Smithsonian Institution fibra res Alexander Wetmore 1946 Sith Secretary 1953 À Ware TEAM TRE) INSTRUCÇÕES PRATICAS SOBRE O MODO DE COLLIGIR, PREPARAR E REMETTER PRODUCTOS ZOOLOGICOS PARA O MUSEU DE LISBOA INSTRUCÇÕES PRATICAS “o SOBRE O MODO DE COLLIGIR, PREPARAR E REMETTER PRODUCTOS ZOOLOGICOS PARA O MUSEU DE LISBOA , POR 1. V. BARBOSA DU BOCAGE LENTE DE 200LOGIA NA ESCOLA POLYTECHNICA DIRECTOR DA SECÇÃO ZOOLOGICA DO MUSEU NACIONAL DE LISBOA SOCIO EFFECTIVO DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS LISBOA IMPRENSA NACIONAL 1862 INDICE PAG. ENBRODUCÇÃO! 1 E ] E MANANTEROS (QUADPRUPEDES).. «0. 6). cclsiniieraio o sina e oloio o ola ia jo 006 1h Sie 2 Como se podem: obter... SELIC NES Br and 14 - 3e 4. Processos de conservação dos mammiferos inteiros e das | Rpelleso Preparação: dos esqueletos. 1: Ass o o! 15. Da BetraGção das ipelles: 041. 2l. feio plain loja 9jb ela o onaiaio o Ion aah) aa 19 6. Modo de acondicionar os mammiferos e as pelles.......... 22 7. Indicações que devem acompanhar as remessas. ........... 2h RA ss NON Aa TR 25 isnMtodo de obteras aves Lips to O, 25 2. Extracção é conservação das; pelles..!.... cce sh ca sans 26 à. Indicações essenciaes.. ......... rd RR AR 29 h. Ovos e ninhos. Modo de os preparar e remetter. .......... 30 DRE BETIS o e e A ER E UM O A A 32 TE Como se devera procuraria a 32 2. Processos de preparação e conservação. .......... cc... 35 o ndiciedes esserteiaes LD a VE E RERESS SOPA CD O Sh Ra Conmoise dade obter sra SS dk DZ VETOCESSOS dE CONSERVAÇÃO UI E a So eo ntndicações essencidest li JR GA DS a Usada a 36 N— MoLvuscos (MARISCOS E CONCHAS) Sl ceajio tios aa ao oil oara 36 EiModo de as tobient e atra 36 2. Preparação das conchas e conservação dos animaes.. ...... hd O PAG. 3. Acondicionamento das conchas e molluscos. .............. h3 k, Indicações essenciaes. ... 2 re ne CMC Do iai ie hh VI— CRrUsTACEOS (LAGOSTAS, CARANGUEJOS, ETC.).. ....ccccrcae eo hõ 4. Como se podem obter. cc me o SR o h5 2. Processos de preparação é conservação... «.... man h6 VIL— INSECTOS: 2 2iuidéo eee Sa crio do o oa e no e A e AE h7 4. Como se padem obter... .. sata o nur teteit oo no RR h7 2. Modo de os acondicionar e remetter. :... 2 o 57] 3. Indicações ESSENÇIASS. à. mi qe o spa stone adido raio E 8) VIII— ARACHNIDEOS (ARANHAS, ESCORPIÕES, ETC.).. ............0. dh Modo de os obter e conservar. ......cccs same so dev IX—MyrIAPODOS (CENTOPEIAS), VERMES, ZOOPHYTOS .............. d% 1. Modo de obter e conservar os myriapodos.. .............. o% 2. Modo de obter e conservar os vermes..............2p0e.. do 3. Modo de obter e conservar os zoophytos. ................ 55 DESIDERATA DO MUSEU DE LISBOA... ................0.0> 58 I--ProDUGTOS ZOOLOGICOS DE PORTUGAL... p» ici s/s joao o jato io OD 59 II—Probucros ZOoLOGICOS DAS POSSESSÕES DO ULTRAMAR.......... 64 NOTAS. . coeisama nr esa eira io io term ainto o ur al abala E 67 A-—Collecções levadas do museu da Ajuda para o jardim das plan- tas de París em 1808 por Geoffroy Saint-Hilaire............ 67 Collecções obtidas, em compensação, do jardim das plantas em 1859 e 1860... ...5 0.0. cr ml ai 68 B — Situação da secção zoologica do museu em 1858, quando o mu- seu foi transferido para a escola polytechnica.............. 71 Melhoramentos conseguidos desde então... .................. 72 LISTA DAS AVES DE PORTUGAL com as synonymias scientifica e vulgar. .. cueca re ii meste sir dis Aa E 75 INTRODUCÇÃO - Com a publicação destas Instrucções praticas sobre o modo de collagir, preparar eremetter para o museu de Lisboa exem- plares zoologicos, temos em vista solicitar a coadjuvação de nossos conterraneos para uma obra eminentemente util e ci- vilisadora, qual é a organisação em Lisboa de um museu zoolo- gico digno da nossa capital. A este museu, que esperâmos poder brevemente paten- tear ao publico no edificio da escola polytechnica, serviram de nucleo as collecções expostas até ha poucos annos em algumas das salas do antigo convento de Jesus, e para ali trazidas em 1836 de umas dependencias do palacio da Ajuda, onde exis- tiam desde muito tempo. Na origem foi o nosso museu, como o museu de Paris, um simples gabinete de curiosidades, creado para uso e recreio dos nossos reis. : Emquanto a posse de vastas possessões nos dois hemisphe- 4 — 9 rios deu à nossa capital a preeminencia na navegação e com- mercio sobre todas as cidades maritimas da Europa,.affluiam a Lisboa, alem dos productos propriamente commerciaes, variados specimens de quanto produziam de raro e curioso aquellas regiões, que o caracter audaz e aventuroso de nossos antepassados sujeitára à corôa portugueza. Os vice-reis e g0- vernadores de então, no intervallo das expedições em que di- latavam a conquista, nas curtas treguas em que firmavam à posse de novos territorios, não se descuidavam de mandar para o reino, com as amostras de novos generos coloniaes, ar- tigos novos de largo trafico commercial, os specimens de plan- tas e fructos diversos dos da patria, os despojos de animaes que os tinham surprehendido pela novidade das fórmas ou pelo esplendor das cores, as pedras e metaes preciosos, os artefactos e armas dos povos que iam submettendo : remettiam emfim tudo quanto lhes parecia dever desafiar a admiração ou interessar a curiosidade dos que tinham ficado na patria; e tratavam primeiro que tudo de que ao rei fossem presentes esses objectos e lhe attestassem a verdade de quanto ácerca da estranheza das gentes e da singularidade das produeções d'aquellas terras lhe relatavam. Assim nasceu o museu ; assim foi successivamente medrando em riquezas materiaes. Uma occasião houve mesmo, mais tar- de, em que esteve a ponto de alcançar o baptismo da sciencia. O unico zoologista portuguez de que tenhamos noticia, Ale- xandre Rodrigues Ferreira, tão incansavel explorador como sabio naturalista, contava ao regressar da sua expedição ao Brazil poder coordenar as numerosas riquezas que acrescen- tára aos haveres do museu, e tomar nas mãos a direcção Scien- tifica d'este estabelecimento, que andava transviado da scien- cia. A malevolencia e a intriga impediram a realisação deste po generoso intento: o sabio, abatido já de forças pelos soffrimen- tos da sua ardua e prolongada exploração, não pôde resistir aos dissabores que o aguardavam ao regressar à patria, em premio de assignalados serviços; Alexandre Rodrigues Fer- reira desanimou e succumbiu, e as collecções do museu con- tinuaram a-ser completamente inuteis para a sciencia A invasão franceza despojou de um golpe o museu da Ajuda da melhor parte das suas mal aproveitadas riquezas. Um na- turalista, já a esse tempo illustre, Geoffroy Saint-Hilaire, acom- panhára o exercito invasor com a missão de se apoderar de quantos objectos encontrasse convenientes ao museu de Paris. 1 O dr. Alexandre Rodrigues Ferreira saíu de Lisboa em setembro de 1783 e sómente regressou ao reino no anno de 1793. Durou nove annos a sua viagem de exploração, durante a qual percorreu os sertões do Pará e Rio Negro, o rio Branco, o Madeira, o Guaporé, a serra de Cuan- nurú, e as provincias de Mato Grosso e Cuyabá. Os seus numerosos e importantes escriptos, que comprehendem — relações das viagens que emprehendeu, memorias anthropologicas ácerca das tribus selvagens que visitou, muitos estudos zoologicos, botanicos, geologicos e agricolas, en- Saios de topographia medica, etc., foram entregues logo depois de sua morte pela sua viuva, e mandados archivar pelo visconde de Santarem na bibliotheca do museu. Ahi jazeram até 1342, epocha em que uma portaria do ministerio do reino ordenou que se entregassem ao ministro do Brazil n'esta córte, Drummond, a fim de serem enviados para o Bra- zu e lá impressos por conta do governo brazileiro, depois do que deve- rum ser restituidos ao museu. Drummond passou recibo de 258 ma- nuscriptos: no museu apenas ficaram alguns de que havia exemplares duplicados, pelos quaes nos tem sido possivel avaliar o grande mere- cimento do auctor. Têem já decorrido quasi vinte annos; ignorâmos se o governo do Brazil já encetou a publicação das obras do dr. Alexan- dre; mas podemos affirmar que nenhum dos manuscriptos voltou ainda para o museu!! Expozemos singelamente os factos; julgâmos desneces- sarios quaesquer commentarios. Desde que voltou ao reino, ou pouco tempo depois, o dr. Alexandre Espa O sabio francez descobriu logo nas primeiras visitas que fez ao nosso estabelecimento um grande numero de exemplares raros, muitos dos quaes via pela primeira vez. Vandely, então director do gabinete da Ajuda, recebeu pouco tempo depois, uma ordem terminante do general Junot para que entregasse a Geoffroy Saint-Hilaire tudo quanto este julgasse digno de ser remettido para Paris. Esta ordem, como é bem de crer, não achou resistencia; e mais de 1:500 exemplares de minera- logia e zoologia foram expedidos para França, onde ainda hoje, na maior parte, podem ser examinados no museu de Paris. Intelligente, instruido, animado de um zêlo ardente pela zoolo- gia Geoffroy Saint-Hilaire utilisou em beneficio da sciencia, descrevendo-os, os exemplares que jaziam ignorados dentro dos armarios do museu da Ajuda, e que estavam talvez fada- dos, se ali permanecessem, a desapparecer, como tantos ou- tros, presa da traça. E esta a unica consideração que póde atte- foi acommettido de uma fatal melancholia, que inutilisou o seu vasto saber e o lançou na sepultura em 1815, após longos annos de uma lenta agonia. (O) seu biographo Costa e Sá, tratando d'este tristissimo periodo da sua vida, indica-lhe vagamente por causas «desgostos provenientes de illusões desvanecidas ácerca dos homens e cousas da córte»: a tradi- cão porém refere que o dr. Alexandre encontrára, ao regressar ao reino, os exemplares que colligira á custa de tantas fadigas e remettêra com o maior desvelo para o gabinete da Ajuda, deteriorados na maior parte e confundidos todos, perdidos ou trocados os numeros e etiquetas que traziam. Acrescenta ainda a tradição que não fôra isto effeito do acaso ou do desleixo, mas obra premeditada da mais ruim maldade, planeada e levada á execução por um empregado do gabinete da Ajuda, a quem o ciume dos talentos do nosso grande naturalista, e porventura a espe- rança de o desgostar promptamente de uma posição no museu que am- bicionava para si, inspirára essa torpissima acção. Console-nos ao me- nos, se a tradição não mente, a certeza de que o auctor de tamanha infamia não era portuguez. Ro Cama q) muiscmm nuar aos olhos de um naturalista a fealdade de um similhante procedimento !. Mudadas as nossas instituições politicas, o gabinete da Ajuda passou a ser o museu nacional, o qual foi em 1836 transferido para o edificio de Jesus e posto a cargo da antiga academia real das sciencias. Nºesta transferencia parece ter-se apenas atten- dido a que havia n'aquelle edifício umas salas com sufficiente capacidade para conterem os armarios do museu, embora não tivessem as condições mais essenciaes para servirem de aloja- mento a collecções de historia natural. Não se pensou em ado- ptar providencias que fizessem d'aquellas collecções o ponto de partida para um verdadeiro museu, estabelecimento que nunca existira de facto entre nós; tratou-se unicamente de lan- car em um dos capitulos do estado mais algumas verbas assás modestas que ajudassem a vegetar tristemente uns poucos de empregados, de quem se não esperava nem exigia nenhum 1 Mr.Isidoro Geoffroy Saint-Hilaire affirma, na Historia da vida e tra- balhos de seu pae, que os objectos levados do gabinete da Ajuda haviam sido obtidos por troca voluntaria ; e acrescenta, para corroborar esta as- serção, que pelà restauração dos Bourbons o ministro de Portugal em París, reconhecendo isto mesmo, se recusára a aceitar a restituição de taes objectos, contentando-se apenas com receber alguns livros, etc. Não duvidâmos acreditar que o nosso diplomata, não comprehendendo o valor do que se lhe oferecia, recusasse a restituição, acobertando a sua preguiça e negligencia com quaesquer pretextos futeis; não podemos porém convir na troca imaginada por mr. Isidoro Geoffroy. Respei- tâmos o sentimento que lhe inspirou a defeza de seu pae, desejaria- mos devéras poder absolve-lo de toda a participação na violenta ex- poliação que se nos fez; porém a verdade não nos consente uma si- milhante condescendencia. Hoje que o museu de Paris nos indemnisou Já, por minha intervenção, do que adquiríra á nossa custa e contra nossa vontade, as contas devem dar-se por saldadas, e esquecida a offensa. (Veja-se no fim d'este opusculo a nota A.) E | serviço util. Auctorisou-se para sustentação do museu, isto é, para acudir à dispendiosa conservação das collecções existen- tes e para acquisições novas, a somma annual de 1205000 réis. Supprimiu-se-lhe a direcção scientifica. Imaginou-se que um só homem poderia, em nossos tempos, incumbir-se do estudo e classificação de quantos mineraes e animaes se lhe apresen- tassem; e para recompensar a sciencia e animar o zêlo do novo Aristoteles, de que se carecia, estipulou-se-lhe o ordenado an- nual de 1005000 réis! Foi assim que se inventou um museu que ninguem dirigia, que um só homem devia classificar, e que apenas servia de asylo a varios empregados subalternos — preparadores, desenhadores, guardas, porteiros, sem outra occupação mais do que a de assistir à ruina e desappareci- mento de quanto ali havia susceptivel de soffrer as injurias do tempo. Manteve-se este estado de cousas vinte e dois annos, e deu os resultados que devia dar.. Em 1858 uma lei, votada em côrtes, incorporou o muséu na escola polytechnica. Esta lei reformou o quadro do pessoal cerceando algumas entidades! parasitas; confiou a direcção scientifica aos professores que regem n'aquella escola as ca- deiras de mineralogia e zoologia; e augmentou a verba desti- nada à acquisição de collecções. Sujeitou-se porém em extremo esta reforma a uma condição que muito a amesquinhou, e foi — não exceder a verba já des- tinada ao museu no orçamento do estado. Sacrificou-se tudo a esta consideração; e teve-se por isso menos em vista organisar um museu de historia natural, do que aproveitar em beneficio do ensino as pequenas sommas que se gastavam com um esta- belecimento que unicamente servia para comprometter o de- coro nacional. 1 ii o Comtudo este primeiro passo, embora timido, teve a van- tagem de abrir uma epocha nova para o museu, e de o lançar no caminho de novos melhoramentos. Dois anmos mais tarde a sua dotação foi acrescentada; e não ha muitos dias as cama- ras legislativas acabam de conceder, com um novo augmento de subvenção, à auctorisação para as reformas e melhoramen- tos compativeis com esse acrescimo de recursos. Ao actual ministro do reino, o sr. marquez de Loulé, e aos cavalheiros que têem successivamente exercido as funcções de director geral da instrucção publica se devem estas provi- dencias que vão approximando o nosso museu da situação que lhe compete. As vantagens que hão de resultar d'ellas ao paiz, esperâmos que algum dia ainda se tornarão para todos incon- testaveis. O que queremos desde já é exprimir a nossa sincera gratidão pela benevolencia com que temos sido attendidos em quanto havemos solicitado a bem do estabelecimento que di- rigimos. Não é aqui occasião de relatar o que se tem podido fazer a bem do museu no tempo decorrido desde a sua incorporação na escola polytechnica; preferimos confiar à eloquencia dos factos a historia da nossa gerencia !.. Com a organisação que lhe permittem os meios de que dis- põe, o nosso estabelecimento não póde aspirar a assumir nunca a importancia dos grandes museus da Europa. Mesmo dispondo de grandes meios pecuniarios e com o auxilio de um pessoal numeroso e competente, ser-lhe-ia necessario muito tempo e o concurso de circumstancias mui difficeis de realisar para se 1 Veja-se a nota B, no fim do opusculo. E tudê approximar desses magnificos estabelecimentos, que são a admiração e assombro de quantos os visitam. Se nos devemos porém resignar a vê-lo representar um papel modesto, incum- be-nos diligenciar que elle se torne interessante e digno de ser visitado pelos verdadeiros cultores da sciencia; importa sobretudo dar-lhe feições especiaes e um caracter proprio e exclusivo que o recommendem e ennobreçam. Para o conse- guir não será preciso mais do que reunir nºelle as produeções zoologicas do nosso paiz e das nossas, inda hoje, vastas pos- sessões no ultramar, e offerece-las bem coordenadas ao exame e estudo dos naturalistas. Portugal é hoje o menos conhecido e explorado de todos os paizes da Europa; da sua Fauna apenas se conhecem mui pou- cos e raros fragmentos; nos museus mais ricos e completos, nas melhores collecções de particulares mal se avista um ou outro specimen colhido no nosso solo; mesmo o nosso antigo museu era nºeste ponto um dos menos favorecidos. E tempo, cremos nós, de fazer cessar esta vergonha, que denuncia mais do que tudo aos estrangeiros o nosso atraso e obscurantismo ; é tempo de estudar por nós mesmos o que é nosso, e de colligir pela fórma que a sciencia prescreve os documentos que devem servir de base à historia das producções naturaes do nosso paiz. À reforma que o governo está auctorisado a fazer dar-nos- ha, confiadamente o esperâmos, os meios de proseguir com regularidade na exploração do nosso paiz e no estudo da zoolo- gia patria. Aos estudos que já temos feito, aos materiaes que já conseguimos reunir para a publicação da Fauna de Portu- gal, seguir-se-hão com regularidade novos estudos e collec- ções novas, logoque possamos emprehender trabalhos metho- dicos e successivos. Fiâmos porém pouco de nossas forças, e acabariamos por RE desamparar o projecto que nos não sãe ha annos do pensa- mento, se não esperassemos muito do auxilio que póde pres- tar-nos uma grande parte de nossos concidadãos. Ás pessoas que nos queiram ajudar é que destinâmos as presentes instruc- ções, nas quaes só pozemos o que nos pareceu indispensavel para lhes servir de guia nas primeiras indagações e para as habilitar a enviar-nos os objectos, que forem obtendo, em cir- cumstancias de serem utilisados. Para colligir os productos naturaes da localidade onde se reside; para entreter os ocios da vida do campo com occupações que fazem correr ligeiras as horas e elevam a intelligencia; para estudar a natureza, e pro- curar comprehender a grande obra da creação soletrando al- guma das paginas da sua historia, —não é mister ser natura- lista de profissão, nem sabio diplomado por universidades e academias. Para começar bastam algumas indicações sobre o modo por que se devem procurar e preparar os objectos que se pretende colligir; depois a repetição das excursões e pes- quisas, a experiencia de cada dia, os ensaios e observações proprias desenvolverão aptidões, diremos quasi instinctos, de verdadeiro naturalista. Muito confiâmos, repetimo-lo, de um tal auxilio; nem ve- mos motivo para receiar que se acolha o nosso pedido com in- differença ou desfavor. Pelo contrario os precedentes abonam as nossas esperanças. Varias pessoas nos téem já auxiliado bas- tante, e nos promettem continuar os seus auxilios. Já que a falta de devida auctorisação sua nos não permitte ser indiscre- tos, seja-nos licito ao menos consignar-lhes aqui o testemunho do nosso vivo reconhecimento. Se muito necessitâmos no reino de auxiliares, nas nossas provincias do ultramar tornam-se-nos absolutamente indis- pensaveis, E Não se acha o nosso paiz em condições taes de prosperida- de, não gosam nºelle as sciencias naturaes de tamanha acei- tação no publico, que possamos contar numa epocha proxima com alguma expedição scientifica âquellas regiões, à similhança do que têem praticado e estão praticando as nações mais cul- tas da Europa. Perdida pois a esperança d'este modo de ex- ploração regular e em grande, precisâmos recorrer a outros expedientes para supprir a falta, assás lamentavel, de repre- sentantes zoologicos d'essas localidades no museu unico do paiz a que pertencem por antiga posse. Muitas pessoas, esperâmos nós, poderão acudir do ultramar a esta imperiosa necessidade da sciencia e do decoro nacional; muitas quererão tomar a si uma tarefa que lhes trará em re- compensa a satisfação moral de haverem concorrido, mesmo de longe, para a rehabilitação scientifica da sua patria. Os senhores governadores das nossas possessões de ultra- mar não se recusarão por certo a animar alguns trabalhos de exploração e a promover a acquisição de exemplares zoologi- cos; antes quererão seguir nobremente o exemplo dos vice- reis e governadores de outras eras, logoque se convençam de que as suas diligencias aproveitam à sciencia e à boa fama do seu paiz. Os cirurgiões da armada de todas as nações cultas, os facul- tativos e pharmaceuticos residentes em suas colonias são os principaes correspondentes dos museus estrangeiros: a elles devem estes estabelecimentos uma boa parte das suas melho- res riquezas, e a sciencia moderna muitos descobrimentos com que mais se ufana. Os nossos cirurgiões da armada, os nossos facultativos e pharmaceuticos do ultramar hão de procurar tam- bem aproveitar algumas horas que lhes deixar livres o penoso exercicio de suas profissões, concorrendo para uma obra que Cas ma ficará attestando o seu zêlo e competencia a nacionaes e es- trangeiros. Fóra do mesmo quadro official dos empregados do estado, contâmos que outras pessoas, que visitem o ultramar ou lá re- sidam permanentemente, sobretudo officiaes da marinha mer- cante e commerciantes, cedendo a este affecto natural pela terra em que se nasceu, afiecto que a distancia augmenta com toda a vehemencia da saudade, não se negarão tambem a con- tribuir com os donativos que poderem alcançar, e que recor- darão seus nomes ao reconhecimento publico. Nas galerias dos museus da Europa avultam os donativos de homens estranhos à sciencia, mas não indifferentes à pros- peridade e adiantamento intellectual do seu paiz. Não acredi- tâmos que sejam hoje apanagio exclusivo de outros povos ás qualidades e sentimentos que noutras eras e sob a influencia de outras idéas nos fizeram grandes e nos a à frente da civilisação do mundo. E Se já nos não é dado correr as aventuras que tanto nos il- | lustraram, e tão bem se casavam com o caracter nacional, cum- pre-nos todavia alcançar a civilisação que nos tomou a dianteira, largando após ella pelo caminho em que a leva o espirito do nosso seculo. Serenaram felizmente as paixões politicas, ter- minaram as dissensões e contendas que nos embargaram por muito tempo o passo para os commettimentos uteis. Somos livres; temos um rei que quer a liberdade e ama as sciencias; é tempo de mostrarmos que o paiz, que foi grande pelas armas e pela conquista, póde alcançar tambem um posto honroso pelo amor com que cultiva as artes e as sciencias. Em posições humildes, com trabalhos modestos se póde servir e honrar o paiz. Pela nossa parte propomo-nos a lançar as bases de um estabelecimento que só existia de nome e cuja utilidade julgâmos ocioso demonstrar ; procurâmos, na medida das nossas forças e dos meios de que dispomos, dota-lo de quanto possa concorrer para lhe augmentar a importancia e a utilidade. A nossa recompensa, procurâmo-la na convicção de que nos não poupâmos a esforços e sacrificios para levar ao cabo a realisação do nosso intento. Não esperâmos, nem que- remos outra. Os que vierem depois de nós farão mais e melhor. Lisboa, 20 de agosto de 1861. : INSTRUCÇÕES PRATICAS SOBRE 0 MODO DE COLLIGIR, PREPARAR E REMETTER PRODUCTOS Z00L0GIGOS PARA z O MUSEU DE LISBOA Não escrevemos uma obra scientifica. E nosso fim unica- mente dizer às pessoas que se proponham a colligir productos zoologicos o que devem fazer para os obter com mais facilidade, as cautelas de que devem usar para que se não deteriorem, os melhores processos a que devem recorrer para lhes dar uma primeira preparação, e finalmente a maneira por que os devem acondicionar no caso de no-los quererem remetter para o museu de Lisboa. Procurâmos sobretudo ser claros, para que nos comprehendessem sem esforço; e evitâmos cuidado- samente os termos scientificos, definindo sempre ou exempli- ficando os poucos de que nos vimos forçados a usar. Nas divisões dos capitulos seguimos, approximadamente, a ordem e as divisões scientificas. Fizemo-lo, não para dar à obra apparencias do que não é, mas porque essas divisões nos pareceram facilitar a exposição, tornando-a mais methodica. Juntâmos a este opusculo uma relação breve dos principaes desiderata do nosso museu, tanto em animaes do paiz, como do ultramar : temos em vista com isto auxiliar, circumscreven- do-lhes mais o objecto, as explorações das pessoas que se não “tenham dado especialmente a estudos zoologicos. A lista é in- completissima, tanto mais que ninguem conhece bem a nossa fauna, nem a fauna da maior parte das nossas possessões. Deve entender-se portanto que desejâmos, alem do que especificá- mos, tudo o que se obtiver, e que constará em grande parte de specimens que ninguem conhece. j A I— MAMMIFEROS (QUADRUPEDES) 1. Os habitantes de cada localidade, e mais especialmente os que por vocação ou por necessidade consagram uma parte do seu tempo à caca, conhecem geralmente uma boa parte dos animaes que habitam ou frequentam o paiz da sua resi- dencia, mórmente os quadrupedes; e, pelo conhecimento que têem de seus habitos, sabem a epocha em que os devem pro- curar, Os sitios onde mais facilmente os podem descobrir e os melhores meios a empregar para realisar a gua captura. Não é raro encontrar um ou outro individuo, que sem fazer profissão de naturalista, sem estar preparado para ella por estudos im- dispensaveis, conhece comtudo com precisão uma parte maior ou menor da fauna local: tal é a attracção irresistivel que exerce sobre certas organisações, em todos os graus da civilisação e da jerarchia social, o quadro maravilhoso e vasto da creação | A cooperação de taes individuos simplifica e facilita consi- deravelmente a tarefa, sempre ardua, das explorações zoolo- gicas; é indispensavel procurar descobri-los, diligenciar te-los por auxiliares, e aperfeiçoar, educando-as, estas vocações na- turaes. 2. Não é possivel apresentar resumidamente regras geraes para a captura dos quadrupedes. Variam muito os habitos de cada especie, e com elles os meios a empregar para os obter. Contra uns aproveita a força; convem procura-los ou faze-los procurar de dia nos pontos que mais frequentam, e ataca-los: contra outros é mister recorrer a ardis. Em todo o caso as in- formações das pessoas da localidade são o meio mais seguro de se alcançar um bom resultado: convem escolher as que pareçam mais no caso de prestar bons serviços, e convida-las, ou pela esperança de lucro ou por quaesquer outros estimu- los, a procurar os animaes que se deseja obter. Lembrarei apenas aqui, de passagem, que um meio facil de conseguir muitas especies de quadrupedes, conhecidos que sejam os logares que frequentam e as particularidades da sua alimentação, é juntar strichnina em dóse sufficiente aos ali- mentos e lançar-lh'os proximos de suas habitações ou nos lo- gares onde usam apparecer. ) 3. Os quadrupedes devem ser remettidos para o museu de Lisboa—ou inteiros, aquelles cujas dimensões consintam o transporte, —ou os seus despojos, isto é, a pelle e esqueleto, em condições de poderem ser armados e collocados nas col- lecções deste estabelecimento. Os mammiferos que não excedem as dimensões de uma le- bre ou de um cão pequeno são os que geralmente devem ser remettidos inteiros; aos de maiores dimensões deve-se extrahir a pelle e o esqueleto pela fórma que abaixo se indicará. h. Para conservar os animaes inteiros ou as suas pelles, para os pôr a coberto da putrefacção e dos ataques dos insectos, é preciso recorrer a diversos meios. à Os animaes inteiros devem ser, logo depois de captura- dos, immergidos em aguardente de 22º a 24º do pesa-licores de Beaumé. Toda a aguardente póde servir, quer seja de vinho, de canna, de cereaes, de medronhos, etc., comtantoque tenha a indicada graduação. Antes de metter os animaes na aguar- dente deve-se-lhe fazer no meio do ventre uma incisão no sen- tido do comprimento e sufficiente para que o liquido conserva- dor penetre bem o animal. É igualmente acertado injectar-lhes aguardente pela bôca e anus com uma seringa ordinaria para dentro do canal digestivo; e nos animaes pequenos estas injec- ções poderão dispensar a incisão do ventre. Damos a preferencia à aguardente, para conservar os qua- drupedes, sobre outros liquidos que têem sido propostos para tal fim. Tendo a indicada graduação a aguardente conserva bem e não tem aqui os inconvenientes que apresenta em ou- tros casos; alem disso tem a vantagem de se encontrar com facilidade na maior parte dos casos e apta a servir. Quando porém ou se não encontre aguardente, ou não seja possivel obte-la com a graduação requerida nem dar-lhºa de prompto, poderá recorrer-se a outros liquidos que vamos indicar, conhe- cidos pela denominação de liquidos conservadores de Goadby; eis as formulas: (1º) Bal genima *2.Lccas! - 125 grammas (4 onças) Alimento oh 65: ui (2: plo Sublimado corrosivo.... Adecigr. (2 grãos) Agua a ferver... vs À kilogr. (2 libras) (2) Bal gêmma: sis about as 250 grammas (8 onças) Sublimado corrosivo... .. 1 decigr. (2 grãos) Agua a ferver......... 1 kilogr. (2 libras) Sempre que seja possivel é conveniente que a agua seja distillada. A segunda formula deve ser empregada de preferencia à primeira, porque o alumen ataca os ossos. Experiencias recentes recommendam a efficacia de uma so- lução fraca de creosota em agua. M. Rousseau, naturalista ad- junto do museu de París, affirma ter conseguido conservar du- : rante muitos annos sem a menor alteração, tanto preparados anatomicos, como exemplares de zoologia mergulhados n'um liquido composto do seguinte modo: Aglias ss. csepetas 4d Biro Creosota......... 2 grammas 1 Em logar d'elle póde usar-se do sal commum ou sal de cozinha na mesma dóse. Deve filtrar-se bem o liquido. ci Este liquido tem sobre o alcool ou aguardente a vantagem de não atacar as cores, nem contrahir os tecidos animaes. Qualquer porém que seja o liquido empregado, aquelle em que primeiro se lançam os animaes não fica apto para os con- servar durante todo o tempo que tem de decorrer até chega- rem ao museu. Convem pois deixa-los permanecer n'esse li- quido, se for possivel; dez a quinze dias, e muda-los então para outro liquido de igual força e composição, onde serão acondicionados, como abaixo se verá, por fórma que possam sofírer 0 transporte sem accidente. b As pelles de quadrupedes, convenientemente extrahidas, podem ser mandadas num liquido conservador, aguardente ou outro, como os quadrupedes inteiros, sempre que houver espaço para ellas, e as suas dimensões se não oppozerem a isso. Quando porém ou forem muito grandes, ou convier an- tes manda-las separadamente, devem-se primeiro precaver contra a putrefacção e os ataques dos insectos. - Para este fim applica-se, depois de cuidadosamente Jim- pas, com um pincel à sua face interna (isto é, à que não tem pellos) uma boa camada de sabão arsenical diluido em suffi- ciente porção de agua até ficar em consistencia de pasta. A formula do sabão arsenical é a seguinte: “Arsenico (acido arsenioso) em pó fino 1/, kilogr. (1 libra) RINIOS BRIGA os maio Sie Ei lho (A lbia) Carbonato de potassa. ............ 45 gram. (11 onça) Camphora ..... Saga pala do ca io ot O STA AL QUÇAS À Para preparar o sabão arsenical, corta-se o sabão em pe- dacinhos e põe-se a derreter n'uma vasilha de barro ou de grés a fogo brando, juntando-se-lhe uma pequena quantidade de agua € mexendo com uma espatula de pau: derretido bem o 2 sabão sem que faça grumos, tira-se do lume e junta-se o car- bonato de potassa e successivamente o arsenico, até que tudo fique intimamente misturado. Deixa-se arrefecer, e quando a massa está quasi fria junta-se a camphora dissolvida em uma pequena quantidade de alcool, e mexe-se de novo muito bem. Ha certas partes do animal que é preciso preservar com mais cuidado dos ataques dos insectos; taes são as orelhas, os bei- cos, a região das orbitas ou dos olhos, o focinho, as extremi- dades e a cauda: em todos estes pontos convem applicar uma boa porção de preservativo. Para este fim póde tambem fazer-se uso da tintura de strychnina (alcool contendo em dissolução toda a porção de strychnina que póde dissolver : o alcool deve ser bem rectificado). Não havendo sabão essencial, mas tendo-se arsenico em pó, - poderá juntar-se-lhe agua até formar uma pasta, e applica-la às pelles como se fôra sabão arsenical e pelo modo que disse- mos. | As pelles de grandes dimensões não é possivel applicar este modo de preparação, porque consumiriam porções enormes de sabão arsenical ou de arsenico. Para essas póde-se usar de uns pós compostos de alumen e nitrato de potassa na propor- ção de duas partes do primeiro para uma parte do segundo; convem addicionar-lhes uma pequena porção de arsenico- em. pó. Applica-se à pelle, logo depois de extrahida do animal, e pela parte de dentro, uma boa camada desta composição; e esfrega-se muito bem com ella, e por partes, até ficar bem pe- netrada dos saes. As pelles muito espessas conservam-se bem salgando-as com sal commum ou sal de cozinha (chlorureto de sodio). Cobre- se-lhes a face interna de uma boa camada de sal, esfrega-se bem; e depois de bem saturadas de sal, ao cabo de alguns dias, enrolam-se com o pello para dentro, e acondicionam-se para se expedirem. cd) c Os esqueletos dos quadrupedes têem tambem, aos olhos do naturalista, um grande valor scientifico. Um ou mais es- queletos completos de cada especie são muito para desejar. Não é indispensavel que se mande em separado os esqueletos de mammiferos pequenos, quando estes venham inteiros em aguardente e em numero sufficiente para se poderem utilisar os esqueletos de alguns, desprezando as pelles. Dos mammi- feros porém que se não podem expedir inteiros convem, logo- que haja um certo numero de cada especie, pôr de parte aquel= les cujas pelles são inferiores ou se acham deterioradas para se lhes aproveitar o esqueleto completo. Os esqueletos basta que venham grosseiramente limpos das carnes, tendões, etc. Convem para isso limpa-los primeiro à faca ou ao escalpello, cortando todas as partes molles, po-los depois por algum tempo em agua a ferver, e acabar de lhes dar a ultima limpeza. Os esqueletos de mediana grandeza po- dem vir inteiros; aos grandes devem-se separar as regiões, reunindo em pacotes distinctos, por exemplo, a cabeça e os ossos do tronco e cauda, as extremidades anteriores, as ex- tremidades posteriores. É preciso que haja toda a cautela em não perder osso algum, em os não confundir e em os acondi- cionar por fórma que se não quebrem. 5. À operação de extrahir a pelle dos quadrupedes está su- bordinada a regras de que depende o poder-se reproduzir com ella o animal de que provém, conservando-se-lhes as fórmas, dimensões e attitudes que lhe são proprias. . Não se deve nunca fazer esta operação antes que tenha de- corrido o tempo sufficiente para que o sangue se ache coagu- lado: é preciso tambem não a guardar para muito tarde, sobre- tudo nos climas quentes, onde a temperatura elevada imprime extrema intensidade e energia à putrefacção. Antes de proceder à extracção da pelle deve-se examinar se o animal está sujo de sangue em alguns pontos para lh'os Ed jus lavar bem com agua e enxugar depois com gesso em pó: ter- se-ha o cuidado de sacudir bem os pellos para que lhes não fiquem agarradas pastas de gesso. É tambem necessario tapar bem as ventas, à guéla e o anus do animal com filassa, estopa, algodão, ou de qualquer outra fórma, a fim de que essas aberturas não dêem, durante a ope- ração, saida a liquidos que iriam sujar a pelle. Feito isto, é collocado o animal sobre uma mesa, com o. dorso estendido sobre ella, e mantido nesta posição por um ou mais ajudantes, faz-se-lhe uma incisão longitudinal no meio do ventre, a qual deve começar no osso do peito (sternum) e terminar, conforme a grandeza do animal, a uma ou duas pol- legadas do anus. Pór-se-ha todo o cuidado em só cortar a pelle. Com o cabo da faca ou do escalpello separa-se a pelle de um e outro lado da incisão feita, até que fique inteiramente solta do tronco e coxas. Corta-se então a junta ou articulação da perna com o tronco de cada lado, procura-se pôr a descoberto a inserção da cauda no tronco, e corta-se esta inserção. Feito isto trata-se de completar a extracção da pelle, até a deixar apenas adherente aos membros de diante e à cabeça. Põe-se a descoberto e corta-se a junta ou articulação do braço com a espadua de um e outro lado; corta-se tambem a articulação da cabeça com o primeiro osso da espinha; e tem-se assim a pelle separada inteiramente do tronco: mas contendo ainda a cabe- ca, a cauda e os ossos dos membros. Extrahem-se então os olhos, para o que se emprega uma pinça forte, e continua-se a separar a pelle da cabeça até a deixar só presa aos queixos ou maxillas. Se o animal é grande convem separar da cabeça a maxiila inferior pela sua articula- ção; e depois extrahem-se os miolos por uma abertura que se faz no céu da bôca ou paladar com um golpe de martello, e limpa-se bem o interior do craneo. Se o animal é pequeno a extracção dos miolos póde fazer-se com facilidade pela aber- tura natural do craneo ou buraco occipital. Póde mesmo evi- elp tar-se sempre a abertura no céu da bôca, alargando com uma serra 0 buraco occipital o sufficiente para dar saída aos miolos. A pelle da cabeça deve ficar apenas adherente à extremi- dade e bordos dos queixos: todos os ossos da cabeça devem ser cuidadosamente limpos de todas as partes molles. Argegaça-se em seguida a pelle dos membros até à planta dos pés, e limpam-se os ossos das carnes e tendões. Se a planta dos pés é carnosa, convem abri-la e limpa-la por essa fenda muito bem. Quanto aos dedos, é difficil separa-los completa- mente da pelle; bastará por isso limpa-los quanto possivel e introduzir n'elles bastante preservativo (pasta de arsenico ou sabão arsenical) com um pouco de algodão, estopa ou filassa cortada miuda, a fim de que conservem as dimensões e fórma naturaes. Nos membros de traz convem conservar o tendão de Achil- les. Limpos os ossos dos membros, envolvem-se em estopa, filassa, etc., até ficarem com o volume que tinham quando co- bertos de carne; e depois de applicar à pelle uma boa camada de preservativo, restitue-se de novo à sua posição ordinaria. Resta a cauda. Começa-se por separar e arregaçar a pelle atê onde podér ser, sem perigo de a fender; porém de um certo ponto em diante as difficuldades augmentam por modo que é forçoso recorrer a outro processo. Consiste elle em dar uma lacada com um cordel forte em volta da parte da cauda que está a descoberto, e, tendo prendido esta mesma porção da cauda a um supporte fixo, puxar depois com força pelo cordel para si; a laçada leva adiante de si a pelle até à extre- midade da cauda. O mesmo se consegue, usando, em vez da lacada de cordel, de um pau de doze a quinze pollegadas fen- dido em quasi todo o comprimento: introduz-se na fenda a porção nua da cauda, aperta-se com as mãos o pau nas duas extremidades, e puxa-se com força, fazendo-o deslisar por cima dos ossos até à extremidade da cauda. Ega Em alguns quadrupedes, os de cauda prehensil, a pelle da cauda é por tal fórma adherente aos ossos, que não é possivel separa-la senão fazendo uma incisão em todo o comprimento da face inferior delle. É indispensavel limpar perfeitamente a pelle de toda a cane e gordura que possa adherir-lhe. A isto segue-se ainda applicar-lhe uma boa camada de sa- bão arsenical, ou os pós de alumen e nitrato de potassa, ou sal- ga-la muito bem, como já dissemos antecedentemente. E obvio que esta ultima operação se torna desnecessaria querendo-se remetter a pelle em aguardente ou em qualquer liquido con- servador : n'este caso ha só a immergir a pelle no liquido que se deve ter prompto. 6. Os mammiferos inteiros, as pelles e os esqueletos pre- cisam vir bem acondicionados. a Os animaes inteiros devem ser expedidos, como já se disse, em liquidos que tenham a propriedade de os conservar ; a aguardente de 20º a 22º do areometro de Beaumé, é ainda hoje o mais geralmente empregado. Devem ser mettidos em vasilhas bem vedadas e resistentes, e de capacidade accommo- dada ao numero e tamanho dos animaes que devem conter. Tratando-se de remelter animaes grandes ou um grande nu- mero de animaes, convem procurar uma barrica bem construida e forte, a qual se destampa de um lado, e se trata de encher collocando os animaes maiores por baixo. Para evitar que se rocem e estraguem é preciso que se embrulhem os animaes em panno de algodão ou em papel forte, e convem que occu- pem toda a capacidade da barrica. De cada animal grande se fará um embrulho separado ; mas os pequenos podem reunir-se em maior ou menor numero num só embrulho, comtantoque fiquem separados entre si pelas dobras do panno ou do papel. Quando os quadrupedes a remetter são pequenos e em pequeno numero póde lançar-se mão de um frasco de vidro de bom ta- manho; mas é necessario acondiciona-lo bem dentro de um caixote de madeira: é preferivel nesse caso mandar construir uma ou mais caixas de folha de Flandres de fórma quadrangu- lar, soldar-lhes as tampas depois de convenientemente cheias, e mette-las tambem nºum caixote de madeira. É indispensavel, repetimo-lo, que os animaes encham bem as vasilhas onde se expedem para que não cheguem deteriora- dos: para encher os vãos pôde empregar-se estopa, filassa, etc. Nºessas vasilhas deve lançar-se aguardente nova: o mesmo se entende com eualquer outro liquido conservador. Empregando-se barricas, deve-se, depois de cheias, collocar o tampo que se havia tirado, e atestar com aguardente ou com o outro liquido adoptado por uma abertura pequena, que se tapará com um torno de madeira. É muito conveniente que “as juntas das barricas sejam bem alcatroadas, e mesmo que se appliquem por cima do alcatrão tiras de lona ou de panno de algodão forte. b As pelles de quadrupedes podem vir em aguardente ou em outros liquidos conservadores sempre que se não possam preparar com saes ou com sabão arsentcal, como acima disse- mos, € que o consintam as suas dimensões. Quanto porém às pelles preparadas e aos esqueletos, esses devem vir remetti- dos em caixotes. E melhor que peles e esqueletos não venham num mesmo caixote, tanto mais que para as pelles convem procurar caixotes mais bem feitos, sem fendas, e forra-los com papel forte. As pelles de animaes grandes devem ser enrola- das com o pello para dentro; nas de animaes pequenos deve in- troduzir-se uma porção de estopa, filassa ou algodão. Para prote- ger as pelles contra os insectos costuma recorrer-se a tabaco em pó, nas localidades onde o tabaco é barato, à camphora, à creo- sota, à benzina e a diversos pós vegetaes em que figuram prin- cipalmente as folhas ou a raiz de plantas narcoticas e dos pyre- ] ei fg me thrums: podem-se dispensar estes meios de curta ou duvidosa efficacia se as pelles tiverem sido bem preparadas, e se as fen- das dos caixotes onde vierem tiverem sido bem alcatroadas. As pelles de mais raridade e valor devem ser remettidas dentro de caixas de lata soldadas, dentro das quaes se porão umas es- | topas molhadas em benzina, ou na falta de benzina alguns pe- daços de camphora. 7. É muito conveniente, é muitissimo para desejar que tanto os quadrupedes remettidos em espirito de vinho, como as pel- les e esqueletos destes animaes venham acompanhados de um catalogo ou noticia que contenha as seguintes informações: O paiz que o animal habita; A sua alimentação ordinaria; O que se souber de seus habitos: se é nocturno ou diurno; - — se vive isolado ou em bandos; o tempo que leva até chegar à epocha de se poder reproduzir. ..; emfim tudo o que se tiver apurado da sua historia; | O seu nome vulgar nos logares da sua naturalidade; O uso que delle se faz, ou os estragos que causa; O sexo e a idade de cada exemplar ; A epocha do anno em que foi morto; A côr dos olhos e das partes nuas, que se alteram no alcool ou por effeito da dessicação. Para simplificar trabalho póde-se reservar para estas infor- mações um caderno especial, marcando cada animal com um numero, e escrevendo no caderno em face de cada numero o que ácerca delle se souber. Estes numeros podem ser escri- ptos com tinta ordinaria de escrever em pedacinhos de per- gaminho que se atarão a cada exemplar, ou marcados com um ponteiro de aço em laminasinhas de chumbo. Póde-se tambem usar para cada exemplar de um simples E cordel atado por modo que as duas pontas sejam desiguaes. Na ponta maior dão-se tantos nós quantas são as unidades do numero que se lhe quer marcar, e na mais pequena tantos nós quantas as dezenas : assim querendo-se, por exemplo, mar- car 0 numero 32, far-se-hão dois nós na ponta maior e tres na mais pequena, etc. N—Aves 1. Tem immediata applicação às aves quanto dissemos so- bre a conveniencia de procurar em cada localidade informações ácerca dos mammiferos que ali vivem e de seus habitos, e de diligenciar descobrir entre os habitantes auxiliares que conhe- cam bem as paragens que estes animaes usam frequentar, e estejam habituados a dar-lhes caça. Como o instrumento mais geralmente empregado na caça das aves e de mais confiança é a espingarda, indicaremos aqui de passagem algumas precauções que será bom tomar para que as aves mortas por esta fórma possam ser utilisadas em proveito dos museus zoologicos. O caçador de aves deve levar comsigo umas pinças, uma boa provisão de papel e de algodão, estopa ou filassa cortada miudo e um pouco de gesso em pó fino: nos climas quentes será bom que leve tambem uma caixa de folha de Flandres das dimensões e fórma das que se usam nas herborisações, para dentro da qual lançará alguns ramos de plantas aromaticas como hortelã, funcho, etc., ou uma por- ção simplesmente de hervas verdes. O algodão, a estopa ou a filassa servem, conforme as dimensões da ave, para tapar a abertura do bico, as narinas e o anus, e bem assim as feridas se forem grandes, para evitar que o sangue e outras materias sálam por essas aberturas e venham sujar as pennas; o em- prego das pinças facilita algumas destas operações. Serve 0 gesso para absorver o sangue que tenha saido das feridas, e evitar que se manchem as pennas; é conveniente lança-lo onde se veja sangue ou quaesquer liquidos que possam sujar a plu- Bjs, magem. Com o papel fazem-se cartuchos accommodados à gran- deza de cada ave, a qual será introduzida com o bico para baixo, a fim de que as pennas se não arregassem e tomem direcções viciosas. Quanto à caixa de folha de Flandres contendo plantas verdes, essa serve para guardar as aves em climas quentes e na estação calmosa, porque lhes evita a putrefacção, que sem esta precaução pouco tardaria a manifestar-se. O caçador intelligente ao levantar do chão a ave que derri- bou não deve esquecer-se de lhe examinar a côr dos olhos, e de tomar logo nota d'esta circumstancia que é indispensavel conhecer-se. 2.º Quando se obtenham varios exemplares de uma mesma ave dever-se-ha conservar algum ou alguns em aguardente de 18º a 20º Beaums. São estes exemplares utilissimos para o estudo da organisa- ção, e quando se não possam aproveitar as pelles (como geral- mente succede, por- iqui VE que o liquido ataca as - E cores e retrahe a pel- 4 SU dada! le) sempre se apro- = Rs . E. SE 4 MR NS veitam os esqueletos, DE E EAD Os quaes são tambem de muita importan- cia. Para serem utili- sadas as pelles pre- cisam ser extrahidas por um processo muito analogo ao que se emprega na extrac- ção das pelles dos mammiferos, o qual passâmos a descrever : Primeiro que tudo é necessario esperar algum tempo para que o sangue tenha coagulado, lavar bem com agua as nodosa Fig. 1 ae RP de sangue da plumagem ou outras quaesquer nodoas, enxu- gar bem com gesso as pennas de toda a humidade, e tapar com algodão em rama a bôca, as ventas e o anus da ave. Em se- guida proceder-se-ha à extracção da pelle pela fórma seguinte: Colloca-se a ave sobre uma mesa com o dorso para baixo, a cabeça voltada para a esquerda do operador e o anus para a direita; com os dedos pollegar e indicador da mão esquerda afastam-se as pennas para um e outro lado em toda a extensão de uma linha que se prolonga da extremidade do osso do peito (sternum) até ao anus (fig. 1); com o escalpello seguro na mão direita traça-se uma incisão desde o osso do peito pelo ventre até ao anus, tomando cautela em só cortar a pelle. Afastam-se os bordos da incisão, toma-se um d'elles com uma pinça na mão esquerda, e com a outra mão e com o cabo do escalpello vae-se forçando a pelle a separar-se da carne até ficarem a des- coberto as inserções das azas e das pernas. Á medida que se vae levantando a pelle convem lançar gesso em pó que absorve o sangue e a gordura, e não deixa a pelle adherir de novo às carnes. Póde-se tambem tomar uma tira de panno de algodão e introduzi-la debaixo da pelle à medida que se vae levantando: esta precaução é sobretudo conveniente quando se esfolam aves aquaticas, mui abundantes em gordura excessivamente fluida. Levantada a pelle de um lado, procede-se do mesmo modo no outro lado. | Cortam-se as inserções das azas que ficaram a descoberto, e bem assim as das pernas; continua-se a separar a pelle do tronco e corta-se o pescoço na sua base; no acto de extrahir a pelle no ponto onde se implanta a cauda precisa-se pôr todo o cuidado em poupar as pennas, e o melhor é deixar na pelle uma porção do osso onde ellas se inserem. | Tirado para fóra o tronco da ave, arregaça-se a pelle das pernas até a articulação dos tarsos (parte nua e escamosa das pernas das aves), limpam-se bem os ossos de toda a carne e tendões, applica-se aos ossos e à pelle uma boa camada de pre- ro am «a servativo, e enrola-se nos ossos uma porção de algodão ou de filassa até lhes restituir o volume que tinham. Limpa-se bem o osso da cauda de toda a carne e gordura, e dá-se tambem uma camada de preservativo: faz-se o mesmo à porção de pelle contigua. Para se comprehender bem a maneira por que se devem lim- par as azas é preciso que se note que as azas de uma ave con- stam de tres partes ; na primeira, a contar do corpo, existe um osso similhante ao nosso osso do braço, na segunda porção dois ossos unidos entre si como no nosso antebraço, e no terceiro, que corresponde à nossa mão, uns poucos de ossos seguidos. Ora se a ave é pequena, bastará arregaçar a pelle em toda a extensão do primeiro osso, e limpar a segunda porção da aza fazendo uma incisão: a todos estes ossos que se limpam e à pelle que os cobre applica-se o preservativo. Se a ave porém é maior, se é do tamanho de uma rola e ahi para cima, é mister pôr a descoberto e limpa-los bem na sua maior extensão os ossos das azas: para isso faz-se uma incisão longitudinal na face que está voltada para o corpo, e depois de bem limpos os ossos todos dá-se uma camada do preservativo. | Resta o pescoço e cabeça para concluir a operação. Arrega- ca-se a pelle do pescoço pouco a pouco até que a cabeça fique descoberta; corta-se com cuidado a pellicula que une as pal- pebras aos buracos dos olhos, e considera-se ultimada a ope- ração quando a pelle só fica adherente à base do bico. Sepa- ra-se então o pescoço da cabeça, alarga-se o buraco occipital para extrahir por ali os miolos, limpa-se muito bem os ossos e a pelle, dá-se em uns e outros uma camada de preservativo, envolve-se a cabeça em um pouco de algodão ou de filassa, enche-se do mesmo modo as orbitas (buracos dos olhos), e res- tituem-se todas estas partes à sua posição natural. Arranjam-se então com uma pinça as pennas que se acama- ram durante a operação; introduz-se preservativo e algodão a Or ds no bico, algodão ou filassa no pescoço e no tronco da ave; e guarda-se com 0 bico para baixo n'um cartucho de papel. Nas aves que têem a cabeça muito volumosa não é possivel arregaçar a pelle do pescoço atê pôr a descoberto os ossos da cabeça, porque o diametro desta é muito superior ao do pes- coco. Nºeste caso, depois de se separar o pescoço da cabeça, faz-se uma incisão na parte inferior dºesta com sufficiente ex- tensão para tirar por ella a cabeça, limpa-la e applicar-lhe o preservativo. É indispensavel applicar uma camada de preservativo sobre os pês das aves, sobre todas as partes carnosas que muitas d'ellas têem na cabeça (carunculas), sobre as palmuras oumem- branas que unem os dedos das aves nadadoras, etc. 3. Quando tratâmos do modo por que devem ser acondicio- nados e remettidos os quadrupedes inteiros e seus despojos, dissemos quanto basta para que se fiquem conhecendo as cau- telas que é preciso ter com o arranjo e expedição das aves: não voltaremos pois a similhante assumpto para evitarmos re- petições fastidiosas. k. Os exemplares das aves, como os dos mammiferos e de todos os animaes que forem remettidos para o museu, devem trazer numeros, e vir acompanhados de um caderno onde se lancem em referencia a cada numero as seguintes indicações: Se à ave costuma ou não empoleirar-se; O seu sexo; Se é ou não um individuo adulto; A côr dos olhos, dos pés, do bico, das partes nuas que possa ter, como: carunculas, membranas, etc. ; A localidade onde vive, e a data da captura: Quaesquer informações sobre os seus habitos de vida, sobre a sua utilidade em relação ao homem, etc. este (EA a 4. Uma boa collecção zoologica precisa tanto ter exempla- res empalhados de aves como os seus esqueletos: desejam-se portanto não menos estes do que pelles. Os esqueletos basta. que venham grosseiramente limpos de carnes e tendões: o que é indispensavel é que venham completos e bem acondiciona- dos para que se não deteriorem no transito. k. Ovos e ninhos. As collecções de ovos e ninhos são nos museus o comple- mento necessario das collecções de aves: é indispensavel po- rém que se possa indicar com segurança para cada um dºelles qual é a especie de ave donde provêem. a Os ninhos devem trazer os seus supportes naturaes, sem- pre que estes se possam remover sem inconveniente. Antes de os remetter convem limpa-los muito bem dos excrementos das aves e corpos estranhos que possam conter, e tratar de des- truir os insectos que costumam abrigar-se níelles, o que se consegue expondo-se a uma temperatura sufficiente para ma- tar os insectos sem alterar os ninhos, ou lançando-lhes algu- mas gotas de benzina e guardando-os por algum tempo numa gaveta ou caixa que feche bem. Os ninhos devem ser éxpedidos dentro de caixas de cartão ou bem envolvidos em papel forte, e cuidadosamente acondi- cionados. b Logoque se obtem ovos é preciso tratar de os vasar dos “seus contentos, que são, logo depois da postura—a clara e a gemma, mais tarde— o corpo mais ou menos desenvolvido da avesinha. Esta operação é muito mais facil no primeiro caso, porque se limita a praticar dois pequenos furos nas duas ex- tremidades do ovo, introduzir por um dºelles uma agulha ou um arame, mexer bem a gemma e clara, soprar por um dos furos para forçar o liquido a sair pelo outro, ou aspira-lo com aid um tubo delgadinho de folha de Flandres, querendo-se facili- tar mais a sua saida, e imjectar-lhe agua até ficar bem limpo. Quando porém o ovo que se pretende vasar já se achava adian- tado na incubação, nesse caso a operação offerece maiores difficuldades: usam algumas pessoas lançar-lhe para dentro uma e muitas vezes ether sulphurico, o qual reduz a avesinha já formada e contida no ovo a um verdadeiro estado de exsic- cação; mas este processo é vicioso, porque o corpo que se con- serva dentro do ovo attrahe a humidade, corrompe-se e man- cha de negro a casca do ovo nos pontos em que se acha em contacto com ella. O outro processo, que é preferivel, consiste em furar primeiro muitas vezes o corpo da avesinha com uma agulha bem aguçada, e infectar depois para dentro do ovo uma dissolução de soda ou potassa caustica, empregando para isso uma seringa de dimensões convenientes. Feita a injecção, ta- pam-se os furos com dois dedos, agita-se bem o ovo, € vasam-se os liquidos. Recomeça-se de tempos em tempos esta operação, deixando-a mesmo de um dia para outro, até vasar inteiramente o ovo. Lava-se então bem em agua fresca e póde guardar-se. Sempre que seja possivel devem procurar-se os ninhos e os ovos nas epochas em que as aves começam a choca-los, a fim de se conseguirem em melhores condições para serem vasados. * Para se remetter os ovos, ou se acondicionam com algodão em rama dentro dos ninhos onde foram encontrados, ou, quando não haja os ninhos respectivos, em caixinhas de papelão ou de madeira, dispostos por camadas e separados por pastas de al- godão. c Os ninhos e os ovos devem trazer a indicação das aves a que pertencem; e quando a ave não seja conhecida na locali- dade ou se não saiba com exactidão o nome scientifico ou vul- gar, e em geral sempre que se possa conseguir um exemplar della, deverá ser remettido em aguardente, se se não podér extrahir a pelle, o que é preferivel. Em vez de escrever os no- 2 RO do mes nos ninhos e ovos podem-se marcar com numeros que correspondam aos numeros de um catalogo ou relação, onde se mencionem para cada um d'elles, alem do nome da ave quaesquer informações que pareçam interessantes, como por exemplo: o logar onde se encontrou o ninho; se se achou no solo, em sebes, sobre arvores, etc.; o numero de ovos que con- tinha; a epocha do anno em que foi encontrado, etc. WI— Repris 1. Os reptis variam quanto a fórmas, costumes e habitação ; para os obter é preciso procura-los em logares diversos e re- correr a variados expedientes. As tartarugas são umas aquati- cas, outras terrestres, e das primeiras umas habitam os mares, outras as lagoas e rios. Os crocodilos são tambem aquaticos ; mas os lagartos e os outros reptis da mesma ordem vivem na terra. A grande maioria das serpentes ou cobras são tambem terrestres. Emfim temos ainda outros reptis que vivem sem- pre na agua doce, ou que se recolhem à agua nas epochas da reproducção —taes são as rãs, as salamandras, os tritões, Os sapos, e outros reptis analogos. A caça de alguns d'estes animaes offerece perigos e gran- des perigos, bastará citar os crocodilos e as serpentes veneno- sas; outros são perfeitamente inoffensivos, e os seus movimen- tos tardos facilitam a captura. Conhecidos os habitos das diversas especies, descobertos os sitios que frequentam, não será difficil obte-los. O modo de os capturar é que diversifica : uns são mortos a tiro ou com armas brancas, outros apprehendidos com redes, outros podem ser apanhados à mão, outros mortos facilmente com uma vara fle- xivel que lhes quebra a espinha, etc. Nas localidades onde estes animaes abundam devem encon- trar-se pessoas que os conheçam e saibam caça-los: estas pes- soas são os melhores collectores a empregar. 2. Só se preparam a secco os reptis de grandes dimensões, taes como as tartarugas, os crocodilos ou jacarés, varios lagar- tos, iguanas e algumas cobras ; todos os mais conservam-se em espirito de vinho ou aguardente de 20º Beaume. Preparam-se as tartarugas— separando as duas conchas, dorsal e ventral, cortando os isthmos ou prisões que as ligam, limpando-as por dentro de todas as partes molles, e bem assim os ossos dos membros, e applicando por todo o interior d'ellas uma boa camada de sabão arsenical. Aos crocodilos e lagartos grandes extrahe-se a pelle do mesmo modo que aos mammi- E» feros, fazendo uma incisão ao longo do ventre, e tirando por .. ella o tronco, descarnando os SEsedseRs membros e a cabeça. Preser- Ee Vam-se as pelles do mesmo modo tambem. Ás serpentes grandes extra- he-se a pelle com summa facili- Fig. 2 dade: abre-se-lhes a bôca (fig. 2), separa-se a espinha da ca- beça, cortam-se em roda d'esta os musculos que a prendem á pelle, e segurando bem a extremidade da espinha que fica a descoberto vae-se arregaçando a pelle e proseguindo na mesma operação até chegar à extremidade da cauda. Esta operação é perigosa quando praticada em serpentes venenosas, porque o operador póde ferir-se nos dentes do veneno: para evitar este grande risco devem-se arrancar primeiro taes dentes e pô-los de parte para serem remettidos com a pelle: quando esta for definitivamente armada, collocar-se-hão os dentes no seu Jo- gar. A grande maioria dos reptis devem ser remettidos, como dissemos, num liquido conservador : o mais usado é a aguar- dente de 20º a 22º do areometro de Beaumé. Antes de os lan- car na REG ICC E convem lava-los bem em agua. Depois de os — Sh — conservar por alguns dias numa primeira porção de aguar- dente, devem-se mudar para aguardente nova, e acondiciona- los numa vasilha apropriada e com todas as cautelas que re- commendámos para os mammiferos que se remettam intei- ros. Desejam-se, e muito, esqueletos de reptis grosseiramente limpos; devem vir acondicionados como os dos mammiferos e aves. 3. Pedimos que a remessa de reptis venha acompanhada das mesmas indicações que mencionâmos com referencia aos mammiferos (pag. 24). IV— Peixes 1. Os peixes vivem na agua salgada e na agua doce. Dos primeiros uns frequentam as costas e são faceis de encontrar a pequenas profundidades, outros pelo contrario não saem nunca ou saem apenas raras vezes dos valles profundos do Oceano, onde residem: daqui resulta que será mais facil com- pletar a collecção dos peixes de agua doce de uma localidade que a dos peixes do mar. A existencia de mercados para a venda do peixe, nas diver- sas localidades, facilita muito a sua acquisição: no emtanto, alem dos peixes habitualmente, empregados na alimentação publica, ha muitos outros que o não são, e que por isso os pes- cadores não trazem aos mercados. Alem de frequentar os mer- cados, precisa-se assistir à chegada dos pescadores à praia, € haver dºelles as especies que costumam desprezar. Alem disso é indispensavel acompanha-los nas suas excursões de pesca, diligenciar que lancem as redes em diversas paragens e a di- versas profundidades, e sobre tudo escolher entre elles algum mais intelligente que se arvôre em collector, e remunera-lo bem. Só deste modo se adquirirão exemplares numerosos, Va- riados e interessantes. Ro a Para matar os peixes rapidamente póde-se usar, como acon- selha Ricord, da immersão em alcool de 36º. 2. Em geral devem-se conservar e remetter os peixes n'um liquido conservador, a aguardente de 20º ou o licor de Goadby que indicâmos para os mammiferos (pag. 16; formula 2.º). Ex- ceptuam-se porém os exemplares muito grandes, cuja conser- vação por este modo e transporte seriam assás dispendiosos. Para esses é preciso recorrer ao expediente que se emprega para os reptis volumosos; isto é: extrahir-lhes a pelle por um methodo inteiramente analogo, preserva-la e secca-la bem, conservar-lhes cuidadosamente, alem da cabeça e dentes, as barbatanas, e para impedir que estas se deformem e deterio- rem collar sobre cada uma dºellas um pedaço de papel forte que lhes mantenha a fórma e as proteja. Antes de lançar o peixe no liquido conservador é indispen- savel lava-lo bem com agua fria, e praticar-lhe uma pequena incisão no ventre por onde o liquido penetre o interior do corpo: esta recommendação deve entender-se geral para todos os animaes de um certo volume que se conservam em liquidos. Convem, se se não expedem logo os exemplares, mudar de tempos em tempos o liquido em que estão immergidos; e na occasião de effectuar a remessa empregar sempre liquido novo. Não deve tambem esquecer o que dissemos com respeito ao acondicionamento dos mammiferos e reptis: tudo tem aqui applicação. Cada exempiar de uma ceria grandeza deve ser envolvido n'um pedaço de panno de algodão ou pelo menos de papel forte, e os exemplares pequenos embrulhados nas dobras de um mesmo panno ou papel por fórma que se não rocem. | A cada exemplar se atará um pedacinho de pergaminho com o numero que lhe corresponde na relação ou catalogo que deve acompanhar a remessa: esta etiqueta deve prender-se com um cordel à extremidade da cauda. x ni e Um viajante muito conhecido pelas magnificas remessas que fez da America ao museu de Paris, Ricord, propõe para os peixes grandes um methodo de conservação menos dispen- dioso que a immersão em aguardente pura; consiste elle no seguinte: Depois de aberto o ventre, o estomago e os intesti- nos e limpa esta cavidade, estende-se o peixe sobre uma tá- bua bem coberta de sal commum, introduz-se-lhe sal no inte-. rior, e cobre-se todo de sal; expõe-se depois ao ardor do sol. Renova-se todos os dias o sal, e recolhe-se todas as noites o peixe para evitar a acção da humidade. Ao cabo de tres dias, immerge-se em aguardente de 18º, conserva-se nella dois dias, findos os quaes se torna a metter em nova aguardente, mas com uma porção igual de sal commum. Este fica sendo o liquido conservador definitivo, verdadeira salmoura alcoolisada que Ricord declara inalteravel. As pelles podem ser remettidas seccas ou em liquidos con- servadores. 3. Na relação que deve acompanhar a remessa de peixes será bom que se mencione: A côr dos olhos, e, quanto possivel, as cores do corpo: O sexo; O nome vulgar na localidade; se é empregado na alimenta- cão; a epocha em que frequenta as paragens onde foi ca- pturado; o modo ordinario de o pescar. v 1. Os molluscos, uns têem o corpo coberto e protegido por uma concha, outros são nus ou não têem concha apparente. À concha compõe-se umas vezes de duas metades (mexilhões, berbigões, etc.), outras vezes consta de uma só peça (caracóes), - outras vezes ainda de peças numerosas (chitons), (conchas bi- valvas, univalvas, multivalvas). MOLLUSCOS (MARISCOS E CONCHAS) —37— Quanto à sua habitação os molluscos são terrestres, mari- nhos ou fluviaes. a Em todos os paizes se encontram molluscos terrestres; mas não é indifferente nem a estação nem a hora do dia em que se devem procurar. Estes animaes escondem-se na terra emquanto reinam temperaturas extremas; por isso a prima- vera é a epocha do anno mais favoravel para os obter, e é de manhã cedo ou de tarde que se deve saír a procura-los. Nos paizes quentes quando o tempo está humido é quando estes animaes apparecem em maior quantidade: ninguem ignora que é em taes circumstancias que as lesmas e caracões sáem de seus abrigos, e invadem os jardins e os campos. Para alcançar copia de especies não basta aguardar que ellas se mostrem, é preciso saber descobri-las. Devem-se procurar debaixo das pedras soltas e das folhas seccas, nos troncos de arvores que jazem por terra, na casca de arvores velhas, nos muros velhos e nas ruinas, emfim nas grutas e fendas dos ro- chedos, em toda a parte onde possam achar abrigo e humi- dade. Muitas especies de mui tenues dimensões vivem pro- fundamente mettidas no musgo: para as obter precisa-se ex- plorar com cuidado as fendas e cavidades aceidentaes das ar- vores, a relva dos prados e os detritos vegetaes que abundam sobre as raizes das arvores seculares. Os logares absolutamente vedados à luz são pobres em mol- luscos; abundam mais nas clareiras e bordas das matas do que no interior dellas. Preferem os terrenos calcareos a todos os outros. Um grande numero de especies são nocturnas. b Os molluscos chamados fluviaes habitam a agua doce: vi- vem em agua corrente como a dos rios, ribeiras e regatos, ou nas aguas estagnadas ou tranquillas dos lagos, tanques, pan- tanos e vallas. netas Os univalvos habitam indistinctamente umas e outras aguas: encontram-se no fundo dos lagos e tanques, no leito das ribei- ras, nas suas margens, sobre as pedras ou sobre as plantas, é muitas vezes mesmo fluctuando à tona de agua. Os bivalvos vivem em geral escondidos mais ou menos pro- fundamente na areia ou no lodo, e são mais difficeis de des- cobrir. Muitos dºelles são faceis de capturar à mão: para obter ou- tros é forçoso recorrer a uma rede similhante à que se emprega na caça das borboletas, porém mais forte, e mesmo n'alguns casos usar de uma pequena draga, instrumento que descreve- remos em outro logar. Í c Os molluscos marinhos encontram-se: uns nas praias, quando a maré tem vasado; outros constantemente debaixo de agua, e mesmo a profundidades consideraveis; outros em- fim fluctuando errantes nos mares, quasi sempre a grande dis- ' tancia da costa. Devem procurar-se os primeiros: nas rochas e recifes que ficam descobertos na baixamar; nas raizes e troncos de arvo- res, gue as marés alcançam em certos paizes; escondidos na areia ou no lodo, e denunciados por bolhas de ar que rebentam à superficie, por pequenas elevações conicas e por aberturas. Molluscos ha tambem (bivalvos) que penetram profundamente nas rochas calcareas: convem por isso examinar bem a super- ficie destas rochas em toda a extensão que o mar póde cobrir; sempre que se vir buracos mais ou menos regulares deve pre- sumir-se a existencia de um mollusco, e para o obter deverá partir-se a pedra com cuidado. Para obter as conchas que vivem constantemente debaixo de agua é preciso usar da draga, instrumento quadrangular de ferro, cuja bôca é armada de dois cutellos e guarnecida de um saco comprido de rede. O desenho junto dará uma idéa exacta do instrumento e do seu emprego (fig. 3): aa ed dá — 39) — são os dois cutellos, devem ter 75 centimetros de compri- mento e 6 centimetros de largura; b b são duas varas de ferro queterminamn"um annel onde se prende a cor- da, e se implantam inferior- mente no meio das duas bar- ras de ferro que seguram os cutellos, têem 45 centime- tros; x ax barras deferro que seguram os cutellos, devem ter 30 centimetros de com- prido, e convem que sejam curvas, com a concavidade para diante; c corda de 30 a' 200 braças; d peso de chum- bo de 3 kilogrammas; e rede de 1”, 20 de comprido, as malhas devem ir estreitando para a extremidade; f pe- daços de coiro que guarnecem e protegem as duas faces da rede. | Póde-se collocar dentro da rede outra rede mais curta e de malhas mais largas destinada a reter em si as pedras € as con- chas de maior volume. O que se pretende com a draga é arrancar do fundo do mar as conchas que lhe estão adherentes, e faze-las cair dentro da rede. As regras principaes a seguir no acto de dragar são as seguintes: dar à corda uma extensão que Seja Igual pelo menos a tres vezes a profundidade da agua no ponto onde se draga: imprimir ao barco um movimento regular e brando, e para Isso empregar antes os remos do que a vêla; levar a mão so- bre a corda da draga, que vae presa à. pôpa do barco, para sen- tir os movimentos, choques e resistenéias que o instrumento for experimentando, e poder demorar ou suspender a tempo A o andamento da embarcação; visitar a miudo a draga, sobré- tudo nas paragens que abundam em plantas marinhas. 4 Convem levar presa aos lados da hôca da draga uma segunda corda cuja extremidade se ate a uma boia: esta corda ajudará a desembaraçar a draga das pedras ou coraes em que possa prender-se, e evitará que se perca a draga no caso da outra corda quebrar. Podem-se tambem obter molluscos, dos ques vivem no fundo do mar, immergindo, suspenso por uma corda e uma boia ou a uma embarcação ancorada, um arco de ferro sufficientemente pesado e guarnecido em volta de um saco de rede fina con- tendo um pedaço de carne ou despojos de animaes: este in- strumento deve ser lançado ao mar de noite; e quando se re- tirar pela manhã não será raro achar na rede, implantados nos despojos de animaes, varios molluscos carnivoros difficeis de alcançar por outra fórma. Poder-se-ha recorrer a este instru- mento onde se não podér dragar, por exemplo, nos fundos de coral. Uma das indicações que mais deve auxiliar o bom resultado da pesca das conchas é a escolha de auxiliares intelligentes e de boa vontade entre os pescadores da localidade. É preciso não fiar demasiado das apparencias: a despeito das maneiras rudes e da phrase incorrecta possuem alguns dºelles uma in- telligencia de bom quilate, que se compraz na contemplação e no estudo dos seres que povoam os mares; e o proprio 1so- lamento a que se vêem condemnados os convida a observar e a interpretar os factos que passam diante de seus olhos, pagi- nas isoladas e desconnexas do mais brilhante capitulo da histo- ria da creação. É sobretudo indispensavel recorrer aos pesca- dores para haver os moluscos nus (como polvos, chócos, lulas, lebres do mar, etc.): só por intervenção dºelles se podem con- seguir com facilidade. Os molluscos que habitam o mar alto só se podem conseguir nas viagens que se emprehendem para longe das costas, salvo cm ff em occasiões de grandes temporaes que os arrojam accidental- mente às praias. Estes molluscos são geralmente crepuscula- res, e não começam a mostrar-se à superficie dos mares senão quando o sol se occulta no horisonte: é esta a occasião asada para a pesca, a qual se faz com redes ou sacos de malha que se deixam cair ao mar da pôpa do navio. É condição essencial para este genero de pesca que o mar esteja tranquillo e o na- vio leve pouco andamento: o tempo sereno e encoberto é o. mais favoravel. Deve-se içar a miudo as redes e despeja-las. As primeiras horas da noite são as mais convenientes: alta noite estes molluscos têem desapparecido. . 2. Os amadores de conchyologia colleccionam sómente as conchas, desprezando os animaes dºestas e os molluscos nus ; nos museus porém devem reunir-se e dispor-se ordenadamente as conchas e os molluscos que as habitam, e bem assim os mol- luscos nus ou sem concha apparente. As conchas conservam-se com a maior facilidade, como os mineraes; os animaes porém precisam ser immergidos em liquidos conservadores: é mister portanto dizer como se limpam as conchas, e como se conser- vam os molluscos. a Quando se trata sómente de obter as conchas devem-se- lhes extrahir os animaes: para isso lançam-se em uma vasilha com agua fria, leva-se ao lume e aquece-se a agua até à tem- peratura de 60º centigrados. Morto o animal, deixa-se arrefe- cer a agua, e procede-se à sua extracção, empregando uma faca se a concha é bivalva, ou um gancho em fórma de anzol, de dimensões apropriadas à grandeza do animal, se a concha é uni- valva. Esta operação deve ser feita com todo o cuidado, evitando deteriorar as margens e a bôca das conchas, e os espinhos, re- cortes e prolongamentos de varias fórmas que guarnecem mui- tas d'ellas. ac AR Ás conchas bivglvas deve-se poupar o ligamento que une as valvas, e immediatamente limpas approximar as valvas e fixa- las n'esta posição enrolando em volta dºellas um fio de algodão ou de linha. Ás conchas univalvas deve-se conservar 0 operculo, especie de porta adherente ao animal com que, em muitas d'ellas, se fecha a abertura quando o mollusco se recolhe todo. O oper- culo envolvido n'um pouco de algodão será collocado dentro da concha a que pertence. | O bom estado das conchas é o ponto capital a que tem de attender-se. Não se devem remetter, quanto possivel, senão exemplares adultos, completos, com a bôca bem formada, com as margens intactas; devem-se abandonar as conchas mortas, já roladas pelas ondas, descoradas pelo sol, salvo se se tratar de alguma especie que se veja pela primeira vez e pareça rara. Valvas desemparelhadas, metades de conchas, exemplares defeituosos e communs não téem prestimo algum. Recommen- dâmos tambem com a mais viva insistencia que se não trate de limpar as conchas, que se não raspem nem esfreguem com o intuito de as tornar bonitas: tirado o animal, lavem-se sim- plesmente com agua doce e nada mais. b Os animaes das conchas e os molluscos nus precisam ser mettidos em liquidos conservadores. Convem mata-los previamente e de modo que não fiquem contrahidos: para o conseguir mettem-se em um frasco de di- mensões convenientes e enche-se com agua salgada até quasi to- car na rolha; rolha-se muito bem o frasco, e espera-se que o ani- mal morra por asphyxia. Ha quem aconselhe para o mesmo fim o mergulha-los em agua com algum vinagre, mas este meio parece menos eflicaz. Ás conchas univalvas é preciso quebrar a extremidade da concha ou da espira para que o animal fique bem em contacto com o liquido conservador ; as conchas bivalvas e os molluscos AA a nus não necessitam mais nenhuma operação previa à sua im- mersão no liquido conservador. O liquido geralmente usado para conservar os molluscos é a aguardente de 18º a 20º Beaumé. A aguardente conserva bem, mas tem o grande inconveniente, alem de ser muito dis- pendiosa, de contrahir os tecidos e descórar os animaes: muitos outros liquidos se têem ensaiado, muitos têem sido propostos; comtudo os que nos parece poderem substituir a aguardente são : Para os molluscos nus que não têem concha interior a com- posição aluminosa indicada a paginas 16, e cuja formula é a seguinte : Sal gemma (chlorureto de sodium) 125 grammas Pita neo lo audio 69 » Deuto-chlorureto de mercurio. .. 4 decigramma RR MS AD a 1 hiro Para os molluscos com concha externa ou interna, a com- posição sem alumen que tambem indicâmos, e que se compõe do seguinte : Sal gemma (chlorureto de sodium) 250 grammas Deuto-chlorureto de mercurio... 1 decigramma RS A Ra Cd 1 litro Se experiencias ulteriores provarem a efficacia da dissolu- ção da creosota em agua (2 grammas por litro de agua), é esta a preparação que, a nosso ver, deverá preferir-se. Qualquer que seja o liquido empregado é mister remove-lo no fim de oito dias. 3. Deve haver todo o cuidado em acondicionar bem as con- chas. Convem remetter separadamente as conchas pesadas e RO Aos fortes, reservar outra ou outras caixas para as de dimensões medianas, envolvendo-as bem em papel; e collocar em caixas pequenas, por pequenas porções e entre camadas de algodão em rama os exemplares tenues, frageis ou preciosos. Algumas muito pequenas ou muito tenues virão bem entre algodão, em caixinhas de cartão ou em pequenos tubos de vidro, os quaes se acondicionarão com bastante cuidado em caixas. Os molluscos devem ser remettidos com as cautelas que temos já por vezes indicado fallando das remessas de animaes em espirito de vinho ou em outro liquido conservador. As di- mensões das vasilhas em que forem expedidos devem estar em harmonia com o tamanho dos animaes, e devem vir acondicio- nados por fórma que não corram perigo de deixar extravasar o liquido. Recommendâmos de novo para animaes não mui orandes o uso de caixas ou frascos de folha de Flandres com as tampas soldadas. Deve-se-lhes renovar o liquido na occa- sião de expedir a remessa. | k. Desejâmos para a colleeção do museu de Lisboa tanto as conchas, como os animaes que as habitam. Recommendâmos que se ponham numeros nos exemplares que nos forem re- mettidos: estes numeros serão escriptos no papel que envol- ver os exemplares de conchas, e escriptos com tinta ordinaria em pedacinhos de pergaminho atados aos molluscos. Na relação que acompanha cada remessa pedimos especial- mente, em referencia a cada numero, que se nos diga: Se a especie é commum ou rara na localidade ; Se é empregada na alimentação ou se é nociva ; O que se souber de seus habitos, onde se encontra commum- mente, e, sendo marinha, a que profundidade vive ; Quaes eram as cores do animal na occasião em que foi captu- rado. E AM VI— CrusTACEOS (LAGOSTAS, CARANGUEJOS, CAMARÕES, ETC.) 1. Os crustaceos são quasi todos aquaticos, e a maior parte d'elles habitam o mar. D'estes uns vivem nas praias e encon- tram-se com frequencia nas anfractuosidades dos rochedos e debaixo das pedras, taes são os caranguejos; outros vivem es- condidos na areia ou no fundo do mar a diversas profundida- des: ha-os tambem que só apparecem no alto mar. Um certo numero dºelles encontra-se em abundancia no meio dos fucus e outras plantas do mar. Os que vivem na agua, quer doce quer salgada, pescam-se do mesmo modo. Como são todos carnivoros emprega-se para os obter um meio simples que já recommendámos para a pesca de algumas conchas: consiste elle em um arco de ferro guar- necido de uma rede de malha miuda, na qual se lança um pe- daço de carne ou quaesquer despojos animaes. Deve-se immer- gir este apparelho na embocadura de rios ou ribeiras, quando a maré sobe, se se trata de crustaceos marinhos, ou junto de raizes de arvores e de montes de pedras se se procuram crus- taceos fluviaes. Póde-se empregar tambem para o mesmo fim um cesto cuja abertura tenha a disposição de um cone inver- tido, e dentro do qual se lancem despojos de animaes: este cesto, carregado sufficientemente de pedras mergulha-se nos logares convenientes. Ha quem recommende que se metta tam- bem no cesto ou na rede um pedaço de assafetida, embrulhado em um trapo, porque parece que o cheiro desta substancia attrahe os crustaceos. | Para a pesca dos crustaceos póde ainda empregar-se a draga “que aconselhámos para a pesca das conchas. Ha crustaceos marinhos que abrigam em conchas abando- nadas pelos molluscos a parte inferior do seu corpo, que é molle e incapaz de resistir a qualquer choque. Quando se en- contrem destes crustaceos é indispensavel conservar as con- chas onde residem. Nas aguas doces e salgadas, nas primeiras sobretudo, encon- tram-se crustaceos mui pequeninos, de fórmas extravagantes muitos d'elles, e que passarão despercebidos aos olhos de quem examinar desprevenido as aguas onde abundam. Estes colhem-se facilmente com a rede que se usa para pescar os insectos aquaticos, e que consiste em um arco de ferro preso a um cabo e guarnecido de um saco de malha estreita. Os crustaceos terrestres habitam logares frescos e humi- dos; acham-se nas matas e nas vertentes das montanhas, nos troncos arruinados, debaixo das pedras, nas fendas dos roche- dos, etc. Como vivem quasi sempre em grandes associações, em apparecendo um deve Insistir-se na pesquisa, porque não deverão estar longe muitos outros. Podem servir para exem- plificar os crustaceos terrestres certos animaesinhos que re- sidem em logares humidos e sombrios, e que se enroscam em bola mal se lhes toca; conhece-os geralmente o vulgo pelo nome de bichos de conta (Oniscus dos naturalistas). 2. Os crustaceos grandes podem ser preparados a secco, isto é, aberto e descarnado o interior do corpo e dos mem- bros, e depois restituidas todas as partes à sua posição, e man- tidas nºella por meio de laminas de chumbo ou colladas. Esta operação leva tempo bastante, e exige uma certa pericia que se não consegue logo à primeira vez; por isso recommendá- mos que todos os crustaceos nos sejam remettidos em liqui- dos conservadores (aguardente de 22º Beaumé, ou solução de sal gemma sem alumen), e acondicionados com todas as cau- | telas que recommendâmos para os molluscos. Não deve esquecer renovar os liquidos na occasião de effe- ctuar a remessa. E 1 oh Vii— Insectos 1. São tão variados os costumes dos insectos, a comecar mesmo pelos logares que elles elegem para habitação, que não é possivel resumir em poucas palavras, como o exige a indole deste trabalho, um conjuncto de indicações e regras que pos- sam cabalmente favorecer a descoberta e facilitar a captura dos numerosos representantes d'este grupo em cada localidade. Limitar-nos-hemos por isso a expor o que considerâmos mais indispensavel às pessoas que pela primeira vez se queiram oc- cupar de colhigir insectos, deixando que a experiencia ou a leitura de livros especiaes lhes ministrem o complemento de instrucção pratica de que possam ficar carecendo. a À caça dos insectos não é difficil e não requer muitos in- strumentos. Um saco de téla forte ou de rede de malhas bem miudas preso a um arco de ferro collocado na extremidade de uma bengala, eis o instrumento que serve a um tempo para colher os insectos que vivem nas plantas rasteiras e herbaceas dos campos e os que habitam as aguas: no primeiro caso o in- strumento seguro pelo cabo com ambas as mãos e levado rapidamente por sobre as plantas re- cebe para O saco os insectos que encontra; no segundo caso o modo de operar é tão obvio que dispensa explicações. A caça de insectos de azas delicadas como as borboletas exige um instrumento muito ana- logo ao que acabâmos de descrever, mas cujo saco, em vez de ser de uma téla forte e resis- tente, é feito de gaze ou de outro tecido trans- parente e de malhas miudas (fig. 4). Para ca- pturar estes insectos é preciso surprehende-los no vôo, ou Fig. 4 Doo aproveitar os raros instantes que pousam : da rapidez com que se maneja o instrumento depende quasi sempre o bom exito. Ha insectos que se defendem no momento em que são ap- prehendidos cravando um ferrão que produz muita vez dores agudissimas e póde dar logar a maiores accidentes; taes são as abelhas, as vespas e outros insectos similhantes, que os na- turalistas designam pelo nome commum de hymenopteros. Para os segurar deve-se usar de uma pinça especial cujos ra- mos se alargam em arco e são guarne- cidos de tulle de malhas largas (fig. 5). Alem dos instrumentos com que se ap- prehendem os insectos é preciso levar para o campo alguns objectos mais, necessarios para os guardar e acautelar à medida que se vão apanhando. Indicaremos como in- dispensaveis: uma caixa chata de folha de Flandres com fundo de cortiça, a qual se leva a tiracolo ou dentro de uma bolsa de caça; nºesta caixa guardam-se os insectos à medida que se vão apanhando cravan- do-os com alfinetes. É bom levar dentro da caixa um pedaço de esponja molhada em benzina que tem a propriedade de os matar promptamente. Uma porção de alfinetes proprios para cravar os insectos de diversas grossuras. Um frasco com espirito de vinho onde se lançarão os inse- ctos que têem o primeiro par de azas duro e corneo cobrindo como um estojo as azas membranosas (insectos coleopteros e orthopteros), e em geral todos os insectos cujas azas se não estragam molhando-se. É evidente que as borboletas não es- tão n'este caso. b A melhor hora de encontrar insectos nos campos é pela manhã depois do nascer “do sol, quando o orvalho já tem des- E apparecido: a estação mais conveniente é, em geral, a prima- vera. Para haver uma collecção de insectos que possa representar bem as riquezas entomologicas de uma localidade não basta explorar os campos, batendo os arbustos e correndo com a rêde por cima das hervas, ou surprehendendo no vôo os que “se offerecem facilmente à vista. D'este modo, embora se pos- sam conseguir bastantes especies, não se obterão mais do que um certo numero de coleopteros (escaravelhos, etc.), ortho- pteros (gafanhotos, saltões, etc.), lepidopteros ou borboletas diurnas e crepusculares, nevropteros (libellulas ou tira-olhos, etc.), hymenopteros (vespas, abelhas, etc.), isto é, aquelles insectos que vivem nos campos sobre as plantas ou vôam de flor em flor durante o dia. Para colher um grande numero de especies precisa-se muito mais trabalho e diligencia; necessi- ta-se conhecer-lhes os habitos e procura-los nos logares onde se occultam a todas as vistas. Insectos ha tambem que são no- cturnos, isto é, que sáem só de noite a forragear pelos cam- pos; e contra esses é mister ou sair tambem de noite, ou, O que é preferivel, attrahi-los a casa, iluminando um a cujas janellas se deixem abertas. Não podemos entrar aqui em todas as tin ari adis que o assumpto requer: diremos apenas por alto o que possa ser- vir de guia e estimulo às pessoas que desejem entregar-se a estas interessantes explorações; a pratica instrui-las-ha me- lhor do que os melhores livros. Os coleopteros (insectos com elytros, isto é, com 0 primeiro par de azas coriaceo e servindo de protecção às azas membra- nosas, e que se podem facilmente symbolisar no escaravelho) têem habitos diversissimos. Uns encontram-se em logares sec- cos, despidos de vegetação, areientos, e até nas plagas mari- timas; outros nos bosques e prados, nos jardins, nos caminhos, já a descoberto, já debaixo das pedras, escondidos dabaixo da casca Es fores ou nas suas fendas, e mesmo no interior do lenho, debaixo dos excrementos ou sobre os cadaveres dos ani- maes, e bem assim nas materias vegetaes em decomposição, nos muros em ruinas e nos troncos derrubados. Varias es- “pecies residem na proximidade da agua, ou são mesmo essen- cialmente aquaticas. Um certo numero d'ellas finalmente es- colhem para residencia as nossas proprias habitações. A maior parte "estes insectos devem procurar-se de dia, e em geral pela força do sol; alguns ha porém que são nocturnos, e muitos que se colhem melhor pela manhã ou pela tarde. ” Os orthopteros (grilos, baratas, gafanhotos, etc.) encon- tram-se nos campos e jardins, nas habitações, nos logares hu- midos e sombrios, e nos montes aridos e expostos, à superfi- cie da terra ou escondidos no solo. Os hemipteros (cigarras, pulgões, cochonilhas, etc.) são ter- restres ou aquaticos. Vivem os primeiros nos arvoredos e rel- vados, sobre as plantas de que se nutrem pela maior parte; os segundos nos charcos, fossos e tanques. Os nevropteros (libellinhas ou tira-olhos, etc.) frequentam - pela maior parte os logares proximos da agua, na qual vivem durante os primeiros periodos da sua existencia ; um certo nu- mero porém têem curiosas habitações subterraneas. Em geral encontram-se pousados sobre as plantas, ou descrevendo nos ares cirçulos rapidos. Os hymenopteros (abelhas, vespas, etc.) vivem geralmente em sociedade e em ninhos que construem com extrema arte. Alimentam-se pela maior parte do pollex das flores, e é sobre as plantas que habitualmente se podem encontrar. Os lepidopteros ou borboletas são diurnos, crepusculares ou nocturnos. A vida de cada individuo é assás curta, e as es- pecies succedem-se desde a primavera até ao outono; de modo que para obter o maior numero possivel das especies de uma localidade é indispensavel que se lhe dê caça por toda a pri- mavera e verão, e que se sáia a diversas horas do dia; e para alcançar os nocturnos, que se visitem cuidadosamente os ar- E é bustos e sebes densas onde em geral se abrigam de dia, ou en- tão que se attráiam a casa, deixando ficar uma luz durante a noite em um quarto cujas janellas se deixem mal cerradas. 2. A maior parte dos insectos dispõem-se e guardam-se em caixas de convenientes dimensões, de papelão ou madeira, com fundo de cortiça ou de piteira, onde os fixam alfinetes es- pecialmente fabricados para este fim, de grossuras acommoda- das à grandeza dos exemplares. Têem-se adoptado regras inva- riaveis quanto ED à maneira por NR que se devem cravar os alfi- netes nos in- sectos: assim, costuma-se pi- car os coleo- pteros no ely- tro direito (fig. 6), os ortho- pteros enevro- pteros entre a inserção das azas (fig. 7), os hymenopte- ros e borbole- | tas e todos os mais, um pouco adiante no meio do tronco (fig. 8). Ha insectos que se não podem conservar senão em caixas, como fica dito, taes são as borboletas e todos aquelles que sof- frerem da immersão no alcool. Um grande numero de insectos porém conserva-se muito bem n'este liquido, sem que as co- res padeçam muito, taes são por exemplo os coleopteros. Ha mesmo insectos que se não podem conservar bem senão por * 1 » Fig. 6, 7,8€e9 e Bo esta fórma, taes são todos os que têem um corpo molle que, alem de correr risco desse corromper com facilidade, se de- forma muito pela exsiccação ; estão n'este caso muitos orthopte- ros como os lowuva-a-deus, os saltões, etc. Todos os insectos de abdomen volumoso, cujas cores não soffrem com a immer- são no alcool, ganham bastante em permanecerem por alguns dias nºeste liquido antes de se pregarem definitivamente nas caixas. O alcool empregado para este fim deve ser de 24º a 25º Beaumé. Os insectos muito pequenos não se pregam directamente nas caixas: collam-se em pedacinhos de cartão, ou melhor em laminasinhas de talco, as quaes se fixam com os alfinetes. A colla póde ser gomma arabica em um pouco de assucar candi. Para assegurar a conservação dos insectos em caixas é pre- ciso collocar dentro dºellas um pedacinho de esponja embebida em benzina, e visita-los a miudo para renovar a benzina. ! Quando se tratar de expedir para o museu uma collecção de insectos dever-se-ha examinar bem se os alfinetes estão se- curos, e manter melhor em posição os exemplares grandes, pregando em volta d'elles alfinetes que os fixem; renovar a benzina, collar uma tira de papel sobre a fenda que fica en- tre a tampa e a caixa; collocar as caixas dentro de um caixote, onde fiquem perfeitamente juntas. Quanto aos insectos em al- 1 Mr. Lefevre, naturalista-preparador de Paris, vende um preserva- tivo liquido e sem côr de que diz maravilhas para a conservação dos insectos. O excipiente d'este preservativo é o ether sulphurico, e a sub- stancia activa parece-nos que deverá ser a strichnina ou algum dos seus saes. Uma solução alcoolica concentrada de strichnina substitue perfeila- * mente o preservativo Lefevre. Applica-se com um pincel de miniatura aos exemplares que se quer preservar, havendo a cautela, quando fo- rem borboletas, de não as esfregar com o pincel, mas deixar simples- mente cair sobre elles algumas gotas de liquido até haver uma per- feita embibição. Nos ensaios que temos feito tem-nos parecido util a strichnina. BA fa pu cool, esses devem vir em frascos bem tapados, cheios do li- quido, e accommodados no tamanho ao numero e dimensões dos exemplares. | Quando não haja caixas e alfinetes em quantidade sufficiente para todos os insectos que se têem obtido, devem reservar-se as caixas para as borboletas e outros insectos mais suscepti- veis de se deteriorar, e metter os outros, principalmente os coleopteros, em frascos ou bocetas com aparas de papel ou al- godão. Logoque se apanha uma borboleta convem passar-lhe por cima das azas duas tiras de papel que se pregam com alfine- tes, a fim de as manter na posição horisontal e bem abertas. O melhor modo de obter exemplares perfeitos de borbole- tas, é dar caça às lagartas d'onde ellas provêem, alimenta-las em casa com as plantas de que habitualmente se nutrem, con- servar as chrysalidas, isto é, os corpos ovoides em que se trans- formam as lagartas, e aguardar que nasçam as borboletas para as matar logo. Uma collecção de lagartas ao lado de outra das borboletas a que pertencem, e conjuntamente os casulos que muitas tecem e onde se occultam emquanto chrysalidas, seria uma cousa muito interessante, e que muito recommendâmos e pedimos. As larvas podem conservar-se no espirito de vinho: como este liquido as descóra, seria bom ensaiar a solução de creosota (2 grammas de creosota em 14 litro de agua). 3. Sempre que possa ser desejâmos que os insectos venham numerados (o mesmo numero para todos os exemplares de cada especie), e que se nos dêem algumas informações relati- vamente à sua frequencia, habitos, inconvenientes ou utilidade. Chamâmos muito a attenção das pessoas que queiram dar-se a estas pesquisas entomologicas para o estudo dos insectos que atacam as arvores e chegam a devastar em pouco tempo ma- tas extensas e de grande valor. Uns começam as suas depre- dações pelas partes verdes, outros pela casca das arvores, ma » outros penetram mais profundamente e abrem extensas e nu- merosas galerias no lenho. Suggerimos este interessante e uti- lissimo assumpto de investigações às pessoas que habitam lo- calidades arborisadas, infelizmente bem raras hoje no nosso paiz. VII— ARACHNIDEOS (ARANHAS, ESCORPIÕES, ETC.) Aindaque muito menos numerosos do que os insectos, os animaes d'este grupo merecem ser procurados e colligidos. São geralmente terrestres; poucas especies vivem na agua; algumas são parasitas de outros animaes. Acham-se nos ar- bustos, nas plantas, ou nos buracos das arvores e dos muros, e mesmo escondidos no chão. As teias e ninhos que construem alguns d'elles são curiosissimos e merecem ser colligidos para exemplificação do que valem os admiraveis instinctos de mui- tos animaes. A melhor maneira de conservar as teias é appli- ca-las sobre uma folha de papel grosso embebido em dissolu- cão de gomma arabica ou de amido. É preciso ter cautela com varias especies que são venenosas (aranhas, escorpiões ou la- craus); as que vivem nos paizes quentes são sobremaneira pe- rigosas. | Não se descobriu ainda nenhum meio de conservar bem os arachnideos; seccos, e pregados em caixas como os insectos (fig. 9), deformam-se consideravelmente; no alcool perdem as cores. Será preciso pois enviar de uma e outra fórma os exem- “plares que se obtiverem de cada especie, marcando-os com iguaes numeros. Ensaiar-se-ha tambem a solução do creosota. [X—MyRiAPODOS (CENTOPEIAS, VERMES, ZOOPHYTOS) 1. Os myriapodos (centopeias, etc.) encontram-se nos rel- vados, sobre as folhas seccas nas immediações dos bosques, ou então em logares humidos e sombrios escondidos por de- baixo das pedras, dos troncos velhos, enterrados nas folhas An; humidas e em outros detritos de vegetaes. Com algumas es- pecies de grandes dimensões dos paizes quentes é preciso ter cuidado no modo por que se agarram, porque a sua mordedura é venenosa; deve-se por isso fazer uso de umas pinças. Devem conservar-se nos liquidos de que já temos fallado em relação aos outros animaes, alcool, etc. 2. Vermes. Á excepção dos vermes conhecidos geralmente pelo nome de lombrigas da terra, todos os mais vivem na agua (doce ou salgada) ou habitam como parasitas o interior de ou- tros animaes: Os primeiros mesmo não se encontram senão em logares humidos, escondidos na terra. Dos vermes aquati- cos, uns são nus, outros estão contidos em um tubo formado por uma transudação calcarea da pelle ou resultado da agluti- nação de areias. A maior parte d'elles habitam a agua salgada, e encontram-se no lodo ou na areia das praias, nas cavidades das rochas e sobre as plantas: a melhor occasião de os procu- rar é na baixamar. ; Os vermes parasitas ou entozoarios habitam, como dissemos, os diversos animaes; e no homem encontram-se no canal in- testinal, nas diversas entranhas, nos musculos, no tecido cel- lular, etc.: alguns dºelles são expulsos durante a vida do ani- mal onde vivem. Uma colleeção de entozoarios com a indicação dos animaes donde fossem extrahidos seria uma excellente acquisição para o museu. Todos os vermes conservam-se em alcool. Deve ensaiar-se a solução de creosota; e póde tambem empregar-se a solução salina ou aluminosa (esta ultima para os animaes nus).V ejam-se as formulas a pag. 4. 3. Os zoophytos são animaes que differem muito entre si na fórma, e esta é em alguns mui extravagante. Uns asseme- lham-se aos ouriços dos castanheiros (ouriços do mar); outros têem a fórma de uma flor, de um arbusto, de um cogumello, PR arremedam ainda outros certos fructos, uma estrella, etc. Ha- bitam geralmente o mar; mui poucas são as especies da agua doce. Vivem uns fixos nas rochas e em pontos que a maré des- cobre, outros em profundidades maiores ou menores sempre cobertos pelo mar; um grande numero dºelles fluctuam livre- mente à superficie das aguas (alforrecas), outros movem-se lentamente no fundo do mar. Um grande numero destes ani- maes colhem-nos os pescadores em suas redes, e o meio mais facil de os obter é por conseguinte espera-los á volta da pesca c assistir ao vasar das redes. Em todo o caso os pescadores são para a acquisição d'estes animaes como para a de todos os animaes marinhos, os melhores auxiliares que se podem en- contrar: basta tão sómente procurar entre elles os que mos- trem mais intelligencia e melhor disposição para secundar este genero de pesquizas. Pescam-se varias especies com a draga, Os que vivem sobre as rochas e nas plantas submergi- das; com redes os fluctuantes (alforrecas, etc.), cujo contacto é preciso evitar, porque produ- Nm zem, como as ortigas, um pru- da rido excessivamente incommodo mi nas partes onde tocam. » (4 — Hatambemespecies(polypos, Hm É coraes e outros) que é mister dh pescar com um instrumento es- pecialquerepresentâmos (fig. 10). As especies molles conser- vam-se em alcool ou nos outros y liquidos em que temos fallado Fig. 10 por vezes. Das especies duras, umas podem conservar-se seccas por- que téem um revestimento completo que representa bem a AMA pm fórma exterior do animal, taes são os ouriços do mar e todos os que se lhe assemelham: outros porém, comquanto se con- servem bem seccos, perdem pela exsiccação o que nºelles re- presenta verdadeiramente o animal, taes são muitos dos po- Iypos aggregados (coraes, gorgonias, etc.). Destes ultimos convem conservar exemplares por um e outro methodo; e mesmo dos primeiros sempre convem que venham alguns exemplares em liquidos conservadores. Ha algumas especies achatadas e pouco espessas que se po- dem conservar bem seccando-as entre duas folhas de papel, e collando-as depois em um cartão como se pratica, por exem- plo, com as algas. DESIDERATA DO MUSEU DE LISBOA |—ProDucTOS ZOOLOGICOS DE PORTUGAL (t. Quadrupedes Comquanto não seja muito extensa a lista dos quadrupedes do nosso paiz, comtudo alguns dos já conhecidos são privati- vos delle e da Hespanha, e deve-se esperar que investigações bem dirigidas conduzam à descoberta de mais algumas espe- cies, entre as quaes não será impossivel que se encontrem especies novas. Os specimens que nos quizerem enviar ser- nos-hão de grande utilidade, não só para que possamos com- pletar a collecção portugueza, que já temos em principio, mas tambem para que possamos effectuar permutações com outros museus, e obter assim objectos que de outro modo difficilmente . adquiriremos. Vamos indicar em poucas palavras quaes são os quadru- pedes que mais desejâmos alcançar. | “Do grupo dos carnivoros são: o gato bravo ordinario; o lynce ! de Portugal (felis pardina dos naturalistas), conhecido 1 Caracteres do nosso lynce: muito maior que o gato bravo ordina- rio; pello cinzento arruivado com numerosas malhas pretas, pequenas e arredondadas; cauda muito curta com a extremidade negra; um pincel de pellos negros na ponta da orelha. Encontra-se no norte, centro e sul E qua vulgarmente no paiz, segundo as localidades, pelos nomes de gato cravo e de lobo-cerval; a nossa raposa, a qual pertence à variedade de que alguns zoologistas quizeram fazer uma es- pecie distincta (Vulpes alopex); 0 sacca-rabo* (Herpestes Wid- dringtonii Gray); a lontra, de que não possuimos nenhum exemplar perfeitamente adulto; a foinha; o toirão e a doninha:. Os mammiferos pequenos que o vulgo confunde geralmente e designa com os nomes de ratos de agua, e ratos-cegos ou ratos-toupeirinhos, têem para nós um grande valor scientifico, porque não estão ainda devidamente estudados, e é de crer que comprehendam um certo numero de especies não de- seriptas. Recommendâmos por isso muito. a sua captura às pes- soas que se prestem benevolamente a ajudar-nos. Habitam elles, como a toupeira, tócas subterraneas; uns porém vivem de preferencia na proximidade da agua, nas margens dos re- gatos, emquanto que outros habitam os campos. Por occasião de se abrirem vallas ou de se arrotearem os campos, surpre- hendem-se muita vez estes animaes em seus covis; seria facil recommendar aos trabalhadores que os não matem, e convida- de Portugal, habita de preferencia os terrenos incultos e arborisados nas immediações das serras. Temos noticia de haver sido encontrado em Borba e Villa Viçosa, em Traz os Montes, no Minho, e nas abas da serra da Estrella. Quasi todos os annos apparecem alguns individuos nas proximidades de Coruche. Sáem de noite á caça dos coelhos, de que se alimentam. 2 Do tamanho do gineto, porém mais comprido e rasteiro do que elle. Pello côr de caneila salpicado de amarello; cabeça aguçada; corpo esguio; orelhas arredondadas; cauda muito comprida e bem coberta de pellos. 3 Todos estes animaes no inverno podem ser remettidos inteiros e sem preparação alguma sempre que seja possivel expedi-los apenas mor- tos, e faze-los chegar a Lisboa em um dia sómente de jornada. Para maior cautela bastará fazer-lhes uma incisão no ventre por onde se extráhiam os intestinos, encher esta cavidade de sal, lançar igualmente sal dentro da bôca e em roda da cabeça, e metter o animal numa ca- nastra ou cesto acondicionando-o com feno ou palha. los a que os tragam pela promessa de uma modesta recom- pensa. Para os apanhar póde-se tambem recorrer a ratoeiras pe- quenas, d'aquellas com que se matam os ratos por estrangu- lação *:; devem-se collocar ao anoitecer nos logares onde se presume a existencia desses animaes, e lançar como isca em umas castanhas, avelãs, nozes, etc., e nas outras pedacinhos de queijo ou de toucinho frio. Logoque sejam obtidos, convem mette-los em aguardente de 22º, a qual se renovará no fim de tres dias. A cabra do Gerez * é um dos animaes mais curiosos do nosso paiz; em Portugal habita exclusivamente a serra de Gerez; mas é identica à que se encontra em Hespanha nas serras de Andaluzia e de Castella. D'este animal desejariamos obter sobretudo algumas pelles bem extrahidas do macho e femea adultos (de oito aúnos), e tambem um esqueleto com- pleto. Pedimos às pessoas que possam promover esta acqui- sição 0 favor de nos escreverem a fim de pormos à sua dispo- sição OS meios que forem necessarios. Vive tambem nas montanhas do Gerez o chevrewil dos fran- cezes, conhecido lá pelo nome de corço; do qual desejâmos duas pelles de animaes adultos, macho e femea. ) Antes de terminar a lista dos nossos quadrupedes de que mais precisâmos, mencionarei os morcegos, animaes que re- pugnam e desagradam aos que os não contemplam com olhos de naturalista, mas que nos interessam pela circumstancia de 4 Enviaremos um modelo d'estas ratoeiras ás pessoas que no-lo pe- direm. 5 Osnaturalistas Linck e Hoffmansegg escreveram, e todos o ficaram repetindo depois d'elles, que a nossa cabra selvagem era identica á que vive no Caucaso (capra cgagrus): em 1858 tivemos occasião de a estu- dar, e reconhecemos que não é a capra cegagrus, mas sim a capra his- panica, descoberta em 1848 por Schimper na Sierra Nevada. Sobre este objecto publicimos um pequeno trabalho nas Memorias da academia real das sciencias. — Ro pe não estarem ainda bem conhecidos e descriminados. Para os alcançar é preciso ou visitar de dia as ruinas e as cavernas onde se acolhem emquanto o sol está acima do horisonte, ou sair ao anoitecer quando elles começam a sua caça, e colhe-los no vôo. Devem ser remettidos em aguardente como os outros mammiferos pequenos. b. Aves De aves desejáâmos pelles bem extrahidas *, e esqueletos completos. Chamâmos particularmente a attenção dos colle- ctores para algumas especies mais raras de encontrar ou de mais dificil captura. | As aves de rapina, e d'estas: Os abutres, os grandes abutres negro e pardo (pica-osso e grilfo), e o abutre pequeno branco, quando adulto (vultur perenopterus). As aguias, a aguia real, a aguia imperial de dragonas bran- cas, e tres outras especies ”. As aguias pesqueiras, que frequentam mais os rios e lagõas, e das quaes será possivel encontrar duas especies (o pandion haliaêtus e o haliactus albicilla). O açor e osfalcões, e destes, alem do falcão ordinario (falco communis) e do francelho, gavião e milhafre, geralmente co- nhecidos, varias outras especies que se lhe assemelham *. Varias especies do genero circus, que habitam os fossos e os terrenos alagados (circus ceruginosus, cyaneus e pallidas). 6 Veja-se sobre o modo de extrahir a pelle das aves o que escreve- mos a pag. 26 d'este opusculo. 7 São: a aguia de Bonelli (Ag. Bonelh Lamarm.), mais pequena que as primeiras com as partes inferiores côr de tijolo vivo, quando nova, e brancas, quando adulta, a qual é frequente nas immediações de Coim- bra; a aquila pennata; e a aquila nevia. 8 Por exemplo: falco subbuteo, falco eleonorce, falco vespertinus, falco cenchris, falco lythofalco, milvus miger, milvus parasitus. Todos estes devem encontrar-se em Portugal. Ea As aves de rapina nocturnas, a coruja do mato e a coruja das torres, o bufo, o mocho, o mocho pequeno *. m Os corvos e gralhas; a pêga e o rabilongo 4º. hj Os passaros de bico grosso e conito, como o verdilhão eo" | pardal; os que se assemelham à cia e ao trigueirão; os tordos emelros; os de bico aguçado e estreito como o das iutinegras, e destes desejâmos sobretudo os que vivem nas proximidades - de agua corrente; as diversas alvelõas; as lavércas, cotovias, cochichos e carreirolas; os picansos, etc. Não podendo enu- merar todas as especies que desejâmos deste grupo de aves, nem mesmo julgando de muita utilidade indicar pelos nomes sclentificos as que mais nos conviria obter, deixâmos a escolha ao bom senso das pessoas que nos queiram auxiliar, certos de que hão de procurar sobretudo alcançar as que lhes constar serem ou menos vulgares ou de mais difficil captura. Os noitibós, dos quaes temos duas especies (caprimulgus europeis e ruficollis). Os pombos bravos, as gangas ou barrigas-negras (duas es- pecies — pterocles arenarius e alchata) e o toirão do mato (tur- nix sylvativa). A batarda e 0 cisão, às quaes se póde ainda ajuntar uma especie africana similhante à primeira (a houbara undulata,); as garças, especialmente as brancas, e 0 grou; os maçaricos, as diversas aves que o vulgo comprehende debaixo dºesta de- nominação, e em geral as que frequentam os rios e lagõas. To- das ellas apparecem principalmente no outomno. Os pelecanos e corvos marinhos, os alcatrazes e gaivotas; as procellarias; os mergulhões; os cysnes e gansos bravos; os patos bravos. D'estes as especies menos communs. 9 Póde-se ainda acrescentar: ascalaphia savignyi, scops zorca, siriz brachyotus. i 10 Este ultimo é muito commum nos pinhaes da outra-banda. asa (he c. Reptis Recommendâmos muito à captura dos nossos reptis. Os cá- gados outartarugas de agua doce, e bem assim as tartarugas ma- rinhas; os lagartos, lagartixas e osgas; as cobras, e mui espe- cialmente as viboras, e os alicansos ou licansos: as diversas rãas, e as salamandras !! ou saramantigas, todos nos offerecem bastante interesse, de todos carecemos ter representantes no museu. d. Peixes Recommendáâmos sobretudo os de agua doce, porque são exactamente esses os que differem mais de uma localidade para outra. E de esperar que devidamente estudados os nos- sos peixes de agua doce acrescentem aos catalogos actuaes da sciencia muitas especies novas. e. Invertebrados À excepção dos nossos molluscos terrestres e fluviaes mui poucos invertebrados do paiz se encontram no museu: faltam- lhe quasi inteiramente os insectos, os crustaceos, os arachni- deos, os vermes e zoophytos de Portugal. Aceitaremos por- tanto com muita satisfação e reconhecimento specimens de todos estes grupos de animaes. Nos capitulos v, VI, VI, VII € H Temos no paiz uma especie mui curiosa de salamandra, cuja his- toria está por fazer; é o plewrodeles watilii. Encontra-se no começo do verão na agua, como as salamandras, das quaes o distinguem, alem de outros caracteres, uma serie de tuberculos avermelhados dispostos em serie longitudinal de cada lado do tronco, e furados no centro para da- rem saída ás pontas das costellas. Não se conhecem ainda as larvas ou gyrmos desta especie; ignora-se tudo quanto diz respeito á sua repro- ducção. RL 1x das nossas instrucções expozemos o que convem fazer para se obter e preparar estes diversos animaes. , TI— ProDUCTOS ZOOLOGICOS DAS NOSSAS POSSESSÕES ULTRAMARINAS Projectâmos a principio publicar uma noticia extensa de quantos animaes nos consta existirem em nossas colonias, a fim de deixarmos mais bem definidas as necessidades do nosso mu- seu. Reflectimos porém que uma extensa lista de nomes scien- tificos não aproveitaria ás pessoas que não estivessem habi- litadas a comprehender a synonymia zoologica por estudos especiaes desta sciencia; e que alem d'isso, devendo nós re- putar boas acquisições quantos animaes nos enviassem do ul- tramar, visto possuirmos mui poucos ou nenhuns, o nosso catalogo, alem de superíluo, poderia dar logar a duvidas, e prejudicar o nosso principal intento. Assim limitar-nos-hemos a traçar aqui umas breves indicações dos objectos que mais desejâmos das nossas colonias, devendo comtudo entender-se que todos quantos nos queiram remetter serão bem vindos; porque, repetimo-lo, todos nos faltam. 4 PossEssÕES DA AFRICA OCCIDENTAL a. Ilhas de Cabo Verde e Bissau D'aqui nada possue o museu bem authentico. Desejâmos es- pecialmente quadrupedes, aves e reptis. Dos primeiros indi- caremos as diversas especies de macacos, e dos segundos as aves de rapina (mórmente abutres, aquias, falções e milha- fres). b. S. Thomé É rica esta ilha em varias especies de aves que lhe são pe- culiares. Todas as producções zoologicas que d'ahi nos man- darem nos interessarão muito, mas sobretudo recommendâmos indique REP as aves. Não havendo pessoa que saiba extrahir as pelles, po- dem vir inteiras em aguardente de 20º a 22º de Beaume. c. Angola Comprehendemos n'esta denominação todo o vasto territo- rio sujeito ao governo geral de Angola. Ali se encontram varios macacos muito interessantes, o chimpanzé, os macacos negros com face tambem negra, os macacos sem dedos pollegares (genero colobus); varios antilopes e gazellas; a panthera; o leão; as hyenas; muitos morcegos interessantes; varios ratos de palmeira; porcos espinhos; o manatim, etc. De todos estes quadrupedes desejámos pelles e esqueletos. De aves pedimos especialmente as de rapina (abutres, aguias, etc.), as perdizes e francolins, os corvos do mar e fragatas, alcatrazes e gaivotas, e os diversos passaros. De reptis, peixes e invertebrados tudo o que nos quizerem remetter. Comtudo sempre particularisaremos a cobra cha- mada cuspideira, que muito desejáâmos conhecer. d. Moçambique Esta nossa possessão foi explorada ha poucos annos pelo dr. Petters, de Berlim, o qual publicou tão sómente os quadru- pedes dºesta interessante e riquissima fauna. As pessoas que “nos quizerem enviar de Moçambique todos os animaes que ali podérem obter farão ao nosso museu um assignalado servi- co. Não mencionâmos nenhuns em separado, porque todos nos serão de muita utilidade. e. india Da India temos no museu mui poucos animaes, e esses mes- mos em mau estado: Os carnivoros (gatos bravos, gineitos, civéltas, ichneumons, paradoxurus); os diversos morcegos; os ratos de palmeira e outros quadrupedes similhantes; o pan- golim ou bicho vergonhoso, são os quadrupedes que mais re- 5) un aa commendâmos. Das aves os abutres, aguias e falcões. Das ou- tras ordens do reino animal, de tudo carecemos. f. China Não temos nada da China, à excepção apenas de algumas, poucas, conchas marinhas. 9. Timor Da fauna de Timor não possuimos um só representante. Pedimostodos os quadrupedes que ali se encontrem, e designa- damente os morcegos; todas as aves e reptis. Muito estimaria- mos tambem receber os molluscos terrestres d'esta região in- explorada, os caracoes e bulimos, etc. NOTAS A Os objectos apartados por Geofiroy Saint-Hilaire, no gabinete da Ajuda, e mandados para o museu de Paris pelo general Junot em 1808, comprehendiam varias collecções zoologicas e mineralogicas, muitos herbarios e alguns manuscriptos. Pela seguinte relação se po- derá fazer uma idéa da sua importancia numerica, 1.º As colleeções zoologicas constavam de: 76 Exemplares de mammiferos, 397 » de aves, 92 » de repíis, 100 » de peixes, 508 » de insectos, 12 » de crustaceos, h68 » de conchas. - Ao todo 1:583 exemplares. 2.º 59 Mineraes e 40 fosseis. 3.º 10 Herbarios; a saber: 1 Herbario feito no Brazil por A. R. Ferreira, com 4:1144 plantas: 1 Dito feito no Brazil pelo dr. J. J. Velloso, com 129 plantas; 1 Dito feito no Brazil por F. J. M. Velloso, com 117 plantas; 1 Dito feito na costa de Angola por M. da Silva, com 256 plantas; 1 Dito feito no Cabo por M. Macé, com 83 plantas; 1 Dito feito no Perú, com 289 plantas; 1 Dito feito em Cabo Verde por J. da Silva Feijó, com 562 plantas; 1 Dito feito em Goa, com 35 plantas; 1 Dito feito na Cochinchina por Loureiro, com 88 plantas; x ca 1 Herbario feito na Suecia pelo dr. Thunberg, com 182 plantas; 4.º 5 Manuscriptos, que são: Flora fluminensis. Curante J. M. Velloso. 11 vol. in fol. Profectura fluminensis. Descriptiones plantarum sponte nascen- tium. Curante J. M. Velloso. 2 vol. in fol. Specimen flora America meridionalis. 4 vol. in fol. Plantes du Pará. 1 vol. in fol. Lepidopteri profecturae fluminensis. 14 vol. in quarto. Todos estes objectos entregou Vandeli por ordem do general Junot a Geoffroy Saint-Hilaire, em 3 e 42 de junho e 4 de agosto de 1808. De todos elles apenas nos foram restituidos em 1814 os manuscriptos. No relatorio que tive a honra de apresentar ao conselho da escola polytechnica, ácerea da minha viagem scientifica ao estrangeiro em 1859, publicado no Diario de Lisboa de 2 de janeiro de 1860, dei conta do modo por que encetára em Paris as negociações para haver do jar- dim das plantas um donativo de objectos zoologicos, em compensação dos que haviam sido levados do gabinete da Ajuda, nos seguintes termos: «Durante a minha residencia em París pareceu-me conveniente ten- tar obter do jardim das plantas, não a restituição dos exemplares que aqui recebêra em 1808, mas o donativo de algumas das colleeções que este magnifico estabelecimento possue em duplicado nos seus Vas- tos armazens, como justa compensação do que devia ao nosso, hoje tão acanhado, museu. «Para não se dever solicitar a restituição dos antigos exemplares do museu da Ajuda havia, alem de outras rasões, a consideração do tempo decorrido e a de que bem se poderiam considerar hoje como proprie- dade da França essas collecções, que só nas mãos dos sabios france- zes se haviam tornado uteis à sciencia. O bom uso legitimava assim a posse. Pelo contrario um donativo, que se fundamentasse n'aquella divida de meio seculo, não poderia encontrar opposição da parte dos dignos administradores do jardim das plantas, todos homens de scien- cia e dos mais illustres da França, incapazes por certo de repellir este favoravel ensejo de pagar uma divida importante e riscar da me- moria de uma nação amiga a recordação de uma violencia injusta. «Obtida do nosso governo a devida auctorisação, emprehendi essa negociação delicada. Auxiliado pelo nosso representante em Paris, o sr. visconde de Paiva, a quem desejo consignar aqui os meus since- ros agradecimentos pela sua constante e efficaz coadjuvação, tive a felicidade de submetter a minha pretensão ao ministro da instrucção publica, de quem depende o jardim das plantas, e de a ver favoravel- mente acolhida d'aquelle alto funccionario. « Nutri por algum tempo a esperança de alcançar em breve espaço a auctorisação precisa para haver do jardim das plantas uma boa collecção zoologica, escolhida de erftre os seus duplicados; e lisonjea- va-me de ser eu mesmo quem fosse incumbido da escolha desses objectos, o que seria de alguma vantagem para o museu de Lisboa. Obstaculos porém alheios ao assumpto impediram a realisação d'es- tas esperanças. O ministro da instrueção publica saiu de Paris antes de ter podido resolver inteiramente este negocio: os professores-ad- ministradores ausentaram-se igualmente d'aquella cidade, senão to- dos, ao menos em grande parte por ser então a epocha das ferias: o tempo da minha licença estava a findar; e na incerteza de obter pro- rogação della tive de partir immediatamente para Londres, a fim de completar a minha viagem scientifica e regressar ao meu paiz. Antes porém de deixar Paris consegui que mr. Is. Geofiroy Saint-Hilaire me auctorisasse a visitar as colleeções de mammiferos e aves que se acham nos armazens do museu de Paris, e a escolher condicional- mente, de entre os exemplares que não são destinados às galerias d'aquelle rico estabelecimento, os que me parecessem de mais vanta- gem para o nosso museu. Penhorou-me summamente esta obsequiosa condescendencia do distincto professor do jardim das plantas: aceite elle, bem como mr. Florent Prevost, que me acompanhou e dirigiu neste trabalho, a sincera expressão do meu vivo reconhecimento. «Com a minha retirada de Paris não ficou comtudo nem perdida nem mesmo abandonada a negociação que eu emprehendéêra. Tomou-a a si o sr. visconde de Paiva, e collocou-a, segundo me consta, em mui bom andamento. ; «A justiça do pedido, a inteligencia e zêlo do actual negociador, o interesse que o nosso governo ha de de certo tomar por este negocio, de que o informei minuciosamente, tudo promette um exito favoravel. « Se, como espero, o jardim das plantas convier em solver com gene- rosidade a sua divida, resta ainda fixar a escolha do que possa convir melhor ao museu de Lisboa; o que se conseguirá incumbindo-a a pes- soa competente, e que tenha previo conhecimento do estado em que hoje se acham as nossas collecções zoologicas.» Realisaram-se effectivamente as minhas esperanças. Pouco tempo depois da publicação do meu relatorio, recebi de Paris, por interven- cão do nosso ministro n'aquella côrte, a collecção de mammiferos e aves (e que escolhéra de entre os duplicados do museu de Paris, e uma interes- sante colleeção de reptis e peixes que o respectivo professor, mr. Du- meril, se prestou a enviar-me com a maior benevolencia. Em 14860 voltei novamente a França em missão de governo, e pareceu-me que devia ainda por essa occasião diligenciar o donativo de exemplares de outros ramos da zoologia, que a primeira remessa não comprehendêra. Estas diligencias, em que muito me auxiliou o meu amigo o dr. Ma- thias de Carvalho, distincto lente da universidade de Coimbra, foram coroadas de bom exito. Mr. Milne-Edwards, professor de entomologia no jardim das plantas, prestou-se da melhor vontade a seguir o exem- plo dos seus collegas; e fez apartar das collecções que tem a seu cargo um variada e numerosa collecção de insectos e crustaceos, que veiu preencher no nosso museu uma das suas principaes lacunas. Alem d'isso tendo manifestado a mr. Dumeril a minha intenção de encetar alguns trabalhos ácerca da nossa fauna, logoque o nosso go- verno me desse os meios indispensaveis para isso, e as difficuldades em que me via de obter os representantes da erpetologia e ichthyo- logia europeas, sem os quaes me seria impossivel determinar com se- gurança as especies de Portugal, o sabio professor offereceu-me do melhor grado todos os reptis e os peixes de agua doce da Europa de que podia dispor n'aquella occasião. Seja-me licito aproveitar mais este ensejo para exprimir aos dis- tinctos professores que acabo de mencionar, a mr. Isidoro Geoffroy Saint-Hilaire, que substitue dignamente seu ilustre pae, a mrs. Pu- cheran e Florent Prevost, seus naturalistas adjuntos, a mr. Kiener, con- servador do jardim das plantas, a mrs. Lucas e Blanchard, e a todos os naturalistas e empregados d'aquelle importante estabelecimento que tive a fortuna de conhecer, o meu profundo reconhecimento pela benevolencia com que me acolheram sempre, e pela extrema cordiali- dade com que me franquearam o auxilio do seu saber e da sua po- sição. Parece-me justo concluir esta nota dando uma idéa do que sejam as collecções que obtive do jardim das plantas, as quaes comprehen- dem, como já disse, alem das 4 classes de vertebrados, insectos e crustaceos: 1. Mammiferos, 24 especies e 24 individuos; de todas carecia o nos- so museu. Entre elles devem mencionar-se: Macacus rhesus, M. ne- mestrinus, Silenus veter, Paradoxurus typus, Felis leo, Felis conco- lor, Caracal melanotis, Myrmecophaga tamandua, ete. 2. Aves, 92 especies, 107 individuos; mui poucas, 2 ou 3, já exis- tiam no museu. Muitas são de preço, por exemplo: Platycereus Pen- E é qro nantii, P. eximius; Aprosmietus scapulatus; Eolophus roseus; Gera- noaetus aguia; Nyctaetus lacteus; Hiator lameligerus; Rhynchaca Capensis, Dromaius Novae-Hollandia, etc. 3. Reptis e peixes, 137 especies dos primeiros e 47 dos segundos. Tem a primeira collecção um grande valor scientifico, porque repre- senta, quasi na totalidade, as familias admittidas no tratado de er- petologia de Dumeril e Bibron, e muitos dos seus generos principaes. À segunda, com quanto menos numerosa e importante, tem ainda para nós o grande merecimento de supprir faltas que difficilmente preen- cheriamos por outro modo. k. A collecção offerecida por mr. Milne Edwards, consta de 28 es- pecies de crustaceos, 628 especies de coleopteros, 30 especies de hy- menopteros, 405 especies de lepidopteros, 4 especies de orthopteros, 25 especies de hemipteros; ao todo 1:120 especies, = B O que era em 1858 a secção zoologica do nosso museu? As colleeções zoologicas que encontrei quando tomei posse da di- reeção da secção zoologica do museu constavam do seguinte : 1. Uma collecção de mammiferos, de que apenas temos podido sal- var uns quarenta exemplares, mal preparados e quasi todos mal clas- sificados ou por classificar. 2, Uma coileeção de aves, na qual se apurará quando muito uns duzentos exemplares capazes de figurar nas galerias do novo museu. Tinham quasi todos nomes latinos nas etiquetas, mas à classificação precisou ser revista e emendada. 3. Reptis e peixes, alguns preparados a secco, a maior parte em es- pirito de vinho. Estavam em grande parte por classificar, e a varios até faltava a indicação da procedencia. h. Conchas. De todas as collecções era a mais numerosa. Tinha sido classificada e coordenada pelo dr. Franco; mas infelizmente o classi- ficador, desprovido dos livros indispensaveis, não pôde fazer obra que inspire confiança. Não podemos dar ainda a cifra exacta das es- pecies, que procuraremos determinar logoque tenhamos concluido ou- tros trabalhos e alcançado os livros que deli auxiliar-nos no seu estudo, à. Insectos, Reduziam-se a algumas caixas de lepidopteros do Bra- Ee zil, em parte deteriorados, uma pequena collecção de insectos de Afri- ca, e outros sem designação de localidade. Póde-se dizer que a ento- mologia não estava ali representada. h. Crustaceos. Geralmente do Brazil e da Africa, mas em pessimo estado de conservação. O sr. Felix de Brito Capello, que está fazendo interinamente as vezes de nosso naturalista-adjunto, tem podido, graças à sua intelligencia, habilidade e decidida vocação pelo zoolo- gia, restaurar ou antes reconstituir com os materiaes que achou obra de 30 a 40 especies. 6. Zoophytos. Em pequeno numero e em mau estado. Era sobretudo pobrissimo o museu em productos zoologicos do nosso paiz. Se exceptuarmos algumas conchas, e essas mui poucas, alguns peixes da nossa costa (resto de uma colleeção oferecida pelo duque de Palmella, e que se perdeu quasi inteiramente por se lhe não renovar a aguardente) e varias aves, que o nosso amigo e collega o dr. Costa mandou preparar no curto periodo em que exerceu as funcções de classificador do museu, póde-se affirmar com verdade que a fauna de Portugal não tinha ali representantes. Que melhoramentos tem conseguido a secção zoologica do museu desde 1858 até hoje? Indicaremos mui summariamente as suas principaes acquisições. [| — coLLECÇÕES GERAES 1. Mammiferos: 157 especies. Figuram neste numero algumas ra- ras, e de custo, com são, o Chimpanzé, o Theropithecus gelada, o Tar- sius spectrum, o Galeopilhecus philippinensis, o Felis uncia, o Orycte- ropus capensis, a Capra-ibex, o Nyeteronetes procynioides, etc. N'esta, como em todas as collecções do nosso museu, tem sido e continua a ser nosso principal empenho reunir os representantes dos generos prin- cipaes, e alcançar ao mesmo tempo o maior numero possivel de es- pecies da Europa: em grande parte se vão realisando estes nossos desejos. 9. Aves: 1:127 especies e 1:343 exemplares. Entra neste numero uma bonita collecção de aves da Europa, que tenho conseguido pouco a pouco, actualmente rica de 272 especies 1, em que se não comprehen- dem muitas das mais vulgares. * As mais notaveis são: Gypaêtos barbatus, Aquila audax e Ag. nosvioides; Falco sacer; Strix lapponica, St. uralensis e St. nisoria, Ascalaphia Savignyi; Turdus sibiri- cus, T. atrigularis, T. fuscatus; Emberiza rutila, E. rustica; Alauda tatarica, A. sibi- rica, A. lencoptera; Loxia lencoptera; Reguloides pro-regulus; Fratercula Elacianis ; Lunda cirrhata ; Anas Stelleri, A. perspicillata. Ro: ra 3. Reptis e peixes. Alem das duas collecções, donativo de jardim die plantas, mencionadas na nota antecedente, adquirimos mais umas 50 especies das duas classes de vertebrados, algumas das quaes bas- tantemente raras e curiosas, taes são: o Menobranchus lateralis, o Me- nopoma alleghanensis, o amphiuma tridactylum, o Proteus anguinus, o singular chlamydosaurus da Nova Hollanda. k. Conchas. Em conehyliologia as nossas principaes a cquisições são : Uma collecção de quarenta representantes de generos que nos falta- vam. Uma collecção numerosa e interessante do molluscos terrestres e fluviaes de França. Mais de 300 especies de Cuba, Panamá e Perú, que devemos aos srs. D. Patricio Paz e Peres Arcas de Madrid, e Aranjo da Havana. Muitas conchas marinhas do Atlantico e Mediterraneo, bem classifica- das, e pela maior parte especies raras ou difficeis de obter no com- mercio. Mais de 1:009 especies de diversas localidades e procedencias. o. Insectos e crustaceos. Dos primeiros: uma pequena collecção geral, que consta de mais de 600 especies e contém representantes de familias entomologicas nas diversas ordens; e duas collecções as-' sás numerosas de hymenopteros e lepidopteros de França, as quaes “devemos ao nosso amigo e collega o dr. Sichel, de quem já em outra parte dissemos que deveria citar-se como um entomologista de grande merito, se não estivesse já na posse de uma reputação europea pela distineção com que prima n'uma das mais difficeis especialidades da medicina. Dos segundos: uma collecção de mais de 700 especies, que nos foi cedida por mr. Guerin Menneville. É uma collecção muito completa, rica sobretudo nos generos e familias de que é mais difficil obter re- presentantes. Com o que ficâmos possuindo n'este ramo erêmos que nos será facil chegar em poucos annos a reunir uma das melhores collecções carcinologicas, sem grandes sacrifícios pecuniarios. IH — coLLEOÇÕES DO PAIZ Temos conseguido os mammiferos mais communs, ou para melhor dizer os que attrahem a attenção de toda a gente, o lobo, a raposa, a doninha, o gineto, o sacarrabo, o gato-bravo, etc. Ainda não obtive- mos porém uma pelle do nosso lynce (vulgarmente chamado lobo-cer- val ou gato-cravo) em circumstancias de ser preparada e armada: faltam-nos inteiramente os morcegos e os ratos do campo, ratos de aqua, ratos toupeirinhos, etc. Em aves já temos umas 180 especies. Na lista dos nossos deside- rata indicâámos os que principalmente desejâmos. A) A Reptis já temos alguns, e entre esses contâmos como boa acquisi ções um magnifico exemplar da vibora ammodytes e varios specimens de salamandras e do Pleurodeles Wattlii, peculiar tão sómente à nossa peninsula. Peixes, insectos, crustaceos e zoophytos não temos por emquanto colligido por falta de tempo e de meios, por falta de espaço onde os collocar, e principalmente porque tendo de remover-se mui breve- mente o museu para o edifício da escola polytechnica, achámos mais rasoavel adiar a acquisição de exemplares, que exigem uma prepa- ração longa ou muitos cuidados para a sua boa conservação, para quando tivessemos melhor local, maior rumero de auxiliares e mais recursos. | | Temo-nos dado à colligir conchas: possuimos já um certo numero de especies marinhas, mas é às terrestres e fluviaes que nos temos especialmente dedicado. Das especies descriptas por Morclet, mui poucas são, se realmente existem, as que nos faltam, ES Ta pe E [º É É b LISTA DAS AVES DE PORTUGAL Dando uma lista das aves do nosso paiz é nosso intuito estimular a curiosidade das pessoas que estejam no caso de se poderem entre- gar a este interessante genero de investigações. A nossa lista comprehende : A 1.º As especies que sabemos existirem no nosso paiz, quer sejam sedentarias quer de arribação, e de que existem exemplares authen- ticos no museu de Lisboa ou na magnifica collecção ornithologica de el-rei; 2.º As especies de que não podémos ver ainda exemplares captu- rados em Portugal, mas que presumimos com segurança deverem tam- bem encontrar-se cá, por terem sido observadas em Hespanha e no meio dia da França; 8.º As especies que não conseguimos observar no nosso paiz, e a respeito das quaes não ousâmos aifirmar com igual confiança que de- vam encontrar-se regularmente. "As primeiras vão marcadas com o signal (x); as segundas não le- vam indicação alguma; as terceiras são precedidas de um ponto de interrogação (?). ; Juntâmos aos nomes scientificos, com que são hoje geralmente de- signadas, os seus nomes vulgares, sempre que os podémos alcançar. Como estas denominações variam muitas vezes de umas para outras localidades, ficaremos muito reconhecidos ás pessoas que nos quize- rem indicar as variantes que tenhamos omittido. Parece-nos tambem conveniente juntar a cada especie a synonymia franceza. Alem das obras de Bufion que andam nas mãos de muita a) Na o gente, existem em francez obras mais recentes sobre a ornithologia curopea, às quaes terão de recorrer as pessoas que quizerem dar-se ao estudo das nossas aves; taes são, por exemplo, a Ornithologia eu- ropea de Degland, e a excellente obra de Temminck sobre o mesmo assumpto. Entendemos portanto que a synonymia franceza poderá con- correr para auxiliar os principiantes, encaminhando-os ao conheci- mento das especies. E Temos conseguido dotar o museu de Lisboa com uma excellente colleeção de aves da Europa; por isso as especies de que não possui- mos ainda exemplares portuguezes, acham-se ali, na maxima parte, representados por exemplares da Allemanha, da França, da Italia, etc., os quaes franquearemos da melhor vontade ao exame das pessoas que os desejarem estudar. ACCIPITRES. AVES DE RAPINA * 4 Gyps fulvus. (Gm.) Syn. frane. Aigle imperial. Nome vulgar, Grifjo. Obs. Nas serras do Alemtejo : Villa Syn. franc. Le griflon. Vicosa, Borba, etc. Observações. Vulgar no Alemtejo. 6 Aquila nosvia. Br. x 2 Vultur monachus. (L.) N. vulg.? Nom. vulg. Pica-osso. Syn. franc. Aigle criard. Syn. franc. Vautour arrian. Obs. Alemtejo, Ribatejo. * 7 Aquila Bonelli. La Marm. N. vulg.? * 3 Neophron perenopterus. (L.) | Obs. Commum nas immediações N. vulg.? de Coimbra. Syn. franc. V. Alimoche. Obs. Frequente na serra da Lou- | 8 Aquila pennata. (Gm.) Zà. N. vulg.? Syn. franc. Aigle botté. i x 4 Aquila chrysetos. L. N. vulg. Aguia real. 9 Haliaetus albicilla. (Br.) Syn. franc. Aigle royal. N. vulg.? Obs. Em todas as montanhas de | Syn. franc. Le Pygargue. Portugal. x 410 Pandion haliaetus. (L.) * à Aquila heliaca. Sar. N. vulg. Aguia pesqueira? N. vulg. Aquia imperial. Syn. franc. Le Balbuzard. : p h Sm E x nd . Pç 7 a l , - Edi 1 Ex “E. | o o | a | ad ni o p is a o ” ; l E | | “ A E | | E pe ” - E : l | | | E ) e o eu " 5 o SS. o o E = 1: E e nã sz = q Re - 0 Ê = a ] | | = : | | | e . . = = E o DO a eo l = a 5 E = | | | | | o E noi a ED a. . q | * U E » = o EN , | A o fd e 7 na j : | | ; , E) ea = ' há - z E af - [a . | ; | E , à E | | | | o — = e o | | = l o o o sr 11 É | | . | : E; Po : o É o - n = ” EE y . , ii Ro o há o ray Ui Es , | E | E l ; | cw o o : “ : : . . | o As o Ea Re a = = o = I o | | | | = E =. 1 E o E r N | Da l bi E ali | l = nv R E] o E E o E ne n E o K . l o Es ' - E | | | | na e " E E . 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