;.-> HE NEW YORK BOTANICAL GARDEN BROIMX, NEW YORK 10458 (U Cd •i-i ^^ (D , O u I— < o Q Í3 TJ 1 HORTICETUBA FBATIC Premiado com MEDALHA DE PRATA na Exposição Hortícola de LisLoa de iW. PROPRIETÁRIO -JOSÉ MARQUES LOUREIRO Redactor— OLIVEIRA «ffJIVIOR COLLABORADORES : EM PORTUGAL— Os Snrs. : Albano CoxitintLO, Dr. Basílio Constais tino d.e Alnneida Sann.paio, Con.selti.eiro Cannillo ATj.relian.o da Silva e Soiaza, Ednn.on.d. Goeze, Geor-ge A. "Wheelti.o-u.se, Joaqiainn. Casimiro Barbosa, Dr. JtjiIío A-u.gTj.sto Hen.riq;iaes, Viscon.de de Villa Maior. EM FRANÇA, Mr. A. Du.mas. NA BÉLGICA, Mr. Jean Verscliaffe] t. NA ALLEMANHA, Herr. G. Pabst. VOLUME 1—1870 PORTO— 1870 TypograptLia Lusitana 84, rua das Flores. 84 V. 1-2 1 875-7 i índice PAG. Ahutilon Thompsoni e o contagio do varieírado dos vegetaes . 140 Acácia melanoxylon ... 75 Agave Verschajfelti . . . 188 Afjricultnra (A) em Portugal etc. 11, 26 Allamanda Hendersoni . . . 188 Ameixieira de Agen ... 27 Amoreiras (As) .... 41 Ampelographicos (Estudos) . 33, 49, 65 Aquários . . . . 154, 167 Arai ia papyrifera ... 5 Aucuhas . ..... Aucuhas do Japão Azeites premiados na Exposição de Lisboa Bananeiras ..... Batata commum (Sementeira da). Bibliographia : «Breve noticia so- bre o Eucalyptus glohulus e a utilidade da sua cultura em Por- tugal» ..... Bibliographia: «Revista Agricola do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura» .... Billbergia Leopoldi Bcehmeria tenacissima . Breves instrucções sobre o modo de expedir sementes e plantas das províncias ultramarinas Bromus schr aderi. Brussa e o monte Olympo, seus ba- PAG. 96 39 138 55 54 158 106 45 133 6,28 173 nhos e aguas mineraes,vegetaçao que reveste e orna a região. 165, 189 Calceolarias ..... 73 Calendário do Horticultor : — Janeiro . 14 Fevereiro 29 Março 46 Abril . 61 Maio 80 Junho 97 Julho 114 Agosto . 129 Setembro 145 Outubro. 159 Novembro 178 Dezembro . 193 Callistephus i zhinensis 128 Camellia Bainha Santa Isabel 154 Ciironica: — Janeiro 15 Fevereiro 30 Março . 47 Abril . 62 Maio 82 Junho 98 Julho 115 Agosto . 130 Setembro 146 Outubro. 160 Novembro 178 Dezembro 194 VI índice Cinerarias Cie mat is Ja ckmani Cofeus . Coleus novos. Convallaria majalis Couve (ele.) . Couve (Cultura da) Couve de tícJiireiiifnrth Crt/pfomeria elegans Ditlytra spectabilis Draca'nas Drnccrna anstralis Draccrna ruhra í2str..tiHcaçào. Estudos anipelof^raphicos . 33 Exposição llorticola no Porto Exposição llorticola de Lisboa (Azeites premiados) . Exposição de rosas no Porto Fecundaçào artiticial Ficus carica .... Figueira Castle Kennedy Fichsia arborescens Gh/cinia Godxcinia Gigas . Golpe de vista sobre a botânica de Portugal .... Gnssf/pium he.rhaceum . Gyneriíim argenteum Hidiconia aurantiaca . Hihiiicus sptciosus . Horticultura no Porto (A) . Introducçào .... Iresine Lindeni Irrigarjlo .... Jaclutlius .... Luraugeiras (Modo de reproduzi as) Lnrangeiras (^Propagaçào das) Lifiuiiis . Livisfuna australis. PAG. 53 156 13 125 177 8 10 9, 42 89 105 120 107 107 171 49, 05 94 108 138 79 117 123 124 61 88 106 85, 101 192 74 108 7 126 l 88 186 174 56, 93 134 128 168 PAG. Loniceras 190 Maça Calville Garibaldi . . 92 Macieiras 90 Milho japonez de folhas estriadas. 59, 78 Modo de substituir a rega . . 157 Morangueiros . . . . 36, 52, 68 Mostarda de Pekin ... 80 Nidularium fulgens . . . 152 Papyrus anti quorum . . . 13o Pêra General Totleben ... 24 Pereiras ..... 22 Phaseolus caracalla . . . 135 Phylloxera vastatrix . , . 139 Pinus laricio .... 104 Plantas de cultura difficil, 53, 73, 92, 128 Poinciana Gilliesii . . . 187 Poraologia, plantação e cultura dos pomares 149 Primula auricula. ... 92 Ramé . . . . . . 133 Rainha (A) Santa Isabel protegen- do a agricultura . . . 176 Rega (A) e o modo de a substituir. 157 Revista do anno 1870 . . . 181 Rosa François Lacharme . . 56 Roseiras . . . .18, 43, 76 Sanchezia nohilis . . . • 193 Semeador mechanico . . . 112 Sementes (Connnercio de) . . 25 Sementeiras de Milho . . . 14-3 Sfíricicultura ..... 70 Stephanotis Jloribunda . . . 155 Strelitzia regince . . . . 136 Uva Moscatel preta de Hamòurgo. 172 Variegado (Contagio do) . . 140 Victor ia Regia . . . . 167 Vinhataria (Da desfolha) . . 107 Vinhataria (Da poda) ... 87 Viveiros 3 17 Wigandia caracasana . . . 21 Wistaria chine7isis ... 88 ÍNDICE VII GRAVURAS PAG. PAG. Arado volteador, de aivecas mo- Draccena australis • 121 veis, para terrenos montanho- Frasco para Jacinthos . , 175 sos 160 Livistona australis , 169 Aralia papyrifera 5 Lonicera brachypoda^ var . foliis Billbergia Leopoldi . ' . 45 aureo-reticidatis. . 191 Caixão Ward, ou estufa de viagem Milho japonez de folhas estriadas 60 (forma geral) .... 28 Morango Ahd-el-Kader. 37 Caixão Ward, ou estufa de viagem » Alexandra 69 (secção longitudinal). 28 » Amazone. 37 Convallaria majalis 177 » François-Joseph li 53 Couve de Sckweinfurth . 9 » Gabrielle 53 Cryptomeria elegans 89 » Passe-partout. 69 Cylindro para comprimir o solo . 144 B Penélope. 69 Estirpador para limpar a terra . 144 » Perfection 69 Dielytra spectahilis (Flor da) an- Nidiãarium fidgens 153 tes de desabrochar . 105 Poinciana Gilliesii . 187 Dielytra spectahilis (Porte geral Semeador mechanico . 113 da) 105 Sfreliizia reginm . 137 Dielytra spectahilis (Flor aberta Wigandia caracasana . 21 da) 105 LITHOGRAPHIAS PAG. PAG. Ahutilon Thompsoni 140 Heliconia aurantiaca . 108 Agave Verchajjdti. 188 Hihiscus speciosiis. 8 Aucuha japonica latimaculata 40 Mayã Calville Garibaldi 92 Cíematis Jackmani 156 Pêra General Tutlehen . 24 Figo Castle Ktnnedy 124 Rosa François Lacharme 56 Gynerium argenteum . 74 Uva Moscatel pjreta de Hamhui 90 172 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Proprietario-José íarques Loureiro INTRODUCCAO Eis o primeiro numero do Jornal de Horticultura Pratica. Ao entreg-armos aos destinos da publicidade o primeiro fructo dos nossos esforços, seja-nos licito acomj^anhal-o de algumas pala- vras, em que faremos por não fatigar o espirito dos que nos lêem. Quando lançamos os lineamentos da presente publicação, gra- ves, grandissimas difliculdades se nos antolharam. Chamar a attenção do publico para um ramo de cultura que ain- da não tem entre nós a importância devida; encontrar da parte das pessoas competentes a coadjuvação necessária para uma publicação de tal género; completar a sua verdadeira utilidade associando-lhe a gravura como auxiliar indispensável que é; proporcionar emfim aos amadores e ao publico, em termos razoáveis, ura guia mstru- ctivo e que satisfizesse a necessidade que se fazia sentir: eram diííi- culdades bem graves, e contra as quaes a nossa boa vontade bem podia esmorecer. Não nos desalentou, comtudo, a serie de obstáculos que acabamos de enumerar; confiamos na aptidão do espirito publico para acolher benevolamente uma tentativa do género da que emprehendiamos e não nos illudimos ; confiamos na dedicação dos cavalheiros a quem nos dirigimos solicitando a sua esclarecida collaboração e não nos enganamos. Pelo que respeita á parte material e á essencial condi- ção de barateza que tivemos em vista, não duvidamos sacrificar a contingências quanto fosse preciso para que a nossa publicação me- recesse o favor publico. Eis sob que auspícios apparece a lume o primeiro numero do Jornal de Horticultura Pratica. O nosso pensamento virá a produzir os mais fecundos resultados, se o auxilio com que contamos nos assistir. Se n'esta nossa convic- ção ha vaidade, accusamo-nos réus d'ella, mas não sabemos occultar o que nos parece ser a verdade. Ainda ha bem poucos annos a horticultura era uma distracção limitada aos ensaios de alguns poucos amadores. O progresso gej-al fecundou esta planta descurada e alguns fru- 1870 — Vol. !.• N.« 1 —Janeiro. iNTliODUCÇAO. ctos mais robustos vieram opiilental-a. Mas quanto não está ella ainda longe de attingir o grau a que em paizes mais adiantados tem chegado? A horticultura, entre nós, tem como a agricultura e em geral todos os ramos da industria humana, seguido com passo vagaroso os aperfeiçoamentos modernos. O espirito de rotina, algumas cala- midades publicas e o culto exaggerado ao idolo da politica, teem-nos desviado do verdadeiro caminho do progresso em todos os ramos. Applaudimo-nos, porem, porque vemos que para a horticultura um horisonlc esperançoso se abre. O gosto pelo cultivo de plantas vae tomando "-ladual desenvolvimento, o numero dos amadores vae augmentando, a instrucção sobre este interessante ramo de conheci- mentos ja deixa de ser julgada nma supei-fluidade. Estabelecendo o Joknal de Horticultura Pratica, cujo primei- ro numero o leitor tem diante de si, o nosso fim foi dar-lhe não um caracter es})ecial e exclusivo, mas o que, em conformidade com a lata significaçào do seu titulo, podesse ser útil ao maior numero de j)essoas. E pois que tocamos n'este ponto, seja-nos licito definir bem a Índole d'esta i)ublicaçrio, os assumptos que ellacomprehenderá dentro dos limites fpic julgamos lhe são marcados pelo titulo que adoi)tou. Horticultura — na accepção restricta da palavra — definia-se a arte de cultivar os jardins. Quem diz jardim, diz reunião de todos os vegetaes, qualquer que seja a sua natureza ou procedência, o grau de desenvolvimento que attinjam, os usos ou applicações a que se destinem. Debaixo d'este ponto de vista, pois, a horticultura é a cultura universal de que sào, não partes integrantes, mas applicações^espc- ciaes, a agricultura, a arboricultura, a floricultura, a viticultura, ctc, ou para melhor fazermos comprehender o nosso pensamento, é a arte de cultivar, nndtiplicar e aclimar os vegetaes. Cumpria-nos fazer esta advertência para que ás pessoas que vul- garmente tomam a horticultura como synonymo de floricultura ou jardinagem, nào causem estranheza os diversos assumptos que no decuiso d'esta publicação mais ou menos desenvolvidamente forem tractados. Esclarecido assim o plano que nos propomos adoptar e por con- seguinte a nossa posição com relação aos nossos leitores, resta-nos fazer votos para que o Jornal de Horticultura Pratica encontre no publico acccitação egual á boa vontade e desinteresse com que nos rosolvcmos d sua publicação. Se o conseguirmos, dar-nos-heraos por felizes, pois esse lison- geiro acolhimento será uma prova de que a horticultura adquire em Portugal o crescente desenvolvimento que pela sua importância lhe compete. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA VIVEIROS Para promover a cultura das arvores de fructa e de ornaiuento, e das madei- ras de construcção, é de incontestável uti- lidade ura viveiro estabelecido segundo as regras da arte e convenientemente culti- vado. Em qualquer parte onde elles appare- çam, sao sempre uma prova do interesse que o publico, e até as pessoas estranhas á horticultura, tomam pela cultura das ar- vores. Logo que o lavrador saiba com cer- teza onde pode comprar por preço razoá- vel arvores de boa qualidade, que lhe afiancem um lucro seguro para o futuro, nno poupará despezas nem trabalho para adquirir ao menos algumas bonitas has- tes : as arvores anãs para o jardim, as ar- vores de fructa para o pomar e as madei- ras para os terrenos baldios; e tudo isto sahe e deve necessariamente sahir do vi- veiro, se a pessoa que possue alguns cam- pos quer dar um destino útil áquellas porções de terra, de que não quer ou não sabe aproveitar-se para outra cousa. E com effeito os fundos empregados na cultura das arvores e principalmente das arvores de fructa, dão em poucos annos interesses avultados. Sobejam os exemplos para provar esta verdade ; ha povoações inteiras que devem a sua pros- peridade ás arvores cultivadas; ha parti- culares que enriqueceram em pouco tem- po, plantando Macieiras, Pereiras, Laran- geiras, etc. Mas não é meu intento enu- merar aqui todas as vantagens que se podem tirar d'essa cultura, nem tão pouco descrever o prazer que resulta d'esse agra- dável passa-tempo. Quero somente con- signar os resultados das minhas experiên- cias e das observações que fiz nos esta- belecimentos de horticultura em França e Alleraanha, e expor as minhas ideias so- bre o estabelecimento dos viveiros e so- bre o tractamento, que, a meu ver, pro- duz maior somma de compensações para o trabalho e para o dinheiro gasto n'elles. Para obter arbustos e arvores bonitas e dignas de plantar-se, convém escolher um terreno que pela sua posição fique exposto, quanto possível, ao sul, e abri- gado do norte por qualquer obstáculo na- tural. Esta ultima condição é essencial, principalmente nos paizes onde domi- nam as nortadas, porque durante o ve- rão seccam as plantas ainda pouco desen- volvidas, e no inverno impedem o cresci- mento e ás vezes aniquilam completa- mente a vida das vergonteas. Um solo li- geiramente inclinado ao sul ou sudoeste, ou situado n'uma planície, é o mais con- veniente para o estabelecimento de ura vi- veiro, principalmente quando as condi- ções geológicas, de que mais tarde falla- rei, são as que devem ser. Os viveiros estabelecidos nas encostas muito rápidas soffrem consideravelmente com as grandes chuvas, as quaes levam facilmente a maior parte da boa terra; porém seccam -se e definham-se também rapidamente, faltan- do-lhes a chuva. Os valles estreitos oífe- recem egualmente grandes desvantagens: são quasi sempre muito húmidos, pouco arejados, e cobertos, durante uma gran- de parte do anno, por nevoeiros espes- sos. As arvores de fructa nunca se dão bem com taes condições de terreno; fi- cam rachiticas, succumbem á gangrena e a outras enfermidades, e nunca fornecem troncos que possam durar muitos annos. As terras argilosas e arenosas, conten- do algum húmus, são as que convêem mais aos viveiros. Os bons resultados depen- dem principalmente da profundidade d'es- ses terrenos, a qual nunca deve ser me- nos de 60 centímetros. Os solos ferru- ginosos ou simplesmente arenosos não pro- duzem arvores de boa qualidade. Quando o terreno é demasiadamente húmido, ou quando deixa passar facilmente a agua, por ser muito poroso, é preciso melhoral-o, ou por meio da abertura de fossos ou por meio de uma drainagem artificial. Os sub- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. Bolos calcareos ou saibrosos tambcni se ílevoín cultivar pirviaincnte, ou, se esta cultura fôr muito disjiendiosa, será con- veniente planUir n'elled arvores de caro- ço, taes como Pecegueiros, (Amygdalus jjtrHtca), Ameiãieiras (Prumis domesti- ca), Dnmasquiiros (Prtmu.s armeniaca), ou outras arvores de ornamento e madei- ras, que BC derem bem com taes condi- ções; pois essa é a única maneirado tirar (rdles ,-d;,'um proveito. Escolhido o terreno n'cstas condições peolop^icas e climatéricas, convém dividil-o em compartimentos, principalmente se as dimensões admittem o estabelecimento de um viveiro em ponto grande. Esta divi- sHo faz-se por meio de ruas, que separan) as diversas secções, destinadas cada qual a uma cidtura especial. A repartição mais conveniente é a scíruinte: Secção I. D II. » III . IV. Sementeiras. Estacas e meríi"ulhos. Enxertos. Estação para as transplan- tações. A secção quarta deve ter uma super- fície ao menos três vezes maior do que a das outras três juntas, e ficar estabeleci- da n'imi terreno, onde o subsolo seja o mais baixo j>ossivel, porque é alli que as arvores param mais tempo e podem dei- tar raizes mais profundas. As três pri- meiras secções separam-se da quarta por imia rua principal, larira de três metros, ])ara que lun carro ji()issa ^irar nella coni- modamente ; para todas as outras ruas bas- ta um metro de largura. Sa o terreno íor húmido, será conveniente que as ruas fi- quem mais baixas do que as secções, ])ara dar j)assagem ás aguas ; no caso contra- rio será lj<»m elevar o nivel das ruas á al- tura da terra das secções, para evitar que as aguas das chuvas se esgotem sem pe- netrar no terreno. NoH viveiros maiores o numero das t«ecçõí>H augmenta. Deve entào haver re- partieõ(<8 ])ara arv(»res e arbustos de fru- cta, subdivididas ctu secções j)ara as arvo- re» de jKívide (Macieiras, Pereiras, etc.), arvores do caroço {Ameixieiras, Cerejei- ras, etc .) , arvores de espinho {Larangeiras, etc.). Depois, secções para as arvores flo- restacs de folhas caducas, outras para as arvores e arbustos de ornamento, de folhas caducas, outras para as arvores e arbus- tos de folhas persistentes, etc. O numero d'csses compartimentos depende das di- mensões dos terrenos; se forem nniito gran- des nao será difficil assignar uma secção especial a cada género e a cada varie- dade. Prcpara-se o terreno por meio de re- gueiras; segundo este systeina, queé o mais conveniente, cava-se o solo n'uma profun- didade de 0,'°60 a O, "'70. O methodo geralmente adoptado é o seguinte : Cava-se um fosso de um metro de largura e de 0,^60 do profundidade, que vae de uma extremidade da secção, des- tinada a ser preparada, á outra, seguindo sempre o comprimento do terreno; trans- porta-sc a terra d'esse fosso para o lado opposto da secção; depois faz-se um se- gundo fosso, que tenha as mesmas dimen- sões e deita-se a terra no primeiro, de modo que a camada superior fique no fun- do, onde as raizes, que penetram profun- damente no solo, encontram entào um bom terreno. Continua-sc assim, enchendo sera- })re o fosso aberto com o fosso seguinte, até se chegar ao ultimo, o qual recebe a terra que fica de reserva do primeiro. Só os terrenos exhaustos por outras culturas antecedentes precisam de adubo; mas o estrume deve estar inteiramente apodrecido, se a 02)eraerio se faz com es- terco. Nunca um adubo de proveniência animal fresco deve tocar as raizes, pois que prejudica muito quasi todos os géneros de arvores c até mata com facilidade algu- mas. Para estrumar os viveiros onde as plantações devem começar pouco depois, a terra composta c preferível ao esterco animal apodrecido. No caso contrario ó melhor cultivar no terreno, durante al- guns annos, hortaliças e outras phmtas de campos lavrados. Para a creaçào de bel- las arvores de fructa este ultimo methodo de adubar é mais vantajoso. GOTTIIOLD PaBST. (Conclue no próximo numero). JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. ARALIA PAPYRIFERA Das diversas espécies que comprehen- de a família das Araliaceas, umas são trepadeiras como a Hera, outras arbo- rescentes como o Panax-crassifolius da nova Hollanda. A Aralia 'papyrifera, originaria da Ciiina, pertence a estas ultimas. O seu porte deslumbrante e nobre torna-a mui recommendavel para os jar- dins e com especialidade para os parques. Fig. 1. — Aralia Papyrifera. A sua excellencia, porém, é mai§ como planta ornamental do que em razão da bcUeza das suas flores. Todavia estas não são inteiramente destituídas de graça 5 a sua inflorescencia umbelliforme attinge até um meti'o de diâmetro, e n'este caso ofFerece um aspecto agradável, que au- gmenta o bom efFeito da belia e larga fo- lhagem desta planta, A gravura annexa (jirj. 1) representa a planta em todo o seu esplendor e antes da florescência. O caule mede aproximadamente dous metros de altura e as folhas palmatiloba- das são sustentadas por longos pecíolos de Oj^^lb de comprido. Advertiremos, porém, que este exemplar tem apenas dous annos, e se não for assoberbado por outros arbus- tos, poderá facilmente attingir um caule de dous ou três metros, nltura que vulgar- mente attinge no paiz d'onde é originaria. A medulla destes caules, branca, fina e abundantíssima, pôde ser applicada ao fabrico de papel (papyrus), circumstancia a que esta planta deve a denominação de papyrifera, que lhe dão os botânicos. o JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. Quanto á cultura, pareco-nos que o terreno vegetal e ura tanto areento é o que lhe convém melhor, havendo cuidado de lhe ministrar abundantes regas e dan- do-lhe a melhor exposição que possível 8cja para nào sofFrer com as neves. A multiplicação faz-se pelos rebentões que npparccem á superticie da terra. As plantas ornamentaes merecem todo o apreço do jardineiro que consciencio- samente se applica a reunir, no recinto que cultiva, uma collecção esmerada dos mais bellos productos vegetaes. Entre ellas, a que representa a nossa gravura é certamente apreciável, e pelas suas qualidades, que deixamos indicadas, não duvidamos recommendal-a á attenção dos amadores. Oliveira Júnior. BREVES INSTRDCÇÕES SOBRE O MODO DE COLHER E EXPEDIR SEMENTES E PLANTAS DAS PROVÍNCIAS ULTRAMARINAS Projecta-se fundar um Jornal de Hor- \ ticiãtiira, que terá por fim propagar e des- } envolver os conhecimentos e o gosto d este j ramo do saber humano. Mas este jornal | não se occupard só do que diz respeito á botânica e á horticultura no paiz ; isto depressa cansaria o publico ; deve abran- ger todo o reino vegetal, por assim dizer, e é debaixo d'este ponto de vista que me proponho hoje dar alguns esclarecimentos sobre o modo mais íacil de obter das co- lónias do reino um bom numero de plan- tas, que até agora eram desconhecidas ou pouco conhecidas, e que sem duvida tor- nariam 03 nossos jardins não só mais bel- los, mas também mais úteis e instructi- vos. Algumas plantas para a cultura entre nós podem ser introduzidas ou por se- mentes ou por tubérculos, bolbos, esta- cas, ou finalmente por meio de plantas novas já com raiz. Muitas sementes conservam-se sem al- teração por espaço de um anno e ainda mais tempo, e germinam facilmente ao cabo deste tempo, se têem sido colhidas perfeitamente maduras e conservadas em íogar sOcco. E' necessário deixal-as sec- car primeiro durante alguns dias ao sol ou em logar sGcco e bem arejado, seja ao ar livre, seja mettendo-as em saccos de linho ou de papel pardo, permeáveis íl humidade. Estas precauções com mais forte razão devem ser tomadas com rela- ção aos fructos carnosos e polposos, taes como as bagas, que se devem esmagar e fazcl-as scccar ao sol ou em papel pardo. Só quando ellas estiverem completamente sêccas, é que se devem guardar em sac- cos de papel almasso e conserval-as ao abrigo da humidade, mettendo-as em va- sos bera fechados de folha de Flandres, de vidro ou de barro, ou em saccos de pan- no gommado. Ha, porém, outras, principalmente as que contêem matérias oleosas, e que germi- nam muito pouco tempo depois da sua madureza, que não podem ser transpor- tadas com vantagem senão pondo-as era estado de começarem a sua germinação no decurso da viagem. Taes são, por exemplo, as dos Loureiros, CarvalhoSy de muitas Palmeiras^ de varias Conífe- ras, das Goyaheiras, ctc. O melhor meio de adequar estas se- mentes para a viagem, consiste em se- meal-as em caixões envidraçados ou estu- fas de viagem, de que mais adiante fal- larei, quer entre as outras plantas, quer sós, em caixas especiaes. Mas se não houver á mão os caixões envidraçados, também se podem metter em caixões ordinários ou barricas, dis- pondo-as em camadas alternadas com ca- madas de terra. Esta deve ser ligeira e um pouco húmida. Cobrem-se de uma ca- mada de terra de 3 centimetros, sobre a qual se lança outra de sementes e assim succcssivamente. O caixão deve-se con- servar em sitio sêcco e fresco, e sobre tudo ao abrigo da agua do mar. O transporte dos bolbos e tubérculos, taes como os das Liliaceas, Irideas, Dios- coreas, Orchideas terrestres, Aroideas, JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. Geaneriaceas, etc. , opera-se muito bem embrulhando estas partes com cuidado em musffo sêcco ou, melhor ainda, cobrindo-as com terra ou areia muito secca, de modo que encha totalmente o caixão. As Orchi- deas chamadas 'parasytas ou antes epiphrj- ias, de bolbos exteriores verdes, podem viajar em caixões de madeira, cheios de oriticios e conservados bem sêccos. Antes de as lançar nos caixões devem cortar-se- Ihes todas as folhas velhas, porque decom- pondo-se produziriam humidade. E ainda conveniente cercar as raizes de musgo sêc- co, ou de bocados de panno velho. Para as plantas carnosas, taes como as Cacteas e os Aloés, convêem as mesmas precau- ções. Coimbra — Jardim Botânico — 1869. EDMOND GOEZE. (Conclusão no próximo numero). HIBISCDS SPECIOSDS (ait.) MALVACEAS Do grande numero de espécies que contém a familia das Malvaceas, nenhuma, debaixo do ponto de vista das suas appli- cações úteis, deveria ser excluída dos nos- sos jardins. Umas sào empregadas pela medicina para diversos usos therapeuticos, outras pela industria em differentes appli- cações, e finalmente outras, pela belleza e colorido de suas flores, tornam-se um excellente ornamento dos jardins. Taes sào os titulos que nobilitam esta importante familia e lhe dào direito a que sobre ella se fixe a nossa attençào. Como planta ornamental, de todos os géneros d'esta familia, o Hibiscus é, sem duvida, o que se torna mais notável pela grandeza, esplendor e colorido de suas flo- res. E comtudo as numerosas espécies que constituem este género nào se encontram bastante, espalhadas nos nossos jardins, como era para desejar. Amadores e hor- ticultores, por um capiúcho da moda, re- jeitam bellissimas e boas plantas, para, pelo facto de serem novidades, as substi- tuírem por outras, que muitas vezes não valem as suas antecessoras. D'entre as espécies mais ornamentaes d'este género, que possuo para cima de cem, quasi todas originarias de climas quentes, citaremos alguns exemplos para mostrar aos amadores quanto devem col- leccionar e cultivar estas interessantes plantas. Hibiscus Cooperii, um dos mais bellos em razão das consideráveis dimensões de suas flores, que sào de um vivo colorido, e as folhas rajadas de trcs cores: verde, rosa e branco. H. Rosasinensis, cujas flores singe- las, dobradas ou semi-dobradas, são ordi- nariamente de um vermelho magnifico ; al- gumas vezes cor de rosa, douradas ou bran- cas. H. syriacus, de flores diversamente coloridas e dobradas segundo as varie- dades. H. mutabilis, notável pela mudança que soífrem as suas flores, que são bran- cas, depois cOr de rosa e finalmente pur- purinas. H. Cameronij de flores amarellas cora veios carmesim, e matisadas na base de vermelho purpurino. H. splendens, cujas flores sào enormes, de uma bella côr de rosa com manchas ver- melhas na base. H. Manihot, de flores de um araarello de ouro, centro carmesim. H. Àbelmoschus, cujas flores são gran- des, côr de enxofre, fundo escuro; e as suas sementes, em razão de um cheiro de almís- car muito pronunciado que têem, entrara na composição de perfumes. Finalmente muitos outros, que pela grandeza das flores e magnificência de colorido se tornam dignos de occupar ura logar distincto nas coUecções dos jar- dins. O Hibiscus speciosiiSj representado na estampa junta, é originário da Carolina austral e da Florida, onde habita as mar- gens dos rios. 8 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. É vivaz, de caule glauco, attingindo um a dons metros de altura, de folhas pal- madas, com cinco divisões lanceoladas, acu mi nadas c dentadas no vértice; tem a corolla patente, a capsula glabra, oval e pcntagoiia. Notável pela elegnncia do seu porte, grandeza e belleza de suas flores, que tcera 0,"'13 de largo e' suo de um vivo encarnado, c um dos mais bcUos para or- namento dos jardins pitorescos, onde pro- duz ura lindo effeito. Esta interessante Malvacea, que flores- ce durante o mez de setembro, gosta de terra macia, profunda e de uma exposi- yào um pouco sombria. Os líihiscus multiplicam-se, ou por se- mente ou por estacas. Quahjuer destes modos de multiplicação é muito erapre- rado. J. Casimiro Barboza. A COUVE BRASSICA (família das crucifcras) A Couve é o legume por excellencia ; o legume cosmopolita; arrosta impávida com os gelos da Laponia, e com os ardores da Negricia; S()bc arrogante os degraus alca- tifados do palácio do principc, e desce hu- milde á cabana do pegureiro. A abundân- cia dos seus productos, a sua superiori- dade sob o ponto de vista económico, a sua salubridade e facilidade de cultura, dào-lhe sempre a primazia no amanho das hortas. Da sua existência secular provem um numero quasi infinito de raças e varieda- des de propriedades differentcs. O cele- bre horticultor francez, >Jr. Vilmorin, do qual tomamos a classificação das Couves^ dividiu-as nas cinco seguintes classes: — 1.* as Couves calms ou Repolhos — de folhas lisas e ordinariamente de uma côr verde- mar; — 2.* as Couves de Milão — mais ou menos fechadas, de folhas crespas, e ge- ralmente de uma côr vcrde-escura ; — 'ò.'' as Couves verdes ou sem caheça — as quaes podem durar trcs annos e mais; — 4.^* as Couves de raiz c tronco carnudo; — õ.*"^ as Couves flores c Brócolos. Podemos grupar na 1.* classe: — o Fe- -pollio propriamente dito — o Iranco serôdio — o hranco de Hollanda de pó curto — o branco de York — o pão de assucar — o chato de Brunswick — o orlado de azid — o roxo grande — o roxo escuro pequeno — o anerjrado de Utrecht —o corarão de hoi — a Couve de tí. Diniz — o Repolho da Al sacia — a Couve cónica da Pomerania — a grande Couve de tíchu-einfurth da Allcraanha — a Coííuc Bacalan — e a Cou- ve Vaugirard. Na 2.* classe: — a Saloia dourada se- rôdia — a Sabóia dourada têmpora — a Sa- bóia verde encrespada — a Marciana — a Tronchuda hespanhola — a Penca ou Couve do Algarve, que devem considerar-se a mesma variedade — a Couve de Bruxcllas, que lança pequenos repolhos pelo tronco — e a Couve d'Ulm. Na 3.^ classe, Couves verdes on Couves sem rejyolJw, comprchendem-se todas as castas que nao criam repolho, as quaes oflereccm entre si as maiores disseme- Ihanças no aspecto , na fiirma, na côr e nas propriedades económicas. Tem ellas tanta rusticidade, que resistem muito mais ao frio que as precedentes. jMuitas, ao pas- so que servem de grande utilidade para a nutrição dos gados, servem egualmente para a alimentação do homem, e nas aldeias sào, frequentemente empregadas para este uso, sobre tudo durante o inverno, depois que as neves lhes amaciara as folhas ; o na primavera também se lhes aproveitam os olhos com vantagem, antes do desen- volvimento das flores. As principacs variedades d'esta classe são: — a Couve verde crespa — a rajada — a Couve gallega — a Couve cavalleiro ou Couve vacca — a Couve arbórea, qne se eleva a 2 metros e mais — a couve Lan- nisilis — a caidet de Flandres — a Couve ramosa do Poitou — a Couve vivaz deDan- benton; e muitas outras sub-raças menos importantes. A 4.^ classe — Couves de raiz o tronco carnudo. — As Couves d'esta classe distin- guem-se facilmente das três precedentes ■^fí^5S»ih. líiJ^iscu s s peei o sus JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 9 peLa intumescência do seu tronco e raiz, que vem a ser n'ellas o único producto útil, e apesar d'isso representam um gran- de papel na economia rural, e não são me- nos úteis á agricultura. As raças princi- paes d'este grupo são: — a Couve rábano ou Couve de Siam, cujo tronco engrossa aci- ma da terra, formando uma bola, no cen- tro da qual e sobre os lados se implantam algumas folhas; as sub-racas d'esta espé- cie são: a branca — a branca Usa do, folhas curtas — e a branca de collo vermelho. — A I Couve rábano — cuja intumescência se cria ■ debaixo da terra, formando uma grossa raiz carnuda, mui semelhante a um volu- I moso nabo alongado, e que resiste aos frios I mais rigorosos; as sub-raças d'esta espé- cie são: — a branca — a branca têmpora de Vienna — a roxa — a roxa têmpora de Vienna — a de folhas de alcachofra — e a crespa de Nápoles. — Outra raça é a Couve nabo, que como a primeira engrossa fora da terra ; as sub-raças d'esta espécie são : — a branca — a branca lisa de folhas cur- Fi!í. 2. — Couve de Schweiíifiirth tas — c a branca de collo vermelho; e por idtimo a Couve nabo, que se forma debai- xo da terra, cujas sub-raças são : — a a^na- rella ou Ruf abar/a — a liutabar/a de collo vermelho — e a Rutabaga de Skiroing. A ò.^ classe — Couves flores e Bróco- los.— Esta classe distingue-se das prece- dentes, pois n'aquellas o proveito utilde- riva-se das folhas, ou da intumescência dos troncos e raízes, emquanto que ii'estas de- riva-se unicamente das flores. As Couves flores têem as folhas lisas, alongadas e de cor vcrde-mar; o capitulo ou cabeça é mais ou menos arredondado e convexo, geral- mente de um branco amarcllado. As va- riedades mais notáveis são: — a Couve flor tenra ou Salomão — a semi-dura — a dura — a de Malta — de Chypre — de Inglater- ra— a Stayidholder — a anã cVErfurt, qua- lidade nova allemã mui recommendavel ; e finalmi^nte a Couve fiôr negra de Sicilia. Os Brócolos distingiiem-se das prece- dentes pelas suas folhas onduladas e capi- tulo!? mais volumosos, e de colorido diver- so das Cnives flores propriamente ditas ; as principaes variedades são: — o Brocolo branco — o roxo — e o pardo. E tempo de dedicar expressamente al- gumas linhas á magestosa Couve, represen- tada na gravura (fig. 2). A Couve de Sch- iO JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. weinfnrth pertence, como dissemos, á clas- se dos Repolhos. É uma fclicissima e recente introducçào do proprietário d 'este jornal, o snr. José Marques Loureiro, que a houve da Allemanha, terra natal d'ella. A í^randiosidado das suas turmas, a vastidfio de suas folhas, medindo para mais de 70 centimctros de comprimento sobre 40 de largura, resguardando um immenso repolho de 40 centimetros de diâmetro, de um sabor delicado, pezando de 12 a 15 kilos aproximadamente, tor- nam esta planta uma das mais importan- tes do género. Ha três annos que cultiva- mos este gigantesco legume, e temos tido occasiào de apreciar as suas qualidades económicas, e nào hesitamos em o recom- mendar muito explicitamente aos leito- res, como uma das maravilhas obtidas re- centemente pela horticultura allema, po- dendo alcançar a sua semente do estajje- lecimento do proprietário d'este jornal. A sua cultura nao exige cuidados diver- sos de aqnclles que se empregam nas outras variedades, a nao ser o plantar-se com o desvio de r",50 em todas as di- recções, para dar espaço á sua grande roda. CULTUliA DA COUVE. Preparação dn terra — Todo o terreno bera estrumado é adaptado á cultura da Couve, á exccperio do extremamente hú- mido e encharcado de agua, e do solo de areia siliciosa pura. Sào comtudo preferí- veis a:s terras fundas e ricas ; as terras sol- tas e ligeiras sao mais próprias para as Couves de raizes gordas, taes como a Couve naho e raiano. A terra, antes da planta- ção, deve ser antecipadau)ente preparada com duas cavas profundas de enxada, para que a camada superior, já saturada dos saes dos cstrunií^s, do ar atmosph eriço c das aguas pluviaes, tomando o logar do subsolo, vá alimentar as raizes das plan- tas, c venha este receber na superficic as qualidades nutrientes e productivas que nào tinha. O estrume mais apropriado á cultura de todas as variedades de Couves, é o dos curraes; se, porém, o solo é muito argi- loso ou frio por natureza, o estrume de cavallariça será mais couvcnieiite, e me- lhor resultado colhcr-sc-ha ainda, se hou- ver meio de se addicionar ao estrume ordi- nário o lixo das ruas, ou o lodo dos tan- ques e valias, que encerram sempre uma certa porcào de saes mui favoráveis ao desenvolvimento d'estas plantas. Mr. A. Dumas, collaborador d'este jornal, e distincto director da quinta mo- delo de liazin, no seu livro — LA CULTURE MAKAICIIÈRE POUR LE MIDI DE LA FRAN- GE— addiciona ao methodo geral da cul- tura da Couve o emprego da cal em pó, de que nos diz haver tirado grande vanta- gem. Apresentamos aos leitores a traduc- ção fiel do que elle nos diz a tal respeito, que parece racional, e de que podemos tirar iguaes vantagens, vista a natureza quasi idêntica dos dous climas. « Este meio, diz elle, consiste era es- « palhar no outomno ou na primavera « sobre as folhas e na superfície do solo « uma camada de cal em pó. Escolhe- « se com preferencia um tempo chuvoso « ou a occasião da rega, porque, assim, o « pó não se demora por muito tempo na « superticie da planta, mas desce ao pé e a contribuo poderosamente para o seu cres- ce cimento, dando-lhe um vigor tal, que em «poucos dias já ha nào conhecel-a. « A differença das Couves polvilhadas « com a cal, em relação ás que o não te- « nham sido, é tão admirável, que vistas « a([uellas, perguntar-se-ha se o momento « da plantação foi o mesmo, ou se as não « polvilhadas foram descuradas. » Sementeira — Quando se pretende fa- zer uma boa sementeira de Couve, é ne- cessário atteiidor á boa qualidade da se- mente. Esta distingue-se por uma cor uniforme, escura c quasi negra. Quando se encontra na semente grande quantida- de de grãos de côr avermelhada, é signal de que foi colhida antes da sua completa maturação, e n'este caso a nascença será irregular. A semente engelhada deve ser desprezada, porque, geralmente, estando n'cste estado, o gérmen não está sufficien- temente formado c não nascerá. A sementeira da Couve faz-se entro n('»s sempre ao ar livre em canteiros bem estrumados, mas na occasiào da nascença a planta fica exposta á devastação das lesmas, caracoes, e diversos insectos que se lançam aos milhares sobre cila, e não deixam uma folha intiicta, causando-lhe JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 11 a morte. O melhor meio conhecido para atalhar este mal é polvilhar com cinza a nova planta, pelo orvalho da manha, e apressar, o mais possivel, a sua vegeta- ção, porque logo que ella obtém a quarta ou quinta folha, adquire bastante vigor para que as mordeduras dos insectos a não prejudiquem sensivelmente. As sementeiras de Couve podem fazer- se nas duas epochas principaes do anno, primavera, e outomno; mas para simpli- ficar o que ha a dizer a tal respeito, e para não omittir o essencial na sua cul- tura, tractaremos, em ura dos próximos números, separadamente da cultura de cada um dos grupos acima mencionados. C. AURELIANO. A AGRICULTURA EM PORTUGAL « Base et principe de la « vie et de la prospérité des « nations, crcatrice des hoin- « mes qui les constituent,et « des prodiiits qui les eutre- « tiennent, ragriculture pré- «cède et domine toiítes les «professions, tons les arts « et toiítes les scienees, qui « devraient s'inclirier hum- « blement devaiit elle et la n servir à Tenvi : car elle «tient dans ses puissantes « mains toutes leurs facultes óda^ dá forçosamente um desenvolvimento mais considerável aos fructos conservados. Bons desejos teriamos de prestar des- de já algumas noções praticas a este res- peito, mas o espaço que nos cabe em um jornal de pequenas dimensões, com obri- gação de satisfazer a mui variados as- sumptos, tolhe-nos de o fazer convenien- temente; comtudo, em tempo opportuno, faremos por dar as regras principaes que ensinam os mestres. É tempo de chamar a attenção dos leitores sobre o fructo desenhado na es- tampa principal d'este numero : A PÊRA GENERAL TOTTLEBEN Esto magnifico fructo provém de se- menteira da Bélgica, feita por Mr. Fon- taine de Gheling cm 1839, e em 1855 foram saboreados os seus primeiros fru- ctos. Teve Mr. de Fontaine dezeseis an- nos de expectativa para colher o resulta- do do seu trabalho, feliz resultado, que apresentou um dos melhores fructos co- nhecidos, e considerado de primeira qua- lidade assim pelos pomologos belgas como pelos francezes. A epocha da sua madu- ração c em dezembro, e pôde chegar a fevereiro, segundo as condições do fru- ctciro onde fôi; conservada. Á sua fórraa é pyriforr)ie. E regularmente de primeira grandeza, medindo de altura aproxima- damente doze centimetros, e de circumfe- rencia vinte e sete. No estado de madu- ração, a sua casca é amarelhida com ma- culas e pontos acastanhados, A polpa é rosada, pouco granulosa, perfumada, mui IT-) . I I JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 25 succosa e assucarada. A arvore é de vi- gor mediano, mas muito fértil. Deve cul- tivar-se em forma de pyramide, ou era latada encostada a paredes. Mr. Arabroise Verschaffelt, insigne horticultor belga, depois de bem certifi- cado da excellencia d'este soberbo fructo, comprou a arvore mãe a Mr. Fontaine de Gheling, e baptisando-a com o nome do general russiano Tottleben, celebre pela sua obstinada defeza do cerco de Sebas- topol, a espalhou por toda a Europa. E á vista das suas óptimas qualidades não hesitamos em a recommendar aos verda- deiros amadores. Camillo Aureliano. COMMERCIO DE SEMENTES Preambularei este artiguinho dizendo amargas verdades ; mas um velho não deve saber mentir. A horticultura, inseparável consócia da civilisação dos povos, não tem rece- bido entre nós todo o preciso desenvolvi- mento, por isso que a chamada politica^ sempre vertiginosa, e necessariamente ir- reflectida, faz com que os homens se es- queçam das conveniências publicas, a tro- co, quasi sempre, de algum ephemero in- teresse particular. Como é possível acre- ditar n'esse decantado progresso da civi- lisação, de que tanto se blasona, quando observamos o desdém, para não dizer o enfado ou aborrecimento, com que geral- mente se olha para a introducção de uma planta exótica, que á força de incalcu- láveis trabalhos o horticultor encorpora na flora portugueza? Não sabem que elle au- gmenta a verdadeira riqueza nacional? não sabem que essa acquisição é um va- lor positivo, e que pode, por muitas ve- zes, ser ura gérmen de grandes benefí- cios ? Prefere-se, como ordinariamente ve- mos, um pouco de latão galvanisado, que de momento perde o seu emprestado bri- lho, a um arbusto ou a um bolbo, que facilmente se reproduz e que pode per- petuar-se por longas gerações. Antepõe- se uma frágil porcelana á mais mimosa Fuchsia, á mais elegante Aralia, ou ainda a uma encantadora Camellia! E não é só a jioricultura quem sofFre taes desdéns, pois que pela mesma, ou peor sorte, está passando a horta alimen- ticia, não se tractando de introduzir novas hortaliças, nem apurando as existentes. Que esmero vemos nós empregar no commercio das sementes? Os poucos, e pela maior parte incom- petentes, vendedores d'esse género, com- pram sem reflexão e vão por ahi espa- lhando seinentes de plantas degeneradas, attendendo unicamente ao baixo preço por que as adquirem e ao subido ganho cora que as vendem ; mas sem aquelle desvelo consciencioso, que acredita um qualquer commercio. Ainda na primavera do anno passado comprei eu semente de mcir;o a um vendedor tão entendido na matéria, que me disse com tal ou qual vaidade: « Vae bem servido, porque são pevides de uns melões que eu metti em palha, para amadurecerem, e que sahiram mui- to bons. » Mal sabia aquelle pobre ho- mem que, para a semente ser perfeita, era preciso que o fructo amadurecesse no me- loal, até ao ponto de se lhe desfazer a polpa. Tal é o quilate de muitos dos nos- sos vendedores de sementes. Desenganem-se e reconheçam todos que sem boas sementes não pôde haver boas plantas, e que a base de uma qualquer empreza hortícola está na escolha d'ellas e no processo do seu preparo. Estabele- cimento exclusivamente dedicado á crea- ção de vegetaes escolhidos, perfeitamente desenvolvidos e aproveitados para semen- te, é cousa que entre nós não ha, nem mesmo pode haver, em quanto não for vulgarisado o conhecimento pratico da horticultura e o gosto pelo seu progresso. De plantas rachiticas e depauperadas, e de mais a mais aproveitadas sem discer- nimento nem escolha, é impossível colher sementes que produzam individues bem desenvolvidos, nem multiplicar as varie- dades com que tanto se enriquece a hor- ticultura. Trabalhemos, pois, para que haja quem se esmere na creação e venda de boas se- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. mentes, que para logo se hào de aprimo- rar as producções do reino vegetal. Concluirei, reproduzindo o que ha uns bons quatorze annos escrevi no prologo do meu Xovissimo Manual de Agricultura: « Lamentemos o nosso atrazo, não seja- mos pertinazes, nem orgulhosos, estude- mos todos, e desappareça a vaidade de pretender passar por mestre. » J. M. DA Silva Vieira. A AGRICULTORA EM PORTUGAL O É péssima a nossa situação agrícola, e não poderá ser boa a nossa situação económica sem que aquella melhore. Temos um grande deficit na troca dos productos externos que consumimos. Produzimos pouco e caro, e atrazadis- simos nos novos processos agrícolas, no pouco que produzimos não podemos com- petir com os outros paizes. Descurada entre nós completamente a arte de aperfeiçoar as culturas, sendo ra- rissimo que se honre cora a profissão de agricultor qualquer homem medianamente illustrado; desejando todos ter dinheiro, e poucos propriedade rural ; abandonadas as maiores casas das provincias do sul pe- los seus proprietários para serem entre- gues a rendeiros ou feitores estúpidos, sem a menor ideia do aperfeiçoamento da agricultura moderna; desviados os capi- tães pela péssima direcção das cousas pu- blicas de todas as industrias ; sem pro- tecção, sem sciencia, sem credito e sem devoção, ninguém dirá que em situação tão desgraçada possa confiar-se no futuro da agricultura portugueza. ]\Ias por isso mesmo que a agricultura é tudo, deve pôr-se o maior cuidado em sahir dos apuros em que nos achamos. Em Inglaterra, a primeira cousa a que aspira um homem que adquire algum di- nheiro é a ser proprietário. Entre nós, pelo contrario, parece que ao que primeiro aspirara os próprios filhos dos proprietá- rios é a serem proletários. Modifiquem os governos e as camarás a legislação sobre o dominio e transmis- são da propriedade. Estabeleçam, como em Inglaterra, que o senhor da proprie- dade, casado, solteiro ou viuvo, com fi- lhos ou sem elles, tenha o pleno dominio d'clla c a possa transmittir na familia ao mais digno, ou fora d'ella, a quem melhor a mereça. ]\Iodificada a legislação sobre o direito e transmissão da propriedade, que cha- maria ao trabalho, ao cuidado e á appli- cação, muitos filhos vadios ou ociosos, que hoje se julgam dispensados de todo a ser- viço útil porque contam certo o patrimó- nio dos pães, sabe Deus com que sacrifi- cios adquirido; honrados os que mais se distinguissem nos aperfeiçoamentos agrí- colas; nomeando-se para os primeiros lo- gares de administração homens devotados á agricultura, e, além de outros predica- dos, com conhecimentos especiaes d'ella, ter-se-hiam dado os primeiros passos para a nossa regeneração agrícola. Depois, fechar as portas aos penhores, por parte dos governos para, libertando os capitães da agiotagem, fazel-os tomar o caminho do commercio, da agricultura, e das industrias. Depois, estabelecer bancos ruraes em toda a parte, ou melhor, bancos locaes de conta corrente, ao modo geralmente usa- do na Allemanha. Sem estes bancos não pôde de modo algum florescer a agricul- tura. Formam os primeiros fundamentos do seu desenvolvimento, da sua mais impor- tante e interessante protecção. Depois, a propagação do ensino agrí- cola, desde as escholas primarias. Depois, as quintas praticas aonde o povo veja com os seus olhos, creia por- que vê, e aprenda por ver e crer. Depois, as exposições regionaes ou dis- trictaes. Depois, emfim, honra ao trabalho e ao mérito reconhecido. Rcforme-se n'estc sentido, e não se alardeie todos os dias um falso e balofo 0) Vide J. //. P., pag. li. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. patriotismo que ajuda a enterrar-nos, pro- tegendo os nossos hábitos de santo ócio. Não precisamos armar o paiz, preci- samos, sim, educar agricultores. Temos de mais quem nos coma os poucos recursos que possuimos ; precisa- mos quem se occupe em trabalho útil, quem desenvolva os immensos recursos d'este abençoado solo. A natureza sorri aqui para nós; quasi se dá naturalmente a videira, com peque- na cultura e poucos ou nenhuns estrumes produzem as melhores arvores fructiferas conhecidas na Europa ; sào excellentes as condições para a creação e engorda dos gados : falta-nos só o cuidado dos gover- nos e a dedicação dos povos. Fundem aquelle, e promovam esta. Albano Coutinho. A AMEIXIEIRA DE AGEN Tendo um sentimento patriótico di- ctado a creaçào de um jornal horticola em Portugal, nada me parece mais convenien- te do que apresentar aos leitores d'elle, entre os vegetaes do nosso cultivo, aquelle que pôde crear-lhes uma industria pro- ductiva, isto é, dar-lhes interesse. Ora, a meu vêr, nenhum merece ser tão recommendado como a Ameixieira de Agen. O departamento de Lot-et-Garonne, vende annualmente, termo médio, lõ mi- lhões ãe francos (2,700:000?|000 reis) de ameixas ; e não é raro encontrar proprie- tários que realisam annualmente 10 mil francos, o que acrescentado á cifra dos ou- tros géneros constituo, para essas pessoas, excellentes lucros liquides. A Ameixieira Robe de Sergent, cha- mada Ameixieira de Agen^ é hoje enxer- tada na Ameixieira Mirobolan, que lhe convém perfeitamente e em que ella dá sempre rebentões de grande vigor. Deve ser aparada 1,™40 a l,'^,õO acima do solo. Todos os terrenos lhe convêem, mas a sua exposição favorita é um terreno em declive e uma exposição muito meridio- nal. Tal é a que lhe dão nas férteis col- linas de Agen, em Bordéus, e é n'essas condições que ella dá fructo de primeira qualidade. Esta cultura acha-se tão espalhada nos valles como nas collinas ; por toda a parte se vêem desenvolver cada vez mais as plantações, sem que por isso diminuam os preços, excepto n'um anno extraordinaria- mente abundante, como por exemplo o de 1869. A maduração principia na primeira quinzena de agosto e prolonga-se até lõ de setembro. Durante este lapso de tem- po, deve a colheita ter logar todos os dias e a preparação do fructo vae-se fazendo á medida que se colhe. Encarregam-se ordinariamente as mulheres d'este traba- lho, hoje tão reduzido pelo emprego de seccadoreSj que ao mérito da perfeição do fructo juntam a vantagem de uma gran- de economia de trabalho, ponto essencial. Uma só mulher com um seccador pô- de fazer seccar 100 kilogrammas de amei- xas por dia. Cita-se um proprietário de Ville-Neu- ve-sur-Lot, que vendeu por 500 francos (90jí$í000 reis) o producto de cinco Amei- xieiras de vinte e cinco annos de planta- ção. Se a isto acrescentarmos que o de- partamento de Lot-et-Garonne é quasi o único que fornece a França e as poten- cias estrangeiras, é força reconhecer que esta arvore será de um grande futuro pa- ra todos os paizes que souberem cultival-a, A. Dumas, Jardineiro em chefe da Quinta-modèlo de Baziu (Gers). Membro da Sociedade Imperial e Central de Horticultura de França. 28 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. BREVES INSTRDCGÕES SOBRE O MODO DE COLHER E EXPEDIR SEMENTES E PLANTAS DAS PROVINCLVS ULTRAMARINAS (i) Para transportar, durante uma viagem de alguns mezes, plantas vivas, que não sejam nem carnosas nem tuberculosas, é indispensável plantal-as em caixões en- vidraçados ou estufas de viagem, de uma construcção particular, inventados e em- pregados primeiro em Inglaterra por Mr. N. Ward e designados muitas vezes por esta razào com o nome de caixões Ward. Estes caixões podem variar de forma e de dimensões, mas para que o transporte seja fácil e elles nào pejem a coberta dos navios, onde devem conservar se sempre, nuo excedem nunca as dimensões que va- mos indicar. As figuras n.° 4 e 5 dão uma ideia da sua forma geral e da disposição das plantas que nelles se acham mettidas. Fig. 4. — Caixão Ward ou estufa de viagem (forma geral). Fig. 5. — Caixão Ward ou estufa de viagem (secção longitudinal). Comprimento 0m,90 a 1 m, 10— Largura O'", 50— Altura Om,70 a |m,00. O seu fundo não deve pousar no chão, mas sim ficar elevado alguns ccntimetros, pelos pés que formam os quatro ângulos, de maneira que a agua do mar, quando entrar no navio, não possa penetrar n'el- les. Os dous lados mais pequenos deste caixão oblongo, cortados superiormente em forma de empena, supportam dous caixi- lhos envidraçados, formando um tecto de fluas aguas ou vertentes. Os lados e o fun- do são construídos de madeira muito soli- da, de 2õ a 30 millimetros de grossura. Os caixilhos são divididos por travessas de 4 a 5 ccntimetros de largo, que se esten- dera do bordo superior ao bordo inferior e que ficam separados entre si por uma distancia de 7 a 8 centímetros. Estas tra- vessas com encaixes recebem os vidros, que devem ser grossos e sólidos, sobre- postos nas junturas e bem betumados. Um dos caixilhos é fixo de um modo per- manente sobre ura dos lados do caixão, o outro c fixo sobre os outros lados e, na sua parte superior, sobre o caixilho op- posto. Estes caixões são aléra disso per- feitamente betumados em todas as juntas e pintados a óleo exteriormente. Duas grossas argolas de ferro são so- lidamente fixas ás duas extremidades do caixão para o tornar de fácil transporte; finalmente uma grade solida e de peque- nas malhas de arame, sustentada a algu- ma distancia da vidraça, porá esta ultima ao abrigo dos choques. Para collocar as plantas n'estes cai- xões, põe-se primeiro no fundo destes uma camada de 4 a5 centímetros de terra gros- sa c argilosa, bastante regada para que se una bem á madeira ; depois cstcnde-se por («) Vide J. II. P., pag. 6. JORNAL DE HORTIGULTUEA PRATICA. 29 cima uma camada de terra boa; é n'esta terra que se plantam com cuidado os ve- getaes que têem de ser transportados, ou directamente, ou em vasos, ou em cestos. Para evitar que as plantas não soíFram com os abalos inevitáveis n'uma longa viagem, cobre-se a terra de uma camada de palha, que se segura por meio de travessas de madeira, pregadas nas paredes do caixão. E' necessário que as plantas destina- das a viajar n'estes caixões, (*) estejam bem pegadas, que tenham sido, se fôr pos- sível, cultivadas algum tempo em vasos. No caso em que tenham sido arrancadas recentemente do campo, convirá, se fôr possível, deixal-as rebentar, antes de fe- char o caixão definitivamente. Uma vez no mar, as únicas precau- ções a tomar consistem em conservar sem- pre o caixão na coberta, exposto ao ar livre, e em substituir immediatamente os vidros que por ventura se quebrem. As plantas, do mesmo modo que as sementes, os bolbos, etc, devem ser acom- panhadas cada uma de um numero mar- cado em folhas de chumbo ou em taboi- nhas. Estes números deverão referir-se a um catalogo, no qual se indicará a respei- to de cada espécie : 1.° — O paiz donde ella provém. 2° — A natureza das localidades onde cresce. 3.° — O nome vulgar que tem a planta no paiz. 4." — Os usos a que é applicada. 5." — Os caracteres mais apparentes e a cur da flor. E' impossível mencionar todas as plan- tas cuja introducção na Europa teria im- portância, mas se não quizermos fallar senão dos jardins de Portugal e limitan- do-nos, pelo que respeita aos legares de exportação, ás colónias d'este reino e ao Brasil, cremos poder aífirmar que cada remessa, ou de plantas ou de sementes, apresentará muitas novidades para os ama- dores d'este paiz. E assim que o «Jardim Botânico de Coimbra» deve enriquecer-se e como isto é uma empreza patriótica es- peramos que estas linhas não serão de- balde escriptas. Coimbra — Jardim Botânico — 1869. Edmond Goeze. CALENDÁRIO DO HORTICULTOR FEVEREIRO Jardins. — Continuara-se n'este mez os trabalhos de limpeza mencionados no anterior; preparam -se canteiros e vasos para as sementeiras de março das plan- tas annuaes que devem florescer em maio 6 junho. Devem regar-se os Rariunculos com estrume liquido, preferindo o de gal- linha ou de pomba, diluido em agua; esta rega é muito útil. No meado d'este mez podem já dispôr-se em vasos as ce- bolas de Gladiolus, e nos canteiros os Cro- cus, íris anãos e Amores perfeitos. Trans- plantam-se nos canteiros as Campanulas^ (1) Foi n'estas estufas de viagem que o di- rector d'esfe jardim, o sm*. dr. Antonino J. R. Vi- dal, fez expedir ha pouco tempo, para as colónias de Africa por ordem do governo, 100 plantas no- vas de Cinchona succirubra, obtidas no jardim por sementeira. Dianthus poéticos ((^ravinas), Helianthus vivazes (Girasoes), Aconitos, Phlox viva- zes; e nos sitios sombrios Lírios e Ané- monas; e podem já começar-se as semen- teiras de plantas annuaes de florescência têmpora, resguardando -as do frio. Hortas. — Devem continuar-se n'este mez as cavas começadas no mez anterior. Abrir-se-hão valias em toda a parte em que se manifestem indícios certos de hu- midade subterrânea. Proceder-se-ha a uma estrumação profunda de três em três an- nos, e na superfície será lançado estrume, por diversas vezes, nos intervallos de uma a outra estrumação profunda. Estes pre- parativos devem fazer-se antes do fim do mez para dar logar ás plantações. Logo no principio d'elle devem preparar-se os taboleiros que hão- de receber as Couves w JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. Jlôres semi-dtiras , Alfaces romanas^ Ce- nouras, etc. No fim do mez devem abrir-se e estrumar-se os regos em que mais tarde se huo-de plantar os Melões e Pepinos. Seraeiam-se ou plantam-se n'este mez : os Alhos, Esjxirgos, Cenouras curtas e semi- lonf/as. Aipo, Cerefólio, Chicória, Cebola commum, Espinafres, Estragão, Favas, Alface de repolho da primavera. Alface romana têmpora, Cebolas vermelhas e ama- rellas. Salsa, Ervilhas têmporas. Batatas, Rabão, Rabanete, Escorei oneira e Bata- tas tupinambas. Arvoredo. — Continua a plantação das arvores fructiferas. As Cerejeiras e Damasqueiros devem enterrar-se mais pro- fundamente que as outras espécies. Os terrenos próximos das arvores doentes de- vem ser cavados e estrumados com estru- me velho e consumido. E muito proveitoso ás arvores de caroço plantadas em terre- nos siliciosos e scliistosos, um composto de cal e hervas, enterrado junto d'ellas nos primeiros dias de fevereiro. N'este mez deve continuar-se a poda das arvores de fructo de caroço ; a the- soura é preferível á podôa para esta ope- ração. Diz I\Ir. A. Dumas, collaborador d'es- te jornal, no seu magnifico livro La cul- ture maraichere poiír le midi de la France « que a poda deve terminar-se o mais cedo possivel, isto é, antes que a seiva entre em plena vegetação. Eu nào admitto, diz elle, poda alguma na primavera, nem para as «arvores fructiferas, nem para a vinha; podar na primavera é, na minha opinião, podar contra a razão, e paralysar o bom resultado das producções fructiferas. » E muito racional esta opinião autho- risada, que devia ser abraçada por todos os nossos lavradores. Viveiros. — N'este mez, nào tendo sido possivel antes, devem decotar-se os cavallos enxertados no outomno ; devem plantar-se estacas de Marmeleiro e de Ameixieira para serem enxertadas no anno seguinte; devem desramar-se todos os enxertos de um anno, que se des- tinarem para arvores de pleno vento; e apressar com actividade todas as covas destinadas ás plantações d'este mez. CHRONICA Os jardins públicos concorrem muito poderosamente para o desenvolvimento do gosto pela horticultura ; porém para isso é preciso que nuo haja n'elles mera- mente plantas vulgares mas sim novas in- troducções, a fim de que os amadores pos- sam visital-os com interesse. O « Jardim do Campo dos Martyres da Pátria » foi enriquecido ultimamente com alguns arbustos, arvores, etc, que lhe augmentaram o bom aspecto que já tinha e o tornaram portanto mais aprazí- vel. Fízerara-se alguns grupos de Camel- lias,c[\\c quando desenvolvidas devem pro- duzir bom eíFeito. Uns dez ou doze exem- plares da Wif/andia caracasana, sobre a qual hoje publicamos um artigo especial (pag. 21), formam um massiço, que mais tarde hade ser de esplendido eífcito. Também foram addicionados a este jardim alguns grupos de Jlex, Gyneriums e Colocasias. A collocaçào d'cstas ulti- mas nHo nos parece que tenha sido acer- tadamente escolhida, pois preferindo es- tas plantas terreno húmido e sombrio, acham-se alli, contra todas as indicações attendiveis, expostas a pleno sol e em terreno que certamente nào possue as con- dições exigidas. As Draccenas, as Aralias e as Cory- phas, são raras nos nossos jardins públi- cos e tornam-se portanto dignas de men- ção. Muito folgaremos que o «Jardim do Campo dos IMartyres da Pátria» continue a merecer a solicitude da municipalidade portuense e que o descuido, tão tenaz per- seguidor de tudo o que é bom e útil en- tre nós, não invada aquelle terreno que tão vantajosamente pôde ser aproveitado em recreio para o publico e em interesse do desenvolvimento hortícola. — É para lastimar o misero estado em que pozeram as arvores da praça dos Yo- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. luntarios da Rainha ; aquillo não é poda, é derrota. Fora melhor cortál-as pela raiz, do que deixál-as uma monstruosidade sem forma. As arvores de uma praça são para sombra, aquellas já a não podem dar. Consta-nos que querem substituir al- gum do arvoredo da cidade. Quanto a nós, parece-nos que era preferível dei- xal-o estar assim. Em Inglaterra ha sociedades protecto- ras dos animaes, e outras com fins idên- ticos ; entre nós tornava-se urgente que se fundasse uma — Sociedade protectora DO ARVOREDO — pois com tanta crueldade o vemos tractar! — Dizem-nos que as hortas nos arre- dores de Coimbra estão em óptimo esta- do. Outro tanto succede com as dos su- búrbios d'esta cidade, segundo temos tido occasião de vêr. A colheita do azeite foi pequena este anno, porém pontos houve em que as Oli- veiras produziram bastante. Foi regular a colheita do arroz. Continua como d'antes a cultura d'es- ta gramínea, apezar da opposição que lhe tem sido feita, como causa de insalubri- dade nos locaes onde ella está em pra- tica. — Com referencia ao estado dos tra- balhos agrícolas na província de Traz-os- Montes, eis o que de alli nos diz o nosso collaborador, o snr. dr. Basilio Constan- tino de Almeida Sampaio: Está quasi acabada n'esta província a apa- nba da azeitona ; mas a falta de moinhos, e a ro- tina ignorante prosegue na teima de a conservar por muito tempo em tulhas pouco arejadas, onde a azeitona cria bolor e fermenta muito, o que damnifica o azeite, que assim sabe extremamente impuro. Nos terrenos mais enxutos vào os la- vradores preparando-se para a semeadura das Batatas, Cebolas, e Grãos de Tjíco. As bortas estào geralmente muito revestidas de folbas ; apezar da pouca bumidade do tempo ha abundância de Repolhos e de Nabos. O Nabo é sem duvida uma das melhores ali- mentações para os gados e para o homem ; e é para desejar que mais se vulgarise, especial- mente ao sul d'esta província : bem como a Be- terraba e Rábanos, que quasi ninguém aqui cul- tiva. Tem havido muito pequenas plantações de arvores fructiferas em geral, já porque faltam geralmente, já porque a falta de consumo dos i fructos não incita o lavrador ás plantações. Ha duas cousas que estoi*vam a creação dos alfobres de arvores — uma é a ignorância dos me- lhores processos para os fazer ; e outra é a ra- pina das arvores, tào vulgarisada entre os nos- sos homens do campo. E' de necessidade que uma lei mais severa, do que a actual, castigue estes furtos de arvores, que tanto atrazam o es- tado da arboricultura. O proprietário d'este jornal, que tão bons ser- viços tem prestado ao paiz, devia ter depósitos de Amoreiras, Eucab/pf.us e Larangeiras n'esta província; porque tabemos de muitos proprietá- rios que nào plantam com receio das difficulda- des da conducçào do Porto para aqui. Era mais um bom serviço que o snr. José Marques Lou- reiro fazia ao publico, estabelecendo em alguma terra d'esta província um deposito de plantas e arvores as mais necessárias, como as indicadas. Cremos que a venda das arvores n'esses de- pósitos compensaria os esforços e trabalhos do intelligente horticultor. O tempo tem corrido estes dias mais quente do que os lavradores despjam. O janeiro deve ser geadeírOi segundo o rifào popular. Hontem e hoje ao meio dia marcava o thermometro — 10 graus centígrados. Basílio G. de A. Sampaio. Murça 15 de janeiro — 1870. — Fomos obsequiados por M.M. Vil- morin Andrieux & C.'*', com um exem- plar do seu catalogo especial de Moran- gueiros, ultimamente publicado pelos mes- mos senhores. De uma grande lista de Morangueiros que n'elle se contém apontamos as seguin- tes dez variedades obtidas pelo dr. Nicai- se, celebre cultivador d'esta planta: Ahd- el-Kader, Alexandra, Amazone, François- Joseph II, Gabrielle, Melius, Passe-Par- tout, Pauline, Penélope, Perfection. Brevemente daremos a illustração das principaes variedades e desde já as acon- selhamos como o nec plus ultra d'este gé- nero. As pessoas que desejarem possuir esta excellente collecção, poderão obtel-a do estabelecimento de M.M. Vilmorin An- drieux & C.'^ — 4, Quai de la Megisserie — Paris. — Chamamos a attenção dos leitores para o seguinte importante pedido que o nosso amigo e collaborador, o snr. E. Goeze, dirige ás pessoas que o queiram auxiliar no estudo da especialidade a que se refere : Occupando-se um pouco o abaixo assignado do estudo da tribu das Larangeiras que, como todos sabem, apresentam ainda muitos pontos du- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. vidosos na sua historia, distribuição geographi- ca, classificação e cultura, muito agradecido fi- caria a todas as pessoas que, tendo observado o seu estado vivo desde muito, lhe quizessem commuuicar as suas observações. Quaesquer communicações sobre os caracteres da moléstia que grassa entre as Laranç/eíras doces, lhe se- rão egualmcnte muito agradáveis. O auctor do pedido receberia também com o maior reconhe- cimento alguns fruitos maduros de todas as va- riedades menos vulgares e prestar-llie-hiam um grande serviço enviando-lhe listas completas de todas as que se cultivam n'este paiz. Edmond Goezb. Coimbi-a — Jardim Botânico. — No mez de janeiro inauo:iirou-se em Lisboa um curso livre de agricultura, do qual é instituidor e professor o snr. Jay- mc Batalha Reis. Estes cursos sao muito profícuos e ao snr. Reis enviamos os nossos louvores pela sua civilisadora iniciativa. A agricultura pode e deve ser a nossa grande riqueza e o snr. Batalha Reis, vulgarisando os co- nhecimentos agricolas, lança no espirito pu- blico uma semente grandemente fecunda. Possam os seus esforços ser coroados do melhor resultado. — Mr. J. Linden, illustrado botânico belga e presente proprietário do estabele- cimento de Mr. Ambroise Verschaífelt, acaba de nos remetter o «supplemento» do seu catalogo geral n.° 83. O estabelecimento de Mr. Linden pos- Bue vastas coUecções de plantas tropicaes, entre as quaes occupa logar importante a familia dos Fetos. Mr. Linden recommenda a nova pêra Joséphine de Binche que quando é de ta- manho mediano pesa 260 grammas. Sabemos que o proprietário d'este jor- nal mandou vir dous exemplares d'esta fructeira, sendo um para o seu estabele- cimento e o outro para ura amador d'esta cidade. Estimamos e louvamos sempre as pes- soas que patenteiam interesse pelo desen- volvimento da horticultura, um dos mais ricos mananciaes que possuímos. — Alguns vinhateiros já começaram a fazer os seus abastecimentos de enxofre; recommendamos-lhes que os façam em es- tabelecimentos acreditados e nào em al- gims que oíferecendo este artigo por me- nos 1 0 ou 20 por cento o inculcam como de ai.'' Qualidade», sem na realidade o ser. Deve ter-se em vista que do bom ou mau enxofre depende muito a boa ou má colheita. — O nosso collega o snr. Albano Couti- nho, tem criado um excellente estabeleci- mento de vinhas no centro da Bairrada — Mogoforcs — e teve já o prazer de vêr premiados os seus vinhos na exposição de Coimbra. Consta-nos que o nosso collega conta ter concluido o seu estabelecimento no fira do anno corrente e expôl-o no anno futu- ro, á apreciação da imprensa do paiz, que convidará para esse fim. O snr. Albano Coutinho quer apresen- tar um estabelecimento modelo, e pode já passar por um excellente estabelecimento na Bairrada, o do nosso collega, que cul- tiva as suas vinhas com grande perfeição. — Uma bella arvore de ornamento e que poderia ser cultivada ao mesmo tempo para um fira económico é a Grevillea ro- busta. Desenvolve-se rapidamente e no seu paiz natal (Nova Hollanda) eleva-se a 30 e 40 metros, porém ainda não tivemos oc- casião de vêr nenhum exemplar com es- tas dimensões. Tem uma tal ou qual si- milhança com a Araucária excelsa e a sua folhagem, que é persistente, é de um lin- díssimo effeito. — Terminando, cumpre-nos agradecer aos nossos collegas ná imprensa as pala- vras lisongeiras com que acolheram o nos- so jornal. Na senda que nos traçamos e se o favor publico nos não faltar, espera- mos poder prestar alguma utilidade, que é o fim a que se dirigem os nossos esfor- ços. Na expressão do nosso reconhecimen- to, seja-nos licito manifestal-o particular- mente aos nossos collegas do Commercio do Porto^ Jornal do Porto, Nacional, Tribuno Popular, Lethes, Viriato, Bra- carense, Diário de Noticias, Aurora do Lima, Echo do Lima, Revista do Algar- ve e Boletim do Clero e do Professora- do, que com tão lisongeira benevolência se houveram para comnosco. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 33 ESTUDOS AMPELOGRAPHICOS Annuindo com muito prazer ao con- vite com que me honrou a empreza do Jornal de Horticultura Pratica, co- meçarei por dar publicidade nas suas co- lumnas a uma parte de um trabalho que estou redigindo sobre a Ampelographia do paiz vinhateiro do Douro, e que deve fa- zer a continuação dos «Estudos prelimi- nares», dos quaes a maior parte se acha impressa. O programma d'este jornal não se re- stringe unicamente ás questões de puro e exclusivo interesse hortícola^ como se po- deria suppôr em vista do seu titulo. Não exclue, nem devia excluir, aquellas que in- teressam as grandes culturas especiaes. A muitas d'estas, para não dizer a quasi todas, oíferece o limitado campo das hor- tas uma primeira eschola de ensaios, de on- de sahem muitas vezes lições de alta im- portância para a agricultura, assim como sahem dos gabinetes e laboratórios dos sábios as indicações e os descobrimentos do mais alto interesse para as grandes in- dustrias. O trabalho, sobre que vou chamar a attenção dos leitores d'este jornal, é exa- ctamente da natureza de aquelles que po- dem principiar nas escholas praticas de horticultura e jardins de ensaio e aclima- ção. O conhecimento completo das castas da Vide commum, que nas nossas vinhas se cultivam ou podem cultivar, não inte- ressa menos que o das arvores fructiferas dos nossos vergéis e pomares. Na actua- lidade é sem duvida até de superior im- portância, porque a viticultura, que é a origem da nossa maior riqueza, está re- clamando os esforços intelligentes de to- dos os lavradores, grandes e pequenos, para o seu acrescentamento e progresso ; esforços que lhe não podemos negar, sob pena de nos mostrarmos indignos dos fa- vores que nos prodigalisou a Providen- cia, dando-nos um clima e um solo tão apropriado á producção dos mais ricos vi- nhos do mundo. Todos os viticultores affirmam a defi- ciência dos nossos conhecimentos ampelo- 1870-Vol. !.• graphicos. Reina por toda a parte uma confusão inextricável na nomenclatura e synonymia das castas da Vide commum, e poucos são até os viticultores que co- nhecem bera as que se cultivam na sua própria região. E todavia estes conheci- mentos são do mais elevado interesse para a industria vinícola, porque sem elles nin- guém pode em consciência affirmar que a sua vinha se acha povoada como devera estar, para corresponder ao seu propósi- to, ou este seja de produzir vinhos pre- ciosos em qualidade, ou de alcançar a má- xima quantidade do producto. Abundam hoje as descripções e classi- ficações de numerosos géneros e espécies de plantas, que servem apenas para orna- to dos jardins e encanto da vista; gastam- se sommas fabulosas para completar e en- treter collecções de luxo, e não temos uma boa classificação das castas e variedades do arbusto, que na Europa produz um rendimento de muitos milhares de contos de reis, e que fornece trabalho e subsis- tência a muitos milhões de habitantes. E necessário sahir d'este estado ; e por muito difficil que seja o problema, e em razão da sua mesma difficuldade e pela sua mui- ta importância, devemos todos os que te- mos interesse pelos progressos da industria vinícola, ir ajuntando e creando mesmo os materiaes necessários para organisar uma boa Ampelographia. E com este pen- samento que aqui me proponho a dar, desde já, publicidade a uma parte da in- troducção á minha Ampelographia do paiz vinhateiro do Douro. Duas ordens de condições, ambas el- las essenciaes, influem poderosamente so- bre as qualidades e quantidades dos vi- nhos produzidos em qualquer região viní- cola. Umas d'estas condições pertencem á ordem das condições naturaes ; taes são as que derivam da natureza do solo, do clima, da exposição do terreno e ainda as que procedem das qualidades intrín- secas das plantas cultivadas : as outras são Março-N.* 3. u JOKNAL DE IIORTICULTUIiA PRATICA. unicamente dependentes do trabalho do homem; isto c, são aquelhis que se refe- rem ás operações de cultura e aos proces- sos de vinificação. Pouco ou nada pôde o viticultor na escolha e regimento das primeiras condi- ções naturaes — solo, clima e exposição. Intercssa-lhes todavia o seu perfeito conhecimento, porque lhe não podem ser indiíFerentes^ nem as condições que elle jDÓde modificar, nem aquellas que o do- minam fatalmente. No que diz, porém^ respeito ás castas das uvas que devem servir á producção do vinho, está a esco- lha destas unicamente dependente da in- tclligencia e saber do homem, e a boa es- colha d'cstas castas influo, mais do que nenhuma das outras condições naturaes, na superioridade do producto. Desde os mais remotos tempos os ceno- logos têem reconhecido esta verdade, e d'ahi vem a grande importância que na sciencia vinicola vae adquirindo a ampe- lographia, que tem por objecto principal o conhecimento e descripção das castas da Videira e das suas variedades. Todas as condições acima menciona- das têem inquestionavelmente a sua par- te, mais ou menos preponderante, nas qua- lidades do vinho produzido : todas ellas cooperam, ainda que com diversa inten- sidade, para que o viticultor alcance o fim a que se propõe. O vinho do Douro não seria por certo o que é, se a nature- za do solo, se o clima, se o relevo do ter- reno fossem inteiramente diversos do que são; mas sobre tudo seria elle muito diffe- rente, se as uvas que o produzem per- tencessem a outras castas, muito diversas das que alli se cultivam, e se os proces- sos empregados na vinificação fossem re- gidos por outros principies e sugeitos a outras praticas, que discordassem essen- cialmente das que alli se adoptam. A ex- periência tem confirmado esta asserção, cuja verdade o simples raciocínio podia ter antevisto. A grande reputação que alcançaram os vinhos do Douro, desde que no fim do século passado começaram a ser bem co- nhecidos, suscitou a viticultores de outras regiões o desejo de produzir vinhos da mesma natureza. Parcceu-lhes que tudo dependia do processo da vinificação e co- meçaram por imitar o que era empregado no Douro e conhecido com o nome de pro- cesso de feitoria. Ninguém ignora o re- sultado. Nenhuma das nossas regiões vi- nhateiras produziu até hoje vinhos que se possam equiparar e confundir com o typo perfeito dos vinhos do Douro, salvo em um ou outro ponto excepcional e muito limitado, em que se reproduzem todas as condições peculiares a este paiz. A adopção do processo de feitoria pro- duziu, é verdade, n'algumas partes bons resultados: melhorou-se a qualidade do vinho; mas não se alcançou fazer verda- deiro vinho do Douro : o mais que se tera conseguido é aj)enas uma aproximação do typo commum dos vinhos do Porto, como a conseguem os imitadores nacionaes e estrangeiros, isto é, tal que só nos pri- meiros annos da vida do vinho pôde illu- dir os conhecedores vulgares ; mas que, depois de constituído definitivamente o vi- nho pelas reacções intimas, que se com- pletam n'um largo espaço de tempo, apre- senta sempre difíerenças especiaes, prin- cipalmente nos principies aromáticos. Não é, portanto, sô do processo que depende a qualidade do vinho, é princi- palmente da riqueza das uvas fornecidas por castas de Videiras especiaes, e crea- das debaixo da influencia de um clima fa- vorável, e de um solo de natureza apro- priada á sua Índole particular. Na própria região do Douro é sabido que aquelles, cujas vinhas não possuem as castas finas adequadas ás condições da localidade, não produzem vinhos de mé- rito egual ao dos outros, que foram mais escrupulosos na escolha das castas, ou que tiveram a fortuna de acharem já os seus prédios povoados de plantas de boa qua- lidade. Em muitos pontos dos meus «Estu- dos preliminares» fiz já notar esta circum- stancia. Á escolha das boas castas de uvas, tanto ou mais do que á boa execução do processo, se devem, pois, attribuir em pri- meiro logar as qualidades do vinho. A natureza do solo e o clima têem in- disputavehncnte uma grande influencia so- bre a riqueza das uvas; mas esta, apezar da affirmação de Plínio e de aquelles que fazem depender tudo do terreno, não c exclusiva, nem tão poderosa, que consiga JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 35 tirar um vinho fino de uvas de uma casta grosseira ou medíocre. Pelo contrario, as castas finas, que produzem vinhos supe- riores ou delicados em uma região, for- necem, ainda quando transportadas a ou- tra região differente, vinhos, senão eguaes, pelo menos muito próximos dos primei- ros. Todos sabem que as castas finas es- peciaes, como são os moscatéis^ as mal- vaziaSj o hastardo e outras, imprimem aos vinhos que produzem, qualidades caracte- risticas da sua superioridade. Tudo isto justifica superabundantemen- te a importância dos conhecimentos am- pelographicos. Se o viticidtor não tem em seu poder transformar a natureza do solo, pelo me- nos economicamente ; se é reconhecida a sua impotência individual em tudo o que respeita ao governo das condições me- teorológicas do clima, tem pelo contrario o livre arbitrio na escolha e apropriação das castas mais adequadas ao solo, ao cli- ma e á exposição do seu terreno. Já em o'utro logar citei um facto alta- mente conveniente. As vinhas de Soutel- lo, no concelho da Pesqueira, estavam an- tigamente plantadas de castas misturadas e de mau posto^ e forneciam vinhos medio- cres; um lavrador distiucto, o snr. Bento de Queiroz, pelo conhecimento que tinha das preciosas qualidades da touriga^ fez propagar pela enxertia esta casta n^aquel- le sitio, e hoje as vinhas de Soutello es- tão fornecendo vinhos excellentes de pri- meira classe. As grandes auctoridades vinícolas de todos os tempos, antigos e modernos, es- tão accordes sobre este ponto. Citarei as próprias expressões do conde Odart, no seu Manuel du Vigneron^ quando tracta da influencia das castas das uvas sobre a qualidade do vinho. «Em todos os tempos, diz elle, se reconheceu a influencia da va- riedade da Videira sobíe a qualidade do vinho. Catão, Celso, Columela, entre os romanos; Olivier de Serres, Quiqueran, Guridel, S. R. Clemente, entre os mo- dernos, collocam esta escolha na primeira ordem das considerações de que nos de- vemos occupar no momento da plantação da vinha, etc. » No cap. V. do excelleiite tractado do snr. J. Guyot — Cidture de la Vigue — diz este escriptor tão apreciado hoje pelo seu apostolado vinícola em França, a seguinte: «Plantae de gamai ou gonais as vinhas de Chãteau-Lafhte, e tereis um vinho detes- tável 5 substituí estas mesmas castas ás ve- lhas cepas de Cios- Vaugeot^ e tereis um vi- nho de cincoenta francos a barrica. Trans- portae o cabevnet-sauvignon do alto Me- doc para a Madeira, para o Cabo, para Hespanha, para Argel ou ainda para Au- xerre, em toda a parte vos dai'ão excel- lentes vinhos, que recordarão perfeitamen- te os melhores de Bordéus e os mais fi- nos da Borgonha: valerão mais ou menos, sem duvida, porque a terra, a exposição, o clima, o anno, a cultura e o modo de fiibricação do vinho têem uma parte real e incontestável na leveza, riqueza, gosto e perfume do liquido ; mas o Cabo, a Na- varra, a IMadeira e Auxerre vos recor- darão os bons vinhos da Borgonha e os bons vinhos de Bordéus : é uma experiên- cia feita e feita em grande escala.» Eu por mim posso dar testemunho d'esta verdade, como já tive occasiao de affirmar no meu relatório sobre a Expo- sição de Pariz de 1867 a paginas 137, fallando dos vinhos da Austrália do Sul. Os vinhos da Nova Galles do Sul e os de Victoria, provenientes exclusivamente de boas castas tiradas da Borgonha e do Me- doc, apresentavam os caracteres dístincti- vos dos vinhos d'estas ultimas regiões. A vista do que fica exposto, grande é a responsabilidade do viticultor no que toca á qualidade dos seus vinhos, porque só d'elle depende a selecção das castas que mais convêera á boa organisação do pro- ducto que intenta formar. Infelizmente é grande em todas as regiões vinhateiras o numero de aquelles que, por ignorância d'esta parte da sciencia vinícola, produ- zem vinhos medíocres ou maus, podendo produzíl-os excellentes. Ha, comtudo, para estes uma desculpa ponderosa, que deve- mos francamente confessar. Deriva esta do grande atrazo em que se acha ainda hoje a ampelographia, apezar de se haver chamado sobre ella a attenção dos homens competentes, e apezar dos esforços que muitos sábios e práticos têem feito com o fim de coordenar os conhecimentos já exis- tentes sobre esta matéria. Pode afoutamcnte dízer-se que a am- 3G JORNAL t)E HORTICULTURA PRATICA. pelographia existe apenas no estado de elaboração. Uma das maiores difficuldadcs que se encontram na organisaçao d'esta parte da sciencia, está no grande numero de va- riedades que se julga existirem e na di- versidade incalculável de nomes, com que cilas são designadas nas diflereutes loca- lidades. Os antigos cultores da vinha, entre os Chaldeos ou antes entre os Nabateos, en- tre os Gregos e os Romanos, reconhece- ram a influencia das castas das uvas na producção do vinho, e começaram a dif- íerençal-as, denominando-as com nomes particulares ; porém as indicações que nos seus escriptos nos deixaram, ainda aquel- les que (como os auctores de Re rústica) foram mais explícitos sobre algumas das particularidades, não são sufficientes para caracterisar as castas de um modo indu- bitável a ponto de as podermos reconhe- cer hoje, pelo menos na máxima parte. A primeira questão que se apresenta, e que até hoje ainda não foi resolvida, é a de saber, se na realidade existe o gran- de numero de castas e variedades da Vi- deira commum (Vitis-vinifera), que mui- tos suppoem existir. Sobre este ponto não se encontram duas opiniões inteiramente conformes. Os antigos, a não ser Virgí- lio, que na sua imaginação de poeta as comparava aos grãos de areia da Libya e ás vagas do mar Jonio, e Plinio, que de certo não era profundo em conhecimen- tos agronómicos, todos restringiam as cas- tas verdadeiramente diíFerentes a um nu- mero limitado. Entre os modernos, os ho- mens mais auctorisados pela pratica da vi- ticultura, ou por estudos especiaes sobre a matéria, como foram D. Simon de Ro- xas, Clemente e Rubis em Hespanha, e o conde Odart em França, tendem também a adoptar a opinião de que o numero das castas de uvas é mais limitado do que ge- ralmente se presume, em vista da grande diversidade de nomes com que estas se designam nas diversas localidades. D. Si- mon, que fez um excellente ensaio de clas- sificação das variedades da Videira cul- tivadas na Andaluzia, descreveu apenas 120, e o condo Odart, na sua Ampelo- grapliia Universal, menciona apenas 420 nomos de variedades em que de certo se encontram muitas repetidas com diverso nome. O snr. dArmaillac diz n'alguma parte que o conde Odart pensava poder reduzir a 200 todas as variedades de Vi- deira j em quanto Bosc havia elevado o seu numero a mais de duas mil. O que não admira, porque este ultimo botânico tendia a admittir um numero illimitado de variedades, visto que defendia o princi- pio da formação das espécies e varieda- des novas pela diuturnidade da cultura e pela mudança de logar e hábitos. Perten- cia já á cschola transformista. O que é verdade é que ninguém pode ainda hoje fixar com certeza o numero das que exis- tem. O viticultor que deseja saber quaes são as variedades da Videira commum hoje cultivadas, como se diíferençam en- tre si, e que qualidades as distinguem e tornam apreciáveis nas diversas regiões, para poder determinar-se na escolha de aquellas que mais lhe conviriam, lucta com grandes difficuldades, que só podem des- apparecer com o auxilio de uma ampe- lographia completa. Os maiores obstáculos que se oppoem á realisação d'este trabalho, residem na anarchia que ainda hoje reina sobre a no- menclatura das castas, nas difficuldades da classificação das mesmas castas e suas va- riedades, e finalmente na escassez de boas e methodicas descripções. {Continua). V. DE ViLLA MaIOR. MORANGDEIROS FRAGARI VESGA, [LINN] (família das rosáceas). O Morangueiro é uma planta vivaz pouco melindrosa: acommoda-se com to- dos 03 ten^enos e com todas as condições climatéricas, se bem que prefira terra del- gada, solta, sccca, c bem adubada. Dá-se melhor com a agua do jardineiro, do que JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 37 com a agua do céo, ou com a humidade natural do solo, mas a falta absoluta de agua, ou o excessivo ardor dos raios so- lares são-lhe prejudiciaes. O Morangueiro pode ser cultivado em canteiros de um metro de largm-a e de comprimento indeterminado, separados por meio de ruas de 0,™80 de largura, para darem commodidade ás regas, ás sachas indispensáveis e á colheita dos fructos. Cada planta deve ser disposta com inter- vallo de 20 a 25 centímetros, em todos os sentidos, formando xadrez, porque d'es- ta forma sào arejados por todos os lados e produzirão melhores e mais abundantes fructos. Os bons morangaes devem ser reno- vados de dous em dous annos e, quando muito, de três em três, separando das an- tigas toucas os rebentões mais fortes e mais bem enraizados, para servirem na nova plantação. Será muito conveniente a mudança de terreno, porque sendo o Morangueiro mu a planta voraz, só pode- ria produzir bem no mesmo local, sendo a terra excessivamente estrumada. A renovação dos morangaes não de- verá espaçar-se além do fim de outubro, para que as plantas tenham tempo de pren- der-se á terra, antes dos grandes frios, e possam fructificar no primeiro anno. Também se aproveita vantajosamente Fig. 6. — Morango Abd-el-Kader. o Morangueiro para bordaduras dos jar- dins, em substituição do monótono Buxo anàOj já quasi desenthronisado do seu an- tigo sólio pela jardinagem moderna. E, com eíFeito, não só a sua ramagem compacta, de cor verde escura, destaca excellentemente os alegretes e canteiros, mas chega uma epocha em que a vista se extasia com os seus corymbos de flores brancas, e depois o paladar com os seus fructos deliciosos. Pôde aqui dizer-se — a reunião do útil com o agradável. O amador que bordar com Morayiguei- ros o seu jardim, não encontrará n'elle somente flores para adornar as suas salas, mas bellos fructos para guarnecer a sua meza. O Morangueiro mais próprio para Fig. 7. — Morango Amazone. este eífeito é: o 31. dos Alpes, das quatro estações ou de Gaillow, ou sejam de fru- cto vermelho ou de fructo branco, porque não lançam braços, como as outras varie- dades, o que é desagradável nos jardins. PROPAGAÇÃO. O Morangueiro pode propagar-se, co- mo acontece com todas as outras plantas, debaixo de dous pontos de vista, ou para dar maior desenvolvimento á cultura das variedades já existentes, ou para obter novas variedades. No primeiro caso, faz- se a propagação por dous modos: ou desta- cando rebentões enraizados da touqa mãe, ou aproveitando as novas plantas que se 58 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. formam nas articulações dos braços, apro- xiraando-lhes terra. Esta operação deve ser feita em julho e agosto; e no setem- bro, epoclia em que já estarão enraizadas, cortar-sc-luto para serem plantadas no lo- cal que lhes fôr destinado. Estes braços só devem ser aproveita- dos, quando se pretendam novas plantas, aliás devem ser cortados á tesoura, á pro- porção que se forem desenvolvendo, por- que cansam a mãe e obstam a uma boa fructificaçào. No segundo caso, isto é, para se obte- rem novas variedades, o meio único 6 a sementeira. Raras vezes acontecerá que a semente reproduza a variedade de onde sa- liiu, sem alguma modificacrio. Obtem-se a semente do morango, co- lhendo no estio os fructos mais desenvol- vidos e mais maduros, e esmagando-os com a mào dentro de um vaso com agua. Separada a semente da polpa, seeca-se á sombra e guarda-se em um saquinho até á primavera, epocha própria para a se- menteira. Preparado um canteiro com terra cri- vada, lança-se a semente de f(')rma que fi- que bem rara, cobre-se com uma camada ligeira de terra vegetal, rega-se em segui- da com um regador de ralo fino e con- serva-se a terra sempre húmida. No fim de quinze dias, pouco mais ou menos, es- tará nascida a sementeira e será conser- vada no mesmo local até ao mez de agos- to, em que se fará a transplantação para o local que lhe for destinado, conservando o intervallo de 20 a 25 centímetros em todos os sentidos, formando xadrez ; re- gam-se convenientemente e cortam-se os braços que forem rebentando. E por esta f('n'ma que os especialistas, na França ena Bélgica, tOem obtido, n'este género, variedades de grande mérito. Variedades. — A lista dos morangos é hoje extraordinária. Tenho diante dos olhos o catalogo especial d'este género do importante estabelecimento de j\I]\r. Vil- morin Andrioux k C.''^ de P.iriz, ])ublica- do para o anno de 18G9-1870, que com- prehende sessenta e nove variedades de primeira ordem. O mais notável, porém, d'esse catalogo são as dez novas variedades obtidas pelo dr. Nicaise e cedidas por elevado pi'eço a MM. Vilmorin Andrieux & C.''' Estas dez variedades foram escolhidas como as mais importantes d'entre uma vasta se- menteira do dr. Nicaise. MM. Vilmorin Andrieux & C.'^ ven- dem cada pé por 5 fr. (900 reis), e as dez variedades por 40 fr. {l-$200 reis). A redacção do Jornal de Ilorticnlhira Pratica deve á benevolência de aquelles senhores oito gravuras, em grandeza na- tural, d'estes mi\gnificos fructos, que serão reproduzidas n'este numero c nos dous seguintes. Encetaremos a marcha com o Ahd-el- Kader e o Amazone. O Ahd-el-Kader (fig. 6) é um fructo extremamente grande, algumas vezes enor- me e (n'este caso excede muito o volume do desenho), ordinariamente é alongado — cor vermelha, atirando ao vermelhão; se- mentes salientes ; polpa assalmoada viva, assucarada, perfumada, ligeiramente aci- dulada, muito bom fructo. Planta mimosa, posto que de bastante vigor; pequenas folhas com foliolos alon- gados; sustentadas por pecíolos delgados — linda variedade de uma apparencia ex- cepcional. O Amazone (fig. 7) é um fructo gran- de, e ás vezes muito grande, alongado, cónico, de bclla forma, quasi sempre re- gular, de cor vermelha clara, e no alto atirando ao vermelhão ; sementes pouco enterradas, polpa de um branco rosado, mui densa, assucarada, muito perfumada, excellente. Planta scmi-ana, vigorosa, rústica e fértil. O proprietário deste jornal, com o de- sejo de engrandecer o seu bello estabele- cimento, mandou vir duas collecções d'es- tas dez variedades, que lhe custam 80 francos. Por tão elevado preço não cre- mos que ache compradores, mas fica ha- bilitado a poder vendêl-as mais em conta de aqui a alguns annos. Cajiillo Aureliano. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 39 AUCUBAS DO JAPÃO Poucos paizes têem clotado a Europa com tiio grande numero de ricos vcgetaes como o Japão; centenares de espécies e va- riedades têem vindo enriquecer as collec- ções europêas por eífeito dos intelligen- tes e emprehendedores cuidados de illus- tres viajantes, taes como Van Siebold, Ro- bert Fortune, John Gould Veitch. Não é de certo ignorado dos leitores que é ao joven e intrépido viajante nomeado em ultimo logar que se deve o soberbo Li- lium auratiinij que tem captivado a atten- çào e admiração de todo o mundo. Não sendo, porém, nosso fim enume- rar aqui todas as riquezas do Japão que temos aprendido a conhecer n'estes últi- mos íinnos, limitar-nos-hemos a tractar do género de que temos em vista occupar-nos especialmente, isto é, das Aucubas. A Aucuha do Japão que, desde a sua introducção primitiva, ha cerca de 80 an- nos, com tanto agrado foi recebida pelos horticultores e desde esse tempo tanto se tem diíFundido por todos os jardins, era, ain- da ha pouco, a única que se conhecia na Europa com o nome de Auciiba japonica. Apezar, comtudo, do grande cuidado e es- tima que merecia esta planta, tanto em razão da belleza da sua folhagem verde- escura, salpicada de amarello cor de ou- ro, como das suas qualidades ornamentaes, quer para salas quer ao ar livre, estava longe de ser prevista a mudança que so- breviria e o novo futuro que estava reser- vado a esta planta. Ninguém pensava que a essa bella folhagem, a esse porte tão or- namental viria juntar-se uma fructificação das mais brilhantes e attractivas ao mes- mo tempo. Com eíFeito, só em 1863 é que os pri- meiros pés masculinos foram introduzidos na Europa. N'essa epocha eram tão raros, que plantas novissimas, apenas com al- guns centimetros de altura, se vendiam pe- lo exorbitante preço de 10 guinéos (48/$!000 reis)!! Que sensação, que admiração e assombro acolheram as primeiras plantas de Aucuhas com fructos ! Ainda nos lem- bra de ter ficado em êxtase diante de uma planta nova que tinha apenas algumas d'essas magnificas bagas vermelhas, seme- lhantes a cerejas ; desde esse instante pre- vimos a immensa voga que haviam de vir a ter estes vegetaes, logo que a sua bel- leza e mérito fossem reconhecidos, e fomos nós dos primeiros a adquirir algumas plan- tas masculinas a fim de as aproveitarmos na fecundação das Aucuhas japonicas fe- mininas (antiga variedade), ás quaes viera juntar-se, ao mesmo tempo que a espécie masculina, a verdadeira espécie typo fe- minina de folhas verdes, cpie recebeu o nome de Aucuha japonica viridis fcemina. A admiração tinha chegado ao seu au- ge quando em 1864, na «Exposição Inter- nacional de Bruxellas», foi exhibida uma planta da Aucuha viridis foemina, da al- tura apenas de 0,"50 por egual largura, apresentando pelo menos 1:Õ00 bagas ver- melhas, muito juntas, as quaes, a não se- rem as folhas, se poderiam tomar por um açafate de cerejas. Desde essa occasião consolidara-se a voga e viram-se surgir não só outras va- riedades masculinas, mas uma quantidade de bellas e distinctas variedades femini- nas, egualmente importadas do Japão e que, ou pela diversidade da folhagem, ou pelos fructos, que diíFerem egualmente se- gundo a variedade, foram colleccionadas com avidez e têem produzido grande lucro aos horticultores intelligentes C[ue se têem entregado á sua cultura, não obstante o elevado preço a que as diíFerentes varie- dades eram cotadas ao principio. Podemos citar como umas das primei- ras que fizeram a sua apparição e que ad- cjuiriram immediatamente uma voga sem contestação, as seguintes: Hymcdaica ; viridis ; limhaia ou picta fmmina; longi-folia^ entre as femininas. E as : Japonica viridis máscula ; bicolor ; maculata ; medi-argentea ; pygmoea^ entre as masculinas. Depois vieram outras variedades im- portadas do Japão, que tiveram tanto êxito como as suas antecessoras. Tendo nós sido dos primeiros a fecun- dar as variedades femininas da Aucubo^ 40 fomos naturalmente dos primeiros a colher sementes d'esta planta, que nos deram grande numero de variedades notáveis. Citaremos apenas a Aiicuha macrodontha inascula, que de certo é ainda uma das mais notáveis e distinctas pela belleza e gran- dioso da sua folhagem, medindo 0,"'20 a 0,"'25 de comprido sobre 0,°12 de largu- ra, largamente chanfrada, verde-escura. Esta variedade é mais interessante ainda em razào do pollen, porque nenhuma ou- tra é tão abundante d"elle, e por conse- guinte de tào grande utilidade para a fe- cundação. Com esta planta, nas diíFerentes exposições cm que a mostramos (1865- 1866), obtivemos varias medalhas de prata. Continuamos depois a semear e temos actualmente alguns milhares da sementeira do anno passado, que apresentam já nu- merosas variações e que oíFerecemos a pre- ços muito reduzidos. (*) N'esta sementeira encontrar-se-hão va- riedades masculinas assim como femini- nas, e de certo tendo sido dado o primeiro passo para a obtenção de variedades de du- plo sexo {Aucuha japonica hermaphrodi- ta)j não seria para surprehender que n'ella se encontrassem plantas de flores franca- mente biscxuaes, o que seria muito inte- ressante, visto que encontrando-se os dous sexos reunidos na mesma flor, já não ha- veria necessidade de ter duas plantas dif- ferentes para obter a fructificação. A fecundação das Aucuhas íaz-se com muita facilidade. Basta haver alguns pós masculinos que tenham flor ao mesmo tem- po que as plantas femininas e misturar as primeiras entre as ultimas ; o vento dis- persará o pollen e todas as plantas femi- ninas produzirão fructo. E naturalmente preferivcl fecundar ar- tificialmente se se quizer obter plantas de effeito, isto c, pequenas moutas cobertas de centenares de fructos vermelhos de- baixo dos quaes a folhagem desapparece quasi inteiramente. Como prova da fecundidade das Au- ciJjos não podemos deixar de contar um facto que se passou á nossa vista. Um nosso visinho e amigo, proprietário de um magnifico jardim situado a uma distancia de 300 metros do nosso estabelecimento, f) Vide o nosso Catalogo H, pag. 32. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. tem no seu jardim, completamente fecha- do com muros de tijolo, um massiço de grandes Aucuhas japonicas, antiga varie- dade. Por occasião de uma visita que lhe fi- zemos no verão do anno passado, ficamos extremamente admirados por ver uma quantidade de fructos n'estas Aucuhas, o que nos fez naturalmente perguntar se as havia fecundado. Dando-nos uma resposta negativa, ob- servou-nos ao mesmo tempo que era a pri- meira vez que tinha notado semelhante phenomeno, o qual não podia explicar. Uma só explicação se podia dar a este facto phcnomenal. O pollen das nossas flo- res masculinas levado pelo vento foi lan- çado sobre as Aucuhas femininas em flor, do nosso amigo, fazendo-lhe obter d'este modo um gozo que elle estava bem lon- ge de esperar. Desde então tivemos occasião de ob- servar o mesmo facto em outras proprie- dades e hoje não temos a menor duvida sobre a causa d'esta fructificação espon- tânea. AUCUBA JAPONICA LATIMACULATA A origem d'esta variedade represen- tada na estampa opposta, é-nos desconhe- cida, mas é inquestionável que deve pro- vir da Aucuha japonica ordinária. E uma das mais bellas e será sempre uma das mais procuradas. Sendo bem cultivada, e por consequên- cia bem caracterisada, é de todas as plan- tas de folhas persistentes a mais encanta- dora. As suas folhas são grandes, de um verde escuro com pontos amarellos e ten- do no meio uma grande mancha também amarella, mas que pode variar do ama- rello desmaiado ao amarello cor de ouro, o que é devido á cultura. O caule e os pecíolos são metade verdes e metade ama- rellos. Como se pode ver pelo que precede é uma variedade feminina e produz fru- ctos da mesma maneira que suas irmãs. Tem, porém, uma vantagem sobre as ou- tras, e é a de produzir os fructos metade verdes metade amarellos, como o caule e os pecíolos, até ao momento da maduração, c por consequência até que toma a cor Ãucnhã lâtimaculãta fí JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 41 definitiva. Ent^o o fructo começa a colo- rir de um lado e torna-se de ahi a algum tempo de um vermelho coral. Estes diversos períodos de coloração dão-lhe um cunho totalmente particular, e os fi'uctos mesclados sobre esta bella folhagem largamente maculada (latimacu- lata) tornam-a um verdadeiro enlevo dos olhos. A cultura d'esta é tão fácil como a das outras variedades e as manchas são cons- tantes; comtudo, tendo muito vigor nos ramos produz algumas folhas sem ellas, mas é bastante supprirair aquelles no mo- mento da sua apparição para conservar o caracter principal d'esta bella e distincta variedade, recommendavel debaixo de to- dos os pontos de vista. Depois d'isto não podemos deixar de aconselhar mui particularmente os ama- dores a que enriqueçam as suas collec- ções cora as Aucuhas que têem appareci- do n'estes últimos annos e que hoje pelo seu mudico preço estão ao alcance de to- dos. Asseveramos-lhes de antemão que os seus cuidados e despezas serão recompen- sados cora usura, e estamos convencidos que nos ficarão reconhecidos por lhes ter- mos aconselhado que embellezem os seus jardins, estufas e até as suas salas, com as variedades da Âucuha de fructo ver- melho. Grand — Bélgica. Jean Verschaffelt. AS AMOREIRAS Ao percorrer as planicies da Lom- bardia, do accidentado Piemonte ou da aprazivel e amena Toscana, o viajante observará que o mais modesto lavrador tem um ar de abastança e de aceio, que raro é visto em outros paizes. Se o seu gado é nédio e desenvolvido, o seu carro commodo e bem trabalhado, não é menos attractiva e completa a sua quinta, com a eira em frente da arcaria do rez do chão, para arrecadar as colheitas em caso de re- pentina tempestade, com o elegante pom- bal ^ coroando o andar superior , e este conjuncto engastado na mais rica verdu- ra de Amoreiras, que formam uma orla á sua modesta fazenda, como um caixi- lho a um quadro. Porque tem o lavrador toscano ou lom- bardo aquella feliz posição, mais fácil de perceber-se do que de descrever? De onde provém esse bem-estar de suas filhas, quan- do, trabalhando ao lado da mãe, á fresca sombra da arcaria, realçada a belleza de suas bronzeadas feições pelos adornos, fructo da industria de suas mãos, se mos- tram typos de saúde e contentamento ? Porque, ás costumadas colheitas, que 3m todos os paizes recompensam as fadi- gas do lavrador, elle tem juntado a Amo- reira, não menos predilecta sua do que de 3ua familia, por isso que — e apreciável fe- licidade—os seus productos são o grande recurso da população feminina, tão desam- parada em tantas terras. Que mãos mais ágeis, com effeito, para espalhar a folha ao tenro sirgo ; onde encontrar mais cui- dado na sua creação, mais idoneidade para fiar o nobre fio, objecto de tanta solici- tude? ^Poderemos nós dizer o mesmo com re- lação a Portugal? De certo que não. E todavia o clima convém á Amoreira e ao sirgo, e em vista da passada paralysia do commercio e das sempre renovadas crises monetárias, não se poderá afl^rmar que as necessidades sejam menores. Dir-se-ha que é este um recurso insuf- ficiente contra tão grandes males. Quem assim pensa não conhece a im- portância d'esta aprazivel industria e deve de certo ignorar a estatística da produc- ção da seda no mundo. Na Itália tem esta colheita o primeiro logar depois da dos cereaes e talvez o pri- meiro logar absoluto para a exportação, regulando a sua importância de 8 a 11 milhões de libras. Na própria França, tão rica de recur- sos, a escassez por causa da moléstia cau- sou grandes males nos departamentos me- ridionaes, cuja colheita de seda era esti- mada em 5 milhões de libras. 42 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. Até aqui só temos fallado do pequeno lavrador lombardo ou toscano; note-se, po- rém, que a mesma prosperidade se deixa ver nas outras provincias italianas, onde a seda forma ura ramo principal da arte agricola. Km toda a parte se vêem fomilias de varias classes entregues ao cultivo da seda, para o qual compram nas grandes quintas a folha necessária, achando n'clle um re- creio e um notável augmento aos seus ren- dimentos. O rico proprietário, senhor de milha- res de Amoreiras, prefere vender a folha a cultivar o sirgo por meio de feitores ou criados, ficando, como é moda no mimdo, na liberdade de gastar os seus recursos nas grandes cidades. Alguns criam debaixo da sua própria vigilância e da do suas familias, quanto comportam as suas quintas e armazéns, vendendo o resto da folha a seus visinhos ou a especuladores. Este é talvez o me- lhor systema a seguir-se e o mais seguro para quem tem meios. Outros, finalmente, dão a folha em so- ciedade a pequenos rendeiros, ou, como se costuma dizer, a meias. O auctor d'estas linhas conhecia uma familia decente, que nào tinha um palmo de terra, cujo único recurso 'para a in- strucçào de seus filhos provinha da co- lheita da seda. E nào sào estes os meno- res regatos que formam a grande cheia da producção sericola. Porém, para se colherem estas van- tagens não basta cravar uma Amoreira aqui, outra acolá. Nào é essa a pratica seguida em França nem na Itália. Para obter excellente folha são precisos cuida- do e paciência : cuidado na cultura e pa- ciência para esperar o fructo. Vêem-se lavradores colher a folha de plantas no- vas para a dar ás suas cabras ou vaccas. — Tornam a rebentar — dizem elles. Taes plantas nunca prestam. A sericultura, para ser digna do no- me de industria nacional, quer que a Amo- reira, principio e base d'ella, seja dispos- ta de maneira a aproveitar todas as con- dições do seu pleno desenvolvi snento : ter- reno, exposição, estrume e poda. A plan- tação barata é a mais cara. A Amoreira prospera em quasi todos os terrenos de trigo ainda que mediocres, e^ em geral, onde se dão bem as arvores de fructa. Plantar em chão muito fraco, ó perder tempo e dinheiro. pjxposições muito batidas pelos ven- tos frios do março, também lhe são con- trarias. As plantas bem desenvolvidas por uma esmerada cultura no viveiro durante cin- co annos (em França sete) e enxertadas com as melhores qualidades de folha, de- mandam que as covas sejam feitas seis mezes de antemão e devem ter 80 centi- metros a 1 metro em quadro e 50 centí- metros de alto. A terra boa deve ser pos- ta para um lado e a do fundo para outro. Infelizmente parece que taes plantas não se encontram em Portugal. Arvores mais miúdas pedem menos preparação. Umas e outras receberão estrume gros- seiro e de duração, como giesta e matto, para o fundo da cova, e algum estrume melhor para as raizes da planta, que de- vem pousar sobre a terra boa que se lan- çou de um lado da cova. As Amoreiras novas querem boas es- tacas para as amparar contra o vento. Não nos é possível n'cste artigo des- crever tudo miudamente. O bom senso dos que se dedicam a esta cultura supprirá o resto. Mas estas são as condições essen- ciaes para em tão importante cultivo obter pleno êxito. Roberto Smith. COUVE DE SCIIWEINFURTII Com a devida vénia ao snr. conse- lheiro Camillo Am'eliano , acrescentarei mais duas palavras acerca do magestoso legume a Couve de Schioeiíifurth. * (i) Vide J. U. P. pag. 8. Foi este o primeiro anno cm que cul- tivei esta Couve de repolho, obtendo a se- mente do estabelecimento do snr. José Marques Loureiro. Não vou fazer a sua historia; vou apenas dar conta aos ama- dores do resultado que obtive. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 43 Principio pela deshapfizar^ ou crís- [ O peso dos maiores excedia a 12 kilog. mar^ porque nao se amoldando em dema- sia o sen nome, pm-amente alleraão, á mi- nha lingua, chamei-lhe — Gigante das hor- tas.— O nome é pomposo, mas merece-o ; senão vejamos. Fiz a sementeira d'esta Couve no co- meço de jimho ; apenas ella chegou ao es- tado de transplantação, transplantei-a em terra que com intervallo de um mez tinha mandado cavar duas vezes, sendo a pri- meira cava com estrume de cavallariça es- palhado sobre a suj^ei-ficie da terra. Passados oito dias da segunda cava, mandei abrir covas para a plantação, e lan- çar-lhes dentro estrume de pombal e uma pequena porção de terra por cima para que a Couve ficasse com a raiz livre do es- trume; e assim que terminou a plantação, mandei dar-lhes uma rega, passados quatro dias outra, e passados vinte dias que a planta estava pegada, uma cava, e assim ficaram o resto do verão sem mais rega. O resultado foi obter oitenta por cento de repolhos de uma grandeza admirável. e 9 a 10 era o regular de todos ! A sua forma não é arredondada como a do Ee- polho hrnnco, asseraelha-se bastante a uma almofada porque a sua larga superfície é achatada. O interior d'este repolho, quasi branco, é composto de folhas tão tenras e delicadas como as de um repolho de al- face e o seu talo não é mais duro. Esta breve noticia, que por experiên- cia, unicamente, dou do Gigante das hor- tas, deve dar em resultado a concorrên- cia dos amadores em buscar a sua semen- te, para possuírem esta famosa Couve, tanto pela sua enorme grandeza, como pelo gosto particular que possue. Os amadores da horticultura podem na verdade consignar um voto de louvor ao snr. José Marques Loureiro pela in- troducção do Gigante das hortas, e eu, de- sejando ser o que primeiro o faça, aca- barei esta noticia por lhe agradecer a prompta remessa que me fez da semente. S. Mamede — Alijó. J. S. Pinto Barroso. ROSEIRAS V A Roseira é uma planta rústica, que vegeta em todas as terras de jardim de qualidades diversas ; comtudo, para que attinja todo o seu desenvolvimento e pro- duza grande numero de flores perfeitas, precisa de uma terra vegetal um pouco fres- ca, sufficientemente profunda e que não tenha sido esgotada pela cultura de ar- bustos do mesmo género. Na cultura da Roseira, como planta ornamental e como tal cultivada por mui- tos amadores para adorno dos jardins, é inútil recommendar este ou aquelle ter- reno, j)orque cada um aproveita aquelle de que pode dispor. N'este caso é indispensável tirar d'elle todo o partido, collocando-o em condições favoráveis, para que a Roseira desenvolva toda a riqueza da sua vegetação, já plan- tando menos profundamente, se o subsolo é de má natureza e nao prxle ser melho- rado por meio de cavas ; já arrancando as (1) Vide J. H. P., pag. 18. Roseiras todos os annos, ou de dous em dous no outomno, estrumando o terreno e tornando a plantal-as. D'este modo, melhorando successiva- mcnte o terreno, o amador verá coroa- dos os seus esforços dos melhores resul- tados. Na cultura da Roseira em grande es- cala, como artigo commercial, pelo con- trario, deve ter-se muito era vista a esco- lha do terreno ; porque d'elle dependem os bons resultados para o horticultor que se dedica a esta especialidade. Os melhores terrenos são os sablo-ar- gilosos, sobre tudo quando se acham n'um vale fértil e um pouco profundo. Alguns terrenos calcareos de boa natu- reza e bastante frescos são igualmente pro- veitosos, devendo-se porém excluir aquel- les que tenham sido muito divididos pela cultura e terriço, porque as raizes das Roseiras morrem n'este solo, que se torna muito ardente. As Roseiras dão-se bem em todas as 44 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. exposições, mesmo ao norte, com tanto que estejam bem arejadas e recebam bastante luz ; isto é, que nào sejam plantadas de- baixo de arvores, nem mesmo nmito pró- ximas, porque á sombra facilmente se es- tiolam e a sua floração é má. Em geral, é preferível para a floração da Roseira o ple- no sol á sombra, comtudo é conveniente que durante algumas horas mais quentes do dia, o excesso de luz seja diminuido pela sombra produzida momentaneamente por alofumas arvoi'es collocadas a distancia. As Eoseiras trepaden-as sao próprias para muros, com exposição ao nascente ou poente. Como as raízes das Roseiras se esten- dem muito, a sua cultura deve ser sem- pre feita em plena terra, porém muitas vezes para ornamento de j ancilas, bal- cões, etc, também se cultivam em vasos, e n'este caso devem preferír-se sempre as Roseiras anàs, de pé franco e cujas raí- zes não desenvolvam pimpolhos ; taes co- mo a multijlora, lawrenciana, fragrans, noisethiana e sobre tudo as de Bengala e de Bourbon. Sobre a preferencia entre as Roseiras de pé franco e as de enxerto em haste elevada, nada se pôde dizer, porque cada um dos casos tem vantagens e inconve- nientes e por conseguinte os gostos dívi- dera-se n'esta questão. As Roseiras de enxerto em haste ele- vada formam mais depressa uma cabeça bem desenvolvida, vegetam em certos ter- renos medíocres, em que as Roseiras de pé franco se não dão bem; convêem para as variedades de vigor mediano, de ve- getação regular e de ramos curtos, taes como as portlandicas e as hyhridas re- viontantes. Algumas hybrídas não remontantes, sendo enxertadas, descnvolvem-se consi- deravelmente; porém a Roseira enxertada é em geral menos vigorosa e duradoura, c como não tem a vantagem de se pode- rem substituir os ramos que morrem, pe- los rebentões desenvolvidos sobre as rai- zcB, apresenta em certa idade uma cabeça cheia de tocos sêccos e cancrosos de as- pecto muito desagradável. Além d'isso, a sua plantação é mais custosa, e só é belia e regular nos primei- ros annos, tornaudo-se necessário substi- tuir successívamente os indivíduos que vâo morrendo. A Roseira de pé franco é de longa du- ração n'um solo conveniente ; formando um bello tuffo sempre vigoroso, que pode facilmente ser substituído pelos novos re- bentos que sahem da raiz. A sua folha- gem, depois da primeira floração, não tem o aspecto murcho que representa a Ro- seira enxertada. Além d'esta vantagem, podendo a Ro- seira de pé franco reproduzír-se pela di- visão dos seus tuíFos, pode sem gastos al- guns augmentar-se continuamente o nu- mero de Roseiras cultivadas n'um jardim. As Roseiras de cem folhas, as trepa- deiras, bem como a Rosa gallica e suas variedades, e em geral as espécies das ín- dias, não se cultivam de outra forma. Por consequência, estes dous methodos podem dízer-se igualmente bons, quando applícados convenientemente; devendo um jardim bem organísado comprehender de ambos os indivíduos um numero propor- cional ; tendo-se o cuidado de supprímir em qualquer das formas os rebentões que nascerem das raízes, os quaes transtor- nam a regularidade da plantação. Para que as Roseiras produzam uma bella, abundante e regular floração e te- nham uma vegetação sã e vigorosa, de- vem ser submettidas á poda ; operação que consiste em supprímir as producções inúteis, favorecendo por consequência a vegetação das úteis. Por meio da poda dá-se também á Ro- seira uma forma agradável em relação com o seu modo particular de vegetar. A poda deve ser feita nos fins do in- verno, em fevereiro ou março, segundo o caracter da estação. Feita no outomno, como a Roseira ainda está em plena vegetação, os novos rebentos prc^duzidos pelo desenvolvimento dos gomos antes dos frios, morrem mui- tas vezes no inverno. E durante esta estação, os cortes fi- cam expostos aos eíFeitos destruidores das geadas ; perdendo muitas vezes certas Ro- seiras uma porção da extremidade de cada ramo, o que além de prejudicar a sua ve- getação, dá-lhes um aspecto muito desa- gradável pela quantidade de tocos sêccos de que ficam cobertas. J. C. Barbosa. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 45 BILLBERGIA LEOPOLDI Originaria da Nova Granada e intro- duzida por Mr. Linden, actual proprietá- rio do estabelecimento «Anibroise Vers- chaííelt», a Billhergia Leopoldi represen- tada na gravura junta (Jig. 8), é, como grande parte das suas congéneres, adapta- da para o ornamento de salas pela ele- gância da folhagem e belleza das suas flo- res vermelhas avioletadas. O género Billhergia, pertencente á fa- milia das Bromeliaceas, não é certamente numeroso. Em compensação, conta algu- P«PiTO Fig. 8. — Billhergia Leopoldi. mas bellas variedades e se a que repre- senta a nossa gravura não é talvez a mais bella, recommendam-a todavia qualidades que a tornam digna do apreço dos ama- dores e portanto de que a seu respeito oc- cupemos a attenção dos leitores com estas linhas. Diante de nós temos ao escrevêl-as um bonito exemplar da Billhergia Leopoldi, com que a amizade do proprietário do Jornal de Horticultura Pratica nos obse- quiou, e encontramos-lhe a belleza que a torna merecedora de figurar a par de ou- tras plantas do género ornamental geral- mente apreciadas. Com relação á sua cultura nas salas, ponto que nos julgamos no dever de não omittir, não temos notado que ella de- mande cuidados especiaes, excepto — pou- ca agua e muita luz — e é debaixo d'estas condições que tem estado a nossa desde 1868. A B. Leopoldi não é uma introduc- ção recente, pois ella data desde 1850, em que foi introduzida por Mr. J. Lin- den que a trouxe, como já indicamos, das montanhas da Nova Granada, seu paiz natal. Sentimos, não obstante esta cir- cumstancia, que haja tão poucas pessoas que a possuam e que lhe não tenham pres- tado a attenção que merece. Lastimamos, mas esperamos que esta 46 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. pequena nota vá levar ao conhecimento e incitar nos amadores o desejo de fazer a acquisiçào d'ella e de outras suas conf^cne- res cf^ualmente estimáveis por sua bellcza. Terminando, julgamos de conveniên- cia para os leitores mencionar as varieda- des que SC encontrara no nosso mercado, além d'aquclla de que acabamos de fallar. Billbergia Liboniana. Vittata. Zebrina. Oliveira Júnior. CALENDÁRIO DO HORTICULTOR MARÇO Jardins — Os trabalhos deste mez são nvmierosos e pedem grande actividade ; é n'elle que se fazem as primeiras semen- teiras ao ar livre de todas as plantas an- nuaes, ou seja em vasos, caixões ou mes- mo nos canteiros, havendo o cuidado de as cobrir de noute por causa do frio. N'este mez semeiam-se Balsaminas (Papagaios)^ Callisteplnis (Secias), Coreo psisj CollinsiaSy Dianthus (Cravos, Cra- vinas)^ Portulacas f Phlox Drumondíi , Zinnias, Althcea rósea (Gigantes)^ Viola tricolor (Amores perfeitos)^ Gomplircna (/ZoZ/osa (Perpetuas) , Petunias, Mathiola incana (Goivos vermelhos), Cheiranthus Cheiri (Goivos amarellos), Mirahilis (Boas noutes)^ Ageratum, Salvias, Verhenas, Clarkias. E nos canteiros : Calceolarias , Papaver, (Papoulas), Delphinum Ajacis (Esporas), Lathyrus odoratus (Ervilhas de cheiro), Cynoglossum, Silene, Reseda odo- rata (Minonéte), Escholtzia, Malcomia maritima (Goivo maritimo), Dhalias e Daturas. Hortas — As cavas devem estar ter- minadas e os estrumes enterrados, para dedicar todo o tempo ás sementeiras e plantações. Deve n'este mez semear-se uma col- Iccção de todos os legumes do ar livre : Alhos, Espargos, Beterrahas, Cenouras , liepolhos, Saloias, Tronchudas, Couves verdes, gallega, Cebolas, Agriões, Espi- nafres, Favas, Inhame, Alface do' estio, c do outomno. Lentilhas, Mostarda, Na- bos, Funcho, Salsa, Pimpinella, Ervi- lhas, Batatas, Rábanos, Rabão, Segure- lha, Topinambas. E as Batatas doces lançam-se sobre camas de estrume para se (jbtcrem hastes novas, que devem ser plantadas ao ar livre no íim de abril. Arvoredo. — N'esta epocha o corte ou púda deve estar feita, mas cumpi'e vi- giar o desenvolvimento dos rebentões, pa- ra que venham auxiliar a forma que se pretenda dar ás arvores. Conhecendo-se que se atraza algum olho, obsta-se a este inconveniente, forçando a seiva a enca- minhar-se mais abundantemente para as partes fracas por meio de golpes ou inci- sões. Supprimem-se os olhos inúteis ou mal collocados. Ainda n'este mez se pode enxertar de garfo ou de coroa, se houver garfos em boa disposição. Lançam-se á terra as sementes de ar- vores fiorestaes: amêndoas, castanhas j bo- lotas, faias, bordo, pinhões do Pinus syl- vestris e maritima, etc. Plantam-se Amo- reiras, e estacas de Salgueiros, Choupos, Sabugueiros e Vimes. A poda das vinhas deve estar ultima- da e cumpre cuidar da empa. Plantam-se n'este mez os novos vinhedos e cavam- se as vinhas velhas. Viveiros. — Continua-se a plantação dos Marmeleiros, Pecegueiros , Damas- queiros. Ameixieiras, Pereiras e Maciei- ras. No fim do mez devem dispôr-se no local em que hão de ficar as Amendoei- ras, tendo a cautela de lhes quebrar a ponta da raiz principal (perpendicular), jjara as obrigar a ramificar-se. Sameiam- se também em canteiros (muito espessos) os caroços de pecegos, de ameixas, cere- jas, ginjas, damascos, e as sementes de maçãs e peras. Grande cultura. — Lavram-se as ter- ras que não tenha sido possível lavrar. Semcia-se Trigo de março, Centeio da primavera, Aveia, Ervilhas, Favas, Len- tilhas, Linho iemporão, Rábanos, Mostar- da negra o Batatas. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 47 CHRONICA Infelizmente realisou-se o boato que tinha corrido de que se substituiria algum do arvoredo. A pedido de alguns moradores (!), se- o-undo se diz, foi substituída a Robinia pseiido-Acacia que circuitava a praça de Carlos Alberto pela Robinia umbracxdi- fera. (i) Nao podemos deixar de censurar este procedimento. Para que são as arvores de uma praça? Não são para ornamento? Não são para tornar esses locaes mais aprazíveis durante a estação calmosa? Ora plantando arvores de pequeno porte como a Robinia wnbracidifera tem-se pouca sombra e torna-se o local mesquinho em logar de grandioso. O arvoredo n'uma cidade é para bem do publico e se se satisfizerem os caprichos de cada particular terão de fazer-se substi- tuições todos os dias. Com relação á poda que fizeram ás Acácias melanoxylon da praça da Batalha e da rua dos Inglezes, devemos dizer que é vergonhosa — fizeram de gigantes, pi- gmeus ! Se queriam arvores de pequeno porte para que plantaram a Acácia melanoxy- lon, que é pelo contrario de grandes di- mensões? Se queriam, dizemos nós, não obstante opinarmos que n'uma praça se devem plan- tar sempre arvores de primeira grandeza, porque embora cresçam e deitem fortes ramos lateraes, não incommodam os ha- bitantes das casas próximas e tornam pelo contrario aquelles recintos aprazíveis du- rante o verão. Será verdade que ha tenções de de- cotar alguns dos ramos lateraes do famoso monumento portuense que tanto embelleza o Campo dos Martyres da Pátria — o Ul- mus campestris! Que falta de gosto pa- tenteiam estas amputações ! E que dirá um estrangeiro que veja commetter tal crueldade? Como contrasta este modo de proceder com o que se pratica em outros paizes, por exemplo, em França, onde se (•) Var. da Bohinia pseudo Acácia. gastam annualmente somraas fabulosas para transportar das raattas para os bou- levards das cidades arvores já frondo- sas!... Nos princípios de fevereiro não se ou- via fallar no Porto n'outra cousa senão do assassino Troppman e do destroço das arvoí-es da cidade. Isto prova que não foi só a nós que este facto despertou a atten- ção. — Projecta-se fazer nos fins de abril ou princípios de maio, no Palácio de Crys- tal, uma exposição exclusivamente de Ko- SAS. Estamos persuadidos que não serão so- mente os horticultores propriamente ditos que concorrerão a este certame, mas tam- bém os amadores, porque já são numero- sos entre nós aquelles que se dedicam á cultura de Roseiras. É esta a primeira Exposição de Ro- sas que se realisa no Porto, portanto so- mos levados a acreditar que será uma festa brilhante e digna de ser registrada 'como um sensível progresso no ramo hor- tícola. Seria realmente para sentir e até cer- to ponto estranhavel, que fossem friamen- te acolhidos os esforços de aquelles que se empenham em desenvolver uma indus- tria de tão auspicioso futuro. — Quando se deseje tirar de um terre- no o máximo resultado que elle possa pro- duzir, é de absoluta necessidade variar as culturas, para evitar que a terra fique dentro em pouco exhausta dos productos assimiláveis ás plantas de que consta a cultura da terra. Pôde até certo ponto favorecer-se a producção com adubos apropriados ; com quanto d'este systeraa se colha resultado proficuo^ ainda assim é immensamente útil variar todos os annos as culturas — é n'isto que consistem os afolhamentos in- dispensáveis á boa producção. Um ponto não menos importante e que, infelizmente, é ignorado pela maior parte dos cultivadores, é conhecer a na- 48 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. tureza ou princípios elementares das plan- tas que se desejam obter da terra, para que o emprego dos adubos seja o mais rico possivel d'esses princípios: já se vê, pois, que nem todo o estrume convém a toda a cultura; é necessário saber fazer selecção dos adubos que melhor resultado possam dar. Debaixo d'este ponto de vista, envia- mos aquelles de nossos leitores que nào possuirem conhecimentos especiaes da ma- téria, para o annuncio que vae no logar competente, dos snrs. Deligny Irmãos k C.% onde podem escolher a fórmula do adubo que melhor convenha, em relação á cultura que cada um desejar. Estas íV)i'- niulas de adubos organisadas pela pratica agrícola e em face dos compostos orgâ- nicos de que cada planta se compõe, ge- ralmente fallando, fiivorecem de uma ma- neira prodigiosa, ao que asseveram os snrs. Deligny Irmãos & C.'^, o desenvol- vimento da vegetação a que são destina- dos. Muito apreciaríamos que os proprietá- rios que se resolvessem a ensaiar nas suas culturas a applicação d'estes adubos, nos fizessem conhecer em occasiao opportu- na os resultados que colheram. Com isso lucraríamos todos, e nós, se taes resultados corresponderem ao que se affirma, dar- nos-hiamos por felizes de concorrer para um útil melhoramento por meio da pu- blicidade 6 da efficacia que possam ter as nossas palavras. — De uma carta que nos dirigiu o nosso coUaborador, o snr. visconde de Villar Allen, extrahimos o seguinte : A Wigandia caracasana {verdadeira), oriun- da de Venezuela, foi apresentada em Berlim em 1825 por Ilumboldt e Bonpland; é uma planta muito inferior em belleza á TF. macrophylla in- troduzida do México e com a qual se tem confun- dido. A W. macrophylla, quando é cultivada em sí- tios quentes bem irrigados, apresenta folhas elli- pticas de 1." por 0»50, dentadas, arredondadas no vértice, reticuladas, bolhosas e amarroquina- das na face superior que é de um bello verde, a face inferior mais descorada é tomentosa e ar- mada de picos ofíensivos como as urtigas; em quanto que a W. caracasana {verdadeira) distiu- gue-se por ter as folhas muito mais pequenas, cordiformes agudas, hirsutas vas duas faces, flo- res uiiilateraes côr de violeta descorada, pedicel- ladas c de tubos tâo curtos como o cálice. Aproveito esta occasião para dizer a V. em referencia ao que li na sua ultima «Chronica,» que não me pai-ece mal coUocado o grupo de Colocasias esculentas do «Campo dos Martyres da Pátria :» para o effeito geral — como grupo, julgo estar melhor alli do que se estivesse mais perto do pequeuo lago artificial; — como logar para as Colocasias se desenvolverem, também nào me parece mal pelo que a pratica nos mos- tra. Esta Aroidea, sendo plantada em boa terra e cm grupos, havendo cuidado de conservar-lhe artificialmente a humidade nas raizes, toma maior desenvolvimento cultivada a ^jZe?ío sol do |que nos sitios húmidos e sombrios. Em agosto p. pas- sado vi um grupo de mais de um cento de collos- saes Colocasias esculentas cultivadas a pleno sol no centro da Place Dauphine em Bordéus ; o seu grandioso effeito era alli realçado por uma cer- cadura larga de Irisine Herbstii {Achyranfhes Verschaffelti). O mesmo acontece ao Coleus Ver- schaffelti ; essa soberba planta da Ilha de Java nào toma o seu bello avelludado senão durante os grandes calores e grup)ada a pleno sol, e tra- ctando-a convenientemente como todas as plan- tas vindas de climas tropicaes. Alfredo Allev. Na parte concernente ás Colocasias, a que se refere o nosso coUega, cumpre-nos dizer que não se deve inferir do que es- crevemos na nossa «Chronica» (pag. 30) que estavam mal collocadas para «eíFeito geral», mas sim mal collocadas pelo que respeita ás condições que ellas exigem, e as razões em que nos fundamos para o dizer parecem ser reconhecidas como ver- dadeiras pelo nosso illustrado coUabora- dor. Mostra-o s. ex.* declarando que se houver o cuidado de conservar-lhes arti- ficialmente a humidade e de «as pôr ao abrigo dos raios do sol durante as horas em que elles são mais fortes» acrescen- taremos nós, estas plantas prosperarão por- que estarão então nas condições que exi- gem, isto é, terão calor, humidade e som- bra. Dando-se estas condições reunidas ob- ter-se-ha indubitavelmente um grupo de Colocasias de surprehendente effeito. Ora é porque taes condições se não dão naturalmente a respeito das Coloca- sias do «Campo dos Martyres da Pátria» e porque só artificialmente se poderão ob- ter, que nós dissemos que a sua coUoca- çãe alli não era a mais apropriada. No próximo numero occupar-nos-he- mos da Wigandia caracasana e do Co- leus Verschajjelti ; deixamos de o fazer hoje por falta de espaço. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 49 ESTUDOS AMPELOGRAPHICOS (O Grande foi sempre a confusão que rei- nou na nomenclatura das castas das Vi- deiras cultivadas ; confusão que está lon- ge de se desvanecer, apezar dos esforços de muitos ho-mens notáveis e competen- tes. Olivier de Serres, que no fim do XVI século nos apparece em França como sen- do um dos patriarchas da sciencia agro- nómica, dizia já no seu TJieatro da Agri- cultura (Liv. 3.° cap. II) o seguinte: «La révolution des siécles et distance des lieux ont tellement diversifié les appelations des raisins, qu'à peine s'entend'on aujourd'huy de terroir à terroir, je ne dirai pas de pro- vince à province. Car ici Ton nome telle sorte de raisin, qui est blanche et hastive, que là se trouve noire et tardive; estant tellement grande la diversité en cest en- droit, qui aucun fonderaent n'y peut être assis.» Esta incrivel anarchia nas disparata- das denominações, com que nas diversas localidades se designam as castas das Vi- deiras cultivadas, continua hoje, quasi como no tempo de Olivier de Serres. Não só a mesma casta tem nomes muito di- versos nos differentes paizes, mas ainda muitas vezes o mesmo nome serve para designar castas muito diíferentes. Depois de tantos séculos de observa- ções e estudos, feitos sobre a vinha por ho- mens notáveis, custa a acreditar que se não haja ainda estabelecido a ordem n'es- te cahos da ampelographia. E entretanto são numerosos os escriptores que se têem occupado da matéria. D. Simon de Roxas Clemente e Rubio, de quem já acima fal- lei, apresenta no capitulo 4.° do seu ex- cellente Ensayo sobre las variedades de la Vid commum, que vegetan en Andalucia, a resenha e censura dos auctores que até á sua epocha haviam escripto sobre as va- riedades da Vide. São nada menos de 28 os trabalhos que elle examinou e criticou, dos que eram conhecidos até ao principio d'este século (1805), em que elle publicou a obra citada, e ainda em uma nota cita os nomes de muitos auctores, cujas obras não pôde consultar. De outros muitos se pôde ainda dizer com segurança que igno- rava a existência, e entre estes posso eu indicar um nosso compatriota, Francisco Pereira Rebello da Fonseca, que já em 1790 havia apresentado á «Academia Real das Sciencias de Lisboa» uma extensa Memoria sobre a cultura da vinha, que foi impressa no anno seguinte, e na qual se encontram no cap. ii as descripções de 23 variedades de Videiras cultivadas no Douro ; descrijDções que, apezar de incom- pletas, não são de mérito inferior ao de muitas que D. Simon elogia nos outros auctores. Mas não admira que o botânico hespanhol ignorasse o que entre nós se escrevia, porque infelizmente foram sem- pre escassas desde muito tempo as rela- ções scientificas e litterarias entre os dous reinos da Península. O Ensayo de D. Simon de Roxas abriu uma nova éra para os estudos ampelogra- phicos: deve elle considerar-se como um monumento n'esta parte da sciencia e co- mo o guia seguro, que nos deve conduzir em todas as tentativas, que hajam de se emprehender com o fim de constituir a verdadeira ampelographia. Posteriormente ao Ensayo que acabo de mencionar, vários trabalhos de incon- testável mérito se tem publicado em Fran- ça e Allemanha sobre o mesmo objecto, ao mesmo tempo que se ameudam as ten- tativas para formar collecções completas de Videiras, com o fim de resolver as principaes difficuldades, que obstam á clas- sificação methodica das diversas castas, e ao estabelecimento de uma perfeita syno- nymia, que faça desapparecer por uma vez a anarchia da nomenclatura hoje empre- gada. Não fallando nas tentativas de Chaptal a este respeito, nem nas de Bosc, que ha- via emprehendido a descripção de todas as variedades de cepas dos vinhagos fran- cezes, que elle reputava numerosíssimas, mas que deixou incompleta e inédita, nem ainda nos diversos tractados de ampelo- (1) Vide J, H. P. pag. 83. J870--Vol, 1.» Abril-t?.' 4. 50 graphia, que se tem publicado era Alle- manha e n'outros paizes, basta mencionar as duas obras, clássicas n'estc género, com que a França se honra, a Ampelofjraphia Universal do Conde Odart, e a Ampelo- graphia Franceza de Victor Rendu, sendo esta ultima até acompanhada de grande numero de estampas coloridas, com o fim de melhor representar os caracteres das diversas castas de uvas. Kao devo tam- bém deixar de fazer aqui menção das des- cripções ampelographicas, acompanhadas de cxcellentes estampas coloridas, que suc- cessivamente está fazendo o Jornal de Viticultura Pratica, que se publica em Pariz, e em cuja collaboraçào tomam par- te os homens mais competentes que n'cste ramo existem em França. No entretanto todos os esforços, todas as tentativas de tantos homens de verda- deiro mérito e boa vontade níto têem sido até hoje sufficientes para resolver o im- portante problema da classificaçào das cas- tas cultivadas, nem para achar um meio fácil de organisar a sua nomenclatura de modo que o observador possa, em presen- ça de qualquer planta, achar sem difficul- dade o logar que ella occupa na classifi- cação, determinar o nome que lhe perten- ce, e conhecer a sua historia completa: ou, dado o nome que em qualquer região serve para designar uma casta, se possa logo saber quaes são os que lhe corres- pondem nas outras regiões e se possa ter immediata noticia das qualidades e defei- tos d 'essa casta. Devemos, pois, confessar, ou que o problema é bem difficil de resolver, ou que se não tem seguido o verdadeiro ca- minho, que deve conduzir á sua solução. A classificação é sempre uma necessi- dade, quando se quer estabelecer alguma ordem na descripção de numerosos indi- víduos de qualquer das províncias dos seres que povoam a terra. A grande mul- tidão de castas e variedades da Videira hoj(! existentes, está reclamando este meio, e parece á primeira vista que seria muito fácil como em qualquer outro ramo de historia natural, achar os caracteres suf- ficientes á determinação das analogias c differenças que podcssem servir de base á fi.rmação dos grupos, suas divisões e Bubdivisõcs até ao limite em que as difife- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. renças não são já apreciáveis. Este metho- do suppõe a permanência dos caracteres n'esses grupos. Mas podemos nós contar com esta permanência nos caracteres dis- tinctivos desta multidão de castas e suas variedades de uma mesma espécie botâ- nica,^ a Videira commumf É sabido que muitas vezes se tem ma- nifestado e tentado sustentar a ideia, não só da mutabilidade e alterabilidade dos caracteres essenciaes á diíFerenciação dos grupos inferiores, mas até da successiva transformação das espécies. Não me pertence a mim, a propósito da classificação das Videiras, entrar n'u- ma das questões mais complexas da his- toria natural dos seres organisados, mas devo observar que a opinião dos homens práticos, que têem feito da viticultui^a a sua especialidade, é inteiramente favorá- vel á doutrina da permanência dos cara- cteres essenciaes que distinguem as diver- sas castas, quando estas se propagam pela plantação de bacellos, por mergulhia, ou por enxertia. Se alguns factos, contrarian- do este principio, se encontram consigna- dos em escriptos de auctores a que se não pode recusar a devida consideração, é sem duvida porque se não prestou a esses faT ctos a devida attenção, nem foram apre- ciados com rigoroso critério. A este res- peito citarei apenas a opinião, um pouco arriscada, que F. Pereira Rebello consi- gnou no cap. II § XXV da Memoria acima citada. Ahi diz o auctor : «A mesma plan- ta de Videira, mudada de um sitio para outro, figura caracteres mui diversos»; e em uma nota a este paragrapho quer pro- var com um exemplo a verdade da sua proposição. Transcreverei aqui a nota a que me refiro : «Em agosto de 1788 visitei as vinhas de Ribeira do Lima, e entre as varieda- des que encontrei escolhi nove que me agradaram, ou pela sua producção, ou pela sua qualidade, nenhuma das quaes tinha semelhança alguma de caracteres com as que conhecia no Alto Douro; fiz vir planta de todas jiara enxertar, e uma d'ellas que alli chamam Traz de Ancoi'a me sahiu /Sousão, que ao meu parecer não ti- nha encontrado em todo o districto que visitei; nem ao menos Videira com cara- cter algum que se assemelhasse ás do Sou- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 51 são; isto nao pôde provir senão da trans- raudação, e é o mesmo que fez dizer ao Abbade Rosier no sobredito Diccionario (Art. Espécie. Sec. 2.^): «Quelle enorme difference ne se trouve-t'il pas entre les plantes de vigne de Bourgog-ne et ceux du Cap de Bonne Esperance? Cependant ce sont les mêmes.» Não me parecem muito seguros os fundamentos da opinião emittida tão ca- thegoricamente por Pereira Rebello, Na- da mais fácil do que haver uma troca das plantas que lhe foram enviadas do Minho para euxertar no Douro. Todos sabem a pouca consciência com que ordinariamen- te se fazem estas remessas, quando não são vigiadas por pessoa intelligente e de boa fé. Pode ser que elle não tivesse vis- to a Sousão na Ribeira do Lima; mas comtudo esta planta é cultivada na pro- víncia do Minho e na própria Ribeira do Lima. Na Lista das Videiras tintas conhe- cidas na Riheira do Lima e seus arredo- res^ que se encontra a pag. XVII e XVIII do Tractado Theorico e Pratico da Agri- cultura das Vinhas de A. L. de B. F. T. Girão, 1." Visconde de Villarinho de S. Romão, lá se vê aquella casta mencionada com as mesmas qualidades que se lhe co- nhecem no Douro. Assim uma simples, e talvez innocente troca de plantas que fez apparecer o Sousão, quando se esperava a casta que Rebello tinha visto com o nome de Traz de Ancora, podia muito bem induzil-o em erro, levando-o a asseverar um facto que não tem sido confirmado por ulteriores observações. Não tem melhor fundamento o passo transcripto do Diccionario do Abbade Rosier. Nada prova que as plan- tas que produzem o celebre vinho do Ca- bo, sejam oriundas da Borgonha: o groe- nedruyf, que produz o vinho chamado madeira do Caho, e o steen-druyf, são ambas originarias do Rheno : o haenapon de que se acham povoadas as vinhas de Constança, e que produz o excellente vi- nho licoroso conhecido em todo o mundo com o nome de vinho de Constança, foi levada da Pérsia para o Cabo : os Mosca- téis que alli também se cultivam são os mesmos da Europa. Isto é o que se sabe de mais positivo sobre as vinhas do Cabo da Boa Esperan- ça e que se deve ás conscienciosas inda- gações de Julien, auctor da celebre To- pographia de todos os vinhagos conheci- dos. Não se pode comtudo negar que al- guns caracteres e qualidades das Videi- ras, e principalmente dos seus fructos, sejam susceptíveis de modificação, quan- do as plantas mudam de regimen. Mas convém estudar quaes são os caracteres, que se mostram permanentes e inalterá- veis em todas as condições e localidades, quaes são aquelles que se modificam ; co- mo e porque se modificam. Sem estes co- nhecimentos a respeito de todas as castas, nem as poderemos classificar proveitosa- mente, nem dar por completo o seu estudo. A classificação methodica das castas pelos seus caracteres phytographicos será muito útil debaixo do ponto de vista pu- ramente scientiíico : a determinação exa- cta da synonymia é extremamente vanta- josa aos viticultores para bem entenderem o que até hoje se tem escripto e praticado nas diversas regiões sobre viticultura; mas não se podem alcançar resultados eminen- temente práticos sem um estiido completo das castas e dos seus productos, incluindo o vinho que ellas podem fornecer, porque este é o ultimo termo dos trabalhos do viticultor. O bello e consciencioso Ensayo de D. Simon de Roxas Clemente, é, como já disse, um trabalho muito importante e útil para guiar aquelles que se desejam consagrar ao estudo da ampelographia, mas unicamente debaixo do ponto de vis- ta botânico, e com o fim de cooperar para a classificação das castas. As ampelographias do Conde Odart e do Snr. V. Rendu^ apezar de todo o seu incontestável merecimento , deixam-nos ainda em grande incerteza e pouco auxi- lio podem prestar á maioria dos viticulto- res para os guiar na escolha das castas que lhes convém plantar, porque na maior parte dos casos não é fácil reconhecer as que os auctores enumeram, á vista das singelas e resi.midas descripções que em- pregam. Uma parte dos auctores, que se têem occupado d'esta matéria, preoccupam-se particularmente da classificação como na- turalistas, outros desistem da classificação em vista das difficuldades que ella apre- 52 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. senta e, como os viticultores, consideram mais 'importante a simples clescripçrio das castas c a determinação ou verificaçào da synonymia. No estado em que se acham os nossos conliecimentos ampelograpliicos, uma clas- sificação, como convém á viticultura nào é obra de pouco momento. Nào tem faltado todavia propostas de bases para efiectuar a classiticaçuo das castas. O Conde Odart, na introducção á sua ampelographia universal, passa em revista os systemas apresentados por di- versos auctores, c, criticando-os, conclue pela rejeiçào de todos ellcs, deliberando- se a adoptar para as suas descripçucs a distribuição das castas pelas regiões viní- colas. Eu não pretendo entrar na mesma analyse, mas indicarei simplesmente, como noticia que interessa nesta questão, as ba- ses que têem sido propostas pelos mais notáveis ampeleographos. D. Simon de lloxas Clemente tomou por base da sua classificação a abundân- cia ou escassez da felpa nas folhas das Videiras, formando 2 secções, a 1.^ con- tendo as castas cujas folhas são cotonosas ou felpudas (tomentosa), e a 2.* as que têem as folhas quasi nuas (subnuda), e cada uma d'estas foi dividida em diversas tribus. \'ongok quiz ampliar este systema e formou quatro secções em vez de duas, segundo a maior ou menor quantidade de felpa e disposição desta nas folhas. ^letzger e Burger tomaram como fun- damento principal da sua classificação a forma oblonga espherica dos bagos. Von-Vest serve-se principalmente da figura das folhas e constituo duas classes, das quaes a prnneira nao contem senão uma casta em que as folhas são lancina- das. Na segunda, que contém o resto das castas, adopta como base da divisão em duas ordens a forma alongada ou esphe- rica dos bagos^ e para as subdivisões de cada uma d'estas ordens, serve-se da cor c- gosto especial das uvas. O systema do Dr. Acerbi, adoptado pelo abbade Milano, tem por fundamento da primeira divisão em classes a colora- ção das uvas brancas e coradas. As clas- ses são subdivididas em subclasses em re- lação ao gosto simples ou perfumado das uvas : as ordens arranjam-se em attenção á forma dos bagos — oblongos ou esphericos — e finalmente a divisão em géneros é ba- seada sobre a forma das folhas. Ultimamente o snr. A. d'Armaillac apresentou no Jornal de Viticultura Pra- tica um outro systema de classificação to- mando por base das grandes divisões a cor das uvas, e das divisões secundarias a fúrma das folhas, o que é uma simplifi- cação do systema antecedente. D'esta singela exposição se vê quanto são artificiaes todos estes systemas, que nos levariam a separar e collocar em di- visões muito afastadas algumas castas en- tre as quaes existem intimas relações de' parentesco. As diíFerentes variedades do grupo dos Moscatéis, por exemplo, teriam de ser collocadas em divisões muito sepa- radas, apezar das suas intimas relações e de fornecerem principalmente, em todas as regiões, productos quasi similares. (Continua). V. DE ViLLA Maior. MORANGDEIROS FRAGARIA VESGA, [LINN.] (familia das rosáceas) As duas gravuras subsequentes reprc- Rcntam dous morangos da cxccllentc col- lecção do dr. Nicaise, comprada por MM. Vihnorin Andrieux & C.'*^ , François-Jo- scifh 11 c Gabridle, os quaes não podem por certo considerar-se de menor impor- tância, que os dous precedentes, não só por sua grandeza e bella forma, como polo seu magnifico colorido e sabor deli- cado. (') Yiclc J. 11. r., pag. 3G. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 53 A gravura n.° 9 representa o moran- go François-Joseph II. Friicto grande e bello, de forma arredondada cordiforme, de ura vermelho aurora brilhante, cor que se destaca sensivelmente entre as outras. As suas sementes são amarelladas e salientes; a polpa é rosada e de um sa- bor agradável. A folhagem é de um bello verde claro luzente, e como que enverni- sado. Fig. 9. — Morango François-Joseph II. Variedade vigorosa, rústica e fértil, annunciando-se como muito recoramenda- vel para a grande cultura e provisão dos mercados. A gravura n.° 10 representa o morango Gahrielle. Fructo mui grande, redondo, vermelho escuro envernisado. Sementes pouco salientes ; polpa vermelha, mui suc- Fig. 10. — Morango Gabrielle. cosa, assucarada e de um sabor esquisito. Folhas fortes e erectas, foliolos quasi re- dondos, peciolos compridos, adelgaçados, mui rijos. Variedade de grande mérito, vigoro- sa, rústica, mui fértil, vingando muito bem todos os seus fructos; é muito serô- dia. Camillo Aureliano. PLANTAS DE COLTDRA DIFFICIL Principiaremos pela Cineraria, que agora começa a dar flor. Muitos dos lei- tores talvez achem que a Cineraria não tem nada de diflficil na sua cultura, por isso que todos os invernos as semeiam e crescem muito bem. E verdade isto sem- pre que as geadas as poupem ; porém não tractamos d'isto, mas sim de conservar e propagar as bellissimas variedades que em outros paizes existem d'esta planta. Em primeiro logar resistem muito mal aos calores excessivos dos mezes de julho e agosto, particularmente no svú de Por- tugal, e é n'isto que consiste tudo — fa- zel-as passar esses mezes do estio. E como fazel-o? Tentaremos indical-o. Logo que a planta tiver acabado de florir, deve-se cortar na altura de dous dedos da superfície da terra do vaso e posta em estufa húmida, á sombra c re- gada, no fim de quinze dias terá deitado uma porção de rebentos. Quando, porém, deva ser posta fora, á sombra, no fim de outros quinze dias, tendo-a bem regada, estes rebentos terão boa raiz. Deve-se então tirar a planta do vaso e cuidadosamente extrahir-lhe todos os re- bentos um a um com toda a raiz possível. Feito isto, deverá plantar-se em vasos do tamanho chamado «de cinco reis» com terra pobre mas leve, regar-se e metter-se n'um caixão á sombra, o qual deverá ficar desta- pado de noute e fechado de dia, conservan- do as plantas sempre antes seccas que mo- 5i JORNAL DE HORTICULTUEA PRATICA. Ihadas o preferindo regal-as pela manhã antes de ícchar o caixào, do que á tarde quando se descobre. D'csta íorma passarão a força do calor e terào os vasos cheios de raízes pelo mcz de setembro, quando de- vem ser plantadas em vasos grandes e expo-stas ao tempo, sendo necessário re- gal-as sempre que o tempo for secco. A terra cntào deve ser rica, porém leve. A melhor será uma mistura de ter- ra vegetal com terra de jardim boa, es- trume velho e areia lavada, em partes eguaes. Tractadas por esta forma, podem con- tinuar-se as mesmas variedades por mui- tos annos e sempre boas. Lisboa. {Continua). D. J. NaNTET MONTEIRO. SEMENTEIRA DA BATATA COMMDM SOLANUM TUBEROSUM, [LINN.] A Batata cornmum é natural da Ame- rica e foi trazida para a Europa na edade media. Este vegetal era ha 30 annos cultiva- do entre nós em tào pequena escala, ([ue nSo chegava para o consumo do paiz, tanto que o importávamos do estrangeiro cm grandes quantidades, líoje é muito cultivado no paiz tanto para consumo co- mo para exportação ; para Inglaterra, por exemplo, se exportam annualmente gran- des quantidades (de semeadura têmpora) onde geralmente obtém bons preços indo em março, abril e maio. Em Portugal, infelizmente, ha muito poucas variedades de Batata e quasi sem- pre se encontra a mesma qualidade; se algumas vezes acontece ajjresentar algu- ma differença, é devido ao terreno onde foi cultivada. Pelo uso seguido do plantar os mes- mos tubcrcidos, tem cansado e degenerado tanto a Batata, que pouco produz, a pon- to de se tornar tào fraca que a planta é atacada do mal com muita facilidade. Entre nós para melhorar o que acima acabo de dizer, isto é, augmentar a pro- ducçào c tornal-a main vigorosa para re- sistir ao mal, nào basta o que hoje se ínz, que é escolher Batata do um local para plantar em outro; isto é bom, mas nào ó Buffieicnto. Para regenerarmos esto precio- so vegetal e termos muitas variedades no paiz, devemos fazer como se faz em In- glaterra, Allcmanha e Pt^lgica, onde se encontram nos mercados de trinta a cin- coenta variedades (umas tmiporàs, outras serôdias), todas com differentos applica- çoes. Entre estas ha qualidades em que os tubérculos obtém grande volume e cuja massa nào é tào fina, mas que se appli- cam em grande escala á engorda dos ga- dos vaccum, cavallar e suino. Para se obterem essas grandes varie- dades e qualidades de Batata é preciso fazcrem-se as sementeiras como se fazem n'aquelles paizes, e obteremos variedades novas e robustas que poderão resistir mais á moléstia e que darão mais producções. Para se fazerem as sementeiras colhem- se nos batataes as sementes quando madu- ras. As sementes estào dentro de umas pe- quenas bagas redondas que produz a plan- ta, as quaes quando maduras se fazem amarellas. Apanham-se e extrahe-se a se- mente da baga, que é muito similhante á do Tomate commum, e se lhe faz o mes- mo processo, isto é, secca-se. Nos nossos batataes cncontra-se pouca semente, provavelmente devido á fraque- za da planta; por isso será melhor man- dal-a vir de Inglaterra, AUemanha ou Bél- gica, onde se obtém com f:icilidade cm qualquer estabelecimento de horticultura, mesmo porque as sementes vindas de um paiz do norte geralmente se dào melhor n'um paiz mais ameno. A sementeira faz- sc nos mczes de fevereiro e março, da seguinte maneira: — Prcpai-am-se alguns canteiros de terra ligeira, bem adubada com estrume decomposto ; espalha-se a se- mente rara o cobre-se levemente com ter- ra, devendo haver cuidado em conservar o terreno húmido. Depois da semente nas- cida, conscrvam-se os canteiros limpos de herva; se por acaso em algum canteiro nas- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 55 cerem mais espessas, clesbastam-se, plan- tanclo-se as plantas arrancadas em outros canteiros. No outomno, quando as plantas se fazem amarellas (signal de maduras), arrancam-se com todo o cuidado para se nào perderem os pequenos tubérculos, que terào obtido o tamanho de uma ervilha, e guardam-se bem cobertos de areia secca até á primavera seguinte, que é quando se tornam a plantar em terreno ligeiro e bem adubado, em carreiras que devem ter um espaço de 25 a 30 centimetros umas das outras, para se poderem amontoar. As plantas d'esta segunda sementeira que se fizerem mais cedo amarellas (signal de maduras) sao qualidades têmporas, e por isso devem ser apanhadas e separadas ; as que amadurecerem mais tarde são as qua- lidades serôdias ; n'estas duas qualidades, tanto serôdias como têmporas, se aparta- rão as diversas qualidades que devem ap- parecer em feitio e cores e que devem ter pouco mais ou menos o tamanho de uma noz. A terceira plantação faz- se também em terrenos ligeiros e bem adubados, e também em carreiras, mas que deverão ter de distancia umas das outras 50 cen- tímetros, para também se amontoar ; quan- do estas estiverem maduras devem ter en- tão o tamanho natural, e é quando o hor- ticultor deve fazer as melhores escolhas. Estou certo que os horticultores que fizerem estas sementeiras, não só tirarão grandes vantagens, como prestarão bom serviço ao paiz. Vi no anno de 1862 em Reading (In- glaterra) uma sementeira feita pelos horti- cultores Sutton & Son, da qual obtiveram trinta e cinco variedades. Lisboa. George a. Wheelhouse. BANANEIRAS Hoje que o gosto pelas plantas de fo- lhagem ornamental está tão espalhado, não devemos deixar de mencionar uma que pela elegância de suas folhas e flores deve ser considerada como uma planta decora- tiva de primeira ordem, que pôde rivali- sar com as Avalias, Caladiums, Wigan- dias,^ etc. E a Bananeira um vegetal herbáceo de grandes dimensões, apresentando um caule formado pela base dilatada dos pe- cíolos que se embainham uns nos outros, partindo de um grosso tubérculo radical. Este caule é coroado por um bello tufo de amplas folhas divergentes, de uma bel- la cor verde, lisas e assetinadas pela par- te superior, e que em algumas espécies chegam a ter um a dous metros de com- primento. Do centro d'ellas nasce uma haste ou pedúnculo terminado por um cacho inclina- do e guarnecido de flores irregulares agru- padas na axilla de espessas e numerosas bracteas. As Bananeiras j levadas do antigo con- tinente para a America, ostentam hoje a sua belleza em todas as florestas da zona tropical, mostrando aos viajantes toda a soberba da sua luxuriante vegetação. O fructo é um excellente alimento para os habitantes de aquellas regiões. Supposto que estas plantas sejam na- turaes de um clima muito mais quente que o nosso, e necessitem portanto de es- tufa, ha algumas espécies que se dão ao ar livre e que podem concorrer maravilhosa- mente para ornamento dos logares húmi- dos e abrigados dos nossos jardins, quer plantadas em massiços, quer sós. Antes de concluirmos narraremos o seguinte que nos parece ser interessante. Querem alguns auctores que fora a Bana- neira a arvore do Paraiso em cujo fru- cto Deus prohibira se tocasse, e que çuas folhas serviram de cobertura a Adão e Eva, expulsos de aquelle logar de deli- cias por eífeito de um crime. Linneu, aproveitando ou acreditando este facto, deu o nome de Musa paradi- siaca (Bananeira do Paraiso ou Figueira de Adão) a uma das mais bellas espécies d''esta Musacea. A sua cultura não é difíicil ; vegeta bem em todos os terrenos, porém um solo 56 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. fresco, leve e bem adubado é o que lhe convém melhor aproveitados os rebentões que sahera das suas raizes, os quaes pegam com muita vem liiuinui. P -i-i 1 A T ri o Para a sua multiplicação devem ser facihdade. A. J. de Oliveira e biLVA. ROSA FRANÇOIS LACHARME É n'este mez que as Foseiras princi- piam a ostentar todas as suas bcllezas de formas e de colorido, desde a cor de carne até ao carmim mais vivo, do escar- late alegre até ao amarantho negro, do branco mais puro até ao amarello de ouro. Nào enumeramos as suas variedades, que sito bastinte numerosas, mas tractaremos de dar a descripçào da rosa Françoís La- charme, representada na estampa junta. Arbusto vigoroso da secção hyhridas remontaiites (segunda serie), que se asse- melham ás rosas hydridas de Bengala pela sua folhagem e consistência de seus ra- mos, e ás de Portland por seus ovários, esta bella variedade foi obtida por semen- te no estabelecimento do snr. Victor Ver- dier, de Pariz, bem conhecido como gran- de especialista de rosas e que com muita felicidade tem obtido ultimamente grande numero de variedades novas por semente e hybridação. A de que nos occupamos foi dedicada pelo snr. Verdicr a seu irmão, o bem co- nhecido florista Lacharme, o qual de bom grado acceitou a oíFerta e permittiu que se lhe desse o nome de François Lachar- me, porém só depois de estar bem segu- ro das suas boas qualidades. Acontece eíFectivamente muitas vezes, por falta de escrúpulo n'este ponto, que uma boa rosa de semente, tirando-lhe as borbulhas immediatamcnte depois da flor aberta, degenera para brava. Este facto tem causado nào poucos desgostos a mui- tos especialistas d'esta cultura. A rosa François Lacharme é de na- tureza a satisfazer os mais exigentes, já pela sua forma, que é a de um ranúnculo enorme, muito dobrado, já pela cor das suas flores, que são de um vermelho-car- mim vivo, com reflexos alaranjados no centro e o reverso das pétalas de um car- mim-claro. A sua folhagem é vigorosa; ao prin- cipio as folhas são de um verde ama- rellado, que depois se torna avermelha- do. Poucas são as rosas que reúnem em si tantas e tão boas qualidades e por isso nas diversas exposições onde ella tem ap- parecido, tem sido sempre premiada. Infelizmente esta rosa é pouco conhe- cida entre nós e cremos que em Portugal só a temos visto no estabelecimento do snr. José Marques Loureiro, proprietário d'este jornal. Este snr. ainda ha muito pouco tem- po a conseguiu obter e é de um exem- plar d'ella que foi reproduzida a estampa colorida que illustra o presente numero do Jornal de Horticultura Pratica. Devendo no próximo mez verificar-se uma exposição de rosas n'esta cidade, o publico poderá de certo então avaliar se o que dizemos a respeito d'esta variedade é ou não exaggerado. Durante cinco annos que a rosa Fran- çois Lacharme conta de existência, ainda não teve rival que a oífuscasse. G. H. Delaforce. LARANGEIRAS MODO DE AS REPRODUZIR COM VANTAGEM. DUAS PALAVRAS SOBRE A MOLÉSTIA QUE AS AFFECTA E SUA CURA. S. ^íamcde de Riba-Tua é uma po- 1 que poderá contar de extensão 2 kilome- pulosa :il(lei;v ({nQ tica situada na margem tros ; é banhada pelas aguas de uma gran- dircita do rio Tua, u'um declive rápido, | de ribeira, que despenliaudo-se em con- Rosa Francois lãcharme JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 57 stantes cataractas, e algumas cortadas a prumo na altura de 50 metros, torna fér- til este terreno declivoso. Esta ribeira divide aqui, n'uma linha de noroeste a sudoeste, a natureza do ter- reno ; na margem esquerda, a rocha é granito, e na margem direita é schisto. Apezar da grande diíFerença do ter- reno, nem por isso deixa a Larangeira n'esta aldeia de produzir quer n'um, quer n'outro terreno, o melhor íVucto do nosso paiz. Talvez pareça exaggeração o que aca- bo de dizer; mas o facto seguinte veio ajudar-me a sustentar o que disse. Ha an- nos o snr. Manoel de Castro Pereira, es- tando em Lisboa e sendo conhecedor do finissimo fructo das nossas Larajigeiras, disse «que era o melhor de Portugal». Alguns dos cavalheiros presentes contes- taram ; isto deu logar a uma aposta. No dia marcado em que appareceram laran- jas das mais conhecidas do nosso Portu- gal, o snr. Manoel de Castro apresentou as que d 'esta terra tinham ido e que lhe deram a victoria perante um jury esco- Ihidissimo. Eram as mais finas, as mais succosas e doces que concorreram ao certame, e foram proclamadas as melhores. Diga-se, porém, a verdade; hoje o fructo não é tào fino, no geral; attribue- se isto á moléstia que nos tem derrotado os pomares, e assim nos tem privado de um dos melhores rendimentos d'esta terra. Não pode marcar-se ao certo a edade que as Larangeiras têem n'esta terra ; mas avaliando pelo tempo que leva o seu des- envolvimento, e pelos dous troncos pri- meiros que aqui se plantaram, poderá di- zer-se, talvez com pequeno erro de data, que as primeiras Larangeiras foram aqui platandas por 1740 ; mas as maiores plan- tações foram feitas (em vista do finissimo fructo que as primeiras produziram), por 1780. As plantações, em vista do prospero resultado, cresceram, e sem que de aqui sahisse laranja para embarque, estabele- ceu-se uma lucrativa industria, que fazia entrar n'esta aldeia annualmente cerca de sete contos de reis de laranjas, consumi- das mais de dous terços no districto de Bragança. Nas immediações d'esta aldeia, junto ao rio Douro, fizeram-se pomares que dão bom fructo ; mas o exclusivo pertence a S. Mamede, com cujo nome elles bapti- zam o fructo dos seus pomares, para me- lhor o venderem nos mercados e feiras mensaes. Por 1853 appareceu o terrível destrui- dor de tão formosa arvore ; manifestou-se primeiro nas arvores que estavam em ter- renos mais fundos e húmidos ; definharam- se algumas d'estas arvores em dous an- nos, e seus donos, achando-lhes as raizes podres, attribuiram isto á humidade do terreno ; mas perto veio o desengano ; a noticia do que aconteceu aos pomares na Ilha da Madeira, em Santarém, em Lis- boa, Coimbra, etc, fez estremecer os pro- prietários, vendo assim ameaçada uma tão bella como lucrativa industria. Em 1857 e 58 foi que esta moléstia aqui desenvolveu a sua maior intensida- de, tornando-se fulminante na maior par- te dos casos ; estava a arvore verde e vi- çosa, apparecia a purgação no tronco, se era antes da inflorescencia, cobria-se de tantas flores que era de pasmar, e assim se fazia a sua despedida á primavera, porque já não vingava o fructo. No terreno schistoso foi mais mortí- fera; os formosos valles de Larangeiras despovoaram-se repentinamente e n'elles apenas hoje existe um ou outro tronco mutilado, que com algumas das artérias que lhe escaparam á destruição da epide- mia, alimenta alguns infezados ramos. No terreno granitico só por 1860 e 61 ó que começou a desenvolver- se esta terrível moléstia, e ainda assim não tem sido tão insistente nem fulminante como foi no terreno schistoso; porém os estra- ííos são consideráveis. Aqui não ha variedade de laranja ; é a laranja doce^ (commum) que povoa os nossos pomares ; apenas ha algumas tan- gerinas ; mas poucas, e com relação a el- las nota-se o seguinte : havia um pomar que talvez contasse cerca de 400 pés ; fo- ram todos atacados da moléstia e não chegaram a curar 30 Larangeiras ; e 3 Tangerineiras, que havia plantadas no lo- gar mais húmido e mesmo junto de um poço de agua, nada soífreram!... Em um pomar pertencente a minha casa, que te- 58 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. ria 100 pés, aconteceu o mesmo; foram toflas atacadas, á cxcepçiio das Tancjeri- neiras! Conto este facto, porém absteuho- me de fazer commentarios. Quanto a esta terrível moléstia, di- rei alj(umas palavras filhas da observa- çslo; mas onde tudo é hypothetico, pouco pôde dizer-se de positivo; n'este caso as- sim estamos; conhecemos os terriveis ef- feitos ; mas a causa é hjpothetica. Está a moléstia na atmosphera? É produzida pelo arrof('cimcnto da terra? Nào será nenhu- ma d'estas a causa? Estará na atmosphcra e no resfria- mento da terra a causa d'este mal? Dispensemos as causas por hypothe- ticas, e examinemos os efteitos que se nos patenteiam. O primeiro symptoma que se apresenta é uma purgação resinosa, em luna linha longitudinal, no tronco ; e a planta tem a apparencia de saúde e vigor, que lhe era costumada ; passados mezes a folhagem perde o seu bello verde escu- ro e toma uma cor araarellada, que au- gmenta na razào directa da moléstia e se a arvore é atacada antes da inflorescen- cia (como já disse) toma mais flores que o usual, mas nào vinga os fructos ; as rai- zcs começam a apodrecer de baixo para cima, isto é, das camadas inferiores para as superiores. Estes eíFeitos sao patentes a todo o observador; mas outros ha que preciso é, para os conhecermos, ajudarmo-nos de al- guns instrumentos, procedermos a uma au- topsia, permitta-se-me a phrase cirúrgica. 8e com uma sea-ra cortarmos transversal- mente o tronco de uma arvore que está moribunda, e se ajudarmos a vista com boa lente, veremos que o estojo modullar está destniido, na parte que corresponde ao lado em que apparcceu a purgação ; que, quanto a mim, nào é mais que o ex- travafiamcnto da seiva pelos canaes dcs- truidos, e que coada pelo liber nos vem apparecer no tronco com o caracter resi- noso. OíFerecc-se ainda uma outra singu- laridade ao nosso exame ; as raizes co- meçam a sua destrui rào de baixo para ci- ma, e o estojo mcdullar começa a ser dcs- truido do cima para baixo, isto é, próxi- mo á primeira ordem de ramos 20 a 25 ccntimetros de distancia (para baixo) e al- gumas vezos mesmo junto á primeira or- dem é que começa a destruição d'estas verdadeiras artérias vegetaes. Perguntase : vae a moléstia do tron- co para as raizes, ou destas para o tron- co ? Ou parte das duas extremidades para o centro? Inclino-me a esta ultima hypothese, unicamente pela apparencia dos sympto- mas; pelo mesmo motivo me inclino a que a causa da moléstia é atmospherica, aju- dada do arrefecimento da terra. Esta é a minha opiuiào, que sugeito a outra qualquer mais esclarecida. O que tenho observado em relação a esta terrivcl moléstia vegetal, ahi fica dito. Quanto ao remédio para a sua cura, acres- centarei duas palavras, posto que nào acre- dito na possibilidade da cura, nem na effi- cacia dos remédios. Nos remédios que até hoje se têem apregoado, nào creio, por- que nào se conhecendo, ou melhor direi, nào se tendo fixado até agora a causa, nào podemos destruir os effeitos, e por muito feliz se pode dar quem chegar a atonual-os pouco que seja, porque para os effeitos cessarem é preciso que destrua- mos a causa. Nào creio também em cura radical, por dous principies: o primeiro é nào sabermos onde está a causa da en- fermidade para a irmos atacar, e se nós nào conhecemos a causa, mal podemos... nào digo bem — nào podemos apropriar- Ihe qualquer curativo que a razào nos dicte, e até as experiências sào irrisórias. Curar o quê? Applicar remédio a quê? E não será isto irrisório?! Estude-se a proveniência da moléstia, e depois de se conhecer busque-se o con- tra-veneno. Aqui têera-se applicado vários remé- dios ás Larangeiras; mas deixo de os enunciar porque nenhum resultado bom produziram. Em maio de 18G4, estando de passagem em Coimbra, fui visitar al- guns pomares, entre outros o da quinta das Lagrimas; examinando attentamente as Laranf/eiras, estavam todas doentes; era o que se dcprehendia do exame ; co- mo entre ellas encontrasse algumas esca- vadas profundamente, com as raizes ex- postas á acçào do tempo, perguntei a um feitor da quinta para que servia aquella escavação; disse-me que aquillo servia para JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 59 as curar. — Curar! diga-me como as cu- ram? lhe volvi estimulado de curiosidade e interesse. — É fácil, me disse o homem ; escava-se a arvore dous metros, em cir- cumferencia, tiram-se as raizes podres, cauterisam-se as outras com cal em pó, de- pois peneira-se-lhes um pouco de carvão por cima, enche-se a cova, passados 4 dias, de terra de outro sitio e a arvore cura-se. Declaro que por vergonha me não ri de tanta credulidade. Não digo que to- das aquellas ceremonias não augmentem a vegetação da planta, mas cural-a ? ! não o creio ; porque não concebo que uma pe- quenissima camada de cal e carvão pos- sam mudar a natureza do terreno, isto é, dar-lhe o calor que se suppõe ter perdido o solo. Dada mesmo a circumstancia do ter- reno ficar bom, que é que pode restituir á planta doente os órgãos essenciaes á vida, que já lhe faltam? Eis a primeira razão por que não acre- dito na cura radical. A segunda é a se- guinte : Com o perfeito conhecimento da causa da enfermidade, ainda assim, n, cura é duvidosa, porque quando nós chegamos a conhecer que a arvore está doente, já ella tem parte do seu organismo destruí- do, isto é, para que apparecesse a purga- ção exterior (que quanto a mim é o pri- meiro symptoma), foi preciso destruir par- te do estojo meduUar, o tecido fibi'oso e o liber. E como havemos nós restituir ao doen- te estes órgãos? E impossível. Podemos cicatrizar estas cavernas, obstar a que a destruição continue; mas a planta ficará sempre doente. Temos a tysica do reino animal transportada ao reino vegetal ; as Larangeiras morrem como qualquer dama de 22 annos, a quem os médicos querem cicatrizar as cavernas que os tubérculos produziram 5 mas a sciencia até hoje é impotente. Com as plantas estamos no mesmo ca- so ; quando se conhecer a causa da molés- tia e quando depois se descubra o remé- dio para ella, ha-de ser impotente, por- que o não poderemos applicar em tempo conveniente. Hoje fico por aqui ; para outro nume- ro direi alguma cousa respeito ao modo de reproduzir as Larangeiras com maior vantagem para o proprietário. S. Mamede — Alijó. J. S. Pinto Barroso. MILHO JAPONEZ DE FOLHAS ESTRIADAS O Milho, esse precioso cereal cujos grãos são tão geralmente empregados na economia domestica para sustento do ho- mem e dos animaes, e na industria para a extracção do assucar e por conseguinte do álcool, dá-se bem em todas as latitu- des e nos mais diversos climas. Segundo provas históricas apresenta- das por diversos auctores, parece ser ori- ginário dos Dous Mundos. Encontra-se em abundância nas re- giões mais quentes da zona tropical e os curtos estios do Canadá produzem excel- lentes colheitas. Cultiva-se na Hespanha, Itália, em todo o littoral do Mediterrâneo e entre nós concorre vantajosamente para a riqueza da nossa agricultura. M. Bonnafous, na sua Historia natu- ralj agricola e económica do Milho, des- creve quatro espécies, das quaes a pri- meira fixou a attenção dos cultivadores europeus: Zea Mais, hmn.,foliis integer- rimisj (de folhas inteiras), Zea Curagua, MolL, foliis suhserratis (de folhas denticu- ladas), Zea Hirta, Bona., foliis hirtis, (de folhas avelludadas), Zea erythkole- PIS, Bona., seminibiis compressis, glumis ruhris, (de sementes comprimidas e glu- mas vermelhas). «Estas espécies, acrescenta o auctor, cujos caracteres nunca se alteram a ponto de se tornarem desconhecidos, têem dado nascimento, principalmente a primeira, a um grande numero de variedades trans- missíveis por sementes, ou antes a uma multidão de raças que difí'erem entre si pela côr, forma, volume das sementes, consistência e epocha da sua maduração, ou por outras modificações mais leves, mas 60 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. comtiulo bastante firmes para se reprodu- zirem.» (Jutros auctoros apenas reconhecem uma s(S espécie, o Zca Mais (Linn.), a quí^l pela influencia da cultura e do clima tem sido mais ou menos modificada nas suas formas geraes. f]m todo o caso, por meio da cultura, tem o Milho produzido um grande nume- ro de variedades que, conservando as suas formas características, diíFerem comtudo entre si pelo numero, grossura e côr das sementes e pela fiu-ma das espigas. D'cstas variedades umas sao preferí- veis em razão da grossura ou da qualida- de das sementes, outras por causa do seu grande producto, da sua pi'ecocidade ou da sua aptidão para resistir ao frio e á scc- cura. Não é, porém, nosso fim tractar d'esta importante planta, debaixo do ponto de vista económico, por isso não faremos a descripção d'essas variedades nem das van- tagens particulares a cada uma. E como planta ornamental que chama- mos a attenção dos leitores para o Milho japonez de folhas estriadas representado na figura 11. fi PATO Fig. 11. — Millio japonez de folhas estriadas. Com eíTeito, o Milho, cm razão das Buas longas folhas recurvadas com graça, que SC agitam á menor brisa, juntamente cora as suas paniculas floraes em forma de pcnnacho, é uma planta de um porte pittoresco, muito ornamental. O Milho jíiponaz de folhas estriadas, obtido de semente no Japão por ^Ir. Hogg, c que, segundo Mr. Benary, parece ser uma variedade do Zea Curarjua, adquire uma altura de um metro a um metro e cincoenta centimetros, e as folhas alterna- tivamente oppostas umas ás outras apre- sentam bcUas estrias cor de rosa, emquan- to novas, e mais tarde alternadamente verdes ou brancas, o que faz lembrar o Arlindo donax (Canna), de folhas varie- gadas, porém é muito mais elegante e im- ponente. Quando plantado destacadamente é de JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 61 bonito eíFeito; todavia esta Gramínea é mais própria para fazer grupos de dez ou doze exemplares. Muito desejamos que esta curta noti- cia^ sobre o bello Milho japonez de folhas estriadas induza os amadores a fazerem acquisição d'elle. J. Casimiro Barboza. FDCHSIA ARBORESCENS. (Lmr^.) De um porte elegante e como as suas congéneres extremamente recommendavel pela belleza e riqueza da sua floração, a Fuchsia arhorescenSj oriunda do México, é um arbusto que pode attingir a altura de três metros. Os seus ramos sao purpu- rinos, glabros, e as folhas dispostas em verticillos de três são ovaes, oblongas, acuminadas e muito inteiras. Floresce quasi todo o anno e as suas flores cor de lilaz não são pendentes como na maior parte das outras espécies, mas sim dispostas em paniculas terminaes e erectas, disposição que faz lembrar ainflo- rescencia do lilaz. Multiplica-se esta bella Fuchsia por estacas herbáceas nos mezes de março e abril e recommendamos que se lhe dê uma boa exposição principalmente durante o primeiro anno. Oliveira Júnior. CALENDÁRIO DO HORTICULTOR ABRIL Jardins. — Começam n'este mez as in- fluencias fecundas da primavera. Os jar- dins n'esta epocha devem estar completa- mente refeitos; os massiços e canteiros completamente preparados para receberem as plantas ; as arvores e os arbustos todos podados. Havendo bom tempo é necessário não perder um instante, activar por todos os meios possíveis o desenvolvimento das se- menteiras, feitas no mez precedente, sa- chando, mondando e regando com estru- me liquido aquellas que estiverem atraza- das. Continuam-se as sementeiras que não poderam concluir-se no mez anterior, ten- do sempre em attenção a qualidade da se- mente ; a das Portulacas, Petunias e ou- tras idênticas, que forem como ellas miú- das, devem cobrir-se mui ligeiramente; algumas basta- lhes a rega para as fazer adherir á terra e germinar. Prepara-se o terreno destinado para os grupos de Calceolarias , Lohélias e Pe- lar goniurm. Plantam-se Cravos e Cravi- nas^ e estacam-se com cuidado. As Au- rículas e Polyanthes exigem frequentes regas. Semeiam-se no local em que devem ficar — as Boas noutes, as Chagas, Chry- santhemums annuaes, Collinsia bicolor. Papoulas dobradas , Coreopsis elegans , Oenotliera, Erysimum, Eucharydiími, Li- num grandijlorum, Cravinas da China, Cravos da índia, Ervilhas de cheiro, Callistephus (Secias), Minonetes, Salpi- glossis, /Schizanthus pinnatus, Senecios, Calceolarias, Convolvulus, Zinnias e mui- tas outras, que seria longo enumerar. Podem ainda dispôr-se as cebolas de flores mencionadas no mez anterior, se ti- ver havido esquecimento. Um jardim bem cultivado já deve n'es- te mez apresentar floridas as Primaveras, Auriculas, Anémonas, Ranunculos, Nar- cisos, algumas Tulipas e outras muitas Liliaceas, as Fumarias bulbosas, as Co- rydalis , Trollius europeus e asiaticus, Lilaz, Cerejeiras de flor dobrada^ Cyti- sus, Coronilla, Amores perfeitos, algumas Azáleas e Camellias de tardia florescên- cia. Hortas. — É o momento de replantar nos viveiros todas as plantas que carece- rem d'esta operação. Começa a colheita dos Espargos, Se o tempo estiv^^seccO; 6S JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. devem regar-se as plantas abundantemen- te, mas com preferencia de manlui. Contiiiuam-se as sementeiras que não poderam íazer-se no mez anterior, como as de Couves jiorcs, lialanos, Rutaharia, Cou- ves de Bnixellas, Beldroer/a dourada para salada, Acelgas, e Rabanetes todos os quin- ze dias, para os ter sempre tenros. No fim do mez scmeiam-sc Feijões. Querendo Melões, Abóboras e Geri- mús temporãos, devem scmear-se cm va- sos, a^jazalhados da neve e sobre camas de estrume de cavallo, para serem trans- plantados no cliào no mez seguinte. Tam- bém se semeiam Pepinos grandes, e pe- quenos para conserva. Semeiam-se n'estc mez os Esjmrgos, Bettcrrcdjas , Cenouras temperas, Aipo, Ce- refólio, Chicória, Repolhos temporãos e serôdios, Saboias têmporas e serôdias, Couves verdes, Couves fures tenras e ífe- mi-duras. Agriões, Espinafres, Estragão, FuncJio de Florença, Feijões temporãos, InJmme da China (tubérculos) Alface do estio e do outomno, Lentilhas, Mostarda, Nabos, Cebola amnrella e vermelha. Aze- das, iSalsa, Pimpinella, Ervilhas, Bata- tas, Rabanetes, Rabão, Segurelha, Escor- cioneira, Tomilho c Tomates. Vào-se ti- rando, e plantando em pequenos vasos, os rebentões das Batatas doces, para serem dispostas no lim d'este mez ou principio de maio. Arvoredo. — Começa-se o corte com a unlia dos Pecegueiros em latada, opera- ção delicada e que demanda as maiores precauções ; vigiar cuidadosamente o des- envolvimento das formas, examinar se o equilíbrio se sustenta em toda a arvore. Continuar os enxertos de garfo e de co- roa, quando se nào tenham ultimado. É também o ultimo momento das plantações das arvores fructiferas; passada esta epo- clia já será tarde; advertindo que ordina- riamente é já impossivel a plantação n'es- te mez no nosso clima, pelo desenvolvi- mento da seiva, que já se opera em gran- de escala. E n'este mez que se semeiam as se- mentes das arvores florestaes, conserva- das em vasos ou estratificação, principal- mente as Amêndoas, Xozes, Avelãs, etc. Fódam-se e desbastam-se os Carpinos, Carvalhos, Bordos, Freixos, etc. Viveiros. — Devem terminar n'este mez os trabalhos dos viveiros, que con- sistem em cavar profundamente á enxada os quadrados, e sempre por bom tempo, sendo possivcl. Cortar os rebentões dos cavallos enxei'tados no outomno, a fim de favorecer um v igoroso desenvolvimento de todos os enxertos. Grande cultura. — N'este mez sao os maiores trabalhos da grande cultura. Lavrar as terras que devem receber o Linho, o Cânhamo, e o Milho. Semear Aveias e Cevadas que não poderam ser semeadas no mez precedente, Mostarda, nabaes, e prados artificiaes. Semear Mi- lho, Sorgho e Ricino, etc. CHRONICA — Effcctlvamente ha-de verificar-sc nos principios de maio, no Palácio de Crystal d'esta cidade, a Exposição de Kosas de que já demos noticia no n." antecedente. Krio sabemos por emquanto de quem ó composto o jury e desconhecemos egual- mente o programma; todavia, segundo a nossa opinião, dever-se-hiam acccitar «ro- sas cortadas 0 e é justo que haja um pre- mio para o amador que exponha melhor coUecçuo d'ellas, porque ha numerosas pes-soas que as têcm excellcntes, mas por não estarem em vaso só podem apresen- tar a^g^Orcs. Achamos egualmente plausível que haja prémios para os amadores, formando estes uma como segunda secção, por isso que poucos são aquclles que, em competência com 08 horticultores, podem disputar-lhes os prémios no numero e riqueza das col- lecções. — Este anno fizerara-se grandes plan- tações de Amoreiras bera como algumas da Madura; porém d'esta em pequena es- cala. O snr. João Pacheco Pereira, d'esta cidade, aífirma-nos que o bicho da seda, JOENAL DE HORTICULTUEA PRATICA. 63 embora tenha sido alimentado com a fo- lha da Aonoreira^ apresentando-lhe a Ma- cluraj immediatamente lhe dá a pi-eferen- cia. O que por nossa parte podemos affir- mar é que vegeta perfeitamente no nosso solo e que é magnifica para sebes vivas ; por isso estimamos que se façam ensaios e agradeceremos qualquer communicação que nos possa elucidar n'este ponto, pois de tanta importância o consideramos. — Sahiu a lume o n.° 1 do volume XVII da excellente publicação belga — V niustration HorticoJe. Este jornal, que até aqui era redigido por Mr. Ch. Lemaire, é-o agora por Mr. Ed. André, bem conhecido do mundo hor- tícola pelos seus elevados conhecimentos na especialidade que cultiva. O presente n.° vem illustrado com qua- tro chromo-lithographias e duas gravuras. — Depois de vermos o magnifico exem- plar da Acácia dealbata que possue o nos- so amigo e collega, o snr. conselheiro Ca- millo Aureliano da Silva e Souza, nào po- demos deixar de recommendar mui par- ticularmente esta espécie para parques , praças e mesmo jardins. E uma arvore de 8 a 12 metros, que se desenvolve com extrema rapidez, e du- rante o inverno cobre-se de flores amarel- las, dispostas em cachos paniculados, que exhalam um aroma delicioso e ao mesmo tempo são de grande recurso para a fei- tura de ramilhetes, porque vêem em uma epocha em que as flores são escassas e por conseguinte muito apreciadas. Estando collocada atraz de outras ar- vores faz bom efieito, porque a folhagem é esbranquiçada e produz uma certa per- spectiva aérea que se torna agradável. — MM. Vilmorin Andrieux & C.'« aca- bam de publicar ima catalogo de sementes e plantas, assim como um «supplemento» em que vêem todas as ultimas novidades. Ambos são illustrados com numerosas gra- vuras e com estes catálogos estão os ama- dores habilitados a fazer uma boa selec- ção, seja para jardim, parque ou horta. Brevemente deve sahir a lume a 3.^ edição da obra illustrada — Les fimrs de pleine terre — de que são editores os mes- mos snrs. Não a vimos ainda, mas as edi- ções que tem tido são de uma garantia segura de quanto ella deve ser útil e in- teressante. — Sob a epigraphe «Selecção dos mais bellos Coleusí) lemos no ultimo numero da Ulustration Horticole : Os seguintes Colens, que são os mais bellos, enconti-ar-se-hào em todos os esta!)elecÍD.ientos hortícolas bem sortidds: iíer Majesty, Qneen Victvria, Duke of Edinburgh, Princess of Wa- les, Princess royal, Masterpiece, Baroness Po- {hschild, Pefulgens, Saunclersii, BerTceleyi. De- vemos aconselhar aos amadores que desconfiem do Colens Saisonii lançado no mercado o anno passado por Mr. Lierval, de Pariz. As suas bo- nitas mesclas brancas e cor de rosa não podem soffrer o mais pequeno raio de sol. Ed, André. — No dia 27 de maio tem logar em Pariz uma «Exposição geral de productos hortícolas», que durará até ao dia 1 de junho e a que poderão concorrer os es- trangeiros. Os prémios consistem em medalhas de ouro, prata e bronze. Além destes have- rão outros para todas as pessoas que te- nham contribuído de alguma maneira para o progresso da horticultura. N'este caso estão os jardineiros, os auctores de obras hortícolas, os inventores de instrumentos agrários, etc, etc. — Na «Chronica» do ultimo n." de- mos publicidade a uma carta que nos di- rigiu o nosso illustrado collega, o snr. visconde de Villar Allen, na qual s. exc.^, respondendo á observação que se havia feito n'este jornal relativamente ao verda- deiro nome da Wigandia representada na figura n.° 3, nos dava alguns esclareci- mentos que muito agradecemos. Temos, porém, a observar a s. exc* que unindo-nos á opinião de Mr. Charles Lemaire, diremos com elle : O género Wigandia, muito visinho do géne- ro Hydrolea, não contém senão cinco ou seis es- pécies (Vide Choisy Hydroleacece in De Candol- le, Prodromus, vol. x., pag. 184) que variam muito segundo a habitação, debaixo do ponto de vista da sua estatura, folhagem, vestidura, dimensões floraes, etc; e por estas razões, são muito pouco distinctas umas das oxdras, sendo particularmen- te pela cultura, como acontece entre tantas ou- 64 JORNAL DE HORTICULTORA PRATICA tras plantas, que se produzem essas variedades intermediarias que surpreliendem e embaraçam o botânico. Pelo que respeita aos Coleus, pcrmitta 8. cxc.* que (ligamos que o anno passado tivemos o Coleus Verschaffelti exposto a opleuo sol» e que vimos com pezar que o seu bello colorido desapparecia senái- velmontc apczar das abundantes regas que se lhe ministravam. Alguns ensaios leva- ram-nos a acreditar que ellcs preferiam «meia sombra» c é n'estas condições que os tencionamos ter este anno. — É infelizmente verdade o que alguns jornaes disseram respeito ao Phylloxera vastatrix. Os famosos vinhedos de Bor- déus têem soífrido bastante ; segundo pa- rece, este novo parasita reproduz-se por milheiros e, como é fácil de vêr, as con- sequências sào graves. Os cultivadores que até aqui tomaram todas as precauções contra o oidiuni tu- cTxeri, vêem-se agora perseguidos por um flagcUo ainda mais terrível e cuja cura é por emquanto desconhecida. — Em seguida damos publicidade ás seguintes linhas que dizem respeito aos trabalhos agrícolas na província de Traz- 08-Montcs : A sementeira dos Trigos serôdios, das Bata- tas, dos Grãos de bico, corre regularmente; e será grande bem o cessarem as cbuvas. Vae começar a baixa nas vinhas ; e dentro em pouco tempo nào tardará a enxofraçào, tão ne- cessária para debellar o terrivel oidium tuclcert. O amanho dos prados deve merecer espe- cial cuidado aos lavradores, especialmente ago- ra que com a grande exportação de gado vac- cuni para Inglaterra, se abre uma epocba de prosperidade para us criadores. Tem grassado uma epidemia no gado suino, que seria bom mandar-se estudar; e por isso es- tas carnes estào aqui caras. Téem-se plantado poucas espécies de plantas {)ela difficuldade de as obter; porque nem aqui ia viveiros, nem vendedores. Já se tem plantado muita Batata : mas os proprietários estào arrependidos d'e9ta8 planta- ções têmporas ; porque as aguas cabidas devem apodrecer os tubérculos. E' mais popular, c quasi indispensável, a plantação d'c3ta Solanacra querida de Parmen- tier, do que a dos Grãos de bico, de que se têem feito poucas sementeiras. Os Centeios estilo bons ; e os Trigos menos maus : e sem duvida melhores colheitas pode- riam haver, se 03 lavradores soubessem prepa- rar e empregar bera os estrumes, sem o que uâo pôde fecundar bem a terra. O emprego dos estrumes nos prados, pouco usado aqui, ha-de servir de grande proveito para os criadores de gados. A baixa no preço do vinho nào tem consen- tido fíizer grandes plantações de bacellos. A mergulliia das Videiras corre regularmente. l'oucos mais trabalhos ha agora do que es- tes ; porque dentro em jiouco vem a aprazivel l)rimavera incitar o homem a revolver a terra endurecida pelas geadas, para augmentar d'es- te modo a vegetação das plantas, e destruir as parasitas. — Murça, 15 de março de 1870. Basílio C. de A. Sampaio. — Segundo vemos em alguns jornaes, deve proximamente i*calisar-sc em Lisboa uma exposição comprehendendo vinhos, azeites e plantas. O dia 22 de maio é o destinado para a abertura, devendo en- cerrar-se em 13 de junho. Nào sabemos em que condições é feita esta exposição; com respeito, porém, a uma das suas secções, a das plantas, pa- rece-nos demasiadamente longo o prazo marcado. Uma exposição de plantas não pôde prolongar-se tanto como a de quaesquer outros productos, porque aquellas sensi- velmente soffrerão e até podem ficar com- pletamente perdidas. E preciso que se tenha em vista que a esse certame irão plantas de subido me- recimento e valor, que, se n'esta parte não houver modificação ao plano da ex- posição, se arriscam a perecer, causando graves prejuízos aos expositores. Bem sabemos que as nossas consi- derações poderão ser taxadas de intem- pestivas, emquanto não for conhecido o programma que ha-de regular este con- curso ; todavia bom é sempre prevenir e nunca é fora de propósito qualquer refle- xão que tem um fim louvável, e crêmoB que o é o de evitar que os desejosos de concorrer com as suas plantas á exposi- ção que vae verificar-se em Lisboa dei- xem de o fazer, assustados com a exten- ção do prazo durante o qual as suas plan- tas estarão expostas, ou o de prevenir que, se o fizerem, se arrisquem a vôl-as perdidas. Eis o fim d'estas linhas e seja-nos le- vada á conta dos nossos bons desejos qualquer inopportunidade que n'ella3 se queira ver. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 65 ESTUDOS AMPELOGRAPHICOS (*) Estou longe de negar as vantagens de todas as tentativas, que têem por objecto uma boa classificação das Videiras ; mas não me parece que se possa desde já le- var a effeito essa desejada classificação, sem primeiro reunir ura grande numero de monographias das diversas castas cul- tivadas nas differentes regiões, sendo to- das ellas redigidí^s debaixo de um plano uniforme. Só estas descripções, conscien- ciosamente feitas, nos podem patentear quaes são os caracteres permanentes e cer- tos sobre que devem assentar as bases da classificação e quaes aquelles que são va- riáveis e soífrem modificação mais ou me- nos profunda pela influencia do clima, do solo e da cultura. Quando fallo das castas da Videira cultivadas, é claro que me refiro princi- palmente áquellas de que se acham povoa- das as vinhas e que se pi'opagam pela plan- tação dos bacellos, pela mergulhia ou pela enxertia, e ainda pela plantação dos go- mos : porém o estudo, para ser completo, deve estender-se á reproducção pela se- mente, que parece ser aquella que deu ori- gem ao apparecimento das diversas cas- tas e suas variedades, que hoje cultiva- mos, e que alguns presumem que descen- dem de uma única espécie ainda hoje exis- tente na Ásia occidental. (^) O que nós chamamos castas de Videi- ras são essas plantas, propagadas pelos methodos artificiaes acima indicados, que conservam os seus caracteres e qualidades distinctivas, pelo menos no que é essencial — porte e vigor da cepa e das suas par- tes ; forma e caracteres da folha, da flor e dos cachos ; forma, cor, gosto e succu- (1) Vide J. H. P. pag. 36. (2) A opinião de que a Videira commum des- cende de uma espécie, ainda hoje existente na Ásia occidental, pode até certo ponto ser recu- sada, pela apparição da vinha fóssil nos tufos calcareos do sul da França, apparição que de- nota ser esta espécie indígena e não importada da Ásia, como a Oliveira e como a Larangeira, cujos restos se não têem encontrado na flora fós- sil da Europa occidental. íSiO-Vol. !.• lencia dos bagos ; fecundidade ; precoci- dade e outras condições, que fazem estas plantas mais ou menos apreciáveis. Mui- tos lavradores do Douro empregam o nome postos para designar estas entidades, sem fallar ainda dos que, como Rebello, em- pregara indistinctamente os termos espé- cie e variedade para o mesmo efíeito (o que não é admissível visto que estes ter- mos têem outra significação em botânica) ; porém na minha opinião não ha vantagem alguma em usar da palavra posto, quando podemos empregar outra que melhor ex- prirae a ideia que queremos significar. Sem querer n'este tractado cingir-me a grande rigor scientifico, creio que ser- vindo-me do termo castas para designar as subespécies ou raças, que pertencem á espécie Videira commum^ não me afasto das convenções adoptadas pelos naturalis- tas e que tendem a facilitar a exposição dos factos, que fazem o objecto dos estu- dos d'esta natureza. Entre as numerosas castas derivadas da Videira, que se suppõe ser o typo da espécie, muitas ha que se aproximam umas das outras, apresentando caracteres com- muns que lhes dão um certo ar de paren- tesco intimo, o que nos leva naturalmente a colocal-as em grupos distinctos, que al- guns ampelographos, como são D. Simon de Roxas e o conde Odart, chamam tri- hus. Taes são na ampelographia hespanho- la os Listanes, os Palominos, os Ferraes, os Moscatéis, etc. Hoje, porém, os botâ- nicos servem-se da palavra trihu para de- signar um grupo de géneros em que as ordens se podem subdividir, e n'este caso não a podemos applicar aos simples gru- pos de castas análogas, ainda que ella, para este effeito, era mais apropriada do que outra qualquer. A falta de melhor cha- mar-lhes-hei simplesmente grupos de cas- tos. Algumas plantas que, pela maioria dos seus caracteres mais salientes, não podem deixar de ser consideradas como perten- cendo a uma casta, apresentam todavia Malo-N.» 5. u JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. differenças bastante notáveis que nos le- vam a estabelecer n'essas castas divisões que se podem chamar variedades. Acon- tece isto, por exemplo, em relação á Tou- riga do Douro, ao AlvarilhãOj aos Gou- veios ou Verdelhos e outras muitas. D 'este modo podemos admittir que a es- pecie « Videira commumT> se divide primei- ro em grupos de castas^ estes em simples castas, e algumas castas ainda cm varie- dades. Kão entro na questão, que ainda se rentila, sobre a existência de uma ou mais espécies de Vide, além da commtim, que faz objecto da nossa cultura. Segundo a convenção adoptada pelos botânicos, o que deve caracterisar a espécie c a inalterá- vel conservaçuo dos caracteres especificos nas plantas que nascem da semente. Em relação ú Videira este estudo está por fa- zer e obsta-lhe a grande difficuldade cm observar como se comportam na reproduc- çào tào numerosas castas e variedades , as quaes, sendo nascidas da semente, apre- sentam um desenvolvimento tào lento, que só no fim de muitos annos cliegam a fru- ctificar. Debaixo do ponto de vista scientifico, estas questões e outras muitas que com ellas se ligam, são de grande interesse e não se devem abandonar ; porém, em re- lação á pratica agricola, não pode esta es- perar pela solução de problemas, que pa- rece estarem ainda dependentes de longas e delicadas investigações. O que a viti- cultura reclama instantemente é a descri- pção completa e aceurada das castas de uvas e suas variedades , que occupam actualmente as nossas vinhas ; descripçíjcs que devem ser coordenadas mcthodica- mente para facilidade do estudo, e acom- panhadas da synonymia bem averiguada, c da sua representação pelo desenho, para que, dado o nome de uma casta cultivada em qualquer localidade, se possa facilmen- te reconhecer qual ella c e que vantagens promette a sua adopção. Estas descripções fornecem além d'isso aos viticultores o úni- co meio de chegarem a um accordo para & adopção de uma nomenclatura única para todas as regiões vinicolas. Só d'este modo 60 podem í^eneralisar os conhecimentos ampelographicos e tornar profícuos a to- dos 08 vinhateiros os estudos que os ho- mens competentes fazem sobre estes obje- ctos nas diversas regiões. Se fosse possivel que um homem, do- tado com os conhecimentos necessários d'esta especialidade, percorresse todos os paizes em que a Vide se cultiva, e n'elles tizesse á vista das plantas, na epocha apro- priada, a descripção de todas ellas, se to- masse nota dos nomes, que nas diversas localidades se empregam para as designar, se as comparasse devidamente, para bem reconhecer as que são communs ás diver- sas regiões, e as que só se encontram em localidades singulares, em zonas ou dis- trictos determinados, esse homem realisa- ria só por si o voto de todos os viticulto- res, e faria o maior serviço que hoje se pôde fazer á sciencia vinicola e á agri- cultura dos paizes vinhateiros. Seria, po- rém, este um trabalho gigantesco, que não é razoável esperar de um só homem, ainda que elle consagrasse a sua vida inteira a tão eminente serviço. Mas o que ura só homem não pôde fazer, podem execútal-o muitos , adoptando um plano uniforme , que dê a unidade precisa ás suas obser- vações e descripções, para que estas se- jam comparáveis entre si. Um projecto d'esta ordem exige o mais completo ac- cordo entre os ampelographos de todos os paizes, e isto só é realisavel pela inicia- tiva de poderosas sociedades agrícolas, ou debaixo da protecção e franco auxilio dos governos dos paizes vinhateiros. j A formação de grandes collecções am- pelographicas em que se reunam e culti- vem as castas de maior interesse, torna- sc em todo o caso necessária para facili- tar o seu estudo de comparação e classi- ficação. A realisação d'este pensamento tem, desde muito, preoccupado os homens eminentes que se interessam pelos pro- gressos da viticultura. No século passado o abbade Rosier havia já começado uma d^essas collecções das diversas castas de Videiras.. Dando seguimento ás ideias de Chaptal e de Bose, o duque Decases for- mou no jardim do Luxemburgo, em Pa- riz, uma grande collecção de Videiras ti- radas das diversas regiões da França e de outros paizes vinicolas. Chegou ella a conter mais de 1:500 plantas com nomes diversos ; mas entre ellas havia grande numero de duplicados, e o snr. Hardy, JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. €7 que foi jardineiro em chefe de aquelle es- tabelecimento, nunca as pôde coordenar de um modo vantajoso. Esta collecçào, da qual se não tirou resultado algum impor- tante, foi recentemente transferida para o jardim de aclimação do Bosque de Bolo- nha e n'ella se acham hoje catalogadas 1:500 plantas, mas que ninguém nos as- severa que sejam castas distinctas. Alli têem já os ampelographos um valioso au- xiliar para a classificação : não devemos, porém, dissimular que o clima de Pariz não é o mais adequado para n'elle se fa- zerem estudos ampelographicos de maior utilidade. O conde Odart, a quem deve- mos a «Ampelographia universal», de que já fallei, fundou na sua propriedade da Dorée, perto de Tours, uma importante collecção que serviu de base aos seus lon- gos e importantes estudos. Em Carbon- nieux, perto de Bordéus, existe também uma notável e rica collecção d'esta oi'dem, e que é pertencente aos snrs. Boucherest. Em Tarrascon, no departamento de Au- de, possuem outra os snrs. Andibert, e algumas mais existem já em França, na Toscana, e na Áustria, mas quasi todas estas, formadas por particulares e sujei- tas ás eventualidades das fortunas priva- das, não satisfazem, na opinião das pes- soas competentes, ás condições requeridas para um largo estudo e para com o seu auxilio se realisar o pensamento de uma rigorosa classificação. E bem certo que, em rigor, uma úni- ca collecção, sendo ella completa, e esta- belecida em uma região vinicola favorá- vel, poderia fornecer os elementos neces- sários para levar a effeito uma classifica- ção botânica, mas não satisfaria segura- mente a todas as exigências da ampelo- graphia. Debaixo do ponto de vista agro- nómico ou da viticultura pratica, seriam incontestavelmente mais proficuas as col- lecções parciaes ou regionaes estabeleci- das nas diversas regiões, onde se achas- sem representadas por muitos exemplares as castas próprias d'essas regiões, para se poderem estudar nos seus caracteres botânicos e nos seus productos, porque o estudo de uma casta não é completo se não comprehende também o vinho que ella fornece. O conde de Gasparin, no seu «Curso de Agricultura», fallando da collecção am- pelographica do jardim do Luxemburgo, indica as principaes condições que devem regular o estudo das Videiras, debaixo da direcção especial de um sábio que seja competente n'estas matérias. Queria elle que primeiramente se at- tendesse á comparação das plantas que viessem das diversas regiões; que se fi- xasse a sua synonymia e que se distribuís- sem era farailias, segundo as suas quali- dades dominantes. Que depois se estu- dassem durante muitos annos, e que n'esto estudo se notasse em especial: 1 ." A epocha da maduração das uvas; 2.° A quantidade de uvas produzida por cada uma das castas ; 3.*^ A quantidade de mosto forneci- do pelas mesmas castas ; 4.*^ A quantidade de assucar contido em cada mosto, e que ainda se levasse mais longe a analyse dos mostos, deter- minando a potassa, o tannino e a muci- lagem n'elles contidos. E este um estudo quasi completo, co- mo convém á industria vinicola, mas que, feito em uma só região, não pode dar re- sultados inteiramente satisfactorios ; por- que a influencia do clima, do solo e da cultura, podem fazer alterar as proporções e relações dos principies que constituem o mosto. Só pelo concurso de muitos es- tudos feitos nas diversas regiões viníco- las, debaixo de um plano uniforme, reu- nidos depois estes em um centro commum e submettidos á critica e discussão rigo- rosas, sob a influencia da auctoridade de homens competentes, é que se poderá al- cançar a organisação definitiva da verda- deira e útil ampelographia. Na ordem d'estas ideias a primeira providencia a adoptar seria o estabeleci- mento das collecções regionaes em escho- las de viticultura pratica, com que deve- ram ser dotados todos os mais importan- tes centros vinícolas. Ahi achar-se-hiam então reunidos todos os elementos para a redacção de monographias ou descripções especiaes das castas. Da comparação de todas estas descripções resultará a deter- minação exacta das synonymias e a pos- sibilidade da classificação e mais do que tudo isso o conhecimento do valor das cos- tas em relação a todas as regiões. * 6S JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. No estudo das coUecções, o que prin- cipalmente devemos ter em vista sào os progressos rcaes e geraes da viticultura; o augincnto c melhoramento da producçuo vinícola, tanto quanto podem concorrer para o acréscimo da riqueza publica e bem estar da população rural. Para conseguir estes resultados deve concorrer a ampelo- grapliia, ensinando quaes sao as castas de Videiras que podem ]M'oduzir uma venda mais avultada em qualquer centro viníco- la. A vulgarisação d'estcs conhecimentos é condiyào indispensável para alcançar o fim proposto. Entre todas as regiões vi- nícolas é conveniente que haja uma con- stante permutação dos conhecimentos n'el- las adquiridos pelo estudo e pratica dos homens cspecíaes. Só assim pelo concurso de todos c que o progresso pôde ser ge- ral, rápido e seguro. Só assim é que se alcançará o inventario geral das castas, onde cada viticultor poderá livremente es- colher aquellas que melhor possam convir ao seu intento. Oxalá que as sociedades agrícolas de todos os paizes vinícolas, ou, na sua falta, os respectivos governos, tomem a peito a formação das coUecções a que tenho allu- dido, e que o estudo d'estas seja entregue a homens competentes c dedicados, traba- lhando todos de commum accordo e na mesma direcção. No estudo a que me refiro não se deve ter unicamente em vista a descripção phy- tographica das plantas: é muito essencial conhecer a quantidade e qualidades in- trin secas dos fructos que produzem e do vinho que fornecem, bem como o género de cultura que lhes é mais adequado. Por- tanto as coUecções não devem conter ape- nas dous ou três exemplares de cada cas- taj mas sim um numero sufficiente de ce- pas de cada uma d'ellas para que possam fornecer uva bastante para a preparação de alguns hectolitros de vinho, e também para n'ellas se poderem experimentar os diversos methodos de poda e empa, e re- conhecer praticamente quaes d'estes lhes são mais apropriados. 0 programma do estudo das coUecções pódc, até certo ponto, ser modelado sobre o que apresentou o conde de Gasparin e que eu resumo nos seguintes números : 1 ° Caracteres phy tographicos da plan- ta. 2° Epocha da maduração das uvas, e temperatura que esta reclama. 3.** Avaliação do volume e peso da totalidade das uvas produzidas por cada cepa, e do mosto que estas fornecem. 4." Analyse chymica do mosto, de- terminando principalmente as proporções do assucar, dos ácidos, do tannino, das matérias albuminóides e das cinzas. Bem assim a determinação da densidade do mosto. õ.° Estudo completo do vinho pro- duzido. A Quinta Regional de Cintra, na Gran- ja do ]\Iarquez, e a Cerca de S. Bento, annexa ao Jardim Botânico da Universi- dade de Coimbra, podem muito bem abrir o exemplo para a formação d'estas coUec- ções, em quanto as estações experimen- taes de agricultura, ultimamente decreta- das para todos os districtos, se não con- vertem em realidade. V. DE ViLLA ^IAIOR. MORANGDEIROS O FRAGARIA VESGA [LINN.] (família das rosáceas). Terminarei n'este numero a descri- pção dos morangos do dr. Nicaise, cuja propriedade foi comprada pelos snrs. Vil- moriu Andrieux & C."e. Muito de propó- sito reservei para o fim os mais notáveis pelo seu volume o qualidades. O Morango representado na gravura n." 12 foi denominado Alexandra ; é um fructo mui grande c ordinariamente mais volumoso do que o desenho ; é achatado e arredondado, muitas vezes toma a for- ma do casco do um cavaUo, e n'e3te caso é (>) Vide /. Zí. P., pag. 52. KHÍinííí âOw JORÍÍÀL DE HORTICULTURA PRATICA. 69 maior que o morango Dr. Nicaise ; a sua cor é vermelha alaranjada viva, sementes muito espessas, pouco salientes, amarel- ladas, polpa rosada, de um sabor agradá- vel e assucarado. Muito boa variedade. Planta pouco elevada, mui distincta. A gravura n.° 13 representa o moran- go Penélope. E um fructo mui grande, arredondado, algumas vezes um pouco achatado ; a sua cor é vermelha clara ; se- mentes pequenas, raras, e pouco salien- tes ; polpa assalmoada, succosa, assucara- da, ligeiramente acidulada, de um óptimo perfume pronunciado. Planta forte, rústica, folhas pouco nu- merosas, pecíolos villosos, muito fértil. Fig. 12. — Morango Alexandra. Fig. 13.— Morango Penélope. oáaiT oB oiúc' 9Í5 =8 db «01? n>vriiU sh of oGÍBfvni S >" íaa ^õ -ifl ooBisirB au íiíiíxrp A -Bdfiií ■ -'-r-M oB &\ s.a 9 c «zsnnB ^^; -^bfiB gyçP» ■"" ^K^ 9 0 -v: mi] Aoar/ Fig. 14. —Morango Passe-partout. j -hoasípig. 15. — Morango Perfection. A gravura n.° 14 representa o soberbo morango Passe-partout; fructo mui gran- de ; sendo os primeiros largos e achata- dos e os posteriores de forma mais alon- gada ; a sua cor é vermelha carregada en- vernisada, sementes muito distanciadas, quasi negras e pouco salientes ; polpa ver- melha veiada de branco, assucaracía, per- fumada, um pouco acidulada. Planta meia anã, folhagem de um ver- de mui escuro, e mui serôdia. A gravura n.o 15 representa o moran- 70 JORNAL DE HORTICULTUEA PRATICA. ffo Perfection, talvez o mais exquisito e notável de toda a collecção ; fructo gran- de, e ás vezes mui grande, lobado ou có- nico, mui regular ; cor vermelha mui es- cura, atirando ás borras de vinho; semen- tes bem dispostas, pouco salientes, de um vermelho vivo, que se destaca da côr do fructo; polpa vermelha carregada, succosa; de óptimo sabor assucarado, perfumado, recordando o morango das quatro esta- ções (hrune de GilbertJ. Planta vigorosa e rústica, assemelhan- do-se á variedade Marguerite (Le Breton)^ tanto pelo seu aspecto e disposição de fo- lhagem, como pela íorma de seus fructos, mas diíferindo sobre tudo no colorido, nas sementes e nas suas qualidades espe- ciaes. É uma variedade muito fértil e exce- pcional. Resta que a introducção d'estas bel- lissimas variedades venha augmentar as que possuímos, ainda em mui curta es- cala. Caícllo Aureliano. SERICICULTURA Foram necessários longos e aturados esforços, para convencer a multidão das vantagens incalculáveis que auferiria a la- voura, se com zelo e denodo se dedicasse á sericicultura. Fora ella ensaiada ha muitos annos c recebera notável impulso no fim do der- radeiro século ; mas as obras do homem eminentemente portuguez, que destruirá o feudalismo e os abusos dos poderosos, foram condemnadas pelos seus implacá- veis inimigos, que nào queriam que ves- tígios sequer ficassem das suas louváveis instituições, e estas cahiram em desprezo durante o governo fraco e imbecil da Se- nhora D. Maria I, que tanto se deixou im- pressionar pelo fanatismo que chegou a perder o uso da razão. Depois do cerco, o piemontez Tinelli quiz fazer reviver o gosto pela sericicul- tura, que se achava então em tão precá- rio estado, que o casulo, degenerado pelo pouco cuidado que se lhe prestava, che- gou a vender-se a 120 rs. a rasa; e a seda, toscamente fiada, era comprada por 800 a 1)5200 rs. o arrátel! Mesmo a cha- mada oda fabrica», produzida em Clia- cim, n'esse bcllo estabelecimento que ain- da hoje attesta a grandeza do marquez de Pombal e a sua solicitude pelo engran- decimento de Portugal, só obtinha 1^600 ató 2,5400 rs. o arrátel. O novo apostolo d'essa importante in- dustria o seus discípulos foram infelizes. Kão lograram vencer os preconceitos; e procurando introduzir Amoreiras macro- 2'hylaê c vniliicaulisj espécies menos apro- priadas para sustento do sirgho piemon- tez, que entre nós abunda, tiveram de ba- ter em retirada com graves prejuízos, úni- co fructo que sacaram da sua solicitude. Estes exemplos não podiam deixar de fazer mau eíFeito, e quando se fallava em sericicultura, e nas vantagens da sua pro- pagação, e na industria da sua transfor- mação, apontava-se para aquelle facto, como prova triumphante da impossibili- dade da sua implantação proveitosa em Portugal. Pelo anno de 1850 estalou em Fran- ça e na Itália a epizootia chamada pe- hrina. As criações de sirgho morriam, e o desalento se apoderou dos sericicul- tores. Os governos de aquelles paizes of- fereciara grandes prémios ao que desco- brisse remédio efficaz contra aquelle fla- gello, e além d'isso pozeram á disposição d'essa valiosa industria quantos recursos podem imaginar-se para procurar obstar- Ihe pela introducção de nova semente, cujo bicho resistisse á terrível moléstia. Os agraineurs», que formam em Fran- ça e na Itália um ramo especial da seri- cicultura e só tractam de fabricar, como se expressam, semente de sirgho, e de vendel-a aos criadores, levaram a sua in- dustria aos principados danubianos, á Tur- quia e aos picos caucasianos ; por mais que se lhes dissesse que em Portugal ha- via Amoreiras e sirgho, e que a enfermida- de não nos havia visitado, levou annos a convencel-os d'essa importante verdade. Apoz muitos esforços, logramos, po- rém, conseguir que uma das primeiras ca- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 71 sas francezas, que se dedicam a este tra- balho, aqui viesse fazer suas pesquizas. O mal havia invadido já as terras lon- ginquas que haviam procurado, e todos os esforços pai-a trazer para a Europa os ovos do sirgho da China haviam falhado. Os emissários francezes percorreram Traz-os-Montes e a Beira. Convenceram- se da verdade do que lhes havíamos com- municado. Tractaram de fabricar semente em larga escala e pingues foram os lucros das suas primeiras tentativas. A semente do sirgho portuguez, embora não servisse para sua reproducção em França, na Itá- lia e na Hespanha, que partilhara a sua sorte, tinha uma nascença robusta, e dava soffriveis resultados. Era procurada e por consequência successivamente subia de an- no para anno o valor do casulo no nosso paiz. Não foram, porém, duradouros esses resultados. A semente ida de Portugal succumbiu também depois aos eíFeitos da 2)ehrina ; mas em razão dos esforços em- pregados para melhorar as raças degene- radas, fazendo-se troca de alguns bons specimens que se encontraram em uma pequena aldeia, perto de Moncorvo, nas fraldas do Geronul, e nas cercanias da cidade da Guarda, o casulo tem sido pro- curado para exportação em larga escala, subindo ao preço de l?$i080 reis o kilo- gramma, e animando de cada vez mais o lavrador, que se maravilhava do resultado prompto e lucrativo que tirava em poucas semanas da folha das poucas Amoreiras, colossaes embora, que existiam, e que, bem curto espaço de tempo antes, eram votadas ao extermínio, como nocivas, por não darem proveito algum ! IVÍuitas haviam sido decepadas para o lume, com grande arrependimento dos seus assassinos, quan- do viam seus visinhos alugar sua folha, por 3í51000, 4^000, e até 5^000 reis por anno! Poucas arvores haverá que dêem tal rendimento ! Pôde dizer-se que começa n'este ponto a nova epocha da sericicultura em Por- tugal. O governo de S. M., instado por di- versos artigos que publicamos, e devido especialmente ao amor pelo desenvolvi- mento da agricultura em Portugal, do dis- tincto agrónomo, o conselheiro Rodrigo d» Moraes Soares, mandou vir de França uma soíFrivel porção de Amoreiras, que foram distribuídas gratuitamente; assim como so- mente d'ellas. Condecorou alguns dos prin- cipaes promotores da sericicultura, e fi- nalmente, mandando proceder n'esta cida- de a exposições agrícolas, e premiando Oi que mais se distinguissem n'esta honrosa lide, deu-nos provas da sua boa vontade. Os meios empregados, porém, ainda são insufficientes. Nem sempre basta a persuasão; a coerção também se torna ne- cessária, e assim qulzeramos que, sem ex- cepção, todos os municípios fossem com- pellldos a terem alfobres de Amoreiras, para serem distribuídas por preço mínimo aos lavradores que as reclamassem, e plan- tadas de preferencia a quaesquer outras arvores nas alamedas, cemitérios, praças e legares ou logradouros públicos, de cuja arborisação resulta sempre beneficio para a salubridade de qualquer terra. Qulzeramos que o imperante a quem devemos muito agradecimento pelas pro- vas que nos tem dado do seu zelo pelo adiantamento d'esta industria, vindo em pessoa ao Porto distribuir pela sua au- gusta mão os prémios aos indivíduos lau- reados na ultima exposição, se declarasse magnanlmamente o Protector da Serici- cultura, dando o exemplo, que Infalllvel- mente seria seguido pelos poderosos la- vradores do Alemtejo e da Estremadura, com a plantação de Amoreiras em grande escala nas extensas propriedades da casa de Bragança. Instltulu-se em Lisboa uma socieda- de presidida pelo snr. duque de Loulé para promover a sericicultura; porém com grande sentimento o dizemos que até hoje não sabcxnos que qualquer beneficio d'ella tenha vindo ; e antes nos parece que, a não mudar de systema, a sua existência só tenderá a fazer afírouxar os esforços indi- vlduaes^ aos quaes se deve a prosperida- de relativa, que esta industria vae alcan- çando. Não é só Traz-os-Montes, não é só a Beira que hoje produzem seda. No Mi- nho, os concelhos do Marco de Canavezes, de Santo Thyrso, de Amarante, de Bra- ga, etc, nos dão um soífrivel contingen- te e muito maior deve esperar-se, quando 72 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. tenham desenvolvimento conveniente as frrantles plantações que n'esta província SC lêem feito e continuam a fazer. Na Estremadura progride também esta industria e no Alemtejo torna-se notável a cidade de Portalegre, que figurou na ul- tima exhibiçao com soffriveis specimens, devidos á perseverança e incansável zelo do snr. Francisco llcbcUo de Andrade, que alli luctou contra quantas adversida- des podem imaginar-se, para provar ao conselho de districto, que recebera com desdém a recommendaçào do snr. gover- nador civil e a alcunhara de utopia, o erro cm que laborava. A França e a Itália, forçadas a impor- tar do Japào a semente, acham-se hoje cm terreno desfavorável em relação ao que occupamos. Em quanto alli só produzem uma seda, boa embora para os usos ge- raes, vae escasseando a da fina raça ama- rella e branca piemontezas, que entre nós se sustentam, assim como a granadina, que talvez lhes seja superior, e que se em- prega com grande proveito para os teci- dos que só a cidade de Lyon sabe produ- zir, e que, a continuar a devastação da pehrina, virá a depender de nós para obter a seda de que para elles careça. Lavradores ha que imaginam que se se der todo o impulso á sericicultura em Portugal, todo propicio para a criação da Amoreira branca, tal será a producção, que nào encontrará consumidor ! Oxalá que chegasse essa epocha, para os desen- ganar que qualquer que fosse a quantida- de, ainda assim pouco pezo faria na ba- lança. A França e a Itália produzem em dinheiro cerca de lõO mil contos de reis de seda annualmente; e apezar d'isso im- portam da China e do Japão um valor pouco inferior áquelle, e da Ásia ó que vem, além d'is30, todo o supprimento da seda para a Grà Bretanha, a Hollanda, a Bélgica, a Dinamarca, a Suécia, a Rús- sia, toda a Allemanha, a Suissa, a Hespa- nha, 03 Estados Unidos, c mesmo para Portugal, que ainda lhe é tributário por uma parte da seda para o fabrico do re- troz, que de cada vez mais escasseia, pelo aperfeiçoamento da fiação entre nós. tLeva avante, e nào temais», c pois a nossa voz ; e ninguém se espante se dissermos que esto paiz está nas melho- res circumstancias de produzir em poucos annos muitas dezenas de mil contos de reis de casulo, que o enriquecerão e fa- rão florescer mais, do que o ouro e as especiarias das conquistas, e o seu outr'ora vasto commercio da índia e Brazil, se a lavoura entrar de alma e coração na plan- tação de tão útil arvore (chamada santa, em algumas terras) e se desprender do preconceito que só Milho, Centeio, Trigo e Vinho lhe podem dar proveito. Dêem o exemplo os mais esclarecidos, e a força d'elle arrastará os timoratos, ou os incré- dulos, que felizmente diminuem de dia para dia, a olhos vistos. Recommendamos também a plantação da Madura. E fora de duvida que, em- bora talvez seja perigosa a alimentação exclusiva do sirgho com a sua folha, ella é um útil auxiliar, e tem a vantagem de dar mais promptos resultados, pelo vigor com que se desenvolve, servindo perfeitamente para substituir os vallados de silvas, ou outras plantas espinhosas. A fiação tem melhorado, não só em Traz-os-Montes e na Beira, distinguindo- se n'esta província especialmente o esta- belecimento na Guarda dos snrs. Simão Ribas & Filhos, mas também no Minho, sendo notáveis as officinas do snr. dr. José Cardoso Garcez Maldonado, no con- celho do Marco de Canavezes, do snr. Ja- cintho Valverde, do snr. Germond e ou- tros que agora não nos occorrem ; e é sem duvida mais proveitoso transformarmos o casulo em meada, do que pagar esse tri- buto aos estrangeiros. Notável também tem sido o adianta- mento das nossas fabricas de tecidos de seda, não podendo deixar de extremar-se o fabrico dos snrs. Carneiro ác Irmão, de Lisboa, que rivalisam com os melhores te- cidos lisos de Lyon, pela egualdade do te- cido, que só o tear mcchanico pôde dar, a belleza e uniformidade do tinto e o mi- mo das cores ; o que tudo tem sido mui justamente premiado. Não damos aqui nenhuma novidade. E quasi que a recapitulação de anteriores publicações, mas consideramos que é pre- ciso refrescar a memoria, e que «a agua tanto pinga que até a pedra fura». E ne- cessário insistir, mesmo para alcançar o bem, e tanto dizer e tanto pregar que a JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 73 final se chegue a persuadir. Não se nos le- ve, pois, a mal se continuamos a aposto- lar os benefícios da sericicultura. Ha três annos um nosso amigo se- meou um kilogramma de semente de Amo- reiras , n'um terreno que quando mui- to poderia produzir 4 alqueires de Mi- lho. Nasceu mal. O pássaro comera muita semente, e entrando gado no alfobre, por descuido, fez grande destroço. Todavia vendeu a monda do : 1.° anno, 5:000 arvores a 2 rs. lO^ÍOOO 2.« » 4:000 » 10 » 40^000 3.«^^^»'-á7:000 D 30 » 210^000 Rs. 260i$;000 ou 83!$!333 rs. por anno, ficando além d'is- so com 2:500 arvores que dispoz. O custo da semente foi de 12^(000 rs., e todo o trabalho importou em 5j^780 rs. Que fructo daria semelhante resultado? Cremos que nenhum. E, MOSER. , . PLANTAS DE COLTDM DIFFICIL o CâLGEOLARIAS Esta formosa planta divide-se em dous grupos : as herbáceas e as arbóreas. Estas ultimas são muito bonitas e de fácil cul- tura, dizendo bem nos jardins com as ou- tras plantas ; porém as herbáceas são as que têem produzido um sem-numero de lindas variedades que sempre mereceram logar nas exposições de flores, nos paizes do norte onde o amor por estas se tem tornado quasi que uma mania. Estas variedades da Calceolaria her- bácea têem sido objecto dos nossos cuida- dos ha quatro annos e nunca tivemos o gos- to de as propagar de uma estação para a outra e cremos que os amadores no Porto não terão tido melhor fortuna. Folgaremos extremamente de saber o systema segui- do, se alguém teve a felicidade de as cul- tivar successivamente. -"^ cdjs Porém de sementeira podem-se ter bel- las variedades de lindo efifeito. A semente d'esta planta degenera muito mais depres- sa do que nenhuma outra, por tanto deve todos os annos importar-se nova. A semente é quasi imperceptivel, pa- recendo um pó fino. Para a semear pre- para-se um vaso largo com terra da mais leve possível, deixando uma margem de dous centímetros e rega-se bem. Feito isto, mistura-se a semente com quatro tantos de areia branca, fina, e se- meia-se sem se tornar a regar. Em se- guida, cobre-se o vaso com um vidro e põe- Be á sombra. No fim de três semanas te- rão nascido, e então devem levar uma li- geira rega e continuar com o vidro em cima até terem três ou quatro folhas. A melhor epocha para fazer a sementeira ó nos princípios de setembro. Quando tem chegado a três ou qua- tro folhas, transplantam-se, uma plantinha em cada vaso, do tamanho chamado de «dez reis», em terra amarella leve, mistu- rando-se uma quarta parte de terra vege- tal e meia parte de estrume de vacca mui- to velho. ' '^- •^"' •"":'- Como esta pTántâ^íé íauito impaciente de calor, não é possivel forçal-a; ao con- trario para a ter na sua máxima perfei- ção, convém fazcl-a crescer o mais de va- gar possivel. Esta planta gosta muito da humidade atmospherica, por isso, depois de plantada, deve ir para um «cofre» si- tuado onde receba o sol da manhã e ter os vidros fechados, excepto duas ou três horas pela manhã, a fira de renovar o ar. Antes de ser mettida no «cofre» deve pôr- se no logar que vão occupar, tantos vasos vasios invertidos, ou como vulgar- mente se diz «de boca para baixo», e os vasos cora as plantas postas sobre estes. D'este modo podem deitar-se alguns rega- dores de agua no chão do «cofre» todas as manhãs, antes de o fechar, o que fa- rá a humidade atmospherica sobre modo agradável a estas plantas. Se apparecer geada, devem ser bem cobertos os «co- fres» com esteiras. 0) Vide 7. fí". P. pag. 53. 74 JORNAL DE HOETICULTURA PRATICA. A3 plantas nunca devem estar com- pk-tamentc scccas, nem tao pouco muito túmidas ; um meio termo é o mais conve- niente ; a muita humidade na raiz as tor- na amarellas, e a muita sede as mata. Logo que as plantas se tocarem umas nas outras, devem ser transplantadas para vasos dous tantos do tamanho, conservado o torrão inteiro. Em dia nenhum devera receber sol depois das 9 horas da manhã. Se antes de serem transplantadas, ap- pareccr alguma haste de flor, deve ser cor- tada. Para abril estarão bellas e occuparão quando em flor um espaço de dous pés de largura e outro tanto de altura. Cada haste de flor deve ser atada a um pausi- nho fino, pintado de verde, virado para fora, a fim das flores de uma umbella não tocarem nas de outra. O amador será bem recompensado dos seus cuidados e verá que poucas plantas eguálarão a Calceolaría em belleza. Lisboa. (Continua). D. J. Nautet Monteiro. GYNERIDM ARGENTEDM (nees.) A vasta família das Gramíneas, que 60 pódc chamar cosmopolita, merece a nossa attenção debaixo de muitos pontos de vista. Foi ella a dotada pela natm'eza para servir de principal alimento ao ho- mem, c ó ella que fornece a maior parte das forragens para os animaes domésticos. Nos trópicos os Bambus, estas gigan- tescas Gramíneas, ser /em para a con- strucção de casas e além d'isto para gran- de numero de diffcrentes usos ; e um ou- tro representante d'esta familia, a Canna de assucar, constituo uma fonte de rique- zas para aquellas regiões. O emprego d'estas plantas não se li- mita, porém, ao que acabamos de indi- car, pois por assim dizer reúnem ellas o «utile dulcií. Admirando a frescura de uma bonita relva, que é o principal orna- mento dos parques e dos jardins dos pai- Bcs septentrionaes^ sabemos que ella é formada pelas Gramíneas^ de pequeno porte. Quando precisamos no inverno de ra- milhetes, recorremos ás paniculas de plan- tas seccas, taes como as do Stijm, do Bri- za, do Chloris, etc, que são de uma in- contestável elegância. Nos nossos jardins predominam as plantas dicotyledoneas, portanto somos obrigados, para as tornar mais variadas o attractivas, a introduzir um bom numero de monocotyledoneas, e entre estas contam-so algumas Gramíneas, que se tornam maravilhosas pelo seu por- te gracioso e pela elegância da sua inflo- reicençia. Dito isto, pedimos a attenção dos lei- tores para o Gyneríum argenteum repre- sentado na lithographia junta. A Canna dos Pampas é, como indica o seu nome, originaria das planícies do clima tempe- rado da America Austral, e attrahiu com razão, em seguida á sua introducçào, a admiração universal. Do meio das folhas membranosas, de um verde glauco, que formam um forte tufo e cahem graciosamente, sahe um gran- de numero de colmos de 2 a 4 metros do altura, com paniculas nas extremidades, de 0'",70 a O^^jTó. Estas paniculas são muito ramosas e formadas de espiguetas, cobertas de pellos assedados. Esta planta causa, principalmente no tempo da sua florescência, estando collo- cada no meio de um taboleiro de relva, um effeito notável quando a menor ara- gem faz brilhar as suas bellas paniculas. Foi introduzida na Europa em 1843, por sementes enviadas de Buenos-Ayres ao a Jardim Botânico de Glasnevin», o , e outros designam-a pelo nome de «4íwíra?ia»; mas tanto uma designação como outra são erradas, por- que a Acácia granais pertence á tribu das A. pulcJiella, emquanto que esta de que nos occupamos pertence á tribu das Acácias «de phyllodes», tribu que se en- contra somente na Austrália. E a Acácia que chamam Austrália é planta que não existe, sendo esta denominação nome vul- gar que provavelmente lhe deram para designar que era oriunda da Austrália. Não damos os nossos louvores ao auctor d'esta denominação, porque sendo todas as Acácias «de phyllodes» procedentes da Austrália, não designava aquella que as- sim denominou, de forma a tornal-a, como conviria, distincta entre as suas numero- sas congéneres. Mr. Bentham, que é a melhor aucto- ridade que podemos consultar sobre as plantas de aquelle paiz, descreve assim a Acácia mdanoxylon na sua Flora AuS' traliensis (vol. ii, pag. 388): «Arvore de lenho rijo, attingindo uma grande altura, mas florescendo algumas vezes antes de at- tingir 20 pés ; os novos rebentões são gla- bros ou levemente pubescentes ; os ramo3 novos angulares. Phyllodes, falcato-oblon- gos ou quasi lanceolados de 3 a 4 pollega- das de comj)rido nas variedades communs, e de Ya a uma pollegada de largura, obtu- sos ou quasi agudos raras vezes, muito es- treitos para o lado da base, coriaceos, ten- do algumas nervuras longitudinaes e mui- tas nervuras lateraes que se anastomo- sam entre si. Pedúnculos, de 3 a 4 linhas de comprido, algumas vezes reunidos em pequenos cachos e outras solitários, sus- tentando cada um, um capitulo globuloso de 30 a 50 ou mais flores, que muitas ve- zes são tão juntas que os cálices tornam- se coherentes. O cálice é metade maior que a corolla e curtamente dentado. Pé- talas, soldadas acima do meio. Legumes, alongados, chatos, muitas vezes curvos em circulo de 3 a 4 linhas de largura com uma nervura grossa nas margens.» Vê-se, pois, pela descripção que d'ella dá o illustre botânico inglez, que a Acá- cia que encontramos tão profusamente es- palhada pelas nossas ruas e jardins e a que os horticultores chamam ERRADAMEN- TE Acácia granais ou Austrália, não é ou- tra, senão a Acácia melanoxylon. Dizemos « profusamente espalhada» , porque efectivamente encontra-se em to- 76 JORNAL DE HORTICULTORA PRATICA. das as partes usada como arvore de or- namento, apezar de ficar em bclleza mui- to áquem da Acácia dealhata e de ou- tras suas congéneres, principalmente de- cotando-a da maneira que fizeram a al- gumas que ornavam as ruas d'esta cidade. A Acácia melanoxylon de R. Br. de- ver-se-ha considerar a mesma espécie que a Acácia latifolia de Hort. Prat., mas nSo deve ser confundida com a Acácia latifolia de Benth. Oliveira Júnior. ROSEIRAS O -^^ .nf^T^^-V Diflferentes sSo os meios pelos quaes se pôde multiplicar a Roseira. Reprodu- ziudo-se naturalmente por sementes e pe- los rebentões que se desenvolvem nas raí- zes, pôde também multiplicar-se pela se- paração dos pés, por estaca, mergulhia e enxerto. As Roseiras obtidas por semente, sem perderem cm geral os caracteres privati- vos da espécie a que pertencem, variam muito na forma, grandeza c colorido das suas flores. Umas sao singelas, outras dobradas ou semi-dobradas. D'entrc as ultimas, as que pela per- feição e colorido se tornam notáveis, rece- bem um nome particular, ordinariamente a capricho do obtentor, e constituem no- vas variedades horticolas, cujo numero tem augraentado consideravelmente. E com o fira de obter estas variedades que se pratica este modo de reproducção. Com quanto para isto haja muito a es- perar do acaso, nâo deve comtudo aquelle que se dedica a esta especialidade, confiar n'elle completamente. Pelo contrario, co- lhendo as sementes nas variedades mais perfeitas, isto é, que tenham flores muito dobradas, de uma bella forma e rico co- lorido, deve preparar de antemão os bons resultados que pretende obter. Todavia algumas rosas de flores se- mi-dobradas e de segunda ordem podem produzir excellentes variedades. Geralmente a semente da Roseira Sima,- dureco nos fins de novembro. N'este tem- po colhem-se as bagas, esmagam-sc den- tro de um vaso cheio de agua, para lhes separar as sementes, que se semeiam ira- mediatamcnte antes do inverno, no chão ou em caixões ou t terrinas». ? ?.ií A sementeira feita na primavera vem tardia e irregularmente ; muitas sementes só se desenvolvem no segundo anno, e uma grande parte não germina. Para semear no chão, prepara-se em um logar, abrigado do norte e do poente, um taboleiro com uma mistura de terra de urze e de terra franca, no qual se lan- çam as sementes bastante raras, isto é,' com intervallos de 15 a 20 centimetros entre si, e cobrem -se com uma camada de terra de urze que tenha um centímetro de espessura. A sementeira feita no chão tem o in- conveniente de ser muitas vezes destruí- da pelos ralos e minhocas, por isso algu- mas pessoas preferem fazel-a em caixSea ou a terrinas». Muitas vazes, quando a se- menteira não é feita logo depois da co- lheita das sementes, extrahem-se estas com o fim de se estratificarem. A estratificação consiste em collocar as sementes camada por camada cora areia fina, em um vaso que se encerra em uma estufa fria. Em março começara as se- mentes a germinar; devem então ser se- meadas, cobrindo-se a terra com um pou- co de musgo, que se deve tirar logo que ellas rebentem, porém a sementeira feita no outomno, logo depois da colheita das sementes, é preferível á estratificação. Alguns pés florescem no primeiro an- no, todavia é conveniente supprimir as flo- res para que não prejudiquem o vigor da planta. As hourhonianas o as hengalas estão n'este caso, sobre tudo se não têera sido transplantadas; e as provincialis, centi- folias e remontantes só florescera no se- gundo e terceiro anno e muitas vezes mais tarde. (1) Vide /. ff, P. pag. 43. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 77 As Roseiras costumam ficar nos sí- tios onde foram semeadas até darem flor. Só então se podem escolher ; regeitan- do os indivíduos de folhas pequenas, es- treitas e de flores singelas ou mal con- formadas, e conservando as de flores do- bradas ou semi-dobradas, que muitas ve- zes no anno seguinte se tornam dobra- das. E mais tarde, no segundo anno da sua floração, quando o individuo tem adqui- rido todo o desenvolvimento, se poderá julgar do seu merecimento. Por meio da hybridação, podem-se também obter admiráveis variedades, não só pelo -seu modo de vegetação, colorido e conformação das flores, como pela sua novidade. Cruzam-se as raças, polvilhando os pistíllos das variedades mais dobradas com o poUen das flores semi-dobradas ou mesmo dobradas, quando estas tenham conservado alguns estamos. É necessário, porém, que os pistillos das flores que têem de servir de sujeitos á hybridação, não tenham experimentado a acção do seu próprio pollen ; porque a fecundação natural ou legitima, operando- se mais promptamente e com mais facili- dade, torna toda a fecundação artificial impossível e por consequência deve fazer- se previamente a castração, isto é, a sup- pressão das antheras antes que tenham deixado sahir o pollen. Q3Fjy injj mo ,&■ Para impedir que o poltên d^ mésmo typo ou de outras variedades que se que- rem excluir, seja transportado pelo ven- to, ou pelos insectos que continuamente pousam nas flores, é indispensável encer- rar n'um invólucro de gaze a flor que se pretende fecundar artificialmente; não só antes do seu desabrochamento, como de- pois de se haver disseminado a matéria fecundante sobre o seu estygma, e con- servar este invólucro até que as pétalas murchem e outros phenomenos consecuti- vos da fecundação annunciem que ella teve logar. As hyhridas têem uma tendência para se desenvolver mais promptamente ; em geral a sua floração é mais prematura e as suas flores são mais bellas ou maio- res. Para perpetuar indefinidamente o gran- de numero de variedades obtidas por meio de sementes, ou reproduzir o pé mãe sem modificação alguma e além d'isso obter mais promptos resultados, raultiplica-se a Roseira pela separação dos pés, por es- . taça, mergulhia e enxerto. A maior parte das Roseiras desenvol- vem nas suas raízes rebentões estolonife- ros, que separados do pé mãe de modo que conservem um certo numero de raí- zes, podem formar muitos pés de um só individuo. E por este simples processo de multi- plicação que se encontram os mais rústi- cos jardins guarnecidos de Roseiras, A estaca é um meio de reproducção muito simples, porém como as espécies de lenho duro pegam em geral com muita difíiculdade, não serve senão para as de lenho tenro, que são justamente as que desenvolvem poucos ou nenhuns reben- tões. As Roseiras cháj bengala^ hourhonia- na, noisettiana e as Roseiras trepadeiras, reproduzem-se facilmente por este proces- so, em quanto que as centifolia, damas- cena e provincialisj cujo lenho é muito duro, difíicilmente se podem reproduzir; comtudo desenvolvem muitos rebentões, o que é um meio muito mais fácil, seguro e expedito. A mergulhia faz-se em março e abril com os ramos do anno precedente, ou em junho com os rebentos herbáceos da pri- mavera. Os bons resultados d'este processo de- pendem da qualidade da terra e de regas frequentes. Actualmente a maior parte das Rosei- ras são multiplicadas pela enxertia. O sujeitos ou cavallos mais commum- mente empregados são as Roseiras cani- nas; porque são de todas as espécies as mais rústicas, têem um bello caule perfei- tamente recto, tomam em poucos annos grande desenvolvimento e além d'isso po- dem-se obter com muita facilidade, por- que abundam muito no nosso paiz. Devem escolher-se as que tenham dous annos de edade, a grossura de um dedo e a casca lisa. -^ :.:::Vi:fi;U íuí fi^vo^ífâ^; o-? íUí As Roseiras rohiginosa, hifera e de todo o anno, bem como algumas espécies cultivadas, também podem ser emprega- 78 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. das como sujeitos, com muito bons resul- tados. Os enxertos fazem-sc de escudo ou borbulha, e de garfo. Os primeiros fazem-se desde os fins do niez de julho até meado de setembro, segundo a temperatura c a maior ou me- nor seccura do solo. Não se desenvolvem senão na primave- ra seguinte, ficando estacionários durante seis mezes pouco mais ou menos, donde lhes vem o nome de enxertos de olho dormente. Podem também praticar-se na prima- vera, em maio ou junho, e n'este caso o enxerto desenvolve-se immediatamente, produzindo gomos que florescem no mes- mo anno, porém deve preferir-se o feito no outomno, porque é muito mais seguro e os seus rebentos não correm o risco de morrerem com os frios do inverno. O escudo pode collocar-se direitamente sobre a haste do sujeito com tanto que a casca se destaque facilmente e não seja muito forte e rugosa; então se o sujeito é furte e vigoroso podem collocar-se dous escudos oppostos. Comtudo é mais conveniente enxertar sobre os ramos, porque havendo mais ana- logia entre as cascas, ha mais probabili- dades de bons resultados. O escudo colloca-se sobre uma parte lisa do ramo, do lado de cima e o mais próximo possivel da sua base. Se n'um sujeito vigoroso só houver ura ramo, coUocar-se-ha ura escudo sobre a haste, três centimetros acima do ramo e do lado opposto. Os cuidados que se devera observar n'este ponto, consistera em cortar o su- jeito a uma altura de 8 a 10 centimetros acima do enxerto, quando este começa a desenvolver-se , supprimindo ao mesmo tempo todos os olhos ou rebentos que se desenvolvem abaixo, e coUocar pequenos tutores nos novos gomos, para que não sejam quebrados pelo vento ou por outra qualquer causa. O enxerto de garfo faz-se nos fins do inverno ou princípios da primavera, sobre a haste do sujeito, cortada a uma altura conveniente, em que se deve formar a ca- beça do arbusto. Quando os sujeitos são vigorosos po- dera-se coUocar sobre cada um dous gar- fos oppostos. Esta espécie de enxerto é pouco con- veniente para a Roseira, porque o seu le- nho medulloso, não sendo susceptível de soldar-se como o das arvores fructiferas, apenas a casca se solda, e por consequên- cia é pouco solido. J. Casimiro Barboza. MILHO JAPONEZ DE FOLHAS ESTRLADAS O O Milho japonez de folhas estriadas, que quasi toda a gente hoje conhece, tem- se apresentado até ao presente, segundo creio, com fraquíssimo desenvolvimento, quer no norte, quer no meio dia da Fran- ça, pois a immensa quantidade que d'clle vi em Pariz, por occasião da exposição de 18G7, só serviu a confirmar-mo na ideia já emittida de que este producto no norte é de tão pouco vigorosa apparencia como entre nós. Comtudo esta planta, pela sua folha- gem estriada, é de grandissima bellcza, Beja guarnecendo cercaduras de canteiros, Beja formando raassiços isolados. Eis o meio que eu empreguei este anno com pleno resultado para lhe dar um vi- gor que elle nunca teve. É sabido que esta Gramínea cresce cora força até á sua florescência e que, chegada a fecundação, principia novamen- te a afí'rouxar. Dir-se-hia que toda a sua força vegetativa se concentra então, por- que dá na base muitos rebentões ; mas pouco a pouco, cessando quasi de se des- envolver em altura, acaba por não occu- par, como deve, senão o logar que lhe era reservado. Tinha no verwo passado na Quinta modelo um massiço de Milho japonez no (') Vide J. H. P. pag. 59. JOBNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 79 meio de uma porção de plantas, porém de modo que era obrigado a elevar-se muito para produzir o effeito que se desejava. Para chegar a este resultado, tomei, na occasião da floração, o alvitre de não deixar desenvolver nenhuma flor femini- na. Todos os dias, ao passar pelas mi- nhas plantas, tinha o cuidado, logo que alguma principiava a apparecer, de abrir um pouco o tubo das folhas que a envol- viam e arrancal-a até ao ponto da sua in- serção na haste. Por este meio tive plantas de grande vigor, que se alongavam sempre e não davam rebentões na base. Porém as flo- res femininas multiplicavam-se em massa; nasciam sempre e por toda a parte. Por isto se vê bem que a natureza tem suas leis immutaveis e que todas as plan- tas, coUocadas nas condições necessárias, se fecundam e fructificam. Não supprimo as flores masculinas, por- que este pennacho, no meio das folhas es- triadas, é do mais bello effeito que se pô- de imaginar. A. Dumas, Jardineiro em chefe da Quinta-modelo de Bazin (Gers). Membro da Sociedade Imperial ê Central de Horticultura de França. EXPOSIÇÃO DE ROSAS A Rosa é das flores A flor e Rainha. Divsiz. Poesias. No dia 24 de abril, «n'um verdadeiro dia de rosas n, teve logar a abertura da Exposição de Rosas no Palácio de Crys- tal d' esta cidade. Ao som da musica e em presença de algumas pessoas em quem se revela o gos- to horticola, admiramos a familia d' essa rainha das flores — a rosa — que tão orgu- lhosamente ostentava suas bellas cores e formas, e espalhava seus delicados aro- mas, em face do bello sexo que a con- templava com enlevo. Não podemos dizer que os exposito- res eram muitos, o que em grande parte, sem duvida, foi devido á pouca antecipa- ção com que foram convidados, pois só se annunciou o dia em que a exposição se realisava — três ou quatro dias antes! Parece-nos que n'este ponto se proce- deu menos acertadamente, porque em tão curto espaço de tempo tornava-se impos- sível para os amadores prepararem as suas coUecções, isto é: forçar as Roseiras me- nos desenvolvidas e atrazar as mais adian- tadas, de maneira que todas florescessem aproximadamente ao mesmo tempo. Como deixamos dito, pois, a estreiteza do prazo só permittiu que apresentasse a sua collecção o proprietário d'este jornal, o snr. José Marques Loureiro, que apezar de não ter por especialidade a cultura de Roseiras, não deixou por isso de concor- rer com avultado numero de variedades. Além deste snr., foram também exposito- res de rosas cortadas os snrs. : Aloysio A. B. Lima F. de Seabra, António Joaquim de Andrade Basto, António José de Oli- veira e Silva, Eduardo Katzenstein e Ma- noel Van-Zeller. Examinamos minuciosamente a collec- ção do snr. José Marques Loureiro e fize- mos selecção de dezesete variedades^ que chamavam justamente a attenção dos visi- tantes. Em seguida damos os seus nomes : Pavillon de Pregny, Monsieur Bon- cenne, Reine de Portugal, Monsieur Joi- gneaux, Comtesse Vallier, Gustave Co- raux. Charles Lefèvre, Jean Cherjpin, Em- pereur du Mexique, Souvenir de Charles Montaut, Souvenir du docteur Jamain, Narcisse, Eughie Appert, Souvenir de Willian Wood, Alfred Colomh, Monte- Christo e Yidcain. Os prémios que a empreza do Palácio de Crystal tinha offerecido para esta expo- sição, foram conferidos pelo respectivo jury: o 1.° dos dous destinados para os melhores grupos de variedades e o 1.** dos dous destinados para as melhores coUecções de novidades (um de lOfJÍOOO reis e outro de 6^000) ao snr. José Mar- ques Loureiro. Ao snr. António Joaquim de Andra- de Basto foi conferido o 1.® premio des- tinado para a melhor collecção de rosas 80 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. soltas, O qual consistia n'iiraa jardineira de madeira talhada com plantas. 02.°, consistindo u'um vaso de «fayen- ce» cora plantas, coube ao snr. AloyBio A. B. Lima F. de Seabra. Havia ainda dous prémios para as duas melhores coUecçòcs de novidades cm rosas soltas. Estes ficaram para ser distribuidos no dia 1.° de maio. Também se nào distribuiram os 2."' prémios pe- cuniários. N'este dia, que estava mareado para o onccrraracnto da exposição, resolveu a cmpreza abrir uma nova exposição geral de plantas, flores e «bouquets», em conse- quência de ter sido pouco concorrida a Exposição de Rosas, pela pouca anteci- pação dos annuncios. O jury era composto dos snrs. : dr. Casimiro de Castro Neves, presidente; Adolpho Braga, Alexandre Grant, Joa- quim Casimiro Barboza e José Duarte de Oliveira Júnior. Esta exposição pôde e deve até con- siderar-se como um ensaio das exposições de culturas especiaes, ensaio que cremos virá a ser seguido de mais brilhantes ret sultados. '^ E innegavel, porém, que se a exposi- ção esteve pouco concorrida, foi isso mo- tivado pela causa que já apontamos e que deverá ser removida quando se tractar de outras exposições. Em todo o caso, muito louvável foi a resolução da empreza do Palácio de Crys- tal em ter promovido esta exposição, co- mo honrosos são para os expositores pre- miados as distincções que mereceram. A todos os nossos louvores. , OuvEiAf Júnior. 9m:i9Y0lÍ9V > CULTURA DA MOSTARDA DE PEKIN Esta planta (Sinapis Pekinensis) é da familla das Cruciferas e subfamilia das Orthoploceas. Foi no anno de 1837 in- troduzida na Europa pelos missionários da China. E alguma cousa differente da nossa Mostarda: a planta eleva-se sobre uma haste recta e consistente, que se ra- mifica desde logo, sustentando numerosas folhas, muito tenras e largas, que se po- dem comer de diíTerentes maneiras. Semeia-se no principio de setembro, para se transplantar quando tiver 6 ou 7 centimetros de altura. Depois da terra bem cavada, deita- se-lhe algum adubo e torna-se a cavar de novo; e quando esteja bem preparada, deita-se-lhe a semente, que se deve cobrir bem, e reparte-se a terra em alfobres. <{ Quando tiver a altura já mencionada, transplanta-se para terra de horta bem fa- bricada e adubada; e sacha-se, quando ti- ver O™, 22 de altura, pouco mais ou me- nos. Os pés que ficarem para semente, devem-se deixar no próprio sitio, onde cila se semear. A. M. Vaz Sampaio. Ervedoza do Douro, CALENDÁRIO DO HORTICULTOR^"- o^n Abfibíuo fflod 30 obflsntqsoxo ;oia .BTubisT 138 eveb l89'íl ,8JÍ581 bA ..; ... iíbnir§oa &a :n;r^f^ MAIÍbb 019091 Bá oSn euptoq jObiBí eb Jardins. — Neste mez continuam os trabalhos de jardinagem começados no nicz anterior. Haverá todo o cuidado cm que 08 Raiiunculus e Tulipas não mur- chem á mingua de agua : as regas apro- veitam mais, sendo operadas de tarde. Transplantam-se para o togar que lhes fôr destinado as sementeiras feitas em abril, em alfobre ou viveiro. -vj Devem sachar-se os canteiros e os va- sos de Cravos, estrumando-se com estru- me bem consumido. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 81 É a occasião de se formarem os mas- 8ÍÇ08 do estio. As plantas mais adequa- das a esse fim são : — as Dahlias, Fu- chsias, Geraniums, Heliotropiurns, Petu- nias, Pelargoniums zcnaes. Verbenas, que se plantarão em um solo bera estrumado. E de um eflfeito extraordinário e de uma belleza incomparável um açafate (corheil- lej guarnecido destas plantas. Podem plantar-se era canteiros o Ct/- clavieuj Agapanthtcs umbellatus e os Col- chicos. J Gs oBnjsjjp ãbiromfn i©3 âis Podem metter-se ãe ésta.c3í a, Ddtura arbórea, o Jasmim de Hespanha, Phlox, Gigantes e as Salvias. E a occasião de semear: — Balsamina hortensis (Papagaios), Campanulas, Cen- táureas, Clarkias, Coreopsis, Cuphea pur- púrea , Escholtzia californica, Cheiran- thtbs cheiri (Goiveiro araarello), Mathiola incana (Goiveiro vermelho), Malcomiama- ritima (Goiveiro marítimo), Lupinus lu- teus (Tremoço de cheiro), Nemophila insi- gnis e maculata, Petunias hybridas, Phlox Drumondi, Portulacas e Scabiosa atro- purpurea (Suspiros). Um jardim bem tractado deve, n'este ínez, estar coberto de flores. E occasião de fazer cruenta guerra aos ralos, cara- coes e bezouros, os maiores flagellos da horticultura. Hortas.— Durante este mez ha muito que trabalhar nas hortas ; é preciso ver passear uma formiga a dez metros de dis- tancia, dizem os horticultores francezes ; esta linguagem hyperbolica indica a ne- cessidade de um trabalho activo e a mais severa limpeza. Devem amiudar-se as transplantações, as sachas e as mondas. Em uma horta bem cuidada não deve haver espaço va- sio ; exceptuando os passeios, tudo o mais deve ser verdura. As regas, n'este mez, occupara muito tempo : na segunda quinzena pôde já re- gar-se de tarde, porque não ha receio dos frios da noute. As plantas que n'este mez se podem semear ou plantar, são : Abóboras, Acel- gas. Agriões, Aipo, Alface, Azedas, Ba- tatás doces. Batatas communs, Beterra- -.' . Í.J- .a tiOi*i/-£i^— iO - - 'i-^ .:íi?80 moo oe-obflam ab aoa bas para salada, assim vermelhas como amarellas. Cebolas, Cerefólio, Cherivia, Chicória, Couves, de todas as qualidades, Ervilhas, Espinafres, Estragão, Feijões, Funcho, Gerimiis, Melões, Mostarda, Na- bos, Pepinos, Pimpinella e Salsa. Arvoredo. — É n'este mez que se ap- plica ás arvores fructiferas o corte dos no- vos rebentões com a unha (pincement), e as incisões, para encaminhar a seiva aos ramos mais fracos. Esta operação deman- da cuidado, e deve ser feita com mode- ração. Cumpre egualmente vigiar os enxer- tos e cortar os rebentões dos cavallos, para que não enfraqueçam os garfos. Viveiros. — Deve continuar-se com ardor o grande trabalho que elles exigem, arrancando as hervas nocivas que os as- saltam e mostram a negligencia do cul- tivador; os enxertos devem ser constan- temente vigiados. Grande cultura. — N'este mez exi- gem-se trabalhos assíduos. E' mister lim- par frequentes vezes as cavallariças e cur- raes; conduzir estrumes para os campos e terras de pousio ; regar as pilhas de es- trume conservadas em fossos, para que não ganhem bolor. Termina-se a lavoura das terras des- tinadas ao Milho, Cevada, Nabos e Tri- go mourisco. Sachar os cereaes, gradar as Cevadas e Aveias. Começam, em muitas localidades, a sahir os novos enxames de abelhas; é mister vigial-os desde as nove horas da manhã até ás quatro da tarde. Os enxa- mes secundários devem ser restituídos á colmêa primitiva. Se acontece o sobrevir cinco ou seis dias consecutivos de mau tempo, é necessário dar um pouco de mel aos novos enxames. N'este mez começa a educação do bi- cho da seda. As Amoreiras mostram as suas primeiras folhas ; não ha tempo a perder. Convém pôr os ovos em incuba- ção, logo que a folha esteja bem desen- volvida, e preparar o necessário para a ascensão do bicho, depois do seu completo desenvolvimento. Ramos de Urze ou de Carqueija são apropriados. .ebiiy õb @«;ij£nõqo ohm 82 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. — Com effeito abrir-se-ha em Lisboa, no dia 22 do corrente mez de maio, e en- cen-ar-se-lia no dia 13 de junho, a expo- sição de plantas, vinhos e azeites, de que fallaramos no nosso ultimo numero. Esta exposição é promovida pela di- recção da «Real Associaçào de Agricul- tura Portugueza», pela qual nos foi en- viado o respectivo programma. Com muito gosto lhe damos publicida- de. Somos partidários das exposições, cla- ramente o temos mostrado, e desejára- mos que ellas fossem tão numerosas como concorridas. O nosso paiz precisa d'ellas e com ellas muito lucra, como o tem já provado a experiência. Diliffcnciaremos assistir á abertura , mas, em todo o caso, o que muito deseja- mos é que todos os ramos correlativos da horticultura se achem bera representados n'este concurso. Eis o programma, o qual a direcção precede da advertência de que, attenden- do á multiplicidade de plantas e objectos de que se compõe a exposição, entendeu separar em concursos diversos os produ- ctos, as plantas e os objectos que devem concorrer : REGLT.AMENTO PARA OS EXPOSITORES I. Os expositores receberão no acto da en- trega, na secretaria da Associação, um recibo dos objectos que expõem. II. Os objectos a expor serão entregues até á anteTespera do dia da abertura da exposição. IH. Os expositores, (jue quizerem fazer algu- ma conslrucção para expor ou collocar os obje- ctos expostos, ou quizerem agrupar ã vontade as suas exposições, deverão participal-o à commis- «ão até ao dia 12 de maio. IV Nenhum objecto poderá ser tirado antes do encerramento da exposição sem licença espe- cial da commissão. V. As dcspezas de conducçio dos productos são por conta do expositor. VI. Os prémios consistem em medalhas de ouro, prata c cobre; nodendo ojury conferir men- ç»')es honrosas quaiiuo as circumstancias o exi- girem. VII. Os expositores em cada remessa devem indicar os concursos a que (juercm concorrer. VIII. Se cm algum concurso não houver obje- ctos dignos de recompensa não se dão os rcspe- ctiTos prémios. IX. Cada exemplar não poderá concorrer a mais de um concurso. X. Na exposição de vinhos e azeites devem as remessas ser acompanhadas quanto possivel dos seguintes esclarecimentos : 1.** Nomo do produclor. 2.° Localidade. 3.° Castas das uvas ou azeitonas que produzi- ram o vinho ou azeite exposto. 4." Processo do fabrico. 5.° Anno da novidade. XI. Na exposição de flores devem as remes- sas satisfazer quanto possivel ao seguinte: 1.** As plantas devem trazer o respectivo nome botânico ou vulgar. 2." Se forem plantas importadas de novo, devem trazer designado o paiz donde vieram e a epocha da importação. XII. A Associação encarrega-se de tractar das plantas durante a exposição. XIII. Os expositores que quizerem ter pessoas próprias para tractar das suas plantas, poderão fa- zel-o, participando á direcção, que dará um bi- lhete especial a esses encarregados, a fim de po- derem entrar na malta durante a exposição. XIV. Toda a correspondência deve ser franca de porte, e dirigida a M. de Andrade, secretario da "Real Associação Central de Agricultura Por- tugueza». EXPOSIÇÃO DE ^^N^os e azeites Vinhos medianos. Uma medalha de ouro — Para o melhor vinho mediano de embarque não excedendo a 15** de graduação alcoólica. Não pôde este premio ser dado sem que o vi- nho tenha passado pela prova de viagem, ou outra que o jury entender que satisfaz. Uma medalha de cobre — Vinho mediano sem aguardentação alguma, para consumo do paiz. Uma medalha de cobre — Vinho mediano aguar- dentado para embarque. Vinhos generosos. Duas medalhas de prata e quatro de cobre— - Para cada um dos differentes typos dos melhores vinhos generosos. Vinhos licorosos, moscatéis e bastardos. Uma medalha de prata e uma de cobre. Vinhos verdes. Uma medalha de cobre. Aguardentes. Uma medalha de prata — A melhor aguardente de vinhos. Uma medalha de cobre — A melhor aguardente de outra proveniência. Uma medalha de cobre — Modelos e planos de appareihos de distillação. Vinagres, cervejas e licores. Três medalhas de cobre. Fabricos vinarios. Uma medalha decoòre— Descripções cscriptas JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 83 acompanhadas de modelos e desenhos, representan- do o conjunto da mobília empregada e processos. Azeites. Uma medalha de prata. Fabricação de azeite. Uma medalha de cobre — Descripção escripta e acompanhada de modelos e desenhos, representan- do o conjunto da mobília empregada. EXPOSIÇÃO DE FLORES Plantas de estufa. Uma medalha de prata — Para o melhor grupo de plantas em flor. Uma medalha de prata — Para o melhor grupo de plantas de folhagem. Uma medalha de cobre — Para o melhor grupo de Palmeiras e Fetos. Uma medalha de cobre — Para o melhor grupo de plantas decorativas próprias para serem culti- vadas em sala. Plantas de ar livre. Duas medalhas de cobre — Para o melhor grupo de plantas em flor da mesma espécie, como : Cra- veiros, Roseiras, Pelargonios, Fnchsias, etc. Uma medalha de prata e uma de cobre — Para o melhor grupo de plantas de folhagem annnaes ou vivazes, como: Fetos, Palmeiras, Coniferas, etc. Uma medalha de cobre — Para a planta mais vigorosa que tiver sido creada em vaso proporcio- nalmente mais pequeno. Uma medalha de cobre — Para as plantas crea- das em suspensões. Uma medalha de prata — Para a planta indíge- na que mais bem aproveitada se apresente para a ornamentação de jardins ou salas. Uma medalha de cobre — Para o melhor grupo de plantas de importância technica industrial ou medicinal. Flores cortadas. Os prémios d'este concurso são destinados ás plantas que se apresentarem no dia da abertura da exposição. Receber-se-hão, porém, todos os dias que durar a exposição, estes productos, havendo em cada dia santificado uma medalha de cobre para se conferir ao mais bello dos objectos n'esle concurso. Duas medalhas de cobre — Para o mais bello ornamento feito com flores e folhas cortadas, taes como, cestos, ramos, pratos, mesas de jantar, tcoif- fures», jardineiras, Cycas ornadas de flores, açafa- tes, coroas, grinaldas, etc. Ornamentação de jardins. Duas medalhas de cobre — Para as mobílias mais bonitas e mais baratas, como mesas, cadeiras, ban- cos, tcauseuses», etc. — Para os mais bellos emais baratos ornamentos, como kioscos, pavilhões, «éta- gères», vasos, estatuas, bordaduras, sebes, jardi- neiras aquários, etc. Uma medalha de cobre — Para a melhor e mais utíl machina de jardinagem. Livros e planos. Uma medalha de prata — Para o melhor tracta- do de horticultura moderna applicado a Portugal. Duas medalhas de cobre — Para os melhores planos ou modelos de objectos de horticultura de jardins, construcções, «chalets», pontes. Duas medalhas de cobre — Para fructas e legu- mes para sementes. Ornamentação de sala. Uma medalha de cobre — Para a mais graciosa disposição de flôresou plantas agrupadasem vasos, caixas, mesas, «étagéres», estufas, oflower stands.» Plantas novas. Uma medalha de prata — Para o melhor grupo de plantas novas em Portugal. Uma medalha de cobre — Para a planta mais bella e mais notável. Lisboa, e secretaria da Real Associação, em 15 de março de 1870. O Secretario da Associação, luís augusto MARTINS DE ANDRADE. — Segundo somos informados, deve ter logar nos fins de agosto próximo, no Palácio de Crystal do Porto, uma exposi- ção sericicola. — Recebemos os n.^^ 1, 2, e 3 de— La Belgique Horticole, acreditada publi- cação belga, que conta vinte e um annos de existência. E esta uma boa recommen- dação, que os leitores não devem deixar passar desapercebida. Ao seu redactor, Mr. Edouard Morren, agradecemos a deferência que teve para coranosco. — Um nosso assignante de Guimarães, o snr. António José Pereira Martins, di- rigiu-nos uma carta, da qual extrahimos os seguintes paragraphos que de certo se- rão lidos com interesse: Os Centeios, principalmente sobre as margens do rio Ave, soffreram bastante com as ultimas geadas; todavia, se o tempo fôr propicio, teremos uma colheita superior á do anno antecedente. As messes de Trigo apresentam-se vigorosas e promettedoras, ondeando altivas e robustas na amplidão dos campos. Os pomares apresentam uma perspectiva gratíssima. As fructeiras estão carregadas de fructos, que também concorrerão para que o anno seja fértil. As Vides por emquanto não têem sido acom- mettidas pelo terrível flagello — o oidium tuckeri. Os cachos são numerosos e limpos. A lavoura vac adiantada. Nas terras seccas em breve estarão terminadas as sementeiras do Milho. Em muitos campos vê-se nascido bom Milho, com caracter vigoroso e altamente promettedor. Os Castanheiros continuam sendo attacados do mal com muita violência. Pena é que se não tenha podido descobrir um antídoto contra tal moléstia. A. J. Pereira Martins. Guimarães, 19 de abril 1870. — O snr. Francisco José Rodrigues da Silva Basto escreve-nos fazendo um ofiferecimento aos nossos assignantes, e não 84 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. duvidamos que muitos se aproveitarão da boa vontade com que aquelle snr. quer obsequiar os seus concidadãos. O snr. Basto diz-nos: «Farão o favor de publicar que eu ofFereço garfos de Amendoeiras doces, Damasqueíros e Amo- reiras, no tempo próprio, ás pessoas que d'elles se quizerem utilisar.» E' extremamente louvável o interesse que d'estc modo patenteia o snr. Fran- cisco Josó Rodrigues da Silva Basto pelo desenvolvimento horticola. Pela nossa parte agradecemos e aos nossos assignantes indicamos o endereço com que devem ser feitos os pedidos: Fre- guezia de Cernedello — Casa de Figueiredo — Louzada. — As arvores fructiferas têem no ge- ral boa apparcncia e não duvidamos que a colheita seja abundantíssima, se o tem- po continuar propicio. As sementeiras estão bastante adian- tadas nos subúrbios do Porto e alguns dos proprietários já começaram a enxo- frar as suas vinhas, que se mostram pro- mettedoras. Não será talvez fora de propósito lem- brar a necessidade que as Videiras têem de ser enxofradas e é agora a epocha pró- pria para o fazer. A segunda enxofração deve ter logar quando os bagos estejam do tamanho de chumbo de caça, e a terceira quando te- nham attingido o tamanho de um grão de ervilha. As condições que se devem preferir para que o uso do enxofre seja efficaz, são: um dia secco, bastante quente (mas não demasiadamente quente), sol claro e ven- to brando. — N'este n." (pag. 78) publicamos um artigo do nosso collaborador, Mr. A. Du- mas, sobre a cultura que se deve dar ao Milho japonez de folhas estriadas, para que tome todo o seu desenvolvimento e, ostentando assim a sua bella folhagem, se torne uma verdadeira planta de orna- mento, digna de figurar no jardim mais escrupulosamente tractado. Pela nossa parte apoiamos os meios que Mr. Dumas emprega e aconselhamos 08 no8Bos leitores a seguirem-os, porque temos a certeza de que serão bem remu- nerados de suas fadigas. Ao que os nossos collegas, os snrs. Joaquim Casimiro Barboza e agora Mr. A. Dumas, têem dito com respeito ao Milho japonez de folhas estriadas, só nos resta acrescentar que esta bella planta reúne em si duas qualidades de que poucas plan- tas gozam: hella — barata — e ainda lhe po- demos talvez juntar — novidade. — As corridas de touros attrahiram-nos outro dia ato á rua da Boa Vista e quan- do voltávamos d'este divertimento (! ! !), para que não é exaggerada a qualifica- ção de bárbaro, deparou-se-nos á vista um jardim na rua da Carvalhosa , que nos repousou suavemente os olhos do es- pectáculo que vínhamos de presencear. Tomamos a liberdade de entrar e ad- miramos o bom gosto com que se acham dispostas as diflfcrentes plantas, entre as quaes encontramos algumas de subido me- recimento. A collocação das Aucuhas não nos pa- receu, porém, muito boa ; vimos que se tomara o expediente de as plantar isola- das e se estivessem grupadas produziriam certamente melhor eifelto. Soubemos que o possuidor d'este jar- dim é o snr. João José Lopes Chaves, que se pode ufanar de ter um dos mais bellos jardins do Porto. Pena é que não seja maior. N'aquelle mesmo dia vimos perto de Leça da Palmeií-a ura outro que se aca- bou de fazer adjuncto a uma excellente casa; mas que jardim!... Impera n'elle so- beranamente o mau gosto e tão soberana- mente que não ha aíli um palmo de ter- reno que escapasse ao seu dominio ! Parece impossível que houvesse ima- ginação que podesse conceber tal mon- struosidade! O risco do jardim do snr. Chaves foi delineado pelo snr. Emilio David, paiza- gista allemão. — Recebemos o n.** 2 da revista men- sal de estufas e jardins — UUlustrafion Horticole. Este numero contém quatro cxcellentes chromo-lithographias que são acompanhadas de artigos de seu illustra- do redactor, Mr. Ed. André. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 85 GOLPE DE VISTA SOBRE A BOTÂNICA DE PORTUGAL A Flora d'este reino, que Humboldt avaliava em 4:000 espécies, cora quanto o numero das descriptas até hoje esteja longe de attingir esta cifra, offerece ain- da, por assim dizer, muitos pontos á in- vestigação ; nào só abunda em plantas ra- ras e por isso mesmo procuradas pelos bo- tânicos, mas offerece também grande nu- mero das chamadas espécies criticas, isto é, cuja determinação não se acha ainda bem fixada. Não é nosso intuito seguir n'este tra- balho um dos caminhos que conduziriam á investigação d'esse estudo ; o único fim que nos propomos é dar uma limitada re- senha do que se tem feito aqui para pro- pagar o gosto da botânica e especial- mente da botânica d'este paiz, onde o rei- no vegetal tem patenteado a nossos olhos tantas riquezas, parando de vez em quan- do para admirar algumas das plantas que sob mais de um ponto de vista reclamam a nossa attenção. Entre os botânicos portuguezes que se têem tornado mais conhecidos pelos seus escriptos, devemos coUocar em primeiro logar José Correia da Serra e principal- mente Félix Avellar Brotero. Consagre- mos, pois, á historia d' estes dous homens celebres algumas linhas. Correia pertencia á classe ecclesiasti- ca, porém, por causa das suas ideias li- beraes, residia o mais do tempo fora do paiz. Sem ter publicado grandes obras, encontram-se d'elle muitas publicações bastante importantes em diversos jornaes de Inglaterra, de França e dos Estados Unidos, e o professor Link, celebre botâ- nico, falia d'elle com respeito. Brotero, o De Candolle portuguez, fo- ra também destinado ao estado sacerdo- tal; também se vira obrigado, quando che- gou aos 34 annos, a abandonar, victima das suas ideias liberaes, a sua terra na- tal. Foi para Pariz, onde se entregou in- teiramente ao estudo das sciencias natu- raes e onde se tornou discípulo de Au- benton, Buffon e Jussieu. Foi na capital franceza que elle publi- cou em 1788 o seu «Compendio de Bo- i«7Q-V»l. l.* tanica» (2 vol.), cujo merecimento foi em toda a parte reconhecido e que se avan- tajava principalmente pela introducção, em que se encontra uma resenha completa e característica do estado da sciencia n'a- quelle tempo. Na Universidade de Rheims estudou em seguida a medicina e n'ella obteve o grau de doutor. Apoz uma ausên- cia de 12 annos, voltou, em 1790, a Por- tugal e entrou logo, por um decreto da rainha a Senhora D. Maria I, como pro- fessor de botânica e agricultura, na Uni- versidade de Coimbra. N'esta cidade, e mais tarde como director do Jardim Bo- tânico da Ajuda, publicou os seus «Prin- cípios de Agricultura Philosophica», em seguida a sua «Flora Lusitanica» (2 vol.), e o «Catalogo geral das plantas da es- chola pratica». A sua «Phytographia Lu- sitanica selectior» (2 vol. in-folio, Lisboa 1816-1817), pode conslderar-se como a sua obra mais importante. Garcia da Horta, professor na Uni- versidade de Coimbra, publicou, durante a sua residência em Goa, o «Tractado das especiarias do Oriente» (1544), livro que foi traduzido em muitas linguas. Outros dous portuguezes, Thomaz Peres e João Fragoso, publicaram egualmente muitos artigos interessantes sobre as plantas me- dicinaes do Oriente. Fernão Mendes Pinto e Barros tornaram conhecidos, no fim do século XVI, grande numero de novos fa- ctos sobre muitas arvores e sobre os pro- ductos vegetaes das índias, da China e das Molucas. Na «Historia de Santa Cruz, no Bra- zil», o seu auctor, Pedro de Magalhães, dá-nos uma dissertação sobre o tabaco, a gomma copal e sobre outros productos da America Meridional. Em 1788 Domingos Vandelli publicou a sua grande obra «Flo- rse Lusitanicse et Brasiliensis specimen». José Marianno da Conceição Velloso, um pobre franciscano, era o auctor da «Flo- ra Fluminensis», obra a que elle dedicou 25 annos da sua vida. Esta magnifica pu- blicação em 12 grandes volumes in-folio, de que 11 contêem as estampas elo texto, appareceu só depois da sua morte ; foi o Juolio— N.' Ç» 86 JORNAL DE nORTICULTUEA PRATICA. bispo Francisco António da Arrábida que a editou á custa do governo brasileiro. Outro frade portuguez estudava, sendo missionário na Cochinchina, a Flora d'es- te paiz c a «Flora Cochinchinensis» é o fructo das suas investigações. A «Flora Pharniaceutica e alimentar portugueza» de Jeronymo Joaquim de Figueiredo (1 vol. 8.", Lisboa 1825) e a «Flora Conimbri- censis spocimen» de Manoel Dias Baptista (Mcm. Econ. da Acad. Real das íscien- cias de Lisboa, tomo i, 1789), são dous pequenos livros que facilitaram sempre aos principiantes o estudo da Flora por- tugueza. Porém a «Flore Portugaise» de Link c IIoíFmannsegg (Berlin 1820, 3 vol. in-folio), é de certo a publicação mais importante que se tem feito a respeito do reino vegetal d'este paiz ; infelizmente, os seus auctores não poderam concluil-a e ella nao nos dá conhecimento senão de 29 famílias naturaes. O doutor Welwitscb oc- cupou-se também da investigação da Flo- ra d'este paiz e as «Cartas sobre o Her- bario da Flora Lusitanica», nas «Memo- rias da Academia Real das Sciencias de Lisboa» (Tomox, 1850), são devidas ásua penna. O «Catalogo methodico das plan- tas observadas em Portugal» por Carlos M. G. IMachado (Jornal das Sciencias Mathematicas, Physicas e Naturaes, Lis- boa 1868), c uma enumeração das plan- tas que este senhor, durante uma commis- são de sete annos, encontrou no paiz ; po- rém as Pohjpetalas ainda n'elle se não acham terminadas, de modo que até a utilidade que estas enumerações oíFerc- cem, quando são completas, lhe falta. No «Boletim da Sociedade Imperial de Aclimação» (novembro — dezembro de 18G7), encontra-se um resumo dos «Pro- ductos vcgetacs de Portugal». O dr. Bernardino Gomes, zeloso pro- pugnador da aclimação das espécies de Cliinchona nas colónias do ultramar, que demonstrou a possibilidade de levar a ef- fcito esta ideia patriótica na «Cultura das plantas que dão a quina» (Lisboa 18G5), occupa-se também da Flora fóssil, e a sua «Flora fóssil do terreno carbonifcro de Portugal», foi summamente elogiada pelo celebre geólogo allcmão, o dr. Geinitz. Finalmente, o actual director do Jar- dim Botânico d'c3ta Universidade, o sm*. dr. A. J. R. Vidal, é auctor do «Tracta- do elementar de Botânica Philosophica» (Coimbra 1869), obra que vae ser con- cluida no decurso do corrente anno. Tournefort e A. de Jussieu explora- ram Portugal no principio do século pas- sado e a maior parte das plantas recolhi- das por elles encontram -se no Herbario do Museu de Historia Natural de Pariz. O conde de Hoftmannsegg, acompanhado do professor Link, percorreu o paiz e prin' cipalmente as províncias do norte, no fim do século passado e no começo do pre- sente. Muitas espécies novas foram des- cobertas e descri ptas por estes incansáveis botânicos, e todas as suas collecções de plantas seccas tornaram-se depois proprie- dade do Herbario Real de IBerlin. MM. Reuter, Bourgean e Willkomm herborisa- ram no Algarve e o dr. Welwitseh ex- plorava, antes da expedição á Africa, va- rias províncias do reino. O joven conde de Solms percorreu o paiz ha quatro an- nos, a fim de observar e estudar os para- sitas desta Flora e especialmente o Cy- tinus Hypocistis, Piitega. O dr. António de Carvalho, lente da faculdade de Phi- losophia da Universidade de Coimbra, de- dica-se ha bastantes annos ao estudo da Flora do seu paiz natal, e possue já um herbario bem reputado e bastante com- pleto, efí'ectivamente o mais rico que até agora temos visto aqui. A geologia acha-se tão intimamente li- gada com a botânica que não podemos deixar, antes mesmo de fallar das plan- tas, de nos occuparmos d'ella ainda que resumidamente. O systema quartario prevalece no paiz, e é próximo de Lisboa, onde formações de cal e de basalto são frequentes, que o systema terciário principalmente se reve- la. Ao oeste de Coimbra encontra-se o systema secundário em muitas formações de schisto sem fosseis; para leste ha ca- madas de cal, variando cora um terreno ferruginoso ; mais para cima, para as ser- ras, o granito substituo as primeiras. Nas costas predomina exclusivamente a areia das dunas, que infelizmente se estende cada vez mais no paiz, em consequência de não haver florestas que possam oppor- se ao seu progresso. É uma das questões mais importantes do nosso tempo; o mal JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 87 que os nossos passados fizeram destruin- do as florestas, pertence-nos a nós repa- ral-o, plantando arvores nas serras e em toda a parte onde houver terrenos incul- tos. Em Portugal vemos por exemplo o desgraçado eâéito que os rios, como o do Mondego, produzem todos os annos, descendo rapidamente das altas monta- nhas. Virgilio já nos dá um conselho so- bre a plantação das arvores, quando diz : Fraxinus in sylvis pulcherrima, pinus ín hortis, Populus in fluviis, abies in montibus altis. Actualmente encontramos muitas es- pécies de plantas que sào peculiares a Portugal, ou em que elle tem parte com a Hespanha. Poderia de ahi concluir-se que estas davam um caracter á parte á Flora d'este paiz, mas nào acontece as- sim, porque no todo uma paizagem de aqui, sob o ponto de vista da botânica, pouco diíFere de uma paizagem situada mais para o norte. Dá-se principalmente este caso com a província de Traz-os- Montes, ao passo que o Algarve, onde o Chamcerops humilis (Palmeira das vas- souras), ordinariamente de 3 a 4 pés de altura, e a Ceratonia Siliqua (Alfarro- beira) crescem em estado espontâneo, on- de crescem também a Viola arhorescens, o Astragalus tragacantus, o Cistus um- hellatus e varias espécies raras das Lilia- ceaselrideas, onde as Labiadas com o gé- nero critico Thymus abundam, pode apre- sentar já alguma semelhança com certos sitios da Africa do norte. As planicies' d'esta terra caracterisam-se principalmente por Oliveiras, ás quaes se juntam os Car- valhos e Castanheiros, mas estes dous úl- timos géneros de arvores constituem tam- bém em grande parte a vegetação dos districtos montanhosos. As Coníferas^ tam- bém, e em primeiro logar o Pinus mariti- ma e o Pinus pinea, em seguida o Juni- perus communis, Oxycedrus e Phcenicia habitam as montanhas, em quanto que as Bétulas cobrem as mais altas. Coimbra — Jardim Botânico. {Continua). EdMOND GoEZE. VINHATARIA DA PODA De todos os trabalhos das vinhas, um dos que julgo mais importantes é a poda, e por isso todo o lavrador lhe deve pres- tar a maior attenção ; porque não sendo bem feita e no tempo competente, podem ter graves prejuizos. Sobre este serviço ha muitas opiniões e eu como vinhateiro (por experiência) também sustento a minha, que venho ex- por n'este illustrado jornal. Alguns lavra- dores do Douro costumam fazer a poda das suas vinhas em dezembro e janeiro, mas têem tirado maus resultados de tal especulação, e principalmente os que têem propriedades nos terrenos expostos ao nor- te, como, por exemplo, na margem esquer- da do Douro, as quintas das Carvalhas, Ventozello, Teixeira, Roriz, Caedo, etc; e no rio Torto, as do Retiro, Trovões, Chancelleiros, Lages, Caldeirão, etc. Se n'estes sitios fizerem a poda, todos os an- nos, nos dous mezes já mencionados, e que estes não sejam chuvosos, a geada concentrar-se-ha na cepa, pelos golpes do podão, e assolará não só as novidades, que serão muito diminutas, mas pode no espaço de poucos annos estragar as vi- nhas. A experiência tem mostrado que o melhor tempo para se fazer a poda é por todo o mez de fevereiro e principio de março ; tanto nos vinhedos expostos ao norte, como nos expostos a outro qualquer ponto. Ainda que o clima dos terrenos seja quente, a poda feita nos dous mezes frigidos causa sempre prejuízo á Videira. Também dá maus resultados, e podem até seccar muitas Videiras^ feito este traba- lho da poda no fim de outubro e novem- bro, e muito mais em vinhas novas, em bacellos e em varas de enxertia. Quanto á vara do vinho, vulgarmente aqui chamada vara da poda, ha também JOBNÃL DE HORTICULTURA PRATICA. algumas opiniões ; mas só á vista e prati- cando se poderia dizer alguma cousa so- bre isso; oomtudo, sempre direi que em vinhas velhas, que tenham pouca força de seiva, deve ficar a vara pequena, para melhor se crearem as uvas. Em vinlias novas ainda se pode tolerar o uso de dei- xar a vara um pouco espaçosa; mas fa- zendo-se isso todos os annos, a Videira para o futuro pode perder quasi toda a força da sua seiva, e nào dar fructo al- gum. Alguns vinhateiros d'estes sítios não gostam do uso de tirar a casca secca ás Videiras; mas isso é muito mal entendi- do, porque, quanto mais limpas fiquem d'ella, melhor vegetam, e as cepas melhor se encorporam. Bastará por hoje. Para os números seguintes continuarei a fallar mais sobre — vi nh ataria. Ervedoza do Douro. A. M. Vaz Sampaio. IRESINE LINDENI As plantas de folhagem ornamental di- videm-se em dous grupos muito distiuctos: € Plantas de folhagem verde», rccomraen- davcis pelo seu porte pitoresco ou pela amplidão das suas folhas, e «Plantas de folhagem colorida», cujo merecimento con- siste nas cores pouco vulgares e muitas vezes muito bellas das suas folhas. A este segundo grupo pertence a Ire- sine Linãeni^ planta de mui recente intro- ducçào entre nós e que foi importada da Bélgica pelo proprietário d'este jornal. Esta interessante planta é de pequeno por- te, muito elegante e a sua folhagem é de ura vermelho muito carregado, cor que contrasta com a cor de amarantho da ner- vura media. É muito apreciada para salas e ador- no de mesas de jantar, porém nos jardins em grandes massiços ou era bordaduras é que realça toda a belleza da sua brilhante folhagem. J. Casimiro Barboza. WISTARIA CHINENSIS (GLYCINIA^ Na epocha em que os jardins têem pouca abundância de flores ó que esta tre- padeira desabrocha os seus bellos cachos cor de violeta e esparge o seu perfume, pro- duzindo, pela sua vigorosa vegetação, o effeito mais admirável e encantador que se pode conceber. De cinco variedades de Glycinias, que conhecemos, é a que nos serve de epigra- phe a este artigo a que está mais espa- lhada, e que geralmente se encontra nos nossos jardins; e, na verdade, de todas cilas é a mais bella, e a que melhor ve- geta no nosso clima, servindo magnifica- mente para guarnecer muros e cobrir ca- sas de fresco. Esta interessante Papilionacea é de fácil cultura; muito rústica e pouco exi- gente na escolha de terreno. Durante a sua florescência, que tem logar em março e abril, deve ser regada abundantemente. A poda, muito necessária por causa do seu extraordinário crescimento, deve ser feita com muito cuidado ; os cachos de- senvolvem-se unicamente sobre pequenas ramificações floraes, que se mostrara nas hastes velhas: por isso será conveniente podar só as hastes de um anno. A sua multiplicação faz-se com van- tagem por mergulhia, devendo ser trans- plantada a planta com toda a terra que tenha adhcrido ás raizes. Também tem dado bom resultado feita por estacas em estufa; comtudo o primeiro modo é mais fácil e prompto. A. J. DE OUVEIRA E SlLVA. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 89 CRYPTOMERIA ELEGANS rc. veitch) Não ha muitos annos que as Conífe- ras eram raríssimas nos nossos jardins ; hoje o caso é muito differente. O gosto pelas plantas resinosas augmenta quotidia- namente e poucas são as pessoas que dei- xam de ter nos seus jardins algum dos seus representantes. A Araucária excelsa, apezar do seu elevado preço, é uma espécie que já está bastante espalhada, ao passo que outras, não obstante serem de um preço mais mo- derado, têem estado em completo aban- dono. Com esta de que nos occupamos aqui Fig. 16. — Cryptomeria elegans. dá-se esse caso ; porque raros são os jar- dins em que a temos visto, ou para me- lhor dizer, só a vimos no estabelecimento do proprietário d'este jornal. Como os leitores podem ver pela gra- vura (fig. 16), a Cryptomeria elegans for- ma um arbusto compacto e o mais gra- cioso possivel. As suas ramificações são extremamen- te numerosas, guarnecidas de folhas com- pridas, aguçadas, moUes, um tanto arquea- das e de uma ligeireza que se parece al- guma cousa com as plumas de que fazem uso as senhoras nos chapéus. Tem quasi sempre uma cor tendendo para o ruivo escuro, que augmenta no in- verno, tomando depois um bello castanho escuro, que contrasta extremamente bem 90 JORNAL DE HORTICULTUEA PRATICA. com todos os outros vegetaes que a cir- cuitam, harmonisando ao mesmo tempo com o aspecto severo da estação invernal. Esta espécie tem uma vantagem, de que outras nao gozam, e é a de ser bas- tante rústica e de todo o terreno lhe con- vir, sendo-llie ao mesmo tempo indifferen- te a boa ou má exposição. A multiplicação da Cryptomeria ele- gans faz-se por meio de estacas, que se enraízam promptameute, sendo coUocadas debaixo de 9 redoma», e usando-se de ter- ra de urze; mas, pretendendo-se ter gran- de numero de exemplares, dever-se-ha preferir a sementeira. Oliveira Júnior. MACIEIRAS MALUS COMMUNIS, {familia das rosáceas) Os antigos, como Linneu, e alguns modernos, como De Candolle, Endlicher e Ikleisner reuniram as duas famílias, a pêra e a maçã, o Pirus com o Malus, for- mando um único género ; e comtudo, desde a mais remota antiguidade que o vulgo as distinguiu e separou, como o fizera a própria natureza, prohibindo por suas leis insondáveis o casamento por enxerto entre estas duas famílias tão próximas. O distincto botânico E. Germain de Saint-Pierre, no seu novíssimo «Dicciona- rio de Botânica», mostrando os diíFerentes caracteres d'estas duas famílias, diz-nos: o Estes caracteres, fracos na apparencia como caracteres genéricos, correspondem entretanto a dous typos de organisação bem distincta, por isso que o enxerto de Macieira sobre Pereira, ou de Pereira sobre Macieira nunca poderam prospe- rar.» Basta só esta circumstancia para fazer sentir o erro de aquelles que confundem as duas famílias. A maçã, typo de numerosas varieda- des que hoje se apresentam sobre as nos- sas mesas, desde o mez de agosto até março e abril, é originaria das antigas florestas druidicas da Europa, e já era co- nhecida desde a mais remota antiguidade ; mas pequenos fructos acres e extremamen- te adstringentes, que se foram melhorando pouco e pouco pela cultura e cruzamentos seculares e repetidos entre cilas e algumas espécies exóticas. De aqui provem as muitas variedades que nos apresentam os catálogos estran- geiros estremadas por cathegorias : as Api, por exemplo, as Calville, entre as quaes se conta a Calville Garibaldi, represen- tada na estampa principal d'este numero, as Fenouillet, as Pigeonet, as Eamhourg, as Reinette e muitas outras. Ha uma grande preoccupação, entre nós, contra as Macieiras estrangeiras; te- nho ouvido a alguns amadores, aliás in- telligentes, que as Macieiras francezas não prestam ; mas não reparam que a maior parte d'essas que cultivam com proveito, são provindas de ahi, baptisadas a sabor dos adquirentes, que lhes perderam seus verdadeiros nomes. As variedades de Macieiras cultivadas em Portugal, ainda ha poucos annos, são em numero mui limitado. Eu vejo no ca- talogo das plantas do «Horto Botânico da Eschola Medico-Cirurgica de Lisboa» as maçãs cultivadas em Portugal e são: — ma- çãs Leiriôas, Reguengas, Baunezas, Rei- nettas, de Neldo, Camoezas, Peros, Mala- pios, Repinaldos, Verdiaes, Martingiras, e Pipos; acrescentarei ainda a maçã Ro- sa, a Pardo lindo, a Pardo do matto, a Es- periega e talvez a maçã Costa — todas as mais que por ahi se cultivam hoje, boas e más, vieram importadas do estrangeiro ha poucos annos. Mas a nenhuma esco- lha, e mesmo a má fé dos vendilhões que as têem trazido a Portugal, deram logar a essa desconsideração, o que nunca teria acontecido, se os amadores fizessem a sua escolha em estabelecimentos acreditados. E sabido que em França e na Bélgica cultiva-se a maçã para dous fins mui di- versos : para viesa e para cidra, bebida fermentada mui agradável, de que se faz grande uso nos paizes do norte. Para cada um d'este3 fins ha variedades distinctas e JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 91 apreciáveis; — nas cathegorias acima no- tadas comprehendem-se as de mesa de 1 .% 2.^ e o."* qualidade — e as maçãs próprias para cíd^xi são a Belle filie normande, a Douce amère, a Frequin, a Gaudron, a Gros pere, a Noir de Vitry e a Rouge hviere. Se, pois, não houver uma escolha in- telligente, quer nas cathegorias de mesa^ propriamente ditas, quer nas de cidra, soffrerá o comprador muitos desaponta- mentos. Convém, portanto, ao cultivador, que pretende formar o seu pomar, fixar pri- meiro qual o destino que lhe pretende dar, e fazer depois a escolha das variedades, ou seja em relação ao gosto mais delica- do, ou á sua maior producção, e só depois de bem seguro das variedades que lhe convêem, assim deverá fazer as suas en- commendas. ]\Ias é muito possivel que nem todos estejam habilitados a fazer uma boa escolha, e n'este caso aconse- lharemos a esses que se entreguem na consciência do proprietário d'este jornal, que eu lhes garanto a lealdade no exacto cumprimento das suas ordens. Todas as encommendas d'este género devem ser feitas em julho, para que os estabelecimentos tenham tempo de dispor as cousas de forma que possam ser re- mettidas ao comprador no fim de novem- bro, tempo o mais próprio para as plan- tações de todas as arvores fructiferas e não fructiferas. Diremos aqui de passagem que é um grave erro dos nossos cultivadores a plan- tação em fevereiro e março : deve adver- tir-se que os individuos vegetaes têem vida como os individuos animaes. Uma planta de folhagem persistente não pode trans- plantar-se impunemente, tendo chegado a um certo desenvolvimento ; ou morre ou soffrerá muito, não havendo com ella in- cessantes cuidados. Nas plantas de folha- gem caduca não acontece o mesmo ; a transplantação é menos perigosa, porque ha n'ellas um periodo de lethargia que se aproveita; esse periodo é aquelle em que se suspende o movimento da seiva, que vem a ser, entre nós, desde outubro até janeiro. E', pois, conveniente aproveitar este ensejo para todas as plantações de ar- vores de folhagem caduca. Em fevereiro e março começa o movi- mento da seiva, desenvolvem-se com ella as novas radiculas, que com as antigas vão buscar á terra a nutrição e a vida das plantas : arrancal-as n'esta epocha para as transplantar, é o mesmo que perturbar o movimento da seiva e causar um abalo geral na planta, que a incommoda, per- turba e mortifica, se muitas vezes a não mata. Aconselhamos aos nossos proprietários que se abstenham d'esse habito tão pouco racional. Adquiridos os enxertos em novembro, deve o cultivador dispol-os em baleiras, cobrindo-lhes as raizes com terra e regan- do-as abundantemente; com esta preven- ção refrescam-se as raizes e predispoem-se para adherirem á terra com mais prom- ptidão. Um solo substancial fresco e profundo é o mais adequado para a Macieira, assim como para a Pereira. Escolhido o terreno devem fazer-se covas da profundidade de 50 centimetros e outro tanto de largura, na distancia de três a quatro metros umas das outras. Estas covas estarão em des- canso de oito a quinze dias, para se fer- tilisarem pelo contacto do ar atmosphe- rico. Segue-se a plantação, que se fará com cuidado, tendo a cautela de espalhar bem as raizes em todas as direcções, lançando- Ihes terra aos poucos e procurando que não fiquem vasios por entre ellas, o que daria causa á formação de um bolor es- branquiçado, origem immediata e rápida da morte da arvore. Não se calcará a terra nem com a enxada nem com os pés, o que pode prejudicar as raizes, mas far- se-ha adherir com agua lançada pelo ralo de um regador. Advertirei também que é um erro gra- ve a plantação profunda das arvores; — as raizes das plantas carecem de receber a influencia benéfica do ar atmospherico, e por certo a não receberiam, sendo plan- tadas a grande profundidade. Os mestres aconselham a que se não lance sobre as raizes superiores mais de cinco centime- tros de terra. O que fica dito sobre a Macieira deve entender-se egualmente a respeito da Pereira, Resta agora dizer duas palavras sobre 92 JORNAL DE HOETICULTDRA PRATICA. O bello fructo desenhado na estampa prin- cipal d'este numero. ^Iaça CAL^^LLE Garibaldi Este magnifico fructo, pertencente á secção das maças denominadas Ccdville, foi semeado em 1842 por Mr. Fontainc de Gheling, a quem se deve egualmente a excellente pêra General Tothhen (veja-se o n." 2 d'este jornal), e produziu pela pri- meira vez em 18G0. E uma arvore mui vigorosa, mui fértil e bera composta. O seu fructo é grande, globoso, com cinco ou seis lombos arredondados ; casca ama- rella com pequenas maculas acastanhadas. A base é profundamente deprimida, o um- bilico também deprimido tem o calyce per- sistente. A sua polpa é compacta, esbran- quiçada, succosa, assucarada e perfumada. Amadurece em meado de setembro e con- serva-se até ao fim de abril. E um excellente fructo de sohre-mesa, Camillo Aureliano. PLANTAS DE CULTURA DIFFICIL (*) PRIMULA aurícula A Primula Aurícula, ou, como vul- garmente se chama, a Aurícula, é pouco conhecida em Portugal, porem tem sido objecto dos disvellos de todos os cultiva- dores de plantas nos paizes do norte. Esta Primula, a mais importante d'el- las todas, divide-se em quatro classes dis- tinctas: — as de margem verde — as de mar- gem parda ou cinzenta — as de margem branca — e as de uma só cor. De cada uma d'estas classes ha um infinito numero de variedades. Esta planta dá uma umbella de flo- res ; cada flor, para ser perfeita, deve ter três circulos: o centro ou olho, que deve Bcr branco, depois a cor distinctiva da variedade, Analisando com a margem da classe a que pertencer; porém cada cir- culo deve ser perfeito sem mistura das cores dos outros. A Primula Aurícula não é tào difíicil de cultivar que deixe de merecer a atten- ção dos amadores. Supporemos que as plantas foram re- cebidas nos fins de agosto ; como devem chegar ás mãos do amador em vasos pe- quenos, convém que sejam logo muda- das para vasos maiores. Estas plantas, co- mo 08 Amores perfeitos, nunca perdem por estar cm vasos grandes, dando-se-lhes boa «drainagem» por meio de pedaços peque- nos de outros vasos quebrados, postos no fundo de aquelles cm que cilas forem plan- tadas. A terra deve ser composta de uma parte de boa terra de jardim, leve, de ou- tra de terra vegetal e de outra de estrume de vacca (quanto mais velho melhor}; tudo bem misturado. A planta deve ficar bem alta no centro e a terra fazendo um ou- teiro, deixando-se uma margem de um de- do em roda do vaso para as regas ; porém de modo que aquella fique no centro d'es- te outeiro acima da margem do vaso, pa- ra nunca ser molhada com a agua das regas. Finda a plantação, regam-se, dei- tando a agua na parte inferior do outeiro ; assim a terra fica humedecida e o caule da planta secco; pois um dos males ou dif- ficuldades de as cultivar consiste em serem fáceis de apodrecer com a humidade. Em seguida deverão ser postas em um local de muita luz, mas onde não lhes dê o sol depois das nove horas da manhã ; ahi irão ganhando força para florescer mais tarde. Quando o receio das chuvas do inver- no assim o aconselhe, põe-se-lhes um cai- xilho de vidro por cima, tendo o cuidado de que os vasos fiquem em sitio elevado, para evitar a accumulação de agua de- baixo d'elles. Por este tempo as plantas estarão dormentes ; retira- se-lhes então a agua e só serão regadas quando absoluta- mente for preciso para lhes manter a vi- talidade. O ar deve de continuo circular livremente por entre ellas. Logo que na primavera mostrarem al- 0) Vido 7. U. P. pag. 73. Mâcâ Câlvílle CãTihdldi JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. guma animação, devem ter mais alguma rega, mas principiando com muita caute- la e sem nunca as molhar. As hastes da flor principiarão a apparecer; então pre- gam-se quatro taboas aos caixilhos, para as proteger dos ventos, mas sem chegar ao chão, a fim de ficarem os vasos constante- mente em contacto com o ar. Se antes de abrirem as flores sobrevier algum aguacei ro ligeiro, pode tirar-se o caixilho, para que recebam o beneficio da chuva, que é muito difíerente da rega, a qual ás vezes as mata, emquanto que a chuva lhes dá vi- gor. Quando tiverem dado as suas bellas flores, tiram- se os rebentões e refrescam- se as plantas com nova terra, indo então para onde estiveram antes do inverno. Uma exposição de Aurículas no mez de março seria muito digna de se ver e creio bem que os amadores do Porto seriam os primeiros a exhibir estas formosas flores que tão justamente chamam a nossa at- tenção. D. J. Nautet Monteiro. Lisboa. — (Continua). LARÂNGEIRAS O MODO DE AS REPRODUZIR COM VANTAGEM Em vista do terrível flagello que der- rota os pomares de Larangeiras e que tanto se assemelha com as contagiosas epidemias do reino animal, deveremos nós desanimar, a ponto de vermos definhar a ultima Larangeira^ sem que a substitua- mos por plantas novas e de boa procedên- cia? Não — é a resposta que salta espon- tânea aos lábios. Mas, como obteremos plantas de boa procedência sem que sejam filhas de mães doentes? E esta a interrogação mais sen- sata que pode seguir-se ao primeiro — não — ; e por isso vou responder a ella, como a razão e alguma experiência me dictam. Estabelecendo eu como principio que a moléstia se não cura (por emquanto), não quero com isto dizer que não deve- mos oppor barreiras ao mal, mas as bar- reiras que deveremos oppor é melhor que sirvam de preservar as plantas novas, do que pretendam curar as arvores já aff'e- ctadas, porque ao passo que das primei- ras se pode tirar grande vantagem, das segundas, ainda que se opere milagre^ fi- car-nos-ha sempre um invalido, que não compensará nunca os nossos cuidados e trabalhos. Não digo também que se lan- cem á fogueira estes doentes, mas dar- Ihes só o preciso para alimentarem a pou- ca vida que têem. Consideremos os po- mares de Larangeiras existentes como hospitaes, e entre elles e os que vamos fazer procuremos estabelecer o cordão sa- nitário, para que elles não sejam ataca- dos: é justamente aquillo de que vou oc- cupar-me. A sementeira deverá ser o caminho salvador que nos ha-de ajudar a fugir á moléstia das Larangeiras, Busquemos laranjas bem maduras, para o que deverão ser colhidas em junho, e de- pois de guardarmos d'estes íructos, per- feitamente sazonados, as sementes, espe- remos pelo mez de março e semeêmol-as em terreno convenientemente preparado. No seguinte outubro deverão ser trans- plantadas para o viveiro, e no mez de maio dever-se-ha fazer a enxertia. A enxertia mais proveitosa pelos bons resultados que produz, é a que se faz em estufa ; mas na impossibilidade de cada um de nós ter uma estufa, sirvamo-noa da enxertia de canudo, como aqui se de- nomina. Esta enxertia é segura, porque ada- ptando nós uma casca cylindrica ao — ca- vallo — , se o enxerto pega, esta casca sol- dou de forma tal que se constitue casca do mesmo — cavallo. Quanto a pegarem, devem calcular-se 90 por cento, sendo convenientemente as- sombrados os primeiros quatro dias de- pois da enxertia; esta operação é fácil. Suppondo nós os taboleiros do viveiro (1) Vide J. H. P. pag. 56. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. quadrilongos, mandamos fazer uma grade de ripas, que suspendemos com quatro es- tacas espetadas nos quatro ângulos do ta- bolciro, com a altura de oitenta centime- tros ; a grade suspensa cobre se com pa- lha e assim se forma um tecto provisó- rio para abrigar as tenras cascas dos ar- dores do sol de maio. Assim creadas as Laraurjeiras, devem tornar-se imlíviduos depurados dos suecos mórbidos, que ordinariamente toem os al- porques feitos em arvores grandes. Este trabalho da enxertia é convenientissimo para melhorarmos as castas da laranja, que hoje possuimos, porque, se a laranja de si é boa, torna-se melhor, c se era má, torna-se boa. Para Larangeiras de semen- te fructificarem cedo, não precisaremos tanto trabalho ; basta que depois de plan- tadas no logar em que hào-de ficar, se escavem um palmo e alli se lhes tire no tronco um annel de casca^ que tenha de comprimento dous centímetros, e no lo- gar em que se tirou a casca aperta-se um vime ou junco, como ligadura, torna a chegar-se-lhe a terra, e a planta, reforçan- do assim em raizes, aos lõ annos frueti- íica já em abundância. Mas a enxertia é, como já disse, convenientissima, porque estas Larangeiras nem todas dào fructo fino, o que nào acontece com as enxerta- das. Admittindo que as Larangeiras, assim obtidas, estejam isentas ainda de doença, 6 preciso que antes de as plantar nos pre- paremos para as defender da doença (ra- cionalmente, visto a causa d'ella ser hy- pothetica). Eu admitto como preservativo efficaz a applicaçíío de varias substancias ao ter- reno ; mas o que eu não posso admittir é que o mesmo preservativo possa curar as que já estão affectadas. E', pois, «um tractamento que livra um individuo são de certa e determinada mo- léstia» ; mas que se torna impotente, se elle já está affectado quando principia esse tractamento. Occupemos-nos da plantação; mas pre- paremos previamente o terreno da forma seguinte: Abramos uma valia em toda a extensão do terreno onde vamos fazer a plantação; esta deverá ter l,"iOO de lar- gura, e profundidade a mais que se lhe possa dar, não excedendo até 2,™00, Lan- cemos no fundo d'esta valia uma camada de estrume grosso, que tenha de espessura 30 centimetros. Sobre esta camada lancemos outra de terra, que tenha 20 centimetros, que de- verá sahir de outra valia que cm conti- nuação á primeira vamos abrir ; lance- mos-lhe depois uma terceira camada de cinza, que tenha de espessura 10 centi- metros, e sobre cila uma camada de es- trume de cavallariça, que conte 20 cen- timetros; depois continuaremos a segun- da valia, lançando a terra dentro da pri- meira, até que a segunda tenha a mesma profundidade que se deu á primeira. Con- tinuando d'esta forma, preparar-se-ha as- sim todo o terreno que destinamos á plan- tação, a qual faremos passado três mezes d'esta operação. Depois da plantação feita, será con- venientíssima a rega com estrume liqui- do, podendo emprcgar-se com vantagem o estrume de gado lanigero ou caprino. Eis o preservativo : preparemos o solo e tractemos de alimentar bem as plantas ; procuremos dar calor á terra com a fer- mentação dos estrumes e vejamos se as- sim se consegue alguma cousa. D'esta pratica que seguimos não podemos contar mal. Sc será efficaz, o tempo o mostrará. Em summa, com esta ou outra prati- ca, ou mistura de estrumes, pode talvez con"seguir-se muito. Emfim, experimente- mos, visto não haver por agora nada de positivo. S. Mamede de Alijó. J. S. Pinto Barrozo. EXPOSIÇÃO hortícola no porto Tinham apenas decorrido três dias de- pois da publicação do respectivo program- ma, quando se efliectuou a «Exposição Horticola» que a emprcza do Palácio de Crystal havia promovido. Esta pouca an- tecipação deu origem, como era bem de JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 95 prever, a que os expositores fossem em numero limitado. Effectivamente as pes- soas que exhibiram productos hortícolas eram apenas quatro : os snrs. António Go- mes da Silva, Honório Grant, José Mar- ques Loureiro e Manoel Clamouse Browne Van-Zeller. Segundo a ordem em que os nomea- mos, principiaremos a nossa revista pelo snr. António Gomes da Silva. Apresentou este senhor alguns bellos exemplares de Draccenas, uma Strelitzia augusta, um exemplar bastante forte do Pandanus utilis, e alguns individues do Ficus elástica. Pelo que respeita á collecção de Pal- meiras^ exposta pelo mesmo senhor, pos- to que não fosse muito numerosa, conti- nha algumas de que tomamos nota, pare- cendo-nos merecedoras d'isso ou por se- rem raras entre nós ou por serem assaz desenvolvidas. Eis as de que fizemos apon- tamento : Latania borhonicaj Chamcerops humilis, ChamcBrops stauracantha, Phoe- nix dactylifera, Cocos chilensis, Sahal Adansoni e Raphis flahelUformis . Entre as plantas de ar livre encontra- va-se bom numero de : Rhododendronsj Azáleas j Pelar goniums. Verbenas e ainda muitas outras. O snr. Honório Grant foi um dos ex- positores que nos mereceu particular at- tenção, pelo amor que patenteou pela scien- cia, apresentando uma collecção modesta, mas aliás muito útil debaixo do ponto de vista scientiíico. Consistia a collecção d'este senhor me- ramente em plantas indigenas; porém é indubitável que o snr. Grant só depois de muitas fadigas é que conseguiria reu- nir quasi toda a collecção dos nossos Fe- tos, como se vê pela relação dos que alli encontramos reunidos e que foram os se- guintes : Davalia canariensis, Desv. ; Ce- teracli officinarum , C. Bauh. ; Grammitis leptophylla, Sm. ; Polypodium vulgare, Linn.; Adiantuni capillus Veneris^Liinn.] Pteris aquilina, Linn. ; JBlecJmum spi- cant, With. ; Asplenium trichomanoides, Linn.; Aspleniuvi palmatum^l^Sím..; Scolo- pendrium officinale^Sw.; Aspidium Filix mas, Sw. ; Aspidium aculeatum, Sw.; Cys- topteris fragilis, Bernh. ; Athyrium Filix foemina, Roth. ; Osmunda regalis, Linn. Além d'estes, expoz o snr. Grant mais os seguintes, de que Brotero não faz men- ção na sua «Flora Lusitanica», mas que nascem espontaneamente no paiz : Asple- nium marinum, Linn. ; Asplenium lanceo- latum, Sm., e Cheilanthes odora, Sw. Faltavam, pois, apenas três espécies de Fetos para que a sua collecção estives- se completa, segundo Brotero, e eram : o Asplenium Ruta muraria, Linn. ; Noto- chlcena Marantce, R. Br. , e Ophioglossum Lusitanicum, Linn. O snr. Grant trouxe egualmente ao certame algumas plantas indigenas , as quaes se achavam dispostas em famílias segundo o methodo natural de De Can- dolle. Folgamos em ver alli a Flora portu- gueza tão bem representada na parte re- lativa aos Fetos e desejamos ardentemen- te que em annos futuros os expositores au- gmentem e continuem a prestar o mesmo tributo á nossa Flora, porque temos al- gumas plantas que são realmente dignas de occupar os primeiros legares nos jar- dins e «étagères». O snr. Manoel Clamouse Browne Van- Zeller exhibiu uma numerosa quantidade de variedades de Viola tricolor (Amores perfeitos), que se tornam dignas de men- ção e a que o jury mui justamente con- feriu uma «Menção honrosa». A Viola tricolor, apezar de ser bas- tante vulgar, é uma excellente planta para formar na primavera pequenos massiços e não deveria portanto ser excluída dos jardins bem cultivados. Mui de propósito deixamos a collecção do snr. José Marques Loureiro para o ul- timo logar, com o intuito de podermos mais detidamente occupar-nos d'ella, por que é com eífeito uma das mais ricas que possue a península e só uma pessoa que fosse verdadeiramente apaixonada por Flo- ra e Pomona é que poderia chegar a fazer a acquisição de productos vegetaes de tão subido merecimento como os d'este bene- mérito horticultor portuguez. As plantas tropicaes pertencentes a este senhor eram abundantíssimas. Que sa- crifícios, porém, não são precisos para que ellas cheguem ás nossas regiões? Nem os sacrifícios pecuniários, nem os sacrifícios moraes, que são talvez os 9» JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. peiores, porque não ha nada mais triste, segundo a nossa opinião, do que vêr uma planta querida perecer diante de nossos olhos, desalentaram o expositor, que co- berto de louros se retirou d'este combate. A collecçào de Palmeiras e Cycadeas era riquissima entre todas — 26 espécies. Os Fetos eram em grande numero, des- tacando-se dentre elles o Balantium an- tarticum, que causava admiração á maior parte dos visitantes e com razão, porque parece-nos que nunca o Porto vira outro com um espique e frondes tão desenvol- vidas. Contamos 30 espécies de Coníferas, 15 variedades de Aucuha, 3 de Cornus, 2 de JEsculns Hippocasta7iiim, 2 de Castanea vesca, 10 de Evonimus, 5 de Ligustriim, 9 de Acer, 7 de Eucalyptiis, 3 de Nidu- lariíim, 7 de Agave, 4 de Bonapartea, 2 de Amaryllis (novas), e 7 de Epacris. Podemos juntar mais: grande numero de Pelargonium, Viola tricolor, Diaiithus e Cineraria, tudo artisticamente disposto. Entre as plantas recentemente intro- duzidas no nosso paiz por este distincto horticultor achavam-se estas: Iresine Lin- deni, interessante planta para salas, me- sas de jantar ou jardins; Gunnera scahra, própria para trabalhos tropicaes, para a beira de lagos, etc, ctc. ; Abiitilon Thom- psoni, bella variedade para jardins. As folhas são maculadas de amarello e pro- duzem bom effeito entre outros arbustos. Ainda se achava alli reunido grande numero de plantas que mereciam bem a nossa attenção ; porém faltar-nos-hia de certo o espaço se as quizesscmos enume- rar. Parece-nos, comtudo, que podemos assignalar, sem receio de sermos taxados de «parcial», que o estabelecimento do snr. José Marques Loureiro é o mais im- portante de Portugal. Os concorrentes á exposição com flores soltas e abouquets» foram assaz numero- sos, e entre estes últimos notavam- se al- guns que mais indicavam ser obra da mão de aprimoradas ramilheteiras, do que fru- cto do desenfado de alguns amadores. O leilão que se fez dos «bouquets», produziu uma boa quantia, que reverteu em favor de um asylo. Alguns d'elles, que tinham sido feitos indubitavelmente por delicados dedos, foram vendidos por ele- vado preço, o que é extremamente lison- geiro para suas auctoras, porque lhes deu uma prova irrefragavel do mérito artísti- co que foi reconhecido n'elles. A empreza do Palácio de Crystal me- rece sinceros louvores pelas exposições que tem promovido espontaneamente, em dif- ferentes epochas, e que tão efficazes resul- tados têem sempre produzido. Seja-nos, todavia, licito observar que, quando se tractar de uma exposição hor- ticola, dever-se-ha tornar o programma do dominio publico com muita mais anteci- pação, porque do contrario os expositores serão sempre em quantidade limitada. A exposição encerrou-se no dia 8 de maio e n'essc dia o jury conferiu os pré- mios da seguinte maneira : Ao snr. António Gomes da Silva um premio pelo seu grupo, que comprehen- dia no programma Azáleas e Rhododen- drons. Ao snr. Honório Grant, um premio pelo excellente exemplar do Osmumda re- galis. Ao snr. José Marques Loureiro 4 pré- mios correspondentes ás secções de : Plan- tas em flor — Plantas de folhagem — Fetos — e Palmeiras. Ao snr. Manoel Clamouse Browne Van- Zellcr, uma « IMençào honrosa » pela sua collecção de Viola tricolor. Saudemos, pois, os laureados e deixe- mos seus nomes gravados eternamente nos archivos hortícolas. Oliveira Júnior. AlICUBAS Entre todos os arbustos de folha per- | geta perfeitamente, embora as condições sistentc, introduzidos do Japão, nenhum é do local não lhe sejam muito favoráveis. tão attractivo e apreciado como a Aucuha, em razão da sua rusticidade, porque ve- Em Londres, onde poucas plantas po- dem viver em razão das condições atmos- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 97 phericas em que se acha aquella cidade, a Aucuba torna- se o encanto dos amado- res. Ainda não ha muito, porem, que es- te arbusto era infructifero entre os euro- peus em consequência de só haver o exem- plar feminino. Mas graças ao intrépido viajante Mr. Fortune, a quem, digamos de passagem, a Flora tanto deve, já hoje não succede o mesmo. Foi elle que, não hesitando em ir colher os louros com que actualmente cinge a fronte, com risco de ser assassinado por algum fanático ou sel- vagem indígena, nos trouxe os exempla- res masculinos com que nós agora fecun- damos e vemos fructificar as nossas Au- cubas que tanto enthusiasmo têem causa- da na Europa. Portugal também deve um voto de lou- vor ao proprietário d'este jornal, porque foi, senão nos enganamos, o primeiro que importou exemplares masculinos para este paiz, onde a natureza tão favorável lhes é. As Auciihas são muito adequadas a formar grupos e quando ostentam os seus encantadores fructos vermelhos, tornam - se dignas de figurar nas mezas de jantar, onde se convertem em verdadeiro enlevo dos olhos. Multiplica-se por sementes e estacas e a sua cultura nada tem de particular. Thos. Staley. CALENDÁRIO DO HORTICULTOR JUNHO Jardins. Exigem durante este mez a mesma actividade e os mesmos cuidados dos mezes de abril e maio. Deve empre- gar-se todo o cuidado na plantação das diversas plantas, de forma que os cantei- ros apresentem degraus côncavos ou con- vexos por maneira tal que a vista se possa lisongear de qualquer lado que as veja. As plantas mais pequenas collocar-se- hão na frente, as maiores atraz, e assim progressivamente, para que se possam go- zar todas ao mesmo tempo. É a occasião de cuidar da florescência dos Craveiros e preserval-os dos ataques dos insectos damninhos; — esta é a epocha de os mergulhar. Os Lírios começam a florescer e é ne- cessário vigial-os e acautelal-os dos cara- coes e das lesmas que os devoram. Levantam-se da terra os Jacinthos e Tulipas^ logo que as folhas comecem a amarellecer. Plantam-se raizes de Ranun- culosj para a florescência do outomno. Deve collocar-se nos legares próprios o segundo sortimento de plantas annuaes criadas em alfobre. Dedicam-se incessantes cuidados á flo- rescência das Roseiras; não devem ser poupadas as flores velhas que fazem mau effeito em um jardim bem cultivado. Junto das Roseiras de haste elevada devem plan- tar-se Petunias e Pelar goniums para enco- brirem a nudez das Roseiras quando te- nham terminado a sua florescência. As Dahlias carecem também de cui- dados; devem aproximar- se-lhes tutores e ligal-as a elles, cortando-lhes todos os re- bentões e deixando-as em um pé só. Se a estação for secca, precisam de copiosas regas todos os dias, e não deixará de lhes ser proveitosa uma rega de estrume li- quido. As trepadeiras como Clematis, Coheas, Convolvulusj devem ser estacadas ou en- costadas a grades, para estenderem os braços e florescerem mais vantajosamente. E chegada a occasião de transplantar as Zinias, as Balsaminas hortenses (Pa- pagaios), as Secias e outras flores do ou- tomno, que tenham sido semeadas em al- fobre. As plantações de estacas de Gera- niumSj PelargoniumSf Epacris e Fuchsias também se fazem n'este mez. Hortas. São numerosos n'este mez os trabalhos das hortas, e muito variados. As sementeiras confiadas ao solo germi- nam e desenvolvem -se espontaneamente, mas apezar do trabalho da natureza, o homem deve por todos os meios possíveis activar as suas culturas. É a occasião das frequentes sachas, 9S JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. segundo o estado e a natureza das plan- tas. Devem li, o lucro que obtém é de mais 25)$i000 reis por hectare, o que dá um resultado de 2:500oOOO reis em 100 hectares. Vê-se, pois, que a vantagem do semea- dor mechanico sobre a sementeira a lanço seria muitissimo grande, ainda quando nào assumisse taes proporções. Isto deveria proporcionar-lhe entre nós o acolhimento que tem tido em Inglaterra, acolhimento com que extremamente lucra- ria a agricultura em Portugal, pois, como dissemos no principio d'estas linhas, estão ainda em muito atrazo no paiz os proces- sos agrícolas, o que torna tanto mais van- tajosas as conquistas que na rotina seguida pelos nossos agricultores possam fazer os meios aperfeiçoados com que esta especia- lidade se tem elevado ao grau de adian- tamento em que se acha n'outras partes. — Quando voltávamos da nossa di- gressão a Lisboa, aproveitamos o ensejo para visitar o o Jardim Botânico» de Coim- bra, que já ha bastante tempo não tínha- mos visto. Por summamente bem empregada de- mos a visita que alli fizemos. Com efifeito, será difficil encontrar um estabelecimento deste género onde as plantas se achem melhor cultivadas. Faz honra aos empre- gados que o têem a seu cargo a maneira como nelle tudo está cuidadosamente tra- ctado. As pessoas que em diíFerentes epochas têem tido occasiào de visitar este jardim são concordes em que o snr. Edmond Ooeze, nosso distinctissimo collaborador, llie tem prestado relevantes serviços. Também somos d'essa opinião, porque sabemos que este senhor reúne a vastos co- nhecimentos theoricos os de um conscien- cioso c eminente pratico. — A relva dos jardins públicos está n'um estado vergonhoso. E preciso que a pessoa a quem compete, zele melhor os trabalhos horticolas, porque do contrario ficará o Porto sem um jardim decorado d'este bello ornamento, que tanto contri- buo para o seu bom effeito geral. Seremos attendidos'? É no interesse publico e para credito da pessoa encarregada d'este serviço que fazemos a presente reclamação. — Perguntam-nos se ha tenção de plan- tar arvoredo na rua do Heroísmo. Eis a nossa resposta: Sabemos que o snr. visconde de Vil- lar AUen, quando tinha a seu cargo aquelle pelouro, tencionava plantar Larangeiras naquella rua; porém ignoramos comple- tamente quaes são as ideias do snr. ve- reador que o substituiu. A julgarmos pelo diminuto cuidado que taes assumptos costumam merecer, é de recear que nem Larangeiras nem ou- tra arvore adequada alli seja plantada. Não envolve censura o que dizemos. E defeito coramum entre nós: adiar inde- finidamente tudo o que nos pode tirar do «santo ócio» por dous minutos. Comtudo, oxalá que d'esta vez nos enganemos. — Recebemos e agradecemos os n.*" 1, 2 e 3 da «Kevista Agrícola» publicada pela Real Associação Central da Agricul- tura Portugueza, e de que é redactor prin- cipal o nosso distinctissimo agrónomo, o snr. Luiz Augusto Martins de Andrade. Este jornal publica-se mensalmente e é muito útil para todos os agricultores que desejarem instruir-se nos conhecimentos peculiares á sua industria. — Temos debaixo dos olhos dez ca- dernetas do «Tractado Elementar de Bo« tanica Philosophíca» de que é auctor o snr. dr. Antonino José Rodrigues Vidal, actual director do «Jardim Botânico» de Coimbra. Este tractado vem preencher uma im- portante lacuna e não duvidamos que o seu auctor veja cabalmente compensados os seus desvelados esforços pelo derrama- mento da sciencia que faz objecto do sen valioso trabalho. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 117 FECDNDACÃO ARTIFICIAL Quando se pretendem obter novas for- nias de plantas, flores com novos colori- dos, é sem duvida a fecundação cruzada ou hybridação um dos meios mais fre- quentemente empregados para se chegar a este resultado. Por este meio, o horti- cultor, infringindo de algum modo as leis naturaes da multiplicação, collocando, por meios artificiaes, o pollen de certa espé- cie em contacto com o estygma de outra espécie visinha, chega a obter uma plan- ta cujos caracteres serão intermediários entre os das plantas que lhe deram o ser. Na verdade, debaixo do ponto de vista hortícola, a fecundação cruzada é de uma utilidade incontestável para o horticultor, porém para o botânico, debaixo do ponto de vista scientifico, é deplorável pela con- fusão que lança na nomenclatura e pela ignorância absoluta em que o colloca so- bre a origem das plantas. A palavra «hybrida», tão empregada pelos horticultores para designar muitas plantas cultivadas nos seus estabelecimen- tos, sel-o-ha a maior parte das vezes cora algum fundamento? (^reraos que não. Horticultores ha que abusando de tal modo d'esta palavra qua- lificam de «hybridas» as mais simples va- riedades que apparecem nos seus estabe- lecimentos, variedades que accidentalmen- te ou pelo simples eíFeito da cultura são devidas a pequenas modificações nos ca- racteres naturaes, dependentes de pheno- menos morphologicos, isto é : mudanças de formas naturaes, sem de modo algum terem sido produzidas por uma fecunda- ção cruzada no mais pequeno grau. D'este abuso e dos nomes extravagan- tes com que baptisam as plantas produzi- das pela hybridação, nomes que não têem a minima relação cora aquellas que pro- duziram a hybrida, resulta uma completa confusão na historia das plantas cultiva- das nos jardins e uma difficuldade quasi iii venci vel na classificação das mesmas. Debaixo d'estes pontos de vista, e em proveito comraum, recommendamos a to- dos os horticultores o mais severo escrú- pulo na denominação dos novos vegetaes 1870- Vol. !• hybridos, seguindo sem desvio a nomen- clatura adiante indicada; e, confiados na sua execução e na utilidade pratica do3 preceitos seguidos na hybridação, passa- mos a expor as regras geraes do seu pro- cesso. A flor, esse conjuncto de órgãos de- licados, que em muitas plantas passa de- sapercebida e em outras ostenta um luxo surprehendente pela belleza de formas e colorido, é o apparelho mais importante do vegetal. É n'ella que têem logar os admiráveis phenoraenos da fecundação e por conse- quência é ella a destinada pela natureza para a conservação da espécie, multipli- cando ao infinito os individuos que a com- põem. Para que a fecundação tenha logar é necessário que o pollen esteja em contacto com o estygma, para que ahi emitta os tu- bos poUinicos que, atravessando todo o comprimento dos estyletes, cheguem á ca- vidade do ovário, penetrem cada um em um ovulo e por uma acção, cuja natureza é desconhecida, determinem, atravez da membiana do sacco embryonario, o des- envolvimento de uma vesícula em em- bryão. A natureza assegura este contacto em- pregando meios que excitam a admiração do observador menos attento. Umas vezes, nas flores hermaphrodi- tas, eraj)regando um grande numero de precauções para reter o pollen em volta dos pistillos, abrigando os órgãos repro- ductores em luxuosos invólucros de cores variadas, outras despojando-os de todo o tegumento, facilita ás plantas cujos sexos existem em individuos distinctos, o trans- porte do pollen que então é abundantís- simo, a grandes distancias. Finalmente o vento e os insectos que continuamente pousam nas flores são ou- tros tantos auxiliares da fecundação. O homem imitando estes meios pode em muitas circumstancias e com certas precauções obter os mesmos resultados; isto é, operar a fecundação artificial, fe- cundação que se torna necessária em mui- Agosto— N.' 8. 118 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. tos casos para se obter grande copia de e a que deve fornecer o pollen; preferindo sementes; por isso que o numero d'estas seria limitadíssimo e muitas vezes algu- mas plantas seriam estéreis. Porém, quando o pistillo de uma plan- ta é fecundado pelo pollen de outra plan- ta pertencente a uma outra espécie do mesmo género, tem logar a hybridaçào ou fecundação cruzada, um dos phenome- nos mais dignos de interesse para o ob- servador. E a planta que resulta da germinação de uma semente assim produzida chama- BC uma ohybrida». A hybridaçào pode dar-se entre duas espécies differentes ou entre duas varie- dades da mesma espécie. Vilmorin, para evitar a confusão que muitas vezes se dá com o emprego irre- flectido da palavra «hybrida», propoz a designação de «mestiças» para as plantas produzidas pelo cruzamento de duas va- riedades da mesma espécie, reservando a palavra «hybrida» para designar as plan- tas provenientes da hybridacão entre duas espécies distinctas. Duas são as condições para que duas plantas se fecundem uma pela outra: 1." — Que sejam do mesmo género, isto é, que tenham grande analogia de caracteres, sendo este o motivo por que ha mais facilidade em obter «mestiças» ou «hy bridas» entre duas variedades, do que «hybridas» entre duas espécies diffe- rentes. E se algumas vezes por excepção a hybridacão tem logar enti'e plantas per- tencentes a géneros differentes, é porque esses géneros são muito visinhos e na maior parte dos casos muitos d'elles, hoje admittidos, não são grupos genéricos ver- dadeiramente naturaes, mas sim secções de géneros. 2." — Que o pistillo não tenha experi- mentado a acção do seu próprio pollen, porquanto a fecundação natural opera-se com mais facilidade e por conseguinte torna toda a hybridacão impossivel. E' por esta razão que a fecundação cruzada raras vezes se dá espontaneamente. Antes de se praticarem as operações relativas ao cruzamento entre duas espé- cies ou variedades do mesmo género, 6 de muita importância attender-se á escolha da planta que deve produzir as sementes se sempre as que reunirem o maior nu- mero de qualidades desejáveis, attenden- do aos caracteres de bellcza e elegância em certas variedades de flores de collec- ção e ás qualidades assucaradas, farino- sas, aromáticas e grandeza de fructos, etc, de outras plantas, em cujas qualida- des úteis consiste o seu verdadeiro mere- cimento. Alem dMsto, não basta só uma boa es- colha das plantas que se querem cruzar; é necessário saber preparal-as para as tor- nar vigorosas e aptas para darem o re- sultado que se deseja, já dispondo as plan- tas para fornecerem melhores flores, já adaptando -as para que as suas sementes sejam da melhor qualidade ; resultados estes que se obtêem com tanta mais faci- lidade, quanto maior for o numero de precauções que se empregarem na esco- lha e preparação dos sujeitos que se pre- tendem hybridar. As operações relativas á fecundação cruzada consistem na suppressão das an- theras ou castração dos estames, na con- servação do pollen e sua applli cação so- bre o estygma. Os instrumentos necessá- rios para a pratica d'estas operações re- duzem-se a uma pinça, uma agulha, um canivete, uma tesoura pequena e alguns pincéis. A castração é uma operação muito fá- cil. Quando a flor começa a desabrochar, tiram-se os estames com uma pequena pinça e algumas vezes mesmo com os de- dos, havendo todo o cuidado era não os apertar para evitar que o pollen se não espalhe e ponha em contacto com o pis- tillo. E' também conveniente não lançar perto da planta que se quer hybridar os estames que se lhe subtrahem, porque amadurecendo estes pela sua exposição ao sol, pode acontecer que o seu pollen seja, por intermédio dos ventos ou de ou- tra circumstancia, transportado sobre o estygma. Por conseguinte devem recolher-se em uma pequena caixa, para se inutilisarem longe da planta. ]\[uitas vezes, quando as flores abrem muito cedo e espalham o seu pollen sobre os estygmas, toma-se necessário adiantar JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 119 O seu desabrochamento, abrindo mecba- nicamente o cálice e a corolla para se ex- trahirem os estames. A applicaçao do pollen ao estygma é muito simples. Colloca-se sobre a ponta de um pincel e toca-se muito ao de leve com elle sobre o estygma. Pouco pollen basta para operar a fe- cundação, porém quando ha muitos esty- letes ou os estygmas se apresentam mui- to divididos, representando muitos car- pellos particulares, embora reunidos ou soldados em um só, é preciso que cada uma d'essas diíFerentes partes receba o pollen para que os óvulos existentes nas differentes lojas sejam fecundados. Depois da applicaçao do pollen é in- dispensável encerrar a flor, para a iso- lar, em um invólucro de «gaze», para impedir que o pollen do mesmo typo seja transportado sobre o estygma pelo vento ou pelos insectos. Se a operação der resultado, o ová- rio engrossa e passa ao estado de fructo; no caso contrario, o ovário murcha e a flor cahe. E' claro que quando a hybridaçuo tem logar espontaneamente, a floração entre as plantas que se cruzam deve ser simul- tânea ; porém, quando esse cruzamento se faz artificialmente, acontece muitas vezes não se poder obter o pollen de uma plan- ta precisamente quando elle se torna ne- cessário, por isso que nem todas as es- pécies do mesmo género florescem ao mes- mo tempo. De certo esta difíiculdade tornaria im- possível toda a hybridação, se nâo hou- vesse a grande vantagem de se poder conservar o pollen ate ao momento em que o pistillo chegue ao estado próprio de poder ser fecundado. O melhor meio para isto consiste em recolher as antheras quando estão madu- ras, e collocal-as em uma espécie de cai- xa formada com dous vidros de relógio, cujos bordos se reúnem por meio de uma pouca de colla ou de gomma arábica. Antes de se collarem devem deixar- se abertos durante algumas horas para que o pollen perca a maior parte da sua humidade. Por este processo pode servir o pol- len mesmo passados alguns mezes. Em resumo, é esta a pratica geral- mente seguida na hybridação ou fecun- dação cruzada, pratica que apenas soffre- rá algumas modificações em casos espe- ciaes e que a experiência de cada um melhor ensinará. Resta-nos fallar da nomenclatura das hybridas, uma das causas principaes que concorre poderosamente para a nossa igno- rância sobre a historia de muitas plan- tas. Ordinariamente os horticultores e ama- dores que se dedicam a este modo de re- producção designam as plantas que ob- têem com nomes que nada nos dizem so- bre a sua filiação. É este o principal e talvez único in- conveniente que nos traz a fecundação cru- zada, inconveniente que se remedeia ado- ptando a proposta de Schiede, que con- siste em designar cada hybrida por um adjectivo formado pela reunião de dous, dos quaes o primeiro recorde o nome do pae. Assim por exemplo a hybrida obtida da Nicotiana rústica fecundada pela Ni- cotiana paniculata deve chamar-me Ni- cotiana paniciãato-rusticaj, etc, etc. D'este modo, recordando-se a filiação da hybrida, evita-se a grande confusão que os nomes disparatados e sem signifi- cação alguma trazem a muitas plantas que actualmente se cultivam nos jardins. Em conclusão, por meio da fecunda- ção cruzada pode-se mudar a forma do reino vegetal, desenvolver debaixo de certas influencias os órgãos das plantas, obtendo-se uma floração mais prompta, flores maiores e mais bellas, aperfeiçoar as raças, melhorar os fructos e finalmente tornar as plantas mais rústicas, mereci- mentos estes que juntos á sua diversidade lhes dão mais interesse e utilidade. A pratica d'esta parte da horticultura ainda está por explorar entre nós, e se algumas hybridas se têem obtido são de- vidas, não a cuidados especiaes que se empreguem para isso, mas sim ao acaso, não obstante as vantagens que de ahi po- derão provir aos nossos horticultores, por isso que, como diz Lecoq : «por mais res- tricto que seja um jardim e por mais pe- queno o canto de terra de que pode dis- por um amador, as experiências de hy- ^20 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA, bridação s3o sempre uma iitil tontativa ' paiz com uma nova enacào devida aos pelos gozos que proporcionam, fazendo seus cuidados e intelligencia». com que qualquer por este meio dote o j seu jardim, os amigos e até o próprio ] J. Casimiro Barboza. DRACMAS Hoje que as plantas de folhagem es- t3o inteiramente em moda para a decora- ção dos aposentos, vestíbulos, salas, me- sas, etc, não será ocioso fallar do género Draccena, que por si só é tão cultivado como todas as outras plantas chamadas «de folhagem» e que, de qualquer modo que se empregue, constitue sempre um dos mais bellos géneros conhecidos, dos quaes todos os representantes são de um effei- to dos mais ornamentacs. O poi'te, a fo- lhagem, a diíFerença de colorido, tudo ri- valisa para tornar as Draccenas plantas fora do commum. Por isso são actualmen- te cultivadas com predilecção facilmente explicável c constituem o luxo obrigado de todos os que desejam ornar as suas salas ou as suas estufas. A rusticidade da maior parte das es- pécies, a sua fácil cultura, não têem con- tribuido pouco para tornai- as favoritas dos amadores. Sem Draccenas não ha decoração pos- sível ; vêem-se em toda a parte, e em toda a parte fazem a admiração não só dos amadores propriamente ditos, mas tam- bém dos profanos que não avaliam as plantas segundo o seu grau de raridade, e que só se contentam com o eífeito que ellas produzem. Tendo-se, pois, pronunciado o gosto por esta qualidade de plantas, não é de modo algum para admirar que os horti- cultores se tenham empenhado cm procu- rar os meios de introduzir novas espécies e variedades, e por certo nos últimos an- nos têem apparecido mais Draca^nas no- vas, entre ellas algumas muito notáveis e que mal se pensaria obter nunca. Este bello género, que ainda ha pou- co contava apenas um numero bastante limitado de espécies e variedades, 6 hoje representado por um numero considerá- vel d estas plantas, que todos os annos augmcnta ainda em consequência de no- vas introducções. São a Xova Zelândia, a Xova Cale- dónia c principalmente as ilhas do mar do Sul que mais nos têem enriquecido n'estes últimos annos. Emquanto que ha uma dezena de an- nos se não conheciam senão três Dracce- nas de folhas coloridas : a D. terminalis rósea, férrea e nohilis, depois viram-se surgir diversas outras variedades, quando menos tão notáveis como as que já exis- tiam. O a})parecimento da D. strictafgran- clisj deu o signal para as importações suc- cessivas. Quando pela primeira vez a Dracce- na stricta (granclis) fez a sua appariçao, todos os horticultores ficaram assombra- dos e todos diziam que era o' xnec plus ultra» da perfeição. Effectivaraente que cousa mais bella do que as suas amplas folhas de um es- curo carregado, larga e brilhantemente es- triadas e variegadas do mais vivo verme- lho sanguíneo? O seu porte erecto, o seu bcllo aspecto, o brilho do bonito colorido das suas folhas tornaram-a por excellen- cia uma planta de ornamento. Esta espécie ficará sendo sempre uma das mais bellas, e será sempre apreciada com o mesmo ardor. Aberto d'este modo o fogo, vimos ap- parecer successivamente a Draccena Coo- peri, niçirescens, aureo-lineaia , cryihro- rachisj Banksi, regince, nigro-ruhra, Ma- cleayi e finalmente a bella D. Gxiilfoy- lei, que é uma das mais bellas introduc- ções d'estes últimos tempos. Entre as espécies mais numerosamen- te cultivadas pode-se citar a D. indivisa e suas variedades : a D. calocoma, Veit- cJii, atrosanguinea, etc, que são sempre muito procuradas pelo seu porte gracioso como plantas de decoração e de que até JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 121 se faz uso para formar no estio massiços era plena terra, que produzem o mais at- trahente eífeito. No meio-dia estas plantas resistem em l)lena terra e vêera-se tomar proporções (|ue realmente não attingera aqui, onde somos obrigados a tel-as em estufa no in- verno. Damos em seguida uma lista das mais próprias para a ornamentação das salas e das estufas, assim como para os massiços em plena terra. Draccena (Corãyline) áureo -lineata-^» bella planta, grande com largas folhas ver- des, glaucas na face inferior e cujas linhas ou nervuras são todas bronzeadas, sendo JMm/i/Msyi-, Fisr. 21 — Dracsena australis. a media muito pronunciada e de um bron- ze dourado. Esta espécie tornou-se muito rara nas collecçòes. Draccena australis (fig. 21) — nmi bel- la espécie de fácil cultura, eleva-se rapi- damente, as folhas são numerosas, largas e de um bello verde luzidio muito orna- mental. Draccena hrasiliensis — folhas mais largas que a precedente e floresce a um metro de altura. DraccBna Banksi — bellissima espécie da Nova Zelândia, crescimento em espi- ral, folhas de um metro e mais de com- primento sobre 4 a 6 centímetros de lar- gura, de nervura media, branca, assim 122 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. como as longitudinaes, que são mais fi- nas. Dracccna Banksi erythrorachis — o mesmo crescimento e o mesmo poi'te que a D. Banksi com a clifFerença de que a nervura media se torna do mais bcllo ver- melho, carmesim vivo, extra. Dracccna canncefolia — espécie notá- vel, bcllo porte erecto, folhas em forma das da Canna, como o seu nome indica. Dracccna congesta — folhas estreitas, verde carregado, espécie mui linda, muito empregada para guarnecer salas e para cestos e suspensões. Dracccna Cooperi — uma das mais bel- las introducções, folhagem larga do mais bello vermelho castanho carregado muito luzidio, largamente variegado e estriado de vermelho vivo. O eíFeito geral d'esta planta é encan- tador; porte graciosamente pendente. Dracccna draco — espécie muito conhe- cida em toda a parte, e que é sempre uma das mais bellas. Dracccna férrea — bella folhagem, lai*- ga, inteiramente vermelha bronzeada, uni- color, porte erecto. Dracccna gracilis — encantadora plan- ta de folhas finas estreitas, verde luzidio, bordadas na margem de vermelho carre- gado. Dracccna (Cordyline) granclífoUa — magnifica introducçào da Nova Caledónia, de um porte nobre, folhagem ampla de 60 centimetros de comprimento , pouco mais ou menos, sobre 8 a 10 de largura, concava, elegantemente recurvada. Dracccna Haageana — linda espécie de folhas verdes, ondeadas, crespas ; muito recommendavel. Dracccna (Dracccnopsis) indivisa — bella espécie geralmente apreciada pelas suas qualidades decorativas, folhas múlti- plas, compridas, estreitas, primeiro levan- tadas e depois pendentes; muito ornamen- tal. Dracccna (Dracccnopsis) indivisa atrosanguinea — variedade da precedente, cuja linha media é inteiramente vermelha na face inferior das folhas. Dracccna (Dracccnopsis) indivisa ca- locoma — n'esta variedade a linha media da face inferior das folhas, em logar de ser vermelha, é de um branco esverdeado. Dracccna (Dracccnopsis) latifolia — folhas mais largas e mais consistentes que no typo, porte levantado. Dracccna (Dracccnopsis) lineata — admirável espécie, de um porte nobre, bella folhagem, elegantemente recurvada, folhas compridas, muito mais largas que na D. indivisa, attingindo até 6 centime- tros de largura, extra. Dracwjm (Dracccnopsis) Veitchi — ou- tra variedade da D. indivisa, tendo a ner- vura media do um vermelho carne, admi- rável. Dracccna Guiljoylei — magnifica in- troducçào nova, folhas largamente acumi- nadas, multicolores com listas verdes, ama- rello palha, e rosa vivo, extra. E' sem contradicçao uma das mais bellas espé- cies conhecidas. Dracccna limhata — folhas estreitíis, de um bronze purpúreo, bordadas de uma estreita facha vermelha purpura. Dracccna Macleayi — espécie aníi e ro- busta, dando folhas de 45 a 50 centime- tros de comprido sobre 8 a 16 centime- tros de largo, de um castanho escuro bron- zeado ; muito bella. Dracccna nigro-ruhra — egualmente bella espécie com folhas de ÕO a 60 cen- timetros de comprido sobre 7 a 10 de lar- go, de um castanho carregado assombra- do de rosa carmezim. Dracccna nigrescens — porte da D. ter- mincdis com folhas de cor quasi negra il- luminada de tintas avermelhadas. Dracccna nohilis — espécie anã de fo- lhas de um castanho escuro, estriadas de carmim vivo, e ás vezes inteiramente ver- melhas, folhagem larga, curta, em forma de roseta. Dracccna regina — admirável novida- de, recordando o porte da D. hrasi- liensis; folhagem mui larga, de um ver- de gaio variegada sobre mais de metade de branco puro e marginada do mesmo modo. O variegado não é visivel nas plan- tas novas; é preciso que estas tenham to- mado certo desenvolvimento antes de se caracterisar ; depois sào de uma belleza excepcional. Dracccna riihra — mui bella planta, tendo o porte da D. teiininalis, porém as folhas sào verdes. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. i23 Dracasna stricta (granais) — grandiosa espécie de bellas folhas largas cor de cas- tanho illurainada do mais bello verme- lho. Nas plantas bem caracterisadas ha folhas inteiramente vermelhas; porte le- vantado. Draccena terminalis versicolor — é a Draccena mais cultivada para a decora- ção dos quartos pela sua folhagem assom- brada de vermelho vivo; é de um eífeito encantador. Draccena iimhraculifera — outra ma- gnifica espécie muito procuraud para as coUecções, nào se elevando tão rapida- mente como as outras. Pode-se obter de 50 centímetros de altura, tendo um me- ti'o e mais de diâmetro ; porte magnifico, anão, pendente em forma de guarda-sol. Ha, além destas, ainda muitas outras espécies e variedades de Draccenas, po- rém cremos, citando as que acima se as- signalam, ter mencionado o que ha de mais interessante n'e3te bello género. Co- mo dissemos no principio d'este artigo, as Draccenas cultivam-se aqui em gran- de quantidade e são de um grande recur- so para decorações. Na Bélgica, na Fran- ça, na AUemanha e na Inglaterra, ser- vem-se delias com profusão. Não duvidamos, esperamos até since- ramente, que a sua cultura se propagará também em Portugal, onde todas estas plantas poderão resistir excellentemente ao ar livre, e quando isso succeda, ava- lie-se o grande partido que se poderá tirar d' estes vegetaes de ornamento fora do vulgar. Gand (Bélgica). JeAN VerSCHAFFELT. FICUS CARICA (LiNN.) :M0RE:E) o género Ficus comprehende diversas espécies notáveis pelas suas applicações medicinaes ou económicas — o Ficus ben- galensis, o Ficus religiosa^ o Ficus elás- tica, e varias outras ; mas ponhamos estas de parte para nos occuparmos especial- mente da Figueira commum ou Ficus ca- rica, espécie a que pertence a Figueira Castle Kennecly que faz objecto da estam- pa principal d'este numero. A Figueira commum é conhecida e cul- tivada desde tão remotos séculos, que se- ria impossível fixar a epocha da sua des- coberta. E já mencionada pelos livros sa- grados, e faliam d'ella os poetas, os his- toriadores e agricultores antigos. Theo- phrasto e Plinio tractaram da sua cultu- ra ; segundo a opinião d'este ultimo escri- ptor, já existia na Itália, muito antes da fundação de Roma, uma Figueira vege- tando na cidade de Roma, do seu tempo, em uma praça onde se faziam reuniões populares; tinha nascido alli espontanea- mente, e cultivava-se em memoria de aquella debaixo da qual tinham sido en- contrados Remo e Rómulo com a loba que os amamentava. Quando esta arvore mor- ria era substituída por outra da mesma espécie. Uma outra alli se conservava, que o acaso collocou junto do abysmo onde Curtius sacrificou a sua vida pela salvação da republica. Cultivada desde tão remotas eras, a Figueira tem produzido tantas varieda- des que seria impossível enumeral-as. Não ha paiz algum que não tenha as suas Fi- gueiras especiaes, desconhecidas em ou- tras partes ; quasi todos os annos novas variedades são produzidas pela semente, diíferentes em qualidade, em gosto, em tamanho e cor. No tempo de Catão não se conheciam em Roma mais de seis varie- dades; dous séculos depois, Plinio contava alli mais de trinta, conhecidas pelos nomes dos paizes que as obtiveram; desde então até hoje quantas variedades existirão? A Figueira é uma arvore que se ele- va de cinco a seis metros de altura, o seu tronco é liso, a madeira branca e espon- josa; os figos ou envolucros onde se en- cerram as flores e sementes, espalham se por todos os ramos quasi rentes sem pe- dúnculo. Esta arvore é notável pela sin- gularidade da sua fructificação ; os órgãos sexuaes occultam-se no envolucro carnu- do periforme, tomado ordinariamente pelo fructo. Este receptáculo apresenta uma abertura, no cimo, em forma de embigo, iU JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. cercado de muitas escamas dispostas em ordem; tem numerosas flores monoicas e unidas á superfície interna do receptáculo. As flores masculinas occupam a parte su- perior visinha do embigo, e misturam-se muitas vezes inferiormente com as femi- ninas ; o seu cálice é de cinco divisões pro- fundas, assoveladas, sem corola, três ou cinco estames, e as antheras com duas cel- lulas. As flores femininas têem um ovário superior, um estilete e dous estigmas. As sementes são pequenas, quasi cobertas pelo cálice, cercadas de um envolucro carnudo, e embutidas na polpa do receptáculo. Os órgãos sexuaes da Figueira foram desco- nhecidos por muito tempo ; os antigos bo- tânicos pensaram que a Figueira nào flo- ria. Valério Gordo, foi o primeiro que des- cobriu a existência dos ovários e estiletes, que guarnecem o interior do receptáculo, a que chamou «estames». De la Hire des- cobriu as flores masculinas em 1712; como, porém, as estudava nas Figueiras ciútiva- das, a sua descripçno foi imperfeita. Lin- neo rectificou as observações de De la Hire, mas por ura grave erro, desculpável no seu tempo considerou como uma ope- ração miraculosa a caprijicaçcio ou apro- ximação de ramos da Figueira brava ás Figueiras cultivadas, com o fim de as fer- tilisar; operação que ainda hoje é pra- ticada em muitos pontos do Levante, e que os nossos cultivadores do Algarve também praticam. Julgou-se, por uma supposição errónea, que da Figueira brava sabiam uns pequenos insectos alados, o Cynips pse- nes de Linn., que se introduziam nos figos das Figueiras cultivadas para ahi deporem 09 seus ovos, levando nas azas o pollen da Figueira brava, a que chamam no Al- garve Figueira de toque, com o qual iam fertilisar e amadurecer os figos da Fi- gueira cultivada. «Esta operação, a ca- prijicação, diz Tournefort, nas suas via- gens ao Levante, de que têem fallado al- guns antigos e modernos, não me pare- ceu mais do que um tributo que o homem paga á ignorância e aos preconceitos ; pois que cada figo contém algumas flores mas- culinas, capazes de fecundar as femini- nas do interior; c alem d'isso este fructo pode crescer, amadurecer e tornar-se ex- cellentc, ainda que algumas sementes não sejam fecundadas.» A prova está em que tendo muitas terras do Levante abando- nado a caj)riJicação, nem por isso os seus figos perderam o antigo renome. Esta bella arvore que cresce quasi es- pontaneamente nos paizes meridionaes da Europa, ainda mesmo em legares scccos e pedregosos, tem entre nós uma cultura quasi geral, mas no Algarve torna- se um ramo importantissimo de commercio, e muito principalmente depois que as fabri- cas de distillação começaram a extrahir d'elles aguardente, muito aproveitável pa- ra o concerto dos vinhos. Também os an- tigos extrahiara d'este fructo uma espécie de vinho ou licor a que chamavam cicy- tus, immergindo em agua uma certa quan- tidade d'cllcs, e conservando-os alli até que se estabelecesse a fermentação vi- nhosa, e depois cspreraiam-os, extrahin- do o vinho, o qual também fornecia vi- nagre pela acétificação. A Figueira multiplica-se por mergu- Ihia, rebentões, estaca, enxerto e semen- te; mas as multiplicações por estaca e re- bentões são preferíveis pela sua prompti- dão e facilidade — muito raras vezes se emprega o meio da semente, e só quando se pretendem obter novas variedades. Esta arvore posto que se dê muito bem com as terras scccas e áridas, pro- duz mais abundantemente, e fructos mais saborosos, sendo cultivada em terra leve e de boa qualidade. Figueira Castle Kennedy A Figueira Castle Kennnedy appare- ceu pela primeira vez na scena pomolo- gica no anno de 1863. — O «Journal of Horticulture» de 4 de agosto do mesmo anno foi o primeiro que deu noticia d'es- te bello fructo, exaltando-o com numero- sos elogios, que foram repetidos pela maior parte dos jornaes inglezes de horticultu- ra, justificando os numerosos certificados de primeira classe, que cila tem obtido, e o primeiro premio na grande «Exposi- ção da Sociedade de Horticultura de Lon- dres» em junho de 1865. «A Figueira Castle Kennedy, diz o «Journal of Horticulture and Gardener» de 13 de junho de 1865, existe no Cas- tello de Kennedy, na Escossia, ha mais Fí^o CãstÍE Kennedy JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 125 de um século; mas como é que alli ap- pareceu? Qual foi a sua origem? Sào questões impossiveis de resolver por falta de dados certos. Suppõe-se que era epo- chas remotas o seu primeiro proprietário a recebera do continente; mas ou seja assim, ou que fosse obtida de semente^ pode afoutamente afíirmar-se que é dis- tincta de todas as outras variedades cul- tivadas n'este paiz. Alem da sua bellis- sima qualidade, o que a distingue de to- das as outras, sobre tudo, é a sua pre- cocidade. O fructo é turbinado, um pouco ova- do, periforme, e de um grande volume. A sua casca é pardacenta do meio para o olho, e de um amarello esverdeado de ahi até ao pedúnculo. A polpa, no seu es- tado de completa maduraçào, é mui suc- cosa, de ura sabor excellente, de uraa cor opalina indecisa, com mui ligeiros toques vermelhos, para o olho. Como os leitores desejarão saber de que natureza é a lagrima, que se depen- dura du olho, representada na estampa, eis aqui a explicação que dá Mr. Fowler, jardineiro do conde de Stair no castello de Kennedy: «Dias antes da sua madura- ção uma substancia clara j similhante ao mel, e de um sabor exquisito, começa a correr do olho do fructo ; e depois da sua maduração completa, torna-se viscosa, pen- dcul-G como uma gota de orvalho, e che- ga algumas vezes ao comprimento de meia poUegada, limpida como crystal, e dá ao fructo uma apparencia notável.» O proprietário d'este jornal possue esta bellissima variedade, e tem alguns peque- nos exemplares disponiveis. Camillo Aureliano. COLEDS NOVOS As numerosas variedades de Coleus que nos últimos annos têem sido lançadas no mercado, sào provenientes de successi- vas sementeiras feitas com sementes arti- ficial ou naturalmente fecundadas, porque o pollen não teme a barreira mais den- sa; é como Cupido, que atravessa todos os perigos para alcançar o fim que o li- vro do destino lhe dictou. Embora en- contre obstáculos, vence-os. E quantos mais perigos encontra, mais glorias ob- tém. Os interessantes Coleus têem sido, des- de a sua introducçào, as plantas favori- '.as do bello sexo illustrado. Na realidade, algumas d'estas Labiadas são de um co- lorido tão delicado e vivo que enthusias- mam a horticultora intelligente e levam-a a lançar mão do primeiro ensejo para ob- ter aquellas variedades que suo de colo- rido mais rico, para as mesas do seu «boudoir» ou para as de jantar onde a moda as tem tornado indispensáveis. Daremos a succinta descripção dos Coleus ultimamente importados pelo snr. José Marques Loureiro e dos quaes as amáveis leitoras encontrarão bom nume- ro de reproducçoes ao seu dispor. O desejo de tomar conhecidas com brevidade estas interessantíssimas novi- dades, não permitte responsabilisar-mos- nos pela correcção das descripções, por- que os exemplares que temos á vista são todos de recente reproducção e portanto ainda não attingiram todo o seu brilho e esplendor. Coleus Bausei — apparencia vigorosa ; folhas ovaes, onduladas, forte e irregu- larmente crenadas, verde esmeralda com grande mancha violeta escura. Coleus Gem — folhas crenadas regular- mente, fundo verde azeitona com grande mancha violeta avelludada. Muito bom para massiços por ser bas- tante compacto. Coleus Queen Victor ia — folhas como a variedade precedente, fundo de um ver- de amarello vivo (dourado?) com mancha carmesim-escarlate. (O exemplar que te- mos sobre a nossa banca é pequeníssi- mo). Coleus Alhert Victor — folhas regular- mente crenadas, marginadas de verde azeitona e centro avinhado — planta de apparencia vigorosa. Emfim o Coleus Marques Loureiro^ (que não deve ser confundido com o C. Loureiro «Fl. Cochinch.»); as folhas são 126 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. crenadas com re]n^ulandade, acuminadas no vértice, carmim acastanhado com uma orla verde inpcrceptivel e na face infera carmim mais vivo e as nervuras de verde brilhante. Foi este Coleits obtido no corrente anno no estabelecimento horticola do pro- prietário d'este jornal. Fol.i,'amos de ver que em Portugal se vae prestando alguma attençào ás semen- teiras, porque eíFectivamente este meio de rcproducção é a fonte das innumeraveis novidades que ornam os nossos jardins e estufas. Bom seria, pois, que os horticultores e mesmo os amadores se dedicassem a fa« zer sementeiras. Este anno fizemos algumas, porém fo- mos muito infelizes. Acreditemos no fu- turo e nào desalentemos. Oliveira Júnior. A HORTICULIURA NO PORTO Esta cidade foi ultimamente honrada com a presença do erudito collaborador d'este jornal, o snr. Ediuond Goeze. O nosso estimável amigo visitou os subúrbios do Porto, porém lamentamos que a sua demora uào fosse maior para poder tomar mais amplo conhecimento da «Flora Portuense», e, quanto a nós, para nos regozijarmos com a sua apreciável companhia. De volta a Coimbra, o nosso amigo di- rigiu-nos a seguinte carta, á qual, embo- ra violentando o seu desejo, nào duvida- mos dar publicidade. Move-nos a isso o interesse que estamos certos terá para os leitores, pois encontrarão n'ella uma oj)i- niào franca e imparcial acerca do estado dos jardins do l'orto, estado que melhor pode ser apreciado por um visitante, e tào competente como o nosso amigo, do que por qualquer pessoa que os tenha constantemente sob os olhos. Estimado amigo Tendo visitado ha poucos dias pela primeira vez essa capital do Douro, não posso resistir ao desejo de lhe cdoununicar as impressões que me causou o I*orlo com os seus maj;nilicos edilicios públicos, encantadores subúrbios, bcllos jaidins e nSonienos com a sua vida activa e animada. É talvez luiia frairilidade da minba parle, |ior- que a final sempre são opiniões individuaes. a (|ue nenhuma importância merece ser ligada. E' possí- vel (|ue o meu amijío seja da mesma opinião (|ue eu sobre diversas cousas que vi e que se fixaram na minba memoria ; mas lambem pode ser que não, e portanto passo a fazer uma revista de fu- gida. O jardim do Palácio de Cryslal pode, debai- xo de miiiios ponlos de vista, rivalisar com os me- lhores d*este género que lenho visitado, quer na Allemanha, luglaterra, ou França, e é superior até a todos os que conheço, se atlendermos á(iuclle |)onto de vista sobre o mar, que é verda- deiramente encantador. Ueunir harmonicamente a arte do homem á belleza primitiva da natureza, eis no que consiste, seirundo a minha opinião, o verdadeiro mérito de um jardineiro paysaíjista, e percorrendo este jardim em diversas direcções nào posso deixar de pagar aqui un) Iraco tributo da minha consi- deração ao snr. Emilio David, seu digno archite- cto. Mas infelizmente é triste (|ue me veja obri- írado a empregar uma phrase desagradável: o estado actual d'esle bello jardim deixa muito a desejar. A relva, de uma verdura e frescura aprazi- veis, sempre um dos primeiros ornamentos de ura grande jardim, e que debaixo de condições cli- maiericas como as do Porto, poderia, ou antes, deveria estar no melhor estado possível, acha-se queimada e secca ; o arvoredo mostra que tem tido poucos cuidados, e algumas flores que se en- contram, patenteiam claramente a negligencia com que são tracladas. Ignoro de (piem é a cul- pa, mas lastimo, comludo, a sabida do icu jardi- neiro primitivo. O Porto tem, como era devido, os seus jar- dins públicos — nos nossos dias (juasi um "sine qua nou" de uma grande cidade, onde o bem-estar permilte á intelligencia e á actividade repousa- rem-se. Com effeilo, o titido de «grande cidade» ap- plicado ao Porto não é destituído de fundamento, [)ois percorrendo as suas ruas enconlram-se grande quantidade de casas particulares de opulento as- pecto e sobre tudo c;'"ii"de numero de edificios públicos de conslrucção moderna, que alleslam bom goslo. Mas, e é já a segunda vez (|ue tenho de empregar algumas tristes palavras, e por isso apressar-nifc-hei a concluir-, os seus jardins pú- blicos, dos quaes visitei dons e que na sua primi- tiva organisaçâo mostram bastante gosto e po- deriam preencher as condições de um bello c agradável passeio, não correspondem absoluta- mente nada ao progresso actual que se nalenleia nos outros silios da cidade, terra natal do meu estimado amigo. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 127 Ter agua com abundância, como ahi succede, e não se servirem d'ella copiosamente, é quasi um peccado ! Que triste espectáculo não é ver os lagos cheios de agua no meio dos dous jardins, e sup- pormos-nos"n'um deserto quando olhamos para a relva e a vemos completamente secca! Isto indi- ca-nos a negligencia dos homens! As arvores também soíTrem e estão cobertas de poeira ou deixaram já cahir as folhas, que, contra todas as regras de limpeza, entulham os passeios! Na verdade estimo (antes sinto) ter de con- cordar completamente com a opinião que V. ex- primiu na «Cbronica-' do ultimo n." do Jornal de Horticultura Pratica e que é assim concebida: A RELVA DOS JARDINS PÚBLICOS (do Porto) ESTÁ N'UM ESTADO, VERGONHOSO. É ainda com prazer que me recordo da cur- ta visita que fizemos á quinta de Campanhã do snr. visconde de Villar Âlien. Preside alli o bom gosto; e os cuidados ministrados á relva, ao arvore- do, aos alegretes e ás ruas, o numero de plantas de boa escolha, testemunhando boa cultura, e em- lim o conjuncto d'este terrenosinho com o seu pa- lacete conslituem-o um bello ornamento do Porto. Visitando esta quinta, senti extremamente a ausência do proprietário, o que me privou de ter a honra de fazer conhecimento com um amador tão illustrado. Antes de concluir estas linhas, já um pouco extensas, e por esta razão talvez fastidiosas, ainda me resta dizer algumas palavras sobre dous ou- tros jardins que também visitei. Estimei nimiamente ver que o Porto também tem o seu «Jardim Botânico». Verdade é que ainda se acha em construcção, mas o mais diffi- cil — o principio— está feito e os nomes das pes- soas que se acham á testa d'este novo instituto dão-nos uma forte garantia, de que não é somente um bom principio, mas que a continuação dará lambem provas do zelo e da intelligencia de seus empregados superiores, apezar das grandes diffi- culdades, principalmente pecuniárias, com que têem a luctar. Presumindo, para não dizer desejando, que estas communicações sejam completamente con- fidenciaes, vou juntar mais meia palavra sobre o proprietário do seu jornal, o snr. José Marques Loureiro ou antes sobre o seu estabelecimento horticola. Apezar do «Jardim Botânico» de Coimbra ter já recebido muitas e boas plantas de aquelle esta- belecimento, e apezar dos catálogos que o snr. Loureiro publica todos os annos, dos quaes sem- pre teve a bondade de me mandar um exemplar, não tinha feito uma ideia exacta da extensão e da riqueza d'esta casa, sem duvida a primeira de Portugal. As estufas são de uma construcção simples mas bem adequadas, e acham-se cheias de mui- tas plantas boas, grande parte de multiplicações feitas alli e que dão prova de boa cultura, graças aos cuidados do seu jardineiro inglez. Infelizmente, o amor pelas plantas de estufa está ainda muito pouco desenvolvido cm Portu- gal, o que me leva a suppor que plantas taes co- mo Cijcadeas, Palmeiras, Fetos arbóreos, etc. ori- ginam mais sacrificios ao proprietário do que lu- cros. Em recompensa, as suas plantas do ar livre, taes como differenles espécies de Acácias, Euca^ lyptus da .\ustralia, Coni feras, Camellias, Pelar- goniums. Roseiras, arvores fructiferas, etc, etc, encontram-se alli por milhares e parece-me que devem indemnisal-o. Emfim, a "Quinta das Virtudes» é uma rica propriedade e egualmente rica pela abundância de agua que tem, e esperemos que o snr. José Marques Loureiro, que teve a feliz lembrança de fundar um verdadeiro estabelecimento horticola, soja coadjuvado pelo céu e pelos homens, para desenvolver cada dia mais esta bella arte que se chama — Horticultura. Sou De v. amigo dedicado Edmond Goeze. Coimbra— Jardim Botânico — julho— 1870. Como vêem os leitores, causou bas- tante impressão ao nosso amigo o lastimo- so estado em que se acham presentemente os jardins públicos do Porto. Na reali- dade uao comprehendemos similhante des- cuido. Allegar-se-ha falta de meios? Se as- sim for, que se feche um dos jardins mas que se tenha outro decente, e se ainda assim não houver meios sufficientes para se tractar de um só, feche-se esse tam- bém, mas não se lhes dê a errada deno- minação de jardins, porque imparcialmen- te fallando não se lhes pode dar tal no- me. Tel-o-hão sido... mas não o são! Até a relva que surge em volta do lago do jardim do Campo dos Martyres da Pátria está secca! Que desculpa haverá, se o lago está cheio de agua? Emfim são cousas nossas, que não queremos commentar. Desculpe-nos o nosso estimado ami- go, o snr. Edmond Goeze, se quebranta- mos os seus desejos, dando publicidade á sua interessante carta, e acceite os nos- sos agradecimentos pelo prazer que nos proporcionou e os nossos emboras pelo seu feliz regresso ao logar das suas quo- tidianas e diligentes occupações. Oliveira Júnior. 128 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. CALLISTEPHUS CHINENSIS fAms.j Nào ha nada mais bello, mais gracio- so, e variado de cores vivas c finas, do que no lira do estio e principio do onto- mno um massiço ou alegrete de Secias; sobre tudo quando se soube tirar todo o partido, nào só do seu diíTerente porte e altura, mas também da variedade e ri- queza de colorido, que se encontra nas multiplicadas variedades d'esta planta. Oriunda da China, foram as primei- ras sementes que vieram de aquelle im- pério enviadas para França a A. de Jus- sieu pelo jesuita de Incairvillc, entào mis- sionário em Pekin. Estas sementes ger- minaram pela primeira vez no jardim do rei, e produziríim flores brancas e singe- las, em tudo similhantcs ás da nossa Mar- garita dos campos. Depois, por successivas sementeiras, foi-se aperfeiçoando esta linda flor, a pon- to de se tornar de primeira ordem, e di- gna de se chamar a mais bclla das flores annuaes. A primeira sementeira d'esta interes- sante planta, que só tem o defeito de ser annual, deve ser feita nos fins de feverei- ro ou principios de março, em pequenos taboleiros preparados com boa terra sub- stancial. A semente deve ser coberta uni- camente com pouco mais de um centíme- tro de terra. Produzindo bem, esta pri- meira sementeira florescerá em junho. A segunda sementeira deve ser feita em maio, e por ultimo a terceira nos pri- meiros dias de junho, e são as ultimas que florescem. Com estas três sementei- ras , obtêem-se flores até aos primeiros frios. Logo que as plantasinhas tenham cin- co ou seis folhas, devem ser transplanta- das para um novo taboleiro, maior e mui- to bem preparado ; espaçando-as 25 ou 30 centímetros umas das outras. Se entre ellas apparccerem algumas que mostrem tendência para crescer mui- to, será bom cortar-lhes a haste principal a 30 centímetros de altura. Esta operação tem por fim fazel-as ra- mificar bem, e obter assim bcllos ramos de flores. Quando as novas plantas come- çarem a lançar os primeiros botijíes e es- tiverem bastante fortes, então transplan- tar-se-hão definitivamente para o logar que lhes está destinado no jardim. Arran- cam-se com um bom torrão, e depois de plantadas regam -se repetidas vezes e co- piosamente. A colheita da semente deve ser feita nas plantas da primeira sementeira, as outras raras vezes a dào boa. Dando ás Secias os cuidados que apon- tamos, obter-se-liào plantas fortes, que flo- rescerão abundantemente ; e n.ào será raro contar no mesmo pé de quarenta a cin- coenta flores. A. J. DE Oliveira e Silva. PLANTAS DE CDLTURA DIFFICIL ^ LILIUMS Terminarei esta secção de «Plantas de cultura difficil» com os Liliums ou Açuce- naSf que já estiveram em grande moda, depois quasi esquecidos, e hoje tornam a ser procurados. O vulgar, Lilium candiclum, é uma linda flor, porém ha um sem numero de magnificas espécies que nenhum amador devia prescindir de possuir. As mais notáveis sào as seguintes: Lilium sjyeciosnin roseum, L. lancifo- liuni, L. lancif. ruhrum, L. lancif. pun- ctatum, L. clicdccdonicum , L. Martagon, em variedade, L. longijlorum, L. aura- is) Vide J. U. r. pag. 92. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 129 tum, L. atrosanguineum, L. TJiompsonia- 11 um. Alem d'estas ha mais umas quinze, que sao também de bello effeito. Estas plantas precisam ser plantadas logo que se recebem, porém nào se deve apressar a sua vegetação, tendo-as para isso sobre o secco até que principiem a ve- getar bem; então devem ser livremente re- gadas mas nunca enchai'cadas ; uma vez possuidas nunca devem saliir dos vasos ; basta somente renovar-lhes a terra depois que principiarem a crescer. A terra deve ter uma boa quantidade de areia, e terra vegetal misturada com alguma terra boa de jardim. No fundo dos vasos devem collocar- se bastantes cacos para a boa «draina- gem )) . Todas ellas podem ser criadas ao ar livre, preservando-as da geada no inver- no. Os bolbos muitas vezes apodrecem com a demasiada agua antes de vegeta- rem, mui especialmente quando são plan- tadas de novo sem terem principiado a vegetação no vaso em que cresceram. Lisboa. D. J. Nautet Monteiro. CALENDÁRIO DO HORTICULTOR AGOSTO Jardins. — Os trabalhos d'este mez consistem principalmente nas regas, sa- chas, tosquia da i-elva, limpeza das ruas e bordaduras, e caça dos animaes e inse- ctos nocivos. As mergulhas dos Cravos feitas no mez anterior devem ser desmamadas, e collocadas em terra ou em vasos. Reproduzem se de estaca neste mez as Aucuhas, as Centáureas brancas, os Chrysanthemums indicos, a CupJiea pla- tycentra, a Gaillardia, os Cheiranthus (Goivos), os Heliotropiums, a Hortênsia, o Jasmim de Hespanha, o Pentstemon, a Petunia, as divi^rsas Salvas, a Weigelia e a Violeta arbórea. Aparam-se, e mudam-se de vasos os Pelargoniums, mediando de três a qua- tro semanas entre uma e outra operação. No fim do mez mudam-se de vasos as plan- tas que o carecerem, cortando-lhes as rai- zes supérfluas (rempotage) , tendo o cui- dado de as pôr em sitio sombrio e abri- gado. Semeiam-se, para florirem no mez de maio seguinte, a Anagallis rósea efrutico- sa, Cuphea estrigula, Eschsholtzia calif ar- nica, Mesembrianthemum tricolor, Gail- lardia grandiflora — e Rudbechia bico- lor. Também n'este mez se renovam os canteiros para os Jacinthos e Tulipas. No fim do mez plantam-se estas cebolas. Cuida-se da florescência das Dahlias; con- tinua-se a mergulhia dos Cravos, á pro- porção qu'e terminam a florescência. Começa a colheita das sementes das plantas annuaes e bis-annuaes. — Prestam- se cuidados á florescência das Roseiras remontantes. Dão-se frequentes regas ás Lantanas, Fuchsias, Pelargoniums e Ver- benas. — Os canteiros devem star guar- necidos com profusão. Hortas. — Os trabalhos mais impor- tantes desta estação são as regas, e tan- to mais urgentes, quanto é certo que as plantas annuaes não podem resistir sem este soccorro. E necessário, pois, regar hortaliças e legumes copiosamente de ma- nhã e de tarde ; sachar profundamente em toda a parte que seja possivel — é este o único meio de conservar a frescura do solo, e concentrar os phenomenos capil- lares extremamente úteis ás plantas do chão. Recolhem-se neste mez as sementes de Ervilhas, Favas, Cenouras, Beterra- bas e de Couves. Arrancam-se as Bata- tas, cuja rama tenha seccado. As sementeiras d'este mez são, du- rante a primeira quinzena, os Rabanetes, Cerefólio, Alfaces, Chicória, Couve de York e outras activas, Pão de assucar. Couve flor semidura, EsjJinafres, Nabos, Cebolla branca activa. Deve porém at- tender-se á natureza do clima para se Í30 JORNAL DE HÒRTÍÓULTURA PRATICA. adiantarem ou demorarem estas semen- teiras. Arvoredo. — Convém aproveitar a se- gunda ascensão da seiva que tem logar n'este mez para enxertar os botões de fructo. Os resultados obtidos por este meio de enxerto sno de tal ordem, que será mui conveniente não os desprezar. Tem por fim : 1." obrigar a dar fructo arvores rebeldes; 2." duplicar quasi sempre os productos que se obteriam sobre a arvo- re mãe ; 3." reunir sobre a mesma arvore uma collecção dos mais bellos fructos. Continua n'este mez a enxertia de es- cudo. Deve tractar-se do corte com a unha (pincement) nas fructeiras ordena- das em latada (esjycdierj durante a seiva de agosto. Colher as folhas dos Peceguei- ros que impedirem a colorisação dos fru- ctos. Desparrar com critério as vinhas de fructo temporão. Colher os fructos da estação — damas- cos, pecegos, e ameixas. Estender palha por baixo dos Pecegueiros para não per- der os pecegos cahidos. No fim de agos- to começar o quebramento (cassemenfj, dos rebentões das Pereiras e Maciei- ras. Continuar, á medida que for necessá- rio, regas abundantes nos pés das fructei- ras em latada, e seringações pelas folhas. Semear immediatamente que os fructos forem comidos, os caroços de cerejas, pe- cegos, ameixas e damascos. Destruir os insectos que atacam os fructos. N'este mez podem transplantar-se com vantagem as arvores resinosas. Viveiros. — Continua a enxertia de escudo. Não se devem perder de vista os enxertos feitos no principio de julho, para os desligar, se estiverem muito aper- tados. Frequentes sachas todas as vezes que for preciso. Grande cultura. — Continua acti- vamente a colheita dos cereaes de praga- na, em alguns sitios está concluída, e cui- da-se da malha. Continua também a co- lheita do Linho, Milho miúdo, Mostarda, Luzerna e Trevo (segundo corte). Depois das colheitas devera conduzir-se para os campos os estrumes precisos para as se- menteiras dos nabaes. Devem lavrar-se as terras, quanto possível, immediata- mente ás colheitas. Começam as lavouras das terras destinadas ás sementeiras do inverno, dos Centeios e Favas. As colmeias devem ser vigiadas ; as que tiverem pouca actividade ou perde- ram a mestra, ou está doente, convém reunil-as a outras também fracas, mas bem organisadas. Vigiam-se os ovos dos bichos da se- da, tendo o cuidado de os conservar em sitio pouco húmido. As Amoreiras devem ser visitadas — é mui conveniente podal-as e dar-lhes uma cava. CHRONICA Preparam-se grandes plantações de Amoreiras e Maduras. E esta uma noticia que estimamos dar, porque demonstra o incremento que tem tido a criação do bicho da seda, que vi- rá em pouco a constituir um forte ramo de commercio. Houve este anno criadores que tive- ram maior numero de bichos do que po- diam alimentar com a folha que possuíam, vendo-se portanto obrigados a compral-a. O nosso collega e digníssimo reitor da Universidade de Coimbra, o snr. vis- de de Villa Maior, vendeu a folha de al- gumas Amoreiras a 6f$i000 reis cada uma e a de outras de quatro a cinco annos, a 300 reis. Que fortunas não haveria em Portu- gal, se houvera mais intelligencia ! Somos comtudo um povo pobre — mas digamos a verdade: é por nosso próprio descuido! Veja-se: uma plantação de dez mil pés de Amoreiras, cujo custo é insignificantís- simo, produziria vendida a folha do : 5.» anno a 300 rs 3:000,-5000 do 7.0, supponhamos a 400 rs. 4:OOOí5000 e do 10.° aproximadamente a 600 rs 6:000A;000 Não falíamos agora do lucro da seda, que é enorme. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 131 Nas mãos dos governos está muito, mas um governo por bons desejos que te- nha, sem a coadjuvação do povo pouco pode fazer. — Conforme o decreto de 17 de maio de 1865 teve logar era Braga o sexto concurso de bois. Os expositores eram dez e havia seis prémios, cabendo o primeiro (80:000 rs.) á junta de bois pertencente ao snr. Fran- cisco José Fernandes, de S. Paio de Me- relim (concelho de Braga), a qual pezava 1:770 kilogrammas. Bom é estimular os lavradores. — Este anno não haverá exposição em Coimbra como suppunhamos. — As pessoas que se dedicam á cul- tura de plantas augmentam todos os dias em Portugal, e quanto mais intelligente é o amador, tanto mais vantajoso é o resulta- do para o progresso d'esta utilissima es- pecialidade. Proporcionou-se-nos outro dia occa- sião de visitar o jardim do snr. Gregório Rodrigues Batalha d'esta cidade, ou an- tes, as estufas, porque na realidade foi o que mais nos chamou a attenção. Estão estas cheias de boas plantas e com es- pecialidade a collecção de Begónias é bastante avultada. As duas ou três estufas do snr. Ba- talha acham -se realmente na melhor or- dem e esmerada disposição, o que attes- ta que tão assiduo como intelligente tra- ctamento é por mão cuidosa dispensado áquelle recinto, enlevo dos olhos e docu- mento lisongeiro para quem tão compe- tente e illustradamente comprehende o bello e se deleita em cultivar os seus do- mínios. — Até que emfim decidiu o « Cercle professoral pour le progrès de Tarboricul- ture en Belgique» uma questão que havia tanto tempo se ventilava e que é na rea- lidade utilissima aos pomicultores que , menos experientes, se confiavam nas mãos de charlatães ou de horticultores pouco conscienciosos para a escolha das fructei- ras. Eis, pois, a selecção das doze varie- dades de peras que fez o «Cercle profes- soral». São: Louíse bonne d'Âvranches, Soldat laboureurj Beurré (TAmanlis, Beur- ré Durondeau^ Joséphine de Malines , Beurré Diel^ Douhle Philippe, Bergamot- te Esjoeren^ Bon Chrétien William, Con- seiller à la cour^ Beurré Sterckmans e Beurré Ratice. Quer isto, comtudo, dizer que estas são as únicas peras boas? Por certo que não, mas do que o com- prador pode ter a certeza é de que aquel- las doze variedades apontadas são excel- lentes. — Já não lembra um anno tão secco como este. Em alguns pontos comtudo tem cabido alguma chuva, mas tão pouca que de nada valeu, de maneira que os agri- cultores este anno sofírem gravíssimos pre- juizos. Imploram a chuva, mas debalde. Fa- zem preces «ad petendam pluviam», mas sem efficacia. Sabem, porém, que o arvoredo é um forte agente para a regularidade das chu- vas, mas nem por isso vemos os nossos valles e encostas povoados. Tudo por desmazelo e demasiada con- fiança na Providencia. Trabalha e Deus te ajudará. — Temos sobre a nossa banca os últi- mos catálogos do estabelecimento hortícola de MM. Ch. Huber & C.'« de Hyères (Var) França. Os catálogos d'estes senhores trazem muitas novidades que vêem acompanha- das da respectiva descripçao. Entre ou- tras assignalaremos a Dahlia arbórea que, segundo affirmam MM. Huber & C.'^ , é uma espécie completamente diff'erente da Dahlia imperialis^ de que todos os jor- naes fizeram menção. Em seguida damos publicação á des- cripçao da nova Dahlia. Dahlia arbórea A sua altura é de 2 metros e a forma é de um tufo ramificado em grandes folhas verde-es- curas, cor que muito contrasta com toda a outra folhagem. Mas se a inferioridade do seu porte, comparado com o da Dahlia tmperíalis, offerece a vantagem de occupar menos logar n'uma estu- fa, também tem a de offerecer menos superfície ao vento, quando esteja ao ar livre. 432 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. Não é, porém, n'isto que consiste a sua ex- cellencia; desde o fim de dezembro a planta co- bre-sc de uma inuumeravel quantidade de flores cor de violeta clara, e embora o thermometro desça a zero, o seu desenvolvimento continua da mesma maneira. Produzir flores com profusão sob uma tem- peratura tào baixa é certamente uma qualidade que se encontra raras vezes nas plantas em que todas as partes são molles e aquosas, e isto se- ria siifliciente para a aconselhar, embora a flora- çilo tivesse alfjnni defeito. Mas como nào é as- sim, os amadores verão que a flor, considerada em si, é de um colorido atlmiravel e de uma for- ma mui bella. Esta forma, de resto, c totalmen- te nova n'esfe género e s(5 se pMra que a planta se desenvolva depressa, alem de que, apossando-se ella de um solo lim- po e enriquecido cora as cinzas feitas da folga que d'elle se extrahiu e dos mais adubos apropriados, nascerá com robus- tez, e em pouco tempo a sua ramagem será um novo abrigo aos raios solares, assombreando o solo e tornando -o menos sensivel á falta das regas. As linhas das sementeiras, estando em direcção aos ventos geraes, brisas da nou- te ou madrugada, permittirào que estas as percorram com mais facilidade, pondo a planta em maior contacto cora as humi- dadcs e mais renovados principios de vi- talidade contidos na atmosphera arabiente. As primeiras sachas deverão ser mais tar- dias, quando o solo esteja sufficientemen- Fig. 23 — Eállrpador para limpar a terra. Fig. 2i — Cylindro para comprimir o solo. te assombrado, e fazem se cora um rodei- ro contendo oito ou nove sachos, pois a cultura feita n 'estes termos nào tem her- vas nocivas a destruir nem terra que che- gar aos pés, por isso que toda a semente foi lançada na mesma profundidade. Este serviço faz- se com um animal c um rapaz para o guiar. Reflectindo sobre a forma dos vários processos que o nosso lavrador emprega nas lavras e sementeiras, nào podemos acreditar que a elles presida calculo ou estuflo algiun, para os variar segundo o estado do terreno na occasiào e segundo o tempo próprio da estação ; por exem- plo : analysando o Milho que está se- meado presentemente, como é possivel que um grào secco deitado em uma terra que também está secca e alem disso desunida com restolhos, hervagens meias seccas, gravetos de matto verde a que chamam estrumes, possa germinar com força, se nào tem a humidade e lentura necessária, nem adubos fermentados senào de ahi a mezes quando as chuvas vierem? A terra, exhausta da colheita passada, que a maior parte das vezes foi de outro grào simi- Ihante, nào pode nutrir esta sementeira com tào insufficientes elementos. Sào muitos os lavradores que soífrem JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 145 este anno um prejuízo superior á impor- tância dos instrumentos e apparelhos ne- cessários para realisar a sua lavoura em termos mais aperfeiçoados ; esses que o podem supportar, também poderiam ter feito acquisição d'elles, sem aguardar es- tas calamidades, pois lhes bastariam os proventos mais limitados de um anno re- gular para se resarcirem do emprego fei- to, isto é, em relação aos serviços que es- ses instrumentos poderiam fazer durante a estação, os quaes ainda sendo menos, bastaria a consideraerio das vantagens que todos os annos teriam de usufruir. Poderiam ser illusorios todos os apre- goados proventos do bom machinismo em- pregado na agricultura, mas infelizmente temos factos bem comprovativos, que sào as queixas dos nossos cultivadores, de que as suas colheitas mal dão para as despe- zas. Ora, se em Inglaterra a lavoura pa- ga aos seus empregados na razão de 400 reis diários e quando trabalham de emprei- tada chegam a ganhar entre 600 e 800 rs. por dia; seella vende o Tríf^o por me- nos 40 a 50 p. ^/o e ás vezes menos, que sào as despezas da sua importação em Portugal, qual será o motivo por que nós, com um solo riquíssimo, com trabalhado- res ganhando 200 reis, com um preço elevado em todos os productos, nos quei- xamos? A lógica conclusão é que nas la- vouras aperfeiçoadas, alem do intelligente e activo serviço que a cada empregado cabe fazer, accrescem esses meios mecha- nicos auxiliadores, com os quaes fazem duplicados trabalhos em pouco tempo, e conseguem abundantes colheitas. E' ura facto que a lavoura ingleza tem de con- correr era preços cora as iraportações de todos os paizes e que mesmo assim con- segue um bem-estar da sua classe tão elevado, quanto é necessitada e cheia de privações a maioria d'ella no nosso paiz. Senil muito para desejar que os grandes proprietários mandassem vir feitores in- glezes ou alleraães, a quem confiassem a direcção das suas culturas. Com isso fa- riam um serviço ao paiz, com grande pro- veito próprio. O exemplo da agricultura ingleza con- vém-nos mais quanto á applicação de in- strumentos mechanicos, pela razão de que é o paiz mais pratico, onde não se acei- tam melhoramentos senão depois de serem muito verificados pela experiência. AUi encontrara- se constructores de confiança, corao por exemplo Ransomes Sims & Head, que ha 90 annos fabricara os me- lhores instrumentos de lavoura. Progressos que datara de séculos não os deviaraos receber com tanta hesitação. A. DE La Rocque. CALENDÁRIO DO HORTICULTOR SETEMBRO Jardins. Continuam os trabalhos de entretenimento e de limpeza dos jardins. As noutes começam a arrefecer, e por is- so deve haver o cuidado de regar só de manhã as sementeiras pouco desenvolvi- das que carecerem de rega. N'este mez deve fazer-se a separação e plantação das Pceonias herhaceas, Al- strcemerias , Fumarias hiãhosas, Belis pe- rennis (Margaritas), Malcomia maritima, e em geral de todas as plantas que flo- rescem no principio da primavera. Devem acautelar-se dos frios os Cravos fiamenfjos e de fantasia de natureza delicada. A transplantação (rempotage) das plan- tas cultivadas em vaso, deve fazer-se n'e3- te mez, para terem tempo de pegar antes que entre o inverno. Estas plantas devem coUocar-se á sombra, e pouco regadas ; ura mez de repouso é sufíiciente para se refazerem e ficarem era estado de florir vantajosamente na estação própria. N'este mez terminam os enxertos das Roseiras. Deve vigiar-se a maduração das sementes que se pretendem colher. Co- meçam as sementeiras das plantas que de- vera florir na priraavera proxiraa. Scraeiara-se em pleno ar: Agrostis piã- chella, Alyssum maritimum^ Campanulas, Centáureas^ Clarkias, Papoulas^ Coreopsis f46 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. elegans, Escholtziitj, Eucharidium grandi- floruin, Malcomia marítima, Cravos da China, Amores perfeitos. Esporas, Ervi- lhas de cheiro, c Gigantes. Plantaiu-se as cebolas que tem de flo- rir no anno próximo, taes como Anémo- nas dos floristas, as Hepáticas, Crociis, GJadiolus cardinalis, íris da Pérsia, Jun- quilhos, Narcisos, e todas as indicadas no mez anterior. Hortas. A continuação das regas é indispensável, mas como as noutcs são frescas é conveniente que se façam ou pe- la manliã ou no decurso do dia. As Cou- ves Jlores do outomno estão em plena ve- getação e não deve por isso faltar-se-lhcs com agua; nem aos Repolhos para fecha- rem antes da neve. As Couves Jlores de- vem cobrir-se com palha para evitar que amarelleçam. Devem ligar-se as Alfaces e as Chicorias cujo repolho estiver a pon- to de fechar. Seraeiara-se ou plantam-se n'este mez : — Cenouras, Cerefólio, Chicória, Couve de York, C. coração de hoi, C. pão de assucar, C. Sabóia, C. flor dura e se- mi-dura, Esjnnafres, Mostarda da China, Cebola branca têmpora, Salsa, Rábanos e Rabanetes. Arvoredo. E' este mn dos mezes mais interessantes pela colheita dos fruc- tos; já 86 recolhem bellas variedades de peras, taes como a Bon chretien Wil- liams, Belle de Bruxelles, Seigneur Es- peren, Beurré cVAmanlis, Louise bonne- d'Avranches, Conseiller de la cour, Des deux soeurs, Doyenné blanc, Doyenné steule, Bonne d Ezée, Doyenné du co- mice, Jalousie de Eontenay, Fondante des bois, Triomphe de Jodoigne e muitas ou- tras. Quando se quizer comer todos estes fructos com o agradável perfume que lhes é natural, devem colher-se alguns dias antes da sua completa maduração. A Bel- le de Bruxelles, por exemplo, deixa- da amadurecer sobre a arvore, é uma pêra farinhosa e detestável, mas colhida quinze dias antes da sua perfeita ma- duração é uma pêra de primeira quali- dade. Também neste mez se faz a co- lheita dos pecegos, e se se quizerem comer com todo o seu sabor delicado, devem co- lher-se um ou dous dias antes da sua ma- duração, e se se quizerem com toda a sua belleza deve tirar-se o pello que os cobre com uma escova. Depois de recolhidos os pecogos, devem cortar-se nas arvores os pedúnculos dos fructos, e supprimirera-se os ramos fructiferos que se não poderem conservar para o anno seguinte. E' neste mez a colheita das bolotas, indispensáveis para a nutrição de porcos. Abrem-se as covas segundo as indica- ções dadas, para mais tarde receberem as arvores que têem de se plantar. Viveiros. Se ainda ha a fazer alguns, a estação ainda o permitte, porque ainda existe seiva ; mais tarde já não será oc- casião. E' necessário vigiar os enxertos do mez precedente a fim de obstar a que a seiva comprimida pela ligação não aba- fe o escudo. Devem repetir-se os enxer- tos que não pegaram. Grande cultura. Recolhida uma sea- ra é preciso preparar outra. Os Milhos começam a caminhar para as eiras, e co- meçam a caminhar para os campos os es- trumes destinados aos cereaes de inverno. Debulha dos grãos para semente, e la- voura das terras que devem ser semea- das, O Centeio, Cevada, Aveia, Trigo de todas as castas vão occupar os terrenos que deixaram os fructos do verão. E' neste mez que se fazem as com- pras e vendas dos cortiços de abelhas; são preferiveis os enxames novos. Deve dar-se alimento áquelles que o não têem sufficiente para passar o inverno. E' chegado o momento das vindimas, que devem ser feitas com bom tempo; muito haveria a dizer sobre este ponto, mas nem o logar, nem o espaço que te- mos o permitte. CHRONICA — O snr. .loaquim Ignacio Ribeiro, director da quinta regional de Cintra, pu- blicou n'um dos últimos números do «Ar- chivo Rural» uma noticia sobre a ceifeira JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 447 de Hornsby & Sons, na qual demonstra a economia e bom trabalho que ella faz. Para bem apreciar o valor do traba- lho de aquella ceifeira, apresenta o snr. Ri- beiro a seguinte conta : Conta comparativa da ceifa feita com a cei- feira de Hornsby à Sons, com a executada pela fouce ordinária. CEIFA COM A MACHINA imo 360 120 Jornal de uma junta de bois Jornal de um conductor Jornal de um rapaz para ir despedran- do adiante da machina Juro e amortisação de 6 % de 206i^535 rs., cusfo da machina posta na Gran- ja, 12i^392 rs. ; que divididos por 10,4 dias, tempo necessário para a ceifa de 80 hectares de Trigo, Ce- vada, verdes e Fenos cultivados n'es- ta quinta, dào por dia 1 Reparos da machina, renovação annual da serra ou fouce, e azeite para en- grenagens 2 %, conforme o calculo supra i|l 1 30 reis 10,4 Jornal de trinta homens para a respiga e atadura das paveias, a 280 reis. . 8|!400 SommaRs ITMTÕ 400 Divididos por Ih — 69» — 23c dg o por hectare 1^490 CETFA COM A FOTICE Ceifa por empreitada de 7b — 69' — 29^ a razão de 2^^400 rs. por hectare ou de seis homens a 400 rs. para ca- da hectare 18^460 Jornal de vinte e quatro mulheres para a respiga da mesma superfície, a 140 rs. por mulher 3íÍ!360 SommaRs 21^820 Divididos por 7h — 69* — 23° dão por hectare 2í!835 Em seguida á conta acima, pondera aquelle cavalheiro do seguinte modo os interesses e vantagens que oflferece a cei- fa feita com a machina: « Comparando entre si o custo da cei- fa por hectare com a machina e com a fouce, achamos um saldo a favor da pri- meira de lj$í345 rs. por hectare; verba que multiplicada pelos 80 hectares que se podem ceifar na «Granja», eleva o lucro annual da machina a 107j$í600 rs. Quer dizer, que em dous annos estará o valor da machina completamente amortisado, e pagos em parte os juros correspondentes ao empate do capital n'aquelle tempo ; no terceiro anno só teremos a completar o pagamento dos juros e d'ahi em diante o custo da ceifa por hectare será reduzido a 1}$Í335 rs. em vez de l5§!490 rs., subindo os lucros realisados por este estabeleci- mento com a ceifeira a 120/íOOO rs. Os cálculos apresentados n'esta conta resultam dos seguintes dados obtidos com a experiência da Folha da Calçada: Trabalho da machina no campo da experiência — 0^ — 74^ — 52*' em 58' e 35". Trabalho por dia — 7'' — 69* — 23'' em 10 horas. Tempo necessário para a ceifa de um hectare — l»» — 18' — 36". » — A direcção dos caminhos de ferro portuguezes fez este anno plantações de Eucalyptus ao pé das estações. Foi uma excellente ideia e que merece ser applaudida, porém desejáramos que estas plantações nào fossem tuo limitadas. Se a direcção plantasse arvoredo era toda a margem da via férrea, teria dentro de pouco tempo, e mediante pequeníssima despeza, madeira para diversas construc- ções de que possa carecer. Além d'isso, quanto mais agradável não seria viajar, se houvesse arvores que impedissem os fortes raios solares no verão? Não aconselhamos meramente, mas pedimos para que a direcção proceda na próxima estação a plantações em mais larga escala, e não duvidamos indicar pessoa que se encarregará de administrar esse trabalho sem a minima retribuição. — Se estamos bem ao facto, ha um decreto do governo que determina a rea- lisação de uma exposição annual de seri- cultura no Porto. Segundo, porém, vimos noticiado, tal exposição não será effectuada este an- no. Os motivos são-nos completamente alheios. Sentimos vivamente esta deliberação, porque vemos nella uma prova da pouca importância que se liga ás cousas que mais deveriam merecel-a ! Não é por este caminho que chegaremos a ver a nossa industria levantada do abatimento em que jaz ! 148 — O snr. Eduardo Moser, cujo nome é bem conhecido de todos os sericultores portuguczes, })elo que tem feito para o nosso estado actual sericola, acaba de pu- blicar uma segunda edição do « Guia Pra- tico do Sericicultor Portuguez » . E' um guia extremamente pratico e indispensável a todas as pessoas que se occupam d'este ramo, porque n'elle se en- contram vastissimos esclarecimentos. Nào hesitamos, pois, em aconselhar aos leitores a acquisiçào delle para as suas biblidthecas, e como prova do nosso apreço publicaremos proximamente alguns dos artigos que constituem este tractado- sinho. — O director do « Jardim Botânico » de Coimbra, o snr. dr. Antonino José Ro- drigues Vidal, expediu já este anno para a Madeira duas estufasinhas com trinta Chinchonas succiruhra (Quinas) em boas condições. A Chinchona succiruhra vegeta bem nas nossas possessões e é uma planta de muito valor na therapeutica. — Terá algum dos leitores a Welling- tonia (jif/antea em bom estado sanitário e já com bastante desenvolvimento? K'esse caso pedimos, e muito penho- rados nos confessaremos, informações so- bre a exposiçào, solo e todas as mais condições em que se acha. Kào temos noticia de que se possa aclimar esta famosa Conífera em Portugal. — O snr. António Pinto Cardoso es- tabeleceu na rua de Cedofeita n." 526, um pequeno « Bazar de Plantas ». E' isto uma prova irrefragavel do des- envolvimento que a horticultura vae to- mando no nosso paiz. — Por uma carta particular sabemos que o enxofre teve alguma baixa na Si- cília. Bom é, para ver se os lavradores, podendo obter este producto por um preço mais favorável, se resolvem a ministral-o ás suas vinhas. — O snr. António Francisco Moreira de Sá deu a lume uma segunda edição do « Compendio Elementar de Agricultura » . JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. É uma obrasinha bastante útil e que, segundo temos lido em vários jornaes, es- tá sendo adoptada na maior parte das es- cholas. Remette-se (franco) pelo correio por 170 reis — rua do Barào n.* 43, Lisboa. — No «Tribuno Popular», jornal co- nimbricence, de 20 de agosto, lê-se o se- guinte : Principiou a colheita do Milho nas terras mais altas dos campos dj Mondego. A produc- çào é rcprular nos sítios aonde o Milho foi con- tinuamente rogado. Tamljem já começaram as vindimas. Pelos subúrbios de Coimbra, ha muitos annos que a producçào de cachos nào é tào grande. A chuva que cahiu ha três ?;ínco pintacl:::5 a óleo, e pre- sas á plaxita com um arame, de forma que se não possam destacar ou cahir fa- cilmente ; e caaa uma das laminas deverá ter um numer . o qual deve correspon- der ao numero -ia ir.scripção do catalogo, que ur/e formar de todas as fructeiras que tom nos seus pomares, indicando n'el- le a epocha da maduração e todos os si- gnaes mais característicos ou salientes, que cada ui^i.. das variedades apresenta. O aucíõi da « Maison Rustique » (vol. 152 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. V, pag. 146]^ qucixa-se « da lamentável confusão que reina na nomenclatura das fruetas era França»; porem o « Cours Complet d'A2:riculture » de M. TAbbé Kozier, vol. viii, paj;^. 60-118, obra es- cripta antes de 1793, descreve cento e vinte variedades de peras, apresentando estampas de algmnas, e a pag. 195-215, trinta e nove variedades de maças. Em vista da descripcrio e nomencla- tura feita na citada obra, é evidente que já existia em França antes de 1793 um catalogo das mais notáveis variedades de fruetas. Nós, com um solo magnifico e um clima excellente para produzirmos óptimas fruetas, ainda, infelizmente, em 1870 nào possuímos um catalogo das que se cultivam no nosso paiz ; é isto vergo- nhoso e attesta o nosso atrazo agrícola e proverbial indolência. E' preciso com toda a urgência formarmos o catalogo perfeito das nossas fruetas, para que em todas as nossas províncias se conheça cada uma das variedades pelo seu verdadeiro nome, e para que nào continue a vigorar a anar- chia como até hoje, que cada um dá o nome, que muito bem lhe parece, a qual- quer casta ou variedade, c isto até em pequeníssimas distancias. O meio mais fácil para isto se conse- guir julgo ser o seguinte : — ordenar o governo aos governadores civis, e estes aos administradores dos concelhos, para que obtenham perfeitos fructos das varie- dades que se conservem mais tempo, sen- do remettidos bera acondicionados para Lisboa ou Coimbra, devendo cada ura dos fructos levar o nome por que é co- nhecido na localidade onde foi produzido, e a epocha da maduraçào ; e aquelles que se nào conservam se mandariam modelar em gesso, e photographar em tamanho natural, e depois colorir, mandando ar- tistas d'esta especialidade pelas províncias fazer este serviço, despeza esta mais apro- veitável do que aquella que se tem feito com os que têem ido ao estrangeiro estu- dar silvicultura. Analyse, classificaçào e formação do catalogo com o verdadeiro nome de cada uma das fruetas, seriara fei- tas, ou no « Instituto Agrícola p onde ha professores competentíssimos para este serviço, ou em Coimbra, pelos lentes de botânica, coadjuvados pelo distincto bo- tânico Edmond Goeze. Todas as fruetas seriam photographadas e coloridas, for- mando um « Álbum » dos magníficos fru- ctos do nosso paiz, do qual pela gravura se podiam tirar copias, que illustrassem o «Catalogo Pomologico Portuguez». Se esta minha lembrança for aprovei- tável, muita satisfaçào terá o que muito ambiciona a prosperidade da agricultura do paiz J. DE C. A. Mello e Faro. Casa da Soenga — Lamego . IDULARIUM FDLGENS E' a America a parte do globo em que a vegetaçào é mais rica e mais va- riada ; é ella também que tendo sido mais explorada pelos naturalistas, mais tem enriquecido a horticultura com nu- merosas plantas que pela sua luxuriante vegetaçào são o adorno dos nossos jar- dins. A família das JBromeliaceas, origina- riamonte toda americana, fornece á hor- ticultura um grande numero de espécies ornamcntaes, encantadoras epíphytas, ri- vaes das Orchideas, em que a folhagem representa o principal papel. E 80 as suas flores, consideradas iso- ladamente, são insignificantes, comtudo no seu conjunto, isto é, na sua inflores- cencía, ora em densas espigas, ora em graciosos cachos ou panículas, muitas ve- zes acompanhadas de brilhantes bracteas coloridas, sào bastante bellas para realça- rem a elegância e sumptuosidade da fo- lhagem. Diga-se de passagem que nào é só debaixo do ponto de vista ornamental que as Bromeliaceas merecem a nossa attençào. E' esta família que nos fornece o Ananaz, tào estimado pelos seus delicio- sos fructos e por isso cultivado em quasi JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 153 todas as cidades da Europa, e muitas es- pécies sào, na qualidade de plantas tex- tis, exploradas em grande escala na Ame- rica. O género Nidularium^ criado por Mr. Ch. Leaiaire e pertencente a esta fami- lia, comprehende um pequeno numero de espécies de um alto interesse ornamen- tal. Plantas acaules de porte gracioso, compondo-se de um grande numero de folhas largas, reclinadas e arqueadas, for- mam os Nidiãariums tufos muito elegan- tes, envolvendo por assim dizer os vasos qae os contêem. O Nidularium fulgens, representado na fig. 25, é uma das bellas espécies do género, descoberta no Brazil nas flores- tas dos arredores de Petrópolis, provin- cia do Rio de Janeiro. Como as suas congéneres, é uma planta acaule completamente glabra, formada de numerosas folhas de 0™,5 a O™, 9 de largura e O, "^20 de comprimento, imbricadas em Fig. 25 — Nidularium fulgens. forma de roseta, patentes e recurvadas, de um bello verde carregado, envernizado, e mais pallido na face inferior. Na su- perfície apresentam as folhas um grande numero de manchas espalhadas irregular- mente, de um verde mais escuro. As flo- res, como na maior parte das plantas d'esta familia, nada têem de notável, po- rem estào collocadas na axilla de largas bracteas ou folhas floraes imbricadas co- mo as folhas e de um vermelho vivissimo, que dão a esta planta um esplendor ad- mirável. A sua cultura é muito fácil ; vasos pe- quenos, terra leve de urze e poucas ou quasi nenhumas regas durante o inverno, sào as principaes condições para a sua boa vegetação. Como as suas folhas são muito aper- tadas, deve haver o cuidado de quando se regar, extrahir a agua que fica entre ellas, para evitar uma demora muito pro- longada no coração da planta, o que lhe pode comprometter a vida, fazendo-lhe apodrecer o centro. Alem desta soberba espécie, encon- 154 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. tram-se mais, no nosso mercado, o Nidu- Jarhan Innocenfi e o X. Meyenãorffi, espé- cies de eguacs mcreciraentos pela belleza da sua folhagem. Os NidiãariumSj em geral muito mais rústicos que as Billhergias, podem como ellas servir para ornamento de salas. J. Casimiro Barboza. A RAINHA SANTA ISABEL Cora esta cpigraplie não cuidem os leitores que lhes vamos descrever as gran- diosas festas com que os moradores de Coimbra costumam solcmnisar o nnnivcr- sario da Santa Rainha, nuilher de cl-rei D. Diniz; que lhes vamos abrir uma pa- gina do bispo do Porto D. Fernando Correia de Lacerda para verem como ci- la foi a Compostclla visitar o grande apostolo S. Thiago, ora a pó, ora a ca- vallo, dando vista aos cegos, e saúde aos lázaros, que lhe sahiam ao caminho; ou como subtrahiu ás vistas de seu marido a grande somma de ouro que levava no regaço, para os operários da sua muito querida egreja de Santa Clara de Coim- bra, transformando-o em delicadas rosas, suas flores predilectas. Seria muito para ver um jornal de horticultura transformado cm Fios San- ctorinn. Mas é que a rainha Santa Isabel sym- bollsa hoje na « Flora Portuense » uma das mais bellas e mimosas flores que a enriquecem, e é por isso que passamos a dar uma breve noticia dos seus predica- dos ; mas não nos levem á conta de sa- crilégio a ideia de santificar uma flor, porque nào nos consta que o Summo Pon- tífice anathematisasse, ainda, o jardineiro italiano, que se lembrou de baptisar uma linda CavtiJl/a com o nome La Madon- na, que vertido em vulgar quer dizer — Nossa Senhora — A /Saíitissima Virgem. A Rainha Santa Isabel é uma Camel- lia, como poucas, obtida de semente n'es- ta cidade pelo proprietário d'este jornal, haverá cinco annos. Não é uma Camel- lia vulgar ; as suas formas de uma regu- laridade irreprehensivel coUocam-a na ca- thegoria a que os francezes e belgas cha- mam perfection — perfeição. E' de for- ma de ranúnculo de uma imbricação per- feitissima. A pura neve não a excede na alvura; para nós é uma flor de primeira ordem; e para as bellas será um adorno inapre- ciável. Que encantos não tem uma Ca- mellia Iranca arfando sobre o peito da donzella que doudeja uma walsa? Que belleza quando guarnece uns cabellos lou- ros, castanhos, ou de azeviche? Camellias hrancas não ha poucas, mas poucas ha que possam exceder a delica- deza, a frescura e a perfeição da Rainha Santa Isabel. Camillo Aureliano. o AQUÁRIO Os jardineiros inglezes excedem os das outras nações na cxcellente cultura de muitas plantas, e a razão é terem ma- gníficos Aquários, como confessam os próprios belgas e francezes. Eífectiva- mente grande numero das maiores glo- rias do reino vegetal não se podem criar satisfactoriamente sem um Aquário em forma. Em artigos successivos tenciono des- crever as plantas que devem ser cultiva- das cm estufas desta ordem, nas quaes não devem apparecer outras alem das aquáticas, com excepção dos Fetos e Or- chideas, que vão magnificamente quando não haja estufa especial para ellas. Muita gente em Portugal, quando se lhe falia de um Aquário, julga que é al- gum d'esses vasos de vidro com alguma planta mergulhada em agua e alguns pei- xinhos. Triste ideia de um d'estes edifícios! JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 155 Toda a estufa envidraçada em roda e com tecto de vidro pode servir; porem, se for feita de novo, não deve ter grande altura, já por não ser preciso, já porque convém mais aos vegetaes que n'ella de- vem ser criados. No centro deve fazer- se um tanque de 1°\25 de altura ou mais, e em rigor de não menos de 7™,00 de diâmetro. A forma mais elegante é sem duvida a circular, e se a estufa for qua- drada ou quadrangular, os cantos servem para Aquários pequenos, cuja profundi- dade pode ser muito menor. O melhor material para estas con- strucções, por ser o mais aceiado, é a louza, devendo ser bem justas e betuma- das as juntas, a fim de vedarem a agua; o fundo também deve ser impermeável. No sitio mais conveniente far-se-hao duas entradas para dous tubos de ferro, que irão em volta do Aquário^ pela parte de dentro, na altura de 0™,50. Estes tubos servem para aquecer a agua a fim de a ter em uma temperatura de 25° até 35° centigrados, que é a mais conveniente para as plantas. Em roda, pela parte de dentro, de- verá haver uma bancada de louza de O™, 10. Abaixo da superfície do tanque basta que esta bancada seja de O™, 25 de largura. Deverá alem d'isso haver umas tripodes de ferro para ter sobre ellas va- sos de diversas alturas. Os tanques nos cantos, se os houver, não precisam does- tes apparelhos. Devo notar que quanto mais largura tiver o Aquário mais prosperarão as plan- tas que n'elle se cultivarem. A estufa deve ter ventiladores na par- te mais alta, bem como na parte inferior, os quaes serão feitos de modo a abrir e fechar á vontade; e tanto o tecto como os lados devem ter cortinas de qualquer fazenda, uma vez que seja branca e trans- parente, quero dizer, que deixe passar a luz, tal como o algodão branco ou outra. O passeio em volta do tanque deve ser de tijolo, que é limpo e conserva certa humidade muito conveniente, pois tanto elles como toda a estufa devem ser todas as manhãs borrifados com agua. Antes de se tractar de collocar planta alguma no Aquário, devem os tanques ser cheios de agua duas ou três vezes, com intervallo de dous ou três dias, a fim de tirar toda a possibilidade d'ella ficar calcarea ou salitrosa. Para isto, assim co- mo para mudar a agua de vez em quan- do, devem os tanques ter duas torneiras, uma era cima, outra em baixo ; e onde mais conveniente for, deve-se fixar um cano de ferro dentro do tanque, suspen- so, quasi tocando o fundo. Quando houver plantas no Aquário, renova-se a agua abrindo a torneira su- perior e deitando a agua nova pelo tubo abaixo. D'esta forma a agua nova, que é mais fria, ficará por baixo e não che- gará ás plantas senão depois de ter aque- cido, o que é muito conveniente. A agua tirada não deve exceder a um terço do volume total, a fim de não arrefecer as plantas de todo. O melhor systema ado- ptado é tirar todos os dias a agua precisa para borrifar os passeios e para outras necessidades internas da estufa, conser- vando-se assim a agua sempre boa e fres- ca. A melhor agua é sem duvida a de chuva. A ventilação deve ser regular, de forma que o ar se conserve sempre hú- mido e quente. D'este modo teremos prompta a casa. Resta tractar dos inquilinos. Lisboa. D. J. Nautet Monteiro. STEPHANOTIS FLORIBUNDA E' uma bella planta esta rica trepa- deira, pouco conhecida ainda em Portu- gal. O seu mimo torna-a por excellencia uma flor de senhoras. Poucas a podem egualar quer para houquets, quer para adornos de mesa, ou outros usos em que se empregam flores cortadas. O Stephanotis florihunda pertence á familia das Asclepiadeas, mas necessita de uma estufa fria para ser cultivada. As suas flores, em forma de cachos, bicancas, 156 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. parecendo como de cera, offerecera ura gracioso aspecto. Ainda em Portugal a não vimos em flor, em razào de por em quanto só haver plantas pequenas, novas ; mas para o an- no esperamos ter esse gosto. Esta trepadeira é excellente para con- juntamente cora alguns Clerodendrons co- brirem o interior das estufas, porque pro- duzem uma sombra de que as outras plan- tas se agradam. A sua cultura é extremamente fácil. Terra gorda, negra, misturada com uma quinta parte de areia fina do rio, sem lo- do, e outra quinta parte de terra leve (de folhas podres), eis o terreno que lhe con- vém. Durante a sua crescença pode ser regada duas vezes por semana com uma dissolução de estrume de boi, na razão de uma medida de quartilho de estrume fres- co para 6 canadas de agua. G. H. Delaforce. CLEMATIS JACKMANI O género Clematis, um dos mais im- portantes e mais bera caracterisados da familia das Ranunculaceas, encerra perto de 150 espécies espalhadas n'uma vasta extensão do globo, com especialidade nas regiões temperadas. Era geral as Clematis são plantas ti-e- padeiras, mas não volúveis, de folhas op- postas, ordinariamente divididas, cujos pe- ciolos se enrolam como gavinhas em vol- ta dos vegetaes ou de quaesquer outros corpos que lhes ficam próximos. As suas flores solitárias ou diversamente grupadas no vértice dos ramos e desprovidas de co- roUa, apresentam um cálice de 4 a 8 se- palas coloridas e petaloidcs, ás quaes se segue um numero indefinido de estames, c de carpcllos uniovulados. O fructo c for- mado por uma reunião de akenios, nume- rosos, sesseis e ordinariamente terminados por uma pluma setosa e prateada, forma- da pelos estylctes consideravelmente des- envolvidos depois da fecundação. Muitas das espécies d'este género, em razào das grandes dimensões do seu cá- lice petaloide e riqueza do seu colorido, são plantas decorativas de primeira ordem e como taes cultivadas nos jardins. E' do Japão que toem sido introduzi- das as espécies mais ornamentaes, as quaes por succcssivos cruzamentos entre si têem produzido novas variedades muito inte- ressantes, já pelo seu vigor e rusticidade, já pela belleza e abundância das suas flo- res. A Clematis Jackmani representada na estampa opposta é devida a \\x\\ destes cruzamentos, operado por Mr. Jackmani, entre a magnifica Clematis lanuginosa e as Clematis viticella var. Hendersonic Cle- matis viticella var. atroruhens, servindo a primeira espécie de porta-sementes. Esta magnifica planta, que fez sensa- ção no mundo horticola a primeira vez que appareceu e que obteve um certifica- do de mérito de 1.* classe, conferido pela Sociedade de Horticultura de Londres, é uma vigorosa trepadeira muito rústica, que floresce abundantemente durante to- do o verão. As suas floi*es, de uma intensa cor violeta-purpura, de aspecto avelludado, e que apresentam um diâmetro de 12 a 15 centimetros, compoem-se de 4 a 6 sepa- las obovaes arredondadas, cujo centro é de um tom mais vermelho e venoso. Os foliolos que acompanham as flores são ovacs, de grandeza mediana e levemente avcHudados. Como dissemos, a sua floração é mui- to abundante, e não ó raro ver-se, em exemplares fortes e bera desenvolvidos, desabrocharem centenares de flores ao mesmo tempo. E' em razão desta abun- dância de flores que esta interessante tre- padeira se torna da mais alta importân- cia pelo partido que delia se tira na de- coração dos jardins. Cobrindo caramancheis, formando cor- dões ou ruas de grinaldas, serpenteando em lindas espiraes em volta de pilares ou coluranatas e guarnecendo vasos em suspensão, a Clematis Jachnani é de uma belleza surprehendente quando durante um bello sol de verão patenteia brilhan- temente as suas enormes flores. Clemâtis Jãcírniãni JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 157 Cultivada em bordaduras com outras plantas, formando harmoniosas combina- ções, ou mesmo alastrada no chào era graciosos tapetes de folhagem, em que sobresahem os brilhantes esmaltes das suas flores violetas, produz egualmente a Clematis Jackmani eíFeitos arrebata- dores. A sua cultura é muito fácil; terra le- ve e areenta, não obstante vegetar bem em todos os terrenos, e abundantes re- gas em annos muito quentes, são as con- dições essenciaes para que a Clematis Jackmani apresente uma vigorosa vege- tação. Com estes predicados : rusticidade, flo- ração abundante, e pelas decorações a que se presta esta interessante planta, torna-se a sua cultura muito recommen- davel a todos os respeitos. J. Casimiro Barboza. A REGA E O MODO DE A SUBSTITUIR A rega é muito necessária em um paiz temperado como o nosso, e muito mais ainda para as lavouras que não são feitas com os meios mechanicos, únicos apropriados a substituir a sua falta; sem uma ou outra cousa, havendo um verão sem chuvas, perdem-se todas as semen- teiras altas e mesmo algumas baixas. Este anno foram grandes os prejuizos provenientes de uma constante seccura. Muitos lavradores hão de lamentar amar- gamente a sua negligencia em não se te- rem prevenido com apparelhos de irriga- ção, pois que a falta d'esta colheita lhes ha de ter diminuido os meios que teriam de applicar para isso ou para os instru- mentos apropriados a uma lavoura me- lhorada. Nem todos, porem, se lembram que haja uma forma de lavoura que possa evitar em parte a calamidade de uma estação secca, e por isso repetimos o que já n'este jornal escrevemos n'outra occa- sião : a que a sementeira profunda em terreno limpo e calcado por meio de cy- lindros, e feita com semente que tenha principiado a germinar um ou dous dias antes de ser semeada, fará vir a planta com duplicada força de v(!getação, esta abrigará o solo dos raios solares, e quan- to mais plantas houver maior será a pro- babilidade de obter um proclucto em grão e palha, que abastadamente compensará estes cuidados. » Pela forma irregular das nossas se- menteiras do Milho vemos a prova do que acabamos de dizer ; isto é, observan- do se os pés fortes e robustos, vê-se que estão enterrados a O™, 10 de profundida- de, e que os pés rachiticos apenas têem O™, 03. A grande porção de semente que se perde deixa o solo completamente des- abrigado, e essas poucas plantas dardeja- das por um sol ardente não podem vin- gar. O lavrador deve entender que a mui- ta vegetação augmenta a humidade tanto no campo como na floresta, por isso que as arvores são conductoras á terra e ab- sorventes da humidade que anda na at- mosphera; e que as fontes provenientes d'esta filtração do arvoredo são mais con- stantes do que os depósitos no interior d'ella, provenientes de chuvas. Com estes principies comprehenderá que semeado o seu campo em linhas direitas ás brisas geraes do local, as plantas receberão em toda a sua haste a humidade dos orva- lhos, e que quantas mais houver maior será a intercepção d'esse ar corrente e maior a protecção mutua contra os raios solares em occasião de seccura. Na esta- ção húmida é bem evidente que esta ag- glomeração será prejudicial, sendo então conveniente que o ar quente rodeie ou atravesse essas carreiras de plantação. Não será necessário commentar o be- neficio das regas a toda a plantação an- nual e só sim recommendar a todo o la- vrador para que o calcule segundo o es- 158 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. paço de terreno que tem, devendo capi- talisal-o para ver quanto lhe é convenien- te gastar nos apparelhos necessários para isso; por exemplo, se julgamos augmen- tar com a rega a producçào que temos, em mais de 10 carros de Milho, teremos o capital de 200 carros ou 3:600^000 reis; se gastarmos 1:800^000 reis, faze- mos um emprego que nos rende 50 p. c. As regas, porem, nao suo somente boas para os ccreaes, mas também para a formação de pastos ; a engorda do gado é uma industria que nos oíferece um rico porvir. Ella nos ensinará a variar de culturas, a usar de outros adubos menos custosos de obter e a utilisar muitos ter- renos empregados só na cultura de matto, ou a servirmos-nos d'el]e como manti- mento altamente nutritivo do mesmo ga- do. Por estas razoes entendemos que o lavrador deve gastar o que poder, alem das cifras apontadas acima, nos appare- lhos de rega e depósitos de estrumes li- quides, os quaes também servem para regas de pastos e cultura de cereaes. O proprietário que tiver terrenos al- tos, os quaes na maior parte do paiz ja- zem completamente estéreis, deve tractar de os plantar com Pinheiros, Eticaly- ptiis ou outras arvores que se dêem no local. Os Pinheiros de construcçâo e mastreação sào semeados e transplanta- dos ; nos terrenos onde não ha senão pe- dra, esta se quebrará a tiro, e enchendo- se de terra as covas que ficarem, plantar- se-ha um ou mais pés, deixando- se cres- cer só os que estiverem nas melhores con- dições. Isto seria grande trabalho, no en- tender dos que não calculam ; um mas- tro de navio custa 200 a 400;$000 reis; um Pinheiro de construcçâo valerá de 50 a 100;^000 reis. Alem d'isto, d'esta plantação vem, como já dissemos, abun- dância de aguas perennes, o que é em si sufficiente gratificação de todos os traba- lhos, havendo ao mesmo tempo mais le- nlias, esti'umes, pastos, etc. Esse pedre- gulho, passados annos, cobrir-se-ha de ex- cellente terra e de vegetação, e tudo n'el- le serão elementos úteis que se podem hoje bem apreciar em todas as antigas mattas onde houve esses cuidados. O proprietário pode conseguir dos seus criados ou dos seus caseiros que es- tas plantações de arvoredo se façam, pa- gando-lhes de dous em dous annos um tanto por cada pé a maior que por elles seja plantado nas suas horas vagas. As- sim gradualmente enriquecerá o seu solo mais ordinário, e obterá, logo que o ar- voredo esteja crescido, agua de bica, que de certo estimará mais do que o uso dos apparelhos para a extrair. A. DE La Rocque. BIBLIOGRAPHIA BREVE NOTICIA SOBRE O EUCALYPTUS GLOBULUS E A UTILIDADE DA SUA CULTURA EM PORTUGAL. POR J. D. DE OLIVEIRA JÚNIOR. Temos diante dos olhos o opúsculo com a epigraphe mencionada, modesto na sua forma, "mas grande pelo alcance que encerra. Diffundir os conhecimentos úteis é tão meritório como invental-os. A inven- ção sem a vulgarisação pouco aproveita á humanidade. Por vezes o auctor do opúsculo tem em artigos de jornaes advogado a causa da silvicultura em Portugal, tão pobre e desprezada ! Não tem sido baldados os esforços do illustrado e proficuo mancebo; e nem as boas causas se perdem. A vulgarisação do Eucalyptus glohu- lus é tão adequada ás condições climaté- ricas e do solo do nosso paiz, que grande riqueza pode aqui crear, povoando-se de mattas a maior parte das serras e colli- nas escalvadas, e dos baldios estéreis, em que abunda o território portuguez, com grave prejuízo da saúde publica. No espaço de 16 a 18 annos se pode. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 159 por este meio, transformar o solo de tris- te e desnudado em risonho e de vegeta- ção luxuriante. O que falta é um esforço de todos para a consecução de tão grande fira. O opúsculo do snr. Oliveira Júnior presta bom serviço ao paiz ; e é para de- sejar que seja lido por todos que prezam o desenvolvimento da silvicultura e agri- cultura nacionaes. Em estylo claro e dicção verdadeira- mente portugueza, ahi se descreve a for- ma e qualidades do Eucalyptus glohulus e a profiucidade da sua plantação ; sem que haja vislumbre de utopia na descri- pção dos benefícios que desta arvore se podem auferir, porque, ao lado da des- cripção botânica, apresenta o auctor fa- ctos e exemplos práticos nacionaes e pe- regrinos, que confirmam as vantagens descriptas. E por isto tanto mais se recommenda a leitura do opúsculo do snr. Oliveira Júnior. Continue o intelligente mancebo nos seus trabalhos em favor da silvicultura, arcando incessantemente com a prover- bial inércia e rotina ; e que este opúsculo lhe sirva de incentivo a novos commetti- mentos ; e oxalá que muitos dos nossos agricultores saturem o espirito com o bom ensino que ahi apparece. Murça. Basílio C. de A. Sampaio. CALENDÁRIO DO HORTICDLTOR OUTUBRO Jardins. O entretenimento dos jar- dins é difficil n'este mez em que as folhas começam a cahir. As hastes das plantas vivazes que acabaram a sua florescência devem ser cortadas ; os canteiros estru- mados. Continuam-se na primeira quinzena d'este mez as sementeiras das plantas que devem florescer na primavera próxi- ma, e que já mencionamos no mez ante- rior ; devendo accrescentar-se a Calandri- nia umbellataj Campânula pentagonale^ CoUomia coccinea, Gaura Lindheime- riana, Gilia capitata, Godetia rubicun- da, Gypsophila elegans, Matricaria men- diana, Silene pe7idtda, e Thlaspi violá- cea. Pode n'este mez continuar-se a plan- tação das cebolas e raízes que menciona- mos em agosto e setembro. Hortas, Desapparecem n^este mez as culturas das plantas de primor, como To- mates, Melões, Batatas, Pepinos e Abo- horas, para dar logar aos trabalhos de cavas indispensáveis para a cultura das Couves, Favas, Alfaces, Cebolas e Alhos. Deve empregar-se todo o cuidado na es- trumação dos quadros que se cavarem n'esta estação, ou seja para as culturas immediatas ou para as futuras. Os terre- nos destinados á cultura das Cenouras devem ser estrumados abundantemente, e com muita antecipação. Semeia- se e planta-se n'este mez: — Alhos, Espargos, Cerefólio, Chicória fina do estio. Espinafres, Morangos, Alface, Salsa, Rábanos e Rabanetes. Arvoredo. N'esta epocha as arvores, privadas dos seus fructos, despojam-se também das suas folhas. E' este o mo- mento, diz Mr. A. Dumas, « segundo ex- periências feitas, o mais opportuno para fazer-se a poda de toda a casta de arvo- res, e aquelle que eu emprego na Quinta modelo ; os bons resultados que tenho ob- tido levam-me a recommendar a poda n'esta epocha aos jardineiros e proprietá- rios. » E em vista das noticias de um pratico tão habilitado, nós também a re- commendamos aos nossos agricultores. ]S['este mez devem colher-se os fructos de inverno, aproveitando o tempo secco, e com preferencia de tarde, depois que tenha cessado o calor. Não ha grande vantagem em apressar a colheita d'estes fructos, antes se ganha em os obter mais volumosos e de melhor qualidade, dei- xando-os na arvore até á queda das fo- lhas. Se houver chuvas, dever-se-ha proce- der ás plantações de Eucalyptus nos sitios em que os frios não sejam muito rigorosos. i60 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. Viveiros. Os trabalhos d'este mez sao os mesmos do mez anterior. Graxde CULTURA. Continuam as se- menteiras dos cereacs de pragana. La- vram-se profundamente as terras destina- das ás colheitas da primavera, e as ter- ras de pousio. Os gados começam a ali- mentar-se de pastos seccos ; o bom lavra- dor deve fazer sufficiente fornecimento de forragens para o inverno. N'este mez ainda se compram colmeias. E' occasiao de reconduzir aquellas que tinham ido á pastagem. Deve dar-se ainda nutrição ás colmeias, para passarem o inverno. De- vem reunir-se as que se mostrarem fra- cas, porque vale mais a qualidade do en- xame, do que a quantidade. ARADO VOLTEADOR, DE AIVECAS MOVEIS, PARA TERRENOS MONTANHOSOS Estes arados [úg. 26) são egualmente próprios para terrenos montanhosos ou pla- nos ; preparam a terra apropriada ás ma- chinas de semear e segar, abrem os sulcos todos para um lado sem deixar regos, e com quanto sejam todos de ferro batido, não dei- xam por isso de ser muito leves e simples. Voltam-se nas cabeceiras dos campos, do mesmo modo que os arados communs, e com o movimento de uma manivella dá-se volta rápida á ponta do arado, assim co- mo ás duas aivecas, entrando uma no seu próprio logar, em quanto a outra se levan- ta da terra. O cutello também se mo- ve por meio de uma alavanca, firmando- se na sua respectiva posição. O rodeiro da frente, quando se trabalha em monte, tem vim jogo egualmente ao alcance do trabalhador, para se mover nas voltas, procurando o angulo de declive, disposi- ção que permitte que o corte da terra seja sempre uniforme. Estes arados exigem muito pouca for- ça do tracção, trabalham com mais regula- ridade, e são mais fáceis de manejar, do que outro qualquer arado da mesma classe. Construem-se, n'este mesmo systcma, arados cora as aivecas e cabos mais pe- quenos. Temos recebido as melhores informa- ções possiveis d'estes arados de duas aive- cas moveis, dos lavradores que aqui era Portugal fazem bom uso d'elles, e portanto aconselhamos a sua acquisição aos nossos agricultores, certos dos bons resultados que hão de colher. A pratica lhes demons- trará a boa razão que nos assiste para os aconselhar. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 161 — Damos publicidade neste numero a um artigo sobre pomologia, do qual é auetor o snr. Joaquim de Carvalho Mello e Faro. E' uma cultura que ainda está bas- tante descurada no nosso paiz, e que se- ria aliás de immenso proveito. Causa lastima visitar alguns pomares. Feitos por pessoas que nào têem o menor conhecimento theorico ou pratico de arbo- ricultura, offerecem o aspecto de planta- ções a que nào preside regra alguma. Vangloriam-se, porem, seus donos de pos- suir excellentes pomares ! Se lhes per- guntamos as variedades que cultivam, a resposta será a de todo o homem igno- rante, que a tudo responde — não sei! E' um facto lastimável e que só pode ser remediado pela presente geração, que, mais esclarecida e reconhecendo os males de seus antepassados, deve procurar emen- dal-os. A respeito da formação de um « Ca- talogo Pomologico Portuguez», queremos dizer, das fructeiras que sâo cultivadas no paiz, permitta-nos o snr. Mello e Faro que digamos que a sua ideia seria de ex- trema utilidade; comtudo parece-nos que nem o Instituto Geral de Agricultura, nem os lentes de botânica de Coimbra pode- riam cooperar para este estudo. Este trabalho só pode ser feito por es- pecialistas e no nosso paiz nào conhece- mos nenhum com essas habilitações. Era mister, pois, para realisar o fim desejado, que fossemos visitados por algum pomo- logo estrangeiro. Já que tocamos em pomares, seja-nos licito assignalar aqui o do nosso prezado amigo, o snr. conselheiro Camillo A. da Silva e Souza, que é por certo um dos que está em melhor ordem. Todas as plan- tas têem o seu nome escripto em rótulos de zinco, alem de um rotulosinho com um numero aberto a punção, que corres- ponde á numeração de um catalogo. Se todas as pessoas que fazem plan- tações procedessem d'esta maneira, evi- tar-se-hia um futuro labyrintho na no- menclatura. Mau é que pensemos tào pou- co no futuro ! No « Jardim Botânico » de Coimbra já existe uma boa collecção de arvores fructiferas e todas estão munidas dos res- pectivos rótulos, o que sem duvida se de- ve ao seu assiduo jardineiro principal, o snr. Ed. Goeze. No « Horto Agrícola » do Porto pou- co se pode fazer debaixo do ponto de vista scientifico — ha muitas plantas e pouco espaço. Agradecemos ao snr. Mello e Faro o offerecimento de garfos de fructeiras que faz (vide pag. 151) aos nossos leitores, e estamos certos que muitos se aproveitarão da amabilidade d'este benemérito cava- lheiro. — A exportação de gado no mez de agosto foi muito grande. Pela barra de Lisboa sahirara 1:092 bois, e pela do Porto 2:806. D'estes últimos, 180 foram para a Irlanda e o resto para Ingla- terra. — Como os leitores verão pela carta que abaixo publicamos, a direcção da companhia dos caminhos de ferro por- tuguezes vae proceder a uma plantação de Eucalyptus nas linhas, com a qual muito lucrará a companhia e a arbori- cultura do paiz. Eis a carta a que nos referimos : Lisboa 5 de setembro de 1870. Snr . redactor. Na chronica do n." 9 (setembro) do seu bem redigido jornal vem algumas observações sobre a plantação de Eucalyptus pela direcção dos ca- minhos de íerro portuguezes, lastimando que es- sas plantações fossem tão limitadas. Permitta- me V. dar-lhe conhecimento do verdadeiro esta- do d'este assumpto. Por instancias do snr. Francisco Rodrigues Batalha, bem conhecido amador de horticultura e a quem o paiz tanto deve por seus valiosos e desinteressados serviços na introducçào de plan- tas e arvores úteis á industria, etc, o conselho de administração da companhia approvou uma proposta da direcção em agosto de 1869 para a plantação de alguns exemplares do Eucalyptus globulus nas linhas. Fez-se a acquisiçào de uns mil pés, que se distribuiram e plantaram á roda das estações, para assim terem maior cuidado da parte do pessoal, e ao mesmo tempo, sempre de- baixo do cuidado e direcção do mesmo snr. Ba- talha, SC estabeleceram duas sementeiras ou pe- pinieres nos pontos escolhidos, fornecendo o snr. Batalha as sementes do Eucalyptus. Já este anno se estão passando para vasos uns 4:000 exemplares para se distribuírem pela linha na próxima estação. 162 Assim vê V. que a dirocçâo da companhia está plenamente convencida da utilidade d 'estas plantações e que as proscf^ue com vip^or, cunti- nuaudo o snr. Batalha, como até aqui, a diriíjir com o maior desinteresse e cuidado, este impor- tante trabalho, ao qual a actual direcção presta todo o possível apoio. De V. etc. J. Vieira. E' digna de todo o louvor a direcção pelo seu intellií^ente procedimento, e nâo menos o snr. Francisco Rodrigues Bata- lha, que lhe presta generosamente a sua coadjuvação. E', porem, mister fazer saber aos em- pregados que têem a seu cargo olhar por estas plantações, que nunca cortem os ra- mos lateraes d'estas arvores em quanto não tenham 3 ou 4 annos (vide a « Bre- ve noticia sobre o Eucalyptiis c/lohulus e a utilidade da sua cultura em Portugal »). Na ultima plantação nào se attendeu a este ponto essencial, e o resultado será que os Eucalyptus plantados não se po- derão sustentar, em razão do seu grande desenvolvimento não ser proporcional com a força do caule. Oxalá que as plantações na via férrea augmentem todos os annos, e indicamos, alem dos Eucali/ptus, como exccllentes arvores para esse fim, as seguintes : Acá- cia melanoxylon. Acácia dealhata, Plata- nus orientalis, Casuarina leptoclada e Ca- suarina quadrivalis. — A exportação de vinho pela barra do Porto, desde o principio d'este anno até 31 de agosto, foi de 2G:971 pipas. — No principio do mez passado tive- ram logar em Braga quatro conferencias agrícolas feitas pelo distincto agrónomo e chiraico agrícola, o snr. conselheiro João Ignacio í'erreira Lapa. Como introducção, diz o « Bracaren- se», mostrou o snr. Ferreira Lapa a uti- lidade d'estas conferencias, já manifesta- da evidentemente nos paizes em que ellas têem sido adoptadas para difiFusao dos co- nhecimentos agrícolas. Apresentando era rápido esboço o es- tado lamentável da nossa agricultura, fez sentir a necessidade do seu desenvolvi- mento, como base única e solida para a nossa regeneração social, politica e finan- ceira. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. Com dados estatísticos, com provas irrefutáveis, mostrou este cavalheiro o es- tado e extensão da agricultura do nosso paiz em relação á parte inculta e desapro- veitada. N'um paiz pequeno e n'um paiz que não pode ser senão agricultor, é real- mente para lamentar que apenas esteja entregue á cultura uma quarta parte da área total! Oxalá que estas proficuas prelecções façam germinar o progresso agrícola n'a- quella província, onde os recursos natu- raes estão muito longe de ser aproveita- dos com a vantagem que lhes permittiria a sua riqueza, se se díspozesse de meioa mais aperfeiçoados. Sabemos que o snr. Ferreira Lapa foi durante a sua estada em Braga muito bem acolhido, e nós de aqui lhe enviamos os nossos parabéns pela maneira como desempenhou a sua nobre missão. — Com este mesmo fim partiu para a província de Traz-os-Montes o nossso ami- go o snr. Luiz Augusto Martins de An- drade. Os vastos conhecimentos de que dis- põe este cavalheiro, tornam-o digno do melhor acolhimento. O snr. Martins de Andrade visitará Mesãofrío, Regoa, Vílla Real, Bragança, Murça, etc, etc. — Em seguida damos publicidade a duas cartas que nos foram dirigidas, e agradecemos aos seus auctores os esclare- cimentos que nos dão. Se se conseguisse aclimar a Wellingtonia gigantea no nosso paiz, muito teria a lucrar a jardinagem e a silvicultura. Eis as cartas a que alludimos : Snr. redactor. Ha n'esta quinta 2 exemplares da WelltngtO' nia gigantea, semeados aqui mesmo ha o annos, e têem hoje 1^.,1Z de altura, estando com vigor e boa apparencia. Se estiverem no caso de merecer a attenção de V., terei muito gosto de o ver n'esta sua casa. Sou com particular estima, De V. etc Adolpho Teixeira Pisto Basto. Quinta do Espirito Santo (vulgo « Grades ver- des«) 8 de setembro de 1870. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 163 Snr. redactor. N'um dos últimos números do seu excellente jornal (pag. 148; vi que desejava ter alguns es- clarecimentos sobre a cultura da Wellingtonia gigantea. Esta arvore foi por muito tempo favo- rita minha, porque na realidade é um dos mais bellos colossos do reino vegetal ; porem íiz tan- tos ensaios, mas sem êxito, que por fim desalen- tei e nunca mais tornei a cuidar d'ella. Hoje, porem, por mero acaso, encontrei n'um jornal inglez, o «Journal of Horticulture and Cottage Gardener», algumas instrucçòes sobre a cultura da Wellmgtonia gigantea. Vou dar-lhe a traducção d'ellas e poderá communical-as aos seus leitores, se assim o julgar conveniente. « Existe em Bicton (Inglaterra) uma certa porção de terreno plantado da W. gigantea. A terra até a profundidade de 0'",30 foi tirada pa- ra formar monticulos de In>,20 aproximadamente, e sobre cada um d'estes monticulos foram plan- tados nove exemplares. A collocação era muito desfavorável, porque d'esta maneira as arvores estavam em taes condições que nào podiam obter outro sustento alem de aquelle que os monticulos continham. Uma das plantas tinha apenas al- guns pés de altura ; outra mostrava symptomas de mau estado sanitário o as outras sete apre- sentavam bom aspecto. Mediam aproximadamen- te 7 metros e este anno ha ideia de se lançar mais terra sobre os monticulos para os tornar maiores». De V. etc. Lisboa 12 de setembro de 1870. P.DX Costa. — Lembrando aos nossos leitores e soli- citando-os para que façam uma visita ao es- tabelecimento horticola do snr. José Mar- ques Loureiro, parece-nos que cumprimos com o nosso dever, porque actualmente as plantas acham-se em soíFrivel estado e tornam-se merecedoras de inspecção. A estufa dos Fetos está bonita ; os Ca- ladiums ostentam seu rico colorido, e as Palmeiras apresentam vigorosa vegetação. Este estabelecimento, com quanto ain- da não esteja a par dos principaes estran- geiros, é o mais rico do paiz e tem me- lhorado bastante ultimamente, sobre tudo na educação das plantas, ponto que era n'outro tempo completamente abandonado. Entrada franca todos os dias. — Eis as noticias que recebemos de Traz-os-Montes, do nosso solicito corres- pondente, o snr. dr. Basilio Constantino de Almeida Sampaio : Começaram mais cedo do que se costuma as vindimas no paiz vinhateiro. A grande secca da estação assim o permittiu, porque o sol mirrava as uvas e as reduzia a passas. A colheita deve ser pequena. Estes dias tem cabido agua de mansinho; se nào continuar, ha-de contribuir muito para o completo sazonamento da uva e para augmento do vinho. A colheita dos Milhos é escassa nos terrenos em que não houve regas. Começa-se a revolver a terra para a semen- teira do Centeio, do Trigo harhella, das Ceva- das, dos Nabos e das hervas que hão-de alimen- tar os gados. Estas ultimas chuvas devem ser propicias ás sementeiras. O estado das Oliveiras não é gei-almente tão bom como no anno passado. A safra ha-de ser pouco abundante. Com os calores do estio seccaram muitas Amo- reiras que se tinham plantado no anno passado. Felizmente o gosto pelos arvoredos começa a desenvolver- se n'esta província. Houve este anno grande abundância de amên- doas. E' pena que seja tão pequena a plantação das Amendoeiras ; se se desenvolver, grande ren- dimento podem auferir os cultivadores d'esta ar- vore. Nenhum ramo de agricultura pode dar tanto rendimento como as arvores. Murça 7 de setembro de 1870. Basílio G. de A. Sampaio. — Recebemos e muito agradecemos uma amostra do fabrico feito com as fi- bras da Boehmeria tenacíssima, que o snr. Francisco Rodrigues Batalha teve a deli- cadeza de nos oíFerecer. Está patente no estabelecimento do proprietário d'este jornal para as pessoas que a desejarem examinar. — Algumas pessoas têem-se-nos quei- xado de que as sementes das Acácias nascem com muita difficuldade. Eífecti vãmente, algumas, em razão da grande dureza do seu tegumento, custam muito a germinar. Para evitar este inconveniente é útil maceral-as durante 2 ou 3 dias em uma solução de sulphato de cobre. E' este o processo seguido por differentes horticul- tores e o melhor que temos encontrado na nossa pratica. — A cortiça que exportamos para In- glaterra tem sido muito apreciada alli pa- ra trabalhos rústicos, taes como : grutas, cascatas, estufas de Fetos, vasos, caixas para peitoris de janellas, etc, etc. «The London & Lisbon Cork-vrood Company Limited » está fazendo avulta- das importações. 164 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. — Uma dama portugueza acaba de obter uma excellente pêra de sementeira que fez ha cerca de 12 ou 14 annos. Já mandamos fazer um desenho e no próximo anno nos occuparemos d'e8ta Pe- reira portugueza. Nào temos a honra de conhecer a il- lustrada obtentora de tào precioso fructo, porem congratulamos-nos de ver que ha entre nós senhoras que se interessam pelo desenvolvimento hortícola. Assim o seu numero fosse maior... Esta bella variedade chama-se D. Ignez. — Acha-se exposta n'e8ta redacção uma excellente estampa colorida da Dah- lia arbórea, com que nos obsequiaram MM. Ch. Huber & C.'« A julgar pela es- tampa, a flor é ainda mais bella do que Buppunhamos. Tanto melhor para os amadores que desejarem fazer a sua acquisiçào. — MM. John & Charles Lee (Hara- mersmith, London, W.) acabam de lan- çar no commercio uma variedade de Avenca, cujo nome é Adiantum capillus Veneris Magnificum, e, segundo aquelles senhorer affirmam, é esta variedade mais bella e mais rústica do que o A. Farleyeu' se que iá se encontra no nosso merca- do. -^ O A. Magnijicum custa 7(51000 reis. — Segundo lemos n'um artigo de Mr. J. B. Weber, publicado na « Revue Hor- ticole», pag. 271, a Bcehmeria tenacíssi- ma, de que nos occupamos no numero antecedente, já é cultivada em grande es- cala em França. Refcrindo-se Mr. Weber a esta plan- ta têxtil, que se achava n'uma exposição horticola ultimamente realisada em Dijon, falia assim : « Notava-se uma planta bas- tante interessante, e exposta por Mr. de Malartic; era a Bcehmeria tenacíssima, vulgarmente chamada Ramié ou Urtiga de Java. Os specimcns das fibras e do tecido expostos assoguram-lhe, pela bel- leza e modicidade do seu custo, um gran- de futuro. O expositor cultiva-a já em grande escala nas planícies de La Grau, nos su- búrbios de Marselha, onde obtém resul- tados muito satisfactorios, e segundo nos asseveram, faz três ou quatro cortes por anno. > Estamos certos de que os ensaiadores da Bcehmeria tenacíssima encontrarão en- tre nós o mesmo bom êxito e n'essa per- suasão folgaremos de ter que registrar brevemente os seus nomes. — Consta-nos que o snr. A. de La Rocque, cujo nome ó já bem conhecido dos nossos leitores, tenciona emprehender a publicação de um «Catalogo» ou antes de um «Tractado» sobre machinas agrí- colas, o qual, vendido por um preço ra- zoável, possa entrar no casal do mais mo- desto lavrador e diífundir os conhecimen- tos de uma das principaes partes da agricultura progressista — o machinis- mo. Oxalá que tão útil quanto necessária publicação venha a realisar-se, e logo que conheçamos o plano da obra nos apressa- remos a communical-o aos leitores. No emtanto, desde já saudamos o louvável pensamento do seu auctor, que tantos ser- viços tem prestado ao paiz, introduzindo todas as machinas mais aperfeiçoadas de que se faz uso no estrangeiro. — Mr. Jean Sisley deu n'um dos úl- timos números da o Revue Horticole » a seguinte formula para o fabrico de tinta indelével : — Tome-se uma garrafa de tinta commum e em seguida compre-se em qual- quer drogaria alguns grammas de sul- phato de cobre. Deitar- se-hão na garrafa dous bocados do tamanho de avellãs, que se deixarão dissolver, e depois agitar-se- ha fortemente a garrafa. Por este processo terão os nossos lei- tores tinta indelével, indispensável a todo o horticultor, e o seu custo não excederá a 30 ou 40 reis por frasco. E' mister lavar bem com vinagre os rótulos de zinco antes de se fazer uso d'elles. — Acha-se no prelo o catalogo n.° 7 do estabelecimento horticola do snr. José Marques Loureiro. As pessoas que o de- sejarem possuir poderão soUicital-o de- pois do dia 15 do corrente mez. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 465 BRUSSA E O MONTE OLYMPO. SEUS BANHOS E AGUAS MINERAES, VEGETAÇÃO QUE REVESTE E ORNA A REGlIO O Olympo de Mysia, nas costas da Bi- thynia, em boa parte vestido de florestas, coroado de neve muitos mezes do anno, e sem nunca a perder de todo nas anfra- ctuosidades mais elevadas da serrania, le- vanta-se em magestosa pyramide com o duplicado vértice que o termina, até attin- gir a altitude de 2:235 metros sobre o ni- vel do mar. A 305 metros assenta-se-lhe na encosta a cidade de Brussa, a capital na Ásia do império turco, magnifica pe- las mesquitas e minaretes, pelos sumptuo- sos túmulos dos sultões, pelo bem provido basar, caravanserai e bezenstein que pos- sue, pelo typo todo oriental que a distin- gue, e magnifica sobre tudo pela formosa região que em torno domina. O basto plantio da Amoreiraj que ao avisinhar-se da cidade primeiro apparece ao viajante, denuncia desde logo a importância que alli tem a cultura e o fabrico da seda, industria, como a do algodão, pela qual se assignala a região entre todas as do império turco na Ásia Menor. As rochas plutonicas, o granito, o gneiss e mais matéria eruptiva de base fel- dspathica, formam o grande esqueleto do monte Olympo, o qual se ergueu levando encostadas nos flancos as camadas meta- morphicas de mármore branco, as de ou- tro calcareo, e as do grés rubro terciário que alli se observam. E n'estas camadas ultimas da formação geológica a oeste do Olympo e junto a Brussa, que surgem as muitas e variadas aguas mineraes da re- gião, a qual abunda alem d'isso em co- piosas nascentes da melhor agua com- mum. Sahindo ao sul de Brussa entra-se no Ghéukdéré ou valle celeste, por onde se pode seguir até ao vértice quasi da ser- rania, avistando-se a meia hora de mar- cha e em caminho traçado á beira de um abysmo o amphitheatro de rochedos que alli se levantam vestidos pela espessa sombra de florestas seculares, e divisan- do-se também em distancia o lago Nabu- Ihani. Uma hora depois chega-se ao pri- meiro alto-plauo da serra, o qual tem ao 1870-Vol. 1.' sul immensa muralha de rochedos, e dei- xa contemplar á direita o valle celeste em toda a extensão que elle occupa, á esquer- da os contrafortes da montanha, que se prolongam até ao monte Arganthonius, avistando-se o mar no extremo horisonte. Com outra hora de subida consegue-se alcançar o ponto mais elevado da serra, donde a vista se alonga por quanto ella o permitte fazer no vasto paiz da Ásia Me- nor. Fizemos esta visita ao monte Olympo nas melhores condições de uma commoda, instructiva e aprazivel digressão, graças sobre tudo á feliz opportunidade que para isso nos deram as relações com um cava- lheiro muito conhecedor das cousas orien- taes, muito instruído a outros respeitos e do melhor tracto, o secretario da embai- xada da Rússia, o snr. Coumani. Attrahiu- nos um para o outro mais em especial o amor das plantas, na sciencia das quaes elle é versado, tendo adquirido quanto ás da região em que reside desde muitos annos ao serviço do governo do seu paiz, um extenso conhecimento. Foi-nos, alem d'Í3So, do mais benévolo auxilio, sendo, como é, muito versado nos usos e costu- mes do paiz, e manejando a lingua turca, como se fora a sua própria. A autocracia russa sustenta em Constantinopla custosa embaixada, provida de pessoal numeroso e bem retribuído, e que se distingue parti- cularmente pela escolha e qualidade dos empregados que a formam, em harmonia tudo com a importância do serviço a que se destinam, sendo como são taes embai- xadas a representação antecipada de um poder e dominio, que faz a aspii'ação con- stante do governo respectivo. O embai- xador era então o general Ignatief, muito conhecido entre nós por serviços que nos prestou na China, e pelos quaes põe ao peito condecoração portugueza que muito merece. Cavalheiro também o mais esti- mável e verdadeiramente amigo dos por- tuguezes. O nosso amigo Coumani ainda não havia feito a digressão a Brussa e ao Novembro— N.' ti. ÍQ6 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. monte Olynipo ; anhelava por occasiào de a fazer, e naturalmente com pessoa que Bympathisasse com os motivos que para isso principalmente tinha, ou partilluissc das emoções que elle alli ia buscar. Jul- gou conseíT^uil-o na nossa companhia, e então combinou-se tudo para destinar á expedição o tempo preciso, e providenciar sobre quanto a podesse tornar o mais pro- ficua. Não será sem interesse o fazer co- nhecidas as noticias que n'esta excursão alcançamos, e por isso as vamos referir na ordem dos próprios apontítmentos que então redigimos. De Mudania, na costa d'Asia, onde se desembarca para seguir a Brussa, a cam- pina que se atravessa para alli chegar é região como as nossas da Videira e da Oliveira, as quaes egualmentc a povoam. Apparece promiscuamente plantada a/imo- reira, que se cria no meio do outro arvo- redo sempre baixa mas abundante. Em pequeno ramilhete que no transito nos fora lançado á carruagem, também fomos re- conhecendo pelos Orchis, típartium, e mais plantas em flor (Jue continha, as da nossa Flora, c a analogia das duas regiões. Che- gando a Brussa, a vegetação ostenta-se o mais pomposa. No prolongamento da encosta, abaixo já da cidade e na campi- na adjacente, a Amoreira faz uma plan- tação continuada, cuja folhagem vista por sobre a copa do arvoredo, é como um grande manto de verdura que veste e abriga o valle e a baixa da montanha. Povoam as immediaçoes de Brussa, ar- vores e arbustos espontâneos, que a jar- dinagem não disporia melhor para o seu aformoseamento. Apparece frequente o Cereis siliquastrum (Olaia\ crescendo ras- teiro e fazendo matto, o mimoso Rhus co- tÍ7ius (Cabelleira de Vénus), o Ehus co- riaria (Sumagre), a Psoralea palaestina, o Paliurus aculeata, o Medronheiro, a Amoreira sylvestre, o Carvalho, o Ceitis australis (Lodão), o Castanheiro, e de es- paço a espaço brilhando pelo contraste, pelo branco aveludado das folhas, o for- moso Cotoneaster. Com isto, avistavam-se por toda a parte as áureas flores do Hi/pericum, fa- ziam matto as Roseiras, enliavam-se nos mais arbustos as Clematis, a fragrantis sima Lonicera (Madre-silva), vestiam o campo as Campanulas, os Calistegiums, os Erodiums, os Geraniums. Não faltou a mostrar-sc o Osyris alba, o Cannabis, o Poterium sanguisorha, a Aquilegia, (Her- va pombinha) ; e mais especiaes á flora local se encontravam a Urtica pilidaria, a Onosma Tournefortia, o títachis orienta- lis c macedonica, a Platantera hljlora, as- sim como junto ás raizes das espécies de que são parasitas, a Orohanche cruenta e a Philipoía cterulea. No caminho de Tschekirgué tivemos ainda occasião de reconhecer o Mellandrinm praiense, e a Crucifera tão bem caractcrisada pelos fru- ctos, como é a Farsetia clypeata. Fetos eram todos os da pátria lusitana; não faltava o Adiantum capillus Veneris (Avenca), o Scolopendrium ojficinarum (Lingua cervina), o Cetcrach oj/icinariim (Douradinha), o Pteris aquilina (^Feto fê- mea), o Asjolenium acutum, o Polypodium viãfjare (Polypodio) e mais algum Nephro- dium. Esta nossa herborisação havia já co- meçado no hotel Loshi, no qual pousamos chegando a Brussa, e onde desde logo nos foi submettido a exame um ramilhete pouco antes colhido em digressão aos su- búrbios de Brussa. De formosas flores, como podiam ser apanhadas nas mimosas culturas dos jardins, não foi diíficil alli reconhecer o Spartiiim junceum, o delica- do Gallium sylvestre, as vistosas Belleva- lia comosa c micrantha, o Cynoglossum pictum, um Buphtalmum; e ajudados do «Specilegium florce Rumelicaj et Bithyni- cai», de Grizebach, de que fôramos pro- vidos, podemos reconhecer a trepadeira e bella Asclepidea, o Cynanchum triste, de que trouxemos sementes, com as quaes existe já introduzido o novo hospede em nossos jardins. A ultima revelação fez as delicias do nosso amigo Coumani, que não havia ainda encontrado nas suas digres- sões a espécie, cujas flores tanto avultavam no ramilliete pela delicadeza de suas formas. A visita que nos patenteou as bellc- zas de Brussa, teve logar em maio, quan- do a natureza mais brilha nos seus sorri- sos da primavera, quando se podia off'ere- cer alli melhor á nossa contemplação. Cul- tura artiflcial de jardim nenhuma vimos, nem a cidade as precisa, sendo os seus ^OBNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 167 contornos, todos elles, como são, um con- tinuado jardim. Antes, porem, de passar ao que nos permittiu ver a ascensão ao Olympo, seja-nos licito dizer alguma cou- sa das aguas mineraes de Brussa, reser- vando para outro logar noticia a este res- peito mais cii'cumstanciada. Em geral abundam as aguas em Brus- sa. Ha a nascente que corre e alimenta o grande lago em Bonar-bachi, logar que pelo aprazivel fora escolhido para reunião e recreio dos habitantes, onde não falta o café, o narguilhé, o Medoa ou o cómico ambulante, nem o Derviche ou pregador das praças, assim como não faltam ou- tras distracções próprias aos usos orien- taes. Existem as nascentes que vão formar o arroio de Ghéukderé, o qual á ponte co- berta que o atravessa, separa o bairro turco do bairro arménio ; e na parte mais oriental, já fora da cidade, encontrara-se as aguas mineraes que surgem do calca- reo, do schisto, e do grés rubro terciário da região, para formarem as diversas fon- tes que alimentam outros tantos estabele- cimentos de banhos. Todas estas aguas de Brussa, assim como as outras e torren- ciaes que descem do monte Olympo, vão a final reunidas formar o rio Niloufar qi;e lhe corre na base, dando logar ás passa- gens o mais pittorescas, especialmente nas pontes que o atravessam pela cidade. Os banhos Eski-kaplidjá ou antigos banhos quentes são constituidos por uma sumptuosa e antiga construcção byzanti- na ornada interiormente de vistosas colu- mnas ; as aguas com 36.° R. de tempera- tura, são ligeiramente alcalinas e no gé- nero das de Taeplitz na Bohemia. São for- necidas de aguas similhantes em Brussa os banhos de Boignezel, os de Vani, de Ya-ni-Han e de Tschékirgué. Não differem das precedentes, senão por se aproximarem mais da agua com- mum, as aguas de Kárá-moustaphá, as quaes gozam todavia na localidade de cre- dito especial no tractamento de algumas doenças. São egualmente quentes. As aguas de Gneuzayasma são fér- reas e particularmente usadas em banho local nas doenças de olhos. Mineralisa-as o sulphato de ferro, e nascem com 31.** R. de calor. Os banhos Yeni-kaplidjá ou banhos novos existem na mais sumptuosa con- strucção das d'este género em Brussa, con- strucção que foi feita no tempo do pode- roso Suliman em memoria do uso que fez das aguas este sultão. O ediíicio consta de vasto Djámékiam (vestiarium), do Soou- klouk (tepidarium), e do Hammam ou casa do grande banho, a qual casa é ser- vida de vasta piscina, sendo tudo feito de magnifico mármore e ornado de mosaicos de porcelana da Pérsia. Ha aos lados do Haramam casas de menores proporções egualmente construidas, e servidas de pis- cinas mais pequenas, para banhos de immer- são e emborcação, para os de vapor e es- tufa (Boghoukluk, sudatorium). As aguas, são salinas . e levemente sulphydratadas- correm dentro do estabelecimento em fon- te perenne, e nascem com 66.° R. de tem- peratura. Para destemperar esta agua e para os mais usos, corre também no esta- belecimento a agua commum e fria com proporção egual á da mineralisada, repu- chando mesmo em vistosa fonte loçfo á en- trada do estabelecimento, no Djámékiam (vestiarium). O mesmo género de agua mi- neral existe nos banhos de Kainardjá, mas ahi entra esta agua já destemperada do modo conveniente para os usos, misturan- do-se antes com agua fria de outra pro- cedência. Os banhos, porem, mais sulphy- dratados da localidade, e nesse sentido com mais reputação, são os de Kukurtluj as aguas têem também na origem a tem- peratura de 66." R. e para os usos ou as deixam esfriar nas tinas ou as misturam com a agua fria, Ushoa.—fConiinua). Dk. Bernardino António Goimes. o AQUÁRIO VICTORIA REGIA Esta planta aquática, pertencente á 1 bados, onde cobre os rios com suas ma- familia das Nympheas, é natural de Bar- 1 gnificas folhas e surprehendentes flores. i68 Foi-lhe dado o nome de Victoria Regia (Real Victoria), por ser digna d'esse no- me. Decididamente ha muitas plantas com folhas grandes e flores de um tamanho quasi que fabuloso, como a Rajjlesia, po- rem que juntem n'uma mesma planta o grandioso e o bello, talvez somente nesta «Rainlia do reino vegetal», que bem me- rece sel-o. Tenho visto folhas de 1 metro de diâ- metro e mais, e flores que andam por 0'",40 de largo. Vou dar uma succinta descri pçào d'ella, a fim dos leitores que nào tiverem a fortuna de a ver era todo o seu esplendor, como eu a tenho visto, poderem fazer uma ideia, embora vaga, desta planta aquática para os animar a ensaiar a sua cultura. As folhas nadam sobre a agua como as da NTjmphea alba, tào vulgar em Por- tugal, de um bello verde realçado com mna orla encarnada, que lhe dá uma ma- gestosa apparencia. Esta orla é a folha virada para cima cousa de dez centíme- tros, como os tachos de barro que se usam n'este paiz para usos domésticos, e como a parte inferior da folha é encarnada, faz que a orla também o seja; esta orla é certamente uma providencia da natureza para melhor evitar a submersão d'ellas. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. Do centro da planta nascem as flores, que no feitio se assemelham ás da Nymphea alba, porem muitas vezes maiores, sendo brancas, rosadas no centro. Os botões, quando estuo para abrir, sào maiores que um ovo de abestruz. Vale bem a pena fa- zer todo o esforço para cultivar esta linda planta, que será um verdadeiro ornamento de todo o jardim em Portugal, onde te- nho a convicção de se poder fazer flores- cer ao ar livre com uma leve protecção dos ventos nortes, e dos raios do sol du- rante o estio. Esta planta deve ser plantada no cen- tro do aquário, sobre um outeiro de terra, antes sobre o barrento do que sobre o areeuto, ficando o collo da planta quasi ao nivel da superfície da agua; e para que este outeiro se não desmorone, cobre- sc com vides enliadas. Este outeiro deve ter toda a largura possível, a fim das gran- des raizes acharem o sustento conveniente. Sombra e humidade atmospherica são essenciaes para a sua cultura. Permittam os meus caros leitores que faça uma digressão ás índias Orientaes em procura de outra gloria vegetal, que lhes apresentarei no numero seguinte. Lisboa. I). J. Nautet Monteiro. LIVISTONAADSTRALISrfi.M.; Ha cerca de trinta annos para cá -o numero das Palmeiras cultivadas nas nos- sas estufas tem augmentado de maneira assombrosa, tanto mais notável por isso que antes dessa epocha apenas se conhe- ciam n'ellas alguns representantes d'esta familia — a Eeal entre os vegetaes, como llumboldt lhe chama. Era principalmente á grande difiicul- dade de fazer chegar as suas sementes d Europa, sem que perdessem a faculda- de de germinar, que se devia attribuir a sua raridade entre nós. Mas, finalmen- te, este obstáculo foi vencido, graças a um feliz acaso, que não hesitamos em tor- nar conhecido aqui, pois que elle deve scrvir-nos como uma espécie de introduc- ção para a Livistona aimtralis, de que tencignamos occupar os nossos leitores. Durante a permanência de Allan Cun- ningham, botânico do rei de Inglaterra, na Austrália, foram por elle enviadas muitas plantas vivas para o jardim de Kew. Os que as encaixotavam, um dia, em vez de cacos guarneceram o fundo dos caixões com os fructos d'esta Palmeira. Os fructos chegaram em estado de germinação e não só produziram vários pés d'esta espécie, mas este facto suscitou a ideia de fazer chegar do mesmo modo á Europa grande numero de outras espécies de Palmeiras de difíerentes partes do globo. A Livistona australis (Corypha aus- tralis) é uma d'essas poucas Palmeiras pertencentes ao continente da Austrália, onde cila se encontra na costa occidental até perto de 38" de latitude austral, ás vezes clevando-se » uma altura de 100 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. i69 pés com um tronco de um pé de diâme- tro. O género Livistona, de que se conhe- cem 10 espécies (Vide «Synopsis Palma- rum» auctore H. Wendland) compõe-se de plantas polycarpas e hermaphro ditas, cujas flores masculinas têem seis estames e cujo ovário trilobado se transforma n'u- ma baga ou drupa monosperma. A estipe ora é columnar, lisa e elevada, e n'esse caso frequentes vezes grossa e como bul- bosa na base, ora curta e defendida pelas bases persistentes das folhas. Estas ulti- mas são luzentes, largamente flabellifor- íVAJiimFJU Fig. 27. — Livistona australis. mes, mais ou menos orbiculares, e os pe- ciolos armados de grossos espinhos (Vide «Manuel de TAmateur des Jardins» por Decaisne e Naudin, tom. iil, pag. 640). A planta de que nos occupamos e cuja estampa damos junta (fig. 27), é sem con- tradicção a mais bella e maior de todas as espécies e a experiência dá-a como per- feitamente rústica no clima de Portugal, onde a jardinagem de ar livre promette tornar-se tão preponderante, que a utili- dade das estufas será quasi nulla. A Livistona australis conhecida pe- los inglezes com o nome de «Cabbage- 170 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. Palm» é muito estimada no seu paiz na- tal. De suas folhas ainda não desenvolvi- das fabricam os indigenas pannos de ele- vadíssimo preço. Estas mesmas folhas, em estado ainda menos adiantado, dao um le- gume muito apreciado. Aproveitando, por extremamente op- portuna, a occasiào que se nos offerece, não terminaremos esta curta noticia so- bre a Livistona, sem recommendarmos aos leitores um pequeno numero de ou- tras espécies de Palmeiras, que oíFerece- cem cgualmente todas as probabilidades de uma aclimaçào fácil nos jardins. No Palácio das Necessidades, S. M. el-rei D. Fernando tem reunido um gran- de numero de representantes d'esta famí- lia, plantados quasi todos ao ar livre, e ao vêl-os pela primeira vez ficamos ainda mais admirados da sua bella vegetação, por haver enti-e elles alguns que julgá- vamos em extremo delicados para resistir aos invernos de Lisboa. Alguns bellos exemplares, por exemplo, uma magnifica planta da Livistona australis, encontram- 6c também no Lumiar, na quinta do snr. duque de Palmella, e na verdade podiam rivalisar com as que tínhamos visto em alguns jardins da ilha de S. Miguel, on- de davam á paizagem um aspecto próprio dos paizes intertropicaes. Mr. de Martius, intelligente monogra- pho das Palmeiras, fixa em 15° centigra- dos a temperatura media annual extrema em que estas plantas podem viver ao ar livre. A experiência tem comtudo demon- strado que algumas se acommodam com uma temperatura notavelmente baixa, isto é, 11° centígrados, nào descendo abaixo de 9" no inverno. Segundo o que communicou Mr. Nau- din á o Academia das SclenciasB de Fran- ça, devemos crer que uma temperatura multo mais baixa pode ser supportada sem perigo por diversas espécies de Palmei- ras. Eis o que elle diz a este respeito : fDurantc uma tempestade que teve lo- gar em CoUioure, nos Pyreneos de leste, começou a neve a cahir aos 21 de janei- ro e continuou sem interrupção durante 44 horas. As Oliveiras c as Larangeiras Boffreram immenso. As Palmeiras apresentaram uma re- sistência extraordinária. Esmagadas com o peso da neve, ficaram espalmadas como hervas sobre a camada que as separava da terra. Esta neve empastada debaixo das Pal- meiras tomou a forma de gelo. Ficaram n'este estado por um período variando de 3 a 12 dias, depois dos quaes começou a derreter a neve e as Palmei- ras tomaram o seu porte normal. D isto deprehendese que as Palmei- ras podem resistir ao frio e parece que a sua presença em «pllocene strata», não prova que o clima em que viveram era tropical.» Vejamos agora o que estas Palmeiras, bastante rústicas, exigem ainda alem d'es- tas condições climatéricas bem modestas, para que se dêem bem entre nós. Eis em poucas palavras as suas exi- gências : Grande abundância de agua duran- te a vegetação, e os raios directos do sol. Alem d'isto, será conveniente dar lhes ura solo bastante rico de húmus, mas um tanto argilloso, e abrigal-as dos ventos do nor- te durante o inverno. Também exigem um certo tempo de repouso, e portanto, durante este período, é mister dar-lhes a menos agua possível. Em Elche, no sueste da costa de Hes- panha, onde existe uma grande floresta de Palmeiras (Phcenix dacti/lifera) ,eguaes ás quaes poucas se encontram nos trópi- cos, passa actualmente um rio atravez da floresta e as Tamareiras toem buracos em volta d'ellas com mais de dous pés de pro- fundidade cheios de agua. Sendo a cultura das Palmeiras feita debaixo d'estas condições, poderemos go- zar da belleza d'este grupo de plantas, a mais ornamental e a mais gloriosa do rei- no vegetal. Concluindo, damos uma lista de al- gumas espécies que recommendamos aos amadores para os seus primeiros ensaios. Areca Baiieri, Hook fil., Nova Zelân- dia; Kentia supida, j\Iart., Ilha Norfolk; PfijcJiosperma iSenforihia, ^liq., (Seafor- tliia elegans, R. Br.) Austrália; Pfj/chos- perma Alexandrce, F. Muell., Austrália; Livistona anstralis, R. Br., Austrália; L. chinensis, Mart. (Latania horhonicaj JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 171 Lam.) China; Sahal Adansonij, Guerns., Carolina, Florida; /S'. Palmetto, Lodd., Ca- rolina, Florida; Cliamarops humilis, Linn., Europa aust. , Africa bor. Esta espécie mar- ca o extremo limite no norte da familia. Chamcerops hystrix, Fras., Geórgia, Flo- rida; C. excelsa, Thunb., China aust.; C. Fortunei, Hook., China bor. ; C. arho- rescens, Mart., pátria duvidosa; C. Ghies- hreghtiij Mart., México; Rhaphis jlabelli- formis, Ait., China. Também sfe cultiva uma variedade de folhas variegadas. Ph(B- nix dactylifera, Linn. ; não se conhece com certeza a pátria da Tamareira, cora quanto seja pela sua cultura a Palmeira mais espalhada no globo. Phoenix recH- nata, Jacq., Cabo da B. Esperança; Mi- crophoenix decipiens, lai a.uà., pátria?; Co- cos campestris, Mart., Brazil; C. Roman- zoffiana, Cham., Santa Catharina ; Juòcroí spectabilis, Humb. e Bonpl., Nova Gra- nada. Coimbra— Jardim Botânico. Edmond Goezb* ESTRATIFICAÇÃO Esta palavra, que na chimica exprime a exposição de diversos corpos á sua ac- ção respectiva, dispondo-os em camadas umas sobre outras, foi emprestada á hor- ticultura para indicar uma sementeira p)r o - visoria, feita egualmente por camadas ; operação de grande vantagem em toda a casta de sementes, porque activa a sua germinação, principalmente nas sementes de invólucros córneos, como sao as das Aveleiras, Amendoeiras, Nogueiras, Coní- feras, e ainda nas sementeiras de Casta- nheiros, Carvalhos, Cratagiis, e em to- das as sementes graúdas. Esta operação pode fnzer-se quer em vasos, alguidares, caixões, barricas, quer no chào. Espalha-se uma pouca de terra ou areia na altura de dous centímetros, e sobre ella acama-se uma porção de se- mente, sobre esta semente espalha-se a terra ou areia sufficiente para a cobrir, bastando apenas ^ outros dous centimetros de altura; sobre esta nova camada de terra, acama-se outra nova porção de se- mente; sobre ella lançam-se outros dous centimetros de terra ou areia, e assim por diante, até se acommodar toda a semente disponível. Se a estratificarão é feita em vaso ou alguidar, deve haver todo o cuidado em conservar-lhes sempre os buracos livres, para dar logar ao escoamento das aguas superabundantes, o que se consegue por meio da drainagem, ou còllocaçno de pe- quenos cacos ou pedrinhas no fundo dos vasos. Se a estratificação é operada no chão, as camadas superiores devem ir es- treitando em relação ás inferiores em for- ma de* «cone», para que as aguas plu- viaes possam escorrer facilmente. Toda a estratificação feita em vasos, alguidares , caixões , ou barricas , poda acommodar-se em lojas ou cavas, á som- bra, conservando-se, porem, a terra ou areia apenas húmida, para evitar o apo- drecimento das sementes, que causaria ir- remediavelmente a superabundância de agua. E sendo feita ao ar livre deve co- brir-se cora ura carapução de palha, não só para obstar aos estragos que lhe cau- saria a chuva demasiada, mas para re- servar a sementeira dos grandes frios, que são sempre prejudiciaes á prompta germinação. Como nem todas as sementes podem germinar ao mesmo tempo, nem com o mesmo desenvolvimento, e algumas ha que só germinam passados dous annos, a es- tratificação é sempre vantajosa, não só porque dá logar a ir separando as plan- tas que successivaraente vão germinando, para serem coUocadas nos viveiros; mas porque occupando um limitadíssimo espa- ço, deixa vagas terras, em que hão de fazeí-se as plantações, para serem entre- tanto aproveitadas em outras culturas. Sementes ha, como as da Nogueira, do Castanheiro commum, do ^sculus hip- pocastanum ou Castanheiro da índia, as da Pavia e outras, cujas raizes princi- paes se enterram perpendicularmente, sem lançar raizes lateraes; para estas a es- tratificação é sobre modo conveniente, porque facilita uma operação previa qu« 172 JORNAL DE HOBTICULTUEA PRATICA. lhe é muito proveitosa, e que consiste no quebramento d'essa raiz principal, com a unha do dedo poUegar e index, operação que demora o alongamento d'essa raiz, e a força a lançar raizes latcraes, o que é de sumnia vantagem, quando essas arvo- res tenham de criar-se em viveiros para serem depois transplantadas. Mas se n'es- tc caso ha razão plausível que justifique esta operação, casos ha em que cila lon- ge de ser proveitosa, tornar-se-hia preju- dicial, como, por exemplo, se essas plan- tas tivessem de sahir da estratíjicação para irem immediatamente formar um bos- que, uma alameda, uma aleia ; n'este caso a conveniência seria o deixar as raizes in- tactas, para que se enterrem no solo o mais profundamente possivel, pois de ahi lhes provirá um desenvolvimento mais vi- goroso; e ainda que expostas sejam aos abalos violentos dos vendavaes, encontra- rão n'essas raizes profundas um elemento de resistência, que não offerecem as raí- zes espalhadas á superfície do solo. Conhecendo por experiência, em vas- tas sementeiras de Camellias que temos feito, as vantagens da estratificação, não hesitamos em a recommendar aos nossos horticultores, que poderão executal-a com as instrucçoes acima dadas. Camillo Aubeliano. UVA MOSCATEL PRETA DE HAMBURGO Na chronica do primeiro numero d'e3- te jornal, fallando-se de uma exposição hortícola em Hamburgo, disse-se que ti- nham sido premiadas differentes uvas e entre ellas a que nos serve de epigraphe e de que nos vamos occupar. Esta uva tem sempre obtido os pri- meiros prémios e sido objecto dos maio- res elogios em todas as exposições em que tem apparecido, ganhando em 18Õ7 o pre- mio instituído pela Sociedade Pomologica de Londres para a melhor uva que tives- se o sabor do Moscatel e que fosse obtida de sementeira no paiz ; e ultimamente na Exposição de Horticultura de Hamburgo ganhou em companhia de outras varieda- des o premio de honra, offerccido pela rai- nha Victoria ao melhor expositor de uvas, como se disse na chronica d'este jornal. Reproduziremos na sua íntegra a des- cripção que d'ella faz Mr. Lemaire, ex- trahida do relatório que acompanhava o premio de 1857. Eil-a: o Um dos cachos apresentados pesava duas libras e meia; tinha amadurecido n'uma estufa ordinária, aquecida somente antes da sua raaduração, nas noutes mais frias. As sementes, que são de bom tama- nho, são ovaes; a pelle preta e fina des- pcga-se facilmente da polpa, a qual ó ten- ra, muito suramarenta, com um rico sa- bor assucarado e bello aroma de Moscatel. Cachos colhidos n'uma Videira cul- tivada e um outro que tinha amadurecido n'uma estufa de Pecegueiros, e que esta- vam maduros ha muito tempo, e por con- sequência, já alguma cousa murchos, fo- ram julgados ainda como mais assueara- dos, tendo um sabor mais agradável e o perfume mais forte que os outros.» A Sociedade, registrando o mérito d'es- ta nova uva, e dando-lhe, como já dis- semos, um premio de honra especial, de- clarou que era um uva de «primeira qua- lidade» e que possuía predicados ainda não vistos em nenhuma das variedades cultivadas até então. Para aquelles dos nossos leitores que ainda não conhecerem a planta, dir-lhes- hemos que na quinta do proprietário d'es- te jornal ella tem produzido soberbos ca- chos, não soflfrendo nada com os mais frios invernos, e que porisso podem af- foutamente obter de aquelle estabeleci- mento os exemplares que necessitarem pa- ra guarnecer as suas ramadas ou mesmo os muros dos seus pomares. Estamos certos que todos os que a conhecem já, de visu e de gustu, concorda- rão comnosco que de todas as uvas co- nhecidas e próprias para sobre-mesa, 6 a melhor e a mais agradável ao paladar. A. J. DB Oliveira e Silva. ys^^ JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 173 BROMDS SCHRADERI Esta planta forraginosa, da grande fa- mília das Gramíneas, é originaria da Ame- rica septentrional, e foi inculcada aos agri- cultores por Mr. Lavalhée como forragem de grande producção. Até os principies de abril de 1867 era totalmente desconhecida no concelho de Coimbra e suas immediações. Nessa epocha foi semeada na matta do Chou- pal, administrada pela direcção das obras do Mondego, no local denominado o «Ser- rado daLarangeira». O Bromus schrade- ri tem o caule grosso e as folhas bastan- te largas, sendo comtudo tenro e muito procurado pelos animaes ; reproduz-se por semente e também por hastes enraizadas e vegeta vigorosamente no principio do inverno, quando a maior parte das ou- tras Gramíneas forraginosas não vegetam. Esta planta augmenta consideravelmente as qualidades botjrosas do leite. O gado tanto vaccum como cavallar come-a magnificamente e engorda com fa- cilidade, sendo sustentado com ella, A semente assemelha-se muito á Avena sa- tiva (Aveia) e pode empregar-se em ra- ções ao gado cavallar. MM. Lavalhée e Chatim dizem que nos porcos dá ella um óptimo resultado. O Bromus nasce em todos os terre- nos, e porisso é uma forragem impor- tantíssima por poder ser semeada nas ter- ras altas, em pinhaes, olivaes e até nas montanhas, onde cahe alguma neve; em climas frios, onde esta for em pequena quantidade, dá-se melhor do que nos de- masiado quentes. A melhor epocha de ser semeado é, na opinião de uns, no fim de março, e de outros, no outomno, quando cahem as pri- meiras chuvas; mas a nossa experiência tem- nos mostrado que a opinião dos se- gundos é mais vantajosa n'este clima. O processo tanto do preparo do terre- no como o de fazer a sementeira, é egual ao de qualquer outra forragem, tendo-se somente em vista o espalhar a semente bastante rara, de sorte que as sementes fiquem, termo médio, a distancia de 15 centímetros umas das outras. É muito conveniente ceifar o Bromus, depois de ter nascido, duas ou três ve- zes, logo que tenha 0™,25 de altura; pois assim desenvolve-se melhor e mais de- pressa. No primeiro anno a sua produc- ção é insignificante e só no segundo anno é que começa a dar uma producção regu- lar. A planta conserva-se sete annos na terra. Nos terrenos do monte rebenta no ou- tomno ; dá 4 ou 5 cortes e uma camada de semente em annos húmidos, e nos an- nos seccos pode contar-se com três cor- tes; em terrenos que podem ser regados no verão dá sete a oito cortes e duas ca- madas de semente, que não devem ser apanhadas em seguida, mas sim com in- tervallo de três meses ; por exemplo : uma em junho e a segunda nos meados de se- tembro. Querendo-se tirar ainda maior vanta- gem, deve-se em outubro espalhar-se-lhe por cima um pouco de estrume muito miúdo. A palha dá também boa alimen- tação para o gado em geral. O Bromus é digno de ser cultivado pelos nossos agricultores, pois avantaja- se muito ás forragens que cultivamos. Pelos apontamentos que em seguida da- mos podem os leitores apreciar os bons re- sultados que temos tirado d'esta forragem. A semente d'esta planta^na quantidade de 25 grammas foi fornecida á direcção das obras do Mondego pela repartição de agricultura do ministério das obras publicas, por intermédio do snr. conse- lheiro Rodrigo de Moraes Soares, director geral n'aquelle ministério. No primeiro anno deu três cortes e duas camadas de semente. Em janeiro de 1868 foi transplantada para outro si- tio no mesmo serrado, cm consequência de se achar plantada em local que estor- vava as obras da reconstrucção do arma- zém que serve de deposito para as ma- deiras da matta, e conjuntamente foi se- meada a semente colhida no anno ante- rior, na porção de um alqueire. Durante esse anno o Bromus que foi transplanta- do deu oito cortes e o semeado cinco, de- 174 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. vendo notar-se que d'estes os primeiros ti-es tiiiliam 0'",25 de altura. O primeiro deu duas camadas de se- mente e o segundo uma, produzindo todas trcs (camadas) uma porção de 10 alquei- res; esta semente foi semeada em setem- bro em diversos pontos do (Choupal, e n'uma outra propriedade das obras do Mondego, denominada «Camalhao da Sa- pinha. » No anno de 1809 o B. schraderi que foi transplantado e semeado em janeiro de 18G8 deu oito cortes e duas camadas de semente na poreào de 22 alqueires, e o semeado em setembro de 1868 no Chou- pal deu cinco cortes, e o semeado na Sa- pinha foi vendido a um particular, a quem deu (apezar de o nào regar) até 1 de no- vembro três cortes e uma camada de se- mente. No anno presente a sua producção foi muito inferior em consequência da gi'an- de secca e de nào se poder regar ; porque a agua que tem havido mal tem chegado para a roga dos viveiros ; mas apezar d'isso até julho produziu quatro cortes e uma camada de semente. Hoje o Bromus schraderi já vae cres- cendo espontâneo em toda a matta, e por isso as forragens de aquella matta em pou- cos annos devem melhorar-se considera- velmente, pois esta planta tem a particu- laridade, em consequência da sua grande vegetação, de extinguir as plantas nocivas, o que dará um augmento considerável de receita para aquella propriedade. Coimbra — Matta do Choupal. Adolpho Frederico Moller. JACINTHOS Como estamos na opocha de se faze- rem as provisões de flores da primave- ra, e entre a grande variedade das que sào próprias d'csta estação, como os Ra- nxincuJos, Tulijms, Anémonas , Açafrões, etc, tigurem em primeiro logar os Jacin- thos, julgamos que serão lidas com inte- resse algumas indicaçí5es sobre o modo de os escolher e cultivar: por isso é que es- crevemos o seguinte artigo, que hoje apre- sentamos aos leitores do «Jornal de Hor- ticultura Pratica». Os Jacinthos tão festejados dos poetas gregos e latinos, por causa da interessante fabula que conta a sua origem, pertencera á fainilia das Liliaceas, talvez a mais rica e mais bella da grande classe das Mono- cotjjledoneas. Indigena das zonas tempe- radas da Europa e Ásia, é o Jacintho uma planta herbácea, cuja raiz é um bol- bo arredf»ndado, formado de muitas túni- cas envolvidas umas nas outras, a que vulgarmente chamam cebola. E de HoUanda que todos os annos costumam os nossos horticultores mandar vir as collecçoes de Jacinthos e de quasi todas as plantas bolbosas, E um bello ne- gocio que toda a Ilollanda, o com especia- lidade os horticultores de Harlcm, fazem com estas flores. Centenares de pessoas e bastantes hectares de terreno sào exclusi- vamente empregados n'este ramo da flo- ricultura que, favorecido pela própria na- tureza do terreno e clima e dirigido por intelligentes horticultores, faz com que os hollandezes ainda estejam senhores de um monopólio que todos os annos lhes rende sommas consideráveis. Procedendo á escolha dos bolbos, de- vem os amadores escolher todos os que lhes satislizerem ás seguintes condições: Pegando no bolbo devera achalo duro e cheio, a ponta deve ser bem pronunciada e desenvolvida, o invólucro exterior deve ser fino e lustroso, emflm o prato, que é a parte inferior da cebola donde nascem as raizes, deve apresentar uma forma per- feita, completamente redonda, sem eru- sões nem falhas. E claro que o bolbo que for duro e cheio nào deve ter as escamas em vào, mas sim unidas e juntas, prote- gendo assim as folhas e hastes já desen- volvidas no seu interior. Estando, pois, as túnicas bem unidas e juntas com as folhas e botões, facilmente se comprehen- de que a dureza do bolbo é um indicio favorável de um bom desenvolvimento fu- turo. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 175 Da parte chata e inferior do bolbo, a que chamamos prato, é que nascem as raizes; ora é natural que se não for bem feita, ou estiver quebrada, as raizes que nascerem, nào sendo boas, nào poderão produzir boas flores. E, pois, necessário examinar bem esta parte da cebola, pro- curando ver uma espécie de granulações, que nào são outra cousa mais do que os germens das futuras raizes; e estas devem nascer em perfeito circulo, pois que por muito boa que seja a variedade do Jacin- tho, não tendo boas rnizes, as flores fi- carão sempre rachiticas e fracas. Nesta planta assim como era qnasi todas as suas congéneres, a flor e as folhas desenvolvem- se completamente no interior do bolbo ; verifica-se isto facilmente partindo cora uma faca, n'uma secção 1( ngitudinal, a cebola de ura Jacintho qualquer. Para julgar, porem, exteriíunnente se a hasie é boa ou não, devemos examinar a pon- ta, que deve ter a forma cónica, e as fo- lhas devem ter formado uma espécie de bojo, em consequência do desenvolvimen- to interior das flores. Se a ponta for fina, ou estiver quebrada, sujeitar-nos- hemos a não ver flores, ou quando mesmo assim appareçam, a ser de fraca apparencia. Sup- pondo que estão satisfeitas todas estas con- dições, passemos a tractar dos diff^erentes modos de cultivar estes vegetaes e a in- dicar os que nos parecera melhores. Sabemos de quatro modos diff'erentes por meio dos quaes se podem ter flores de Jacinthos, a saber : era agua, em va- sos, era suspensões e na terra, nos tabo- leiros dos jardins. 0 1.° modo de cultura, era agua, con- siste era collocar o bolbo era contacto cora a agua pelo seu prato. Servimos-nos para Fig. 28— Frasco para Jacinlhos. isto de frascos (fig. 28) de vidro branco cheios de agua, e fabricados de propósito para este fim. De dias a dias deita-se-lhes alguraa agua para substituir a que tem faltado pela evaporação, e n'essa occasião deitam-se algumas gotas na coroa da ce- bola, para que as folhas e flores se desen- volvam melhor. E útil deitar na agua al- gumas pedras de sal, pó de carvão ou guano, porque activa muito a vegetação e torna a planta mais robusta. Por este modo de cultura, as cebolas perdem-se, e não ficam em estado de tornar a pro- duzir flor; comtudo vale a pena sacrifi- car alguns bolbos para ter o prazer de gozar estas lindas flores nos quartos, em cima das mesas, nas janellas ou na pedra do fogão. O 2." modo, a cultura em vasos, é a melhor e a que está mais gei-almente es- palhada ; porem para este modo de cultura é preciso terra, para o que é bom conser- val-a já preparada com antecipação. A melhor terra para Jacinthos é a própria do jardim, coratanto que conte- nha em si bastantes matérias vegetaes e aniraaes em decomposição, addicionando- se-lhe para cada vaso um bom punhado de areia grossa. Os vasos que se devem empregar para os Jacinthos são dos que costumara ter 10 a 12 centímetros de diâmetro, isto é, quando se queira plantar uma cebola em cada vaso, e muito maiores quando se queiram plantar mais. Depois de estabe- lecida uma boa drainagem, enchem-se de terra até ao meio, e coUocam-se as cebo- las direitas no meio dos vasos, acabando- se depois de encher completamente ; mas de modo que a terra deixe descoberta a ponta da cebola. Regam-se bem e aiTU- mam-se para os seus logares, tendo cui- dado de que os vasos fiquem bera assen- tes para que os bichos se não introduzam nelles. Logo que começam a mOvStrar os botões, regam- se repetidas vezes, conti- nuando até que as flores desabrochem com- pletamente. Tendo acabado de dar a flor, e que- rendo conservar os bolbos para outro an- no, cortam-se as folhas á altura de dous dedos acima da superfície da terra; dei- xando então de regar tão amiudadas ve- zes, e só o bastante para conservar a terra molhada. As cebolas podem-se tirar da terra logo 176 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. que o resto da rama que ficou esteja com- pletamente secca ; e depois de bem limpas da terra, guai'dam-se com o seu competen- te rotulo em logar secco e arejado. Este modo de cultura é muito fácil e bom. Os Jacinthos, depois de terem todas as flores desabrochadas, podem ser leva- dos nos vasos para as salas, onde produ- zirão um bello effeito misturados com as outras plantas, e embalsamando ao mesmo tempo o ar com o seu delicado aroma. Para o 3.* modo de cultura, em suspen- sões, usam-se uns vasos em forma de ta- ça, tendo nas bordas os orifícios por onde se introduzem os arames ou cordoes com que se penduram nas salas, entre as corti- nas das janellas, ou nos jardins, nos ar- cos ou ramadas. Ha-os feitos de barro or- dinário e fino, de porcelana ou mosmo de crystal azul, lisos ou lavrados c com mui- tos ornatos; emfim de todos os feitios e gostos. Estes vasos têem, alem dos três ori- ficios em que já falíamos, outros maiores, que é onde se collocam os bolbos, proce- dendo da seguinte maneira. Deita-se no fundo do vaso, que deve ter um orificio de esgoto, uma camada de cacos, deitan- do depois por cima terra até á altura dos ditos buracos maiores e collocam-se ahi obliquamente os bolbos, tendo cuidado de que as pontas fiquem exactamente defron- te dos orificios; feito isto, enchem-se os intervallos que ficam, acabando depois de encher completamente o vaso; terminan- do tudo isto por plantar mais cinco ou seis cebolas ao nivel do vaso, e de modo que fiquem perpendiculares ás primeiras. Este modo de cultura, tendo havido cui- dado e bom gosto na escolha das cores com que se compoz a suspensão, é muito ornamental e de bonito effeito. O 4.° e ultimo modo que nós conhe- cemos de cultivar Jacinthos, é no chão, formando grupos ou bordaduras nos can- teiros dos jardins. Preparado o terreno com a mesma terra que já indicamos para a cultura nos vasos, plantam-se os Jacin- thos por meado de outubro, ou todo o mez de novembro, podendo, comtudo, fazer-se plantações até janeiro. Os bolbos devem ser plantados um dccimetro abaixo da su- perfície da terra, tendo cuidado de deitar em cada cova um punhado de areia e co- brindo depois o bolbo com a mesma ma- téria. Esta operação tem por fim impedir que as cebolas apodreçam pela demasiada humidade, e auxiliar as novas raizes no seu desenvolvimento. De todos os quatro modos que indica- mos para obter boa floração, cremos que este ultimo é o melhor^ e o que dará re- svdtados mais satisfactorios; e quando os grupos forem formados com gosto, e as cores bem combinadas, o taboleiro do jar- dim deve apresentar uma vista verdadei- ramente bella e surprehendente. Terminando as indicações que promet- temos e que são as próprias de que usa- mos, dar-nos-hemos por satisfeitos se da sua leitura se aproveitar alguma cousa. A. J. DE Oliveira e Silva. A RAINHA SANTA ISABEL PROTEGENDO A AGRICULTURA Entre as memoráveis acções da vir- tuosa esposa de el-rei D. Diniz, uma que poucas vezes temos visto apregoada, e que bem o devera ser, é o fomento e protec- ção que deu á agricultura. Não foi só seu esposo que, conside- rando os lavradores nervos da republica, estimou e desenvolveu a primeira das ar- tes, dando para este fim providencias sa- lutares, de modo que, como diz um es- criptor, não havia em seu tempo gente nem terra ociosa ; também a santa rainha tomou a peito estimular eíficazmente esta mais importante occupação dos povos. Junto do seu mosteiro de Santa Clara de Coimbra, estabeleceu santa Isabel uma casa pia, onde recolhia e doutrinava mo- ças desamparadas, e depois ás casava com lavradores, a quem mandava povoar e cul- tivar as suas terras. Diz-se nas «Memorias da Litteratura» que uma pessoa fidedigna affirmara ter lido esta memoria com toda a referida in- dividuação num livro do cartório do mos- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 177. teiro de Santa Clara, e que esta era tra- dição constante na cidade de Coimbra, o que concorda com o que diz Ruy de Pi- na e Duarte Nunes a respeito da educa- ção d'estas moças. Souza, nas «Provas da Historia Ge- nealógica», transcreve uma carta do pro- testo que fez a santa rainha, de morrer com habito de Santa Clara, mas não ser freira, na qual se lêem as seguintes pa- lavras:— Quodque Dominas, et Domicel- las Laicas, et seculares... solitam ãomum nostram tenere, et nutrire et de honis nos- tris propriis, quando nohis videbitur, hu- jusmodi Domicellas, et Dominas- marita- re et in castris et locis nostris habitare, etc. Isto prova que depois de as educar, as dotava, casava, e lhes dava logar para habitação e cultura. Coimbra. A. M. Simões de Castro. CONVÁLLARIA MAJALIS (um.) O Ocimum minimum (Mangericão), planta favorita, principalmente entre a classe popular do nosso paiz, representa quasi tão grande papel em Portugal, co- mo a Convallaria majalis (Lily of the valley) em Inglaterra, onde esta planta tem um logar elevado na cathegoria das flores odoríferas. Ninguém desconhece em Inglaterra o famoso Lily ofthe valley (Li- rio convalle, Brot.). Vemol-o na casaca do cavalheiro, no «bouquet» da noiva, no jardim do aristocrata e nas janellas do proletário. Todos adoram o Lily of the valley e aos poetas com especialidade tem servido de thema para as suas endechas. E com Fig. 29— Conrallaria majalis. razão, porque de todas as plantas odorífe- ras umas têem um perfume demasiada- mente forte e incommodativo, em outras as suas formas são destituídas de attractivo, emquanto que com o Lily of the valley não succede assim e é considerada como a planta que possue mais delicada fra- grância. Effecti vãmente, pondo mesmo a sua fragrância de parte, a forma das flo- res e o seu porte seria bastante para a tornar procurada. As flores são brancas, em forma de guizo e dispostas em cacho unilateral que nasce da axilla, de uma bainha folliacea.- i78 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. As folhas são ovaes lanceoladas e de um bello verde claro. Um solo silicioso e juntamente húmi- do convem-lhe perfeitamente. Alem da hu- midade também prefere meia sombra, no nosso paiz. E muito adequada, quando está em flor, para adornar salas e mesas de jan- tar. É uma planta que se presta muito a ser forçada, e na AUemanha os horticul- tores vendem milheiros de vasos no Na- tal. Oliveira Júnior. CALENDÁRIO DO HORTICULTOR NOVEMBRO Jardins. Estamos chegados ao inver- no e os jardins perdem a maior parte dos seus^bellos adornos. E agora que apreciamos as [ilantas de folhas persistentes, e principalmente as Co- niftnis e Camellias tomam o primeiro le- gar nos jardins. Arrancam-se as plantas annuaos já despojadas de flor e apanham-se as folhas cabidas, que geralmente n'esta epocha en- tulham as ruas. As folhas das arvores silo óptimas para adubo dos jardins e portanto é pre- ciso aproveitai as. Dispoom-se as plantas bulbosas, taes como: JacinflioSj Tulipas, Crociis, Gla- diolus, etc., etc. Hortas. Os trabalhos d 'este mez são bastante numerosos. E preciso apanhar as raizes que nào podem passar o inver- no na terra, e cavar as terras argillosas para as sementeiras da primavera. Semeiam-se Ervilhas e Favas, haven- do cuidado de lhes dar terreno secco. Ain- da se plantara Alhos, Alfaces, Cebolas e Couves. Arvoredo. Continuam as plantações de Kucalyptus, Acácias, Grevilleas, Ca- suar inas 6 arvores fructi feras. Aconselhamos a plantação em quin- cunce. E preciso que nas plantações das ar- vores fructifeias haja o maior cuidado em conservar os rótulos para evitar um futu- ro labyrintho. Alem dos rótulos de zinco que as plantas trazem dos viveiros, é bom pôr-lhes outros rotulosinhos de chumbo com um numero aberto a punção, que corres- ponda á num3raçào de um catalogo que todo o pomicultor deve possuir. E este o meio mais efficaz para evitar confusão na nomenclatura. Deverá dar-se um tutor ás arvores que os precisarem, havendo todo o cuidado em não oífender as raizes no momento da collocaçào. Continua a poda das arvores fructife- ras, devendo princi))iar-se pelas de gran- de vigor e que fructilicam mal. A expe- riência, diz Mr. A. Dinnas, me tem mos- trado que quanto mais vigorosa é uma arvore, mais é preciso apressar a poda, pontue por este meio se obtém uma boa producção fructifera. Grande cultura. Começa a colher- se a azeitona. Deve apanhar-se á mão, sempre que se possa, porque, destruídos com as varas os novos ramos, é certo que no anno se- guinte não produzem e é isto o que suc- ccde em quasi toda a província de Traz- os-]\Iontes e n'outras. Para se extrahir o azeite deve empre- gar-se a azeitona em estado de perfeita madureza, e para que o liquido seja de boa qualidade, não se deve guardar o fru- cto muito tempO; mas leval-o logo para o lagar. Começam a preparar-se as valias de csíroto. CHRONICA O snr. Kicolau Pereira de Mendonça Falcão, amador de coração, amador que se interessa verdadeiramente pelo desen- volvimento da horticultura, dirigi u-nos JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 179 uma cafta em que indica a cultura que tem dado á Wellíngtonia gigantea que possue nas suas quintas. Damos-lhe pu- blicidade, porque estamos bem certos que deve interessar os leitores. Deixamos de emittir a nossa opinião sobre o assumpto, porque os esclareci- mentos que temos colhido estào um tan- to em contradicçao, não se podendo, por- tanto, íixar a razào por que a Wellíngto- nia nào prospera no nosso paiz. Existe no Jardim Botânico do Porto um exemplar da W. gigantia, que ha cer- ca de mez e meio parecia -vegetar e pros- perar bem ; todavia declan^u-se-lhe a mo- léstia, a qual se caracterisa por seccarem alguns dos primeiros ramos, proseguindo a moléstia nos outros, até que emíini sec- ca a arvore completamente. Temos recebido nmnerosas cartas so- bre o assumpto ; agradecemos aos seus au- ctores a benevolência com que attende- ram o nosso pedido e eis aquella a que mais acima alludimos : Snr. redactor. Em resposta á pergunta que se faz ua Chro- nica do «Jornal de Horticultura Pratica», de se- tembro, respectivamente á Wdlingtonia gigan- tea, peço vénia para aventurar as seguintes in- dicações, por me lembrar que poderão aproveitar a algum cultivador e admirador apaixonado (co- mo eu) d'este monarcha das florestas da Alta Ca- lifórnia. Comprei em janeiro de 1867 n'essa cidade, ao snr. José Marques Loureiro, um pequeno exem- plar d'esta Conífera, que plantei n'uma clareira da matta d'esta quinta, em terreno árido de sa- lão e saibro duro, n'uma cova de proporções di- minutas em relação ás necessidades d'est3 gigan- te, que teria 1 metro de profundidade, e pouco mais em quadro, e a exposição df. norte puro con- tra a serra de Monte de Muro, a qual, quando se cobre de neve e esta encaudila depois com as gea- das, projecta um frio tal que o thermometro de Réaumur desce a zero dentro de casa, e na posi- ção da Wellingtoida talvez chegasse a baixo 6 graus de noute, no inverno próximo passado, e mais ainda nos 3 primeiros dias de janeiro de 18t)8. Apezar de tal temperatura, exposição e terreno, a Wellingfonia gigantea tem vegetado regularmente sem perder uma folha; notava eu somente que era moroso o seu crescimento, pois no íirn de três annos de plantação crescera ape- nas 0"i ,50, a Om ,60. Adquirindo em janeiro ultimo um exceli ente tractadosinho de Coníferas, «Les Coniferes indigenes et exotiques, Pratique de ar- bres verts, ou résineux, par Mr, de Kirwan, sous- inspecteur des forers en í''rance, Paris 1867, 2 vol. in 12.°)) que recommendo aos amadores, pois que o nosso gigante requer um solo profundo, húmido e até pantanoso, onde elle possa enterrar as suas poderosas raizes, por quanto em França se vê prosperar mergulhando-as em aguas cor- rentes e até estagnadas. E como receasse transplantai- a no fim de maio ultimo, em que aqui cheguei, apezar da frescura e amenidade do paiz, e demais nào tivesse na minha quinta terreno aprojiriado, lerabrou-me supprir artificialmente do modo possível estas condições de terreno que faltam á minha W. gi- gantea, e então mandei surribar todo o terreno em volta da planta a distancia de 3 metros d'ella, e á profundidade de 2, caminhando da circumfe- rencia para o centro até encontrar as raizes; cor- tou-se s;nbro duríssimo, tiraram-se mais de 8 car- ros de pedra, e depois da terra aplanada, man- dei deitar n'esta terra assim rota e remexida, um grande tanque de agua, que a ensopou toda. O resultado foi maravilhoso; a planta principiou a desenvolver em altura e ruda, apresentando ago- ra no fim de um verão tão secco uma vegetação tão viçosa e opulenta, como poucas apresentam em maio. A folhagem tem uma frescura, um vi- ço, que lembra uma alface no seu m^ior vigor, crescendo a W. gigantea em 8 m^zes Ora, 50, isto é, tanto como nos 3 annos de plantação anterio- res. Em janeiro ultimo vieram-me da Bélgica dous exemplares da nossa Conífera, que mandei plan- tar seguindo o conselho e indicações de Mr. Kir- wan, na minha quinta de S. Salvador, junto a Yizeu, onde passo o inverno até maio, e na vár- zea d'esta quinta atravessada e regada pelo rio Pavia, foram plantadas as duas Wellingtonías de um lado e do outro do rio, a 4 metros de distan- cia d'elle, na terra mais profunda e que de in- verno, estando sempre de Herva jóia, é limada pelas levadas do mesmo rio, pelo que por cautela só as plantei á sementeira do Milho, quasi no fim de maio, quando aquelles terrenos já estavam en- xutos. Estas regadas occupain o fundo do valle abert ) a sudoeste, e completamente agazalhado dos ventos norte e leste. A temperatura alli é bastante elevada, subindo talvez no verão a 30° R. Ora, apezar de tão diíierente exposição e tem- peratura, não tenho motivo de receiar que nào pros- perem alli estas Coníferas, como em Farejinlia, por quanto, alem de apresentarem uma vigorosa vegetação e bella folhaírem, cresceram n'estes 3 mezes Ora, 25, o que é s itisfactorio á vista do mo- roso crescimento d'estas arvores na sua mocida- de, pois como diz Mr. Kirwan, nas melhores con- (lições em França apenas crescem 1 metro por anno. Em conclusão, parece á vista d'estes factos e da estação natal d'estas Coníferas na Alta Cali- furnia, n'uma latitude que corresponde a uma zona que tocasse pelo sul na m.ssa cidade de jáeja e pelo norte no cabo Lizardo, ao sul da In- glaterra, isto é, entre 38 e 50 graus de lati- tude boreal, poder inferir-se que esta bella Co- nífera pode e deve aclimar-se em Portugal. Farejinha (Castro Daire) 10 de setembro de 1870. N. P. DE Mendonça Falcão. O nosso collega, o snr. D. Miguel de Alarcão, dá-nos também algumas in- 180 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. formaçSes, que parecem estarem um tanto de accordo com as precedentes. Eil-as: Podemos dar algumas informações ao «Jornal de Horticultura Pratica-', não tào completas como elle as desejaria, com respeito á Wdlingtonia gi- gaiitea. Existem alguns pés na matta do Bussaco, com dous metros de altura, ou mais. Deverão ter de 4 a 6 annos. A grossura é proporcional á sua al- tura. Mostram vigor e apresentam iim bellissimo aspecto. A exposição que elles têem quasi que nào influe — por estarem ao abrigo das grandes arvores que os defendem dos ventos frios e dos raios ardentes do sol. Diremos no emtanto que, aquelle de que nos recordamos tem uma exposi- ção oeste-sudoeste. As Wellingtonias que vimos estão a meia en- costa da serra do Bussaco. Cremos que esta es- pécie, abrigada dos ventos fíios e em terreno fresco, poderá vegetar em todo o paiz. O terreno do Bussaco é pedregoso e mais ou menos argilloso; muito fresco, por eflFeito da in- tensidade e elevação do arvoredo que o veste. (Vide «Jornal de Agricultura Pratica», pag. 321—1870). Agradecemos mui particularmente ao nosso illustre coUega as indicações que acabam de ler-se e continuaremos a dar publicidade a todas as outras informações que venhamos a receber. A reunião dos factos deverá forçosa- mente trazer a luz precisa sobre o ponto em questão. — O Jardim Botânico de Coimbra ex- pediu o mez passado para as colónias da Africa, por intermédio do snr. visconde de Villa Maior, duas estufas de viagem do systema «Ward» com 100 Ckincho- nas succirubra (Quinas). — A exportação de vinho pela barra do Porto, desde o principio d'este anno até 30 de setembro, foi de 30:303 pipas. — Recebemos e agradecemos o cata- logo n.*^ 1 (1870-1871) das plantas flores- taes que se acham á venda nos viveiros das mattas do Choupal e Valle de Can- nas, em Coimbra, Os preços são muito equitativos e pro- porcionam aos sylvicultores plantações por preços razoáveis. Era de extrema necessidade que exis- tissem em diversos pontos do reino esta- belecimentos d'este género, porque con- corriam para o desenvolvimento florestal. — Sahiram pela barra do Porto du- rante o mez de setembro 3:386 bois. Foram quasi todos para Inglaterra. — Das linhas que em seguida publi- camos, verão os leitores que quando se dispõe de alguma intelligencia se podem cultivar no nosso solo muitas plantas, cu- ja cultura á primeira vista parece impos- sivel. Não conhecemos pessoalmente o cava- lheiro a que abaixo se allude, porem já por diversas vezes o temos ouvido assi- gnalar como um verdadeii*o amador de plantas : Ha dias visitamos o jardim que o snr. João Alexandre Fladgate possue na sua casa da Foz e na verdade faltam-nos os termos para exprimir a nossa admiração pelas bellezas surprehendentes que alli encontramos. O jardim do snr. Fladgate pode chamar-se um jardim modelo, não só pela bem combinada disposição, como pela excellente cultura das plan- tas que o adornam. Alli vêem-se em pleno ar, com todo o vigor de uma boa vegetação, plantas de estufa, taes como diffei*entes espécies de Palmeiras, Fetos arbóreos e Orchideas. Estas ultimas, cultivadas aqui e alli nos troncos das arvores, fazem lem- brar os paizes tropicaes donde são oriundas. Na estufa que existe no jardim e que se pode cha- mar uma estufa fria, entre ura grande numero d'estas encantadoras plantas encontram-se mui- tas, que patenteiam á vista as suas delicadas flores. Debaixo de um copado arvoredo ha uma ro- cha artificial, feita por Mr. Thomas Staley, há- bil jardineiro paizagista. N'esta rocha encontram- se muitas plantas adequadas a este género de cul- tura, que pelo bom gosto com que foram esco- lhidas e pela sua boa disposição fazem muita honra a este distincto jardineiro. Os trabalhos foram dirigidos pelo snr. Almei- da Campos, que regressando ha poucos mezes do Brazil, trouxe alem de muitas outras plantas, a rica coUecção de Orchideas, Palmeiras e Feto» ai-boreo3 que admiramos no jardim do snr. Fla- dgate. Louvores, pois, a este cavalheiro que, sempre incansável pelos progressos da horticultura no nosso paiz e alliando a uma elevada intelligen- cia um gosto esmerado pelas plantas, criou n'a- quelle pequeno recinto o mais bello jardim que conhecemos e onde passamos algumas horas ag^-a- daveis. J. M. LOUBEIBO. Porto 20 de outubro de 1870. — Segundo as noticias que temos re- cebido de diversos pontos do reino, a co- lheita de azeite é este anno abundantis- sima. JOENAL DE HORTICULTURA PRATICA. 181 REVISTA DO ANNO 1870 o anno que finda e o anno que prin- cipia, eis por certo duas palavras que para cada um de nós representarão uma serie de ideias, de recordações e de projectos, ou cheios de successo e de esperança, ou cheios de decepções e de desalento. E' sem- pre assim; o bom êxito do passado dá es- perança no futuro, emquanto que o mau resultado dos nossos esforços nos leva, se não a uma inacção completa, pelo menos bastantes vezes a uma espécie de lamen- tável cansaço. A agricultura e a horticultura depen- dem tanto, se não mais, do tempo como do homem que se occupa d'ellas, e lançando um rápido olhar sobre as condições me- teorológicas d'este anno, vemos de um lado muitos queixumes e receios, causa- dos primeiro pela extrema abundância da chuva e em seguida por uma prolongada e extraordinária secca ; mas do outro a certeza de uma boa colheita é então a au- sência completa dos motivos para assim desanimarmos. Recordemos-nos, portanto, do provérbio : «Devemos acceitar o tem- po como elle vem», o que quer dizer em outros termos : «Cumpramos os nossos de- veres como bons cultivadores e deixemos o resto á Providencia». Desde certo numero de annos para cá os invernos eram temperados e relati- vamente curtos; este anno, porem, não aconteceu assim. Principiou por um frio excepcional para este paiz, tanto mais sen- sível porisso que no outomno passado cho- vera muito pouco. Quando na primavera a agua principiou emfim a cahir e a ca- hir continuou por muito mais tempo do que era preciso para bem regar as terras, fizeram-se logo maus prognósticos. Vol- tou o bom tempo e por ura momento os receios se calaram para dar logar a gran- des esperanças. Era um gosto percorrer os campos, visitar os jardins ; tudo n'el- les florescia e parecia predizer a abun- dância. Infelizmente, porem, este bom tem- po, tão beoi acolhido ao principio, conti- nuou mais e mais e converteu-se por fim em uma secca sem exemplo, secca como as pessoas edosas se não lembravam de 1870-Ygl. 1.' outra egual. — Se não tivermos um anno de fome, teremos pelo menos um anno de carestia — eis a prophecia de muitos agró- nomos eminentes d'este paiz e não é de admirar se os pequenos cultivadores com muita maior razão viam já tudo negro. Mas eis-nos chegados a uma epocha que nos permitte encarar os factos e com- quanto as nossas colheitas não tenham si- do superabundantes, comquanto grande numero delias tenham sido escassas, se- riamos desarrazoados em não nos conten- tarmos com o que ellas nos offerecem — o bastante para proverem a todas as nos- sas necessidades e ainda mais do que isso. Entre as Gramíneas alimentares foi o Milho que mais escasseou. A secca com- pleta fez diminuir a sua producção quasi geralmente, até nas localidades onde ha- via agua para regas. As outras, taes co- mo o Trigo, a Aveia, o Arroz, etc, não soífreram tanto, posto que também bas- tante para haver colheitas mediocres. As plantas forraginosas também sof- freram muito, mas a exportação de gado não tem diminuido até agora e nos mezes próximos os Nabos e outras succedaneas conservarão os gados em condições bas- tante favoráveis. As hervas, os legumes das nossas mezas já prosperaram muito melhor e quanto aos productos das nos- sas arvores fructiferas, cremos que foram em toda a parte abundantes. Porem, caso notável ! aqui não ha queixa nem da quan- tidade nem da qualidade, comtudo os cul- tivadores não estão contentes e d'esta ve25 com alguma razão, porque as fructas, quer peras, quer maçãs, não se conservam, e para não as perder, mandam-as vender por preços extremamente baixos. As condições da vinha eram ao prin- cipio magnificas e mais do que magnifi- cas ; a secca em seguida causara-lhe al- guns estragos para o desenvolvimento dos cachos; mas as chuvas que cahiram no principio do niez de setembro repararam em grande parte esta falta e podemos di- zer que a colheita foi óptima, mais ainda pela qualidade do que pela quantidade. O oidium fez-lhe este anno poucos estragos. Dezemtro— N.« 12. 182 JORNAL DE HOETICULTDRA PRATICA. Dar-se-ha caso que este flagello nos dei- xe para dar legar a outro? — Esperamos que níío ; comtudo em outros paizes pa- rece que se receia isso. Nào é só em Fran- ça mas também na Crimeia que a molés- tia grassa na vinlia, mas nuo é só a Py- rale, nem o oidium, nem o terrível Phyl- loxera vastatrix que assolam a vinha, mas ura insecto de casca; é, n'uma pala- vra, um kermes, o Coccus Vitis Linn. As Oliveiras, e para Portugal julga- mos que a «Olea, prima omniura arbo- rura est», estavam carregadas de flores e fructos, e posto que a secca fizesse cahir uma boa porção de aquellas, as arvores fi- caram da mesma maneira cheias de azeito- nas, que como as uvas aproveitaram com as chuvas de setembro para se desenvol- verem mais. As castanhas apresentam-se lambem cm grande numero e o anno pro- mette ser riquissirao em laranjas. As La- rangeiras ostentam uma extraordinária multidão de fructos e segundo informa- ções recebidas parece que o verão secco que tivemos favoreceu pouquíssimo o des- envolvimento da doença. Ko todo, pois, as colheitas da azeito- na, da laranja, da castanha e das uvas, compensarão de certo o mau resultado dos nossos cereaes, de que aliás existem ain- da grandes provisões do anno passado. Os jardins têem florescido bem este an- no e muitas plantas delles têem-se desen- volvido com extraordinário vigor. Aqui, no Jardim Botânico de Coimbra, gran- de numero de espécies dos paizes quen- tes, plantadas ao ar livre ha alguns an- nos, floresceram pela primeira vez e até deram semente. Quanto á producçao d'es- tas ultimas observamos que havia me- nos do que nos annos precedentes, mas que eram muito mais desenvolvidas. Em geral as espécies annuaes produziram pou- cas sementes, nas plantas vivazes a sua producçao já era maior, e em muitas ar- vores e arbustos a formação de sementes era perfeita e em grande numero. Se procurarmos agora entre os acon- tecimentos hortícolas os mais notáveis que tiveram logar em Portugal ou era outros paizes, citaremos com grande satisfação as três exposições de flores, celebradas no Porto e cm Lisboa, como os que para eite paiz merecem maia geral attenção. , Ha apenas alguns annos qne estas festas de Flora principiaram a ter logar entre nós, e coraquanto se não possam ainda comparar ás de outros paizes, vemos já n'ellas um grande progresso para a hor- ticultura e quanto mais se avançar n'este caminho, maior gosto se tomará por elle. E talvez este o logar, para demonstrar os serviços que a horticultura pôde prestar ao paiz em geral, de fallar da exporta- ção das arvores de Quina do Jardim Bo- tânico de Coimbra. Mas, para evitar equí- vocos, digamos já que o meinto d'esta ex- portação é devido á pessoa que dirige o estabelecimento e que nós, na nossa mo- desta posição, formamos apenas o instru- mento para executar ordens. Suum cuique. Venhamos aos factos. Quasí 200 plan- tas de Cinchona succiruhra, numero egual ás que foram distribuídas o anno passa- do, sahiram do estabelecimento para se- rem expedidas em grande parte para as colónias de Africa, onde a sua aclimação é quasí certa. As explorações de florestas da Cinchona na America meridional são tão grandes que se receia, e não sem fun- damento, que esta fonte venha qualquer dia a seccar no seu paiz natal. E por isso que os hollandezes em Java e os ínglezes nas suas possessões nas duas índias começaram já ha um certo nume- ro de annos a fazer grandes plantações de Cinchonas que principiam já a pro- duzir. Eis alguns esclarecimentos que me- lhor ideia darão do desenvolvimento d'es- ta cultura. Na ilha de Jamaica foram plantados o anno passado 13 hectares com Cinchona succiruhra. 3 Ya » » Cinchona officinàlis. 2 5 » Cinchona Calisaya. 1 Ya » » Cinchona Paludiana. 1 » D Cinchona micrantha. Não obstante estas plantações terem, segundo relatórios officíaes, dado óptimos resultados, havia ainda 35:000 plantas no- vas nos viveiros do governo. Do Himalaya receberara-se do mes- mo modo noticias favoráveis a respeito das florestas de Cinchonas. A expedição da casca da Cinchona succirubra destas JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 183 florestas era avaliada este anno em 18:000 arráteis. Vários relatórios de Santa Helena, da Trinidad, de Ceylào dão também provas palpitantes dos esforços alli empregados para aclimar estas arvores e, segundo «Les Mondes», o dr. Wilson da ilha da Reunião possue também bastantes plantas da Cin- chona officinalis para poder povoar toda a ilha. Comquanto a abertura do isthmo de Suez tenha tido logar em fins do anno passado, só agora se começa a gozar doa seus resultados cosmopolitas. A horticultura aproveitará também muito com ella e é por esta razão que nós aqui a assignalamos. Quem nao terá ouvido fallar da Flo- ra tão variada das índias? As poucas plantas que de lá nos vi- nham, passavam ou pelo Cabo de Boa Es- perança, ou pelos caminhos de ferro egy- pcios, mas um tão longo trajecto, tão cheio de difficuldades, causava muitas vezes a morte d'estas plantas, antes de chegarem á Europa, Uma das plantas mais raras nas nos- sas estufas, e de que julgamos apenas existirem 2 ou 3 pés em Inglaterra, é a Amherstia nobilis da familia das Legumi- nosas, a qual cresce perto de Martabar na península malaia. E uma arvore de 40 pés de altura pouco mais ou menos e quando tem flo- res diz-se que é uma das maiores belle- zas imagináveis, sem rival, nem nas ín- dias nem em outras partes. Vimos em Kew esta planta com flores e a descripção que se faz da sua belleza não é exagge- rada. Esperamos que ella nos chegue ago- ra em boas condições por via de Suez e que seja acompanhada por uma multidão de outros vegetaes raros, que rivalisarão vantajosamente com todas essas maravi- lhas da America meridional que povoam actualmente as nossas estufas quentes. Passemos agora em rápida revista al- gumas obras, jornaes e catálogos que, ou Beja pelo facto de serem publicações no- vas, ou seja pelos seus interessantes es- criptos ou pelo grande numero de plantas e preciosas sementes que nos off'erecem, têem enriquecido a nossa sciencia durante o decurso d'este anuo. Em agricultura ha apenas um livro de que queremos fazer menção : «Industrie Ancienne et Moderne de TEmpire Chi- nois», por MM. Stanislas Julien e Paul Champion. 8.° pp. 254, com estampas, Pariz 1870. Os chins têem sido sempre considera- dos como um dos primeiros povos agríco- las do mundo. Poucos factos são mais di- gnos de menção n'este paiz notável do que a excellente condição dos campos, os admiráveis methodos de irrigação e do que 08 engenhosos expedientes de todo o gé- nero para augmentar a fertilidade do so- lo. Como prova do successo que se tem obtido, podemos dizer que por mais ba- rato que alli seja o arroz, muito mais ain- da o são os legumes. O estudo d'este livro nos faz conhecer em grande parte os processos agrícolas empregados na China. Entre as obras de horticultura e de bo- tânica são talvez as seguintes que mere- cem a nossa attenção: «La TrufFe. Etude des conditions gé- nérales de la production truffière», por M. Chantin, Professeur de Botanique, etc. Pariz 1870. Tudo o que se tem escripto sobre as Tuberas, todos os factos que se encon- tram disseminados em diversas obras que d'ellas têem fallado, se acha referido no livro de M. Chantin. «Les Plantes utiles», por A. Mangin, 1 vol. em 8.», Tours 1870. Plantas alimentares, especiarias, fru- ctos tropicaes, espécies textis, medicinaes, resinosas, e gommosas, bem como vege- taes tinctoriaes e lenhosos; são tractados n'este pequeno livro, e comquanto bas- tante superficialmente, ainda assim julga- mos que n'elle se podem colher úteis in- formações. «Les bonnes Fraises». Modo de os cultivar para os ter no seu maximum de belleza, e um calendário indicando os tra- balhos a fazer em um morangal durante os 12 mezes do anno, por F. Grloede, 2.* ed. Paríz 1870. Quem quizer possuir as melhores va- riedades de morangos no seu jardim, e saber alem d'isso o que elles exigem pa- ra darem resultados satisfactorios, deve fazer por obter este pequeno opúsculo, no 184 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. qual o auctor nos apresenta o resultado das suas experiências de muitos annos. «Les Fleurs de Pleine Terre», 1:300 fifj. Pariz, Vilniorin Andrieux & C'^, 1.S70, 3.* ed. Tudo o que um amador cui- dadoso e de bom gosto pode desejar para decorar convenientemente o seu jardim de recreio nas diíFerentes epochas do anno, se encontra n'e3te volumoso tractado, e debaixo d'este ponto de vista nào hesita- mos era recommendal-o. oChênes de TAmerique Tropicale», por MM. Liebmann e Oersted. Leipsic 18()9. Importante contribuição para o estu- do d'estas mngestosas arvores, cujos ca- racteres botânicos são ainda, como já ti- vemos occasiào de dizer em outra parte, muito confusos. Nouveau Dictionnaire de Botanique», por E. Germain (de St. Pierre). Pariz e Londres. 1870, 8.° pp. 1388, fig. 1G40. Obra de grande mérito, postoque o au- ctor, ao que nos parece, segue demasia- do n'ella as suas próprias ideias, isto é, encontramos alli muita matéria sobre cer- tos assumptos, que, para nos servirmos d'esta palavra, constituem o «cavallo de batalha» do auctor, emquanto que outras questões de que elle se nào occupou espe- cialmente, apenas offerecem uma informa- rão mesquinha. «A Geographical Hand-book of ali lhe known Ferns, to show their distribu- lion», por K. M. Lyde, Londres 1870, {5.° pp. 22Õ. Este pequeno livro apresenta uma cer- ta utilidade, porque nos mostra os factos mais salientes da distribuição dos Fetos. E uma espécie de compilação, e o auctor apoia-se principalmente na «Synopsis Fi- licum» de Hooker e na memoria de Mr. ]3aker nas aLinnean Transactions», que tractara da mesma matéria. oProdromus Florre Hispanicse», por Willkomm e Lange, tom. 2. A Flora portugucza apresenta tanta analogia cora a do reino visinho, que esta circumstancia deve ser motivo para que sn estime a continuação desta obra, es- cripta por dous sábios que já percorreram uma grande parte da peninsula ibérica. Como sequencia da noticia que damos dos livros, devemos também dedicar al- gumas linhas ás publicações periódicas. Tractemos, pois, de fazer uma boa esco- lha. «L'Egypte agricole». Mr. Delchevalerie, jardineiro em che- fe do vice-rei do Egypto, fundou debaixo de aquelle titulo um jornal de agricultu- ra, para o qual encontrará sem duvida boa quantidade de leitores na Europa. O primeiro numero que sahiu a lume ha cer- ca de dous mezes, contem um artigo so- bre uma nova applicação do Eucalyptus (para tinturaria), applicação que parece ser desconhecida do nosso amigo, o snr. Oli- veira Júnior, auctor de um pequeno tra- ctado sobre estas arvores. Percorrendo «The Gardener's Chro- nicle» d'este anno, encontram-se alguns artigos sobre as Palmeiras por Mr. See- mann (vide números 9, 13, 15, 17, 21, 23, 25 e 31) e ura outro sobre as formas conhecidas do género Yucca, que nos pa- recem dignos de leitura (vide n.** 28). Uma descripção circumstanciada do esta- belecimento de Mr. J. Linden, de Bru- xellas, é também muito interessante (vide n.° 26). ofLa Revue Horticole», de que é re- dactor Mr. Garri è re, e «L'Illustration Hor- ticole», de que é redactor Mr. Ed. An- dré, são dous jornaes muito estimados e bem conhecidos entre nós. Não é isto, po- rem, uma razão para os deixarmos de re- commendar muito particularmente. Mr. Delchevalerie dá-nos n'um dos números da «Revue Horticole» um escripto assaz interessante sobre os jardins árabes no Baixo Egypto, e na «lUust. Hort.» dá- nos Mr. Ed. André um resumo da histo- ria natural do Coca (Erythroxylum Coca), planta importante que para os Índios é o mesmo que para nós o Tabaco. Mr. Ed. Morren, redactor da «Belgi- que Horticole», publicou ultimamente uma memoria sobre o variegado e Mr. Du- chartre outra sobre o género Lírio no jor- nal da «Société Impériale et Centrale de France», No «Hamburger Garten und Blumen- zeitung», von Eduard Otto, encontra-se (vide n." 3) uma classificação dos géne- ros e espécies da familia das Cycadeas. Mr. Williara Paul, um dos principaes cultivadores de Roseiras em Inglaterra, publica u'uma das ultimas cadernetas do JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 185 «Florist and Pomologist» uma lista das novidades mais notáveis que se lançaram no coramercio este anno. Encontram-se 92 variedades novas, que se distribuem do seguinte modo nos differentes grupos : 69 variedades de Roseiras remontantes : 13 » » » chá. 2 » » » noisette. 1 » » » Bengala. 3 » » » Bourbon. 1 » » » Damascena. 1 * » » microphylla. 1 )> D » musgosa hy- brida. 1 » D D musgosa re- montante. O «Botanical Magazine», a «Flore des Serres» e a, «Gartenflora» trazem plantas novas e curiosas, sobre as quaes voltare- mos a fall£i,r uma outra vez, O ftCercIe commercial des horticul- teurs», fundado em Pariz, e ((L'Horticul- teur», por Mr- van Mondenbach, em Arn- heinns (Hollanda), têem por fim facilitar o commercio de plantas, centralisando os esclarecimentos sobre a solvabilidade dos constituintes, etc. «Revista de Obras Publicas e Minas». Este novo jornal promette dedicar tam- bém uma parte das suas columnas ao des- envolvimento agrícola e á sciencia flores- tal. Os «Apontamentos de Economia Flo- restal» (junho, julho e agosto 1870), do snr. Diogo de Macedo, são uma boa esco- lha para dar credito a esta publicação. Abstemos-nos de fallar aqui do «Jor- nal de Agricultura Pratica», da «Revista Agrícola» e do «Archivo Rural», publi- cações de grande mérito e bem aprecia- das no paiz. Seja-nos, porem, licito pres- tar os nossos louvores á Real Associação Central da Agricultura Portugueza, que, como o seu jornal demonstra e como nós tivemos este anno occasiao de ver na epo- cha da Exposição, faz todos os seus ex- forços para proteger e animar o pro- gresso. Os catálogos de MM. J. Linden, J. VerschafFelt e Van Houtte, na Bélgica ; 6 os de MM. Veitch e Buli em Inglater- ra, são sem contradicção os mais ricos em novas introducções, e percorrendo-os vê- se que estes senhores não recuam diante de nada para augmentar annualmeute o numero de plantas desconhecidas ou pou- co conhecidas na Europa. Alguns outros estabelecimentos se tornam recommenda- veis pelos seus catálogos, sobre tudo por se dedicarem ao cultivo das plantas mais notáveis ou que estão mais em voga. En- tre outros assignalaremos : MM. Hcnder- son, Londres; Lee, Haramersmith; Thi- baut & Kettler, Sceaux; Van Geert, Gand; Booth, Hamburgo, e Peter Smith k C.", Bergedorf, que são por certo os mais dis- tinctos. Os catálogos de sementes são ainda mais numerosos. O de MM. Haage k. Schmidt, de Erfurt, é o «nec plus ultra» não somente pela sua riqueza de espécies, mas também pela sua boa ordem e não devemos omittir dizer que estes senhores são muito conscienciosos na escolha das sementes. Também publicam todos os an- nos um catalogo especial de bolbos, tu- bérculos, etc, que é da mesma maneira o único «sui generis». A casa Vilmorin Andrieux & C.'% de Pariz, é já bem co- nhecida pelo seu commercio de sementes. Um outro estabelecimento do meio dia da França, o de MM. Ch. Huber & 0.'^ , em Hyères, offerece-nos egualmente catálogos que merecem toda a attenção dos ama- dores d'este paiz. O snr. José Marques Loureiro, do Porto, também acaba de dar a lume o catalogo n.° 7 do seu estabelecimento e ó um dever muito agradável para nós po- dermos renovar nesta occasiao os nossos emboras ao proprietário deste jornal pe- los esforços que faz na senda que prose- gue. Este catalogo oíFerece, por assim di- zer, tudo quanto se pode desejar — plan- tas de estufa, do ar livre, arvores, arbus- tos, plantas vivazes, bolbos e tubérculos — nada falta e muito principalmente as collecções de Camellias, Roseiras, Pelar- goniums, Rhododendrums, e emfim as ar- vores fructiferas deverão por certo agra- dar aos mais exigentes. Como o snr. Loureiro recebe muitas destas plantas do estrangeiro e como a multiplicação de algumas levam muito tempo e como também muitas morrem durante a viagem, não nos devemos ad- 186 JOBNAL DE HORTICULTURA PRATICA. mirar vendo que os preços são um pouco mais elevados do que no estrangeiro. Talvez que os leitores se tenham ad- mirado de nào termos fallado ainda do «Jornal de Horticultura Pratica» ! A boa vontade não nos tem faltado, pelo contra- rio; mas guardamos-nos para o assigna- lar, como uma obrigação agradável. Porque occultal-o ? É sobre tudo ao zelo intelligente e á perseverança infatigável do snr. Oliveira Júnior (*) que se deve esta creação e esta- mos convencidos de que está debaixo de auspícios bem promettedores para o fu- turo. A agricultura possuía já alguns ór- gãos importantes em Portugal ; considere- mos-nos, pois, felizes por a horticultura ter obtido também um, e se elle não satisfaz desde já as pessoas mais exigentes, que se lembrem : Ut desint vires Tamen est laudanda Yoluntas, palavras que repetimos despedindo-nos es- te anno dos leitores. Coimbra — Jardim Botânico. Edmond Goeze. IRRIGAGÃO Em Portugal onde geralmente eseas- seiam as chuvas de fins de maio a mea- do de setembro, pena é não se aprovei- tarem mais as aguas dos rios para irriga- ções, e se deixem correr para o mar sem Berem aproveitadas. Em paizes muito mais húmidos e on- de chove muito mais que em Portugal, aproveitam-se as aguas dos rios para se regarem as terras marginaes, como acon- tece nas margens do Baixo Rheno, na HoUanda, nos Estados Unidos da Ameri- ca, nas do Ohio e rio S. Francisco da Ca- lifórnia. Para se fazerem estas irrigações em- pregam-se com grande vantagem as bom- (1) Já estas linhas estavam escriptas, quan- do recebemos d'este senhor um pequeno volume intitulado «Almanach do Horticultor para 1871 ». É verdadeiramente com prazer que junta- mos aos elogios que já lhe dirigimos, outros, pelo frncto de seus trabalhos e por seus infatigáveis esforços. O auctor d'este «Almanach» comprehendeu bera a urgente necessidade de uma tal publica- çíio n'este paiz; mas, também nào desconheceu as difficuldades que se encontram em todos «os principiosí. Ficando-lhe reconbecedores pelas suas boas tenções, fazemos votos sinceros não somente pa- ra o bom acolhimento d'este «Almanach» por parte do publico, mas também para que o nosso amigo encontre ainda muito tempo e boas occa- eiòes para empregar mais desvelo na selecção das matérias do «Almanach do Horticultor para 1872.. bas portáteis, movidas a vapor, que tiram grandes volumes de agua, regando com ella grande extensão de terrenos, e quan- do apparece o inverno são estas bombas tiradas das margens dos rios e arrecada- das até ao seguinte anno. Também no Baixo Rheno, na Hol- landa, e nas margens de vários rios da America do norte, se empregam bombas movidas a vento, e são mais económicas ; estas bombas são baratas e tiram grande quantidade de agua. Estes moinhos tem a grande vantagem de não ser preciso ter alguém ao pé ; por um simples machinis- mos se viram para o vento; quando este é de mais, para; logo que diminue, con- tinuam a andar. Em Cabo Verde (Hha do Sal) man- dou o proprietário, o snr. ]^Iartins, vir uma d'estas bombas movidas a vento dos Estados Unidos, para modelo, e por ella se fizeram muitas na Ilha, estabelecen- do-as nas margens de varias lagoas de agua salgada que existem na Ilha do Sal, para tirarem agua para as suas marinhas. Uma pessoa d'essa farailia Martins, de to- do o credito, me assegurou que estas bom- bas tiram grande quantidade áe agua, bem como que o material e manufactura das que se fizeram pelo modelo sahiram por preços muito módicos. O que não produziria o grande delta do Tejo (Lezírias), que com muito pou- cas excepções é tudo terra de alluviâo de JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 187 primeira qualidade, e de que uma gran- de parte é banhado por agua doce, agua que apenas está mais abaixo que o delta 15 a 20 pés, se se aproveitassem estas aguas para regas durante o verão? Uma riqueza. As Lezírias do Tejo (ou deltas do Te- jo) têem uma grande extensão de milhas ; depois de ceifado o Trigo em fins de ju- nho ficam seccas, e apenas podem sus- tentar algum pouco gado que lá exista, e nada mais produzem até ao inverno se- guinte. Ora tendo agua tão próxima, se a aproveitassem por meio das bombas, como deixo dito, que transformação que soíFre- riam no verão aquelles terrenos de pri- meira qualidade? Que colheitas, que pastos e por con- sequência que grandes quantidades de ga- do se não poderiam sustentar? Um valor incalculável. Em annos como o actual de 1870, que quasi se pode dizer não tivemos chuvas, se impostas de Trigos tivessem sido re- gadas, estou certo que não se mirrariam como aconteceu a muitas. E' para desejar que algum proprietá- ria das Lezírias do Tejo faça a experiên- cia com algumas d'estas bombas movidas a vento, porque estamos certos que ha- de tirar bons resultados e dará um exem- plo aos mais proprietários, que quasi as- seguramos não tardarão a imital-o. Lisboa. George a. Wheelhouse. POINCIANA GILLIESn íhook., A vastíssima familia das Leguminosas abunda em plantas encantadoras, e se al- gumas merecem esse titulo, a Pohiciana Gilliesii deve ser collocada na primeira fila e portanto chamamos para ella mui particularmente a attenção dos leitores. Foi introduzida na Europa em 1829 pelo^dr. Gillies, seu descobridor. É um arbusto erecto e muito ramifi- cado. As folhas são multi-pennadas e mui- to elegantes. E nas flores, porem (Jig. 30), que con- siste o principal attractivo da Poinciana Gilliesii. Estas acham-se dispostas em grandes cachos terminaes e são de um amarello enxofre que contrasta bem com o rico colorido purpúreo de seus longo» estames, que são em numero de dez. Fig. 30— Poinciana Gilliesii. As flores superiores sao masculinas e as inferiores hermaphroditas (Klotsch), sustentadas por pedúnculos glandulosos e pillosos. Tem cinco pétalas obcordatas, sesseis, patentes, concavas, inseridas na fauce do cálice e alternando com oi seus segmen- tos. ^ E originaria da America austral e o dr. Gillies diz que é chamada pelos na- turaes Mal de ojos (Mal de olhos), e que é muito abundante e cultivada nas plani- 188 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. cies de Mendoza, onde recebe os benefí- cios da agua que se usa para as irriga- ções, mostrando ser impossivel viver nas terras seccas e áridas que não são culti- vadas. Encontram-se muitas, misturadas com outros arbustos, em logares abriga- dos, na fronteira do sul da provincia de Mendoza, entre o rio Diamante e o rio Atuel. Também se encontram em massi- ços no oeste das margens do rio Quarto e perto dos limites occidentaes dos Pam- pas. Os pés que se encontram em Bue- nos Ayres são devidos ás sementes remet- tidas^ de Mendoza, segundo o dr. Gillies. A incontestável belleza da planta de- vemos juntar que se dá bera ao ar livre em todo o nosso paiz e que floresce abun- dantemente nos mezes de julho e agos- to, prolongando-se a sua florescência al- guns annos até setembro e outubro. Como se pode deprehender do que já mais acima dissemos, convem-lhe um so- lo húmido e substancial, e portanto cum- pre satisfazer-lhe plenamente esta exigên- cia ; d'e5te modo terá o horticultor o pra- zer de ter diante dos olhos, durante um longo espaço de tempo, um formoso ra- milhete. No inverno deverá dar-se-lhe a menos humidade possível. O lenho d'esta planta é um tanto du- ro e fibroso e portanto as estacas pegam difficilmente ; comtudo as sementes nascem muito bem. Segundo vimos annunciado, os ama- dores poderão obter as plantas do esta- belecimento do proprietário deste jornal por um preço extremamente módico. Oliveira Júnior. ALLAMANDA HENDERSONI A Allamanda Hendersoni foi impor- tada de Guiana e é uma planta admirável. As flores são muito grandes, de um amarello alaranjado e assombreadas de es- curo^ do lado de dentro. E esta Allamanda a que tem as flo- res alaranjadas maiores. Começa a flores- cer na mesma epocha que as outras e tem uma grande vantagem, de que muitas tre- padeiras não gozam : a de florescer du- rante um grande periodo, tornando-se por- tanto muito apreciada para as exposi- ções. Thos. Staley. AGAVE VERSCHÂFFELTI As Agaves, pelo seu porte eminente- mente ornamental, são dignas da atten- ção dos amadores. Com eífeito, ninguém poderá ver sem enthusiasmo uma coUina artificial, uma cascata secca, guarnecidas com estas plan- tas, as quaes conjuntamente com Yuccas, Cactos j etc, produzem um eíFeito maravi- lhoso, sempre que o bom gosto presida a estas decorações. Assim muitas vezes de uma montanha escarpada pode fazer-se um aprazível jar- dim. Guarnecendo pilares, coroando colu- mnatas ou mesmo reunidas em grandes grupos, são sempre bellas estas plantas, sempre altamente omamentaes. A Agave Verscliaffelti, uma das espé- cies mais encantadoras deste género, é uma planta acaule de folhas espatuladas, carnosas, amplexicaules, bordadas e ter- minadas por aculeos de um bello casta- nho vivo, que harmonisando com o seu rico colorido prateado glauco produz um dos mais lindos eff'eitos. A estampa opposta, correctamente de- senhada do natural pelo hábil illustrador d'este jornal, mostra bem claramente o effeito grandioso que deve produzir esta planta, quando esteja completamente des- envolvida. Os exemplares existentes em Portugal são ainda de pequenas dimensões, o que não admira, porque a sua introducção en- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 189 tre nós data de mui pouco tempo ; com- tudo esta planta nunca chega a tomar grandes proporções, pois que os maiores exemplares que Mr. Charles Lemaire ob- servou e que certamente eram adultos nào excediam 25 centímetros de altura so- bre um diâmetro foliar de 30 centímetros. Este pequeno porte, por assim dizer anão, comparativamente com as outras es- pécies, dá a esta interessante planta cer- ta graça e elegância, que farão com que nenhum amador deixe de a possuir. J. Casimiro Barbosa. BRUSS E O MONTE OLYMPO, SEUS BANHOS E AGUAS MINERAES, VEGETAÇÃO QUE REVESTE E ORNA A REGIÃO (i) Passadas em revista Bnissa, os seus contornos e as aguas mineraes, seguia-se a digressão ás alturas do Olympo. Estas excursões com destino herborisador só a pé se fazem, nem o chefe da expedição a este respeito transigiria facilmente ; não foi, pois, sem difficuldade que se consen- tiu me fizesse eu auxiliar, para o transi- to, de calvagadura, que servisse era caso necessário, e só n'esse caso, porque quanto pudemos, seguimos todos o rigor dos precei- tos herborisadores, indo a pé. Foi motivo e occasião de admirar a aptidão da raça cavallar que nos serviu ; o animal de mo- destas proporções que a representava, su- bindo e descendo os mais escarpados ro- chedos, nunca vacillou, foi sempre o mais firme e resoluto. Animava-o certamente o sangue árabe, de que sem duvida terá pro- cedido a mula afouta peninsular. Fomos companheiros da excursão, o secretario da embaixada, eu e o cava- lheiro Victor Lovie, o qual fora o encar- regado da parte artística da expedição e muito concorreu para a amenidade que esta teve. Sahimos, pois, de Brussa, partindo pelas 4 horas da madrugada do dia 27. A principio fomos atravessando a região já em parte percorrida por nós antes nas cercanias da cidade, e dominada pelo Car- valho, pelo Castanheiro, a Aveleira e o Choupo. Appareciam juntamente os Cra- tcRgus, os htachys, os Cistus, o Cynan- cum acuticm e os Hypericum; vestiam a campina os Trifolium, os Sinapis, os Ver- hascum, no meio dos quaes se foi distin- guindo também o Doronichum purdalian- che, a Linaria pelisseriana, a Saxifraga rotundifolia e a tão fragrante quanto mo- (1) Vide J. H. P. pag. 165. desta Viola (Violeta), a qual vae appa- recendo quasi sempre até ao extremo da derrota em todas as alturas da serrania. Chegando ao primeiro alto- plano en- tra-se na região dos Pinus, dos AbieSy dos Juniperus; com elles divisam-se as Giesteiras, o Vaccinium myrtillus, e vêem- se matizando o terreno, o Ornithogalum prasandrum, a Gagea lutea, os Orchis, e as Primulas, as quaes muito abundam por esta região. Na parte mais inferior das duas re- giões percorridas fazem matta os Casta- nheiros, logo acima os Quer cus, e em se- guida os Pinus, os Ahies, os Juniperus, de envolta com o Ulmus campestris, ex- tremando-se successivamente as Conífe- ras, que desde o segundo alto-plano do monte Olympo formam por si só bosque cerrado até á região dos gelos. Havíamos atravessado até ao primei- ro alto-plano da serra em cinco horas de marcha e vagorosa herborisação ; feita ahi a primeira refeição e com duas horas de demora, continuamos a ascensão em se- guida pelas 11 horas, chegando pelo meio dia ao segundo alto-plano, e ao terceiro ás 5 horas da tarde, onde devíamos acam- par, para de ahi effectuar a ultima parte da excursão, e para repousar durante a noute. As 6 horas havia-se alcançado o cume do monte, aonde eu não cheguei mas chegaram os meus campanheiros, e pouco depois estávamos todos de volta no acampamento, lutando contra o frio das geleiras próximas por meio de vasta fo- gueira que nos aquecia. Desde o segundo alto-plano, onde já dominam as Coniferas, a outra vegetação cada vez mais rasteira é representada pe- los delicados Muscari que alli abundam, 190 JORNAL DE H0ETICULTT7RA PRATICA. pela Dràba e outras Cruciferas, pelos Or- nithogalum e Pyrethrum de pequeno por- te, e por uns diminutissiraos Ranunculos, de raiz lenhosa que vestem por partes o terreno em tapete continuado. Kao longe do acampamento divisa- mos um arbusto sem flor que nos pareceu seria o Rhododendrum, que faz parte ef- fectivamente da Flora do Olympo, e deve ii'elle existir por essas alturas (^). No dia iramediato estávamos de volta no hotel Loshi pelas 12 horas; esta ex- cursão, porem, ao mais alto do monte, que nos levou dia e meio do modo por que a fizemos, de passeio e a cavallo até onde pode ser assim feita, que é pouco mais da altura na qual acampamos, exe- cuta-se em muito menos tempo, indo e voltando no mesmo dia. Na volta de Brussa visitamos as cria- ções do bicho da seda que alli se fazem em vasta proporção, em casas para isso o mais bem dispostas, e onde se attende do modo melhor ás condições hygienicas em que estas criações devem ser feitas. Nada se poupa para lhes assegurar o espaço, a limpeza, e o conveniente areja- mento. Não consta que por ora as perse- guisse a pebrina, sendo a semente por isso muito reputada, como succede á por- tugueza. O okese d'esta semente chega a valer 45 libras turcas. A criaçSo é em abril e maio, e a evolução do bicho faz-se toda em 45 dias. Esta industria e com- mercio da seda estão nas mãos principal- mente dos gregos e dos arménios. A cidade de Brussa, importante como é por este commercio, e como o pode ser por outras riquezas que possue, as me- lhores lãs, o algodão, o vinho, o azeite e outros objectos, o seria ainda pelas suaa aguas mineraes, pela formosura e ameni- dade do sitio ; o que convidaria tudo á maior concorrência, se os commodos to- dos europeus e sobre tudo a precisa segu- rança alli existissem. E o que falta, po- rem, e o viajante que se dirija a este paiz, não pode estar certo de não ter no tran- sito algum mau encontro que muito o em- barace. Das proezas de um d'estes salteado- res, o grego Manoli, muito famigerado no sitio, recebíamos nós noticia em Muda- nia, no regresso a Constantinopla. Havia pouco tinha executado uma das suas cos- tumadas «razias» em pequenos povoados onde entrara. E mais uma industria nas mãos dos gregos, que elles alli exercem, e na qual, como é sabido, os houve sempre muito insignes. Lisboa. Dr. Bernardino António Gomes. LONICERAS Estes arbustos, hoje tão esquecidos, que crescem naturalmente pelas ribancei- (1) Para conhecimento especial da Flora d'eBta região, alem das obras clássicas, e mais conhecidas, como são as de Tournefort, Bux- hanm, Dumont d'Urville, Sibthorp e Smith, os quaes se occuparam de diflfei-entes secções da Flora do Oriente, pode mais particularmente ver- se: A. Grisebach «Specilegium Florae Kumelicas et Bithynicac, 1846.» J. Clementi. «Sertulum orientale, seu Re- centio plantariun in Olympo Bitbyniae, in agro bysantino et helénico, nonnullisque aliis orien- tis regionibus anno 1849-1850 lectis. Tauriui 1855». P. de TchíkatchefiF. lAsie Mineure. Descri- ption physique, statistique et archeologique de cette contrée. Troisième partie. Botanique 1860, 5 vol. et une atlas. Klements d'une Flore de TAeie Mineure, d'Armenie et des lies de TArchi- pel Grec». ras dos nossos caminhos campestres, per- fumando a atmosphera com o seu exqui- sito aroma, reúnem em alto grau todas as condições necessárias a um arbusto or- namental. E uma das principaes condições, e muito para notar, é a grande diversida- de que reina entre as suas espécies. Umas dão flores brancas ou amarellas, e as fo- lhas n'umas são redondas e n'outra8 re- cortadas e partidas como as folhas dos Carvalhos, e a cor também é muito va- riada; umas são de cor verde carregada, outras da mesma cor, mas mais clara ; ou- tras pelo contrario são cobertas de uma bella rede de riscas amarellas cor de ou- ro, que contrasta com a cor vermelha da haste que as sustenta: emfim, todas as espécies e variedades podem contribuir JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 191 efficazmente para a ornamentação dos jar- dins. Alem d'isso, as Loniceras prestam-se a todos os usos, e tomam todas as formas das mais ricas e estimadas plantas trepa- deiras; e com muita mais facilidade, at- tendendo mesmo á sua rusticidade. Plan- tadas ao pé de uma columna ou de uma ar- vore, bem depressa ganham o seu cume, cahindo depois em graciosos festões de verdura, que espalham na atmosphera o mais bello aroma; também patenteiam a sua belleza, cobrindo um muro ou casa de fresco, e por fim, plantadas mesmo no meio dos jardins e entregues a si mesmas, bem depressa formarão um arbusto que tornará debaixo da tesoura do intelligente jardineiro todas as formas imagináveis. Brotero dá a Portugal como indige- nas unicamente duas Loniceras, ai. ca- Fig. 31 — Lonicera brachypoda, var. foliis aureo-reticulatis. prifolium e a, L. pereclymenum^ e d'estas não temos encontrado pelos arrabaldes do Porto senão uma; hoje, porem, ha um grande numero de espécies e variedades aclimadas, todas muito bellas e muito or- namentaes. Entre ellas ha variedades soberbas pe- las suas flores, e outras pelas suas folhas ; comtudo entre todas a que nos parece mais interessante e mais bella debaixo de to- dos os pontos de vista, é sem duvida a Lonicera brachypoda, var. foliis aureo- reticulatis (Madre-silva de peciolos cur- tos e de folhas reticuladas de ouro), re- presentada na figura 31. Esta Miáre-srZra^ que é uma variedade da Lonicera brachypoda encontrada no Japão e descripta pela primeira vez na «Flora Japonica» de Thumberg, debaixo do nome de L. aigra, veio para a Euro- 192 JOENAL DE HORTICULTURA PRATICA. pa em 1861, sendo o horticultor belga A. VerschaíFelt o primeiro que a apresen- tou no commercio. É como os nossos leitores vêem, uma excellente variedade, cujo mérito princi- pal reside na sua bella folhagem coberta de uma linda renda de ouro, attendendo a que as suas flores também não são des- tituídas de graça. Plantada juntamente com a nossa Ma- dre-silva commum, produzem um effeito esplendido e surprehendente ; mas um dos empregos para que ella é superiormente bella, é para bordaduras, como se fazem com as Heras, em substituição do Buxo ou da Relva. Parece-nos que em vista do que dei- xamos dito, não devemos ter duvida em recommendar estas plantas, aconselhando que se multipliquem nos jardins com pro- fusão; a suavidade do seu cheiro tornará o viver mais agradável e alegre, e quan- do o ar que respiramos é fresco e perfu- mado, torna-se um bálsamo que purifica o sangue, e em muitos casos um remédio preventivo e de grande força. Nada temos que recommendar a res- peito da cultura ; todo o terreno convém a estes vegetaes. Para a sua multiplica- ção, o amador pode escolher entre a mer- gulhia, rebentões e estacas; de qualquer dos modos reproduz-se facilmente. A. J. DE Oliveira e Silva. GOSSYPIUM HERBACEUM (um.) Quando em 1863 os Estados da Ame- rica estavam em guerra civil e que os americanos do norte tinham bloqueado os portos do sul dos Estados, chegou o al- godão a um preço excessivo por não po- der sahir para fora dos portos. Em quasi todas as nações, e muito principalmente a ingleza, começou- se a procurar a maneira de cultivar o algodão, não só pela falta que fazia, como pela tris- te posição em que se achavam milhares de operários por falta desta industria. Foi então que eu tentei ver se no nos- so paiz esta útil planta se dava, e se che- gava a estado de madureza. Obtive uma pouca de semente do Algodoeiro herbá- ceo da índia, e outra porção do de An- gola e do Brazil, e no fim de março de 1863 fiz com estas três qualidades uma sementeira, em terreno bem adubado e adequado para ser regado. As três qualidades do Algodoeiro nas- ceram menos mal, mas as plantas tenras, durante o mez de abril e principio de maio, estiveram sempre muito enfezadas, devido ao pouco calor. No mez de junho o calor augmentou, e ellas foram-se tornando mais vigorosas, e principiaram a vegetar com muito vi- gor, mas só no fim de setembro 6 que deram algumas flores e fructos, c d'estes apenas alguns amadureceram nos fins de outubro e principies de novembro. A maior parte das capsulas foram destruí- das pelas geadas que vieram no meado de novembro. Cheguei a persuadir-me que entre nós a cultura do Algodoeiro era impossível, de mais a mais tendo eu feito a sementeira em local muito abrigado com uma exposição inteiramente ao sul. Este anno o meu particular amigo, o snr. Fletcher, cônsul dos Estados Unidos da America na cidade do Porto, deu-me uma pouca de semente do Algodoeiro her- báceo da America do Norte, para eu fa- zer um ensaio, e disse-me que a cultura do Algodoeiro na America do Norte ain- da se fazia n'unia latitude mais ao norte do que Lisboa e o Porto. No fim de março do corrente anno semeei, pois, a semente do Algodoeiro her- báceo dos Estados Unidos da America em um pequeno terreno bem adubado, mas sem ser abrigado, e com proporções para ser regado. A sementeira nasceu bem e desenvol- veu-se com vigor ; no mez de julho esta- vam as plantas todas em flor, e no fim de agosto já as primeiras capsulas principia- vam a amadurecer, e hoje (meado de se- tembro) estão a maior parte maduras, fa- zendo uma linda vista com as capsulas arrebentadas e o algodão sahindo d 'ci- las. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA. 193 Já se vê por esta experiência que o Algodoeiro que se cultiva nos Estados Unidos se dá perfeitamente entre nós, e que se alguma vez tornarem a subir os preços d'este género, por qualquer even- tualidade que torne difficil a exportação d'elle dos Estados Unidos, nós o podere- mos cultivar com vantagem, carecendo de algumas regas, mas não muitas. Deveríamos, comtudo, adoptar esta Malvacea para os jardins, porque quan- do está com flor e as capsulas maduras cheias de algodão faz um lindo eífeito. Lisboa. GeORGE A. WheELHOUSE. SANCHEZI NOBILIS (book.) Entre as plantas de folhagem varie- gada ou colorida, é sem duvida a que ser- ve de epigraphe a esta pequena íiota uma das mais bellas e um interessante orna- mento das estufas e, debaixo d'este ponto de vista, digna rival das mais bellas Aphellandras. A Sanchezia nohilis é uma planta ro- busta, cujas folhas oblongo-lanceoladas, de 25 a 30 centímetros de comprido, e at- tenuadas na base em curtos e largos pe- ciolos alados, sào de um bello verde va- riegado de amarello vivo ao longo das nervuras. As suas flores de um amarello de ou- ro, dispostas em numerosos fascículos op- postos, providos na base de amplas bra- cteas, também oppostas, concavas e de um vermelho mui vivo, formam uma es- pessa panicula terminal bicolor que, con- trastando com a sua magnifica folhagem variegada, constitue um todo verdadeira- mente ornamental, que justifica na ver- dade o nome especifico d'esta interessante planta. A Sanchezia nohilis foi descoberta em 1863 na republica do Equador por Mr. Pearce, que a introduziu em Inglaterra, onde floresceu pela primeira vez em 1866. Tivemos occasião de a ver no estabe- lecimento hortícola do snr. José Marques Loureiro, e em vista da sua belleza não podemos deixar de dar esta curta noticia aos leitores do «Jornal de Horticultura Pratica». J. Casimiro Barbosa. CALENDÁRIO DO HORTICULTOR DEZEMBRO Jardins. Continua a apanha das fo- lhas, que dão sempre um mau aspecto aos jardins. Devem cobrir-se com esteira as plan- tas que possam sofírer com as geadas ; n'este caso estão as Palmeiras^ Coníferas e muitas outras. Sobre tudo as Wigan- dias e Aralias, que são de tão magestoso aspecto, morrerão, se não houver cuida- do de as cobrir de noute. Colhem-se as sementes das arvores de ornamento. Os Jacinthos e Tidipas precisam de ser visitados amiudadas vezes pelo horti- cultor. Ainda se fazem grupos de Cro- cus, que são de effeito encantador. Hortas. K'este mez os trabalhos são os mesmos do mez precedente, Devem concluir-se as lavouras e preparar-se os Espargos e as Alcachofras para o in- verno. As sementeiras são n'esta epocha in- significantes. Ainda se plantam Alhos. Arvoredo. Não havendo geadas, con- tínua a poda. Grande cultura. E preciso prepa- rar com actividade as valias de esgoto e fazer todos os reparos de que possam ca- recer os campos, para que as chuvas não os venham prejudicar. Continuam- se as sementeiras de Tri- go e Centeio que não foi possível concluir no mez passado. Começa a mergulhia das visbas. íQé JOSKAL DE HORTICULTURA PRÁTICA. CHRONICA O snr. Nicolau Pereira de Mendonça Falcão diz-nos que tem na sua quinta de Farejinha (Castro Daire) Eucalyptus que apenas contam 4 annos de plantação e que medem 9™, 90 de altura. E dous exem- plares que plantou no mez de março pró- ximo passado, em terreno secco, na sua quinta de S. Salvador (Vizeu), estão opu- lentos, tendo crescido em tão pouco tem- po, um 3'°,08 e o outro 3",30, que, se- gundo o snr. Falcão, fazem admiração a toda a gente que os viu plantar. O proprietário d'este jornal possue um Eucalyptus globulus no seu estabeleci- mento que em 10 mezes attingiu 5 me- tros. Isto é : 50 centimetros por mez ! ! ! Se continuar vegetando com este vi- gor, que collosso não será em vinte ân- uos! Este anno têem-se feito bastantes plan- tações d 'esta arvore. — A exportação de bois pela barra do Porto foi muito pequena no mez de ou- tubro. Apenas sahiram 502. — O celebre astrónomo aragonez, Cas- tillo, prognostica que este inverno será tão frio como o de 1829 e que por tanto veremos descer o thermoraetro a 10." Tomem, pois, os horticultores todas as precauções para, se vier a realisar-se o prognostico do celebre astrónomo, evi- tarem o maior mal. E sobre tudo aos ensaiadores de no- vas plantas, que recommendamos todas as precauções. — Emquanto se não olhar para a cul- tura do Eucalyj)tus como se deve, é im- possivel vel-o prosperar em Portugal. Já na nossa aChronica» de outubro (pag. 162) notamos a necessidade de não podar estas arvores antes que ellas con- tassem 3 ou 4 annos ; todavia áquellas que se acham plantadas no campo da Re- generação, que apenas contam um anno, deram-lhes tal poda que melhor seria ar- rancal-as, porque d'e3te modo evitariam futuro trabalho. Parece incrível que a camará do Por- to não escolha pessoa mais competente para fazer este serviço. Vê-se n'estas e n'outras podas que existe crassa ignorân- cia da parte da pessoa que as faz, porque desconhece completamente os vegetaes com que lida. Declaramos que não conhecemos o in- dividuo que commette estes sacrilégios. — Temos continuado a receber cartas de diversos cavalheiros, dando-nos infor- mações sobre as condições em que se acham as Wellingtonias giganteas que pos- suem ou de que têem noticia. O snr. Adolpho Frederico Moller es- creve-nos e, como se poderá ver pela lei- tura da sua carta, a Wellingtonia que está em condições oppostas áquellas que nos indicaram no numero passado o snr. Nico- lau Pereira de Mendonça Falcão e o snr. D. Miguel de Alarcão, é a que mais tem prosperado. Snr. redactor. Em resposta á pergunta que V. fez na Chro- nica de setembro ultimo, sobre se será possível aclimar a Wellingtonia gigantea em Portugal, tenho a dizer-lhe o seguinte : Em novembro de 1867 foram plantados 6 exemplares na matta de Valle de Cannas, ao pé de Coimbra, e que está a cargo da direcção das obras do Mondego, que foram comprados ao Jar- dim Botânico da Universidade e que teriam o muito O™ ,15 de altura. Um foi plantado n'um dos pontos mais ele- vados da matta, outro na meia encosta e quatro no valle. O primeiro tem hoje l«n,20, o segundo O™ ,G0 e os outros quatro entre Om ,25 a 0^ ,30. O terreno em que se acham plantados os pri- meiros c de schisto, e o dos outros na passagem do terreno schistoso para o argilloso. Os quatro últimos só este anno é que começaram a desenvol- ver-se naturalmente, em consequência do anno ter sido muito secco, pois o terreno onde estes se acham plantados é bastante fresco e de verão amiudadas vezes regado, por alli haver um \i- veiro. O que se prova por isto é que as Welling- tonias se dào melhor nos sitios elevados quenào sejam húmidos e em terreno schistoso. Sou de V. etc, Adolpho Frederico Moller. Coimbra — Matta do Choupal, 20 de novem- bro de 1870. JOBNAL DE HORTICULTURA PBATICA. 495 — Recommendamos a todas as pessoas que gostam de arvores de effeito brilhan- te a plantação da Grevillea robusta. È bastante rústica e quando está co- berta de suas numerosas flores, cor de la- ranja, é de um effeito admirável. — Recebemos uma lista de sementes do estabelecimento do snr. Silva Vieira, de Valladares (Gaya). Contem um bom numero de sementes que se vendem por preços muito razoáveis. — É sem contestação de toda a ur- gência que se estabeleçam pomares onde se possa por meio da observação discri- minar os bons fructos dos maus. Como se verá pelo extracto da carta de um nosso amigo, que abaixo damos, está-se trabalhando para organisar um po- mar portuguez, isto é, dos fructos que se cultivam ha muito no nosso paiz. Amigo snr. Oliveira Júnior Vi o que diz o snr. Faro com relação ao «Ca- talogo pomologico portuguez», e ao trabalho que para elle podem fazer os lentes da Universidade. Na cerca de S. Bento ha princípios de trabalhos, tendentes ao estudo das arvores de fructo portu- guezas. Alem do pomar de fructa franceza, temos já uma boa plantação de planta cultivada no paiz. No anno passado, por instigação do snr. vis- conde de Villa Maior, fez-se a primeira planta- ção de Videiras portuguezas e de algumas es- trangeiras. O fim d'este3 trabalhos é conhecer o que te- mos e poder então formar o Catalogo e conhecer o que podemos aproveitar das plantas cultiva- das em outros paizes. O snr. Mello e Faro auxiliar-nos-hia muito, mandando garfos com os nomes por que as arvo- res são conhecidas na localidade. Desejo-lhe muita saúde e mande o Seu amigo, etc. JuLio Augusto Henriques. Coimbra, 21 de novembro de 1870. Em vista do offerecimento que o snr. J. de C. A. Mello e Faro fez n'este jor- nal (pag. 151), estamos bem certos que com a melhor vontade accederá ao pedi- do do snr. dr. Júlio Augusto Henriques. Pela nossa parte também agradece- mos a cooperação d'este cavalheiro para O desenTolvimeuto pomologico. — Desde o principio d'e8te anno até 31 de outubro exportamos pela barra do Porto 34:414 pipas de vinho. — O Onorpordon tauricum é da famí- lia das Compostas e da tribu das Cirsi- neas. E' uma planta de folhagem muito ornamental e que recommendamos aos nos- sos leitores. Mesmo n'um solo mediocre as folhas attingem 3 pés de comprido e 1 de altu- ra, e a planta é de tamanho bastante con- siderável. Collocada destacadamente no meio da relva produz bom effeito e também é mui- to própria para formar grupos junta com outras plantas de folhagem ornamental. — Um bello exemplar da Monstera de- Uciosaj que se acha no estabelecimento do snr. José Marques Loureiro, fructifi- ficou este anno no Porto pela primeira vez. Estes fructos, quando estão maduros, são, segundo affirmam, deliciosos, tendo o gosto um tanto similhante ao do Ananaz. Este individuo a que nos referimos tem umas 4 espigas floraes^ que de aqui a alguns mezes serão saborosos fructos. E' uma planta muito interessante e os leitores que ainda não a tenham visto aproveitarão um bello dia para ir exa- minal-a ao estabelecimento do snr. Lou- reiro. — Acabamos de receber o «Catalogo geral para o outomno de 1870 e prima- vera de 1871» de MM. Ch. Huber & C.'« Examinando-o vemos que contem grande numero de novas introducções. E um estabelecimento muito acredita- do o d'estes senhores, que por isso recom- mendamos. — Aconselhamos aos silvicultores a plantação do Ailantus em grande escala, em consequência da sua excellente ma- deira. Algumas taboas têem estado expostas ao tempo ha mais de 27 annos e a madei- ra acha-se perfeitamente preservada. É útil para utensílios agrários e não empena nem racha. Serra-se com facili- dade e quando exposta ao ar adquire mui- ta rijeza. JORNAL DE HOBTICULTUBA FBATIC Premiado cona MEDALHA DE PRATA na Exposição ^ "^ Horticola de Lisboa de 1870 PROPRIETÁRIO — JOSÉ MARQUES LOUREIRO REDACTOR— OlilTEIRA «IIJIVIOR COLLABORADORES : Em Portugal — Os Snrs.: AdOLPHO FREDERICO MoLLER, AnTONIO DE La RoCQUE António José de Oliveira e Silva, Dr. Bazilio Constantino de Almeida Sampaio. Dr. Bernardino António Gomes, D. J. Nautet Monteiro, Conselheiro Camillo Aureliano da Silva e Souza, Edmond Goeze George a. Wheelhouse, Joaquim Casimiro Barbosa, Dr. Júlio Augusto Henriques, Visconde de Villa Maior. Em França, Mr. A. DUMAS. Ha Bélgica, Mr. JeAN VeRSCHAFFELT. VOLUME 11-1871 JflEDACÇÃO, RUA DO pARMO, 6 _ JpORTO TYP. DA LIVRARIA NACIONAL 1871 índice PAG. PAG Abelhas (Herva) . 163 Aloés . 165, 196 Abetos . . . . 68, 121 Amaryllis 51 Abies alba . 69 — atamasco 52 — balsamea . 69 — aulica . 52 — excelsa 25, 68, 99, 121 — belladona 53 — nigra . 69 — blanda . 53 — pectinata . 25, 69, 99, 121 — cândida 53 Abutilon vexillarium . 62 — Cybister 53 Acácia dealbata . 74, 75, 145, 186 — equestris 52 — melanoxylon . 46, 75 — formosíssima 52 Acer . . . , 228 — fulgida 52 — palmatum var.cris — longiflora 52 pum . 166 — lutea . 52 — saccharinum . 147 — mutabilis 53 Aceras antropophorse , 164 — pardina 53 — longibracteata. 164 — procera 53 Acropera Loddigesii . 155 — reginae 52 Açucenas 13, 160 — reticulata 52 Adansonia digitata 135 — rufila . 53 Agaves . 165, 196, 208 — Sarniensis 53 Agnostus sinuatus 10 — sessilis . 53 Agriões 30, 198 — solandriflora 53 Ailanthus glandulosus. 144 — verecunda 53 Aleurites laccifera. 107 — vittata . 52 Alismas 165 Ameixa Pond's seedlin^ r 212 Allaraanda Aubeti 141 Ameixas (Conservaçã( — Henderson i 140 das) . 192 — neriifolia . 141 Amoreira 37, 127 — nobilis 141 Ampelopsis . 176 — Schotti 141 Anacardium occidental< 3 135 Alocasia metallica 50 Anagallis tenella . 165 índice PAG. PAG. Abelhas (Herva) . 163 Aloés . 165, 196 Abetos , . . . 68, 121 Araaryllis 51 Abies alba . 69 — atamasco 52 — balsamea . 69 — aulica . 52 — excelsa 25, 68, 99, 121 — belladona 53 — nigra . 69 — blanda . 53 — pectinata . 25, 69, 99, 121 — • cândida 53 Abutilon vexillarium . 62 — Cybister 53 Acácia dealbata . 74, 75, 145, 186 — equestris 52 — melanoxylon . 46, 75 — formosíssima 52 Acer . . . . 228 — fulgida 52 — palmatum var.cris — longiflora 52 pum . 166 — lutea . 52 — saccharinum. 147 — mutabilis 53 Aceras antropophorse . 164 — pardina 53 — longibracteata. 164 — procera 53 Acropera Loddigesii . 155 — reginae 52 Açucenas 13, 160 — reticulata 52 Adansonia digitata 135 — rufila . 53 Agaves . 165, 196, 208 — Sarniensis 53 Agnostus sinuatus 10 — sessilis . 53 Agriões 30, 198 — solandriflora 53 Ailanthus glandulosus. 144 — verecunda 53 Aleurites laccifera. 107 — vittata . 52 Alisraas 165 Ameixa Poud's seedlin^ r 212 Allamanda Aubeti 141 Ameixas (Conservaçã( — Henderson i 140 das) . 192 — neriifolia . 141 Amoreira 37, 127 — nobilis 141 Ampelopsis . 176 — Schotti 141 Anacardium occidental( 3 135 Alocasia metallica 50 Anagallis tenella . 165 VI índice Anbrietia deltoidea Andropogon argenteum Anémona palmata. Angraecum sesquipeda le . Anona triloba Anonas . Anthurium Scherzeria num . AnthyllisGerardi. ApoUonias canariensis Apontamentos sobre a sciencia flores- tal . Aquários . Arachys hypogíea Aralia papyrifera . Araucária Bidwilli — Cooki . — Cunningha mil . — excelsa — intermédia — Rulei . Arborisação . Arbutus unedo Arroz . — de sequeiro da Chi na Arvore de Mammouth — do ponto . Arvores fructiferas Asphodelus ramosus Astrapaía penduliflora — Wallichii Atriplex hortensis. Aucubas Azálea. Babianas Bananeira . Banco Tortulho . Banksia ericaefolia — integrifolia — littoralis . — marcescens — speciosa. — undulata — verticillata Baobab . Barbarea praecox. Batata Alyatt's prolific Kidneys . — Cambridge Kid ney . 165 165 165 93 166 166 39, 50, 93 165 144 Batata Sutton's red skin flourbal — têmpora inglez Batatas . Baunilha Begónia discolor . — Evansiana — incarnata — lúcida . — rex . — semperflorens Begónias Belladona 43 Benthamiafragifera 11, 79 Berberis Daiwinii 168 Bergamota . 118 Beterraba 146 — Carter'sPreye 146 manunut raan gelwurzel 146 — Orange globe 146 mangelwurzel 146 Betula alba . 146 Bicho da seda do car 99 valho 166 Bignonia fischeri. 168 — jasminiflora Boehmeria tenacissima 6 Bordão de S. José 48 Boronia megastigma 96, 163 Bougainvilleas 90 Brabeium stellatifoliura 57 Brahea dulcis 118 Brassica oleracea. 40, 117 Bromus Schraderi 180 Bryonopsis laciniata 60, 116 Bupleurum protractum 189 Buxus sempervirens 163 Cacto real . 35,167 Cactos . 19 Caladium. . 9 Callistephus Chinensis 9 CamelliaD.RitadeCas 9 sia . . 9 — Duarte de Oli 9 veira . 9 Camellias 9 Campânula hederacea 135 Cânhamo 198 Canna Annei — discolor 91 — edulis. — gigantea 91 — glauca 167 91 116,177 174 86 87 114 114 106, 141 114 106,114,175 52 166 166 97 90 90 25, 121 156 165 165 20 Õ2 172 165 66 75 167 168 165 165 107 196 196 51 96 119 2 40 165 228 132 132 132 132 132 índice VII Canna indica 131 Chronica 15,36,55,74,93, — liliiflora . 133 113,133,153,172 — musasfolia mini- 187, 211, 225 ma . 132 Cidrão . . . . 97 — nigricans . 132 Cidreira 97 — peruviana. 132 Cinchona succirubra . 16,94 — robusta 132 Cissus discolor 176 — spectabilis 132 — veiutina . 177 — Van Houttei . 132 Cistus . . . . 165 — Warscewiczioi- Citrus aurantium . 97 des . 132 — Limetta 97 — zebrina nana . 132 — Limonum . 97 Cannas. 16Õ — margarita . 97 Cantua buxiíolia . 187 — medica 97 — dependens 166, 186 — vulgaris . 97 — ovata 187 Cobsea penduliflora 165 — tomentosa 187 — scandens . 78, 165 — uniflora . 187 Cocos australis . 75 Cardamine pratensis . 198 — campestris . 75 Carissa carandas . 141 — chilensis 75 — edulis 141 — coronata 75 Carvalho 25, 142, 227 — flexuosa 75 — cerquinho . 25 — lapida 75 Carvalhos 127 — peruviana . 75 Carynocarpus laevigatí i 167 — Romanzoífiana 75 Castanea vesca . 87 Coleus . 164, 165 Castanheiros. . 25,87,127,212 Colocasia antiquorum 165 Casuarinas . 56, 145 Colocasias . 189 Catalpa erubescens 166 Coniferas 93, 127 Cedro de Groa 64, 146 Convolvulus batatas 28 Cedros . 127, 204 Coral arbor . 179 — do Bussaco 49, 64 — — american a 179 Cedrus Libani . 43 — — non spino - Cephalantheras . 164 sa, flore longior e Cephalotaxus Fortunei 144 et magis clausí 3 179 Cerbera ahovai . 141 — — siliquosa , 179 — thevetia . 141 Corallodendron triphyl Cereus grandiflorus 196 lum America Chá . . . 127,151,168 num spínosum Chamaerops arbórea 75 flore ruberrimo 179 — excelsa 75 Corbularia obesa. 164 — Fortunei 75 Corypha australis. 75 — Ghiesbreg 1- — Gebanga 75 tii . 75 — spinosa . 75 — humilis 75 Cosmophyllum cacalise — macrocai folium 165 pa. . 75 Crambe marítima 167 — Palmetto 75 Crassulas 165 — toraentos a 75 Cravo Marques Loure Chocho . 167 ro 58 Choisia ternata 166 — Pellereau . 58 Chorizema ilicifolia 112 Crocus . 163 Chorões 42, 189 — vernus 164 Choupo branco . 87 Crozophora tinctoria 107 vin índice Cryptomcria japonica . 127 Ervilha Carters'surpri- Cultura das plantas em se 153 vasos. 208 — de admiração 153 Cupressus fastigiata 49 Erysimum prajcox. 198 — glauca 43, 49, 64 146 Erythrina americana 179 — lusitanica . 65 — Bellangerii 179 — sempervirens 146 — . Bidwillii 179 Cycas rcvoluta . 75 — cárnea . 179 — Riuminiana 75 — Clottyana 179 Cyclonia japonica. 220 — crista-galli 178 Cyperus 189 — erythrosta — papyrus. 165 chya . 179 Cypreste 127 — floribunda 179 Dahlias .... IIG, 189 ,194 — fulgens 180 Damasqueiros 212 — herbácea 179 Dammaras . 146 — Ilumeana , 179 Daphne Gnidium. 166 — laurifolia . 179 Dasylirium longifolium 75 — marginata . 180 Dasyliriums . 165 — . ornata . 179 Desarborisação (Conse- — princeps 180 quências da) . 203 — rósea . 179 Dcutzia crenata fl. pi. 166 — ruberrima . 179 — gracilis . 166 — speciosa 179 Dicksonia antárctica . 15,93 — spinosa 178 Dioon edule. 75 — spinosa e1 Diospyros Kaki . 166 non spinosa, fo — Lotus . 113 ,166 liis rhorabeis ter — Virginiana . 113 ,166 natis. 179 Diplothcraium mariti- — velutina 179 mum , 75 — versicolor . 179 Dracícna brasiliensis . 59 Ery thronium Dens canis 5 164 — Draco . 127 Espinafre 228 — regi na . 59 — commum 180 Dracontium pertusum . 19 — da Tartaria. 180 Drosophyllura lusitani- — de verào 12 cura . 165 Estudos ampelographi- Dryandra armata. 10 cos . 61 ,77 149 — nívea . 10 Eucalyptus . 95, 108, 115 145 — plumosa. 10 — amygdalina 37 ,56 145 — pteridifolia . 10 — calophylla . 46 Duas palavras 228 — coryrabosa. 145 Elymus arenarius. 126 — diversifolia. 134 Embothrium coccineum 67 — falcata 20, 37, 134 — lanceola- — ficifolia 172 tum . 67 — gigantea . 37; 56, 134 Empetruni álbum 166 — globata 37 Entomologia hortícola . 147,171, 180, — globulus 20, 36, 56 ,57 ,83, 197, 215 134,] 145, 212 Epidendrum tovarcnse. 155 — goniocalyx . 145 Epípliyllum truncatum. 196 — Gunnii 37 ,46 Erianthus Ravennaí . 165 — leucoxylon. 145 Eriça ciliaris 166 — mahagoni . 37 — mediterrânea 166 — marginata . 37, 46, 146 — Tetralix . 166 -""* montana . 37 ÍNDICE IX Eucalyptus obliqua . 37, 56, 145 Gesnerias 175 — occidentalis 37 Geum coccineum. 11 — pêndula 37, 134 Gigantabies cupressifo — piperita 37 134 lia . . . 48 — reciana 37 — taxifolia . 48 — resinifera . 37 Gladiolus 163 — Risdoni 37 Gloxinias 175 — robusta 37, 134 Grevillea acanthifolia 9 — rostrata 145 — canescens 9 — rubra . 20 — flexuosa 9 — species 134 — longifolia 9 — Stuartiana. 134 145 — Manglesii 9 — viminalis . 134 — pteridifolia 9 Eugenia Ugni 166 — robusta 7,75 Euphorbia Jacquiniae- — rósea . 9 flora . 228 — rosmarinifo — pulcherrims i 107 lia . . 9 — splendens . 108 — Thelemannia - Euryale ferox 165 na 9 ExcÊecaria crepitans . 107 Guevinia avellana 66 Excursão botânica e Gynerium argenteum 47, 212 horticola . 125, 144, 163 — argenteun Fagus argêntea . 89 pumilum . 212 — asplenifolia 89 Gyrasol batateiro. 28 — atro-purpurea . 89 Habranthus . ò2 — áurea. 89 Hakea gibbosa . 9 — Brocklesley 89 — Lehmanniana 9 — castanea . 87 — pugioniformis - 9 — microphylla 89 — saligna 9 — sylvatica . 87, 142 — suaveolens 9 — tricolor 89 — Victorise . 9 — varietas sangui- Helianthemum 165 nea . 89 Helianthus tuberosus 28 Faia . . . . 87 Herva do orvalho 43 Ferrugem (Meio de pre- — dos unheiros 96 servar 0 ferro — prata 96 da) . 192 Hippeastrura. 52 Feteiras de sala . 79 Hippomane Mancinelh i 107 Fetos . . . . 165 189 Hovenia dulcis . 166 Flor de Hz . 52 Hura crepitans . 107 Folhas (0 que devemos Hyacinthus caiidicans 163 ás) . 22 — princeps 163 Fourcroyas . 165 Hydropyrura esculen Fraxinus excelcior pên- tum . 168 dula . 189 Idesia polycarpa. 166 Freixo . . . . 227 Incisão annular na vinhs j 214 Fritillaria meleagris . 164 índigo . 168 Fuchsias 164 ,189 Indigofera dosua. 168 Gardénia florida . 154 — tinctoria 168 Geraniums . 164 Inhame . 51 Gesneria refulgens 176 Insectos flor^staes. 123 — zebrina . 67 Insectos nocivos ás ar — zebrina atter- vores. , 147, 171, 180, rima . 176 197, 215 X Introducção . Iresines . íris sambucina — subbiflora Ixia bulbocodium Jacintho3 Jardins públicos do paiz — — do Porto Jarro vulgar. Jatropha Manihot. Jubaea spectabilis Juglans nigra Kalraia latifolia . Knightia excelsa. Kniphofia príEcox Kniphofias . Laranjeira . — azeda . Larix americana rubra — Dahurica — Europsea — — varie gata. . — Griffithii . — japonica . — microcarpa. — nigra , — pêndula vera — Sibirica Laurus camphora — nobilis Lavoura . Lavra circular cora ara- do de aiveca fixa Leucadendron abieti num. — semulum. — argenteum . — concolor. — grandiflc rum . Leucospermum con( carpum — tomentosum Licoris . Lilium auratum . — lancifolium — martagon. — speciosum. — splondens. — supcrbum . — Thumbergianum fl. pi. . índice 1 164 164 164 164 113, 116, 163 189, 226 160 51 107 75 147 63 10 163 163 15, 97, 127 16, 97 99 99 98, 121 99 99 99 99 99 99 99 144 144 182 223 65 65 65 65 65 66 66 52 12, 156 13 164 13 163 160 13 Lilium tigrinum fl. pi. Liliums. Limão sinensis anão . Limeira. — da Pérsia Limoeiro. — doce raarga- rita . Linarias Linho da Nova Zelân- dia . Liriodendron tulipife- ra . . . 96, Lomatia Bidwilli. — ferruginea — heteromorpba. — longifolia — obliqua . — silaiíolia. Lonicera brachypoda . Lycaste Skinneri. Lyrio de Guernesey . Lythrum hyssopifolia. Macadamia tcrnifolia . Machinas de malhar se- reaes . Macieira Madura aurantiaca Macrochloa arenaria . Magnólia Campbelli — macrophyllum — • Yulan . Mahonia Nepalensis Mancenilheira Mandevillea suaveolens Mandioca Marmeleiro do Japão . Martyrio alado Melhoramentos agríco- las e hygieuicos em Portugal Mercurialis annua Mesemb rianthemum cristallinum Milho assucarado. Mimetes Moléstia das batatas(Me- didas que se de- vera tomar para prevenir a) Molinia chilensis . Monstera Adansonii . — deliciosa 163 — Lenneana . 163 163 97 97 97 97 97 165 225 163,166,227 67 67 67 67 67 6'7 227 155 53 165 10,66 69 227 135 165 166 166 166 64 107 165 107 220 53 24 108 42, 165 30 66 177 75 19 19 19 índice XI Montia rivularis . 198 Pseonía Atleta 201 Morangueiro A nana: s — atropurpurea . 201 Gloede 168 — Colonel Mal- — Br 0 wn ' í colm . 201 Wonder . 136 — globosa . 201 — Gaillon . 89, 226 — Gloria Belga- — sem bra rum . 201 ços . 89 — Jewel of Chu- Morangueiros 39, 58, 227 san . 201 Musa coccinea 167 — Kaiser Leo - — discolor 167 pold . 201 — Ensete 167 — Lord Macart- — paradisíaca . 167 ney_ ; 201 — rósea . 167 — Osíris 201 — sapientium . 167 — Pritle of Hong- — sinensis 167 Kong 201 — zebrina 167 — purpúrea . 201 Myrtus communis. 166 — zenobia . 201 Nasturtium officinale . 198 Palmeiras 75, 208 Nelumbium caspicum . 11 Pancratium maritimum 46, 164 — flavescens . 11 Paronychia argêntea . 96 — jamaicense 11 — de Clusio . 96 — luteum 11 Passerina hirsuta. 166 — speciosum . 11,165 Passiflora alata . 53 — tâmara 11 — Decais nea- Neottias 164 na . 53 Nephelium litchi . 167 — edulís . 167 Nerine . . . . 52 — macrocarpa . 167 Nerium Oleander. 141, 166 — quadra n g u- Nivenia. 66 laris . 167 Nogueiras . 127 — trífasciata . 111 Nuphar luteum . 165 Passifloras . 165 Nymphaeas . 165 — de fructos Obras de pedra . 165 comestíveis 167 Odontoglossum grande . 155 Peceguiros . 212 Oliveiras 127, 168 Pé de vacca 198 Ophrys apifera . 164 Pedicularis palustris . 165 — aranifera. 164 Pelargonium Odier 189 — fusca 164 — zonale 189 lutea 164 Pêra Betterrave. 122 Oplismenus imbecillis. 47 — Beurré d'Aren- Orchis latifolia . 164 berg . 26 — militaris . 164, 174 — Caleville de Roy- — papilionacea . 164 der . 122 — pseudo-sambu - — Caleville Sangui- cina . 164 nole . 122 — tridentata 164 — Cousinotte . 122 Orchideas . 135, 154 174 — De sang 122 — terrestres in- — De Sanguínosy . 122 dígenas . 163, 164 — D. Ignez 173 Ornithogalum arabicum 164 — Joséphine de Bin- Oryza sativa mutica . 6 che . 174 Ouvirandra fenestralis. 81 — — de Píeonia arbórea . 201 Malines . 174 XII INDICK Pêra Grenade 122 Protea formosa. . 66 — Passe Colmar vi- — grandiflora 66 eux d'6té . 122 — melaleuca . 66 — Sang rouge. 122 — mellifera. 66 — sanguine de Fran- — speciosa . 66 co .. . 122 Pterosty rax hispida . 166 — sanguinole . 122 Pyrolirion 52 — — africaine 122 Quercus Aegylops 143 — — niusquóe 122 — alba 143 — — rouge 122 — aquática 143 — souvenirdu Con- — Banisteri 143 rès . 162 — berris , 143 Perconia lanceolata 10 — bicolor. 143 — linearis . 10 — boUota . 143, 190 — macrostachya 10 — castaniíefolia . 143 Persea indica 144 — coccifera 143 Petunias 116 164 — coccinea 143 Phaseolus caracalla 165 — cucullata 143 Philadelphus grandiflo- — discolor 143 rus . 166 — elegans 143 — primulaaflorus. 166 — fruticosa. 143 Philodendron pertusum 19,51 — gra3ca sem Phoenix canariensis 75 pervirens 143 — dactylifera 75 — hispânica 143 — farinifera . 75 — hybrida. 143 — reclinata. 75 — ilex 190 — sylvestris 75 — laurifolia 143 — tenuis 75 — lusitanica 142, 190 Phormiura tenax . 157 ,225 — macrocarpa 143 — — foi. var. 159 — macrophylla 143 Phyloxera vastatrix . 18 — nigra 143 Picea excelsior . 68 — occidentalis 143 190 Pinguicula lusitanica . 165 — palustris. 143 Pinheiro annoso . 174 — pedunculata 121, 142 , 190 — de Flandres 122 — phellos . 147 — de Riga 122 — Prinos . 143 — silvestre 121 — pubescens 143 Pinus abies . 68 — pyramidalis 143 — insignis 225 — robur 121 — maritima . 127 — rotundifolia 190 — picea 68 ,127 — rubra . 143 - - hyb . , 69 — sessiliflora 142 — sylvestris . 121 — . striata . 166 Pistia stratiotes . 81 — suber . 143 185 Plantação 82, 110, 137, — tinctoria 143 , 147 199, 216 — Tozza . 143 Poda das arvores fructi . — virens . 143 feras . 2, 21, 41 Racheis 53 PoincianaGilliesii. 156 Rainha da noute. 196 Pontederia crassipes . 165 Ranunculus hcdcraceu s 198 Ponte rústica 124 Raphanus caudatus 167 Populus alba 87 Relva • • • 56 Protca cynaroides 66 Rhaninus intermedius 113 — decora • 66 Rhapis âabelliformis 75 índice IIII Rhododendron — ponti cum . Rhopala áurea — coroo vadensis — elegantissi ma . — Jonghei . — pulchra . — Skinneri. Rhus Coriaria Rumex longifolius — crispus . Rhynchocarpa Welwi tschii. Ricinus communis Rosas . Sabal Adansoni . — Blackburnianum — Palmetto . Saecharura officinarum Sagittaria sagittifolia Salepo . Salgueiros . Salisburia adiantifolia Salix . — alba . — amygdalina — arenarea . — aurita . — atro-cinerea. — Babylonica . — caprea. — cinerea — dapnoides . — fragilis — hermaphroditica — herbácea — hastata — laponum — monandra . — pedicellata . — pyrenaica . — purpúrea . — retusa . — reticulata . — salvifolia . — triandra — viminalis . — vitellina Sanchezia nobilis. — nobilis, var glaucophylla Saxifragas . 189, 22Õ Sciencia florestal (Apon- tamentos histó- 166 ricos á cerca da) 67 Scilla floribunda . 67 — peruviana . — princeps 67 — pumila 67 Scillas . 67 Sechium edule 67 Secias. 145 Sedum Sieboldi 227 — — var. fo- 227 liis médio varie- gatis . 165 Sedums. 108 Semeador mechanico . 116 Sempervivums . 75 Sequoia cupressifolia . 75 — sempervirens . 75 — taxifolia . 47 Serapias 165 Serocephalus 174 Serpentária . 222 Serruria 144 Setaria japonica . 222 Sexualidade das plan- 223 tas . 223 Siadopitys verticillata . 223 Siliqua sylvestris spino- 223 nosa,arbor indi- 223 ca .. c 189, 223 Siphonia elástica. 223 Sisymbrium nasturtium 223 Sobreiro 223 Solanum 223 Solanum amazonicum. 223 — betaceum 223 — crinitum 223 — ferrugineum . 223 — jasminoides . 223 — • lanceolatum . 223 — marginatum . 223 — tuberosum . 223 — venustum 223 Spir^a aruncus . 223 — Douglasi . 223 — filipendula 223 — Ulmaria . 223 Sprekelia 223 Stachyurus prsecox 221 Stanhopea oculata Stenocarpus Cunning- 222 hamii 165 — salignus . 183 163 164 163 164 163 167 96 92 91 165 94 165 48 144 48 164 66 51 66 165, 168 227 144 179 107, 135 30 25, 185 228 165 165 165 165 165 165 165, 228 28 165 118 118 118 118 52 166 155 10, 193 10 XIV INDICIi Sternbergia . 52 Tulipas .... 163 Stillingia sebifera 144 Tulipeira da Virgínia . 163 Stipa pennata 165 Typlias .... 165 Sub-solo 14 Ulmus pêndula 189 Sumagre 145 Valisneria spiralis 81,165 Syringa Emadi . 166 Vallota .... 52 — Josikaja . 166 Verbenas 164 Tacsonias 165 Videira Malvazia branca 215 Tamareiras . 127 — Mourisco preto . 40 Tangerineira Lourc íiro . 97 — Touriga . 211 Tanghinia venenife ;ra . 141 Videiras .... 61,77,149 Tarara . 54 Vidoeiro branco . 25, 121 Taxodium distichu m . 144, 156 Vinca hederacea . 165 — gigantei im . 48 Vinho (Eportaçào era — scmperv irens 48 1870-1871). 192 Teixo . 127 Yama-mai ou bicho da Tetragonia expansí l . 11; 180 seda do carvalho 156 Th alia dealbata 165 Yucca gloriosa 104 Thea bohea . 128 Yuccas .... 165 — viridis . 128 Washingtonia gigantea . 48 Theionoxyphero . 31,76,94,133, Weigelia Lavallei . 166 191 — Lowii 166 Thladiantha dúbia 165 Wellingtonia gigantea , 34, 40, 48, 72, Thrinax parviflora 75 115, 127, 135, Tigridias 163 156, 192 Todea arbórea 15 Wigandia caracasana . 118 Topinamba . 28 — imperialis . 59 Toranja . 97 Zamia hórrida 75 Torrcya nucifera 144 — villosa 75 Transplantação 208 Zea Mais foi. var . 165 Trifolium 165 Zephyranthes . 52 Tulipa Clusiana 164 Zizania clavulosa . 168 — transtagana 164 — fluitans 168 GRAVURAS Abutilon vcxillarium . Ailamanda Hendcrsoni Ameixa Pond's seedling Anthurium Scherzeria- num . Aquário para j ancila Astrapaía Wallichii Banco Tortulho . Begónia discolor. Bombyx salicis . Bostrichus pinastri — typographus Canna indica Cautua dcpendcns 63 141 213 51 79 117 19 87 181 197 197 131 187 Chorizema ilicifolia Chrysoraella populi Cossus aisculi Detalhes Efteitos do Scolytus dis- tructor Feteira para sala. Larva do Cossus ligni- perda — do Scarabeus mo- lolontha , Lavra circular com ara- do de aiveca fixa Lilium auratum . 112 171 181 199 181 80, 81 171 148 225 13 índice XV Lucanus cervus . 171, 197 Machina de malhar e manejo fixo — de malhar e 71 manejo locomo- vei . 71 Meloe vesicatorius 148 Oplismenus imbecillis. 47 Pêra Beurré d'Aren- berg . — D. Ignez 27 173 — Souvenir du Con- gros .... Phormium tenax foi. 162 var. . 157 Plantação em quincunce Poda das arvores fructi- 84 ras . 3, 4, 5, 6, 21, 22, 41 ,42 Ponte rústica Rhynchsenus pineti Sanchezia nobilis. Scarabeus melolontha Scolytus piniperda Sedum Sieboldi, var. fo liis médio varic' gatis . Septunce regular — symetrico Stenocarpus C u n n i n ghami Tangerina Loureiro Tarara . Theionoxyphero . Wellingtonia gigantea Yucca gloriosa . 125 197 221 148 197 92 199 137, 217 193 97 55 32 35 105 ESTAMPA COLORIDA Camellia Duarte de Oliveira 2g JOmi DE HORTICIILTURA PRÂTICi REDACTOR OLIVEIRA JÚNIOR INTRODUGÇAO Mal pensávamos, ao lançar os fundamentos do Jornal de Horticul- tura Pratica, que o acolhimento publico, em que elles se apoiavam, lhes offereceria base bastante solida para que o edifício que archite- ctavamos não desmoronasse no fím do primeiro anno de existência. Não o quiz assim o influxo das boas fadas que presidiram á nossa em- preza. Preciso nos foi luctar e muito; mas vencemos, e como resul- tado d'esta victoria, que consideramos não pequena e que os expe- rientes dirão se o é, vae o Jornal de Horticultura Pratica entrar no segundo anno da sua publicação. Em tão solem ne momento exige o nosso animo reconhecido que prestemos publico testemunho de agradecimento a todos os que n'esta civilisadora cruzada nos téem coadjuvado. Exprimindo assim comple- xamente a nossa gratidão, já se vô, pois, que abrangemos todos os que directa ou indirectamente téem contribuído para vencermos os obstá- culos em que naufragam sempre emprezas creste género. Animados com Ião lisongeiro acolhimento, pedimos a continuação dos bons officios que nos téem sido dispensados. Pela nossa parte pro- mettemos correspondei*, do melhor modo que nos seja possível, á obri- gação em que a benevolência publica nos constituo, compensando com os nossos esforços a coadjuvação dos nossos leitores. Firmes n'esle apoio e no auxilio dos professores e práticos eminen- tes do paiz, que de novo solicitamos, poderemos aíliançar longa o pres- tadia vidaa o Jornal de Horticultura Pratica. Que prosperas auras bafejem os nossos desejos e as nossas espe- ranças! 1871— Vol. II. N.° 1 — Janeiro. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA a luz possa illnminar todas as partes da planta, convém supprimir, na occasião cm que se faz o corte indicado, todos os go- mos que parecerem supranumerários. Os ramos que estes produzem devem ter força egual, para que haja perfeito equilibrio de vegetação. Alguns, porem, tomam desenvolvimento mais considerá- vel e porisso é indispensável empregar meios que diminuam a força a estes e au- gmentem a dos mais fracos. Conseguc-se este resultado fazendo incisões na casca, mais ou menos profun- das, da parte superior ao ramo, quando é fraco, c do lado inferior, quando é forte (fig. 3), porque assim ó modificada con- Fig. 3. venientemente a circulação da seiva. Dá resultado egual o podar o ramo forte dei- xando-o muito mais curto que o ramo fraco, ou (o que é preferível, attendendo a que os cortes prejudicam sempre mais ou menos) dando inclinações diversas aos ramos. O desenvolvimento de um ramo sendo tanto mais facii quanto mais elle se aproxima da posição vertical, daremos esta posição ao ramo fraco e aproximare- mos o ramo forte da horisontal. Podem ainda equilibrar-se as forças, cortando as extremidades dos novos ra- mos produzidos pelos gomos do ramo forte, ou cortando certa quantidade de folhas, ou privando da acção da luz ou difficultando o movimento da seiva, li- gando-o (nas arvores em latadas) forte- mente. Sc algum ramo houver que apezar dos meios empregados apresentar vigor superior ao dos outros, convém cortal-o. O corte deve ser rente da origem do ra- mo, dcixando-se apenas a pequena eleva- ção que se observa na casca (fig. 4). Pro- cedendose d'esta forma, o corte em pouco tempo é coberto por nova casca. Se por qualquer circurastancia faltam alguns ramos, o que altera a regularidade da forma, é fácil conseguil-os por qual- Fig. 4. quer processo de enxertia. Pode no logar da falta enxertar-se um gomo, que dará o ramo necessário, ou, em certos casos, "*conseguir-se o resultado desejado, enxer- tando por approche um ramo inferior da mesma arvore (fig. 5). São necessários doze annos proxima- mente para conseguir esta forma, devendo a arvore ter 6'", 00 de altura e 2™,00 de base. O espaço occupado é porisso gran- de e não é fácil pôr em pratica todas as operações da poda, attendendo á al- tura. Parte d'estes inconvenientes podem ser remediados, dando-se preferencia á forma de cokwnna. N^este caso o eixo da arvore consegue-se pelo processo indicado, sendo, porem, os ramos latcraes muito curtos, o que se consegue por meios que indicaremos n'outro logar. Como, porem, todas estas operações só podem ser feitas nas arvores cultiva- das nos jardins fructiferos, devemos pôr de parte as formas indicadas, ou empre- gal-as em pequeno numero de plantas c dispor a maior parte em latadas. E' menor o espaço occupado e maior a producção. Para este fim temos a forma de leque e suas derivadas e a disposição JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA em cordões verticaes, oblíquos ou hori- soutaes. A primeira doestas formas consegue- se do modo seguinte. Plantado o enxerto sem que apresente ramos lateraes, será cortado no anno seguinte ao do plantação a O^^jSO da terra, tendo-se em vista que devem ficar próximos á extremidade três gomos, dous lateraes e um no meio. Este, desenvolvendo -se durante a epoclia da vegetação, continua a parte central da arvore e os outros produzem dous ramos lateraes. Se estes são fortes, pode no anno seguinte fazer-se no ramo central um corte nas mesmas condições que o primeiro e repetir a operação todos os annos. Se são fracos, convém no segundo anno cortar o ramo central a O™, 15 e não consentir o desenvolvimento de novos ramos lateraes. Têem por fim estas operações, que são effectuadas no fim do inverno, formar to- dos os annos um novo prolongamento do eixo e dous ramos lateraes (íig. 6), apre- ^^éj^ ^ Fig. 6. sentando por fim a arvore a forma indi- cada na fig. 6, lado a, ou a do lado h. N'esta as extremidades dos ramos são sol- dadas por enxertia. A disposição em cordões verticaes con- segue-se, cortando no enxerto a terça parte do comprimento, favorecendo o desenvol- vimento do novo ramo de prolongamento e transformando os ramos lateraes em ra- mos de fructos. E' óptima esta disposição para forrar muros altos, devendo a distancia entre cada planta ser de 0™,40. As operações são as mesmas para o cordão obliquo. As plantas devem ser collocadas á distancia de 0">,40 e com a inclinação de 60.° Esta inclinação deve no terceiro anno de poda ser reduzida a 45.0 Para com esta forma revestir com- pletamente a parede, a que ficam encos- tadas as plantas, proceder-se-ha do modo seguinte. Logo que a primeira arvore da direita tem a inclinação de 45.°, permit- te-se o desenvolvimento de um ramo (la- drão), que facilmente nasce na parte re- curvada (fig. 7 a). No anno seguinte, Fig. 7. colloca-se este ramo parallelo ao primeiro e assim successivamente até que o muro d'esse lado fique revestido. A ultima plan- ta do lado esquerdo é tractada como as outras, mas em vez de se lhe dar a in- clinação de 45.°, inclina-se successivamen- te até chegar á horisontalidade. Favore- ce-se então o desenvolvimento dos gomos superiores (fig. 7 a, h), de modo que pro- duza ramos a distancias eguaes aos que entre si conservam as outras plantas. Qualquer d'estas disposições é vanta- josa, porque em quatro ou cinco annos pode começar a fructificação. Os cordões horisontaes são facilmente conseguidos. Podem ser unilateraes ou bi- lateraes. Para os primeiros plantam-se os enxertos á distancia de dous metros, e por essa occasião corta-seo terço da plan- ta. No anno seguinte, no inverno, devem ser recurvados de modo que fiquem ho- risontaes. Durante o periodo da vegeta- ção deve haver cuidado em impedir o desenvolvimento dos gomos que ficam do lado superior e facilitar a continuação do eixo da planta. Só passada a epocha da vegetação de cada anno, esta parte será inclinada, e as- sim se procederá até que a extremidade de ura encontre a planta immediata, á qual deve ser enxertada por approche (fig. 8). Para o cordão bilateral (fig. 9) são eguaes os cuidados, devendo ser escolhi- dos enxertos que á mesma altura apre- sentem dous ramos sensivelmente eguaes. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA As plantas assim dispostas fructifica- rào em dous ou três annos depois da plantação e são de uma producçào admi- rável. Fie. 8. Fig. 9. Comprehende-se facilmente que para cultivar as arvores fructiferas d'estes mo- dos ó indispensável que cilas estejam fi- xas ou a muros ou a quaesquer outros corpos. No primeiro caso podem ser fi- xadas por pequenas tiras de panno pre- gadas com pregos, ou atadas a fios me- tallicos (1), ou pranchas de madeira, ou grades seguras ao muro. Convém riscar n'este a posição que os ramos devem oc- cupar, ou dispor os fios ou pranchas na mesma direcção, a fim de ser conseguida com mais facilidade a regularidade dese- jada. No segundo caso é necessário dispor no jardim postes bera fixos e n'estes são fixados os fios metallicos bem distendidos ou pranchas de madeira (fig. 10). D'este M £L ^& Fig. 10. modo pode haver duas linhas de plantas a pequena distancia umas das outras^ como se poda ver na fig. 11. Fig. 11. Para os cordões horisontaes é neces- sário dispor os fios a pequena altura do terreno em uma ou mais linhas paralle- las, segundo se desejar uma ou mais or- dens. N'este ultimo caso a segunda or- dem deve antes ser formada por plantas diversas das que formam a primeira, do que por curvatura de ramos produzidos por estas. Todas estas operações de poda, ten- dentes a constituir o esqueleto da arvore, devem ser feitas depois dos rigores do inverno e antes que comece o periodo da vegetação. Deverão portanto ser execu- tadas nos raezes de janeiro e fevereiro. Em circumstancias especiaes, como quan- do é grande o numero de plantas que de- vem ser podadas, pode fazer-se parte do trabalho no fim do outomno. O que ó ne- cessário ó evitar o frio intenso e as chu- vas. Coimbra. JuLio A. Henriques. (Continua). ORYZA SATIVA MUTICA c. v. lia quatro ou cinco annos fizeram-me presente de uma pequena porção de se- mente da Oryza sativa mutica (Arroz de sequeiro da China), que eu semeei em fins do mez de março, n'um bocado de terra que estava preparada para ser se- meada com Trigo serôdio (Ribeiro). O (1) São óptimos para cste fim os fios tclcgra- phicos. Arroz não tardou a nascer, c como os mezes de abril e parte de maio corres- sem chuvosos e húmidos, o Arroz foi-se desenvolvendo bem e estava (devido ao terreno ser de óptima qualidade e bera adubado) muito vigox-oso ; porem do mea- do de maio em diante faltaram as chu- vas c começou o Arroz a fazer-se ama- rello, e como as chuvas tardassem, foi-ae JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA mirrando, até que por fim seccou sem dar resultado algum. Conclui eu que este Arroz chamado de sequeiro é natural de alguma provin- cia da China onde o clima é mais húmi- do e as chuvas mais abundantes do que no nosso paiz. Em principio d'este anno (1870) um meu amigo de Fariz deu-me uns 100 grãos de Arroz da mesma qualidade, para eu fazer nova experiência de outra maneira; como eu visse que o nosso clima era secco de mais para esta Gramínea, fiz a expe- riência de o semear em terreno não ala- gado, como o Arroz conimum, mas como se semeia o Milho ou Feijão de regadio, e fiz esta sementeira em fins de março, na minha quinta em S. Domingos de Bemfica (Lisboa), em bom terreno basál- tico, muito bem adubado. Semeei, pois, os 100 grãos de Arroz de sequeiro da China, a uma distancia de 11 centíme- tros uns dos outros, para poderem ser sa- chadas as plantas e poderem bem afilhar. Dos 100 grãos que semeei apenas falta- ram 12, que não nasceram ; os mais to- dos se desenvolveram bem. Como o anno correu muito secco, appliquei-lhes regas, como dava á horta, com dez a doze dias de intervallo 5 as plantas abastaram e afi- lharam muito, tendo a maior parte d'ellas 15 a 20 filhos, e no fim de julho estavam todas espigadas e um mez mais tarde (fins de agosto) tive uma abundante co- lheita, pois não obstante ser muito ata- cada pelos pardaes e ratos, que (sem eu saber o motivo) deram a preferencia a esta planta, comtudo ainda obtive por cada grão 96. Soube que o Arroz da China é muito cultivado em muitos pontos dos Estados Unidos da America, e segundo me diz pessoa muito competente, assemelha-se muito ao Arroz do Piemonte ou da Caro- lina. Era para desejar que pessoas mais competentes do que eu fizessem novos ensaios, porque estou certo que o paiz poderá tirar grandes resultados da cultura d'esta planta, que me parece hade dar melhor resultado que o Milho ou Feijão. A pequena quantidade que obtive, faço tenção de a semear no futuro anno, e quando tiver maior porção, mandarei des- cascar para ver a obra que faz depois de cosinhado, e certificar-rae-hei então se é egual ao nosso Arroz, ou áquelle que se obtém do estrangeiro. Os 100 grãos que me foram dados, soube ha pouco que foram obtidos da casa Vilmorin Andrieux & C.^*^ , de Pariz, e porisso, se algum dos leitores quizer experimentar esta nova cultura, que pode ser de tanta vantagem para o nosso paiz, já sabe donde o pode obter. Agora acabo de ler no « Bon Jardi- nier » d'este anno (1870) que na Itália se está cultivando actualmente com gran- de resultado o Arroz de sequeiro da Chi- na, e que vae substituindo o antigo Ala- gadiço, visto que aquelle não tem as con- sequências das febres intermittentes. Lisboa. George A. Wheelhouse. CURTA NOTICIA SOBRE A FAMÍLIA DAS PROTEAGEAS E PRLNCIPALMENTE SOBRE A GREVILLEA ROBUSTA A horticultura é uma eschola de expe- riências, porque, tanto mais seguro êxito queremos obter, quanto mais somos obri- gados a recorrer a uma multidão de en- saios 6 a repetil-os até que nos ofifereçam um resultado satisfactorio. A aclimação dos vegetaes exóticos forma com certeza um dos ramos mais importantes d'esta sciencia, e para os paizes meridionaes da Europa é este o que reclama mais attenção dos horticul- tores, porque lhes promette grandes lu- cros e algumas vezes até gloria. Geographicamente fallando, Portugal está tão bem situado que se poderia fa- zer d'eLle um jardim de aclimação. Já ha muitos amadores de plantas, mas d'es- tes só um pequeno numero quiz seguir este caminho. Não é talvez tanto a boa vontade, como a occasião favorável ou um estimulo bem dirigido que lhes tem faltado, e um dos grandes serviços que 8 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA OS jardins botânicos podem e devem pres- tar, é o de serem os primeiros a em- prehender essas experiências de aclima- ção e fazel-as depois conhecidas. A nossa estada, já bastante prolon- gada, no Jardim Botânico de Coimbra, tem nos oíferecido muitas occasiões de trabalhar n'este campo experimental e, se os leitores nol-o permittirera, publicare- mos no volume II doeste jornal uma serie de artigos, cada um dos quaes será con- sagrado a vários representantes de uma fauiilia de vegetaes exóticos, que pela sua aclimação tornariam a horticultura entre nós nào somente mais variada, mas mais útil e lucrativa. Comecemos, pois, pelas Proteaceas, plantas que pela diversidade de formas que apresentam nos diversos géneros e mesmo nas espécies, merecem bem este nome. Ha dous annos que o Jardim Botânico de Coimbra cultiva doze géneros com cin- coenta espécies d'esta familia ao ar livre, e todas estas plantas vegetam com gran- de vigor, o que já é uma boa recommen- daçào para lhes consagrarmos aqui algu- mas paginas. Esta familia caracterisa quasi exclu- sivamente certas regiões do hemispherio austral. E' na metade extra-tropical da Nova HoUanda, da Tasmania e da ponta extra-tropical da Africa que se encontra o maior numero de espécies. Um pequeno numero estende-se para o norte, até á Ásia equatorial e ás ilhas do Archipelago malaio, para oeste até á Nova Zelândia e até já na Abyssinia foi encontrada uma espécie de Protea. Algumas sào próprias da America me- ridional, principalmente do Chili ; dous ou três géneros elevam-se para o norte até á altura do Peru, da Guyana e do Bra- zil. As Proteaceas sào vegetaes raras ve- zes herbáceos (Symphionema) , formando algumas vezes arvores de porte elevado; porem a maior parte sào simples arbus- tos de 1 a 4 metros. As suas folhas sào alternas, algumas vezes oppostas ou ver- ticilladas, persistentes, geralmente coria- ceas ou mesmo quasi lenhosas, simples, inteiras ou denteadas, algumas vezes la- ciuiadas ou pinnatiíidas ; as flores sào hermaphroditas, o mais das vezes reuni- das em espigas, cachos, corymbos ou ca- pitules, outras vezes geminadas e axilla- rcs, raras vezes solitárias. Quasi todas notáveis como plantas ornamentaes, as Proteaceas são de pouca utilidade quer na industria, quer na therapeutica. Mas por isto devem ser tidas em menos esti- mação? Pelo contrario, porque é difficil acreditar que tanta belleza fosse dispen- sada em vão. Pela nossa parte estamos convencidos que as plantas não foram creadas para contentar somente as exigências physicas do homem e que aquellas que nos não são directamente úteis no sentido vulgar da palavra, não são por isso menos ad- miráveis ou menos dignas da nossa at- tenção. A cultura das Proteaceas foi por muito tempo objecto de grandes cuidados nas estufas de Inglaterra e da AUemanha, mas ha uns vinte annos perdeu muito do favor que gozava em outro tempo. Esta decadência é devida principalmente á dif- ficuldade da sua cultura em vasos, em- quanto que em plena terra e ao ar livre as Proteaceas não são exigentes ; espera- mos, pois, que será o Meiodia que resta- belecerá a cultura d'estas bellas plantas. As Proteaceas foram divididas, se- gundo a estructura dos seus fructos, em Nucidiferas e Folliculadas. Para o nosso fim parecc-nos mais conveniente dividil-as era trcs grupos, a saber : Proteaceas da Anstralia, Proteaceas do Cabo da Boa Esperança e das regiões adjacentes, e em- fim Proteaceas que se encontram em ou- tras partes. Entre as do primeiro grupo, o género Grevillea é certamente o mais notável, e mesmo em toda a familia nào ha outro tão rico em espécies e que se avantaje tanto em belleza, não só pelo porte e ele- gância da folhagem, como pela delicadeza de suas flores em glomerulos. As Grevil- leas ostentam-se em todas as partes da Austrália e algumas vezes na Tasmania, onde pela maior parte formam arbustos, e!evando-se também a arvores de um porte considerável^ como se ve na Gre- villea robusta, R. Br. E' esta uma planta e uma arvore de primeira belleza, que se dá perfeitamente JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA em Portugal, onde já existem, como se podem ver no Jardim Botânico de Coim- bra, fortes exemplares que florescem to- dos os annos e produzem abundantes se- mentes. A Grevillea robusta cresce tão de- pressa como o Eiicalyjptus , e contenta-se com toda a qualidade de terreno. O seu lenho duro e resistente é recommendado como madeira própria para construcções; como arvore própria para guarnecer ave- nidas não ha egual n'este paiz, e se ac- crescentarmos que o proprietário d'este jornal vende cada cento por um preço muito commodo, não podemos deixar de dar uma descripção mais circumstanciada extrahida de uma obra franceza: Arvore de grande porte, attingindo, segundo se diz, uma altura de trinta me- tros, ramosa, pyramidal, copada, de fo- lhas grandes, pendentes, um pouco co- riaceas, glabras pela parte superior e lus- trosas inferiormente, pecioladas, compos- tas de foliolos distinctos, divididos em ló- bulos agudos de 4 a 5 centi metros de comprimento e de 1 a 2 de largura, ten- do as folhas 12 a 18 centimetros de com- primento, coraprehendendo o peciolo ; as flores pequenas e ténues têem grandes pedúnculos e uma cor ferruginosa ou ver- melho-alaranjada e são dispostas em ca- chos de 12 a 14 centimetros, delgados, pouco fornecidos, geminados e reunidos na base em uma bainha commum. O es- tylete participa da cor alaranjada do pe- rigono. Esta espécie tão notável, introduzida na Europa por Allan Cunningham em 1824, é, segundo a opinião d'este via- jante, uma das maiores arvores da Nova HoUaada, onde não é excedida em altu- ra senão pelas Araucárias. Affirma tel-as medido, e o seu tronco não apresentava menos de 3 metros de circumferencia. Os colonos de Moreton Bay dão-lhe o nome de Silk-Oak, por causa do avel- ludado da face inferior das folhas. Muitas outras espécies de Grevillea têem sido introduzidas na Europa e se acham cultivadas em difí'erentes partes. D'estas vamos citar as mais bellas, as quaes são pequenas arvores ou arbustos : Grevillea 'pteridifolia, Salisb.; Gre- villea acanthifolia, Sieb.; Grevillea lon- gifolia, R. Br. ; Grevillea Manglesii, Hort.; Grevillea rosmarinifolia, Cunn.; Grevillea canescens , R. Br. ; Grevillea rósea, Lindl.; Grevillea Thelemanniana, Hugel; Grevillea jlexuosa, Meissn. O género Hakea, que conta mais de cem espécies, é composto de ai'bustos ou raras vezes pequenas arvores, que se en- contram também em toda a Austrália. A folhagem varia muito de forma se- gundo as espécies. As flores geminadas de cor branca ou branca amarellada são reunidas em gloraerulos ou em cachos. D'entre as suas numerosas espécies intro- duzidas recommendaraos as seguintes : Hakea pugioniformis, Cav.; Hakea Lehmanniana , Meissn; Hakea gihhosa, Cav.; Hakea suaveolens, R. Br.; Hakea Vi- ctoriae, Drnmm.] Hakea saligna, Knight. O género Banksia, do qual se co- nhecem perto de oitenta espécies que pela maior parte formam simples arbustos, é egualmente privativo da Austrália e da Tasmania. Os seus ramos são dispostos em umbellas e as flores são o mais das vezes alternas e algumas vezes verticilladas. A sua cor é de um verde escuro na face superior e branco ou esbranquiçado na inferior. A inflorescencia é muito notável, por- que se mostra era grandes espigas mais ou menos alongadas. As flores de quasi todas as espécies abundam em mel que os indigenas co- lhera e comem, e plantando-as n'este paiz poderiam assim servir vantajosamente para alimentação das abelhas. Quanto á belleza ornamental, poucas Proteaceas da Austrália ha que possam rivalisar com as Banksias, das quaes distinguiremos as se- guintes : Banksia speciosa, R. Br.; Banksia littoralis, R. Br.; Banksia verticillata, R. Br.; Banksia integrifolia, Linn.; Ban- ksia ericaefolia, Linn.; Banksia marces- cens, R. Br.; Banksia undulata, Lindl. O género Dryandra é já mais raro, talvez porque a sua cultura em vasos é bastante difíicil, porem quanto a mereci- mento não fica a dever nada ás Banks- ias. As Dryandras são arbustos ou sub- arbustos da costa meridional ou extra- tropical da Nova Ilollanda. De caules simples ou ramificados, de ramos algu- 10 JORN.VL DE HORTICULTURA PRATICA mas vezes vcrticillados, de folhas espa- lhadas, pinnatiíidas ou divididas, osten- tam as JJri/andras as suas liorcs dispos- tas em capítulos, ordinariamente cercadas de um tulo de folhas aproximadas. As Dri/andnis suo mais notáveis pela variedade e forma particular da sua fo- lhagem, geralmente rigida, do que pela belleza das suas ílores. Podem citar-se : a Dryandra armata, K. Br.; D. plu- mosa, K. Br.; D. nivea, E. Br.; D.pte- ridijolia, li. Br. O género Perconia forma arbustos da Nova lioUanda. As suas folhas são ra- ras, integras, planas ; as ílores axillares, solitárias e amarellas. Arvores e arbus- tos que se encontram em quasi toda a Austrália. Entre as espécies já introdu- zidas citaremos : a P. linear is, K. Br.; P. lanceolata, \\. Br.; P. macrostachya, Sm. Extrahe-se das flores d'esta ultima es- pécie uma excellente tintura de cor ama- rella. Entre os Stenocarpus, género redu- zido a um pequeno numero de espécies, que suo também arbustos da Austrália e da Nova Caledónia, de folhas coriaceas, integras ou laciniadas e do unlbcllas axil- lares ou tcrniinacs, o IStenocarpus Cun- minrjhanii, K. Br., deve com certeza oc- cupar o primeiro logar, e entendemos até que é uma das mais bellas Proteaceas quo se pode cultivar. Na ultima exposição de Lisboa expoz o proprietário d'cste jornal ura exemplar já bastante forte d'esta Proteacea com o nome de Agnostus sinuatus, o se nos não enganamos foi comprado por S. JM. El-rei D. Fernando. Aqui no Jardim Botânico de Coimbra ha já algumas plantas d'ella bastante fortes cm plena terra, as quaes BC dão admiravelmente bem, mas que ainda não floriram ; porem ainda mesmo Bcm flores, que são de uma grande bel- leza, ó um lindíssimo arbusto, e os ama- dores farão bem em comprar os poucos exemplares que se acham no estabeleci- mento do snr. José j\larques Loureiro. O iStenocarpus salignus, 11. Br., não ó tão bonito, mas apczar d'isso não é me- nos digno da nossa attencão. A sua ma- deira serve para cunstrucçoes. O género Ktiigldia contem unicamen- te uma espécie, a Knightia excelsa, R. Br. E' uma arvore da Nova Zelândia, clevando-se a 2ò ou 30 metros, de caule muito direito, cabeça pyramidal, folha- gem abundante. Os ramos são erectos e glabros ; os mais novos pubescentes ; as folhas pecioladas, coriaceas, lanci-oblon- gas, denteadas profundamente nos bor- dos, luzentes por cima, pubescentes infe- riormente. As flores cotonnosas de um bello vermelho são dispostas em cachos axillares, metade mais curtos do que as í olhas, cujo eixo e ramos são também de um vermelho vivo. Esta magestosa ar- vore seria uma bella acquisição para os nossos jardins. (Vide os Catálogos de MM. Auguste Van Geert e Louis Van Houtte, de Gand, e de Thibaut & Keteleer, de Sccaux, em França, para alguns re- presentantes interessantes d'esta familia). Uma Proteacea, ainda inteiramente nova, e que se recommenda pelas suas sementes comestiveis, é a Macadamia ternifolia, F. Muell. Na Austrália, seu paiz natal, forma arvores de 30 metros de altura. O fructo é uma espécie de drupa com um invólucro carnoso, que en- volve um caroço duro, similhante á nossa noz , contendo no interior uma grande semente que, segundo a descripção de Mr. Bcrkeley, é muito doce e de sabor agradável, o que é confirmado por Mr. Hill. Este ultimo compara o sabor d'ella ao de uma amêndoa. A planta é tanto mais notável jDor isso que na Austrália ha muito poucas arvores de fruetos co- mestíveis, o que é ainda mais raro na fa- milia das Proteaceas. Accreseentemos que Mr. Auguste Van Geert, de Gand, oíFe- rece exemplares bem desenvolvidos d'esta Macadamia por 25 francos. A Austrália contem ainda vários gé- neros com muitas espécies de Proteaceas, de que ainda não temos fallado, com quanto grande numero d'ellas se achem já introduzidas na Europa. Parece-nos, porem, que é melhor contentarraos-nos, ao menos por emquanto, com as já citadas n'estas linhas, para examinar em seguida as Proteaceas do Cabo e dos outros pai- zes, o que faremos proximamente. Algu- mas indicações sobre a sua cultura em ge- ral e sobre a maneira de as multiplicar, terminarão este ai'tigo. Edmond Goeze. Coimbra — Jardim Botânico. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 11 GEUM COCGINEUM o Geum coccineum é uma linda planta vivaz do ar livre, de cor vermelho-escar- late, e oriunda do Chili, onde foi encon- trada por Urville em 182Õ. Cultiva-se com muita facilidade nos taboleiros dos jardins, onde formará lindos grupos isola- dos, ou bordaduras, florescendo com abun- dância em maio e junho e produzindo um lindo effeito. Multiplica-se pela divisão das suas i'aizes, logo depois da florescên- cia, ou por sementeira, em outubro, em terrinas, para depois ser transplantada na primavera do anno seguinte. A. J. DE Oliveira e Silva. O AQUÁRIO O NELUMBIUM SPECIOSUM Esta será talvez uma digna compa- nheira da Victoria Regia, de que me oc- cupei no penúltimo numero deste jornal; sei bem que não a pode egualar em ta- manho, comtudo era talvez a maior planta aquática até ha poucos annos, quando se introduziu aquella Rainha d^ellas. Esta planta, natural das índias orien- taes, das regiões tropicaes mais quentes, onde cresce nas margens lodosas dos rios de agua doce, deitando uma rhizoma, á similhança da de alguns Fetos, donde nascem umas folhas redondas, supporta- das por peciolos compridos, de um verde azulado e de uns 25 centimetros de lar- gura, ficando destacadas fora da agua. Entre ellas apparecem as flores, que são muito elegantes, de um tamanho egual ao das folhas, de uma cor rosada e de for- ma um tanto estrellada. A melhor maneira de a cultivar é plantando a raiz em uma celha gran- de, quasi cheia de terra argillosa e im- mergida na agua cousa de 40 centime- tros, quando principia a crescer. No ou- tomno, quando as folhas principiarem a morrer, tira-se a celha da agua, porem tem-se a terra sempre húmida, até que principie a rebentar de novo. Esta planta carece todo o anno do maior calor do aquário. Alem d'esta espécie ha as seguintes, que também merecem ser cultivadas : Nelumhium tâmara, N. caspiciim, N. flavescens, N, jamaicense, N. luteum. Lisboa. D. J. Nautet Monteiro. (Continua), TETRAGONL/L EXPAISA Entre nós a cultura das hortas, sup- posto que esteja bastante adiantada, ainda não tomou o desenvolvimento de que é susceptível. Os nossos hortelões desconhecem ain- da muitas plantas de que poderiam tirar grande partido e proveito, cultivando-as. Do números d'essas é a que hoje vamos apresentar. Cultivada já ha muito tempo na França e Inglaterra, cremos que em Portugal é pouco, senão completamente desconhecida. Nós devemos o seu conhe- cimento e a posse de alguns exemplares ■ (1) Vide J. H. P., vol. I, pag. 154, 167. a um nosso amigo, illustre e experiente amador, introductor da planta entre nós, sendo também o primeiro que a cultivou em grande escala. Para não demorarmos por mais tempo o leitor, principiemos já a descrevel-a, deixando para o fim o seu modo de cul- tura e usos. Lindley, celebre botânico inglez, faz entrar no seu grupo de Dicotyledoneas incompletas uma ordem natural chamada por elle Tetragoniaceas, que comprehende, entre outros géneros, a planta a que nos referimos. Alguns auctores também a dão á familia das Portulaceas, outros ainda á 12 JORN^VL DE HORTICULTURA PRATICA das Mesemhryanthemaceas; comtuclo De- caisne, na sua « Flore cies jardins et des champs», collocou-a na mesma familia em que Lincílcy a tinha collocado, e onde cf- fecti vãmente nos parece que deve ser o seu logar. Porem deixando essa questão, falleraos da planta. E' annual, haste delgada, prostrada, felpuda, folhas pccioladas, rhomboideas; flores sesseis e amarelladas ; fructo de quatro pontas, o que lhe valeu o nome de tetragonia. O nome especial de expansa denota o porte. E' natural do Japão, Nova-Zelandia e ilhas do mar do sul, e ainda usada n'aquelle8 paizes como remédio nas mo- léstias cutâneas. O celebre botânico Banks, que acom- panhava o capitão Cook nas suas viagens, foi o primeiro que lhe descobriu as suas propriedades anti-scorbuticas, applican- do-a á tripulação atacada de aquella ter- rivel moléstia ; e foi também quem a in- troduziu na Europa pela primeira vez era 1772. Porem nào é como planta medicinal, mas alimentar, e aristocrática e economi- camente alimentar, que a recommendamos aos nossos leitores. Na Fr.^nça e Ingla- terra a experiência tem demonstrado ple- namente o mérito d'csta planta como Es- pinafre de verão. Com effeito, ella tem absolutamente a qualidade do Espinafre ; mas a vantagem particular da Tetragonia : quer dizer que quanto mais calor faz, mais produz, ao passo que n'esta estação o Espinafre es- piga tão depressa que muitas vezes só se obtém uma colheita. Anderson, um dos primeiros que a cultivou, julga que um taboleiro de vinte pés é bastante para fornecer uma grande mesa nove mczos no anno ; e Mr. Dumas, no seu interessante livro ot La culture ma- raichòre pour le midi de la France» , fal- lando da Tetragonia, diz : « A Tetrago- nia é chamada a prestar grandes servi- ços a todos os horticultores do meiodia da França, porque poderão ter Espina- fres no verão.» Parece-nos que temos dito o bastante para animar e resolver os nossos horti- cultores a cultivarem e introduzirem no mercado esta novidade, na certeza de que colherão óptimos resultados. Quasi que não podemos marcar tempo de sementeira a esta útil planta, porque se semeia por si mesma ; comtudo o mez indicado para as sementeiras é o de abril, ou no fim de outubro, germinando n'este caso a semente só na primavera seguinte. Prepara-se um taboleiro com boa terra, e deita-se a semente em pequenas covi- nhas, havendo o cuidado de deitar sem- pre três ou quatro sementes para depois ao nascer deixar ficar as melhores plan- tas. As covas devem ficar distantes umas das outras 70 ou 80 ceutimetros em todos os sentidos ; também podem ser semeadas em viveiro, para depois serem transplan- tadas ; de qualquer dos modos a produc- ção é sempre excelleute. No verão necessita de algumas regas, unicamente o bastante para conservar a terra fresca ; é também útil sachar o ter- reno em volta da planta, antes que ella tome todo o desenvolvimento. Comem-se as folhas e raminhos novos, preparados como oa Espinafres. Alguns pés de Tetragonia a que se não cortam as folhas, bastam para obter uma grande quantidade de semente. Co- Iho-se á mão, havendo depois o cuidado de a seccar á sombra. Dizem que conser- va a faculdade germinativa durante cinco annos. O jardineiro Manoel Luiz, Entre-Quin- tas n.° 3, Porto, vende a. planta por preço diminuto. A. J. DE Oliveira e Silva. LILIUM AURATUM lindl. E' do uma planta que tem causado grande cnthusiasmo no mundo hortícola, que vamos occupar os leitores. Temol-a visto florir om Portugal, não attingindo, comtudo, as suas dimensões verdadeiramente gigantescas, em conse- quência talvez da pequenez dos bolbos ou devido á má cultura que se lhe tem dado. Temos á vista uma estampa do Li- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 13 lium auratum (vide « L'Illustration Hor- ticole » vol. IX, pi. 338), acompanhada de algumas linhas do seu primeiro descri- ptor, as quaes para aqui trasladamos. Eil-as : «Se jamais houve planta que mere- cesse o nome de gloriosa, é esta que o deve ter, porque excede a todas as ou- tras Açucenas^ quer a consideremos de- baixo do ponto de vista do seu porte, quer do seu cheiro suave ou da combina- ção perfeita das cores. Imagine-se na ex- tremidade de um caule pui-pureo, que não é mais grosso do que uma varinha e que não excede O^^jCO de altura, uma flor em forma de pires, não medindo menos de 0'",2õ de diâmetro, composta de seis par- tes patentes, um pouco crespas , com as pontas recurvadas e tendo uma superfície de branco marfim, com salpicos purpuri- nos e maculas da mesma cor, ovaes ou arredondadas e proeminentes. Ajunte-se a isto uma listra amarella no meio de cada pétala, que desapparece gradual- mente no branco marfim do resto da su- perficie. Colloque-se a flor de maneira tal que a luz venha, não dos lados, mas directa- mente por cima ; então as listras amarel- las apresentarão o efí'eito de graciosas cor- rentes de ouro australiense ; e o leitor que não as viu poderá fazer uma ideia do que ellas são.» Esta deliciosa flor (fig. 12) exhala um ALBERTO. Fie. 12 — LiUum auratum. perfume similhante ao das flores de La- ranjeira. Fallando botanicamente d'este Lilium, é alliado de um lado ao Lilium specio- sum ( lanei foUum, Hort.) e de outro ao L. Thunhergianum, de flores vermelhas, alaranjadas; porem aquelle de que nos oc- cupamos é completamente differente d'es- tes dous. O seu descobridor, Mr. J. Gr. Veitch, dá a seguinte curta noticia relativa a esta planta. O Lilium auratum, diz elle, foi encontrado nascendo espontaneamente nas collinas das províncias interiores do Ja- 14 JORNAL DE HOHTICULTURA PRATICA p5o. A sua epocha de florescência é julho e agosto, em cujos mezes se encontram cm abundância nas situações expostas ao sol. Attinge uma altura de 0'",40 a 0™,60 e é notável pelas grandes dimensões das suas flores e pelo seu cheiro. Os bolbos d'este Lilium, assim como os dos outros, são muito procurados como artigo de alimento pelos japonezes, que os cozem e os comem, exactamente como nós usamos com as Batatas. Eífectivaraente o seu sabor é agradá- vel e parecido com o das castanhas. O aGardener's Chronicle » faz men- ção de uma' flor do Lilium auratum, que mof.tra o tamanho que pode adquirir de- baixo de uma boa cultura. A flor em questão media mais de O"*, 30 de diâmetro, e cada pétala tinha uma soberba listra de um rico amarello- dourado e os espaços dos lados achavam- se salpicados de maculas carmczim-acas- tanhado, que sobresahiam sobre um fun- do branco puro. A planta que produziu esta flor de dimensões gigantescas, tinha ao seu lado mais quatro que não eram de tamanho inferior, e a haste, que media l'",40, ti- nha cincoenta e uma folhas de 0™,22. O Lilium auratum, que vertido em portuguez quer dizer Açucena dourada, o bastante rústico e dá-se perfeitamente no nosso clima, o que moverá sem duvi- da alguns dos leitores a obtel-o. Esta Aqucena quer o mesmo tracta- mento que as suas congéneres. Não são muito particulares na escolha da terra, comtudo preferem as que sejam silicio- sas, leves e permeáveis. E' mister evi- tar que a agua fique estagnada em vol- ta das raizes, porque a continuação d'el- la originaria o apodrecimento dos bol- bos. Inútil, pois, será recommendar que se deve estabelecer nos vasos uma boa drai- nagem. Oliveira Júnior. UM CONSELHO AOS LAVRADORES SOBRE O SUB-SOLO O sub-solo é a camada de terra que está abaixo do alcance das raizes curtas. Se este for de boa qualidade, tem o ter- reno muito valor, porque, quando a su- perfície esteja pobre ou exhausta de ele- mentos productivos, pode-se, por meio de dous arados, um que abre o rego e outro que segue a este, chamado arado do sub- solo, revolver a terra de forma a metter no fundo da leira a que está em cima, e trazer á superfície essa terra descansada e enriquecida com a filtração de liquides e adubos durante as culturas da camada de terra superior. Aquelles terrenos, cujo sub-solo é po- bre, podem ser melhorados gradualmente com as cavas, fazendo subir á superficie somente aquella porção que não possa prejudicar muito a cultura. A terra lavrada acima do sub-solo costuma ser era Portugal entre 10 e 15 ccntiraetros (4 a 6 pollegadas) ; n'esta es- pessura a melhor qualidade, aquella que tem mais princípios productivos depois da colheita, ú a que está á superficie, arejada com cavas, era descanso; e por- Í880 que a planta se nutriu da terra in- ferior, a lavra, revolvendo-a ou inverten- do-a conjunctamente com os adubos pre- cisos, prepara de novo um leito conve- niente para n'elle depositar a semente, esta vae germinar assim auxiliada pelo conjuncto d'estas circurastancias, em que o semeador mechanico tem a parte mais importante, collocando a semente na pro- fundidade d'esse leito. Em vista d'esta explicação está claro que na falta doeste semeador será uma inconveniência que a peor terra, aquella que acabou de nutrir uma plantação, ve- nha sosinha para a superficie receber o grão semeado á mão, pois que a grade deixa uma grande parte d'elle á superfi- cie, que se perde ou nasce rachitico; por conseguinte, não havendo um bom se- meador mechanico, a terra, especialmente para trigos e seus similhantes, deve ser bera misturada com os adubos em toda a sua altura, a fira de que possa off'erecer mais promptamente o alimento de que carece para se desenvolver com força na occasião de germinar e lançar as suas raizes. A planta na sua nascença assemelha- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 15 se a uma criança ; se esta succou bom leite, tornou-se forte e robusta, capaz de resistir ás privações futuras; mas se este primeiro alimento foi ordinário, a criança será rachitica e fraca para toda a sua vida, não obstante os bons caldos de gal- linha que Jhe derem. Por consequência a semente lançada á terra deve encontrar n'ella todas as condições de uma boa ama, para a criar, a fim de que mais tar- de possa supportar os calores ou as chu- vas das estações irregulares. Estas con- dições são como segue : no verão um leito bastante profundo, onde a semente fique ao abrigo dos raios solares; no inverno ou tempo chuvoso, em terrenos húmidos, um leito mais á superfície e sobre uma cava muito profunda, para que o esgoto das aguas se eífectue abaixo das raizes, e promptamente ; uma terra completamen- te limpa das hervas nocivas, as quaes roubam o alimento necessário á planta; adubos bastante diluidos, para que se misturem mais intimamente com a terra e produzam de prompto o effeito que d'elles se exige ; e finalmente uma se- menteira enterrada na altura ou profun- didade convencionada pela natureza do solo, ao abrigo do sol e das humidades locaes, assim como em linhas dirigidas aos ventos geraes dos montes. Como nenhuma d'estas cousas se pode effectuar bem economicamente sem o au- xilio de meios mechanicos, concluimos o nosso conselho recommendando ao lavra- dor que por si ou por meio de associação se resolva a fazer uso d'elles, prometten- do-lhe pelo menos duplicar os productos que habituahnente costuma colher. Os instrumentos de mais necessidade são: o estirpador escossez, a grade «East Anglican», o arado de aivecas moveis e o semeador de Sraith, dos quaes já havemos dado as respectivas descripções. A. DE La Rocque. REMÉDIO PARA CURAR A MOLÉSTIA DAS LARANJEIRAS Escava-se a terra em redor da arvore doente e examinam-se bem as raizes, cor- tando todas as que estiverem aíFectadas da podridão, e áquellas que o estejam só em parte limpam-se-lhes os sitios doen- tes. Em seguida cobrem-se as cicatrizes com uma camada de cal viva desfeita em agua ou ourina. A terra que se tirou de redor da Laranjeira, assim como todas as raizes cortadas, transporta-se para lo- cal distante da arvore e substitue-se por nova terra preparada da maneira seguinte: Terra 10 partes Estrume animal . . . 4 » Cal viva 3 » Cinza vegetal .... 2 partes Tudo muito bem misturado. Findo este processo dá-se-lhe uma re- ga. Todos os ramos seccos ou com pouca vegetação devem cortar-se, assim como todos os rebentões que a arvore for lan- çando no interior da copa. Este processo deve ser feito em maio e repetido nos annos seguintes. Com quanto muitas vezes se não sal- ve a arvore, ao menos prolonga-se-lhe a vida por alguns annos. Matta do Choupal — Coimbra, Adolpho Frederico Moller. CHROnCA Novamente começamos com os nossos trabalhos de «Chronista».Mas ainda bem que come^,50 4">,50 0™,06 0^,06 — resinifera . 4™,00 0'n,07 — risdonii 4"',00 0™,05 — falcata 3™,00 0-,03 — glohulus 6",00 Om,08 — marginata (ma- hogony) . — robusta. 2^,00 3'", 00 0™,02 0"\03 Plantados no mesmo local em dezem- bro de 1869: ALTURA DIAMETRO Eucalyptus montana . — reciana 3'n,00 5™, 00 0'«,02 ()m,02 — occidentalis . 2™, 00 0"S02 — pêndula . 3^,50 0™,03 — qlobulus . 6™, 00 0™,09 Os Eucalyptus plantados era 1867 e na parte mais elevada da matta, em ter- reno schistoso, estão em massiço a distan- cia de três metros uns dos outros e são muito açoutados pelos ventos. Os outros estão no valle da matta, onde se acha o viveiro e o terreno é parte schistoso e parte argilloso. O Eucalyptus Gunnii, que, segundo Decaisne & Naudin (vide «Manuel de Ta- mateur des jardins», vol. III, pag. 265), é uma espécie montanheza quasi do mes- mo tamanho que o E. glohulus e verosi- milmente mais rústica, attendendo a que ella constitue vastas florestas nos Alpes da Austrália meridional, a 1:200 metros de latitude, soífreu bastante este anno com o frio, ao passo que alguns indiví- duos do E. globidus, que se achavam no mesmo local, supportaram-o perfeitamen- te bem. — Falla-se em que se vae instituir no Palácio de Crystal d'esta cidade uma so- ciedade de jardinagem, tendo já o snr. visconde de Villar Allen occupado a at- tenção da direcção do Palácio sobre este assumpto. E' inquestionável que aquelle cava- lheiro é um amador distincto e perseve- rante, e portanto, se tão opulenta ideia se realisar debaixo da sua direcção, estamos 38 JORN.U. DE HORTICULTURA PRATICA perfeitamente convencidos de que a so- ciedade prosperará e que o Porto ficará tendo uni jardim que deleite os olhos, porque infelizmente e com vergonha pró- pria dizemos que não temos um único. — A producçào de laranja no distri- cto de Angra no anno de 18G9 foi de 47:325 milheiros, exportando-se 29:585 milheiros. — Segundo lemos em um jornal, foi ha pouco despachada na alfandega de Lisboa uma grande machina de debulhar, mandada vir de Inglaterra pelo snr. vis- conde da Esperança, um dos maiores la- vradores do Alemtejo. Se todos os grandes proprietários se empenhassem, como aquelle cavalheiro mostra, na adopção dos meios aperfei- çoados de lavoura, a nossa agricultura teria prosperado, em vez de se conservar no estado primordial, em que por assim dizer se encontra. Sabemos que a adopção d'esses meios, sem as convenientes modificações, é sum- mamcnte difficil para muitos dos nossos lavradores e para alguns tornar-se-ha até impossivel. Mas com relação aos primei- ros poderia muito a intelligencia e a boa vontade e este ultimo requisito ninguém nos poderá contestar que não tenha falta- do á máxima parte dos agricultores por- tuguezes. Não o dizemos como censura, mas simplesmente como desafogo da tris- teza que nos causa o nosso estado com- parado cora o adiantamento de outros pai- zes de menos opulentos recursos naturaes. — A Real Associação Central da Agri- cultura Portugueza tenciona realisar em Évora um terceiro concurso de instrumen- tos de lavoura, no dia 1 de abril, na her- dade de Barbarralas. O concurso será dividido em três clas- ses, a saber: 1.° charruas — 2.° arados — 3.° grades. Haverá medalhas de prata o de co- bre, e menções honrosas. Também serão conferidos prémios pecuniários até 20;>000 reis para as pessoas que se mostrarem adestradas no uso dos respectivos instru- mentos. — Nos principios do mez passado fal- lava-se em que o snr. marquez de Ávila e de Bolama, presidente do conselho de ministros e ministro dos negócios estran- geiros, tomara n'esta ultima qualidade uma medida utilissima ao nosso commer- cio de vinhos. E' a determinação de que os agentes consulares portuguezes nos principaes centros de commercio da Euro- pa e da America, façam e mantenham n'elles exposições permanentes de amos- tras dos nossos vinhos. E' muito para applaudir a ideia do snr. marquez de Ávila e de Bolama e a grande população vinicola do nosso paiz dever-se-ha confessar reconhecida, porque encontrará um bom meio de tornar os seus vinhos conhecidos nos principaes portos do estrangeiro. Com quanto os nossos vinhos se te- nham desacreditado pelo pouco escrúpulo que ha na sua manipulação, ver-se-ha pelo seguinte mappa que a exportação pela barra do Porto teve nos últimos dez an- nos um grande incremento. Eis o numero de pipas exportadas em cada um dos annos que constituem o re- ferido periodo: 18G1 .... 26:908 pipas 1862. . . . 29:710 » 1863. . . . 34:905 » 1864. . . . 35:619 » 1865 .... 39:208 » 1866 . . . . 40:507 » 1867 . . . . 34:679 » 1868 .... 35:725 » 1869. . . . 40:850 » 1870. . . . 42:696 » Já que falíamos de vinhos, devemos chamar a attenção dos leitores para o ar- tigo que publicamos n'este numero sobre o theionoxyphcro, pequeno apparelho mui- to engenhoso, inventado pelo snr. Antó- nio B talha Reis. Alguns dos nossos vinícolas queixara- se de que os seus vinhos só com muito álcool é que se podem conservar ; mas se empregassem o acido sulphuroso não suc- cederia assim. A maneira de o applicar precisa de toda a attenção. Costuma-se enfiar um bocado de mecha em um arame, o qual é introduzido pelo orificio superior da vasi- lha, e o acido sulphuroso, que então se forma pela combustão da mecha, á custa do oxigénio do ar, occupa toda a capaci- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA dade interior do recipiente, e a mecha só se extingue quando o enxofre tenha ardi- do todo ou quando já não exista oxigénio que alimente a combustão; é n'este ulti- mo caso que tem logar a completa satu- ração da vasilha. Pela leitura do artigo do snr. Antó- nio Batalha Reis ver-se-hão as vantagens que tem o theionoxyphero sobre a mecha, para o enxoframento dos vinhos. — A direcção do Palácio de Crystal está tractando de organisar n'aquelle re- cinto duas exposições : uma hortícola e outra agrícola. Ainda não está deliberada a epocha era que deverão ter logar, porem parece- nos que a de plantas será em maio ou junho. No próximo numero talvez possamos fornecer mais alguns esclarecimentos re- lativamente a estes concursos e é de es- perar quo o governo os coadjuvará. O snr. José Marques Loureiro também se propõe a organisar uma, parcial, no seu estabelecimento, no mez de junho. Ap- plaudimos o pensamento d'este benemérito horticultor e oxalá que os seus trabalhos para a realisação d'elle obtenham o êxito que merecem. — A carta do snr. N. P. de Mendon- ça Falcão que se publicou no ultimo nu- mero, moveu bastantes dos nossos leito- res a pedir o 3Iorangueiro Ananaz-Gloe- de ao proprietário d'este jornal. Como, porem, o snr. J. M. Loureiro ainda não tenha reproducções d'esta va- riedade, julgamos bom communical-o, ad- vertindo todavia que na próxima estação se achará á venda. O snr. Mendonça Falcão também nos communicou que um pequeno numero de reproducções que tinha foram assoladas pelo frio. — Não temos recebido a « Revista Agrícola do Imperial Instituto Fluminen- se de Agricultura»; dar-se-ha caso que tão importante jornal suspendesse a sua publicação? Só recebemos os n.°^ 1 e 2. Sentimos a falta e accusamol-a para ella ser remediada, se provier de causa estranha á vontade da direcção de aquelle excellente órgão dos interesses agrícolas do Brazil. — O nosso coUaborador, o snr. D. J. Nautet Monteiro enviou-nos um calculo sobre os lucros (!) que se podem auferir da cultura dos Morangiieiros. Pela leitura do mesmo, ver-se-ha que o calculo do snr. Nautet Monteiro está em completa opposição ao do nosso amigo, o snr. N. P. de Mendonça Falcão, e que publicamos a pag. 17. Snr. Oliveira Júnior. Tendo lido no ultimo numero d'este jornil o calculo extraordinaario do snr. N. P de Mendonça Falcão sobre os Morangueiros. vou dar-lhe o se- guinte calculo pratico d'esse lucro de 200 p. c. para os snrs. horticultores aproveitarem ! 100 plantas a 195 reis 19/500 RECEITA l." anno 1:800 plantas a 20 reis . . . 36/000 2.» anno 4:000 plantas a real .... 4/000 Mais de 200 p. c. . . Rs. 40/000 DESPEZA Custo de 100 plantas 19/500 Dous annos cie amanho : um homem a 200 reis 146/000 Estrume 2/400 Rega : despeza de nora, boi, etc. . . . 30/000 Renda, decimas, etc 4/000 Rs. . . . 201/900 Importe da venda 40/000 Ganho negativo 161/900 Lisboa, 15 de janeiro de 1871. D. J. Nautet Monteiro. Tanto o calculo « pro » como « con- tra», parece que não estão conscienciosa- mente feitos, porem deixamos o campo á discussão. «Da discussão nasce a luz». — Acha-se actualmente em plena flo- rescência no estabelecimento « Loureiro » o famoso Anthurium Scherzerianum , a que Mr. Charles Lemaire chama com mui- ta razão a pérola do género, pelo esplen- dido colorido da sua inflorescencia. Convidamos os amadores a irem ver esta planta e brevemente publicaremos um artigo acompanhado de uma estampa feita ad naturam pelo nosso amigo, o snr. dr. Júlio Augusto Henriques, no Jardim Botânico de Coimbra, onde existem al- guns exemplares já fortes. 40 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Uma outra bella planta — a Astrapcea Wallichii, acha-se egualmente em flor no mesmo estabelecimento. A Astrapcva Wallichii forma uma ar- vore de G a 7 metros : as folhas suo gran- des e largas, cordiformes e denteadas ; as estipulas são foliaceas, ovacs c acumina- das. As flores, de uma bella cor de rosa, são dispostas em umbcllas, apertadas, axil- lares c pendentes. E' uma planta cuja introducção não data de muitos annos e que muito reeom- raendamos aos amadores. — ■ Publicamos n'este numero (pag. 34) um artigo do snr. N. P. de IMeudonça Falcão sobre a Well ingtonia gigantea, e como este collosso esteja chamando muito a attenção de certos amadores, pensamos que não seria fora de propósito dar o de- senho d'elle. Fizemos, pois, copial-o de uma excellente estampa que se publicou no primeiro volume de «L'Illustration ílor- ticole», e com quanto a nossa estampa seja de tamanho muito reduzido, podo mesmo assim calcular-sc a altura que tem, toman- do-se por escala comparativa as pessoas que estão de pé ou pelos dous cavalleiros que se acham perto da base do tronco, do lado esquerdo do leitor. Mede o exemplar que representamos 88 metros de altura e 9 metros de diâ- metro na base. O « ]\Ionarcha das florestas da Cali- fórnia», como lhe chama Mr. W. Lobb, habita um districto solitário nas encostas elevadas da Sierra Nevada, perto das nas- centes dos rios Stanislau e Santo António. Existem alli umas 80 ou 90 d'estas arvores, variando em altura desde 76 a a 97 metros e com um diâmetro de 10 a 20 metros. ]\Iuita3 pessoas estão ensaiando a cul- tura d'esta Conífera, e alem das indica- ções que apresenta o snr, Mendonça Fal- cão para que ella prospere, seja-nos licito ponderar que mais uma condição impor- tante é a plantação com muito pouca pro- fundidade— quasi á supcríicie. A horticultura e mesmo a silvicultura muito têom a lucrar com a aclimação d'esta arvore e por isso estamos convencidos que não faltarão amadores que se entreguem a conscienciosas experiências para a obter. — A exportação de gado bovino tem augmcntado consideravelmente e mui prin- cipalmente nos últimos trez annos. Era seguida damos uma tabeliã esta- tistica, pela qual os leitores melhor pode- rão ver o movimento que houve pela barra de Lisboa, desde 18G5 até 1870. 1805— 325 cabeças no valor de. . 14:838#200 1806— 190 » » » ». . 8:558#000 1867— 232 » » » ». . 8:338^'0l)0 I86S — 2197 ). ). .) i).. 102:851*000 1869-7027 )) ). ). ». . 230:622^000 1870 — 8368 .. .. .. .... 528:793/000 A criação de gado será no decorrer de alguns annos uma enorme fonte de re- ceita para os nossos lavradores. Cumpre notar, todavia, que o rápido incremento que teve o anno passado a exportação deve nttribuir-se ao grande consumo que se fez em França por causa da lastimosa lucta pendente entre aquclla nação e a Prússia. ■ — Recebemos e agradecemos o n.° 1 do vol. XV da «Revista de Pharmacia e Sciencias accessorias », de que é redactor o snr. Albano Abilio Andrade, bem co- nhecido pliarmaceutico d'esta cidade. Alem de outros interessantes escri- ptos, relativos á pharmacia, chiniica, to- xicologia, etc, traz este numero algumas curiosas observações acerca da influencia que a luz exerce sobre a Sensitiva. E' um jornal muito útil, não só por ser bem redigido, como pelas variadas matérias de que se occupa. — O snr. António Diogo Lopes de Almeida Cardoso, de Porlide, escreveu uma carta ao proprietário d'este jornal, da qual extrahiraos um período que nos parece ser interessante : . . . Para lhe provar o que este torrão é para as Camellias, basta dizer-lho que o anno passado un» amigo dcu-me uni ramo de flores entre as quaes vi- niianí algumas Camellias bonitas. Depois de estarem alguns clias em jarras nas salas, espclci as hastes ainda com flores e estão pegadas ! Parece incrível ! « Nulla regula sine exccptione»; com- tudo, isto prova quanto se poderia fazer no nosso paiz se houvera intelligencia c l)om gosto. — Segundo nos disseram, é a Videira Mourisco preto que menos soffre com a doença que ataca algumas vinhas do Dou- ro e da qual nos occuparaos no numero antecedente. Olivkiua Junioií. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 41 PODA DAS ARVORES FRUCTIFERAS O III É claro que não é fácil pôr em pratica todos estes cuidados nas arvores grandes cultivadas em pomar. É egualmente claro, porem, que é extremamente prejudicial deixal-as entregues a si próprias. O arboricu!tor que desejar boa pro- ducção das suas arvores, deve attender a duas condições, que notamos como indis- pensáveis para a conservação e boa pro- ducção das arvores do jardim fructifero : regularidade^ da forma e facilidade de ac- ção da luz. É o que se deve promover nas arvores dos pomares. Para chegar a este resultado convém educar a planta que deve servir de ca- vallo de modo que cresça direita, e para isso deve apenas impedir-se que os ramos lateraes não tomem grande desenvolvi- mento. Empregam-se para isto os meios que n'outro logar já mencionamos. No in- verno podem estes ramos ser podados ren- tes, começando pelos inferiores. Logo que a planta chega á altura desejada, enxerta- se na extremidade um ramo da planta, que deve constituir a parte superior da arvore. Isto poder-se-ha fazer no local aonde a arvore deve ficar ou em viveiros. N'este ultimo caso, transplantada, deve ser nos annos seguintes convenientemente po- dada. Proceder-se-ha do modo seguinte. Se o enxerto tem dous ramos, que devem ser oppostos, são estes cortados, ficando com o comprimento de O™, 03 pouco mais ou me- nos. O mesmo se fará quando houver três ou quatro ramos, que devem ser todos al- ternos uns com os outros. No anno se- guinte cortam -se do mesmo modo as ra- mificações produzidas e repete-se o mesmo no terceiro anno. Fica d'este modo a parte superior da arvore com a forma de vaso (fig. 23), con- tendo diverso numero de ramos e podendo receber a acção da luz tanto pelo lado de fora, como pelo interior. A conservação é fácil, pois é só indis- (1) VideJ. H. P.,pag. 21. 1871 — Vol. II. pensavel cortar todos os annos os ramos (ladrões) que nascerem no interior. Vê-se que esta forma é totalmente dif- ferente da forma espherica, extremamente viciosa, que se observa geralmente em todas as arvores, que se encontram nos nossos pomares. Fig. 23. Quando o cavallo não tiver a altura indicada, consegue-se o mesmo resultado, promovendo o desenvolvimento do enxer- to, como para aquelle se fez no viveiro e deixam-se desenvolver os ramos necessá- rios no alto da haste, quando toca a al- tura conveniente e cortando bem rentes todos os ramos inferiores. IV Gressent aconselha um methodo de cul- tivar as arvores fructiferas, diverso dos que temos mencionado. As arvores for- mam touca a pequena distancia da terra. Para conseguir esta disposição serão plan- tados enxertos vigorosos a 5™, 00 de dis- tancia em todos os sentidos, cortando-se.- Ihes proximamente metade do seu com- primento. De aqui resulta o desenvolvi- mento dos gomos em ramos lateraes. Ao que se desenvolve mais que os outros é cortada uma parte. No inverno seguinte corta-se aos ramos lateraes metade do seu comprimento. De aqui resulta ramificar-se cada um em dous novos ramos. Conseguido um certo numero de ra- mos, que para a maioria das plantas deve N.°3 — Março. 42 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA ser de doze, segundo diz Gressent, nada mais ha que fazer do que transformar as ramificações d'estes em ramos de fructo. Consiste esta operação em quebrar to- dos os ramos quando eiles estão já um pouco lenhosos, deixando oito folhas. Se no estio alguns gomos d'estes ramos se desenvolverem, quebraremos o ramo logo por baixo do ramo mais inferior. A poda de inverno para formar os ra- mos de fructo, é egual á que já descre- vemos para as arvores cultivadas no jar- dim fructifero. As arvores assim formadas são culti- vadas tanto em logares planos, como nas encostas, e são destinadas a substituir as arvores altas. São applicaveis a todas as arvores fru- ctiferas as operações indicadas. Apenas para as que produzem fructo com caroço ha alguma especialidade. N'estas o ramo que uma vez produziu fructo, não fructi- fica mais. São só os seus prolongamentos ou ramificações que podem de novo dar flores. E, pois, necessário no ramo, que queremos transformar em ramo de fructo, operar por forma que junto á base haja sempre um gomo, que, desenvolvendo-se, possa substituir o ramo que fructificou. A fig. 24 melhor fará comprehender o que dizemos. No primeiro anno fructifica, em virtude das operações convenientes e que são as que descrevemos para as arvores em geral, o ramo ò e na base desenvol- veram-se os ramos c á e e /. Terminada a fructificação, no inverno é cortado o ramo h logo por cima da origem do ramo c d, cuja extremidade é também cortada. É este o ramo que deve fructificar. O ramo e f, que é o que fica mais próximo do ramo principal, é cortado de modo que fiquem os dous gomos inferiores. Estes, desen- volvendo-se, produzem os ramos g e h. Este ultimo fructificará no anno immediato áquelle em que fructificou o ramo c d. O ramo g será cortado, deixando-se só dous gomos e assim successivamente, notando-se que o ramo que deve fructificar deve ser sempre dos dous que estes gomos produ- zem o mais distante, sendo o mais próxi- mo do ramo principal o que deve ser des- tinado a produzir dous novos ramos. Fig. 24. Tractadas assim as arvores de fructo de caroço, a producção será mais abun- dante e a vida da arvore mais longa, porque são cortadas todns as partes inú- teis e os fructos bem alimentados, porque nascem próximos dos ramos principaes. Mais algumas especialidades poderiam ser apresentadas. Não desejamos, porem, tornar-nos fastidioso e só de novo acon- selhamos aos que desejarem cuidar das arvores dos seus pomares a leitura dos li- vros que indicamos. A nossa intenção foi mais promover a vontade de estudar, lem- brando a conveniência da poda das arvo- res fructiferas, do que ensinar. Aconselhamos aos pomicultores a dis- posição em latadas e sobre tudo em cordões horisontaes, que podem guarnecer as ruas das propriedades, porque conhecemos a grande facilidade de assim educar as ar- vores e a grande producção que assim se consegue. Coimbra. JuLio A. Henriques, lESEMBRIANTHEMUM CRYSTALLINUM Esta planta, muito vulgar nos nossos jardins, pertence á grande familia das MesemhriantkemaceaSj que conta mais de trezentas espécies, todas muito distinctas. Com nenhuma familia a natureza foi tão pródiga era diversidade de formas e ri- queza de colorido como com esta. Quem tem observado com attenção das dez ho- ras da manhã ao meio dia um taboleiro de Chorões, e não tem sido ofifuscado pelo esplendido brilho das suas flores verme- lhas, cor de rosa, amarellas ou tricolores, JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 43 e muitas vezes perfumadas com exquisito aroma? Mas quanto a nós cremos que de todas as espécies de Mesemhrianthe- mums, a mais bella, a mais interessante, a mais esquisita, por assim dizer, é a nossa Herva do orvalho (Mesemhrianthe- * mum crystallinxim). Ao contrario das outras espécies, não é pelas flores que a cultivamos, mas sim pelas folhas que, cobertas de uma im- mensidade de vesiculas brilhantes, asse- melhara a planta a um immenso pedaço de gelo em que o sol reflecte os seus raios como n'um espelho. Por esta circumstan- cia é que vulgarmente é chamada Herva do orvalho, e em francez Glaciah. E' na verdade de um efíBito encanta- dor, cultivada em vasos nos taboleiros dos jardins, n'um sitio onde lhe dê bem o sol; mas para onde ella é muito pró- pria, assim como as suas congéneres, é para cobrir rochedos ; n'esse logar é que ella mostra o que vale e patenteia todo o seu brilho. Multiplica-se facilmente de se- menteira em março, no próprio logar em que deve ficar, ou em terrinas, para de- pois ser transplantada. Durante a sua flo- rescência gosta de ser bem regada, o que é muito útil para que amadureçam bem as suas sementes. A. J. DE Oliveira e Silva. APONTAMENTOS SOBRE A SCIENCIA FLORESTAL Todos os que conhecem por estudo a grande in- fluencia dos bosques e arvoredos na economia geral da natureza, sabem que os paizes que perderam as suas mattas estão quasi de todo estéreis e sem gen- te. Assim succedeuá Syria, Phenicia, Palestina, Chj- pre e outras terras, e vae succedendo ao nosso Por- tugal. Areaes e charnecas immensas, paues e bre- jos cobrem a sua superfície. José Bonifácio de Andrade. Pennas mais auctorisadas que a nossa têem escripto sobre a devastação geral das mattas de Portugal, um dos paizes que menos tem trabalhado para o engran- decimento d'ellas. Cônscio de quanto podemos e vale- mos, não vimos aqui apresentar ideias ou systemas novos nem desconhecidos sobre silvicultura, e se ousamos escrever sobre assumpto tão vasto e importante, é sim- plesmente porque julgamos que em lem- brar mais uma vez aos leitores d'este jor- nal o que de todos está tão esquecido, fa- zemos um serviço importante. Não se tem dado por parte dos nos- sos governos uma attençao firme para ata- lhar os males que provêem de tão grande descuido, e aos particulares por seu turno não tem elle sido menos indifFerente, re- montando a antigas datas o pouco escrú- pulo de empregar o machado destruidor em florestas frondosas e magnificas. N'este sentido encontramos nos « Estudos sobre arroteamentos e colónias agrícolas», por António de Avellar Severino, as linhas seguintes : « Antiquíssima é entre nós esta tendência destruidora do arvoredo, pois que pai-a salvar os magníficos Cedrus Li- bani (Cedros do Libano) e Cupressus glau- ca (Cyprestes da índia), que ornam a me- morável matta do Bussaco, foi já outr'ora necessário recorrer aos ameaços do raio e da excoramunhão pontificia». A aridez do nosso clima, os ardores do sol do es- tio, a disposição montanhosa dos terrenos que perra itte na occasião das grandes chu- vas o fácil transporte das areias para os leitos dos rios, tornando-os assim cada vez mais innavegaveis, alteando-lhes os leitos e derramando-os pelos terrenos mar- ginaes e causando prejuízos enormes á agricultura, tornam indispensável a plan- tação das arvores, que concorreriam ainda para evitar a evaporação da agua pluvial e para dar maior alimentação ás nascen- tes, para obstar á invasão das areias move- diças do littoralpara os terrenos cultivados, assim como para purificar a atmosphera. A falta de estrumes naturaes, que as arvores subministrariara diariaraente com as suas folhas, cuja falta tem causado enor- mes damnos á agricultura ; o desappare- 44 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA cimento da caça, que aliraentava o pobre, Scão muitos outros motivos que pedem com urgência um prompto remédio, que modi- íicando-os quanto possivel, possa contri- buir egualmcnte para que nos nossos mer- cados haja abundância de madeiras para construcçoes de todas as sortes (o que hoje, para vergonha nossa, temos de im- portar do estrangeiro) e combustível, au- gmentando assim as fontes da nossa ri- queza. É necessário obstar a que continue o vandalismo dos nossos antepassados e que não sigamos as suas pisadas na senda da devastação, que cada vez mais depre- cia o pouco que nos resta das mattas que possuimos. Cotta diz no seu « Tractado sobre cul- tura florestal»: «Se a Alleraanha fosse despovoada durante um século, cobrir-se- hia totalmente de arvoredo». Talvez este fosse o único remédio para o engrandeci- mento das nossas florestas ! Porque não se aproveitando ninguém dos productos florestaes, o solo ficaria coberto de uma considerável camada de húmus e os bos- ques tornar-se-hiam nào só mais vastos, senão que também muito mais fecundos. Se os homens, regressando ás paragens abandonadas, novamente se utilisassem das madeiras, estrumes, pastos, etc, flo- restas as mais sabiamente administradas decresceriam de novo na sua grandeza e fecundidade. Donde se infere que as flo- restas criam-se melhor nos logarcs despo- voados, onde, porisso, não é possivel a sciencia florestal. Por onde, os que dizem que antigamente, não existindo sciencia florestal, abundavam as madeiras, e que escasseiam hoje, depois de constituida esta sciencia^ não proferem uma asserção infundada. No emtanto também pode com justo titulo assegurar-se que a inutilidade dos serviços médicos revela bom estado sani- tário, sem que tal asserção auctorise a pensar que os médicos devem carregar com a responsabilidade das doenças, que avexam a humanidade. Quer dizer: não haveria médicos se não houvessem doenças, como nào existiria sciencia florestal, se não houvesse escassez de madeiras e com- bustível. A sciencia ó filha da necessidade, e esta, conseguintemente, sua companheira natural. Assim, dizer que existe hoje a sciencia florestal, porque ha penúria de ma- deiras, é proferir uma phrase, que envolve uma explicação de todo o ponto racional. A sciencia florestal não possue a vara da magia, nem pode sustar o curso da natureza. Dizia o celebre Verdey: «que o bom medico deixa morrer a humanida- de c que o mau raata-a». Com egual di- reito podemos dizer que o bom florestal deixa minguar as mattas mais frondosas, e que o mau as desbarata. Assim como o bom medico não pode atalhar a morte, porque tal é o curso na- tural do mundo, assim também o mais hábil florestal é impotente para impedir que as florestas de vetustissima edade, que actualmente são objecto de úteis ex- plorações, não descaiham da grandeza que ostentavam nos tempos em que ninguém usufruia as vantagens que hoje propor- cionam. A Europa possuia outr'ora, especial- mente nos paizes do norte, florestas mons- truosas, excellentes e fecundissimas. Por- tugal mesmo teve mattas importantes, das quaes, com muito pequenas excepções, hoje não existem senão os terrenos con- vertidos em baldios e povoados com al- guns Tojos e Urzes. Cora o revolutear dos tempos, de grandes tornarara-se em pequenas, de férteis volveram-se em in- fecundas e de muitas nem sequer existem hoje vestigios. Cada geração humana assiste ao ap- parecimento de uma geração decrescente de arvoredo. Surprehende-nos ainda, aqui e acolá, um Carvalho ou Pinheiro gigan- tescos, criados com leve tractamento, e no emtanto temos a convicção de que n'aquel- les mesmos sitios nos é de todo o ponto impossivel educar arvores de egual tama- nho, sem embargo de envidarmos todos os esforços de tractamento prescriptos pela sciencia. Os netos d'estas arvores gigan- tescas como que estão adivinhando a mor- te, antes de terem adquirido a quarta parte do volume lenhoso que encerram os magestosos avós de que procedem; e ne- nhuma arte ou sciencia é capaz na actua- lidade de criar em terreno florestal hu- moso mattas eguaes ás que hoje se vão derrotando por toda a parte. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 45 Por consequência, o bom florestal dei- xa apoucar as florestas, quando o sitio torna impossivel o aproveitamento da Bciencia, emquanto o mau florestal fal-as perecer por toda a parte. O terreno de que se não extrahe hú- mus algum vae progressivamente forman- do melhor solo florestal. Aquelle de que se tira methodicamente o húmus perma- nece n'um equiliurio natural. Quando se commette o erro de segregar a totalidade ou a máxima parte do húmus, destroe-se completamente. O bom florestal aufere das florestas os maiores proventos, sem estragar o terre- no ; o mau florestal estraga o solo, sem colher metade do seu verdadeiro produ- cto. ^ E realmente extraordinário quanto da administração das mattas depende a uti- lidade ou damnificamento d'ellas. A ver- dadeira sciencia florestal avulta muito mais do que pensam os que d'ella só co- nhecem a parte mais trivial, que é o que acontece geralmente entre aquelles que em Portugal pretendem entender de silvicul- tura. Cotta, um dos maiores vultos na scien- cia florestal no principio d'este século, e professor na Academia de Tharond (Alle- manha), dizia nos últimos annos da sua vida aos seus discípulos : « Ha trinta an- nos affigurava-se-me que comprehendia perfeitamente o conteúdo inteiro da scien- cia florestal, sendo que com ella me havia criado, e a tinha aprendido na universi- dade. Depois não me tem escasseado en- sejo de ampliar as vistas n'esta matéria. Pois bem : durante este longo decurso de tempo apenas pude attingir a convicção do pouco que d'esta sciencia sei, e de que ainda se não tocou a meta que muitos cui- dam haver transposto». Muitos terão por ventura a doce illu- são que embalava aquelle illustre profes- sor, mas aconselhamos que será mais ai- roso mudar de parecer. A sciencia florestal basea-se em conhe- cimentos de tal natureza, que quanto mais profundamos seu objecto, tanto mais gra- ves difficuldades se nos antolham. O es- paço illuminado com a ténue claridade da lâmpada aviva-se. Mais vivo clarão es- parge a tocha em torno dos objectos que faz conhecer mais distinctamente. A luz do sol excede ainda as outras na inten- sidade do brjlho cora que nos aclara os objectos. E assim a sciencia: quanto maior luz se produz na atmosphera da nossa intelligencia, mais objectos novos apparecem. E' indicio claro de peque- nez de espirito o julgar que se sabe tudo. O corpo de engenharia florestal divi- de-se geralmente ainda em pratico e scien- tifico. Raro se encontram as duas habili- tações unidas. O que o florestal pratico reputa suífi- ciente na economia florestal, depressa se aprende, e os axiomas systematicos do theorico gravam-se facilmente na memo- ria. Mas, na execução, a arte do pratico está para a sciencia fundamental das flo- restas como a charlataneria para a verda- deira sciencia de curar. Por outra parte, o homem da pura theoria florestal não sabe muitas vezes co- nhecer a floresta diante do arvoredo. As cousas são nas florestas inteiramente dif- ferentes do que são nos livros. E' por isso que o homem scientifico vê-se não rara- mente abandonado pela sua sciencia, e ao mesmo tempo humilhando-se perante a in- trépida resolução do pratico. A três cousas essenciaes deve attri- buir-se o nosso notável atrazo na sciencia florestal : 1.^ Largo espaço de tempo de que ha mis- ter o arvoredo para attingir o seu pleno desenvolvimento; 2.* Grande variedade de sitios onde pode criar-se; 3.^ A singular oircumstancia de que ge- ralmente o florestal que pratica muito escreve pouco, e o que muito escreve pouco pratica. Resulta da primeira causa que aquillo que se reputa conveniente e, como tal, se realisa, apenas aproveita por algum tem- po, tornando-se mais tarde nocivo na eco- nomia florestal. Da segunda causa procede que se ale- vanta como absolutamente bom ou mau o que somente é útil ou prejudicial em si- tios determinados. A terceira causa, finalmente, faz que as mais salutares experiências morram com seus inventores, emquanto que mui- 46 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA tas experiências se olvidam, embora acon- selhadas pelos escriptores, por falta de quem lhes dê o cmiho da pratica; e ou- tras, ao contrario, logram o respeito de verdadeiros dogmas, sendo aliás erróneas na sua applicação. Matta do Choupal — Coimbra. AdOLPIIO FliEDERICO MOLLER. PANGRATIUM MARITIMUM linn. Não é só nos paizes exóticos que se encontram bellas plantas. Em todos os paizes as ha mais ou menos preciosas de- baixo do ponto de vista ornamental. E Portugal, que é tào favorecido pela natureza, possuo algumas dignas de ha- bitarem nos nossos jardins. Porem estas, constantemente debaixo de nossos olhos, sào completamente desprezadas e comtudo são dotadas de bastantes attractivos para que n'ellas se nuo íixe mais a nossa atten- ção. E se as plantas que nos vêem de fora, as quaes tanto admiramos e procuramos com transporte, se encontrassem a cada passo nos nossos campos ou nas nossas serras, de certo, apezar das vivas cores, gran- deza e forma extravagante de suas flores, passariam desapercebidas. E por isso que chamamos a attenção dos leitores para esta nossa bonita Ama- ryllidacea — o Pancratium maritimum, Linn. E muito similhante aos Narcisos pela presença de uma coroa petaloide no cen- tro da flor e é uma de aquellas espécies que sem serem destituidas de certo inte- resse horticola, são muito pouco conheci- das, senão completamente desprezadas nos nossos jardins. As suas folhas são longas, lineares- lanceoladas, obtusas, glaucas ; e as suas flores brancas de um cheiro suave e dis- postas em umbella no vértice de uma haste comprimida são de efleito encanta- dor. Esta espécie, que cresce espontanea- mente nas areias maritimas, encontra-se em grande quantidade entre a Foz do Douro e Leça da Palmeira, na Foz do Tejo, Figueira e também em Buarcos. Emíim o Pancratium maritimum é uma interessante planta que aconselhamos aos amadores obtenham para enriquecer as suas collecções e tornar ao mesmo tem- po nos seus jardins mais bem represen- tada a Flora Lusitanica. Oliveira Júnior. EUGALYPTUS MARGINATA N'uma carta que recebeu o habll in- spector do Jardim Botânico de Coimbra, o snr. Edmond Goeze, do dr. F. von Mul- ler, director do Jardim Botânico de Mel- bourne (Austrália), diz este botânico que este é o verdadeiro nome do Eucalyptus a que nós chamamos mahogony^Q rccom- menda muito a sua plantação, pois affian- ça que a madeira d'elle c muito superior á do Eucalyptus glohulas, c que é uma das melhores madeií-as da Nova lioUanda, onde é empregada nas construcções hy- draulicas, navaes e caminhos de ferro. Em Portugal é de todas as espécies de Eii- calyjitus a que tem o crescimento mais vagaroso e a que sofFre mais com o frio; por isso recommendamos ás pessoas que quiaercm ensaiar a sua cultura que os plantem da edade de dous annos e nos princípios de março, pois já temos feito esta experiência e tirado bons resultados. Na Extremadura e Alemtejo talvez já não seja preciso esse cuidado. Todo o processo, tanto de p.menteira como de plantação, é egua^ ao do Euca- lyptus gluhulus (vide a « Breve noticia sobre o Eucaly;ptus glohulusn ,^ov Oliveira Júnior). Aproveitamos a occasião para dizer que o dr. F. von Muller recommenda o Eucalyptus calophylla como óptima arvo- re de alameda c a Acácia melanoxylon, como uma das melhores arvores flores- taes para o nosso paiz. Coimbra — Matta do Choupal. AdOLPHO FREDERICO MOLLER. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 47 OPLISMENUS IMBECILLIS A família das Gramíneas é sem du- vida uma das mais numerosas e enrique- cida de bellas e excellentes plantas, taes como o Saccharum officinarum (Canna do assucar), o Gynermm argenteum, os Bam- bus, e finalmente as que produzem os ce- reaes, escolhidos para principal alimento do homem. São plantas annuaes ou vivazes, haste nodosa, folhas simples, flores hermaphro- ditas (monoicas algumas vezes), compos- tas de duas pequenas bracteas, três esta- mes, e um ou dous estyletes; são em es- piga como as do Triticum (Trigo), ou em paniculas como as do Gynermm argen- teum/^â. descripto a pag. 74, vol. I d'este jornal. Foi introduzida recentemente em In- glaterra uma nova espécie da mesma fa- mília ,^ chamada Oplismenus imlecillis (fig. 25), vinda da Nova Caledónia, que tem causado a admiração de todas as pes- soas que gostam de plantas de ornamen- to, pela sua bella folhagem. Fig. 25 — Oplismenus imbecillis. É uma planta mais débil, com as has- 1 tes estendidas horisontalmente, folhas lan- ceoladas, listradas de branco e margina- das de cor de rosa mais ou menos viva. O pequeno porte da planta torna-a própria para ser cultivada em vasos nas salas, ou para servir de guarnições nas nossas estufas temperadas. E de fácil cul- tura, conservando-a n'um canto húmido da estufa com poucas regas; o contrario faz com que melem as folhas e a planta pereça. Multiplica-se facilmente de estaca debaixo de campânula, ou pela divisão dos seus tufos. O snr. Francisco Eduardo Dias, hor- ticultor era Lisboa, recebeu do estabele- cimento do snr. José Marques Loureiro, digno proprietário d'este jornal, alguns exemplares, que em menos de um anno têem deitado hastes de um metro, e mais, o que se torna bastante notável. Lisboa. A. M. L. Carvalho. 4S JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA WELLINGTONIA GIGMÍTEA.lindl.C) Terra feros partas immania monstra gigantes Edidit, ausuros in Jovis ire domuni ! OviD. Fast. Liv. 5.0 Wellinfjtonia gigantea Lindl., Sequoia cupressifolia ou gigantea Enclli., Gigantahies cupressifolia Iland-book, Washingtonia gigantea, ARVORE DE MAMMOUTII. Com todos estes nomes se apcllida hoje no mundo da sciencia o colosso vege- tal descoberto ha 40annos na Califórnia. A Douglas cabe a honrada sua invenção em 1831; ao viajante botânico por excellen- cia, Lobb, segundo explorador da sua es- tação natal, pertence a mais útil gloria de introductorna Europa das primeiras amos- tras de rama e pinhas da Wellíngtonia. E' muito controversa entre os botâni- cos na vasta familia das Coniferas a sua distribuição por ordens, secções e tribus; e se a Wellíngtonia deve classificar-se na tribu das Ahittineas, das Cupressineas, ou das Araucárias— Cuninghamias, acl/iuc sub judice lis est, ainda está por decidir. Em todo o caso o celebre botânico inglez dr. Lindley foi quem, para honrar a me- moria do vencedor de Waterloo, teve a patriótica e feliz lembrança de baptisar com o nome do maior general inglez do século XIX este gigante da vegetação ; creando com o nome de Wellingtonia gi- gantea um novo género na botânica; po- rem os seus collegas na sciencia não con- cordaram na innovação, antes parece pre- valeceu a opinião de Endlicher, que, crean- do o género tíequoia, lhe subordinou as duas espécies únicas: 1.* a Sequoia taxi- folia, que é o antigo Taxodium semper- virens, ou Taxodium giganteum ; 2.* a nossa Wellingtonia que cUe chrismou cora o nome especifico de Sequoia cupressifo- lia. Apezar da racionalidade d'esta de- nominação, a sciencia acceitando esta clas- sificação de Endlicher não adoptou o novo .alcunho da Wellingtonia^ senão como sy- nonymia; e tem prevalecido geralmente cá na Europa dar-se o nome de Welling- tonia ao Gigante de que nos occupamos. Os americanos do Norte, « patrícios » da (i) Vide J. H. P., pag. 3i. Wellingtonia, protestando contra os «pa- drnhos» europeus reclamaram o direito de rebaptisal-a, e derivando o nome (por patriotismo, como Lindley) do seu maior estadista e general, o fundador da gran- de republica, a appellidaram Washingto- nia gigantea, nome que adoptaram geral- mente. O auctor anonymo do «Hand- book» ainda augmentou a synonymia das duas espécies do novo género de Endli- cher, com a denominação aliás feliz de Gigantahies taxifolia, e Gigantahies cu- jjressifolia. Finalmente chamam também os indígenas e viajantes ao nosso gigante Arvore de Mammouth, que, a não ser uma analogia do monstruoso animal, cu- jas ossadas fosseis apparecem nas mar- gens dos grandes rios da Sibéria, a que os naturaes chamam Mammouth, ignora- mos completamente a sua etymologia. A bella estampa, que acompanhou a noticia que demos no n." passado, foi co- piada com verdadeiro primor por um ar- tista portuguez, o snr. João Pedroso Go- mes da Silva, da que vem na «Illustration Horticolc» vol. I miscel., pag. 18, que reproduz fielmente a soberba ichnographia in-folio, publicada por Lindley no seu jornal «Gardener's Chronicle» de janeiro de 1854, conforme o desenho original ti- rado com todas as proporções e exacçao, de um dos mais beílos e corpulentos indi- víduos da Califórnia. Para o leitor poder calcular bem as dimensões d'este Masto- donte dos vegetaes sirvam-lhe de escala com- parativa as pessoas a pó e a cavallo, que estão junto ao tronco. A Wellingtonia (passando em claro seus caracteres genéricos e específicos, para não enfadar a maioria dos leitores) habita, como já dissemos, era outra par- te, ura districto solitário da Califórnia, nas altas vertentes da Serra Nevada, a JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 49 38" de lat. N., e 122° e 35^ de long. O. (merid. de Pariz), no condado de Cala- verus, perto das nascentes dos rios de Santo António e Stanislau, a 125 milhas de S. Francisco, onde Douglas e Lobb encontraram um grupo de 80 a 90 d'es- tas arvores já adultas a uma altura de 1500 metros supramarinos. Depois de 1854 verificou-se a habitação da Welling- tonia mais para o norte até 50° de lati- tude. Distando os últimos ramos da Well- ingtonia adulta 40 metros do chão, ima- gine-se o tempo, pólvora, bala e proje- ctis, que o intrépido viajante W. Lobb gastaria para obter as primeiras amostras de rama e pinhas, que enviou á Europa, sendo ellas relativamente microscópicas, de 0™,04 de comprimento, e 0'°,02 de diâ- metro, e porque os mais atrevidos índios e Yiankees se recusaram a tentar tão ar- rojada empreza de trepar a alturas taes. O facto é que d'estas pinhas de Lobb des- cendera as mais antigas Wellingtonias da Europa, que contarão jcá hoje 17 annos. A Wellingtonia, de uma folhagem esca- miforme como a do Cy preste, porem bem mais grossa, e de uma mimosa cor glau- ca, forma uma immensa pyramide de uma regularidade perfeita, que «á ma- neira d'essas montanhas artiíiciaes, que na noute dos tempos crearam os Pharaós, e com uma edade e dimensões taes, não estariam deslocadas em frente d'estas tes- temunhas graniticas dos séculos biblicos» como diz Kirwan. Na mocidade a Well- ingtonia forma com seus ramos em rigo- rosos verticillos uma elegante pyramide vestida egualmente até ao solo, que de- pois os séculos desguarnecem até grande altura. A sua figura, como também attes- ta a exactíssima estampa (pag. 35), guar- da o meio termo entre a forma do Cu- p7'essus-fastigíata, e a do Cicpressus- glau- ca (Cedro do Bussaco); é proporcional- mente mais grossa que a pyramide do Cl/preste, e mais estreita que a do Cedro; o seu fácies tem muita analogia com a sua congénere Sequoia taxifolia ou Taxodium sempervirens, de que muitos leitores co- nhecerão o bello exemplar do Jardim Bo- tânico de Coimbra, que está nos tabolei- ros baixos defronte da porta que dá para o Seminário ; só a folhagem do Taxodium é muito mais escura. A cascada Welling- tonia tem nos indivíduos mais velhos 0"',40 a 0™,50 de grossura, oíferecendo egualmente a mesma apparencia da casca da Sequoia taxifolia. A madeira, segun- do Mr. Carrière (Traité General des Co- nifères), é de uma longa duração ; porem, apezar da sua quasi eternidade na planta viva, é muito cedo ainda para poder-se affiançar a duração d'ella em obra. Con- cordam todos os que se occupam da sua cultura, que os seus climas favoritos são os húmidos e nevoentos, arrostando os codãos e frios da nossa zona temperada da Europa ; também Lindley logo á sua introducção em Inglaterra não hesitou em declaral-a de uma rusticidade completa, como a consideram geralmente em Fran- ça, pois Mr. Kirwan, recommendando aquellas condições atmosphericas, accres- centa «que dos terrenos prefere o panta- noso, em cuja composição entre a sillica : fora d'isto a Wellingtonia não é exclusi- va 6 salva alguma diííerença na rapidez do crescimento, sua rusticidade parece pôl-a á prova de toda a terra e atmos- phera.» Aconselhara também os francezes : 1.° que a Wellingtonia seja propaga- da só pela semente, mas com as precau- ções que a arte recommenda, porque os grãos são por ora raros e caros; se bem que se espera, em razão da sua precoci- dade, que a semente em breve seja vul- gar. 2.° que se desconfie da multiplicação por enxertia e ainda mais por estacas ; provavelmente porque a falta que faz5 n'estas reproducções a raiz principal do espigão (pivot), no que algumas Conife- ras são muito exigentes, não pode para todas as espécies ser supprida pela mais hábil e intelligente cultura. E quem sabe se as repetidas catastrophes das Welliiig- tonias em Portugal derivam d'esta cau- sa? E' bem provável, até mesmo porque em França individuos assim obtidos, de- pois de vegetarem esplendidos 6 e mais annos, se desguarnecem pouco a pouco, e, se não morrem, vivem rachiticos e en- fezados. Quanto ás dimensões colossaes do nos- ''O gigante, referirei agora o que dizem 03 mais celebres observadores e mono- graphistas da Wellingtonia, 50 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Douglas conta que viu indivíduos de mais de 100 metros. Lobb observou alguns que variavam de 83 a 108 me- tros, sobre um diâmetro de 7. Um pé cortado nos fins de 1853, segundo Lind- lev, tinha de comprimento 100 metros, de diâmetro quasi 9™,00 a 1"^,G7 do solo; a 6'",00 tinha mais de 5'n,00; a 33™,00 tinha 4'",50; a ôG^^jOO finalmente tinba de diâmetro 1">,80. Em 1855 Mr. Trask expoz suceessi- vamente em Nova- York e Londres um annel completo da casca, tirado na base de uma Wellingtonia, o qual actualmente está no Palácio de Crystal de Sidenham (Londres), e posto na posição natural for- mava uma vasta sala circular, em que coube um piano e assentos para 40 pes- soas; e por outra vez 140 meninos n'ella organisaram um baile ! O individuo de que foi tirada esta casca tinha 110™,00 de altura, e 40"^,00 do solo aos primeiros ramos; e a oO'",00 de altura, onde che- gava este annel iramenso (verdadeiro arco da velha) inda media 14"^,00 de circum- ferencia ! Doze homens com os braços es- tendidos a tocarem-sc por as pontas dos dedos apenas podiam abraçar um tronco mediano ! A «RevueHorticole» de março de 1864 diz: «Acabam de cortar na Califórnia uma Wellingtonia toda solida e sã, que tinha de altura 107 metros e de circum- ferencia 27 ; tendo a casca em alguns si- tios 1™,20 de grossura, contendo 675 me- tros cúbicos de madeira, calculando-se- Ihe a edade em 3:100 annos» (1), coeva portanto do cerco de Troya e do pae An- chises ! ! ! Finalmente Mr. Marion («Merveilles de la Végétation») conta que uma das maiores Wellingtonias fora cortada em -855, a qual se achou ter de altura 150 metros, e de circumferencia 42, quan- do as mais grossas arvores do Bussaco, que medimos todas em 1843, não têem mais de 5™, 70, e o Carvalho da Senhora do Presépio, junto a Castro Daire, talvez o mais corpulento de Portugal, tinha ape- nas junto ao solo uns 15™,40! Este mons- tro da Califórnia tombando quebrou a 100 metros de altura, e ainda alli media 6™,00 de diâmetro!! Oh! se podessemos circumdar este gigante dos monumentos mais elevados da mão do homem, vería- mos assombrados de espanto, o monar- cha, o decano das florestas do mundo, o contemporâneo de Sansão, e da destrui- ção de Troya, baloiçar soberbo sua altiva flecha 6 metros acima da torre de Stras- burgo, 7 da cúpula de S. Pedro, 8 da torre de Vienna de Áustria, e 10 da py- ramide grande de Cheops, e, por acabar com um monumento portuguez, aquelle verdadeiro Himalaya dos vegetaes quasi dobraria a altura da torre dos Clérigos no Porto, que tem apenas 80 metros!! Tudo isto pareceria uma lenda sem o ac- cordo das relações dos viajantes ! Terminando, temos a satisfação de po- der anuunciar ao amador curioso que qui- zer tentar a cultura d'este colosso da ve- getação, que já ha annos se acham á ven- da no bello estabelecimento hortícola do proprietário d'este jornal, bons exempla- res da Wellingtonia gigantea, e hoje por um preço relativamente razoável. Farejinhas. N. P. DE Mendonça Falcão. ANTHURIUM SCHERZERIANUM schott Hoje que a moda tem conseguido es- palhar por toda a parte um gosto especial pela cultura das plantas, é justo fazer co- nhecer aquellas que merecem a attenção (l) Pelo numero das camadas concêntricas desde a meduUa á casca, se bem que muitos não confiam n'esles cálculos, porque lia arvores de grande desenvolvimento, que deitam duas por anno. dos floricultores. N'estc caso está o Anthu- rium Scherzerianum. Pertence ás Aroidea- ceas, família notável pelo grande numero de plantas que ornam os jardins. Apresentam as plantas d'esta família folhas, ordinariamente sagittadas, que of- ferecem não poucas vezes uma belleza sem egual. Attesta-o a Alocasia metallica, e quem JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 51 não viu as folhas dos Caladiums não co- nhece uma das mais mimosas bellezas do reino vegetal. N'outras é a espatha (folha que envolve as flores) que se torna digna de admira- ção. O Jarro vulgar e a Serpentária são exemplos conhecidos de todos. O Inhame á elegância da folha junta a qualidade nutritiva de seus tubérculos e o Phylodendron pertusum orna com suas magestosas folhas e fornece um fructo, que pelo aroma e gosto se torna superior á maior parte dos fructos conhecidos. O Anthurium^ que a gravura represen- ta, é principalmente notável pela cor dos órgãos floraes. mimn Fig. 26 — Anthurium Scherzerianum. A espatha é grande e de um verme- lho suavíssimo. Da base d'esta nasce a es- padice que semelha um verme. Estes órgãos têem longa duração e suc- cedem-se durante quasi todo o anno. A folhagem é elegante, de um verde escuro e veios pronunciados. Foi descoberto por Mr. Scherzer na Guatimala e classificado pelo Dr. Schott. Os jardins do Hanover foram os primei- ros que o possuíram. No «BotanicalMagasine», 1862 n." 10, vem descripto e desenhado. Ha no dese- nho um erro, pelo menos em relação á plan- ta que existe e tem florescido no Jardim da Universidade. Na nossa planta a espa- tha é três vezes maior do que a que vem figurada n'aquelle óptimo jornal. É planta de estufa quente e a sua cul- tura é um pouco similhante á das plantas epiphytas. Requer humidade, terra a que se deve misturar madeira podre, fragmen- tos de carvão e areia grossa para a tor- nar porosa. Coimbra. JuLio A. Heneiques. AS AMARYLLIS Esse abundante género de plantas bol- bosas, que adorna com o esplendido bri- lho das suas flores os canteiros dos nossos jardina e os balcões das estufas, foi crea- do por Linneu, que Ibe deu o nome com que ainda hoje é conhecido, em memoria de uma pastora que o cantor de Mantua e Theocrito festejam nas suas éclogas e 52 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA que erca dotada de peregrina belleza. Os botânicos anteriores a Linneu já conhe- ciam muitas espécies de Ainari/llis,\\a,mni- to tempo cultivadas nosjai-dins dos ama- dores ; comtudo duvidaram sobre o modo da classiíicaçào, tanto que uns collocavara esta planta nos Narcisos, e outros nos Col- chicos, e Tournefort não teve duvida em classiíical-as no seu género Lilio-narcis- siis. Se as Amaryllis não tcem o delicado aroma das Aqucenas, levam-lhes comtudo vantagem pela riqueza das suas cores, pela forma elegante c variada de sua co- rolla, e pela elegância da sua abundante folhagem. Todas são estranhas á Europa, á ex- cepção de uma, a^. lutea. Abundara mui- to, pelo contrario, na America do Sul e no cabo da Boa Esperança. Algumas são indigenas das Antilhas, do México, das regiões mais meridionaes dos Estados Unidos, da China e do Japão. Os caracteres d'este género consistem em um perigono pctaloide, infuiidibulifor- me, mais ou menos aberto, de 6 divisões profundas ; em 6 estames de filetes livres, muitas vezes inclinados para um lado da flor. inseridos no fundo do tubo do peri- gono e oppostos ás peças que o compõem; em um ovário infero, trilocular contendo numerosos óvulos collocados horisontal- mente sobre placentas situadas no angulo interior das lojas ; em um fructo capsular trivalve, e de dchisccncia loculicida. As folhas, nas AmarT/liis, são sempre compri- das e lineares ; a iiiflorescencia é uma um- bella reduzida muitas vezes a uma ou duas flores, situadas no cume de uma haste, nua e envolvida n'uma cspatha escamosa de um ou dous foliolos. Os bolbos são tunicados, como os da cebola; as folhas apparecera, segundo as espécies, umas vezes em an- tes, outras ao mesmo tempo ou depois da infloresccncia. Geralmente adraittem-se no género Amaryllis as seguintes divisões, das quaes alguns botânicos formam géneros distin- ctos: Zephyrnnthes , Pyrolirion, Hahran- thiis, tiprekelia, Hippeastrum, Vallota, Belladona, Licoris, c Nerina, aos quaes convém juntar o género Sternhergia, crea- do para a espécie europêa, mas que, se- gundo a opinião de um excellente botâni- co^ está muito mal caracterisado, para ser separado das verdadeiras Amaryllis. To- das as plantas que entram na composição d'estes diversos grupos, occupam ura le- gar muito distincto na cultura ornamen- tal, c são origem de grande negocio para alguns horticultores estrangeiros especia- listas; sobresahindo entre todos a casa Van Houtte^ cujas collecções têem sido premiadas cora os primeiros prémios nas principaes exposições belgas e francezas. Tencionávamos descrever algumas das principaes espécies e variedades d'esta for- mosa planta, mas attendendo ás limitadas proporções d'este artigo, restringir-nos- hemos a indicar as seguintes, como sendo as mais espalhadas nas collecções. Amaryllis (Zephyranthes) atamasco, de flores brancas interiormente, e rosadas por fora. E' dos Estados Unidos meridio- naes, e resiste muito bem aos nossos in- vernos. A. (Flippeastrum) reticulata, eques- triSf longijiora, fulgida, etc, da America meridional ; bollas flores de cor vermelha alaranjada, com uma estrelia verde. Flo- resce em maio. A. vittata, do cabo da Boa Esperan- ça; é uma das mais bellas do género, cultiva-se no chão ao ar livre era boa ex- posição. A. (Hippeastrum) regince, Bordão de S. José, do Brazil, bellas flores de cor vermelha escarlate, com fundo verde. Produz flores no verão e no outomno. A. (Sprekelia),forv70siss ima, Flor de liz, da America meridional. Haste aver- melhada; em junho e julho mostra flores de bella cor vermelho-carmezim, ou san- guínea e avelludada, muito patentes e quasi bilabiadas ; as duas divisões supe- riores levantadas para cima, e as cinco inferiores voltadas para baixo e curvadas para traz. E' de bcllissimo cffeito nos canteiros, em bordaduras ou em pequenos grupos. A. (Hippeastrum) aulica ; é de certo a mais bella do género, e tem hoje pro- duzido bellas variedades. A que nós jul- gamos sor o typo, tem folhas numerosas, persistentes, largas, as suas hastes che- gam a ter 1 metro de altura, e são coroa- das por 4 ou 5 flores grandes inclinadas, vermelhas, com veios de cor mais carre- gada, quasi pretos. Ao sol estas flores JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 53 Bcintillam como se estivessem cobertas de brilhantes ; floresce no outomno. As suas numerosas variedades tornam-se muito notáveis pelas delicadas nuances das suas cores 6 variegado de suas folhas. A. Sarniensis, Racheis, natural do Ja- pão, mas ha muito tempo aclimada, des- de o fim do ultimo século, nas costas da ilha de Guernesey, em consequência do naufrágio de ura navio que trazia uma grande porção de bolbos d'esta flor, que sendo arrojados ás praias ahi lançaram raizes e se desenvolveram a ponto do se tornarem, por assim dizer, indigenas. E' d'este facto de naturalisação acci- dental e muito notável, que a planta tirou o seu nome vulgar de Lyrio de Guerne- sey o\\ guernesianno . Esta espécie é muito bella, de flores vermelho-sangiiineas, des- abrochando em umbellas de 6, 8 ou mais flores. Dizem que esta espécie, quando é plantada novamente, demora-se 3 annos em dar flor ; o que afíirmamos é que co- nhecemos um nosso amigo que possue ura vaso cora alguns bolbos d'esta planta, que só passado esse espaço de tempo, ou ain- da mais, é que mostrarai» flores. Decaisne e Naudin dizem também, a respeito d'esta espécie, que para obter uma bella e abundante florescência é necessá- rio não bulir nos bolbos, senão de três em três annos. Citaremos ainda, alem das espécies que já descrevemos, a Amaryllis Cyhis- ter, sessilis e suas variedades verecunda e cândida, helladona e variedades hlanda e mutabilis, procera, pardina, solandri- flora e rufila; deixando ainda a immensa quantidade de variedades hybridas, que têem sido obtidas n'estes últimos annos, e de que os catálogos véera cheios. Era razão das suas diversas prove- niências, as Amaryllis precisam de diffe- reníes temperaturas, ás quues se deve at- tender na sua cultura. O ponto principal é collocal-as nas condições favoráveis á temperatura que requerem, segundo o cli- ma de que são oriundas ; obtido este pri- meiro passo, applicam-se aos bolbos os cuidados, que reclama esta classe de plan- tas era geral, e que consistem principal- mente era serem enterradas n'ura com- posto de terra vegetal e areia, em vasos ou no chão, comtanto que a agua tenha livre sahida ; e era serem regadas abun- danteraente durante a florescência e na estação quente. A. J. DE Oliveira e Silva. o MARTYRIO ALADO E SUA VARIEDADE DEGAISNEANA Entre o grande numero de plantas tre- padeiras, que a horticultura moderna tem trazido para os nossos jardins, nenhumas, a nosso ver, são tão ricas e tão dignas da attenção dos amadores do bello, como as Passifloras, essas encantadoras plantas dos climas quentes, de rica folhagem muito variada era forraas e era cores, e em cujas flores se julga estarem representados os principaes instrumentos da paixão do Sal- vador. E de todas, cremos que a mais bella e mais digna de reparo, é aquella com que hoje vamos entreter os leitores. Com ef- feito, o Martyrio alado (Passiflora alata, Ait.J é uma das espécies d'esta rica famí- lia, que de preferencia pode fazer o or- namento de ura muro de boa exposição, ou formar festões e grinaldas de verdura, esmaltadas, durante quatro mezes do au- [no, de flores muito grandes, de colorido brilhante, e perfumadas com delicioso aro- ma. Plantando-se ao pé de um muro uma pequena estaca bera enraizada, em menos de um anno teremos o prazer de a ver co- berta de abundantes folhas e encantadoras flores. A sua haste, lenhosa na base, herbá- cea e verde nas extremidades, delgada em todo o seu iramenso compriraento, é muito notável pela sua forma perfeitamente qua- drada, era resultado dos appendices simi- Ihantes a azas, que partindo das folhas correra por todo o seu comprimento. D'esta curiosa espécie é que se julga nascera a variedade (Passiflora Decaisnea- na) que foi dedicada a um dos principaes botânicos práticos da França, por Mr. Gon- tier. Como boa filha, herdou as virtudes da 54 JORN.\L DE HORTICULTURA PRATICA mãe, porem ainda mais aperfeiçoadas ; as Buas flores são grandes, têem perto de 12 centimetros de circuraferencia, e sào ver- melho-carmesim, e a coroa de appendi- ces é como que annellada de vermelho es- curo, branco e azul. Àhi fica mal esboçada sim, mas fiel a descripção de duas interessantes plantas, ambas bellas, ambas ricas e dignas de or- narem os mais escolhidos jardins; e tanto mais, quanto o seu tractamento é fácil. Boa exposição, boa terra e regas frequen- tes no verão ; para se multiplicarem, em- pregaremos a mergulhia, ou estacas em estufa e debaixo de redoma. A. J. DE OLIVEIRA E SILVA. A TARARA A Tarara, que serve para limpar, se- parar e ventila^r toda a qualidade de grão, é um dos apparelhos de agricultura que mais se tem introduzido no nosso paiz ; comtudo ainda ha muitos agricultores que ignoram a sua existência e outros que não conhecem as suas applicaçues nem as van- tagens que ella offerece. A Tarara consta de um deposito su- perior onde se deita o grão, do qual este cahe, graduado por um registo, sobre um peneiro com três crivos de arame ; pelo primeiro de cima passa o grão á vontade, deixando as palhas e corpos graúdos e vae cahir sobre o segundo crivo, o qual deve ter os orifícios de tamanho mais pe- queno para o deixar ainda passar, rejei- tando os corpos estranhos e de maior vo- lume. Estes dous crivos trabalham em po- sição quasi horisontal, com uma pequena inclinação para fora do corpo da Tarara, emquanto que o terceiro, onde vae cahir de novo o grão, tem uma inclinação in- terna, porem os seus oritícios são de me- nor tamanho do que a semente, a fim de poder somente extrahir os corpos peque- nos, como terra e sementes miúdas es- tranhas, as quaes depois de o atravessar vão juntar-se por baixo da Tarara. O pla- no inclinado interno leva o grão para o lado opposto dos crivos, emquanto que uma forte ventilação produzida pela mes- ma acção do trabalho da Tarara, disposta para esse eíFeito, atravessa a massa de grão na sua queda por todos estes crivos, assoprando para longe todos os corpos le- ves que possam haver. Os corpos graúdos que ficaram em cima dos dous primeiros crivos, vão cahir den- tro de uma caleira cónica que os conduz a qualquer dos lados da Tarara, onde se devem juntar para as gallinhas se entre- terem. O grão completamente separado e bem limpo ajunta-se ou cahe para uma caleira, « havendo andar inferior onde se receba». Os crivos escolhem-se no sentido d'es- ta explicação para servirem a qualquer qualidade de grão que se deseje lim- par ; assim como para quando, depois do grão limpo, se queira extrahir d'elle8 a porção que houver do mais graúdo, para vender ou usar como sementeira. N'este caso o miúdo cahe atraz da machina, e o graúdo, que não pôde passar o peneiro, cahe nas ditas jjaleiras para os lados em caixas. Como vemos, a oscillação lateral pró- pria de um peneiro faz revolver o grão nos crivos de encontro ao arame de que são compostos, e as quedas atravez dos mesmos e do plano inclinado, que também é de grade e o conduz ao lado opposto da machina, fazem despegar d'elle todo o pó que se lhe tenha aggregado, proveniente de eiras de barro ou de caruncho « por estar mal guardado » e o entregam com uma apparencia linda, própria para o mer- cado ou para se armazenar. Quando se tenha de limpar o grão sahido de uma malhadeira simples ou da malha a pés de animaes, o qual sahe mis- turado com uma grande quantidade de pa- lha miúda, são estas Tararas munidas de um cylindro dentado de bicos, junto ao deposito superior: este cylindro recebe um movimento de rotação por meio de uma correia, e com estes bicos, atravez de uma grade que n'esse caso forma um dos lados do deposito, retira a palha do mes- mo, que esvoaça, libertando o grão que cahe sobre o peneiro. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 55 A ventilação pode ser maior ou me- nor, fechando as portas do lado por onde entra o ar, o que é bem necessário fazer- se, quando se hajam de limpar sementes miúdas ou leves, que o vento deitaria fora, se não diminuissem a sua força. Uma Tarara é indispensável na la- voura que pretenda realisar economias, por isso que se utilisam as horas vagas das grandes noutes ou de dias chuvosos e pela independência d'estes dias, ou ou- tros, em que a calma não deixa fazer o serviço ao modo antigo de o levantar. Ainda mais realisavel é o proveito que Fig. 27 — Tarara. resulta de uma escolha rigorosa de semen- te, que n'estas Tararas se eíFectua, tanto para troca como para venda, sendo o com- mercio das sementes em todos os paizes bastante vantajoso para os que têem os meios de as separar. Quatro homens movem esta Tarara para a eira. A sua construcção é do sys- tema inglez. As Tararas do systema americano são muito mais leves, e têem de menos o cy- lindro de bicos, porem limpam o grão convenientemente. A. DE La Rocque. CHRONICA Estamos na epocha em que devemos semear a relva ; porem por emquanto não temos visto que o jardineiro a quem es tão encarregados os trabalhos de cultura dos jardins públicos tenha cuidado d'este. Terá por acaso tenção de não substituir aquella herva, que actualmente vegeta vi- gorosamente nos jardins, por um encanta- dor tapete de verdura que deleite os olhos dos passeantes? Se assim fizer, torna-se digno da maior censura, porque logo que existe o terreno ajardinado é de restricto dever cultival-o. E que cousa mais en- cantadora n'um grande jardim do que a relva ? Em Portugal não se lhe liga muito apreço, mas assiste uma razão assaz plau- sível para assim se pensar — nunca se viu um verdadeiro « tapete verde » como aquelles que se encontram a cada passo na Inglaterra, onde as condições climate- 56 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA ricas lhe convêem perfeitamente. Entre nós torna-se esta cultura mais dispendiosa, porque requer mais cuidados; comtudo, com pequenos sacrifícios, de que a gloria vera a indemnisar o jardineiro, ter-se-lia o prazer de rivalisarcom os primores que a França nos oíferece n'este ponto. Em agosto, estivemos na quinta do nosso particular amigo e distinctissimo amador, o snr. visconde de Villar Allen, e causou-nos a mais grata impressão o aspecto dos bellos tapetes de verdura que ornavam o seu jardim e que — ousaremos dizel-o? — quasi nos parecia chegarem a offuscar a belleza das ricas e raras plan- tas que no meio d'elles enquadravam. Era um encanto ver aquella verdura perenne, que nos attestava o bom gosto de quem presidira á sua disposição. Não pudemos, pois, resistir á tentação de incomraodar aquelle cavalheiro, solici- tando-lhe alguns esclarecimentos sobre os meios que havia empregado para obter tão excellente resultado. O snr. visconde de Villar Allen prom- ptamente annuiu aos nossos desejos e com o fim de tornar conhecido dos nossos lei- tores o processo que este senhor empre- gou, vamos dar publicidade, na sua inte- gra, á carta que s. ex.* nos dirigiu. Se por acaso n'estas linhas vier a fi- xar-se a attenção do jardineiro da camará, muito terá esta a lucrar e o publico em geral, porque verá os pequenos recintos destinados a proporcionarem gozos, sof- frerem uma completa mctamorphose. O estado actual dos jardins públicos não é próprio da segunda capital do reino. Eis a carta do snr. visconde de Villar Allen, a que acima alludiraos : Prezadissimo amigo e ?nr. Peço desculpa por não ter respondido mais cedo á caria de V. de li do corrente. A relva que V. viu em agosto ultimo foi se- meada com a seguinte mistura : Lolium perenne ténue 5 partes Poa pralemis 1 » » nemoralis 2 » » trivialis 1 » Agrostis slolonifcra 2 » » vulyaris 2 » Cynosorus cristatus 2 « Aníhoxanlhuni oduratum 1 » Tolal ... 16 Mandei vir em separado alguma semente de Pna nemoralix, para deitar muita mais d'essa qua- lidade por baixo das arvores e em sitios mais as- sombrados pelas ramadas ou muros. Semeei alguma em outubro, e outra em prin- cipios de abril, dando melhor resultado a ultima. E essencial rolar bem a terra depois da semen- teira. De maio a outubro corla-se semanalmente, empregando a machina de Ransomeà Sims (Lawn mouer). Escusado é dizer que quem não fizer uso de aquella machina on de outras siniilhantes, deve rolar a relva todos os oito dias durante os referi- dos mezes, e, podendo ser, logo depois do corte. Durante os calores, principalmente no primeiro e segundo inno depois da sementeira, a rega deve ser diária ; para isso tenho a canalisação subterrâ- nea com um deposito grande situado a uma altura de mais de 10 metros do solo que tem de ser irri- gado. Este deposito tem a capacidade de 100:000 litros e é alimentado por duas minas de agua : as- sim temos uma chuva artificial todas as vezes que é necessária para a conservação da relva e arbustos. Uma das operações muito necessárias para ter um bom « tapete verde « é a limpeza e completa extracção de todas as hervas estranhas á semen- teira ; é trabalho custoso e deve ser muito vigiado para (jue não haja engano nas plantas extrahidas. Pergunta-me V. o que tenho sabido dos Eu- calyplus. Pouco mais do que se tem dito no seu in- teressante iornal. De 500 que plantei o anno passado (digo no outomno de 18C9j em montados, no concelho de Sabrosa, poucos morreram, e muitos cujas hastes tinham seccado durante o ultimo verão, em conse- quência da extraordinária secca, tornaram a reben- tar no outomno. Em novembro ultimo plantei no mesmo local perto de 3:000 pós do Eiicaljiptus glo- bulus, com alguns E. gif/antea ou obliqua, e al- guns E. amijf/dalina : solTreram muito com as for- tes geadas que vieram logo depois da plantação, o que me fez quasi concluir que para sitios elevados a plantação deverá ser feita no principio da prima- vera. Em outubro ultimo fui ao museu botânico de Kew expressamente para examinar as madeiras dos Eucalijptus, e vi alli taboas do Eucnljiptus glohulus de 3 metros de largura. Um meu amigo de Bristol disse-me que tinha tido um navio construído de madeira do E. glohulus, e que depois de o ter mui- tos annos e ter feito muitas viagens á America, a madeira estava como se fosse nova. Admirei também em Kew bellas taboas de Ca- suarinas, que tinham mais de um metro de largura de cerne. Esta madeira é muito parecida com o Carvalho do Norte, só com uma cor atijolada. Desculpe-me V. a confusão d'estas linhas e creia que sou com muita consideração De V. etc. V. dWllen, 22 de janeiro de 1871. Alfredo Allen. Folgamos de saber que este cavalheiro tem feito importantes plantaçSes de Eu- calyptus e que os resultados colhidos até ao presente são óptimos. Desejamos que os continue espalhando pelas suas proprie- JOUNAL DE HORTICULTURA PRATICA 57 dadeSj porque servirão de incentivo a ou- tras pessoas mais obscuras, que era tudo que para ellas é novo, vêem somente a decepção. — Como já dissemos na nossa ultima Chronica, a direcção do Palácio de Crys- tal tenciona promover uma exposição de plantas, no próximo mez de junho. O programma que ha de reger este concurso ainda se não acha publicado, porem muito seria para desejar que elle se tornasse conhecido do publico com an- tecipação, de maneira a haver tempo de organisar as collecções. Rara é a exposição em Portugal que deixe de promovei'-se com pouca anteci- pação e ainda o anno passado foram dis- tribuídos os prograramas da que então se realisou apenas com uma semana de an- tecedência. Se havemos de continuar as- sim, é melhor deixarmos-nos de exposi- siçoes. Um outro ponto para que chamamos a attenção dos promotores d'esta festa hortícola é a maneira como o programma deve ser feito. E' indispensável quo se estabeleçam duas secções, sendo uma para os horticultores e outra para os amado- res, os quaes geralmente, entre nós, não podem luctar com aquelles, excepto em alguma especialidade. Também é muito para desejar que es- tes concursos hortícolas nunca durem mais de três a cinco dias, porque, como é bem de ver, as plantas collocadas em condi- ções pouco convenientes, quando não che- gam a perecer, sempre se resentera mais ou menos. — Com summo prazer noticiamos que o dr. F. von MuUer, director do Jardim Bo- tânico de Melbourne (Austrália), foi agra- ciado por S. M. El-Rei de Portugal com a commenda de S. Thiago, a qual só é dada aos beneméritos nas sciencias e nas artes. Pela nossa parte muito folgamos de poder registrar este facto, que demonstra a consideração que merecem a S. M. os homens da sciencia e o apreço que sabe fazer do mérito, galardoando-o. Os nossos emboras ao illustre botânico. — No meio dia da Itália estão-se em- pregando os bolbos do Asphodelus ramo- stis para a extracção do álcool e esta plan- ta é tão abundante em todos os paizes meridionaes da Europa, que se poderá tornar no futuro um vegetal verdadeira- mente económico. Pertence á familia das Liliaceas e é frequente nas cercanias de Coimbra e Lis- boa, achando-se geralmente mais ou me- nos espalhado por todo o paiz. — Temos trabalhado para a propaganda dos Eucalyptus era Portugal e muito fol- gamos de ver que a sua cultura se vae ge- noralisando, pois que d'este modo dentro de poucos annos possuiremos um grande manancial de riquezas. Abaixo damos publicidade a uma car- ta que nos dirigiu um nosso assignante em resposta ao pedido que lhe fizéramos de algumas informações. Estas informa- ções não são muito favoráveis, porem de- sejamos tornal-as conhecidas dos nossos leitores, guardando-nos para dizer depois o que se nos oíferecer sobre o assumpto. Snr. OHveira Jiinioi". Em resposta á carta que V. me dirigiu, soli- citando informações relativamente ao estado das plantações de EucaUjptm, devo dizer que a plan- tação d'estas arvores por estes sitios tem tido muito pouco andamento, talvez causado pelo pouco gosto ou indifferença que os proprietários mostram por eila, dizendo que só lhes serve para desgostos. Ha trez ou quatro annos que plantei alguns Encahjptns, dando ás covas a profundidade de dous palmos (!!! red.), e, por ser o sitio um tanto hú- mido, morreram, começando a seccar pela cabeça ; ao contrario, outros que plantei em diffcrente si- tio e em terra mais forte, não obstante terem sof- frido, vegetam. E' opinião minha que estas arvo- res soffrem bastante com as geadas. Plantei no Douro alguns pés e os que estavam em terra mais secea morreram e os que estavam em terra mais forte vingaram, de maneira que não é fácil sem experiência profunda acertar com a qualidade de terreno que lhes convém. Murça, 18 de Fevereiro de 1871. De V., etc. — JOÃo antonio gomes. Depois da leitura d'esta carta vê-sc o resultado opposto que deram as expe- riências e a duvida que portanto salta ao nosso espirito! Deveremos, porem, crer na origem da morte que o auctor da car- ta nos aponta? Certamente não! O Eu- calyptus globulus prospera em qufisi to- dos os terrenos e não teme os frios, não excedendo estes a 5° centígrados abaixo de zero. Suppomos que em Murça nunca o thermomctro desce a 5.° centígrados 58 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA abaixo de zero e por conseguinte nào é esta a origem da morte. Encontramos, porem, um ponto que é para nós o mais importante e que occa- siona por certo que muitas arvores nào prosperem, enfezando-se, tornando- se pal- íidas e emíiui terminando a existência na llor da edade. É ao systema ... de plantação que nos referimos. riantar arvores a dous palmos [44 centimetros !!!} é uma pratica rotineira que prodíiz o resultado que acabamos de indi- car. E erro geral de que já nào nos deve- ríamos admirar, e cfiectivamente nào esta- mos resolvidos a lazer novos comnienta- rios a tal respeito; mas seja-nos licito transcrever para aqui o que sobre o as- sumpto dissemos na nossa «Breve noticia sobre o Eiicaiyptus glvhxdus e a utilidade da sua cuhura em Portugal);. Eis as nos- sas palavras : «E erro gravíssimo a plantação funda, porem rara é a pessoa que deixa de o connnetter. Ainda nào ha muito que um sujeito de Traz-os-M(jntes nos dizia: «Man- dei vir de uhi o anno passado uns cin- cocnta Eucali/ptus ,' plantei-os logo nue chegaram; nào vinham em muito mau estado, mas seccaram todos.» Conhecendo nós os resultados da plan- taçào funda, perguntamos: «A que profun- didade plantou as arvores?» e tivemos em rt. j)Osta — «A dous palmos» (44 centime- tros)! JJ'esta maneira, estamos bem certos que de uma plantação de vinte mil exem- plares nào escaparia meia dúzia! A profundidade a que uma arvore de- ve ser plantada depende muito da quali- dade do terreno que a vae receber ; mas como regra geral, indicaremos que quan- to mais húmido for o terreno, menos pro- funda deve ser a plantação ; e quando se dè o caso de ser húmido e compacto, é até preciso que as raizes fiquem acima do nivel da torra e que se faça um pequeno monticulo de terra para as cobrir. O termo médio que se deve adoptar ú de 4 a (3 centimetros acima do nó vital, e sendo o terreno muito secco, G a 8 cen- timetros; mas nunca mais do que isto.» — A camará municipal de Villa Nova de Cerveira pediu ao governo l:òOO Amo- reiras para serem plantadas em vários terrenos de aquelle concelho. Outras camarás têem feito egual pe- dido e tornam- se merecedoras de serem applaudidas. A venda de Amoreiras tem sido este anno bastante grande. — lia pouco tempo assignalavamos com enthusiasmo no nosso « Almanach do Horticultor para 1871» duas variedades de Cravos — Muríjucs Loureiro e Pelle- reau, porem segundo nos communicou o seu obtentor, o snr. José i\larqucs Lou- reiro, taes variedades desappareccram (tem- porariamente) da sua collecçào, em conse- quência do tempo pouco propicio que hou- ve este anno para multiplicações. Felizmente que o snr. Loureiro ainda possue os « pés mães » e portanto é de presumir que sejam lançados no mercado no próximo anno. — Em seguida damos publicidade a uma carta do snr N. J.'. de Mendonça Fal- cão. Abstemos-nos de fazer commentaiúos. Pela sua leitura e da outra a que ella se refere, verão os leitores qual dos cálculos é o mais consciencioso. Amigo e snr. OHveira Júnior. Eu retiiava da melhor vontade o que escrevi para o teu jornal i^voi. 11 a pag. I7j ío\íy& a multi- plicação do Moranrjticiív Anuuui perpetuo (Gloede), se pode se prever que provocava as>im os cálculos do snr. D. i. Naulel .Monteiro, que se Icem a pag. 39, gracejos de bem mau go>to, ate pelo e>pai;o precioso que tomamos a um jornal que se occupa em assumptos de tanto inteies-e, e pelo tempo que eu e o >nr. Nautet podíamos empregar mais util- mente. Já dizia o bom i'liedio: « Ganhamos bem triste gloria, se o que fazemos não é útil.» Os cálculos do snr. Nautet, cahindo por falta de base, não se discutem a serio ; por isso respon- deiei somente ao meu amigo e illustre redactor deste jornal, a quem parece « o meu calculo não ser mais con ciencio^o que o do snr. Nautet «, apre- sentando-llie as bases d elle com a boa fé, cordura e exacção de que sou ca|)az, pedindo licença para tudo quanto dis-er, ser aqui ralilicado e lirmado com a assignatura do meu honrado vizinho e anti- go horticultor, especialista da Camellia, o rev."'o snr. Bernardo Co. reia de Barros, testemunha quo- tiiiana dos meus pequenos trabalhos hortícolas, e a quem o proprietário d'este jornal conhece bem. Todos sabem que Jião haverá talvez planta de mais fácil, piompta e abundante multiplicação do que o Muruiiyueiro (excedendo e-ta variedade a quantas conheço), basta dizer-se que se reproduz espontaneamente sem mais trabalho do homem, JORNAL DE HORTICULTUHA 1'HAT1CA 59 Sie a plantação. Posto islo, temos na minha hvpo- ese (Chronica do J. H. P. já cit.) a seguinte DESPEZA DO 1 .° ANNO Por 6 pés lie Moranyaciro Ananaz perpeliío (Gloedej que ficaram aqui a 195 reis 1/170 D'eítes os 5 restanles foram planta- dos em maio de 1868 em metade de um pequeno quartel de teria de horta, rodeado de buxo?;, e cir- cumdado por dentro dos buxos por 12 Came/iias, e outras tantas tio- seiras (hautc lige) alternadas; ás quaes poderia caber de renda n"es- te estado, e com agua de regar a pé, que aqui snperabunda até no verão, o mais, meio alqueire de mi- lho, que eu quero dobrar, elevan- do a renda a um alqueire annual- raente, importando portanto a ren- da de metade do quartel, em cin- co mezes, que vão de maio a ou- tubro seguinte, o máximo em uma quarta de milho, que pelo prero médio da colheita de 1868 vale reis . 100 Cava da terra e plantação dos cinco pés (sem e>trume que, como terra de horta, não precisava), o máxi- mo um dia de trabalho, que eu pago aqui :-empre nos cinco mezes de inverno a 120 réis, nos dous mezes do equinócio a 140 reis e nos cinco restantes do verão a 160 reis 160 Pelo trabalho de duas regas em cada um dos três mezes do estio, o má- ximo um jornal ...,,. 160 Somma toda a despeza das plantas e cultura do 1." anno . . . Rs. 1/590 DESPEZAS NO 2." ANNO Cava do mesmo quartel (inteiro) e plantação n'elle em outubro de 1868 de 105 pés de Moranyupiro, o máximo, dia e meio de trabalho 180 Duas sachas, a primeira em fevereiro e a segunda no hm de abril de 1869, o máximo, dous jornaes. . 280 Trabalho das seis regas no verão, o máximo, um e meio dias de traba- lho .... 240 Renda da terra, um alqueire de mi- lho, pelo preço médio da colheita de lfc69 360 Sommam as despezas da cultura no 2." anno 1/060 Despezas da cultura do L^anno supra 1/590 Total das despezas de reproducção de 110 pés de Moranyueiro Ananaz, perpetuo (Gloede) 2/650 I Produziu a cultura do 1." \ I „Prnc ' ''""''■ '•^*-' P*^^ ^ -O '"eis • 3/000 i^ucros ^p,.0fj„2iu a cultura do 2." ' anno, 6:000 pés a real .6/000)9/000 Ura, a quem dispende numa cultura 2^650 reis, e ganha U^OUO reis, depois de tirar um lucro de 2u0 por lOU, penso que ainda llie crescem reis 1/050, que parece chegam bem para as decimas de uma terra que rende apenas 46U reis, licando ain- da de fora, a lavor do meu calculo, o producto possivel no 2." anno de 45 pés, que dei eui outu- bro de 11^60 a meu cunhado, o snr. iMarianno de Lemos Azevedo, de Villa .Nova de Ourem, e ao snr. padre Bernardo Lorreia de Barros, da l-oigosa, n'esta fieguezia. Para acabar, não posso resistir á tentação de apontar ao meu amigo, o snr. José Duarte Oli- veira Júnior, como uma curiosidade iiistorica, os 730 dias de trabalho dentro em dous annos (aliás l7 mezes) ! Ja se ve que em Lisboa ha bulia para isto, que felizmente ainda cá não chegou a estas terras. Farejinhas 3 de fevereiro de 1871. iN. P. DE Mendonça Falcão. Ratilico quanto aqui diz o meu nobre amigo 6 visinlio, o snr. Aicolau Pereira de Mendonça bal- cão, achando ainda elevada a renda de um alqueire de milho para a terra em questão, mesmo com agua ; e conlirmo, por conhecimento próprio, a prodigiosa reproducção d e-ta variedade áe, Moran- (jueiio, de certo pela rapidez da sua vegetação ; pois alguns pés que aquelle senhor me deu em outu- bro de 1868, a tal ponto mulliplicaram, quasi sem cultura, que tenho dado plantas a quem mas pede e deitei ainda fora J,"uitas canastras d'ellas em ou- tubro passado. tolgosa 4 de fevereiro de 1871. P.e Bernardo Correia de Barros. Dando publicidade ás cartas dos snrs. Nautet IvJouteiro e Mendonça Falcão, tive- mos por único íim deixar a estes cavalhei- ros expor as suas ideias. Expozeram-as, e portanto declaramos que nào voltaremos a este assumpto. — Mr. Linden, horticultor belga, aca- ba de introduzir uma nova espécie de Wigandia — a Wigandia hnjperialis, Lin- den—cuja edição foi vendida a Mr. Le- moine, de Nancy. Segundo se affirma, é mais bella que todas as suas congéneres. — Segundo nos diz Mr. Jean Ver- schaffelt, a bella Draccena regina apresen- ta pela primeira vez a sua haste íloral e conta o mesmo illustre horticultor que ella venha a produzir íructos; portanto o es- tabelecimento de aquelle senhor poderá de aqui por um anno oííerecer aos amadores por baixo preço a Rainha das Draccenas. O seu porte recorda-nos a Draccena brasãiensis, mas a folhagem é mais larga, de um verde gaio, variegada, sobre mais GO JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA de metade, de branco puro e marginada do mesmo modo. O variegado nào é vi- sivel nas plantas novas; é preciso que estas tenham tomado certo desenvolvi- mento para elle se caracterisar ; depois é de uma belleza excepcional. — Recebemos a seguinte carta dosnr. Adolpho Frederico Moller: Prosado amigo snr. Oliveira. Visto estar i)roxiino o tempo das semcnleiras, acho que será do siimiuo inforesse i)ara os horti- cultores, silvicultorc-i e agricultores, inculcar-lhes onde se podem fornecer de semente^ de boa quali- dade o por prevos módicos. Hoje o mcliior eslaltclecimenfo de sementes, que ha talvez na Europa, c o de M.M. Ilaage & Sch- niidt, de Erfurt (Prússia), não só pela grande va- riedade de .sementes que possuem, mas porque são muito conscienciosos e eserupiilo.sos nas escolhas e razoáveis nos seus )n"e<;os. Fallo com experiência própria, pois é donde me forneço de semontes para as sementeiras dos viveiros. O snr. Kdmond (joeze, na sua revista do auno de 1870, publicada no n.° 1i2 d"cste jornal, menciona os dillerentes catálogos publicados du- rante o anuo, e quando falia de aquclles senhores exprime-se assim : i< E' o nrr-plus iillra, não so- mente pela riqueza de espécies, otc. » Para os leitores fazerem uma idi-ia do catalogo de M.M. IJaagc &. Schmidt, direi que o de 1S70 traz 15:079 diversas espécies de sementes, a saber : De n." 1 a n," 307 sementes de plantas novas » 308 » 1511 I) de nortaliças » 1512 » 2151 » agricolas . 2152 » 13176 « de flores » 13177 )) 15079 » de arvores. O catalogo d'este anno ainda o não recebemo'^' mas naturalmente deve trazer augmentado o nu- mero de sementes. As pessoas que não se quizerem dirigir pessoal- mente aos donos de anuelle estabelecimento, tèem a commodidade de pouel-o fazer aossnrs. Winuner & C com e-scriptorio de agencias e commissões em Lisboa, que não só se incumbirão de lhes mandar vir as encommendas de .sementes, como lambem o catalogo. Coimbra — .Matta do Choupal. Adoli'MO Fhedeiuc.o IMollf.k. Com quanto esta carta tenha a appa- rencia de um verdadeiro reclame, pode- mos affirmar que o nào é. O estabelecimento de MM. Haage & Schmidt é com certeza um dos mais im- portantes da Allcmanha e torna-se muito rccommendavel pela honradez de seus proprietários. Pena é, porem, que as nos- sas communicaçues com aquellepaiz sejam tào difficultosas. — Ha certas plantas que pelo seu porte elegante e ornamental e ao mesmo tempo por juntarem a estes predicados o de .se- rem rústicas, se espalham rapidamente pelos jardins. Haverá um ou dous annos que poucas eram as pessoas que possuiam Auciihas ; parece, porem, que os artigos que publicamos sobre estas interessantes plantas attrahiram a attençào dos leitores, que se apressaram a obteí-as. Kào sabe- mos dizer o que constituo a parte mais attractiva da planta : se os fructos verme- lhos, se as follias ; porem parece-nos que sào os fructos o que mais nos seduz os olhos. Todavia a íructiíica^-ão das Aucu- bas em Portugal é de tal maneira recen- te, que quasi todos os nossos horticultores ignoram ainda como ella tem logar, era que epocha é que se devem colheras sementes, como e cm que epocha se devem semear, como se devem tractar, etc, etc. A florescência dos individues femini- nos tem logar, ao ar livre, aproximadamen- te nos fins de tnarço ; os masculinos quasi sempre desenvolvem as suas flores mais cedo. Comtudo muitas vezes succede que os femininos ainda florescem a tempo de serem fecundados, e nos fins de novembro ou principies de dezembro começam os fructos a tomar a sua cor vermelha. Logo que estes estejam maduros, semeiam-se em « terrinas » na estufa e quando as plantas estejam sufficienteraente desenvolvidas mu- dara-se para vasosinhos, e em seguida para vasos maiores, quando esse desen- volvimento se tornar mais considerável. No terceiro ou quarto anno florescerão e fructificarão. Mr. Ed. André aconselha que para se obter pleno êxito da fecundação das Aii- cnbas se enxertem de garfo os ramos su- periores dos indivíduos femininos com in- dividues masculinos ; o vento que faz mo- ver os arbustos coadjuvará a difi"usão do pó fecundante e a colheita d'estas bagas de coral tão elegantes poderá ser tida como certa. Fecundamos artificialmente o anno passado, nas estufas do estabelecimento «Loureiro», alguns pés de Aucithas, que agora ostentam numerosos fructos. — A Real Associação Central de Agri- cultura Portugueza resolveu que este anno não houvesse exposição em Lisboa, a fim de não fatigar os expositores cora repeti- dos concursos. Oliveiua Juniuk. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 61 ESTUDOS AMPELOGRAPHIGOS O Creio haver amplamente demonstrado^ nos artigos que se publicaram em os n.°^ 3.", 4.0 e 5.° do 1.° volume d'este jornal, a grande utilidade das descripções com- pletas das diversas castas da Videira com- mum, quando estas descripções sejam fei- tas debaixo de um plano uniforme em to- das as regiões vinicolas, com o fim de fa- cilitar a comparação, de fixar as synony- mias, e fornecer os elementos indispensá- veis para a coordenação de uma ampelo- graphia geral. Agora, no intuito de al- cançar a esclarecida cooperação dos nos- sos viticultores, que se interessam pela realisação d'este pensamento, passo a ex- por um plano regular para a redacção das descripções, que exemplificarei com a his- toria de algumas das melhores castas que se cultivara nas vinhas do Douro. Em todos os paizes vinhateiros se en- contram, prmcipalmente entre os velhos e bons podadores, homens rústicos que discriminara erapiricaraente as castas e variedades das Videiras^ não só quando ellas estão em plena vegetação cora os fructos pendentes e maduros, mas ainda quando, na epocha da poda, se acham completamente despidas de folhas ; porem se lhes perguntarmos quaes são os cara- cteres pelos quaes elles as distinguem umas das outras, nada nos dirão que seja bem comprehensivel e que se possa utili- sar para transmittir os seus conhecimen- tos práticos. A' força de verem repetidas vezes uma planta, de tractarem com ella, de a podarem, de a emparem e vindima- rem, fixam na memoria a sua physiono- mia, e adquirem d'ella um conhecimento de habito, que hão sabem analysar, mas que os guia com segurança na maior parte dos casos. Estes conhecimentos, similhan- tes aos que as crianças adquirem das cou- sas e pessoas com que habitualmente tra- ctam, são de ordinário intransmissiveis. Sem a analyse dos caracteres distin- ctivos, e sem fixar a linguagem por que estes se devera representar, não se pôde (1) Vide J. H. P. vol. Ipag.65. 1871 — Vol. II. fazer uma descripção intelligivel. Desde muito tempo que os naturalistas reconhe- ceram esta verdade e de ahi nasceu a creação de termos convencionaes, em to- dos os ramos da historia natural, para re- presentar concisamente os caracteres dis- tinclivos dos individues — plantas, ani- raaes ou mineraes — que se pretendem des- crever. As descripções devem ser breves e exactas para serem claras, e, para que sa- tisfaçam a estas condições, convém que se attenda exclusivamente aos caracteres que são distinctivos. N'este ponto está a maior difficuldade das descripções ampe- lographicas, porque, entre as diversas cas- tas e suas variedades, são as differenças geralmente pouco sensíveis ; é porisso ne- cessário descer a particularidades, a que de ordinário se não attende, quando se tracta de plantas de diversos géneros e espécies. Segundo o plano adoptado geralmente pelos ampelographos modernos, irei bus- car os caracteres distinctivos das diff'eren- tes castas de Videiras e as suas varieda- des á cepa, ás varas, ás folhas, á flor, aos cachos e seus bagos, adoptando com pou- cas modificações a terminologia usada por D. Simon de Roxas Clemente nas descri- pções do seu « Ensayo sobre las varieda- des de la vid comun, que vegetan en An- dalucia», a qual passo a expor, ao mes- mo tempo que for indicando os órgãos da planta e suas partes, que nos podem for- necer os melhores caracteres distinctivos para fazermos uma descripção sufíiciente- mente clara. ^ Cepa — E esta a priraeira parte que devemos mencionar na descripção de qual- quer casta. Chamamos cepa ao tronco da Videira desde o collo da raiz até á cabeça, donde partem os ramos em que assenta a poda nas castas cultivadas. Na caracteri- sação'da cepa deve notar -se o seu muito ou pouco vigor e a sua grossura relativa : assim diremos — cepa vigorosa, mediana- mente, pouco ou muito vigorosa : — cepa grossa, muito grossa ; delgada, muito del- gada — conforme a impressão que nos causar o aspecto de uma planta normal, N.» 4 — Abril. # /oáNAL DE HORTICULTURA PRATICA que se possa escolher como typo da casta de que nos oceupamos. Emquanto ao comprimento nào é ne- cessário mcncional-o, porque este varia com o modo de cultura, ou antes com o mcthodo de poda a que se submette a planta. Na descripção da cepa deve notar-se o aspecto da casca que a reveste : assim ve- remos que algumas castas apresentam a casca grossa, e oufras a casca Ji7ia. Em alsrumas a casca é adherente , mais ou me- nos, e pode também ser mais ou menos gretada e com as gretas mais ou menos largas, o que tudo convém mencionar. Existindo castas, cuja cepa tem longa duração, em quanto outras vivem menos tempo no mesmo terreno e com a mesma cultura, devem notar-se estas circumstan- cias, dizendo que a cepa é muito ou pou- co vivaz. Varas ou Sarmentos — As varas ou sarmentos são os ramos que annualmente se formam pelo desenvolvimento dos go- mos. Estas varas podem ser muito ou pou- co numerosas ; curtas ou compridas, pen- denies, ou erguidas, ou horisontaes. Tam- bém podemos designar as varas do anno com o nome de lançamentos, O maior ou menor desenvolvimento dos lançamentos e o seu porte dependem muitas vezes do estado mais ou menos vigoroso da planta, e por isso deve attendor-se a esta cir- cumstancia, quando se fizer menção d'estes caracteres, convindo estudai- os em diver- sos indivíduos da mesma planta, que este- jam coUocados era condições difíerentes. Na descripção das varas convém notar muitas particularidades que são caracte- rísticas : — 1.° A grossura e vigor da vara em geral ; — 2.° O comprimento dos entre- nós ; — 3." A grossura mais ou menos pro- nunciada dos nós; — 4.° A forma das va- ras ; se são roliças, achatadas ou irregu- lares;— 5." Se as varas são lisas, lustro- sas, ásperas, etc; — 6.° A cor das varas, que pode variar cora a edade. Ha varas pardas, pardas-arroxadas, verdes, par- das-verdosas, esbranquiçadas ou amarella- das, roxas ou avermelhadas, longitudinal- mente listradas, e até algumas com maii- chás. Podendo a cor das varas soíFrer va- riações com a edade d'estas, convém des- crever principalmente a que ellas apresen- tam na epocha da maturação das uvas; — 7.° A dureza ou brandura das varas, quando estas se observam depois do seu completo desenvolvimento annual, são ca- racteres importantes, que muito auxiliam os podadores para difierençarem as castas no acto da poda; — 8.° A quantidade de medulla, que se observa no corte da va- ra, e que se avalia pela grandeza da sua. secção feita perpendicularmente ao eixo, deve também mencionar-se; — 9.° Os elos ou gavinhas, que se consideram como ca- chos abortados, podem mencionar-se na descripção da vara; e em relação ao nu- mero e forma ; dizendo : vara com mui- tos, ou poucos elos, singelos, ou ramosos; — 10.° Os olhos, gemas ou gomos, que po- dem ser muito ou pouco agudos ; muito ou pouco felpudos. Antes da arrebentação os gomos não prestam grande auxilio para a caracterisação das castas ; porem quan- do pela influencia do calor da primavera elles se alongam e engrossam e as folhas começam a desabrochar, apresentam então signaes preciosos para o reconhecimento das diversas castas. Estes manifestam-se no aspecto liso ou glabro das pequenas fo- lhas, ou na sua apparencia mais ou me- nos felpuda, e também no seu colorido. A pagina posterior das folhas recente- mente abertas é geralmente esbranquiçada pelo feltro ou pennugem que apresenta, mas muitas vezes apparece corada de car- mim, ou de rOxo, principalmente na ex- tremidade. A pagina anterior é mais lisa, verde, dourada, bronzeada ou avermelha- da. Todas as circurastancias que então se observam devem descrever-se, porque to- das ellas podem auxiliar muito a caracte- risação da planta. Coimbra. Visconde de Villa ^Iaior. (Continua). ABUTILON VEXILLARIUl ed. morren D'entre as numerosas espécies que constituem o género Abutilon, é sem du- vida a que representa a fig. 28 uma das mais bellas e raais distinctas pela confor- mação das suas flores. O Abutilon vexillarium é um arbusto JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 63 natural da America austral, de ramos cy- lindricos e alongados, folhas alongado- lanceoladas, cordiformes na base e de bor- dos denteados. As flores, solitárias e sus- tentadas por pedúnculos delgados e pen- dentes, são distinctamente tricolores, isto é, o cálice grande e tubuloso de um bello vermelho coccineo, a corolla do mesmo comprimento do cálice e formada por cinco pétalas imbricadas na base, ovaes e agu- das, de um amarello alaranjado, e os es- tames muito salientes, de cor vermelha acastanhada muito pronunciada. Em razão d'esta combinação de cores Fig. 28 — Abutilon vexillarium. que apresentam as flores, é o Abutilon vexillarium uma planta eminentemente or- namental, e n'esta qualidade a recommen- damos aos leitores do « Jornal de Horti- cultura Pratica.» Vegeta perfeitamente ao ar livre e re- produz-se facilmente por meio de estacas. J. Casimiro Barbosa. KALMIA LATIFOLIA linn. A planta que hoje vamos descrever é uma interessante addiçâo aos jardins dos verdadeiros amadores e apreciadores judi- ciosos das bellezas vegetaes, e com espe- cialidade de aquelles que colleccionam ar- bustos bellos em flores e folhagem. Esta magnifica espécie, que cresce espontanea- mente nos húmidos e sombrios bosques da Carolina e Canadá, onde attinge a al- tura de l^^jOO a l^^jbÒ, foi de lá trazida para a Europa pelo raeiado do ultimo sé- culo por P. Kollinson, e desde então ficou completamente aclimada. E uma formosa Eriçada de caule di- reito, dividido superiormente em muitos ramos ; as suas folhas longamente pecio- ladas, de forma ellyptica, coriaceas, são de um lindo verde, e as suas bellas e bri- lhantes flores, dispostas era compridos co- ryrabos terminaes, que desabrocham era junho e julho, e coroados de rosa vivo ou esbranquiçado, a tornam digna de ornai* os mais escolhidos jardins. Pelo seu porte e duração de suas folhas, que dizem ser ura poderoso veneno, tem alguma simi- Ihança com a Laranjeira, e a sua ma- deira, muito dura e de bella cor amarella, é para os americanos o que a do Buxo é para nós. Com esta planta dá-se um phenomeno notável no acto da fecundação, e que jul- gamos não ser fora de propósito referir. 64 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Os seus estamcs, collocados como os aios de uma roda, á volta do pistillo, tem as suas antheras mettidas em outras tan- tas cavidades abertas na corolla; e che gada a occasião da emissão do poUen, le- vantam-sc d'cssas cavidades e por um mo- vimento de elasticidade, inelinam-so suc- cessivamente sobre o pistillo, que cobrem completamente da matéria fecundante, vol- tando na mesma ordem para os seus an- tigos leitos, depois de desempenhada essa funcção. A cultura das Kalmias não apresenta nenhuma difficuldade ; geralmente estas plantas, assim como todas as da sua fa- milia, gostam de terra especial; a mais própria é a chamada terra de urze, ou do monte; comtudo vivem muito bem n'um terreno que seja leve, substancial e alguma cousa húmido, e no jardim devem ser plantadas no logar que offerecer mais sombra e for mais abrigado dos ventos. Multiplicam-se por mergulhia (alpor- que) e pelos rebentões enraizados; porem as mergulhias levam muito tempo a criar raizcs. Devem ser feitas em terra muito substancial e misturada com areia, de modo que se torne muito permeável ás suas raizes, bastante delicadas. A. J. DE Oliveira e Silva. MAHONIA NEPALENSIS d. c. Quasi todos os arbustos de que se com- põe a familia das Berheriãaceas, em razão da sua bella folhagem ordinai iamente co- riacea, persistente e luzidia; dos seus nu- merosos cachos de flores amarellas ou ala- ranjadas, ás quaes se succedem pequenas bagas vermelhas, violetas ou azues, são muito procurados para a decoi*aoão do jar- dins de paizagem. A espécie de que nos occupamos, Ma- honia Nepalensis, é sem duvida uma das mais bellas em razão do seu vigor e am- plidão da sua folhagem. Esta espécie que, segundo Roxburgh, seu descobridor, cresce espontaneamente nas montanhas do norte da Índia, é um arbusto ramoso, de folhas persistentes com seis pares de foliolos oblongo-lanceolados, um pouco obliquos na base, bordados de cinco a dez dentes espinhosos equidistan- tes, terminando a folha por umfoliolo im- par oval-lanceolado. A suas flores são numerosas, amarel- las, dispostas em cachos fasciculados, ter- minaes, a principio levantados e depois graciosamente inclinados. O fructo é oval, oblongo e de ura bello vermelho carre- gado. Esta bella Berberidacea, muito rústica para os nossos jardins, dá-se perfeitamen- te, como todas as suas congéneres, em to- das as qualidades de terreno, ainda mes- mo pedregosos, comtanto que não sejam inundados e que o sub-solo deixe passar a agua das chuvas. Multiplica-se facilmente pelos reben- tões enraizados. J. Casimiro Barbosa. os CEDROS DO BUSSACO A rua junto á Ermida do Calvário, na matta do Bussaco, contém os primeiros Cedros que por industria do fundador vie- ram das ilhas dos Açores a Portugal, e são os progenitores de quantos goza hoje o mesmo reino. Assim o refere a Chro- nica dos Carmelitas Descalços, de frei João do Sacramento, a pag. 110. A Ermida, fundada pelo reitor da Uni- versidade, Manoel de Saldanha, é de 1643. A noticia, porem, mais antiga e a mais authentica a este respeito é a da Benedictina de fr. Leão de S. Thomaz, que vemos no t. 2.", trat. 1.", parte 4.% cap. 17, pag. 283 d'esta obra, aonde se indica também a procedência açoriana dos Cedros do Bussaco. A procedência pri- mitiva da arvore não podia ser, todavia, senão da índia e da serra dos Gates, aon- de só 6 indigena o Ciipressics glauca. Os portuguezes chamaram-lhe Cedro de Goa, e Desfontaines achou-o tanto á sua von- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 65 tade na serra do Bussaco, quando a visi- tou, que considerou indigena a espécie e chamou-lhe Cicpressus Lusitanica. O convento do Bussaco foi fundado em 1628; os Cedros, pois, que datam da fundação, têem mais de dous séculos de duração, e para termos hoje o prazer de os contemplar foi preciso talvez protegel-os a bulia de 1643, a qual fulminava de excommunhão os que ousassem destruir tão formosa matta. Lá está ainda, firma- da no muro, á entrada da cerca, amea- çando com os raios do Vaticano, a famosa bulia. « Os Cedros que, erabraçados uns nos outros, servem aos passageiros de escudo ao sol, espelho para a vista», diz n'algu- ma parte a Chronica carmelitana, e n'ou- tra parte: «Convidavam os olhos a uma honesta recreação os vistosos labyrintos, que n'elles formam os canteiros de Mur- tas, Tomilhos e Mangeronas, as latadas, os Folhados, Caracoleiros, Jasmins e Ct/- lindras, as parreiras de vides. Limoeiros e muitas outras plantas e flores, que os religiosos cultivam e dedicam nas sacras aras do Creador.» «... Cedros e varias plantas que namoradas do sol se levantam da terra em grande altura, enganados de poderem alcançar-lhe os raios com as guias dos seus ramos.» Lisboa. Dr. Bernardino António Gomes. CURTA NOTICIA SOBRE A FAMÍLIA DAS PROTEACEAS (') A Austrália e a ponta meridional da Africa tanto na sua Fauna como na sua Flora oíferecem muitas analogias ; em am- bos os paizes se encontra grande numero de animaes e de plantas que pela singu- laridade de suas formas se afastam bas- tante de todas as outras formas da crea- ção actual e se aproximam mais das que povoavam o nosso globo em epocha ante- rior. EíFecti vara ente estas duas terras que, segundo a opinião de vários sábios, entre outros Mr. Unger de Vienna, não forma- ram em tempo senão um único continente, são as únicas que podem dar-nos uma ideia aproximada do que era o nosso globo an- tes da formação actual. N'outra occasião talvez entremos em mais pormenores sobre as similhanças das plantas da Austrália e do Cabo da Boa Esperança ; hoje o nosso fim é fazer por apontar entre as Proteaceas africanas, di- gnas congéneres das da Austrália, alguns representantes para serem cultivados en- tre nós. O género Leucadendron constituo pe- quenas arvores e mais frequentemente ar- bustos de folhas integras e alternas, e de capitules terminaes e solitários. Os Leuca- dendrons, como todas as mais Proteaceas do Cabo, já exigem mais cuidados, isto é: (1) Vide J. H. P. pag. 7 uma exposição mais quente e principal- mente bem secca, temem muito as aguas estagnadas e dão-se bem n'um solo esté- ril, pedregoso ou areento. O Leucadendron argenteum R. Br., «Witteboom» dos colonos, é quanto a nós a mais bella das numerosas espécies d'este género ; são as suas folhas sedosas, pratea- das, aveludadas nos bordos, que constituem a belleza d'esta pequena arvore e debaixo d'este ponto de vista poucos vegetaes ha que rivalisem com ella. Na ilha de S. Mi- guel vimos alguns exemplares já bastan- tes fortes, mas queixavam se alli de que elles, chegados a certa altura, morriam quasi sempre, sem se poder explicar a ra- zão d'isto. Ha dous annos que uma pe- quena planta do Leucadendron argenteum foi collocada era plena terra no Jardim Botânico de Coimbra e, apezar das gran- des chuvas e até das geadas, conserva-se ainda agora em todo o seu vigor. No Ca- bo a madeira d'esta espécie serve para construcções. Muitas outras espécies de Leucaden- dro7i se cultivam nas estufas temperadas da Europa; assignalaremos somente as se- guintes como as mais apropriadas para a cultura em plena terra : Leucadendron ahietinum R. Br.; L, concolor R. Br.; L. oimulum R. Br. ; e o L. grandifiorum R. Br., talvez a espécie 66 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA mais notável confundida por muito tempo com outras debaixo do nome de Protea decora. O que as Banksias e as Dryandras com o seu porte erecto e infloresccncia sin- gular mais ou menos cónica são para a Austrália, são as Pruteas para o Cabo da Boa Esperança, onde formara sub-arbus- tos, arbustos e até pequenas arvores. As suas folhas são integras e a infloresccncia encontra-se em capítulos terminaes ou mais raramente lateraes. As espécies mais clássicas são : Protea cynaroides Linn., sub-arbusto, muitas vezes somente de um pé de altura quando em flor, de folhas arredondadas e de capitulo do tamanho da cabeça de uma creança. As suas folhas são purpuro-viola- ceas com as bracteas do invólucro esver- deadas, levemente purpureadas de metade do comprimento até ao cimo. Esta magni- fica Proteacea, quasi sem rival em toda a familia pela belleza e grandeza da flor, foi introduzida na Europa em 1792 e hoje acha-se muito espalhada nos jardins botâ- nicos. Protea melaleuca R. Br., forma um so- berbo arbusto e é uma das mais apreciadas pela singularidade da forma e da cor da sua iuílorescencia. A casca, de uma substan- cia muito fina e esbranquiçada, parece des- pegar-se facilmente e quando vimos a ar- vore pela primeira vez em Ponta Delga- da, occorreu-nos a ideia de que se pode- ria empregar vantajosamente esta casca no fabrico do papel. Protea sj)eciosa Linn. ; P. formosa R. Br.; P. grandijiora Willd. não mere- cem menos a attenção dos amadores e ac- crescentaremos ainda a Protea mellifera Willd. (Sugar bush), que é uma das espé- cies mais communs, mas ao mesmo tem- po mais bcllas de Cape Town. A abun- dância de mel que as flores contêem quan- do se abrem é tal, que virando-as para bai- xo podem tirar-se vasos cheios d'e8ta sub- stancia. Os Leucospermum formam sub-arbus- tos ou arbustos, mais raramente verdadei- ras arvores. Têem os ramos oi dinariamente cotonnosos ou aveludados, as folhas ora in- tegras ora denteadas e calosas junto ao cimo, e a infloresccncia em capitules ter- minaes. O Leucospermum tomentosum R. Br. é uma das mais bellas espécies do género e uma das mais apreciadas por causa da cor branca dos ramos e das folhas. O L. conocarpum tem a madeira de uma cor avermelhada ; a casca serve para cor- tume e o chá feito com ella é um forte adstringente. Os géneros Mimetes, Serruriaj Ni- venia, títroceplialus habitam todos qua- tro a Africa austral e d'estes numero- sas espécies ha em cultura. Menos bel- las, porem, do que as precedentes, pas- sal-as-hemos em silencio para terminar este grupo cora o género Brabeium, que só con- tem uma única es^ieclo, o Brabeium stella- tifuUum Linn. (Wild Chesnut). E uma arvore de folhas verticilladas e denteadas, as flores são grupadas a três ou a quatro jun- tas, formando uma espécie de gíomerulos. A Austrália tem a sua Proteacea de fru- cto comestível, a Macadamia ternifolia; o fructo do B. stellatifolium^ que perten- ce somente á Africa austral, é uma drupa coriacea, monosperma, de caroços ósseos, contendo uma amêndoa comestível que se assa como as castanhas e também serve como succedanea do café. As outras Proteaceas que constituem o nosso ultimo grupo e que são sem com- paração as menos numerosas em géneros e espécies, pertencem na maior parte ao continente americano. Entre cilas encon- tra-se também uma espécie^ comestível, a Guevinia avellana Molin. E uma arvoro de folhas alternas, compostas, bastante si- railhantes ás do nosso Freixo. A drupa, pouco carnosa, contém um caroço que en- cerra uma amêndoa oleosa, de um sabor similhante ao das nossas avellãs. Esta ar- vore é da ponta austral da Amenca e par- ticularmente do Chili e parece-nos que a sua aclimação no paiz não ofíerecerá diffi- culdade alguma. O género Rhopala contém arvores mais ou menos elevadas da America do Sul, das Molucas e da Cochinchina. As folhas d'estas arvores são alternas ou raramente verticilladas, simples, integras ou dentea- das, ás vezes pinnatifidas e trilobadas no mesmo ramo, e a infloresccncia é em es- pigas axillares, ás vezes terminaes. As RhopalaSj das quaes nos últimos annos se têem introduzido bellissimas espécies (R, JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 67 eorcovadensis, R. áurea, R. elegantíssima, R. Jonghei,R. piãchra, R. Skinneri, etc.) encontram-se todas nas estufas quentes e em razào d'isso a sua cultura differe nota- velmente da da maior parte das outras Proteaceas. Na Madeira e nos Açores cul- tivam-se algumas em pleno ar e estamos convencidos que em Portugal, uma vez que se escolha uma exposição quente e bem abrigada, se darão também com o mesmo tractamento. Comtudo aconselha- remos a quem quizer fazer alguns ensaios, que só gradualmente as habitue á cultura em pleno ar. Do género Embothrium conhecem-se duas espécies, arbustos que até no clima de Pariz parecem bastante rústicos : são o Embothrium coccineum Fo.rst., das mar- gens do Estreito de Magalhães e da Terra do Fogo , e o Embothrium lanceolatum R. Br., das montanhas do Chili. As suas folhas são alternas, integras, e as inflo- rescencias terminaes em cachos o\\ em co- rymbos. Com as Lomatias, Proteaceas do Chili, assim como da Austrália e da Tasmania, encerraremos a nossa lista. As Lomatias formam arbustos de um porte elegante, de folhas alternas, pinnatiíidas, ás vezes integras, muitas vezes até variavçis de forma no mesmo individuo ; inflorescencia era cachos terminaes ou axillares. Eis algumas das mais bonitas : Loma- tia Bidicilli, L. ferruginea, L. hetero- morpha, L. longifolia, L. silaifolia e L. obliqua. A madeira da ultima espécie chi- lena tem um cheiro activíssimo. Devemos ainda accrescentar que as Rhopalas e as Lomatias são de certo pela sua elegante folhagem as mais bellas de toda a famila. Havíamos já quasi concluído estas li- nhas quando tivemos occasião de fallar com o snr. Bento António Alves, de Lis- boa, e este senhor, que pelas suas expe- riências praticas e conhecimentos theori- cos é sem contradicção um dos melhores horticultores do paiz, nos disse que, ape- zar de repetidos ensaios, apezar dos maio- res cuidados empregados com a terra e com a exposição, as Proteaceas recusaram sempre crescer no clima de Lisboa. Es- tamos bem longe de querer contradizer ou duvidar de similhante asserção ; tudo o que podemos dizer, recommendando es- tas bellas plantas á attenção dos amado- res illustrados, é que não só as Protea- ceas da Austrália, mas .-s do Cabo e da America se dão aqui muito bem no Jar- dim Botânico de Coimbra, cidade, com- tudo, que pelo seu clima diífere já bas- tante da de Lisboa. Ainda quando ellas não queiram dar-se na capital, a poucas léguas de distancia, era Cintra, parece-nos que encontrarão todas as condições para pros- perar bem e até agora não as temos en- contrado nem na Penna, nem em Mon- serrate. A multiplicação das Proteaceas faz-se facilmente por meio de sementes, que nas- cem bem, comtanto que não sejam mui- to velhas. Empregam-se também as es- tacas e mergulhia, mas de ordinário le- vam muito tempo e as plantas assim ob- tidas não crescem nunca tão depressa como as de semente. As relações que o snr. dr. Fernando von JMueller se dignou estabelecer com o Jardim Botânico de Coimbra dão-nos es- perança de obter por esta generosa via grande numero de sementes de Protea- ceas da Austrália para poder assim pro- pagar estas magestosas plantas em Por- tugal. Coimbra — Jardim Botânico. Edmond Goeze. GESNERIA ZEBRINA Esta planta é herbácea e de estufa quen- te, e propriamente fallando uma das mais brilhantes que florescem n'esta estação; porque não somente attrahe a attenção du- rante todo o tempo que as suas flores es- tão desabrochadas, mas ainda durante todo o tempo pelo caracier variado das suas fo- lhas, quando têem tomado todo o desenvol- vimento de que são susceptíveis. Esta es- pécie produz hastes fortes, succulentas, que crescem de 15 a 20 centímetros de al- tura, antes de mostrar no seu cume o pe- dúnculo floral. Este eleva-se perpendicularmente a 7 68 lORNAL DE HORTICULTURA PRATICA oii 8 centin^ctros, na extremidade da has- te, e c sobre e!lc que as suas lindas florrs se desenvolvem sobre pedicellos compri- dos e delicados, e assim se conserva até que attinge todo o desenvolvimento, epo- cha em que toma uma egual distribuição de flores desde a base ao cume. Estas flo- res síío pendentes c elegantes, e a sua cor é de um rico vermelho alaranjado pela parte superoir e amarellado pela inferior, com uma grande quantidade de pontos vermelhos brilhantes na sua fauce ; mas as folhas são ainda mais interessantes por causa dos seus caracteres permanentes; são de ura verde vivo e rico, com nume- rosas faxas ou estrias irregulares cor de purpura desmaiada e aveludadas. Esta Oesneria exige uma estufa quente, ou ao menos uma boa estufa temperada. Pros- pera admiravelmente numa mistura com- posta de boa terra de urze e terriço de folhas, á qual se pode ajuntar alguma terra de jardim ou areia. Os vasos nos quaes se cultiva a Ges- neria devem ser muito bem drainados, e as plantas coUocadas sobre lotes próximos da luz. Depois da florescência deixam-se sec- car as plantas, e conservam-se nos seus vasos em secco, até ao momento de as tor- nar a pôr em vegetação na primavera se- guinte. Multiplicam-se por folhas durante a vegetação, ou pela divisão dos seus rhi- somas escamosos. A. J. DE Oliveira e Silva. ABIES EXCELSA d. c. Esta Conífera é uma das arvores que tem mais nomenclatura botânica ; pois tanto Linneu como WildenoAV deram-lhe o nome de Pinus abies; Duroi o de Pi- nus picea; Lamark o de Pictci excelsior ; Link o de Picea vulgaris ; e De Candolle o de Abies excelsa. O Abies excelsa é uma das mais im- portantes arvores florestaes entre as de primeira grandeza nas regiões centraes e septentiionaes do continente europeu e de alguns paizes da Ásia e da America bo- real; habita os climas frios e temperados e a sua maior vegetação limita no sentido horizontal do globo entre 47° a 61° de longitude, e no sentido vertical esten- de-se bastante ao norte e sobe por exem- plo: Na Noruega (G2°) até 466 — 833 me- tros acima do nivel do mar (1). No Harz (52") até 900 metros acima do nivel do mar, No Thuering (51°) até 666 metros aci- ma do nivel do mar. No Kiesengebirgc (51°) até 1233 me- tros acima do nivel do mar, e ás vezes ainda a altura superior. (1) Segundo as observações feitas por Hisin- gers. muitas vezes encoiitra-se o Abies excelsa a esta altura (833) e lambem acima dos limites da vege- tação do Piíius aylveslris. No Fichtelgebirge (50°) até 1000 me- tros acima do nivel do mar. Nos Karpathos (49°) até 1533 metros acima do nivel do mar. Na Floresta negra (47° 30') até 1333 — 1500 metros acima do nivel do mar. Nos Alpes (47°) até 1833 — 2000 me- tros acima do nivel do mar. Nos Pyreneus (43°) encontram-se uni- camente alguns exemplares dispersos. Este Abeto cresce lentamente na in- fância, mas depois desenvolve-se com maior rapidez, chegando aos 120 annos com um crescimento regular ; attinge uma edade de 200 a 300 annos ; a sua máxima altura é de 40 a 50 metros, e a grossura de 2 metros de diâmetro no pé. O seu enraizamento é pouco abundan- te, mas profundo e penetra bem entre as fendas das rochas ; a copa é frondosa ; as agulhas pequenas, redondas e seccas, re- novam-se em maio ; fructifica dos 50 aos 60 annos ; floresce nos fins de maio, e no mez de outubro do anno seguinte amadu- recem seus fructos ; as pinhas abrem na primavera e germinam no principio do verão seguinte. Prefere os terrenos montanhosos ás planícies e é-lhe indiíferente a natureza do terreno, comtanto que seja fresco ; re- quer uma atmosphera húmida. Podem-se plantar sós para formar extensas mattaa JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 69 reaeSj ou associados a outras espécies de arvores florestaes, taes como os Quercus, Fagus e Larix, etc. Os maioies inimigos do Ahies excelsa são os insectos (1) e entre elles os mais a temer são a Phalsena bomlyx monacha, Phal Geometra piniaria, Curculio pini (et abietis), Hylesinus piniperda e o Bostrichus abietiperda (2) e Bosta typographus ; esta ultima espécie é de todas a mais perigosa e para fazer uma ideia do que pode des- truir, basta dizer que de 1782 a 1783 morreram nas florestas do Harz um nu- mero superior a 3 milhões de Abetos (Volger — «Historia natural» vol. i, e Pheil «Manual florestal»), A sua madeira é de magnifica quali- dade para construcções terrestres e nas navaes é empregada nos interiores dos navios, e para mastros, . os quaes são de muito boa qualidade ; é também bastante estimada para instrumentos ; o seu cora- bustivel é menos mau ; produz tereben- thina em grande abundância e a sua cas- ca serve para cortumes. Alem d'esta espécie que descrevemos ha muitas outras taes como o Ahies pecti- nata^ D. C. (Pinus picea, Linn., Pinus ahies, Duroi.), que como arvore florestal não é ém nada inferior á que acabamos de descrever ; o Ahies halsamea, A. nigra, A. alba, etc. Hundeshagem na sua «Ency- clopedia sobre a sciencia florestal na parte botânica» faz menção de uma variedade de Ahies excelsa que é o Pinus picea hy- hrida Bechst. Nenhuma espécie de Ahetos é indíge- na de Portugal e não os temos visto plan- tados senão nos parques e jardins, a não ser na matta do Bussaco, onde constituem plantações florestaes e entre elles o que alli mais se distingue pelo seu crescimen- to é o Ahies pectinata. No Jardim Botânico de Coimbra exis- tem dous exemplares na eschola das fa- mílias naturaes ; ura do Ahies excelsa e outro do Ahies pectinata e ambos apre- sentam bastante vigor com especialidade o primeiro que forma já uma arvore gran- de. É o maior exemplar de que temos co- nhecimento no paiz. Ha cousa de três annos cortou-se n'este estabelecimento um exemplar d'esta espé- cie, porque aífrontava uma Araucária ex- celsa, o qual não era muito inferior ao que alli hoje existe. Matta do Choupal — Coimbra. Adolpho fkedekico Moller. MACHIMS DE MALHAR CEREAES Em todos os paizes, onde a cultura do Trigo é feita em grande escala, torna-se de grande conveniência a applicação de meios mediante os quaes a malha se faça com rapidez e economia. As raachinas de malhar a vapor, ape- zar do seu elevado custo, realisam ambos estes fins, e é por isso que a sua adopção tem sido geral em todos os paizes e que a julgamos de muito proveito para o sul de Portugal, assim como o tem sido na nossa visinha Hespanha. Quando, porem, esta cultura é limi- tada a um dos turnos de lavoura, são ge- ralmente empregadas as machinas de ma- lhar movidas por gado, e são estas o as- sumpto d'este artigo e das quaes faremos (1) Vide Ratzeburg e Buhstein — Tractados so- bre insectos florestaes. (2) Este dtaca de preferencia o Abies pectinata. uma descripção illustrada com as gravuras annexas, para melhor esclarecimento dos que se interessam pela adopção dos me- lhoramentos agrícolas que são possíveis de se effectuar em todas as escalas de cul- tura, melhoramentos empregados desde longos annos pelos povos cujas maiores necessidades, provenientes de um ruim solo e clima, fizeram desenvolver a sua intelligencia e coraprehender que o braço do homem e a força animal, applicados aos apparelhos mechanicos, lhes offereciam am- plíssima indemnisação d'essas más condi- ções locaes. Na verdade, só a necessidade ou o brio podem destruir a rotina. Onde está o cego que não vê no pão que come, na roupa que veste, nos alfinetes, nas agulhas e em mil outras cousas que nos são precisas ou agra- dáveis, a acção benéfica e económica dos meios mechanicos? Devendo crer que os 70 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA trabalhos da lavoura foram incluídos no progresso geral de todas as industrias, não é, como muitos pensam, a falta de convic- ção que nos tem tolhido o desenvolvimento agricola, mas sim a misera abastança do proprietário ou caseiro, cujas ambições se limitam a tirar um ao outro o mais ter- reno e agua que podem e que ás vezes é unia ridicularia comparada com o bcneíi- cio que ambos de commum accordo pode- riam haver do solo. Sâo também poucos os estímulos do brio em um paíz onde as distincyões se vendem a dinheiro, o qual nem ao menos serve para o desenvolvimento da instruc- çào publica ou da industria. Atravez, porem, d'estas contradicções, ainda ha cavalheiros bastante iilustrados para entenderem que o augmento dos seus productos e a economia do seu fabrico c um benelicio que fazem á sociedade em geral e que a distincção mais honrosa é aquella que grangeam promovendo o bem estar das classes menos abastadas, ín- struindo-as, com o seu exemplo^ nos meios de utilisarem mais convenientemente as suas forças nos trabalhos de suas indus- trias e fazendo-lhes desenvolver o espi- rito de associação, de que tanto care- cem. Appellamos, pois, para esses cavalhei- ros como únicos regeneradores da classe agricola e lhes oíferecemos a seguinte des- cripçào das machicas de malhar a gado, as quaes serào conhecidas de muitos, visto que era Portugal existem algumas em ser- viço, e que tizemos ha tempos exposição de três no Palácio de Crystal em ensaio pratico de malha de Trigo. Consta o processo mechanico da ma- Ihadeira (fig. 29): 1.° De um motor, que se chama ma- ^ejo (fig. 29 e 30), o qual pode ter duas até cinco alavancas, onde trabalhem dous a cinco animaes. O manejo reproduz o mo- vimento de uma volta do gado para 40 ou GO voltas, mas como estas não sejam suflBcientes para o trabalho da malhadeira, vae o eixo do manejo trabalhar o seguin- te reproductor. 2." De um reproductor de movimento, do qual parte a correia torcida de um tambor grande para um pequeno da ma- lhadeira, augmontando assim gradualmeu- te o numero de voltas precisas para o tra- balho. d.° De uma malhadeira, a qual pode ser do tamanho apropriado á força do ma- nejo. Esta machina compõe-se de um es- trado onde se estende a palha e se entre- ga a um cylindro cheio de dentes em li- nha espiral, os quaes passam entre outros como batentes fixados d'encontro á entrada; entre uns e outros passa a palha do cereal, fazendo saltar das espigas todo o grão contido n'ellas, sem as offender. Como, porem, ora se malha um cereal graúdo, ora miúdo, tem a machina um re- gisto pelo qual se apertam ou afastam os dentes do cylindro dos dentes batentes, conforme o exigir a qualidade do grào. A palha sahe do lado opposto ao cylindro, um pouco quebrada, e o grão cahe em baixo d'este, misturado com as pelliculas e outras sementes de hervas. 4.° De uma tarara, machina de separar e ventilar, da qual já demos minuciosa des- cripção n'este jornal. Recebe por meio de outra correia o movimento da malhadeira ; n'ella se vae deitando ás pás o Trigo ma- lhado que entrega limpo completamente das tacs pelliculas e separado das semen- tes miúdas. Tanto o manejo como a tarara são ap- parelhos necessários em uma lavoura para outros misteres e por isso não devem ser considerados como encargo da acquisição de uma malhadeira. Com relação a esta, sendo de tamanho apropriado a dous bois, o seu producto em trigo malhado c limpo em uma hora de trabalho está estimado em Inglaterra em: 15 a 20 alqueires 300 kilos; Para 3 animaes 24 a 28 alqueires, 420 kilos ; Para 4 animaes 30 a 3õ alqueires, 525 kilos ; Para 5 animaes 40 a 45 alqueires, 675 kilos. Estas quantidades podem variar, se- gundo a qualidade do trigo e a aptidão do operário em fornecer a tempo a palha. Quem não puder applicar o vapor á malha deve preferir uma machina a gado das maiores, mas n'este caso convir-lhe- hão provavelmente umas outras malhadei- ras munidas de ,rodas, as quaes teme a JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 71 33 «5' 3 72 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA limpeza em si, e um manejo montado tam- bém em rodas, como se vê da fig. 30. A facilidade de conducção d'estes apparelhos e da sua collocaçao para trabalho, bem como o seu menor custo, comparados com as machinas a vapor, os tornam muito re- commendaveis. O snr. Joaquim Augusto da Silva, de Aguiar da Beira, cavalheiro muito curioso e muito entendido em assumptos agrícolas, diz que a malhadeira a gado fixa, que tem em uso ha cinco ou seis an- nos, é um dos apparelhos que mais inte- resse lhe tem dado ; comtudo somos de opinião que todo e qualquer melhoramento deve principiar pela forma de lavrar e semear, isto é, por obter a maior somma possível de productos e da melhor quali- dade, certos de que os poucos apparelhos necessários para isso farão duplicar e tri- plicar os proventos do lavrador, e insti- gal-o pelo interesse aos outros melhora- mentos que, apezar de serem importan- tíssimos, são secundários na ordem d'esta3 industrias. A. DE La Rocque. WELLINGTONIA GIGANTEA NECESSIDADE QUE TEM ESTA ARVORE DO ESPIGÃO, OU TRONCO PERPENDICULAR SUBTERRÂNEO, PARA VIVER E PODER DESENVOLVER-SE ; OU POR OUTROS TERMOS ! A CARÊNCIA DO ESPIGÃO NA WeLLINGTONIA É A CAUSA DA SUA MORTE PRÓXIMA OU REMOTA Lendo no a Jornal de Horticura Pra- tica » (vol. II, pag. 48) um bem elabora- do artigo com respeito a este gigante ve- getal, escripto por meu cunhado o snr. N. P. de Mendonça Falcão, em que de- pois da descripção com aquella força de dicção e proficiência, que todos lhe reco- nhecem, apresenta a hypothese de que em Portugal a maior parte das catastrophes das Wellingtonias serão produzidas pela falta da raiz perpendicular chamada espi- gão ; vou emittir a minha humilde opinião sobre este ponto, chamando a attenção dos mais competentes do que eu, para estu- darem e tractarem um objecto, que a meu ver é de grande interesse. Estou convencido, baseando-me nos principies geraes, até hoje incontestados, que as Coníferas, principalmente as py- ramidaes, a que for destruído o espigão na transplantação, não só se não desen- volverão normalmente, mas que a morte se não fará esperar multo tempo. E principio assentado que o vegetal lenhoso, constando de dous eixos oppos- tos, um aerio (tronco), outro subterrâneo (raiz), guardam taes relações e equilíbrio entre si, que offendida qualquer parte de um, rosente-se immed latamente a parte correspondente do outro ; e ainda que em physiologia vegetal pouco se haja adian- tado, sabe-se pela pratica e constantes ob- servações que, destruído o tronco (flecha) a uma arvore, a raiz perpendicular ou espigão fica logo destruída ; e tudo induz a crer, e logicamente podemos affirmar, que destruído o espigão a uma arvore, impediremos com esta operação o cresci- mento da íuesma arvore em altura, isto é, do seu tronco. E por esta razão que nós supprimimos em muitas arvores de fructo o espigão no acto da transplanta- ção, para que se desenvolvam lateralmente com mais força, ou ganhem maior copa. Por outro lado vemos que as arvores plantadas em terrenos de sub-solos durís- simos, onde seus espigões não possam pe- netrar, crescem pouco em altura, seccan- do-lhcs a ponta da flecha, e fructificam mais cedo, sendo também mais curta a sua existência ; e de arvores, que em boas condições de solo (profundo) são natural- mente grandes e desenvolvidas, tornam-se anãs, em uma camada de terra pouco es- pessa. For exemplo: os Pecegueiros, nas vinhas de terrenos argillosos, principiara a seccar pela curuta ou ponta, desde que seu espigão não pode penetrar e viver nas camadas duras e compactas ; todos nós temos visto, em terrenos pedregosos gra- níticos, os Carvalhos seccarem do meio para cima, em chegando a certa edade; quer dizer, em seu espigão tocando na rocha e não podendo estender-se. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 73 De tudo isto podemos concluir que ha certas relações intimas entre o tronco e a raiz perpendicular, que era certas famí- lias desempenha funcções, não só de re- lação e equilibrio, mas de vitalidade, e que só o futuro physiologicamente nos po- derá explicar. Não se acreditou por muito tempo, e ainda hoje alguns botânicos são d'essa opinião, que o collo da planta, isto é, a parte era que o tronco está em conta- cto cora a raiz, era um laboratório, onde se depurava a seiva bruta, recebida pelas raizes? E se bem que as observações de- monstrem o contrario, ainda essa opinião não está de todo desvanecida. Por uma razão inversa, tendo sido até hoje olhado o espigão como uraa parte indiíFerente para o viver da planta, não desempenhará elle funcções importantes e necessárias para o desenvolvimento e duração do individuo? Creio que sim, principalmente em certos casos, como nas Coníferas de grande porte e piramydaes, especialmente na Welling- tonia, á qual com justa razão chamam a «Rainha dos bosques». É certo que alguma cousa se sabe em anatomia vegetal, mas em physiologia ve- getal muito pouco. Mr. Payer diz : «Tera- se procurado conhecer o jogo dos órgãos, 6 por conseguinte têem-se occupado d'este ramo da sciencia; mas os problemas são tão complicados, exigem tantos conheci- mentos em physica e chimica, que se pode dizer que a physiologia vegetal é a parte da botânica que menos se conhece, apezar dos magníficos trabalhos de Saussure e Hales.» E na verdade, o espigão está para o tronco, como as raizes lateraes estão para os ramos. A planta nasce, e simultanea- mente se alongam os dous eixos, um para o ar, outro para o centro da terra, e á proporção que os botões lenhosos se des- envolvem lateralmente, do mesmo modo se desenvolvem as raizes lateraes. Se o solo é profundo, a arvore apresenta ura espigão comprido, mediocremente guarne- cido de raizes lateraes, e o tronco, n'este caso, é direito, elevado e pouco ramoso. As arvores das extremas e das ruas dos bosques não desenvolvem suas raizes e ramos senão da pj|,rte do ar e da luz. Isto prova a relação intima, que ha entre o tronco, os ramos e as raizes lateraes e perpendiculares. Mr. Payer diz nos seus «Elementos de botânica»: «A parte algu- mas excepções, temos visto que existe uma relação intima entre o tronco e o espigão da raiz, e em geral que um é em propor- ção do outro.» O crescimento e desenvol- vimento dos ramos e das raizes tem tam- bém muitas relações. Se cortarmos em uma arvore um ramo considerável, as rai- zes que lhes correspondem soffrem sem- pre, e algumas vezes morrem. Se aparar- mos as arvores para as alinhar, as raizes não se estendem mais e tomara insensi- velmente a forma que a thesoura deu á arvore; se cortarmos a extremidade supe- rior do tronco, os ramos lateraes tomam mais vigor, como as raizes lateraes, quan- do se corta a ponta do espigão. Recipro- camente, se as raizes de uma arvore en- contram de um lado terreno estéril, os ra- mos d'este lado desenvolvem-se pouco, e mostram menos vigor. Segue-se de aqui, que se plantarmos arvores cora raizes qua- si inteiras, devemos apenas espontar os ramos ; e ao contrario, se lhes cortarmos muitas raizes, devemos cortar os ramos em proporção. Segue-se também que, se cortarmos muito os ramos a uma arvore, ou impedirmos o seu crescimento, impedi- remos com isto a formação de raizes. Dos principies estabelecidos, que são auctorisados pela pratica e repetidas ob- servações, se deixa ver que, se em geral o espigão é necessário para o desenvolvi- mento em altura era todas as arvores, com duplicada razão elle se torna indispensá- vel para as pyramidaes e Coníferas; e por isso é que estas arvores soffrem tanto com as transplantações, e se usa de prefe- rencia a sementeira no local em que têem de viver. Ora se um Pinheiro ou Cypreste, que se podem chamar anões comparados com a Wellingtonia, demandara tantas precauções na plantação em relação ás suas raizes, principalmente á perpendicu- lar, quanto maior importância não deverá ter o espigão com relação á Wellingtonia? Portanto, alem das causas apontadas nos dous artigos do «Jornal de Horticul- tura Pratica» (vol. ii, pag. 34 e 48), por meu cunhado, o snr. N. P. de Mendon- ça Falcão, tão judiciosamente pondera- das, julgo que a carência do espigão na 74 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Wellingtonia, é uma das principaes por que esta bella arvore nào tem prosperado no nosso paiz. Eu já fui victima da má escolha de terreno, pouco cuidado na plantação, quero dizer, cova pouco profunda e larga, e má condição em que me veio uma de aquellas plantas, a qual conscrvando-se rachitica, ao fim de três annos morreu, como morrerão todas as que soffram eguaes tractos ; e quando, por um phenomeno to- do excepcional, alguma escape em terre- no adequado, não tendo espigão, estou convencido que nunca attingirá as pro- porções colossacs próprias de aquella espé- cie normalmente desenvolvida. Villa Nova de Ourem. Marianno de Lemos Azevedo. CHRONICA A Companhia Real dos caminhos de ferro portuguezes poz em vigor, desde o dia 10 de março, uma tarifa especial (n." 2) para o transporte de varias mer- cadorias, entre ellas, plantas vivas, fru- etas verdes, hortaliças, legumes verdes e ramos de flores naturaes, sendo os preços 08 seguintes: Até 100 kilometros a 54 reis por to- nelada e kilometro. Até 200 kilom. 48 reis por ton. e ki- lom. Alem de 200 kilom. 42 reis por ton. 6 kilom. Accrescem mais 400 reis por carga e descarga. Esta tarifa, pela qual foram substi- tuídas e annuUadas as tarifas especiaes n.°® 3, 3 bis e 16, é applicavel entre to- das as estações, mas só ás remessas cujo peso não seja inferior a 50 kilos ou que paguem como se os tivessem. Estes comboyos são de grande velo- cidade e portanto facilitara muito a re- messa das plantas de uns pontos para ou- tros. — Com summo prazer soubemos que o nosso coilaborador, o snr. Edmond Goeze, tinha sido agraciado com a com- menda de S. Thiago por S. M. El-rei D. Luiz, em virtude dos valiosos serviços que aquelle cavalheiro tem prestado ao Jardim Botânico de Coimbra, augmentan- do quotidianamente pelo seu zelo as col- lecçòes n'elle cultivadas. As relações que o snr. Ed. Goeze tem entabolado, graças ás suas delicadas ma- neiras e vastos conhecimentos, têem con- corrido para o estado florescente em que vemos o Jardim Botânico, que aquelle se- nhor administra de um modo pelo qual se torna digno do maior louvor. — Chegou também á praça de D. Pe- dro a derrota. Todo o arvoredo da cida- de tem sido mais ou menos sacrificado. Algumas de aquellas bellas arvores que existiam na praça de D. Pedro, e que serviam de oásis aos passeantes na estação calmosa, entre ellas, se a memoria nos não falha, a Magnólia, a Melia, a Rohi- nia, o Cereis, foram substituídas pela Acá- cia dealhata, que tantas vezes temos re- commendado aos nossos leitores, mas em dadas circumstnncias. Com relação á praça de D. Pedro, se a substituição foi feita com o intuito de criar arvores de pequeno porte n'aquclle local, não podemos deixar de condcmnar altamente o jardineiro que tão má selecção fez, porque a Acácia deal- bata é arvore bastante frondosa, e attin- girá, em pouco tempo, a mesma altura que as suas antecessoras. Um cavalheiro, que se à\z arhoriphyllo , publicou n'am jornal do Porto um com- municado debaixo da epigraphe a A ar- borisação da cidade.» No que diz relativamente á desastra- da poda que se tem feito no arvoredo da cidade, não diverge da nossa opinião ; porem no que não podemos concordar, embora sejamos «caturras», é no modo por que se faz a substituição d'e3sas cha- madas arvores colossq^s, quando se não attende « á boa escolha das que pela for- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 75 raa, folhagem e grandeza sejam apropria- das ao acanhado dos logares em que têem de vegetar». Ter em vista fazer desapparecer as grandes arvores e fazel-as substituir por outras que passado alguns annos terão tomado o mesmo desenvolvimento , não nos parece muito racional, e n'este caso está a medida que acaba de ser tomada com respeito á praça de D. Pedro. Pelo aspecto de uma cidade avaliam os que a não conhecem da illustraçaodos seus habitantes ; ora se os que não sabem das cousas do Porto, julgassem de nós por tão flagrantes absurdos que por ahi se vêem, que tristissimo conceito fariam de nós ! Pois que o mal já não tem remédio quanto ao que está feito, dê- se remédio, por misericórdia o pedimos, ao mais e muito mais que está por fazer. É fácil ganhar a palma de destruidor ; esse trium- pho, bem triste triumpho, está ao alcance da mais acanhada intelligencia. O que é difficil, mas também o que pode enobre- cer um individuo, como uma corporação, ó edificar j quer dizer, basear os actos que se praticam na utilidade do maior nu- mero e nos principies racionaes que re- gulam o mundo, mau grado as aberrações que n'elles se assignalem. — A propósito da rusticidade de al- gumas Palmeiras vamos transcrever uma carta de Mr. Nabonnaud, dirigida a Mr. Ed. André, redactor de «L'Illustration Horticole». Eil-a : Possuo uma collecção de Palmeiras rústicas que resistiram perfeitamente aos rigores do inver- no passado; entre outras a Phounix redinala, a qual supportou em pleno ar e em vaso uma tempe- peratura de 6° abaixo de zero (sem duvida centi- grados. RED). As seguintes, apezar de também es- tarem ao ar livre e em vasos, nada soffreram : Brahea dulcis, Chamcerops excelsa, C. arbórea, C. Fortunei, C. Ghiesbreghtii, C. humilis. C. Palmet- to, C. macrocarpa, C. tomentosa, Corj/pha austra- lis, C. Gebanga. C. spinosa. Cocos aiistralis, C. campestris, C. chilensis (Molinia), C. flextiosa, C. coronata, C. lapida, C. peruviana, C. Romanzof- fiana, Diplotheniium maritimum, Jtibcea spectabilis, Phoenix dactylifera, P. farinifera, P. reclinata, P. sylvestris, P. tenuis, P. canariensis , Rhapis flabel- hformis, Sabal Adansoni, S. Blackburnianiim, S. Palmetto, Thrinax parvi flora. As seguintes Cj/cadeas também nada soffreram com o frio : Zamia hórrida, Z. villosa, Cijcas revo- luta, C. Riuminiana, Dioon edule. Todas estas espécies supportaram perfeitamen- te o inverno rigoroso de 1869-70 e algumas outras espécies que soffreram, mostram hoje boa vegeta- ção. De V. etc. — Nabonnaud, As Palmeiras constituem uma grande familia e são o principal ornamento das regiões quentes do globo. Ainda não são decorridos muitos tem- pos desde que ellas eram raríssimas nos nossos jardins ; porem nos últimos annos parece que se tornaram uma verdadeira predilecção dos amadores. Efifectivamente nada mais grandioso, mais bello, mais ma- gestoso do que estes « Príncipes do reino vegetal», como lhes chamava Linneu. — O « Archivo Rural » diz-nos que a Estação experimental de agricultura, que se estabeleceu era Lisboa, na quinta da Bemposta, já terá que ver este anno. Ensaia-se a cultura de 15 plantas ar- venses com diversos adubos, principiando pelo estrume ordinário, até ao guano chi- mico de Ville. E de esperar que esta Estação expe- rimental venha a prestar bons serviços á agricultura. — Censuramos a profusão com que as camarás de alguns concelhos empregam a Acácia melanoxylon para adorno das ruas, estradas, jardins, etc. Para estes fins consideramos péssima a Acácia melanoxylon (chamada ainda por alguns vendedores de plantas Acácia gran- ais . . . ) porque, alem da sombra que pro- duz não ser fresca, as folhas, ou antes os phyllodes são de um verde escuro e produzem mau effeito. Por conseguinte aconselhamos a plantação da Acácia deal- hata em seu logar, ou a de aquella bella Proteacea de flores araarellas — a Grevil- lea robusta — que se vende actualmente por preço razoável. Esta ultima, com especialidade, deve- ria sempre encontrar um logar em todo o jardim publico ou particular. — Uma bella planta que ainda ba pou- co se vendia por preço elevado, parece que se vae tornar muito vulgar entre nós. Re- feri mos-nos ao Dasylirium longifoliuTú, o qual fructificou em Portugal pela pri- 76 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA meira vez este anno, na quinta do snr. visconde de ]\Ionserrate, em Cintra. Este cavalheiro possue alguns pós does- ta planta já bastante fortes e, se continua- rem a fructiíicar nos annos subsequentes, poderemos vir a exportar as suas semen- tes ou as plantas, que encontrarão boa venda na França, Bélgica ou Inglaterra. CoUocada sobre um pedestal não en- contra digno rival. As folhas são muito abundantes, e nos exemplares desenvolvi- dos medem de 1™,00 a 1^,50. O estabelecimento «Loureiro» já fez acquisição de ura bom numero de exempla- res, que esperamos venderá por preço mais razoável do que o indicado nos catálogos. — Do snr. Joaquim António da Silva Martins recebemos a seguinte carta, a que damos publicidade. Esta carta também foi estampada no «Archivo Rural p, ex- cellente órgão agrícola. Snr. redactor. Honra ao illustre inventor do Theionoxyphero, o snr. António Batalha Reis ! Com este seu appa- relho poderemos cumprir, se não no todo, ao me- nos na maior parle, as tantas rccommendaruesque nos fazem quasi todos os escriptores, sobre vinifi- cação e evitarmos, quanto seja possível, a commu- nicação do ar exterior com os vinhos c outros lí- quidos fermentáveis — cidras e cervejas; com espe- cialidade os snrs. visconde de Villa Maior e J. I. Ferreira Lapa. Diz o snr. Batalha Reis, no seu artigo sobre o Theionoxyphero : « Tendo que trasfegar um vi- nho, escolher-se-ha o apparelho de grandeza pro- porcionada á vasilha e uma torneira de despejo nas condições exigidas, w E' pena, em verdade, que o apparelho Theio- noxyphero do snr. Reis se não possa tornar uni- versal, ou que um só n.To possa servir em todas as vasilhas, pequenas ou grandes que sejam! Digo que é pena, porque a maior parte das adegas do nosso paiz são pequenas e contéem vasilhas de differentes grandezas, como são as d'este concelho da Certa; temos vasilhas de uma, duas, e assim progressiva- mente até dez e doze pipas, alem mesmo de alguns barris que regulam de 80 a 100 litros, que expor- tamos para o estrangeiro. Se o novo Sulphurador Reis, podesse, um só, trabalhar em todas estas va- silhas, não estaria mais ao alcance da acquisição pelos nossos pequenos vinicultores? Julgo seria um grande serviço a este pequeno e pobre paiz (pobre por culpa, em parte, de quem desde muito o tem administrado) a introducção do Theionoxyphero nas pequenas adegas dos nossos pobres vinhateiros; é fiara estes que se deve procurar a economia e faci- idade em quaesquer apparelhos, que tenham por fim «o auginento da riqueza do paiz». O auctor d'estas mal redigidas linhas reside n'este concelho da Ccrlã ha doze annos, depois de uma ausência de vinte c cinco, durante a qual viu alguma cousa, ainda que pouco, da America Meridional e da do Norte, e também da Europa ; tem já exportado al- guns vinhos d'este concelho para o Brazil, assim como mais alguns de seus visinhos e amigos, e po- de, porisso, assegurar que estes vinhos são muito próprios para aquelle mercado e que são alli muito bem recebidos. O que é, porem, de muita necessi- dade c que tanto eu como os meus visinhos, pe- quenos vinhateiros como somos, adquiramos as li- ções necessárias, a saber : fabricar bons vinhos ge- nuínos e alimentícios, sem a menor confeição. Mas quando haverei entre nós quem nos venha ensinar praticamente, como já se fez em outros paizes vi- nhateiros? Ha iá dous annos que faço uso do sulphurador Rosier, do emprego do crual tenho colhido bom re- resultado ; mas duvida alguma tenho hoje em sub- stituir este pelo novo apparelho do snr. Batalha Reis, caso este cavalheiro consiga que um só possa ser applicado a todas as vasilhas, unicamente com a differença de mais ou menos grainmas de flor de enxofre. Pede desculpa por tão grande aranzel. — Consta-nos que o snr. António Ba- talha Reis virá proximamente a esta ci- dade fazer uma prelecção sobre o seu Theionoxyphero. — Recebemos de Hespanha ura traba- lho extremamente, interessante que tem por titulo «Resumen de los trabajos verifica- dos durante los afíos de 1867 y 1868 por la Comision de la Flora forestal espa- iíola.)) Esta Commissão foi creada por ordem real, nos fins de 1866, com o intuito de verificar os estudos preparatórios e de co- lher os dados precisos para a redacção de uma «Flora florestal hespanhola». Agradecemos o exemplar que nos foi offerecido. — As obras do Jardim Botânico do Porto estão bastante adiantadas. O jardim é muito pequeno, com tudo contem suíficiente numero de plantas para estudo. Actualmente tracta-se de lançar os ali- cerces para uma estufa, que será de ta- manho proporcionado ao jardim. A boa vontade faz muito , porem é preciso poder-se dispor de alguns meios para as cousas caminharem como devera. — Recebemos e agradecemos o «Index Seminarii Ilorti Botanici Academici Co- nirabricensis 1871». E o quarto anno da sua publicação e vem muito augmentado. Contém aproximadamente 1800 espécies. Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 77 ESTUDOS AMPELOGRAPHIGOS O Folhas — Estes órgãos prestam-nos ca- racteres muito interessantes para a difife- renciação das castas, mas é necessário ob- serval-os com discernimento, poi'que n'um mesmo individuo se descobrem ás vezes folhas que á primeira vista parecem diffe- rir consideravelmente entre si. Assim as folhas inferiores frequentemente diíferem das folhas superiores ; mas é sempre nas primeiras que os caracteres se devem re- putar mais decisivos. Na descripção das folhas devemos prin- cipalmente attender aos seguintes pontos : grandeza, egualdade, forma ou figura do limbo, comprehendendo as suas chanfra- duras, seios ou aberturas lateraes e da base; margens, faces ou paginas superior e inferior, nervuras, cor, peciolo, e final- mente a sua duração. Em quanto á grandeza, devemos no- tar que em algumas castas as folhas são muito maiores do que em outras, e por- isso na descripção mencionaremos se as folhas são muito grandes, grandes, media- nas, pequenas ou muito pequenas. Em quanto á egualdade, deve adver- tir-se que a planta pode apresentar uma certa egualdade entre todas as suas fo- lhas, ou uma sensivel desegualdade entre as folhas superiores e as inferiores : assim diremos — folhas eguaes, quasi eguaes, deseguaes. Em quanto á figura do limbo notam- se differenças importantes nas diversas castas ; ainda que nem todas se podem definir perfeitamente. Em geral as folhas da Videira são orhicidares^ isto é, têem os pontos que formam o seu contorno equi- distantes ao centro da folha ; porem algu- mas castas apresentam folhas irregulares. D. Simon, em relação a este característi- co, diz que basta dividil-as em folhas quasi orhicidares e folhas irregidares . A pri- meira denominação pode substituir-se pela de folhas regidnres, que indica com mais exactidão a symetria dos contornos de um e outro lado da nervura central, que vae do peciolo ao ápice da folha. Em geral as folhas da Videira são (1) Vide .1. H. P., vol. ll.pag. 61. 1871 — Vol. II. divididas em lobidos por meio de chanfra- duras, ou cortes lateraes, mais ou menos profundos, que se chamam seios. Raras vezes se encontram folhas que não apre- sentem esta divisão em lóbulos, mais ou menos pronunciados : essas chamam-se in- teiras. Quando os seios, que separam os lóbulos, são pouco pronunciados ou apenas indicados, a folha dir-se-ha — quasidoba-' da, ou quasi-inteira. As folhas lobadas podem ter três ou cinco lóbulos. As primeiras são aquellas nas quaes duas chanfraduras ou seios la- teraes dividem a folha em três partes : chamam-se trilobadas. As segundas, divi- didas por quatro seios lateraes em cinco partes, dizem-se quinque-lobadas. Se os lóbulos são ainda divididos por seios ou cortes secundários, a folha cha- ma-se laciniada, ou quasi-laciniada, se- gundo estas divisões secundarias se esten- dera a todos os lóbulos ou unicamente a parte d'elles e são mais ou menos pronun- ciadas. Os lóbulos podem também designar-se em relação á sua posição na folha. Os dous lateraes, junto ao peciolo, separados pelo seio peciolar, chamam-se lobidos in- feriores. Os dous immediatos, um de cada lado, chamam-se lóbulos médios, e o que forma a extremidade da folha é o lóbulo superior. Em quanto á forma, os lóbulos podem ser cordiformes, quando são estreitos na base e muito largos no meio ; ovaes, quan- do se aproximam da forma oval ; lanceo- lados, quando são mais compridos do que largos ; e finalmente podem ter a forma de lozango. Convém também designar se os lóbu- los são muito ou pouco obtusos ou pontea- gudos. A figura, disposição e extensão dos seios devem sempre ser indicadas^ ain- da que estas variam ás vezes conside- ravelmente nas folhas da mesma casta entre as superiores e as inferiores. Ha seios muito, pouco, ou medianamente pro- fundos j seios agudos, terminando para o interior da folha em angulo agudo ; seios cordiformes, figurando um coração ; seios N.» 5 — Maio, 78 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA arredondados, terminando cm curva cir- cular; finalmente seios muito ou pouco abertos, ou fechados na sua entrada. jMuitas vezes a disposição do seio é tal que as extremidades dos lóbulos con- tíguos se sobrepõem, e entào esta circum- stancia deve mencionar-se. O seio da base varia pelo angulo que formam os seus lados, pela sua abertura e expansão, e pela sobreposição das extre- midades dos lóbulos contíguos. Tudo isto deve indicar-se. As margens das folhas são sempre re- cortadas em dentes de serra mais ou me- nos agudos e pronunciados nas diversas castas. Em muitas folhas se distinguem duas series de recortes, alternando os re- cortes maiores com os mais pequenos. Deve portanto mencionar-se se a folha tem uma ou duas series de recortes, e se os re- cortes são pequenos, grandes, agudos ou obtusos. O aspecto das superfícies, faces, ou pa- ginas, superior e inferior da folha, forne- cem-nos caracteres preciosos para a diífe- renciação das castas. A pagina superior é raras vezes em- polada; muitas vezes é rugosa, quasi sem- pre lisa ou glahra ; algumas vezes lus- trosa, e raras vezes um pouco felpuda. Por ser mais exposta á acção directa da luz, a sua cor verde é mais intensa do que a da pagina posterior ou inferior. Umas vezes esta cor é verde-intenso, outras ver- de-amarellado ; cm outras a pagina supe- rior é manchada de amarello, ou apre- senta sobre um fundo araarellado as man- chas verdes. Em algumas castas, quando começa a maturação das uvas, as folhas mancham- se de amarellosujo ou de roxo mais ou menos intenso, e tomam outras uma cor avermelhada ou roxa. Varia muito a intensidade da cor verde das difFerentes castas, e por isso convém expressar este facto o mais claramente que seja possível, ainda que seja necessário recorrer a com- parações com as cores de objectos conhe- cidos. A pagina inferior ou posterior apre- senta sempre um aspecto differente de aquelle que se observa na pagina supe- rior. E' quasi sempre revestida de pellos mais ou menos curtos ; mas, quando estes são pouco visíveis, diz-se quasi-nua ou quasi-glahra. Quando os pellos são curtos e raros, diz-se pouco-pelluda ; quando são espessos e grandes, diremos que é pellu- da ou muito pelluda ; quando são os pellos enfeltrados e molles, felpuda; quando fo- rem curtos, brancos e doces ao tacto com o aspecto de algodão, cotonnosa ou tomen- tosa : se a felpa se destaca facilmente pelo atrito, diz-se puuco-persistente, e se resiste completamente, diremos que é adherente. A cor da felpa também se deve men- cionar, e esta pode ser alva, muito alva, amarellada, etc. Na descripção das folhas será muitas vezes conveniente fazer menção das ner- vuras, descrevendo a grossura, proemi- nência e cor que apresentam. Na descripção do peciolo deve men- cionar-se o seu comprimento em relação á folha ; o angulo que forma com esta, a sua grossura, a sua cor, e ainda dizer se ó liso, lustroso ou pelludo. Em ultimo logar mencionaremos como útil indicação a da epocha em que as fo- lhas começam a apparcccr, e a da sua queda total, bem como a das successivas alterações de cor que apresentam com a edadc. Coimbra. Visconde de Villa Maior. (Continua). COBiEA SGANDENS e^F. A Cobaia scandens é uma magnifica trepadeira, que cresce espontaneamente no México, onde foi descoberta por Ca- vannillcs, que a dedicou ao jesuita André Cobo, hábil naturalista, que explorou du- rante muito tempo as florestas e praias da America. Esta planta toma em muito pouco tem- po um grande desenvolvimento ; nós co- nhecemos um exemplar na quinta de um nosso amigo, que se eleva, apoiado a uma Magnólia, á altura de 10 a 12 metros, ca- hindo depois em graciosos cordões de ver- dura guarnecidos de elegantes flores cam- panuladas, muito grandes, verde-pallidas ao principio, c depois, de linda cor violeta. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 79 As flores são sustentadas por gracio- sos e compridos peciolos, e as suas folhas, de bella cor verde, são compostas de fo- liolos terminados por gavinhas, com que a planta se apega aos objectos por onde tre- pa. Serve nos jardins, como todas as ou- tras plantas trepadeiras, para cobrir casas de fresco e guarnecer muros ou ripados ; comtudo o modo como ella produz um ef- feito surprehendente é encostada a uma arvore abandonada a si mesma. Produz um grande fructo, no qual es- tão collocadas, como as telhas de um te- lhado, uma immensidade de sementes cha- tas, pelas quaes se reproduz com muita facilidade; sendo até útil, por causa do seu espantoso crescimento, tractal-a como planta annual (ainda que o não seja), se- meando-a em janeiro ou fevereiro e plan- tando-a no seu logar em maio. Gosta de terra gorda e de ser bem regada durante o verão. A. J. de Oliveira e Silva. AQUÁRIOS E FETEIRAS DE SALA O Pondo de parte o aquário em ponto grande, por alguns instantes, seja-me per- mittido dizer alguma cousa sobre aquários e feteiras para sala. Principiando pelos aquários, dividil-os- hei em aquários marines e de agua doce. Os primeiros são sem duvida os mais interessantes ; tanto uns como outros são de diversos feitios, porem os quadrilongos são os mais próprios, pois ficam bem nos vãos das janellas, onde recebem a luz que é tão necessária para o desenvolvimento orgânico. Devem ser feitos todos de vidro era volta, com uma tampa da mesma ma- téria, mas que não fique hermeticamente fechada, deixando umas aberturas em roda para o ar ter livre sahida e entrada ; ou, em vez de uma tampa de vidro, uma ban- deja de Fetos, o que é muito mais bonito. No fundo devem-se coUocar algumas pe- Fig. 31 — Aquário para janella. dras que tenham algumas Algas bonitas, e para não mexerem assentam-se em ci- mento. A collocação das pedras depende do gosto, podendo-se imitar grutas, ca- vernas, etc. Enche-se de agua salgada e no fim de uma semana deita-se fora esta agua e põe-se outra que não é preciso mu- Vide J. H. P.,vol. II, pag. 11. dar durante um anno, pois que ella fica boa por muito tempo. O pequeno mundo que temos encerra- do em vidro progride nas suas funcções como o grande universo que pisamos, tor- nando-se um ensino claro e manifesto da grande chimica da natureza, em que as matérias desenvolvidas pelos vegetaes são recebidas e transformadas pelos animaes 80 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA que vamos introduzir, e vice-vcrsa ; que é de facto o que acontece no p^rande la- boratório da natureza, recebendo c trans- formando, ou como melhor se diria, uie- tamorphoseando as substancias próprias a um e outro reino. Quem se sentar defronte de um aquário d'estes e olhar com atten- ção, venl as Algas e outras plantas lar- garem glóbulos de ar, ou para melhor di- zer, de oxigénio, e observará como os animaes natatorios procuram esses respi- radouros para receberem este elemento e largam para a agua o acido carbónico que as plantas logo recebem, mantendo por- tanto um justo equilíbrio em todas as suas partes este pequeno conjuncto de reagen- tes naturaes. Assim fica explicada a razão da agua não precisar ser mudada por longo tempo. Alem de lindas Algas e outras plantas maritimas, que as costas de Portugal for- necem para estes bellos recreios, temos n'essas costas lindos exemplares de ani- maes marinhos, como diversas variedades Fig. 32 — Feteira para sala. de actinaccas, cujos corpos c tentaculos apresentam grande variedade de cores, tendo eu achado nas costas d'este reino um sem numero de variedades, como branco com azul celeste, branco e rosa, cor de chocolate, etc; interessantíssimos polypos oucoraes,que quando julgam nin- guém os ver apresentam a a})parcncia de um arbusto cm flor, tendo um sem nu- mero de tubos revestidos das cclhas d'es- tes zoophytos. Alem d'este8 um sem nu- mero de bichinhos e peixinhos altamente interessantes. N'estes aquários deve-se sempre in- troduzir um burrié a lim de terem os vi- dros limpos, pois estão constantemente lambendo os musgos que se lhes apegam. Os aquários de agua doce não são para meu gosto tão interessantes ; comtu- do não deixam de ser também muito bo- nitos. N'estes, em vez de agua salgada, usa-se de agua doce, que se deve mudar JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 81 mais a miúdo. Para estes ha algumas plantas de mérito, e como algumas são natatorias e ha a facilidade de mudar a agua, não devem ter tampa ou então de- vem ser mais elevados. Para as plantas natatorias temos a muito bonita Pistia Stratiotes com sua bella folhagem, a Hot- tonia, que é a Violeta de agua e algu- mas outras. Para plantas no fimdo temos a extraordinária Vallisneria spiralis, cujas flores masculinas, quando estão maduras, largam o pedúnculo e tornam-se natato- rias á procura das flores femininas, cujos pedúnculos espiraes as elevam ao nivel da agua. Temos a linda Ouvir anda feixes- tralis, cujas folhas têem somente as ner- vuras e por isso mereceu o nome de fe- nestralis, ou de j ancilas. N'estes aquários, tanto os de agua salgada, como os de agua doce, podem-se criar peixes, depositando as ovas, que no mez de maio se acham pegadas ás pedras nas costas do mar e nos rios ; em breve tempo nascem em uma abundância extra- ordinária. Isto tenho feito muitas vezes e é bonito recreio. Elles depois servem para alimento de muitos dos molluscos, etc. As feteiras são caixas de vidro de di- versos feitios, onde se plantam Fetos mais Fig. 33 — Feteira para sala. diminutos, e sSo de grande ornamento para salas, onde a pouca luz não os pre- judica, por isso que geralmente são de si- ties sombrios e húmidos, o que elles têem n'estas « Wardian cases » que, sendo fe- chadas de todo, mantêem a humidade at- mospherica que lhes é tão necessária. Po- dem-se adoptar n'uma janella, como mos- tra a fig. 31, ou podem ser situadas sobre pés de gallo, tomando-se assim objectos de muito ornamento. (Fig. 32 e 33.) Alem dos d'estes feitios, ha-os de mui- tos outros, que se podem obter por preços muito módicos, dos snrs. Dick Radclyfí'e & C.° de Londres (129,High Holborn, VV. C), bem como os aquários. Tanto uns como outros são ornamentos domésticos que^ alem de embellezarem, são de um recreio 82 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA instructivo muito adequado para desenvol- ver as ideias dos jovens e acostumal-os a observar a natureza nas suas dilierentes faces, tirando d'estas observações grande proveito mental, adquirindo o costume de se perguntarem a si mesmos, quando vêem uma cousa: porque é isto assim? qual foi a causa? e naturalmente o desejo de in- vestigação, tão proveitoso ao bem estar do homem, pois sem este desejo nunca as sciencias teriam chegado ao que hoje são. Lisboa. D. J. Nautet Monteiro. A PLANTAÇÃO Ao entrarmos no assumpto da planta- ção symetrica das arvores, egualmente ap- plicavel á plantação sjstematica das vi- nhas, ou de outras plantas, julgamos do nosso dever citar o útil e interes.sante «Almanach do Horticultor para 1871», do snr. José Duarte de Oliveira Júnior, por se conterem n'elle utilissimos artigos, taes como : « Multiplicação dos Eucalyptus » (pag. 46); « A que profundidade se devem plantar as arvores?» (pag. Go); e final- mente « Plantação dos Kucalyptus » (pag. 94). N 'esses três artigos dá o auctor con- cisos, mas preciosos esclarecimentos, e mui úteis instrucçòes. Peço vénia para extractar do artigo fl A que profundidade se devem plantar as arvores ? » o seguinte : «O termo médio, que se deve adoptar é de O'", 04 a U"',UG acima do nó vital; e sendo o terreno muito secco,U™,OGaO'",08; mas nunca mais do que isto. Porem se, ao contrario, a terra for muito húmida^ é preciso que as raizes íiquem acima do ni- vel da terra, e que se faça ao redor das raizes um pequeno monticulo de terra para as cobrir.» A « Casa Rústica do xix século » con- corda com as indicações dadas pelo snr. Oliveira Júnior no que acima transcrevo e accrescenta que o supradito monticulo põe as raizes íora do alcance da acção no- civa da camada subterrânea de agua es- tagnada, ou humidade demasiada, onde as raizes não chegam senão um anno mais tarde, quando tenham crescido, ou quando a terra tiver abatido. A esse tempo já a planta resiste muito melhor a esses incon- venientes. Isto de plantar as arvores de modo que as raizes íiquem aciuía do nivel do terreno, no caso de ser este húmido, só não será possível fazer-se quando as ar- vores que tivermos de plantar forem já altas e muito desenvolvidas ; porem tendo as que costuma haver á venda, de um a dous metros de altura, e pouco peso, é possível este expediente quando for ne- cessário. O intelligente auctor do « Almanach do Horticultor » refere-se mais especial- mente aos Eucalr/ptus ; porem aquellas re- gras são applioaveis a quaesquer arvores. Do mesmo modo que qualquer semen- te, profundamente enterrada, não pode germinar, também a arvore, plantada a excessiva profundidade, perde-se, morre, ou pelo menos, vive languida. O que eu mandei fazer para os meus Eucalyptus foi para cada arvore uma cova circular de um metro de diâmetro, pelo menos, e de 0™,GU a 0™,80 de profundi- dade. !N'esta cova fiz lançar boa terra ; não da que se tirou das covas, mas sim boa terra da superfície, já melhorada pelo calor e luz do sol, e pelos agentes atmos- phericos ; sendo a cova cheia de boa terra para as raizes se desenvolverem com fa- cilidade. Digo isto para que não haja alguém que pense que a boa pratica de plantar a pouca profundidade nos dispensa de re- volver profundamente o solo em que se planta a arvore. Eu tracei com exactidão sobre o ter- reno as disposições que primeiro desenhei em papel: esta operação foi a primeira. A segunda operação que fiz foi riscar os circulos, fazendo centro em a canna, ou estaca de signal, ou baliza que tinha posto no logar de cada arvore. Depois, coUocando uma regoa comprida, descre- veram-se na terra traços, em duas direc- ções, que se cruzassem precisamente no ponto onde a arvore ha de estar. Estes riscos em cruz servem para reconhecer novamente, depois de aberta a cova, o lo- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 83 gar do pé da arvore. E como esses riscos seriam destruídos se se deitasse sobre elles a terra tirada da cova, ordenei que se ar- rumasse toda a terra em quatro monticu- los, só nos intervallos que deixam entre si esses traços. A terceira operação foi encher de todo as covas com terra diíFerente, mas boa. Estando razas de terra as covas, es- tendemos sobre todas as da primeira fila, ou renque, Uina corda delgada, que se en- direitou e se puxou para ficar em linha recta. Como tinha havido cuidado de que os traços feitos á regoa fossem na mesma direcção em que tinha de passar esta cor- da, não achou ella o menor obstáculo em ficar direita e bem assente. Depois verifiquei a medição u'esta pri- meira linha, indo logo plantando as ar- vores com exactidão onde dava a medi- ção. Para isto o plantador fazia uma covi- nha na boa terra, com um sacho, podendo até fazel-a com a mão, sufíiciente a entrar o pequeno torrão que vem com as raizes. No mesmo acto se iam pondo tutores para suster a arvore. A quarta operação foi verificar e mar- car de novo o sitio de cada arvore da se- gunda fileira em relação ás da primeira, e ás da mesma fila. E se continuaram a marcar com pedaços de cannas todas as seguintes fileiras, e só depois de abalisar toda a restante plantação, se começou nas restantes filas a enterrar as arvores, como tinhamos feito ás da primeira fila. As rai- zes ficaram quasi tanto acima, como esta- vam quando plantadas nos pequenos va- sos onde costumam criar-se ; pois apenas a terra de que estava cheia a cova cobria tenuemente o torrão e a raiz. A propor- ção que passávamos a plantar em outra fila, iam outros regando a fileira acabada de plantar, e faziam em cada arvore uma a caldeira » de terra, para suster a agua que se deitasse. Estas regras, e bem assim as que ex- tractei do livro citado, são conhecidas das pessoas que pela theoria ou pela pratica se tornaram bons plantadores ; porem não me foi possível deixar de meneional-as, por saber que podem ser úteis a quem precisar d'e8te8 conselhos. Vou agora encetar o assumpto das van- tagens e desvantagens de varias disposi- ções symetricas das plantações. Antes, porem, de entrar n'esta espe- cialidade, tenho a dizer que muito me agradou um folheto composto pelo reda- ctor do «Jornal dè Horticultura Pratica», e a que deu o modesto titulo de «Bre- ve noticia sobre o Eucalyptus globulus e a utilidade da sua cultura em Portugal», quando diz o mais que poderia dizer- se sobre o Eucalyptus globulus^ principal as- sumpto do livro. Gostei a tal ponto de que alguém, e muito competente, escre- vesse aquella noticia sobre o Eucalyptus, que, depois de a ter lido, comprei alguns exemplares para ofí'erecer a alguns meus amigos,^ que eu visse terem ainda poucas informações de tão útil arvore. O snr. Oliveira Júnior, depois de ter emittido ideias joropriamente suas na maior parte do livro, termina este, compilando de vários escriptores o melhor que se tem dito com referencia a esta preciosa Myr- tacea. Foi um valioso serviço que este senhor fez ao nosso reino, o de influir no animo dos lavradores para que estes se resolvam a criar mattas d'esta preciosa e gigantesca arvore, vantajosa pela celeri- dade de seu crescimento, que permitte que o mesmo dono que a fez plantar chegue a tel-a assaz desenvolvida, para sua ma- deira já ser útil para madeiramentos de telhados, e até mesmo já para traves ; pela óptima qualidade de sua madeira, rija, lisa, e pouco sujeita a rachar, o que é de grande vantagem ; pela sua rusticidade e facilidade em se aclimar no nosso paiz, pois se dá bem e sem exigir muito bom terreno. O auctor do folheto disse-me em uma carta, que o não publicou por interesse próprio, mas sim para utilidade geral ; e portanto declaro que não têem nenhum es- pirito de « reclame » as palavras que deixo escriptas elogiando uma obra que é digna de louvor. E dizendo sinceramente o que penso, entendo que todos os proprietários ruraes deveriam emprehender a cultura do Eucalyptus, e para a fazerem com perfei- ção, e se excitarem a emprehendel-a, de- veriam todos obter o dito folheto. No fira da sua « Breve noticia » o snr. Oliveira Júnior tracta também da planta- 84 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA ção symetrica da sua predilecta Myrtacea. Concordamos com quasi todas as ideias d'este cavalheiro sobre esse assumpto, e BÓ era uma insigniíicante parte discrepa- mos um pouco. D'isto pedimos desculpa ao seu auctor, certo de que nol-a conce- derá, visto que lhe pedimos previamente, e alcançamos d'e!le a precisa auctorisaçào para nos referirmos ao que diz no dito seu livro, e até mesmo ao que nos tem dito em suas cartas particulares. Diz no seu opúsculo sobre o Eucaly- ptiis, a pag. 27 e 28, que, entre diversos systemas de plantação se distinguem as plantações feitas: «1.° em quadrado, 2.° em triângulos equilateraes, e 3." em quin- cunce.» Em seguida está a estampa que re- presenta o quincunce. ******** ******* Fig. 34 — Plantação em quincunce. Diz mais o folheto : « Dos três metho- dos que enumeramos, o primeiro é o peor, porque impede o desenvolvimento regular da cabeça da arvore, o que não succede sendo a plantação feita em triangulo equi- lateral, ou em quinqunce (íig. 34), as quaes oflferecem aproximadamente a mes- ma vantagem. Deixamos á escolha do arboricultor qualquer dos dous systemas.» Até aqui diz o folheto ; porem nós pe- dimos vénia para aqui expormos humil- demente o nosso parecer. Concordo plenamente com o auctor em que a plantação era quadrado é a peor de todas as plantações syinetricas ou syste- maticas. ]\la3 duvido de que os outros dous systemas que o snr. Oliveira Júnior enu- mera apresentem aproximadamente as mesmas vantagens. O quincunce (fig. 34) é usado, muito geralmente, por todo o nosso reino ; e ve- mos que é usado no estrangeiro, dando attençào ao que sobre elle se acha gravado e descripto na aMaison Kustique du xix Biècle» (no tom. iv, pag. 73 e 74, e gra- vuras 93, 94 e 98), onde a dita obra dá bem a conhecer que seu auctor entende por quincunce uraa disposição egual á que vem estampada no folheto «Breve noticia sobre o Eucalyptus globulus» a pag. 27. Concordo nas premissas que se de- prehendem da definição que devo á bon- dade e condescendência do snr. Oliveira Júnior, redactor d'este jornal, e que vou aqui citar : « Quincunce (do latim quinque, cinco, e uncia, onça) quer dizer uma dis- posição de cinco- objectos em um quadrado, e este quadrado, reproduzido muitas ve- zes, forma linhas de objectos alternadas. A plantação era quincunce consiste justa- mente no desencontro das plantas, e em nada mais.» Observei com um compasso, e um es- quadro de latão, a estampa do quincunce (fig. A do folheto), e achei equidistantes e exactos os intervallos, e em angulo re- cto, ou em esquadria perfeita cada quatro pontos no meio dos quaes está o quinto, que deu o nome ao quincunce. Só vejo n'esta disposição a vantagem de ser mui reconhecida desde mui remota data, o que faz ser fácil o seu traçado, porque qual- quer hortelão sabe desempenhar esse tra- balho. Já no século passado, Mr. l'Abbé Ro- zier conhecia o quincunce como cousa an- tiga, muito usada nos arredores dos cas- tellos feudaes e senhoriaes. Quanto á etymologia da palavra quin- cunce parecia-me boa quanto á primeira componente quinque, porem má quanto á segunda, uncia, ou onça. Satisfazia-me pouco a sabida etymo- logia quanto á segunda parte ; foi esse o motivo principal de me resolver a consul- tar pessoa tão competente, como é o snr. Oliveira Júnior. Outro motivo era ser possível por in- tervenção d'este senhor saber outra di- versa origem d'este vocábulo ; pois é fre- quente entre os lexicographos dar cada ura difterente origem, ou variadas radi- caes, aos mesmos vocábulos, e tenho pena de que não apparecesse outra derivação mais satisfactoria. Disse-rae o snr. Oliveira Júnior que « a etymologia da palavra quincunce não ó rauito boa; porem, de facto, quantas pa- lavras não têem peor etymologia?! A si- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 85 gnificação da palavra quincunce. em ar- boricultura ou silvicultura, é aquella que dei na minha carta anterior, e á qual o snr. Marques Ferreira poderá referir-se.» Agora retomarei o fio da ideia princi- pal. Sou de parecer que o quincunce, sen- do tal como atraz íica descripto, é uma disposição agradável? á vista e bonita, con- siderada como figura de desenho. N'elle todos os ângulos são eguaes, porque são todos ângulos rectos ou de 90°; pois as ruas cruzam-se perpendicularmente. Porem para o desenvolvimento regu- lar da copa ou cabeça da arvore, essa dis- posição, de bella apparencia, é muito de- feituosa; tão defeituosa como a disposição em quadrado, com a qual vou acompa- nhal-a. Consideremos a mesma figura 34. Sup- ponha-se prolongada ou continuada essa figura, ou esse quincunce, para todos os quatro lados, a ponto de encher toda uma pagina. Tracemos sobre uma folha de pa- pel um quadrado, cuja diagonal seja egual á menor largura da pagina ou do desenho do quincunce, e recorte-se com tesoura pelo traço, abrindo todo esse quadrado n'um só buraco da dimensão que expli- quei. Colloque-se este papel, com o dito qua- drado de menos, cobrindo o desenho do quincunce, mas de modo que se veja pelo buraco uma porção quadrada do quin- cunce. Se o collocarmos de maneira que os lados do buraco quadrado, aberto no papel, estejam parallelos ás margens da pagina do livro, a parte que ficar vendo- se, da figura do quincunce, conserva ain- da a mesma apparencia, que é: quatro arvores com uma no meio. Porem se nós mudarmos, com a diffe- rença de um angulo de 45°, a posição do papel que tem o buraco quadrado, então se verá que os lados d'esse buraco vão coincidir cora as ruas direitas e mais lar- gas, que na estampa se figuravam obli- quas ; e a parte que então se vir do quin- cunce tomará a apparencia de uma per- feita plantação em quadrado, porque real- mente o é, tanto porque as suas ruas se cruzam em esquadria ou ângulos rectos, como porque a sua illusoria ou apparente differença consiste unicamente na posição em angulo de 45° que as suas ruas mais largas têem com referencia aos muros da cerca ou ás margens do livro ou papel em que se desenhou. Ou porque as suas aleas principaes (mais largas) fazem o dito an- gulo de 45° em relação ás estradas de cir- culação, ou ruas mestras, que ás vezes se deixam para passeiar e as quaes têem o duplo ou o triplo de largura do geral das ruas ou aleas. E também, reciprocamente, se tiver- mos desenhado uma plantação em quadra- do (aquella que todos nós reprovamos) e cobrirmos o desenho com o mesmo papel (a que se tirou um quadrado no meio) e collocarmos este papel n'uma posição dia- gonal ao desenho, este nos apresentará, por este meio, a mesma disposição do quincunce — uma .arvore no meio de qua- tro. Parece-me provada a identidade d'es- tas duas espécies de disposição systema- tica das arvores, e que só diíferem no as- pecto, e nada na essência. Portanto nós, que reprovamos a plan- tação em quadrado, somos obrigados a reprovar a sua equivalente ! Resta-uos agora fazer escolha entre duas outras disposições, muito symetricas e agradáveis á vista. A melhor e mais regular das duas dis- posições de que vou tractar, é, sem du- vida, a disposição em triângulos equiláte- ros ; a qual disposição também podemos chamar-lhe disposição em hexágono ; pois, considerando qualquer arvore como cen- tro, as que a circumdam serão seis arvo- res tão desviadas entre si como cada uma d'ellas dista da central. Esta circumstan- cia de ter cada arvore seis arvores ao re- dor de si a cercal-a, concorre muito para forçar a copa ou cabeça de cada arvore a tomar uma forma arredondada. Não era possível plantar mais de seis arvores ao redor de uma, senão em um grupo irregular e isolado, que tivesse uma ao centro, e no circulo estarem as arvores em distancias menores do que a distancia de cada uma á do centro. E a razão de não poderem ser mais de seis a cercar uma, para que possa es- tar cada uma das seis cercada também por seis arvores, é a seguinte : Só no he- xágono (figura de 6 lados e seis ângulos) 86 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA pode dar-se a egnaldade entre o lado do dito hexágono e o raio do circulo circum- scripto. Ora no quincunce como atraz o des- crevemos, está (tanto como na disposição em quadrados) cada arvore cercada so- mente de quatro arvores, equidistantes en- tre si; mas essa equidistancia nào se dá, considerando a distancia entre ellas qua- tro, comparada á distanci i de cada uma das circumdantes á arvore circumdada; porque essa preciosa symetria só pode existir no grupo de sete cousas, em que seis circumdam uma. Quando na disposição em quadrado ou em quincunce, a distancia entre arvore e arvore (das quatro que cercam uma) for de 4 metros, será a distancia de cada uma das quatro á arvore central de 2'", 028.... etc. Ou com mais rigor: a distancia de uma arvore a cada uma das quatro que a rodeiam, está para o espaço que separa cada uma d'essas quatro, assim como o seno de 45° (que é 70710.G78118.... etc.) está para 100000.000000... Quando não precisarmos de uma tão grande aproximação, tomaremos quantos quizermos dos algarismos da esquerda do numero 70710. G78118, e do outro to- maremos a unidade seguida de tantas ci- fras quantas forem as letras do outro nu- mero; por exemplo: 70 para 100, 707 para 1000, 7071 para 10000, etc; mas quantas mais letras tomarmos, mais exa- ctidão haverá! Ora, se o lado do quadra- do circumdante for de 4 metros, será a distancia de qualquer das arvores circum- dantes á arvore circumdada, 2", 828, o que já disse, mas repito somente para fa- zer ver, a quem carecer de taes explica- ções, e não a quem possue sciencia, que 2",828 é o producto de O'», 707 multipli- cado por 4 (valor da distancia das taes arvores). Porem o exemplo mencionado daria uma plantação basta em demasia, por dar menos de três metros para a distancia en- tre duas arvores. O intelligente auctor da « Breve noti- cia sobre o Eucalyptus » aconselha a dis- tancia de 3 ou quatro metros, de arvore a arvore : eu adoptei a de 4 por ser mais desafogada. Para ser de 4 metros a dis- tancia de arvore a arvore no quincunce, ou em quadrado, será o intervallo entre as quatro arvores circumdantes de 5"^, 656854 ou aliás 5™,657. Passemos a dar as medidas da melhor de todas as disposições possiveis, isto é, relativas á disposição em trian-gulos equi- láteros, Parece-me que esta disposição se pode denominar heptunce (ou sej^timce, se quizermos evitar a etymologia hybrida do grego e latim). Oseptunce significaria, pois, o grupo de 7 arvores em um hexágono; ou uma, C3rcada de seis ; similhantemente á definição dada de quincunce, 5 arvores em um quadrado, ou uma cercada por 4. Já se percebe que n'esta neologia perma- nece a obscuridade notada na segunda raiz do quincunce. Em outro numero d'este jornal diremos o que encontramos de mais claro sobre esta etymologia. As medidas da plantação em triângu- los equilateraes são as seguintes : queren- do nós que as arvores distem 4 metros de um pé a outro, resultará para as ruas en- tre as arvores a largura de 3"', 464. Ao contrario, se quizermos dar 4 metros á largura das ruas, resultará a distancia de arvore a arvore em todas as direcções ser esta : 4™,G188, ou 4'",619. Isto basta por agora, porque fiado na muita bondade do redactor d'este jornal, espero poder publi- car em outro numero a gravura e restan- tes explicações quanto a esta disposição, e a gravura de outra disposição, pensada por mim, para haver possibilidade de es- colha, sem recorrermos aos dous systemas reprovados e que prejudicam a redondeza e perfeição da cabeça das arvores. Não julgo o meu systema superior ao de trian- gulos equiláteros, mas tem certas vanta- gens que então explicarei. Ferreira do Alemtejo. António Lourenço Marques Ferreira. BEGÓNIA DISCOLOR R- be. É prodigioso ver como em Portugal ha uma verdadeira predilecção pelas Be- gónias, ao passo que outras plantas, de cultura mais fácil e de encantos não infe- riores, são completamente abandonadas! Ainda que quizeramos dar uma razão piau- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 87 sivel que convencesse o leitor do motivo por que se dá este facto, não a encontra- ríamos, e na realidade poucos géneros são tão abundantes em espécies e variedades como este. É bastante dizer que no Jar- dim Botânico do Rio de Janeiro se culti- vam 500 espécies (1) e não menos de 200 se encontram já nos jardins da Europa, segundo se afiSrma, e a quantidade de va- riedades é innumeravel. A espécie que representamos (fig. 35) e para que queremos chamar a attenção dos leitores, comquanto não seja notável pelas folhas, é uma importante espécie, antiga sim, mas que ainda se deve culti- var como planta notável pelas flores e por ser ura verdadeiro adorno dos jardins. E originaria da China meridional e no nosso clima vegeta bem ao ar livre, o que concorre para ser uma planta interessante na jardinagem. Os caules attingem quasi um metro de Fi". 35 — Beffonia discolor. altura, as folhas são bastante grandes, ovaes-cordiformes. A face supera é verde e a inferade ura vermelho vivo. As flores são grandes, relativamente com as outras do género e muito apreciadas para a abo- toadura do casaco e para os houquets. A Begónia discolor (B. Evansiana, Andrew), é uma das mais rústicas do gé- nero e adequadíssima para formar massi- ços, seja ao pé de um lago, seja no meio de um jardim. Como já observamos, è a, B. discolor uma espécie muito antiga, comtudo é uma das mais dignas de ser cultivada ao ar livre. Oliveira Júnior. FAGUS SYLVATICA linn. Esta arvore pertence á familia das Cu- puliferas, as quaes fazem parte da segun- da ordem das dicotyledoneas. Entre nós é muito vulgar chamar ao Populus alba (Choupo branco), Faia, quan- do é um erro ; pois o Fagus sylvatica é que é a verdadeira Faia. Linneu chamou ao nosso Castanheiro (Castanea vesca, (1) Este numero parcce-nos exaggerado, por quanto Alphonse De CandoUe, na sua iMonographia das Begoniaceas (vide Prodromus, vol. XV, Sectio prior), dá só a descripção de 354 espécies. E' Mr. Ch. Lemaire que nos diz que se culti- vam para cima de 500' espécies no Jardim Botâ- nico do Rio de Janeiro (vide «Le Jardin Fleuriste» Yol. I. planche 28). Gaert.) Fagus castanea; porisso não se deve imaginar quando assim o virem de- nominado, que é alguma variedade da Faia. O Fagus sylvatica é uma das arvores florestaes de mais importância nos paizes septentrionaes da Europa e da America. O seu crescimento na infância é um pouco vagaroso, mas depois desenvolve-se com maior rapidez até á edade de 140 an- nos. Em circurastancias favoráveis pode viver três séculos. A forma do seu tronco é direita e elegante, chegando muitas ve- zes a ter 46 metros de altura e mais de 1 metro de diâmetro no pé; a sua cepa 88 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA é muito regular, com ramos alguma cousa reforçados ; as folhas sào polposas e fazem uma sombra bastante fechada e cahem em outubro. Fructiíica muito o terreno, re- benta em abril e Horesce ao mesmo tempo que começam a brotar suas folhas ; as flo- res sào hermaphroditas. A Faia começa a fructificar geral- mente aos 60 annos de edade ; de G em G annos e ás vezes só de 15 em 15, produz uma abundância extraordinária de semen- te, a qual é soberba para a engorda do gado suino,- o seu fructo está envolvido n'um casulo muito similhante aos ouriços do Castanheiro, contendo dentro duas bo- lotas com a forma triangular : abre em ou- tubro, cahindo em seguida logo a semente, a qual germina em maio do anuo seguinte. Esta arvore é muito sensível ás in- fluencias atmosphericas, de maneira que tanto soíFre com a intensidade do calor, como com o rigor do frio ; porisso um clima temperado é o que lhe convém mais. Nào é raro as suas folhas sofitrerem ao re- bentar com a geada que ás vezes cahe em abril, assim como sào muito prejudiciaes ás novas plantas os ardores do sol, em- quanto que resiste bastante á atmosphera húmida e nebulosa. A Faia é uma das arvores florestaes que mais se presta para formar matías reaes, tanto por si só, como associada com Carvalhos ; para mattas de taihadia náo serve, pois nuo rebenta de cepa. A Faia encontra-se no sentido hori- sontal do globo entre 47" e 57" '/a de lon- gitude (merid. de Berlim), habitando toda a AUemanha até ao Vistula, Irlanda, In- glaterra, Dinamarca, a parte meridional da Suissa e a septentrional da França, emquanto que no Lithauen , Kurlaud, Lieíland, e no norte da Polónia e da Rús- sia só se encontra raríssimas vezes; no centro da Rússia e nas terras orientaes da Ásia náo se encontra com tanta frequên- cia, nem se estende tanto ao norte como nos paizes que primeiro mencionamos. Também se encontra na Itália, mas só nas partes elevadas das montanhas, como por exemplo nos Apenninos, nas proximidades de Roma, na região superior a GG5 me- tros acima do nivel do mar; no Etna ha- bita á mesma altura, emquanto que na Sicilia só se vO entre 1220 a 2000 metros acima do nivel do mar. Ha quem affirme tel-a encontrado nas montanhas da Abys- sinia. Na costa oriental da America entre 31° e 4G'^ de latitude existem grandes flo- restas d'esta arvore. No sentido vertical do globo estende se a cultura da Faia muito mais para o norte, por exemplo : No Harz 02'' lat. até 535 metros aci- ma do nivel do mar. No Thuriugen 50" lat. até 945 metros, idem. Nos Karpathos 49" lat. até 1300 me- tros, idem. Na Baviera 48° lat. até 1335 metros, idem. Nos Alpes 47" lat. até 1500 metros, idem. Nos Pyreneus 43" lat. até 1835 me- tros, idem. Na Sicilia 38° lat. até 2135 metros, idem. A Faia, nas regiões e zonas que aca- bamos de mencionar, encontra-se especial- mente nas encostas expostas ao poente e norte. Os terrenos mais apropriados para a plantação d'esta arvore sào as encostas das montanhas de basalto, calcareas e as planícies argillosas, especialmente as que abundam em quartzo, mas que nao se- jam nem muito húmidas nem excessiva- mente seccas. Entre os insectos o maior inimigo da Faia é o Melolontha vulgaris, que como larva roe-lhe as raizes e como insecto co- me-lhe as folhas. A madeira da Faia emprega- se nas obras hydrauiicas, mas é preciso que es- teja mergulhada constantemente debaixo de agua, e nas construcçòes terrestres es- tando bem a enxuto. Esta madeira ex- posta ás mudanças atmosphericas corrom- pe-se com facildade. O seu combustível ó de soberba qualidade e o mais apreciado nos paizes do norte. Esta arvore náo é indigena de Por- tugal e não nos recorda de ter visto al- gum exemplar no nosso paiz. E' possível que existam alguns nas provindas septen- trionaes, e caso algum dos leitores tenha conhecimento de alguma, estimaríamos im- menso que nos iníormasse sobre tudo o que lhe possa dizer respeito. Ha algumas variedades da Faia, taes JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 89 como Fagus sylvatica, argêntea, áurea, atro-purpurea, Brocklesley , aspleni folia, microphylla, tricolor, varietas sanguínea. Esta ultima variedade é de um eflfeito lindíssimo, pois tem as folhas da cor de sangue. Matta do Choupal — Coimbra. Adolpho Frederico Moller. MORANGUEIRO GAILLOU O livrinho de Mr. F. Gloede — «Les bonnesfraises», Paris, 186Õ — relacionando as melhores qualidades de Morangueiros, até então conhecidos, numera entre os — de todo anno (des quatre saisons), o Gail- lon ou Bíorangueiro sem filamentos ou braços, como prcciosissimo para fazer lin- das cercaduras nas hortas, agradando á vista e ao paladar durante toda a boa es- tação. Levados da curiosidade, por isso que essas singulares qualidades, sendo reaes, tornariam o seu emprego em cercadura sobremodo vantajoso, mandamos vir de França, ha dous annos, alguns pés do Morangueiro Gaillon. Um conjuncto de in- festas circumstancias não permittiu que vin- gasse o maior numero dos pés que rece- bemos ; bastaram, porem, os poucos que viveram, para uma abundante multiplica- ção no próximo anno, e especialmente no corrente. E com effeito absolutamente des- tituído de braços, multiplícando-se pela se- paração dos muitos pés que se agglome- ram e desenvolvem da raiz. A sua folha- gem de um verde claro, como a de outros seus congéneres, e em abundantes tuífos, re- creia a vista, tanto como ao paladar o fructo branco, mui aromático e saboroso. O seu emprego como cercadura não só nas hortas como nos jardins, reunirá o didce e o utile, isto é, o agradável e o proveitoso. Nenhuma especialidade nem difficul- dade de cultura. Coimbra. A. DE SAMPAIO. CULTURA DA BETERRABA PARA SUSTENTO DO GADO Indo a criação do gado vaccum em grande augmento em Portugal, convém procurar as plantas e raízes que mais nu- trição dêem a este gado e que lhe tornem a carne mais saborosa. A Beterraba é uma d'estas plantas ; tanto que está provado que um terreno plantado ou semeado de Beterraba susten- ta dobrado gado, do que se estivesse de pasto natural; assim m'o têem assegurado muitos lavradores, não só entre nós como em Inglaterra e Allemanha, onde os pas- tos naturaes se vão convertendo em plan- tações artificíaes, principalmente de Beter- raba. Em Portugal o que torna a cultura da Beterraba mais difficíl são as faltas de chuva no verão, principalmente no sul do paíz ; mas no norte, onde as chuvas são mais frequentes e onde ha mais humidade e agua para regas, estou convencido que d'esta cultura se tirariam grandes vanta- gens para a engorda e sustento do gado. A sementeira faz-se por diversas ma- neiras: com o semeador mechanico, por meio do qual a semente fica metida na ter- ra a uma distancia de 8 a 10 pollegadas em quadrado, ou por meio de rapazes ou raparigas que com um sacho fazem ura pequeno buraco (conservando a mesma distancia de 8 a 10 pollegadas), onde lan- çam três ou quatro sementes ; mas na oc- casião da sacha devem-lhe deixar uma só planta. É conveniente também amontoar a Beterraba como se pratica entre nós com o Milho, para que a raiz não fique expos- ta ao sol e ao ar, porque a experiência tem mostrado que aquella parte da raiz que fica exposta ao ar perde uma grande parte de matéria saccarina, tirando-lhe por isso muito do seu valor. Também se semeia em alfobres, como se pratica com a hortaliça, e depois, quan- do tem quatro ou cinco pollegadas de al- tura, transplanta-se, conservando a mes- ma distancia que acima digo, havendo to- do o cuidado, quando se arranca, de não quebrar o esporão, porque também a ex- periência mostra que, quebrado o esporão, 90 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA a raiz se não desenvolve tanto, como se desenvolveria não o quebrando. A semen- teira entre nós deve ser feita em abril ou maio. O anno passado, em um terreno que tinha estado de Trigo (mas susceptivel de ser regado), depois do Trigo ceifado, foi lavrado e gradado e em seguida plantado com Beterraba amarella; depois d'esta ter pegado, foi polvilhada com guano do Pe- ru, e em seguida sachada e regada ; no fim de novembro estava capaz de dar-se ao gado, conservando-se na terra sem se es- tragar ; tanto que eu sustentei o meu ga- do desde aquelle mez até fevereiro cor- rente. O pezo médio da Beterraba ama- rella, que tenho tido, é entre 3 a 5 kilo- grammas. Que grande quantidade de comida não daria o delta do Tejo (Lezirias), se, de- pois da colheita de cereaes, esses terrenos de alluvião fossem plantados de Beterra- ba^ De certo que esses vastos terrenos, que depois do Trigo colhido nada mais produzem até ao inverno seguinte, susten- tariam muito gado. O que era necessário, era irrigal-os, o que se obteria com muita facilidade, como já demonstrei n'este jor- nal, em dezembro ultimo, no meu artigo sobre c irrigação». As qualidades de Beterraba que tenho experimentado, e que melhor resultado me têem dado, são a amarella, que os Ingle- zes chamam Orange glube mangelwurzel, que é cultivada nas terras de Windsor que pertencem á Rainha; e a Beterraba que se cultiva na AUemanha, nos arrabal- des de Magdeburg, que contem uma gran- de quantidade de matéria saccarina e que é empregada n'aquelle paiz para o fabrico do assucar. Eu faço tenção este anno de experi- mentar uma nova qualidade, apresentada o anno passado na exposição de raizes por Messrs. Cárter A C.°, denominada Carter's Preye manunut mangelicurzel, e da qual alguns exemplares pezaram de 15 a 17 kilogrammas. Esta Beterraba é cor de rosa e é também muito assucarada, devendo por isso ser de muita nutrição para o ga- do. O meu amigo, o snr. João José Le Cocq, ha muitos annos que cultiva a Beter- raba para sustento do gado, na sua quin- ta de Castello de Vide (Alemtejo); a ma- neira por que elle a semeia é em regos, entremeada com Sorgho ; no fim do outo- mno, quando o Sorgho (depois de ter da- do alguns cortes para o gado) acaba, fica a Beterraba, que desembaraçada do Sor- gho, se desenvolve e dá em dezembro, janeiro e fevereiro uma abundante comi- da para o gado ; também em certos terre- nos que conservam durante o verão algu- ma humidade, costuma o snr. Le Cocq semear, junto com o Trigo serôdio, a Beterraba muito ralo ; esta nasce com o Trigo e fica dominada por elle; mas, de- pois de ceifado o Trigo, dá-se-lhe uma sa- cha, a Beterraba desenvolve-se, e dá um bom resultado no principio do inverno, Lisboa. George A. Wheelhouse. PROPAGAÇÃO DAS ARVORES FRUCTIFERAS SEM SER POR ENXERTO Lemos ha pouco na « Ferme », jornal dos campos, publicado ura doestes últimos annos, um processo para a multiplicação das arvores fructiferas, muito usado na China, que achamos muito curioso e digno de ser divulgado. Não seria mau que fosse experimentado e, se produzisse bom re- sultado, era mais um meio de que pode- ríamos lançar mão com facilidade para a propagação das citadas arvores. Tradu- zimol-o textualmente: «Quando os chins têem escolhido a ar- vore que querem propagar, procuram um braço para essa operação, que menos falta faça á arvore, e de volta d'elle e o mais próximo do tronco que pode ser, enrolam uma corda de palha, envolvida em excre- mento de vacca, até que forme uma roda que tenha cinco ou seis vezes o diâmetro do braço ; é no centro d'esta roda que se devem formar as raizes. « Depois d'esta operação cortam a cas- ca até á madeira, immediatamente por baixo da roda, e nos dous terços da cir- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 91 cumferencia do braço ; em seguida pendu- ram n'um ramo superior e por cima do centro da roda, um vaso, furado no fundo, com um buraco que tenha unicamente o diâmetro preciso para deixar cahir gota a gota a agua com que se enche. Esta agua serve para humedecer o braço e formar as raizes ; três semanas depois corta-se o terço da casca que ficou, e torna-se maior a primeira incisão, de maneira que pene- tre mais na madeira e tendo cuidado de que o vaso nunca deixe de deitar agua.» «Vinte dias depois faz-se absolutamente a mesma cousa ; e geralmente dous mezes depois de feita a operação vêem-se as rai- zes entrelaçar-se á superfície da roda, o que indica que é tempo de separar o bra- ço do tronco ; corta-se então no mesmo logar da incisão, para não abalar muito a citada roda (que deve estar quasi podre), e planta-se como uma nova arvore.» A. J. DE Oliveira e Silva. NOVA BATATA OBTIDA DE SEMENTE DENOMINADA CAMBRIDGE KIDNEY No anno passado apresentou á venda a casa Games Cárter & C.°, de Londres, a nova Batata têmpora, obtida de semente vinda do Chili. E' uma Batata comprida de forma de rim, cora três a quatro polle- gadas de comprimento, olhos pouco pro- fundos, muito prolífica e farinhenta. A exportação da Batata têmpora para o estrangeiro (muito principalmente para Inglaterrra) é já avultadíssima, augmen- tando consideravelmente de anno para an- no, muito principalmente ao sul do Tejo, donde se exportam, todas as primaveras, muitos centos de toneladas. Estes terre- nos, que outr'ora eram muito pobres e só davam más colheitas de Centeio, por se- rem muito areentos, são hoje muito pro- curados para sementeiras de Batatas^ onde se dão excellentemente, devido a serem pouco captivos de geadas, e por isso as novidades que produzem são muito têmpo- ras. O anno passado, um cultivador d'esses sitios experimentou a Batata têmpora in- ghza, denominada Alyatts 'prolific Kid- neysj, e não só obteve uma producção mui- to maior do que a que dá a nossa dege- nerada Batata, mas a sua qualidade foi tão superior que obteve no mercado de Londres o dobro do preço. Eu semeei, em fins de dezembro ulti- mo, em um terreno ao sul do Tejo, entre outras (nossas), uma pequena porção d'es- tas duas qualidades de Batatas ; estão muito vigorosas e afilhadas, fazem para melhor uma grande diíferença das nossas, e estou certo que em meados de abril es- tarão capazes de serem apanhadas para se exportarem. Aos lavradores que negoceiam n'esta especialidade, recommendo que experi- mentem estas duas qualidades de Batata têmpora ingleza, porque estou certo que hão de colher óptimos resultados ; podem obtel-as facilmente de qualquer casa hor- tícola de Londres, muito principalmente da de Messrs. Games Cárter & C.° Lisboa. George A. Weelhoush. SEDUM SIEBOLDI, vab. FOLIIS MÉDIO VARIEGATIS O género Sedum encerra um grande numero de espécies ordinariamente viva- zes, muito rústicas e cujas folhas carno- sas e succulentas são umas vezes cylin- dricas (teretifolia) , outras vezes largas e planas (planifulia) . As suas flores pequenas, mas nume- rosas, brancas, cor de rosa, azues ou ama- rellas, são dispostas em cymeiras patentes ou escorpioideas, mais ou menos ramifi- cadas, dichotomas ou trichotomas. Como a maior parte das plantas gor- das, os Sedum vivem principalmente da humidade e outras substancias gazosas, misturadas na atmosphera ; por isso estas plantas preferem sitios seccos e pedrego- sos, e expostos a pleno sol. Assim, vêem-se os Sedum crescerem 92 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA em tufos pouco elevados ou formarem graciosos tapetes de verdui-a matizados de numerosas flores, sobre os rochedos, telhados, muros velhos, etc., etc. D'eutre as espécies de folhas planas o Sedum Sieholdi, introduzido do México por Mr. Sieboldi, é uma das mais elegcin- tes pelo seu porte, folhagem e bellas flo- res. Em razão dos seus numerosos caules simples e carregados de folhas aproxima- das, forma esta elegante planta um ma- gnifico e espesso tufo de O'", 40 de diâme- tro, e de um efteito encantador. As suas folhas carnosas, orbiculares, concavas e ternadas são de um verde glau- co, que passa a cor de rosa depois da flo- ração. As flores muito numerosas são de uma bella cor de rosa e dispostas em lin- das cjmeiras. O Sedum Sieboldi, var.foliis médio va- riegatis (fig. 3G), egualmente introduzido do Japão por Mr. Sieboldi, apenas diííero da espécie typo por uma larga mancha amarclla, que occupa todo o meio das fo- lhas e lhes dá uma elegância notável. Tanto a espécie typo como a sua gra- ciosa variedade são lindas plantas para salas, que se encontram hoje muito espa- lhadas e que, do mesmo modo que as suas congéneres, poucos cuidados requisitam na sua cultura. Fig. 36 — Sedum Sieboldi, var. foliis médio variegatis Para se gozar em uma sala de toda a belleza d'estas plantas 6 conveniente telas em um vaso largo com boa terra, collo- cando-o sobre um pilar, onde, em razão dos seus longos e numerosos ramos pen- dentes e terminados cada um por um lindo ramiliíete de flores cor de rosa, produzem um bonito effeito. Era geral os Sedum, em razão da sua massa de verdura, diversidade de porte. numero e variedade de suas flores bran- cas, amarellas ou cor de rosa, são as me- lhores plantas, isto é, as mais decorati- vas e mais rústicas para guarnecerem cer- tos legares de um jardim, taes como os intersticios de rochedos artificiaes ou na- turaes, muros, bordaduras, etc. Os Sedum multiplicam-se facilmente em todo o tempo por meio de estacas, as quaes devem ser poucas ou nenhumas ve- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 93 zes regadas, até que se desenvolvam as raizes. É conveniente cortar as summidades dos primeiros rebentões, para obrigar a planta a ramificar-se e produzir tufos es- pessos, o que a tornará mais bella e prefe- rivel do que abandonada a si mesma. J. Casimiro Barbosa. CHROIICA O Jardim Botânico de Coimbra pros- pera de dia para dia. No principio do mez de abril estivemos alli e tivemos opportunidade de apreciar o bellissimo presente do dr. Ferdinand von Mueller, de que ha tempos falíamos. Os doze Fetos arbóreos (Dícksonia antár- ctica) que aquelle illustre botânico offe- receu ao Jardim por intermédio do nosso amigo o snr. Edmond Goeze, mostram, na maior part«, excellente vegetação. Muitos cuidados tem sido preciso em- pregar para os restabelecer c prestemos ura voto de louvor ao zeloso inspector do Jardim, o snr. Eduiond Goeze, que se tem encarregado doesse trabalho. Pela mesma occasião vimos uma ma- gnifica Orchidea, com quatro flores. E' a Angrcecum sesquipedale. As flores sào enor- mes, cor tle branco-marfim e têem o mé- rito de cheirar ao Lilhim canãidum. E' indigena de Madagáscar e foi trazida para a Europa pelo celebre viajante, o rev, William Ellis. O admirável Anthurium Scherzeria- niim, de que demos uma estampa (vol.li, pag. 51), ostentava com galhardia uma íjrande flor e outra começava a desenvol- ver-se. E' o melhor exemplar d'esta Arui- dea que temos visto. As estufas estão com a maior limpeza 6 na melhor ordem possível. A estufa fria acha-sc adornada com muitas plantas ra- ras : as bellas collecções de Cinerarias^ Primidas c Pelarguniiims, artisticamente dispostas, produzem ura cííeito encanta- dor. Estamos na primavera, epocha mais propicia para fazer excursões, e aconse- lhando os amigos da horticultura a irem passar dous dias a Coin)bra, cumprimos ura dever que nos impõe o nosso amor a Flora. — Temos á vista os n,"" 1 a 4 dos a Estudos Cosmologicos », publicarão co- nimbricense, de que são redactores os snrs. A. M. de Senna, Bernardino Ma- chado e F. A. Correia Barata. E' uma publicarão de grande interesse. • — Do snr. IManoel Huller recebemos a seguinte carta. Em conformidade com os seus desejos damos-lhe publicidade. Eil-a : Snr. Oliveira Júnior. Conhecendo cu quanto V. se interessa pelo desenvolvimento hortícola e desejando alguns es- clarecimentos, que ninguém melhor do que V. me pode á indicar, pedia-lhc quizesse no próximo nu- mero do «Jornal de Horticultura Pratica» esclarc- cer-me ou apresentar como prohlema aos numero- sos assignantes do mesmo jornal os seguintes que- sitos: I. Qrial a maneira de evitar que as bolotas se- meadas em plena terra sejam comidas pelos ratos ou toupeiras? Tenho tido o desgosto de ver perdidas as sementeiras que ha dous invernos faço de magni- ficas bolotas. II. Qual a melhor epocha e m.ethodo que se de- ve empregar para transplantar das terras, onde se fazem as sementeiras de Coníferas, as plantas para pequenos vasos? Tendo recebido de Pariz uma interessante col- lecção de sementes de Coníferas, semeando-as em boa terra preta, em terrinas, tive o gosto de as ver germinar e desenvolver perfeitamente, e por occasião de as transplantar para vasinhos, tive o pezar de as ver morrer quasi todas. Acceite V. os protestos da minha mais alta consideração. Belém, 22 de março de 1871. Manoel IIuller. Para destruir os inatos e as toupei- ras empregaríamos os meios que são co- nhecidos de toda a gente e que nos abs- temos de apontar. Cou"itudo seria um tra- balho muito difficil e em vista do mau re- sultado que o snr. Manoel Huller colheu na primeira e segunda sementeira de bo- lotas que fez ao ar livre, é provável que em seu logar dcsistissemos de repetir o ensaio. Era melhor que se preparasse uma pe- quena porção de terreno e que se collo- casse um abrigo de vidro que protegesse a sementeira dos ratos, ctc, e estamos 94 JORiNAL DE HORTICULTURA PRATICA firmemente convencidos que esie deve ser o meio nuiis eíiicaz. Agora responderemos ao segundo que- sito. Desde a primavera até ao fim do ou- tomno podem-se transpliintar as sementei- ras das Coníferas para vasos pequenos, mas esta operayào exige sempre algum cuidado para nào ferir as novas raizes, ainda muito tenras. Depois de estarem transplantadas, é preciso pôr as plantas por algi m tempo n'um recinto sombrio e bem abrigado dos ventos. Dovem-se regar parcamente e é bom borrifai as de manha e á tarde, ten- do estado o dia quente. Para que o êxito soja bom, é mister que as plantas nào sejam transplantadas antes de ter 2 a 5 centimetros. tíe recebermos alguns esclarecimentos, conforme o snr. Manoel HuUer solicita, serão promptamente publicados. — U nosso amigo, o snr. Ed. Gocze, foi agraciado com o habito de S. Thiago e nào com a commenda, como por equi- voco escrevemos no n.° passado. — No n.** d'este jornal correspondente ao mez de julho do anno passado (pag. 112 e 115) occupamos-nos do semeador mechanico, e as vantagens que tinha so- bre os outi'os meios de semear foram cla- ramente expostas. ISabemos agora que nas circumvisi- nhanyas de Lisboa se está adoptando este apparelho com resultados maravilhosos. Começando, pois, a serem procurados estes semeadores, já temos no paiz quem os faça. E' o snr. Theotonio José Xavier, de Lisboa, ao qual estào actualmente en- connnendados três. Um d'elles foi comprado pelo snr. Ma- noel Iglezias, no principio d'este anno, e logo em seguida applicado era um terreno (jue o mesmo senhor possue em Lisboa; e o resultado foi rue uma terra que todos calculavam levasse 30 alqueires de se- mente, com o semeador levou apenas 19, devendo-se juntar a esta economia o ficar a somente egualmente distribuida á su- perticie do terreno e toda á mesma pro- fundidade, o que é de reconhecida vanta- gem. Bom será que se vào vulgarisando. — O snr. Joaquim António da Silva Martins, da Certa, enviou-nos uma carta do snr. António Batalha Keis, em que res- ponde ao que aqucUe cavalheiro disse neste jornal, pag. 70, relativamente ao Theionoxvphero. Damos-lhe publicidade, e os negociantes de vinhos poderào obter maravilhosos resultados na conservação d'elies, se quizerem fazur uso do Theiono- xypher(n Eis a carta do snr. Batalha Reis: Snr. Joaquim António da Silva »Martins. Suninianiente [jeiíliorado polas benévolas ex- pressões que V. se dignou dirign'-nie na sua carta publicada no «Jornal de Horticultura Pratica», só tenlio a lastimar que me não desse o prazer de o conhecer pelo seu nome. Espero, porem, dever-lhe mais o favor de mo fazer conhecer, e de me facul- tar a honra de cultivar as suas relações. Estou perfeitamente de accordo com o conselho (juc V. me dirigiu, e um modelo, recentemente con- struído, realisa esse pensamento, e satisfaz ás exi- gências de todas as vasilhas — é o modelo n.°í2. Assim unicamente com um apparelho, e tendo apenas o cuidado de dar meia volta a três quartos, na chave da torneira, para as vasilhas pequenas, e toda a volta para as gi andes, temos conseguido a universalidade que V. desejava, e que difliculda- des de fabrico tinham impedido de que ha inuito estivesse á venda um apparelho n'essas condições. Não precisa pois o vinicultor mais do que um apparelho para obter com elle todas as vantagens necessárias á conservação de uma pequena adega. Quando V. vier a Lisboa terei o maior prazer em lhe dar todos os esclarecimentos que necessitar e pôr á sua disposição o meu fraco préstimo. Eisboa. Sou etc. — António Batalha Reis. — Abriu-se o mez passado, no largo do Calhariz n.° 21, em Lisboa, um bazar de plantas. Pessoa que nos merece inteira confiança, asscvcra-nos que se encontra alli grande numero de plantas, especial- mente para salas, e que se vendem por preços mais equitativos do que em outro qualquer estabelecimento de Lisboa. Referimos o que nos comnuuiicaram e se assim é, devemos crer que será muito concorrido pelos amadores. Nos últimos annos tem a horticultura tomado bastante incremento no paiz, o que registamos com verdadeiro jubilo. — O Jardim Botânico de Coimbra ex- pediu no mez de março para as ilhas de S. Thomé e Prineipe seis estufasinhas com 120 Cinchonas succirubra. — Sentimos verdadeira alegria em sa- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 95 ber que o nosso predilecto Eiicultjidiis vae povoando as encostas e valles e transíor- mando as montanhas agrestes cm belios e aprazíveis bosques que devem consti- tuir uma riqueza aos nossos vindouros, se mào cruel ihes nâo vier tirar a vida. Do sul de Portugal temos recebido nu- merosas cartas consultando-nos sobre di- versos pontos relativos á cultura destas arvores, e na verdade vemo nos muitas vezes embaraçados para responder con- scienciosamente , porque, apezar de nos dedicarmos com amor a esta Myrtacea, muitas particularidades ha a seu respeito, que ainda desconhecemos c que só no de- curso de alguns annos poderemos cunhe- cer. Comtudo, como nos é impossível res- ponder directamente a todas as pessoas que nos honram com as suas consultas, damos em seguida publicidade a uma carta que recebemos do snr. José Maria Mascarenhas de Mello, de Lisboa, julgan- do que a nossa humilde (;piniào sobre este objecto poderá ser aproveitada por outras pessoas que se queiram entregar á plan- tação dos EucaJyiAus. Eis, pois, a carta do snr. Mascareiduis de Mello, a que nos acabamos de referir e á qual se seguirão algumas considerações. Snr. J. D. de OUveira Júnior, Com a publicação do seu apreciável folheto in- titulado ('Breve noticia sobie o Eucalvptus globu- lusii, mostra V. o desejo de que, com o aproveita- mento de seus conselhos, se augmente a riqueza publica e particular, que em um paiz como o nosso só pode vir da terra. Sou proprietário no Algarve, onde, como é sa- bido, todos os terrenos estão cobertos de arvoredo, sobretudo de Fiyueiras, isto no litoral, porque nas serranias só se encontram espessos matagaes; com- tudo tenho um terreno sem arvores que destino para os Eucaljjplus, mas leceio que lhes não seja apropriado, e não querendo arii;-car-me a sahir mal da minha empreza, por isso consulto a V., bem conliado em que se dignará aconselhar-me. Parte do terreno é de areia, tendo a um metro de pro- fundidade um sub-solo de argiUa tão tenaz, que é absolutamente impermeável, e por isso só se pode semear de Milho nuii serôdio. Portanto desejo sa- ber se o Eucaljipítis tem raiz fusiforme que não possa penetrar o sub-solo, e se a terra, constante- mente alagada no inverno, impedirá o desenvolvi- mento das vdheíiúo Euculijplus, que tendo-se tians- plantado no outomno, esteja comtudo já pegado; ou se será de absoluta necessidade drainar o terre- no sem que no verão se receie a excessiva seccura da terra, que, perdendo toda a luunidade, é, alem d'isso, mui açoutada por constantes nortadas. A outra parte d'este terreno é, pelo contrario, argil- losa, mas o sub-solo é egualmente impermeável; está plantado de Felgueiras, que se não desenvol- vem, e por is-o não duvido subslituil-as por Euca- lyptus, se receber de V. conselho atíirmativo, e se araizd"esta arvore não for fusifurme. Esta terra dá Cerada, sendo semeada tenipoi ã, porque depois das maiores chuvas não podem alli fazer-se boas lavou- ras. Nós semeamos todas as terras onde ha Figuei- ras, porque estas arvores não obstam á cultura dos cereaes e legumes. Se V. quizer ter a bondade de responder-me, ficará com direito ao meu mais vivo reconhecimen- to, e por isso desde já me confesso com muita con- sideração De V. etc. José Maria Mascarenhas de Mello. Lisboa, 25 de maiço de 1871. Os terrenos paludosos, segundo as ob- servações feitas até Ix je, mostram que nào agradam aus Eucalyytus, e ha cerca de dous annos (março de 18G9), quando andá- vamos a tomar apontamentos sobre a cul- tura d'esta arvore, fizemos algumas per- guntas ao snr. barào de Massarellos, que possue um magnifico exemplar do Kuca- lyidus gluhulus, talvez um dos mais anti- gos do paiz, e aquelle senhor escreveu-nos por essa occasiào : «... O terreno em que o actual (EucalyiAus) se acha, é fresco, mas enxuto e nào cultivado, e aquelle era que estava o exemplar que morreu, era hú- mido e cultivado; parece-me, portanto, que esta arvore prefere o terreno enxuto e nâo estrumado.» Participamos da opinião d'este cava- lheiro, porque as nossas próprias observa- ções nol-o tem comprovado. Portanto, se o snr. Mascaienhas de Mello estabelecer uma boa drainagern nos terrenos mais hú- midos, é possível que consiga cultivar os Eiicalyijtus. Ás raizes d'estas arvores tendem mais a raniiíicar-se do que a atravessar o solo ; por esta razão nâo duvidamos aconselhar o snr. Mascarenhas de Mello a fazer lun en- saio em pequena escala, para em vista dos resultados colhidos, continuar ou deixar de continuar. Quanto á exposição do terreno não é das melhores, porque os ventos fortes são muito prejudiciaes aos Eucalyptus, que- brando-os ou desfigurando-os; obstar-se-ha a este grave inconveniente, plantando-os muito juntos, como já mostramos na nossa «Breve noticia sobre o Eucalyptusglobu- lus e a utilidade da sua cultura era Por- tugal», isto é: a o ou 4 metros de dis- 96 JOBNAÍ. DE HORTICULTUBA PRATICA tancia ; e quanto mais açoutado for o ter- reno, menor deve ser a separação entre ellcs. E' isto tudo quanto podemos dizer por em quanto ao snr. Mascarenhas de Mello e desde já solicitamos d'este senhor qual- quer esclarecimento que os ensaios que fi- zer lhe possam fornecer. A reunião do maior numero de factos servirá a esclarecer mais amplamente este assumpto, sobre o qual ainda a verdadeira luz não está íejt^. — Mr. Ed. IMorren, redactor da «Bel- gique horticole», participou-nos em uma das suas ultimas cartas a partida de Mr. Jean von Volxeni e seu sobrinho para Por- tugal. São amadores muito distinctos. Í^Ir. .J. Decaisne, membro do Ins- tituto e professor de horticultura no Jar- dim das plantas de Panz, n'u)na carta que dirigiu para aqui, diz o seguinte re- lativamente ao frio que fez este anno em diversas partes da França: Não sei que tempo esteve este inverno em Coimbra, inas anui foi nuiilo lãgoroso. O tliermo- nietro dcara aa ver entisicar, estiolar, e breve morrer n'uma sala, era-nos, e com razão, tão absurdo, como desagradável. Perdoa-se á fantasia de uma dama, não aos apetites do um amador racional. A scena mudou, porem, inteiramente para nós ; e o que nos succedeu, a qual- quer outro pode acontecer, permittindo- Ihe, fora de qualquer estufa, propriamente dita, possuir tão formosas e crescidas Be- gónias, como nas melhores estufas, senão ainda superiores. Uma Begónia Rex, velha, resto das muitas finadas, tendo passado por mil sofí'riinentos, veio parar, no campo, a uma varanda envidraçada, na exposição de oeste. Ahi, transplantada (rempotée, diriam os francezes) para um outro vaso, cheio de terra, antes terriço, puramente vege- tal, colhido a um canto do velho jardim abandonado, começou nova vida. Dentro em pouco fez-se maravilha, alcançando as proporções de mais de 0"',40 de compri- mento sobre O'", 30 de largura, n'algumas de suas muitas e bellissimas folhas. Rodea- ram-n'a outras que se lhe approximaram, e em breve vieram as próprias filhas, fa- cilmente reproduzidas, fazer-lhe honrosa corte. Durante o rigorosíssimo inverno d'este anno, dormiu o seu somno natural no mesmo sitio, sem mais abrigo ; e apezar de descer ahi o themometro quasi a zero. Hoje volve á mesma soberba vegetação, acompanhada de sua família, e de muitas outras gentis companheiras que têera ac- creseido, não já, como antecedentemente, JORNAn DE HORTICULTURA PRATICai' lOT atraz dás vidraças da varanda, mas ao ar livre, debaixo de um telheiro, á exposi- ção do sul. Outra, menos vulgar, e mais delica- da, (producto de uma folhinha, de que o snr. Edmond Goeze nos fez favor na ar- dente estufa de reproducção, aonde a mãe existia ainda ha pouco) viveu egualmente bem na mesma varanda; e, frondosa e brilhante, distingue-se no cortejo da Rai- nha, debaixo do abrigo, respirando livre- mente o ar, dia e noute. Clara está a conclusão. Dado o bom terrão vegetal, a rigorosa drainagem dos vasos, as frequentes e copiosas regas du- rante a força da vegetação, quasi nenhu- mas no repouso, e o abrigo do gelo e dos raios do sol, n'um centro que os mesmos naturalmente amorneçam, ao menos, par- te do dia, o amador das formosíssimas Begónias, das fidalgas de alto ornamen- to, pode gozal-as e possuil-as inteiramen- te fora de qualquer estufa propriamente dita : e tanto mais quanto a localidade descer para o meio dia. O que sabemos de outros vae mais lon- ge; mas tomamol-o por excepção, apoz a qual fora erro caminhar ás cegas. Pes- soas ha que têem Begónias de primeira ordem á janella, recolhendo-as durante a noute. Não aconselhamos a imitaçâo^a não ser que possuam o segredo do snr. vis- conde de Monserrate. Queríamos chegar aqui ; aos palácios en- cantados, aos pavilhões orientaes, ao re- cinto das mil e uma noutes, que se chama,; em Cintra, a Quinta de Monserrate ; e aon- de (conceda-se-nos dizel-o) a finíssima cor- tezia dos senhores de tantos encantos ma- ravilhosos coroam a obra, põem no edifí- cio o mais esplendido remate. Ahi, na extensa prolongação de aquel- las formosíssimas avenidas tortuosas, costa abaixo do largo valeiro, corre uma como cercadura superior de variadas Begónias; entre as quaes não vimos alguma ordiná- ria. Tem por abrigo, em todo o tempo, as ramadas do arvoredo ; e é nas faldas da serra de Cintra, e na encosta do norte ! ! Maravilha, com os admiráveis e innu- meraveis Fetos arbóreos, tudo ao ar livre, prodigiosa entre tantos prodígios de força de vegetação, de doçura de clima, e de superior bom gosto de quem manda e de quem executa! Coimbra. A. DE Sampaio. EUPHORBIA PULCHERRIMA willd. A família das Euphorhiaceas, uma das mais numerosas do ramo das dicotyledo- neas, compõe-se de vegetaes que apresen- tam uma extrema diversidade no porte, duração e modo de vegetação, segundo as difí'erentes espécies. Umas são hervas an- nuaes ou vivazes, outras arbustos ou ar- vores de proporções difterentes e algumas ha, entre as Eu-phorhiaceas da Africa, que pelo seu caule carnoso, sulcado e espinho- so, muitas vezes destituído de folhas, têem o aspecto das Cacteas. Esta familia que se encontra, por as- sim dizer, representada em toda a parte, que pertence a todos os climas, á exce- pção das regiões ajcticas, contem ao lado de plantas úteis por diversos titules, plan- tas excessivamente venenosas. Assim a par da Hippomane Manei - nella (Mancenilheira), Exccecaria e Hura crepitans, celebres pelos seus suecos vio- lentamente, venenosos^ encontramos a Ja- tropha Manihot (Mandioca), cujos tubérculos fornecem uma farinha, que, depois de des- embaraçada dos suecos venenosos da planta, forma a base do alimento dos habitantes dos trópicos, onde se cultiva em quasi toda a parte. A industria encontra n'esta familia productcs variados e muito importantes, taes como o caoutchouc, fornecido pelo sueco concreto de algumas espécies, parti- cularmente da Siphonia elástica, arvore da Guiana e do Brazil ; a gomma lacca de Ceylão produzida pelo Aleurites lacci- fera; o «tournesol», matéria tinctorial de um bello azul que se obtém pela macera- ção dos caules e folhas da Crozophora tin- ctoria ; muitas substancias aromáticas fornecidas por muitas espécies do género Croton ; o Buxus sempervirens (Buxo), cuja madeira, pela sua dureza e veios agra- dáveis, é muito empregada especialmente nas gravuras. 108 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Finalmente, a medicina encontra n'esta familia grande numero de productos, cu- jos etíeitos therapeuticos são na maior parte purgativos e drásticos, taes são, en- tre muitas outras Euphorbiaceas de em- prego quotidiano, o Ricinus communis, de cujas sementes se extrahe um óleo por ex- pressão, cujas propriedades são conheci- das de todos ; o Mcrcurialis anniia, muito empregado na medicina popular, c diver- sas espécies de Croton, De plantas ornamentaes não nos for- nece esta familia grande abundância rela- tivamente ao numero de espécies que a constituem. Muitas d'ellas, hoje cultivadas, não o são tanto pela sua beileza como pela sin- gularidade das suas formas notáveis, ou- tras pela celebridade de que gosam, já como plantas excessivamente venenosas, já como medicamentosas ou industriaes. Algumas ha comtudo que em razão da sua beileza são, por assim dizer, um or- namento obrigado dos jardms; taes são, entre outras, a Kuphurhia splendens e a Eu- phurbia 'pulcherrima, magniíica espécie de admirável etleito. As plantas, que povoam os nossos jar- dins e que constituem o seu principal or- namento, brilham ou pelo variado colo- rido de suas flores ou pelas folhas floraes ou bracteas que acompanham a sua inflo- rescencia, o que é talvez mais elegante. íí 'este segundo caso está a Euphurbia pulcherrima, elegante espécie, como o seu nome especitico indica, e cuja beileza é de- vida ás bracteas foliiformes que acompa- nham as flores pouco notáveis de per si. Esta planta é originaria do México, onde foi encontrada em 1828 por Mr. Poin- sette, e introduzida na Europa em 1834. E' um arbusto direito, ramoso, de ra- mos compridos e delgados, que se des- guarnecem pouco e pouco quasi até á ex- tremidade ; as folhas são largas, oblon- gas e semeadas de um verde carregado na face superior e pallidas na inferior. As flores muito numerosas, de um amarello esverdeado, são cercadas por 10 a lò bra- cteas de cor vermelha muito brilhante e de 0™,12 a 0™,15 de comprimento, poden- do, com uma bem dirigida cultura, attin- gir 0"',40 a 0™,50. Esta planta, que em muitas partes é de estufa quente, entre nós, e com especiali- dade aqui no Porto, pode cultivar-se ao ar livre, porque vegeta perfeitamente, com- tudo a acção de uma temperatura muito baixa acompanhada de humidade é muito prejudicial, porque a planta, sob esta in- fluencia, perde as suas folhas, e muitas ve- zes perece ; por tanto é conveniente abri- gal-a durante o inverno. Como os ramos d'esta planta têem uma tendência para se allongarem sem se ra- mificarem, quando não é conveniente- mente cultivada, toma por isso uma feição tão desagradável, que não deixa realçar o brilho das suas vivas bracteas. Para evitar este grave inconveniente e se obterem plantas baixas e bem rami- ticadas, devem-se espontar muito cedo para as obrigar a ramiticarem-se lateralmente, produzindo n'este caso cada um dos seus ramos um magniflco collar de beUas bra- cteas vermelhas. As plantas velhas devem renovar-se de dous em dous annos por meio de esta- cas, para o que, passada a floração, se poda a planta quasi até ao nivel da ter- ra ; os novos rebentões que se desenvol- vem pegam em muito pouco tempo, plan- tados em uma mistura de terriço de fo- lhas e areia branca. Cultivam-se duas outras variedades da Euphurbia pulcherrima, egualmente de bello eífeito ; uma de grandes bracteas brancas, a outra de bracteas amarelladas. Estas duas variedades requerem na sua cultura os mesmos cuidados da espé- cie typo. J. Casimiro Baiíbosa. CULTURA DO EUCALYPTUS NA ARGÉLIA Aos que ainda têem receio de fazer plantações de Eucalyptus, c não acre- ditam na sua excellencia como arvore flo- restal e altamente hygienica, recommen- daraos a leitura do seguinte artigo, que lemos no « Akbar» de 26 de abril de 1870. «O JMoinho da Casa-quadrada era ro- deado, na extensão de cinco hectares, de JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 109 uma lagoa infecta^ donde se exhalavam miasmas, que, ainda ha três annos, torna- vam impossivel a morada dos trabalhado- res de aquella officina. Mr. Sauliere transformou estes cinco he- ctares em um magnifico parque, com o au- xilio de uma plantação, sabiamente diri- gida, de Eucalyptus. Era preciso esgotar por meio d'estas bellas arvores o excesso de humidade do solo, 6 hoje o Moinho da Casa-quadrada é uma saudável e excellente habitação, don- de o pessoal já não emigra para a cidade e hospitaes como d'antes acontecia. A granja de Ben-Mahydlin era notá- vel pela sua insalubridade e muitas pes- soas se lembram ainda de caçar nas lagoas pestilenciaes de que era formada, ha qua- tro ou cinco annos apenas. Hoje é uma das melhores propriedades de aquella pla- nície, oíferecendo vastas cavallariças, em roda das quaes treze mil pés de arvores, principalmente Eucalyptus, Salgueiros e Alfarrobeiras, moderam os ventos e trans- formam as condições hygienicas, a ponto do gerente dizer: «Ha mais de cinco an- nos que não estive doente», e mostrar com orgulho sua mulher, seus filhos e creados, todos cheios de força e de saúde. E pre- ciso observar que, ha três annos, apenas havia n''aquella mesma extensão de ter- reno vinte e sete arvores. Mr. Sauliere rodeou de Eucalyptus a propriedade do Vão de Constantina, e mo- dificou assim o estado hygienico de uma fabrica, que as aguas lodosas do Harach banhavam. Plantou em três annos perto de 50:000 Eucalyptus, destruiu à reputação insalubre de três grandes fabricas e criou outras que estão rivalisando com as mais poderosas e mais ricas : não é isto em- pregar dignamente os bens que a fortuna repartiu com o homem intelligente? Tudo se realisou com uma tenacida- de de ideias e um perfeito conhecimento das boas leis da economia agrícola, e foi isto o que nos fez dizer que Mr. Sau- liere era um exemplo digno de ser imitado pelos timidos e menos ricos. Com eíFei- to, os Eucalyptus, aos três annos, tcem 12™,00de altura, 0™,60 de circumferencia, a um metro do solo; aos cinco annos, con- tam 20'«,00 de altura, e 0™,90 de circum- ferencia. Uma arvore similhante vale mais de 10 francos no seu logar e Mr. Sauliere fez por tanto um negocio lucrativo, porque os 50:000 Eucalyptus que plantou re- presentarão, passados cinco annos, qui- nhentos mil francos de madeira de cons- trucção. E convém notar que não haverá ninguém que não julgue inferior o preço que determinamos a cada arvore nas pro- porções acima mencionadas. Calculai agora, por um momento, a ri- queza florestal que pode conter a planície de Mitidja, e dizei-nos se as nossas im- pressões podem ser taxadas de exaggero. D'aqui a vinte annos, o porto de Argel estará livre do tributo que paga á Suécia e Noruega, e os seus magníficos estaleiros apresentar-se-hão em concurrencia com os de Inglaterra. Citar Mr. Trottier, é lembrar o nome do homem que mais tem concorrido para a propagação do Eucalyptus na Argélia. É elle o creador mais fanático, e, se alguma cousa pode lisongear o seu amor próprio^ é o ouvir dizer que ninguém tem melhor comprehendido e estudado a questão do que elle. A' sua fé robusta deve-se não só o magnifico viveiro que o Jury visi- tou, mas também a grande exploração que elle fez na planície n'uma extensão de quarenta hectares. Seria cançar muito os nossos leitores o insistir sobre as minucio- sidades da exploração da propriedade de Mr. Trottier. Tudo ahi respira a sciencia da arboricultura, e todos os que quizerem tomar lições exactas sobre a cultura da preciosa essência florestal, que se recom- menda á attenção dos proprietários, deve- rão procurar o mestre mais auctorisado pela sua experiência. Para dar uma ideia do rápido cresci- mento do Eucalyptus apresentamos aqui as dimensões que verificamos, tanto era casa de Mr. Sauliere como na de Mr. Trottier. Aos quatorze mezes, um Eucalyptus ti- nha 0"',30 de circumferencia a um metro do solo e de 5«',00 a 6"\00 de altura. Aos três annos, 0^,60 de circumferen- cia e 12^,00 a 13™,00 de altura. Aos cinco annos, 0'°,90 de circumfe- rencia e 20™,00 a 25™,00 de altura. Em casa de Mr. Virieux, dous Eucaly- ptus plantados n'um monte offereceram-nos estas mesmas dimensões. 110 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Em cíisa de Mr. Blarelle^ vice-presi- dente do Coinicio, ura Eucali/ptus de cinco annos apresenta mais de ura metro de cir- cumferencia. Em casa de Mr. Sauliere, os Eucaly- ptus têem completamente seccado as la- goas que rodeavam a propriedade, e nota- mos este facto muito importante por toda a parte onde ha plantações de Eucalyptus, a terra está secca a mais de 30 centime- tros de profundidade, e onde as não ha, conserva-se húmida e lodosa. As arvores em geral, e os Eucalyptus em particular, produzem o effeito de drai- nagem, e devem por isso ser recommenda- dos a todos os proprietários de planicies. A. J. DE Oliveira e Silva. DUAS palavras AGERGA DA PROFUNDIDADE DA PLANTAGAO Uma das causas que mais concorre para o mau desenvolvimento das plantas é o péssimo systema de plantação empre- gado por muitas pessoas. Plantar muito fundo, enterrar o caule das plantas quasi até aos primeiros ramos, eis o systema que ordinariamente se cos- tuma seguir. Erro gravíssimo que muitas pessoas comraettem, e do qual resulta, se- não a morte das plantas, ao menos fi- carem sempre rachiticas, pouco desenvol- vidas e de aspecto muito desagradá- vel. O grau de profundidade a que o collo das raizes deve ser enterrado varia se- gundo a permeabilidade do solo e a maior ou menor quantidade de humidade n'elle habitualmente contida. Tem-se notado que as raizes, preci- sando constantemente da influencia do ar, tendem mais a desenvolver-se horisontal- mente do que no sentido vertical, e de verão por conseguinte as covas ser mais largas do que profundas. Em geral as raizes devem ser enter- radas a uma profundidade tal, que possara receber a influencia do ar sem ficarem ex- postas á seccura. O grau de profundidade media, que melhor satisfaz a estas condições, é de 0'°,05 para um terreno de consistência media. Em terrenos muito leves e permeáveis e por consequência muito expostos á sec- cura pode levar-se esta profundidade até 0™,08, ena quanto que, era terrenos com- pactos e duros, nunca deverá passar de 0°»,02. Em regra é menoa iaconvenieute plan- tar perto da superficie do solo do que eu- terrar profundamente. No primeiro caso, as raizes novas en- terrar-se-hão convenientemente para pode- rem encontrar a humidade que lhes é neces- sária ; no segundo serão obrigadas a seguir uma direcção contraria á sua tendência na- tural para se aproximarem bastante da su- perficie a fim de evitarem a humidade su- perabundante que as impede de receber a influencia do ar. Os inconvenientes da plantação funda são muito manifestos e muitas pessoas, julgando talvez que as raizes só têem por fim fixar ao solo as plantas, empregara este systema que tão mau resultado dá. E por isso que a maior parte das plantas, que mandam ir dos estabelecimentos hortíco- las para povoarem os seus jardins, par- ques, pomares, etc. etc, apezar de as re- ceberem em condições para bem se des- envolverem, ou morrera em pouco tempo, ou peimanecem sempre infezadas com uma vegetação mesquinha. Citarei alguns casos que se têem da- do com algumas pessoas que me honram com as suas encomraendas. Em 1867 osnr. Joaquim Proença Viei- ra comprou no meu estabelecimento 250^ reis de Laranjeiras e Tangerineiras pa- ra fazer ura pomar na sua quinta de Vil- lar do Paraizo. Por esta occasião mostrei- Ihe os inconvenientes da plantação funda a que este snr. ligou pouca importância pelo que mais tarde se viu. Passados me- zes, disse-me o snr. Proença que 2i% Laran- jeiras e Tangerineiras estavam morren- do todas e que não sabia a que attribuir similhante resultado, porquanto a planta- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 111 ção tinha sido feita por pessoa compe- tente. Como eu sabia que tinha mandado as plantas com boas raizes e em bom estado de desenvolvimento, logo suppuz que a causa da sua morte era a má plantação e pondo em duvida a competência de quem a tinha feito, pedi-lhe para ir vel-as. Effe- cti vãmente não me enganei. Era doloroso ver o modo como se havia feito a plan- tação. Arrancando algumas das que se podiam considerar completamente perdi- das, vi que estavam enterradas de 0'°,50 a 1 metro de profundidade (! !) com o cau- le completamente podre em razão da pro- longada maceração. Conheceu o snr. Proença a causa da morte das suas Laranjeiras e a incompe- tência do plantador, e convencido dos inconvenientes do systema seguido^ fez uma nova plantação segundo as indicações que lhe dei e os resultados obtidos foram o mais satisfactorios possível, por quan- to todas as Laranjeiras e Tangerineiras vegetaram vigorosamente sem se perder uma só. O snr. Francisco Rodrigues de Faria encommendou-me para um seu amigo de Felgueiras 12 Laranjeiras, que foram re- mettidas em tempo competente^ depois de haver feito uma boa escolha. Passados me- zes appareceu no meu estabelecimento o amigo do snr. Faria, queixaudo-se de que das 12 Laranjeiras, que tinha recebido ape- nas lhe escapara uma. Mostrei-lhe os inconvenientes da plan- tação funda e narrei-lhe o que se tinha dado com o snr, Proença. Conhecendo então a má pratica que ti- nha seguido, disse-me que eífectivamente as tinha plantado a uma grande profun- didade e que, pelo que acabava de ouvir, conhecia a razão de só lhe haver escapado uma, porque esta, não podendo ser dis- posta no mesmo local das outras, em ra- zão do espaço não chegar, a fora plantar em outro logar, em cujo terreno encontrara pedra, por isso, não podendo profundar muito, a deixara á superfície da terra. O snr.Broderode, queixando-se de que de duas Acácia Melanoxylon (Austrálias) que tinha plantado, só uma se desenvolvia bem em quanto a outra permanecia muito infezada, accrescentou que esta tinha sido plantada a uma grande profundidade com o fim de lhe encobrir uma tortuosidade que tinha no caule. Já se vê portanto que a plantação fun- da é causa principal da morte das plantas. Escrevendo estas poucas linhas sobre a profundidade a que deve ser feita a plan- tação, tive em vista responder ás per- guntas que sobre o assumpto me têem dirigido muitos assignantes do «Jornal de Horticultura Pratica». JosÈ Marques Loureiro. PASSIFLORA TRIFASCIATA Esta planta provocou a nossa admira- ção ou antes o nosso enthusiasmo na Ex- posição Hortícola de Lisboa, que teve logar o anno passado^ e onde foi expos- ta pelos snrs. D. J. Nautet Mon|;eiro e José Marques Loureiro. O exemplar do snr. Monteiro era por certo o que apresentava melhor apparen- cia, sem duvida por efiíeito dos cuidados que lhe ministrou; hoje, porem, o proprie- tário d'este jornal tem já um avultado nu- mero de reproducções e entre ellas algu- mas era excelJentes condições. As folhas d'esta Passijiora são de um colorido encantador e podem com certeza ri- valisar com as de muitas plantas conside- rada§ de primeira ordem. É pois uma tre- padeira que deve figurar em toda a estu- fa que tenha o indispensável cunho do bom gosto. O colorido das folhas passa por três phases. — No principio, são muito pou- co ou quasi nada coloridas na face infe- rior e na superior larga e irregularmente manchadas de branco. Pouco e pouco as manchas brancas tornam-se cor de rosa, em seguida rosa carregado e depois mais avermelhado, e a face infera, que era de um violeta escuro, torna-se depois acasta- nhada. Estas manchas são de forma mui- tíssimo irregular e estão dispostas de tal maneira que fazem contorno áa 3 nervu- ras principaes. Não nos consta que tenha já florido em 112 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Portugal, porem o viajante-botanico do es- tabelecimento belga «Verschaífelt», Mr. Barraquin, a quem devemos a preciosa planta de que nos occupamos, assevera que as flores sào brancas, bastante gran- des e bellas, e que exhalam um aroma mui suave. É esta mais uma razão para que todo o amador, que tem uma estufa, junte á sua coUecção a admirável Passijlora tri- fasciata, verdadeiro encanto da vista e primor de fragrância. Oliveira Júnior. CHORIZEMA ILIGIFOLIA Esta planta é ura lindo arbusto da fa- milia das Papilionaceas , oriundo da No- va HoUanda, onde foi descoberto por La- billardière, quando procurava o infeliz La Perouse. Da sua raiz nascem hastes delgadas e Bcmi-lenhosas, divididas em muitos ra- mos que sustentam folhas quasi sesseis, ovaes, obliquas e guarnecidas de dentes terminados por espinhos; circurastancia qua, junta á sua cor verde luzidia e con- sistência coriacea, fez com que se lhe des- se o nome especifico de ilicifolia (folhas de Azevinho). C.ALBERTO Fig. 39 — Chorizema ilicifolia As suas flores são muito lindas, e se observarmos com attenção as suas partes veremos que o estandarte (que é a parte maior da flor), ó partido em forma de co- ração e de uma linda cor vermelha ala- ranjada, com uma mancha amarella dou- rada na base. Estas flores estão dispos- tas nas extremidades das hastes, ou na axilla das folhas ; formando bellos rami- Ihetes. Esta planta teme muito o frio, as- sim como o demasiado calor, e gosta de ser plantada em terra de urze. É por isso que a si\a cultura se torna difficil. A sua mul- tiplicação também não é muito boa de fa- zer; tem-se ensaiado differentes modos, to- davia só por sementeira e em abrigo é que se tem podido obter alguns exemplares. Floresce durante quasi todo o estio e em grande abundância, e faz muito lindo eflfei- to plantada em grupos nos jardins. A. J. DE Oliveira e Silva. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 113 CHROIICA Diliciam-se por ventura os nossos lei- tores com a suave matinada dos passari- nhos, com o gorgeio melancholico dos rou- xinoes em noutes de ameno estio ? Quer- nos parecer que seria loucura da nossa parte o pol-o em duvida. Ha plantas que tem sobre outras o es- pecial predomínio de attrahirem irresisti- velmente o bando innoffensivo das aves. Como que possuem uma espécie de ma- gnetismo, como que tem alma e se deli- ciam cora as ternuras e caricias d'esses pequeninos e obscuros Romeus e Julietas. Queremo-nos referir agora ao Diospy- ros lótus Linn, e ao Diospyi'os virginia- na Linn.; encontrando-se ambos á venda no nosso mercado. O primeiro, o Diospyros lótus, é uma arvore de 6 a 7 metros, de folhas ovaes- agudas ou acuminadas, obtusas na base, glabras na face superior e pubescentes na face inferior, de 5 a 8 centímetros de com- prido e de 22 a 35 milímetros de largura, e muitas vezes onduladas nos bordos. As flores são axilares, amarelladas e susten- tadas por curtos pedícelos. As masculinas são solitárias ou ternadas e as femininas solitárias; o cálice é bispido interiormente, e na base exteriormente, com quatro ló- bulos agudos, ciliados ; coroUa duas vezes mais comprida que o cálice, campanulada com quatro lóbulos reflexos, arredonda- dos^ ciliados ; baga escura, de quatro lo- jas, do tamanho de uma cereja pequena. Floresce aproximadamente em maio ou junho. O segundo, o Diospyros virginiana é do mesmo tamanho que a espécie anterior ; as folhas são ellipticas, obtusamante acu- minadas, levemente pubescentes nos bor- dos, as nervuras e o peciolo de 8 a 14 centímetros de comprido sobre 21 a 55 millimetros de largura. As flores são ama- relladas, solitárias ou reunidas por trez ; pedicellos um pouco mais curtos que as flores, pubescentes; cálice sedoso na base com quatro lóbulos lanceolados ; coroUa campanulada, estreitada no vértice, glabra, com quatro lóbulos arredondados ; baga ovoidal arredondada, amarella-alaranjado de 25 millimetros de comprido e floresce na mesma epocha que o Diospyros lótus. Os fructos d'estas arvores persistem até dezembro ou janeiro e são um acepipe para as pombas, tordos, melros, etc, etc, que fazem d'estes fructos alimento, por- que n'esta epocha falta-lhes geralmente outro . Ao lado d'estas plantas poder-se-ha também dispor uma bella Rhamnea — o Rhamnus intermedius, planta magnifica, muito ornamental pela sua folhagem e também pelos seus fructos que são era grande abundância. Attrahidos d'esta maneira, virão as aves povoar os recessos dos nossos jar- dins, suavisar a agreste quadra e encher de vida a paisagem que é toda tristeza e raelancholia n^aquella epocha. — Apezar dos grandes desastres que occorreram nos últimos dez raezes, em França, vemos com admiração que os es- tabelecimentos hortícolas vão readquirin- do o seu antigo aspecto. Comprova-o a recepção de um volumoso «Catalogue ge- neral de graines et plantes — 1871» que nos foi enviado por MM. Vilmorin An- drieux & C."^, bera conhecidos horticulto- res de Pariz. Os viveiros d'esta muito acreditada casa, situados nos subúrbios de Pariz, foram na maior parte devastados e os que possuia muros a dentro da ca- pital estiveram sem duvida abandonados em consequência da completa falta de bra- ços. Todos estavam occupados na defeza da pátria e por consequência não deve- mos estranhar, se por algum tempo MM. Vilmorin Andrieux & C.'® não poderem dar cumprimento ás encommendas que lhes sejam confiadas com aquella exactidão e pontualidade que tanto os caracterisa. O catalogo «Vilmorin» encerra um avultado numero de plantas forraginosas, hortaliças, plantas ornaraentaes para jar- dim, etc, etc. — Dá-nos um diário francez noticia das communicações, feitas por Mr. Chevreul á Academia, sobre a vegetação singular de um bolbo de Jacintho. 114 JORNAL DE HORTICUI.TURA PRATICA É na verdade um facto curioso o que o distincto académico uos acaba de reve- lar. lia três annos collocou Mr. Chevreul o bolbo n'um frasco cheio de agua e viu-o florescer sem desenvolver raizes algumas. Na primavera seguinte, poz o bolbo nas mesmas condições e ao tim de oito dias mauifestou-se uma pequena excrescência no prato do bolbo, mas nào desenvolveu raizes algumas. Apresentou folhas e duas hastes lloraes, como já tinha acontecido no anno anterior, e no de 187U repetiu-se o phenomeno sem a menor alteração. Este facto muito curioso mostra-nos que a vegetação se pode estabelecer sem radiculas, nos casos em que a agua não penetra no vegetal senão por endosmose. — A lamentável lucta franco-prussiana deu origem a numerosas descobertas. En- tre outras, uma que parece interessante é a que refere o sr. António José de Oli- veira e (Silva na seguinte carta : Snr. Oliveira Júnior. Acabo agora de ler que n'um jantar, que se deu em Panz, por occasião do cerco (17 de no- vembro ultinioj, entre vários pratos de carne de cavallo, cão, galo e rato, houve um de licyoniaa ensopadas. iNo relatório sobre esse jantar a que assistiram as maioies capacidades scientilicas de Pariz, diz-se, que este novo prato é muito ^^innlhante as ^:t'(irts-,' e que, se los^-e tão abundante como e,>tas, seria um bom correctivo para os etlcitos da carne salgada. Julgo que não seria fora de propósito communicar este fado aos leitores dj seu jornal, para ver se al- gum se resolveria a ensaiar este nuvu legume, pe- dindo ao mesmo tempo o favor de dar parte do re- sultado da e.xpeiiencia. iNo entanto V. fará o que entender d'esta no- ticia, bou etc. Porto O de abril de 1871. A. J. DE Oliveira e Silva. Apoz esta noticia recebemos em nova carta os seguintes pormenores : Snr. Oliveira Júnior. Apresso-me a enviar-lhe mais alguns aponta- mentos sobre o novo legume — Ueyonias. iNo jardim do Lu.\emburgo cultivou-se uma grande porção de Beyontas, e tizeram-se experiên- cias sobre o seu emprego como alimento. As U. lú- cida, aemper florens, e incarnaía. espécies de folhas lisas, parecem assimilhai-se muito ás Azedas. As variedades de foliias villosas, da Begónia rex, foram também ensaiadas. Cosidas a primeira vez com sal e agua, eram acres c determinavam sensações no intestino. Cosidas em agua simples- mente, á maneira das Azedas, deram um produ- cto agradável e scdí acção particular sobre a di- gestão. Mr. Riviére observou que a agua" em que se cosiam estas Beijonias tomava a cor vermelha. Mr. Chatin pensa que a Begónia pode servir para a alimenlaçõo, mas com a condição de ser «branqueada » ainda mais do que a Azeda, porque contem uma maior porção de bioxalato de potassa. E' á presença deste sal que a Begónia deve a propriedade de tirar as nódoas de tinta. l'areceu-me que lhe devia participar isto com o fim de V. divulgar, na chronica do seu jornal, um facto que .se torna sobre modo interessante. Sou de V. elo. Porto y de abril de 1871. A. J. DE Oliveira e Silva. Se as Begónias podessem ser cultiva- das na nossa região, ao ar livre, sem dif- íiculdade, e se eíFectivamente gosassem das propriedades que o snr. Oliveira e Silva relata, era possível que víssemos ge- neralisada a sua cultura. Como requerem, porem, estufa, não é muito provável que cheguem a desempenhar nas nossas mc- zas o importante papel que a dura neces- sidade as obrigou a representar em Pariz. — Ao que parece, não se verificará em junho a exposição que, segundo dis- semos, se havia de realisar no Palácio de Crystal d'esta cidade. Affirmam-nos que ficará para mais tarde. — O snr. João Carlos Gomes, distin- cto pharmaceutico de Ílhavo, que se tem dedicado de coração ao estudo das plan- tas, acaba de mandar ao Jardim Botânico d'esta cidade uma collecção de plantas in- dígenas. Este cavalheiro tem feito por varias vezes egual presente, o que se torna tanto mais apreciável, quanto é certo que, não comportando a grandeza do jardim avul- tado numero de plantas exóticas, devem sempre escolher-se de preferencia as in- dígenas, tornando aquelle pequeno recinto uin bello muzeu de plantas do paiz. Com este intuito o digníssimo director do jardim, o snr. dr. Francisco de Salles Gomes Cardoso, e o 1." ofllcial, o snr. Agostinho da Silva Vieira, com aquelle zelo e dedicação, que consagram a tudo o que diz respeito ao jardim, têera empre- gado todos os esforços para que elle se torne uma verdadeira eschola botânica. — A «Société Royale d'Agriculture et de Botanique» de Gand (^Bélgica) enviou- nos um catalogo com os nomes dos expo- sitores que concorreram á exposição que JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 115 alli teve logar nos dias 26, 27, 28 e 29 de março do corrente anno. Houveram quarenta e tantos exposi- tores, entre os quaes notamos os nomes de J. Linden e Jean Verschaffelt, distinctos horticultores belgas, obtendo este ultimo umas vinte medalhas. Esta sociedade tem promovido 133 ex- posições de plantas e é de crer que con- tinuará por este modo a disseminar o gosto pela horticultura. — A aclimação da Wellingtonia gi- gantea — o único rival do Eucalyptus, — tem merecido, nos últimos tempos, a at- tenção de alguns amadores distinctos do paiz e oxalá que um pleno êxito venha coroar os seus esforços, porque esta ar- vore, depois de aclimada, representaria um importante papel na nossa economia florestal. Na Califórnia, foram encontradas, ul- timamente, algumas florestas de Welling- tonias, verdadeiramente colossaes, e se não nos fosse dito por auctoridades que me- recem a maior confiança no mundo scien- tifico, não se lhe poderia dar credito. O massiço denominado dos «Diaman- tes» comprehende quatro arvores enormes, que variam em circumferencia de 20 a 2ò metros. Muito perto acha-se um exemplar completamente ôco, vegetal caverna onde, segundo se diz, se abrigaram de uma vez dezeseis pessoas a cavallo. Um pé chamado «Tunnel», que está deitado no chão, forma um tubo de 12 me- tros de comprido, em que podem passeiar muitas pessoas ao mesmo tempo. Um grupo denominado «Calvaveras» e de que vários viajantes téem fallado, mais ou menos exactamente, está situado no condado de Calvaveras. E' composto de 93 indivíduos. Um d'elles, que foi en- viado a uma exposição, media 90 metros de comprido e 28 de circumferencia. Para o derribar, foram precisos cinco homens, que trabalharam durante vinte e cinco dias. Citaremos ainda o «Pae da Floresta», que é uma ruina admirável. Ainda está de pé e cora quanto os séculos e os ele- mentos lhe derribassem a cabeça, ainda assim mede 93™, 60 de altura e 33™,60 de circumferencia ao nivel do solo. E diga-se que já não existe a raça dos gigantes ! — De uma carta endereçada ao pro- prietário d'este jornal, no principio de maio, pelo snr. visconde de Loureiro, ex- trahimos dous períodos que concernem á Wellingtonia gigantea e aos Eucalyptus. As Wellingtonias. que V. me mandou em outubro, estão lindas : toem lançado grandes reben- tões e não extranharam a plantação. Foram col- locadas próximo da agua e em terreno húmido, e não dei grande profundidade ás covas. Soffreram, n'estas condições, muito pouco com o inverno, ape- zar de ser rigoroso, mas supponho, em vista do que se tem escripto sobre esta Conífera, que não acontecerá o mesmo com os grandes calores. Vere- mos. Os Eucahjplus mostram também excellente vegetação e poucos morreram. Tenho -os em terre- no ordinário e secco. Vizeu. Visconde de Loureiro. Este cavalheiro, conhecido como um dos apaixonados de Flora, torna-se mere- cedor dos nossos applausos pelos ensaios que emprehendeu da cultura das Welling- tonias. Não concordamos em que se desse pouca «profundidade ás covas», mas quer- nos parecer que com esta expressão pre- tende o auctor da carta designar que fo- ram «plantadas com pouca profundida- de». Entendido assim, a nossa opinião não pode distanciar muito da do snr. visconde de Loureiro. — Temos sobre a nossa banca o pros- pecto de uma obra, que se vae publicar n'esta cidade, debaixo do titulo de «Dic- cionario Pratico de Horticultura e Botâ- nica» e de que é auctor o snr. António José de Oliveira e Silva, já conhecido dos nossos leitores pelos seus escriptos publi- cados n'este joi^nal. Tudo que se pode inferir do prospe- cto, é que deve ser uma obra importante. Será distribuída ás cadernetas mensaes de 32 paginas e quasi no formato do «Jornal de Horticultura Pratica» custando cada uma, no Porto, 100 reis. Aguardamos por- tanto a publicação de algumas cadernetas e depois diremos o que se nos offerecer. — São muito satisfactorias as noticias agrícolas e hortícolas que temos recebido. De Coimbra, diz-nos o nosso amigo o snr. Adolpho Frederico Moller, que as semen- teiras de Trigo, Centeio, Cevada e Mi- lhos temporãos apresentam bom aspecto. 116 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Os pomares estão lindíssimos mas não promettem produzir tanta fructa como o anno passado e as vinhas têem boa appa- rencia. O estado sanitário dos gados é re- gular no districto de Coimbra, mas no gado suíno tem-se manifestado alguns ca- sos do febre carbimculosa e com especiali- dade na freguezia de Santo Varãono con- celho de Monte-mór-o- Velho. — Mais uma moléstia vem ameaçar os nossos jardins! Mais um inimigo que é preciso combater! Um jornal francez faz menção de imi novo flagello que acaba de atacar as Aucu- bas. A moléstia apparece nas folhas, pri- meiramente debaixo da forma de manchas de um preto muito escuro, que provocam rapidamente uma decomposição. Grande numero de indivíduos toem pe- recido e não se conhece por em quanto nenhum remédio que possa salvar os que continuarem a ser accomraettidos. — Temos notado que muitas das ar- vores que têem sido plantadas nas ruas d'esta cidade não apresentam uma vege- tação tão vigorosa como era de esperar em um clima como o nosso. Isto é devido certamente ao péssimo systema empregado n'estas plantações, systema que consiste em fazer-se uma cova, onde se planta a arvore, sem se formar ura solo vegetal conveniente, cnde ella possa encontrar o sustento para a sua vegetação. Muitas ve- zes a plantação é feita em uma pequena camada de terra assente sobre rocha^ re- sultando d'aqui que as raízes das arvores, depois de haverem esgotado essa pequena camada de terra vegetal, vão procurar uma alimentação má ás fendas das pedras, e depois, em annos de grande secca, as ar- vores, não podendo resistir, amarellccem, ficam enfezadas e muitas vezes acabam por seccar completamente. Estes inconvenientes podem evitar-se, plantando as arvores a maiores distancias umas das outras, fazendo covas largas, cavando profundamente e revolvendo bem o mau solo, para que as raízes das arvo- res se possam desenvolver e implantar-se atravez d'elle. — Mr. Haigh diz no oMirror of Scien- ce» que tendo transplantado Pr ewttZas para um solo mais rico, a sua cor amarella trans- formou-se em purpura carregada. Podem-se obter modificações análogas em certas plantas, empregando-se para isso substancias particulares. O carvão de choça dá uma cor mais escura ás Dah- lias, Rosas e Petunias ; o carbonato de soda dá um avermelhado aos Jacinthos, e o phosphato de soda modifica diversamente as cores de muitas plantas. Era utíl que se fizessem experiências n'e8te sentido. — No ultimo numero do «Archivo Ru- ral» deparamos com um processo muito simples para a conservação das Batatas e que, segundo se affirma, é efficaz. Consiste este processo em impregnar os tubérculos de acido sulphuroso (vapor de enxofre) por ura meio análogo ao que se usa para enxofrar o vinho por meio de mecha. Faz-se queimar uma mecha de enxo- fre muito puro, em ura tonel cheio de Ba- tatas. Quando o vapor sulphuroso tem im- j)regnado os tubérculos, estes ficam ao abrigo da fermentação, por um tempo in- definido. Subraettendo a sua provisão de Batatas a este processo, todas as casas toem segura uma alimentação sã e intacta até á estação do estio. — Veríficou-se no dia 1 de abril, em Évora, o concurso de instrumentos agríco- las de que já falíamos na nossa Chroníca. A concorrência de espectadores foi muito grande e os expositores eram em numero bastante avultado. S. M. El-Rei D* Fernando, que se interessa por tudo o que ó concernente ao desenvolvimento hortícola ou agrícola, não íaltou em hon- rar esta festa com a sua presença. Os instrumentos que concorreram fo- ram : na 1.* classe — charruas Dombasle e Grignon, Braban-double, charruas ame- ricanas e charruas Lisboa e Xavier. Na 2.* classe — cultivadores, escaríficadores, grades Valcourt, grades articuladas in- glezas, solos Kroskíll, etc, etc. A falta de espaço obriga-nos a con- cluir esta curta noticia sobre a exposição de Évora. Os nossos emboras aos seus promotores ! Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 117 ASTRAP^A WALLICHII lindl. o homem vive distrahido e indifferente no meio das grandezas que o rodeiam ; o habito apaga n'elle o^sentimento da admi- ração. E, não obstante, tudo o que o cerca são maravilhas, em tudo se descobre a mão admirável do Creador. Percorrendo todos os reinos, em que a natureza se nos apresenta, que riqueza, que hixo não ve- mos em todas as suas obras ! Mas descendo especialmente aos admiráveis segredos do reino vegetal, e observando-o desde a mais humilde Violeta, que reflecte na sua corolla odorifera o azul do ceu, ou da Per- vinca, que veste com as suas grinaldas azues os rochedos selvagens, até essas ad- miráveis Palmeiras, rainhas dos oásis, crescendo luxuriosamente nas florestas do Novo Mundo, onde tudo é grande, impo- nente e magestoso como ellas, que esplen- dores ! que maravilhas ! que harmonias ! que riqueza e variedade de colorido, que Fig. 40 — Astrapaía Wallichii. não ha ahi quem as saiba pintar nem des- crever ! Desculpe-nos o paciente leitor esta curta divagação e permitta-nos que lhe apresentemos uma d'essas maravilhas, de que jacabamos de fallar. E na familia das Byttneriaeeas, que vamos encontrar a planta, cujo nome ser- ve de epigraphe a este artigo : a Astra- pcea Wallichii Lindl. A primeira vista esta planta pareceu- i871 — vol. II. nos um exemplar anão de uma Paulow- nia ; mas, examinando-a com mais atten- ção, reconhecemos que lhe é muito supe- rior no porte geral e nas soberbas flores com que se orna. Indigena da índia e Ma- dagáscar, foi introduzida na Europa ha muito pouco tempo. É uma soberba planta de estufa, notável pela elegância da sua folhagem muito grande, opposta, cordi- forme, acuminada, pubescente pela parte superior, cotonosa pela inferior, e susten- N.» 7— Julho. 118 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA tada por longos e elegantes peciolos. As nervuras, que sao muito pronunciadas, concorrem também pela sua linda cor ro- sada para a belleza da planta. As flores, principal ornamento do ve- getal, são pendentes de grandes pedúncu- los também cotonosos e de cor averme- lhada, dispostas em corymbo muito aper- tado, formando um lindo ramilhete muito denso, de bella cor de rosa ; e são muito notáveis pela abundância dos cstames mo- nadelphos, mais compridos que a co- roUa. As suas antheras são oblongas, e quan- do se abrem apresentam o pollen de en- cantadora cor amarello-ouro muito viva, de sorte que á primeira vista parece que a flor está orvalhada de uma chuva do mais precioso metal. Pela inspecção da excellente gravura junta, verão os leitores o porte esbelto e gracioso doesta planta, que está hoje em plena vegetação nas estufas do snr. José Marques Loureiro. Ha três espécies de Astrapceaj todas cultivadas como plantas de ornamento, mas a mais notável é a nossa A. Walli- chii Lindl. ou pendulijiora D. C. A respeito da sua cultura diremos : que não obstante ser recommendada como planta de estufa quente, seria útil talvez tentar aclimal-a ao ar livre, pelo menos de verão ; podendo assegurar aos nossos leitores que viria então a ser uma verda- deira rival da Aralia jyaipyrijera e da Wigandia caracasana. O seu tractamento é fácil ; a terra em que for plantada deve ser substancial, mas areenta, e durante a sua vigorosa vegetação sao-lhe precisas abundantes regas ; estima muito a luz e o ar. Multiplica-se por estacas feitas debaixo de redoma e com muito calor, e acaute- ladas da humidade. A. J. DE Oliveira e Silva. SPIRvEA DOUGLASI hook. As SpircBas, vasto género das Rosá- ceas, de que se conhecem para cima de cem espécies, todas mais ou menos notá- veis pela diversidade de formas foliares e elegância da sua inflorescencia, com- poem-se de plantas vivazes, herbáceas e o maior numero fructescentes, espalhadas em todas as partes do hemispherio bo- real, A Europa, comquanto não seja rica em espécies d'este género, possue comtudo algumas, que, pela sua belleza e porte pit- toresco, são procuradas para ornamento dos jardins, taes são, entre as mais dignas de menção, a Spircca aruncus, S. Jiliiíen- dula e S. ulmaria. A S. aruncus 6 uma espécie muito ornamental, tanto pela elegância da sua folhagem composta, como pela belleza de suas grandes paniculas de flores brancas. A S. jiilipendula, a mais importante das três pela sua utilidade na economia, é uma linda planta, que se faz notar pelo aspecto gracioso e que merece o acolhi- mento dos floristas. As suas folhas, todas radicaes e paten- tes sobre o solo, são longas, estreitas c divididas em finos e numerosos segmentos recortados, partindo do meio d'este tufo de folhas uma haste que termina por uma gra- ciosa panicula umbelliforme de flores bran- cas e cor de rosa, de cheiro suave. A sua raiz é formada por numerosos tubérculos pequenos, que parecem suspen- sos por meio de fios delgados. D'aqui o nome especifico de jilipendula que lhe deu Linneu. Estes tubérculos contêem uma fécula amylacea muito abundante e nutritiva, da qual se poderia tirar muito partido, se a planta fosse cultivada cm grande. Os ce- vados são tão ávidos d'estes tubérculos que, attrahidos pelas emanações da planta, escavam em pouco tempo o terreno onde ella cresce. Quanto á terceira espécie, a Spírcea ulmaria, quem não conhece a rainha dos prados, doçura dos pí*ados , « meadow sweet», como lhe chamam os inglezes? A Spircexi ulmaria, é uma verdadeira rainha pela elegância de suas formas, e que no prado húmido ou á beira de um regato, nos mais bellos dias do anno, no meio de innumeras hervas que parecera fazer-lhe corte, impera pela belleza da sua folhagem e pelas suas numerosas flores, JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 119 dispostas em graciosos ramillietes, de um branco de marfim e de suave perfume. Estas três espécies têem produzido variedades de flores dobradas, o que aos olhos dos amadores é uma dupla belleza. As espécies de caule fructescente são incontestavelmente as mais ornamentaes. Estas, coroando-se de myriades de pe- quenas flores, diíferentemente dispostas, brancas, cor de rosa ou purpúreas, pro- duzem pelo seu conjuncto grande efleito nos jardins. A esta secção pertence a espécie que serve de epigraphe a este artigo, a Spi- rcea Douglasi Hook., uma das mais bel- las do género. Esta interessante Spiroaa, cujo co- nhecimento se deve ao celebre naturalista J. Douglas, habita nas planícies do Ore- gon, na costa occidental da America do norte, até ao estreito de Fuça. E um arbusto de 1™,50 pouco mais ou menos, bem ramificado, que se cobre de graciosas paniculas oblongas e agglo- meradas, as quaes se compõem de peque- nas flores excessivamente numerosas, cor de rosa viva, formando espessos ramilhe- tes do mais encantador efí^eito. Toda a planta é coberta de uma pu- bescencia esbranquiçada, de agradável as- pecto. As folhas são caducas, oblongo- lanceoladas ou ellipticas, denteadas para o vértice muito irregularmente. A Spirma Douglasi é de uma rusti- cidade perfeita, não teme os frios e é in- diíferente á escolha do terreno, comtanto que seja isento de humidade. \ A graça da inflorescencia, belleza do porte e perfeita rusticidade são os predi- cados, que tornam a Spircea Douglasi muito recommendavel na ornamentação dos jardins. Multiplica-se por meio de estacas e mais facilmente pela separação dos reben- tões, no outomno, depois da floração, ou na primavera, antes da foliação. J. Casimiro Barbosa. CAMELLIA D. RITA DE CÁSSIA É incalculável o numero de varieda- des de Camellias, que se lançam annual- mente nos diversos mercados da Europa. Na Itália, principalmente em Milão, Flo- rença e Nápoles, ó onde os semeadores são incansáveis : favorecidos por um cli- ma suave e próprio para a cultura d'estas plantas, obtêem excellentes resultados. Não é comtudo de Nápoles que nos vera o maior numero de variedades ; não por causa das ardores do sol, ou das mudanças atmos- phericas locaes; não por motivo das mul- típlices difíiculdades que se encontram ge- ralmente era todos os outros paizes, mas sim porque, como entre nós, está pou- co desenvolvido o gosto pela horticultura. Pode-se bera applicar aos cultivadores d'este paiz o que diz o celebre monogra- pho das Camellias, Mr. Berlèse: La nature ayant tout fait pour eux, ils ne font rien pour aider la nature. Se Nápoles encerra poucos amadores de Camellias, Florença pelo contrario conta um avultadíssimo numero. São muito os amadores distinctos e os horticultores, que se dedicam n'esta cidade ás sementeiras de Camellias, e de dia para dia augmen- tam elles *á medida que a horticultura se desenvolve. E principalmente aos esforços de MM. Pricci, Arnoud, Sloanne, Schneider, Mac- donal, Baroni, Santarelli, que se devem algumas das magnificas acquisições dos jardins da Europa. De todos os paizes da Itália, é toda- via Milão, o que mais abunda era horti- cultores, que se entregara ás sementeiras. O primeiro, que abriu o caminho, foi o dr. Saoco, amador hábil, que possuia em 1830 doze mil plantas obtidas de seraen- tes colhidas no seu jardim. Foi d'estas sementeiras que se obteve um bom nu- mero de bellissimas variedades. As pisadas do dr. Sacco foram segui- dos mais tarde por MM. Mariani, Caso- retti, Negri, Martin Burdin, Lechi, Cal- ciati, e pelos jardineiros de Lainate, de Monza, das Ilhas Borromeas, etc, etc, possuindo agora para cima de quarenta mil Camellias de semente. Pela sua parte os iuglezes, ainda que desfavorecidos pela 120 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA natureza, importam todos os annos se- mentes e as mais bellas Camellias vêem de lá e da Escócia. Os horticultores da velha Albion possuem quasi todas as va- riedades conhecidas e por este motivo acham-se habilitados a distinguir o bom do mau. Sào também muito consciencio- sos e não lançam no commercio senão o que é verdadeiramente novo e bom. Pelo que parece, os horticultores que maiores serviços tcem prestado á horticultura n'esta especialidade, são os sef^uintes: MM. Chan- deler, Knight, Low e Henderson. Ha vinte e tantos annos que os ame- ricanos se occupam da cultura d'estas plantas, e em Nova-York, Philadelphia e Boston tem-se obtido bom resultado. Lançando agora um volver d'olhos so- bre o estado de florescência d'este géne- ro no nosso paiz, não podemos deixar de nos congratularmos, porque as variedades que se cultivam já sobem a algumas cen- tenas e com quanto a maior parte sejam de origem estrangeira, ha muitas que são nascidas em Portugal e por tanto chamar- Ihes-hemos «portuguezas». Estas são, na maior parte, de semen- teiras feitas no Porto e seus subúrbios por pessoas apaixonadas d'este bello gé- nero. Entre os mais felizes devemos men- cionar os snrs.: Roberto Wan-Zeller, vis- conde de Villar Allen, conselheiro Camil- lo Aureliano da Silva e Sousa, e José Marques Loureiro, O ultimo que se acaba de lêr deveria talvez ser posto á frente dos outros, mas de propósito o deixamos para o fim para lhe consagrarmos duas linhas de louvor, porque n'esta especialidade, como em mui- tas outras, tem prestado verdadeiros servi- ços á horticultura. Amador de coração, dotado de inex- tinguível paixão pelas Camellias, dedicou- se de ha muito á sua cultura e pouco e pouco foi coUeccionando as novidades de maneira que possue hoje inquestionavel- mente a melhor coUecção de Portugal. Para chegar a este resultado, não se li- mita a fazer annualmente importação de um certo numero d'ellas. Organisa abun- dantes sementeiras, de onde obtém sem- pre variedades bellissiraas e é de ahi que toma sua origem um bom numero das Ca- mellias portuguezas, que hoje adornam os nossos jardins e que muitas pessoas pen- sam ser estrangeiras. A riquíssima e recente acquisição pa- ra que hoje queremos chamar a attenção dos leitores — a Gamellia D. Rita de Cás- sia — tem a origem de tal maneira en- vencilhada, que seria árdua tarefa obter documentos que attestassem o nome de quem a semeou. Fizemos diligencias.... mas iníVuctiíeras. Comtudo apressemo- nos a dizer que o pé-mãe existe n'uma quinta extramuros, denominada a «Quin- ta araarella» e que pertence á snr.* D. Rita de Cássia Gomes Guimarães. Instado pelo proprietário d'este jornal, fomos exa- minal-o nos principies de março e surpre- henderam-nos as bellas flores que a planta luxuriantemente ostentava. O arbusto acha-se collocado mesmo junto a ura muro e passando a inspeccio- nai o, fomos levados a acreditar que ti- nha nascido alli expontaneamente. A natu- reza é tão pródiga ! Esta planta deve contar de seis a oito annos e, se ainda conservamos na me- moria o que nos disseram, só tinha flores- cido em 18G8 ou 1869, circumstancia que não é todavia de surama importância. Passemos agora a fazer uma suecinta descripção da Camellia D. Rita de Cássia, segundo os apontamento que colhemos no locaL E de tamanho regular e forma ranún- culo (Ranuncidiforme) . As pétalas da pri- meira ordem são vastas, cor de rosa viva e chanfradas. As do centro são ovaes, cor de rosa desmaiado, marbradas de branco e as do olho egualmente ovaes, cor de rosa mais viva e de imbricação regular. Junte-se á belleza da flor uma abun- dante florescência e que mais se pode exigir de uma Camellia'? Com eíFeito o pé-mãe que vimos estava carregado de flores e ao longe parecia um volumoso ra- ra ilhete. Aos amadores de Camellias ousamos recommendar esta variedade, que na sua corte saberá representar dignamente o pa- pel de Rainha. Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICUF.TUR PRATICA 121 PINUS SYLVESTRIS linn. Esta Conífera é uma das arvores flo- restaes, cujo crescimento é bastante rápi- do^ chegando a alcançar a sua maior al- tura entre os 90 e 120 annos. Raras ve- zes vive alem dos 200 annos. A forma do seu tronco é bastante re- gular e cylindrica. Os individues planta- dos isoladmente obtêem em geral uma for- ma tortuosa. Esta arvore é de grande porte, pois chega a alcançar a altura de 40 metros, sobre 1 metro a 1™^50 de diâmetro no pé. O enraizamento é vigoroso, profundo e penetra bem nas fendas das rochas. A sua folhagem (agulhas) é comprida e secca, rebenta em abril, conserva-se três annos na arvore e cahe em outubro. O Pinheiro silvestre é de folhagem persistente. Fructifica aos 40 annos ; floresce en- tre maio e junho e seus fructos (pinhas) amadurecem em outubro do segundo ou- tomno, os quaes abrem no principio da primavera seguinte, cahindo em seguida a semente, a qual germina, correndo o tempo favorável, nos principies de junho. A sua folhagem fortifica mal o ter- reno. Esta arvore é uma magnifica espécie para formar mattas reaes. O Pinheiro silvestre é muito impor- tante nos paizes septentrionaes da Eu- ropa, onde constituo vastas florestas, por si só ou associado á Betula olha (Vidoei- ro), ao Qaercus pedunculata e robiir (Car- valho) e algumas vezes, porem raras, aos Abies excelsa e pectinata (Abetos) e Larix europcea (Larices). Tive occasião de visitar em 1 860 vas- tas florestas d'esta arvore na Prússia, no littoral do Báltico, e nos ducados de Hol- stein e Luxemburgo. Esta Conífera habita os climas frios, e a sua vegetação estende-se até 70° de longitude (meridiano de Berlin), achan- do-se plantada em local que esteja ao abrigo dos ventos do mar ; emquanto que, exposta a estes, a sua vegetação não se estende tanto como acontece por exemplo na Escócia, aonde não passa de 56° a 57° de longitude. Na Rússia oriental vae até 58° e 62° de longitude. No sentido vertical porem encontra-se : Na Noruega a 68° e 267 metros acima do nível do mar. Na Noruega a 62° e 834 metros, idem. No Harz a 52° e 335 metros, idem. No Thurigen a 51° e 500 metros, idem. No Fichtilgeburg a 50° e 766 metros, idem. Nos Karpathos a 49° e 1.000 metros, idem. Na Floresta negra a 48° e 600 até 670 metros, idem. Nos Alpes a 47° e 2.000 metros, idem, do lado do meio dia. Nos Pyreneos a 43° e 2.000 até 2.470 metros acima do nivel do mar do lado do meio dia. No Cáucaso a 43° e 1.835 metros, idem. Na Sicilia a 37° 30' e 2.000 met., idem. O Pinheiro silvestre dá-se bem nos terrenos seccos, graniticos , de quarzo, basalto e arenosos, mas sobre tudo pre- fere os siliciosos, com tanto que sejam profundos e frescos ; nos calcareos fica sempre rachitico. Não serve para arbori- sar as regiões elevadas, porque oppõe fraca resistência aos ventos. As plantas novas requerem pouco cui- dado, pois resistem bastante, tanto ao frio como ao sol, preferem ser plantadas con- junctamente com as arvores folhosas; po- dem-se plantar com facilidade; e aconse- Iha-se a plantação de preferencia á semen- teira, excepto em casos muito especiaes. A sua madeira é applicada tanto nas construcções civis como navaes e nas in- dustrias ; dá combustível de boa quali- dade ; das raizes pode-se extrahir pez, al- catrão e agua-raz ; produz terebiuthina era abundância. Esta Conífera tem grandes inimigos entre os insectos ; dos quaes alguns ata- cam a folhagem, outros o tronco, causan- do-lhe a morte ; os mais para temer são os seguintes: Phalsena geometra pinia- ria, P. bombyx pini, P. bombyx mona- cha, P. noctua piniperda, Tenthredo pini, Sphinx pinastri, Curculio pini, e Hylesinus piniperda. 122 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA O Pinus sihestris não é indígena de Portugal e não o temos visto senão dis- perso em alguns jardins e parques, mas julgo que seria muito possível aclíraal-o nas nossas províncias septentrionaes. A dar credito ao que nos diz José Bonifá- cio de Andrade na sua «Memoria sobre a necessidade e utilidade do plantio de no- vos bosques em Portugal», (pag. ÕG e 57), já houve no nosso paiz grandes piuhaes povoados com esta valiosa Conífera. Em seguida transcrevemos um trecho da dita memoria, pag. Õ6 e 57^ que não deixa de ser interessante : «Temos também o verdadeiro Pinus silvestris de Linneu, Pinheiro de Flan- dres ou de Riga, em vários logares do nosso reino. Nas terras da quinta de Charões, dístricto do Cartaxo ; ha uma grande matta d'estes Pinheiros quasi de 2 léguas de comprido, que pertence á casa de Niza. Este grande pinhal já tem paus de mais de 2 palmos de diâmetro, muito bel- los e direitos : o terreno em que foi se- meado é quasi de planície, elevado sobre o Tejo 50 e 60 braças. Em um sitio da serra do Marão foram também semeados em 1800, e estão hoje (1815) segundo ouço dizer, bem vingados e crescidos : a semente foi mandada vir do norte pelo honradíssimo ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho, conde de Linhares, cuja prema- tura morte lamentam os portuguezes pa- triotas e doutos. O comraendador Domin- gos Vandelli, a quem Portugal deve o primeiro ensino de historia natural e chi- míca, também os naturalísou em uma sua terra ao pé de Aveiras de Cima.» E na pag. 57 nota: «soube posterior- mente que também no dístricto de Samora Correia ha outro pinhal d'esta espécie.» Pedimos aos leitores d'este jornal, mo- radores nos locaes, onde José Bonifácio de Andrade diz existirem mattas do Pi- nheiro silvestre, a bondade de communi- carem a este jornal o que souberem sobre o assumpto. Coimbra — Matta do Choupal. Adolpho Frederico Moller. PÊRA SANGUINE DE FRANGE A Pereira sanguine de France, como quasi todas, tem seus synonymos, que por certo causam grande confusão, mas con- fusão que não podemos evitar. Portanto, antes de entrarmos em mais pormenores, mencionaremos os synonymos da pêra San- guine de France, que nos dá o «Diccio- narío Pomologíco» (A. Leroy). 1.° Sanguinole, 2.° De Sangidnosy, 3.° Caleville de Royder,A.'^ Caleville San- guinole, 5." Gousinotte, 6." Grenade, 7.° Sanguinole africaine,8.° Sanguinole mus- quée, 9." De sang, 10.° Sang rouge, 11." Sanguinole rouge, 12." Passe-Colmar vieux d'été, 13.° Betterrave. Mencionados os synonymos da pêra Sanguine de France, não podemos deixar de aconselhar aos leitores a sua acquisi- ção.^ E um fructo muito saboroso, de tama- nho mediano (temos presente um que mede 19 centímetros de círcumferoncía) e a pol- pa é bastante transparente. Tem manchas cor de rosa vivo, círcumstancía de que lhe provem sem duvida a denominação de Sanguínea. O seu sumo é geralmente abundante e assucarado. A maduração tem logar dos fins de julho a princípios de agosto ; é n'este tem- po que deverá ser feita a colheita. Claude Mollet, director dos jardins reaes no reinado de Henrique IV e de Luiz XIII, falia, no seu «Tractado Hortí- cola», muito vantajosamente d'esta Pe- reira. Diz elle: «A Pereira de Sangui- nosy, cujos enxertos vieram do paiz dos Grisões, é uma arvore excellente e o seu fructo muito bom.» Em nossos dias também temos quem a aponte como uma boa pêra. Mr. Ga- gnaire, de Bergerac (Dordogne), escrevia em 1860 o seguinte: «A Sanguinole sup- portou bastantes humilhações da parte dos nossos celebres pomologos do século pas- sado. . . Comtudo, as qualidades que cila possue nas nossas regiões obrigam-me a ir de encontro a estas auctorídades. . . . Repito, pois, que é uma das nossas boas variedades de agosto e que é muito pro- curada não só no nosso departamento, mas JORNAI. DE HORTICULTURA PRATICA 123 também em algumas regiões do Lot-et- Garonne» (vide «Revue Hortieole», 1860, pag. 645). Na publicação «Le Verger», de 1867, encontra-se o seguinte de Mr. Mas: «Esta pêra constituo um fructo susceptivel de agradar ao maior numero, embora mal apreciada por Duhamel (1768) e por ou- tros, que têem jurado nas palavras de aquelle. » É uma variedade muitissimo antiga, pois que o botânico Joachim Camerarius, de Nuremberg, já fez menção d'ella nos seus escriptos (1571). Apezar, porem, de terem já decorrido quatro séculos e não obstante o numero de variedades que agora se cultivam passar de doze a quinze mil, parece-nos que é com razão que assigna- laraos a pêra Sanguine de France, pelo menos os fructos, que comemos este anno e de que partilharam comnosco alguns amigos, foram taxados de excellentes. Reunindo, pois os fructos d'esta Pe- reira á excellencia da sua polpa os seus exquisitos veios cor de rosa vivo, o deli- cadissimo aroma e uma abundante fructi- ficação, que pomicultor deixará de a pos- suir? Cremos que nenhum e n'esta sup- posição julgamos conveniente indicar-lhes o estabelecimento do snr. José Marques Loureiro, que possue um avultado numero de multiplicações. Desejamos pois ver a pêra Sanguine de France em abundância nas vossas me- sas (e na nossa), caros leitores ! Oliveira Junioe. APONTAMENTOS SOBRE INSECTOS FLORESTAES As pessoas estranhas á sciencia flores- tal olham para estes pequenos animaes, como se fossem as mais inoífensivas e in- úteis creaturas de todas as que o Creador lançou a este mundo ; mas não é assim, pois o Omnipotente, quando creou os en- tes da terra, a todos designou o seu mis- ter, e aos insectos, a uns deu o poder para destruir, e por isso serem um dos flagel- los da humanidade, e a outros o de serem úteis aos homens. Chamamos insectos flo- restaes a todos os que destroem, por di- versas maneiras, as arvores; assim como aos que perseguem aquelles, geralmente, para seu sustento. Por isso podem-se di- vidir em duas classes, a saber : I. Insectos destruidores. II. Insectos úteis. Os insectos florestaes destruidores são uns dos maiores inimigos do silvicultor, contra os quaes tem de luctar constantemen- te, com especialidade nas mattas de Co- niferas. Para os leitores poderem fazer uma ideia de quanto estes animaes podem destruir,bastará apontarmos aqui os seguin- tes factos que a historia moderna nos con- ta. Desde 1782 a 1783 morreram nas florestas das montanhas do Harz para cima de três milhões de Abetos, que foram ata- cados pelo Bostrichus typographus (1), e (1) Volger, «Historia Natural», vol. I, pag. 378. a 28 de outubro de 1601 appareceu era Lisboa um bando tal de gafanhotos, que devastaram por tal modo os campos, que estes pareciam abrazados (2). Estes pequenos animaes atacam as ar- vores em todas as edades, isto é, desde a sua infância até depois de adultas, de divers !S maneiras, roendo as raizes, a casca, a entre-casca, o lenho, as folhas e as agulhas. Alguns ha que destroem tanto sendo larva, como depois em insecto^ por exemplo: os Melalonthas, que no primeiro estado atacam as raizes e no segundo as folhas ; outros ha que atacam só como larva, por exemplo as Phalsenas, e final- mente outros ha que só atacam como in- secto, por exemplo os Bostrichus. Têem-se feito muitos ensaios, nos pai- zes onde a sciencia florestal é mais culta, para combater estes animaes damninhos, e entre elles citaremos aqui alguns, com os quaes se tem tirado os melhores resultados. I. Estabelecer penas severas contra aquelles que matarem as aves, que se ali- mentam de insectos e larvas. A esta classe de aves pertencem, por ex.: os Picus, Strix, Certhia, Turillus, Fringilla, Emberiza, Strunus, Craprimulgus, Parus, Cyphelus, etc, etc. (2) Assim o conta Cabedo, que diz ser testi- munha ocular, no seu tractado «De patronato Re- giae Coronae», capitulo xxxix. 124 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA II. Fazer o possível para poupar os insectos florestaes úteis. A este grupo per- tencem, por exemplo: os Cincidela, láta- phylinus, Iclmeumon, Sphex, Carabus, Vespa, Formica, etc. ill. Desbastar amiudadas vezes as mattas, cortando já as arvores, que por assombradas nào tenham crescimento, já as que se achem doentes, a íim de evitar que os insectos estabeleçam n'ellas os ni- nhos, pois quasi sempre procuram as ar- vores infezadas para esse íim. IV. Nào conservar por muito tempo as arvores depois de abatidas nas mattas. V. Fazer arrancar quanto possível to- dos os cepos. VI. Quando se tenha de lazer desbas- tes, guardarem-se para o Íim do inverno, transportando as arvores para os aceiros 6 depois de empilhadas, queimar-lhes a casca, e quando este processo se torne dispendioso, descascal-as e depois fazer arder a casca. VII. Consentir nas mattas reaes, quan- do os arvoredos já estejam em edade de o gado nào os damniticar, a pastagem d'elle no inverno, com especialidade de gado suíno. VIII. Tirar os ninhos das larvas, que com muita frequência se encontram nos Pinheiros. IX. Abrir pequenas valias transver- saes nas mattas, para as larvas, na passa- gem de umas para outras arvores, cahirem dentro, e revistal-as amiudadas vezes du- rante o dia para matar as larvas. X. Associar quanto possível as Coní- feras ás arvores folhosas. XI. Fazer com o devido cuidado, em noutes escuras, fogueiras nos aceiros. Citaremos alguns dos insectos flores- taes destruidores, a saber : Bostrichus typographus : ataca de pre- ferencia o Alies excelsa, na edade de 70 a 100 annos, mas também as outras va- riedades dos Abetos, Pinheiros e Larix. Bostrichus pinastrí: ataca os Pinus da edade mediana em diante. Bostrichus laricis: ataca o Larix eu- ropcea. Bostrichus abietiperda: ataca o Ahies pectinata. Hylesínus píniperda: ataca os Abies e os Pinus. Curculio pini (et abietis) : ataca os Pinus desde a infância até meia edade. Phahenabombyx pini: ataca os Pinus. Phalaina bombyx monacha : ataca de preferencia os Abies excelsa, mas. também os outros Abies, Pinus, Larix, e até os Quercus e Fagus. Fhalajna noctua píniperda : ataca os Pinus. Phalaina geometra piniaría: ataca o Abies excelsa. Phalffina bombyx pityocampa: ataca o Pinus marítima. Tenthredo pini: ataca os Pinus e ás vezes também o Abies excelsa. Lyda pratensis : ataca os Pinus. Lophyrus pini : ataca os Pinus. Sphiux pinastrí : ataca os Pinus. Phaliena bombyx processionea : ataca os Quercus. Phala3na geometra e Phalsena brumata : ataca o Fagus sylvatica. Mehdoutha vulgaris : como insecto ata- ca as folhas dos Q,uercus, Fagus e Carpi- nus ; como larva as raízes de quasi todas as arvores. Tortríx víridana : ataca os Quercus. Cossus ligniperda : ataca os Salix. Lytta vesicatória : ataca os Fraxinus. Gastropacha quercifolía: ataca os Quer- cus. Gryllotalpa vulgaris : ataca as raizes das arvores em quanto novas. Muito mais poderíamos dizer sobre es- tes anímaes, mas o nosso intento foi uni- camente dar aos leitores d'este jornal uma ligeira ideia sobre este assumpto. As obras que hoje ha escríptas sobre insectos flo- restaes, que mais se recoramendam, são de Ralzeburg, Pfeil e Rechstein. Coimbra — Matta do Choupal. Adolpho Frederico Molleb. PONTE RÚSTICA As construcções pezadas prevalecem 1 obras que não nos ofí'ereçam um docu- geralmcnte em Portugal e poucas são as | mento d'este mau gosto. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 125 Dirigidas quasi sempre por homens que nunca aprenderam architectura, repletas muitas vezes de anachronismos, passam todavia desapercebidas aos profanos, com bem magoa dos verdadeiros artistas. Que cousa mais feia do que ver n'um jardim pittoresco um mirante construido com a solidez de muralha de castello? O que haverá de mais nefando do que uma ponte que serve para dar accesso da mar- gem do lago á pequena ilha, ou para li- gar as margens de um estreito ribeiro. construída com enormes pedras de canta- ria ! E isto o que se encontra em grande numero de propriedades e pensam esses ignorantes engenheiros (?) que, trocando estas massudas edificações pelas elegantes construcções suissas, levam o seu nome á posteridade ! O fortunatus nimium, sua si bona norit Dives . . Se o abastado soubesse, mas infeliz- mente muitas vezes não o sabe, ou antes . . . não o quer saber ! Fig. 41 — Ponte rústica. Ponhamos porem de parte estas diva- gações e passemos a transcrever um ar- tigosinho de Mr. Ed. André publicado no ultimo n.° da «lUustration Horticole» de- baixo da epigraphe «Ornamentos de par- ques e jardins — Pontes rústicas» : «Em 1869, por occasião da Exposi- ção Internacional de S. Petersburgo^ vi- mos um systema engenhoso de construc- ção de pontes rústicas que resolvemos publicar e que já vimos reproduzido no íim de aquelle mesmo anno na AUema- nha. Consiste a originalidade d'esta pon- te, alem do seu aspecto rústico e verda- deiramente pittoresco, em não ter um só prego, nem^ cavilha de ferro, nem mesmo encaixes. É o modo de encabrestar as traves que a compõem que segura todas as suas partes. E' inútil explicar esta dis- posição ; um simples volver d'olhos sobre o desenho (fig. 41) descobrirá o segredo. Aconselhamos os proprietários ruraes, que nos lêem, a experimentarem esta construc- ção, garantindo nós da nossa parte o seu bom effeito nas paisagens artificiaes e na- turaes dos parques.» Oliveira Júnior. EXCURSÃO BOTÂNICA E HORTÍCOLA Eis-aqui um titulo que promette muito, e nós receiaraos que os leitores, depois de havei^m percorrido estas linhas, em le- gar do que esperavam encontrem uma de- cepção. O «Jornal de Horticultura Pratica», para o qual temos o prazer e ao mesmo tempo a honra de escrever algumas noti- cias, tem por fira, como se sabe, compre- hender todos os ramos dos conhecimentos humanos, que nos pÕem em relação mais ou menos directa com os seres do reino vegetal e pareceu-nos que não seria fora de propósito um ensaio, cujo fim fosse ex- por o que nos falta, louvar ou criticar o que possuímos e apreciar o que se recom- menda de muitas partes, para que se ti- rem todas as vantagens de um reino tão rico em maravilhas e tão promettedor a todo^o homem intelligente. Á parte a modéstia, estamos muito lon- ge de nos julgarmos á altura d'este tra- balho, mas o mundo pertence aos corajo- sos e nós contamos com a indulgência de nossos leitores. As arvores, pelo seu porte e pela sua grande influencia na economia humana, 126 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA reclamam desde logo toda a attenção, mas percorrendo com a vista o mappa de Por- tugal bem depressa vemos que os locaes em que ellas se acham, onde compõem por assim dizer grandes familias, as flores- tas emfim, têem-se tornado raras. Aqui, como em outras partes, os sécu- los passados têem visto extinguir-se cada vez mais esses grandes laboratórios de uma atmosphera húmida e sã e niio ob- stante haver-se principiado n'este paiz a povoar montanhas tornadas em grande parte estéreis e desertas e até a substituir nas planicies a cultura dos campos pela plantação de arvores florestaes, ainda falta muito para satisfazer por este lado a to- das as exigências que o futuro espera de nós. Nas costas, são os vapores maritimos, no interior de ura paiz, são as evaporações das florestas, que se encarregam da rega e por isso da fertilidade do solo. A maior parte dos rios nascera em mon- tanhas cobertas de florestas e são estas que tomara cuidado de sustentarem as suas origens. Os grandes rios da America do Norte percorrem as florestas virgens e de ahi ti- ram ^a sua abundância de agua. É mais que duvidoso que isto se con- serve sempre assim, porque, diga-se de passagem, a cultura faz cada vez mais des- apparecer a vegetação arborescente para crear campos de cereaes, etc. Na AUemanhauma Gramínea, oElymus arenarius, vegeta na areia movediça de vastos terrenos desertos e ahi se torna de uma grande utilidade, fixando com as suas raizes e tornando-a pouco e pouco apta para receber uma vegetação mais desen- volvida. E sobre tudo em França que vemos os terríveis effeitos das grandes inunda- ções, que têem logar quasi todas as pri- maveras e que são devidas sobre tudo á destruição das florestas. De Calcuttá es- creveram ao «Times» o seguinte : «A falta de agua que se nota nos dis- trictos de nordeste, a desapparição de an- tigas fontes, etc, são devidas á destrui- ção das antigas florestas. O mesmo phe- nomeno se vê nas índias e se pode ob- servar em toda a Europa e sobre tudo em França. » O dr. F. von Mueller escreve de Mel- bourne : «Se Cook que visitava com o orgulho de um explorador estas costas, ha exactamente um século, podesse ver mais uma vez a scena das suas descober- tas , ficaria encantado com a vista de grandes cidades e o feliz aspecto rural e industrial, mas fecharia os olhos indigna- do, vendo a aridez em que tudo se acha actualmente. Desde muito que em todos os paizes se trabalha em destruir as florestas. Dir-se- hia que esta imprevidência foi emprehen- dida por uma recente Nemesis para obstar ao progresso da prosperidade nacional e ao bem estar de toda a gente.» Não precisamos infelizmente, porem, de ir tão longe para procurar d'esses exem- plos, que não são raros entre nós. Eis o que o snr. Diogo de Macedo narra na «Revista de Obras Publicas e Minas» (1870): «Quasi todo o districto de Coimbra fíiz parte do Mondego, o rio de Portugal, onde mais claramente se observara os de- sastrosos effeitos da desnudação das ser- ras, por isso que recebe as aguas da mais elevada e extensa cordilheira do paiz, e totalmente desarborisada.Infere-se de uma das considerações mais importantes que é da máxima conveniência impedir por todo o modo que desça para o valle do Mondego a enorme massa das areias que este rio recebe todos os annos, e para o conseguir, a arborisação é por certo um dos meios a que se tem primeiro de recorrer.» Deve portanto o agricultor reflectir an- tes de cortar arvores para em seu logar se- mear plantas herbáceas, que, estas, sendo ceifadas, tiram ao terreno o seu alimento^ quei mineral, quer orgânico, emquanto que o arvoredo, pelas folhas que cahem, lhe faz adquirir novas substancias orgânicas. Um campo de Trigo ou de legumes deve ser adubado ; o solo que tem arvores aduba-se a si próprio. E' verdade que, para se criarem flo- restas novas nos montes, onde são muito necessárias, temos grandes obstáculos a debellar. Indicaremos tão somente ura, que ó a escolha conveniente das espécies mais próprias para taes plantações, porque infe- lizmente, liga-se quasi sempre muito pouca importância ao conhecimento que se deve JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 127 ter da região das arvores que se desejam introduzir, e muitas vezes o mau êxito é a consequência d'isto. Se nos occuparmos das espécies indigenas ou já de todo naturali- sadas no nosso paiz, nno podemos omittir um facto que está ligado inteiramente com o que acabamos de dizer, e que também pode servir de guia útil em nossas futuras emprezas : A longevidade de algumas arvores pas- sa, segundo nos parece, inteiramente des- apercebida n'este paiz. As arvores velhas constituem muitas vezes os monumentos mais tocantes do passado feliz e glorioso de uma nação, e raostram-nos em diíFe- rentes logares a duração da espécie inteira. Em Inglaterra, existem alguns Carva- lhos que terão 2:000 annos de existência, segundo se calcula. Nogueiras, Castanheiros^ e Amoreiras pretas, podem viver muitos séculos, se lhes prestarmos os devidos cuidados. Conhe- cem-se troncos de Wellingtonias, que indi- cam ter 1:100 annos, eo dr. Hooker cal- cula que a edade dos Cedros mais velhos, que se encontram ainda no Libano, é de 2:500 annos. Noticias históricas fallam-nos de La- ranjeiras de 700 annos que, apezar da sua edade avançada continuam, debaixo de condições favoráveis, a produzir fructos era abundância. Suppõe se que existem Oli- veiras desde o principio da era christã, e outros exemplos de longevidade são-nos fornecidos pelos seguintes vegetaes : Dra- ccena Draco; Cypreste da Europa meri- dional ; Teixo de Inglaterra ; e Tamarei- ras das Canárias, que durante séculos os- tentam graciosamente grandes cachos de fructos. Em Portugal são duas espécies de Pi- nheiros (Pinus maritima e Pinus jpicea), que constituem em grande parte as nossas mattas e que também servem para povoar os terrenos desertos. Em segundo ou antes em terceiro logar, vêem os Castanheiros, os Carvalhos e outras arvores. A pouca rapidez, porem, com que to- das estas arvores se desenvolvem neste paiz, onde o clima é tão favorável para a introducção de espécies exóticas, nos indi- ca a necessidade de tornar a vegetação arborescente do reino, não só mais nume- rosa, mas mais variada e rica. A China, o Japão e em primeiro logar a Austrália, oíFerecem, nas condições cli- matéricas, muita analogia com Portugal. Os três paizes abundam em arvores, principalmente o Japão, aonde predomi- nam notavelmente os vegetaes lenhosos sobre os herbáceos e segundo foi obser- vado por Thunberg são as Coniferas que occupam o primeiro logar — comprehendem 67 espécies, Y29 Phanero das gamicas. A Cryptomeria japonica é uma arvore de porte elegante e entre nós desenvol- ve-se ainda mais depressa que os nossos Pinheiros. Na Ilha de S. Miguel come- çaram-se, pouco e pouco, a substituir as florestas de Pinheiros por grandes planta- ções de aquella Cryptomeria, a qual nas montanhas ou perto do mar cresce com grande vigor e cora uma rapidez extraor- dinária, tendo sobre tudo a vantagem de produzir uma madeira muito superiora dos Pinheiros. Coimbra — Jardim Botânico. {Continua). Edmond Goeze. o CHÁ; SUA HISTORIA, CULTURA E PREPARAÇÃO De todas as producções do globo ne- nhuma adquiriu tanta popularidade e íem dado motivo a tão grande commercio corao o Chá. Vemol-o espalhado e usado por toda a parte desde o palácio dos reis até á mo- desta habitação do proletário. Na Inglaterra e na França é hoje con- siderado como uma necessidade da vida, e entre nós é o accessorio habitual das reuniões particulares. O pobre, se o não usa habitualmente como bebida, serve-se d'elle comtudo como remédio nas suas en- fermidades. O consumo do Chá é immenso, a sua acquisição custa todos os annos som- raas enorraes ; e o que se torna notável é que tudo isto se faz por um género que facilmente escusaríamos, ou pelo menos 128 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA poderia ser substituido por uma outra plan- ta europeia, que desse os mesmos resul- tados e fosse mais barata. O Chá, Tsjaa no Japão, Tchah na Chi- na, Theh no dialecto de Cantão, é como se sabe natural do Celeste Império, onde o seu uso se perde na noute dos tempos. O nome que os botânicos lhe deram foi de Thea, nome com que também antiga- mente designavam a família (Theaceas), em que o classificavam, porem hoje e se- gundo as classificações modernas, collo- cam este género na familia das Camellia- ceaSj já muito nossa conhecida pelo rico género que fornece aos nossos jardins, a Camellia. O Thea é um lindo arbusto de um a dous metros de altura; de folhas al- ternas persistentes^ verdes pela parte su- perior, mais pallidas pela inferior, ovaes, denteadas, muito similhantes ás das Ca- mellias; as flores são brancas axillares e desabrocham no outomno 5 os fructos são capsulares, de três lojas e três sementes redondas. Muitos botânicos reconhecem unicamente uma espécie de Thea, que é o Thea hohea, dizendo que o Thea viridis não é mais do que uma variante pelo mo- do de preparação; outros pelo contrario confessam que estas duas espécie? são dis- tinctas, dando como difterença o offerecer a primeira os lóbulos ovaes, e os estiletes conservarera-se direitos depois da flora- ção; e a segunda lóbulos arredondados e estiletes divergentes em estrella e curvos depois da floração. Deixando todavia esta questão, prosigamos na nossa historia. Os japonezes, povo supersticioso por excellencia, explicam de um modo muito curioso, segundo Kaempfer, a origem da planta do Chá. Darma, príncipe e pontífice indio, de uma grande piedade, terceiro filho do rei Kosjuwo, e vigésimo oitavo successor do grande sacerdote Sjaka, que viveu ha mais de 1000 annos antes da vinda de J. C, chegou á China no anno 519 da era christã, e trabalhou com todas as suas forças para ensinar aos povos que o rodeavam a reli- gião que observava. Obrava por palavras e obras, impon- do-se toda a qualidade de privações, e não tomando para alimento senão folhas ; tinha mesmo resolvido passar a noute em pie- dosas meditações, olhando como termo da perfeição humana o poder-se entregar sem descanso ao serviço de Deus. Um dia, vencido pelo cansaço e muito calor de uma longa jornada, deixou-se le- var pelo somno. Quando accordou^ ficou desesperado por ter violado o seu voto e querendo impedir que para futuro lhe acontecesse o mesmo, arrancou as pálpe- bras de ambos os olhos, instrumentos do seu crime, e arremessou-as com cólera á terra. Passando algum tempo depois pelo mes- mo sitio, viu com grande espanto que de cada uma das suas pálpebras tniha nasci- do um arbusto até então desconhecido, e cujas propriedades eram ignoradas. O sa- cerdote colheu as folhas para se nutrir, e sentiu immediatamente uma grande ale- gria interior, assim como força para se poder entregar ás suas contemplações. Esta virtude occulta nas folhas do ar- busto, e o modo de as preparar, foi por clle transmittido aos seus discípulos e pas- saram assim para o domínio publico, com o termo de Chá, empregado para designar o arbusto, e que parece significava ^aZjoe- bra, na lingua de aquelle tempo. Contam que o primeiro emprego que se fez do Chá, foi para corrigir o gosto sa- lobre da agua, que na China é muito fre- quente ; principalmente nas demoradas via- gens aos sertões, onde a agua por effeito do muito calor, é quasi sempre choca e cheia de matérias pútridas^ e por conse- quência de mau gosto. A introducção do Chá na Europa de- ve-se á companhia hollandeza das índias orientaes, no principio do século XVII; comtudo, já em antes se fallava d'elle n'esta parte do mundo. Renandot nas suas «Antgas relações», publicadas em Pariz em 1718, faz menção de dous viajantes que partindo da Arábia tinham visitado a China no anno de 350^ e contaram que os habitantes d'este vasto império faziam uso de uma bebida preparada com folhas seccas, e que era de reconhecida utilida- de n'um grande numero de moléstias. No anno de IGOO, um hespanhol (por que não seria portugnez?), chamado Tei- xeira, viu em jMalaca folhas seccas de Chá, sabendo ao mesmo tempo o uso que d'ella8 se fazia. Na Pérsia já em 1633 o uso do Chá JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 129 era muito vulgar, segundo confessa Olea- rius; recebendo a planta da China por in- termédio dos tártaros de Usbeck, dando - lhe o nome de Chá-orchia. Em 1639 Starkaw, embaixador da Rússia na corte do Grão-Mogol, recebeu na sua partida uma grande porção de Chá, cora que este principe quiz prestar home- nagem ao Czar Miguel Romanow ; porem o embaixador recusou-se, allegando que esta bebida ainda não estava em uso. Tulpiíis, celebre medico inglez, falia d'elle era 1641, elogiando as suas 'quali- dades. Bontekoe, medico do leitor de Bran- deburgo, n*uma dissertação que publicou em 1668, falia também com grande en- thusiasmo doesta preciosa planta. Todos estes escriptos concorreram para popularisar o uso do Chá, e fazer augmen- tar o seu consumo. Em 1667, uns poucos de arráteis de Chá eram ura precioso presente, muito es- timado e digno de ser oíFertado a um prin- cipe : n'esta epocha a companhia hollan- deza deu pela primeira vez ordem aos Seus agentes para mandarem ao rei Carlos II 100 libras d'esta planta; e dizem que nos primeiros tempos foram vendidas a 125$000 reis cada uma. A ignorância dos usos do Chá não du- rou muito tempo na Inglaterra ; pois que Noorthonekna sua «Historia de Londres» dá conta de um edito de Carlos II prohi- bindo as casas em que se tomava esta bebi- da; dando como motivo d'esta resolução, «os discursos lidos ou recitados publicaraente n'estes estabelecimentos, e em que se ata- cava o Rei e o seu Governo, perturbando a paz do reino.» Mais tarde, em conse- quência de repetidos pedidos e reclama- ções dos lesados, foi perraittida a reaber- tura d'estas casas, mas com severos regu- lamentos e prohibições de se lerem livros ou recitarem discursos, que dessem em resultado a perturbação da ordem. Estas medidas, em logar de obstarem, favoreceram e tornaram mais popular o uso do Chá. Na França, o Chá durante muito tempo foi unicamente conhecido como medica- mento, e só no começo do século XVIII é que se tornou moda. Poucos annos depois a importação es- tabeleceu-se na maior parte dos estados da Europa. Lettson, que publicou uma obra em 1799, dá um quadro da impor- tação do Chá de 1706 a 1795, e vê-se que os navios de todas as nações europeias con- tribuiara para este trafico, mas sobre tudo os navios inglezes. Compendiamos o mais que podemos as informações sobre a historia d'este ve- getal ; poderiamos estender ainda muito mais estas noticias, mas os limites que uma publicação mensal nos marca são mui- to pequenos, e por isso, pondo aqui ponto á primeira parte do nosso trabalho, pas- samos á segunda. II O abbade Lecomte, nas suas «Memo- rias sobre a China», fornece-nos noticias sobre a cultura do Chá, muito circumstan- ciadas. O Chá, diz elle, cresce nos valles e ao pé das montanhas. O melhor dá-se nos terrenos pedregosos. O que se planta nos terrenos leves occupa o segundo logar; o mais inferior encontra-se nas terras ama- rellas. Mas, em qualquer logar que se cul- tive, é preciso dar-lhe a exposição do meio dia, adquire assim mais força e produz logo três annos depois de plantado. Kedempfer, que residiu muitos annos no Japão e que escreveu a historia d'este paiz, descreve com muita minuciosidade a cultura e co- lheita do Chá. As noticias que se vão ler são em parte extrahidas de um exemplar de aquella obra qvie a Bibliotheca Publi- ca do Porto possue, e que, não obstante ser antiga, é citada ainda hoje como ex- cellente, e talvez a mais verdadeira. O Chá é semeado (no Japão) pelos úl- timos dias de fevereiro ou principies de março ; semeiam-se 6 ou 12 grãos na mes- ma cova, dos quaes não germina mais que uma quinta parte. Ordinariamente, só três annos depois do nascimento, é que se co- meçam a apanhar as folhas ; passando cin- co ou seis annos, renova-se a planta, sem o que a folha tornar-se-hia áspera e dura. Para evitar o trabalho da renovação da planta, podam-se as hastes rentes ao solo; então a cepa lança novos rebentões, que produzem abundantes colheitas; algumas vezes reserva-se esta operação até ao de- cimo anno. 130 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Quando chega o tempo da colheita das folhas, as pessoas, que tem grande porçtão de arbustos, justam obreiros por dia, que fazem d'isto o seu modo de vida particu- lar e são muito destros; pagando-se a es- tes muito mais do que aos outros traba- lhadores ordinários : pois que tendo de ser a folha apanhada uma a uma e nào aos punhados, é preciso que sejam desemba- raçados para que no fim do dia tenham apanhado 9 a 10 catis (1) de folha. Esta primeira colheita tem logar no mez de Souguats, 1." mez do annojaponez, e co- meça com a lua nova, O Chá que resulta d'esta primeira colheita, que é feita nas primeiras folhas tenras e cobertas de pen- nugem, é chamado Chá Imperial ou Flor de Chá, e reservado para os principes e pessoas ricas em razão do seu preço mui- to elevado. Muitos auctores e viajantes, confundidos com a denominação d'esta qualidade (Flor de Chá), persuadem-se que effectivamente é extrahida das péta- las da flor do arbusto ; porem isto não pas- sa dum engano, resultado da pouca ver- dade com que muitos viajantes descrevem as suas viagens. Este nome de Chá Im- perial, também é dado, e com mais ra- zão, ao Chá colhido em Udvi, pequena cidade do Japão situada nas praias do mar e a pouca distancia de Miaco. N'es- ta cidade ha uma montanha muito bem exposta, fechada por sebes e rodeada por um largo fosso. Esta montanha passa entre os japone- zes por gozar de ura terreno e clima mais favorável, que qualquer outro, para a cul- tura do Chá. Este forma ahi aleas syme- tricamente espaçadas; havendo pessoas en- carregadas de preservar as folhas da poeira e dos insectos. Os trabalhadores escolhidos para a co- lheita d'este Chá são sustentados durante ires dias com delicadas iguarias ; cuidam 03 japonezcs que o mau hálito pode fa- zer perder o precioso aroma das folhas ; fazem a colheita com luvas, e banham-se três vezes ao dia. Este Chá o escoltado pelo superintendente dos trabalhos d'esta (1) C(t(is. medida chineza ou japoneza que etiuivalt; a (;70 grammas. montanha, com uma forte guarda, e um numeroso cortejo até á residência impe- rial ; sendo destinado unicamente ao uso da real familia. A segunda colheita verifica-se um mez depois da primeira, isto é no mez de abril. Algumas folhas tem então adquirido o seu completo desenvolvimento ; em quanto ou- tras, que são em maior numero, ainda não têem chegado a este estado : não obstante apanham-se todas indistinctamente, e em- seguida separam-se em differentes lotes se- gundo a cdade e tamanho. Separam-se com cuidado particular as mais tenras e vendera-se muitas vezes por folhas de primeira qualidade. Este Chá tem o nome de Too Asjáa ou Chá chinez, por que se toma á maneira dos chins. Os negociantes ainda o dividem em quatro qualidades, que se distinguem por outras tantas denominações. A terceira e ultima colheita tem logar no mez de junho, quando as folhas muito bastas tem chegado ao seu completo des- envolvimento ; esta espécie chamada Ben- tsjáa, é amais grosseira e reservada para o povo. Alguns cultivadores fazem unicamente duas colheitas por anuo : a primeira e se- gunda correspondem á segunda e terceira, de que acabamos de fallar. Outros despresam as duas primeiras, aproveitando somente a terceira. Alem d'estes processos ordinários, usam os ja- ponezes de um, que não deixaremos de notar pela sua originalidade. Como o arbusto do Chá cresce natu- ralmente n'aquelles paizes, sobre rochedos inacessíveis e onde os mais intrépidos se não atrevem a trepar, para colher as fo- lhas d'cstas plantas assim collocadas, ser- vera-se os japonezes de macacos industria- dos n'esta operação, e que a desempenham com uma pt^rfeição admirável. Depois de deitadas abaixo são apanhadas, c limpas da terra, para grandes cestos de barabu- e assim transportadas ás casas de prepa- ração da folha. A. J. DE Oliveira e Silva. (Continua). JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 131 GANNA INDICA Poucos serão os leitores que desconhe- çam a Canna indica, que ornava antiga- mente os nossos jardins e a que se dava o nome de Conteiras, em consequência das sementes parecerem contas pretas. São plantas vivazes, de caules herbá- ceos, que attingem até 3 metros de altura. As folhas são grandes, ovaes, lisas, gla- bras, brilhantes e de uma estructura muito análoga á das Bananeiras. Os caules são terminados por espigas de flores irregulares e de diversas cores : — amarellas, brancas, vermelhas e outras intermediarias. Eram estas plantas, haverá dez ou doze annos, cultivadas em muitos dos nossos jar- dins, mas tornaram-se tão vulgares que os amadores julgaram, e mui erradamente, que seria melhor retiral-as das suas collecções. Foi, segundo a nossa opinião, a maior in- Fig. 42 — Canna indica. justiça que se lhes podia fazer, porque as consideramos altamente ornamentaes e a tal ponto que nenhum jardim publico ou particular deveria deixar de as possuir, principalmente no nosso paiz, onde as con- dições climatéricas lhes convéem perfeitissi- mamente, e onde tomam proporções maio- res do que talvez em França ou Allema- nha. A differença entre as variedades que se obtêem annualmente não é muito sen- sivel, e mesmo diremos que a similhança do porte e flores é tão grande que só um verdadeiro especialista estará habilitado a poder difí"erençal-as. Para que produzam bom eííeito deve- rão ser plantadas formando massiços, ha- vendo prévio cuidado de dispor as varie- dades que tomam maior desenvolvimento no centro, diminuindo successivamente, e collocando-as aproximadamente a 70 cen- tímetros de distancia ; as que forem de me- nor porte deverão ficar um pouco mais aproximadas, para que depois não haja vácuos. Mr. André, quando jardineiro princi- 132 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA pai dos jardins de Pariz, compunha os seus grupos da seguinte maneira: 1.0 C. Annei, no meio; C. Warscexjoic- zioides, duas linhas no interior ; C. specta- bilis, duas linhas para bordadura. 2.° C. edulis, no meio ; C. zehrina na- na, em bordaduras. 3.° C. Van Houttei , no meio; C. mu- scpfolia mmima, em bor^hidura. 4." C. gigantea, no centro ; C. disco- lor, duas linhas no centro; G. glauca^ duas linhas no centro. õ.° C. peruviana c C. nigricans, mis- turadas no centro ; C. robusta^ em borda- duras. Este pequeno mappa poderá sempre ser- vir de guia, porque dispostas assim de- vem ser de um effeito encantador. O conde Léonce de Lambertye, espe- cialista e a quem cora o maior gosto re- corremos, divide a Canna indica em três secções, sendo ai.* as «Cannas de folha- gem», isto é, as variedades notáveis pelo seu porte, grande estatura e por suas íb- llias ornamentaes, pondo-se completamente de parte a boa ou má florescência. A 2.^ sccyão pertencem as «Cannas de flores». Nào se deverá entender por esta denominação todas as que produzem flo- res, mas sim as que as produzem de mé- rito. Emfim a 3.* secção comprehende as «Cannas notáveis ao mesmo tempo pelas folhas e pelas flores». Feita esta divisão, apresentamos as condições que cada um dos grupos deve reunir e em seguida a lista das varieda- des que melhor preenchem essas condições. I. a Cannas de folhagem». Condições de belleza — Estatura erecta, caules firmes e vigorosos, porte elegante ; folhas muito grandes, proporcional o com- primento á largura. Os caules sustentam se bem sem estacas. Cores numerosas, ver- de desmaiado, verde escuro, bordadas de branco ou cor de granada, verdes, zebra- das de cor de granada, purpuras, verrae- Iho-cobre cora reflexos metallicos. «Selec- ção de espécies e variedades». Annei, Auguste, Ferrier, Discolor, Edulis, Máxima, Musa>folia perfecta, Ni- gricans. II. a Cannas de flores». Condições de belleza — No aTraité sur la Canne» de Mr. Chaté, fils, encontram-se formuladas pela primeira vez as condições de beileza, que hoje se devem requisitar n'uma variedade florescente. Eis em re- sumo as regras que elle dá : Porte vigo- roso, folhagem esbelta, firme e consisten- te; flores numerosas e grandes, com lar- gas divisões e bastante aproximadas para apresentarem uma corolla ampla; cores vi- vas e brilhantes. Examinemos estas condições — E mis- ter que a cepa seja de tal natureza que forneça successivamente seis hastes ou ain- da mais. Folhagem esbelta, firme e con- sistente. N'esta cathegoria parece-nos que as folhas devem representar um papel se- cundário e é também a opinião de Mr. Sis- ley, ainda que possam pela sua distincção augmentar o mérito da variedade. Não de- vemos ser demasiadamente exigentes no grau de belleza das folhas u'uma varieda- de «procurada pelas flores» e cumpre re- conhecer que as folhas das Cannas, ain- da nas variedade*s mais ordinárias, são de um bom modelo. Flores numerosas, co- rollas grandes e divisões largas. Aqui de- ter-nos hemos um pouco mais. Em primeiro logar a variedade deverá ser têmpora, começando a florescer na pri- meira quinzena de junho ou no principio de julho. Deve ser muito florifera; cada haste terminada por uma inflorescencia que saiha francamente da folhagem, divi- dida e subdividida em 6-8 espigas, guar- necidas cada uma com 1Õ-20 flores; co- rolla com 8-12 centímetros de comprido, divisões largas, abertas e arredondadas no vértice. Desabrochando muitas flores ao mesmo tempo na mesma espiga, o e^eXio será maior. A variedade Prémices de Nice off"erece esta disposiçõo e cores vivas e brilhantes. «Selecção de variedades». Ahondance, Annei superha, Bihorelii, Bihorelii splendens, Bonnetii, Damiel Hooihrenh, Député Hénon, Gloire de Nan- tes, Grandijiora fioribunda, Jean Bart, Nepalensis grandijiora, Orijlamme, Pi- cturata fastuosa, Prémices de Nice, Ren- datlerii, Rotundifolia rubra. III. «Cannas de bella folhagem e de boas flores». Selecção de espécies e va- riedades. Gloire de Lyon, Iridijlora, Iridijiora JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 133 hybrida, LtervaUi, Marechal Vaillant, Pe- ruviana^ Rubra superba liliijiora. A Can- na liliijiora é uma espécie da Nova Gra- nada. As hastes são fortes, numerosas, comprimidas na base, verdes, attingindo ao ar livre de 2'",00 a S-^jõO. As folhas são as maiores do género, oblongas, acu- minadas, de um verde desmaiado e lus- troso, a nervura dorsal muito proeminente e amarellada, primeiro erectas e depois desviadas e formando ura angulo quasi recto cora a haste, de 1™,40 de corapri- do por 0'",45 de largura; flores muito grandes (de O™, 10 a O"", 12), parecendo-se pela sua forma e principalmente pela cor com a Açucena branca. Apresenta um acas- tanhado quando está para murchar e n^esta occasião desenvolve um perfume muito agradável, que se assi milha ao da Madre- silva. A Canna liliijiora é a mais bella es- pécie do género e nenhuma variedade a pôde ainda oflfuscar. É a única de flores brancas e a única também que produz fo- lhas tamanhas. Estas são as melhores variedades que o grande especialista, o conde Léonce de Larabertye, cultiva e portanto não nos ar- riscaremos recommendando a sua acquisi- ção. Antes da plantação dos tubérculos de- ver-se-ha cavar a terra e adubal-a com es- trume de cavallariça bem decomposto, mis- turado com folhas putrefactas, e regar bem as plantas durante os fortes calores. Para a boa conservação dos tubércu- los durante o inverno, é mister retiral-os da terra nos princípios de novembro, mas por tempo secco, e depois de se limparem bem deverão ser postos entre areia muito secca n'uraa sala, em que não haja humi- dade, porque do contrario correm risco de se perderem. No Jardim Botânico de Coimbra cul- tivara-se actualmente dezoito espécies de Canna. A Canna indica fructifica bem entre nós e por isso aproveita-se geralmente este meio de multiplicação que é muito fácil. Oliveira Júnior. CHROnCA Dentro em breve publicará o snr. An- tónio Batalha Reis um opúsculo, em que demonstrará as vantagens colhidas com o seu Theionoxyphero, apparelho destinado á conservação dos vinhos. D'este utilíssimo invento já por mais de uma vez nos temos occupado no nosso jornal e ocioso nos pa- rece accrescentar por emquanto mais al- guma cousa. Animado pelos bons resultados, que co- lheu na sua primeira e feliz tentativa, o snr. Batalha Reis tem feito sérios estudos para estender a applicação do Theionoxy- phero á conservação dos cereaes, raizes tuberculosas, fructas, cebolas, etc. Pode-se facilmente imaginar quanto terão a lucrar os nossos agricultores e sobre tudo os que se empregam na exportação de fructas, ra- mo de commercio que tanta iraportancia tem ultimamente adquirido entre nós. O snr. Batalha Reis tomou para base do seu instrumento as propriedades desoxy- dantes do acido sulphuroso. São sempre para applaudir os esforços que todos os homens do saber do snr. Ba- talha Reis empregam para generalisar pra- ticamente os princípios da sciencia. — O snr. conselheiro Rodrigo de Mo- raes Soares recebeu dos Estados Unidos da America uma collecção de sementes de plantas florestaes e ornamentaes, figu- rando entre uraas e outras, arbustos e plantas de grande porte. E esta a segunda remessa que recebe o snr. Moraes Soares, remessas que são de- vidas ao snr. António da Cunha Pereira de Sotto-maior, nosso encarregado de ne- gócios na legação dos Estados Unidos, a quem o snr. Horace Capron, director da repartição de agricultura de Washington, oíFereceu aquellas sementes para serem en- viadas ao snr. Moraes Soares. Este illustre cavalheiro, dando-nos a noticia que acabamos de referir, pondera a utilidade e curiosidade que teria a pu- blicação de um catalogo circumstanciado de todas as plantas exóticas introduzidas em Portugal, n'estes últimos vinte an- nos. EíFectivamente uma noticia n'este ge- 134 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA nero seria de summo interesse, mas acha- mos que é um trabalho demasiadamente difficil, attendendo aos poucos documentos que o curioso investigador havia de en- contrar. A agricultura e sua extremosa irmã — a horticultura, têem jazido o mais descu- radas possível e se os governos não vie- rem em seu auxilio, promovendo exposi- ç3es, galardoando o mérito e emtím sub- sidiando e criando novas publicações que dissiminem pratica e theoricamente os co- nhecimentos d'estas duas artes ou scien- cias, continuaremos no mesmo, se não em peior marasmo. As prelecções agrícolas são também um meio eflScaz para desenvolverem a agricultura, e oxalá que as que o anno passado tiveram logar sejam repetidas op- portunamente. O governo deve reconhecer e confes- sar que é da terra que sahe toda a rique- za, e que é ella que poderá fazer dimi- nuir o nosso dejicit e todo o incentivo que se dê á agricultura não será mais que semear um para recolher o cêntuplo, á si- milhança do que diz o Evangelho. — Muitas pessoas têem-se queixado de que as sementes dos Eucalyptus não lhes nascem bera. A carta que abaixo publicamos indica o processo que o snr. António José de Oliveira e Silva seguiu e que deu bom re- sultado. Snr. Oliveira Júnior. A propósito da sua predilecta Myrlacea.o Etica- Ujplusfjlobulus, lenhoacommunicar-lhe o seguinte: Fir esle anuo uma sementeira de Eucalyptus, deitei á terra cerca de 60 granimas de semente ; nasceu toda, e hoje que faz exactamente 5J2 dias que a semeei, as piantasinlias estão no mais beilo estado da vegetação, principiando a nascer ao de- cimo quinto dia depois de semeadas. O crescimento é muito sensivel. Julgo também dever dizer-lhe a qualidade da terra em que fiz a sementeira ; enchi as semeadei- ras, depois de lhes ter deitado uma boa camada de cacos, com a terra de uma horta, donde acabavam d«í saliir excellentes Couves tronchudas. Escolhi esta teria de preferencia a outra por estar gorda e cheia de detritos vegotaes, provcnien- te«! da folha das ramadas e poda do jardim, que ahi se tinham lançado. Devo dizer-lhe que também lhe juntei alguma areia grossa. Ahi liça o proces.so que .'^egui na sementeira d esse magnifico adorno das florestas, cujas vanta- gens tanto tem elogiado. Se julgar que esta noticia pode aproveitar a al- guém, auctoriso-o a publical-a nas columnas do jornal de que V. é mui digno redactor. Sou, etc. Porto :25 de abril de 1871. A. J. DE Oliveira e Silva. Como sequencia da carta que se acaba de ler, damos publicidade a outra do snr. Adolpho Frederico Moller, em que nos faz algumas comraunicaçôes interessantes sobre o desenvolvimento dos Eucalyptus. Presado amigo e coliega. Entrei hoje na fabrica do gaz, d'esla cidade, para ver um Euculijpius ylobulus, que me tinham já por vezes dito ter uni crescimento e.-pantoso, e na realidade c admirável o desenvolvimento que aquella arvore tomou. Foi plantada em março de mH), tendo então O'", 40 de altuia, e huje iiiedi-a e achei-lhe uma altura de ò'",'óo por O", 06 de diâ- metro i;0 pé. O terreno, em que se acha plantada, é entulho das obras da fabrica ; e?.tá distante de um dos gazomelros 8"", 30 e do edihcio onde estão as retortas 12i"'00: ainda não mudou nenhumas das suas folhas. Aproveito a occasião para lhe assignalar o crescimento de alguns Eucalijplus, que se achara plantados na malta do Choupal a cargo das Obras do Mondego, a saber : 3 Euculijplus ijKjanlea, plantados na primavera de 18t)9, tendo então 1"',00 de altura, tem hoje de 6'", 40 a 7"', 10. 1 E. ijlobulus, plantado na mesma epocha, ten- do então O "',30, tem hoje Oi",lõ. 1 E. falcaia, idem, idem, tem hoje 3 "',15. 1 E. pípcrãa, idem, idem, tem hoje 4'",b0. 1 E. specics yuin toppcd sdiiiyy-Oark, idem, tendo então O '",10, tem hoje 4 "',40. 1 E. robusta, idem, idem, tem hoje 5 "',30. 1 E. diversi/òlia, plantado no verão do ultimo anno, tendo então O "',30, tem hoje 4 "',70, 1 E. slewartiana, idem, idem, tem Iioje5ni,00. 1 E. ylobulus, plantado no inverno do ultimo anno, tendo O "'40, tem hoje 6 '",20. 1 E.yiyanka, idem, idein, tem hoje 5"i,00. 1 E.pcadula. idem, idem, tem hoje 4 "',80. 1 E. viiumalis, idem, idem, tem hoje 3 '",20. O terreno da matta é de alluvião, e banhado todo pelas cheias do Mondego. iNo caso de ver que esta carta pode interessar aos silvicultores, espero que.se dignará inseril-a n'um dos próximos núme- ros do seu jornal. Sou, etc. Malta do Choupal — Coimbra, 15 de maio de 1871. Adolpho Frederico Molller. E verdadeiramente assombroso o des' envolvimento que tomam os Eucalyptus e com certeza muitos dos leitores, ao aca- barem de ler estas linhas, tendo refle- ctido, estarão de certo bem admirados. JSós estimamos e agradecemos sempre veheinentemente estas communicações que se dignam fazer-nos, porque, com quanto não sejamos o descobridor do Eucalyptus globiUus, isto é ; Labillardiòre, ou o seu introductor na Europa, Mr. Ramel, fize- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 135 mos com que se espalhasse por todo Por- tugal com profusão e folgamos em saber que prospera. Com profusão não pode- mos dizer, porque, segundo cálculos que temos, os estabelecimentos públicos ven- deram apenas de 1870 a 1871 aproxima- damente 40 a 50:000, comtudo, o mais que nos foi possível attendeudo á difficul- dade que qualquer innovação encontra no nosso paiz. Mais ou menos estropiada- mente já todas as pessoas, que se occu- pam das cousas hortícolas, sabem dizer — Eucalyptus. É um bom passo para a sua ad- missão nos nossos baldios Não é porem, só em Fortugal que o Eucalyptus cahiu na predilecyào dos sil- vicultores. Ainda agora acabamos de re- ceber uma carta do redactor da « Bel- gique Horticole», na qual se lêem as se- guintes linhas : «.... Reina actualmente em todo o mundo temperado uma verdadeira Eucalyjptomania. Em Portugal, Hespa- nha, Argélia, ^ Itália, Egypto, Califórnia, etc, etc E uma arvore preciosa. A sua madeira é dura e magniíica.» São estas as palavras do nosso amigo, Mr. Edouard Morre n. — Entre as plantas obtidas ultima- mente por meio de sementeira, no Jardim Botânico de Coimbra, notamos as seguin- tes: Adansonia digitata — o famoso «Bao- bab»; Anacardium occidentale', e a Sijiho- nia elástica — a arvore que produz a gutta- percha. — Occupa-se o governo do Peru em promover para o dia 9 de dezembro pró- ximo, em Lima, a abertura de uma grande exposição de industria internacional. Recebemos o programma que ha de reger este certame e por elle vemos que o nosso coUaborador de Gand, Mr. Jean Verschafielt, foi nomeado commissario d'esta exposição, na Bélgica, Hollanda e AUemanha. — As florestas de Wellingtonia gi- gantea, que existem em Mariposa e no valle de Calavras e Yosenita, na Califór- nia, foram declaradas propriedades nacio- naes dos Estados Unidos da America do Norte. Esta medida foi tomada para as pro- teger da destruição do homem. — Uma publicação muitíssimo impor- tante vae entrar brevemente no prelo. Tem por titulo «Les Orchidées» e é publicada debaixo da direcção de Mr. J. Linden e re- digida por Mr. Edouard André, redactor da «lUustration Horticole». Mr. J. Linden, depois de ter consa- grado onze annos a percorrer as regiões da America intertropical, onde teve a fe- licidade de descobrir um grande numero de espécies de Orchideas, não se tem pou- pado a sacrilicios para formar uma col- lecção d'estas plantas, que augmenta de dia para dia. A sua collecção conta actual- mente 1:200 espécies determinadas, não comprehendendo um numero considerável de outras não descriptas ainda e devidas umas aos exploradores que andam pelas diversas regiões do globo por sua conta e outras obtidas por diíierentes vias. A collecção de Orchideas de Mr. Lin- den gosa de bom nome na Europa e po- der-se-ha ter como certo que a publica- ção que vae emprehender em nada des- dii-á dos bons foros de que gosa. «Les Orchidées 1) formará cada anno um bello volume (em 4.° grande) com 60 estampas chromo-iithographadas e cada es- pécie será acompanhada por uma diagno- sis e descripção, impressas com luxo. Sahirão a lume quatro cadernetas por anno com intervallos eguaes. Cada uma comprehenderá 15 estampas e 30 paginas de texto. O preço dos 4 fascículos é de 60 fran- cos (12:000 reis). — O districto de Villa Real produziu em 1870: 7.264:487 kilogrammas de ca- zulo de seda em estado fresco. — A Madura aur antíaca ^^ertence, co- mo a Amoreira, á familia das Moreas, e é, segundo se affirma, muito boa para o ali- mento do bicho da seda. Já em tempo dissemos que o snr. João Pacheco Pereira, d'esta cidade, nos affirmara que effectiva- mente o bicho da seda escolhia de prefe- rencia a Madura, embora tivesse sido ali- mentado com a folha da Amoreira. Dos ensaios feitos em Portugal é tudo quanto sabemos. Como esclarecimento transcrevemos o que, ha cerca de dous annos, escrevia o snr, conselheiro Rodrigo de Moraes Soa- ( 136 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA res, digníssimo redactor do «Archivo Ru- ral», na sua excellente aChronica» : «Ura creador de sirgo em França, Mr. Jacquier, de Troyes, repetiu os ensaios que havia feito de alimentar os bichos da seda cora as follias da Madura aurantiaca. No anno passado (1868), deu por confir- mados os bons resultados da sua tentativa assegurando que as folhas de aquella planta sao preferiveis ás da Amoreira para a crea- ção do sirgo. A Madura dá-se perfeitamente em Por- tugal. No Bussaco, onde haviamos mandado plantar alguns pés, foi preciso fazel-os ar- rancar, porque assoberbaram as plantas visinhas. Como nos pareceu planta de pe- queno porte, e apenas boa para sebes vi- vas, destinadas á defeza dos campos, por ser espinhosa, temos descurado a sua mul- tiplicação, que julgamos faciliraa, attento o vigor com que vegeta. Será um grande recurso haver mais uma planta alimentar do precioso productor da seda. Convidamos pois os creadores do sir- go a experimentar o seu préstimo.» No estabelecimento hortícola das Vir- tudes, existe um exemplar feminino da Ma- dura aurantiaca, que deve contar seis ou oito annos e mede actualmente 4™, 00 de altura. A sua florescência é o que chamou agora a nossa attençao e entendemos que nào virá fora de propósito uma pequena descripção da planta. No seu pleno desenvolvimento, attinge uma altura de 15 a 20 metros, porem se bem nos recordamos já lemos n'uma obra que não temos á mão que nunca excedia de 10 a 15 metros. E muito ramificada e nas axillas das folhas encontra-se um es- pinho solitário, sovelado, rijo e agudo, cir- cumstancias que a tornam apreciável para formar sebes ou paredes impenetráveis. As folhas são ovaes, acurainadas, muito inteiras, de ura verde claro e brilhante, pu- bescentes em quanto novas, glabras nas duas faces, excepto nas nervuras quando chegam ao estado adulto, e medem de 0"',07 a O», 10 de comprido e 0™,03 a 0'",05 de largura, sendo sustentadas por um peciolo comprimido e um pouco avelludado. Tanto a inflorescencia masculina como a feminina são axillares. Os seus capitu- les fructiferos, considerados no seu conjun- ctQ, têem uma forma e cor parecida com a da laranja. As folhas também têem uma tal ou qual sirailhança ás da Laranjeira e a esta reunião de caracteres deve sem duvida esta espécie o seu nome especifico de aurantiaca, ou parecida com a Laran jeira. Como a maior parte dos leitores devem saber, a família das Mureas é composta de plantas monoicas ou dioicas : a Madu- ra aurantiaca está no segundo caso. O exemplar que se acha no estabelecimento do snr. Marques Loureiro, e que mais aci- ma dissemos tinha florescido, é feminino. Perto do logar ha ausência de indivíduos masculinos e por conseguinte não a pode- mos ver ainda com os ramos curvados ao pezo dos seus bel los fructos. No Bussaco, onde existem alguns pés, é possível que se encontrem os dous sexos, e por consequência o íructo nos de menos recente plantação. — O «Gardeners' Chronicle» faz men- ção de um novo morango denominado Broxon^s Wonder que é, segundo o mesmo jornal, a variedade mais fértil de todas co- nhecidas até hoje. O fructo é mediano, ar- redondado, e de gosto e aroma deliciosos. A polpa é cor de rosa. Ilecoramendamos aos nossos horticul- tores a importação do novo fructo que, aquelle jornal inglez tanto aconselha. — Os volumes XVII da «Illustratíon Hortícole» e XX da «Belgique Hortícoleo acham-se concluídos. São duas publicações muito importantes. Disse-nos Mr. Ed. Morren, na sua ul- tima carta, que o primeiro numero da «Belgique Hortícole» relativo ao anno de 1871, já se achava no prelo. Bem vindo seja. — Segundo vimos annunciado n'um diário, vae sahir a lume n'esta cidade ura «Almanach de Agricultura, Veterinária e Medicina domestica para 1872», de que são auctores os snrs. J. P. Almeida Bran- dão e D. J. Salgado. Folgaremos que estas publicações agrí- colas, sob ura título tão modesto (Alma- nach!), se generalisem. Ao nosso lavra- dor, que geralmente le pouco, é-lhe esta coraida saborosa e de fácil digestão. Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 137 PLANTAÇÃO O II Achando-se já feitas as gravuras, pró- prias a esclarecer esta segunda parte do meu artigo sobre plantação sysceraatica, vou descrever as duas formas mais ele- gantes e mais aptas a produzir o arredon- damento das cabeças das arvores; visto que na primeira parte fallei dos dous mais antigos e mais deft^ituosos systemas, os quaes concorrera para deformaras cabeças das arvores, fazendo com que se vão des- envolvendo desegualmente, e com tendên- cias para imiíai'em com os ramos a furma quadrangular. As plantações de que vou occupar-me São: Em primeiro logar, da disposição em heptitnce ou septunce, formada de hexago- nos regulares, ou de triângulos equiláte- ros^ da qual disposição comecei a fallar a paginas 86, nos dous últimos períodos da primeira parte do artigo. Em segando lo- gar, da disposição em triângulos isosceles, cuja base seja egual á altura do mesmo triangulo. Esta disposição foi imaginada por mim com o intuito de tornar possível descrever ura septunce, assim modificado, em um espaço perfeitamente quadrado (o que não pode fazer-se exactamente com o septunce ordinário) e também para o fim de pro- Fig. 43 — Septunce de triângulos equiláteros. duzir uma variedade, e haver duas formas egualmente boas, entre as quaes o agri- cultor escolherá a que mais lhe convenha. Quando queira formar dous septitnces se- parados e distantes ura do outro, pode empregar os dous systemas que vou des- crever, não tendo assim necessidade, se quízer variar de forma, de recorrer a qual- quer dos defeituosos systemas de que fal- lei na primeira parte d'este artigo. E minha opinião que conviria a plan- tação era septunce para as vinhas, princí- (1) Vide J. H. P., vol II, pag. 86. 1871 — vol. II. palmente o septunce que se compõe de triângulos equiláteros. Damos aqui em se- guida a figura que representa a plantação n'este gosto, a qual é aquella que está inscripta em um quadrilongo, pois a que está inscripta no quadrado, consta de tri- ângulos isosceles e é a que eu ideei. N'esta gravura (fig. 43) os lados FI e C E são maiores que os lados C F, E I. Mas as diagonaes, que são as distancias E F e C I, serão eguaes para que esteja bera traçada a figura, por ser preceito em todo o rectângulo ter eguaes as suas diago- naes. N'este pequeno modelo (fig. 43) N.o 8— Agosto. 138 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA se nota que são tantos os pés de arvores na direcção F I como na direcção C F, que é perpendicular uma á outra. Na li- nha A B se vê serem 5 pés de arvore e egual é o numero de íileiras de arvores desde C E até F I, ambas inclusive. Existe, porem, um desencuntro, e para o haver é preciso que alternadamente, uma sim, outra nào, as fileiras defiram de uma planta a menos. Isto é : as filas CE, A B e F I, cada uma tem na nossa figura 5 arvores, ao passo que as filrs intermédias só têem 4. Pode dispor-se d'este modo qualquer porção pequena ou grande de plantas. Começaremos por traçar sobre o solo o de- senho egual á figura 43, para depois o prolongarmos pnra qualquer dos lados ou para a frente, tanto quanto for necessá- rio, servindo de base ou regra a pri- meira porção riscada ou já plantada. Se um d'estes septunces for plantado junto de uma habitação para adorno d'ella ou para abrigar dos ventos a casa ou jar- dim, devemos traçar a primeira fila, que será a base de operações, parallela a uma face do prédio. No meu desenho suppuz estar a habi- tação do lado H, e suas paredes serem parallelas á linha C E. Com esta collocação do septunce ficará a casa mais abrigada dos ventos que so- prarem na direcção D H ; porque nenhu- ma das ruas largas se acha na dita di- recção, e o desencontro das arvores das filas 2.*, 4.*, 6.", 8.% etc, em relação ás ar- vores da 1.*, 3.*, 5.*, 7.*, etc, impede muito o ingresso impetuoso do vento, logo que as arvores tenham crescido. Se não houver, porem, esta necessi- dade ou o proprietário desejar avistar bem por entre as aleas do septunce^ sitio para lá do dito bosque, deveria n'esse caso mu- dar-se a posição do septunce em relação á habitação, ficando o lado C A F, ou o lado E B I, parallelos á face do prédio. N'esta posição, são perpendiculares ao prédio as duas ruas que ficam entre A B 6 F I ; e as outras 2 entre A B e C E. Designo assim estas 4 ruas, porque, ao fa- zer o desenho para as gravuras, não jul- guei conveniente sobrecarrega-lo de mais letr; 8, para marcar todas as ruas. Esta qualidade de septunce tora egual largura em todas as ruas : em três direc- ções. Estas três direcções crnzam-se mutua- mente em ângulos de 60.° e de 120." (que é o supplemento de 60."). Se quizermos que estas ruas, de largu- ras eguaes, tenham a largura que pre- viamente determinamos, calcularemos do seguinte modo a distancia que deve exis- tir de pé a pé de arvore em todas as fi- leiras, e em todas as direcções. O valor de largura das ruas do se- ptunce será multiplicado por 1,15 e o pro- ducto dará a distancia que deverá haver de pé a pé de arvore. Se pelo contrario se fixou previamente 0 intervallo de arvore a arvore, e se quer saber, n'este septunce, que largura resul- tará para as ruas largas, basta multipli- car pela fracção 0,866 o valor do dito in- tervallo, e o producto dará a largura das ruas. Como no septunce não estão ligadas as arvores por objectos que separem as ruas, estas acham-se constituídas simples- mente pelo parallelismo das fileiras, e por serem todas em perfeita linha recta. Por este isolamento de cada arvore, torna-se possível imaginar mais ruas, que todas serão rectas, se o septunce estiver bem desenhado. i Estas ruas^coratudo, são muito estreitas, j sendo umas de metade do espaço que dis- ta de arvore a arvore, taes são umas muito obliquas na direcção F N M,que se vêem \ marcadas na figura 43. Outras, que se ' poderiam alli desenhar mais obliquas, omit- ; ti-as porque ainda seriara mais estreitas. 1 A largura d'estas ultimas regula por um 1 terço da distancia entre pé e pé de arvore ; e nem esta largura, nem a das ruas miú- das desenhadas na fig. 43 podem ter re- lação expressa em números inteiros ou em fracções simples com a largura das ruas principaes, porque a largura d'estas é a altura do triangulo equilátero, a qual é incommensuravel com o valor do lado ou base do dito triangulo ; e as larguras das ruas estreitas são partes aliquotas do intervallo entre as arvores ; sendo as ruas entre F M e K E duas, e a total largura K N é o espaço entre aquellas duas arvores, e a sua metade é a largu- ra de cada uma de aquellas duas ruas se- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 139 paradcas pela linha que passsa por L. Es- tas ruas estreitas sao perpendiculares á linha C D como devem. Ruas eguaes a estas, quanto á largura, podem conside- rar-se em mais duas outras direcções ; a saber: as primeiras são (por exemplo) as que se indicara na gravura perpendi- culares a C D ; as segundas, serào per- pendiculares a D E ; e as terceiras sel-o- hão a A B ou a C E. Estas ultimas re- sultara da repartição ao meio das ruas cu- jas larguras são A K, K L, L M, e M B, ruas que são parallelas a C F e a E I. As outras mais miúdas, que digo pode- rem considerar-se, seriam na direcção que reunisse em linha recta os pontos N e B, que chamaríamos a linha N B, se existis- se traçada na gravura^ e muitas fileiras ha n'esta direcção, era numero de três em cada vão de 2 arvores. O verdadeiro valor da largura d'es- tas ruas, ainda será menor que Y2 do in- tervallo entre 2 arvores , por quanto a li- nha C D não é perpendicular á linha que podemos suppor existir de N para B nem ás outras parallelas a N B e por isso abrangendo a distancia obliqua N K 3 ruas das taes formadas por quatro tra- ços, dos quaes 2 passam pelos pontos N e K, e 2 entre estes pontos, a largura d'es- sas 3 ruas será menor que N K, porque a linha N K atravessa obliquamente as di- tas pequenas ruas, e é porisso maior que a largura das ditas o ruas. Vamos indicar o modo de executar so- bre o terreno o desenho d'este septunce, quer para grande quer para pequeno nu- mero de plantas. Por pequeno que se queira fazer um septunce^ é natural que contenha maior numero de plantas do que as que repi esenta a figura 43, pois n'esta lia logar só para 23, tendo as três linhas F I, A B e C E cada uma Õ pés, e as intermediarias 4 cada uma, cuja somma é 23. A não ser o des- encontro, haveria 25, e se assim se não fizesse, ficava a plantação peor do que a feita em quadrados, pois esta seria em quadrilongos,pois são deseguaes os la- dos dos parai lelogramas em que divide o total F I C E, (figura 43), e como esses pe- quenos parallelogrammas, são similhantes ao dito total (o que faz serem prop rcio- naes os lados homólogos) a proporção dos lados n'esses pequenoiS parallelogrammas sorá (como é no grande) como 1 para 1,1547, dando o valor de uma unidade ao lado menor. Para descrever no terreno uma exten- sa plantação, começaremos por descrever uma parte d'ella, preferindo começar no local mais plano e riscado esse mais lacil, só falta prolongar todas as linhas na mes- ma direcção ; pelo que se notará quão exacto deve ser o traçado que serve de ponto de partida. Não aconselhamos aos agricultores que se sirvam de um theodolito para determi- nar os ângulos com a mais rigoi'osa exa- ctidão, ou de outro qualquer instrumente análogo, por seu elevado preço, e não ser conhecido por todos o modo de se servi- rem d'esses úteis instrumentos de agri- mensura e geodesia. O que não seria mau obter é um es- quadro de agrimensor para traçar os ân- gulos rectos sobre o terreno, e algumas bandeirolas. Estes auxiliares livrarão a quem traça o septiince de uma posição mui- to incoramodativa. Servindo-nos do esquadro e bandeiro- las, é preciso ter um prumo, para acertar estas e aquelle na posição vertical. Poder- se-ha algumas vezes prescindir d'estes utensílios sem inconveniente, mor- mente quando se opera em terreno nive- lado, ou de pendor uniforme. Se o terreno for accidentado, a medição não ficará ri- gorosa sem instrumentos. Para tomar as extensões poderíamos usar da cadeia do agrimensor ou de ura cordel. Julgamos ocioso enumerar os in- convenientes que resultam de qualquer d"estes meios, principalmente do segundo, e indicaremos como mais adequado, de- baixo de mais de um ponto de vista, a fita métrica. Determinado o local para o sejitunce, e dispondo a primeira fila de arvores bem parallela ás paredes do piedio, é preciso observar que sigam exactamente a linha recta, e que conservem entre si egual dis- tancia, distancia que será determinada não a capricho, mas segundo o desenvolvimen- to que o horticultor julgar que as arvores devem tomar. Se o intervallo de pé a pé constar de numero inteiro de metros, mais fácil será 140 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA fazer a conta ao valor das outras li- nhas. Os práticos, a quem tenho mostrado a minha phinta^iào de Eucalyptus, todos gos- tara da sua disposiçàu symetrica, mas di- zem que os adiam próximos de mai?, tendo eu adoptado a maior das distancias acon- seli)adas (4 metros). Depois de bem plantadas as arvores da primeira 'ila, completem-í^e 2 ou 3 triângu- los equiláteros, com a mesm.i distancia que separa as arvores da primeira fila, para servirem os seus vértices de balizas á li- nha parallela á que já está plantada. Faremos entào a conta á altura d'es- tes triângulos pela regra que demos atraz. Se o resultado do calculo condisser com a altura dos triângulos já feitos, é signal que foram bem traçados. Como a altura de um triangulo se me- de pela perpendicular baixada do vértice sobre a base, se quizermos ter uui esqua- dro muito barato e muito portátil, e suffi- cientemente exacto para este intento ; fare- mos de fio de guita um triangulo rectân- gulo, dando aos seus lados as seguintes dimensões : o menor lado terá 3, outro terá 4, e o maior terá 5 medidas, servindo qualquer objecto para niedir a proporção dos três lados de este esquadro. É forçoso verificar varias vezes cada medição dos lados do esquadro, para que fique per- feito. Depois de feito, basta estendel-o, se- gurando os ângulos por meio de três es- tacas que se cravam na terra, e fazendo coincidir o lado menor com uma linha, á qual se pretende tirar uma perpendicular, o lado médio ficará perpendicular, e se prolongará se for necessário ser mais com- prida a perpendicular. N'este caso de que tracto, a perpendi- cular cahirá ao meio da distancia, entre duas arvores da priuK^ira fila, o que pode dispensar a construcçâo d'este esquadro; uias veremos que elle é preciso quando mediruios o septunce symetrico, ao diante descri pto. N'esta segunda fileira, poremos signaes e tractaremos por meio d'ella de ris- car a terceira e as seguintes, porque pode haver erro inevitável, se logo formos dis- pondo as arvores, onde por ora só estão os signaes. Devemos ter varias cordas compridas, e de O™, 01, ou menos de grossura; pois, se não são convenientes para medições, são muito úteis para bem alinhar as filei- ras de arvores, em todas as direcções ; pois não basta que estejam em linha re- cta na direcção das linhas F I, A B, C E, fig. 43. E' preciso que digam bem certas, em todas as direcções F M, K E, D C, I H, D E, F H, e na direcção correspon- dente a F M como se partisse do an- gulo I, como seria I K. Quando se con- seguir esta perfeição, vão-se substituindo as balizas pelas arvores, e verificando se dizem certas para todos os lados. Eis-aqui descripto, traçado e já plan- tado o septunce. Estimarei que seja agra- dável aos leitores do «Jornal de Horticul- tura Pratica». Se o for, no seguinte numero d'este jornal, ver-se-ha o modo de executar a plantação, um pouco mais complicada, do meu septunce isosceles. Ferreira do Aleratejo. António Lourenço Marques Ferreira. (Continua). ALLAMANDA HENDERSONI As Allamandas são interessantes plan- tas da família das Apocyneas, natural das regiões tropicaes e equatoriaes da Ameri- ca do Sul. Esta familia fornece aos nossos jardins bellas plantas de ornamento, como são as Mandevillasj Plumeria, Echites, Nerhcm, Allamanda, etc. Um grande nu- mero de Ajioci/neas são venenosas, algu- mas a tal ponto que uma gota do seu sueco leitoso introduzida no estômago se- ria o bastante para produzir a morte. A esta familia é que pertence a Tanghinia veneniferaj arvore de Madagáscar, e da qual uma só semente do tamanho de uma amêndoa ó bastante para invenenar vinte pessoas. Em outro tempo, esta semente ser- via de prova judiciaria entre os habitantes bárbaros de aqucUe paiz ; o aocusado era JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 141 forçado a comel-a, e, se escapava aos seus effeitos tóxicos, erajulgado innocente e pos- to em liberdade. Ha ainda outras espécies tão venenosas, que a sua madeira, em quan- to verde, é empregada para narcotisar os peixes nos rios, e tornar assim a pesca mais fácil. D'este numero sSo a Cerbera theve- tia e C. ahovat. Na Europa também temos alguns re- presentantes d'esta familia; entre elles destingue-se o Neriuvi oleander (Loendro ou Espirradeirajj um dos mais bellos ar- bustos de ornamento dos nossos jardins, mas muito venenoso apezar da sua appa- rencia iaofFensiva. Citam-se immensos fa- ctos de envenenamento de creanças^ por terem comido algumas flores. Mas o que na verdade admira, é que, n'uma familia em que tanto abundam os venenos, haja arvores que produzam fru- ctos deliciosos, como por exemplo a Ca- rissa carandas e C. ediílis da índia. Dei- xemos porem a familia das Apocyneas e voltemos a um dos seus géneros, o que nos serve de epigraphe a este artigo. As Allamandas são elegan*^es arbustos sar- mentosos, que no seu paiz natal tomam o desenvolvimento de 3 a 6 metros ; nas nos- sas estufas nunca tomam tal desenvolvi- mento, talvez por serem cultivadas em vaso. As suas flores, em forma de grandes campainhas, são umas vezes axillares, e outras collocadas em paniculas terrainaes, C.ALBERTO Fiff. 44.' — Allamanda Hendersoní. de ordinário de cor amarella muito viva. A espécie conhecida ha mais tempo é a Allamanda cathartica, assim chamada por Linneu, por causa das suas propriedades eméticas e purgativas, propriedades que são communs a muitas outras plantas da mesma familia. Mais recentemente foram introduzidas as Allamanda Schofti, A. Aubeti, A. ne- riifolia e A. nohilis. Por ultimo appare- ceu no mercado a mais interessante e supe- rior a todas : a Allamanda Hendersoní, re- presentada na bella gravura junta (fig. 44). Esta planta foi descoberta na Guiana in- gleza e enviada directamente a MM. Hen- derson & C.° que, cedendo-a a Buli, horti- cultor, este por sua vez cedeu uma porção de plantas'a'A. Verschaff'elt, donde o pro- prietário d'este jornal a obteve. As suas flores são muito maiores do que as das outras espécies já conhecidas; os lóbulos da corolla são orbiculares e muito grandes. Alem d'isso na base inter- mediaria de cada um d'elles, no ponto onde se soldara, tem cada um uma macula de bella cor branca e muito grande. São ama- rellas, e de 12 centímetros de diâmetro; a sua garganta é raiada com linhas alaran- jadas, divergentes e apertadas. As fulhas são muito pequenas, quaternadas, lanceo- ladas e sub-acurainadas. Como os nossos leitores acabam de ver pela descripção que demos é uma planta digna de todas as at- tenções e sem rival, como planta trepadeira, 142 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA para vestir os muros e gradeamentos das nado. E bom podal-a todos os annos para estufas quentes. que rebente vigorosamente; multiplica-se A sua cultura nao é muito difficil; gosta por estacas, que pegam facilmente, na es- de ser transplantada todos os annos, por- tufa e debaixo de redoma, que esgota fíxcilmente a terra, que deve ; ser rica, substancia], e o vaso bera drai- ' A. J. de Oliveira e Silva. QUERCUS PEDUNCULATA ehrh. Entre as arvores florestaes de primeira grandeza é esta (assim como as suas con- géneres Q. sessilijiora Smith e Q. hesita- nica Lam.) a maior e a mais respeitável das que se encontram nas florestas não só do nosso paiz como do continente europeu. Esta espécie é extremamente vividourae alcança a edade de 500 annos e mais. Volger no seu «Tractado dehistoria na- tural» na parte que diz respeito á botânica vol. II, pag. 913, enumera alguns Carva- lhos que toem vivido IGOO annos. O seu crescimento é bastante vivaz, até aos 170 e 200 annos. O tronco tem a forma cylindrica e raras vezes chega a ter 46 metros de altura mesmo em bastio, pois esta arvore tem grande tendência para se ramiíicar ; adquire um diâmetro, de 2 e 3 metros e muitas vezes mais. A historia cita-nos Carvalhos de enormes di- mensões. Era 1859 tive occasião de ver dous soberbos Carvalhos na tapada do conde de Saltzau que fica nào muito dis- tante da cidade de Prety no ducado de Holstein, um tinha 4"", 00 e o outro 3^,bO de diâmetro no pé. Sào os mais gros- sos que tenho visto ; não me recordo se era o Q. pedimculata ou o Q. sessilijiora. A copa é muito frondosa e bastante ir- regular ; o seu enraizamento na infância é perpendicular mas depois vae no sen- tido lateral etorna-se abundante ; profun- da 2'", 50. As suas folhas sào rijas e lisas, rebentam em abril c cahem nos íins de outubro e principies de novembro; forti- ficam bem o solo. Floresce em abril e maio: é planta hermaphrodita; começa a fructificar entre os 90 e 100 annos n.is mattas reaes c nas de talhadiu já entre os 18 e 20 annos; é annual a sua fructi- ficação, e nos mezes de setembro e outu- bro 08 seus fructos (bolotas) já se acham maduros : cahem durante o outomno e germinam no principio da primavera se- guinte. O Carvalho cowmiim prefere as re- giões boreaes ás do meio dia; no sentido horizontal do globo entre 44° e 56° de latitude (meridiano de Berlim) é aonde mais abunda associado ao Fagus silvati- ca em quanto que no sentido vertical sobe menos do que a Faia, por exemplo : No Thuringen até 465 metros acima do nivel do mar. No Hessen até 500 metros, idera. Na íSchwaben até GOO metros, idem. Nos Alpes até 600 metros, idem. Nos Pyrineus até 1435 metros, idem. Esta arvore dá-se em quasi todos os terrenos ; é-lhe indifierente a composição mineralógica do solo, segundo a opinião de Mathieu, mas prefere os graniticos schistosose argilosos. Requer muita humi- dade; ás vezes cm terrenos muito irriga- dos e quasi pantanosos é aonde vegeta com níais vigor e adquire maiores dimen- sões. Vive mais nas planicies do que nas coUinas. Perthuis assevera que esta espécie de Carvalho, em França, não vegeta nos ter- renos de greda. Esta arvore é uma soberba espécie para formar mattas tanto reaes como de talhadia. Querendo plantal-a para mattas reaes pode ser por si só ou associada ao Fagus silvatica, aos Ahies e Pinus. Us cortes nas mattas reaes deverão ser feitos so quando estas arvores alcan- çarem a edade de 150 a 200 annos e nos de talhadia em turnos de 35 a 40 annos. O Quercus pedunculata não supporta de maneira alguma a sombra das arvores que lhe ficam superiores ; de sorte que quando se queiram fixzer sementeiras natu- raes é preciso ter muito em vista o deixar o terreno cora luz sufficiente para que as JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 143 novas plantas se possam bem desenvol- ver. Propaga-se por meio de sementeira ou de plantações, mas aconselhamos este ultimo processo como mais efficaz,a não ser quando se proporcione occasião favorável para a sementeira natural. Entre os insectos os seus maiores ini- migos são : o Melolontha vulgaris, que no estado de larva Ibe roe as raizes na infân- cia causando ás vezes grandes damnos nas sementeiras e como insecto as suas fi- bras ; o Gastropacha quercifoUa, o Tortrix viridana e a Phalsena Bombyx processis- nea. A sua madeira pode-se classificar de primeira ordem e (1) eniprega-se nas con- strucções navaes, hydraulicas, civis, me- litares e caminhos de ferro, nas artes e industrias ; a madeira de suas talhadias dá postes, varas, e estacas. O seu cora- bustivelé de mediana qualidade, mas pro- duz bom carvão ; a sua casca é de muito valor para corturaes em razão da grande quantidade de tanino que contem e os seus fructos são um excellente sustento para o gado suino. Esta arvore é indígena do nosso p liz, habita toda a província do Minho e en- contra-se com muita frequência em Traz- os-Montes, Beira e em parte da Extre- madura. É a arvore que mais predomina na matta do Bussaco. Alem d'esta espécie que descrevemos, ha em Portugal muitas outras a saber , Quercus sessilijiura Smith, arvore de primeira grandeza, habita as nossas pro- víncias septentrionaes. Q. hyhrida Brot., arvore de pequeno porte, muito vulgar no sul da Beira, mas encontra-se também no Minho e Traz-os- Montes. Q. pubescens Willd, arvore pequena, encontra-se com muita frequência na Beira. (1) É a mais valiosa de todas as das arvores florestaes europeas ; assim como as que provêem das suas congéneres: conscrva-se sem se corrom- per por muitos séculos. Q. Tozza Bosc, arvore de pequeno porte, habita parte do Douro. Q. friicticosa Brot., é um arbusto^ ha- bita a Extiemadura e a Beira austral. Q.coccifera Linn.,éum arbusto, abun- da em todo o paiz exceptuando na parte septentrional. Q. lusitanica Ijam., arvore de primei- ra grandeza, muito vulgar no Alemtejo, Algarve, e na Beira no districto de Cas- tello Branco. Q. òoZZoto Desf., variedade da antece- dente 5 os fructos são muito saborosos. Q, suber Linn., arvore de segunda grandeza, habita em abundância o Alem- tejo, mas encontra-se também em muitas outras partes do reino. Q. hispânica Lã.m., arvore de segunda grandeza, habita a serra de Monchique, no Algarve. Q. occidentalis Gay, arvore de segun- da grandeza muito frequente no norte do paiz. O género Quercus é ura dos mais importantes na Flora florestal pelo valor dos seus variados productos ; ha segundo a opinião de alguns botânicos um numero superior a 300 espécies distinctas, disper- sas pelas cinco partes do globo. A Ame- rica é o continente mais rico em Carva- lhos e aonde ha mais espécies: Kunth con- ta mais de 30 só na America Central. Ci- taremos algumas das espécies exóticas que no nosso paiz se cultivam só como plantas de ornamento, algumas das quaes talvez podessem ser aclimadas em diversos pon- tos do reino como arvores florestaes, a sa- ber : Quercus alba., Q. bicolor^ Q. casta- nicefulia, Q. virens^ Q. tinctoria, Q. ru- bra, Q. berris, Q. coccifera, Q. coccinea, Q. cucullata, Q. discolor, Q. elegans, Q. groeca sempervirens, Q laurifolia, Q. ma- crocarpa, Q. macruphylla, Q. nigra, Q. palustris, Q. aquática, Q. Prinos, Q. py- ramidalis, Q. Aegylops, Q. Banisteri^etCj etc. Coimbra — Matta do Choupal. Adolpho Frederico Moller. 144 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA EXCURSÃO BOTÂNICA E HORTÍCOLA O Os Siadopitys verticillata, o celebre eUnibrelia pine» dos inglezes, a Torrtya nucifera, o Cejjhalotaxus Fortunei e mui- tas espécies de Podocarpus sào Conijeras japonezas^ cuja cultura entre nós oíiere- ceria grandes vantagens. Fallando das Conijeras, notemos de passagem um facto muito interessante e até hoje muito pouco observado. As plantas do periodo actual encon- tram-se fosseis nas camadas miocenes. £is-aqui alguns exen)plos : A tíalisburia adiantijoíia, bem conhe- cida, Cvnifera chino-japoneza, encontra-se fóssil nas camadas ante-glaciaes da Ame- rica do Norte,, assim como o género ame- ricano Taxodium na Europa oriental ; isto é o Taxodium distichum que existe no es- tado íossil nos depósitos miocenes na iSile- zia. Nas camadas miocenes da ilha Van- couver, entre JJicutyleduneas e Palmeiras que annunciam uma temperatura anterior mais elevada, Lesquereux encontrou a fa- mosa Conijera, tíequuia sempervirens, que forma hoje Horestas a 10"-15'' mais ao Sul. Uma planta altamente industrial e cuja introducçào em Portugal n<ào apresentará difficuldade alguma é a títiUingia stbi- fera, arvore de cera, do Japào e da China. A introducçào d'esta Euphurbiacea nas índias Orientaes tem dado grandes lucros, porque alem dos seus fruclos produzirem cera em abundância e de boa qualidade, também as folhas sào exploradas para tin- gir estofos. Ha três annos que um pequeno exemplar foi plantado no Jardim JJ^tanico de Counbraenào só resistiu pejfeitamente aos rigores dos últimos invernos, mas até vegetou com muito vigor. Ainda que a exploração do Laurus camphora, originário da China e do Ja- pào, tenha cessado quasi completamente em nossos dias, a sua cultura reconnnen- da-se,, já pela bella folhiigem, jápelo porte elegante da arvore. No Jiussaco temos visto muitos exemplares grandes carrega- dos d fructos e seria bem digno de um ensaio, formar pequenas florestas compos- {<) Vide J. H. P. vol. II, pag. 127. tas somente dos representantes da família das Laurineas, taes como o Laurus cam- phora e o Laurus nobilis,SiS Apollonias Ca- jiuriensis e Persea indica, sendo esta ul- tima quasi espontânea em Portugal. O Âilanthus glandulosus, também do Japào, a famosa «Arvore dos Deuses» co- mo nós lhe chamamos na Allemanha, recla- mado mesmo modo a nossa attençào debai- xo de muitos pontos de vista. A faculdade das suas raizes alastradiças, a sua grande rusticidade, a facilidade com que se dá nos mais magros e áridos terrenos, sem fallar da rapidez do seu crescimento, o tornam muito próprio para as praias do mar, O conde de Lambert obteve nos vas- tos steppes da Rússia excellentes resulta- dos com o Âilanthus. Se accrescentarmos a isto que o seu lenho, segundo refere o «Gardeners'Chronicle», dá exeellente ma- deira de construcçào e que um bicho da seda chinez, introduzido na Europa ha perto de 15 annos, se sustenta exclusiva- mente das suas folhas, não podemos dei- xar de lhe attribuir um importante papel. O Âilanthus glandulosus é já conhe- cido n'este paiz, poi em cum a grande fa- cilidade que ha na reproducçao, quer por meio das sementes, quer pelas raizes, de- sejaríamos vel-o plantado aos milhares nas praias do mar, aonde a ausência quasi completa de arvores produz tristes resul- tados. Antes de deixarmos o Japão, mencio- naremos ainda um phenomeno, pelo qual a Flora japoneza se tornou tào procurada na hoiticultuia europea. Em parte alguma se encontram tantos vcgetaes de folhas va- riegadas ou manchadas (de amarello ou de branco) como aqui e debalde nos per- guntamos se ha alguma connexao entre a longa duraçào do periodo de cultura e este láeto singular, ou se este phenomeno de- pende de causas geraes. Tudo o que po- demos affirmar a este respeito é que o variegado que no Japão apresentam quasi todas as plantas de jardins não é raro tão pouco entre as que lá crescem no estado selvagem. A Austrália e sobretudo a sua parte meridional tornou-se e torna-se ainda cada JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 145 vez mais a terra promettida da jardina- gem assim como da silvicultura europea. Esta grande ilha n'uma boa metade da sua extensão corresponde quasi pelos seus diversos climas ao meio dia da Eu- ropa, e como é riquíssima era plantas, quer úteis, quer puramente ornamentaes^ íbr- necer-nos-ha uma colheita que não será tão cedo esgotada. Portugal deve já a esta terra da Ocea- nia uma profunda gratidão, porque é de lá que lhe vieram os Eucalyptus, essas famosas «Gum-trees» que de certo repre- sentarão um dia um papel importante na nossa industria e nas condições climatoló- gicas do reino. Ainda começamos porem a conhecer e a apreciar as suas diversas qua- lidades preciosas, assim julgamos conve- niente accrescentar, quando se oíferecer occasião^ noticias circumstanciadas para a sua historia. Vamos pois tomar para guia odr. F. vonMueller, que só pelos seuses- criptos sobre a Flora da Austrália é consi- derado como um dos primeiros botânicos dos nossos dias. Eis o que elle nos diz: «E um facto admirável, e que as ex- periências feitas até aqui debaixo da mi- nha direcção podem elucidar, que as fo- lhas dos nossos Eacalyptus e Casuarinas exhalam em dias de calor uma quantida- de de agua muito maior que o OLnio or- dinário do Sul da Europa, o Carvalho e o Choupo jyreto : ao passo que as fuihas da nossa tíilver WattLe (Acácia dealbata) exhalam só metade ou ainda menos que metade da quantidade de agua que evapora o Choupo preto e o Carvalho. Este grau de exhalação, tão diíferente em varias arvores, depende do numero, posição e tamanho dos seus estornas e está em iminediata correlação cum a força absorvente de humidade. Além d'isso, se a evaporação dos Eucalyptus é tamanha durante o calor e se muitas vezes as suas raizes horisontaes tornam o solo em volta muito secco, em consequência da copiosa conducção de humidade para o ar, simul- taneamente, pela rapidez da evaporação que converte a agua em vapor faz com que a temperatura desça, o que é muito im- portante no nosso clima durante os raezes de extremo calor, era quanto que a sua capacidade de absorver humidade, quando cahe chuva, deve ser muito grande. («On the Application of Phytology to the Indus- trial Purposes of Life.») Os médicos hespanhoes começaram a tractar seriamente as febres interraitten- tes e raesrao a gota pelo meio de uraa infusão feita cora as folhas e a casca dos Eucalyptus e o conde Maillard de Marafy pretende ter encontrado rias suas folhas uraexcellente substituto de fíhus cariaria, o nosso fSumagre. Talvez que tudo isto já seja conheci- do de uma parte dos nossos leitores, res- ta-nos, pois, demonstrar agora a utilidade dos Eucalyptus para o fabrico do papel e eis aqui a lista de algumas espécies, cuja casca se recommenda sobretudo para este ramo industrial. 1 Eucalyptus obliqua L'Herit. (The Stringy-bark Eucalyptus) da Victoria, Tas- mania e íjuI da Austrália. O papel prepa- rado com a casca desta arvore não é uni- camente bom para embrulho mas sim para impressão e mesmo para escrever. Tam- bém serve para papelões. 2 Eucalyptus rostrata Schlecbtendahl (The Ked Uum-tree) do sul da Austrália e da Victoria. O papel preparado com a casca d'esta arvore é muito mais grossei- ro que o do Eucalyptus obliqua. 3 Eucalyptus amygdalinus Labillar- dière (Peppeimmt-treej. A casca do inte- rior é adoptada para a preparação de to- das as qualidades de papeis grosseiros. 4 Eucalyptus gluLulus Labillardière (Blue Gum-tiee) da Victoria e da Tasma- nia. O papel preparado com a casca d'esta arvoíe é bom para embrulho e até para impressão. õ Eucalyptus goniocalixF. von Muell. (White Guiu-tree). A casca produz bom papel para empacotamento. 6 Eucalyptus corymbosa Smith (Blood- wood-tree) do este da Austrália. O papel preparado com a casca d'este Eucalyptus é notável pela sua firmeza. 7 Eucalyptus leucoxylon F. von Muell. (Mountain-ash) de North South V/ales. A sua casca produz papel grosseiro de em- brulho. 8 Eucalyptus Stuartiana F. von Muell. (Water Gum-tree) da Tasmania. A casca d'esta arvore, que é muitas vezes enor- me, fornece exceilente material para da- 146 JORNAL DE HORTICULTURA PRAllCA pel de embrulho. (Report on the Vegeta- ble Products exhibited in the íntercolo- nial Exhibitiou oí' lbGG-G7. By dr. F. von Mueller). Ha pouco o Jardim Botânico de Coim- bra recebeu do sábio director do estabe- lecimento botânico de JMelbourne uma por- ção de semente do Eucalyptus margina- ta, o celebre «Mahagony» da Austrália, e em verdade, pela sua madeira preciosa, que resiste a toda a influencia da agua do mar, esta espécie nào tem rival entre as suas congéneres. Logo em seguida aos Eucalyptus, po- der-se-hào coUocar, pela sua utilidade, as Acácias e as Gasuarinas, que tào facil- mente se podem aclimar aqui com as pri- meiras, e posto que o seu emprego seja tão variado, a sua cultura recommenda-se a todo aquelle que quizer experimentar as suas propriedades. Diga-se aqui de passagem que muitas pessoas comniettem um erro, escolhendo para as suas plantações de Eucalyptus, de Grevilleas, de Casuarinas, ò.q Acácias, emtíuí, de todas essas arvores que ainda em pequenos vasos alcançam muitos me- tros de altura, indivíduos que passam de 1 metro de alto, porque, quanto mais tem- po estiveram no vaso, mais as suas raí- zes se enovelarão, formando um verda- deiro e impenetrável nó, e quando, emtim, se dispõe a planta em plena terra esta- ciona muito tempo antes de desenvolver uma rápida vegetação e muitas vezes nào passa de uma arvore rachitica. Entre as Cuniferas australienses o gé- nero Araucária occupa, não ha duvida, debaixo de todos os pontos de vista, o primeiro logar. ÍSào 5 as espécies conhe- cidas entre nós, a saber — Araucária ex- celsa, com algumas variedades, A. Cuuki, A. Bidwilli, A. Cunninghamii e A. Rulei. Uma outra espécie acaba de ser introdu- zida na Europa — Araucária intermédia, da Tasmania, e a sua melhor collocaçào é talvez entre a A. excelsa e a Jl. Cuuki. O seu porte e as suas folhas mudam, cora- tudo, como acontece com a A. Rulei quan- do a arvore se torna mais velha. Deve- mos esta nova introducçào ao estabeleci- mento Laurentius de Leipzic, onde se po- dem obter por preços módicos indivíduos novos. Contiamos em que será breve o dia em que as Araucárias nSo só figura- rão nos nossos jardins, mas começarão pouco e pouco a constituir espécies flo- restaes em Portugal. As Dammaras, outro género de Coní- feras australienses, não são, por certo, menos dignas da nossa attenção que as Araucárias ; já ha algumas espécies in- troduzidas e é de novo ao Bussaco que é preciso ir para admirar a sua belleza. Quem falia do Bussaco traz immedia- tamente á lembrança esses famosos Ce- drus de Goa (Cupressus glauca), que tem grangeado, para assim dizer, uma repu- tação europea a este velho convento. Está fora de duvida que os exemplares que se encontram no Bussaco foram importados dos Açores, mas o que é menos verdade é que seja Goa a verdadeira pátria d'esta espécie, como nolo ensinam a maior par- te dos tractados sobre Coniferas. Pessoas que por longos annos habitaram Goa nos atíiançam que nunca alli encontraram Cu- pressus no estado selvagem. Numa carta dirigida ao snr. António de Carvalho in- forma-lhe pessoa competente que, apezar das mais minuciosas observações, não se tinham encontrado d'esta espécie senão alguns individues em dous ou três jar- dins particulares, que tinham sido funda- dos pelos jesuítas na sua chegada da Eu- ropa. A querer-se tirar d'aqui alguma con- clusão, seriamos levados a crer que os padres jesuítas, geralmente zelosos hor- ticultores, introduziram esta espécie por meio de sementes nas índias portuguezas. Pela nossa parte parece-nos verosímil que o Cupressus glauca seja uma espécie aço- riana, extincta já alli ha muitos séculos talvez por causa das erupções vulcânicas. Troncos enormes, pertencendo a uma Co- nifera que se não encontra actualmente n'estas ilhas, têem sido encontrados a gran- de profundidade em alguns legares da ilha de 8. Miguel. Talvez que o Cupressus glauca seja apenas uma variedade do Cupressus sem- pervirens, levado de Portugal para Goa, esquecido alli, e depois introduzido na Europa como espécie nova da Índia. Fa- ctos similhantes não são raros na Historia da Botânica. Pedindo desculpa a nossos leitores desta digressão, consagremos ainda algu- JORNAL BE HORTICULTURA PRATICA 147 mas Unhas á flora da America do Norte para fazer uma paragem de momentos n'esta excursão, quejá nos levou tao longe. Uma das arvores mais exploradas pela industria americana é, sem contradicçào, o Âcer saccharinum Linn., que toma uma altura considerável. Esta arvore é justamente celebre pelo assucar que d'ella se extrahe em grande parte dos Estados Unidos e que se reputa de tão boa qualidade como o proveniente da Canna ou da Beterrava. Um individuo de dimensão ordinária produz por anno, termo médio, quasi ires kilogrammas de assucar refinado. Averiguou-se que só nos estados da Nova-York e da Pensylvania, ha 10 milhões de geiras cobertas d'esta bella arvore e na proporção de 30 por geira. A arvore não soffre com a opera- ção que se lhe faz para tirar o assucar e sujeita-se a este tractamento durante qua- renta annos successivos. Se não estamos enganados, é somente o snr. conselheiro Moraes Soares, o incan- sável director do Bussaco, que entre nós fez a experiência da plantação d'esta ar- vore. Agradeçamos-lhe o obsequio, imi- tando o seu exemplo. As sementes do Acer saccharinum obtêem-se facilmente, quer em França, quer na Alleraanha ou na Inglaterra. Nascem muito bem e como o Acer não é muito exigente pelo que diz respeito ao terreno, esperamos que estas linhas dispertarão a curiosidade de o in- troduzir em Portugal. Depois dos Pinheiros, são algumas espécies de Carvalhos o que mais se en- contra nas florestas portuguezas, mas to- das são espécies indigenas, que poderiam ser, senão substituídas, pelo menos acom- panhadas por muitas espécies oriundas da America do Norte, como, por exemplo, 03 Carvalhos vermelhos, os Quercus tin- ctoria e phellos, etc, de cujas espécies a casa Vilmorin Andrieux á 0."^, em Pariz, lança todos os annos grande porção de se- mente no commercio. Estas espécies ame- ricanas são muito mais preciosas que as nossas para os bosques e reclamam pelo seu porte elegante e algumas vezes até magestoso muita mais attenção da nossa parte. Poderiaraos ainda citar o Juglans nigra, algumas espécies de Platanus, e outras, mas será melhor suspendermo-nos para entrar desde já nos nossos jardins e campos, terreno muito menos vasto, sem duvida, mas que não é menos convi- dativo para a nossa investigação. Jardim Botânico — Coimbra. Edmond Goeze. (Continua.) ENTOMOLOGIA HORTÍCOLA IiNSECTOS NOCIVOS ÁS ARVORES De todas as classes do reino animal, a dos insectos é sem contestação a que mais interessa á horticultura. O numero considerável de indivíduos que a compõem, suas pequenas dimensões, a difficuldade que se encontra na observação de seus caracteres e costumes e na sua persegui- ção, o conhecimento dos estragos que nos causam, e dos serviços que nos fazem; tudo isto torna indispensável o estudo da entomologia. Chama-se entomologia a parte da zoo- logia consagrada aos insectos. Os naturalistas dividiram-nos em oito grandes ordens^ a saber: 1 Anojpluros, II Dipteros^ III Lepi- dopteros, IV Hymenopteros^ V Nevropte- ros, VI Hemipteros, VII Orthopteros, VIII Coleopteros. I Anopluros. — Nada ha de notável n'esta ordem, bastando unicamente dizer, que são a maior parte parasitas, e que servem para marcar o limite que ha en- tre os animaes de uma ordem inferior de outros de organisação mais completa. II Dipteros. — A esta classe pertencera muitos insectos providos somente de duas azas, entre osquaes figura a mosca (Musca importuna), mas que pouca ou nenhuma relação têem com a horticultura. III Lepidopteros. — Os Lepidopteros ou borboletas são uns dos insectos que mais estragos causam á horticultura, por exem- plo o Cossus ligniperda, a Sesia apifor* 148 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA we;'» Bombyx processionnea, a B. pini, a Phaloena piniaria e a Noctua piniper- da destroem completamente os Olmeiros, os Carvalhos , os Salgueiros, os Pinheiros e muitas outras arvores em pouco tempo. IV Hymenopteros. — Encontra-se n'esta ordem, entre outros, a Tenthredo pinte a T. campestris, moscas bastante perigosas a todas as Coriiferas. V Nevropteros. — N'esta ordem nada ha de notável com relação á horticultura. VI Hemipteros. — E' a esta ordem que pertence a cochonilha, insecto que produz uma linda cor carmesim, muito própria para tingir. VII Orthopteros. — O insecto mais no- tável d'esta ordem éo Gryllus gryllutnlpa muito prejudicial ás sementeiras de ce- reaes e prados artificiaes. VIII Coleopteros. — E' finalmente a esta ultima ordem que pertence uma gran- de quantidade de insectos devastadores por excellencia de todas as arvores e plan- tas tanto de folhas persistentes como ca- ducas. O besouro cummum, a quem muitos chamam Melolonta vulgaris, mas que Linneu classificou debaixo do nome de Scarahaeusmelulonta{^gAõ)pevtencesL esta, ordem e, em certas epochas, devora intei- ramente as folhas e os rebentos novos das arvores: a sua larva (lig. 46)^ chamada vulgarmente bicho branco, roe durante o tempo que está debaixo do chào, que nunca é menos de três ou quatro annos, todas as raizes de arvores e plantas, tan- to velhas como novas. As folhas das ar- vores atacadas por este insecto amaralle- cem ecahem. Mr. Hardy, no seu «Traité de la Fig. 45. Fig. 4-6. Scarabaeus melolonta. Larva do Scarabaeus melolonta. Fig. 47. Meloe vesicatorius. taille des arbres fruitiers», aconselha que se plantem, ao pó d.-is arvores atacadas, alguns pés de Morangxieiros, porque sâo preferidas as suas raizes ás de qualquer outra planta. Também Mr. Pjnaest no seu «Ma- nuel de Tamateur de fruits» nos diz; que, se durante o estio se conhecer o efíeito da larva em qualquer arvore, deversc-hào plantar alguns pés de Alface em roda d'ella, também para o fim já citado. Alguns animaes existem que se ali- mentam com os besouros e suas larvas, 08 quaes nào sendo prejudiciaes ás se- menteiras e plantações, nào se devem ma- tar, taes como: a doninha, o ouriço, a marta e a toupeira que comem as larvas. A cantharidail/eZoe visicnforius (fig. 47), acomette também algumas arvores de fo- lhas caducas, principalmente os FreixoSj onde causa estragos consideráveis. Como tem muitas applicações medici- naes compram-se por grande preço. En- tre nós, sào raras mas já se têem encon- trado algumas vezes. Mr. Du Breuil ensina a seguinte re- ceita aos que quizerem vendel-as. «Sacodem-se pela manhã as arvores, afim de cahirem estes insectos, e depois de apanhados deitam-se de infusão em vi- nagre, para poderem ser vendidos aos pharm.aceuticos. » Lisboa. A. M. L. Carvalho. (Continua), JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 149 ESTUDOS AMPELOGRAPHICOS O Pode a flor da Videira, sem duvida, ministrar-nos caracteres distinctivos para a diíFerenciação das castas ; porem sendo estes difficeis de observar com proveito por aquelles, que não possuem sufficientes no- ções de botânica, parece-me escusado, pa- ra o fim que me proponho n'estes estudos^ occupar-me agora d'elles^ e por isso pres- cindamos da flor e occupemo-nos do fru- cto, cujo estudo é mais fácil e mais pro- veitoso. Cacho — E' sem contestação nos ca- chos das uvas que se encontrara os cara- cteres ao mesmo tempo mais fáceis de ob- servar e mais próprios para fixar as dif- ferenças importantes das castas. O cacho comprehende: l.° o pé ou 'pe- dunculuj por meio do qual se acha o fructo suspenso á vara ; 2.° a continuação verti- cal d'este e as suas ramificações, a que po- demos chamar o engaço, e ao qual se pren- dem os bagos pelos pesinhos ou pedicel- los ; e 3.° finalmente os bagos que formam parte essencial do fructo. Muitas circumstancias fazem variarem cada cepa o numero dos cachos produzi- dos, porem é certo que umas castas são sempre mais productivas do que outras, apresentando maior numero de fructos; por isso esta qualidade deve raencionar-se nas descripções das castas, dizendo — pro- duz muitos, poucos, ou raros cachos, ou produz muito ou medianamente. A grandeza dos cachos é também ca- racterística, porque, ainda que esta possa variar bastante, ha castas em que o ge- ral dos cachos é grande e até muito gran- de, e outras em que elles são sempre peque- nos. A forma geral dos cachos, apezar das variações que apresenta em cada casta, não deixa comtudo de fornecer matéria para caracterisação. Devemos portanto ob- servar e notar se o cacho é cylindrico; se é mais ou menos oval; se é mais ou menos cónico ; se é quasi globular ou ar- redondado, ou se é de forma irregular. Também convém notar se os cachos são singelos, compostos, ou recompostos. (1) Vide J, H. P. vol. II, pag. 78. Os primeiros não se dividem apparen- temente eu esgalhos ou ramificações par- ciaes, como acontece aos segundos, e nos terceiros ainda as ramificações principaes se subdivideta n'outras. Ha também ca- chos que desde a base do pedúnculo sem- pre se apresentam bi-partidos. No maior numero dos casos o cacho é composto na pai-te superior e singelo na parte inferior; esea pirte composta é formada pela addi- çàode dous esgalhos salientes e distinctos, um de cada lado, diz-se então que o ca- cha é alado ou tem azas. Na contextura do cacho convém obser- var se os bagos estão muito juntos e aperta- dos, ou se se acham muito separados e sol- tas. O comprimento do pedúnculo está ge- ralmente na razão inversa do a| erto dos bagos. No Bastardo, por exemplo, o pe- dúnculo é curto e os bagos muito unidos e apertados ; no Mourisco o pedúnculo é longo, e os bagos separados e soltos. Em todo o caso deve mencionar-se esta cir- cumstancia quando o cacho se torna notá- vel por ter o pedúnculo muito longo, cu muito curto. Do mesmo modo se deve at- tender á maior ou menor grossura do pe- dúnculo, ás suas desegualdades, á situação e grossura do nó ou conjunctura, que se- para o pedúnculo do engaço, á dureza e cor das diversas partes. Nos pesinhos ou pedicellos dos bagos devem notar-se as pequenas verrugas que alli se manifestam; observar se são mui- tas ou poucas ; grandes ou pequenas ; es- curas ou claras, e o mesmo em relação ás que apparecem no rodete em que assenta o bago. Pelo que respeita aos bagos são mui- tas as observações que se devem ter em vista, e que todas são importantes para a caracterisação das castas. Em primeiro logar convém mencionar a sua grandeza, a qual se obtém medindo os diâmetros maior e menor do bago com o auxilio de um compasso curvo, cuja aber- tura se transporta sobre uma pequena re- goa dividida em millimetros. Ao bom juizo do observador fica a escolha dos bagos que se devem medir, porque estes nem sempre, e até raras vezes, são eguaes. E' 150 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA a grandeza media que convém designar. N'algumas castas e suas variedades é gran- de e habitual a desegunldade dos bagos, e por isso convém indicar se os bagos sào qiiasi-egiKjes, deseíjiiaes, ou muito eyiiaes. Também algumas castas apresentam frequentes vezes alguns bagos que nào amadurecera e se chamam afjracos, cir- cumstancia esta que na descripcào se de- ve indicar, bem como a do appareciuien- to dos bagos muito miiidos, que todavia amadurecem. Um phenoraeno, a que estão sujeitos com frequência os cachos de certas cas- tas, mais do que os de outras, é o de nào adquirirem o desenvolvimento os bagos, ficando no estado rudimentar, murchando logo e desprendendo-se ao mais leve to- que: diz-se então que os cachos são su- jeitos a esvinhar. A forma do bago é sempre caracte- rística, e por isso deve sempre descrever- se. Ha bagos redondos ou globosos, outros ohlongos mais ou menos uvaes, e outros espheroidaes mais ou menos achatados e umbilicadus, tendo bem distincto o ponto central, que marca o logar do estigma. A forma oval pode apparecer modificada de vários modos; quasi ajlindrica, um pouco cónica ou com as extremidades adel- gaçadas e até de forma irregular, arquea- da ou com o eixo curvo. A cor das uvas não é menos impor- tante do que a forma dos bagos para a caracterisação das castas. Diz-se em ge- ral que as uvas são : brancas, tintas ou di- versamente corao?as ; porem tanto em umas como nas outras se notam diíferenças sen- síveis, que conviria que fossem bem apre- ciadas e representadas por uma nomencla- tura rigorosa, como a que o snr. Chevreuil tentou introduzir na sciencia e na indus- tria com a sua escala chromatica. Infe- lizmente esta nomenclatura não entrou ainda no uso vulgar, e nenhuma outra existe que possa servir para dcisignar to- das as cores por nomes susceptíveis de despertar em nós a ideia exacta de uma determinada cor. A' falta d'este recurso, indicaremos, ao menos de um modo ge- ral as cores mais notáveis com que as uvas se appresentam. As que chamamos brancas têeni sem- pre um pouco de verde ou amarello^ e podem dizer-se — brancas-esverdeadas , verdes, amarelladas, douradasj ou cor de latão. As tintas são mais ou menos pretas, mais ou menos roxas, ou violaceaes. As coradas são roxas-claras, "purpúreas, ou rosadas. Em algumas variedades os ba- gos são listrados de duas cores; em ou- tras o mesmo cacho apresenta bagos com diversas cores. Todas estas circumstan- cias devem ser descriptas com exactidão, bem como a manifestação mais ou menos sensível de manchas ou pintas pardas, que muitas vezes se divisam nos bagos, assim como a maior ou menor quantidade de aquella poeira resinosa esbranquiçada, que se chama flor, e que se torna muito sensível nos bagos de certas uvas tintas a ponto de lhes modificar sensivelmente a cor. Deve também indícar-se a transluci- dez ou a opacidade dos bagos, que se ob- serva interpondo-os entre o olho e uma luz clara. O mesmo direi relativamente aos veios, que nos bagos das uvas brancas translúcidas se divisam atravez da casca. A dureza, a molleza, a abundância re- lativa da polpa carnosa ou a do succo^ e a pouca ou muita espessura da casca de- vera egualmente índícar-se, porque todas são caracteriscas de muito valor. Tem cora estas relação a facilidade ou a dífficulda- de com que os bagos se destacam do pe- dícello, quando puchamos por elles ; assim como a muita ou pequena porção de pol- pa que lhe fica adherentc. Os bagos das uvas molles destacam-se facilmente do pe- dicello e deixam-lhe adherente pequena porção de polpa. O contrario acontece com os bagos das uvas duras e carnosas. Nas descri pções não nos devemos li- mitar só á exterioridade do bago: con- vém ainda examinar no seu interior a abundância do tecido cellular, a cor da polpa, o numero, disposição, grossura e cor das grainhas ou sementes. O conhecimento do sabor do fructo é ainda muito essencial. Este pode ser ás- pero e austero ; mais ou menos acido, doce, muito ou excessivamente doce ; agradável sem ser pela doçura; aromático ou balsâ- mico', insipido ou enjoativo. E' escusado dizer que estas observa- ções devem ser uuicívmente. feitas quando JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 151 a uva está madura, porem o que é indis- pensável é indicar^ pelo menos aproxima- damente, a epocha era que as uvas ama- durecem; se isto tem logar cedo ou tarde] muito cedo ou muito tarde. Muitos outros caracteres podem ainda ser o objecto de exame para estabelecer differenças entre as castas e suas varieda- des; parece-rae porem suffioientes os que ficam expostos, e por elles se poderão fa- zer quaesquer descripcÕes com a claresa necessária para reconhecer e comparar as castas, que entre nós se cultivam. Não devemos todavia contentar-nos com a simples descripcão phytographica da Videira que quizermos fazer conhecida* Convirá, sempre que isso for possível, completar esse estudo com o da composi- ção do mosto, determinando pelo menos: 1.° a quantidade de mosto fornecida por um certo peso àò uvas; 2.° a densidade; 3." o grau glucometrico, ou melhor ainda o seu conteúdo em assucar e ácidos. Para exempliticar o mcthodo que fica exposto, apresentarei em seguimento al- gumas descripções de castas que se culti- vam no paiz do Douro. V. DE ViLLA Maior. (Gontinua). O CHÁ; SUA HISTORIA, CULTURA E PREPARAÇÃO O III Terminando as regras sobre a colhei- ta e cultura do Chá, no seu paiz natal, passemos agora uma rápida vista sobre as tentativas da sua introducção e cultura entre nós, na Europa, e no Brazil ; esfor- ços que se têem feito para a sua aclima- ção, e diíferentes modos de cultura, que se têem ensaiado. As repetidas tentativas para a intro- ducção do Chá na Europa têem sido in- fructiferas, não, segundo cremos, porque se não possa dar entre nós ; pois temos visto pés muito viçosos e produzindo abun- dantes flores, e até sementes ; mas pela falta de perfeição, ou melhor, pela igno- rância do verdadeiro methodo que os japo- nezes empregam na preparação d'esta ex- cellente planta. E não é só em Portugal que estas tentativas têem sido frustradas; o mesmo tem acontecido na França, na Inglaterra, e em todos os paizes da Eu- ropa. Já dissemos que o primeiro Chá que veio á Europa, foi introduzido pela Com- panhia Hollandeza, mas o primeiro que conseguiu obter a planta viva foi Linneu era 1763, e isto depois de repetidas re- messas de sementes e plantas vivas, que chegavam sempre em péssimo estado de conservação. Linneu deu iramediataraente parte do (1) Viíle J. II. P., vol. II, pjg. 130. succedido ao professor de sciencias natu- raes em Coimbra, Domingos Vandelli, e n'essa mesma carta confessa que só de- pois de muitas e repetidas tentativas é que pôde obter a planta viva. O motivo, que obstava a que as se- mentes não germinassem, era o pouco cuidado que havia no modo de as remet- ter, ou mesmo a fraude de que os japo- nezes se serviam dando sementes de Ca- mellia, em logar das de Chá. O óleo de que a semente do Chá está cheia torna-se rançoso e corrompe-se em muito poucos dias, de modo que perde promptamente o seu poder germinativo. Ensaiaram-se dous methodos para fazer chegar as sementes em bom estado; o primeiro consistia em as procurar frescas, maduras, brancas, bem creadas, húmidas interiormente e depois de bem seccas en- volvel-as em cera; o segundo em deixar as sementes nas suas capsulas e guar- dal-as n'uma caixa de estanho bem fecha- da. Nenhum d'estes meies produzia com- tudo o effeito desejado; o único, que se reconheceu efficaz, foi o semear as semen- tes em caixas em boa terra, na occasião da sahida da índia, cobrindo-as por cima com redes de arame, para que os ratos ou outros aniraaes as não podessem atacar. Foi assim que Linneu recebeu as primei- ras plantas, que depois se propagaram por quasi toda a Europa. Depois d'esta bem succedida tentativa foram os inglezes, que immediatamente 152 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA se seguiram na introducçao do Chá; en- viando á França o primeiro pé, creado nos viveiros de um celebre horticuiUtr chamado Gordan ; e foi no jardim do ca- valleiro Jansen, que o Tkea deu flor pela primeira vez, debaixo do céo francez Depois d'este amador foi o defunto Ceis, pae, que primeiro pôz á venda o arbusto do Chá, espalhando-o por todos os jardins botânicos de Franya e Europa; e foi também d'csse estabeleciniento (se- gundo julgamos ter lido algures), que vie- ram os primeiros pés a Portugal. Os francezes também se lembraram de transplantar o Chá para a America, porem cremos que nunca o consegui- ram. Nas «Novas viagens ás ilhas da Ame- rican, do padre Liibat, vêem citadas di- versas tentativas de introducçao do Chá nas Antilhas ; e Domingos Vandelli, n'um trabalho que apresentou á Academia Real das Sciencias, publicado em 1789, diz que os inglezes emprehenderam o cultivo do Chá na Carolina, mas que não per- sistiram n'elle. A intro lucção do Chá no Brazil de- ve-se ao mesmo nosso illustre botânico Domingos Vandelli ; porem cremos que a planta enviada ao Rio de Janeiro nunca passou do Jardim Botânico de aquella ci- dade, ou mesmo se perdeu; sendo depois mandado vir directamente da China por Luiz de Abreu, que distribuiu alguns in- dividuos por diversos particulares, con- tando elle mesmo, que existiam alguns arbustos dos seus em muito bom estado. Pela leitura de vários artigos, vemos que houve uma epocha em que o Chá prosperou no Brazil, chegando-se a obter algumas colheitas a ponto de rivalisar com o que vinha da índia e Japão. E se nos é permittido citar uma d'essa3 peças, apresentaremos a que nos parece mais au- ctorisada, extrahida dos «Annaes da Ex- posição Universal de Londres», em 1862, na classe de agricultura. O snr. Aubry Lecomte, que foi a quem coube a analyse dos specimens do Chá enviados pelo Brazil áquella exposição, diz: a O Brazil tem feito, especialmente em S. Paulo e Minas Geraes, plantações de Chá assas importantes, para fazer face a uma parte do seu consummo. Algumas plantas introduzidas no Na- tal multiplicaram-se por tal forma, que presentemente se alimentam as mais legi- timas esperanças quanto aos seus produ- ctos.» Isto escrevia um homem a quem de- vemos dar credito pelo seu saber; e já anteriormente na mesma cidade de Lon- dres um jornal que aíii se publicava di- zia: «As gazetfis inglezas têem publicado que em consequência dos planos propos- tos pelo conselheiro de estado António de Ai-;iujo, se introduziu a planta do Chá no Brazil, onde prospera, e dá esperançado ser de tal proveito, que se escuse de pa- gar annualmente aos chinezes grandes sominas por esta merca^^.oria.» Antes de terminarmos os apontamen- tos sobre a introducçao do Chá no Bra- zil, e desenvolvimonto que ahi tomou a sua cultura, não deixaremos de lembrar um nome a quem este paiz muito deve, e que com razão colloca a par das suas notabilidades scientificas. Referi monos a fr. Leandro do Sacra- mento, botânico illustre e de quem ura ou- tro botânico francez, também illustre co- mo elle, A. de St. Hilaire, falia com res- peito, confessando os seus conhecimentos em botânica^ dando-lhe o nome de amigo e citando-o muitas vezes nas suas obras com elogio, e especialmente na sua «Flo- ra Brasiliíe Meridionalis.» O botânico brasileiro deu grande im- pulso á cultura do Chá; fez vir do Japão uma colónia a que incumbiu a cultura de uma soíFrivel porção de plantas doeste ar- busto, e os resultados obtidos na sua cul- tura e experiências foram todos reunidos n'uma memoria impressa no Rio de Ja- neiro, e publicada pelo próprio Leandro do Sacramento. Prestando d'este modo uma singela homenagem aos talentos do virtuoso sacerdote, recommendamos a lei- tura do seu escripto aos que sobre este assumpto quizerera ter mais amplos conhe- cimentos. Hoje a producção do Chá no Brazil cremos que é muito diminuta, ou quasi nul- la ; importam-no para consumo da China e do Japão. E para sentir que não tenha progredido, pois que as grandes sommas que annualmente enviamos para a índia melhor seria que fossem para o Brazil a JORNAL DK HORTICULTURA PRATICA 153 quem estamos ligados pelos laços de san- gue e amisade. Na índia, esta planta tem progredido espantosamente. Em 1826 foi que prin- cipiaram os primeiros ensaios d'esta cul- tura, não só nas índias mas também em Assam. Em maio de 1863 já havia em Assam 246 jardins, onde se cultivava o Chá, dos quaes 76 pertenciam á Compa- nhia e 170 á industria particular. Occu- pavam estes jardins um espaço de 3,057 hectares, que em i863 tinham produzido 974;,518 kilogrammas de Chá represen- tando um valor de 4,750,000 francos. A producçào do Chá no valle de Ka- tchar, em Dargicling e nas provincias do nordeste da índia até ao Indus, é simi- Ihante á de Assam e outras provincias visinhas. O Chá indico occupa hoje pela sua qualidade e boa preparação o primei- ro logar em todos os mercados do mundo civilisado. A. J. DE Oliveira e Silva. (Continua) NOVA ERVILHA Entre diversas sementes que recebeu o anno passado o meu amigo, o snr. Flet- cher, cônsul da America na cidade do Porto, remettidas pela repartição de agri- cultura dos Estados Unidos, vinha ura pequeno embrulho contendo umas doze Ervilhas denominadas Cárter s Suprise PeaSj que elle me deu para eu semear, dizendo-rae que precisava saber o resul- tado obtido, para o participar áquella mencionada repartição, porque é uma das clausulas por que se distribuem as se- mentes de novas espécies de vegetaes. Eu vi n'um pequeno impresso que vinha junto com as Ervilhas^ c^ue esta variedade foi obtida em Inglaterra, e que, conhecida alli a sua boa qualidade, foi remettida para os Estados Unidos. As doze Ervilhas foram semeadas, era fevereiro ultimo, na horta da minha quinta do Lameiro, em S. Domingos de Bem- fica, em terra basáltica e bem adubada ; cada Ervilha foi semeada com a distancia de 0°,18 em quadrado umas das outras; nasceram todas doze, e quando tinham 0'°,10 a 0'",12 de altura, raandei-lhe dar uma sacha, que muito agradeceram ; quan- do estavam a O™, 18 de altura mandei-lhes pôr ramos seccos para treparem ; comtudo não treparam muito, ficaram a meia pa- lha de altura. Encheram-se de flores bran- cas, que quasi todas fecundaram, colhen- do de aquelles doze grãos uma oitava de Ervilhas seccas, pouco mais ou menos, não obstante ter apanhado algumas va- gens para as experimentar em verde. Es- tas não são muito grandes ; contêem cinco a seis grãos cada uma. Cozem-se com muita facilidade, conservando uma bonita cor verde, e são muito assucaradas. As seccas também se cozem bem, con- servam a mesma bonita cor, e devem fa- zer uma excellente sopa. Pareceu-me que devia recommendar aos amadores e horticultores a cultura d'esta Ervilha^ não só pela sua boa qua- lidade, mas também pela sua producçào, e que mereceu bem o nome que têem de Ervilhas de admiração; por este motivo offereço aos curiosos uma pequena porção da minha colheita, pedindo-lhes que a se- meiem a uma respeitável distancia das outras Ervilhas e mesmo das Favas, para não degenerarem. Lisboa. (JrEORGE A. WhEELHOUSE. CHRONICA Ha muito que deveríamos ter dado noticia de um livro nimiamente interes- sante devido á penna de Mr. Ed. André, mas o labutar incessante d'esta vida de cidade nos obrigava a transferir de dia para dia a sua leitura, apezar da boa von- tade que tinharaos de o conhecer. Chegou emfim a estação calmosa e pen- samos, por muitos motivos, que uma ephe- mera emigração no campo nos traria tran- 154 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA ouillidade de espirito e nos deixaria tem- po para alguma leitura amena. Em har- monia com sirailhante pensamento, esco- lhemos alguns livros, que nos mereciam preferencia, e seguido de tão agradáveis companheiros deixamos a laboriosa cidade. O prinieiro de que lançamos mào, foi o do Mr. Ed. André — «Un moisen Kussie.» Quando chegamos ao fim, tínhamos de- sejos de encetar de novo a leitura, pois tão amena e cheia de interesse se mostra- ra. Tudo o que nos conta o auctor forma uma cadeia de factos novos, que bom fora se tornassem conhecidos das pessoas, que se occupain da horticultura. A Rússia, sem poder luctar com a Inglaterra, a Bélgica e a França, no desenvolvimento agrícola e hortícola, diz Mr. André, tem especiali- dades em que se torna saliente. A Rússia marcha acceleradamente na via do pro- gresso. O seu futuro, assim como a pro- ducção vegetal alimentícia, é repleto de promessas : tudo está no aproveitarem-se os seus recursos. Debaixo d'este ponto de vista, faz o auctor algumas insinuações aos homens que se preoccupam do que será um dia o império moscovita. A Rússia não é ura paiz predestinado para a horticultura e portanto os jardins são cultivados com estrema difficuldade; nos fructiferos ao ar livre é quasi impos- sível obter bons resultados a não ser abai- xo de Kiev, isto é, a 2:000 kilometros do golío da Finlândia. A horticultura era Moscow — a cidade santa — ainda se acha pouco desenvolvida apezar da temperatura ser mais elevada que em S. Petersburgo; mas, como em to- do o clima continental, o calor e o frio to- cam os extremos em Moscow. — Em maio de 1867 marcava o therraometro 30" aci- ma de zero, ao passo que durante o inver- no se conservou por muito tempo 50" abai- xo de zero ! O capitulo XI consagra-o Mr. André aos viajantes botânicos da Rússia desde J. G. Gmelin, naturalista wurteraberguez, até Maximowicz; e no capitulo XII faz ura estudo estatístico do clima e dos pro- ductos da Rússia da Europa. Aconselhan- do a leitura do livro «Un raois en Rus- sie», não cumprimos mais que um dever. — A estação tem corrido rebelde para j os jardins. As muitas chuvas e frios fi- zeram degenerar a maior parte das plan- tas annuaes que geralmente os adornam e outros arbustos de folhagem ornamental mostrara-se rachiticos. Apezar de tudo, as Gardenias floridas produziram innuraeras Hores : um pequeno exemplar de dous ou três annos, no nosso jardim, ostentou mais de sessenta flores abertas quasi simulta- neamente. — A auctoridade administrativa d'este districto propoz ao governo para que se alargasse a área da exposiçãu de sericul- tura, que se costuma realisar no Palácio de Crystal e n'ella se adraittissem os pro- ductos concernentes á agricultura e prova- velmente á horticultura. Esta ideia é muito para ser approvada, pois é tão limitado o desenvolvimento de todos os ramos da agricultura entre nós, que julgamos uma quasi inutilidade fazer- se de longe a longe uma exposição espe- cial, que não tem o mérito de attrahir de per si só a concorrência. As exposições entre nós não se podem tornar notáveis pela riqueza dos productos, mas sim pela sua variedade. Accresce alem d'isso que já ha uns poucos de annos que se não realisou no Porto nenhuma d'essa8 testas agrícolas, que, bem dirigidas, devem ser um verdadeiro estimulo para o lavra- dor. — Ha bera poucos annos ainda que as Orchideas eram raríssimas ^nas collecções dos amadores de plantas. A iniciativa de alguns mais apaixonados de Flora deve- mos nós comtudo a introducção de certo numero d'ellas, que pela maior parte são provenientes do Brazil. Um cavalheiro que, segundo nos cons- ta, cultiva bastantes ao ar livre, que os- tentam as suas flores de rico colorido como no seu paiz natal, é o snr. João Alexan- dre Fladgate. Sobre a cultura das Orchideas tropi- caes ao ar livre vem a propósito dizer que ha alguns annos que Mr. Bouché faz ex- periências, no Jardim Botânico de Ber- lim, em grande numero de espécies de Or- chideas tropicaes, com o intuito de as ver passara bella estação ao ar livre. Com este Hm collocou Mr. Bouché, n'um recinto as- sombrado e ao abrigo dos ventos, uma JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 155 caixa de O", 65 de altura cheia de tanlno. N'esta camada foram collocadas as Orcki- deas trojncaes e assim foram deixadas sem outro abrigo e sem outro calor alem do que fornece o ar, desde o mez de junho até se- tembro. N'estas condições as folhas tomaram um verde carregado e os pseudo-bolbos des- envolveram-se com grande vigor, o que de- monstrou as vantagens d'este modo de tra- ctamento. Assim postas ao ar livre, o Epi- dendrum tovarense e a Acropera Loddige- sii floresceram. Outras espécies, taes co- mo : Stanhupea ocidatuj, Lacaste /Siknnerij Odontuglussum grande, desenvolveram as suas flores. D'estas experiências se vê que as Orchideas iropicaes sào muito mais rús- ticas do que se pensa geralmente. Nas estufas de Coimbra já existe em cultura uma boa quantidade d'ellas. Citamos no topo desta noticia o nome do vasto império do Brazil e por isso jul- gamos que nào será despropósito conimu- nicar o que lemos n'uma correspondência do Kio de Janeiro, isto é, que se está dis- cutindo no parlamento uma proposta para auxiliar com a quantia de 5U:U(jO^O(JO reit^ (fracos) a publicação de uma «Iconogiaphja das Orchideas do Brazil.» E d'este modo que se fomenta eficaz- mente a sciencia. Infelizmente, nâo pode- mos seguir o exemplo. — Em data de 15 de julho enviou-nos o snr. dr. Basilio Constantino de Almeida Sampaio a seguinte carta: Temos hoje algumas noticias pouco satisfacto- rias a dar respectivamente á ag. icultura. Já acabnu a sementeira do Feijão [rada nos teri^enos mais del- gados ; e nas terras mais fortes e húmidas também tindou a sementeira do Milho, e do Feijão branco e rajado. O tempo chuvoso e quente tem favorecido esta cultura ; a planta deve apparecer viçosa. Já se fizeram as segas das Cev adas ; e em toda a parte d'esta província já findaram as dos pães centeios ; mas geralmente os Centeios não estavam ainda bem maduros e louros; apezar de terem muita herva, mostravam-se bons ; e os Trigos não foram acommettidos pelo pulgão, que tanto os damnifica. Começou também o trabalho e o amanho dos estrumes vegetaes. A grande falta de estrumes inhibe de tomar incremento a producção e a cultura dos cereaes : muitos agricultores se queixam já de acharem seus terrenos menos férteis do que antigamente eram. Isto é natural. Geralmente ne^ta província exportam-se géneros de primeira necessidade que a terra produz ; e não se importa nenhum estrume para compensar o que se exhaure da terra. Por e>te modo *e empobrece o solo, e o augmento de população e de maiores necessidades não permitte os antigos e longos pousios : e o systema alterno só de per si não pode evitar, sem a ajuda de bons adu- bos, o empobrecimento da terra. A rotina e a difliculdade nos transportes tolhe toda a iniciativa na importação de estrumes, especial- mente mineraes, tão necessários á cultura de ce- reaes n'eíta província. O caminho de ferro do Porto ao Pinhão resol- veria esta ditticuldade, e abriria uma nova epocha de prosperidade para a agricultura d'esta província e da Beira-Alta. As vinhas apresentavam um aspecto magnifico ; estavam muito carregadas decachoò, e verdejantes ; porem o oídium lurkeri tem-nas prejudicado* Os olivedos mostram-se pouco limpos ; apresen- tam raro fi ucto. As muitas aguas cabidas têm estorvado a en- xofração das vinhas, que é o serviço que está mais atrazado e o en.vof. eestá muito caro. Os batataes mostiam-se promettedores ; e de- vem medrar com as ultimas sachas. As hortas não estão más. Em summa o anno mostra-se regularmente espeianço;0 e propicio aos agricultores : deve ser abundante; mas Deus super oiunia ; e que afiaste qualquer desses conlra-tempos, a que a agricultura está tão sujeita, e que de repente desvanecem as me- lhores esperanças. Os prados apresentam-se com muita herva- gem. O preço dos géneros tem sido no mercado d'esta villa : — Centeio a 440 reis o alqueire.- — Trigos. 1gemidos quei- xosos. Afligurou-se-me ver a sombra do snr. E. David lastimando as nietamorphoses da sua obra. Era para ter dó. Snr. Oliveira : o arrelvado da Cordoaria é um perfeito pannodec/oc/ie/. (Juem abençoa os pro- dígios da natureza, deve abençoar os prodígios do homem. Gloria vi excelsis! Receba um aperto de mão de quem é um dos mais profundoí admiradores das bellezas do jar- dim da Cordoaria. Porto 22 de julho de 1871. FuLGENcio José Machado. Ás sensatas considerações das cartas que se acabara de ler, estamos promptos a adherir, e ainda vem a pello fazer uma consideraçào, que, se não tem relação com a horticultura, tem-n'a com os jardins que se denominam publicas. Ora, quando se diz que qualquer cousa é publica^ deve-se subentender que pertence a todo o cida- dão; não é verdade? N'este caso, porque motivo não é franqueada a entrada nos jardins públicos do Porto a todas as pes- soas? Em todas as cidades, que querem gosar dos foros de civilisadas, ha jardins onde os operários e os indivíduos de ou- tras classes vão passear quando bem lhes apraz ; quererá o Porto dar provas de pouca civilisação, de pouca egualdade, de pouca liberdade e tolerância, privando o humilde trabalhador deste modesto goso? Logo que se lhes chama publicas, in- terprete-se a palavra como se deve, e o aristocrata que não queira estar ao lado do plebeu que procure recreio n'outros re- cintos onde se entra mediante uma certa quantia. D'este modo prosperarão as em- prezas, todos gosarão, e dar-se-ha um lar- go passo no caminho do progresso. Em Inglaterra, por exemplo, ha jar- dins em que só se entra mediante paga- mento, porem, em compensação ha muitos francos. A estes pode-se juntar mais ou- tro que se está fazendo perto de Londres que será denominado «Jardim do Povo», e é devido a uma companhia composta de sete cavalheiros. Esta companhia, segundo se vê do projecto, tem por íira : «estabelecer jar- dins nos quaes as classes laboriosas pos- sam encontrar saudável e racional pra- zer. » Do que mais acima se acaba de ler, não se deve inferir que somos communis- ta, mas sim um verdadeiro liberai. Re- pugna-nos, pois, ver que a entrada seja interdicta ao proletário, quando é elle o que mais carece de um bocado de recreio. Emfim^ repetimos, os jardins públicos são mais necessários ás classes operarias do que a outras quaesquer, porque aquellas não sendo abastadas precisam encontrar um salutar passatempo gratuitamente, ao passo que as pessoas dinheirosas podem procural-o aonde bera lhes agradar. Seja prohibida a entrada aos cães^ mas nunca aos cidadãos, seja qual for a sua condição social. Quinta da Revolta — Campanhã de Baixo (Porto). Oliveira Júnior. PERA SOUVENIR DU GONGRES mobel Esta nova variedade (fig. 49), cujos fructos são de uma grandeza collossal, foi obtida de semente por Mr. Morei, de Lyon, que a poz á venda por íins do anno de 1867 ou começos do de 1868. Apresentada na Exposição Universal de Pariz de 1867, a Commissão Pomolo- gica adjudicou-lho um primeiro premio. É dcscripta como um verdadeiro fructo de primeira qualidade, de maduração pre- coce e successiva desde o começo de agos- to até principios de setembro. Arvore vi- gorosa e muito fértil. Um relatório sobre esta pêra, apresen- tado em janeiro de 1870 á Sociedade Im- perial e Central de Horticultura de ParÍ25 PÊRA SOUVENIR DU CONGRÈS N.* 435 — Typographia da Livraria Nacional Jornal de Horticultura Pratica JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 163 por Mr. Michelin, em nome de uma com- missão que tinha ido visitar as culturas de Mr. Morei, termina por estes termos; «A conclusão é que, relativamente ao vigor e fertilidade da arvore, esta obten- ção nada deixa a desejar. Tendes a cer- teza de que o fructo é bom, que é de pri- meira ordem em quanto ao volume e que a sua precocidade lhe dá valor.» Já se vê, pois, que é uma variedade sob todos os pontos de vista recommen- davel. Gand Bélgica. Jean Verschaffelt. FLORESCEICIA DO LIRIODENDRON TULIPIFERA ATulipeira da Virgínia (Liriodendron tuli-pif era), emQoimhva, Arvore do Ponto, cuja florescência (15 de maio) esperara impacientes os estudantes da Universida- de, por coincidir quasi sempre com o ponto das suas aulas, é talvez a mais bella arvore que nos mandou a America do Norte, não só pela sua folhagem original, do mais bello verde, mas pela regulari- dade do seu feitio, affectando quasi o for- mato de um baião areostatico, e por suas elegantes e engraçadas flores, lindas tuli- pas rajadas de verde e amarello.Mas como não ha formosa sem senão, lamentam al- guns escriptores horticolas, que uma tão bella planta só dê flores aos 25 e 30 an- nos. Fiquei portanto surprehendido ven- do ha poucos dias em Lamego, no jardim do fallecido snr. visconde de Valmor, (no século snr. José Isidoro Guedes), tulipas perfeitas n''um individuo, que me disse- ram ter sete ou oito annos de plantação. N'uma quinta em Vizeu soube também, ha pouco, que ha um exemplar, que terá 18 annos de plantação, o qual já dá fru- cto ha uns poucos de annos. Tudo me ani- ma e me faz esperar que dentro em dous annos floresça um exeuiplar que possuo e que comprei ao snr. José Marques Lou- reiro. Creio que o seu grande desenvolvi- mento me não deixará illusões a este res- peito. Farejinhas — Castro Daire. N. P. DE Mendonça Falcão. EXCURSÃO BOTÂNICA E HORTÍCOLA O II Imaginemos que um jardim estava re- clamando os nossos conselhos ou antes as nossas idêas, e vejamos como procedería- mos para fazer d'esta morada da amável Flora uma estancia, onde não deixaria de ser verdadeira a seguinte parase: Cest peu de charmer Tceil, II faut parlei' au coeur. A primavera reclama a floração de muitas plantas bolbosas; os Jacinthos, as Tulipas, os Crocus, as Bcillas, as Babia- nas, abrirão o caminho e serão seguidas pelos Liliums, Gladiolus, Kniphojias, Ti- gridias e outras. Muitas novidades d'es- tas Monocotyleduneas apparecem agora no commercio, como os Hyacinthus candi- cans e o H. princeps, as Scilla princeps, (1) Vide J. H. P., Yoi. lí, pag. 147. e S. floribunda, os Lilium tigrinum fl. pi., L. splendens, L. Thunbergianum fl. pi., o Kniphojia prcecox, etc, todas plan- tas de grande valor hortícola, mas ás quaes leva a palma o Hyacinthus candicans. Esta espécie aproxima-se do nosso Ja- cintho ordinário, com folhas de 0^,60 de comprido, aproximadamente, e com uma espiga de l'^,20 de comprimento, guarne- cida de 15 a 20 grandes flores brancas, pendentes e odoríferas. Na primavera, a Flora portugueza abunda em lindas plantas, e porque não havemos de ir procurar as mais notáveis, para as associarmos vantajosamente a al- gumas das suas rivaes mais felizes dos paizes exóticos? Quem desconhece as nos- sas graciosas Orchideas terrestres, desi- gnadas ordinariamente pelo nome de Abe- lhas? 164 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Insecte vég;étal de qui la fleur ailée Semble quilter sa tige et p. endre la volée. São ellas coin eífeito modestos repre- sentantes de uma farailia que nos trópicos desenvolve formas extravagantíssimas, com vivissimas cores e muitas vezes duicis- simos aromas. Todavia estas Orchideas e- piphytas são difficeis de obter, de não fá- cil compra, difficeis de conservar e quasi sempre caprichosas na sua cultura. Po- nhamol-as, pois, de parte, momentanea- mente pelo menos, e attentemos por ura pouco nas nossas lindas espécies indíge- nas, cuja cultura em vasos não oíterece nenhuma difficuldade, com tanto que se escolha terra conveniente, que se faça boa drainagem e que se abriguem das gran- des calmas do estio, bem como dos rigo- res do inverno. Brotero, na sua «Flora Lusitanica», cita já 23 espécies, pertencentes aos gé- neros Ophrys, Orchis, e Serapias, e na sua aPhytographia» accrescenta ainda al- gumas. O professor Reichenbach^ filho, o sábio monographista d'esta família, occu- pa-se também nas suas «ícones Florte Germanicae et Helveticíe», das Orchideas portuguezas, e, segundo assevera, 40 es- pécies pouco mais ou menos, fazendo parte de 10 géneros, povoam Portugal. Por cau- sa da forma lindissíma das suas flores, são talvez as mais bellas, e nas cores são muito variadas, como nas Ophrys lutea, O. fusca, O. apifera, e O. aranifera. Entre as Orchis daríamos preferencia á Orchis papilionacea, bastante rara infe- lizmente, mas algumas outras, como a O. latifolia, a O. pseudo- samhucina e a O. tridentdta, não deixam de merecer a at- tenção dos amadores. hs Aceras offerecem-nos na Aceras lon- gibracteata uma planta muito precoce, muitas vezes de 0'",45 de alto, de flores grandes e muito odoríferas, emquanto que a Aceras antropophora attrahe mais a vis- ta pela singular forma das suas flores. As Serapias, as Cephahmt heras e as Neottias lêem da mesma maneira attrac- tivos, e quem encontra estas flores no campo sente desejos de as transplantar para o seu jardim. Um personagem real, o conde de Paris, possue na sua proprie- dade de Twickenham, em Inglaterra, uma rica coUecção doestas Orchideas terrestres da Europa, e foi lá que aprendemos a apreciar o seu encanto. Ha, porem, outras Monocotyledonias indígenas^ que não podemos deixar em silencio. Formemos bordaduras com a Cor- bularia obesa^o Erythrunium Dens canis, ■A < cilla piunila, a Ixia bulbucodium, o Crocus vernus. Façamos massiços prima- veraes de Fritillaria meleagris, de Tu- lipa Clusiana e 2\ transtagana, de Scilla peruviana, de Liliimi martagun, de Or- nithogalum arabicum,áe Pancratiitm ma- ritimum, de íris sambucina e /. subbi- Jiora, e veremos o que todas estas lindas plantas se tornarão para a cultura. A primavera convida-nos também a, lançar os olhos para muitas plantas an- nuaes e não virão de certo fora de pro- pósito algumas palavras sobre a maneira de as semear. Acontece muitas vezes que estas plan- tas, semeadas immediatamente na terra, não produzem o etteito que se espera, de- vendo-se altribuir isso sobretudo a díspo- rem-se as sementes muito juntas. Quando se não tem a certeza de que as sementes estão todas boas e frescas, faz-se a se- menteira mais junta que de ordinário. Se todavia germinam bem, é preciso desbas- tar os pés em quanto são novos, para que as plantas sacham fortes e íloriferas. Durante os raezes de abril e maio dê- mo-nos ao trabalho de compor os tabuleiros dos alegretes, o que pede, para produzir bom eífeito, muito gosto e muitos cui- dados. Os nossos avós já se julgavam muito felizes, quando possuíam um ou dous Oe- raniums em vasos ; hoje por quantia dimi- nutíssima temos quasi todo o anno Gera- niums, Verbenas, Fachsias, Petunias, Ire- sines, Coleus, e cem outras lindas plantas que se designam em Inglaterra debaixo do nome de «Gardening for the million». Nas ruas de Londres vimos plantas d'e3- tas, apregoadas a 1 penny (20 reis) cada uma. Cora eífeito a sua reproducção é rauito fácil, raas olíerece alguns pontos ignorados para rauita gente. Cada estaca e cada planta deve estar de per si só n'um vaso, salvo quando este tenha capacidade para comportar mais. Como regra geral podemos dizer que toda a planta destinada a occupar um lo- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 165 gar nos nossos massiços de flores de plena terra deveria ser cultivada isoladamente e submettida a ura inodo de cultura, cu- jos fins são os seguintes : tornar a planta robusta e bem ramificada e obrigal-a a florescer o mais cedo possível, depois que for disposta na terra. Consegue-se este resultado, espontando os rebentões, que desde o mez de março começam a desen- volver-se. O corte do gomo terminal obri- ga o caule a ramificar-se e a planta a to- mar uma forma ramificada e a tornar-se mais florifera. Os CohuSy cujas variedades conheci- das são tantas, da mesma sorte se pres- tam á cultura em plena terra, posto que seja preferível a dos vasos para lhes não fazer perder o seu brilhante colorido. Por toda a parte se ouvem queixas de que se perdem os Coleus no inverno. Aos que não têera estufas aconselhamos que ponham os seus Coleus destinados a hi- bernar em logar muito secco e exposto ao sol, n'um quarto, por exemplo^ onde os rasos possam estar sobre taboas. Bom será que se possa introduzir algum calor artificial, mas quando assim não possa ser, devem-se regar muito de longe a longe, e nunca molhar a haste e as folhas. Mui- tas vezes as ultimas cahem, mas o tronco conserva-se em bom estado e brotará com força na primavera logo que tenha sido transplantado. Não devem faltar no nosso jardim al- gumas obras de pedra, porque não nos faltam rochedos de forma grotesca para as construir e por isso devemos escolher um sitio que seja ao mesmo tempo ex- posto ao norte e ao sul. Do lado do meio dia plantaremos YuccaSj Aloés ^Fourcroy as ^ Agaves e Dasyliriums, misturados com sA^xxn?, Sedums , Sempervivums, Crassulas, Saxifragas e a graciosa Anbrietia deltoi- deá. A nossa Flora indígena nos serve aqui também de auxiliar. Todas as LinariaSj em seguida os Cistus e os Helianthemums, a Anémona palmata, acompanhadas por algumas plantas reptantes, taes como as Bupieuriim protractum, Anthyllis Ge- rardi, Lythrum hyssopijolia^ Mesemhrian- themum cristallinum, a Vinca hederacea e dous ou três Trifolium produzem um ef- feito admirável. A propósito da Vinca e do Trifolium convém dizer que se descobriu ultima- mente DOS arredores de Coimbra uma va- riedade de folhas variegadas da primeira e próximo do Porto uma outra da se- gunda. O Drosophyllum lusitajiicum deverá achar também um logar conveniente no lado meridional da obra de rocha. Pelo norte podel-a-hiamos guarnecer cora os Fetos indígenas, raisturados aqui e alem da Pinguicula lusitanica, do Pedicularis palustris, do Anagallis tenella e da Cam- panida hederacea, que todas se encontram em logares húmidos ou sombrios. Felizmente não nos falta a agua e aproveitar-nos-hemos de ella para crear uraa "bacia destinada a algumas plantas aquáticas. A Thalia deáílata, o Cyperus papyrus, algumas espécies de Nymphaeas, o magnifico Nelumhium sjpeciosum, o Eu- ryale ferox, e a curiosa Pontederia cras- sipes, a occuparão. Juntaremos ás plantas já designadas a Sagittaria sagittifolia,2k Valisneria spiralis, o Nuphar luteim e algumas Typhas e Alismns, assaz conhe- cidas n'este paiz. Falíamos das plantas que se occultam na agua : não nos esqueçamos, porem, de cobrir os muros do jardim. As primeiras que correm á chamada são lindas Cucur- bitaceas trepadeiras, como Bryonopsisla- ciniata, Rhynchocarpa Welwitschii, Thla- diantha dúbia, que são seguidas pela Bi- gnonia fischeri e B. jasmtnifloraj^eh So- lonanum venustum e S. jasminoides, pela ^Ys.c\o%a.Mandevillea suaveolens,s, Cobcea scandens foi. var. e C. pendidijlora, al- gumas Bougainvilleas, Passifloras, Tacso- nias e o odorífero Phaseolus caracalla. Continuando o passeio, encontramos um logar muito apropriado para receber um grande grupo de plantas de folhas or- naraentaes. Os Solanums, taes como So- lanum amazonicum, S. betaceum^ S. crini- tum, S.fervugineum, S. lanceolatum, e S. rnarginatum. Entrem desdeján'este grupo as Cannas, a Colocasia antiquorum, o Cos- mophyllum cacalicefolium e algumas Gra- míneas como Zea Mais foi. var., Andropo- gon^ argenteum, Erianthus Ravennce, Se- laria japonica, Stipa pennata, ás quaeS se pode associar com justo titulo a nossa húla. Macrochloa arenaria. 166 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Tenha o nosso leitor mais um pouco- chinho de paciência se o vamos entreter ainda com algumas arvores, sobretudo ar- bustos ornamentaes, sem os quaes um jar- dim de recreio seria na verdade, incomple- to. A Benihamia fragifera ofFerece uma dupla vantagem, primeiramente pelas suas grandes flores branco-amarellas, em se- gundo logar pelos bellos fructos vermelhos similhantes a grandes framboezas, que for- mam um bello contraste com a folhagem glauca deste arbusto. O Berberis Dartoi- nii de flores alaranjadas, a Gantua depen- dens com as suas flores pendentes, a Choi- sia ternata de flores muito odoriferas e tal- vez o Stach7/U7'us prcecux e o Pteroftyrax hispidajáudanovsiB introducções do Japão, constituem um grupo de arbustos de fo- lhas persistentes. Em frente a este encontra-se um bos- que de folhagem caduca composto de Wei- gelia LavaUei e W. Lotei i, de Philadel- phus grandijiorus e P. primulcejlorus, de Deutzia gracilis e D. crenata ji, pi. e da Syringa Emadi e S. Josikcea. Uma reunião de arvores servirá de continuação a estes grupos de arbustos, entre as quaes assignalamos as seguintes, a saber : Acer palmatum var. crispum, Quercus striata, Hovenia dulcis, Catal- pa eruhescenSf o Liriodendrom tulipife- ra foi. var. e algumas Magnólias, como M. Yulan, M. macrophyllum e M. Camp- helli, a mais bella de todas, mas infeliz- mente a mais rara. As bellas Mijrtaceas e Leguminosas da Austrália devem for- mar grupos á parte, mas fallaremes d'el- las em outra occasiào. Ura ultimo grupo de plantas lenhosas é representado de novo pela nossa Flora ; exactamente no centro d'esse massiço se portarem também com as cousas mais ma- teriaes. O nosso fim principal é abrir ca- minho entre o util e o agradável, e eis- aqui o que procuramos fazer agora, pe- dindo ao leitor que nos acompanhe a uma outra parte do jardim, destinada aos fru- ctos e aos legumes. Não é nossa intenção fallar aqui do que possuimos, ainda que sobre a manei- ra de tractar as nossas arvores fructiferas, de cultivar os nossos legumes, não pela qualidade mas simplesmente pela quanti- de, muito se poderia e deveria dizer. Os amadores, porem, não ticarão descon- tentes talvez, recommendando-lhes algumas novidades de mérito ou algumas plantas pouco conhecidas, que, segundo a nossa própria experiência feita em Coimbra, se devem dar maravilhosamente entre nós. A Idesia polycarpa é uma nova arvo- re de fructo do Japão, que pertence á fa- mília das Flacourtiaceas . Os fructos que esta arvore produz em abundância são do tamanho da ameixa e o seu gosto é muito agradável. A sua folhagem é alta- mente ornamental, as grandes folhas Insi- dias são sustentadas por pecicolos de um vermelho coral muito vivo. Todo o mundo conhece, ao menos pelo sabor e pelo aroma, os fructos dos Ana- nazesj que amadurecem já na Madeira e poderiam provavelmente dar também bom resultado no Algarve. Comtudo o clima de Portugal é geralmente muito frio durante o inverno para que estas arvores dos pai- zes tropicaes ahi possam desenvolver-se á sua vontade. Felizmente descobriu-se ul- timamente na America do Norte uma es- pécie. Anona triloha, já introduzida no commercio da Europa, e como os seus fru- ctos não são, segundo se diz, inferiores mostra o Arbutus Unedo, com seus fructos em gosto aos das outras espécies, nada se escarlates, cercado pelo Rhododendron pon- ticum, o Nerium Oleander, o Daphne Gni- dium e a Passerina hirsuta, algumas es- pécies de Eriças com a E. mediterrânea, E. ciliaris, e sl E. Tetralix,o Empetrum álbum de bagas vermelhas e brancas e al- gumas variedades do nosso Myrtus com- munis e teremos ura quadro que satisfará mesmo os mais difficeis da contentar. De certo que não somos de aquelles <^ue sacrificam tudo ao bello, sem se im- oppõe a que os não tenhamos bem cedo na nossa sobremesa. Os fructos do Diospyros Kaki e D. Virginiana também merecem alli o seu logar e notaremos que a arvore que já algumas vezes cultivamos debaixo do no- me de Diospyros Virginiana é o Dios- pyros Lotus, cujos fructos não merecem grande attenção. A Eugenia Ugni do Chili é um lindo arbusto, muito espesso de 0'°,60 a 1"',20 de altura. Os seus pequenos fru- jornal"^ DE HORTICULTURA PRATICA 167 ctos vermelhos são de um gosto extrema- mente doce e aromático, augmentando ain- da o valor d'esta Myrtacea chilena a pro- fusão de flores róseas odoríferas. Porque não encontramos as Passiflo- ras de fructos comestíveis nos nossos jar- dins, onde mesmo as espécies dos paizes quentes se dão perfeitamente, quando se escolhe uma boa exposição? A Passijiora edulis e a P. quadran- gularis são duas espécies que recommen- damos debaixo d'este ponto de vista; po- rem as flores da ultima devem ser fecun- dadas artificialmente, para produzirem os seus grandes fructos deliciosos, e até far- se-ha bem tomar o pollen da primeira es- pécie para fecundar as flores da Passijiora quadrangidaris . A quem tiver uma estufa, estimaría- mos ofterecer uma planta da Passijiora macrocarpa que produz, por meio de uma fecundação artificial, fructos que pezam de 8 a 10 libras e são de um gosto delicioso. O Carynocarpus Icevigata da família das Myrsinaas é uma bellissima arvore da Nova Zelândia, onde os seus fructos e até mesmo as sementes são bastante estima- das; algumas plantas novas do jardim de Coimbra provam a sua rusticidade em Portugal. O Nejphelium litchi é uma pe- quena Sapindacea arborescente da China, onde os seus fructos se estimam entre os melhores do paiz ; nós aconselhamos pois ao snr. Loureiro, do Porto, a que mande vir não só este mas também todas as ar- vores e arbustos de fructos, de que aca- bamos de fallar. As Bananeiras também não devem ser excluídas da nossa cultura de plena terra, porque multas vezes, quando se lhes dá um abrigo durante o inverno, fructificam ao ar livre. São principalmente três as espécies, com uma immensidade de variedades, que são estimadas pelos seus fructos, a saber : Musa 'paradisíaca, M. sapientum_, e M. Sinensis. A ultima principalmente, por causa do seu porte anão e por ser indígena de um paiz mais temperado, nos induz a fazer este ensaio. Quanto é difficil assentar os verdadei- ros limites específicos entre as diversas Bananeiras cultivadas para uso alimentar, tanto é fácil reconhecer e definir os cara- cteres das outras espécies, taes como a Musa coccinea^ rósea, discolor, zebrina, e a mais bella de todas a M. Ensete, que se encontram já todas em cultura nas es- tufas da Europa. Dous grandes estabelecimentos hortí- colas, um destinado á cultura de muitas variedades da Vitis vinijera, outro á das Laranjeiras e das Oliveiras, que contam egualmente um grande numero de varie- dades e sub-variedades, foram fundados debaixo da protecção dos governos russo e francez, o primeiro na Crimeia, o se- gundo na Argélia, e esperamos, para bem do nosso Portugal, podermos entrar bre- vemente em relação com elles. Um legume pouco conhecido é a «Caiota» ou «Chocho», fructo de uma Cucurbitacea trepadeira — o Sechium edule. Este fructo, que peza muitas vezes de 2 a 3 libras, amadurece no princípio do inverno ; cozido em agua e arranjado á maneira dos Espargos constitue um prato de gosto muito delicado. O Raphanus caudatus da China, in- troduzido na Europa acerca de 8 annos, dá fructos de um comprimento extraordi- nário ; cortados em bocados quando estão ainda verdes e pouco adiantados no seu desenvolvimento, prepara-se com elles uma salada que muitas pessoas preferem á nossa salada ordinária. Um prato de legumes dos caules do Crambe maritima (Sea Cale) é muito apre- ciado por um verdadeiro gastronomo e a gastronomia, ao que parece, não está mal representada entre nós. Ninguém reconheceria na Brassica ole- racea, tal como cresce no estado selvagem, os únicos pais de todas as nossas Couves cultivadas. O Crambe maritima só desen- volve também as suas qualidades culiná- rias por meio de uma boa cultura. Como curiosidade, queremos citar ain- da uma nova Batata : Sutton's red skin jiourbal. Um tubérculo d'esta nova Ba- tata attínge muitas vezes o pezo de 1-1 V^j e até de 2 libras. Díz-se farinhosa e de bom gosto. Ainda que pouco versados na sciencia da agricultura, desejamos dedicar-lhe aqui duas ou três palavras antes de acabar- mos esta longa excursão. Ha alguns annos que se tem começado 168 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA a cultivar entre nós o Bromiis Schraderi : uma outra Graviinea forraginosa, de me- recimento também provado, foi importada do Japão, a Selaria japonica, ou grande Milho do Japào. Dá-se melhor nos terrenos areentos do que nos argiilosos, e dá muitos cortes du- rante o anno. Se se deixar florescer, ama- durecem facilmente as suas sementes, que são muito alimentares, segundo £,e diz. Graças á prevenção do governo, a cul- tura do i4rroz^ que produz muitas vezes tão funestos resultados, irá desapparecendo cada vez mais ; porem isto não é tudo, é preciso também procurar plantas que pos- sam substituir vantajosamente o Arroz nos logares submersos e paludosos. Uma Gra- mínea do Canadá, Zizania clavulosa (Hy- dropyrum esculentum) ou «Canadian Rice- grass» 8 a Zizania jluitans dos Estados- Unidos são muito estimadas nos seus pai- zes nataes pelas sementes alimentares que produzem e nada se oppõe a que os nos- sos agricultores as façam entrar na serie das suas culturas experimentaes. Em muitas partes da monarchia aus- triaca desenvolveu-se pela cultura um novo ramo industi-ial do índigo, que já melhorou as miseráveis condições de muito» pobres lavradores. Não é para admirar que aqui se não encontrem nenhuns vestigios, pelo menos que nós saibamos, de plantações do ín- digo ? Tudo leva a emprehender vantajosa- mente esta cultura e nós a recommenda- mos ardentemente, designando as duas es- pécies, Indigofera tinctoria, e /. dosua como as mais ricas n'esta preciosa subs- tancia tinctorial. Quantos annos illudem as Oliveiras as nossas esperanças com uma má colheita! Diz-se muitas vezes que uma boa co- lheita é seguida de muitas más : não im- porta saber se isso será sempre verdade ou não, fazemos mal em não cultivar algu- mas outras plantas oleoginosas, não para substituir as Oliveiras, mas para as sup- prir quando ellas nos façam falta. Já ti- vemos occasião (vide o Instituto, vol. XIV, n.** 4, pag. 76) de recommendar a cultu- ra do Arachis hypogceãj essa pequena Leguminosa, cujas sementes abundam em oleo, e aquio fazemos novamente, estan- do cada vez mais convencidos de que se tirará um grande proveito d'e8ta cul- tura. Procurando, os nossos agricultores, achariam ainda muitas plantas dignas dos seus cuidados, e é este justamente o bello lado da agricultura, que está prom- pta a uma multidão de ensaios, e expe- riências, que indemnisam todo trabalho com usura, e que exige comtudo pouco de aquelles que lhe dedicam não só os seus braços, mas também a sua intelligencia. Sim, na verdade: Heureux Thomme des champs, S'il connait son bonheur. Coimbra. — Jardim Botânico Edmond Goeze. O CHÁ; SUA HISTORIA, CULTURA E PREPARAÇÃO O IV Antes de concluirmos este já muito extenso artigo, parece-nos que não será fora de propósito, o darmos uma breve descripção do modo como se preparam as folhas do vegetal de que nos occupamos. A preparação das folhas do Chá, não obs- tante o muito que se tem escripto e as re- petidas experiências que se tem feito para imitar o que vem da índia e Japão, ainda nâo pôde ser levada ao grau de perfeição, (1) Vide J. H. P. vol. 11, pag. 153. que somente os habitantes de aquelles pai- zes lhe sabem dar. E não somos nós uni- camente os que fazemos esta observação ; já a vimos consignada nas diversas me- morias eescnptos que sobre esta planta te- mos lido. O mysterio, que ainda encobre muitas cousas da índia, não permittiu que nos fossem revelados os verdadeiros pro- cessos de aquella vali )sa industria. Tentemos comtudo descrever, confor- me podermos, os processos usados n'aquelle paiz. As folhas do Chá depois de colhidas são tractadas por dous processos differen- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 169 tes, ou para produzirem Chá preto ou Chá verde. Effecti vãmente é hoje geral- mente sabido que o Chá preto e verde é fornecido pelo mesmo arbusto, diííerindo unicamente o modo de preparação e de- seccaçâo. Para obter o Chá preto, expõem-se du- rante algum tempo á humidade as fo- lhas que se colheram ; dentro era breve entram em fermentação, e perdem a sua bella cor verde, para tomarem a cor es- cura ; depois fazem-se seccar sobre uma chapa de ferro levemente aquecida. Contrariamente a esta operação, para obter o Chá verde, não se faz soíFrer ás folhas nenhuma preparação preliminar, e tractam-se immediatamente como as pre- cedentes, depois de terem sido seccas da maneira seguinte. Os edifícios onde são manipuladas as folhas do Chá, contêem desde cinco até vinte pequenas fornalhas de um metro pouco mais ou menos de altura, tendo por cima de cada fornalha uma bacia de ferro, e não de cobre como muitos têem dito, deixando assim suppor que o Chá tinha algumas propriedades toxicas. Alem d'estas fornalhas e bacias, ha nos mesmos edifícios umas mezas baixas c compridas cobertas com esteiras, e onde trabalhadores sentados no chão se occu- pam em enrolar as folhas. A proporção que as folhas vêem che- gando dos campos, vão-se deitando alguns arráteis d'ellas sobre as bacias levemente aquecidas. Estas folhas frescas, e cheias de seiva, estalam saltando, na occasião em que tocam a chapa da bacia ; e é então que o trabalhador, com a maior agilidade possível, se emprega em mechel-as em quanto possa supportar o calor nas mãos. Logo que vê, que o calor é já demasiado, apanha-as com uma espátula muito simi- Ihante a um leque, e deita-as em cima das ditas mezas. Os trabalhadores ahi occupados tra- ctam logo de as esfregar entre as mãos e sempre no mesmo sentido, entretanto que outros as estão abanando constante- mente com leques, a fim de apressar o es- friamento, cuja rapidez assegura ás folhas um enrolamento mais duradouro. Os processos de torrefacção e enrola- mento são repetidos duas^ três e ainda mais vezes, antes que o Chá seja arma- zenado, e até que a humidade tenha aban- donado completamente as folhas ; e, a cada operação que se repete, as chapas são cada vez menos aquecidas ; por fim é o Chá es- colhido, segundo o seu grau de perfeição e depositado nos armrzens. A gente do campo limita-se a prepa- rar as suas folhas em vasos de barro, pre- paração que lhes cu^ta menos trabalho, mas que também os obriga a vender o seu producto por mais baixo preço. O Chá ordinário é guardado nas bem conhecidas caixas de madeira, guarneci- das de uma fina folha de ferro ou chumbo de abertura estreita ; e assim enviado para a Europa ; mas a melhor espécie, a que é reservada para uso dos grandes e do im- perador, é guardada em vasos de porcel- íana, o mais aceiados que podem ser, e que no Japão se chamam maats-uho; jul- gando-se que não só são capazes de o con- servar, mas ainda de lhe augmentar o aroma. Maats-uho significa em japonez vaso excellente. Os vasos assim chamados re- montam a uma alta antiguidade, e a sua origem prende-se com uma lenda, que não narraremos para não cançar a paciência dos leitores. Comtudo, deve-se confessar, que a es- colha e procura dos utensilios de porcel- lana para deposito e conservação do Chá é muito justificada. Com eífeito, esta planta em vasos metaliicos está exposta a tomar um gosto desagradável ; e por outro lado nos vasos de vidro, por causa da attrac- ção da humidade para esta substancia, e á sua permeabilidade aos raios solares, o Chá altera-se em muito pouco tempo. A. boa conservação do Chá é tanto mais importante, quanto parece com a edade adquirir novas qualidades. O trans- porte do Chá exige certos cuidados e con- dições ; os Chás pretos são guardados em# cestos de Bambu guarnecidos de chumbo e chamados barsas. Estas barsas pesam de trinta a quarenta catis (cada catis cor- responde a 670 grammas) e chegam assim aos portos a que são destinados. Os chins têem difí'erentes modos de pre- parar o Chá ou por simples infusão, ou mesmo fazendo ferver as folhas durante muito tempo. A gente do campo assim faz 170 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA logo pela manhã. Um criado põe ao lume uma caldeira, enche-a de agua e lança-lhe dentro 4 ou 5 punhados de folhas con- forme o numero de pessoas da família. Quando querem tomar esta bebida ti- ram a porção que precisam e esfriam-na n'um vaso de agua fria que sempre toem próximo, bebendo-a em seguida, sem a addição de assucar ou leite como nós cos- tumamos. A class^ pobre ferve o arroz n'esta agua, dizendo que é assim mais nutritivo, do que cozendo- o em agua sim- ples. A porta dos mandarins e chinezes ricos, vêem-se durante o verão grandes vasos cheios d'esta bebida, e dos quaes os passeantes bebem á farta. Logo que se entra n'uma casa chineza, é a primeira cousa que se ofiferece, e nas festas é be- bida indispensável. O modo de servir e fazer o Chá no Japão é uma das prendas que 86 ensina ás crianças de ambos os sexos; consiste em certos agrados e cer- tas cerimonias, que, quanto mais bem fei- tas são, melhor depõem a favor da edu- cação de quem as pratica. Emfim para os habitantes do celeste império, o Chá é uma panacea para to- dos os males, que affligem a humanidade. As propriedades excitantes de que o Chá compartilha até certo ponto com o café, são muito conhecidas de todos para que nos demoremos n'este ponto ; o que menos geralmente se sabe é que esta ana- logia, nos seus effeitos, é devida a uma certa analogia na composição. O café possue, é verdade, substancias amargas e um óleo essencial muito acti- vo, que o Chá não contém ; mas cada um d'elles encerra uma substancia azotada, a cafeína de um lado, e a theína do outro, cuja composição chimica é quasi idêntica, e cuja riqueza em azote explica a acção nutritiva e corroborante. Os melhores Chás são os que mais theina contéem : assim o Chá hysson contem 5 a 40 por 100; o chá pekao contém unicamente 2 a 10; se- gundo as analyses de mr. Peligot. O Chá pode ser applicado como ad- stringente, e pode servir de antidoto nos envenenamentos pelos alcalis orgânicos ; aíFugenta o somno, sendo applicado por isso para combater o narcotismo produ- zido pelos preparados de ópio. Nas pessoas habituadas a tomar esta bebida, os effeitos therapeuticos são nul- los, ou pelo menos pouco enérgicos. Não devemos deixar de citar um fa- cto muito curioso, e que pode ter feito bastante impressão a algumas pessoas. Quando se adoça uma chávena de Chá com assucar que contenha grande quanti- dade de cal, o que não é raro, este alcali reage sobre os principies azotados que contem a infusão, resultando o desenvol- vimento de uma pequena quantidade de ammoniaco, que communica á bebida um. sabor ourinoso muito pronunciado. N'este caso vê-se que é a qualidade do assucar, e não do Chá, que devemos accusar. Os japonezes usam de algumas flores para aromatisar as folhas do Chá ; d'ellas, algumas ainda as não conhecemos, mas as principaes são as da Olea fragrans e Camellia sasanqua. A Olea ou Osman- thus fragrans (Oliveira de cheiro) é um lindo arbusto, pequeno, natural do Japão, que produz flores brancas, sustentadas por peciolos filiformes, e nascendo entre qua- tro folhas oppostas. E para notar que as folhas da Olea chrysoi^hylla (Oliveira de folhas douradas), são egualmente empre- gadas na Abyssinia, para aromatisar a infusão de Cousso, usada geralmente n'este paiz contra o verme solitário. Em quanto á Camellia sasanqua, é um arbusto aná- logo pelo porte ás Gamellias que nós co- nhecemos de flores cor de rosa, ou bran- cas terminaes, e de tamanho mediano. A estas flores succede um fructo, de que se extrahe um óleo essencial muito estimado. E natural do Japão, e foi introduzida na floricultura em 1811. Para um outro artigo reservamos a descripção das differentes espécies de Chá que apparecem no comraercio, e na mes- ma occasião descreveremos algumas plan- tas succedaneas do Chá, e experiências que se tem feito para se obter o mesmo producto d'outros vegetaes. A. J. DE Oliveirae Silva. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 171 ENTOMOLOGIA HORTÍCOLAS) INSECTOS NOCIVOS ÁS ARVORES Tractamos primeiramente do besouro e da cantharida^ dos seus effeitos, e da maneira de os prevenir; hoje descreve- mos outros nào menos importantes inimi- gos da horticultura, os quaes são o Luca- nus cervusj, as Crysomellas e o Cossus li- gniperda. Quando chega o tempo de se cavarem os pomares e de se limparem as arvores, encontram-se nos troncos cavernosos umas larvas amarelladas e maiores que a do be- souro comraum de que já falíamos. Estas larvas são as do Lucanus cervus, que os romanos engordavam com farinha para te- rem o prazer de as comer nos grandes jantares. Seguindo a mesma metamorphose que as demais do seu género, apparece-nos o Lucanus cervus (fig. 51), classificado por Linneu debaixo d'este nome, que muitos naturalistas celebres têem conservado reli- giosamente. Fig. 50— Larva do Cossus ligniperda Fig. 51 Escolhem estes insectos para sua ha- bitação os troncos velhos dos Carvalhos, e os de todas as arvores fructiferas dos nossos pomares j praticam ahi grandes ga- lerias tortuosas, entupidas á entrada pelas suas matérias excrementicias e por não pequena quantidade de serradura, o que torna bastante diííicil a perseguição, que se lhes queira fazer. Quando as galerias tomam a direcção perpendicular, podemos- (1) Vide J. H. P. vol. II, pag. U8. Lucanus cervus Fig. 52-Chryson)ella popali lhes deitar ou injectar alguns liquides acres e cáusticos. Mr. Boyer de Fonscolombe aconselha que se introduza nas galerias um pedaço de arame queimado, a fim de que tome a direcção espiral, e vá ferir o animal onde quer que o encontre. Todos estes meios, porem, são inúteis se a galeria for demasiadamente prolon- gada. Entre as Ghrysomellas, citaremos a Chrysomella populi (fig. 52), que apre- 172 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA senta no seu estado perfeito ura lindo ely- tro de um encarnado vivo e ura cossolete azul claro tirante a cor de aço. As suas larvas são pequenas, pretas e cora rugas dorsaes brancas. Ataca muitas arvores de folhas caducas, especialmente o Choupo e o OlmeirOj onde faz largas roturas nas folhas comendo-lhes muitas vezes o pecio- lo. A G. alnij mais pequena que a prece- dente, faz também innumeros estragos nos Choupos ^ nos Alamos, e com especiali- dade nos viveiros, onde come os reben- tos ás plantações. E da mesraa cor da an- terior, á excepção do elytro que c azul. Vive unicamente nas arvores novas e de- posita os ovos nas folhas. São também di- gnas de mensão, a C. coryle Fab., que ataca os rebentos novos das Aveleiras a G. violácea Panz., que roe os rebentos dos Salgueiros, e a G. calmar iensis Linn., que deteriora as folhas do Olmeiro a ponto de as fazer cahir. E amarella ou esverdeada com três maculas pretas no cossolete : a sua larva é muito maior que as outras e, quando apparece em abundância, roe o parenchyraa das folhas, e a epiderme das hastes novas. Como todas estas Crysomellas se apre- sentam em quantidades diminutas, é fácil destruil-as abanando pela manha as arvo- res pequenas dos viveiros, que, como dis- semos, é onde fazem maior estrago, a fim de as livrar de inimigos tão atrozes. Resta-nos somente fallar do Cossus li- gniperda Fab., pertencente á classe dos Lepidopteros, o qual é talvez a borboleta mais destruidora que se encontra no nosso paiz. As suas longas azas pardas, cober- tas de traços pretos, e o seu comprido corpo cor de cinza, dão-lhe uma apparen- cia pouco agradável. A sua larva (tig. 50) é da grossura do dedo minimo, averme- lhada e com listras lateraes de um encar- nado sanguineo. Emquanto pequena, in- troduz-se por baixo da casca das arvores, onde pratica, nas camadas mais novas do alburno e do liber, immensas galerias, que difficultam a circulação da seiva e tornam a arvore inerte, a ponto de mui- tas vezes seccar. As arvores escolhidas por esta lagarta para seu sustento são os Salgueiros, os Choupos, os Carvalhos, e particularmente os Olmeiros, onde vemos grandes orifí- cios cheios de serradura, signal evidente de existirem alli algumas d'estas larvas. E desgraçadamente difficilima a per- seguição d'este insecto e o único meio usado era França é: as grandes caçadas ás chrysalidas, aos casulos e ás mesmas borboletas, que se encontram frequente- mente, no verão, pousadas nos troncos dos Olmeiros. Lisboa. A. M. L. Carvalho. (Gontinua) . CHRONICA O dr. F. von Mueller, de Melbour- ne, aconselha a introducção de duas plan- tas, a saber: a Boronia megastigma e o Eucalyptus ficifolia. A primeira conserva-se, na primavera, por muitas semanas carregada de flores escuras e amarellas, que exhalara um per- fume tão suave e ao mesmo tempo ardente, que, existindo um exemplar em qualquer jardim, logo se conhece a grande distan- cia. Pega facilmente d'estaca. A segunda, o Eucalyptus ficifolia, oriundo do sudoeste da Austrália, deve o seu nome especifico á similhança que as suas folhas têem cora as do Ficus ruhigi- nosa. Cora effeito, as suas largas folhas, horisontalraente dispostas, tornara esta ar- vore muito sombrosa e de um aspecto rauito differente dos outros Eucalyptus. Sob alguns pontos de vista, tem muitas relações com o Eucalyptus calophylla, mas as suas pnniculas são cor de carmezim e quando a arvore está em flor torna-se es- plendida, porque os operculos são verme- lhos e deixam-se ver a grande distancia. — Accusamos a recepção do «Catalo- gue general et prix courants pour 1871 des Plantes de serres» e do «Catalogue spé- cial des Orchidées exotiques» do estabe- leciraento de Mr. J. Linden era Bruxel- las e em Gand. Ambos contêem numero- sas novidades : o ultimo, que é exclusiva- mente de Orchideas, conta aproximada- mente 1,200 espécies. Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 173 PÊRA D. IGNEZ Se o horticultor limitasse os seus tra- balhos á reproducção das variedades co- nhecidas no reino vegetal, estacionária fi- caria a horticultura. Mas o génio inves- tigador comprehendeu que as sementei- ras eram o manancial d'onde a horticul- tui-a poderia tirar a sua maior riqueza. Assim vemos todos os dias centupli- Fig. 53 — Pêra D. Ignez cadas as variedades de qualquer género; e com effeito a floricultura veio ensinar á poraologia que a sementeira não devia ser um exclusivo da primeira. Em 1530 ainda em França se não co- nheciam mais de deseseis variedades de 1871 — vol. II. peras, como diz Charles Estienne no seu «Seminarium»,mas já em 1628 leLectier, procurador do rei em Orleans, publicava um catalogo das Pereiras que cultivava nos seus pomares e n'elle se comprehen- diam duzentas e sessenta variedades. Vê-se N.» 10— Outubro. 174 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA d'aqui que um século de sementeiras en- riqueceu a França com duzentas c quatro variedades. Mas o grande desenvolvimento da po- mologia em França começou com as ac- quisições feitas na Bélgica pelo insigne semeador Van Mons. Este homem notável tinha em 1815 um viveiro superior a 80:000 Pereiras de semente, das quaes recolhia todos os annos magnificos produc- tos ; d'alli foram importadas para França. Depois d'elle Berckmans, Bivort, Bou- vier, Esperen, Gregoir, Leon Leclerc, Sa- geret, Goubault, e BriíFaut não cessaram de fazer vastissimas sementeiras, deven- do-se a ellas o melhor de duzentas varie- dades de primeira ordem. E coratudo a riqueza de tão vasta col- lecção não obsta a que os pomologos batam as palmas quando apparece ura fructo di- gno de reparo. Não ha muito tempo que a Bélgica apregoou a apparição da Pereira Joséphi- ne de Binche, encontrada em uma se- menteira da pêra Josépliine de Malines, pertencente ao "cavalheiro Biseau d'Hau- teville, distincto pomologo em Binche. Esta magnifica pêra, semeada cm 1851, deu os seus primeiros fructos em 1864. O snr. José Marques Loureiro tem á venda exem- plares d'estas magnificas Pereiras. E nós ficaremos eternamente com os braços cruzados n*este nosso clima, tão ameno, tão favorável e abençoado ? Não haverá mão caridosa que lance á terra um milheiro de sementes de pêra, para dizer- mos um dia — «aqui tendes também meia dúzia de peras incontestavelmente portu- guezas» — ? Cem este desleixo indesculpável con- trasta a curiosidade de uma senhora na- tural d'esta cidade. A exm.-'' snr.^ D. Ignez Adelaide Gramacho Vianna provou em 1857 uma pêra de tão delicado sabor que logo lhe veio á ideia o dispor em um vaso as sementes que d'ella extrahiu, Nasceu- Ihe uma, que nunca mais perdeu de vista ; e assim que o vaso a não pôde compor- tar, plantou-a no seu quintal no Campo da Regeneração, e tão esmerada a trouxe sempre que o anno passado (1870) deu a tenra Pereira a amostra dos seus primeiros fructos. O marido d'esta senhora, o snr. A. R. Ferreira Vianna, proporcionou-nos occasião de os ver e saborear : não são ex- cessivamente grandes,mas são mais que me- dianos, pyriformes, casca esverdeada muito similhantíí ápigaça; da qual quem sa- be se pro'^irá? E' um fructo succoso, aro- mático e amanteigado, pode considerar-se de primeira ordem ; amadurece de agosto a setembro. Foi baptisado pela feliz ob- tentora com o seu nome — D. Ignez — e assim passará á posteridade. Recommendamos aos amadores a ac- quisição d'esta Pereira portugueza, que não desmerece das boas francezas. O proprietário d'este jornal tem dis- poníveis alguns exemplares. CaMILLO AURELLàNO. ORCHIDEAS N'uma das brevíssimas peregrinações que fiz á quinta das Virtudes, onde a per- serverança e o bom gosto do snr. José Mar- ques Loureiro accumularam como que por encanto tantas bellezas de vegetação ; n'uma das minhas visitas ás opulentas estu- fas d'aquelle cxcellente estabelecimento horticola, foram-me mostradas algumas Or- chideas exóticas, entre as quaes vi uma apenas florescente, de linda coloração e de avultado tamanho, mas que não excedia em formosura ás suas irmãs indígenas, que se ostentam, revestidas de primorosas galas, por entre o verdejar das nossas bou- ças, ou como que escutando^ junto ao tron- co do Pinheiro annoso, o ciciar monótono da sua rama. As Orchideas formam incontestavel- mente um dos mais bellos ornamentos da coroa de Flora. Que vaiúedade desde a aromática Bau- nilha até ao substancial Salepo, desde as flores de mais caprichosas formas, imitan- do alli uma vespa, aqui uma mosca, alem uma aranha, até ás de mais garboso porte, como a Militar (Orchis militaris, de Lin- neu);, que o nosso Brotero dá como domi- ciliaria da Beira e dos subúrbios de Coim- bra, mas que eu encontro frequentes ve- zes nos arredores da Foz, ostentando ga- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 175 Ihardamente o seu cocar purpurino e mati- sado de branco e cor de rosa, não sem- pre de 0™,08 a O", 12 de tamanho, como diz a maioria dos botânicos que conheço, mas muitas vezes de O^^IG e de 0™,18! Todas estas flores lindissimas, muitas das quaes povoam em avultado numero as nos- sas bouças, ainda a meu ver não prenderam a attenção dos amadores, ou estes têem como invariável a opinião de Lamouroux que no seu «Resume de phytographie» diz que todas as Orckiâeas apresentam a notável particularidade de supportarem difficilmente a remoção do solo natal e não se darem bem nos nossosjardins. Com quanto julgue muito para se res- peitar a opinião do sábio collaborador de Jussieu e de Cuvier e que foi um dos mais laboriosos coUaboradores da «Encyclo- pédie» de Bailly de Merlieux, nem por isso deixo de pensar que os amadores e os entendidos n''estas cousas de horticul- tura deveriam tentar a introducção nos seus jardins d'estes floridos primores das nossas bouças, e diz-me o coração que si- milhante iniciativa seria quasi sempre coroada de bom êxito. Pois se se importam do estrangeiro por preços elevados plantas de difficil acli- mação, porque se hão de desprezar as que tão bem ornamentam o nosso solo ? Foz do Douro. Silva Rosa Júnior BEGÓNIAS, GESNERIAS E GLOXIIIAS Como este jornal é destinado a fomen- tar o gosto da floricultura^ ou melhor e mais largamente, da interessantissima sciencia, de que ella faz parte, a horticul- tura, parece-nos tão natural como impor- tante consignarem-se n'elle quaesquer ex- periências, bem verificadas, dos mestres da sciencia, e não menos dos curiosos ou amadores. Foi n'esse intuito que escrevemos o que se lê a pag. 106 e 89 do vol. II. Ao primeiro d'esses artigos accrescen- taremos agora não só a mais plena con- firmação do que diziamos então, olhando ao forte desenvolvimento das nossas plan- tas que vivem, parte ao ar livre, apenas debaixo de um pequeno telheiro, parte n'uma varanda envidraçada ; mas o que temos ex- perimentado na facilidade e rapidez das multiplicações. De três modos reproduzi- mos as Begónias de folhas variegadas. Primeiramente, estendendo toda a folha sobre a terra com poucos centímetros do peciolo enterrado, leves cortes nas nervuras mais grossas, e com pequenos ganchos de modo que conservassem a folha unida á ter- ra. Em segundo logar, collocando-as ver- ticalmente ; e n'esse caso sendo unicamen- te o peciolo e a porção da folha mais pró- xima o que toca na terra ; terceiro, final- mente, formando com a folha uma espécie de cartucho aberto ou buzina^ e enterran- do o peciolo e a extremidade do cartucho a alguns centímetros na terra. N'este ul- timo caso submette-se a folha a algumas incisões próximas ao peciolo para lhe dar, com maior facilidade, a fornia requerida. O primeiro systema, ensinado nos li- vros, dá muitas vezes o resultado de re- produzir a folha muitas plantas novas, pelo peciolo, e pelas nervuras incisa- das ; todavia, acontece que a folha em bre- ve apodrece inteiramente. O terceiro tem- nos dado bellos specimens, sahindo da fo- lha mãe, e vivendo com esta, sã e vigo- rosa, como se foram irmãs. Empregando diversas formas de vasos, temos hoje por assentado que os melhores para a reproducção são as terrinas ou ta- ças de O™, 03 ou 0^^,04 de altura, com suf- ficiente diâmetro para se estender a folha, segundo o primeiro systema. E tudo isto sem nenhuns apparelhos caloriferos^ em pequenas estufas, aque- cidas pelas camas de estrume e casca de Sobreiro, e vidraças moveis, livres da ter- rível acção dos raios solares pelo abrigo de alguma esteira, — tudo muito ao alcance do mais modesto e menos abastado ama- dor. Esta simplicidade e productividade de tracto das formosíssimas Begónias tem eguaes resultad js com a familia extra-for- mosa das Gesneriaceas, como vamos a indi- car. Antes porem cumpre-nos dizer por que limitamos ás Begónias variegadas as for- mas de reproducção, apuradas e cautelo- 176 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA sas, que descrevemos. As outras, unico- lores, vêem tão fácil e promptamente, quer de verdadeiras estacas de raminhos, quer de rebentos radicaes enraizados, que ne- nhuma dificuldade offerece a sua multipli- cação. Dest'arte acreditamos que muito bre- vemente os horticultores commerciantes do paiz se resolverão a abater os preços d'es- tas encantadoras e aristocráticas plantas, como podem, lucrando tanto mais, quanto pela barateza crescer o consumo. Agora as Gesnerias. A experiência que temos feito com as Begónias^ é egual com relação ás Gesnerias e Gluxinias. Nos mes- mos locaes, umas e outras, vivem mara- vilhosamente sem calor artificial. Os tu- bérculos de Gloxinias, rebentando a seu tempo, permittiram-nos multiplical-as tan- to, quantos foram os rebentos lateraes. Estes, mettidos em vasitos, debaixo de cúpula, deseuvolveram-se e floriram quasi a par com as plantas mães. Nunca vimos tão crescidas, amplas, e formosas Gesnerias zehrina atterrima como as que temos, assim multiplicadas. Difficilmente se encontrará um mais delicado e viçoso avelludado de folhagem. A G. refulgens, não menos bella, e por ventura mais apreciada pelo escuro de seu colorido, venceu, na varanda das Begunias, todo o inverno d'este anuo sem definhar; concluiu já na primavera o pe- ríodo de vegetação ; rebentou por isso mais tarde ; e deu-nos egualmente, nos reben- tos lateraes, novas plantas que já deixam atraz de si a planta mãe. A multiplicação por folha inteira, plan- tada verticalmente, ou por fragmentos de folhas, é por emquanto para nós mais in- certa, e sobre tudo muitissimo mais tar- dia. Continuem, pois, as estufas-mestras e de alto cothurno a enfeitarera-se orgu- lhosas com umas e outras bellas plantas tropicaes, como se estas não podessem de outra forma vegetar no paiz, que nós, mo- destos amadores, consolar-nos-hemos cora a certeza de que sem esse apparato e des- peza, lhes poderemos fazer boa concor- rência com Begónias, Gloxinias, Gesne- rias, e outras de grande merecimento. Coimbra. A. DE Sampaio. GISSUS DISCOLOR bl. O género Cissus faz parte da familia das Videiras (Ampelideas), familia muito pequena, mas muito importante, pelo ex- cellcnte vegetal que nos off"erece, a Vi- deira, cuja cultura tanto se tem propaga- do e variado. Foi o género Cissus forma- do por Linneu á custa de muitas espécies de Vides de Tournefort, adoptado por mui- tos auctores modernos, dos quaes ura, lll- chard, creou o género Ampelopsis sobre muitas espécies que pelos seus caracteres formam a passagem natural dos Cissus ás Vitis propriamente ditas, Apezar dos gran- des cortes que tem soífrido, ainda hoje comprehende 150 espécies aproximada- mente, a maior parte das quaes ainda não são bem conhecidas. Habitam ellas quasi todas as índias orientaes, a ilha de Java, as Mollucas, a America austral e a Nova Ilollanda. As plantas d'este género são todas arbustos mais ou menos trepadores, de excellente folhagem, flores pequenas e insignificantes, dispostas em cimeiras ou umbellas. Algumas d'estas espécies con- têem tanta quantidade de agua potável, que, cortadas aos pedaços, podem saciar um crescido numero de pessoas , por isso são chamadas vulgarmente Trepadeiras dos viajantes. A horticultura ornamental tem intro- duzido um grande numero doestas plantas, distingiiindo-se pelo rico colorido da fo- lhagem, entre outras o Cissus discolor Bl. (Vide de Java). Esta planta assimilha-se muito a uma Videira ; o seu porte, as fo- lhas, gavinhas e caule, tudo denuncia o próximo grau de parentesco que entre uma e outra existe, e, se lhe não c supe- rior em utilidade, leva-lhe vantagem pelo lado da ornamentação. De todas as tre- padeiras conhecidas para estufa, é de certo a mais bella que se pode cultivar. Ima- gine-se sobre uma haste delgada, angu- losa e com gavinhas, como todas as Vi- deiras, as mais ricas folhas de todas as plan- tas conhecidas. São variegadas de bran- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 177 CO prata, rosadas sobre fundo verde asse- tinado ; as beiras sào bordadas de rosa, a face superior, de vermelho cor de vinho. São em forma de coração, alongadas, agudas, denteadas, levemente chanfradas e alguma cousa crespas. As hastes e gavi- nhas, emquanto novas, sao de cor egual á pagina superior das folhas. Os fructos sào era cachos, azues e pequenos. O exemplar que descrevemos ainda os não apresentou. O (Jissus discolor é indígena de Java e alguém ha que o quer fazer passar por uma variedade do Císsus velutina. Pela simples descripçào que acabamos de dar, já os nossos leitores devem fazer uma pequena ideia do bello efteito orna- mental d'esta planta. Como é alguma cou- sa delicada e vagai'osa na vegetação, deve por isso ser cultivada em vaso, tornando- se assim mais ornamental; pois d'este modo pode ser collocada nas jardineiras de sala, misturada com outras plantas; e de noute á luz artificial será de effeito surprehendente. A sua cultura, supposto requeira es- tufa, não offerece dihiculdade alguma, dando-lhe terra muito rica e substancial, borrit'ando-a na estação calmosa amiuda- das vezes, pagará generosamente os cui- dados do amador. Como é planta sarmentosa, precisa de tutor a que se apegue, podendo- se empre- gar para este íim grades de arame for- mando arcos, ou então encostal-a ao gra- deamento da estufa. Mu.Uiplica-se por es- tacas ou mergulhia ; de qualquer dos mo- dos pega bem. A. J. DE Oliveira e Silva. MEDIDAS QUE SE DEVEM TOMAR PARA PREVENIR A MOLÉSTIA DAS BATATAS Desde 25 annos que a moléstia das Batatas exerce estragos nas diversas re- giões da Europa que cultivam esta Sola- nacea: o anno de 1870 é um de aquelles em que foi menos desastrosa. Em vista doeste resultado, não parece- rá opportuno vir entreter os leitores com este assumpto. Todavia, ninguém pode affirmar que esta moléstia não torne a ap- parecer ; é então prudente tomar medidas preventivas a hm de attenuar seus es- tragos, pondo em pratica esclarecimentos uteis, experimentados pelos chimicos e agrónomos. Provou-se que a moléstia das Batatas estendeu os seus estragos a todas as va- riedades e que sua intensidade estava de accordo com a humidade ou com a sec- cura. A própria natureza do flagello, cuja evasão se eífectua pelos órgãos foliaceos, parecia indicar dous meios de impedir a moléstia de atacar os tubérculos. Encon- tramol-os com effeito entre as prescripçoes indicadas pelo snr. Victor Chatel, em seus interessantes opúsculos sobre a moléstia das' Batatas. Elie aconselha : 1 .° Cortar as hastes rente da terra pela epocha em que apparece a moléstia, e quando ha a certeza de que os tubérculos estão atacados; 2.° Amontoar de novo e calcar depois fortemente a terra com um rolo pesado em cada leira ou sobre duas leiras ao mesmo tempo. Por este meio, põe-se o tubérculo ao abrigo das influencias atmosphericas. Se estes processos são favoráveis para suspender o desenvolvimento da moléstia, todos convirão que é preferível utilisar os meios experimentados para a prevenir. Estes meios são : 1.° Lançar á terra somente aquelles tubérculos que adquiriram todo o seu des- envolvimento de maturação e se achara jsemptos de todo o vestígio de moléstia; 2." Abster-se para a plantação de toda a mutilação dos tubérculos ; 3.° Dar para adubo matérias fertili- santes que contenham n'um alto grau as substancias que entram na composição da Batata. Esta composição, segundo a analyse das cinzas feitas sobre 208 quintaes mé- tricos de Batatas, é de : 178 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 147 kilogrammas de potassa ; 44 » de -otla ; 50 D de acido phosphorico ; 37 » de cal ; 20 » de magnesia ; 50 » de .silica. De moflo que a Batata contem, em ccrtcas proporções : potassa, soda, acido phosphorico, cal, magnesia e silica. Tomando as precauções que acabo de enumerar, é certo que os tubérculos desti- nados para a plantação devem estar em boas condições de successo. Sabemos, de- mais, que succede no reino vegetal como no reino animal: os similhantes pruduzem os similha7ites. Se plantarmos tubérculos degenerados, o producto será pela mesma forma. E continuando d'este modo, aca- baremos por destruir os elementos consti- tutivos d'esta Solanácea, e com muitas probabilidades daremos motivo á moléstia. Tem-se dito que apezar da boa quali- dade dos tubérculos para sementeira, os adubos podiam propagar a moléstia, e que devia cultivar-se a Batata sem adubos. Se este methodo pode dar bons resultados em terrenos férteis, foi desastroso nos so- los que nào contêcm todas as matérias mi- neraes necessárias para a formação da planta; n'este caso, apenas se tem obtido uma vegetação fraca, ramas incapazes de resistir ás intempéries atmosphericas, e um menor rendimento de anno para anno. Esta diminuição só poderia ser attribuida á pobreza do terreno, que se opera tanto mais depressa quanto um producto de um campo de Batatas, vendido em grande parte no mercado, não deixa quasi residuo algum no solo depois da colheita. Ha portanto um interesse real, que merece ser tomado em consideração, em empregar como adubo, conjunctamente com o estrume dos curraes, os adubos phosphatados e os saes de potassa na cul- tura das j^lantas que, como as Batatas, absorvem muitos alcalis. Estas substancias eucontram-se nas cinzas de vegetaes e os- sos pulverisados. A. GiLLIAR DUFOUR. (Publicado no «Jorn. deAgric. Pratica» eextrahido do «Cultiv. dela Suisse Romande».) ERYTHRINA CRISTA-GALLI linn. A abundante e rica família das Legu- minosas fornece-nos interessantes géneros de plantas, recommendaveis pelo lado uti- litário e pelo lado ornamental. Uma gran- de parte dos arbustos e arvores, que guar- necem os nossos jardins, pertencem a esta família; d'ella faz também parte o varia- do género Acácia, bem nosso conhecido pelos exccllentes e variados productos de algumas das suas espécies e pelas flores que todas produzem. E de uma planta, filiada n'um d'esses grupos ou géneros, que nos vamos occupar, e, se não c tão rica como muitas das suas congéneres, to- davia não deslustra a família a que per- tence. Queremos fallar da Evythrina crís- ta-fjalli Linn. (E. crista de gallo, coral- leira ou Arvore do coral), essa bella ar- vore indígena do Brazil e de quasi todos os climas quentes. É muito notável pela belleza e forma das suas flores de cor ver- melha coral, e seria uma das mais inte- ressantes plantas se o brilho das suas flo- res fosse acompanhado de uma linda fo- lhagem. Infelizmente, os braços e os ra- mos estão completamente despidos de fo- lhas na occasião da florescência. Não obstante, a belleza das flores é o sufíiciente para que a planta occupe ura dos primei- ros legares nos nossos jardins. São de for- ma papilionacea, muito grandes e desabro- cham quasi sempre na extremidade dos ramos, em ramilhetes de ura lindo eíFeito. O caule e os ramos d'esta planta são mui- tas vezes guarnecidos de espinhos curtos e espalhados. A sua introducção nos nossos jardins data de 1690, e já Se acha bastante es- palhada. A synonimía botânica d'esta planta é muito variada e curiosa ; cada um dos au- ctores que a descreve lhe dá um nome particular, fundado nas suas virtudes ou qualidades espcciaes. Julgando que faríamos un? serviço aos nossos leitores e como curiosidade, da- luol-a em seguida, citando o nome dos auctores e obra em que vem descripta : Eil-a: E. spinosa Mifl. Dicc. n. 3. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 179 E. arbórea spinosa et non sjnnosa^fo- liis rhomòeis ternatis Brown. Jam. 288. Corallodendron triphyllum America- num spinosum, Jlore ruberrimo Tournef. Inst. G61. Coral arbor Clusius, Hist. CCLIII. Coral arbor siliquosa J. Bauh. Hist, 1. lib. 12. p. 426. Coral arbor americana Commel. Hort. 1. p. 111. t. 108. Coral arbor non spinosa ^ flore lon- giore et magis claiiso ÍSloan. Jam. Hist. 2. p. 38. t. 178. f. 1 e 2. Siliqua Sylvestris spinosa, arbor in- dica Bauh. Pin. 402. De todos estes nomes scientificos, a- quelle todavia por que é mais conhecida e descripta em quasi todos os catálogos, é o de Erythrina crista-galli, que Liuneu lhe applicou. A cultura ornamental costuma dispor esta arvore isoladamente nos relvados, ou em massiços ; de qualquer d'estes modos produz um eífeito esplendido. Na China costumam fazer sebes com esta planta, que na verdade devem ser muito lindas. È' um modo de cultura que ainda não vi- mos empregado em Portugal e que talvez produzisse o mesmo resultado que n'a- quelle paiz. O seu tractamento não é nada difficil , vive em toda a qualidade de terra, mas um solo que seja rico em detritos ve- getaes e bem drainado desenvolve-a era muito pouco" tempo. Muitiplica-se por es- tacas ou mergulhia (alporque), mas este modo de reproducção produz plantas feias, tortas e de difficil desenvolvimento. A se- menteira em estufim é a que produz me- lhores plantas. As sementes, supposto que a planta as não produza sempre em gran- de abundância no nosso clima, podem-se obter com muita facilidade de qualquer estabelecimento belga ou francez. Nós pos- suímos alguns exemplares de Erythrinas obtidas d'este modo, e que hoje, com dous annos de edade, apresentam quasi um metro de altura e estão muito bem forma- das. Como complemento d'este artigo da- mos uma descripção succinta de mais al- gumas Erythrinas usadas na horticultura e que se encontram nos catálogos ; são as seguintes : E. herbácea Linn. Habita a Carolina e Florida. Planta de cepa vivaz e hastes herbáceas, morrendo todos os an- nos depois da floração. No outomno flores vermelhas, agrupadas ás três, formando com as folhas um cacho muito comprido. E. versicolor Hortul. Foi obtida de semente em 1844. Esta planta é uma va- riedade da E. crista-galli ; as flores são maiores, a cor a principio é branca ama- rellada, vermelha na base e bordada com uma faixa da mesma cor; depois torna-se carmim. Floresce no outomno. E. Bidwillii Hortul. (hybr.), obtida da E. herbácea e crista-galli, por Bel- langer, é muito elegante ; as folhas assi- milham-se ás da E. herbácea e as flores ás da E. crista-galli. Floresce no princi- pio do outomno. E. laurifolia Jacq. Esta espécie pode ser uma variedade da E. crista-galli. E maior, mas menos florifera. E. cárnea Ait. (E. americana Mill.) Habita Vera-Cruz e Santa Martha. E uma planta de cepa lenhosa, baixa, armada de espinhos curtos. No verão produz flores em cachos numerosos cor de carne pal- lida. E. rósea A. Dietr. Do México: muito similhante á precedente, da qual diff'ere unicamente pelo colorido rosado das flo- res. E. Humeana Spr. E uma das mais bellas espécies d'este género ; as flores são cor de vermelhão e dispostas em cachos muito apertados. E natural do Cabo da Boa Esperança. E. velutinày^WlÕL. Espécie muito rara: flores vermelhas brilhantes. E. ornata. Pequeno arbusto de O™, 20 a 0™,60 de altura, florescendo desde muito pequeno; flores em panicula comprida e apertada, muito grandes e de cor de ver- melhão carregado. Multiplica-se por esta- cas em março e abril. É muito boa para cultivar em vasos. Citaremos ainda as seguintes: E. erythrostachya (E. speciosa Hor- tul.) E, Bellangerii. E. ruberrima (hybr.), a mais brilhante de todas as variedades. E. Clottyana. E. floribunda (hybr.), flor vermelha carregada. E. Marie Bellanger (desenhada na 180 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA «Illustration Horticole» de Verschaffelt), magnifica ; floresce abundantemente e vive perfeitamente no nosso clima. E. fidgens. E. princeps. E. marginata (hybr.) A. J. DE Oliveira e Silva. ATRIPLEX HORTENSIS linn. O Espinafre da Tartaria é, como a ' Tetragonia expansa, um excellente vege- tal para se fazer esparregado, e como vem 8Ó no verão, quando se nào encontra o Es- pinafre comminn, tem por isso um gran- 1 de merecimento. O seu gosto pouco diíie- re do nosso Espinafre, havendo comtudo quem o ache superior. As folhas do Espinafre da Tartaria, combinadas com as folhas da Azeda, fa- zem um excellente esparregado, que muito se uza em França. Cozidas com legumes, tornam-se também excellentes. As plan- tas desenvolvem-se muito bem, e crescem de 1™,20 a 1"',50. Bastam cinco ou seis plantas para da- rem sufficientes folhas para uma familia ; qualquer terreno lhes convém, e, geralmen- te, uma vez semeadas nunca deixam de se reproduzirem espontaneamente. A se- menteira pode eífectuar-se desde março até fins de setembro, devendo fazer-se em carreiras e muito rara por isso que as plantas tcem grande desenvolvimento. E' minha opinião que esta planta me- rece ser propagada nas nossas hortas, e que logo que seja conhecida terá boa ac- cei tacão. A semente d'esta excellente planta foi- me dada ha annos em Inglaterra por um amigo meu, que a trouxe dos montes do Himalaya. Posso offerecer aos amadores uma por- ção de semente madura. Lisboa. George a. Wheelhouse. ENTOMOLOGIA HORTÍCOLA O INSECTOS NOCIVOS ÁS ARVORES É á ordem dos Coleopteros, a essa ordem tão cheia de insectos destruidores, verdadeiros inimigos da horticultura, que pertence o iScolytus distructor Lat. Seria talvez indesculpável o não des- crevermos aqui os terriveis effeitos d'este insecto, e a maneira mais vantajosa de o atacar. Para este ultimo fim recorreremos aos trabalhos de Mr.Eugene Kober, e as suas experiências nos servirão de aucto- risada guia. A fêmea do Scolytus distructor fura a casca dos Olmeiros c deposita os ovos nas margens de uma galeria que cila mes- ma construo nas camadas mais novas do liber. Logo que as larvas nascem, cavam eguaes galerias perpendiculares á da mãe (fig. 54), que definham a arvore a ponto de muitas vezes morrer. Mr. Eugene Rober pensou cora ujuita (1) Vide J. II. P. vol. II, pag. 171. razão que se poderia destruir grande nu- mero doestas larvas, fazendo as seguintes operações : Nas arvores ainda novas e que apenas tenham a superfície da casca um pouco rugosa, dever- se-ha fazer na mes- n:a casca uns cortes de 0'",06 a 0™,08 de largura, separados uns dos outros por in- tervallos de 0'",12 a O"", 16, que se dei- xam intactos. Estes cortes devem nascer desde o collum até ao principio dos tron- cos ; dever-se-hão fazer bastante fundos até encontrar as camadas do liber, tendo cautella em as não oífender. O resultado d'esta operação é que to- das as galerias dos Scolytus, que estavam coUocadas no sitio onde se deram os cor- tes, ficam a descoberto, morrendo todas as larvas. Emquanto ás galerias que estão collocadas por baixo da parte que ficou intacta, como as larvas vão caminhando sempre, dão bem depressa com os cortes e morrem faltas de sustento. Ainda que JORNAL DE HORTICTJLTURA PRATICA 181 algumas escapem a esta operação, como as arvores recobram grande vigor por causa d'este tractaraento, afogar-se-hão na seiva que se extravasa em abundância nas suas galerias. Para as arvores annosas e que têem a casca muito rugosa, é mais conveniente arrancal-a e deixar somente as camadas do liber. D'este modo morrerá grande quantidade d'estas larvas, e as que esca- parem perecerão esmagadas pelas recru- descencias que se manifestam na vegeta- ção das arvores. Finalmente, se em certas partes do tronco a casca estiver completamente des- truida pelo Scolytus, dever-se-hão cortar Fig. 54. — Eífeitos do Scolytus distructor, Fig. 55 — Bombyx salicis. Fiff. 56 — Cossussesculi. todos os fragmentos seccos até ao alburno 6 soltar o resto da casca até ás camadas do liber. Para completar esta operação é neces- sário cobrir as superfícies do liber desco- bertas com uma camada composta de duas partes de cal e de outra de terra argillosa, com agua sufficiente. Se, pelo contrario, isto se não fizer, as camadas do liber ex- postas ao ar e ao sol seccam immediata- mente. Não será ocioso advertir, que é du- rante o repouso das arvores que se opera este trabalho. Entre os Lepidopteros, as borboletas, cujas larvas fazem maiores estragos, são: a Sesia apiforme, que ataca as raizes dos Salgueiros e dos Choupos, a Bomhix pro- cessionnea Reaum., que despe completa- mente a folha dos Carvalhos nos mezes de maio e junho, a B. chrysorrhcea, que accommette não só todas as arvores fru- ctiferas, mas também os Freixos novos ; a B. neustria, que ataca a Faia; a B 182 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA díspar^ que acoraraetíe todas as arvores e especialmonte os Carvalhos ; a B. sa- lteis (tig. DD), que ataca os Choupos^ e tem as azas de um branco prateado e lu- zidio com nervuras amarellas, numerosas nas superiores. A lagarta é toda salpicada de maculas amarellas na parte superior, tendo dos lados grande quantidade de tu- bérculos encarnados cobertos de pello ruivo. É também digno de menção o Cussus cesculi Fab. (^fig. ÒG), que ataca os Cas- tanlieiros, fazendo n'estas arvores os mes- mos estragos que o Cossus ligniperda nos Olmeiros. Apparece em julho e é de um colorido admirável; as suas longas azas brancas sào todas salpicadas de pontos azues, e o resto do corpo amarello. A la- garta é também amarella e com pontos escuros no lombo. Lisboa. A. M. L. Carvalho. (Continua). LAVOURA O resultado pratico dos ensaios que vários cavalheiros têem feito com os qua- tro principaes instrumentos de lavoura que havemos introduzido em Portugal — o extirpador, a grade, o arado de aivecas moveis e o semeador , promette a sua adopção em todo o paiz, mesmo nas cul- turas mais pequenas, era vista da facili- dade que oiíerecem no trabalho e das enormes vantagens que resultam com res- peito ao serviço e aos productos. A applicação de instrumentos de la- voura é uma novidade tal para a maior parte dos lavradores ou das pessoas que se julgara entendidas n'esta industria, que estando a olhar para elles, ainda pergun- tam se são para serem movidos a vapor ou a gado, como se os varaes de que es- tão munidos não fossem suficiente indica- ção. Outros não só o dizem, mas publica- mente escrevem, affirmando que os instru- mentos mechanicos só servem para gran- des lavouras, como se esses instrumentos fizessem mais vulto do que um carro ordi- nário de lavoura. Os que não têem bom sub-solo, ima- ginam que um bom arado lh'o não pode fazer em alguns annos, condemnando-o porque lhe revolve uma terra onde a se- menteira não poderia germinar. Os que teem aguas estagnadas nos seus campos também não os querem re- volver para evitar que o bicho ou lagarta se desenvolva e roa a raiz da planta. O proprietário receia, pois, as innova- çSes a que se oppõe a ignorância de seus creados ou caseiros de lavoura, e por isso são muito para louvar aquelles que, rc- pellindo os preconceitos, vão, confiados ua sua superior iutelligencia, romper o solo e abrir ao paiz uma fonte de riqueza. Com o seu exemplo devemos esperar um lisongeiro futuro de bem-estar e de ins- trucção para uma numerosa classe que a lavoura expelle por falta de trabalho re- munerativo e que vive quasi na miséria, meia vagabunda pelas proximidades das cidades e aldeias do Minho. De um d'es3es cavalheiros a que al- ludimos acabamos de receber a seguinte carta, corroborando o que havemos asse- verado em nossas publicações : que não ha difficuldade alguma na applicação does- tes instrumentos e que o serviço feito por elles nada deixa a desejar. Snr. António de La Rocque — Respondendo como deseja á carta que me dirigiu em M do cor- rente mcz, lenho a dizer-llie que eu e o meu crea- do de lavoura comprcliendemus com pouca dillicul- dade o magnifico tiabaliio dos instrumentos de lavoura que lhe comprei: o extirpador das hervas e das raizes nocivas ás plantas é uma peça impor- tante, que não só levanta da terra com facilidade as raizes e hervas mas também revolve a terra que fica optiina para as sementeiras de ferrões e Cen- teios em cru, que os nossos lavradores costumam fazer pelo S. Áliguel. A terra assnn revolvida la- vra-se com mais facilidade e o tempo que se gas- ta com o extirpador aprovcita-se na lavoura e na sacha, havendo grande vantagem de ficar a terra limpa e bem desfeita, devendo por isso produzir melhor e mais abundante fructo, se for bem estru- mada. Eu fiz a minha lavoura com uma junta de bois, mas cm terrenos pesados é conveniente fazer o serviço com quatro bois ou quatro cavdllos para os não fatigar. A grade que serve logo depois do extirpador é de nuiita vantagem para juntar as hervas e raizes que este levanta, devendo o la- vrador servir-se d'elle com os dentes cônca- vos para diante levantando a grade á mão de e>paço a espaço para a felga dos montes que de- pois se apanha com um ancinho para a levar para as estrumeiras ou outro logar conveniente, se o JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 183 tempo não favorecer seccal-a no campo para a re- duzir a cinza, que é o melhor; mas e*ta secca das felgas poucas vezes se pode fazer n'esta provincia por causa das chuvas e da pressa que o lavrador tem de fazer a sementeira. A mesma grade serve para cortar as leiras do arado e preparar a terVa para a sementeiía. Este trabalho faz-se com a con- cavidade dos dentes da grade para traz a fim de não arrastar co'vsigo os estrumes. Depois do tra- balho do extirpador e primeira grade estrum-i-se a terra e principia o trabalho do arado. Esta peça é muito engenho>:a, tem duas aivecas movediças para virar a terra, seitora e duas rodas na ponta do arado com o registo que facilita o trabalho e lavra na profundidade que se quer: a lavoura tica muito egual e agradável á vista. O arado que, por ser de ferro, parece muito pezado ou mais que os nossos de pau, pouca differença faz d'estes, tendo a van- tagem do lavrador lavrar suavemente e de corpo direito dando só algum incommodo ao voltar o arado como acontece com os de pau. Os nossos lavradores costumam fazer as la- vouras nos campos em arco, eu mandei-a fazer a direito e ficou muito boa, pois o arado vira com fa- cilidade a te-ra para cima como se queira, e sen- do os campos grandes quadrados ou quadrilongos, até se pode lavrar em roda acabando a lavoura no meio, mas sendo assim feita c preciso que o la- vrador de espaço a espaço faça descançar o gado por um pouco. Depois de lavrada a terra passa-se com a grade, prepara-se o semeador com as se- mentes, e como n'esta provincia se costuma se- mear o Feijão com o Milho, ficou nascendo bem nos espaços convenientes. As sementes miúdas bo- tam-se no caixão mais pequeno próprio para ellas ou semeiam-se á mão assim como as Abóboras ou Cabaças. As vantagens que eu conheço n'este ins- trumento (semeador] são: a rapidez da sementeira, a egualdade, as distancias convenientes. A economia, pois reduz-se a uma metade da semente lançada á mão, a ficar a semente entranhada na terra á al- tura que se quer, e o ficar logo coberta, e por isso preservada dos pássaros e galliuhas. A semente de- ve ser limpa e boa para nascer com facilidade e não ficarem grandes claros, o que acontece sendo a semente má ou chocha. Depois de lançada por esta forma á terra deve-se aplanar a sementei- ra com o rolo ou cylindro ou com as costas das antigas grades de pau, como eu fiz, a fim de fi- car a semente ainda mais coberta e conservar mais a frescura da terra. A sementeira feita por esta forma deve ser mais productiva. Dizem que por este systema se deve alcançar sobre o antigo uma vantagem de 50 a 10(J por OjO, mas basta que produza mais 2U ou dO por 0[0 para valer a pena do empate do capital empregado em taes mstrumentos. E' esta a humilde opinião de quem é De V. etc. Manoel Pereira da Silva. Penafiel 12 de junho de 1871. A carta que se acaba de lêr é ura va- lioso documento da vantagem que têem os mstrumentos de que se tracta e oxalá que os agricultores portuguezes sigam as pisadas do snr. Manoel Pereira da Sil- va, agricultor distincto. A. DE La Rocque. APONTAMEITOS HISTÓRICOS ACERCA DA SCIENCIA FLORESTAL NA ALLEMANHA Dous séculos antes da invaeão dos ro- manos, segundo a tradição antiga, o ter- ritório occupado hoje pelo povo allemão não era mais que uma vasta floresta ha- bitada por um povo guerreiro, que só se entregava á vida agreste da caça. Mil annos depois, quando Carlos Ma- gno propagou o christianismo no Império germânico, fez com que os habitantes se dedicassem aos trabalhos agrícolas como meio mais efficaz para modificar os costu- mes selvagens do povo caçador e para se acostumarem á habitação domiciliaria. Foi desde então que o machado começou a sua tarefa de devastar e destruir. Este exem- plo foi seguido pelos demais povos da Eu- ropa com uma rapidez tal, como se fosse uma moléstia epidemica. O que é para sentir é que essa tarefa ainda não tenha hoje terminado em algumas nações euro- peas, que se têem na conta de muito civi lisadas. No século VIII já se reconheceu, po- rem^ a necessidade de pôr termo á devas- tação das mattas e foi então que se no- meou a primeira auctoridade florestal al- lemã. Este empregado tinha alçada sobre todas as mattas do império, mas, segundo o que a historia refere, só se occupava em evitar que continuasse a destruição das florestas em maior escala, impondo multas e fazendo castigar os devastadores (que não eram seus afilhados) e pouco se importava com a parte económica; pois só desde o principio do século XIV é que se encontram vestigios de uma adminis- tração florestal mais regular, mas ainda assim não se pensava em tornar a plantar as mattas que até alli se tinham desbara- tado e só no século XV é que se encon- 184 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA tram algumas leis mandando fazer se- menteiras e plantações e regulando o sys- tema das culturas. De IG-ib para cá é que se começou seriamente a tractar d'este ramo. A pri- meira obra que se escreveu e de que ha conhecimento exacto, sobre sciencia flo- restal, mas ainda assim muito limitada- mente, é a «Coleri (.Economia ruralis et domestica», Wittenbergse, 1Õ99, com- quanto haja quem aíiirme haver producçôes mais antigas, e até mesmo que se tivesse escripto sobre este assumpto no tempo do Império romano. Durante o século XVll appareceram já mais algumas obras n'este género, mas pode-se dizer que quasi ex- clusivamente só tractavam de objectos con- cernentes ao direito llorestal. jSo século XVlll já viram a luz mui- tas obras importantes sobre os diversos ramos de sciencia florestal, o entre os au- ctores que mais se distinguiram, sao : Carlowitz, que foi o primeiro que escre- veu sobre economia florestal: publicou em 1713 uma obra intitulada o Silvicultura económica» . JBekmann foi o primeiro que no anno de 175G publicou uma obra encyclopedica aonde mais ou menos se toca em todos os pontos da sciencia florestal. Dobeis, 174G; Moser, 1757; Káppler^ 17G4; Cramer, 17GG; Brocke, l7G8j Gie- ditsch, 1774; Jung, 1781; Beneckendorf, 1783; Burgsdorf, ITUG. No século XIX, finalmente, tem esta sciencia feito progressos gigantescos em toda a AUemanha e apparecido grandes vultos que a enriqueceram com obras im- portantes. Citaremos aqui alguns dos ho- mens mais eminentes que se têem dedi- cado a esta sciencia como escriptores, como professores e como práticos, a saber : Hundeshagen, Heil, Ratzeburg, Be- chstein, Cotta, Hartig, Hennert, Laurop, Meyer, Xiemann, ÍSeutter, Volker, Wal- ther, Witzleben, Borkhausen, etc, etc. Em todos os estados da Aliemanha existem hoje muitas associações florestaes, assim como grande numero de periódicos e entre estes citaremos o magnitícojornal redigido pelo dr. Gustav Heyer, professor d'e8ta sciencia na universidade de Gies- sen, intitulado «Allgemeine Forst und Jagd Zeitung». A primeira eschola florestal que houve em Aliemanha foi instituída em 1771 por Fi*ederico II, em Tegel, ao pé de Berlim, debaixo da direcção de Gleditsch. No anno de 178Õ annunciava Múhlenkampf pre- lecções publicas sobre sciencia florestal na eschola superior de Mainz. Em 1787 abriu- se a primeira eschola na Baviera. Mais tarde estabeleceram-se outras do mesmo género, sendo algumas oftíciaes, isto é, por conta do estado, e outras [ articulares ; entre cilas podem-se men- cionar as de Berlim, Dillenburg, Stut- tgart e Hungen, que eram alternadamente dirigidas por Hartig; as de Dreisigacker por Bechstein, as de Zillbach por Cotta, as de Kiel por Niemann ; e muitas outras estabelecidas em Waldau, Schwarzenberg, Aschaflenburg, Fulda, Carlsruhe, Roten- burg, Tharand, Hohenheim,etc. Em quasi todas as universidades ha cursos flores- taes. A importância da sciencia de que te- mos vindo fallando, é portanto na Alie- manha ha muito reconhecida por todos. O programma para o curso florestal é hoje em algumas escholas o seguinte : A — Curso preparatório. B — Curso definitivo. A — O curso preparatório consiste em : 1 — Mathematicas. a — Arithmetica e álgebra. b — Geometria e trigonometria ele- mentar. c — Geometria e trigonometria ap- plicada. d — Desenho linear e de architectura. 2 — Sciencias naturaes. a — Introducçào geral á historia na- tural. b — Physica experimental, c — Chimica. d — Mineralogia. e — Botânica. / — Zoologia. 3 — Noções sobre direito. Encyclojpedia sobre : a — Direito administrativo b — » publico c — Economia politica. B — O curso definitivo consiste cm : JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 185 I — Economia florestal. II — Policia florestal. A — Ensino sobre a producção florestal. I a — Parte preparatória 1 — Botânica florestal em geral. 2 — Geologia. 3 — Climatologia e geographia das plan- tas. 4 — Botânica florestal em especial. h — Parte applicada 1 — Cultura florestal. 2 — Aproveitamento florestal. 3 — Protecção » B — Ensino sobre a industria florestal. a — Cadastro í ^ Topographia florestal. \ 2 Estatistica florestal. h — Estática florestal. ri Exploração. \2 Costeio. Íl Avaliação. 2 Resultado definitivo dos productos. c — Administração n a — Parte preparatória Conhecimentos sobre direito publico em geral e sobre economia politica em es- pecial, assim como policia e philosophia do direito. « h — Parte applicada 1 — Princípios geraes de policia. 2 — Policia florestal em especial. Ao curso definitivo pertence também uma cadeira sobre caça e um ou dous an- nos de pratica em alguma das adminis- trações florestaes do governo. Segundo o programma das escholaS;, n'umas o curso pi-atico é de um e n^outras de dous an- nas ; assim como n'algumas é antes do curso preparatório e n'outras no fim do curso definitivo. No fim do curso os alumnos obtêem o grau de candidato-florestal. Coimbra — Matta do Choupal. Adolpho Frederico Moller. QUERCUS SUBER linn. O Sovereiro foi collocado pela natu- reza ao sul da Europa e no norte da Afri- ca, podendo dizer-se que esta útil arvore pertence á bacia do Mediterrâneo e paizes visinhos. Fora d'esta zona não se encon- tra o Sovereiro em nenhuma outra parte do globo. Os americanos do norte é que estão fazendo todos os esforços para o in- troduzirem na Califórnia, assim como a Oliveira, n'aquella parte do paiz que mais se assimilha ao sul da Europa. Portugal é um dos paizes aonde a na- tureza também collocou o Sovereiro j, e nas províncias da Extremadura, Alemtejo e Algarve se encontram grandes florestas de Sovereiros,vcííí's> infelizmente uma gran- de parte d'ellas têera sido cortadas, para madeiras, casca e carvão. A madeira é boa, especialmente para obras debaixo de agua. N'estas províncias ha muitos Sove- reirosj cada um dos quaes dá para mais de 100 arrobas de casca para cortumes, e a madeira feita em carvão mais de K. 1468,800 ; comtudo é pena que seus do- nos as mandem cortar, deviam contentar- se com o grande lucro que dá a cortiça e a bolota. A cortiça, que é a camada exterior do Sovereiro, vae augmentando de valor de anno para anno, devido ao grande con- sumo que este género vae tendo era to- da a parte do mundo para diversos mis- teres. Os sovereiraes cuja cortiça se vendia ha annos por ÕOO e 800 mil reis, rendem hoje preços fabulosos. Para que se conhe- ça ainda com mais claresa a grande dif- ferença que tem feito o preço da cortiça, basta dizer que em 1867 se vendia, no sitio onde era cortada, a 30 reis cada kilog.; em 1868 a 32 reis; em 1869 a 43 reis; em 1870 a 48 ^/i reis e no corrente an- no a 50 reis. E' claro que o preço au- gmentará successivamente pelos motivos que deixo dito, isto é pelo grande consu- mo que este género vae tendo, e por o não haver senão nos pontos que menciono. Pena é que isto não sirva de estimulo para se fazerem mais sementeiras de Soverei- ros. Se percorrermos as províncias do 186 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Alemtejo e Estremadura acharemos mui- tas milhas quadradas de charnecas que nada produzem, sendo aliaz terrenos mui- to apropriados ao Sovereiro, e tào por- prios que cm muitas partes d'estas char- necas nasce espontaneamente. E' minha opinião que para tornar estas charnecas em sovereiraes seria necesiario o seguin- te : Formarcm-se companhias ou socieda- des que aforassem ou comprassem aquel- las charnecas, que as mandassem arrotear e que lhes semeassem junto com penisco a bolota do Sovereiro, por que a experiên- cia me tem mostrado que esta 3 a maneira das sementeiras do Sovereiro darem bom resultado. No anno de 1846 mandei semear uma charneca no concelho do Seixal, e junto com o penisco misturou-se a bolota; ambas as sementes nasceram bem, e durante os pri- meiros annos os Pinheiros serviram de abrigo aos Sovereiros, e em 1866 (vinte annos depois) mandei cortar o pinhal para barrotes,varas efachina, e mandei arrotear os chaparros (Sovereiros pequenos), o que muito agradeceram e hoje está uma linda floresta. Na Alagôa da Palha, nas proximi- dades de Setúbal, semeou, ha pouco mais de quarenta annos, o sr. José Bento de Araújo um grande sovereiral, junto com penisco, e deu-lhe o mesmo tractamento que eu dei ao meu. Muitas arvores já têem para mais de quatro pés de circumferencia e produzem muita cortiça e bolota. Este é, sem contradicçào^ o melhor methodo de semear o Sovereiro. Tenho experimentado outras maneiras, mas de nenhuma colhi melhor resultado. O Sovereiro dá-se em qualquer terre- no, mas nas florestas que estào nos de alu- vião a cortiça faz-se mais depressa, sendo porem muito porosa e por isso de menos valor. Quando os Sovereiros estão em ter- renos pedregosos, a cortiça desenvolve-se menos, mas cm compensação é mais com- pacta e por isso de mais valor. Liâboa. George a. Wheelhouse. ACÁCIA DEALBATA Acabamos de ler, n'uma publicação mo- ; derna, o seguinte a respeito d'esta formo- sa arvore, natural da Nova Hollanda e que vegeta perfeitamente no nosso paiz ; . julgamos que a sua leitura aproveitaria alguma cousa aos amadores, por isso apres- samo-nos a traduzir o citado artigo, que é como se segue : i «A A. dealbata, diz o dr. Bernier, é uma grande arvore, cujo porte é mages- toso, e as suas hastes grossas, arredon- dando-se, tomam a forma de um guarda- sol ; produz por anno duas camadas de flores: a primeira em janeiro e fevereiro e a segunda em julho e agosto, dando im- mensos cachos de flores, compridos, de cor amarcllo-enxofre e cheiro suave. A raiz lavra muito na terra e é completa- mente coberta de olhos e botões que, des- envolvendo-se ao menor contacto com o ar, produzem outras tantas plantas. Tem- se chegado a contar para cima de 37 re- bentões na mesma arvore. No fim de 4 annos a A. dealbata tem formado uma magnifica arvore, que pode ser vantajosa- mente aproveitada. Dá madeira de cons- trucção de excellcnte qualidade, muito direita e própria para obras de marceneria, fornecendo também lenha para queimar e carvão de primeira qualidade. Depois de cortada torna a rebentar, dando uma ar- vore em tudo egual á primeira.» Em vista do que acaba de se ler, não teremos duvida em aconselhar aos nossos leitores que experimentem mais esta cul- tura, fazendo algumas plantações em pe- quena escala. A. J. DE Oliveira e Silva. CANTUA DEPENDENS pers. Está em vésperas de florescer pela se- 1 nheciraento todos os verdadeiros floricul- gunda vez no Jardim Botânico do Coim- cores — é a Cantua cle2)cndens, represen- bra uma planta, de que devera tomar co- 1 tada na figura 57, pequeno arbusto encon- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 187 trado nos Andes peruvianos pelo viajante botânico Mr. Lobb. Pertence á família das Polemoniaceas e encontra-se com nomes diversos. La- mark denominava-a C. huxifolia. O nome especifico actual é tirado da posição das flores, que formam lindos grupos penden- tes. ^ É, como disse^ um pequeno arbusto de nào difficil cultura. No Jardim vive ao ar livre e era logar cuja exposição não é das mais quentes. Creio que poderá viver era quasi todo o nosso paiz. As folhas lo- badas e denteadas revestera toda a plan- ta, que se torna notável pela belleza das flores, cuja forraa é um pouco infundibu- liforme. O longo tubo e o limbo podem variar na grandez^,, e na cor. A que vive Fig. 57 — Cantua dependens aqui é de um vermelho vivo, tendo nos bordos do limbo um reflexo violeta. No aspecto geral dá ares da Fuchsia. São, porem, as suas flores maiores, mais ele- gantes e formam grupos consideráveis na extremidade dos ramos, que a tornam rauito superior áquella planta. A variabilidade da cor e grandeza das flores, bem como a forma das divisões da corolla, que ora são inteiras ora dentea- das, levou o dr. Lindley a considerar como simples variedades a Cantua tomentosa e C. ovata de Çavanilles, e a C. uni flora de Persoon. E mais um motivo que re- coraraenda a cultura d'esta planta, pois pode fornecer aos amadores a occasião de verificar esta opinião, examinando os exemplares nascidos de semente. Coimbra. JuLio A. Henriques. CHRONICA O nosso bom amigo e collaborador d'este jornal, o snr. conselheiro Caraillo Aureliano da Silva e Sousa, acaba de nos dirigir uma carta, cuja publicação solicita e que mais abaixo inserimos. Entre os horticultores portuenses exis- te uma rivalidade mesquinha^ que não po- demos deixar de conderanar. Os menos in- telligentes , ao ver que o favor publico pro- tejo os que trabalhara cora mais afinco, persistem em querer desthronar pela ma- ledicência os que pela sua intelligeucia, 188 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA assiduidade e amor pela sympathica Flora, caminham a largos passos na senda do pro- gresso. Segundo se vô pela carta do snr. con- selheiro C. Aureliano, espalhou-se com fins que ignoramos, e que nào queremos inda- gar, que aquelle cavalheiro era sócio do proprietário do nosso jornal! Podemos pois asseverar que não o é e que nunca o foi. O snr. C. Àureliauo tem sido para o snr. M. Loureiro mera- mente um excellente e respeitável amigo. Snr. Redactor.— A inveja de alguns jardineiros d'e?ta cidade, causada pelo imprevisto, rápido e suc- cessivo progresso do estabelecimento de horticul- tura do snr. José Marques Loureiro, levantou o arruido de que eu andava com elle associndoem lu- cros e perdas. Em quanto essa nova me vinha de tão baixo, ria-me com desdém e votava-a ao des- preso ; hoje porem que me chega por amigos a quem devo bastante consideração, julgo necessário desva- necel-os d'essa illusão, não porque me envergonhe de ligar o meu nome ao do snr. Loureiro, em quem reconheço, alem de uma probidade a toda a prova, qualidades distinctas, e a um estabelecimento que considero como o primeiro da península, e que al- guém mais habilitado do que eu equipara aos da Bélgica e da França, mas porque a minha posição social me não consente auferir interesses pelo hon- roso mester de commcrciante. E julgo necessário, como disse, desvauecel-os d'essa illusão, para que se não persuadam que tenho levado mira interes- seira em alguns elogios feitos por mim á pessoa e ao estabelecimento a que me refiro. Em 1860 procurei pela primeira vez o estabe- ecimento do snr. Loureiro com o fim de comprar uma Araucária brasiliensis que me fura eucom- mendada de Lisboa. Nem ou conhecia o snr. Lou- reiro, nem elle me conhecia a mim ; conversamos largamente sobre os estabelecimentos de horticultu- ra (lo Porto, sympalhisamos um com o outro : des- cobri logo no sr. Loureiro franque/a, civilidade, cer- tas maneiras que o recominendavam, e pareceu-me que muito se extremava do geral dos seus collegas. Como dedicado amador de plantas abri as mi- nhas portas ao snr. Loureiro, e travamos estreita amisade, e longas tardes e noutcs gastamos em nos instruirmos mutuamente nos segredos da horticul- tura. Era então o seu estabelecimento bem sortido, mas de plantas vulgares. Por essa forma não podia competir com os seus collegas, que se sortiam todos osannoscom plantas importadas do estrangeiro. Estimulci-o a fazer o mesmo, e a apresentar-se por forma distincta na Exposição Internacional, que se annunciava para 1865. O amor da gloria era um fo- go ([ue já crepitava abafado no recôndito do seu coração: eu não fiz mais do que soprar-llie para que a chamnia se elevasse aos ares. O snr. Loureiro empregou todos os meios ao seu alcance, fez mesmo grandes sacrificios para con- seguir bellissimas collecções de planias exóticas, e teve a fortuna de se apresentar tão distinctamen- te na exposição, que supplanlou todos os seus rivaes; ganhou por essa occasião a medalha de honra, que a poucos fora concedida, e duas medalhas de prata; d'aqui data o seu nome, a sua elevação, e a prima- zia que tomou sobre lodos os estabelecimentos do Porto. Limitadíssimos serviços que por essa occasião lhe prestei, só com o desejo de ver dignamente repre- sentada a nossa horticultura em exposição que attra- hia conterrâneos e estrangeiros, foram maleticamen- te interpretados pelos seus collegas, attribuindo-nos uma sociedade, que só existiu nas suas cabeças des- norteadas pelos triumphos do seu rival. Eis aqui, pois, a origem d'essa voz mentirosa : e tenho por certo que bastará só esta declaração pa- ra repor as cousas no seu verdadeiro estado — o snr. Marques Loureiro, o primeiro horticultor do paiz, é o único proprietário do estabelecimento de horticultura da Quinta das Virtudes, e o auctor d'esta carta nada mais do que seu amigo. De V. otc CAMILI.O AURELIANO DA SILVA E SOUSA. Porto e Quinta do Pinheiro 20 de agosto de 1871. Egual declaração fazemos pelo que nos respeita^ assim como aproveitamos es- te ensejo para dar a saber aos leitores que o snr. José Marques Loureiro, proprietá- rio d'este jornal, nenhuma influencia exer- ce sobre o que escrevemos. Achamos esta exposição necessária para pôr o nosso ami- go a cobro de qualquer supposição mal fundada. Temos por sagrado dever ap- plaudir e censurar e como alguma vez podemos ferir algum espirito meticuloso, não queremos de modo algum que o snr. Marques Loureiro se considere cúmplice pelo mero facto de ser o proprietário do «Jornal de Horticultura Pratica». — Não ha muito que noticiamos a pró- xima publicação de um interessante quão útil livro intitulado «Almanach de Agri- cultura, Veterinária e Medicina domes- tica para 1872», e agora temos a accusar a recepção de um exemplar com que fo- mos brindados pelos seus auctores, os snr. J. P. Almeida Brandão e D. J. Sal- gado; a quem agradecemos a deferência do offereci mento. Esta obrasinha, tão modesta no titulo, é dividida em três partes: a 1.^ tracta de agricultura, a 2.^ de veterinária e a 3.* de medicina domestica. Todos estes as- sumptos toem connexão com a vida rural e portanto a publicação dos snrs. Almeida e Salgado encontrará bom logar nas bi- bliothccas dos nossos agricultores, que tanta falta têem d'este género de leitura. No principio do livro encontra-se um «Memorial» dos trabalhos a que o agri- JORNAL DE HORTICUT.TURA PRÁTICA 189 cultor e mesmo o horticultor deverá pro- ceder em cada mez, clara e concisamente indicados. Desejamos que este «Almanach» veja o segundo anno da sua publicidade. — Publicamos no numero anterior duas cartas e algumas considerações sobre o es- tado dos jardins públicos do Porto; hoje passaremos rapidamente a vista sobre al- guns outros do paiz. A carta que em seguida se vae ler, e que nos foi enviada pelo proprietário d'es- te jornal, é imia apreciação passageira, mas interessante, do passeio publico bra- carense. Snr. Oliveira Júnior — . . . Na pequena digres- são que fiz a Braga, tive occasião dever o Jardim publico de aquella cidade e folgo dizer-llie que o seu aspecto geral é dos mais agradáveis. O que sobieraodo me prendeu a attenção foi um magnifico exemplar do Ulmus pêndula, gra- ciosa arvore de ramos pendentes, que de per si só formava uma bella casa de fresco. iNão menos im- portante é o Fiaxinus excehior pêndula, que lá se encontra produzindo o mesmo effeito. Os Salix Babijlonica (Cliorõesj, que se encon- trara nas entradas do Jardim são de uma belleza extraordinária. A collocação do Chalet sobre uma rocha artifi- cial no meio do lago patenteou-me o bom gosto que presidiu áquella obra; pena é, porem, que o lago não tenha maior largura para de cima do Chalet se poder disfiuctar a agua. Também é para lamentar que por entre as fen- das das pedras do lago e rocha artificial se não col- locassem plantas próprias, taes como Feios, Cijpe- rus, Colucasias e outras, o que de certo tornaria aquelle recinto muito mais pittoresco. iNotamos também que os canteiros estavam muito pobres de arbustos pequenos, taes como: Pe- laifioniiuu zonnle e Gdier, Fnc/isia, Az-alea, Rlio- dode.ndron, Dahlia, etc, plantas que tanto contri- buem para fazer realçar a belleza de qualquer jar- dim. Repito, o aspecto geral era muito bom, e com algumas pequenas modificações pode tornar-se um excellente passeio. DeV. amigo, etc. J. Marques Loureiro. Como o leitor acaba de ler, o jardim da velha Brachara augusta, comquanto seja de pequenas dimensões, contém algumas bellas arvores em que o passeante repousa suavemente a vista e é de esperar que pouco e pouco vão augmentando os seus encantos, se houver discernimento na di- recção a que for confiado. Braga, pelas suas condições climatológicas, poder-se- hia tornar uma espécie de jardim de acli- mação e effectivaraente já alli se encon- tram alguns amadores e amadoras distin- ctas, que se dedicara zelosamente a este trabalho. Tinhamos escripto estas linhas, quan- do deparamos na «Atalaia do Minho» com uma noticia, que nos deixou em verdade contristados. Transcrevel-a-hemos n'esta Chronica, juntando os nossos votos aos do nosso bem conceituado collega da cida- de metropolitana. Eis a noticia : Causa dó ver o estado de abandono em que se acha o Jardim publico. Em lodos os annos, na es- tação calmosa, se regavam os arbustos e flores. Agora tudo está secco, e nem uma gota de agua para as refrescar e dar-lhes viço. No fim da tarde costumava-se borrifar a rua central, onde costuma haver maior concorrência. N'este anno, abafii-se com poeira e sabe-sedo pas- seio com as fauces cheias de pó e com o fato estra- gado. Parece que a illni.^ camará capricha em aban- donar aquelle passeio. Pedimos providencias. Todos lamentam e todos se queixam de tanto abandono por um local tão apreciável e que tanto tem custado ao município. Depois de Braga vera a propósito Gui- marães, que apesar de ser uma cidade im- portante do reino, berço da nossa monar- chia, ainda não possue um palmo de ter- reno ajardinado. Appellamos para o seu município, e é de esperar que dê com brevidade um passo na senda da civilisa- ção e do progresso. Os Jardins públicos de Lisboa estão bem tractados, para o que concorre muito o haver alli um director intelligente e perspicaz, que sabe tirar bom partido dos terrenos que lhe são confiados. É de no- tar que o cavalheiro, a cujo cargo está aquelle pelouro, é apaixonadissimo por plantas, e, segundo nos aífirmam, é pelo seu valioso auxilio que a cultura dos jar- dins em Lisboa está sendo esmerada. Cora isto não queremos dizer que os Jardins da capital estejam á altura do seu nome, pois ainda faltará muito para que debaixo d''es- te ponto de vista se considere a par das cidades com que no estrangeiro se pode comparar. Disseram-nos que a camará municipal da nossa metrópole tenciona mandar ajar- dinar o largo das Amoreiras. Se assim é, de aqui lhe enviamos os nossos applausos. Ha muito tempo que não visitamos Aveiro, mas a ultima vez que lá estive- 190 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA mos achamos o passeio publico bera tra- ctado. Se se realisasse o plano primitiva- mente traçado, ficaria sendo o jardim de Santo António um magnifico recreio para os aveirenses. O de Villa Real está bem collocado, mas, se bem nos lembramos, notamos-lhe falta de arvoredo. Algumas Acácias deal- bata e Bétulas alba, etc, produziriam bom effeito e tirariam o monótono verde escuro a que os olhos andam habituados. — De Inglaterra, acabam de nos an- nunciar a morte do illustre botânico Char- les Lemaire, que tanto fez brilhar a sua penna no «Jardiu Fleuriste», no «Hor- ticulteur Uni versei», na «Flore des Serres et des Jardins de TEurope» de Mr. Van Houtte e ultimamente como redactor da alllustratiou Horticole», obra bem conhe- cida entre nós e que desde 1870 se acha confiada ao erudito Mr. Ed. André. Alem das obras designadas;, ainda falta enume- rar grande numero de materiaes que ti- nha colhido para a publicação de uma monographia systematica das Cactaceas. Mr. Charles Antoine Lemaire falleceu em Pariz no dia 22 de julho e tinha nas- cido n'aquella mesma capital em 1801. Contava pois 70 annos. Infelizmente, 40 annos que dedicou aos estudos botânicos não lhe trouxeram fortuna. Sentimos deveras a sua morte. — Recommendamos aos nossos leito- res a seguinte emenda, que ultimamente nos enviou o snr. Adolpho Frederico Mol- ler em correcção a algumas inexactidões do seu artigo Querciis jjedunculata, inser- to no penúltimo numero do nosso jornal, pag. 142. A pag. 143 linha 8, deve-se lêr : Qiiercus lusi- tanica Lani., arvore de primeira grandeza; emuilo vulgar no Alenitejo e Extremadura. Em seguida, isto é, entre Q. lusitanica e Q. bolota, falia mencionar uma espécie, a qual é : Q. i/cx Linn., arvore de mediano porte, muito vulgar no Alemtcjo, Algarve e na Beira no distiicto de Castello IJranco. Depois do a. occidenlalis falta mencionar uma outra espécie, que é Q. rotundi folia Lam., arvore. Habita o Alemtejo. — Annuncia-se a publicação de uma obra importantissima, «O Livro do lavra- dor», que ó dedicado aos agricultores de Portugal, do Brazil e das colónias, se- gundo diz o respectivo annuncio. Os au- ctores d'ésta obra são os snrs. João de Andrade Corvo, professor de botânica e agricultura, e António Augusto de Aguiar, professor de chimica. Quando se acham no frontespicio de uma obra nomes tão abali- sados, é inútil recommendal-a, resta-nos porem accrescentar que o seu custo é ex- tremamente módico. Que prosperas auras bafejem pois a nova publicação! Este éo nosso desejo. Assigna-se, no Porto, na casa More e consta-nos que já conta ura avultado nu- mero de subscriptores. — Pelo nosso amigo, o snr. António Batalha Reis, acabamos de ser brindado com um exemplar de seu interessante quanto útil opúsculo intitulado «Enxofre e Vinho», e cuja offerta muito agradece- mos. N'esta publicação descreve o auctor minuciosamente as differentes maneiras como deve ser applicado o seu sulphura- dcr — o Theionoxyphero — para o qual ob- teve privilegio em Portugal, Hespanha, França e Inglaterra. O appareci mento d'este apparelho veio prestar valiosíssimos serviços aos vinha- teiros e ainda maiores aos negociantes de vinho. Chamamos a attenção dos leitores para o opúsculo do snr. Batalha Reis, pois da sua leitura colherão precioso fructo. O Theionoxyphero é construído de três tamanhos diversos: o n.° 1, que é o mais pequeno, serve para barris e vasi- lhas até 40 almudes (680 litros) ; o n.° 2, que é o médio, accommoda-se facilmente a vasilhas de qualquer grandeza, e o n.° 3 destina-se ás vasilhas de grande lotação. O preço do n." 2, que é o mais usado, é de 3?5000 reis. Todos os esclarecimentos, que se dese- jarem obter com relação aos novos appa- relhos poderão ser solicitados do seu in- ventor, rua de S. José, Õ7, Lisboa. A respeito do vantajoso apparelho in- ventado pelo snr. Batalha Reis já demos mais copiosa noticia no vol. II, pag. 31. — Dedicamos as linhas antecedentes ao interessante opúsculo do snr. Batalha Reis e seja-nos permittido agora fallar da prelecção que o mesmo snr. fez n'uma das salas do edificio da Bolsa, no dia 7 de JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 101 setembro, perante um numeroso auditório, formado de negociantes e de outros res- peitáveis cavalheiros. Principiou a conferencia ao meio dia e terminou ás duas horas. Antes de en- trar mais detidamente no assumpto prin- cipiai, o illustre prelector fez a apologia d'esse precioso licor, conhecido em todos os mercados do mundo peio nome de «Vi- nho do Porto», condemnando ao mesmo tempo, e com justificado motivo, a mania que tem a maior parte dos vinicultores que nào são do Douro, de preparar os seus vinhos pelo typo dos d'esta afamada re- gião. Por mais de um motivo é cora effeito ridícula e prejudicial esta contrafacção. Não são os vinhos do Porto os^ únicos apreciados em todas as mezas. E neces- sário satisfazer todos os paladares e o nosso paiz oíferece felizmente uma escala admirável de vinhos, que podem compe- tir com os mais acreditados nas mezas, e nos mercados estrangeiros. E preciso não destruirmos esta riqueza, reduzindo a um único typo tão apreciáveis variedades. E depois a vantagem de querer egualar os vinhos do Porto é improfícua ; dá um re- sultado negativo. Os verdadeiros vinhos do Porto soífrem no seu credito com esta contrafacção. Os nossos lavradores devem reconhecer, que cada solo tem suas pro- priedades especiaes, e o solo do Douro, mais que nenhum outro, foi exuberante- mente contemplado pela natureza. O mais conveniente seria que apurassem as di- versas castas, empregando os mais ap- plaudidos processos. Quando é que no nosso paiz se reconhecerão estas verda- des ? Entrando em seguida na explicação do seu apparclho, o Theionoxyphero^ o snr. Batalha Reis discorreu sobre a utili- dade que havia em applicar o acido sul- phuroso á conservação dos vinnos. De dous modos actua este gaz no vinho e nas vasilhas ; primeiramente roubando o oxi- geneo ao fermento e aos bolores e tornan- do-os inertes ; em segundo logar formando compostos enérgicos, que atacam os pe- quenos organismos até os destruírem e que impedem depois, ainda pela sua pre- sença a reorganisação de todos os ger- mens de fermentos. A concorrência, pois, desta dupla ac- ção nas vasilhas e no vinho dá os melho- res resultados para a conservação de am- bas as cousas. O snr. Batalha Reis, ao mesmo tempo que apresentava os phenomenos, dava a sua demonstração pratica por meio de ex- periências curiosas. Entre os instrumentos de que se ser- viu para indicação dos processos a seguir na enxofração dos vinhos, o mesmo senhor apresentou um apparelho de sua invenção, bastante engenhoso a ao mesmo tempo simples^ a que deu o nome de tubo injectar aspirante^ que tem por fim obviar ás dif- ferentes difíiculdades que repetidas vezes se dão ao introduzir os dous tubos na gar- galheira da vasilha, quando se enxofra. O snr. Batalha Reis fez bem em es- colher esta cidade para ponto de partida das suas prelecções. O Porto é o primeiro empório do nosso commercio de vinhos e muito deve lucraro commercio com avul- garísação do instrumento, cujas vantagens o mesmo senhor demonstrou. Vem esíeillustrado cavalheiro encarre- gado pelo governo de percorrer as provín- cias do Douro e Minho, fazendo prelecções nos pontos ipais importantes pelo fabrico dos vinhos. E uma laboriosa^ mas útil mis- são. O snr. Batalha Reis deve sentir na con- sciência o quanto são valiosas as provas de sympathia, que o seu talento tem sabido colher. E o premio merecido de quem se dedica com fervor ao estudo do que pode ser utíl á sua pátria. Dando os nossos parabéns ao intelli- gente agrónomo, julgamos ter cumprido com o nosso dever. — Do snr. José Marques Loureiro re- cebemos alguns exemplares do seu «Ca- talogo especial das Arvores fructiferas e Plantas de estufa», O estabelecimento do snr. Loureiro, sem duvida o pj-imeiro da península, tem actualmente em cultura para cima de 280 variedades de Pereiras; 90 de Macieiras, 60 de Videiras, 50 de Morangueiros, etc, etc. Bom é que o seu proprietário se en- tregue seriamente ao cultivo de plantas fructiferas, porque no nosso paiz é o que mais proventos lhe dará. O snr. Loureiro 192 JORNAL DE HOP.TICri.T(THA PRATICA parece que já comprehonriou isto e pela inspecção d'esto seu ultirao catalogo se verá que diminuiu consideravelmente os seus preços. Duvidamos que exista outio qualquer estabelecimento que actualmente lhe dispute primazias n'este gonero de plantas, attendendo a que o snr. Loureiro possue vastos terrenos destinados exclusi- vamente para viveiros de arvores íVucti- feras. Este catalogo é enviado gratuitamen- te a todas as pessoas que o requisitarem. — Recebemos egualmente uma aListe d'ognons à fleurs, bulbes et tubercules ainsi queGrarainéessèches pourbouquets» de MM. Ch. Huber & C.'% horticultores em Hyòres (Var), França. Os preços sào muito reduzidos. — Publicamos em seguida a tabeliã compnrativa da exportação de vinho feita pola barra do Porto, nos primeiros seis mezes de 1870 e 1871 : pipas 1R70 1871 Janeiro 1780 pipas .lariftiro 2311 Feveieirc 3386 » Fevcieii"0 3854 Março 40;;7 u Março 4506 AInil 42.'.1 1) Aljiil 4810 Waio 33(i9 » Maio Ó0!)1 Jiinlio 3477 u Junlio 4348 )) Total.... . 20:300 )) Total . 22:950 Oxalá que em todos os quadros da nossa exportação, os algarismos íáliassem tào eloquentemente como n'este. — Sobre o estado das Wellingtonias giganteas, na raatta de Valle de Cannas, em Coimbra, escreve-nos um dos collabo- radores d 'este jornal : Presado amigo c colloga. — No numero 12 do vol. 1 d'e>te jornal (pag. 194) fallci-lhe de seis Welliiíglonias (/lijunleas. que se acham plantadas na malta de Valle de Cannas, pertencente á fazenda nacional. Esta malta liça distante d'esta cidade iiouco mais ou menos 5 kilometros. Hoje volto a lallar-lhe d'ellas, visto por varias vezes algumas pessoas terem-se occupado da cultura d'estas arvo- res n'esle jornal e quasi .semp e queix-indo-se do mau desenvolvimento que apresenlauí no nosso paiz. Eslas plantas lòein tido este anno um cresci- mcnlo muitii regular e apresentam um aspecto nuiitit salisfactorio. Se assim continuarem, em pou- cos annos cslariío arvores dignas de serem admira- das pelos amadores. Se pur ventura alguns dos leitores duvidarem do que dizemos, quando alguma vez vierem a Coim- bia e as desejarem ver, de bom grado nos prom- ptiticamos pa a acompanlial-os n uma visita à- (luella malta a Hm de se certificarem da verdade do que tenms avançado. Continuaremos a lomar nota do de envolvimento d'estas arvores, e por esta via, communicaremos tudo o que lhes possa inte- ressar tanto em ahono como em desahono d"ellas. Sou etc. Coimbra — Matta do Choupal, Adolpho Fre- derico MoUcr. — O dr. Crace Calvcrt assevera que para preservar o ferro da ferrugem é bas- tante emcrgil-o por alguns minutos n'uma solução de carbonato de potassa ou de soda. Assim o ferro poder-se-ha conser- var intacto por muitos annos, ainda sob a influencia d ; uma atmosphera húmida. Este processo, que é siinpiicissimo, de- veria ser applicado ao ferro que se em- prega nas construcções de estufas e outros objectos de jardinagem. — Círaquanto seja já tarde, quando est.is linhas chagarem aos olhos dos lei- tores, para indicarmos o melhor processo de conservação d;is ameixas, não nos absteremos de o api'esentar. «O que se não íaz no dia de Santa Luzia, faz-se no outro dia» — diz o velho rifào portuguez. Eil-o tal qual nol-o indica Mr. Car- rièic: cortam-se os ramos antes da com- pleta maduração dos fructos e suspen- dem-se n\un recinto secco, quer das tra- ves, quer em cordas ; em sumnia, como se faz ás uvas. N'estns condições enge- Iham-se ura pouco, mas adquirem certas ([ualidades e conscrvam-se muito tempo, mais ou menos segundo as variedades. As pessoas que quizerem ter nas suas mezas o nec pias ultra d 'este appetitoso fructo, dispondo de alguma paciência, po- derão servir-se de outro meio. Colloquem- se as ameixas em saquinhos de fazenda mui transparente e espere-se d^ciste modo (jue attinjam o ultimo grau de madureza, isto é : que flíjuem passadas. As ameixas assim tractadas adquirirão uma doçura, ura perfume e ura gosto agradabilissimos. Os que ensaiarem os dous processos nos dirão qual é o mais vantajoso. Em todo o caso, o segundo é o que exige mais esmero e trabalho. Se o leitor é um pro- selyto de Luculo não se esquivará de certo a estes sacrifícios ! Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 193 STEKOGARPUS GUININGHAMII hook. As Proteaceasj pela diversidade de formas que apresentam e até pela sua rus- ticidade, são mais dignas de interesse na sua cultura e merecem mais attençao da parte dos amadores do que muitas outras plantas que lhes são preferidas. D'entre as numerosas espécies que constituem esta vasta familia, o Stenocar- pus Cunninghamii Hook., é sem duvida uma das mais bellas que se pode cultivar, em rasão da forma estravagente das suas flores. Vimos o anno passado no estabeleci- mento do proprietário d'este jornal um exemplar forte, já com algumas flores, e com eíFeito são de uma elegância surpre- hendente. Em quanto novas, pareciam pe- quenas mãos de creança e mais tarde, quando desenvolvidas, assimilhavam-se a um candelabro de 12 a 15 braços. CALBEmV Fig. 58 — Stenocarpus Cunninghamii O Stenocarpus Cunninghamii, desco- berto em 1828 nas margens do rio Bris- bam, na bahia de Moreton, pelo celebre naturalista Allan Cunningham, é um ar- busto de 5 a 6 metros de altura cujo as- pecto faz lembrar um Carvalho de gran- des folhas, sempre verdes, e Insidias. Estas, muito variáveis na sua forma são alternas, obovaes lanceoladas, obtu- sas, pecioladas, inteiras ou sinuadas, lo- badas e pinnatifidas, de O^^jSO a O™, 60 de comprimento. As flores foptnara umbel- las compostas, de um bellissimo vermelho de coral. Estas umbellas, que nascem lateral- 1871 — Vol. II. mente sobre os velhos ramos, consistem em cinco raios quatro dos quaes são ver- ticilados, horisontaes em relação ao eixo, e o quinto central e vertical, cylindrico, com a extremidade curva para a base, di- latando-se a parte mais superior em um disco chato e anguloso, dos bordos do qual sahem treze ou quatorze raios par- ciaes, dispostos como os raios de uma ro- da e com a mais perfeita regularidade. Cada um d'estes raios parciaes, curvan- do-se um pouco para cima, sustenta uma só flor tomentosa. O perianthio antes de desabrochar é cla- N." 11 — Novembro. 194 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA viforrae, de uma cor escura ou de um ver- de dourado, e a parte exterior e inferior do vértice é de um amarello esverdeado. O modo de desabrochar das cinco sepalas claviformes é muito curioso e realça sobre modo a belleza da flor, quando se paten- teiam todas ao mesmo tempo. O fructo é uma capsula follicular quasi cylindrica, de cor escura, abrindo-se longitudinalmente por um dos lados. A cultura d'esta planta nada tem de particular. Uma terra de urze e regas fre- quentes durante o verão, eis o que mais lhe convém. O Stenocarpus Cunninghamii (fig. 58) que só pela bella folhagem, sempre verde, graciosamente laciniada, é já um dos mais bellos arbustos ornamentaes, torna-se pela sua magnifica inflorescencia que lhe vem realçar os attractivos, um ornamento obri- gado, que nenhum amador decerto dei- xará de possuir no seu jardim. J. Casimiro Barbosa. DAHLIAS: SUA CULTURA E PROPAGAÇÃO As DaJilias são o mais bello ornamen- to que se pode dar a um jardim. Pondo de parte o cheiro, a natureza dispensou-lhcs prodigamente todos os ou- tros dons ; belleza de porte, grandes e abundantes flores brancas, amarellas, ró- seas, purpúreas, quasi pretas, passando de estas a outras cores em transições insensí- veis ; das mais delicadas ás mais carrega- das, umas vezes lisas, outras avelludadas ou assetinadas. As pétalas, umas vezes mais ou me- nos canaliculadas, são dispostas com uma regularidade admirável, mathematica por assim dizer. D'este modo vemos procurar com gran- de enthusiasmo as melhores variedades, e dedicar-se-lhes no jardim o melhor logar e a melhor exposição. Em resultado de repetidas e bem fei- tas sementeiras tem -se obtido uma grande quantidade d'estas bellas flores ; ha horti- cultores que só cultivam esta especialida- de, e os seus catalagos todos os annos voem cheios de novidades esplendidas de porte e colorido. Hoje ha amadores que colleccionam de preferencia as variedades anãs e effecti- vamente toem rasão na preferencia ; n'esta secção ha exemplares admiráveis, sober- bos. Descobertas no seu estado de sim- plicidade perfeita no México, e descriptas pela primeira vez em 1791 pelo botâni- co hespanhol Cavanilles, vemos na sua his- toria que íbram sempre flores predilectas dos bons amadores. Nós, pela nossa parte, admirador exal- tado d'e8tas soberbas flores, intentamos hoje dar algumas breves indicações sobre a sua cultura e multiplicação ; estimare- mos que d'ellas se aproveitem os leitores: é esse o nosso desejo, e o fim com que escrevemos estas linhas. A Dahlia oíFerece quatro meios de reproducção facílima ; todos quatro de fácil execução ; por sementeira, por a divisão dos pés, por estacas e por meio do enxer- to. Vamos principiar por onde devemos: Por sementeira Este modo de multiplicação é pouco usado entre os amadores ; esta operação ó mais própria dos horticultores, que têem necessidade de obter novidades para apre- sentarem á venda. Principiam-se as se- menteiras em março ou abril, em terrinas ou grandes vasos cheios de terra substan- cial. Quando a nova planta mostra a sua quarta ou quinta folha, planta-se separa- damente em vasos pequenos ou n'um ta- boleiro. Só no correr do maio é que se podem collocar as primeiras sementeiras definitivamente no logar em que devem florescer, á distancia de 6 a 7 centímetros umas das outras. Costumam florir no mesmo anno, e podem ser aproveitados os sítios mais oc- cultos do jardim para serem plantadas e ahi darem flor. Durante o tempo que estas estão abertas, é que se deve fazer a es- colha das melhores variedades. Uma Da- hlia de primeira ordem deve ter pelo me- nos de 14 a* 20 ordens de semi-Jiorões sy- metrícamente dispostos, imbricados, arre- dondados, globolosos, emíim perfeitamen- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 195 te dispostos; a flor deve ser sustentada por um pedúnculo direito, comp ido, ser bem saliente, destacando-se da planta e elevando-se pouco acima da folhagem. A | dimensão da flor deve também ser propor- cional ao tamanho da planta. Não queremos dizer com isto que se rejeitem os outros eeemplares que não apresentarem todas estas condições ; po- rem pelo menos devemos exgir da planta uma ou algumas. Por divisão dos pés Este meio é o mais commodo e mais seguro para uma boa multiplicação, e não exige quasi nenhum cuidado. Consiste unicamente em dividir os tubérculos de modo que levem comsigo ura olho. Quem possuir uma simples estu- fa temperada, ou mesmo uma caixa de reproducções, pode fazer esta operação com muita segurança, demorando por al- gum tempo os tubérculos por dividir na estufa ; por eíFeito do calor os novos olhos desenvolvem-se muito depressa, e então a operação pode ser feita mais conscienciosa- mente. Cada tubérculo deverá levar uni- camente um olho, e, segundo o tempo em que se operar, metter-se-ha no chão ou em vaso. De qualquer modo que seja, não se deve deixar ficar ás plantas mais que uma haste; d'este modo ficam mais graciosas e as flores sahirão de cor mais brilhante e mais perfeitas. Devem ser plantadas desde maio até junho; e do mesmo modo se fará com as estacas e enxertos, de que vamos tractar. Por enxerto Nós não aconselhamos o enxerto das Dahlias, senão em ultimo caso, para as plantas raras e doentes, atacadas por in- sectos, etc, etc. A operação em si é muito simples. Toma-se um tubérculo de Dahlia do anno precedente (servem muito bem para este fim os tubérculos das variedades sin- gelas que apparecerem nas sementeiras, para o que é bom sempre conservar algu- mas.) , e corta-se ti-ansversalmente pelo meio ou quasi pelo meio, aproveitando unicamente a parte inferior. Com uma faca bem afiada fende-se a parte carnosa em forma de V, toma-se em seguida um braço ou haste da Dahlia que se quer multiplicar, e apara-se em forma de cunha, de modo que ajuste perfeita- mente no corte que se fez na raiz. Depois de introduzida com muita pre- caução, liga-se com qualquer fio que apo- dreça facilmente, ou melhor^ cobre-se cora uma camada de cera de enxertos (1). Preparado d'este modo o enxerto, plan- ta se n'um vaso em boa terra, havendo o cuidado de o cubrir com uma redoma, e abrigai o de modo que lhe não dê o sole esteja privado de ar. Ordinariamente em 15 dias ou três semanas o enxerto está pegado e em estado de ser plantado no seu logar. Por estacas Logo que as Dahlias entrara em ve- getação, e quando os novos rebetões têera adquirido o tamanho de 5 a 8 centímetros, cortar-se-hão da raiz e, podendo ser, com um bocado d'ella. Plantam-se n'um vaso dos chamados de «5 reis» e abrigam-se com outro ou com uma redoma ; a melhor terra para esta operação é a de Urzes mis- turada com bastante areia. Oito dias de- pois vê-se se já têem formado raizes, fa- zendo sahir do vaso o terrão inteiro e com cuidado, para que se não quebre ; verifi- cado que as têem, plantam-se n'outros maiores podendo então deixar-se ao ar li- vre, mas á sombra. Passado o tempo da florescência e no fira do mez de outubro ou novembro, n'um dia de sol, arrancam-se os pés das Dahlias, deixando-os sobre a terra durante todo esse dia para perderem alguma humidade. Depois guardara-se n'uma loja ou celeiro, visitando-as de tempos a tempos para olhar pela sua conservação. (1) Para aquelles dos nossos leitores, que não co- nhecerem esta cera, aqui lhes indicamos sua com- posição. Cera arnarella 360 grammas. Terebenthina 360 » Resina 160 » Cebo . too » Lançam-se todas estas matérias n'um vaso de barro vidrado, e fazem-se derreter a fogo brando, mexendo sempre com uma espátula para que tudo fique bem misturado. Depois de prompta retira-se do lume, podendo fazer-se uso d'ella logo que te- nha esfriado a ponto de se supportar nos dedos, e applica-se com um pincel. 196 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Como já dissemos, a plantação das Dahlias deve ter legar no fira de abril até moado de junho n'uma terra móbil e substancial, composta de terriço e terra do jardim. Abre-se uma cova de 30 a 35 centí- metros de circumferencia, que se torna a encher cora a citada terra, plantando n'ella a Dahlia. Quando a haste tem tomado o desenvolvimento de 8 a 10 centímetros, enterrar-se-ha ao pé d'ella uma estaca, á qual se amarrará durante a vegetação, e conforme fôr crescendo. Deve-se deixar uma só haste, cortando sempre os braços inferiores. A inflorescencia das DahliaSy princi- piando em junho ou julho, prolonga-se até aos primeiros gelos. A. J. DE Oliveira e Silva. CEREUS GRANDIFLORUS haw. Entre as plantas, que o bom gosto tem introduzido nos jardins, occupara os Cactos um logar distincto. Ha para isso razões bem fundadas. As imaginações mais exi- gentes encontram n'estas plantas as formas mais caprichosas e d'ellas lançam mão para formar óptimos ornamentos nos jar- dins, nas estufas e nas salas. A variedade das cores e formas das flores não são mo- tivos menos fortes da attenção que ellas têem raerecido. Sirva de exemplo o Cacto real; e que vistosa e elegante não é qual- quer das variedades do Epiphyllum trun- catum ! A cultura fácil recommenda-os ainda. No solo mais falto de humidade vegetam optimamente e mostram suas vistosas flo- res.É assim que, vivendo quasi exclusiva- mente do ar, podem servir para povoar os legares mais áridos. E possível formar cora elles grupos admiráveis, com um ar perfeitamente característico, que de mis- tura com alguns Atoes e Agaves e outras plantas carnosas podem ornar extrema- mente muitas partes de jardins, que com outras plantas não apresentariam aspecto tão agradável. D'entre as muitas espécies já hoje co- nhecidas entre nós, sobresahe notavel- mente, não pela forma da planta, mas pelo brilho e esplendor das flores, aquella a que se refere este pequeno artigo. Vegeta optimamente nas estufas de Coimbra. Creio porem que em logar abri- gado poderá viver ao ar livre. São seus ramos compridos e quasi ci- líndricos prendendo-se um pouco aos cor- pos visinhos como succede com algumas outras espécies, de modo que se podem quasi considerar como parasitas. A flor é grande, maior um pouco do que a do Cacto real, cuja forma imita. As pétalas longas e estreitas terminando em delicada ponta apresentam na maior parte a cor branca egual senão mais pura que a da neve ou do marfim. O centro é oc- cupado por farto feixe de longos estames egualmente brancos. As pétalas exterio- res, similhantes na forma ás interiores, são de uma bella cor de ouro. Não se imagina a bellesa d'esta flor. E de um mimo e de uma delicaceza tal, que bem merece o titulo de Rainha da noute, por que é conhecida. E digna de consideração ainda por ou- tro motivo. Quando toda a natureza des- cança, durante o silencio da noute, é que elle ostenta a sua bellesa, chamando a at- tenção dos amadores pelo aroma suave, que espalha a grande distancia. Mais bella que a violeta, mais mo- desta que ella, vive apenas o simples es- paço de uma noute. Os amadores de bellezas naturaes que a cultivem, porque a primeira flor que abrir era seus jardins, apesar do pouco terapo que dura, pagará com grande li- beralidade os trabalhos e cuidados cora ella empregados. Coimbra. JuLio A. Henriques. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 197 ENTOMOLOGIA HORTÍCOLA O Tendo já tractado dos principaes inse- ctos que atacam as arvores de folhas ca- ducas, e como não é nosso intento descre- ver era tào poucos artigos a entomologia completa, daremos agora algumas noções INSECTOS NOCIVOS ÁS ARVORES sobre os que atacam as de folhas persis- tentes. Da familia das Coníferas são raros os individues que não são accommettidos por alguns insectos damninhos. Por exemplo, Fig. 59 — Bostrichus typographus Fig. 60 — Bostrichus pinastri Fig. 61 — Rhynchsenus pineti Fig. 62 — Scolyptus piniperda Fig. 63 — Lucanus cervus (2) na ordem dos Hymenopteros, a Tenthredo campestris e a T". pini são duas moscas que se tornam bem notáveis pelo estrago que as suas larvas fazem nos nossos Pi- nheiros onde roem todas as agulhas ten- ras : na ordem dos Lepidopteros a Bom- hyxpini e a. B. monoca são também duas borboletas bastante perigosas, e deve ha- ver todo o cuidado em as perseguir para (1) Vide J. H. P. vol. II, pag. 180. não vermos as agulhas das nossas arvo- res roídas e defeituosas. Daremos agora mais desenvolvidas no- ticias sobre os que pertencera á ordem dos Goleopteros. Existem n'esta ordera entre outros os Bostrichus, os Rhynchcmus, e os Scolytus, todos bem terriveis e dignos de se lhes prestar muito cuidado na sua per- seguição, pois é tal a rapidez com que es- (2) Esta gravura fica substituindo a figura 51 que sahiu incorrecta. . RSD. 198 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA tes insectos se propagam que basta appa- recer um ou dous em qualquer pinheiral por muito extenso que seja, para em pouco tempo não existir uma única arvore sã. Infelizmente o meio conhecido atú ago- ra para a sua destruição é bera doloroso e não sabemos qual será maior desgosto, se vermos morrer um bonito Aheto ou um Pinheiro bem desenvolvido, se arrancal-o ou queimal-o para evitar maiores desas- tres ! E' geralmente nos Abetos que o Bos- trichus typographus Fab. (fig. 59), pro- duz os seus terríveis estragos ; a sua larva durante os mezes de abril e maio roe as camadas do liber, que começam a ama- rellecer na extremidade dos rebentos no- vos, que vão seccando em direcção ao caule. Para nos livrarmos d'este Coleoptero èmprega-se o meio já citado que é o que nos ensina Mr. Du Breuil. O mesmo au- etor nos diz que se devem poupar nas mattas de madeiras rezinosas algumas aves taes como o picanço, o melharuco, o ten- telhão, e outros com o fim único de di- minuírem estes insectos, pois os comem com avidez. Sempre é bom advertir que, como os Bostrichus escolhem as arvores doentes para depositar os ovos, ha vantagem em os arrancar depois d'elles depositados. O B. pinastri Bechet. (fig. 60), é da mesma espécie que o precedente; ataca de preferencia o Pinus silvestrisj e a sua larva faz n'esta arvore os mesmos eíFeitos que a do B. typographus nos Abetos, A figura Gl representa-nos o Rhynchcenus jnneti Fab., cuja larva se introduz na me- duUa dos rebentos dos Pinheiros, fazendo morrer todas as arvores onde penetra. Roe também o liber de grande parte dos Abe- tos causando os mesmos estragos que os que já enumeramos. O Scolytus pÍ7iiperda 01iv.(fig. 62) é também um dos Coleopteros, que se en- contram na casca das arvores rezinosas de quarenta annos em diante, nas quaes causa grandes estragos. Fura os rebentos dos Pinheiros e de- posita os ovos no canal medullar. Logo que as larvas nascem, roem a medulla da arvore, arruinando-a completamente. Emprega-se tanto para este insecto como para os precedentes o mesmo meio de destruição que empregamos para o Bos- trichus typograjjhus. Lisboa. A. M. L. Carvalho. (Continua.) QUATRO SUCCEDANEAS DOS AGRIÕES Como os nossos horticultores não cul- tivam os Agriões, costumando colhel-os nos sitios onde nascem espontaneamente^ acontece que muitas vezes faltam no mer- cado por causa da secca. Todavia com algum cuidado podemos supprir a falta d'esta excellente salada, substituindo-a por outras plantas que reú- nem as mesmas virtudes do Agrião era grau egual senão superior. A primeira que nos lembra é uma Cru- cifera annual, a Barbarea prcucox R. Br. (Erysimum pi-CBCOx Smith), conhecida vul- garmente pelo nome de Pé de vacca. O seu sabor é ainda mais forte do que o do Agrião, e as suas propriedades an- tiscorbuticas são muito elogiadas ; vive nos lugares um pouco húmidos e som- brios. A segunda 6 uma Ranunculacea indí- gena, muito abundante por todo o paiz, nas lagoas pouco profundas e nas encos- tas graníticas. Referimo-nos ao Ranuncu- lus hederaceus Linn. O seu sabor é mais leve do que o das espécies precedentes, e as suas folhas ra- dicaes comidas em salada são excellentes. Por ultimo temos ainda duas outras plantas que podem servir para o mesmo fim: SiMontia rividaris c Cardamine pra^ tensis. A primeira pertence á familia das Portidaceas ; o seu sabor é rauito leve. A segunda é uraa Crucifera indígena que cresce nos prados húmidos e sombrios. Todas estas plantas podem, na falta do Nasturtium ojjicinale, supprir os seus usos culinários, e não seria fora de propósito, olhando á facilidade da sua cultura, reser- var-lhes um canto das nossas hortas. A. J. DE Oliveira e Silva. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 199 PLATÍTACÃO {') III Ao septunce, que descrevi na parte II, chamei regular, por serem equiláteros os triângulos formados entre 3 arvores con- tiguas de aquella plantação, e por serem hexagonos regulares os que formam cada 6 arvores que circumdam uma central. Vem aqui muito a propósito notar um engano que escapou quanto ás gravuras. Era facilimo o equivoco entre duas gravuras muito parecidas, principalmente tendo eu empregado as mesmas letras do alpliabeto para designar pontos análogos em ambas. Sahiu na parte II a figura que é do n\Q\x septunce symetrico, quando devia sa- hir a do septimce regular. Como essa troca não dá prejuiso, prin- cipalmente esclarecendo-a aqui, parece-me melhor para não repetir aquella figura, dar n'Gsta III parte a que devia ter o seu logar na II (fig. 64). Desculpe o benigno leitor o erro e a emenda, e considere restituídas ao logar próprio, segundo bem se conhece por es- tas explicações que lhe acabo de dar, se- gundo era do meu impreterível dever. Fig. 64 — Septunce regular Nada mais digo por ora sobre esta fi- gura, .visto que tenho feita uma outra, em ponto maior, que também se refere ao se- ptunce de minha invenção, ao qual dou o nome de septunce symetricOf porque se compõe de hexagonos não regulares, mas symetricos. Necessito, porem, fazer previamente algumas considerações geométricas para se comprehender melhor o que direi refe- rindo-me á tal gravura grande, que da- rei. Preciso primeiro servir-me de uma fi- (1) Vide J. H. P., vol. II, pag. 137. Fig. 6o — Detalhes gura em detalhe de forma triangular. A E H, (fig. 65). ^ ^ N'este triangulo A E H, onde se vêem em grupo quatro dos pequenos triângulos de que se compõe o septunce, é a base A H egual á altura E D, sendo este o preceito indispensável para construir o meu novo septunce. Este triangulo é isosceles, porque sSo eguaes os dous lados A E, E H. Os pequenos triângulos A B D, D C H, B E C, e o invertido B D C, são eguaes entre si ; e são similhantes ao triangulo total A E H. Por incidente farei notar que a pre- 200 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA sente construcção (fig. 65) dá o modo gra- phico de dividir um triangulo em quatro partes eguaes, e por methodo similhante se pode dividir em 9, 16, 25, 36, 49, 64, ete., partes triangulares, similliantes ao triangulo total, e eguaes e similhantes en- tre si. Considerando unidos dous d'estes qua- tro triângulos, a reunião d'elles, visto nào serem equiláteros, pode formar umas ve- zes um rhombo, outras vezes um rliom- boide. Chama-se rhombo uma figura de qua- tro lados eguaes, tendo dous ângulos agu- dos e dous obtusos. Os ângulos oppostos sào eguaes. No rhomboide também são eguaes os ângulos oppostos, mas dos lados só são eguaes os parallelos. Na nossa gravura (fig. 65) ha um só rhombo B E C D, e dous rhomboides ABCDeBCHD. Como os dous triângulos de que se compõe este rhomboide são isosceles, se fizermos base um dos lados eguaes, a al- tura perpendicular a esse lado será diííe- rente da altura que é perpendicular ao lado desegual (que n'este caso é o lado menor). Est'outra altura é a linha Aa ou Cb e qualquer d'estas linhas é medida da lar- gura das ruas obliquas, que farei notar quando der a figura própria onde essas ruas se vêem. Entre outras vantagens do meu se- ptunce symetrico, uma das principaes é poder-se inscrever em um quadrado per- feito ; porque, sendo em todos os triângu- los d'este meu septunce a altura egual á base, se tiver tantas fileiras quantas forem as arvores, em cada fileira completa (uma sim, outra não, são incompletas as fileiras para resultar o desencontro) o total do se- ptunce dará um quadrado. (Vide fig. 43, pag. 137). Outra vantagem, que também se pode demonstrar, 6 que no septunce symetrico as ruas miúdas, análogas ás que descrevi na II parte, são menos estreitas do que no septunce regular. Esse aíiecta a forma quadrilonga, no caso de ter tantas arvores em cada fileira quantas forem as fileiras ; e se quizermos variar o numero d'e8tas até formar um qua- drado com triângulos equiláteros reuni- dos, nunca o obteremos perfeito ; porque são entre si incommensuraveis o lado com a altura no triangulo equilátero. E não pareça a alguém theoria ári da a que mais atraz expozemos sobre o modo graphico de subdividir ura grande triangulo em triângulos submultiplos simi- lhantes ; pois ao diante se verá que tem muito útil applicação este methodo ao tra- çar no terreno o meu septunce symetrico, porque na pratica é preferível, quando o terreno o permittir, começar por descre- ver um triangulo de altura egual á base, e cujos lados sejam múltiplo exacto das dimensões que tencionamos dar aos pe- quenos triângulos que se formam entre cada 3 arvores, 2 de uma fileira e 1 de outra desencontrada. Pode medir-se com maior exactidão um triangulo duplo ou triplo nas dimen- sões (e cuja área é 4 ou 9 vezes a dos triângulos pequenos), do que se mediria directamente um pequeno triangulo. Depois dividem-se em egual numero de partes os três lados, e ligando por tra- ços os pontos das divisões, como se vê na fig. 65, fica o triangulo total dividido em pequenos triângulos, cujo numero será o quadrado, ou segunda potencia do nume- ro de partes em que se dividiu cada um dos lados. Ora começando por traçar o triangulo grande, e havendo n'esse traçado algum pequeno erro, esse erro diminue quando se subdivide. O contrario aconteceria co- meçando por traçar os pequenos triângu- los, e prolongando depois os lados d'estes para continuar o septunce. Por muito pequena que fosse a inexa- ctidão na medição dos pequenos triângu- los, tornar-se-hia muito sensível ao fim de grande distancia. E visto não ser possível deixar de su- jeitar os seguintes pontos á symetria dos que primeiro se traçaram, é por essa ra- são que muito recommendo que se confira a medição antes de se começarem a en- terrar as plantas ou pelo menos que nos limitemos a plantar a valer na 1.* fileira; não a 2.", senão depois que estejam mar- cadas por balisas todas as restantes filas da plantação em septunce. Outra vantagem que não é possível demonstrar em prol do septunce symetri- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 201 CO, mas na qual espero concordarão mui- tos dos leitores, é em que o todo do meu septunce é mais agradável á vista do que o regular, formado de triângulos equiláte- ros, apesar de ser este ultimo o mais re- gular em seus elementos, assim como o meu o é no seu conjuncto, quando com elle se enche um espaço quadrado. O leitor comparará a tig. 64 do septun- ce regular com as duas que representam o septunce symetrico, tendo porem cui- dado de reparar na troca de logares, uma vez que se deu involuntariamente. A íig. 43 tinha sido expressamente destinada a facilitar a comparação ; e por isso lhe marquei com as mesmas letras os pontos homólogos. A figura maior do meu septunce sa- hirá com a subdivisão d'esta III parte e para então reservo os dados numéricos que muito úteis podem ser para calcular proporcionalmente a extensão decerta li- nha quando sabida a de uma outra das que existem, ou se figuram no septunce. Darei então o resto dos preceitos prá- ticos para a sua perfeita delineação e des- culpem os leitores a irregularidade com que se tem publicado este artigo. Ferreira do Alemtejo. António Lourenço Marques Ferreira. (Continua.) PiEONIA ARBÓREA A Pceonia arhorea é um dos mais bri- lhantes ornamentos dos jardins na estação da primavera. Originaria da China, foi descoberta nas montanhas de Ho-Nan, por um viajante chinez, no século XVI, 6 só no século XVII é que foi verdadei- ramente apreciada na China. Os chinezes e japonezes, cujo gosto pela horticultura está muito acima do que se julga por cá, dão a estas magnificas plantas o logar mais distincto dos seus jardins. Possuem grande numero de va- riedades de uma belleza rara, e pagam- nas muitas vezes por preços exorbitantes. A introducção desta bella planta na Europa não a'emonta a mais de 6õ annos. Colheu logo a homenagem dos verdadei- ros amadores ; mas infelizmente, entre nós, é limitadíssima a sua cultura; apenas é conhecida uma variedade, e essa mesma mui pouco cultivada, é a Atleta. Não vae distante a epocha em que, ainda nos paizes mais adiantados na hor- ticultura, todas as variedades da Pceonia arhorea eram de um colorido claro e de- licado, e lamentava-se o não poder aug- mentar-se o eífeito das collecçôes, mistu- rando-lhes flores de cor escura. O famoso viajante inglezMr. Fortune, que tantos serviços tem prestado á horti- cultura, foi o que desfez esta monotonia, importando da China muitas variedades de core» escuras ou mui vivas, totalmen- te novas para a Europa. As variedades deste género mais notáveis, e cuja intro- ducção lhe é devida, são as seguintes : Atropurpiíveaj de um bello carmezim es- curo, Culonel Malcolm^ roxo claro; Lord Macartney, vermelho assalmoado, quasi escarlate ; Osíris ^ castanho muito escuro com um tufo de estames amarellos; Pri- tle of Hong-Kong, purpura clara ; Purpú- rea, purpura brilhante ; Jewel of Chusan, bi'anca pura ; Zenohia, amarantho purpú- rea, assombrada ; Glohosa, flor enorme branca de neve, dobrada. Alem d'estas variedades oriundas da China, recomendaremos as duas seguintes nascidas na Europa ; Kaiser Leopold, flor mui grande, mui dobrada, branca pura; e sobre todas a Gloria Belgarum, obtida de semente na Bélgica por Mr. Goethals, amador de Gand. E' sem contradicta a maior e mais bella flor que se conhece d'este género. As pétalas transparentes e assetinadas, são de um efteito que arrebata. O proprietário d'este jornal mimoseou-nos com um bello exemplar em flor ; ficamos surprehendidos, e fizemos diante d'elle o que o celebre viajante Von Siebold fez, quando o seu obtentor o convidou para visitar o pé-mãe — tirei o chapeo, curvei- me diante d'ella, fazendo-lhe um cumpri- mento. Von Siebold proclamou-a sem rival. E' pouco diflScil a cultura da Pceonia 20^ JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA arbórea. Gosta de terra gorda, profunda, 1 movei, fresca, mas não excessivamente hú- mida, de exposição abrigada e um pouco ^ soalheira. Durante o inverno deve res- guardar-se da neve por meio de um ca- rapuço de palha. Collocada em vaso pequeno e estreito vegeta lentamente e sempre rachitica. Não havendo commodidade para a plantar no chào, é mister fornecer-lhe um grande vaso ou caixão largo e assaz profundo para que as suas longas raizes tuberosas possam estender-se sem difficuldade. N'es- te caso a terra mais conveniente ó uma mistura a que os francezes chamam ter- reau de couche — isto é: o estrume usado nas camas quentes cuja força está perdida pela acçào do tempo, e que pode bem sup- prir-se com o estrume de cavallo depois de empilhado por um anno, misturado comten-ade folhas e addicionando-lhe uma pouca de areia. Acontece muitas vezes quando se di- videm, e transplantam os pés fortes, que as plantas provindas d'esta divisão só dào flores imperfeitas e singelas, no primeiro anno ou mesmo no segundo, parecendo que a variedade degenerou completamente; mas isso é umaccidente passageiro que de- sapparece logo que os pés estejam bem enraizados, pois continuarão a produzir flores tão grandes e tão dobradas como as produzidas antes da operação. As flores da Pceonia solfrem excessi- vamente com a acção de um sol ardente, e por isso será conveniente que os ama- dores que possuírem collecções reunidas busquem os meios de as preservar d'este inimigo durante a florescência. Multiplicam-se as Pceonias arbóreas por diversas maneiras : 1.* Por meio da semente. A semen- teira da Poionia faz-se na primavera em alguidares cheios com terra de urze, em um sitio fresco e assombrado. Cobre-se pouco a semente, a qual só nascerá no anno seguinte. 2.* Por mergulhia golpeada. Este me- thodo de multiplicação é pouco usado em razão do muito tempo que exige o enrai- zamento. 3." Por esgaçamcnto, determinando-se O enraizamento pelo processo seguinte : no fim do outomno excava-se, em roda, na parte baixa dos pés plantados no chão, esgaçam-se os rebentues lateraes sem os destacar completamente, por forma que a fenda assim produzida tique aberta á si- milhança de um V ; deixam-se estes re- bentões adherentes ao pé-mãe, cercados como ella com boa terra constantemente fresca. A mergulhia feita por esta forma enraiza-se no outomno seguinte. 4.-'' Por divisão dos pés velhos que te- nham hastes numerosas, operada em agos- to ou setembro. E' conveniente observar que, havendo entre os novos pés obtidos pela divisão, alguns que não tenham rai- zes sufíicientes, devem ser plantados em vasos, e alli conservados até que as te- nham desenvolvido. ò.^ Por enxerto feito sobre tubérculos da Poionia ojjicinalis. Este systhema de multiplicação é o mais usado na França, Bélgica e Inglaterra. Opera-se da maneira seguinte : separam-se pedaços da raiz tu- berosa da Poionia ojjicinalis, pratica-se n'ella uma entalha á qual se adapta o garfo com toda a exactidão, devendo ope- rar-se de maneira que o garfo encha bem a entalha do cavallo ; feito isto, cobre-se a parte operada com a massa de enxertar, devendo preferir-se a massa fria. Liga-se tudo com tio de chumbo que tem a van- tagem de se adaptar a todas as sinuosi- dades da superfície das partes reunidas. Basta que o garfo tenha um único olho, mas é importante que seja forte e bem constituído. Terminada a operação, plan- ta-se o tubérculo enxertado em terra de coUoca-se o vaso sobre cama um urze. pouco quente e cobre-se com um estufim. E' forçoso evitar que o suor formado pela condensação do vapor no interior do estufim caeha sobre a extremidade do garfo, ou sobre a parte operada; no primeiro caso determinaria a podridão, causando manchas escuras, das quaes se seguiria immediatamente a desorganisação ; no se- gundo caso, obstaria á soldadura do en- xerto. Apenas os olhos começam a inchar, e cicatrizada a chaga, pode le vantar-se o estu- fim ; passado pouco tempo, transportam-se as plantas para uma estufa fria, onde se- rão conservadas durante o inverno, e na primavera próxima haverá cuidado em im- pedir que eilas brotem cedo. Finalmente, JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 203 apenas a vegetação começa a mostrar-se, ! collecção de 28 variedades de Pceonias plantam-se em um cofre cheio de terra de como indica no seu catalogo n.° 1, e cu- folhas, enterrando-se õ ou 6 centímetros jos preços são bem limitados com relação a parte enxertada. á belleza das plantas. O proprietário d'este jornal, o snr. José i Marques Loureiro, tem uma riquíssima 1 Camillo AurelianO. CONSEQUÊNCIAS DA DESARBORISACÃO Quanto não ó mais deplorável o estado das uiattas no nosso Portu- gal, aonde a disposição montanhosa do território, e aridez do clima as tornam muito mais necessárias ou antes indispensáveis, como meio não só de modilicar os ardores do sol, alimentar copiosas fontes e pu- rificar o ar viciado pela respiração dos animaes, senão também de li- xar e melhorar os terrenos soltos e fenladeirados. A. J. DE FIGUEIREDO E SILVA. Poucas palavras vamos dizer acerca de. um assumpto que se presta a grande des- envolvimento, e que prende com as mais vitaes questões económicas do paiz. Achamos conveniente para o nosso pro- pósito começar primeiro por um rápido es- boço da posição geographica de Portugal afim de que por este meio melhor se possa apreciar a necessidade urgente da arbori- sação do nosso paiz e o quanto elle se presta á cultura de mattas fertilissimas, que poderiam ser uma das principaes fon- tes da nossa riqueza publica. Infelizmente, quer o viajante percorra o littoral, quer as montanhas, não observa mais do que o deplorável panorama de uma terra pobrís- sima de arvoredo. Não nos deixará mentir o artigo que em seguida passamos a transcrever do curioso aAlmanach do Horticultor para 1872» do snr. Oliveira Júnior. «Para se fazer uma ideia do triste es- tado a que se acha reduzida a arboricul- tura em Portugal e do quanto se torna ne- cessário fazer para a elevar ao ponto que de necessidade merece, bastará espraiar a vista pelas seguintes cifras : Areaes incultos e medãos da costa ma- rítima do reino 72:000 hectares. Superfície das cumiadas incultas e das .charnecas : Província do Algarve : zona do littoral 15:000 hect.— dita do interior 294:000. Província do Alemtejo e parte da Ex- tremadura ao sul do Tejo: zona meridio- nal 718:000— dita central 516:000 -dita septentríonal 413:000. Província da Beira e parte da Estre- madura ao norte do Tejo: região Occiden- tal 240:000, dita central 780:000, dita se- ptentríonal 328:000. Província de Traz-os-Montes : zona oriental 195:000, dita central 240:000, dita Occidental 279:000. Província do Minho: zona meridional 89:000, dita septentríonal 135:000. Total— 4.314:000 hectares. Este numero é muito aproximadamente a metade da superíicie do reino, que, segundo os dados mais exactos, é de 8.962:531 hectares.» O nosso paiz está situado na parte mais Occidental do continente europeu, isto é, entre 46°58' e 42°7' de latitude nor- te e entre 8°46' e 11°51' de longitude orien- tal (meridiano de Pariz). Confina pelo nor- te e leste com o reino de Hespanha e pelo sul e oeste com o oceano Atlântico. O seu maior comprimento é desde o cabo de Santa Maria até Melgaço (574:382 metros) e a sua máxima largui-a é desde o cabo da Roca até Campo Maior (246:360 metros), o que, segundo os dados mais re- centes, dá 91:049 kílometros quadrados, O seu terreno em geral é muito mon- tanhoso e tem algumas serras elevadas en- tre as quaes as mais importantes são as do Gerez, do Marão, da Estrella, Monte- junto, Arrábida, deOssa e de Monchique, etc. O littoral, com poucas excepções, é for- mado por grande extensão de dunas. A natureza do terreno, segundo a opi- nião do snr. Carlos Ribeiro, é de origem ígnea, cambríanos, sílurianos, devonianos, carboníferos, peneanos, secundários e ter- ciários. 204 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Os rios raais importantes são : Minho, Lima, Tâmega, Douro, Vouga, Mondego, Tejo, Zêzere (aífluente d'este ultimo), iSado e Guadiana. Andam por uns trinta os portos mari- timos onde podem carregar embai*cações de mais ou menos lotação. O clima é um dos melhores da Europa ; pois nào se fazem sentir em geral nem os rigores do sol nem tào pouco os do írio, a nào ser n'alguns pontus mais elevados das montanhas onde a neve é perpetua. A devastação imprudente das iiossas florestas tem porem modificado em ditie- rentes pontos do nosso paiz a amenidade do clima, substituindo-a pela insalubrida- de, aridez e calor tropical. iSe os nossos homens de estado e ain- da os proprietários calculassem bem os in- convenientes que provêem ao paiz da des- truição das florestas, por certo que os pri- meiros já teriam tractado da arborisaçào dos terrenos incultos e da publicação de um código florestal para obstar a este van- dalismo e proteger e fomentar as novas cul- turas, e os segundos poupariam mais as poucas e desbaratadas mattas de que são possuidores, semeando e plantando as cla- reiras e arborisando os baldios. José Bonifácio de Andrade, diz na sua «Memoria sobre o plantio do novos bos- ques» : «Nação alguma é rica se o terreno onde mora anda a baldio e inculto.» Ouçamos o que diz também o snr. François Neufchateau na seguinte circu- lar: «Cidadãos administradores: não pen- saes, como eu, que se teria dado um gran- de passo para o bem, se se chegasse a ex- citar entre nós os cultivadores uma emu- lação salutar, que multiplicasse as planta- ções particulares? Não se tracta somente das plantações florestaes^ que exigem grande dispêndio e propriedades consideráveis : é á nação que compete dar o exemplo d'este género. Ella recompensaria sem duvida, de uma maneira digna de si, os grandes proprietários que 86 entregassem com bom êxito a este ramo da industria agricola; mas o que importa Bobre tudo, nas circurastancias actuaes, é a multiplicação das arvores de toda a na- tureza em todas as espécies de terreno, nas estradas, á margem dos rios, nos lo- gareâ pantanosos, nas areias, nas dunas, nas montanhas, nos valles, nos logares abertos, nos terrenos fechados, por toda a parte emtim onde a natureza parece cha- mar os mais bellos dos vegetaes.» Esta tendência para a devastação das florestas, já a herdamos dos nossos avós; po' s para salvar das mãos dos arboricidas os magestusos Cedros da matta do Bussaco foi preciso que o summo pontitíce Urbano Vlll expedisse em 28 de março de 1643 uma bulia; pela qual impunha a pena de excommunbào maior e ameaçava com os raios do Vaticano os que ousassem des- truil-os. Este documento curioso ainda hoje se pode vêr esculpido em uma lapide á en- trada principal de aquella frondosa mat- ta. A necessidade urgente de arborisar o nosso littoral, as encostas das montanhas e as charnecas é por todos reconhecida, mas desgraçadamente ninguém se oceupa com verdadeiro atinco em realisar tão im- portante melhoramento, do qual haviam de resultar para o nosso paiz as mais pro- fícuas vantagens hygienicas e económicas. Vem aqui a propósito algumas palavras do snr. A. J. de i^^igueiredo e íáilva: «Que brilhante, que gloriosa carreira se não es- tava aqui oflerecendo a um ministro que tivesse a ambição de ligar á posteridade um nome egual ao de um Sully ou de um Pombal, — a um príncipe que quizesse ser contado a par de um D. Diniz. . .» Ha muito que se falia na organisação de uma companhia pai'a aproveitamento dos terrenos incultos, que abrangem pouco mais ou menos três quartas partes do nosso paiz, a qual, segundo nos dizem, tem en- contrado alguns obstáculos. O snr. vis- conde de Chancelleiros, emquanto minis- tro das obras publicas, prometteu aos seus fundadores fazer todo o possível dentro dos limites da sua alçada para remover todas as difíiculdades que tem impedido a constituição d'esta companhia que já tem os seus estatutos approvados ; mas in- felizmente quando trabalhava para esse hm, deixou de fazer parte do governo. Aproveitamos a occasião para darmos um voto de louvor aos cavalheiros que tive- ram a feliz lembrança de instituir no paiz a mais útil de todas as emprezas que pode JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 205 possuir; os seus nomes ficarão immorta- lisados na nossa historia. Esta companhia intitula-se «Credito e progresso agricola de Portugal». Não te- mos conhecimento dos seus estatutos, por isso não sabemos se ella se occupará uni- camente em transformar os baldios sus- ceptiveis de se tornarem em terrenos agri- colas ou se também tencionará emprehen- der, n'aquelles em que a sciencia não achar adequados para esse fim, a cultura flores- tal. Oxalá que sim, pois d'este modo du- plicará os benefícios em favor do paiz. Para os leitores poderem apreciar bem as tristes consequências que podem resul- tar da destruição das florestas e necessida- de de arborisar o littoral e as montanhas, transcrevemos alguns trechos de aucto- res que se têem occupado d'este assum- pto: José Bonifácio de Andrade e Silva, na sua memoria sobre a «Necessidade e utilidade do plantio de novos bosques em Portugal», diz: «Todos os que conhecera por estudo a grande influencia dos bosques e arvoredos na economia geral da natureza, sabem que os paizes que perderam as suas mattas estão quasi de todo estéreis, e sem gente. Assim succedeu á Syria, Phenicia, Pa- lestina, Chypre, e outras terras e vae suc- cedendo ao nosso Portugal. Areaes im- mensos, paues e brejos cobrem a sua su- perfície. Que lastima não é que um tão bello paiz, por desmaselo emperrado de muitos de seus fílhos, se vá redusindo a um es- queleto de charnecas descarnadas e de ca- beços escalvados, quando, pela tempera- tura do seu clima e pelas desegualdades da sua superfície, podia ter quasi todas as arvores próprias dos climas quentes e frios do nosso globo ! As altas serras de Ge- rez, Marão, CaramuUo, Estrella, Cintra, Monchique e outras podem crear umas, e os valles e costas da Estremadura, Alem- tejo e Algarve as outras da Africa e ín- dia e da America meridional. Quaes outras producções da mãe na- tureza devem merecer maior attenção ao philosopho e ao estadista, do que as mat- tas e os arvoredos? Arvores, lenhas, ma- deiras: só estas palavras, bem meditadas e entendidas, bastam para despertar toda a nossa estudiosa attenção, e para inte- ressar vivamente toda a nossa sensibili- dade .... Sem mattas, a humidade necessária para a vida das outras plantas e dos ani- maes vae faltando entre nós ; o torrão se faz árido e nú. Tojos, Estevas, Urzes e Car- quejas apenas vestem mesquinhamente al- guns cumes e assomadas, algumas gan- dras e chãs. Diminuidos os orvalhos e chu- veiros, diminuem os cabedaes, certos e perennes, dos rios e das fontes, e só bor- rascas e trovoadas arrasam as ladeiras, areiam os valles e costas e inundam e subterram as searas. O suão abrasador apoderou-se das províncias ; e novo clima e nova ordem de estações estragam cam- pos outr'ora férteis e temperados. A electricidade, que então circulava pacifícamente da terra para o ar e do ar para a terra, faz agora saltos e explosões terríveis, invertendo a série e força dos meteoros aquosos que favorecem a vege- tação, e com ella tornam sadias as pro- víncias. . . . Sem mattas, quem absorverá os mias- mas dos charcos ? Quem espalhará pelo es- tio a frescura do inverno? Quem chupa- rá dos mares, dos rios e lagoas os vapo- res que, em parte dissolvidos e sustenta- dos na atmosphera, cahem em chuva, e em parte decompostos em gazes, vão pu- rificar o ar e alimentar a respiração dos animaes ? Sem mattas desappareceu a caça que fartava o rico e o pobre. Sem mattas faltaram os estrumes na- turaes, que subministravam diariamente suas folhas e resíduos. Sem ellas minguou a fertilidade do terrão, e a lavoura e a povoação definharam necessariamente. El- ias sustentam a terra vegetal das ladei- ras e assomadas, que pela regular filtra- ção das aguas, adubam os valles eplani- cies. Em vallados nas margens dos rios, que extravasam, põem os arvoredos peito ás cheias devastadoras, cortando-lhes a força, e coando as aguas das areias, fa- zem depor os nateiros que fertilisam as lesirias e insuas. Com bosques novos, próprios da Co- roa, adquirirá o Estado grandes rendas que lho faltam. Os arsenaes e estaleiros terão de sobejo madeiras, taboado, lenhas, S06 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA carvSo, alcatrão e breu ; os povos, alem d'este3 géneros, outros como potassa, re- sina, agua-raz, acido pyro-Ienhoso, cinzas para adubo e para sabão; e os rústicos por fim, pastos arbóreos indispensáveis nos climas quentes e nos altos de sequeiro, novos montados, e se quiserem muita azei- tona que já vae faltando em demasia com a praga da ferrugem. A naçào tendo-os de próprio cabedal não pagará tributo aos estranhos. O erário terá meios para novos em- préstimos e hypothecas, que requeiram as precisões dos tempos. Em uma pala- vra, sem mattas sufficientes em terrenos próprios e adequados, debalde procurará -o governo fomentar a laboração das mi- nas, a industria das fabricas, a marinha, a navegação interior, a agricultura e to- dos os mais gosos do homem social e culto.» Mr. Legrand exprime-se d'este modo : «Assim, a aridez do solo^ e por con- sequência a destruição da própria pasta- gem e ausência do abrigo contra as mas- sas de neve que rolara das montanhas, o esgotamento das fontes, a funesta influen- cia atmospherica, a diminuição progressi- va das madeiras para construcção e para combustível, e devastação das proprieda- des inferiores pelas torrentes, as inun- dações : taes são as consequências inevitá- veis da desarborisação das montanhas, consequências que tem forçado populações a emigrarem dos logares que habitavam.» Eis como também se exprime a este respeito Mr. MoU : «Achei-me, em 1836, durante uma violenta tempestade, sobre o desfiladeiro de Méiezen (altos e baixos Alpes), e assisti de alguma maneira á destruição de vastas superfícies cobertas de relva que eu tinha visto pouco antes. Quando emfim pude alli passar, hervas, atalhos, caminhos, mu- ros, tudo tinha desapparecido, substituí- do pela rocha e por montões de pedra, de tal sorte moveis, que pondo-se-lhes o pé, toda a massa se movia e rolava com es- tridor para o valle.» O mesmo auctor narra ainda o seguin- te facto curioso : a O valle de Saint-Laurent de Cer- dans, lateral ao grande valle de Tech, tinha outr'ora vastas florestas e um gran- de numero de fontes que davam origem a uma corrente de agua assas forte para pôr em movimento diversas fabricas. Du- rante a revolução, as florestas foram des- truídas e as fontes seccaram a tal ponto que as fabricas houveram de parar e o valle ficou sem agua. Ura grande proprietário do paiz, Mr. Delcros Rodor, testimunha d'este desas- tre, teve a ideia de rearborisar os vastos terrenos inclinados que lhe pertenciam. Das diversas essências ensaiadas foi o Cas- tanheiro que pegou melhor. O êxito das primeiras sementeiras foi tal, que elle as estendeu immediatamente a 1:200 hecta- res, pouco mais ou menos, e teve bem de- pressa numerosos imitadores. A medida que as florestas povoavam de novo os flancos do valle, via-se reap- parecerem as fontes, e em 1839 na occa- sião da minha residência em Saint-Lau- rent de Cerdans, achava-se, em pleno raez de agosto, a pequena ribeira dando sabi- da a um volume de agua sufficiente para fazer mover numerosas fabricas, e cora- municando movimento e vida a esta en- cantadora bacia, verdadeiro oásis de ver- dura e de frescura no meio de um deser- to de rochedos calcinados.» Mr. Vicaire falia sobre esta matéria da maneira seguinte: «As florestas nas montanhas não são úteis somente pelos productos que podem dar. Temperam os calores ardentes do es- tio, e moderam os frios rigorosos no in- verno ; tiram os vapores aquosos da atmos- phera, tornam o clima mais húmido, e os aguaceiros menos violentos.» Ouçamos também o que Mr. Denjoz diz na sua relação apresentada no conse- lho geral na sessão de 12 de setembro de 1849: «O Ímpeto do Oceano no terrível goKo de Gasconha ia-se quebrar principalmente n'estas dunas, do 60 léguas de comprido, que elle impellia incessantemente diante de si, antes que as sementes dos Pinheiros as fixassem emfim. É lá que vêem bater as vagas do Oceano, numa corrente de 150 léguas : imagine-se com que poder « com que esforço ! Também, quando o vento de oeste, que domina n'estas paragens, revolve o Oceano e o lança sobre as dunas, nada JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 207 pode dar ideia do que os olhos vêem e do que o ouvido escuta. E não é então, se- nhores, que vós duvidareis d'estas cidades destruidas ou sepultadas, d'estes cabos minados ou arrebatados, cuja narração tem podido algumas vezes surprehender-vos...» Ouçamos egualmente o que diz Antó- nio de Avellar Severino : «As dunas que na Ásia central, segun- do affirma Humboldt, vêem dos desertos de Boukharia, têem sepultado aldeias in- teiras, eíFeito análogo ao que se dá na In- glaterra, em Norfolk e em SuíFoik, onde ainda se encontram os cimos das torres de algumas egrejas. Não têem estas mon- tanhas moveis de areia riscado da memo- ria de homens tantos monumentos antigos, que sob ellas jazem enterrados, como, por exemplo, a estrada parallela á cordilheira de Kouen-Loun e as aldeias edificadas na sua proximidade, e de que os Chins dão noticia ? Quem não vê na construcção das py- ramidcs o esforço dos Pharaós para ob- star á invasão das areias, que do deserto da Libya ameaçam sem cessar o fértil Egypto ? D Mr. Gasparin, em relação ás dunas de Bordéus, escreve o seguinte : «Occupam um comprimento de 240 kilometros e uma largura média de 5 ki- lometros. Este mar de areia, ao qual nada resiste, a não ser as sementeiras mc- thodicamente feitas dos Pinheiros, avança invariavelmente de oeste para leste, na direcção dos ventos dominantes, com uma velocidade média de 24 metros por anno, cobrindo as terras, as aldeias, os bos- ques, entulhando os rios e reduzindo-os a tanques e pântanos na superfície do so- lo.» Muitos exemplos análogos poderiamos citar do nosso paiz, mas limitamo-nos a apresentar apenas os dous seguintes : Visita-se a matta do Bussaco n'um dos sitios mais apraziveis e encantadores, acha-se alli, no rigor do estio, frescura, amenidade, copiosas fontes a brotar agua como se fosse em pleno inverno, mas logo que se trespassa os muros não se vê mais do que uns montes escalvados, áridos, on- de ao sol abrazador do verão, se observam apenas poucas Urzes e Tojos que povoam aquelles terrenos e onde as fontes desap- pareceram completamente; mas, se aquel- les montes fossem arborisados, em poucos annos os veríamos em condições eguaes aos da matta. Esta mesma ideia apresentou o snr. dr. Simões de Carvalho na conferencia que fez em Lisboa na sala da Associação Central de Agricultura Portugueza em 11 de Abril de 1867, dizendo: «Ahi está a soberba matta do Bussa- co, esse aprazivel tapete de verdura co- roando as penedias agrestes e escarpadas da montanha. Um estreito muro separa este magnifico arvoredo dos terrenos visi- nhos ; mas a mão do homem soube crear tão grande e primorosa riqueza vegetal no meio da rudez de aquellas serras es- calvadas. Ahi está a poética serra de Cintra, com o seu magestoso parque da Pena e plantações annexas, povoando e animando as nuas ossadas de penhascos, que se pro- longam até á beira do oceano, obra do Rei-artista, e um dos mais bellos florões do seu diadema real.» O pinhal real de Leiria, que se acha semeado em terreno de dunas, se se ti- vesse adoptado o exemplo de D. Diniz, poder-se-hia ter augmentado esta matta desde a foz do Liz até á foz do Monde- go, e na direcção do sul desde a Senhora da Victoria até ao sitio da Senhora da Nazareth, o que daria dous importantes resultados : o primeiro impedir a invasão das areias para o interior que vão con- stantemente fazendo desapparecer ma- gníficos terrenos aráveis e o segundo se- ria augmentar o valor da riqueza nacio- nal. O pouco que deixamos dito, os exem- plos eloquentes e as opiniões que temos apresentado dos homens eruditos e com- petentes n'esta matéria, são mais que suf- cientes para produzir em todos o conven- cimento da utilidade da conservação das nossas poucas e desbaratadas mattas e do seu plantio na máxima escala. Oxalá que as nossas palavras achem o apoio dos que ainda se interessam pela prosperidade do paiz, e que o governo e os proprietários se empenhem verdadeiramente em concor- rer para a conservação das florestas que possuímos, e para a arborisação da exten- sa área de terrenos incultos que tanto se 208 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA prestam a este melhoramento tão civilisa- dor. E não se diga que por a cultura flo- restal só produzir resultados morosos, não merece a pena empregarmos n'ella os nos- sos cuidados. A isto respondemos, termi- nando com as seguintes palavras do snr. Diogo de j\Iacedo : «Uma floresta leva tempo a crear. Não seja porem isso rasão sufiieiente para de- sistir do commettimento. Lembremo-nos de que as gerações são solidarias umas das outras, e se as passadas nos transmit- tiram legados de ruina, não lhes sigamos o exemplo egoista. Deixemos aos nossos descendentes, se- não opulento património, ao menos os ne- cessários elementos para poderem prospe- rar.» Coimbra — Matta do Choupal. Adolpho Frederico Molleb. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A TRANSPLANTAÇÃO E CULTURA DAS PLANTAS EM VASOS A transplantação para vasos, não obs- tante parecer á primeira vista uma das mais vulgares e simples operações da hor- ticultura, é pelo contrario uma das mais importantes e que maiores cuidados exige. O estado de languidez, o aspecto desa- gradável, a vegetação mesquinha, que se nota em muitas plantas cultivadas em va- sos, têem por causa ira mediata os poucos ou nenhuns cuidados empregados na trans- plantação. É por isso que muitas vezes o horticultor e o amador perdem nas suas collecçõcs indivíduos raros e preciosos. É sabido que na cultura das plantas em vasos o solo esgota-se com muita fa- cilidade pela absorpção e transformação das matérias orgânicas e que as regas, lavando de alguma maneira a terra, ar- rastam grande parte das matérias nutriti- vas, que são todas solúveis. E portanto necessário renovar essa terra esgotada em tempo conveniente. A excepção de plantas adultas e ar- bustos cultivados era grandes vasos ou caixas, poucas plantas ha que possam pas- sar mais de um anno sem serem trans- plantadas, e muitas ha pelo contrario que precisam d'esta operação duas e mais ve- zes durante um anno. A transplantação deve ser feita em todo o tempo segundo as necessidades das plantas. Reconhece-se facilmente que uma plan- ta precisa ser transplantada, quando a terra dos vasos secca com rapidez, sem ter por causa nem a sua natureza, nem a elevação da temperatura ou correntes do ar que activem essa exsicação. Se durante o periodo do crescimento a força de vegetação diminuo, e as folhas não se desenvolvem sufficientemente ou se tornam amarelladas, ou finalmente a planta apresenta um aspecto doentio, que não sendo devido a moléstia orgânica denota falta de alimento, deve fazer-se a trans- plantação. A qualidade da terra empregada e a escolha dos vasos são duas cousas que se devem ter muito em conta. As terras empregadas são de difí'eren- tes qualidades segundo a natureza das di- versas espécies cultivadas. As mais usuaes são : A terra de urze que se encontra em camadas mais ou menos espessas nos bos- ques e é formada de areia, restos de,ve- getaes em decomposição, contendo uma pequena quantidade de aluminia e carbo- nato de cal. Esta terra é muito conve- niente para a maior parte das plantas de estufas. Para as plantas de crescimento vigo- roso e que attingem grandes dimensões, como as Palmeiras^ Agaves e outras, con- vcem as terras fortes, francas ou argillo- sas misturadas cora as terras leves. O terriço que resulta da decomposi- ção das folhas é bom para muitas plantas herbáceas ou sub-lcnhosas de rápido cres- cimento e algumas vezes pode substituir a terra de urze. A areia nunca se emprega pura, por- que os seus principies nutritivos são nul- los. Misturada com as outras terras serve para as tornar mais leves e mais permeá- veis ao ar e á agua. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 209 As próprias plantas nos fornecera in- dicações a respeito do solo que lhes con- vém. Assim as espécies de raizes fibro- sas, muito delgadas, exiiçem uma teiTa leve, em quanto que as de raizes carno- sas, vigorosas ou espessas necessitam de um solo mais consistente. As plantas de rápido crescimento dão-se bem em um solo abundante era terriço e as de crescimento vagaroso exigem pelo contrario uma terra que conserve por muito tempo as suas propriedades férteis. Em geral, para que a vegetação se apresente vigorosa e luxuriante é preciso que a terra seja leve, móbil e que contenha a maior quantidade possivel de húmus e de matérias animaes e vegetaes reduzidas a pó. A terra nunca se deve em.pregar nem muito secca nem muito húmida ; porque no primeiro caso a humidade penetra-a mui lentamente, e no segundo, não se in- troduzindo a terra regularmente nas rai- zes, os espaços vasios que ficam são muito nocivos. Crivar a terra com o fim de lhe sepa- rar os filamentos e restos não decompos- tos, é uma péssima pratica que se não deve seguir porque a terra crivada, alem de se esgotar rapidamente, forma muitas vezes nos vasos uma massa compacta que faz com que a agua das chuvas ou das regas não a penetre com facilidade, e ninguém ignora que a estagnação da agua causa a podridão das raizes e a morte das plan tas. Pelo que diz respeito aos vasos devem sempre empregar-se os de terra porosa, banindo completamente os que foram pin- tados ou envernisados. Os melhores e mais geralmente em- pregados têem a altura egual ao diâme- tro da sua abertura, sendo o diâmetro do fundo um pouco menor, para que o tor- rão se possa tirar sem se desfazer, quando se querem visitar as raizes. O fundo do vaso deve ser segundo as suas dimensões penetrado de muitos buracos destinados ao escoamento das aguas. Quando se empregara vasos novos de- vem-se molhar antes de se usarem, por- que, sem esta precaução, absorvera muita huraidade e a terra não adhere ás suas paredes, e portanto a agua das regas es- capa-se por entre estas e os torrões sem penetrar nas raizes. Se os vasos de que se fizer uso forem já servidos é indispensável que por meio da lavagem se desembaracem de toda a substancia esverdeada ou matérias calca- reas, que adherentes á sua superfície obs- truem os poros e por conseguinte impe- dem a entrada do ar. As dimensões dos vasos regulara-se pela força e espscie da planta. O espaço que deve haver entre o ter- rão e as paredes do novo vaso deve ser tanto maior quanto raais forte for a planta e raais vigoroso for o seu crescimento. Este espaço pode variar entre O", 01 a O™, 06 e raras vezes d necessário exceder esta largura, mesmo ^ para as plantas cul- tivadas em caixas. A primeira vista pa- rece haver alguma analogia no modo de crescimento das plantas cultivadas em plena terra e as que se cultivam era gran- des vasos. E um erro assim pensar, por- que as condições são muito differentes. No chão, podem as plantas passar rauito tempo sera regas, porque em rasão da capillari- dade a humidade do sub-solo chega até á sua superfície, e as aguas das chuvas, as provenientes dos orvalhos repartem-se so- bre grandes superfícies e tendem conti- nuamente a equilibrar-se ; phenoraenos es- tes que se não dão nos vasos ou caixas por maiores que sejam as dimensões que se lhes doem. É portanto necessário, na cultura das plantas era vasos, supprir a falta de humidade pelas regas, que arras- tam para o fundo a maior parte dos ele- mentos nutritivos, antes que a planta os possa assimillar. A terra por conseguinte empobrece e adquire propriedades noci- vas, particularmente uma espécie de aci- dez que prejudica muito as raizes. As nossas plantas são cultivadas em vasos relativamente pequenos e os resul- tados que sempre temos obtido são excel- lentes. Foi d'este modo que na exposição, promovida em Lisboa em 1870, pela Real Associação Central de Agricultura Portu- gueza obtivemos uma medalha de cobre pelo vigoroso exemplar da Araucária cul- tivada em vaso pequeno que alli expose- raos. Esta Araucária^ que foi vendida ao snr. visconde de Condeixa, raedia 3'", 00 210 JORNAL PE HORTICULTURA PRATICA de altura e estava cultivada em um vaso de 60 reis. Depois d'estas considerações acerca dos vasos e das diíFerentes espécies de terras, passaremos a tractar do modo como se faz a transplantação. Para esta se fazer coramodamcnte, é conveniente ter uma mesa onde se prepara a mistura das terras que se têem de empre- gar, e deve haver á mao vasos de diífe- rentcs dimensões, assim como grande por- ção de cacos de vasos ou tijolos partidos, indispensáveis para uma boa drainagem. Uma das causas principaes da morte das plantas cultivadas em vasos é a in- sufficiencia da drainagem. Collocar sim- plesmente um caco sobre o buraco de cada vaso é um engano muito prejudicial que a experiência vem demonstrar immedia- tamente. Esses cacos isolados, tapando quasi hermeticamente os buracos dos va- sos, em logar de facilitar o escoamento das aguas das chuvas e das regas, pelo con- trario retera-nas forçadamente e as raízes das plantas que bem depressa tapetam o fundo dos vasos, mergulhando indefinida- mente em um meio aquoso, experimentam uma prolongada maceração que as faz apo- drecer em pouco tempo, e em logar de sustentarem a planta, dão-lhe origem a um estado mórbido que termina sempre pela morte. E preciso por tanto para im- pedir este inconveniente guarnecer o fundo dos vasos com uma boa camada de cacos ou tijolos mais ou menos partidos, para que as aguas filtrando-se atravez das ca- vidades que deixam entre si aquelles fra- gmentos achem prompta sahida. Feita a drainagem d'este modo, tira-se do vaso a planta que se quer transplan- tar, e por meio de um pau ponteagudo se- param-se as raizes que tapetam o exte- rior do terrão. Muitas vezes as raizes são tão numerosas, e de tal modo misturadas umas com as outras que é impossível se- paral-as. N'estes casos devem-se cortar com uma faca, poupando o mais possível as mais grossas. Se esta agglomeração de raizes atrophiadas e mal constituídas se conservasse, não poderia produzir senão algumas raras radiculas, incapazes de sus- tentar a planta, cmquanto que, cortan- do-se, formam-sc novas raizes que vêem substituir vantajosamente as antigas. Depois de cheio o vaso com uma ca- mada de terra, convenientemente prepa- rada, e cuja espessura deve ser calculada de modo que o coUo das raizes chegue um pouco abaixo do nivel do vaso, colloca-se sobre ella a planta, introduzindo depois terra entre as paredes do vaso e o terrão. N'este estado calca-se levemente a terra com os dedos ou com um pau e batendo ligeiramente com o vaso sobre a mesa em que se trabalha. Depois enche-se o vaso até um ou dous centímetros dos bordos pouco mais ou menos, para que fique um espaço vasio que possa conter as aguas da rega. Esta precaução que é importantís- sima deixa de ser praticada por muitas pessoas que pelo contrario enchem os va- sos até aos bordos, calcando ainda por cima fortemente a terra. D'este modo nunca a agua penetrará nas raizes. Logo depois da transplantação deve dar-se ás plantas uma boa rega com o fim de fazer com que a agua penetre até ao fundo dos vasos e faça adherir á terra as raizes, preenchendo ao mesmo tempo os espaços vasios que existem entre ellas. Algumas plantas de folhas molles de- vem collocar-se a meia sombra até que se desenvolvam novas raizes ; em outras é proveitoso um augmento de calor e fi- nalmente algumas ha, para as q uaes é bom o prival-as do ar durante alguns dias. O costume que ha de fazer coincidir a poda dos ramos com a pratica da trans- plantação, a fim de fazer manter o equi- líbrio entre os ramos e as raizes, é muito prejudicial, porque, como se vê clara- mente, cortar ao mesmo tempo a uma planta uma parte das raizes e dos ramos, é fazer com que ella entre dififieultosamente em vegetação ; só em casos excepcionaes é que poderão ter logar as duas opera- ções simultaneamente. A experiência tem mostrado que é me- lhor fazer-se a transplantação depois da poda e quando estiver seguro o desenvol- vimento dos novos rebentões. Na cultura das plantas em vasos ou caixas, as aguas de rega ou de chuva cal- cam a terra e com a seccura que lhes succede, alternativamente formam uma ca- mada espessa impermeável ao are á agua, o que necessariamente faz soffrer as plan- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 211 tas pela falta d'estes dous agentes da ve- getação, que, como todos sabem, devem penetrar facilmente até ás raizes concor- rendo assim para a vida do vegetal. Do mesmo modo, uma humidade constante, dando nascimento a Confervcts^ Musgos e Marchantias, produz os mesmos funes- tos resultados ; isto é, forma-se um leito espesso que impede a evaporação do ex- cesso de humidade pelo ar ambiente, o que causa a podridão das raizes. O inconveniente que resulta d'estes dous casos evita-se, sachando a terra dos vasos ou caixas com a lamina de uma faca ou com um pau aguçado, todos os oito dias ou pelo menos duas ou três ve^ zes por mez, combinando com prudência as regas. Esta operação torna-se sobre tudo mui- to necessária nas terras húmidas. Com quanto o que deixamos dito não seja novo para os amadores experimen- tados, julgámos ser de alguma utilidade resumir as indicações que os trabalhos de eminentes horticultores e a nossa pró- pria experiência nos têem ensinado para que o amador noviço as faça executar convenientemente. José Marques Loureiro. CHRONIGA Começamos esta Chronica por noticias desagradáveis. Assistimos este anno ás vindimas nas regiões vinicolas do Douro. Contava-se no principio da estação com uma abundante colheita de vinho, azeite, etc, mas servindo-nos do rifão portuguez «o homem põe e Deus dispõe» ficaram aguadas as esperanças do lavra- dor, que tantos sacriticios faz durante do- ze mezes para vêr n'um só momento tudo perdido. Kos fins de junho apresentavam os vi- nhedos o melhor aspecto possivel ; vieram comtudo 6 ou 8 dias de calor verdadeira- mente tropical que seccaram grande por- ção de uvas. Para este mal não havia re- médio e, se tivesse ficado n'isto o prejui- zo, dar-se-hia por bem feliz o agricultor. Infelizmente, ao aproximar-se a epocha da maduração, falhou o sol e cahiu uma chuva incessante que, ao passo que era causa de apodrecerem as uvas mais ma- duras, não deixava amadurecer as que es- tavam mais atrazadas. Em Traz-os-Mon- tes era onde se tornava isto mais sensível e conservava o viticultor perplexo, na du- vida se deveria vindimar ou se deveria esperar que viessem alguns dias de bom tempo que lhe amadurecessem o fructo. A maior parte dos proprietários^ para não dizer todos, procederam quasi simul- taneamente nos dias 25 a 27 de setembro ás suas colheitas, porque viam de dia para dia augmentar-se-lhe o prejuízo. D'aqui adveio a falta de braços e por conseguinte o augmento de preço dos jor- naes. Como é bem de saber, não tendo al- guns dos fructos, attingido o perfeito grau da maduração e estando outros apodre- cidos, principalmente os das variedades brancas, o vinho deverá ser de qualidade assaz inferior ao da colheita passada e por tanto obterá nos diversos empórios de con- sumo um preço relativamente mais baixo, que mal cobrirá as despezas. Tem-se observado que entre as diver- sas variedades de Videiras que se culti- vam no Douro, a que mais resiste ás in- tempéries atmosphericas é a denominada vulgarmente Touriga. Alem d'esta vanta- gem já provada, e muito para apreciar, tem outra de não somenos valia: fructi- fica abundantemente. São estas duas razões que nos levam a recommendar a sua propagação em sub- stituição d'outra3 variedades que não reú- nem nenhuma de aquellas condições. Al- guns viticultores, reconhecendo isto, têem- se dado pressa em proceder a enxertias. As variedades que mais sofí'reram este anno foram^ como já dissemos, as bran- cas. As Oliveiras raostravam-se galharda- mente carregadas com as suas pequenas drupas, quando, no dia 24 de setembro, uma fortíssima chuva acompanhada por violentas rajadas de vento e abalos sub- terrâneos as veio arremessar por terra em grande quantidade, devastando ao mesmo 212 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA tempo as mães ! Apesar d'isto, a colheita do azeite n'esta provincia e na da Beira, 86 não houver outro contratempo, será em quantidade superior á do anno passado. As arvores fructiferas ufanavam-se da sua producção ; comtudo, o temporal do dia 24, a que mais acima já alludimos, causou-lhes damnos terriveis. N'um só dia viram os agricultores as suas esperanças ceifadas pela mão implacável do tempo ! Em Traz-os-Montes grassa nos Casta- nheiros um mal que se mostra nas folhas e, segundo nos disseram, os fructos ficara rachiticos. Sobre este assumpto nada queremos aventar; mas, tendo em conta os factos que tivemos occasião de observar, e, em vista dos symptoraas que apresenta esta moléstia, parece ter uma certa analogia com a cloque ou encarquilhamento, molés- tia a que estão muito sujeitos os Peceguei- ros e Damasqueiros, a qual é devida a uma mudança súbita de temperatura, quando na primavera, por effeito do arre- fecimento do ambiente atmospherico, a ve- getação se acha por assim dizer suspensa. Com a repentina elevação da temperatura, a seiva superabundante circula cora tal actividade, que os canaes destinados a contel-a e a conduzil-a até á extremidade das folhas são insufficientes e obstruem- se, resultando d'isto o encarquilhamento das folhas. Nos Pecegueiros desenvolve-se depressa o pulgão, e o fructo muitas ve- zes atrophia e cahe. Nos Castanheiros fi- ca o fructo rachitico, como escrevemos aci- ma, e pensamos ter ouvido dizer que tam- bém cahe. Para combater esta moléstia indica-se um meio muito simples, ainda que não nos parece realisavel n'esses Mastodontes da vegetação europea. Indical-o-heraos, todavia porque po- derá ser empregado com facilidade nos Pecegueiros, pois consiste apenas em lan- çar alguns punhados de cinza de madeira sobre a folhagem doente. A acção do remédio indicado é mais prompta e mais completa, se a folhagem estiver alguma cousa húmida. Alguns dias depois d'esta o| eração vc-se a folhagem recuperar o seu estado normal e a sua frescura, e a mesma arvore apresentar de novo todo o vigor primitivo. A maneira como qualificamos a molés- tia dos Castanheiros, que se encontra mais ou menos em toda a provincia de Traz-os- Montes, não passa de mera conjectura. Era necessário ter dados muitos certos e seguir passo a passo as phases que ella vae off^erecendo para podermos dizer algu- ma cousa com mais fundamento. Cumpre a cada um fallar d'aquillo que sabe ; deixamos portanto o campo li- vre á discussão illustrada. — Devido á extrema bondade do snr. Affonso Joaquim Nogueira Soares, encar- regado das obras da barra em que se comprehende o aterro feito com areia pa- ra terraplanar e melhorar o passeio Ale- gre, na Foz, fizemos por sua intervenção plantar alguns Eucalyptus glohulus perto da beira do mar. Com esta plantação era pequena esca- la tivemos por alvo ensaiar a sua cultura no nosso littoral, e não duvidamos que os resultados sejam bons, porque, segundo sabemos por boas vias, esta arvore não soff^re á beira mar. Na zona marítima da ilha de Córsega, por exemplo, prospera ella ás mil maravilhas, o que tern causa- do admiração a muitos auctores. Contamos que o snr. Anonso Joaquim Nogueira Soares nos coadjuvará, com o seu zelo, na missão que nos irapozemos de propagar o Eucalyptus glohulus em Por- tugal, e desde já nos confessamos sumraa- mente gratos. Aguardaremos os resultados. — Ninguém desconhece a belleza do Gynerium argenteum, porera tem esta planta o inconveniente de ser deraasiado grande, quando o jardim tem peque- nas proporções. Para obviar a este in- conveniente, a natureza, que é sempre pródiga, favoreceu Mr. Charles Noble n'uma sementeira que fez ultimaraente ; este snr. obteve o Gynerium argenteum punmilum , variedade verdadeiramente anã. Os colmos floraes elevam-se a O'", 90, em quanto que os do outro se elevam de 1"',80 a 0",30. Esta variedade ainda não se acha lan- çada no nosso mercado, mas é de esperar que algum horticultor a mandará vir den- tro em pouco. Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 213 AMEIXA P0IÍD'S SEEDLING A Ameixieira que, segundo se diz, é originaria da Syria, foi, na opinião d'al- guns horticultores, introduzida na Euro- pa pelos cruzados, onde tem produzido numerosas variedades que se distinguem pela cor, forma, volume e gosto de seus fructos. Esta opinião tem, todavia, contra si o depoimento de escriptos de mais remota data, porque já os antigos tinham, como nós, differentes variedades, cuja enumera- ção se encontra em Plinio e outros aucto- res : deixemos porem questões chronolo- gicas, e vamos ao que mais interessa sa- ber-se. O uso muito generalisado de seus fru- ctos, quer frescos, quer em compota, faz da Ameixieira uma das nossas principaes arvores fructiferas. Entre as variedades que se encontram Fig. 66 — Ameixa Pond's seedling no nosso mercado, a ameixa Pond's seed- ling (fig. 66) é uma das mais recommen- daveis pela sua notável belleza. Esta an- tiga variedade, cujo mérito lhe faz con- servar o logar que lhe é devido nos nos- sos pomares, é uma das maiores que se conhece ; excede em volume a Dame Au- hert e approxima-se um pouco da Diajprée. A pelle é vermelha, guarnecida de pe- quenos pontos negros ; carne fundente, assucarada, não adherente ao caroço. 1871 — Vol. II. Amadurece em principies de setembro. A arvore é muito vigorosa, de lenho es- curo, liso, gomraos aífastados e folhas de mediana grandeza e muito fértil. O amador de arvores fructiferas não deve deixar de fazer acquisição d'esta pre- ciosa variedade, que deve ser collocada entre as ameixas de primeira qualidade* J. Casimiro Barbosa. N.» 12— Dezembro. 214 iORNAL DE HORTICULTURA PRATICA INCISÃO ANNULAR NA VINHA SUA VANTAGEM EMQUANTO Á PRODUGÇÃO E MADUREZA DA UVA Ao lançar mão da penna para foliar d'este arbusto, nào deixo de comprehen- der quanto é delicado e difficil o assum- pto, porque homens eminentes em viti- cultura já o tractarara a fundo, e dir-se- hia haver indiscrição querer respigar ainda n'este campo já tào ceifado. Toda- via sabemos que nas cousas mais Ínfimas, nos átomos, por exemplo, tudo pode sof- frer retoques e melhorar-se com vanta- gem nossa, comtanto que sejamos bons observadores da natureza e que saiba- mos appropriar tudo ás nossas necessi- dades. E' esta ideia que me anima hoje a vir dar conhecimento aos agricultores de Gers e a todo o mundo de ura meio sim- plicíssimo de duplicar, quasi todos os an- nos, na grande e na pequena cultura, a belleza e a producçao da uva (1). Da Incisão. — Chamamos incisão as fen- das praticadas cora a podua ou com a enxertadeira nas diversas partes da casca dos vegetaes, quer para suspender ou des- viar a seiva dirigindo-a para outras par- tes do vegetal, quer, pelo contrario, com o fim de favorecer a sua marcha. As incisões, segundo a direcção dada, apresentam algumas leves differenças e têem tarabem diíferentes nomes. Assim algumas ha que são longitudinaes, outras transversaes, etc. Entre todas distingue- se a incisão annular, assim chamada por que circumscreve inteiramente a parte aonde se pratica. E' d'esta ultima que vamos fallar. As incisões annulares ou transversaes têem por fim crear um obs- táculo á marcha dos liquides sòivosos ; as lonçjitudinaes têem, ao contrario, por fira o facilital-a. Da Seiva. — E' assim que se denomina todo o liquido absorvido do solo pelas raizes, e que, sob a acção da força vital, é conduzido a todas as partes dos vegetaes. Modifica-se continuamente segundo cer- tas leis particulares e determina assim o (i) Fsta incisão cmprega-se lioje em certos vi- nhedos da Fiança. crescimento. E' pois a seiva que forma a base de todos os productos vegetaes : tron- co, espinhos, folhas, flores e fructos. Desenvolvimento da planta. — Desde que a planta nova começa a germinar, a sua parte inferior fica era relação com a ten'a, ou com um meio mais ou menos húmido, e a sua haste com o ar. Pela absorpção tomam as raizes no meio que as conserva as matérias nutritivas próprias para o seu desenvolvimento. Chama-se circulação a acção de vitalida- de por cuja força os liquides introduzidos na raiz caminham no interior do vegetal e n'elle circulam. Chama-se respiração, o acto pelo qual o liquido se modifica no seu trajecto e se elabora: é sobretudo nas folhas que se opera este phenomeno. Ela- borado o liquido, toma uma direcção in- versa, vivifica o vegetal pela assimilação, que consiste era depor nos interstícios da planta os suecos dos aliraentos que a for- tificam, nutrem e lhe dão força vegeta- tiva. Circulação ou movimento da Seiva. — Ninguém ignora que ha dous movimen- tos em sentido diverso — um que designa- mos pelo nome de seiva ascendente, que é absorvida pelas raizes e que serve para alongar todas as partes dos vegetaes — e ou- tro,chamado de seiva c?escencZtín porque é carnívoro e não herbívoro. Nada d'isto se procura saber e conti- nua-se matando muitos animaes que são grandes auxiliadores da agricultura. Lisboa. A. M. L. Carvalho. PLANTAÇÃO (O SECÇÃO n Julgo util^ para traçar sobre um ter- reno um grande septunce do meu syste- ma, calcular a graduação de todos os ân- gulos formados pelas linhas que se vêem na figura 67. (1) Vide .1. 11. 1>. vol. II, pag. 199. A grandeza dos ângulos ó fixa, quer seja maior ou menor a distancia das arvo- res, de pé a pé. Na figura 67 ha muitos triângulos; mas, como são todos eguaes, considero só dous d'elle3 que são : A D B, e o triangulo in- vertido E A D. As letras que designam JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 217 OS ângulos sejam consideradas como exis- tindo sobre o ponto de intersecção de duas ou mais linhas. Por exemplo: o ponto A e o ponto D são communs aos dous triân- gulos ditos. Valores absolutos dos ang-ulos : 22"' A D B = 53^. 07' 48",, 22'",, 29"" 2&,i Oõ"/, 48"',, 45"",, //• D AB=63^ 15""', D B A = 63",, 2Q' 05",, 48"',, 45' 15'"",, A somma d'estes três ângulos dá 180°,, como devem dar os três ângulos de qual- quer triangulo. No triangulo E A B, os valores dos ângulos são os mesmos, notando-se que está invertido ; por isso o angulo E A D = ao angulo A D B ; e os angules AE D, e A D E, òorrespondem aos ângulos D A B, e D B A no outro. Reunidos pelo lado commum A D, es- tes dous triângulos isosceles juntos, fazem um rhomboide E D B A. /■ \ Á \ AA \ \ / K // /a V / \/ / \ A A \ / v v \7 Fig. 67 — Septunce symetrico O lado commum A D, será também considerado diagonal pequena do rhom- boide A E D B, em o qual a linha E B será a maior diagonal d'elle. Essa grande diagonal E B divide o rhomboide A E D B em dous triângulos ohtusangulos, que são os triângulos E D B, e E A B, dos quaes vou dizer os valores dos ângulos. ED B = E D A+A D B = E AD 4-D A B = E A B = 116% 33',, 54",, 11"'. 14"";; 45'"";/. D'este se deduzem os valores para os outros. AB E=33<'„41'„ 24",, 22'",/ 18"",; 50 V2 ,. A E B = 29°„ 44',, 41",, 26"',, 26"", 24 V2'""/y. Não marquei com algum signal o pon- to central, ou cruzamento das diagonaes A D cora E B, por não o permíttir a gran- de proximidade das letras H e H', que marcam o finai das perpendiculares A H, eDH'. 218 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Mas supporeraos agora marcado com a letra Y esse cruzamento. Como os ân- gulos verticalmente oppostos são eguaes, teremos : AYB = EYD; e também E Y A = D YB. A Y 6 = 820^/ 52'/^ 29"/, 54 1/2'""//. E Y A =97°^^ 07'^/ 30"^/ 48'"// 55""// 11"'// 04'"'// 05 V2'""/,. Não escrevemos somente para o pe- queno proprietário que se contentar com um pequeno septunce ; mas também temos em vista o traçado de extensas planta- ções, applicaveis egualmente a terrenos accidentados, e com ondulações ; e era n'essa maior escala que seria grande a vantagem de conhecer ao certo o valor de cada angulo ; e scrvirmo-nos dos instru- mentos mais perfeitos e rigorosos que po- dermos obter. Ainda que os valores dos ângulos se conservam taes como os declaro, (pois al- terados esses valores se alteraria o meu systema), pode não obstante variar infi- nitamente a distancia de arvore a arvo- re ; comtanto que se conservem, entre as diversas linhas, as proporções ou rela- ções numéricas, que em seguida vou indi- car. Os valores que declarei deverem ter to- dos os ângulos existentes no meu septunce, tanto podem regular-nos ao traçar o pri- meiro grande triangulo, (que será múlti- plo certo dos pequenos triângulos elemen- tares do septunce), como serve para veri- ficar a exactidão de aquelle que só tiver ai.* fila plantada, e as outras filas ape- nas marcadas com balizas. Não digo que serviria também para verificar a certeza do que já estivesse plantado definitivamente, porque inútil era reconhecer o erro que tivesse havido, quando já não fosse occasião de emcn- dal-o. A pratica deverá ser esta : Em o local mais nivellado do campo (que vamos plantar cora o septunce do meu systema), se escolherá a linha que ha de servir de base de operações. 8e o septunce estiver próximo da casa de habitação, faremos que essa base de operações ou 1.* fila de arvores fique bem parallcla á parede exterior do prédio (mas algumas vezes essa 1.^ fila, e todas as mais, deverão ficar perpendiculares ao muro do prédio, somente no caso previs- to na segunda parte d'este artigo a pagi- na 138). Traçada a primeira linha recta sobre o terreno, e tendo determinado previamen- te a distancia que deve haver de pé a pé da arvore ou cepa de Videira, faremos um triangulo isosceles, no qual os lados eguaes serão maiores, do que a base ou distancia de pé a pé na base de operações, sendo a proporção a seguinte : Sendo a base do triangulo == 1,000, será o valor de cada um dos outros dous lados = 1,118 etc. = i/~ÍT25 Isto tanto faz que seja com referencia ao metro, á braça, toesa, ou qualquer sys- tema de medidas. Mas é muito preferivel o metro; por- que dá l^^jOO para l^^jllS; e estes 118 são millimetros; ao passo que se se me- disse com toesa, seriam millesimas da toe- sa, o que seria preciso redusir ás subdivi- sões da toesa. O septunce d'este systema que já tenho em obra, tem 4™,00 de arvore a arvore ; e de cada uma d'estas á intermédia da se- gunda fileira, tem 4'°,472 etc. que é pro- ducto de 4™X 1,118 etc. Já n'outro logar demonstrei a conve- niência de começar por triângulos múlti- plos, que depois se dividem para produ- zir os triângulos pequenos ou elementos do meu septunce. Sendo o preceito essencial que em cada triangulo d'estes seja a sua altura eguai á base, é um triangulo que se pode ins- crever em um quadrado. D'aqui resulta que podemos descrever um quadrado cujo lado seja múltiplo da distancia de arvore a arvore na primeira fila. Por exemplo: suppondo essa distan- cia de 4^,00 faremos o grande quadrado egual a 12"',00, 16"',0() ou 20"',00 etc. Para que seja perfeitamente rectângu- lo, mediremos as duas diagonaes d*esse grande quadrado, e se estiverem eguaes está o quadrado perfeito. Divida-sc ao meio o lado opposto á ba- se de operações, e marcado na terra es- se ponto, ao dito se dirigem os dous la- dos maiores do triangulo isosceles, par- tidos da base. Dividiremos este triangulo JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 219 em 4; 9; 16; 2õ; 36; etc. triângulos ele- .de ponto Y ao ponto de intersecção das mentares, como já ensinamos, até que es ses submultiplos, sendo similhautes ao triangulo total, sejam do tamanho que or- dena a separação de arvore a arvore. Aqui temos já um bom espaço plan- tado, ou ao menos só abalisado (o que é mais prudente) ; e só nos resta agora con- tinuar prolongando em todas as direcções para onde fôr preciso, todas as linhas re- ctas que unem os pontos já demarca- dos. Só nos resta ainda o dar algumas me- didas relativas ou proporcionaes a todas as outras linhas, sendo dado um valor qual- quer ás linhas principaes de que fallei. Di- go valores relativos, porque valores abso- lutos so têem os ângulos, como os descre- vi atraz. Se é de incontestável utilidade o co- nhecer o valor ou graduação de todos os ângulos formados pelas linhas do septun- ce symetrico, não o é menos o conheci- mento dos valores proporcionaes de todas as linhas descriptas dentro da figura do septunce. Ainda a favor doeste segundo meio de verificar a exactidão ou o erro do traçado a tempo de se poder remediar, acresce a simplicidade dos meios de verificar es- sas medidas ou proporções ; ao passo que os ângulos exigem certos instrumentos, para serem medidos sobre o terreno. Como primeira supposição, continuarei a julgar de -±",00 a distancia de arvore a arvore na base de operações, e em todas as fileiras que forem parallelas a esta. Atraz ficou dito que n'esta hypothese de ter 4"^, 00 cada uma das bazes A B, e E D (veja-se a fig. 67), será o valor de EA=AD = DB= /^2Õ~'=4, 4721 etc, etc; vou dizer das outras linhas, quaes os valores proporcionaes : A diagonal, E B = 7,2111, ^ 52. A parte maior, E H = 3,8829, etc A parte menor, H B = 3,3282, etc A lai-gura da rua estreita formada en- tre as linhas L M e N P, é determinada pelo valor da perpendicular tirada do pon- to A sobre a linha L M, ou E B ; é pois A H = 2,2188, etc, etc Quando descrevi os ângulos dando o valor d'elles, que é valor absoluto, seja qual fôr a distancia das arvores^ dei o nome duas linhas E B e A D, entre H e H' Conservando-lhe a mesma denomina- ção, direi que A H é menor que A Y, porque A H é perpendicular á linha E B^ e A Y ou A D não é perpendicular a E B, pois converge com A H, no ponto A. E também porque no rhomboide as dia- gonaes não se cortam em ângulos rectos, o que acontece no rhombo, como por exem- plo: a linha A O é perpendicular á me- nor diagonal E D do rhombo E O D A. A' direita do rhomboide se notará na figura 67 o hexágono marcado em seus ângulos com os algarismos 1, 2, 3, 4, 5,, 6, e o seu centro está marcado 7. Perpendicularmente á linha 6 a 3, e pelo centro 7 ha uma linha que divide este hexágono symetricamente em duas partes eguaes, e isto prova ser symetrico este he- xágono. A perpendicular que indica a linha de pontos 8 a 9, abrange a largura de duas ruas entre as três linhas 6 a õ, 1 a 4 e 2 a 3. (Cada algaiúsmo indica um ponto). A largura de cada uma d'estas duas ruas, e de todas as que são parallelas ás ditas, é medida pela perpendicular 7 a 8, cujo valor = 3,577708 etc. A linha marcada 6 a 5 é a mesma tam- bém marcada D B ; por isso o espaço de 6 á 8, póde-se chamar D8; e o espaço 5 a 8 pôde chamar-se B 8. Será este espaço B 8 = 2,68328 etc. = v/~7, 20 ; E a parte menor, D 8 = 1,78885 etc. = v/^3, 20 ; Cuja somma = ^/ 20 = 4,47213 etc. As ruas que vão parallelas á linha 1, 6, D Y A, terão a mesma largura = 3,577708 etc, etc ; pois tal era o valor da linha que se tirasse perpendicular á linha A D, do ponto E. Tal linha não se vê desenhada na fi- gura 67, mas convindo nós em suppol-a existente, e em chamar Z o ponto em que cahir de E a perpendicular sobre A D, digo que a maior porção A Z = 2,6832 etc.> e a menor Z D = 1,7888 etc. Servindo-nos do esquadro que indiquei na parte segunda d'este artigo, ou de ou- tro mais perfoito, é facillimo traçar esta perpendicular e marcar com uma estaca 220 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA O dito ponto que conviemos em chamar Z; e verificando se corresponde a gran- deza das linhas A Z, Z D, no terreno, aos valores proporcionaes achados pelo meu calculo, teremos indicies que juntos com outros, hào de provar a perfeição do tra- çado ou o seu erro. O mesmo préstimo nos têem as duas perpendiculares A H, e D H' ; pois, ven- do que os ângulos do rhomboide e de suas diagonaes com os lados d'clle^ c uma cora a outra, são todos ângulos que exigem ou- tros mais custosos instrumentos para rae- dil-os, descrevi as ditas perpendiculares, que se reproduzem no solo só com o au- xilio do simples esquadro, para, pela me- dição d'ellas, e das partes deseguaes em que dividem as diagonaes, servirem de contraprova da exactidão do traçado. O que fica dito é só a summa do re- sultado directamente applicado á pratica; pois tudo o que tenho escripto nos meus apontamentos com referencia ao meu sys- tema de plantação não pôde admittir-se aqui, por ir fora da Índole d'este jornal. E até mesmo os valores dos ângulos e a proporcionalidade das linhas, eu omitti- ria, se não fosse patente a grande utili- dade pratica d'esses dados. Ao terminar permitia- se-me uma ob- servação, posto que não indispensável, ao menos útil e curiosa. E' a seguinte que resumirei em breves palavras. As perpendiculares sobre os lados eguacs do triangulo A D B, vindas dos pontos exteriores E, e 7, a saber ; E Z, e 7 a 8, dividem em dous triângulos rectân- gulos cada um dos triângulos A E D, e D 7 B. Os maiores d'estes triângulos rectân- gulos succede serem taes que os seus la- dos estão como os números 3, 4, e 5. Isto é : sendo o lado A E = 5 (agora hy- pothenusa do triangulo E Z A) o lado E Z será = 4 ; e o lado A Z = 3. E por consequência no contíguo trian- gulo rectângulo será : D Z= 2 ; E Z (lado commum) = 4 ; e a hypothenusa E D = y/ 20 ; (Valor esse que era o da linha A D, quando ao lado E D=A B dávamos na 1.* hypothese o valor = 4); mas os valo- res a que me referi ultimamente eram em a hypothese de ser o lado E A, ou A D=5. Ferreira do Alemtejo. António Lourenço Marques Ferreira. CULTURA DO MARMELEIRO DO JAPÃO A Cydonia japonica (Marmeleiro do Japão) ó um dos mais formosos arbustos da primavera ; floresce desde março até ao fim de maio ; as suas flores sempre encan- tadoras, quer sejam dobradas quer singe- las, desabrocham antes da arreben tacão das folhas. Todos os amadores de horticultura de- vem possuir este lindo arbusto, o qual é de uma cultura fácil e pode supportar os frios mais rigorosos. Sendo plantado em bom terreno, podem, com elle, fazerse- bellas pyraraides isoladas, toucas ás bor- das dos massiços, ou ser dirigido em la- tada, pois que seus ramos tortuosos pres- tam-se a todas as formas. Copiamos aqui o que diz o horticultor Mr Dcfaw sobre a sua multiplicação : «E' difiScil de multiplicar-se por estaca ou por mergulhia. E' mais conveniente cortar alguns pedaços de raizes de 3 a 4 centímetros de comprimento, junto das plantas fortes. Plantam-se estes pedaços de raizes em vasos de 7 centímetros, cheios de terra de urze, collocam-se em cama tépida, e guardam-se com ellas os mesmos cuidados que se costumam prestar ás estacas. Eu emprego este meio ha muitos annos, e te- nho sempre obtido bom resultado. As plantas novas florescem quasi sem- pre segunda vez no outomno.» Camillo Aureliano. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 221 SANGHEZIA lOBILIS hook. Antigamente só o palácio dos reis, as pessoas favorecidas da fortuna, os gran- des estabelecimentos subsidiados pelo go- verno ou por associações poderosas e so- ciedades scientificas é que nos podiam mostrar essas grandes conquistas vege- taes, que as repetidas viagens ao novo mundo traziam para a Europa. Hoje, graças á diíFusão da horticultura, todos podem possuir uma amostra d'essas con- quistas, e na verdade é já notável o nu- mero de amadores que de preferencia colleccionam plantas de ornamento para adorno das suas salas e janellas. Pondo porem de parte estas divaga- ções, vamos tractar de uma planta outr'ora rara, a Sanchezia nohilis, interessante Acanthacea oriunda dos climas quentes e que se acha representada na figura 68. E' uma planta robusta, ramificada desde a base, que toma a altura de 0™,40 a 0",80; as folhas são muito amplas, car- nosas, de 0'^,2õ a 0™,30 de comprimento e O™, 10 a O™, 15 de largura, lanceoladas, Fig. 68 — Sanchezia nobilis. oblongas, com nervuras pennadas e admi- ravelmente coloridas de amarello vivo ; a nervura do meio é vermelha, pelo me- nos em quanto nova ; as flores, dispostas em uma ampla panicula terminal, são ama- rellas, tomentosas e guarnecidas de gran- des bracteas oppostas e vermelhas. A forma das flores é tubular, cilín- drica; a garganta é muito obliqua, de lóbulos voltados para fora e com dous estames férteis salientes. A gravura que acompanha este artigo dá uma ideia remota da belleza decorativa d'este vegetal. E' preciso observal-o vivo, ou melhor, ver o contraste que a sua magnifica túnica de folhas produz no meio de um massiço de outras ricas congéneres. Ahi podemos as- severar com certeza, que hade satisfa- zer os gostos mais exigentes. Esta pre- ciosidade hortícola foi encontrada em 1863 na Republica do Equador pelo in- fatigável collector da casa Veitch, de Londres, Mr. Pearce. As sementes envia- das por aquelle senhor germinaram e pro- duziram flores pela primeira vez em 1866. D'este estabelecimento passou para a bem conhecida casa belga de A. Verschaffelt, d'onde o proprietário d'este jornal a hou- 222 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA ve em 1870. O seu nome genérico de- ram-lh'o Kuiz e Pavon na sua «Flora Peruviano»; eo especifico nohUis, epitheto perfeitamente justificado pela elegância do porte, belleza da folhagem e interes- sante inflorescencia, foi-lhe dado por J. D. Hooker. A respeito da sua cultura, nada te- mos a acrescentar ao que por tantas ve- zes se tem dito n'este jornal sobre as plantas de estufa. O que affirmamos com toda a certeza, é que é uma excellente planta para salas, onde vegeta perfeitamente e com poucos cuidados. Esta espécie tem uma linda varieda- de, indiíFerente para o botânico, mas mui- to importante para o floricultor : é a San- chezia nohilis, var. glaucophylla encon- trada no Pará por Mr. Baraquin. Da primeira tem o editor d'este jor- nal avultado numero de reproducções com que possa satisfazer aos pedidos dos ama- dores, e da segunda tem alguns exempla- res o snr. António Gromcs da Silva, actual jardineiro do Palácio de Crystal, que a mandou vir recentemente da Bélgica. A. J. DE Oliveira e Silva. SALIX TOURN. Os Salix pertencem á familia das/Sa- Ucineas e abrangem um avultado numero de espécies, cujo tamanho varia desde as dimensões de uma planta pratense até ás de uma arvore de mediana grande- za. A classificação dos Salgueiros tem si- do sempre para os botânicos um dos tra- balhos mais difficeis em consequência da grande tendência que estas plantas têera para se abastardarem. Dizia ura celebre naturalista sueco : «Quem desejar estudar a fundo botânica e ficar sabendo bem clas- sificar, occupe-se de preferencia com o género Salix, e se o chegar a comprehen- der bem pode ter a gloria de saber na perfeição esta sciencia.» Os' Salgueiros pertencem mais ao do- mínio agrícola do que ao florestal, e só em casos muito especiaes c que o silvicul- tor se serve d'elles e unicamente para mattas de talhadia. Onde houver escassez de combustí- vel, havendo terrenos adequados para a plantação de Salgueiros, aconselhamos aos pequenos proprietários a sua cultura, em consequência da rcproducção fácil, decres- cerem com muita rapidez e vigor, e re- bentarem abundantemente da cepa. Os Salgueiros florescem annualraente entre os mezcs de janeiro a julho, e fru- ctificam passadas quatro ou seis semanas depois de florescerem. A semente perde m pouco tempo a força germinativa. O enraizamento profunda- se, alastra-se e é muito abundante ; as folhas rebentam en- tre os mezes de janeiro a março e fortifi- cam mal o solo ; reproduzem-se bem de estaca . Os Salgueiros nào soffrem de modo al- gum a cobertura dos arvoredos sobran- ceiros e são pouco vivedouros. São espé- cies invasoras e muito prejudiciaes nas florestas, pois obstam immenso ao regular desenvolvimento das arvores cultivadas durante a sua infância. Ha grande diversidade nos logares que habitam os Salgueiros : espécies ha que só se dão bem junto aos pântanos e paues, outras nas margens dos rios, ribeiros e la- goas, outras em terrenos ligeiros mas hú- midos ou frescos, outras nas planícies sec- cas e nas colinas, outras nas pequenas montanhas, outras nas serras e montes elevados e finalmente outras que só se en- contram nas regiões vizinhas das neves perpetuas. Os Salgueiros teem muito préstimo para fortificar as margens dos rios, ribei- ros e valias, evitando os estragos na occa- sião das grandes enchentes; são egual- mente úteis para arborisar os areaes mar- ginacs aos rios afira de que n'elles se pos- sam depositares nateiros, e transformal-os em magníficos e productivos terrenos. Das hastes preparam-se fachinas para tapar os rombos feitos pelas aguas epara outros tra- balhos hydi'aulicos. A sua madeira é leve e JORNAL DE HOIITICULTURA PRATICA 223 macia : emprega-se na carpinteria e mar- ceneria, e da do Salix alba fazem-se pali- tos. Como combustivel é dos de inferior qualidade. Os ramos d'esta arvore servem para a construcção de cestos e canastras e al- gumas espécies dão bons arcos para pi- pas. A casca, por isso que contem muito tanino, é empregada no cortimento dos couros, e a do Salix atro-cinerea tem muito valor para tingir as redes de pes- ca. No paiz são muito frequentes algumas espécies de Salgueiros : abundam princi- palmente na parte do reino comprehendi- da entre o Minho e o Sado. Citaremos aqui as que Brotero nos indica na sua «Flora Lusitanica», mas não as descreve- mos cada uma em particular por não ter- mos perfeito conhecimento de todas. Salix monandra Linn., arbusto de 2™,00, cncontra-se na província de Traz- os-Montes, com especialidade junto ao Pezo da Regoa. S. triandra Linn., arbusto de 2°, 50, frequente na mesma província. S. fragilis Linn., pequena arvore, habita as planícies e collinas das nossas províncias septentrionaes. S. vitellina Linn., arvore pequena, encontra-se em quasi todo o paiz ; prefe- re as planícies ás collinas. S. hahylonicalÀnrí., arvore de segun- da grandeza ; encontra-se em quasi todo o reino junto das fontes, lagoas e regatos. 8. mminalis Linn., arbusto e algu- mas vezes pequena arvore ; muito fre- quente nas margens dos rios e ribeiros das nossas províncias septentrionaes. S. alba Linn., arvore de porte me- diano ; tanto prospera nos terrenos seccos e compactos, como nos húmidos e soltos. Encontra-se em quasi todo o reino e mui- to frequentemente nas margens do Mon- dego e seus aífluentes. S. salvífolia Brot., pequeno arbusto muito frequente nas margens do Monde- go e seus campos. S. atro-cinerea Brot., pequena arvo- re : encontra-se muito nas margens do Mondego e seus affluentes. Hoje na matta do Choupal existem; alguns exemplares do S. caprea, tendo a planta mãe vindo de Allemanha, e vege- tam alli com bastante vigor : portanto po- de-se juntar mais esta espécie de Salguei- ro ás da nossa Flora, pois em breve se encontrarão alli espontaneamente. Nos outros paizes do continente euro- peu ha outras espécies taes como : S. amy- gdalina Linn. ; /S. cinerea Schr, ; S. pur- púrea Linn. ; S. pedicellata Desf. ; S. has- tatá Linn. ; S. -pyrenaica Linn. ; S. la- ponum Linn. ; S. reticulata Linn. ; S. re- tusa Linn. ; S. herbácea Linn. ; S. ãa- pnoides Will. ; S. aurita Linn. ; S. her- maphroditica Linn.; S. are?iarea Linn. ; S. caprealÁun., etc. Coimbra. Adolpho Frederico Moller. LAVRA CIRCULAR COM ARADO DE AIVECA FIXA Em paizes montanhosos não são admis- síveis outros arados senão aquelles em que se muda a aiveca e a relha de um para outro lado, a fim das leiras poderem ca- hir para cima do lado mais elevado tanto na ida como na volta do instrumento, por cuja forma a lavra tende a reparar o ettei- to das chuvas que arrastam a terra para baixo. No nosso paiz a lavoura, seguindo a rotina, desconhece completamente o servi- ço dos arados com aiveca fixa, embora os bons l^terrenos planos que temos os es- tejam reclamando, especialmente os ara- dos de Ransome, chamados de Neio Cas- tle, por isso que estes se transformam em cinco instrumentos de lavoura. A fig. 69 representando um traço da lavra circular deve surprehender a muitos que imaginam que um trabalho circulante não poderia produzir linhas rectas como se vê. Vamos, pois, para beneficio da nossa agricultura, descrever a maneira de se 224 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA fazer esta lavra, deisanclo para mais tar- de a deseripção dos arados d'este syste- ma. Como todos sabem, a maior parte dos terrenos planos sào húmidos, e tanto estes como os que tem pequeno declive preci- sam de ser cortados com regos de esgoto que dêem vasào ás aguas sem prejuizo da sementeira ou plantação. A primeira tarefa do lavrador c, pois, dividir o terreno, que tem a lavrar, em taboleiros, formando com um arado esses regos de esgoto. O comprimento dos taboleiros não tem limites senão com relação aos esgotos pre- cisos, mas a sua largura deverá ser de 4 a 6 metros em terras húmidas e barren- tas, e de 12 a 22 metros nas terras soltas, areentas. O raethodo para principiar a formação dos taboleiros de G metros com relação á lavra que vamos explicar, será o mesmo que serve para quaesquer outras largu- ras. Toma-se a quarta parte d'esta largu- ra, isto é, 1™,50 como centro para ahi principiar o primeiro tiro do arado ; e co- mo este deita as leivas para o lado direi- to, terá na volta de volver para o mesmo lado direito e assim successivamente até completar a lavra de 1™,50 de cada lado d'esse centro ou os 3 metros. Agora na distancia de 6 metros medi- dos desde o centro da primeira lavra re- pete-se a mesma operação, lavrando outros 3 metros, ficando por conseguinte entre estas duas carreiras lavradas ura espaço de outros 3 metros o qual se segue lavrando no sentido em que estão as leivas lateraes, ficando no fim um rego de esgoto ao cen- tro. Assim como se lavram estes primeiros 9 metros, assim se procederá com os que se- guirem (outros 9), dando em resultado que, concluido o trabalho, ficam os taboleiros da largura de G metros, menos o primei- ro e o ultimo que necessariamente ficam de 4", 50 de largura, por assim o exigir a formula apropriada para o gado não perder caminho inutilmente. Os regos transversaes nos extremos d'e8tes taboleiros servem de limite aos tiros do arado, cuja ponta sahe para fora da terra logo que o operário peze sobre as mãos das alavancas do mesmo ara- do. No extremo dos taboleiros fica um bordo bastante largo para o trabalho dos animaes e para a volta sohre o solo do arado, durante a qual, ou n'essa occasião, os animaes descançam da força de trac- ção que acabam de exercer. Esse terreno é depois lavrado em li- nha do seu prolongamento cruzada com as cabeças dos taboleiros. Nos terrenos pequenos e seccos pode a lavra fazer- se com estes arados em li- nha continua e em volta do campo, se- gundo a sua forma. Principiando pela di- reita ficará um rego ao centro do campo, o que ás vezes poderá ser conveniente ; porem principiando ao centro do campo em qualquer das cabeceiras poderá, viran- do no fim do tiro, pela direita em uma la- vra, e na outra pela esquerda, restabelecer na segunda a accumulação ao centro das duas leiras eâectuadas pela primeira. N'este serviço não tem outras vanta- gens o arado de aiveca fixa senão poder ser mais forte e resistente que qualquer outro de aiveca movei, mas em eguaes circumstancias de consistência será o ara- do fixo na aiveca mais leve e por isso de menos tracção para os animaes, e evitará o trabalho repetido da mudança de aive- ca, relha e rodas, o que é sempre muito incommodativo. Como o lavrador esmerado não se contenta com um simples instrumento de lavoura, não deixará de achar conveniên- cia na acquisição de um arado de New- Castle de aiveca fixa pelo motivo que já apontamos da sua transformação em ara- do de sub-solo, arado de cava, arado de regos ou plantação alta linear, ou em le- vantador de Batatas. Alem pois de economia no custo com- parado com 5 instrumentos distinctos, ac- cresce a economia de transporte dos mes- mos para os campos e de uma casa maior para os guardar. A introducção d'estes bons arados tem sido difficultada pela má applicação de al- guns curiosos que os têem querido fazer trabalhar em terras para que não eram próprios, pois que n'esta classe de arados ha cinco tamanhos differentes, cuja acqui- sição se deve fazer attendendo á natu- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 225 reza do solo, mais prezo ou mais solto. O arado que for bom para os terrenos areen- tos da beira mar, não poderá servir para terra barrenta ou de pedregulho — quebram- se por falta de consistência ; e pela mesma forma, um arado consistente seria altamen- te pezado para terras soltas. E este o principio que leva o lavrador Fig. 69 — Lavra circular com arado de aiveca fixa. illustrado a aproveitar todas as occasiões | e perda de tempo na direcção dos serviços de misturar as terras umas com outras, a ' que por isso se tornam mais simplificados, fim de tornal-as mais uniformes e simi- 1 Ihantes para evitar maior numero de arados ' A. de La Rocque. CHRONIGA O snr. José do Canto, um dos gran- des proprietários da ilha de S. Miguel, amador distinctissimo de plantas, e incan- sável introductor de vegetaes, quer de or- namento, quer úteis debaixo do ponto de vista industrial, escreveu ultimamente ao nosso collaborador, o snr. Edmond Goeze, dizendo-lhe que nas suas propriedades, em Furnas, os Rhodoãendron, e entre el- les algumas espécies do Himalaya, se pro- pagam espontaneamente e começam a for- mar pequenos bosques, e que o Pinus in- signis fructifica abundantemente. Consta-nos que o snr. Canto tenciona dedicar-se seriamente á cultura do Phor- mium tenax, vulgarmente chamado Linho da Nova Zelândia. A pag. 157 do volume II d'este jornal fez o snr. Joaquim Casimiro Barbosa cu- riosas observações sobre a utilidade da cultura d'esta planta em Portugal. Pela abundância e excellente qualidade da sua matéria têxtil, pelo bem que se tem acli- mado entre nós e pela facilidade com que se dá em todos os terrenos, quasi sem exigir cuidados do cultivador^ segundo as experiências do snr. António Joaquim de Figueiredo e Silva, o Phormium tenax pode vir a ser para Portugal uma copiosa fonte da receita, mormente se houver todo o cui- dado em conhecer os processos mais ade- quados e económicos para a preparação e aproveitamento de sua matéria têxtil. O PJiormium tenax prospera entre nós como se estivesse no seu paiz natal, e não nos deveremos acobardar perante as dif- ficuldades que por agora se encontram para a preparação da sua matéria têxtil. 226 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA As experiências que todos os dias se rea- lisam hào-de levar por íira ao descobri- mento do ruais vantajoso processo e então se abrirá um dilatado campo á industria. Ha muitos terrenos incultos em Portugal que se poderiam aproveitar com escellen- tes resultados para esta cultura, e a riqueza publica augmentaria consideravelmente. O processo que Labillardière seguiu para obter a força comparativa das fibras do Phormium foi o seguinte. Preparou fi- lamento, da mesma grossura da Piteira, do Cânhamo, do Linho ordinário e da Seda e lazendo-os supportar o maior peso pos- ai vel, colheu o seguinte resultado. GRAMMAS. O fio do Cânhamo . . . supporlou 400,5917 O do Linho da Nova Zelândia » 599,5032 O d,T Piteira » 176,2349 O do Linlio ordinário . . » 295,8228 O da Seda « 85o,9978 D'aqui concluiu Labillardière que a ri- jeza ds cada um d'estes fios e.-tava na mesma relação que os números que se se- guem : Da Piteira 7, — Do Linho ordinário II ,3/í Do Cânhamo 10,1/3 Do Phormium Tenax 23,3/4 Da Seda 34, — Labillardière fez ainda outra serie de experiências para avaliar a extensibilidade comparativa d'estes diíferentes géneros de substancia filamentosa. Consiste o processo em reconhecer a máxima distençuo que cada ura soífria antes de estalar. O resul- tado da experiência foi o seguinte. Repre- sentando a extensibilidade do Cânhamo por 1, A extensibilidade do Linho é de 1,1/2 » doPiíormium » 1,1/2 » da Piteira ..... » 2,1/2 » da Seda » 5, — Segundo o auctor a que nos temos re- portado, os terrenos hmnidos são mais con- venientes que os seccos para a plantação do Phormium. A experiência o tem de- monstrado sufficientemente. Os terrenos pantanosos, muitas vezes abandonados, sao egualraente adequados á cultura d'esta Zi- liacea. Nas aMemorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa» (serie IX, tomo I, parte II) encontra-se um excellentc estudo sobre o Phormium tenax pelo dr. António Joaquim de Figueiredo e Silva, e foi d'esse consciencioso trabalho que extrahimos os apontamentos pai-a esta noticia. Recom- raendaraol-o, pois, ás pessoas que queiram emprehender a cultura do Linho da Nova Zelândia. — Um cavalheiro de Coimbra que nos tem mimoseado por varias vezes com os seus escriptos, o snr. A. de Sampaio, es- creve-nos para nos dizer que depois de ter publicado o seu artigo sobre o Moran- gueiro Gaillon (pag. 89) tinha verificado que esta variedade era a de mais abun- dante e continua fructificação ; é de tão suave e exquisita f)agrancia que perfuma o local aonde estão os seus fructos ; e de tão delicioso e especial sabor que por ven- tura excede o de todos os outros quando bera maduros e particularmente tempera- dos com o sumo da laranja e assucar. Segundo assevera aquelle senhor, o logar era que os cultiva é árido e sum- mamente exposto aos raios solares, o que lhes damnifica o viço das folhas. Por vezes falta-lhes também a rega, porque, não ha vendo agua perto, tem de ser feitaá mão. E de esperar que era melhores condi- ções se obtenham resultados que excedam os obtidos pelo snr. A. de Sampaio. — Accusamos a recepção de ura «Ca- talogo de plantas bolbosas e tuberculosas, 1871-1872» que se acham á venda em casa dos snrs. Araújo & Ferreira, doesta cidade. N'aquelles dous géneros possuem uma boa collecção. — A muitos se afigura incrível o mal curado que anda a maior parte dos jar- dins públicos de Portugal. A nós parece- nos uma cousa naturalissima. Os camaristas a quem estão adjudica- dos estes pelouros são homens graves, con- spícuos. Hão-de lá tractar de plantas e flores, uma insignificantissima cousa que todavia merece tantos disvelos nos paizes onde já penetrou a luz da civilisaçao! Se alguém duvida que Portugal ó par excellence a terra do progresso, não tem mais qtie tirar-se dos seus cuidados e ir espairecer as vistas por qualquer dos nos- sos jardins públicos. São um primor, gra- ças a Deus. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 227 Uma folha da capital do Minho, o .plantei em 1844. Tinha então 2 metros pouco mais ' ou menos e já florescia. Peço-lhe desculpa d'estas minhas observações que o artigo do snr. Falcão me suggeriu, e sou cora toda a estima, etc. — JosÉ Marques Loureiro. — Sào muito interessantes e dignas de menção as ideias eraittidas por Mr. Th. Meehím sobre a sexualidade das plantas. Para este botânico a producçao dos sexos nas flores é o resultado de causas constan- tes mas não preexistentes á primeira for- mação rudimentar do órgão da geração. O que dá nascimento ás flores femi- ninas é o maior vigor axillar da planta. As principaes observações de Mr. Th. Meehan foram feitas na America. Notando o effeito da luz intensa dos estios americanos sobre a vegetação, mos- trou que os Carvalhos da Europa que du- ram séculos e gastam muitas gerações pa- ra chegarem ao seu completo desenvolvi- mento, na America em menos de cem an- nos têem attingido o seu pleno crescimen- to, a sua decrepitude e a sua morte. Do mesmo modo uma Macieira de cincoenta annos raras vezes alli deixaria de ser uma arvore já velha. Como explicar esta rapidez de vege- tação^ este gastar prematuro da vida? Será devido este phenomeno á grande decomposição do acido carbónico debaixo da influencia da luz ? Problema para vastas cogitações ! Os Morangueiros (Fragaria vesca) ser- viram a Mr. Meehan para os seus pri- meiros estudos da modificação dos se- xos. Muitas variedades importadas por elle da Europa e perfeitamente hermaphrodi- tas, tendo sido coUocadas em plena luz e rigorosamente estrumadas, produziram uma quantidade de flores simplesmente pistilladas. O dr. Darlington, compartindo da opi- nião de Mr. Meehan, mostrou também a influencia da luz e do vigor vegetativo so- bre a producção das flores femininas. As- sim a Lonicera hrachypoda cobre-se na America de bagas negras, emquanto que entre nós raras vezes fructifica. Algumas espécies de Rumex, e prin- cipalmente o R. crispus e o R. longifo- lius, que na Europa são hermaphroditas, têem sempre mostrado na America os in- dividues mais vigorosos cobertos de flo- «Bracarense», relata o seguinte que na verdade é um triste documento do nosso vergonhoso atrazo : Jardim publico. — Está em lamentável abando- no o bellissimo Jardim publico do campo de Sant' Anna. As hervas ruins brotam por todas as ruas : as folhas seccas obstruem os passeios. Até a garo- tagem e canalba se serve dos ângulos e sombra das arvores, dentro e fora da grade de vedação, para fazerem de.y)('jos. Que fazem os vigias da illm.^ camará ? Por- que não zelam este serviço, assim como o da lim- peza da cidade, que mais parece, em algumas ruas, uma estrunieira? Ahi deixamos transcripto um facto, que pode servir de pedestal imraorredouro da illm.^ camará da terceira cidade do reino ! Duvidamos porem que o archive nos annaes do mmiicipio. E' pena ! Poderiam os nobres edis exclamar : Zoilos, tremei; posteridade, és minha! — Em seguida encontrará o leitor uma carta, que se refere á florescência prema- tura do Liriodendron tulipifera, assumpto de que se occupou o nosso amigo, o snr. N. P. de Mendonça Falcão, a pag. 163. Snr. redactor. Lendo o artigo do snr. Mendonça Falcão sobre a tlorescencia do Liriodendron tulipi- fera, tenho a dizer que não falta razão aos escri- ptores que afiançam que esta arvore só floresce dos 25 aos 30 annos, quando nasce de semente. Sen- do, porem, reproduzida por meio de alporques em arvores que já dão flores, então floresce mal tenha passado um ou dous annos. Quando a vegetação é muito vigorosa, a flo- rescência é mais tardia, principalmente se a planta está em terreno forte, que é o que mais lhe con- vém. Em terreno fraco, as flores vêem mais cedo, mas a arvore desenvolve-se pouco. Admirou-se o snr. Falcão de ver tão cedo flo- rida a que está em casa do snr. visconde de Val- môr. Já vc que se explica facilmente o mysterio : era de certo reproduzida pelo modo que indiquei 8 muito tempo terá de esperar o snr. Falcão para ver florida a que possue, se por ventura é de se- menteira. As plantas do Liriodendron tulipifera que re- cebemos do estrangeiro são reproduzidas de semen- te, no entanto possuo algumas obtidas de alpor- que. Infelizmente não chegam a satisfazer todos os pedidos. Querendo o snr. Falcão certificar-se da origem da sua planta, bastará que se recorde se ella tinha uma haste fina e sem o torrão enraizado como é costume sahir dos cortiços. N'este caso era de se- mente. Na duvida, porem, tomo a liberdade de lhe offerecer um exemplar que já dá flor. No meu estabelecimento possuo um exemplar de semente ha mais de vinte annos e ainda não tive o gosto de lhe ver desabrochar as flores. Os que já florescem são tirados de um Liriodendron ({no. 228 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA res femininas. Nos Âcer e Freixos acon- tece muitas vezes que os rebentões vigo- rosos produzem flores femininas no mes- mo ramo que tinha sido sempre mascu- lino. Os individues masculinos do Espi- nafre e do Cânhamo sáo sempre muito menos vigorosos que os exemplares femini- nos. O mesmo acontece nas Euphorhias, por exemplo na Euphorhia Jacquinio>.jlo- ra;o plano em que os orgàos masculinos e femininos estào dispostos é evidente- mente o mesmo, porem só no centro da espiga, isto é, na direcção do maior vi- gor axillar é que as flores são femini- nas. Mr. Ed. André accrescenta um facto que é mais uma prova em favor da ab- sorpção de seiva e do vigor provenientes da producção das flores femininas e dos fructos. Nos Solaminij principalmente nas es- pécies espinhosas do Brazil, das quaes o Solanum marginatimi fornece um exem- plo muito frisante, acontece que só é fér- til a flor mais próxima da base do eixo floral extra-asillar, a qual absorve em seu proveito todo o vigor das outras flores cu- jos pistillos se atrophiam e seccam. Nunca dous fructos se mostram sobre a mesma inflorescencia. A flor visinha da base do eixo é a primeira que se abre com um pistillo muito desenvolvido que é bem depressa impregnado pelo pollen da flor próxima. Depois da fecundação, o ovário engros- sa rapidamente e o pedículo da flor, que era levantado e delgado, inclina se para o solo e torna-se robusto, ao mesmo tem- po o cálice desenvolve-se muito^ eriça-se e envolve parte da baga que muitas ve- zes toma as proporções de uma pequena maçã. Durante este tempo, algumas ou- tras flores em numero de 8 a 12 desabro- cham com grande dificuldade, mostrando antheras sem pollen e ovários abortivos, e muitas vezes até cahem sem abrir, ou murcham e seccam, deixando apenas de toda a inflorescencia um fio enegrecido do comprimento de um a dous centímetros. Sobre estes curiosos factos fundamen- ta o auctor a sua theoria, a qual, para ser convertida em lei fixa da natureza^ precisa do apoio de novas e numerosas observa- ções que não deixem a menor duvida sobre a ideia que o auctor pretende sustentar. Oliveira Júnior. DUAS PALAVRAS Eis a ultima pagina do segundo volume do JORNAL de horticultura pratica* Antes de nos despedirmos dos nossos benévolos leitores temos de agradecer- Ihes, em nome do proprietário d'este jornal, o efficaz auxilio que se, dignaram pres- tar-lhe, o que, sem duvida, concorreu para que esta publicação não morresse na sua primeira infância. Agora que o benemérito horticultor, José Marques Loureiro, desafogou os seus sentimentos de gratidão, seja-nos permittido a nós usar também da palavra. Não achamos no nosso pobre vocabulário termos com que signifiquemos a muita obrigação em que estamos com os numerosos collaboradores e amigos que, cora as suas auctorisadas pennas, tão poderosamente nos coadjuvam n'uma tarefa que espon- taneamente nos impozemos pelo amor que consagramos a Flora e Pomona, Reconhecemos que uma publicação d'esta ordem está áquem das nossas fracas forças ; pedimos pois benevolência e, se vivermos, robustecerá pouco e pouco o nosso espirito simultaneamente com a nossa penna. Os jardins suspensos da Babylonia, não se fizeram n'um só dia ! Continuaremos a trabalhar com ardor na senda do progresso agricolo-hortico- la ; e, se a aragem do favor publico vier fecundar os nossos trabalhos, desde já podemos afiançar que este singelo MONUMENTO que queremos elevar á pobre da HORTICULTURA PORTUGUEZA não ficará apenas em alicerce. Redacção, 1.° de dezembro de 1871. OI/IVEIBJl JVIVIOB. Imprensa da Livraria Nacional lllllliiliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiininiiiiiiiiii 3 5185 00263