L9Z1 HISTORIA ATURA ILLUSTRADA COMPILAÇÃO FEITA SOBRE OS MAIS AUCTORISADOS TRABALHOS ZOOLOGICOS POR JULIO DE MATTOS QUARTO VOLUME PORTO LIVRARIA UNIVERSAL DE MAGALHÃES & MONIZ — EDITORES 12— Largo dos Loyos — 14 eis O fo — a EO AS AVES CONSIDERAÇÕES GERAES Les oiseaux sont des animaux d'agrément et d'utilité. A. BREHM, Les oiseaux sont les enfants gâtés de la na- ture, les favoris de la création. L. FigureRr. Para distinguir as aves de todos os outros vertebrados basta à maior parte da gente a existencia de pennas. Este caracter é com effeito im- portante e o mais apparente de todos; se acrescentarmos, diz Brehm, que nas aves as maxillas se prolongam em bico corneo e que os mem- bros anteriores se acham transformados em azas, teremos dado d'es classe uma definição capaz de satisfazer os mais exigentes. No entaíito devemos observar com todos os naturalistas que, a despeito das differen- ças exteriores, existe nos mamiferos e nas aves um mesmo plano de or- ganisação, denunciado no esqueleto. Seguindo Brehm, faremos aqui uma introducção geral ao estudo das aves, semelhante ao que no primeiro volume d'esta obra fizemos ao dos mamiferos. 6 HISTORIA NATURAL ORGANISAÇÃO Estudando a organisação das aves, teremos successivamente de exa- minar as formas externas, o esqueleto, o systema muscular, o systema nervoso, os orgãos dos sentidos, o systema respiratorio e circulatorio, O apparelho digestivo, o apparelho genital e os tegumentos. » Formas externas. — «O corpo das aves, diz Brehm, é conformado do modo mais favoravel para fender a atmosphera sem grandes resistencias e para n'ella se sustentar sem grandes esforços. A forma geral pode ser representada por dois cones hypotheticamente unidos pela base, sendo n'este ponto de união que se prendem as azas cujo movimento fará pro- gredir o todo. «Estudado n'um ponto de vista topographico, o corpo da ave apre- senta-se ao naturalista como um todo divisível em regiões, a seu turno divisivejs em outras partes. Assim, podemos distinguir uma região ante- rior, formada pelo bico e pela cabeça, uma região media que compre- hende trez regiões secundarias—o pescoço, o thorax e o abdomen —e uma região posterior subdividida em bacia e extremidade caudal. As diferentes regiões e partes de regiões fornecem ao naturalista caracteres externos muito importantes para a determinação das especies.» * Esqueleto. — A cabeça das aves, como a dos mamiferos, compõe-se de duas partes: craneo e face. O craneo é muito arredondado e com- posto de varios ossos cujas suturas são, como nos mamiferos, muito vi- siveis nos individuos novos, mas que com os progressos da idade des- apparecem. A face comprehende os dois maxillares superiores, o vomer, o osso quadrado, o osso incisivo e o maxillar inferior. Estes ossos são pequenos, mas alongados. As orbitas são excessivamente largas e a membrana que as separa muito fina e às vezes mesmo incompleta. Adiante do buraco occipital existe apenas um condylo, o que dá à ca- beça das aves uma mobilidade muito maior que a dos mamiferos. As vertebras dividem-se em cervicaes, dorsaes, sagradas € coccy- gias. O numero das cervicaes varía entre nove e vinte e trez; são muito moveis umas sobre as outras. As vertebras dorsaes são sete a onze. Às lombares ou sagradas são sete a vinte, todas immoveis e muitas vezes até soldadas. O numero das vertebras coccygias, ao contrario do que sr = 1 Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 2. E AVES EM GERAL q acontece nos mamiferos, varía muito pouco; são sete a nove e mais des- envolvidas que nos mamiferos. A ultima principalmente, destinada a sus- tentar as pennas caudaes, às vezes muito pezadas, apresenta-se sob a forma de uma grande lamina ossea triangular ou quadrangular. As costellas, cujo numero é egual ao das vertebras dorsaes, são largas e pouco espessas; articulam-se por um lado ás vertebras a que correspondem e por outro ao esterno por intermedio de um osso espe- cial. Todas ellas, excepto a primeira e a ultima, apresentam no bordo posterior uma apophyse que se applica sobre a face externa da costella inferior seguinte. Estas apophyses, como facilmente se comprehende, con- correm muito para consolidar a caixa thoracica. De resto, como tambem facilmente se percebe, ellas são extremamente desenvolvidas nas aves de alto vôo e atrophiadas ou não existentes nas que vivem exclusiva- “mente em terra. O esterno, collocado na parte anterior do peito, apresenta uma crista ossea cujas dimensões variam consoante o desenvolvimento dos muscu- los peitoraes e portanto consoante a ave é mais ou menos bem dotada sob o ponto de vista do vôo. Em algumas especies esta crista ossea é occa e apresenta na sua cavidade um sacco aerio. A bacia differe da dos mamiferos em ser mais extensa; é porém fundamentalmente formada dos mesmos ossos. As aves apresentam um osso particular, a forquilha. É um osso im- par, em forma de ferradura, que está em relação superiormente e atraz com a clavicula e em baixo e anteriormente com a crista ossea do es- terno a que muitas vezes se acha quasi soldada. A forquilha segue o desenvolvimento das azas, faltando nas aves que as possuem muito curtas. O esqueleto da aza é formado de differentes ossos. O omoplata existe, mas como atrophiado, reduzido a uma expressão insignificante. À clavicula, comprida e forte, une-se solidamente ao esterno e articula-se em cima com o omoplata e o humero e dentro com a forquilha. O hu- mero é comprido, occo e tendo ar na sua cavidade. Os ossos do ante- braço são dois: o cubito, muito desenvolvido, e o radio fraco, ao contra- rio do que nos mamiferos tem logar. Os metacarpianos são dois ou' trez e trez os dedos: um pollegar, composto de duas phalanges, o grande dedo, de duas phalanges tambem e o pequeno de uma apenas. O membro posterior compõe-se de quatro partes: a coxa, a perna, O tarso e os dedos. O peroneo é atrophiado e solda-se á tibia. O tarso é representado por um só osso comprido com o qual se articulam os de- dos. Estes, em numero de quatro, são dirigidos trez para diante e um para traz. Em algumas aves porém, o dedo posterior dirige-se para diante e em outras é atrophiado. Ha especies em que um dos trez dedos ante- 8 HISTORIA NATURAL riores, 0 interno ou externo, se dirige para traz e até algumas que ape- nas apresentam dois dedos apparentes. O dedo posterior e o primeiro anterior teem trez phalanges, o segundo quatro e o mais externo cinco. Systema muscular. —De todos os musculos das aves são os peito- raes, isto é, os que movem as azas, os mais importantes. Em nenhum outro vertebrado offerecem tamanho volume. Os musculos do dorso são, pelo contrario, fracos. Nos membros pos- teriores a coxa e a perna são as unicas partes musculosas, em geral; só nas aves cujas pennas descem até aos dedos é que se encontram ainda musculos ao longo dos tarsos. Nas outras aves existem apenas tendões n'esta região. Os musculos cuticulares teem em geral um grande desen- volvimento. Systema nervoso. — Apresenta nas aves uma disposição semelhante à dos mamiferos. O encephalo' é ainda mais volumoso que a espinhal medulla; os hemispherios cerebraes porém são desprovidos de circum- voluções. A medulla espinhal é mais larga e mais espessa na região dor- sal que na cervical e mais fina, menos volumosa na região sagrada. Os nervos teem a mesma distribuição geral que nos mamiferos. Orgãos dos sentidos. — Embora ás vezes rudimentares, é certo porém que nas aves nenhum dos cinco sentidos deixa de existir. Orgãos da visão. —De todos os orgãos sensoriaes, o olho é o mais perfeito. A forma e a grandeza d'este orgão variam muito; as aves de longa vista teem os olhos muito grandes, as outras teem-os apenas muito pequenos. O olho apresenta nas aves disposições especiaes e privativas d'esta classe. Taes são 0 amnel sclerotical composto de doze a dezeseis la- minas osseas quadrilateras que se cobrem umas às outras como telhas de um telhado e o pente, membrana muito vascular, coberta de pigmento ne- gro, collocada à entrada do nervo optico e avançando pelo interior do corpo vitreo para chegar muitas vezes ao contacto do cristalino. Estes dois or- gãos teem certamente por fim permittir às aves o accommodarem com fa- cilidade a visão a todas as distancias; ao mesmo tempo concorrem a dar mobilidade ao globo occular. Além das duas palpebras, uma superior e outra inferior, que existem sempre, as aves possuem uma terceira, semi- transparente, que os francezes chamam membrana pestanejante. Esta membrana está collocada no angulo interno do olho; serve para prote- ger o olho contra uma luz excessivamente viva. A iris varia de côr se- gundo a especie, a idade e o sexo; geralmente é escura, castanha. Al- gumas aves porém teem a iris verde e outras azulada. Orgãos da audição. —Nas aves não existe ouvido externo. A abertura AVES EM GERAL 9 do canal auditivo encontra-se atraz, aos lados da cabeça; na maioria das aves é cercada ou coberta de pennas dispostas em circulo, mas que não suspendem as ondas sonoras, que as não impedem de penetrar no ouvido. Nos hibus, em vez de pavilhão, existe uma prega cutanea que a ave . pode erguer ou baixar á vontade. O canal auditivo é muito curto e a membrana do tympano muito superficialmente situada. Os pequenos ossos do ouvido medio que existem nos mamiferos, são nas aves representados por um osso unico, polyedrico, que tem uma certa semelhança com o martello dos mamiferos, mas que substitue ao mesmo tempo a bigorna e o estribo. Orgãos da olfação. —Os orgãos olfativos são nas aves menos desen- volvidos que nos mamiferos. N'esta classe não existe nariz apparente e as fossas nasaes são pequenas. As narinas, de ordinario collocadas sobre o maxillar superior, perto da base do bico, apresentam-se sob a forma de buracos arredondados ou de fendas ás quaes veem terminar exce- pcionalmente canaes muito extensos. As fossas nasaes são duas, apresentando cada uma trez cornetos membranosos, cartilagineos ou osseos, onde o nervo olfativo se distribue. Orgãos da gustação. — Não são muitas as aves que possuem o sen- tido do gosto desenvolvido. Em quasi todas a lingua é atrophiada, curta, rudimentar ou coberta por uma membrana cornea; em poucas ella é ex- tensa e carnuda. Orgãos do tacto. —O tacto parece ser desenvolvido nas aves, porque de ordinario a sua pelle é rica em nervos. Systema respiratorio e circulatorio. —Nas aves os orgãos affectos à respiração e circulação são perfeitissimos. O coração tem quatro cavidades: duas auriculas e dois ventriculos. É construido como o dos mamiferos; os seus musculos porém, são mais poderosos. Aos lados do coração encontram-se os pulmões, adherentes às cos- tellas e estendendo-se inferiormente mais do que nos mamiferos. O dia- phragma não existe nas aves e por isso as cavidades thoracica e abdo- minal communicam. O ar inspirado não enche apenas os pulmões; mas ainda saccos ou cellulas aerias com que estes orgãos estão em relação directa. D'estes reservatorios aerios, conhecidos pelo nome de saccos pleuraes, o ar espalha-se em todo o corpo até aos ossos compridos que em vez de canal medullar, como nos mamiferos, apresentam no centro um reservatorio aerio. A trachea é formada de anneis osseos ligados por partes membra- nosas. À larynge é dupla; a superior, quasi triangular, encontra-se junto à base da lingua. As cordas vocaes são cobertas de papilas nervosas e 10 HISTORIA NATURAL os bordos forrados por uma membrana molle, musculosa, que pode obtu- rar completamente a abertura da glotte. A epiglotte não existe. A larynge inferior está collocada na bifurcação da trachea e não é, na realidade, mais que uma dilatação dos primeiros bronchios; é dividida em duas ca- vidades por uma especie de esporão, resultante da fusão das paredes internas dos dois bronchios. Os bordos desta larynge são postos em vi- bração pela passagem do ar. De cada lado da larynge inferior encon- tram-se musculos, um a cinco, que pela sua contracção podem fazer-lhe variar o calibre; só n'um pequenissimo numero d'aves é que estes mus- culos faltam. Aos lados da trachea acham-se dispostos musculos compri- dos que, partindo da larynge inferior, chegam até aos ouvidos e que con- traindo-se podem diminuir a altura d'aquelle tubo aerio. Em muitas aves a trachea não affecta uma direcção rectilinea, isto é não desce immedia- tamente do pescoço ao thorax, mas penetra na crista ossea do esterno ou forma circumvoluções à superficie dos musculos peitoraes e recurva-se depois para cima, penetrando então na caixa thoracica. Apparelho digestivo. —Na anatomia d'este apparelho existem gran- des differenças entre os mamiferos e as aves, como vamos ver. A ausencia de dentes nos representantes desta ultima classe é um dos primeiros caracteres differenciaes. Existem nas aves glandulas sali- vares; a insalivação porém não se faz, como nos mamiferos, na cavidade boccal. Em muitas, o bolo alimentar dá entrada n'uma dilatação do eso- phago, o papo, onde soffre uma primeira digestação; n'outras, vae dire- ctamente ao ventriculo succenturiado que consiste n'uma dilatação da metade inferior do esophago, a qual existe em todas as aves e que attinge o maximo desenvolvimento nas que não teem papo. As pare- des do ventriculo succenturiado são ricas em glandulas e menos espes- sas que a do estomago propriamente dito ou moelá. Este ultimo orgão varia muito nas differentes especies d'aves; assim, nas carnivoras tem de ordinario as paredes finas e nas de regime vegetal é fortemente mus- culoso e forrado interiormente por uma membrana dura e rugosa como uma lima. A moela destas ultimas aves tritura todos os alimentos, ainda os mais duros. Á moela segue-se o intestino, que na extremidade inferior se alarga para formar uma cloaca onde se abrem os uretheres, os canaes semini- feros no macho e os oviductos na femea. O baço é pequeno, o pancreas volumoso, o figado dividido em muitos lobulos, granuloso e de volume consideravel assim como a vesicula biliar. Os rins são compridos, largos e lobulados. Apparelho genital. —No macho, o apparelho genital é extremamente AVES EM GERAL 11 turgecente; passado porém o periodo dos amores reduz-se a pequenos glomerulos apenas visíveis. O ovario é em forma de cacho; acha-se situado por cima do rim e é constituido por numerosos corpusculos arredondados, de volume muito diferente. Experimenta, segundo as estações, alternativas de expansão e decrescimento. O oviducto é comprido e volumoso; apresenta duas aber- turas-—— uma na cloaca e outra na cavidade abdominal. Tegumentos. —A pelle das aves é é formada essencialmente dos mes- mos elementos que a dos mamiferos, apresentando trez camadas: a epi- derme, a rede mucosa e a derme. A epiderme é fina, excepto no tarso, nos dedos e sobre o bico onde se torna espessa e forma escamas cor- neas. À derme varia muito de espessura de especie a especie, sendo em algumas aves muito fina e n'outras muito grossa; é sempre muito rica em vasos e nervos e a sua face interna Reno muitas vezes uma espessa camada de gordura. As pennas desenvolvem-se nas Mi da pelle, no interior de um folliculo que dentro de si contem um outro mais delicado, cheio de um liquido gelatinoso e de vasos sanguineos; entre os dois folliculos en- contra-se uma substancia pulposa, finamente granulosa. Diz Giebel: «O vertice do folliculo externo abre-se e a ponta das barbas da penna ap- parece; logo depois apresenta-se uma saliencia mais pronunciada, a extremidade da haste, que oferece ainda outras saliencias. O interior é ainda desprovido de medulla. A camada granulosa do folliculo desappa- rece então e fornece os materiaes necessarios ao desenvolvimento da penna.» Como facilmente se comprehende, as pennas são producções da mesma ordem que os pêllos, os picos ou as escamas dos mamiferos; va- riam muito, segundo as especies e até segundo as regiões do corpo das aves. Em todas as pennas distinguem-se—o tubo, a haste e as barbas. O tubo é a parte da penna que a derme abraça; é redondo, escavado, transparente, cheio de uma medulla cellulosa e contem uma serie de cel- lulas imbricadas em forma de cornetos que lhe fornecem os suecos nu- tritivos. A face superior da haste é arredondada e coberta de uma massa lisa e cornea; a face inferior é plana e dividida por um sulco longitudi- nal. Ao longo da haste acham-se dispostas em duas linhas as barbas, que consistem em finas laminas corneas dirigidas obliquamente de dentro para fóra e ao longo de cujo bordo superior se implantam fibrillas dis- postas em duas ordens. Estas, a seu turno, apresentam appendices ana- logos e a penna acha-se assim inteiramente constituida. É costume distinguir entre pennas propriamente ditas e pennugem. Entre as primeiras, differenceiam-se por nomes especiaes conforme a parte do corpo que ellas cobrem: as remiges, pennas grandes das azas, divi- 12 HISTORIA NATURAL didas em primarias, que se prendem ás mãos, secundarias, que se fixam ao antebraço, escapulares, que nascem do dedo pollegar, e rectrizes, as pennas da cauda. As pennas pequenas que cobrem o resto do corpo re- ceberam no conjuncto o nome de pennugem. As pennas podem estar egual ou desegualmente repartidas po corpo; no primeiro caso a ave não é voadora, no segundo é-o. A côr geral da plumagem depende não só da tinta especial de cada uma das pennas, mas ainda e principalmente do modo por que ellas re- flectem, pela sua conformação especial, a luz solar. MOVIMENTOS Como perfeitamente observava Buffon e como depois delle expressa- mente o diz Brehm, para as aves a vida e o movimento são dois factos que se confundem. Ellas existem, com effeito, em movimento constante, ininterrupto quasi; n'ellas o coração bate mais apressado, o sangue cir- cula mais rapidamente e os membros parecem mais bem articulados e mais solidos que nos dos mamiferos. Para estes o movimento é um meio, para as aves é uma necessidade. O mamifero parece não gosar a vida senão quando deitado e caído n'uma certa somnolencia; a ave, pelo con- trario, parece não viver bem senão em movimento continuo, em agitação constante. E no entanto, não pode dizer-se que os movimentos dos ma- miferos sejam limitados: elles marcham, correm, vôam, nadam, saltam, trepam e mergulham, como as aves. Mas a massa domina-os e por mais rapidos que sejam, as aves excedem-os enormemente. Mesmo os mami- feros voadores ficam em velocidade muito áquem das aves; como justa- mente diz Brehm, o morcego, sob o ponto de vista do vôo, é a carica- tura da ave. Os movimentos voluntarios das aves são além de mais rapidos, mais prolongados que os d'outros vertebrados, o que facilmente se explica notando que ellas possuem musculos mais fortes, mais vigorosos, mais excitaveis e de contracções mais energicas que qualquer outro animal. Vóo.—0O vôo é o modo de progressão caracteristico das aves. Isto não quer dizer que sejam estes os unicos animaes que se deslocam na atmosphera, mas sim que só a elles pertence o vôo propriamente dito, aquelle que se faz em todas as direcções, a alturas differentes e mesmo em sentido opposto ao das correntes d'ar ou ventos. Esta propriedade devem-a as aves à estructura e disposição especial não só das azas, mas de todo o organismo. As pennas das azas são imbricadas como telhas de sa Re AVES EM GERAL 13 um telhado e recurvas de modo a darem ao orgão uma forma abobadada. Quando a aza se eleva, as pennas affastam-se e o ar pode passar atravez; quando se abaixa, as pennas, pelo contrario, unem-se umas contra as ou- tras e oppoem ao ar uma resistencia consideravel. A cada movimento Vaza, a ave eleva-se; e como o braço se move ao mesmo tempo de cima para baixo e de diante para traz, desloca-se tambem, é impellida para diante. Marey, celebre physiologista francez, demonstrou por meio de um engenhoso apparelho enrigistrador que a força que sustem e que dirige a ave no espaço é inteiramente creada durante o abaixamento do braço e que a extremidade da aza, nos movimentos de translação, descreve uma serie de curvas continuas. Contrariamente ao que é vulgar pensar-se e contrariamente mesmo ao que se tem escripto, Marey provou que o abai- xamento da aza é de ordinario mais demorado que a elevação. As azas são agudas ou obtusas; as primeiras permittem à ave um vôo mais rapido, as segundas permittem-lhe sustentar-se mais facilmente, com menos dispendio de esforço na atmosphera. À cauda representa o papel de um verdadeiro leme no oceano aerio; é por ella, pelas pennas rectrizes que a ave se dirige e toma as direcções que quer. Para dar uma idéa da rapidez e persistencia do vôo, citaremos as ' palavras de Figuier e de Brehm e alguns factos curiosos que elles consi- gnam nas suas obras. Escreve o primeiro d'estes naturalistas: «Ão passo que os mamiferos mais velozes conseguem apenas andar cinco a seis le- guas por hora, certas aves no mesmo periodo de tempo percorrem nada menos de vinte. Em menos de trez minutos perde-se de vista uma ave das maiores, por exemplo uma aguia ou um milhafre, que não tenham menos de um-metro de comprimento; pode-se deste facto concluir que devem percorrer mais de mil quatrocentos e sessenta metros por minuto ou oitenta e seis leguas por hora. Na Persia, conforme assevera Pietro Delle Valle, o pombo viajante percorre n'um dia a distancia que um ho- “mem a pé não venceria em seis. Um falcão que pertenceu a Henrique 1, partindo um dia de Fontainebleau em perseguição de uma betarda, foi no dia immediato encontrado na ilha de Malta. Um outro falcão que fôra enviado das ilhas Canarias ao duque de Lerma para Hespanha, regressou de Andaluzia ao pico de Tenerife em dezeseis horas, fazendo um trajecto de duzentas e cincoenta leguas.» ! Brehm escreve: «As aves viajantes vôam dias inteiros sem repouso. A ave parece voar com a mesma facili- dade a todas as alturas, quaesquer que sejam as diferenças de pressão atmospherica e do grao de força a empregar. Perto do vertice do Chim- borazo, Humboldt viu um condor que pairava acima d'elle a uma altura 1 L. Figuier, Obr. cit., pg. 12. 14 HISTORIA NATURAL incommensuravel, parecendo apenas um ponto negro no azul do ceu; movia-se com tanta facilidade como se voasse nas regiões mais baixas.» ! O vôo é de uma variedade assombrosa. As aves ora pairam tranquil- lamente, ora se projectam no espaço como frechas, ora deslisam sem ruido, ora batem sonoramente as azas em fremitos perceptiveis a distancias; umas vezes elevam-se a alturas assombrosas e perdem-se de vista, ou- tras descem rapidamente até ao nivel do mar, humedecendo as pennas na espuma das ondas. Marcha. —De ordinario as aves de alto vôo marcham mal, pezada- mente; ha todavia a esta aflirmação geral excepções numerosas. De resto, o modo de progressão no solo, habitual a um restricto numero de espe- cies, varia muito: existem aves que caminham, outras que correm, mui- tas que saltitam e muitas tambem que não fazem senão arrastar-se des- elegantemente. O modo de andar differe muito do que caracterisa a nossa especie; à excepção de algumas aves aquaticas que marcham como que arrastando-se, a maior parte das especies caminham apoiando-se sobre os dedos. As aves cujo centro de gravidade se encontra na parte media do corpo, são aquellas que marcham, senão mais depressa, pelo menos melhor; as aves de grandes patas marcham bem, a passo grave, medido; as de patas curtas caminham mal, ou antes saltitam; emfim as de patas de comprimento medio são velozes e pode dizer-se que correm mais do que marcham. As aves cujas patas se inserem muito posteriormente e cujo corpo, por isso, pende muito para diante, marcham mal, deselegan- temente. A cada passo que dão, vêem-se forçadas a imprimir ao corpo um movimento desagradavel de rotação; é o que vêmos nos patos, por exemplo. Algumas aves de alto vôo são incapazes de marchar; outras, que nadam admiravelmente, não fazem mais do que arrastar-se no solo e muitas ha tambem que se servem das azas para correrem com mais velocidade. Natação. — Não são só as aves incluidas na ordem dos palmipedes as que sabem nadar. Todas as aves possuem esta qualidade e muitas ha que, lançadas à agua, ahi se agitam com extraordinaria rapidez e mer- gulham admiravelmente. Em todas as especies, tanto nas terrestres como nas aquaticas, as pennas encostam-se, unem-se intimamente umas contra as outras e cobrem-se de um inducto oleoso que as impede de se mo- lharem. As aves palmipedes conservam-se à superficie d'agua sem o mais leve esforço; os movimentos de patas que executam tem sómente por fim E ! Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 12. Ju Ele AVES EM GERAL 15 fazel-as progredir. Para nadarem, desdobram a membrana palmar que une os dedos, dobram as patas para diante e estendem-as depois brus- camente repellindo a agua. Quando não carecem de nadar com rapidez não agitam as patas senão uma depois da outra; no caso contrario mo- vem-as simultaneamente. Para se governarem, para tomarem a direcção que lhes appetece, inclinam uma das patas para traz, separando bem os dedos, e com a outra vão agitando o liquido; assim uma das patas serve- lhes de leme e a outra de remo. Muitas aves mergulham; entre estas ha muitas até que debaixo d'agua rivalisam em velocidade com os peixes. São estas as que se chamam verdadeiras mergulhadoras para as distin- guir d'outras que apenas podem mergulhar por algum tempo atirando-se de um logar alto à agua. Só as primeiras podem immergir quando que- rem, procurar alimentos na agua e demorarem-se abaixo da superficie por muito tempo; as segundas mergulham apenas pela força adquirida na queda, não podem apanhar a presa que miraram a distancia e voltam à superficie d'agua contra a propria vontade e não quando lhes appetece. As aves mergulhadoras tem azas sempre curtas relativamente ao tama- nho do corpo. Existe apenas uma familia em que as faculdades de voar e de mergulhar coexistem desenvolvidas. A profundeza a que as aves descem, a velocidade com que se movem na agua e o tempo que podem demorar-se immergidas variam consideravelmente. Ha especies que po- dem descer cem metros abaixo da superficie liquida e demorarem-se ahi durante sete minutos. Este facto é pouco commum. De ordinario as aves mergulhadoras nem descem tanto, nem se demoram por tanto tempo sob a agua. Acção de trepar. — Existem verdadeiras aves trepadoras. Subindo por o tronco de uma arvore ou por uma parede, essas aves ora se ser- vem do bico e das patas sómente, ora se auxiliam tambem da cauda e das azas. Neste exercicio ha aves que rivalisam e até excedem os me- lhores mamiferos trepadores. MOVIMENTOS INTERNOS Nutrição. — Nenhum vertebrado tem uma nutrição mais activa que as aves; nenhum tambem possue um sangue mais quente ou uma respi- ração mais energica. De resto, estes factos physiologicos subordinam-se inteiramente uns aos outros. As aves recebem a cada inspiração uma quantidade maior de ar que qualquer outro animal da serie dos verte- brados; além d'isso não são sómente os pulmões as portas de entrada 16 HISTORIA NATURAL para o gaz atmospherico, visto que existem os saccos aerios, os canaes medullares dos ossos, as cellulas osseas e ainda algumas vezes cellulas cutaneas destinadas a receberem esse gaz ou, mais propriamente, essa mistura gazosa. O sangue absorve pois quantidades consideraveis de oxi- genio e as combustões intimas, intersticiaes tornam-se, por isso, mais ra- pidas, mais intensas do que n'outros vertebrados. D'aqui um augmento de calor nas aves, relativamente aos mamiferos, uma elevação notavel na cifra thermica; d'aqui tambem e muito naturalmente a maior abun- dancia de globulos e a maior intensidade da côr vermelha que os cara- cterisa. Como consequencia forçada d'estes factos, apparece nas aves, re- lativamente aos outros vertebrados, um augmento de vitalidade, uma maior energia de movimentos, um dispendio maior de força e, mio uma digestão e uma nutrição mais activas. Proporcionalmente ao volume, as aves ingerem mais alimento que os outros animaes. Muitas comem quasi constantemente; e as insectivo- ras tomam cada dia uma quantidade de alimentos que é para cada uma egual ao duplo ou triplo do pezo do corpo. Muitas aves enchem completamente o esophago de alimentos; outras engorgitam o papo até ao ponto de lhe darem a apparencia de um tumor consideravel. As aves de rapina chegam a digerir ossos e as grandes aves granivoras ingerem pedaços de ferro que, sob a acção continua do estomago, veem a perder completamente a forma primitiva, e conser- vam, antes de as regorgitarem, durante semanas inteiras substancias perfeitamente indigeriveis. Mercê da grande actividade das suas funcções digestivas, as aves, quando teem comida em abundancia, chegam a for- mar sob os tegumentos uma espessa camada de gordura, verdadeira re- serva alimenticia; como porém a actividade que desenvolvem é grande, bastam poucos dias de abstinencia para que essa camada desappareça. Respiração. — (Como acima dissemos a actividade respiratoria é nas aves muito maior que nos mamiferos o que, como tambem fizemos notar, concorda perfeitamente com o augmento da cifra thermica dos primeiros d'estes vertebrados em relação aos segundos. Esta actividade respirato- ria explica inteiramente o facto de não poderem as aves supportar de ordinario a immersão por tanto tempo como os mamiferos. Voz. —Sob este ponto de vista, pode dizer-se de -um modo geral que as aves excedem notavelmente os mamiferos. D'estes, um apenas, o homem, leva vantagem decidida às aves canoras pela extensão e agili- dade da voz. Mas se abstrairmos deste caso unico nos mamiferos e de alguns casos de aves que apenas podem soltar um pequeno numero de notas, podemos realmente aflirmar que as aves são muito melhor dotadas AVES EM GERAL gi de voz que os mamiferos. Estes soltam de ordinario sons pouco exten- sos, monotonos, porque são sempre os mesmos, e geralmente desagrada- veis. As aves, pelo contrario, produzem sons extensos, variados e de in- flexões differentes em relação com sentimentos especiaes. Ellas expri- mem, com effeito, de um modo evidente o amor, a alegria, o receio de um perigo proximo, a necessidade de soccorro, a tendencia ao combate, o desejo de lucta. Entendem-se umas às outras perfeitamente; e mesmo o observador attento consegue perceber a significação especial dos sons que ellas produzem pela inflexão que lhes imprimem. E isto fazem todas as aves, mesmo aquellas que não podemos chamar canoras. Estas che- “ gam a deliciar-nos, como o rouxinol, o pintasilgo, o canario, o sabiá e tantas outras. Para bem sentir toda a enorme: distancia que sob o ponto de vista em questão separa as aves dos mamiferos, basta examinar uns e outros na quadra dos amores. Ao passo que os mamiferos produzem apenas sons duros e asperos que nos ferem o ouvido, as aves soltam verdadeiras can- ções deliciosas que nos encantam. Lembremos mesmo que em quanto, na - generalidade dos casos, a selecção sexual nos mamiferos se baseia na força, nas aves, ao contrario, ella se baseia sobre a belleza da plumagem e, em muitos casos, sobre a maviosidade do canto. Os gritos amorosos dos mamiferos incommodam e irritam; as canções amorosas das aves de- “Jeitam, enebriam. - Nas aves canoras os musculos da larynge inferior são quasi egual- mente desenvolvidos; mas nem todas são capazes de produzir os mesmos sons. Cada especie possue uma intonação especial, uma extensão parti- cular de voz; cada uma tem o seu canto proprio, canto cujas notas va- riam pelo timbre, pela amplidão e pela intensidade. De resto, cada ave canora é capaz de variar consideravelmente o seu canto proprio, o que na verdade nos impressiona muito. A região habitada influe muito sobre a natureza do canto; a mesma ave canta nas montanhas de um modo dif- ferente d'aquelle por que canta nos valles. É necessario todavia o ouvido experimentado de um conhecedor para bem avaliar estas diferenças. Um facto muito conhecido, mas que nem por isso deixaremos de notar, é que as aves aprendem o respectivo canto umas com as outras. Uma ave que cante bem produzirá magnificos. discipulos, outra que cante mal tornará incorrecto e desagradavel o canto d'outras com que vive. “ Ha mesmo aves, como os papagaios, que tem a possibilidade de ar- ticular algumas palavras que diante d'ellas se repetem numerosas vezes; com paciencia é possivel ensinar a estas aves phrases completas e rela- tivamente extensas. VOL. 1V 2 ae 18 HISTORIA NATURAL SENTIDOS Pela simples inspecção anatomica dos orgãos fomos conduzidos a af- firmar que nas aves os sentidos são em geral perfeitos. Todas as aves vêem e ouvem muito bem; algumas teem um olfato muito subtil e não pode negar-se que n'um certo numero dºellas o gosto tenha um tal ou qual desenvolvimento, de restp pequeno sempre. Todas teem um tacto notavelmente apurado. Vista. —A grande mobilidade do globo occular e o desenvolvimento do apparelho de accommodação, augmentam consideravelmente nas aves o campo visual e permittem-lhes distinguir um objecto qualquer com uma precisão admiravel. A uma distancia enorme as aves de rapina desco- brem mamiferos de pequenissimas dimensões, e as insectivoras os inse- ctos. Segundo Spallanzani, existem aves capazes de perceberem um ob- jecto de cinco linhas de diametro à distancia de mil e duzentos pés. O globo occular existe em constante movimento, porque a sua distancia fo- cal deve variar com o affastamento dos objectos. Uma experiencia sim- plicissima comprova o que acabamos de dizer. Tomemos uma ave de ra- pina, um abutre, por exemplo, e approximemos e affastemos-lhe alterna- tivamente dos olhos uma das nossas mãos; veremos que alternativa- mente tambem a pupilla se lhe contráe e dilata. Podemos pois perfeita- mente comprehender como uma ave que paira a enormes alturas vê pe- quenos objectos, possuindo todavia simultaneamente uma vista magni- fica para as percepções a curta distancia. A expressão do olhar varia muito nas differentes aves e traduz até um certo ponto os instinctos que as caracterisam. Ouvido. —O canto por si só indica que as aves possuem um excel- lente ouvido. Ellas aprendem a cantar umas com as outras e para que o consigam é evidente que precisam de possuir um ouvido perfeito. Ra- ros individuos n'esta classe dos vertebrados são privados d'este sentido ou 0 possuem relativamente incompleto; e n'aquelles em que um tal fa- cto! se dá, é facil observar como dificilmente evitam os perigos. É que em geral a ave guia-se tanto na vida pela audição como pela visão. Ob- servemos porém -que relativamente à perfeição do ouvido as aves não excedem, como relativamente à vista, os mamiferos. Recorde-se o que dissemos fallando dos cheiropteros e dos felinos e ver-se-ha que teem razão os que, concedendo ás aves um ouvido excellente, as não julgam superiores, em geral, aos mamiferos. | Olfato. — Ácerca da perfeição e desenvolvimento do olfato dividem-se ainda hoje as opiniões-dos naturalistas. Pensam muitos que as aves go-- AVES EM GERAL 19 sam de um olfato apurado, comparavel inteiramente ao dos mamiferos mais bem dotados sob este ponto de vista; pensam outros inversamente que o olfato é um dos sentidos mais imperfeitos e mais rudimentares nas aves. Nenhuma d'estas opiniões extremas se pode admittir com o cara- cter de generalidade que se lhes attribue. O que pode dizer-se sem re- ceio de errar é que o olfato, tendo um desenvolvimento importante em muitas aves, não é dos sentidos mais perfeitos que ellas possuem e não pode seguramente sustentar o confronto com o de muitos mamiferos, com “o do cão, por exemplo. Gosto. — Relativamente a este sentido é indubitavel que somos for- * çados a collocar as aves n'um plano muito inferior ao dos mamiferos. “Como já dissemos, poucas são as especies em que os orgãos do gosto se “encontrem em condições anatomicas e physiologicas proprias a darem uma “certa perfeição a este sentido. A lingua é geralmente dura, de consisten- “Cia cornea e, como já fizemos sentir, a insalivação não se realisa na bocca. Sendo assim, não pode effectuar-se a dissolução das substancias alimen- tares e, portanto, as sensações sapidas ou não existem ou são perfeita- mente rudimentares, incompletissimas. A não trituração oral dos alimentos é ainda uma circumstancia que eloquentemente pleiteia em favor da as- serção que fazemos com a maioria dos observadores mais conscienciosos. Tacto.— Os orgãos particulares a que este sentido está affecto são - principalmente a língua e o bico. O tacto, como sentido especial, é des- envolvido, embora não possua o grao de perfeição e acuidade que nos mamiferos apresenta. A sensibilidade geral porém, é perfeitissima; en- tre outros factos demonstra-o a susceptibilidade excepcional das aves para todas as influencias exteriores e sobretudo para as influencias atmosphe- ricas. INTELLIGENCIA Se as manifestações de uma intelligencia desenvolvida se não con- testam aos mamiferos, seria illogico contestal-as ás aves. Negar a estes 'animaes a intelligencia para designar sob o nome vago de instincto todos os actos surprehendentes que elles praticam, é um velho expediente de *escólas mortas ou moribundas de que nos cumpre cuidadosamente affas- tar. As emigrações em epochas precisas, o espirito de previdencia mani- festado no arrecadamento de substancias alimentares que, colhidas em tempo de abundancia, constituirão um recurso para os periodos criticos, a perfeição admiravel com que fabricam os seus ninhos são outros tantos factos demonstrativos de intendimento. Aos que objectem a esta doutrina perguntemos sómente: porque é que factos perfeitamente analogos reve- * 22 HISTORIA NATURAL florestas, mas nos pontos em que ellas alternam com as steppes, nos pon- tos em que as montanhas alternam com os valles e os terrenos seccos com os terrenos pantanosos. No logar em que um rio attravessa uma flo- resta ou em que um pantano é cercado de arvores ou uma porção de flo- resta domina terrenos circumvisinhos inundados, ahi se encontra um maior numero de especies, porque é tambem ahi que se lhes depara uma ali- mentação mais abundante que em qualquer outra parte. É com effeito, da maior ou menor facilidade com que encontram alimentos que depende a presença das aves n'uma dada localidade; a fome obriga-as a abando- narem tal ou tal região para sempre ou por algum tempo pelo menos. Nenhum vertebrado sabe tão bem como a ave explorar os seus domi- nios. Rebusca pacientemente todos os escondrijos, examina cuidadosa- mente todos os logares ainda os mais occultos e consegue extrair d'elles tudo quanto conteem de alimento. D'entre as granivoras muitas conten- tam-se em juntar os alimentos que encontram já preparados, outras sabem perfeitamente despojar os grãos dos seus involucros, muitas emfim des- enterram raizes e tuberculos de que se alimentam. As frugivoras colhem os fructos com o bico, às vezes mesmo voando. As insectivoras apanham a presa de modos muito variados: arrancam os insectos dos ramos e das folhas a que elles adherem, apanham-os voando, arrancam-os do seio das flores, das fendas, de buracos em que se occultam. Muitas vezes teem a lingua conformada de modo a poderem ir com ella apanhal-os ao fundo dos escondrijos. Entre as aves de rapina cada uma busca uma presa es- pecial; como entre os mamiferos carniceiros, muitas vivem mendigando parasytariamente os restos do que outras comem é algumas parecem des- tinadas a fazerem desapparecer as carnes putridas, os cadaveres em de- composição. O maior numero d'ellas porém, sem desdenharem completa- mente a carne morta, preferem as carnes palpitantes e fazem uma guerra sem treguas, uma dbsapiodadã perseguição aos grandes insectos, aos pequenos siliorós ou mesmo a outras aves. Este ultimo caso é« o do milhafre relativamente aos gallinaceos. * Entre as aves aquaticas, umas teem um regimen exclusivamente animal, outras um regimen mixto, animal e vegetal. Estas ultimas apa- nham a presa que fluctua à superficie d'agua, aquellas vão procural-as a grandes profundidades. Emfim, dada a diversidade de organisação e de costumes das aves, não ha ponto da terra em que ellas não existam. AVES EM GERAL 23 DESENVOLVIMENTO A infancia das aves é muito curta, porque o crescimento é n'esta classe extraordinariamente rapido. Poucos dias ou, quando muito, pou- cas semanas depois de nascida, a ave pode em geral por si só provêr à sua alimentação; mas para egualar os paes, para defender-se dos peri- gos, carece de mais tempo. - Estudemos o desenvolvimento n'esta classe, desde todo o principio, seguindo ainda aqui o livro de Brehm, aquelle em que encontramos mais minuciosas informações. : Quando chega o momento da reproducção, o ovulo que em si con- tem já os germens do sêr futuro, cresce rapidamente; a parte do con- teúdo que deve constituir a membrana vitellina organisa-se e a capsula do ovario que a envolve abre-se e chega ao oviducto, orgão secretor do branco do ovo. Á medida que a membrana vitellina, involucro da gema, vae descendo, impulsionada pelas contracções do orgão, involve-se de camadas successivas de albumina ou, como vulgarmente se diz, de clara, camadas das quaes as mais externas se converterão em casca. Quando esta se acha completamente formada as contracções musculares do ovi- " dueto acabam por expellir o ovo, por o expulsar, atravez da cloaca, do corpo materno. A forma e o tamanho do ovo variam muito. Geralmente o seu vo- lume é proporcionado às dimensões da ave; a este principio existem “comtudo excepções numerosas. A forma mais commum é a que affectam os ovos da gallinha, que todos conhecem; todavia em algumas especies este typo modifica-se muito para tornar-se espherico, elliptico, ovoico- nico, pyriforme ou mesmo quasi cylindrico. As côres que os ovos affe- clam são tambem muito variaveis; ha-os brancos, unicolores e mancha- dos.. À quantidade varia muito, egualmente; entre um e vinte e quatro contam-se todos os numeros. O ovo contem a ave e para desenvolver-se exige imperiosamente calor, que tanto pode ser natural, isto é o que a mãe fornece por irra- diação quando se deita sobre o ovo, como artificial, isto é o que se ob- tem por processos industriaes nos apparelhos chamados chocadores. À femea principia ordinariamente a chocar logo depois da postura. Conser- va-se então dentro do ninho e aquece os ovos com o peito; às vezes 0 macho substitue-a n'esta tarefa. Ás vezes tambem a femea expõe os ovos ao calor do sol ou ao que resulta de substancias vegetaes em fermenta- ção. O tempo que dura a incubação varia com as condições climatericas, mas dentro de curtos limites para uma mesma especie. As variações são 24 HISTORIA NATURAL mais pronunciadas de especie para especie: o abestruz choca cincoenta e cinco a sessenta dias, ao passo que o colibri choca apenas durante dez a doze. Como acima fizemos notar, não é indispensavel que o calor de trinta e sete a quarenta e um graos centigrados, que tanto é o exigido para o desenvolvimento do novo ser dentro do ovo, seja fornecido pela mãe. Os antigos romanos e os egypcios conheciam já perfeitamente este facto e sabiam aproveitar para o resultado que tinham em vista o calor arti- ficial. Um facto para notar é que o germen para se desenvolver carece de respirar; e assim é que collocando um ovo numa atmosphera privada de. oxigenio, o germen morrerá infallivelmente. Poucas horas são necessarias para que o calor faça sentir a sua in- fluencia. Doze horas depois do começo da incubação de um ovo de galli- nha, a cicatricula, ponto branco da membrana vitellina e em que a gema inicia o trabalho embryonario, torna-se mais visivel e os circulos brancos que a cercam augmentam de tamanho e multiplicam-se. Ao fim de dous dias apparece uma pequena saliencia no centro da qual se desenham os primeiros lineamentos do embryão, sob a forma de um pequeno corpo alongado tendo a apparencia de um biscoito. Ao fim do segundo dia os elementos do sangue apresentam-se como outros tantos pequenos pontos rubros, linhas e raias que convergem umas para as outras e formam pe- las successivas anastomoses uma verdadeira rede. Esta é a origem dos vasos e torna-se mais pronunciada ao terceiro dia. Emfim o orgão central, o coração, aecentua-se e toma a forma de um tubo contornado de trez dilatações. Não tarda a contrair-se e a dilatar-se alternativamente: a vida principiou desde esse momento. A-cabeça é constituida por trez vesiculas transparentes sob as quaes se encontra um ponto saliente, incolor que será mais tarde o olho. De uma das vesiculas desce atraz uma linha que é formada de pequenas massas encostadas duas a duas: é a origem da columna vertebral. Duas laminas que nas respectivas extremidades inferiores fazem saliencia são as que marcam embryonariamente os contornos do baixo ventre. Os ru- dimentos do mesentherio, do estomago e dos intestinos principiam a ap- parecer. Ao quarto dia a gema tem augmentado de volume e tem-se ao mesmo tempo tornado mais limpida e mais. fluida; a clara, pelo contrario, tem diminuido. Os vasos são mais numerosos e mais volumosos; principiam a distinguir-se as veias e as arterias. O germen tem-se recurvado e a cabeça toca a extremidade caudal. O coração é já melhor conformado; e vêem-se agora os traços das maxillas, os rudimentos das patas e das azas e uma massa parda avermelhada que representa o figado, " AVES EM GERAL 25 Ao quinto dia, o coração, os vasos e os intestinos teem um maior desenvolvimento; o peito acha-se quasi inteiramente coberto pelas azas e por um bordalete que parte da columna vertebral. Ao fim do quinto dia notam-se os primeiros traços dos pulmões. O coração é cercado por uma bolsa transparente, o pericardio, e a medulla espinhal é visivel. Ao sexto dia o folheto externo do blastoderme, depois de ter dado origem ao amnios, separa-se delle para constituir uma membrana en- volvente geral. Na região central do embryão observa-se um saeco que. vae augmentando e confundindo-se com a clara. As differentes partes do corpo pronunciam-se mais. Ao fim d'este dia, o embryão principia a apre- sentar movimentos proprios. Ao setimo dia, o embryão fluctua livremente no liquido amniotico e tem perto de trez centimetros de comprido. A cabeça é quasi tão volu- mosa como o resto do corpo. O cerebro apresenta-se como uma massa molle, gelatinosa, onde se podem reconhecer todas as differentes partes que o constituirão. A columna vertebral é ainda formada por corpos car- tilaginosos, as costellas apresentam-se como linhas brancas e o esophago, O papo e a moela são já muito visiveis; pode reconhecer-se o baço e a vesicula biliar. Ao oitavo dia apparece o esterno; linhas claras, dispostas em torno dos rudimentos dos ossos, indicam os musculos. “Ao nono dia a cabeça apresenta um prolongamento que virá a ser 0 maxillar superior; o olho, muito volumoso já, é coberto por palpebras transparentes. O coração, contido no pericardio, bate doze vezes por mi- nuto; o cerebro torna-se mais consistente e as cartilagens tornam-se apparentes. Ao decimo e undecimo dia, o embryão augmenta consideravelmente ; à cabeça proporcionalmente mais pequena do que era antes, occulta-se entre as patas e é quasi inteiramente coberta pelas azas e pelas coxas. A vesicula biliar enche-se do fluido proprio e a pelle, muito vascular, apresenta saliencias d'onde partirão as pennas. Nos dois dias immediatos o embryão tem oito centimetros de com- prido e a pennugem principia a apparecer no dorso, nas azas, nas coxas e na extremidade do sacro. Desenham-se os membros e os dedos e os tarsos cobrem-se de pequenas escamas claras; o bico forma-se e torna-se cartilagineo; o cerebro adquire quasi o volume definitivo; os ossos do Craneo apparecem como cartilagens; os pulmões tomam um volume pro- porcionado; e reconhecem-se já os amneis da trachea, os tubos urinife- “Tos, Os uretheres, o ovario, o oviducto. Do decimo sexto ao decimo setimo dia a clara desapparece; a bolsa vitellina contráe-se e volta à cavidade abdominal atravez da abertura umbilical; a plumagem torna-se completa; o embryão está contido na ca- - 26 HISTORIA NATURAL vidade amniotica, dobrado sobre si mesmo, com a cabeça aos lados do peito e coberta pela aza direita e as patas dobradas sobre o ventre. Abre e fecha já o bico, aspira ar e faz ouvir de quando em quando al- gum ruido. A cabeça é desenvolvida e o cerebro apresenta a forma de- finitiva. A producção de calor é ainda diminuta. Nos dois ultimos dias, a membrana vitellina desapparece comple mente na cavidade abdominal; o feto enche o ovo quasi inteiro, respira, faz-se ouvir. Algumas horas antes de romper a casca agita-se em todas as direcções. Bate contra a casca com o bico e produz n'ella pequenas fendas. Por fim a casca rompe-se e a avesinha, estendendo as patas é com a cabeça debaixo de uma das azas abandona a prisão temporaria em que vivêra o primeiro periodo de desenvolvimento. Immediatamente depois da saida do ovo, as aves não se encontram ainda nas condições de procurarem por si o alimento e carecem, ainda que por pouco tempo, do auxilio materno. A este proposito pode dizer-se que aves que depois de adultas serão as mais bem dotadas sob o ponto de vista da força e da actividade, são precisamente aquellas que ao nas- cer se apresentam mais imperfeitas e mais impotentes; muitas nascem cegas, núas e de um aspecto repugnante. O vôo principia para umas es- pecies ao fim de trez semanas, para outras ao fim de mezes. A juven- tude d'estes vertebrados pode considerar-se terminada quando se realisa o revestimento da plumagem definitiva. Muitas aves de rapina não po- dem considerar-se adultas senão depois de alguns annos. MUDAS Designam-se assim os phenomenos que consistem na queda da plu- magem e substituição d'ella por outra. As mudas são devidas à deterio- ração das pennas e produzem geralmente um augmento de belleza e al-. gumas vezes mudanças de côr, negadas até certo tempo pelos natura- listas, mas hoje admittidas e incontestaveis, porque se baseiam em factos perfeitamente averiguados. As mudas determinadas como dissemos, pela deterioração das pen- nas ou ainda pela influencia da luz, da poeira, da humidade que tornam estes orgãos incapazes de preencherem as suas funcções, realisam-se principalmente depois da quadra dos amores e da incubação. A muda co- meça de ordinario simultaneamente em partes diflerentes do corpo e quasi uniformemente dos dois lados. Em muitas especies realisam-se dif- ferentes mudas; na primeira cáem apenas as pennas do tronco e só em outras se substituem as das azas e cauda. Em certas especies são pre- AVES EM GERAL 27 cisos alguns annos para que toda a plumagem seja inteiramente reno- vada, porque cáem só duas pennas por anno; em outras, pelo contrario, a muda é tão rapida que durante um certo tempo as aves sentem-se im- possibilitadas de voar. Nas aves em estado de saude cada muda implica a acquisição de uma plumagem mais brilhante, mais bella. Se a muda se suspende, é certo que a ave está doente; o renovamento das pennas é uma condição indispensavel de existencia. e fdtás VIDA QUOTIDIANA dis 141) ; “Já anteriormente o dissemos: não existem animaes cuja vida seja tão activa como a das aves ou que empreguem o seu tempo de um modo tão completo como ellas. Todas despertam cedo; ainda o sol mal tinge o horisonte já a maior parte d'ellas teem abandonado o logar em que re-. pousaram durante a noite. Quando se percorre uma floresta n'uma ma- nhã d'estio, quando o dia tem ainda as indecisões do crepusculo, já de “todos os lados se ouve os cantos das aves, cantos que se prolongam para além da hora do sol posto. Algumas horas durante a noite e alguns - minutos durante o dia, é tudo quanto consagram ao repouso, ao somno. As proprias gallinhas domesticas, que nós costumamos recolher antes do “pôr do sol, não adormecem senão muito depois; e os pios que nós lhes ouvimos desde madrugada attestam bem evidentemente que poucas ho- ras lhes bastaram para repararem as forças. O mesmo acontece, e mais evidentemente ainda, em relação às outras aves; apenas algumas das de rapina parecem fazer excepção a este principio geral. De ordinario as aves saudam, cantando, o advento do sol, pelo me- nos na quadra dos amores, e principiam só muito depois a procurar o alimento. Quasi todas as aves fazem duas refeições apenas durante o dia: uma de manhã e outra de tarde. Exceptuam-se d'esta regra as aves de rapina para as quaes a alimentação depende em grande parte de um acaso feliz; essas não fazem em geral mais que um repasto e em muitas occasiões teem de supportar longas abstinencias. Muitas aves comem quanto encontram, vivendo assim aw jour le jour; outras porém, anima- das de um espirito de previdencia que muitos homens desconhecem, fa- zem provisões. É posteriormente aos repastos que as aves bebem e se banham; depois abandonam-se por algum tempo ao descanço, digerindo e alisando tranquillamente as pennas. Depois do repasto da tarde, as aves canoras exhibem toda a riqueza da voz em cantos que parecem intermi- naveis; só a fadiga as obriga a calarem-se. 26 HISTORIA NATURAL vidade amniotica, dobrado sobre si mesmo, com a cabeça aos lados do peito e coberta pela aza direita e as patas dobradas sobre o ventre. Abre e fecha já o bico, aspira ar e faz ouvir de quando em quando al- gum ruido. A cabeça é desenvolvida e o cerebro apresenta a forma de- finitiva. A producção de calor é ainda diminuta. Nos dois ultimos dias, a membrana vitellina desapparece completa- mente na cavidade abdominal; o feto enche o ovo quasi inteiro, respira, faz-se ouvir. Algumas horas antes de romper a casca agita-se em todas as direcções. Bate contra a casca com o bico e produz n'ella pequenas fendas. Por fim a casca rompe-se e a avesinha, estendendo as patas e com a cabeça debaixo de uma das azas abandona a prisão temporaria em que vivêra o primeiro periodo de desenvolvimento. Immediatamente depois da saida do ovo, as aves não se encontram ainda nas condições de procurarem por si o alimento e carecem, ainda que por pouco tempo, do auxilio materno. A este proposito pode dizer-se que aves que depois de adultas serão as mais bem dotadas sob o ponto de vista da força e da actividade, são precisamente aquellas que ao nas- cer se apresentam mais imperfeitas e mais impotentes; muitas nascem cegas, núas e de um aspecto repugnante. O vôo principia para umas es- pecies ao fim de trez semanas, para outras ao fim de mezes. A juven- tude d'estes vertebrados pode considerar-se terminada quando se realisa o revestimento da plumagem definitiva. Muitas aves de rapina não po- dem considerar-se adultas senão depois de alguns annos. MUDAS Designam-se assim os phenomenos que consistem na queda da plu- magem e substituição d'ella por outra. As mudas são devidas à deterio- ração das pennas e produzem geralmente um augmento de belleza e al- gumas vezes mudanças de côr, negadas até certo tempo pelos natura- listas, mas hoje admittidas e incontestaveis, porque se baseiam em factos perfeitamente averiguados. As mudas determinadas como dissemos, pela deterioração das pen- nas ou ainda pela influencia da luz, da poeira, da humidade que tornam estes orgãos incapazes de preencherem as suas funcções, realisam-se principalmente depois da quadra dos amores e da incubação. A muda co- meça de ordinario simultaneamente em partes differentes do corpo e quasi uniformemente dos dois lados. Em muitas especies realisam-se dif- ferentes mudas; na primeira cáem apenas as pennas do tronco e só em outras se substituem as das azas e cauda. Em certas especies são pre- Ape! city rd AVES EM GERAL 27 cisos alguns annos para que toda a plumagem seja inteiramente reno- vada, porque cáem só duas pennas por anno; em outras, pelo contrario, a muda é tão rapida que durante um certo tempo as aves sentem-se im- possibilitadas de voar. Nas aves em estado de saude cada muda implica a acquisição de uma plumagem mais brilhante, mais bella. Se a muda se suspende, é certo que a ave está doente; o renovamento das pennas é uma condição indispensavel de existencia. [A id VIDA QUOTIDIANA “Já anteriormente o dissemos: não existem animaes cuja vida seja tão activa como a das aves ou que empreguem o seu tempo de um modo tão completo como ellas. Todas despertam cedo; ainda o sol mal tinge o horisonte já a maior parte d'ellas teem abandonado o logar em que re-. pousaram durante a noite. Quando se percorre uma floresta n'uma ma- “nhã d'estio ando o dia tem ainda as indecisões do crepusculo, já de , p ; todos os lados se ouve os cantos das aves, cantos que se prolongam para além da hora do sol posto. Algumas horas durante a noite e alguns “minutos durante o dia, é tudo quanto consagram ao repouso, ao somno. As proprias gallinhas domesticas, que nós costumamos recolher antes do pôr do sol, não adormecem senão muito depois; e os pios que nós lhes ouvimos desde madrugada attestam bem evidentemente que poucas ho- ras lhes bastaram para repararem as forças. O mesmo acontece, e mais evidentemente ainda, em relação às outras aves; apenas algumas das de rapina parecem fazer excepção a este principio geral. - De ordinario as aves saudam, cantando, o advento do sol, pelo me- nos na quadra dos amores, é principiam só muito depois a procurar o alimento. Quasi todas as aves fazem duas refeições apenas durante o dia: uma de manhã e outra de tarde. Exceptuam-se d'esta regra as aves de rapina para as quaes a alimentação depende em grande parte de um acaso feliz; essas não fazem em geral mais que um repasto e em muitas occasiões teem de supportar longas abstinencias. Muitas aves comem quanto encontram, vivendo assim aw jour le jowr; outras porém, anima- das de um espirito de previdencia que muitos homens desconhecem, fa- zem provisões. É posteriormente aos repastos que as aves bebem e se banham; depois abandonam-se por algum tempo ao descanço, digerindo e alisando tranquillamente as pennas. Depois do repasto da tarde, as aves canoras exhibem toda a riqueza da voz em cantos que parecem intermi- naveis; só a fadiga as obriga a calarem-se. 28 HISTORIA NATURAL O tempo de inverno, de tempestades e chuvas, altera a regularidade . de existencia que descrevemos, porque, mais que quaesquer outros ani- maes, as aves sentem as influencias atmosphericas. AMORES E REPRODUCÇÃO O despertar da natureza actua sobre as aves, porque sempre e em toda a parte a quadra dos amores coincide com a primavera; nos tropi- cos essa quadra activa e encantadora coincide com o começo da estação das chuvas que corresponde, não ao inverno, como se poderia suppor, mas à primavera. Fazendo excepção aos habitos de todos os-vertebrados, as aves raras vezes vivem em polygamia. O par, uma vez constituido, é de ordinario um modelo de fidelidade conjugal; só muito extraordinaria- mente e sob a influencia de um grande ardor genesico um dos compa- nheiros transgride as leis conjugaes, como pittorescamente se exprime Brehm. Geralmente é maior o numero de machos que o de femeas; por isso os machos novos e ainda celibatarios requestam muitas vezes femeas já estabelecidas em grupo familial. O ciume accorda intensamente no ma- cho que podemos denominar esposo e travam-se então longos combates entre os rivaes. Algumas vezes a femea lucta tambem ao lado do esposo, auxiliando-o; geralmente porém conserva-se estranha à lucta e acceita 0. vencedor. Teem notado os naturalistas que o macho sente mais a morte da femea do-que esta a d'aquelle; o facto explica-se muito provavelmente pela circumstancia de que o macho tem muita mais dificuldade em en- contrar companheira do que a femea em achar um macho que a copule. Os machos fazem toda a ordem de esforços para attrairem as fe- meas: chamam-as, cantam, saltitam em torno d'ellas e exhibem, voando, todas as graças. Ás vezes as demonstrações de amor são violentas; du- rante horas inteiras o macho perseguirá a futura companheira que foge adiante. d'elle. Geralmente porém, a femea rende-se, entrega-se dentro . de pouco tempo. | No tempo dos amores, macho e femea procuram já um logar conve- niente em que fabriquem o ninho, a menos que não voltem ao que pos- suiam no anno anterior. O ninho é geralmente estabelecido no centro do espaço que constitue o dominio da ave e varia por isso de especie para especie. As aves de rapina collocam o ninho a grande altura; as que vi- vem nas arvores fabricam-o sobre um ramo ou na cavidade do tronco; as aves dos pantanos no meio de juncos e por entre os canaviaes; em- fim as aves do mar fazem o ninho nas falwises, em cavidades que ellas proprias formam. O ninho ou é occulto, collocado em algum logar que à AVES EM GERAL 29 vista não penetra, ou descoberto, mas inaccessivel, ou então confundido de tal modo com o meio ambiente que não é facil percebel-o. A forma do ninho não é constante para as aves de uma mesma familia ou de um mesmo genero; depende principalmente do logar habitado. Os ninhos mais simples são os das aves que os fazem na terra, os aquelas que escavam o solo para ahi depositarem os ovos e os das que se limitam a forrar de musgo ou outras substancias molles uma ca- vidade aberta na terra. As aves que fazem ninho nos troncos escavados das arvores, em quaesquer outros buracos ou mesmo que fabricam ni-. nhos fluctuantes, apresentam grandes differenças no modo especial por que procedem. As que fazem ninho nos ramos das arvores tambem se não comportam todas de egual modo: umas contentam-se com fazer um grosseiro monticulo de galhos seccos; outras fabricam um verdadeiro es- queleto solido do ninho que depois compõem com hervas tenras; outras fazem escavações que enchem incompletamente com pêllos e pennas; muitas fazem ao ninho um verdadeiro tecto de abrigo; algumas emfim, fazem a entrada em forma de corredor. Ha especies que tecem real- mente fibras vegetaes e as cozem com filamentos que encontram ou que ellas proprias preparam. Outras especies ha, verdadeiras constructoras, cujos ninhos offerecem uma architectura complicada, fazendo-lhes as pa- redes com argilla humedecida em saliva e, portanto, de uma grande so- lidez. Ha tambem especies —facto curioso—que fazem o seu ninho ex- clusivamente de saliva pura que endurece ao contacto do ar. Diz Figuier que em muitas especies é tal a habilidade e o talento empregado na construcção dos ninhos que seriamos levados a crêr que foi pela con- templação d'esses pequeninos edifícios que o homem teve a idéa de cons- truir as suas habitações, fazendo-se para isso carpinteiro, pedreiro, tro- lha, mineiro, tecelão, etc. ! De ordinario o ninho é construido apenas para receber os ovos e servir de berço aos filhos; algumas aves porém, fabricam-o para que lhes sirva de habitação de inverno. Assim o ninho relativamente gigan- tesco de certas aves tem trez compartimentos —um que serve para 0 par conjugal, outro para os filhos e um terceiro para as refeições. — Geralmente é a femea que construe o ninho com o auxilio do ma- cho; mas ás vezes vê-se tambem o contrario. É o macho o que vella pela segurança do ninho; nas especies polygamicas todavia o macho não toma sobre si esta tarefa piedosa. Acontece algumas vezes que muitas aves construem juntas o: ninho ou fazem um como edificio commum divi- dido em tantos compartimentos quantas as familias que terão de habi- 1 Vid. L. Figuier, Les Oiseaux, pg. 18. 30 HISTORIA NATURAL tal-o. A ave quando principia a postura experimenta uma elevação notavel de temperatura, entra n'uma especie de estado febril, durante o qual lhe cáem algumas pennas, principalmente do ventre. Como dissemos, é de ordinario a femea que choca; mas tambem acontece que este trabalho se divida entre o macho e a femea ou mesmo que elle incumba sómente ao macho, como acontece com o abestruz. A incubação faz-se com eui- dado e de um modo intelligente. Para que o calor se reparta por egual, a ave volta muitas vezes os ovos, altera-lhes a posição e, quando os abandona para procurar alimentos, ou os enterra na areia ou os cobre de pennugem ou mesmo os expõe à acção directa do sol para que não sof- fram algum resfriamento. Desde que a ave, rompendo a casca, sae do ovo, a sollicitude dos paes é extrema: buscam-lhe o alimento, cobrem-a com as azas, ensinam-a a comer e a beber, protegem-a emfim contra os perigos, à custa mesmo da propria vida. A sollicitude paterna é retribuida pelo amor e pela obediencia filial. EMIGRAÇÕES Muitas aves ha que, uma vez terminados os cuidados inherentes ao facto da reproducção, emprehendem viagens mais ou menos longas. É preciso distinguir aqui as que emigram das que apenas viajam ou erram. As primeiras partem todos os annos e na mesma epocha precisa e se- guindo uma direcção sempre a mesma; as segundas não se deslocam se- não forçadas pela necessidade e nem a epocha, nem a direcção da via- gem são préviamente estabelecidas. Para estas ultimas a viagem termina quando cessa de actuar a causa que a determinou. Emfim, umas terceiras percorrem apenas uma extensão muito restricta; não fazem mais do que mudarem-se de uma localidade para uma outra proxima. São as emigrações que todos os annos affastam de nós as aves ca- noras e nol-as trazem de novo aos campos na primavera; são ainda as emigrações que fazem com que as aves aquaticas nos abandonem antes que o gêlo lhes invada os dominios. Mais de metade das aves da Europa, do norte da Asia e da America devem considerar-se como emigrantes. Dirigem-se todas para o sul: as do hemispherio oriental para sudoeste e as do hemispherio occidental para éste, segundo a configuração do paiz em que vão passar o inverno. Os rios e os valles collocados na direcção em que emigram servem-lhes de itenerario. Os valles profundos limitados por altas montanhas, são os seus lo- AVES EM GERAL 31 gares de reunião. Umas viajam aos pares, outras em bandos mais ou me- nos numerosos. Á excepção das especies mais fracas, que apenas inten- tam as suas grandes viagens de noite, todas as outras emigram de dia. Partem antes que a fome a isso as obrigue, avançam com rapidez, como se uma força irresistivel as impellisse; e até mesmo as que nasceram numa gaiola e nunca viveram senão em captiveiro, essas mesmo se agi- tam na epocha das emigrações. Este ultimo facto vae naturalmente de encontro à opinião dos que querem explicar a emigração como uma con- “sequencia da falta de alimentos. D'entre as aves, umas emigram cedo, outras muito tarde, mas todas em epochas fixas, determinadas. As que emigram mais tarde são as que voltam mais cedo; as ultimas aves emi- grantes do norte e meio-dia da iejropo partem em Novembro para re- gressarem em Fevereiro. Para onde partem as aves emigrantes? Em que regiões vão passar a estação do inverno? Eis o que não sabemos positivamente para todas as especies, mas apenas para algumas. Muitas partem para o meio-dia da Europa, outras dirigem-se para o norte d'Africa, outras emfim pene- tram nas zonas tropicaes e apparecem no inverno desde as costas do Atlantico até as do mar Vermelho e do mar das Indias. As aves da Ame- rica do Norte vão para o sul dos Estados-Unidos e para a America cen- tral. Observam-se emigrações semelhantes no hemispherio austral; as aves da America do Sul dirigem-se para o norte até ao Brazil e as do sul da Australia para o norte deste continente e ilhas proximas. Antes de partirem, as aves emigrantes teem por costume reuni- rem-se em determinados logares e só erguerem vôo quando se encon- tram em grande numero. Os bandos formados conservam-se durante a viagem tão unidos quanto possivel. Voando, affectam muitas vezes uma ordem determinada: umas vezes dispõem-se em cunha, isto é em duas linhas rectas conver- gentes em V de ponta anterior, outras vezes attravessam o ar em linhas cerradas. Tambem voam irregularmente agrupadas. Durante a emigração as aves conservam-se de ordinario a grandes alturas; mas às vezes des- cem subitamente e voam por algum tempo muito perto do solo para de- pois se elevarem de novo. As aves fracas vão parando de distancia a distancia, pousando nas arvores ou outros pontos elevados que encon- tram pelo caminho. As aves cujo vôo é dificil, penoso, fazem parte da viagem marchando ou nadando. Ao contrario do que poderia suppor-se, se o vento sopra de frente a viagem é rapida e, pelo contrario, morosa ou mesmo muitas vezes interrompida se elle sopra de traz. As simples viagens das aves podem comparar-se às emigrações no sentido de que se realisam em epochas mais ou menos regulares. Às aves que poderiamos chamar vagabundas, erram durante todo o 32 HISTORIA NATURAL anno e por toda a parte; taes são as aves de rapina sempre em procura de presa e as celibatarias, agitadas pelo estimulo do amor. Dada uma ave, qual é a sua patria? Brehm responde, e com elle outros naturalistas, —o logar em que se reproduz. O ninho determina pois a nacionalidade da ave, permitta-se-nos a expressão. EDADE A edade que uma ave pode attingir parece estar em relação com as suas dimensões e talvez tambem com a duração do seu desenvolvimento. Não obstante a grande difficuldade que ha em seguir na sua vida nomade e errante as aves, pode comtudo dizer-se que ellas vivem de ordinario longo tempo. Girardin falla de uma garça que tinha concoenta e dois an- nos quando foi morta a tiro; como gosava saude e tinha vigor na occa- sião em que a surprehendeu esta fatalidade, pode bem suppôr-se que viveria ainda muito mais tempo. A longevidade das cegonhas é muito conhecida; Brehm falla de um par d'estas aves que veio durante mais de quarenta annos fazer ninho a um mesmo logar. Em captiveiro en- contramos tambem numerosos casos de longevidade verdadeiramente espantosa. Ha casos perfeitamente authenticos de papagaios e de corvos que vivem sob o dominio de uma mesma familia durante quarenta a oi- tenta annos e de aguias que teem resistido em captiveiro trinta annos. Mesmo as aves mais mimosas, mais delicadas, como o rouxinol, podem viver captivas doze, quinze e mesmo vinte ánnos. DOENÇAS As aves no estado livre são muito pouco sujeitas a doenças; pela maior parte, ellas morrem sob os dentes e as garras dos carniceiros ou succumbem à velhice. Mas as que vivem em captiveiro e as que consti- tuem as verdadeiras raças domesticas são muito susceptíveis de doenças de ordinario mortaes. AVES EM GERAL 33 UTILIDADE As aves não são apenas para nós os animaes que embellezam a na- — tureza, que põem nas florestas e nos campos as notas alegres das suas = — canções, que nos captivam pela vivacidade de movimentos, pelo brilho da - plumagem, que nos deliciam e que nos alegram; são tambem animaes — Dotadas, como são, de uma vista prespicaz e extensissima, de azas rapidas e de um bico solido, as aves são as implacaveis perseguidoras - dos insectos e de outros nossos inimigos — pequenos pelo tamanho, gran- des pelos estragos que produzem. Entre as de rapina, ha muitas que nos purgam os campos dos roedores — desapiedados inimigos da cultura, e “ainda destroem um incalculavel numero de grandes insectos, indubitavel- mente prejudicialissimos tambem. E não é só aos pequenos mamiferos e aos insectos que as aves combatem: ellas destroem e perseguem ainda — vermes € outros animalculos hostis á cultura. Po - Não podemos enumerar aqui todos os serviços prestados por cada especie; nem isso é necessario, porque na especialidade voltaremos a este assumpto. à - Ou seja por terem attendido à utilidade das aves, ou seja porque se deixaram captivar pela belleza e encanto que d'ellas nos derivam, o que é certo é que em todos os tempos os legisladores civis e religiosos teem protegido as aves; e esta protecção tornar-se-ha tanto mais effectiva e eflicaz quanto melhor forem conhecidos os usos e a utilidade d'estes ver- “tebrados. O estudo da historia natural, desvanecendo preconceitos e erros | inconscientemente admittidos ácerca dos animaes, tem, entre outras van- tagens, a de nos ensinar a comprehender e a estimar ou combater os verdadeiros amigos ou inimigos da nossa especie, vastamente espalhados —uns e outros —por toda a natureza. Esse estudo, uma vez vulgarisado tornará inuteis as leis de protecção tantas vezes promulgadas e tantas vezes inflingidas. CLASSIFICAÇÃO As dissidencias dos naturalistas ácerca da collocação systematica dos mamiferos avultam e tornam-se maiores e mais profundas quando se trata das aves. E a razão deste facto comprehende-se perfeitamente. Toda a classificação é mais ou menos um artifício do nosso espirito. A natureza não produz familias, generos ou especies, mas apenas individuos; as fa- VOL. IV 3 34 HISTORIA NATURAL milias, os generos e as especies, todos os degraos emfim da collocação taxonomica são productos da abstracção e generalisação fundadas sobre semelhanças e diferenças dos individuos. As diferenças permittem a for- mação dos grupos; as semelhanças dão logar a que esses grupos se preen- cham. Ora se a somma das semelhanças fôr sensivelmente preponderante sobre a das differenças surge a difliculdade de formar os grupos de um modo rasoavel, ou, como impropriamente se diz, natural. É o que acon- tece relativamente às aves. «Estes seres, diz Brehm, são de tal modo semelhantes entre si e encontram-se tantas formas intermediarias que di- vidil-os é uma tarefa difficilima.» ! E com effeito, não appareceu ainda até hoje uma classificação que possa considerar-se isempta de graves defeitos. E não obstante o numero das apresentadas é grande; dignas de menção especial ha pelo menos vinte e seis. Se em vez de uma obra popular, escrevessemos um tratado rigoro- samente scientifico de ornithologia teriamos de discutir aqui todas essas classificações, examinando os erros e as qualidades de cada uma para legitimar a escolha de uma dºellas on talvez para propor uma nova. No plano do nosso trabalho não entram tão ambiciosos intuitos; por isso se- guiremos aqui a classificação classica, mais geralmente adoptada, que é a de Cuvier, simples modificação da proposta por Linneu. Segundo esta classificação as aves dividem-se em seis ordens: as aves de rapina, os passaros, as aves trepadoras, os gallinaceos, as aves ribeirinhas ow per- naltas, e as aves aquaticas ow palmipedes. Seguindo o mesmo caminho que já adoptamos tratando dos mamiferos, marcharemos descendo a es- cala ornithologica, isto é a escala da perfeição relativa dos animaes que estão comprehendidos na grande classe das aves. Para estas, como para os mamiferos, cada ordem se divide em familias, estas em generos e es- tes em especies que successivamente iremos estudando. E advertiremos aqui que não cabe nos limites d'esta obra tratar de todas as especies, mas sim das principaes. | No quadro que segue encontra o leitor exposta de um modo facil- mente visivel não só a classificação que adoptamos, mas ainda a ordem que seguiremos na exposição das materias: 1 Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 25. , = qe” a suplementares. exporemos as as familias, generos e espe | ; em cada uma das « rd a arts Pra do ; o, 6 Es 4 E>'s ' SARA o a ; Ea & E EE o, Po) 4 mio) ES) mm AVES DE RAPINA CONSIDERAÇÕES GERAES Não é a utilidade das aves de rapina que nos obriga a dar-lhes o primeiro logar no quadro da disposição taxonomica; olhadas sob esse ponto de vista, ellas são evidentemente inferiores a muitas d'outros gru- pos ou ordens. Damos-lhes o primeiro logar, attendendo à perfeição re- lativamente extraordinaria da sua organisação physica e intellectual. CARACTERES As dimensões das aves de rapina variam muito; existem com efeito algumas que attingem as proporções das maiores aves aquaticas ou das pernaltas ao lado d'outras que não excedem o tamanho da cotovia. En- tre os dois extremos encontram-se todas as dimensões intermedias pos- siveis. Mas, a despeito d'estas diferenças consideraveis, o typo da ave de rapina reconhece-se sempre e facilmente. O corpo d'estas aves é refeito e assemelha-se ao dos papagaios. Teem peito largo, os membros fortes e curtos, a cabeça grande, arre- 38 HISTORIA NATURAL dondada, por excepção alongada, o pescoço curto e grosso, raras vezes extenso, o tronco tambem de pequeno comprimento e robusto. É possi- vel reconhecer as aves de rapina, mesmo quando despojadas das armas offensivas e da plumagem; no entanto, essas armas—as garras e o bico — são realmente o que ellas teem de mais caracteristico. O bico é curto, fortemente convexo na origem e recurvo em gancho na extremidade; parecendo-se um pouco com o bico do papagaio, differe delle todavia em não ser globuloso, mas antes comprimido lateralmente e mais alto do que largo. A mandibula superior é immovel e cobre com- pletamente a inferior. Os pés assemelham-se tambem um pouco aos dos papagaios. São curtos e fortes, mas de dedos compridos relativamente aos tarsos; um dos dedos anteriores pode até um certo ponto ser dirigido para traz. O que distingue porém os pés das aves de rapina são as unhas ou garras, geralmente terminadas em ponta aguda, fortemente recurvas, de face superior convexa e inferior ligeiramente concava e limitada por dois bor- dos quasi cortantes. As pennas são ora solidas e rigas, ora pequenas, molles, mesmo se- dosas. Algumas partes da cabeça são desnudadas, nomeadamente o con- torno do olho e a região comprehendida entre este orgão e o bico; em certas especies porém os olhos são, pelo contrario, circuitados por pen- nas radiantes. As pennas das azas e da cauda são muito compridas; o numero d'ellas é constante para cada especie. Contam-se dez na mão, doze, treze ou dezeseis no braço e doze caudaes, dispostas aos pares. À plumagem é geralmente de uma côr escura, mas agradavel à vista; ha mesmo especies notaveis pela belleza das tintas. As partes da cabeça desprovidas de pennas, a região occulo-nasal, o bico, os pés e os olhos são por vezes muito vivamente coloridos. O esqueleto nas aves d'esta ordem é vigorosissimo; o esterno, como nas aves de alto vôo, cobre quasi toda a face anterior do corpo e offerece uma crista muito alta. Os ossos das azas são notaveis pelo comprimento e os dos membros inferiores pela solidez. Quasi todos são pneumaticos, o que equivale a dizer que não teem medula e communicam com os or- gãos respiratorios. Os pulmões são volumosos e os saccos aerios muito desenvolvidos. O esophago é extremamente dilatavel, apresenta no inte- rior pregas espessas e offerece de ordinario uma especie de papo. O ven- triculo succenturiado é muito rico em glandulas, o estomago é grande, membranoso e o intestino de dimensões variaveis. A lingua é larga, ar- redondada anteriormente e de bordos dentados atraz. Entre os orgãos dos sentidos, o mais notavel é sem duvida o olho. É grande, principalmente nas aves de rapina que teem habitos noctur- nos, e gosa de movimentos internos muito completos, d'onde resulta AVES EM GERAL 39 uma accomodação da vista egualmente boa para distancias muito diffe- rentes. O orgão do ouvido é tambem muito perfeito nas aves de rapina e especialmente nos hibus de que adiante fallaremos. O tacto e a sensibilidade geral são muito desenvolvidos. Mas os or- gãos olfativos e o gosto são quasi rudimentares, o que inculça uma de- ficiencia d'estes sentidos, de resto perfeitamente provada pela experiencia. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA As aves de rapina habitam toda a terra; encontram-se em todas as latitudes e em todas as altitudes. . COSTUMES - (Como dissemos no começo d'este artigo, as faculdades intellectuaes das aves de rapina são em geral desenvolvidas; a estupidez é n'esta or- dem uma excepção. Pode dizer-se, sem temor de errar, que as aves de rapina estão, sob o ponto de vista em questão, na mesma plana que os carniceiros na classe dos mamiferos. E ainda sob outros aspectos existe semelhança entre uns e outros. As aves de rapina teem com effeito, como o geral dos carniceiros, a coragem, a consciencia da força, a crueldade, a astucia e a ferocidade por vezes mysteriosamente combinada com uma certa nobreza, como no leão acontece. São dedicadas às companheiras e attacam valorosamente os inimigos. Ás aves de rapina falta uma qualidade muito geral na classe de ver- tebrados a que pertencem: uma voz agradavel. Algumas chegam a não possuir mais que trez notas differentes e essas mesmas discordantes. As aves de rapina vivem nas arvores, nas florestas e ahi se dão bem; no entanto não evitam as montanhas aridas, nem os desertos. En- contram-se mesmo nas ilhotas mais insignificantes do Oceano e nos ver- tices das montanhas mais altas; vêem-se pairar acima dos bancos de gêlo da Groelandia e de Spitzberg como sobre as planicies arenosas e quei- madas pelo sol do deserto; habitam tanto as impenetraveis florestas vir- gens como os edifícios das cidades. Cada especie tem uma area de dis- persão que, com quanto muito extensa, não está ainda assim em relação 40) HISTORIA NATURAL com o respectivo poder locomotor. Ha porém algumas especies que fazem excepção a estes principios geraes, desconhecendo limites e percorrendo toda a terra. Muitas aves de rapina emigram no inverno, dirigindo-se para o sul e seguindo as aves pequenas. As especies que vivem mais ao norte não emigram, erram apenas dentro de um espaço circumscripto. Abstraindo mesmo d'estas emigrações, as aves de rapina juntam-se ás vezes em bandos numerosos; fora d'estes casos vivem isoladas. Ao chegar da pri- mavera, os bandos emigrantes decompõôem-se, separam-se em pares, voltam ás-suas respectivas regiões e não tardam a reproduzir-se. Todas as aves de rapina, emigrantes ou não, fazem ninho no começo da primavera. Esse ninho tem uma colocação muito variavel; umas ve- zes estabelece-se sobre uma arvore, outras na saliencia de um ro- chedo ou n'uma parede impraticavel, em uma fenda ou mesmo, ainda que mais raramente, na cavidade de uma arvore ou na terra. Os ninhos collocados nas arvores e nos rochedos são sempre construcções muito solidas; de ordinario são largos e baixos, a menos que não tenham ser- vido muitos annos, porque então em cada epocha de cio as aves vão- lhes fazendo reparos e ao mesmo tempo augmentando-os. O interior dºes- tes ninhos é pouco profundo. Macho e femea construem em commum. As grandes especies teem uma visivel dificuldade em procurar os materiaes indispensaveis. Segundo Tschudi, certas aguias deixam-se cair d'alto so- bre o ramo de que precisam, prendem-o com as garras e partem-o pela impulsão da queda; assim apanham um a um os ramos que hão de en- trar como elementos na formação do ninho. As aves de rapina que fazem ninho nos buracos contentam-se com depositar os ovos no fundo occo das arvores. Algumas depositam-os mesmo em terra ou sobre uma pedra nua. O coito é precedido de varias diversões. O macho vôa soberba- mente, balança-se nos ares e às vezes faz ouvir sons especiaes que, sem constituirem canto, são todavia ternos, agradaveis. O ciume exerce tam- bem a sua influencia; cada intruso é attacado, forçado a fugir. O esposo não admitte mesmo uma ave d'outra especie ao pé d'elle. E os combates das aves de rapina teem, no dizer de quantos uma vez os presenciaram, uma certa magestade. «São, diz Brehm, meias voltas subitas em que se arremessam de face, attaques rapidos, defezas brilhantes, mutuas perse- guições, resistencias valorosas. Os combatentes prendem-se, apertam-se um contra o outro-e, incapazes de se servirem das azas, cáem por fim, fazendo redemoinho no ar. Em terra o combate suspende-se, mas para recomeçar, passados alguns momentos, na atmosphera. Depois de uma lucta demorada, o vencido retira-se, perseguido pelo vencedor, para além dos limites do seu dominio proprio. No entanto a paz não está estabele- cida ainda; a lucta recomeça nos dias immediatos e é preciso que o ven- LR AVES EM GERAL 41 cedor ganhe muitas victorias successivas para poder tranquillamente go- sar os primeiros triumphos. Por mais porfiadas que sejam estas luctas, raras vezes comtudo ellas terminam pela morte de um dos combatentes. A femea, sem tomar parte n'estes attaques, segue-as todavia com inte- resse e, depois da retirada de um dos rivaes, entrega-se ao vencedor.» ! Os ovos das aves de rapina são arredondados, de casca rugosa e inteiramente brancos ou pardacentos, ou ainda amarellados e cobertos de pontos escuros. O numero d'elles varía entre um e sete. De ordinario só a femea choca; ha porém especies em que o macho a substitue de tempos a tempos n'este serviço. A incubação dura de trez a seis sema- nas. Nos primeiros dias os filhos são pequenos seres arredondados, de cabeça relativamente volumosa, de-olhos largamente abertos, e revesti- dos de uma fina plumagem clara. Crescem rapidamente e as pennas do dorso apparecem de prompto. Os paes dedicam a estes pequenos seres uma ternura sem egual, nunca os abandonando e expondo-se à morte para os defender. E é n'estas condições que as aves de rapina dão provas de uma coragem e de uma temeridade intomparaveis. Para alimentarem os filhos, dão-lhes no principio substancias meio digeridas e mais tarde pedaços das presas que apanham. Se, quando levam o alimento para os filhos, são perseguidas, as aves de rapina deixam cair do ar sobre o ni- nho as substancias que lhes destinavam. Conteste-se a intelligencia das aves em face d'este acto! ; No regimen alimentar das aves de rapina entram vertebrados de to- das as classes, insectos de todas as especies, ovos, vermes, molluscos, excrementos humanos e excepcionalmente fructos. Detalntento apanham a presa viva; mas tambem ás vezes se contentam em juntar pedaços que encontram. Apanham a presa com as garras e rasgam-a com o bico. A digestão das aves de rapina é extremamente rapida. Nas especies que possuem papo, os alimentos demoram-se algum tempo n'este orgão, sendo ahi submettidos à acção da saliva; depois são digeridos pelo succo gastrico. Os ossos, os tendões e os ligamentos são reduzidos a uma pasta molle; os pêllos e as pennas são vomitados de dd a tempos sob a forma de pequenas bolas. Todas as aves de rapina podem comer grandes porções de alimento de uma só vez, assim como podem tambem supportar por muito tempo a abstinencia. 1 Brehm, Obr, cit., vol. 3.º, pg. 338. 42 HISTORIA NATURAL INIMIGOS De todos os inimigos das aves de rapina o mais temivel é o homem. A força e a agilidade de que estas aves dispõem constitue para ellas uma verdadeira garantia contra os attaques de quasi todos os animaes. Não obstante são atormentadas por parasytas que se lhes implantam sobre a pelle em numero prodigioso, constituindo ahi verdadeiras colonias. UTILIDADE As aves de rapina podem ser consideradas simultaneamente nossas alliadas e nossas inimigas; porque, com efeito, ellas attacam especies animaes que nos são uteis e outras que nos são prejudiciaes. Até que ponto os serviços que nos prestam compensam ou excedem os prejuizos que nos causam? Eis um problema de cuja resolução depende o conside- rarmos as aves de rapina uteis ou nocivas, alliadas ou inimigas. Porque, realmente, sendo essas aves ao mesmo tempo e até um certo ponto am- bas as coisas, é indispensavel saber qual das duas predomina. Ora o pro-. blema em questão não pode decidir-se nem de um modo absoluto, nem de um modo geral. É no estudo de cada especie que iremos buscar a so- lução, necessariamente parcial. Aqui podemos apenas dizer que algumas especies se alimentam em grande parte à custa de animaes que nos são muito uteis e que essas devem ser, portanto, desapiedadamente perse- guidas por nós, porque os serviços que nos possam prestar não com- pensam de modo algum as desvantagens inherentes à sua existencia. Outras especies ha que, destruindo principalmente insectos e roedores, nos são mais uteis do que prejudiciaes e que devem antes merecer a nossa estima e protecção do que o attaque continuo e menos justificado de que as fazemos victimas. Dizer quaes sejam as especies que entram numa e n'qutra cathegoria é que n'este logar não podemos fazer, sob penna de confundirmos a generalidade com a especialidade. Devemos di- zer desde já que a utilidade das aves de rapina é sempre indirecta e depende da destruição que promovem aos animaes damninhos ; com effeito, os productos d'essas aves—a carne e as pennas— são de mediocre im- portancia. po E « O. pn iutão todas as aves de rapina em n trez grupos “emquanto que Figuier, que pertence ao numero dos se-. 3 forma duas sub-ordens. A divisão d'este ultimo é a mais uida e é tambem a que adoptaremos. Assim no estudo a -Nos-hemos sneoRs Anime das aves de rapina diur- po ST ad Pl CAS RA ET + F vo PORN 2 Do AR A ND VR PT Mx Pa DE rd RR PI E k TUA A " Y DM PRESS GAR, sore, w - . ' Ê; A = TEM RIA Ra! F: á Vi dede e Leto a Sa gr ' 4 ) he a] ê ks 1 É a Ra ) t E) : Is p y Í WE E 4 xe Ci + ZA . E | 4 E | PENRRE RA DK 4 E : * ; - “AVES EM GERAL | 45 / ia VES DE RAPINA EM ESPECIAL 1, Dr. Anstett, Historia Natural Popular, Rio de Janeiro, 1870. 4 46 HISTORIA NATURAL OS ABUTRES Diz Figuier que os abutres constituem uma familia natural facil- mente reconhecivel pelos seguintes caracteres: bico recto em quasi todo o comprimento e recurvo apenas na extremidade, cabeça e pescoço ordi- nariamente desnudados de pennas e revestidos apenas de pennugem, olhos pequenos e muito superficiaes, cabeça pouco volumosa, tarsos ge- ralmente nús, dedos curtos, unhas fracas e pouco recurvas e azas muito extensas. «Distinguem-se ainda, continúa o naturalista citado, pelo habito de se manterem quasi horisontalmente quer em repouso, quer quando marcham. Esta posição que affectam é provavelmente devida ao compri- mento das azas que, mesmo assim, roçam pela terra. Emfim são caracte- risadas pelo gosto particular que teem pela carne em putrefacção de que fazem um consumo quasi exclusivo, por isso que só muito raras vezes attacam animaes vivos.» * A digestão d'estas aves é demorada e em quanto ella dura conser- vam-se no estado de modorra e de embrutecimento. Voam um pouco pezadamente; elevam-se porém a grandes alturas. Ainda quando pairem a enormes distancias da terra, se um cadaver ap- “parece, descem rapidamente sobre elle. O facto que acabamos de referir tem tido explicações po pretendendo uns que a rapidez com que os abutres descobrem os cada- veres é devida ao fino olfato d'estas aves, affirmando outros que ella re- sulta da extensão excepcional da vista. Esta ultima opinião, a mais mo- derna, é a que acceitamos, pelas razões já expostas anteriormente quando fallamos das aves em geral no capitulo consagrado aos sentidos. Os abutres exhalam um cheiro fetido, que indubitavelmente é devido ao genero especial da alimentação que lhes é propria. É esta a principal razão por que a carne d'estas aves não pode ser comida por nós. Figuier observa que Buffon imprimiu nos abutres um estigma de in- famia que por muito tempo lhes ficará ligado ao nome. E com efeito, o classico naturalista escreveu a proposito d'estas aves: «Os abutres pos- suem apenas os baixos instinctos da gastronomia e da voracidade; só combatem os seres vivos quando não podem cevar os seus instinctos nos mortos. A aguia attaca os inimigos corpo a corpo sendo ella, des- 1 L. Figuier, Obr. cit., pg. 499. “N AVES EM GERAL 47 acompanhada, que os persegue, que os combate, que os domina; ao con- trario, os abutres, prevendo a resistencia, reunem-se em bandos como covardes assassinos e são mais ladrões do que combatentes, mais aves de carnagem que aves de rapina. N'esta ordem com efeito, são os abu- tres as unicas aves que se enthusiasmam devorando cadaveres até ao ponto de não lhes pouparem os ossos; a corrupção e a infecção, em vez de os repellirem, são-lhes attractivo.» ! E mais adiante escreve ainda: “«Se compararmos as aves aos quadrupedes, parecer-nos-ha que os abu- tres reunem a força e a crueldade do tigre à cobardia e à gastronomia do chacal.» 2? Figuier considera as citações feitas como verdadeiras ca- lumnias. E dizendo-nos que Buffon cedêra, escrevendo as palavras que transcrevemos, ao desejo pouco fundado de estabelecer um contraste en- tre a baixeza dos abutres e a nobreza das aves, conclue: «É já tempo de acabar com estas velhas formulas dos antigos naturalistas, formulas que estão em continuo e completo desaccordo com a sciencia e a obser- vação.» 3 Estamos plenamente de accordo com estas palavras; sómente, seja dito de passagem, nos admira um pouco vel-as sair da penna de Fi- guier, o homem que ao par de tão bons serviços de vulgarisação scien- tifica, tem feito tanta rhetorica má em defeza de concepções atardadas. A familia dos abutres comprehende grande numero de generos; d'es- tes estudaremos os principaes. O GRIFFO Esta ave mede approximadamente um metro e treze centimetros de comprimento da cabeça à cauda e dois metros e setenta é tantos centi- metros de ponta a ponta d'aza aberta. A aza fechada tem de extensão setenta e dois centimetros, pouco mais ou menos, e a cauda trinta e dois. A plumagem é de um trigueiro claro e arruivado uniforme. Cada penna 1 Buffon, Oeuvres complêtes, article Vautours. 2 Tbid. 3 L. Figuier, Obr. cit., pg. 514. 48 HISTORIA NATURAL apresenta um circuito ou orla clara. As remiges primarias e as rectrizes são negras; as remiges secundarias são de um pardo escuro, circuitadas de um estreito rebordo ruivo; as pennas do collo, emfim, são brancas ou branco-amarelladas. O cerume do bico é côr de chumbo e o bico pardo; os pés são pardos-escuros. Quando novo ainda, o grifo apresenta uma plumagem mais escura e as hastes das pennas mais apparentes. As pennas do pescoço são escu- ras e longas, ao passo que nos adultos, como acima dissemos, são cum e brancas. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA De todas as especies conhecidas de abutres, só esta existe na Eu- ropa. O griffo é com efeito vulgar na peninsula hellenica, no sul da Ita- lia, no sul e centro da peninsula iberica. Existe io na Allemanha, mas é ahi menos commum. Vive ainda em todo o Egypto e é Mi a noroeste da Asia. Em Portugal encontra-se na provincia do Algarve. COSTUMES o ninho. O griffo move-se com mais rapidez e elegancia do que todos os ou- tros abutres. Quando descê, sobretudo, fal-o com tanto ligeireza como um falcão e muda facilmente de direcção, ao passo que outros se deixam cair verticalmente quasi até ao solo. Em terra caminha de modo que um ho- mem sente dificuldade em alcançal-o. De todos os abutres é o griffo o mais astuto, o mais colerico, 0 mais violento. Tem uma intelligencia limitada e muito desenvolvidas as qualidades que o tornam antipathico e que Buffon fez vivamente sentir nas passagens que transcrevemos a proposito dos abutres. O griffo vive em grandes sociedades, faz ninho em commum com os companheiros, estabelecendo-se assim verdadeiras colonias sobre os ro- chedos, e muitas vezes reune-se às outras especies de abutres. Mas quando este ultimo facto tem logar, é elle sempre a introduzir a discordia nos grupos formados. Ferido, defende-se com raiva, precipita-se sobre o homem e procura sempre o rosto do adversario. Quando o attacam, procura ao principio Habita os rochedos mais inaccessiveis e é nas fendas d'elles que a AVES EM GERAL 49 salvar-se fugindo; mas se o seguem de muito perto e vê a impossibili- dade de subtrair-se ao attaque, volta-se subitamente, assobia como os hi- bus e rola furiosamente os olhos dentro das orbitas. Se alguem consegue deitar-lhe a mão, defende-se corajosamente com as garras, fazendo feri- mentos gravissimos. Comporta-se precisamente de egual modo em relação aos proprios congéneres. Acontece, com effeito, muitas vezes, que dois griffos, compa- nheiros desde muito tempo e tendo vivido sempre em completa paz, n'um dado momento principiam um combate porfiado, no ardor do qual chegam a esquecer a altura a que se encontram. Brehm a este proposito cita as palavras seguintes de um irmão: «N'uma caçada que fiz na serra de Gua- darrama vi no ar, muito alto, dois griffos atirarem-se de subito um con- “tra o outro; agarraram-se mutuamente e, incapazes de continuarem a voar, cairam em terra como uma massa inerte. Nem por isso o ardor do combate arrefeceu; continuaram a lucta, indifferentes inteiramente a quanto em volta d'elles se passava. Um pastor quiz apanhal-os e atirou- se a elles à paulada. Só depois de terem apanhado muitas pancadas suc- cessivas é que se convenceram de que lhes era melhor affastarem-se e addiar a continuação do duello. Acabaram por separar-se emfim, voando cada um para seu lado.» ! No attaque aos cadaveres é O iciênte horrivel o griflo. O que mais attráe a attenção desta ave de rapina são as visceras contidas nas cavidades thoracica e abdominal. Com uma forte bicada abre no ventre do cadaver uma brecha por onde lhe cabe o pescoço e principia, sem nunca tirar a cabeça para fóra, a devorar as visceras com verdadeiro ar- dor; figado, coração, baço, intestinos, tudo come com rapidez incalcula- vel. Comprehende-se perfeitamente que depois d'este trabalho, o griffo deve apresentar, coberto de sangue, de pedaços de carne e de excre- mentos, um aspecto verdadeiramente repugnante. Os arabes e os pasto- res das montanhas da Hungria attribuem-lhe o facto de attacarem os ani- maes doentes ou moribundos; Brehm não julga suflicientemente provadas semelhantes accusações. O grifo dorme muito durante o dia, porque só perto das doze ho- ras é que procede à caça. Quando tem filhos pequenos é mais activo, mais matinal. Então, segundo Lázár, parte à busca de alimentos logo ao erguer do sol. No meio dia da Europa a quadra dos amores coincide para o grifo com a segunda metade de Fevereiro ou começo de Março. O ninho esta- belece-se ou numa fenda ou sob uma saliencia de rochedo e é formado 1 Vid. Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 469. VOL. 1V 4 50 HISTORIA NATURAL por uma camada pouco espessa de ramos mediocremente volumosos. A femea põe um ovo unico das dimensões dos de pato; o macho incuba durante as primeiras horas da manhã e a femea em todo o resto do dia. O ninho nunca se estabelece nas arvores. O tempo que dura a incubação não é exactamente conhecido; sabe-se apenas que no fim de Março os pe- quenos grifíos teem partido a casca do ovo, entrando definitivamente em relação com o mundo externo. Os ovos do griffo tem um cheiro de almis- car tão activo que, diz um irmão do naturalista A. Brehm, que é neces- saria uma verdadeira paixão pela historia natural para ter a coragem de esvaziar um. Nos primeiros tempos os paes tratam com grande ternura os filhos. Graças á quantidade enorme de alimentos que ingerem, os pequenos grif- fos crescem rapidamente e ao fim de trez mezes podem provêr, sem au- xilio dos paes, às proprias necessidades. CAPTIVEIRO O griffo, com quanto não chegue nunca a uma completa mansidão, é todavia susceptivel de domesticar-se até um certo ponto. No livro As' aves de Figuier encontro a passagem seguinte: «Uma senhora residente em Tagarog, conta Nordmann, possuia um griflo que todas as manhãs saía da sua habitação, situada no pateo da casa, e se dirigia ao estabe- lecimento de um carniceiro onde era conhecido e onde habitualmente lhe davam de comer. Se alguma vez lhe recusavam o obulo costumado, pro- curava ardilosamente obter o que de boa vontade lhe não davam e fugia para o telhado de uma casa visinha a comer algum pedaço de carne rou- bada. Algumas vezes attravessava o mar de Azof para ir à cidade do mesmo nome, onde passava o dia, regressando porém a casa para dor- mir.» * Ora é indispensavel observar que o grao de domesticidade exem- plificado no caso que acabamos de citar, nunca se obtem senão quando o griffo é reduzido ao captiveiro desde os primeiros dias de existencia. O grifo adulto, como o fazem sentir Baldamus e Lázár, é perfeitamente in- domavel; reduzido ao captiveiro, é sempre uma ave perigosa e com a qual se não pode contar. Este ultimo naturalista compara esta ave a um melancolico mao, sempre disposto à traição. Acontece tambem que o griffo captivo desde os primeiros dias de 1 Vid. Figuier, Obr. cit., pg. 514. - aà AVES EM GERAL 51 existencia chega a adquirir uma grande estima pelos animaes domesti- cos. Brehm conta o facto de uma d'estas aves que contraíra uma affeição tão viva por um cão que, morto este, caiu n'um estado profundo de me- lancolia, recusou obstinadamente todos os alimentos e morreu oito dias depois do amigo. Casos d'estes, diga-se de passagem, são inteiramente excepcionaes. USOS E PRODUCTOS No Egypto as pennas do giffo teem applicações industriaes; as das “azas e da cauda, sobretudo, servem de enfeites e entram na confecção de differentes utensilios. Na ilha de Creta e na Arabia as pelles emplu- “madas dos griffos constituem um bom artigo de commercio, segundo Belon. O PICA-OSSO É a maior das aves que habitam a Europa. Do bico até à cauda mede um comprimento de um metro e quatorze centimetros, approxima- damente. De ponta a ponta d'aza a extensão é de dois metros e trinta e quatro centimetros. A femea é ainda um pouco maior; tem pouco mais ou menos uns seis ou oito centimetros a mais de extensão de aza a aza e quatro a seis mais que o macho da cabeça à cauda. A plumagem d'esta ave é de um trigueiro escuro uniforme. O bico é azul na base, avermelhado em alguns pontos e violeta e azul na extre- midade; os pés são brancos ou côr de carne com reflexos violaceos. As partes nuas do pescoço são de um pardo mais ou menos approximado da côr do chumbo; os olhos são orlados por um circuito violaceo. O animal em quanto novo é mais escuro que depois de adulto e de plumagem mais brilhante. 52 HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O pica-osso é muito frequente nos Alpes, nos Pyreneos, no archipe- lago grego, no sul da Hespanha e no Egypto. Em Portugal apparece no Ribatejo e no Alemtejo. Hoje o pica-osso é muito menos vulgar do que o foi no seculo xvr; apparecia então em pontos onde hoje se não encontra e foi commum em regiões em que actualmente é raro. COSTUMES "4 Segundo observações de Brehm, o pica-osso é menos commum do que o griffo; em Hespanha não se encontra senão isolado ou, quando muito, em pequenas familias de trez a cinco individuos. Attaca os cada-. veres, como o griflo; menos gastronomo porém do que elle, o seu modo de proceder é, como dizia Buffon, um pouco mais nobre. Os movimentos do pica-osso, quando vôa, são menos bruscos, mas mais demorados, mais regulares que os do griffo. Tem um porte um pouco semelhante ao das aguias; o olhar não possue a expressão má e falsa do griffo. Alimenta-se principalmente da carne dos animaes mortos; só attaca os intestinos à falta de outra coisa. ; Tambem come ossos; e d'aqui lhe provem mesmo a denominação portugueza por que é conhecido. Segundo Lázár, que colheu as suas informações dos caçadores da Transylvania, o pica-osso attaca e mata mamiferos vivos. O pica-osso faz o seu ninho nas arvores e os materiaes de constru- cção que emprega são ramos de grossuras differentes, que se entrelaçam deixando no meio uma cavidade onde o ovo ou os ovos se depositam. O ovo ou os ovos, dissemos; na realidade uns asseveram que a femea do pica-osso não põe mais que um ovo unico, branco, de casca espessa, ao passo que outros affirmam ter visto dois, muitas vezes cobertos de pe- quenas manchas. A epocha da postura é em Fevereiro. O fecemnascido é coberto de uma pennugem abundante, branca e lanosa; só aos quatro mezes principia a voar. AVES EM GERAL 53 CAÇA A caça do pica-osso é relativamente facil, o que se comprehende bem attendendo à extrema voracidade que caracterisa esta ave. O caça- dor faz uma cova na terra, circuita-se de pedras, desordenadamente dis- postas de modo a não despertar a attenção do pica-osso e a uns vinte ou trinta passos de distancia deitam-se no chão dois carneiros mortos. Este trabalho é feito durante a noite. De madrugada o caçador dirige-se para essa cova que constitue um verdadeiro ponto de espera ou embus- cada; alli collocado, prepara a arma, na certeza de que a ave não se fará esperar muito. E com effeito, muito cedo, descem, não uma, mas muitas sobre os cadaveres expostos. É então que o banquete principia no meio de gritos estridulos de alegria e é então tambem que o caçador faz fogo na certeza de abater alguma ou algumas aves, se emprega chumbo grosso e uma boa arma. CAPTIVEIRO Ácerca do pica-osso podemos até certo ponto repetir o que ficou dito a proposito do grifo. Apanhado nos primeiros dias de existencia, O pica-osso habitua-se às condições de captiveiro, reconhece o homem e os animaes domesticos que não attaca. É porém de notar que à proporção que envilhece o pica-osso se torna mao, hostil, que ha n'elle como que “um renascimento dos instinctos da especie, longo tempo adormecidos sob o dominio do homem. USOS E PRODUCTOS O pica-osso, como ave que se nutre principalmente de cadaveres, de carnes e tecidos animaes putrefactos, é indubitavelmente de uma grande utilidade; representa entre as aves um papel analogo ao que en- tre os mamiferos está confiado ás hyenas. É pois uma ave de utilidade incontestavel, embora indirecta. Não fornece productos uteis ou pelo me- nos de que se tenha até hoje tirado um proveito qualquer. Na antiga Roma era uma ave d'agoiro, cujas entranhas os sacerdotes pagãos consultavam cuidadosamente para d'ahi tirarem indicações relati- vamente às consequencias propícias ou funestas das batalhas. Com os au- 54 HISTORIA NATURAL gures acabaram as virtudes presagas d'esta especie. Em tempos tambem remotos, a carne e as differentes partes do pica-osso eram consideradas como exercendo influxo benefico na cura das doenças. Gérôme diz a este - proposito que, comquanto as pretendidas acções therapeuticas não passem | de simples chimeras, nos livros antigos de medicina se fallava com elo- gio das diversas partes do pica-osso como de outros tantos recursos con- tra males especiaes; tot cwrationes esse in vulture quot sunt membra. O CONDOR É tambem denominado grande abutre dos Andes. A proposito d'esta ave teem-se escripto coisas fabulosas, extraordinarias. Humboldt, Darwin e Tschudi deram descripções completas e minuciosas desta ave de ra- pina, desfazendo velhas lendas e restabelecendo a verdade ácerca dos costumes que a caracterisam ou seja em liberdade ou em captiveiro. CARACTERES O condor macho e adulto é uma ave de grande porte, de mais de um metro de comprimento desde o bico à cauda; abertas as azas e me- dida a extensão da extremidade de uma à extremidade da outra, obtem-se perto de trez metros e ás vezes muito mais. Comprehende-se bem em face destes numeros a magestade da ave voando. A plumagem é negra com raros reflexos de um azul d'aço e uma cercadura branca nas remiges secundarias. O pescoço é côr de carne é a região do papo de um vermelho desvanecido. O macho tem uma crista que falta na femea. a, Se a SS m SS e pai ) 1 O ConDol AVES EM GERAL 55 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA As altas montanhas da America do Sul são a verdadeira patria do condor. Nos Andes habita a zona comprehendida entre dois e cinco mil metros acima do nivel do mar. No estreito de Magalhães e na Patagonia desce até à beira do mar e faz o ninho nas falaises escarpadas cuja base é banhada pelas ondas. No Perú e na Bolivia desce muitas vezes até às costas. Segundo Tschudi, esta ave é dez vezes mais commum nas altas regiões que nas planícies ao nivel do mar; é tambem, segundo o mesmo naturalista, a ave que se eleva mais alto na atmosphera. Affirma Hum- boldt que se vê muitas vezes o condor pairar acima do Chimborasso a uma altura que elle avalia em mais de sete mil metros. COSTUMES Todos os habitos de vida do condor o representam como um verda- deiro abutre. É sociavel e vive em bandos que se elevam até quarenta e cincoenta individuos, mas que na quadra do ardor genesico se separam em pares. Cada bando estabelece-se sobre um dado rochedo e a elle fica ligado, porque, como prova a observação de todos os naturalistas, depois de ter percorrido todos os seus dominios, o condor volta ao ponto de par- tida, ao rochedo para repousar. De manhã o condor percorre dominios de uma extensão prodigiosa. Eleva-se ao ar, primeiro de um modo lento; depois, como todos os gran- des abutres, attinge grandes alturas e paira sem mesmo agitar as azas. Descreve grandes circulos e eleva-se ou abate-se seguindo a direcção do vento. Quando algum condor descobre uma presa, deixa-se caír e os outros seguem-o. «Em menos de um quarto de hora, escreve Tschudi, abatem-se nuvens de condores sobre o cadaver abandonado de um animal, — quando antes um instante a vista mais prespicaz não lograva descobrir um unico.» Quando a caça tem sido boa, o condor volta para o seu rochedo perto do meio-dia e ahi repousa algumas horas; à tarde procura de novo ali- mentos. Como todos os abutres, o condor alimenta-se principalmente de car- nes mortas e em decomposição; é certo porém que attaca muitas vezes animaes vivos, fatigando-os, perseguindo-os, extenuando-os completamente 56 HISTORIA NATURAL e lançando-se depois sobre elles com as garras e o bico. É o que afirma Humboldt, como testemunha presencial. Em Quito, afirma este ilustre viajante, são enormes os estragos produzidos pelo condor nos rebanhos de carneiros € nas manadas de bois. O condor segue os bandos de ani- maes selvagens e domesticos para, sem perda de tempo, caír sobre algum individuo que morre; dá ainda caça aos recemnascidos ou a alguma ca- beça de gado estremalhado do rebanho. Á beira-mar alimenta-se à custa dos grandes mamiferos aquaticos arrojados à praia pelas ondas. Evita os lugares habitados, comquanto se não possa dizer que receia muito o homem. Tem-se dito e escripto muitas vezes que o condor attaca as crean- ças. Humboldt desmente estas asserções e diz que é vulgar dormirem as creanças ao ar livre, sem que uma só vez lhes acontecesse por isso qual- quer mal em que o condor desempenhasse o papel de reu. Os indigenas das regiões em que o condor é vulgar attestam o mesmo que Humboldt; dizem elles que o condor é para a nossa especie directamente inoffen- Sivo. Em face de uma presa, o condor procede exactamente como todos os outros abutres. «Principia sempre, diz Tschudi, por devorar as partes que lhe offerecem menor resistencia, isto é os olhos, as orelhas, a lin- gua e as partes molles que contornam o anus e onde faz um grande bu- raco para por elle penetrar na cavidade abdominal. Quando sobre um unico cadaver se agrupam muitos condores, os ourificios naturaes tor- nam-se-lhes insufficientes e praticam então aberturas no peito e no ven- tre. Pretendem os indigenas que o condor conhece perfeitamente a séde do coração e que é este o orgão que elle procura primeiro. Uma vez saciado, o condor torna-se pezado e preguiçoso; quando alguem o obriga a voar, vomita de ordinario os alimentos depositados no papo. | O condor faz o seu ninho no começo de cada anno e estabelece-o sobre os rochedos mais inaecessiveis dos topos das montanhas. Mas acon- tece tambem que a femea deposita às vezes os ovos no solo nú. Estes são geralmente dois, de um branco amarellado com pequenas maculas escuras. Os filhos nascem sempre cobertos de uma pennugem parda; crescem lentamente e vivem durante muito tempo, mesmo depois que voam, sob a tutella paternal. Em casos de perigo, os paes—macho e fe- mea-—sabem defender os filhos com extraordinaria coragem. AVES EM GERAL 57 CAÇA Os indigenas apanham muitos condores e sentem um immenso pra- zer em maltratar estas aves. Um processo de caça de que usam muito consiste em encher o ventre de um animal morto com hervas narcoticas; o condor, uma vez saciado, vacilla, sente-se como que embriagado, perde o equilibrio na marcha e torna-se então muito facil apanhal-o. Tambem captivam esta ave de rapina por meio de laços; esperam que ella esteja saciada com pedaços de carne morta que de proposito se collocam num dado logar e então atiram-se a cavallo n'essa direcção apanhando em la- ços antecipadamente preparados o condor. Nas altas montanhas é facil matar esta ave a tiro. Um caçador ha- bil encontra sempre n'estes logares em que aproveitar um bom tiro de bala. É de observar no entanto que o condor possue uma enorme resis- tencia vital. A proposito conta Humboldt o seguinte: «Em Riobamba, es- “ tando eu em casa do meu amigo D. Xavier Matusar, corregedor da pro- vincia, assisti às experiencias feitas pelos indigenas sobre um condor que estava para matar. Começaram por deitar-lhe um laço ao pescoço; pen- duraram-o n'uma arvore e começaram a puxar-lhe fortemente pelos pés durante alguns minutos. Logo que lhe tiraram o laço, o condor poz-se a passeiar como se nenhum mal lhe tivesse acontecido. Depois atiraram-lhe trez tiros de pistola a menos de quatro passos de distancia; todas as balas lhe entraram no corpo. Ficou simultaneamente ferido no pescoço, no peito e no ventre; comtudo ficou ainda de pé. Uma nova bala, ba- tendo de encontro ao femur, atirou a ave por terra. Não obstante, o con- dor não morreu senão meia hora depois de ter recebido todos estes numerosos ferimentos.» * Tem-se muitas vezes observado o condor em captiveiro. Ha indivi- duos que chegam a domesticar-se perfeitamente e outros que, pelo con- trario, se conservam sempre maos e selvagens. Tschudi possuiu um que não consentiu nunca, sem reagir violentamente, que lhe tocassem; esse condor arrancou uma vez uma orelha ao negro encarregado de o tratar. Este mesmo condor, passado certo tempo, perseguiu um negrito, atirou-o | por terra e fez-lhe na cabeça alguns ferimentos mortaes. Á beira do na- vio, feriu alguns marinheiros que o excitaram e d'elle se approximaram muito. 1 M. Humboldt, Recueil d'observations de zoologie et d'anatomie comparée, pg. 75. Citado por A. Brehm. 58 HISTORIA NATURAL Diz Brehm que os condores do Jardim Zoologico de Hamburgo não manifestam pelo homem a minima affeição e que por muitas vezes teem tentado morder o guarda. Ha porém exemplos do contrario. Hackel possuiu dois condores al-. tamente domesticados. Quando viam o dono, estas aves saltavam de ale- gria dentro da gaiola. Á voz d'elle trepavam aos poleiros ou vinham pousar-se-lhe n'um braço e faziam-lhe festas, acariciavam-lhe o rosto com o bico. Esses condores eram extremamente ciosos da afeição de Hackel, o que dava muitas vezes logar a que puxando-o cada um para seu lado lhe rasgassem o fato. O dono podia impunemente metter-lhes o dedo no bico. De ordinario, o condor vive em boa harmonia com outros abutres captivos. x USOS E PRODUCTOS Na antiga religião dos Peruvianos o condor tinha um grande papel a representar; e ainda hoje fornece medicamentos, tidos em conta de preciosos, à therapeutica indigena. O coração desta ave de rapina em- prega-se como remedio contra a epilepsia e a mucosa do estomago é em- pregada como topico nos cancros do seio. Pondo de parte estas chimeras, podemos dizer que o condor tom para nós a utilidade de um verdadeiro desinfectante, por isso que purga as regiões em que vive das carnes em pusiretacção Como vimos attaca algumas vezes os animaes vivos, incluindo no numero das victimas al- guns mamiferos que nos são preciosos. É possivel porém obstar a estes inconvenientes, fazendo guardar os rebanhos por cães adestrados e va- lentes. Pode pois dizer-se que o condor merece mais a nossa protecção do que a lucta desapiedada que lhe fazem os indigenas. AVES EM GERAL 59 O ABUTRE DO EGYPTO “Esta ave de rapina mede approximadamente setenta centimetros de extensão do bico até à cauda e um metro e sessenta e tantos centime- tros de ponta a ponta d'aza. A cauda é curta e as azas alongadas. A ca- beça e as faces são em parte desnudadas; as pennas da nuca são estrei- “tas, compridas e separadas umas das outras. Os adultos são brancos ou branco-amarellados com uma pequena malha amarella-alaranjada no papo. As remiges primarias são negras, as escapulares pardas, os pés amarel- los e as unhas pretas; o bico é côr de chumbo. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA - Esta especie vive na Europa e na Africa. É vulgar na Hespanha, e em Portugal apparece frequentemente na serra da Louzã. Na Africa é principalmente commum no Egypto onde a designam pelo nome de galli- nha de Pharaó. Houve tempo em que esta ave foi objecto de um culto religioso. Ainda hoje ha mussulmanos que legam grandes quantias desti- nadas à alimentação d'estas aves de rapina. Shaw conta no seu livro Viagem ao Egypto que um certo pachá fornecia dois bois por dia para alimentação dos abutres d'esta especie. COSTUMES Como todos os representantes da familia, o abutre do Egypto é mais ou menos sociavel. É raro encontral-o isolado; geralmente vive aos pares e mesmo nas regiões em que é muito frequente apparece em grandes bandos. O abutre do Egypto poucas vezes pousa nas arvores; é raro por isso nas florestas. Geralmente pousa sobre os rochedos ou sobre os edificios nas cidades e villas, como no Egypto e na Arabia se vê. A alimentação principal d'esta ave de rapina é constituida por car- nes mortas, por tecidos em decomposição; no entanto faz tambem caça a pequenos mamiferos e aves. «Em Constantinopla e nas cidades do Egypto, 60 HISTORIA NATURAL diz Figuier, esta ave encarrega-se de limpar todas as materias putresci- veis que a incuria ou a apathia dos habitantes deixam accumular nas ruas. Por isso é muito respeitado este abutre e vive em segurança entre as populações mussulmanas.» * É esta protecção de que disfructa que lhe permitte, diz Brehm, «passeiar defronte das casas, onde procura alimentos tão tranquillamente como o fazem as aves domesticas.» 2 O mesmo naturalista continua: «Quando na minha barraca matava alguma ave, o abutre do Egypto che- gava até à porta, olhava-me attentamente e devorava à minha vista al- guns pedaços que lhe atirava. Nas minhas viagens pelo deserto aprendi a estimal-o; seguia dias inteiros a caravana e, como o corvo do deserto, era sempre a primeira ave a apparecer no acampamento e a ultima à abandonal-o. Hasselquist diz que este abutre acompanha os peregrinos de Meca, alimentando-se dos restos de animaes que abatem ou dos camellos que morrem pelo caminho.» *? “Á falta de melhor, o abutre do Egypto come excrementos humanos; daqui o nome de estercorario com que os francezes o designam. O ninho d'esta ave de rapina é formado por diferentes materiaes e apresenta sempre uma excavação mais ou menos funda em que a femea deposita os ovos, geralmente em numero de dois; raras vezes se encon- tra mais ou menos. Os ovos são alongados e variaveis na côr: ora são de um branco amarellado, ora de um castanho avermelhado, ora cobertos de manchas negras, mais abundantes sempre nas extremidades do maior diametro. Não se conhece precisamente o tempo que dura a incubação, assim como se não sabe se o macho auxilia ou não a femea n'este ser- viço. Os filhos, quando rompem a casca do ovo, apresentam-se cobertos de uma pennugem branca acinzentada ou pardacenta e alimentam-se nos primeiros tempos de substancias meio digeridas pelos paes. Mesmo de- pois que já sabem voar, conservam-se por muito tempo sob a tutella paterna. CAPTIVEIRO O abutre do Egypto, quando se reduz ao captiveiro nos primeiros tempos de existencia, é susceptivel de attingir um alto grao de domes- ticidade. Aprende rapidamente a conhecer o dono, a distinguil-o d'outras 1 L. Figuier, Obr. cit., pg. 512. 2 Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 481. E 3 Ibidem. AVES EM GERAL 260 0as. Sauda sempre a pessoa encarregada de tractal-o, emittindo sons s aos ri an os pe. Só excepcionalmente tenta ereta E 124 08 Onde + oe ai O fel destillado empregava-se con- ouvidos. Tambem se applicavam outras partes para comba- ças de olhos e para favorecer os partos. Julgava-se egual- ” O URUBU REI y À apr rei é dado a este abutre não tanto pelo brilho das “grandeza ou pelo porte altivo, como pela circumstancia de ja força todas as outras aves que junto della exploram um daver. Segundo DOrbigny, os bandos de abutres que disputam CARACTERES O urubu rei adulto é uma ave soberba. Tem a parte anterior do eas Eat superiores das azas de um branito pirita vivo ; 62 HISTORIA NATURAL cipital de um rubro accentuado; o cerume, o pescoço e a tabeça de um. amarello claro; a crista alta, lobulada e negra; o bico negro na base, rubro vivo no meio e branco amarelado na extremidade; as patas de. um pardo escuro; os olhos de um branco argenteo. Segundo Tschudi, o comprimento do urubu rei é de oitenta e oito ny centimetros. A extensão de ponta a ponta d'aza é de um metro e oitenta e tantos centimetros. A femea é maior que o macho. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHIGA O urubu rei habita todas as terras baixas da America desde o tri- gessimo segundo grao de latitude austral até ao Mexico. Nas montanhas eleva-se até mil e seiscentos metros acima do nivel do mar. COSTUMES Segundo todos os naturalistas que mais detidamente se teem occu- pado dos costumes do urubu rei, e entre estes figuram como principaes Azara, Humboldt, d'Obigny, Schomburgk e Tschudi, affirmam que as flo- restas virgens e as grandes planicies cobertas d'arvores são os logares mais frequentados por esta ave de rapina; com effeito, o urubu rei nunca se encontra nem nas steppes nem nas montanhas escalvadas. O urubu rei passa a noite sobre os ramos baixos das arvores e acorda muito mais cedo que o condor; uma vez desperto, percorre todos os seus dominios em busca de algum cadaver ou pelo menos de alguns restos que porventura o jaguar tenha deixado do banquete de vespera. Uma circumstancia muito para notar é que o urubu rei não se lança so- bre um cadaver logo que o vê, antes se conserva a distancia olhando-o gulosamente por espaço approximado de meia hora. Esta espectativa só pode justificar-se por um motivo de prudencia que leva o urubu a não proceder sem a prévia certeza de que o não irão perturbar no seu re- pasto. Quando encontra alimento em abundancia, o urubu rei come até quasi não poder mover-se. Depois que tem o papo cheio exala um cheiro insupportavel. D'Orbigny afirma que este abutre attaca o gado miudo ; no entanto esta asserção não é repetida por outros observadores. Ácerca do facto que anteriormente referimos de todos os urubus se affastarem de um cadaver quando o urubu rei se approxima, Brehm cita a passagem seguinte de Schomburgk: «Ás vezes estão reunidos em torno AVES EM GERAL 63 de um cadaver centos de abutres; mas todos se retiram se apparece o urubu rei. Pousados sobre uma arvore visinha ou a distancia sobre o solo, todos esperam com um olhar em que se traduz a cubiça e a inveja, que o tyranno se sacie e se retire. Logo que este se dá por satisfeito, voltam todos e então procura cada um apanhar a melhor parte. Muitas vezes presenciei este facto; e posso aflirmar que só diante do urubu rei é que as pequenas especies de abutres abandonam a presa. Logo que elle apparece, todos se retiram, por mais occupados que estejam e como que o saudam elevando e baixando alternativamente as azas e a cauda. Desde que o urubu rei toma o seu logar, todos fazem silencio e esperam tran- quillamente que elle se sacie.» ! O facto relatado na passagem precedente foi posto em duvida e con- testado por alguns naturalistas; Schomburgk porém, sustentou-o e Brehm julga-o exacto. De resto, factos analogos se repetem com outras especies. Não se possuem dados e indicações precisas relativamente ao modo de reproducção d'esta especie. CAPTIVEIRO Poucas observações existem relativamente aos costumes do urubu rei captivo, porque é dificil apanhar esta ave. Pelo pouco que se tem visto, é-se todavia conduzido a crêr que os seus costumes não differem essen- cialmente dos que, em egualdade de condições, caracterisam todos os ou- tros abutres. O ABUTRE DA CALIFORNIA Segundo Taylor esta especie oferece as dimensões seguintes: um metro e quarenta e oito centimetros de comprimento e de ponta a ponta d'aza dois metros e oitenta e seis centimetros nos individuos adultos. A 1 Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 466 o 467. E e A EE 64 sm HISTORIA NATURAL plumagem é de um castanho uniformemente escuro; de bai estendendo-se para o peito encontram-se manchas triangular branco impuro. A cabeça, exceptuando uma pequena área. ria berta de. pennas pequenas, é núa e de um amarelo citrico; O côr de carne. ae do e qábni: DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O nome declara o logar habitado; é nas sina da esta ave se encontra. y COSTUMES Me Visf ER nos rochedos ; desce comtudo mui O URUBU deram a esta ave o nome de gallinazo, attendendo de certo às que ella tem com o perú. Os habitantes do Paraguay dão-lhe + urubu com que aqui a designamos. ' ss . CARACTERES O comprimento total d'esta ave é de sessenta a setenta centim tendo as azas abertas, mede da extremidade d'uma à extremida outra perto de metro e meio. À cauda mede vinte centimetros de + AVES EM GERAL 65 são. As partes nuas da cabeça e da região anterior do pescoço são côr de ardozia. Apresenta saliencias transversaes, muito regularmente dis- postas, no bico, no vertice da cabeça e sobre a nuca, d'onde descem para a face, para as partes anterior e lateraes do pescoço. O corpo, as azas e a cauda são negros com reflexos ruivos escuros. O bico é negro na base e claro na ponta. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Esta especie encontra-se espalhada por toda a America. Brehm crê que os individuos que habitam a America do Norte differem especifica- mente dos que habitam a America do Sul. COSTUMES O urubu encontra-se por toda a parte dentro dos seus dominios, excepto nas altas montanhas. É muito commum. A lista dos auctores que teem estudado esta especie é muito grande. “Podemos consideral-a hoje perfeitamente estudada. Os costumes do urubu recordam muito os dos abutres do antigo mundo. Confia extremamente no homem; este facto explica-se muito bem desde que saibamos que existem multas estabelecidas para quem matar esta ave encarregada de manter a limpeza nas ruas. O urubu é pois fre- quente nas cidades; vive tambem nas montanhas e raras vezes se en- contra à beira-mar. No Perú, em toda a America meridional, n'uma grande parte da America do Norte e nas Antilhas, o urubu caminha pelas ruas e pelas estradas, deixando-se approximar pelo homem. Parece, diz Tschudi,- que esta ave conhece que é necessaria e que todos são força- dos a respeital-a. Tempo houve em que nos estados da America do Sul era o urubu o unico empregado da limpeza publica, permitta-se-nos a expressão. «Sem elle, escrevia Tschudi em 1857, a capital do Perú seria o logar mais fetido de toda a região; a auctoridade nada faz para con- servar a limpeza nas ruas. Milhares de urubus vivem dos excrementos “que ahi se lançam; confiam tanto no homem que andam pelo mercado de Lima entre as multidões mais compactas.» ! Na Guyana ingleza é prohi- ! Vid. Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 458. VOL, IV 5 66 HISTORIA NATURAL bido matar um urubu sob pena de uma multa de cincoenta dollars; a ave tornou-se ahi tão familiar que qualquer estrangeiro seria inclinado a crêl-a domestica. «Marchando, diz o principe de Wied, assemelha-se muito ao perú. Vôa facilmente e eleva-se às vezes a grandes alturas; mas pou- cas vezes carece de empregar todos os recursos de que dispõe, porque quasi nunca lhe falta alimento. Em repouso, introduz a cabeça entre as espaduas e eriça as pennas, sendo então repugnante o seu aspecto.» Os sentidos do urubu, exceptuando o olfato, são delicados; é porém a vista o melhor de todos e aquelle que o guia quando procura o ali- mento. O olfato é rudimentar e não pode por isso servir-lhe para o guiar quando busca alimentar-se; Audubon ! pretende que o urubu, se lhe ti- rassem a vista, morreria de fome. O urubu não come exclusivamente carnes mortas; tambem attaca pequenos animaes vivos. É isto o que affirma e sustenta Audubon, no livro citado, contra as asserções de Schomburgk, que pretende serem as carnes putrefactas o alimento exclusivo do urubu. Humboldt, conscien- cioso observador, perfilha a opinião de Audubon e descreve, elle proprio, as luctas do urubu com os pequenos crocodillos. A ave attaca estes ani- maes com o fim de os matar e de os devorar. Tem-se visto egualmente o urubu captivo attacar e comer os pintos. Um alimento que tambem aprecia são Os OVOS. Segundo Tschudi, o urubu faz o ninho sobre os telhados das casas, os sinos das igrejas, as ruinas e as paredes elevadas. A reproducção tem logar em Fevereiro e Março. Os ovos postos são de ordinario trez, de côr escura, acastanhada. Macho e femea incubam alternativamente por espaço de trinta e dois dias. Os paes fornecem aos filhos, no principio, alimentos meio digeridos já. CAPTIVEIRO O urubu não é reduzido a captiveiro senão por um ou outro natura- lista que deseja estudal-o. Tal é o motivo da raridade d'esta ave de ra- pina na Europa. As observações até hoje feitas demonstram-nos que o urubu se habitua ao homem e com elle se familiarisa como os verdadei- ros animaes domesticos. Azara diz que um seu amigo possuira um que entrava e saia livremente de casa, que seguia o dono em passeio, em caça ou mesmo em viagem. Quando o chamavam, vinha como um cão; t Vid. Audubon, Scênes de la nature dans les États-Unis, Tom. 1. AVES EM GERAL 67 comia da mão do dono. Azara relata ainda o caso de um outro urubu que acompanhava tambem o dono em viagens de mais de cem leguas. Na volta, saia do carro e voava para casa, prevenindo assim a senhora da chegada proxima do marido. OS GYPAETOS Estas aves que alguns teem considerado como constituindo uma fa- milia distincta e que outros consideram como formando apenas um genero intermediario aos abutres e ás aguias, teem o corpo refeito e alongado, a cabeça grande, comprida, achatada anteriormente, arredondada atraz, o pescoço curto, as azas compridas, sendo a terceira penna mais extensa que a segunda e a quarta muito mais extensa que a“primeira, a cauda comprida, conica, formada de doze pennas, e o bico comprido e forte, os membros posteriores curtos e relativamente fracos, unhas fortes, pouco recurvas e de extremidade romba. As pennas do tronco são grandes e abundantes e as da cabeça estreitas. No genero em questão existe uma especie unica ou existem muitas especies? Eis o que não está plenamente resolvido. O GYPAETO BARBUDO Esta ave de rapina é ainda conhecida em França por uma designa- ção que significa: abutre dos carneiros. Adiante veremos a razão d'este » epitheto. 68 HISTORIA NATURAL CARACTERES Segundo as medidas de Brehm, tomadas em individuos que hahitam a Hespanha, a especie tem um metro e vinte centimetros de comprido e dois metros e meio a dois metros e oitenta centimetros de ponta a ponta d'aza. O gypaeto adulto apresenta a região frontal, o .vertice e os lados da cabeça de um branco amarellado, a região occipital e a nuca de um ama- rello fuliginoso. As pennas do dorso e as pennas superiores das azas e da cauda são de um escuro visinho do negro, com a haste clara e a extre- midade manchada de amarello. As outras pennas das azas e da cauda são negras nas barbas externas e cinzentas nas internas. Toda a porção infe- rior do corpo é amarella fuliginosa, sendo esta côr mais accentuada na região anterior do pescoço que n'outros logares; as partes lateraes do peito e das coxas apresentam manchas castanhas. O peito é ornado de uma especie de collar de pennas de um branco amarellado com manchas negras. Uma linha negra que parte do bico e se dirige para o olho, re- curva-se depois para o occipital, sem se reunir à outra semelhante do lado opposto. O olho é branco, o bico pardo, de ponta negra, o cerume de um escuro azulado e os pés de um pardo de chumbo. Os individuos não adultos teem o bico azulado, os pés de um verde desmaiado e impuro com cambiantes azuladas tambem. Os recemnascidos teem o dorso escuro com algumas pennas manchadas de branco, o pes- coço e a cabeça negros e a face inferior do corpo de um castanho arrui- vado claro. Só depois de algumas mudas é que adquirem a plumagem definitiva. Os gypaetos do sul da Hespanha e do sul d'Africa são mais escuros e os dos Pyreneus e do Himalaya mais claros do que os que habitam os Alpes suissos. Em todos elles a côr castanha das pennas pode fazer-se desapparecer ou pela lavagem ou ainda pelo emprego de reagentes chi- micos; d'este facto teem querido concluir alguns que essa côr não per- tence propriamente às aves em questão, mas é o effeito adquirido no de- correr dos annos por longos banhos em aguas ferruginosas. Brehm não contesta que tal possa acontecer. + y AVES EM GERAL 69 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Os gypaetos encontram-se espalhados n'uma grande parte do antigo continente. Na Europa habitam os Alpes, as montanhas da Transylvania, - os Balkans, os Pyreneus, as montanhas das peninsulas meridionaes, o “Caucaso, o Altai. Na Asia encontram-se em todas as altas montanhas, ex- ceptuando talvez as do extremo noroeste. No Himalaya, segundo Jerdon, “encontram-se desde Nepol até Cachemira. Na Africa são abundantes em todo o continente. São communs no Atlas e na Abyssinia, raros nas mon- tanhas do Egypto e excepcionaes no valle do Nilo. Brehm declara nunca ter visto os gypaetos nem no Egypto, nem na Nubia e ter, pelo contrario, visto muitos na Arabia Petrea. COSTUMES . A historia do gypaeto só é conhecida ha pouco tempo; mas nem por isso deixa de ser muito completa. Numerosos auctores modernos teem es- tudado minuciosamente esta ave, destruindo uma a uma todas as fabulas que a proposito della corriam. Contava-se, por exemplo, que o gypaeto barbudo roubava creanças; hoje sabe-se que de todas as aves de rapina, esta especie é indubitavelmente uma das mais inoffensivas. De ordinario, o gypaeto barbudo procura as grandes alturas e por isso é vulgar nos cumes das montanhas; no entanto desce muitas vezes as planícies. Na Hespanha, por exemplo, habita as altas montanhas, po- dendo comtudo encontrar-se a uma altitude de duzentos a trezentos me- tros apenas. A natureza d'estas montanhas explica até certo ponto este facto; na realidade, ellas são de tal modo selvagens que, mesmo a uma pequena altura, as aves de rapina encontram logares apropriados para fazerem o ninho. O mesmo acontece na Grecia e no sudoeste da Africa. O gypaeto barbudo vive isolado ou com a femea; raras vezes se en- contra aggregado a outros individuos. É perfeitamente excepcional encon- trar-se um bando de cinco. De manhã cedo é pouco vulgar vêr-se um gypaeto; só muito depois do erguer do sol é que esta ave abandona o logar em que passou a noite. Macho e femea voam de ordinario a pequena distancia um do outro; se- guem ao principio a uma distancia do solo não superior a cincoenta me- tros. O gypaeto barbudo é pouco timido; «muitas vezes, diz Adams, 0 HISTORIA NATURAL quando procura o alimento vôa apenas a algumas braças acima do ho- mem.» Voando, o gypaeto é extremamente elegante e rapido; ninguem po- derá confundil-o com uma aguia ou com um abutre qualquer. Do falcão distingue-se tambem facilmente, porque, ao passo que este bate frequen- tes vezes as azas, O gypaeto avança rapidamente sem esses movimentos. Quando vôa, o gypaeto olha em todas as direcções, como que pro- curando alimentos; se acontece de descobrir alguma presa ou vôa em espiraes ou paira por algum tempo. Se o que descobriu vale o trabalho de descer a terra, o gypaeto barbudo apparece rapidamente junto da presa, que não devora de ordinario senão em logares elevados, de pre- ferencia no vertice de um rochedo. A alimentação do gypaeto barbudo compõe-se de carnes mortas e ainda de pequenos animaes vivos, nomeadamente roedores; é um dos inimigos das lebres e dos ratos. N'outro tempo o gypaeto foi considerado como uma das mais temerosas aves de rapina a que geralmente se attri- buiam estragos numerosos nos rebanhos de carneiros, de cabras e a que se imputavam tambem, como acima dissemos, attentados contra a vida das creancinhas. Averiguações modernas levaram à convicção de que to- dos estes attentados, todos estes malefícios devem imputar-se às aguias e nunca ao gypaeto. Esta ave de rapina tem uma certa predilecção pelos ossos; para os partir eleva-se com elles nas garras até uma grande altura e dei- xa-os cair d'ahi sobre o solo. É notavel a rapidez com que o gypaeto digere os ossos; já em 1856, Heuglin notava este facto como parti- cularmente digno de menção. Kruper que observou detidamente na Gre- cia esta ave de rapina, escreve: «Quando se ouve pronunciar o nome do gypaeto barbudo, figura-se desde logo a ave de rapina mais corajosa, mais destemida, mais temerosa. Haverá razão para tal? Deverá ella ins- pirar um verdadeiro medo ao homem ou ao gado? Ou será sem motivos plausíveis que ella gosa de um tal renome? Na Arcadia em que as monta- nhas são pouco elevadas, os dominios do gypaeto principiam à beira do mar. Que poderá elle apanhar ahi, na planicie? Devorará cabras, carnei- ros, veados? Ás vezes vê-se que elle paira acima da vertente arborisada, de- uma colina e descreve circulos, conservando sempre a cabeça pen- dida e o olhar fixo; de repente deixa-se cair e desapparece à nossa vista. Apanhou uma presa e foi seguramente uma cabra. — Não; foi apenas uma tartaruga que vae matar-lhe a fome e a dos filhos. Para poder comel-a, leva-a até uma certa altura e deixa-a cair depois sobre um rochedo con- tra o qual se parte. Não pude até hoje presencear este facto; mas Simm- pson, que observou o gypaeto na Algeria, affirmou-m'o. Em 14 de Março de 1861, visitei o ninho de um gypaeto; junto ao rochedo em que elle AVES EM GERAL 41 estava estabelecido encontrava-se uma grande quantidade d'ossos e de pedaços de tartarugas.» - Por esta citação se vê que é perfeitamente injusta a idéa de ordi- nario formada ácerca do gypaeto. Simmpson escreve: «Os ossos bem cheios de medulla constituem um alimento favorito do gypaeto; depois que os abutres teem devorado um cadaver, apparece elle, apanha os ossos que ficaram, parte-os e devora os pedaços. Quebra os ossos dei- xando-os cair de uma grande altura sobre uma pedra.» Gurney tambem diz: «O gypaeto come grandes ossos. Todos os. individuos que matei na costa do sudoeste d'Africa tinham o estomago cheio d'estas partes.» Irby, contestando os maleficios attribuidos geralmente ao gypaeto, es- crevia egualmente em 1861: «Os cadaveres parecem constituir o ali- mento quasi exclusivo do gypaeto.» Brehm, que faz todas as citações aqui transcriptas, inscreve-se tambem entre os que consideram o gy- paeto uma ave relativamente inoffensiva; o auctor allemão affirma que todas as suas observações pessoaes estão em desaccordo completo com os dados antigos sobre a historia do gypaeto barbudo e ainda com as narrativas extraordinarias que a respeito d'elle teem curso hoje mesmo na Suissa e na Sardenha. Brehm relega todas essas narrativas para O campo da fabula e da pura phantasia. E acrescenta: «Os tempos em que a philosophia natural se julgava desobrigada de estudar os factos, passa- ram felizmente. Nem as conjecturas, nem as hypotheses nos satisfazem já; carecemos de factos precisos, de observações não preconcebidas. E se olharmos o gypaeto sob este ponto de vista, unico real, veremos que elle não é mais qué uma ave de rapina sem forças, cobarde, pobremente dotada quanto ao physico e quanto ao intellectual, não attacando senão de tempos a tempos um pequeno vertebrado, como fazem todas as aves de rapina sem excepção, e alimentando-se ordinariamente de restos de animaes.» 1 Na Europa o gypaeto reproduz-se no começo de cada anno; na Ásia e na Africa o tempo dos amores coincide com as primeiras semanas da primavera d'estas regiões. O ninho estabelece-se na saliencia de um ro- chedo. O diametro do ninho excede metro e meio e a altura um metro; a escavação central tem sessenta centimetros de diametro e quatorze de profundidade. É formado de ramos compridos e de uma grossura que va- ria entre a de um pollegar e a de um braço de creança, e de uma fina camada de ramos em que está praticada a excavação central, forrada de fibras de cascas e de pêllos de mamiferos, cabras, bois e cavallos. O nu- mero de ovos postos é dois. o Brehm, Obr. cit., vol, 3.º, pg. 457. 72 HISTORIA NATURAL INIMIGOS Exceptuando o homem, podemos dizer que o gypaeto tem poucos inimigos. No entanto algumas aves de rapina o perseguem às vezes. Se. elle fosse, como se tem dito, temeroso e fortissimo, não se daria tal facto. Se outras aves de rapina o attacam, é que realmente elle é, como diz Brehm, fraco e cobarde. CAÇA A caça do gypaeto é das mais difficeis. Quasi só se pode atirar so- bre elle de embuscada, perto do ninho ou de algum corpo morto que se atira ao chão de proposito para o attrair. Uma vez ferido, o gypaeto não procura defender-se; limita-se a erriçar as pennas e a abrir o bico. Tem uma grande resistencia vital. Depois de ter sido attravessado por uma. bala que lhe entrou pelo figado e saiu pela região lombar, um gypaeto attacado por Brehm durou ainda depois d'isto trinta e seis horas! Tam- bem se apanha esta ave em armadilhas, CAPTIVEIRO Em captiveiro os habitos do gypaeto não differem essencialmente do que são em liberdade. Ouçamos a narração que faz um irmão de Brehm ácerca de um gypaeto que recebeu pequeno ainda, em Março de 1857. «Quando o vi pela primeira vez, escreve o observador, era muito des- elegante. Mal se sustinha em pé; e quando o forçavam a levantar-se, re-. pousava sobre os tarsos ou sobre o ventre. Tomava no bico os pedaços de carne que lhe eram dados, atirava-os ao ar, apanhava-os depois com uma certa destreza e comia-os; preferia a carne aos ossos em que, à maior parte das vezes, nem tocava. Se à força lhe introduziam no papo AVES EM GERAL 73 ossos ponteagudos ou de angulos salientes, fazia esforços para os vomi- “tar e acabava por conseguil-o. «Deixei-o ainda por um certo tempo em casa do primitivo proprie- tario; como porém todas as semanas os meus deveres clínicos me cha- mavam à aldêa, ia de todas as vezes fazer-lhe uma visita. «De dia, collocavam-o ao sol. Então abria as azas e a cauda, deita- va-se sobre o ventre, estendia os membros e conservava-se assim immo- vel durante horas inteiras, com grande contentamento. «Ão fim de um mez já podia suster-se bem em pé e começou a be- ber. Com um dos pés mantinha solidamente o vaso que lhe davam, mer- gulhava o bico na agua e, projectando a cabeça muito para traz, lançava na pharynge uma grande quantidade de liquido, de cada vez; quatro a seis golles bastavam para dessedental-o. | «Por essa occasião levei-o a Murcia. Tinha então as pennas todas, embora ainda não possuissem o comprimento definitivo. Metti-o n'uma gaiola a que facilmente se habituou, embora nos dois primeiros dias não comesse e se limitasse a beber agua.. Mais tarde principiou a devo- rar com avidez a carne fresca de boi e de carneiro, antes mesmo de to- car em ossos. - «Poucos dias foram bastantes pará me reconhecer como dono. Res- pondia-me, vinha a mim quando o chamava, deixava-se acariciar e apa- nhar por mim, ao passo que aos estranhos que se approximavam erri- cava as pennas. Parecia ter votado um odio particularissimo aos campo- nezes que vestiam os trajes de la Vega. Um dia precipitou-se, gritando, sobre um rapazito que eu encarregára de limpar-lhe a gaiola e às bica- das forçou-o a retirar-se. Uma outra vez, rasgou a jaqueta e as calças a um camponez que lhe entrara na gaiola. Quando um cão ou um gato se approximava delle, erriçava as pennas e dava gritos de colera. Pelo contrario, quando me ouvia a voz, corria junto às grades da gaiola, sol- tava um pequeno grito de alegria, manifestava emfim de mil modos di- versos uma intima alegria. Passava o bico atravez das grades e brinca- | va-me com os dedos que eu podia metter-lhe na bocca sem receio de ser ferido. Quando o deixava sair, enchia-se de um vivo prazer, passeava em torno da loja, alisava as pennas e ensaiava 0 vôo. «De tempos a tempos lavava-lhe as extremidades das pennas que elle continuamente sujava. Para isso mettia-o n'uma tina e regava-o. Este banho era-lhe muito desagradavel; cada vez que se renovava o gypaeto debatia-se como um furioso. Aprendeu rapidamente a conhecer a tina e a temêl-a. Desde que a plumagem seccava, parecia ficar mais à vontade e enchia-se de satisfação quando eu o ajudava a alisar e a dispôr as pennas. «Viveu assim até fins de Maio. Comia ossos e carne, mas não d'aves. Apresentei-lhe muitas vezes pombas, gallinhas, perdizes, etc.; nunca to- 74 HISTORIA NATURAL cou n'estas peças, nem mesmo tendo fome. Se à força lhe introduzia pelo bico carne d'ave com ou sem pennas, depunha-a logo; pelo contrario, comia carne de todos os mamiferos. As minhas tentativas muitas vezes | repetidas deram sempre os mesmos resultados.» 1 O observador a que pertencem os periodos citados, conta que deu ao gypaeto em questão um companheiro, cujos habitos e costumes se tor- naram identicos aos descriptos. Observações de Kruper confirmam as que expôz Brehm. USOS E PRODUCTOS Em vista do que dissemos sobre os costumes do gypaeto barbudo, facil é concluir que devemos a esta especie grandes serviços. As obser- vações modernas, dissipando inteiramente todas as lendas terroristas ac- cumuladas em torno d'esta ave de rapina, vieram mostrar-nos que ella se alimenta do que nos é prejudicial: os roedores e as carnes putridas. É pois certo que nos presta indirectamente grandes serviços e que lhe devemos em nome da propria utilidade, uma grande protecção. OS SERPENTARIOS Teem as azas compridas, truncadas em angulo recto e com as cinco primeiras pennas de egual comprimento, uma apophyse ossea em forma de esporão rombo na articulação radio-carpica, a cauda muito comprida, conica, com as duas pennas medianas excedendo muito as outras em com- primento, os tarsos excessivamente alongados, os dedos curtos, as unhas pouco recurvas, de extensão media, rombas, mas fortes, o pescoço com- prido, a cabeça pequena e larga, a região frontal achatada, o bico mais curto que a cabeça, forte, espesso, recurvo desde a base, convexo late- ralmente, comprimido perto da ponta, terminado em gancho. de bordos 1 Vid. Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 458 e 459. AVES EM GERAL 5 rectos e córtantes, não dentados nem chanfrados, o cerume estendido, de um lado, quasi até ao meio da mandibula superior e do outro até junto do olho, pela parte inferior. As pennas são grandes e abundantes; do oc- cipital partem doze que a ave póde erguer ou abaixar à vontade. Esta familia comprehende um só genero e uma especie unica de que nos vamos occupar. O SERPENTARIO OU SECRETARIO O primeiro destes dois nomes, commum à familia, deriva de que 0 animal attaca e devora as serpentes. O segundo nome, que é o vulgar, attende à semelhança que a ave affecta com antigos secretarios ou co- pistas quando, em momento de descanço, collocavam a penna de pato atraz da orelha. Ainda se designa a ave em questão pelo nome de men- sageiro, attenta a rapidez com que anda. Os arabes conhecem tambem esta ave de rapina pelos nomes injustificaveis de cavallo do diabo e de ave da sorte. CARACTERES Ãos caracteres acima apresentados acrescentaremos aqui os que se- guem: O macho adulto tem o vertice da cabeça, a nuca, as pennas que della partem, as remiges, as rectrizes, exceptuando as duas medianas, negras com extremidades brancas. O ventre apresenta raias negras e pardas claras e as coxas raias negras e castanhas ou trigueiras. As duas pennas caudaes medianas são pardas azuladas com. extremidade branca e maculas negras. O cerume é amarello escuro e os tarsos côr de la- ranja. A femea e os individuos novos differem do.macho adulto em terem as pennas que partem da nuca e as pennas caudaes mais curtas; além d'isto possuem a plumagem mais clara e o ventre branco. O macho tem um metro e doze a um metro e dezoito centimetros de comprido. Os tarsos medem mais de trinta centimetros. A femea é um pouco maior. 76 HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O serpentario encontra-se espalhado por uma grande parte da Africa. Vê-se desde o Cabo até ao decimo quinto grao de latitude boreal e desde as costas do mar Vermelho até às do Senegal. Encontra-se tambem nas: Filippinas. Os individuos que habitam o norte d'Africa são mais pequenos que os do sul. COSTUMES As formas singulares do serpentario indicam só por si que elle é destinado a viver nas vastas planícies da Africa central. Uma ave de ra-: pina organisada como esta, deve passar a vida em terra. O serpentario ou secretario evita as florestas e as montanhas e caça principalmente os animaes terrestres. Os tarsos elevados são-lhe caracte- risticos e servem-lhe de immensa utilidade. Nenhuma ave de rapina corre melhor que o serpentario; marcha leguas seguidas sem se fatigar. Quando caça ou foge, corre com o corpo inclinado para diante, quasi tão rapida- mente como a betarda e sem se servir das azas. Isto não significa de ma- neira nenhuma que ao serpentario repugne voar. Embora sinta uma tal ou qual difliculdade em levantar-se do chão, é certo que, uma vez che- gado a uma certa altura, paira largo tempo sem carecer de agitar as azas. Como a cegonha, o serpentario estende os membros para traz e o pescoço para diante, apresentando então um aspecto característico que é impossivel confundir-se com o de qualquer outra ave de rapina. Estão de accordo todos os observadores em affirmarem que o ser- pentario vive aos pares, tendo cada um destes um immenso dominio. O serpentario não é raro, mas custa um pouco a descobrir; muitas vezes caça horas inteiras entre macissos de altas hervas, de modo que se furta completamente ás vistas. Uma vez saciado, o serpentario ou secretario conserva-se immovel n'um logar descoberto, digerindo a refeição. Con- serva-se todavia vigilante e prompto a fugir diante do primeiro homem que passe. Ás vezes os serpentarios reunem-se em grande numero. Quando an- tes da estação das chuvas se lança o fogo ás hervas seccas das steppes e o incendio se estende à distancia de muitas leguas, os serpentarios correm em bandos e vão fazendo caça aos animaes deslocados pelo fogo. O serpentario, com quanto devore ainda outros vertebrados, alimen- AVES EM GERAL 1 ta-se principalmente de reptis e é de uma voracidade enorme, compro- vada por quantos o teem observado. Os combates entre o secretario e as serpentes teem sido muitas ve- zes celebrados. Le Vaillant dá idéa d'elles na passagem seguinte: «Se a serpente foge, o secretario persegue-a como que voando rente ao solo. No entanto não desdobra as azas para auxiliar-se na carreira; reserva-as para o combate em que representam então o papel de armas offensivas e defensivas. O reptil surprehendido, se está longe do seu buraco, pára, ergue-se e procura intimidar a ave, entumecendo extraordinariamente a cabeça e soltando o seu caracteristico assobio agudo. É n'este momento que o secretario abre uma das azas, a estende para diante e cobre com ella, como se fôra um escudo, as pernas e a parte inferior do tronco. A serpente attacada investe com o secretario que pula, recúa, bate as azas, salta em todas as direcções de um modo verdadeiramente comico para 0 espectador, e volta ao combate, offerecendo sempre ao dente venenoso do adversario a ponta da aza defensiva. E em quanto o inimigo esgota sem resultado o veneno a morder as pennas insensíveis, o secretario applica-lhe com a outra aza vigorosas e energicas pancadas pelo corpo. “ «Por fim o reptil, aturdido por uma pancada d'aza, vacilla, rola pelo chão d'onde o secretario o ergue com destreza para O atirar depois vezes seguidas ao ar até que fique completamente fatigado e sem forças; o se- cretario então parte-lhe o craneo às bicadas e devora-o inteiro, excepto se elle é muito grande, porque n'este caso parte-o em pedaços com as garras.» ! A quadra dos amores é para esta especie em Junho ou Julho. É en- tão que entre os machos se ferem combates violentos na conquista da femea. Esta entrega-se sempre ao vencedor e os dois construem juntos o ninho, quasi sempre no alto de uma arvore copada, geralmente n'uma mimosa. O ninho é formado de ramos, e ainda de pennugem e outras substancias molles. Macho e femea passam invariavelmente a noite dentro do ninho. Em Agosto a femea põe dois ovos, raras vezes trez, arredon- dados, do volume dos de pato, inteiramente brancos ou apresentando aqui e além pequenas manchas vermelhas. Depois de uma incubação de seis se- manas, OS novos seres rompem a casca. Conservam-se por muito tempo imperfeitissimos; só ao fim de seis mezes principiam a correr. ! Le Vaillant, Histoire naturelle des Oiseaux d' Afrique, tom. 1, pg. 177. 78 HISTORIA NATURAL CAÇA A caça ao serpentario é dificil, não só porque custa a descobrir esta ave, senão tambem porque se não deixa approximar como qualquer outra. Heuglin disse, é certo, que se podia perseguir a cavallo o serpen- tario; no entanto todos os outros naturalistas estão em desaccordo com esta affirmação. Brehm assevera que nunca encontrou serpentario que não fosse de uma extraordinaria timidez e que não levantasse vôo antes que se pensasse mesmo em perseguil-o. CAPTIVEIRO Quando se apanha nos primeiros dias de vida e se trata cuidadosa- mente, o serpentario domestica-se muito rapidamente. Pode-se deixar à vontade no pateo de uma casa, na certeza de que, dando-lhe alimento em quantidade bastante, viverá em perfeita harmonia com as gallinhas. Presta-nos mesmo uns certos serviços nos gallinheiros, porque estabelece a paz entre os gallos, sempre dispostos à lucta, aos combates porfiados e tenacissimos. Por isso no Cabo da Boa-Esperança esta ave é muito pro- curada. Nos jardins zoologicos da Europa é rarissima. No Cabo é prohi- bido sob penas sevéras matar um serpentario. USOS E PRODUCTOS Pelo que dissemos sobre os costumes do serpentario, facil é com- prehender a immensa utilidade que representa para nós esta ave de ra- pina. Quer attacando os reptis venenosos, quer fazendo guerra aos roe- dores, quer estabelecendo em captiveiro a harmonia entre as aves do- mesticas, o serpentario pertence ao numero dos animaes uteis a que de- vemos protecção. Dando-lh'a, os habitantes do Cabo revelaram apenas ter uma comprehensão clara do papel que esta ave representa na econo- mia da natureza. AVES EM GERAL 19 OS FALCÕES Esta familia abrange aves de rapina de organisação muito perfeita e que na classe representam um papel analogo ao que entre os mamiferos desempenham os felinos. Nos individuos d'esta familia nota-se uma grande perfeição e equilibrio de faculdades physicas e intellectuaes. São por ex- cellencia as aves de rapina. CARACTERES A força, a agilidade, a coragem, a paixão pela caça e a magestade no porte, são qualidades que não podem contestar-se um momento aos “falcões. Teem o corpo refeito, a cabeça grande, o pescoço curto, as azas compridas e agudas, sendo a segunda remige e excepcionalmente a ter- ceira mais compridas que as outras, e emfim a cauda de comprimento medio e arredondada. O bico é relativamente curto, mas vigoroso, tendo a mandibula superior fortemente gancheada e armada nos bordos de um dente de maior ou menor saliencia, e a mandibula inferior curta, de bor- dos cortantes e provida de uma chanfradura que corresponde ao dente da superior. As unhas são relativamente maiores e mais fortes que as de qualquer outra ave de rapina. As coxas são grossas e musculosas e os tarsos curtos. Em torno dos olhos ha regiões desnudadas e de uma côr geralmente viva. O colorido da plumagem n'estas aves é difficil de descrever de um modo geral. Deixaremos pois este assumpto para o tratar na especiali- dade, limitando-nos aqui a dizer que a parte inferior do corpo é sempre mais clara que a superior. Nos falcões mais bem organisados e que os naturalistas francezes appelidam nobres para os distinguir dos menos bem dotados a que cha- mam ignobeis, o macho é sempre mais pequeno que a femea. 80 HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Não ha parte do mundo em que se não encontrem representantes d'esta familia. Existem além d'isto nos logares mais differentes, desde as costas até às montanhas mais elevadas. COSTUMES Com quanto, como acaba de ser dito, os falcões habitem todos os logares, é certo que preferem, para viver, as florestas, os rochedos e os edifícios em ruina. Encontram-se nos logares desertos e tambem no meio das cidades. Cada especie tem de ordinario uma area de dispersão muito extensa. Dos falcões, uns são verdadeiras aves emigrantes, outros ape- nas emprehendem viagens relativamente pouco extensas. Sob o ponto de vista dos movimentos, especialmente do vôo, ne- nhuma ave de grandes dimensões excede os falcões. O vôo é não só ex- traordinariamente rapido, mas ainda susceptivel de sustentar-se por largo tempo. Os falcões percorrem às vezes com inacreditavel velocidade es- paços extensissimos; quando incidem sobre uma presa deixam-se cair de alturas prodigiosas e com rapidez tal que no ar é impossivel distingui- rem-se-lhes as formas. ] O vôo é variavel na maneira especial por que se executa, de espe- cie a especie. Os falcões chamados nobres batem as azas muito rapida- mente, a curtos intervallos e poucas vezes deslisam no ar, pairando. Pelo contrario, as especies ignobeis voam mais lentamente e pairam, deslisam mais; às vezes conservam-se muito tempo n'um mesmo ponto da atmos- phera, agitando apenas ligeiramente as azas. Durante a quadra dos amores, os falcões elevam- -se até alturas pro- digiosas; pairam longo tempo, descrevendo circulos magestosos e procu- rando assim encantar os companheiros. De ordinario porém, conservam-se a uma altura que não excede sessenta a cento e vinte metros acima do solo. Em repouso e empoleirados, os: falcões conservam-se em aprumo, perfeitamente magestosos; marchando porém, são deselegantes, collocam o corpo horisontalmente e auxiliam-se das azas, avançando de um aaa singular. Os falcões nobres (acceitemos a expressão franceza) alimentam-se de vertebrados, principalmente d'aves; os ignobeis comem especialmente Tur AVES EM GERAL 81 insectos. Os primeiros apanham sempre a presa em quanto voam; os se- gundos apanham-a indifferentemente ou voando ou correndo. Nenhum, pelo menos em liberdade, se alimenta de carnes mortas. Raras vezes de- voram a presa no logar em que a apanharam; transportam-a geralmente à um logar proprio, d'onde possam vigiar o que se passa em torno, até grandes distancias. Quando se trata de uma ave, despojam-a primeiro das pennas e só depois a devoram. De manhã cedo e ao fim da tarde é que os falcões fazem a caça; no meio do dia conservam-se de ordinario n'um logar tranquillo, immoveis,; com as pennas erriçadas, no meio somno das digestões. Dormem muito, mas só tarde se entregam ao repouso; ha especies que ainda andam em caça à hora do crepusculo. Os falcões são até certo ponto sociaveis. No estio vivem aos pares e cada um nos seus dominios particulares, bem determinados e em que não consentem outras aves de rapina; mas em tempo de viagens jun- tam-se em bandos, por vezes muito numerosos, que se conservam reu- nidos durante semanas e até mezes. Manifestam um odio violento por al- gumas especies d'aves de rapina, não deixando escapar occasião de as attacar. Os falcões fazem o ninho nas fendas dos rochedos escarpados, nos edifícios altos, ou no cimo das grandes arvores; ha tambem alguns que fabricam o Ritiho em terra ou nos troncos occos das arvores. Muitas ve- zes aproveitam ninhos já feitos por outras aves. “Os ovos cujo numero varia entre trez e sete, são redondos, de casca rugosa e de uma côr castanha avermelhada com pontos mais escuros es- palhados irregularmente por toda a superficie. Só a femea incuba; em quanto ella exerce este trabalho, o macho procura-lhe alimentos. É grande - a dedicação dos paes pelos filhos; defendem-os corajosamente contra os Ne inimigos, exceptuando porém o homem. INIMIGOS O homem é talvez o unico inimigo serio das grandes especies. As pequenas estão expostas aos attaques das congéneres mais fortes. Crê-se tambem que os carniceiros trepadores destroem os ninhos d'estas aves € ainda os recemnascidos. Este facto carece de ser comprovado. VOL. IV O 82 HISTORIA NATURAL UTILIDADE Os falcões são aves de rapina mais nocivas do que proveitosas. No entanto são-nos de utilidade quando as empregamos na caça. Vamos vêr de que modo. as EMPREGO DOS FALGÕES NA CAÇA Segundo todas as probabilidades a arte de educar os faleões no sen- tido de tornal-os instrumentos de caça, teve a sua origem na Ásia, donde passou primeiro para a Africa e posteriormente para a Europa no tempo das cruzadas. Quanto à epocha precisa em que a pratica dessa arte começou, ha obscuridades que os auctores mais conscienciosos na historia do assumpto até hoje não lograram dissipar. Sabe-se apenas de um modo certo que essa epocha deve ter sido remotissima; assim O attestam numerosos documentos. Passemos por sobre essas provas de um interesse exclusivamente historico, e digamos de que modo se consegue aproveitar os falcões na caça; é isto o que principalmente nos importa saber. Escreve a este proposito o Dr. Landau: «O material necessario para a caça que se faz com o falcão consiste no seguinte: uma mascara de coiro, sufficiente- mente aberta aos lados para que os olhos não sejam comprimidos; duas correias, uma curta e outra do comprimento approximado de cinco pés, as quaes se prendem aos membros inferiores do falcão; um fita da exten- são approximada de vinte metros; uma. especie de manequim coberto de pennas, que serve para dirigir e chamar o falcão; emfim, luvas grossas para uso do caçador, tendo por fim evitar os ferimentos produzidos pelas garras da ave. “Para educar o falcão é preciso principiar por collocar-lhe a mas- cara, prendel-o e deixal-o em jejum durante vinte e quatro horas; depois disto, tira-se-lhe a mascara, toma-se na mão e apresenta-se-lhe uma ave. Se à não devora, colloca-se-lhe de novo a mascara por espaço de vinte e quatro horas e assim successivamente até um jejum de cinco dias completos. Quanto mais repetidas forem estas tentativas tanto mais depressa aprenderá a comer na mão, o que é essencial. Obtido este re- sultado preliminar, começa a verdadeira adestração, que consiste n'uma serie de exercicios, antes dos quaes se tira a mascara à ave e se trans- porta por muito tempo empoleirada na mão, e depois dos quaes se lhe , AVES EM GERAL 83 colloca de novo a mascara e se prende para que tenha tempo de pensar n'aquillo que se lhe exige. «No primeiro exercicio a ave, sem mascara e collocada sobre as costas de uma cadeira, deve aprender a saltar d'ahi à mão do caçador para tomar alimentos. De cada vez que esta lição se renova é preciso affastar sempre e successivamente mais a ave até que ella execute bem esta manobra; o exercicio repete-se ao ar livre, prendendo a ave pela fita previamente ligada à correia de coiro mais extensa e tendo a pre- caução de collocal-a de modo que vôe contra o vento. «Obtido este primeiro resultado, colloca-se a ave, a que se põe a mascara, sobre um arco oscillante que se mexe durante toda a noite de modo a tornar-lhe o somno impossivel. No dia immediato de manhã repetem-se os exercicios anteriores, dando-lhe sempre de comer na mão. Depois faz-se-lhe passar de novo a noite no arco e procede-se de egual “modo no terceiro dia e na terceira noite, no quarto dia repete-se a lição, “deixando depois dormir a ave. «No dia immediato deixa-se voar o falcão sem a fita e preso apenas pela correia comprida; para comer tem de vir sempre à mão. Se pro- cura fugir, corre-se sobre elle e chama-se até que obedeça. Repete-se este exercicio em liberdade, ensinando-lhe a voar à mão do caçador mon- tado e a não temer nem homens, nem cães. “«Por fim adestra-se a ave na caça. Para isso, prende-se o falcão - por uma longa fita, atira-se ao ar um pombo morto que se lhe faz apa- nhar, permittindo-se-lhe, d'esta vez, que o fira e despedace com as gar- ras. Logo que o falcão principie a comer a presa, tira-se-lhe esta e obri- ga-se a ave de rapina a vir comer à mão. Repete-se em seguida o exer- “Cicio com aves vivas às quaes se cortam as azas. Uma vez instruido o falcão n'esta manobra, leva-se ao campo com um cão de caça à busca de uma perdiz. Logo que o cão descobriu a caça, tira-se a mascara ao fal- cão que incide sobre ella no momento em que a pobre ave vae levantar vôo. Se a não apanha, atira-se-lhe então um pombo de azas cortadas ou preso por uma fita. «Para adestrar o falcão na caça das grandes aves, faz-se com que elle persiga primeiro individuos muito novos ou muito velhos aos quaes se cortam as azas ou a cujo bico se adapta uma especie de forro desti- nado a impedir os ferimentos graves. Todas as vezes que isso seja pos- sivel, deve fazer-se caçar o falcão que se ensina ao lado d'outro mais velho e já bem adestrado.» Pela citação que acabamos de fazer comprehende o leitor fundamen- talmente o processo empregado para adaptar o falcão à caça, ou seja dos mamiferos ou das aves. Uma vez educado, o falcão adquire pela caça um verdadeiro enthusiasmo e constitue para o homem um auxiliar tanto ou x 84 HISTORIA NATURAL mais valioso do que os cães. As caçadas em que se emprega o falcão fo- ram muito vulgares durante a idade media. Ainda hoje ha paizes em que ellas se usam; são porém raras. O CARACARÁ DO BRAZIL Esta ave pertence a um genero que se considera geralmente como o que estabelece a transição dos abutres para os falcões. D'esse genero, a especie mais commum é esta de que vamos occupar-nos. Segundo o principe de Wied, esta ave mede trinta e oito centime- tros de comprimento e um metro e trinta centimetros de ponta a ponta d'aza. O comprimento da cauda é de vinte e um centimetros. O macho adulto tem o dorso castanho escuro, coberto de raias bran- cas transversaes. À face, a parte anterior do pescoço e o peito são bran- cos ou branco-amarellados. O ventre, as coxas, a base e a extremidade das remiges são de um castanho muito escuro; as rectrizes são brancas, com finas raias transversaes de um castanho. claro. O cerume e a linha que vai do bico ao olho são de um amarello muito claro. O bico é azu- lado claro e os pés de um amarelo de laranja. A femea é um pouco maior que o macho. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Como o nome indica, esta especie é muito commum no Brazil. Ha- bita toda a America do Sul. AVES EM GERAL 7 85 COSTUMES O caracará do Brazil habita as steppes e as florestas pouco espessas das planicies; é ainda muito commum nos pantanos, mas não se encon- tra nem nas florestas virgens, nem nas montanhas. Segundo d'Orbigny é o caracará do Brazil a ave de rapina de movi- mentos mais vivos em toda a America do Sul. Se alguma coisa o inquieta, ergue as pennas occipitaes que formam - então uma especie de capuz. Quando se empoleira n'uma arvore ou em qualquer outra parte mette a cabeça debaixo das espaduas, ficando-lhe então as azas um pouco pendentes, sobretudo no tempo frio. Caminhando sobre o solo, a sua marcha é grave, pausada, solemne; não salta como o geral dos falcões, das aguias. ii «O vôo do caracará, escreve d'Orbigny, é sempre horisontal, muito - rapido; as azas formam então um angulo recto com o corpo. Não paira como o tartaranhão e não tem modo especial de voar quando caça. Algu- mas vezes, depois da chuva estende as azas para as seccar; no entanto nenhuma forma especial de vôo annuncia n'elle, como nos urubus, a pro- ximidade do mau tempo.» ! O mesmo observador fallando do regimen do caracará, affirma que elle se alimentá de toda a ordem de substancias animaes, putrefactas ou frescas. Prefere os vertebrados e entre estes os reptis, substituindo assim, sob este ponto de vista, na America o secre- tario do Cabo da Boa-Esperança. Come tambem caracoes e insectos, mas sómente quando a fome o aperta. No campo não persegue as aves, tal- “vez. porque este genero de caça é difficultoso; mas desce muitas vezes subitamente sobre os gallinheiros, apanhando as aves recemnascidas, a despeito dos esforços energicos de defeza empregados pelas mães. Mui- tas vezes o caracará do Brazil segue de longe os caçadores, caindo sobre as aves mortas ou feridas a tiro; se o caçador não vae promptamente buscal-as, arrisca-se a vêl-as arrebatadas pelo caracará. Quando num re- “banho ha cabras prenhes e muito proximas do parto, é necessaria da parte dos pastores uma grande vigilancia, porque o caracará desce rapi- damente sobre o recemnascido, rasga o cordão umbilical que o prende à mãe e arrebata-o. Os cães de gado em muitas provincias da America do Sul conhecem perfeitamente este perigo e sabem evital-o, cercando cons- tantemente as femeas gravidas. Á beira do mar o caracará alimenta-se de animaes mortos que as 1 M. dOrbigny, Voyage dans " Amerique méridional, Tomo 1v, pg. 57. 86 HISTORIA NATURAL ondas atiram às praias. A predilecção do caracará pelas carnes mortas é conhecida. Onde quer que exista um cadaver ha a certeza de encon- trar esta ave de rapina. Diz Darwin que sempre que morre um animal, o gallinazo começa o festim e caracará o acaba, despojando os ossos dos restos de carne que porventura lhe fiquem adherentes. Em muitas estra- das e logares desertos encontram-se bandos de caracarás que se alimen- tam de animaes mortos à sede e à fome. Na Patagonia o facto é vulgar. Quando para renovar os pastos se lança fogo a um campo, os cara- carás apparecem em bando no theatro de destruição para darem caça aos animaes que fogem atterrados pelo aspecto das chammas. O caracará acompanha não só as caravanas d'homens pelas florestas e pelos desertos, mas ainda os bandos de carniceiros nas excursões que estes tentam às aves; sollicita-o a esperança de apanhar alguns restos de carne morta. Entre os caracarás, as especies visinhas vivem n'uma guerra per- manente. O nome guarani de caracará foi dado à ave de que nos estamos occupando pela semelhança que encontraram entre esta palavra e o grito ou serie de sons que ella solta. D'Orbigny contesta um pouco esta se- melhança. A vida do caracará passa-se em continuo movimento; desde que amanhece até que o sol se recolhe, não tem um instante de repouso. Só se empoleira para dormir depois que é noite. O macho e a femea vivem unidos todo o anno. A estação dos amo- res varia nas differentes localidades correspondendo na America central à primavera e no Paraguay ao outomno. N'este ultimo paiz, segundo Azara, a postura realisa-se em Agosto, Setembro e Outubro. O ninho é feito de preferencia no cimo das arvores copadas a cujos ramos se enla- cam plantas trepadeiras. O ninho é espaçoso, de diminuta profundidade e forrado de uma camada espessa de crinas ou pêllos asperos, dispostos sem arte. A femea deposita ahi dois ovos, muito agudos numa das extre- midades e manchados de vermelho. Os paes tratam os filhos com muita sollicitude em quanto vêem que os seus cuidados lhes são necessarios; depois disto, passam a tratal-os com indiferença. CA PTIVEIRO As informações que existem ácerca do caracará em captiveiro são muito limitadas. Audubon falla de um par que teve occasião de vêr. No dizer d'este naturalista, o macho comportava-se em relação à femea como AVES EM GERAL 87 li do de um ditacará captivo no nd festa zoologico de Ham- ante que elle não manifestava dedicação Rue pelo O TARTARANHÃO CARACTERES ESPECIFICOS 5 n este ponto. Uns são de um castanho “escuro uniforme, ex- a cauda que é raiada; outros teem o dorso, o-peito e as coxas O resto do corpo claro, com maculas transversaes; muitos e | de um branco amarellado, com as pennas escuras. Entre estes - divers “typos de colorido ha ainda innumeras cambiantes. O cerume é uia são po: o bico é azulado no nariz e quasi negro na ponta. Ene: Geri! Wives 6) 4 z vm “a “as ad a 4 88 HISTORIA NATURAL » DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA 3 oi e ER O tartaranhão habita uma grande parte da Europa e da Asia central. No meio-dia da Europa, encontra-se por toda a parte esta ave de rapina durante o inverno, emquanto que no estio apparece só raras vezes nas. altas montanhas e sempre solitaria. Encontram-se alguns individuos ao norte d'Africa, mas raras vezes e só na epocha das emigrações; o mesmo | acontece nas planicies da India. É, pelo contrario, commum em algumas localidades do Himalaya. COSTUMES Na Europa, principalmente nos paizes frios, o tartaranhão é uma ave errante, que nas epochas de emigrações se encontra em bandos Nini. sos, mas que n'outras occasiões é rara. O tartaranhão vôa lentamente e a uma grande altura, de sadia de tempos a tempos grandes espiraes. Na volta das emigrações, pára sempre durante alguns dias nos pontos em que espera encontrar alimen- tos em abundancia. Ea7 E Fóra do tempo das emigrações, o tartaranhão fixa-se nas dor endaii principalmente nas que alternam com grandes campos onde se encontram presas numerosas e faceis de encontrar. Não falta porém nas grandes flo- restas e nas montanhas altas. DR O olhar exercitado de um caçador, por exemplo, redoibai imme- diatamente um tartaranhão, quer voando, quer empoleirado. Voando, o tartaranhão é vagaroso e deselegante; empoleirado, repousa sobre um pé só, occultando o outro debaixo das pemnas, e conserva 0 corpo enco- lhido. Assim permanece horas inteiras immovel, mas não inactivo; do seu posto observa minuciosamente os dominios visinhos, o que se passa em volta. Quando vôa não faz ruido e paira muitas vezes e por largo tempo. Quando caça poucas vezes se eleva a grandes alturas; ao: contrario, no tempo dos amores sobe muito alto na atmosphera. Vibuita O grito caracteristico desta ave assemelha-se muito ao miar do gato. Os sentidos são apurados, principalmente a vista e o ouvido. A in- telligencia é tambem notavel; d'isto dá provas tanto em liberdade como em captiveiro. O principal alimento do tartaranhão são os ratos grandes e peque- nos; come tambem serpentes e insectos. Raras vezes attaca outros ani- maes, SRA E e E AVES EM GERAL 89 2 ão - Ê no fim de Abril ou em principios de Maio que o tartaranhão cons- ê “true o ninho ou procede a reparos n'aquelle que fez no anno precedente. | Para fabricar o ninho escolhe n'uma floresta uma arvore apropriada; os ab materiaes empregados são ramos de grossuras differentes (os mais gros- sos são sempre dispostos inferiormente) e partes verdes que forram a — escavação destinada aos ovos. O diametro do ninho é geralmente supe- rior a sessenta centimetros. É mister notar que o tartaranhão se apro- pria algumas vezes dos ninhos d'outras aves. Os ovos postos são de or- dinario trez ou quatro, de um branco esverdeado e com maculas fuligi- nosas mais ou menos accentuadas. Só a femea choca. UTILIDADE Sabendo-se que a base brincipal da alimentação d'esta ave de ra- pina é constituida por animaes nocivos ao homem, taes como roedores e reptis venenosos, facil é reconhecer a immensa utilidade, o enorme va- 2 Torque ella representa na economia natural. Infelizmente é tal a ignoran- cia da nossa especie em materia de zoologia descriptiva que ha regiões » — onde se offerecem premios a quem destruir está utilissima ave. E muitas dee vezes tambem a simples malvadez substitue a ignorancia; os resultados E “Jinaes são os mesmos. Diz Brehm que o director de um muzeu zoologico Ny 7 allemão annunciou ao mundo scientifico que durante toda a primavera de 53 1854 matara quatorze a quinze tartaranhões por dia. Vê-se por isto que "não é só entre nós, como pretendem os bons patriotas, que existem os grandes benemeritos da humanidade!... é é : Era CAPTIVEIRO O tartaranhão apanhado em pequeno habitua-se perfeitamente ao homem e attinge mesmo um alto grao de domesticidade. Buffon refere-se a um, propriedade de um cura, e apresenta-o como profundamente affei- coado ao dono, nunca tentando fugir, antes voltando invariavelmente a casa depois de ter passado horas inteiras n'uma floresta proxima. Á hora de jantar, diz o naturalista francez, era certo à meza; empoleirava-se a um canto e acariciava o cura com o bico e a cabeça até que este lhe désse de comer. Tinha uma particular antipathia pelos barretes verme- lhos; se via alguem com um, tirava-lh'o da cabeça com toda a destreza e ia collocal-o no cimo de qualquer arvore. fe Os caracteres principaes são: bico comprido, recto na À nando em args na ponta, ig a azas muito exi diano, dedos fracos, munidos de. na muito pot pa CUANdDA: o Ebro é ig - -— Esta ave é conhecida tambem pelo nome de : Etida- Head poe ui FOARACTERES! é DESERT ES tros de comprido e trinta e PR de ponta a ponta d aza. A vinte e cinco centimetros. Aê AVES EM GERAL 91 Os individuos adultos teem uma plumagem castanho-escura; as pen- nas da nuca são brancas na base e as do dorso apresentam reflexos azu- lados. As da parte interna das coxas offerecem linhas transversaes e as das azas, de um castanho escuro, teem tambem linhas transversaes es- treitas de côr cinzenta; as rectrizes são castanho-escuras na raiz, bran- cas no centro e bordadas de claro nas extremidades. O cerume e a raiz da mandibula inferior são amarellos e o resto do bico é negro. Os pés são amarellos claros. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A urubitinga encontra-se no Brazil e na Guiana. COSTUMES Habita as florestas e é commum tambem perto das plantações e à beira dos pantanos. A alimentação principal d'esta ave de rapina é constituida por pe- quenos mamiferos, pequenas aves, serpentes e molluscos. Segundo Tschudi, come tambem carnes mortas, quando ainda não teem chegado ao periodo de decomposição. Esta ave sustenta por muito tempo o vôo. Repousa sempre sobre os ramos mais fortes e menos elevados das arvores copadas. O ninho porém “estabelece-o de ordinario em ramos altos, em arvores ás vezes inacces- siveis à beira dos cursos d'agua. O numero d'ovos postos é geralmente de dois, alongados, brancos, apresentando em differentes pontos da su- perficie manchas castanhas arruivadas e mais ou menos escuras. CAÇA À timidez e desconfiança nativas desta ave tornam a sua caça diffi- cil, mais difficil mesmo que a d'outras aves de rapina do Brazil. 92 HISTORIA NATURAL CAPTIVEIRO A difficuldade da caça, por um lado, e uma certa hostilidade d'esta ave relativamente ao homem, por outro, explicam o facto da sua extrema raridade em captiveiro e da falta de informações sobre a sua vida sob o dominio do homem. UTILIDADE Alimentando-se principalmente de roedores, de reptis, de pequenas aves nocivas aos trabalhos agricolas e de carnes mortas, a urubitinga é uma ave mais util do que prejudicial. AS AGUIAS As aguias são caracterisadas por um corpo vigoroso, uma cabeça re- donda e bem conformada, azas largas e compridas que cobrem a cauda, tarsos fortes, cobertos de pennas, bico comprido, de bordos cortantes, mandibula superior muito recurva na extremidade e profundamente chan- frada, olhos grandes e encovados sob uma arcada salientissima, dedos fortes, de comprimento medio, unhas grandes, agudas, muito recurvas. A plumagem é espessa; as pennas da nuca e da região occipital inferior são finas e muito extensas. “y “ IN Imp. Lamoureua à Paris A ÁGUIA REAL Magalhães & Moniz, Editores : e E + S BIRO É AVES EM GERAL 93 A AGUIA REAL Esta especie é de uma extrema elegancia. O macho tem um metro “de comprido e dois e quarenta centimentros de ponta a ponta d'aza. À femea tem geralmente mais cinco centimetros de extensão e mais dez no comprimento medido de ponta a ponta d'aza. A côr geral é um escuro fuliginoso de tons ruivos, mais claros no peito que n'outros pontos. Na espadua apresenta uma larga mancha branca. Os individuos novos teem a plumagem mais escura sempre que os adultos e não apresentam na espadua a mancha branca a que acabamos de referir-nos. COSTUMES — Ácerca d'este ponto, como da distribuição geographica e do capti- veiro, vamos occupar-nos adiante, fallando da aguia imperial, porque todos estes assumptos são, dentro de certos limites, communs a uma e outra especie. A AGUIA IMPERIAL A aguia imperial é mais pequena que a precedente. Não mede mais de oitenta a noventa centimetros de comprimento total; e a extensão de de ponta a ponta d'aza não excede dois metros a dois metros e vinte centimetros. N'esta especie o corpo é vigoroso, a cauda curta e as azas compridas, attingindo a extremidade da cauda. Os individuos adultos são de um castanho ou trigueiro escuro uni- forme, com a cabeça e a nuca de um amarello fuliginoso; a espadua apre- senta, como a da aguia real, uma larga mancha branca. À cauda é cin- zenta com raias negras e uma estreita facha terminal. 94 HISTORIA NATURAL Os individuos novos são amarellados e ruivos com manchas longitu- dinaes de um castanho escuro. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Esta especie e a precedente existem na Europa e ainda na Asia e na America do Norte. A aguia real encontra-se em todas as serras portugue- zas e a aguia imperial em algumas d'ellas. COSTUMES A aguia real é uma ave errante e a aguia imperial uma ave emi- grante que todos os invernos emprehende viagens para as regiões meri- dionaes e que na epocha das emigrações apparece regularmente na Gre- cia, no Egypto e nas Indias. À aguia real habita as montanhas e a impe- rial as planicies; esta encontra-se, com efeito, no meio das steppes in- teiramente desprovidas d'arvores, ao passo que aquella apenas ahi passa | durante as suas emigrações, sem nunca se fixar. A aguia real é notavel pela agilidade; a aguia imperial denuncia-se por ser de todas as especies a mais fraca. Postas estas differenças, o que vamos dizer pode eguannpa appli- car-se às duas especies. A aguia conserva-se sempre fiel á região que escolheu para domi- nio e que é sempre extensa, attenta a enorme quantidade d'alimento de que esta ave de rapina carece. De manhã, muito tempo depois do nascer do sol, abandona o par em que passou a noite, eleva-se a grandes alturas e percorre os seus do- minios. Macho e femea procedem juntos à caça e auxiliam-se mutua- mente em casos de perigo. Comtudo no momento das refeições pertur- ba-se a boa harmonia dos dois; uma presa é sempre um verdadeiro pomo de discordia, diz Brehm, mesmo entre os esposos mais unidos. Proximamente à hora do meio dia a aguia volta ao ninho ou empo- leira-se n'um logar tranquillo para repousar, principalmente se a caça foi feliz. Conserva-se então immovel, com as pennas pendentes, digerindo, mas sem nunca se esquecer de velar pela propria segurança. Depois das refeições a aguia vae beber. Tem-se dito que para mitigar-lhe a sede AVES EM GERAL 95 basta o sangue da victima; observações feitas em individuos captivos desmentem formalmente uma tal asserção. A aguia bebe muito e sente mesmo a imperiosa necessidade de mergulhar-se na agua; nos dias quen- tes é raro que se não banhe pelo menos uma vez por dia. Depois de ter bebido e de ter tomado banho, volta à caça. De tarde diverte-se voando ; e à hora do crepusculo recolhe prudente e silenciosamente ao logar em que tem de passar a noite. A aguia apanha a presa de modos que variam segundo as circums- “tancias. Quando vôa, descrevendo circulos no ar, e descobre uma presa, “desce em espiral para a vêr melhor e, dobrando então as azas, incide so- bre ella, enterrando-lhe as garras no corpo com uma enorme violencia. De ordinario um dos pés fixa a cabeça da victima, em quanto o outro se lhe colloca sobre o peito. Para fazermos uma idéa da força e da coragem da aguia, basta lem- brarmo-nos de que ella arrebata creanças e animaes de grandes dimen- * sões, como o rapozo. Mas faz mais ainda: se a fome a aperta e se sente perseguida, chega a luctar com o homem. Brehm conta o caso de uma “aguia que estimulada pela fome, desceu, em plena povoação, sobre um grande porco que passava. Os gritos do animal attrairam a attenção de um dos habitantes, de um aldeão que marchando contra a aguia a obrigou a largar a presa. Constrangida a dispensar o lauto banquete que estava pre- parando, a aguia incidiu mais adiante sobre um gato. O aldeão quiz salvar o gato tambem; receiando porém perseguir de novo a ave, sem armas, correu a casa a buscar uma espingarda. Quando voltou, a aguia abandonou o gato e atirou-se a elle. Então, o porco, o gato e o homem faziam um concerto de gritos lamentosos e terríveis. Felizmente outros aldeãos acu- diram, conseguindo prender a ave de rapina. A maior parte dos malefícios attribuidos ao gypaeto e a outras aves de rapina, devem, como já fizemos notar, attribuir-se à aguia. “É longa a lista das victimas d'esta ave de rapina; entram nella ani- maes de todas as dimensões, desde as pequenas aves cantadoras até aos grandes ruminantes. Nem os ouriços com os seus picos hostis escapam à aguia; tambem lhe não escapam as aves aquaticas, mao grado o meio em que vivem e que parecia pôl-as a coberto de qualquer attaque por parte das aves de “rapina. | Apanhando uma ave, a aguia principia por tirar-lhe um pouco gros- seiramente as pennas e por partir-lhe o craneo, devorando em primeiro logar o cerebro. Depois da cabeça, come o pescoço e por ultimo o resto do corpo. Come com prudencia, olhando sempre em volta; ao mais leve ruido pára e colloca-se de vigilia. Como as aves devoradas levam algumas pennas, estas reunem-se 96 HISTORIA NATURAL em bola no estomago da aguia e são depostas, uma vez que a digestão tenha terminado. A aguia come tambem com prazer ossos que digere perfeitamente. A aguia faz ninho no começo de cada anno, no meio ou no fim de Março. Os ovos são, dizem os observadores, relativamente pequenos, ovaes, de casca rugosa, claros, quasi brancos ou pardos esverdinhados com maculas mais ou menos volumosas irregularmente dispostas pela su- perficie. O numero d'ovos postos raras vezes é superior a trez. À incu- bação dura cinco semanas. Os recemnascidos apresentam-se cobertos por uma pennugem parda clara. Os paes cuidam d'elles com sollicitude tra- zendo-lhes alimento em abundancia. CAPTIVEIRO Quando se reduzem ao captiveiro nas primeiras semanas de exis- tencia, as aguias domesticam-se rapidamente e chegam a manifestar pelo dono uma grande dedicação. Para comprehender-se até que-ponto chega a domesticação d'estas aves, basta dizer que é possivel deixal-as em li- berdade sem receio de que fujam ou façam mal às aves domesticas. Este facto não causará estranheza a quem conhecer o alto grao de domestiei- dade que teem muitas vezes attingido, entre os mamiferos, os felinos, sem duvida os mais vorazes e mais ferozes de todos os carniceiros. Bem alimentadas, as aguias podem viver largos annos em captiveiro. Contam-se exemplos de muitas que teem existido oitenta e cem annos n'estas condições. ' USOS E PRODUCTOS Da aguia viva pode tirar-se apenas vantagem quando se adestra, como ao falcão, para a caça. Este ensino é difficil e raras vezes tentado. A aguia morta fornece as pennas que são utilisadas em algumas in-. dustrias e que representam um famoso artigo de commercio m'alguns povos. ne. 4% De do E AVES EM GERAL 97 A AGUIA RABALVA a as ari a aguia apoia s adultos são trigueiros ou castanhos arruivados, com “O pescoço pardos trigueiros e a cauda branca. 0 bico, o ce- pés são amarellos claros. “acção do tempo as pennas vão aclarando, tanto no dorso como - “ventre. Os individuos novos são sempre mais escuros que os DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA COSTUMES ta ave de rapina nunca se affasta dos cursos d'agua. Raro é, com ontral-a no interior das terras, em logares seccos. ave é sociavel, mas as reuniões ou agrupamentos em que vive semelham aos constituidos pelos abutres que aos formados pe- nhã muito cedo, a aguia rabalva abandona o logar em que noite e dirige-se para as costas, à caça das aves do mar e ainda js que ahi vivem e de peixes. Segundo Walengrin, as aves as estão ainda mais expostas aos attaques da aguia rabalva Ss que não mergulham. Estas ultimas, com effeito, ao verem jar a ave de rapina erguem vôo e conseguem assim escapar ezes; aquellas, pelo contrario, à chegada do inimigo, mergulham, deste modo apenas mais alguns instantes de vida, porque a aguia 98 HISTORIA NATURAL feitamente capaz de defender-se. Uma tentativa frustrada não a desanima; repete um acto tantas vezes quantas as precisas para que elle chegue a sortir o effeito premeditado. A aguia rabalva é muito voraz; isto explica bem o motivo por que se estabelece junto das falmises do Norte onde vão fazer ninho aves em quantidade fabulosa. Perseguindo os peixes é forçada a mergulhar; per- seguindo os mamiferos aquaticos, os pequenos amphibios e os pequenos cetaceos, acontece-lhe o mesmo. Ás vezes estas immersões redundam- lhe em prejuizo proprio, porque se deixa ir até grandes profundidades e morre por asphixia. Sob o ponto de vista das qualidades physicas, a aguia rabalva pode dizer-se inferior às outras aguias. Embora mais destra na marcha, pos- sue um vôo muito mais pezado e muito mais lento do que ellas; embora os seus sentidos sejam talvez superiores aos das aguias, é-lhes inferior no entendimento. À reproducção d'esta especie realisa-se em Março; é então que se ferem luctas tremendas entre os machos. À femea une-se ao vencedor; é porém de notar que o vencido, sentindo-se humilhado pela derrota, não perde a idéa de vingar-se e volta à lucta desde que encontra occasião favoravel para isso. O ninho d'esta ave de rapina tem geralmente de diametro um metro e trinta a um metro e sessenta centimetros e de altura meio metro ou um metro. O par conjugal (pode admittir-se a expressão attenta a mutua fidelidade que caracterisa o casal) serve-se muitos annos successivos de um mesmo ninho, que vae reparando e augmentando à medida das ne- cessidades. A base do ninho é formada por grossos ramos do diametro de um braço; por cima encontram-se ramos mais finos e o interior é for- rado por partes verdes e pennas curtas e macias que a femea arranca ao proprio peito. Os ovos são dois, trez ou quatro, relativamente peque- nos; a casca é espessa e rugosa, de côr variavel, ora brancos uniforme- mente, ora brancos com malhas escuras, ora castanhos ou arruivados. Não se conhece o tempo que dura a incubação; sabe-se que o macho ajuda a femea no trabalho de chocar os ovos. Os filhos não abandonam o ninho senão ao fim de dez ou quatorze semanas; e mesmo então este abandono não é completo, porque voltam ao ninho todas as tardes. Só no fim do outomno é que se separam inteiramente dos paes. AVES EM GERAL 99 CAÇA lda para a caça; como porém come carnes mortas é facil m | armadilhas. a que os cadaveres sirvam de engodo. Em No- , es prendem a um pedaço de carne uma fita comprida, ) ao chão e vão esconder-se a distancia com a extremi- fita na mão. À aguia vê a carne, desce e deita-lhe o bico; 1 pela fita e a ave que não quer abandonar a presa vae-se ita até junto do inimigo occulto, que a pode então matar apanhar + viva. N'este ultimo caso é preciso proceder com toda à € extremo cuidado, porque embora a ave em questão receie é certo que ella possue a consciencia dos seus recursos que CAPTIVEIRO Diana nos jardins zoologicos. Desde que vê 0 e sau- s de alegria; o mesmo faz aos visitadores assiduos desses UTILIDADE ou indiferentes ou uteis, a aguia rabalva pertence ao nu- “de rapina nocivas, que devemos perseguir. AR o : 100 HISTORIA NATURAL A AGUIA PESQUEIRA Esta aguia é mais pequena que qualquer das especies de que nos temos occupado. As pennas da cabeça da aguia pesqueira são de um branco amarellado com estrias longitudinaes escuras. O dorso é trigueiro e as suas pennas são orladas de branco. No peito tem uma pequena ma- | lha trigueira ora muito accentuada, ora desvanecida. Dos olhos partem fachas que descem até ao meio do pescoço. O cerume e os pés são côr de chumbo, o.bico e as unhas negros. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Encontra-se em toda a Europa, na maior parte da Ásia, à beira dos rios do norte e éste da Africa e ainda na America. COSTUMES Esta ave de rapina, como o nome indica, alimenta-se: de peixes; é por isso que se estabelece sempre junto dos cursos d'agua. Forma o ninho nas arvores mais elevadas e os materiaes que em- prega n'elle são ramos fortes e grossos, assim como musgo e outros cor- pos molles que servem para forrar a escavação destinada aos ovos. No mez de Maio dá-se a postura; os ovos são dois ou trez, alongados, .de um pardo quasi branco e apresentando manchas vermelhas claras ou desmaiadas. O ninho pode considerar-se o centro de um vasto dominio que macho e femea percorrem muito regularmente todos os dias. As lon- gas azas da aguia pesqueira permittem-lhe percorrer sem fadiga grandes espaços. Eleva-se a uma altura prodigiosa, paira por algum tempo, desce depois até junto da superficie da agua e é então que principia a pesca, pouco mais ou menos pela hora do meio dia. Antes de cair sobre um peixe executa a grande altura alguns vôos circulares, desce depois a vinte metros, approximadamente, acima da agua e paira por alguns ins- tantes, fixando a superficie liquida; se vê um peixe é então que cãe so- bre elle com rapidez espantosa. Mergulha por alguns momentos; e quando AVES EM GERAL 101 sãe da agua com o peixe nas garras, bate repetidamente as azas com violencia para sacudir as gottas adherentes à plumagem. Uma tentativa infructuosa não desanima a aguia pesqueira; continúa até que tenha co- lhido algum resultado. Se o peixe que apanhou é pouco volumoso e pouco pezado, ergue vôo com elle entre as garras e vae devoral-o tran- quillamente na floresta mais proxima; se o peixe é pezado ou muito vo- lumoso contenta-se então em arrastal-o até à margem e ahi o come. Dos peixes nem todas as partes servem á aguia pesqueira; come apenas as melhores e abandona o resto. — As aves aquaticas não temem a aguia pesqueira; é vulgar vêr esta ave entre os patos sem que estes se inquietem com a presença d'ella. Pelo contrario, a aguia pesqueira soffre extraordinariamente pelos attaques de outras aves de rapina, nomeadamente da aguia rabalva. CAÇA A aguia pesqueira é perseguida sem piedade; e ha razão para isso. Como a lontra, ella é a inimiga mais terrivel dos pescadores. Advirtamos porém que em alguns pontos da America do Norte a respeitam; crê-se ahi que a presença de um casal destas aves n'um determinado terreno é signal certo de prosperidade e de ventura para a propriedade e para o proprietario. B' dificil dar caça à aguia pesqueira, attenta a extraordinaria pru- dencia d'esta ave. O modo de a apanhar consiste em dispôr à superficie da agua armadilhas a que serve de engodo o peixe. CAPTIVEIRO À aguia pesqueira é rara no captiveiro. Brehm observou uma no jar- dim zoologico de Hamburgo e diz que ella passava o dia inteiro no po-. Jeiro da gaiola sem dar attenção ao guarda ou ao que se passava em volta. Não offerecia nada de interessante e digno de menção. Embora abundantemente alimentada com bom peixe, emagrecia constantemente e um dia de manhã foi encontrada morta, sem que se podesse reconhecer a causa d'este acontecimento. Viveu captiva apenas trez mezes. 102 HISTORIA NATURAL A HARPIA É uma das aves mais fortes e mais robustas da America do Sul. CARACTERES Segundo Tschudi, a harpia tem mais de um metro de comprimento; a extensão de cada aza é de vinte e seis centimetros e a da cauda de trinta e cinco. Burmeister estabelece dimensões mais consideraveis. O dedo mediano tem oito centimetros de comprido e o dedo posterior qua- tro. Um e outro são munidos de unhas que, medidas segundo a curva- tura respectiva, teem: a do mediano quatro centimetros e a do polle- gar oito. O dorso, as azas, a cauda, a parte superior do peito e os lados do tronco são côr de ardosia; a cauda apresenta trez manchas brancas. O ventre é branco, manchado de negro; as coxas são brancas tambem com maculas negras, O bico e as unhas negros e os pés amarellos. A cabeça offerece uma poupa côr de ardosia. ' Às côres tornam-se tanto mais puras e nitidas quanto mais velha é a ave. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA À harpia parece não faltar em nenhuma das grandes florestas da America do Sul, desde o Mexico até ao centro do Brazil e desde a costa do Atlantico até à do Pacifico. Prefere os valles às montanhas; nunca sobe aos pontos muito elevados. COSTUMES E Teem-se escripto ácerca da harpia coisas fabulosas; é dificil contar os erros que por muito tempo circularam a respeito dos costumes desta ave e, o que é mais, a respeito dos seus caracteres morphologicos. De- vemos a d'Orbigny, à Tschudi e a Pourlamaque a rectificação desses er- a rm my + AVES EM GERAL 103 ros e as exactas informações que hoje se possuem sobre a vida e habi- tos d'esta ave de rapina. Seguiremos na descripção a fazer estes auctores. A harpia, como deixamos indicado, prefere às montanhas os valles; devemos accrescentar que aos campos descobertos ella prefere tambem as florestas, sobretudo as florestas humidas, atravessadas por cursos d'agua. Esta ave, existindo por toda a parte, não é verdadeiramente com- mum em nenhuma; esta circumstancia deve, segundo Brehm, ser expli- cada pelo facto da caça constante que os indigenas fazem a esta ave de rapina para lhe arrancarem as pennas das azas, tidas por elles na conta de um bello enfeite. Fóra do tempo dos amores, a harpia, segundo d'Orbigny, encon- tra-se sempre solitaria. Rarissimas vezes se empoleira nos ramos eleva- dos das arvores; prefere sempre os ramos de pouca altura. Voando, des- creve grandes circulos e desde que descobre uma presa cáe sobre ella com extraordinaria impetuosidade: Não é timida e deixa-se approximar pelo homem, com a condição porém de que não saiba que terrivel ini- migo elle é. A alimentação da harpia é fornecida por todos os vertebrados supe riores que ella pode matar: mamiferos e aves. Por isso, no dizer de Tschudi, é na America do Sul a ave de rapina mais temida pelo indigena. Nas florestas, e por isso se estabelece ahi de preferencia, encontra abun- dante alimentação: os esquilos, os macacos, os preguiçosos, as aves de toda a ordem abundam ahi. Quando um bando de macacos descobre uma harpia, todos os individuos que o formam, escreve Tschudi, soltam gritos alilictivos e procuram refugiar-se immediatamente na arvore mais copada que encontram; como unica defeza contra o poderoso inimigo, estes des- graçados teem apenas os seus gritos lamentosos. Triste e inutil defeza que mais os comprometite! O ninho da harpia é espaçoso e construido sobre as arvores mais elevadas. No dizer dos indigenas, um mesmo ninho serve muitos annos consecutivos. CAPTIVEIRO Em Londres, Berlim e Paris teem existido por muitas vezes harpias captivas. Estas aves attrahem sobre si as attenções geraes pelo porte altivo e magestoso que as caracterisa. A proposito escreve Poeppig, citado por Brehm: «Os visitadores do Jardim Zoologico de Londres sentem junto de uma harpia adulta que ahi vive um certo receio e não se atrevem a en- colerisal-a como, protegidos pelas grades da jaula; fazem mesmo ao ti- 104 HISTORIA NATURAL gre. Aprumada, immovel como uma estatua, esta ave intimida os mais corajosos, tanta é a fixidez ameaçadora do olhar e o brilho de raiva que os olhos denunciam. Parece inaccessivel ao medo e possuida de um su- premo desdem por tudo quanto a cerca. No entanto assume um aspecto. medonho quando vê qualquer animal que lhe atiram à jaula. Precipita-se sobre a presa com furia indescriptivel; não ha resistencia a oppor-lhe. Atira-se com as garras crispadas à cabeça do animal; ao primeiro embate mata o gato mais vigoroso; immediatamente depois abre-o, rasga-lhe o peito e o ventre com as garras e devora-lhe o coração. Não se serve do bico n'estes attaques. A rapidez e segurança d'estas investidas e a idéa de que seriam mortaes quando dirigidas contra um homem, enchem de terror os espectadores. » Segundo Brehm, ha colorido de mais n'esta curta descripção. Marsius porém, escrevendo sobre a harpia captiva confirmou os dizeres de Poeppig, dizendo: «N'esta ave de rapina a natureza reuniu a força à ferocidade. A simples vista da harpia em repouso, immovel como uma estatua, causa terror; ninguem pode sem medo fixar-lhe os olhos largamente abertos, penetrantes, ameaçadores. Mas nada eguala em horror o espectaculo quer se nos offerece quando, em face de uma presa, esta estatua se anima é cãe sobre ella em furia. Uma primeira pancada na cabeça e uma segunda ao nivel do coração é quanto basta para dar a morte à presa. Estes alta- ques são feridos com tamanha rapidez e com tanta segurança que cada um dos espectadores se convence da impossibilidade de resistir, elle | proprio, a embates taes.» Como o leitor vê, Marsius repete quasi as aflir- mações de Poeppig. Pourlamaque confirma as afirmações anterioros, fal- lando de uma harpia que observou no Museu do Rio de Janeiro. USOS E PRODUCTOS. À harpia fornece aos indigenas as pennas, que são muito estimadas e constituem um bom artigo de commercio. No Perú ha premios para quem matar esta ave, Como ha muitos interessados na destruição della, o que a mata recebe por isso dadivas em grande numero, Diz Tschudi: «Um indigena que mata uma harpia, vae com ella de cabana em cabana e cobra de todos um imposto em generos: ovos, gallinhas, etc.» Além d'istô ha regiões em que a carne e a gordura da harpia são consideradas substancias de grandes virtudes medicamentosas. AVES EM GERAL EO 105 | PSA tugrsy ” ” herda E e ts] ESA IS dh E 0 O GUINCHO DA TAINHA E sada denominação portugueza corresponde ao nome fran- mn-le-Blanc e ao nome inglez correspondente the Jean-le- CARACTERES e de rapina tem setenta a oitenta centimetros de compri- m metro e oitenta centimetros a perto de dois metros de ponta 'aza; a extensão da cauda é de vinte e cinco centimetros. » superior do corpo é trigueira. As pennas ponteagudas da da cabeça e da nuca, trigueiras tambem, são orladas de do dorso, da espadua e as mais superiores das azas teem a as da cauda, trigueiras escuras, apresentam trez largas fa- jes perfeitamente negras e terminam-se por uma outra fa- À parte inferior do corpo —peito, papo e ventre—é branca “maculas de um castanho claro, transversalmente dispostas. o da plumagem os individuos novos distinguem-se pouco DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA em certas epochas do anno encontra-se ao norte da Africa e, no rdon, está longe de ser rara nas Indias. do COSTUMES RA Pi f É ae . > No começo do seculo actual o guincho da tainha era ainda tão pouco o que se confundia com o tartaranhão. Só nos ultimos annos é ; “O guincho da tainha habita na Buropa as grandes florestas solita- e passa uma vida silenciosa e retirada, afirma Brehm. Nas Indias 106 HISTORIA NATURAL porém, encontra-se no meio de regiões habitadas e ao norte da Africa vê-se, principalmente no inverno, em bandos de seis a doze individuos, sobre um rochedo, perto de um riacho ou mesmo, o que é mais para es- tranhar, nas steppes, distante muitas leguas de qualquer curso d'agua. Pelos seus hahitos de vida, o guincho da tainha assemelha-se mais ao tartaranhão do que ás aguias. Este facto explica a confusão, a que já nos referimos acima, entre o guincho e o tartaranhão. É uma ave paci- fica, indolente que se não preoccupa senão dos animaes que podem ser- vir-lhe de presa. Perto do ninho é prudente e desconfiada, aflirmam to- dos os observadores. Segundo Brehm, na Africa o facto é outro: o guim- cho pode ahi ser tido na conta de uma das aves menos timidas. Jerdon affirma tambem que o guincho da tainha solta repetidos gritos, ao passo que Brehm affirma nunca ter ouvido na Africa a voz d'esta ave. Empolei- rada numa arvore, contempla o caçador e no que menos pensa é em fugir. Em vista d'estas informações contradictorias é-se levado a erêr que os costumes do guincho da tainha não são precisamente os mesmos em paizes differentes. Só de manhã cedo ou de tarde é que se encontra empoleirado; no resto do dia procede à caça, o que faz com um vagar e placidez sem eguaes. Descreve, voando, grandes circulos no ar ou conserva-se immo- vel junto da agua, ositinnão a presa. Ás vezes, voando, paira e conser- va-se muito tempo no mesmo logar, como o inrinrado | Para attacar os vertebrados de que se alimenta, desce vagarosa- mente para terra, vôa depois durante algum tempo junto do solo até que por fim com as garras estendidas câe sobre o animal que quer devorar. Muitas vezes entra na agua para apanhar alguma presa. Quando um guincho da tainha é feliz na caça, tem de ordinario de luctar com os congéneres, naturalmente invejosos. A caça de uma ser- pente, por exemplo, é sempre um pretexto de lucta para os guinchos; se um a apanhou, outro vem disputal-a. Trava-se então entre as aves de rapina um combate que não poucas vezes redunda em proveito do re- ptil; este, com effeito, aproveitando o ardor da pugna consegue fugir, escapar-se. É pela hora do meio dia que o guincho da tainha visita as margens dos rios, onde bebe. No tempo dos grandes calores faz uma excepção aos seus habitos, conservando-se no meio do dia horas inteiras empo- leirado, immovel sobre uma arvore. A alimentação do guincho é constituida por peixes, rãs, pequenas aves, ratos, myriapodes, grandes insectos e principalmente reptis. Estes são com efeito o que o guincho mais aprecia e a verdadeira base da sua alimentação. k AVES EM GERAL. 107 2-6 Joriiado de ramos seccos e ainda de folhas essa a “excavação e constituem uma especie de tecto. » de ordinario mais do que um ovo, que é relativamente sca fina e rugosa, de um branco azulado uniforme ou com 3. À incubação, no dizer de Mecklenburg, dura vinte e oito cho e a femea chocam alternadamente e ambos se encarregam “sollicitude da creação dos filhos. Em casos de perigo immi- isportam-os para um outro ninho. CAPTIVEIRO ho da tainha desde que se apanhou novo ainda e se trata dado, “domestica-se facilmente e chega a ter pelo homem UTILIDADE ado os peixes, o guincho é-nos prejudicial. Em compensação uma guerra desapiedada aos roedores, ás serpentes e aos ectos, no ca nos é incontestavelmente utilissimo. É pois uma .. 108 HISTORIA NATURAL OS GERIFALTOS Estas aves são caracterisadas pela estatura que é elevada, por um bico forte e muito recurvo, pelos tarsos que são cobertos de pennas nos dois terços do comprimento, pela cauda ComnprAdao ampla, quasi rectili- nea e excedendo um pouco as azas. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Os gerifaltos habitam o extremo norte da Norwega, da Russia, da Siberia, da Groelandia. Ha dissidencias entre os naturalistas sobre o numero de especies deste genero. Brehm admitte trez: o gerifalto branco, 0 gerifalio da Groelandia e o gerifalto da Norwega. Os caracteres differenciaes a esta- belecer entre estas trez especies baseiam-se na côr da plumagem. As dimensões são approximadamente as mesmas: sessenta centimetros de comprimento e um metro e trinta centimetros de ponta a ponta d'aza. Em todas estas especies as femeas são maiores. COSTUMES Sendo os costumes das especies mencionadas approximadamente os mesmos, descrevel-os-hemos em conjuncto. Sem evitarem as florestas, os gerifaltos preferem comtudo as pene-. dias à beira do mar. Onde quer que as aves aquaticas estabeleçam ni- . nho, ahi se encontram os gerifaltos. Os individuos novos que ainda se não reproduziram penetram até muito longe nas terras; os adultos, pelo contrario, nunca abandonam a beira do mar. Todos os casaes se conservam fieis aos logares que uma vez esco- lheram. Na Laponia, por exemplo, existem penedos habitados desde tem- pos immemoriaes pelos gerifaltos. E Abstracção feita do vôo que é menos rapido e da voz que é menos clara, os gerifaltos assemelham-se muito aos falcões. Brehm, pelo menos, AVES EM GERAL 109 que observou aquellas aves de rapina tanto em liberdade como em capti- veiro, declara não ter encontrado entre ellas e os falcões senão as diffe- renças de vôo e de voz a que acabamos de referir-nos. No estio os gerifaltos alimentam-se de aves aquaticas e no inverno de lagopodes; caçam tambem a lebre e, no dizer de Radde, durante me- zes vivem à custa dos esquilos. «Em Niken, n'uma penedia da costa de Norwega habitada por aves aquaticas, vi, diz Brehm, durante trez dias que ahi me demorei, chegar um casal de gerifaltos com toda a regu- laridade às dez horas da manhã e às quatro da tarde à busca de ali- mento. A caça pouco tempo durava. Chegavam, descreviam um ou dois circulos à volta da falaise e caíam depois sobre o bando dºaves, arre- batando cada uma a sua. Nunca vi que lhes falhasse um attaque.» ! Depois da estação dos amores, os gerifaltos chegam até perto das habitações humanas. Mostram-se então cheios de confiança e é facil por isso apanhal-os em armadilhas a que serve de engodo um galopode ou qualquer outra ave. No inverno abandonam as costas para seguirem os galopodes até às montanhas. Segundo Faber, os gerifaltos construem um ninho largo, mas pouco elevado na fenda de um rochedo inaccessivel junto do mar. O gerifalto da Norwega, no dizer de Nordvi, estabelece-se n'um ninho de corvo ou d'outra ave; força o proprietario a retirar-se. O gerifalto da Groelandia põe os ovos em Junho; para o da Norwega a estação dos amores começa em Abril. Nas trez especies conhecidas de gerifaltos OS Ovos apresentam apenas ligeiras differenças de volume; os da especie groelandeza são os maiores e os da especie norwegueza os mais pequenos. A côr é muito variavel. - CAÇA Uma antiga lei dinamarqueza punia com a pena capital todo aquelle que ousasse matar um gerifalto. Essa lei foi derrogada em 1758 e desde então é activa a caça feita a esta ave de rapina em alguns paizes. Em alguns e não em todos, porque na Laponia e na Scandinavia ninguem caça 0 gerifalto. h 1! Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 350. 110 HISTORIA NATURAL INIMIGOS Além do homem, o unico inimigo serio dos gerifaltos é o corvo. Faber e Holboel declaram que os combates entre estas aves não são raros. CAPTIVEIRO Em captiveiro os gerifaltos comportam-se precisamente como a es- pecie de que vamos em seguida occupar-nos. O FALCÃO VULGAR s Como o proprio nome indica, o falcão vulgar ou, como outros lhe chamam, viajante é de toda a familia a especie mais espalhada. Quando adulto, tem o dorso côr de ardosia clara com manchas triangulares côr de ardosia tambem, mas mais escuras. À cabeça na região frontal é parda. As pennas das azas são côr de ardosia em quasi toda a extensão, ama- relladas na extremidade e apresentando maculas fuliginosas nas barbas. A parte superior do peito e a anterior do pescoço são de um amarello claro. A parte inferior do peito e o ventre são de um amarello com tons avermelhados, apresentando a primeira d'estas regiões raias ou manchas cordiformes de um amarello acastanhado e a segunda, manchas trans- versaes escuras, fortemente pronunciadas na proximidade do anus e nas coxas. O cerume, os angulos da bocca e as partes desnudadas que cer- cam os olhos são amarellos. O bico é azul claro com a ponta negra; os pés são amarelos. o As femeas teem as côres mais puras que os machos. O macho adulto mede quarenta e quatro a cincoenta centimetros de comprido e um metro ou um metro e dez centimetros de ponta a ponta AVES EM GERAL 111 1 d'aza. A femea é bastante maior: tem de comprimento mais oito centi- metros e de ponta a ponta d'aza mais quinze, termo medio. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O falção vulgar merece inteiramente o nome que alguns naturalistas lhe dão de falcão viajante. Elle viaja com effeito, por toda a superficie da terra. Encontra-se desde o norte da Asia até às costas occidentaes da E “Europa; e talvez o falcão da America não seja especificamente distincto d'este de que tratamos. Para os lados do sul chega até à costa septen- trional do Mediterraneo; mas de inverno emigra até ao centro da Africa € talvez mesmo até ao Cabo da Boa-Esperança. Segundo Jerdon, apparece regularmente nas Indias. Um outro naturalista confirma esta asserção, di- zendo que elle se encontra no inverno desde o Himalaya até ao Cabo Camorim. Para o falcão commum, diz Brehm, uma viagem de cem leguas não passa de um simples passeio. COSTUMES A extensão com que fallamos dos habitos e do regime dos falcões em geral permitte-nos ser resumido aqui. O falcão vulgar é corajoso, agil e fortissimo. O vôo é rapido, mas em geral pouco elevado; só na primavera se vê esta ave de rapina pai- rando a alturas consideraveis. | É muito desconfiado, muito prudente e busca para repousar e dor- mir as grandes florestas de coniferas. Só excepcionalmente passa a noite n'outros logares; e quando isto acontece, só se entrega ao somno muito tarde. Tem uma voz forte e vibrante que pode exprimir-se pelo som kaiac muitas vezes repetido. Fóra do tempo dos amores raramente se faz ouvir. O falcão ordinario alimenta-se d'aves; Brehm chama-lhe com razão o terror das creaturas alladas. Com effeito, desde o ganso bravo até à cotovia todas as aves o receiam, todas sabem que poderoso inimigo elle é, todas procuram fugir-lhe do melhor modo possivel. O falcão empolga com facilidade as aves que pousam em terra; mas apanha melhor ainda as que voam ou nadam. Os pombos para lhe esca- ER: HISTORIA NATURAL parem voam em columnas cerradas; algum que se affasta cãe-lhes nas garras, a menos que não se eleve muito alto na atmosphera, porque, n'esse caso poderá escapar, se o falcão estiver fatigado. O facto de attacar o falcão mais vezes as aves que voam ou nadam do que aquellas que vê pousadas em terra, explica-o Brehm dizendo que é certamente devido à impetuosidade natural com que aquela ave de rapina accommette a presa. Esta impetuosidade é tal, continua o na- turalista allemão, que o falcão, incidindo sobre uma ave pousada no solo, arriscava-se a morrer com os ossos partidos. Esta explicação não é des- tituida de fundamento, porque se tem visto falcões fortemente contundi- dos contra os ramos d'arvores. Pallas confirma até certo ponto a expli- cação alludida, porque diz que os falcões se afogam muitas vezes caindo sobre os patos, tanta é a violencia com que incidem sobre estas aves. O falcão vulgar faz ninho nas fendas dos rochedos inaccessiveis ou nas arvores elevadas; n'este ultimo caso prefere aproveitar um ninho feito, pondo fóra delle violentamente o proprietario. O ninho que o falcão fa- brica é sempre grosseiro; os materiaes empregados reduzem-se a ramos seccos. No fim de Maio ou começo de Junho encontram-se os ovos que são trez ou quatro, arredondados, de um amarello avermelhado, com manchas escuras. Só a femea choca; entretanto o macho procura dis- trail-a com exercicios de alto vôo. Os paes alimentam ao principio os fi- lhos com carne a que fazem experimentar uma semi-digestão no papo; mais tarde dão-lhes aves vivas e por fim, quando elles voam, ensinam-os a caçar. CAPTIVEIRO Para conservar captivo um falcão é preciso dar-lhe carne fresca é em abundancia. Naumann que possuiu um por espaço de um anno diz que elle co- mia uma rapoza em dois dias. No entanto podia estar uma semana em abstinencia completa. O grao de domesticidade que esta ave de rapina pode attingir, sa- be-o o leitor pelo que já dissemos, fallando, na generalidade, do em- prego do falcão na caça. ' A longevidade- do falcão eguala ou excede talvez a das aguias. Fi- guier na sua obra As aves, muitas vezes aqui citada, falla de um falcão que viveu nada menos de cento e oitenta e sete annos! Este falcão que foi apanhado em 1797 no Cabo da Boa-Esperança trazia ao pescoço um collar d'ouro por onde se averiguou que pertencera em 1610 a Jacques 1, AVES EM ESPECIAL 113 ' alnglaterrass Buffon cita egualmente casos notaveis de cd ga UTILIDADE O FALCÃO TAGAROTE extensão d'aza a aza mais oito. iduo adulto tem a parte superior do corpo de um azul es- s remiges e rectrizes, à excepção nºestas ultimas das duas me- sentam nas barbas oito manchas fuliginosas reunidas em fa- saes. À face superior do corpo é branca ou branco-amarel- as negras dispostas longitudinalmente. As coxas e as pen- s da cauda são de um ruivo fuliginoso. O cerume e os pés Ss; O bico é azul claro na base e azul escuro na ponta. nc E naliada com manchas negras oibisoiinhos e as pennas da putas coxas amarelladas com dada muito nas, quasi negras. 114 HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O falcão tagarote habita a Europa e a Asia temperada que são a sua verdadeira patria; mas na epocha das emigrações apparece, ainda que raramente, na África e mais vezes nas Indias, durante o inverno. COSTUMES Na Europa habita os bosques pouco espessos. Ao norte, pelo menos, vive apenas durante o estio, abandonando as regiões que habitava no mez de Setembro ou de Outubro para voltar a ellas sómente em Abril. Este falcão é vivo, agil e corajoso; no vôo faz lembrar as andori- nhas. Raras vezes pousa no solo; descança sempre nas arvores. No en- tanto só em terra devora a presa. j Macho e femea conservam-se fieis um ao outro e emigram juntos no outomno. Caçam juntos tambem; mas é quasi sempre em face da presa que a harmonia conjugal se quebra por algum tempo. Chegam n'essas occasiões a luctar, impellidos pela soffreguidão e pela inveja. A voz do falcão tagarote é aguda, mas não desagradavel; pode dar-se idéa d'ella no som gaeth, gaeth, que na quadra dos amores se transforma em gick, gick, muitas vezes repetido. O falcão tagarote é timido e muito desconfiado; para repousar em- poleira-se nas arvores e-só se entrega ao somno muito depois de ser noite. Evita cautelosamente o homem; tudo no seu modo de actuar re- vela uma intelligencia desenvolvida. As andorinhas e as cotovias receiam muito o falcão tagarote. Esta ave de rapina alimenta-se de insectos e de pequenas aves. As cotovias e andorinhas só conseguem escapar-lhe se a vêem de longe e se elevam alto na atmosphera, porque o tagarama a não sobe muito, vôa baixo. O tagarote faz ninho nas arvores elevadas, à custa de ramos sec- cos e de pêllos, lã e outras substancias molles. No mez de Julho está a postura terminada; os ovos, trez a cinco, são alongados, de um pardo quasi branco e ás vezes esverdeados ou amarellados, apresentando man- chas de um rubro escuro. ) em que se empregava o falcão na caça, o tagarote pres- les serviços e podia, considerar-se uma ave extremamente je é-nos apenas nociva. alcula pelo minimo que n'um só anno o falcão tagarote destroe | € cinco pequenas aves. OS FRANCELHOS OU PENEIREIROS acem ao grupo de falcões que os francezes denominam igno- menos carniceiros que aquelles de que nos temos occupado e nominam nobres. Nos francelhos ou peneireiros a forma do bico, e da cauda assemelha-se ainda à das especies precedentes; dif- estas na côr da plumagem que é mais coberta de manchas, nas nas das azas que são mais resistentes, na cauda que é relativamente s comprida e nos pés que são mais fortes e de dedos mais curtos. ' 116 HISTORIA NATURAL O FRANCELHO OU PENEIREIRO VULGAR É uma famosa ave de cêrca de vinte e dois centimetros de com- prido e de quarenta e quatro de ponta a ponta d'aza; a cauda mede de- zesete centimetros, approximadamente. O macho adulto tem a cabeça, a nuca e a cauda cinzentas, apresentando esta ultima, na extremidade uma facha azul escura, circumdada de branco, o dorso fuliginoso, apresentando ahi cada penna uma pequena mancha triangular branca, e finalmente o: peito e o ventre de um pardo avermelhado ou amarello desmaiado, tendo . ahi cada penna uma mancha longitudinal negra. O bico é trigueiro co- breado; o cerume e uma região desnudada que cerca o olho são de um amarello com tons esverdeados e os pés de um amarello citrico. A femea adulta differe do macho na côr. Tem o dorso vermelho com manchas ne- gras longitudinaes na metade superior e transversaes na metade inferior e a cauda parda avermelhada com manchas ou fachas em toda a exten- são. Na face inferior do corpo apresenta o mesmo colorido e os mesmos desenhos que o macho. Os individuos não adultos assemelham-se à femea. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Existe e é commum esta especie em toda a Europa. É sempre mais frequente ao sul do que ao norte; abunda entre nós. COSTUMES O francelho vulgar é uma ave emigrante que todos os annos, no inverno, emprehende longas viagens aos paizes quentes. Rarissimas vezes passa a estação do frio nos paizes do norte. Habita tanto os pequenos bosques como as grandes florestas e faz ninho sempre na arvore mais elevada; tambem se estabelece nos roche- dos e muitas vezes nos edificios deshabitados, nos castellos em ruina. O ninho do francelho vulgar pouco differe do typo adoptado pelas outras aves de rapina. Tem pouca altura e é forrado de raizes, musgo € AVES EM ESPECIAL 117 pêllos. Os ovos, em numero de quatro a sete, são arredondados, de um branco amarellado ou fuliginoso e cobertos de manchas de um vermelho escuro. Só a femea choca. O francelho vulgar alimenta-se principalmente de pequenos roedores e de insectos; de tempos a tempos come algum lagarto, rã ou pequena ave. UTILIDADE Pelo que acabamos de dizer ácerca do genero de alimentação do francelho vulgar, vê-se claramente que esta ave de rapina nos é utillis- sima. Visinhas dos francelhos, existem ainda outras especies do grupo dos falcões ignobeis, taes como o esmerilhão e o falcão de pés vermelhos de que não damos aqui descripções especiaes, porque se assemelham em costumes aos francelhos. OS MILHAFRES OU MILHANOS Estas aves de rapina são muito elegantes. Teem a cabeça pequena, O bico curto, as azas grandes, compridas e obtusas, uma cauda alongada e tarsos curtos. Neste genero podemos estabelecer, à maneira de Brehm, dois gran- des grupos: os milhanos aquaticos e os milhanos propriamente ditos. Do primeiro grupo estudaremos a especie milhafre negro e do segundo 0 milhafre real. 118 HISTORIA NATURAL 1. Os milhanos aquaticos As aves d'este grupo teem a mandibula superior provida de um dente perfeitamente distincto e a primeira remige das azas mais curta que a setima. Taes são os seus caracteres distinctivos. O MILHAFRE NEGRO Esta ave mede cincoenta e oito a sessenta e trez centimetros de comprido e um metro e trinta a um metro e trinta e oito centimetros de ponta a ponta d'aza. A cauda mede vinte e sete a trinta centimetros. Os individuos adultos teem a cabeça e o pescoço de um branco sujo com manchas longitudinaes trigueiras, o peito de um castanho avermelhado com listras escuras, o ventre e as coxas ruivas e rajadas de negro, o dorso, as espaduas e as rectrizes superiores das azas côr de castanho, * apresentando cada penna uma estreita cercadura mais clara, as remiges negras na extremidade, claras nas barbas, a cauda trigueira escura com nove a doze fachas estreitas, alternativamente negras e cobreadas, o bico negro, o cerume amarello e os pés côr de laranja. | DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Vive em grande parte da Europa. Habita as planícies da Allemanha, a Hungria, a Russia e ainda a Asia central até ao Japão. Encontra-se tambem em alguns pontos da França. Não é ahi mais commum do que na Allemanha; abunda na Russia. Na Africa e na Asia Menor é substituido por uma especie visinha com a qual tem sido por muitas vezes confundido. AVES EM ESPECIAL 119 COSTUMES Ao norte da Europa o milhafre negro é uma ave de arribação. Emi- gra em Outubro, avançando por vezes até ao Egypto e volta sómente em Março. Frequenta as florestas na visinhança dos riachos e das aguas es- tagnadas, porque é esse para elle o verdadeiro terreno de caça. Passado o tempo dos amores não se retira para a floresta senão para ahi dormir. O milhafre negro é uma ave de rapina bem dotada, embora não fi- gure entre as que se denominam nobres. Vôa com facilidade e por longo tempo sem se fatigar; paira tambem por muitas vezes. Marcha muito “melhor que as outras aves de rapina. Tem os sentidos muito perfeitos, especialmente a vista; a intelligencia não é mediocre. O caracter d'esta ave porém, nada possue de attrahente; é um verdadeiro mendigo, e dos mais ousados e impudentes que existem. Cobarde e preguiçoso de mais para apanhar elle proprio a presa, persegue as outras aves de rapina, inquieta-as, atormenta-as até que lhe concedam uma parte de alimento. Vive pois, até certo ponto, parasytariamente. Alimenta-se de pequenos quadrupedes e de ratos, no que nos presta serviços; attaca tambem as toupeiras e é bom pescador, com quanto não mergulhe. A impudencia com que desce sobre as aves domesticas tornam-o geralmente odiado. “Quando attaca os gallinheiros, dirige-se principalmente aos pintos; tem-se visto gallinhas corajosas obrigarem-o a fugir. Á falta de melhor, conten- ta-se com rãs ou mesmo com carnes mortas. A quadra dos amores para o -milhafre negro tem logar em fins de Abril ou começos de Maio. O ninho estabelece-se n'uma arvore elevada e é ligeiramente construido com ramos seccos, palha, musgo e ainda quaes- quer outras substancias molles que servem para forrar a escavação em que os ovos teem de ser depositados. Estes são em numero de trez ou quatro, amarellados ou brancos-pardacentos com estrias de côr trigueira ou castanha. Os filhos conservam-se muito tempo dentro do ninho e, mesmo depois que voam, são ainda durante algumas semanas alimen- tados pelos paes. Depois, as familias separam-se, dispersam-se para só se unirem de novo em bandos no outomno, na epocha das emigrações. GAPTIVEIRO Captivo, o milhafre negro é uma ave agradavel e que dá muito pou- cos cuidados a quem delle tracta. Resigna-se facilmente à perda de li- 120 HISTORIA NATURAL berdade, affeiçoa-se ao dono, vive em boa harmonia com outras aves de rapina das mesmas dimensões e não é diflicil de alimentar. UTILIDADE O odio geralmente votado ao milhafre negro não se justifica bem. Apanhando um ou outro peixe, mal se pode dizer que nos seja prejudi- cial; notemos além d'isso que esta caça é accidental. E em compensação d'este ligeiro prejuizo, não nos é utilissimo perseguindo os roedores e de- vorando carnes mortas ? » 2. Os milhanos propriamente ditos Os individuos comprehendidos n'este grupo distinguem-se dos que formam o grupo precedente em possuirem um bico mais forte, de curva terminal mais curta, azas em que a primeira remige é tão comprida como a setima e uma cauda mais extensa. Descreveremos uma especie unica. O MILHAFRE REAL O macho adulto mede sessenta e seis centimetros de comprimento e de ponta a ponta d'aza mais de metro e meio; a cauda tem trinta e nove: a quarenta: centimetros. A femea é maior; apresenta, termo medio, oito centimetros mais em todas as dimensões. A plumagem é ruiva fuliginosa com manchas ou raias de um castanho escuro que occupam o centro das pennas. A cabeça e o pescoço são brancos com pequenos riscos longitu- dinaes cobreados. A ponta das azas é negra e a cauda ruiva fuliginosa com fachas transversaes de um castanho escuro. Nos individuos novos a dog pad É AVES EM ESPECIAL 121 cabeça é maculada de um branco amarellado e de ruivo; as pennas da face inferior do corpo apresentam uma cercadura clara. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Habita toda a Europa e encontra-se algumas vezes a noroeste da Africa e mais raramente no Egypto. COSTUMES O milhafre real não persiste na Europa constantemente; nos paizes do norte apparece em começos de Março e ahi se demora até principios de Outubro. Só nos invernos muito suaves ahi se conserva durante todo o anno. | Na epocha das emigrações os milhafres reaes constituem grandes - bandos de cincoenta a cem individuos e estas sociedades, no dizer de Brehm, parecem persistir durante todo o inverno. No estio vivem isola- dos ou apenas aos pares. O milhafre real é preguiçoso, muito pezado e cobarde. Tem um vôo lento, mas sustentado por muito tempo; às vezes durante um quarto dhora não bate uma só vez as azas, mas agita-as apenas e dirige-se então pelos movimentos da cauda. Ora se eleva a uma altura onde a vista mal pode seguil-o, ora vôa muito perto de terra. Marcha mal, ou antes sal- tita. Sob o ponto de vista das faculdades intellectuaes assemelha-se aos milhafres negros; como elles, é prudente, astuto, indolente e cobarde. Tem uma voz desagradavel, consistindo n'um som prolongado que pode approximadamente exprimir-se pelas syllabas hihihicé. Alimenta-se de pequenos mamiferos, de aves novas que ainda não voam, de lagartos, de serpentes, de rãs, de insectos, etc. Sob o ponto de vista da reproducção, o que dissemos do milhafre negro é-lhe egualmente applicavel. No fim de Abril a femea tem termi- nado a postura; os ovos são dois, raras vezes trez, claros, quasi bran- cos e com manchas avermelhadas. Só a femea choca; mas ambos Os paes cuidam egualmente, com a mesma sollicitude da creação dos filhos. 129 HISTORIA NATURAL UTILIDADE Ácerca da utilidade do milhafre real, podemos repetir inteiramente o que dissemos sobre o milhafre negro. Comparando os prejuizos que nos causa com os beneficios que lhe devemos, conclue-se que é uma ave mais util do que nociva. As especies que acabamos de descrever são as principaes nos dois grupos formados. No entanto, outras existem, dignas de menção: O mi- lhafre parasyta e o gaivão Ea praias. O parasyta é de todos os milhanos o mais atrevido. A presença do homem não o impede de attacar os gallinheiros e lançar as gaitas ás pequenas aves domesticas. É originario da Africa. A respeito d'elle escreve Levaillant: «Nas minhas viagens via-o sem- pre apparecer quando -acampavamos; pousando-se-nos sobre os carros roubava-nos muitas vezes pedaços de carne. Embora os meus hottento- tes o enxotassem, voltava sempre mais voraz e mais atrevido ainda; nem a tiro podia afugentar-se, porque mesmo ferido voltava ao pé de nós. A cozinha ao ar livre era realmente proprissima para attrahil-o. Vendo- nos preparar a carne, vinha-nol-a arrebatar quasi às mãos; eramos força- dos, mao grado nosso, a sustental-o.» O dr. Petit, citadé por Figuier, diz tambem: «No Cairo vi um dia um milhafre parasyta arrebatar das mãos d'uma mulher arabe um pedaço de pão com queijo, no momento em que ella o levava à bocca. Na Abyssi- nia um outro roubou de ao pé do meu cão -de caça pedaços de um car- neiro que acabava de ser morto.» * Esta especie africana apparece em certas epochas na Europa, costu- mando visitar a Grecia. O gaivão das praias é uma especie americana. Assemelha-se na cauda às andorinhas, mede sessenta e tres centimetros de comprido e tem de ponta a ponta d'aza uma extensão de um metro e trinta e sete centimetros. : Alimenta-se principalmente de insectos. 1 L. Figuier, Obr. cit., pg. 492, é AVES EM ESPECIAL 123 O AÇÔR Tem cincoenta e oito centimetros de comprimento e um metro e quinze centimetros de envergadura ou de ponta a ponta d'aza. À cauda tem vinte e tres centimetros. A femea é muito maior que o macho: mede sessenta e dois centimetros de comprido e um metro e trinta de enver- gadura. A ave adulta tem o dorso pardo-trigueiro escuro, de reflexos cin- zentos, o ventre branco, o bico negro, o cerume amarello claro e os pés “amarellos. | Os individuos novos teem o dorso trigueiro, o ventre manchado, 0 bico, os pés e o cerume mais claros que os adultos. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA É raro no meio-dia da Europa e poucas vezes chega ao norte da Africa. Na Asia é tambem um pouco raro. Encontra-se em Portugal. COSTUMES Habita de preferencia os bosques que alternam com os campos e os grandes prados. f O açôr é uma ave solitaria, que nem mesmo vive com a femea, a não ser na quadra dos amores. É feroz, selvagem, activo, corajoso e prudente. O vôo é rapido e ruidoso; paira muitas vezes, alargando então “a cauda. É um bello espectaculo, affirma Brehm, vêr o açôr movendo-se na atmosphera. Eleva-se a grandes alturas e desce muito baixo com ex- traordinaria rapidez. Marchando, é deselegante, pouco destro; mais sal- tita do que anda. A voz é forte e desagradavel. O açôr caça durante todo o dia, mesmo ás horas que as outras aves de rapina consagram ao repouso. Percorre grandes dominios, voltando regularmente ao ponto em que a caça foi abundante. A voracidade insa- ciavel de que é dotado não lhe permitte repouso; parece que o instiga 124 HISTORIA NATURAL constantemente a fome e a sêde de sangue. Attaca todas as aves e todos os mamiferos mais fracos do que elle. Apanha a presa, quer quando esta vôa, quer quando ella está em repouso. Tem o açôr uma particular sympathia pela caça dos pombos; um só par de açõres, diz Brehm, pode em alguns mezes destruir o pombal mais fornecido. Os pombos mal vêem o inimigo levantam vôo e fogem; elle po- rém cáe-lhes em cima com a rapidez de uma frecha. A violencia do vôo é tal que pode ouvir-se o ruido que produz a cem ou cento e cincoenta passos de distancia. A. Brehm cita a passagem seguinte do proprio pae, habil naturalista tambem: «Um dia encontrando-me no campo vi um açôr pairando por cima de uma montanha. A um quarto de legua, n'um valle, um bando de pombos procurava tranquillamente o alimento. Mal os viu, o açôr deixou-se cair obliquamente de uma altura de mil braças pelo menos. Os pombos, felizmente para elles, viram-o a tempo e levantaram vôo rapidamente na direcção do pombal. O açôr no primeiro attaque des- cera mais baixo que os pombos; teve pois de elevar-se de novo. Perse- guiu um e attacou-o; o pombo porém logrou habilmente escapar e intro- . duziu-se no pombal.» * O açôr, quando pela rapidez não consegue apanhar os pombos, usa de astucia para attingir o fim proposto, occultando-se horas, dias, sema- nas inteiras a espiar a presa; por fim cáe-lhe em cima quando ella me- nos o espera. O açôr não tem menos enthusiasmo na caça dos mamiferos que na das aves. Persegue com ardor e ao mesmo tempo com eranaa methodo a lebre, que acaba sempre por dominar. N sêde insaciavel de sangue que caracterisa 0 açôr, leva-o natural- mente a matar e devorar tantos animaes quantos os que pode apanhar. Segundo Brehm, a nenhuma sociabilidade dos açõres deve attribuir-se precisamente a essa sêde de sangue, a essa voracidade. É o que pare- cem provar todas as observações feitas sobre os açôres em captiveiro. Se se metter uma femea com os filhos n'uma gaiola, é absolutamente certo que no dia seguinte estes teem desapparecido, devorados pela mãe. Se se procede de egual modo em relação a um macho e uma femea, esta será devorada. Dois individuos quaesquer domiciliados na mesma gaiola travam invariavelmente uma lucta, da qual resulta ser o vencido devorado pelo vencedor. E é de notar que isto acontece mesmo quando a alimentação que se distribue aos captivos é abundante. O açôr construe o ninho em arvores elevadas e geralmente muito perto do tronco. O ninho é largo e pouco alto; a base é formada de ra- 1 Vid. Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 368, AVES EM ESPECIAL 125 mos seccos, sobre os quaes repousa uma camada de ramos verdes de pinheiros que a ave vae substituindo à medida que seccam. A cavidade do ninho é forrada de pennas. O mesmo ninho serve muitos annos con- secutivos, sendo successivamente reparado e acrescentado. A postura realisa-se na segunda metade de Abril; os ovos, em numero de dois a quatro, são alongados e de casca rugosa e espessa. São de um verde muito claro e apresentam pontos amarellos distribuidos a grandes espa- ços pela superficie. Só a femea choca. Os paes defendem nos primeiros tempos a prole com valentia e até mesmo com temeridade. Os filhos co- mem muito e crescem por isso rapidamente. CAÇA O açôr é encarniçadamente perseguido por toda a parte. Mas a caça d'esta ave de rapina é dificil. O processo geralmente empregado é o de a altrairem por meio d'aves até que se encontre à distancia de um tiro; tambem se usam as armadilhas engodadas por um pombo. Emfim o meio a empregar reduz-se fundamentalmente a explorar a avidez, a voraci- dade d'esta ave de rapina. CAPTIVEIRO Em captiveiro o açór não é mais estimavel do que em liberdade. A selvageria, a maldade, a sêde de sangue que o caracterisam tornam-o altamente insupportavel. Na Asia educam-o para a caça dos abutres, dos falcões, da lebre, etc. É estimado para este fim. Uma femea bem ades- trada paga-se por vinte a cincoenta rupias e o macho por dez a trinta. 126 HISTORIA NATURAL OS GAVIÕES Os membros d'este genero são caracterisados por um corpo alon- gado, uma cabeça pequena, um bico fino, fortemente recurvo, azas cur- tas, cauda comprida e truncada em angulo recto, tarsos fracos e compri- dos, dedos finos e longos e unhas muito aguçadas. A plumagem varia “um pouco com as idades. O GAVIÃO COMMUM Mede trinta e trez centimetros de comprimento e sessenta e seis de envergadura; a cauda tem dezeseis centimetros. A femea é maior: tem mais oito centimetros de comprimento e mais quatorze de envergadura. Os individuos adultos teem o dorso cinzento escuro, o ventre branco com pequenas maculas fuliginosas, a cauda branca na extremidade e apresentando cinco a seis fachas negras, o bico azulado, o cerume ama- rello e os pés de um amarello claro, desmaiado. Nos individuos novos o dorso é pardo acastanhado e o peito e ventre apresentam manchas transversaes. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O gavião commum habita a Europa, a Asia e a Africa. Na Europa é vulgar em todos os paizes. Abunda tambem na maior parte da Asia cen- tral. No inverno apparece na Africa e nas Indias; chega em começos de Outubro e parte em Fevereiro ou principio de Março. Í AVES EM ESPECIAL 127 COSTUMES O gavião commum habita as florestas, e de preferencia os pequenos bosques das regiões montanhosas. É agil e corajoso; reune todas as qua- lidades que se observam nos individuos mais bem dotados do genero. Segundo as observações de Brehm pae, o gavião conserva-se occulto durante quasi todo o dia, apparecendo apenas na occasião em que pro- cede à caça. Apesar de possuir azas pequenas, vôa facilmente e rapida- mente. No solo é deselegante; não marcha, saltita. É corajoso; não receia mesmo as aves mais fortes. Segundo Bechs- tein, o macho é mais corajoso do que a femea; segundo Naumann, é a femea que em coragem sobreleva ao macho. Brehm pae considera erro- neas ambas estas opiniões; segundo o que observou, a coragem é a mesma em ambos os sexos. Sómente a femea, pelo facto de ser maior e mais vigorosa, é capaz de sustentar por mais tempo do que o macho uma lucta contra qualquer outra ave. A temeridade, o enthusiasmo com que 0 gavião persegue a caça são taes que não poucas vezes se lhe tornam prejudicialissimos. Tem-se visto esta ave entrar por uma casa ou por uma carruagem dentro, seguindo uma avesinha que lhe foge. O ardor da caça faz-lhe esquecer todas as precauções, toda a prudencia. O gavião é um dos mais terríveis, senão o mais terrivel inimigo de todas as aves de pequenas dimensões. Desde a perdiz até à carriça to- das o temem, e com razão. Chega mesmo a attacar os gallos e até roe- dores das dimensões da lebre. ; Mas não é sómente corajoso 0 gavião; é tambem astuto. Espera mui- tas vezes a preza de embuscada; e quando caça, vae voando perto de terra para não ser facilmente visto. Apanha indifferentemente as aves, quer quando estas voam, quer quando estão pousadas. Algumas vezes chega a perseguil-as em terra; n'estas condições porém, as aves sabem de ordinario evital-o. A voz do gavião consiste n'um grito de que pode dar-se uma idéa approximada pelas syllabas ki ki, muitas vezes repetidas. Raras vezes porém se faz ouvir. O gavião faz o ninho geralmente nos bosques e a pequena distancia do solo. O ninho é inferior e lateralmente formado de ramos seccos; o centro, pouco espaçoso, é alcatifado com pennas que a femea arranca a si propria. No fim de Maio a postura está terminada e na escavação do ninho encontram-se então trez a cinco ovos, relativamente volumosos, de casca 128 HISTORIA NATURAL liza e espessa, brancos, pardacentos ou esverdeados e apresentando ma- lhas mais ou menos extensas, mais ou menos approximadas, de um ru- bro escuro tendendo para castanho ou cinzentas azuladas. Só a femea choca os ovos, que defende com coragem e que nunca abandona. | Macho e femea buscam para os filhos alimento; mas só a mãe o sabe preparar de um modo conveniente. Diz Brehm que se tem visto pequeninos gaviões a que faltou a mãe, morrerem de fome, não obstante encontra» rem-se cercados de alimentos que o pae lhes trouxera mas que não pre- parara convenientemente. Ainda depois que voam, os pequenos gaviões conservam-se longo tempo na companhia dos paes que os guiam, que tra- tam d'elles, que os ensinam. X INIMIGOS Os grandes falcões e os açôres devoram o gavião. Mas o mais terri- vel inimigo d'esta ave é, sem contestação, o homem que por toda a parte lhe faz uma guerra desapiedada. t CAPTIVEIRO Em algumas populações da Ásia, captiva-se o gavião e educa-se na caça, como já vimos que se fazia na idade media e se faz ainda hoje, embora mais raramente, em relação a algumas especies do genero. falcão. berdade. Não chega a affeiçoar-se ao homem, nem a viver de harmonia com quaesquer outras aves captivas. Os naturalistas que teem observado o gavião em captiveiro são una- nimes em aíffirmar que elle é uma das aves mais repugnantes que se. conhecem. A selvageria nativa não o abandona; tambem o não desam-. para a voracidade, a sêde insaciavel de sangue que lhe é propria em li- . Rc = a TE AE ut AVES EM ESPECIAL 129 UTILIDADE A guerra sem piedade que por toda ou quasi toda a parte a nossa especie move ao gavião, é plenamente justificada. É uma das aves de rapina mais prejudiciaes e mais repulsivas que existem. O TARTARANHÃO RUIVO DOS PAUES Os individuos do genero Circus a que esta ave pertence caracteri- sam-se principalmente pelo bico curto e muito recurvo a partir da base, pelos tarsos compridos e delgados, pela cauda comprida e arredondada, por uma especie de colleira semi-circular que envolve o pescoço e se es- tende até aos ouvidos, apresentando uma certa analogia com o disco fa- “ Cial proprio das corujas. O cerume do bico é coberto de pêllos de inclina- ção anterior. CARACTERES ESPECIFICOS O tartaranhão dos paues mede approximadamente cincoenta e oito centimetros de comprimento sobre um metro e trinta centimetros de en- vergadura. Tem a cabeça, o pescoço e o peito brancos amarellados com malhas trigueiras aloiradas longitudinaes, as pennas escapulares e a parte supe- rior das azas trigueiras arruivadas, as remiges brancas na base e negras no resto da extensão, as pennas da cauda cinzentas, o ventre e as coxas ruivas fuliginosas com manchas amarelladas, o bico negro, o cerume amarello esverdeado e os pés amarellos. Os filhos differem da femea na ausencia de malhas. VOL, IV E) pot f 130 HISTORIA NATURAL t+ é A DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA ta Habita a Europa; observa-se frequentemente em Portugal. X, k COSTUMES Estudaremos este ponto quando fallarmos da especie seguinte, por- que ha realmente entre as duas uma analogia a este respeito que nos permitte descrever conjunctamente os habitos de uma e outra. O TARTARANHÃO AZULADO Esta especie é mais pequena que a anterior; mede quarenta e sete centimetros de comprimento sobre um metro e dez de envergadura. Tem a cabeça, o pescoço, o dorso e as azas pardos azulados, as re- miges brancas na base e negras no resto da extensão, o ventre, os lados do tronco e as coxas brancos, a parte superior da cauda parda, a infe- rior branca e os pés amarellos. A femea apresenta as partes superiores do corpo trigueiras, as pen- nas da cabeça, do pescoço e do alto do dorso orladas de ruivo, as par= tes inferiores de um amarello arruivado com malhas trigueiras dispostas longitudinalmente, as duas pennas centraes da cauda com riscos negros e cinzentos escuros e as dos lados com riscos ruivos amarellados e es- curos. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA " Habita a Europa e a Asia central. Esta especie é. commum no nosso paiz. ã e nf AVES EM ESPECIAL 43 ] TM a. COSTUMES Ea “de preferencia os campos nos logares attravessados por A o . É 4” x . atrevidos e astutos. Teem um vôo lento, um pouco in- ante; elevam-se todavia, quando querem, a grandes alturas. a é o ouvido são orgãos sensoriaes muito perfeitos nestas es- especies visinhas, com a de outros falcões ignobeis. am-se de pequenos mamiferos, de pequenas aves, de batra- culto entre juncos, hervas altas ou no interior d'algum can- mEuivadas. Os paes alimentam os filhos com roedores pes s aves, rãs e insectos. INIMIGOS tartaranhões pela nossa especie são taes que raras vezes “acaso se mata um ou outro. Vivos só excepcionalmente se a dos amores realisa-se no fim da primavera. O ninho é feito. 132 HISTORIA NATURAL II AVES DE RAPINA NOCTURNAS «Às aves que constituem esta sub-ordem, diz Figuier, distinguem-se das diurnas pelos grandes olhos, muito abertos, muito superficiaes, ante- riormente collocados, circuitados por pennas estreitas e rijas que formam em torno da face um disco quasi completo chamado disco facial; pelo grande desenvolvimento da cabeça, pelo bico muito curto, desprovido de cerume e apenas coberto de pelle a que adherem pêllos; pelos tarsos que apresentam pennas até à parte posterior dos pés; pela mobilidade do dedo externo que pode indifferentemente dirigir-se para diante ou para traz; pelas unhas que são muito fortes, lacerantes e retracteis; pela plumagem que é abundantissima e sedosa; emfim, pela cauda geral- mente curta. «Mas o caracter mais importante destas aves, o que presidiu á reu- nião de todas ellas n'um mesmo grupo, é a impossibilidade em que es- tão de supportar a luz do dia e a faculdade que possuem de vêr numa semi-obscuridade, o que devem à dilatação enorme da pupila. Por isso conservam-se occultas em quanto ha sol e não procedem à caça senão depois do crepusculo da tarde. Então distinguem perfeitamente os obje- ctos e podem apanhar a presa com tanta mais facilidade quanto é certo que são ellas as unicas em vigilia no meio da natureza adormecida. «Não se creia porém que estas aves teem a possibilidade de vêr no meio das trevas absolutas. Quando a noite é perfeitamente escura, acon- tece-lhes não verem, como a todos os animaes. O epitheto de nocturnas que se lhes dá, não é pois rigorosamente exacto e importa não o tomar n'um sentido litteral. Estas aves não são verdadeiramente activas senão quando a lua ilumina a terra; é então que se entregam aos instinctos destruidores, fazendo ampla colheita de pequenos mamiferos e aves.» | Os sentidos da vista e do ouvido são apuradissimos nas aves de ra- pina nócturnas. À natureza e estructura das azas são taes que estes or- gãos não offerecem resistencia ao ar, podendo pois as aves de rapina 1 Vid. Figuier, Obr. cit., pg. 246. AVES EM ESPECIAL 133 - nocturnas voar sem ruido. Assim, podem cair de improviso sobre a vi- ctima e apanhal-a sem que ella tenha tempo de fugir. As aves de rapina nocturnas, excepção feita de uma especie unica, põem ovos de forma espherica. Vivem aos pares e não fazem caça em commum; só se reunem em bandos em epocha de emigrações. Não construem ninho; contentam-se com depositar os ovos nas exca- vações de velhos troncos d'arvores ou nas habitações em ruina. Se as obrigam a sair do seu escondrijo durante o dia, manifestam bem claramente toda a repugnancia que lhes causa a luz do sol; tomam attitudes extravagantes, balançam estupidamente a cabeça, erriçam as pennas e, se são attacadas, recebem passivamente os ferimentos dos ini- migos, sem ao menos simularem uma defeza. UTILIDADE Observa justamente Figuier que não ha animaes que tanto tenham sido victimas dos prejuizos e malquerenças populares, como estes. E no entanto são-nos utilissimos porque destroem os roedores. Na antiguidade grega não existia decerto pelas aves de rapina nocturnas a animadversão que hoje se faz sentir. A dedicação do morcego à deusa Minerva, parece attestal-o. A CORUJA FUSCALVA Esta especie, com quanto pelos seus caracteres morphologicos, como vamos vêr, deva entrar no sub-grupo das aves de rapina nocturnas, tem habitos de vida diurnos e um modo de caçar que lembra as aves do sub- grupo anterior. Constitue pois a transição entre os dois grandes agrupa- mentos de aves de rapina, diurnas e nocturnas. Damos-lhe por isso este logar. e ai ss : fd 134 HISTORIA NATURAL Ee E mM Aos dE AO CARACTERES + MS “ergr de As dimensões d'esta ave são as seguintes: quarenta a quarenta e al quatro centimetros de comprimento, oitenta a oitenta e cinco de enver- à gadura e dezenove de cauda. À ave adulta tem a face de um branco acinzentado, duas fachas ne- gras, semi-circulares que descem aos lados do pescoço, uma por diante, outra por traz das orelhas, o vertice da cabeça trigueiro escuro, apre- sentando cada penna uma mancha branca, arredondada, maior na região 4 occipital. A nuca e uma macula que ha por traz das orelhas são brancas; E as pennas do dorso são brancas tambem, rajadas transversalmente de trigueiro e de côr castanha na extremidade. A parte anterior do pescoço A é branca e o ventre é branco tambem, mas raiado de escuro. As remiges 189 e rectrizes são pardacentas, com fachas transversaes brancas, em numero E de nove na cauda. O bico é negro na ponta e amarello no resto da ex- dr tensão. Ea A descripção feita refere-se ao typo mais geral da especie, mas está a longe de ser applicavel a todos os individuos, porque ha n'elles modifi- a cações de côr importantes. ; ad + E PA DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A patria d'esta ave é nas regiões arcticas. Encontra-se na Finlandia, na Siberia, na Russia e ao norte da Suissa. Apparece na Allemanha e ra- ras vezes na França, não passando d'ahi para o sul. COSTUMES A coruja fuscalva, comquanto de habitos diurnos, procura as flores- tas, evita os logares descobertos. Alimenta-se principalmente de pequenos roedores e de insectos. | É uma ave emigrante; mas as suas viagens são extremamente irre- gulares. «Acontece muitas vezes, diz Naumann, não apparecer uma unica nas nossas regiões, durante muitos annos; depois, apparecem alguns in- dividuos isolados e por fim veem periodos em que abunda nos mesmos pontos em que amos antes se não encontrava. Durante vinte annos não os uma unica coruja fuscalva; ha quatro ou cinco annos encontramos » desde então apparecem sempre annualmente alguns individuos.» “vôo da coruja va é rapido, mas sustenta-se durante pouco Raro. é, diz Brehm, que ella percorra sem descançar mais de passos. . + nivho sobre os pinheiros mais s elevados, construe-o de CAPTIVEIRO uja fuscalva é um animal docil, que chega a affeiçoar-se ao ho- e em captiveiro se alimenta facilmente. UTILIDADE do principalmente roedores e insectos, a coruja fuscalva deve “uma ave muito proveitosa à nossa especie, qualquer que gnancia que nos inspire pelos seus caracteres morphologicos O MOCHO ORDINARIO : ay > não. mede mais de vinte e tres centimetros de comprimento coe nta e cinco de envergadura; a cauda tem nove centimetros. ensões são as do macho; à femea é um 1 pouco maior. ú "superior do corpo é de um castanho pardacento com macu- IS sbre irregulares; a face é de um pardo muito claro ea parte in- o -remiges. são pardas escuras com manchas triangulares e fachas UR | pj Ssaes, brancas de cambiantes arruivadas; as rectrizes são tambem pardas em AVES EM ESPECIAL e das. 136 HISTORIA NATURAL escuras ou trigueiras com cinco maculas pouco distinctas, arruivadas. O bico é amarello-esverdeado e os pés pardos amarellados. Os individuos novos são mais escuros que os velhos. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Encontra-se em toda a Europa central e n'uma grande parte da Asia até à Siberia oriental. Entre nós é vulgar. COSTUMES : O mocho ordinario evita geralmente as grandes florestas, procu- rando apenas os pequenos bosques, os logares de arvoredo pouco denso. Nas aldeias em que abundam os pomares e as arvores vetustas é certo encontrar-se esta ave. Faz o ninho mesmo no interior das cidades, domi- ciliando-se nas torres, nos telhados e nos tumulos; conserva-se ahi occulto durante o dia. Não receia, pois, o homem, antes é este que se incom- moda em o ter por visinho. «É com effeito vergonhoso, diz Brehm, que: haja populações supersticiosas, como as indianas, em que os mochos se considerem seres sobrenaturaes.» ! Na Europa não se está mais adian- tado a este respeito, entre o povo e mesmo entre pessoas que se pre- sam de illustradas. A superstição cuidadosamente e fundamente implan- tada no espirito da creança, não abandona o adulto; é como os vicios que se transmittem com o primeiro leite. É-se instruido, sabe-se bem quanto ha de infundado numas tantas crenças que nos incutiram na in- fancia, bate-se no campo da theoria e da pura especulação a idéa pro- vecta do sobrenatural, tem-se um sorriso de piedade pelas rezas, pelos esconjuros, pelos agoiros, e comtudo é-se no fundo supersticioso ; se vem uma doença, se vem uma desgraça visitar-nos, ergue-se dentro do ho- mem forte todo um mundo irresistivel de crenças falsas, de medos, todo um legado theologico de seculos que o domina, que o avassalla, que o faz soffrer. O cão de um visinho que se põe a uivar se estamos doentes, um morcego que entra por uma sala se estamos a trabalhar, uma borbo- leta que vem queimar-se à luz a que estamos lendo, um mocho que pia no alto de uma torre proxima, —eis outras tantas causas que despertam 1 Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 498, “a - AVES EM ESPECIAL 137 nos espiritos apparentemente mais fortes, mais livres, um passado here- ditario de crendices risiveis. E o que prova isto? Simplesmente um de- feito inicial de educação que uma litteratura banal e doentia fortifica e radica constantemente nos espiritos. Que de estrophes agoirentas e tra- gicas não tem motivado o pobre mocho, por exemplo?! Leiam-se os lyri- cos de ha trinta annos, leiam-se as novellas romanticas: quantos absur- dos explorados para fazer vibrar as cordas de uma sentimentalidade in- fantil e piegas! Não é pois de estranhar que o mocho, qualquer que seja a sua grande utilidade, apavore os animos e deixe nos espiritos deficien- temente educados uma triste emoção de fatalidades inevitaveis. Mas continuemos a nossa descripção. Quando em repouso, o mocho parece dobrado sobre si mesmo; mas desde que descobre alguma coisa de suspeito, ergue-se, inclina-se para a direita e para a esquerda e olha attentamente o objecto que lhe des- pertou a attenção. O mocho vive em boa harmonia com os congéneres. No meio-dia da Europa e ao norte d'Africa, encontram-se muitas vezes bandos numero- sos de mochos que parecem viver nas melhores relações. Teem o mesmo escondrijo, vão juntos procurar o alimento, emfim não deixa de reinar entre elles a mais perfeita harmonia. Antes um pouco do pôr do sol ouve-se já a voz do mocho. Ao cre- pusculo principia para esta ave a caça. Quando ha luar vê-se o mocho toda a noite em movimento, percorrendo porém um pequeno dominio. Tudo o attrãe, diz Brehm; voa em torno das fogueiras accesas pelos ca- cadores e às vezes bate de encontro ás janellas das salas illuminadas, vibrando nas almas fracas a corda do terror. A alimentação do mocho consiste em pequenos mamiferos, em aves e em insectos. Destroe os morcegos, os musaranhos, os ratos, as cotovias, os pardaes, os besouros e os gafanhotos; os pequenos roedores consti- tuem porém a caça predilecta d'esta ave. São necessarios cinco ou seis, pelo menos, para a saciar, dizem alguns naturalistas. Lenz affirma que bastam quatro; partindo mesmo deste numero, vê-se que um só mocho destroe annualmente a importante cifra de mil quatro centos e sessenta roedores. “A epocha da reproducção é em Abril ou Maio. Por esse tempo, o “mocho parece muito excitado: grita e agita-se violentamente. Não faz ninho; para depositar os ovos limita-se a escolher uma cavidade conve- niente n'um rochedo, n'uma velha parede ou ainda no tronco carcomido de uma arvore. O mumero de ovos varia entre quatro e sete; choca-os ininterruptamente durante quatorze ou dezeseis dias. Alimenta os filhos com roedores, pequenas aves e insectos. O mais terrivel tem sido até hoje e será por muito tem mercê da superstição, o homem. Mas ha mais. O açôr e o ga | o mocho, a doninha destroe-lhe os ossos, as gralhas, as pegas todas as pequenas aves fazem-lhe uma perseguição terrivel, | constantemente aos" ouvidos. CAPTIVEIRO utilidade que pode produzir. N'este paiz, afirma Lenz, o m tornou-se uma verdadeira ave domestica. Cortam-lhe as aza, correr pelo interior das casas em que caça ratos e sobre dins em que destroe toda a sorte de vermes prejudiciaes USOS E PRODUCTOS | 4 Além dos usos que acabamos de mencionar fallando o mocho era ainda em tempos passados occupado na caça d a antipathia d'estes pelo mocho era explorada pelo homem, s ave de rapina de reclamo às pequenas aves. Este processo “moda em quasi toda a parte, existindo apenas vestígios d” E “populações iiapeas. AVES EM ESPECIAL 4139 ad de Pa nos estamos ção CARACTERES “mede sessenta e seis centimetros de comprimento sobre um senta centimetros de envergadura. A femea é maior. “desta ave é ornada por dois martinetes de pennas que se “traz e se acham collocados lateralmente, por cima dos ou- O é adunco, vigoroso e tem duas terças partes da extensão sob as pennas do disco facial; é pardo azulado. As esca- “são. Pia mesma côr, um pouco mais clara. A plumagem é ante. A parte superior do corpo é de um amarello ruivo E intuias negras; a parte inferior é da mesma côr e ma- gn imêndo de negro. As pennas das orelhas são às de amarello por dentro, a parte anterior do pescoço é remiges e rectrizes apresentam por toda a superficie pontos . rellos, alternativamente escuros e claros. Ao norte da Asia la iberica, os bufos são mais claros que nas regiões frias da DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Bo. ia e na Africa, nas regiões do Aga Em Portugal esta U eommum. p “a e “COSTUMES E EA be e tranquilos. Nas planicies só se vê nos logares em que ha “grandes florestas ou na ça de rochedos escarpados, 140 HISTORIA NATURAL Quando n'um logar qualquer se destroe um par de bufos, acontece muitas vezes que durante annos seguidos não apparece ahi um unico in- dividuo; emfim um dia apparece um novo par no ponto em que o outro foi destruido, e ahi se conserva até que por seu turno o matem. É certo porém que o bufo não evita completamente a proximidade do homem, com quanto saiba que elle é o seu maior inimigo. Lenz apa- nhou um individuo no telhado de uma fabrica construida em meio de uma floresta. O bufo vôa às vezes de dia, mas de um modo deselegante, lento, como que atordoado, o que kinonliraiaão contrasta com o vôo rapido e firme que o caracterisa durante a noite. Geralmente conserva-se occulto em quanto ha luz do sol, para só apparecer depois do crepusculo da tarde. Como a côr da plumagem se harmonisa perfeitamente com a dos rochedos e dos troncos d'arvores, escapa facilmente à vista mais prespi- caz, durante o dia. Se alguma pequena ave o descobre, ouve-se desde logo um conjuncto lamentoso de gritos, soltados de todas as direcções pela população allada que recebeu aviso da presença do terrivel inimigo. Durante o dia, o bufo conserva-se de ordinario na anfractuosidade de um rochedo ou na cavidade d'alguma arvore, com os olhos ape- nas entreabertos e as pennas bem contraídas contra o corpo. Parece ca- hido n'um semi-somno de que todavia o mais ligeiro ruido o desperta, Ergue então as pennas das orelhas, volta primeiro a cabeça em todas as direcções e acaba por dirigir-se para o lado d'onde parte o ruido sus- peito, olhando para ahi com os olhos meio abertos na expressão caracte- ristica dos myopes. Se lhe parece que ha perigo imminente, foge, pro- cura um escondrijo melhor. Quando o sol declina, o bufo desperta, alisa as pennas e vôa em seguida para um rochedo ou para uma arvore elevada. É então que faz ouvir a voz, consistindo n'um grito surdo, prolongado, que pode ex- primir-se pelas syllabas bahw, bahw. É durante as noites de luar e prin- cipalmente durante a quadra dos amores que o bufo se faz mais vezes ouvir. O grito d'esta ave é bem proprio para despertar o terror nos es- piritos supersticiosos; em meio da noite, elle tem para as almas credu- las e fracas alguma coisa de phantastico e sinistro. Ligam-se a este grito numerosas lendas populares. E comtudo elle significa apenas que a noite é para o corujão o tempo de actividade; esse grito é nem mais nem me- nos do que o canto d'amor e o reclamo da ave nocturna. Na quadra da excitação genesica os machos combatem muitas vezes pela posse da femea; e então os gritos repetem-se com pequenos inter- vallos e com enorme intensidade. O bufo ou corujão dá caça a todos os vertebrados, grandes e pe- quenos; surprehende-os com astucia e attaca-os com coragem. Voando, O AVES EM ESPECIAL 141 bufo raza de ordinario o solo; ás vezes porém eleva-se a grandes altu- ras. Move-se com rapidez e ao mesmo tempo silenciosamente, do que re- sulta não poucas vezes cair sobre uma ave que dorme sem que esta 0 tenha presentido. Tem-se dito que o bufo se atreve a sustentar lucta com a aguia real e com o rapozo; Brehm crê faltarem as provas indispensa- veis para uma tal asserção. Devora lebres, coelhos, gamos, perdizes e não poupa nem os corvos, nem as gralhas, nem mesmo os ouriços, ape- sar dos picos que os cobrem. Em casos de necessidade attaca as rãs e os pequenos reptis. Tambem dá caça aos animaes aquaticos. A epocha da reproducção do bufo é em Março. Constituidos os pares conjugaes, estabelece-se entre o macho e a femea uma reciproca fideli- dade e uma paz que nada altera. Os paes sabem fazer o sacrificio da propria vida na defeza dos filhos. A collocação do ninho varia segundo as localidades. Estabelece-se umas vezes na anfractuosidade de um rochedo, n'uma toca outras ve- zes, sobre uma arvore ou até mesmo no chão. Ás vezes o bufo occupa o ninho abandonado da cegonha, do corvo, ou d'outra ave. O bufo constroe o ninho com ramos d'arvores e forra-o grosseiramente com folhas e her- vas seccas. Os ovos postos são dois ou trez, arredondados, brancos, de casca rugosa. A femea choca-os; entretanto o macho procura-lhe ali- mento. Os paes teem uma grande dedicação pelos recemnascidos; e a quantidade de alimento que lhes dão é tal que elles não chegam a con- sumil-a toda. Conta Brehm que uma familia de aldeãos se sustentou muito tempo abundantemente, indo todos os dias ao pé de um ninho de bufos onde encontrava grande porção de carne de lebre, de pato, de ouriço, etc. A dedicação dos paes pelos filhos é n'esta especie extraordinaria. Figuier conta que os creados de um tal Cronstedt, fidalgo sueco, que habitava “uma propriedade perto da qual se estabelecera um ninho de bufos, apa- nharam um dia um dos filhos que prematuramente abandonara o ninho e o encerraram na capoeira. No dia immediato, de manhã, ficaram surpre- hendidos quando, ao approximarem-se da capoeira, viram á porta uma perdiz recentemente morta; julgaram que os paes do pequeno prisioneiro, attraídos pelos gritos deste, tinham vindo durante a noite trazer-lhe ali- mento. Não se enganavam; o facto repetiu-se quatorze noites succes- sivas. 1 3 Vid. L. Figuier, Obr. cit., pg. 432. 142 HISTORIA NATURAL CAPTIVEIRO O bufo sendo bem tratado supporta o captiveiro durante muitos an- nos, chegando a reproduzir-se n'estas condições; Lenz contestou este fa- cto que todavia está hoje perfeitamente provado. Não chega nunca a do- mesticar-se inteiramente. É colerico e manifesta o mao humor tanto pe- los. extranhos, como pelos que lhe dão alimento. O BUFO MEDIOCRE Esta especie, como o nome indica, é mais pequena que a anterior: mede trinta e tantos centimetros de comprido sobre pouco mais de um metro de envergadura. O bufo mediocre tem o bico curto, escondido em grande parte vom as pennas do disco facial, as pennas do martinete mais curtas que as da especie anterior, as azas alongadas, alcançando ou excedendo mésmo à cauda, os tarsos e os dedos cobertos de pennugem. O dorso é de um amarello arruivado sujo, malhado e cortado de riscas pardas, trigueiras - escuras. O ventre é de um amarello ruivo mais claro, semeado de ma- lhas trigueiras transversaes ou longitudinaes. A cauda é na parte supe- rior ruiva com raias trigueiras em toda a extensão, o bico é escuro e a pennugem dos pés arruivada. ; DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Esta especie encontra-se espalhada por toda a Europa e por uma parte da Asia. É vulgar em Portugal. * AVES EM ESPECIAL 143 COSTUMES ] bufo mediocre tem na Allemanha, e não sei se em mais alguns ome vulgar de mocho das mattas. Brehm entende que esta de- a à uma pequena ave, a uma perdiz ferida já e fatigada. “mediocre deposita os ovos dentro do ninho abandonado da ombo torcaz, de alguma ave de rapina diurna ou mesmo do sequer se dar ao trabalho de reparar esta habitação tempo- CAPTIVEIRO UTILIDADE . | É incontestavel a utilidade do bufo mediocre. Passa a vida limpando os campos de todos os pequenos mamiferos que os devastam. A gente “ 144 HISTORIA NATURAL ignorante persegue-o; o contrario se deveria fazer. Merece-nos com ef- feito, protecção; é um nosso auxiliar. O MOCHO PEQUENO * Esta especie pertence à mesma familia que aquellas de que ante- riormente nos occupamos e é de todas a de menores dimensões. CARACTERES Caracterisa-se o mocho pequeno principalmente pela desproporção entre o corpo que é pequeno e esguio e a cabeça que é volumosa e: grande. Tem as azas compridas, a cauda curta e arredondada, os tarsos altos, cobertos de pennugem pela frente, o bico vigoroso e muito recurvo, os martinetes curtos e os dedos nus. Mede dezoito a vinte centimetros de comprimento. A plumagem é variegada. A do dorso ou costas é trigueira arrui- vada, com mesclas cinzentas e rajada longitudinalmente de negro; as azas são riscadas de branco e as espaduas de côr avermelhada. O ventre apresenta pintas de um trigueiro ruivo, de amarello e de pardo claro. O bico é azulado e os pés são côr de chumbo escuro. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Encontra-se esta ave na Europa, principalmente no meio-dia, e ainda na Africa. Ao sul da Europa não apparece senão temporariamente, che- gando no começo do anno para partir em Setembro ou, quando muito, nos começos de Outubro para o interior d'Africa. Em Portugal é pouco fre- quente, AVES EM ESPECIAL 145 COSTUMES De ordinario o mocho pequeno acoita-se nas arvores ou no chão entre plantas rasteiras; ahi permanece durante o dia, não sendo facil descobril-o, por causa da côr variegada da plumagem que se confunde com o meio ambiente. Parece não se incommodar com a presença do ho- - mem, porque, diz Brehm, encontra-se commummente em Madrid nas ar- — vores dos passeios mais frequentados. Se, como dissemos, não é facil enxergar esta ave, em compensação descobre-se rapidamente pelos gritos que solta todas as noites e que na epocha da reproducção adquirem uma grande intensidade. Durante o dia conserva-se immovel, empoleirado n'um ramo d'ar- vore ou acocarado no chão e escondido por entre vegetaes. Só depois que o sol se esconde é que principia a caça. No vôo assemelha-se ao falcão; não se eleva porém muito alto. A alimentação do mocho pequeno compõe-se principalmente de in- sectos e de ratos. A quantidade de alimento de que precisa é grande. . “A postura n'esta especie realisa-se uma só vez por anno. A ave em questão não faz ninho e raras vezes põe em ninho estranho. À femea de- posita os ovos, em numero de quatro a seis, nas fendas ou nos buracos das paredes, nas cavidades das arvores ou mesmo nos telhados das nos- "sas habitações, sem a precaução sequer de juntar musgo, hervas ou fo- lhas em que assentem os ovos. Por excepção occupa o ninho abandonado de alguma pega. Os ovos são esphericos e completamente brancos. Só a femea choca. Os filhos em começos de Julho encontram-se já aptos a voa- rem. Seguem no entanto os paes para d'elles receberem os alimentos emquanto por si sós não sabem procural-os. Mas desde que se encontram capazes de proverem sem auxilio às proprias necessidades, os laços de familia rompem-se e cada um dos membros vôa para seu lado, passando a viver isolados. CAPTIVEIRO Domestica-se o mocho pequeno com extraordinaria facilidade. Habi- tua-se ao homem até ao ponto de sentir-se mal na ausencia delle. Pode viver fora de gaiola, que não foge. É necessario porém prendel-o na epocha das emigrações, porque n'esse tempo, se está solto, fugirá em demanda d'outras regiões, por melhores que sejam as condições em que viva no captiveiro. Este instincto da emigração é por ventura o unico VOL, IV 10 146 HISTORIA NATURAL verdadeiramente irresistivel que conserva sempre sob o dominio do homem. UTILIDADE Caçando roedores em alta escala, porque, como dissemos, precisa de muito alimento, o mocho pequeno deve naturalmente incluir-se no grupo das aves que nos são inuteis. Segundo Dale, escriptor inglez citado por Figuier, em 1850 foi tal o numero de ratos que invadiram os cam- pos visinhos de Southminster, que tudo seria destruido se uma quanti- dade tambem enorme de mochos pequenos não descesse a attacar os roedores no grande combate desesperado que se chama a Jucta para q | vida. A CORUJA DO MATTO O genero a que esta ave pertence caracterisa-se assim: todos os in- dividuos que elle abrange teem a cabeça relativamente enorme, os discos periophtalmicos bem accentuados e largos, o pescoço grosso, O corpo re- feito, os tarsos e os dedos de comprimento medio, cobertos de pennu- gem densa, as azas obtusas, sendo a quarta remige a mais comprida e a cauda alongada e arredondada na extremidade. CARACTERES ESPECIFICOS A plumagem na coruja do matto é de uma côr muito variavel, pre- dominando comtudo o trigueiro 'acinzentado ou o trigueiro ruivo, mais escuro no dorso que no ventre. O bico e as unhas são côr de chumbo. As azas são sempre cobertas de manchas claras regularmente dispostas. AVES EM ESPECIAL 147 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA À coruja do matto vive em toda a Europa. Em Portugal encontra-se principalmente na provincia do Algarve. GOSTUMES Acoita-se de preferencia nos mattos; d'ahi o seu nome. Poucas vezes e só transitoriamente habita os edifícios em ruina, tão gratos a outras especies nocturnas. No estio vive no cimo das arvores e no inverno na cavidade de algum tronco. De todas as aves de rapina nocturnas é esta a menos agil e tambem a que mais se incommoda com a luz do sol. Passa o dia inteiro no seu escondrijo e só depois do crepusculo pro- cede à caça. Attaca pequenas aves e roedores, principalmente ratos cam- pestres. A coruja do matto faz ninho em fins de Abril ou principios de Maio, procurando para esse fim o tronco carcomido de uma arvore ou a cavi- dade de alguma parede. Muitas vezes poupa-se a trabalho, aproveitando “o ninho do corvo ou da pega. Quando construe ninho proprio poucas ve- zes tem o cuidado de o forrar de musgo, d'hervas ou de folhas tenras, como quasi todas as aves fazem. O numero d'ovos postos é de dois ou trez, que só a femea choca. O macho procura entretanto os alimentos para a companheira. CAPTIVEIRO Esta ave é de natural docil e susceptivel por isso de domesticar-se até um alto grao. Não é preciso muito tempo para que reconheça o dono, o saude com gritos, quando se approxima, e se deixe por elle aca- riciar. 148 HISTORIA NATURAL UTILIDADE A este proposito podemos repetir exactamente o que foi dito ácerca do mocho pequeno. À alimentação de um e d'outro sendo a mesma, os mesmos são os beneficios que nos prestam. A CORUJA DAS TORRES O genero a que esta ave pertence pode caracterisar-se assim: todos os individuos que o formam teem o corpo alongado, o pescoço comprido, a cabeça grande e larga, a cauda de extensão media, os tarsos revesti- dos de pennas sedosas, os dedos guarnecidos sómente de péllos pouco abundantes, as unhas compridas, finas e agudas, a plumagem sedosa, 0 bico recto na base e curvo só na extremidade, a concha auditiva muito vasta e provida de um operculo, os discos periophtalmicos completos é em forma de coração e as azas subagudas, sendo a terceira remige a mais comprida. CARACTERES ESPECIFICOS A coruja das torres mede trinta e trez a trinta e oito centimetros de comprido sobre um metro ou pouco mais de envergadura; a cauda tem quatorze centimetros. O macho adulto tem o dorso cinzento, os lados da cabeça e do pes- coço de um amarello ruivo com pequenas manchas longitudinaes brancas e negras, as pennas superiores das azas cinzentas escuras com raias cla- ras e manchas longitudinaes negras e brancas, o circulo periophtalmico em parte ruivo acentuado, em parte ruivo claro, as remiges ruivas nas barbas externas e cobertas de manchas escuras, e nas barbas internas esbranquiçadas, as rectrizes de um amarello ruivo com trez ou quatro raias quasi negras, e terminadas por uma facha cinzenta escura, o-bico eua 4 A epi AVES EM ESPECIAL 149 e a membrana que lhe cobre a base de um claro avermelhado e os pés de um cinzento azulado. A femea apresenta sempre um colorido mais escuro. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Encontra-se esta especie na Europa; ao norte é pouco vulgar. Em Portugal é frequente. COSTUMES Esta ave, como o nome indica, habita de preferencia as torres, os castellos e os palacios em ruina. Nas montanhas nunca se eleva acima da zona em que existem arvores. A coruja das torres deve considerar-se antes uma ave sedentaria do que viajante, com quanto em nova seja obrigada a errar em demanda de uma região em que possa definitivamente estabelecer-se. Bailly escreve: «Devo observar que alguns pequenos bandos de corujas das torres che- gam ás nossas regiões, vindas do norte, desde o fim de Outubro até ao começo de Dezembro. Estas sociedades que são compostas principalmente de femeas e de individuos ainda novos, abandonam-nos de ordinario para tomarem a direcção do meio-dia quando o frio attinge o grao de inten- sidade que as obrigou a fugir das regiões septentrionaes.» 1 A coruja das torres conserva-se todo o dia immovel no logar mais obscuro que pode encontrar. Nem os sinos badalando fortemente, nem os pombos voejando em torno do logar que ella escolheu para morada, são capazes de a perturbar, de a fazer mudar de poiso ou mesmo de posição. Em captiveiro a coruja das torres tem um somno menos pesado; o homem não pode n'estas condições, approximar-se della sem a des- pertar. Quando alguem a abeira, ergue-se, balança o corpo appoian- do-se alternativamente sobre uma e outra perna, faz emfim uma serie de movimentos vagarosos e deselegantes, que denunciam o estado de vigilia. Se um perigo a ameaça, foge, vôa, provando assim que vê à luz solar. Depois do sol posto, a coruja das torres abandona o escondrijo e vôa 1 Bailly, Ornithologie de la Savoi, t. 1, pag. 191. 150 HISTORIA NATURAL razando a terra. Um grito rouco e, no dizer de Naumann, dos mais des- agradaveis annuncia a presença d'esta ave. Segundo Bailly, «a voz da coruja das torres compõe-se ora de uma serie de sopros intensos, semelhantes aos que produz um ebrio' que dorme com a bocca aberta, ora de alguns gritos que solta com precipi- tação e que podem exprimir-se pelas syllabas gréi, gréi, repetidas muitas vezes a seguir. Estes gritos são muitas vezes succedidos ou precedidos, sobretudo na primavera, de uma especie de gemido semelhante a um suspiro langoroso, que, quando é mais curto do que o costume, parece ser soltado por um mocho.» 1 A coruja das torres approxima-se do homem, sem medo, e vôa como uma sombra em torno d'elle. Quando ha luar, passa a noite inteira em movimento, repousando apenas de tempos a tempos para” recomeçar à caça com mais ardor. Quando as noites são escuras, caça de madrugada e ao fim da tarde. A alimentação da coruja das torres compõe-se de ratos grandes e pequenos, de musaranhos, de toupeiras, de pequenas aves e de grandes insectos. Tem-se dito que devasta os pombaes; Brehm, Figuier e Nau- mann contestam o facto. Este ultimo observador escreve: «Muitas vezes vi voar a coruja das torres por entre os meus pombos; rapidamente ha- bituados à presença da ave nocturna, não perderam nunca nem um só ovo, nem um filho. Tambem nunca vi a coruja attacar um pombo adulio. Na primavera um casal de corujas que todas as tardes vinha até ao meu pombal, acabou por se estabelecer ahi. Desde que principiava a noite, as corujas voavam em torno do pombal, entravam e saíam, sem que os pombos se mexessem. De dia, approximando-se a gente do pombal com uma certa precaução, viam-se as corujas dormindo no meio dos pombos e ao pé de ratos mortos. As corujas na realidade, quando teem feito uma boa caça, transportam as presas para 0 logar em que passam o dia. Tal- vez tambem façam assim provisões para se alimentarem durante o mao tempo, em que as noites são escuras e a tempestade as não deixa ca- car.» Naumann contesta tambem a idéa muito espalhada de que a coruja das torres come ovos. Em casos de necessidade a coruja das torres devora carnes mortas e em decomposição. Accusam-a tambem de beber sacrilegamente o azeite das lampadas que alumiam os altares. N'estes ultimos annos tem-se feito observações muito interessantes sobre a reproducção d'esta ave de rapina. Os antigos auctores dizem que ella se reproduz em Abril ou Maio; ha porém excepções. Tem-se en- 1 Ibidem. É er = di ERA PESE DES e AVES EM ESPECIAL 151 contrado muitas vezes em Outubro e Novembro recemnascidos e até mesmo ovos ainda a serem chocados. A coruja das torres não faz ninho, depõe os ovos a qualquer canto. Macho e femea teem pelos filhos uma grande dedicação; alimentam-os abundantemente com ratos. UTILIDADE A coruja das torres é uma ave utillissima, como facilmente se per- cebe, sabendo-se qual é o seu regimem alimentar. Lenz diz que se deve uma grande protecção a esta ave. Em Holstein, segundo este observador, os camponezes praticam nas paredes das habitações largos buracos profundos que servem para acoi- tarem as corujas. Estas aves assim protegidas e poupadas tornam-se quasi domesticas e prestam valiosissimos serviços. Ellas purgam inteira- mente os campos dos animaes nocivos que os infestam, principalmente ratos, toupeiras e insectos. CAPTIVEIRO As corujas das torres são aves que rapidamente se habituam ao ca- ptiveiro e que facilmente se domesticam. Quem as quer apanhar ainda muito novas e não ter o trabalho de occupar-se dellas, encerra-as n'uma gaiola de grades espaçadas e colloca a gaiola em logar accessivel aos paes; estes durante muitas semanas seguidas trarão o alimento aos filhos. Familiarisam-se com o homem até ao ponto de se deixarem por elle aca- riciar e de virem à mão quando as chama. É necessario sempre que a prisão seja ampla, espaçosa; no caso contrario definham dia a dia e che- gam mesmo a recusar o alimento. PREJUIZOS Noutros tempos, como; de resto, ainda hoje entre gente ignorante, a coruja das torres era considerada como uma ave de mao agoiro. Quanta gente se permitte ainda actualmente esta crendice! Quando de noite esta ave principia a piar no telhado de uma casa em que está al- guem doente, é odiada, porque a pooh credula lema a esses 1 de um presagio de morte. 7 Ao lado deste prejuizo inscreve-se um outro não inenoá é que os ovos da coruja das torres bebidos em suspensão na graça: «se uma tal virtude a real, que magnifico auxiliar I trariam nesta ave as sociedades de temperança!> 1 X Ea cturnas, que todavia não descreveremos, porque singularmente s dee ximam nos costumes das que acabamos de passar em revista. * No quadro. que segue encontra o leitor n uma E EN vêr, o conjuncto das especies, aqui estudadas, das AVES D. 4 1 Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 509. o O GRIFFO | O PICA-OSSO e pe O CONDOR VETA E O ABUTRE DO EGYPTO SEA O URUBU REI EC O ABUTRE DA CALIFORNIA : O URUBU a RS O GYPAETO BARBUDO | 7 Ee O SERPENTARIO OU SECRETARIO a Mo O CARACARÁ DO BRAZIL RE O TARTARANHÃO : a DA a cs 2 nd ú aa A AGUIA REAL na A AGUIA IMPERIAL ; A AGUIA RABALVA A AGUIA PESQUEIRA : - A HARPIA a O GUINCHO DA TAINHA OS GERIFALTOS “O FALÇÃO VULGAR O TARTARANHÃO RUIVO DOS PAUES O TARTARANHÃO AZULADO A CORUJA FUSCALVA O MOCHO ORDINARIO O BUFO NOCTURNAS..........( O BUFO MEDIOCRE PR O MOCHO PEQUENO | A CORUJA DO MATTO | o A CORUJA DAS TORRES * A! . * A, = e A ; . + RE " y E A E a A à gr —o 20 800 o PASSAROS CONSIDERAÇÕES GERAES On chercherait vainement dans cet ordre le caractêre d'homogéneité qui distingue les autres. L. Figuier. Je crois qu'il faut resteindre le sens du mot passereau. A. BREHM, A ordem dos passaros, tal como ella se encontra formada para a quasi totalidade dos zoologos, não é de modo algum uma divisão natu- ral; falta-lhe, como diz Figuier, o caracter de homogeneidade que existe nas outras ordens. Em todas as classificações imperfeitas (e a zoologica é-o ainda) existe sempre uma classe, um grupo, muito mais arbitrariamente constituido que os outros, muito mais artificial e que apenas se justifica pela neces- -Sidade de reunir sob uma forma qualquer objectos de estudo que se en- contraram sem collocação nos outros grupos feitos de arranjo taxonomico. E os caracteres d'esse tal grupo arbitrario são e não podem deixar de ser quasi absolutamente negativos. Se não estivessemos escrevêndo uma obra popular, lembrariamos como exemplo e justificação do que affirma- mos -—o grupo das idéas innatas na psycologia antiga e-—o grupo dos 156 HISTORIA NATURAL alterantes na therapeutica. Como se caracterisam estes grupos? De um modo inteiramente negativo: encontram-se ahi as noções ou agentes me- dicamentosos, conforme se trata de psycologia ou de medicina, que não poderam introduzir-se em quaesquer dos outros grupos constituídos. Na zoologia acontece precisamente o mesmo. O que são passaros? Aves que não podem introduzir-se em qualquer das outras ordens em que a se- gunda grande classe dos vertebrados se acha dividida. É impossivel dar outra definição. Sendo assim não é de estranhar que sob a denominação latitudina- ria de passaros venham dispor-se n'uma serie heterogenea aves que en- .lre si teem talvez maior numero de caracteres de differenciação que de semelhança. Não é de estranhar que ao lado dos corvos se colloquem, por exemplo, as andorinhas. ) Brehm, insurgindo-se contra a irracionalidade manifesta que caracte- risa a ordem em questão, divide esta em differentes outras, restringindo extraordinariamente a extensão e significação da palavra passaros. Com quanto nos pareça inteiramente justo o procedimento do illustre natura- lista, não o seguiremos n'este ponto, pela razão de que, se o fizessemos, iriamos dar ao nosso trabalho uma disposição inteiramente diversa da que teem quasi todas as obras da indole da nossa, dificultando assim ao leitor qualquer estudo de amplificação que por ventura seja tentado a fa- zer pela leitura de outros livros. O unico caracter physico—e esse de pouca importancia, como nota Figuier, commum a todos os passaros é terem o dedo externo unido ao medio n'uma certa extensão. COSTUMES Os passaros alimentam-se em geral de grãos, de insectos e de fru- ctos. Vivem sós ou aos pares, voam com facilidade, marcham saltitando, dormem e fazem ninho nas arvores. «É n'esta ordem, diz Figuier, que se encontram as aves canoras cu- jos concertos nos deliciam. É tambem n'esta ordem que se encontram al- gumas aves capazes de imitarem até um certo ponto a voz humana e os gritos de outros animaes. Muitas especies encantam-nos a vista pelas co- res brilhantes da plumagem; outras constituem uma caça apreciabilis- sima.» 1 1 L. Figuier, Obr. cit., pg. 317, SE arde pa AVES EM ESPECIAL 157 SENTIDOS E INTELLIGENCIA | posito diz Brehm: «A vista é o mais desenvolvido dos aros; immediatamente depois véem o ouvido e o tacto. mais fraco; não se lhes pode contestar a existencia de gosto, nentar. Mas o que sobretudo deve excitar a nossa admira- igencia. Todos os passaros são aves prudentes, como sabem teem observado. Aprendem a reconhecer os inimigos e a evi- os. Mudam de habitação segundo muitas circumstancias diffe- estações, os logares, os homens, etc. Teem uma fina sensibi- u em alguns é perfeitamente dominativa; tem-se visto piscos rerem subitamente de alegria ou dôr. Teem uma memoria que concorre poderosamente para o aperfeiçoamento das in- 4 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA ros são aves cosmopolitas; faltam apenas no continente po- m viver egualmente bem nas regiões geladas ou nas caes, nas montanhas ou nas planícies, nas florestas ou nos bertos, nos logares seccos ou à beira da agua, nas cidades DIVISÕES “AVES EM ESPECIAL | 159 — PASSAROS EM ESPECIAL OS DENTIROSTROS ros comprehendidos neste grupo são pequenos e teem o vigoroso, um tanto bd com a mandibula superior chan- 160 HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O picanço commum tem uma área de dispersão extensissima. Encon- tra-se em quasi toda a Europa, na America do Norte, n'uma grande parte da Asia e ao norte d'Africa, onde apparece como ave de arribação. Em Portugal é frequente. COSTUMES De inverno, o picanço commum approxima-se dos logares habitados; no estio conserva-se na orla dos bosques ou sobre as arvores isoladas no meio dos campos. Os pequenos bosques e as grandes arvores visinhas dos prados e das pastagens são os logares que o picanço commum pre- fere e aquelles em que faz o ninho. | De ordinario pousa nos ramos mais altos d'onde descobre um grande horisonte. Conserva-se immovel, ora com o corpo erguido e a cauda pen- dente, ora com o corpo horisontal. Olha constantemente em torno de si, não lhe escapando nada do que se passa, tanto importa que seja uma ave de rapina que fenda o ar, como um pequenino insecto que volite. Quando apparece uma ave de grandes dimensões, sobretudo uma ave de | rapina, solta um grito agudo e atira-se sobre ella corajosamente, perse- gue-a, vôa-lhe no encalço, atormentando-a com pios continuados. O grito inicial é um como aviso a todas as outras aves da approximação- do pe- rigo. Se vê um pequeno animal, atira-se a elle; e por pouco destro que pareça, O picanço persegue um rato na carreira. No inverno encontra-se muitas vezes no meio de pardaes, aquecendo-se ao sol; mas de repente, empolga um, mata-o às bicadas ou estrangula-o. Depois conduz a vietima para um logar seguro; e se na occasião não tem fome, enfia-a n'um es- pinho ou na ponta aguda de um ramo, para devoral-a mais tarde, depois de a ter feito pedaços. A temeridade de que é dotado obriga-o a atta- car muitas vezes animaes maiores do que elle. Investe com o melro, se- gundo Brehm, pae, persegue os tordos e attaca as perdizes presas em laços, segundo Naumann. Destroe um grande numero de pequenas aves; se fosse tão agil como é corajoso, seria verdadeiramente para temer. Mas de ordinario os animaes que persegue, conseguem escapar-lhe; ainda assim, os estragos que produz são de ordem tal que o homem fais uma tenaz perseguição. Quando passa de uma arvore para outra, diz Brelim, pae, deixa-se primeiro cair obliquamente, vôa depois muito perto do solo para se-ele- AVES EM ESPECIAL , 161 var por fim ao cimo da arvore que escolheu. O vôo do picanço differe muito do vôo das outras aves. Elle descreve, voando, linhas onduladas, bate repetidas vezes as azas, fende o ar muito rapidamente, mas percor- rendo apenas pequenos espaços. Raras vezes attravessa sem parar mais de um quarto de legua; e quando o faz, é ainda assim só quando passa de uma montanha a outra sem encontrar sitio conveniente em que re- pouse. — A voz do picanço varia conforme os sentimentos que exprime. O grito gdeh, gach, muitas vezes repetido indica excitação, colera; o grito truii, trwii serve para chamar os companheiros. Nos dias bons de inverno macho e femea fazem ouvir uma especie de canto, que não é o mesmo para todos os individuos e-que é mais ou menos uma imitação do canto d'outras aves que habitam as visinhanças. A reproducção para o picanço commum realisa-se em Abril. Elle es- colhe n'um pequeno bosque ou num jardim uma arvore conveniente, de “ordinario uma arvore fructifera selvagem. Para ahi transporta hervas seccas e musgo e ahi construe um ninho grande, cuja escavação é for- rada de palha, de hervas, de lã e de pêllos. A femea põe quatro a sete ovos, de um pardo esverdeado com manchas azeitonadas e cinzentas. À incubação dura quinze dias. No começo de Maio os embryões rompem a casca. Os paes alimentam os filhos ao principio com insectos e mais tarde com pequenas aves e pequenos roedores; defendem-os com risco da pro- pria vida e conservam-se na companhia d'elles até ao fim do outomno. SENTIDOS Os orgãos dos sentidos são no picanço commum extremamente de- senvolvidos; a vista é penetrante e o ouvido finissimo. A intelligencia não é muito desenvolvida; no entanto possue um certo gra de prudencia, quando ella é precisa, e evita os perigos. INIMIGOS Os milhafres e os gaviões são os inimigos mais terriveis do picanço commum. É tambem atormentado por alguns parasitas. VOL. IV 11 162 HISTORIA NATURAL “o CAÇA Na caça feita ao picanço commum empregam-se principalmente as armadilhas. Tambem serve de instrumento de caça à coruja fuscalva que n'algumas regiões se adestra para esse fim. a CAPTIVEIRO r O picanço commum é uma ave muito interessantê em captiveiro. Domestica-se facilmente apreúdendo em pouco tempo a reconhecer o dono, e a saudal-o com gritos de alegria. Não deve collocar-se ao lado de . outras aves, porque as attaca e mata. Submettida a um regimen mixto em que predomine a carne, o picanço commum dura muitos annos em captiveiro. UTILIDADE Houve tempo em que se adestrava esta ave na caça e então era, de- . certo, muito util ao homem; hoje que esse emprego cessou, o picanço deve ser antes considerado como nocivo do que como proveitoso, não obstante dar uma certa caça aos ratos. pts a g , «. O PICANÇO MERIDIONAL Mede vinte e sete centimetros de comprimento sobre trinta e seis. de envergadura; a cauda tem treze centimetros. A femea é um pouco mais pequena que o macho. A parte superior do corpo é parda-escura, a parte inferior branca com reflexos vermelhos no peito; as quatro rectri- AVES EM ESPECIAL 163 zes medianas são negras e os pés egualmente. A mandibula superior é negra e a inferior azul clara na base. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Ri “O picanço meridional substitue o picanço commum a noroeste da “Africa e ao meio-dia da Europa. É sedentario em Languedoc e encontra-se em Hespanha durante todo o anno. Na Grecia é ave de arribação que chega no fim de Abril e desapparece nos ultimos dias de Agosto. Fà “4% * REI as 5d eia COSTUMES «É nos bosques, diz Crespon, nas vertentes das collinas, nos loga- — res pedregosos e aridos que q picanço meridional se compraz em viver. e * Nunca o observei nas planicies cultivadas e, se ahi apparece, não creio — que seja por muito tempo. O vôo do picanço meridional é ordinariamente baixo; parece razar o solo e só se eleva quando quer pousar na extre- midade de pequenos ramos de arvores, especialmente das que não teem folhas. O seu grito ordinario é brrei, brrei; imita porém o canto de ou- tras aves. «Audacioso e cruel, o piçanço meridional destroe um grande numero de pequenas aves. Tem-se-lhe dado a denominação vulgar de assassino. «Faz ninho nas mattas das regiões montanhosas. Esse ninho é es- pesso, formado externamente de gramineas e guarnecido internamente de lã e de cabello.» ! Segundo outros observadores, o picanço meridional estabelecer-se- Bio hia de preferencia no eimo das arvores, nomeadamente das oliveiras. + À femea põe quatro a seis ovos, de um branco sujo ou de um branco avermelhado com maculas pardas, cástanhas ou vermelhas, mais ou me- quo grandes. 1 Crespon, Ornithologie du Gard, pg. 87. “brancas em toda ou em parte da superfcia, 0 Dico negro eh HISTORIA NATURAL USOS E PRODUCTOS Y Os hespanhoes Popnieran Os Ovos do picanço meridional u jar delicioso. Ad | capo o PRA DE-ITÁLIA tais di ani TA vá Esta ave é conhecida ainda pelas denominações de io de negra, de picanço de ar cór de rosa e de pequeno piróaçã Es. “CARACTERES. pag o ventre branco, o peito branco e côr de rosa, a região frontal azas negras com uma pequena mancha branca que ocupa. a me zentados. Mota a de bi “A femea assemelha-se muito ao mácoi rÓsilindivia iubó novos teem a região frontal de um branco sujo eo ventre reiado com raias transversaes pardogeniaçs Ea O A DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA í Habita não só o paiz que lhe dá o nome e onde é muito freq mas ainda outros pontos da Europa, da Asia e, ao que parece, tod Africa central. É commum em França, na Baviera, na Russia, na. quia. E sado apparece nas florestas da bacia superior do Nilo. | AVES EM ESPECIAL 165 COSTUMES São unanimes os naturalistas em aflirmar que é este um dos pican- ços mais agradaveis e mais inoffensivos. Naumann assevera que elle não attaca as outras aves e se limita a dar caça aos insectos. Alimenta-se de. borboletas, de coleopteros, de chrysalidas, etc. Eleva-se alto na atmos- “phera, paira, e quando vê uma presa, desce rapidamente sobre ella, apa- É nha-a, mata-a e foge com ella para uma arvore onde possa devoral-a à “vontade. O picanço d'Italia tem um vôo ligeiro e facil; como as aves de ra- pina, elle não precisa de bater as azas para fender o ar. Quando tem de percorrer um grande espaço, pousa muitas vezes e descreve linhas lon- - gamente onduladas. “Tem-se dito que este picanço é dotado da faculdade de aprender e repetir com exactidão o canto das outras aves. Naumann crê esta opinião exagerada. Segundo este naturalista, o picanço d'Italia imita apenas uma ou outra parte das canções que executam as aves que elle escuta; é im- perfeito n'essa imitação e principiando pelo canto de uma ave acaba pelo doutra. Segundo Naumann,. não imita o canto do rouxinol. pg O) picanço d'Italia construe o ninho a uma grande altura, no meio dos ramos mais espessos das arvores copadas. Esse ninho é ndo e for- mado de raizes seccas, de feno, de palha, etc., e interiormente forrado de lã, de pêllos e de pennas. No fim de Maio encontram-se ahi seis a sete ovos, de um branco esverdeado com pontos e manchas de côr trigueira ou pardo violeta. Macho e femea chocam alternadamente. Ao fim de quinze dias apparecem os recemnascidos. Os paes alimentam-os de inse- ctos. «Quando uma gralha, uma pega ou qualquer outra ave de rapina, diz Naumann, apparecem perto do ninho do picanço d'Italia, este per- segue-os com encarniçamento, atormenta-os até que fujam. Se um homem se approxima, os picanços paes erguem e baixam alternativamente a cauda, soltando ao mesmo tempo gritos de agonia. Algumas vezes che- gam mesmo a precipitar-se sobre o homem, a avançar sobre elle até lhe roçarem as azas pelo rosto.» Os filhos crescem muito rapidamente; mas os paes alimentam-os ainda muito tempo depois que elles sabem voar. Como comem muito, os paes submettem quasi todo o seu tempo a fa- zer caça para elles. Um corvos, as gralhas, as id destroem-lhe a progenie, mao em ragem com que sabe defendel- -a. CAPTIVEIRO dci O homem só faz caça ao picanço d'Italia para O apanhar vivo serval-o captivo. Encanta pela belleza da plumagem e pelo tale imitação. É de notar que, ao passo que em liberdade é inofensiv captiveiro attaca e mata as outras aves que por ventura lhe d em companheiras, ú e isso que importa isolal-o. | rs A “jm + Os cassicans são-nos conhecidos desdos os trabalhos de € Jo “verdadeiros picanços com formas de gralha. Do e O 2 7 E a CARACTERES psrmcrnntos — ma ta " PR ki acinzentado, | as remiges de um trigueiro ou cobreado quasi aa as primarias largamente franjadas de branco por fóra, as rectrizes o gra: ERA Rop4/6S AVES EM re rinpdes À 167 a! à, DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA COSTUMES os bosques, ou seja nas planicies ou nas montanhas ; como os conserva-se de ordinario immovel sobre um ramo secco d'ar- ide descobre um vasto horisonte. Desde que avista um insecto eno vertebrado, cãe sobre elle, mata-o e volta ao poiso pri- ahi o comer tranquillamente. É dotado de uma extraordinaria o dos amores para 0 cassican destruidor começa em Setem- é grande e elegantemente formado de ramos finos, de re- ns A femea põe quatro ovos de um trigueiro amarelado eds s tp ars 168 HISTORIA NATURAL O DRONGO O genero a que esta ave pertence caracterisa-se assim: os indivi- duos que o formam teem uma cauda bifurcada, sendo as pennas exter- nas duas vezes mais compridas que as outras, o bico relativamente com- prido e forte, quasi recto na base, em que é cercado de sedas molles, mas muito numerosas, e fortemente recurvo na ponta. CARACTERES ESPECIFICOS . O drongo que os indigenas denominam vulgarmente papa-abelhas, porque são estes insectos que constituem o seu principal alimento, mede trinta e nove centimetros de comprido, não tendo em conta as rectrizes externas que excedem a cauda pelo menos trinta centimetros. À cauda tem dezoito centimetros até ao vertice do par mediano de pennas e cin- coenta a cincoenta e dois até à extremidade das rectrizes externas. À plumagem é em geral negra com reflexos azues. As pennas da parte ante- rior da cabeça são alongadas e formam uma especie de poupa; são ligei- ramente chanfradas na ponta como as da nuca e do peito. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Encontra-se esta especie na Africa meridional e na India. COSTUMES O drongo encontra-se desde a beira do mar até uma altitude de dois mil e seiscentos metros. Ha individuos que frequentam os logares desco- bertos, outros as florestas. Muitos ha que acompanham os rebanhos pou- sando sobre o dorso do gado. O drongo passa de ordinario quasi todo o dia em movimento; ha porém individuos crepusculares. Estes caçam muito tempo ainda depois ni 4) as - A + AVES EM ESPECIAL 169 “do pôr do sol; quando as noites são de luar passam a noite inteira em plena actividade. Levaillant escreve: «Imagine-se vêr trinta drongos esvoaçando des- ordenadamente em torno de uma arvore, descrevendo mil voltas e cur- vas a que os obriga o vôo rapido das abelhas que fogem; imaginemol-os perseguindo uma presa que lhes escapa e voltando-se immediatamente para outra e assim consecutivamente, fazendo giros no ar em todas as direcções, não descançando em quanto não apanham uma abelha ou não se sentem cançados—e ter-se-ha feito uma idéa exacta das manobras curiosissimas dos drongos.» PRECONCEITOS - O mesmo naturalista continúa: «Quando se lhes ouvem os gritos pia- griach, griach, repetidos em todos os tons pelos individuos de um bando e quando se sabe que estes passaros são negros, comprehende-se bem "que em certos cantões haja homens simples e credulos que os conside- rem aves diabolicas. — Os hottentotes que nos acompanhavam, comquanto conhecessem estes passaros, tinham-os ainda assim na conta de aves de mao agoiro. Pediram-nos que não fizessemos fogo sobre elles, porque re- “* Cejavam que fossemos victimas de alguma fatalidade pelo caminho ou quando nos reunissemos em conferencia com os feiticeiros.» CAPTIVEIRO O drongo apparece captivo nos estabelecimentos de todos os passa- rinheiros de Calcuta e das cidades da India. No dizer de Jerdon é uma ave agradavel, que se domestica muito rapidamente, que revela uma grande afeição pelo dono e lhe vem à mão quando elle o chama. Con- serva-se perfeitamente em captiveiro, dando-lhe carne erua e insectos. Possue em alto grao o talento de imitação; e isto contribue poderosa- mente para que chame sobre si as nossas sympathias. «Um dos drongos que possui, diz Blyth, reproduzia admiravelmente o canto do gallo; todos os gallos que o ouviam responidiam-lhe immediatamente. Imitava tambem o uivar do cão, o miar do gato, o balido da cabra e do carneiro, os ge- “midos do cão quando recebe pancada e as canções das aves canoras. O 170 no drongo é uma das gaiola.» * fé TRES o MAOS IRAN PRE VESES O RD is Ro E agudas, sendo a tina, a pensas a da ea qui t eguaes e as mais compridas, a cauda mediocre e arredor do comprimento do dedo mediano e as unhas curtas, finas ” DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Estes passaros encontram-se espalhados na America do Sul, principalmente nºesta. ; PREGA. | Re f ; É: a COSTUMES |. : No ii om especies: estudarem, n melhor do que 0 fazer pisa este. pre ni MERO ana 1 Citado por Brehm, Loo. cit. vol. 3.º, pg: 602. va a citá EM esbeciar 1 ta Pet 4 “O INTREPIDO n, à Wilson e ao principe de Wied devemos principalmente “desta especie, uma das mais importantes da familia. A Nesta; A cabeça é encimada por uma especie de poupa “são bordadas de amarello e côr de fogo; o dorso é pardo Jados da cabeça são pardos escuros, O ventre é branco e O y As ag superiores das azas são bordadas de branco; DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA ro habita todo o norte da America, estendendo-se até ao COSTUMES í Eee, 0 irenido é uma das aves mais notaveis dos | - Apparece na Luiziana em meiados de Março, ficando ahi , id os até meio de Setembro, ao passo que outros continuam - espalhando-se por toda a superficie dos Estados-Unidos. s, estes passaros, diz ainda Audubon, parecem .tristes e se conservam-se silenciosos; mas desde que à actividade natural 172 HISTORIA NATURAL campos, as bordas dos regatos e até mesmo as visinhanças das nossas habitações. Eos Na quadra dos amores macho e femea elevam-se a vinte ou trinta metros acima da superficie do solo, batendo incessantemente as azas e fazendo ouvir a voz. À femea segue a mesma direcção que o macho pro- curando juntos um logar conveniente para a construcção do ninho. Mas nem mesmo mesta occasião deixam de dar caça aos insectos: e muitas vezes acontece até deixarem-se desviar por algum. Depois de escolhido 0º | RR am : logar em que fabricarão o ninho, juntam hervas seccas, que dispoem so- bre um ramo horisontal, e bem assim lã, cotão e pêllos. A femea põe quatro a seis ovos, de um branco avermelhado, irregularmente cobertos de pontos côr de castanho ou cobreados. Só a femea choca. . E O macho então apresenta-se cheio de coragem e dê ardor. Conser- va-se ao pé da femea e parece não ter outro pensamento mais que o de. protegel-a e defendel-a. Olha constantemente em volta de si. Se um corvo, um abutre ou uma aguia apparecem, precipita-se immediatamente sobre elles, soltando o seu grito habitual de guerra. Incide sobre o dorso do inimigo e procura prender-se-lhe pelo bico. Persegue a ave de rapina, picando-a constantemente, às vezes à distancia de meia milha ingleza ou mais. Poucas aves de rapina ousam approximar-se-lhes do ninho. Até o gato tem medo de abeirar-se; o macho attaca-o denodadamente e com tal agilidade que o obriga a fugir. Quando emigra, o seu vôo é rapido; bate seis ou sete vezes segui- das as azas e depois percorre alguns metros sem de novo as agitar. Nos. primeiros dias de Setembro Audubon viu passar assim bandos de vinte a: trinta individuos, que viajavam silenciosos tanto de dia como de moite.. Ao principiar de Outubro já se não encontra um unico individuo nos Es- tados-Unidos. ja USOS E PRODUCTOS A carne do intrepido é tenra e delicada. Os indigenas perseguem por isso este passaro, que elles chamam papa-abelhas. UTILIDADE «O intrepido, diz Brehm, merece a amizade do homem. Defende as posturas da gallinha contra a gralha; graças à coragem de que é dotado, preserva muitas vezes os pintos das garras do falcão e destroe grande a B 173 d ao! tados daneçõas Estes serviços compensam Da a o de alguns fructos que Fossa comer.» 4. doiv ga MEG Ce Ê ç do grupo “dba tyrannos. Como nós, os allemães adoptaram | nos seus livros de historia mihhsrak deseriptiva; “encim j o por uma sorte de poupa de um amaiáiio da Cabeça, a oia facial é uma linha E vae do DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPRICA | Ra LE v a um dia passaros mais conhecidos da America do Sul. ] | nO logares « em ei os bosques alternam com os cam- JE 174 HISTORIA NATURAL COSTUMES Este passaro não evita a visinhança do homem. Encontra-se nas plantações, na orla das florestas, nos pastos e no meio do gado. Servem-lhe de observatorio para descobrir a presa uma arvore, uma simples pedra, um monticulo de terra. É activo, curioso, ciumento na quadra dos amores. Bate-se então com os congéneres disputando valente- mente a femea. Schomburgk chega mesmo a aflirmar que elle vive em lucta permanente com os congéneres. , O bem te vi é um verdadeiro tyranno; não receia nenhum outro pas- saro e, ao que diz o principe de Wied, não deixa nunca perder occasião de perseguir uma ave de rapina, levando a sua audacia até ao porto de 2a BEE a ferir às bicadas.. VP O bem te vi não se alimenta só de insectos; come tambem carnes. “ha Assim é que quando os abutres fazem os seus repastos, elle conserva-se a pouca distancia e prompto a apanhar os pedaços que essas aves de ra- pina abandonem por um instante. Tambem rouba das casas as carnes postas a seccar. Crê-se que attaca os ninhos d'outros passaros; e esta opinião admittida pelos indigenas parece confirmar-se por uma observa- ção de Schomburgk que viu pequenas aves perseguirem com gritos dila- cerantes e afflictivos o bem te vi. Comtudo os insectos constituem a base fundamental do regime d'este passaro. Espia-os do seu observatorio e cáe-lhes em cima voando até os apanhar; depois transporta-os Para 0 observatorio e ahi os devora commodamente. : ao Na quadra dos amores o bem te vi apresenta-se muito excitado; O 0. macho exhibe diante da femea, para a captivar, toda a sorte de graças. Depois do acto reproductivo, macho e femea principiam a construir o ni- nho, que tem por séde as arvores e as moitas, que tem a forma dé uma esphera e que é feito de folhas, musgo e pennas. Os ovos postos são trez a quatro, de um verde palido com manchas negras e verde-azues. + CAPTIVEIRO Segundo Azara, unico que se occupou. d'este assumpto, é facil con- servar 0 bem te vi em captiveiro. N'estas condições alimenta-se de carne crua e alguns insectos. Vive inactivamente e em boa harmonia com as outras aves pequenas. 175 A TESOURA » pertence, como a anterior, ao grupo dos tyrannos. O "a é-lhe dado em virtude da forma das rectrizes lateraes xe parecem realmente os ramos abertos de uma CARACTERES s de sete. A envergadura é de trinta e nove centime- é ca a abri amarella na base das pennas, o dorso DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Nuttal dizem que a tesoura é muito rara nos Estados- deira patria deste passaro é na America central e na COSTUMES no o dizer de Mhdbarai. vive em bandos numerosos que “caça de insectos. Empoleirada, é triste, silenciosa, lenta imentos ; voando, é rapida e attráe desde logo a attenção por pasa ) pprosimando e desviando alternativamente as rectrizes cau- 176 HISTORIA NATURAL Nuttal diz que este passaro come tambem fructos; e Brehm julga o facto verosimil. A tesoura construe nos bosques um ninho de forma hemispherica e aberto superiormente; este ninho é forrado de fibras vegetaes, de là, de cotão e de pennas. Os ovos são esbranquiçados e apresentam na superficie pontos de. um rubro escuro mais abundantes na extremidade mais grossa. Em quanto a femea choca, o macho vela pela segurança do ninho, perseguindo e fa- zendo caça às aves que se lhe approximam. Quando os filhos se encon- tram aptos para voarem, reune-se toda a familia no intuito de persegui-. rem as aves de rapina. - No outomno as tesouras reunem-se e emprehendem a viagem de in- verno. «No fim da estação das chuvas, diz Schomburgk, nos mezes de | Setembro e Outubro vi durante muitos dias bandos numerosissimos d'es- tes passaros passarem acima de Georgetown. Vinham do norte e diri- giam-se para O sul. Coisa singular: estes bandos chegavam sempre entre as trez e as cinco horas da tarde; desciam sobre as arvores dos subur- bios da cidade, passavam ahi a noite e no dia seguinte de manhã conti- nuavam a marcha interrompida. Estes bandos apparecem todos os annos pela mesma epocha; é este para os habitantes o indicio de que está a terminar a estação das chuvas. N'outras estações nunca se encontram perto das costas.» ! O TYRANNO REAL O nome de tyranno real é dado a este passaro pelo facto de ter sobre a cabeça uma poupa que de algum modo se assemelha a uma co- rôa. Comtudo o nome de tyranno não lhe convem, porque, comquanto proximo do grupo dos tyrannos, elle não lhe pertence propriamente nem pelos caracteres morphologicos, nem pelos costumes. Constitue a espe- cie unica do genero MEGALOPHO. 1 Citado por Brehm, Loc. cit., vol. 3.º, pg. 608. AVES EM ESPECIAL . | 177 CARACTERES tim tros. Este passaro tem o dorso de um bello. castanho é a cauda de um amarello arruivado, a parte anterior do quiçada, as pennas das azas de um cobreado muito escuro, 0, as pennas que ER a poupa de um rubro de fogo No macho estas pennas E lie até à nuca; na femea são e de côres menos vivas. A mandibula superior é cobreada e “do peito raiadas transversalmente de castanho e as do dorso “d'esta mesma côr. | o DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA | no real habita as florestas virgens, sombrias e espessas do “Guyana, principalmente as que ficam proximas dos rios. COSTUMES litario e silencioso no cimo das arvores. Mas nem por isso conhecel-o os colonos e os indigenas; attráe pela belleza da | pelas « côres formosissimas que o caracterisam. se sabe dos costumes d'este passaro é muito pouco, mas 0 a Nos convencermos de que não deve introduzir-se no grupo os, como erradamente se tem feito. Entre o par conjugal não lelidade que caracterisa as aves anteriormente estudadas. | o genero de alimentação do tyranno real? Não se sabe, ou pelo ão o dizem os naturalistas que teem escripto sobre o assumpto. “ovos são de um vermelho violeta claro, apresentando manchas sangue em toda a superficie e principalmente na extremidade me- olumosa. 178 HISTORIA NATURAL O YIPERU É este o nome indigena que conservamos, como fazem os allemães. Assemelha-se muito aos tyrannos e pertence ao genero gubernetes que se caracterisa assim: Os individuos que o formam são grandes, vigorosos e teem azas mediocres e agudas com a segunda e a terceira remiges mais compridas, a cauda alongada, os tarsos elevados e fortes, os dedos espessos, as unhas curtas e robustas e o bico grande, espesso, mais alto que largo, conico e de ponta gancheada. ! CARACTERES ESPECIFICOS O yiperu tem o dorso e o ventre pardos, as azas e a cauda negras, apresentando as primeiras um bordo branco na prega da aza e uma man- cha fuliginosa clara no bordo externo das grandes remiges. Uma raia castanho-ruiva, que vae d'um olho a outro, separa o branco da parte su- perior e anterior do pescoço do pardo do peito. A região frontal e o bordo superior dos olhos são brancos. O bico e os pés são negros. O yiperu mede de comprimento quarenta e um centimetros dos quaes vinte e cinco pertencem às pennas caudaes externas e sete às pennas caudaes medianas. A envergadura é de cerca de quarenta e um centi- metros. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Encontra-se este passaro no Paraguay e no Brazil. COSTUMES A mesma inopia de conhecimentos que vimos existir em relação aos costumes do tyranno real, repete-se aqui. O que se sabe dos habitos da vida do yiperu é muito pouco. No dizer de Azara, os costumes deste passaro differiriam muito dos que caracterisam os tyrannos. Vive em ban- E] A face inferior do corpo é de um pranto sujo, os lados e os-amarellos, o pescoço é, bem como o ventre, lateral- COSTUMES apparece tanto nas montanhas como nas planicies, nas como nos logares descobertos, emfim em toda a parte onde lhe ! viver. As arvores altas nas visinhanças da agua fornecem-lhe - eminentemente favoraveis de existencia. Não duvída muitas * 4 ia 7 ias. OS 180 HISTORIA NATURAL ” vezes estabelecer-se junto das habitações humanas, chegando a penetrar nas herdades. q Como ave emigrante o faralhão existe longe de nós muito feet e consoante as temperaturas, assim apparece no fim de Abril ou começo de Maio e nos abandona no fim de Agosto ou já em principios de Setembro. O taralhão é um passaro vivo, agil, que anda constantemente à pro- cura de alimento. Pousado n'uma arvore, espia todos os movimentos dos insectos e cáe sobre elles fazendo ranger as mandibulas uma contra a outra. Tem um vôo leve e rapido. A voz do taralhão não é é agradavel, nem variada; o seu canto re- duz-se a uma serie de gritos em tons diferentes. Alimenta-se de insectos aliados, principalmente de moscas, mosqui- tos e borboletas. Se a presa é pequena, engole-a imncdiatáoaa se é grande, arranca-lhe primeiro as azas, parte-lhe as pernas e come-a depois. No tempo bom encontra facilmente alimentos; mas quando chove chega muitas vezes a sentir fome, como as andorinhas. Então vôa ancio- samente em torno das arvores, procurando algum insecto, unico recurso a que aspira, se não encontra fructos; se os encontra, come-os, com- quanto realmente não seja esta a alimentação que lhe convem. Não é raro encontrar o taralhão só; para encontrar uma familia é preciso que os filhos, precisando ainda do soccorro dos paes, se achem todavia aptos já para voarem. O macho e a femea, principalmente o pri- meiro, são ciosos dos seus dominios; não nitterh dentro: do logar que. balho am, os congéneres. Se algum destes se arrisca a penetrar ahi, é SN Ainica diante perseguido. Pelo contrario, vivem de harmonia com os. passaros mais pequenos do que elles. à Um par ou casal, desde que o: não obrigam a deslocar-se, aninha uma só vez por anno. O ninho é construido em qualquer logar conve- niente, ou seja sobre uma arvore pouco elevada ou n'um telhado ou ainda n'uma fenda ou buraco de parede. É formado de raizes, de musgo e oú- tras substancias analogas; o interior ou escavação é forrado de lã, de pennas e de pêllos. A postura realisa-se no começo de Junho; é de qua- tro ou cinco ovos de um azul claro ou esverdinhado com maculas ruivas desmaiadas. Durante quatorze dias macho e femea chocam alternada- mente. Os filhos crescem rapidamente; no entanto decorre muito tempo antes que possam prover elles mesmos ás necessidades de alimentação. Naumann conta O seguinte caso de amor materno no taralhão: «Um rapazito um dia apanhou dentro de um ninho uma femea com quatro fi- lhos incapazes ainda de voarem e levou-os todos para casa. A femea, sem querer saber se teria ou não possibilidade de fugir, adaptou-se às novas condições de vida e poz-se a caçar moscas para com ellas alimentar os filhos. Foi tal a actividade empregada n'este serviço que ao fim de pouco 181 não ev dit equal Para os , não deixar morrer de o rapaz levou os passaros para-casa de um visinho. A femea pro- | como anteriormente e todas as moscas da nova casa desapparece- Fgtearos foram | assim a de peça em ha- é NE pi 1% as n moscas. Desde q e reconhece a impossibilidade de fugir, * caça a estes. i insectos « e não descança em quanto não tem PE aid ho Ra 24) tab 7 UTILIDADE ' pn a 47] se “, , vi ; pat ve A e moscas emos. util o taralhão. Mas destroe ainda ou- anté os opens entr NA dl: pe Brel, Los ip. 16. Eua (poi bp ista 49 add. da bd à " AME RE bag Ê : ni x: grs cdi ba er ES a E , ! , + $ 182 “HISTORIA NATURAL = O PAPA-MOSCAS NEGRO Este passaro tem quatorze centimetros de RANRD 30h e tres ou vinte e quatro de envergadura e cinco a seis de cauda. cho apresenta cores que. diferem consoante as estações. Na quadra. amores tem a parte superior do corpo de um negro accentuado e : inferior, bem como duas manchas frontaes, brancas. O bico e os negros. À femea tem o dorso pardo escuro, o ventre de um bi as remiges e rectrizes de um castanho muito escuro, sendo dº “mas as mais externas incompletamente circuitadas de branco. antes da primeira muda assemelham-se à mãe. E Esta especie é muitas vezes confundida com a precedent “Jusão explica-se talvez pela semelhança extrema que existe e meas de uma e outra especie. O macho distingue-se pelo pe branco. | DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O papa-moscas de pescoço branco é commum na Grecia, na | no sul da Allemanha; é raro ao norte. SU! ki E ARE: : as Ressa—— SS N QE , MN ANN Imp. Lamoureux à Pares 1. O PapA-MoSCAS REAL. 2.0 AzuLaDINHO (PAPA MOSCAS DAS FILIPPINAS). Magalhães & Momiz, editores AVES EM ESPECIAL 183 COSTUMES Os papa-moscas negro e de pescoço branco são passaros vivos, acti- vos, sempre em movimento; mesmo pousados agitam constantemente a cauda e batem as azas. Só se conservam tranquillos e silenciosos quando o tempo é muito mao; então apresentam o aspecto de verdadeiros doen- tes. Nos dias bons conservam-se alegres, voando de ramo em ramo, ele- vando-se alto no ar, perseguindo-se uns aos outros, divertindo-se emfim. Agitando as azas e a cauda, não cessam de soltar o seu grito habitual pittpitt. Nos dias de primavera cantam quasi constantemente e o seu canto tem, diz Naumann, alguma coisa de melancolico. A marcha destes passaros é pezada e deselegante; o vôo, pelo con- trario, é facil, rapido, ondulado. Alimentam-se de insectos, principalmente de moscas. São de uma * grande voracidade e vivem por isso constantemente em caça. Aninham de preferencia nas florestas onde encontram arvores vetus- tas, de troncos carcomidos. Procuram um buraco conveniente, guarne- “cem-lhe as paredes de musgo e forram a parte central de pennas, de lã “e de pêllos. Ahi depositam cinco a seis ovos, de casca muito fina, de um azul esverdeado pallido. Macho e femea chocam alternadamente. A incu- bação dura, termo medio, quinze dias; ao fim de trez semanas já os fi- lhos voam, ficando todavia ainda por muito tempo com os paes. Nos pai- zes em que estes passaros aninham regularmente todos os annos, é pos- sivel attrail-os aos jardins e aos pomares, fazendo-lhes ahi ninhos artifi- ciaes. CAÇA Na Italia dá-se caça a estes passaros, porque a carne d'elles é ahi muito estimada. No outomno preparam-lhes armadilhas e apanham por este processo um grande numero. Na Allemanha ninguem os persegue, porque todos sabem quanto são uteis. CAPTIVEIRO Estes passaros são muito estimados para engaiolar; deleitam pelos costumes e pelo canto. Quando se deixam voar livremente numa sala, 184 HISTORIA NATURAL destroem completamente todas as moscas que ahi appareçam e attingem o grao de domesticidade preciso para comerem da mão do dono. Quando engaiolados, reclamam alimentação analoga à dos rouxinoes. A COTINGA CHILREIRA DA EUROPA Esta especie pertence ao genero bombycilla que se caracterisa as- sim: todos os individuos que o formam teem o corpo refeito, o pescoço curto, a: cabeça grande, as azas mediocres, ponteagudas, a cauda curta, larga, composta de doze pennas, o bico muito fendido, os tarsos muito: curtos e fortes e os dedos externo e mediano reunidos na base. A plu-'. qa yr magem é abundante e sedosa. se “— CARACTERES ESPECIFICOS A cotinga chilreira da Europa tem de comprimento trinta e dois cen- timetros, dos quaes sete pertencem à cauda, sobre trinta e sete de en- vergadura. A côr dominante é o pardo ruivo, mais escuro no dorso que no ventre. A parte superior e anterior do pescoço, a linha naso-occular e uma linha que passa por cima do olho são negras. As remiges são ne- gras, terminando as primarias por uma mancha amarella e branca em forma de Y e as secundarias por uma orla branca e seis ou oito d'entre ellas por uma placa cartilaginea de um rubro vivo. As rectrizes são ne-. gras tambem e terminam por placas semelhantes às das remiges secun- darias. Na femea e nos individuos não adultos as côres são mais des-: maiadas. | DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Este passaro habita o norte da Europa e da America. AVES EM ESPECIAL 185 COSTUMES A cotinga chilreira da Europa é muito frequente nos grandes pinhei- “raes do norte d'este continente; não os abandona senão quando o gelo pela abundancia a isso as obriga. É uma ave errante que no inverno per- corre dominios muito limitados, mas que a fome pode obrigar a empre- - hender longas viagens. Encontra-se todos os invernos nas florestas da Russia, da Polonia e do sul da Escandinavia. Na Allemanha apparece muito irregularmente e o povo d'esse paiz acredita que só ahi se apre- senta de sete em sete amnos. Chega a esse paiz na ultima metade de No- vembro para o abandonar no começo de Março ou ainda mais tarde; acre- — ditou-se que alguns individuos ahi fariam ninho, mas tal opinião não pode Re admittir-se desde que se sabe positivamente que a epocha da reproduc- - ção é no fim da primavera. — «Como todas as aves do Norte, diz Brehm, a cotinga chilreira da Bu- ropa quando chega ao nosso paiz parece estupida ou melhor demasiado confiada. Não é agil, mas antes lenta, preguiçosa, pensando apenas em comer e abandonando com extrema difficuldade o logar que uma vez es- “colheu. Leva a imprudencia até ao ponto de se estabelecer nas aldeias e nas cidades, se ahi encontra alimentos, sem de modo algum se inquietar “com a presença do homem. Mas não é imbecil como parece; se tem sido perseguida algumas vezes, torna-se timida e desconfiada. Vive em boas relações com as outras aves, ou antes em perfeita indifferença, porque de modo nenhum se oceupa 2 ellas. Vive em sociedade com os congéneres o que, de resto, no inverno fazem todas as aves emigrantes. De ordina- rio todo um bando poisa na mesma arvore, ficando os machos immoveis - nos ramos mais elevados. É ao fim da tarde e de manhã que manifestam mais actividade; voam para um lado e para outro em procura de ali- Aba mento, visitam todas as arvores, todos os bosques onde possam encon- trar baga. Raras vezes se encontram em terra; só o fazem para beber. Saltitam deselegantemente e pouco tempo se conservam no solo. Trepam pelos ramos das arvores com muita agilidade. Teem um vôo facil e ra- pido; ora batem as azas precipitadamente, ora as alargam. Resulta d'aqui que, voando, descrevem linhas onduladas, elevando-se quando batem as azas, baixando quando as conservam immoveis.» 1 O grito de reclamo da cotinga chilreira da Europa é comparado por Brehm, pae, ao ruido de uma roda de carro mal azeitada. Muitas vezes 1 Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 621 e 622. 186 HISTORIA NATURAL faz ouvir tambem um assobio semelhante, segundo Naumann, ao som que se produz soprando docemente no interior de um vaso occo. Nesta especie as femeas cantam como os machos. A cotinga chilreira é uma ave insectivora; no inverno porém vê-se muitas vezes forçada a comer baga e fructos selvagens de toda a ordem. Ainda não ha muitos annos ignorava-se completamente o modo de | reproducção da cotinga chilreira. Hoje sabe-se, graças principalmente às. investigações do inglez Wolley, que esta ave se reproduz na primavera e que o ninho, estabelecido n'um ramo de pinheiro a pouca distancia do | solo, é quasi exclusivamente formado de lichens e tem uma escavação profunda alcatifada de pennas. Os ovos são em numero de quatro a sete, azulados ou de um azul avermelhado com pontos trigueiros claros, tri- gueiros escuros, negros ou côr de violeta. Estes pontos abundam mais nas visinhanças da grossa extremidade onde formam uma especie de corôa. CAÇA No inverno é muito facil, diz Naumann, apanhar a cotinga chilreira em armadilhas. O vêr mortos os companheiros, não a impede de preci- pitar-se sobre o engodo. Assim se apanha um grande numero destes passaros. . CAPTIVEIRO À cotinga chilreira da Europa supporta muito bem o captiveiro. Na occasião em que a engaiolam, procura fugir; mas ao fim de instantes | submette-se inteiramente à sua sorte, come e conserva-se tranquilla. Alimenta-se com facilidade; contenta-se mesmo com pão humedecido em agua, com legumes cosidos, batatas, sallada, etc. Do que precisa é de abundancia nos alimentos. Vive em boa harmonia com os outros passa- ros captivos. Um facto extremamente singular é que a cotinga chilreira não liga, em captiveiro, importancia aos insectos. Ás vezes, diz Naumann, as moscas véem pousar-lhe sobre o bico sem que ella lhes dê caça. E des: a um genero cujos individuos ndo : teem 0 bico curto, achatado, di e ligeiramente CARACTERES ESPECIFICOS na ponta da haste. Mede dezesete centimetros de compri- EE é e 4 n! ar l qo MES Aq veio seia is si yr do grupo das ampelides que se caracterisam pela belleza er q fo Sb E des É de menores dimensões que a especie anterior. A cor v “0 roxo é O encarnado. Fa A COTINGA AZUL OU SAÍRA GRANDE DO BR. Nena, o ventre é roxo ea cauda e azas são negras. A COTINGA DE PEITO ENCARNADO a É mais bonita ainda que a cotinga chilreira. Teia as dep brilhantes, a garganta purpurea com salpicos escarlates, no sem | listra transversal e por BRA outra encarnada. Ce mes, ta Imp Lamoiteus,à P “a O GALLO DA SERRA CoTINGA AZUL. 1 *N So, 7 pISTRIntAIÇÃO | GEOGRAPHICA EE A. Ee ad e 1 Ui ç* dy es 0 AS TANGARAS ui mais curta que a segunda, que é a mais com- 6 muito al larga e “truncada na extremidade. A “DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA tági al 4 ' da < ] s são exclusivamente americanas; a zona tropical é a ver- Tem pouco mais ou menos as Aistnodo: do hei Tem o“ vermelho, o ventre azulado, a cabeça verde esmeralda, a Eng leta, o uropigio amarello e a cauda cinzenta escura. COSTUMES Assemelha-se nos habitos de vida às tutinegras e aos muito viva. Penetrando nos jardins e pomares torna-se Mia Ea porque come os gomos das plantas e os rebentos a v lamentos, as folhas e raizes e de assim crinas com que pança * CAPTIVEIRO carne crua. COSTUMES es e em É geral os pomares para roubar fructos. mente solta apenas um grito de chamada; no tempo dos 1, O macho faz ouvir um canto pouco extenso, soltado a dito é quanto se sabe dos costumes da tangara de ca- Assemelha-se nos habitos de vida às outras tangaras. aninhar um ramo horisontal e serve-se para fabricar o ninh tos e folhas; a entrada é sempre pela parte inferior. - Encontra-se esta especie nas Americas do Norte e do Sah j pray côr de fogo. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Vive na Guyana, onde é muito frequente. sgeteido O Ás especies descriptas devemos srs ainda as seguintes ( genero: de um canario. Esta. especie prodna; estragos notaveis nos America meridional. ' AVES EM ESPECIAL 193 A TANGARA FLAMEJANTE resentam manchas vermelhas. Mas às vezes encontram fe- velhas cuja plumagem se parece extremamente com a do sada a quadra dos amores o macho muda de pennas e apre- “um colorido analogo ao da femea. Os individuos novos pa- DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA a flamejante é propria da America septentrional. muito frequente em parte nenhuma, mas em compensação área, geographica de dispersão extensa. Nos Estados-Unidos “cada anno apenas quatro mezes da estação quente, pelo que lhe hi a tangara do estio, nome tambem adoptado na nomenclatura, da com facilidade e raras vezes pousa no chão. Durante uma certa te do anno, os insectos constituem a sua alimentação habitual. O ninho d'este passaro é d'uma construcção grosseira, formado ex- teriormente de raizes e internamente de hervas tenras; é fabricado ou sobre um ramo baixo ou na bifurcação de dois ramos. o vom IV 13 Raras vezes se encontra a tangara flamejante em capti condições alimenta-se facilmente de grãos, de fructos e sobre! nanas maduras. Entretem muito pa] o canto é insignific ropa é rarissima. tume que elle tem de aninhar nas roer “Forma com os semelhantes um ninho vastissimo, compartimentos quantos os paBRRE o ninho às vezes de uma palmeira. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA j DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA a America tropical. RGANISTA DE PEITO AMARELLO » é a mais conhecida. Mede “quatro pollegadas de com- Ro costas pretas, o ventre côr de laranja, a fronte e o E: End mito PE Re Dr. Ant, Hidaria tua! Popular vol. 1º, pag. 286. 196 HISTORIA NATURAL OS MANEQUINS Este genero comprehende um grande numero de passaros de azas curtas e plumagem vivamente colorida. Teem o bico curto e alto, de aresta mais ou menos saliente e angulosa, comprimida na metade ante- rior e apresentando uma ligeira chanfradura por diante do gancho termi- nal. As azas fechadas excedem um pouco a raiz da cauda; as primeiras remiges primarias são muito adelgaçadas na extremidade. A cauda é ora truncada em angulo recto, ora conica e ponteaguda, sendo as pennas me- dianas muito mais compridas que as outras. Os tarsos são finos e eleva- dos, os dedos curtos, sendo o externo e o interno soldados em metade da sua extensão. A plumagem é abundante e os bordos da cavidade boc- cal cobertos de sêdas rijas. A côr fundamental nos machos é o negro; a esta côr porém, associam-se outras vivissimas. Nas femeas a côr fundamental é um verde pardacento muito uni- forme. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Todas as especies do genero manequim são proprias da America. COSTUMES “+ Os manequins vivem aos pares ou em pequenos grupos; saltam de ramo em ramo e não voam nem alto, nem longe. São alegres e passam o dia em movimento constante. Como muitos outros passaros das florestas virgens, estes procuram os logares humidos, evitam as clareiras e as margens de rios desguar- necidos de arvores. De manhã cedo vêem-se os manequins reunidos em pequenos ban- dos, muitas vezes até misturados com outras aves; pelo meio dia estes grupos separam-se e cada um vae procurar os logares mais solitarios e sombrios. i AVES EM ESPECIAL 197 “O canto d'estes passaros é fraco e pouco extenso, mas muito agra- a tudo a baga e para a encontrarem chegâm até perto das habitações. Parece ea tambem grande predilecção pelos figos. eiro avermelhado claro e os pés côr de carne. A femea e não adultos são de um verde muito uniforme. » E bitto elévaida e na bifurcação de um ramo, completamente a des- | coberto, era muito pequeno e grosseiramente construido com hervás, lã a e musgo; continha dois ovos relativamente muito grandes, de um ama- A, iu Tello. acinzentado, com pontos claros dissiminados pela superficie e uma Burmeister diz tie nunca se » encontra este “Ditações. Rae RE CO ES IRA URNA RE RO O O O macho é negro, lustroso, excepto nas costas que são “tes e na crista que é côr de fogo. O bico é negro e os pos rello com tons vermelhos. A femea é verde. 7 — DISTRIBUIÇÃO GROGRAPHICA | Fra Aa COSTUMES “AVES EM ESPECIAL. 199 ANTA q ES at ' y O MANEQUIM BICOLOR ado, porque realmente é de duas côres: preto e dec doze centimetros de comprido e dezenove de envergadura; , centimetros. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA aro encontra-se espalhado em toda a America meridional. COSTUMES: psques e nas florestas virgens que alternam com os loga- Fóra da quadra dos amores encontra-se em bandos mais aro ) vivo, de reli actividade. Tem um vá rapido que sempre de um murmurio produzido pela agitação da extre- tada por um animal de grandes proporções; assim 'dadeira surpreza vêr a ave a que pertence. : quando se faz ouvir dilata a garganta cujas longas s parecem formar então uma especie de barba. “deste passaro é muito variado: alimenta-se tanto de ) de fructos. “sua reproducção sabe-se apenas que o ninho se assemelha ao das especies visinhas. 200 HISTORIA NATURAL O MANEQUIM VARIEGADO DO BRAZIL Tem na cabeça um martinete de pennas encarnadas muito brilhan- tes; as costas e as azas são verdes. Nos costumes esta especie é inteiramente semelhante às que des- crevemos. O CEPHALOPTERO OU GUIRA-MIMBY Este passaro representa a especie unica do genero cephaloptero, que pode caracterisar-se assim: todos os individuos que o formam teem um bico forte, do comprimento da cabeça, um pouco mais largo do que alto, de aresta arredondada e curva até à ponta, que é ligeiramente gan- cheada e dentada, azas compridas e ponteagudas, cauda comprida, ligei- ramente arredondada, tarsos curtos e robustos, uma poupa muito desen- volvida, semelhante a uma umbella e finalmente um appendice cutaneo na parte superior do pescoço, especie de papada comprida e completa- mente coberta de pennas. | CARACTERES ESPECIFICOS A plumagem do cephaloptero é negra; exceptua-se a poupa e o papo cujas pennas são violetas com reflexos metalicos. A mandibula superior é trigueira escura e a inferior pardacenta; os pés são negros. O macho tem cincoenta e trez centimetros de comprido. A femea é mais pequena e differe ainda do macho na poupa que é menos farta e no appendice guitural que é mais curto. AVES EM ESPECIAL RR a - DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA te oriental das cordilheiras do Peru até uma altitude ma do nivel do mar. Encontra-se em toda a bacia supe- COSTUMES a o, diz Tschudi, é frugivoro. Desde que uma dada região ce alimentos em quantidade suficiente, abandona-a. Vive ee sociedades. OS TORDOS . ação applica-se a uma familia numerosissima, onde se iores aves canoras, algumas do tamanho de pombos. CARACTERES as Dia elegantes, o vertice da cabeça arredondado, os as O, bico de comprimento medio, quasi recto, sendo apenas Das oitenta e tantas especies até hoje conhecidas, vinte e pi tencem às regiões septentrionaes, quinze ás Indias, cinco E Aus vinte e sete à America do Sul. 1 z. $- Lã E, pi COSTUMES “Todos os passaros comprehendidos n 'este. grupo teem en “maiores relações de costumes, de habitos e de caracteres. A rentesco que os une nunca foi posto em duvida. Não obstante, K vel formar dentro d'este grupo tres grandes generos: os tordos mente ido os melros e os tordos dos vemedos. j O TORDO COMMUM “ Mede vinte e quatro centimetros | de penbeio sobre trimi de envergadura; a cauda tem* onze centimetros. As costas azeitonadas, o ventre é branco amarellado com malhas trigue ou triangulares, a parte inferior das azas é amarella ruiva clar perior manchada de amarello ruivo sujo na extremidade. Os diferem apenas nas dimensões. Os individuos não adultos o nas “Costas manchas amareladas « e rig j [SEA CE o, DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA aparece. senão. de. inverno e não faz ninho ahi. o seita Ne - ia de SÓ | 203 : encontra-se tambem n'uma grande parte da Asia e da Africa. Em gal é e çge O TORDO ZORNAL vinte e oito centimetros de comprimento e quarenta e seis de a; a cauda tem pouco mais de onze centimetros. Tem a ca- às, as primarias bordadas externamente de cinzento, as se- manchadas de castanho claro, a parte anterior do pescoço de ello ruivo accentuado, de raias longitudinaes negras, os lados DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA o zornal é originario das grandes florestas do Norte. . menos im “silo que a papeis imp reaçã “O TORDO MALVIZ ri “Node este tordo vinte e quatro centimetros de comprimento e trinta dh “sete de envergadura; a cauda tem nove centimetros. O dorso é tri- 204 HISTORIA NATURAL gueiro azeitonado e o ventre branco. As partes latéraes do pescoço e a parte inferior das azas são de um ruivo vivo, O pescoço é amarelado e a parte inferior do corpo coberta em grande extensão de manchas alon- gadas, arredondadas ou triangulares, de um trigueiro escuro. O bico é negro com a base da mandibula inferior amarella; os pés são averme- lhados. A femea tem as côres menos vivas que as do macho. Os individuos não adultos teem o dorso amarellado e a parte infe- rior das azas de um ruivo fuliginoso. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O tordo malviz é commum na Europa. Apparece tambem ao norte da Africa e na Asia. A TORDEIRA OU TORDOVEIA É esta a maior das especies da Europa. Mede vinte e oito centime- tros de comprimento e quarenta e cinco a quarenta e oito de enverga- dura; a cauda tem onze a doze centimetros. As costas são de um pardo escuro e as pennas das azas e da cauda quasi negras, de bordos ama- rellados claros. A parte inferior do corpo é esbranquiçada e apresenta manchas de um trigueiro escuro, triangulares na garganta, reniformes ou ovaes no peito. O bico é amarellado na base e trigueiro no resto da extensão; os pés são côr de carne. A femea é um pouco mais pequena que o macho. Nos individuos não adultos as pennas do ventre apresentam manchas longitudinaes amarel- ladas. As peúnas superiores das azas teem a haste amarella. AVES EM ESPECIAL 205 CO DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA AITIr+ Si Drs » habita toda a Europa desde o extremo norte até ao “nas grandes florestas de coniferas. No inverno os in- rte emigram para o Sul. Tem-se encontrado este passaro algumas vezes na Africa. É frequente entre nós. O TRIGUEIRO (lurdus fuscatus) ; JO DE NAUMANN (turdus Naumanni) ; temos mais: EMIGRANTE (turdus migratoriws) ; “SOLITARIO (turdus solitarius); DE WILSON (turdus Wilsoni); DE SWAINSON (turdus Swainsoni); . Ão (turdus minor). O TORDO DE PENNAS MOLLES (lurdus mollissimus) ; 'ORDO DE GARGANTA NEGRA (turdus atrigularis). “duas especies pertencem à America do Norte. * mais como especie australiana: 206 HISTORIA NATURAL OS MELROS Estes passaros distinguem-se dos tordos pelo systema de coloração, sendo os machos quasi unicolores e não tendo nem a garganta, nem o peito, nem as partes lateraes do tronco pontuadas ou maculadas. A plu- magem das femeas, além d'isso, não differe da dos machos. O MELRO PRETO | O melro preto mede vinte e sete a vinte e oito centimetros de com- prido e trinta e sete a trinta e oito de envergadura; a cauda tem doze centimetros. ? | O macho adulto é negro; só o bico e bordo palpebral são amarellos vivos e os pés trigueiros escuros. | ; A femea tem as costas pretas, o ventre pardo escuro, malhado de pardo claro, a garganta e a parte superior do peito pardas com malhas esbranquiçadas ou arruivadas e o bico trigueiro. Os individuos não adultos teem as costas pardas escuras com man- chas transversaes de um amarello ruivo e o ventre ruivo com manchas transversaes acastanhadas ou trigueiras. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Desde o sexuagessimo sexto grao de latitude norte até ao extremo sul da Europa, o melro negro é por toda a parte um dos passaros mais communs. Em Portugal é muito vulgar. O Merro. 2 O MeLrO COR DE ROSA. 3 (O MELRO BRANCO. [ Variedade albina do melro negro.) Magalhaês 8& Moniz , Editores, AVES EM ESPECIAL | 207 . 1 “O MELRO DE PEITO BRANCO o tem vinte é oito: centimetros de comprido sobre quarenta envergadura; a cauda tem doze centimetros. O macho tem res do corpo muito escuras, a garganta, a parte ante- o ventre escuros tambem, mas de um escuro menos 2 as pennas bordadas de um pardo esbranquiçado, o peito “uma larga, raia, branca na primavera e de um branco “trigueiro no outomno, o bico negro com a base da man- ruiva e os pés de um trigueiro muito escuro. Na femea 41 é de um pardo sujo em vez de ser branca. “ É de is à ) DE SOBRANCELHAS BRANCAS Eu) Ras: | Dk ] 208 HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Vive habitualmente na Siberia e outros pontos da Asia, apparecendo. muito raras vezes na Europa. COSTUMES DOS TORDOS E DOS MELROS Os tordos vivem nas regiões mais diversas, nas condições mais va- riadas, mas procurando sempre de preferencia os bosques. Mas não são * sómente os bosques densos das planicies ou as gigantescas florestas vir- gens dos tropicos que os attráem; instalam-se mesmo nas florestas de coniferas ou nos bosques cheios de clareiras das steppes. Mas ainda para além da zona das arvores, no meio dos gêlos encontram um abrigo. São poucos os que se conservam todo o anno n'um mesmo logar. Os que habitam o norte e as regiões temperadas são passaros emigran- tes, que emprehendem extraordinarias viagens. Diz Brehm que muitos dos que apparecem na Allemanha, teem partido do extremo oriente da Siberia, sendo-lhes preciso pois atravessar toda a Asia para chegarem à Europa. Naumann diz tambem: «Ficamos surprehendidos ao pensar nas distancias consideraveis que alguns tordos percorrem e no pouco tempo que empregam na viagem e na superação dos obstaculos que se lhes oppõem à passagem.» Segundo Naumann, a causa proxima d'estas emi- grações reside em parte nos instinctos sociaveis d'estes passaros e em parte nas tempestades, nos ventos desfavoraveis e nos furacões que os desviam da sua marcha habitual. Os tordos são passaros admiravelmente dotados. São ageis, pruden- tes, possuem sentidos muito delicados, cantam bem, são sociaveis, teem emfim mil boas qualidades, o que não quer dizer qne não tenham tam- bem defeitos. Desde madrugada até ao fim da tarde vivem em movi- mento constante; só à hora do meio dia, quando o sol parece queimar a terra, é que repousam um pouco. Em terra saltam com agilidade; se os surprehende alguma coisa de extraordinario, erguem a cauda e batem as azas. Movem-se egualmente bem sobre as arvores, saltando de ramo em ramo, a grandes distancias às vezes, com um pequeno auxilio das azas. AVES EM ESPECIAL 209 “Quando se lhes mette medo, ao principio não fazem mais que volitar deselegantemente de moita em moita, razando o solo; mas desde que se elevam a uma certa altura, fendem o ar com enorme rapidez. Os sentidos dos tordos são, como dissemos, muito delicados; vêem perfeitamente a grande distancia o mais pequeno insecto. Ouvem tambem admiravelmente e sabem distinguir os sons, como do canto se pode con- cluir. A gulodice que os caracterisa parece provar que teem paladar. Não pode recusar-se-lhes intelligencia. São astutos, prudentes sem timidez. Tudo quanto é novo lhes desperta à attenção. Approximam-se com curiosidade d'aquillo que os impressionou, conservando-se porém prudentemente em guarda. Os que se crearam nas florestas desertas do Norte são faceis de surprehender e de apanhar em armadilhas; mas, uma vez instruídos pela experiencia, já se não deixam apanhar do mesmo modo. Os tordos são, com pequenas excepções, passaros sociaveis; não po- — dem viver uns sem os outros, e raras vezes um solta o seu grito de re- clamo sem que os outros respondam. Mas, apesar dos instinctos de so- ciabilidade, os tordos não são pacificos, antes vivem em disputas conti- nuadas. | Muitas vezes reunem-se especies diferentes e viajam juntas. O homem inspira a estes passaros pouca confiança; assim é que, mesmo aquelles que véem estabelecer-se junto das habitações, conser- - vam-se sempre em guarda, perpetuamente desconfiados. De resto, sabem - perfeitamente distinguir os individuos que podem fazer-lhes mal dos que são para elles inoffensivos. Assim se deixam approximar dos pastores, ao passo que fogem de muito longe aos caçadores. É esta, entre muitas, uma prova de intelligencia dos tordos. Quando se apanham vivos, mostram-se ao principio muito selvagens; ao fim porém de alguns dias de captiveiro, com auxilio de bons cuida- dos, apresentam-se doceis e acabam por manifestar uma grande afeição pela pessoa que lhes dá alimentos. Os tordos, como os melros, devem classificar-se entre as boas aves canoras. Os que sob este ponto de vista occupam os primeiros logares são o tordo commum e o melro preto. O canto d'este passaro compõe-se de uma serie de phrases que Brehm classifica de «admiravelmente bel- las», mas mais tristes que as do canto do tordo commum. Estes cantos são apropriados às florestas; para uma sala são talvez fortes de mais. Os tordos principiam muito cedo a cantar e não cessam senão em fins do estio. O melro preto faz ouvir as suas canções desde o mez de Fevereiro, quando as florestas estão ainda cobertas de gêlo. Ao passo que a grande maioria das aves canoras acompanham as suas canções de mo- VOL, IV 14 210 à HISTORIA NATURAL vimentos das azas, da cauda, de todo o corpo emfim, os tordos e os mel- ros conservam-se tranquillos, solemnes emquanto estão cantando. Como entre as outras aves canoras, entre os tordos e os melros a selecção sexual baseia-se sobre a variedade, agudeza e lia do canto. Os tordos alimentam-se de insectos, de vermes de toda a esponli e no outomno comem baga. Todos os dias consagram algumas horas a pro- PRE curar a alimentação; abandonam as florestas e invadem então os cam- pos, os prados, as margens de todos os cursos d'agua. O melro de pes- coço branco, depois da quadra dos amores, come murtinhos em quanti- dade tal que, segundo Schaver, a carne torna-se-lhe azul e a plumagem maculada. Os tordos comem tambem muita fructa, por exemplo o e uvas. Os ninhos das differentes especies de tordos e de melros: asseme-. lham-se muito na conformação, diferindo apenas nas posições que oceu-. pam. Tanto no grupo dos tordos como no dos melros, os paes manifes- tam pelos recemnascidos uma grande sollicitude, defendendo-os com rara - | coragem. À incubação dura geralmente quatorze a dezeseis dias; tres se- manas depois de nascidos, os filhos encontram-se aptos para voar, mas conservam-se ainda na companhia dos paes até o outomno. Poucas sema-. Té de nas depois de separados dos paes, mudam de plumagem. dis Nas grandes emigrações que emprehendem, os tordos constituem bandos numerosissimos, que durante o curso da viagem se decompõem de ordinario em pequenos grupos conservando comtudo entre si uma tal ou qual dependencia. CAÇA 4 Os tordos e os melros, mao grado a belleza do canto que devia tor- nal-os credores da nossa sympathia, teem sido desde a mais alta anti- guidade objecto de uma caça constante, tenacissima. Este empenho em destruir especies que pouco mal nos fazem-e que, em compensação de algum prejuizo, nos deliciam pelas suas canções, só pode explicar-se pela circumstancia de possuirem uma famosa carne, apreciada pelos gas- tronomos de todos os tempos e tambem pelo preconceito de que os mus- culos destes passaros são poderosos remedios contra muitas doenças. Os processos de caça variam. Umas vezes matam-se estes passaros a tiro, attraindo-os a um local determinado por meio do canto de compa- nheiros captivos ou de um instrumento que o imita. Empregam-se tambem as armadilhas engodadas com insectos ou fructos. E “AVES EM ESPECIAL dd] na GAPTIVEIRO | ne s e os melros conservam-se perfeitamente em captiveiro, de se introduzirem n'uma gaiola espaçosa e collocada ois grandes inconvenientes em os ter dentro de casa: re-se ao canto que, como dissemos já, é excessivamente o está na immundicie que fazem estes passaros e que é ncia natural da voracidade de que são dotados. Mas nas ja referidas, os tordos e os melros são excelentes captivos E id que nos encantam, porque, quando ainda as outras rvam silenciosas, já elles se fazem ouvir. Com effeito, tanto 0 como em o nc estes passaros principiam a cantar em O TORDO DOS REMEDOS “CARACTERES ESPECIFICOS “a dos remedos mede vinte'e seis centimetros de cera 212 | HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O tordo dos remedos pertence aos Estados-Unidos. É mais commum ao sul do que ao norte; no inverno emigra para as latitudes mais quentes. COSTUMES O tordo dos remedos vive nas plantações, nos bosques pouco den- sos e nos quintaes; no inverno approxima-se dos povoados. Os logares porém que a todos prefere são as margens dos rios e as costas do mar onde vegetam arbustos e arvores pouco elevadas. Nas grandes florestas é raro. No dizer de Gerhardt, o canto do tordo dos remedos assemelha-se ao do tordo commum. Pelo seu lado, Wilson e Audubon affirmam que o tordo dos remedos é o primeiro dos passaros cantores, porque nenhum possue voz tão extensa e tão variada como a d'elle. «Não são os mavio- sos sons da flauta, escreve Audubon, ou de qualquer outro instrumento que se ouvem, mas a voz bem mais melodiosa da natureza. Não se po- dem imitar notas tão cheias, tão variadas, tão extensas. Não existe ave no mundo que possa rivalisar com este rei do canto. Os europeus dizem que o canto do rouxinol não é inferior ao do tordo dos remedos. Eu ouvi um e outro, tanto em liberdade como em captiveiro: estou de ac- cordo em que, tomadas isoladamente, as notas do rouxinol sejam tão bellas como às do tordo dos remedos; mas, apreciando o canto no seu conjuncto, não pode o do rouxinol comparar-se ao da nossa especie.» * Os entendedores europeus são de opinião diametralmente opposta a esta. Gerhardt diz: «O tordo dos remedos deve todo o renome de que gosa ao talento com que imita o canto das outras aves. Os bons canto- res são raros no Novo Mundo; basta que ahi se encontre um soffrivel para desde logo se elevar ás nuvens.» | O canto do tordo dos remedos varia segundo os logares: nas flores- tas imita o canto das outras aves, junto das habitações imita a voz de todos os animaes e ainda outros sons que ahi se produzem. Reproduz facilmente 'o canto do gallo, o latido do cão, o grunhido do porco, os sons produzidos por um catavento ou por uma serra, o tic tac de um ! Citado por Brehm, Loc. cit., vol. 3.º, pg. 666 e 667. . AVES EM ESPECIAL 213 ho, etc. Incommoda muitas vezes os animaes domesticos: assobia os cães, que pensando ouvir o dono se levantam e vão correr-lhe ao contro; faz despertar as gallinhas simulando o grito de angustia dos a de insectos, de bagas, de fructos. Faz o ninho nas ar- a postura dá Era a seis ovos, a segunda cinco ea “CAPTIVEIRO do PM remedos domestica-se perfeitamente. Chega mesmo a gaiola e entrar de novo para ella à voz do dono. Reproduz-se iro e não perde nada do seu talento imitativo. Reclama ali- semelhante à dos outros tordos e dos melros. O MELRO D'AGUA e pertence ao genero cinclus de Linneu. Mede vinte e um 3 comprimento e trinta e um de envergadura; a cauda tem a femea é um pouco mais pequena que o macho. 8 adultos teem a pri a nuca é à parte posterior do : Denis sendo a terceira penna a mais comprida, uma lito curta, egual, formada de remiges largas, arredondadas na de, tarsos ua alongados, mas espessos, dedos grandes e for- 214 1 HISTORIA: NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O melro d'agua habita todas as montanhas da Europa em que os cursos d'agua abundam. Tambem vive n'uma parte da Africa e da Asia central e menor. COSTUMES Este passaro procura os cursos d'agua límpidos, ensombrados, que descem das montanhas. Sobe até à origem d'elles e acompanha-os até ás planicies. Se os residuos de uma fabrica não veem perturbar as aguas, pode estar-se certo de encontrar nas margens este passaro, qualquer que seja a estação. Afasta-se pouco do logar uma vez escolhido; não o aban- dona mesmo durante os rigores do inverno. De resto, observa Brehm, não se fixa senão nos cursos d'agua que o gêlo não invade. Procura por isso as fontes vivas, as quedas d'agua, as cascatas, os logares, numa palavra, em que a agua pela sua temperatura propria, ou pela agitação ou ainda pela impetuosidade não chega a gelar. Quanto mais rapido é um curso d'agua, quanto maior numero de cascatas forma, quanto mais impetuosa é a corrente, mais o melro gosta d'elle. Cada casal toma como dominio proprio um quarto de legua pouco mais ou menos da extensão do curso d'agua, percorrendo continuamente este espaço. Onde o dominio dum casal acaba, começa o d'outro. No dizer de Brehm, o melro d'agua é um dos passaros mais curio- sos e mais interessantes que existem. Corre ligeiro por cima das pedras, mexendo constantemente a cauda, mergulha e caminha debaixo d'agua, descendo e subindo a corrente, como sobre a terra secta. Tem-se dito que elle é capaz de conservar-se debaixo d'agua alguns minutos; ha n'esta aflirmação um exagero enorme. Homeyer fazendo muitas observa- ções n'este sentido, de relogio na mão, concluiu que o passaro se não demora submerso mais do que quinze a vinte segundos. O melro d'agua precipita-se no turbilhão mais impetuoso, na cascata mais rapida. Nada tão bem como as aves palmipedes; as azas fazem a funcção de remos. Vôa muito bem; se o perseguem, foge batendo as azas precipitada- mente. Vôa sempre à mesma altura, seguindo todas as sinuosidades do ribeiro para parar subitamente desde que encontra um escondrijo seguro. Se é perseguido, percorre assim, voando, um espaço de quatrocentos à quinhentos passos; se o não perseguem, volita apenas de uma pedra à 7 AVES EM ESPECIAL 215 outra pedra. Se o attacam de muito perto, então, e só então, eleva-se alto na atmosphera, acima das arvores e abandona a agua, para a ella “voltar porém, decorrido um certo tempo. Nos logares em que ninguem o inquieta, acontece muitas vezes, diz Homeyer, que pára de repente quando vae voando, conserva-se sobre um mesmo logar, pairando, du- rante algum tempo e por fim, estendendo as pernas, deixa-se cair e desapparece debaixo da agua. A vista e o ouvido são perfeitissimos no melro d'agua; parece que os outros sentidos teem tambem grande desenvolvimento. A inteligencia está longe de ser limitada. É um passaro prudente, que reconhece per- feitamente os amigos e os inimigos. Não é desconfiado; no entanto presta altenção a quanto em volta delle se passa. Foge do homem que vem — perturbal-o no seu retiro solitario. Conserva-se em guarda contra todos OS animaes carnivoros, seja qual fôr a especie a que pertençam. Nos lo- Roça à — gares onde sabe que ninguem o perturba, onde sabe que nenhum pe- r e — rigo O ameaça, torna-se confiado, estabelece-se mesmo junto dos moinhos — e vê no moleiro e na familia d'este amigos apenas. Introduz-se até algu- - mas vezes nas cidades e aldeias; Homeyer viu um casal em Baden-Baden, percorrendo os atrios dos hoteis mais frequentados e mergulhando à vista mesmo dos banhistas. O melro d'agua não é sociavel; evita mesmo a companhia dos con- géneres. Só no tempo dos amores se encontram juntos macho e femea; e familias inteiras só se vêem em quanto os filhos carecem do auxilio dos paes, porque depois d'isso separam-sé e no resto do anno cada qual vive isolado e exclusivamente para si. Se um melro aquatico excede os seus limites de exploração e se atreve a penetrar nos dominios de um outro, este persegue-o, dá-lhe caça. Vive porém em boas relações ou an- tes em plena indiferença com outras aves, supportando-as muito bem dentro dos seus dominios. O canto do melro d'agua não pode comparar-se ao do melro preto; é muito fraco, mas em todo o caso agradavel. Canta muito nas manhãs de primavera; mas o tempo frio não o faz emudecer. «É uma bella appa- rição, diz Schinz, no mez de Janeiro, quando o frio é intenso e pene- trante, quando toda a natureza parece caída em lethargo, a d'este pas- saro, poisado sobre um pedaço de gêlo ou sobre uma pedra, soltando para o ar as suas notas harmoniosas.» Mas mais bello e mais attrahente espectaculo é ainda, diz Brehm, vêl-o precipitar-se na agua gelada, ba- nhar-se, mergulhar, nadar por ella, como se para elle o inverno e os seus rigores não existissem. O melro d'agua alimenta-se quasi exclusivamente de insectos e de larvas. No inverno, segundo Gloger, come tambem pequenos molluscos é peixes novos. 216 HISTORIA NATURAL O melro d'agua é vivo, alegre e dotado de uma grande actividade que o traz o dia quasi inteiro em movimento; com effeito, só "Ro às horas de grande calor, no estio. Este passaro aniiha uma vez por anno e só excepcionalmenie duas. No começo de Abril principia a construir o ninho. Estabelece-se perto d'agua, sobre um rochedo, no tronco carcomido de uma arvore, nas pa- redes dos canaes, até mesmo nas rodas de um moinho que ha muito não funcciona. Procura sobretudo os logares por diante dos quaes haja uma queda d'agua, porque ahi fica ao abrigo de animaes carnivoros. O ninho é externamente formado de raizes entrelaçadas, de hervas e de musgo e internamente de folhas de arvores; as paredes são espessas e a esca- vação representa mais de meia esphera. A entrada é geralmente estreita. O numero d'ovos postos é de quatro a seis, de vinte e trez a vinte e oito millimetros no sentido do diametro longitudinal e de vinte no sentido do diametro transversal. À casca é branca, fina e de poros muito visiveis. De ordinario não vingam mais que dois filhos, o que deve talvez attri- buir-se à humidade a que estão expostos os ovos. INIMIGOS Os mais terriveis inimigos do melro d'agua são os carniceiros no- cturnos, que não duvidam atirar-se à agua para o fim de apanharem uma presa. CAÇA Em parte nenhuma se faz uma caça regular ao melro d'agua; parece até que o homem tomou este passaro encantador sob a sua protecção. De resto, a caça, a tentar-se, seria difficillima: as armadilhas, uma ou ou- tra vez empregadas, para nada serviram e as armas de fogo, dada a timi- dez e o vôo sinuoso do melro d'agua, só poderiam produzir algum resul- tado nas mãos de atiradores excepcionalmente adestrados e habeis. Co- nhece-se apenas um meio de caça seguro, embora difficil e por isso raras vezes empregado. Esse meio consiste em observar ao fim da tarde qual o buraco da margem do curso d'agua em que o melro se esconde para repousar e ir depois de ser noite com uma lanterna escondida, silencio- samente, até junto d'esse buraco e abril-a repentinamente: o passaro . fica offuscado pela luz e deixa-se apanhar. AVES EM ESPECIAL » a Mi CAPTIVEIRO. biaidos ao captiveiro, morreram passado muito pouco nam univocamente Homeyer, Brehm e Girtanner. Embora agua, embora se lhes ministre a alimentação de que fazem ade, o que é certo é que vão definhando sempre e progres- “até à morte; alguns chegam mesmo a recusar os alimentos ipio do captiveiro. N'estas condições, diz Girtanner, a glan- na deixa de segregar a quantidade de materia gordurosa | para untar as pennas; e o passaro, após um banho, fica tempo molhado e exposto aos gravissimos inconvenientes de mento. Deveremos attribuir a isto a morte de todos os indi- e OS BREVES É O BREVE DE BENGALA É das especies mais conhecidas. Tem as costas, as espadu pennas superiores das azas de um azul com tons verdes, as pc periores da cauda azues claras, a garganta, o peito, as partes do pescoço brancas, o ventre amarello escuro com uma larga m: carlate no baixo ventre e na região anal, uma listra negra no. cabeça, uma outra de egual côr, estendendo-se do bico até à nuc sando pelos olhos, uma linha branca em forma de sobrancelhas, ges negras de ponta branca, as rectrizes negras de ponta azul € bico negro e os pés de um amarello avermelhado. E O comprimento d'este passaro é de dezenove centimetros. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O BREVE DE ANGOLA Me É um dos passaros mais bellos d'Africa. Assemelha-se muito ao cedente, sendo porém mais vigoroso. Tem as costas verdes, pi eil “AVES EM ESPECIAL | Ao — DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA + “O BREVE ESTREPITOSO E 4 ) tem as costas e as azas de um magnifico verde azeito- e as pennas superiores das azas verdes esmaecidas, a as e a nuca negras, a parte inferior do corpo amarella, ee nas hs inferiores das azas onde se encontram 220 HISTORIA NATURAL COSTUMES COMMUNS DOS BREVES Os costumes e habitos de vida dos breves são conhecidos ha pouco tempo e de um modo insufficiente; aos trabalhos de Jerdon, de Bernstein e de Wallace se deve esse conhecimento. Quasi todos os breves habitam as florestas e as moitas. Por exce- pção, alguns estabelecem-se nas vertentes pedregosas das montanhas, onde raras plantas vivem. A maior parte d'estes passaros porém, habi- tam as florestas virgens, quasi impenetraveis para um Europeu. D'aqui, naturalmente, as difficuldades com que lucta o observador para surpre- hender-lhes os habitos de vida. «Durante dois mezes, diz Wallace, o meu melhor caçador viu muitas vezes os breves, mas nunca pôde matar um unico.» Os breves são graciosissimos. Voam raras vezes e só quando se sen- tem perseguidos; saltitam constantemente em terra e gostam de empo- leirar-se sobre objectos pouco elevados, como pedras e troncos d'arvores derrubadas, para melhor verem d'ahi os insectos. Jerdon diz que os breves voam mal e que os furacões podem trans- portal-os a logares onde, se não fosse isso, nunca chegariam. Assim appa- recem em Karnatik no começo dos calores, na epocha dos grandes ven- tos; e n'essas condições, a despeito da sua grande timidez, procuram abrigo nas casas, nas cavernas, em todas as construcções que possam fornecer-lhes um refugio. O primeiro breve que Jerdon viu tinha-se refu- giado no hospital de Madras. De ordinario os breves vivem solitarios; só excepcionalmente se en- contram alguns reunidos. Jerdon viu uma só vez um bando de trinta e quatro individuos. : Raras vezes se ouve a voz d'estes passaros; mas é ella tão singu- lar que, uma vez ouvida, nunca mais se esquece ou se confunde com a, de outro passaro. Essa voz compõe-se, affirma Wallace, de duas notas si- billantes, uma curta e outra longa que se succede immediatamente à pri- meira. Os breves alimentam-se de insectos, de coleopteros, de nevropteros, de vermes e d'outros pequenos animaes. Gould crê possivel que as espe- cies australianas comam fructos; comtudo não apresenta factos positivos em abono da sua opinião. Como os tordos, os breves apanham o alimento no solo; como os melros d'agua, introduzem-se nos ribeiros até aos tar- sos € ahi perseguem a presa. As especies conhecidas construem o ninho ou no solo ou a uma pe- quena altura. Esse ninho é formado externamente de ramos seccos e for- AVES EM ESPECIAL 221 vermelhas. e trigueiras escuras. Macho e femea dedicam aos rande sollicitude. Á falta de força, o macho procura affastar ior cerrado das florestas, é relativamente facil para os ' OS apanham vivos em armadilhas ou os matam a tiro. CAPTIVEIRO “observou estes passaros em captiveiro. «Nos primeiros turalista, referindo-se a dois que apanhara, mostraram-se lo pouco tempo porém, habituaram-se à sua sorte e ao S já me vinham comer à mão. Os termes, as larvas e tituiam o alimento favorito d'estes passaros. Quasi todo m sobre o pavimento da gaiola; raras vezes trepavam ao io que não seria dificil habituar estes passaros a outro itação e transportal-os para a Europa. Constituiriam ahi “ornamentos dos jardins zoologicos.» ! 2929 HISTORIA NATURAL OS FORMICIVOROS «Notando que a nossa caravana, diz Schomburgk, estacara brusca-. mente e pensando que um obstaculo imprevisto a isso a forçara, corri pressuroso a saber a causa. Os meus companheiros haviam parado em frente de uma grande listra escura de doze a dezeseis pés de largo cons- tituida por fileiras cerradas de formigas viajantes que atravessavam O caminho. Esperar que ellas passassem obrigar-nos-hia a uma grande de- mora e tomamos por isso a resolução de atravessar as columnas de in- sectos, o que fizemos a correr e aos saltos, sem que todavia podesse- mos evitar as mordeduras ou lograssemos sacudir as formigas que nos cobriam as pernas até aos joelhos. Estes insectos de que ninguem co- nhece nem a procedencia, nem o destino, attacam e atiram por terra | tudo quanto encontram na passagem. Mas teem tambem inimigos encar- niçados e terriveis, entre os quaes os passaros devem contar-se em pri- meiro logar.» Brehm faz d'esta citação a introducção ao artigo em que se occupa dos formicivoros, isto é dos passaros que mais notaveis se tornam pela guerra sem treguas que movem às formigas. E a passagem alludida é com effeito a mais propria para dar idéa da importancia ver- dadeiramente extraordinaria destes passaros. CARACTERES Os formicivoros teem um bico muito forte, quasi conico, de ponta recurva e precedida de uma pequena chanfradura, os tarsos altos e for- tes, os dedos grossos e pouco compridos, as unhas curtas e recurvas, as azas de comprimento medio, obtusas, tendo a quarta remige mais com- prida que as outras, e uma cauda muito comprida e arredondada. “AVES EM ESPECIAL —imos O OLHO DE FOGO o, assim conhecido pela côr dos olhos, mede dezenove DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA COSTUMES quasi exclusivamente de formigas; e é tal o ardor com a estes insectos que é facil ao caçador approximar-se “que atirou seis tiros successivos sobre um bando d'es- n conseguir afugental-os por mais de um instante, tão en- na perseguição de grandes formigas negras. em que os formigueiros abundam é pois uma facil em- olho de fogo. O que é difficil é apanhal-o depois de morto, “das formigas e o caçador que se approxima para levan- cruelmente ferido por estes terriveis insectos. Foi o que Kitilitz, uma vez. : 224 HISTORIA NATURAL O PAPA-FORMIGAS MAIOR Este passaro mede vinte e dois centimetros de comprimento; a cauda tem cinco. É trigueiro com manchas claras formadas pelas hastes das pennas mais pequenas. As pennas superiores das azas apresentam tons | vermelhos; as remiges e rectrizes são de um trigueiro muito escuro com as barbas externas de um ruivo fuliginoso. O ventre e o peito são tri- gueiros claros, o bico é negro ou quasi negro, de bordos claros averme- lhados e os pés são de um pardo arruivado. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O papa-formigas maior encontra-se em todas as florestas cerradas da costa do Brazil, até à Colombia. COSTUMES Este passaro, sem ser raro, é todavia difficil de encontrar-se, porque não vive senão nas moitas e florestas mais espessas e nunca deixa que al- guem se approxime d'elle à distancia de um tiro d'arma. . | No dizer de Burmeister, este passaro desperta muito cedo e faz-se ouvir a uma hora em que todas as aves das mesmas regiões se conser- vam ainda mudas. O seu grito de reclamo consiste n'um assobio agudis- simo. Ao que dizem os indigenas, este passaro faz o ninho em terra e põe ovos cuja côr é um mixto de azul e verde. Quanto à alimentação, o nome mesmo do passaro dispensa-nos intei- ramente de quaesquer considerações. AVES EM ESPECIAL E AS GRACULINAS racte isa estes pesnts 6 a existencia de nuas excrescen- vi parto posterior da à cabeça. grande: mede vinte e sete centimetros de compri- e um de envergadura. A cauda tem sete centimetros. ) so com reflexos verdes e côr de violeta em certas 226 HISTORIA NATURAL COSTUMES No dizer de Jerdon, a graculina palreira habita as florestas. Appa- rece tambem nas montanhas até uma altitude de mil metros acima do nivel do mar. De ordinario apparece em bandos pequenos de cinco ou seis individuos cada um; só de inverno estes bandos se tornam mais nu- merosos. Passa a noite entre os bambus, à beira dos cursos d'agua. Alimenta-se quasi exclusivamente de fructos, visitando todos os po- mares, o que contra ella excita a animadversão dos cultivadores e pro- | prietarios. | É um passaro prudente, de grande voracidade. O canto d'este passaro é rico e agradavel. A especie possue ló d'isso, como outras especies visinhas, o talento de imitação em alto grao. CAPTIVEIRO Encontra-se muitas vezes a graculina palreira em captiveiro. Habi- tua-se facilmente ao dono, vôa livremente pela casa, procura ella propria os alimentos de que faz uso e diverte a todos pela docilidade e pelo talento de imitação que a distingue. Alguns amadores chegam a aflirmar que no talento imitativo, a graculina excede os papagaios. Repete pala- vras, phrases inteiras, assobia, canta arias e não tem os defeitos dos pa- pagaios. É pois, diz Brehm, um excellente passaro para engaiolar. Tra- | zido à Europa e tratado cuidadosamente, supporta o captiveiro por mui- tos annos. É de notar que n'esta especie as differenças individuaes são nume- rosas; assim, ao passo que muitas graculinas são o que fica dito, outras ha inteiramente estupidas e absolutamente incaracteristicas. Brehm falla de uma, existente no jardim zoologico de Hamburgo, e diz que é uma ave cruel, credora do nosso aborrecimento, que se conserva sempre si- lenciosa e que apenas se faz notar por uma voracidade extrema. AVES EM ESPECIAL “227 O PAPA-FIGOS um pouco deprimido na base que é larga e comprimido na longas, a cauda de comprimento mediano e larga, os tar- CARACTERES ESPECIFICOS pa-figos mede vinte e sete centimetros de comprimento sobre ro de envergadura; a cauda mede onze centimetros. A femea é rias e a cauda trigueira, terminando em amarello. Até à idade mê os machos apresentam o mesmo colorido da femea. O bico é p Ê knbsitudiido as regiões mais septentrionaes, e uma grande ir são a patria do papa-figos. COSTUMES Estabelece-se nos grandes bosques das planicies; raras vezes appa- - rece nas montanhas. Penetra muitas vezes nos pomares das aldeias e ci- * 228 HISTORIA NATURAL dades, sobretudo na epocha em que as cerejas e os figos, seu manjar predilecto, estão maduros. No inverno penetra na Africa central; sob o undecimo grao de lati- tude norte, Brehm viu ainda alguns destes passaros voando para o sul. O mesmo naturalista escreve: «Parece que o papa-figos passa o inverno na Africa occidental e não, como se tem dito, ao norte d'Africa.» 4 Nos seus habitos de vida o papa-figos apresenta particularidades cu- riosas. Naumann escreve: «É um passaro desconfiado, selvagem, que evita o homem, com quanto muitas vezes se lhe vá estabelecer nas visi- nhanças. Salta e volita continuamente no meio das arvores mais espes- sas; raras vezes se conserva muito tempo n'uma mesma arvore e mais raras vezes ainda n'um mesmo ramo. À agitação constante que o domina condul-o para direcções que variam sempre. Poucas vezes se empoleira em arvores pouco elevadas e menos vezes ainda desce a terra, onde, quando o faz, se demora apenas o tempo estrictamente indispensavel para apanhar um insecto, por exemplo. «É corajoso, disputador e bate-se constantemente não só com os seus eguaes senão tambem com outras aves. O vôo d'este passaro pa- rece pezado e ruidoso; é porém rapido. Descreve longas curvas ou uma linha ligeiramente ondulada. Se não tem mais que um pequeno espaço a atravessar, vôa em linha recta, ora batendo as azas, ora agitando-as apenas levemente. Gosta de voar, de errar de um lado para o outro; e muitas vezes vêem-se dois d'estes passaros perseguindo-se durante quar- tos d'hora.» O canto do macho é harmonioso; faz-se ouvir desde o erguer do sol até ao meio dia e, mais tarde, quando o sol principia a declinar. Canta mesmo nos dias mais sombrios. Bastam dois passaros destes, affirma Brehm, para animarem uma floresta inteira; voando constante- mente ora para um lado, ora para outro, o canto d'elles echoa por toda a parte. O papa-figos construe na bifurcação de um ramo fino o seu ninho que fabrica com folhas meio seccas, com hervas, com fibras de ortigas, com lã, com teias de aranha, etc. Esse ninho é profundo e, de ordinario, construido sobre uma arvore elevada. No começo de Junho a femea põe quatro ou cinco ovos, de casca lisa, de um branco reluzente, apresen- tando aqui e além pontos cinzentos ou rubros escuros. A dedicação dos paes pelos filhos é extrema n'esta especie; para nos convencermos d'isto, basta lembrar que macho e femea não duvidam attacar o homem que se approxima do ninho. Á hora do meio dia o ma- 1 Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 264. É era > FoRa Ps AVES EM ESPECIAL 229 a chocando os ovos em substituição da femea que vae procurar CAPTIVEIRO se passaros alguns que lhe vinham comer à mão, á puxavam pelos. cabellos para lhe attrahirem a attenção. UTILIDADE ensados pelos serviços que presta destruindo insectos e ser assim mal poderia explicar-se o bom acolhimento que te recebe. aum pr nho o Pim de uma verdadeira lyra. n desta ave é pardo-trigueira escura, em geral. Tem a “e rig e as barbas. externas das outras remiges trigueiras avermelha- F - ARS 4) o a cauda castanho escura na face superior e argentea na Ends as 230 HISTORIA NATURAL mesmas rectrizes, alternativamente raiadas de negro e de ruivo, as re- ctrizes medianas pardas e as outras negras. O macho tem um metro e cinco centimetros de comprido, perten- . cendo sessenta centimetros à cauda. A femea não tem mais de oitenta centimetros de comprido, sendo vinte e sete das rectrizes medianas; a sua plumagem é de um trigueiro sujo derivando para o pardo no ventre. Os filhos machos parecem-se com a mãe até à epocha da primeira muda. É ! DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Esta especie habita a Australia. COSTUMES O que sabemos ácerca dos habitos de vida e modo de reprodueção da Iyra, é principalmente devido a Gould, a Verreaux e a Becker. À lyra estabelece-se nos bosques, nos logares arborisados, tanto nas proximidades da costa como nas vertentes das montanhas. É vulgar em alguns sitios, porém difficil de observar e mais ainda de matar. Todos os viajantes e caçadores são concordes em considerar os logares em que ella se estabelece como impraticaveis e todos se queixam não tanto dos obstaculos causados pela floresta como dos que derivam da natureza do solo. Percorrer esses logares é não só dificil, mas mesmo perigoso. Nas montanhas, os precipicios e os espaços que separam os rochedos encon- tram-se cobertos de substancias vegetaes e não é raro que o caminhante incauto se deixe enganar e venha cair a profundidades incalculaveis. «Feliz, diz Brehm, d'aquelle que depois da queda pode ainda fazer uso das armas e dar um tiro na cabeça para livrar-se de longas torturas; es- perar soccorros é inteiramente inutil.» ! Nesses logares ouve-se a cada momento a voz da lyra, mas poucas vezes se consegue vêl-a. Gould, por exemplo, conservou-se dias inteiros em bosques habitados pelas Iyras; de todos os lados ouvia echoar a voz clara e aguda d'estes passaros, mas só à força de preserverança e de prudencia é que conseguiu vêr um. E é precisamente, como Brehm observa, a estas difficuldades tão grandes e tão numerosas que se deve o estarmos ainda hoje, mao grado | 1! Brehm, Loc. cit.; pg. 697. AVES EM ESPECIAL 231 tantas viagens à Australia, muito pouco ao corrente dos costumes e ha- bitos de vida da lyra. O pouco que sobre este ponto se sabe, vamos resumil-o. A lyra, no dizer de todos os observadores, passa a maior parte do seu tempo em terra; só excepcionalmente vôa. Percorre as florestas, cor- rendo, sobe aos rochedos escarpados, trepando, e attinge os picos das pedras elevadas, dando saltos bruscos de trez metros de altura e mais. Raras vezes se serve das azas. A lyra é de uma prudencia extrema relativamente a todos os ani- maes; mas aquelle que mais evita é sem duvida o homem. Não se en- contra em bandos, mas isolada ou, quando muito, aos pares. Se dois ma- chos se encontram face a face, attacam-se, dão-se combates porfiados e. tremendos. Correndo, a Iyra conserva, como o pavão, o corpo horisontal, a cabeça pendida para diante e a cauda fechada. É de manhã e ao cair “da tarde que manifesta maior actividade. Na quadra do ardor genesico, a lyra exhibe todos os recursos de — belleza e de harmonia: ergue e abre a cauda como o pavão, e canta — constantemente. À voz é flexivel, agradavel; o canto compõe-se de notas “que lhe são proprias e d'outras que imita do canto d'outras aves que habitualmente ouve. «Esta ave, diz Becker, tem o talento de imitação levado ao mais alto grao. Na provincia de Sipps, na vertente sul dos Al- pes australianos, havia uma serralharia mechanica. Aos domingos, quando todo o trabalho estava suspenso, ouvia-se ao longe, na floresta, o uivar de um cão, o rir de um homem, o canto de differentes aves, o chorar «de creanças, o ruido de serras; e todos esses sons eram soltados por uma só lyra, que estabelecera domicilio a pouca distancia da serralharia. Na quadra dos amores torna-se mais imitadora ainda; então substitue, ella só, um bando inteiro de aves canoras.» * A lyra alimenta-se principalmente de vermes e de insectos. Gould no estomago das que abriu encontrou myriapodes, coleopteros e caracoes. A quadra dos amores é em Agosto. A lyra estabelece o ninho nos logares mais escarpados e junto dos cursos d'agua. O ninho não fica de ordinario mais de trinta ou sessenta centimetros acima do solo firme. Ás vezes fal-o no tronco carcomido de uma arvore. Esse ninho tem meio metro de diametro e quatorze centimetros de altura; a base é formada de ramos e pedaços de madeira e o resto de raizes finas e flexiveis e, internamente, de pennas muito delicadas; a parte superior não faz corpo com a inferior, destaca-se della facilmente e é formada de hervas e de 1 Citado por Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 698. 232 HISTORIA NATURAL musgo. A abertura é lateral e a femea penetra n'ella ás arrecuas com a cauda applicada contra o dorso. À lyra põe um só ovo, semelhante ao do pato; é cinzento claro com pontos trigueiros escuros. Não se sabe quanto tempo dura a incubação. Os filhos conservam-se nos primeiros tempos de vida quasi nus; apenas aqui e além se encontram pelo corpo uns appendices que mais parecem pêllos do que pennas. CAÇA Pelo que dissemos das difficuldades que se oppõem a quantos pro- curam observar a lyra, facil é comprehender que a caça será das mais embaraçosas. Ao que fica dito, é preciso accrescentar ainda que a lyra é uma ave excessivamente timida, que o mais leve ruido afugenta. O pro- cesso de caça empregado pelos indigenas é dos mais engenhosos: pren- dem ao chapeu a cauda de um macho, occultam-se n'uma brenha, con- servam o corpo immovel e agitam a cabeça até que a ave dê pela cauda. A lyra, imaginando que um outro macho penetra nos seus dominios, cor- re-lhe ao encontro e é apanhada então. Um outro processo empregado tambem com resultado é o que consiste em imitar o grito de reclamo da ave. CAPTIVEIRO À lyra, quando se apanha em nova, domestica-se muito rapidamente ; comtudo é difficilimo conserval-a presa. Uma que Becker possuiu comia larvas e formigas com prazer. Occultava a cabeça sob as azas para dor- mir e parecia dar-se bem com o ninho que o naturalista lhe fizera em- pregando o musgo e uma pelle de phalangista; infelizmente, a despaa de todos os cuidados, viveu só oito dias. o a AVES EM ESPECIAL | e 283 “AS PETINHAS OU PIPIS E dp EA 7 nro inidiia de “reta teem um bico pequeno, | de comprimento proporcional ao do corpo e ampla, ados e a unha do dedo pollegar ordinariamente mais im mesma nos dois sexos. ste genero as especies petupano E inciro amarellado ou azeitonado com iacoiaso escuras, itudinalmente. Uma raia que passa por cima dos olhos, a dos do peito, as coxas e as pennas inferiores da cauda lo ruivo pallido; o papo, a parte superior do peito e - são cobertos de manchas negras, longitudinalmente negro e os pés são avermelhados. m dezoito centimetros de comprimento e trinta de enver- a é de sete centimetros. A femea apresenta dimensões DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA ota ou pipi das arvores habita, no estio, as florestas da Eu- da Siberia e, no inverno, os Dosques das steppes d'Africa e de ao 234 HISTORIA NATURAL COSTUMES Procura sempre os logares menos espessos das florestas, mas em cujas visinhanças se encontrem sempre algumas arvores elevadas. Como o nome indica, este passaro vive mais pelas arvores do que pelo solo, o que não acontece com outras especies do mesmo genero. Passa uma vida solitaria; só no outomno se encontram pequenas familias e mesmo assim os individuos que as formam conservam-se distanciados uns dos outros. O canto d'esta petinha é superior ao das outras; é harmonioso, de notas cheias, claras e variadas. Quando canta, a petinha das arvores principia por empoleirar-se na extremidade de um ramo, depois ergue-se obliquamente na' atmosphera, | paira alguns instantes e acaba por descer, tambem obliquamente, so- bre o cimo de uma arvore visinha onde termina a canção. No tempo dos amores canta enthusiasticamente desde o erguer até ao declinar do sol. O ninho da petinha das arvores estabelece-se n'uma depressão do solo, occulto entre a herva; é grosseiramente construido. Os ovos, em numero de quatro ou cinco, variam consideravelmente tanto sob o ponto de vista da forma como relativamente à coloração: são pardos averme- lhados, brancos sujos, brancos azulados ou acinzentados e pontilhados ou manchados, ou ainda apresentando, como o marmore, veios e estrias es-. curas. Só a femea choca; e com tal ardor que só abandona os ovos quando alguem se avisinha muito do ninho. Macho e femea manifestam pelos filhos uma grande dedicação. CAPTIVEIRO À petinha das arvores supporta muito bem o captiveiro e torna-se inteiramente domestica. Encanta e delicia pelo harmonico das cançÕss que só deixam de fazer-se ouvir depois do fim de Junho. 235 AVES EM ESPECIAL A PETINHA DOS PRADOS “amarelada por cima aca olhos, as remiges de um trigueiro | os bordos mais claros, a extremidade das pennas medias e das azas, bordadas de pardo, as rectrizes tambem trigueiras bordos azeitonados, apresentando a mais externa uma grande nca, triangular, o bico pardo e os pés arruivados. ssaro mede dezesete centimetros de comprido e vinte e seis lura; a cauda tem seis centimetros. A femea offerece dimen- DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA dos prados habita todo o norte da Europa desde o cir- à Europa central; o mesmo acontece na Asia. No inverno COSTUMES á e os pantanos são os logares que esta especie prefere a S. e: cautelosamente os Pan seccos. No inverno fi- | arvore e, duando O faz, é sempre por Déo eo. Dir-se-hia fatiga a estada sobre um ramo d'arvore. Voando, agita brusca- é “No dizer e Naumann, o canto d'este passaro compõe-se de differen- tes phrases, cujas notas se repetem frequentemente. O macho só canta 286 HISTORIA NATURAL voando; eleva-se frequentemente a uma grande altura, paira um instante e depois ou desce lentamente com as azas abertas que lhe servem de pára-quedas ou, fechando-as, deixa-se cair com enorme rapidez. Desde Abril até Julho ouve-se quasi continuamente desde manhã até ao fim es tarde. disputa constantemente com outras aves que occupam os mesmos loga- res que ella. No tempo dos amores, uma vez ou outra os machos com- batem pela posse das femeas; mas em geral, mesmo n'essa epoca as petinhas dos prados vivem em sociedade. A petinha dos prados é um passaro emigrante; nas suas viagens constitue-se em bandos numerosissimos. Este passaro construe o ninho entre cannas, juncos ou hervas altas, n'uma depressão do solo, occultando-o tão bem que é sempre dificil dar por elle. As paredes são formadas de hastes seccas e de raizes enter- meiadas de musgo; a cavidade é profunda e tapetada de hervas tenras e de crinas de cavallo. Os ovos, em numero de cinco ou seis, são de um branco pardacento ou de um avermelhado sujo, cobertos de pontos, de estrias e de manchas pardacentas ou amarellas. A incubação dura treze dias. Os filhos abandonam o ninho antes mesmo de poderem voar; mas sabem perfeitamente occultar-se no meio das hervas, escapando assim a muitos inimigos. Os paes expõem a vida por elles. CAPTIVEIRO Bem tratada e introduzida n'uma gaiola espaçosa, a petinha dos pra- dos supporta o captiveiro por muitos annos. Familiarisa-se rapidamente com o homem e canta com enthusiasmo. Não se pode deixar correr livre- mente pela casa, porque os cabellos e a poeira que ha pelo chão adhe- rem-lhe aos pés e produzem-lhe doenças. Delicia o dono pelo canto que, no dizer de Brehm, é mais variado que o da petinha das arvores e offe- rece notas mais suaves, mais harmoniosas e cheias. A petinha dos prados vive em harmonia com os semelhantes, mas AVES EM ESPECIAL 237 “A PETINHA AQUATICA “tem o dorso pardo azeitonado escuro com manchas lon- curas, o ventre branco sujo ou pardacento, os lados do ados escuros, uma raia parda clara por traz dos olhos, duas inferior amarellada e os pés trigueiros escuros. aro mede dezoito a dezenove centimentros de comprido e | trinta e dois de envergadura; a cauda mede oito centime- “do dedo posterior é longa e fortemente recurva. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA JO que as outras petinhas habitam as planicies e não se en- ão accidentalmente nas montanhas, a petinha aquatica só | Povôa os Alpes; só em epochas de viagens apparece nas Suissa é uma ave vulgarissima; nos invernos rigorosos “costas da Grecia e do Egypto e todos os annos apparece na COSTUMES 238 HISTORIA NATURAL arborescente se faz representar apenas por algum pinheiro rachitico; ele- va-se até ao limite das neves perpetuas. Na Suissa encontra-se sobre os rochedos desnudados que circumdam os regatos produzidos pela liqui- fação dos gêlos. Habita tanto os cumes mais aridos, mais desertos, como os pinheiraes que vegetam em solo fertil, cortado em todas as direcções por correntes d'agua. Na estação dos amores, este passaro empoleira-se uma vez ou outra, n'um pinheiro; mas só n'esta epocha o faz e, mesmo assim, raras vezes. Se um d'estes passaros está poisado e outro chega, o primeiro cede in- | variavelmente o logar ao segundo. É depois da estação dos amores que a petinha aquatica se consti- tue em bandos. A petinha aquatica é extremamente timida; mas quando tem filhos, o amor que lhes dedica é mais forte que a timidez nativa e leva-a a voar e a saltitar em torno do inimigo, erguendo e baixando a cauda, erri- çando as pennas e soltando gritos. | | “O canto deste passaro, comquanto inferior ao da petinha das arvo- res, é comtudo agradavel; faz-se ouvir até ao fim de Julho. Como a sua congénere das arvores, a petinha aquatica quando principia a cantar eleva-se na atmosphera, paira algum tempo e desce depois, pousando n'uma pedra ou no solo onde termina a canção. Só canta pousada quando os dias são excessivamente escuros. O ninho estabelece-se numa fenda pouco profunda d'um rochedo, . entre pedras, n'um monticulo de hervas, sob raizes e ramos de pinheiro e acha-se disposto sempre de modo que o cubra um tecto natural capaz de protegel-o contra as neves e contra as chuvas. Os ovos, em numero de quatro a sete, são azulados ou de um branco sujo com pontos e veios de um trigueiro escuro. | AS ALVEOLAS o 5 As alveolas são caracterisadas por um bico delgado, direito, angu- loso entre as narinas, azas alongadas, sendo a terceira remige a mais AVES EM ESPECIAL ] 239 prida, cauda mais extensa que o corpo, tarsos compridos e finos e lha do pollegar do comprimento do dedo e recurva. O pardo, o branco egro são as ia dominantes da plumagem. A ALVEOLA ecie é a mais conhecida do genero e pode considerar-se rior do peito negras, a parte inferior, o ventre, a fronte, ar e as partes lateraes do pescoço brancos, as remiges as de branco, as pennas medias e superiores das azas extremidade, as rectrizes medianas pretas e as outras brancas. “não differe do macho senão em ter dimensões menores € na garganta uma mancha negra. 1 um como em outro sexo a plumagem de outomno differe de estio em que a garganta é branca e como que emoldu- na negra em forma de ferradura. mede vinte centimetros de open! sobre trinta de cauda tem dez centimetros. | DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHIGA 240) HISTORIA NATURAL COSTUMES “a a A alveola evita as florestas altas e nunca se eleva nas montanhas para além dos limites das arvores. De resto, encontra-se em toda a parte | ua e especialmente junto dos cursos d'agua. Estabelece-se perto das habita-= ções; tem-se muitas vezes encontrado no interior das cidades. At Este passaro vive em constante movimento desde pela manhã até à noite. É vivo, alegre, agilissimo. Só quando canta é que se conserva im-=: movel n'um mesmo logar; exceptuando este momento, corre constante- mente de um Jado para outro ou pelo menos agita incessantemente a cauda. Corre muito rapidamente, mantendo o corpo e a cauda em posi-: ção horisontal e encolhendo um pouco o pescoço. Vôa facilmente e com | grande velocidade, descrevendo curvas alternativamente ascendentes e descendentes, de modo a formar uma longa linha sinuosa. De ordinario percorre pequenas extensões sem se elevar muito acima do solo ou da. superficie da agua; mas às vezes percorre sem parar um quarto de le- gua e mais. Quando quer pousar, deixa-se cair bruscamente e antes de attingir o solo abre um pouco a cauda para amortecer a queda. Quando se empoleira, conserva o corpo erguido e a cauda pendida. O canto da alveola é simples, mas muito agradavel; repete-o muitas vezes seguidas tanto quando empoleirada como quando corre ou volita. . Comquanto goste da sociedade das congéneres, a alveola disputa com ellas. Relativamente às outras aves mantem uma attitude hostil; faz guerra a muitos passaros e chega a perseguir as aves de rapina gritando constantemente atraz d'ellas. Estes gritos provocam outros de diversos passaros que correm egualmente sobre a ave de rapina e a forçam mui- tas vezes a abandonar a caça. Quando um bando de alveolas consegue. pôr em fuga uma ave de rapina, ouve-se então um largo canto de trium- pho executado em côro; o bando desmembra-se depois. A alveola alimenta-se de insectos de toda a ordem, de larvas e de: crysalidas. Procura a presa ao longo dos cursos d'agua, na vasa, sobre as pedras, mesmo no telhado das casas. Desde que descobre um insecto, cãe sobre elle e apanha-o, sem uma só vez errar o attaque. Durante o tempo dos grandes trabalhos agricolas de arroteamento de terras, a al- veola segue a distancia o lavrador e vae apanhando os insectos que a charrua -põe a descoberto. - Quando o inverno termina e os gêlos principiam a liquefazer, appa- recem nos prados algumas alveolas isoladas; mas dentro de pouco tempo outras veem apparecendo e formam-se então bandos de quarenta a cin- coenta individuos. Mais tarde cada par ou casal procura um dominio pro- AVES EM ESPECIAL 241 Ss OS casaes e demarcado o terreno que cada um explorará, as luctas E mão cessam, porque os machos preteridos na selecção sexual procuram 7 rear a as E ncia aos companheiros mais felizes. Os rivaes precipitam-se “um sol 3 O outro, soltando o mesmo grito de guerra que serve de si- a p erseguirem. as aves de rapina; de tempos a tempos pousam, tão a attitude simultaneamente offensiva e defensiva que ca- “gallos em combate. “construe o ninho onde quer que encontre um buraco con- stabelece-o na anfractuosidade de um rochedo, na fenda de n'uma cova, sob as raizes de uma arvore, na cavidade de “arvore, etc. O fundo do ninho é formado de raizes, de her- s seccas, de musgo, de pequenas particulas de madeira, de c.; O interior é forrado de pêllos, de crinas de cavallo, de Ji- “e outras substancias de analoga consistencia. eira postura é de seis a oito ovos e a segunda de quatro a 3 ovos são acinzentados ou de um branco azulado, cheios de 2 linhas ou veios cinzentos mais ou menos pronunciados. Só a 3. No outomno todas as tardes estas familias vão em procura “d'agua, junto dos quaes escolhem um logar conveniente para | noite na companhia das andorinhas e dos esturninhos. n do outomno reunem os grandes bandos que erram constan- , seguindo sempre comtudo a dirodrão da viagem que se pro- “Ao cahir da noite os bandos elevam-se alto na atmosphera e A ALVEOLA DOS ROCHEDOS E pi e Esta especie tem uma plumagem simples, mas graciosissima. As rd as partes lateraes do pescoço e o peito são pretos; uma linha “VOL. IV 16 242 que passa por cima dos que é muito comprida, e o ventre são brancos. O bico e os p gros. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Esta especie habita junto do Nilo nos logares em que este ro vessado por muitos rochedos. COSTUMES O que, sob o ponto de vista dos costumes, caracterisa esta a é a preferencia decidida que ella dá aos logares em que os rocl abundam; nunca se encontra nos pontos em que os rios correm | 0 nicies ferteis. E Este passaro vive aos pares. Cada casal defende eneugia came: pre nas anfractuosidades e fendas dos rochedos. Nada mais acrescentaremos, porque esta alveola, apoia dito, apresenta manifestações de actividade e costumes inteirar logos aos da especie anteriormente estudada. A ALVEOLA AMARELLA riormente estudados. AVES EM ESPECIAL | 243 CARACTERES ESPECIFICOS claros, uma raia clara por cima dos olhos, as azas “duas fachas amarelladas, o bico negro com a base da de um azul claro e os pés negros. não adultos e as femeas apresentam côres menos DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA ie habita a Europa, sendo commum em Portugal. - A ALVEOLA MELANOCEPHALA 2 differe da anterior nas côres. O macho tem a fronte, o a, à nuca e a região occular negras, o dorso côr de azei- | ta a as mesmas s regiões que a especio precedente. its % A ALVEOLA DE RAY DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A alveola de Ray habita a Grã-Bretanha. A ALVEOLA CITRINA “dura. e, O macho adulto a no estio, a cabeça ea face inf Be de um amarello citrico ao a nuca ea o nt externamente de ndo as oito rectrizes medianas de um tr curo, as duas externas de cada lado brancas, | com uma linha as barbas internas, emfim, O bico e os pés negros. de A femea é mais pequena que o macho é tem o vertice | a nuca de um pardo esverdeado, o dorso cinzento, o uropi; AVES EM ESPECIAL 245 ia, o ventre dg um amarello menos vivo que no macho e a borda- branca das azas, mais estreita e menos clara. Os individuos não adultos tem as costas pardas e o ventre branco Asia, onde é commum. Segundo Jerdon, apparece de inverno rdmann affirma que ella se apresenta as vezes na Crimea. COSTUMES DAS ALVEOLAS “As alveolas do genero Budytes são passaros emigrantes; apparecem “as viagens em regiões onde n'outra qualquer epocha se não en- ) ninho nos pantanos e nas planiçies humidas cobertas de anhos teem o dom de as attrair. Ellas seguem, com effeito, te um dia inteiro, volitando em torno d'elle e levando a ) o bruscamente as azas, deixam-se cair quasi em | linha ma perseguição desapiedada ás grandes aves se não lhes sar junto d'ellas. Tambem attacam as pequenas especies. nho no solo, no meio das hervas, dos trigos, das plantas nos pantanos. Na construcção do ninho entram, para formar jor, raizes, folhas seccas, hervas e musgos e para a parte ervas delicadas, lã, pennas e péllos.. Ss, em numero de quatro a seis, tem uma casca finissima; são nco sujo, amarellados, arruivados ou acinzentados, cobertos de de manchas, de linhas pardas amarelladas, pardas trigueiras, las, ruivas ou violetas. A epocha da reproducção é nos fins de di começo de Junho. Só a femea choca ; e a a dura treze rebanhos. CAPTIVEIRO sustentam-se então dando caça ás moscas e e apanhando mi ral “que lhes atiram. - OS ENICUROS As rectrizes medianas teem apenas o terço do comprimento das | Os dedos são armados de unhas Trecurvas. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA 4 Pertencem à fauna do Himalaya. q &: a : AVES EM ESPECIAL ad J! COSTUMES ae: | RA Str a) conhecidas habitam as montanhas. Encontram-se ao longo rios ou aos pares, excepto na quadra dos amores em. entam em sociedades. passaro tem as costas, as azas, O pescoço e o peito negros, 0 cabeça, a parte inferior do dorso e o ventre brancos, em torno O bico negro e os pés amarellos. A especie mede vinte e “centimetros de comprimento. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA a-se esta especie exclusivamente ao longo dos regatos das le Java, onde é muito vulgar. COSTUMES “Habita propriamente a zona comprehendida entre as altitudes de e seiscentos a quatro mil pés acima do nivel do mar. Encontra-se 248 : HISTORIA NATURAL junto dos cursos d'agua, particularmente d'aquelles que são pouco pro- fundos e cujas margens são pedregosas. Nunca se affasta da agua. Ás ve- zes subindo contra a corrente attinge regiões onde ninguem pode habi- tualmente esperal-o. Assim é que Brehm viu um a dez mil pés de al- tura. Quando corre conserva a cauda horisontal; se o excitam erriça as pennas brancas da cabeça e agita a cauda de um modo particular. TRA O enicuro malhado é um passaro inoffensivo que se deixa approxi- mar pelo homem. ú Alimenta-se de insectos e de vermes que procura junto das pedras e sobre as plantas da beira da agua. Construe o ninho no solo e sempre muito proximo da agua, n'uma depressão natural qualquer, que elle enche de musgo e de folhas seccas e a que dá a forma de um hemispherio. Os ovos, em numero maximo de dois, são de forma alongada, dila- tados n'uma das extremidades e aguçados na outra; a côr fundamental é o branco a que vem juntar-se uma leve tinta amarellada ou esverdeada. Apresentam por toda a superficie pequenas manchas trigueiras claras que na grossa extremidade dos ovos formam uma como corôa. É extrema n'esta especie a dedicação dos paes pelos filhos. A CAIADA Pertence este passaro ao genero Saxicola que se caracterisa assim: Os individuos que o formam teem o bico delicado, franzino, mais largo do que alto na região da base, curvo na ponta, chanfrado, azas compri- das, cauda de extensão regular, sensivelmente quadrada, tarsos delgados e compridos. CARACTERES ESPECIFICOS “A caiada (tal é o nome vulgar portuguez que corresponde a designa- ção scientifica de saxicola conanthe) tem as costas cinzentas claras, O uro- pigio, o ventre e a garganta brancos, o peito amarello arruivado, a AVES EM ESPECIAT, 249 e e uma linha que encima os olhos brancas, uma raia que vae do aos olhos, as coxas e as duas rectrizes medianas negras, as outras s brancas com a ponta negra e o bico e os pés negros. No ou- pois da muda, o dorso toma uma tinta avermelhada e o ventre m amarello arruivado. tem o dorso cinzento arruivado, a fronte e a linha supra- branco sujo, a mancha do olho negra, o ventre trigueiro- s remiges negras, de bordos amarelos claros. tem dezesete centimetros de comprido e trinta de enver- uda tem seis centimetros. A femea é um pouco mais pe- DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA tra-se em todas as montanhas da Europa e da Asia. Nas suas s atravessa a Hespanha e a Grecia sem ahi se demorar, sem COSTUMES res favoritos d'este passaro são aquelles em que as penedias pparece poucas vezes nos campos cultivados. Na Suecia, no ranha e na Suissa, é commum tanto nas montanhas como nos Alpes eleva-se até cima da zona das florestas; os suissos isso o nome de rouxinol das montanhas. a é um passaro vivo, alegre, agillissimo, sempre em movi- vel e prudente; manifesta um grande receio pelo homem. paz nem mesmo com os congéneres. Só no tempo das emi- ita à estes, sem todavia, mesmo então, contrahir com elles is casaes se estabelecem perto um do outro, as luctas, os são constantes. A caiada fixa-se sempre no logar mais elevado dos seus dominios, “comtudo, como já observamos, se conservar um só momento em so- . Quando se não desloca, pelo menos bate as azas, agita a cauda, é baixa-a quasi constantemente. si 1 terra saltita com extraordinaria rapidez. Quando vôa, não“o faz “à grande distancia do solo, mesmo quando procura passar de uma mon- “tanha a outra; bate as azas precipitadamente e progride descrevendo 250 HISTORIA NATURAL uma linha levemente curva. Quando vôa, distingue-se perfeitamente, e melhor que em qualquer outra occasião, a côr branca do uropigio; Nau- mann compara-a a uma penna de pato, arrebatada pelo vento. Na quadra dos amores ergue-se na atmosphera, cantando, a uma altura de oito a dez metros; depois, abrindo as azas, deixa-se cair obli- quamente e termina a canção no momento em que chega ao solo. O canto não é dos mais agradaveis; compõe-se de algumas phrases curtas nas quaes o grito de reclamo alterna com sons roucos. Canta muito: não canta apenas de manhã e de tarde, mas ainda muitas vezes de noite. A caiada alimenta-se de pequenos coleopteros, de borboletas, de moscas, de larvas. Do seu ponto de observação descobre, graças à pene- tração da vista, todos os animalculos que correm no solo ou voam na atmosphera. Anholiá os insectos, tanto voando como correndo. Faz ninho nas fendas dos rochedos, nos buracos das paredes, | nos montões de pedras, mais raras vezes nos monticulos de madeira, nos velhos troncos ou nas cavidades do solo. O ninho, qualquer que seja, de. resto, o logar em que se estabeleça, fica sempre protegido pela parte superior. À construcção é sempre grosseira, de paredes espessas, for- madas de raizes, de folhas, de caules de hervas e internamente forrada de lã, de pêllos e de pennas. | Os ovos são cinco a sete, grossos, azues ou de um branco esver- deado, algumas vezes pontuados de trigueiro-avermelhado claro. Só a femea choca; uma vez nascidos os filhos, macho e femea curam por egual da creação d'elles. Em quanto a femea choca, o macho vela pela segurança do ninho, soltando gritos de agonia e desespero se descobre algum perigo imminente. A femea recorre às vezes a processos astucio- sos para desviar as attenções do inimigo de sobre os filhos. A postura realisa-se ordinariamente em Maio. Os filhos passam todo o estio na com- panhia dos paes e emprehendem com elles as emigrações. CAPTIVEIRO A caiada não resiste ao captiveiro; mettida n'uma gaiola não tarda a partir a cabeça contra as grades. té AVES EM ESPECIAL 251 PTI ES q f) X ) DES da a Mi si pisiqum PTdo e (il n rd a à QUEIRA OU TANJARRA (o nome scientifico é saxicola stapazina) tem as costas, livos, a garganta e as azas negras, e a cauda negra vos não adultos teem a cabeça e o pescoço pardo-amarel- branco sujo, o peito pardacento e de pennas levemente trigueiro, as remiges e rectrizes de um trigueiro escuro e iores das azas acinzentadas e preumanoa de ruivo. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA ” COSTUMES mesmos da especie anteriormente estudada. OS CARTAXOS quenos passaros um pouco pezados, de bico curto, espesso, Jargo na base e curvo sómente na ponta, e que teem as 252 HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Habitam quasi toda a Europa, uma grande parte da Asia e da Africa septentrionaes. Encontram-se em Portugal. COSTUMES As especies conhecidas são duas, pratincola rubetra e, pratincula rubicula, com o mesmo nome vulgar e com tal analogia de costumes que não merecem menção especial. Assim o que vamos resumir nas linhas se- guintes é applicavel inteiramente às duas especies. Os prados atravessados por cursos d'agua, confinando com flores- tas e apresentando pequenos: bosques, taes são os logares que estes pas- saros preferem. Quanto mais fertil for uma dada região, tanto maior pro- babilidade ha de os encontrar ahi. Na quadra dos amores conservam-se nas pradarias; mais tarde procuram os campos cultivados. Onde quer que | se encontrem, não escapam à vista, porque de ordinario fixam-se para re- pousar em lugares altos. Os cartaxos não são propriamente passaros sociaveis; com quanto se reunam uns com os outros, é certo que não contráem laços grandes de alfeição e vivem um pouco egoistamente. Alimentam-se de insectos, especialmente de coleopteros, que apt nham quer na marcha, quer voando. O canto d'estes passaros é, no dizer de Brehm, muito variado e de notas puras e cheias. Misturam no canto algumas notas proprias d'outros passaros que vivem nos mesmos logares. | Os cartaxos construem o ninho ou nos prados, entre a herva, n'uma depressão do solo, ou nos campos incultos, entre pedras, nos terrenos arenosos, no meio de rochedos. A postura é sempre de cinco a sete ovos, que são, segundo as especies, de um verde-azulado claro com pequenos pontos amarello-rubros, ou azues, esverdeados pallidos com maculas rui- vas pouco apparentes. A postura termina no fim de Maio ou começo de Junho. A incubação dura treze a quatorze dias. Os paes buscam insectos para os filhos, dedicam-lhes uma grande affeição e empregam toda a sorte de astucias para d'elles affastarem os inimigos. «Em quanto um homem se conserva por perto, diz Naumann, os cartaxos não vão para o ninho, ainda que ahi tenham ovos, nem soltam um grito que poderia trahil-os.» AVES EM ESPECIAL a 253 INIMIGOS » à todas: as vaccas da montanha onde se ou a morto pas- lit rubro. CAPTIVEIRO 7 le recusam os alimentos. De ordinario morrer, diz Naumann, uma, semana. ci mit casos de captiveiro demvrado, mas A ESTRELLINHA Eiras: foitemerite afódondadas; largas, obtusas, iextodenido arta é quinta remiges as outras, uma cauda de extensão media, um Chanfrada, narinas cobertas de pequeninas pennas rijas, as pennas vertice da tabeça im nóis Ro e plumagem abun- to RE ROO IR 254 ; HISTORIA NATURAL CARACTERES ESPECIFICOS A estrellinha tem o dorso verde, o ventre pardo claro, a garganta branca acinzentada, a cabeça de um amarello de açafrão no vertice e de um amarello d'ouro nas partes lateraes, limitadas por uma raia negra, duas raias claras atravessando as azas, o bico negro e os pés trigueiros claros. Este passaro mede dez centimetros de comprido e dezeseis de en- vergadura; a cauda mede quatro centimetros. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A especie que estamos estudando encontra-se espalhada em quasi toda a Europa. Habita toda a Allemanha; encontra-se ainda mais para O norte e é a unica especie do genero que apparece na Escandinavia. En- contra-se com uma certa frequencia na Hespanha, na Grecia e em Por- tugal. Outras especies ha do mesmo genero que habitam a Asia e a America. COSTUMES Dada a semelhança extrema senão identidade de todas as especies do genero Regulus no ponto de vista dos costumes e habitos, o que vae ler-se deve considerar-se applicavel a todas. A estrellinha e congéneres são passaros muito vivos e leves, cons- tantemente em movimento. Saltam, sem repouso, de ramo em ramo e to- das as posições lhes são egualmente faceis: às vezes encontram-se com O corpo voltado para baixo, agarrados à casca das arvores, procurando pe- quenos insectos, larvas e ovos. Além d'estas substancias, entram ainda na alimentação destes pas- saros sementes de toda a órdeiii São estes passaros extremamente sociaveis. É raro encontral-os sós; vêem-se de ordinario em bandos, em numerosos agrupamentos em que entram ainda passaros d'outras especies. O canto é harmonioso, agradavel. Os velhos machos cantáim na pri- AVES EM ESPECIAL 255 mavera e no estio; os novos desde o começo d'Agosto, até ao fim de “Outubro, mesmo no tempo da muda. “As femeas fazem duas posturas por anno. Os ninhos estabelecem-se “na extremidade dos ramos de pinheiros, perfeitamente occultos sob a fo- * lhagem. São esphericos, de paredes espessas; o diametro externo é de "nove a onze centimetros, o interno de quatro apenas e a profundidade de cinco a sete. A primeira camada, a mais externa das paredes é formada yr musgos € lichens envolvidos em teias de aranhas; a parte interna é 4 de pennas, especialmente de pombos. carne desmaiada e cobertos de pequenos pontos acinzentados que se pmeram na grossa extremidade; são além d'isso de tamanha fragilidade ne é necessario todo o cuidado para, quando se lhes pega, os não par- entre os dedos. Os paes passam grandes trabalhos para alimentarem “os filhos, porque apenas lhes dão insectos pequenissimos e os respecti- vos ovos. A familia porém não se conserva muito tempo reunida; em - breve tempo os paes abandonam os filhos, para tratarem da creação de nova prole. a CAPTIVEIRO É raro encontrar captivos os passaros de que nos estamos occu- - pando, estrellinha e congéneres. A razão d'este facto é a extrema delica- deza d'organisação que os caracterisa. Qualquer ferida, por leve que seja, constitue para elles uma causa de morte. Além d'isto, maltratam-se * contra as grades da gaiola ou contra os vidros das janellas, se os deixam voar nos aposentos. Geralmente cáem n'um estado de tristeza profunda e recusam os alimentos. Não obstante tem-se encontrado alguns em captiveiro. A experien- cia demonstra que juntando-se muitos é possivel fazel-os acceitar a prisão, dada a circumstancia de pôr em liberdade o primeiro ou primeiros que entristecem porque a melancolia d'uns é por uma especie de contagio nervoso extensiva aos outros. Uma vez acceito o captiveiro, estes passa- ros domesticam-se até ao ponto de comerem da mão do homem. São de uma extrema voracidade; em poucos dias destroem todas as moscas de um aposento. ETTA: 256 HISTORIA NATURAL A CARRICINHA DAS MOUTAS Este passaro pertence ao genero Troglodytes que pode caracterisar-se assim: Os individuos d'este genero teem o bico delgado, muito leve- mente arqueado, as azas subobtusas, sendo a terceira e quarta remiges as mais extensas, uma cauda curta, egual, arredondada e unhas robustas. CARACTERES ESPECIFICOS A carricinha das moutas, vulgarmente confundida com a estrelinha, tem dez a onze centimetros de comprido e quinze a dezeseis de enver- gadura; a cauda mede trez a quatro centimentos. O macho tem as costas trigueiro-ruivas, com raias transversaes es- curas, quasi negras, o ventre trigueiro arruivado claro ou pardo ruivo com linhas onduladas trigueiras escuras, uma linha quasi preta que parte do bico e passa por cima das orelhas e dos olhos, uma outra linha es- treita, de um branco arruivado, passando egualmente por cima dos olhos, as pennas medias das azas marcadas nas extremidades de pontos redon- dos e alongados, brancos, as remiges trigueiras, sendo as cinco primei- ras alternativamente maculadas de negro e de ruivo nas barbas exter- nas, as rectrizes de um trigueiro ruivo circuitadas de claro e com raias transversaes onduladas de um trigueiro accentuado e o bico e pés pardos avermelhados. A femea é um pouco mais clara; e os individuos não adultos teem as costas menos manchadas, mas em compensação o ventre mais cheio de malhas, embora menos claras que as dos adultos. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Encontra-se a carricinha das moutas em todos os pontos da Europa, desde o norte da Russia e da Escandinavia até ao sul do nosso paiz. Emp Lamoureux à Paris v A CARRICINHA 2 À CARRICINHA ESCONDRIJEIRA 3 A Foz Magalhães & Moniz, Editores 3 as! a: EE As EbIO Ê de io AVES EM ESPECIAL 251 COSTUMES Habita os logares mais differentes, preferindo porém a todos, os valles circumdados de bosques e onde exista um pequeno curso d'agua. Penetra nas aldeias, nos jardins, no interior mesmo das cidades, estabe- lecendo-se junto das habitações, comtanto que encontre perto um bosque ou qualquer logar secco onde possa repousar, esconder-se. Raras vezes pousa sobre as arvores elevadas; ordinariamente corre pelo solo, examinando todos os cantos, todos os buracos, saltitando de mouta em mouta. «Pela alegria, pelo bom humor, pela destreza, pela ra- pidez com que vôa atravez dos ramos, pelo atrevimento mesmo dos seus modos e attitudes, a carricinha das moutas, diz Naumann, excede quasi a maior parte dos passaros das nossas regiões.» É de observar que esse atrevimento desapparece em face dos perigos para dar por um momento logar a um terror immoderado. É de uma agilidade e de uma graça surprehendentes; atravessa fen- das e penetra em buracos inaccessiveis a qualquer outro passaro. Quando um ruido desacostumado se faz ouvir, inclina-se repetidas vezes como quem escuta e ergue muito a cauda. Se está em logar seguro, se não receia que a persigam, a carrici- nha das moutas canta com ardor; só durante a muda se conserva silen- ciosa.. O vôo não corresponde à agilidade e elegancia com que saltita: pa- rece muito pezado, relativamente. Este passaro vôa de ordinario em li- nha recta, junto do solo e batendo precipitadamente as azas. Quando tem um grande espaço a atravessar, descreve uma linha ondulada, sem com- tudo se elevar muito. Quando se persegue em campo descoberto é que se avalia bem quanto o vôo lhe é dificil. Naumann afirma que um ho- mem pode, correndo, fatigal-a até ao ponto de a apanhar à mão. De resto, a carricinha conhece, tem consciencia perfeita da sua falta de ha- bilidade para voar; por isso nunca se affasta muito das moutas em que uma vez encontrou um asylo seguro. O canto d'este passaro é muito agradavel; compõe-se de um grande numero de notas variadas e claras formando no meio da canção um trilo harmonioso que baixa de tom para o fim. As notas são cheias e fortes; admira-se a gente quando vê que as solta um passaro tão pequeno. A carricinha canta quasi todo o anno; já em Fevereiro e algumas vezes mesmo em Janeiro se faz ouvir. No inverno, quando todas as arvores es- tão despidas, quando todas as aves se conservam mudas e a natureza parece adormecida sob um lençol vastissimo de neve, a impressão que VOL. IV 11 HISTORIA NATURAL o canto da carricinha produz é dos mais Bass ua TE e mal O ver-se. É como a risada alegre e espontaneamente ingenué y creança numa conferencia de velhos tristes. ” % Alimenta-se de toda a ordem de insectos, de aranhas e ain outomno, de baga. No estio não lhe falta que comer; no invern atravessa às vezes crises de fome e procura então os insectos h tes e os seus ovos. Olafísen aflirma que na Irlanda este passaro penetrar pelas chaminés e a apanhar as carnes que ahi ensasa fumar. A FOLHOSA OU FUINHO Este passaro é um dos representantes do genero Phyyll à - se caracterisa assim: Os individuos que o formam teem o. “na base, comprimido adiante, ligeiramente chanfrado na extrem mandibula ps azas subobtusas, sendo a terceira e a * CARACTERES ESPECIFICOS tre torna-se amarello claro. Rio Este passaro tem treze centimetros e meio do compro e; envergadura; a cauda mede cinco e meio. AVES EM ESPECIAL 259 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Encontra-se este passaro desde o norte até ao sul da Europa, n'uma e parte da Asia septentrional e na America do Norte. No inverno té ao norte d'Africa e às Indias. mum em Portugal. COSTUMES co para diante. De quando em quando anita bruscamente a cauda ron singular, graciosissiino. ido tem de percorrer grandes distancias descreve, voando, uma egular, ondulada, de curvas mais ou menos extensas. | 7 da folhosa. Na construcção do ninho, cujos interino são hervas sgo, folhas seccas e pennas, trabalha só a femea; e é tal o ardor a né" po na tarefa que, embora trabalhe só de manhã, em poucos dias a " tem terminada. O ninho é conico ou acid grande; munido de uma ! abertura circular lateral. A primeira postura tem logar no começo de Maio. Os ovos, em nu- a “mero de cinco a sete, são alongados, lisos, de um branco de leite, co- : * : das maiores affeições see paes, principiam a voar no fim de y meiado de Junho; poucos dias ad os E ad aninham uma se; u pec a CAÇA “A folhosa é facil de apanhar. Segundo Nai um pro ples de o conseguir consiste em suspender de um ramo d ris quentada por este passaro uma gaiola cercada de varas envis - tendo alguma pequena ave. A folhosa attraída pela curiosidade prender. Tambem se empregam com vantagem outras armadilh: o ; CAPTIVEIRO Reduzida ao captiveiro, a folhosa domestica-e rapi mM tudo se, em vez de a ic á a deixam voar pelos ap um bico iaioero, menos extenso que a cabeça, tarsos e ed unhas fortes € coça azas ago subobtusas, sendo a a dade. AVES EM ESPECIAL 261 — CARACTERES ESPECIFICOS e o pisco de peito ruivo é um passaro muito conhecido. Tem o dorso ado. Re o ventre branco prateado, os lados do gn cinzentos, COSTUMES “Procura de preferencia os logares arborisados e humidos, ou seja icies, nas montanhas ou mesmo perto das habitações. passaro alegre, vivo, encantador. No solo conserva as azas co pendentes e a cauda horisontal. Saltita rapidamente em terra ramos d'arvores. Vôa com agilidade; se tem um grande percurso descreve uma linha fortemente ondulada. la grado as apparencias de atrevimento e de coragem que afecta, ade é que vela constantemente pela propria conservação. Conhece mente Os inimigos naturaes e mostra-se inquieto desde que os vê. 7 não seja muito sociavel, possue algumas qualidades aprecia- le “altruismo, se me é licito empregar esta expressão. «Os peque- s passaros orfãos, diz Brehm, encontram no pisco de peito ruivo um rdadeiro pae que os alimenta; os congéneres doentes teem n'elle um er adeiro, auxiliar, um companheiro cheio de caridade. Dois piscos de y peito. ruivo, mettidos na mesma gaiola, andavam continuamente em lu- - ta; disputavam cada migalha de alimento, dir-se-hia mesmo que dispu- 262 - HISTORIA NATURAL tavam o ar, atiravam-se furiosos um contra o outro ás bicadas. Um dia um d'elles partiu uma perna. As luctas acabaram desde então. O compa- nheiro esqueceu immediatamente todas as coleras, todos os resentimen- tos, approximou-se do ferido, principiou a ministrar-lhe os alimentos, a tratar delle com ternura. À perna curou-se, o doente recuperou a saude, mas a paz nunca mais se perturbou entre elle e o bemfeitor.» ! Suell refere um facto não menos interessante. Um pisco de peito ruivo, macho, foi uma vez apanhado com os filhos e levado para a casa de quem o apanhou. Creou os filhos com sollicitude extraordinaria, aque- cendo-os, dando-lhes de comer. Decorridos oito dias, o dono levou para casa um ninho com piscos pequeninos. O macho, logo que os ouviu piar com fome, correu ao comedoiro e principiou a trazer-lhes no bico o ali- mento; tratou-os e creou-os emfim como fizera aos proprios filhos. Naumann cita ainda um facto analogo. Este naturalista viu um pisco de peito ruivo tomar sob a sua protecção um pintarroxo, alimental-o, crial-o como teria feito a um filho. Em liberdade dão-se factos semelhantes. Acontece às vezes que 0 pisco de peito ruivo põe os ovos n'um ninho d'outro passaro; quando isto se dá, os passaros, por differentes que sejam os seus habitos, por dis- tinctas que sejam as especies a que pertençam, chocam cada um os seus ovos simultaneamente e na mais perfeita harmonia. O pisco de peito ruivo possue ainda outras qualidades apreciaveis. É um dos passaros que melhor cantam. O canto delle compõe-se de al- guns trillos alternando com sons prolongados, fortes, como de flauta. O canto é extremamente agradavel e digno de ouvir-se tanto em casa como em liberdade. Em Julho ou Agosto realisa-se a muda e depois véem as emigrações. Cada casal de piscos de pescoço ruivo tem o seu dominio proprio dentro do quál não consente a presença de um outro. É no centro d'esse dominio que o ninho se encontra, estabelecido no solo, n'um buraco, numa depressão, no meio de raizes, de musgos, de hervas, ou na toca abandonada de um quadrupede. O exterior d'esse ninho é formado de pequenos ramos e o interior forrado de raizes, de pêllos e de pennas. A postura tem logar em Abril ou começo de Maio e é de cinco ou | sete ovos de um branco amarellado, cobertos de pontos de um amarello- ruivo accentuado. Os paes chocam alternadamente durante quinze dias. Macho e femea revelam em todos os seus actos uma dedicação extrema pelos filhos, que não abandonam senão por occasião de uma nova pos- 1 Vid. Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 648, AVES EM ESPECIAL 263 | entcm 0 os insectos e atachnideos. SAVER ph ceRcis CAPTIVEIRO "epugnancia, perde ao fim de pouco tempo toda a timidez “instantes e habitua-se perfeitamente ao convivio do dono. vê, sauda-o cantando, eriçando as pennas, dando emfim to- ovas de uma grande e intima alegria. Para se fazer idéa de O PISCO DE PEITO AZUL n a aresta alta e uma plumagem. variavel de sexo para sexo, de à idade. | GARACTERES ESPECIFICOS O pisco de peito azul (eyanecula da mede cerca de dezeseis 264 HISTORIA NATURAL O macho tem as costas de um trigueiro acinzentado escuro, o ventre de um branco sujo apresentando aos lados manchas cinzentas escuras, a garganta azul com uma pequena macula central de vermelho cinabrio, as remiges de um pardo trigueiro, as rectrizes medianas de um frigueiro escuro, todas as outras de um rubro vivo na sua metade basilar e de um trigueiro muito escuro na ponta, o bico negro e os pés pardos es- verdeados anteriormente e pardos amarellados atraz. rê Os individuos não adultos teem as costas de côr escura, maculadas de amarello ruivo, o ventre raiado longitudinalmente e a garganta branca. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Este passaro pertence às regiões septentrionaes da Europa e da Asia. Arriba na primavera aos paizes da Europa central e meridional, ao norte d'Africa e ao sul da Asia. Em Portugal a especie é muito rara. COSTUMES Ao norte da Europa o pisco de peito azul vive à beira dos regatos, dos rios, dos lagos, das poças cercadas de vegetação e dos pantanos. No inverno penetra nos jardins, nas moutas, nos prados cobertos de her- vas altas. Passa a estação dos frios no baixo e medio Egypto, no centro da China e ao norte da India; alguns chegam às florestas do curso supe- rior do Nilo. Nas suas emigrações, este passaro segue um roteiro que parece tra- cado com antecipação; segue os valles, parando uma ou outra vez nos. logares onde encontra reunidas todas as condições necessarias à existen- cia. Na primavera, os machos chegam antes das femeas; no outomno no- vos e velhos voam em companhia. 24 No estio o pisco de pescoço azul procura activamente um pequeno bosque ou mouta espessa nas proximidades da agua. Por isso na Allema- nha evita as montanhas, ao passo que em Noruega é precisamente nas montanhas que se encontra, porque é ahi que encontra os lagos e os cur- sos d'agua marginados de vegetação. É ahi o verdadeiro paraizo d'este passaro. img O pisco de peito azul é um passaro encantador não tanto pela bel- leza da plumagem, como pelos seus habitos, pelo seu modo de viver. E muito agil, sobretudo em terra. Salta de um modo precipitado, vivo, AVES EM ESPECIAL 265 pido como a corrida, ou seja sobre um solo secco, arido, ou seja n'um coberto de moutas espessas, de hervas altas. Nos ramos das arvo- saltita constantemente. Vôa tambem rapidamente, descrevendo arcos, de circulo maiores ou menores; raras vezes porém, percorre um grande “espaço. De ordinario não se eleva senão alguns metros acima do solo; E e desde que descobre um logar occulto, desce para continuar depois o sentidos e as faculdades intollogindas deste passaro são pouco jenos tão desenvolvidos como os do rouxinol. É naturalmente do e não se arreceia do homem senão a uma vez foi Nigro, vivo, de bom humor sempre. em boas relações com os passaros d'outras especies, mas com- s; no entanto oferece algumas notas dulcissimas. Este pisco é do- o do instincto de imitação e intercala no seu canto proprio phrases as do canto de outros passaros; imita ainda perfeitamente os gritos “das aves, O coaxar da rã, por exemplo. Quando se faz ouvir, de o conserva-se empoleirado n'um logar alto; não obstante, canta imenta-se de vermes e de insectos que vivem nos logares humi- “no outomno come baga. is delicadas, tenras ou de pêllos e pennas. “A postura realisa-se em Maio e é de seis a sete ovos de um azul erdeado esmaecido e cobertos de pontos vermelhos escuros. A incuba- | “dura approximadamente quinze dias e macho e femea chocam alter- amente. Os paes alimentam os filhos de vermes e de insectos. Os seres abandonam o ninho antes de ajude voar; correm por terra é les As vezes, se 0 estio corre favoravel, o pisco de peito azul realisa “duas posturas. E TN RE E ti) A agilidade de que é dotado e os logares que habita, pisco de peito azul ao abrigo dos attaques dos animaes que am outros passaros cantores. No outomno os recemnascidos e OS Ovos Rana: vezes presa do rapozo ou dos ratos. CAÇA “ É dificil caçar o pisco de peito azul, porque sabe oceultar-se tamente e se percebe algum perigo bina com Eesaço ra o os vermes. | PERA CAPTIVEIRO Bem tratado, este pisco domestica-se perfeitamente e tempo, por mais timido que se tenha mostrado nos primeiros. Infelizmente não supporta o captiveiro por muito tempo senão lhe prodigalisam cuidados minuciosos e uma alimentação menor descuido implica a morte d'este bello companheiro. | Visinhas da especie anterior, ha duas outras: RR O PISCO DE PEITO AZUL COM MALHA BRANCA, uaneou 1 cyana): e pt a “O PISCO DE PEITO AZUL DE WOLF, onda Wolfii). Ela Estas especies, que alguns querem considerar sirnples ic importantes, toncementes à côr da plumagem; os poe são aos que estudamos. . tã y AVES EM ESPECIAL a dra A RABIRUIVA e em gancho, os tarsos elevados e finos, as azas compri- sendo a terceira remige a maior, uma. cauda mediana, CARACTERES ESPECIFICOS iva (ruticilla fenicure) é um formoso passaro de quinze de comprimento total e vinte e cinco de envergadura. 3, as costas cinzentas, O peito, os lados do tronco e a cauda o” ER a! a parte superior da Ranono e o meio do uma grande parte da Europa, a Asia septentrional e, no in- tro da Africa. COSTUMES de preferencia nas arvores. - ua - ue uma voz rica e harmoniosa; far ouvir duas ou trez phrases de notas suaves, semelhando as de uma flauta. O canto é S vezes na anfractuosidade de um rochedo, sempre em excavações, tudo de abertura estreita. O ninho grosseiramente construido com- 3 de raizes entrelaçadas e a cavidade é forrada de pennas. RA 268 na HISTORIA NATURAL E CAPTIVEIRO | durante todo o anno. Domestica-se andas Mb A RABIRUIVA OU FERREIRO À - : Es, real Este passaro (rutilla tithys) tem a cabeça, as costas e o zentos, o ventre esbranquiçado, a cauda e as pennas do ur . ruivo amarellado, EE as duas rectrizes medianas ue trigueiro escuro. e” Este passaro mede dezesete centimetros de comprimento: 3X sete de envergadura; a cauda tem sete centimetros. n DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA COSTUMES a URLRE contra-se por toda a parte nos Alpes, diz Tschudi. É um dos raros Is maes das montanhas que confiam no homem. Vimol-o muitas vezes meio dos gêlos, empoleirado n 'uma pedra esperando 0 viajaatosTe no Epce pa AVES EM ESPECIAI, 269 jiruiva anda voando em torno dos chalets abandonados.» ! Este passaro é mais raro nas planícies e nunca se alonga muito na IC elle ainda se agita e se move em na as direcções. De manhã “dos primeiros passaros que se faz ouvir; de tarde é um dos ulti- que se calla. Salta e vôa com ligeireza. «Voando, diz Naumann, ora F ar em linha recta, como. “uma frecha, ora descreve uma linha encia é tambem desenvolvida. É prudente; conhece os inimigos acautelar-se, evital-os. Quando se sente em segurança, tudo “se passa em volta d'elle é-lhe indiferente; assim, pousado no o de uma casa, não se incommoda absolutamente nada com o ruido jitoso que se faz nas ruas. Este passaro é pouco sociavel; vive só com a femea e dentro dos dominios não consente outros casaes. Além d'isso lucta quasi cons- m certa perfeição; torna-se então apreciavel, com quanto, affirma, misture por vezes sons roucos ás canções que imita. - Yabiruiva alimenta-se exclusivamente de insectos, nomeadamente “À reproducção n'esta especie tem logar em Abril. Nas montanhas, strue o ninho nas anfractuosidades dos rochedos; na planície, aninha habitações, nos buracos das paredes, nos logares um pouco ao abrigo - mau tempo. Algumas vezes, raras porém, faz ninho na cavidade de 1 tronco d'arvore. Nos logares em que os pinheiraes cercam os roche- “ Quando o ninho se estabelece n'um Fido o trabalho de constru- Es tra; RAR: SITE) td 1 Citado por ro Loc. cit., vol. 3.º, pg. 651. 2 Tbidem. cção é grosseiro, limita-se a ea um pouco dosoid buraco de materiaes diversos; quando porém o ninho é fe berto, a construcção é mais artistica, mais trabalhada. Nºeste u a construcção é feita exteriormente de raizes e hervas e inte de pêllos e pennas, elegantemente dispostos. Ea postura. é a sete ovos de um branco brilhante. Os paes chocam alternativamente: o ER dnraiioia no meio do dia e a femea todo o resto do tempo. Um e oui I filhos com extrema sollicitude; em caso de perigo não duvi corajosamente a vida por elles. Os filhos crescem rapidamente. CAPTIVEIRO passaro, que é excessivamente cioso da sua liberdade, da su dependencia. De resto, diz Brehm, a E aDiraNça não pos O ROUXINOL DA ESPADANA AVES EM ESPECIAL VEM CARACTERES ESPECIFICOS da espadana mede vinte e dois centimetros de comprido vergadura; a cauda tem nove centimetros. As costas são , O ventre é branco arruivado e a garganta raiada de sum e mais pequena e de côres menos vivas qué o DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA io os logares ini da Europa central e meridional. COSTUMES ste passaro fixa-se de preferencia junto dos lagos, das poças, das co agitadas onde crescem juncos em abundancia; não se encon- 's elevadas e raras vezes pousa nas grandes arvores. mavera, escreve Brehm, o canto d'este passaro ouve-se desde s alvores da madrugada até ao pôr do sol e ás vezes mesmo la noite dentro. Este canto compõe-se de algumas phrases muito “de notas cheias e fortes.» ! No entanto não é harmonioso; que elo faz lembrar o coaxar das rãs. «O passaro, acrescenta iavel; de ordinario encontram-se reunidos muitos casaes n'um ar, perto da agua. 272 HISTORIA NATURAL O chincafoes só aninha quando os juncos teem attingido a altura suf- ficiente para poderem occultal-o. O ninho é feito à beira da agua, perfei- tamente escondido entre os juncos. Um facto curioso observado por todos os naturalistas é que o ninho fica sempre a uma distancia tal da agua que esta nunca o attinge. É pois certo que o passaro prevê a vinda das. chuvas e calcula antecipadamente a elevação do nivel das aguas para obstar às inundações do ninho. Este é formado de caules de hervas sec- cas, de radiculas, de teias de aranha e de pêllos. Os ovos, em numero de quatro ou cinco, são azulados ou de um pardo esverdeado, coberto de pontos azeitonados escuros, cinzentos ou côr de ardozia. À incubação dura quatorze a quinze dias; macho e femea chocam. Occupam-se os paes com muita ternura dos recemnascidos que alimentam com insectos. CAPTIVEIRO O rouxinol da espadana ou chincafoes é uma ave encantadora em gaiola. Encanta sobretudo pela vivacidade. Quando o apanham, apresen- ta-se ao principio muito agitado, muito inquieto; todavia domestica-se facilmente. De resto, notam todos os observadores, reclama excessivos cuidados, uma gaiola grande e uma alimentação escolhida. A COSTUREIRA Pertence este passaro ao genero Orthotomos que se caracterisa assim: Teem os individuos que o formam um corpo elegante, azas curtas, arre- dondadas, sendo a quinta e sexta remiges as mais compridas, a cauda curta, as rectrizes estreitas, os tarsos elevados, delgados, os dedos cur- tos, o bico curto, fraco, direito, ponteagudo, cercado na base de algumas sedas fracas e, finalmente, uma plumagem abundante, vivamente colo- rida. DRE A E AE + — 3 “a pr ss, AVES EM ESPECIAL 713 CARACTERES ESPECIFICOS A costureira (orthotomos longicauda) tem as costas de um verde de azeitona passando a amarellado, o vertice da cabeça ruivo, o ventre branco, os lados do peito cobertos de manchas negras, as remiges tri- gueiras, bordadas de verde, as rectrizes trigueiras tambem com reflexos verdes, sendo as duas externas terminadas em ponta branca. O macho mede dezoito centimetros de comprido e a femea quatorze. No macho a cauda tem dez centimetros e na femea cinco apenas. as DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A costureira encontra-se na India e em Ceylão. -* “ o COSTUMES * Habita os jardins, os vergeis, os juncaes e as florestas de arvores pouco elevadas. Vive em casaes ou em pequenas familias. Saltita cons- tantemente de ramo em ramo, soltando de tempos a tempos um grito estridente que pode exprimir-se assim: touvi ou preti, preti. Não é timido este passaro e por isso se fixa perto das habitações; “nos logares porém, onde se sente perseguido torna-se de uma prudencia excessiva. Alimenta-se de diferentes insectos, especialmente formigas e grillos, e de larvas que apanha na casca das arvores ou sob as folhas. Quando salta ou quando come, tem o habito de eriçar as pennas do vertice da cabeça e de levantar a cauda. Ácerca do ninho d'este passaro diz Huton, referindo-se a dois que observou: «O primeiro, muito elegantemente construido, tinha as pare- des formadas de caniços, de algodão e de fios de lã solidamente entrelaça- dos; a cavidade era forrada de crinas de cavallo e collocada entre duas largas folhas. Estas folhas tinham sido applicadas uma contra a outra no sentido longitudinal e n'esta posição cosidas inferiormente em mais de metade do comprimento por meio de um fio de algodão, que o proprio passaro fiara. D'este modo na parte superior do ninho, ao nivel dos pe- quenos pés das folhas e immediatamente junto do ramo, ficava uma aber- VOL. IV 18 274 : HISTORIA NATURAL tura por onde o passaro penetrava.» ! O segundo ninho fixava-se na ex- tremidade de um ramo, proximamente meio metro do solo, e era formado dos mesmos materiaes que o primeiro; as folhas eram tambem cosidas uma à outra por meio de fios que o passaro fiara ou encontrara já pre- parados. | Ao facto de coser as folhas que constituem as paredes exteriores do ninho deve este passaro o nome vulgar de costureira. Cada postura é de trez ou quatro ovos, brancos, cobertos de man- chas de um trigueiro avermelhado. O ROUXINOL Este passaro encantador pertence ao genero Luscinia cujos indivi- duos são caracterisados por um corpo elegante, tarsos altos e espessos, azas de comprimento medio, cauda arredondada, bico alongado, um pouco largo na base, agudo na ponta e plumagem abundante .de um pardo misturado de ruivo fuliginoso. CARACTERES ESPECIFICOS O rouxinol (luscinia philomela) é pardo arruivado nas partes supe- riores do corpo, mais escuro no alto da cabeça e tem a garganta e o peito mais claros. As remiges são trigueiras escuras, as rectrizes triguei- ras ruivas; 0 bico é quasi negro pela parte superior, amarellado pela inferior e os pés são trigueiros amarellados claros. Este passaro mede approximadamente dezoito centimetros de comprimento. ! Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 723. AVES EM ESPECIAL 275 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA ; a A especie de que nos occupamos encontra-se em toda a Europa e ma grande parte da Asia central. Quando emigra attinge o norueste COSTUMES Tschudi afirma, a mil ou mil e quinhentos metros acima do mar. a casal tem dominios proprios dentro dos quaes não admitte um te encontrar-se um numero por vezes avultado d'estes passaros extensão de terreno relativamente pequena. «Espantei-me, diz a manhã de primavera passada em Monserrat, um passeio à - jardins da Alhambra, são cousas que quem tiver ouvidos à esquecer. Ouvem-se centenas de rouxinoes cantando ao apo, trinando de todos os lados. Toda a Serra Morena pode ar-se um jardim unico povoado de rouxinoes; mal pode mesmo rehender-se como num espaço tão restricto qual o de que dispõe “casal, passaros tão vorazes encontrem com que alimentar-se a si e filhos.» ! O que Brehm diz de Hespanha pode bem applicar-se ao pair. O rouxinol nas regiões em que sabe que o não perseguem chega a elecer-se junto das habitações; não é timido, antes se deixa facil- ervar. & undo Naumann a quem nos reportamos, o rouxinol tem um porte cheio de dignidade como se possuisse a consciencia do que vale. 3 em boa harmonia com os passaros d'outras especies e raras vezes TR pre a “ tambem se bate com os da sua. Quando pousado, conserva o corpo Er; Há 276 HISTORIA NATURAL proeminente, as azas pendentes e a cauda elevada; em terra saltita leve- mente. Se alguma coisa vem sollicitar-lhe a attenção, ergue bruscamente a cauda. O vôo é leve, rapido, ondulado, mas sustenta-se por posam tempo. O rouxinol possue para traduzir os diversos sentimentos de que está possuído, o amor, a colera, o receio, a satisfação, outros tantos sons dis- tinctos. ) O canto é adoravel, particularissimo. As notas são cheias, as varia- ções agradaveis, harmoniosas; não se encontra nada de semelhante em nenhum outro passaro. As notas pungitivas e alegres alternam de um modo graciosissimo, indescriptivel. «Um, diz Brehm, principia a cantar baixo, eleva depois pouco e pouco a voz, para terminar como que insen- sivelmente; um outro solta as notas fortes e cheias com ardor; um ter- ceiro casa admiravelmente os sons ternos e melancolicos com as expan- sões da alegria e do triumpho. As pausas, a medida véem augmentar ainda a belleza do canto. É pouca toda a admiração pela variedade, pela força, pela plenitude d'este canto. Custa a comprehender como um pas- saro tão pequeno pode emittir notas tão vivas, como os musculos laryn- geos teem vigor para tanto. «Um rouxinol para que se repute bom cantor deve possuir vinte a vinte e quatro phrases; muitos porém, teem um campo de variações me- nos extenso. Sobre este ponto a localidade exerce uma influencia grande. Os rouxinoes novos não podem educar-se senão com os velhos que habi- tam os mesmos logares; d'aqui resulta que n'uma dada região haverá cantores excellentes ao passo que n'outra apenas se encontrarão me- diocres. Os velhos machos cantam melhor que os novos, porque, mesmo nas aves, a arte para desenvolver-se carece de exercicio. É sob o influxo do ciume que o rouxinol canta melhor; o canto torna-se então para elle uma arma de que se serve para eclipsar os rivaes. Uns cantam principal- mente de noite; outros não cantam senão de dia. Durante os primeiros delirios do amor, antes que a femea tenha realisado a postura, ouve-se o canto delicioso do rouxinol a todas as horas da noite; mais tarde, o passaro emudece; parece ter encontrado repouso e recomeçado a vida ordinaria.» * O rouxinol alimenta-se de vermes, de insectos e de larvas; no ou- tomno come baga. A selecção sexual baseia-se n'esta especie principalmente sobre a exhibição do canto; algumas vezes porém travam-se entre os machos lu- ctas violentas para a posse de uma femea. ! Tbid. asd! E 7. a E % E RR oo Efe 2 To RO AVES EM ESPECIAL ag el O ninho do rouxinol é imperfeito: uma camada de folhas seccas põe o fundo, caules de hervas e folhas formam as paredes e finas es, crinas de cavallo e plantas tenras forram a cavidade. O ninho é no solo ou a uma pequena altura, n'um buraco, no meio de reben- | gd ou ainda entre as hervas. a abandonam o ninho quando ainda apenas pd volitar a outro ramo; conservam-se na companhia dos paes até à o dos paes, sendo certo que só no tempo dos amores attin- altura de voz e toda a perfeição nas canções. INIMIGOS inoes, sobretudo os que não attingiram a idade adulta, estão “altaques de muitos inimigos, podemos dizer mesmo de to- iferos carniceiros e de todas as aves de rapina. CAPTIVEIRO eImente e o que o não é só pode viver á custa de cuidados extraor- arios-—e mesmo assim, triste sempre, uma pallida e miseravel som- ra do que é em liberdade. Diz Brehm na obra que tantas vezes aqui - temos citado: «Eu nunca incitarei ninguem a engaiolar um rouxinol; não E direi até quaes os meios de o tratar para que não vá alguem lembrar-se 278 HISTORIA NATURAL de os pôr em pratica.» ! Aconselha o illustre naturalísta a quem tiver um jardim, um campo ou um quintal que faça ahi plantações proprias e os disponha nas condições que o rouxinol ordinariamente reclama para fi- xar-se; na estação propria o rouxinol virá cantar ahi cheio de confiança, tão perto de casa quanto se quizer. Assim procedia Naumann que na pri- mavera, a todas as horas do dia se extasiava ouvindo o prodigioso cantor. Á especie que descrevemos, luscinia philomela, pode acrescentar-se uma outra, luscinia major, que os francezes denominam grand rossignol e que entre nós é rara. Esta especie differe da que estudamos apenas nas dimensões que são maiores e no canto que é mais baixo, menos va- riado e mais vagaroso; de resto os costumes das duas especies são sen- sivelmente os mesmos. AS TOUTINEGRAS As toutinegras são caracterisadas pelas suas azas relativamente com- pridas, attingindo pouco mais ou menos o meio da cauda, ponteagudas, subobtusas, sendo a terceira remige a mais extensa, e pela cauda de comprimento mediano, larga e mais ou menos truncada em angulo recto. De todas as especies conhecidas, algumas das quaes se encontram no nosso paiz, descreveremos tres apenas, que nos parecem offerecer mais interesse. ! Citado por Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 640. AVES EM ESPECIAL. 279 “e “A TOUTINEGRA REAL depois de ter visitado as Canarias, escreveu: «De todos pe ilhas Canarias o melhor cantor, o capirata, é desco- ) « Admirei o seu canto suave e melodioso num jardim s E gire ; mas não pude vêl-o com approximação bas- determinar a que genero pertence.» Bolle, commentando esta ilustre sabio, disse: «Singular erro de um grande homem, ma demora mais prolongada teria dissipado inteiramente! Sin- ancia do homem de genio! Elle desconheceu a voz de um pas- na sua patria ouvira mil vezes e que não esperava encontrar gem longinqua.» E com effeito, diz Brehm a quem pedimos as feitas, o chamado cápirata que os indigenas das Canarias orgu- te appelidam o seu rouxinol é nem mais nem menos que a tou- CARACTERES . ” inegra real tem as costas pardas escuras, o ventre pardo ganta parda esbranquiçada, o vertice da cabeça negra no ma- e de um trigueiro ruivo na femea e no macho não adulto, o e os pés côr de chumbo. passaro mede dezesete centimetros de comprido e vinte e dois adura; a cauda tem sete centimetros. A femea tem dimensões ões chega ao Sudan. 280 HISTORIA NATURAL COSTUMES Este passaro é alegre, agil e prudente. Vive em constante movi- mento, agitando-se nas moutas e devezas. Raras vezes desce a terra; se alguem tenta approximar-se-lhe, ou foge ou se occulta n'um logar em que a folhagem é mais espessa. O vôo d'este passaro é rapido, directo e faz-se agitando fortemente as azas. Raras vezes porém atravessa um grande espaço sem parar. Vôa perto do solo e só quando o perseguem durante muito tempo é 408 se eleva alto na atmosphera. Na quadra dos amores cada toutinegra real habita largos dora permittindo-se ainda excursões para além d'esses limites. No tempo frio e chuvoso encontra-se muitas vezes este passaro nos Jardins, muito perto das habitações. O canto é tão harmonioso que alguns naturalistas não vacillam em comparal-o ao do rouxinol. As notas são cheias, harmoniosas, fortes, mas as phrases teem pouca extensão. Sob este ponto de vista as diferenças individuaes são notaveis. O macho faz-se ouvir desde pela manhã até à noite. À toutinegra real aninha duas vezes por anno: em Maio e em Julho. O ninho estabelece-o nas florestas de coniferas, nos pinheiraes e nos sil- vados. Cada postura é de quatro a seis ovos de casca lisa, côr de carne e cobertos de pontos trigueiro-rubros. Macho e femea chocam alternada- mente; um e outro criam os filhos com extrema ternura, sacrificando-se por elles em casos de perigo. Se emquanto os filhos são pequenos a mãe morre, o pae continua a creal-os. CAPTIVEIRO A belleza do canto d'este passaro explica por que o vêmos tão repe- tidas vezes em captiveiro. «A toutinegra real, diz o conde de Gourcy, é um dos melhores passaros cantores que existem e creio mesmo que para engaiolar é preferivel ao rouxinol.» ! Este passaro possue ainda o dom de imitar o canto d'outros, o que o torna verdadeiramente estimavel. Reconhece perfeitamente o dono e sauda-o, desde que o vê, com t Citado por Brehm, Loc. cit., vol. 3.º, pg. 107. AVES EM ESPECIAL 281 s de alegria. Conserva-se facilmente em captiveiro e não requer alimentação especial. Bolle falla de uma toutinegra real que pronunciava distinctamente a = mi nino = ppa (meu querido filhinho). a; a cauda tem sete centimetros. A femea, differentemente tece na especie anterior, é mais pequena do que o macho. A “do corpo é de um pardo azeitonado, a nro inferior de um DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA “ & e ? ; dy uy A a 1 central x a gude deste passaro. É raro na Grecia, na COSTUMES a sempre as florestas de preferencia a qualquer outro logar; te porém, o nome que lhe dão, diz Brehm, e se encon- “os jardins bem arborisados. 9 Naumann, a toutinegra dos jardins vis um passaro solitario, ) activo, vivendo sempre em movimento continuado. Perfeita- | dffensivo, nunca perturba nem attaca os outros passaros. Não re- la mesmo o homem; é prudente sem ser timido. Ro mais pelas arvores elevadas do que pelo solo ou pelas moutas. 282 HISTORIA NATURAL O canto d'este passaro é muito melodioso, muito variado, de notas suavissimas, altas e prolongadas. Canta de manhã e ao fim da tarde, im- movel sobre uma arvore; no resto do dia faz-se ouvir saltando de ramo em ramo, procurando alimento. O canto d'este passaro assemelha-se ao da especie precedente. ; O ninho é collocado sempre a distancia do solo e negligentemente construido; o fundo é muito pouco espesso e as paredes lateraes são tão pouco adherentes aos ramos da arvore que o vento atira muitas vezes o ninho por terra. A postura está terminada no fim de Maio. Os ovos, em numero de “cinco ou seis, apresentam desenhos e côres muito variadas. De ordinario são de um branco acinzentado com maculas. côr de café com leite, ruivas e trigueiras e algumas vezes com pontos muito escuros. O macho choca-os um certo tempo no meio do dia e a femea todo o resto do tempo. À incu- bação dura quinze dias. Os novos seres ao fim de outros quinze dias já sáem do ninho, se algum inimigo se approxima; não podem ainda voar, mas saltitam já e trepam pelos ramos com agilidade surprehendente. CAPTIVEIRO A belleza do canto d'este passaro explica o facto de o encontrarmos muitas vezes captivo. Segundo Naumann, habitua-se rapidamente á perda da liberdade, principalmente se desde os primeiros dias de captiveiro se lhe prendem azas e lhe cobrem a gaiola com um panno verde. Domesti- ca-se com facilidade e vive em boas relações com os outros passaros ca- ptivos. | Quem não quizer dar-se ao trabalho de tratar este passaro quando pequeno ainda, não tem mais que collocal-o com o ninho dentro de uma gaiola e suspender esta à arvore d'onde foi tirado; os paes creal-o-hão. AVES EM ESPECIAL 283 a “TOUTINBORA PALREIRA passaro quinze centimetros de comprido e vinte e dois 2; à cauda tem seis. Tem o vertice da cabeça cinzento, as 3 trigueiras, as azas de um trigueiro muito escuro com as das de um cinzento passando a ruivo, a face inferior do com reflexos de um amarello avermelhado aos lados do “trigueira, sendo cinzentas as duas pennas externas, uma ido, O bico pardo escuro e os pés pardos claros. “ DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA ER feita da Italia e da Provença, apparece apenas como . Tem-se encontrado alguns individuos no centro da Ásia; COSTUMES pce-se nos jardins; nas brenhas, perto dos lugares habitados, no meio das cidades. Encontra-se tambem nos bosques que id Salta constantemente e com extrema agilidade de ramo ), furtando-se rapidamente, quando quer, á vista do observador. ; * sã é ess da e pezado; é certo tambem que não desce 0 canto, que differe do de todas as outras especies do mesmo ge- 6 acid prolongado e terminado sempre por notas muito 284 HISTORIA NATURAL Este passaro faz-se ouvir a todas as horas do dia; d'ahi, talvez, a denominação de curruca garrula que lhe deu Linneu. A toutinegra palreira aninha muito perto do solo. O ninho é, como o da especie precedente, construido com extraordinaria negligencia. Cada postura é de quatro a seis ovos, de casca fina, de um branco puro ou esverdeado e com pontos cinzentos, violetas ou trigueiros amarellados. Macho e femea chocam alternadamente durante treze dias. Um e outro manifestam pela prole uma dedicação extrema que vae até ao ponto de exporem na sua defeza a propria vida. CAPTIVEIRO Habitua-se sem difliculdade à perda da independencia e domestica-se rapidamente. O GALLO DA SERRA OU BRAVO Esta especie pertence ao genero Rupicola que se caracterisa assim: Os individuos que o formam teem todos o corpo refeito, as azas compri- das e obtusas, excedendo a quarta penna todas as outras, a cauda curta, larga, truncada em angulo recto, os tarsos fortes e grossos, os dedos compridos, as unhas robustas, compridas, muito recurvas e a plumagem abundante, sendo as pennas das costas largas e truncadas e as da fronte, do vertice da cabeça e da região occipital levantadas em forma de crista. CARACTERES ESPECIFICOS Na especie de que nos occupamos, de todas a mais conhecida, o ma- cho tem a plumagem de um amarello alaranjado vivo, as pennas da crista bordadas de vermelho-purpura escuro, as pennas superiores das azas, as rectrizes e as remiges de um trigueiro avermelhado, sendo estas ultimas AVES EM ESPECIAL 285 las de amarello e manchadas de branco no meio, o bico amarello ido e os pés côr de carne com tons amarellados. “macho adulto mede approximadamente trinta e trez centimetros prido; a cauda tem dezenove. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA, has regiões montanhosas da Guyana e do norueste do Brazil, as de cursos d'agua. COSTUMES e-se sempre na visinhança de rochedos; nunca se encontra jes. As quedas d'agua parecem attrahil-o. Em Junho e em Ju- pna os rochedos e desce ás florestas em procura dos fructos de yores. ostumes d'este passaro. A Schomburgk pedimos as palavras que |: «Subimos com custo uma elevação escarpada, cujos caminhos la novo; suppuz em verdade que se tratasse da voz de um qua- . Ainda o ultimo som estava mal extincto, quando ouvi um dos 3 que respondia, imitando admiravelmente o grito. A primeira os gritos echoavam “de todos os adia. Os indigenas ao meu ser- tinham-me avisado de que me apromptasse para fazer fogo; o certo r 1, que me surprehendeu tanto o primeiro gallo de serra que me | i de atirar. Tivemos a felicidade. de matar sete d'estes passaros.» ! 286 - HISTORIA NATURAL Um costume singularissimo do gallo de serra, contado ainda p Jo naturalista que acabamos de citar, é o de dançar sobre os roc res, machos e femeas. Sobre o rochedo estava um macho que o pe ria em todas as direcções, executando passos e movimentos surp dentes. Ora entreabria as azas, movia a cabeça para a direita e pai esquerda, arranhava côm os pés a pedra e saltava no mesmo logar 1 ou menos levemente, ora movia circularmente a cauda e com ps grave passava altivamente pelo rochedo até que, fatigado, soltou um grito differente da sua voz ordinaria e voou para cima de um ramo. ximo. Um outro macho veio substituil-o: mostrou tambem toda a graça, toda a sua ligeireza e acabou tambem por ceder o logar a. ceiro.» ! O naturalista citado afirma ainda que as femeas assistem | se fatigarem a este espectaculo e que quando o macho chega a geo soltam um grito, um como applauso. passaros. A reproducção n'esta especie não está subordinada a tal ou ta O tação; parece todavia que a primavera é a mais apropriada ao facto. O ninho deste passaro, segundo Humboldt, fixa-se ao longo das pa- redes dos rochedos ou nas suas anfractuosidades, junto de quedas pombo. Adultos e não adultos, todos se alimentam de fructos. CAPTIVEIRO É vulgar encontrar captivo, entre os indigenas, o gallo da. serra € quanto novo. Humboldt e Schomburgk viram muitos exemplares nestas condições; este ultimo naturalista declara porém não ter encontrado ca- ptivo uma só vez um individuo já adulto; ab conclue que o passaro não supporta facilmente o captiveiro. Rá oca: | 1 Ibid, AVES EM ESPECIAL “287 — USOS E PRODUCTOS MEL E a . io o à rem deste passaro Pp A carne ça encimada por uma poupa côr de sangue. O bico é negro um amarello avermelhado. Este passaro mede treze centi- do e vinte e cinco de envergadura. COSTUMES 1 o d um simples grito de reclamo. a encontrou [o a oia passaro em Abril e Maio; era Ite construido com musgo e continha dois ovos. a PV a A hà À a o Fed Vide a E pe 7 k À ay ; ad 288 — HISTORIA NATURAL OS FISSIROSTROS São passaros de pequenas ou medianas dimensões. Teem o alongado, mas robusto, o pescoço curto, a cabeça grande e acha azas compridas, finas, mais ou menos ponteagudas, a cauda de fc riavel, os pés curtos e ordinariamente fracos. O bico é pequeno, achatado, consideravelmente mais largo na base do que na ponta; dibula superior ora se applica precisamente sobre a inferior, ora a formando um gancho na extremidade. A fenda boccal é granada eap rynge relativamente enorme. É “ DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA dida que nos approximamos dos polos o numero d'elles diminue « ravelmente; nas regiões frias encontram-se apenas alguns isola “A presença d'estes passaros n'uma certa localidade é « pelo regimen. Os paizes quentes offerecem-lhes sempre alim abundancia, ao passo que os paizes frios só lh'a offerecem em ce tações. É por isso que as especies que vivem na zona poa zona torrida nunca emigram. COSTUMES Estudaremos este ponto na especialidade. AS ANDORINHAS CARACTERES leira eslico a mais & dntonsa, a cauda profundamente rh zes lateraes excedendo muito as medianas, os tarsos muito ados e nus, assim como os dedos que são separados, em- agem de reflexos metallicos nas costas. às costas ndo RLL touito cóburo com senédos metallicos; a e a garganta são puras escuras. O resto da face inferior do | 19 AVES EM ESPECIAL | RR 290 ; HISTORIA NATURAL corpo é amarello ruivo claro. As cinco rectrizes externas apresentam manchas brancas, arredondadas nas barbas internas. A femea apresenta côres menos accentuadas que o macho; nº rectrizes lateraes são um pouco menos prolongadas. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A área de dispersão da andorinha das chaminés não é muito Reproduz-se em toda a Europa, excepção feita do extremo nor Asia septentrional. Entre nós é frequente. Visinhas desta especie, analogas a ella, existem quatro: A ANDORINHA DOS PANTANOS (hirundo cahárica), muito | om Egypto; “A ANDORINHA DA AMERICA DO NORTE (hirundo orando ” A ANDORINHA DA AMERICA DO SUL (hirundo rufa) e A ANDORINHA DAS ILHAS DO OCEANO PACIFICO (hirundo x A ANDORINHA DAS CASAS rior e O Erpibio | são brancos. O bico é negro e as partes e dos a sos são côr de carne. ' a Os dois sexos teem plumagem identica. pt imp Lamoureux à Paris 1, À ÂNDORINHA DOS BEIRAES.. 2. ID. DE DORSO BRANCO. 3. À ÂNDORINHA DO RIO. Magalhães & Momiz, editores E dk “AVES EM ESPECIAL o 291 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA “patria que a especie precedente; comtudo não se es- “A ANDORINHA DAS ROCHAS e différem muito pouco um do outro. novos teem uma plumagem mais escura e menos va- “ DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA , A ANDORINHA ARIEL É uma especie de pequenas dimensões: mede apenas oito tros de comprimento total. Tem as costas azues escuras, a cabeça do um. ruivo 1 as azas e a cauda trigueiras escuras, o os tarsos acastanhados negro. a Rr DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Esta especie é indigena da Austrália. vinte centimetros de comprido e quarenta de envergadura: à doze. à A face superior do corpo é. de um azul escuro brilhante, e clara que 0 seniro: “AVES EM ESPECIAL EE SS “DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA E dl toda a Africa central, desde a costa occidental oe o mar am Indias. A 294 HISTORIA NATURAL O ANDORINHÃO OU ZIRRO Mede dezesete a dezenove centimetros de comprimento e quarenta e cinco de envergadura. A plumagem é negra: só a garganta é branca. O passaro tem os tarsos muito curtos, cobertos de pennugem até aos dedos, azas compridas que excedem em comprimento a cauda, bico pequeno, largo na base e cauda aforquilhada. O bico e os pés são negros. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Vive na Europa e n'uma grande Re da Asia central. Quando emi- gra atravessa toda a Africa. Em Portugal é commum. COSTUMES GOMMUNS DAS ANDORINHAS Não ha talvez passaros mais estimados, mais protegidos pelo ho- mem, do que as andorinhas. «O ar, diz Figuier, é o verdadeiro elemento d'estes passaros; voam com uma facilidade, uma ligeireza e uma rapidez inconcebiveis. A sua existencia é um vôo perpetuo ; comem, bebem, banham-se mesmo, voando. É ainda voando que alimentam os filhos, quando elles principiam a en- saiar as azas. Elevam-se, abaixam-se, traçam curvas que se cruzam € entrecruzam, moderam o vôo, mesmo quando elle é mais violento, para seguirem em meandros caprichosos os insectos allados de que fazem o alimento exclusivo. A velocidade do vôo é tal que algumas especies che- gam a percorrer trinta leguas por hora. «Mas a faculdade do vôo que as andorinhas possuem em tão alto grau, não se desenvolve n'ellas senão à custa de uma outra: a marcha. Com as pernas curtas que teem é-lhes quasi impossivel marchar; e se casualmente pousam em terra, experimentam uma grande dificuldade para se elevarem de novo. Em compensação possuem uma vista que não cede em nada à da aguia ou do falcão. Segundo Spallanzani, que fez ácerca das andorinhas experiencias numerosas e muito precisas, especies AVES EM ESPECIAL 295 ha que descobrem uma formiga allada, que passa no ar, a uma distancia perior a cem metros! «Às andorinhas são celebres pelas suas emigrações. Desde os pri- “na Europa. Poderá parecer extraordinario que estes passaros, seis mezes de ausencia, voltem ao seu domicilio sem a menor fallaremos adiante. ido depois de um mez de trabalho, continua Figuier, as ando- teem terminado emfim o ninho, a femea deposita ahi a a s: realisa assim duas ou tres posturas por anno. A incubação e a quinze dias, durante os quaes o macho dá provas de uma E feponso forçado. «Desde que os filhos nascem, os paes cercam-os de todos os enida» à sua fraqueza reclama e dão por elles provas de uma affeição “Alimentam-os emquanto se conservam dentro do ninho; e quando “seres se sentem bastante fortes para ensaiarem as azas, Os paes lhes as primeiras tentativas e ensinam-lhes a perseguir os inse- ar. Boerhaave cita o caso de uma andorinha que voltando de uma O à casa em que estabelecera o ninho e vendo-a presa do incen- O hesitou em atirar-se às chammas para ir salvar os filhos.» ? mesmo naturalista continua ainda: «Qualquer que seja o logar em e estabeleçam, as andorinhas procuram sempre ficar na proximi- de um lago, de um curso d'agua. A superficie das aguas é com | O ponto de convergencia de uma grande quantidade de insectos, podem fazer uma larga colheita. Extremamente sociaveis, as ando- juntam-se em bandos numerosos e parecem unidas por uma pro- “affeição, porque em muitas circumstancias auxiliam-se mutua- 28 4 L. Figuier, Les Oiscaux, pg. 381. 2? L. Figuier, Obr. cit., pg. 382. 3 Tbid, o “a, 296 HISTORIA NATURAL Vem a proposito citar um caso narrado por Dupont de Nemours: «Vi, conta este escriptor, uma andorinha que, desastrosamente e não sei de que modo, prendera um pé a um cordel que pendia d'uma gotteira do telhado do collegio das Quatro Nações. Inteiramente fatigada pelos esfor- ços com que pretendia soltar-se, gritava pendida na extremidade do cor- del. As andorinhas que habitavam todo o espaço comprehendido entre as Tulherias e a Ponte-Nova, ou mais ainda, reuniram-se em numero de al- guns milhares; era uma verdadeira nuvem. Todas faziam ouvir o seu grito de reclamo. Então principiaram todas, uma a uma, como no jogo das argolas, a dar, voando, uma picada no cordel; as picadas recahiam todas sobre um mesmo ponto e succediam-se com um intervallo de se- gundo ou ainda menor. O que é certo é que ao fim de meia hora o cor- dão estava cortado e a pobre captiva restituida à liberdade.» Linneu cita um outro facto que demonstra de um modo evidente 0 espirito de confraternidade d'estes passaros. O facto é o seguinte: Quando as andorinhas das casas voltam, na primavera, a tomar posse dos seus ninhos, encontram algumas vezes um certo numero d'elles oceupados por pardaes. A legitima proprietaria, despojada assim do que lhe pertence, procura por todos os meios possiveis reentrar na sua casa, O que nem sempre consegue pelos seus esforços isolados. Em tal caso pede auxilio às companheiras; e todas juntas véem fazer cêrco ao intruso. Se elle re- siste, entrincheirando-se na sua fortaleza, ellas então trazem lama no. bico e tapam com ella a entrada do ninho que se torna assim o tumulo do usurpador «É ordinariamente em Setembro que as andorinhas nos deixam, es- creve Figuier, para irem em demanda de uma temperatura melhor e de uma alimentação mais abundante. «Alguns dias antes da partida, agitam-se, soltam gritos e reunem-se frequentemente nos logares elevados como para deliberar e fixar a epo- cha da partida. Emfim, chegado o dia escolhido, todas as andorinhas de uma dada região se juntam n'um logar convencionado. Principiam por se . elevarem e descreverem curvas no ar: ao fim de algumas evoluções, destinadas sem duvida ao reconhecimento do roteiro a seguir, as ando- rinhas avançam em massa para as costas do Mediterraneo e passam de- pois à Africa. Comquanto pertençam ao numero das aves cujo vôo se sustenta por mais tempo, é certo que não fazem todo este percurso sem - pararem. Assim os navios que atravessam o Mediterraneo n'esta epocha recebem quasi sempre algumas que véem procurar no repouso de alguns instantes a força precisa para continuarem a viagem. «As retardatarias que os deveres da maternidade ou qualquer outra causa impediram de seguir o grosso da emigração, partem'alguns dias mais tarde, isoladamente ou em pequenos agrupamentos. Algumas ha AVES EM ESPECIAL 297 não abandonam os nossos climas e possuem o segredo de n'elles pas- rem, sem inconveniente, a estação rigorosa. ks “rp numerosos e dignos de fé provam, com effeito, que rtas andorinhas cáem em lethargia durante a estação dos frios, à ma- 3 animaes hybernantes, despertando desde que uma temperatura as chama ás condições ordinarias da sua existencia. Este controvertido, é todavia um dos mais curiosos da ornitho- stes passaros sagrados; ainda hoje todos sentem pelas ando- | como terna piedade. Os serviços que nos prestam destruindo giosa quantidade de insectos, a doçura dos seus costumes, a “da sua mutua affeição e a dos paes péla prole, o feliz presa- oe e não põem escrupulo em enviar-lhes alguns grãos de sobretudo no outomno, quando a rotundidade destes passaros apetecidos. Ha mesmo caçadores — custa a crêr!-— que assassi- “innocentes avesinhas por passatempo, como para se exercita- sos de perderem o habito de matar !» + andorinhas voltam todos os annos aos mesmos vês donde áquelles em que teem os ninhos. Provam isto numerosas obser- | proposito escreve Spallanzani: «Tem-se observado que a ando- tendo uma vez escolhido uma casa para fixar-se, ahi volta inva- nte todos os annos, trazendo na primavera o pequeno cordão de ' lhe tinham fixado aos pés no outomno precedente. Trez vezes à com os meus commensaes d'este innocente artifício. As duas 5 vezes vi os machos com as femeas voltarem aos seus respecti- Ds, trazendo comsigo incontestaveis signaes de identidade. Da qe não appareceram; talvez que uma morte natural ou violenta hendesse no caminho. Estas experiencias, tão curiosas como aves provam não só que estes passaros voltam ao primeiro ninho S - Que as nupcias que ahi celebram constituem um nó indissolu- | 3.0. mesmo observador diz: «Seis ou sete casaes de andorinhas ) ] RR £0 L. Fignier, Obr. cit., pg. 382 e seguintes. 2 "Spallanzani, Voyage dans les Deux-Siciles, t. vt, pg. 5. 298 HISTORIA NATURAL dezoito annos que ahi habito e raras vezes os vi reparar os antigos ni- nhos, que se teem conservado sempre em numero egual ao dos casaes, comquanto ahi tenham sido depositadas constantemente duas posturas na estação quente. Fiz a mesma observação relativamente a duas andorinhas que se haviam estabelecido n'uma outra casa e que, sempre solitarias, não viram as respectivas familias estabelecerem-se perto d'ellas. É pois certo que em geral estes passaros não construem os ninhos nos logares em que nasceram.» ! COSTUMES DIFFERENCIAES As distincções a estabelecer entre as differentes especies de andori- nhas, sob o ponto de vista dos costumes, referem-se principalmente à construcção e collocação dos ninhos. O ninho da andorinha das chaminés differe do de todas as outras. Estabelece-o no interior de uma casa, sob as cornijas, nos aposentos de- volutos, nos estabulos, nas chaminés em que se não fogueia, emfim em qualquer parte aonde elle fique tanto quanto possivel ao abrigo da chuva e do vento. O ninho d'esta especie affecta de ordinario a forma de um quarto de esphera. As paredes do lado pelo qual se fixa são sempre mais espessas. O ninho tem geralmente vinte e dois centimetros de dia- metro e onze de profundidade. É feito de lama ou de terra que o proprio passaro humedece com saliva. Pêllos e caules de hervas contribuem ainda para consolidar as paredes. O interior é forrado de pêllos, de pennas, de caules finos, de materiaes muito molles. A andorinha do Senegal aninha nos troncos carcomidos das arvores. A andorinha das casas estabelece o ninho em logares elevados, nos telhados das habitações, nos capiteis das colunas, ou ainda em buráços de paredes altas. A andorinha de Ariel, aninha principalmente ao longo dos rochedos e nas cavidades das arvores. al A andorinha dos rochedos faz ninho exclusivamente nas anfractuosi-' dades muito elevadas das rochas. A andorinha salangana forma o ninho, provavelmente à custa das proprias secreções, de uma substancia chimicamente intermediaria da albumina para a gelatina, molle e que sob a acção prolongada da agua quente se torna dura e fragil. 1 Spallanzani, Loe. cit., pg. 6. ' AVES EM ESPECIAL o 299 O andorinhão ou zirro estabelece o ninho nos buracos das paredes em edificios altos ou se apropria (e isto acontece muitas vezes) dos ni- “de pardaes e esturninhos. De A usos CAPTIVEIRO adas, dispensando-lhes cuidados e dando-lhes uma alimer” 1 à dos rouxinoes captivos. Brehm viu duas na casa de um USOS E PRODUCTOS ilidade das andorinhas é incontestavel, desde que se sabe que alimentam de insectos, que destroem aos milhares. Esta circums- ando outras não pleiteassem em favor d'ellas, deveria bastar ninguem lhes désse caça ou destruisse os ninhos. Infelizmente, ma ficou dito, ha quem se dê ao divertimento de matar as ando- assim como ha quem lhes destrua os ninhos. Nas nossas aldeias ra - são inexoraveis a este respeito; e na Italia faz-se uma perse- “activa a estes passaros. O Dr. Anstett diz: «Os italianos, esses “devastadores que matam toda a casta de aves, não perdoam nte às andorinhas.» * “ha mais. Os chinezes comem os ninhos da andorinha salangana. os ninhos, escreve ainda o Dr. Anstett, teem a forma de um ovo lo em duas partes desde a ponta até ao fundo; são esbranquiçados, cidos, asperos, quebradiços e dissolvem-se na agua fervente, for- um muco gelatinoso de bonita côr, quando nenhum corpo estra- os suja. Estas andorinhas (as salanganas) erigem seu ninho nas ro- mais inacessiveis ou em cavernas. Os materiaes empregados n'esta cção são sargaços do mar, que ellas dissolvem préviamente no 1 papo para os converter n'uma especie de geléa. Os chinas dão-lhes grande apreço e pagam-nos caro; esta gulodice sabe a colla de peixe e é muito nutritiva; misturada com outros aceppipes constitue uma sopa “excelente. Os conhecedores distinguem trez qualidades destes ninhos, 1 Dr. Anstett, Historia Natural Popular, vol. 1.º, pag. 298. + ct 8 DA n rogo o AE TÁ E md me. cido coro daily DA Pdin DO ST E; ed EA sa ni pit UE o ur a aii Li pe Ed DE SR EAN Ss E a vide, aii cede e o — a be ape q cu mp a cdr f IR R a) 5 tv ho 4 NS + exceptuando o medio, rig e fracos, o interno. e om base por úma mmbréna e o dedo posterior naturalmente traz mas sendo susceptivel de voltar-se em direcção ante são longas, estreitas e ponteagudas e a cauda é formada de “CARACTERES ESPECIFICOS O noitibó mede vinte e oito centimetros de comprido e ci oito de envergadura. É cinzento na parte superior do corpo, com chas, riscos e salpicos trigueiros, negros e amarellos arruivados; tes inferiores são pardas claras, com salpicos e riscos negros. ros escuros. Por cima dos olhos e ao longo da abertura da bocca duas raias esbranquiçadas. As primeiras trez remiges são ma branco nos machos e de amarello nas femeas. As duas rectrizes « , são pardas acinzentadas com riscas negras e as outras são arr malhadas de preto, tendo na extremidade uma pequena macula rá Cê t Loc. cit., pg. 300. E cmrro ps Silos AVES EM ESPECIAL Lacantrrteo sas Sa Ê 1 TA . . Á É FENDA “DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA habita uma grande parte da Europa, faltando porém no Penetra tambem na Asia, mas não se conhece ahi perci- "ca de dispersão. COSTUMES o bico muito aberto; insecto que lhe entre na bocca, não que fica adherente à saliva viscosa que PSPRLRA esta deposita OS Ovos no solo, sobre um tronco d'arvore coberto u ainda nºum logar coberto de verdura. ) e femea defendem corajosamente os ovos, chegando a a lovalos para outro, se acaso alguem lhes toca. tos de que se alimenta são principalmente busóaros mos- elhos, grilos, sphinges e libellinhas. «Ás vezes, diz o Dr. xima-se dos curraes, porque encontra alli muitos bosteiros ; ncia deu logar à fabula que elle entra para tirar o leite às ome de caprimulgo provem d'esta crença popular muito vul- é impossivel crear o noitibó em gaiola, desde que se apanha a. Comtudo, se não é impossivel, é dificil obter este resul- 1 Dr. Anstett, Obr. cit., pg. 301. A'utilidade ' do noitibó é tanta como a das agindo di acima, na Como ellas, | o noitibó os a sua vida de OS CONIROSTROS Os mada Dag ne ornithologico « | | pela existehcia de um bico vigoroso, mais ou menos | dura. São passaros, geralmente, granivoros. Ha dpi voras e mesmo carnivoras. bico forte, comprimido latéralhenhos de mandibulas convesas, pridas e cai curta. AVES EM ESPECIAL 303 CARACTERES ESPECIFICOS if 9 mede dezenove a vinte e dois centimetros de comprido um a quarenta e sete de envergadura; a cauda mede sete. “superior do corpo é ruiva avermelhada com manchas longi- s. Duas fachas brancas passam pela extremidade das pen- ps das azas, cortando estas transversalmente. As escapulares as de branco e a rectriz externa é quasi inteiramente branca. pr do corpo é de um branco amarellado palido, tendo o S longitudinaes trigueiras. De cada lado do pescoço ha uma a transversal. O bico e os pés são pardos. viduos não adultos teem as costas de uma côr fuliginosa; as | a extremidade clara e a cabeça é coberta de manchas re- DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA ne tel-o encontrado na America do Norte. A área de dispersão D é pois extensissima. COSTUMES RED ga | ET misrona. NATURAL cos ou de um branco amarellado com pontos e coa ! ig zentos espalhados por toda a superficie. At Na Hespanha emprega-se um processo de caça sil cula caçadores, diz Brehm, partem de noite para o campo ey chos pista uns levam chocalhos como os que se: | CAPTIVEIRO O- cochico é um passaro oliradnie em anptiveba ao muito bem senão porque possue o dom estimavel de i guns quadrupedes. Ha muito porém, quem ache esse canto forte e renuncie por isso à posse de tão bello passaro. Domestica-se sendo apanhado em novo; e a alimentação reduz-se a grãos e pequenos fragmentos de carne. Ao principio é necessario forrar-lhe as. grades da gaiol: bravo e, se não-se empregar aquella precaução, maltrata-se. “Na gaiola em que está preso um pisco não se pode int passaro; o pisco é muito vigoroso e abusa da força. | 1 Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 212, GA O | - 305 A CARREIROLA mede quatorze a dezesete centimetros de comprido e nta de envergadura; a cauda tem seis ou sete. rior do corpo é côr de argilla, apresentando a cabeça dos e avermelhados; a parte inferior é de um amarelo “DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA “nosso paiz. COSTUMES s logares cultivados; comtudo escolhe os logares mais r da plumagem condiz com a EA solo, O passaro não pre- onder-se entre as hervas. | . descreve linhas onduladas, irregulares; eleva-se na atmos- co e quando quer attingir o solo, não desce, ermittentemente. É capaz de imitar o canto de outros pas- o é grosseiro e OS Ovos são amarellos claros com pontos tri- de Setembro este passaro emigra em bandos para o sul. é seguido, continuo, mas formado de notas que o pas- | 306 HISTORIA NATURAL “A COTOVIA DE POUPA Mede este passaro dezenove centimetros de comprido e tri quatro de envergadura; a cauda tem sete. Esta especie, como o nome indica, caracterisa-se principalmen en existencia de uma poupa no alto da cabeça. A parte superior do c E ads acinzentada e a parte inferior branca arruivada com mi q satoe por baixo do pescoço, no ventre e aos lados do tronco. As BA rectrizes são nina arruivadas; O bico é ideas e os - fab Pospocie tem, como as de que fallamos, uma área de extensa. Habita toda a Europa, o centro e o sul da Asia aja dé Frequenta o nosso paiz. | mes E COSTUMES ç | “ j " v Encontra-se perto das habitações, mesmo no interior das « al rentemente os campos cultivados e o deserto. Este passaro só canta na quadra dos amores. Alimenta-se de grãos e de insectos. é de quatro a seis ovos e a segunda de trez ou quatro. Mach e | chocam alternadamente. A incubação dura quatorze dias; os flhos. alimentados de insectos. E ra RAIO di + tuarês Es À + tip RAE pa LA “ue +“ = F: 4 ma ) Ai > PR E ha E 5 EA E pai , ; AVES EM ESPECIAL | q gu 11] CAPTIVEIRO Es N e. E, “A COTOVIA me Ta me rimento | a | im K 2 1 o muit, devescte centimetros de comp “são ada com reflexos dibonifigiiados e manchas negras “As quatro pennas externas da cauda são brancas ou ama- remidade. Da mandibula pet e uma facha cara E rY DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Es E ue. aro habita 0 eattrh co Melo da bi e uma e; central até Kamtschatka. uente entre nós. COSTUMES + labita as florestas e. “mattas mais desertas. à especie “alimenta-se de grãos e de insectos. Caracterisa-a, no - de Brehm, um notavel presentimento relativamente ao bom ou mao pro. Muitas vezes principia a cantar alegremente de manhã, quando ee * 308 HISTORIA NATURAL ainda as montanhas estão cobertas de gêlo. Mas todas as vezes que isto — acontece, é certo que pela hora do meio dia o desgêlo está feito. aa A cotovia é um passaro graciosissimo. Todos os seus movimentos | são vivos, cheios de attracções. Nos logares em que a não perseguem, é E docil, cheia de confiança; onde quer porém que a persigam, torna-se timida e selvagem. Em terra corre muito rapidamente, saltitando com passos meiudos e com o peito um pouco proeminente. Se uma ave de rapina apparece no ar, a cotovia aconchega-se bem na primeira depres- . são do solo que encontra, tornando-se assim difficil descobril-a. Tambem se empoleira muitas vezes nos ramos das arvores. Na primavera vive aos pares ou em casaes. Como n'esta especie 0 numero de machos é superior ao das femeas, a selecção sexual na qua-: dra dos amores faz-se tendo por base combates violentos em que o ven- | cido é forçado a fugir. Comtudo n'esta selecção entra por muito a exhi- bição de encantos por parte do macho em frente da sua futura compa- à nheira. Ê Segundo Brehm, pae, dado a estação corre favoravel, o ninho da . cotovia encontra-se já no fim de Março. Esse ninho estabelece-se de ordi- du ne nario no meio das hervas, n'uma depressão que o passaro faz na terra e que enche de caules de hervas e de folhas seccas; contem geralmente quatro ou cinco ovos esbranquiçados, cobertos de pequenos pontos tri- E) gueiros pardacentos mais ou menos claros. Só a femea choca; entretanto - E Ra o macho procura-lhe o alimento. Os paes não se conservam longo tempo na companhia dos filhos; à primeira postura succede com pequeno inter- * vallo uma segunda. * O canto da cotovia é, no dizer de Brehm, delicioso. Os que entre. nós o teem ouvido confirmam esta opinião. Esse canto faz-se ouvir mesm de noite; e nos logares ermos é.não pequeno encanto ouvil-o então. aa O canto não é tão bello como o do rouxinol; é todavia de mais du- ração. Ao passo que o rouxinol canta apenas dois mezes, diz Brehm, a cotovia faz-se ouvir desde Março até Agosto e ainda depois da muda no Ta, mez de Setembro e em principio de Outubro. s CAÇA A caça à cotovia é motivada pela qualidade do canto d'este passaro, a caça—bem entendido—que se faz por meio de armadilhas e que tem por fim apanhar o individuo vivo para o engaiolar. Esta caça justifica-se; não se justifica porém a caça mortifera, a que se faz a tiro. AVES EM ESPECIAL RN ADO CAPTIVEIRO A CALHANDRA OU LAVERCA 4 “centimetros de comprimento e trinta e una de em. tem sete. à a EA caia ppa e o ventre é esbranquiçado caca. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Juro) a e uma grande rria da Asia. COSTUMES tra os dias em movimento constante: corre, vôa, grita e canta É rapida na corrida e admiravel no vôo. Cantando, eleva-se ra e paira. Voando, descreve longas linhas onduladas, ba- “A calhandra é um dos passaros n mais matinaes, mais madrugadores da 310 HISTORIA NATURAL que se conhecem. Mal o dia aponta, eleva-se na atmosphera cantando alegremente, saudando os primeiros clarões. E não emmudece senão um quarto de hora antes de se encobrir o sol. O canto é claro, puro, variado. O dom que a calhandra possue de imitar as aves canoras que vivem perto d'ella dá logar a que o seu canto apresente variações "que correspondem exactamente à differença das especies circumvisinhas. Só no inverno ou no tempo das emigrações é que a calhandra ou laverca vive em harmonia com os seus semelhantes. No tempo do cio os machos entregam-se a combates desesperados que umas vezes se reali- sam no ar outras vezes em terra, à maneira dos combates dos gallos. Ás vezes as femeas tomam parte na lucta. O ninho da calhandra encontra-se, se a estação é favoravel, desde | o começo de Março. Estabelece-se de ordinario n'um campo dé trigo, n'um prado e às vezes mesmo à beira de um pantano n'um logar coberto de hervas e de juncos. Cada casal occupa um terreno que tem quando muito trezentos passos de diametro; para além principia o dominio de ti um outro casal. O ninho é feito n'uma depressão do solo e compõe-se de raizes, de | hervas, de caules seccos; o interior é tapetado de pêllos ou crinas. a “A primeira postura, que tem logar geralmente no meiado de Março, : é de cinco a. seis ovos de um verde amarellado ou de um branco aver- melhado, regularmente cobertos de pontos e manchas trigueiras e par- da e ae $s é as, Macho e femea chocam alternadamente. as INIMIGOS As calhandras teem como inimigos declarados todas as pequenas aves de rapina, nomeadamente o esmerilhão. «Desde que esta ave appa- rece, diz Naumann, as calhandras calam-se. Deixam-se cair por terra, aconchegam-se bem contra o solo, porque sabem que só assim poderão salvar-se. Só aquellas que andavam voando muito alto e que não viram 0 inimigo a tempo é que procuram salvar-se elevando-se ainda mais. Soltando gritos de terror, sobem sempre, sempre, procurando manter-se acima da ave de rapina que não pode attacal-as senão d'alto; a ave de. rapina procura seguil-as, mas acaba por fatigar-se. O medo que as calhan- dras teem d'este inimigo-excede todos os limites. Chegam mesmo a re- fugiar-se junto do homem.» Os pequenos carniceiros e os roedores tam- bem destroem grande numero de calhandras, AVES EM ESPECIAL 3114 CAÇA f » D | mais terrivel de todos os inimigos da cabos é, sem du- que lhe faz uma caça pertinaz por meio de armadilhas “e mesmo a tiro. Affirma-se que dá um prato delicioso ) basta para explicar a perseguição ge lhe faz. mi e se o da + VM, O CHAPIM OU MELHARUCO e ' ge” fá pac é PA lo, “O vertice da cabeça, a garganta, uma facha no meio do ven- ps. ape: vae da garganta á região occipital, negros, as Tê- + Habita uma grande parto da Europa, 0 centro da Asia e o dUAFrica st am É commum em Portugal. A MEGENGRA Este passaro an dO de Lineu) mede doz comprido e vinte de envergadura; a cauda tem cinco. 3 e Y c de, um ga escuro, o pescoço end por uma faia: e as remiges côr de ardozia, sendo as secundarias bordadas exter E celeste e terminadas de branco, as rectrizes de um accentos « escuros de ardozia, O bico negro e branco sujo nos 4 pa côr de chumbo. ES a de DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA “Habita a Europa inteira desde 0 extremo norte a ao « 7 b frequente entre nós. E Ao “AVES EM ESPECIAL 313 Es “arruivado, as azas negras, as remiges secundarias bordadas as rectrizes negras, apresentando as trez externas de cada O CHAPIM PENDULINO assaro (eegithalus peudulinus de Linneu) mede onze a doze Ds de mn e dezeseis a ao de GNVOLGAGUTS; a cauda e erp, um branco arruivado, o bico negro com os bordos branquiçados e os pés negros. * A femea apresenta as mesmas côres, mas menos vivas. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA | O chapim pendulino habita uma parte da Europa AB Pa Fuad Habita a Europa central. “a E As especies cujos Exráttond acabamos de resumir, 0 . gengra, o fradinho, o chapim pendulino e o chapim. dos po sentam costumes communs e differenciaes. Estudaremos uns e. COSTUMES GCOMMUNS | Os passaros que acabamos de mencionar, não obstante : a sua: nez e fraqueza apparente, são extraordinariamente vivos e notav: . Vivem em lucta continuada não só uns com os outros, mas à com aves de maiores dimensões que conseguem domar e às quaes em os craneos às bicadas, devorando-lhes depois os cerebros. a em em movimento continuado, ora volitando, . ora saltando de ra vista os tomasse por aves trepadoras. alimentar d'estes passaros varia muito com as diferentes s de estação e de local, sendo umas vezes granivoro, outras “outras até carnivoro e frugivoro. ordinario apanham as sementes, os fructos e os insectos entre as o inverno batem com as azas de encontro aos cortiços das abe- brigando assim a saír algumas que são immediatamente devora- um e matam tambem as vespas. À dio rançosa é um ali- osição e construcção dos ninhos. apim ou melharuco, como mais vulgarmente lhe chamam, faz a ar megengra estabelece o ninho alto na cavidade de um velho tronco, - for pra ndo-o de pennas e de pêllos. A postura n'esta especie é de oito a O ninho do chapim rabilongo é mais bem feito do que os das espe- precedentes. Esse ninho é de forma ovoide, com a abertura alta. mamente é formado de musgo, de teias de aranha, de involucros de idas e de cascas de arvores; internamente é alcatificado de pen- em, lã e pêllos. O ninho estabelece-se nas arvores e, tendo a appa- cia e a côr da casca dos troncos, não é facil descobril-o. - O chapim pendulino construe o ninho com arte admiravel, dando-lhe dezeseis a vinte e dois centimetros de altura e onze a quatorze de dia- “metro. Fixa-o . superiormente a um ramo que se bifurque e que fique *'Sompenso sobre a agua. Neste ninho, que é feito de felpa de vegetaes, “de lã, de musgo e de pêllos, tudo consolidado por meio de saliva, ha AVES EM ESPECIAL 315 AA ar 316 HISTORIA NATURAL. E a A em direcção inferior. A postura é de sete ovos, de Re branca com tons avermelhados. Macho e femea chocam alternadamente. Os goes attribuem ao ninho d'esta especie virtudes therapeuticas ; acre que o fumo que se desenvolve quando se queima um destes. remedio infallivel contra as febres intermittentes, assim como a que a agua quente em que se amollece, cura o rheumatismo. | O chapim dos pantanos estabelece o ninho perto das aguas es das, na cavidade de uma arvore; esse ninho gd tem de artistic tes é extremamente grosseiro. As A femea realisa duas posturas: uma, à PRINT de oito a do e a segunda de seis a nove. CAPTIVEIRO. Todos estes passaros se reduzem com facilidade ao captive dos elles se domesticam bem, tornando-se excellentes comp: cheios de confiança no dono e capazes de Aprendes como acontece, a vir comer à mão. - O TRIGUEIRÃO “AVES EM ESPECIAL 317 CARACTERES ESPECIFICOS “mede vinte centimetros de comprido e trinta e quatro a cauda tem oito. A femea tem de comprido menos um envergadura menos trez. ' “é pardo-trigueira na face superior do corpo, a ivamente clara na face inferior. As rectrizes lateraes DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA | abita a maior parte da Europa, parecendo ser mais commum ao que. ao norte. Nas suas omigrações chega à Africa septentrional. car em Portugal. COSTUMES - ' vóstas, nem nas montanhas altas, ou k sejam desnudadas ou Ea Pbeção com mais facilidade do du poderia suppóóse. to nem é forte, nem agradavel. inha em Abril entre vegetaes, muito perto do solo; as paredes o são feitas de folhas seccas e de palhas e o interior é alcatifado “e de hervas finissimas. Os ovos são quatro a seis, de casca ul ou amarellados, cobertos, sobretudo na extremidade mais x paes antão aninham uma Ash vd e depois todos, novos Asher vg em bandos e emigram. “4 + 13 Yo CAÇA = x Depois do homem, os mais 1Srivbio inimigos falcões, os As e as martas. a “a a a parte inferior do pescoço amarella, o ventre Ro Rr: as nte franjadas de trigueiro b: nrtgd as rec trizes a + si Do DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA - AVES EM ESPECIAL 319 O TRIGUEIRO | id o mede approximadamente dezoito centimetros de com- | “e seis de envergadura; a cauda tem sete centimetros e “é um pouco mais pequena que o macho. ssaro é notavel pela belleza da plumagem. A côr fundamen- ermelho trigueiro muito agradavel. A cabeça, a garganta e a : or do peito são cinzentas; a região auricular é cercada por aço negro, limitado dentro e fóra por uma raia branca. As costas am manchas negras dispostas em series; as azas teem duas raias iris é trigueira escura, a mandibula superior azulada escura e a Ea “clara. Os pés são pardacentos. | a apresenta côres menos accentuadas e a garganta manchada. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA eiro é um passaro proprio das regiões meridionaes da Europa. de dispersão estende-se porém por uma grande parte da Asia. “entre nós. "* COSTUMES O trigueiro vive nas ; montanhas e não de ás ie À senão no “outomno e no inverno pelos grandes frios fas Tschudi affirma 1issa este passaro habita principalmente as. tas montanhas, fi- de preferencia nas vertentes escarpadas € cobertas de Fdiedos. constantemente entre as rochas, saltita de pedra em pedra se a nas arvores. Deimenio na extremidade mais grossa. - Alimenta-se principalmente de insectos. CAPTIVEIRO geralmente apreciado. Segundo Bechstein, que possuiu um par sete annos, o trigueiro é docil, facilmente domesticavel e viy não só com os congéneres, mas ug com dipraqien outros na ptivos. paga PRE de NE A HORTOLANA Mede dezeseis centimetros a aranio e cisto e seto de envergadura. A femea é mais pequena. E pescoço cinzentos, a garganta e uma pequena raia “irei olho de um amarello palha, as costas manchadas de esci Ir melhados. e as vezes ao norte d'Africa. Existe em Portugal, sendo porém- aqui menos vulgar que das especies anteriores. k re Sd DT RT AS SRA TT ) (O SO UR O RE ADO Cs RE PR WD SE AVES EM ESPECIAL 321 - COSTUMES é um passaro vivo, alegre, muilo aa Procura os loga- 2 preferencia aos descobertos. passaro é agradavel e atado do solo, nos ramos mais espessos dos arbustos sylves- | numero de quatro a seis por postura, são avermelha- e linhas negros e cinzentos azulados. CAPTIVEIRO ana supporta bem o captiveiro e vive harmonicamente com USOS E PRODUCTOS =" x a Na Italia e na Grecia paga-se caro este passaro, AS VIUVAS E in à va extraordinario. Passada essa estação perdem um tal ornato, idos á plumagem ordinaria. Será por este motivo, inquire de à côr da plumagem, pela maior parte negra? Ou será ainda nome de Ei? como rem alguns naturalistas, derivado, ein 0 VOL, IV 21 322 HISTORIA NATURAL vieram, trazidos pelos portuguezes, os primeiros exemplares do grupo? Ainda hoje se não sabe a qual das trez interrogações compete uma res- posta aflirmativa. CARACTERES As viuvas teem o bico curto, conico, ponteagudo, comprimido na metade anterior, dilatado na base, e azas-de comprimento medio. A muda é dupla; na epocha da reproducção, como foi dito, apresentam ornamen- tos destinados a desapparecerem após a postura. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Estes passaros são originarios da Africa. Apparecem n'outros paizes em estado de captiveiro. GOSTUMES Durante a quadra dos amores as viuvas vivem, de ordinario, aos pares; comtudo algumas ha que vivem em polygamia. Os machos reves- tidos dos seus ornatos nupciaes executam movimentos singulares. Se se empoleiram, deixam pender a cauda; se marcham, são forçados a man- tel-a horisontal, apoiando-a para isso um pouco nos objectos -visinhos. Essa cauda extensissima influe sobre o vôo, tornando-o demorado e até quasi impossivel quando o vento é forte. Terminada a muda, as viuvas passam a voar muito rapidamente e com extrema facilidade em uma longa linha ondulada. À A maior parte d'estes passaros vivem em terra, porque ahi ençon- tram a alimentação que se compõe de grãos e de insectos. Depois da quadra dos amores as viuvas emigram; não se sabe po- rém até onde se estendem as suas viagens. CAPTIVEIRO Algumas especies de viuvas ha que em toda a Europa apparecem captivas. Não são muito vivas, nem possuem um canto muito variado ; o 977 VÁ E nm u ia Imp. Lamoúreux. à Paris a 1 À VIUVA DE QUATRO PENNAS CAUDAES. — ». ID. DE COLLAR DOURADO. | - 5. Ip. Bico DE LACRE Magalhães & Moniz, editores A VIUVA DOMINICANA Ê ra x x ug ( o tem o vertice : oabeça, as costas, as grandes pennas su- KI; as barbas internas das pennas caudaes externas, bran- “bordadas de amarello claro. o tem trinta centimetros de comprimento total; desta exten- . gentimetros Reign à cauda. á DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A! e pertence ao centro d'Africa. NH 4 O TECELÃO DE CABEÇA DOURADA | pa y 7 É um passaro formoso, este. Tem 0 vertice pa ( | nuca é toda a parte inferior do corpo de um amarello citrico gião frontal e uma raia que cerca a mandibula superior, rub e as pennas superiores das azas, verdes, as remiges vermelh ras, bordadas de amarello esverdeado, as rectrizes amprellao bordadas de di o bico tica eos io amaréilados. R! Y a: “ E tb o [27555 da ] es IR É Rà 297 AVES EM ESPECIAL 325 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Encontra-se na Abyssinia, desde a costa do mar Vermelho até ás montanhas, e no Sudan oriental. COSTUMES Tia O tecelão de cabeça dourada é um passaro extraordinariamente so- — ciavel. De manhã e à tarde ppparoco em bandos numerosos sobre as ar- — vores. O canto é agradavel. No tempo dos amores 0s machos empoleiram-se br “vam-se ao lado dos companheiros, escutando, como à de enlevadas na “harmonia das canções que elles soltam. Isto acontece depois do erguer “ do sol e dura algumas horas. Depois a sociedade vôa em procura de ali- mentos. - Ão meio dia o tecelão de cabeça dourada bebe e repousa. E êlsuda 0 al declina reune-se de novo em bandos; e então ou recomeça as can- ções da manhã ou trabalha na construção do ninho. - Na epocha da muda, que se realisa em “Julho e Agosto, o tecelão de q “ cabeça dourada constitue-se em bandos mais numerosos ainda que em | qualquer outra epocha do anno. A quadra destinada à construcção do ninho parece variar com as lo- calidades. Nas florestas virgens das margens do Nilo Azul essa quadra a | - Coincide “com o principio da estação das chuvas e já no mez de Agosto ERES au Use encontram ovos. “RR CA construcção do ninho é singularmente artistica e digna de ser des- ei tripa O passaro principia a formar a armação, o esqueleto do ninho, empregando longos caules de hervas; suspende-o à extremidade de um ramo comprido e flexivel. Já então se reconhece a forma do ninho. De- pois o passaro principia a cobrir as paredes, deixando do lado sul uma pequena abertura circular. Neste momento o ninho apresenta a forma de um cone truncado appenso a um hemispherio. O interior é forrado de caules de hervas extremamente finas. Muitas vezes, diz Brehm, a cons- trucção continúa durante a postura. Os ovos são trez a cinco, de dois centimetros de comprimento, bran- cos ou verdes e manchados de trigueiro. Em quanto a femea choca, o macho procura-lhe alimento; e como n'uma mesma arvore aninham simul- | 326 vem continuado. * CAPTIVEIRO Brehm escreve: «Nunca observei o tecelão de id captiveiro e, na minha vida errante de homem que e el visinhas, mas são sempre muito raras.» * & dd + s+ R O TECELÃO MASCARADO E Tem à cabeça e à Nendor do “pescoço o ao mito Re superior do corpo amarella esverdeada, a inferior amarella | pennas das azas franjadas de branco. RR a DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Habita o Cabo da Boa-Esperança, a Senegambia e a Aby - COSTUMES São os mesmos me os a tecelão de cabeça donrado. — ut) 1 Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 184, AVES EM ESPECIAL 327 O REPUBLICANO as tem de comprimento dezenove centimetros, dos quaes em à cauda. 0 macho tem a parte superior da cabeça, a para COSTUMES 4 «Cada casal construe o seu ninho particular, mas tão perto do ninho “visinhos que, terminada a construcção, crêr-se-hia vêr um ninho um O, coberto de um immenso tecto e apresentando na sua face inferior “uma infinidade de buracos redondos. Estes ninhos servem apenas para É “uma postura; desde que uma outra tem de realisar-se, os passaros cons- — truem novos ninhos abaixo dos primeiros de modo a ficarem cobertos pelo antigo tecto e pelos primitivos ninhos. Assim augmenta a constru- 328 =. HISTORIA NATURAL. AR aaa cção de anno para anno, até que o seu pezo'chega a produzir. a queda | do ramo em que se acha estabelecida.» 4 REA Referindo-se ainda aos ninhos dos. republicanos, diz Le. Vaillant: «Cada cellula ou ninho mede oito a onze centimetros de diametro e. sufficiente para o passaro; mas todos se-tocam por uma grande parte sua superficie, parecendo à vista não formarem mais que um corpo ur e não se distinguindo entre si senão por um pequeno ourificio exte que serve de entrada e que algumas vezes “é commum a trez ninnona ferentes, um collocado no fundo e dois aos lados.» 2 SR De ordinario as colonias dos republicanos encontram-se nas arvo fortes e elevadas; à falta de arvores que satisfaçam a estas condiçã fixam-se sobre os aloés arborescentes. Cada postura é de trez a quatro ovos de um branco azulado, mente pontuados de trigueiro na grossa extremidade. Os filhos são a "mentados com insectos. É CAPTIVEIRO Não se encontra o republicano em casa dos passarinheiros; é e: E certamente o motivo por que nada se conhece dos seus costumes e condições de liberdade, = ao o | ud » a OS BENGALIS azas de comprimento medio, com a quarta remige mais comprida que as outras, cauda. alongada e conica e plumagem espessa e sedosa. A especie adiante descripta é a representante do genero. 1 Citado por Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 180. 2 Le Vaillant, Second Voyage dans Vintericur de V Afrique, vol. 3, pg. soa, É E, E w A Imp - Lamoureux. à Paris O BencaLuinHa 2 O BENGALINHA PONCTUADO.— 3. 0 JANUARIO ou BICO DE LACRE Magalhães & Moniz, Editores AVES EM ESPECIAL A e O PEITO CELESTE. “ ; à cauda mede cinco. a superior do corpo cinzenta atrigueirada, a face, o peito, DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA “muitos individuos que neste continente se encontram. | o Ru R o COSTUMES Brehm, este passaro não é commum em parte alguma; se são sempre pequenos, pouco numerosos. tivo, vivissimo. Possue um canto suave e agradavel. do peito celeste estabelece-se sempre a descoberto e é ne- + construido, embora solido. Os ovos, em numero de quatro ze a quatorze millimetros de comprido e são inteiramente CAPTIVEIRO to celeste não é raro em casa dos passarinheiros. Segundo + casal custa, termo medio, onze rig e meio ou dois mil e ; ádsaro. vive pom em captiveiro e adido, ahi. Macho e fe- jocam alternadamente. yximadamente doze centimetros de comprido e dezesete | ro habita uma grande parte da Africa; d'ahi se derramam - EA EE RESdaL a a e Ca Ca ES 330 | “HISTORIA NATURAL As temperaturas muito baixas são-lhe prejudiciaes. Bastahe alimentação muito commum. OS SENEGALIS prido, lateralmente comprimido, por uma cauda arredondada e plumagem de ordinario vermelha e coberta de pequenos pontos | O SENEGALI MINIMO | Esta especie (logonostecta minima de Linneu) mede nove « o peito e o uropigio rubros, o ventre de um cobreado claro e o os pés vermelhos. Na femea só é vermelho o uropigio. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA AVES EM ESPECIAL 331 COSTUMES vel; vive harmonicamente não só com os seus congéneres, com outros passaros. há k CAPTIVEIRO m passaro que dentro de pouco tempo captiva as sympathias de | vêem em gaiola. Canta, principalmente no tempo do cio, quasi ja. Chega a reproduzir-se em captiveiro. O MARACACHÃO € azas azeitonadas, a parte superior da cabeça e do pescoço cinzen- a fronte vermelha viva, bem como a parte superior da garganta, a “as pennas superiores da cauda e duas rectrizes centraes vermelhas, as , E, . . . . “remiges trigueiras, bordadas exteriormente de amarello azeitonado, o bico e os pés vermelhos mais ou menos accentuados. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Vive na Africa. Em Benguella é frequente. K ) E) costumes Este passaro é. conhecido em Forti ndo em cl duo nossas possessões ultramarinas. É um passaro alegre, d bi Tributa à femea e aos filhos uma grande dedicação. “Tem um canto suave, muito agradavel. “Alimenta-se bem com alpiste, milho melado e ale, Pode pá sete dinda ou mais. ue REM - OS CANARIOS | 1 Teem 0 bico curto, pequeno, os pós Ru no a DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA AVES EM ESPECIAL 333 O CANARIO . donou a. patria para tornar-se cosmopolita. Dous irmãos segui- nos differentes: um favorecido pela sorte, dotado de faculdades permittem elevar-se, cria um grande renome e é o alvo das atten- Este ahi vive ignorado, conhecido e estimado apenas por alguns mas feliz, comtudo; é essa a historia de um passaro que a na- estinou a ornar algumas ilhas isoladas do Attlantico. O homem ou-se desta especie, transportou-a ao longe, associou-se à sua | sorte e chegou a modifical-a por modo tal que Linneu e Buffon ram O erro de tomar o pequeno passaro amarello, que todos os, por typo da especie, esquecendo-se da especie-mãe de plu- verde que se conservou invariavel. Para o naturalista é sempre e interessante vêr esboçada a historia de um animal; mas o é maior, mais geral, se se trata da origem de um destes seres rem uma verdadeira historia, que passaram por graos diversos volvimento, de um d'estes seres que fazem, de algum modo, a casa, que se ligam a todas as nossas recordações domesticas, m para se nos recommendar não só a belleza e outras particula- “interessantes, mas ainda o proveito que d'elles auferem alguns sconcidadãos desventurados. nhecemos perfeitamente o canario domestico: sabemos os seus s e particularidades. Talvez este facto junto ao da distancia em vemos do canario selvagem explique a aa de conhecimentos Veste.» ! Ignorou-se até ao nosso seculo a maneira dê viver do canario sel- cem. Ainda no seculo passado Buffon sanccionava com a sua immensa ctoridade os erros que a este respeito haviam espalhado os naturalis- $ phantasiosos do seculo xvi. t Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 97. 394 HISTORIA NATURAL CARACTERES 4 O canario selvagem é mais pequeno e mais elegante que o canario domestico da Europa. O que se encontra captivo nas Canarias tem, por effeito dos seus cruzamentos repetidos com os congéneres selvagens, con- servado os seus caracteres originarios. Os velhos machos teem o dorso verde e amarello, raiado de negro e as pennas largamente bordadas de cinzento que se torna quasi a côr dominante. O uropígio é verde e ama- rello; as pennas superiores da cauda são verdes, bordadas de cinzento. O vertice da cabeça e a nuca são tambem verdes e amarellos com bor- dos cinzentos muito estreitos. A região frontal é de um amarello d'ouro com tons esverdeados; são da mesma côr a garganta, a parte superior do peito e uma larga facha que partindo dos olhos se dirige, recurvan- do-se, para a nuca. As partes lateraes do pescoço são cinzentas. À parte inferior do peito é amarellada, o ventre e as pennas inferiores do uropi- gio são esbranquiçadas, as espaduas verdes, bordadas de negro e de um verde mais desmaiado, as pennas das azas negras, ligeiramente borda- das de verde e as da cauda pardas escuras, bordadas de branco. A femea tem as costas trigueiras, largamente raiadas de negro, as pennas da nuca e da parte superior da cabeça trigueiras e verdes claras na raiz, a região frontal verde, a facha que vae do bico ao olho parda, os lados do pescoço marcados por um collar pouco distincto, verde e. amarello adiante, cinzento atraz, as espaduas verdes e amarellas claras, as remiges trigueiras escuras, bordadas de verde, as pennas do peito e da garganta de um amarello d'ouro com tons verdes, bordadas de branco, a parte superior do peito e o ventre brancos e as partes lateraes do tronco trigueiras com raias mais escuras. Nas côres que descrevemos ha cambiantes e transições difficeis de nomear. O que é certo é que o canario selvagem se assemelha muito aos canarios domesticos verdes ou cinzentos. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Habita as ilhas arborisadas do grupo das Canarias. Da habitação tira o nome. AVES EM ESPECIAL 339 COSTUMES O canario selvagem vive com prazer nos pequenos bosques que al- ternam com os campos descobertos, sobretudo ao longo das correntes d'agua. Bolle diz nunca o ter encontrado nas florestas espessas e som- brias. Subindo nas montanhas, chega a attingir uma altura de mil e seis centos a mil e novecentos metros acima do nivel do mar. — Alimenta-se principalmente, senão exclusivamente, de substancias ia vegetaes, de pequenos grãos, de folhas tenras, de fructos succulentos, — principalmente figos. SEM Tê k Realisa o acto sexual e forma o ninho na primeira quinzena de Março, — nunca o estabelecendo a menos de metro e meio acima do solo. Para - O fixar escolhe arvores novas, elegantes, verdes e que se cubram o cedo de folhagem. O ninho é sempre muito occulto; no entanto as idas e voltas do macho e femea denunciam o logar em que está fixo. É largo na base, estreito para cima, perfeitamente arredondado e regularmente cons- truido. É formado de pennugem branca, de plantas tenras e sustentado por pequenos caules, mais ou menos resistentes. Os ovos postos são trez a cinco, de um verde mar desmaiado, cobertos de manchas de um trigueiro avermelhado, e raras vezes incolores. À incubação dura treze dias. Os fi- lhos conservam-se dentro do ninho até possuírem todas as pennas; mesmo depois que vôam, são alimentados pelos paes durante algum tempo. De ordinario as posturas são quatro. A muda começa no fim de Julho; com ella termina a estação dos amores. Em quanto a femea choca, o macho empoleira-se n'uma arvore visi- nha, desprovida ainda de folhas; d'ahi distráe a companheira, soltando enthusiasticamente as suas canções. O canto d'este canario pode perfeitamente comparar-se ao do canario domestico. No canto d'este, com effeito, o dominio do homem pouco se “fez sentir; o typo geral ficou precisamente o que era e as alterações ex- perimentadas recáem sobre certas notas que se tornaram mais puras, mais brilhantes ou mais prolongadas. Voando, o canario selvagem descreve linhas onduladas, não se eleva muito alto, vae de arvore para arvore. Quando vôa em bandos não se en- costa aos companheiros, mas conserva-se sempre a uma pequena distan- cia d'elles. Na quadra dos amores vive aos pares e depois d'isso em so- ciedades numerosas. DS is EA 336 HISTORIA NATURAL CAÇA A caça ao canario selvagem é facil; consiste essencialmente em ex- plorar-lhe os instinctos de sociabilidade. Com effeito, elle cáe em todas as. armadilhas desde que lhes sirva de reclamo um companheiro. CAPTIVEIRO Quando se captivam em primeira geração, os canarios conservam-se algum tempo inquietos e custa-lhes a perder uma certa timidez nativa que em liberdade os caracterisa. Aa 7 «Se o rouxinol é o musico das florestas, escreve Buffon, o canario é o cantor das nossas habitações: o primeiro deve tudo à natureza, o segundo alguma coisa aprendeu no convívio da nossa especie. Tem a garganta mais fraca, a voz menos extensa e mais pobre de notas do que o rouxi- nol; todavia, em compensação, possue mais ouvido, imita com mais faci- lidade, e tem memoria melhor.» ! O captiveiro dos canarios realisou-se na Europa pela primeira vez no seculo xv. «Hoje, diz Figuier, estão de tal modo habituados à perda da liberdade que se reproduzem e criam em gaiola. Verdadeiros musicos de quarto, estes pequenos passaros soltam à sua alegre melodia nas casas dos pobres como nos aposentos faustuosos | dos ricos.» 2 O canario domestico é susceptivel de uma alta educação. Crêmos inutil insistir sobre este ponto; o leitor ou possue algum exemplar com- pleto sob este ponto de vista ou tem pelo menos observado de quanto a ave é capaz entregue ao cuidado desses pobres homens que tem por of- ficio exhibir passaros adestrados ou, como ambiciosamente lhes chamam, passaros sabios. A alimentação do canario captivo deve limitar-se a pequenos grãos, a folhas tenras e a algum fructo sazonado. O habito, muito commum ao menos entre nós, de lhe dar substancias doces e outras iguarias seme- lhantes parece ser-lhe muito prejudicial. Carece d'agua não só para beber, mas mesmo para banhar-se. No estado de liberdade, affirma Bolle, os Buffon, Ocuvres complêtes, axti. Serin. 2 Figuier, Les Oiseaux, pg. 366. AVES EM ESPECIAL 337 jos vôam em bandos à procura de regatos onde tomam banho e sáem absolutamente molhados. op anistia as correntes dar para que não perca a voz. É captivo vinte annos ; * O CHAMARIZ OU SERZINO CARACTERES 22 Ds de canario e a ou pintarroxo ou verdilhão não . - HISTORIA NATURAL O macho tem, a a superior . da cabeça, a garganta e o me peito amarelos e verdes escuros, o ventre amarello claro, a nuca costas côr de azeitona. com maculas escuras dispostas em series 10; dinaes. A femea apresenta uma » Pe à mais Rena e mais T pri á . ] , | de cid NR Ef e SP Fal 4 ! REA ] u A ; vab É Est: DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Robiti Vive em quasi toda : a Europa, sendo commum. ao sul. É vajgé em Portugal. le é Procura de preferencia os jardins arborisados. | É um passaro vivo, alegre e bom cantor. A voz não é mas é melodiosa; o canto assemel -se ja ; Estabelece de ordinario o ninho nas arvores tructiferas, 0: externamente de: raizes, de hervas E de feno e internament gem e de pêlos. Os ovos são. “geralmente quatro ou ing esvandoa fon imo ie al trigueiros O F pes 4 “ INIMIGOS ? ; À “ São inimigos crueis e tenacissimos da especie carniceiros. p a CAÇA faz-se por meio de armadilhas se se pretende engaiolar este ps dia tiro se se deseja, como vulgarmente acontece entre os “PONORS « sula, fazer d'elle um prato de mimo. » AVES EM ESPECIAL , , 's Pgção, Ê “CAPTIVETRO O TENTILHÃO Ev Ena ro 0“ k DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Ss yo É a 340 HISTORIA NATURAL COSTUMES Encontra-se em toda a parte, menos nos logares pantanosos e A midos que cautelosamente evita sempre. Comquanto se agrupe em bandos por vezes numerosos, não Ro dizer-se que seja muito sociavel, porque geralmente reina dento d'elles a discordia e a lucta. É um passaro alegre, agil, activo. Na quadra do cio, excitado pelo Nes ciume bate-se corajosamente com os congéneres nº uma ch porfiada e tenacissima. O ninho d'este passaro é muito bem construido. Tem a forma de uma esphera truncada e é construido de musgo, radiculas e rastolho, tudo ligado com teias de aranhas e outros insectos. O todo parece uma excrescencia do tronco; é por isso facil passar por um d'estes ninhos sem dar por elle. O interior é forrado de folhas, de pennas, de lã, de. felpa de diversas plantas; ahi deposita a femea cinco ou seis ovos, na primeira postura, azues esverdeados claros, com maculas trigueiras aver- melhadas e salpicos trigueiros escuros; a segunda postura produz ordi- nariamente trez ou quatro ovos. Os filhos são alimentados com lagartas e insectos. Os paes comem - tambem estas substancias, mas fazem mais uso de sementes, de ga e de aveia. ha Quando se rouba um ninho de tentilhão e se colloca numa gaiola onde os paes o possam vêr, estes continuam a levar o alimento aos fi- lhos, expondo assim por um indeclinavel instincto d'amor a propria vida. Este facto, exposto por alguns naturalistas, é comtudo negado por Nau- mann. A incubação dura quinze dias. Macho e femea chocam alternada- mente. Os filhos emplumam depressa; póuco depois de adia voar dispensam o auxilio dos paes. Alguns dias depois de terminada a creação dos filhos, os paes rea- lisam de novo o acto de reproducção. Voltam para o macho os mesmos transportes de amor e de ciume; procura então em companhia da femea um logar favoravel para construir um novo ninho ao qual dedica menos cuidados. O canto do tentilhão é estimado em alguns paizes. «Compõe-se, diz Brehm, de dous couplets que o passaro repete rapidamente; a este canto deve o interesse de que é objecto por parte dos amadores.» * 1 Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 109. AVES EM ESPECIAL 341 CAÇA pleta obscuridade e que, por isso, principiam a cantar desde a vêr a luz. CAPTIVEIRO “vive captivo muitos annos. Em alguns paizes ha um costume | persuasão de que o passaro é melhor cantor quando cego, os olhos ou tornam-lhe adherentes as palpebras. É quasi inutil s destes passaros. Os passaros engaiolados collocam-se em linha ; observa o numero de vezes que cada um repete a sua canção de uma hora; os premios são dados aos possuidores dos pas- que maior numero de vezes se fazem ouvir durante aquelle tempo. diz Brehm, que repetem a sua phrase musical mais de setecentas a * ho o É . , no º pu 8 + Rr “o E od , USOS E PRODUCTOS rante toda a ade Ne amores come exclusivamente insectos ei alimenta o filhos. k pois um passaro utilissimo que deveriamos. a este passaro é repugnante, rita O TENTILHÃO MONTEZ. É congénere do passaro aúteriormento descrpi es norte. AA f CARACTERES ad Do E - CENA VESES à Mede dezoito a PR centimetros Ei aii e vinte é a trinta de envergadura. gs O macho na quadra do cio tem a na superior do corpo 1 raias brancas; as rectrizes inferiores são côr de enxofre. A femea tem as costas, a nuca e o ventre de um trigueiro escuro. R PESE EM ABA Depois da muda as pe vivas desaparecem. AVES EM ESPECIAL | 343 Gt od (Ser ER DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA abita toda a Europa, sendo mais commum ao E o ento nós, mas é raro. mais ou menos numerosos com o tentilhão que anteriormente s, com o melro, com O Paca e outros passaros. Um pequeno ] ta-se de grão enoitinade e de insectos. grado | as afirmações infundadas que a este proposito se tem q 61 muito inferior ao ão ae na er de Brehm, elle CAÇA 344 ; HISTORIA NATURAL CAPTIVEIRO Não resiste muito tempo à perda da liberdade. E tambem não é bom passaro para engaiolar, porque, apesar de possuir uma bella plumagem, emitte sons desagradaveis. O PINTARROXO Este passaro pertence ao genero Cannabuia cujos individuos possuem um bico conico, arredondado, curto e ponteagudo, azas compridas e es- treitas e uma cauda muito chanfrada. CARACTERES ESPECIFICOS O pintarroxo (Cannabuia linota de Linneu) mede quatorze centime- tros de comprido e vinte e quatro de envergadura. A côr varia com O sexo, a idade e a estação. ; Na primavera o macho adulto tem a parte anterior da cabeça de um rubro vivo, a nuca, OS lados do pescoço e da cabeça pardos, as costas : trigueiras fuliginosas, o uropigio esbranquiçado, a garganta de um branco . acinzentado, o peito de um rubro vivo, o ventre branco e as partes late-. raes do tronco de um trigueiro claro. No outomno a côr vermelha desap- parece. "7 A femea tem a cabeça e o pescoço trigueiros ou cinzentos amarellados e as costas de um trigueiro avermelhado. A garganta, a parte superior: do peito e Os lados do tronco são de um trigueiro amarellado claro com maculas trigúeiras escuras, dispostas longitudinalmente. Os individuos não adultos teem pouco mais ou menos a mesma plu- magem que a femea; são todavia um pouco mais maculados. Engaiolados não chegam nunca a apresentar a côr vermelha, AVES EM ESPECIAL 345 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA 1 ta o pintarroxo toda a Buropa, uma grande parte da Ásia se- Aa Menor e a Syria. Todos os annos apparece ao norte da COSTUMES 0x0 é um passaro sociavel, alegre, vivo e muito timido. a quadra do cio, vive em bandos mais ou menos numerosos. No às vezes mesmo já em Agosto forma sociedades de cem ou 108. No inverno junta-se aos tentilhões, aos pardaes e outros e femea estimam-se muito; quando se mata um, o outro vôa à volta do cadaver chamando-o, procurando erguel-o. Igual do pintarroxo é leve e rapido; muitas vezes descreve circu- ricos. O pintarroxo ora vôa razando o solo, ora se eleva a | Eimálios: femea realisa trez ou 1 quatro posturas por anno. Cada postura é nelho pallido, de um vermelho vivo ou côr de canella. A femea por espaço de treze a quatorze dias. Os paes alimentam os filhos onservam-os na sua companhia muito tempo. Em quanto a femea - choca, o macho ora procura os alimentos, ora canta enthusiasticamente poe da companheira. ne Pintarroxo vive em boa harmonia com os oiro mesmo 346 : HISTORIA NATURAL A femea põe sempre o maximo cuidado em conservar o ninho limpo, tirando todos os dias os excrementos que o infectam e levando-os para longe para que a sua presença não denuncie aos inimigos o logar em que tem os filhos. Macho e femea alimentam por muito tempo os filhos; alguns ama- dores que não querem dar-se ao trabalho de tratar os pequeninos, explo- Re ram esta circumstancia collocando-os em logar onde os paes os possam y vêr e trazer-lhes alimento. * O pintarroxo é granivoro. Alimenta os filhos de grãos que prévia- mente amollece no papo. Ro. o. Pie CAPTIVEIRO EIA O pintarroxo é um passaro justamente estimado em captiveiro. Ha- bitua-se em pouco tempo ao dono e canta quasi todo o anno. Além d'isso como possue desenvolvido o talento de imitação, facil é ensinar-lhe arias e canções d'outros passaros. Alguns ha que imitam regularmente o cana- rio e o rouxinol. Comprehende-se bem que esse talento de imitação pode ser-lhe desfavoravel, se vive em companhia de maos cantores. O PINTARROXO MONTEZ Esta especie (cannabina montium de. Linneu) substitue ao norte aquella que acabamos de descrever. CARACTERES Mede treze a quatorze centimetros de comprimento sobre vinte e dous-ou vinte e trez de envergadura. As pennas das costas são trigueiras escuras, circuitadas de ruivo fu- +, a ca. pec: e procura as montanhas para logar viva, mais agi 1 mais timida e mais gi que “um pouco recurvo na ponta, os pés curtos e fortes, as Ss, à At de comprimento medio e plumagem identica nos PE O uz 348 : HISTORIA NATURAL O PINTASILGO Esta especie (carduelis elegans de Linneu) é a mais conhecida. / CAPTIVEIRO Mede quatorze centimetros de comprido, pouco mais ou menos, € vinte e trez a vinte e quatro de envergadura; a cauda tem cinco. À fe- mea é um pouco mais pequena. A plumagem é magnifica. O bico é côr de carne na base, azulado na ponta e apresenta dois circulos, um negro e outro mais largo de um rubro carmim. A parte posterior da cabeça é negra, as costas são tri- gueiras, a face inferior do corpo é branca, os lados do peito são triguei- ros claros, as azas e a cauda são negras com partes brancas e a metade radical das remiges é de um amarello douro. Os dois sexos assemelham-se muito; é necessaria uma vista exerci- tada para reconhecer o macho que é um pouco maior e apresenta um negro mais pronunciado e um branco mais brilhante na cabeça. Os individuos não adultos não apresentam nem vermelho, nem preto na cabeça; teem a face superior do corpo atrigueirada com maculas es- curas e a face inferior branca com manchas negras. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Encontra-se em toda a Europa, na Madeira, nas Canarias, a noroeste d'Africa e n'uma grande parte da Asia, desde a Syria até à Siberia. | É muito commum em Portugal. COSTUMES No outomno o pintasilgo vive em bandos numerosos que no inverno se decompõem em bandos mais pequenos, ] AVES EM ESPECIAL 349 É nos logares arborisados que este passaro vive melhor. Comtudo à tambem os jardins, os campos, os grandes prados, as margens | Eiradas. “O pintasilgo é um passaro encantador não só pela belleza da pluma- como A gi costumes. Vive em contínuo movimento; é muito ae “medo ao homem nas regiões em que lhe dão caça. Vive em ja com Os outros passaros, conservando porém a sua inde- » do macho é claro e agradavel, com quanto as notas sejam s e menos brilhantes que as do pintarroxo. Esse canto é muito O passaro solta-o com verdadeiro enthusiasmo. Em captiveiro canta quasi todo o anno e em liberdade só emmudece no muda ou no tempo mau. asilgo é granivoro; prefere a tudo as sementes dos cardos. “alguns naturalistas que no estio elle come insectos e com elles “os filhos; comtudo Brehm crê que tal facto não está provado. te passaro aninha nos logares arborisados, nos jardins, nos ver- s, às vezes mesmo muito perto das habitações. Colloca o ninho geral- a seis ou oito metros acima do solo. Colloca-o ordinariamente n'uma “do cimo de uma arvore e occulta-o tão bem que só se vê de- eda das folhas. Este ninho é construido com arte. O exterior é qmente alcatifado com pennugem, sedas e pêllos. Só a femea se “ao trabalho de construeção; o macho entretanto distráe-a can- ser por alguns instantes; o macho encarrega-se de a alimentar. “Os paes dão aos recemnascidos larvas e mais tarde insectos e grãos; muito depois que os filhos vôam, os paes provêem à sua alimen- E ORAS Of 3090 HISTORIA NATURAL CAÇA Conhecidos os costumes do pintasilgo, não é difficil apanhal-o. No in- verno, principalmente, quando os campos de cardos lhe fornecem quasi o unico alimento que pode explorar, apanha-se com extrema Faottiiaaaa a visco ou por meio de armadilhas mechanicas. CAPTIVEIRO Este passaro é tão conhecido em captiveiro, é tão vulgar n'estas con- . dições entre nós, que se torna inutil prolongarmo-nos sobre este assumpto. | Todos sabem que, timido ao principio, dentro de pouco tempo elle á adquire uma grande confiança nos que o tratam, sendo possivel no espaço a de um mez ensinar-lhe a sair e a entrar na gáiola, a vir comer à mão, etc. O pintasilgo gosta das gaiolas espaçosas; vive em boa harmonia com os outros passaros e, pela vivacidade de que é dotado, anima toda a casa e anima todos os captivos que com elle habitam na mesma gaiola. Copula-se com o canario, resultando d'esta união hybridos que teem misturada de um modo singular as côres dos paes. Ao pintasilgo captivo dá-se alpiste e folhas verdes. Pode, convenien- temente tratado, viver muitos annos sob o nosso dominio. O PINTASILGO VERDE OU LUGRE É um passaro (spinus viridis de Linneu) que rivalisa com a especie que acabamos de descrever. 4 > * da É. ME” AVES EM ESPECIAL | 351 CARACTERES COSTUMES ) pintasilgo verde ou lugre, diz Brehm, é um passaro de arriba- “do tempo dos amores, erra por toda a parte, mas abandonando zes as nossas regiões. No inverno, vemos chegar este passaro mais septentrionaes pedindo-nos abrigo contra os frios extre- «No estio, este passaro habita, nas oebditias, as florestas de arvo- verdes, sobretudo aquellas em que os fructos se encontram bem sa- dos. É ahi que elle se reproduz e é d'ahi que parte para emprehen- 352 HISTORIA NATURAL der as suas peregrinações. Em certos invernos os pintasilgos verdes ou lugres apparecem aos milhares nas cercanias das aldeias e até no seu interior; outros annos ha em que se não encontra nenhum. Evitam as re- giões desguarnecidas de arvores e empoleiram-se de preferencia nos ra- mos mais elevados.» ! Naumann, descrevendo os costumes deste passaro, diz: «É sempre alegre, vivo e activo. Vôa constantemente de um lado para outro, volta-se em todas as direcções, cantando quasi sempre; salta e trepa admiravel- mente; suspende-se à extremidade dos ramos mais vacillantes; corre ao longo de um ramo fino, vertical; não cede aos chapins em agilidade. Numa arvore nunca se conserva em repouso e em terra saltita leve- mente, com quanto pareça não gostar d'este exercicio.» 2 Como tem um vôo leve e rapido eleva-se alto na atmosphera e trans- põe grandes espaços. O canto é agradavel. O lugre é granivoro; mas na epocha dos amores come tambem fo- lhas e insectos. A epocha da reproducção é em Abril. O macho então bate as azas, alarga a cauda, canta voando e eleva-se alto na atmosphera descrevendo circulos. Os casaes constituidos vivem de harmonia uns com os outros e procuram juntos o alimento. Pouco tempo depois do coito principia a construcção do ninho. A femea procura sempre para o collocar um sitio conveniente onde não possa facilmente ser visto e muito menos ser apa- nhado. Segundo Brehm, esse ninho fica de ordinario tão bem oceulto que é possivel andar alguem pela arvore que o supporta sem dar por elle; além d'isso pela collocação em que fica, muitos metros acima do sole e muito affastado do tronco, torna-se quasi inaccessivel. O ninho é muito bem feito e construido em pouco tempo. Os mate- riaes empregados são pequeninos ramos sêccos, musgo e lã. Os ramos formam o esqueleto do ninho e a lã forra-lhe o interior. Um facto muito curioso e digno de mencionar-se é que o lugre forma às vezes dois e trez ninhos, occupando todavia um só. Dir-se-hia que o passaro pretende assim desorientar os que lhe dão caça aos filhos. O lugre gosta muito da agua; é vulgar que o ninho fique junto de um ribeiro ou de uma poça. Os ovos assemelham-se aos do pintasilgo e do pintarroxo; são ordi- nariamente de um branco azulado ou de um azul com tons verdes claros e apresentam pontos, linhas e maculas escuras. Só a femea choca. 1 Vid. Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 119. 2 Citado por Brehm, Loc. cit., vol. 3.º, pg. 120. AVES EM ESPECIAL 359 CAÇA | muitos paizes activa a caça que se faz a este passaro. A so- e a falta de timidez são qualidades que o caçador explora CAPTIVEIRO “é um bello passaro para engaiolar. Come pouco, aprende tudo quanto se lhe ensina, consagra uma grande dedicação vive em boa harmonia com os outros passaros captivos. nn, citado por Brehm, conta o seguinte: «Possuia alguns lu- perto da gaiola e lhe mostrasse alguns grãos de linhaça voasse para mim, comesse fa a e se deixasse “o seu grito de reclamo. Apenas os ouviu, O meu passaro « O bando desceu então sobre uma arvore visinha e o meu às € saudavam o recem-vindo. Julguei-o perdido; no entanto a chamal-o, a convidal-o a comer. Com grande alegria e não eza Vi-o voar para mim; não me atrevendo a fazer segunda introduzi-o na gaiola. Quando abandonou a arvore, alguns selvagens seguiram-o até muito perto de mim, à distanaia ones emietiantos a esta teem sido feitas por outros amado- “vezes 0 no captivo chama pelos companheiros que passam, 1 Loc. cit., pg. 121. CC vOoL Iv 23 354 HISTORIA NATURAL Á custa de enormes cuidados tem-se conseguido fazer com que 0 lugre se reproduza em captiveiro. Macho e femea comportam-se um para com o outro e para com os filhos como em liberdade. A especie que acabamos de descrever não pertence, como o nome parece indicar, ao genero Carduwelis a que pertence o pintasilgo commum. Pertence, sim, ao genero Spinus cujos individuos se caracterisam assim: Teem o bico alongado, ponteagudo, de aresta convexa, dedos armados de unhas curtas e azas relativamente compridas. OS PARDÃES Embora muito communs e por isso apparentemente conhecidos, estes passaros que, na phrase de Figuier, representam entre as aves o papel de gaiatos, não dispensam uma descripção completa e minuciosa. A alliança que contraíram com a nossa especie dá-lhes direito a isso. CARACTERES Os pardaes são caracterisados por um bico forte, espesso, de man- dibulas ligeiramente curvas, por pés curtos, fortes, de dedos regulares e de unhas curtas e recurvas, por azas pequenas e por uma cauda inteira ou ligeiramente chanfrada. As formas destes passaros são geralmente pesadas; ordinariamente tambem a plumagem é pouco variada e muito uniforme nas differentes especies. No macho predominam geralmente o trigueiro e o pardo. À femea é pardacenta com raias trigueiras. Os Hinos antes da primeira muda parecem-se com a mãe. “ Weg * Ro od coa 2 “a EA Vorbis 4 AVES EM ESPECIAL 355 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA q Os pardaes existem em mais de metade do globo. Encontram-se na a, na Ásia, na Africa, na America e na Australia. Seguindo por toda | O homem, teem-se estabelecido onde elle se estabelece. A alliança s com a nossa especie assémelha-se muito á que, tratando dos vimos existir entre nós e o rato. Como esta, aquella é deter- COSTUMES habitados pelo homem, assim como os rochedos e as orlas dos anto uma região produz alimento que os satisfaça, conservam- ; não são pois passaros viajantes. Vivem muito em terra, por- encontram as substancias de que se alimentam. Evitam os loga- mente descobertos e tambem as grandes florestas. um pouco pesados em todos os movimentos: em terra saltitam a dificuldade e no ar voam com esforço e fatigam-se depressa. voz nada tem de notavel: consiste n'um D grito de reclamo, curto, Jah ico. jmno reunem-se em grandes bandos e misturam-se mesmo com S passaros. São irritaveis, principalmente quando os sollicitam o gem, e rolam-se na areia ou de inverno no gélo; assim conservam mas em estado perfeito de limpeza. | são | granivoros e insectivoros. A predilecção que teem pelos cereaes explica as relações em que vivem com o homem. No estio dão caça activa aos insectos e é este o unico alimento que fornecem aos filhos. Nos cam- “pos cultivados produzem por vezes estragos notaveis. Os pardaes construem o ninho em cavidades ou no meio dos ramos “das arvores. Os ninhos são negligentemente construidos à custa de ma- * 356 HISTORIA NATURAL teriaes tomados ao acaso. Os ovos são pardos com pontos, manck raias escuros. CAPTIVEIRO incommodos e aborrecidos em captiveiro. Nem são cantores, nem p uma plumagem que excite a admiração. Assim, ninguem de ordi captiva. O PARDAL É a especie mais commum do genero que acabamos de estu . TER CARACTERES longitudinaes; duas fachas transversaes, uma larga, bre treita, de um amarello fuliginoso ornam-lhes as azas. A ENEaa ! e a face inferior do corpo parda clara. ; As femeas teem todas as partes superiores de um ci com maculas longitudinaes pretas, a face inferior do co claro e por cima dos olhos uma facha amarella clara. ' Os individuos não adultos antes da bi tio teem a: gem amaloga à das femeas. dr No macho adulto o bico é negro no estio e ardacçio no i O macho tem dezeseis a dezesete centimetros: de comprido” e vinte é a vinte e seis de envergadura. E al ai dz JE AVES EM ESPECIAL 357 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA “Existe em toda a parte septentrional do antigo continente. Só no Africa e no sul da Ásia é que se encontra” substituido por espe- nhas, de plumagem mais bella. COSTUMES pardal (passer domesticus de Linneu) é, diz Brehm, uma ave se- em toda a extensão do termo. Raras vezes se affasta mais de a do logar em que nasceu. Só quando procura uma habitação veniente pela abundancia de alimentos, é que emprehende via- aos acima dissemos: o pardal é um intimo alliado do homem, homem mesmo mas pela cultura a que este procede e d'onde recolhe os alimentos. É pois exacta a comparação que fizemos e que approxima do homem estes aa mas 0 interesse, o ins- o da propria conservação. ) pardal vive de ordinario em bandos mais ou menos numerosos na quadra dos amores se decompõem em pares ou casaes. Não é s caracterisa, procuram-se em quanto as femeas estão chocando. Os “desde que podem voar reunem-se em bandos aos quaes se juntam * paes participando inteiramente as suas alegrias e soffrimentos. AS “Durante o dia o pardal repousa nas arvores copadas e de preferen- sê cia nos vallados. É ao fim da tarde que os pardaes se juntam ruidosa- o PS mente e se dirigem aos logares em que passarão a noite. No inverno es- — tes passaros construem verdadeiros leitos —ninhos quentes, mollemente ee ts ad 358 - HISTORIA NATURAL alcatifados onde se encontram ao abrigo do frio. Com fim identico procu-. ram as chaminés. O pardal é um passaro prudentissimo. «Este passaro, diz Naumann, a que tratam de ladrão, que odeiam, que perseguem por todos os modos, offerece ao observador em todo o seu ser um profundo contraste entre as qualidades physicas e as faculdades intellectuaes. É pezado e desele- gante, mas possue uma prudencia incomparavel; nada do que pode ser- lhe util ou ameaçar-lhe a segurança, é capaz de escapar-lhe. Percebe ra- pidamente que se é tolerante para com elle na localidade em que se es- tabeleceu e então adquire confiança; comtudo essa confiança não a leva até ao ponto de ter que arrepender-se. Se uma vez o perseguiram, con- serva-se d'ahi em diante precavido. O abrir brusco de uma janella, o olhar de uma pessoa que lhe parece suspeita, o arremeço com um pau, é quanto basta para o fazer fugir. «Procura a sociedade do homem, mas não à custa da propria liber- dade. Não é como o pombo que pouco e pouco se tem tornado domes- tico; pelo contrario, tem-se tornado cada vez mais astuto, mais descon- fiado. Podem citar-se mil exemplos da sua finura; de resto, todos podem certificar-se por si muito facilmente. Os adultos principalmente mostram até que ponto pode chegar a intelligencia da especie; os novos são inex- perientes, mas depressa se desenvolvem. «Embora pesado e deselegante em apparencia, o pardal tem alguma coisa de atrevido. Conserva a cauda erguida e agita-a muitas vezes; sal-. tita pesadamente, mas depressa, com os tarsos incurvados e o ventre inclinado. «É sociavel, mas gosta das luctas: muitas vezes, na primavera, Os machos combatem em honra de uma femea, e é então que principiam os attaques ruidosos em que algumas femeas tomam parte. Os machos precipitam-se um sobre o outro, agarram-se reciprocamente, cáem juntos abaixo dos telhados e chegam mesmo, tão grande é o ardor da lucta, a esquecer-se de vigiar a propria segurança. Tomam então uma attitude particular: erguem o pescoço e a cabeça, levantam a cauda e deixam pender as azas. «O pardal vôa com rapidez, mas com esforço: O vôo é ruidoso, li- geiramente ondulado, vacillante quando o passaro procura pousar. Lucta esforçadamente contra o vento; raras vezes se ergue a grande altura ou percorre de uma só vez um espaço consideravel. Os pardaes que habi- tam as torres teem o costume de se deixarem cair até uma certa altura antes de tomarem vôo e, quando voltam ao logar de abrigo, as mais das vezes elevam-se muito obliquamente. «Os pardaes supportam os frios dos nossos invernos (o auctor refe- re-se à Allemanha) e só quando a temperatura é demasiadamente baixa AVES EM ESPECIAL 359 e, sobretudo, quando os gêlos muito abundantes os impedem de encon- trar alimento, é que muitos morrem.» ! A voz do pardal é demasiadamente conhecida para que nos: dêmos aqui ao trabalho de a descrever. Diremos apenas que o pardal é essen- cialmente gritador e que pelas intonações diversas que dá à voz exprime uma grande multiplicidade de affectos e se faz perfeitamente perceber não só pelos companheiros, mas ainda pelo homem familiarisado com esta ordem de observações. O pardal é extremamente prolífico. Principia cedo a construir o ni- “nho e realisa, pelo menos, trez posturas por anno. É extraordinariamente “Jascivo; esta O unsinnci não escapou à observação dos antigos, que à " exaltação genesica attribuiam a pouca duração relativa deste passaro. Este ultimo facto não é exacto; é real porém a existencia n'este passaro de uma lascivia extrema que se tornou mesmo proverbial. O ninho varia de forma e de posição nas differentes localidades. Ora se estabelece nas cavidades das paredes, ora nos buracos das arvo- res, ora sobre os ramos. Tambem acontece que o pardal não construe “ninho, tornando proprio o do esturninho ou, como já noutro logar dis- , semos, o da andorinha. — Se 0 anno corre favoravel, a primeira postura realisa-se em Março e é de cinco a seis ovos, poucas vezes de sete ou oito. Estes ovos teem a casca fina, pouco brilhante, azulada, ou de um branco avermelhado, man- chado de trigueiro ou de pardo. Os paes chocam alternadamente treze ou quatorze dias. Dão aos filhos ao principio insectos, mais tarde grãos “meio digeridos no papo e por ultimo grãos de cereaes e fructos. Oito dias “depois que os filhos teem principiado a voar, os paes entram em rela- ções sexuaes de novo, reparam o primeiro ninho e quinze dias mais j tarde a femea põe uma segunda vez. E estes factos reproduzem-se assim e até ao mez de Setembro... | Macho e femea cuidam dos filhos com ternura. CAÇA À perseguição feita ao pardal é activa e tenacissima nas povoações ruraes de quasi todos os paizes. Ha por parte dos cultivadores um odio instinctivo a este passaro. Entre nós, os grandes proprietarios e as ca- maras ruraes teem mesmo chegado a pôr-lhe a cabeça a premio, estipu- 1 Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 127. 360 - MISTORIA NATURAL lando quantias a dar a quem quer que apresente uns tantos d'estes pas- saros mortos. Estes premios são um forte incentivo à destruição em que activamente se empenham os rapazes d'aldeia, nos quaes, de resto, a | tendencia a perseguir as aves parece um renascimento por atavismo dos instinctos selvagens primitivos. is Devemos observar que a prudencia do pardal torna dificil a caça que se lhe faz, sobretudo quando se empregam armadilhas. CAPTIVEIRO Como atraz dissemos, o pardal é um passaro improprio para engaio- lar. Acrescentaremos aqui que nunca chega a domesticar-se completa- mente. UTILIDADE Considera-se geralmente o pardal uma ave nociva. Diz-se, e é ver-: dade, que elle produz estragos notaveis nos campos de cereaes em tempo de colheita e nos vergeis. Ao que se não attende porém, é ao serviço que elle nos presta destruindo os insectos; e todavia, como perfeita- mente o demonstram numerosas observações, esse serviço excede aquel- les estrágos; a destruição dos insectos beneficia-nos mais do que nos pre- judica o roubo dos grãos. Frederico, o Grande, conta Brehm, irritado contra os pardaes,. poz- lhes a cabeça a premio; dava seis centimos por cada um que se matasse. O resultado immediato, como facilmente se prevê, foi o destruir-se rapi- damente esta especie, tendo o Estado de pagar no curto espaço de al-. guns annos muitos milhares de francos. Ora aconteceu que os insectos, livres do terrivel inimigo, attacaram rapidamente as culturas a ponto que as arvores fructiferas nem sequer chegaram a dar folha. Foi então que o monarcha se apercebeu de que commettera um erro grave; foi pois forçado não só a revogar os decretos publicados e cujos effeitos foram tão terriveis, mas ainda a importar pardaes e a conceder-lhes uma pro- tecção especialissima. Este facto que desejaramos que todos conhecessem, constitue uma prova eloquentissima da utilidade do pardal, tão injustamente odiado e! perseguido. A quantas calamidades nos arrasta a ignorancia! O Dr. Brewer communicou à Sociedade Zoologica que os pardaesi in- BUENO + ao AVES EM ESPECIAL 361 los em New-York e nas cidades visinhas ahi tinham produzido be- resultados pela Pai activa que davam aos insectos, funestos ini- USOS E PRODUCTOS | laremos aqui das suppostas virtudes therapeuticas das diffe- S s Veste passaro. São erros e preconceitos a que a sciencia O PARDAL CISALPINO “especie distincta da precedente ou uma simples variedade “cp opta por esta ultima opinião, explicando as differenças de | e se encontram entre este nt e o que acabamos de es- | du ircão, que os caracteres differenciaes são suficientemente aveis ba que io consideral-os PER HISTORIA NATURAL CARACTERES os lados do pescoço Dio a garganta e a parte si duo do trigueiro muito escuro e os digdo do tronco fuliginosos. A femea tem a face inferior do corpo de um branco arrui mistura de pardo e os olhos encimados por 1 uma linha branca, Ra nunciada que na especie anterior. Do RR DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA * COSTUMES Os costumes d'este pardal são analogos aos da especie o mos. As duas especies misturam-se mesmo e entram em reli de que derivam hybridos com uma plumagem mixta, de t as dos paes. ordem não tem mesmo o interesse nistdrico. AVES EM ESPECIAL as CARACTERES ja que 0 o “especie ou variedade tem a cauda mais comprida e os tarsos DS que o pardal commum; tal é pelo menos a indicação que em Brehm. ho adulto tem a cabeça e a parte posterior do pescoço de um abro carregado, as costas negras, manchadas de trigueiro, a escura e o peito e as partes lateraes do tronco negros. Por “olhos, precisamente no logar em que o nosso pardal apresenta ena mancha branca, offerece a especie de que estamos fallando de um branco brilhante. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA rdal encontra-se em Hespanha, na Grecia ao norte d'Africa e egiões da Asia. uenta Portugal. COSTUMES Como o nome o está indicando, este pardal procura os logares em agua abunda. É um passaro do campo que só accidentalmente ap- nas proximidades das habitações. Ao passo que o nosso pardal é um companheiro inseparavel do ho- pardal dos pantanos não busca viver ao pé de nós, antes pro- margens dos regatos, os canaes, e os logares pantanosos onde » em bandos numerosissimos. Nos valles que. marginam os gran- “é constante. Em Portugal Brehm diz tel-os visto perto do Tejo e e o nas margens do Nilo e no Delta. “No entanto Bolle faz notar que as palmeiras teem o dom de attraír e passaro e de fazer-lhe abandonar os pantanos. Foi o que o auctor do observou nas Canarias. «Procura, diz elle, o cimo das palmeiras ara ahi estabelecer o ninho; estas arvores que o cultivador planta ao 364 HISTORIA NATURAL , pé de casa familiarisaram o passaro com a nossa especie.» * Em condi- ções taes, o pardal dos pantanos deixa de merecer o nome que lhe é dado e passa uma vida perfeitamente analoga à do nosso pardal. O vôo do pardal dos pantanos é mais rapido que o do pardal com- mum. Um outro facto differencial é o seguinte: o pardal dos pantanos vôa sempre em-bandos numerosissimos que parecem verdadeiras nu- vens. Brehm no Egypto abateu com dois tiros cincoenta e seis individuos e suppõe ter ferido muitos mais! | Segundo Homeyer, a voz do pardal dos pantanos é mais forte e mais pura que a do pardal commum. No ponto de vista do intendimento pa- rece que não existem differenças apreciaveis. Nas Canarias e no Egypto a quadra dos amores principia em Feve- reiro ou nos primeiros dias de Março. O ninho e os ovos assemelham-se extraordinariamente aos do pardal commum. As posturas são trez. Este pardal.é granivoro e frugivoro. CAPTIVEIRO Este pardal apanhado em novo, quando ainda dentro do ninho, por exemplo, domestica-se rapidamente e supporta bem o captiveiro. Bolle viu um que vivia n'uma gaiola suspensa de uma janella e com a porta permanentemente aberta; o passaro entrava e saía à vontade e a todas as horas. Quando se apanha já adulto não se domestica, resiste a todas as ca- ricias e morre dentro de pouco tempo. A muda, diz Bolle, não pode rea- lisar-se em captiveiro. UTILIDADE O pardal dos pantanos é geralmente odiado, perseguido, e com ra- zão. Abatendo-se em bandos extraordinariamente numerosos sobre os campos de arroz produz estragos que de modo nenhum compensa. «No estio, diz Bolle, os pardaes constituem uma praga para Canaria. Esta cidade possue um passeio magnifico, plantado de platanos, embelle- zado de canteiros de flôres e de repuxos. Ás tardes a sociedade elegante reune-se ahi para distrair-se e respirar um pouco de ar puro. Ouvem-se t Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 132, AVES EM ESPECIAL | 365 as de todos os lados e a agua, repuxando em bacias de marmore na um ruido ma retéárioso no meio da folhagem das arvores: são os ; que à tarde ahi se tinham ido refugiar e ahi repousam depois “Saudado com as suas canções o declinar do sol. Mas o fulgor ão os culpados; são elles que perturbam a festa, que prejudi- “das senhoritas, porque se permittem em relação às manti- los as mesmas indescripções da andorinha de Tobias. Com- “que os pajaros palmeros não sejam os favoritos das damas as; os cavalheiros participam d'essa malquerença e esforçam-se los ou pelo menos afugental-os da Alameda. Perseguem-os ao o e de noite mandam às arvores garotos munidos de lanternas umbrarem os pardaes, o que permitte apanhal-os à mão. Muitos r as suas culpas nas caçarolas. À guerra não cessa senão quando, os de folhas, os platanos deixam de offerecer-lhes abrigo eo O PARDAL MONTEZ ê Nneçs e a nuca de um trigueiro avermelhado, as costas fuligi- a garganta negra, os lados da cabeça brancos, excepto uma raia ge do bico ao olho e uma pequena mancha facial, que são negras, 366 HISTORIA NATURAL fachas transversaes brancas, o bico negro, a iris trigueira escura e os pés avermelhados. À plumagem que descrevemos é commum aos dois sexos. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O pardal montez é frequente na parte oriental da Europa. Encontra-se tambem n'uma grande parte da Asia e é commum no Japão. Apparece ao norte da Africa. COSTUMES Este pardal prefere ás cidades e às povoações aldeãs a floresta e os campos; só de inverno se approxima das habitações. No estio fixa-se nos pontos em que as pradarias alternam com os campos e ahi aninha nas arvores carcomidas. Vive em bandos numerosos uma grande parte do anno e aos pares na quadra dos amores. Esses bandos misturam-se com passaros d'outras es- pecies. É menos prudente que o nosso pardal, decerto porque não está, como este, em contacto directo e diario com o homem. É tambem mais agil e tem um porte mais distincto que o pardal commum; vôa melhor | e saltita mais levemente. Desde o outomno até à primavera alimenta-se de grãos; no estio come vermes e insectos. A quadra dos amores principia em Abril e estende-se até Agosto. As posturas são duas ou trez por anno. O ninho é negligentemente cons-. truido como o do nosso pardal. Os ovos são cinco ou sete por cada pos- tura e assemelham-se aos d'este passaro. Macho e femea chocam alter- nadamente durante treze ou quatorze dias. As relações sexuaes entre este pardal e o nosso dão productos fe- cundos. CAÇA O pardal montez é mais facil de apanhar do que a especie commum, porque é mais inexperiente, menos astuto. Cãe facilmente em quantas ar- madilhas se lhe preparam. “AVES EM ESPECIAL 367 INIMIGOS f Dc fa: md & 4 1. AP, CAPTIVEIRO UTILIDADE tagens que nos dá, destruindo vermes e insectos, excedem izos que nos causa comendo grãos. Leva ainda ao pardal gem de não tocar nos fructos das arvores. “O PARDAL FRANCEZ « ice este passaro, não ao mesmo “genero a que pertencem os mas ao genero Petronia que se caracterisa d'este modo: Os “que o formam teem o bico vigoroso, o corpo refeito, as azas adas attingindo quasi a extremidade da cauda e a plumagem Erquia. Sexos. 368 HISTORIA NATURAL CARACTERES ESPECIFICOS Mede dezesete centimetros de comprido e vinte e seis de enverga- dura; a femea é um pouco mais pequena que o macho. Tem o dorso atri- gueirado com manchas longitudinaes escuras e brancas pardacentas, a face inferior do corpo de um pardo muito claro, a garganta côr de enxo- fre, o vertice da cabeça pardo, os lados e a região frontal raiados de tri- gueiro azeitonado e as pennas da cauda manchadas de branco nas barbas internas e perto da extremidade. O bico no inverno é pardo escuro e no estio amarellado, sendo a mandibula superior sempre mais escura que a inferior; a iris é trigueira e os pés pardos avermelhados. A plumagem nos dois sexos ou não differe, caso mais geral, ou dif- fere muito pouco. Os individuos não adultos apresentam uma pequena macula na gar- ganta. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Este passaro é vulgar no meio-dia da França, na Hespanha e nas Canarias. Em Portugal é pouco frequente. COSTUMES O pardal francez habita tanto as cidades e as aldeias como as pene- dias desertas. Em Hespanha e entre nós encontra-se nas vertentes escar- padas das montanhas e nos castellos em ruina. Nas Canarias, affirma Bolle, procura as torres e os edifícios altos no meio das cidades. Não evita, como se vê, a proximidade da nossa especie; comtudo é cioso da propria liberdade e evita as ruas e as estradas frequentadas. O vôo é rapido e ruidoso; antes de pousar, 0 passaro paira um ins- tante com as azas largamente abertas. Saltita com agilidade. A reproduceção dá-se na primavera ou nos primeiros dias do estio. Em Hespanha os amores principiam em Abril; comtudo os ninhos só se encontram em Maio, Junho ou Julho. É nas anfractuosidades dos roche- dos, nos buracos das paredes ou nos troncos carcomidos das arvores que AVES EM ESPECIAL 369 jo se estabelece. É e construido e forrado de pêllos PonuneNA, são pardacentos ou de um branco sujo com maculas principalmente na grossa extremidade. Não se sabe se ambos cam; o que se sabe é que alimentam um e outro os filhos. le que se encontram aptos para o vôo, reunem-se aos em bandos numerosos e erram pelos campos em quanto n uma segunda ou talvez terceira postura. aro no estio come principalmente insectos e no inverno CAÇA | a este passaro é difficil, o que se explica pela extrema pru- “O caracterisa. As armadilhas são quasi inuteis e para empre- - CAPTIVEIRO lal francez é um passaro estimavel em captiveiro. Adquire 2 confiança no homem, vive em harmonia com os outros pas- de uma grande docilidade. Não demanda grandes cuidados. a predilecção notavel pelas moscas. do Toussenel, bem tratado chega a reproduzir-se em captiveiro. O DOM FAFE 24 570 : HISTORIA NATURAL CARACTERES ESPECIFICOS Mede dezeseis a dezenove centimetros de comprido e vinte e nove a trinta e um de envergadura; a cauda tem sete. É de notar que as dif- ferenças individuaes relativamente às dimensões são notaveis. O macho adulto tem a parte superior da cabeça, a garganta, as azas | e a cauda de um negro brilhante, as costas de um pardo acinzentado, O uropigio e o baixo ventre brancos, o resto do ventre e o peito de um vermelho vivo. A femea tem a face inferior do corpo cinzenta e tintas menos vivas. Os individuos não adultos não teem a cabeça negra. Às azas são marcadas por duas largas listras de um branco acinzentado ao nivel do carpo. Ha tambem individuos brancos, negros ou de côres misturadas. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O Dom Fafe não é desconhecido em região alguma da Europa. Ha- bita tambem uma grande parte da Asia. Em Portugal frequenta principalmente o Minho e Traz-os-Montes. COSTUMES O Dom Fafe (pirrhula vulgaris de Linneu) vive adstricto às flores- tas e bosques que não abandona senão quando a falta de alimento a isso o força. Em taes condições extremas penetra nos jardins e vergeis para ahi encontrar baga ou grãos que outros passaros porventura tenham dei- xado. ; No estio vive só com a femea; mas no inverno junta-se aos congé- neres, formando então pequenos bandos que se não dissociam. Forçado por circumstancias excepcionaes, emprehende às vezes lar- gas excursões. Viaja, voando de floresta em floresta; e só quando não en- contra nas arvores com que alimentar-se é que desce a terra. Os habitos d'este passaro são, no dizer de Brehm, encantadores. Não é timido, antes parece dominal-o uma absoluta confiança no homem. É por isso extremamente facil apanhal-o ou matal-o a tiro. Quando mui- AVES EM ESPECIAL 971 não podem decidir-se a abandonar o logar em que repousa 0; querem leval-o comsigo. Esta dedicação de uns pelos ou- as vezes logar a scenas commoventes.» ! Não é pois estupi- m instincto superior de dedicação que leva este passaro a dei- mente ser apanhado pelo homem. terra o Dom Fafe saltita deselegantemente; nas arvores, pelo | parece achar-se perfeitamente à vontade. Quando se empoleira, o corpo horisontal, os tarsos recurvos e algumas vezes tambem recto e os pés estendidos. Suspende-se muitas vezes dos ramos, cabeça voltada para baixo. Mantendo de ordinario as pennas um desviadas da epiderme, parece mais volumoso do que na reali- “Brehm diz: «Uma arvore coberta destes passaros é um espe- encantador. O vermelho dos machos destaca admiravelmente do a folhagem, no estio, e do branco da neve, no inverno.» 2. Dom Fafe, quando o alimento lhe não falta, conserva-se vivo e ale- mesmo no coração do inverno; parece que o frio o não incommoda. santo d'este passaro é agradavel; em liberdade, fal-o ouvir só na dos amores, mas em captiveiro durante todo o anno. e passaro é granivoro e insectivoro. Tem o habito de ingerir ra facilitar a trituração dos alimentos. Dom Fafe procura para aninhar os logares cobertos de arvoredo grande extensão. Excepcionalmente aninha nos jardins. O ninho é e construido e fixado numa arvore de altura regular, a pouca distan- ramos seccos de pinheiro e do uma camada de radiculas e de lichens; “0 interior “é alcatifado de pêllos e crinas ou de musgo e hervas tenras. 1 Maio o ninho contem quatro ou cinco ovos pequenos, redondos, de “lisa, de um verde claro ou azulado com maculas violetas ou negras tos e linhas transversaes vermelhos trigueiros. A femea choca 4 1 Citado por Brehm, Obr. cit., vol, 3.º, pg. 29, 2 Brehm, Loc. cit. Di 372 HISTORIA NATURAL Macho e femea partilham egualmente o cuidado da educação dos fi- lhos aos quaes dão insectos e que defendem com risco da propria vida. CAÇA Como anteriormente dissemos, a caça a esta especie é muito facil. Diz Naumann que o Dom Fafe cãe em todas as armadilhas, por grosseiras que ellas sejam. A circumstancia a que acima nos referimos de não aban- donar este passaro o cadaver de um companheiro é explorado pelo epa dor com vantagens que facilmente se calculam. INIMIGOS Além do homem, devem contar-se no vasto agrupamento dos inimi- gos da especie todos os pequenos mamiferos carniceiros e grande numero de aves de rapina diurnas. UTILIDADE Como granivoro que é, este passaro produz incontestavelmente al- guns prejuizos; são elles todavia compensados pela guerra que move aos insectos durante o estio. CAPTIVEIRO Este passaro quando se apanha muito novo, attinge um alto grao de domesticidade. Aprende arias que se lhe ensinam, chegando a conservar trez de memoria, affeiçoa-se ao dono extraordinariamente e manifesta uma docilidade sem limites. As femeas captivas aprendem tambem a can- tar, com quanto não attinjam nunca a perfeição dos machos. Para dar idéa da dedicação que este passaro é capaz de tributar ao dono, Brehm conta o seguinte: «Um amigo de meu pae emprehendeu uma viagem; durante a ausencia, um Dom Fafe que possuia conservou-se sempre triste e silencioso. Quando porém o dono voltou, a alegria do pobre passaro foi inexcedivel: batia as azas, saudava-o, como em tempo AVES EM ESPECIAL 373 desattendeu uma tarde, não lhe correspondendo às caricias. Como que fazer e se não sentisse disposta a dar importancia ao pas- . O VERDILHÃO CARACTERES 374 HISTORIA NATURAL negra. As nove primeiras pennas da aza e as cinco externas da cauda A offerecem manchas amarellas. O bico é côr de carne e a iris trigueira. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O verdilhão habita toda a Europa, excepção feita das regiões mais. septentrionaes, e uma grande parte da Asia; falta na Siberia. Em Portugal é muito commum. COSTUMES Para fixar-se procura sempre os logares ferteis em que os pequenos bosques alternam com os campos e tambem os prados e os jardins. Evita as grandes florestas e encontra-se muitas vezes perto das habitações. Só em tempo de viagens é que o verdilhão se reune em bandos, juntando-se a outros passaros. No resto do tempo vive só com a femea ou em pequenas familias. Durante o dia vê-se constantemente saltitando em terra à busca de grãos; à noite repousa sobre a arvore mais copada que encontra nas immediações. Com quanto à primeira vista pareça pesado, o verdilhão é comtudo um passaro vivo, agil em todos os movimentos. Em repouso, conserva O corpo horisontal e affasta um pouco as pennas. Marcha, saltitando. O vôo é muito facil e ondulado; torna-se porém vacillante no momento em que O passaro vae pousar. O verdilhão nas regiões em que se sente em segurança, não é ti- mido; mas se o perseguem, torna-se excessivamente prudente. Então cada um dos individuos que compõem um bando, dá provas de um grande zelo em velar pela segurança dos companheiros. Quando um ho- mem se approxima, o primeiro que o vê solta um grito de aviso e voam todos, pousando a distancia. Brehm, pae, diz que muitas vezes é neces- sario perseguir estes passaros durante um quarto d'hora para poder sur- prehendel-os ao alcance de um tiro. Mao grado toda a timidez e toda a prudencia, o verdilhão, quando a fome o incita, penetra nas herdades. É granivoro. As sementes, sobretudo as oleoginosas e nomeada- mente ainda as do linho, constituem o seu alimento favorito. A femea realisa duas posturas por anno e às vezes mesmo trez. An- tes do acto sexual o macho faz-se constantemente ouvir; cantando, ele- va-se obliquamente no ar, bate as azas, eleva-as até que as extremida- AVES EM ESPECIAL 375 os e volta lentamente à arvore d'onde partiu. Os rivaes dão-se com- s encarniçados, aos quaes as femeas assistem tranquillamente. O ninho estabelece-se n'uma arvore ou n'um silvado e é constituido lichens, pêllos e flocos de là, que internamente o alcatifam. Este o é nem muito solido, nem muito espesso; é porém artistica- primeira postura realisa-se no fim de Abril, a segunda no fim de | a terceira, se tem logar, no começo de Agosto. Cada postura é D a seis ovos, do comprimento de vinte a vinte e trez millime- to dilatados, de casca fina e lisa, de um branco azulado ou ar- m pontos e manchas mais ou menos distinctos, de um verme- pecido, occupando principalmente a extremidade mais grossa e 0-se em forma circular. - femea choca durante quatorze dias; entretanto o macho procura- pos. Macho e femea cuidam da creação dos filhos, dando-lhes — INIMIGOS CAÇA De todos os inimigos da especie porém, o mais temivel é o homem. . Ape “Na caça empregam-se armadilhas de toda a ordem e as armas de fogo, HISTORIA NATURAL — CAPTIVEIRO h 0 verdilhão não pode recommendar-se como passaro pr engaiolar. Nem o canto, que é insignificante, nem os seus mo deselegantes fóra das condições de liberdade, podem. attrair-nos a ção. Além d'isso, collocado em captiveiro na companhia oniaig ros, move-lhes guerra, maltrata-os. Observações numerosas «demonstram que. este passaro se facilmente em captiveiro e que aprende a cantar com o tentilhão canario. Comtudo, por melhor que seja o mestre, o verdilh sempre algumas notas desagradaveis ao uva do um amador. É indiscutivel que este passaro Pa A Aurria. notaveis cultivados. Brehm porém, e com elle outros naturalistas modern mam que os beneficios que o verdilhão produz, destruindo as s de hervas nocivas, excede uia os prejuizos que pode cansam um passaro util. USOS E PRODUCTOS A carne do verdilhão é geralmente apreciada. Isto expl [ destruidora que por toda a parte se lhe faz. AVES EM ESPECIAL . 377 OS BICO-GROSSUDOS uos d'este genero caracterisam-se pela existencia de um e é E aiento tão larga como a cabeça, por azas de exten- * por uma cauda curta. » é representado por uma especie unica. O BICO-GROSSUDO saros da Europa é este um dos mais pesados e vigorosos. CARACTERES adura; a cauda tem apenas seis centimetros. A femea tem me- netro e meio de comprido e menos trez de envergadura, appro- posterior trigueira amarella, a nuca cinzenta, as costas trigueiras a face inferior do corpo parda trigueira, a garganta negra, as com uma pequena mancha branca no meio, o bico azul es- Po A femea tem côres mais claras que o macho. Os individuos não adultos teem a cabeça parda amarellada, | a nuca 378 : HISTORIA NATURAL reflexos avermelhados e manchas transversaes trigueiras € negras. pernas medianas da cauda são largas na extremidade e truncadas.. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A patria d'este passaro é a zona temperada da Europa e da À Chega até à Africa. Em Portugal é commum. COSTUMES das; evita as florestas de coniferas. «O bico-grossudo principia, diz Brehm, as suas viagens no | Outubro ou em Novembro e volta em Março. Alguns individuos só em Maio; no fim d'este mez vi eu em Madrid um bando em vôo.» 4. No estio, os casaes procuram nos jardins ou nas florestas um d nio grande onde abundem as arvores elevadas. Passam a noite na flc resta, repousando no cimo copado d'alguma arvore, macho e aa o mesmo ramo e encostados um ao outro. Ma O bico-grossudo, como as formas deixam prevêr, é um passaro e sado e preguiçoso. Conserva-se muito tempo no mesmo logar, hesita muito antes: mar vôo, não percorre de uma só vez longas distancias e acaba ser por voltar ao sitio d'onde o afugentaram. Em terra move-se desele; mente; os membros são muito curtos relativamente ao corpo. O x pesado, mas muito rapido e ruidoso; faz-se em linhas onduladas.. de pousar, o passaro tem o habito de pairar um instante. Bo O Dico-grossudo não é estupido, mas astuto e prudente; conhece inimigos e sabe evital-os. Não gosta de deslocar-se; comtudo, mesmo quanto come, conserva-se attento a quanto se passa em volta d'elle e. pera um perigo; procura evital- -0, escondendo-se na pego bei o ameaça. à Brehm, Obr. cit., vol. 8.º, pg. 140, + AVES EM ESPECIAL 379 É de observar que quando pousa em bandos sobre as cerejeiras, passaro esquece toda a prudencia, sendo então facil ao caçador ximar-se d'elle. A predilecção que tem pelas cerejas não deve attribuir-se ao gosto tenha por este fructo; o bico-grossudo deita fóra a parte tenra ou + exactamente a que nós aproveitamos, parte o caroço e come o que encontra no interior. Procede de egual modo relativamente a fructos de caroço. Gosta muito tambem dos cereaes, fazendo ás estragos consideraveis nos campos. Come tambem rebentos e in- especialmente coleopteros e as respectivas larvas. O bico-grossudo aninha uma ou duas vezes, conforme o anno lhe “ou não favoravel. Quando aninha duas vezes, fal-o em Maio e no cipio de Julho. Cada par ou casal escolhe um determinado dominio mtro do qual não permitte a entrada de um outro. O macho canta temente. Esse canto porém é, no dizer de Naumann, desagrada- lo passa de uma successão de gritos agudos. Comtudo, a femea “esse canto e, ao que diz Brehm, o proprio macho compraz-se D esses gritos, porque toma todas as posições possiveis para ex- a propria satisfação. ninho é construido sobre pequenos ramos, a uma certa altura do muito bem occulto. O fundo é forrado de ramos seccos, de cau- "vas, de raizes, etc., e de uma camada de musgo e lichens; o é alcatifado de radiculas, pêllos, crinas e flocos de lã. O ninho é muito espesso, mas é construido com arte; reconhece-se facil- te pela grande largura. Contém trez a cinco ovos, de trez centime- . “comprimento, de uma espessura proporcional, de côr parda es- la ou amarellada, manchados ou raiados de trigueiro, de escuro e gueiro claro. | | femea só abandona os ovos algum tempo durante o meio do dia, Além do homem, outros inimigos conta esta especie: taes. aves de rapina, nomeadamente os falcões, e ainda alguns pequer miferos carniceiros. ; CAPTIVEIRO O bico-grossudo não é um passaro agradavel em captiveir quanto facil de alimentar e susceptivel de uma rapida domesticaçã passaro é desengraçado e, além d'isso, perigoso para os outros captivos. Lenz refere o caso de um bico-grossudo que possuiu en em companhia de canarios e que, depois de ter amigavelmente estes a construirem o seu ninho, acabou por comer-lhes os ovos pica, é terrivel: enterra o bico de ponta aguda nas carnes e facilmente. E Brehm falla de um destes passaros que ads cerveja ep Qu OS CARDEAES. azas curtas, a cauda comprida, af no meio, o bico curto, ponteagudo, muito largo na base, de aresta recurva € a cabeça enc por uma poupa que pode ser a à vontade. S AVES EM ESPECIAL 381 O CARDEAL DA VIRGINIA CARACTERES a na indra dos amores tem uma plumagem magnifica. N 1 te é o vermelho carregado. Tem a cabeça escarlate e a gar- . As pennas das azas são de um trigueiro escuro ao longo o de um trigueiro claro nas barbas internas; o bico é de um | Mo pardo trigueiro, a face inferior do corpo de um trigueiro o e avermelhado na linha media e o bico de um vermelho me- DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA “No dizer de grande numero de naturalistas o cardeal da Virginia “encontra-se em toda a America do Norte; sendo muito commum nos Esta- 382 HISTORIA NATURAL COSTUMES Quando o inverno não é muito rigoroso, passa todo o anno na mesma região; mas se o frio é muito intenso, emigra na direcção do sul. «É, diz Brehm, um magnifico passaro, que a plumagem denuncia de longe; forma um dos bellos ornamentos da floresta, principalmente no inverno, quando com facilidade pode ser visto nas arvores desguarneci- cidas de folhas.» ! Este passaro fixa-se de ordinario, durante o dia, nas arvores cujos ramos são ligados por trepadeiras; d'ahi parte nas suas excursões pelos campos e jardins visinhos, se a floresta não basta a ali- mental-o. Encontra-se ás vezes na proximidade das cidades ou mesmo, segundo Audubon, no interior d'ellas. Durante o éstio o cardeal da Virginia vive aos pares; no outomno é inverno em bandos pequenos. Vive harmonicamente com os outros pas- saros; com os congéneres porém, vive em lucta, principalmente na qua- dra dos amores. No inverno, penetra muitas vezes nas herdades e ahi, em companhia dos pombos, dos pardaes e d'outros passaros, junta grãos, penetra nos estabulos e interna-se nos jardins e nos ae em procura de fructos de toda a ordem. | Possuindo, como possue, um bico forte, duro, o cardeal da Virginia sabe perfeitamente abrir os grãos, despojal-os das cascas e tritural-os. Por isso raras vezes passa fome. «Alegre, vivo e petulante, diz Brehm, raro é que se conserve um minuto em repouso.no mesmo logar. Vive em movimento incessante, vo- litando e saltando aqui e além. Quando se empoleira, conserva o corpo horisontal e deixa pender a cauda que agita repetidas vezes. Em terra saltita com extrema rapidez; nos ramos move-se com grande agilidade. O vôo é rapido, ruidoso, mas sustenta-se por pouco tempo.» ? Quando o inverno é muito rigoroso, o cardeal emigra, voltando em Março, na companhia de outros passaros, ao ponto de partida; faz a pé uma parte da viagem. Os machos chegam de ordinario um pouco mais . cedo que as femeas. Pouco depois da volta, realisa-se o acto sexual. É então que teem logar entre os machos grandes combates. Uma vez escolhido o dominio de um casal, o macho não consente que um outro n'elle penetre. Nos casaes, macho e femea dedicam-se uma extrema affeição. «Uma | Brehm, Loc. cit., pg. 146. * Brehm, Obr. cit., vol, 3.º, pg. 146. AVES EM ESPECIAL 383. no mez de Fevereiro, diz Audubon, apanhei um cardeal macho; na à immediata a femea foi encontrada perto da gaiola do Su , deixando-se captivar.» E Cirdea! da Virginia faz ninho nos silvados, nas arvores, perto das “no meio dos campos, na orla das florestas, etc. Parece dar a ds margens dos cursos pia Tambem muitas vezes se en- folhas seccas, de ramos, sobretudo de ramos apinhosce; é en- vinhas selvagens; o interior é alcatifado de hervas. , em numero de quatro a seis, são de um branco sujo, man- 2 trigueiro azeitonado. Estados do Norte, o cardeal da Virginia raras vezes realisa mais postura por anno; nos Estados do Sul realisa muitas vezes trez. alguns dias depois de principiarem a voar, são abandonados cardeal da Virginia alimenta-se de grãos, de cereaes, de baga e S; no. dizer de Wilson, produz tambem grandes estragos nas “do canto deste passaro teem sido emittidas opiniões muito e até contradictorias. Para os naturalistas americanos este harmoniosissimo e comparavel ao do rouxinol, motivo por que ssaro o nome vulgar de rouxinol da Virginia; para os natura- eus esse canto é mediocre. Audubon diz: «Muitas vezes se ao cardeal o nome de rouxinol da Virginia e sem duvida me- “nome pelo canto tão claro, tão variado que faz ouvir desde é Setembro.» O principe de Wied diz, pelo contrario: «O canto nada tem de distincto; é mais surprehendente do que agra- Gerhardt diz tambem: «O canto d'este passaro não corresponde GAPTIVEIRO mesmo à reproduzir-se. Não deve cohabitar com outros passaros, rque lhes move lucta e perturba os que estão chocando, HISTORIA NATURAL. “O DOMINICANO Este passaro é tambem conhecido na America ão sul pelo 1 cardeal. Pertence ao genero Paroaria de Linneu. CARACTERES Mede approximadamente dezoito centimetros de comprido » nove de envergadura; a cauda tem oito. carne. A femea differe muito pouco do macho. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA no Pará e na bacia do Amazonas. COSTUMES Vive com a femea nas brenhas, na orla das florestas. É um p tranquillo. Possue apenas um grito de reclamo agudo e uma canção AVES EM ESPECIAL "385 | » CGAPTIVEIRO OS CRUZA-BICOS alistas não estão ainda hoje de accordo sobre o numero de ) genero cujo nome epigrapha este artigo. Uns dão como va- ue outros consideram como especies. E o facto explica-se, “faz notar, pelos estreitos laços morphologicos e dynamicos am todos os cruza-bicos, ou sejam europeus, asiaticos ou ame- CARACTERES as as especies teem o mesmo porte e as mesmas côres. Os ma- u tos são de um vermelho vivo, accentuado e os não adultos de ros com raias pardas escuras. As pennas da cauda e das azas S quasi negras, em todas as especies. 2º 386 HISTORIA NATURAL COSTUMES Estes passaros teem apparencia de pesados e deselegantes; não o são, comtudo. Pelo contrario são ageis e vivos. Voam com rapidez e du- rante muito tempo, pairam antes de pousar e trepam com facilidade pe- los ramos. Só em terra se mostram um pouco inhabeis. Habitam as florestas de coniferas onde encontram com que alimen- tar-se. Não teem propriamente patria; «encontram-se, diz Brehm, em toda a parte e em parte nenhuma.» ! São passaros emigrantes; mas as suas emigrações não teem a regularidade caracteristica n'outras especies, não dependem das estações, nem das localidades. De ordinario estes passaros são mais communs nas montanhas do que nas planicies; todavia, se estas lhes offerecem florestas convenientes, estabelecem-se ahi sem repugnancia. Os cruza-bicos são passaros sociaveis, que nem mesmo na estação dos amores, quando os casaes já estão formados, se separam. Vivem: sobre as arvores, não descendo a terra senão por obsoluta necessidade, como quando procuram beber. Trepando pelos pinheiros, arvores suas predilectas, auxiliam-se do bico, como os papagaios, com os quaes, de resto, possuem algumas semelhanças sob o ponto de vista dos costumes. Voando, descrevem linhas onduladas, o que se explica pelo facto de abrirem muito as azas, fechando-as depois bruscamente. Vivem em movimento constante, excepto no meio do dia. Na primavera, no estio e no outomno despertam muito -cedo, de modo que: quando o dia offerece ainda as indecisões do crepusculo, já elles volitam de arvore em arvore, de colina em colina. Assim os passa- rinheiros que lhes dispõem armadilhas são forçados em Junho e Julho a estarem a postos às duas horas da madrugada. De inverno despertam tambem cedo, mas não abandonam o ramo em que repousaram durante a noite senão quando o sol já se encontra alto no horisonte. Nesta esta- ção principiam às dez horas da manhã a procurar alimentos e ao meio dia buscam os cursos d'agua para beber. Estes passaros inquietam-se pouco com a presença dos outros habi- tantes das florestas; inquietam-se mesmo pouco com a visinhança da nossa especie, com quanto tenham reconhecido nella um inimigo terri- vel. D'aqui teem concluido alguns auctores que os cruza-bicos são pas- 1 Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 75. AVES EM ESPECIAL 387 - Saros estupidos, que não sabem aproveitar-se das lições da experiencia. p O macho, por exemplo, a que mataram a femea, longe de fugir, deixa-se x — ficar immovel junto ao cadaver da companheira. Brehm conclue d'estes e analogos factos, não a estupidez d'estes passaros, mas o bom natural " dºelles. O mesmo naturalista aflirma, insurgindo-se contra a opinião que “faz dos cruza-bicos passaros inintelligentes, que, tendo experimentado “muitas vezes a malvadez do homem, elles se tornam desconfiados e pre- “O canto dos machos é, no dizer de naturalistas que o conhecem bem, - surprehendente. Em liberdade cantam no tempo claro, tranquillo e em «Sabe-se que os cruza-bicos aninham em todas as estações, no meio do estio como no mais aspero do inverno, quando tudo está coberto de — neve e a vida parece extincta em toda a natureza. Os cruza-bicos não se — inquietam com isto; parece que trazem dentro de si a primavera com todas as alegrias. Os bandos decompoem-se em casaes, escolhendo estes as melhores arvores para lhes confiarem o berço da prole, sem todavia se affastarem muito uns dos outros. Os machos empoleiram-se nos ramos * 388 HISTORIA NATURAL mais altos: cantam, soltam gritos de reclamo, voltam-se em todas as di- recções como para se fazerem admirar pelas femeas por todos os la- dos.» * O ninho estabelece-se ora n'um ramo proeminente, ora numa bifur- cação, umas vezes no vertice de uma arvore, outras vezes no meio, de modo a ficar protegido contra o gêlo. É externamente formado de ramus- culos, de lichens e de musgos e internamente alcatifado de pennas, de nervuras de hervas, de substancias molles emfim. É profundo e as pare- des teem trez centimetros de espessura. É a femea que construe o ninho; o macho diverte-a cantando, em quanto esta tarefa se não acaba. Cada postura é de trez ou quatro ovos pequenos, de um branco pardacento ou azulado, cobertos de manchas e de raias de um trigueiro escuro e dispostas umas vezes circularmente em torno da grossa extre- midade, outras vezes espalhadas por toda a superficie. Os filhos são ao principio alimentados com pinhões meio digeridos no papo dos paes. Crescem muito rapidamente; precisam porém, durante mais tempo que quaesquer outros passaros, do auxilio dos paes. CAÇA Não é dificil, como já foi dito, apanhar os cruza-bicos. Deixam-se approximar pelo caçador à distancia de um tiro. Apanham-se tambem com armadilhas e a visco, de um modo seguro e extraordinariamente fa- cil, sobretudo n'aquellas regiões em que, por não serem muito persegui- dos, não se arreceiam muito do homem. A amisade que liga estes passa- ros uns aos outros é tambem vantajosamente explorada na caça; já vimos que alguma coisa de semelhante se dava com o Dom Fafe. CAPTIVEIRO Domesticam-se facilmente. Esquecem depressa a perda da liberdade, reconhecem o dono e exprimem por elle a amisade por mil demonstra- ções eloquentes. Por isso são estimados. 1 Brehm, Loc. cit., pg. 78. AVES EM ESPECIAL 389 * O CRUZA-BICO DOS ABETOS m vermelha ora clara, ora escura. pê pennas das azas e da cauda de um pardo muito escuro, circuitadas de pardo avermelhado; o ven- 390 amarello. As femeas teem as pennas da parte superior do corpo pusdadi c gadas, com uma bordadura esverdeada ou amarellada e as da par ferior pardas claras, marcadas de amarelo e verde. As pennas d; e da cauda são anegradas, com uma bordadura esverdeada. Os individuos que ainda não abandonaram o ninho teem as das costas pardas escuras, circuitadas de pardo claro e de esv o ventre quasi branco com maculas longitudinaes escuras e. E azas e da cauda circuitadas de um pardo esverdeado. O CRUZA-BICO COMMUM Esta especie é conhecida ainda por outros nomes: pap nheiros e trinca-nozes são denominações vulgares. CARACTERES é mais comprido e mais fraco. aves EM ESPECIAL 3 “O CRUZA-BICO RAIADO ar » 6 mais pequeno que qualquer dos antecedentes e tem | aco. Caracterisam-o duas raias que lhe ornam as azas. na plumagem digno de menção especial. OS PICA-BOIS ssaros elegantes, de azas compridas e ponteagudas, de cauda nento regular, arredondada; de tarsos robustos; de dedos cur- de unhas curtas e fortemente recurvas. O bico é pequeno, ro- mido na metade anterior, dilatado na extremidade das duas 1e são obtusas, depois estreitecido e cylindrico, emfim quasi na base. | ? | cem é molle e sem brilho. everemos as duas especies unicas até hoje conhecidas. face inferior do corpo de um fulvo claro, as azas e a cauda Fe gueiro escuro, o bico vermelho cinabrio na ponta e amarello na rai; pés cinzentos atrigueirados e a iris de um trigueiro vermelho vivo COSTUMES Estudaremos simultaneamente os costumes desta esperio com seguinte. O mesmo faremos relativamente á distribuição geographica O PICA-BOI DE BICO VERMELHO | Fa Tem vinte e dois centimetros de mapa e trinta e trinta e seis de envergadura; a cauda mede nove. E Tem as costas de um trigueiro acinzentado, o ventre amare o bico vermelho claro, os pés pardo-trigueiros, a iris e as pal um amarello d'ouro. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA : Re, As duas especies descriptas, bufaga africana e bufaga ent de Linneu, teem uma vasta área de dispersão. À primeira encontra-se em todo o sul da Africa até à Abyss Senegal. A segunda parece pera à Africa central, desde a costa oric até à occidental, + AVES EM ESPECIAL 393 COSTUMES ramente na sociedade dos grandes mamiferos. Seguem os bois e ellos, pousando-lhes no dorso. Os viajantes que teem percorrido o Africa, afirmam tel-os encontrado egualmente junto dos elephantes jinocerontes. Le Vaillant diz tambem que elles seguem as antilopes. m de preferencia sobre os animaes feridos que attráem as moscas. ssinios detestam por isso os pica-bois; julgam que elles irritam las e lhes retardam a cura. Não é assim: o que retarda a cicatri- jo das feridas são as larvas dos insectos que se fixam sob a pelle dos jes. Os pica-bois prestam mesmo a estes um grande serviço, arran- essas larvas. Os grandes mamiferos, mais avisados que o homem, I ecem isto mesmo, tratando com amisade os passaros, nunca ten- | sequer afugental-os com a cauda. Os pica-bois caminham por cima grandes mamiferos, trepam por elles com facilidade extrema. Um. D, um boi ou um cavallo cobertos d'estes passaros offerecem um aculo muito curioso, no dizer de Brehm e Ehrenberg. Um facto digno de mencionar-se é este: Os pica-bois que tanta con- depositam nos grandes mamiferos, receiam extraordinariamente 0 m Brehm diz nunca lhe ter sido possivel approximar-se d'elles a uma cn menor de quarenta passos. Quando presentem qualquer » abandonam os animaes, voam para um logar alto e só voltam ao Es partida, uma vez que todo o receio se lhes tenha dissipado. Não pousam nas arvores. Ea Ácerca da reproducção d'estes passaros não encontrei indicações. n, auctor moderno e dos mais minuciosos, diz: «Não sei absoluta- e nada sobre o modo de reproducção destes passaros singulares.» ! E et Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 252, 394 HISTORIA NATURAL OS COLIOS Estes passaros teem o bico curto, espesso, recurvo desde a base, comprimido adiante, a mandibula superior formando gancho na ponta, azas curtas e fortemente truncadas, sendo a quarta remige a mais com- prida, a cauda muito extensa, formada de pennas rijas, de hastes muito desenvolvidas, d'onde nascem de cada lado barbas estreitas, mas resistentes, finalmente tarsos curtos. Os pés apresentam de particular o serem o pollegar e o dedo interno em parte versateis. O pardo fulvo passando para o vermelho ou cinzento, constitue a côr dominante da plumagem. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Estes passaros parecem ser proprios da Africa. Habitam o sul e o centro d'este continente, mas faltam completamente ao norte. São com- muns nas florestas virgens e encontram-se em todas as cidades do inte- rior da Africa assim como nas proximidades do Cabo. O COLIO DE GRANDE CAUDA Tem a cabeça encimada por uma especie de poupa de um cinzento azulado, a parte posterior da cabeça e os lados do pescoço de um ama- rello avermelhado, as costas pardas e azues, a garganta de um fulvo claro, a parte anterior do pescoço e o peito pardo-azues, o ventre de côr fuliginosa, o bico avermelhado na base e negro na ponta, os pés verme- lhos como coral e os olhos trigueiros avermelhados, apresentando em torno um circulo desguarnecido de pennas e rubro carmim. AVES EM ESPECIAL 395 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA nzenta, a fronte parda escura; os olhos são azues claros e os alhos como coral. A mandibula superior é azulada e a infe- COSTUMES COMMUNS ÁS DUAS ESPECIES stos E seis individuos. Estabelecem-se da jains ou nas florestas li partem nas suas excursões por dominios muito dilatados. Para colhem sempre os logares em que a vegetação é mais densa, andante, «Quem nunca visitou aci tropicaes, | diz Brehm, 396 HISTORIA NATURAL sentidos; apenas aqui e além um ramo faz saliencia por entre as malhas d'esta rede vegetal inextricavel. Os homens, os mamiferos não podem penetrar ahi; não é mesmo possivel praticar uma abertura com uma faca de caça; a ave encontra-se assim perfeitamente protegida contra todos. os inimigos, mesmo contra o chumbo do caçador que bem conhece a im- possibilidade de penetrar ahi para apanhar a victima. As trepadeiras en- laçam, prendem as arvores umas às outras, formando assim um cercado impenetravel cujo interior será sempre para nós um mysterio. É m'este meio que os colios habitam. Nenhum passaro pode penetrar n'esses loga- res, onde elles, todavia, se movem com agilidade, correm com rapidez, como o faz o rato. Passam atravez das mais pequenas aberturas. Um bando de colios chega ao limite de um d'estes cercados; param todos um momento, descobrem uma entrada e, n'um fechar d'olhos, desapparecem todos. Dá-se volta ao cercado e immediatamente, do lado opposto, vê-se apparecer uma cabeça, depois um corpo, depois o passaro inteiro. Ou- ve-se um grito, apparece todo o bando e de repente precipitam-se todos os individuos n'um outro cercado para ahi desapparecerem de novo. Como podem mover-se ahi? É um enigma para o caçador.» 4 Os colios, no dizer de Le Vaillant raras vezes se determinam a voar e mesmo quando o fazem preparam-se para isso trepando ao cimo das arvores. O vôo é de pequeno alcance e faz-se obliquamente em sentido descencional. O passaro tem mais o ar de deixar-se cair que o de voar. Os colios trepam admiravelmente ás arvores, auxiliando-se do bico, à maneira dos papagaios. Voando, nunca se elevam a grandes alturas € soltam invariavelmente um pequeno grito curto e vibrante. Le Vaillant assevera que estes passaros dormem agarrados aos ra- mos, suspensos de cabeça para baixo e muito unidos uns aos- outros; Verreaux confirma este facto, que Brehm declara nunca ter observado, sem comtudo se atrever a negal-o. Os colios alimentam-se de vegetaes e de insectos. Comem rebentos, grãos, fructos, principalmente uvas, limões. No centro d'Africa ninguem se queixa de estragos que produzam nos jardins; no Cabo da Boa-Espe- rança, ao contrario, muito mais numerosos que no interior, são prejudi- cialissimos, constituem um verdadeiro flagello para os pomares. O ninho dos colios, primeiro descripto por Le Vaillant e mais tarde por Gurney e Hartmann, é conico, composto de raizes de toda a especie, de hervas, de cascas, dé folhas iatiosas e internamente alcatifado” de felpa de algumas plantas. Gurney aífirma que o ninho é revestido de folhas verdes e frescas, 1 Brehm, Loc. cit., pg. 392. AVES EM ESPECIAL 397 ta se um certo grao de humidade não será mesmo indispensa- bação dos ovos. As posturas são de seis ou sete ovos, ordina- CAÇA da Boa-Esperança, a caça a estes passaros é activa. Deter- motivos egualmente importantes: obstar aos estragos que n e obter-lhes a carne que é tenra e succulenta. CAPTIVEIRO raro encontrar captivos os colios. São estimaveis? Eis o que rar no meio das contradicções dos auctores. Para Le Vail- um passaros estupidos, que se suspendem dos poleiros com a baixo, pesados na marcha, indignos emfim do captiveiro. adores dizem o contrario; fazem-nos descripções em que os . cem como passaros ageis, activos, de uma vivacidade ex- | diz a verdade? Eis o que não sabemos. : ym-se muito facilmente com toda a ordem de vegetaes; agra- cipalmente os fructos. “O GUIRA-UNA é o nome vulgar por que no Brazil se conhece a especie Icterus rios ad pertence ao gen Joteri que se caracterisa assim : 398 HISTORIA NATURAL CARACTERES ESPECIFICOS O guira-una é um dos mais bellos passaros do genero. Tem a ca-. beça, a garganta, as costas e a cauda negros, a nuca, a parte posterior das costas, o peito, o ventre de um amarello de laranja vivo, uma parte das pennas das azas bordadas de branco, sendo as superiores de um amarello-laranja e as inferiores de um amarello d'ovo, o bico negro, apresentando uma raia côr de chumbo na mandibula inferior, os pés côr de carne, a iris amarella clara e o olho circuitado por um espaço nú de côr verde. A femea tem as côres mais claras que o macho. Os individuos não adultos teem o bico trigueiro, os pés trigueiro- amarelos claros e as pennas das azas largamente bordadas de pardo. Esta especie mede vinte e sete centimetros de comprido e trinta e seis de envergadura; a cauda tem doze. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O guira-una é muito commum no Brazil e na Guyana. COSTUMES No dizer do principe de Wied, o guira-una é um dos mais bellos or- namentos das florestas que habita. A sua. plumagem brilha como uma chamma, diz este escriptor, destacando-se da folhagem escura, na qual se internará desde que alguem se approxima. Os costumes deste passaro são muito agradaveis. É vivo, agil, en- tregue a um movimento constante. A voz é muito variada: imita o canto de outros passaros, intercallando canções proprias. Prefere os logares em que as florestas espessas alternam com logares descobertos. É ahi prin- cipalmente que se encontra aos pares no momento dos amores e mais tarde em pequenos bandos que erram em todas as direcções. Este passaro alimenta-se de insectos e de fructos, taes como laran- jas e bananas. Quando estes fructos estão maduros é forçado para os apa- nhar a approximar-se das habitações. Ácerca do ninho desta especie, eis o que diz o principe de Wied: 4 AVES EM ESPECIAL 399 s meus caçadores encontrou um ninho de guira-una. Estava a oito e pés do solo collocado sobre um ramo horisontal. Tinha a forma ma esphera occa; a abertura de entrada ficava um pouco acima do em que o ninho pousava sobre o ramo. Este ninho foi encontrado ado de Fevereiro, já inteiramente feito, mas ainda sem ovos.» ! EPE CAPTIVEIRO por causa da plumagem como por causa do canto. Supporta bem iro, principalmente quando lhe dão uma gaiola espaçosa. Satis- m uma alimentação analoga à dos tordos. “nos paizes da Europa, mesmo nos frios. Na Allemanha, em “em Amsterdam existe nos respectivos jardins zoologicos. dizer de Brehm, são quatro as qualidades que tornam o guira-una aro estimado: a vivacidade, a graça nos movimentos, a belleza rem e 0 canto, que todavia faz ouvir poucas vezes. ptivas. Attaca as mais fracas, mata-as e acaba por devoral-as; fortes, mesmo, não podem julgar-se em segurança numa gaiola 3 habite este passaro. O JAPÚ Y “este o nome vulgar da especie Cassicus cristatus de Linneu. Per- do genero Cassicus cujos individuos se caracterisam assim: Teem “bico largo na base, formando a aresta atraz um disco osseo que vae ER 1 Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 237. 400 : HISTORIA NATURAL “gastando circularmente as pennas da região frontal, as azas tendo a ter- ceira e quarta remiges mais compridas que as outras e a cauda larga. . CARACTERES ESPECIFICOS No japú a côr dominante da plumagem é o negro brilhante. Porém a parte posterior das costas e o uropigio são vermelhos escuros e as re- ctrizes externas são amarellas. O bico é amarello muito desmaiado, o olho azul claro e os pés são negros. O macho mede quarenta e dois a quarenta e sete centimetros de comprido e sessenta e quatro a sessenta e nove de envergadura; a cauda tem dezoito a dezenove. A femea tem, approximadamente, menos oito centimetros de comprimento e menos dezeseis a dezoito de envergadura. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Encontra-se n'uma grande extensão da America do Sul, nomeada- mente na parte septentrional. COSTUMES As deseripções mais completas que se encontram dos costumes é habitos deste passaro, são as do principe de Wied e Schomburgk, de resto inteiramente concordantes. A Brehm que resume as indicações forne- cidas por esses auctores, pedimos o que segue. O japú habita os grandes bosques e não se approxima das planta- ções senão quando estas ficam muito proximas das florestas. Muito vulgar nos logares vastamente arborisados, falta completamente nos descobertos. O japú é um passaro activo; vive constantemente em movimento. Alimenta-se de fructos. Vôa continuamente de uma arvore fructifera para outra; segura-se aos ramos pelas unhas, que são vigorosas, apanha um fructo. e, levantando vôo, vae comel-o para longe. Tambem come in- sectos. Quando os fructos estão maduros, este passaro caindo em bandos nos pomares, faz ahi estragos consideraveis. As arvores que mais attaca são as laranjeiras, os limoeiros e as bananeiras. O japú é muito sociavel. Até mesmo na quadra dos amores se en- AVES EM ESPECIAL 401 — contram reunidos vinte, trinta, quarenta e mais pares. «Um dia, diz o principe de Wied, no fundo de um valle romantico, cheio de sombra e circuitado em todas as direcções de montanhas arborisadas, encontrei uma colonia numerosissima de japús. Animavam estes passaros de um modo tal a floresta, que me era impossivel fixar a attenção n'um ponto: os gritos echoavam no valle inteiro.» ! De ordinario este passaro limita-se a soltar um grito de reclamo, “curto e rouco. Comtudo sabe soltar um assobio, muito semelhante ao som de uma flauta e abrangendo meia oitava. O japú aninha nas arvores mais elevadas. O ninho tem a forma de uma bolsa, de cinco a seis pollegadas de diametro e trez a quatro pés de extensão. É estreito, arredondado inferiormente e fixado a um ramo delgado, da espessura de um dedo approximadamente; a abertura é su- perior e alongada. Pela sua forma especial, pelo ponto a que está sus- penso e pela flexibilidade dos materiaes que o formam, este ninho é, na phrase de Brehm, o joguete da mais ligeira viração. Comtudo é solido e feito por modo que só a muito custo se pode romper. No fundo da comprida bolsa que representa o ninho encontra-se um leito de musgo, de folhas seccas e de cascas em que repousam dois ovos, alongados, brancos, apresentando veios vermelhos violeta desmaiados ou pontos irregulares de um violeta escuro. Os filhos teem uma voz rouca, forte. A primeira plumagem que re- vestem assemelha-se já à dos paes. Os ninhos, que são ás vezes em numero de trinta ou quarenta sus- pensos de uma mesma arvore, apparecem em Novembro, umas vezes ainda vasios, outras vezes contendo já os ovos ou mesmo filhos. Terminada a reproducção, os japús partem em bandos na direcção das arvores de fructo sobre as quaes se abatem. CAÇA À caça pelas armas de fogo é muito facil, sobretudo depois da epo- Cha da reproducção. Quando os japús, como acabamos de dizer partem em bandos em demanda dos pomares, matam-se muitos com pequeno dispendio de tiros. 1 Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 240. VOL, IV 26 402 err HISTORIA NATURAL CAPTIVEIRO Aa O japú dá-se bem em captiveiro: concedendo-se-lhe uma gaiola € çosa e companheiros de prisão, conservam a natural alegria e vi dade. Existem individuos captivos, pelo menos em Londres e Amste nos respectivos jardins zoologicos. USOS E PRODUCTOS Os Botocudos, no dizer do principe de Wied, matam o japú à com um duplo fim: de obterem a carne e as pennas amarellas. A serve-lhes de alimento e as pennas amarellas soldadas umas às por meio de cêra formam uma especie de corôa que esses homens Ti zem sobre a cabeça à maneira de um diadema. OS ESTURNINHOS São passaros de tamanho regular e de corpo refeito. Teem aca desprovida de poupa, mas perfeitamente emplumada, o bico dir de extensão regular, ampla e ligeiramente chanfrada. O macho e a teem pouco mais ou menos a mesma plumagem, de que os indis não adultos differem só até à primeira muda. COSTUMES São sociaveis e ageis tanto em terra como no ar. E Alimentam-se de insectos, vermes, pç fructos e outras. nho tancias vegetaes. 3 | o A Ra a A Ae Di | a * AVES EM ESPECIAL 403 ra variam entre quatro e seto. a * CAPTIVEIRO te ponto diremos apenas que todos os esturninhos supportam veiro e são passaros interessantissimos, dos mais dignos de lados. , ve ” A ; f remos duas especies. 2 13 sé: ses ; 3 a 1 DR é CARACTERES mavera O io: adulto é negro com reflexos verdes ou inlotai pennas das azas e da cauda são largamente bordadas de pardo ou i * 404 HISTORIA NATURAL cinzento e algumas das costas apresentam na extremidade uma pe: mancha amarellada. Os olhos são castanhos e os pés trigueiros avi lhados; o bico é negro. No outomno, perto da muda, esta plumagem | versifica. Todas as pennas da nuca, da parte superior das costas e. peito teem a extremidade branca, o que faz parecer o PUSSITO Po n de claro. A femea parece-se muito com o macho; sómente a pluma primavera é mais fortemente pontilhada de branco. | ; Os individuos não adultos são de um pardo trigueiro em : corpo; teem o bico pardo escuro e os pés pardos trigueiros. O esturninho vulgar tem vinte e trez a vinte e quatro cent de comprido e trinta e oito a quarenta e um de envergadura; tem sete a oito. Das dimensões indicadas as menores pertencem DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O esturninho vulgar habita toda a Europa e encontra-se ta Africa septentrional. Entre nós é muito commum. COSTUMES Sendo os costumes desta especie inteiramente semelhantes que vamos mencionar, reservaremos o estudo d'este ponto para conjunctamente com o qo costumes do dg que em seg tamos. O ESTURNINHO PRETO wnicolore, tomada ao nome latino de Sturnus unicolor. AVES EM ESPECIAL 405 — CARACTERES do pescoço e do peito que são mais compridas e estreitas, na côr da plumagem que é de ardozia escura, desprovida de dividuos não adultos assemelham-se muito aos esturninhos vul- novos. sa preto é um pouco maior que a e nene vulgar. Brehm DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA rninho encontra-se na Hespanha, no sul da Italia, na Sardenha, | e n'uma grande parte da Asia. tambem commum em Portugal onde se associa ao esturninho COSTUMES tes de uma especie unica, sendo as differenças de plumagem effeitos accidentaes de influencias climatericas. ecem procuram as planícies, sobretudo as que são atravessadas por 8 d'agua. Gostam tanto dos terrenos humidos que nunca deixam de tenção dE viagem. Os emigrantes voltam aos paízes do norte desde que suppõem encontrar ahi novamente uma alimentação abundante, isto é um uco antes do desgêlo. “Os esturninhos são passaros extremamente vivos € alegres. Cantam 406 HISTORIA NATURAL empoleirados nos ramos mais elevados das arvores e vivem em movi- mento constante; nada ha que lhes perturbe a natural bonhomia. O canto d'estes passaros não é agradavel; contém mesmo notas rou- cas, desharmoniosas. Comtudo possuem com um certo desenvolvimento a faculdade de imitar os gritos dos outros passaros, o que notavelmente contribue para serem estimados. Todos os gritos d'aves; todos os sons que ouvem na região que habitam se lhes gravam na memoria. É assim que reproduzem uma parte das canções. de todos os pequenos passaros, - ego et, o pio da pega, o cacarejar da gallinha e até o ruido dos moinhos ou om e tros sons produzidos por seres inorganicos. o Os esturninhos principiam a cantar desde a madrugada; calam-se Ê depois emquanto procuram alimentos, recomeçando o concerto matinal interrompido ao fim da tarde. A quadra dos amores principia para estes passaros com o mez de Março. Este periodo é de uma grande excitação e de uma grande activi- dade para os machos que por todas as formas possiveis tentam e procu- ram encantar as femeas. Os ninhos estabelecem-se sempre em cavidades, cuja posse não pou- cas vezes é obtida à custa de combates porfiados. Os ninhos são de uma estructura informe, descurada: são formados de palha e de nervuras de hervas e interiormente alcatifados de pennas de pato, de gallinha ou de qualquer outra ave de grandes proporções. Se não encontram estas pen- nas, os esturninhos contentam-se com os musgos e os lichens. No fim de Abril realisa-se a primeira postura, de cinco a seis ovos grandes, alongados, de um azul claro, de casca brilhante, mas um pouco rugosa. Só a femea choca. Desde que os filhos nascem, macho e femea E dão-se egualmente o encargo de os alimentar. Occupados então na sua grave tarefa paternal, os machos só se fazem ouvir ao fim da tarde. Os filhos não gastam de ordinario mais que trez ou quatro dias em aprenderem a provêr, sem auxilio, às proprias necessidades. Uma vez de- corrido este pequeno periodo, juntam-se todos, formando bandos nume- rosissimos que percorrem em todas as direcções a região habitada. As femeas realisam uma segunda postura, depois do que machos e femeas com a nova progenie se vão juntar à antiga, tornando assim mais numerosos os bandos formados. A partir de então os esturninhos deixam de passar as noites nos seus ninhos para as passarem nas florestas e mais tarde, nos cannaviaes à beira d'agua. «De muitas leguas em re- dondo, diz Lenz, vêem-se chegar + a estes logares, juntando-se para ahi passarem a nite: » No fim de Setembro, os velhos esturninhos voltam aos ninhos e re- começam a vida e habitos da primavera, como se 0 inverno não estivesse imminente; nos paizes do norte não se demoram senão até Outubro, se AVES EM ESPECIAL 407 a) ja affirma ter no seu jardim quarenta e dois ninhos artificiaes para “os esti ri hos. Assim consegue ter as plantações ao abrigo de toda a or- ea mimalculos que as costumam prejudicar. O Estes bas artificiaes a que se refere Lenz consistem em buracos cinco a seis centimetros de abertura praticados nas arvores, ou ainda “og caixas de abertura egual, suspensas dos ramos e alcatifa- com pennas, Já, musgos ou outras quaesquer substancias molles. se dar uma iéa de quanto os esturninhos gostam d'estes ninhos ados pelo homem, quanto se deixam attrair por elles, basta dizer que às cercanias de Gotha foram por este systema chamados alguns mi- desses passaros no curto espaço de um anno. À fabricação de Lenz e Brehm aconselham vivamente o uso d'este meio, attenta a impor- tancia e a utilidade incontestaveis dos esturninhos. No dizer do ultimo — destes naturalistas, é um bello espectaculo o que nos offerecem os estur- “ninhos quando procuram alimentos. Dotados de uma sagacidade enorme e extremamente activos, não deixam passar desapercebido o mais insi- - gnificante verme, o mais pequeno insecto; remexem tudo, tudo inspeccio- nam. O que hoje lhes escapa, não lhes escapará ámanhã. 408 HISTORIA NATURAL INIMIGOS Os mais terriveis são os mamiferos carniceiros e as aves de rapina, especialmente os gaviões e milhafres. Felizmente os esturninhos repro- duzem-se muito rapidamente. Além d'isso, são dotados de uma grande prudencia; juntam-se com as gralhas e aproveitam-se da vigilancia d'es-- ed Nao. tas aves para fugirem às de rapina. go Pis. A O homem não é inimigo dos esturninhos; não lhes faz uma caça re- + a gular e limita-se apenas a preparar-lhe n'algumas regiões armadilhas, + para os captivar. Em summa, pouco mal lhes faz. CAPTIVEIRO Os esturninhos dão-se bem em captiveiro e domesticam-se rapida- mente, mesmo quando apanhados depois de adultos. Em domesticidade apresentam mesmo, no dizer de Naumann, algumas qualidades boas que em liberdade não denunciam. O entendimento desenvolve-se-lhes a ponto. que chegam a perceber as palavras e os gestos do dono, a reconhecer pela simples maneira de olhar se elle está contente ou mal disposto. Incommodam os companheiros de prisão, não por maldade, mas porque são extremamente curiosos e não podem viver senão em movi- mento constante. Comtudo dão provas de um comportamento muito irre- , gular em relação aos passaros cantores, cujos ninhos e ovos destroem. Os esturninhos captivos reclamam uma gaiola muito espaçosa. A principal qualidade que torna estes passaros estimados é a facili- dade com que se educam. Aprendem rapidamente as canções dos outros passaros e as arias que junto d'elles se assobiam; aprendem mesmo a repetir palavras e pequenas phrases. São muito aceiados; banham-se com prazer mesmo no rigor do in- verno. Bem tratados duram muito tempo em captiveiro. AVES EM ESPECIAL 409 O ROLLIEIRO CARACTERES ESPECIFICOS "w DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA it bo assaro, que é o typo representante do genero, habita a Eu- gal não é raro. COSTUMES rollieiro é um passaro de emigração. | muito pouco sociavel: vive em luctas continuadas com os seus s constituem para elle, segundo afirmações de muitos naturalistas, erdadeiro manjar. “Para matar os animaes de que se alimenta, o rollieiro emprega um ainda conserva lan restos de vidi no momento de cair no . ] rollieiro projecta-o mais uma vez vigorosamente no chão; não in presa senão depois de estar bem certo que lhe não resta o mais indicio de vida. Por este procedimento affasta-se a ng de outros passaros insectivoros. a O canto d'este passaro compõe-se apenas de alguns eribdd desagradaveis que, de resto, solta com insistencia sómente em c femea choca ou na quadra de maior ardor genesico. | O rollieiro nidifica nos troncos occos das arvores ou nas ; paredes. Na formação do ninho emprega raizes seccas, rastolh h e pêllos. A femea põe quatro a seis ovos, de côr branca. o CAPTIVEIRO | nem eihios à perda de liberdade. mero UTILIDADE “AVES EM ESPECIAL 414 OS GATOS rd que passamos a descrever. > O GAIO “deu a esta especie o nome de Garrulus glandarius. Os fran- rvaram a denominação de glandivoro, tirada do genero de jo que caracterisa o passaro. Nós, porque o passaro em ques- Europa, segundo se crê, a especie unica do genero Garrulas, s de qualquer adjectivação inutil. CARACTERES * larga, que desce da região facial, a cabeça na sua parte superior la longitudinalmente de branco e de negro, as remiges pretas, 4192 HISTORIA NATURAL O comprimento total do passaro é de trinta e seis centimetros e a envergadura de cincoenta e cinco. A femea tem approximadamente a mesma plumagem que o macho, mas é um pouco mais pequena. Os individuos não adultos offerecem côres menos brilhantes. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Exceptuando o extremo norte, o gaio habita todas as florestas da Europa, da Asia central e do noroeste da Africa. Em Portugal esta especie é muito commum. COSTUMES O gaio frequenta os campos arborisados, os bosques, as orlas das florestas e principalmente os carvalhaes. Na primavera isola-se em pares ou casaes; no resto do anno vive em familias ou pequenos bandos er- rantes. O gaio é um passaro vivo, sempre em movimento e muito astuto. Quando folga, toma posições singularissimas e imita vozes diferentes. Nos ramos das arvores é muito agil, em terra anda bem, mas no ar é pesado e não se abalança a percorrer, voando, grandes distancias. Quando atravessa um logar descoberto, pousa em todas as arvores que encontra, como se receiasse o attaque das aves de rapina. Este receio constitue, diz Naumann, uma particularidade caracteristica nos habitos d'este pas- saro. | | O gaio possue em alto grao o talento de imitação. Reproduz a voz de muitos passaros, imita o miar do gato, apropria-se de todos os sons que ouve. O canto do galo e o cacarejar da gallinha são sons que muito vulgarmente imita. Reproduzindo cantos muito differentes e fazendo-o até tarde, por isso que no outomno ainda se deixa ouvir, o gaio é um passaro perfei- tamente delicioso. Infelizmente possue algumas qualidades pouco recom- mendaveis, pouco sympathicas. É o mais terrivel e cruel destruidor de ninhos que se conhece nas florestas. Esta qualidade torna-o antipathico a muita gente. O gaio é um passaro omnivoro. Desde os ratos e os passaros im- plumes até aos mais insignificantes insectos, nenhum animal lhe escapa; ] b H “AVES EM ESPECIAL 413 | tambem dos vegetaes, nomeadamente dos fructos. Durante o ou- o alimenta-se semanas inteiras de landes, de fructos da faia e de s. Engole as landes inteiras, amollece-as no papo, regorgita-as e só as fende com o bico. A quadra dos amores principia para o gaio com a primavera. No de Março construe o ninho; as posturas realisam-se no começo de O ninho, collocado ora sobre um ramo perto do tronco, ora n'um amos mais distanciados d'esta parte da arvore e mais altos, não ordinario muito acima do solo. O ninho não é muito grande; o “é formado de ramos finos e seccos e de hervas seccas tambem interior alcatifado de raizes muito delgadas. Os ovos postos são cinco » de um branco amarellado sujo ou de um branco esverdeado, ditos trigueiros ordinariamente dispostos em circulo na grossa ex- ade. A incubação dura dezeseis dias. Os paes dão aos filhos, pri- “larvas de insectos e vermes, mais tarde, pequenos passaros. Nas | em que o não perturbam, o gaio nidifica uma só vez por anno. INIMIGOS milhatre e o gavião são os inimigos mais terríveis do gaio. A destas aves domina-o e vence-o muito facilmente, a segunda só & um combate porfiado. «Muitas vezes apanhei, diz Brehm, gaios que se haviam ferido à unhada e à bicada e caído a terra pre- ao outro.» ! A marta destroe-lhe os ninhos; e nas planicies tas é muitas vezes apanhado pelo falcão. Entre os inimigos no- S da especie contam-se o gato e o hibu. CAÇA ló inio raro Astra em armadilhas; os que se vêem captivos são na maior Re apanhados ainda dentro do ninho. E posses E bes - Bi, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 317. es ps ns HISTORIA NATURAL CAPTIVEIRO Reduzido ao captiveiro depois de adulto, o gaio nada offerece de aprazivel; não se domestica, não se habitua ao novo regime. Pelo con- trario, apanhado ainda novo, do ninho, torna-se agradavel, domestica-se bem e faz-se estimar pelo desenvolvimento da faculdade de imitação. Ensi- na-se-lhe a assobiar algumas arias e mesmo a pronunciar algumas pala- vras. É preciso não collocar o gaio junto a outras aves, porque é de uma ferocidade excessiva. UTILIDADE ke AA É util ou prejudicial este passaro? Tem-se respondido diferente. mente. Lenz considera o gaio um passaro muito util e fundamenta esta . asserção no facto de ser elle um inimigo declarado dos insectos, dos ver- mes, e das viboras. » Trinthammer e Homeyer, pelo contrario, consideram o gaio nocivo. “= O primeiro escreve: «Que faz este cavalleiro errante, este refalsado, du- — rante toda a quadra dos amores? Vôa de arvore em arvore, de mouta | em mouta, destruindo os ninhos, bebendo os ovos, devorando as aves. implumes. O gavião e os picanços são tambem crueis assassinos; nenhum d'elles porém, causa tanto mal aos cantores allados da floresta como q gaio.» Em face d'estas citações e dos factos que ellas apontam, como resol- veremos a interrogação acima feita? Ainda uma vez —É util ou prejudi- cial o gaio? Comparando os beneficios que produz e Lenz menciona com os estragos de que é auctor e que Trinthammer aponta, é impossivel dei- xar de responder: o gaio é um passaro nocivo. Os estragos que produz são reaes, ao passo que os beneficios que lhe imputam são illusorios. Com effeito, os vermes e insectos que elle destroe são destruídos tambem | e em maior escala por muitas especies de passaros a que elle faz uma guerra desapiedada. Assim os insectos e vermes que destroe representam uma vantagem puramente negativa, porque elles seriam destruidos em maior numero se na lucta pela existencia o gaio não perseguisse as nu- merosas especies que d'elles se alimentam. «Embora goste muito de vêr, diz Brehm, um gaio na floresta, partilho inteiramente as opiniões de Trinthammer; acrescentarei que, quaesquer que sejam os serviços pres- AVES EM ESPECIAL “415 * K “gaio, o tartaranhão os presta maiores, 8 sem bão prejudi- da pequenos passaros.» t “CARACTERES | vulgar tem a cabeça, o pescoço, as costas, a quasi totalidade . penas subcaudaes e as pesiar de um negro profundo, com s das remiges primaRin a de infarior do peito e do um co puro, as azas e a cauda negras com reflexos ver- violetas, a iris côr de castanha, o bico e os pés negros. 416 | HISTORIA NATURAL Esta especie mede cincoenta centimetros de comprido e sessenta de envergadura; a cauda tem vinte e oito. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A pega vulgar encontra-se em toda a Europa, n'uma grande parte do norte da Asia, no Thibet e ao norte d'Africa. Em Portugal esta especie é frequentissima. COSTUMES A pega vulgar evita as montanhas elevadas, as planícies descober- tas e as grandes florestas. Habita os pequenos bosques no meio dos cam- pos, a orla das florestas e os jardins. Dá-se bem com o homem e nos lo- gares em que a não perseguem adquire uma grande confiança na nossa especie, torna-se mesmo impudente. Na Escandinavia, por exemplo, onde é quasi considerada uma ave sagrada, escolhe domicilio não só nos jar- dins mas ainda nos pateos das casas e faz ninho nos telhados. É um passaro sedentario; tem dominios limitados que nunca aban- dona, a não ser nos invernos rigorosos, distanciando-se ainda assim muito pouco. Caminha ora pausadamente, gravemente, balançando o corpo, ora por pequenos saltos obliquos, agitando continuamente a cauda. O vôo é pesado, faz-se por movimentos multiplos e irregulares das azas e quando o vento é muito, torna-se vagaroso e incerto. De resto, a pega commum não vôa espontaneamente, mas só quando a isso é forçada. Vae de arvore a arvore, de bosque a bosque, mas sempre com um fim predeterminado. Os sentidos da pega são delicados e a intelligencia é bastante des- envolvida. Ella distingue perfeitamente o caçador do homem inoffensivo que passa. Em face do primeiro conserva-se sempre precavida; em face do segundo é atrevida e impudente. É sociavel: vive não só com as suas congéneres, mas ainda com as gralhas e outros passaros. Não chega porém a constituir bandos numero- sos; vive. apenas em familias. A voz da pega é rouca e consiste n'um pequeno numero de syllabas emittidas em tons differentes, conforme o sentimento que o passaro quer exprimir; na quadra dos amores a pega repete essas syllabas com uma insistencia que incommoda,. AVES EM ESPECIAL | 417 Ds, pequenos vertebrados, fructos e grãos. Na primavera é perigosa, e destroe desapiedadamente os ninhos das aves indefezas. Attaca | mo de surpreza aves adultas, como faz notar Naumann. ê A o aninha nas arvores elevadas, de ordinario nos ramos mais flexiveis e despojos vegetaes; a abertura é praticada lateral- yr forma que durante a incubação a femea fica protegida contra ues, que poderiam vir-lhe d'alto. A pega principia o trabalho de ção em Fevereiro. Veillot e Nordmann observaram que a pega » muitos ninhos simultaneamente, aperfeiçoando porém um só, são depositados os ovos. Este facto só por si inculca a existencia ssaro de muita inteligencia e astucia. postura é de trez a seis ovos, algumas vezes de sete ou mesmo , oblongos, de um esverdeado sujo, mais ou menos claro, com | côr de azeitona ou trigueiras. A incubação dura trez semanas. es alimentam os filhos de insectos, vermes, molluscos e pequenos rados. Dedicam-lhes o maximo desvello e nunca os abandonam. ig ter visto uma femea. ferida por um tiro continuar a chocar. CAPTIVEIRO E isionos diferentes e a repetir algumas palavras. Ha o preconceito de VOL. IV 27 418 : HISTORIA NATURAL que da pega se não obtem este resultado sem que se lhe corte a trave, isto é o freio lingual; é absurdo um tal uso, uma tal mutilação. Uma qualidade existe que torna a pega antipathica em captiveiro: o leitor prevê que me refiro ao habito que ella possue de esconder todos os pequenos objectos brilhantes, taes como anneis, moedas d'ouro e prata, correntes, etc. “O RABILONGO Esta especie que os francezes denominam pega azul pertence ao ge- nero Cyanopica, cujos indivíduos differem da pega vulgar apenas pela côr. CARACTERES O rabilongo é um dos passaros mais formosos da Europa. Tem a ca- beça e a parte superior da nuca negras avelludadas, as costas trigueiras claras, a garganta pardacenta clara, o ventre pardo aloirado, as azas é a cauda azues claras, os olhos côr de café com leite e o bico e pés negros. Mede trinta e sete a trinta e nove centimetros de comprido e qua- renta e quatro a quarenta e seis de envergadura; a cauda tem nada me- nos de trinta centimetros de comprimento. A femea é um pouco mais pequena que o macho. Nos individuos não adultos o negro da cabeça e o azul das azas e da cauda são menos pronunciados que nos adultos; além d'isso, a côr do ventre é mais fusca e as azas apresentam duas raias pouco pronun- ciadas. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA tral e meridional. Onde os carvalhos faltam ou não apparece ou apparece O rabilongo encontra-se em todos os carvalhaes da Hespanha cen- | ” am Ku La a ad - AVES EM ESPECIAL 449 s de longe em longe e isolado. Encontra-se tambem a noroeste 1, nomeadamente em Marrocos. « COSTUMES o a pega vulgar; é como ella prudente e ardiloso. do o perseguem, o rabilongo “comporta- se quasi como o gaio: darvore em arvore, sem se esconder, mas tambem sem se deixar car. Por isso a-caça 6 dificil. | bilongo É diz Brehm, tem alguma a de caprichoso em dado er. Nose conserva um momento em ea Quando um bando nos seccos e internamente de ramos a cssrinia de iiscrê hervas de especies differentes. O ninho. é ertaanto em arvores O procura de preferencia. Na mesma arvore enc ontram-se muitos , O que revela que mesmo na e dos Tg o rabilongo obe- “aos instinctos de sociabilidade. ça ras : entando A iculas escuras € pontos côr de azeitona dispostos iba e em torno da grossa extremidade. a Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 318. HISTORIA NATURAL. INIMIGOS +“ a São precisamente os mesmos da especie anteriormente d des pega vulgar. “CAPTIVEIRO du? O CORVO COMMUM | Tem o corpo nado as azas compridas e ponipagddo terceira penna a mais extensa, a cauda de comprimento regular, cada dos lados, as pennas abundantes e lusidias. A plumagem AVES EM ESPECIAL 4921 viduos novos que já voam e pardos nos que ainda não sabem voar. “Mede approximadamente sessenta e seis centimetros de comprido DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA “todas as especies, é esta a mais espalhada. Habita toda a Europa. 1-se tambem n'uma grande parte da Asia e talvez na America do COSTUMES SA fe e corvo commum evita de ordinario o homem; por isso só se en- “domicilio com muito tino. Habitando um largo demihio: procura do os logares accidentados; prefere as regiões em que alternam s, florestas, prados e cursos d'agua, porque ahi encontra alimen- | abundancia. À beira-mar e as montanhas das regiões meridionaes zem a todas as condições que elle pode desejar; ahi se encontra o D, não isolado como nos prados, mas em bandos. “De ordinario o corvo vive aos pares ou casaes. À união conjugal, não morre o macho ou a femea, é uma só para toda a vida. Quando “não encontra a grande distancia. Os individuos que se encontram solita- “rios são passaros não adultos que ainda não entraram em relações se- — Ocorvo vôa de ordinario em linha recta ou descreve largos circulos 6 paira sem esforço. Faz muitas vezes grandes excursões aerias por pra- - das aves de rapina e reconhece-se a grande distancia. - Marchando, o corvo affecta uma dignidade que provoca o riso. Ergue a parte anterior do corpo, baixa um pouco a cabeça e balança-se para os “lados. Quando se empoleira conserva o corpo ora levantado, ora horison- tal. Só excitado, eriça as pennas da cabeça e do pescoço. 499 a HISTORIA NATURAL O corvo commum é um passaro muito desconfiado, muito prudente. Não pousa senão depois de ter minuciosamente observado o que se passa em volta de si. Se alguma coisa de suspeito lhe impressiona a vista ou o olfato continua voando sempre. Se um homem se lhe approxima do ni- nho, foge, abandonando a prole e não volta senão passado muito tempo, quando todo o perigo deve ter cessado. A voz nada possue de attrahente; comtudo no tempo do cio a do macho é variada, mais variada que a da pega. O corvo commum é omnivoro. No seu regime alimentar entram subs- tancias vegetaes de toda a ordem e tambem uma grande variedade de substancias animaes. Não destroe só insectos, vermes, caracoes e peque- nos passaros, mas ainda mamiferos e aves de dimensões superiores às suas. Destroe desapiedadamente os ninhos dos passaros indefezos. Desde a lebre até ao rato, desde o. frango até ao passaro mais pe- - queno, diz Brehm, nenhum animal lhe- escapa, nenhum diante d'elle pode, julgar-se seguro. O corvo reune a astucia, a força e a agilidade; é pois um adversario temivel. Elle disputa os alimentos aos cães, aos ga- tos e às aves de rapina. Olafsen escreve: «Quando uma aguia. passa. voando, os corvos que a vêem juntam-se o para a seguirem. Desde | ” que êlla pousa, collocam-se a alguns passos de distancia, dispondo-se em a circulo e muitas vezes tiram partido da vista prespicaz d'essa ave a que nada escapa. Se a aguia descobre um cavallo morto ou qualquer outro - cadaver, os corvos collocam-se ao lado dºella, sem comtudo se approxi- marem de mais.» * Como se vê, os corvos representam em relação às aguias aquelle papel parasitario e mendicante que em relação aos tigres e leões representam as hyenas. O corvo leva o atrevimento, a audacia até ao ponto de attacar os cavallos feridos, arrancando-lhes pedaços de carne. Quando as cabras es- tão para parir é necessaria uma vigilancia extrema, porque o corvo es- preita o momento do parto para comer os recemnascidos; devora-lhes * os olhos mal elles apontam fóra do ventre materno. Quando o inverno se prolonga de mais, o corvo chega a, devorar os proprios ovos. Sono tam- bem os filhos e os companheiros mortos. Os instinctos carniceiros do corvo e a sua predilecção pelas carnes mortas são às vezes aproveitados; os caçadores suissos, segundo Tschudi, guiam-se por este passaro para encontrarem a camurça que mataram ou feriram. Faber diz que o corvo leva até grandes alturas os molluscos de casca muito dura e, deixando-os cair sobre um rochedo, consegue par- til-os. Tambem dá caça aos crustaceos, aos quaes sabe perfeitamente ar- 1 Olafsen, Voyage en Island, vol. 1.º, pg. 118. AVES EM ESPECIAL “o 423 “rancar da couraça protectora. Attaca os grandes animaes, umas vezes “astuciosamente, outras abertamente, francamente. Assim faz não raro às lebres. Quando o alimento que encontrou é em abundancia, ou chama os companheiros para participarem do festim ou, como o rapozo, enterra uma parte, que mais tarde lhe será util. Quando se trata de perseguir um animal que foge ou que pode offerecer resistencia, como a lebre, o corvo reclama o concurso dos companheiros. As relações sexuaes tem logar em Janeiro; o ninho é construido em Fevereiro e a postura realisa-se em Março. O ninho é sempre estabele- cido ou sobre um rochedo ou sobre uma arvore muita elevada a que seja dificil subir. O ninho é grande: tem trinta centimetros de altura e ses- “senta a um metro de diametro. Exteriormente é formado de ramos muito fortes, d'outros mais finos, e de filamentos de casca; O interior que re- presenta um hemispherio de vinte e dois a vinte e cinco centimetros de diametro e de onze a quatorze de profundidade, é forrado de lichens, de hervas e lã. O ninho, com ligeiras reparações, serve muitos annos consecutivos. “Cada postura é de quatro a cinco ovos, grandes, esverdeados' é cobertos code manchas trigueiras e pardas. Só a femea choca regularmente; com- Ê tudo, se precisa de procurar alimentos, o macho substitue-a n “aquela ta- " refa. Os paes alimentam os filhos com vermes, insectos, ratos, aves, OVOS e carnes mortas; mas, observa Brehm, por mais abundantes que sejam os alimentos, os filhos não se dão nunca por saciados, gritam constante- mente com fome. A voracidade do corvo data pois dos primeiros annos - de existencia. | DR Se o tempo corre favoravel, os novos seres principiam a voar no fim de Maio ou começos de Junho. Comtudo ainda por muito tempo se conservam nas visinhanças do ninho a que vão dormir. Só no outomno se tornam inteiramente independentes. CAPTIVEIRO Apanhado do ninho, o corvo commum domestica-se muito facilmente. Mesmo depois de adulto habitua-se à perda de liberdade. Este passaro é susceptivel de uma educação muito completa. No pa- teo de uma casa pode desempenhar um papel analogo ao do cão: denun- cia ao dono quem entra, e attaca mesmo as pessoas suspeitas. Aprende facilmente toda a sorte de exercicios, que executa de um modo inteira- mente comico, divertido. Habitua-se facilmente à companhia dos cães, treitos de arinaditos cá Aprende a dizer AVES palavras, a ladrar como o o, rir como o homem. Possue comtudo qualidades que o PR muitas vezes ar Tem o costume, peculiar à pega, de esconder os pequenos e: ' encontra ao seu alcance. Mas, o que é peor, mata os pintainhos, quenos patos e chega a tornar-se perigoso nas casas em que ha c UTILIDADE Os serviços que o corvo em liberdade nos presta, destruin: “animaes nocivos, são inteiramente diminuídos, desvanecidos e mesmo, pelos estragos que produz. «Admira, diz Brehm, que 3 vos tenham estimado e honrado este passaro.» ! E comtudo as arabes, os irlandezes e os groelandezes consideram muito o | arabes chegam a consideral-o um passaro sagrado. ER “O CORVO DE PESCOÇO BRANCO Pertence ao grupo de passaros que os francezes chamam « abutres. CARACTERES O macho tem a plumagem de um negro lusidio com uma a ga cha sobre a nuca e outra branca tambem no io o bico g 1 Brehm, Loc. cit., vol. 3.º, pg. 288. AVES EM ESPECIAL 425 e os pés negros. pa apresenta a mancha da nuca menos extensa. COSTUMES CARACTERES “an é de um azul escuro com rellexos de purpura aos lados da di precedente. te passaro mede um metro, € cinco centimetros de comprimento, te emiiilen preto, de extremidade crie Si os olhos castanhos 426 ; HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHIGA Habita a Abyssinia, conservando-se ahi n'uma zona elevada de mil e seiscentos metros acima do nivel do mar. COSTUMES Esta especie, como a precedente, alimenta-se de vermes e de inse- ctos. Mas, segundo Le Vaillant, não se limita a isto o regime dos corvos- abutres. Elles estimam tambem as carnes em putrefacção e muitas vezes reunem-se em bandos, attacando os carneiros novos e as gazellas, que matam e devoram principiando pelos olhos e pela lingua. Perseguem tam- bem os bois, os cavallos, os bufalos, os rhinocerontes e os elephantes, pousando sobre o dorso d'estes quadrupedes, mergulhando o bico nas feridas abertas d'estes animaes e arrancando d'ahi larvas de insectos. Estes passaros são vorazes e atrevidos. São tambem sociaveis, como o demonstra a vida em commum que passam, os bandos que formam. Nidificam em Outubro. O ninho é grande, formado exteriormente de pequenos ramos e internamente alcatifado de substancias molles. Os ovos, em numero de quatro por cada postura, são esverdeados e manchados de trigueiro. AS GRALHAS As gralhas distinguem-se dos corvos pelo bico que é mais pequeno, pela cauda que é arredondada, não truncada, emfim pela plumagem que é pouco brilhante. a AVES EM ESPECIAL ; 427 s nOS primeiros tempos de existencia. enta e nove a cincoenta e dois centimetros de comprido e o a cento e dez de envergadura; a cauda tem dezenove a COSTUMES "emos este ponto, descrevendo a especie seguinte, porque o mos de dizer a este proposito applica-se egualmente às duas. no ha a estabelecer relativamente à caça e ao captiveiro; são VA À GRALHA CINZENTA it Eid a Esta e tem a cabeça, a parte anterior do pescoço, as azas e à e ion 0 resto do corpo é cinzento claro. E, a 428 - HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Como a gralha negra, a gralha cinzenta habita a Ásia e a Europa. COSTUMES DAS DUAS ESPECIES As especies precedentemente estudadas nos seus caracteres e dis- tribuição geographica, vivem aos pares e habitam um dominio mais ou menos extenso de que muito raras vezes se affastam. Os individuos po- rém que habitam o norte, quando o inverno é muito rigoroso emigram + para o sul. Evitam as grandes florestas, estabelecendo-se onde quer que se sin- tam em segurança, mesmo nos jardins no meio das cidades; todavia pre z ferem os pequenos bosques no meio das planicies. Nestas especies o instincto de sociabilidade é muito desenvolvido; são egualmente desenvolvidas as faculdades de intelligencia, o que lhes dá no quadro ornithologico um papel importante. Marchando, estes passaros vacillam um pouco, mas andam com faci- e = lidade relativa; o vôo é leve e sustentado por muito tempo. o olfato. Estes passaros não são perigosos senão para os animaes de pequi: nas dimensões. As gralhas negras e cinzentas juntam-se de madrugada n'uma arvore. ou sobre um telhado; d'ahi partem à procura de alimento, percorrendo os campos e os prados. Ao meio dia repousam sobre uma arvore copada; depois fazem um novo repasto e ao caír da tarde tornam a reunir-se n'um logar qualquer d'onde partem para o ponto em que teem de passar a noite. Quando se reunem, voam sempre o mais silenciosamente possi- vel; e de ordinario vão algumas adiante, como guardas avançadas, es- piando o que se passa em volta. Esta prudencia natural cresce, augmenta ainda quando teem sido perseguidas. A estação dos amores começa para estas gralhas em Fevereiro ou Março. Os machos procuram encantar as femeas por toda a ordem de movimentos e de seducções. No fim de Março ou começo de Abril cons- truem um ninho novo ou procedem a reparações n'um antigo. O ninho assemelha-se ao do corvo, sendo porém mais pequeno: o seu diametro é, quando muito, de sessenta e seis centimetros e a profundidade de onze. ) qse Os sentidos são muito perfeitos, principalmente o ouvido, a vista e AVES EM ESPECIAL 429 namente é formado de ramos seccos, de cascas e de raizes, muitas vezes reunidas por meio de argilla; o interior é forrado por là, pêllos » veado, sêdas de porco, hervas e musgos. É na primeira metade de que a postura tem logar; os ovos são em numero de trez a cinco, vezes seis, de um azul esverdeado, cobertos de pontos e manchas adas, cinzentas ou de um escuro proximo do negro. Só a femea “entretanto o macho procura-lhe os alimentos. Os paes são extrema- » jaes, assemelhando-se os productos ora ao pae, ora á mãe; “vezes porém, a plumagem dos hybridos é distincta da dos pro- INIMIGOS Eilumerosos parasytas se lhes implantam nas pennas. Os inimigos nocturnos contam-se os gatos e os hibus. UTILIDADE gralhas devem ser contadas em o numero dos passaros uteis. ellas, diz Brehm, os vertebrados nocivos e os insectos que tanto om à agricultura pullulariam bem mais abundantemente do que o fazem. De tempos a tempos, as gralhas roubam um ninho, devo- uma perdiz ou uma lebre doentes: são ellas tambem as auctoras de “estragos feitos nos jardins e pateos das casas. Mas o que vale uma de ovos roubados n'alguns mezes se nos lembrarmos dos immen- serviços que as gralhas nos prestam em todo o resto do anno? Des- “estes passaros é mais do que um erro, é um crime de lesa-natu- aped rela Loo. oit; De: 213. HISTORIA NATURAL 1 saros manifestam pelas aves de rapina nocturnas. O caçador prende destas aves a uma arvore n'um logar frequentado pelas gralhas esconde-se. As gralhas, mal vêem o inimigo preso, cáem sobre então, no meio do combate, que o caçador pode atirar à vontade. — CAPTIVEIRO As gralhas supportam bem o captiveiro. Domesticam-se fa com alguma paciencia é possivel ensinar-lhes a dizer algumas po Todavia estes passaros são pouco recommendaveis em cal são immundos e o cheiro que espalham as suas dijecções é dentro de casa; tambem se não podem deixar livremente | porque causam ahi prejuizos. São ladrões e manifestam-se em relação às pequenas especies captivas ou domesticas. : | A GRALHA CALVA Pertence ao genero Frugilegus de Linneu. Os individuos que + mam teem o bico mais comprido que o das gralhas propriamente d as azas alongadas, a cauda arredondada e a plumagem lusidia. AVES EM ESPECIAL 431 CARACTERES ESPECIFICOS tem vinte e nove centimetros. adultos, macho e femea teem a plumagem de um negro com re- COSTUMES ainda do que as outras, porque vive não só com as suas seme- S, mas ainda com especies differentes. Encontra-se muitas vezes com 1 um Srando medo do corvo commum. El “Imita os sons que ouve, aprende muitas vezes a cantar. — Alimenta-se de caracoes, de lesmas, de vermes, de insectos e de ratos : pequenos. Quando se anda agricultando um campo, a gralha calva segue - o arado e atraz delle vae apanhando vermes e larvas no solo remexido. * Reconhece a presença d'estes animalculos pelo olfato. A caça que faz aos à * pequenos ratos é muito activa. Nos annos em que elles abundam, não se 432 HISTORIA NATURAL mata uma gralha calva que se lhe não encontre no estomago, diz Nau- AR mann, seis ou sete d'estes roedores. us É desagradavel, afirma Brehm, habitar perto do logar em que se tenha estabelecido uma colonia de gralhas calvas, porque na quadra dos Us si amores fazem um ruido perfeitamente insupportavel. Uma mesma arvore pode ser depositaria de quinze ou vinte ninhos. Disputando uns aos ou- tros os materiaes de construcção dos ninhos, estes passaros levantam em torno da arvore um ruido atroador. Depois da postura, quando os filhos nascem, esse ruido augmenta ainda, porque os recemnascidos gritam constantemente por alimentos. E esse ruído que dura desde a madrugada, até ao crepusculo da tarde, cessa apenas de noite. | Cada postura é de quatro a cinco ovos, de um verde pallido, man- chados de cinzento e de castanho escuro. A gralha calva conserva-se sempre fiel ao logar em que uma vez se. estabeleceu. Ainda que lhe roubem os ovos e matem os filhos não aban- dona os seus dominios habituaes. : As gralhas calvas emigram em bandos numerosissimos, que chegam Rr a escurecer 0 ar, como se fossem grandes nuvens. | INIMIGOS O rapozo, o milhafre e o gavião são os principaes inimigos da es- | pecie. CAPTIVEIRO À Re A gralha calva tem em captiveiro os mesmos habitos que as outras gralhas. Comtudo, poucas vezes é aprisionada. UTILIDADE e ya A caça que a gralha calva faz aos vermes, insectos e roedores é das mais activas e dá-lhe o direito de ser incluida no grupo dos passaros uteis. Nos annos em que os ratos agrarios apparecem em grande numero, os campos agricultados tornar-se-hiam improductivos, se a gralha calva e as aves de rapina se não encarregassem de os destruir. AVES EM ESPECIAL 433 CAÇA 2 à rotina, continua-se em quasi toda a parte ontriiodo T 10 passaro. Dos inconvenientes d'esta destruição falla bem tar as gralhas. O exemplo intelinivonto não tem sido seguido: que o espirito de rotina tem de abafar ainda por muito tempo ções ruraes de todos os paizes a voz da experiencia e os dicta- - A CHUCA OU GRALHA DAS TORRES CARACTERES ESPECIFICOS 28 434 HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A chuca ou gralha das torres encontra-se em quasi toda a Europa e n'uma grande parte da Asia. Apparece em Portugal, sendo porém pouco frequente. COSTUMES Como o nome o indica, este passaro habita de preferencia as torres, os edificios elevados, as paredes altas onde, encontra buracos para ani- nhar. Encontra-se tambem nos bosques, em meio dos campos, quando as arvores se acham carcomidas pela acção do tempo e por isso mesmo apropriadas à deposição ou estabelecimento dos ninhos. A gralha das torres é um passaro alegre, vivo, agil e prudente. Anima agradavelmente a região em que uma vez se fixou. É altamente sociavel, forma bandos numerosos e mistura-se com as gralhas, negra e cinzenta, e emprehende com ellas as emigrações de inverno. Para as acompanhar, precisa de retardar o vôo, que é habitualmente mais rapido que o d'ellas. O regime alimentar d'este passaro é o mesmo que o da gralha calva. Come caracoes, insectos e vermes de toda a ordem, assim como ovos, pequenos passaros e ratos. Come tambem substancias vegetaes, grãos, tuberculos, fructos, etc. Abandona os paizes do norte no outomno, ao mesmo tempo que as gralhas calvas, e volta com ellas. Na primavera cada casal toma posse da sua antiga moradia. Alguns vivem em companhia das gralhas calvas; a maioria porém, habitam os velhos edifícios. Mette-se um casal em cada buraco; ás vezes ha dispu- tas gravissimas, porque os buracos são em menor numero que os casaes que pretendem occupal-os. A forma do ninho varia segundo as localidades; de ordinario é um montão grosseiro de palhas e de ramos, interiormente forrado de pennas e de pêllos. Cada postura é de quatro a seis ovos, de um verde azulado muito esmaecido, pontuados de negro. Os paes tratam os filhos com extrema solicitude, dando-lhes ao principio insectos e vermes. Em caso de perigo, sabem defendel-os com coragem. AVES EM ESPECIAL | 435 INIMIGOS “gatos, as martas, os gaviões e milhafres são os mais terriveis s da chuca ou gralha das torres. Os primeiros destroem-lhe os ni- CAPTIVEIRO iai +. a-se admiravelmente, melhor mesmo do que qualquer das espe- z descriptas, à vida do captiveiro. A alegria, a agilidade, a affei- “dedica às pessoas que o cuidam, o talento de imitação que pos- do contribue para tornal-o estimado, para attrair sobre elle a ami- ando se apanha ainda novo, é possivel deixal-o percorrer livre- a casa. Quando mesmo chegue a sair no outomno em companhia neres livres, é certo que volta a casa na primavera seguinte. o UTILIDADE guns estragos que a gralha das torres produz, invadindo os poma- ibando fructos, são largamente compensados pelos beneficios que , fazendo uma guerra constante e desapiedada aos insectos, e roedores. «Os estragos que produz não podem comparar-se, hm, aos enormes serviços que nos presta.» ! 436 HISTORIA NATURAL A GRALHA DE BICO VERMELHO Pertence ao genero Fregilus. Os passaros que formam este grupo € que os francezes denominam vulgarmente corvos das montanhas, teem azas compridas, cauda curta, bico fraco, ponteagudo, de côr viva e a plu- magem de um negro brilhante. CARACTERES ESPECIFICOS A gralha de bico vermelho (Fregilus gracwlus de Linneu) tem o bico alongado, fino, recurvo, vermelho coral, os pés d'esta mesma côr, Os olhos castanhos e a plumagem de um azul escuro brilhante. A especie mede quarenta e um centimetros de comprido e oitenta e cinco de envergadura; a cauda tem quinze. A femea é um pouco menor. Os individuos não adultos teem a plumagem menos brilhante, o bico e os pés escuros. Só algum tempo depois que principiam a voar, é que fazem a primeira muda e se tornam precisamente semelhantes aos paes. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Este passaro habita os Alpes, os Carpathos, os Balkans, os Pyreneus, quasi todas as montanhas de Hespanha, uma parte das montanhas da Escossia e todas as montanhas da Ásia, desde os Uraes e o Caucaso até à China. Não é muito raro em Portugal. COSTUMES A gralha de bico vermelho estabelece-se a alturas que variam se- gundo as regiões habitadas. Assim, ao passo que na Suissa não se fixa senão a alturas enormes, immediatamente abaixo da zona das neves, em AVES EM ESPECIAL 437 Hespanha encontra-se já a trezentos ou mesmo a duzentos metros acima do nivel do mar. | Nos paizes do norte, este passaro faz emigrações para o sul em ban- dos de quarenta a sessenta individuos. Nos paizes do sul é sedentario; - quando muito, no rigor do inverno abandona as montanhas e desce aos “valles. A “Segundo Brehm, este passaro vôa com mais facilidade ainda e com E “mais elegancia do que a especie precedente; é tambem mais prudente “do que ella. - De manhã cedo principia a voar em procura de alimentos; ás nove IS, pouco mais ou menos, bebe e repousa um pouco para recomeçar à. extenso e recurvo como é. Epá - O periodo da excitação amorosa começa com a primavera. Não en- | “ contramos indicações sobre a forma e estructura do ninho, o que indubi- E “tavelmente é motivado pelo facto de o estabelecer o passaro nas fendas “dos rochedos mais inaccessiveis. A postura realisa-se em Maio e o nu- — mero d'ovos, ao que dizem alguns naturalistas, é de trez a cinco ; esses — Ovos são quasi brancos ou amarellos sujos e pontuados de trigueiro claro. - Segundo Tschudi, a femea choca por espaço de dezoito dias. Schinz crê - Que a gralha de bico vermelho aninha uma vez só por anno. 4 Este passaro é extremamente sociavel, até mesmo na quadra do cio; “em caso de perigo todos os membros de um bando se prestam auxilio. | abre diz Brehm, com um tiro a aza de uma gralha de bico verme- lho e perdi-a de vista. Oito dias depois encontrei-a; a fenda do rochedo - em que se recolhera, era continuamente visitada pelos companheiros que - sem duvida lhe traziam alimentos.» ! 1 Brehm, Loc. cit., pg. 218. 438 HISTORIA NATURAL CAPTIVEIRO A gralha de bico vermelho é considerada um passaro interessantis- simo em captiveiro. Schinz elogia muito um individuo que possuiu; outros naturalistas dizem o mesmo que Schinz. Este passaro comporta-se muito bem nos jardins; produz mesmo ahi serviços importantes. Em casa porém, torna-se enfadonho pela circums- tancia de esconder todos os pequenos objectos brilhantes que encontra ao seu alcance; n'uma palavra, possue, como a pega, a paixão intolera- vel do roubo. Possue ainda uma outra qualidade que o torna antipathico dentro de uma habitação: solta a cada momento gritos desagradaveis, estridentes. A gralha de bico vermelho chega a affeiçoar-se tanto ao dono e a conhecer tanto a casa d'este, que pode deixar-se voar em plena liber- dade, na certeza de que não fugirá. Brehm viu na Belgica um individuo n'estas condições e refere que um seu irmão, tambem naturalista, vira dois em Murcia. y Em captiveiro, o passaro de que nos estamos occupando alimenta-se quasi como o homem. O pão e o queijo constituem para elle verdadeiros manjares. Tem-se consignado casos de reproducção da gralha de bico verme- lho em captiveiro. OS QUEBRA-NOZES Estes passaros teem a cabeça grande e achatada, o bico comprido, fino e arredondado, de aresta direita ou ligeiramente recurva, de ponta larga, triangular, achatada, azas de tamanho regular, obtusas, sendo a quarta remige a mais comprida, cauda arredondada e de comprimento medio, tarsos elevados, espessos, dedos armados de unhas fortes e re- curvas e plumagem espessa. . AVES EM ESPECIAL 439 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA s passaros pertencem exclusivamente à Europa e á Asia. + “q. t O QUEBRA-NOZES rim ae por guio das foblonhas Esta denomi CARACTERES | “dominante da plumagem é o negro. As pennas do vertice da a nuca, as remiges e as rectrizes são manchadas de branco; as S inferiores da cauda são brancas. Os olhos são castanhos, 0 s pés negros. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA “ da Nas A área de dispersão. Taio passaro está ligada à da ar- Pinus cimbra; onde esta conifera cresce, encontra-se o quebra- es. 440 HISTORIA NATURAL COSTUMES À apparição do quebra-nozes nas differentes localidades incluidas na sua área de dispersão, é extremamente irregular. Assim, por exemplo, apparece em numero extraordinario na Allemanha durante certos inver- nos e depois desapparece inteiramente annos consecutivos. É possivel que este facto se explique por circumstancias inherentes à evolução ve- getal do Pinus cimbra a que o passaro anda como que ligado. Como quer que seja porém, a irregularidade das suas viagens não está ainda perfeitamente estudada. As apparencias do quebra-nozes são as de um passaro pesado, de movimentos mal coordenados; e comtudo é vivo e agil. Marcha bem, sal- tita rapidamente de ramo em ramo, suspende-se bem aos troncos e pos- sue um vôo leve, embora vagaroso. Em repouso o quebra-nozes conserva de ordinario o corpo horison- tal, os pés em flexão e o pescoço um pouco encolhido; e então offerece uma apparencia de passaro pesado. Parece porém esvelto e elegante quando endireita o corpo e ergue a cabeça. Apesar da facilidade com que vôa, este passaro não atravessa es-. pontaneamente grandes distancias de uma só vez. A voz é desagradavel; consiste em gritos agudos, muitas vezes re- petidos. Possue sentidos muito desenvolvidos e está longe de ser estupido, com quanto o pareça. Como nos pontos que habita, poucas vezes se en- contra com o homem, dá-se ares de estupido não sabendo evitar a nossa especie quando ao principio com ella se defronta; comtudo desde que por experiencia propria chega a conhecer no homem um inimigo, pro- cura evital-o e consegue-o geralmente bem, dando provas de uma grande prudencia. Em liberdade o quebra-nozes come insectos, vermes, pequenos ver- tebrados e fructos de toda a ordem, nomeadamente as nozes e as semen- tes do Pinus cimbra para cuja dispersão contribue notavelmente, es- palhando essas sementes em logares onde nem o homem, nem os ventos as levariam. Buffon ! e depois d'elle outros naturalistas, insistem sobre o cos- tume que este passaro tem de esconder em quantas fendas e buracos en- contra o superíluo dos fructos que colhe e de que faz uso. Este costume 1! Buffon, Ocuvres complêtes, art. Casse-noia, AVES EM ESPECIAL 441 " mada tem de excepcional ou de singular; é precisamente o que tambem se encontra na pega, na gralha calva e na gralha de bico vermelho e que em captiveiro se denuncia pela paixão do roubo —simples modifica- ção imposta pelo meio ao instincto da previdencia. Rigorosamente mesmo, não pode dizer-se que a pega rouba, mas sim que ella exerce em condi- ções anormaes um instincto superior. ! O quebra-nozes faz pois, no estio provisões para o tempo critico do inverno, o que é commum a muitas aves e a muitos outros animaes da longa escala zoologica. É no fim de Julho e durante o mez de Agosto, segundo Sinéty, que este passaro desce das regiões nevadas das montanhas suissas à beira dos lagos e às aldeias em procura dos logares em que as nogueiras crescem. Segundo o observador que acabamos de citar, o passaro não junta as suas provisões levando para o buraco em que as esconde, as nozes uma a uma no bico ou juntas no esophago muito dilatavel; o processo é outro: o passaro leva as nozes para o seu celleiro dentro de um sacco natural de paredes finas, aberto immediatamente abaixo do musculo cuti- cular no angulo formado pelos dois ramos da maxilla inferior. Este sacco inteiramente dilatavel faz saliencia no pescoço, à esquerda da linha me- diana; o comprimento d'elle é pouco mais ou menos de dois terços do comprimento total do pescoço do passaro. Este sacco é semelhante à bolsa dos pellicanos. - - Como se o sacco que descrevemos não fosse bastante para a con- ducção dos alimentos aos logares em que teem de ser arrecadados, a natureza concedeu ainda ao quebra-nozes um esophago extremamente dilatavel, como dissemos. Este esophago, na origem, occupa os dois terços da face anterior do rachis ou columna vertebral sobre que se acha collo- 1 As considerações que acabamos de fazer, sugerem-nos um grupo d'outras que aqui deixamos consignadas, Sendo o selvagem essencialmente dominado pelo es- pirito da conquista e da pilhagem, o crime do roubo não será um verdadeiro caso de hereditariedade atavica para todos os que vêem na evolução individual um escorço da evolução especifica? Mais ainda: — A kleptomania ou tendencia ao roubo, tantas e tantas vezes realisada nas mulheres gravidas, não será tambem um facto de ata- vismo, uma verdadeira revivescencia fatal e inconsciente do instincto que na qua- dra amorosa leva todas as femeas a apropriarem-se de tudo quanto sirva para o fa- brico de um ninho? O instincto seria para os evolucionistas o mesmo ; e assim a mu- dança de nome representaria apenas — uma exigencia da nossa civilisação adiantada. Instincto nam caso, crime no outro — duas palavras para representarem no fundo um mesmo phenomeno em duas condições diversas de meio. A civilisação e só ella nos faria considerar a kleptomaniaca um typo atrazado e a femea previdente em epocha de nidificação um typo à seguir, superior, um exemplo elevado. Aos evolucionistas ou transformistas que por uma inexplicavel contradição se arvoram, nos seus livros, em sectarios intransigentes da repressão penal, colorida sob o nome de principio da auctoridade, enviamos esta nota, 442 HISTORIA NATURAL cado, dirigindo-se muito obliquamente de cima para baixo e da esquerda para a direita. O ourificio d'este sacco abre-se largamente na base da lingua e pode attingir o mesmo diametro que o da bolsa. Com uma tal organisação, o quebra-nozes pode bem encher os seus celleiros. O sacco descripto, foi muito tempo desconhecido dos zoologistas, pela razão de que o passaro se serve d'elle apenas na colheita matinal; depois do que o sacco se dissimula completamente. Passadas as dez ou onze horas da manhã, o quebra-nozes abandona o pé das montanhas procurando a região dos pinheiraes d'onde se não affasta senão no dia immediato, ao despontar do dia. Depois de ter juntado o seu contingente de nozes e de sementes de Pinus cimbra, o passaro volta à região onde tem os seus escondrijos para ahi depositar as provisões que conduz no sacco acima descripto e no esophago. Comprehende-se que n'esta occasião o pescoço do passaro offerece uma como papeira que ás vezes attinge duas vezes o volume da cabeça e que se vê mesmo de longe, durante o vôo. Sinéty matou al- guns d'estes passaros n'esta occasião, tirando-lhes sete nozes do sacco boccal e seis do esophago. Ás vezes O passaro leva, não nozes, mas sementes do Pinus cimbra. O quebra-nozes reproduz-se nas grandes florestas das regiões mon- tanhosas que habita. No dizer de Schiitt e d'outros naturalistas, este passaro aninha no começo de Março e realisa a postura no fim do mesmo mez, isto é quando ainda as florestas das montanhas, assim como as das regiões septentrionaes estão como que inacessiveis, immersas no gêlo. Disse-se muito tempo que o quebra-nozes estabelecia o ninho nas cavidades das arvores. Hoje sabe-se que não é assim; o ninho repousa sobre os ramos mais fortes dos pinheiros. «Algumas vezes, diz Bailly, O quebra-nozes apropria-se dos ninhos dos esquilos, quando ainda não teem dentro os filhos; planifica-os para lhes dar depois uma forma espe- cial e conserva sempre para O interior as materias molles, lichens e mus- gos, que já estavam destinadas a receber os esquilos recemnascidos. O | ninho do quebra-nozes é feito por fóra com pequenos ramos de faia e de pinheiro e interiormente forrado de lichens de musgos adherentes aos velhos pinheiros e abetos e de hervas finas. A femea põe trez, quatro ou cinco ovos esbranquiçados ou mesmo brancos azulados e cobertos de pequenas maculas ou pontos trigueiros, mais ou menos escuros. Macho e femea alimentam os filhos da mesma maneira que o gaio.» ! ra 1 Bailly, Ornithologie de la Savoie, vol. 2.º, pg. 136, AVES EM ESPECIAL 443 CAPTIVEIRO quebra-nozes não é difficil de apanhar e domestica-se bem. Mas c Erpranidado que o caracterisa torna-o desagradavel. Parece r-se bem com toda a ordem de alimentos. É ruidoso dentro da move-se ahi constantemente. pode conservar-se em companhia de aves captivas, menos vi- o que elle, porque as attaca e mata. Diz Naumann que elle apa- ictima no bico, torce-lhe o pescoço, fende-lhe o craneo e princi- prando o cerebello. 2 muito; parece mesmo não fazer outra coisa em captiveiro. he Entes enche de admiração o vulgo; comprehende-se pois qual o espanto que deviam sentir homens que nunca abandonaram o con- ? europeu, quando em 1522 um companheiro de Magalhães, Piga- “apresentou em Sevilha um destes passaros. Foi com verdadeira ção que os naturalistas do seculo quinze, cheios de zelo e de enthu- mo, mas dispondo de meios de exploração muito limitados, viram, le passaro. Foi um dos grandes acontecimentos da sua vida scientifica, a realisação de uma esperança longo tempo acariciada debalde, o ve- 444 : HISTORIA NATURAL rem emfim uma pelle mutilada da ave do paraizo. Devemos perdoar-lhes | o terem acceitado como verdades fabulas que por muito tempo ainda fo- ram acreditadas. Consideravam-se as aves do paraizo como verdadeiros s sylphos povoando os ares, executando todas as funcções durante o vôo e - não repousando senão alguns instantes, suspendendo-se pela longa caud; aos ramos das arvores. Eram seres superiores que não careciam de ex plorar a terra, que se alimentavam de ether e que se dessedentas bebendo o orvalho da manhã. Em vão Pigafetta declarava que estes | saros tinham membros inferiores, em vão Marcgrave, Clusius e ou naturalistas Ea combater taes erros; o vulgo subsistia fiel E crenças poeticas. ! Foi necessario que decorressem muitos seculos para que a verd chegasse a apurar-se. A Lesson, naturalista francez, que pôde observar em Nova- especie viva, aos inglezes Bennett e Wallace e ao hollandez Rosenh: devemos principalmente o que hoje se conhece de positivo e de 1 minucioso sobre os caracteres e os costumes das aves do paraizo tanto em liberdade como em captiveiro. CARACTERES dade, são principalmente caracterisados pela existencia de feixes de: nas compridas, filiformes e decompostas “que se inserem aos lados rectrizes centraes alongam-se em dois filetes. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA nas ilhas visinhas. ! Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 266. AVES EM ESPECIAL h45 A AVE DO PARAIZO ORDINARIA “especie que em nomenclatura lineiana se domina Paradisea designação, que implica a consagração de um preconceito e ve, como acima demonstramos, é todavia acceite pelos CARACTERES » mede trinta e seis centimetros de comprido; é pois, diz sões da gralha das torres. O Dr. Anstett descrevendo diz: «h do tamanho de um tordo ; tem as costas côr de cas- DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA ta especie parece confinada ás ilhas d'Arui. 446 : HISTORIA NATURAL A AVE DO PARAIZO REAL Conhece-se tambem pelo nome de manucodiata real. CARACTERES «Possue, diz o Dr. Anstett, pennas ainda mais lindas que pecie anterior, e é do tamanho de um melro ordinario. O macho costas côr de rubim, a fronte e uma parte da cabeça côr de muito macias, o ventre cinzento, a garganta amarella, e por peito uma cinta verde com brilho metallico. As pennas lateraes zentas e cortadas por dous riscos transversaes, dos quaes um é o outro encarnado: as extremidades d'estas pennas são sera e meralda.» ! DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Encontra-se este passaro em toda a parte norte da Nova-Guin Meisol, em Salawati e nas ilhas Arui. Vê-se muitas vezes à beira ' CONSIDERAÇÕES HISTORICAS mam na sua lingua mamucodiata; não pode ver-se este passaro em porque não tem pés, embora Aristoteles dissesse que nunca enco: 1 Dr. Anstett, Loc. cit., pg. 291. AVES EM ESPECIAL 449 “A MANUCODIATA RUBRA aro é conhecido entre os indigenas pelo nome de sébum. a lineiana denomina-se Paradisea rubra. CARACTERES | pproximadamente as dimensões da especie ante- »cie, assim como da ave do paraizo ordinaria, pela uma poupa verde doirada que o passaro move à vontade. Tem as um «cn pa acinzentado, uma raia larga da mesma côr eito, que é trigueiro rubro, assim como o são as azas, 0 con- : time raia por traz dos olhos de um negro avelludado, a gar- meralda, os tufos de pennas lateraes de um vermelho car- duas longas pennas da cauda largas, achatadas, recurvas telhas Fa os olhos amarellos claros e 0 bico e os 450 ) HISTORIA NATURAL + * A MANUCODIATA DOIRADA 6 Esta especie pertence, como as precedentes, à familia das manuci- ad diatas ou aves do paraizo. No entanto representa o sub-grupo Parotia, cujos individuos differem das especies anteriores em que as pennas alon- gadas das partes lateraes do tronco são filiformes e cobrem, dobrando-se, as azas; estes individuos apresentam, além d'isso, na cabeça seis pennas delgadas, filiformes, nascendo por traz das orelhas. CARACTERES ESPECIFICOS Esta especie «(Parocia sexsetacea) é a representante unica do grupo a que alludimos. Tem as dimensões de um tordo; é negra e tem o peito de po um verde doirado. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA di ER Não se sabe ainda hoje qual seja a patria d'este passaro. Nas Molu- | cas tem-se encontrado, raras vezes, as pelles somente, mutiladas. Rosen-. berg diz que nunca pôde ver este passaro. COSTUMES DAS AVES DO PARAIZO OU MANUCODIATAS As differenças de costumes das especies descriptas são de tal forma insignificantes e as semelhanças, pelo contrario, de tal modo grandes que podemos escrever sob este ponto de vista um artigo unico. As aves do paraizo ou manucodiatas são passaros vivos, ruidosos e simultaneamente prudentes, parecendo, como diz Figuier, terem consciencia da propria belleza e ao mesmo tempo dos perigos que ella lhes faz cor- “4... AVES EM ESPECIAL vs 451 rer. Todos os iaeaçid e naturalistas que teem tido a felicidade de vêr “estes passaros na patria, se enchem de enthusiasmo. Lesson, quando E e “pela primeira vez viu um-a voar, ficou surprehendido e, seguindo-o com ER - a vista longo tempo, não “se dicidiu a atirar-lhe. MP “Rosenberg escreve a proposito das manucodiatas: «São passaros via- - jantes que ora habitam a costa, ora o interior mesmo da ilha, segundo - a epocha da maturidade dos irutão. Quando eu estive em Doreh, os fru- ea “ctos de uma certa arvore que cresce perto das aldeias começavam a ama- “durecer. As manucodiatas, especialmente as femeas e os individuos ainda novos ahi vinham ter de todos os lados. Eram tão pouco desconfiados es- “les passaros que voltavam ao mesmo logar depois de ahi se lhes terem dado alguns tiros. Geralmente porém, estes passaros, sobretudo os ma- chos adultos, são timidos e só com dificuldade se deixam approximar ao alcance de um tiro de espingarda.» ! A voz d'estes passaros é rouca, mas faz-se ouvir a grandes distan- cias. É de manhã e ao fim da tarde que esta voz se escuta. Segundo Wallace, estes passaros alimentam-se de insectos em quanto = os fructos, nomeadameênte os figos, não estão ainda maduros. Er: “ Constantemente em movimento, estes passaros. não se conservam uito tempo na mesma arvore, nem no mesmo ramo. Principiam a pro- “ curar os insectos e os fructos de que se alimentam, desde a madrugada. Reunem-se ás tardes e passam as noites em commum no cimo das arvo- res mais copadas. Quando passam de uma região para outra, vão sem- - pre em bandos de trinta a quarenta individuos. Quando uma tempestade “os surprehende, elevam-se alto na atmosphera para escaparem à tor- menta. Ás vezes as longas pennas enlaçam-se umas nas outras, as de — um passaro nas do passaro visinho, de modo que o vôo torna-se-lhes im- “possivel; então cáem à agua e afogam-se ou tombam por terra, conser- - vando-se ahi até se restaurarem do abalo da queda e poderem voar para “uma arvore proxima. | A epocha da reproducção não é a mesma em todas as regiões. Na costa oriental e septentrional da Nova-Guiné e em Meisol, é em Maio; na costa occidental e em Salawati, é em Novembro. Os machos reunem-se em pequenos bandos nos cimos das arvores mais elevadas, batem as azas, alargam a cauda, abrem os tufos lateraes de pennas e fazem ouvir um grito particular que attráe as femeas. Lesson crê que as uniões sexuaes “entre as manucodiatas são polygamicas, porque encontrou sempre mais ' femeas do que machos. Brehm, sem contestar a affirmativa de Lesson, 1 Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 268. 452 HISTORIA NATURAL lembra que a desproporção encontrada entre os sexos se pode explicar pelo facto de recair a caça exclusivamente sobre os machos. CAÇA Segundo Rosenberg, os indigenas da Nova-Guiné procedem à caça das aves do paraizo do modo seguinte: No meio da estação secca, Os ca- cadores procuram as arvores em que estes passaros costumam passar à noite e que são de ordinario as mais elevadas. Construem ahi entre os ramos um pequeno escondrijo formado de folhas e ramusculos. Uma hora - antes do pôr do sol, um atirador adestrado trepa ao escondrijo, armado de um arco e frechas, e espera no mais profundo silencio. Logo que os passaros chegam, o caçador atira ininterruptamente sobre elles, emquanto um companheiro, occulto ao pé da arvore, vae juntando os cadaveres. Os indigenas servem-se de frechas agudissimas, cujas feridas são mortaes. Segundo Lesson, os indigenas empregam ainda um outro processo: as varas enviscadas. Wallace refere ainda um terceiro meio de caça, consistindo em dis- por nas arvores cobertas de fructos laços corredios de que uma das extremidades desce até ao solo. Este naturalista escreve o seguinte, di- gno de transcrever-se: «Poder-se-hia crêr que os passaros apanhados vi- vos devem chegar ás mãos do naturalista em melhor estado que os mor- tos. Não é assim, porém. Nunca luctei com tantas difficuldades como as que me foi necessario vencer para obter manucodiatas rubras em bom estado de conservação. Os primeiros exemplares que me trouxeram, en- contravam-se vivos, mas com as pennas quebradas e machucadas de um modo deploravel. Fiz comprehender aos indigenas que deviam prender os passaros pelos pés, suspendel-os a um pau e que por este meio po- diam facilmente trazer-m'os. O resultado da recommendação foi nunca mais obter senão exemplares muito sujos. Os indigenas faziam, é certo, o que lhes havia recommendado; mas depois deitavam o passaro no chão das cabanas por forma que a plumagem enchia-se de cinzas, de resina, etc. Debalde lhes pedia que me trouxessem as manucodiatas logo depois de as terem apanhado; debalde lhes pedia que as matassem immediata- mente, as suspendessem de um pau e m'as dessem logo; a preguiça dessa gente tinha mais força que os meus pedidos. Tinha quatro ou cinco indigenas ao meu serviço e pagava-lhes adiantadamente para que me trouxessem um certo numero de manucodiatas. Espalhavam-se pela flo- da pi AVES EM ESPECIAL 453 resta; mas desde que apanhavam um passaro, achavam incommodo vol- tar logo para a caça. Procuravam, pelo contrario, conservar o passaro vivo o maior espaço de tempo possivel; não voltavam senão ao fim de oito ou dez dias, trazendo um passaro morto, decomposto, um outro re- centemente morto e um terceiro vivo ainda. Procurei por todos os modos fazer-lhes mudar de systema, mas foi sempre impossivel. Felizmente, a plumagem das aves do paraizo tem solidez bastante para resistir a este tratamento.» ! CAPTIVEIRO Em captiveiro as aves do paraizo alimentam-se de fructos, de arroz, de gafanhotos. Infelizmente porém, é muito raro que durem mais do que alguns dias, quando muito algumas semanas. Contam-se no numero de factos absolutamente excepcionaes aquelles em que estes passaros teem conseguido viver captivos muito tempo. Por dois individuos que tinham seis mezes de gaiola pediu um chinez a Wallace quinhentos francos, isto “é approximadamente noventa e cinco mil reis. Cento e cincoenta mil flo- rins deu o governador das Indias hollandezas por dois machos adultos captivos. Por estes numeros se vê a grande estima em que são tidos estes passaros; ora essa estima resulta precisamente da difficuldade ex- trema que existe em conserval-os. Wallace declara ter tentado oito vezes successivas subordinar aves do paraizo ao captiveiro, sem o conseguir; ao fim de dois ou trez dias estes passaros morriam-lhe todos, victimas de convulsões. Mais tarde, este mesmo auctor, conseguindo apanhar indi- viduos muito novos, foi mais feliz que nas primeiras tentativas. A este illustre naturalista e a Bennett devemos as informações mais circumstanciadas que se conhecem sobre a vida e costumes das manuco- diatas em captiveiro. Segundo elles, estes passaros são alegres, vivos, agradaveis. Como “traço moral caracterisco, apresentam um desejo de serem admirados. Banham-se duas vezes ao dia, pelo menos; não consentem a mais leve macula na plumagem. Passam revistas minuciosissimas a todas as pennas das azas e da cauda. E é mesmo, muito provavelmente, para se não su- jarem que estes passaros em liberdade descem raras vezes ao solo. «A vaidade, a admiração da propria belleza, diz Brehm, manifestam-se em “todo o seu ser. Olham-se, observam-se, exprimem por gritos agudos o contentamento de si proprios. De instante a instante sentem a neces- f Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 269, 454 HISTORIA NATURAL sidade de alisar a plumagem; só a fome lhes pode fazer esquecer por alguns momentos a habitual garridice.» | As alfirmações de Brehm, Bennett e Wallace são confirmadas ainda por outros muitos naturalistas; todos estão de accordo em afirmar a presumpção, a vaidade excessiva destes passaros. Quando se lhes col- loca defronte um espelho, são inequivocas as provas de orgulho que ma- nifestam. A voz das aves do paraizo tem pouco valor; só pode comparar-se à do corvo, sendo porém mais variada. As notas são expellidas com força e cada uma repetida muitas vezes. Arroz cosido, ovos duros e gafanhotos, são os alimentos principaes d'estes passaros em captiveiro. Não tocam nos insectos mortos. Apanham a presa viva, com grande habilidade e destreza; sustentam-a fixa ao poleiro, entre este e os pés, fendem-lhe a cabeça, arrancam-lhe os mem- bros e devoram-a depois. Não são, de resto, muito vorazes. A muda dura quatro mezes, de Maio até Agosto. USOS E PRODUCTOS A plumagem destes passaros constitue, no dizer de Gerbe, um artigo importantissimo de commercio para os indigenas. Não descreveremos aqui os processos de preparação empregados pelos naturaes e que são extremamente grosseiros. «As nossas damas, diz Figuier, fazem um consumo immenso das pennas destes passaros para adornarem os chapeus. Os rajahs indianos e malaios e os chinezes ricos estimam tambem muito estas pennas € “adornam com ellas não só os chapeus, mas ainda as espadas.» * 1! Brehm, Loc. cit., pg. 270. 2 L. Figuier, Obr. cit., pg. 342. AVES EM ESPECIAL | 455 AS LOPHORINAS orinas faltam os tufos de pennas decompostas aos lados do etes caudaes que caracterisam as especies anteriores. N'es- manto largamente chanfrado; as pennas da garganta esten- a parte anterior do pescoço e do thorax e simulam um or- A LOPHORINA SUBERBA CARACTERES s da parte anterior do pescoço e do peito negras bronzeadas com biantes violetas. 1 456 HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Com quanto Rosenberg affirme que durante a sua estada em Nova- Guiné não encontrou este passaro, é todavia provavel que seja d'ahi ori- ginario. Lesson encontrou-o em Offack e Doreh. Parece ser muito raro. A MANUCODIATA RESPLENDENTE Este passaro pertence ao genero Seleucides cujos individuos Cabanis descreve e caracterisa tendo em conta principalmente o bico, que é muito comprido e recurvo. Os individuos d'este grupo assemelham-se às aves: do paraizo ou manucodiatas propriamente ditas em possuirem aos lados do tronco tufos de pennas compridas e terminadas em fios criniformes. Ainda se parecem com as aves do paraizo nos pés. CARACTERES ESPECIFICOS Este passaro (Seleucides resplendens, de Linneu) tem as penas do pescoço grandes, arredondadas, de bordos brilhantes e as dos lados do peito pennugentas na primeira metade e reduzidas simplesmente ás res- pectivas hastes no resto da extensão. O comprimento d'este passaro é, segundo Rosenberg, de noventa centimetros. O macho tem É cabeça, as costas e o peito negros, com refitiad ver- des escuros e violeta-purpura, as pennas compridas dos lados do peito, negras, orladas de verde-esmeralda brilhante, as dos lados do tronco de | um amarello dourado esplendido, as azas e a cauda violetas muito bri- lhantes, a iris escarlate, o bico negro e os pés amarellos escuros. A femea tem .a cabeça, na parte superior d'este orgão, o pescoço € a parte superior das costas negros, o resto da cabeça côr de purpura, à parte inferior das costas, as azas e a cauda fuliginosas, a parte interna AVES EM ESPECIAL | 457 nnas das azas negra, a face inferior do corpo de um branco par- » ou de um trigueiro amarellado, marcado de pequenas raias trans- DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA passaro pertence à Nova-Guiné. COSTUMES a part das informações que possuimos ácerca dos habitos $ são incompletissimas. iremos o que diz Rosenberg. acodiata resplendente vive em pequenos bandos ou em fami- n e emquanto procura alimento faz ouvir gritos que Rosen- | pelas syllabas scheck, scheck, muitas vezes repetidas. enta-se de fructos e de insectos. rara esta especie nas partes montanhosas da ilha Salewati. OS TENUIROSTROS o ns sempre sem chanfradura. Estes passaros são, como a propria Dr; do bico 0 indica, insectivoros. Mede DE OS PICA-PAUS Estes jandáras teem um bico dores dinteiro, cuneiforme, E nada comprimido lateralmente, azas mediocres e uma plu o azul acinzentado e o ruivo são de ordinario côres do uma larynge inferior provida. de “musculos, analoga à das doze vertebras cervicaes, oito dorsaes e sete caudaes. Os tar tos e os dedos compridos, achando-se o interno e o medio r uma membrana curta e este ultimo com 0 bom solda extensão da primeira phalange. no a] Os dois sexos differem pouco um do outro. st gs Fin é ne Eai ido Te TER Y ” e *ad - DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Habita as florestas de todos os ORA aseppinandos sul da Africa e a America meridional. aí = AVES EM ESPECIAL E Ao 459 O PICA-PAU CINZENTO pias “todas as especies do genero anterior, o pica-pau cita (sitia Meyer), é a mais interessante. CARACTERES passaro tem as costas de um pardo de chumbo, o ventre fuli- ), uma linha negra passando por cima dos olhos e descendo pelos “da cabeça até ao pescoço, a garganta branca, as pennas dos lados neo é as subcaudaes côr de castanha, as remiges de um trigueiro orladas de claro, com uma pequena macula branca na base, as Les medianas de um cinzento azulado, apresentando as barbas inter- a grande mancha branca, quadrangular. As outras rectrizes são or 1 extremidades de um azul acinzentado. Os olhos são casta- te “passaro tem dezeseis centimetros de pecado e vinte e oito gadura; a cauda tem cinco. differe do macho Eneas em ter a linha supr-ocehar me- COSTUMES Este passaro vive solitario ou aos pares, uma ou outra vez em pe- quenas familias ou na sociedade d'outros passaros, mas nunca em gran- des bandos. Prefere a todas as localidades aquellas em que abundam as 460 HISTORIA NATURAL florestas de arvores elevadas. Não evita o homem, porque chega a encon- trar-se muitas vezes nas cidades, nos passeios publicos, orlados d'arvo- | res. No verão conserva-se dentro de limites muito restrictos; no outomno, a necessidade de viajar faz-lhe alargar a área das suas excursões. Com- tudo, mesmo n'esta estação, raras vezes e só por extrema necessidade se atreve a percorrer espaços descobertos, desarborisados. Este passaro seduz pela agilidade, pela actividade continua; não está um minuto em repouso. «Trepa a uma arvore, diz Brehm, pae, anda em volta d'ella, sobe-a, desce-a, corre ao longo de um ramo, levanta um pe- daço de casca, dá bicadas no tronco, vôa e só se interrompe para soltar a VOZ.» Um facto digno de notar-se, e que acima deixamos apenas muito li- geiramente mencionado, é que o pica-pau cinzento não gosta da socie- dade dos congéneres, mas encontra-se muitas vezes em companhia de passaros d'outras especies, que parece estimar. Assim se constitue como parte integrante de reuniões tão heterogeneas quanto possivel; essas. reuniões acabam, dissolvem-se, segundo Naumann, sómente quando chega a quadra dos amores e com ella os cuidados de nidificação. «Nas nossas florestas, escreve Brehm, encontram-se frequentemente esses bandos he- terogeneos. Não ha nenhum laço intimo que prenda umas ás outras as diversas especies; e comtudo permanecem reunidas. O mesmo bando en-. contra-se successivamente em logares differentes; qualquer que seja po- rém o numero de especies que o formem, é excessivamente raro encon- trar n'elle mais de dois ou trez pica-paus.» O grito de reclamo do pica-pau cinzento é claro, agudo e pode ex- primir-se pela syllaba tw, muitas vezes repetidas. O grito ordinario pode notar-se pela syllaba sit. Na quadra dos amores o macho solta uma serie de notas harmoniosas e sibilantes que se ouvem muito ao longe com as quaes pretende attraír e encantar a femea. N'este tempo um só casal é sufliciente para animar uma floresta. O pica-pau cinzento alimenta-se com insectos, arachnideos, grãos € baga. Como outros passaros que já nomeamos, este tem o costume de engulir areia para facilitar a digestão. Tira os insectos das fendas, das cascas das arvores, dos musgos adherentes aos troncos e ramos; tambem os apanha no ar. O bico d'este passaro é incapaz de furar madeira, mas é sufficiente para destacar pedaços de casca. Ás vezes nas excursões da caça chega até às casas, trepa pelas paredes e penetra mesmo nos aposentos. . O pica-pau cinzento é dotado do instincto de previdencia; faz no ou- t Brehm, Obr. cit., vol. 3.º, pg. 34, AVES EM ESPECIAL 461 “ tomno e no estio provisões de grãos e sementes para o inverno. Nesta estação, diz Hayden, come muitas vezes as larvas que vivem nos buga- lhos. O mesmo auctor nota o seguinte facto curioso: o pica-pau cinzento fura sempre o bugalho pelo vertice que é duro e não pelo ponto em que a larva se encontra protegida apenas por uma simples membrana papira- cea. Este passaro nunca deposita as suas provisões de inverno todas n'um mesmo logar; dessimina-as por pontos differentes, decerto, diz Brehm, pae, para não expor-se em caso de perigo a perder tudo de uma vez. Para estabelecer o ninho, o pica-pau cinzento escolhe os buracos praticados nos troncos das arvores e excepcionalmente as fendas dos ro- chedos. Ás vezes apropria-se do ninho do picanço, modificando-o apenas no sentido de tornar-lhe a entrada mais estreita; para fazer esta pequena obra serve-se de terra que humedece com saliva, como faz a andorinha. O ninho fica inteiramente ao abrigo dos carniceiros; comtudo conserva-se sujeita ao attaque dos picanços, sobretudo quando primitivamente per- tencia a estes passaros. Segundo Peessler, os pica-paus cinzentos, macho e femea, dão as mais inequivocas provas de alegria quando acabam a construcção do ninho. O macho balança-se no ar, soltando gritos, e a fe- mea entra e sãe repetidas vezes na construcção, experimentando os go- sos de proprietaria. A grandeza do ninho d'esta especie está subordinada à da cavidade em que é estabelecido; é feito de substancias muito seccas, de folhas de faia, de carvalho, de pequenos fragmentos de casca de pinheiro. É no fim de Abril ou no começo de Maio que a postura se termina. Os ovos postos são seis a nove, de um branco de leite com pontos ru- bros claros ou rubros escuros. É a femea só que choca, durante treze ou quatorze dias. Os paes criam os filhos em commum, dando-lhes insectos. - Os filhos crescem rapidamente, mas só abandonam o ninho quando po- dem perfeitamente voar. Mas mesmo depois de abandonarem o ninho, conservam-se por algum tempo na companhia dos paes que os advertem dos perigos que os ameaçam e os ensinam a satisfazer as necessidades naturaes. Depois da muda, dispersam. CAÇA O pica-pau cinzento é um passaro facil de caçar: apanha-se bem quer por meio de armadilhas engodadas com aveia, quer por meio de varas enviscadas. o v + , Ri. Ea ' A , * DAM 4 easy & E e HISTORIA NATURAL soe Le C 'GAPTIVEIRO Rror Ê Habitua-se facilmente à perda de libêrdadovçã, BR io “porque lhe basta a aveia; se a esta se juntam insect “velmente.. Comtudo, desde que pretende conserva - tempo, é preciso variar 0 regime. Au - É encantador n'uma gaiola espaçosa. Onde jquer'q ar conveniente, ahi deposita e esconde provisões. Vive em boa harmonia com os outros passaros, mas não aum com aquelles passaros cuja companhia procura em liber: “Tem apenas um defeito: fazer muito ruido e dar bitadas a encontre aposentos. | Ep AE Tudo o que ácerca de aa o, da « caça e de veiro bre a especie anterior, é inteiramente applicavel a esta. A dife unica está na área da distribuição geographica : ame as especies e, esta. exactamente paté região. p ia Ro Ga E “saga um antiti MR pm piro ps e ares menção especial, porque se distingue das ante- 1 geographica. que habita, mas ainda nos costumes BREÃO internas; exceptuam-se porém as medianas que são cinzentas. e e passaro é um pouco maior que o pica-pau cinzento. ia Es Dá x DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA nome desta especie indica já por si uma parte da sua área de . Foi encontrada na Syria por Ehrenberg, nas montanhas que fi- ea Dalmacia por Michabelles e na Grecia por Miihle, COSTUMES A o pica-pau da Syria pd iasi exclusivamente pelos rochedos, pelos es de pedras e. sapeo paredes. | É muito agil; trepa com segurança “a encontra nas florestas em que faltam rochedos. O grito d'este passaro é uma especie de riso sonoro e muito agudo que Brehm nota pelas syllabas hidde hati tititi. bora não muito m'estes ultimos, como vae ver-se. iso os da prá EE CR CARACTERES [E PESE A PA 464 HISTORIA NATURAL O regime alimentar d'este passaro é analogo ao do pica-pau cinzento. Construe o ninho contra as paredes dos rochedos escarpados ou sob as cornijas que lhe servem de tecto natural. Procura sempre a exposição ao nascente e nunca ao poente. O ninho é artisticamente feito com ar- gilla e munido, segundo Miúhle, de um corredor de entrada de trinta cen- timetros de comprido, approximadamente, que termina n'um aposento arredondado a que servem de alcatifa pêllos de cão, de cabra, de boi e de chacal; por fóra é coberto com as azas corneas de certos coléopteros. Kruper diz que este ninho tem trinta centimetros de comprido e o corredor de entrada trez ou quando muito cinco; este auctor attribue o erro de Miihle ao facto d'este naturalista ter encontrado o pica-pau da Syria n'algum ninho de andorinha, de que muitas vezes se apropria. Segundo Kruper, o pica-pau da Syria não construe só quando a ne- cessidade reproductiva a isso o obriga; construe mesmo por simples pas- samento. A postira dos ovos realisa-se no começo de Maio. Estes são oito ou nove, brancos com manchas vermelhas. CAÇA O pica-pau da Syria, como o seu congénere cinzento, é facil de apa- nhar a visco ou em armadilhas engodadas com aveia. Devemos acrescen- tar que as femeas chocam com tanto ardor e enthusiasmo que na epocha, da postura se deixam mesmo apanhar à mão. CAPTIVEIRO Habitua-se rapidamente à perda de liberdade e conserva-se muitos annos captivo. Nas gaiolas, de ordinario não trepa aos poleiros. AVES EM ESPECIAL — 465 € S trez Jltimas hepoçãos descriptas da familia dos va ás são T “dos pica-paus ou melharucos-picanços de que acabamos de sui esa bico mais fino, as e fortemente E. “ua: k ti ; DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA RE aros pertencem a Nova-Hollanda. | a! ea CORTES 7 bring avi f Icos-picanços construem sobre os ramos das arvores um ni- | formação parece não entrar terra. + 30 466 A HISTORIA NATURAL O MELHARUCO-PICANÇO DE CAPUZ Este passaro deve O nome especifico por que é designado ao de ter o alto da cabeça negro. CARACTERES as costas e a nuca pardas escuras com manchas longitudinaes trig as azas escuras, a região frontal, uma linha que passa por cima dos a garganta, o peito e o ventre brancos na linha mediana, os macula vermelha escura no centro e com as pontas trigueiras, Os castanhos amarellados, o bico amarelo na base e negro na po pés amarellos. A femea é mais escura; tem toda a o a COSTUMES grande agilidade pelo meio dos ramos, trepando tambem como os paus ou melharucos-picanços, subindo e descendo como elles, isto a cabeça sempre à frente no senudo da marcha. vore para outra se serve das das Vive em bandos de quatro até trinta individuos. É somado, mido. | AVES EM ESPECIAL . 467 1 exostose da madeira. E “ata é de trez ovos, esbranquiçados, cobertos de manchas os TREPADORES só na base, ponteagudo, ligeiramente recurvo, tarsos robustos, Eras extensas, incurvadas e ponteagudas, azas curtas, lar- idadas, cauda curta, de pennas largas, arredondadas na ex- | e sedosa, vivamente colorida, variando com as esta- rua tem a mesma conformação que a dos pêtos. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHIGA am-se estes passaros na Europa, na Ásia e na Africa. Diffiri- ? Eis o que não sabemos. qo: - 468 N HISTORIA NATURAL “O TREPADOR DOS MUROS Tem-se-lhe chamado tambem o trepador alpino ou trepadeira das paredes. Ei É CARACTERES Tem a garganta negra no estio, branca no inverno, as remiges e re- ctrizes negras, sendo parte das primeiras vermelhas na metade radical e as segundas bordadas de branco na parte terminal, os olhos castanhos é o bico e os pés negros. Este passaro mede dezesete centimetros de comprido sobre vinte e nove de envergadura; a cauda tem seis centimetros e o bico quatro ou cinco. Ea DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A área de dispersão d'este passaro é extensa. Encontra-se nos Al- pes, nos Pyreneus, nos Apeninos, nos Balkans, nas montanhas da Grecia, nos Carpathos. Em Portugal vive tambem, não sendo porém muito vulgar. COSTUMES Girtanner exprime-se assim, ácerca d'este passaro: «Quando o via- jante que percorre as montanhas da Suissa, chega aos cimos elevados dos Alpes e tem excedido o limite das florestas, se continua a subir no meio dos rochedos, ouve em certos pontos como que um assobio agudo saindo das paredes d'estes. Esse assobio recorda um pouco o canto do melro; compõe-se de algumas syllabas que se seguem precipitadamente sobre a mesma nota e termina por um final prolongado, mais alto alguns tons. Este canto pode notar-se assim: du du dw duwiii. Espantado e ma- ravilhado ao mesmo tempo por sentir um outro ser vivo no meio dos de- sertos pedregosos, o viajante olha em torno de si e acaba por descobrir RS CI RS a SRI NE e O AVES EM ESPECIAL 469 no meio dos rochedos um pequeno passaro de azas vermelhas, semi-aber- tas, trepando ao longo de qualquer muro vertical. É o trepador dos mu- ros, a rosa viva dos Alpes, que percorre os seus dominios sem receio de que o homem se tenha arrastado a taes alturas. O viajante pára; senta-se n'uma pedra coberta de musgo para admirar alguns instantes este ser. Mas por mais attenção que preste, é-lhe impossivel comprehender, fixar os jogos de luz, os movimentos que mais se assemelham aos de uma bor- “boleta que aos de um passaro. O trepador apparece-lhe como n'um sonho e O viajante quer vel-o mais de perto. Em posse de uma boa arma e im- pellido pelo amor de observação e não pela cega paixão destructiva, faz pontaria e espera que o passaro tenha um momento de repouso.» ! O trepador encontra-se a uma altitude de trez mil metros e mais. Só desce a uma zona mais baixa, mais quente, melhor protegida, quando os dias vão diminuindo e as noites augmentando, isto é nos invernos, sobretudo quando excessivamente rigorosos. Os naturalistas relatam alguns factos curiosos de trepadores dos muros que em invernos excepcionalmente rigorosos teem descido ás ci- dades, escondendo-se ahi nos buracos das paredes, nas torres sob os sinos, etc. É de notar que mal apparecem alguns dias bons, estes pas- saros emigram immediatamente para as altas regiões que lhes são mo- rada habitual. ; O trepador dos muros estima sobretudo os rochedos nús; quanto mais selvagem e arida fôr uma região alpestre, tanto mais certos deve- mos estar de o encontrar ahi. Se visita os locaes em que crescem hervas é accidentalmente e só para procurar insectos. Nunca trepa ás arvores, nunca se empoleira n'um ramo; só vive no ar ou nos rochedos. Tambem não gosta de descer a terra e, se alguma vez o faz é só muito rapida- mente e para ápanhar algum insecto com o qual vôa logo para os ro- chedos. BRO “Alguns coléopteros teem o costume de se fingirem mortos e de se deixarem cair, na esperança de chegarem a algum logar inacessivel onde fiquem ao abrigo de perseguições. Muitas aranhas ha que procedem de um modo analogo, deixando-se cair ao longo de um fio da teia. Mas nem assim escapam, uns e outros, ao trepador dos muros que os apanha no ar. Quando trepa, este passaro vae de ordinario com a cabeça para cima; caminha porém às arrrecuas, quando o penedo está fóra do prumo, inclinado, receioso certamente de estragar o bico fazendo com elle attrito contra a parede. 1 Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 39. 470 HISTORIA NATURAL Trepa com inacreditavel rapidez, ora correndo, ora dando saltos acompanhados de pequenos movimentos das azas e de gritos breves e gutturaes. Não se apoia nas rectrizes, como se tem dito; estas pennas são fracas de mais para o sustentar. Tambem se não apoia sobre a cauda; pelo contrario, distanceia o mais que pode este orgão das pare- des para o não maltratar. Quanto mais lisa e mais proxima da vertical é a superficie que trepa, tanto mais rapidamente o faz; e esta rapidez não resulta de que lhe seja mais facil trepar n'estas condições, mas de que não podendo conservar-se em equilibrio, carece de chegar depressa ao seu destino. Vôa bem; melhor verticalmente do que horisontalmente. O trepador dos muros passa a noite nos buracos ou fendas dos ro- chedos, onde se encontra em segurança. Ao contrario da maior parte dos passaros, este desperta bastante tarde. Este facto é natural; devia succe- der assim com um passaro cuja actividade é extraordinaria e cujo somno para compensar as fadigas do dia não pode deixar de ser prolongado. De resto, de nada lhe serviria sair muito cedo do seu escondrijo nocturno, porque não poderia então proceder com vantagem à caça dos insectos. Outra circumstancia ainda que justifica a pouca matinalidade do trepador dos muros: nas altas regiões, mesmo no estio, a temperatura desce con- sideravelmente e os rochedos cobrem-se de um orvalho abundante que de madrugada gotteja. Que poderia fazer então o trepador fóra do seu escondrijo? Não encontrando um ponto de apoio para trepar, não conse- guiria mais do que molhar e sujar as azas. Apesar de todo o seu vigor, com effeito, elle não poderia segurar-se de encontro a superficies lisas e hiioedobideas por isso espera, deitado sobre o ventre, no seu esciadaa que o sol se eleve no horisonte. Este passaro vive de ordinario isolado, indiferente aos congéneres e aos outros passaros; só na quadra dos amores faz excepção a este com- portamento habitual. Aninha nas fendas e anfractuosidades dos rochedos, nos buracos dos troncos de arvores vetustas ou nos craneos desnudados dos grandes ma- miferos. O ninho é feito de substancias vegetaes duras e molles e forrado de péllos. ' Os ovos são pequenos, ovaes ou piriformes, de casca pouco brilhante, brancos como o leite e apresentando pequenos pontos vermelhos escuros, em maior numero na extremidade mais grossa. Não se sabe ainda se à femea choca só ou se o macho a auxilia, substituindo-a por algum tempo. O que estã averiguado, porque muitas vezes se tem visto, é que o ma- cho emquanto dura a incubação procura alimentos para a companheira. No estio este passaro alimenta-se exclusivamente de insectos, como deixamos prever. No inverno é forçado a contentar-se com ovos, chrysa- “ = prece veeraça, e AVES EM ESPECIAL 4 “ou ainda com insectos hybernantes. N'este tempo, passa O dia in- o procurando com difficuldade os alimentos. pmeadamente o gavião. Esta ave destroe-lhe os ninhos e mata uitas vezes os adultos. UTILIDADE em é prejudicial, nem util este passaro. Não é nocivo, porque não | estragos nenhuns, nem ha malefícios que possam imputar-se-lhe;; “util, porque exerce o seu regime insectivoro inteiramente fóra das 3s em que elle poderia beneficiar-nos, isto é longe de toda a cul- regiões aridas e desertas. CAPTIVEIRO - 2 possivel conservar em captiveiro este passaro, desde que se namente facil e rapida a sua domesticação. Girtanner conta o seguinte a proposito de um individuo captivo que «Possuir um trepador dos muros vivo, era para mim um desejo dos ardentes; e este desejo augmentava à medida que eu ia obser- este passaro. Logo que me estabeleci em Saint-Gall, arranjei uma Ide gaiola de madeira de quatro pés de altura sobre trez de com- o e dois de largo; esta gaiola servira muitos annos a pica-paus. As Ss eram cobertas de cascas de pinheiro; para dar-lhes a apparen- à de rochedos, arranquei as cascas, cortei-as em pedaços e cravei-as de Vo nas paredes, tendo o cuidado de deixar alguns espaços desguarne- “cidos. Outros pedaços foram dispostos de modo a fazerem saliencia; des- — timava-os. eu a servirem de repouso ao meu futuro captivo. Arranjei as- — sim trez paredes; tirei a taboa que fechava superiormente a gaiola e “substitui-a por uma rede de arame. Para dar mais claridade ao interior, colloquei no logar da porta um vidro espesso. Para transformar as cas- « 472 HISTORIA NATURAL cas em rochedos, cobri-as de colla e adaptei-lhes pequenas pedras e areia, entermeiado tudo com musgo. Nos espaços livres collei pedaços de pedra porosa. Assim dispuz uma habitação que convinha perfeitamente aos cos- tumes do trepador. Restava encontrar o habitante da gaiola. Ninguem vira ainda um trepador de muros em captiveiro; nenhum caçador, ne-. nhum amador possuira um tal exemplar. Prometti um premio importante” ao passarinheiro que me obtivesse um; eu proprio passei dias inteiros nas montanhas dispondo armadilhas, collocando em terra varas envis-. 1 cadas, mas tudo inultimente. Só dois annos mais tarde, em 1864, pude”. obter um soberbo trepador macho. Forçado pelos pedi frios, tinha - chegado até perto de Saint-Gall, trepado por uma casa e entrada pela - janella de um quarto onde o fecharam. Vinte e quatro horas depois era-me entregue. «Não lhe tinham dado ainda nem de comer, nem de beber. Metti-o + immediatamente na gaiola que lhe estava destinada, fazendo votos arden- tes por que me fosse possivel conserval-o. Era o mais bello india | que até então tinha visto; nem uma penna estava estragada. «Colloquei o passaro n'um quarto não aquecido, mas em que o sol ' batia durante algumas horas. Empoleirou-se n'uma saliencia da parede e olhou tranquillamente em volta; cinco minutos depois, desceu ao fundo da gaiola e, com grande satisfação minha, começou a comer vermes de farinha e larvas de formigas que lhe tinha posto na gaiola. Approximei-me. Contava que não fosse timido; mas nunca pensei achal-o tão confiado e tão cheio de atrevimento, como realmente se mostrou. Conservou toda a alegria e não tardou a attingir a domesticação. Á quarta noite já se tinha estabelecido n'um buraco que eu mesmo lhe fizera para que repousasse e se escondesse. Ao principio comia vermes de farinha apenas; as larvas de formigas que primeiro acceitára forçado pelo jejum, abandonava-as agora. Preferia passar o longo bico atravez das grades da gaiola para apanhar os vermes de farinha que eu lhe dava. Alimentei-o assim du- rante dez semanas, dando-lhe setenta vermes por dia. Por fim decidi-me a ensaiar uma modificação de regime, fornecendo-lhe menos vermes € mais larvas; o passaro preferiu soffrer fome a comer as larvas. Jejuou mesmo completamente durante trinta e seis horas. Receiando que mor- resse, ja dar-lhe vermes, quando o vi de repente retomar a alegria e vi- vacidade: tinha comido todas as larvas; a tanto o forçára a fome. Desde então alimentei-o com larvas de formigas, dando-lhe vermes só de tem- pos a tempos, como uma lambarice. Parecia não gostar da agua: nunca o vi banhar-se e nunca o encontrei com as pennas humidas. Uma só vez notei que tinha o bico molhado, o que me levou a crêr que bebia pou- cas vezes, com grandes intervallos de umas a outras. Um dia lavei-lhe as azas; sacudiu-se durante muito tempo, manifestando signaes de um & AVES EM ESPECIAL 473 grande descontentamento. Conservou-se durante quasi todo o dia lento e preguiçoso, com as pennas eriçadas, parecendo não confiar nas azas. «Descia ao pavimento da gaiola raras vezes e só para apanhar al- guma presa. Approximava-se do comedoiro em zig-zag, voando e trepando » ao longo do seu rochedo; comia agarrado à parede da gaiola. - «Em liberdade habituara-se decerto a passar a noite n'algum escon- “drijo bem seguro. Por isso, de tarde trepava em volta do buraco que lhe “servia de habitação, mas, desde que se sentia observado, fugia para um - outro canto da gaiola. Nunca entrava para o buraco emquanto alguem es- “tivesse perto d'elle; a visinhança das aves de rapina das suas monta- - nhas nataes tinham-lhe inspirado, sem duvida, aquella prudencia. Se um estranho se approximava da gaiola no momento em que elle estava no ' fundo do seu escondrijo, julgava-se ameaçado, levantava-se silenciosa- mente, trepava sem ruido ao longo de uma fenda do seu pequeno rochedo até ao ponto mais alto da gaiola, abandonava a fenda, dava ainda alguns passos, depois de repente voava para o canto opposto, indubitavelmente para enganar a pessoa que o observava. - «lnfelizmente o meu prazer foi de curta duração. No fim de Setem- bro, o batalhão de que eu era medico recebeu ordem de marcha para Genova. Deixei o passaro entregue a gente inexperiente e parti receiando alguma desgraça. Com effeito, não me enganavam os meus presentimen- tos: recebi em 13 de Outubro a noticia de que o passaro morrera. Um dos meus amigos empalhou-o com todo o cuidado; o corpo foi conservado em alcool e quando voltei pude verificar que a causa da morte fôra uma inflammação pulmonar. Meu pae, segundo me disse, tinha notado que já uma semana antes da morte o passaro se tornara menos vivo e um pouco triste, comquanto continuasse ainda a comer bem. Uma manhã depois de uma noite fria, encontraram-o deitado no fundo da gaiola, respirando com difficuldade: uma hora depois expirava. «Bu contara de mais com as forças do passaro: julgando-o ao abrigo “do frio, dera ordem de que não mettessem a gaiola dentro de casa senão quando a temperatura fosse realmente muito rigorosa. Parece que um esfriamento o matou.» * 1 Citado por Brehm, Obr. cit., vol. 4.º, pg. 44. 474 HISTORIA NATURAL AS PINCACILHAS OU TREPADEIRAS k preciso não confundir as trepadeiras ou pincacilhas com os trepa- dores de que acabamos de fallar, assim como é preciso não confundir uns e outros, que todos pertencem à ordem dos passaros, e à familia dos tenuirostros, com as aves trepadoras que formam uma ordem distincta. Chamamos .pois a attenção do leitor sobre os caracteres dos trepadores, das trepadeiras (passaros) e das aves trepadoras. CARACTERES As pincacilhas teem o corpo alongado, o bico fraco e muito agudo na extremidade, tarsos delgados, dedos compridos, munidos de unhas grandes, recurvas e aceradas, azas obtusas sendo a quarta remige a mais comprida, uma cauda muito comprida, terminando em ponta dupla, as pennas do tronco compridas e molles, as costas de uma côr que se confunde com a da casca das arvores e o ventre branco. A lingua d'estes passaros é cornea, de bordos duros, comprida, estreita e ligeiramente fi- brilosa adiante. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA As trepadeiras habitam o antigo mundo e a America do Norte; não se encontram nem na America do Sul, nem na America central. E Ea Eos E TO fi, OR mm “2. À PiNCACILHA DOS MUROS PADEIRA . [RE r NCACILHA OU I ) | À * res. W 14 estao) ] Magalhães & Moniz. bo] AVES EM ESPECIAL 475 A PINCACILHA OU TREPADEIRA COMMUM Dada a difficuldade que ainda hoje ha na determinação das es- pecies pela muita semelhança que entre ellas existe, o estudo que vamos fazer d'esta pode considerar-se applicavel a todas do mesmo genero. CARACTERES A trepadeira commum tem as costas de um pardo escuro, manchado de branco, o ventre branco, a linha que vae do bico ao olho parda es- cura como o dorso, uma raia que encima os olhos branca, o uropigio pardo trigueiro, raiado de ruivo amarellado, as remiges negras e todas, “com excepção da primeira, manchadas na extremidade e raiadas de branco amarellado no meio, as rectrizes de um pardo trigueiro, bordadas de amarello claro, os olhos castanhos escuros, a mandibula superior negra, a inferior avermelhada e os pés avermelhados tambem. As pennas são molles, sedosas e decompostas de modo a parecerem pêllos. Este passaro tem quatorze centimetros de comprido e dezenove de “envergadura; a cauda tem trez. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Habita toda a Europa e a Siberia; vive nas florestas e jardins. Em Portugal é commum. COSTUMES Caminha até longe na direcção do norte e eleva-se alto nas monta- nhas, não se encontrando porém, senão onde existem arvores. Em quanto dura a quadra dos amores, habita um dominio muito restricto : mais tarde erra em companhia de outros passaros, mas sem emprehender grandes viagens. | 476 HISTORIA NATURAL À trepadeira commum, como todos os passaros congéneres, vive em movimento constante. Trepa ao longo das arvores, ora em linha recta, ora em espiral. Introduz o bico em todas as soluções de continuidade da casca e remexe os musgos e lichens, tudo emfim quanto pode occultar qualquer coisa que lhe sirva para comer. Trepa facilmente por pequenos saltos e corre pela face inferior, dos ramos. Poucas vezes desce a terra, onde saltita deselegantemente. O vôo deste passaro é rapido, mas irregular; por isso elle não atra- vessa grandes espaços. Ordinariamente projecta-se do vertice de uma ar- vore à base do tronco de uma outra; salta, deixa-se cair, vôa algum tempo razando o solo, ergue-se um pouco e agarra-se por fim a uma ou- tra arvore. O grito habitual da trepadeira commum é sit; o grito de reclamo é mais forte e pode exprimir-se pela syllaba sri. Quando manifesta alegria, combina os dois gritos: sit sri; tambem para exprimir o mesmo senti- mento expelle um grito breve e agudo que pode notar-se pela syllaba tzi. No tempo bom da primavera o macho repete estas differentes vozes n'um tom monotono e aborrecido. A pincacilha ou trepadeira commum não receia o homem. Entra pe- los jardins, trepa pelas paredes, chega mesmo a fazer ninho sob os te- lhados das casas. Rapidamente percebe se está em segurança ou não. Quando sabe que não está exposta a perseguições ou attaques por parte do homem, deixa-se approximar até à distancia de poucos passos; nos logares em que a attacam, ao contrario, evita cuidadosamente o homem e, desde que vê alguem, trepa immediatamente às arvores, sempre pelo lado opposto áquelle em que o observador se conserva. Em quanto o bom tempo dura, conserva-se este passaro alegre e de bom humor; mas se chove, se está frio ou ha nevoeiro manifesta tris- teza, mal estar. Brehm emitte a hypothese de que este mal estar pode ser a consequencia do receio que o passaro tem de macular as pennas. Este passaro aninha ordinariamente nas cavidades dos troncos d'ar- vores, nos buracos das paredes ou nos telhados. Quanto mais profundo fôr um buraco, mais lhe convem. O ninho varia de dimensões conforme o local em que é estabelecido. Compõe-se de hervas, folhas, casca e palhas, tudo entrelaçado com teias de aranhas; o interior é forrado de pennas. A cavidade, não muito funda, é redonda e de paredes finas. Cada postura é de oito a nove ovos, brancos, finamente pontuados. Os paes chocam alternativamente e ambos criam os filhos com amor. Os filhos conservam-se muito tempo dentro do ninho; comtudo, antes mesmo de saberem voar, se os perturbam, fogem, procuram salvar-se, trepando. Sabem perfeitamente esconder-se. Os paes conservam-se na companhia AVES EM ESPECIAL 477 «Todos estes passaros, diz o niitiralista citado, se do n'uma “arvore ou em algumas arvores visinhas. Os paes andam muito ados: cercados pelos filhos, dão ora a um, ora a outro o insecto m de apanhar, depois do que voltam de novo à caça com ar- 1e manifestam quando temem um perigo, a vivacidade de que , tudo concorre a sra o observador.» | mais que trez a cinco ovos. CAPTIVEIRO UTILIDADE não é só inofensivo, é tambem util o como claramente se deduz e insectivoro que o caracterisa. ah pelo nome de fuinho commum das arvores, assim como a especie jor dos muros é conhecida pela denominação de fuinho das mura- NISTORIA NATURAL OS ASSUCAREIROS Os passaros que vamos em seguida estudar assemelham-se mente aos passaros cantores. CARACTERES Tem o corpo elegante, o bico de comprimento regular, forte de aresta dorsal ligeiramente curva, os pés curtos e fortes, comprimento medio, as remiges primarias em numero de 1 segunda, terceira e quarta quasi eguaes entre si e mais « as outras, a cauda de extensão regular e de pennas mol destes passaros é comprida, filiforme, Difida, mas não prol magem varia de sexo para sexo: os machos são de ordinario Í femeas verdes. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Estes passaros habitam a America do Sul. | São alegres, vivos, encantadores, no dizer do principe de Wied; melham-se pelos habitos e genero de vida aos passaros cantores. Vivem constantemente em movimento. Empoleiram-se nos ramos 1 AVES EM ESPECIAL 479 os das arvores das florestas; voam de ramo em ramo e suspen- para caçar insectos ou apanhar os fructos de que se alimentam. principalmente de laranjas. Quando estes fructos estão maduros, | OS co ! 1 tanto nas florestas espessas, como nos pequenos dude O OS PASSAROS AZUES um bico comprido, fino, um pouco comprimido lateralmente, pa gudo, ligeiramente chanfrado na extremidade da mandibula ps Ea 480 E HISTORIA NATURAL A denominação latina d'este passaro é Certhia cyamea; os. * Gupupiin-iyo quit-quil sai. CARACTERES O sai é um soberbo passaro de um azul brilhante, com o ve ICE cabeça azul-verde, as costas, as azas, a cauda e uma linha que en os olhos, negras, e o bordo interno das remiges amarelo. O bico é gro, os olhos são castanhos e os pés vermelhos e amarellos. ganta esbranquiçada. dA cqait Este passaro mede treze centimetros de comprido: a cauao ne trez. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHIGA Habita uma grande extensão da America do Sul; encontra a Colombia. até ao sul do Brazil. a COSTUMES Na provincia do Espirito-Santo é, no dizer do principe de Wied passaro mais commum que em qualquer outra parte. Encontra-se al florestas que ficam proximas das costas. Vive aos pares na quadra dos amores e em pequenos dando seis a oito individuos no resto do anno. Move-se pitada no ci das arvores. O regime dºeste passaro é insectivoro e frugivoro. O grito de reclamo é breve e muitas vezes repetido. nhia dos seus congéneres, AVES EM ESPECIAL 481 Quando é tempo de estarem os fructos maduros, O sai faz excursões 3 pomares. UTILIDADE , fino na extremidade e terminado em ponta direita e s aras são e id a segunda, terceira e quarta remiges O ASSUCAREIRO MARIQUITAS este o nome indigena da especie em questão, Certhia flaveola, de 31 la o tão alto como largo na base, ligeiramente recurvo no sen- * 482 HISTORIA NATURAL CARACTERES Tem as costas trigueiras escuras ou cobreadas, o ventre e o uropi- gio de um magnifico amarello, uma linha que encima os olhos, as remiges | primarias pelo lado externo, a extremidade da cauda e as rectrizes ex- ternas brancas, a garganta cinzenta, o bico negro e os pés escuros. A femea tem o dorso côr de azeitona e o ventre amarello pallido. | Este passaro tem dez a onze centimetros de comprido; a cauda tem trez. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA É commum em todo o Brazil e nas ilhas da America central. COSTUMES Grosse é o auctor que melhor estudou o assucareiro mariquitas. Se- gundo elle, este passaro encontra-se muitas vezes na companhia dos co- libris; visita as mesmas flôres e com o mesmo fim. Comtudo não paira diante das flóres, como fazem os colibris; pousa n'uma arvore e saltando de ramo em ramo, remexe o interior das corollas. Toma então as posi- ções mais diversas e mais singulares. Vê-se muitas vezes suspenso de um ramo com as costas para baixo, mergulhando o bico e a lingua no interior das flôres para apanhar os mais pequeninos insectos. Este passaro não é desconfiado; na Jamaica penetra muitas vezes nos jardins. Faz ninho nas moutas pouco elevadas, collocando-o perto do ninho das vespas papyraceas. Parece que o protege a presença d'estes temi- veis insectos. O ninho é espherico e feito de lanugem e cotão que cobre certas plantas. “A quadra dos amores é em Maio, Junho e Julho. Os ovos são dois, de um branco esverdeado, cobertos de manchas numerosas avermelhadas. AVES EM ESPECIAL 483 OS COMEDORES DE ASSUCAR ida, lembrando os colibris, de que aliás diferem pelas azas s tarsos compridos, assim como pelos costumes. CARACTERES | remiges primarias em numero de dez, a cauda truncada em to, arredondada ou conica, apresentando por vezes as duas passaros realisam duas mudas por anno e só na quadra da re- offerecem uma plumagem esplendida; depois d'essa Pça a é escura. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA COSTUMES Rirpraçã 14” fisia ? E : : k sa , - . . ms r s costumes d'estes passaros são muito interessantes; não é sem amplamente justificados que Brehm considera os comedores de E, familia dos tenuirostros. “ Encontram-se sempre aos pares; só um pouco depois da quadra dos x + 484 HISTORIA NATURAL amores é que se apresentam em pequenas familias, que não tardam a separar-se. Cada par escolhe um dominio de certa extensão é não consente ahi a presença de nenhum dos congéneres. Onde quer que se encontre uma arvore florida ha a certeza de que ahi estarão os comedores de assucar. Penetram frequentes vezes nos jar- dins e, sem manifestarem nenhum receio do homem, chegam até muito perto das habitações. As mimosas e em geral todas as arvores cujas flóres attráem grande numero de insectos, constituem o ponto de convergencia dos comedores de assucar. A alimentação d'estes passaros consta de insectos. O nome por que são conhecidos não é pois, digam o que disserem alguns naturalistas, muito apropriado. No tempo dos amores os machos mostram-se orgulhosos com a ex- plendida plumagem que os reveste: tomam posições singularissimas, exe- cutam movimentos muito diversos e soltam uma canção harmoniosissima. O ninho suspende-se de ordinario a pequenos ramos e é artistica- mente construido. Os ovos são brancos e em pequeno numero. O SOUI-MANGA Buffon descreve assim este passaro: «(O soui-manga tem a cabeça, a garganta e toda a parte anterior de um magnifico verde brilhante com um duplo collar, violeta e roxo; mas estas córes não são nem simples, nem permanentes: a luz que incide nas barbas das penas como em ou- tros tantos prismas, faz-lhes variar incessantemente as cambiantes desde o verde dourado até ao azul ferrete. Este passaro tem de cada lado por baixo da espadua manchas amarellas; o peito é cobreado, o resto da parte inferior do corpo amarello claro e o resto da parte superior côr de ses AVES EM ESPECIAL 485 ona. As pennas das. azas são trigueiras, bordadas de azeitonado e as m n parte bordada de pardo escuro; a seguinte é terminada por esta | à côr. 8: bico e os pés são negros. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA a especie habita a ilha de Madagascar. O SOUI-MANGA DE PEITO VERMELHO “O naturalista que acabamos de citar, Buffon, descreve assim esta cie: «Tem a cabeça, a garganta e a parte anterior do pescoço loiras, ruivas e negras brilhantes, cambiando para azul-violeta, o corpo pelo “de cima e na parte anterior côr de castanha e purpura, na parte ior violeta, cambiando para verde dourado, as pequenas cobertu- das azas da mesma côr, as medias trigueiras, terminadas por côr de à e purpura, o peito e o alto do ventre de um vermelho vivo, O da face inferior de um amarello azeitonado, as pennas e as grandes às das azas “trigueiras, circuitadas de ruivo, as pennas da cauda “MISTORIA NATURAL verde dourado, O ii negro por cima, branen por baixo, q os ' ros e as unhas muito compridas.» ! “Segundo o mesmo naturalista a femea é de um ia de pela parte superior e de um amarello azeitonado pela inferior ; as da cauda são. negras e os sen pares Interaes ii parda. Rr O SOUI-MANGA TRIGUEIRO E BRANCO E este o nome que dá à variedade o naturalista Pay r Buffon perfilha. | l Bum, Loc. cit., pg. 192, tus flavescens, » AVES EM ESPECIAL - 487 vw CARACTERES | ssaro é branco na face inferior, trigueiro na superior com al-. os cobreados. Tem um traço ou raia de côr trigueira entre o especies de sobrancelhas brancas. O bico e os pés são imento total d'este passaro é, segundo Buffon, de trez pol- meia. | DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA , “de dispersão deste passaro é a mesma que a do soui-manga CARACTERES fa] Ú s ) s Pis - , . Tem o dorso e as pequenas pennas das azas de côr doirada com Ss pretas e arroxadas, 0 uropigio e a cauda côr de aço polido cam- para o verde e, como o nome indica, a garganta violeta e o peito 488 ; HISTORIA NATURAL DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA * 44 É a mesma que a da variedade anterior. O SOUI-MANGA VIOLETA COM PEITO VERMELHO Ácerca d'este passaro escreve Buffon: «O violeta é a côr dominante na plumagem desta variedade. Sobre este fundo escuro sobresáem com vantagem as côres mais vivas das partes anteriores: na garganta e ver- tice da cabeça um verde dourado brilhante com reflexos cobreados; so- bre o peito e parte anterior do pescoço um soberbo vermelho brilhante, unica côr que n'estas partes apparece quando as pennas estão bem dis- postas umas sobre as outras. Cada uma d'estas pennas é porém, de trez côres differentes: negra na origem, verde dourada na parte media e ver- melha na extremidade—prova decisiva, entre outras, de que não basta dizer as côres das pennas para dar uma idéa justa da côr do conjuncto. As pennas da cauda e das azas são trigueiras; o bico é negro e os pés muito escuros, quasi negros.» * O comprimento total deste passaro é de cinco pollegadas. O talhe é 7 o da carricinha. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA + Este passaro encontra-se no Senegal. Por isso Linneu o denominou, attendendo à área de dispersão geographica, Certhia senegalensis, 1 Buffon, Loc. cit., pg. 126. CO AVES EM ESPECIAL 489 em Pa O SOUL-MANGA PURPURA este passaro, escreve Buffon, tivesse verde dourado cambiante e na garganta e vermelho em vez de verde e amarello no “quasi inteiramente semelhante ao soui-manga violeta de peito ou pelo menos parecer-se-hia com elle muito mais do que com ga de colar que não tem uma cambiante purpura na pluma- e DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA É) n Ag a menos espaço que no soui-manga a: o sobe menos alto 1 uma especie de cinto contiguo pelo bordo superior a um collar comprimento total d'este passaro é de quatro pollegadas e meia. “Segundo Brisson, a femea differe do macho em ter a parte inferior DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHIGA - Esta variedade é originaria do cabo da Boa-Esperança. ] É da parte inferior do corpo é amarello. A parte superior do corp um azeitonado escuro; esta côr circuita tambem as penn das azas. O bico é negro e os pés são cinzentos escuros. | O comprimento total d'este passaro é, segundo Buffon, legadas. | à ag E DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Esta variedade pertence ás Philippinas, donde foi trazido vez, ao que parece, pelo naturalista francez Poivre. ” o O SOUL-MANGA PARDO DE BRISSON as ) Tem a parte superior do corpo de uma bella tinta parda tri a garganta e a parte inferior do corpo amareladas, uma facha 491 negros. À lingua d'este passaro termina por dois filetes. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA eso de pie Ceylanica omuicolor. CARACTERES ) be-se ácerca Ci passaro, diz Buffon, que a sua plumagem é com uma bordadura côr do aço polido, as azas trigueiras, o bico comprimento total, segundo Buffon, é de perto de quatro polle-: soui-manga provem de Ceylão. v y Tem a garganta de um oaiida arhnto k | a cabeça, O pescoço ea parte anterior. das azas de um famoso roxas, O bico e os pés negros. 0 comprimento total é de perto de cinco lagoa Segundo Sonnerat, este passaro der tão bem como é : xinol, teria mesmo uma voz mais suave. 4. Ê 1 Citado por Buffon, Loc. cit. - DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA da de é propria de Bengala, alogos aos que acabamos de estudar. nn N nome. só poderia provir-lhe da circumstancia de possuir na € 494 ane Es HISTORIA NATURAL E tambem conhecido este passaro pelo nome vulgar dé pe: pador. Este nome parece indicar que as suas dimensões são | que as das outras variedades, o que não é exacto. Buffon ach pennas medianas, mais curtas do que as outras. CARACTERES coço de um violeta egualmente brilhante, mas cambiando pe resto da parte superior do corpo de um escuro azeitonado, € borda ou circuita as pennas das azas e da “cauda, que são 1 mais ou menos escuras, e o resto da parte inferior do corpo de ranjado vivo nas partes anteriores e desmaiado para traz. A O comprimento total d'este passaro é, segundo Buffon, de : is gadas e mais. ; * DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA — Esta variedade pertence ao cabo da Boa-Esperança. Bris 1) dbndo ao logar habitado, chamou-lhe Certhia ei minor Bonne-Spei, sa AVES EM ESPECIAL 495 ULMANGA DE LONGA CAUDA VERDE E DOURADO to vermelho e todo o resto do corpo de um verde dou- “DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA passaro pertence ao Senegal. Brisson chamou-lhe Certhia longi- . “ ES 4 E“ DE SOUI-MANGA VERDE DE LONGA CAUDA ; u E í ; nde de Querhoent descreveu assim este passaro: «Tem as do pintarroxo. O bico, que é um pouco recurvado, tem qua- s de comprimento e é negro, assim como os pés que são de unhas compridas. Tem os olhos negros e as partes supe- ior do corpo de um bello verde brilhante com algumas pennas 1 amarello dourado sob as azas. As grandes pennas das azas e da são negras com cambiantes violetas.» ! | “, y “HISTORIA NATURAL * DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA E Este passaro pertence ao cabo da Boa-Esperança. “e “ “D ) + “08 FORNEIROS ER ave da Eurdom. Segundo Bretm, apenas no porto o os tordos. | ET REM É auto CARACTERES se pe pa e alia * Teem o corpo PRRRE A um pouco mais comprimido « beça, de aresta dorsal ligeiramente curva, mais alto que la parte anterior, tão alto como largo na base, os tarsos muito dedos fortes armados de unhas curtas, aceradas, fortement “ curtas cobrindo apenas 0 primeiro terço da cauda, à et misriubuição GroGrarmICA proa “ Estes passaros pertencem à America do Sul, + oo... 2, AVES EM ESPECIAL 497 - COSTUMES O FORNEIRO. CARACTERES E] plumagem d'este passaro é de um o E ilio-ruivo cambiando pári o. A parte superior da cabeça é porupina trigueira, o ventre é 32 498 5; HISTORIA NATURAL COSTUMES O forneiro vive tanto em terra, como sobre as arvores. De ordinario vive aos pares ou isolado; comtudo algumas vezes reune-se por algum tempo aos outros passaros. O forneiro é insectivoro e granivoro. Segundo Burmeister, apanha os insectos que encontra em terra; nunca os apanha nos ramos das ar- vores e muito menos durante o estio. Este passaro é muito agil em terra, onde dá saltos de uma exten- são relativamente consideravel; em compensação possue um vôo 'berao rapido e sustenta-se pouco tempo no ar. A voz do forneiro é muito singular; aflirmam-o unanimemente os naturalistas, fallando della uns com elogio, outros com pouca estima. Burmeister diz: «A voz do forneiro é forte e rouca; de ordinario os indi- viduos de um casal gritam ao mesmo tempo, empoleirados nºum ramo d'arvore ou n'um telhado, mas cada um de seu modo: a voz do macho é de um rhytmo mais rapido e a da femea de um rhytmo retardado e um pouco mais baixa. O ruido assim feito é extraordinario para quem não está habituado; mas não é de modo algum agradavel.» * Os indigenas do Brazil teem o forneiro na mais alta consideração, consideram-o quasi sagrado e não o perseguem. É por isso que a quem o vê pela primeira vez, este passaro parece atrevido, excessivamente confiado. Se porém é asiinhinintá victima de uma perseguição, todo esse atrevimento, toda essa confiança excessiva desapparece. he A proposito do ninho, diz Burmeister: «É surprehendente, quando se tem em vista a pequenez do passaro. É de ordinario construido sobre um ramo horisontal ou ligeiramente inclinado, de oito centimetros, pelo menos, de espessura. Macho e femea trabalham em commum. Começam por dispôr uma primeira camada de terra humedecida pelas chuvas. Formam com essa terra pequeninas bollas que transportam para a arvore e que dispõem e estendem com auxilio dos pés e do bico. De ordinario, conjunctamente com a terra vão alguns fragmentos vegetaes. Desde que a primeira camada de terra humida tem o comprimento de vinte e dois a vinte e cinco centimetros, os passaros cercam-o de um rebordo um pouco inclinado para fóra, attingindo, quando muito, seis centimetros de altura, mais elevado nas extremidades do que no meio e disposto de modo a formar uma linha concava. Sobre este rebordo, logo que elle está, ! Citado por Brehm, Obr. cit., vol, 4.º, pg. 28. io E pe env te 4 ps + AVES EM ESPECIAL 499 * secco, dispõem um segundo semelhante, um pouco inclinado para dentro; “depois vem um terceiro, e assim successivamente até que a cupula esteja terminada. A um dos lados acha-se praticada uma abertura semi-circular. O ninho depois de acabado parece-se com um pequeno forno de dezeseis a dezenove centimetros de altura, de vinte e dois a vinte e cinco de largo e de onze a quatorze de profundidade. As paredes teem uma es- pessura de trez a quatro centimetros. A cavidade interior tem pois uma altura de onze a quatorze centimetros, um comprimento de quatorze a E dezesete e uma largura de oito a onze.» | A - Depois de descripta esta primeira parte da construcção, o mesmo “naturalista continua: «É n'esta cavidade que o passaro construe o ninho propriamente dito. Do bordo direito da abertura parte um scepto vertical que se dirige para o interior da construcção e que sustenta um outro scepto transversal, collocado acima do fundo. O aposento assim limitado é cuidadosamente cercado de hervas seccas e mais dentro de pennas e de cotão. É ahi que a femea deposita dois a quatro ovos brancos.» 2 *- Macho e femea chocam alternativamente; ambos alimentam os filhos. À primeira postura tem logar no começo de Setembro; a segunda "muito mais tarde. CAPTIVEIRO Ao naturalista Azara, tantas vezes aqui citado, devemos o conheci- mento dos habitos de vida do forneiro captivo. Este naturalista possuiu eo: A individuo da especie durante um mez. 2 Em captiveiro este passaro pode ser alimentado com arroz cosido e carne crua; dá a preferencia a esta ultima substancia. p 3 — Marchando, ergue um pé e conserva-o algum tempo estendido antes E) “que o pouse no chão. Só depois de ter dado assim alguns passos é que E principia a correr. Ás vezes alterna os dois processos de marcha: a cor- E: rida e o passo vagaroso, cadenciado, magestoso. Quando canta ou grita, alonga o pescoço e bate repetidas vezes as “azas. RO, o Nãose dá ii na companhia dos úiio. t Citado por Brehm, Loc. cit. 2 Tbid. 500 HISTORIA NATURAL OS COLIBRIS OU BEIJA-FLORES Estes passaros teem em todos os tempos attraído pela elegancia das formas e pela belleza da plumagem a attenção dos naturalistas mais dis- tinctos. Vamos transcrever para aqui algumas paginas de naturalistas e es- criptores eminentes do seculo passado e actual para que o leitor por el las ajuize da alta importancia d'estes passaros da familia dos tenuiros- tros. j Buffon escreve: «De todos os seres animados, são estes, os colibris, os mais elegantes de formas, os mais brilhantes de côres. As pedras pre- ciosas e os metaes polidos pela industria humana não são comparaveis a este mimo da natureza, que na ordem dos passaros os collocou no ul- timo grao da escala da grandeza, maxime miranda in minimis. A obra mais primorosa da natureza é o beija-flôr; accumulou n'elle todos os dons que só em parte concedeu aos outros passaros: a leveza, a rapidez, a presteza, a graça, a riqueza de plumagem — tudo pertence a este pequeno favorito da natureza. A esmeralda, o rubi, o topazio brilham-lhe na plu- magem; nunca os macula no pó da terra, porque durante a sua vida, es- sencialmente aerea, raras vezes toca, e só por instantes, na herva. Vive sempre no ar, voando de flôres em flôres—tendo d'ellas a frescura e o brilho, vivendo do nectar que ellas produzem e não habitando senão Os paizes onde ellas constantemente se renovam. ; «É nas regiões mais quentes do Novo-Mundo que se encontram to- das as especies de beija-flôres, que são numerosissimas e parecem con- finadas entre os tropicos, porque os individuos que se adiantam até às zonas temperadas pouco tempo ahi se demoram; parece que seguem o sol, que avançam e retrogradam com elle, voando nas azas dos zephiros em demanda de uma primavera eterna. «Os indigenas impressionados pelo brilho e pelo fogo que parece partir das côres d'estes brilhantes passaros, chamaram-lhes raios ou ca- bellos do sol. Os hespanhoes deram-lhes o nome de tomineos para desi- gnar a pequenez que os caracterisa, porque 0 tomine é um pezo de doze grãos. «O bico d'estes passaros é uma agulha fina e a lingua um fio delicado; os pequenos olhos negros parecem apenas dois pontos brilhantes e as pennas das azas são tão delicadas que parecem transparentes; os pés mal se vêem de curtos e delgados que são. Os colibris pouco uso fazem AVES EM ESPECIAL 501 destes orgãos, porque não pousam senão para passar a noite; durante O “dia deixam-se arrebatar pelas correntes d'ar, n'um vôo continuo e ra- pido.» 4 Mais adiante fallando ainda de alguns pontos relativos aos costumes caracteristicos da vida dos colibris, escreve: «Nada eguala a vivacidade d'estes pequenos passaros, a não ser a sua coragem ou antes a sua au- dacia. Perseguem com furia aves vinte vezes maiores do que elles, agar- ram-se-lhes ao corpo, deixam-se levar pelo vôo d'ellas e vão-lhes dando bicadas continuamente até que tenham satisfeito toda a colera. Algumas vezes mesmo travam entre si vivissimos combates. A impaciencia parece 7 a alma d'estes pequenos passaros: se, ao approximarem-se de uma flór, a encontram fanada, arrancam-lhe as petalas com uma precipitação que indica perfeitamente o despeito. «São solitarios; vivendo continuamente no ar, seria difficil que po- dessem reconhecer-se e juntar-se. Comtudo, o amor cujo poder excede o dos elementos, sabe approximar e reunir todos os seres dispersos. Na quadra da reproducção vêem-se os beija-flôres dois a dois. O ninho que construem corresponde à delicadeza do corpo; é feito de cotão fino e de uma especie de pêllo sedoso que apanham nas flôres quando principiam a abrir; a femea encarrega-se da construcção, deixando ao macho o cui- dado de procurar os materiaes. Cheia de cuidado neste trabalho querido, a femea procura, escolhe, emprega meticulosamente as fibras proprias para formar o tecido d'este doce berço dos filhos; vae polindo os bordos “com o pescoço e o interior com a cauda; reveste o exterior de peque- nos fragmentos de casca de gommeiro que colla em volta para defen- der o ninho das injurias do tempo e para tornal-o mais solido. O todo fica ligado a duas folhas ou a uma só de laranjeira, de limoeiro ou al- gumas vezes a um argueiro ou palha que pende do tecto de uma chou- pana. Este ninho não excede as dimensões de metade de um damasco e é hemispherico; ahi se encontram dois ovos todos brancos, não superio- res ao volume de pequenas hervilhas. Macho e femea chocam alternada- mente durante doze dias; ao decimo terceiro dia os filhos apparecem e não são então maiores do que moscas. «Concebe-se facilmente que é quasi impossivel crear estes pequenos volateis; aquelles que se tem ensaiado alimentar com xaropes, teem mor- rido no curto espaço de algumas semanas. Estes alimentos, embora leves, são ainda muito diferentes do nectar delicado que em liberdade vão li- bando nas flôres. Seria melhor dar-lhes mel.» 2 t Buffon, Obr, cit., vol. 7.º Articl. Oiseau-mouche, pg. 146 e 147. ?* Buffon, Loc. cit., pg. 148 e 149, 502 ; HISTORIA NATURAL Audubon diz: «Quem se não sentirá surprehendido ao vêr um d'es- tes pequenos serés fendendo o ar, sustentando-se como por encanto, voando de flôr em flôr, resplandecendo como um raio destacado do arco- iris, brilhando como a propria luz?» ! Waterton diz: «O colibri é o verdadeiro passaro do paraizo. Fende a atmosphera tão rapido como o pensamento. Passa-vos por junto do rosto e de repente desapparece para voltar n'um instante a voar de flôr em flôr. Parece um rubi e d'ahi a um momento —um topazio, uma esme- ralda, uma palheta d'ouro brilhante.» 2 Burmeister escreve: «Não existe na terra ave de porte mais gra- cioso, de côres mais vivas do que estes singulares habitantes da Ame- rica. É preciso tel-os observado vivos na sua patria para comprehender toda a somma de belleza que a natureza lhes concedeu.» 3 L. Figuier consagra a estes passaros as palavras que seguem: «Os colibris ou beija-flóres são os seres allados mais encantadores. A natu- reza distribuiu-lhes complacente todos os dons; creando-os parece ter. feito um esforço sobre si mesma e esgotado em beneficio d'elles todas as seducções de que dispõe: graça, elegancia, rapidez, esplendor de plu- magem, coragem indomavel, tudo lhes deu. Não se lhe peça mais depois de tão violento esforço! Poz toda a sua alma n'estes pequenos seres en- cantadores; e se quizesse excedel-os, é possivel que ficasse inferior a si mesma. Nada mais adoravel, com effeito, do que estes diabinhos que brilham com o fogo reunido do rubi, do topazio, da saphira e da esme- ralda, que volitam de flôr em flôr no meio da vegetação riquissima dos tropicos e que parecem com .o ruido continuo do seu vôo auxiliar o calor do dia para fazerem cair n'um repouso benefico e reparador os habitan- tes d'estas regiões torridas! A ligeireza destes passaros é tão grande, o vôo tão rapido e as dimensões tão pequenas em certas especies que à vista é impossivel seguir o bater precipitado das suas azas finas. Quando pairam parecem completamente immoveis; dir-se-hia que estão suspensos por fios invisíveis. «Creados especialmente para a vida aerea, vivem em movimento constante, entretidos a procurarem os alimentos nos calices das flôres. Os seus olhos pequenos, vivos e brilhantes prescrutam os recantos mais escondidos; e quando descobrem algum insecto, apanham-o com o bico tão delicadamente que mal razam a planta. Bebem tambem o sueco e O mel das flóres, mas não fazem d'elles alimento exclusivo, como affirma- 1 Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 89, As * Pia: FE | do a 3 Tbid. AVES EM ESPECIAL 503 ram muitos auctores. Este regime, pouco substancial, seria insuficiente para sustentar a prodigiosa actividade que empregam a todos os movi- mentos da existencia. ! «A lingua de que se servem é um instrumento microscopico, mara- vilhosamente disposto. Compõe-se de dois semi-tubos, collocados um de encontro ao outro e susceptiveis de se affastarem ou approximarem, como os ramos de uma pinça; é além d'isso constantemente humedecida por uma saliva viscosa que serve para reter ou apanhar os insectos. «Orgulhosos com a sua plumagem, os beija-flôres teem um grande cuidado em mantel-a aceiada. Passam frequentemente o bico pelas pen- nas para as alisar e manter-lhes o brilho. São de uma vivacidade, de uma petulancia indescriptiveis e muitas vezes manifestam sentimentos bellicosos que ninguem esperaria de tão fracas creaturas. Attacam pas- saros muito mais volumosos do que elles, agridem-os, perseguem-os sem descanço, ameaçam-os, emfim conseguem sempre fazel-os fugir. Combatem mesmo entre si. Se dois machos se encontram junto de um " mesmo calice de flôr, precipitam-se algumas vezes um sobre o outro e elevam-se no ar soltando gritos até que a gente os perde de vista. Depois d'isto o vencedor volta para junto do calice da flôr, causa primi- tiva do conflicto e justo premio da sua valentia. «O ninho do colibri é uma obra prima de architectura. É do tama- nho de metade de um damasco ou de um ovo de gallinha. Os materiaes são trazidos pelo macho e dispostos depois em obra pela femea. É feito de lichens, artisticamente entrelaçados e adherentes por meio de saliva do passaro e “internamente guarnecido de barbilho ou algodão em rama e de fibras sedosas arrancadas a differentes plantas. «Este famoso berço suspende-se ora a uma folha, ora a um pequeno ramo, ora mesmo a uma simples palha que pende do tecto da choupana de um indigena. É ahi que 'a femea deposita duas vezes por anno um par de ovos todos brancos e comparaveis na grossura a hervilhas. «Os fetos rompem a casca ao fim de seis dias de incubação; ? uma semana mais tarde já se acham aptos para o vôo. Durante toda a qua- dra dos amores, os esposos prodigalisam-se reciprocamente as mais ter- nas caricias; teem tambem um grande affecto pelos filhos. «Todos os povos teem recorrido a vivas imagens para designar estes 1 Esta afinação rectifica as de Buffon, acima transcriptas. A verdade é o que diz Figuier e com elle os naturalistas contemporaneos. 2 Neste ponto as informações de Figuier não estão de accordo com as affirma- tivas de Buffon. A verdade está do lado de Figuier: é ao fim de seis dias e não de treze, como diz o naturalista antigo, que os novos colibris rompem a casca dos ovos, 504 HISTORIA NATURAL passaros. Os hespanhoes (e poderia acrescentar—os portuguezes) cha- mam-lhes pica-flóres ou beija-flóres e os brazileiros chupa-flóres ou suga- flóres; emfim, para os indigenas estes seres aereos são cabellos do sol ou raios do sob.» * Pela extensa transcripção que acaba de ser feita, vê o leitor que Fi- guier, áparte umas ligeiras dessidencias, repete Buffon; o mesmo fazem outros auctores modernos. É que o illustre naturalista francez, nos as- sumptos em que pôde fazer observações proprias e directas, foi sempre | consciencioso e pode ainda servir de modelo a contemporaneos. Para que este artigo sobre os colibris se torne tão completo quanto possivel, citaremos ainda dois notaveis naturalistas modernos, Brehm e Burmeister. CARACTERES Diz Brehm: «Os colibris variam muito sob o ponto de vista das di- mensões: uns são do tamanho das pequenas especies de assucareiros, outros não excedem uma mosca das grandes. O corpo é alongado ou pelo menos parece tal, porque a cauda é geralmente comprida. Em algumas especies que teem apenas uma cauda curta e rudimentar, vê-se que 0 corpo é vigoroso e refeito. O bico é fino, alongado, finamente aciculado, recto ou ligeiramente recurvo, ora do comprimento da cabeça, ora muito mais comprido, em alguns mesmo da extensão de metade do corpo. À bainha cornea que o cobre é muito fina. A ponta é recta, 'o bordo n'uns é ligeiramente chanfrado ou finamente dentado na extremidade e n'outros inteiro; em alguns as mandibulas apresentam sulcos profundos, -a supe- rior abraça completamente a inferior e forma com ella um tubo dentro. do qual se aloja a lingua. Atraz a aresta dorsal faz saliencia e apresenta. uma ligeira excavação que pode considerar-se como representando a ex- cavação nasal, embora as narinas se não abram ahi, porque se acham collocadas fóra, immediatamente ao lado do bordo, apresenta sob a forma de medos estreitas e alongadas. «Os pés dos colibris são notavelmente pequenos e delicados. Os tar- sos são cobertos de pennas mais vezes acamadas do que eriçadas. Os de- dos, completamente separados ou um pouco reunidos na base, são cobertos de escamas curtas. As unhas, muito aceradas, muito ponteagudas, egua- lam ou excedem mesmo em comprimento os dedos. As asas são compri- 1 L. Figuier, Les Oiseaux, pg. 321 e seguintes, AVES EM ESPECIAL 505 “das, estreitas, ligeiramente recurvas em foice. À primeira remige é sem- “pre a mais comprida, sendo a sua haste mais forte que a das outras; em - algumas especies a sua primeira metade é muito larga. Ha de ordinario - dez, algumas vezes nove, remiges primarias e seis secundarias. D'estas, “as quatro primeiras são eguaes entre si e as duas ultimas mais curtas e “Jargas; a ultima remige primaria é mais comprida que as secundarias. “A cauda conta sempre dez rectrizes, mas é muito diversamente confor- “mada consoante as especies. Muitas teem a cauda em forquilha, exce- - dendo as rectrizes externas mais ou menos as outras e tendo mesmo, “em muitas, seis vezes o comprimento das mais curtas. Ás vezes as re- “ctrizes atrophiam-se, ficam como rudimentares, e mais parecem agulhas “do que pennas. Outras vezes a cauda é forquilhada, mas arredondada fóra de modo que, quando o passaro a abre, as extremidades das rectrizes formam uma linha curva. N'outras emfim, a cauda é simplesmente arre- “dondada, sendo então as rectrizes medianas as mais compridas. «A plumagem é muito rija e abundante relativamente ás dimensões do passaro e não é uniforme em todas as partes do corpo; assim é que certos colibris teem a cabeça encimada por uma poupa mais ou menos comprida e outros um collar em torno -do pescoço ou tuffos de pennas que simulam uma barba. A plumagem varía mais ou menos, segundo a "idade e o sexo. Não se sabe ainda positivamente se os colibris mudam “uma ou duas vezes por anno. Em torno dos olhos ha um circulo nú, muito largo.» ! «O esqueleto dos colibris, escreve Burmeister, é muito delicado. Os ossos do tronco são quasi todos pneumaticos; as orbitas são muito gran- des e o scepto interorbitario parece perfurado. Contam-se doze a treze vertebras cervicaes e oito dorsaes. A forquilha, curta e estreita, não se “articula com o esterno. Este é muito largo na sua parte posterior, arre- - dondado, desprovido de chanfradura e de lacunas. O appendice xiphoideo é extremamente elevado e muito saliente para diante. A bacia, curta é - arga, parece-se mais com a dos petos e cucos do que com a das aves " camoras. Às vertebras caudaes são cinco ou sete, conforme as primeiras são ou não soldadas aos ossos da bacia. O membro superior oferece Ke - - como particularidades—um omoplata extenso, um humero e um ante- Jraço curtos, e a mão, pelo contrario, muito comprida. Os ossos do mem- bro inferior são muito delgados e curtos; comtudo os dedos teem o nu- mero normal de articulações. «O apparelho lingual assemelha-se ao de um peto, porque os longos 1 Brehm, Obr, cit., vol, 4.º, pg. 82 e 83, 506 HISTORIA NATURAL cornos do osso hyoide sobem, atraz, acima da cabeça, chegam à fronte, e attingem mesmo em repouso os bordos do bico. A lingua é formada por dois cylindros soldados na base e termina por uma superficie quasi membranosa e munida de recortes lateraes. Estes cylindros são occos e parecem conter apenas ar; pelo menos não encontrei mais nada no seu interior. Atraz são soldados um ao outro e n'esta porção a sua cavidade acha-se cheia de um tecido cellular pouco denso. A lingua torna-se um pouco mais espessa atraz e termina por duas superfícies lisas, um pouco divergentes. Esta parte da lingua é tão comprida como o bico. Immedia- tamente atraz d'estas duas superfícies, o orgão torna-se musculoso e si- mula um curto pediculo cuja superficie se encontra cavada de sulcos. Este pediculo que corresponde ao corpo do osso hyoide, vae-se tornando successivamente mais espesso até ao nivel da larynge; ahi divide-se em dois ramos que abraçam esta mesma larynge, passam ao lado dos bron- chios, da maxilla inferior e sobem para a região occipital. São os cornos do osso hyoide, aos quaes se insere um par d'estes musculos, que deter- minam os movimentos da lingua. O mais forte d'estes musculos está col- locado por traz do osso hyoide que costeia até ao nivel da lingua; é elle que, contraindo-se, determina a saída da porção cylindrica. N'este movi- mento a bainha do pediculo da lingua encontra-se estendida desde a sua raiz até à larynge e o seu comprimento é quadruplicado ou mesmo sex- tuplicado. O segundo musculo, inserido no corno do osso hyoide ao nivel da articulação mediana, costeia este corno, passa por cima da cabeça, sobre a região frontal e insere-se à raiz do bico. Contraindo-se, sollicita a lingua para traz e encurtece a respectiva bainha entre a base da lin- gua e a larynge. «Dissequei as partes molles de muitas especies de colibris.e nada encontrei de especial e digno de menção. No pescoço, o esophago apre- senta uma dilatação oblonga, situada acima da forquilha, como nos petos e nos cucos. Depois este orgão estreitece e communica por uma abertura fina com o ventrículo succenturiado. Este é curto e o estomago é muito pequeno, redondo, pouco musculoso. O primeiro tem a superficie interna coberta: de glandulas dispostas em rede; a superficie interna do segundo é lisa. Nos colibris não se encontra nem ceco, nem visicula biliar; o fi- gado é grande, bilobado, sendo o lobulo direito muito maior que o es- querdo. A trachea bifurca-se acima da forquilha, e ao nivel d'esta bifur- cação encontra-se uma larynge inferior, globulosa, cuja face debaixo é coberta de cada lado por dois musculos: um fino, o outro filiforme. Os lobulos pulmonares são muito pequenos; pelo contrario, o coração é muito volumoso e trez vezes maior que o estomago. O oviducto que desce para 0 lado esquerdo do corpo é muito grande e muito largo, o que está em relação com o volume relativamente extraordinario dos ovos destes. AVES EM ESPECIAL 507 s. Os ovarios e os testiculos são pequenos, difficeis de encontrar. ulos peitoraes são desenvolvidos de um modo extraordinario.» 4 COSTUMES DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA ER: Quando volitam junto de uma flôr, diz Buffon, é possivel “mão. Atirando-lhes com areia ou dispondo nas arvores s enviscadas, consegue-se sempre apanhal-os. did À ta. ah í " E ad gro j . o : ] y Ro dies be létiil, Diz: E 45 perto a get . 508 HISTORIA NATURAL USOS E PRODUCTOS «Os Peruvianos, diz Buffon, tinham a arte de compor com as pennas . dos colibris dia difforentes, cuja belleza as antigas narrativas não cessavam de exaltar.» 1 No Brazil empalham-se estes passaros e exportam-se para França onde fazem d'elles adornos para os chapeus das senhoras. A moda entre- tem este commercio ha alguns annos. PRECONCEITOS Os auctores antigos, arrastados pela vivacidade de uma imaginação, nem sempre disciplinada e corrigida nos seus vôos latitudinarios pelas severidades da observação scientifica, attribuiram aos colibris proprieda- des que elles decididamente não teem. Como se a enorme belleza natu- ral d'estes pequenos passaros fosse ainda pouca, procuraram engalanal-os com artifícios chimericos e propriedades phantasiosas. Assim é que, não contentes com attribuirem (o que aliás é exacto) à plumagem dos colibris o lustre e o avelludado das flôres, os antigos quizeram tambem conceder a estes passaros o perfume rolam Digsonaa que elles exhalavam o cheiro do almiscar. Affirmaram ainda outros naturalistas antigos que estes pequenos seres eram metade moscas, metade passaros e que eram produzidos por estes insectos. Conta Buffon que um provincial da ordem dos jesuitas affirmara gravemente ter sido elle proprio testemunha de uma tal metamorphose. - Affirmou-se ainda que os colibris morriám com as flôres para renas- cerem com ellas ou que passavam caídos em lethargia profunda toda a estação do inverno, suspensos pelo bico da casca de uma arvore. 1 Buffon, Obr. cit., vol. 7.º, pg. 150. gi Ximenes attribuia a mesma arte aos Mexicanos. AVES EM ESPECIAL o 09 DIVISAG St dio ler « om elle os naturalistas que lhe succederam, dividem o ] colibris em dois sub-grupos: os colibris propriamente ditos e h moscardos. A base da distincção estabelecida entre estes tó s fe os a Seguinte: os passarinhos moscardos teem o bico direito, ecies actualmente conihociddi! peido ao numero de quatro- ; vinte e ge à peca perfeitamente. que não nos é “caracter geral e distinctivo dº este sub-grupo figura, já O dis- existencia de um bico direito. apto r + EE ão 510 HISTORIA NATURAL O BEIJA-FLOR MINIMO No dizer de Buffon, este beija-flôr, tem apenas quinze linhas de comprimento total, isto é medido desde a ponta do bico até à extremi- “dade da cauda. O Dr. Anstett diz que o comprimento é de dezeseis 1i- nhas; * a differença de numeros é insignificante. Este ultimo naturalista dá à especie em questão um pezo de vinte grãos. Estas medidas, como nota Buffon, são inferiores às das grandes moscas da Europa. A parte superior da cabeça e do corpo é de um verde dourado es- curo de reflexos avermelhados; a parte inferior do tronco é parda clara. As pennas das azas são de um trigueiro cambiando para o violeta. O bico e os pés são negros. As pernas são cobertas até muito abaixo de pennugem e os dedos são guarnecidos de pequenas unhas agudas e cur- vas. Às pennas da cauda são dez, de um negro com tons azulados e com o brilho do aço polido. | A femea apresenta côres menos vivas e é um pouco mais pequena que o macho. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Esta especie é commum no Brazil e nas Antilhas. Buffon recebeu um exemplar que lhe foi enviado da Martinica e Edwards um outro que lhe mandaram da Jamaica. | Dr. Anstett, Obr. cit., vol. 1.º, pg. 297. so. AVES EM ESPECIAL 513 O BEIJA-FLOR MAGNIFICO 1 O BEIJA-FLOR RUBI-TOPAZIO a ca parte superior da cabeça e do pescoço é brilhante como um e o “garganta e toda a parte anterior do pescoço até ao peito, vistas de q 1 Devemos á obsequidade do Ex.mo Snr. José Pereira da Cunha e Silva o co- Ê nhecimento d'este nome vulgar que em livro nenhum encontramos e que corresponde ao huppe-col dos francezes e ao throchilus ornatus da nomenclatura, scientifica. VOL. IV 4 33 “ ea RE ça PARA, E E > ia ten, E E Tent E Ee ; 4 x v Es, o 514 “HISTORIA NATURAL cebido muitos exemplares de apta: A RARE “azas são trigueiras e a cauda negra. face, brilham como um topazio; estas mesmas partes, vistas um f de baixo, parecem de ouro e vistas mais de baixo ainda mudam, gueiro escuro avermelhado; as azas são trigueiras violetas e o baixo tre E branco. As pennas da a são ruivas douradas e tintas de relativamente larga. j (8) donde do passaro pouco excede trez pollegadas. dy DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA. Esta especie é commum na America do Sul. Buffon dizia c tornara vulgarissima nos gabinetes dos naturalistas; Seba | | O BEIJA-FLOR DE POUPA Esta especie é uma das mais pequenas; não excede talvez O flôr rubi. Fu O signal caracteristico deste passaro é a poupa de uma de esmeralda. O resto da plumagem é um pouco escuro. As ce sentam alguns reflexos verdes e dourados sobre um fundo trigas A femea não tem poupa. pi “DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Este Dbeija-flôr habita as Antilhas. do lar aê) o “AVES EM ESPECIAL | 515 “O BEIJA-FLOR PURPURA Em 3 “deste passaro é uma mistura de alaranjado, de pur- - Edwards ' à faz notar que é este o unico RR tivo d'este passaro é a existencia de uma raia dou- ta. À parte inferior do corpo é parda clara e a parte rde dourada. m rimento da especie pouco bntodá trez pollegadas. O REIS A-FLOR SAPHIRA Tem a ra anterior do pescoço e o eio de um rico azul de sa- 1 vid. Edwards, History of birds, t. 1, pg. 32. phira com reflexos loloáno a garganta é ruiva. À parte supe: ferior do corpo são de um verde dourado escuro. As pennas da são ruivas douradas com uma bordadura trigueira e as das azas | ras. O bico é branco, excepto na ponta que é negra. artes phira e esmeralda. O azul de saphira cobre a dio e E tendo-se e fundindo-se admiravelmente com o verde esm “DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Mede esta especie approximadamente quatro pollegadas. À garganta e a parte anterior do pescoço sãg de um verde de es “Av e ESA + 517 'ilhante e dourado; o peito e a parte superior das costas de um à methysta formosissimo. O fundo das costas apresenta um verde do sobre um fundo trigueiro. O ventre é branco, as azas e a cauda Esta especie é maior que a antecedente, porque apresenta pollegadas e quatro linhas de comprimento. Tem a garganta 1 ; como um rubi, a cabeça, o pescoço, a parte anterior e superior « de um verde esmeralda com reflexos dourados e a cauda ruiva. | DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA o Encontra-se esta especie no Brazil e na Guiana. O BEIJA-FLOR JACOBINO Este. aijadór é um dos maiores do Siri em die | quatro pollegadas e oito linhas. Tem a cabeça, a garganta e o pe de um bello azul escuro cambiando em verde. Na parte posenoa AVES EM ESPECIAL io : 519 , O BEIJA-FLOR DE PENNAS LARGAS nensões d'este passaro são as mesmas que as da especie ante- pollegadas e oito linhas de comprimento. parte superior do corpo é verde dourada e a inferior cria: do meio da cauda são como as das costas e as lateraes, bran- emidade, tendo o resto de um castanho brilhante como o aço facil distinguir esta Ee a Outras pelo alargamento de trez 520 HISTORIA NATURAL O BEIJA-FLOR DE LONGA CAUDA, COR DE AÇO O magnifico azul violeta que cobre a cabeça, a garganta e o pescoço Peste passaro, assemelhal-o-hia muito, no dizer de Buffon, ao beija-flôr saphira, se o comprimento da cauda não viesse distinguil-o muito d'esta especie. As duas pennas externas da cauda teem mais duas pollegadas que as duas medianas e as lateraes vão sempre decrescendo, o que torna a cauda forquilhada. A cauda é de um bello azul escuro luzidio, bri- lhante; o tronco tanto superior como inferiormente é de um verde dou- rado brilhante, apresentando o baixo ventre uma pequena mancha branca. O comprimento d'este passaro, incluindo a cauda, é de seis pollega- das. Ora deduzindo duas pollegadas, que tanto é o excesso das duas pen- nas caudaes externas sobre as outras, ficam apenas quatro —isto é um comprimento egual ao das duas ultimas especies estudadas. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Este beija-flôr habita o Brazil e a Jamaica. O BEIJA-FLOR DE LONGA CAUDA, OURO, VERDE E AZUL As duas pennas externas da cauda d'este beija-flôr teem quasi um comprimento duplo do corpo, isto é um pouco mais de quatro pollegadas. istas pennas e todas as da cauda são de uma grande belleza, apresen- tando reflexos azues, verdes e dourados, como affirma Edwards. A parte superior da cabeça é azul e o tronco verde; as azas são de um trigueiro avermelhado. eg A plage O AVES EM ESPECIAL ne» 521 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA - especie encontra-se na Jamaica. Re “ BEIJA-FLOR VIOLETA DE CAUDA FORQUILHADA da cabeça e do pescoço n'esta especie são trigueiros cam- “verde dourado; as costas e o peito são de um azul violeta As duas pennas exteriores da cauda são mais extensas, 0 que rquilhada. | primento total é de quatro pollegadas. — DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA as duas precedentes, esta especie habita a Jamaica. 7 A Ni - | 8 ” “ a " q PEÇA gbias Há d Este beija-flôr tem a cauda mais comprida que nenhum outro; as duas pennas externas teem quatro vezes o comprimento do corpo, que apenas mede duas pollegadas. Estas pennas são negras e a cabeça é-0 DE 8 RAE RE 522 HISTORIA NATURAL corpo é pes e as azas são côr de purpura. DISTRIBUIÇÃO GEROGRAPHICA É ainda na Jamaica que este beija-flôr se encontra. neo. Esta differença é, com effeito, a mais importante, a pr d'ella porém, devemos apontar as seguintes, secundarias: Os co um pouco maiores do que os passarinhos moscardos e não se a não avançam tanto na America e como ge a O COLIBRI-TOPAZIO o alii da cabeça d'este passaro é negro ola diária facha que circumda o pescoço. O tronco é vermelho acobreado c; AVES EM ESPECIAL 523 verdes, as duas immediatas trigueiras acastanhadas e as restantes s escuras, atrigueiradas. “O COLIBRI VERDE E NEGRO | colibri foi tambem denominado por Brisson colibri do Mexico. nome porém na opinião de Buffon não é acceitavel, por isso que no aci ainda outras especies. CARACTERES 0 colidri verde e negro tem quatro pollegadas ou pouco mais de nono A esbeta, o pescoço e as costas são de um verde dourado m ro luzidio com um leve reflexo avermelhado. Uma pequena raia nca cc o baixo ventre e uma outra verde e dourada cam- “um negro iliindo com reflexos passando a azul brilhante como o aço : “ii atas nal; | E 4 4 ; br Eis ER. Ap Esta especie encontra-se tanto na America como na Guiana. “SeDa di: “sto pequeno passaro, cuja psi vermelho, tem as azas azues; duas pennas muito compj cauda; e a cabeça tem uma Fa ma, pd a Meio a AVES EM ESPECIAL | 525 O COLIBRI DE CAUDA VIOLETA perfeitamente dos outros colibris. As quatro pennas medianas | são violetas com reflexos brilhantes de um amarello dourado; ) comprimento total deste colibri é de cinco titia. O bico é ; extensos: tem dezeseis linhas. O COLIBRI DE LAÇO VERDE ! O signal característico deste passaro é a existencia de um laço ou cie de gravata formada por um traço ou raia verde esmeralda muito | que domina a garganta e se alarga sobre a parte anterior do peito. )s lados da garganta e do pescoço são ruivos, misturados de branco; o tre é branco puro e a parte superior do tronco e da cauda são de um verde dourado escuro. rs p e) o ENA Ê NA lagos 3 pise doçÃS Ned do REA Eee o Ra - ande o PA 526 HISTORIA NATURAL E . E O COLIBRI DE GARGANTA CARMIM | é muito curvo e assemelha-se, diz Edwards, ao da trepadeira ou 2 A garganta, como toda a parte anterior do pescoço, é de um vei de carmim com o brilho do rubi; a parte superior da cabeça, do e da cauda é de um trigueiro escuro avelludado, com uma ligeira azul ria beiga das pennas. As azas são verdes douradas e as superiores e inferiores da cauda são azues. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA “ Esta especie pertence ao Surinan. ua O COLIBRI VIOLETA Tem esta especie quatro polloaaRs e duas ou e linhas de « D primento. E A cabeça, [o pescoço, as costas e .o ventre são de um violeta avermo- lhado, brilhante na garganta e na parte anterior do pescoço, € ] | inisenstomiBnio para um negro avelludado no resto do corpo. As z AVES EM ESPECIAL 527 “DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA | FE ts: encontra-se, diz Buffon, em Cayenna. ” — O COLIBRI VERMELHO » DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA nta, a parte anterior do pescoço, o peito e o ventre são de ] & avelludado. Um traço de um azul brilhante parte dos can- costas. A cauda é trigueira avermelhada cambiando para violeta | e cada uma das pennas é bordada de um azul brilhante como o aç lido. Este colibri tem quatro polo de comprimento. : DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA AG E j y Er PO F É Encontra-se no Brazil, em S. Domingos e na Jamaica. “pot e smocóssivamente atravessada. por duas raias: uma 1 n trigueira avermelhada. SE Este colibri mede, diz Buffon, quatro polegadas de comp im ico mede uma pollegada. a DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA . Esta especie é é commum em 15. Domingos. E AR É “AVES EM ESPECIAL a 529 RM o 0 COLTBRI AZUL anterior do corpo até ao meio do ventre são de um car- : dado com magnificos reflexos de côres differentes conforme ANA da luz. + parto superior da cabeça, do corpo e da cauda de um verde rado, que se mistura aos lados do pescoço e na garganta com 1; às azas são trigueiras violaceas. A rd é branca na DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA BE: fer 5350 HISTORIA NATURAL O COLIBRI DE VENTRE ARRUIVADO À parte superior do corpo d'este colibri é de um verde dourado e a parte inferior de um azul arruivado; a cauda é negra com reflexos ver- des e a ponta branca. O bico é amarello na origem e negro na extremi- dade; os pés são brancos amarellados. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Esta especie habita o Brazil; Brisson chama-lhe polytmus braziliensis. O PEQUENO COLIBRI Este colibri merece o nome de pequeno: tem apenas duas pollega- das e dez linhas de comprimento total. É todo verde dourado, excepto nas azas que são trigueiras ou violetas; no. ventre nota-se uma pequena mancha branca e nas pennas da cauda uma bordadura tambem branca, mais larga nas duas externas que cobre até meio. No dizer de Marcgrave, todo o fogo, todo o brilho da luz parecem reunir-se na plumagem d'este passaro: in summá esplendet ut sol. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Esta especie parece ser commum no Brazil. AVES EM ESPECIAL 531 O COLIBRI GRANATE e inferior do pescoço e a garganta até ao peito O COLIBRI DA GUIANA Je todos os colibris é este o que possue o bico mais comprido ; este le com effeito vinte linhas. As pennas externas da cauda são * ul extensas e as outras vão successivamente decrescendo até e modo que a cauda affecta uma forma pyramidal. Estas pennas “fundo pardo escuro com reflexos dourados e uma bordadura “A parte superior da cabeça e das costas é côr d'ouro; as azas pl d agi e a parte inferior do corpo é e “DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA * 532 HISTORIA NATURAL e. O COLIBRI DO MEXICO DR es O ventre: na vegião do estomago e a parte anterior da cabeça são azues; o resto. «do ventre é cinzento e a parte superior das costas e das azas é de um verde claro. Este colibri é um dos maiores do grupo. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A distribuição geographica da especie está designada no proprio nome por que é conhecida. O COLIBRI SAPHO Caracterisa-se esta especie pela. form. da cauda, cujas rectrizes vão augmentando de comprimento, do centro. “para os lados, sendo as duas externas cinco vezes mais. extensas: do “que as centraes. As costas são escarlates, a cabeça eo ventre vérdes “de brilho metallico; a garganta é mais clara e o baixo ventre é é trigueiro claro. As azas são trigueiras pas- sando a côr de purpura e as rectrizes côr. de laranja na base e triguei- ras escuras na extremidade. o DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHIGA À especie encontra-se na Bolivia. z ai e” .: AVES EM ESPECIAL 533 COSTUMES DOS COLIBRIS Precedentemente, citando Buffon e Figuier, tivemos occasião de dar uma certa idéa dos costumes e habitos de vida dos beija-flôres, tanto dos que constituem o sub-grupo dos passarinhos moscardos, como dos que fazem parte da subdivisão dos colibris propriamente ditos. Essa idéa porém, foi muito incompleta; agora que já conhecemos as principaes espe- cies, vamos acrescentar ao que foi dito algumas indicações, mais oppor- tunas n'este logar do que o seriam nas paginas anteriores. Fa Os colibris, como já foi dito, pertencem estimado E ária: sendo mesmo, mais do que nenhuma outra ave, característicos da fauna d'este continente. N'outro tempo acreditou-se (como pode ver-se pela ci- tação que fizemos de Buffon) que estes passaros viviam limitados entre os tropicos. Hoje sabe-se que esta asserção não é rigorosa e que os co- libris se encontram em toda a extensão do continente americano, onde quer que se produzam flôres. Sabe-se tambem .que elles se elevam a alturas notaveis; tem-se encontrado estes pequeninos passaros a mais de cinco mil metros acima do nivel do mar, onde o viajante esperaria encon- trar, quando muito, o condor. De resto, como faz notar Brehm, pode bem dizer-se que cada região tem as suas especies proprias. Uns ha que quasi nunca abandonam as montanhas, outros que só vivem nos valles ardentes onde se não faz sentir a mais ligeira viração, uns terceiros, emfim, habitam quasi exclu- sivamente as florestas e steppes. Além diiaso, todas as especies teem a sua existencia ligada à presença de certas flôres. Uma determinada flôr que é visitada por tal especie de colibris, não o é por tal outra. E este facto explica-se muito provavelmente pela conformação do bico. Estando a existencia dos colibris essencialmente dependente da vege- tação, é evidente que as regiões tropicaes devem ser mais ricas em espe- cies do que as outras. E foi este facto que induziu em erro os naturalis- “tas antigos quando affirmaram que os colibris sé achavam confinados nos tropicos. O Mexico sob o ponto de vista da ni af de especies parece ser uma região privilegiada. Os colibris não são passaros absolutamente sedentarios: mudam de localidade nas differentes estações ou antes nas differentes epochas de floração. Bullock diz que ha muitas especies que no Mexico apenas se encontram quando começa o estio. Outras ha, segundo o mesmo obser- vador, que em Maio e Junho apparecem em grande numero no Mexico, ao passo que n'outros mezes faltam absolutamente. Reeves faz observa- -. 534 HISTORIA NATURAL ções analogas para o Rio de Janeiro e Bates para as margens do Amazo- nas. É pois extremamente provavel que todas as especies de colibris se- jam mais ou menos errantes. Segundo Audubon, estes passaros fariam as suas viagens de noite e, segundo outro naturalista, em bandos. Para comprehender e apreciar os costumes e habitos de vida dos colibris, é indispensavel principiar por conhecer-lhes o vôo. A este pro- posito, diz Gould: «Que admiravel mechanismo deve ser o que produz os movimentos vibratorios das azas do colibri e os sustenta durante tanto tempo! Não encontro nada a que o compare. Este vôo produziu-me, a primeira vez que o vi, uma impressão singularissima. Era o contrario do que eu esperava encontrar. O colibri não fende os ares como uma frecha à maneira da andorinha; mas, quer erre de flôr em flôr, quer attravesse um curso d'agua ou passe por cima de uma arvore, as suas azas são constantemente agitadas por um movimento vibratorio. Pára por momen- tos diante de um objecto, conservando-se em equilibrio; as azas batem então tão precipitadamente que a vista não pode seguir-lhes os movi- mentos: um semi-circulo desenhado em torno de cada lado do ps é tudo quanto se pode vêr.» 4 «O vôo dos colibris, diz tambem Kittlitz, tem alguma coisa de sin- gular; parecem quasi insectos. Voam de uma arvore para outra com tanta rapidez que mal se podem vêr; mas diante de cada objecto que lhes sol- licita a attenção, param algum tempo, sustentando-se no ar com O corpo erguido e as azas agitadas de movimentos tão rapidos que a se lhes vêem os reflexos.» 2 Saussure diz que «o vôo dos colibris é de duas especies: um tem por fim a translação horisontal e é tão rapido que mal se pode seguir com a vista e produz um como assobio; o outro serve para sustentar o corpo no ar, immovel n'um mesmo ponto. Quando este ultimo caso se dá, O passaro toma uma posição quasi vertical e bate as azas com uma grande intensidade. É naturalmente n'este caso que as azas devem vibrar mais rapidamente, porque a immobilidade do corpo exige um bater d'azas mais curto e por isso mesmo mais vezes repetido. Além disso, nesta posição, as azas fendem o ar de baixo para cima quasi tanto como de cima para baixo para manter-se o corpo em equilibrio, de sorte que ha uma força consideravel empregada exclusivamente em manter a immo- bilidade e inteiramente perdida para a neutralisação da gravidade.» * Os colibris quando se acham fatigados de voar, escolhem para re- 1 Citado por Brehm, Ôbr. cit., vol. 4.º, pg. 102. 2 Tbid. 3 Citado por Brehm, Loc. cit. AVES EM ESPECIAL 535 pousar um ponto conveniente entre a folhagem. Ahi descançam e dormem às vezes suspensos, como os papagaios, de cabeça para baixo. Em terra não pousam; são incapazes de marchar. «Um dia, diz Kittlitz, feri leve- mente a aza a um colibri, impedindo-o porém de vôar. Caiu por terra mas não pôde sair do logar da queda. Os pés d'estes passaros são abso- lutamente improprios para a marcha ou para o salto.» ! Segundo Brehm, os colibris pousam em terra-—-mas só para beber. De um modo geral, pode dizer-se que os colibris não cantam; no- te-se porém que ha excepções a este principio. Mas mesmo as especies que não são mudas, fazem ouvir apenas um grito fraco, curto e tremulo; é 0 que dizem Burmeister e o principe de Wied, que os observaram bem. Os sentidos dos colibris parecem ser perfeitos; de todos a vista é talvez o mais desenvolvido. Assim é que a distancias relativamente gran- des elles descobrem insectos que a distancias mais curtas nós não con- seguimos vêr. O ouvido é tambem notavel e o tacto parece ser extrema- mente desenvolvido e delicado. É guiado por aquelle sentido que muitas vezes procedem à caça, é pelo ouvido que descobrem os insectos intei- ramente occultos nas flóres e que só pelo ruido do vôo lhes denunciam a presença. O sentido do gosto existe tambem nos colibris, como clara- mente o demonstra a predilecção que teem pelas substancias doces, no- meadameute pelo assucar. As faculdades intellectuaes d'estes pequenos passaros devem ser desenvolvidas, a julgar pelas dimensões e pela forma da cabeça. Comtudo, as observações directas a este respeito são extremamente difficeis de fa- zer, porque em liberdade é difficil ao naturalista seguil-os attentamente e em captiveiro não vivem senão pouco tempo, absolutamente tristes e portanto em condições anormaes. Ácerca do regimen alimentar d'estes passaros tem-se escripto erros deploraveis. Assim é que, como o leitor viu pelas citações que fizemos nas paginas precedentes, se tem acreditado que os colibris vivem exclu- sivamente do succo das flóres. Buffon mesmo editou na sua obra este erro vulgar e chegou a considerar os xaropes como alimentos substan- Ciaes em excesso para os colibris. Como comprehenderia o illustre natu- ralista francez a possibilidade de sustentar o movimento quasi continuo que caracterisa estes pequenos passaros com a alimentação que lhes attribue? Todo o movimento representa uma despeza organica que é indis- pensavel equilibrar por uma receita equivalente em alimentos, sob pena de morte. É o que Buffon e outros naturalistas, aliás notaveis, esqueceram inteiramente fallando dos colibris. A verdade, a primeira vez proclamada * Ibid, 536 HISTORIA NATURAL por Badier em 1778, é que estes passaros são insectivoros. Hoje não resta a mais ligeira duvida a este respeito. Julgamos inutil accumular aqui as citações de auctores contemporaneos sobre tal assumpto.. A maior parte das especies conhecidas de colibris são diurnas; algu- mas ha porém que só caçam ao fim da tarde ou de madrugada e que durante o dia se conservam occultas no espesso da folhagem. As tendencias hostis das especies umas pelas outras e mesmo dos individuos de uma especie entre si, já notadas por Buffon, são uma reali- dade que se impõe a todos observadores conscienciosos. Ácerca da confiança extrema que os colibris manifestam pelo homem, Buffon faz observações justas e hoje plenamente confirmadas. Brehm afirma que estes passaros não manifestam a menor desconfiança pelo homem e se deixam por elle approximar. Gosse diz que elles são extre- mamente curiosos e attribue a esta circumstancia o não fugirem do ho- mem, que naturalmente lhes sollicita a attenção. Audubon e Burmeister referem que os colibris entram muitas vezes nas casas attraídos pelos ramos de flóres. Salvin conta que um d'estes passaros, andando a pro- curar materiaes para a construcção do ninho, lhe roubára quasi das mãos um fio de algodão. Finalmente, o principe de Wied viu um casal estabe- lecer tranquillamente o ninho dentro de um quarto. Parece que ainda hoje não está averiguado se o macho e a femea vivem juntos durante todo o anno ou se sómente se approximam na quadra dos amores, que varía com as localidades e com as especies. Para os colibris que habitam a America central, o cio parece ter logar na quadra da floração; para as especies emigrantes, coincide com o deparam a da primavera. a Nos colibris a selecção sexual parece basear-se simultaneamente SO- bre a exibição das graças naturaes e sobre a força. Os machos, com efeito, não se limitam a dar provas de ternura ás femeas e em demons- trarem perante ellas todos os recursos da voz, do vôo é todo o brilho da plumagem; vão mais longe, travando em honra da futura companheira verdadeiros combates encarniçados e ferozes. Os ninhos differem pouco de especie a especie. Os ovos postos são tambem sempre dois esbranquiçados, alongados e muito grandes relati- vamente ás proporções dos passaros. Sobre o tempo que dura a incubação ha ainda hoje opiniões diffe- rentes, sendo porém a mais seguida a que fixa esse tempo em seis dias, como já em nota tivemos occasião de dizer. AVES EM ESPECIAL 537 INIMIGOS . ua as De todos os inimigos dos colibris o homem é, no dizer de Brehm, o mais terrivel. E a razão é simples: às aves de rapina e aos mamiferos * carniceiros, os cólibris conseguem escapar pela agilidade; ao homem porém, é impossivel, porque a nossa especie tem sobre todas as da creação a supremacia de um entendimento capaz de todas as astucias. CAÇA N'uma parte da America a graça e a belleza dos colibris attraíram sobre elles a sympathia geral e esta circumstancia explica o facto de não serem ahi caçados a não ser muito excepcionalmente quando o pede “algum collecionador europeu. Mas nem em toda a America acontece assim. No Mexico, diz Saussure, faz-se um extenso commercio d'estes pequenos passaros vivos. Assim, n'este ponto a caça é regular, a perseguição cons- tante. "Os meios empregados pelos indigenas na caça são o visco e os laços. O emprego do primeiro meio é excessivamente simples: consiste apenas em collocar o visco nas arvores habitualmente frequentadas pelos “ colibris. O emprego porém do segundo processo é difficil, porque exige uma grande destreza que só por uma extensa pratica se adquire. Um facto que Audubon faz notar é que quando se faz fogo sobre um ou alguns dos colibris de uma arvore, nem por isso os outros fogem. Esta circumstancia permitte matar muito rapidamente um grande numero de individuos. Emfim, parece que a caça aos colibris, como já notara Buffon, é de ordinario simples. CAPTIVEIRO «Os colibris, diz Lesson, vivem muito dificilmente em captiveiro. As necessidades de actividade e movimento são inherentes à existencia d'es- tes passaros; a vida restricta de uma gaiola e a difficuldade de obterem os alimentos que lhes conveem, fazem com que pouco a pouce vão de- clinando e por fim morram.» 538 HISTORIA NATURAL Brehm faz notar comtudo que ha na sciencia exemplos de captiveiro demorado. Montdidier conseguiu ter muito tempo alguns individuos que apanhou ainda implumes e collocou n'uma gaiola suspensa da janella; os paes descobriram a prisão dos filhinhos e vieram seguidamente durante muitos dias trazer-lhes os insectos que caçavam até que por fim elles proprios se habituaram de tal forma à presença de Montdidier que aca- baram por entrar desassombradamente nos aposentos do naturalista e por lhe pousarem nos dedos, soltando a voz, como o teriam feito no ramo de uma arvore. Montdidier passou a alimental-os com uma pasta fina, com- posta de biscouto, vinho e assucar. Os colibris em questão acabaram por conhecer a voz de Montdidier e por lhe obedecer. Viveram seis mezes, € mais viveriam se um descuido que consistiu em deixar no chão a gaiola em que à noite se abrigavam, não désse logar a que os devorassem os ratos. Este exemplo de captiveiro demorado não pode causar estranheza, attendendo a que os colibris só à noite se recolhiam e durante o dia go- savam da mais ampla liberdade voando ora dentro dos aposentos, ora asmesmo fóra de casa. Azara refere tambem o caso de alguns colibris que D. Pedro de Mello, governador do Paraguay, possuiu durante quatro mezes. É de no- tar porém que n'este caso, como no anterior, os passaros gozavam de uma certa liberdade, voando pela casa, o que consideravelmente attenuava para elles as agruras do captiveiro. Os colibris a que Azara se refere, foram tambem victimas de um descuido. Brehm cita ainda o caso de Peale que durante muito tempo possuiu dois colibris. Estes passaros porém, não estavam retidos n'uma gaiola, mas, pelo contrario, voavam livremente pela casa, dando caça -ás mos- cas que encontravam. Vê bem o leitor que em todos os casos referidos de captiveiro, os colibris que viveram muito tempo se achavam em condições de poderem exercer a actividade, a tendencia ao movimento que os caracterisa. O captiveiro para estes passaros não era synonimo de prisão, de engaiola- mento, mas apenas de vida sob o dominio do homem. Uns saíam de casa todos os dias, outros voavam á vontade nos aposentos dos donos; e assim, exercendo o movimento, voando em procura dos pequenos insectos, com- prehende-se que os colibris vivam muito tempo sob o dominio do homem, sem que este facto invalide a asserção de que de ordinario elles não re- sistem aó captiveiro, tomada esta palavra na accepção vulgar e rigorosa que se lhe dá. AVES EM ESPECIAL 539 USOS E PRODUCTOS De ordinario os colibris não offerecem interesse senão para o natu- ralista, cujas collecções enriquecem. Comtudo, como já n'outro logar deixamos dito, estes pequenos passaros teem-se ultimamente tornado um objecto de commercio, porque a moda os impoz ás damas da Europa e da America como adorno dos chapeus e até dos regalos. Mas antes que a tyrannia da moda parisiense obrigasse as senhoras a tomal-os como adorno, já os selvagens do interior do Brazil (desculpem-me as leitoras a appro- ximação) os adoptavam com o mesmo fim; já nas florestas virgens da America, O indigena adornava os cabellos e as orelhas com colibris mor- tos. Quem sabe se ainda verêmos um dia estes pobres passaros fazendo na Europa o papel de brincos? É bem possivel: o selvagem que suggeriu a idéa de adornar a cabeça com colibris, lá está na America com os co- libris nas orelhas, disposto decerto a servir ainda uma vez de modelo ás exigencias compositas da toillette europeia. LENDAS Os Mexicanos, segundo refere Saussure, teem os colibris na conta de typos da felicidade. Na mythologia destes povos aceita-se a lenda de que a esposa do Deus da guerra, Toyamiqui, conduz as almas dos guer- Teiros, mortos na defeza dos deuses, à casa do sol, onde são transforma- dos em colibris. AS POUPAS Às poupas teem o corpo elegante, o bico muito comprido, pouco curvo, estreito, comprimido lateralmente e ponteagudo, os pés curtos e fortes, os dedos pouco extensos, as unhas obtusas, as azas grandes, lar- gas, muito arredondadas, a cauda de comprimento medio, truncada em 540 HISTORIA NATURAL angulo recto: e de pennas largas, a plumagem molle, frouxa e a cabeça encimada de uma poupa. Um vermelho escuro, mais ou menos vivo, é a côr dominante da plumagem; as rectrizes e as remiges são raiadas de branco e de negro.. A columna vertebral compõe-se de quatorze vertebras cervicaes, sete ou oito dorsaes e seis caudaes. Estes passaros teem seis pares de costellas verdadeiras e um ou dois de falsas costellas. Os ossos do cra- neo, as vertebras, 0 esterno, os ossos da bacia, o humero e o femur são pneumaticos. A lingua é rudimentar e não existem vestígios de musculos da larynge. Estes passaros não teem papo. O ventriculo succenturiado tem paredes espessas, cheias de glandulas; o estomago é pouco muscu- loso. A POUPA VULGAR Descreveremos apenas esta especie, que se assemelha ás especies proximas pelos costumes, mas que morphologicamente não pode ser com. ellas confundida. CARACTERES Tem as partes superiores do corpo côr de greda fina, com o meio das costas, as espaduas e as azas marcadas por algumas raias transver- saes, alternativamente negras e de um branco amarellado; a poupa é de um amarello-ruivo accentuado, terminando cada penna por uma ponta negra. O ventre é de um amarello terroso e os lados do tronco apresen- tam manchas negras longitudinaes. A cauda é negra com manchas longi- tudinaes brancas e o bico é todo negro. Os olhos são castanhos escuros e os pés de um pardo de chumbo. A femea offeréce côres menos vivas que o macho e os individuos não adultos teem a poupa pouco elevada. Este passaro mede vinte e sete a vinte e oito centimetros de com- primento e cincoenta de envergadura; a extensão da cauda é de onze centimetros. O NE rad ” e AVES EM ESPECIAL Side 541 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA À maior parte da Europa, o norte d'Africa e a Ásia central, taes são os pontos em que a poupa vulgar se encontra. Na Europa é menos fre- quente ao norte do que ao sul. i Entre nós esta especie é muito commum. COSTUMES À poupa prefere os logares baixos, arborisados. Procura sobretudo as “regiões em que os campos e os prados alternam com as pequenas flores- tas, ou aquellas em que velhas arvores crescem isoladas no meio das terras incultas. A poupa vulgar procura alimento nas a do homem. Por mais rapidos que sejam os abutres, diz Brehm, é-lhes impossivel fazer desap- parecer todas as immundicies; e as que elles deixam são bastantes para constituirem as delicias da poupa. No Egypto este passaro é muito com- mum nas ruas onde passeia, sem medo de que o inquietem, no meio das immundicies. «Os arabes, diz graciosamente Brehm, cercam a poupa de um certo respeito; sabem, parece, que por mais nojenta que seja a sua alimentação, este passaro é todavia menos immundo do que elles.» ! A poupa é um passaro interessante. Na Europa, onde o perseguem, é timido e evita o homem. No Egypto, pelo contrario, é, como dissemos, confiado, imprudente. A poupa receia os cães, os gatos, as gralhas e.prin- cipalmente os milhafres. Ordinariamente a poupa, que encima a cátoaa deste passaro e que lhe dá o nome, não anda aberta, mas fechada e lançada para traz. Quando se irrita, agita-a, e quando repousa, empoleirado n'um ramo “arvore, ou quando solta a voz, abre-a então. Em terra a poupa vulgar marcha facilmente, sem saltitar. Move-se pouco nos ramos; quando muito, marcha sobre um ramo horisontal. O vôo é facil e silencioso, mas muito irregular, incerto, o que de- pende de que o passaro bate as azas ora lentamente, ora com precipita- ção. Voando, estende o pescoço e inclina o bico para baixo. Antes de poisar, paira sempre alguns instantes e ergue então a poupa. A sua voz ! Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 20, 542 HISTORIA NATURAL consiste n'um grito rouco que pode notar-se pelas syllabas chrr ou schawaer ; o seu grito d'amor pode notar-se assim: hwp, hwp. D'ahi os nomes fran- cez e inglez (huppe e hoopoe) porque este passaro é designado. Na pri- mavera o macho faz ouvir incessantemente esse grito d'amor, calando-se só a partir do fim de Julho. Quando dois machos se batem pela posse de uma femea, gritam constantemente. A poupa não é um passaro sociavel, na accepção rigorosa dºeste vocabulo. Os membros de uma mesma familia parecem estimar-se; em compensação porém vivem em lucta aberta e constante com os outros passaros e até com os membros d'outras familias da mesma especie. E quando não odeia ou não teme outros passaros, a poupa tem por elles ao menos a indifferença. A poupa vulgar alimenta-se de insectos e é por isso que procura as immundicies onde elles não deixam de pousar. Tambem às vezes come caracoes, larvas, etc. O bico é-lhes de um auxilio notavel na caça dos insectos; ajudado por este orgão vae buscar a presa onde quer que ella se encontre, por mais occulta que esteja. Na Europa a poupa aninha de preferencia nos buracos das arvores € algumas vezes nos buracos das paredes ou nas cavidades dos rochedos. No Egypto faz ninho ordinariamente nas depressões das paredes e ás vezes mesmo nas casas habitadas. Nas steppes faz ninho no esqueleto dos ani- maes. Pallas encontrou um ninho, com sete poupas recemnascidas, na caixa thoracica de um esqueleto humano. O ninho não tem arte nenhuma; o passaro limita-se a alcatifar com algumas hervas seccas, raizes ou pêl- los as cavidades em que deporá os ovos. Estes são em numero de quatro a sete, relativamente pequenos, alongados, de um esverdeado sujo ou de um pardo amarellado com pontos brancos muito pequenos, ou então intei- ramente unicolores. A poupa vulgar aninha uma vez só por anno é à pos- tura raras vezes termina antes do começo de Maio. A femea choca sósi- nha e com ardor. Os dois paes, macho e femea, alimentam os filhos, dando-lhes vermes e coleopteros; depois que os novos seres já sabem voar, os paes ensinam-lhes a procurar os alimentos, a proverem sós às proprias necessidades. O ninho da poupa exala sempre um cheiro fetido, repugnante, devido à deposição de excrementos que se não renovam e que servem para attrair os insectos. CAPTIVEIRO A poupa vulgar é susceptivel de contrair affeições em captiveiro. Quando é apanhada nova e tratada com cuidado, affeiçoa-se ao dono, re- AVES EM ESPECIAL 543 conhece-o e obedece-lhe. Torna-se tão domestica como o cão, chegando, como este, a seguir o homem fóra de casa, sem tentar fugir. N'estas con- dições, a poupa faz consistir toda a felicidade nas attenções de que é alvo por parte do dono. Não é possivel conservar este passaro n'úma pequena gaiola, porque suja com excrementos a plumagem. Não são só os individuos apanhados em pequenos que chegam a educar-se; mesmo os adultos se prestam a isto, desde que ha da parte do dono um certo cuidado e paciencia. Guéneau de Montbeillard dá a prova do que aflirmamos nas palavras seguintes: «Tive occasião de vêr uma poupa apanhada a laço, já velha ou pelo menos adulta, e que, por conseguinte, tinha os habitos de liberdade, de natureza. A dedicação d'ella pela pessoa que a tratava tornou-se grande e até exclusiva; não parecia satisfeita senão quando a sós com essa pessoa. Se vinham estra- nhos, erguia a poupa com surpreza e inquietação e ia esconder-se sob o cortinado do leito que se encontrava no quarto.» ! “UTILIDADE A utilidade da poupa vulgar é a de todas as aves insectivoras. USOS E PRODUCTOS Gerbe diz que a carne da poupa nova é excessivamente gorda e sa- borosa. Os sectarios da lei mosaica e os adeptos de Mahomet não comem esta carne que reputam impura. ! Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 23. afaas 544 “4 "HISTORIA NATURAL O EPIMACO O epimaco é um passaro cuja collocação no quadro ornithologico tem sido muito discutida. Naturalistas ha que o collocam ao lado das aves do paraizo e outros que lhe dão logar junto das poupas. Attendendo às pennas compridas que apresenta nos flancos, em forma de pennacho, po- demos sem grande repugnancia acceitar a sua inclusão no grupo das aves do paraizo, como quer Brehm. Attendendo porém a um caracter talvez mais importante, ao bico, que é tenue, comprido e ligeiramente recurvo, sentimo-nos mais inclinados a collocal-os entre os tenuirostros, ao pé das poupas. CARACTERES ESPECIFICOS O epimaco mede approximadamente trinta e seis centimetros de com- prido. Tem a plumagem de um negro avelludado com reflexos purpurinos ea parte anterior do pescoço coberta por uma como couraça feita de pennas dispostas em forma de escamas embricadas, verdes azuladas com | reflexos metallicos, com uma bordadura negra na parte inferior e, imme- diatamente abaixo d'esta, uma outra doirada cambiando para verde. O ventre é negro e dos lados do tronco ou flancos sáem pennas compridas e desfiadas, muito macias que cáem em forma de pennacho. A cauda é curta, negra e avelludada, tendo porém as rectrizes centraes verdes douradas. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Este passaro é originario da Nova-Guiné. AVES EM ESPECIAL 545 OS SYNDACTYLOS | dos ao estudo da ultima família dos passaros, segundo “de Cuvier, que geralmente se adopta. a syndactylos significa o mesmo que dedos unidos. E com nome é apropriado, porque designa o caracter dominante e e da familia. Os individuos que formam este grupo familial “dedo do centro ligado ao exterior n'uma grande parte da sua a este caracter é mesmo 0 unico que deve considerar-se com- %& AS MOMOTAS “é S, “azas ethos concavas, obtusas, cauda comprida, composta de tr zes, tarsos e dedos fracos e delgados. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA nº As momotas pertencem às regiões quentes da America. . VOL, IV do 546 HISTORIA NATURAL COSTUMES São passaros sylvicolas. Vivem solitarios ou aos pares, se do homem. De manhã e de tarde. fazem ouvir ie qu d'estes passaros é insectivoro. à A MOMOTA GUIRANUMBL - 2 CARACTERES std o vertice da cabeça e a oh naso-oceular Emáie, a eis rontal linha fina que cerca o occipital de um verde claro brilhante, anegradas, o bordo anterior das remiges secundarias azul celeste, lhados, o bico negro e os pés pardos trigueiros. Este passaro mede cincoenta e dois centimetros; o aza é de dezoito e o da cauda de trinta. AVES EM ESPECIAL 547 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Burmeister aflirma que este passaro é commum nas florestas do norte do Brazil. Schomburgk diz tel-o encontrado e observado muitas ve- zes na Guyana. COSTUMES Occupando-se dos habitos de vida deste passaro, Schomburgk es- creve: «Antes do erguer do sol ouve-se o grito plangente e melancolico da momota levantar-se, surgir do seio da floresta virgem, annunciando à natureza, adormecida ainda, a volta da aurora. Este passaro singular evita as clareiras, não se aventurando nunca até á orla das florestas, embora não seja timido. Consente que o viajante chegue até junto delle, antes que tome vôo. Quando está empoleirado nos ramos baixos, logar seu predilecto, solta o seu grito melancolico habitual que pode notar-se pelas syllabas Autw, hutu. Ergue a cauda quando solta a primeira syllaba e abaixa-a ao soltar a segunda com a gravidade. «Quando estive pela primeira vez entre os habitantes indigenas da Guyana sabia já que a ninguem melhor do que a elles podia pedir infor- mações ácerca da vida dos animaes. Perguntei pois ao meu amigo, o chefe Cabazalli, porque é que a cauda da momota não era conformada como a das outras aves. «Vel-o-has ámanhã», respondeu-me. No dia se- guinte, com effeito, conduzio-me à floresta. Era a estação dos amores; depressa encontramos um ninho com uma momota em attitude de chocar. Recommendou-me que me conservasse tranquilo, quieto, por traz de uma arvore visinha. «Para aninhar, a momota procura uma cavidade arredondada ou ovalar no flanco de uma collina ou de qualquer outra elevação. Macho e “femea chocam alternadamente, rendendo-se com regularidade; mas por “mais grave e medido que seja este passaro em todos os seus movimentos, parece, comtudo, que o tempo que passa dentro do ninho se lhe affigura longo. Depois de estar trez ou quatro minutos sobre os ovos, dá muitas voltas seguidas; depois fica quieto alguns instantes, para voltar-se de novo. Por estes movimentos continuados, as barbas das duas longas re- ctrizes vão-se gastando contra os bordos do ninho. Logo que é rendido pelo companheiro, o passaro vôa para um ramo visinho e principia desde logo a dar uma certa ordem à plumagem, o que quasi nunca consegue senão arrancando completamente as barbas machucadas. Assim é que se * 548 HISTORIA NATURAL produz uma lacuna, sobre cuja origem se tem feito tantas hypotheses e | por cujo comprimento se pode reconhecer a idade do passaro. Nos indi- | viduos muito velhos, a ponta das rectrizes é desprovida de barbas em- e, quanto que nos individuos novos que ainda não aninharam, as pennas da cauda conservam-se ainda inteiras.» 4 Brehm a quem pedimos a citação feita, não se dá por convencido com a explicação que apresenta Schomburgk. Diz elle que muitos outros passaros de longa cauda aninham e chocam de modo semelhante ao da | momota e comtudo alisam as pennas sem lhes causar damno. Porque mo- | tivo pois, se não reproduz o mesmo phenomeno regularmente n'esses passaros como na momota? CAPTIVEIRO Azara que possuiu trez momotas faz algumas observações sobre os habitos de vida destes syndactylos em captiveiro. Diz que a momota é um passaro timido, desconfiado, mas ao mesmo tempo curioso. TE qa Os individuos que este naturalista conservou, eram pezados, dese- legantes, pouco flexiveis em todos os movimentos. Saltavam com as per- CE nas estendidas, como os tucanos. Não desciam do polleiro senão para co- mer. Alimentavam-se com pão e carne crua. Antes de engulirem o que tinham apanhado com o bico, batiam com este contra o pavimento da gaiola como se tratassem de esmagar uma presa viva. Quando apanha- vam alguns momentos de liberdade perseguiam os pequenos passaros, esmagando-os contra o solo; as aves grandes conservavam-se inteiramente ao abrigo dos attaques d'estes passaros. Tambem davam caça aos ratos e uma vez ou outra apanhavam algum fructo, nomeadamente laranjas. 1 Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 134. EMA e ' AVES EM ESPECIAL eh 549 OS ABELHARUCOS dra Estes passaros figuram entre os mais bellos do antigo continente. “São pe muito perfeitos. CARACTERES j Teem o corpo alongado, o bico mais comprido que a cabeça, grosso “na base, ponteagudo, ligeiramente recurvo, de aresta dorsal aguda, de “bordos cortantes, a mandibula superior mais comprida que a inferior, mas sem curvatura na extremidade e sem chanfradura perto da ponta, F ps curtos e pequenos, o dedo externo e o mediano soldados até à ter- E Ceira, ap as primeiras phalanges do dedo interno e do mediano da, as pennas tos e rijas, as côres vivas e variadas. Os sexos differem muito pouco na plumagem. Aos dois annos os fi- s teem já as côres dos paes. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA att Osa abelharucos habitam os paizes quentes do antigo mundo. Uma es- pecie apenas vive na Nova-Hollanda. COSTUMES Encontram-se estes passaros em locaes muito variados, mas nunca onde faltem arvores. Estes passaros encontram-se desde as costas do mar até uma alti- tude de dois mil a dois mil e seiscentos metros; especies ha que pare- cem preferir as alturas, outras os logares baixos. As especies que vivem 550 HISTORIA NATURAL ao norte emigram regularmente; as que habitam o sul são quando muito errantes. No Egypto vive uma especie que ahi se conserva todo o anno e que, assistindo duas vezes por anno à passagem de especies visinhas, não sente a necessidade de emigrar. As especies do centro d'Africa são errantes, ligando-se as excursões que fazem às quadras ou estações do anno; chegam na epocha das chuvas às regiões em que devem aninhar e d'ahi sáem no tempo secco. Os abelharucos são passaros extremamente pacificos e sociaveis; muitos ha que vivem não só com os seus semelhantes, mas ainda com outros congéneres. Por isso muitas vezes se constituem em grandes ban- dos, tão intimamente unidos que é impossivel reconhecer as diferentes especies que os constituem. Pelos costumes e habitos de vida os abelharucos assemelham-se principalmente às andorinhas. Quando o tempo corre bom vêem-se as grandes especies pairando a grandes alturas em procura de alimento; quando o tempo está encoberto e na quadra dos amores conservam-se empoleirados nos ramos das ar- vores, promptos a cairem sobre a presa. Raras vezes descem a terra e quando o fazem é para apanharem algum insecto. Razam muitas vezes à superficie da agua. Passam a noite no cimo das arvores copadas; durante a estação dos amores o ninho é o logar de repouso. Onde quer que se encontrem, os abelharucos despertam as attenções: animam perfeita- mente uma região e offerecem a quem os vê um famoso espectaculo, ora fendendo o ar como os falcões, ora voando à maneira das andorinhas. Ás vezes deixam-se cair de alturas prodigiosas para apanharem um inse- cto que descobrem; momentos depois elevam-se de novo na atmosphera, continuando na companhia d'outros a excursão interrompida e soltando 0 seu grito de reclamo: guep, guep. O vôo d'estes passaros é tranquillo, sereno; dão algumas pancadas d'aza e depois deslisam com a rapidez de uma frecha. Em repouso, os abelharucos são tambem interessantes. Vêem-se aos pares, pousados nos ramos baixos. De quando em quando um dos com- panheiros solta um grito que o outro escuta e após o qual parte a apanhar um insecto. O que soltou o grito conserva-se immovel à espera que 0 ou- tro volte. Brehm diz que nunca viu dois abelharucos disputarem uma presa, assim como nunca os viu disputarem por qualquer motivo. À paz e as boas relações dominam entre estes syndactylos. Os abelharucos sustentam-se exclusivamente de insectos. Devoram mesmo os venenosos sem que isso os prejudique, como a outros passaros. Os abelharucos fazem ninho uns ao lado dos outros em buracos ca- vados horisontalmente em terreno cortado a pique. Por isso na quadra dos amores se encontram colonias numerosas. AVES EM ESPECIAL 551 ninho compõe-se essencialmente de um corredor terminando n'um CAPTIVEIRO de alimentação destes passaros torna impossivel o capti- Não se dão bem senão com os insectos; qualquer outro re- Tr ros prejudica. UTILIDADE - 4 4 Do) “O ABELHARUCO VULGAR Ee especies conhecidas descreveremos apenas esta, que é, como 0 ca, a mais commum. Tambem se chama a este passaro melha- CARACTERES ” “beça ane o occipital, a nuca e a parte media das azas côr de castanha -ou côr de, canella, as costas amarellas com reflexos esverdeados, uma li- | (HA “nha negra que do bico desce até ao meio do pescoço, a garganta de um. 552 : HISTORIA NATURAL amarello d'ouro claro, cercada de negro, o ventre e o uropigio azues ou verdes, as remiges verdes, franjadas externamente de azul, com a ponta anegrada, as rectrizes verdes e azues, raiadas de amarello, as duas me- dianas, que são as mais compridas, negras na parte que excede as ou- tras, o bico negro e os pés avermelhados. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA A proposito da distribuição geographica d'esta especie diz Brehm: «Estamos no direito de considerar o abelharuco vulgar como um passaro da Europa central porque ahi apparece muitas vezes e ahi tem feito ni- nho. Se ahi se não vê regularmente, tambem não é raro, sobretudo no sudoeste da Allemanha. Muitas vezes se tem assignalado a sua apparição em localidades que ficam ao norte da sua área de dispersão habitual; tem sido visto tambem na Allemanha do Norte, na Dinamarca, na Suecia € mesmo em Finlandia. Muitas vezes tem feito apparição n'estas regiões em bandos numerosos, o que tem attraído a attenção publica. Assim se lê na Chronica de Leipzig: «Passaros raros. Anno de 1517. Por occasião da festa de S. Fillipe e de S. Jacques viram-se e apanharam-se em Leipzig passa- ros raros e aínda desconhecidos, das dimensões das andorinhas, com o bico comprido, a cabeça, o pescoço e as costas trigueiras, as azas azues escuras, O corpo negro, a garganta amarella; tinham os pés curtos e des- truiam numerosas abelhas.» ; «E mais raro vêr, continua Brehm, um par de abelharucos vir fazer ninho ao norte dos Alpes ou dos Pyrineus; tem-se comtudo observado este caso. «Mas é só no centro da Europa que o abelharuco vulgar aninha re- gularmente. É um passaro dos mais communs na Hespanha, na Italia, na Grecia, em todas as ilhas do Mediterraneo, na Turquia, na Hungria e no sul da Russia. Encontra-se tambem na Asia. Abunda tanto na Palestina e na Turquia d'Asia como na Europa do sul. Habita a Persia; Adams encon- trou-o frequentes vezes nas montanhas de Cachemira. Tambem se encon- tra na China. Nas suas emigrações attravessa a Ásia e a Africa. Nas In- dias vê-se commummente no inverno; na Africa observei-o durante as suas viagens; chega ahi vindo da Europa no começo de Setembro e parte no fim de Maio. Nunca o vi porém, fixar-se para passar o inverno em ne- nhuma das partes d'Africa que percorri; por isso penso que elle se di- rige para o sul d'este continente. Le Vaillant encontrou-o junto do Cabo em numero tal que pôde em dois dias matar mais de trezentos. «Abatiam-se milhares d'estes passaros nas arvores copadas e os ban- Ee a “dl a Pa La) j MT =W 4% ad j er AVES EM ESPECIAL 553 dos que formavam cobriam vastos espaços. Le Vaillant diz que estes pas- saros aninham no sul da Africa; mas eu julgo-me no direito de conside- rar erronea esta asserção, porque, segundo as minhas observações, não ha um passaro que aninhe nas regiões do sul onde vae passar O inverno, e nós não podemos admittir que o abelharuco habite o hemispherio aus- tral como o hemispherio septentrional. Notarei ainda que todos os abe- lharucos que observei viajando, andavam em companhia do abelharuco da Persia (merops persicus) de que se tem visto alguns individuos per- didos na Europa.» ! COSTUMES - O abelharuco vulgar ou melharuco chega ás regiões em que faz ni- nho no fim de Abril ou começo de Maio. No meio d'este mez os bandos estão já um pouco divididos, mas muitas vezes acontece de se reunirem muitos formando uma colonia composta de cincoenta, sessenta e mais ca- saes ainda. O numero varia nas differentes localidades. Os abelharucos reunem-se em grande numero onde quer que encontrem uma parede ar- gilosa vertical e muito alta; se esta circumstancia se não dá, cada um procura o logar que melhor lhe convem. É nos logares em que os abelharucos se juntam constituindo colonias que melhor se podem observar os seus costumes. Ao passo que as pequenas especies da familia raras vezes se affas- tam dos respectivos domicilios, as grandes especies, os abelharucos vul- gares, passam horas inteiras voando a grande altura, em bandos que, se não formam um todo bem unido, tambem não são muito divididos. Cada passaro deixa em volta de si um grande espaço, mas é sempre seguido por outros que vae constantemente chamando. D'este modo percorrem em companhia um espaço de muitas leguas quadradas. Soltam constante- mente o seu grito de reclamo. Á tarde voltam às suas colonias, dividin- do-se aos pares e até ao crepusculo occupam-se activamente na caça dos insectos. Emquanto o tempo corre bom é raro que se approximem das casas; mas quando o ceu está encoberto ou chove não se elevam a tão grandes alturas como as andorinhas e aventuram-se até à visinhança das habitações, causando estragos nos cortiços das abelhas. Estes insectos € 1 Brehm, Obr, cit., vol. 4.º, pg. 122, 554 7 HISTORIA NATURAL as vespas são para elles as presas mais delicadas. Devoram em poucas horas um vespeiro completo. Isto não quer dizer que não dêem caça aos outros insectos; todos com effeito lhes servem. A quadra dos amores para o abelharuco vulgar começa no fim de Maio. Procura para construir o ninho a margem escarpada, argilosa ou arenosa, de um curso d'agua. Cava ahi um buraco redondo de cinco a sete centimetros de diametro, servindo-se do bico e das unhas. D'esse buraco parte um corredor horisontal ou ligeiramente ascendente que as vezes attinge a profundidade de um metro e trinta centimetros ou dois metros. Na extremidade encontra-se um aposento de vinte e dous a vinte e sete centimetros de comprido, onze a dezeseis de largo e oito a onze de alto; é ahi que a femea deposita os ovos. A postura tem logar no mez de Junho e é de quatro a sete ovos globulosos, de um branco puro. No dizer de Salvin, por traz do aposento descripto encontra-se um outro ás vezes, a elle ligado por um corredor de trinta centimetros de comprimento. Alguns auctores dizem que ahi se encontra uma camada de musgo e hervas; Brehm diz nunca ter encontrado taes materiaes. Não se sabe se só a femea choca ou se o macho a rende n'este serviço; sabe-se só que ambos os paes alimentam os filhos. No fim de Junho estes já voam na companhia dos- progenitores, recebendo d'elles os alimentos. Ao principio, diz Powys, voltam de tarde ao ninho. Ao fim de algumas se- manas os novos abelharucos comportam-se já como os adultos. PRECONCEITOS Ácerca do abelharuco propalaram os antigos as narrações mais fabu- losas. Assim Gessner disse: «Este passaro é de tal modo astuto que trans- porta os filhos de um logar para outro para que lh'os não roubem. Vôa tambem de logar para logar para não ser apanhado e para que se não descubra onde tem os filhos. Diz-se que, como a cegonha, este passaro presta serviços aos paes; quando estes já são velhos, não os deixa sair do ninho e traz-lhes o alimento ou os transporta ás costas de um logar para outro.» ! Como este, outros erros, egualmente deploraveis, se pro- palaram na antiguidade. 1 Citado por Brehm, Loc. cit., pg. 128. AÇO de =» e AVES EM ESPECIAL 555 CAÇA No dizer de Lindermayer, matam-se na Grecia nos ultimos mezes do anno quantidades consideraveis de abelharucos. Os habitantes servem-se d'elles como alimento e consideram-os como um prato delicioso. USOS E PRODUCTOS Ás propriedades alimentícias ou nutritivas da carne d'estes passaros ha a acrescentar, segundo alguns auctores, propriedades therapeuticas. Julgava-se que a bile dos abelharucos servia para curar as ulceras. É um erro como outros muitos, este. OS PICA-PEIXES Teem o bico comprido, fino, direito, diminuindo de espessura da base, que é larga, até à ponta, que é conica ou um pouco comprimida lateralmente, de bordos cortantes e um pouco rebatidos para dentro, pés “curtos, pequenissimos, os dedos externo e mediano quasi eguaes e uni- dos um ao outro em toda a extensão das duas primeiras phalanges, 0 interno e o mediano soldados sómente até à segunda phalange, um pol- legar muito pequeno, azas curtas e subobtusas, sendo a terceira remige a mais pequena, uma cauda formada de doze rectrizes pequenas e cur- tas, uma plumagem abundante, luzidia, vivamente colorida, de um brilho metalico na parte superior do corpo, de reflexos sedosos na inferior e as pennas do occipital alongadas, formando uma pequena poupa. 556 i HISTORIA NATURAL O PICA-PEIXE VULGAR OU GUARDA-RIOS É impossivel confundir este membro da familia dos syndactylos com qualquer outro passaro da Europa. CARACTERES Tem as costas verdes-azues, o ventre trigueiro-amarello, os olhos castanhos, o bico vermelho vivo e os pés vermelhos. Este passaro mede dezoito centimetros de comprido e vinte e nove de envergadura; o comprimento da cauda é de quatro centimetros. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Habita toda a Europa, assim como a parte occidental da Africa cen- tral. Provavelmente encontra-se tambem a noroeste d'Africa. É commum em França, na Grecia, na Hespanha e em Portugal. Nos Alpes, segundo Tschudi, eleva-se a mil e oitocentos metros acima do nivel do mar. CONSIDERAÇÕES HISTORICAS As considerações historicas a fazer sobre o pica-peixe acham-se com- pendiadas por Gessner e podemos dizer que se reduzem a um verda- deiro archivo dos erros e preconceitos que ácerca d'este passaro teem corrido em todas as epochas com maior ou menor persistencia. Tentare- mos dar nas linhas que seguem um resumo d'esse longo archivo. Os gregos disseram que o pica-peixe era um habitante das aguas, uma ave maritima, essencialmente maritima, que só excepcionalmente procurava as margens dos rios ou regatos e chamavam-lhe aleyone. Plutar- cho avançava que este passaro era o mais prudente e o mais notavel dos animaes marinhos. «A que rouxinol, dizia este escriptor, poderemos com- parar o seu canto, a que andorinha a sua agilidade, a que pomba o amor 1. O PrcAPEIXE. Imp. Ch, Chardon à Paris 2. PICAPEIXE DE LONGAS PENNAS - 3. PICAPEIXE DE POUPA. Mapalhães & Moniz, editores FER RI é ” AVES EM ESPECIAL 5517 que dedica à companheira, a que abelha a sua actividade? É uma mara- vilha da arte e da sabedoria a construcção do seu ninho, porque o al- cyone fal-o sem empregar outro utensilio mais que o bico; construe-o como um navio e de tal sorte que as ondas não podem submergil-o.» Aristoteles comparara esse ninho a uma bola formada de flôres e “algas. Esse ninho seria construido em cinco dias e os sete seguintes seriam destinados à postura dos ovos. Segundo o mesmo naturalista, este pas- saro principiaria a multiplicar-se aos quatro mezes e a propagação reali- sar-se-hia durante toda a existencia. A femea, após a morte do macho, cessaria de comer e beber, morrendo de saudade. Antes porém de mor- rer soltaria um canto funebre ácerca do qual Gessner diz: «eu não de- sejo nem para mim, nem para os outros a audição deste canto, porque elle é um presagio de desgraça e de morte.» O pica-peixe, ainda segundo os naturalistas antigos, exalaria um cheiro agradavel, semelhante ao do almiscar. À carne não entraria depois da morte em putrefacção. O raio não cairia na casa onde se encontrasse um ninho de pica-peixe. Egualmente se estaria perpetuamente preserve- rado da pobreza, mettendo um d'estes ninhos dentro de um tesouro, por- que este tenderia constantemente a augmentar. | Estas e outras fabulas analogas, conservadas pela tradição, existem ainda hoje entre algumas populações asiaticas. COSTUMES O pica-peixe vive solitario nas margens dos regatos, cuja agua é limpida, clara. Prefere sempre a todos os regatos, a todos os cursos d'agua, aquelles que atravessam florestas e cujas margens são cobertas de salgueiros. Se o curso d'agua apresenta quedas taes que não gela completamente durante o inverno, ahi se deixa ficar n'esta estação. Se os logares são menos favoraveis, é forçado a emigrar e dirige-se para o norte d'Africa. Ordinariamente não vêmos o pica-peixe senão quando elle passa, como uma frecha, por cima da superficie da agua. Para o vêr empolei- rado, affirmam os naturalistas que o conhecem, é preciso estar-se iniciado nos seus habitos de vida. Junto das habitações e dos logares frequentados, escolhe sempre um sitio occulto. Esses logares, esses escondrijos porém, qualquer que seja a habilidade empregada em os escolher, denunciam-se-nos pelos 5928 HISTORIA NATURAL excrementos. Nas regiões em que não receia a presença da nossa espe- cie, estabelece-se em logares descobertos, d'onde pode ser visto a dis- tancia. ; Cada pica-peixe tem os seus dominios proprios, que corajosamente defende contra a invasão dos outros passaros. Passa as noites nas mar- gens dos regatos ou n'alguma cavidade. O pica-peixe não é activo; passa horas seguidas n'um mesmo rogadi immovel, silencioso. Não se move senão para apanhar alguma presa, a menos que o não perturbem. Vôa uniformemente e em linha recta, em movimentos precipitada d'azas. Raras vezes atravessa de uma só vez mais de duzentos ou tre- zentos passos. | A alimentação deste singular syndactylo compõe-se de peixes e ac- cessoriamente de insectos. No dizer de Naumann, espia os peixes como o gato espia os ratos. Ás vezes está muitas horas à beira d'agua sem fa- zer um movimento, com a attenção fortemente fixa no riacho, esperando que passe um peixe. De resto, contenta-se com pouco; ordinariamente um só peixe basta-lhe para todo um dia. Durante a quadra dos amores, o pica-peixe vive n'uma grande ex- citação. Repete constantemente um grito alto, agudo, que pode notar-se pelas syllabas tit, tit ou st, st. Para a deposição do ninho escolhe um logar escarpado, desguarne- cido de hervas, innacessivel aos carniceiros. Esse ninho. é formado de um buraco arredondado de cinco a seis centimetros de diametro e de sessenta centimetros a um metro de profundidade. Esta especie de toca dirige-se um pouco para cima. A entrada é bifurcada e a extremidade opposta termina por uma excavação arredondada de seis a oito centi- - metros de altura e onze a quatorze de largura. O pavimento d'esta exca- vação é feito de espinhas de peixes e a parede superior é lisa. Sobre o leito de espinhas encontram-se os ovos, em numero de seis ou sete, re- lativamente grandes, quasi redondos, de um branco luzidio. Os ovos en- contram-se desde o meiado de Maio até ao começo de Junho. A femea choca com tanto ardor que embora se batam pancadas fortes e successi- vas na margem do riacho, não sae do ninho, não abandona os ovos. À incubação dura quatorze a dezeseis dias; durante elles o macho procura alimentos para a femea. A dedicação dos paes pelos filhos é extrema. Quando se attaca um ninho, os paes não abandonam os filhos, antes procuram defendel- -0S à custa da propria vida. AVES EM ESPECIAL 559 CAPTIVEIRO s cujo fundo é em grande parte formado por uma espaçosa bacia imde existem sempre peixes em abundancia. OS CEYX ham-se notavelmente aos pica-peixes a cuja familia perten- os quaes os antigos os confundiam. CARACTERES 560 HISTORIA NATURAL O CEYX TRIDACTYLO Esta é a especie mais bella e a mais conhecida do gondii por nos limitamos à descripção della. E CARACTERES como açafrão, as pennas superiores das azas de um ia puro; as pulares e o bordo anterior das azas de um trigueiro castanho, as ges trigueiras escuras, bordadas de um trigueiro avermenianço bas internas, as rectrizes ruivas fuliginosas, os olhos cas vermelho-coral e os pés vermelhos claros. vç Este passaro mede quatorze centimetros de comprido e vintaf de envergadura; O comprimento da aza é de seis centimetros e e cauda de dois. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA COSTUMES Os habitos de vida deste passaro são quasi inteiramente pu tes aos dos pica-peixes. Differem só em que se alimentam exclusivamente 5 de pequenos peixes e animaes aquaticos e nunca de insectos. Par, AVES EM ESPECIAL 561 OS TODEIROS CARACTERES is finas e obtusas, cercado de sêdas na base, com a aresta “superior apenas visivel; visto de cima, o bico parece um i do no. vendem, A caio da mandibula superior é recurva E 0 ondadas e a cauda Apre e ninimonão chanfrada. A lingua é na base e transformada no resto da extensão em uma lamina DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA ” :s passaros pertencem à America. 36 562 HISTORIA NATURAL O TODEIRO VERDE À descripção geral que acabamos de fazer dos todeiros permitte-nos ser breves na descripção da especie que escolhemos para typo do genero. CARACTERES Tem as costas verdes-azues, o peito pardo claro, a garganta e a parte anterior do pescoço côr de rosa, o ventre amarello pallido, as azas esverdeadas, as rectrizes medianas verdes, as duas externas pardas, os olhos claros, a mandibula superior avermelhada, a inferior escarlate e os pés vermelhos trigueiros ou côr de carne. Este passaro mede approximadamente doze centimetros de comprido e dezoito de envergadura; o comprimento da aza é de cinco centimetros e o da cauda de quatro. A plumagem é semelhante nos dois sexos. DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA O todeiro verde habita a America. Na Jamaica é vulgar. COSTUMES Aos naturalistas Gosse e Gundelach devemos quanto se sabe sobre os habitos e costumes d'este passaro. Procuraremos resumir as informa- ções fornecidas por estes escriptores. o a AVES EM ESPECIAL 563 O todeiro verde encontra-se frequentemente a uma altitude de mil metros acima do nivel do mar, sobretudo nos logares em que o solo é coberto por uma vegetação espessa, quasi impenetravel. A plumagem verde brilhante d'este passaro e a sua garganta de um verde avelludado attráem rapidamente a attenção. Não é difficil ao homem approximar-se “delle. Gosse diz que muitas vezes lhe batem bengaladas e que as crean- ças O apanham á mão. Segundo o naturalista citado, o todeiro não desce a terra. Salta no meio dos ramos e da folhagem, procurando os pequenos insectos de que se alimenta e fazendo ouvir de tempos a tempos um assobio, um grito melancolico de reclamo. Mais vezes ainda vê-se empoleirado tran- quillamente sobre um ramo, com o pescoço encolhido, o bico no ar e as pennas levantadas, o que o faz parecer maior do que é em realidade. Desta immobilidade porém, o todeiro vigia admiravelmente, olhando em todas as direcções, o espaço que o cerca; e assim é que n'um momento dado se precipita rapidamente sobre um insecto que passa. O todeiro verde faz ninho em buracos cavados na terra. Esses bura- cos teem vinte a trinta centimetros de profundidade e terminam numa excavação mais ou menos espherica, cuidadosamente alcatifada de mus- gos e raizes. Cada postura é de quatro a cinco ovos pardos e mancha- dos de trigueiro. É n'esta especie de toca que os recemnascidos se con- servam até ao momento de voarem. Se não encontra um logar conve- niente para construir o ninho em terra, o todeiro aninha no buraco de uma arvore; é o que dizem Gosse e Gundlach. CAPTIVEIRO No dizer de Gosse, o todeiro verde habitua-se ao captiveiro sem to- davia adquirir affeição ao dono. Pelo homem parece manifestar uma com- pleta indifferença. Faz em prisão uma guerra tenacissima a todos os in- sectos, nomeadamente ás moscas, no estio. 564 HISTORIA NATURAL OS CALAOS Cuvier fallando destes passaros singularissimos, dizia: «Terminamos a historia da ordem dos passaros pelo mais extraordinario dos seus ge- neros, que não tem com os outros syndactylos tanta semelhança como el- les teem entre si, e que poderia muito bem constituir uma familia parti- cular.» ! CARACTERES Os calaos são faceis de caracterisar: teem o bico comprido, muito espesso, mais ou menos recurvo, munido de appendices singulares, si- mulando um corno; e por mais variada que seja a sua forma, não é pos- sivel confundil-o com o de um outro passaro. Estes syndactylos ainda se distinguem por um corpo alongado, por um pescoço extenso, por uma cabeça pequena, por azas curtas e arredondadas e por uma cauda ora de extensão media, ora muito comprida, composta de dez rectrizes. Sob o ponto de vista das formas os calaos offerecem uma grande variedade de typos. Não sómente as especies differem muito entre si, mas até dentro de uma especie unica os individuos offerecem notaveis variações, conforme as idades. O que na organisação interna dos calaos mais prende a attenção é a leveza do esqueleto. Não só o bico mas quasi todos os ossos são forma- dos de cellulas muito grandes, de paredes excessivamente finas, todas pneumaticas. Em muitas, senão em todas as especies, o ar pode chegar até debaixo da pelle que não adhere senão muito fracamente ao tecido subjacente; o tecido subcutaneo contem grandes cellulas cheias d'ar. 1 Citado por Buffon, Oeuvres complêtes, vol. 7.º, nota á pag. 563, Art. Les ca- Laos ou les oiseaua rhinocéros. AVES EM ESPECIAL 565 DISTRIBUIÇÃO GEOGRAPHICA Os calaos habitam o sul da Ásia, o centro e o sul da Africa. COSTUMES Estes passaros encontram-se desde as costas até uma altitude de dois mil e seiscentos a trez mil metros acima do nivel do mar e sempre nas grandes florestas. Vivem aos pares de ordinario; comtudo são sociaveis e reunem-se muitas vezes aos seus semelhantes e até a passaros muito diferentes. Passam a maior parte da sua vida nas arvores; os que vivem em terra são uma excepção. A maior parte caminham deselegantemente; no meio dos ramos porém, movem-se com agilidade. Voam melhor do que à primeira vista poderia parecer e se não percorrem grandes espaços de cada vez, não pode isto ser attribuido a fadiga, porque muitas vezes reunem-se e divertem-se horas inteiras voando no meio da atmosphera. O vôo é ruidoso, percebe-se a grandes distancias. A vista e o ouvido são sentidos que n'estes passaros offerecem um notavel desenvolvimento. Quanto à intelligencia faltam dados precisos para avalial-a. Sabe-se que estes passaros são prudentes, timidos e vi- gilantes. A voz é surda e monosyllabica ou dissyllabica. O regime alimentar é variado. A maior parte dos calaos comem pe- quenos vertebrados, insectos, mesmo carne putrefacta, e todos fructos e grãos. Alguns são realmente omnivoros. O modo de reproducção destes passaros, pelo menos o de algumas especies asiaticas observadas até hoje, é singularissima. Aninham nos troncos de arvores carcomidas; emquanto a femea choca, o macho tapa a entrada do ninho com terra humedecida, deixando apenas um ourificio de largura sufficiente para que a prisioneira possa por elle introduzir o bico e receber os alimentos. A femea conserva-se assim captiva até que os filhos tenham rompido a casca dos ovos ou, como afirmaram alguns auctores, até que possam voar. O macho só tem de alimentar toda a fa- milia, o que lhe impõe um grande trabalho, um dispendio de forças após o qual a sua magreza é extraordinaria. 566 HISTORIA NATURAL Russel Vallace exprime-se assim, fallando de uma familia de calaos que encontrou nas visinhanças de Sumatra: «Emquanto eu esperava n'uma . aldeia que se acabasse de calafetar a embarcação que nos conduzira, tive a felicidade de encontrar occasião de enriquecer a minha collecção com trez calaos da grande especie buceros bicornis—um macho, a femea e um filho. Os caçadores que eu mandára à espreita, trouxeram-me pri- meiro 0 pae, que haviam morto na occasião em que dava de comer à fa- milia, enclausurada na cavidade de um tronco d'arvore. Tinham-me nar- rado muitas vezes este habito singular dos calaos e por isso tratei logo de marchar na companhia de alguns indigenas para 0 logar em que fôra morto o calao. Atravessei um regato e uma turfeira e achei-me por fim diante de uma grande arvore pendida sobre a agua; na parte inferior do tronco, a vinte pés approximadamente do solo, observei então uma grande pasta de lama com um pequeno ourificio por onde se distinguia o bico da femea cuja voz enrouquecida eu ouvia. Offereci uma rupia à quem quizesse trepar à arvore e me trouxesse a femea com o filho ou com o ovo; como porém ninguem quizesse arriscar-se, tive de regressar pesaroso. Uma hora depois ouvi uns gritos roucos e vi que eram os pas? saros que tanto desejara. O filho era o passaro mais singular que é pos- sivel vêr-se: do tamanho de um pombo, sem signal ainda de pennugem, muito gordo, frouxo, com a pelle transparente, parecia uma bola de ge- lêa em que se tivesse implantado uma cabeça e uns pés. «Muitas especies dos grandes calaos teem o habito referido. O ma- cho enclausura a femea e o ovo durante todo o periodo da incubação e provê à sustentação da familia até que o filho se encontre em situação de abandonar o ninho. Eis entre muitos um facto de historia natural que pode dizer-se «mais estranho que uma ficção.» ! INIMIGOS São poucos os inimigos que os calaos, sobretudo as grandes espe- cies, teem a receiar em liberdade, porque o homem de ordinario não lhes dá caça e as aves de rapina receiam-lhes o formidavel bico. 1 Russel Vallace, Le Tour du monde, 1872, 2.º semestre, pg. 232-234, — Ci- tado por L. Figuier, Les Oiseaux, pg. 319-320, pis” À »sLicam-se com extrema facilidade, chegando a crear ção ao dono e pessoas da familia d'este. Na India ha » de crear em casa estes passaros desde pequeninos, dei- jis “correr livremente por todos os aposentos da habitação, l , + E: AS AVES | geraes sobre as aves — Organisação — Formas externas — — Systema muscular — Systema nervoso — Orgãos dos senti- na cireulatorio e respiratorio — Apparelho digestivo — Ap- — Tegumentos — Movimentos — Vôo — Marcha — Nata- de trepar — Movimentos internos — Nutrição — Respiração Sentidos — Vista — Ouvido — Olfato — Gosto — Tacto — Intel- R Distribuição geographica — Logar habitado — Desenvolvi- - Mudas —Vida quotidiana — Amores e Reprodueção — Emigra- Eado — — Doenças — Utilidade — Classificação... “ORDEM DAS AVES DE RAPINA geraes — Caractores — Distribuição geographica — Costn- Eds — Inimigos — Uuiidado — Classificação . k , j : Pag. 5-35 37-43 570 : INDICE AVES DE RAPINA EM ESPECIAL 1. AVES DE RAPINA DIURNAS ABUTRES Caracteres geraes o arirro — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Capti- veiro — Usos e Productos . o pICA-Osso — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro — Usos e Productos |. k ; ; k j - o conpor — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Usos e Productos . ; ; : : ; : : e O ABUTRE DO EGYPTO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Usos e Productos . Ê Z ; : P ; o urupu REI — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Ca- ptiveiro . Ê i ; Ê E 7 ; j : é g O ABUTRE DA CALIFORNIA — Caracteres — Distribuição geographica — Costu-' mes o uruBu — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro os aypagTOS — Caracteres o ayparTO BARBUDO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos — Caça — Captiveiro — Usos e Productos. À : ” SERPENTARIOS Caracteres . : R : ) REC ; é à ; á O SERPENTARIO OU SECRETARIO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro — Usos e Productos . : ; à Pag. 46-47 41-51 51-54 54-58 59-61 61-63 63-64 64-67 67 67-14 i INDICE FALCÕES Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos — Utili- dade — Emprego dos falcões na caça. ” O CARACARÁ DO BRAZIL — Caracteres — Distribuição geographica — Costu- mes — Captiveiro o TARTARANHÃO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Utilidade — Captiveiro AS URUBITINGAS — Caracteres. A uruBITINGA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro — Utilidade. As Aguras — Caracteres A Aguia REAL — Caracteres — Costumes . A AGUIA IMPERIAL — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Usos e Productos . ; A AGUIA RABALVA — Caracteres — Distribuição grographica — Costumes — Caça — Captiveiro — Utilidade . A AGuIA PESQUEIRA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro , ? ; E A marpiA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Capti- veiro — Usos e Productos. O GurxcHo DA TAINHA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Utilidade. ; á é á é gAREE a ú os quriraLTOS — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Inimigos — Captiveiro . “O FALCÃO VULGAR — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Utilidade . ; k ê j RUI ; . o FALCÃO TAGOROTE — Caracteres — Costumes — Distribuição geographica — Captiveiro — Utilidade OS FRANCELHOS OU PENEIREIROS — Caracteres O FRANCELHO OU PENEIREIRO VULGAR — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Utilidade . 571 Pag. T9-84 84-87 87-90 90 90-92 92 93 93-96 91-99. 100-101 102-104 105-107 108-110 110-113 113-115 115 116-117 572 INDICE OS MILHAFRES OU MILHANOS — Caracteres . 1. os MILHANOS AQUATICOS S : : A , : E O MILHANO NEGRO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Utilidade . i À ; ; à 2. OS MILHAFRES PROPRIAMENTE DITOS . . . . . . . o MILHAFRE REAL — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Utilidade ; ; ; k ; . ; > ; ; o açor — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro ; ; À ' : É É ” ! . ; os gaviões — Caracteres a ” - 7 ; é ' ; é o gavião comuum — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos — Captiveiro — Utilidade .. ; A . O TARTARANHÃO RUIVO DOS PAUES — Caracteres genericos — Caracteres espe- cificos — Distribuição geographica — Costumes o TARTARANHÃO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos . . H. AVES DE RAPINA NOCTURNAS Caracteres geraes das aves de rapina nocturnas — Utilidade . ; : CORUJAS A corusA ruscaLva — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Utilidade. : ' ; Ê É ; - i MOCcHOS o mocno orpiNARIO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos — Captiveiro — Usos e Productos |. j o Buro — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro o puro meprocREe — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Utilidade . É - ' j k ; , p o mocHo pequENo — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Utilidade . ; ; : y a ' . R 118 118-120 120 120-122 123-125 126 126-129 129-130 130-131 132-133 1335-135 1355-138 1389-142 142-144 144-146 INDICE A CORUJA DO MATTO — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Dis- tribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Utilidade A CORUJA DAS TORRES — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Distribuição geographica — Costumes — Utilidade — Captiveiro — Pre- juizos . ; E À j ! ; : ' ] Quadro eschematico da classificação das aves de rapina . ORDEM DOS PASSAROS Considerações geraes — Citações de Figuier e de Brehm — Falta de cara- cteres de homogeneidade n'esta ordem — Caracter deduzido da confor- mação dos pés — Costumes — Sentidos e Intelligencia — Distribuição geographica — Divisões ; ; ; : ã PASSAROS EM ESPECIAL DENTIROSTROS Caracteres . O PICANÇO commum — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Sentidos — Inimigos — Caça — Captiveiro — Utilidade O PICANÇO MERIDIONAL — Caracteres — Distribuição geographica — Costu- mes — Usos e Productos . j O PICANÇO DE ITALIA — Outras denominações d'este passaro — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos — Captiveiro O CASSICAN DESTRUIDOR — Caracteres especificos — Distribuição geographica ac Costumes . . . . . . o 2 . 146-148 148-152 153 155-157 159 159-162 - 162-164 1614-166 166-167 974 INDICE o poxo — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Distribuição geographica — Costumes — Preconceitos — Captiveiro. os ryraxxos — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes . o ixrrepino — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Usos e Productos — Utilidade . ; E ; ; , o o BEM TE vI— Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Ca- ptiveiro : A tesouRA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes |. ? O TYRANNO REAL — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes o vrperu — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Distribuição geographica — Costumes . O TARALHÃO OU PAPA-MOSCAS — Caracteres — Distribuição geographica — Cos- tumes — Inimigos — Captiveiro — Utilidade O PAPA-MOSCAS NEGRO — Caracteres — Costumes ; Ê y é O PAPA-MOSCAS DE PESCOÇO BRANCO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro A COTINGA CHILREIRA DA EUROPA — Caracteres genericos — Caracteres espe- cificos — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro . A COTINGA PURPUREA — Caracteres . A COTINGA VERMELHA DO PARÁ — Caracteres . E a Ê à : “ À COTINGA ENCARNADA — Caracteres. A COTINGA AZUL OU SAÍRA GRANDE DO BRAZIL — Caracteres . A COTINGA DE PEITO ENCARNADO — Caracteres — Distribuição geographica . As TANGARAS — Caracteres — Distribuição geographica A TANGARA VARIEGADA — Caracteres — Costumes — Captiveiro . : A TANGARA DE CABEÇA AZUL — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes. A TANGARA DE PEITO RUBRO — Caracteres — Distribuição geographica . A TANGARA DO PARAIZO — Caracteres — Distribuição geographica : é Pag. 168-170 170 1711-173 1173-174 1715-176 1716-177 1718-179 179-181 182 182-184 184-186 187 187 188 188 188-189 189 190 190-191 191-192 192 INDICE A TANGARA ROXA — Caracteres . A TANGARA DE CABEÇA AMARELLA — Caracteres . A TANGARA FLAMEJANTE — Caracteres — Distribuição geographica — Costa- mes — Captiveiro A TANGARA PALMISTA — Caracteres — Distribuição geographica . os organistAs — Caracteres — Distribuição geographica . O ORGANISTA DE PEITO AMARELLO — Caracteres — Distribuição geographica . OS MANEQUINS — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes. O MANEQUIM DE CAUDA FILIFORME — praticam cs Costumes o MANEQUIM BICOLOR — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes. O MANEQUIM VARIEGADO DO BRAZIL — Caracteres O CEPHALOPTERO OU GuIRA-MEMBY — Caracteres genericos — Caracteres espe- cificos — Distribuição geographica — Costumes . os rorpos — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes o torDO commum — Caracteres — Distribuição geographica, o ToRDO ZzorNaL — Caracteres — Distribuição geographica o torno MaLvIZ — Caracteres — Distribuição geographica. A TORDEIRA OU TORDOVEIA — Caracteres — Distribuição geographica . ENUMERAÇÃO DE OUTRAS EspECIES: O tordo trigueiro — O tordo de Naumann — O tordo de pescoço ruivo — O tordo palido — O tordo da Siberia — Distribuição geographica d'estas especies, — O tordo emigrante — O tordo solitario — O tordo de Wilson — O tordo de Swainson — O tordo anão — Distribuição geographica d'estas especies. — O tordo de pennas molles — O tordo de garganta negra — Distribuição geographica d'estas especies. — O tordo variado — Distribuição geographica d'esta especie . os meLROS — Caracteres geraes o MELRO PRETO — Caracteres — Distribuição geographica. O MELRO DE PEITO BRANCO — Caracteres — Distribuição geographica O MELRO DE SOBRANCELHAS BRANCAS — Caracteres — Distribuição geographica 575 Pag. 192 192 193-194 194 194-195 195 196-197 197-198 199 200 200-201 201-202 202-203 203 203-204 204-205 205 206 206 201 207-208 576 INDICE 0) COSTUMES DOS TORDOS E DOS MELROS — Caça — Captiveiro . O TORDO DOS REMEDOS — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro O MELRO D'AGUA — Caracteres geraes — Caracteres especificos — Distribui- ção geographica — Costumes — Inimigos — Caça — Captiveiro os BrEvEs — Caracteres genericos. O BREVE DE BENGALA — Caracteres — Distribuição geographica . O BREVE DE ANGOLA — Caracteres — Distribuição geographica O BREVE ESTREPITOSO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro os rormicivoros — Citação notavel de Schomburgk — Caracteres . O OLHO DE rogo — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes |. O PAPA-FORNIGAS MAIOR — Distribuição geographica -— Costumes ; ; AS GRACULINAS — (Caracteres . : ; é á ' ; j : A GRACULINA PALREIRA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro . : ; : 1 : ! ; , ; : o parA-riGos — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Costumes — Distribuição geographica — Captiveiro — Utilidade . ? à : A LYBA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro AS PETINHAS OU pIpIS — Caracteres . A PETINHA DAS ARVORES — Caracteres — Distribuição geographica — Costu- mes — Captiveiro . Ê , ; : ; À 7 A PETINHA DOS PRADOS — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro . k E : k p ; - ; : : A PETINHA AQUATICA — Caracteres — Distribuição geographica — Costa- mes. * . . 7 . AS ALVEOLAS — Caracteres . E ce à : Z á ê & A aLvEOLA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes |, Pag. 208-211 211-213 213-21% 217 218 218-219 219-221 222 223 224 : | 225 225-226 2271-229 229-232 233 2833-234 235-236 2371-238 238-239 239-241 INDICE A ALVEOLA DOS ROCHEDOS — Caracteres — Distribuição geographica — Cos- tumes A ALVEOLA AMARELLA — Caracteres — Distribuição geographica . A ALVEOLA MELANOCEPHALA — Caracteres — Distribuição geographica . A ALVEOLA DE RAY — Caracteres — Distribuição geographica A ALVEOLA CrrRINA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes das alveolas os exicuros — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes O ENICURO MALHADO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes. A caraDA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Capti- veiro A QUEIJEIRA OU TAUJANA — Caracteres — Distribuição geographica — Costu- mes. os cartaxos — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Tni- migos — Captiveiro . A ESTRELLINHA — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Distri- buição geographica — Costumes — Captiveiro A CARRICINHA DAS MOUTAS — Caracteres genericos —Distribuição geographica — Costumes A FOLHOSA OU FUINHO — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro . O PISCO DE PEITO RUIVO — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro O PISCO DE PEITO AZUL — Caracteres geraes — Caracteres especificos — Dis- tribuição geographica — Costumes — Inimigos — Caça — Captiveiro ENUMERAÇÃO DE OUTRAS ESPECIES: O pisco de peito azul com malha branca — O pisco de peito azul de Wolf A RABIRUIVA — Caracteres geraes — Caracteres especificos — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro A RABIRUIVA OU FERREIRO — Caracteres — Distribuição geographica — Costu- mes —Captiveiro . ; ; VOL, IV 577 Pag. 241-242 242-243 243 244 244-246 246-247 2471-248 248-250 251 251-253 2593-255 2506-258 258-260 2600-269 263-266 266 267-268 268-270 31 578 INDICE O ROUXINOL DA ESPADANA — Caracteres geraes — Caracteres especificos — Distribuição geographica — — Costumes — Captiveiro |. ? : ; A costurEIRA — Caracteres geraes — Caracteres especificos — Distribuição geographica — Costumes . : - : ; e ? o rouxrxoL — Caracteres especificos — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos — Captiveiro . - s k AS TOUTINEGRAS — Caracteres genericos . | | ; A TOUTINEGRA REAL — Caracteres — Citação de Humboldt — Um erro d'este observador — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro. é A TOUTINEGRA DOS JARDINS — Caracteres — Distribuição geographica — Cos- tumes — Captiveiro . ; - É à : ; ; ESA A TOUTINEGRA PALREIRA — Caracteres — Distribuição geographica — Costu- mes — Captiveiro . Ê a ; ) À ; + ; - O GALLO DA SERRA OU BRAVO — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Usos e Produ- ctos ; 2 5 . x . : É ; 7 : O TINGARÁ TIE-GUAÇU — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes a FISSIROSTROS Caracteres — Distribuição geographica — Costumes À o) ' E AS ANDORINHAS — Caracteres genericos . : À à - , ' A ANDORINHA DAS CHAMINÉS — (Outros nomes desta especie — Distribuição geographica — Car acteres eee atas Ra. ' - ; à : ENUMERAÇÃO DE OUTRAS ESPEONES. ANALOGAS Á anterior: À andorinha dos pan- tanos — A andorinha da Africa, do Norte — A andorinha da America do Sul — A andorinha das ilhas do Oceano Pacifico . À E E ' A ANDORINHA DAS CASAS — (arácteres — Distribuição geographica . , a 4 A ANDORINHA DAS ROCHAS — Caracteres — Distribuição geographica A ANDORINHA ARIEL — Caracteres — Distribuição geographica . ; a A ANDORINHA DO SENEGAL — Caracteres — Distribuição geographica . ; Pag. 270-2712 2712-274 2714-278 278 279-281 281-282 283-284 2814-281 - 287 2390-291 291 292 “292-298 e “INDICE NHA SALANGANA — Caracteres — Distribuição geographica . +. 0 oe E zrRRO — Distribuição geographica . Ê A ED Vade HO — reias genericos — . Cardotieto especificos — — Distribuição vp! e ER nhos —— Copo — Capeivigpiis EE a dis ro. DRA OU E E Cinnotengeis — Distribuição geographica — : Cos- - Inimigos — Caça — Captiveiro aa o Dios t ainánvoo — Caracteres — reDistribuição geographica . |. ) OU CirAPIM ámiondo — e Careabinja — Distibição goographio tono — Carctoros — Distrbnição vogranhioa PR E ai ç- Ay e Aa a ) ; OU MELHARUCO DOS paxTANos — ( Caracteres - - Eeatibeição geogra- E . . . . 9 PR Pro. , NÃo A . . “ . E dt E tr - ga , + F To y aa COMMUNS AOS cHAPINS — Cosmos differencidos — Captiveiro ae » — Caracteres PRN A ir, oo especificos — Distribui- geographica — — Costumes — Caça — Inimigos a Da ICIA — sic gaia — Distribuição geographica . y y é ? RO TRIGUEIRO — - Caraoteros — Distribuição geographica — Costumes — Capti- EAR ro . o PEA . . . , ” “ “ A, Pa “Caracteres — Distribuição onreniidá — Contr p a as R — Caraotoros a “ia spographios : ; : $ As Pag. 292 294 294-300 300-302 306-307 307-309. 309-811 3811-812 312 318 3138-814 314 314-316 316-318 318 319-320 980 INDICE a HoRTOLANA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Ca- ptiveiro — Usos e Productos |. : ; : : : : ) As vIUVAS — Caracteres -— Distribuição geographica — Costumes — Capti- veiro ; á à : . A VIUVA DOMINICANA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro os TECELÕES — Caracteres genericos 5 ; : ê O TECELÃO DE CABEÇA DOURADA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro |. O TECELÃO MASCARADO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes O REPUBLICANO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes —Ca- ptiveiro . . E : ; x os BeENGALIS — Caracteres . j : ; O pEITO CELESTE — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro : ; : ; - À ' : os sENEGALIS — Caracteres O SENEGALI MINIMO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro O MARACACHÃO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes OS CANARIOS — Caracteres geraes . ? é : ; ” : h o canaRIO — Caracteres — Origem — bia geographica — Costumes — Caça — Captiveiro á - : : g O CHAMARIZ OU SERZINO — Outros nomes d'este passaro — Caracteres — Dis- tribuição geographica — Costumes — Inimigos — Caça — Captiveiro . o TENTILHÃO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro — Usos e Productos : O TENTILHÃO MONTEZ — Caracteres — Distribuição ic o — Costumes — Caça — Captiveiro : ; , O PINTARROXO — Caracteres geraes — Caracteres especificos — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro Pag. 9320-321 321-323 3323-824 324 324-326 326 3271-328 328 329-330 330 3830-831 331-332 332 3393-337 3371-339 3399-342 3942-344 344-346 O PINTARROXO MONTEZ — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes 346-3417 INDICE os pixTASILGOS — Caracteres . o pixtAsILGO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro . O PINTASILGO VERDE OU LUGRE — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro . os pARDAES — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Capti- veiro o parDAL — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro — Utilidade — Usos e Productos O PARDAL cisALPINO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes . O PARDAL DOS PANTANOS — Caracteres — Distribuição geographica — Costu- mes — Captiveiro — Utilidade O PARDAL MoNTEZ — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Inimigos — Captiveiro — Utilidade. | O PARDAL FRANCEZ — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Dis- tribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro o Dom rare — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Distribuição - geographica — Costumes — Caça — Inimigos — Utilidade — Captiveiro. o verDiLHÃO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Tni- migos — Caça — Captiveiro — Utilidade — Usos e Productos y ' Os BICO-GROssuDOSs — Caracteres genericos O Brco-grossuno — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Inimigos — Captiveiro . Os carpeAEs — Caracteres genericos |. - ; : o O CARDEAL DA VIRGINIA — Caracteres — Distribuição geographica — Costu- mes — Captiveiro . , 5 : + E E j a ; O DOMINICANO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Ca- ptiveiro ed . ” “ . . . os cruza-Bicos — Indecisão dos naturalistas sobre o numero de especies d'este genero — Caracteres — Costumes — Caça — Captiveiro — Utilidade — Distribuição geographica . ; ; . . O CRUZA-BICO DOS ABETOS — Caracteres . : ; ; ; 581 Pag. 347 3948-350 3590-354 3594-356 356-361 8361-362 9362-365 3650-367 3671-369 3969-373 3713-376 Eri! 3717-380 380 381-383 384-385 8385-389 3989-390 582 INDICE 6 oruza-Bico commum — Outras denominações por que é conhecida esta es- pecie — Caracteres . : p * ; Z ê O CRUZA-BICO RAIADO — Caracteres . os picA-Bois — Caracteres |. ; E ; O PICA-BOI AFRICANO — Caracteres — Costumes . E : E O PICA-BOI DE BICO vERMELHO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes : ; ' : - : ; : o : ; os contos — Caracteres — Distribuição geographica . E À Ê ; O COLIO DE GRANDE CAUDA — Caracteres — Distribuição geographica . ; O COLIO DE FACE BRANCA — Caracteres — Distribuição geographica |. ; COSTUMES COMMUNS ÁS DUAS ESPECIES DE COLTOS DESCRIPTOS — Caça — Captiveiro o «utra-uxa — Nome scientifico — Caracteres genericos — Caracteres espe- cificos — Distribuição geographica —*Costumes — Captiveiro. ' ; o sapú — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Distribuição geo- graphica — Costumes — Caça — Captiveiro — Usos e Productos |. á os estuRnINHOs — Caracteres — Costumes — Captiveiro . Ê À k O RSTURNINHO vULGAR — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes O ESTURNINHO PRETO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Usos — Inimigos — Captiveiro .. Ê A : A é O ROLLIEIRO — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Pistrasição geographica-— Costumes — Captiveiro — Utilidade . - pd w Ra os caros — Caracteres geraes ; k ! - ; A ERR É o auto — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos: — Caça — Captiveiro — Utilidade . : : ' : ; As pEGAs — Caracteres genericos . ; ; : : ; . ; A PEGA vuLGAR — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Ini- migos —Captiveiro . : ; , ; : ; ; : 3 o razrLoNGo — Outro nome d'este passaro — Caracteres — Distribuição geo- graphica — Costumes — Inimigos — Captiveiro . j j : ; Pag. 390 391 391 8391-392 392-393 394 394-395 395 3995-897 | 397-399 399-402 402-403 4038-404 404-408 409-410 INDICE 583 Pag. os corvos — Caracteres genericos . É A i ; j p a 420 o corvo commum — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Utilidade . , - ê ; é : . - 420-424 O corvo DE pescoço Branco — Caracteres — Distribuição geographica — Cos- tumes . , , À g , : : Ê a : - 424-425 O corvo DE grosso nico — Caracteres — Distribuição geographica — Costa- 2 mes. . Ê . ; ; : ; ; ; ; ; - 425-426 p z f AS GRALHAS — Caracteres genericos ê ' : Ê p ; ; 426 A GRALHA NEGRA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes |. 427 A GRALHA cinZeNTA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos — Utilidade — Caça — Captiveiro . ; - ; ; - 427-430 A GRALHA CALVA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos — Captiveiro — Utilidade — Caça. p ; ; k - 430-483 A CHUCA OU GRALHA DAS TORRES — Caracteres geraes — Caracteres especifi- ER cos — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos — Captiveiro — BRR. .- —JUtilidade : - À k ) Ê ; ; : À . 4383-435 A GRALHA DE BICO VERMELHO — Caracteres genericos — Caracteres especifi- “cos — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro . , - 4386-438 ) “OS QUEBRA-NOZES — Caracteres EDIÇÃO geographica |. y « 4388-439 o QuEeBRA-NOZES — Caracteres — Distribuição eropraginoa — Costumes — apanipeito ; o ç MAE é Ee ie É ; : - 4389-443 AS AVES DO PARAIZO OU MANUCODIATAS — Considerações historicas — Caracte- res — Distribuição geographica , io. ' SM peço o 443-444 ; x o 12% A AVE DO PARAIZO ORDINARIA — Caracteres — Distribuição geographica o 445 Ea) e. A AVE DO PARAIZO REAL — Caracteres — Distribuição geographica — Consi- a | derações historicas . .. ; : : j ú ] | - 446-448 - ; A MANUCODIATA RUBRA — Denominação latina da especie — Caracteres — Si Distribuição geographica . ' j 3 : ; f é R 449 A MANUCODIATA DOURADA — Caracteres geraes — Caracteres especificos — Distribuição geographica . ; : o e Ê à À : 450 COSTUMES DAS AVES DO PARAIZO OU MANUCODIATAS — Caça — Captiveiro — Usos e Productos . ; : ; À : , : : - 450-454 584 ; INDICE AS LOPHORINAS — Caracteres . ; ; k : ; x e A LOPHORINA SUBERBA — Denominações ingleza e allemã da especie — Ca- racteres — Distribuição geographica . : ; : i ; a A MANUCODIATA RESPLENDENTE — Caracteres — Distribuição geographica — | Costumes. À x s x a Ê R ; É A TENUIROSTROS Caracteres . ; . : : ; : : ' E j x os pICA-PAUS — Caracteres — Distribuição geographica . Q : o O PICA-PAU ciNZENTO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro Ê à s i ? : ; : , O PICA-PAU DA EUROPA — Caracteres é E É : ! A 2 O PICA-PAU DA SyrIA — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Caça — Captiveiro ; ; ; . . . h à c OS PEQUENOS MELHARUCOS-PICANÇOS — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes . 3 . j : " : : k É ' O PICANÇO MELHARUCO DE CAPUZ — Caracteres — Costumes. ) - 4 OS TREPADORES — Caracteres — Distribuição geographica. : : - O TREPADOR DOS muros — Outras designações da especie — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos — Utilidade — Capti- veiro ss . a á ; , . , ; : ; ; AS PINCACILHAS OU TREPADEIRAS — Caracteres — Distribuição geographica . A PINCACILHA OU TREPADEIRA commum — Caracteres — Distribuição geogra- phica — Costumes — Captiveiro — Utilidade . j f , ) os assucarerros — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes . OS PASSAROS AZuES — Caracteres ? é ; p é . . o sat — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes . Ê . OS ASSUCAREIROS PROPRIAMENTE DITOS — Caracteres . . , e . 4550-456 456-457 4571-458 458 459-462 462 4603-464 465 466-467 467 468-473 “4 4759-471 4718-479 479 480-481 INDICE O ASSUCAREIRO MARIQUITAS — Caracteres — Distribuição geographica — Cos- tumes . . . . . . o - ; : ; o OS COMEDORES DE ASSUCAR — Caracteres — Distribuição geographica — Cos- tumes . . . : . . . o . . o . o soui-manga — Caracteres — Distribuição geographica . : ; ' O SOUI-MANGA DE PEITO VERMELHO — Caracteres — Distribuição geographica O SOUI-MANGA TRIGUEIRO E BRANCO — Caracteres — Distribuição geographica O SOUI-MANGA DE GARGANTA VIOLETA E PEITO VERMELHO — Caracteres — Distri- buição geographica . : É - ; ? ; ; E j O SOUI-MANGA COM PEITO VERMELHO — Caracteres — Distribuição geographica O SOUI-MANGA PURPURA — Caracteres — Distribuição geographica : à O SOUI-MANGA DE COLLAR — Caracteres — Distribuição geographica . O SOUI-MANGA AZEITONADO — Caracteres — Distribuição geographica . O SOUI-MANGA PARDO DE BRISSON — Caracteres — Distribuição geographica . O SOUI-MANGA DE TODAS As cores — Caracteres — Distribuição geographica. O SOUI-MANGA VERDE DE GARGANTA VERMELHA — Caracteres — Distribuição geographica . o : : ; ç á ' - y O SOUI-MANGA VERMELHO, NEGRO E BRANCO — Caracteres — Distribuição geo- graphica . ; ; k . ê . á : ; : : OS SOUI-MANGAS DE CAUDA COMPRIDA — Caracteres |. É - : : O SOUI-MANGA DE LONGA CAUDA VIOLACEO — Caracteres — Distribuição geogra- phica . ; : À ú ; t - - ; E o OS SOUI-MANGA DE LONGA CAUDA VERDE E DOURADA — Caracteres — Distribui- ção geographica : : ; ? . Ê ; é : - O GRANDE SOUI-MANGA VERDE DE LONGA CAUDA — Caracteres E Distribuição geographica . à : ' R . p : À - ç os rorxerros — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes . : o rorxerro — Caracteres — Costumes — Captiveiro. é : é : OS COLIBRIS OU BEIJA-FLORES — Citações de Buffon, de Audnbon, de Warte- 585 Pag. 481-482 483-484 484-485 485-486 486-487 487-488 488 489 489-490 490 490-491 491-492 492 498 493 494 495 495-496 496-497 497-499 586 INDICE ton, de Burmeister e de Figuier — Caracteres — Citações importantes de Brehm e de Burmeister — Costumes — Distribuição geographica — Caça — Inimigos — Usos e Productos — Preconceitos — Divisão . - x 1. OS PASSARINHOS MOSCARDOS — Caracteres distinctivos . ; ; E O BEIJA-FLOR MINIMO — Caracteres — Distribuição geographica. O BEIJA-FLOR DE RUBIS — Caracteres — Distribuição geographica é ; O BEIJA-FLOR AMBTHYSTA — Caracteres — Distribuição geographica |. ; o O BEIJA-FLOR MAGnIrICO — Caracteres — Distribuição geogriphioa ' ta vera O BEIJA-FLOR RUBI-TOPAZIO — Caracteres — Distribuição geographica . , O BEIJA-FLOR DE pouPA — Caracteres — Distribuição geographica ? , O BEIJA-FLOR PURPURA — Caracteres, ; : : ” y F é O GUAINUMBI MAXIMO OU BEIJA-FLOR DOURADO — Caracteres . . . . O BEIJA-FLOR SAPHIRA — Caracteres. : ; : pis ; O BEIJA-FLOR BICOLOR OU SAPHIRA E sine ach ae DURA K ; , BEIJA-FLOR D'OURO E VERDE — Caracteres — Distribuição geographica . O BEIJA-FLOR ESMERALDA E AMETHYSTA — Caracteres .. . . tio . o (os) o [s) (eo) (o) fem) BELJA-FLOR VERDE E DOURADO — Caracteres . ; : ; k : BEIJA-FLOR DE PESCOÇO MACULADO — Caracteres : E ; 3 ; BEIJA-FLOR RUBI E ESMERALDA — Caracteres — Distribuição geographica . BEIJA-FLOR JAcoBINO — Caracteres — Distribuição geographica à ; BEIJA-FLOR DE PENNAS LARGAS — Caracteres — Distribuição geographica . BEIJA-FLOR DE LONGA CAUDA, COR DE Aço — Caracteres — Distribuição geo- graphica . : : - z ; - : “ ; ; ' BEIJA-FLOR DE LONGA CAUDA, OURO, VERDE E AZUL — Caracteres — Distri- buição geographica . | é ; . ' - 5 o : O BEIJA-FLOR VIOLETA DE CAUDA rorquiLHADA — Caracteres — Distribuição geographica . ; F : ; ; ; ; : j ; é Pag. 500-509 509 510 511 511-512 e 612 513 516-517 511 517 518 518-519 519 520 521 521 “INDICE -FLOR DE) LONGA CAUDA NEGRA — Caracteres — Distribuição geogra- remo — Caracteres ER aitção geographica |. A : atá E negro — Outras denominações d'esta especie — Cara- etores — Distribuição asda plo Ss a gia pl dO ra r a Carsoteres — Distribuição geographica . OU COLIBRI DE PEITO NEGRO — Giarasieno — — Distribuição geogra- - = a . . . . . 7 "a o . . . . “ nd 5º Ms R Azut su — Cnraotoros- — «Distribuição geographica . A ; : DE vexrme arrutvaDO — Caracteres — e SB od : Sortim graNaTE — Caracteres . . PR TES sé “ etos — Lendas . as roupas — Caracteres É ' ; 2 y , ã É 587 Pag. -521-522 522 523 523-524. 524 525 525 526 526-527 521 527-528 528 529 529 530 Ê 539--540 588 INDICE A POUPA VULGAR — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Utilidade — Usos e Productos ; : o gPIMACO — Caracteres genericos — Caracteres especificos — Distribuição geographica . k ? : ; ê ; : : ç . SYNDACTYLOS Caracteres geraes ; ; : : i : ; : as momoras — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes . A MOMOTA GuIRANUMBI — Caracteres — Distribuição geographica — Costa- mes — Captiveiro . é é ; ; ; : : j os ABELHARUCOS — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro — Utilidade |. ; g : : ; Ê L k O ABELHARUCO VULGAR — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes —Preconceitos — Caça — Usos e Productos : " : : os PICA-PEIXES — Caracteres . ; : - : ; : : ; O PICA-PEIXE VULGAR OU GUARDA-RIOS — Caracteres — Distribuição geogra- phica — Considerações historicas — Costumes — Captiveiro . . os ceyx — Caracteres — Distribuição geographica . - ã ; ' o ceyx TRIDACTYLO — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes . os rTopEIROSs—Caracteres — Distribuição geographica À : à : o toDEIRO VERDE — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Captiveiro À ; : : . E A é Ê : ' os carãos — Citação de Cuvier — Caracteres — Distribuição geographica — Costumes — Inimigos — Captiveiro — Utilidade |. o . . 545 545-546 5146-548 549-551 551-555 555 556-559 559 560 561 562-563 564-567 bd Mattos, Julio Xavier de História natural illustrada PLEASE DO NOT REMOVE CARDS OR SLIPS FROM THIS POCKET UNIVERSITY OF TORONTO LIBRARY da Srila) PÉS Seios PERA Ee o e a A as feição rss Pes So SS z Sie parada Ea 4 Ee EN R no Ra o NA RE Vo! NON f ; E pa EO A A PANA RNA E ES BEN ANE REU E GS So z Ricos Ê a ci Rep aãe RIO ENE via LL BONO U NRO RE O sy Na Us À SANA NE q B NAN 'y TE ) EVAN PAS ALAGOA 1) Rd SS. Faro ) ! AEB NEN E ANN O Na RA PRA AN ao Ni EN N SAY NR RN NENE AAA to NO Oo ” a õ! NEN Ni y AS ERVA PITA Dk RUN y PN E TA My x ASA A$S É A t NO NETO Y nO NE j 1º, VR O Ns GEN EN Ra 1 US NA NAM NR ERG e RIA NAN NERDS RO) A Ny Y q N RN À | o OPA o À NANA LE OR e NAN q RA NAO BM RO QE Ped O Ea ' a y v EINS NR É RPA N mas ' A A AN W »| NR T y RN E Ne N AM de CN rs RS : Vá Dt ERA y EN K t ND A N Y ” Crane CEU SE a Ed