asceta estabe-
leceu-se primeiro em terras do Dande, levantando á
sua custa uma pequena ermida, onde exercia as pra-
ticas do seu santo mister.
Varias perseguições dos principes d'aquella zona
levaram-no a abandonal-a, escolhendo mais tarde para
sua residencia o districto do Zumbo, onde a muita
piedade e virtude lhe grangearam rapidamente a fama
de santo, e sobretudo o respeito do regulo Mazombué,
que ao tempo pretendia dominar ahi.
Homem de espirito superior, mas com pequenos re-
cursos, foi pouco a pouco dispondo as cousas até che-
gar a conseguir alguns dos altos fins que tinha em
mente.
Eis, para exemphficar, como elle se houve na con-
strucção do enorme convento, cujas ruinas os auctores
deste livro tiveram occasião de ver.
Fr. Pedro organisára, logo desde a sua chegada,
vastos esleiros, onde vagarosamente ía aceumulando
mantimentos.
Conta-se que certo anno uma fome devastadora la-
vrou pelas terras do Senga, por modo que succumbiam
em grande numero os naturaes d'ahi.
Fr. Pedro mandou deitar pregão por toda a terra,
dizendo que aquelles que quizessem escapar ao terri-
vel flagello, viessem para cerca d'ella ajudal-o a levan-
tar as paredes de uma igreja e convento, que elle ahi,
com a ajuda de Deus, os sustentaria.
308 De Angola á contra-costa
Toda a gente correu a similhante appello, e então
era de ver como o austero sacerdote, esquecendo por
momentos os misteres do seu piedoso officio, empu-
nhava o martello, e no meio dos indigenas dirigia a
construcção de um edificio, que, pelo que aimda resta,
parece ter sido enorme.
Chamavam-lhe o Comanhundo, de Coma-ia-nhundo
(bater com o martello), em recordação de os haver li-
vrado da fome, mediante pancadas de martello, e o
seu nome é tão venerado ainda, que corre entre elles
que o seu espirito, encarnado agora no corpo de um
leão (distincção grande que os negros aqui só conce-
dem aos chefes), vagueia pelo Zumbo, aconselhando
aquelles com quem sympathisa.
À verdade, porém, é que a construcção deste con-
vento redundou para a villa n'uma aurora de grandeza,
pois afiuiram de toda a parte negociantes, que, esta-
belecendo-se ali, viveram em paz e abastança durante
annos.
Fr. Pedro não se applicava só no derramamento de
beneficios espirituaes pelo rebanho a seu cargo; dedi-
cando-se ao cultivo da sciencia, descobriu plantas e
medicamentos especiaes com que praticou curas mila-
grosas n'aquella terra, onde não havia medicos. Ainda
hoje se conhece e procura o celebrado oleo, para alli-
vio e cura dos rheumatismos ali abundantes.
Ao tombar fr. Pedro para a sepultura, foi substi-
tuido por fr. João, homem sem energia nem prestigio,
e que para abreviar a quéda do Zumbo, teve a triste
idéa de entender-se com Borôma, e erigir uma capella
e casa na outra margem do Aruangõa, para onde foi
Do Zumbo ao oceano 309
viver, deixando a sós o celebrado capitão mór, Inha-
murômo, Alexandre da Costa, que por desavença com
um morador d'al Caetano, atraiçoou a sua terra e
gente, e entendendo-se com Zéca, chefe dos banhae,
fez com que este regulo viesse de subito sobre a villa,
destroçando-a.
Foi isto pelo anno de 1754. Passados os negocian-
tes para a margem de lá, junto do novo estabeleci-
mento de fr. João, ahi estiveram assentes, dando ao
sitio o nome de feira.
Mais tarde uma querella entre o mambo Guênde,
sexto Borôma na ordem da successão, e o capitão mór
José Pedro Dimiz, a proposito da mãe d'aquelle, Nina-
muame Nhamangondo, fez com que a feira fosse aban-
donada, até que em 1863 foi de novo e definitivamente
a villa occupada.
Basta de indicações historicas que, para o presente
caso, de pouco aproveitam.
Transmittida a noticia da nossa chegada ao comman-
dante militar do Zumbo, a fim de que desse as provi-
dencias necessarias para a caravana transpor no dia
segumte o Aruangõôa, adormecemos sob o amplo syco-
moro que de tecto nos servia, convictos de que a nossa
missão ía proxima do seu fim ; bem como estava attingi-
do o resultado que nos propunhamos, isto é, chegar a
Moçambique, partindo de Angola, atravez da região
dos lagos.
Rapidamente se propalou que estavam perto do
Zumbo uns homens que se ignorava donde vinham;
1 Caetano, conhecido por Xinticué.
510 De Angola á contra-costa
e logo que alvoreceu, apparecendo as canoas pedidas,
passámos para o outro lado, dando entrada na villa,
no meio de um concurso de povo.
Por entre os vultos tisnados dos mdigenas destaca-
“vam-se as caras brancas dos nossos compatriotas, os
uniformes militares, as casas de paredes caiadas, o as-
pecto emfim de alguma cousa differente d'aquillo a
que vinhamos affeitos.
Convenientemente installados numa casa construi-
da ao feitio dos tembés arabes, e collocada à beira do
rio, ahi passámos dezenove dias, cercados dos nossos,
em ociosa indifferença e embebidos na leitura.
Após uma travessia de quinze mezes, em que can-
sámos os olhos a percorrer dezenas de vezes a Voyage
d'un naturaliste, de Darwm, sem o recurso de poder va-
riar, a não ser para o Almanach nautico ou para as Tá-
buas logarithmicas, foi um verdadeiro consolo o encon-
tro de livros e de letra redonda.
Assim de um folego foi o Almanach de lembranças,
de 1885, o Palacio de Niorres, de Capendu, O tambor
da trigesima meia brigada, e quantos impressos nos vi-
nham ás mãos.
Não liamos, devoravamos, e a estranha sensação que
essa leitura, em parte pueril, nos produzia, é amda um
phenomeno de que não podêmos dar inteira conta.
As descripções relativas ás scenas ali exaradas, m-
teressavam-nos por modo, que nada havia que nos se-
parasse dos volumes, prazer e encanto que varria por
s1 todas as mais considerações.
Para contraste com o activo e buliçoso pensar dos
mezes atraz, a imaginação como que lhe aprazia agora
Do Zumbo ao oceano SlIl
o socego, e em suave tranquillidade lá ia pela França
do seculo xvirr, guiada pelo enredo de Capendu, afer-
rada ao ftei dos grilhetas.
Pela tarde jantavamos em a nossa varanda, e após
as boas chavenas de café, carregavam-se os cachim-
bos, e, estirados convenientemente nas longas cadei-
ras, aguardavamos a visita de quantos europeus por
ali residem.
(Que imaginareis, leitor, d'essas tardes de ocio, se
vos dissermos que foram talvez as melhores e mais
agradaveis de quantas passadas ao rematar a viagem?
Depois de chegados ao oceano, tudo terminou; a
rudeza do viver dos matos, os soffrimentos, tudo se es-
vaiu como o fumo, em face do borborinho da tolda
do vapor, do tresmalhar das vagas, do vaivem e indif-
ferença dos passageiros, chegando a fazer-nos min-
guar aos proprios olhos.
Ali ainda nos achavamos a dois passos do sertão,
campo das nossas proezas. Estavamos perante homens
affeitos ao viver das selvas, unicos capazes de com-
prehender e apreciar o que por lá se passa, a quem
apraz dizer e contar, na certeza de que se é entendido,
emquanto que as damas e os engravatados senhores
que na tolda do navio escutam a narração da mais sm-
cela peripecia, são auditores imdifferentes, aos quaes
nem é facil approximar a idéa do perigo.
Historias de que Jules Verne deu a melhor das no-
tas, é o seu considerar; e mirando o viajante dos pés à
cabeça, calculam-n'o talvez mui proximo do modo de
ser selvagem, lançando-lhe como consolação e fingico
interesse, a segumte interrogação: «Leões viu algum?»
912 De Angola á contra-costa
Largas foram as conversas ali sustentadas, em que
cada qual exhibia os seus conhecimentos de sertanejo,
como numerosas foram as historias ouvidas ácerca das
terras, povoadores, etc.
Cansados de nos sustentar atravez de todos os ca-
pitulos antecedentes na altura da descripção, pedimos
venia para transcrever o que por lá se disse e ouviu, tal
qual como na relação da viagem se encontra; certos de
que o leitor, se considerar massada, restar-lhe-ha a
consolação de que lhe é pregada já no limite d'este
trabalho.
«Dia 7 de maio.
«Estamos ha tres dias no Zumbo. Alguns trabalhos
se operam, mas já em limitada escala. Fizemos uma
pequena excursão ás ruinas do convento e igreja (hoje
cemiterio), bem como uma ou duas excavações. Um
fragmento de objecto liturgico e uma colhér, foi o que
achámos.
«O edificio que está em ruimas é enorme, feito de
blocos de rocha talhada em cubo regular.
«Pelo norte ergue-se a serra Manzoanzoé, onde, se-
gundo dizem, existem uma ou mais lagoas de agua.
quente.
«Temperatura moderada, vento fresco, ambiente
alegre, paizagem pittoresca.
«Dia 9 de maio.
«Fallou-se hoje de habitos, costumes e crenças dos
negros van-sua (zumbos); citaram-se o moáve, o morun-
90,08 pandôres, mambos, mizimos, chamugires e zmaguros,
como as dansas varungo e marombo. Operação com-
provativa de ser ou não verdadeira uma determinada
Do Zumbo ao oceano Sta
accusação, por meio do pó da casca das arvores, Ca-
pande, Goncomo e Chincundo, misturado em agua, que
se ministra ao individuo suspeito, ao qual só salva o
recurso do vomito; é a primeira assás conhecida, para
que aproveite o repetil-a.
«Leva-se a effeito n'um largo, colloca-se o paciente
entre duas grandes panellas de agua morna, deita-se
o pó numa outra pequena, que elle toma das mãos
do ciganga, seguindo-se á ingestão do pó, a da agua,
ora de um ora de outro dos citados vasos.
«Distendendo-se-lhe enormemente o ventre, todos
aguardam o phenomeno, até que vem o desfecho.
«Se vomita, enchem-lhe a cabeça de farinha, dego-
lam algumas gallinhas, derramando-lhe por cima o san-
gue, e mil outras scenas estranhas; mdo alfim a victima
ter com o accusador, que fatalmente lhe pagará o mi-
lando, ou ficará pertencendo como escravo ao accusa-
do. Se porém não vomita, está perdido sem remissão,
escusa contar salvar-se.
«A idéa de Deus é vaga, e tem-se de todo apaga-
do com o desapparecimento dos esforços dos missiona-
rios. Murungo, dizem para significar o Todo-Podero-
so, mas não ligam pensamento preciso ao que queira
isto significar, confundindo-o, pelo geral, com os seus
regulos fallecidos, ou melhor a alma d'elles, mambos e
mazumos.
«Entre os adimas, povos de Chedima, isto como
resto de antiga influencia missionaria, ligam á idéa de
murungo a existencia dos astros, da terra, etc., che-
gando a haver um como quê genesi, quando preten-
dem explicar o apparecimento do genero humano, di-
514 De Angola á contra-costa
zendo que Deus formou o homem de uma só côr, a
preta. Achando-se todos reunidos no centro da terra,
separaram-se, no intuito de chegar cada qual ao logar
que lhe estava marcado; como porém houvesse em ca-
minho um rio que urgia atravessar, a fim de se pu-
rificarem, e alguns mais preguiçosos ficasssem para
traz, lavaram-se os primeiros que o transpozeram, por
o acharem cheio, ficando brancos, ao passo que os ul-
timos, achando-o quasi secco, n'elle só poderam be-.
ber agua pelas mãos, ficando-lhes estas e as solas dos
pés apenas d'aquella côr.
«Resumidamente, as crenças e costumes d'estes po-
vos são os mesmos que por toda a Zambezia; acredi-
tam nos mangonas, feitiços e feiticeiros, procedem como
em toda a parte a ombesações (adivinhações), têem simi-
lhantes ceremonias nos casamentos, mesmos castigos
para o adulterio, iguaes exigencias para com o sogro
dumbze ou muene muxa na Chedima, identicas provas
de agua e fogo, o mesmo receio pelos macauzos (cemi-
terios), povoados de múizimos; praticam, em summa, a
ceremonia do sémbe, logo que lhes acontece marósa
(desgraça), derramando farinha e pombé no logar, que
ao cabo de tempo, se é encontrada mtacta, é de bom
signal, se dispersada de mau agouro.
«O pandôr é uma das imdicações mais vulgarmente
usadas, quando se trata de mystificações, e é esta uma
entidade de que não podêmos dar inteira contanos.
«Umas vezes Julgámos ver em similhante termo a
significação da alma de um mambo, que se houvesse
encaixado no corpo de um leão, outras vezes era sim-
plesmente um homem, que attingia, quando muto, as
Do LZumbo ao oceano 315
proporções de um adivinho. N'este ultimo caso o es-
pertalhão que se aftaz a este modo de vida veste-se
com uma pelle d'aquelle animal, outras vezes mesmo
sem ella, e vae adivinhar o que lhe parece, ver se
está Imminente uma guerra, se é bom o europeu que
passou, se existem adulteras, etc.
«Acompanhado de duas ou tres raparigas, approxi-
ma-se da habitação, roja-se pela terra, pôe em pratica
mil esgares e momices, e, urrando como o rei das sel-
vas, começa de dizer e contar o que lhe parece, cer-
cando-o toda a população, que lhe deposita em volta
farinha, gallinhas, pombé e outros artigos.
cAssiste a este senhor uma regalia original, e vem a
ser, que, após o seu especial serviço, póde colher e le-
var comsigo a mais galante rapariga que avistar.
«No primeiro caso, ao que nos pareceu, o pandôr
representará uma alma doroutro mundo, alma de um
mambo, divagando pelos bosques, de que o zinaguro
é a quinta essencia, bem como os chamugires, etc.
«Dia 12 de maio.
«Entre as varias doenças que afligem os povos d'es-
tes sertões, ouvimos fallar das boubas, do mapére e da
cherangosa como as de mais séria ponderação. São as
duas primeiras, em verdade, as graves e de contagioso
caracter, transmittmdo-se com estranha facilidade de
um sexo ao outro, e operando destroços monumentaes.
«Estão, ao que julgâmos, mal estudadas amda, e o
seu caracter de universalidade, pois lavram hoje por
muitos sertões, pareceu-nos bem poder attribuir-se ao
elemento arabe, que, espalhado pelo interior, as trouxe
da bacia do Nilo, onde se encontra algo de smilhante.
DILLO De Angola á contra-costa
«O que sem duvida parece certo, pelos pontos de con-
tacto que observámos, principalmente na primeira, é
ter esta doença por origem a syphlis, modificada e
adaptada a novo meio e novas circumstancias.
«Como ella tem um praso de mcubação e uma de-
terminada demora na presença dos primeiros sympto-
mas, que póde ir de dez dias a dois ou tres mezes, cre-
mol-o nós. |
« Umas placas arredondadas apparecem primeiro
nas palmas das mãos ou na testa, ligeiramente córa-
das, que, espalhando-se pouco a pouco, augmentam,
chegando ás vezes a formar fistulas e suppurar.
«Pelo geral, concomittante com esta primeira phase,
apparece uma fistula mais importante, sem posição
determinada, que muitas vezes um fermento póde
mesmo originar, de aspecto variavel, desde alguma
cousa que se parece com o cancro phagedenico, até .
uma placa redonda sem bordos, suppurante, e que
Julgâmos ser a bouba mãe.
«Caminha essa ordem de cousas, com facies mais
ou menos grave, até que se eliminam pouco a pouco
as placas, para de subito se cobrir o corpo de manchas
vermelhas, no negro amarelladas, sorte de roseola,
que póde demorar-se de um a muitos mezes; e póde
tambem, quando sem tratamento, trazer fundas com-
plicações, como grande inflammação pelos musculos dos
braços e coxas, chegando a formarem-se feridas enor-
mes. Então a doença caminha inficionando todo o orga-
nismo. Nas articulações onde primeiro appareceu uma
ou outra placa, succedeu-se ao presente uma exostose,
deformando-se as juntas dos dedos, mesmo às vezes as
Do Zumbo ao oceano o 1
grandes articulações, como o joelho e cotovelo, ulcera-
se a garganta, gengivas; em resumo a doença apode-
ra-se do individuo, lançando-o com frequencia para a
sepultura.
«O tratamento mais aproveitavel, já que as manifes-
tações primeiras d'este padecimento se assimilham ás
secundarias da syphilis, parece ser o do 10deto de po-
tassio, que, quando successivamente empregado, se
póde alternar com o de ammonia, para evitar as conse-
quencias sérias da reiterada applicação d'aquelle, como
coryzas, etc.
«Os grandes derivativos, os banhos quentes e um
cuidadoso resguardo do corpo com flanellas, para evi-
tar a estranha tendencia rheumatismal d'este padeci-
mento, são indicações preciosas, como extraordina-
riamente se póde recommendar o uso de preparados
mercuriaes para combater as ulceras, que em geral de
mau caracter, como já fica dito, só a elle cedem.
«Facto notavel e por muita gente afiançado, é que
este flagello, após se ter apoderado do organismo, pa-
rece, quando à morte escape o paciente, desapparecer
por completo ou eliminar-se ao cabo de sete annos;
bem como tem ainda traços característicos e origi-
naes, a saber, que sendo o homem victima das varias
manifestações de que fallâmos, a mulher, pelo geral,
o não é ou pelo menos tão gravemente, pois quando
muito vão os symptomas até á roseola, com quéda de
cabello, ete., annunciando-se as boubas por uma sim-
gela leuchorrea.
«E ainda poderemos citar outra circumstancia es-
tranha, e, que vem a ser a immunidade futura do ma-
318 De Angola á contra-costa
cho depois de tratado, embora a femea conserve evi-
dencia do contagio, cireumstancia que se não dá com
mdividuo estranho ao ménage.
«Eis quanto sabemos e podêmos dizer sobre tão no-
tavel flagello.
«O mapére apparece, ao que julgâmos, ás vezes de
envolta com as boubas, se não é a justa expressão
destas em caso particular, outra vezes só.
«E uma doença caracteristica pelo ataque directo
ás articulações, chegando a haver casos estupendos de
inflammação d'estas, ao ponto de caírem phalangetas,
phalanges e quiçá radios e cubitos.
«Não nos demorâmos sobre ella, porque pouco po-
démos observar, bem como nada podêmos dizer do seu
tratamento, que nos parece só poder ser assente por
um estudo attento e prolongado.
«À cheringoza, emfim, é um padecimento que, em-
bora vulgar, não tem a gravidade d'aquelles já cita-
dos, assimilhando-se muito, em nossa opinião, ao que
vimos na costa do oeste, sob a designação de maculo.
«Apresenta-se em geral precedida de grandes dy-
senterias e logo ulceração do orificio termimus do appa-
relho digestivo, vermes, etc., atirando com frequencia
para a sepultura com a victima, quando se não sujeita
a tratamento energico, de purgativos, cauterios e ou-
tros que a therapeutica indica.»
Chegou alfim o dia 23 de maio, por nós mdicado pa-
ra a partida rio abaixo, e logo que amanheceu, prom-
ptas as canoas que deviam transportar a expedição,
nos embarcámos em companhia do commandante mi-
litar e de alguns negociantes ali residentes, como Man-
Do Zimbo ao oceano 319
teigas, (Goermho e outros, em direcção à embocadura
do Panhame. Ahi se acha estabelecido o capitão mór
Araujo Lobo, em bella e bem construida vivenda, onde
nos recebeu principescamente, proporcionando-nos um
dia de distracção bem agradavel; e tambem tivemos
ensejo de ver gentes do norte, muizas e outros, que
vinham trazer a noticia do fallecimento de um regulo
do Nyvassa, e perante nós executaram dansas e me-
neios, á feição d'aquelles que têem logar no Kazembe.
Prolongava-se ante nós e por toda a riba direita do
rio o paiz da Chedima, paiz que outrora fizera parte
d'esse fallado imperio de Monomotapa, de que Ophir
seria a capital, Sabá uma das suas rainhas, Salomão
um dos exploradores do oiro, e começando por aqui,
atirava com o seu limite oriental para Sofala no Ocea-
no Indico, comprehendendo Barué, o Uzezuro, o Dan-
de, a Manica, etc.
D'essas grandezas, se existiram, não resta nem a
sombra, divagando por ali tão sómente as tribus dos
adimas, dos adenhas e outros, que conservam na tra-
dição uma longinqua recordação de taes factos.
E no emtanto o Zimbaué de Monomotapa devia ser
grande, a sua côrte numerosa, a julgar dos titulos e
occupações de que ouvimos fallar.
E assim que se encontra o neuange (principe herdei-
ro), os machinda e muana-mambos (principes e prince-
zas seus filhos), a zingua (sua primeira mulher), as nº-
handas (esposas nobres), mucarangas (concubinas), o
navenanga (sorte de secretario do Monomotapa), o «i-
mumo (commandante das forças), o n'tondo (sacerdote
encarregado das ceremonias nas macanzas, aquelle que
520 De Angola á contra-costa
dava a posse aos imperadores), o muenemuza (sorte de
governador civil), os bimanze (escravos do imperador),
e muitas distincções que seria longo enumerar.
Foi na residencia de Araujo Lobo que primeiro ti-
vemos occasião de ver e desenhar a physionomia de
uma mulher do Senga, cujos beiços deformados pelo
uso do Katoto, se alongam pelo modo por que a gra-
vura do presente capitulo dará idéa.
Da banda de áquem, as da Chedima seguem um.
pouco o systema, mas não com tanto exagero, intro-
duzindo apenas um botão de metal ou uma argola pe-
quena a que dão o nome de pette.
O uso de rasgar as orelhas para introduzir rodellas
de marfim, argolas de metal e outros artigos é com-
mum n'esta zona entre homens e mulheres, bem como
as contarias são por elles muitissimo apreciadas.
Em resumo diremos que os adimas se distinguem
pelo modo por que agradecem os favores recebidos,
batendo o pé com força e arrastando-o muito, ao passo
que as mulheres fazem uma mesura quasi ajoelhando,
dando de seguida grande palmada na nadega.
Dormindo uma noite na ilha de Macata-cata, a meio
do rio, passámos até ao dia 25 na residencia de duas
novas auctoridades, Sebastião de Moraes, sargento
mór do Macomo, prazo que pela sua posição geogra-
phica merece toda a attenção, pois nos parece ser a
chave da região aurifera do Mazôé e serra Macomo ':
e Miguel Lobo logo a jusante.
1 Esta serra carecia de uma seria exploração, pois d'ella derivam to-
dos esses rios de leitos auriferos, que tributam o Luia e Aroenha.
Do Zaumbo ao oceano 221
Para o norte do rio e longe estirava-se a serra Mus-
sendaruze, afamada pela sua riqueza em cobre.
A 26, deslisando entre montanhas, pois tão acciden-
tada e pittoresca; é a Chedima como a Senga, viemos
topar com o Caxomba, fronteiro à aringa de Xaqua-
niquira, regulo dos pimbis, desembarcando ahi, para
por terra fazer caminho até Tete.
Um simples golpe de vista nos evidenciou o estado
anormal em que se achava toda a terra, pois não se
viam senão libatas desertas, queimadas umas, destro-
cadas outras, por toda a parte, com traços de lucta
recente ainda. | |
O governo ordenára, em virtude dos constantes rou-
bos dos banhae, um severo castigo áquelles povos, que
os capitães móres do Caxomba (Firmino), de Chicôa
(Ionacio), e um certo Vicente José Ribeiro, o mesmo
que primeiro encontrára o viajante Kerr em caminho
para Tete, punham no momento em pratica.
Nós porém, cansados de uma tão longa viagem, não
nos achavamos positivamente em circumstancias de
ir empenhar uma lucta, em que se agitava tanta gen-
te, urgindo tomar todas as precauções.
À minguada caravana havia gasto os seus recursos
e forças com Jabores de outra sorte; fechar a sua car-
reira com a guerra seria exigir-lhe muito n'esse mo-
mento.
Como proceder, porém, se para o sueste, e mesmo
sobre o nosso caminho, é que a guerra contra Zuda
estava mais accesa.
O melhor que decidimos foi dirigir-nos ao quartel
general das operações, Diu, residencia do capitão mór
VOL. II. 21
322 De Angola á contra-costa
Firmmo, e ahi aproveitar o ensejo da partida de al-
guma força, para com ella ir em companhia, abrindo
o caminho.
À 29 estavamos ali, em meio de um brouhaha im-
menso, de quasi mil cypaes, que para o dia seguinte
muito felizmente preparavam o assalto á libata do re-
gulo já fallado, topando cabeças de sobetos vencidos
por todos os cantos por onde nos viravamos, e despo-
jos das ultimas luctas travadas no noroeste.
O paiz é falto de agua. No leito do rio Daqui, af-
fluente do Zambeze, encontrámos a hulha, de que ha
n'esta região um grande jazigo, que vae até Tete e
alem talvez.
N'uma serra proxima a Diu existe uma plantação
de chinchonas (quina amarella), de cuja proveniencia
não nos podémos dar conta.
Os traços geraes do paiz são extremamente pittores-
cos, os accidentes de terreno numerosos, as riquezas
mimeraliferas grandes, no dizer de todos.
Pela tarde de 29 passámos a ver distribuir muni-
ções aos cypaes, e a 30 logo muito cedo nós abalámos
com seiscentos d'elles, que deviam acompanhar-nos
durante 15 milhas, e deixando-nos o camimho aberto
para a direita, envolverem de subito pela esquerda a
libata do regulo, ficando assim liberta a marcha á
nossa caravana. |
Não foi sem um sentimento de pena, que ao dia
seguinte nos apartâmos, pois sabendo o fim a que se
destinavam, e sobretudo ser um serviço do estado, sen-
tiamos pruridos de com elles avançar e castigar de
uma vez o rebelde chefe.
D,
Do Zaunbo ao oceano A)
O risco de comprometter o resultado dos nossos
trabalhos disso nos dissuadiu. D'ali até Tete o paiz
torna-se menos pittoresco. À vegetação é pobre, a terra
pedregosa, mdicando pelo geral muita seccura.
Osrios areentos não têem n'esta quadra agua, vendo-
se marcados por uma facha de arundo, a zona é de-
serta, os matos povoados de tzé-tzé, a caça rara, o ca-
lor grande.
Rio Muze, Nhacanssassa, Canjeza, Nhanha Joanna,
foram os pontos onde successivamente acampámos,
bebendo a agua de sordidas cacimbas abertas na areia
dos rios, até que a 4 de junho avistámos de novo o
“curso do grande rio que atraz deixaramos, para en-
trar agitado nos rapidos de Kabora-bassa!, e mais ao
diante démos vista da villa de Tete, onde a caravana,
pela uma hora da tarde, posta em linha, com o seu
pendão á frente, deu entrada solemne, sendo saudada
enthusiasticamente pelo governador Braga, membro
“da sociedade de geographia de Lisboa.
Estava por assim dizer terminada a nossa missão;
as selvas, os matos, as feras, a fome, tudo havia termi-
nado como por encanto, de um passo estavamos cer-
cados de compatriotas, immersos n'um mundo meio
civilisado.
E ao ver o cozinheiro arrumar na grosseira moham-
ba, com ar de desprezo, os pratos e copos de ferro, os
gartos e os sujos cachimbos, exclamando: «Isto já não
presta», tivemos um assomo de saudade das selvas do
Lualaba.
1 Kabora-bassa, no dizer dos indigenas, significa, acaba o serviço.
324 De Angola á contra-costa
Pouco a pouco nos habituámos. O pensamento e o
brilho da civilisação europêa começaram de exercer
em nós a sua fatal mfluencia, arrastando-nos; a corte-
z1a hospitaleira do governador Braga, a graciosa bon-
dade dos negociantes de Tete, Martins, Anacleto e ou-
tros, a sua generosidade para com a nossa gente, o
desejo de nos serem agradaveis emfim, tudo concorria
para calmar e esquecer os soffrimentos da nossa vida
atormentada. |
Tres dias depois da chegada foi-nos dado um ban-
quete, onde numerosos toasts se fizeram, e no dia se-
guimte, tendo-se tudo aprestado, embarcou-se a expe-
dição com destino ao mar.
A viagem d'ahi até ao Mazaro é assás conhecida
para que della aqui fallemos.
Para baixo de Tete o rio desenrola-se magestoso
com 800 metros de largo, e engolphando-se no passe
da Lupata, contorce-se entre serranias aprumadas,
alastrando para alem nas planuras de leste.
A côr das suas aguas, a vegetação marginal, a mul-
tidão de ilhas, os cerros que ao longe se projectam
azues no panno dos céus, volveram esses dias de des-
cida pelo rio dias de suave descanso e distracção para
nós, consentindo cogitar e comparar o viver de agora
com aquelle junto ao curso do Luapula.
Adiante a sua largura é tal, que difficilmente o via-
jante seguido em embarcação póde d'ella dar-se conta.
O leito é limpo, e embora em logares não seja pro-
fundo, póde ser muito bem navegavel, em quasi todo
o anno, por embarcações que não demandem mais de
pé e meio de agua.
Do Zaumbo ao oceano 928)
É mesmo possivel que um estudo continuado da
profundidade e regimen de aguas venha de futuro a
mdicar passes mais profundos e vantajosos 4 navega-
ção. A
Avançavamos sempre, já longe nos ficava a Lupata,
as ilhas multiplicavam-se em nossa proa, acampando
n'ellas pela noite; Senna estava á vista, com o seu
aspecto tristonho, encravada entre pantanos, só espe-
rando uma ordem para transpor o rio e assentar na
Manganja de Pedra chamada, logo o Chire desembo-
cava a jusante, marcando o seu apparecimento com a
Psistia stratiotes, erguendo-se-lhe pelo o oriente o for-
midavel morro Murrumballa, cujo vulto imponente as-
sombreia as campinas suburbanas; emfim Mazaro avis-
tou-se. |
Um sol glorioso illuminava esta paizagem, uma bri-
sa fresca e mareira rociava-nos os bustos carregada de
aromas marmhos, milhares de aves esvoaçam, entre
as quaes não menos de emco variedades de rollas, a
Kucupoé (côr de tijolo), a Kiná-usaro (rolla commum),
a Katunduro (rolla de cauda), a Nidimiga (verde), e a
Bampe (de pequeno vulto), de envolta com tutimegras
(Nhadwumbos), e outros passaros.
Demorando-nos apenas o tempo necessario para ar-
ranjar embarcações, entrámos a 24 de junho no rio Cuá-
cuá, e a 26, pelas quatro horas da tarde, após uma na-
vegação por lameiros, avistámos Quelimane, assente
na margem esquerda, e numerosas embarcações fun-
deadas.
Ninguem nos reconhecêra ao desembarcar, pois, tis-
nados do sol, com os fatos enxovalhados e rotos, a
526 De Angola á contra-costa
longa barba, e uns farrapos brancos enrolados á ca-
beça, mais pareciamos mouros do Zanzibar, que com-
patriotas d'aquelles que lá residiam.
Augusto de Castilho, o governador geral da provim-
cia, achava-se casualmente al, de volta de uma das
suas primeiras excursões ao delta do rio, e recebendo-
nos de braços abertos, saudou-nos em nome do paiz.
Algumas horas de navegação a bordo do paquete
Dunkeld, do commando do estimavel Broadfoot, nos.
transportaram d'esse ponto á embocadura que nos
abria a porta do azul oceano, essa estrada e dominio
do homem civilisado, e vinte e quatro horas depois
fundeavamos em Moçambique.
A nossa gente, já vestida de matizadas cores, de-
bruçava-se da proa, admirada de como o mar podia
ter tal extensão, que banhando Angola, ía tambem
banhar Moçambique, ao passo que nós meditavamos
na tenacidade dos musculos da humana perna, que
havendo sido postos em movimento n'aquella provim-
cia, haviam sem cessar funccionado até esta, na exten-
são de 4:500 milhas geographicas.
AS DIVAS DA EXPEDIÇÃO ÃO REPATRIAR-SE
APPENDICE
QI aa
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/ ço. tur ? " E E o EE Ain qd ; s Du PAD Ipea Es " go o o RE
PRE A nai! Hesms: Re (4 Cê e h o Eds 7 Prata 'res PRE ça a é dista o E A S pe! o p. vio IS, te À Ê ar, Me e J é
Suazrreora ZA
Escala de
z
JovodTo
E Eu EO
A
Zé
E
detircenvo
Dissemos no capitulo x1 que, se o tempo nol-o per-
mittisse, volveriamos a escrever duas palavras ácerca
do homem africano. Não é sem escrupulo que ora o
fazemos, não só pelo receio de entadar o leitor com
assumpto que só imteressa aquelles avesados á espe-
cialidade, mas porque não se acha elle completo, como
- desejavamos fazel-o.
Sem embargo dois traços ahi ficam do nosso modo
de ver a este respeito, que bem podem deixar-se es-
quecidos, a titulo de sciencia de appendice.
Africa era o nome generico que os romanos davam
aos paizes hoje correspondentes a Tunes e Tripoh, e
este termo era identico, segundo Servio, grammatico
do 1v seculo, a apricus, exposto ao sol, e apricari,
aquecer-se- ao sol. À raiz d'esta palavra é ric, fric,
fogo ou calor, que se encontra no chaldaico mn (ha-
rac), quemar; no hebraico ==> (barag), relampago; no
grego gpuxrês; no latim frictus, assado ao lume.
330 De Angola á contra-costa
Tambem se poderia, na opinião de Bergier, achar
uma etymologia mais simples, suppondo que Africa
se deriva de afer, que significa rôxo e queimado, a sua
raiz é phar, far d'onde se formaram o hebraico “sm
(chafar), ruborisar-se, envergonhar-se; o grego rip e
mopyvpa; O latim purpura e pyra.
Bochart pretendeu ainda derivar Africa de poa
(pheriq) espiga, em virtude da abundancia do trigo
que cresce ali; uma tal fertilidade porém não nos pa-
rece bastasse para a differençar de outras provincias
como a Sicilia, que mais lhe cabia este nome, pois
mereceu a designação de celleiro do povo romano.
Alguns grammaticos latinos emfim opimaram que
Africa se formava de « privativo de gpixn, frio, tremura,
porque, diziam elles, nunca se treme de frio na África;
etymologia esta forçada sem duvida, pois o cume do
Atlas está sempre coberto de neve, d'onde sáem rios
cujas aguas são frigidissimas, e que os romanos bem
conheciam.
Os hebreus davam aos africanos o nome de pb
(lubim, loubim), derivado de loub, que significa o fogo,
o calor, a sêde. Os gregos chamavam os Ava, e os
latmos Libyes, sendo estes os povos que elles consi-
deravam aborigenes de ali, como se infere de phrases
de Sallustio, proconsul da Numidia quarenta e cinco
annos antes de Christo, que diz no capitulo xvrr da
Guerra de Jugurtha: Africam imitio habuere Geetuli et
Labaes.
Não fallando porém nos egypcios, cuja civilisação é
muito anterior à dos romanos e mesmo à dos gregos,
cuja situação na parte nordeste do contmente africano
Appendice So
marcava sem duvida o ponto inicial por onde nas epo-
chas mais remotas se deviam ter feito as incursões dos
povos primitivos, amda os romanos distnguiam ou-
tros povos na Libya ou Africa propriamente dita.
Assim no extremo oceidente do htoral Mediterraneo
estavam a Mauritania Timgitana, correspondendo ao
imperio de Marrocos e a sua capital era Tmgis, hoje
Tanger. Occupando uma parte da região da Argelia
achava-se a Mauritania Cesariana, que entestava com
a Numidia, reservando-se ultimamente o nome de Afri-
ca á pequena porção norte de Tunes. D'esta provincia
até ao Egypto estendia-se a Cyrenaica ou Pentapole
e a Libya propriamente dita.
Nas Mauritanias dominavam os mauritanos, mau-
rusios ou mauros; no interior para o sul estendia-se a
Getulia, onde residiam os getulas, que primeiro tmham
estado na Numidia, d'onde haviam tomado o nome de
numidas, isto é, nomadas.
Os getulas, que alguns quizeram fazer descendentes
dos getas que habitaram no actual territorio da Ruma-
nia antes da invasão dos barbaros no imperio romano,
evidenciavam pelo geral os caracteres anthropologicos
que amda hoje se reconhecem nos kabylas louros.
E muito embora Sallustio nos diga que entre os li-
byos e os getulas tinham vmdo estabelecer-se arme-
nios, medas, persas e outros povos, e se saiba mesmo
que quatro seculos depois de Sallustio vieram os van-
dalos, que tmham partido da foz do Oder e do Vistula,
estabelecer-se na Mauritania e Numidia, parece com-
tudo que a presença da raça branca na Africa data
de mais remota antiguidade.
5952 De Angola á contra-costa
Efectivamente os annaes egypcios quatorze seculos
antes de Christo mencionam com o nome de Tamahou,
libu-tamhu uns povos habitando ao oceidente do Egy-
pto, e que são descriptos e representados como des-
cendentes de immigrantes louros, dolichocephalos, que
em epochas prehistoricas se tinham apresentado no
grande contmente.
Estes povos, legitimos antepassados dos berberes e
kabylas, e como elles dolichocephalos quasi no limite
da sub-dolichocephalia, eram chamados pelos romanos
cetulas atlantes, para os differençar dos povos que ha-
bitavam para o sul do Atlas, que designavam então
pelo nome de melano-getulas ou getulas pretos.
Ao nascente da Getulia estavam os garamantas, cuja
capital Garama deixou vestigios em Gherma no Fez-
zão, e talvez no nome do remo do Baghirmi, que pro-
ximo fica do lago Tchad, bem como ao sul dos getulas
e melano-getulas estavam os ethiopes ou nigriticos do
rio Nigris (Niger).
O methodo da extracção do vmho é differente do
dos imbondas, que sobem á arvore para encherem em
VOL. IL 24
570 De Angola á contra-costa
cima as cabaças, emquanto elles cortam a arvore pela
raiz, deixando-a deitada no chão dez ou doze dias an-
tes de extrahirem o cubiçado liquido. Abrindo então
dois buracos quadrados, um no topo, outro ao meio,
de cada uma d'ellas, tiravam de manhã até 4 noite uma
cabaça, que cada arvore ía fornecendo assim durante
vinte e seis dias, ao fim dos quaes se esgota e secca
completamente.
Em todos os logares em que se demorassem algum
tempo cortavam arvores que chegassem para se for-
necerem de vinho um mez, e ao expirar d'este praso,
tornavam a cortar igual numero, de modo que em
pouco tempo assolavam todo o paiz! Jamais se demo-
ravam n'um logar senão emquanto encontravam pro-
visões, e no tempo da colheita estabeleciam-se na re-
gião mais fertil que podiam descobrir, para fazerem a
apanha e roubarem o gado alheio; visto que nunca
plantavam, nem semeavam, nem creavam rebanhos, e
a sua subsistencia era sempre feita com o producto das
constantes rapimas! j
(Quando atacados conservavam-se na defensiva, e
deixando dois ou tres dias ao mimigo para abrandar-
lhe a furia, vinham alfim pela noite em emboscada a
aleuma distancia do acampamento, e no dia segumte,
lançando-se ao assalto, carregavam-no furiosamente,
por dois lados, que de subito, não se podendo defender
contra a astucia e a força combinadas, lhe caía, triste-
mente nas mãos.
Kalandula, ao serviço do qual Batel esteve, tinha
cabellos compridos, ornados de conchinhas e usava um
collar das mesmas, assim como à emtura trazia penden-
Appendice eta
tes ovos de avestruz e uma tanga feita de palmeira tão
fina como seda.
O seu corpo era marcado com varios desenhos, e
todos os dias untado com gordura de gente, tendo
alem d'isso atravessado no nariz um pedaço de cobre
de duas pollegadas de comprido, e o mesmo adorno
nas orelhas. À negrura do corpo estava encoberta por
vernizes vermelhos e brancos.
Invariavelmente era acompanhado de vinte ou trinta
mulheres, das quaes uma trazia o seu arco e as suas
frechas, e outras quatro, as taças de que elle usava
para beber, ajoelhando-se quando elle bebia, e com as
mãos batiam palmas, cantando.
Usam as companheiras dos jageas o cabello disposto
em altos topetes, entremeados de conchas, e conside-
ram uma belleza ter quatro dentes de menos, dois em
cima e dois em baixo. Às que não téem animo de os
arrancar, são tão pouco estimadas que nem querem
comer nem beber com ellas. O pescoço, braços e per-
nas são cheios de collares, braceletes e manilhas, e em
roda dos rins usam um panno de seda.
São fecundas, mas nas suas marchas os homens não
consentem que ellas criem os filhos, enterrando-os
assim que véem a luz. Pal era a rasão por que estes
guerreiros errantes morriam ordinariamente sem pos-
teridade. Apresentavam como argumento favoravel
deste procedimento o não quererem ser importunados
pelo cuidado de crear os jovens, nem retardados nas
suas digressões sempre precipitadas.
Se acontecia, porém, tomarem alguma povoação,
conservavam os rapazes e raparigas de doze ou treze
É
DA De Angola á contra-costa
annos, como se fossem seus filhos, matando-lhes os
paes e as mães para os comerem.
Com elles andavam estes, acompanhando-os nas
suas incursões, depois de lhes terem posto um collar,
que era o distmctivo da nova condição, e que haviam
de trazer até terem provado a sua coragem, offerecen-
do ao chete a cabeça de um mimigo.
À marca da sua mfamia desapparecia então, e, de-
clarado gonso, quer dizer soldado, gosava de todas as
regalias dos seus companheiros.
E ainda Battel que indagou que em todo o acam-
pamento não havia mais de doze jaggas verdadeiros,
nem mais de quatorze ou quinze mulheres da mesma
nação, em vista de terem deixado a sua patria havia
mais de cimcoenta annos, tendo o exercito occasião de
ser renovado mais de uma vez. No campo eram em nu-
mero de dezeseis mil, e este numero ás vezes augmen-
tava por novas encorporações.
Bem estranhos eram seus costumes. Assim Kalan-
dula nada emprehendia importante sem primeiro fazer
um sacrificio ao diabo. Antes de nascer o sol tomava
o seu logar com muita pompa, e havendo ornado a
cebeça com pennas de pavão, collocava de cada lado
um feiticeiro; cercando-se de quarenta ou cincoenta
mulheres, que formavam circulo á roda delle, tendo
na mão uma cauda de zebra, que ellas sacudiam can-
tando acompanhadas pela musica.
No centro do circulo accendia-se uma grande foguei-
ra, sobre a qual collocavam uns pós brancos dentro
de um vaso de barro. Os feiticeiros começavam por
se servirem destes pós, para pintarem a testa e as
Appendice (o
fontes do grande chefe, e acto contínuo pintavam-lhe
o estomago e o ventre ao travez, com encantamentos
e ceremonias enfadonhas.
E logo lhe apresentavam o seu Kasengala, especie
de arma muito parecida com o machado, recommen-
dando-lhe que não poupasse os inimigos, porque ti-
nha comsigo O seu moquisso.
Depois traziam-lhe uma creança do sexo masculino,
que elle immolava immediatamente. Esta primeira vi-
ctima era seguida de quatro homens, que elle tambem
feria para os matar, e que, se não morriam do primeiro
golpe, eram levados para fóra do acampamento e aca-
bados por outras mãos.
Quando estava para começar esta carnificina, os fei-
ticeiros ordenavam a Battel que se retirasse, porque
elle era christão, e o diabo, diziam elles, ía apparecer-
lhes.
Para ultimo acto de tão barbara tragedia, o grande
senhor mandava degolar cinco vaceas dentro do acam-
pamento e cinco fóra. Tambem era immolado igual
numero de cabras e de cães.
A fogueira era regada com o sangue, e os corpos
devorados com muita alegria. A mesma festa era ás
vezes celebrada com identicas ceremonias, pelos outros
chefes do acampamento, como já fallâmos em nosso
livro «De Benguella ás terras de Jacca», refermdo-nos
ao jaggado de Cassanje.
Para enterrarem os mortos, esta gente fazia uma
sepultura, na qual collocava o cadaver sentado, depois
de lhe terem muito bem disposto o cabello, lavado e
como que embalsamado com pós odoriferos. Na sua ul-
314 De Angola á contra-costa
tima morada são mtroduzidas duas das suas mulheres,
que se sentam ao pé d'elle, e tambem as suas armas,
que são quebradas no mesmo sitio. Depois enche-se a
sepultura de terra.
Os que morrem na terra d'elles, são inhumados da
mesma fórma, mas põem com elles na sepultura os
seus utensilios domesticos. Podos os mezes os paren-
tes do defunto se reunem no logar do descanso tres
dias, e fazem libações de sangue de bode e de vimho.
de palmeira!
Este exagerado devaneio com relação aos jaggas
não deixou de ter o seu logar ao acharmo-nos para
resumir o que temos dito sobre os homens de Africa,
e vem a ser, que se é grande a confusão antes dos
tempos historicos, se essa confusão continúa por secu-
los a ter logar na constante mistura das populações
do vasto contimente, não concorreram menos para a
ageravar por ultimo os jaggas, nas marchas monumen-
taes que fizeram pelos sertões.
Cortando e recortando territorios em diversos sen-
tidos, rechaçaram povos, conquistaram terras, bara-
lharam populações, que dirigidas tambem por varias
maneiras vieram alfim a confundir-se no labyrintho,
que forma o facies actual que conhecemos, e que mais
principalmente ao sul do equador se torna mdiscri-
minavel, pela grande similhança que ha entre n'golas,
bangalas, dámaras, amboellas, betchuanas, e mesmo
cafres, etc. |
1 Em nosso livro «De Benguella às terras de Tacca», fallâmos de facto
similhante com relação ao soba de Kimbunda.
Appendice 315
Podem e devem, como apontámos, ter alguns d'es-
tes povos origens bem differentes; ao presente, porém,
o elemento syro-arabe lavrou por elles, de modo que
difhicilmente se podem discrimmar.
A verdade é que deve ter existido espalhada pelo
continente nos tempos historicos uma população auto-
chthona bastante densa; que essa população, quanto a
nós, ainda é hoje representada pelo typo ba-chequelle,
bushmen, fans, tikka-tikki, etc., muito embora a côr, o
comprimento dos cabellos e sobretudo a conformação
crancana divirjam por vezes, pois são isso variantes m-
“troduzidas, ou por subito elemento estranho, ou pelo
modo de ser de meio e de vida especial; que cercada e
dispersada pelas raças invasoras, se mostra hoje como
verdadeiras ilhas no meio do oceano agitado que as
cerca, e a todo o instante ameaça engulil-as; e que, pe-
“los caracteres especiaes que se lhe notam, parece ter
affinidades com os povos que na noite dos tempos po-
voaram o Egypto.
A Arabia foi a porta muito naturalmente aberta
para as invasões, e desde o Suez até ao Guardafui der-
ramou-se pela Africa o sangue syro-arabe, primeiro
na zona limitada pelos parallelos dos dois pontos im-
dicados.
De mistura com aquelle dos habitadores naturaes
em boa parte, originou as primeiras populações que
citámos, vindo a constituir mais tarde os typos generi-
cos que conhecemos. |
Depois, por um natural movimento de expansão,
começou de alastrar-se para o sul esse estupendo ag-
glomerar de gente, que, ora buscando as zonas que
576 De Angola á contra-costa
mais os attrahiam e adaptando-se a ellas, ora percor-
rendo em correrias os vastos sertões que os cercavam,
foram entrecruzando-se, formando populações mais
ou menos sedentarias.
Nas grandes depressões e no valle dos rios crea-
ram-se typos especiaes de homens pequenos, rachiti-
cos, suspeitosos, de Imguagem pouco euphonica; nas
montanhas, nos elevados plateaux, fizeram-se os ho-
mens destros, desenvolvidos, guerreiros, dados á aren-.
ga e sempre promptos a soltar-se dos cimos onde resi-
diam para esmagar os habitadores de baixo.
Pouco a pouco começou o movimento, e com elle a
derivação a camimhos differentes destes ultimos, em
ocrandes emigrações, muito principalmente pela costa
oriental.
Pela propria parte, os habitadores de origine, ou to-
ram soffrendo a sorte de vencidos, ou, para escapar a '
ella, começaram um movimento de retrocesso, bara-
lhando-se por sua vez populações puramente centraes
com outras affeitas aos litoraes.
Foi então que de redor do Koenia e do Kilima se
despenhou a mais monumental das torrentes; que não
devemos só cifrar no recente movimento dos jaggas,
mas acreditar que começou n'uma epocha bem ante-
rior, de seculos talvez; e que operaram na superficie do
contmente uma completa revolução, deixando proxi-
mamente a actual condição ethnologica.
Pudo se mexeu durante esses tempos de convulsão,
e povos que habitaram a bacia do Congo foram atira-
dos para a Guiné e Congo imferior para dar logar a
imperios como a Anzicana; outros, que possuiam a re-
Appendice en
ojão lacustre, abalaram para os substituir em paizes
como o Unyamuezi, Unyaniambe e outros. Gentes pro-
ximas destes transpozeram o Zambeze para fundar
Abutua, Monomotapa, ete., que zimbas reconquista-
ram e refundiram em Changamira e terras de zulos,
derivando para o oeste grupos, que vieram em nossos
dias chamar-se batchuana, basuto (cafres do plateau),
e tantos outros.
Pelo oecidente uma fórma similhante seguiram as
cousas, e alem das gentes origimarias, como os mat-
chena e tantos outros desconhecidos, surgiram os n'go-
las e a Matamba (será o mesmo Mataman, e como tal a
terra dos damáras, onde em seu tempo remou Humbi?),
e ainda quantos são hoje conhecidos.
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A EXPEDIÇÃO NO Q
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BOA ESPERANÇA
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A EXPEDIÇÃO NO CABO DA BOA! ESPERANÇA
Segundo plilgraphja
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OBSERVAÇÕES SCIENTIFICAS
FEITAS
DURANTE A TRAVESSIA
DETERMINAÇÕES GEOGRAPHICAS
382
ELEMENTOS
Datas
Maio
3e4
q
9
10
Junho
1
19
Posições
Mossamedes
Porto*Binda a
S. Bento do Sul. ...
Rio Coróca (a) .....
Garganta do Diabo |
Giraul o e crie teria
Pedra Pequena ...
Fazenda Nascente...
Capangombe.......
Eluilla:.=;s vo lojo etecoveréro |
Leva de Nampumba |
Quipungo- Ji. |
Lugho
Caculo-Bale .......
Huilla
Capiangar- Rr
GamboskR rr |
Cahamal RE
Elim ea
Moi Doangue
cc...
Alturas meridianas
o)
Do lh
76.35.38
79.23.02
69:29:95
> 69.00.11
2.19
58.30.32
4 57.44.38
5 57.20.53
56.20.24
55.30.10
« 69.37.26
O)
Dir.- 162,57
Distancias zenithaes «
| Inv. - 248,20
| OR
IO) 50.83.43
Dir. - 160,7
Distancias zenithaes «
| Inv.- 250,4
o HH
49.58.97
fo]
Horas
LS
29.48.00
pe =
11.23.32.00
9.03.53.30
4.06.22.00
11.14.87.54
4,05.49.
7.50.12.00
bo
[elo]
37.05.00
7.02.24,30
8.39.57.00
Estados
Sub.
1.41.14.45
» 1.41.23.33
» 1.41.53.45
Sub. | 1.42.34.55
» 1.42.51.85
>» 1:42:59.99
Sub. | 1.43.24.592
Add. | 1.24.49.41
» 1.26.02.59
valo, | A atol
226. 0) plol
y
[e
29.50.41
y
[e
|
(a) O ponto a que se referem as coordenadas, é o que se acha na carta com a designação : Volta
385
OBSERVADOS
Alturas
Azimuths
, HH
o
30.40.19
63.16.44
26.59.27
37.03.06
23.06.10
12.19.48
321,8
64,75
Latitude
DIR,
1a 245830)
15.44.40
15.49.25
16.16.40
16.18.03
15.05.00
15.23.33
15.27.54
15.46.05
16.16.41
16.42.00
16.19.58
Longitude
Observações
12.13.00
12.51.52
14,04,24
14.18.18
15.00.24
15.19.40
A longitude tem para latitude calculada
16º.17/.11/1
da Garça.
384 Elementos
Datas Posições Alturas meridianas Horas Estados
Junho
o Tim hm s piims E
22 Quiteyen O 90.17.31 7.45.34.00 | Add. | 1.30.20.11
30 Mucandona. ....... x(6 79.59.31 0.51.44.00 | > 1.31.39.11
lh
suo Dir. -161,98
2 Elan dia roer tee Distancias zenithaes « — == =
Inv.-248,75
BRA E ;
5 Quimpollo. cr. O 91.40.08 11.52.59.30 | Add. | 1.32.30.41
10 Cubano RE > 52.24.57 0.49.35.00 > 1.33.23.41
Dir. - 163,8
13 Daquilunda ....... Distancias zenithaes « 0.09.41.30 ) TESS lol
Inv. — 246,95
(o fo HH
16 Moi Mionga si O 92.96.16 7.39.49.00 > 1.34.24.41
19 — > 99.19.01 — — —
21 EqUeD Or as tofers reter o > 53.99.14 7.31.48.30 | Add. | 1.35.12.41
25 Mana-Cangonda ... , 54.11.52 0.21.51.00 > 1.35.56.41
| Dir. - 167,44
31 LENTE) o sos ns ao Distancias zenithaes | 11.29.40.30 > 1.36.59.11
Inv.- 243,52
Agosto [ea
o ll
õ Moi Cuando... -=-.. IO) 57.01.26 11.18.09.30 > 1.37:49.11
9 Cumass ci > 58.18.07 0.06.04.30 ) 1.38.29.41
Dir. -173,54
17 D. Abengue........ Distancias zenithaes 11.26.35.30 2 199.008
Inv. -— 237,43
|
( Dir.-175,94
22 Rio! Curtiss ja uso | 10,55.35.00 > 1.40.43,41
Inv.- 235,05
Ê |
Setembro | Di 179,13
JL Calungo-lungo ..... | 10.51.47.30 2 1.42.13.41
Inv.-231,23
|
| Dix -182,39
8 MoliMiuindals Re > | 11.17.00.80 , 1.43.13.41
Inv.- 228,57
0 [ a
12 Eibonta RR IO!) 70.47.06 1135.13.30 > 1.44.09.41
(| Dir. - 187,27
18 Riolo atire Distancias zenithaes | 11.27.48.30 > 1.45.03.11
Inv. - 223,07
|
Dir.- 189,81
28 Moi Cafuta ........ | 11.05.50.30 | >» | 1.45,53.41
Inv. - 221,13
[o IH ,
28 À AS Dto RS PRA E CEA (+) 78.21.14 | 18.57.20.00 » 1.46.35.41
(ebxo
Go
A
observados
Alturas Azimuths Latitude | Longitude Observações
E RO LN! do pe o o)
O | 424427 = 16.00.45 |" 15.18.56
> 26.46.30 — 15.41.01 15.42.32
— — — 15.47.34 —
IO) EMES IA — 15.20.30 16.14.19 Latitude à hora do caleulo 15º.17/.42!!
» 27.01.37 — 15.09.59 16.58.51 Latitude à hora do calculo 15º.10/.59/!
» 34.22.48 — 15.24.53 17.20.58
> 45.24.18 59,0 15.32.21 17.42.45
— — — 15.47.29 —
O | 45.04.19 = 15.50.07 | 18.08.34
> 32.08.52 — 16.01.23 18.11.24 Latitude à hora do calculo 16º.05/.53!!
> 42.05.34 — 15.51.53 | 18.43.47
> 44.20.02 — 15.54.52 MOSZiEDo
> SI SU) 321,9 15.45.56 19.42.59
» 44.00.03 Ad! 15.16.09 20.25.30
>» 90.28.51 329,0 14.45.37 20.51.49
>» 91.33.99 324,8 14.52.07 DID. DD
46.04.15 — 15.04.20 22.56.00
> 41.55.51 - 15.01.25 23.13.15
>» 43.46.01 | — 14.30. 1% 23.27.00
> 48.35.27 — 14.09.52 23.59.00
- 65.15.00 | 84,4 | 13.39.56 | 24.21.00
Elementos
Datas
Outubro
Novembro
19
Dezembro
29
1885
Janeiro
Fevereiro
24
24
Março
Abril
4
4
MonCahetal en
Candombe. FE
Loengue (perto do)..
Cabacos pia
MEN DNOS sngo Dados
Musiri
Musiri
Elephante .........
Lubumbaxe
Calassa
Eritub O et
Moi Kinhama ......
Moi Kinhama... ce.
uapular Rs
Lubemba Conf.....
Lubemba Conf. ....
Caminho de Chué ..
Caminho de Chué ..
Cutumunatdds o pn
NºTenque (Iramba).
N'Tenque (Iramba).
Alturas meridianas
Distancias zenithaes |
AGE
)
Distancias zenithaes |
Distancias zenithaes |
Dir. - 196,25
Inv.- 214,69
OR
62.59.27
Dir. - 201,78
Inv. -209,16
1
o
to
=1
[7
[ST]
1
[92)
[e]
pa
04.30
82.10.12
77.29.04
Dir. - 190,47
Inv. -— 220,00
78.28.44
Horas
uia fé
10.21.41.00
17.09.08.30
6.45.48.00
19.04.09.30
2.31.29.00
3.92.11.00
10.20.15.00
10.49.18.30
11.04.28.06
22.49.42.00
22.56.44.00
22.34.16.00
23.34.38.90
3.59.14.30
5.46.03.30
19.52.49.30
Estados
Ins dt
>» 1.47.41.00
» 1.48.44.11
Add. | 1.50.14.23
>» estao rta dl
Sub. | 2.10.08.54
Sub. | 2,11.16.44
Add. | 2.04.01.41
» 2.04,38.11
» 2.05.595.11
Add. | 2.14.45.20
>» 2,14..45.30
>» 2.15.49.02
Add. | 2.17.00.07
>» 2.18.46.41
Sub. —
Add. |Porodioiis»
observados 387
Alturas Azimuths Latitude | Longitude Observações
aro Ih) ORI 0. til
io) | 58.30.32 — 13.00.00 | 24.55.55
> + 44.07.37 104,6 12.38.01 25.25.44
“”
= = — 12.10.01 —
O 70.20.06 111,45 11.54.00 26.88:10 | À latitude é Rising.
> 75.16.01 = 11.22.20 | 26.54.32
>» 93.30.50 — 10.46.41 26.99.11
= = = 10.23.12 =
io) 39.47.52 = Es 27.14.10
e = = 11.32.42 =
IO) 97.00.21 = 11.36.31 | 27.46.00
> 50.29.24 263,2 11.06.52 | 27%,.39.10
> do — 11.47.19 28.05.37
OR
Dir. —- 284.42
io) 49.30.00 11.35.54 | 28.32.50
E Inv. — 104.50
| Dir.- 284.51 A
> 49.05.42 ss —
| Inv.- 105.54
>» 46.19.55 289.36 11.38.20 28.36.00
q a — 11.54.07 28.34.00
O | 50.26.42 | - 11.54.07 | 28.34.39
> | 33.26.06 | = 12.14.95 | 28.52.03 | À latitude à hora da Jongitude 12º.14/.85/!
ia, = — — | 12.14.35 | 28.52.08
O | 40.59.42 | - 12.06.00 | 29.00.00
IO) 93. d.02. | — 13.25.20 28.11.08
o) 70.27.07 — 13.11.48 | — |
o
o
38
Datas Posições
Abril
5) Moi Kimfumpa. ....
10 Serra Lupampa ....
18 Liteta; seno cs
26 Cayundas
Maio
4. ID OR e
3 Zum po E
29 De feto feras AS re
Junho
5 DOte. sr sinos era
6 MELe missa as
9 Meter Pe eita and
22 Quilimane RE
Elementos
Alturas meridianas
Dir. - 183,06
Distancias zenithaes
Inv.-227,45
|
Dir. -180,51
Inv.-230,00
|
Dir.-176,81
Inv.-234,27
Dir. - 172,44
Inv.-238,15
|
Dir.- 169,78
Inv.-240,81
Dir. - 163,30
Distancias zenithaes
Inv.-24
( Dir. - 161,86
Distancias zenithaes
Inv. -248,76
Horas
ho msg
23.16.17.00 | Add.
21.55.23.30
22.32.13.30
21.51.04.00
22.13.35.30
21.45.40.00
21.50.08.30
23.11.10.00 | Add.
N. B. As distancias zenithaes acham-se expressas em graus centesimaes.
Estados
2.23.02,38
2.25.16.46
2.26.40.54
2.28.16.27
2.31.32.10
2.32.03.43
2.36.11.46
Alturas
Dt o
33.00.11
47.13.55
36.99.56
42.19.97
36.12.57
97.28.01
34.48.11
Azimuths
326,24
Latitude
14.52.09
15.40.36
17.:
-1
OQ
pa
He
Fa
observados 34
A)
|
Longitude |
Do 1d)
28.13.46
28.58.43
99.92.38
Observações
A latitude à hora da longitude 13º59/12/!
9
OBSERVAÇÕES MAGNETICAS
SJ 2
MAGNETISMO
: Temperatura
Longitude E. | Altitudes
Datas Localidades Latitude S. E a na — media
reenwic :
metros da barra
1884
O! O o
Mairgop lo Porto Pinda) 15.44 11.51 4 23,8
2 Nopull doando Li Mossamedes 15.13 12.09 6 —
| 7 | Leva Nampumba....... 15.00 13.08 1728 —
Varios 4
22 Era Tape A 15.05 13.25 1728 25,5
| 1 [Silos Go ago av oo op Bec 16.42 15.00 106% 26,1
JUDO. oiee io (
OA Quieres e are 16.01 15.19 1110 24,0
Julho err 1 16 | Muene Dionga ......... 15.32 17.42 1188 26,1
| Rio, spo ssb ass ane 15.45 19.43 1198 26,0
ALOsto =... (
(620% Rio Cu pr 14.46 20.59 1081 28,1
2º E Calungo-lun£o) a 14.52 21.56 1032 29,8
Setembro....
|-28| Bio/Cabompo. . cus aoo 13.40 24.21 1071 34,5
Outubro. ...| 13 | Rio Mumbeje .......... 12.33 25.26 1217 LS
Novembro..) 3 | Muene N'Tenque....... 11.22 26.55 1260 26,5
Dezembro ..) 17 | Muene NºTenque....... 11.22 26.55 1260 =
1885
Jameson on Calassan 11.07 27.39 1260 =
2 NbwEjdiE soco avo on ooo 11.36 28.33 1070 25,0
Bleyereixo:. 4 20 | Euapula;. ei. efe ara 11.36 28.53 1070 28,2
23 | Moi Rinhamas 11.36 28.33 1070 27,0
IMAGO je ara 0220) apela iate oro aj os in toede 12.15 28.52 1167 28,1
| (DNS) Go poco poa dos 13.30 28.08 1197 28,5
April cc. On teta 14.52 28.59 4983 30,0
| Pl ANA apos do ob ar 15.41 29.18 344 30,1
| Mo (AUD O qe no dogetopeio o pc 15.38 30.21 365 30,0
Malla er ada é
(Bu e seca re 15.88 30.21 365 -
ABV KO 5616 io ) So ILS ao ap amp oo adia oo 16.10 35.595 163 31,9
(a) Correcta do effeito da temperatura e reduzida a 13º.5 ec. (b) Barra Hs. (c) Barra Ha.
TERRESTRE
Duração Força horisontal Forca total
de uma Inclinação Declinação
oscillação s. NW.
(a) Gus: Unidade ingleza C.g.s. Unidade ingleza
|
|
s (DM OU!
(db) 3,0153 0,2544 9,0838 0,9147 6,8269 41.52,2 22.06
= = - — — — 21.58
= a — — — — 21.17
2,9889 0,2387 9, 1776 0,9183 6,9039 41.24,8 —
2,9778 0,2405 5,2173 0,8315 7,1926 43.30,0 21.25
3,0002 0,2369 5,1390 0,3264 t,0811 43.28,1 22.18
3,0001 0,2370 5,1420 0,3275 7,1035 43.837,95 20.26
3,0000 0,2371 5,1426 0,8339 7,2433 44.45,9 18.31
2,9944 0,2981 5,1647 0,3306 T,ITOSL 43.55,5 18.28
2,9765 0,2411 5,2301 0,3592 T,2717 44.00,6 19.36
2,9562 (1,2447 3,5088 0,3380 7,3319 43.36,6 —
— = — = — — 15.42
28882 0,2559 5,5523 0,8424 7,4981 41.87,2 =
tas E A = =: < 14.41
e = — — — — 13.91
2,ST8I 0,2578 5,5920 0,8456 TANTA 41.45,9 =
(e) 4,1972 0,2538 5,5061 0,3427 7,4236 42,12,5 =
4,1750 0,2565 9,9627 0,3469 7,59256 42,20,3 15.24
4,1625 0,2581 5,5979 0,9508 7,6103 42.38,7 —
4,2550 0,2471 2,9997 0,9441 7,4645 44.06,6 —
4,2900 0,2432 9,2752 0,3535 T,66T4 46.31,7 —
4,3150 0,2404 5,2149 0,9486 7,9612 47.23,1 17.38
4,8151 0,2405 5,2157 0,3503 7,5992 47.39,5 —
= — = = = — 18.20
4,5100 0,2411 9,2913 (01,3651 7,9197 48.59,5 —
NOTA SOBRE A METEOROLOGIA
E MAGNETISMO
As observações meteorologicas durante a viagem foram feitas nas
epochas diarias seguintes: às seis horas da manhã, ao levantar o acam-
pamento; às sete horas da manhã de Washington (0h.8' de Greenwich),
e às oito horas da noite.
As temperaturas maximas e minimas foram lidas às seis horas da ma-
nhã, de modo que a maxima foi sempre attribuida ao dia anterior, cor-
respondendo à maior temperatura que teve logar depois da hora a que
se acampou (geralmente entre a uma e as tres horas da tarde).
Quando o estacionamento se prolongava por muitos dias, faziam-se
ordinariamente quatro ou mais observações diarias.
As observações magneticas da componente horisontal e da inclinação
executaram-se ordinariamente entre as duas e quatro horas da tarde,
quando o acampamento se demorava por mais de um dia; tratando-se,
sempre que foi possivel, de obter no mesmo ponto estes dois elementos
magneticos.
As horas de observação da declinação foram geralmente as da obser-
vação do angulo horario.
Os instrumentos meteorologicos, todos comparados com os padrões
do observatorio do Infante D. Luiz, foram os seguintes:
Dois barometros do systema (George, com dois tubos de sobresalente :
Correceções
Tubos das escalas
e Odo SGBD silos uai 0,0
AA DIVE Dejo e ces a EEN RN PRO O — 0,5 mill.
Comecção: de capilaridade -.l ui. — 1,52 mill.
396 Meteorologia e magnetismo
Dois aneroides de Cazella: n.ºs 4:784 e 4:785.
Hypsometros :
Correcções Correcções
antes da partida depois da chegada
12109 + 0º,194 ou ômm 26 —+ 0º191 ou 5mm 09
an PRP da —+ 0º,319 ou 8mn,58 + 0º,255 ou Gmm 80
UE ed REM —— 0º331 ou 8rm 89 + 0º,189 ou 5mm 04
RR (E e E —— 09,130 ou Bmm 54 partiu-se.
Thermometros és Comcesass
10º 20º 30º
nº 490918, si Pole qe +— 0,2 +04 1404
EO RO ONO orando (o O --0º5 +04 +08
Mi CADOZO 2 2 RR +02 +04 . +04
Thermometros de maxima
GOO O gar nn rs A + 081º OM 09,0
nc one ts e Lora pe --0º2 +01 +01
Naa dog 8 RS O + 0,2 +01 09,0
Thermometros de minima:
pesa OZ ai si E 09,0 0,0 001
PLA 5 EDIR RS RR ANO 00 +01 +01
SODA ora fee e A UE 0,0 + 0,1 + 09,2
Psychrometro :
n:9 AZBSO Secco. E cia no 00" +01 +01
ns) molhado 050 +01 +02
Thermometros de unifilar
SR A O A cu Ena — 0,5 —1º0 —1º3
ISO Ea CARRES O RASA qi — 008 —06º —06
DER CDIS pata a MPR cota ER — 005 — 07 —1º8
Um barographo Richard.
Dois chronometros de Dent.
INSTRUMENTOS MAGNETICOS
Um unifilar com duas barras para observação de oscillações.
Um inclinometro, modelo pequeno, de Dover, com duas agulhas.
Duas bussolas de declinação (systema Kater) de Casella,
Sextantes, horisontes artificiaes, ete.,
ns
ge”, 7 na | E
Mess o EE Ae
4%
uº BEAMPO
E E
+.
Fa Bugamoio
———— Linhas vsoclenicas
DR O Ti, pa AA
XdpEBE “5-7 a Zsedayranticas
Lithographia da Lmporensa Maceonal
S=/
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AS
98,4 fe
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— A
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LHazaruto
CC AZmhamdane |
Limparo
farques
——— Linhas esoclinteas
uv! dsogonas
csodypramécas
Lithegraphia da Imprensa Wiccoral
Meteorologia e magnetismo 397
OBSERVAÇÕES METEOROLOGICAS
Todos os dados meteorologicos que se acham nos mappas que apre-
sentâmos, constam dos elementos seguintes: pressão atmospherica, tem-
peratura do ar, tensão do vapor, humidade, direcção e força do vento
(0-5), quantidade e qualidade das nuvens, chuva (pela duração em ho-
as), trovoadas, relampagos e todos os mais phenomenos accidentaes nos
intervallos das observações.
As observações simultaneas feitas a 0h.8' de Greenwich, segundo as
localidades, foram executadas, desde Mossamedes, a 0h.57', até Tete às
28.8.
PRESSÃO ATMOSPHERICA
O hypsometro serviu sempre de padrão para a pressão atmospherica,
mas os instrumentos observados foram o barometro George e o aneroide
compensado de Casella.
O primeiro preparava-se geralmente depois de acampar, e conserva-
va-se armado e cheio durante dias seguidos, quando a demora se pro-
longava; mas se o acampamento tinha de se levantar no dia seguinte,
não se enchia o barometro George e era o aneroide que se observava;
sendo as leituras de qualquer d'elles referidas ás do hypsometro.
O hypsometro foi observado sempre que havia occasião e facilidade
para o fazer, empregando todos os thermometros e tomando a média dos
resultados.
Alem d'estes instrumentos, havia mais o barographo Richard, o qual
registou perfeitamente durante toda a travessia, fornecendo os meios de
comparação entre o barometro George e o aneroide. O Richard ainda
prestou serviços mais importantes à meteorologia africana; quando ha-
via demora de quinze, vinte ou mais dias no mesmo ponto, o seu registo
forneceu as variações diurnas da pressão, como por exemplo na Huilla
durante vinte e tres dias, cincoenta e um dias em Muene N'Tenque,
vinte e tres dias em Luapula e dezoito dias no Zumbo.
O barometro de mercurio! nas innumeras vezes que se encheu, em-
pregando ora um ora outro tubo, apresentou geralmente accordo com o
hypsometro, e podem-se considerar as suas leituras approximadas a ++ 1,0
millimetros. Em uma ou outra vez, que a differença para o hypsometro
! É o barometro George um instrumento precioso para o viajante, pela grande facili-
dade no transporte, sem perigo de ser damnificado, rapidez com que se arma e promptifica
para a observação; lembrâmos um pequeno melhoramento que tornará mais facil a leitura:
consiste em um pequeno aro de folha metallica, pintado de preto, que possa correr ao longo
do tubo e se deva collocar quasi tangente ao menisco da columna mercurial.
VOL. II. 26
398 Meteorologia e magnetismo
foi superior a 3 millimetros, suspeitou-se, com rasão, que a consideravel
humidade do ar na oecasião do enchimento, junta à elevada temperatura,
tinha prejudicado a operação.
O aneroide mostrou sempre mui pequenas differenças para o hypso-
metro, sempre que a marcha se effectuava sem grandes mudanças de
altitude; assim, acompanhando o barometro e hypsometro antes de su-
birmos o planalto, quando esta grande differença de nivel se transpoz,
divergiu logo 8 a 10 millimetros para menos, indicando maior altitude.
Tendo-se corrigido d'esta differença na Huilla, durante toda a travessa,
emquanto a pressão regulou entre 640 e 680 millimetros, conseryou-se
com pequenas differenças, inferiores a 1,5 millimetros, em relação ao
hypsometro; porém, quando se effectuou a descida para o Zambeze, no-
vamente se foram notando differenças em sentido opposto, que foram
augmentando até alcançarem —+ 9 millimetros no Zumbo; isto é, sensi-
velmente a mesma differença em sentido opposto, que se tinha achado
na subida da serra de Chella. Note-se, que no observatorio do Infante
D. Luiz, antes da partida, se fez a comparação do aneroide com um ba-
rometro em um recipiente, no qual a pressão se diminuiu até 640 milli-
metros, e n'estas circumstancias o aneroide não se afastou mais de 1,5
do barometro submettido à mesma pressão.
As variações diurnas da pressão registadas no barographo Richard
são muito curiosas e instructivas, porque foram observadas em condições
de altitudes e de tempo muito differentes.
Na Huilla a variação diurna foi deduzida de vinte e tres dias de
observação (6 a 28 de maio de 1884), em 15º.5! latitude S., 13º.25! longi-
tude E., 1:728 metros de altitude, e à distancia de 150 kilometros do
mar. :
Como se observa nas estações elevadas no continente do nosso paiz,
o minimo da madrugada é o minimo principal do dia, isto é, a pressão
ás quatro horas da manhã é inferior à das tres horas da tarde, a ampli-
tude da variação diurna é consideravelmente superior à das estações
elevadas da Europa. Na Huilla é mais do que dupla da da estação da
serra da Estrella, em 1:441 metros de altitude.
Esta grande differença provém da latitude, pois é sabido que nos
paizes intertropicaes a variação diurna da pressão é a maxima do globo
e regula por 3 millimetros ao nivel do mar.
Comparando a curva da variação diurna do barometro na Huilla
(fig. 1) com a correspondente do mez de maio do observatorio de Loan-
da, (fig. 2) o que se nota immediatamente é uma consideravel elevação
do minimo das tres horas da tarde n'aquella, de modo que o minimo
principal é, como acima, dissemos, o da madrugada. Em Loanda dá-se o
caso contrario, é o minimo das tres horas da tarde o mais consideravel,
e a amplitude maxima tem logar entre as pressões das nove horas da
Meteorologia e magnetismo 599
manhã e a das tres horas da tarde, no valor de 2,94 millimetros; a diffe-
rença entre as pressões correspondentes a estas horas na Huilla é ape-
nas de 1,06 millimetros, mas as differenças entre os minimos da madru-
gada e os maximos das nove horas da manhã são mui proximamente
iguaes nas duas localidades (1, 5 ou 1,6 millimetros).
E o minimo da tarde que se acha modificado na Huilla, e é o mesmo
que se nota nas variações diurnas do barometro no littoral de Portugal
e na serra da Estrella, facto que se póde explicar pelas correntes vindas
do mar, que dando accesso de ar nas horas mais quentes do dia, vão
contrariar, pelo effeito do seu peso, a manifestação regular do minimo
das tres horas da tarde.
Não parece pois ser a altitude o unico factor do typo das variações
diurnas barometricas com o minimo principal de madrugada; typo da
serra da Estrella, Huilla, etc., mas sim a sua proximidade do mar, ou
mais geralmente a posição da estação sobre a vertente da montanha, ou
na proximidade d'ella. A discussão dos typos das variações diurnas dos
outros pontos parece corroborar esta opinião, como passâmos a ver.
A segunda estação onde se registaram as variações diurnas da pres-
são foi Muene N"Tenque, em 11º.22/ S., 26º.55 E., 1:260 metros de alti-
tude, mas a consideravel distancia do mar, visto estar mui proximamente
a distancias iguaes dos oceanos Atlantico e Indico.
À curva (fig. 3) representa a variação diurna d'esta estação durante
cincoenta e um dias (1 de novembro a 21 de dezembro de 1884).
A differença entre o minimo da madrugada e o maximo das nove horas
da manhã tem sensivelmente o mesmo valor de Loanda ou da Huilla;
e entre o maximo da manhã e o minimo da tarde excede de 3 millime-
tros (92= 06), um pouco inferior à correspondente differença em Loanda
(mm 24) (fig. 4). Vê-se portanto que a altitude não parece influir aqui
no minimo da tarde; estando esta estação collocada no meio do planalto
da Africa meridional; comporta-se este como se fosse um extenso mar;
a viração tanto de um como de outro mar não lhes chega, não influindo
directa nem indirectamente.
O mesmo se póde dizer da estação seguinte, Luapula, cuja altitude
ainda é consideravel (1:070 metros) e apenas differe de 1º.18/ de longi-
tude mais oriental (fig. 5).
A curva da fig. 6 representa a variação barometrica no Zumbo, du-
rante dezoito dias de maio de 1885. Esta é cavacterisada pela mui pe-
quena differença entre o maximo e o minimo nocturnos; o valor d'esta
differença é apenas 0,24 millimetros; tanto o maximo como o minimo
são mui fracos.
A menor distancia ao mar é ainda superior a 650 kilometros; é pos-
sivel que o vento SE. que n'esta epocha predomina seja causa da per-
turbação que se nota.
400 Meteorologia e magnetismo
São estas as observações mais notaveis que fizemos relativamente
ao barometro, porquanto da variação annua, como é obvio, nada pode-
mos dizer.
TEMPERATURA
Tambem nada podemos dizer sobre a variação annua da temperatura,
apenas diremos, que entre os parallelos de 11º e 16º S., limites da nossa
derrota, a maxima temperatura observada foi 35º,1, no dia 8 de setem-
bro de 1884, em 15º.4' S., 12º.56! E. e 1:018 metros de altitude. Em abril
e maio de 1885 observaram-se temperaturas maximas mui proximas
d'aquella (34,5 e 395º,1); notaram-se portanto estas temperaturas extre-
mas na passagem da estação das chuvas para a do cacimbo e vice-versa.
Durante as chuvas e no tempo do cacimbo, as temperaturas maximas
não excederam de 30º, mas tambem não foram inferiores a 20º, como se
póde reconhecer pela fig. 6 (estampa 1.2).
As temperaturas minimas foram muito alem do que geralmente se
julga. Em junho, julho e agosto, observámos por vezes temperaturas
abaixo de 0º, entre 1:050 e 1:250 metros de altitude; as temperaturas
minimas extremas d'aquelles trez mezes foram respectivamente —1º4,
—1º5e—lº5.
Em a noite de 21 de junho gelou a agua que se tinha deixado em
um prato exposta à irradiação nocturna e tambem se notou geada por
vezes n'este mez.
Na segunda e terceira decadas do mez de julho, em algumas madru-
gadas obteve-se gêlo em agua que para esse fim se deixou exposta, ha-
vendo geada varias vezes; o mesmo aconteceu em agosto, na terceira
decada, em que a temperatura foi alguns dias abaixo de 0º, sendo ainda
— 1º,5 a minima extrema no dia 24: n'esta manhã podémos obter gêlo à
superficie da agua, mesmo já depois do sol estar acima do horisonte. As
temperaturas minimas mais elevadas, geralmente não excedem de 10º;
em julho o valor da temperatura minima mais elevada foi 69,9.
Em geral, n'aquelles tres mezes, sempre que havia calma ou vento
muito fraco e o céu limpo pela madrugada a temperatura do ar, e prin-
cipalmente a da camada mais proxima do terreno, era inferior a 0º.
Durante a estação das chuvas e principalmente nos quatro mezes de
novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, as temperaturas minimas regu-
laram entre 14º e 18º,5, como se vê na mesma fig. 6; porém na estação
secca os limites das temperaturas minimas são muito mais extensos, é mui
principalmente no mez de setembro, em que esta estação termina e co-
meça a das chuvas, as temperaturas minimas oscillaram entre 1º,5 e 20º,2.
Pelo que respeita ás variações diurnas da temperatura do ar, são
muito mais consideraveis durante a estação secca do que durante a chu-
Meteorologia e magnetismo 401
vosa; são mui frequentes n'aquella quadra variações superiores a 20º; nos
quatro mezes de junho, julho, agosto e setembro, as maximas variações
diurnas foram respectivamente 26º,0, 27º,8, 29,1 e 26º,0 e as menores fo-
ram 13º,5, 15º,2, 16º,0 e 13º,8. Na estação das chuvas, e sobretudo na força
della, a variação diurna da temperatura regula por 6º a 8º, não excedendo
de 16º, havendo algumas de 3º,6 e 3º,8, como em novembro e dezembro
de 1884.
CHUVA, TROVOADA, NUVENS, ETC.
As chuvas estão tão ligadas ás trovoadas na zona tropical de Africa,
que se póde affirmar de uma maneira geral, que não se dá um pheno-
meno sem outro. À fig. 1 mostra bem esta relação. A força da estação
chuvosa teve logar nos mezes de novembro, dezembro, janeiro e feve-
reiro, entre 11º e 12º S. e 25º à 28º E., região sensivelmente equidis-
tante dos dois oceanos. No mez de dezembro de 1884 registaram-se vinte
e nove dias de chuva, o maximo observado. No mez de novembro regis-
taram-se vinte e tres dias de trovoada, foi tambem o maximo observado
das manifestações electricas. ;
Em outubro e novembro foram algumas trovoadas fortissimas e du-
radouras, acompanhadas de fortes bategas de agua, sendo a chuva muito
grossa e o vento violento.
Note-se que na maior força das chuvas e trovoadas no interior, estas
não corresponderam ás que se manifestaram na costa occidental (Loan-
da) e mais ao norte em S. Salvador do Congo.
As maiores chuvas e trovoadas tiveram logar n'estes ultimos pontos
em fevereiro, março e abril, de modo que tanto as chuvas como as tro-
voadas pareceriam propagar-se de E. para W., se não fossem attribuidas
a outra origem as chuvas do Iittoral.
Para corroborar esta asserção notâmos mais de uma vez, que as tro-
voadas, sempre que appareciam de NW. ou SW, não subiam nem da-
vam chuva, e que pelo contrario davam chuva e eram fortes todas as
que se apresentavam dos quadrantes NE. ou SE.
Pelo meiado do mez de setembro começou a nublar-se o céu de cu-
mulos, com vento do quadrante SE., fresco por vezes; na ultima decada
manifestam-se as primeiras chuvas e trovoadas pelos 14º S., 24º E. e
1:100 metros de altitude. N'ºesta epocha achava-se o sol na proximidade
do equador; à proporção que elle foi declinando para o sul foram suc-
cessivamente augmentando em quantidade e energia os phenomenos
electricos e de precipitação; assim em outubro já se contam vinte dias
de chuva e doze de trovoada, em novembro vinte e cinco de chuva e
vinte e tres de trovoada, em dezembro vinte e nove de chuva e vinte e
um de trovoada. Em janeiro de 1885 nota-se um enfraquecimento nas
402 Meteorologia e magnetismo
chuvas e trovoadas, diminuição na quantidade de nuvens, augmento nas
variações diurnas de temperatura, emfim, uma modificação do tempo
para melhor; mas em fevereiro todos aquelles elementos meteorologicos
tomaram novo incremento; assim, os dias de chuva que em janeiro foram
dezenove, passaram a ser vinte e quatro em fevereiro, a parte do céu
nublado augmentcu, só o numero dos dias de trovoada diminuiu algum
tanto. A esta suspensão das chuvas por esta epccha (dezembro ou ja-
neiro, conforme a região), dão os naturaes o nome de Quiangalla (inter-
rupção ou paragem da estação das chuvas).
Às chuvas cessaram repentinamente nos ultimos dias de março pelos
12º.30' S., 28º.45! E. e 1:200 metros de altitude, muito depois de ter fir-
mado o vento SE., e tambem depois de ter passado o sol do equador
para o N.
Note-se que as chuvas começaram quando o sol tinha transposto o
equador para o S., sendo a estação de observação 150 kilometros mais
ao 8. e 525 mais a E. d'esta posição.
HUMIDADE, REGIMEN DO VENT O, ETC.
A humidade relativa do ar apresentou-se, como é de crer, muito mais
elevada na estação das chuvas do que na secca; entretanto, pelas 6 ho-
ras da manhã, em todas as epochas do anno foi excessiva a humidade,
entre 90º e 100º; porém, nas horas mais quentes do dia, durante a esta-
ção secca, o ar apresentou-se extraordinariamente secco; assim em julho,
agosto e setembro observámos frequentemente graus de humidade entre
10º e 20º; a extrema seccura em toda a travessa foi indicada por 6º, nos
dias 24 e 25 de agosto.
O regimen annual dos ventos tambem não é possivel formar-se idéa
d'elle, em consequencia da continua mudança de local;, assim vêmos,
que nos primeiros dois mezes predominou o vento dos quadrantes SW e
NW emquanto estavamos entre a costa e o planalto; nos quatro mezes
seguintes predominou do SE., que é o vento geral d'aquella epocha. As
calmas sentiram-se em grande numero no mez de junho, porque n'este
tempo occupavamos pontos com a altitude de 1:000 a 1:200 metros, rela-
tivamente inferiores à serra de Chella, ficando esta a sotavento, cau-
sando por isso embate.
Durante a força das chuvas o vento é vario e as calmas tambem se
contam em quantidade.
Em fins de março declarou-se novamente o SE., e assim continuou
até à chegada à costa oriental, em junho.
Na fig. 2 à frequencia do vento é representada em cada mez por tra-
ços na direcção dos quadrantes, correspondentes ao numero de ventos
Meteorologia e magnetismo 403
observados nos mesmos quadrantes, sendo cinco observações de vento de
cada um d'aquelles rumos, representado por 1 millimetro. Na mesma re-
lação se representam as calmas pela grandeza dos raios dos circulos;
isto é, 5 calmas por 1 millimetro.
OBSERVAÇÕES MAGNETICAS
As observações de oscillações para se obter a componente horisontal
foram feitas empregando duas barras magmneticas cylindricas ôcas, de
16,5 millimetros de comprimento, munidas de um espelho. Estas barras
eram suspensas por feixes de fios de seda, em um unifilar de Jones;
nunca se fizeram menos de 100 oscillações para cada observação.
Em seguida se vêem as competentes marcas das barras magneticas,
seus pesos, coeficientes de temperatura (q), e os valores de Era deter-
minados no observatorio do Infante D. Luiz, antes da partida e depois
da chegada.
q
2K
fi]
Peso sm
em ———T o —
grammas (a) Dezembro 1883 Novembro 1885
E: 157 0,00019 46,095 46,970
E. 152 000024 96,013 97,070
2K
Os valores de ?-* para cada observação, foram calculados, suppon-
do que o augmento era proporcional ao tempo.
O tempo T de uma oscillação foi referido sempre a 13º,5 c, tempe-
ratura das determinações em Lisboa.
Até ao principio de fevereiro de 1885 serviu a barra Hs, d'esta data
até ao fim da viagem empregou-se a barra Hss.
Para determinar o valor da componente horisontal dividiu-se o valor
de =É na epocha da observação, pelo valor de 'T2, correcto da tempe-
ratura.
No mappa correspondente vemos que entre os parallelos de 14º à
16º S. a componente horisontal apresenta sensivelmente o mesmo valor
5,2 (unid. ing.) ou 0,240 c. g. s., pois tanto no Humbe em 15º E. Gr,,
como no Zumbo em 30º E., os valores obtidos da componente horisontal
foram 0,2405:; seguem, pois, proximamente os parallelos as linhas de
igual força horisontal.
O valor da mesma componente augmenta para o N., pois nas para-
gens de menor latitude a que chegámos, entre 11º e 12º S., são os valo-
res observados 5,59 (0,257), correspondendo proximamente o augmento
de 0,1 (ou 0,046 c. g. s.) por —1º de latitude.
404 Meteorologia e magnetismo
INCLINAÇÃO
A inclinação magnetica foi determinada empregando um inelinome-
tro de Dover, n.º 66, de pequenas dimensões, munido de duas agulhas de
1 centimetros de comprimento.
O circulo vertical tem 71 millimetros de diametro interno e é divi-
dido em meios graus. Podia-se avaliar com a approximação de 6, por
meio de dois microscopios, a posição de cada extremidade da agulha.
As agulhas eram magnetisadas em sentido opposto em cada observação,
corrigindo-se assim o erro devido ao centro de gravidade não correspon-
der ao eixo de suspensão. |
Deduz-se do mappa das observações que a inclinação vae augmen-
tando para o S. e E.
O menor valor foi observado em Muene N'Tenque, 41º.37',2, em
110.22! S. e 27º.29' E., sendo apenas inferior 15! ao que se observou em
Porto Pinda, na costa occidental, em 159.44" 5.
O maior valor, foi o ultimo observado, em Tete, 48º.89/,5 em 16º.10' 8.
e 39º%.09! E. Em menos de 5º de latitude variou a inclinação 7º.2",
DECLINAÇÃO
Obteve-se a declinação empregando duas bussolas de Casella (syste-
ma Kater). Observava-se o azimuth magnetico do Sol, e deduzia-se a
declinação pela differença entre este e o azimuth verdadeiro que se obti-
nha pelo calculo.
Este elemento magnetico nem sempre pôde ser bem determinado,
desprezando-se algumas observações, cujos valores, sem duvida por
attracções locaes, estavam visivelmente alterados.
Combinando os valores da declinação, inclinação e da força total
magnetica observados na região da Africa que atravessámos, com os
obtidos na mesma epocha no observatorio de Loanda e ainda com os
observados na ilha de S. Thomé em maio de 1881, tendo attenção ao
tempo decorrido, traçâmos as linhas que se vêem no mappa geographico
junto, que representam, com alguma approximação, as linhas isogonas,
isoclinicas e isodynamicas; não se deve comtudo considerar a posição
d'estas linhas como resultado de calculo, pois é obvio que não era pos-
sivel empregar o methodo dos menores quadrados, por exemplo. dispondo
de tão pequeno numero de elementos em uma região tão consideravel
Horas
Huilla
== roma
12 (p.m.)
621,52
621,54
621,30
621,68
621,75
-621,88
622,08
Localidades
Muene
N'Tenque
h=1:260 m.
655,60
Luapula
h=1:070 m.
Zumbo
ABREVIATURAS
DAS
OBSERVAÇÕES METEOROLOGICAS
a. antes do meio dia
C. cumulos
C. (na casa do vento) calma
C. claros no céu
cac, cacimba
Ci i cirrus
Deo fresco
hor horisonte
int. intenso
n. noite
ne. nevoa
ne. int. nevoa intensa
Ni. nimbos
nu. nuvens
Nub. nublado
p- depois do meio dia
qa. quadrantes
raj. rajadas
seg. seguida
St. stratos
El: tempo
told. toldado
V. vento
KKK trovões
«& relampagos
chuva
—yy vento forte
LESS geada
ESA orvalho
eXM gélo
nevoeiro
OBSERVAÇÕES METEOROLOGICAS
Observações
ADV
As observações meteorologicas fizeram-se ás 6h (am), ás Th 35! do meridiano de V
Para determinar a pressão barometrica e altitudes, fez-se uso invariavel do bar
registador de Richard.
As temperaturas maximas e minimas, são notadas da hora da observação (Th
6h da manhã immediata. As observações das 6h da manhã, correspondem, que
O merediano de referencia é o de Greenwich. As altitudes são expressas em met
Na casa, sob a epigraphe Notas, estão exarados todos os phenomenos e indicad
logar qualquer phenomeno, deduz-se que foi à hora da leitura dos imstrume
O estado do céu é representado por O (céu limpo) e 10 (céu coberto).
As observações foram corrigidas no observatorio meteorologico do Infante D.
e depois da viagem.
MA
Pressão Y Tensão Humidade
atmospherica emperatura do vapor relativa
De
”
4
Longitude E.
Dire
Maxima
Minima
horas
Wash.
6 hora
a.
p.
a.
Pp.
Latitude 8.
Greenwich
Altitudes
8 horas
7 horas
Wash.
8 horas
p
6 horas
8 horas
oras
a
7 horas
Wash.
8 horas
7 horas
Wash,
6 horas
7
| 61
ou Son
15.49.25
so
Ha
LES
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Do)
E!
a
C.
59.49.29 WNW.
So
(ep)
5.94.00
53.94.00
32.94.00
2.04.00
5.94.00
94.00
225)
15,9] —
16,2 18,0
23,9| 29,3] 16,9] 17,4] 19,6] 18,5
N.B. Observou-se sempre, ao nascer e pôr do sol, a atmosphera avermelhada, côr intensa.
|
|
|
|
meteorologicas 409
PENCIA
gton, segundo o plano do general Albert Myer e às 8 (pm).
jo de mercurio de mr. George, bem como de aneroides, hypsometros e do barographo,
ashington) até igual hora do dia seguinte, e em viagem d'essa mesma hora até às
n marcha, à latitude, longitude e altitude do dia anterior.
s rumos são verdadeiros.
lativas ao estado do tempo. Quando ahi se não menciona a hora precisa a que teve
sim como todos os instrumentos respectivamente comparados com os padrões, antes
1884
E
orça do vento Quantidade e qualidade de nuvens E
—— | ————— ame eo — | &
po Notas
7 horas 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas z
Wash. Pp. al Wash. Pp. E
a
NW 2) SW. |1|- Nub 3 2 C. — —
[INW. |2|] SSE. |2|- C. 5 C. = Nub. — —
— =) ASMAVO. |pátii= Nub — — 10 — — —
N 2 = =p Nub B) C — = = ds
— — — —|8 C. — — = = — =
E 2| ESE. |2/3 C., St. 4 CNI: 10 Ni. — | KK de E. às 8 a.; de SE. p.;
E QD, 8-12 à
E. |2 — —|— Nub. 8 C., Ni. — — — | Q'seg. den.; Za E. p.
— — — — 10 C., Ni. — — — — — —
= —| NW. |3|- — = = 0 = = Dom
— — — —| 5 C — — — Nub. — K p-. aos.
SER!) SSW. |2]3 C. 8 C. 2 C. — |-« p. ao S. (appareceu agua
no rio Coróca)
NW. |1| WSW. |11- Nub. 1 C. — Nub. — & p.asw.
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meteorologicas 409
408 Observações
ADyER | TENCIA
ington, segundo o plano do general Albert Myer e ás 8» (pn).
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As observações meteorologicas fizeram-se ás 6h (am), ás lano de Wash ASR TA E
tro de mercurio de mr. George, bem como de aneroides, hypsometros e do barographo,
Para determinar a pressão barometrica e altitudes, fez-se uso invariavel do barome
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As temperaturas maximas e minimas, são notadas da hora da observação (th Ee) ) a 5 . 8! 1 e À viagem de
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O merediano de referencia é o de Greenwich. As altitudes são expressas em metr ati into cito á (Angra ailh a
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logar qualquer phenomeno, deduz-se que foi á hora da leitura dos instrument
O estado do céu é representado por O (céu limpo) e 10 (céu coberto).
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As observações foram corrigidas no obseryatorio metcorologico do Infante D, Luiz, I nte comparados com os padrões, antes
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a atmospherica Temperatura cho || MaGRa | Mig =D | E SS
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E = T horas 8 horas 6 horas Toras 8 horas ]
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B. Observou:s vermelhada, côr intensa,
e sempre, ao nascer e pôr do sol, a atmosphera
Observações
Pressão ” Tensão Humidade
atmospherica emperatura. do vapor relativa
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|
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Altitudes
horas
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Greenwich
q.
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6 horas
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6 horas
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12.03.56
12.08.56
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5/760,7/768,0] 19,1] 26,7| 22,5 õ 81 | WSWi
162,6/761,6/761,6| 18, 20,0 9/ 18,5] 13,4] 4 5 SSE.
— SW.
12.91.83:
96/13.01.30] 5:
13.01.30] 595 |715 17,5] 18,8|:
(a) Porto Pinda. (b) Mossamedes. (c) Pedra Pequena. (d) Capangombe. NB. Observa-se aim
[E
sst meteorologicas 411
a do ventc Quantidade e qualidade de nuvens ;
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horas 8 horas G horas 7 horas E NTE >
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W. 13] SSE. |2|- Nub. = 2 G: — | n:; — MU mp.
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: 1 — —|3| C., St., Ci. C.-St. — — — | n.; 4 pataos.
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1| SE BO CC, St. C. — Nub. — OB) 6 a.; Up.
BRR 2) SW 1|— Nub. — 0 — = | Es
V BRRESNVE | 219 GC (OL 10 Told. = | K n.; Ap.
W. |3] SE. /11]10 Ni. C., C.-St. |10 Ni. e 6 a.,8p.; IX para SE.
y BU SW [Si Cc (Ot 2 C. = A a SE.8 po Pyy p-
ER 8 DE a - — Eu nu
E a = E = Es fa = =] =
E 9 E pa + v di ho E as
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W.|2 — — |— — = — = — =
—| WSW. |2|— — = 10 Es = =
SW. |2)— Nub. = — Nub. — ss
CI SSW. |1]— Nub. = 0 — = E
= s. fat C. — 2 Gi = | KaNW.3p.; « aNW.8p.
W. |2 C. 0|—| Ci., C., St. C. 10 C., Ni. — | IX para NE. p.; €« de NW.
E Sme [1/5 C. E 3 e =| REA
Wa | NW. 1/3 C. CNI: E) CNT — | Ka E p.
meno crepuscular.
e
Observações
ABRIL
meteorologicas
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qa (154400)
18 [15.12.90]
19 [15.12.90]
20 [15,12,90]
21 [15:12:90
2.80
2.80
00]
25 [15.00.00
012,05
5/12.09,56]
19/12,09.50]
5/12.09.56]
26 [14.58,00/12.30.00]
15,00.55/12.51.08]
pon
13.08.06
12,03,50
12.09.56
12.03.56
12.04.29
12.04.29
12.04.20]
12.04.29]
12,04,2]
12.04.29
12.19.00]
12.25.00
12.51.93)
5.06,50/19.01,90] 535
5,00,00/19.01,80]
Pressão
atmospherica
CEE
154,5 22
28,2
oo [Toba
29,0] —
5 25,6] 22,1
5| 20,8
20,0,
p= =[> [==] =
1
4
1
[u
put sd =p =| =
(pese E pese
=] ud rea = | =
po po po paid =
0) = |= | =| — 216 =
G|-— | — | = | — |26,5] —
pb =p=I=l=Ia
48 | — -— |7
528 [158,0] —
716,0) 22,0]
20,4
2/ 19,0
20,0
22,0
717,5) 18,8[ 35,2
Temperatura
Tensão Humidade
relativa Direcção ento
É O horas Flioras 8 horas
a Walk h
17,9) 10,95) 16,5] 91 [66 | 76 e, o! SSW. 2) NNW.
18,6) 11,0/21,/4/ 17,6] 88 | 71 ul
10,0/ 16,6] 92 | 70/81 Et dpi
19,1/17,0/ 20,7] — [94/67] =| ssw. |1
19,1/16,7/ 2 TO | Us e 0
JURO 70) 90 C ) SSE.
19,6) 16,5| 21,1] 17,9) 91/72/86) CC lo WAW.
— [181/9827] — |88| 17] — | SW. 1
19,1/17,9/21,1/17,0/ 91/72/86) O lo
19,7/17,0/214] — [9 | 74] —| So di
=| = 100] = |=|58|=| Co
— [13,2/47,2]18,7]89 | 63/81) SJ W. |3) sw.
— | 14,58) 15,9/16,4/ 90 | 61/81 2 WSW. |3
— [14,9/18,5/ 18,4] 90] 65/17) SSB |1 W. |3| sw.
— |140) — | — |86)—|—| SW. |2
= po peito ele = IH
[sp = |-|76)-| = |=] Iwsw. =
Sp =|-I09]=| = || Qwsm a) —
(a) Porto Pinda. (0) Mossamedos. (0) Podra Pequena. (d) Capangombe. NB, Obsorva-so ainda O
E =| WSW.
= —| SW.
a =| SSW.
wsw. [2] q.
= |=| sy.
WNW.
2/5
ro,
3/5
lenomeno crepuscular.
Quantidade e qualidade de nuvens
v|—
2|—
1|—
1/1
0|—
15
1,3
C, Ni.
e SE
Fold.
Ni.
G.
-| Cn SE Sp; AM p,
Notas
JM py,
Jp,
E parvo S. ao longe.
Ou; E paros.
A p,
AME po
= OKun;
=| On, Sp; parse,
8 po Up,
Jp
[RANW.Ip; 4a NW.8p.
=| [para NE. po 4 do NW.
o SW
]
|
|
|
|
|
| E
|
| Kp.
|
Observações
Pressão T : Tensão Humidade
atmospherica (Rhino tuto relativa
Longitude E.
Greenwich
Altitudes
Latitude S.
Maxima
Minima
o
DES ho 4)
13.06.00 717,6
13.16.00 629,1
d.02/13.24.31
13.24.31
2/13.24.31
13.24.31
-02/13.24.31
2113.24.31
WsY
SW.
123 ,31622,3 20,0] 13,4 WSW
3.24.81/1728/623,0/623,0/623,6] £ 3.9] 5| 6, 3/35 |s Cc.
3.24.31/1728|622 624,1| 8,5 2 E SW.
3.24.31/1728/624,1]6% 624,1 22, das ) o | SW.
3.924.31/1728|623,8|624,1/624,8] 10,5] 22,5 2: 4| 4 60 | WNW
3.24.31/1728/624,1/623,8]624,3] 10,2] 23,4] 15,1] 2: ; WSW
13.24.31/1728|624,3]624,1/624,3] 10,8| 23,0] 15,0] 24, ; sw.
2/13.24.31]1728]6: 23,8/624,3
5.02/13.24.31/1728]628,: 624,8]
24,31 1728/624,6/624,1/624,6
3.24.81/1728 624,6
3.24.81/1728/624, =
.24.81/1728]623,3/622,5/624,8
24,51/ 1128 23,9] —
32.24.31
24.81 624,5
.24.81/1728|624,3/624,6|- — 9/24,5| —
3.32.00/1470/622,9 640,9/10,9 13,0
13.40.00/1374/640,9 646,9] 5,2 On)
5.23.33/13.46.10/1315/646,9/649,9/651,9] 4,9/24,8] 8,9/ 25,0]. 4,6
(a) Subida para o plano alto. (b) Huilla. .N. B. O phenomeno crepuscular observa-se por vezes.
415
884 meteorologicas
"a do vento Quantidade e qualidade de nuvens | Z
||| —» > ——
horas 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas
Vash. p. q Wash. p.
SE
- — Cc 0/8 — — 0) —
- —| SE. |1]5 — — 8 C.
- — = —|8 C. — — = —
> 3 s 1/0 — 0 — 0 —
RR 3) SW. |1)0 — 0 — 0) —
E. ) Ss. 1/2 St. [O — O) —
BR 2] WSW.|1]0 — IGN CE St CAOS!
E 2) WNW.|1/0 — ) — 2 CSt-
E. ERROS [12:10 — 0 — (O) —
E. 2 — = (0) E 0) = == sa
E. 2 — —|0 = 0 Eu = a
BRR 2) SW. |1/0 — 0) — 0 —
E 5) s. 1/0 — 0 — (0) cm
- —| SW. |2]0 = = =— 0 Ea
, 2) SW. |2]2 St. > C.-St. 0 —
SEL JEIO — 0 — 0 —
2) WSW. |1/'0
2 NE. |210
=P NV ENÂUE
ty
o
N.
C., Ci. St.
C., O.-St.
C., C.-St.
[o
1
St.
Notas
OK de E. 5p.
Mto
Cac. n.; Ulm.
Caen. Um;
Cac. n.
Cac. n.
Gac. ni
Muito cac. n.
Muito cac. n.
Cac. n.
Cac- n:; tios
Cac. muito fra, n.
Cae. n.; -Ullyp,
Cae. n.
CGae. n.
Gac. n.
Cac. mica Sbt qo
Gac. nº
Pouco cac. n.
Sbt
Etna p>
Pouco cac. n.
Pouco cac. n.
Pouco cac. n.
fo (pn to,
Observações se meteorologicas
Pressão A Tensão Humidade -
RC Ni Temporatura do vapor rolativa irceção À força do vento Quantidade e qualidade de nuvens
e a ——— O —
7 horus O horas
o [dh e
19,06,00/1620 630,0]
OK der.sp.
19.16,00/1528 17,5
2/19.24.01
13:24,81 Ap.
PIER RI 6). 9,0) 20,6) 1ô 1,0) 048 5 NW. Caco; UU p,
19,24.01] 1728 28,1) 10,0] 20,2 28,1) 19 E 5 WSW. Caen, AU p,
15,05.02/155,24.81]1728]622,6 629,1) 10,0
15.05.02) 19.24.01] 1725/6022, | 10,1)2 Une. ms
15.05.02) 19.24.81 Caem,
15,05,02/ 19.24.01 s|028 ê E E 21,0) 94) dy 2/34 WSW. Muito ca, ms
19.24.91/1728/6; É 20,9 N 84 SW. Muito eae,
15.05.02] 19.24.01] 1728 : 20,0 DR S 9,0) 75 | 50] 76 | WSWo
15.05.02] 19.24.91] 1725 ' 9,4 20,6 E) E 995) 89) 0 Cac.n:; Up,
2/19,24,91/1728/022,8] 024,1 2 4 j H SW. SW.
15.24.81 624,1 624,1 /024,1 É S| 8,6] 4 j 97/80] SW. B, SW. Cac, multo fra. Dn,
19.24.81 25,8 [024,1 524,8] 23,0) 9,4] 4,5 6 WAW. SE. Caco, np AM py
15.05,02/18.24,01 624,8] 5,1] 29,7 5,0) 9,4) 8,1] 65 63 | WSW. 2) WSW. (ari
15,05,02/19,24,01 5/02 Z 3,0] > 10,6] Caen,
15,05.02/195,24,91 023,8) 3! | 9,5 Caen,
15.05,02/19.24.91 [623,9 /024,1)6: 2 5, É o) 9,9 Caen; AM po
O24,6/024,1]624,0 7 1,0) Caen
15.05.02] 28 (24,9 624,1 /624,6 9] 23,6 Ú 11;? 7 E " 2.8] " q Pouco eae, ns
15.05,03] 788|G84,1) — tm,
15.05.02] 19,24,91[1788[029,8]629,5]624,8 10) 56 a j |
AM Pa
5.02] 199,24, 91 [17 020,9 Pouco cac, n,
15.05.02/19,24.91/17: GM Ponco eae nm,
15.05,02/19.24,91 2 Jus Pouco cac, mn, |
15.05.02 4 BS [OM 624,6 Les a,
15.05.00) 19,02,00/ MTO [022,0] — 640,0] 10,0
15.16.00/13,40.00/ 1974 [640,0] — 640,9] 5,2
9] 19,46.10 [1915 [646,0 049,0/651,9] 4,0
(0) Subida para o plano alto, (b) Huilla. N. B. O phonomeno erepuscular observa-so por vezos.
VOL. TE, y
Latitude S
Longitude E.
Greenwich
Dj)
15.27.54
15.34.00/13.50.00
Observações
Pressão
Altitudes
1194]653,9
atmospherica
Temperatura
Maxima
Minima
Tensão
do vapor
O) CR y
13.47.80/1278]652,9]654,7/654,8
15.40.00 13.55.00/1178]663,1]662,91663,9
15.46.05/ 14.04.36
15.54.00/14.09.00
16.01.00/14.12.00
16.09.00] 14.14.00
16.17.11/14.18.25
16.21.00/14.25.00
16.28.00/14.35.00
16.35.00/14.45.00
E 16.42.00/15.00.24
16.42.00/15.00.24
16.42.00/15.00.24
16.42.00/15.00.24
16.36.00/15.07.00
16.30.00/15.15.00
16.25.00/15.17.00
16.19.00/15.21.00
16.11.00/15.21.00
16.05.00/15.20.00
16.00.45/15.19.00
16.00.45/15.19.00
16.00.45/15.19.00
16.00.45/15.19.00
16.00.45/15.19.00
15.54.00/15.23.00
15.52.00/15.30.00
15.47.00/15.35.00
15.41.00/15.42.33
(a) Em viagem.
12381663,9
1198/658,4
1180/660,8
1208/663,9
658,4]658,4
661,9/662,3
659,9/664,2
661,5/661,5
1118
662,1/668,2
1098] — [670,6
1073/672,5]672,5
1080]673,3|672,5
1067
1067/674,4]673,6
1067
1067]674,1/673,0
1075
1055/673,6
1040/675,3
1080675,8
1090|674,7
1090|674,216
1110/673,7]6
1110]673,1
1110]671,8|670,0
1110/672,8/670,4
1110/671,8/669,2
1112/671,8/669,5
1115/671,6]669,4
1112]671,7/670,4
1160/673,0/668,2
674,7/673,3]6
672,1
672,5
674,1]671,8]675
671,1
671,2
671,1
671,1
670,9
671,4
668,5
84
6,0/26,2
(b) Chibemba (Gambos).
27,1
6,0
6,0
Humidade
relativa
6,0
(c) Cahama. (d) Humbe. (e) Quiteve. N. B.
1884 meteorologicas 415
rca do vento - Quantidade e qualidade de nuvens : |
O. MME TE ST do | Notas
| horas 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas >
Wash. p. a. Wash. p. &
MRE 1) NE. 11]0 = 2 C. 0 — = Cac. 6 a.
— — — —|2 C. = — Ee = = —
[BE |2 C. 0|2 C., St. 5) C. 0 = — Pouco cac. n.
E. - |2] SE | 215 C. 0 — 0 = — | V. fr. de raj. e pouco cac. n.
SE |2) SE. |2]0 = O) = O) — — Pouco cac. n.; v. SE. fr.
de raj. n., — Wit a.
Rio) se: |1)0 — 0 = 0 da = MNE
E. 1 E: 0/0 — 0 — (0) = — | Pouco cac. n.; v. SE. fr. 3-5 a.
E. |1 = —|0 — 0 — = a = Pouco cac. n.; Mia,
E. 2 — —|— — 0 — — — — Pouco cac. n.
BS |2)] ESE. |2]0 — 0) — 0 — — Pouco cac. n.
E |92 C. 0/0 — 0 — 0 — —. | Pouco cace. n.; barra de cac,
p. ao N.
E |2) SE..|2|3 C., St. 0 — 0) — — Pouco cac. n.
E |2 — —|3 St. 0 — = — = —
SE |2 e: 0/0 — 0 — 0 — pe Pouco cac. n.
VE. 2 E: 0/0 — 0 = 6 — = Pouco cac. n.
E 2| SSE. |1]/0 — 2 C., St 3 C — —
E. | NE n Goes |8| G,0C-St. |3 C = —
NERO |2) SE. |1/8] Cac. 10] *Caces "5 Cac. - Muito cac. n.
SE. |2 | C. O [10] Cae. 0 — 0 — = Cac. n.
E. 2 C. 0) | 0 — 0) = 0 = EE ==
E. 1 S. 110 — 0 — 0 — E PBoncoicacin Tora
E 1 SE. 110 — ) — o) — = Pouco cac. n.
E 21 SE 2/5| Cac 0 — 0 — = Pouco cac. n.
ER | 2 Ss. 1/5 Cac. 0) — 5 Cac. — Pouco cac. n.
ERR 2) SE. |2/5| Cac 2 St 0 — - —
1 E. 1 10] Cae. 0) == 0) — e Pouco cac. n.
=| WSW.|2]0 | — 0 — > Cac. — |º Barra de cac. aW.
JE: |1 SE. RE | Cae. 0) = (0) — — Cac. no hor.
IE 2 NE NUS | Cae (O) — (0) — — —
e! 2 C 0/13 Cac 0 — 2 St. — Cac. no hor.
var-se o phenomeno crepuscular.
414 Observações JUNHO [DE 1884 meteorologicas 415
SEO IRS Tensão Humidade E
atmospherie p E do vapor, relativa Direcção | o força do vento Quantidade e qualidade de nuvens
= e 2 >] ===>>> 2 =
Latitude S.
6 horas, Tito g O horas 7 horas
Wait. a W Rios
p-
o Li
19.47.90/1278]
13.50.00/1194/6
18.55.00] 1178] 663,9) 29,9
Pouco cac, n,
5] 11.04,80/1238]663,9/658,4/658,4] 3,0] 25 32,6
14.09.00/1193/658,4]661,9]662,9 Ve fr. de raj. e pouco enc, n.
.09.00/1193/658,4/661,9]662,º 9| —
16.01,00/14.12.00/1180/660,8/659,9/664,2 28,6
16.09.00] 14,14,00/1208/663,9 661,5] 4,8/28,9
16,17.11/ 14.18.25] 1118/662,1 K
Pouco cnc. mn, UU
16.21.00] 14.25.00] 1098
Pouco cac, n.
16.28.00] 14.85.00] 1073
Pouco enc, n.
16.95.00] 14.45.00] 1080
Pouco caes, n,; barra do cac,
2 [16.42,00/15.00.24/1067/672,2)072,3 4 E 5 G 4s | 6 a so Is ON
a o Ê Pouco é
16.42.00] 15.00.24/1067]674,4]678,6]
16.42.00/15.00.24/1067/074,7/673,9]078,8
Pouco cac, n.
16.42.00/15.00.24/1067]674,1]673,0]678,6
Pouco cac, n.
16.36.00/15.07.00/1075]G74,1]671,8
16.30.00/15.15.00/1055/679,6]072;
16.25.00] 15.17.00/1040]075,3]674,9]075,8|
Muito eae. n
16.19.00/15.21.00] 1080]875,8/674,2]674,3]
Cam.
16.11.00/15.81.00/1090]674,7/073,2]678,7
16.05.00/15.20.00/1090/674,2]673,2]678,7
Pouco cac. n:; XL in.
3 | 16.00.45/15.19.00/1110]6793,7]571,9]671,8]
Pouco cac. n.
16.00.45/15.19,00/1110]673,1/671,2]670,5
Pouco cao. n.
16.00.45] 15.19.00) L110|671,3]670,0]671,1
Pouco cac, n,
16.00,45/15.19,00/ 1110|672,8|6T0,4|671,2
16.00.45/15.19,00/1110/671,8/ 66! 671,1
Pouco enc, ns
15.54,00/15,23.00/1112/671,5/669,5/6
Barra de cac. aW.
15.52.00 15.80.00] 1115/671,6/669,4
Cac, no hor.
15.47.00/15.95.00/1112]671,7/670,4
1,00/15,42,99/1160/679,0]668,2]6 b 6,0
'nc, no hor.
(a) Em viagem. (4) Chibemba (Gumbos). (e) Cahama. (d) Humbe. (e) Quiteves No Di Contininb) obscrvar-se
9 phenomeno crepuscular,
Observações
Pressão 7 ; Tensão Humidade
atmospherica Amy pras tntara! do vapor relativa Di
am A | ———— o | ct
Latitude S.
Longitude E.
Greenwich
Altitudes
8 horas |
(op)
[=
[o]
6 horas
a
8 horas
)
6 horas
a
7 horas
8 horas
p.
Maxima
8 horas
)
6 horas
(o)lTo o Intos SIE 5
1 /15.47.34/15.57.00/1165/669,7/667,2/669,0] 7,7/23,5] 15,9] 24,8
15.57.00/1165/669,8/667,8/668,0
16.02.00/1209/668,3/665,21666,6
4 |15.26.00/16.08.00/1295/666,6/658,3/659,1] 1,8/22,8] 7,2/23,1
5 [15.07.42/16.14.50/1248/659,2]662,7
6 |15.06.00/16.20.00/1324/664,2]655,7]657,2] 0,5] 24,8] 84] —
6,0] 90 | 43 | 73 | SSW
7 //15,04,00/16.23.00/1339/656,8/654,8/655,8| 2,0 24,6 11,0) 25,3 6,3] 84 | 25 | 6£ | NNE
8 |15.05.00/16.33.00/1407/654,7/648,6/651,6) 2,0] 23,6] 11,5| 24,3
6,2/91]20/61| SE.
9 |15.05.00/16.44.00/1333/650,9/654,7]656,7] 3,2] 25,6] 10,9] 26,2
6,7]85 [44/69 | c.
53.10.00
16.59.00/1257/656,9] —
64/81] — |50 | SSW
5.11.00/17.03.00/1250/662,5/660,8
6,6] 88 |46 |67| sw.
17.00/17.07.00/1234/663,9/662,5/663,0] 2, s 20, ) d| 5,9] 87 | 15 | 64 | WNW
24,53
20.59/1220/663,9/663,6/665,1 2 24,6 4,8] 96 | 17 | 41 (Et
5.30.30
.27.00/1216]665,7] —
4,7] 78 | — | 55 | WNW
-31,00/17.34.00
118816
5.32.21/17.42.00
1188/668,7/6
53.00/17.45.00/1146
668,5
5.34.00/17.51.00
116016
47.29/17.58.00/1215
-00.00/18.08.34/1194/661,5] —
66955 | oa o to
21 |15.50.00/18.08.34/1194/663,3/665,2/664,0| 1,5] 26,5] 11,3] 28,4 4,5] 76 | 16 | 45 | NNW
.50.00/18.08.34/1194/664,2/666,1/665,4 é 3,8) 4,5] 81/20 | 44 | WSW
93.00/18.09.30
1197 INE
15.58.00/18.10.00/1223/663,8| —
3,5] 76 | — |36 | NW.
16.05.53/18.11.06
NNW
1153
16.15.50/18.13.00/1133 NW.
16.05.53/18.11.06/1132 W.
.95.00/18.25.00
1142
-02.00/18.34.00/1155
9.092.00/18.39.00/1200/670,8] —
4,8/78| — |48 | SB
15.51.53/18.43.47 5,1) 90] 21 | 56.) NIME
1178|667,3]666,1/667,6 22,
| (a) Handa. (b) Ás 7 p. um grande bolide, descendo verticalmente a W., rebentou ainda a grande
1884
meteorologicas
rca do vento
—— ———— | TT —ee A e ee
7 horas
Wash.
8 horas
p.
Quantidade e qualidade de nuvens
6 horas
a:
Db W.
E.
Y. B. Ainda se tem
[St] fio) to
“co
O)
[to]
feito)
E.
ENE.
WNW.
NE.
«SW.
ESE.
ESE.
WNW.
NE.
NE.
NW.
NW.
SW.
ININVE
SW.
NNW.
SE.
ENE.
o
[ol
[4
[em]
bo
t9
LE]
O
Cac.
Caec.
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Cac.
Cac.
Cac.
Cac., St.
Cac.
Cac.
Cac.
Cac., St.
CacerCrSt-
[e]
Sr (SS Kas)
o
S
[9/0]
o
S
o
6 | Cac., C., St. | 0
7 horas
Wash.
(Calc Rank
Cac., C., St.
Cac., St.
Cac., St.
observado o phenomeno crepuscular.
8 horas
Pp.
Cac.
|Chuva-horas
Notas
—MU p.
— | JM! 9 a., Cac. a W. p. Up,
Caen.
Cac. n.
Cac. a NW., Jp.
Barra de cac. a W. em forma
de St. 8 p.
Cae. p.
Barra de St. a W. 6 a.;
Cae = up-
Barra de cac. em fórma de
St. 8 p., JU p.
V. SE. fr. à.; cac. a W. p.
CaciaNwi apitar
p.
Cacintit ar
Cachamipa atas
Cacia ps ear
Cac., 6 a.
Cac. no hor. a., p.
Cace. no hor. 6 a.
Cac. no hor., e? a.
Cac. a., p.; Up.
Cac., t + a.; ne. sobre o rio.
“Ne. no rio, eXº Lt 1 cac. a.
Cac., ne. no rio a.; Up.
Gac. Eras um.
Cac. a.
416 Observações JULHO | pp sei meteorologicas 417
A Eno aieniEa Temperatura vapor a Direcção Da força do vento Quantidade e qualidade de nuvens
(=) É mM Nas GT Bhoras Notas
à Wash. p
11656 Stem e Cb do 9) 2. |9/5) Gu [0] Crea. |o = = vp,
1165/6 SO PB pás) E. o 3 2/5 Cne. | E 0 = — | tg, Cac, a W. po Up,
8 [15.97.00/16,02.00/1200 Tt |54]73] NE |1 1/5 Cne o — 0 — > =
(4 [15.96.00/16.08.00/1295 658,9]659,1 1 2) NE. |2]3 o — 0 = = rot
5 [15.07.42/16.14,50/1248] 662,7]564,9 10,5] 24,6] 1,3) 1 a Ih alla ) = io = A s
6 |15.06.00/16.20,00/1824/664,2 657,2] Sd) =| 0; 10 NE: |2! Cac 0 = õ — Cac.n.
7 |15,04.00/16.23.00/1339/656,8/654,8/655,8 11,0 2 | NNW. |8) ESE: [2/5] Cne St |O — 0 — = Cac. a NW., Up.
8 |15.05.00/16.93.00/1407]654,7]648,6/651,6] 2,0] 28,6/ 11,5] 2 4,8 44] 6,2/91)20]61] Se, |3)1 al ss Tola ro Io Ee o assar do s
9. |15.05.00/16,44.00/1393/650,9]6; 656,7 10,9] 2 5,0) 10,7) 6,7) 8544/69] co Jo) E 2) w. |2|8 Gne. 0 = 0 - = =
10 [15.10.00] 656,9] — |661,9 = | 50) SSWi = E) wa |8i5 Caco |- = 5/ Cae |—|Barradecac. a W. em forma
11 [15.11.00] 17.03.00] 1250]662,5/060,8| 662,6 do 67 So seo 2) o os 0 = 0) Ce |- De
18 [15,17.00/17.07.00/1234/663,9/652,5]663,0 o) NVeSao É) 1|5 0 = Cha = aW.6a
13 |15.94.58/17.20,59/1220]663,9/663,6)665,1 Sa (eo |O 3 10 0 - o) - = LER
14 [15.80,80[17.27.00/1216/665,7] — = [55 | NNE — |=) sm. |2/5]) Ga. |- - 0 - = aa p.
15 |15.31,00/17.94.00/1188/667,0]867,2]068,5] 44/54] SE. |1 se. |5] se; |9]- & 0 = 0 = =| CacaW. as pj :
E o; tb po
16 [15.92.21] 17.42.00/1188|668,7]667,5/667,5] 24/57) SW. |1 se. |o| xy. |9|- = 0] StasE. |0 - S Cacinjtoa.
17 |15.98.00/17.45.00/1146668,5]670,2]671,2) ar|64) CO ve pu) Eis |it= = o = o - = Cane. as pj toa,
18 |15.94.00/17.51.00/1160/672,3]668,8/069,9 20) 71) NWo |1 5% Jol s |fi= & 0 = 3 St > a pjoC ia,
19 [15.47.29] 17.58.00/1215/609,8/064,4]662,0 23/48) Wi | NE. |2] 8 2/0 = -) 0 & = Cacsõa.
20 [15.50.00/18.08.94/1194]661,5] — |663,5 4,0) — | 4,0] 72] — [46] SW: |2 = |=|wnw.|2/0 = - - 0 — = =
21 |15.50.00/18.05.94]1194]663,3/065,2]664,0 4,0]-4,1] 4,5] 76/16/45) NNW: [2] | ssw. |2] np, 95 8) Gac. CU, St.)0 = - -
22 [15.50.00/18.08.34/1194/664,2/666,1]605,4 8,8) 5,2) 4,5] 81 | 20] 44 | WSW:|1 SE, |9 G. 0 — 0 — — Cac. no hor. 9, ps
28/|15.53.00/18,09.90/1197/665,1 9,0) — | 0,6] 4,5] 4,8 4,4) 90 [17/91] No 1 s. |2] nw. |alo É 0 ão 0 = = Gac. no hor. 6 a.
18,10.00/1223|663,8 10,8) — |-1,5] 8,8] — | 8,5] 76] — | 36) NW: [lo = [=| nw. |1]0 — =) — 0) - — Cae, no hor. a,
18.11.06/1153] 12,0/26,1| 0,5 8,4) 11,0] 5,0] 68] 46/48) NNW [MT sp, |5) sw. lolo e 6) Gra |O E a Cac, a, pj JU po
26 [16.15.50] 18.13.00/1139 10,8/25,9] 1,0] 4,4] — | 7,1) 89] = [73] NWo | ea Ee Ee E a = 0 = — | Gne, tas; no, sobre o rio,
27 |16.05.58/18.11.06/1132 16,3] — |-1,0) 8,5] — | 2,7] 80) = | 20) Wo |l =) =) Sw. |B]5 Cae — = 0 = —| No.no rio, &€ Lo enc, a.
28 |15.53.00/18.95.00/1142] 668,1 9,4/25,7] 9,8] 9,5] 10,9] 4,9] 57 | 45] 56) NNW: 1 SB. |3| NNW. |2]— Es 0 EA 0 = —| Cae, ne, no rio aj A ps
29 |15.52.00/18,94.00/1155] 569,7 0,8] 4,0] 2,3] 8,9] 88 | 10/37) SW [MM] exp. |3) se. |2]- - 5| CacSt |O = - One. tuas; Ali pe
30 [15.52.00] 18.39.00/1200[6 666,9 1,2 — | 4,8) 78) — [48] SE. |3 — |=| se. E o o Cr jo =
91 [15.51,59/18.48.47] 1178 667,6 0,0 4,3 5,1] 90] 21/56) NNS |! 2) exp: lala o 6] ac. 6. st)0 e E Gn. a:
EO
Observações
Pressão m Tensão Humidade
atmospherica emperatura, do vapor relativa
Greenwich
8 horas
p
Maxima
Minima
Altitudes
Longitude E.
Wash
Latitude 8.
6 horas
7 horas
o Jr po dh
1 /15.51.53/18.43.47/1180/667,8/666,0 667,0
bo
eo
[A]
pa
pos
[S)
15.52.00/19.07.00/1140/667,0] — [670,8
15.52.00/19.14.00]1164]670,7
15.53.00/19.23.00/1141/668,0
15.54.52) 19.22.19] 1177]669,9
15.54.52/19.22.19/1177/667,7/6
15.46.00/19.29.00/1139/668,2
15.44.00/19.87.00/1173/669,7
15.45.00/19.43.00/1198/667,3
15.35.00/19.54.00/1230/664,9/661,0
15.34.00/20.06.00/1230/662,7/661,2/662,6
15.81.00/20.10.00/1198/662,9/663,6/664,8
15.21.00/20.15.00/1197/665,0/664,2/665,9
15.28.00/20.20.00/1238[664,9) — [661,3
15.19.00/20.26.00/1171/661,5/664,9/666,2
15.18.00/20.29.00/1153]667,7/665,9]668,2
15.14.39/20.32.00/1134]669,8] — | —
15.05.00/20.32.00/1087/669,9/671,0/672,8
15.03.00/20.35.00]1052]672,5/673,5|G77,4
15.01.00/20.39.00/1048/678,1] — [675,4
14.50.00/20.51.00/1082/678,7] —
14,45.37/20.58.45]1081/673,1/671,8|672,8 4 26,5]-( : 5 | ESE.
14.39.00/20.51.00/1075/673,1|673,5/67: 5] 27: 28,0| 1, 5| 2,3] 3,8 36 | SSE.
14.46.00/20.58.00/1061/674,6/673,2]6 5) 27,8) 12,0 4 5) 3; NNE,
14.42.00/21.05.00/1082/675,1/672,3/673, 26,6 o | 3,6 3 [35 | ENE
14.42.00/21.09.00/1073]673,8/672,9/673,5 3/12 dl | 5 54 | NM:
14.44,00/21.18.00/1107|674,1] — |671,8
14.45.00/21.29.00/1125/671,6]668,3/670,3
14.48.00/21.38.00/1087|671,1|670,8/673,3
14.49.00/21.41.00/1062/673,6/673,3/674,8
14.50.00/21.44.00/1036/675,1| — [676,3
(a) Bacia do rio Cuando. (b) Rio Cuando.
JSS4
meteorologicas
419
rça do vento
AD ——————
7 horas 8 horas
Wash. p.
———T Toe —ae
ol) E. |2
SW =| NW. |1
| .ESE. |1
PS, Ny. 1
NE. |2] NW. |1
E 1) NW. |1
= || NE. |2
SEE [2] SE. |2
SE. |2| NNW. |2
SE |2 = =
BRR o). € 0
SE. |2] NW. |1
SE. 2) NW. |1
| Cc. 0
do] SW... |1
BE |2| NE. |2
BR |4| SE. [1
SE. |4| ESE. |2
EM -| BSE. |2
ER | GESE. |2
BE |2] SW. |2
SER 2 | SE. |2
— —| NNE. |2
YE. [1] NE 2
IRINA V/A oz
2 C. 0
—| NW. |1
o
Quantidade e qualidade de nuvens
6 horas
a.
St.
St.
Cac., St.
Cac., St.
Co EC
[bo]
7 horas
Wash.
So o
(=) (=)
8 horas
p-
| Chuva-horas
Notas
Cac., a., p.
Cac., a., p.
Cac., a.; ne. no rio.
Cac., a., p.
Caciamips
Cac., p.
Cac., a.
Cac., a., p.
(Caciam p.
Cac., à., p.
(ac as ip>
Cac., a., p.
Cac., n., à., Pp.
Caeas p-
Cac., a., p.
Cac., a.
Caco, a. Ulm,
Gaer ar ps eim:
Cac., a.
Cac., a.
Cacrtamip:
Ne. no rio 6 a.; cac., p.
Ne. no rio 6 a.; cac., a.,
dos 16
QCac- arm po Sum:
Ne. no rio 6 a.; cac., p.
Cac., a.
Cac., a., p.
Cac., a., p.
Cac., a., p.
Cac., a.
418 Observações eu Ds : meteorologicas 419
uú anda peratura o força do vento Quantidade o qualidade de nuvens É|
E Ê RES o ajá Notas
= Z q oras 8 horas O horas ao 8 horas É
à z Nash p a p ê
1 184 [607,8/606,0/667,0] 2,9] 24,5] 11,5] 25,0] 1,2] 4,6] 5,6] 4,8] 85 | 24] 47 | ENE, a) SE. |2| E. |2]0 - o = 0 - = Cac, np.
2 19,07.00/1140/667,0] — [670,8] 3,0] — [16,0] — | 2,1) 44] — | 5,817) — |28| ng. |1 — =| Ny. |1/0 = =| => 0 - = Cao; a pe
3 19.14.00/1164/670,7] — |008,2] 2,8] — [19,9] — | 2,6] 4,2] — | 9,9) 75| = | y5 = O - = 1/1 St — — 0 — — Caes a,; no, no rio.
4 19,29.00/1141]668,0] — [670,2] 1,0] — — | 0,8] 88) — | 4mjim|= [58] c ly - |- 1/0 — - — 0 = = Ones ay Pe
5 9) 19.92,19/ 1177]669,9/666,5] 5,9) 4,8] 85/22 )45) 0, |g ENE. |2] NW. [1/1 St. 5 10) Cae. = Che, a. Pa
6 2/10,22.19 7,7/605,0 | W. a] E. 1) NW. |1/1 St, 0 — (0 > >
7 19.29.00] — = =[49) & ol = JH 9% 0 = = = 2 St - Caes ai
8 [15,44.00/19.97,00 7/607,4/66! 5,4] 5,8] 63/29/98] NW, 1! 9] SE St. 5 St 1) — — Cao, ds pe
9 [15,45,00/19.49.00/1198]667,9/664,7] 664,9 6,0) 6,47] 5,7) 6528/95) NE, |1 2) NNW. |2)0 = 0 = 0 > = Che. ne, po
10 /15,95,00/19.54.00/1290/064,9/661,0] — | 97/2477 5,4] 9,9) — | 60/43] — Cc o ESE. |2 — =/0 — 0 — — — — Cao, pe
1 |15,84,00]20.06.00]1230] 662,7]661,2/062,6] 9,0] 26,4 5,2] 4,7) 5,8) 61/1855] ENE. |1 SE. |2) CG Jo) St o = 0 = - Caes sy pe
12 [15.91,00/20,10.00/1198/662,9/663,6]604,8] 6,7] 28,0] 17,0] 25,0] 6,5] 5,4 19/30) G jo SE. |2) NW. |1/0 = 0 - 0 = - -
19 /15,21,00/20,15,00/1197/665,0/664,2]665,9] 6,8] 28,3] 16,0] 28,8] 4.2] 5,1] 2,6] 4,969] 9 [92] jo 2) NW. |1/0 = 0 - o - = Ones no pr
14 [15.29.00/20.20.00/1298/604,9] — [661,9] 4,8] — [13,0] — — | 897/60] — | 78 c lo — — Cc. 0/5 - — 0 — — Oy My My Pe
15//15.19.00/20,26.00/1171/661,5/664,9/066,2] 10,0] 81,9] 12,7) 91,5 4,9) 6,4] 51 | 14/58] NW, |U (o! (i) 1/0 = 0 — 0 — — Cae,, a po
16 [15.18.00] 1153/6677 3,8/30,0] 11,0] 30,0 4,7] 4,8] 84] 15/49] 0, | SE. |8 2/0 = 0 - 0 - = Caco a pe
17 [15.14.99 1184/669,8] — | = | 90) = | — | =| 65] 41) — | — |4s|=|— 1 = (= = ly = = = = = Caes a.
15 [15.05.00/20.92.00/1087/069,9/671,0/6 5,9) 6,9) 5,9] 79] 27 | GO (eh |) SE. |4|] SE. |1/0 > 5 C. 0) — — Caes, a; At ps
19 /15.03.00/20,85,00/ 1052] 6 3,8) 5,6] 89 | 18) 49 1 4 2/0 = ) — o) = — Cao. 1, pj AM! pr
8 15,01,00/20.99.00/1045 — | 4,588 | = |40 0 — |-| ESB. |2)0 — = - o) = - Caes, a
21 [14.50.00] 20,51,00/1082]678,7] — |674,3 — | 47)/86]) — | 58) SE |U — |-=| ESE. |2]0 - — — 1) - - Caos a,
22 [14,45,97/20,58,45]1051]679,1]671,8/672,3 3,1) 4,7] 98] 12/45) ESEs [1 SE. |2] SW. |2/0 => 0 o, o) - = Cao. as, pe
29 | 14,99,00/20,51,00] 1075] 74,2] 2.9) 98/89) 9 | 36) SSE: |1 SE, |2) se. |8|]- - 0 - o) = =| Nesnorio 6 a; ones ps
24 [14,46,00/20,58.00/1061]6 [074,7/-0,5] 27,8/12,0] — |=1,5] 3,6] 1,5] 8,0) SL| 6 NNE. |1 3) SE. |2]— — o — 0 — — MN Dn Z Des
25 [14.42.00/21,05,00/1082]675,1]672,9/678,7]-1,0] 26,6] 11,9] 27,2]=1,2] 3,4] 1,6] 3,0] 80 | 6 ENE: |? 8) NW. |2]— = 0 — (1) — = Cao, a, pe; AU pe
26 [14,42,00/21.09,00/1073/679,8]672,9]678,0] 1, 1,0] 4,4] 8,6) 5,8] 87] 18/54) NWs |! 2| NNW. |2]3 0 — ) — — Ne, no rio 6 m.; cnc pe
27 [14,/44,00/21,18,00/1107]674,1) — |671,8) 1,2] — [10,2] — | 1,0] 4,4) — | 4,4) 87) — [48 | NNW. |2 — [=| NNE. |2)0 - = - 0 - - Cuca
25 [14,15,00/21,20,00/1125/671,6]668,3/670,8] 1,2] 30,0] 13,8] 30,0) 1,0] 3,9) 5,8) 5,5] 78) 17 [46] NNW: [1 1] NE. |2]0 — 0 (ef 0 - - Cuca My Pe
24 /14,48,00/21,95.00/1087]671,1/670,8/673,9] 5,0] 29,0] 19,0] 29,9] 4,9] 5,5) 4,1] 5,9] 84/14/96) NWS Jd 1) NW. |2]- — 3 C. 5) Cc, C |= Ones, Me, De
80 [14,49,00/21,41,00/1062/679,6 GTA,S| 4,8/ 28,1] 13,5] — | 4,6] 5,8) 4,9) 4,9] 82) 17 | 42) WNNW:J1 2 o. 0/0 — 3 0, o = ai Caos Ay De
81 |14,50,00/21,44.00/1036/675,1) — 076,9] 1,8] — [10,4] — | 0,5] 4,1) — | 5,9) 81] — | 68) NNW: |1 = |=| NW. |1/0 — — = 0 - - Ono ar
Observações SE TEME
Pressão 7 Tensão Humidade
atmospherica emperatura do vapor relativa
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Longitude E.
Greenwich
Altitudes
8 horas
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14.52.07/21.55.55/1032/676,8]676,6]677,6
.07/21.55.55]1032]676,9]675,3/676,9
14.54.00]22.06.00/1022]676,6|674,3/676,3
14.55.00/22.25.00/1008|675,4]676,2]677,5
14.56.00/22.31.00] 995 |677,4] — |678,4
.56.00/1018/677,3
.56.00/1018|678,0]676,4
2.57.00/1018/678,1 677,7
3.06.00| 997 |678,3]677,4|678,8
23.19.15] 988 680,7] — [679,7
3.15] 988 |681,3]679,4/679,9
23.14.00] 985 [680,9] — [681,7
23.16.00| 999 |682,0/679,5/680,9
.20.00/1010/681,0]678,1/679,7
3.23.00/1007/680,9/678,5/680,8
.26.00/1003/681,9/679,3/080,8
23.27.00/1015]680,9/677,4]677,9
7|679,4
14.22.00/23.29.00/1025]678,9|677,
14.28.00/23.32.00]1049|679,4]676,9]677,2
14.20.00/23.43.00/1082]677,4/6712,9]674,4] 11,: SE.
14.13.00/23.49.00]1106|674,9) — |671,4 NW.
.08.40/23.59.00/1120|673,8/670,8|672,1 3,9 ENE.
4.01.00/24.01.00/1054|673,8/675,8|677,3
3.56.00/24.06.00/1082/677,8|673,8]675,1
3.49.00/24.11.00/1077|676,0]674,0/675,2
3.42,00/24.16.00/1097/675,2]671,2]673,5 0/34 A
3.89.56/24.21.00/1071/674,2]673,1]674,6 3: 3 8,8
13.29.00/24.29.00/1139/675,2/669,2/670,4] 20,9] 5: í ,9/ 20,2] 11,7
13.21.00/24.39.00/1119/671,7/669,7]671,5 15,5| 11,1
(a) Libonta. (b) Rio Cabompo.
1884 meteorologicas a oa
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420 Observações SETEARO 8] meteorologicas
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12 [15.01,25]23.13.15] 988 [681,9]679,4]079,9] 19,0] 91,0] 19,5] 31,0] 8,8] 7,2] 7,4) 8,9] 65/22/53) — |-
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16 [14,38.00/2:
17 /14.95.00]2
1003/081,9/679,3]050,8/ 15,8] 30,6] 17,8] 31,0] 15,8] 9,2] 3,9] 6,7] 68 | 12/ 44| ESE. |2 SSW.
18 [14,90,17/2
1015/680,9/677,4/677,9/ 11,9] 31,9] 20,5] 32,0] 11,8] 6,6] 4,7] 8,2] 64/12/46] ENE. |?
19 /14.22.00/29.29,00/1025
079,4] 13,2] 32,8] 22,5] 39,0] 11,5] 6,5] 4,8] 6,7] 57 [12
20 /14.29.00/29.32.00/1049/679,4]676,9/677,2] 17,2] 32,6] 19,4] 32,8) 16,9) 7,4] 6,7] 758] 51 | 18 ESE. |2 e ESE. 2 Cac,, a.
21 [14.20.00] 1082/677,4612,9]674,4] 11,5] 33,1] 18,9] 39,4] 10,0] 6,4] 4,6] 7,0] 63/12/47] SE. |1 b b 5 Caes as
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1139/675,2/669,2]670,4]
30 /13.21.00/24,99.00/1119/671,7 669,7/671,5
(a) Libonta, (b) Rio Cabompo.
Observações
Pressão : Tensão Humidade
atmospherica Temperatura do vapor relativa
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Greenwich
Altitudes
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7 horas
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Longitude E.
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13.04.00/24.51.00
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12.49.00:
12.47.00/25.05.00/1146]6
1155
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11.45.00/26.44.00
11.40.00/26.47.00 95,1/652,0
11.35.00/26.50.00/1273/655,6/661,6/662,3
11.30.00 662,2/664,6
11.25.00/26.59. — 659,7
11.22.20/26.54.32/1260 659,8/662,0
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1884 meteorologicas us
rça do vento Quantidade e qualidade de nuvens E
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422 Observações OUTUBRO | DE 1854 meteorologicas 4928
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PA = | atmospl Temperatura do vapor. Direcção | e força do vento ntidado e qualidade de nuvens
E E | —=———— E] —— | o a +
É É É O horas 7 horas E horas horas horas CSA
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1884
meteorologicas 425
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Observações DEZBMDRO, | DE 184 meteorologicas 492
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26.54.92] 1260]659,9 18,0 24,0 16,6] 92 | 7590) SW. |3 SSE, |2) — |-|s 8) CNi [10] O, Niyo |1 Zu NE.S py D9p-
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11.22.20/26.54.92/1260/657,9]656,4]658,4) 16,7] 29,0] 20,22 70 | 89) NNW: |1 N. |2) NWs [1/10 C. C:st |i0) GNi |3 Enc. = EK p:; 0º 10n.
26.54.82/1260/658,4]657,4 20,1/24, 88) 89) NNE: |1 2 €. 0 C., C.-St. [10] Cy Nic. |3 (eh — O1p; <4aNW. sp.
26.54.92] 1260/658,8/057,0 5/20,0 60/84) SSW. |1 1) NNW. |3/10/€., 2) CyNi |3 C; — EK p5 Usp.
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7.09.90/1182/065,1]663,6 [664,6 15,6] 19,2) 15,2] 96 | 62/97) GO NE. |2] c lol Ni. 10] C., Ni 10) CoNi 15,5) OQnypi;KaNE p.
11.23.00/27.15.00/1259]664,5/656,1 658, 8,8 16,6/ 15,4] 60 | 69/97] CG | | NW. |Z Cc. 0|— Cac, 8 10 Ni. — [3a py 027:
11,26.00/27.14,00 d [695,7 144,0] 15,8) 15,4] 94 | 75 | 96) SSB: | NNW. [2] NW. |2/10) 9 10 Ai. K deNW. 6a; ap.
11.29.00/27.12.00 660,7] 17,0] 24,0] 19,0] — | 16,5] 14,0] 16,6/ 15,4) 97 | 75 | 94] SSW: |2 | AW. |1 (0h 0/10 10 10 c. — KaNW O'p:
11.90.00/27.11,00/1 [650,8/17,8/25,2/ 19,8] — | 17,2] 14,2] 16,8/ 16,0] 94 | 71/99] NES |! SSW. |1 = |=j0] 10 10] Ni. 5) Ops deSW. 158 po
11,90,00/27-11,00 5|656,7 15,0) 14,7] 16,4) 98 | 62/88) SW: |2 NW. |2) =. |2]1) 10 10) Cane, 0. |— Da; 4a NW.8p:
11.30,00/27.11.00/1270|658,9/657,4/658,9 5) 14,9) 16,9/ 15,8) 96 | 98] 91) NWo |2 N. [2] NW. [1/10 Ni. 10 10) Ni. 5 O 2 n:; [X de NW. p.
11.30.00)27.11.00] 1270/659,9]658,4/658,6] 17,4] 21,9] 19,0) — | 16,6/ 14,0] 14,9] 14,9] 95 76/91] No |) NNE. |2| NNE. |1/10 Ni. 10) Cue.,C. [10] q. 4| Oa,p; CaSE Sp.
(4) Muene N
428
Dias
Observações
da Pressão Tensão Humidade
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5 Ed lElo Tapa Vo lodo TETE EEE ENE
E SS = Ea õ Etico = =. lr > |o lo |m>lo
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11.85.00]27.07.00/1278]657,8]656,9/657,9/ 17,8| 20,8) 18,4] 24,0] 17,8] 14,7] 15,7] 15,0] 97 | 86 | 95
11.40.00/27.07.00/1279/658,0/656,5/657,8| 18,0] 25,0] 19,8] — | 17,0/ 14,1] 14,8] 15,4] 92] 61 | 92
11.46.00/27.10.00/1246/658,8/657,8/660,5| 18,2] 21,0] 18,5] 24,5] 17,6/ 14,9] 15,7] 14,7] 96 | 85 | 93
11.46.00/27.19.00/1370/660,5/648,8/690,8/ 17,7] 22,9] 17,0] 23,5] 15,6] 14,8] 15,8] 14,1] 98 | 78 | 98
11.45.00/27.27.00/1331]650,4]652,0/653,5] 15,1] 25,3] 20,0] 25,5] 14,2] 12,2] 17,6] 15,5] 96 | 7 | 90
11.40.00/27.30.00/1319/654,8/653,3]654,5| 15,7] 26,2] 19,8 27,0 15,3| 12,6] 13,9/ 14,6] 94 | 56 |] 85
11.35.00/27.32.00/1258|655,5/658,0]659,5] 17,0] 27,3| 18,5 55 16,2/ 13,5] 15,5] 13,8] 94 | 57 | 87
11.36.00]27.36.00/1252]660,8/659,8[660,0| 15,9] 18,6| 17,5] — | 14,5] 13,0] 14,9] 14,1] 97 | 94. | 95
11.36.00/27.38.00/1268|659,8]657,3/658,8] 15,0| 31,3] 20,0] 31,5] 14,8| 12,6] 16,1| 15,2] 99 | 48 | 88
11.26.00/27.87.00/1293/659,2] — [|656,7/16,0] — |20,0| — |15,5/13,1] — |141]97| — | 81
11.16.00/27.38.00/1254/657,4] — |659,9/18,2] — [18,0] — [17,8]15,2] — [144/98] — | 94
11.05.52/27.39.00/1260/659,6/658,2/659,4| 16,8] 27,5] 21,8| 28,0] 16,2] 13,5] 16,4] 17,5] 95 | 61 | 90
11.05.52/27.89.00/1260/660,2] — [658,9/ 17,6] 28,0] 21,5| 28,0/ 17,2] 14,4] 16,7] 17,7] 96 | 60 | 93
11.13.00/27.41.00/1285/660,8/655,1/656,8| 18,0] 24,3] 20,0] 25,0] 16,8| 14,1] 18,6] 14,5| 92 | 83 | 83
11.18.00/27.43.00/1239/656,6]659,8]660,6] 17,8| 26,5] 20,0] 26,8] 17,5] 14,6] 17,6] 16,4] 96 | 69 | 94
11.21.00/27.47.00/1220]662,0/661,01662,2] 17,7] 26,5] 20,5] 27,1] 16,0] 14,5| 17,8| 15,8| 96 | 69 | 88
11.24.00/27.50.00/1214]663,7/661,5]662,7] 18,0] 25,0] 20,1] 26,2] 17,0] 14,6] 19,1] 16,3] 95 | 81 | 93
11.26.00/27.56.00/1246|662,6/659,6]660,1] 17,8| 25,6] 19,0] 26,5/ 16,5] 14,7] 16,2 14,9] 97 | 67 | 91
11.32.00/28.00.00/1250/660,3/658,3]699,8] 18,5] 25,7] 19,2] 26,8] 17,5] 15,0] 18,1] 15,6] 95 | 74 | 94
11.39.00/28.02.00/1193/661,5]662,1]664,5| 17,4] 27,8] 20,7| 28,2] 17,0] 14,8] 17,4] 16,3] 97 | 63 | 90
11.47.00/28.06.00/1158/667,2/666,1/667,4| 18,2] 27,4] 20,9] — | 17,5] 14,8] 17,8] 16,5] 95 | 66 | 90
11.47.00/28.09.00/1148]669,4] — |668,2/18,7] — |19,8] — | — [15,7] — 15,998] — | 92
11.47.00/28.09.00/1148]667,1] — 668,38] 18,0] 24,7] 21,8] 25,0] — | 14,6] 17,1] 16,8] 95 | 74 | 84
11.47.00/28.09.00/1148/669,0] — 667,5] 18,7/ 19,7 17,0| 23,0] 15,7] 15,2] 14,3] 14,1] 95 | 84 | 98
11.42.00/28.08.00/1153]667,9]664,6/667,1| 15,2| 27,3] 18,6] 30,0] 14,6] 12,0] 17,5] 15,1] 98 | 65 | 95
11.37.00/28.08.00/1125/667,6] — 1669,4/15,5] — | 20,4] 30,5] 14,5 12,3 — |16,3/98 | — | 92
11.37.00/28.08.00/1125/670,8]668,5/670,4/17,5| 27,6| 20,3| 28,2| 16,8] 13,5] 15,8] 16,0] 91 | 68 | 91
11.97.00/28.08.00/1125/671,4/669,9/670,9] 18,9| 21,7] 20,2] 23,0] 18,0] 14,5| 16,0] 16,8| 89 | 88 | 95
11.39.00/28.07.00/1138/671,8/669,8/669,8] 18,6 27,2] 21,7] — | 17,5] 15,5] 15,7] 17,0] 97 | 98 | 88
11.39.00/28.17.00/1180/669,3] — |666,3/18,0] — [18,8] — |16,5/14,6| — |14,9]95|] — | 92
11.39.00/28.28.00/1121/667,5] — |671,2]18,5] — — |16,5/15,2] — |15,9/ 96] — | 92
(a) Licuco.
JAN
NW.
NNW
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1885
meteorologicas
429
rça do vento
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NNW. |2) NW.
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SE. |2 SE.
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SW. |2) NE
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VOL. II.
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10
8 |C., Ni.,C.-St.
10
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10
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Notas
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K p.; « a NE. 8 p.
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4« a SE. eSW.8p.
Cac., a.; 4 a SE. e SW. 8 p.
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S 12 a., 4 p.; K de NW.4 p.
4 a NE. e SE. 8 p.
K' Ba. p.
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« a SE. 8 p.
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Cac., [& de SW., a.;
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K de NE., &) 10 a.-0.30 p.;
4« a NE. 8 p.
28
428 Observações JANBINO | pj 1655 meteorologicas 429
RE Te Humidade : =" =— =
E atmospherica Temperatura do vapor relativa Direeção | c força do vento Quantidade e qualidade de nuyens E
| 8 — A — SEsIa o 2—| E ss
E E ) E ã É
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15:35:04] 88.07.00 1978 [57,8 [056,9]657,9] 17,9] 2059 1447) 15,7] 15,0/ 97 | 86 aw: |1 sw. |2| NNW. |2)8 c. 0) cx lo) comi | mam
2 07-00/1279]658,0 25,0 1dyi) dd) dopd 08 NNW | nw. |2| ny. |el10] Gac |8/C,Ni,Cst|s e. 3 G NE. Bp.
3 [11.40.00/27.10.00/1246]658;S BO Ro) a E OO O EN sw. |1| sp. |1|-| Cacyne. |10) ni lo) ni lg Ota, piada.
4 [11.46.00/27.19,00/1370/660,5 ERd 14,8) 15,8|14,1/ 98 | 78/98] co NW. |1) NNW. |2)10] CG. Ni. |10) G. Nie. |10) Ni. 2 Da. p.; JU? NNW. rondando
5 [11.45.00] 133116 2,0 25,3 12,2) 17,6] 15,0)06/) 04) 00) NE DUDA O xe, |) Ny | ]5 (en 8) cn |» c. ligada sonata a Se
6 [11.40,00] 1819 653,3 96) 89] NE. |l 2 2 Go NI IO) GNL |—
7 [11.85.00 1258/655,5]658,0]659,5) 5787) NW. |1 a 5 sa Ta a ly
s | 11:86.00]2 s/660,0 18,0) 14,9) 14,1] 97) 94/95) NE: | xe. |p 9 Ni 5 a
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10 [11.26.00/27.87.00/1293 - 16,0 =| A = |=| SE: |4 - 10) Ni = vd NE. Op.
11 [11.16.00/27.98.00/1254/657,4]) — 9/18,2 = | dá ! = =) o lit - 5| Care, C. [=| Da3p; K3p; La SB,
12/[11.05 9,00 1260] 659,6 16,8 01/90) SSB: 1) À | ss. |3) np. |2)5) Cree |i0lcre, co mio) care |=| GaSBesW sp.
13 [11.05.53] 27:39.00/1260 060,2 60) 93 | SSB, |3 2) SE. |1|]-| CGne. |5 Cc. 5) Coe, CG. |—|Cac. a; a SE. e SW. Sp.
14 /11.19.00/27.41.00 060,8/655,1/656,8] 89/89) O 0 3) NE. |3)10) C.Ni |8] Cae,0. |8]Cne, C Nij—| QI-2n,6a; Jp.
15 [11.18.00/27.43.00/1239]656,6]659,8/060,6 69/94) NNE: |2 1) ne: |al10] Cac,c. |6) Cni lo) xi —|Ba2a, 4 py; KdoNW. dps
16 [11:21,00/27.47.00/1220/662,0/661,0/662,2) 31 15,8] 96) 69] 88) NNW: [1] ] [psy Seda) cao ol Grito el pu E GaNB.o SP Sp.
17 [11.24.00/27.50.00/1214/069,7/661,5]662,7 16,9) 95] 81/99) NNW: |2 NNE, |2 = lia Ni. 8 10) Ni Es K'Da,p-
18 |11.96.00/27.56.00/1246]662,6 660,1 14,9) 97 67/91] ESB: |2 NW. |2) ESB. |2/10] Coni |5 E) (6) - En; On a
19 /11.92.00/28.00.00/1250/660,8/658,3]659,8] 15,6] 95 | 74) 94] NE: |? sw. |3) sp. |2]8| Gne.,C. |8 3 c. 3 OE Up.
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21 [11.47.00/28.06.00/1155/607,2/606,1/667,4 16,5] 95 | 66] 90 WSW. |2 NE. 2) SSB. 1|s Cac., G. 8 10 Cne., C. E 4 a SB. Sp.
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(4) Licuco,
VOL: 1, 28
Latitude S.
Longitude E.
Greenwich
Observações
Pressão
Altitudes
6 horas
ar
7 horas
Wash.
atmospherica
Tm a
Temperatura
—— a A | ———omm
7 horas
Wash.
8 horas
p
(o)
JÁ o
11.35.54/28.32.50
11.95.54/28.32.50
11.35.54/28.32.50
11.35.54]28.32.50
11.35.54]28.
3
11.35.54/28.32.50
11.35.54/28.32.90
1070/674,6
1070/676,4
1070]676,1
1070/675,4
1070/675,3
1070|675,7
1070/675,2
GT4,8
674,1
674,0
672,4
673,1
673,8
673,8
11.35.54/28.82.50/1070/674,1/671,8
11.35,54/28.32.50/1070/672,0/671,0
11.35.54/28.32.50/10701672,51671,8/671,5
11.35.54/28.82.50/1070/671,8/670,0
11.35,54/28.32.50/1070/672,8/670,5
11.35.54/28.32.50/1070/672,5/670,8
11.35.54/28.32.50/1070/673,1/671,0
11.35.54/28.32.50
11.35.54/28.32.50
11.35.54/28.32.50
11.35.54/28.32.50
11.35.54/28.32.50
11.35.54/28.32.50
11.35.54/28.32.50
11.35.54/28.32.50
11.35.54/28.32.50
11.35.54/28.32.50
11.35.5428.32.50
11.35.54/28.32.50
11.35.54/28.32.50
11.35.54/28.32.50
(a) Rio Luapula.
1070/674,9/67
1070|674,8
1070/674,8]6
1070/675,1
1070/675,1
1070/674,6
1070/675,8]6
1070]675,1
1070/674,8
1070/675,6
OO) pum
1070/673,3
1070|GT4,S
1070]674,6
673,1
671,5
671,3
9|674,1
673,6
31673,8
5/672,8
3/673,1
673,8
673,1
Minima
Tensão
do vapor
FEVERI
Humidade Ê
relativa Dir
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95/70] 91 SE.
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94 | 64 | 93 SE.
98 | 78 | 93 =
99 | 74/91 C.
95 | 87]80] NE.
95 | 09 | 96 —
93 | 53/92] NW:
97/58|87| SSE.
921] 62]91| NE.
98/83 |87| ESE.
96 | 47 | 92 C.
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98 91 95 —
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— | 67/93 —
96 | 91 | 95 SE.
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98| — | — | NW.
1885
A
ca do vento Quantidade e qualidade de nuvens É
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horas 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas s da
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meteorologicas 431
10/C., Ni., C.-St.
4 o.
430 Observações
PEVEREINO | Dj 1585 meteorologicas 431
Tensão
do vapor
Pressão
atmospherica
s força do vento Quantidade e qualidade de nuvens
E — — | — A E
Dias
Latitude S.
|
| Thors Glhoras: 7 horas Shora
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to
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073,8/079,6] 17,5] 21,7] 20,0] 22,3] 17,0] 14,6] 16,0] 15,1] 98 | 88 | 87 | ESES |1
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END. |2) NW.
19 [11,95,54)28.52.50/1070] 072,3/073,8] 18,2] 26,7] 19,4] 27,5] 16,7] 14,9) 12,1) 15,5] 96) 47/92] 0 JO 2/10] C., Ni, €. |4 C. Ni. 0 o. — | O6a,5p; Ga E.8p.
20 [11.35.54/28,92,50/1070/674 072,8/ 17,5] 27,2] 19,7] 27,8] 17,0] 14,4] 15,4) 15,4) 97 NM: |) | ESE. |2) NNW. |2/10) CNi. |s| Cn |3 2 0 Kn. Ga; NE.
21 [11,95,54)28.92.50] 1070 679,1] 18,0/ 22,7] 18,8/24,8/ 17,6] 15,0] 18,5] 15,3] 98 | 91/95) = [=|] ESB: [1] WNW. | 2/10 Ni. 9) MORENA O S 4.15 on; Deca
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28.82.50] 1070 673,1) 18,7] 24,5] 19,8 26,6] 18,5] 15,8] 15,5] 15,7] 95 | 68/91) ENE [1] NES [2] xy. |afio) cont |8) coni |2) exi a Zor
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25 |11,85,54/28.92.50] 1070) — |670,8/671,5] — |24,8/20,2] — | — | — [15,5/16,3] — | 07/98] = [5] ) SSW: [8] sw. |2]= - 10) CyNiyo |8) CNi | 4 | O; -2p; Rd NE, p.
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O, Ni |8| CNI |- —
27 [11.95.54]28.92,50]1070/674,8/678,1]674,3]18,3/ 26,8] 19,6] 26,9] 17,8] 15,0/ 17,2] 15,2] 96 | 66] 90) NE: Cae,, O.
28 |11.95.54/28.92.50/ 1070/6746) — | — [184] — | — | — |18,0/15,4] — | — [98] = | =| Ne
G.Ni,C.:St.|— = E — 4 o
“
(a) Rio Luapula.
Latitude S.
ph
«38.00
38.00
58.00
38.00
43.00
48.00
94,00
8 [11.54.00
94.00
94,00
11 111.54.00
12 /11.54.00
13 [11.54.00
94.00
94,00
16 |11.54.00
11.54.00
18 |12.04.00
10.00
20 [12.14.35
12.06.00
12.06.00
12.06.00
26 |12.14.35
27 |12.19.00
28 |12.25.00
12.30.00
30 12.40.00
31 |13.02.00
ie Im
28.36.00
28.36.00
28.36.00
28.36.00
28.36.00
28.36.00
28.34.00
28.34.00/1058/675,1/672,6
28.84.00/1058/675,1| —
28.34.00
28.84.00/1058) — [675,8
28.34.00/1058/676,4|674,1
12.14.35|2
12.14.35]2
(a) Luapula.
28.84.00/1058/675,9/673,8
28.354,00
28.34.00/1058/674,1/672,0
28.34.00/1058/674,1|673,3
Pressão
RS É
oe é | atmospherica
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Observações
Temperatura
e
(22) EIS m & q
E =| E E E
SopcêlSSl Bl E
= E E] É E
o > oo = E
673,9
675,3
674,8
673,6
Tensão Humidade
do vapor relativa
28.34.00
28.30.00/1088/674,8|672,3/6
673,6
28.52.03/1167/672,4/665,4
666,4
29.00.00
29.00.00
29.00.00
28.52.00/1174/675,1 |665,3
28.50.00/1165/667,2 [665,6
28.47.00/1196/667,7 [663,7
28.43.00/1260/665,0 |658,0
28.98.00/1238/660,0 |660,0
28.34.00 ei 660,0
666,6
666,9
664,5
661,8
660,0
13,6] 26,7
10,4/ 24,0
(b) Luapula (novo acampamento).
N. B. Observou-se o phenomeno crepuscular
885 meteorologicas 433
a do vento Quantidade e qualidade de nuvens | E
De e — TT eee ee de.
pt Notas
oras 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas >
ash, Pp. a. Wash. Pp. =
aço
E aw. [2/10 Cac. — — 8 C., Ni. &n.; 4 a SW. e SE.8p.
= |2|] ENE. |2/10)Cac.,e., ne.|5| CG. Ni. |10] C. Ni. = K p.
2] NW. |2/10/C.,Ni., C.-St.| 5 C., Ni. 314 “Cae., O. 1 2 n., IX p.
W |3) ESE. |1|]5 C. 6 CE ENih 0) — — Cac., a., p.; 6) 3.30 p.
Bo) Sw. |2]-| Cae., C.-St. |10] C., Ni., e. 10 — 0.80 p.; «4 a NW. e SW.8 p.
RM NE. |2)-| Cac.,ne. |10) C., Ni. 0 — 0.30 D EK —M p.
E. |2 — —|—| Cac., C.-St. | 8 E Ni: — — 0.30 IX de NE. p.
VW. |2] NE. |2/10 Ni. 10 EGae: Ce | SG. C-St 6 1-7a; JWga.; 4 a
NE. e SE. es.
BR o) Com. |- E - A sá
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2) SSW. |1]- = 10) Cac., G.;, |0 — =
C.-St.
Hs) co l|o/5| G,c-s |s| .C,Ni. lo] cn 030) U2p.;730-Sp;;
; 4 a NE. 8 p.
RS | SSW. [1/4] C.; C-st. |? C 0 — — WD 2 p.; 4 a NW.8 p.
AZ] SSE. |1]3] c., C.-st. |ô CHINO Ca CS RSS Gac a Ne NEI
VER NE. [1/3] C. G.-st. |8 C., Ni 4| Cac., O 0.30] Muito cac., a., Q) IX p.
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RR =: |10 Ni. — - - — 1.80 n.
RR sm [jo] mic |8|. Cont |3 Cc. —- | KaNW.2p.; 4 aNW.
e SW.8 p.
X 2 C. 0/0 C. o C., Ni. 0 — = Cac, n.
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8 p.
SE. |2]0 OA > C., Ni: 0 — Es Cae., n,; Io,
2) ENE. |2/0 — q C., Ni. 8 CNI — Pouco cac., a.; JU6a,;
*4,8p.
Re = 10 c NGS GS St E — | 6a; 4 aNW.2p.
2 Ss. 2|2 G., St. BUG C-St |O — — 4 à ENE p.
. 13 S. q C., St. MINC C=Sto 0 MO: GS | o |Cacinç Dip a BiiSipE
SBD se. julio) c;c-s |8| c,Ni (10 Cc. s O a.
1 S 1/10] Cac., C. |8 C., Ni. 0| Cac., € — 2 ».
BS [2/10] Gse., O. |10) €,Ni lo) CN |- D'r.
1 = —|5| C., C-St. |5 C = E Es E
3| ESE. |2|0 de RG IG Si SG Cost | AU n.; JU 2.80 p.
es pos Pe st Is) cem o cyst' | = MV 2.30 p.
do dia 24,
432 Observações XANÇO
DE 1885 meteorologicas 433
Es Pressão 5 “Tensão Humidade
Gl ÉS | 8 | atmospherica Temperatura do vapor —
all É SE [É s força do vento Quantidado e qualidade de nuyens E
dE z = E ——— ——— 5
A| & és | E E ã
É Es | 4 shoras O horas 7 hora! or E Notas
o! EIS p a Wash ora 5
—— — õ
Ni)
28.96.00) 1070/0725 [672,0 /073,6] — [15,2] — |16,9(00)| — | 95
— || sws [1/10] Coe |> - Si Po Ni Ea
On; C. — ga NW. p.
10 C. 5 Cac., C — —
5) C. 0 — — =
— — 0 = — Cac., n.
= = 0 = — Cac., n.
0 = 0 = = Pouco cac., a.
— — 0 — — Cae.,n.
SC CESTO — — Cae:, n.; Usa:
2 C. ) — — SS Uttarip:
1 C. O — — —MUU p.
WI GE EGSt (O — - —Mb p.
= de 0 = — Cac., n.
— — (O — — Cac., n.
434
Observações
ABRIL
DE 1585
meteorologicas
435
Latitude S.
Longitude E.
Greenyich
Temperatura
Altitudes|
Maxima
Humidade
relativa
Direcção
————| a
O horas
e força do vento
me
7 horas Boris O horas,
Walt. p- a
Quantidade e qualidade de nuvens
SS
7 horas
8 lioras
Wash
o Elo LM
19.18,00/28.27.00/1
13,90.00/2:
19.59,12/28.19.46
14,00,00/28,26,00
14,06.00/28.92.00]
14.06,00/28.92.00
14,21,00/28.99.00)
14,92,00/28.40.00)
14,53,00/28.49,00]
14,59.00/28.52,00]
14,52.00/28,58,45
29.06.00
15.08.00/29.06.00
15:14,00/29,07.00
15.29.00/29,11,00
26 [15.41,00/29,19.00]
15.32.00/29.14,00
15.41,00/29,19.00]
15.41,00/29,19.00]
15.89,00/20,96.00,
15,98.00/29.49,00
(a) Zambeze, No
19,16.00/28.21.00/ 1189/6634
13.21.00/28,16.00/1200
13.25,00/28,16.00/ 1166
13.90,00/28,08.00/1197
13.90.00/28,08.00/ 1107
.00/ 1197/6
13.40,00/28.16.00/1230)
18,46.00/28,15.00/ 1196]
14,52.00/28.58.48] 4
14.52.00/28,58.49) 49
214/660,2
664,4
663,0
5,4) 605,7
64,7
663,0 10,4
663,1 10,3
662,1 12,3
665,1 11,9
658,9
667,8|667,1]
[068,6/670,1/670,1
79,4
710,0
715,6
1124/709,5]079,8/D74,8
1086/670,4) — |671,9
678,6/099,9)700,8
784,8]795,5 28,5
T32,7]793,0 28,8
733 ,9|T54,S 28,
ô Ç: MM
E. O phenomeno crepuscular observou-se no pôr do sol, em 5, 6, 7€
a
|
]
Ss: |]
= Sino oo —
NW. 1 O.
E. EPE)
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SE. [3] NW. |2]o =
= |=| ESB. |9]0 =
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e e SU O OS is dt
Notas
C., Ni. —
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C. o Es —
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Cae,, nm,
Conj 4 SW. Sp,
Caos mn.
Caen, 4 SE Sp,
mj AU Op,
Cao, ms
Ca NE Sp.
Caen; 4 ANW.S p.
Caes np AUINIO=12
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Caem; UU vt,
Cao mn,
Pouco cnc. 1; [Za NW. Sp.
Ka NW p.
Caos.
Caos,
Pouco cac,, a.
Caes n.
Caen AM Mt ps
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Up,
Up.
Cao,
Caes.
Observações
Latitude 8.
Longitude E.
Greenwich
Altitudes
Pressão
atmospherica
1orAS
q.
[e
ho Hp ho ht
5.54.00/29 56.00
5.50.00/30.06.00] «
5.35.00/30.20.00
9.98.03/30.21.25
.03/30.21.2.
3/50 21.2:
31.26.00
31.45.00
31.52 00
91.54/32.02.06
51.54/32.02.06
)/380.40.00] «
31.04.00] 365
15.56.00/32.14.00] 5
16.02.00/32.33.00]
5 [738,5
5 [748,0
739,8/7
139,6
3/738,8]7
738,8
736,6]736,0]7
738,1/736,3/7
739,6/738,7
740,9] —
741,6
743,4
143,0] —
735,4/733,5
734,8] — 9,1
724,8] — |726,8/ 10,1
Temperatura
Maxima
(a) Zumbo. (b) Navegando no Zambeze. (c) Por terra.
Minima
Tensão
do vapor
Humidade
relativa Dire
6 hora
a.
7 horas
Wash.
do)
(6,2)
is
15,8
16,8
16,0
11,4
11,4
13,5
185
bo
[e]
O
x
1885 meteorologicas a!
A
ca do vento Quantidade e qualidade de nuvens E
TE ARARAS o AR n Notas
horas 8 horas 6 horas 7 horas 8 horas z
Vash. p. a. Wash. p. E
Emma E
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E. |2| EXE. |? St. 2) €.,€C-St. |0 = o =
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a Es o = SE o EE p= es &
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486 Observações MAIO meteorologicas
; Pressão e Humidade E
g OospLRROa Temperatura rolativa, Direcção e força do vento Quantidade e qualidade do nuvens
E E | — ES DL HE 253"
E) 5 | Y
E E O lioras 7 horas 8 horas O horas mlioras Blhoras Notas
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(5.91.00] 123,8/ 10,2] 29,0] 15,5] 29,0 sá 91/20/75) 0. lo
15.31.00 28,8] 10,2] 20,0] 15,5] 29, j 8] k Pouco cac., a,
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50.21
15.98.03/90.21,
15.98.03/90.21
15.98.03/30.21
15.98.03/30,21
15.98.03/30.21
15.98.03/90.21
15 38.03/30 21
15.98.09/50.21
15,38.09/50.21
15.38 03/30.21
15.38.03/90.21
15.38.09/90.2
15.98.09/90 21
15.501,54
(a) Zumbo.
15.98.03/30,21,20,
15.98.09/30.21.2
15.98.03/30.21,25
15.38.09/30.21.:
15.40,00/30,40,00
15.39.00/91.04,00
15.41,00/91 26.00)
)
15.98.00/81.52 00,
15.51.54/92.02.06
15.56.00/92,14.00] 514.
16.02.00/92.99,.00] 464
+25] 365 [798,5] 736,8/797,6)
5 |799,8/737,6/797,1
+25] 365 [799,0/797,3] —
O [799,1
5|195,8
m34,8)7
796,8|793,8| 194,5
«25,
65 |790,8|793,5] 734,3]
Sl
T34,0/784,1
7
m34,3)m
d [739,0/790,2)7:
TI4,S | 734,0) 735
«25 365 |796,9/795,0
25) 365 |736,9/793,8
HH]
796,6]7
+25] 365 [798,1
865 [199,4
365 [740,9] — J740,9/ 17,0
365 [741,6] — [741,8/21,8
31.45.00] 965 [748,0] — |748,9/ 18,6
810 [748,4] — |742,6]15,4
395 [743,0] — |736,0/18,0
2,02.06] 895 |735,4/739,5]793,3] 8,0
n94,8) — | — | 91
T248| — |726,8/ 10,1
(4) Navegando no Zam|
= |esi| =
= |159] —
28,0) 16,6] —
= |20,0) —
(e) Por terra,
19,6
18,1
— |so/47] =
16,0/ 76 | — | 79
13,9] 85 | — | 69
15,0/ 85 | — | 7
18,7] 85 | — | 94
847] 92 | — | 65
9,7] 90 | 88 | 69
— |86|—|—
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(0) Tete: (1) Navegando no rio Zambeze, (e) Navegando no rio Cuacua, |
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AVES
A presente lista! comprehende uma parte das aves colligidas
durante a travessia do continente africano de 1834 a 1885
pelos exploradores Capello e Ivens. Dizemos uma parte por
que outra foi perdida durante a viagem.
Consta esta colleceção de trinta especies exploradas entre
11º.22' e 15º.38' latitude sul e 23º.43' e 30º.21' longitude éste.
São de uma região cuja fauna começa apenas a conhecer-se.
À maioria das especies são representantes da fauna ornitholo-
gica do sul da Africa. O Amauresthes fringilloides, talvez agora
só encontrado ao sul de Zanzibar, dá à fauna d'esta curiosa
região um cunho da avifauna africana-oriental. As especies
que têem citada a Ornithologie d' Angola pertencem tambem
à Africa occidental e entre estas é notavel a Musophaga Rossae,
tambem pela primeira vez achada em longitude tão oriental.
É seguida esta lista das especies que primeiro remettemos ao
museu de Lisboa do rio Coroca, juntamente com animaes de
outras classes.
1 Neophron pileatus. (Burchell.)
Um exemplar 9. Iris escuro com reflexo azulado. Huilla.
E a primeira vez que vem para a riquissima collecção do nosso
museu nacional um exemplar d'esta especie da provincia de An-
gola. E portanto uma especie a additar à fauna ornithologica desta
nossa bella possessão.
! Este trabalho é devido ao ex.mº sr. José Augusto de Sousa, distincto
conservador da secção zoologica do museu de Lisboa. Reptis e insectos
trazidos, não figuram n'esta obra, por não haver pessoa que do seu es-
tudo se encarregasse.
A42 Aves
Zn
Buteo augur. (Riúpp.)
Bocage, Ornih. d' Angola, p. 24.
Um exemplar &. Iris amarello. Nome indigena Gonga. Huilla.
Haliaetus vocifer. (Daud.)
Bocage, Ormith. VP Angola, p. 40.
Um exemplar. Iris castanho. Nome indigena Qualucua.
Margens do rio Cunene (entre 16º e 17º latitude sul).
Come peixe e quando este é grande, ajuda-o a femea a comel-o.
Irrisor erythrorhynchus. (Lath.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 126.
Um exemplar. Iris escuro. Nome indigena Maiola-iola.
Margens do rio Cunene (entre 16º e 17º latitude sul).
Come insectos.
Schizorhis concolor. (Smith.)
Bocage, Ornith. d Angola, p. 134.
Um exemplar. Nome indigena. Quele. Huilla.
Dá gritos similhantes aos da cabra, do que lhe provém o nome
de «passaro cabra.»
Prionops Retzii. (Wahlb.)
Bocage, Ormith. d Angola, p. 222.
Um exemplar. Iris amarello canario. Nome indigena Quiolila.
Margens do rio Cunene (entre 16º e 1%º latitude sul).
Lamprotornis Mewesi. (Wahlb.)
Bocage, Ormith. d' Angola, p. 308.
Um exemplar. Iris escuro. Nome indigena Jungo.
Margens do rio Cunene (entre 16º e 17º latitude sul).
Herodias alba. (L.)
Bocage, Ornith. d Angola, p. 442.
Um exemplar. Iris amarello. Nome indigena Nhangue.
Margens do rio Cunene (entre 16º e 17º latitude sul).
Butorides atricapillus. (Afzel.)
Um exemplar. Iris amarello canario. Nome indigena Dombaella.
Margens do rio Cunene (entre 16º e 17º latitude sul).
10. Falcinellus igneus. (Gm.)
Bocage, Ornith. d Angola, p. 458.
Um exemplar. Nome indigena Candongobisa.
Margens do rio Cunene (entre 16º e 17º latitude sul).
Aves 443
11. Ibis aethiopica. (Lath.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 459.
Um exemplar. Nome indigena Combo-Combo (Cabra).
Margens do rio Cunene (entre 16º e 17º latitude sul).
12. Circus pygargus. (Sharpe.)
Layard and Sharpe, Birds of South Africa, p. 12.
Um exemplar novo. Iris amarello. Nome indigena Cabempa. Ca-
pturado em Muene N”Tenque em 22 de novembro de 1884.
13. Melierax gabar. (Daud.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 15.
Um exemplar novo. Iris amarello. Capturado em Muene NºTen-
que em 30 de dezembro de 1884.
14. Milvus aegyptius. (Gm.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 45.
Um exemplar. Nome indigena Pungua. Capturado em Muene
N”Tenque em 18 de novembro de 1884.
15. Falco subbuteo. (L.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 48.
Um exemplar. Iris escuro. Nome indigena Cabemba. Capturado
em Muene N”Tenque em 21 de novembro de 1884.
16. Dendrobates cardinalis. (Gm.)
Bocage. Ornith. Angola, p. (6.
Um exemplar 9. Nome indigena Mubanga. Capturado em Muene
N”Tenque em 21 de novembro de 1884 ;
17. Coracias caudata. (L.)
Bocage, Ornith. Angola, p. 84.
Um exemplar adulto. Iris castanho. Nome indigena Muzia. Ca-
pturado no Zumbo em 12 de maio de 1885.
Come insectos.
Outro exemplar novo. Iris castanho. Capturado em Muene NºTen-
que em 13 de dezembro de 1884.
18. Eurystomus afer. (Lath.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 85.
Um exemplar. Iris castanho. Capturado em Muene N”Tenque em
10 de dezembro de 1884.
444 “Aves
19. Merops apiaster. (L.)
Bocage, Ornith. d' Augola, p. 86. |
Um exemplar novo. Capturado em Muene NºTenque em 11 de
novembro de 1884
20. Merops bullockoides. (Smith.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 98.
Um exemplar. Nome indigena Pelobe. Capturado no rio Luapula
em 6 de maio de 1885.
21. Pogonorhynchus frontatus? (Cab.)
Jour. | Orm 1880, jp: SD pl ma do
Um exemplar novo. Iris escuro. Capturado em Muene NºTenque
em 13 de dezembro de 1884.
Hesitâmos em referir este exemplar ao Pogonorhynchus diade-
matus. As malhas triangulares em que terminam as coberturas
alares levam-nos a não o considerar esta especie. O nosso exemplar
está n'um estado de plumagem muito parecido com a estampa ci-
tada do dr. Cabanis.
22. Tockus melanoleucus. (Licht.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 116.
Um exemplar &. Iris cinzento. Capturado no rio Aruangõa em
2 de maio de 1885.
23. Tockus erythorhynchus. (Temm.)
p SA ?
Bocage, Ornith. Angola, pag. 120.
Um exemplar 9. Iris amarello canario. Nome indigena Nhame-
gôto. Capturado no rio Aruangõa em 2 de maio de 1885.
24, Corythaix porphyreolopha. (Vigors.)
Layard and Sharpe, Birds of South Africa, p. 142,
Um exemplar. Iris escuro. Nome indigena Macuco. Capturado
em Litete em 20 de abril de 1885.
Outro exemplar. Iris escuro. Capturado no rio Mulonguigue em
22 de abril de 1885.
29. Musophaga Rossae. (Gould.)
Bocage, Ornith. Angola, p. 135.
Um exemplar. Iris escuro. Capturado em Luapula em 9 de fe-
vereiro de 1885.
Esta notavel especie é a primeira vez que é encontrada em re-
gião fóra dos limites da provincia angolense.
26.
E
8
29
Áves 445
Platystira peltata. (Sundev.)
Ibis, 1873, p. 160, pl. 1v, fig. 2, 3— Sharpe. Cat. of birds. Brit.
Mus. iv, p. 147.
Um exemplar com a indicação de & tendo a garganta branca,
toda a parte superior e o collar preto coracino. Membrana palpe-
bral encarnada. Iris escuro. Capturado no rio Luapula em 18 de
fevereiro de 1885.
Outro exemplar com a indicação de femea tendo a cabeça acin-
zentada, dorso de um cinzento ferruginoso; coberturas alares bor-
dadas de um ruivo claro, remiges orladas exteriormente da mesma
côr; garganta e peito tingindo-se levemente de fulvo, que se pro-
nuncia mais no collar; rectrices preto esverdeado orladas de cin-
zento muito claro, as lateraes orladas de branco, sendo na parte
terminal mais larga. Iris castanho. Capturado no rio Luapula em
18 de fevereiro de 1885.
Dicrurus divaricatus. (Licht.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 211.
Um exemplar. Iris vermelho. Nome indigena Metengo. Captura-
do em Muene N”Tenque em 11 de novembro de 1884.
Outro exemplar. Capturado no Zumbo em 6 de maio de 1885.
Esta especie ataca o milhafre no ar, só ou acompanhada.
Fiscus collaris. (L.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 215.
Um exemplar. Iris escuro. Nome indigena Mulola iá Cumo. Ca-
pturado em Muene N"Tenque em 21 de novembro de 1884.
Telephonus erythropterus. (Shaw.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 228.
Um exemplar. Iris escuro. Nome indigena Bala. Capturado em
Muene N”Tenque em 28 de novembro de 1884.
Oriolus notatus. (Peters.)
Bocage, Ornith. d Angola, p. 236.
Um exemplar 9. Iris vermelho. Capturado em Muene NºTenque
em 11 de novembro de 1884. :
* Outro exemplar. Iris vermelho. Nome indigena Igenege. Captu-
rado no Litete em 19 de abril de 1885.
Turdus libonyanus. (Smith.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 266.
Um exemplar. Capturado em Muene NºTenque.
VOL. II. 29
446
32.
Jd.
36.
Aves
Thamnolaca Shelleyi. (Sharpe.)
Cat. of birds. Brit. Mus., vir, p. 52.
Um exemplar. Iris escuro. Capturado em Muene N'Tenque em 10
de dezembro de 1884.
Tem a parte anterior da cabeça de côr isabella, como um exem-
plar descripto por mr. Shelley nos Proceedings of the Zool. Soc.
of London, de 1881, p. 572. spec. a. Este exemplar é de Ugugo, que
dista quasi 200 milhas para oeste de Zanzibar.
- Corvultur albicollis. (Lath.)
Layard and Sharpe, Birds of South Africa, p. 417.
Um exemplar. Iris castanho escuro. Capturado passado o rio Lu-
canga, paiz montanhoso, em 10 de abril de 1885.
Raro.
Penthetria ardens. (Bodd.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 559.
Capturado em Caponda em 18 de janeiro de 1885.
. Vidua principalis. (L.)
Bocage, Ornith. dº Angola, p. 345.
Um exemplar. Capturado em Muene NºTenque em dezembro de
1884.
Amauresthes fringilloides. (Lafr.)
Finsch. und Hartl. Vôg. Ost. Afr., p. 494.
Um exemplar. Capturado em Muene N'Tenque.
Cursorius senegalensis. (Licht.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 419.
Um exemplar. Capturado em Muene N"Tenque, em planicies ala-
gadas, a 5 de novembro de 1884.
- Laomedontia carunculata. (Gm.)
Bocage, Ormith. d' Angola, p. 436.
Um exemplar. Iris amarello canario. Nome indigena Quibanda.
Capturado no Zambeze em 17 de outubro de 1884.
- Mycteria senegalensis. (Shaw.)
Bocage, Ornith. d Angola, p. 452.
Um exemplar. Iris amarello canario, joelhos e pés côr de rosa
Nome indigena Luapanja. Capturado na planicie proximo de Quin-
funpa em 8 de abril de 1885
Vive nos rios. Come peixe.
Aves 447
40. Nettapus auritus. (Bodd.)
Bocage, Ornith. Angola, p. 498.
Um exemplar. Nome indigena Luipué. Capturado no rio Lua-
pula em 24 de fevereiro de 1885.
Mergulha quando é perseguido.
41. Dendrocygna viduata. (L.)
Bocage, Ornith. d' Angola, p. 489.
Um exemplar. Nome indigena Uirire (chora). Capturado no rio
Luapula em 28 de fevereiro de 1885.
Assobia, vôa largo, apparece na Huilla de arribação.
AVES DO RIO COROCA
Capturadas em março de 1884
42. Saxicola leucomelaena-monticola. (Seebhom.)
Cat. of birds Brit. Mus., v.. p. 379.— Saxicola leucomelaena,
Burch. Bocage, Ornith. d' Angola, p. 271.
Um exemplar &. Nome indigena Tiatra.
E tambem conhecido dos portuguezes por Gallo das pedras.
Um exemplar 9. Concorda a plumagem d'este exemplar com a
diagnose de um novo de anno, descripto por mr. Seebhom.
43. Merops superciliosus. (L.)
Bocage, Ornith. d'Augola, p. 87.
Um exemplar. Iris amarello escuro.
CONCHAS TERRESTRES E FLUVIAES
As conchas terrestres e fluviaes recolhidas durante a viagem
foram depositadas na secção zoologica do museu de Lisboa e
o seu estudo confiado ao ex.Ӽ sr. Arruda Furtado.
Como quasi sempre acontece, pouquissimas vezes uma es-
pecie foi representada por mais do que um exemplar, e nem
sempre bem conservado. Esta circumstancia fez com que, por
ser limitado esse numero, se difficultasse enormemente o estudo
consciencioso d'essas especies, que, provindo de uma região
completamente inexplorada, devem ser em grande parte novas.
O estudo sobre os Lanistes ou Ampullarias senestres, cara-
cteristicas das regiões africanas, aonde havia duas especies e
duas variedades novas, e das Achatinas, aonde tambem ha
duas novas, acaba de ser publicado no Journal de Conchylio-
logie.
A lista summaria das especies é a seguinte:
1. Streptaxis, sp. ?—Luapula. Individuo novo e portanto indetermi-
navel.
2. Ennea lovigata, Dohrn.— Luapula e margens do rio Lifué.
Helicarion, sp. ?— Luapula. Muito quebrado; indeterminavel.
Capelloi, sp. nov.— Luapula.
5. Helia indecorata, Gould.— Rio Cabaco e Luapula.
6. sp. *—Rio Luapula e Licutaba, e Uanza.
q. Bulimus, sp. ?— Rio Dáqui.
450 'onchas
8. Achatina, sp. ?— Sem localidade.
9, sp. ?— Sem local.
10. sp. ?-—Rio Lifué. Individuos ainda novos.
JnR sp. ?—Rio Lifué. Individuos ainda novos.
12. —— Capelloi, sp. nov. — Cassongo.
Tvensi, sp. nov. — Sem local. (Lufubo ?).
14. Succinea badia, Mor. ? — Sem local. Exemplares todos descorados.
15. Physa canescens, Mor — Sem local.
sp. ?—Cassongo.
17. Cyclostoma insulare, Pff. ?—Rio Dáqui.
18. Ampullaria, sp. ?—Rio Liamucusse.
sp. ?— Planicie depois do Congo, Môna.
20. Lanistes magnus, sp. nov — Rio Luapula.
2) ovum, Peters. — Zumbo.
22 zambezianus, var. nov — Rio Zambeze, entre Zumbo e Tete.
25. trapeziformis, var. nov.— Rio Cuando.
24. luapulensis, sp. nov— Rio Luapula.
20. sp. ?— Cassongo, Môna.
26. Melania, sp. ?*— Rio Zambeze.
27. Unio rhombula, Lam. — Rio Longa.
28. sp. ?— Rio Conjubia. Este Unio representado por uma valvula
desapparelhada é impossivel quasi de classificar.
29. sp. ?— Mulanguigue. Idem.
30. sp. ?— Rio Cabompo. Idem.
31. sp. ?— Sem local. Idem.
d2. —— Horei, Smith ?— Rio Cabompo. Parece o adulto que ainda não
era conhecido.
33. Anodonta, sp. ?*-—Rio Zambeze.
34. Spatha Wahlbergi, Krâuss.— Rio Zambeze, Zumbo.
35. Ondneyi, Rônig.— Rio Dáqui.
36. Corbicula, sp. ?— Rio Cabompo.
391. Etheria, sp. ?— Rio Luapula.
NOTA SOBRE AS COLLEOÇÕES BOTANICAS
Os srs. Capello e Ivens trouxeram da sua ultima e tão no-
tavel viagem duas colleceções de plantas: a primeira em data -—
abril e maio de 1884 — provém da região percorrida de Mos-
samedes até à Huilla, e foi enviada d'este ponto para a Eu-
ropa; a segunda, colligida durante a travessia, e muito mais
importante, foi-me entregue pelos illustres exploradores no seu
regresso; e, em consequencia de demoras soffridas pelo pri-
meiro pacote de plantas, chegou à minha mão muito antes
Vaquella que havia sido remettida da Huilla. Ambas fazem
hoje parte dos herbarios da secção botanica do museu nacio-
nal.
Occupado em outros trabalhos, não pude desde logo estu-
dal-as; e apenas, ajudado n'esta primeira coordenação pelo sr.
J. Daveau, as distribui pelos generos das familias naturaes a
que pertencem, determinando sómente algumas especies mais
conhecidas. As listas que hoje publico, a pedido dos illustres
exploradores e meus amigos, são pois provisorias e sujeitas a
varias alterações. Entre as plantas que não determinei ha sem
duvida algumas, que um exame demorado levará a identificar
com especies já conhecidas; mas ha tambem muitas novas, que
serão descriptas e nomeadas em um trabalho definitivo. Por
AD | Botanica
outro lado, algumas estão representadas por exemplares tão
imperfeitos, que são não só indeterminadas como imdetermina-
veis, sendo porém em numero relativamente pequeno as que
se acham n'esta caso.
Das duas colleeções, como disse, a mais importante é sem
comparação aquella que os exploradores formaram durante a
travessia, não só pelo numero dos exemplares, como tambem
e principalmente porque esses exemplares provém na maior
parte de regiões absolutamente inexploradas, sendo n'esta col-
lecção que abundam as especies novas. Do primeiro exame a
que procedi, resulta que ali se encontram representadas pro-
ximamente 252 especies distinctas, pertencentes a 59 familias
naturaes, não contando as Cryptogamicas. Das 252 especies,
204 pertencem às Dicotyledoneas, e 48 às Monocotyledoneas,
havendo mais umas 4 Cryptogamicas susceptiveis de determi-
nação. As familias mais largamente representadas são: as Le-
guminosas com 32 especies, seguindo-se-lhes as Compostas com
26, e as Rubiaceas com 10. Nem d'estes numeros, nem da na-
tureza das especies já conhecidas, e que figuram n'esta col-
lecção, se podem tirar conclusões geraes relativas a analogias
e relações de floras. Estes estudos comparativos eram interes-
santes no caso da pequena collecção do sr. Serpa Pinto, for-
mada toda na localidade central do valle de Nimnda; no caso
das plantas colligidas pelo sr. Anchieta em volta de Caconda;
ou no caso das plantas que reuniram os srs. Capello e Ivens
durante a sua primeira viagem, em Caconda, e de Caconda ao
Bihé. No nosso caso, porém, a colleeção não pertence a uma
fora especial. As plantas foram colligidas em toda a largura
da Africa, em diversas latitudes, longitudes e altitudes, desde
o Coróca até ao Zumbo. Em uma trabalho definitivo, aquellas
analogias serão tomadas em conta; mas a proposito de cada es-
pecie e de cada localidade. Estas distmeções serão faceis, por-
que as plantas estão cuidadosamente etiquetadas, tendo ou a
designação da localidade, ou a data em que foram colhidas,
da qual pela relação da viagem se deduzirá desde logo a lo-
calidade, sua latitude e longitude.
Botanica 4
Em resumo, póde deprehender-se d'este primeiro exame,
que os trabalhos dos srs. Capello e Ivens, n'este sentido espe-
cial, foram muito valiosos, e vieram enriquecer a sciencia com
algumas fórmas novas, dando ao mesmo tempo indicações pre-
ciosas sobre a extensão de outras fórmas já conhecidas pelas
regiões internas e absolutamente inexploradas da Africa cen-
tral. A lista dos generos representados na collecção é a se-
guinte:
1—DICOTYLEDONEAE
1. RaxuxcuLacese.— Genero Clematis, representado por tres especies;
Clematis Thunbergii; mais uma fórma proxima da €C. chrysocarpa, mas
bem distincta d'esta especie, provavelmente a mesma de que já foram
trazidos exemplares pelos srs. Capello e Ivens da sua primeira viagem,
e para a qual eu havia proposto o nome de C. Capelloil; e uma terceira
especie, sem flores, indeterminavel.
2. NympHsescesr.— Genero Nymphaea ; duas fórmas distinctas da mes-
ma especie vulgar na Africa, a N. stellata, uma do rio Cuito, outra do rio
Luatuta.
3. Capparipacear.— Genero Cleome, representado por tres especies; O
hirta; C. foliosa; e uma terceira especie.
4, PorvaaLese— Genero Polygala, representado por duas especies;
P. rarifolia; e uma fórma da polymorpha P. arenaria.
O. Tamariscrnese.— Genero Tamarix, representado pelo vulgar 7. ar-
ticulata. O exemplar foi colhido na região do Coróca.
6. Hyrerrcinese.— Genero Psorospermum, representado pelo P. febri-
fugum.
q. Mazvacese.— Genero Abutilon; uma especie do rio Coróca, identica
ao n.º 4982 do herbario Welwitsch.
Genero Hibiscus, representado por uma especie da floresta de
Luapula.
Uma Malvacea cuja posição generica é para mim ainda um tanto du-
vidosa, identica ao n.º 4943 do herbario Welwitsch, e a exemplares man-
dados de Caconda pelo sr. Anchieta em 1877 e 1880, faz tambem parte da
presente colleeção.
* Estas plantas estão ainda em Inglaterra para uma ultima revisão, e por isso não pude
comparar com ellas os novos exemplares, e certificar-me da sua identidade.
454 Botanica
8. Tirracese.— Genero Triumfetta, representado pela 7. Welwitschai ; e
por uma fórma visinha, mas mais hirsuta, proveniente das proximidades
do rio Cabompo.
9. Marrrenracesr.— Genero Heteropterys, representado pela unica es-
pecie da Africa, HH. africana, colhida no rio Coróca.
10. ZycornyLLesr.— Genero Zygophyllum, representado pela fórma
typica do Z. simplex, e pela variedade prostratum da mesma especie;
ambos os exemplares da região do Coróca.
11. Geraxiacese.— Genero Oxalis; a especie O. sensitiva, colhida no
acampamento do Lunda.
Genero Impatiens, representado por uma especie, talvez nova,
proveniente de Lufira.
12. Ocnnacesg.— Genero Ochna, representado por uma fórma visi-
nha e talvez identica à O. pygmaea; e por uma especie proxima da O.
vagans, mas sem duvida distincta.
13. AmpeLipesg.— Genero Vitis, representado pelas seguintes especies;
V. pendula ; V. obtusata ; uma fórma proxima do V. macropus ; uma especie
de folhas digitadas; e uma especie de folhas inteiras; as tres ultimas em
exemplares imperfeitos e de dificil determinação.
14, Axascarpiaceae.— Genero Rhus, representado por uma especie co-
lhida nas proximidades do Coróca.
—— Genero Odina, representado por uma especie identica ao n.º 4438
do herbario de Welwitsch.
15. Legumisosse.— Genero Crotalaria, representado por uma fórma
proxima ou identica à C. parvula; e por mais duas especies.
Lotus, representado por uma especie.
Psoralea; a P. obtusifolia, do rio Coróca.
Indigofera; a T. benguellensis, do rio Coróca.
Tephrosia ; a bella especie T. Vogelii, do acampamento do Luapu-
la. Esta planta é empregada no envenenamento do peixe (nota de Capello
e Ivens; vid. as Plantas uteis da Africa portugueza, pag. 130).
“Eschynomene, representado por duas especies.
— — Smithia, representado por duas especies.
Geissaspis, representado por uma especie que julgo nova. E dis-
tincta da G. lupulina; e tambem distincta de uma especie inedita ainda,
que existe no herbario de Welwitsch sob o nome de Smithia coronilloi-
des (n.º 2141), e deverá receber o nome de G. coronilloides. Infelizmente
os nossos exemplares, colhidos pelos srs. Capello e Ivens em dezembro
de 1884, estão sem flor.
—— Desmodium, representado por duas especies das margens do rio
Cabompo; uma é proxima e talvez identica ao D. cveciosum; a outra,
apparentemente nova, é extremamente curiosa; os exemplares estão em
fructo, com os fructos ainda novos, e o gynophoro attinge 8 centimetros
Botanica 455
de comprimento, dando à planta um aspecto singular, à primeira vista
bem afastado de uma leguminosa.
Teramnus, representado por uma fórma do T. labialis, de folhas
notavelmente coriaceas, proveniente do acampamento do Luapula.
Vigna, representado por duas especies; V. ornata; e V. procera,
ambas colhidas nas terras do Mirambo.
Dolichos, representado por seis especies, algumas provavelmente
novas, e que uma revisão mais demorada poderá talvez demonstrar que
pertencem, em parte, ao genero anterior.
Eriosema; uma unica especie, o E. lencanthum.
—— Rhyncosia; uma especie, identica ao n.º 4073 do herbario de Wel-
witsch.
Caesalpinia; a commum (. pulcherrima, que hoje se cultiva por
toda a parte nos tropicos, proveniente do rio Coróca.
Cassia; a C. occidentalis, colhida no Zumbo; e uma variedade da
C. Kirkii.
Brachystegia: d'este interessante genero ha tres especies na col-
lecção: primeiro a B. tamarindoides, uma planta bem conhecida e uma
das essencias florestaes mais largamente espalhadas em parte da Africa.
Os nossos viajantes atravessaram grandes florestas d'esta arvore entre os
rios Quitengue e Toni, onde os gentios lhe davam o nome vulgar e muito
conhecido de «Mupanda» (vide Pl. uteis da Afr. port., p. 154). Ha depois
exemplares de uma especie curiosa, que julgo nova, colhidos nas proxi-
midades do rio Bengue, onde lhe dão o nome de «Mucope»: e finalmente
um pequeno exemplar imperfeito de uma terceira especie indetermina-
vel.
16. Rosacese. — Genero Potentilla, representado por um mau exem-
plar sem flores.
lt. Saxrrescacese.— Genero Valilia; a especie V. capensis, provenien-
te do Coróca.
18. Droseracese—Genero Drosera: D. Burkeana, colhida nas mar-
gens de um afiluente do Cuito; e uma fórma, pertencendo provavelmente
a D. ramentacea, das margens do Chicolaszi.
19. Compreracese. — Genero Combretum; o €C. platypetalum; e uma
especie muito visinha ou identica ao C. constrictum.
20. Myeracese.— Genero Napoleona; a N. imperialis, proveniente das
proximidades do rio Cutiti, onde tem o nome vulgar de «molé».
21. Merastomacese.— Genero Dissotis, representado pelas seguintes
especies; D. caespitosa; D. eximia; D. canescens; uma quarta especie não
determinada.
Genero Úsbeckia; uma especie não determinada.
22. Oxscrarise— Genero Trapa; a T. bispinosa, proveniente do rio
Luapula.
456 Botanica
28. Beconracese.— Genero Begonia, representado por uma unica es-
pecie.
24. CucurBiTacesE.— Genero Acanthosicyos, representado pelo 4. hor-
vida, uma planta caracteristica da região arida das Welwitschias; o exem-
plar da presente colleeção provém das proximidades do Coróca.
— — Genero Cucumis; uma variedade do C. hirsutus, tendo folhas
mais mollemente villosas do que o typo.
25. Ficorpese— Genero Giseckia; uma fórma da especie polymorpha
G. pharnaceoides.
Genero Sesuvium ; uma variedade do 8. digynum.
—— Genero Limeun, representado por uma especie não determi-
nada.
26. UmBeLLirerae— Genero Peucedanum, representado por uma es-
pecie. Ha a mais um exemplar de Umbellifera indeterminavel.
27. Ruzracese.— Genero Pentas, representado por duas especies, que
se referem aos numeros 3515, e 5816 do herbario Welwitsch.
Heinsia; uma especie vizinha da H. jasminiflora, proveniente do
rio Lunga.
Gardenia; a G. Jovis-tonantis; provém do rio Cabompo, onde
tem o nome vulgar de « Chingoribite ».
Oxyanthus, representado por uma especie do rio Cabompo.
—— Tricalysia; a TP. hwillensis, Welw. mss.; provém do Cabompo.
—— Pavetta; uma especie não determinada.
Spermacoce; a S. dibrachyata; e outra não determinada.
28. Composirae.— Genero Elephantopus; uma especie do Luapula.
Nidorella; a N. microcephala, ou uma fórma muito proxima; e a
NM. juncea, Welw. mss. (n.º 4005).
Pluchea; uma especie proxima ou identica aos n.ºs 3923, 3924 de
Welwitsch.
Epaltes; a especie E. gariepna, proveniente do Coroóca.
—— Helichrysum; duas especies indeterminadas.
— Inula; uma especie identica aos exemplares de Welwyitsch n.º
444.
—— Wedelia; uma especie indeterminada.
—— Coreopsis; especie proxima ao €. macrantha.
Jaumea; uma especie proxima ou identica ao J. compositarum.
—— Cotula; uma especie muito proxima ou identica à C. anthemoi-
des.
Haplocarpha; a H. scaposa, proveniente das origens do rio Lua-
laba.
Centaurea; uma especie colhida nas margens do Cabompo.
Pleicotaxis; P. macrocephala, Welw. (3889); e uma especie proxi-
ma ao P. auriculata, Welw. mss. (3891, 3888).
Botanica 4517
— — Dicoma; uma especie não determinada.
—— Lactuca; uma especie vizinha da L. Capensis.
Ha mais algumas Compostas cuja situação generica fica n'uma pri-
meira, muito rapida e imperfeita revisão algum tanto duvidosa; como
são: uma especie pertencendo talvez aos generos Grangea ou Dicroce-
phala; duas Inuloideas curiosas, representadas tambem no herb. de Wel-
witsch; duas Senecioideas, que não existem n'este herbario; e duas espe-
cies, pertencendo ao grupo das Cynaroideas.
29. Loseziacese.— Genero Lobelia; uma especie vizinha da L. rhyn-
chopetalwum.
30. Esenacese.— Genero Buclea; uma especie de fructo comestível
da planicie proxima ao rio Oancondo; tem o nome vulgar de «Choca-
lala».
31. Arocyxacese.— Genero Landolphia; a especie d'este genero, ten-
do a nota de ser a planta da borracha, é representada na collecção por
um exemplar imperfeitissimo, consistindo apenas de dois pequenos tron-
cos e algumas folhas. Comparando as folhas com os exemplares do her-
bario Welwitsch, parecem-me pertencer à especie L. owariensis, que eu
já indicára como uma das especies de que provém grande parte da
borracha africana (Plantas uteis da Afr. port., p. 216). Os exemplares
dos srs. Capello e Ivens foram colhidos em outubro de 1884, junto ao rio
Mumbeje e tem a nota de que a planta apresentava uma grande vege-
tação.
Ha mais duas Apocynaceas, uma indeterminavel, e outra que me pa-
rece pertencer ao genero Rhyncospermum.
32. AscLepraDESE.— (Genero Gomphocarpus, representado por uma es-
pecie.
—— Genero Asclepias, representado por duas especies, uma das quaes
se approxsima do n.º 4090 do herbario de Welwitsch.
33. GenrianacesE.— Genero Faroa; a Faroa salutaris, proveniente
dos terrenos alagados perto de Libonta; ha tambem na colleeção um
exemplar um pouco diverso de aspecto, mas pertencendo à mesma espe-
cie, que foi colhido junto ao rio Ninda.
34. Borracrngse.— Genero Heliotropium, representado por tres espe-
cies bem distinctas, todas da região do Coróca.
35. CoxvoLyvuLacese.— (Grenero Ipomaea; a IT. pelargonioides (Welw.,
n.º 6112); e mais quatro especies.
Genero Cressa; uma especie vizinha da C. salutaris. Provém da
região do Coróca.
36. SoLranacese.— Genero Physalis; uma especie da secção Withania ;
proveniente do Coróca.
37. SEROPHULARINEAE.— Esta familia acha-se representada por varias
especies dos generos Striga, Buchnera e Sopubia.
458 Botanica
38. PepaLinE4E.— Genero Sesamum; o S. angolense.
39. AcantHacesE.— Genero Thumbergia ou proximo ; representado por
seis especies não determinadas, e em parte novas.
Genero Erantheum; uma especie, colhida no rio Luapula.
Genero Justicia; representado por duas especies, colhidas nas
proximidades do rio Cabompo, e do rio Mºpalina.
40. Versenacese.— Genero Clerodendron; representado por tres es-
pecies. Os exemplares de uma d'estas, consistindo em pequeninos ra-
mos com algumas flores ainda em botão, apresenta um aspecto sin-
gular, e bem diverso do habitual no genero, o que resulta talvez do
estado dos exemplares. Foi colhido em outubro de 1884, nas terras do
Mirambo. /
Genero Vitex; uma especie vizinha do V. cuneata, e identica
ao n.º 5695 de Welwitsch.
Genero Lippia; uma especie identica ao n.º 5717 de Welwitsch.
proveniente do Coróca.
41. Lasistrae.— Alem de uma especie do genero Acrocephalus, consti-
tuem esta familia na colleeção onze fórmas diversas, pertencentes a oito
generos distinctos, que não determinei n'esta primeira revisão, e que, em
parte, estão representadas por exemplares pouco completos.
42. AmaraxtTACEAE.— Genero Centema ou vizinho, representado por
uma especie, colhida proximo ao Cabompo.
Genero Alternanthera; a A. Achyrantha ou muito vizinha; pro-
vém da região do Coróca.
Deve pertencer a esta familia um exemplar, sem flor nem fructo,
colhido em abril de 1885. Segundo uma nota dos viajantes, os negros
d'aquella região extrahem d'esta planta parte do sal, que empregam na
cozinha.
43. CmenopopiacesE.— Um exemplar imperfeito e de difficil determi-
nação.
44. TiymeLese.— Genero Gnidia; representado por uma especie nova
ou ainda inedita, à qual pertencem talvez os exemplares trazidos pelos
srs. Capello e Ivens de sua primeira viagem, assim como outros envia-
dos pelo sr. Anchieta.
Genero Lasiosiphon, duas especies; uma das terras do Mirambo
outra do rio Bengue. Já de sua primeira viagem os srs. Capello e Ivens
haviam trazido uma especie nova d'este genero, cujos exemplares não
tenho agora em Lisboa, mas que concordam talvez com uma das fórmas
da presente collecção.
45. Lavringar. — Genero Cassytha; duas fórmas um pouco diversas,
uma das quaes concorda absolutamente com a planta a que Welwitsch
deu no seu herbario o nome de C. cuanzensis. Mas esta e as duas fórmas
da presente colleeção pertencem, creio, à C. filiformis. Uma das fórmas
Botanica 459
colhidas pelos srs. Capello e Ivens provém do Coróca, a outra dos ma-
tos proximos ao rio Lombo.
46. EurHorBiacese. — Genero Huphorbia, representado por duas espe-
cies, uma do grupo Pithymalus, a outra cactiforme.
Phyllanthus; o P. reticulatus; provém do Coróca.
—— Acalypha; a A. dumetorum; foi colhida em novembro de 1884.
—— Uma Euphorbiacea incompleta e indeterminavel.
47. Urricacesae.— Genero Dorstenia; uma especie representada por
um exemplar incompleto, indeterminada e provavelmente nova, do rio
Mugando.
Genero Urtica, duas especies indeterminadas.
Encontra-se ainda na collecção um pequeno numero de exemplares,
oito ao todo, pertencentes a Dicotyledoneas; mas que n'uma primeira
revisão e pelo seu mau estado, me foi impossivel referir à familia na-
tural a que pertencem.
II. MONOCOTYLEDONEAE
48. Hyprocuaripeae— Genero Ottelia; representado por uma espe-
cie, que habita as aguas do rio Luanguinga.
Genero Boottia, representado por uma especie das lagoas do
Zambeze. Tanto esta, como a precedente são muito interessantes.
49. OrcHrpese.— Genero Eulophia, representado por tres especies.
Genero Habenaria; a H. robusta (Welw. n.º 695); mais uma es-
pecie identica ao n.º 687 de Welw.; e uma terceira indeterminada.
—— Genero Lissochilus; L. arenarius; e uma segunda especie inde-
terminada.
Ha ainda duas especies de Orchideas, cuja situação generica não deter-
minei.
50. Scrramingse.— Representada pelas flores de um exemplar incom-
pleto, ao que parece do genero Amomum.
51. Irrpese.— Genero Gladiolus; quatro especies; o G. Welwitschii ;
uma especie muito proxima ao G. benguellensis; uma especie proxima ao
G. luridus; a quarta indeterminada e proveniente de Lifué.
Genero Mora, tres especies indeterminadas e porventura novas,
uma das quaes é bastante notavel.
Genero Lapeyrousia; uma especie muito vizinha, comquanto tal-
vez distincta da Lapeyrousia (Ovieda) erythrantha, encontrada por Pe-
ters na Zambezia. À planta da nossa collecção foi colhida em janeiro de
1885, e portanto no lado oriental.
460 Botanica
52. AmseyLLIDEAE.— (Genero Hypoxis; duas especies, porventura ine-
ditas.
Genero Buphane; o B. toxicaria, proveniente do rio Cabompo;
o B. angolensis das florestas junto ao Mombeze. O exemplar da ultima
differe um pouco dos de Welwitsch (n.º 4012), mas julgo ser a mesma es-
pecie.
— — Genero Vellozia; uma curiosa especie d'este curioso genero, tal-
vez inedita. Foi colhido o exemplar em outubro de 1884, perto do Luala-
ba. E pouco frequente, e habita nas fendas das rochas dos logares eleva-
dos (nota de Capello e Ivens).
58. Taccaceas.— Genero Tacca ; refiro a este genero uma inflorescencia
ainda'nova de um exemplar sem folhas; provém das proximidades do rio
Cabompo.
54. Lrrracese. — Genero Asparagus; o A. deflexus.
—— Chloroplytum; uma especie proxima do €C. orchidastrum.
— — Scilla; a 8. hispidula, à qual os negros dão o nome de «Tehian-
gatata».
Anthericum, uma especie indeterminada, proveniente das proxi-
midades do Lufira.
Gloriosa; uma especie indeterminada, talvez nova e muito inte-
ressante. E perfeitamente distincta da G. superba, assim como das outras
duas especies representadas nas collecções de Welwitsch;e parece-me
igualmente diversa da especie descripta e figurada na obra de Peters. O
exemplar foi colhido em novembro de 1884.
— — Sandersonia; uma especie indeterminada e talvez nova.
Ha mais uma Liliacea da qual não determinei o genero.
55. CommeLynxese.— Genero Ancilema, representado por uma especie.
—— Commelyna, representado por quatro especies, entre as quaes al-
gumas porventura novas.
56. Xyripese.— Genero Xyris, representado por uma especie colhida
no rio Cuma.
57. ArorvesE.— Genero Amorphophallus, representado pelo Amorpho-
phallus (Hydrosme) angolensis, Welw., n.º 228. O nosso exemplar provém
das margens do Cabongo.
58. Cyperacese.— (Genero Ascolepis, representado por tres bonitas
especies, que mais detido exame identificará talvez com as deseriptas por
Welwitsch no Sertum ou demonstrará serem em parte novas. Provém
das origens do Lualaba, do Cubango, e do rio Cabompo.
Genero Cyperus, representado por uma especie da região do Co-
róca.
59. Graminxesr.— Esta familia está muito pouco representada, apenas
por quatro especies provavelmente de quatro generos diversos; mas tão
incompletas que será impossivel chegar à sua determinação.
Botanica 461
HI. — CRYPTOGAMICAE
Muito escassamente representadas por quatro generos das Filicineas,
Adiantum, Nephrolepis, Hhpolepis, (?) e um genero indeterminado; por
uma Lycopodiacea aquatica do rio Bengue, provavelmente do genero Sal-
vinia; e por uma Muscinea sem fructificação, e portanto indeterminavel.
A segunda collecção em importancia, e primeira na data da
sua formação, provém do trajecto de Mossamedes à Huila,
serra de Chella, etc. Toda esta região é relativamente bas-
tante conhecida, sobretudo pelos admiraveis trabalhos do dr.
Welwitsch. Mas o que na Africa se chama conhecido, está
apenas entrevisto, mesmo quando por lá passou um collector
tão cuidadoso e perito como Welwitsch. Segue-se, pois, que
esta collecção tem ainda muito interesse, e abunda em indica-
ções novas e valiosas.
Consta de proximamente 51 especies de Phanerogamicas, e
6 de Cryptogamicas. Das primeiras, 52 pertencem às Dicoty-
ledoneas, e acham-se distribuidas por 25 familias naturaes; e
as emco restantes a tres familias das Monocotyledoneas. Todos
os exemplares estão cuidadosamente etiquetados, com indica-
ção das localidades em que foram colhidos, dos seus nomes
vulgares e dos seus usos entre os naturaes. Estas indicações
aproveitarei no trabalho definitivo sobre estas plantas, assim
como no segundo volume das Plantas uteis da Africa Portu-
queza, que tenciono publicar brevemente.
A lista dos generos que compõem a pequena collecção for-
mada entre Mossamedes e a Huilla é a seguinte:
1—DICOTYLEDONEAE
1. RaxuncuLacear —Genero Clematis, representado pela C. simensis
da serra da Chella. |
2. PortuLacaceae— Genero Talimum, uma especie indeterminada, co-
lhida entre Mossamedes e Capangombe.
VOL. II. 30
462 | Botanica
3. Macvacese.— Genero Sida, duas especies.
Genero Hibicus, duas especies.
4. SrercuLIACEAE.— Genero Dombeya, uma especie.
5. Tmiscese— Genero Triumfetta, a T. rhomboidea.
6. AmperinesE.— Genero Vitis, uma especie da serra da Chella.
7. AnscarDIACEAE.— (Genero Rhus, o R. ferruginea (Welw. mss.).
8. Legumincssg.— Genero Crotalaria, representado pela €. elata; (.
argyrea; uma fórma proxima ou identica à O. spinosa; e uma quarta es-
pecie.
Genero Eriosema, duas especies.
Genero Cassia; a CU. Kirkii.
9. CrassuLacese.— Genero Crassula; a C. abyssimca.
10. Cucursrracese. — Genero Cucumis;: uma especie proxima ao (.
sagittalis.
11. Rusracese.— Genero Oldenlandia, uma especie.
12. Comrosrrse. — Genero Pleiotaxis, uma especie vizinha, mas appa-
rentemente distincta do P. auriculata.
Genero Blumea, uma especie.
Genero Eleutheropappus, o E. glandulosus (Welw. mss.).
— — Genero Helichrysum, uma especie.
— — Genero Inula, uma especie.
—— Genero Artemisia, a A. Cafra, ou uma fórma muito proxima.
Genero Bidens, uma especie.
— — Genero Gymira, duas especies.
13. PrumBscisese— Genero Plumbago, uma fórma muito proxima à
P. zeylanica.
14. CoxvocvoLacese.— Genero Evolvulus ou Breweria, uma especie.
Genero Argyrea ou proximo, uma especie.
15. Corpracese.— Genero Cordia, uma especie.
16. Borrsansese.— Genero Heliotropium, uma especie.
17. Soraxacese— Grenero Solanum, representado por tres especies.
18. Pepsrixese.— Genero Pedalium, o P. adenophyllum (Welw., n.º
1637).
Genero Sesumum, o 5. pentaphallum (Welw.).
19. AcanxtrHscese.— Uma especie indeterminada.
20. VerBenxacese— Genero Lantana, representado por duas espe-
cies.
21. Lasrarae.— Genero Leucas, uma especie; e mais tres fórmas dis-
tinctas de generos que não determinei.
22. AmasrantTAcEAE.— Genero Celosia, uma especie.
—— Sericocoma, uma especie.
—— “rua, uma especie.
—— Achyranthes, uma especie.
Botanica 463
23. Crexoropracese.— Genero Chenopodiwm, o vulgar e estimado €.
ambrosioides (vide Pl. uteis da Afr. port. p. 248).
24. Porycoxese.— Genero Polygonum, uma especie.
25. Buxacese.— Genero Buxus, representado por uma especie da ser-
ra da Chella. O nosso exemplar não tem flores nem fructos, mas parece-
me bem pertencer ao genero Buxus; e n'este caso constituirá uma espe-
cie nova, pois é distincto do B. Hildebrandtii (Adansonia xr, 268), a
unica especie africana. No nosso exemplar ha um dimorphismo foliar
pronunciado entre os ramos inferiores e os superiores. Se a determinação
generica é exacta, esta planta é uma das mais curiosas da collecção.
1. — MONOCOTYLEDONEAE
26. Lruracese.— Genero Asparagus, o A. angolensis, e mais uma es-
pecie.
24. Cyperacese— Genero Cyperus, uma especie.
28. Gramingse.— Duas fórmas distinctas, uma do genero Panicum, a
outra em exemplar imperfeito e indeterminavel.
HWI.— CRYPTOGAMICAE
Este grupo é representado por algumas Filicineas dos generos: Adian-
tum, uma especie; Pteris, quatro especies; e um exemplar indetermina-
vel, provavelmente do genero Nephrodium.
Setembro de 1886.-- Conde de Ficalho.
LISTA DOS EXEMPLARES
DE
MINERAES DE ROCHAS E DE FOSSEIS!
Bahia dos Elephantes, 160 metros de altitude.
Fragmento de quartzo hyalino.
Gesso fibroso.
Conchas recentes dos generos Phorus, Triton (T. succintum,
Lamk.), Patella (duas especies proximas de P. Lusitanica, Gmelin,
e P. coerulea, Linn.), Calyptraea (similhante a C.trochiformis, Grat.),
Arca (A. senilis, Linn.= Senilia senilis, Gray) e Serpula sp.
Mossamedes.
Silex pyromaco.
Grés calcarifero amarello (molassa terciaria) com moldes de
bivalvas, provavelmente da epocha terciaria e o mesmo deposito
das margens do Coróca.
Mossamedes, Ponta da Fortaleza.
Grés calcarifero cinzento (mollassa) com moldes de bivalvas
muito abundantes, cujas conchas foram destruidas restando vasios
os espaços que ellas occupavam.
1 Estes exemplares foram obsequiosamente classificados na Secção
dos trabalhos geologicos sob a direcção do ex.mº sr. Nery Delgado. A
analyse microscopica das rochas foi feita pelo ex.mº sr, Alfredo Ben-Saude.
466 Exemplares geologicos
Mossamedes (costa ao sul da Ponta do Noronha), 150 metros
de altitude.
Grés grosseiro amarello de cimento calcareo. Provavelmente
terciario.
Conchas recentes dos generos Serpula, Conus ou Erato, Purpura
ou Cancellaria, Fusus ?, Purpura (subgenero Thalessa), Patella,
Calyptraea (proxima de C. trochiformis, Grat.), Arca (A. semailis).
Vê-se que as especies são as mesmas que na bahia dos Elephantes.
Porto Pinda.
Quartzo hyalino, fragmento gasto na superficie.
Pequeno calhau rolado de quartzite avermelhada.
Calcareo silicioso compacto cinzento, cortado de venulas de
quartzo, e silex cinzento cortado de venulas sub-parallelas de
quartzo branco, provavelmente representando um accidente no
calcareo. São calhaus rolados da praia.
Calcareo concrecionado stalactitico.
Grés muito fino argillo-calcarifero, de côr amarellada (mollas-
sa?) e calcareo argillo-arenoso compacto, enchendo dois moldes de
Cardium do typo de €C. hians, Brocehi.
Pertencerá ao grupo terciario?
Coróca (rio) e suas margens, S. Bento do Sul.
Pequeno calhau rolado de quartzite cinzento-escura.
Schisto silicioso anegrado.
Calcareo amarellado terroso com crystaes de calcite.
Conchas dos generos Natica, Nassa, Buccinum ou Eburna, e
Ostrea, substituidas por calcite, todas ou quasi todas de pequena
estatura. Provavelmente representam um deposito da era terciaria.
Conchas recentes do genero Achatina.
Entre Giraul e Pedra Grande.
Grés calcarifero (molassa).
Pedra Nascente.
Quartzo hyalino, fragmento lascado de um erystal.
Chella.
Silex de côr clara.
Serra da Chella, 850 metros.
Schisto silicioso de côr clara. Provavelmente alterna com ca-
madas argillosas (de schisto ?),
e mineralogicos | 467
Serra da Chella, 900 metros.
Silex de côr clara.
Serra da Chella, 1:000 metros.
Grés fimo micaceo, de cimento argilloso, e de côr clara.
Serra da Chella, 1:500 metros.
Schisto argilloso muito carregado de oxydo de ferro, passando à
limonite.
Serra da Chella, 1:600 metros.
Limonite, concreção em rocha argillosa.
Huilla, planalto (lagoa).
Limonite.
Huila.
Schisto silicioso vermelho-escuro.
Quartzite de côr rosada clara.
Quipungo.
Fragmento rolado de um crystal de feldspatho.
Tongo-tongo.
Magnetite.
Rio Caculovar, Humbi.
Quartzo resinite de côr amarellada.
Pegmatite, pequeno fragmento rolado.
Jaspe vermelho, fragmento lascado nas bordas.
Jaspe amarello, idem.
Dos Gambos para o Humbi, Iorocuto.
Pegmatite, de feldspatho rosado.
Quartzite schistoide.
Quartzite, concreção rija no meio de um grés.
Humbi.
Grés similhante ao da serra de Chella, a 1:000 metros.
Cabompo.
Limonite, ferro pisolitico.
Quartzo hyalino.
Quartzite.
Concreção siliciosa no meio de um grés.
468 Fivemplares geologicos
Do alto do Lualaba.
Phonolite, rocha eruptiva post-terciaria.
Rocha composta de numerosissimos individuos de feldspatho po-
tassico dispostos parallelamente. Alguns individuos de feldspatho
triclinico e alguns maiores de feldspatho potassico dão à rocha um
aspecto um tanto porphyroide. O ensaio microchimico accusa cla-
ramente a existencia de nephelina. Encerra alguns grãos de ma-
gnetite e agulhas de amphibole.
Lualaba.
Schisto muito micaceo. Do grupo archaico ?
Quartzo granular.
Limonite.
Rio Lunga.
Lasca de silex pyromaco.
Caháco.
Quartzo em massa, fragmento.
Quartzo hyalino.
Rio Boqué.
Hematite terrosa.
Fragmento de quartzo branco, de um veio.
Lunga (Caharé).
Silex pyromaco.
Rio TºChiovoe, Lualaba.
Magnetite.
N”Fenque.
Quartzo granular e oxydo de ferro hydratado (de um filão ?).
Calabi.
Schisto argilloso com malachite. Do grupo paleozoico?
Quartzo com malachite.
Limonite.
Quartzite fina branca, fragmento solto.
Quartzite ferruginosa, fragmento solto.
Silex pyromaco, fragmento solto, do qual se destacou artificial-
mente (?) uma lasca.
e mineralogicos 469
Candomba.
Grés avermelhado com malachite.
Schisto argilloso com malachite. Grupo paleozoico ?
Schisto silicioso. (A preparação microscopica mostra um crystal
de rutilo, mica, argilla, oxydo de ferro e muito quartzo.)
Bunqueia.
Schisto argilloso mais ou menos macio, de côr acinzentada, ge-
ralmente muito pouco ou nada micaceo. Do grupo paleozoico.
Quartzo hyalino granular.
Musire.
Quartzo granular, provavelmente formando veio nos schistos.
Inafumo.
Quartzite com grossos grãos de quartzo em matriz mais fina, de
côr avermelhada.
Ao norte de Inafumo.
Silex cinzento anegrado.
Schisto silicioso cinzento.
Schisto argilloso avermelhado.
Ao norte de Inafumo, Quirema.
Fragmento de jaspe vermelho escuro. (Pederneira de espingar-
da.)
Lussalla (rio).
Gneiss.
Quartzite.
Schisto silicioso negro (Iydite).
Schisto argilloso alterado, vermelho.
Schisto argilloso cinzento (a rocha procedente não alterada).
Do grupo paleozoico.
Na Ratanga.
Schisto argilloso avermelhado. Do grupo paleozoico.
Hulha, ardendo bem e com o cheiro caracteristico. Do systema
carbonifero (?).
Gneiss com quartzo rosado.
Malachite em quartzo branco.
dE
-q
=)
Exemplares geologicos
Quartzo branco e fragmento de crystal de orthose n'elle incluido,
talvez represente uma pegmatite.
Crystal de quartzo hyalino.
Grés argilloso.
Quartzite.
Grés ferruginoso.
Limonite terrosa.
Hematite terrosa.
Grés fino branco incoherente.
Terra argillosa vermelha e de côr de tabaco. Deposito quater-
nario (?).
Molde de Murex sp., terciario.
Oliva subulata, Lamk., recente.
Lutubo (rio).
Schisto argilloso cinzento com leitos alternantes ferruginosos.
Quartzo com limonite, de um filão.
Luapula, margem direita.
Silex, lasca solta, rolada.
Quartzo, fragmento solto, rolado.
Hematite concrecionada.
Lucutaboa (rio).
Grés fino argillo-micaceo, de côr ochracea.
Crystal de quartzo.
Limonite, concreção em argilla.
Caminho do Luapula para Quiniumpa.
Grés muito rijo de cimento argilloso.
Schisto argilloso cinzento com manchas avermelhadas escuras;
muito finamente micaceo em partes. Do grupo paleozoico.
Caminho de NºTenque para Quiniumpa.
Calcareo erystallino cinzento-anegrado de grão fino, com veios
brancos de calcite.
Rio Mutetechi.
Gneiss decomposto, com uma lamina de quartzo intercalada.
Quartzo granular.
e mineralogicos A)
Rio Mutondo, caminho de Quinfumpa, vindo do Luapula.
Quartzite. Do grupo paleozoico.
Mumbeje (rio).
Hematite terrosa.
Limonite.
Quartzo hyalino, fragmento lascado intencionalmente para ser-
vir como pederneira de espingarda (?).
Quartzo granular.
Serra Riropira, Zambeze.
Schisto granatifero, finamente granular, vermelho-eseuro, quasi
negro. Ão microscopio reconhece-se que é constituido pela aggre-
gação de pequenos individuos de quartzo com pequenos crystaes
de granadas; um e outro elementos de dimensões microscopicas,
e em disposição parallela. Pertence à serie de rochas cerystallo-
phyllicas, ou grupo archaico, da região.
Micaschisto, de côr branca azulada, com a estructura lamellar.
Constituído principalmente de mica em disposição lamellar, in-
cluindo agglomerações lenticulares de quartzo granular. Contém
numerosos crystaes microscopicos de turmalina, e numerosas man-
chas vermelho-escuras de oxydo de ferro, resultantes da decompo-
sição de um mineral, provavelmente pertencente às granadas ferri-
feras. Sem duvida da serie de rochas crystallophyllicas, ou grupo
archaico.
Amphibolite, de côr negra, grão fino, estructura crystallina
schistosa. Composição : amphibole verde escura e quartzo granular.
Idem.
Micaschisto muito rico em quartzo, de mica branca e com al-
guns grãos de turmalina. Idem.
Pegmatite de grandes elementos, de um veio.
Grés fino schistoide ou quartzite.
Serra Muchinga.
Quartzo branco.
Quartzo crystallisado, de um veio.
Quartzo adherente a um fragmento de rocha granitoide branca
(gneiss), na qual provavelmente formava um veio.
Quartzite branca, avermelhada por alteração à superficie.
Quartzite com grãos ferruginosos, fragmento rolado.
Gneiss branco, cinzento, e de côr avermelhada. Do grupo archaico.
Amphibolite. Idem.
472
Exemplares geologicos
Canjezi, Zambeze.
Schisto silicioso. Do grupo paleozoico.
Calcedonia cinzenta.
Jaspe (variedade cripto-crystallina de quartzo) de côr cinzento-
verdoenga. Pelo aspecto da superficie conhece-se que é um fra-
gmento de tronco fossilisado, de especie indeterminavel.
Chôa.
Crystal de quartzo hyalino, incompletamente formado e outro
crystal completo.
Entre Chôa e Zumbo, ao longo do Zambeze.
Zumbo.
Amphibolite.
Magnetite.
Agatha verde.
Quartzo crystallisado, de um veio.
Amphibolischisto.
Gabbro (?).
Gneiss.
Magnetite.
Calcedonia verde.
Fragmento de geode de quartzo.
Gneiss de côr escura. Estructura lamellar; grão mediano. Com-
posto de mica negra em pequenas palhetas dispostas parallela-
mente, envolvendo grãos irregulares de quartzo, de alguns milli-
metros, e de feldspatho.
Calcareo rosado.
Quartzite avermelhada.
Quartzite pouco micacea.
Grés grosseiro pouco coherente.
Grés fino argilloso incoherente, de côr esbranquiçada.
Jaspe branco.
Diabase, de côr verde negra, com aspecto aphanitico. Estructu-
ra macissa. Textura granular fina. Composta de augite em crys-
taes e grãos irregulares em estado de alteração (transformada em
chlorite) e de plagioclase, em bom estado de conservação e trans-
lucido. Como elemento secundario tem alguma magnetite em 0e-
taedros. Provavelmente forma um filão nas rochas crystallophylli-
cas da região.
e mineralogicos dTa
Lupata de Gamitto.
Schisto argilloso avermelhado escuro. Do grupo paleozoico.
Gneiss branco com mica branca.
Rio Daqui, Zambeze.
Hulha.
Anthracite, fragmento solto, gasto na superficie pela acção dos
agentes externos.
Carbonato de ferro e carbonato de calcio em laminas alternan-
tes.
Rocha argillosa macissa. Composição: massa kaolinica princi-
palmente com hydratos de ferro e outras impurezas, e alguns gra-
nulos de quartzo. Provavelmente o resto, alterado, de rocha feld-
spathica macissa, talvez trachyte. A estructura original manifesta-
se muito imperfeitamente.
Inhajinga, Zambeze.
Agatha.
Judeu, Zambeze.
Calcareo argilloso (lacustre?).
INDICE
PRIMEIRO VOLUME
À
Abai ou Nilo Azul (rio), descoberto
por Pedro Paes, 10.
Abyssinia, viagem à, 6 a 10.
Acacia albida, leguminosa de espi-
nho, da gomma, pennata, 114; caf-
fra, 251; no Cabompo, 441.
Adenota lechee, antilope, 254 e 369.
Adivinhações, 166 a 168.
Adulterio, nos ba-coróca, 99.
Africa, centro da Africa, o que se
pensava da, 385 a 388.
Aigoceros ellipsiprimnus, 256.
Alvaro (D.), rei do Congo, 45.
Alvaro II (D.), rei do Congo, reinado,
46 e 41.
Alvaro III (D.), reinado e guerras,
41.
Alvaro IV (D.), rei do Congo, 47.
Alvaro V (D.), rei do Congo, reinado,
48.
Alvaro VI (D.), rei do Congo, 48.
Alvaro VII (D.), rei do Congo, rei-
nado e guerras, 50 e 51.
Alvaro VIII (D.), rei do Congo, 51.
Alvaro Lopes, enviado portuguez no
Congo, 42.
Amaral (Francisco Ferreira do), go-
vernador de Angola, 66.
Amaryllis toxicaria, euphorbia, 207.
Amboellas, tribu, 267.
Ambrozio (D.), rei do Congo, 47.
Anchieta (José de), naturalista em
Africa, 131; opinião de, 132.
André Vidal de Negreiros, governa-
dor de Angola, 51.
Angola, guerra em, 1663, 51.
Angra do Negro, bahia de Mossa-
medes, 110; colonisação de, 111.
Anões, 251.
Antilopes, gallengues, Oryx gazella,
122: m'pallas, pyceros melam-
pus, 113, 250 e 336; gungas, Bo-
celephus oreas, nuimas, unjiris,
Sterpsiceros cudu, quihunos, gazel-
las, Servicapra bohor, 173; N'du-
gui, palancas, Hyppotragus equi-
nus, Adenota lechee, 254 e 336;
quissema, cutungué, Aigoceros elli-
psiprimnus, 256; capadjis,
Caama, 391; harrisbuck, 411.
Antonio (D.), rei do Congo, 49.
Antonio Carlos Maria, caçador, 162.
Armadilha, hopo, 338 e 398.
Arundo phragmites, 232: canniçal,
282.
Aves, no Zambeze, 398 a 399.
388;
416
B
Ba-chequelle, 206.
Ba-coróca, habitantes do rio Coróca,
On,
Ba-cuanhama, gente de cuanhama,
228.
Ba-cuisso, tribus errantes no litoral,
15.
Ba-genji, habitadores de Libonta,
395.
Bagres, Clarias capensis, 241.
Ba-hae, 175.
Ba-iauma, tribus do rio Cuando, 348.
Bambi, Cephalophus mergens, 144.
Bana-cutuba, habitantes de leste do
Cunene, tribu, 224.
Banana (Porto), 25 e 26.
Ban-dimba, 192.
Ba-n'dirico, gente do Dirico, 308.
Ba-nhaneca, tribus de Quipungo, 174;
seus costumes, 175.
Ba-nhengo, tribus no rio Lia-Mucus-
si, 910; roubo feito pelos, ST4.
Banja, portella na Chella, 139.
Ban-jau, 175.
Ban-kumbi, entre os, 213 a 287; tri-
bus do Humbe, 217; funeraes dos.
222 e 229.
Ban-pata, 175.
Ban-ximba, tribus do Humbe, 217.
Bao-bab, 142.
Ba-polo, 175.
Ba-pungo, 175.
Ba-qua-neitunta, anões, 257.
Ba-quihita, 175.
Barotze, valle do, 357 « 881; terre-
nos alagados, 318 e 379; peixe
no, 380; caminhos para o, 400;
constituição geologica, 426.
Bauhinias, 228.
Índice
Ba-vico, gente do Libebe, 308.
Belavella, logar de, 208.
Bento (S.), fazenda no rio Coróca, 96.
Bernardo (D.), rei do Congo, morte
d'este, 47.
Bissonde, formiga, 372.
Bois cavallos, 305; do mato, 806 e
307.
Bombyx, insecto, 180.
Borlunga, especie de pombé, 198.
Boseleplusoreas, gunga, 173.
Brachystegia spieeformis, 174
Bruco, garganta na serra da Chella,
139.
| Buta, reptil, Echidna arietans, vene-
no da, 207.
Bushmen, 254 e 255.
O
Caama, antilope, 391.
Cabandje, entre o Cunene e Cuban-
go, 251.
Cabompo (rio), 406; problemas a re-
solver, 406: descripção e origem
do, 418; chegada ao, 421 : afluente
do Zambeze, 426; constituição geo-
logica das margens do, 427; aspe-
cto selvagem, 428 a 432.
Cabra, N'dughi, 254.
Caça, 369 e 376; no Humbe, 209: no
Zambeze, 392 e 393; no Cabom-
po, 442,.335 e 338.
Cachinde, Myrothomnus flabellifolia,
planta, 173 e 174.
Cachira, soba do Handa, 252.
Cachitanda (rio), 250. 7
Cacimbo, estação secca em Africa,
147.
Caionda, arraial de, 148.
Cães, utilidade dos, 369; morte, 437!
morte de um, 440.
Indice
Cafima, terras de, 259 e 325.
Cafuta (Moi), soba, 420.
Cahama, terras de, 204.
Caheta (Muene), soba no Cabonpo,
444.
Cajimballe, floresta de, 345.
Cajinga (barrete), 269.
Caléi, chefe dos guerreiros do soba
de Quipungo, 1758.
Calfele, grande do soba, 1758.
Calleba, portella na Chella, 139.
Calombeu (rio), 369.
Calonga (rio), afluente do Cunene,
249.
Calungo-lungo (Muene), soba, 367.
Caluri (Muene), 336.
Cambae (rio), braço do Zambeze, 408.
Camba, districto da, 233.
Campana (padre), missionario no
Humbe, 224.
Campullo (Moi), soba, 256.
Cangungo, logar na margem do rio
Cuito, 307.
Canis mesomelus, mabeco, 257.
Caongo, terra de, 230.
Caonha, doença do gado, remedio,
235, (nota).
Capadji, cabra, 338.
Capangombe, 131; estrada de, 123;
geologia, 125.
Carneiros, damba no rio Coróca, 119.
Carregadores, considerações, preoc-
cupações, 86 a 88; fugida de, 105 e
274; doença dos, 342: morte, 366;
receio dos, 406.
Ca-runda, habitante da Lunda, typo
e sentimentos, 418.
Cassoneira, euphorbia, 62.
Catalla, morro, 172.
Catiba (Muene), regulo do Cubango,
266.
Cauri, busio, 75.
Cephalophus mergens, antilope, 144.
VOL, II.
444
Cercopithecus Weneri, macaco, 180.
Cerithium, fossil na facha sub-allu-
vial, 113.
Cha-Malundo, morro, 131.
Chana, planura coberta de graminea.
426.
Charadrius caruncula, ave, 288.
Chella, serra da, 139; subida da, 140.
Chibemba, logar do chefado nos Gam-
bos, 190.
Chicolui (rio), 363.
Chiembi (Muene), regulo da Lunda,
415.
Chimpumpunhime (rio), 187.
Chingongochella (Muene), soba, 419.
Chinhama (Muene), soba, 440.
Chobe (rio), 307 e 344.
Chuva, festa da, 222: tempo da, 358
a 362.
Circumeisão, entre os ba-coróca, 101
e 320.
Civilisação em Africa, considerações,
414 a 417.
Clarias capensis, bagre, 247; peixe,
380.
Clima, do Congo, 54 a 57; da Huilla,
149 e 187.
Cobra de agua, 145; historias exage-
radas a respeito da, 146, 147, 248 e
338.
Colonias penaes, 79, 181 e 182.
Colonisação, 154 a 158.
Combulé (rio), 364.
Comitiva, numero conveniente, 64;
morte de um homem da, 436 ; doença
da, 438; morte de dois homens da,
439: fugida da, 440; um homem
perdido da, 441; fugida de uma
mulher da, 445; fugida de dois
homens da, 445; perseguição dos
fugitivos da, 117 e 118.
Congo (0), 21 a 37; considerações
sobre o, 28 a 97; historia politica
31
448
do, 39 a 57; rio, descoberta, 59:
relações com os reis do, 40 a 54;
primeira expedição ao, 41; chega-
da dos capuchinhos ao, 49; eleição
do rei do, 52 à 53; guerras no, 55
a D4.
Conjumbia (rio), 338.
Coróca (rio), 95 e 119; suas margens,
constituição geologica, 96: habi-
tantes do, 96 a 102: expedição ao
rio, 118 a 121; flora e fauna do,
103 e 104; enchente no, 120.
Cuando (Muene), soba, 303 e 304: rio,
348 e 350; passagem do rio, 349.
Cuangar, terra na margem do rio
Cubango, informações sobre o,
308.
Cuanhama, reino a leste do Cunene,
224.
Cuatir (rio), 280 e 292.
Cubango (rio), 259 a 262.
Cuchó (rio), 399.
Cuculo-bale-rio, 180.
Cuebe (rio), 272.
Cuelai (rio), 252.
Cueio (rio), 2758.
Cuito (rio), 260 e 307.
Cultura, terrenos improprios, 370.
Cuma (rio), 3355.
Cunde-M'bumba, soba de Quipungo,
11%; recepção do soba de Quipun-
go, 178.
Cunene (rio), 229 e 232; em Quiteve,
245.
Cutapa (Muene), grande da Lunda,
412.
Cutchi (rio), 268.
Cuti ou Cussibi (rio), 352.
Cutuba, parte do vestuario, 224 e
259.
Cutungué, Aigoceros ellipsiprimnas,
256. :
Cussibi (rio), 352.
Indice
Cyrena cuneiformis, fossil na facha
sub-alluvial, 118.
D
Dambas, 261.
Dansa, 375 e 376.
Degradados, considerações sobre os,
Tirar
Delpueche (Padre), missionario no
Humbe, 224.
Dembo Ambuilla, 51.
Dentes, costume de os partirem, 174,
175 e 194.
Deudorocygna viduata, pato do rio
Coróca, 104.
Dialeetos, numeração da gente do rio.
Coróca, 98.
Diospyros mespiliformis, arvore, 149.
Diogo (D.), rei do Congo, 48.
Dirico, logar no Cubango, 308.
Donga, lagõa, 252.
Donga abengue (rio), 368.
Duparquet (Padre), 169.
E
Elephantes, no rio Coróca, 122: em
Cahama, 204.
Emygdio de Figueiredo, proprietario
no rio Coróca, 102.
Epungo, milho, 174.
Esboço historico, 1 a 19.
Etocha, lagoa da Donga, 252.
Enclea lanceolata, arvore, 149.
Expedições, de Affonso de Paiva e
Pero da Covilhã, às terras do Pres-
te João, 5; de Capello e Ivens,
organisação da, partida da, viagem
para Angola, 21 a 37, 64 e 65,
problema a resolver, 63; pessoal
da, 66; partida da, 67; viagem para
Indice
Porto Pinda da, 86 a 90; às terras,
ao sul de Benguella em 1785, 109;
partida de Mossamedes para o in-
terior, 123; partida da Huilla, 187;
dificuldades da, 378; problemas a
resolver pela, 63 a 64.
Enterramentos, dos ba-coróca, 99 e
100; dos ban-kumbi, 222 e 225.
F
Fauna, na Pedra Grande e na Pedra
Pequena, 124 e 125; na Huilla, 173;
no Humbe, 209: norio Cunene, 252,
283, 247, 251 e 254.
Febre, considerações, 290 a 292.
Feitiços, feiticeiros, n'gangas, 164 a
168, 371 a 374.
Felix jubata, felino, 411.
Ferro magnetico, 189.
Festas, da Hela, 198 a 200: das don-
zellas, 201; do Gongo, 220 a 222;
da chuva, 222: dos mantimentos,
222.
Fetos, na Chella, 142.
Flamingo Phoenicopterus eriythorocos,
do rio Coróca, 104.
Flora, no litoral, 62: na Huilla, 149 e
150; na serra da Chella, 142: na
Handa, 251, 252, 299 e 300.
Florestas, em Casengo e Golungo,
62.
Fosseis, em Mossamedes, 112.
Francisco (D.), rei do Congo, 45.
G
Gaivotins, 399.
Galengue,antilope, Or gazella, 103.
122 e 145.
Gambos, 192.
4419
Garças, Herodias alba e Herodias in-
termedia, 104; Recurvirostra avo-
celta, 399.
Garcia 1 (D.), rei do Congo, 47.
Garcia II (D.), rei do Congo, reina-
do, 48 e 49.
Gazellas, Cervicapra bohor, 173; Ce-
phalophus mergens, 205.
Geologia, em Capangombe, 123: alem
da Chella, 245 e 246; opinião, 131.
Ghiva, 228.
Giraues, tribus do rio Giraul, 115.
Glanis siluris, peixe, 380.
Gneiss, 246: granito, 246; em Toru-
cuto, 201.
Gongo, fructo, 149 e 150; festa do
220 a. 222.
Governo de Angola, 76.
Guerra, 250.
Gungas, Boselephus areas, 173.
Jal
Habitações, dos coróca, 116 e 821.
Habitantes, do Humbe, 219 e 220.
Hai, terras do, 188.
Hamba, chefe entre os ban-kumbi,
220.
Hamba N'gonga, soba da Camba, 233.
Handa, 252.
Harrisbuck, antilope, 411.
Hela, festa da, 198 a 200.
Henrique (D.), rei do Congo, 45.
Herodias bubulcus, ave, 399.
Hopo, armadilha para caça, 338 e
398.
Hospital em Loanda, 73.
Hottentotes, 254 e 255.
Huca, como chamam Deus os ba-co-
* róca, 100 e 116.
Huilla, 148; agricultura na, 148; cli-
ma da, 149: partida da, 187.
480
Humbe, historia do, 213 a 217; par-
tida do, 230.
Humpata, logar perto da Huilla, 209.
Hyena, 251.
Hyphones, 62 e 308; Hyphoene ven-
tricosa, 411.
Hyppotragus equinus, palanca, 254.
4
I
Icanhocando, lágoa, 378.
Ielobanda, terras de, 191.
Iquebo (rio), 274.
Igrejas, no Sonho, 52.
Ilha de Loanda, 75.
Instrumentos musicos, 375.
Iorucuto, 201.
)
João Affonso de Aveiro, viagem em
Africa, 4.
João Fernandes, primeiro explorador
da Africa, 3.
João II (D.), caminho da India, 4.
João Hary (D.), rei do Congo, 52.
João Simão Tamba (D.), rei do Con-
go, d2.
José Baptista de Andrade, comman-
dante das forças da guerra ao
Congo, em 1859, 53.
Jovi, rei do Congo, 41.
Juramento, prova pela bebida, 166.
L
Leões, no rio Coróca, 103 e 122: caça-
dor de, 127 e 128; visita, 130; no
Rio Muniho, 130; prevenção con-
tra o, 412.
Indice
Leopardos, no rio Coróca, 122.
Lialui, 380.
Liambae (rio), 357.
Lia-Mucussi (rio), 370.
Liba (rio), 427.
Libonta, 385 a 401; povoação de,
393; o que diz Livingstone de,
394; clima de, 399; ao Cabompo,
405 a 421.
Lissale-ia-Muringa, lagoa 376; caça
na, 376. +
Lionze (Muene), 362.
Loanda, 67 a 81; historia e conquis-
ta aos hollandezes, 69 e 70; forta-
lezas de, 71 e 72; edificios, T4;
administração, 76; degradados em,
considerações, (1 a 81.
Loanguinga (rio), 379.
Lobale, planicie de, 344, 345.:
Lomba (rio), 338.
Lualaba (rio), 443.
Luanhica, soba do Genji, 393.
Luatuta (rio), 299.
Lueti (rio), 411.
Lunda, paiz da, 412.
Luinas ou ba-genji, habitantes de
Libonta, 395.
Lulua (rio), 412.
Lumupa, cachoeira no Luapula, 426.
Lunga (rio), 298; afiluente do Cuito,
440 e 448.
Lungué-Bungo (rio), 347.
M
Mabanda (rio), 273.
Mabanja, chefe de Bucusso, 307.
Mabecos, Canis mesomelus, 251 e 258.
Mabóca, fructo, 150.
Maboque, quadrupede, 103.
Macaco, Cercopithecus Werniri, 180.
Ma-côa, 334.
Indice
Macoco, no alto Zaire, 8.
Maionje, terras de, 188.
Mamo, lagõa, 260 e 307.
Man-bunda, gente das margens do
rio M'palina, 302 e 333.
Mangoia, tribus, 419.
Mani Sundi, rei do Congo, 42.
Maninga (rio), afluente do Cabompo.
440.
Manis multiscutatum, n'caca, 258.
Ma-róze, habitantes das margens do
Liambae, 408; costumes dos, 408.
Maruru, 327.
Massango, Penisetum, 282.
Ma-tchona, 324.
Material de expedição, 65.
M'borambonga, arvore, 327.
Merops superciliosus, milharuco do
rio Coróca, 104.
Meteorologia, considerações, 301 a
362.
Milongo, remedio, 221.
Minerios, 246.
Missionarios no Congo, 43.
Mionga (Muene), soba, 269.
Missões, na Huilla, 169 a 171; no
Humbe, 223 e 224.
Molomo (Muene), soba, 270.
Montes negros, contrafortes da Chel-
ato:
Mossamedes, expedições a, 110; co-
lonisação em, 111; historia, 111;
clima de, 111; geologia e fosseis
de, 112; tribus de, 151; viação em.
151 a 154.
M'pallas, Zpiceros melampus, anti-
lopes, 250 e 836; Adenota lechee?
336.
M'palina (rio), 300.
Muanja (Muene), soba nas terras de
Quipungo, 179.
Mucano, crime, 415.
Mucaratis, arvore, 335 e 339.
481
Muchito, floresta, 345.
Mucobessa, soba de Libonta, 3985.
Mulande, arvore, Diospyros mespili-
formis, 149.
Mucope, terra de, 191.
Mu-cuancalla ou bushmen ou ba-
chequelle, 206; costumes dos, 207.
Mué, mulolla, 255.
Muesse (rio), 351.
Mugil africanus, peixe, 380.
Mulolla, 261.
Mumõôes, arvore, 339.
Munda (Muene), 371 e 376.
Munguri, terras de, 191.
Mungamba, soba, 340.
Muninho (rio), 128: plantações norio,
128.
Mupa, arvore, 251.
Mupandas, arvore, Bracystegia spi-
cocformis, 114, 254 e 268.
Mupane, arvore, 228.
Musiri, soba da Garanganja, 406.
Mussongo (Muene), soba, 807.
Mutiate, Bahinia, 126, 228.
Mutonto, arvore, 268.
Myrotamnus flabellifolia, 114.
N
Nampandi, soba do Cuanhama, 224 a
221.
Nandumboe, morro, 172.
Nauéoa, terra das margens do rio
Caculuvar, 189.
Nascente, fazenda do sr. Nestor, 127.
Nºboto, fructo, Fuclea lanceolata, 149
N'caca, Manis multiscutatum, 258.
N'duas, ave, 399.
N'dughi, cabra, 254. -
N'dumbiro, arvore, 268.
Negro, ácerca do, 313 a 329, consti-
tuição physica do, 314 a 316; con-
482
stituição intellectual do, 316 a 318;
estudo ethnographico do, 318.
Nestor, fazendeiro no rio Muninho,
125.
N'ganga, adivinhos, 164 a 168; adivi-
nhação pelo, 371 a 314.
Nguiga-o-cúum, rei do Congo, 41.
N'gonga (Hamba), soba de Camba,
235.
N'gunde, leite azedo, 116.
Nhengo (rio), 367.
Ninda (rio), 365 a 366.
jangos, arvore, 395, 399.
Nocheira, arvore, Par mabola, 149.
Nuima, antilope, 173.
Numida melegrés, ave, 399.
O
Oco, arvore, 365.
Odres, planta, 124.
Ogan, padre, missionario no Hum-
be, 224.
Oianda (Muene), soba, encontro com,
420.
Ombougo, mulolla, 259.
Omukuru, divindade, 327.
Orgya gazella, galengue no rio Coró-
ca, 122 e 145.
lã
Palanca, Hyppotragus equinus, 254.
Papyrus, 410.
Parra africana, ave, 399.
Pato ferrão, Plectropterus gamben-
sis, pato commum, Poecilonetta
erythrorhyncha, 104; aves do rio
Coróca, 399.
Pau sandalo, Pterocarpus. 150.
Pedra grande, 126.
Pedra maior, 124.
Indice
Pedra pequena, 124.
Pedra da providencia, 127.
Pedro de Agua Rosada (D.), rei do
Congo, 58.
Pedro I (D.), rei do Congo, 45.
Pedro II (D.), rei do Congo, 47.
Pelicano, Pel. rufescens, do rio Co-
róca, 104; Ibis, 399.
Peonga, logar de, 235.
Phenix, palmeira, 142. |
Pinda (Porto), ponto de partida, 92
a 94.
Pinisetum Massango, 370.
Planalto, subida para o, 140 a 143.
Plantações no alto Zambeze, 370.
Pluviatus armatus, ave, 399.
Pomba, cadela, morte, 205.
Pombé, bebida fermentada, 178.
Porco, Phachocoerus Afri., 417.
Psistia strariotes, planta aquatica,
126.
Pterocarpus erinaceus, leguminosa,
150.
Pterocarpus, pau sandalo, 150.
Q
Quembo (rio), 348.
Querquedula holtentota, pato do rio
Coróca, 104.
Quihita, terras de, 179.
Quilulo, espirito ou alma dos mor-
tos, 195.
Quima, terras de, 230.
Quimballa, cesta, 283.
Quipóllas, tribus de Mossamedes,
Boy
Quipungo, 162; viagem a, 172 a 180.
Quissema, 256; Hgoceros Ellipsipri-
mnus 437.
Quissongo grande, grande do soba
ES:
Indice
Quiteve, na margem do Cunene, 237.
Quitiaba (Muene), soba, 348.
Quizura, chefe dos guerreiros do jag-
ga Zimbo, 216.
R
Raphia, palmeira, 370.
Recurvirostra avocetta, garça, 399.
Rhinoceronte, no rio Coróca, 122.
Roubo, 374.
Rubiaceas, 252.
S
Sal, 336.
Salubridade, considerações sobre a,
156 a 158.
Salvador Correia, conquista de Loan-
da por, 70.
Sandis, feitiço, 164.
Sonho (Congo), igrejas no, 52.
Schizorhis concolor, ave cujo canto
se assimilha ao da cabra, 172.
Sebastião Grillo (D.) rei do Congo,
52.
Senzallas, residencia dos chefes in-
digenas, 17.
Sepultura, 365; dos ban-dimbas, 196
a 198.
Silva Porto, 17, 365.
Spatulata capensis, pato do rio Co-
róca, 104.
Strichnos sps., especie de laranja, 150.
Sublevamento da facha da costa, 113
e 114.
Superstição, nos ban-dimbas, 195.
Sh
Terrenos cretaceos, no Dombe até
Novo Redondo, 113; terciarios em
4Sô
Mossamedes, Coróca e Bahia dos
Elephantes, 115.
Tamaxiz articulata, arvore na mar-
gem do rio Coróca, 108.
T'chicongo, pau camphora, Tarcho-
nanthus camphoratus, 150.
Temba-N'dumba, mulher do jagga
Zumbo, 216.
Temperatura, no Hai, 189; no Cune-
ne, 236.
Terminalia angolensis, 150.
Textor erythr, ave, 399.
Thalassiornis leuconata, pato do rio
Coróca, 104.
Thomaz de Sistula, superior dos ca-
puchinhos no Congo, 52.
Tiatra ou gallo das pedras, Saxicola
leucomelaena-monticula, 104.
Toca, cobra, 2458.
Tongo-tongo ou morro sagrado, 189.
Toquero, capital do Cuanhama, 228.
Trafico de escravos, prohibição em
1548 no Zaire, 45.
Travessias de Africa, tentativas pe-
los portuguezes, 1: de Balthazar
Rebello de Aragão, 3; de Estevão
de Athaide e padre Fernando, 9,
de Salvador Correia de Sã Benevi-
des, 10; de Manuel Godinho, 10 a
12: de José da Rocha, 12; de As-
sumpção e Mello e Manuel Caeta-
no Pereira, 13; do dr. Lacerda, e
João Pinto, 13; de Honorato com
os pombeiros Pedro Baptista e
Amaro José, 14; de Silva Porto,
de Serpa Pinto, Capello e Ivens,
1.
Tribus, no districto de Mossamedes,
115 e 116.
Trichos speciosa, 150.
“Trilhos, 400.
Trovoadas no Cabompo, 445 a 448.
Tzé-tzé, mosca, 410.
484
U
Ucha, fructo, 149.
Ulha, em Novo Redondo, 118.
Unjiri, antilope, Sterpsiceros cudu,
103 e 173.
Y
Vam-Booé, caçadores no Cabompo,
443.
Vegetação, no litoral, 62 e 115.
Vestimentas, dos ban-dimba, 194.
Viação no districto de Mossamedes,
considerações sobre a, 151 e 154.
Vidua paradisea, ave, 204.
Viagens, em Africa, de João Affonso
de Aveiro, Pero de Evora, Gonça-
lo Ennes, Mem Rodrigues, Rodrigo
Rebello e Rodrigo Reinel, 4: de
Ruy de Sousa ao alto Zaire, 5 e 6;
de Fernão Gomes Sardo, João San-
ches e Cid-Mohamed, 6; de Gre-
gorio de Quadra à Abyssinia, 6;
no Congo, Balthazar de Castro e
Indice
Manuel Pacheco, 7; de Gonçalo
de Silveira, 7; de D. João Bermu-
dez às terras de Preste João, de
Francisco Barreto e Vasco Fernan-
des Homem na Africa oriental, 8;
dos padres Jeronymo Lobo e Manuel
de Almeida e D. Christovão da
Gama à Abyssinia, 10; de Correia
Monteiro e Gamito do Zambeze ao
Muata Cazembe, 14: de Graça ao
Muata lanvo, 15; de Gonçalves e
João Baptista, 16 e 17; de Monta-
nha e Teixeira, 17; programma
de, 406.
x
Xicusse, 201.
/
Zaire (rio), descoberta, 39.
Zambeze, cabeceiras do, 309, chegada
ao, 381; aridez do, 388 a 392: pas-
sagem do, 397 e 398; divisão em
dois braços, 408.
Zebras, 338.
Zimbo, jagga invasor do Congo, 215.
SEGUNDO VOLUME
À
Acacia albida, leguminosa da gomma
arabica, 60.
Achantacea, arvore, 15.
“Egoceros ellips, quicema, 190.
Agaves, planta, 119.
Alimentação, falta de elementos para
a, 60 e 61.
Alves, 119.
Anacieto, sr., negociante em Tete, 324.
Appendice, historia do homem africa-
no, 329 a 311.
Araujo Lobo, capitão-mór do Zumbo,
281.
ÁArimos, plantações, 200.
Aruangõa (rio), 305.
Arundo, graminea, 120.
Aspargus, 119.
Aulacode snindérien, roedor, 127.
B
Ba-ieque ou ba-iongo, gente da Ga-
ranganja, 1; costumes, 52.
Bangueolo, 200 e 205; impossibilida-
de de visitar o lago, 205 e 206: in-
formações a respeito do, 215 e 216,
Barraca, construcção, 24.
Ba-zeba, gente de Caponda, 160.
Bemba, lago, 4 e 215.
Bisonde, formiga, 229; ataque aos
elephantes, 229.
Bois-cavallos, morte dos, 12.
Borôma, terra na margem do Zambe-
ze, 294.
Boubas, doença, 315; historia, 316.
Braga, sr., governador de Tete, 324.
Bufalos, 159, 160 e 186.
Bunqueia, capital da Garanganja, 65;
rio, (5; partida de, 115.
Buta, cobra, Echidna arietans, 59.
Borassus, 120.
O
Cabaco (rio), afluente do Zambeze,
16.
Caça, 183 a 1806.
Cachima (rio), 17.
Caçoneira, euphorbia, 78.
Cafué (rio), 159, 235, 257 e 291.
Calequé, terra de, 19.
Canhinga (Muene),soba Ca-runda, 12.
Capanga, terra de, 67.
Capinguira, libata na margem do
Zambeze, 296.
Caponda, terra de, dominio de Musi-
- 11, 91; Muene, soba de, 12; morte
de, historia, 73; encontro com gente
de, 232; guerra de, origem, 233.
486
Castilho (Augusto de) governador
geral de Moçambique, 326.
Caxomba, logar no Zambeze, 321.
Ceselpsna, arvore, 119.
Chaka, chefe zulo, 294.
Cha-mulanda, chefe dos basanga, 15.
Charadrius caruncula, ave, 16.
Chedima, terras de, ou Monomotapa,
293; historia, 319 e 320.
Cheringosa, doença em Africa 315;
historica da, 318.
Chire (rio), 325.
Chitanda, regulo de Manica, 274.
Chôa, lagoa, 266; campina de, 281.
Chorchorus, raiz, 60.
Combretaceas, 119.
Combretum, arvore, 201.
Comitiva, fugida de um da, 8; morte
de dois da, 9; morte de um da, 10
fugida de uma mulher da, 13; mor-
te de um da, 14; morte de um da,
15; extravio de um da, 16; fugida
de tres da, 17; morte de um da, 17;
morte de dois da, 18; fugida de
um da, 19; novo aspecto da, 132
e 133; partida de Muene N'Ten-
que da, 139; perdida, 143 e 144;
encontro da, 170; perdida, 182 e
183; grandes dificuldades no ca-
minho da, 243 a 251; extravio de
um da, 266.
Commelynaceas, 119.
Cuácuá (rio), 325.
Cucumis sativus, 160.
Cumba, Xylopia Ethiopica, 201.
Conde-Hundo, serra, 78.
D
Dande, terras de, povoadores de, 293.
Daqui, rio, 322.
Dicrurus divaricatus, ave, 128.
Indice
E
Echidna, cabra, 127.
Elands, antilope, 183.
Elephante, morte de um, 6: caçadas
ao, 120: costumes do, 122 a 126;
encontro de, 150.
Eriodendron, arvore, 119.
Euphorbia, 120.
Exploração, projectos de,
116.
Exploradores, na Katanga, 72; na
Garanganja, 9t; questões com os,
95. :
Nun e
F
Fauna, na Garanganja, 120, 147, 154
e 190.
Feijão da terra, Voandzeia subterra-
nea, 15. |
Feliz caracal, 127%.
Felix serval, 121.
Firmino, capitão mór de Diu, 287.
Flora, em Tacata, 23 e 119; na serra
Muchinga, 272, 273 e 211.
Funeraes, na Garanganja, 110 e 111.
G
Garanganja, estado da, 51; explora-
dores na, 72; estabelecimento da,
103 e 104; limites da, 104; orga-
nisação politica, 104.
Geologia, nas margens do Lualaba,
10; em Kalabi, 69 e 154; na bacia
do Lualaba, 220; nas margens do
Zambeze, 295.
Ginguengue, fructo, 60.
Giraud, explorador francez, 205.
Indice
Goerinho, sr., negociante no Zumbo,
319.
Gramineas, 120.
Guias, fugida dos, 7.
H
Harrisbuck, 270.
Homoptera, insecto, 39.
Ehyena crocuta, 127.
Hygiene, preceitos, dt e 59.
Hyphones, palmeira, 120.
Hyphenes ventricosa, 222 e 275.
I
Imanzi, canal que liga os dois lagos,
215.
Inafumo, dona das minas de cobre
de Kalabi, 70.
Inhamorômo, Alexandre da Costa,
capitão mór, 309.
Insectos, 127.
Iramba, paiz de, 51, 157 e 221.
J
Jicula (rio), 14.
João Baptista Ferreira, funante por-
tuguez, 109.
Juramento na Garanganja, 111.
K
Kaboio (Moi), irmão de Kassongo
Mona, 259.
Kabora-bassa, cataracta no Zambeze,
290 e 323.
Kalabi, minas de, 67 e 69; exploração
da mina de, 70.
Kalama, soba de Caponda, 232.
481
Katoto, enfeite que usam as mulhe-
res do Senga nos beiços, 320.
Kamama, esposa de Musiri, 106.
Kandumba, terras de, 114.
Kanfua, esposa de Musiri, 106.
Kanhemba, capitão mór de Nhacôa,
281.
Kassoque, logar no Zambeze, 286.
Kapapa, esposa de Musiri, 106.
Karema, estação no lago Tanganika,
96.
Kassongo, terra de, 80.
RKassongo Mona, soba em Iramba,
291; presente de, 2514.
Katapena, terra de, 9+.
Katanga, paiz da, 51; importancia
mineira da, 11.
Kaxenguenéque (rio), afluente do
Lualaba, 5.
RKazembe, potentado a este do Lua-
pula, 96.
Reitloa, rhinoceronte, 187.
Ricaxi (Moi), mulher-chefe, 274.
Kicondja, lago, 4, 19 e 94.
Kimpotes, enfeites da gente do Dan-
de, 295.
Kincondja, Dicrurus divaricatus, 128.
Kinfumpa, ou Kassongo Mona, soba
em Iramba, 257.
Kinguebe (Muene), soba, 17.
Kinhama, regulo, 202.
Kiropira, serra, 271 e 278.
Kitambo, soba, 216.
Kitumbi (Moi), soba, 205.
L
Landolphia, arvore da borracha, 9.
Languanas, denominação gentilica
“da gente que vem de Zanzibar,
arabes, dl e 207; razias feitas pe-
los, 208 a 210.
488
Licuco, irmão de Musiri, 82; encon-
trorcon TOR
Likago, bebida, historia do, 296.
Liliaceas, 119.
Lisuala Kowamba, lagoa, 107.
Liteta, terras de, 221; povoação de.
215; mantimentos em, 275; vege-
tação em, 275.
Loengue (rio), é o Cafué, 159.
Longitudes, erro em, 128; pela lua.
130.
Lothus, raiz, 60.
Lualaba (rio), 4; de Nyangué, de
Yanng, de Webb, 4.
Luangua (rio), 235.
Luapula (rio), 4, 195 e 199; margens
e povoadores, 202: partida do,
220; peixes no, 224: excursão no,
221.
Lubemba (rio), 222.
Lucanga (rio), 266.
Luco, graminea, 15.
Lufira (rio), 19 e 139; ponte no, 140.
Lunda, gente da, 13; encontro com
gente da, 15.
Lunsenfoa (rio), 221.
Lufubo (rio), 161; bacia do, 184.
Lupanpa, serra, 268.
M
Mucaratis, arvore, 15.
Macata-taca, ilha no Zambeze, 320.
Machuculembes, tribu, 290.
Macomo, prazo no Zambeze, 320.
Mapére, doença em Africa, 315; his-
toria, 318.
Malvacea, 119.
Maluvo, bebida, 83.
Mambirima, cataracta no Luapula,
205.
Mambo, chefe indigena, 294.
Indice
Manica, do norte, 274.
Manteigas, sr., negociante no Zumbo,
319.
Manzoanzoé, serra, 300.
Margarida, esposa de Musire, 106.
Maria, esposa de Musire, 106.
Murrumballa, serra da, 325.
Martins, sr., negociante em Tete, 324.
Mutinguinhe, N'Tenque, 45.
Ma-ussi, povoadores do Luapula, 213;
costumes e comprimentos dos, 231
a 214.
May Figueira, dr., clinico, 31.
Methonica superba, trepadeira, 119.
Meucanda (rio), 269.
Mieri-mieri, regulo do Luapula, 205.
Mimosa, leguminosa, 119.
Minas, de cobre Kalabi, 69; explora-
ção das minas de, 70 à T1.
Missota, esposa de Musire, 105 e
106.
Mixonga, terra de, minas em, 306.
Moero, lago, 4, 66 e 96.
Moio, sertão do, 109.
Molunguiji (rio), 271.
Mosca, tzé-tzé, 12 e 16.
Mosengache (rio), 27.
M'pala, antilope, 9.
M'pongué (rio), 258.
Muachi (rio), 19.
Muana (Muene), soba, 15.
Mucenda, arvore, 15.
Muchas, pacotes de sal, 141.
Muchitos, floresta, 191.
Mucolla, terra de, 15.
Mucumbi (Muene), soba, 13.
Mucuna pruriens, 201.
Muembeje (rio), afluente do Zambe-
ze, 8 e 2%6.
Mugabi (Moi), antigo soba, 174.
Muié (Moi), soba no Luapula, 224.
Muloje, esposa de Musire, 106.
Mumoés, arvore, 75.
Tadice
Munhaes, guerra com os, 321.
Mupanda, arvore, saccos de, 138.
Muropues, dignação de soba, 141.
Murungo, idéa de Deus no gentio do
Zambeze, 313 e 314.
Muze (rio), 325.
Musire, chefe da Garanganja, 65; vi-
sita ao, 67, 96; carta de, 76; natu-
ralidade de, T7; chegada à terra
de, 78; recepção feita por, 19, 91 a
102; guerra em Urua por, 80; his-
torias, 80 a 90; esposas de, 105 e
106; presentes a, 106; generosida-
de de, 110.
Mussendaruze, serra, 321.
Mutalla, prateleira, 120.
Mutanda (rio), afluente do Loengue,
14.
Mutabarango, logar de, 276.
Mutiate, arvore, 272.
Mutonhi, macota de Kinhama, 220.
Mutondo, arvore, 15.
Mutundo (rio), 254.
Muxinga, serra, 139, 269, 270 a 272;
vegetação na, 271.
N
N'dumbiro, arvore, 75.
Nery Delgado, sr., geologo, 10; opi-
nião de, 10 e 154.
Nhunzos, enfeites de contaria nas
gentes do Dande, 293.
Nicaze, serra, 67.
NY%ango, arvore, 15.
Nocha, fructo do Parinarium mobola,
14 e 60.
N'Tenque, soba em Tacata, 44; visi-
ta de, 44: troca de sangue, 46 a
49: partida de, 139; carta a, 139;
(Moi), mu-lamba, 253.
Nyangué, reino de, 4.
489
O
Oanza (Moi), soba, 269.
Otiva subulata, concha, fossil, 154.
Oswellii, rhinoceronte, 189.
JE:
Pana-Chane, povoação, 276.
Pandanus, trepadeira, 222.
Pande, distinctivo de grandeza, 44.
Pandôr, especie de adivinho, 315.
Passaro cabra, Schizorhis concolor,
16.
Papilionaceas, leguminosas, 119.
Parinarium mobota, fructo, 60 e 119.
Paulo Mohemeri, 170.
Pedro da Santissima Trindade (Fr.),
306.
Peixe electrico, 295.
Penisetum, graminea, 120.
Piolho da cobra, insecto, 128.
Phoenis spinosa, 120.
Pholades, insecto, 146.
Plurianas armatus, ave, 16.
Porco montez, Phacochorus cethio-
picus, 68.
Q
Quicêma, goceros ellips, 190.
Quihunos, 158.
Quilimane, villa de, 325.
Quimballa, cesta, 15.
Quimpata, residencia, 75.
Raphias, 120.
Rhinoceronte, encontro com, 174 e
490
185; descripção e costumes, 181 e
188; negros e brancos, R. Keitloa,
187, R. Oswellii, 189.
Rosa, mulher do Trinta, 117.
Rosaceas, 119.
Rubiaceas, 119.
s
Sal, fabricação, 276.
Sangue, troca de, 46 a 49.
Sanhati, afluente do Zambeze, 292.
Schizorhis concolor, ave, passaro ca-
bra, 16.
“Seilla, planta, 119.
Scorbuto, symptomas de, 226.
Sena, villa de, 325.
Senga, terras na margem do Zambe-
ze, 294.
al
Tabaco, falta de, 141.
Tacata, terra de, dominio de Muene
N'Tenque, 19: volta do Musire pa-
ra, 130 a 132.
Tanfi (rio), 157.
Tembé, habitação, 44.
Tenfio, soba no Luapula, 222.
Feéphrosia vog., arvore, 119.
Fermites, habitação dos, 146.
Fete, vita de, ehegada a, 323.
Trinta, preto de Quilimane a nosso
serviço, 66; como-gnia, 116: o guia
perde-se, 145; Glossina mositans,
ra
Tzé-'Fzé, mosca, 12, 16, 29 a 39; des-
cripção da, 31; região da, 32 e 33;
|
Tadice
animaes immunes ao veneno da,
do e 34; symptomas da doença
produzida pela mordedura da, 35,
36, 234 e 275.
U
Ulalla, paiz de, 51 e 221.
Uncurroé, poços de agua quente, 107.
Unjiri, Strespesciceros cudo, 275.
Unyamuezi, paiz de, 44.
4
Y
Ventricosa Hyphones, 120.
Verbenacece, planta, empregada para
troviscar peixe, 297.
Voandzeia subterranea, feijão da ter-
ra, 15.
R
Xaquaniquiva, regulo dos pimbis, 321.
Xilopia Ethiopica, arvore da mala-
gueta, 201.
/
Zambeze, vista do, 279: descripção
do, 290 a 292; importancia do, 292.
Zebud, Tzé-Tzé, 32.
Zimgiberaceas, 119.
Zuda, chefe dos banhai, 298.
| Zumbo, partida para e, 294: chegada
ao, 301; historia do, 305 a 309;
ruinas do convento neo, 312: cos-
tumes do gentio do, 312 a 315.
”
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