TKE NEW YORK BOTANICALGARDEN BRONX, NEW YORK 10458 JOKMl DE UOmTii PillTICi JORNAL DE ETDBA FBATICA Premiado na Exposição Hortícola de Lisboa de 1870 e na de Gand de 1872 com MEDALHAS DE PRATA PROPRIETÁRIO JOSÉ mm LOUREIRO REDACTOR OLIVEIRA JÚNIOR SÓCIO CORRESPONDENTE DA REAL SOCIEDADE DE AGRICULTURA E BOTÂNICA DE GAND O -A- L Ij -A- B O I^ ^ÍÍL. ID O PJ. E S Em G*orlní;aI — Os ÍSnhs.: Adolpho Frederico Moller, António Batalha Reis, António de La Eocque, António José de Oliveira e Silva, Augusto Luso da Silva, Dr. Bazilio Constantino de Almeida Sampaio, Dr. Bernardino António Gomes, D. J. de Nautet Monteiro, Conselheiro Camillo Aureliano da Silva e Souza, Edmond Goeze, Gborge A. Wheelhouse, Dr. Júlio Augusto Henriques, Visconde de A^illa Maior. Em Frauçu — -A. Dumas. i%'a ISelí{;lcu — Jean Verschaffelt, E. de^ Coninck. I>ia Brussia— P. Wolkenstein. Em IIe»4paBil*a — Jules Meil, Estéban Quet. I^o Egyplo — G. Delchevalerie. VOLUMIí III— 1872 Redacção, Carmo, 6 — Administração, Fogueteiros, 5— PoitO. XYP. DB JOSÉ COELHO FEBEEIBA TAYPAS, 65. ,0'é2 v.3-4 1812-73 índice PAG. Abies Pinsapo .... 6 Acácias da Austrália e outros ve- getaes exóticos . . .166 Aceras longibracteata . . .109 Adiantmn Capillus-Veneris . . 48 Administração florestal . . 27 Agave filifera . . . . 121 Alocasias ..... 22 Aloés como plantas curiosas e or- namentaes . . . . 167 Alpista 232 Aquários ... 22, 115, 181 Arado de aivecas moveis . . 145 Asparagus officinalis ... 46 Asphyxia das arvores. . . 43 Aspidistra lurida, foi. var. . . 171 Avenca ..... 49 Baldios . . . .63, 92, 112 Banksia serrata .... 149 Batata (Cultura das) . . . 41 Batata (Succedanea da) . . 128 Batata Milky-white . . 14 Batata Sutton's red skinned flour- ball 41 Begónias ..... 2 Begónias tuberculosas. . . 163 Beterraba em sequeiro . . 31, 37 Bétulas: Da sua importância na silvilcutura e industria . 211 Bibliographia Caixas de plantas para janellas Caladiums. Camellia (Ensaio sobre a) . Caraellia Bella Portuense Cedi'us Deodara Centáurea dementei . Clematis patens. var. Sophia Couve de Bruxellas (Cultura da) Couve Rábano . Couves de Repolho (Conservação das) . Cupressus macrocarpa Cultura florestal . Cundurango Dahiia arbórea . Dahlia imperialis Dasylirium longifolium Debulhadores de Milho Desarborisação (Da) . Doenças epiphyticas . Epacris .... Espargo Estudos ampelogi-aphicos Estufas (Systema de as aquecer) Feno (Manipulação do) Fetos .... Forragens .... Fraxinus excelsior PAG. 25 126 152 51 230 161 231 195 164 84 192 221 110 192 87 87 101 104 8 71 225 46 11 81 222 148 170 47 VI índice 47 21 141 Freixo commum Gunr.ora pcabra. Hpdychiiiiu Gardnerianum . Herbarium cryptoííamicum do Por- to e seus arredoit?8. ió, oo, l^Z, ^^ó Horticultura (A) em S. Tctershur- fro . . . Ilydraníroa hortensis . Hvdropliobia (A capca do Quer- eus hispânica como antidoto da) . . . • Insecto que ataca as ervilhas Insectos (Meio de os destruir nos pomares e nas latadas . Introducçao . . • • Jardinaireni (Revista sobre a) 106, Jardins iConio principiaram os) Lavra circuhir . Luzerna .... Maj^nolia CampbolH . ^lafinolia j;randiflnra . Mantei;xa do ovelhas . Manteifja (Fabrica(;rvo de) . Mclulontha hyppocastanum . Melolontha vuli^aris Mimusops elata . Moran^ro Ananaz Perpetuo . Moranf^os (Somente dos) Orchideas .... Palmeiras .... Pelarponium hederacfolium. Pelaríronium triste 67 216 202 75 149 1 124 49, 71 25 188 215 172 130 82 153 153 30 44 103 108 169 230 j 230 Pêra Bcurrc de Fromentel Pêra Beurré de Ghclin Petunias (Cultura das) Phalaris canariensis Philodendron pertusuni Phylloxera vastatrix . 1^2, Picea excelsa Raymontii Plantação em septunce Pourretia aeranthos Relvas Reseda arbórea (Cultura da Resinarem Rosa ]\Iaréchal Nicl Sodum fabarium Sedum Telephium Sciradeira de relva . . 1^*) Sementeiras (Meio do as prcser" var dos estragos dos passa" ros). Tangerina nova . Tecoma grandiflora . Thiiya gigantea . Tomate Belle de Leuville Tradescantia virginica Uva Golden Champion Verbenas (Cultura das) Videira (Enxerto da) Videira Golden Champion Videira Touriga . Vinha (Incisão annular) Viola arbórea Brandyana Vitex Agnus-Castus . 201 129 6S 232 61 204 13 24 32 185 102 142 54 5 5 227 23 72 10 150 31 31 2 147 2O3 2 11 89 189 232 INDICEDACHRONIGA OLI^^EIi^-A. jxjisnoi?, JANEIRO Introducção — O snr. Edraond Qoeze — O Jardim Botânico de Coimbra — Semen- teiro Siiiith — Exporioucias em Camide — aThe (j! ardeu «, nova publicação ingleza — Caixas para sementeiras — Catalogo de Mr, Jean VerschaíFelt — Catalogo de IMM. Charles Huber & C.ie — Azálea indica Reine de Portugal — Oflferecimento a sua Ma- gestade a Rainha, a Senhora D. Maria Pia — Da silvicultura em Portugal — Carta do ínr. A. F. Moller — Exposição peninsular no Palácio de Crystal — A camará muni- cipal d'Arouca propa;,'ando a cultura da Amoreira — Methodo particular da cultura dos MoraníTUeiros de todos os mezcs — Modo de conservar os tubérculos das Dahlias — Decocção de tabaco para banhar as plantas d'estufa — Novas Gramíneas — Grandei propagação de Eucalyptus c Amoreiras 14 índice vn FEVEREIRO Melhoramentos nos jardins puLHcos da cidade— Interdicçao da entrada n'elles ao proletário — De que modo foi recebida a ideia do snr. visconde de Villar Allen — Carta da exra.'* snr.^ D. Cândida de S. Pinto — Considerações sobre a cultura das plantas a dentro de portas — Catalogo dos snrs. Araújo & Ferreira — Trabalhos para fevereiro — Exposição peninsular — Exposição promovida pela Real Associação de Agricultura — Razão por que não deveria ser eífeituada — Paixão pelas flores em In- glaterra— Experiências feitas com o Arroz de sequeiro pelo snr. H. M. Dulac — Necessidade de modificação na lei sobre arrozaes — ÒíFerta de semente da Amoreira branca — Carta do snr. Oliveira e Silva sobre o projecto de uma Sociedade Hortico- la — As paniculas do Gynerium argenteum como ornamento para salas — Modo de as preparar — O «Horticulteur Lyonnais» — Como se evita a emigração — Plantações fei- tas nos terrenos a cargo da Direcção das obras publicas do distiicto de Coimbrr. — Remédio para a destruição de certos insectos parasitas — Cultura dos Morangueires em Valença — Uva Golden Champion — Modo de fazer desapparecer os pulgões dos Craveiros — Offerecimento de sementes do Milho assucarado, aos snrs. assignantes do «Jornal de Horticultura Pratica» 33 MARÇO Necrologia — A camará municipal de Coimbra — Plantação em Coimbra — Sobre o tamanho dos vasos — O Eucalyptus globulu^ — Cartas sobre os Eucalyptus — Rega- dor Perfeito — Suas vantagens — O «Journal d'Horticulture Pratique», de Gand — A Quina — O que era mister fazer-se para a sua propagação nas nossas possessões — Couve que pesa 10 a 25 kilograramas — Catálogos recebidos: Vilmorin Andrieux & C.is, de Pariz e J. Liaden, de Gand — Programma para a exposição que se deve ve- rificar em agosto próximo em Lisboa — Morangueiro Gaillon — Catalogo de snr. Ju- les Meil, de Sevilha — O snr. Jayrae Batalha Reis — Novas plantas descriptas pelo barão F. von Mueller — Multiplicação das Dahlias — Salvia camphorata. . . 55 AERIL Jardinagem da Foz — Arvores e arbustos adequados para a beira-mar — Jardina- gem publica do Porto — «Theoria mineral da nutrição das plantas e sua applicação á agricultura», pelo snr. Ramiro Larcher Marçal — Maneira simples de reduzir os gi'aus centigrados aos de Réaumur — Plantações d'arvores no concelho de Braga — Plantação de Eucalyptus globulus era Albergaria-a-velha — Apparecimento do Phyl- loxera vastatrix, em Hespanha — Novos «Supportes» para vasos de sala — Machina agi'icola denominada «Lava raizes» — Selecção das melhores maçãs, feita por Mr. Charles Baltet — Sementes fecundas das Araucárias — Fructificação da Musa ensete, na ilha de S. Miguel — Nova publicação agricolaí «Le Journal des Campagnes» — O nosso collaborador, Mr. P. Wolkenstein — Visita ao Jardim Botânico de Coimbra — Floração da Banksia verticillata — Todea africana, var. rivularis, offerecida ao Jar- dim Botânico de Coimbra^ pelo barão F. von Mueller 75 MAIO Chegada da Primavera — «Flore exotique du Jardin d'acclimatation de Ghèzi- reh et des domaines de S. A. Le Khédive» e «Notice sur le Bambou gigantesque de rinde et de la Chine» por Mr. G. Delchevalerie — Abundante florescência do Lilium auratum em Bragança — O snr. Adolpho Gustavo Ferreira Braga — «Filolo- gia médica ó estúdio de plantas medicinales indigenas y exóticas» por D. Esteban Quet — Meio de destruir os Musgos nas arvores fructiferas — Resumo da exposição da Real Sociedade de Agricultura e Botânica de Gand — Banco Derby — O Condurango — Carta do snr. Edmond Goeze — A mallograda exposição do Poi'to — Catalogo de plantas — Exposição horticola em Lisboa — Catalogo de obr as horticolas — Wellingtonia VIU índice gigantca— Wcllinfçtonia gigantea variegata — Wellingtonia pêndula —Novo moio de fabricar arvores fructi feras — a Catalop^ixs seniinum in Horto Botânico Matritensi» (1861)— A Batata red-8kinned fljurball 9õ JUNHO Jardins cm Lisboa— Jardins no Porto — Caracter democrático dos jardins do Egypto — Cartado snr. Edinond Qocze sobro a necessidade que temos de uma Flora do piiz — Exognnium Purga — Plantações do Pinus maritima em França — Fructifi- caçào da Wistoda chinensis (Glicínia) era Inglatora — Laboratório para analyses chi- raicas fundado pela Real Associação Central da A2,riculíura Portugueza — Epocha melhor para a sementeira da Amoreira em Portugal — Plantas adequadas para as brechas dos muros, ctc. — Vaso rústico para sala — Remédio para combater o pulgão lanigero — Maneira de evitar a moléstia das Batatas, segundo Mr. Maillard — Espan- tosa fecundidade de uma Videira 116" JULHO A Exposição Hortícola de Lisboa — Rodella do tronco de um Eucalyptus globu- liis — Os jardins puldicosein Inglaterra — tEtudes Egyptiennes: — Les Jardins et les Champs (Ic la Vallée du Nil»; por Mr. G. Delchcvalerie — O novo flagello das vi- nhas, Plivlloxora vastatrix — Como se pôde atalhar o progresso do mal — Opinião do snr. J. L Ferreira Lapa — Ao governo incumbe tomar promptas medidas — Reu- nião da Commissão Central — Organisação de trcs centros de estudo — Reunião da Commissão do Porto — Officio dirigido ao governador civil de Villa Real — Resposta dada por um cavalheiro da Régua — Quesitos sobre o Phylloxcra vastatrix — Raízes affectadas remettidas de Villa Real — Piíylloxcras alados — Foi o PhylloKera impor- tado da America? — Fructiticação em Coimbra da Wisteria chinensis (Glicinia) — Novo jornal: «Revuc de TArboriculture Fruitiérc, Orncmentale et Forestiére» — Artigo sobre a fabricação de manteiga de ovelhas — - Spirsea prunifolia fl. pleno — findex Seminarii Horti Botauici Academici Conimbricensis» — Honras conferidas a Mr. Edmond Goezc 133 AGOSTO Carta de Mr. J. Meil sobre jardins públicos: á exc.'"''^ camará municipal do Porto — Producção d'azeite — Honra conferida ao snr. António Batalha Reis — «No- menclaturc usuoUe de 5Õ0 íibres textilos», por Mr. J. Bernardin — Exposição hor- tícola em Coimbra — Milho palmado — «Descrípção de Machinismo Agrícola», pelo snr. A. de Ln Roeque — Ideias sobre a emigração — Estado do mercado de vinhos em Londres — Bouquet oíFerecido a S. M. a Rainha a Senhora D. Maria Pia — Mu- sa ensetc — Carta do snr. conselheiro Camillo Aureliano — O ventilador aspirador — Da sua utilidade na agricultura — Catalogo de Mr. Alcgatiórc — Novos Pelai-goniums zonaes de flores dobradas — Abertura da Exposição de Lyon — Visita do snr. Antó- nio Batalha á Exposição de Lyon — «Mémoire sur TEmbrcvado» por Mr. G, Del- chcvalerie— Nomeação de Mr. Dclchevalerie para membro do Instituto do Egypto — Programma para a IX Exposição Internacional de Gand, em 1873 — O tempo e a região viníeohi — Novo processo para a transplantação dos Freixos e Carvalhos adultos — O Jardim de Plantas de Pariz — Florescência* de Dracaenas — O Phyllo- xcra 154 SETEMBRO Ao leitor — A commissão encarregada de estudar a nova moléstia das vinhas nas regiões affnctadas — O Relatório — Cartas do snr. Eduardo Moser sobre o Phylloxe- ra vastatrix — A iFitologia Medica» do dr. Esteban Qiiet — As moléstias nos vege- tons — Guardas fructiferas do caminho de ferro — Catalogo geral de Mr. F. de Co- ninck — Colheita de vinho — Wellingtonia gigantea — Morte do dr. Jules Guyot — índice IX ■ Mr. Emile de Coninck — As Oliveiras — Os parques e jardins de Madrid — Cedrus Deodara — Boldu chilanum — Doença no gado suino: providencias adoptadas — Maçãs apresentadas como melhores — Catalogo das plantas florestaes que se acham á ven- da nas mattas do Choupal e Valle de Cannas — A próxima exposição de Gand — Ar- borisação na Califórnia — Catalogo dos snrs. Charles Huber & C."-'^ — O Chamserops excelsa ao ar livi'e— Desapparecimento no Egypto do Papyrus antiquorum — O bi- cho da seda do Ailantus aclimado em França 174 OUTUBRO Nova «Flora Lusitanica» pelo barão de Castello de Paiva — Boulevard no litto- ral do rio Hudson — Jardim da snr.^ baroneza de Mesquita — Influencia da luz no crescimento da Videira — Observações feitas pelo general Plasenton — Catalogo dos snrs. Dick RadclyfFe & C.^ — Jardins adjunctos ás estações do caminho de ferro — Dísticos floraes — O Eucalyptus globulus em Hespanha — O que dia Mr. Jules Meil sobre elles — Publicações feitas ultimamente em Portugal sobre o Eucalyptus — O Eucalyptus é um succedaneo da Quina — Vandalismo praticado contra as arvores — Modo de evital-o — Florescência do Lilium auratum — Carta do snr. Joaquim de Car- ■ valho Azevedo Mello e Faro — Insectos que atacam as Batatas — Errata — O Salix babylonica e a sua nova denominação — Communicação do snr. Adolpho Frederico Moller sobre um Salix que Brotero não descreveu — Musa ensete — Carta sobre esta Musacea — Minudencias sobre o Phylloxera colligidas por Mr. Riley na Europa e na America — Estudos sobre a doença da folha do Pecegueiro — O snr. António Bata- lha Reis, em Lyon — Regresso do enr. Edmond Goeze a Coimbra .... 195 NOVEMBRO Conflicto entre Mr. Ayrton e o dr. Hooker — O Gondurangc — Seringa Battles- den — A colheita do vinho d'este anno — Carta do snr. Diogo de Macedo — Averigua- ções feitas sobre a colheita de 1872 na Europa — O charlatanismo e a horticultura — Rusticidade de algumas Bambusas — Emprego das fibras da Musa paradisíaca — Plantações effectuadas pela camará municipal de Coimbra — Eucalyptus plantados em Oued-Berlés e em Ain-Mohra — Rusticidade do Eucalyptus— Offerecimento de plantas — Cultura dos Espinheiros — Leilão de Orehídeas em Londres. . . 217 DEZEMBRO O Phylloxera em Hespanha — Carta de Mr. Gaston Bazille sobre esta moléstia — Relatório apresentado á junta geral do districto de Faro — Plantações do Eucalyptus globulus — Ensaio da cultura da Acácia dealbata — Catalogo dos snrs. Charles Hu- ber & C.ie — Catalogo do Horto Lisbonense — Do Pinus sylvestris — Os Anthocercis á beira-mar — Pedido de arvores para Monte-mor-o-Velho — Visita do snr. Bernar- dino Barros Gomes ás mattas do Choupal e Valle de Cannas — Plantações effectua- das no corrente anno próximo ás minas do Palhal e de ViUa Real deSSanto Antó- nio— Destribuição gratuita de Amoreiras — O viveiro da camará municipal de Coim- bra— Dimorphismo apresentado pela Yucca gloriosa pêndula — Communícações de Mr. Jules Meil — A semente da Amoreira oíferecida pela repartição de Agricultura — Acácia decurrens — A horticultura em Londres — Premio offerecido para uma me- moria sobre a moléstia das 'batatas — Opinião sobre o Eucalyptus — O snr. António Batalha Reis em Lyon^ — Premio que lhe foi conferido — A exposição de Lyon e os laureados portuguezes — Pinheiro de Roberto — Catalogo do snr. José Marques Lou- reiro— Relatório sobre a nova moléstia das vinhas- — Catalogo de Mr. A. Van Den Heede — Apontanjcntos estatísticos sobre o emprego de um grande numero de ve- getacs — Cavaco de despedida ás leitoras e leitores 233 índice GRAVURAS Abics Pinsapo . Aceras longibractcatA . Adiantuin capillus Veneris . Agrave filifera Aquário para sala Arado New-castle Atado New-castle (Vista da parte dianteira) Arado New-castle (Corpo de sub solo) .... Arado New-castle (corpo dobrado de retrós) Arado Ncw-castle (Corpo para ar rançar Batatas) . Arado New-ca?tle (Corpo de cavar Aspidistra lurida, foi. var. . Banco Derby Batata .Sutton'8 red skinned flour bali .... Caixa rústica de zinco Caixa rústica de madeira . Caixa rústica de azulejo Caixa de azulejo Cedrus Deodara. Centáurea dementei . Couve rábano Cuprcssus macrocarpa. Dafilia arbórea . Dasylirium longifolium DcbuUiador de Milho . Distico floral no caminho de ferro Estufas ( Apparelho para as aquecer) Flor da Aceras lonpjibractcata Guarda fructifera do caminho de ferro . . . . . Gunnora scabra . . . . Hedychium Gardncrianum . Morango Ananaz Perpetuo . Musa ensete. . . . . Pêra Bcurré de Fromentel . Porá Bourró de Ghólin. Petunias . . . . . Philodcndron pcrtusum 109 49 121 181 25 26 26 26 26 27 171 97 41 127 127 127 127 161 231 85 221 88 101 1 105 197 81 109 177 21 141 45 79 201 129 69 61 Phylloxera novo das galhas: (visto por cima) .... 211 Phylloxera novo das galhas: (visto por baixo) .... 211 Phylloxera das raízes da Videira novo e ainda ágil (visto por cima) ..... 205 Phylloxera das raízes da Videira novo e ainda ágil (visto por baixo). .... 205 Phylloxera (Fêmea alada vista por baixo). .... 207 Phylloxera (Fêmea adulta das rai- zes vista por cima e muito augmentada) 205 Phylloxera (Folha da Videira, mos- trando sobre a sua face infe- rior as galhas verruciformes ) . 209 Phylloxera (Corte vertical da ga- lha) 209 Phylloxera (Galha do, vista de lado) 209 Phylloxera (Fragmento da folha da Videira, visto por cima para mostrar os oriíicios das galhas) .... 209 í^ourretia aeranthos . 33 Regador Battlesden . 15 Regador perfeito 57 Segadeira Archimedes (Modelo pe- queno) .... 227 Segadeira Archimedes(Modelo gran- de) 229 Segadeira de relva 187 Seringa Battlesden 217 Supporte para vasos . 77 Supporte com vaso 77 Tecoma grandiflora . 11 Thuya gigantea . 151 Vaso rústico 119 Ventilador aspirador . 157 Verbenas (Culturadas) 147 Viola arbórea Brandyana . 191 ESTAMPA COLORIDA Uva Golden Champion mm M BOÍiTIClílTílRA PRiTÍC REDACTOR OLIVEIRA JÚNIOR INTRODUGQAO Vae entrar o Jornal de Horticultura Pratica no terceiro anno da sua publicação. Antes de dar mais alguns passos n'esta romagem ao templo do Progresso Hortícola acompanhados por tantos e tão de- votados companheiros c{uantos são os nossos illustres collaboradores, quedemo-nos encostados a este marco da estrada e alonguemos as nossas vistas assim pelo caminho percorrido como pelas vastas ampli- dões que ainda temos deante de nós. Aqui e além, nas coílinas, nas encostas, nos prados e nos jardins desabroxa luxuriante alguma ilor exótica ou frondeja alguma rara e útil planta pela aclimação das quaes nos tornamos em ardente pala- dino. Embevecida na contemplação d'essa flor, ou sentada á sombra d'essa arvore, ou lidando em laborioso mas ameno e saboroso rusticar, uma plêiada illustre de homens de boa vontade, penhor de futuras felicidades pela agricultura em paiz tão bem fadado para ella, como este nosso Portugal, toma alento e brios para novos emprehendimen- tos : estuda, ensaia, observa e aperfeiçoa. Eis-aqui um espectáculo que nos rejubila, nos acoroçoa na viagem e nos alimenta a fé n'um futuro prospero e risonho para este abençoado paiz. Avante ! romeiros incançaveis do progresso ! Se os amantes da agricultura, beneméritos da pátria e da humanidade, não esmorecer- mos perante as diíliculdades da empreza, o que hoje são apenas oásis n'este deserto, em breve tornar-se-hão frondosas florestas e ubérrimas campinas. Então a phrase d'um festejado poeta: ccPortugal, jardim da Europa, á beira mar plantado)), volver-se-ha de aspiração que é, em realidade que pôde ser, e a nossa pátria amada será orgulho de nacionaes e justa admiração de estrangeiros. Temos fé que ha de manar do rochedo a agua fertilisadora. Nem fazemos mysterio da palavra que pode e deve operar este assombroso prodigio: — laboremos. 1872 — Vol. III. >{." i — Janeiro. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA VIDEIRA GOLDEN CHAMPIOK Portugal é um paiz essencialmente vinhateiro; as suas collinas povoadas de vastíssimos vinhedos, ao passo que appre- sentam um aspecto risonho, fornecem-lhe um dos maiores elementos da sua riqueza. A variedade dos seus productos, ainda mal avaliados^ poderia abrir séria compe- tência nos mercados estrangeiros com os melhores vinhos da Allemanha, da França e de Hespanha. Não encarecerei os nossos bellissimos vinhos, produzidos nas margens do Douro, conhecidos em toda a Europa com o pseu- dónimo de vinhos do Porto ; esses têem a sua reputação estabelecida: a Bairrada também aspira a um nome na historia dos vinhos, 6 se não pode competir com aquel- les, forceja muito por se aproximar ; mas nas províncias de Traz-os-Montes, nas duas Beiras, e na Estremadura vinhos ha menos alcoolisados, dignos por certo de serem mais conhecidos. Em Traz-os-Mon- tes o vinho de Roios, de Chaves e de Bra- gança— na Beira alta o vinho de Vizeu, de S. Pedro do Sul e de Vai de Besteiros — na Beira baixa o vinho da Guarda — na Estremadura o Carcavellos, Bucellas, Lavradio Collares, e muscatel de Setúbal podem competir com os vinhos de Bor- déus, do Xerez, Chateau Laffite, e com 03 melhores do Rheno; aproximem-nos, comparem-nos e veremos quem colhe a palma do triumpho. E' sempre de summo interesse para um paiz d'esta ordem a introducçào de novas espécies de uvas que possam, ou es- tabelecer pelas suas qualidades distinctas um novo producto, ou melhorar os já exis- tentes. O proprietário d'este jornal, com a maior solicitude, tem introduzido vinte e seis variedades de Videiras (veja-se o seu catalogo n.° 7) consideradas como as me- lhores que se cultivam em França e na Inglaterra, obtidas alli de semente pelos incansáveis horticultores d"aquelles paizes, e talvez que um dia possamos dizer a res- peito d'el]as o que o príncipe dos nossos poetas disse a respeito do Pecegueiro: Melhor tornado era terreno alheio. Entre estas variedades porém ha uma que se torna notável pela belleza e enor- me tamanho do seu cacho, pelo volume ex- traordinário dos seus bagos e pelo seu sabor perfumado e exquisito — é a Golden Champion, cuja estampa representa esta formosa filha de Baccho; a sua madura- ção é precoce, e é de mui longa duração. Mr. Thomson jardineiro do duque de Buccleugh foi o seu obtentor ha oito annos noCastello de Dalheite(Escossia) ; parece ter provindo de uma fecundação entre a uva Champion grape Hamburgh e a Boivood Muscat, foi lançada nocommercio por MM. Osborn & filhos de Fulhan, junto de Lon- dres. O snr. José Marques Loureiro tem mui bellos exemplares disponíveis que mandou vir de Londres para satisfazer ás exigências dos seus freguezes. Recom- mendamos aos amadores aacquisisão d'esta excellente uva. Oamillo Aurellano. BEGÓNIAS O gosto pelas plantas de clima mais quente que o nosso tem-se ultimamente de- senvolvido muito entre nós. Já hoje cm dia todos conhecem as lin- das flores infundibuliformcs dos Achimenen, o surprchendentce magnifico effeitodas fo- lhas das Dracaenas, a encantadora belleza das c Gloxinias Tydaeas, as exquisitas e graciosas folhas dos Caladiums, Begónias, I AchyrantheS) Oplismenus ; emfim 'd'e8sa rica e immensa variedade de plantas, com que o novo continente tem adornado e en- riquecido as nossas estufas e jardins. Comtudo, de todas as plantas que enu- meramos, as Begónias são sem duvida as mais bellas e ricas e as que ha muito tempo tèem o privilegio de attrahir a at- tenção dos amadores fazendo hoje o prin- til. ili*L.Stt"(iol)ant,á riaii(llBfl,'?i(|uei Uva GnldER Champion . JijrJialdeHortiraltai'u Pr;rtca. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA cipal ornamento das nossas estufas pela ele- gância do seu porte e rica folhagem ; sem fallar ainda no admirável eífeito que em muitas apresenta a sua inflorescencia. Estas plantas, typo da familia das Be- goniaceasj fundada por Linneu, são viva- zes, succulentas, de folhagem alterna^ cor- diforme ou reniforme, irregulares por cau- sa da desegualdade do seu desenvolvi- mento. Habitam os quentes climas da Ameri- ca e Africa, apparecendo também algumas na Ásia; vegetam luxuriosamente sobre as arvores velhas, nas fendas e cavidades dos rochedos, ou no solo, abrigadas pela sombra protectora dos troncos annosos. Alem da soberba folhagem, as flores brancas ou de vi, a cor de rosa, dispostas em graciosas dichotomias, concorrem ex- cellentemente para o eífeito geral decora- tivo da planta. Nenhum outro género of- ferece, debaixo de diversos pontos de vis- ta, tanta elegância e tanta belleza no va- riado colorido de suas folhas. O numero de espécies conhecidas d'es- tas interessantes filhas de Flora tem aug- mentado prodigiosamente n^estes últimos annos, e só n'um catalogo, que temos á vista, contamos 50 e egual ou maior nu- mero de variedades obtidas por meio de repetidas sementeiras e cruzamentos. No estabelecimento do proprietário d'este jor- nal encontrara os amadores uma variada collecção de 63 espécies e variedades, que este senhor com muito trabalho e cuidado escolheu nos mais afamados horticultores belgas e inglezes. D'entre essas variedades chamamos a attenção dos leitores sobre as seguintes, que nos parecem mais notáveis : Begónia. FuchsioideSy da Nova Grrana- da, caulescente e ramificada, podendo cres- cer á altura de um metro; as suas flores pequenas, pendentes, de cor escarlate vivo, são de um magnifico effeito, appa- recendo por entre a folhagem oval. E' pró- pria para guarnecer os jardins durante o verão. B. Leopoldii, hybrida, obtida por fe- cundação entre o B. Griffithii e ã, B. splendida. B. Charles Wagner, hybrida obtida pelo cruzamento da B. Bex e B. Mi- randa. B. Lasuli, encantadora variedade; por difl^erentes lados parece verem-se em mistura as cores do arco-iris. Recommen- damol-a mui particularmente a todos os amadores d'este género de plantas. B. Microptera, descoberta na Ilha de Borneo por Low, filho. B. Verschaffelt, uma das melhores es- pécies, florescendo muito durante o inver- no, e que convém particularmente para o ornamento dos quartos. B. Smaragdina, magnifica variedade ; as suas folhas parecem feitas de velludo verde. B. Hex, da índia meridional, bella planta acaule, distinguindo-se entre todas as espécies do género, pelo tamanho e bel- lo colorido das folhas. N'esta espécie as cores de rosa, carmim, verde e branco es- tão de tal modo combinadas, que deslum- brara a vista e satisfazem os gostos mais exigentes. Esta soberba espécie^ cruzada com a B. Reichenheimii, produziu a B. Leopardina, e cruzada também com a B. splendida, deu em resultado a B. grandis, ambas bellas como a que lhes deu o ser. Citaremos também B. daedalea, me- talica^ Rosaejlora, Regina^ mídtimaculata, Longipilaj quadricolor etc. etc. Se tivéssemos de descrever todas as Begónias, que mais ou menos nos têem des- pertado a attenção ver-nos-hiamos obriga- dos a estender muito mais este artigo. Só vendo e examinando detidamente a rica estufa de Begónias do snr. Loureiro, é que se poderá avaliar bem a riqueza de- corativa de muitas outras espécies, que, não obstante não termos fallado n'ella3, são comtudo muito dignas de figurar a pai" das mais bellas. O tractamento das Begónias, posto que demande alguns cuidados e trabalho, não é de tal ordem que faça desanimar os amadores. O principal objecto para a sua cultura é uma estufa ; obtida ella, o mais é de fácil executação e pouco trabalho. Tem-se escripto tanto sobre a constru- cção e arranjo das estufas, que estivemos quasi resolvidos a não fallar sobre esta matéria. Todavia, como os leitores pode- ' riam ter desejo de algumas noções sobre a sua construcção ; e para lhes evitarmos o fastidioso trabalho de consultar o que sobre isso se tem escripto, resumimos as JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA principaes regras e aqui lh'as apresenta- mos á sua consideração. A principal condição que deve ter uma estufa, é a boa exposição; a qual deve ser sempre ao sul ; encostada a um muro, e envidraçada dos outros três lados para que possa receber os raios solares durante todo o dia. Não aconselharemos as estufas de dous declives ; são sempre mais frias^ sendo necessário para as aquecer apparelhos cu- ja collocação demanda muito trabalho e despeza com o carvão ou lenha para a sua sustentação ; todavia o gosto e a vontade do amador decidirão quanto á escolha do aystema de as edificar. Do mesmo modo o amador construirá a sua estufa de ferro ou de madiera. As de ferro são á primeira vista mui- to mais leves e elegantes mas a grande per- da de calórico a que dá origem a condu- ctibilidade d'este metal, e as gotas d'agua que se condensam nos caixilhos por in- fluencia do frio exterior, e que cahindo Bobre as plantas dão origem á podridão e á morte, são circurastancias que deveriam fazer proscrever o seu emprego, e preferir, as de madeira, que apresentam os incon- venientes das de ferro em muito menor escala. E pelo lado económico também lhes devemos dar a preferencia; uma estufa de madeira, sendo pintada a óleo pelo menos de dous em dous annos, custando muito menos, durará tanto como se fora de ferro. Desejando os leitores fazer uma estu- fa especialmente para Begónias^ recom- mendaremos que a façam bastante baixa e alguma cousa enterrada ; d'cste modo conserva melhor o calor e humidade^ duas condições muito necessárias para o bom desenvolvimento d'estas plantas. Temos concluido as indicações que proraettemos Bobre a construcção das estufas ; a boa vontade e intelligcncia do amador suppri- rá a nossa deficiência. A terra que ó mais própria para as Begónias ó a vegetal, addicionando-se-lhe algum terriço de jardim e areia, e os va- sos antes de cheios devem levar uma ca- mada de cacos, para que o excesso da agua das rogas tenha fácil sahida. Durante o periodo da vegetação devem as plantas ser regadas abundantemente, tendo porém o cuidado de que a terra não fique muito encharcada ; e é preciso notar que durante o tempo de descanso, que ge- ralmente coincide com o nosso inverno, as regas devem ser muito reduzidas, se- não supprimidas completamente. A collocação dos vasos na estufa será feita de modo que o ar circule livremente entre elles e que as folhas de uma planta não toquem nas de outra. De dous modos diíferentes podemos multiplicar as Begónias, ambos egualmen- te fáceis quando se opera nas condições determinadas pelo temperamento d'esta8 plantas. Estes dous modos são : pelas folhas e estacas, e por sementeiras. O primeiro modo é o mais fácil e mais usado, quando se não querem obter va- riedades novas. Depois de cortada a folha destinada para multiplicar, estende-se, com a sua face inferior para baixo, n'uma terrina cheia de terra egual á que já descrevemos, mas que esteja húmida, fazendo adherir a folha á terra, por meio de ganchos fei- tos com pedacinhos de madeira e espeta- dos ao Iravez das suas nervuras. Ficando a folha bem unida á terra, dentro em pouco tempo creará um olho que, desenvolvendo raizes, formará uma planta completa. Muitos amadores costu- mam fender as nervuras mais grossas das folhas, antes de as applicar á terra ; o fim d'esta operação é provocar o maior des- envolvimento de olhos, e por conseguinte de plantas. Estas multiplicações depois de feitas devem ser cobertas cora uma chapa de vidro ou redoma^ para que seja mantida uma humidade conveniente, ha- vendo cuidado que o calor nunca desça de 25 graus centigrados, pois d'estas duas condições depende muito o bom resul- tado da multiplicação. O segundo meio de reproducção que indicamos é pouco usado, salvo quando se querem obter variedades. Poucas plantas fructificam tão bem nas estufas como as Begónias; assim é natu- ral que SC aproveite esta disposição, para se obterem sementes. , Entretanto, como as flores sSo uni- sexuaes, a fructificação não será certa, se a arte não intervier, fecundando artificial- mente os ovários. JORNAL DE HOIITICULTURA PRATICA Esta operação não offerece difficulda- dade alguma, attento o tamanho das flo- res e a abundância de pollen ; e este meio muito usado pelos horticultores é, como já vimos, o que tem dado origem a esse grande numero de variedades e hybridas, com que todos os annos os catálogos vêem cheios. Os pequenos grãos da semente semeiara-se desde o momento que estejam maduros, em terra fina e húmida em ter- rinas eguaes ás que já indicamos para as outras multiplicações, e abrigam-se com uma chapa de vidro, qiie se deve trazer bem enxuta desde o momento que as no- vas plantasinhas começarem a apparecer. Uma das condições, para que as sementes germinem, alem do calor, que deve ser de 23 a 24 graus, é a humidade ; para isso, quando fôr necessário, mettem-se as ter- rinas que contêem a semente dentro de outras maiores, cheias de agua até ao meio, demorando a operação até que se conheça que por meio da absorpção a terra tem adquirido bastante humidade. Com estes simples cuidados e com a boa vontade dos leitores, podem-se obter ricos exemplares d'estas plantas, com que nos daremos por bem pagos do trabalho que com ellas tivermos. A. J. DE Oliveira e Silva. SEDUM FABARIUM O Seãum é uma planta apreciável para rochedos fictícios, obras rústicas etc; po- rém ha alguns, como por exemplo o ^'e- dum Sieboldij que são próprios para bor- daduras de jardins e produzem um eíFei- to attraheute e agradável aos olhos, prin- cipalmente quando surgem suas numero- sas flores de uma bella cor de rosa dispos- tas em curtas paniculas cymosas e termi- naes. O Sedum faharium deve todavia oc- cupar o primeiro logar que indicamos, porque o seu porte é de 30 centímetros aproximadamente e portanto não conviria para bordaduras. Este Sedum assimilha-se um tanto com o nosso Sedum Telephium^ de Linn., que todos conhecera debaixo do nome vulgar de Favaria maior, Herva dos callos ou ainda mais vulgarmente Herva de N. Se- nhora. Herva milagrosa é esta, segundo a crença do povo ignorante, que assim a denominou! Que existisse esta crença em tempos de menos esmerada cultura intele- ctual não nos admiraria ; mas em pleno século XIX, no século das luzes, haver ainda tanta superstição^ não depõe muito em nosso favor. Verdade é que todos os paizes têem os seus preconceitos ; todavia Portugal e a Hespanha, n'este ponto, ex- cedem os outros. Todas as plantas gordas podem con- servar-se mais ou menos tempo sem terra, continuando a vegetação ; e o Sedum Tele- phium é uma que pode assim estar quasi um anno ou, em certos casos, ainda mais, o que depende das condições em que estiver coUocada. Costuma pois o povo cortar um raminho da Herva de N. Senhora no dia ou, para que tenha mais ejficacíaj á meia noute do dia de S. João ; colloca geralmente o raminho ao pé do santo ou santa de mais devoção (também para que seja de inats ejjicacia). Se o Sedum con- tinua vegetando é bom signal, porém se secca, é prenuncio da morte do amigo ou filho que se acha alem-mar e suppomos que também annuncia a boa ou má fortu- na nos negócios ! O Sedum Telephium serve de fonte inexhaurivel de abusões. Deixemol-o pois e occupemo-nos aqui unicamente do Se- dum faharium que é uma rica acquisi- ção que fez a horticultura. O seu porte é erecto, um tanto rami- ficado ; as folhas são de um verde esbran- quiçado e brilhante, e a nervura media mais esbranquiçada que a folha. As flores são bastante grandes (em relação com as outras do género), cor de rosa claro, dis- postas em cymeiras patentes de effeito assas ornamental. E' tão rústico como o nosso Sedum Telephium e poderá portan- to concorrer immenso para o adorno dos nossos jardins, sendo de mais a mais de uma multiplicação tão fácil como as suas congéneres. Oliveira Junio». JORNAJ. DE HORTICULTURA PRATICA ABIES PINSAPO Esta formosa AUetinia, descoberta por lou n'esta região, Ahies hahorense. Expôs Boissier em 1^37, na serrania de Konda, em llospanha, nào somente veio accres- ceutar o numero aliás limitado dos Aòies europeus e assignular mais uma interes- sante essência ílorestal, mas alem d'isso trouxe aos parques e jardins mais um ele- mento de ornato^ que tem sido n'elles muito apreciado. Cuegou-sc a pagar um to, na rcgiào aonde cresce junto aos gelos perpétuos, a todo o rigor das ventanias e dos temporaes, cresce nào obstante o Abies Pinsapo até ter 35 metros de altura, não chegando porem á que alcançam os dous Abies europeus, o A. excelsa e o ^. 'pectinata. Em grossura attinge o A. Pin- sapo a circumfcrencia de 2"', 00 a S^jOO Abits PinsuiJu])or 'ó:OUO ínxncos{b-ÍO:U0O\e mais, na altura de um metro sobre o reis;, isto ainda em ibGo; hoje é o preço muito interior, graças á lacilidade de obter as sementes e de alcançar d'estas a ger- minação. A existência de similhante arvoredo nas montanhas da Andaluzia já havia si- do indicada antes, e muito especialmente o íez Kuja Clemente na edição, por elle accrescentada, duma obra clássica em llespanha, o «Tractado de Agricultura», de lierrera. A espécie fora porem confundida com o Abies dos Pyreneus e do norte da Eu- ropa, o Abits ptctinata. A Boissier per- tence pois o haver assignahido e descripto primeiro o Abias da Andaluzia, única re- gião da Europa onde até hoje foi encon- trado, e alli ainda em região muito cir- cumscripta. A coiiiuiissão da «Flora Florestal Hes- panholao na excursão otticial por ella fei- ta nos aunos de lb07 a IbGb, e na pu- blicação que se lhe seguiu em 1870, tra- balho de que houvemos esta nota, diz existir o Abies Pinsapo na latitude de 30" 201 e 3G" 50', e na altitude do 1:200 a 1:«U0 metros, na serra de la Nieva, nas do Estepana e Pinar, fazendo tudo parte da serrania dcKonda, aonde a essência llo- restul prefere a exposição ]S'. e a de N. O. Filippe, auctor de uma i'lora dos Ty- reneus, deu este Abies como alli exis- tente, o quo não é coutiruiado por ne- nhum outro testimunho.O erro porém pro- cedeu de haver sido confundida com esta espécie a do verdadeiro Abies dos Pyre- neus. Aonde o Abits Pinsapo foi sem du- vida também encontrado é na Argélia, no8 montes Bubor, havendo-lhe por isso chamado Cosson, que primeiro o assigna- solo. Í5ão-lhe consócios na região o Berbe- ris hispânica^ Ramnus myrtifolia, Acer granatensis^ Juniperus sabina, Quercus lusitanica, Ilex boeticus, e o Dapjhne lau- reola. Tomando mais a forma columnar do que a pyramidal no seu porte magestoso, o A. Pinsapo aproxima-se do Abies ex- celsa pelas folhas e do A. pectinata pela disposição dos fructos ; os ramos de uns e de outros individues quando reunidos, cruzando e enlaçando-se, mutuamente, concorrem a formar bem guarnecidos, vis- tosos e severos massiços de sombria ver- dura, da parte superior dos quaes se vê surgirem as guias que fazem o extremo de cada arvore. O modo por que mereceu attenção esta espécie arbórea, e os cuidados que lhe consagrou a horticultura, era breve a espalharam por toda a parte nos jar- dins da Europa, onde hoje pelo menos já não é rara, E preciso foi que a ar- vore achasse esta protecção, pois sem ella e na própria região aonde cresce espon- tânea, ameaçava-a de um completo desap- parecimento o livre pasto dos animaes, talvez o incêndio e a ausência que existe de todos os cuidados pela conservação e reproducção do arvoredo d'estas florestas, tanto mais de lamentar no presente caso, porque o Abies Pinsapo da serrania de Ronda constituo na Europa a única floresta do seu género. Apesar porem d'este pe- rigo, c de não haver por outra parte ten- tativa séria para aproveitar o Abies an- daluz como essência florestal, a espécie não passará á classe das cxtinctas, graças á protecção que lhe dispensou a horticul- tura. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA A aclimação do A. Pinsapo nas diffe- rentes regiões a que tem sido levado, tor- nou-se fácil ; na eschola florestal de Villa Viciosa em Hespanha mostrou elle suppor- tar tão bem o frio de — 10" como a tem- peratura elevada de 48^,4 centígrados, ex- Fig, 1 — Abies Pinsapo tremos que se verificaram nos mezes de fevereiro de 1860 e agosto de 1861. Em Portugal, o Áhies da Andaluzia é já de bastantes annos colono em muitos jardins, aonde ha exemplares nascidos até de se- mente. Os melhores e mais antigos exem- plares de que temos conhecimento, são os do jardim do Lumiar dos duques de Pal- mella, nos quaes divisamos pinhas bem formadas desde o anno de 1865, tendo-as tido talvez já antes o bello arvoredo d'e8te género, que alli pode ser visto, A figura 1 que acompanha o presente artigo, dispensa-nos de maiores encare- cimentos, porque representa um dos ex- cellentes exemplares do Ahies Pinsapo que se acham na quinta do Lumiar e a que mais acima alludimos. Lisboa. Dr. Bernardino A. Gomes. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA ALGUMAS PALAVRAS ACERCA DA DESARBORISAÇÃO E DAS FLORESTAS DO PAIZ Poi tiigal, não só pela con- ptitui(,'ão pliy>ica e geológica (lo seu solo, como lambem, e f»rincipalinente, pelo seu rc- evoaccidcntado, eeui grande parte montanhoso, é por ven- tura um dos paizes ao (jual na cla^^sificação e parlillia de terrenos cultiváveis, caberia maior área de solo apto para receber com especialidade flo- resta, em comparação de iiual- quer outro paiz de ei^ual ex- tensão gcographica. Entretan- to, qual c a extensão e valor das nossas mattas e ílorc.-tas? Pouco ou nada se sabe a este respeito, e esse pouco que sa- bemos é a revelação de uma bem triste verdade. (Relatório acerca da arbo- risardo qeral do paiz-, pu- blicado em 1868.^ No volume antecedente d.'este jornal referi-me já a este assumpto o qual julgo de importância tal para Portugal, que no- vamente torno a chamar a attençào não só dos nossos leitores como de todo o ho- mem que se interessa pelo bem estar do paiz e lastima o abandono em que n'elle se acha a arboricultura. A arborisaçFio dos nossos terrenos in- cultos, coniprehendendo o littoral, uma re- forma bem estudada para a administração das maltas, e a organisayuo de um código florestal, eis um trabalho digno do governo que quizesse legar ao seu paiz a maior das riquezas, e deixar o seu nome im- mortalisado na nossa historia contempo- rânea. A arborisaçílo do paiz é assumpto do larga meditação para todos os nossos homens do estado, que sinceramente se interessem pelo desenvolvimento da agri- cultura, da industria e da hygicne ; pois sem mattas torna-sc completamente im- possivel o seu progresso, visto serem tão importantes na economia geral da natu- reza como na particular das nações. Portugal pode aioutamcnte dizer-se que c um paiz pobrissimo em florestas. O viajante que percorrer o reino, seja em que sentido fôr, presenceia o triste espe- ctáculo de não encontrar quasi uma única arvore em superfícies consideráveis, quan- do podiamos ter florestas fertilissimas, ar- borisando as enormes porções de terreno que se acham no paiz apenas povoadas por alguns pés de urzes e tojos, que só servem para o sustento de raros e ma- gros rebanhos de gado. E querem os leitores saber a quanto monta a superfície d'esses terrenos? A 4.314:000 hectares, incluindo os areaes da costa marítima que andam por 72:000 hectares. Quer dizer, é muito aproximada- mente metade da superfície do reino, que segundo os últimos dados é de 8.962:531 hectares. A arborisação de ura paiz nas cir- cumstancias em que o nosso se acha ó empreza que demanda grande capital, largo dispêndio de tempo e cujos lucros só se podem obter passados alguns annos. Mas não venham estas razões fazer- nos desistir da árdua tarefa que para o futuro poderá dar ao paiz elementos para o seu engrandecimento. E pois ao estado que compete tomar a iniciativa, por lhe ser mais fácil o em- pate do capital, ao passo que dá o exem- plo aos particulares, os quaes vendo os benefícios que lhe podem d'aqui provir, não tardarão muito em lhe seguir as pi- sadas. E preciso notar que as florestas não são úteis somente pelos productos que po- dem dar, mas representam um papel muito mais vasto e importante na economia dos paizes ; e para os leitores poderem ava- liar os benefícos resultados que das mat- tas provem, além das madeiras e combus- tíveis, transcrevemos as seguintes linhas do interessante artigo do snr. Diogo de ^lacedo, intitulado : «Apontamentos da economia florestal» publicado na «Revista de obras publicas e minas». «Dispostas pelo littoral, abrigam 08 campos próximos do impetuoso sopro dos vendavaes, c oppõem irresistível barreira ás nuvens de areia que semeiam o estra- JORNAL DE OHRTICULTURA PRATICA 9 go e a infertilidade por onde quer que passam ; constituindo balseiros ao longo dos rios, moderam a acção destruidora e violenta das cheias 5 plantadas pelas en- costas e ladeiras, pelas serras e montes, mantêem a terra vegetíxl, e impedem a acção eruptiva das aguas sobre o solo ; auxiliam a infiltração, concorrendo para a conservação d^aquellas cisternas natu- raes, alimento das fontes e rios 5 contri- buem, dentro de certos limites, para mo- derar as inundações ; onde o solo é pobre, escasso ou infecundo, servem para modi- fical-o ; finalmente, disseminadas por qual- quer parte, moderam o clima e influem de um modo benéfico na salubridade de um paiz.» O primeiro passo que tínhamos a dar, querendo tractar seriamente da arborisa- ção do paiz, era criar viveiros, o mais próximo possível do local que se tenha de arborisar ; porque com o auxilio d'estes utilíssimos centros de creação arbórea, con- venientemente dirigidos, obtêem-se plan- tas robustas extremamente baratas. Alguns silvicultores aconselham a se- menteira de preferencia á plantação, sem- pre que se tenha de operar em grande es- cala, allegando que a sementeira é pro- cesso mais barato. Esta razão porém não nos parece suíficiente para não adoptar a plantação, pois tudo vae do modo como se dirigem os tra;. alhos. As sementeiras estão expostas a muitos mais perigos do que as plantações; porque, quando a semen- te germina, tanto as geadas como os calores fortes destroem o grelo e obrigam muitas vezes a tornar a semear. As aves, os ani- maes e insectos dão sempre também um notável contingente para a destruição das sementeiras. Nas encostas, sobre tudo, tem a plantação uma grande vantagem sobre a sementeira. Na Allemanha, onde observámos de perto a cultura florestal, vimos que nas arborisações florestaes sempre se empre- gava de preferencia a plantação ; até nas dunas interiores ao pé da pequena cidade de Bergedorf, que fica a duas léguas al- lemãs de Hamburgo, vimos fazer gran- des plantações de Coniferas. Nas dunas marítimas é que a semen- teira incontestavelmente deve ter a pri- masia sobre a plantação. Para a arborisação do paiz achamos muito mais acertado dar a preferencia ás espécies indígenas de maior valia, e que não são poucas, pois já sabemos quanto ellas prosperam, ao passo que as exóticas necessitam de mais cuidados, que tomam muito tempo ao silvicultor. Alem de fica- rem mais dispendiosas, muitas vezes não dão os resultados desejados, perdendo-se com isto tempo e dinheiro, que podia ser mais vantajosamente applicado. Não queremos com isto dizer que não se tente acíimar e se não ensaie a cul- tura das espécies exóticas ; pois até somos de parecer que o governo devia todos os annos distribuir pelas difí'erentes mattas do estado alguns exemplares d''arvores importadas dos paizes cujos climas se as- similham mais com o nosso, e exigir dos administradores d'aquellas propriedades florestaes, annualmente, um relatório onde elles descrevessem circumstanciadamente a natureza geológica do terreno em que foram plantadas, a altura que esses terre- nos tèem acima do nivel do mar, a expo- sição d'elles, o modo como foi feita a plan- tação, o desenvolvimento que as plantas tomaram e finalmente tudo o mais que lhes possa dizer respeito, tanto em abono como em desabono. Estes relatórios deveriam ser publica- dos na folha official, afim de que todas as pessoas que se interessam pela arbori- cultura vissem quaes eram as espécies d^arvores exóticas de que poderiam tirar resultado vantajoso. A publicação d'um código florestal é uma cousa indispensável, querendo dar- se desenvolvimento á silvicultura, para pôr as novas mattas ao abrigo do vanda- lismo com que ellas têem sido tractadas. Existem no paiz diversas mattas do estado e particulares, mas em geral tanto umas como outras acham-se de tal modo tractadas, que bem mostram o atraso em que se acha entre nós a silvicultura. Não admira que a propriedade florestal particular se ache em similhante aban- dono, quando o governo tem as suas mat- tas administradas de modo que não po- dem servir de exemplo nem de incentivo a ninguém. A falta quasi absoluta de pessoal ha- bilitado e 08 péssimos sistemas de cul- 10 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA tura e exploração que se adoptam desde eras remotas, sem moditicaçào alguma, contribuem poderosamente para a com- pleta ruina do pouco que nos resta da nossa já muito cerceada riqueza ilorestal. E' urgente repararmos este mal que tanto prejudica os interesses da nação; para isso torna-se necessário mandar es- tudar por pessoal idóneo os systeraas de cultura, exploração, administração e le- gislação florestal que mais convier ás nos- sas mattas para assim evitar a sua total destruição. Coimbra. Adolpho Frederico Moller. TEGOMA GRANDIFLORA delaun. A familia das Bignoniaceas é uma das mais bem representadas na natureza, e to- dos os seus géneros fornecem interessan- tes plantas de utilidade e ornamento. E' a a ella que pertence o Sésamo (tíesamiim oricntale), planta oleaginosa da índia e Oriente, hoje cultivada em muitos paizes por causa das suas sementes, que alimen- tam um commercio importante. E' de uma planta pertencente a esta mesma íamilia que hoje nos vamos occu- par — a Tecoma grandijiora. O género Tecuma tbi formado por Jus- sieu á custa das Bignonias de Tournefort e Linntu. O auctor do «Genera planta- rura» então conhecia unicamente 4 espé- cies, ao passo que De Candolle descreveu 60 no seu «Prodromus». A Ttcuma gran- dijlura (Bignunia Thumberg) é um inte- ressante arbusto sarmentoso de 7 a 8 me- tros de altura, importado do Japão pelos inglezes. A sua haste divide-se em ra- mos trepadores, que se prendem aos ro- chedos, muros ou troncos de arvores, por meio de sugadouros radiciformes que se implantam nas fendas; as folhas são oppos- tas, pecioladas, formadas de foliolos acu- minados, glabros e de uma bcllissima cor verde. ÍSobre este manto de verdura desta- cam-se abundantes paniculas terminaes, pendentes, formadas de flores inlundibili- iormes de cor vermelha açafroada e muito maiores do que as das mais volumosas Pctiinias. O limbo da corolla é patente e partido em cinco lóbulos cguaes arredondados. Os estames em numero de quatro, sendo dous mais curtos, têera no seu centro um fila- mento estéril, e são terminados por anthe- ras de duas lojas e pendentes. Esta planta é do mais lindo eíieito cobrindo muros, gradeamentos, casas de fresco, ou cingin- do uma arvore ou alta pyramide. A figura 2 é copia de um ramo per- tencente a um bello exemplar que o snr. conselheiro Camillo Aureliano da láilva e iSousa possue na sua quinta do Pinheiro. Existem duas variedades obtidas de se- mente desta espécie : T. sanguínea e T, Princii que dillerem muito na cor e al- guma cousa na forma das flores. A horticultura dispõe de muitas outras espécies de Tecoma, entre ellas citaremos a T. radicansj T. jasminoides, T. specta- hilis, T. pentaphylía, T. fulva, etc, etc, todas de grande eífeito ornamental e di- gnas de cultura nos jardins de aprimorado bom gosto. Nu começo d'este artigo dissemos que as Bignoniaceas íorneciam plantas d'orna- mcntu e utilidade. Apontámos o ISesamo como exemplo das ultimas, e agora temos a accrescentar que da Bignonia Chica Hura- boldt, chamada também Carajuru se ex- trahe, pela fervura das folhas, uma sub- stancia feculenta e vermelha, que junta com o óleo de Carapa serve aos Índios para pintarem o corpo e tingirem os teci- dos de que usam. O algodão tractado pela Chica toma uma cor vermelho-alaranjada. Com as hastes de outra Bignonia pre- param os naturaes de Cayena cestos em que levam aos mercados os fructos dos seus jardins. Todas as espécies de Tecoma e Bigno- nia são muito vigorosas e requerem um terreno fértil e substancial. Devem ser po- dadas para se não despirem na base ; mas convém que similhante operação í^eja fei- ta com muita cauteila e depois da flores- cência, pois que as flores nascem sempre na extremidade dos olhos. As pontas dos ramos em que se virem folhas grandes e JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 11 d'uma forma differente das outras, devem ser poupadas ; é quasi sempre n'este sitio que desabrocham os botões. As espécies que florescem pouco, po- dem, depois da florescência ser mergulha- das; d'este modo produzem-se pés sus- Fig. 2 — Tecoma grandiflora ceptiveis de florir todos os annos. As Bi-] No nosso mercado não só se encontra gnomas multiplicam-se muito facilmente a B. grandiflora mas também a B. speciosa. tanto por estacas como por mergulhia. j A. J. de Oliveira e Silva. ESTUDOS AMPELOGRAPHICOS (O Havendo eu promettido exemplificar, com algumas descripções das nossas mais estimadas castas de Videiras cultivadas no Douro, as regras que apresentei nos «Estudos ampelographicos», publicados n'este jornal, e encontrando na Chronica ds novembro (pag. 211) uma judiciosa in- dicação das preciosas qualidades da casta conhecida com o nome de Touriga, aqui apresento esta descripção, extrahida das notas que tenho redigidas para a ampe- lographia geral do paiz vinhateiro do Douro. No «Jornal de Viticultura Pratica», que se publica em Pariz, debaixo da di- recção de Mr. Le Sourd, foi também já publicada por mim esta mesma descripção. Todos 08 lavradores do Alto Douro e (1) Vide J. H. P., vol. II, pag. 149. muitos de outras regiões vinicolas do nosso paiz reconhecem na Touriga as preciosas qualidades que d'ella fazem uma das cas- tas mais estimadas. Nos meus «Estudos preliminares da ampelographia e cenologia do paiz vinha- teiro do Douro» referi já um facto que affir- ma a excellencia d'esta casta. E' este o da regeneração dos vinhedos de Soutello, próximo a S. João da Pesqueira. Eis aqui o que a esse respeito escrevi em 1867 (obra citada pag. 161). «Antigamente estes terrenos (os afama- dos de Souteilo) produziam vinhos muito mediocres, porque nas plantações primi- tivas se não havia attendido á escolha do boas castas que fossem apropriadas ao solo de aquella natureza e ao propósito de pro duzir vinhos generosos. As vinhas eram alii povoadas de uma mistura indefinida e 12 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA incongruente de todas as castas, em que naturalmente se preteriam as de maior abundância, que de ordinário sào as que produzem viubos menos estimados. Um homem intelligeute e de boa von- tade, o snr. Jiento de (Queiroz, de YixWe de Mendiz, reconhecendo que a causa da pouca estimação, que se dava aos vinhos d'estes sidos, uào podia residir scnào nas más castas de uvas, que se empregavam na sua fabricação, começou a introduzir alli as enxertias e plantações da Tuuriga, que é uma das castas mais preciosas d'esta parte do Douro, e com isto conseguiu em pouco tempo excellentes resultados, que mcitaram os seus visiuhos a imital-o^ re- generando d'este modo o credito vinícola de aquella localidade A Tuuriga é uma d'essas castas ca- pazes de íazer a fortuna e de crear o no- me de um paiz vinícola : casta robusta ; Buíficieutemente productiva; muito accom- modada aos terrenos silico-argillosos e fer- ruginosos desta parte do paiz e ao seu cli- ma; communica aos vinhos em que entra um suave perfume e um gosto a iructa que faz lembrara mjrçà, o que os torna muito mais agradáveis, realçaudo-lhes o perfume, quando se fazem e conservam genuínos. Inclino-me a crer que esta casta per- tence ú tribu dos cabernetSj que fornecem a base principal dos grandes vinhos do Meduc. Os seus caracteres phytographicos, co- mo a seu tempo mostrarei na ampelogra- phia, coUocam-na tào próximo do caberuct- Jranc ou da cabernelle ou carmenere, que podemos suppor que a Touriga e as suas variedades sào moditicações de aquellas castas, devidas á intluencia do solo e do clima, que na região do Douro ditferem consideravelmente das condições que in- íiucm sobre os vinhedos das margens do Gironda. O que c fora de toda a duvida é que a introducçào da Touriga nas vinhas de JSoutello regenerou o credito de seus vi- nlios, e fez com que elles fossem desde entào contados entre os de primeira classe. E' este um facto que nào devemos perder de vista, porque elle contirma um dos prin- cipio» fuudameutaes da cunologia pratica, isto é : — ^ue aú as buas uvas jazem o bom vinho— e ioruecc-no8 d'este modo um exem- plo auctorisado, que devemos seguir, quan- do quizermos regenerar o credito de um paiz vinícola.» Pedindo agora vénia d'esta longa cita- ção do meu escripto, passo a descrever a Videira Tuuriga. Nos vinhedos de Portugal não sei que seja conhecida esta c sta por outra deno- minação, a não ser que ella seja idêntica á que no j\íinho se chama Azai, o que es- tou muito inclinado a acreditar. Nas vinhas do Douro existem três va- riedades d'esta casta, que são : 1.*^ Touriga fina, a que chamam tam- bém T. fêmea. 2.* Tuurigão, Touriga, ou T. macho. S.'* Touriga fouf eira ; variedade esté- ril, que lança muita flor que não fecunda. Caracteres da Videira Touriga fina. Cepa — vigorosa e vivaz. Varas — muito fortes, longas e syme- tricameute desenvolvidas em todo o com- primento. Nas boas terras as varas ad- quirem annualmente um comprimento de mais de 3'",00. Em quanto novas apre- sentam uma cor avermelhada : mais tarde tornam-se pardas avermelhadas, predomi- nando a cor vermelha muitas vezes. Os nós são espaçados deO°',08 a O", 10. Gomos — regulares, ura pouco agudos ; na arrebentação, felpudos e um pouco ro- xos nas margens ; começam a brotar no íim de março. Folhas — largas, regulares, divididas em 5 lóbulos separados por seios profun- dos^ cortados circularmente no fundo, to- cando-se quasi sempre pelos bordos supe- riores. Os recortes sobre as margens das folhas são muito pronunciados e agudos. As folhas são consistentes e muitas ve- zes ásperas ao tacto. A face ou pagina su- perior é unida, quasi plana, de um verde carregado ; a face inferior é levemente fel- puda, e de um verde mais claro ; as ner- vuras principaes são bem pronunciadas ; o peciolo é medíocre. Elos ou gavinhas — fortes, em espiraes apertados ou enrolados. Cachos — medianos, cylindricos, com- postos, com azas e grandes esgalhos. Pe- dúnculo longo, pouco grosso, pouco duro, verdepardo ; pedicellos verrugosos com- pridos com rodetc mediano. Bagos — medianos, eguaes, ovaes (de JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 13 O^^jOlS a O-^.Olõ), negros tintos, cor de abrunho^ com pó cinzento, bastante adhe- rentes ao pedicello, largando muita polpa ao despegar; brandos, casca delgada, do- ces, um pouco enjoativos, com 2 ou 3 se- mentes ; maturação precoce. Os cachos de Touriga sempre appare- cem sobre os cinco primeiros olhos da va- ra, e, muitas vezes, em cada olho se des- envolvem três cachos. Por esta razão de- ve podar-se a vara da Touriga sobre o sétimo olho. Na variedade Tourigo (2-^) os cachos apparecem nos olhos superiores, são raros, e os seus bagos deseguaes e miúdos. A Touriga é uma das castas mais es- timadas nos vinhedos do Douro, principal- mente na região comprehendida entre o Tua 6 o Pinhão, onde, juntamente coma Tinta-francisca e com o Mourisco tinto, serve á producção dos vinhos mais gene- rosos. As uvas maduras da Touriga pro- duzem, termo médio, 55,7 por 100 de mosto, cuja densidade é egual a 1,115 e contem em 100 partes : Assucar 24,000 Ácidos (1) .... 0,340 Pereira Rebello apresenta, nos seguin- tes termos, a descripção da Touriga: « Folhas extraordinariamente abertas em cinco, terminadas em forma de cora- ção, em roda miudamente repicadas e mui similhantes na sua figura ás da Amo- reira brava, por cima cor verde-claro, por baixo verde amarellado com felpo branco muito subtil ; vides curtas (?), denegridas, botões em espaço de três dedos ; cachos compridos, fechados; bagos mais do que medianos, pretos, ovaes, com pico na pon- ta, casca delgada, dura, três ou quatro grainhas ; sueco doce e assucarado.» Em outro logar, diz o mesmo auctor : «A Touriga é Videira de copiosa pro- ducção, amadura cedo, e dizem os apaixo- nados d'ella que faz vinhos muito cober- tos ; porem ha experiência de que, passa- do algum tempo, o vinho que abunda muito d'esta uva se torna excessivamente descorado ; a maior virtude que eu lhe conheço, é a sua producção copiosa ainda em terras fi-acas; porem necessita das mesmas cautellas na poda do que a Tinta- castellã. » O que Pereira Rebello diz relativa- mente á pouca persistência da matéria corante dos vinhos de Touriga, não é con- firmado pelos que têem mais longo conhe- cimento d'esta casta. Todos os caracteres da Towri^a podem auctorisar a supposição de que esta casta pertence ao grupo em que se acham os cabernets da Gironda, derivando de algu- ma das suas variedades modificada pela influencia do clima e natureza do solo. Na verdade tem ella muita similhançacom a carmenere ou cabernelle descripta pelo snr. d'Armailhaq, diíferindo apenas no lo- gar em que n'esta apparecem os cachos. Em relação a este caracter, que não é es- sencial, a cabernelle assimilha-se antes á 2.^ variedade — Tourigo ou T. macho. Não me foi ainda possivel fazer a con- frontação da Touriga com os cabernets senão em vista da descripção d'estes últi- mos ; mas como na collecção do Jardim Botânico de Coimbra plantei estas varie- dades, logo que ellas fructifiquem poderá fazer-se a confrontação e resolver-se qual- quer duvida. O eminente ampelographo francez, o fallecido conde Odart, menciona a Tou- riga na sua «Ampelographia Universal», mas não faz aproximação alguma entre ella e os cabernets. Todavia eu insisto na persuasão de que, se não ha identidade entre estas castas, ha pelo menos conti- guidade nos legares que ellas devem ter na classificação. Coimbra. Visconde de Villa Maior, (Continua) PICEA EXCELSA RAYMONTII Esta variedade, que é uma das mais notáveis, foi obtida e lançada no comraer. (1) Os ácidos são aqui representados pelo seu Equivalente de acido sulfúrico monohydratado. cio por Mr. Couturier, horticultor de Saint- Michel-Bougival (Seine-et-Oise) e exposta em Pariz em 1867, onde foi muito apre- ciada pelos horticultores, os quaes a dedi» 14 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA cararn ao seu coUega, Mr. Raymont, de Versai 11 es. Eis os caracteres que ella apresenta : Arbusto formando uma pyramide exces- sivamente compacta, estreita — uma espé- cie de columna— muito arredondada no vér- tice. Ramos principaes formando muitas hastes das quaes partem as numerosas ra- mificações lateraes. Ramúsculos pequenos com a casca branco-amarellada, termina- dos por gomos formados de escamas par- do-ruivab. Folhas aciculares de 8 a 15 millimetros, rapidamente acuminadas em ponta aguda. As pessoas que desejarem possuir bel- los exemplares do Picea excelsa Raymon- tii paderào obtel-os de Mr. Couturier, hor- ticultor em Saint-Michel-Bougival, França. («Ilevue Horticole») E. A. Carrière. BATATA IILKY WHITE No principio do anno passado remet- teu-me a casa de Games Cárter & C.°, de Londres, uma nova variedade de Batata, obtida de semente, para eu experimentar. Tem uma forma oval, de tamanho regu- lar, poucos olhos e estes muito á superfí- cie, pelle branca e quasi imperceptível ; depois de cosida apresenta uma polpa muito fina, alva e farinhenta. E' uma das melhores Batatas para mesa que eu co- nheço, e que não só se deve cultivar para consumo, como também para exportar, por isso que é muito têmpora. A pequena porção que recebi foi se- meada em duas partes, uma em terreno areento e outra em terreno basáltico. As duas sementeiras deram bom resultado : na sementeira feita em terreno areento, devido á natureza árida do solo, os tubér- culos ficaram pequenos, mas, por isso mesmo, a Batata foi muito mais têmpora. Nenhuma das duas sementeiras foram ata- cadas da moléstia, que n'este anno tantos prejuízos causou nos batataes dos arrabal- des de Lisboa. A experiência me tem mos- trado que todas as variedades de Batatãj obtidas de semente, são muito mais vigoro- sas e pouco atacadas da moléstia, e que a sua producção é muito maior do que a que se obtera das antigas qualidades que nós cultivamos. Eu aconselho aos cultivadores de Ba- tatas têmporas que experimentem esta nova qualidade que aqui menciono, e ou- tras que já mencionei no meu artigo pu- blicado no «Jornal de Horticultura Pra- tica» a pag. 91 do vol. II, bem como os aconselho a fazer a exportação por sua conta, por isso que os compradores aqui não sabem dar o valor que lhes saberão dar em Inglaterra. O que é necessário é mandar dizer aos seus correspondentes as qualidades especiaes que lhes remettem. Lisboa. Geohge a. Wheelhouse. CHROIÍICA Estamos em pleno inverno; o vento sopra rijo do lado do sul, formando, com a chuva que nos açouta a vidraça, um dueto melancólico. O campo está triste e apenas se ou- ve o echo plangente dos pinheiraes que resistem ás inclemências do tempo. Os jardins extra-muros da cidade, es- ses, coitadinhos ! foram abandonados pe- las mãos nevadas que durante a primave- ra tantos desvellos lhes prestaram. O marido e a esposa, o filho e a fi- lha— todos emigraram para a cidade com o intuito de se entregarem aos passatem- pos fictícios que proporciona a vida dos salões e que, em geral, sob as apparen- cias de calma, é as mais das vezes tem- pestuosa. Abriguemo-nos pois da procella e, em logar de nos preoceuparmos cora o que vae n'esse mundo mysterioso, continuemos com o nosso labutar quotidiano no lar e na solidão, porque, como diz o nosso bom amigo e distincto escriptor, Alberto Pi- mentel, o lar representa a familia e a solidão revela Deus. Não devemos tampouco olvidar este pensamento de Michelet que desejáramos JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 15 ver gravado na memoria das jovens mães: «La vraie vie de Tenfant est celle des champs et, même à la ville, il faut, tant qu'on peut Tassocier au monde vegetal». O mundo vegetal ! Ha com effeito cousa mais aprazível, mais innocente, que mais disponha o espirito para os movimentos cadenceados, que mais afeiçoe o corayão para os sentimentos brandos do que o es- pectáculo das flores, das flores que todos amam e desejam — das flores que todos, grandes e pequenos, cultivam, afira de com ellas aformosentar o caminho da vi- da? Vede como essa cândida virgem, na primavera dos seus dias, adorna a sua fronte pura que desafia a frescura dos nos- sos lyrios e rosas ! Vede como essas ten- ras creanças vão açodadas na carreira, levando á mãe jubilosa as priraicias do jardim, que ella lhes ensina a cultivar! No dia da festa do esposo, essa mãe querida, á frente e rodeada da sua pal- reira tribu, vem offerecer-lhe ura rami- Ihete symbolico em cujas flores deletreie cada um dos seus recônditos pensamentos. No termo d'uma vida tumultuosa, esse venerável ancião cultiva as flores do seu canteiro. Quantas vezes, regando-as com as lagrimas de saudosas recordações, não acha depois a serenidade necessária ao seu coração ! Emfim, na lousa que nos guarda as re- líquias d'um pae, d'uma esposa, d'um fi- lho, d'um amigo querido, as flores são refrigério á nossa dor. Assim, em todas as edades, em todas as circurastnncias da vida e ainda alem da campa, as flores in- fluem suavemente sobre o nosso destino. Quem, conteraplando-as, poderá deixar de amal-as? E quem, amando-as, deixará de dar-lhes assíduos cuidados? Abandonando porem com saudade es- tas amenas divagações, entremos desde já no assumpto da nossa Chronica. — O snr. Edmond Goeze já regressou a Coimbra da sua viagem a Inglaterra e Allemanha, e dizem-nos que obtivera bom numero de plantas que lhe foram oífere- cidas pelo dfrectoi^do Jardim Botânico de Kew e outras que elle comprou na Alle- manha. Entre essas acquisições limitar- nos-bemos a mencionar algumas varieda- des de Videiras da Hungria e do Rheno. O jardim Botânico de Coimbra lucra muito com as viagens que o snr. Goeze faz ao estrangeiro, e portanto desejamos, para a prosperidade d'aquelle estabeleci- mento de estudo, que ellas sejam repeti- das muitas vezes. — O regador de que fazemos uso em Portugal, é o antigo balde de folha de Flandres cora um longo tubo que termina por uma rosa. Era França, na Allemanha e era Inglaterra, empregam-se diversos meios para fazer a operação da rega. Aquellas pessoas que têem agua corrente nos seus jardins fazem uso de tubos de couro ou de caoutchouc nas extremida- des dos quaes se colloca uma roseta com innumeros pequenos orifícios por onde se distribue a agua á vontade. Quanto aos que não têem agua corrente, esses são obrigados a usar de bombas mais ou me- nos commodns e aperfeiçoadas. Fig. 3 — Regador «Battlesdenu A figura 3 mostra um novo regador denominado «Battlesden» o qual tem a vantagem de distribuir maior quantidade d'agua em menos tempo e muito melhor do que se praticaria com o nosso regador. Um taboleiro largo rega-se cora facilidade. Pelo systema por que é construído, a rosa que esparze a agua não se pode obstruir com qualquer matéria espessa, e portanto é muito adequado para regas em que se empregue adubo liquido. A figura e as poucas palavras que se acabara de ler é o sufíiciente para convi- j dar o amador de plantas a ter entre os seus utensílios de jardinagem o regador I «Battlesden» , que poderá obter do esta- I belecimento dos snrs. Dick Radclyífe & C.°, i bem conhecidos pela excellencia e bom gos- [to dos artigos que manufacturam. 16 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA — Já por diversas occasiSes nos te- mos occupado n'este loj^^ar das vantagens que a sementeira feita pelo semeador me- chanico oSmith» leva ás que suo feitas a braço. N'uma das ultimas chronicas da «Re- vista Agricola», o nosso amigo, osnr. Luiz Martins de Andrade, expue ainda uma vez os favoráveis resultados colhidos com o emprego de aquclle instrumento. Nào pode haver incrédulos deante das experiências a que o snr. Andrade se refere. A quinta do snr. visconde de Car- nide é um testimunho evidentissimo de quanto a agricultura entre nós tem a lucrar com a adopção do semeador mechanico. Trasladaremos com prazer alguns trechos da alludida chronica e por elles verão os nossos leitores quanto é prejudicial o nosso systema rotineiro. Eil-os : Para os que ainda duvidarem do? bons re?ul" lados das culturas feitas com o sementeiro, espe" cialmentc Tri^/o, recommendamos a magnifica sea- ra da quinta do snr. visconde de Carnide. É para admirar como n'uma extensão de ter- reno, que leva quatro moios de semeadura, o Tnf/ú todo á mesina distancia e perfeitimente limpo de herva, tem todo a mesma altura e a espiga egual- menle bem desenvolvida. Esta porção de terreno, que dissemos levar 4 moios de semeadura ou 1210 alqueires, semeado com o sementeiro «Smitiii, o melhor dos sementei- ros conhecidos, levou apenas 2í saccos os 111 al- queires. \ economia resultante da sementeira, fei- ta por este modo, em logar de ser feita a lanço, é de 96 alqueires, que, pelo pieço minimo de 5(10 reis, importa em iS/OOO reis, ou quasi metade do custo do sementeiro. Para quem semear 8 moios de terra, e não são poucos os agricultoies da Estremadura e .Mem- tejo que lançam á terra esta quantidade de semen- te, fica logo embol-ada no primeiro anno a despe- sa do sementeiro, supponilo que a producção é egual tanto n'uin como n'outro processo. No terceiro volume da «Revisla Agricola», publicamos o re-ultado da experiência feita pelo snr. visconde de Carnide em relação á cultura a lanço, comparada com a feita pelo sementeiro, em dous talhões, próximos um do outro, de egual ex- tensão, e da mesma qualidade de terreno, e d'elle se deduz, que a cultura, feita por este ultimo pro- cesso, produziu em grão iim teivo mais que a pri- meira. A producção da palha foi maior na cultura feita com o sementeiro na relação de 5 "{, aproxi- madamente. Um agricultor de Sacavém, segundo nos in- formam, fez também este anno, a exemplo do snr. Geraldo ÍJraamcamp, uma sementeira de Trifio com o sementeiro «Smith», mas duvidando do que seria mais proveitoso, se a monda ou sacha, divi- diu a cultura em duas partes eguaes e metade foi mondada e metade sachada. É tal a dillerença de vegetação, para melhor, d'esta ultima, que se dis- tingue a grande distancia. Ahi ficam bem claramente provadas as vantagens do semeador «Sraith» ; dando- Ihe publicidade cumprimos com a nossa obrigação e adoptando-o os agricultores que nos lêem, demonstrarão que cuidam a valer dos seus próprios e ligitimos interes- ses. — Temos sobre a nossa banca de tra- balho o primeiro numero de um jornal hortícola, «The Garden» que viu a luz na metrópole da velha mas laboriosa Al- bion, sob os auspícios do snr. Wm. Ro- binson, auctor de varias obras. Com eíFeito é mais ura excellente cam- peão que vem armado capd-jjé, na prhase de Shakespeare, para poder defender os interesses hortícolas e divulgar a scíencia de que Linneu foi, por assim dizer, crea- dor, e, emfira ensinar com as suas escla- recidas pennas os melhores meios que se devem empregar para alcançar o bom e útil fim que nos propomos. Em harmonia com o seu título, occu- par-se-ha também a nova publicação da jardinagem a dentro de portas, e de pla- nos para jardins. Emittindo a nossa opinião a respeito do jornal ínglez, podemos affirmar que é excellente, não só no que diz respeito á parte scientifica, mas também á material que nada deixa a desejar. Bom papel, boa impressão e gravuras artisticamente exe- cutadas. Ao illustrado redactor do «Garden», o snr. Wm. Robinson, agradecemos a deferência que teve, oíFerecendo-nos o seu interessante hebdomadario e, summamente penhorados, desejamos, como diria o prin- cipe dos poetas ínglezes, que a sua vide dure — Fur ever and a day. — Queixa-se-nos um assignante d'este jornal de que não se dá bem com a re- produceuo de plantas por sementeira, e diz-nos n'um período da sua carta que usa, para esse fim, de caixas que têem approximadamente O™, 30 de altura e al- gumas ainda mais. Temos pois a dizer-lhe que é ahi provavelmente que está a origem da sua infelicidade na reproducçSo por este meio, porque é péssimo systema em- pregar caixas tão altas. As caixas mais convenientes ao inten- JORNAL DE HORTICULTURA TRATICA 17 to deverão ter 1™,00 de comprido, O^^^SO de largo e 0™,08 de aJtura. O fundo da caixa terá orifícios em quantidade tal que permitiam a sabida da agua : sobre estes oriticios se lançará uma camada de cacos a fim de estabelecer-se uma boa drainagera. Temos a accrescentar que a terra com- pacta é má para as sementeiras, devendo por tanto escolher-se terra que contenha uma parte de areia. São estas as condições geraes que a ex- periência tem mostrado serem indispensá- veis para o bom êxito das reproducções, quer por meio das sementeiras quer por estacas. — Temos deante dos olhos o catalo- go n.° 16 — Primavera e estio de 1872 — de Mr. Jean VerschaíFelt, assim como o catalogo para a primavera de 1872 de MM. Charles Huber & C.ie, horticultores vantajosamente conhecidos. O primeiro traz-nos innumeras plan- tas de recente introducção e outras obti- das por semente no seu estabelecimento. Entre estas ultimas devemos assignalar a Azálea indica Reine de Portugal_, da qual Mr. Jean Verschaffelt oífereceu a S. M. a Rainha, a Senhora D. Maria Pia, quatro exemplares. Vinham acompanhadas d'uma pintura feita a aquarella pelo bem conhe- cido desenhador de plantas, Mr. L. Stroo- bant, representando um lindo ramo de flo- res da Azálea Reine de Portugal. Estas flores são grandes, dobradas, bem forma- das, e virginalmente brancas. No centro têem uns leves toques de amarello esver- deado, apresentando algumas vezes estrias rosadas. A folhagem é ampla, o porte bel- lo e a florescência abundante. Que mais se pode desejar de tão peregrina formo- sura? Somente que tenha um nome real, e foi justamente o que o nosso amigo e seu obtentor tomou a liberdade de fazer, dedicando-a á Rainha dos portuguezes. O catalogo de MM. Charles Huber & C.'^ consagra as primeiras paginas á descri- pção de novidades, algumas das quaes são introduzidas por aquelles senhores. Seguem-se as plantas de mérito, apoz as quaes se encontram doze secções de ve- getaes mais conhecidos e uma extensa lis- ta de Canna indica, que se vendem por baixos preços. Pela occasião da remessa dò catalogo informaram-nos os snrs. Huber & C.'*^ que ha uma linha regular de vapores inglezes de Marselha para Londres com escala por Lisboa e com a pequena demora de seis dias, o que facilita a expedição de quaes- quer encommendas. MM. Charles Huber & C.'° residem em Hyères (Var), França. — O snr. Adolpho Frederico Moller, incansável collaborador d'este jornal, di- rigiu-nos uma carta particular, a que não nos podemos abster de dar publicidade. Occupa-se ella do estado da silvicultura de parte do nosso littoral que é, na ver- dade, deplorável. Outro tanto se pode di- zer de todo o paiz. Ainda ha pouco per- corríamos parte da província de Traz- os-Montes e causava-nos dó vêr tantos he- ctares de terreno susceptível de cultura dei- xados em completo abandono ! Atravessa- mos a serra do Marão por um bello dia, porém com a velocidade de quem vae em serviço publico — na Mala-posta. N'esta nossa digressão convencemo-nos de que aquella serra poderia em parte ser arbo- risada. Ao governo, visto que n'este paiz a iniciativa particular é uma palavra sem sentido, compete ensaial-o e a nós coadju- var o seu patriótico empenho com os limi- tados conhecimentos de que dispomos. Quem nos poderá asseverar que a Wel- lingtonia gigantea não encontraria alli to- das as condições que requer para poder aclimar-se e prosperar? Se esta lembrança fosse posta em ''pratica, não duvidamos por um só momento que houvéssemos de soíFr,er decepção. No interior da província de Traz-os- Montes confrange-se o coração,, por pouco amor pátrio que se tenha, ao vêr extensos tractos de terreno ermos de toda a vege- tação útil ao homem. Somos uns morga- dos perdulários e pobres, e tão pobres co- mo perdulários ! Doíou-nns a natureza cora um solo e clima abençoados : pai'a que ? Para deixarmos inculto, mercê do nosso proverbial desmazelo, o que, se cahisse em mãos laboriosas e sabias, devia pro- duzir rios d'ouro e o consequente bem-es- tar ! Aqui e além, onde talvez podessem verdejar e frondejar as plantações de Avio- li JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA reiras, negrejam as rachiticas urzes, negra imagem do rachitisiuo que padecem as al- gibeiras dos liabitantcs dumterrào feracis- simo c bem fadado. E todavia a Amorei- ra, uma arvore de tào fácil cultivo, neces- sária á creaçào do sirgo, de quantas indus- trias nào seria màe carinhosa! Tronuncia-se por aquelles sitios uma phrase desconsoladora : — «Sào baldios de logradouro commum.» Quer dizer que, sendo de todos, niio pertencem nem apro- veitam a ninguém. O governo algumas vezes tem pensado em allieuar os baldios. Aledida era esta que desejáramos ver realisada, e por muito íelizes nos daríamos se esses mon- tados fossem repartidos pelos proletários com a simples obrigação de os cultivar. E' mister saber-sc que temos, segundo os dados mais exactos, 8:U62:53i hecta- res de terreno inculto o qual, repartido pela população de Portugal, cabe a cada habitante : 1 hectare, 30 ares e 56 cen- tiares ! Í5e o alvitre que propomos não é ac- ceitavel, encarregue o governo a umacom- missào de homens competentes a arbori- saçào do paiz e verá, em poucos annos, qual será o resultado. Portugal, que hoje é pobre, será rico dentro de poucos an- nos. E que cultura menos dispendiosa do } que a das arvores empregadas na silvi- ) cultura y Nenhuma ; e por conseguinte lan- ce-se, sem demora, mãos á obra. Entretanto vamos publicando a carta do snr. Muller, datada de Buarcos^ a que mais acima nos referimos. Eil-a: Prezado amigo e coilega.— Aqui tenlio passado alguns dias, coui a miulia luniilia que se acha a ba- nhas. Momo a.s.siin não quero deixar de lhe dar noticias minhas, e ao mesmo tempo aproveito a oc- casiJo de lliesubminislraralgun.s apontamentos que tinha lonjado, cm diversos passeios que dei, com re- lação ao estado das tlorestas do nosso iittorai, visto eu saber que o amigo se intere.vsa deveras pelos in- teresses do nosso paiz. Sinto ter de lhe dizer que e lastimoso o panorama que se observa de.-de alem do cabo Mondego ate á foz do rio Liz. Em toda esta enorme extensão não se ve uma matta e nem se- quer um triste l'tiihctro na di>tancia, termo médio, de 4 kilometios para o interior, -i contar da linha da praia mar de aguas vivas, a não ser o pinhal de- nominado du I'i;di(;gão que tem de superlicieapro- xiiiiadamante hJá liectaro e algumas sementeiras de l'tnuí manliinu cjue ultimamente se lecm feito entre e>tc ultimo ca loz do l.iz por conta do estado. Lnlre o cabo Mondego e a fuz do Mondego o ter- reno é montanhoso e de origem jurasicoe secundário excepto a parte de que se acha de posse a empreza das minas de carvão, desde o pharol até á costa de yuiaios, que é uma superiicie de 15U0 hectares e está na maior parte entregue á cultura agrícola. Os ter- renos a cargo da empreza niinerea estão completa- mente de>pidos de arvoredo. Magoa ver aquelle estado de abandono ; pois prestavani-se bem à cul- tura lloreítal inetliodicamente feita. Muitas das nossas arvores silvestres alli se davam, havendo a cautella de arborisar primeiramente com o Pi' n/ieiro maritimo a parte exposta aos ventos do mar allni de abrigar as outras espécies que de futuro alli se quizessem plantar. iN"aquelles terrenos é que se podia ensaiar a plantação da Crijptonieria japonica (jue tão bons resultados tem dado no Iittorai dos Açores. Uue valiosa receita não era para esta em- preza se tivesse todos aquelles terrenos arborisados, pois consome annualmente grandes quantidades de madeiras na construcção e reparação das galerias e oHicinas ! Entre a foz do Mondego e a foz do Liz o ter- reno conipõe-se lodo de areias movediças, dunas e medãos, que prejudicara enorinenienle os interesses da agricultura ; porque invadem quasi diariamente as terras aráveis. A salubridade publica sollre tam- bém bastante com ellas, pois impedem o livre curso das aguas para o oceano pela formação das monta- nhas arenosas entre esta e as planices, tornando muitas vezes perigosa a habitação n'estes sitios por um grande numero de pântanos que d'este modo se forniam. As barras tanto do Mondego como do Liz sollrem egualmente com as areias mo- vediças e na d'este ultimo torna-se isso mais sen- sível por ser um rio muito estreito e a corrente das aguas ser muito menor. A sementeira das du- nas é muito despendiosa pela construcção dos abri- gos que se tem de fazer e geralmente estarem os materiaes a grande distancia e os transportes serem ditliceis por aquelles terrenos ; portanto torna-se penoso aos particulares emprehenderein um ne- gocio d'onde só mais tarde podem tirar o juro dos seus capitães, e sempre menores do que em qual- quer outro negocio. Conviria pois que o governo tomasse a iniciativa n'esta empreza que é de uti- lidade geral. Como esta carta já se vae tornando extensa fico hoje por aqui. Buarcos 7 de outubro de 1871. — !Seu amigo dedicado — Adolpuo Frederico Moller. N'este n.° (pag. 8) damos publicidade a um artigo d'este mesmo cavalheiro, cuja leitura aconselhamos e oxalá que o gover- no olhe para estes assumptos com a devi- da attenyão. — Dizem-nos que a direcção do Palá- cio de Crystal está tractando com o gover- no hespanhol para a realisaçao de uma ex- posição peninsular n'aquelle edifício. Temos annunciado varias exposições agrícolas na nossa Chronica, porém pou- cas são as realisadas. Acontecerá o mesmo com esta? l^haf is the question! Espera- mos comtudo estar mais bem informados no seguinte numero. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 19 — Tivemos occasião de ler um rela- tório feito pelo presidente da camará mu- nicipal de Arouca, o bacharel Manoel Ba- ptista Camossa Nunes Saldanha, e vimos com prazer que n'aquelle concelho se tem tractado da cultura da Amo7'e{ra, devido ao zelo e actividade de tào digno e pres- tante cavalheiro. Para esse íim obteve-se um pequeno tracto de terreno onde se faz a sementeira da arvore do futuro^ como bem lhe podemos chamar. Cora o estabelecimento d'este viveiro, teve o snr. presidente em vista fazer plan- tações nos legares que as comportassem, e offerecer gratuitamente, ou por preços mui- tíssimo baixos, estas utilíssimas plantas, ás pessoas que as solicitassem. Mil e mil applausos ao snr. Saldanha e aos seus collegas vereadores e deveras desejamos que as demais camarás sigam tão sensato quão patriótico exemplo. Que despeza envolve, para uma ca- mará, alguns metros quadrados de terre- no e um homem que os tome debaixo dos seus cuidados ? E" ella tão insignificante que só por habitual indolência e verda- deiro desmazelo se deixa de prestar esse valioso serviço aos nossos concidadãos. Que as camarás municipaes estabele- çam viveiros d'arvores para orlar as suas estradas de beila verdura e para distribuir pelos seus munícipes, esses são os nossos vehementes desejos. — No «Bulletin de la Société autum- noise d''Horticulture pour 1870» (pag. 424) encontra-se um pequeno artigo sobre «um methodo particular da cultura do Moran- gueiro de todos os mezes», que parece curioso e digno de ser vulgarisado. Este artigo foi escripto pelo marquez Saint-In- nocent, presidente da sociedade acima mencionada. Reproduzimol-o aqui: «Inclino-me a pensar que se pôde pro- longar indefinidamente, ou ao menos por muito terapo, a existência de um taboleiro de Morangueiros . Para isso é mister não supprimir, quer na primavera, quer no verão, os braços que se desenvolveram durante a estação. Todos florescem durante o inverno e é d'elles que depende o êxito da colheita do fim do verão e dos começos do outom- no. Os pés-mães, exhauridos pela produc- ção da primavera, não produzirão senão colheitas muito medíocres. Eu planto os meus Morangueiros em canteiros e em linhas, e deixo-os, como acima levo dito, com todos os braços. Na primavera seguinte reformo as li- nhas abrindo ura fosso entre ellas deO'^,20 de largura e torno a enchel-o cora terriço e com terra nova misturada com cal. Assim supprimi uma parte dos meus Morangueiros. As plantas conservadas du- rante o verão emittem novos braços que desenvolverão raizes n'esta terra assim preparada. Hecomeço a mesma operação no anno seguinte, isto é, destruindo em cada pri- mavera as linhas que tinha deixado no anno precedente. D'este modo prolongo por seis ou sete annosa existência do meu taboleiro de Morangueiros que não ces- sam de dar-me abundantes e bellos fru- ctos.» A esta pequena mas curiosa noticia ac- crescenta Mr.Carrière algumas interessan- tes considerações, onde se desenvolvem as vantagens do methodo de cultura inicia- do pelo marquez de Saint-Innocent. Com effeito, nos pequenos jardins, onde muitas vezes não ha senão uma ex- posição boa para a cultura dos Moranguei- ros, podem-se estes cultivar — quasi inde- finidamente— sem que haja intervallo na producção dos fructos. E' pois uma cul- tura ao mesmo tempo intensiva ou conti- nua e alternante. Eis como Mr. Carrière se explica : «Supponha-se um taboleiro compre- hendendo quatro filas — a^ h, c, d — plan- tadas de Morangueiros em 1871, ter-se-hão os intervallos e, f, g em 1872 guarneci- dos de braços, osquaes no outomno d'este mesmo anno produzirão fructos. Em abril de 1873 arrancar-se-hão as linhas : a, b, c, d, que tiverem fructificado. Lavrar-se-ha e estrumar- se-ha a terra, e em caso de necessidade se poderá até mudar en- tão os intervallos ' e, f, g tornar-se-hão por seu turno linhas-mães. E' ocioso dizer-se que, sendo neces- sário, se deverão tirar os braços que se encontrem mal dispostos ou demasiada- mente numerosos. Também não é preciso dizer que estando as linhas-mães muito vigorosas e em boas condições de produc- 20 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA çIo, se podo conservar e atrazar um anno ou mais a creaçào de novas liuhas de substituição. iS"este caso é indispensável lavrar, es- trumar etc, os intervallos.» Mr. Carriòre conclue pela seguinte ob- servação : que, em geral, é melhor plantar os Murangueiros a maior do que a menor distancia, de maneira que se possa ama- nhar o terreno que está entre as plantas. Assim os fructos serào mais bellos, mais arejados e por consequência melhores. Alem d'esta vantagem que ofFerece a plan- tação afastada, ainda se poderia juntar que a fructiticação mantem-se por mais tempo, é mais abundante e esterilisa me- nos o terreno. Em Portugal attende-se pouco a este ponto e o resultado é, que estando as plantas muito vastas, a producção é me- diocre e rachitica. — A humidade e o frio fazem perder muitas vezes durante o inverno os tu- bérculos das Daklias, que gelam ou apo- drecem. Para quem não tiver uma loja subterrânea, bem secca e de uma tempe- ratura egual, eis aqui um meio fácil e in- fallivel para conservar os tubérculos das Dahlias. Collocam-se os tubérculos, segundo a quantidade que se quer conservar, em va- sos ou em caixas e cobrcm-se de terra bem secca. N'este estado podem-se pôr em qualquer logar com a certeza de se en- contrarem em perfeito estado na prima- vera. — Em França está muito era voga a decocção de tabaco (feita em agua) para banhar as plantas de estufa, o que tem dado resultados muito satisfactorios. As plantas conservam-se limpas e isentas dos insectos, que invadem geralmente as es- tufas quando não se emprega este meio. Banhando-se as plantas com uma dis- solução de sulphato de ferro, egualmente se favorece e muito a vegetação. Esta acti- va-se, e logo o seu bom estado sanitário se patenteia pela bella cor verde escuro que toma a folhagem. Inútil será dizer que taes banhos ou regas feitas com aquelle liquido só devem ser empregadas de tempos a tempos ou antes quando as plantas mostrarem neces- sidade d'ellas. — Em seguida ingerimos uma carta em que se relatam duas interessantes noticias : N'uma das ultimas reuniões que a Sociedade de Aclimação de França celebrou, foi apresentada uma carta de Slr. Naudin, na qual entre* varias noticias que este cavalheiro communicavaá Socie- dade, vimos que se occupava com o estudo e acli- maçiío de uma nova Gramínea, própria para for- ragem, do Guatimala, e que o director do Jardim de Bordéus, iMr. Durieu, lhe tinha enviado debai- xo do nome quasi bárbaro de Teosinté. «Esta planta, escrevia iMr. Naudin, que parece ser nova para os botânicos interessa-nos vivamente, e tanto Air. Durieu como eu empregamos todos os esforços para a obrigar a florescer e produzir se- mentes, condição .si//t> qua non para a sua intro- ducção na agricultura, e temos algumas esperança de chegar a um resultado satisfactorio.» São estas as próprias palavras do illustre in- troductor ao relatar as suas experiências. Oxalá que em breve nos annuncie a perfeita reproducção d'esta nova riqueza agrícola. Ao mesmo tempo vimos a communicação que um sócio fez de um novo Mãko vermelho. Mr. be- nequier emitte a sua opinião a respeito d'esta plan- ta do seguinte modo : «Esta Gramiiiea é chamada a desempenhar um importante papel na formação dos prados ar- tiiiciacs, sem contar as vantagens que se podem ti- rar da sua semente para alimento cias aves domes- ticas. Ramifica-se muito, lançando vigorosas hastes de 1",50 de altura, cobertas desde a base até ao vértice por uma abundante folhagem. As espigas tèem pouco mais ou menos dous decuuetros de com- primento e contéem myriadas de sementes verme- lhas. » Accrcscenta Mr. Senequier que, semeada n'um solo substancial e fácil de regar, esta planta con- servou a folhagem semi-verde, ainda depois da maduração das suas espigas, o que permitliu a Mr. Senequier colher a semente e dar as hastes ás vac- cas, as quaes as comeram bem. Se o meu amigo julgar que estas duas noti- cias lhe podem servir para a sua Chronica, eu pela minha parte auctoriso-o a publical-as. No en- tanto sou de V. etc. A. J. DE Oliveiua e Silva. — Um dos mais abastados proprietá- rios do Alemtejo, o snr. José Maria Eu- génio de Almeida, fez o anno passado grandes sementeiras de Eucalyptus e de Amoreiras chegando a ter dos primeiros cerca ds 18:000, em vasos, e das segun- das quasi 80:000 pés destinados a ser plantados nas suas propriedades, em Évora. São dignos de elogio todos os cava- lheiros que, como o snr. Eugénio de Al- meida, zelam intelligentemente os seus in- teresses. Folgaremos em ter noticias acerca das suas plantações de Eucalyptus e portanto d'aqui as solicitamos. Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 21 GUMERA SCABRA ruizepavon Entre as plantas de folhagem orna- mental e destinada á cultura ao ar livre, difficilmente se encontra uma que possa riralisar com a Gunnera scabra, sendo muito para admirar que se encontre tão raramente nos nossos jardins. E que mui- tos amadores conhecem-na apenas de no- me, mas apraz-nos crer que será muito apreciada em sendo melhor conhecida. Infelizmente as gravuras e a descri- pção que as acompanham para dar uma ideia mais ou menos exacta da planta que se pretende recommendar, despertam mui- tas vezes a desconfiança do amador. Vê a gravura executada artisticamente, lê tal- vez as linhas que se lhe seguem, mas en- colhe os hombros dizendo de si para si: «Isto será bem bom, e tentar-me-hia de certo, mas tenho sido tantas vezes enga- nado por esta espécie de annuncios ou re- clames, que o melhor é acautelar e ser mais prudente de futuro.» Admittindo que tenha algumas vezes razão para assim discorrer, outras haverá que a si mesmo deva imputar o insuccesso, por ter seguido uma cultura inteiramente diversa de aquella que exige a planta de novamente adquirida. Então, o elogio do horticultor que lh'a vendeu ou do escri- ptor que fallou d'ella, elogiando-a, não pode ficar nem sequer levemente aba- lado. Fiff. 4. — Gunnera scabra. Quanto a nós costumamos ser sempre conscienciosos, abstendo-nos de elogiar uma planta cujo merecimento não conhe- çamos por experiência própria ou ainda fundados na opinião de algum dos nossos illustrados collegas. Dito isto, voltemos á nossa Gunnera scabra (G. chilensis Lam. Walpers, Re- pertorium V) que pertence á familia das Urticaceas, ou mais propriamante, á tribu das Gunneraceas, todas originarias da America austral. A Gunnera scabra ha- 1872— Vol. 111. bita o Chili e os Andes do Peru, de onde foi trazida por Mr. Van der Maden. E uma planta vivaz e succulenta. As folhas que são palmatilobadas e cobertas de asperezas, adquirem muitas vezes mais de um metro de diâmetro. Quando ella attinge uma certa edade, sae-lhe todos os annos do coração uma enorme espiga em forma de cone alongado, verde-averme- Ihado, composto de milhares de pequenas flores insignificantes. Gosta de um solo fresco. Em terra N.o 2 —Fevereiro 22 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA forte misturada com caliça, e tendo uma exposição quente, que é a que mais lhe convém, exige copiosas regas, principal- mente na estação calmosa. CoUocada isoladamente no meio de um arrelvado, produz um efteito admirável, e ainda estando n'um grupo de outras plan- tas de folhagem ornamental, não deixará de mostrar o muito que vale. Em quanto á multiplicação devemos dizer que é fácil, quer pelos rebentos que lança em grande abundância, quer por sementes que deveríío no nosso clima che- gar á maduração. Esta espécie gosa de propriedades ad- stringentes ; os seus peciolos sueculentos são nutritivos e, guiados por um synoni- mo da Gunnera scahra, (G. tinctoria) so- mos levados a crer que também tem pro- priedades empregadas na tincturaria. Antes de concluirmos esta noticia, ain- da vamos dizer duas palavras acerca de outra espécie do mesmo género. Referimo- nos a Gunnera manicata ainda muito mais rara que a espécie antecedente, o que é devido á sua recente introducção. Kesta-nos repetir as palavras que Mr. Louis Van Houtte, escreveu a seu res- peito no ultimo oPrix courant de 1871- 72, n.*^ 140», que acabamos de receber. Eil-as : «As folhas desta magnifica novidade, grandiosa em todas as suas partes, attin- gem de 4 a 5 metros de circumferencia e a sua textura e solidez egualam a da nossa brilhante Gunnera scabra, e em quanto a rusticidade, excede-a, visto que conserva toda a sua verdura no principio do inverno, ao passo que a Gunnera sca- bra já está ao mesmo tempo preparada para o repouso.» Coimbra — Jardim Botânico. Edmond Goeze. AQUÁRIOS O-AS ALOCASIAS Estas bellas plantas, notáveis pela sua folhagem que ás vezes é de um colorido delicadíssimo, são das que demandam mais calor e humidade, — e portanto devem ser collocadas na parte mais quente do aquá- rio, ficando os vasos que as contém metti- dos na agua até á metade da sua altura ; pois que não convém que os tallos fiquem inteiramente debaixo da agua. Isto refe- re-se a todas ellas durante o periodo de vegetação, devendo ser tiradas completa- mente da agua logo que a vegetação ces- sar. Todas estas plantas requerem uma ter- ra muito fibrosa e á falta da terra fibrosa dos paizes do norte tenho empregado com excellente resultado a massa de fibra que a Daiallia canariensis produz nos troncos das arvores em Portugal, não esquecendo encher o fundo do vaso com boa porção de cacos miúdos. Aquellas cujas folhas morrem no ou- tomno convém tcl-as totalmente seccas em alguma prateleira no aquário, pois a hu- midade atmospherica é sufficicnte para as entreter até á primavera. Os vasos devem propender mais para (l) Vide J. H. r. vol. II, pag. 79. grandes do que para pequenos e da estru- ctura particularmente usada para plantas bulbosas que os requerem mais altos, que d''ordinario. Esta recommendação refere- se expressamente ás Alocasias que pro- duzem uma soca central como a A. ma- crorrhiza, porem para aquellas da secção do A. Jenningsii devem os vasos ser mais lar- gos do que altos. Os individues d'esta ultima secção são assas fáceis de propagação, cortando e plantando, depois de terem principiado a vegetar, as hastes ou ramificações que deitam em abundância. Quanto aos da outra secção, a propa- gação é mais difficil por isso que alguns deitam raizes que attingem maior grossu- ra nas suas extremidades, como algumas Marantas que produzem uma planta nova. Como porem estas raizes são produzidas em pequena quantidade, o meio mais ge- ralmente empregado consiste em destruir o olho central, o que as obriga a desen- volver os olhos lateraes da soca e por- tanto a produzir plantas novas. Todas as operações de divisão e cor- tes devem ser praticadas durante o pe- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 23 riodo de vegetação. Se as operações se fi- zerem sobre a A. macrorrhiza variegata ou sobre a A. albo violácea, somente com grande calor é que produzem o seu bello effeito. As seguintes variedades são as prefe- riveis para uma collecção limitada : Alocasia Jenningsii — verde com ma- lhas pretas, mui linda. A. metallica — de uma cor bronzeada, de bello effeito. A. alho violácea — folhas verdes com malhas brancas intermeadas com violeta, de óptimo gosto. A. macrorrhiza variegata — verde ma- lhada de branco um tanto amarellado. A. zebrina — folhas grandes sagitadas, verde escuro, os talos com pintas pretas. A. Loicii — verde sombreado. Lisboa. Nautet Monteiro. (Continua). MEIO IIFALLIVEL DE PRESERVAR AS SEMENTEIRAS DOS ESTRAGOS DOS PÁSSAROS São conhecidos, por todos, os estragos que os pássaros fazem nos campos, prin- cipalmente os pardaes, devorando o grão logo depois de semeado, mas se n'essa occasião lhe escapa ao bico voraz, não se descuidam de o procurar nas espigas maduras. O Painço e o Milho miúdo são o seu manjar predilecto, e o pobre lavra- dor, para obstar a tão grande flagelo, não se descuida de guarnecer as suas semen- teiras com espantalhos, que as mais das vezes são escarnecidos pelos astutos la- drões alados. Muitas vezes são obrigados a destacar guardas pelos campos que com chocalhos e vozerias se esforçam em afu- gental-os. As nossas camarás municipaes obri- gavam nas suas Posturas os lavradores a apresentarem-lhes todos os annos certo numero de cabeças de pardaes, julgando que com isso os extirpavam, fazendo be- neficio á agricultura. Queriam curar o mal, mas aggravavam-no. Na Alleraanba havia idêntica Postura, mas, ha poucos annos, foi tal costume abolido, por se re- conhecer que o darano causado pelas aves era inferior ao dos insectos destruidores, que augmentavam com a diminuição d'a- quellas. Seria pois ura grande serviço prestado á agricultura a descoberta de um meio fácil e económico para acautelar as suas sementeiras dos pássaros damninhos, sem comtudo os exterminar, visto que elles são também os inimigos dos insectos que egualmente prejudicam as searas. Eis aqui esse meio que dez annos de experiências me tem feito considerar como infallivel. E' cercar o terreno semeado de pequenas estacas desviadas 50 centímetros umas das outras, e passar de estaca a es- taca um fio de algodão encrusando-o, de maneira que forme pequenos quadrados. Pouco importa a grossura do fio ; por fi- no que seja produz sempre um bom re- sultado. Os pássaros sempre desconfiados, e muito mais os pardaes, julgam que é um laço que se lhes quer armar, e desviam-se para uma respeitosa distancia. Perguntar-me-hão que certeza tenho de que os pássaros não se introduzem por baixo dos fios, zombando d'elles como zombam dos espantalhos. A minha cer- teza é fundada nos seguintes factos. Em 1860 desejei semear herva (Ray grass) no meu jardim; lancei a semente á terra, e no dia seguinte uma nuvem de pardaes cahiu sobre ella, e por mais diligencias que empreguei não me foi possível evitar a perda quasi total da semente, porque não só devoravam a que ficara á vista, mas esgravatavam a terra para colher a que estava coberta. Era mister um guarda effectivo para obstar aos ataques repetidos d'este astucioso inimigo. Fiz nova se- menteira, e foi então que imaginei o meio acima indicado. Comprei 50 reis de fio d'algodão do mais ordinário, espetei pe- quenas estacas de canna, d'altura de um palmo acima da terra, na distancia de 50 centímetros umas das outras, e destribui as linhas atando as nas cannas de ma- neira que formavam pequenos quadrados. Era cousa digna de vêr-se, como os par- daes passeavam todas as ruas do jardim 24 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA ás dúzias, sem ousarem aproximar-se da sementeira. Este ensaio provou-me a excellencia do meio. Chegada a epocha da semen- teira de Ervilhas, empreguei o mesmo expediente e as minhas Ervilhas que eram sempre assaltadas e devoradas pelos pardaes ao nascerem, sendo muitas vezes preciso renovar a sementeira, d'esta vez nasceram e cresceram livres da sua per- seguição. Neste anno tentei por experiência a cultura do Alpiste, cora o desejo de sa- ber se produziria com vantagem no nosso clima, e se seria possivel obstar á intro- ducção desta Gramínea do estrangeiro. Semeei um pedaço de terra, empregando a minha receita ; nasceu e cresceu magni- ficamente, e logo que começou de lançar espigas, suppondo com razão que seriam devoradas, puz-lhe em volta estacas da altura de ura metro, e cruzei no alto o mesmo fio que me tinha servido para res- guardar a semente. Os pássaros chegavam- se, mas não ousavam tocar no deposito sagrado; consegui uma colheita soberba, e convenci-me cada vez mais da nossa pouca industria. Eis aqui pois como com despeza insi- gnificante se pôde preservar da destruição dos pássaros qualquer sementeira por maior que ella seja. E pensava eu que tinha sido o auctor de um grande invento, enganei-me. Aca- bo de encontrar um pequeno artigo no ftAlmanach do Horticultor Pratico», pu- blicado era Pariz em 18Õ9, extrahido do oMoniteur du Calvados» que appresenta debaixo do titulo «Meio simples e fácil para preservar as sementeiras dos ataques dos corvos» o mesmo meio que eu tenho empregado com vantagem contra os par- daes. Não êxito pois em o recommendar aos nossos agricultores, e tenho a certeza que obterão o mesmo resultado, poupando-se a muitos desgostos, e ás despezas que fa- zem com a guarda das searas. É este um meio tão fácil de executar e tão económi- cos os materiaes empregados, que não de- ve hesitar-se no seu emprego, e tenho para mira que não virá o arrependiraento. Advertindo que o mesmo algodão pode ser- vir para três annos, e as mesmas estacas para cinco ou seis. Camillo Aureliano. MODO PRATICO DE FAZER A PLANTAÇÃO EM HEXÁGONO OU SEPTUNCE 1." Tirem-se duas linhas rectas paral- lelas A, B e C, D de 42'«,00 de com- primento e de 40™,00 de distancia uma a outra, e a que chamarei perpendiculares ; 2.° Sobre estas perpendiculares mar- quera-se distancias de 3™,50, e n'estas distancias marcadas tire 13 linhas horizon- taes e marque cora nuraeros seguintes ; 3.° Nas linhas horizontaes de números impares e sobre as perpendiculares colo- que uma arvore — nas outras de números pares, meça da perpendicuar 2'",00 ecol- loque outra arvore. Feito isto temos as bases collocadas — o resto é simplicíssimo; limita-se apenas a medir 4'",00 na horizontal da base e plantar uma arvore e successivamcnte — e ahi temos a plantação septunce ou hexa- gona, uma arvore cercada por seis — sendo triângulos equilateraes. Despertou-me esta maneira pratica de fazer a plantação o bera escripto artigo sobre «Plantação» do snr. António Lou- renço Marques Ferreira a paginas 82 do «Jornal de Horticultura Pratica» de maio de 1871, porque para os nossos homens do campo é necessário que tudo seja o mais simplificado possivel. Escusado é dizer que esta plantação em septunce, apontada e recomraendada pelo snr. Marques Ferreira, merece com- pletamente as minhas sympathias e que hei de empregal-a na plantação que farei este anno do Eucalyptus globulus. Souzel. Barão da Torre. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 25 BIBLIOGRAPHIA Acaba de sahir dos prelos francezes o IV volume d'uma interessante publicação horticola; referimo-nos ao «Manuel de TA- mateur des Jardins, Traité general d'Hor- ticulture». Este volume é unicamente consagrado á cultura dos legumes e arvores fructiferas, e forma o ultimo d'aquella excellente obra. E' dividido em duas grandes secções : ai.* tracta do estabelecimento e principio da cultura das hortas — Os legumes raizes — Os legumes herbáceos e os legumes fructos ; a 2/ divide-se em pequenos fru- ctos bacciformes — Fructos drupaceos ou de caroço e fructos de pevide, terminando esta parte pela cultura dos fructos exóticos de estufa e ar livre. Citar os nomes dos seus eruditos auctores MM. Decaisne e Nuadin, é o maior elogio que se pode tecer a este tractado completo de jardinagem, assumpto que sentimos dizel-o, tão des- curado vae entre nós. Aconselhamos a sua leitura a todo o horticultor e amador racional e judicioso, que deseje conhecer todos os modernos processos d'esta parte complementar da agricultura. A. J. DE Oliveira e Silva. LAVRA CIRCULAR No artigo anterior (vol. II pag. 223)' que publicamos sobre a forma da lavra cir- cular, havemos promettido a descripção do arado «New-castle» por ser este o typo com que ella se effectua mais geralmente em Inglaterra pelos muitos merecimentos que ofiferece, segundo se pode apreciar dos numerosos prémios que tem obtido nos en- saios práticos, era competência com outros arados, concedidos pela Sociedade real de Agricultura de Inglaterra aos snrs. Ran- somes, Sims & Head, que se adjudicaram a patente de seus constructores privile- giados. Fig. 5 — Arado New-castle Como vemos d'este desenho, a aiveca é fixa do lado direito ; o cutello é também firme, podendo ser substituído por um cir- culo cortante. Adiante do cutello ou relha como muitos lhe chamam, pode trabalhar um pequeno arado que tem por fim esto- nar a relva deitando-a junta com os adu- bos espalhados no fundo da leiva, — pode também trabalhar com duas rodas, sendo a do lado direito com maior diâmetro para caminhar dentro do rego e em quanto que a de menor diâmetro trabalha sobre o solo. Estas duas rodas poderão firmar-se mais ou menos altas a fim de regular a pro- fundidade da lavra. No extremo do braço tirante, existe uma cabeça movei e denteada onde engata o cadeado de tracção para os animaes (veja fig. 6) e serve, quando se trabalha sem as duas rodas dianteiras e engatando na parte superior, para fazer profundar o arado á altura que se quizer, e para o suspender quando o cadeado desça a pren- der em baixo. 26 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA O movimento movei é latteral de mo- do que a força de tracção, em logar de se exercer em linha recta com o corte do arado, poderá pegar do lado como se fos- se puxado pelo braço de uma cruz, per- mittindo por esta fórraa que o arado pos- sa em terras mais soltas cortar as leivas mais largas e viral-as convenientemente e assim reduzir o numero de tiragens, abreviando o serviço na proporção da for- ça dos animaes ou da facilidade que offe- rece o solo. Fig. G — Visla da parte dianteira do arado A serie que compõe este typo d'ara- dos consta de cinco tamanhos differenles marcados com as seguintes iettrasque des- crevemos : RND — Arado próprio para terras leves; trabalha com 2 animaes, abre leivas de 4 a 6 poUegadas inglezas ou 9 a 16 centí- metros e peza 96 kilogrammas. RNDii — Arado para terras misturadas menos soltas. Para 2 animaes na mesma profundidade e peza 116 kilogrammas. KNE — Arado para serviços geraes em terras soltas ou misturadas, para 2 ou 3 animaes; abre leivas de 5 a 8 pollegadas inglezas, 10 a 18 centimentros, peza 128 kilogrammas. liNF — Arado para serviços geraes em terras misturadas ou pezadas, «unidas» para 2 a 4 animaes; abre leivas de 6 a 9 pollegadas inglezas, 11 a 21 centímetros, peza 148 kilogrammas. UNO — Arado para lavra funda em ter- ras fortes para 4 a 6 cavaiios; abre leivas de 8 a 12 pollegadas inglezas, ou 18 a 31 centímetros, peza 147 kilogrammas. Todos estcB arados menos o rng estão dispostos a transformar-se em outros uten- sílios de lavoura, como vamos explicar, substituindo um corpo por outro, não só com facilidade mas até com tanta segu- rança como se o arado fosse construído es- pecialmente para qualquer d'esses corpos. Fig. 7 — Corpo de sub-solo Este corpo do arado é muito impor- tante para os terrenos que tenham bom sub-solo alto á profundidade de 26 a 31 centímetros, por quanto despedaça a terra e a revolve; mas para isso precisa de trabalhar era rego aberto por outro arado que lhe facilite chegar a esta profundida- de. De ordinário o serviço se faz traba- lhando os dous arados um atraz do outro puxados cada um por animaes. Fig 8 — Corpo dobrado de regos Tem muitas serventias para a planta- ção de Batatas, Beterrabas e d'outras plantas que se tenham de fazer em regos, por isso que cobre a plantação de um lado e forma parede do outro para a seguinte ; serve para fazer regos d'esgoto e pode-se dispor para extirpar hervas entre regos, Fig. 'J — Corpo para arrancar Batatas Tem este corpo umas espinhas que sahem para fora da terra e que obrigam as Batatas a vir á superfície do solo sem JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 27 damno algum, tendo cuidado que a ponta do arado trabalhe por baixo das raizes. Fig. 10 — Corpo de cavar Com este corpo se volta e se despe- daça a terra quasi como se ella fosse ca- vada a pá ou enchada ; este serviço é muito recommendado por todos os agri- cultores nas terras que tenham sub-solo alto e onde não possam trabalhar os ara- dos a vapor. Como vemos os arados de «New-castle» occupam menos espaço para se guarda- rem, e dào menos incommodo nos seus transportes para os campos. Era terrenos quasi planos podemos dizer que 'são os melhores instrumentos conhecidos; a sua acquisição porem deve-se fazer segundo a qualidade mais ou menos forte do solo que se tem de lavrar e a profundidade do sub-solo, pois onde o houver convém sem- pre utilisar-se d'elle para augmento do producto; é bem evidente que a terra lavradia de pouca profundidade não po- derá criar tanto numero de pés como a terra com bom sub-solo. Concluimos esta descripção dos ara- dos, observando que todos os instrumen- tos de lavoura são bons e melhores quan- do elles com menos esforço de gado ten- dam a fazer o solo filtrar-se d'ar e agua; quando assim não aconteça é porque o la- vrador se tem desmazelado ou não tem tido tempo de augmentar o sub-solo das suas terras. A. DE La Rocque. ADMINISTRAÇÃO FLORESTAL Estamos atrazadissimos em adminis- tração florestal. Este importante ramo do serviço publico acha-se entre nós muito descurado. A provindencia official mais recente de que temos conhecimento a res- peito das nossas florestas é a approvada por decreto de 7 de julho de 1847. E difficientissimo este regulamento, e parece incrível, que quando nos mais pai- zes este assumpto occupa seriamente a at- tenção dos homens d'estado, os nossos go- vernos não tenham dado até hoje provi- dencias de maior vulto acerca de um ob- jecto que prende tão directamente com a salubridade e riqueza do paiz. Convencidos da importância d'este ob- jecto, entendemos que algum serviço pres- tamos, apresentando nas columnas d'este jornal algumas ideias relativas á organi- sação florestal do Ducado do Holstein du- rante o tempo em que se achava debaixo do dominio do reino da Dinamarca ; or- ganisação que se nos afigura muito bem pensada, de excellentes resultados práti- cos e económicos e que com vantagem se poderia amoldar ao nosso paiz. Eis o que tivemos occasião de obser- var durante o tempo que estivemos na Allemanha a estudar silvicultura. Havia no Ducado do Holstein um chefe superior, com o titulo de Forst-Meister, que superintendia em. todas as florestas do ducado (assim como também no du- cado de Lauenburgo) e se correspondia directamente com o governo de Copenha- gue. Este empregado, que tinha a seu lado um secretario, era o chefe superior da administração e do serviço technico florestal e curapria-lhe visitar annualmente todas as mattas do ducado. Segundo as notas que tomava, e os relatórios e outros documentos que lhes enviavam os chefes de departamento, assim elle formulava os seus relatórios e contas para o governo. Holstein estava dividido em departa- mentos florestaes presididos cada um por um chefe que tinha o titulo de Oherfõrs- ter. Este funccionario tinha por obriga- ção o inspeccionar as mattas do seu de- partamento, tendo para isso de as visitar três vezes no anno e corresponder-se com o chefe superior, dando-lhe conta do que observava n'estas visitas e de quanto os directores dos districtos florestaes o infor- 28 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA mavam relativamente ao expediente, ad- ministraçiio e exploraça,o das mattas a seu cargo. Us chefes de departamento rece- biam as ordens e instrucçòes do chefe su- perior, e estes davam-nas e transmittiam- nas aos directores dos districtos. Os departamentos subdividiam-se em districtos íiorestaes, Forst-distrikt, de l.'' e 2.* classe. A cathegoria de 1.* classe pertenciam os que tinliam uma área flo- restal de maior extensão e onde as mat- tas eram mais importantes, e á de 2/ classe pertenciam os districtos onde havia um limitado numero de mattas e de pouca importância. O numero d'estes últimos era muito pequeno. Us districtos tinham por chefe ura di- rector, aos de 1.* classe dava-se-lhe o ti- tulo de Hãgereiter (1) e aos de 2.* classe de Hobzvogt. Us directores dos districtos florestaes tinham a seu cargo o que dizia respeito á administração, explorayào e cultura das mattas, devendo dar contas de tudo o que Decorresse ao chefe de departamento. Cumpria-lhes mais formular no principio do anno o orçamento da receita e despeza que havia a fazer nas mattas do seu dis- txicto em harmonia com os estudos da commissào de revisão. A despeza só em casos muito espe- ciaes é que devia exceder metade da re- ceita das mattas. O orçamento da despeza, para ter vigor, tinha de ser approvado pelo governo, o qual fazia baixar depois ao chefe de fazenda do districto para auctorisar o recebedor-pagador administrativo a en- tregar as verbas dos vários capítulos do orçamento á vista dos competentes docu- mentos da despeza. Us empregados florestaes de que até aqui temos feito menção deviam ter o curso theorico c pratico de silvicultura da Uni- versidade de Copenhague. Us districtos florestaes da 1." classe eram conforme a sua importância dividi- dos em secções, Revier, e cada uma tinha um chefe a que se dava o titulo de Forst- aujseher. A estes empregados compctia-lhes vi- giar e dirigir praticamente todos os tra- balhos florestaes da sua secção, segundo (1) Este titulo equivale ao que na Prússia se chama torsíer. as instrucções que para isso recebiam dos directores dos districtos ; assim como ti- nham a seu cargo a conservação e pro- tecção e a policia das mattas, devendo lavrar os autos de transgressão que eram em seguida enviados ao poder judicial por via do director. Quando estes funcciona- rios por si só não podiam policiar todas as mattas da sua secção, acercavam-se do capataz, ou, na falta d'este, do operário da sua maior confiança. As habilitações que deviam ter estes empregados resumiara-se no curso pratico de silvicultura, que consistia, depois de um certo numero de preparatórios dos ly- ceus, em praticarem três annos n'um dis- tricto florestal de 1.* classe e no fim deste tempo em fazerem ura exame na Univer- sidade de Copenhague. Us districtos de 2.* classe eram, segundo a sua importân- cia ou numero de mattas, divididos em cantões e em cada um havia um guarda florestal, Holzivarter, excepto nos mais insignificantes. Estes empregados eram nomeados d'entre os capatazes. Us directores de 1.^ classe tinham ac- cesso aos legares de chefe de departa- mento e estes ao do chefe superior. Us chefes de secção tinham unicamente accesso aos logares de directores de 2.* classe. U secretario que devia ter o curso theorico podia ser director de 1.* classe havendo vagatura. Pelo que respeita aos operários havia nos districtos de 1.* classe, era cada sec- ção, ura certo nuraero d'elles, tendo por capataz o mais antigo, sabendo ler e es- crever. Nos distiictos de 2.* classe havia só ura capataz, para todo o districto. Venciara era todas as epochas do anno o mesmo salário, e eram chamados so- mente quando havia trabalhos a executar. Todas as vendas dos produetos das mattas eram feitas por arrematação pu- blica no local mais próximo das mattas aonde havia objectos a vender. A estai' arrematações assistia o chefe da fazenda do districto, o director florestal e o chefe de secção respectivo, havendo-o, tendo cada um a sua relação em que eram desi- gnados os lotes que se tinham de arrema- tar e nas quaes havia duas casas em branco, onde escreviam, á medida que JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 29 se ia arrematando, o nome do arrema- tante e o preço da arrematação. O cheíe de fazenda, lindo o acto, re- mettia uma copia d'essa relação ao rece- bedor-pagador do districto, ao qual os li- citantes iam pagar as quantias por que ti- nham arrematado recebendo delle um re- cibo, á vista do qual os directores de 2.* classe ou os cheies de secção lhes entre- gavam os objectos comprados. As avaliações dos productos que se ti- nham de arrematar eram feitas pelo di- rector com assistência do chefe de secção ou guarda florestal. Todas as arvores que tinham de ser abatidas, marcavam-se com um martello, que tinha gravada a coroa real. A marca devia licar na parte do tronco inferior ao sitio do corte, de modo que se conser- vasse no cepo depois da arvore estar cor- tada. Este serviço fazia-se na presença do director e aquelle martello só podia estar em seu poder. O corte das arvores era sempre feito por conta do estado. As folhas dos jornaes dos operários organisavam-se em triplica- do pelo director de 2.^ classe ou chefe de secção, e aos sabbados, depois de aucto- risados pelo chefe do districlo florestal, o original era levado pelo capataz ao rece- bedor-pagador, o qual tícava com elle e pagava a sua importância. O capataz recebia esta importância e pagava aos operários do seu partido na presença do director de 2.^ classe ou do chefe de secção. Os directores enviavam semanalmente ao recebedor-pagador os documentos dos materiaes e os fornecedo- res recebiam d'este a sua importância. O pessoal technico e guardas recebiam os seus vencimentos mensalmente da mão do recebedor-pagador. Para o ducado de Holstein, assim co- mo para o de Lauenburgo, havia uma cora- missào chamada de revisão que se compu- nha de três membros, tendo o curso flo- restal theorico da Universidade. Tinha por attribuição percorrer todos os distri- ctos florestaes levantando as plantas to- pographicas, florestaes e geológicas das diílerentes mattas ; proceder á avaliação do volume lenhoso do arvoredo com a designação das espécies e edades; fa- zer a analyse geológica dos terrenos a fim de vêr quaes as qualidades de ar- vores que mais se harmonisavam com a sua natureza, preferindo sempre aquellas que produzissem as madeiras mais ada- ptadas para construcçôes navaes do esta- do e as que tivessem maior procura nos respectivos mercados conforme as locali- dades. Também lhes competia designar, nas plantas, os cortes a fazer annualmente, tendo em muita consideração o consumo provável, a fim de evitar a deterioração dos productos que ficassem por vender. Nos seus estudos e averiguações con- ferenciavam sempre com os directores dos districtos, como os mais práticos, e os que melhores esclarecimentos lhes podiam dar ; e depois d'isto faziam um relatório acom- panhado das respectivas plantas das mat- tas de cada districto e o enviavam ao che- fe superior, o qual o remettia para o go- verno, com as reflexões que entendia de- ver fazer. O governo depois de approvar estes estudos, enviava copia d'elles ao chefe superior, a fim de serem remettidos por intermédio dos chefes do departamento aos directores dos districtos, para que os seus trabalhos fossem dirigidos em harmonia com aquelles estudos, não podendo aíFas- tar-se das instrucções n'elles consignadas, excepto se, allegando motivo plausível, alcançassem auctorisação superior. De 10 em 10 annos uma commissão composta de engenheiros navaes, percor- ria as mattas nacionaes : as arvores que elles achavam que dariam obra para as construcçôes navaes eram marcadas com um martello que tinha gravado a lettra M, e desde então ficava prohibido cortar quaesquer d'estas arvores. E se alguma fos- se derrubada pelos temporaes, ou atacada da doença, os directores não podiam dis- por d'ella sem primeiro o participarem para o Arsenal de Marinha. Esta mesma commissão percorria egual- mente as mattas particulares, passando estas pelas mesmas formalidades que as do estado, e todas as vezes que o go- verno quizesse cortar d'ellas algumas das arvores marcadas, eram avaliadas" e os seus donos embolsados do preço da ava- liação. As mattas particulares estavam sujei- 30 JORNAL DE HORTICUI.TUBA PRATICA tas á fiscalisaçào dos directores dos dis- trictos, nào podendo os donos emprehen- der qualquer corte sem primeiro lhes par- ticipar, porque a elles competia entào ir marcar as arvores que se achassem em estado de ser cortadas, a fim de se níio fazer um corte desproporcionado ás forças da matta. Sendo necessária a plantação de no- vas arvores, o dono recebia intimação pa- ra o fazer na epocha competente, c quan- do se recusasse, era feita por conta do es- tado e a folha da despeza enviada ao po- der judicial para embolsar a fazenda. Comparativamente com a nossa orga- nisação florestal, achamos a que acabamos de expor muito mais simples, económica e de mais proficuos resultados. Consignando-a nas paginas d'este jor- nal, levamos em mira chamar a attenção dos que se interessam por este ramo de serviço publico, e dos que n'elle superin- tendem, despertando-lhes o desejo de o melhorar, visto que tanto se recommenda pela sua importância, e pelos vantajosos resultados que delle advirão ao paiz. Coimbra 20 de outubro de 1871. Adolpho Frederico Moller. UM VEGETAL ÚTIL DO BRAZIL O Mimusops data (IMaçaranduba) abun- da no valle do Amazonas, e estende-se até 23 ° de latitude ao sul. Encontra-se desde a provincia do Pará até á do Rio de Janeiro e de Minas Geraes, e desde Pernambuco até ás margens do Jurema, no Matto -Grosso, onde Mr. Chandler re- conheceu a sua existência. O Mimusops data cresce até 20 me- tros, e a sua madeira é excellente para construcçòes civis e navaes. A seiva d'es- ta arvore, obtida por incislio, é leitosa; fresca, constituo um bom alimento e é usada em medicina ; exposta ao ar livre, coagula e produz uma espécie de gomma elástica, bastante similhante ao caoutchouc, á gutta-pcrcha e gomma da Batata. Infelizmente esta gomma não offerece á industria europeia os recursos que pro- mette. O Maçaranduba não se enccntra nas margens dos rios, vive nos sertões e por isso o seu transporte torna- se d'ura preço excessivo. Accresce a isto a falta de braços e é por causa d'estas difficeis cir- cumstancias que a exportação de tão útil producto c muito limitada. Os indígenas aproveitam o leite do Maçaranduba, mas não o tomam puro ; addicionam-lhc uma pequena quantidade de agua c deitam-no no chá ou no café ou 8crvem-se d'elle para preparar sopas. Acreditam que o leite tomado puro seria de diflicil digestão e poderia exercei ter- ríveis effeitos na saúde. Este leite é em- pregado no Pará em todos os casos em que nós empregamos o de vacca. Resulta do que acabamos de dizer que o Maçaranduba deve ser collocado entre os vegelaes úteis que poderiam não somente prestar serviços aos habitantes do paiz, mas também constituir um objecto de ex- portação do qual as industrias poderiam tirar vantajosamente partido, se não fossem as difficuldades em que acima falíamos. Pertence esta planta a um género da familia das Sapotaceas e foi creado por Linneu, que o coUocou na sua odandria- monogynia. Os Mimusops são arvores lac- tescentes de Azia e America, de folhas al- ternas, muito inteiras, brilhantes ; as flo- res são brancas e sustentadas por pedún- culos axillares, muitas vezes agrupadas. Pelas suas numerosas divisões, assi- milham-se muito ás das nossas Secias. As mulheres fazem d'ellas coroas e gri- naldas que pela cor dourada parecem ser feitas do precioso metal ; depois de sec- cas servem ainda para perfumar os moveis e roupas. De Candolle dividiu este género, que contem hoje quasi 30 espécies, em duas secções muito distinctas : Quaternária e Ternária. Endlicher («Gen. plant.» pag. 741, n." 4263) e que já antes o tinha di- vidido em duas secções. A. J. DE Oliveira e Silva. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 31 TOMATE BELLE DE LEUVILLE o Tomate Belle de Leuville foi obtido de semente por Mr. Rochefort, horticultor de Leuville-lès-Arpajon (Seine-et-Oise), e é muito notável pela sua cor de um ver- melho-cereja ou avioletado brilhante. Em quanto á fórma^ tem a mesma que o Tamate commum, do qual procede conservando as qualidades do pae. Os vendedores de hortataliças prefe- rem-o porem aos Tomates communs, o que se explica pela sua cor ser mais bella. O Tomate Belle de Leuville, foi, como já levamos dito^ obtido do Tomate com- mum, e reproduz-se bem de semente. Mr. Rochefort, fornecerá sementes ás pessoas que as solicitarem. («Revue Horticole») E. A. CaRRIÈRE. Redactor da «Revue Horticole» SEMENTEIRA DA BETERRABA EM SEQUEIRO No mez de março de 1871, semeei em terreno muito árido, entre leiras de Ba- tata têmpora, uma porção de Beterraba vermelha e amarella. — As sementes foram mettidas ao sacho na distancia de 10 polle- das umas das outras e em cada cova se deitaram duas sementes. Depois da Be- terraba nascida, e de estar algum tanto desenvolvida^ mandei-lhe dar uma saciía, e deixei uma só plauta. Durante os mezes do verão a Beter- raba não se desenvolveu e, ao contrario, mirrou-se a tal ponto, que todos que a viam eram de opinião que a sementeira estava perdida. Não aconteceu porém as- sim; lugo que as uoutes cresceram e que começou a cahir algum orvalho, observei eu que as plantas se apresentavam mais viçosas e animadas. No mez de setem- bro, logo depois das primeiras chuvas do outomno, mandei dar-lhes uma sacha, a qual muito agradeceram, e depois d'isso têem-se desenvolvido com tal vigor que no principio de dezembro comecei a dal-a ao gado. Esta experiência deve ser de summa vantagem para os terrenos do nosso paiz onde ha pouca agua para irrigações, sendo que por este meio poderão semear-se os terrenos de sequeiro com esta utilíssima planta que pode fornecer no inverno, com as primeiras aguas do outomno, um ma- gnifico alimento para a engorda e sus- tento de toda a qualidade de gado. Os terrenos de sequeiro onde fiz esta experiência, uns são argilosos e outros areentos, mas tanto em uns como em ou- tros a Beterraba está actualmente linda e promettedora. Coratudo, a Beterraba ama- rella não se desenvolveu tão bem, como a vermelha; esta achou-se mais frondosa e as raizes mais desenvolvidas por ser mais robusta, e por isso aconselho que se dê a preferencia á vermelha. Lisboa. George a. Wheelhouse. TRADESCANTIA VIRGINICA linn. Esta interessante planta pertence á pequena familia das Commelyneas, creada por R. Brown, e forma um género (Tra- descantia), que Linneu dedicou á memo- ria de um celebre naturalista inglez John Tradescant, introductor da^ espécie que dá motivo a este artigo. E natural da Virgínia e vivaz ; as snas hastes diíFusas tomam 70 centímetros de altura, são arti- culadas, cylindricas, guarnecidas de folhas lanceoladas-lineares, em forma de telha, estriadas de branco e formam um elegante tufo. No vértice d'estas hastes é que desa- brocham numerosas umbellas de flores de bello azul, que contrasta cora a viva cor dourada das suas antheras. Os filetes, que sustentam estas antheras^ estão por assim dizer escondidos no centro de um pincel (nectarios), formado de pellos tão delica- dos como seda e da mesma côr das peta- 32 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA las, mas mais carregada. As flores prin- cipiam a desabrochar em maio, e prolon- gam-se succedendo-se umas ás outras sem interrupção, até ao apparecim ento dos primeiros frios. Esta espécie tem produzido algumas variedades cor de rosa, de purpura e brancas. Faz muito lindo effcito plantada em tufos no meio dos relvados, á sombra, em terra fresca, ou bordando massiços e alegretes. Vegeta bem em toda a qualidade de terreno, e como é vivaz, o melhor modo de multiplicação é a separação das suas raizcs cm outubro ou na primavera. Já que falíamos n'este género, não terminaremos este artigo sem citar uma outra espécie de Tradescantia, que, se não é recomendável pelas suas flores, de- ve-o ser pela rica folhagem com que se adorna, é a T. zebrina. Natural do Bra- zil, esta planta, tem hastes herbáceas, prostradas ; folhas coloridas de violeta, verde e branco, e vermelhas pela parte inferior. E uma magnifica planta para guarnecer cascatas e os rochedos artificiaes das nossas estufas, ou para vasos e sus- pensões. Já a tivemos também ao ar li- vre, e na quinta do snr. Proença Vieira, em Villar do Paraizo, vimos um soberbo pé que cobria um muro velho. E também própria para ter nas salas. No estabele- cimento horticola do proprietário d'este jornal cncontra-se também a Tradescantia discolor e T. liniata, ambas muito bellas. Estas três multiplicam-se muito bem por pequenas estacas. Conhecem-se ainda as T. Wallichiana, T, Ackermanii e a T, Warscewicziana Kunth., do Guatimala similhante a um Aloés e muito ornamen- tal pelas suas flores. A. J. DE Oliveira e Silva. POURRETIA AERANTHOS A planta de que hoje nos vamos oc- cupar é um curioso vegetal, que talvez a maior parte dos nossos leitores possuam com o nome de — Flor do ar. — Pois essa interessante curiosidade horticola, não é mais nem menos do que um género da rica familia das Bromeliaceas, de que já por algumas vezes esta publicação se temoccupado. RuizePavon na sua «Flora Peruviana» dedicam este género ao ab- bade Pourret, illustre botânico viajante e auctor d'uraa flora inédita. Mais tarde, Willdenow e Persoon, reuniram esta planta ao género Fitcairnia, e ultimamente en- contramol-a entre as Tillandsias com o nome de 2\ dianthoidea(Tillandsia pseu- do-cravo). Ignoramos os motivos que le- varam estes diversos botânicos a fazerem estas mudanças de género j mas encos- tando-nosá opinião do illustrado auctor do aHerbier general de TAmateur», de que a Fuurreiia ác\i\x\z e Pavon dijjere dasPit- cairnias por um caracter muito essencial, que t o ovário supero, continuaremos a dar-lhe o nome de Pourretia aeranthos, que a principio teve. Esta planta foi enviada pela primeira vez de Montevideo a Mr. Dupuy, dire- ctor do jardim lieal de Bordéus, em 1819. O viajante que a trouxe chamou-lhe «Plan- ta aérea» ; nome com que é conhecida no seu paiz natal, sendo com ella que os na- turaes costumam adornar as suas janellas e varandas. Pela inspecção da bem aca- bada gravura junta, vê-se perfeitamente o porte da planta ; as suas folhas são em tudo similhantes ás das outras Bromelia- ceas, mas muito mais pequenas. Do cen- tro, em julho ou agosto, eleva-se uma haste também pequena, guarnecida de lin- das bracteas vermelhas, verdes na base, do meio das quaes sahem flores azues, que, depois de desabrochadas, fazem um lindo eífeito. Nós possuímos um pequeno exemplar, que n'esta occasião (7 de ju- nho) principia a mostrar a haste floral; mas o exemplar d'onde este foi tirado, e vive n'uma varanda, tem meio metro do tamanho com a grossura correspon- dente. Quando está coberto de flores, pro- duz um eífeito surprehendente. Por esta simples descripção, já os nos- sos leitores vêem que é uma planta muito curiosa e digna de possuir-se, attendendo também a que não dá trabalho algum. Presa a um fío de ferro e pendurada de uma arvore ou outro qualquer objecto, mergulhada de vez em quando em agua JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 33 nos dias de calor, vive perfeitamente, e eis no que se resumem os cuidados de cultura. Algumas pessoas tem experimen- tado, e nós mesmos já o fizemos, a cultu- ra d'esta planta em terra ou areia, porém ao fim de pouco tempo a planta morre. 11 — Pourretia aeranthos Não sabemos se se falta a alguma con- dição necessária para este modo de vege- tação, se lhe dão agua de mais ou de me- nos; cremos até que ella possa vegetar como as outrsis Bromeliaceas,e citamos uni- camente o facto que temos observado. A. J. DE Oliveira e Silva. CHRONICA Com o principio do anno parece que veio a ideia de melhorar os jardins pú- blicos da cidade. No dos Martyres da Pá- tria fizeram-se certas pequenas modifica- ções que applaudimos, e plantaram-se al- gumas Camellias cujas flores, como ver- dadeiras rainhas do inverno, poderiam de- leitar os olhos dos que vivem em incessan- te labutar e que só têera os dias sancti- ficados para repousar o espirito. Mas pobre d'essa classe laboriosa que trabalha desde o despontar da aurora até que chegam as trevas da noute, para ga- nhar uma exigua quantia que, querendo viver honestamente, nem sequer lhe chega para as suas modestas refeições ! São desgraçados ; é-lhes portanto in- terdicta a entrada nos passeios públicos, nos jardins que tanto se sustentam á cus- ta dos endinheirados como á dos proletá- rios ! É, na verdade, uma providencia digna da nossa civilisação, isto é, egoísta e insensata. Na epocha em que o snr. visconde de Villar Allen fazia parte da Camará muni- cipal portuense e tinha a seu cargo o pe- louro dos jardins, ponderou aos seus col- legas que, em imitação de todas as cida- des onde tem penetrado a luz do progres- so, era necessário que, quando não todos, ao menos alguns dos jardins da cidade fossem franqueados ao povo, classe que mais carece d'este recreio. Este pensamento liberal, esta propos- ta que não tinha o resaibo de feudalismo, não foi acceite pelos collegas do snr. vis- conde de Villar Allen. Deverão ser lou- vados? Consultem as suas consciências, que ellas responderão por nós. Vae o operário, que, se nos dão licen- ça, não é anima vilis, antes um cidadão prestantissimo á sociedade, quando labo- rioso e honrado, vae elle a entrar n'um passeio que por derisão se chama publi- co. Quer desfadigar-se das suas cancei- ras, quer desfructar a sua quota-parte nas regalias, visto que não o dispensaram da sua quota-parte nos encargos. 34 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA O que fazes, desgraçado? Não repa- ras que o teu magro salário nào te dei- xou subir do tamanco ou da chinella para hombrear com o alto cotiiurno? A' porta do passeio, similhaute ao ar- chanjo do paraiso, brandindo a espada de fogo, lá está o guarda municipal, terrível d'auctoridade. «Alto! Para traz!» lhe brada elle, e o operário rctira-se, ou, se recalcitra, ó expulso d'aquelle recinto a em- purrões, como por mais de uma vez te- mos visto. Tem razão o municipal e mais a au- ctoridade e também a lei que alli o col- locaram. Onde se espaneja a femme clu demi monde, o fátuo, o néscio, o ocioso, não nos dirão o que vae lá fazer o homem do trabalho ? Fiquemo-nos n'esla interrogação, em quanto aguardamos que seja expungida do código de posturas municipaes tão obnoxia e anachronica prohibição. Não aperta assim o fiado quem tem o maior interesse em que elle não reben- te. Entenda-nos quem puder. — De uma leitora d'este jornal rece- bemos a carta que em seguida inserimos e á qual juntamos algumas passageiras considerações. Snr. Oliveira Júnior. Vou em primeiro logar afrrade- cer-lhe os esclarecimentos que V. tem lido a Dneza de dar-mc e em sefjundo pedir-llie desculpa de Ião repelidos iucomniodos. Mas que quer V. ? Sou amadora apaixonada de Flora c, como muitos habitantes desta metrópole, não possuo um palmo de jardim : vejo-me portanto obrii.'ada «a cultivar as minbas plantas nas salas, onde a cullura exifíe bem maiores cuidados do que ao ar livre. Comtudo, delicio-me com e?le passatempo que proporciona talvez mais horas de recreio do que tèem aquellesque possuem prandes terrenos. Os indivíduos que repre>enlam o meu reino vcfretal ,-ão em pequeno numero, é bem verdade, porem, em compensação tenho-o sempre sob os meus olhos. Como lhe disse na minha ultima carta, as senhoras de Lisboa vão adoptando as jilantas para adorno dos seus aposentos, porém acontcce-llns muitas vezes, assim como a mim. ver aqiiclla planta mais predilecta, ■ànitrc enlaiil gaUe perecer n um diluvio de carinhos ! llu perto de Ires annos (jue me entrepo de corarão a esta aiie e tenho aprendido muito, endtora haja aifdado somente uma pequena parle do caminho. Ora, para con- seguir cultivar certas plantas, não me forro a sacrifícios, mas quasi todos infrucliferos ! V. tem-me traclado sem- pre com extrema bondade c portanto espero que mais uma vez me aturará com paciência e que me dará alguns esclarecimentos que desde já agradeço e que muilo me aproveitarão. a<>im como a algumas minhas amigas, lei- toras do .^eu «Jornal de Horticultura Pratica». O que desejava s;iber e como poderei evitar que cer- tas plantas laes como Caleus, ircMnrs ctc. |)erecam com Unta faciliilade? Haras são aquellas (|ue duram na minha sala mais ile um mez ; Dndo este praso, mostram-se lan- guidas, delinham-se e terminam a sua cxi:-teiicia. Tenho por costume exjtol-as algumas vezes ao ar livre por esparo I de uma ou duas horas. Parecc-me que esta mudança de I temperatura tão rápida não lhes faz bem ; todavia sou 1 ainda um tanto rotineira e como o vi fazer a alguém pen- sei que deveria seguir este exemplo. Y. obsequiar-me-ha illucidando-mc em este ponto. As Bii berijias, osSciluiux, as Àucu/>as (tanto masculi- nas como femininas), os Oplismenus, as Tratlescaniias, vege- tam perfeitamente desde que as rego menos vezes. Aquelle bello 1'elii em que já lhe fallei — o icroxlichum aUicorne, esteve alguma cousa doente; comtudo, depois que o trans- plantei, apresenta uma vegetação luxuriante « então dei- Ihe regas um pouco mais frequentes. Creio que não in- corri em erro. Peço que desculpe tanta impertinência e creia-me muilo respeitadora ele. D. Cakdioji de S. Pimo. Lisboa 8 de janeiro de 1872. Como diz a illustrada auctora da car- ta que se acaba de lêr, o gosto pela cul- tura das plantas nas salas vae-se desen- volvendo muito nas principaes cidades de Portugal, taes como, Lisboa, Porto, Coimbra, etc. e não podemos esquivar- nos a fazer algumas considerações so- bre esta cultura que está principalmente entregue aos cuidados das delicadas mãos do bello sexo. Com eôeito, não é raro ouvirmos quei- xas proferidas pelas nossas damas, com relação á diffieuldade que encontram em conservar a vida ás suas plantas predi- lectas. Os motivos que véera frustrar tantas esperanças, são variados e complexos, mas relanceando as vistas sobre a natu- reza dos vegetaes e as condições que exi- gem para a sua existência, parece que está mais de metade do problema resol- vido. O reino vegetal em opposição ao rei- no animal, é composto de seres fixos, e portanto não têem nem locomoção, nem movimento, nem tampouco podem procu- rar o que lhes convém ou apartar de si o que os prejudica, tendo por conseguinte de se sujeitarem aos nossos caprichos. Ora, acontece que nos quartos são os vasos mudados muitas vezes e estas des- locações repetidas modificam a acção de respirar, em consequência da differença de luz que quasi sempre se dá, sendo esta uma das causas mais frequentes da morte dos vegetaes. Este facto poderá facilmente ser ob- servado por qualquer pessoa que tenha plantas cuja mudança seja preciso fazer- se amiudadas vezes, comparando-as com outras que estejam nas mesmas condições, mas fixas. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 35 Em certos paizes aonde cultivam as CamelUas no interior das casas, basta algumas vezes uma simples deslocação, como observou Mr. Ch. Morreu, para ver cahir todos os seus botões. Outro ponto que nunca se deveria perder de vista e que é mister distinguir bem, é que o ar não é a luz, porque os vegetaes são mais sensíveis á acção dos raios luminosos do que á do ar. Notemos que as plantas respiram ao sol e que ha momentos no dia durante os quaes a in- fluencia d'estes raios as fazem respirar activamente^ funcção que lhes é tão in- dispensável como a nós. Ora, sendo as salas guarnecidas de cortinas, estofos e papeis escuros tornam :í luz menos in- tensa e tiram toda a acção directa dos raios solares. Aos Fetos e Selaginellas, por exemplo, convéem-lhes em geral es- sas condições ; porem, quando são plan- tas de flores coloridas, a luz é indis- pensável para a formação das flores e da sua coloração e é d'aqui que vem o cha- mar-se ás flores «filhas do sol». Eífecti- vamente ura prado esmalta-se muito mais de flores do que uma floresta na qual seja a luz impenetrável. Esta simples con- sideração deve fazer comprehender per- feitamente a necessidade que as plantas têem da influencia dos raios apollineos para poderem apresentar as suas brilhan- tes corollas. E' mister comtudo, que não se exa- gere esta pratica, porque ha certas plan- tas de colorido ou de estructura tão de- licada que soffreriam com a acção dire- cta da luz. Todas as pessoas que, como nós, têem cultivado plantas nas salas, devem ter observado que muitas d''ellas morrem al- gumas vezes á mingua de agua, mas, a maior parte, pelo excesso d'ella. E' ura preconceito de quasi todos os araadores : tquanto mais agua melhor», preconceito que traz comsigo consequências funestas. As irregularidades da rega são egual- mente perniciosas ; por conseguinte acon- selhamos como norma geral: — regas mo- deradas e era relação ao estado de vege- tação da planta. Quando estão com flo- res requerera mais agua do que quando estão era repouso porque n'aquelle esta- do evaporam maior quantidade d'ella. A temperatura da agua é também um ponto delicado. Quando tirada de um poço e dada ás plantas é-lhes nociva por vir então muito fria. Asraizestêem sedee absorvendo o li- quido frio com avidez, succede que este sobe rapidamente e derramando-se em to- dos os órgãos aonde a necessidade da vida o chama, subraette-os a este frio in- terior. E' uraa condição fatal ! A tempe- ratura da agua deve pois estar sempre em harmonia com a da atmosphera em que se acham os vegetaes, e assim será um elemento de saúde. Quando as plantas estão no seu estado natural, recebem a aspersão da chuva. A agua desce portanto e lava as folhas ; cahe pelos peciolos, nutre os gomos e filtra-se pelos caules. Estas condições tão favorá- veis faltara-nos na cultura dos quartos ; poder-se-hão porém obter pondo de tem- pos a tempos as plantas expostas á chuva. A aspersão por meio de uraa seringa de ralo muito fino é sem duvida ura dos melhores meios para tirar ás plantas essa poeira que tão mau effeito faz á vista e que tão prejudicial lhes é. Para este fim faz-se eguâlraente uso de uraa esponja mo- lhada; todavia este modus operandi é tão delicado que só o devemos empregar com certas plantas, cujos órgãos nos mostram rusticidade. As plantas nas salas e salões são do- cumentos de aprimorado bora gosto, e o bom gosto não é nada mais nem menos que a manifestação d'uma culta intelligencia. E por isso é que, quando pela priraeira vez entraraos n'uraa casa e desconheceraos os donos d'ella, fazeraos logo aproximada- mente uraa ideia do que valem. Já o nosso festejado Ramalho Ortigão disse algures que, comendo-se broa, não se pôde ser poeta ! Do raesrao raodo, pessoas que te- nhara o gosto derrancado, nunca terão ve- getaes nos seus aposentos, nera quadros de valor, nera outros primores d'arte. Prefe- rera ura par de serpentinas de prata de alto valor raas de nenhum raereciraento ar- tístico e quatro ou seis quadros represen- tando os diâ'erentes raembros da familia pintados pelo pintor-commerciante inglez J. Stewart ! O que haverá mais bello para uma sala do que as plantas ? No inverno, quau- 36 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA do o thermometro está nas circumvisinhan- ças de zero, que formoso espectáculo não é o que nos apresenta a família das Ama- ryllideaceas e das Irideaceas ! Os multicolores Crocus, formando lin- dos açafates, os Jacinthos, em jarras ou cm frascos brancos cheios de agua e deixando ver á nossa curiosidade a sua vida sub- terrânea, que nós por arte, tornamos visí- vel, merecem a nossa admiração e agracio ! Eis porque, elevados no íntimo do nos- so enthusiasrao, defendemos com todas as veras as flores, essas mimosas filhas do ceu, como as acclamava um escriptor po- pular na nossa visínha Hespanha, Cer- vantes. Desejamos que as passageíias consi- derações que fizemos no princípio d'esta noticia sejam uteís á ex.""* snr.^ D. Cân- dida de S. Pinto e que as curtas divaga- ções que se seguiram sirvam de estímulo ás cândidas e formosas donzellas portu- guezas para que se devotem á cultura das flores, suas írmSs e rivaes na gentileza. — Dos snrs. Araújo éc Ferreira, d'es- ta cidade, recebemos um exemplar do Supplemento ao Catalogo n.° 2 das plan- tas bolbosas e tuberculosas que têem á venda no seu estabelecimento. Entre ellas encontram-se algumas no- vidades. Os amadores de Pceonias têem alli muito onde fazer a sua escolha. — Dízem-nos que no concelho de Évo- ra, houve grande producçào d'azeitona este anno. — Estamos em fevereiro e é preciso que não haja descuido em se tractar nos fins do mez das reproducções das Iresi- nes, dos Coleus, das Fuchsias e d'outras plantas precisas para os massiços. Será talvez ocioso dizer que, para as multipli- cações, dever-se-ha preferir sempre que seja possível os rebentões mais vigorosos. D'este modo obtêem-se melhores plantas. As estacas deverão regular de 5 a 8 centímetros e logo que tenham lançado algumas radiculas poderão sahir para o ar livre, havendo porém a maior precau- ção com o sol e com os frios nocturnos. Cumpre, além d'isso, quando as plantas estejam mais desenvolvidas transplantar- se cada uma para seu vasinho. Para se obterem plantas bem formadas é mister amputar-se-lhes a extremidade da haste principal e fazer a mesma operação aos ramos lateraes. Estes bifurcar-se-hão in- definidamente conforme forem os cortes — que serão feitos com a unha do dedo pol- legar — e tomarão um porte tufoso, con- dição essencial para se poder formar bel- los açafates multicores. — Conforme noticiamos no ultimo n." d'estc jornal, deverá ter logar no Palá- cio de Crystal, d'esta cidade, uma Ex- posição peninsular e colonial nos mezes de agosto, setembro e outubro — exposi- ção que comprehenderá obras d'arte, pro- ductos agrícolas, índustríaes etc, etc. O programma que tem de reger este concurso, verdadeiras justas do progresso, ainda se não acha publicado e portanto aos promotores d'esta festa, que nos pro- porcionará o ensejo de apertar fraternal- mente a mão dos nossos visínhos os artis- tas e agricultores hespanhoes, recommen- damos que haja a maior círcumspecção no modo como deve ser concebido. Esperamos que será mais imponente esta festa do que esse Congresso político-re- lígíoso... queremos dizer catholico, que se verificou o mez passado no theatro Gil Vi- cente do Palácio de Crystal, em concor- rência impiedosa com os bailes de masca- ras. Chama-se a isto : Unir com profunda mão, Babylonia com Sião. Após o can-can desenfreado vem a missão catholíca, e as cancanistas depois de convertidas poderão dizer n'aquelle mesmo recinto: Nolí me tangere! Se todas as cousas d'este mundo serão pura comedia ? — A «Revista Agrícola» órgão da Real Associação Central de Agricultura Portugueza, publica o programma para a exposição de plantas, lãs e sedas e pro- ductos de sericultura que se ha de veri- ficar no dia 1 a 9 de junho do corrente anno na matta e salas da Real Associação Central de Agricultura Portugueza. A Associação promovendo estas expo- sições tem por fira o desenvolvimento da agricultura e dos seus ramos correlativos ; ora realisando-se uma exposição quasi na mesma epocha e de maior importância no Porto, não seria mais conveniente, não prestaria a Real Associação maior serviço JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 37 ao progresso, se offerecesse á commissão que promove a exposição no Palácio de Crystal a quantia que tenciona lá des- pender? Chamamos a attenç-ao dos seus beneméritos membros para este assumpto e, na hypothese de de sermos attendidos, no seguinte n.° publicaremos o respectivo programma. — Para se fazer uma pequena ideia da paixão que em Inglaterra ha pelas flores, bastará dizer que o horticultor J. Wills, de Londres, tem dias de vender 1:000 houquets para senhora e 3:000 para a abo- toadura dos casacos d'horaem ! Contra factos não ha argumentos. — Já em janeiro de 1871 se occupou estejornal da cultura do Arroz de sequeiro e folgamos ver que diversas experiências feitas ultimamente nas propriedades do snr. Henrique Maximiano Dulac, em Al- piarça, vieram r,poiar as do nosso amigo, 0 snr, George A. Wheelhouse. Em 3:200 metros quadrados semeou-se 1 alqueire razo de semente que produziu 214 alqueires. A teri-a destinada para o ensaio foi profundamente lavrada, arraza- da poucos dias depois e logo armada em canteiros como para hortaliças. A semen- teira fez-se no mez de março, rara e co- berta, como se fora de Nahos, e minis- trou-se-lhe immed latamente uma rega para a fazer adherir á terra. As regas foram em menor numero do que se se tractasse de hortaliças e calculam- se onze como as geralmente necessárias. Na ultima reunião da Real Associa- ção Central da Agricultura Portugueza, apresentou o nosso collaboradoí', o snr. dr. Bernardino António Groraes, seis pés do Arroz cultivado pelo snr. Dulac que não tinha cada um menos de 30 a 40 espigas e 1:000 a 2:000 sementes. Não tendo esta planta nada que ver com aculturaem paues, o governo deverá fazer quanto antes as convenientes modi- ficações na lei sobre arrozaes para que seja livre a cultura do Arroz de sequeiro que nada influe sobre a sal ub ri dada publiea. D'este modo fomentará um feracissimo ra- mo agrícola no paiz, que se traduzirá no augmento da riqueza ebem-estar nacional. — Na Repartição de agricultura, em Lisboa, ha uma grande porção de semen- te da Amoreira branca para ser dada gratuitamente ás pessoas que a solicita- rem. Recomraendamos aos nossos leitores que se approveitem d'este oíferecimento, tão digno de louvor. Semeae e plantae a abençoada arvore do futuro que a vossa progénie vos agradecerá ! — Do snr. A. J. de Oliveira e Silva recebemos uma carta que vamos publicar por expor uma ideia importante. Estimado amigo. — Fa!la-se muito na realisacão de uma Exposição Peninsular, no Palácio de Crystal Portuen- se. A ideia "é nobre e patriótica e esta festa do trabalho deve ser brilhante. Realisando-se eíTectivamente a exposição, a horticul- tura decerto que ha de ser ahi dif^namente representada ; Portugal e especialmente o Porto tem quasi obrigação de o fazer, e eu creio que assim ha de acontecer. Porém não é com a exposição que eu hoje quero oc- cupar o meu amigo, mas sim com um projecto em que já por varias vezes lhe tenho fallado — a fundação d'uma «Sociedade florticola». O meu amigo sabe, melhor que eu, que a Bélgica, França e Inglaterra, paizes adiantadíssimos n'esta parle complementar da educação publica, contam immensas so- ciedades hortícolas ; e é do dominio de todos os serviços que estas sociedades tèeni prestado ás sciencias e agricul- tura, já introduzindo e aclimando novas plantas, já estu- dando os melhores methodos de cultura, umas vezes dis- tribuindo boas sementes e outras emfim, traduzindo ou publicando quaesquer memorias ou escriptos d'onde possa vir utilidade para o progresso hortícola do seu paiz. A Itália fundou ha pouco uma sociedade neste sen- tido ; os Estados Unidos tem uma sociedade, que todos os annos envia aos seus associados avultadas remessas de sementes valiosas, e o Brazil conta já ha muito tempo sociedades hortícolas. O meu amigo sabe egualmente as vantagens que o paiz tiraria da creacão de uma sociedade com este fim. Estabelecendo e procurando relações com as sociedades estrangeiras da mesma Índole e pedindo-lhes o seu valioso auxilio, estou corto de que em potico tempo a nossa so- ciedade se coUocaria pelo menos ao par das mais modes- tas da França ou Inglaterra. Agora perguntar-me-ha o meu amigo o que tem a fundação da Sociedade com a exposição peninsular? Eu, na minha humilde opinião, julgo que "esta occasião é ma- gnifica para a realisacão de tal projecto. A concorrência a visitar a exposição deve ser grande; decerto hão de vir ao Porto algumas notabilidades portugueza» e hespanho- las e temos a certeza de que esses cavalheiros, pedindo- lh'o, não nos negarão o seu relevante auxilio. Poucas occasiões se apresentarão como esta. A creação de similhante sociedade é uma necessidade reconhecida ; e uma terra onde sobra intelligencia, zelo e patriotismo decerto que se não ha de negar a ura convite n'este sentido. Audaces for/unajuvai. Tentemos, caminhemos na ver- dadeira senda do progresso, trab;iihe.mos que o trabalho ennobrece, e o Porto, do qual disse um monarcha, que ainda hoje choramos, ser o primeiro em Indas a.? iniciaiivas uieis e fecundas, não quererá desmentir estas memoráveis palavras. Hão de apparecer diíGculdades, mas o que é que nasce sem trab:ilho ? e portanto confiado na protecção ijue o meu illustre amigo dará a esta ideia, e nos meus honrados collegas, antevejo já um futuro brilhante para a Sociedade de Horticultura i)ortugueza. S. C. 8 de janeiro de 1872. A. J. ue Oliveira e Silva O auctor da carta que se acaba de lêr já por varias vezes nos tem fallado sobre este mesmo assumpto. Temos-lhe sempre JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA affirmado que coadj avariamos a realisação do seu pensamento consoante as nossas for- ças, porém as muitas oecupações que nos rodeiam nunca nos permittirào ser tào prestimoso quanto nós o descnamos. Organise-se porém uma commissão de iniciativa que, sendo o pensamento tao monumeutoso, como é, nào faltará quem lhe preste valioso auxilio. Os jardins do Palácio de Crystal, com- quanto nào tenham uma grande área, pres- tavam-se para algumas experiências e tal- vez que de combinayào com a sociedade d'aquelle edilicio se podessem colher van- tajosos resultados. A aproximação da Exposição penin- sular e ultramarina é uma occasiào pro- picia para lançar, na laboriosa cidade da Virgem, a pedra fundamental da «Socie- dade Hortícola Portuense ». Appareçam homens de boa-vontade, que nào seremos dos últimos a alistar-se n'csta cruzada civiiisadora. — Quem desconhece o Gynerium ar- genteum'^ Quem desconhece as suas bellas paniculas a que se dá vulgarmente o no- me de pennachos ? Ninguém, com certeza, ainda deixou de se enthusiasmar diante de um tufo da Herva dos Pampas, por- que, com etfeito, quando tem algumas cen- tenas de paniculas desenvolvidas poucas plantas a egualam. Nào o porem da plan- ta que nos vimos hoje occupar, mas sim da sua liorescencia, das paniculas ou pen- nachos que constituem um bellissimo ador- no para jarras na epoclia em que as flo- res mais escasseam. Actualmente, por exemjjlo, em pleno inverno, as flores são um tanto raras e algumas paniculas do Gi/nerium entrela- çadas por alguns ramos de Jlera não pro- duziriam um excellente etieito na meza de jantar? Por certo que sim, e conhecemos pessoas que já iêem posto esta ideia em pratica, queixando-se no entanto de um deleito do Gyncvium, isto é, que deixa cahir as sementes quando sào impellidas pela menor aragem e que estas em con- sequência do seu papo sedoso sujam as sa- las. Apesar d'este inconveniente, que não é pequeno, o x>'>'^sdijto dos pennachos sa- tislaz-se, dizendo — jSlào ha bdlasem se- não. Quão satisfeito não deverá, porém, elle ficar, se lhe removermos este incon- veniente... tão terrível ! E' fácil. Faça-se a colheita das pani- culas antes de terem attingido o completo estado de desenvolvimento, queremos di- zer, apenas ellas tenham sahido da bai- nha das folhas superiores. Procedendo-se assim têem-se dous pro- veitos n'um sacco : as sementes nào se soltam e a panieula adquire uma brancu- ra e um aspecto sedoso que nunca se po- de obter fazendo-se a colheita quando el- las estejam em pleno desenvolvimento. A's nossas amáveis leitoras cabe, com especialidade, este trabalho. Que o tomem a seu cargo, e verào como conseguem ter um ornamento perenne e inoffensivo nos seus houdoirs. — Sob o titulo de «Horticulteur Lyon- nais», acaba de vêr a luz um novo jornal bi-mensal que tem a peito lançar aos ventos da publicidade sementes que ger- minem no campo da Horticultura e dêem o bom fructo dos esclarecimentos prá- ticos e theoricos. Que pensamento mais nobre do que este V Desejamos pois que elle se realise cabalmente. Ao redactor d'esta publicação, Mr. L. Cusin, agrade- cemos a remessa do seu jornal, e aos seus e nossos confrades pedimos que não aban- donem a árdua mas honrosa e útil tarefa a que consagraram as suas vigílias e cui- dados : o publico acolherá com favor a missão humanitária e civilisadora em que lidamos. — A questão de que se tractou com mais interesse no mez findo, foi a da «emi- gração». Não houve jornal que não emit- tisse as suas ideias e portanto nós também não queremos ficar em silencio. Convém ou não que haja emigração? Todos responderão negativamente^ e nós unimos a nossa voz a esse brado unisono. Porem a que circumstancias miseráveis se acha reduzido o proletário no nosso paiz 1 Qucixamo-nos de falta de braços, e que vemos? Uma mulher que se entrega aos trabalhos agrários desde o romper de au- rora até horas adiantadas da noute para então ter ganho lUO ou 120 reis, nào chovendo. Ha-de com esta magríssima quantia alimentar-se, vestir-se e pagar a renda do albergue. E que resulta d'aqui ? A desmoralisação ou antes a prostitui* JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 39 ção. Claro está pois que n'um paiz onde o trabalho se paga pelo preço que apon- tamos, ha braços em demazia e por con- sequência a emigração é um mal inevitá- vel. Não queremos defender a emigração, antes reconhecemos que ou se é lilho des- naturado da pátria, ou se cahiu em misé- ria extrema para que qualquer individuo haja de deixar o seu paiz, o berço onde viu a luz que o illumina. Ora são justa- mente esses os que emigram. Para obstar á emigração, seria tal- vez bastante que o governo ou uma com- panhia formada de abastados capitalis- tas tractasse de pôr em cultura os me- lhores terrenos do Algarve e do Alemte- jo. Na primeira província temos 309:000 hectares de terreno inculto e na segunda 1.647:000. Pondo-se em cultura ainda que não fosse mais do que a trigésima parte da área improductiva d'estas duas províncias, quantos não seriam os emigrantes para estes pontos do paiz ! Qual seria o homem ou a mulher que trocasse insalubres pon- tos do Brazil, a Nova Orleans, situada a l'",30 abaixo do nivel da agua, pelo ceu azul e clima benelico do nosso velho Por- tugal ? O nosso amigo, o snr. A. F. Molier, ponderando este grave assumpto, no «Tri- buno Popular», lamenta que a emigração arraste centenares de homens úteis e va- lidos para as insalubres regiões da Ame- rica, tentando-os com a seducção de gran- des lucros promettidos, mas que geral- mente só têem por premio a perda da vi- da, proveniente da insalubridade d'aquel- las regiões ou da miséria, deixando mu- lher e filhos ao abandono, pois as mais das vezes faltam-lhes os meios para se transportarem á pátria. Pela folha oíiicial se vê, diz elle, a enorme mortalidade que ha mensalmente na America; pois publica regularmente essas medonhas listas. Cumpre ao governo atalhar este mal; pois temos muito aonde se possam empre- gar braços no paiz, de mais a mais não os havendo de sobejo. No continente do reino ha, segundo o censo de 1 de janeiro de 1864, 3.829:618 habitantes, e o paiz, segundo o relatório official acerca da ar- borisação geral do paiz, publicado em 1868, mede uma superfície de 8.962:531 hectai'es e tem 4.314:000 hectares de ter- reno inculto, isto é, quasi metade da sua superfície. Quasi todo este enorme tracto do solo inculto, se presta de preferencia á cultura florestal, e, querendo o governo dar impulso a este importante ramo de ad- ministração publica, já havia muito aon- de se podessem empi-egar centenares de braços, que escusavam de ir mendigar o pão no estrangeiro. A arborisação d'um paiz é um dos as- sumptos que mais deve merecer a atten- ção dós homens de estado, porque sem mat- tas é impossível o progresso da agricul- tui-a e das outras industrias, e sobretudo a salubridade publica soffre immenso com a falta d'ellas. A classe operaria precisa de trabalho e o governo poderá subministrar-lh'o vol- tando-se para os diversos ramos de agricul- tura que devem trazer o bem estar ás classes desprotegidas da fortuna e predes- tinadas ao soÃrimento. — Quando observamos a criminosa incúria com que os passados governos do nosso paiz e até os proprietários tracta- vam os interesses da arboricultura, é para nós motivo de jubilo encontrarmos um pe- queno oásis na aridez de tão descampado deserto. As poéticas margens do Mondego, tão próprias para se arreiarem com as louçai- nhas de uma vegetação luxuriante, pena era que não as víssemos exceptuadas do anathema que pesa sobre o nosso formoso paiz. Com eííéito, graças ao governo e á illustrada direcção das obras publicas do districto de Coimbra, desde 1 de julho de 1866 até 31 de outubro de 1870 planta- ram-se em terrenos a cargo da referida direcção as seguintes espécies de arvores: Na mata do Choupal : Salix artro-cinerea, S. alba e S, salvi- folia 203:072. Pojpulus tremula a P. pyramidalis 43:405. Juglans regia 1:393. Citrus aurantium 239. Eucalyptus globulus e outras espé- cies 2:154. Diversas 7:361.— Total 257:624. No Pinhal de Valle de Cannas : 40 JORNAL DE IIOnnCULTURA PRATICA Populus tremula 449. Eucalyptus de varias espécies 1:665. Fagas castanea 1 iDõO. Coníferas de varias espécies 2:660. Cuj)ressus glauca 1:354. Varias espécies folhosas 769. Camalhões que se cultivam no alvêo do rio velho : Salix artro-cinerea, S. alba e S. sal- vifolia 194:016. Populus tremula 15:978. Nos areaes : Salix de diíferentes espécies 451:174 Populus tremula 37:246. Mattas da Jaria e Ilcinolhas : Salix de difierentes espécies 168:475 Pojndus tremula 18:566. Nas matas da Valia do Norte : Salix de differentes espécies 53:259. Varias espécies de arvores folhosas 1:030. Em vários terrenos marginaes á mes- ma valia : Salix de diíferentes espécies 174:770. Populus tremula 6:371. Nas margens do rio Mondego : Salix de diíferentes espécies 139:060. Estes bons serviços sàc devidos á in- telligencia e actividade dos snrs. Manoel Aífonso Espergueira e Adolpho Frederico Moller, aos quaes aqui consignamos um voto de merecido louvor. — Em França tem-se obtido bom re- sultado para a destruição de certos inse- ctos parasitas, taes como o pulgão, os pio- lhos, etc, do emprego do álcool puro. Mr. Carriòre diz que via colher o melhor re- sultado da applicação d'este liquido espi- rituoso nas Ovchideas, nas Bromeliaceas e n'outras plantas atacadas pelos insectos que obstavam ao seu crescimento, preju- dicando simultaneamente a vegetação. A experiência mostrou-lhe que o ál- cool lançado na cavidade formada na base das folhas onde costumam acharse os in- sectosinhos, dcstruia-os completamente sem fazer mal ás plantas. Quando as plantas sejam poróm de constituirão delicada será conveniente destemperar o álcool com agua. Para executar a lavagem pode empre- gar-se uma escova ou esponja, segundo a natureza das plantas que se querem livrar dos quasi microscópicos destruidores. — Em consequência da facilidade dos transportes, tem tido grande desenvolvi- mento, em Valença, a cultura dos Moran- gueiros, visto que os seus fructos podem chegar em perfeito estado a Madrid, Bar- celona e outras cidades importantes do reino visinho, onde Scào mui apreciados. Segundo nos aífirmara, em Valença es- tão-se aproveitando todos os terrenos que sejam próprios para esta cultura e têem-se formado sociedades cultivadoras que con- tam tirar avultados lucr- s. A essas sociedades recomraendamos os livros de Mr. Gloede c que adoptem nas suas culturas as variedades obtidas nos últimos annos. — O jornal inglez «Florist and Porao- logist», falia muito vantajosamente, no nu- mero de janeiro, da uva Golden champion. — O snr. Joaquim Pacheco Ribeiro Nu- nes, enviou uma communicaeão ao «Jornal de Agricultura Pratica» sobre um meio, por elle encontrado, de extinguir o pul- gão dos Craveiros. Pelas seguintes linhas ver-se-ha como o acaso, esse velhíssimo sábio, levou o snr. R. Nunes a descubrir o seu remédio para os Craveiros, remédio que reúne, se- gundo se refere, a barateza á facilidade da applicação. Eis o que elle diz : Receiando a minba família que lhe furtassem uns Craveiros, rccolhcu-os oní unia sala, conservando-os quasi ás escuras por espaço do uma semana. Findo 03 oito dias tinham dcsapparecido os milhares de pulgões do que estavam cobertos anteriormente os Craveiros. Poder-se-ha attribuir somente á obscu- ridade este phenomeno ? Não poderia actuar outra causa, que, por menos sensível, se não apresentasse aos olhos do observador. E' muito possível; um caso não auctorisa a generalisação de uma regra e seria para estimar que repetidas experiências viessem confirmar ou destruir o que não passa do uma supposição. — O snr. J. M. Loureiro, proprietá- rio do «Jornald e Horticultura Pratica», pede-nos para que em seu nome ponha- mos á disposição dos snrs. assignantes d'esta publicação algumas sementes do l\Iilho afisucaraJo. As pessoas que se quizerem utilisar d'este otfcrecimento, terão a bondade, sendo das provincias, de juntarem aos seus pedidos uma estampilha de 25 reis. Oliveira Junioií. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 41 A CULTURA DAS BATATAS EM PORTUGAL Haverá sessenta annos que as Batatas, n'esta cidade, não se compravam como hoje na feira ; era nas tulhas da Ribeira, onde as despejavam ás tonelladas os na- vios inglezes e hollandezes. Então em Por- tugal, só mui poucos curiosos as cultiva- vam. Na maior parte do reino era um producto desconhecido. Lembra-me que em 182Õ em uma digressão que meus pães fizeram á Beira lhes perguntaram o que era a Batata e como se cultivava. Esta pequena vista retrospectiva serve para demonstrar o grande desenvolvimen- to que esta cultura tem tomado entre nós. Hoje não só é alimento forçado da maioria do nosso povo, mas ura género de exportação em grande escala nas pro- víncias do sul, e apenas importamos al- guns alqueires de novidades obtidas re- centemente, que alguns curiosos teem man- dado vir attrahidos pelos elogios dos ca- tálogos dos horticultores extrangeiros. Infelizmente porem pode dizer-se afou- tamente que em geral a cultura da Batata entre nós não é mais do que a successiva reproducção da semente que fora introdu- zida ha 60 annos pelos inglezes e hollan- dezes. E é esta a razão porque a nossa Batata, em geral, é de má qualidade. Se em todas as culturas é mui conveniente a mudança de semente não ha razão para que a Batata esteja exempta d'esta lei. Fig. \t — Batuta :>utton E como se poderá variar de semente n'este género de cultura, perguntarão os nossos agricultores ? Responderemos á per- gunta, porque este artigo não é escripto para os sabedores. Ninguém ignora que a Batata floresce, e produz semente. A semente colhida e semeada produz no mesmo anno tubércu- los, muitos dos qaaes já capazes de se co- merem. 1872 — Vol. III. Ura amigo meu d'esta cidade, o snr. Guilherme Correia da Costa Lima, teve a curiosidade de lançar á terra algumas se- mentes de Batatas, o anno passado, e al- gumas colheu formosíssimas, uma das quaes pesou 65 grammas, e outra 200 grammas. Este anno vae lançar á terra as novas variedades que obteve, e formar ou- tra sementeira. Dentro em três annos terá uma collecção especial de sua industria. N.» 3 — Março 42 JORN.\L DE HORTICULTURA PRATICA E' assim que pratica o curioso horíi- cultor, e dentro em curto espaço tem re- novado a sua semente e obtido variedades com caracteres distinctos — c assim que praticam os estrangeiros desajudados de terra e de clima, e é assim que devemos praticar para competir com elles, e sus- tentar o credito da nossa exportação. Não será fora de propósito dizer algu- ma cousa sobre o methodo de cultura em- pregado nos paizes mais adiantados, que poderá ser applicado ao nosso, guardadas as differenças do clima. Escolha do solo — Os tubérculos devem ser plantados era terreno são, e permeável, isto é, em terra ligeira, areenta e ura pou- co calcaria. Era terrenos compactos, ar- gilosos, em solos siliciosos com sub-solos barrentos, em terras frias e húmidas as Batatas difficilmente passam o inverno, e apodrecem muitas vezes. Estrumes — Devera-se empregar es- trumes pouco decompostos e em pequena quantidade^ porque os estrumes consumi- dos e abundantes predispõem os tubérculos para o mal que os ataca. Epocha da plantação — As plantações podem ser feitas até ao fim de janeiro, mas as feitas em novembro e dezembro tem sempre dado os melhores resulta- dos. Constantes experiências tem provado que as plantações feitas no outorano são pouco atacadas pela moléstia. As Batatas plantadas em outubro, novembro e mes- mo dezembro em terras seccas teem quasi sempre dado maiores tubérculos, mais nu- merosos, e contendo mais fécula. Não se devem plantar senão tubércu- los inteiros, c collocados na profundidade de 20 a 25 centiraetros, para que os ge- los lhes não possam tocar. Cultura a braço — ^Era um terreno mo- vido antecipadamente com apáou charrua, abrem-se com o auxilio de uraa enchada regos parallelos, distantes uns dos outros de 30 a 40 centímetros. Praticados os re- gos cobrem-se de estrume, sobre o qual se collocam os tubérculos ; fendem-sc no- vamente as escarpas ou encostas, que se- param os regos, lançando uma boa cama- da de terra sobre as Batatas. Feito este trabalho, o solo apresenta escarpas sepa- radas umas das outras por meio de regos destinados a facilitar o escoamento das aguas das chuvas, ou das que provêem da neve. Cultura de charrua — Preparada a terra, abrem-se com o auxilio da charrua de duas aivecas, que se denomina » char- rua dobrada», regos distantes uns dos ou- tros de 40 a ÕO centimetros ; lançado o estrume e os tubérculos nos regos, ras- gara-se as escarpas que os separam, e con- vém que estes novos regos sejam profun- dos. Se estes novos regos feitos por esta ultima operação e no meio dos quaes fi- cam os tubérculos, não estiverem regula- res, amontoar-se-hão as duas bandas de tei-ra com o auxilio do ancinho, de ma- neira que se dê á escarpa uma forma bem convexa. Na primavera dá-se-lhe a cava que ordinariamente reclama a Batata. E' certo porem que muita gente não quer ter o incommodo de buscar nas se- menteiras as variedades que ellas costu- mam produzir, estimando antes aprovei- tar-se dos trabalhos dos outros. Para esses mandou vir o proprietário d'este jornal, o snr. J. M. Loureiro, uma porção de arro- bas das qualidades mais excellentes, ob- tidas recentemente em Inglaterra, e que tem á disposição dos seus freguezes. Damos em seguida a nomenclatura e descripção d'essas novas variedades. Batata Sutton's red skínned Jloiir-ball — esta variedade que é a representada pela gravura que acompanha este artigo, (fig. 12) é mui apreciável para a grande cultura, e foi lançada no commercio por Messrs. Sutton á- Sons de Reading, em In- glaterra. Assevera-se que até hoje ainda não foi atacada do mal. A sua principal vantagem consiste em que quasi todos os tubérculos attingem um completo desenvolvimento, variando em pezo de 12 a 20 onças inglezas. Os tubérculos são de peifil irregular e a pelle é de um vermelho triste. Depois de cozidos são farináceos, e tomam uma cor branca pura. E' uma das Batatas de melhor gosto que tem apparecido. Batata Ash-leaf — Variedade antiga e muito conhecida. A sua rama é curta — ■ o gosto mui agradável ao paladar, esti- mada para plantar cedo, e para forçar. Batata Beaconsjidd — Nova variedade JORNAL DE HORTICULTUBA PRATICA 43 têmpora — grandes e bellos tubérculos, muito productiva. Batata Birmingham Prizetaker — Bel- los e grandes tubérculos, mui recommen- dada para exposição, bello paladar e muito productiva. Batata Myatt's Prolific — Variedade mui conhecida, têmpora e productiva, gran- des tubérculos de excellente sabor. Batata WehUs Imperial ou Daioe's Matchless — Mui grandes e distinctos tu- bérculos, os quaes depois de cozidos to- mam uma cor mui branca, excellente para a grande cultura. Batata Yorkshire Hero — Grandes e bellos tubérculos, mui productiva, óptimo sabor, excellente para exposição. Batata Dalmahoy — Excellente para a grande cultura, têmpora, mui productiva; depois de cozida torna-se branca — óptimo sabor. Batata Patersoris Victoria — Bellos tu- bérculos, mui prolíficos, polpa branca, qua- lidade mui fina, boa para conservar. Batata Wheelers Milky White — têm- pora — de bello sabor. Batata York Regent — Excellente para a grande verdadeira cultura. Batata Union — Excellente; muito têm- pora e productiva. Camillo Aureliano. ASPHYXIA DAS ARVORES Sob o titulo que precede publicou o nosso amigo e collaborador d'este jor- nal, o snr. Adolpho Frederico MoUer, no «Tribuno Popular», um artigosinho, que, por nos parecer de grande interesse para os agricultores menos entendidos nos assumptos de arboricultura, vamos trans- crever com a devida vénia. Eis as palavras do snr. Moller : «E muito usado entre nós plantar as arvores a grande profundidade, julgando que d'este modo pegam melhor. E enga- no. Toda a arvore que for plantada de- masiadamente funda, ou morre asphyxia- da ou vive sempre languida. Nenhuma arvore se deve plantar a maior profundidade do que entre 4 a 7 centímetros acima do nó vital, e, se o ter- reno for demasiadamente secco, a 7 ou 9 centímetros ; mas nunca mais do que isto. Porém, se o terreno for muito húmido, é conveniente que as raizes da arvore fiquem acima do nivel da terra, e se faça ao re- dor das raizes um montículo de terra suf- ficiente para as cobrir. Este montículo põe as raizes fora do alcance da acção nociva da camada subterrânea da agua estagna- da, ou demasiada humidade, onde as rai- zes não chegam senão passados um ou dous annos, quando tenham crescido, ou quando a terra tiver abatido. A esse tempo já a arvore resiste muito melhor a estes inconvenientes. Nos terrenos de aluvião e nos valles, que alteiam quasi todos os annos em vir- tude dos depósitos que as cheias deixam e das terras que descem das encostas com as enxurradas, deve também a plantação ser pouco funda, ou fazer-se por meio de montículos. Ouçamos o que o nosso amigo e collega, o snr. Oliveira Júnior, diz a res- peito da asphyxia das arvores n'um dos artigos do seu «Almanach do Horticultor» para o corrente anno : «Tem-se notado por varias vezes que algumas arvores, depois de terem vegeta- do e prosperado por espaço d'annos, dei- xam de repente de se desenvolver, desfal- lecendo e acabando finalmente pela morte. Observa-se este resultado sempre que o solo for levantado O*", 50 pelo menos aci- ma do nivel primitivo. Dá-se então pa- ra a arvore uma verdadeira asphyxia. Não podendo receber a influencia do ar, as raizes deixam de funccionar e apodre- cem. Acontece, porem, não raras vezes, que a arvore desenvolve novas raizes mais próximas do solo, que vêem substituir as antigas, e então a arvore conserva-se, re- adquirindo o seu vigor. Quando se nota que uma arvore, col- locada, em similhantes circumstancias, vae desfallecendo, torna-se preciso desde logo remover a terra, que está privando as rai- zes das suas funcções.» Prestando os nossos arboricultores a maior attenção ás palavras que se acabam de lêr, advir-lhes-hão d'ahi resultados pro- fícuos. A pratica é uma excellente cousa po- 44 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA rem a boa theoria leva-nos mais rápida-, mente ao bom caminho, senão ouçnmos o pae Joigneaux, como lhe chamam os agri- cultores de toda a França: «Quando es- tamos ás escuras, e que apezar d'isso que- remos andar, não temos três meios a es- colher ; temos somente dous : andar ás apalpadellas como um cego, ou munirmo- nos de uma luz. Mas andando ás apalpa- dellas, andamos devagar e enganamo-uos muitas vezes no nosso caminho ; preferi- mos, pois, ter a luz, isto é, a SCIENCia que nos esclareça e a razão que nos guie. E' mais seguro e anda-se mais de- pressa.» A rotina é uma verdadeira calamida- de e, infelizmente, ha mais de um agri- cultor que faz soffrer os seus interesses por causa d'ella. Perguntae-lhe porque faz esta ou aquel- la operação e elle vos responderá: «Meu pae já assim fazia». E porque o fazia seu pae? «Porque o viu fazer a meu avô». Muito bem. Com esta resposta damo- nos por vencidos, não convencidos, por- que em tal caso a sciencia é uma palavra vã, uma chimera. São proselytos do propheta Josué que mandou parar o sol e temos dito tudo. Oliveira Júnior. MORANGUEIRO ANANAZ PERPETUO O «Jornal de Horticultura Pratica» tem-se occupado por varias vezes d'este Morangueiro e d'elle dêmos uma noticia no nosso «Almanach do Horticultor para 1872». E para que planta mais preciosa po- deriamos chamar a attenção dos horticul- tores? Que planta reúne tão eficazmente o utile cum dulce? Que fructo mais odo- rifero, mais bello que o morango, que nos apresenta simultaneamente a alvura da neve e o rubor das faces da timida e cân- dida virgem ? Antes porem de passarmos a descre- ver este delicioso fructo, cumpre-nos agra- decer ao snr. Nicolau Pereira de Mendonça Falcão o bom numero de pés que nos of- fereceu, proporcionando-nos assim que na sua primeira fructificação provássemos este mimo dos nossos jardins. Eífectivaraente, em nada desdisse da opinião que tinhamos, devida á descripção feita pelo seu obtentor, Mr. Ferdinand Gloede, e auctor de um magnifico tracta- do intitulado «Les bonnes Fraises». Dêmos pois a palavra a Mr. Gloede, porque ninguém melhor do que elle o po- derá descrever. «O obter-se um Morangueiro remon- iante, que produzisse morangos grandes e da raça dos Ananaies, vulgarmente cha- mada ingltza, era vão desejo até agora, ainda que víssemos apparecer no commer- cio variedades que se diziam ser mais ou menos remontantes, mas que definitiva- mente não eram outra cousa senão Mo- rangueirosj que davam accidentalmente uma pequena ou segunda colheita nos pés submettidos á «forçagem» e plantados de- pois em plena terra, ou então, depois de uma longa secca do verão, davam por as- sim dizer alguns fructos no outomno. O Morangueiro que recommendamos hoje á attenção dos amadores não está n'este caso. Fructifica muito abundante- mente na primeira estação e continua a florescer e a fructificar até o outomno, de maneira que preenche uma lacuna impor- tante. E uma planta vigorosa, muito rústica e multiplica-se fácil e rapidamente. O fru- cto é de bom tamanho, de forma redonda ou oval, algumas vezes lobada, e de um vermelho muito carregado ; as sementes são salientes, a polpa é branca ou rosada, sumarenta, assucarada e muito perfuma- da. Em qualidade eguala os melhores morangos conhecidos». Este Morangueiro conta ainda poucos annos no nosso paiz e pensamos que a sua introducção é devida ao nosso amigo o snr. Nicolau Pereira de Mendonça Fal- cão, que, na occasião em que obsequiosa- mente nos offereceu alguns exemplares, nos escreveu de Castro Daire, em 23 de janeiro, nos termos seguintes: «Ahi vão, como ve- rá, alguns pés já com flor e morangos lim- pos, apezar de sahirem de uma campanha JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 45 de dous mezes de neves, codãos, gelos, geadas e chuvas torrenciaes ; pelo que se convencerá da prodigiosa força fructifera e remontante d'esta variedade que n'um clima mais ameno como esse, pilhando um outomno doce, pode fructificar até ou- tubro. Mas, é conveniente ir preparando a terra, cavando-a e lançando-lhe estrume animal bem consumido, de sorte que ao abrir dos regos não pouzem logo as raí- zes em cima do estrume. A cultura é fácil ; é só regal-os nos calores aos 8 dias, e depois que tiverem flor não lhes entrar mais sacho, mas tirar-lhes toda a herva á mão^ o que é fácil em seguida á rega. Dous dias depois d'esta convém cortar- Ihes sem descanso os innumeraveis bra- ços, o que requer um cuidado quotidiano. Como não foram plantados no outo- mno, provavelmente só principiarão a fru- ctificar no principio ou meio de junho (1), comtudo, como não lhes falte a .'igua, verá V. a sua incansável fecundidade em ju- lho e agosto. O que lhe peço é que não reproduza um só dos que reservar para fructificarem.» Fig. 13. — Morang Corroborando tudo quanto se acaba de ler relativamente á excellencia d'este fru- eto, ainda devemos accrescentar que a doçura, o rubro da cor, a abundante e quasi perenne fructificação, e o seu per- fume activo tornam o Morangueiro Ana- naz perpetuo uma variedade que não tem similhante. Se Camões o provasse diria na sua suave linguagem : Melhor é experimental-o que julgal-o, Mas julgue-o quem não pode experiraental-o. A's pessoas que queiram obter exem- plares d'este Morangueiro, indicamos- Ihes o estabelecimento do snr. José Mar- ques Loureiro, que já deve possuir al- gumas reproducções. Aquelle benemérito horticultor cultiva egualmente as seguintes variedades que recommendaraos e cujas descripções, da- das por Mr. Ferdinand Gloede no seu ex- cellente livro oLes bonnes Fraises, » ex- trahimos agora do nosso «Almanach do Horticultor para 1872». Belle Bordelaise. Fructo de mediano tamanho, cónico, d'um vermelho avinha- do, pouco colorido quando mal cultivado ; sementes salientes; polpa branco-amarel- 0 Ananaz perpetuo. lada, cheia, dura, assucarada, de um sa- bor perfumado. Planta sobre modo rústica e fértil, quasi têmpora. No outomno costuma dar segunda ainda que pequena colheita, se não lhe faltar as regas depois da primei- ra fructificação. Belle de Paris. Fructo volumoso, se- mentes pequenas e salientes. A polpa é como vermelhão na circumferencia, branca no centro; dura, assucurada, sem acido; sabor pronunciado. Planta assaz vigorosa e rústica, ex- tremamente fértil, tardia. Boa para forçar em segunda estação. Empress Eugénie. Fructo de primeira grandeza, muitas vezes enorme, tendo at- tingido em Inglaterra o pezo de 60 a 7õ grammas. Umas vezes são arredondados ou em cone allongado; os mais volumo- sos apresentam a forma de crista de gallo ou de tomate ; avelludados nos ângulos ; vermelho-purpura envernisado; sementes pequenas e salientes. A polpa é cor de vermelhão, cheia, sumarenta, acidulada, assucarada, perfumada, boa. (1 ) No (lia 5 de junho comemos o primeiro fru- cto do Morangueiro Ananaz perpetuo. 46 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Planta muito vigorosa, rústica e fér- til. Abre a serie das tardias e tem a ma- dureza muito prolongada. Força-se muito bera na segunda estação. Lucas. Fructo volumoso, de lindas for- mas redondas ou ovaes, vermelho carme- zim envernisado, sementes numerosas e pouco enterradas nos alvéolos, salientes algumas vezes ; polpa branco-rosada, cheia, dura, deliquescente, muito assucarada, ma- gnifica. E um dos melhores morangos co- nhecidos. Planta vigorosa, rústica e fértil, for- ça-se facilmente e é sobretudo própria para a cultura têmpora. Sir Charles Napier. Fructo volumoso ou muito volumoso, quasi sempre de bella forma ccmica, algumas vezes enorme e em crista dcgallo ; vermelhão alaranjado muito envernisado; sementes salientes; polpa branco-rosada com uma cavidade central, deliquescente, assucarada, acidulada, per- fumada, muito grata ao paladar. Planta rústica e vigorosa, muito fér- til, assas tardia, boa para forçar. Oscar. Fructo volumoso ou muito vo- lumoso, de forma irregular, arredondada, achatada, ou em crista de gallo'; bello vermelho envernisado; sementes amarel- las salientes ; polpa vermelha na circum- ferencia, branca no centro, dura, cheia, assucarada, acidulada, muito perfumada, excellente. Planta anã, vigorosa, muito fértil, meio têmpora. Força-se bem e o fructo soíFre bem o transporte. Wizard of the North. Fructo médio ou volumoso, de forma variável, oval, có- nica ou redonda, vermelho desmaiado, se- mentes salientes; polpa cor de ros;i, cheia, sumarenta, assucarada, pouco perfumada e empastada. Planta muito rústica e vigorosa, ex- tremamente fértil e de maduração media. Oliveira Júnior. ASPARAGUS OFFICIMLIS linn. E'um legume tuo delicado e saboroso, que pena é ter sido tào pouco cultivado entre nós, sendo aliás tào abundante no nosso paiz que o encontramos crescendo espontaneamente era terrenos seccos, pe- dregosos e areentos. Na minha opinião não só conseguiriamos abastecer os nossos mercados d'esta excellente hortaliça, mas, cultivando-a em grande escala, poderia- nios exportal-a para os grandes mercados de Londres e Liverpool, por isso que sendo entre nós a tolheita d'esta hortaliça um ou dous mezcs mais cedo que em In- glaterra, isto o, podendo vender-se alli em fevereiro ou março, haveríamos por cada molhinho de Espargos preços fabulosos. N'estes mezes de fevereiro e março, vi eu vender em Londres molhinhos de Es- pargos pelo preço de 6 a 8 shillings cada um, e estou certo que os Espargos remet- tidos no principio do anno para os gran- des mercados de Liglatcrra serão pagos tão bem ou melhor que a liatata têmpora. Tenho cultivado muitas variedades de Espargos em Portugal, tirando sempre bons resultados, e acho-os tão bons como 08 que apparccem nos mercados de Lon- dres, Berlim ou Pariz. Ha annos fiz uma experiência cultivando os Espargos cora nateiro do Tejo, e tive ura resultado ópti- mo, tanto na grossura das pontas dos Es- pargos, como em serem muito saborosos. Aconselho, pois, aos meus leitores que ti- verem hortas próximas do leito dos rios que empreguem o nateiro para plantarem os EsjKirgos. Alguns jornaes de horticultura ameri- canos teera ultimamente escripto muito sobre uma nova variedade chamada Can- nover's colossal asparagus, e dizem-rae que as pontas são muito grossas e de um gosto muito superior ás outras até hoje conhecidas. Por favor do meu ami- go snr. Fletcher, cônsul americano, na cidade do Porto, recebi no fim do an- no de 18G9 uma pequena porção de se- mente do mencionado Espargo, que se- meei, e não obstante as plantas serem mui- to nov; s, já se pôde conhecer que em sen- do mais velhas as pontas dos Espargos devera ser colossaes. A seraenteira fíiz-se em novembro e dezembro, em pequenos alfobres de ter- reno leve e bem adubado, a semente de- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 47 ve ficar rala para qjie as plantas se pos- sam desenvolver; é necessário ter o cui- dado de conservar os canteiros bem mon- dados para as liervas nocivas não se apo- derarem das plantas, quando tenras. Durante o estio devem os alfobres se- rem regados. No fim do outomno, quando a rama se fizer amarella, podem então as raizes ser transplantadas para os compe- tentes canteiros ; e para se formarem estes canteiros, deve procurar-se local onde a agua se não demore, isto é, que esteja bem drainado; dá-se-lhe uma surriba de qua- tro pés de profundidade e tira-se a terra para fora. Depois, no fundo do fosso põe- se (á altura de dous pés) matto bem cal- cado ; por cima d'este, e na altura de meio pé, estrume animal, e sobre o estrume meio pé de terra areenta ou leve, mas bem adu- bada. Én'este terreno que se plantam as raizes dos Espargos na distancia de pé e meio em quadrado, devendo as raizes fi- car cobertas com duas pollegadas de ter- ra. Como já disse acima, o nateiro dos rios é preferivel ao estrume animal, ou outro qualquer, e por isso havendo-o pode prescindir-se do matto e do estrume ani- mal, substituindo-o pelo nateiro nas mes- mas alturas que acima menciono. Durante o verão devem conservar-se os canteiros bem monuados e dar-se-lhes algumas regas. No outomno do primeiro anno, depois da plantação, e quando as plantas se fizerem amarellas, corta-se-lhes a rama, e dá-se ao canteiro uma sacha, deitando-lhe por cima três pollegadas de boa terra. No seguinte outomno faz-se a mesma operação, isto é, corta-se, sacha- se e cobre- se do mesmo modo com três pollegadas de terra; no terceiro repete-se a mesma operação, mas já antes (na pri- mavera) se podem aproveitar algumas pontas de Espargos mais grossas, haven- do todo o cuidado para não estragar o canteiro. Nas seguintes primaveras já o canteiro deve dar uma boa colheita, e sen- do bem tractado e de tempos a tempos adubado, poderá durar vinte a trinta an- nos. Ha vinte annos formei na proximidade do Tejo, na visinhança da villa da Bar- quinha, um canteiro de Espargos planta- dos em nateiro do Tejo, e ainda hoje con- tinua a dar uma colheita magnifica, po- dendo a sua qualidade competir com as melhores que se encontram nos mercados de Londres, Berlim e Pariz. Lisboa. Geoege A. Wheelhouse. FRAXINUS EXCELSIOR linn. Esta arvore pertence á familiadas Olea- ceas, Lind., as quaes fazem parte da nona ordem das dicotyledoneas. O Fraxinus excelsior é arvore de ele- vado porte e uma das mais valiosas espé- cies florestaes do paiz. O seu crescimento é bastante rápido na infância; depois torna-se mais moroso e chega a alcançar o seu perfeito desen- volvimento entre os oitenta e cem annos. Em circumstancias favoráveis pode viver alem de dous séculos. A forma do seu tronco é direita e cylindrica, chegando a obter 26 metros de altura por 1 metro de diâmetro no pé; a copa é pouco fron- dosa e tem rareada cobertura; as folhas são pequenas e delicadas, rebentam de meados de fevereiro a março, cahem em outubro e novembro, e fortificam pouco o solo. E' planta hermaphrodita. Floresce entre fins de janeiro e abril, e seus fru ctos (sementes) acham-se maduros po todo o mez de setembro, e conservam-s na arvore até dezembro. O Freixo commum começa a fructifi- car entre os 40 e 50 annos de idade. O seu enraizamento é muito amplo e vigoro- so ; profunda, alastra e afilha. Com esta arvore podera-se formar raattas medias associada aos Ulmus, Al- nuSj Bétulas, Quercus^ Robinias, Acers e Populus ; assim como se presta para mat- tas de talhadia, pois rebenta bem de cepa. O Fraxinus excelsior dá-se nas mon- tanhas e coUinas, mas prefere os valles e planícies. Os terrenos que lhe são mais aífeiçoados são os profundos, húmidos e substanciaes ; também vegeta nos ligeiros e seccos, mas n'estes não adquire as pro- porções elevadas que obtém n'aquelles. Foge dos terrenos pantanosos, compactos, arffiilosos e arenosos. 48 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Encontra-se em todas as exposições, menos nas meridionaes. Os climas tem- perados são-!he os mais favoráveis ; no entretanto eneontra-se nos mais rigorosos e a grandes altitudes, como por exemplo nos Alpes a 1735 metros acima do nivel do mar. A doença de que esta arvore mais soffre é a carie. Os maiores inimigos que tem entre os insectos sào o Lytta vesicatória e Bomhix chrysorrhcva que lhe róe as folhas e a Melolontha vulgaris que lhe róe as raizes durante a sua infância. A madeira do i^re/a^o commum é mui- to elástica, resistente e de grande dura- ção; mas, exposta ás mudanças atmosphe- ricas, corrompe-se com facilidade. Em- prega-se nas obras de marceneiro, tor- neiro, poleeiro, coronheiro, tanoeiro, e na carpinteria de carruagens e rural. Para combustivel é excellente. As folhas dão bom sustento para o gado vaccum e la- nígero. O Fraxinus excelsior é indígena de todo o paiz. Ha muitas outras espécies de Freixos, entre ellas algumas de maio- res dimensões do que esta que acaba- mos de descrever e outras que são sim- ples arbustos, mas nenhuma indígena de Portugal. Algumas d'elias accommodam-se á cultura florestal e outras servem somen- te para a ornamentação de parques e jar- dins; citaremos algumas espécies a saber: Fraxinus acximinata, F. americana, F. americana alba, F. cinerea, F. epipte- ra, F. excelsior pêndula, F. hybrida, F, ' Ornus, F. oxyhylla vera, F. pubescens, F. quadra ngulata, F. rotundifolia, F. sambucifoUa e F. tomentosa. Coimbra. Adolpho Frederico Mollek. AVENCA A Avenca (Adiantum capillus vene- ris Linn.) pertence á interessante familia dos Fetos, d'esses seres vegetaes tão de- licados, e tão notáveis desde os de fronde mais simples, até os de fronde supra e multi-decomposta. Forma um género muito distincto, onde Linneu reuniu todos os Fe- tos, que antigamente recebiam o nome de capillares, e que era caracterisado pela sua fructiíicação, disposta em montículos terminaes separados, situados debaixo da beira dobrada das folhas. Este caracter era bastante notável, mas ultimamente juntou-se-lhe outro que reduziu bastante 08 limites d'este género, não se admittindo n'elle senão as espécies cuja fructitícação está coberta por um tegumento que se abre de dentro para fora, e que o formado pela beira da foiha dobrada para cima. Ape- zar d'este corte bastante notável, o gé- nero é ainda muito numeroso e reúne cerca de 60 espécies, quasi todas dos paizes quen- tes ou do hemispherio austral, crescendo muito poucas nas regiões temperadas ou frias do hemispherio boreal. A mais conhecida e a de que quere- mos fallar é o Adiantum cajpillus veneris. A ÀTcnca, em fios d'ebano pendida, Grutas buscar, humedecidas, vedes, A. Luso. Esta espécie tem formas tão delicadas, um porte tão gracioso, produzido pelos tufos de folhas de cor verde gaio, e um effeito tão agradável, que foi desi- gnada na antiguidade com o nome de Ca- bello de Vénus. Plinio fallando d'esta planta, diz que tem similhante nome, porque é boa para fazer crescer o cabello. E provável até que misturassem o seu aroma nas pomadas ou óleos de que na antiguiiaile se fazia uso. Os gregos costumavam também dedicar algumas plantas ás mais formosas das suas divindades; e pode ser que da similhança que os delicados e flexíveis peciolos da cor do ébano do nosso Adiantum tives- sem com os cabellos da imaginaria deusa do amor, venha o nome especifico que Linneu na sua poética imaginação lhe deu. A horticultura ornamental tem tirado um grande partido d'esta graciosa renda Vegetal, como com muita razão um botâ- nico d'estes últimos tempos lhe chamou. E na verdade poucas plantas de folhagem ornamental são tão bellas como esta ! Plan- tada n'um rochedo fictício na companhia JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 49 de outras suas congéneres, adornando o interior de uma gruta, escondendo o rús- tico de um muro ou plantada n'um rico vaso no vestibulo de um palácio, é sem- pre bella, sempre encantadora e esplen- didamente ornamental. Plantada á beira das fontes rústicas de que os grandes jardins paizagistas devem ser adornados, mergulhando as folhas n'u- ma bacia do pura agua, é que a Avenca apresenta todo o seu esplendor e impera como verdadeira rainha. Uma fonte d'este género, construída com gosto e adornada com a nossa hu- milde Avenca é o mais agradável repouso, para nas tardes do ardente estio respirar o aroma suave que á hora do crepúsculo se espalha nos jardins. Na horticultura de salas, também esta planta desempenha um óptimo papel, quer seja plantada em suspensões, quer ador- nando jardineiras. Fíg. ií. — Adlantum capillus veneris. A Avenca encontra-se abundantemente no nosso paiz, pelas paredes e legares hú- midos, poços, etc, formando encantado- res tufos de folhas, que vistos uma vez ja- mais esquecem. A cultura da Ave7ica é tão fácil que não cançaremos o leitor com a sua des- cripção ; multiplica-se pela divisão dos tu- fos. A. J. DE Oliveira e Silva. COMO PRINCIPIARAM OS JARDINS? A esta pergunta que muitas vezes se faz: Como principiaram os jardins? ten- tarei responder da forma mais cabal que couber nas minhas forças. Devemos presuppôr que o jardim te- ve por começo aquelle poético recinto onde appareceu o primeiro homem. Este escolhido local parece que fora a collec- ção de tudo o que ha de mais agradável e delicado, tanto nos panoramas que apre- 50 JORNAL DE HORTICULTUBA PRATICA sentava, como nas paragens umbrosas e frescas em (jue o homem podesse gosar da vida, saboreando os fructos deliciosos que o arvoredo lhe fornecia. Tal deve ter sido o typo por muitos séculos, pois se nos viramos para a historia Egypcia, os grandes e celebres jardins nào eram mais do que locaes cheios de arvuredo de sombra, onde o calor se fizesse sentir me- nos, com alguns regatos naturaes ou arti- íiciaes para augmentar a fresquidào. Ac- crescer-Uies-ia talvez uma co!lec^'rio de ar- vores de fructo que entre os egypcios eram ainda poucas e essas eram ao que parece as mesmas dos hebreus, ou, por outra, a romà, a tâmara, a uva, a azeitona e o íigo. E' de crer que se limitavavam somente a estes fructos. No intuito de augmentar-lhes a gran- deza e magnificência, os grandes potenta- dos d'essas terras entremearam enormes massiyos de architectura e até chegaram á extravagância de os elevarem sobre co- lunnias, como os celebres jardins suspen- sos de Cyrus, o assirio. Este ideal de jardim ainda persiste em toda a costa africana banhada pelo Mediterrâneo, pois que no resto d'Africa nào se pôde dizer que hajam antiguidades d'este género. Nos jardins modernos o que predomina é a grande quantidade de agua encana- da por entre grandes alamedas de Pal- meiras e outras arvores, e nào ha duvida que alguns d'estes jardins produzem ex- cellente impressão no viajante pela novi- dade que encontra n'elles, porem nada d'isto é o que chamamos hoje em dia um jardim se bem que, para o clima, tornam- se amenos e aprazíveis. Viremos outra folha da historia e pro- curemos a Pérsia e Arábia. Aqui achare- mos o verdadeiro berço do jardineiro, aqui nasceu o apuramento das ideias ap- plicadas a este género. Foi n'cstes pai- zcs que se iniciaram os melhoramentos de fructas; os jardins persas, principal- mente, foram sempre afamados assim pela quantidade de íiorcs como pela belleza das fructas em que tiveram a primasia, ate quo os jardineiros do occidente se de- dicaram ao apuramento delias. Diz-se que foram os persas os que primeiro fi- zeram prados ou jardins de Violetas: a cultivAçào da Roseira, essa remonta aos primeiros tempos do império persa. O sys- tema de seus jardins era ou em quadra- dos grandes, nos quaes plantavam uma grande variedade de arvoredo e arbustos vistosos, dando um logar especial ao Plá- tano, ou alamedas compridas em que dis- punham Plátanos, Cedros e outras arvo- res entremeadas com Roseiras, e uma in- finidade de arbustos de íior e arvoredo de fructa. A isto adj untavam edifícios des- tinados a aves, particularmente pombos, cujo estrume sempre apreciavam como grande fecundador. Nós somos devedores aos persas dos melhores fructos que pos- suímos, taes como o pecego, o melào, etc, que são producçoes d'aqueile clima aben- çoado. Na antiguidade não houve nação que os excedesse na cultura de fructas, que pouco a pouco se foram vulgarisando nos mais paizes. A primeira nação a tirar pro- veito do seu adiantamento foram os gre- gos, que eram, c talvez com razão^ imi- adores e introductores de tudo quanto havia na Pérsia. D'aqui nasceu o amor dos gregos ás arvores resinosas, ao Mijrtho, Narciso e mais flores odoríferas e de cores brilhan- tes. Não eram os persas menos felizes na variedade de hortaliças, pois tinham qua- si todas as que nós hoje em dia possuí- mos, como a Couve, o Espargo, a Fava, a Lentilha, a Ctholla e mais algumas, o Menduhi (Arachis hypogaea), e ha quem diga que também conheciam o Grào de bico. A arte de enxertar também era lá co- nhecida, e quasi se pode asseverar pelos restos de esculptura e relevos em pedra, que usavam cousa similhante á enxada na lavra da terra, porem o arado, se o usa- vam, era um utensílio tosco como o ara- do romano. Os romanos davam mais apreço á es- culptura e architectura, para o que em- pregavam artistas gregos alóm dos seus ; e parece que a jardinagem adeantou me- nos com elles do que com os gregos e persas, láe bem que Plinio diz que todas as casas de campo (villas) tinham seu jar- dim, nenhum escriptor d'aquelles tempos faz grande menção d'elles, mas sim da belleza das architccturas. Devemos, pois, JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 51 considerar que sendo os romanos tão ja- ctanciosos de tudo quanto eram producções romanas, se ellea se julgassem tão so- mente eguaes aos outros em jardinagem, não teriam deixado de a si mesmos se elogiarem. Com tudo, é evidente que dos mencionados povos tomaram ideias para formarem os seus jardins, embora os fi- zessem mais um objecto de arte do que de gosto, procurando com preferencia a excentricidade e surpreza á vista, do que imitarem as bellezas da natureza. Isto em quanto á parte aprazivel ; agora em quanto a productos de horta e pomar, reuniram tudo quanto era susce- ptível de cultivação no clima de Itália ; cultivaram a Ervilha, a Lentilha e mais hortaliças conhecidas n'esses tempos, in- 1 troduziram a Figueira e Amendoeira, da Syria, o Cidrão, de Media, o Pecegueiro, da Pérsia, a Romanzeira, d'Africa, a Macieira, a Pereira e Abrunheiro, da Ar- ménia e mais outros fructos como a Ce- rejeira. E quando chegaram ao seu má- ximo engrandecimento, cultivaram, con- forme a narração de Plinio, todas as fru- ctas que hoje em dia se cultivam em Por- tugal, com a excepção da Laranjeira, arvore de introducçâo comparativamente moderna. A Oliveira e a Videira eram também largamente cultivadas. Agora passaremos a outra epocha mais profiqua era progressos de jardinagem. (Continua). Lisboa. Nautet Monteiro. ENSAIO SOBRE A GAIELLIA Instado pelo meu amigo e illustrado redactor d'este Jornal para concorrer com o meu insignificante óbolo de coadjuva- ção á sua tão gloriosa, como útil empreza de diíFundir no nosso paiz o gosto, os principies e praticas mais razoáveis d'uma Arte tão syrapathica e attrahente, quanto descurada entre nós até ha doze annos, a Horticultura. Eu porém novel aprendiz d'uma arte toda pratica, que poderei di- zer com fundamento, se apesar de ama- dor velho das plantas, apenas ha cinco ou seis annos dedico mais alguma attenção, e cuidados mais sérios á cultura de va- rias plantas d'ornamento, e a colleccionar algumas das melhores fructeiras nacionaes e extrangeiras ? ! Reclamo por este motivo, e espero do publico hortícola a indulgência precisa para o meu arrojo, e sirva-me de égide, para cubrir minha notória incompetência, o vivo desejo, que nutro de ser utíl aos amadores de plantas, communicando-lhes os resultados da minha pequena pratica na cultura da Camellia. Escolho de pre- ferencia este género, não só por ser aquel- le a que me tenho dedicado com mais as- siduidade e observação, mas também por Da veniam scriptis, quorum non gloria nobis Causa... sed utiUtas, officium que fuit. OVID. EX PONT. LIB. III EPIST. 19. que nada vi ainda escripto da cultura em Portugal d'esta incomparável planta. 1.^ Parte — Sua Historia. A Camellia, como todos sabem, intro- duzida do Japão na Europa antes do meiado do século passado, no seu estado de sim- plicidade primitiva, com cinco a sete pé- talas, conservou-se quasi estacionaria até o íim d'aquelle século, e princípios d'este, em que sendo importadas da China e Ja- pão novas variedades semi-duplas, e do- bradas, estas cruzando-se mutuamente, e perfeiçoando-se cada vez mais por uma cultura intelligente, deram o grande nu- mero de variedades, que hoje inundam os jardins da Europa. Já o erudito mo- nographo por excellencia d'este género, o padre Berlèze na sua 3.^ edição de 184Õ contava 700 variedades de 1.* or- dem, pensando que se tinha dito a ulti- ma palavra sobre a cultura e aperfeiçoa- mento da Camellia japonica! Que diria elle se hoje visse aquelle numero quasi dobrado por variedades em grande parte superiores ás suas 700 d'éíite, das quaes a maioria não pode já hoje entrar n'uma collecção depurada ? Poucas, ou talvez ne- 52 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA nhuma das conquistas da moderna horti- cultura, tem tido uma voga mais univer- sal que a Camdlia, deseuvolvendo-se so- bre tudo ha 40 annos para cá uma ver- dadeira excitação febril dos horticultores estrangeiros, em aperfeiçoar e multiplicar o numero já quasi iníiuito de suas varie- dades; para o que bastará saber que ha- vendo na Europa talvez centos de estabe- lecimentos horticolas mercantes, nenhum dos quaes cxclue a Camdlia, ha um na Bélgica, que vende por anno muitos mi- lhares d'ellas e é tal o pedido, que nào lhe deixam parar uma Camdlia com bo- tão, vendendo-os logo no 1.° e 2.° anno de enxertia ! íSobre este assumpto da his- toria e desenvolvimento da cultura da Ca- mellia na Europa, nào posso deixar de recommendar o excellente artigo do re- dactor d'este jornal, no vol. II do «Jornal de Horticultura Pratica» a pag. 119, e o bello bosquejo histórico da Gamellia de Mr. Ed. André actual redactor da «Illus- tration Horticole» belga, no seu precioso tractado : «Plantes de Terre de Bruyère.» Em Portugal data apenas do hm do 1.° quartel d'este século a introducçào da Camdlia, e só ha pouco mais de 25 an- nos, é que principiaram a propagar-se por as províncias as variedades dobradas e plenas, e talvez só ha doze annos é que se presta verdadeira attençào a esta cul- tura. Todos 08 escriptores extrangeiros, que se occupam da Camdlia proclamam a Itá- lia 6 especialmente Nápoles o paiz clássi- co da cultura da Camellia ao ar livre na Europa, e nào deixam de citar pai a pro- va a celebre Camellia (simples) dos jar- dins de Cazerta dos reis de Nápoles, plantada em 17G0. Não duvidam até de- claral-a decano das Camdlias por sua edade e proporções, e porque d'ella des- cendem por sementeira quasi todas as camellias da Europa, chegando a con vidar todo o amador d'este género, que viage era Itália para ir admirar aquella gigantesca e frondosa arvore, que pôde gloriar-se de ter dado sombra ás primei- ras suramidades botânicas e horticolas da Europa que a tem visitado. Portugal que infelizmente c a certos respeitos tào pou- co conhecido dos escriptores estrangeiros, como se fosse a antiga c encuberta Ilha Atlântica de Platão, pois até os geogra- phos modernos como Balhi, Urculú e ou- tros escriptores frequentemente improvi- sara e disparatam nas descripções, que d'elle fazem em suas obras, é que eu pre- tendo provar ser o pretendido paiz clás- sico da Camdlia na Europa por sua tem- peratura e clima apropriado. A Camellia vive ao ar livre em quasi todo o littoral atlântico e mediterrâneo de França e em alguns pontos privilegiados do interior, comoAngers, o valle do Loire, o coração e jardim de França. Se o Lago- maior, no Piemonte, o Milanez, o Floren- tino, Roma, Veneza e especialmente Ná- poles dispensam agazalhos do inverno pa- ra a Camellia pela razão geral da proxi- midade do mar, em Portugal vive bem ao ar iivre quasi por toda a parte, tanto no littoral, como no interior das províncias do norte, e se nas do sul não vegeta egual- mente, deve attribuir-se, no meu enten- der, ao demasiado calor do verão em al- gumas paragens e á exposição quente, e natureza calcarea dos terrenos, e aguas com que os regam, porque ahi mesmo, logo que lhe procurem situações frescas e arejadas, e terrenos apropriados, vive opulenta como em Cintra, abandonada, sem cultura e dispersa por a matta do palácio real da Penna, como no seu estado pri- mitivo no paiz natal. Reputam os botânicos como condições indispensáveis para a aclimação das plan- tas ; i." desenvolver a planta ao ar livre as mesmas dimensões, e opulência de ve- getação que no paiz natal ; 2." produzir fructo e semente fértil ; 3.° nascer espon- taneamente das sementes que cahem na terra ; 4." dar flor e fructo em tão breve tempo como no paiz natal, etc. Penso terei provado a minha proposi- ção se mostrar que a todas estas condi- ções satisfaz a Camdlia, cultivada em Portugal, em grau superior a todos os paizes da Europa, avantajando-se talvez em dimensões até ao próprio paiz natal, e portanto que é esta mais uma prova, entre muitas, da fecundidade do nosso clima a accrescentar á que dá o nosso poeta, quan- do menciona : O pomo que da pátria Pcrsia veio, Melhor tornado cm terreno alheio. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 53 1." Condição para a aclimação — Se em Cazerta a Gamdlia (simples) plantada em 1760 com 112 annos attingiu já 10 metros d'altura, eu posso além de muitos outros, citar um facto que tenho no meu paiz, que annuUa completamente a sin- gularidade do arbusto de Nápoles. O meu visinho e bom amigo o revd.° padre Bernardino Correia de Barros cul- tiva por ahi ha 20 annos um bello jar- dim de Camellias, de que elle faz espe- cialidade, na sua residência de Folgosa, freguezia de Castro-Daire ; e seja dito em honra d'este incansável e intelligente amador, que elle cultiva com um esmero, sollicitude e perfeição incomparável a Camellia, especialmente quanto á educa- ção e variadíssimos formatos, que elle sa- be dar-lhe. Penso até poder affirmar sem receio de ser desmentido, que o seu jar- dim possue os mais bellos^exemplares que talvez haja no paiz. Com eíFeito, vêem-se alli Camellias educadas como Cupressus fastigiata de um prumo e regularidade irreprehensi- veis, elevando já a sua atrevida flecha a 7 metros do soío (1), outras em enormes bolas esphericas ; outras verdadeiras Arau- cárias excelsa pela regularidade dos seus andares: Camellias educadas em forma de mezas redondas e quadradas : cara- manchões cobertos e vestidos de tal for- ma, que não deixam penetrar-lhe o sol do verão ao meio dia ; paredes vestidas com ellas e sobretudo arcos cobrindo o encru- zamento das ruas. Eu, para significar a minha surpreza, quando vi a primeira vez um d'aquelles incomparáveis arcos, cober- tos de centos de flores abertas, tanto por cima como por baixo do arco, peço li- cença de repetir aqui o que disse ao feliz proprietário d'aquella maravilha : «3e Na- poleão I pretendeu levar da Batalha o arco grande das Capellas imperfeitas para ser- vir ao seu triumpho na volta da campa- nha da Rússia, é porque não viu, nem ti- nha ideia de um arco natural similhante a este, que é mil vezes mais brilhante e esplendido que o da Batalha.» Ora se es tas em 20 annos já tem 7 metros de altu ra, aonde chegarão ellas, quando conta (1) Nole-se que todas estas Camellias são se- miduplas, dobradas ou plenas; apenas são singelas as qua vestem as par edes e os caramanchões. rem 112, como o Patriarcha das Camel- lias da Europa, em Cazerta?! Em quanto porem á frescura e viço da folhagem, e opulência da vegetação da Camellia em Portugal eu chamo á aucto- ria em todas as estações do anno as da matta do palácio real de Cintra, e algu- mas excellentes do jardim de Folgosa, e das doesta Quinta de Farejinhas, e outras que por a sua exposição ao norte apresen- tam todos os dias do anno o mais explen- dido e brilhante verniz na sua folhagem. Parece -me, que só com estes factos fica bera provada ai.* condição. Quanto mais que no Japão, segundo o testimunho dos mais celebres viajantes como Kaempfer, VonSiebold, Zuccarini, Fortune e outros modernos, a Camellia não excede 12 me- tros d'altura, e Portugal, que está na mes- ma latitude, pode vel-as chegar a esta^ e maior altura em qualquer ponto privile- giado, que reúna as condições de tempe- ratura, natureza de terreno, e exposição apropriada. 2.^ 6 3.* Condições da aclimação — Em todo o nosso paiz, como é notório, a Ca- mellia simples, semidupla e dobrada, n'u- ma palavra, logo que tenha os órgãos sexuaes desenvolvidos, patentes e regu- lares, produz fructos e grãos férteis, que nascem até sem os cuidados do ho- mem, como por exemplo no jardim do meu visinho de Folgosa, onde os vejo brotar espontaneamente debaixo das Ca- mellias, que produziram estes grãos. Já não succede ontro tanto em Pariz, e ou- tros pontos do interior de França, na Bél- gica, Inglaterra e Allemanha, que tem de importar todos os annos grande quanti- dade de sementes de Itália e do Japão. 4.^ Condição da aclimação. — Ignoro o tempo que precisa uma Camellia de se- menteira no seu paiz natal para dar flor e fructos, porém vejo por os differentes escriptores especialistas, que nos climas mais favorecidos da Europa não floresce ao ar livre antes de 10 annos pouco, mais ou menos; e eu tenho este anno, entre mui- tas que semiei ha 5 annos, para servirem de cavallos á enxertia, uma já com um botão; vi em junho próximo passado em Lamego no jardim do snr. Figueiredo, tenente coronel do regimento 9, uma Ca- mellia coberta de botões ç^ue este cava^ u JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA lheiro me assegurou ter 5 annos de semen- teira, e ha annos vi também no Valle de Besteiros unia que floresceu aos 7 an- nos, ete. E estou certo, que o clima do Porto, tão favorável ú Camellia, deve apre- sentar factos análogos. Demais, a maior parte dos paizes da Europa só podem re- produzil-a de estacas em estufa tempera- da, al)afando-as ainda com uma campâ- nula de vidro e com os cuidados minu- ciosos, e quotidianos, que requer este pro- cesso ; entre nós nào é raro vcl-a pegar de estaca ao ar livre. Era conclusão por tanto de todos estes factos parece poder concluir-se, que a CamelUa está perfeita- mente aclimada entre nós, e que ella vive em 1'ortugal ao ar livre tão bem como no Japão, e conseguintemente, que é Por- tugal o paiz clássico na Europa da cul- tura d'ella ao ar livre, quod erat demons- trandum. Farejinkas. N. P. DE Mendonça Falcão. (Continua). ROSA MARECHAL NIEL Lançando um volver d'olhos sobre os catálogos que recebemos o anno passado dos principaes estabelecimentos da Euro- pa, encontramos cerca de 90 variedades de Roseiras lançadas no mercado n'aquelle curto espaço de o6õ dias. Se eflectivamente todas estas varie- des correspondessem ás descripçues pom- posas que geralmente as acompanham, então não se veriam os amadores muitas vezes logrados ; porem infelizmente alguns horticultores especulam e abusam da con- fiança que nelles se deposita e predispõem o publico a desconfiar das suas vãs pala- vras. Ponhamos porem de parte estas gene- ralidades que só servem de aviso aos ama- dores e de conselho aos negociantes de plantas, e sejamos breve na noticia que vamos dar. A rosa Marechal Niel, que pertence á secção das rosas conhecidas pela denomi- nação de Chá, foi obtida em França por Mr. Pradel ha cerca de seis ou sete annos, e lançada no nosso mercado pela primei- ra vez, em 18G8, pelo snr. José Marques Loureiro : — factos chronologicosque mais tarde poderão servir aos investigadores hortícolas. Forma um arbusto vigoroso, bem ra- mificado, com aculeos pouco numerosos e curtos. As folhas são bastante amplas e de ura bello verde, o que a torna bastante distincta entre as suas irmãs. As flores são de um bello amarello ; comtudo, al- gumas que temos tido na nossa própria cultura apresentam uns leves tons rosa- dos nas pétalas exteriores, o que não é fixo, pois se o fora, ainda mais mereci- mento lhes daria. São volumosas e ple- nas. A rosa Persian-yellow (Amarella da Pérsia), trazida do Oriente era 1833, e que tanta sensação causou aos que são apaixonados pela rainha das flores, está bem longe de se comparar á Marechal Niel. O amarello d'esta é delicadíssimo e o aroma é extremamente suave. Ninguém a vê que não goste delia, accrescendo- lhe de mais a mais a vantagem de ser muito florifera. A epocha da Marechal Niel se apresentar na sua numerosa cor- te aproxima-se. Vão, portanto, os leitores vêl-a aos estabelecimentos do snr. Antó- nio Gomes da Silva ou do snr. J. Mar- ques Loureiro e digam-nos depois se ha rival que a offusque. Antes de concluirmos esta noticia con- vém dizer duas palavras sobre a sua re- producção. Quando a rosa Marechal Niel foi lançada no commercio, era procurada com avidez por todos os amadores, de maneira que o horticultor tinha venda certa de todos os exemplares que conse- guisse multiplicar cada anno. Ainda agora é muito procurada era Liglaterra e Mr. Richard Smith, de War- cester, fabricou e vendeu o anno passado cerca de 40:000 exemplares. Tinha estu- fas e um pessoal numeroso, destinado ex- pressamente para aquella cultura. Faziam- se os enxertos pelo systema a que os francezes chamam placage tête, quer di- zer, o garfo era cortado chato como para o placage ordinário, mas fixo n'um su- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 55 jeito que estivesse em vaso e que tivesse a extremidade cortada; ligavam-no com junco ou com vime partido em dous e col- locavam todos os enxertos sem unguento na estufa debaixo do abrigo, mantendo a humidade necessária. Em oito dias apre- sentavam os caracteres da soldadura qua- si completa. E' este o processo empregado no es- tabelecimento de Mr. Richard Smith com o êxito que acima dissemos. Oliveira Júnior. CHRONIGA Costumamos dizer, quando deixamos de fazer qualquer cousa no seu pró- prio tempo: «Mais vale tarde que nunca» e por isso nos servimos hoje d'essa phrase para nos desculparmos de não ter ainda pago um tributo de justiça, reconheci- mento e saudade á memoria de alguns homens cuja perda deixou tamanha la- cuna no mundo scientifico. Temos em primeiro logar o principe Puckler-Muskau, um dos paizagistas que gosou de maior reputação no nosso século e cuja morte annunciamos. Pela execução dos parques de Muskau e de Branitz, ambos na AUemanha, mostrou bem a que altura pode attingir a arte da architectura dos jardins quando é inspirada pelo ta- lento e devidamente dirigida. O nome de Miquel está estreitamente ligado ás explorações botânicas das pos- sessões hollandezas no Archipelago indio, de Surinam, do Japão e da Austrália, e a sciencia perdeu n'elle um dos seus mais zelosos apóstolos. O dr. Miquel era pro- fessor de botânica e director do Jardim Botânico de Utrecht e as suas «Monogra- phias» sobre as Cycadeas, Casuarinaceas, Piperaceas, Ficoideas, etc, asseguraui- Ihe uma reputação imperecedoura entre os seus confrades. Ha alguns mezes apenas que morreu em Berlim o dr. Schulíz-Schultzenstein, professor de physiologia vegetal na Uni- versidade de aquella metrópole. Sobre tudo, a agricultura deve-lhe muitos escla- recimentos : os seus escriptos tractavam principalmente da alimentação dos vege- taes, da pobreza e do enriquecimento do solo revelando-se n'elles ser grande anta- gonista do celebre Liebig. O intrépido viajante do México, Cari Theodor Hartwig, a quem devemos a ex- cellente publicação de Mr.Bentham, «Plan- tão Hartwigianae», falleceu ultimamente em Carlsruhe, onde dirigia, desde que re- gressara da America, os jardins do seu Principe. A morte do dr. Berthold Seemann, também nos acaba de ser annunciada, e dizem- nos que succumbiu com a febre amarella, em Nicarágua. Posto que botâ- nico alleraão, foi encarregado pelo go- verno inglez para algumas missões muito importantes e nos últimos annos da sua vida visitou por diversas vezes a Ame- rica do norte e a America central, não com encargos officiaes mas sim debaixo do ponto de vista commercial. Não servia isso, porem, de obstáculo para deixar de proseguir as suas pesquizas scientiíicas e devemos-lhe a introducção de um grande numero de plantas ornamentaes. Entre as suas valiosas publicações, mencionaremos «A sua viagem á volta do mundo no na- vio de guerra «Herald» de S. M. Bri- tannica» (1860), a «Descripçãodeuma mis- são official ás ilhas de Viti ou Fidschi», etc, etc. O dr. Seemann contava apenas 47 an- nos, quando lhe foi ceifada a existência. Da perda de Ch. Lemaire, já falía- mos n'outro logar d'este jornal, e lembrando agora um nome tão benemérito, não per- deremos o ensejo de desfolhar uma rosa sobre a sua campa, ainda cerrada de pou- co, em testimunho de saudade. — Pelo extracto de uma das sessões da Camará municipal de Coimbra, vemos que esta corporação convidou o nosso amigo A. Frederico Moller a encarregar- se da arborisação d'aquelle concelho, en- cargo que o snr. Moller acceitou. Estando á frente d'este serviço um ca- valheiro tão competente, não tardaremos em vêr aquella cidade devidamente arbo- risada e só quizeramos que as demais ca- marás do paiz seguissem tão sensato quanto louvável exemplo. 56 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Um individuo eleito para o nobre cargo de camarista pelos seus concidadãos, se não differença a planta bolbosa da tuber- culosa, como poderá cuidar do pelouro dos jardins? A jardinagem de qualquer cidade é uma cousa muito importante e que não deve ser tractada como assumpto secun- dário. Parabéns portanto á Camará de Coimbra que comprehendeu a necessidade que havia de encarregar os arvoredos, jardins, etc. d'aquclle concelho a um es- pecialista que reunisse os indispensáveis conhecimentos. — Uma das arvores que se tem plan- tado em maior escala em Coimbra, é a Grevillea robusta que por tantas vezes te- mos recommendado ás pessoas que nos lêem. Se o jardineiro (?) da nossa Camará a conhecesse, escusariamos de ver a Acá- cia melanoxylon empregada tão prodiga- mente. Ahsurditas, ahsurditatum invocat. — Pergunta-nos um leitor do «Jornal de Horticultura Pratica» se é mau culti- var plantas pequenas em vasos proporcio- nalmente grandes. Debaixo da epigraphe «De que tama- nho devem ser os vasos?» publicamos já no nosso «Almanach do Horticultor para 1872», uma noticiasinha que diz assim: oÉ uso acreditar que as plantas se de- senvolvem melhor em vasos de grandes dimensões do que nos que são proporcio- nados ao tamanho d'ellas. A primeira vis- ta parece que deve existir alguma analo- gia no modo de crescimento das plantas que se enterram no solo e das que são cultivadas em grandes vasoá. No entanto, as condições são muito diffcrentes. Í2in plena terra, as plantas podem passar mui- to tempo sem roga, poríjue a humidade do sub-solo chega á superfície por meio da capillaridade. As aguas das chuvas, as que resultam dos orvalhos, são repartidas so- bre grandes superfícies e tendem sem ces- sar a equilibrarem-se, emquanto que os mesmos phenomenos não se realisam nos vasos ou nos caixões, qualquer que seja a sua dimensão. E preciso necessariamente supprir a falta de humidade por meio de regas, que levam para o fundo a maior parte dos elementos nutritivos, antes que a planta os tenha podido assimilar. O so- lo, em breve desnaturado, contrahe pro- priedades prejudiciaes e particularmente uma espécie de acidez, de cujos maus ef- feitos não tardam a resentirem-se as rai- zes.» Do que deixamos dito, deverá^ pois in- ferir o nosso leitor, que os vasos devem ser sempre em relação ao tamanho e á ve- getação que apresentam as plantas. Aquel- las que mostrarem pouca vegetação, nun- ca deverão ser transplantadas para vasos maioi'es. — Os Eucalyptus glohulus, em geral nada soffreram com o rigoroso inverno que temos atravessado. Façamos porém notar que o nosso rigoroso frio não fez descer o therraometro senão a 4** ou õ° cen- tígrados abaixo do zero, e poder-nos-he- raos considerar mais felizes que os fran- cezes que viram marcar os seus thermome- tros 23° centígrados nos subúrbios da ca- pital das bellas artes ! A bondade do snr. A. J. de Oliveira e Silva devemos as seguintes informações concernentes aos Eucalyptus e que de boa mente publicamos. Snr. Oliveira Júnior. — Acabo de receber uma carta do reverendo padre Martins de Oliveira, de S. Cosme de (londomar, em resposta a outra em que eu lhe pedia informações sobre o resultado aas ■tlantaçues d(; Encali/ptus, que aquelle senhor tem feito, e n'eila vem o seguinte que acho interes- sante. (i''s Eucahjplns obliqua (? ) (|ue plantei no mon- te Castro, em 18(19, estão hoje em plena vegetação, não solírendo nada com o frio. Os maiores (ucdem 3'", 17, cconseivam todos os ramc^ desde a base ale ao vértice." !vt(í fácil) dl) desenvolvimento do Eiíniliiplus n'ar|uiílle silio, torna-se nutavel pelas scgninles ciicumstancias. O monte onde estão plantados é formado pela erupção de grandes roclias graníticas im centio do ferieis campinas .\ pouca le;ra (^ue ahi se encontra, ou foi levada pelo vimio ou e n re>ulta(lo d.i diícomposição da urze, tojo. giestas o. outras phmtas agrestes que crescem na>; ffudas dos rochedos. No nmnte não ha uma gota d"agua e as plantas só são regadas quando chove. E' n'estelogar, completamente ando e açoutado por todos os ventos, que crescem estas soberbas ar- vores ! E já que falíamos d'este monte, não deixaremos de citar com elogio o nome do seu administrador e nosso amigo, o reverendo Oliveira, pelo cuidado e zelo que desenvolve pela sua arborisação e orna- mentação. Vêem- se alli varias Acácias, Pinheiros, Cedros, Thuias. e outras Coiii feras, algumas Pal- meiras e outras arvores c plantas de ornamento em plena vegetação. E pena que aquelle cavalheiro não possa dispor de mais meios do que o insigni- licanlc rendimento das oíTertas colhidas nas ofuaii JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 57 romarias, que annualmente se fazem n'aquelle lo- cal. Mas o que é muito para estranhar é a grande incúria de quem consente que se tire pedra da base do monte com grave risco e damno d'um desmoro- namento, como já tem acontecido em parte. Uma pequena quantia, alguma vontade e bom gosto eram o bastante para tornar o monte Castro em um apra- sivel passeio campestre, que ainda assim, como está, já tem merecido os elogios de muitos viajantes estrangeiros. Pelo mesmo reverendo padre Oliveira soubemos, que o snr. visconde de Villar Allen acaba de dar mais um prova de seu amor pela arboricultura, offertando ao mesmo snr. Oliveira uma grande porção de Eucalijpius globnluf^, para alli serem plan- tados. De V. etc. A. J. de Oliveira e Silva. Já que nos occupamos dos Eucalyptus, seja-nos licito inserir a seguinte carta que o snr. A. L. Marques Ferreira nos diri- giu ha cerca de quatro raezes. Tracta ella do processo que aquelle cavalheiro em- prega na cultura dos Eucalyptus e de- monstra os bons resultados que tem obti- do. Cora effeito, o êxito das plantações d'aquella Myrtacea depende, por assim di- zer, completamente da poda. E certo que um Eucalyptus sendo espontado repetidas vezes até ao quarto e quinto anno pôde julgar-se salvo. E esta operação, que é o technico pincement dos francezes, consiste em cortar com a unha do dedo poUegar as extremidades herbáceas dos ramos late- raes e tem por fim fazel-os ramificar-se ou enfraquecel-os em proveito d'outros. , Com effeito, fazendo-se esta simplicís- sima operação, os ramos lateraes lançam das axillas das folhas novos rebentos que são futuras hastes. Estas serão mais tarde espontadas e tornarão a planta tufosa e capaz de resistir melhor ás inclemências do tempo. Eis a carta do snr. Marques Ferreira : Snr. Redactor. — E voz constante que os Eu- calijptus não devem ser podados ou limpos durante a infância, mas só depois de grandes; pois dizem que, limpando-se dos ramos lateraes quando a has- te ainda é verde, se perdem ! Eu quiz fazer a experiência, limpando a maior parte dos que tenho mais novos, por que não fa- zendo mal a poda aos mais tenros, menos a devem sentir outros que tenho mais desenvolvidos. Constou-me que alguém, tendo poucos, se lhe perderam por se terem podado ; ora, por ter noticia d'este mau resultaJo julguei não dever podar como todos podam ordinariamente, e imaginei um sys- tema de podar os Eucalijptm sem os pòr em perigo. Quando se poda um arbusto lenhoso, ou pequena arvore, cortam-se os ramos inúteis «rentes» ao que se quer conservar; ou quando não seja corte ren- te, é a ura centimetro longe do tronco que fica. Os Eucalyptus, na tenra edade, conservam ver- de, herbáceo e brando o tronco central ; e os cor- tes ou feridas téem o inconveniente de dar muita sabida á seiva da arvore, se o corte é perto do tron- co. Além d'isso ha o risco de se communicar ao pé da arvore a decomposição que ás vezes sotfre o ramo cortado, quando, em vez de cicatrisar bem, apodreceu o sitio da ferida. Remediei esse mal se- guindo este systema : Alguns ramos lateraes muito próximos da terra até um terço da altura (total da arvoresinha) cortava-os por diante do primeiro par de folhas. No segundo terço da altura da pe- quena arvore, cortei os ramos lateraes em tal dis- tancia do tronco que lhes ficassem pelo menos dous pares de fnlhas. No terço superior ou cabeça da arvore apenas despontei os ramos lateraes. Esta poda da extremidade dos ramos, na copa, ou terço superior das arvores, faz atrazar o desen- volvimento d'esses ramos lateraes, em proveito da flecha ou ramo central, e do crescimento mais rá- pido da arvore. O certo é que as arvores nada sof- freram com esta poda. Mas fazendo a poda ordiná- ria, podia tel-as perdido. Sei que V. estima que lhe noticiem o êxito das plantações da sua predilecta Myrtacea ; por isso lhe faço saber o das que tenho plantadas em septunce symetrico junto de casa. E sou de V. etc. A. L. Marques Ferreira, — N'um dos n.°^ passados (pag. 15), occupamo-nos do regador «Battlesden» e agora annunciamos aos nossos leitores ou- tro a que o seu inventor, Mr. Le Butt, chamou «Perfect watering-can» o que ver- tido na linguagem de Camões, quer di- zer «Regador perfeito». Fig. 15 — Regador Perfeito Segundo a descripção que temos á vista, este regador resume as seguintes vantagens: — 1.° Fazer-se a rega era me- tade do tempo. — 2.** Poder-se regar um taboleiro que tenha 4 metros de largura sem pizar a terra ou ter de levantar o re- gador. — 3." Erapregar-se menos força, por ser desnecessário balancear o rega- dor.— 4." Notável melhoramento na aza. Para estufas, taboleiros, etc, é d'uma 58 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA commodidade imcomparavel, porque se po- de regar com elle laciloiente em grande área sem o iucuiiveuiente que se encontra em tantos outros, de formar correntes de agua que cahem n'um só ponto e que muitas vezes damniíicam as plantas. U alíegador perteito» (hg. 15j; em qualquer pusiyào que se coUuque, nunca produzirá esse mau resultado. E feito de zinco forte, e segundo o affirma o annunciante, havendo com elle algum cuidado, durará a vida d um ho- mem. K se esse homem fòr um segundo Mathusalem? 2s"esse caso nào chega a du- rar tanto, de certo ! ISe o leitor quizer fazer acquisição do utensílio de que nos vimos occupando, nào tem mais que solicital-o de MíM. JJick Kadclyíie Ce C." — 12*J, High Holborn — W. C London. — Mais um campeão hortícola acaba de ver a luz da publicidade, em (iaud, na Bélgica — o «Journal d liorticulture i'*ra- tique». Começou a publicar-se nos tins do anno passado e já temos deante de nós os dous primeiros números nos quaes encon- tramos nomes de escriptores distinctos. Este jornal publica-se pela Jeicnesse horticole, e custa por anno apenas IjjiUUO reis. Aos novos collegas, longa e prospera vida! Que beneficio não adviria ao nosso paiz se a jeunesse dorée se metamorpho- seasse em jtunesse horticoLe! Já agora assim iremos caminhando, porque raros sào os que conhecem e mais raros ainda os que praticam a bella sen- tença de Eenelon : Ueureux ccux ([ui se diverlisseut en s'iaslruisant ! — Do Jardim Botânico de Kew, rece- beu o Jardim de Coimbra grande quanti- dade de sementes das melhores espécies das plantas da Quina, e assim íica este estabelecimento em estado de poder enviar para as nossas colónias grande abundân- cia das preciosas Cinchonas. As remessas que já por vezes têem sido feitas, mostram que esta planta pros- pera bem em muitos pontos da costa Oc- cidental da Africa. N'uma carta particular que nos es- creveu ha tempos o snr. dr. Júlio Au- gusto Henriques, dizia-nos que não tinha fé na propagação das Cinchonas em quanto se nào seguir o exemplo dos inglezes e hollandezes, procurando fazer plantações em grande escala d'onde podessem depois fornecer-se os particulares. For emquanto, a cultura e propaga- ção está puramente entregue a particula- res que mais a tractam como planta de jardim, do que como vegetal que pode produzir grandes lucros. Em quanto não se sabia os resultados das experiências, os meios que se empre- garam foram bons ; mas agora, até nos parece ridículo que se esteja a mandar ás dezenas uma planta que se devia propa- gar a milhares n'aquellas das nossas co- lónias que permittam a sua introducção. Lá, é que propriamente se devem estabe- lecer os viveiros. Despresará o governo, despresarão os particulares este manancial de riqueza? — As publicações agrícolas nacionaes, temos ajuntar um opúsculo de cerca de cem paginas publicado pelo snr. Venân- cio Dias de Eigueiredo Vieira sob o ti- tulo de «Arboricultura Pratica» ou «Re- producção das arvores de fructo por meio de semente, estaca, enxerto, aiporque ; ti'actameuto de cada arvore em particu- lar ; cultura em vaso ; tractamento do po- mar e conservação da fructa». Agradecemos a remessa. — Recebemos do nosso amigo, Mr. Jean Verschaíielt, uma porção de semen- tes acompanhada das seguintes palavras : «Remetto-lhe um pacotesinho de semen- tes de uma Couve monstro. Precisa de um anno para se formar e então attinge o enorme pezo de 10 a 2b kilogrammas! Ao menos é a descripção que d'ella me dá um amigo residente nas ilhas das Ca- nárias donde me veio a semente desta ma- ravilha. » kSe eíiectivamento esta Couve toma as proporções gigantescas que nos diz Mr. Jean Verschatfelt, teremos mais um co- losso vegetal nas nossas hortas. Semea- remos e do resultado daremos conta op- portunamcnte aos nossos leitores. — Dos bem conhecidos MM. Vilmo- rin Andrieux d- C.'^, recebemos o seu ca- talogo para 1872 e de Mr. J. Linden, de Gand, os seus preços correntes egualmento para 1872. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 59 — Não nos constando que a Real As- sociação Central da Agricultura Portugue- za mudasse de propósito relativamente ao facto da exposição de que falíamos na nossa ultima CJhronica, publicamos em se- guida o programma que a ha de reger. No momento que escrevemos estas li- nhas não se sabe com certeza se a Expo- sição peninsular do Palácio de Crystal será levada a elíeito; comtudo, no caso atiirmativo persistimos na ideia que rela- tivamente á de Lisboa emittimos no nosso numero anterior. Eis no entretanto o programma; REGULAMENTO PARA OS EXPOSITORES Os expositores i-eceberão no acto da entrega na secretaria da associação um recibo dos objectos que expõem. Os objectos a expor serão entregues até á ante- véspera do dia da abertura da exposição. Os expositores que quizerem fazer alguma construcçào, para expor ou coliocar os objectos ex- postos, ouqaizerem agrupar a vontade os seus pro- duetos, deverão participal-o á couimissão pelo me- nos oito dias antes da abertura. ÍSenhum objecto poderá ser retirado da expo- sição sem licença especial da comniissão. As des.pezas de conducção dos productos são por conta do expositor. Os prémios consistem em medalhas de prata e cobre, podendo o jury conferir menções honro- sas quando o entender conveniente. iNas exposições de lãs, sedas e plantas, devem as remessas ser acompanhadas quanto possível das seguintes informações : Para as lãs 1." Nome do productor ; 2." Raças productoras ; 3." Localidade ; 4." Mercados de exportação ; 5." Preço medio da lã ; 6." Quantidade de producção ; 7." Todos os mais esclarecimentos relativos á producção, commercio, pastagens, etc. Para a cultura da seda 1." Nome do productor; ■ 2.» Localidade; 3.° Systemas de fiação e apparelhos respecti- vos ; 4." Quantidade da producção ; 5." Modo de exportação, se é em casulos ou em semente ; (j." Modo de venda dentro do paiz, se em fio, em casulo ou em semente ; 7." Esclarecimentos sobre a extensão da cul- tura da Amoreira, suas castas ; 8." Cuidados de creação « todos os mais escla- recimentos relativos á industria da creação do bi- cho da seda. Para as plantas e flores 1.° Nome do expositor e residência do jardim que cultiva ; 2." Nome botânico e vulgar das plantas expos- tas ; 3." Proveniência original das plantas; 4." Datada sua importação em Portugal; 5." Quaesquer esclarecimentos importantes ou curiosos sobre as plantas ou tiores exportas. A associação encarrega-se de tractar das plan- tas e liores assim como do conveniente cuidado em todos os objectos expostos. Os expositores que quizerem ter pessoas pró- prias para tractar das suas plantas poderão fazel-o participando-o á comniissão que dará um bilhete especial a esses encarregados atim de poderem en- trar na iiiatta durante a exposição. Toda a correspondência deve ser franca de porte e dirigida a M. de Andrade, secretario da Keal Associação Central da Agricultura Portu- aueza. — Lisboa. DISTRIBUIÇÃO DE PRÉMIOS Exposição de horticultura e jardinagem N. B. Attendendo á dilficuldade, que os ju- rys tem encontrado na aistribuição dos prémios das plantas e tiores, quando os programmas deter- minam especiheadamente as medalhas, que devem pertencer a cada concurso ou grupo, pela impossi- bilidade, que a pratica tem mostrado, dos exposi- tores declararem os concursos a que pretendem concoirer, entendeu-se desta vez, dar mais latitu- de para o jury poder conscienciosa e apropriada- mente conferir os prémios; e é por isso que ape- nas para as plantas e flores se fazem três concur- sos ciando um certo numero de medalhas a cada um sem especificar o objecto. PBIMEIEO CONCURSO Oito medalhas de praia edoze de cobre para as plantas ornamentaes e flores cortadas e ornamen- tação de jardins. SEGUNDO CONCURSO Tres medalhas de prata e três de cobre para hortaliças, fructos e arvores fructiferas. TERCEIRO CONCURSO Duas medalhas de prata e uma de cobre para plantas industriaes. Exposição de lãs Duas medalhas de prata e quatro de cobre; se- rão conferidas estas medalhas em vista : 1." Da qualidade da lã, não só em absoluto, mas principalmente em relação á que mais convém produzir em Portugal e do seu preço ; 2." Dos mais bem elaborados esclarecimentos e informações em harmonia com os quesitos apon- tados no regulamento supra. 60 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Exposição de sedas e productos de sericultura PKIMEIRO CONOCUSO Uma medalha df prata dourada; será esta nie- dallia conferida á pessoa que provar ler dado o maior deseiivolvimento á cultura da Amoreira em Portugal. SEGUNDO CONCUBSO Cinco medalhaft de prata e oito de cobre; serão estas medalhas conferidas em vista : i." Da melhor qualidade de seda em rama e em fio ; 2." Do melhor systema de creaç.To ; 3." Dos melhores apparelhosde fiação ; i." Das mais bem elaboradas informa(;ões em harmonia com os quesitos apontados no regula- mento supra. Lisboa, i de dezembro de 1871. — O presidente da direcção, Vixcomh' de Carnide. — O secretario da associarão, L. A. Martins de Andrade. — Mr. A. Dumas, coUaborador deste jornal, rccommenda-nos a cultura do Mu- ranguciro Gaillon. Nós passamos a pala- vra aos nossos leitores. Experimentem e dir-nos-hão se as suas mezas níXo se sen- tem orgulhosas, veudo-se adornadas de tão bello e delicado fructo. — Agradecemos a remessa que nos fez o snr. Júlio Meil, horticultor em Se- vilha, do seu catalogo para 1871-1872. Contém a ennumeração de arvores fru- ctiferas e florestaes, bem como arbustos de ornamento, etc, que tem em cultura. O snr. Júlio Meil é o director dos jar- dins e passeios públicos de Sevilha. — Foi nomeado para o logar de chefe de serviço do Instituto geral de agricul- tura o snr. Jayme Batalha Reis, agróno- mo mui distincto. — N'uma carta que recebeu ha dias o digníssimo inspector do Jardim Botâni- co de Coimbra, o snr. Ed. Goeze, annun- cia-lhe o barSo F. von Mueller, de Mel- bourne, duas novas plantas que descreve. A primeira é o íris (Moraea) Eohin- soni, gigantesca Iridea, cujas folhas me- dem dous metros de comprido. Foi des- coberta nas ilhas de Lord llowe e o no- me especifico foi-lhe dado em honra ao novo governador de New South Walcs, Sir Hercules Robinson. Pelo exame d'esta planta fica provado que o género Moraea (segundo Endlicher mas nào segundo Thunberg) não pode estar separado do género Íris, havendo d'este modo ura género muito natural, que se estende mais no orbe terrestre que o género Sisyrinchiwn. O snr. von Mueller recebeu também da mesma ilha uma planta pertencente á família das Saxifragaceas cora a qual for- raou ura novo género — Colmeiroa — em homenagem ao professor de botânica de Rladrid, o snr, Oolmeiro. Na família das FAiphorhiaceas já ha- via este género que tinha sido estabele- cido por Reuter, porém o monographo d'esta família elímínou-o no «Prodromus.» — Agora multiplicam-se as Dahlias. CoUocam-se os tubérculos velhos n'uma estufa, para que rebentem vigorosamente e se possam aproveitar os rebentões para a multiplicação. As Dahlias exigem sobretudo um ter- reno bem adubado e a plantação poder- se-ha fiizer do dia 15 de março em diante. Lembramos a cultura d'esta planta em uma só haste, porque produz bom ef- feito. — Os snrs. Charles Huber á C.*'', de Hycres, são incansáveis na publicação de catálogos. Recebemos agora um, destinado para oraez de janeiro, e contem novidades que deveras desejáramos ver introduzidas em Portugal. Entre outras mencionaremos a Salvia campliorata, Hort. Hub. (Roezl). Esta nova Salvia seria uma excellente acquisição, posto que ainda se não saiba bem ao certo se deverá ser qualificada como arvore ou arbusto. A folhagem c espessa, cotonosa e pouco menos branca que a da Centáurea candidissima. Esta circu instancia dá-lhe muito valor, porque produzirá contraste magnífico na paíza- gem com a outra verdura. As folhas que são um tanto carnosas, exhalam, esfre- gando-as ao de leve eritre os dedos, um cheiro á camphora. E quem nos diz que esta Lahiada não virá a ser um dia con- siderada como planta industrial? Só mais tarde o poderemos saber. No entretanto diremos que MM. Ch. Huber dê C.''-' ven- dem cada pacotinho de sementes por 1 fr. 50 c. Os amadores devem experimentar. Estes afamados horticultores residem em Hycres (Var.) França. Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 61 PHILODENDRON PERTUSUM kth. e bouch. Poucas famílias são tão bem represen- tadas na Flora ornamental como as Aroi- deas. E' a ella que pertencem esses esplen- didos Caladiums em que as florestas ame- ricanas tanto abundam^ e que nas nossas estufas representara um importante pa- pel ; pertencem também á mesma familia a clássica Colocasia antiquorum, Arum macidatam, A. vmscivorum, A. dracimcu- lusj Dieffenhachia radicans, e outras mui- tas plantas de grande valor ornamental. As Aroideas estão muito espalhadas em todas as regiões tropicaes, tornando-se mais raras nos climas temperados. N'es- tes últimos são quasi herbáceas, ao passo que naquelles paizes tomam proporções arborescenteSj trepando muitas vezes ás mais altas arvores, auxiliando-se para isso das suas raizes aerias. Humboldt as- severa que as principaes espécies d'esta familia habitam de preferencia a região sub-montanhosa entre 360 a 1:100 metros d'altura. Fig. 16 — Philodendron pertusuni. Esta íamilia reúne plantas muito vene- nosas, o que é devido a um sueco acre e cor- rosivo que contêem, ao mesmo tempo que de outras se extrahem excellentes alimen- tos. No numero das primeiras pode col- locar-se a Dieffenhachia seguina, que ha- bita as índias Occidentaes e a America do Sul e toma proporções extraordinárias. Mastigadas as folhas d'esta planta, a lín- gua adquire uma tumescencia a ponto de ser impossível fallar-se e tomar alimentos. Muitas vezes a consequência d'este es- tado é a morte. As folhas da Colocasia esculenta mas- 187Í2 — Vol. 111. tigadas determinam uma sensação arden- te e provocam uma abundante salivação. Em opposição a estas citaremos os rhízomas carnosos de varias Aroideas muito nutritivos, como por exemplo os do Caladium bicolor^ C. poecile e C. viola- ceum ; a Colocasia esculenta, C. himalayen- sis, C. mucronata, C. antiquorum (Arum colocasia Linn., Colocasia ou Inhame do Egypto), oriunda da índia e derramada por toda a parte. Nos mercados do Mé- xico encontram-se frequentemente os espa- dices carnosos e carregados de perfuma- dos fruetos da Turneliafragrans. JS.» 4 — Abril. 02 JOJíNAL DK HORTICULTURA PRATICA Os habitantes das montanhas da ín- dia alimentam-se com a Colocasia hima- layensis c AriaaHma utile. Os Tilinji-as, habitantes d'iim antigo estado da índia, chamam ao Arum cam- panulatum a sua b;itata ; do Xanthosoma sagiUijolia, chamado vulgarmente Couve caraiba, e da Peltandra virginica ex- trahc-se também uma excellente ^ecula; emlim, em Londres vende-se debaixo do nome de aSagú de Portiando a fécula ex- trahida do Arum maculatum, Pé de vea- do ou Jarro. Nào é, porem, da importância econó- mica d'esta interessante familia que que- remos tractar, mas sim de um dos mais interessantes membros d'ella — a phmta desenhada na excellente gravura n.° 16. E' um Philodendrun pertusum Kth. e Bouch. (Monstera ãdiciosa Liebm.) cu- riosissima Aroidea da America Meridio- nal. Estas plantas debaixo do ponto de vista horticola representam um importan- te papel nas nossas collecçoes, e desper- tam a attençíto pelas formas exquisitas que apresentam. Ôao sub-fructicosas e rhi- zomatosas, convertcndo-se depois este rhi- zoma em uma haste comprida que trepa ás arvores e rochedos, auxiliando-se para esse fim das suas numerosas raizes ad- venticias ; as folhas que chegam algumas vezes a tomar proporções colossaes, e que dão um caracter particular a esta espé- cie, são inteiras, lobadas ou pinnatifidas e furadas irregularmente entre as nervu- ras. Este facto particular tem sido objecto de importantes observações da parte de illustres botânicos, que pensam que estas perfurações são o resultado da falta do desenvolvimento do parenchima foliar nos pontos em que a sua ausência deixou ura vácuo. Recentemente Mr. Trccul provou o contrario n'uma «Nota sobre as perfu- rações que apresentam as folhas das Aroi- deasn, j)ublicada nos aAnn. desciencesna- turellcs», dizendo que estas folhas a princi- pio são cheias e continuas; mas que n'uma epocha mais ou menos adeantada do seu desenvolvimento, muitas vezes ate depois de adultas, cria-se no interior do seu te- cido uma lacuna em roda da qual as ccl- lulas 86 descorara e multiplicara a princi- pio, de modo a formar uma parede regu- lar. Distendida provavelmente pelos ga- zes, forma uma tumescencia na face infe- rior da folha ; a epiderme inferior levan- ta-se immediatamente, e rasga- se n'este ponto. A alteração não tarda a estender- se á epiderme superior, que é furada por sua vez. Desde então a perfuração fica completa, e não resta mais do que cres- cer ao mesmo tempo que a folha se des- envolve. A inflorescencia d'esta Aroidea tam- bém augmenta muito o seu valor orna- mental ; é sessil e disposta em espiral so- bre uma espiga ou espadice cylindrico, apenas attenuado no vértice. E' formado de corpos carnosos, hexagonaes, contí- guos e marcados por uma espécie de ci- catriz, que representa o estygma, e tendo entre elles, lateralmente, curtos estames. O espadice está envolvido n'uma longa espatha em forma de barquinha, carnosa, coriacea, de cor pallida, apenas mais com- prida que elle, de bordos ligeiramente cur- vos e agudos no vértice. Esta planta disposta n'uma estufa ao pé de um rochedo fictício, e proporcio- nando-lhe artificialmente o meio em que vive no seu clima, é de um effeito encan- tador; as suas longas raizes cobrindo ca- prichosamente o rochedo por todos os la- dos, os espadices floraes destacando-se no verde da sua esplendida e notável fo- lhagem, fazem-nos lembrar a luxuosa vege- tação americana, que Humboldt tão ma- gistralmente nos descreve. Temos até aqui fallado da planta or- namental, permittam-nos agora os nossos leitores que lh'a apresentemos produzindo excellentes fructos. Para isso temos de nos soccorrer a um extracto do «Garde- ner's Chronicle», citado por Lemaire na «lUustration Horticole» de 1867. «O espadice, no estado de fructifica- ção, torna-se sensivelmente maior do que no estado floral, sem que o seu aspecto seja materialmente alterado. E' então uma espiga succulenta, do pezo de uma libra, de forma oblonga, cylindrica, de nove poUegadas de comprimento, sobre perto de oito de circumferencia. Cada flor tor- na-se uma baga hexagonal, cuja contextu- ra é fina e fibrosa, recordando pela sua forma a origem que teve. Estão cheias de um sueco admiravelmente odorífero, JORNAL DE HOIITICULTURA PRATICA 63 lembrando pelo seu sabor e aroma uma combinação de melão e ananaz. Todas as as pessoas que têem provado este fructo acham-no delicioso.» O auctor do artigo do «Gardener's Chronicle» accrescenta o seguinte com- mentario, que nós não devemos omittir. eA presença na polpa das bagas de tinas rhaphides crystalinas e picantes tem fei- to depreciar muito o mérito d'este fructo. Porem, deve notar-se que, quando o fru- cto amadurece completamente sobre a planta, essa sensação desagradável, que offerecia durante a phase anterior á sua perfeita maduração, desapparece comple- tamente, tornando-se assim um excellente fructo de dessert.i> Duas circumstancias de grande valor concorrem n'esta planta, a de ser alta- mente ornamental e a de fornecer um ex- cellente fructo com que podemos enrique- cer o nosso já notável catalogo de fructos exóticos. Terminando, citaremos ura facto de grande importância para a aclimação do Philodendron jpertusum entre nós. Na Argélia fructitícou um exemplar d'esta planta ao ar livre ; todos sabem que o clima do Algarve é muito similhan- te ao d'aquella possessão franceza, e por isso talvez que, ensaiado n'aqu i, pro- víncia, desse eguaes resultados. Convida- mos os nossos leitores a fazerem a expe- riência e a communicarem a este jornal o resultado que tiveram. Nas Aroideas dá-se um facto physio- logico bastante notável. Na occasião da anthese Mr. Bronguiart verificou que os órgãos floraes desenvolviam um calor su- perior a 10 graus do da atmosphera am- biente. Mr. E. Warming confirmou esta asserção, verificando a experiência n'ura Philodendron Lundii Warm. O pheno- meno é assim descripto : O desenvolvimento do calor attinge o seu máximo na parte central do espadi- ce, onde se achara os estaminoides ; é mais fraco na base, onde estão os ovários e no vértice que tem as antheras. O auctor da experiência notou uma difterença de 15" ^4 entre o calor do espadice e o do ar am- biente, e veriticou que próximo dos esta- minoides esta diíFerença pode attingir 18° Y2. Um cheiro aromático muito forte acompanha este desenvolvimento de ca- lórico. O Philodendron pertusum é de fácil cultura, e poderia ser empregado na de- coração dos quartos e salas, onde produ- ziria efFeitos pittorescos ; deve ser conser- vado era sítios húmidos. Terra turbosa e mal desfeita, para que as raizes adventi' cias a penetrem facilmente. Dirigil-o para as grades ou pilares das estufas. Multiplicação fácil por esta- cas debaixo de campânula. Na estufa do Jardim Botânico de Coim- bra, ha um exemplar que tem actualmen- te cinco ou seis fructos. A. J. DE Oliveira e Silva. BALDIOS A questão da cultura dos baldios é, entre muitos problemas de economia ru- ral e social, o que exige mais prompta e idónea solução, e que mais implica com 08 interesses presentes e futuros da agri- cultura nacional, com o desenvolvimento das povoações, com o bem-estar das clas- ses laboriosas. Urge que bem se aproveitem os bal- dios em um paiz pequeno como o nosso, era que ha mais de 5 milhões de hectares de terrenos incultos, e que contribue an- nualmente para o extrangeiro com mais de 2:000 contos de reis em compra de trigos c cereaes; e em que com uma grande por- çS^ do paÍ2 despovoada como emquasi to- do o Alemtejo — Beira Alta — Traz-os-Mon" tes — se cumula a torrente da emigração e d'infortunios, que cada vez mais engros- sa, arrastando braços, que são valores in- substituíveis, não só para os sertões do Brazil, mas também para a America do Norte. O mundo social é como o mundo phy- sico regulado por leis inalteráveis, que é mister indagar, perscrutar, e seguir : e ao homem cumpre utilisar os elementos mais prósperos para com auxilio d'estes debel- lar as mais penosas circumstancias. Com o aproveitamento das forças na» turaes do nosso solo, deve-se attenuar a tendência para a emigração, e substituir 64 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA pela producçao nacional os 2 ou 3 mil contos de reis, de valores de cereaes, que importamos do estrangeiro. Temos immensos tractoss de terreno por desbravar, em que se podem empre- gar braços era incessante labutar augmen- tando-se a producçao e riqueza social, dando abastança aos pobres, e desviando a emigração para a cultura dos baldios, com accrescimo de riqueza, de salubrida- dade, e de civilisaçào pátria. Temos muito sapal, muito brejo, muita campina inculta, que pedem a charrua, para serem fecundados e transformados em várzeas ubérrimas : temos muito ar- neiro, muita charneca, muito monte e ser- ra, onde só vegeta a infima Cryptogamica, que deve ceder o passo ao arvoredo, ás magestosas Coniferas, e á plantação de ri- quíssimas florestas, que nos dispensem de no futuro importarmos madeiras para as nossas construcções e para os nossos esta- leiros. Ha muito na pátria, em que se pode empregar o labor do homem ; e de neces- sidade é aproveitar o terreno d'este for- moso rincão da peninsula ibérica. A emigração é uma calamidade para Portugal, porque os braços aqui não su- perabundam, mas faltam. Não só no sul, mas até no norte, nas regiões mais férteis e melhor cultivadas, ha falta de braços, que é uma das causas de pouca prospe- ridade da nossa agricultura. Na região do Douro, que é talvez a porção do nosso paiz, onde mais se labuta e se emprega trabalho na terra, carece o viticultor de pagar grandes salários aos filhos robus- tos, que a Galliza todos os annos envia para os serviços do paiz vinhateiro : e a grangearia dos vinhedos não se faria sem a ajuda d'esses operários; porque os bra- ços portuguezes não bastavam. Na tendência para a emigração reve- la-se o génio colonisador innato n'este povo : fomos os primeiros navegadores do mundo a que por mares nunca d'antes na- vegados»— fizemos prodiglos e lidamos muito para a civilisação do mundo, mas esta Índole aventureira póde-nos perder, Be, descuidosos do solo natal, não o tra- balharmos devidamente ; e se extenuados de população não houver braços validos, que prestem serviços á agricultura, e que possam manejar o arado, a enxada, a gar- lopa e o martello. A boa recompensa dos serviços e o estimulo do amor da propriedade serão sem duvida poderoso incitamento que actuará no animo dos nossos homens de trabalho para os conservar no solo natal. Muito podem também as leis obstar indirectamente a emigração dos nossos operários. O estado tem de envidar grandes esfor- ços, e de preparar meios conducentes ao desenvolvimento da agricultura nacional, e ao aproveitamento do torrão pátrio, que remunerará bem o trabalho n'elle empre- gado. Sem isto não ha caminhar, nem pro- gresso. O augmento das subsistencins dá sempre um bem-estar relativo em qual- quer povo : e produzir o máximo na me- nor porção de terreno é a grande aspira- ção da agricultura, donde impende o me- lhor regimen da economia rural. As leis hoje não devem descurar este objecto prin- cipal da existência d'este povo — «Les lois ont un grand rapport avec la façon dont les divers peuples procurent la subsis- tance». Disse-o um penetrante espirito — Montesquieu. O povo portuguez é mal alimentado : a pequena exploração praticada na terra não permitte produzir bastante quantida- de de subsistências, que aqui se deviam consumir e exportar. Consumir muito e produzir mais, me- lhor norma económica é do que produzir pouco, e consumir menos ; porque então a economia traduz-se quasi sempre em miséria. Grandes mudanças podem surgir nas condições económicas do paiz, logo que se appliquemá terra em maior escala os dous grandes agentes da producçao — os capi- tães e os braços. Decerto que não rarearão no nosso paiz capitães para qualquer empreza, que lhes seja garantia ; e os braços também, se- gundo a ordem natural das cousas, pro- curarão debaixo d'este bello clima o em- prego, que convenientemente os remune- rar. Os agricultores das províncias mais affastadas dos nossos grandes centros de consumo, Lisboa e Porto, queixam-se, que JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 65 lhes faltam mercados para a expedição dos seus géneros ; e que por isso têem sempre de os vender por baixo preço, o que des- anima a producção. São os nossos viticultores talvez a úni- ca classe de cultivadores do solo, que tem soffrido pela falta de mercados de consu- mo, e que mais precisam de abrir no ex- trangeiro mercados para a exportação dos vinhos, que compensem bem no preço os activos e custosos trabalhos que esta classe tem d'empregar no grangeio das vinhas, e no preparo dos vinhos. Se por tractados commerciaes se con- seguir que os nossos vinhos, não soíFram grandes estorvos para a exportação nas pautas aduaneiras das nações, que d'el- les precisam, é muito natural, agora que as vias de communicação se têem desen- volvido no nosso paiz, que as condições económicas do viticultor melhorem ; por- que com maior facilidade se podem car- rear os vinhos aos nossos portos maríti- mos para de ahi serem exportados. O vi- nho é talvez o único género, que não te- nha tido nos mercados prompta e segura recompensa. Os trigos e todos os farináceos, os le- gumes, as fructas, as carnes verdes, os cavallos, os muares, as lãs, o azeite, a manteiga, o queijo, o linho, o casulo, as madeiras, e muitas outras matérias pri- mas e géneros têem constantemente uma grande procura nos mercados do nosso paiz. Podemos também accrescer a estes géneros o tabaco, que pode com vanta- gem ser cultivado entre nós, sem desfal- que e talvez com augmento das rendas do thesouro, como o indicou o sr. Ferreira Lapa em um artigo publicado no «Diário de Noticias» n.° 2141 ; e assim é indubi- tável que a producção agrícola, desenvol- vendo-se, não tem de se arrecear de es- tagnação dos seus géneros no mercado, mas sim de definhamento pela falta de producção. A agricultura pode portanto recom- pensar bem a todos, que ahi empreguem seu trabalho, dando proventos a uns e es- tancando a fonte de miséria de outros que, menos ditosos, não têem em que se occu- par, e preparando gerações mais sadias e robustas pela melhor alimentação do po- vo e pelo maior arroteamento e plantação de terrenos paludosos e miasmaticos. A causa do porvir está sobretudo no desenvolvimento da agricultura nacional. A industria e o commercio não podem prosperar em uma nação em que esteja atrazada a agricultura. A Inglaterra, por possuir o tri 'ente dos mares e o sceptro da industria, não desestimou a sua agricultura ; antes a tem elevado a um grau de aperfeiçoamento, de que raros povos se têem aproximado. Todos os interesses se concatenara : a agricultura, a industria e o commercio fa- vorecem-se e ajudam-se mutuamente. Nem a protecção das pautas aduanei- ras, nem meio algum ha artificial, que possa fazer prosperar a nossa industria, em quanto a agricultura nacional não pro- duzir em boas condições muitas matérias primas : e nem o commercio se poderá desenvolver, em quanto não tivermos mui- tos productos para trocar com o extran- geiro. O trabalho, lei da vida, permitte ao homem obter o bem-estar por meio d'elle; e o desanimo que lança um homem ou um povo na inércia, é immensamente preju- dicial : é a negação do progresso. A so- ciedade humana não chegaria a obter os esplendores da civilisação actual, se após os grandes desastres, que a historia men- ciona, e se pelo encontro de enormes ob- stáculos, que a natureza physica apre- senta na sua lucta com o homem, este des- coroçoasse um momento, e, duvidando de seu triumpho n'este continuo lidar, se as- sentasse ocioso, esperando a vinda do millenio como os ascetas da meia-eda- de. Necessitamos de trabalhar muito para exhaurir grandes riquezas do solo pátrio ; e já que não podemos conservar a enor- me grandeza de gloria, que em tempos felizes nossos antepassados conquistaram, com assombro do mundo, sejamos nas conquistas não menos profícuas do traba- lho, obreiros modestos, mas infatigáveis em revolver o chão natal ; porque o po- vo, que sabe aproveitar os dons da Pro- videncia, mostra-se sempre um povo hon- rado. Não só a utilidade, mas também a honra da nação e dos governos, se devem Q6 JORNAL PE HOllTICULTURA PRATICA empenhar no desenvolvimento da agricul- tura. Os nossos baldios incultos são um triste padrào para se aferir o estado de atrazo da nossa agricultura : ha ahi tanto que arro- tear, e tantos terrenos que se prestara ás mais diíferentes culturas, que causa dó vêr tanta riqueza abandonada, e onde po- diam tiorescer povoações felizes, apresen- ta-se o quadro triste de choupanas ou ca- sebres disseminados por grande espaço de terrenos, e que sào habitados por uma povoação triste e embrutecida, e na maior parte do anno esfaimada. E' este o espe- ctáculo mais trivial que se oíierece á vis- ta no nosso paiz, nos sitios onde dominam 08 baldios e os terrenos incultos. No Alemtejo fatiga-se a vista do via- jante com a monotonia pesada de uma perspectiva continua de campinas enor- mes, e de grandes paúes e brejos, digna habitação de reptis : mas onde o homem podia estabelecer vivendas deliciosas, se lhes desse com o trabalho a vida, trans- formando-os em campos de vegetação lu- xuriante, onde o gracioso Limoeiro e a fértil Oliveira substituíssem a urze e a es- teva, e onde o homem bem alimentado ahi se estabeleceria com as tradições do lar domestico, engrandecimento da famí- lia e prosperidades da pátria. Assomam-se, em quasi todo o Traz- 08-Montes e na Beira-Aita, continuados montes e serras escalvadas, d'onde pro- vém torrentes espantosas, inundações de- vastadoras, que inutilisam os nossos rios, que vão obstruir com medãos de areia os portos de mar; e é para desejar, que es- ses montes e serras sejam povoados de florestas, que estorvem a erupção súbita das aguas nos valies, e modificando o solo e a temperatura, produzirão milhares de beneticios para os usos e necessidades da vida, e para o aproveitamento das planí- cies. Precisamos de boas leis c da protec- ção do estado para termos um progressi- vo augmento de cultura ; porque a agri- cultura entregue só aos cuidados particu- lares não pôde tomar alento e medrar. Não desejamos que o estado se torne productor : desconhecemos-lhe essa missão que o socialismo lhe quer attribuir. O in- teresse particular ha-de produzir sempre mais, melhor e mais barato, do qne o es- tado. Está isso no coração e nas leis que regem a natureza humana. E demais, ár- dua tarefa têem já os governos tendo de velar por tantos interesses e pela conser- vação de tanto direito, pai'a não se intro- metterem em crear phalansterios agríco- las e industriaes, o que seria a dictadur» mais oppreísora, a centralisação mais ab- surda, que tolhendo a liberdade indivi- dual, arruinaria a sociedade. No entanto o que o estado não pôde fazer sob um ponto de vista absoluto, de- ve realisar relativamente; c assim tem de ser, era prol do interesse commum. O es- tado não pôde, sem abdicar a sua missão, deixar por mais tempo jazer incultas as nossas serras baldias — e, podendo au- graentar, sem gravoso dispêndio o domí- nio nacional, não deve descurar este be- neficio. Os interesses do presente, as as- pirações do futuro, a riqueza da nação e a fortuna dos cidadãos e todas as actuae» circumstancius o aconselham e incitam a realisar este melhoramento. O estado toma sobre si o encargo de abrir as grandes estradas nacionaes, de pagar a viação accelerada, de melhorar os portos, de contribuir para a instrucçao primaria e secundaria, de dotar os minis- tros do culto, de remunerar a magistrar tura, de estipendiar o exercito e de pro- teger todos os grandes interesses e me- lhoramentos, que os cidadãos só de per si não poderiam realisar, e nem compa- nhias organisadas o tentariam, especial- mente entre nós, que temos por vezo es- perar tudo do estado : o estado, que zela e vigia por tão multiplices interesses, de- via iniciar a grande obra da arborisação das serras e montes do nosso paiz, que estão devolutas e sem cultura. E ás camarás municipaes e juntas de parochia devia ser imposta a obrigação de plantação de arvores. Nunca pôde ser muito grande a dea- peza feita com tão necessário melhora- mento publico, de que resultarão incalcu- láveis benefícios, pela creação de madei- ras e combustivel, e pelo accrescimo de salubridade publica, o que também não é cousa de pequena monta. Murça. Basílio C. de A. Sampaio. (Continua.) JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 67 BREVES PALAVRAS ACERCA DO ESTADO DA HORTICULTURA EM S. PETERSBURGO E' natural no homem estimar o que é raro ou que só difficultosamente se ob- tém. Esta razão talvez é a que leva o ha- bitante do Norte a prezar a vegetação em geral e a não recuar deante dos obstácu- los climatológicos, que tem a vencer, para alcançar o que a natureza prodigalisa aos habitantes dos logares mais temperados. Enterrada na neve durante as duas terças partes do anno, gosando apenas da alegre verdura em algumas semanas, S. Petersburgo devera ser bem triste, se não viessem em seu auxilio a arte e a paixão pela horticultura. Como é fácil de imagi- nar, a cultura forçada está em pleno uso em S. Petersburgo, e obtém successos miraculosos, sem o calor e quasi sem a luz solar. A floração nas estufas, aquecidas desde o mez de agosto até ao mez de maio, dura incessantemente. No entanto, para obter esta floração, o jardineiro do Norte encontra ainda uma difficuldade : a necessidade obriga-o a não se applicar a grande numero de espécies, porque a natureza recusa a muitos vegetaes de me- recimento o florescer e até o brotar em tempo indeterminado. Apesar de todos estes inconvenientes, encontram-se em S. Petersburgo, a princi- piar do mez de outubro, bastantes plan- tas em flor, para adornar os quartos e formar houquets. Entre estas plantas, enu- meraremos como mais vulgares as seguin- tes: Chrysanthemum indicum, Primulachi- nensis, difterentes Eriças e Epacris^ Hel- leboruSj sobretudo H. caucasicus, H. col- chicus e outros Cyclamens, Cypripe- diums, Epiphyllum truncatum, Hyacin- thus romanus e outros. No mez de no- vembro ; Camellias, rosas hoicrbuns e chás, Hyacinthus orientalis, Convallaria •majalis, Tulipas e Crocus. Em dezem- bro ; rosas remontantes, Syringa pérsi- ca, Deutzia crenata e D. scabra. Em ja- neiro; Azáleas (indica e ponticaj, diffe- rentes Bhododendrons^ Cheiranthus, Vio- la odorata arbórea, Digitalis, differentes Liliums, e grande numero de outras em noaio e abril. Designamos apenas as plan- tas predilectas, julgando desnecessário accrescentar que nas de estufa fria os amadores encontrara espécies, que só po- dem servir .para ornamentação passageira e de curta duração. Estas, porém, encon- tram-se em quasi toda a parte e são, para assim dizer, um attributo indispensável para qualquer ornamentação. São principalmente as espécies de fo- lhagem ornamental dos paizes exóticos, que aturam perfeitamente a cultura nas estufas quentes e pertencem ás tribus em- pregadas para o mesmo uso em outros paizes. Pelo que diz respeito a estas plantas, não ha diíierença entre os jardins de S. Petersburgo e os dos outros paizes da Europa. A diíferença que existe é naa plantas de sala. A cultura nas salas for- ma uma especialidade da jardinagem, por- que as condições dos quartos habitados diflerem muito das estufas quentes ou das frias e não se parecem com as condições das casas habitadas nos climas mais quen- tes. Uma casa habitada em S. Petersbur- go tem caracteres espcciaes : primeiramen- te pela temperatura quasi constante de 12° a 15°R. de calor ; em segundo logar pela seccura relativa do ar, que só contém de 20 a 15 ^/o de vapor d'agua ; terceiro, em- fim pelo systema das duplas janellas, que se fecham hermeticamente, de modo que o ar se renova pelos orifícios dos caloriferos e de pequenas janellas. Apesar de todas es- tas condições, á primeira vista desfavorá- veis, em quasi todas as casas se encontram plantas ornamvntaes, principalmente dos paizes quentes, e algumas d'ellas, como por exen)plo : Oleafragrans, Coffea ará- bica, Fatzia japonica, Clivia miniata, crescem e florescem melhor ainda que naa estufas quentes e estufas frias especiaes. Ha numerosos amadores, que cultivam ás maravilhas em seus aposentos, plantas muito raras e delicadíssimas : as Orchi- deas, os Fetos e outras espécies delicadas conservam-se n'este caso em caixas de Ward, que estão egualmente muito espa- lhadas em S. Petersburgo. 68 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA As mesmas condições climatológicas exigem cuidados particulares para a cul- tura forçada dos legumes. E' para mara- vilhar a maneira como se sahem d'estes trabalhos os jardineiros especialistas. Ape- sar da camada espessa da neve e d'um frio de 20" a 25° R. e ás vezes mais ain- da, estes cultivadores têera a possibilida- de de apresentarem o Espargo colhido de fresco. N'uma espécie de estufas baixas, construidas para este fim, e aquecidas, o mais das vezes, pelo estrume dos curraes, cultivam-se, para virem no mez de abril, differentes saladas, Rabanetes, Cenouras, Espinafres, Feijões e Ervilhas. Pelo que diz respeito ao forçaraento dos fructos fora da estação, os jardinei- ros de S. Petersburgo produzem moran- gos, framboezas, ameixas, cerejas, uvas e algumas vezes pecegos nos princípios de maio. S. Pertersburgo. P. Wolkenstein. CULTURA DAS PETUNIAS A Petunia é uma planta rústica, cu- ja cultura não exije grandes cuidados e que compensa os que lhe são prestados com uma bella florescência, abundantíssi- ma, variada, e diremos até indispensável em um jardim bem cultivado. Obtem-se as Petunias ou por semente quando se pretendem novas variedades, ou por estacas quando se deseja a conser- vação das antigas. Tractaremos em primei- ro logar da sementeira, e depois da re- producção por estaca. Da sementeira. — A sementeira pode fazer-se, como a de muitas outras plantas, em vasos ou alguidares, conforme a quanti- dade de semente que se pretende semear, A melhor occasião de lançar a semen- te á terra é na primeira semana de abril, 6 no fira de maio as novas plantas esta- rão promptas para occuparem no jardim 08 logares que lhes forem designados. Começaremos por preparar a terra com um composto de um terço de estru- me de cavallo, pelo menos de dous annos, outro terço de terra de hruyere (urze) e outro de areia fina do rio, tudo bem cal- deado. Depois de bera drainado o vaso ou alguidar, isto é, de lhe coUocarraos no fundo três ou quatro centimetros de cacos ou pedras miúdas, cobertas de musgo, para embaraçar que a terra levada pela agua obstrua os buracos dos vasos, enche- los-hemos até 4 centimetros da borda com o composto preparado. Calcaremos ligei- ramente a terra com ura objecto chato, ou batendo com o vaso de encontro á terra. Passaremos por peneira fina uma por- ção d'esta terra e com ella cobriremos na altura de um centimetro toda a superficie da terra já lançada nos vasos, e a aliza- remos. Semearemos em seguida o mais regularmente possível, tomando a semen- te em pequenas pitadas, a qual cobrire- mos depois cora uma ligeira camada da mesma terra peneirada; é forçoso que não fique muito enterrada. Segue-se a rega : e o melhor modo de a fazer, sem perturbar a semente, é mergulhar o vaso em agua até metade da sua altura. A agua infiltra-se pouco a pou- co por baixo, raolha bera a terra, e logo que se vê gotejar na superficie, retíra-se o vaso, e deíxa-se escorrer. Regando por esta forma, raras vezes será preciso re- petir a operação antes do nascimento das plantas. E' preciso não deixar seccar a super- ficie da terra, mesmo depois de nascidas as plantas ; regal-as-hemos ligeiramente ou com uma seringa de furos mui finos, ou com um pequeno regador, cujo garga- lo deveria ser guarnecido cora feveras de palha, para fazer cahír a agua em pe- quenas gotas. E se o vaso ou alguidar for grande pode enterrar-se no centro um pequeno vasinho, com os buracos tapados, cheio de agua, e por esta forma se conse- guirá conservar-se sempre a terra lenta, porque a agua infiltrada pelos poros do vaso humedecerá a terra quanto baste para dispensar outrar regra. Se na França e na Bélgica são preci- sos incessantes cuidados para reservar estas plantas dos gelos; se são precisas ca- mas qnentes e chassis para o bom resultado da sementeira, enti*e nós não carecemos JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 69 senão de uma lamina de vidro para cobrir o vaso ou alguidar e com cila reservar as plantas de ataques de lesmas e caracoes, e collocal-o em sitio abrigado com expo- sição ao sul. Reproducção por estacas. — A repro- dução das Petunias por estacas pode fa- zer se em todo o tempo. Nos mezes de junho, julho, agosto, e ainda em setembro, se o tempo vae quen- te, pode fazer-se em pleno ar e a frio. Cor- tam-se hastes herbaceaes, que rebentam junto dos braços das mães; devem esco- Iher-se grossas, e desprovidas de botões ; cortam-se horisontalmente abaixo de um nó, supprimindo-se-lhe as folhas, e enter- ram-se apenas na profundidade de um centimetro, em terra macia e arienta, sobre um canteiro ; regam-se com precau- ção, pois que a grande humidade as fará apodrecer : estando o tempo frio, cobrem- se com um duche assombrado, até que se enraizem ; devem ser preservadas do sol, mas não da luz, o que as faria amarellecer e melar. Para haver maior probabilidade de Fig. 17 — Petunias. bom resultado deveremos empregar es- tacas mui curtas, e cortar- se-lhes os olhos. Deveremos conservar-lhes apenas três nós, um para enterrar, depois de despido de folhas, e dous para fora da terra, cortando-se-lhes metade de cada folha. Plantam-se as estacas em pequeni- nos vasos cheios, com preferencia, de areia limosa de ribeira (espécie de lodo) misturando-lhe um terço de terra de hruyere. Como esta preparação é extremamente fina, será conveniente pôr no fundo dos vasos um pouco de musgo secco, para evitar que entupa os buracos dos vasos. Regam-se bem, e enterram-se em um can- teiro com areia na espessura de 20 a 25 centimetros. Por esta forma raras estacas se perderão, e enraizam-se mais prom- ptamente. Enraizadas as plantas, devem ser mu- dadas para vasos um pouco maiores, tra- ctando-se como as plantas mães. O melhor modo de conservar uma col- 70 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA lecçâo é metter as estacas no fim d'agosto para que não possam ter grande desen- volvimento durante o inverno, o que ar- riscaria a sua existência ; tendo alem dis- so a vantagem de occuparem um logar limitado no agasalho que se lhes deve fa- zer, para passarem a estação rigorosa. Devem pois conservar-se pequenas plantas de uma só haste, era vasos de 8 a 10 centímetros, e bem outonadas; apou- ca folha que conservam evitará o bolor que muito as prejudica. Para a sua melhor conservação du- rante o inverno, deveremos abrir, em uma exposição abrigada, secca, e ao meio dia, um fosso da dimensão precisa para accom- modciçâo dos vasos. A terra extrahida se- rá substituída por areia pura, e alli enter- rados 08 vasos : este fosso ou quadro terá um céo de vidro levantado por forma que evite as chuvas e deixe penetrar o ar ; se- rão regadas parcamente até que venham 03 gelos e as neves. O frio não as preju- dica, uma vez que estejam bem outonadas, e conservadas sem humidade. Depois de novembro dispensa-se a rega, e só lhes daremos a agua necessária para lhes con- servar a rida. A areia, em que se enter- ram os vasos, ao passo que lhes procura a necessária seccura para a sua salubrida- de, fornece-lhes a humidade necessária. E' preciso procurar-lhes nos mezes de dezembro e janeiro um repouso absolu- to, que só deverá alterar-se pelo calor do sol da primavera. Devem ser visita- das de tempos a tempos, para desem- baraçal-as das folhas velhas, e cortar-lhes com a unha os cimos das hastes que ten- derem a elevar-se. No mez de fevereiro já devem receber algumas regas, appare- cendo alguns dias de sol, mas esta rega será regulada pela temperatura da atmos- phera e vegetação das plantas. Quando nas hastes apparecerem azelhas de folhas devem cortar se, conservando apenas três ou quatro das mais próximas da terra. E' n'csta epocha que devem ser transplanta- das para vasos de 15 a 16 centímetros. As estacas feitas com arrebentòes for- mados em março e abril exigem calor pa- ra se enraizarem, mas as plantas que for- mam são muito mais vigorosas e as suas flores mais bellas do que as d'aquella8 que atravessaram o inverno. As primei- ras flores de uma estaca nova tocam sem- pre o máximo da belleza que lhes é pró- pria. Cultura em plena terra. — Escolhere- mos com antecipação no jardim um ou muitos logares bera arejados e expostos ao sol, estes logares serão abundanteraen- te estrumados durante o inverno, e cava- dos muitas vezes, para se encorporar bem o estrume. Logo que não haja a temer as neves e gelos, dur-se-ha á terra a ultima cava- della, antes de se fazer a plantação ; ae as Petunias a transplantar não estiverem já dispostas em vasos, devemos esperar por um dia sombrio e chuvoso; se porém já estiverem em vasos, podem dispor-se em todo o tempo. E' occasião de advertir que na falta de pequeninos vasos para a primeira trans- plantação das plantas novas, podem em- pregar-se cascas de ovos, corao ensina a «Revue horticole». As Petunias devem ser plantadas a distancia de 50 centímetros umas das ou- tras. Tocar-se-hão em pouco tempo, e co- brirão todo o terreno. Desde então é mis- ter dar-lhes copiosas regas, e cortar com a unha a coroa d'aquellas que tenderem a elevar-se em uma haste só, para as obri- gar a bracejar. Se quizermos ter flores excepcionaes, grandes e dobradas, é pre- ciso não consentir a cada pé mais de quatro a cinco braços, que se poderão deixar correr pelo chão, ou ligar a esta- cada. Cultura em vaso. — Sendo a Petiinia uma planta mui voraz, não pôde viver longo terapo em vaso, sem certas precau- ções, e ainda assim acaba por definhar- se. E' observação feita que as Petunias obtidas de estaca vivem melhor era vaso que as de semente, e a razão é porque estas, crescendo com mais vigor, cançam mais depressa a terra, e apesar de suc- cessivas mudanças para vasos maiores não darão florçs tão bellas como se fos- sem plantadas no chão. Não devemos pois reservar para vasos senão plantas obtidas de estaca, e a essas mesmas só lhes dei- xaremos quatro ou cinco ramos. Empregaremos uma terra leve e ao mesmo tempo substancial, e de tempos a tempos regai-as-bemos com agua aduba- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 71 da de uma sexta parte de estrume liqui- do. Quando a planta absorver com prom- ptidão a humidade do vaso é indicio de que carece de um vaso maior; e não haja receio de a mudar para um vaso grande, é uma planta mui golosa, cujas raizes não querem aperto. Diz um jardineiro francez que quan- do se vir a Petunia desguarnecida por baixo, e as folhas e flores apenas nas ex- tremidades dos ramos, deve haver o cui- dado de abatel-a a 5 ou 10 centímetros do solo : virão novos rebentões e nova successão de flores ; mas o visconde de Buisson diz que levada a planta a este estado já não é boa para vaso, e que o meio único, depois de abatida, é plantal-a em plena terra, onde ella se refará ; mas que o melhor é fazer uma successão de estacas para substituir os pés cansados. Camillo Aureliano. DOENÇAS EPIPHYTIGAS Chamam-se plantas epiphytas aquel- las que nascem sobre outras plantas, mas que não extrahem d'ellas o seu alimento, como acontece com as parasitas. A sua presença sobre qualquer planta causa-lhe sempre uma alteração mórbida. Estas affecções importantes, debaixo do ponto de vista scientifico, têem-se tor- nado também dignas de especial estudo e attenção na pratica, porque ultimamente têem atacado algumas plantas alimentí- cias das de primeira necessidade, como são as Batatas, o Trigo, o Milho, etc. Onde porém este temível flai^ello se tem feito sentir com mais intensidade é na vinha. Esta affecção é caracterisada pela presença do oidiíim tuckeri. Mencio- naremos os vários períodos de doença pe- los quaes temos observado que o bago costuma passar, e em seguida, e é esse o nosso íim traçando estas poucas linhas, diremos o resultado que obtivemos o an- no passado, d'uma experiência sobre o mo- do de attenuar o terrível flagello. O bago, a maior parte das vezes, che- ga a metade do seu volume normal, não cresce mais, secca, endurece, e adquire exteriormente a consistência quasi lenho- sa ; outras vezes a base da flor cobre-se totalmente d'uma camada de mycelium. Se se extrahe esta camada, encontra-se a pellícula intacta e o interior do bago in- teiramente são. Muitos mais são os estados que a doen- ça faz tomar ao bago, mas que julgo des- necessário apontar. — Vou pois dizer em q e consistiu a minha experiência: dis- solvi em um regador cheio d'agua dous punhados de sal de cosiuha, e juntei a esta dissolução uma porção de cal extin- cta, egual a duas vezes a quantidade de sal ; com esta mistura reguei o pé d'ai- gumas Videiras, tendo previamente feito em volta d'ellas uma pequena excavaçao. O resultado não foi completo, mas pos- so affirmar que as vinhas, que assim tra- ctei, apresentaram menos de metade do mal que as outras, que aliás foram três vezes enxofradas. Dir-me-hão ; se o mal provém de cima, como pode influir essa applícação feita na raiz ? Mas devemo-nos lembrar que, quanto mais robusto está um organismo, melhor repelle uma enfer- midade. Feancisco L. de Ávila Júnior. COMO PRINCIPIARAM OS JARDINS (')^ Depois das eras primitivas, se assim as podemos chamar, veio a edade obscura em que as aventuras da guerra distrahi- ram a gente dos gosos da lavoura, e quanto se tinha adeantado foi entregue aos mos- teiros que surgiam em todos os paizes e (1) Vide J. H. P. Yol. III, pag. 49. serviram de receptáculo de iodas as scien- cias e artes, que aliás teriam desappare- cido de todo. N'estes recintos sagrados foram-se con- servando os adeantamentos obtidos pelos povos antigos, se bem que com poucas melhoras, até que, tendo desapparecído es- sas hordas, e suas guerras, os povos en- 72 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA contrararo outra vez a sua occupação e recreio nas propriedades rústicas. Principiava entào Génova a ser o em- pório de todo o coramercio e cora elle vi- nham as introducçòes de fructos e plantas e o gosto pela sua cultivação, de forma que a Itália deu o primeiro passo na jar- dinagem moderna, chegando a ter no- me por todo o mundo os magnificos jar- dins de Itália, que hoje em dia perderam a primasia para a deixar a outras nações. Cumpre notar que em todas as epo- chas o auge da jardinagem estava onde o commercio mais prosperava. Depois a Hespanha e Portugal com a descoberta da America e a grande impor- tação de plantas d'essas paragens, por isso que era moda ter ou possuir alguma rari- dade d'essas terras longínquas, tornaram- se dignas de menção pelas suas ricas col- lecções. Alicante teve nome pelos Cacti que os jardineiros apresentaram, e ainda hoje em dia muitas plantas que se têem tornado raríssimas e mesmo extinctas nos jardins de Bélgica, França e Inglaterra podera-se encontrar em sitios ermos, onde quasi por milagre têem escapado, e isto acontece por toda a península. Em seguida, com as continuadas desordens intestinas d'estes paizes, perdeu-se o gosto para tão agra- dável recreio e foi accolhído pela Ingla- terra e Hollanda que das suas colónias importavam tudo quando era notável, de modo que principiaram a disseminar o gosto por toda a Europa. Infelizmente nenhuma nação lhes tem feito uma tão salutar concorrência, a não ser a França e a Rússia, mormente a ul- tima, que ha muitos annos tem gasto gran- des sommas com jardins botânicos a fim de disseminar sementes e plantas n'esse paiz. Presentemente não ha capital onde se cultive o Ananaz em tão grande escala como em S. Petersburgo, não obstante ter um clima tão severo. Muito folgarei ver o amor pela jardi- nagem augmentar era Portugal e que os grandes thesouros que possue nas suas colónias venhara de preferencia aclimar- se na patria-mãe, em vez de irem para o estrangeiro, pois posso asseverar que, li- raitando-me somente ás colónias da Africa, as plantas novas a introduzir são em nu- mero crescido. A família do escriptor já tem introduzido grande copia de novida- des em Inglaterra, em aves, quadrúpedes e vegetaes, como a Euphorhia Monteiri, Estapelia curreri, Orchideas, Fetos e ou- tras plantas que ainda não foram classifi- cadas nem «baptisadas». E porque não o haviam de ser pri- meiro em Portugal que possue todos os elementos para isso no jardim de Coim- bra com um tão notável naturalista por director? Lisboa. D. J. de Nautet Monteiro. lOVA VARIEDADE DE TANGERINA Ha 18 annos que o meu amigo, o snr. Francisco Rodrigues Batalha, me deu dous pequenos pés de Tangerineiras vindas de Macau (China) que lhe tinham sido oífe- recidos pelo capitão de navios da casa com- mercial do snr. Bessone, Joaquim Fran- cisco Jorge, e, segundo lhe disse aqueile cavalheiro, estas pequenas Tangerinei- ras tinham nascido das pevides de umas cxcellentes tangerinas que semeou, na via- gem de Macau para Lisboa, em uma chá- vena de porcelana da China e n'um barro vermelho muito compacto. Foi assim que recebi este presente do meu amigo Rodri- gues Batalha. O barro em que foram semeadas as pevides era muito compacto, como acima digo, e por isso foi-rae necessário para as tirar da chávena pôl-as era agua para amollecer o barro e podel-as transplantar, o que effectivamente consegui, mudando-as para vasos de terra leve e bem adubada. Uma não vingou, a outra desenvolveu-se bem, tanto que em 18Õ9 me deu os pri- meiros fructos, e d'ahi em deante tem con- tinuado a dar sem interrupção, conside- rando-a eu muito prolífica. A tangerina é pequena, espherica, cas- ca muito fina, e vem serôdia ; resiste mui- to á geada sem cahir, e quando está ma- dura é de gosto muito agradável. Para exportação torna-se recommendavel por JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 73 que tem muita duração. Mandei uma cai- xa dos seus fructos para Hamburgo, e não obstante a longa viagem, chegaram em óptimas condições. E também muito recommendavel para cobrir de assucar, attendendo á sua pequenez e casca del- gada. Tenho-a multiplicado no viveiro da minha quinta do Lameiro, em S. Domin- gos de Bemfica, enxertando-a em Laran- jeira azeda de borbulha e é de tamanha fecundidade, que os enxertos aos quatro annos dão fructo. Diversos amigos meus que têem estado na China, me asseguram que é alli muito estimada e que a deno- minam «Laranja do Mandarim». No tempo competente não terei duvida em dar a qualquer amador enxertos de tão excellente qualidade de tangerina. Lisboa Geoiíge A. Wheelhouse. HERBARIUM GRYPTOGAMIGUM DO PORTO E SEUS ARREDORES Assim como, entre os aniraaes do nos- so paiz, os moUuscos e, principalmente, os terrestres e fluviaes, são ignorados de quasi todas as pessoas, da mesma sorte as Cryptogamicas não são mais conheci- das entre os vegetaes, que enriquecem e adornam o nosso Portugal. Desejando eu conhecel-as e dal-as a conhecer, forçoso me era uma exploração e uma classificação ; trabalhos estes de grande alcance, para as minhas forças ; sendo-me o primeiro quasi impossivel em todo o paiz, sem os recursos e auxilies, que para isso são mister : por isso, limi- tei-me á exploração do Porto e seus ar- redores, afastando-me á distancia de duas léguas e n^eia, pouco mais ou menos. Aqui devo nomear, agradecendo-lhes de novo, as pessoas, que me acompanha- ram, prestando-me os seus valiosos au- xilies, já com a sua apreciável compa- nhia, já indicando-me os montes, os val- les, os regatos, por legares, que não co- nhecia, e já desencantoando conjunctamen- te comigo as pequenas e escondidas plan- tas. O meu antigo e particular amigo, o reverendo abbade da freguezia do Salva- dor de Fanzeres, curioso e hábil horti- cultor, que soube converter um terreno, que mais parecia maninho e próprio para matto, do que o Passal d'uma residência parochial, em um jardim de cultas e va- riadas flores ; não esquecendo a estufa, para a propagação, abrigo e commodida^- de das plantas dos paizes quentes. Creou o copado e sempre verde laranjal, já pra- teado na flor e já dourado no fructo ; e fez surgir o variado, odorifero e saboroso po- mar, que elle intelligentemente propaga e multiplica, ora de enxerto, ora de es- taca, quer de mergulhia, quer de semente. O snr. dr. Delfim Martins Ferreira, es- tudioso, talentoso e intelligentissimo colle- ctor e possuidor d'uma excellente coUecção mineralógica e paleontologica, conhecedor consciencioso dos terrenos dos arredores de Vallongo e S. Pedro da Cova, modes- to e verdadeiro amigo. O reverendo snr. padre José de Rio Carreiro, a cuja intelligencia e bom gos- to deve a sua conservação o pintoresco Monte de Santo Isidoro (Santo Isidro) na freguezia de S. Cosrae ; tendo-o arran- cado, com os seus esforços, ás garras da destruição; e convertido a elevada rocha n^um throno de arvoredo e flores ; pro- porcionando assim um dos mais bellos e recreativos passeios ás pessoas d'esta ci- dade. Em tão agradável companhia percor- ri a serra de Santa Justa, o valle de S. Pedro da Cova e logar de Couce, aonde fomos hospedados pelo delicado, jovial e bizarro snr. José Ignacio Pereira de Sam- paio, abastado proprietário, senhor de 14 moinhos nas margens do Ferreira^ cuja maneira de viver e escolha de habitação revela bem a sua sã philosophia e o gos- to, que este cavalheiro tem pelos subli- mes e magestosos quadros da natureza ! D'um lado a elevada e escabrosa serra do Raio, do outro a Íngreme e verde-negra serra de S. Pedro ; e lá no fundo o rio Ferreira, serpeando com lúgubre sussur- ro ! E ahi, na margem esquerda, o pala- cete ou, antes, a confortável casa de cam- po d'este senhor; á qual, para não ser 74 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA nnica, faz-lhe companhia a pequena e hu- milde casinha d'um visinho!! Reunindo- 86 elle á nossa pequena caravana, percor- remos juntos as margens do Ferreira, matta do Roboredo, Aguiar do Sousa, Senande, Castello d'Aguiar, Senhora do Salto, serra das Flores, margens do Sou- za, Covello, etc,, etc. Na segunda noute pernoutamos em casa do reverendo abba- de de Senande, cuja amabilidade attra- hente caracterisa o bom génio e a Índo- le do digno parodio. Na terceira noute em casa do virtuoso, honrado e agradável reitor de Covello, o reverendo padre Mathias, cuja interessan- te conversação mais rápido tornava o tempo. Se não fora outro o meu fim e o te- mer abusar da paciência dos leitores, des- creveria, como podesse, alguns d'estes sítios, magníficos e surprehendentes qua- dros, escondidos á maior parte das pes- soas, convidando-as ao passeio, aonde o bello horrível do despenhadeiro, ás vezes se apresenta, trazendo sempre o sublime ! Outras a frescura e amenidade da vege- tação nos convida ao descanço. Outras a entrada musgosa d^una caverna, meio tapada pelas Silvas e pelas Heras, que se vae alargando em sinuosa concavidade, nos incita a curiosidade. O alto da eleva- da serra escalvada nos torna melancóli- cos e pensativos! Notarei, apenas, alguns logares como — a Senhoi-a do Salto, vista de cima da montanha, sobranceira ao Moinho do Inferno. O Castello d'Aguiar. Ponte de Senande. Matta do Roboredo, bem como a matta do Lagareiro, e o lo- gar dos Amieiros junto do rio; não esque- cendo o alto da Serra do Raio. Deixando, por emquanto estes loga- res, apresentarei aqui a lista resumida das minhas pequenas plantas, que pude coUigir e que conservo, guardo e venero no meu €Herbarium Cryptogamicum do Porto e seus arredores;» cujo prologo é o seguinte: Natura maiiuic iiiiriíiida in niiuimií. Condensuida a matéria, liga-sc, uuc, E a terra fluida polo esp;i(.o gira. Inerte, a curva esphera nào rcsjura, Falta- lhe amor, a vida nào reúne. Lá sobe ; e em gotas mais pesado desce Subtil vapor, hiunedeceudo os ares. Parte é f^ólida j;í, rios c uiares •, Mas faita a vida, o vegetal nào cresce. O vegetal, dos prados ornamento, Eiso dos montes nas cruéis seccuras, Grava das aguas, que :is torna puras, Dos auimaes o salutar sustento. Variada na côr, fresca e mimosa, Das onílas embalada a simples Alga, Tapiz 1 a dura rocha, que o mar salga, Que mil plumas agita caprichosa. Licença d'habitar só n'um cantinho, Eis o Liehen, emfim, que á terra pede : Promettc nào gastar, antes lhe cede, Depois de morto ser, resto mesquinho. Basta-lhe um pouco d'ar para sustento, Pedra estéril só quer onde se apega. E, em paga o solo preparado entrega, D'onde o Musgo tirar pode alimento. Vem o Musgo depois, cujas raizes Podem íirm ir-se em terra productiva : Vae-se estendendo esta colónia viva, Vê-sc a terra sorrir n esses matizes. Depois a Osmunda, que dos rios borda As frescas margens, elevando aos ares As largas frondes, índios palmares, Tenros ainda, ao começar recorda. Cresce a alegre Davallia nos rochedog Sobre os rios pendentes, c fendidos Pela força do gelo. Eis reunidos Gratos Aspidios e Asplenios ledos. A Avenca, em fios d'ebano pendida, Grutas buscar, humedecidas, vedes : Emquanto a Douradinha nas paredes Espreita ao sol, nas fendas escondida. Mostram bem o vigor, junto da foate. As iunocentcs Liuguas estiradas ; E, como águia nas peunas recurvadas. Sobe dos valles a Aquilina ao monte. O Blechnum se debruça sobre o lago, E de frescura respirar parece. Nos muros trepa o Polypodio, e tece Grupos, que aos olhos sSo da vista affago. Se este o principio foi, talvez, da vida, Que interesse ligar-lhe nào devemos ? ! Aqui o jireniio do trabalho temos, Quem forma coUecções, estuda, e lid». Nào estranheis, se louvo, á lyra minha. Do verde reino o primitivo passo : Se a flor c o frncto nos parece escasso, Em nada a natureza foi mesquinha. (Continua.) A. Luso. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 75 UM INSECTO QUE ATACA AS ERVILHAS Decerto que os nossos leitores devem ter visto as ervilhas e outros legumes como favas, lentilhas, etc., furadas por um dos seus lados quasi até ao centro. Pois essa abertura circular é produzida por um pequeno insecto coleoptero, a que os entomologos deram o nome ge- nérico de Bruchus e o especifico, no caso presente, pisi. Cuvier diz-nos a respeito doeste pe- queno animal o seguinte: «As fêmeas de- positam um ovo no gérmen ainda tenro e muito pequeno de muitas plantas Legu- minosas ou cereaes, das Palmeiras, do Caféseiroj etc, e a larva ahi se sustenta e metamorphosea. O Bruchus das ervilhas é comprido, (0™,004), muito largo, preto, coberto por uma pubescencia muito íina é esbranquiçado, que lhe comraunica uma cor parda com algumas manchas brancas, resultado da agglomeraçào de muitos pel- los; a extremidade posterior do corpo é branca com dous pontos pretos. O insecto depois de perfeito levanta, para sahir, uma porção da epiderme, de- baixo da forma d'um pequeno cuverculo. Encontra-se facilmente nas flores ou nas paredes das caixas onde estão guardadas as ervilhas.» Fabricius diz : que foi introduzido da America Septentrional e que é devorado pela Gracula Quiscula. (1) Não obstante os estragos que diver- sos auctores attribuem ás varias espécies de Bruchus, este é completamente inof- fensivo. Fura effectivamente as ervilhas, mas sempre em opposição ao gérmen ; de sorte que as sementes furadas nascem tão bem como as que o não são. Admirá- vel instincto da conservação da espécie ! Se furasse a ervilha pelo lado do em- bryão, quem lhe garantiria o futuro alimen- to? Naturce, maxime admirando in mini- mis, dizia Linneu ; e nós todos os dias vemos confirmado o apophthegma do bo- tânico de Upsal. Continuando porém, diremos, que alem d'este facto nada influir sobre a germina- ção da planta, egualmente as ervilhas de- pois de furadas podem ser comidas sem repugnância; alem d'isso como a pustura dos ovos tem logar muito cedo, as espé- cies serôdias são muitas vezes preserva- das d'este flagello. Terminando esta noticia diremos de passagem, que as ervilhas são muito sus- ceptiveis de conservarem a sua faculdade germinativa por muitos annos, sendo guar- dadas na vagem. A. J. DE Oliveira e Silva. CHROIICA Algumas famílias que costumam re- sidir na Foz durante a estação dos ba- nhos, suppomos que de combinação com a camará municipal do Porto, tractaram nos fins de 1870 do ajardinamento do passeio da Cantareira, porém, quer fosse por falta de fundos quer por outro moti- vo que nos seja desconhecido, ficou aquel- le recinto no mesmo estado. E' obvio o quanto lucraria a Brighton ou a Biarritz portugueza se tivesse um jardim onde em amenas tardes de estio se reunissem as familias que, por causa dos calores e para aproveitarem os fami- gerados banhos à'aquella praia, emigram para lá. No oaBO de vir a fazer-se o jardim n'aquelle sitio, como o esperamos, have- rá a luctar com alguma difíiculdade rela- tiva ao seu tractaraento e cremos que 8<5 pessoa muito experiente poderá tomar a seu cargo a escolha dos vegetaes próprios para aquelle local, porque são em nume- ro assas limitado aquelles que podem re- sistir ás aragens da agua salgada. Temos todavia os bem conhecidos Evonymus eu- ropceus e as suas bellas variedades ; o E. latifolius, E. americanus, e o E. atropur- pureus. O Sparteum junceum, bella Papi' lionacea que forma ura arbusto de 2'",00 eo Myrtus mucronata. A Escallonia macran- tha é também uma excellente planta para a (1) Esta ave pertence á ordem dos Cianjdeof e nío SC encontra evu Portujt!. 76 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA beira-mar não só porque se dá coin a sal- sugem mas porque não é exigente na qua- lidade do terreno, e quando os novos re- bentos sejam espontados ostentará quasi todo o anno myriadas de flores verme- lhas. Torna-se recommendavel para for-^ mar rapidamente densas sebes ou para se fazerem abrigos. A Escollunia rubra de flores ver- melhas e Si E. montevidensis de flores brancas em nada desmerecem a que pri- meiramente mencionamos. O Rosmari- nus offi,cinalis encontrahí um logar dis- tincto em qualquer jardim que esteja no littoral, porque, se não é distincto em bel- leza, em rusticidade poucas plantas lhe levarão vantagem. O seu próprio nome nol-o diz : Ros, orvalho, e marinus^ do mar 5 nome que lhe foi dado por crescer geral- mente nas costas. Este bonito arbusto d'ornamento exhala um cheiro balsâmico muito agradável. As seguintes Ohaceas que formam ar- vores de 4 a 6 metros são sufficientemente rústicas para poderem sofFrer as inclemên- cias do tempo e a agua do mar não as destroe : Phillyrea latifolia e suas varie- dades : loevis, ilicifolia, obliqua e stricta. Phillyrea media e suas variedades : ligus- trifvlia, vir gata , -pendida , oleoefvlia e buxi- folia. Phillyrea augiistifolia e suas varie- dades: lanceolala, rosmarinifulia e bra- chiata. Ao numero de plantas que deixamos indicadas poderemos juntar o Tamarix gallica, arbusto de 4 a õ metros que ve- geta mesmo na areia. O Baccharis hali- viifoliUf arbusto de 1 metro, oriundo da Carolina e introduzido na Europa em 1827, é adequado a formar sebes ou abri- gos á beira-mar, onde muitas vezes se tornam extremamente precisos. Os Pinus pinaster e P. ausiriaca, ar- vores de 18 a 25 metros, são muito apro- priadas para arborisar o nosso littoral. Formam óptimos abrigos para outras cul- turas. Entre todas as Conif eras ^oxèm, a que se diz que leva vantagem, é o Cu- presaus macrocarpa, era consequência de não ser exigente na escolha do ter- reno. D'e8ta lista, feita ao correr da penna, não devemos omittir o nosso Medronhei- ro— Arbutus Unedo — que se conserva sem- pre verde e cada dia mais bello. A plan- ta em si é bonita e os seus esphericos fructos escarlates ainda a tornam mais at- tractiva. Não nos consta que ninguém se tenha occupado, entre nós, dos vegetaes, quer económicos quer d'ornamento, próprios para a beira-mar, e portanto tractaremos de fazer uni pequeno estudo sobre o as- sumpto, o qual apresentaremos n'este lo- gar á medida que colhermos os dados precisos. As pessoas que residem no lit- toral, melhor que ninguém, nos poderão prestar esclarecimentos que receberemos com summo agradecimento. — No dia 1 de março, tomou conta da jardinagem publica d'esta cidade o snr. António Gomes da Silva. Foi-lhe adjudicado este serviço com uma remuneração de 1.200^000 reis. Fazemos votos para que os jardins públicos melhorem e acreditamos que o snr. Gomes da Silva pode fazer bastante n'este sentido. — Recebemos dous exemplares da «Theoria mineral da nutrição das plantas e sua applicação á agricultura» disserta- ção final apresentada pelo snr. Ramiro Larcher Marçal, no Instituto Geral da Agricultura. O snr. Marçal desdobrou o seu traba- lho em três partes distinctas. Na primei- ra tracta da necessidade dos adubos, apresentando exemplos colhidos na agri- cultura romana. Na segunda faz um estudo sobre a theoria mineral da nutrição vegetal, cora- parando-a com as anteriormente seguidas, e expõe de que maneira os principies or- gânicos e anorganicos se fixam no vege- tal. E na terceira consagra-se á applica- ção da theoria, estudo económico do ter- reno, methodo de experiências, etc. E' um trabalho interessante e digno de ser meditado pelos que se devotam aos progressos da agricultura. O snr. Marçal expoz succintamente a theoria e o modo de praticai a. Ensaiem-na agora os agri- cultores illustrados, e se o resultado cor- responder á espectativa, poderão prati- car em grande o que tentaram em escal- la reduzida. — lia muitas pessoas que desconhecem a maneira de reduzir os graus centigra- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 77 dos aos de Réaumur e vice-versa ; portan- to vamos indical-a. Para reduzir-se os graus de Réaumur aos centígrados multiplicam-se os últimos por 1,2b. Para reduzir-se os graus centígrados a Réaumur multiplicam-se os últimos por 0,80. Por exemplo 10° Réaumur (XI, 25) =12°, 50 centígrados; ou 15* centígra- dos (X0,80)=12° Réaumur. E' facil e utll saber-se. — Soubemos com intima satisfação que o snr. H. G. T. Branco, director das obras publicas do concelho de Braga, tem feito grandes plantações de arvores. Entre ou- ras mencionaremos as seguir ites : Acer negundo . 1:000 Aesculus hyppocastanum. . 1:000 Betula alba .... . 1:000 Broussonetia papyrifera. . 1:000 Carpinus Betulus . . . . 500 Ceitis australis . . . . 200 Crataegus oxycaníha . 10:000 Fraxinus excelsior. 200 Juglanu nigra. . . . . 100 GÍeditschia triacanthos . 70 Platanus orientalis. 60 Sophora japonica . 60 Total. . 15:190 Além das arvores supraditas, tem o snr. T. Branco plantado muitas outras no que prova o seu grande zelo e assi- duidade pelo serviço a seu cargo. Se alguma cousa nos resta a desejar, era podermos juntar á lista, que acima se ê, alguma das mais apregoadas espécies de Eucalyptus. — O snr. Francisco D. Feuerheerd, administrador das minas do Braçal, em Al- bergaria-a-velha, plantou no anno passado n'aquelle sitio 100 exemplares do Euca- lyptus glohulus. Em vista dos excellentes resultados que colheu d'aquelle pequeno ensaio, plantou n'esta estação mais de mil pés e tenciona continuar a arborisar as cercanias escalvadas das minas, com esta preciosa arvore. Bom é que ella se vá vulgarisando. — A «Epocha», jornal de Madrid, diz que principiou a apparecer em diversos pontos da Catalunha, o Phylloxera vas- tatrix, insecto que tem destruído muitos vinhedos da França. Villafranca, Torredembara e Tarrago- na são os pontos em que se notam vestí- gios d'este terrivel flagelo. Quem nos diz que elle não chegará a Portugal ? Esta ideia horrorisa-nos, porque muito bem poderá reduzir á miséria mui- tos dos que hoje são abastados. — As flores, verdadeiras rainhas do mundo vegetal, como as damas o são n'es- te mundo que se chama a humanidade, estão merecendo actualmente os maiores cuidados e disvelos para que reinem so- beranamente nas salas. E em verdade que o merecem, em- bora não seja raro pagar-nos o amor que lhes votamos com dilacerarmos os dedos nos seus occultos espinhos. Se ellas são tão formosas ! Vem este exórdio frisando a um pe- queno sermão. Tracta-se d'um simplicis- slmo invento, para o qual propomos o no- me de «Supporte para vasos.» Consiste em dous anaeis ou argolas de ferro, fi- xas, cahindo uma perpendicularmente so- bre a outra. Uma d'ellas fica suspensa da parede por meio d'um gancho e a outra recebe o pequeno vaso que se lhe destina. Assim, as plantas distribuera-se a ca- pricho, produzindo effeitos surprehenden- tes. As estampas que damos (fig. 18, 19 e 20) dispensa-nos de mais longa descri- pção. — Estão em exposição no Ministério das Obras Publicas, dous specimens de um instrumento denominado «Lava raí- zes», e que já está em uso na Granja ex- perimental de Cintra. O «Lava raízes» consta das seguintes 78 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA peças, segundo as informações que aca- bamos de colher. 1." Um reservatório ou tina de ma- deira de lórma quadrilouga, munida de batoque na sua parte interior ; 2." Um cyliudro formado de réguas de madeira reunidas por cintas de ferro, e coilocadas de modo a deixarem entre si largas fendas. Este cylindro occupa a parte interna da tina e gira em torno de um eixo, cuj.is extremidades assentam na parte superior dos lados mais estreitos da tina, sendo uma d estas munida de mani- vellaj este cylindro no lado opposto ao da manivella e completamente aberto, ena outra tem internamente uma peça de ma- deira em forma de ijelice que occupa um quarto de circumferencia ; 3.° Um receptáculo de madeira ou tre- monha, largo na parte superior, estreito na interior, aberto em ambas, sendo a aber- tura inferior collocada junto á parte aber- ta do cylindro. Esta peça acha-se prega- da no bordo superior da tina j 4." Um taboleiro de descarga situ3,do junto da manivella e pregado á tina como a peça anterior, disposto com ligeira in- clinação j é destinado a receber as raizes depois de lavadas. — íSobre quatro pés, dous dos quaes sào munidos de pequenas ro- das, se aclia assente esta machina agri- cola. As raizes, que entram na tremonha, passam immediaiainente para o cylindro, e este, posto em movimeuto, ettectua a la- vagem das raízes, estando a tina cheia de agua. <<^uando as raizes estào lavadas imprime-se ao cyiindro uin movimento em Beniido opposto, e entào ellas sahem para o taboleiro em virtude de uma peça de madeira existente na extremidade do cy- lindro próxima da manivella. Este instrumento loi leito pelo mestre Joào do iúgo, coustructor rural, no Ins- tituto agrícola. A imprensa agrícola ainda não poz em relevo as vantagens do «Lava raizes» e portanto nào podemos dar mais esclare- cimentos do que estes que se acabam de lêr. — Na França, na Bélgica, na Ingla- terra e n'outros paizes cm que ha socie- dades agrícolas e hortícolas que se oceu- pam seriamente dos interesses do paiz, reunem-se amiudadas vezes os seus só- cios e tracta-se das questões que podem otferecer um tal ou qual proveito aos con- sócios ou ainda ao publico era gerai. Ora o Cercle dArboriculture de Bel- gique que já o anno passado fez, entre as innumeras variedades de peras, uma selecção de doze variedades que qualifi- cou como excellentes, quer agora fazer o mesmo com seis maças, e portanto sub- mette a questão a exame e debate. Achamos, todavia, bastante vago o thema que se propõe, porque, emquanto a gostos, as opiniões sào diversíssimas, e com sobejo fundamento se costuma dizer que «em côr, gosto e religião, nào ha dis- cussão.» Com as maçãs dá-se pois o mesmo caso. Ha tantas variedades e tão excel- lentes, que a selecção para ser do agrado geral nào se faz com facilidade. No en- tanto vamos apresentar aos leitores d'este jornal as variedades que Mr. Charles iialtet escolheu e que dividiu em seis secções ; a saber : I — As seis melhores maçãs d'estio são as se- guintes : Astrakan rouge : arvore robusta ; bello fructo vermelho de polpa dura. Iio>ie de iiohtme : arvore fértil ; maçã achata- da, de um lino colorido cor de rosa avinhado. BorovUxky : arvore fecunda ; bello fructo es- triado de carinezim. Transparente de Croncels : a mais vigorosa de todas as Macieiras ; lindo fructo de um branco mar- Ihn, nacarado, de polpa tirante a salmão. iiainbuur dele : arvore robusta; fructo gran- de e raiado de vermelho, bom para calda. Gravenslein : arvore rústica ; bello fructo ama- rellauo, estriado de lilás, propagado na Allemanha do iNorte. 11 — As seis melhores maçãs do outomno são : Valville de Danlzick : arvore fértil ; fructo ver- melho ; região do INorte. Heinelle-Poire : fructo grande com estrias ro- sadas. Reineíte Burchardl : maçã achatada, muito grande, de um branco pallido com iilões acasta- uiiados. Grosse Reinette grise d'aulomne : arvore ferti- lissima, bello e bom fiucto para meza e para cozer. iJoux d'argent : arvore ramilicada, bello fru- cto achatado e costeado, de sabor agradável. Hfine deu lieinelles : arvore de notável fecun- didade, fructo assas volumoso ou mediano, viva- mente cstii..do de carmim. 111 — As seis melhores maçãs de inverno são: liclle-fteur : arvore robusta ; bello fructo cos- teado e colorido. Jieinetle de Canada : arvore de bello porte ; uma das melhores maçãs para meza. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 79 Reinette de Cusy : arvore productiva ; bello fructo muito vulgar na Borgonha. Remetle de Caux : notável pelo vigor e ferti- lidade da arvore, assim como pela beiieza, quali- dade e tardio do fructo. fíeinelíe yrise : debaixo d'esta denominação geral reunimos a Reinelle yrise de Canada. lí. yriae dhiver, H. ynse de Champayne e ti. yrise de Diep- pedal. Wagener • arvore fertilissima ; bello fructo co- lorido do lado exposto ao sol. IV — Asseis melhores maçãs de vegetação e floração tardia são as seguintes : Azeroly unise : do grupo dos Fenouillets. Satnt-tieauian : do grupo das Chaluiyners. Courpendu : arvore baixa e ramilicada. Cusset : vulgar no AUier. Bonne de Mai : linda maçã de cor da Api. Daryent : bello fructo, que se conserva muito tempo. V — N'um pomar de arvores altas é impossí- vel que se não possam intercalar alguns indivíduos de haste pouco crescida, quer em vaso, em mon- ta, em p}'ramide, em palma ou em leque. Recommendamos as seis seguintes variedades : Ananás: arvore de grande fertilidade; lindo fructo da forma e da cur do limão e do ananás. Linneous pippin : arvore pyramidal ; fructo elegante pela tua forma oblonga e seu hno colo- rido amarello com mancha cor de rosa. Pippin de Parker : arvoíe fertilissima ; ma- çã bastante grande de epiderme dourada . Api, rose : primor das maçãs de sobremeza. heinetle frunche : fructo pequenino, mas de exquisita qualidade. Calville blanc : rainha das maçãs. Estas duas ultimas variedades teem um in- conveniente : o tronco adoece frequentemente. Pre^5tando-se o terreno, devem-se plantar em haste elevada. VI — A nossa ultima cathegoria compor-se-ha das mastodonles do género, das maçãs de upparato, mais bellas que indi.-pensaveis, assim como os tam- bores-móres, sapadores, ou cem guardas, ainda que não sejam senão para figurar nas ceiemonias e para coser (as maçãs, bem entendido). Eis, pois, a relação das seis maioies maçãs : •Doucine : novidade que acnadurece em agosto. Alexandre : ricamente colorida de carmim. Belle Dubois : arvore vigorosa e fértil, Josephtne : epiderme mais verde; polpa menos descorada. Menagere : de todas a maior. Le Cuntorbery : adquire muitas vezes propor- ções enormes ; epiderme esbranquiçada, e leve- mente costeada. A lista não pôde ser mais appetitosa, como era de esperar, sendo a selecção fei- ta por Mr. Cliarles Baltet, horticultor de Troyes, cavalheiro competentíssimo e que nos merece a maior confiança. Agora o que resta, é... provar. — Uma carta dirigida ao snr. Edmond Goeze pelo snr. José do Canto, da ilha de S. Miguel, annuncia-nos que as Arau- cárias começam a produzir alli sementes fecundas. A primeira Araucária que produziu sementes, nos Açores, foi em 1867; per- tence a Mr. Dubuey, do Fayal, e das se- mentes delia provieram mais de 60 plan- tas. Este anno teve egual fortuna o snr. Jacome, primo do snr. José do Canto. Aquelie cavalheiro, empregando os meios que nos proporcionam as fecundações ar- titiciaes, obteve sementes de uma Araucá- ria Coukii e hoje já possue uma boa porção de plantas nascidas. Com a Araucária ex- celsa empregou o snr. Jacome o mesmo processo e as sementes germinaram bem. — Na occasião em que o snr. José do Canto escrevia ao snr. Goeze, aguardava com summo interesse o resultado de um cacho da Musa ensete que appareceu no mez de julho e que ainda não estava com- pletamente maduro. Fig. 21 — Musa ensete. Os fructos d'esta Bananeira são oblon- gos, quasi pyriformes e só contêem 1 a 4 sementes pretas e são completamente desprovidos de polpa. As sementes têem um invólucro tão duro como o das ave- lãs e no interior d'ellas encontra-se uma substancia farinhenta, mas que todavia, não é, comestível. O snr. José do Canto possue apenas um exemplar d'esta rara Bananeira que se vende, tanto na Bélgica como em In- glaterra, por ura preço elevadíssimo. Aquelie de que nos vimos occupando fgi 80 JO[\NAL DE HOIVnCULTURÀ PIUTICA importado da Argélia, e provavelmente morrerá depois da fructificaySo. Coiuquan- to 8Ó a parte superior do cacho, que tem perto de um metro de comprido, fosse a fecundada, ainda assim esperamos que produza bastantes sementes e talvez que por similhante meio possamos ter mui breve no nosso paiz, representantes d'es- ta espécie, que é sum duvida a mais bel- la do género. ^sta gvíináe Bananeira (fig. 21) queat- tinge mais de 12 metros d'altura, c uma dasplantas mais interes>antes que nos offe- rece a Abyssinia. A parte central e inferior do caule da Musa ensete constituo um alimento diário das Íncolas d'aquclle paiz, aonde ha pouco os inglezes se foram bater sob as ordens de Lord Napier. Dizem os viajantes que esta espécie de legume é muito bom, sendo preparado com leite ou manteiga. Segundo dizMr. Flowden, cônsul bri- tannico em Mussowah, os indigenas cha- rnam-lhe Ansett, e Ensete segimdo Mr. Bruce, que se occupou delia ha mais de um século. A introducçào d'esta planta em In- glaterra deve-se a Mr. Flowden que em I8õ3 mandou algumas sementes para o Jardim Botânico de Kew. Dous pés que •e acham alli na grande estufa das Pal- meiras d'aquelle estabelecimento scienti- fico medem aproximadamente 12 metros. As folhas sào formadas d'um tecido firme e rijo, sào erectas ou levemente pa- tentes. Em Kew mediramse algumas e averiguou-se que só o limbo tinha 5™,50 de comprimento. Tanto em Inglaterra como em Fran- ça costumam plantal-a nos jardins logo que passam os frios austeros e forma uma planta altamente ornamental. Para que se desenvolva com rapidez lanyam no sitio em que a vão plantar uma camada de resí- duos vegetaes. Dando-lhe uma exposição quente, abri- gada dos ventos, e regas copiosas, attin- girá a Musa ensete no curto espaço d'ura anno proporções verdadeiramente gigan- tescas. — Começamos a receber o oJournal dcs Campagues», publicação pariziense. Vê a luz da publicidade uma vez por Bcmana e contem 8 paginas de impressão. Custa por anno 5 francos e no titulo pôde adivinhar-se os assumptos de que tracta — Agricultura e sciencias correlati- vas. — Apresentamos hoje pela primeira vez nas nossas columnas o nome do dis- tincto botânico russo, ]\Ir. P. Wolkens- tein, secretario da Sociedade de Horti- cultura de S. Petersburgo. Mr. Wolkenstein é bem conhecido no mundo scientitico, e portanto é inútil en- carecer os seus escriptos. Desejamos tam- sómente que elle honre as nossas paginas amiudadas vezes. Sabemos que tem uma vida laboriosa e que lhe resta pouco tem- po dispensável, para collaborar era publi- cações estrangeiras, o que é mais uma ra- zão para agradecermos todas as vezes que nos queira mimozear com as producções da sua auctorísada penna. — Fizemos o mez passado a nossa vi- sita annual ao Jardim Botânico de Coim- bra, 6, comquanto fosse um pouco cedo, já haviam muitas plantas que ostentavam as suas flores, merecendo particularmente attenção as numerosas espécies de Acá- cias que possue o jardim, bem como a no- tável família das Proteaceas que tinha al- guns dos representantes com as suas ca- prichosas e bizarras flores abertas. Entre outras poderemos assignalar a Banksia vertiçillata R. Br. oriunda da Austrália. E uma planta que promove o enthu- siasmo e quando S. M. o Imperador do Brazil visitou aquelle estabelecimento, di- gnou-se acceitar uma das suas flores, de- clarando que nunca tinha visto tamanha belleza. Com effeito é assim, mas, como brevemente nos occuparemos d'esta no- tável espécie e a faremos representar por meio da gravura, deixamos para essa oc- casião a descri pção respectiva. É digno de menção o bello Feto que o barão F. von Mueller, de Melbourne, of- fereceu recentemente ao jardim por in- termédio do snr. Ed. Goeze. Keferimo- nos á Todaea africana var. rivularis, que desde que se acha em Coimbra tem des- envolvido algumas centenas de frondes. E de um 65*0110 arrebatador ! Proseguiriamos senão receiassemos que : «Ceei tuera celaw, como diria o auctor dos « Miseráveis». Por conseguinte lança- mos ancora. Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 81 NOVO SYSTEMA DE AQUECER ESTUFAS Não conhecemos entretenimento mais innocente, e ao mesmo tempo mais agra- dável do que a cultura das flores; ella traz comsigo gosos infinitos que compen- sam bem alguns desgostos, a maior parte das vezes originados pelo excessivo appe- tite de plantas delicadas sem o emprego de meios próprios para a sua cultura, e de local que lhes seja favorável. Hoje que o gosto por este passatempo vae tomando proporções consideráveis, e que as plantas tropicaes, a maior parte de flores esquisitas e surprehendentes, vão ganhando terreno todos os dias, é quasi que indispensável aos amadores uma es- tufa, onde só podem gosar a maior ri- queza que a natureza tem produzido. Seria, porém, impossível conservar a necessária e regular temperatura que taes plantas exigem com o aquecimento vul- gar das estufas por meio do calor produ- zido pela casca do carvalho ; esse calor é pouco regular, incerto, e um mcz depois da fermentação, desce consideravelmente, Fig. 22— Novo apparelho para aquecer estufas. Fig. 23 — Novo apparelho para aquecer estufas. e não pode produzir nos dias frios do in- verno o calor de 20, 2õ e 30 graus cen- tígrados que exigem as plantas tropicaes para conservarem a sua belleza, e desen- volverem a vegetação luxuriosa que apre- sentam no seu paiz natal. NaBelgica, França, e Inglaterra, onde a cultura vae um século adeante de nós, o gosto pelas plantas tropicaes tem-se desenvolvido de um modo maravilhoso, e o aquecimento regular das estufas para a sua conservação tem sido objecto de sérios estudos; o meio primitivo que ainda hoje empregam alguns, são forna- 1872-Vol. III lhas coilocadas junto das estufas com um canno de tijolo que as atravessa arga- massado em cal, e termina por uma cham- miné, a qual attrahe a chamma e produz calor bastante intenso, mas carece de ser constanterúente vigiado, e consome dema- siado combustível. Outro meio mais aper- feiçoado que se tem empregado é o thermo' siphon, mecanismo engenhoso que aquece a estufa por meio da agua quente, fazen- do-a atravessar em tubos por diversas di- recções ; é porém necessário convir que estes meios empregados até hoje não tèem produzido resultados satisfactorios, por- íN." 5— Maio JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA que todos elles deixam mais ou menos a desejar, quando nào seja pela regulari- dade do aquecimento, ao menos pelas despezas que occasionam, e cuidados que reclamam. D'aqui vem que muita gente prefere o desistir de estufa, prescindindo do goso das mais bellas flores, a soífrer as consequências dos methodos até hoje usados, todos os quaes necessitam vigi- lância, principalmente de noute, com grave incommodo dos familiares encarregados do seu tractamento. Julgamos pois que os amadores de bellas plantas lerão com interesse algu- mas palavras sobre o novo systema de aquecimento de estufas imaginado por Mr. Bégne (8, rua nova de Santo Agostinho, em Pariz). Este systema faz desappare- cer os inconvenientes dos anteriores, e sobre tudo não carece de vigilância no- cturna, nem importa o alto preço que cus- tavam aquelles ; sendo além d'isso appli- cavel a jardins de inverno, a casas, salas, quartos, e emfim a toda a parte onde ha precisão de augmentar calor. Este systema foi ensaiado com os me- lhores resultados nas estufas de Pariz e obteve a medalha de ouro na exposição regional de Metz. A sua montagem não causa desarranjo algum a qualquer outro systema que es- teja funccionando, nem carece de chami- né, nem de outra alguma obra. Compue-se de uma espécie de grande lanterna (fig. 22) de dous, três, quatro ou cinco bicos, alimentados por óleo de pe- tróleo. Por uma disposição mui engenhosa concentra-se todo o calor, e aquece, em mui curto espaço de tempo, a agua con- tida em pequenos tubos dispostos na es- tufa, ou no logar que se quer aquecer. E n'isto que a invenção de Mr. Bégnedcr- rota completamente o principio em que 86 baseiam os thermosiphons, que consiste em elevar ao calor de 30 ou 40 graus centígrados a agua contida em tubos de 6 a 8 centímetros de diâmetro, em quan- to que no novo systema os tubos são de lõ melimetros e a elevação do calor é de 100 graus. Os tubos, uma vez cheios de agua, não carecem de renovação, nem de serem observados durante um inverno inteiro. O apparelho pode coUocar-se den- tro ou fora da estufa, occupa pouco lo- gar, não precisa de despeza alguma para a sua collocação, e a maior vantagem, sobre tudo, é não carecer de cuidado al- gum depois de acceso, durante desoito ho- ras. O consumo de cada bico custa em Pariz 3 a 4 centésimos por hora. Cada bico é sufficiente para elevar de 15 a 18 graus a temperatura de cincoenta metros cúbicos, de forma que é mais fácil regu- lar o aquecimento, e pôl-o em relação com a temperatura exterior. Mr. A. Fruitier de quem api'Oveitamos esta descripção diz : «que ao primeiro exame deste apparelho, tão pequeno, tão simples, applicado a uma estufa de 30 metros de comprido, medindo 180 metros cúbicos, o deixara um pouco incrédulo sobre a sua efficacia, mas que bem depressa fora forçado a ce- der á evidencia do facto, reconhecendo que o novo systema era mil vezes superior a tudo que existe.» Para pequenas estufas, jardins de in- verno, e quartos, serve-se o auctor, com preferencia, do apparelho em forma de calorifero (fig. 23) — estufa de sala. Este apparelho colloca-se e retira-se, quando convém, não exige gasto algum de mon- tagem, e pode servir alternadamente onde a necessidade o exigir ; é baseado sobre o mesmo principio do anterior. E bem de crer que estes apparelhos venham a ter grande voga em razão das suas vantagens de economia e segurança. CaMILLO AURELLâNO. FABRICAÇÃO DE MANTEIGA Das manteigas nacionaes vendidas ao publico no Porto ou ainda em todo o norte de Portugal, só conhecemos duas fabricas, uma que nos dizem ser na Vista Alegre e outra nas caldas de Vizella, — que mos- tram ser conduzidas com os cuidados te- chnicos precisos. A manteiga é boa e ven- de-se em pequenas porções a fim de che- gar ao maior numero de pretendentes. As mais manteigas são vendidas de- baixo da denominação de «manteigas da terra», e no geral tem uma cor opaca, braa- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 83 ca e leitosa, sendo tão mal preparadas, que para se conservar e até para se fazer im- mediato uso d'ellas é preciso laval-as em repetidas aguas para lhes tirar os corpos estranhos, com especialidade o leite e o sal em demasia. Será pois de grande beneficio para o publico e para os feitores de manteigas que esta industria receba os melhoramen- tos de que carece e de que é susceptivel com mais alguns cuidados e intelligencia na sua fabricação. N'este sentido pois offerecemos algu- mas noções sobre a forma pratica d'este fabrico, com a vénia das pessoas mais il- lustradas sobre este assumpto. A manteiga que existe nos leites é con- tida dentro de uns pequenos glóbulos de tecidos. Estes glóbulos têem menos densidade do que o liquido aquoso do leite e ten- dem a ascender, formando o que nós cha- mamos creme ou nata. Esse tecido que involve a manteiga é destruído por meio da fermentação e se manifesta pelo gosto acidulado do leite. A manteiga, livre do tecido que a in- volve e por meio de uma branda agitação do liquido, agglomera-se e agarra-se á va- silha ou aos agitadores. Com esta explicação technica procede- remos aos processos práticos. O aposento onde se faça a manteiga deve ser muito limpo, livre de maus chei- ros e agasalhado; as vasilhas de que se servirem querem-se muito lavadas. O leite é deitado em taboleiros de zinco com a superfície de meio metro, tendo d altura 3 a 4 centímetros e com o fundo um pouco afunilado e furado no centro para por alli se poder escoar o leite aquoso e deixar no taboleiro o creme ou nata. Expoem-se assim umas grandes superfí- cies de leite ao ar, sujeitando-o á acção chimica que lhe dá por este contacto a cor amarella e a transparência que vemos nas manteigas inglezas e que, erradamente, muitos attribuem ao colorante de ourucu ou a outra qualquer matéria. Os liquides era um aposento tendem a receber em si os maus cheiros ; esta grande exposição de leite ao ar exige, pois, além de uma grande limpeza, que estes aposentos estejam situados em logar onde possam receber ar puro, e que sejam ventilados a fím de se dispersarem as exhallações provenientes da fermentação do leite. Exige-se o agasalho porque nas esta- ções ou climas frios os líquidos gelados não soíFrem decoraposição ; se esta é pois necessária para destruir os tecidos e tor- nar a manteiga livre e adherente, está claro que é preciso agasalho, e quando este não seja sufficiente, convém usar de uma estufa que lhe dê o calor na gradua- ção precisa. Em climas quentes o mesmo agasalho é preciso para diminuir a acção calórica do sol, o qual precipitaria essa fermenta- ção e a manteiga não se solidificaria ao ponto preciso para se í'gglomerar. A falta de limpeza de todas as vasi- lhas empregadas n'este fabrico tenderia a alterar o bom gosto da manteiga. Esta, depois de recolhida em bolo, pre- cisa de ser bem lavada em repetidas aguas até adquirir a transparência indicativa de sua puresa ; é depois salgada com sal refinado, em menor escala, sendo para uso ou consumo no paiz, em maior, send(í pa- ra exportação. A negligencia de deixar o leite aze- dar-se mais que o ponto preciso para se bater e ajuntar a manteiga faz com que esta perca a cor amarella que se obtera com a exposição do leite nos taboleiros. O leite contido em cântaros não pode fazer manteiga senão branca, opaca, por- que apenas tem algumas pollegadas de sn- perficie exposta ao ar, e não produz toda a manteiga que tem em si, por isso que a fermentação não pode ser n'essas vasi- lhas uniforme. As boas manteigas não estão comple- tamente dependentes de um bom fabrico ; concorre como é sabido a boa qualidade de pastos dos animaes, porém a este res- peito não estamos mal servidos com o bom clima que temos para os produzir. Mas por isso mesmo é bem sensível ver o pouco proveito que tiramos dos recursos que te- mos ao nosso alcance. A manteiga e queijo são dous produ- ctos alimentícios que estão sendo importa- dos em grande escala para uso das clas- ses abastadas, por quem são pagos a pre- ços bastante elevados para incitar entre 84 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA nós este fabrico aperfeiçoado. Na falta po- rém de lavradores intelligentes ou desoc- cupados dos cuidados ou trabalhos pessoaes da sua lavoura, podia qualquer, como nos Estados-Unidos, estabelecer-se em um centro de lavoura com este fabrico, e com- prando o leite ou fabricando-o a feitio, auferir hons interesses para si e para os outros. Conhecemos um americano que principiou a fabricar pequenos queijos de quarta, e com tal intelligencia o fez, que é hoje ura estabelecimento millionario, e os lavradores occupam-se exclusivamente a sustentar vaccas que pelo seu leite lhe oíferecem mais vantagens do que outras lavouras. Nos centros porém das cidades, como o Porto e Lisboa, o leite vende-se por preços que não convém fabricar man- teiga ou queijo. A. DE La Rocque. COUVE RÁBANO A Couve, o vegetal dos pobres e dos ricos, foi sempre muito usada desde a mais alta antiguidade até aos nosso dias. Pythagoras elogia as suas virtudes ; Hyppocrates e Catão-o-antigo aconselha- vam-na em grande numero de moléstias, e este ultimo pensa até que foi a ella que sua familia e elle deveram o ser preser- vados da peste. Plinio, o naturalista, no seu livro XX onde tracta d'este vegetal attribue-lhe im- mensas propriedades, entre ellas a de cu- rar a gota. Aristóteles e quasi todos os médicos da antiguidade fazem raençào da Bua singular propriedade de curar a em- briaguez. Spelmann pensa, porém, que esta opi- nião nasceu da ideia, muito acreditada entre os gregos, da pretendida antipathia entre a Videira e a Couve; ideia que as recentes observações agronómicas têem desmentido. Todas estas virtudes, assim exaltadas, estão hoje redusidas quasi que á única propriedade anti-scorbutica. A Couve é muito mais recommendada pelos seus usos económicos do que pelas suas proprieda- des medicinaes. Entre os antigos era olhada como um alimento tão grato como saudável. Na Europa é consumida em grande quantida- de; e no inverno é a base principal do caldo entre os habitantes do campo. O consumo das Couves é muito mais considerável na AUemanha do que em outro qualquer paiz. Para a sua conservação fa- zem-nas passar por um grau de fermenta- ção acida, mettendo-as para esse fim, de- pois de as ter partido em pedaços, dentro de uma pipa, polvilhando-as com sal e aromatizando-as cora seraentes de Fun- cho, de Alcaravia e de Zimbro. Anethum foeniculum Linn. (Funcho) ; Carum carvi Linn. (Alcaravia) e Juniperus communii Linn. (Zimbro). Esta preparação tem em França o nome de Choucroute, (Couve fermentada). A Couve assim preparada toma um gosto acido, e é um soberbo ali- mento, mais fácil de digerir-se do que no seu estado natural e conserva-se por mui- to tempo. A sua virtude anti-scorbutica torna-a um precioso alimento para as viagens de longo curso. Foi ao uso d'ella que o ca- pitão Cook deveu a conservação da sua equipagem na navegação que fez á roda do mundo, durante uma travessia de três ânuos. D'então para cá os inglezes fa- zem sempre grandes provisões para as suas viagens. A Couve no seu estado natural é um alimento de difficil digestão para certas pessoas ; é pouco conveniente para os ve- lhos, pessoas débeis e convalescentes, não acontecendo assim para as pessoas novas e que tenham uma vida laboriosa. O nu- mero das variedades de Couves obtidas pela cultura tem crescido bastante e a sua enumeração seria fastidiosa para os leitores e estenderia muito mais este ar- tigo; por isso absterao-nos por hoje d'essa enumeração reservando-a para outro ar- tigo sobre Couves fiares que tencionamos escrever brevemente. Hoje descreveremos unicamente a Cou- ve Rábano desenhada na figura. Forma a 4.^ raça da espécie da divi- são feita por De Candolle era 1823 e tem o nomo de Brassica oleracea caulo rajpa D. C, e B. Gongyloides Linn. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 85 Differe das outras espécies pela sua haste intumescida acima do collo e perto da origem das folhas ; esta intumescência forma uma bola em forma de pião e muito carnosa. É esta a parte da planta que se aproveita logo que tem chegado aproxi- madamente ao tamanho de um punho. As Couves Rábanos, colhidas depois de attingirem completo desenvolvimento, perdera muito do seu valor ; comtudo bas- tantes cultivadores colhem-nas n'este esta- do, no fim de outubro ou novembro, e guar- dam-nas n'uma loja. Conservam-se assim tão bem como as Batatas e Beterrabas, Fig. 24. — Couve Rábano. ou ainda melhor. Esta planta é também muito estimada pelo gado bovino e suino. As folhas n'esta espécie são perfeitamente glabras e conservam-se mais fracas do que nas outras: a haste é mais delgada junto ao collo e mais espessa na origem das folhas ; este caracter é constante. Deve ser semeada desde maio até ao fim de julho; produz bem, requerendo po- rém terra fresca e exposição ao norte. Comtudo a melhor estação para a semen- teira é no outomno. Assim conserva-se tenra durante o inverno. As melhores variedades d'esta espé- cie são : !.■ A Couve Rábano tommum ou Couve de Sião : tem as folhas planas e não cres- pas nem franjadas. As sub-variedades são: a Couve Rábano branca, violeta e anà têm- pora; esta ultima vem muito depressa. 2.* Couve Rábano crespa: as suas fo- lhas são crespas e é esta variedade que em muitos catálogos traz o nome de pa- vonazza de Nápoles. A. J. DE Oliveira e Silva. HERBARIUM CRYPTOGAMICUM DO PORTO E SEUS ARREDORES () COLLECÇÃO DE CRYPTOGAMICAS Vegetaes sem estamos, sem pistilos e mesmo sem óvulos. Embrião simples ho- mogéneo, ordinariamente visicular. Começarei pelos Fetos e terminarei pelas Algas, alterando a ordem que no herbario segui, por serem aquellas, d'en- tre as Cr yptog arnicas, as mais conhecidas e (1) Vide J. H. P. vol. III, pag. 73. até procuradas hoje, algumas d'ellas, co- mo plantas de ornamento. Acrogenae Vegetaes com eixo e órgãos appendi- culares distinctos ; caule crescendo só pe- la extremidade, sem addição de novas partes nos caules antigos. Eeproducção por sendnulas ou embriões recobertos de um tegumento. Apesar de não terem as JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA primeiras tribus das Hepáticas um eixo e órgãos appendiculares distinctos, mas uma fronde thaloide, sao eomtudo ligadas ás Jungermanias e aos Musgos pelo modo da reproducção. Filices Polypodium vulgare Linn. (Muitos pés). Este Ftto é vu!ga:'issimo e muito abun- dante dentro e fóra do Porto, nos mu- ros dos quintaes, nos vallados, paredes musgosas e em diversas arvores. Encontrei e conservo algumas varie- dades ; como o Polypodio lohado, com as primeiras cinco ou seis pinnulas, co- meçando do peciolo, lobadas para a parte de dentro. O Polypodio recortado, com todas as pinnu.'as recortadas por ambos os lados, sendo mais compridas do que na espécie typo, o que torna a fronde mais larga. Esta variedade é bastante abundante, for- mando grupos. A bella variedade com as pinnulas irregularmente recortadas em forma de crista de gallo, podendo dizer-se crista- da: e finalmente a fronde bipartida, o que não deixa de ser curioso, pela ten- dência que parece mostrarem todos os Fetos para a dichotomia, ou, antes, a bi- partirem-se nas frondes. Se a verdadeira dichotomia não foi achada nos Fetos, ou, se o foi, por Mr. Brongniart, foi somente em alguns rhiso- mas do Polypodio viãgar ; esta não tem importância pelo lado da individualidade : porém, parece dar-se em todos os Fetos e ser isto tendência sua ; pois alguns ha em que as bifurcações se bifurcam ainda, sen- do algumas frondes, duas, três, quatro, cinco e mais vezes bifurcadas, como um Lycopodio. A mesma variedade cristada em alguns géneros, como no Polypodium vidgare, Atlúrium jllix fcumina, Asjn- d'iim Jilix mas, é, julgo cu, ainda a ten- dência a bipartirem-se nas pinnulas. Gymnogramma leptophila Desv. Syn. Grammitis Sw. Polypodium Linn. (Ca- racteres nús). Este pequeno e mimoso Feto é abundantissimo dentro c fora do Porto, por toda a parte cm todas as pa- redes húmidas c musgosas. Cheilanthes fragrans Dcsf. 8ijn. C. Odora Sw. (Lábio flor). Esta delicada planta vivo no Porto, Rio-Tinto, Fanze- res e Aguiar do Souza, aonde é muito abundante nas paredes velhas e nas fen- das dos schistus na encosta dos montes. Encontrei-a ainda nas paredes em minas, a que dão o nome de Castello d'Aguiar e que existem no vértice do monte de forma cónica, perto do rio Souza. Adiantum capillus veneris Linn. (Sem humidade). Em parte nenhuma encontrei este Feto tão bello, com os peciolos tão compridos e negros d'ébano, como em Fan- zeres, nas minas d'agua do Monte-Alto. No meu herbario conservo também o que se encontra no Porto, o qual não dif- fere em nada do que tenho visto de ou- tras partes ; e conservo também alguns exemplares de S. Cosme, que são mais pequenos e acanhados. Pteris aquilina Linn. (Aza). Em to- dos os arredores do Porto; desde os val- les frescos e sombnos até ao mais alto e agreste dos montes. Este Feto sirailhante na robustez á Helix aspersa, vive, como ella, em todos os legares e em todos os terrenos. Notei, porém, que aonde elle veste um verde mais assetinado e eleva mais as frondes, que abre em largas e pandas azas, chegando quasi a metro e meio de altura, tomando o peciolo uma bella cor avermelhada, cambiando depois para o amarello de canna, é nos valles sombrios e frescos, como o encontrei em Fanzeres e S. Pedro da Cova ; sendo então uma das plantas, que, pelo tamanho e belleza do porte, muito agradaria como planta d'ornamento. E na verdade admira-me não p terem educado para isso. A maneira que cresce, exposto ao sol e trepa nas montanhas, vae-se acanhando, tem menos frondes, estas menos pinnu- las, toma uma côr d'um verde sujo e tor- na-se mais pequeno; e n'isto ainda se as- similha á Hoiix aspersa: mas lá sobe até o cume das montanhas. Encontrei-o na serra de Santa Justa e ao longo do alto de toda a escalvada serra do Raio. Conservo também no herbario as fron- des hipartidas de Villa-Nova de Gaya, logar do Candal. Peço licença aos leitores para me des- viar um pouco, deixando as Cryptogami- cas; o para lhes apresentar uma outra JORNAL DE HOllTICULTURA PRATICA 87 planta, que entre muitas curiosas, princi- palmente no Roboredo, pela primeira vez, se offereceu á minha vista. Não é avelludada ou prateada Begó- nia encontrada no nosso paiz ; nem é for- mosa Araucária ou gigantesca Palmeira. É uma pequena planta, já conhecida e que vive no nosso campo ; por isso, não a apresentarei ás pessoas de estudo, nem ás que d'ellajá têem conhecimento : porque, para essas, nada importarão que escrevo; porém, para as pessoas, que, como eu, a não conheciam e que decerto as haverá também, não será estranhavel a surpreza que tive. Nas faldas do Monte-Alto, n'um valle alegre e húmido, aonde corre um regato, que serpêa por entre curta e viçosa relva, aonde se arrasta o Musgo e abundam as Hejpaticas, deparou-me o acaso, esmaltan- do e sobrepujando o avelludado verde, uma como flor purpúrea, aljofarada pelo matutino orvalho. Eram as folhas da pequena planta, grossas, vermelhas, em forma de roseta, cobertas de pellos, na extremidade de ca- da um dos quaes brilhava uma pequeni- na esphera, como gotta d'agua reflectin- do o sol, que lhe batia então. Do centro elevava-se o caule e ás ve- ies dous e três, no cimo do qual a flor se abria, pequena, mas graciosa. A raiz era-lhe sempre banhada pela agua : e viviam aqui e alli, próximas umas d'outras, como um pequeno povo, que para mim era extrangeiro. Atrevi-me a tocar algumas das péro- las que as cobriam e, adherindo ao dedo, se estendiam como fios de prata. Lancei-lhe a mão, arranquei algumas, guardei-as : mas a avermelhada cor tor- nou-se negra, as pérolas desappareceram e a planta murchou e morreu. Conservando de cór os caracteres, que a morte lhe roubara e auxiliado, pelos que ainda lhe ficaram, pude saber que era a Drosera rotundifolia, á qual o nosso Bro- tero, entre os nomes vulgares, chama Or- valhinha: conhecida também, pelo nome de Rossolis ou Rocio do sol. Desculpem os leitores se andei mal, chamando-lhes Coraes da terra, e fazen- do d'ellas miniaturas de plantas africanas como o Aloés, etc. Rossolis Os pui'pureos coraes na terra existem, Margaritidas gottas sustentando ; Nas quaes estrellas mil também assistem, Copias do sol, que alli se está mirando. Os pés lhes lava a limpida corrente, E a cabeça florida, erguendo, avançam : E á mão, que impune profanal-as tente. Argênteos raios, despedindo, lançam. Quem vêr não pode as húmidas paragens De verde musgo, avelludada relva, Que matizam subtis, breves, imagens De rudes plantas, d'africana selva ? ! «Porém, que Nayade, emfim, mimosa brilha, E de perlas o manto, ao sol, semeia ?> Esta é do sol a predilecta filha, Que ao vêl-o chora de saudade cheia. (Continua). A. LusO. DAHLIA ARBÓREA E DAHLIA IMPERIALIS Tanto a Dahlia arbórea como a D. imperialis são plantas que se tornam muito recommendaveis para os nossos jardins. A que mencionamos em primeiro le- gar e que já hoje se encontra á venda nos principaes estabelecimentos do paiz, foi lançada no commercio nos fins de 1869 por MM. Charles Huber & C.'« , de Hyè- res, que a descreveram assim : «Attinge a altura de 2 metros e forma um tufo ra- mificado em grandes folhas verde-escu- ras, côr que muito contrasta com toda a outra folhagem. Mas se a inferioridade do seu porte, comparado com o da Dahlia imperialis, ofí'erece a vantagem de occu- par menos logar n'uma estufa, também tem a de oíferecer menos superfície ao vento, quando esteja ao ar livre. Não é, porém, n'isto que consiste a sua excellencia ; desde o fim de dezem- bro, a planta cobre-se de uma innumera- vel quantidade de flores cor de violeta clara, e embora o thermometro desça a zero, o seu desenvolvimento continua da mesma maneira. Produzir flores com profusão sob uma temperatura tão baixa é certamente uma [qualidade que se encontra raras vezes JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA nas plantas em que todas as partes são moUes e aquosas, e isto seria sufficientc para a aconselhar, embora a floração ti- vesse algum defeito. Mas, como não é as- sim, os amadores verão que a flor, con- siderada em si, é de um colorido admi- rável e de uma forma mui bella. Esta for- ma, de resto, é totalmente nova n'este género e só se poderá comparar a uma gigantesca Anémona.» São estas as próprias palavras de MM. Huber & C.'<^ , as quaes reproduzimos de outro volume d'este jornal. A figura 25 é copiada d'uma estampa chromo-Iitliographada com que nos obse- quiaram os horticultores que lançaram no mercado tão bella planta. Se bem nos re- cordamos, porém, ha quem diga que a plan- ta em questão não o uma novidade : ha mui- tos annos que serviu de adorno nos jaf- CMmTO Fig. 25 — Dahlia arbórea. dlns,mas como outras muitas plantas, tinha desapparecido das culturas para depois de longa ausência reapparecer com a mesma galhardia que a caracterisava «nos tempos que já lá vão.» A Dahlia imperialis Roezl, comquanto seja uma novidade para Portugal, já em 1863 era descripta no «Gartenflora», no- tável publicação allemã. Esta magnifica espécie do género Dahlia é uma das me- lhores introducções do México c deve- mol-a ao celebre viajante Roezl, que man- dou alguns tubérculos d'ella ao Jardim Botânico de Zurich nos fins de maio de 1862. O caule attinge 1 a 2 metros de al- tura; comtudo se ligarmos credito a uma noticiasinha publicada na «Belgique Hor- ticole» sobre um exemplar que MMr. Hu- ber á C.'" cultivaram ao ar livre no seu es- tabelecimento, ficaremos sabendo que po- demos ter a D. imperialis com 4°, 50 de altura. O tubérculo d'este exemplar, a que, com justo titulo, se lhe pôde chamar monstro, foi plantado em maio de 1866 e em novembro do mesmo anno tinha apre- sentado o caule da altura supradita. A folhagem é graciosa e recortada com uma certa elegância, e as flores, que são grandes, recordam-nos as da Açuceiía hranca. As do centro são amarellas. O in- vólucro compoe-sc de 5 segmentos exte- riores, ovacs-arredondados e de 8 inte- riores transparentes. A elegância do porte da planta e a sua abundante florescência são predica- dos sufficicntes para que se torne desne* cessario qualquer encarecimento. Oliveira JunioBi JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 89 INCISÃO AraULAR DA VINHA INCISÃO ANNULAR DO SARMENTO A incisão annular é aquella operação, por meio da qual se extrahe ura anneide casca n'um ramo qualquer. Por casca en- tendemos toda a espessura da camada cor- tical sem chegar o oíiender o alburuo. D'este corte resulta uma perturbação na vegetação normal do individuo e uma tendência plethorica. A parte situada su- periormente á incisão atfrouxa o cresci- mento em extensão, augmentando momen- taneamente o crescimento em diâmetro. A solução de continuidade não deve ser muito extensa; convém que o bordo- sinho de camhium produzido pela seiva descendente alcance o lábio interior, para que a ferida cicatrize antes do lim do anno. Uma largura de O^^jUOl ou O^^jOOiá basta para a vinha. Esta cicatrização da ferida não é de absoluta necessidade. Ha exemplos de Vi- deiras, Pereiras e Macieiras, em que a falta de cicatrização não impediu o ramo de viver e fructiticar, durante muitos annos, apesar de perder, é verdade, a sua pri- mitiva rusticidade. Se o ramo que soífre a incisão tiver gomos fructiíeros, e se o corte da casca se eíiectuar durante a floração do arbus- to, sobretudo na phase inicial d'esse pe- ríodo, o fructo collocado por cima da sec- ção annular ligará melhor os nós, isto é, derramará menos : o seu volume será superior, o colorido vigorosamente accen- tuado e a maduração precoce. iSe, pelo contrario, a operação esperasse pelo desa- brochar das flores, a influencia da inci- são no derramamento seria nulla, ou, quando muito, obter-se-hia um pequeno adeantamento na maduração do íructo. Apesar das suas vantagens, a incisão annular apresenta inconvenientes, do que resulta ter partidários e detractores. Acre- ditamos todavia que se pode adoptar o meio termo e considerar a operação do annel como um auxiliar de viticultura, dadas certas condições. A agricultura não admitte princípios absolutos. Ha systemas que são excellen- tes em certos climas e que apresentam defeitos em outros. Não oflerece a vinha uma variedade infinita de methodos de plantação, de poda, etc, cada um dos quaes tem defensores e adversários? Em consequência d'uma observação attenta dos factos e dos resultados, pode- se dizer que, na vinha, a incisão tem mais efficacia : 1.° — N'ura paiz frio durante a prima- vera, de temperatura desegual no estio e nevoento no outomno ; 2.° — N'um clima rigoroso, húmido, tar- dio ; 3.° — N'um solo rico, de vegetação abundante ; 4.** — Onde se produzem cepas vigo- rosas, robustas ou produzindo uvas de maduração^^ tardia, ou sujeitas ao derra- mamento; 5.°— N'uma vinha de varas compri- das, mais que n'outra submettida exclu- sivamente á poda curta. kSão más condições, para applicar-se a incisão, a secura excessiva, um terre- no pobre, uma vinha doente, uma cepa rachitica e uma vara fraca. Mais adeante provaremos que n'uma cepa se pode substituir o annel cortical por um simples corte circular na camada cortical. Debaixo do ponto de vista theo- rico, haverá menos perturbação na eco- nomia do vegetal, tornando, sob o ponto de vista pratico, mais fácil o trabalho. Operar-se-hia então a incisão simples e circular em vez da incisão dujpla e an- nular. Theoria da incisão. — Em primeiro lo- gar perguntar-se-ha até que ponto o prin- cipio vital da planta pode admittir a ope- ração do annel'? Procuramos responder. Nos vegetaes, a circulação do fluido nutritivo estabeiece-se por meio d'uma dupla corrente conhecida pelos nomes de seiva bruta ou ascendente e de seiva ela- borada ou descendente. O liquido eleva-se pelos vasos e cellulas da arvore e vem elaborar- se nas folhas, nos fructos e nas 90 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA outras partes verdes, deixando evaporar a af^ua que contém em excesso. A seiva, assim modificada, purificada e rcaquecida pelos agentes atmosphericos, desce pelo Bvsteraa cortical, entre a casca e o albur- no, sob a forma de libras radiculares ou de cambium e dirige-sc para as raizes, cnjo desenvolvimento vae favorecer. O movimento da seiva continua assim durante todo o periodo da vegetação. ISe um obstáculo, como a suppressào d'um pedaço de casca arrancado circu- larmente do caule, vier, pois, impedir o curso da seiva ascendente, o fructo terá me- nos porção dessa seiva a transformar em liquido assucarado e mais depressa entra- rá na sua phase de maduraçào. Em pre- sença d'esta sccçào annular, é para te- mer que a planta deixe de receber no seu systema radicular os suecos nutriti- vos que lhe pcrmittem haurir do solo os elementos da seiva ascendente. Desde en- tão, desappareceriam as relações intimas entre o apparelho aéreo e o apparelho subterrâneo ; o equilibrio da força vegetati- va nào tardaria a romper-se e o arbusto acabaria por desfallecer, tanto mais quan- to a incisão se renovasse de modo abso- luto todos os annos. Supponhamos todavia: 1.° que, era logar de fazer-se a incisão completa no tronco da arvore, se fazia n'um ramo, de modo que ficassem outros intactos para absorver e transmittir ás raizes a seiva elaborada pelas folhas : 2.° que se esco- lhia para victima (e dizemos victima por- que todo o ramo que soífre incisão é ramo sacrificado) um ramo inútil, um ramo que deve sor supprimido depois de um anno de vegetação atrophiada : 3." que, em lo- gar de tirar ura annel de casca, nos limitávamos a cortar as camadas corticaes por meio d'uma incisão simples, d'uma lenda peripherica, sem arrancar a me- nor parcella... íSupposto tudo isto, não se respeitariam as leis da natureza, sem dei- xar de procurar o beneficio da incisão V Mais que qualquer outro vegetal, a Videira prcsta-se perfeitamente a esta com- binação. Em primeiro logar, porque a seiva é abundante, attrahida por basta folhagem c encontrando canaes lenhosos em grande numero c de grande calibre. £hn secundo logar, porque a maioria dos systemas de poda se firma n'um dado sim- plicissimo — fazer poda longa n'uma vara para colher o fructo, com a condição de na mesma cepa podar curto era outra va- ra, que ha- de substituir a priraeira na poda seguinte. Por outro lado a estructu- ra dos tecidos da Vidnra, privados por as- sim dizer de liber e de camadas corticaes, admitte a incisão simples e circular, da mesma maneira que a incisão dupla e an- nular. Tem-se fallado da torção da vara com- prida, da estrangulaçâo, da perfuração ; mas o seu effeito é menos enérgico que a operação do annel. Estes obstáculos ao curso da seiva excitam ainda o desenvol- vimento dos gomos de substituição que se deixaram no pol legar da Videira, e a incisão simples não provoca nem a ple- thora nem a queda prematura das folhas além da incisão, tanto como o descasca- mento annular. O nosso raciocínio leva a dizer-se que a incisão seria mais proveitosa a uma vinha de poda longa do que a uma vinha sujeita á poda curta. Faremos ainda uma observação. Em 1856, Mr. Hardy, o venerando jardineiro era chefe do Luxemburgo, em Pariz, nos declarava no congresso pomologico de Lyão, que, para o não abortamento da Chasselas gros coulard, bastava enxertar o planta em si mesma ou em outras ce- pas. Não ha motivo para suppor que o ponto da soldadura do -enxerto, formanda uma espécie de rebordo, representa o pa- pel de filtro da seiva, á maneira d^ inci- são simples ? Está provado que o rebor* do do enxerto não é estranho á fructifi- cação relativamente superior da Pereira enxertada sobre o Marmeleiro bravo. Pratica da incisão. — Na origem da incisão, servia a navalha, a fouce ou aa tesouras para cortar a casca ; operava- sc também por meio da estrangulaçâo com o auxilio d'um corpo duro. Mais tar- de as pinças de laminas dúplices, fixai ou moveis, separadas por um intervallo d'alguns milbmetros para cortar uma lamina transversal de casca de largura equivalente. Este utensílio que recebeu diversos nomes, entre elles o de incisor, é indispensável para praticar a incisão dupla ou annular. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 91 Quando a vinha se presta para a in- cisão simples ou circular, podemo-nos con- tentar cora uma pinça de laminas simples, como tesouras de costura, levemente tem- peradas em aço, chanfradas no ponto de contacto. O instrumento chamado tesoura- incisor faz o trabalho mais rápido e custa dez vezes mais barato. A tesoura-incisor foi aperfeiçoada em Beaune em 1869, por MM. Jules Ri- caud, viticultor aprimorado, Joseph Ga- gnerot, propagador do enxerto de escudo na vinha, e Refroigney, fabricante. Este instrumento é de tal forma disposto que a lamina mastiga, por assim dizer, a casca para retardar a cicatrisação e não penetra profundamente. A época mais favorável para se ope- rar é durante a floração da vinha, e me- lhor no principio que no fim. E' mais effi- caz a incisão debaixo d'um cacho que prin- cipia a desabrochar, de que n'um que já esteja limpo. O fluido circumscripto tar- diamente poderia ainda secundar a ma- duração do fructo e prevenir a atrophia das uvas apertadas, susceptiveis de serem assoberbadas por uma vegetação foliacea excessiva, proveniente de chuvas abun- dantes e continuas. Pratica-se a incisão logo por debaixo do cacho : se a fizéssemos por cima pro- duziria ura eífeito diametralmente opposto. Uma pequena experiência nos ajudará a demonstração. Fazei a incisão entre dous cachos, o superior á cortadura estará ver- melho e maduro, em quanto que o outro ficará chupado. Deve-se ter cuidado em não operar o ramo destinado a continuar o esqueleto da cepa, e não ferir a base do sarmento, que se conservará sob a forma de pollegar para a poda subsequente. Segundo a constituição anatómica da vinha, opera-se com resultado egual tanto ii'um ramo de dous annos com muitos pâmpanos, como n'um rebento herbáceo, abaixo dos cachos que se querem favorecer. N'uma vara guarnecida de ramos fructifi- cantes, uraa só incisão praticada na base obra sobre todos os ramos collocados acima d'ella. Repetiremos ainda que este ramo será supprimido na poda, e não entra no esqueleto da cepa. Portanto, se conservarmos uma longa haste, arqueada, dobrada, inclinada ou levantada, bastará praticar a incisão na parte lenhosa por baixo do ajuntamento do empaste dos rebentos que têem fru- ctos, e por cima dos rebentos que se devem conservar no anno seguinte para formar o futui^o pollegar de substituição e o futuro ramo de fructo. Comprehender-se-ha quanto é inútil fa- zer a incisão nos ramos estéreis. Compre- hender-se-ha também que se pode dupli- car o efieito de annelação n'uma cepa fér- til, cortando os rebentos herbáceos fructi- ficantes d'um ramo comprido, já cortado na base. E" questão de tempo. A incisão n''um rarao herbáceo faz-se mais vagarosamente, porque não só os te- cidos ainda tenros reclamam attenção de- licada da parte do operador, mas porque, n'esta estação, os ramos herbáceos são mais numerosos n'uma cepa que os ramos lenhosos. Quando se não cortam todos ao mesmo tempo, pode-se começar operan- do o velho ramo, acabando pelos rebentos. Se o ramo herbáceo não houver de ser supprimido na poda, será melhor cortar no ramo lenhoso, abaixo do seu empasta- mento. A experiência tem demonstrado que a annelação compromette menos o fu- turo d'ura rarao lenhoso que o d'um re- bento herbáceo. Para operar sustenta-se o instrumento com uma só mão, em quanto que a outra segura o ramo que se quer incidir. Em seguida, prendendo-se o ramo entre as laminas, imprime-se ao instrumento um movimento giratório, alternativo, da di- reita para a esquerda, representando o ramo o eixo de rotação, de tal sorte que o corte da casca seja regular na circum- ferencia do ramo. Como a casca da vinha se confunde por assim dizer com o al- burno no estado parenchyraatoso, não se deve fazer muita força no instrumento, porque o ramo cahiria. Além d'isso, uma estacagem preliminar não será supérflua para assegurar a solidez dos ramos. A pinça dupla precisa que se limpem as laminas e que se desobstrua a casca que se junta. A tesoura ou acisalha sim- ples não precisam tantos cuidados. O pratico experimentado sabe aggra- var a ferida cora o instrumento por um imperceptível estremecer da mão, (jue sus» 92 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA tenta a pinça, a não ser que empregue o incisor cm lúrma de serra. A vinha, que houver de ser destruida depois da vindima, pode, sem inconve- niente ser incidida em todos os ramos de fructo, novos ou velhos, herbáceos ou le- nhilicados. róde-se incidir sem receio o ramo des- tinado á mergulhia: a secção transversa facilitará a emissão das raizes no i-amo estendido na terra. Em qualquer estado de cousas, qual- quer mutilação violenta n'uma planta sof- fredora, fatigada, débil, n'um ramo estio- lado, seria mais perniciosa que profí- cuo sa. A muo d'obra é insignificante em ra- zão dos resultados que se hão de obter. Antigamente eram precisos quinze dias para mal incidir um hectare com uma fouce. Hoje, com os apparelhos especiaes, bastam quatro dias e o trabalho é bem feito. («Journ. cl'Agric. Pratique»). Charles Baltet^ Presidente da Sociedade horlicob, Tinha- tcira e llorestal do Aube. BALDIOS (') Muito aproveitam ao desenvolvimento material de qualquer paiz as florestas. As madeiras, as lenhas, o carvão, o com- bustível, são indispensáveis aos usos da vida humana. A America não teria sido talvez colo- nisada sem a abundância e barateza da madeira, e até a Kussia muito deve do seu desenvolvimento a esta circumstancia. A causa mais directa do atrazo da coloni- sação da Africa procede da falta de pão e d'agua, que escasseiam n'esta região. O estado, plantando florestas em terrenos que não podem ter outro apro> eitamento, serviria bem o paiz: e por íim poderia vender muitas mattas desnecessárias ao domínio nacional, o que seria uma boa fonte de receita; e á imitação do gover- no muitos cidadãos arborizariam parcel- las de terras e de colinas, de que são pro- prietários. — Os terrenos occupados por florestas não são tão rendosos como os empregados em outras culturas ; mas são tão necessários como os que mais caroa- veis se prestam á cultura dos prados, e cereaea e á producção de subsistências de maior valOr. Ha hoje entre nós immensos tractos de terreno, cuja utilidade a ninguém apro- veita, e cuja propriedade ninguém dispu- ta, que pedem o auxilio da silvicultura. Kclcva que o estado e as camarás mu- nicipaes trabalhem com aflinco na grande obra da arborisação dos baldios, porque (1) Vide J. II. I'. vol. Ill, pag. 63. da empreza de companhias pouco ou nada ha a esperar : estas pretendem quasi sem- pre obter lucros ou dividendos vantajo- sos, o que as florestas não dão. Dcem-se os plainos, os chãos, as ol- gas ás companhias, que não querendo os montes, tentarem a cultura do solo ; e o estado e as camarás raunícipaes reservem para si a maior parte dos montes, as agru- ras, as serras ; e sejam estes os protecto- res das várzeas. A arborisação não é obra tão dispen- diosa que exceda as forças pecuniárias do estado e das camarás uninicipaes. As plantações e sementeiras não são custo- sas ; mas importa maior despeza a guar- da contra os anímaes damninhos, e con- tra o gosto vandalico dos nossos campo- nezes, que sacriticam qualquer arvore ao mais miserável capricho, c ao mais mes- quinho interesse. Os soldados, os canto- neiros, os guardas das alfandegas, os guardas ruraes, podiam em muitos pon- tos, sem accresciíuo de despeza, vigiar a guarda das mattas : o tambcm uma legis- lação severa a este respeito impediria muito malefício : e um código florestal é uma das necessidades urgentes que temos. Na nossa legislação antiga ha uma lei altamente salutar, que bellissimos resul- tados deu para a arborisação do paiz. Quando em um dia de fastidioso jor- nadear por entre ermos e asperezas de- paramos com uma matta de frondosos CastcDiheiros, que nos abrigam com a sua sombra, ou vemos pendidos nas encostas JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 93 da Serra dous ou três Sovereiros, velhas testimunhas de outros tempos, vegetando no seio da solidão e longe de povoado, lembra-nos a celebre phrase, que Addi- son repetia sempre que via uma planta- tação : — Um homem útil passou alli. Podemos dizer o mesmo da veneran- da disposição daordenaçãodaO.L.1.4, tit. 58, § 46, e 1. 46, § 26, que impunha aos vereadores e corregedores a obrigação de fazer semear, e crear, nos baldios e lega- res próprios, pinhaes e outras arvores fructiferas ou infructiferas, e de constran- ger os moradores a que as plantassem. O cumprimento á risca d'estas leis com as resoluções e provisões que poste- riormente se fizeram, bastaria para ter mudado a economia rural do nosso paiz. Infelizmente foi pouco executada tão sabia disposição ! Resuscital-a, sob forma adequada ás presentes circumstancias e ás actuaes ins- tituições, seria grande bem para a cultu- ra do paiz. A nossa agricultura não tem auferido os preciosos fructos, que se podem colher da sciencia da estatística pela imperfeição com que nas suas operações entre nós se tem submettido a investigações adminis- trativas e agrícolas phenomenos dignos de serem estudados pelo legislador, e cuja publicação a todos interessa. A ignorância popular é grande estor- vo para a implantação da estatística ou da expressão dos factos sociaes traduzi- dos em números ; porque em qualquer in- vestigação estatística o povo afigura-se ver sempre as garras do fisco afiadas para prear. Diz a nossa estatística que ha no con- tinente do reino cerca de 5 milhões de hectares de terreno incultos. — Se houves- se plantados em cada hectare por termo médio e (cousa não impossível) 20 arvores — Eucalyptus, Amoreiras, Castanheiros, Sovereiros, Oliveiras, ou outras consoan- te a natureza do solo — haveria nos 5 mi- lhões de hectares de terrenos incultos, 100 milhões de arvores, que poderia ter de valor cada uma pela media 4:500 reis no fim de dez annos ; e valeria então esta arborisação cem milhões de libras ou 450 mil contos de reis ; que é a metade da enorme contribuição de guerra, que a França está pagando á Allemanha, e é o quadrupulo da nossa divida publica. Cada hectare de terreno cultivado em Portugal não pode em termo médio ter valor inferior a 100:000 reis; e menos não o tem hoje. Cinco milhões de hecta- res cultivados valerão consequentemente 500 mil contos além do valor em silvi- cultura de 450 mil contos: o que tudo prefaz o valor total de novecentos e cin- coenta mil contos ; que rendendo pela mé- dia a 4 por '^/o dá o producto de 38:000 contos ou 7:600 reis por hectare. E cer- tamente a média da renda do hectare em solo portuguez não pode ser inferior a 7:600 reis, pois que em França a média é muito superior, e até na Irlanda, na baixa Escossia, e no paiz de Galles. Deduzida da renda de 38:000 contos de reis a decima parte para o imposto, fica a somma de 3:800 contos que deve aproveitar ao thesouro publico; ora 3:800 contos é o juro a 6 por °/o do capital de cerca de 64 mil contos. O augmento na cultura, no fim de 10 annos, accresceria notavelmente a produ- cção, e abasteceria o thesouro, permittin- do-lhe satisfazer seus encargos, sem one- rar o contribuinte com uma nova serie de impostos. A arborisação seria a vara magica, que faria brotar da actual infertilidade das nossas serras um manancial de rique- za. A cultura do solo necessariamente desenvolveria as artes, a industria e o commercio, que como irmãos congéneres se ajudara mutuamente: e pelo augmen- to da massa collectavel, com a opulência do thesouro se emprehenderiam obras de grande iniciativa, que a nossa pobreza actual nos inhibe de tentar, como a cana- lisação dos nossos grandes rios Douro e Tejo, o melhoramento dos portos — o des- secamento dos pântanos — canaes de irri- gação para as nossas campinas — explora- ção de muitas minas, que hoje jazem abandonadas pelas difficuldades da via- ção, e pela falta de combustível, como, entre outros, acontece no districto de Bra- gança : e em summa milhares de commet- timentos exigidos pelas necessidades da civílisação para domar a natureza, que, escrava obediente e dócil, recompensará o labor do homem ; e se estancarão fontes 94 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA de miséria, com o augmento do bem-estar da naçuo, dando-se trabalho com bons sa- lários no solo pátrio, de que se pôde ex trahir incalculáveis riquezas, aos desdi- tosos que emigram para a America. A conserva^-ào dos baldios tem sem- pre merecido especial protecção de nos- sas leis ; que permittiam o aforamento com muitas restricçues, c no caso abso- luto de nào serem necessários ás povoa- ç5e8. (Alvará de 11 dabril de 1815, § 4." e Alvará de 2G de outubro de 174Õ, e 23 de julho de 17GG, § 3.°, em que se exige também o arbitramento do foro por louvados, bem como a hasta publica para poderem ser aforados os terrenos baldios, com confirmaçào do aforamento pelo con- selho de districto, art. 8.°, 9.° do código administrativo e D. C. E. de 19 de maio de 1851.) E segundo o espirito das leis citadas e da O. 1. 4, t. 43, § 12, só podem ser reduzidos á cultura os baldios de logradouro commum, quando não re- sulte prejuizo pai*a os pastos de gados e para lenhas. O código administrativo no art. 311, pennitte no entanto a cultura dos baldios aos visinhos, creando-se um rendimento para a parochia. Nunca se admiitiu na nossa legislação a partilha gratuita dos baldios entre os moradores dos municí- pios, e nem a divisão dos pastos communs ; e, sob-color de beneficiar os pobres, tem- se causado grande damno á agricultura nacional. O nosso código civil imbuido dos sãos princípios de economia politica modificou tanto o antigo direito dos pastos communs, que quasi os aboliu, (Cod. Civil Portu- guez, art. 2:264, 2:265, 2:266.) Na Ingla- terra, na Allemanha, e em França, já se aboliram os pastos communs, que são causa de atrazo da agricultura, e despo- voam os paizes onde existem. Muito seria para desejar, que a nossa legislação administrativa abolisse os pas- tos communs dos municípios e das paro- chias. As providencias adoptadas nas nos- sas leis sobre os baldios demandam intei- ra e radical revisão, para se dar legitima satisfação aos interesses do paiz, e para se remediar no mais curto prazo de tem- po o atraso que a cultura soflre com o es- tado actual. Os baldios deverão continuar a ser administrados pelas camarás municipaes e pelas juntas de parochia? Deverão ser repartidos e divididos gratuitamente pelos visinhos, com a obri- gação de estes os cultivarem? Deverão ser aforados na forma das nossas leis ? Deverão ser vendidos em hasta pu- blica ? Deverão ser cultivados por conta do estado? Deverão ser cultivados pelas camarás municipaes ? São estas, entre outras, as principaes questões que os baldios levantam. Pouco deve influir na cultura do solo a lei de 28 d'agosto de 1869, que tornou extensiva a desamortisação aos terrenos baldios ; mas com tudo exceptuou os ter- renos necessários de logradouro commum dos povos municipaes e parochiaes. Ahi também se permitte a desamortisação por meio da venda ou por aforamento : e con- firmando uma antiga disposição, dispensa de irem á praça os baldios de que os mo- radores visinhos requeiram a divisão ; porque então a repartição do terreno e a quantidade do foro serão reguladas por louvados. A emphyteuse simplificada pelo códi- go civil, quasi como uma venda com uma renda perpetua, não abre tanta margem a graves empecilhos, a enredadas ques- tões, e a tanto desassocego das famílias, como os que a anterior legislação origina- va. Não é todavia hoje a emphyteuse a melhor forma de determinar a conserva- ção e transmissão da propriedade entre mãos particulares. A emphyteuse fez grandes serviços á cultura do paiz, sobre tudo na edade me- dia; e se então era necessária, hoje tal- vez seja dispensável: e se é de dever respeital-a nos direitos adquiridos, no que está instituído, não é injusto comtudo evi- tar a sua propagação e desenvolvimento ; porque a emphyteuse, apesar de modifi- cada no nosso código civil, tem resaibos de feudalismo. Preferiremos actualmente no nosso paiz em relação aos baldios o contracto de com- pra e venda á emphyteuse, porque se não abundam, também não escasseiam os ca-* JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 95 pitaes. Melhor é a venda de muitos terre- nos incultos do que o aforamento, já por- que o estado recebe immediatamente maio- res quantias, como também não se onera a geração futura com ura encargo para a familia dos foreiros e com inextricáveis processos. A renda é proveniente das forças na- turaes do solo ajudadas pelos serviços co- operativos do homem ; e parece ser de ri- gorosa justiça o estado vender antes os terrenos incultos, do que aproveitar-se por meio do aforamento d'uma porção de ren- da perpetua, que serviria ao comprador, que em não poucas occasiões regará a ter- ra eom o suor do seu trabalho ; porque na renda da terra coopera com o trabalho do homem a liberalidade da providencia. A mesma razão se dá com as cama- rás municipaes, e com as juntas de paro- chia. Infelizmente poucas são as camarás municipaes, que tenham comprehendido os benefícios do «self-government». Se n'ellas predominasse maior iniciativa, mui- tos baldios estariam arborisados. A cultura é uma industria applicada á terra, que demanda muitos cuidados, gé- nio especial, divisão de trabalho, e o in- citamento do interesse próprio. Nenhuma d'estas condições actua so- bre as camarás municipaes ; que por tanto não podem nem devem ser cultivadoras, e por isso a administração dos baldios, além do encargo para os raunicipios, é pe- nosa tarefa para as camarás municipaes, e, senão impossível, é ao menos improfí- cua. Com as juntas de parochia surgem os mesmos inconvenientes aggravados pelos empecilhos que preconceitos, necessida- des, interesses mútuos criam entre os vi- sinhos da parochia e os vogaes da junta. Interessa á sociedade que nem as ca- marás municipaes nem as juntas de pa- rochia continuem a administrar a enorme porção que ha de baldios e a experiência de longos annos tem provado o nenhum proveito, que nem os munícipes nem os parochianos têem tirado da administração d'estes corpos collectivos. Murça. Basílio C. de A. Sampaio. (Continua.) CHRONICA Chega a iresca. a viçosa pn Reverdescem os bosques, brotam flores. Georg. Port. Estamos em plena primavera e lá se vae o mau tempo que perseguiu por tão longo período o laborioso horticultor. Que ella chegou não ha duvida; as arvores o dizem. A seiva circula no ramo que já nos parecia para sempre sem vida, • as myriadas de gomos que ainda sur- gem diariamente trazem comsigo a ale- gria, o desejo de gosarmos eternamente bellos dias, para assim contemplar os ar- rebatadores quadros da natureza. Não é só o abastado que sáuda a pri- mavera ; o pobre e até o entrevado rejubi- lam-se quando vêem penetrar pela fresta da janella do seu rústico albergue um raio bemfazejo do sol que atravessou a densa folhagem do arvoredo para annunciar-lhes que chegou a segunda estação do anno. E' que este sol de Deus é a melhor ca- pa do pobre e a alegria do sem-ventura. Oh primavera ! Tu percorres os cam- pos disparzindo a flux os teus mimos e riquezas ! Por onde passas semeias flores e levas comtigo a fecundidade até ao cu- me dos montes. Olha como os campos sorriem ! Como respiramos hoje um ar puro e tranquillo, e como somos felizes! Quando a alma se enleva nos praze- res campestres não pode deixar de sen- tir-se uma agradável melancolia que pa- rece transportal-a em vaporosos effluvios para ignotas regiões encantadas. A primavera ! Como é bella a sua gri- nalda de flores variegadas entre as quaes sobresahe a decantada rosa que, enru- bescendo de pejo, esconde o rosto entre a folhagem, e, emquanto o rubro botão não desabrocha, parece lembrar-nos uma formosa donzella que vae deixar cahir dos seus lábios o primeiro osculo sobre a fronte do eleito do seu coração. Saudemos pois a primavera que tSo risonha e donosa se apresenta [ 96 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Temo3 sobre a nossa banca de tra- balho duas brochuras de Mr. G. Delche- valerie com os sejíuintes titulos : «Flore exotiquo du Jardin d'acclimatation de Ghczireh et des domaines de S. A. Le Khédiveo e «Notice sur le Bambou gi- gantesque de Tlnde et de la Chine». A primeira, como o seu titulo o indica, ó um estudo sobre as plantas que toem sido introduzidas no Cairo (Egypto), quer úteis, quer de ornamento, e que já se acham aclimadas. O seu auctor também se occupa n'es- te interessante livro da historia da jardi- nagem e da agricultura dos egypcios na antiguidade^ bem como do desenvolvi- mento que em nossos dias toem tomado estes dous ramos. Na segunda brochura descreve-nos o auctor a Bamhusa indica gigantea, ulti- mamente introduzida e aclimada no Egy- pto. Na índia cresce esta planta com tal rapidez, que os horticultores fraucezes po- deriam dizer sem hyperbole: « On voit pousser ses tiges». Com effeito, o cresci- mento é tal que no jardim de Ghczireh viu Mr. Delchevalerie hastes d'esta Bam- lusa alongarem-se 25 centimetros no cur- to espaço de uma noute. Os rebentos que sahera da terra du- rante o verão attingem em poucos dias a Bua altura natural, que é de 20 metros no Egypto ; porém tanto na índia como na China adquire para cima de 2õ. Esta espécie foi admirada por S. M. D. Pedro II, por occasiào da sua visita ao Cairo, no verão do anno passado. Sua Magestade viu-a no jardim de Ghózireh e pediu a S. A. o Khédiva alguns exem- plares para o Brazil. E' mui provável que se possa aclimar no nosso paiz, e diligenciaremos por obter alguns exemplares d'esta formosa espé- cie. A Mr. Ch. Delchevalerie agradecemos mui cordealmente o seu espontâneo offe- recimento, oficreciraento que tende a ir- manar 03 homens que se dedicam á hor- ticultura e a concentrar no mesmo foco todos 03 raios da sciencia que tanto tem prestado á humanidade. — Uma noticia que os leitores devem ler com agrado ú a da florescência do Li- Hum auratum. (Açucena dourada) com uma certa abundância em Portugal, caso para nós ainda novo. De Bragança, onde os frios são mais severos do que no littoral e no sul do paiz, escreveu ha dias o snr. Emygdio Ravarro as seguintes linhas que encerram a feliz nova : .... Lembro-me de ver o Liliitm a^iratum cui- dadosamcnte tiactado na estufa do Jardim Botâni- co de Coimbra. Aqui ha alguns exemplares, filhos de um que veio. segundo pen>o, do estabelecimen- to do snr. José M. Loureiro, e são cultivados, ou antes abandonados, ao ar livre sem prejuízo das plantas. Como já tenho dito a V., a temperatura aqui, nas noutes de geada de dezembro e janeiro, chega algumas vezes a 6' e até 8" centígrados abai- xo de zero ; e deve notar-se que não se levantara da terra os bolbos. Como é pois que em Coimbra julgam necessários os cuidados de estufa para o tractamento do Lilimn auratum? O exemplar d'este Lilium possuído pelo snr. Paulo Ferreira. d'esta cidade, apresentou no segun- do anno 19 flores. E' eíFectivaraente este o primeiro Li- lium auratum que produz tal numero de flores em Portugal, e attendendo-se a que foi abandonado e que nenhuns cuidados se lhe prestou, não nos admirará se po- dermos registrar ainda n'estas columnas uma florescência de 200 ou 300 flores á maneira d'aquelles exemplares que appa- recem nas exposições de Inglaterra e da França. Não deve causar-nos sui'preza que cer- tas plantas do ar livre sejam cultivadas em estufa, não porque precisem de calor artificial, mas para estarem mais próxi- mas dos nossos cuidados e vigilias. Eis de certo a razão porque estava o Lilium auratum na estufa de Jardim Botaaico de Coimbra. A Açucena dourada é uma espécie ja- poneza, e portanto é bera natural que ve- gete bem em plena terra, no clima do aben- çoado Portugal. Quando a cultivavam na estufa do Jardim Botânico do Coimbra, custava ain- da 2:000 a 3:000 reis e hoje já se pôde comprar aqui por 1:000 reis. — Depois de alguns mezes de soffri- mento, falleceu nos últimos dias de mar- ço o snr. Adolpho Gustavo Ferreira Bra- ga, cavalheiro dotado de excellentes qua- lidades e muito dedicado á cultura das Roseiras, possuindo uma das melhores collccçues d'csta cidade. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 97 Tinha o snr. Adolpho Braga ura ta- lento especial para a confecção de hoiL- quets, ccmo o provou nas diversas expo- sições do Porto. Valia-lhe este delicado predicamento o ser bera-querido das da- mas que o conheciam, e que, por occasião de bailes, iam com as suas seductoras artes d'Eva solicitar-lhe houguets para a noute. A sua familia perdeu um bom paren- te^ a horticultura um distincto amador e o sexo gentil um artista-ramilheteiro. — Recebemos ultimamente a 1.^, 2." e 3.* cadernetas da «Fitologia médica ó es- túdio de plantas medicinales indígenas y exóticas» interessante publicação que sahe a lume em Santiago e é devida á penna do dr. D. Esteban Quet, lente de matéria pharmaceutica vegetal na universidade de Santiago. Segundo se deprehende do titulo da obra e do prospecto que a acompanha, promette ser um estudo geral ou mono- graphia de todas as plantas medicinaes que crescem em Hespanha e fora d^ella, assim como das suas partes de applica- ção nos diversos estados em que se usam, e dos seus respectivos productos ; estudo feito com o desenvolvimento que possa convir a qualquer professor dos diíFeren- tes ramos das sciencias medicas. Inútil seria pois dizer-se que deve constituir uma obra de summa valia pa- ra os que se consagram a alliviar os sof- frimentos da humanidade enferma. — Para destruir o musgo que appa- rece nas arvores fructiferas, recommenda o «Garden» que se seringuem, no inverno, cora agua salgada, e ha também quem indique a soda como efficaz. No caso de se fazer uso da agua sal- gada, nunca esta o deverá ser mais do que a do mar, que contém aproximadamente 3 por cento de sal. Antes de se empregar este meio para a destruição dos musgos, será bora ex- perimental-o primeiramente em arvores de pouco valor, para no caso de ser mau o resultado não haver prejuízo de maior a lamentar. — Kecebemos o resumo da exposição que a Real Sociedade de Agricultura e Botânica de Gand reaiisou nos dias 24; 25, 2Q e 27 de março. Esta sociedade tem promovido desde a sua fundação 135 exposições e pôde regozijar-se porque tem conseguido que a Bélgica seja hoje um dos paizes mais adeantados era horticultura. — Os bancos nos jardins^ quer parti- culares quer públicos, são completamen- te indispensáveis, e a sua disposição tam- bém concorre para a boa ou má ideia que se faz algumas vezes d'um jardineiro ou das pessoas que n'elle3 superintendem. De- ver-se-ha, pois, sempre que seja possível, collocar estes moveis nos principaes sitios que oflfereçam bons e pittorescos relances de vista. Acontece comtudo algumas vezes que temos um panorama aprasivel e á min- gua de sombra não o podemos gozar nas horas em que o seu effeito seria mais ar- rebatador e esplendido. Fig. 26'— Banco Derfay. Ora, foi sem duvida cora o intuito de dar remédio ao mal que Messrs. J. á G. Haywod, de Derby, inventaram uns ban- cos com toldo (fig. 26) podendo-se assim estar confortavelmente ao abrigo dos raios solares. O «Banco Derby», como lhe chamam 03 seus inventores, não deixa de ser uma peça de ornamento ao mesmo tempo que o é de luxo e de conforto. O toldo, fabricado de bonita fazenda, tem a vantagem de se poder descer e su- bir á vontade; e no inverno, quando o ca- lor já não nos incommoda, pode ser ti- rado, o que é de summa conveniencift para não se deteriorar. 98 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Indicamos ás pessoas que desejai'em o fBauco Derby», o Oátabeleciaiento dos snrs. Dick Kadclylle d- C/', de Londres. — Algumas publicayões extrangeiras e nacionaes occuparam-se ultimamente de uma planta americana a que dào o nome de Cunduraiujo e que dizem ser ura cspc- ciíico para a cura do schirro. Coutestam- 86 agora estas virtudes ; comtudo a ex- portação tem sido tamanha que em Nova- i'ork tem-se vendido por um preço fa- buloso e o governo do Equador lanyou- Ihe um direito. Aos homens da sciencia medica cum- pre observar e dizer da sua eíJicaeia co- mo agente thcrapeutico. — Accedeudo aos desejos do snr. Ed. Goeze, damos publicidade a uma carta que d elle recebemos. Meu caro amigo. — Percorrendo o ultimo nu- mero (lo seu jorual, fiquei suipichendido por não encontrar cou^a alj^uuia com relação á honra que lhe ti/.eram ja no ukz passado. l'ermilta pois, o meu amigo, que lhe diga que a modéstia n este caso não me parece bem enten- dida, porque corria o risco de comprometler-se com os leitores do Jornal de llorlicullura Praticau, que tomam, estou certo, um vivo interesse por tu- do que respeita a e.-ta tão útil publicação. Eu consi- dero como uma agradável obrigação para os i^enti- mentos amigáveis que lhe dedico o reparar a sua falta. Uma tal honra de que o julgaram digno não deve ser occultada, mas sim traxiUa a plena luz do dia, principalmente por vir dum paizondea scien- cia, a qual e dedicado, se tem desenvolvido dum inodu tão solido e grandioso. Keíiio me a Bélgica, a essa terra abençoada que marcha actualmente á frente do progresso iiorticola do continente euro- peu. Tomo pois a liberdade de annunciar aos leito- res que por proposta de Mr. J. VerschaHelt, um dos niai> di>liiiclos huilicultoresde Gand, e secundado pelu conde de Kerciíone de Denlerghem. pre-idente honorário da Kcal Sociedade de Agricultura e Bo- tânica de (iaiid, loi o snr. Uliveiía Júnior nomead) membro correspuiidente daquella sociedade. K' uma distincção mui rara e com que não se costuma ser prod.go. Juiilamente a esta honra, ou talvez para a com- pletar, ojur) de uma das ultimas exposições que se realisouem Gand conferiu ao «Jornal de Horticul- tura Pratica» uma AltD.VLlLV dk i»uata DE MODELO CHiNDE. Esta honra é tributada ao intelligenlee teloso redactor e ao proprietário do jornal, porém narecc- meque todo o mundo hortícola de Portugal, ond(. nior, continue por longos annos a sua carreira tão dignamente principiada e já tão distinctamente apreciada no cxtrangeiro. c-Ningucm é propheta no seu paiz». Isto é in- felizmente verdade, mas esperemos que não seja .sempre assim; e alimentados por esta esperança en- viamos os nossos portuguezes parabéns ao snr. Oliveira Júnior pela honra que a Bélgica, o paiz hortícola por excellencia. se dignou conferir-lhe bem como ao jornal de que elle é redactor e de que eu me lisonjeio de ser um coUaborador dedi- cado. Seu verdadeiro amigo etc. Edmond Goeze. Coimbra — Jardim Botânico, 15 de abril de 1872. Não nos competia fallar das honras que a Real Sociedade de Agricultura e Botâ- nica de Gand se dignou dispensar-nos, em primeiro logar, noiueando-nos seu só- cio correspondente e em segundo laurean- do esta publicação com a grande medalha de prata, não tanto porque sejamos mo- destos, mas porque não nos julgamos as- sas dignos para merecer estas elevadas diátincções. Acceitamol-as porém com re- conhecimento, não como concedidas ao nosso mérito pessoal, mas sim para as com- partirmos com 05 nossos illustrados colla- boradores, e como efficaz estimulo para que continuemos labutando incessante- mente, consoante as nossas forças o per- niittirem, na senda do progresso hortícola de Portugal. Ao nosso amigo o snr. Ed. Goeze, agradecemos as suas benévolas e lison- geiras expressões, que só podemos attri- buir á muita amizade que este cavalheiro nos dispensa desde longo tempo. — Por íim não teremos este anno ex- posição no Porto. As varias considerações que a commissão de iniciativa fez ao go- verno sobre este assumpto, não foram por elle attendidas. — A' medida que se vae implantando o gosto pela horticultura vão surgindo novos estabelecimentos especiaes que por meio dos seus catálogos mostram aos ama- dores o valor das suas casas commer- ciaes. Ainda não decorreram sete annos que cm Portugal não havia um único d'este8 catálogos. Foi o snr. José Marques Lou- reiro que abriu o caminho em 18G5, e tem a horticultura ainda ha algunsannos estava tão atra- sido SCguido pclos SCUS collegas, de mo zada, deve gloriar-se com estas distincções. Seja- j^ j.^ j^^^j^ i^^ ^ rivalidade e 0 estimu mos portanto reconhecidos e façamos votos para \ i ,• , '' ^ '' i i • que o nosso bom amigo e joven redactor do «Jor-p, í«»-tc3 alavancas para o descnvolvimeu^ nal de Horticultura l'ralicai», o snr. Oliveira Ju- to de qualquer ramo industrial. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 99 O ultimo que nos acaba de ser remet- tido é o (M.° 1-1872) do snr. António Go- mes da iSiiva, estabelecido nos dominios do Palácio de (Jrystal d'esta cidade, e contém além de uma escolhida coilecyào de Ro- seiras algumas plantas raras de estufa quente e temperada, plantas gordas, tu- berculosas, vivazes, bolbosas, etc, etc. — Lembramus aos nossus leitores que a exposição promovida pela Kcal Asso- ciação Centrul da Agricultura PorLugue- za, de Lisboa, abrir-se-ha no dia 1 de junho. — O snr. Ernesto Chardron, proprietá- rio da livraria Internacional, acaba de distribuir um catalogo das obras agríco- las e hortícolas que tem á venda no seu estabelecimento. láào em grande numero e para todos os preços j desde as publicações popula- res até ás obras luxuosamente impressas em papel veiino e adornadas com excel- lentes gravuras. O snr. Ernesto Chardron envia o ca- talogo gratuitamente ás pessoas que o so- licitarem» — Por varias vezes nos temos occupado ii'este logar das famosas Wtllingtonias da Califórnia e da sua aclimação em Portu- gal. Hoje, a titulo de dados curiosos, in- serimos duas cartas do snr. Adolpho F. MoUer, que acerca d'aquellas arvores nos foram dirigidas ha bastante tempo, e que só por absoluta falta de espaço temos pos- to de remissa. Eil-as agora, e releve-nos o seu auctor a demora em dar-lhes publi- cidade : Presado amigo. — Ha dias medi as Wellin- gtonias do Valle de Cannas, e encontrei-lhes o se- guinte Crescimento : A que se acha plantada no ponto mais eleva- do da malta cie>ceu desde novembro de I8(i7 até egual epocha de J87U, i"i ,U5, e em agosto de 1871 tinha l"i,y8, isto é: em menos d"uin anno attingiu um der envolvimento de 0"',93. E o mais que se pôde desejar. Uma da.> que está no valle (no viveiro) que em novembro de 1870 media entre 0"V^5 a U'",30 ti- nha o mez passado O"' ,80 e as outras quatro des- envolveram-se, termo médio, 0"i,2õ. Se quizer pô- de publicar estes apontamentos na sua Chronica que não deixam de ser curiosos. Seu amigo dedi. cado. Coimbra. Adolpho Frederico Woller. Presado amigo e coUega. — Fui ha dias ao ce- mitério d'esta cidade e vi duas Wellinfjloiiias plan- tadas á entrada do parque e notei que uma d'ellas tinha um lindo aspecto emquanto que a outra es- tava enfezada, e pelo que me disse o guarda foram ambas plantadas na mesma occasião. Estas duas Wellingtonias estão distantes uma da outra 14 metros, que é a largura da rua; o ter- reno é argillo.so e a exposição é ao sul. Foram plantadas em j;ineiro do corrente anno (1871) ten- do então 0"| ,'óÚ ; a que se acha do lado do poente, medi-d e tinha d'altura l"i ,65 e a do lado do nas- cente não vegetou nada. D'entro do recinto do ce- mite. io também se acham alli plantados dous exem- plares, mas o seu desenvolvimento é mediocre. Seu etc. Coimbra. Adolpho Frederico Moller. Já que falíamos de ]VeU{ngtonias,\em de molde annunciarmos uma variedade que acaba de ser lançada no mercado. Refe- rimo-nos á Wellingtonia gigantea varie- gata; e o «Gardener's Chronicle» expres- sa-se assim a seu respeito : «Frequentes vezes se apresentam nas exposições as Cuniftras variegadas, mas é raro encontral-as nos jardins a não ser os pés originaes. A razão principal é por- que este predicado desapparece muito a raiudo. Ha porem algumas Thuyas e Cu- pressus em cultura, que são excepção á re- gra. Estas não só são bem variegadas mas constantes nos seus caracteres, como variedades variegadas em qualquer esta- do de desenvolvimento e debaixo de dif- ferentes condições de terreno e clima. O pé original acha-se em Cork (Ir- landa) no estabelecimento de horticultura de Mr. R. Hartland e tem 4°',00 de al- tura com uma circumferencia para cima de 9™,00. Nas suas proporções, etc, é uma perfeita Wellingtonia gigantea, o que é bastante para se saber que deve ser uma bonita planta. A sua particularidade consiste em o variegado ser de um ama- rello dourado, que contrasta com o resto da folhagem e com o avermelhado do tronco. Do pé-mãe teem-se propagado 5:000 exemplares, que foram vendidos para In- glaterra, Irlanda, Escócia, França, Áus- tria, Prússia, Suissa, Bélgica e Itália.» A «Revue Horticole» também annun- cia aos amadores de Coniferas que se acaba de obter uma Wellingtonia pêndu- la do effeito da qual é difficil fazer-se uma ideia. E' vigorosa e mede cerca de l-^jSO. O caule é robusto, direito e guar- necido, desde baixo até ao vértice, de numerosos ramos, grossos, ramificados e que se curvam desde o ponto de partida, 100 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA formando nm cone compacto e regular, de aspecto muito agradável. — Sob a epigraphe aNovo meio de fabricar arvores fructiferas», dá o «Gar- den» um extracto segundo os apontamen- tos de viagem d'um naturalista, por Dar- win (1831), provando que o systema por que j\Ir. Ilutcliinson de New Ilampshirc (Estados Unidos) obteve ultimamente um privilegio, ha. já muito tempo que está em uso na America do sul. «No Cliiloe, diz Mr. Darwin, os habi- tantes possuem um methodo extremamen- te expedito de formar um pomar. Na ba- se de quasi todos es ramos das Macieiras, encontram-se umas pequenas protuberân- cias cónicas enrugadas e d'imia cor par- dacenta. Estes pontos estào sempre pre- dispostos a mctamorphoscar-sc em raizcs, como se pode observar lançando se-lhe alguma terra. Escolhe-se um ramo da grossura da perna d'um homem, o qual se corta na primeira primavera justamente por bai- xo d'estes pontos proeminentes; desbas- tam-se todos os ramos secundários e plan- ta-se depois o ramo principal a uma pro- fundidade de dous pés. Durante o estio seguinte este ramo lança muitos rebentos e algumas vezes chega até a dar fructo. Mostraram-me um que tinha produzi- do 23 maças, mas este facto era conside- rado como extraordinário. Xo terceiro an- no o ramo transforma-se em uma arvore muito copada e carrcga-se de fructo. Um velho de porto de Valdi via tomou por devisa : Necessidad es madre dei invencion, enumerando todas as cousas úteis que fa- zia com as suas maças. Depois de ter feito cidra e vinho, extrahia do resíduo um espirito branco e d'um gosto excel- lente, e por outro processo conseguia um melasse muito assucarado a que chamava rael.t Agora accrescentaremos que não ha duvida que os ramos das 3íacieiras que mostram uma certas proeminências be- xigosas 86 enraizara ; ora se a vida dos individuos feitos por este systema c lon- ga, isso é o que nos parece problemáti- co. Em todo o caso é um bom meio de obter-se um pomar de arvores frondosas em curto espaço de tempo. Assignalamos o processo, mas não o aconselhamos a quem quizer obter um pomar com representantes vigorosos, sau- dáveis e fecundos. — De Madrid recebemos o «Catalo- ffus seminu m in Horto Botânico Matri- tensi» (1871). Agradecemos a remessa. — Provámos ha dias a Batata ingle- za red-skinned jionrhall e podemos asse- verar que é de um gosto magnifico e que na descripçào que d'ella sahiu n'este jor- nal não houve a menor exageração. E' com effeito excellente, e os extractos que vamos dar de algumas cartas servirão para apoiar o que dizemos. São estas car- tas dirigidas a Messrs. Sutton & Sons, de Londres. A Bntrda rcd-skinncd flnurhall é muito nota- Tel. Considerada debaixo do ponto de vista de prós ducção e qualidade, nenlinma a excede. Tem coni- tudo um defeito, o de produzir poucos tul)erculo- pequenos para ninltipHcação. Dr. Stepuenson. Acho a Fintnta red-sldnne flom-hall admirá- vel, muito prolifica e sem egual para cozer. H. H. DOMBRAIN. Estou extremamente satisfeito com a Batata rerj-skiinicd fioiírhaU. Tem causado admiração a todas as pessoas que a tem visto. Alguns tubércu- los pezam mais de 600 gramnias, e, pondo de parte o tamanho, a qualidadeéna verdade excellente. Com quanto a moléstia atacasse todos os ba- tataes d'esta localidade a red-ddnned flourhall re- sistiu admiraTelmente. T. H. ToNKiN. A Batata red-slànned fonrhall é uma varie- dade de extrnordinaria producção de tubérculos cujo pe-;o varia de 5' 'O a 1:000 grammas. E' a mais productiva de todas quantas conheço. Plantei 7 kilos e colhi 288 kilos sem encontrar uma só que não fosse boa. John A1lspr.\tt. Não ha Batata mais excellente do que a re^' skinned floitrhall e tem a particularidade de não ser atacada pela moléstia, de produzir muito e de ser muito fiirinhenta. H. C. T.\lbot. As plantações d'esta variedade foram este anno cm numero bastante crescido, e, quando as suas qualidades forem conhe- cidas, não duvidamos que o seu custo se- ja menos elevado e que os agricultores a prefiram a muitas outras. O snr. J. M. Loureiro pede-nos para communiear aos leitores d'este jornal que não pude satisfazer actualmente as en- commendas para a Batata red-skinned flourhall em consequência de se terem es- gotado e as pi'Ssoas que desejarem contar com cHas para o anno, deverão fazer os seus pedidos desde já. Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 101 DASYLIRIUM LOFGIFOLIUM zucc. E' para uma planta ornamental de elevado apreço que hoje vamos chamar a attenção dos leitores do «Jornal de Hor- ticultura Pratica». Ha cerca de seis mezes que annun- ciamos na nossa Chronica a floração e fructificação do Dasylirium longifolium na quinta do snr. visconde de Monserra- te, em Cintra, e por essa occasião recom- mendamol-o aos amadores da horticultu- ra. Quizemos dar uma estampa d'elle, mas á falta de um exemplar desenvolvido fomos obrigados a diferir os nossos de- sejos, até que emfim os realisamos. Fig. 27 — Dasylirium longifolium. A figura 27 representa pois o mais bello individuo do DasyUrium longifolium que possue o estabelecimento do snr. José Marques Loureiro, e que dá uma ideia da sua inquestionável belleza, apesar de estar muito longe, no tocante ao desen- volvimento, dos que possue o snr. vis- conde de Monserrate. Os Dasyliriums são oriundos do Mé- xico e as principaes espécies são : D, gra- minifolium Zucc, D, acrotrichum Zucc. (D. gracile Aliq.), D. serraízJbZwwZucc, D. Hartwegianum Zucc. (Cordyline lon- 1872 — Vol. m gifolia Benth.), D. junceum Zucc. e D. Humholdti Kunth. (Dracoena parviflora Willd). Sir W. Hooker descreveu e representou no «Botanical Magazine», em 1858, de- baixo do nome de Dasylirium glaucophyl- lum (tab. 5041), uma forma visinha do D. acrotrichum, mas que differe principal- mente pela ausência do pincel nas pontas das folhas. O D. Hartioegianum, repre- sentado na mesma obra, não parece ser a planta descripta por Zuccarini. Ao me- nos é esta a opinião emittida pelo defun- N.\6 — Junho 102 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA to Ch. Lemaire na alUustration Hortico- le» e que propoz que esta planta singu- lar fosse àenoimnaáa Dasi/liriuvi Hookeri. A planta de que nos occupamos, o Da- sylirium longifolium, cora quanto seja oriunda de um paiz tropical — o México — não soílre muito com os nossos invernos. No estabelecimento Loureiro conser- vam-se sempre ao ar livre, e, entre ou- tras pessoas que já a possuem, menciona- remos o nome do snr. António José de Oliveira e Silva que nos escrevia ha pou- co : «Um pequeno exemplar do Dasyli- rixim longifolium que comprei ha dous annos e conservei ao ar livre todo o in- verno passado (1870 — 71), não soííreu nada com o frio, apesar de ter sido bem rigoroso. Hoje medem as suas elegantes e graciosas folhas mais de 1 metro, attin- gindo portanto um rápido desenvolvi- mento». Tomando estas experiências por base, poderemos declarar o D. longifolium como planta do ar livre. Sobre um pequeno monte de terra arrelvada, ou sobre um pedestal, é de effeito maravilhoso : oxa- lá que o vejamos em breve nos jardins públicos e particulares. O caule é lenhoso, folioso e erecto ; as folhas são semi-amplexicaules, muito compridas, canniculadas, estriadas, rígi- das, de bordos-espinhosos ou escabrosos. As flores são dioicas, pequenas, brancas, pedicelladas c dispostas em paniculas ter- minaes, solitárias, erectas, simples ou ra- mosas. Esta succinta descripção juntamente com a estampa dará ao leitor uma peque- na ideia de quanto vale a planta de que nos occuparaos. E' desnecessário encare- cer o seu valor. Não terminaremos porém esta noticia, sem apresentar uma interes- sante observação que nos é fornecida por Mr. Edouard Morren (Belgique Hortico- le, vol. XV, pag. 322) sobre o rápido des- envolvimento da haste floral do Dasyli- rium longifolium. No dia 18 de abril de 1865 ás 3 ho- ras da tarde media desde a base do cai- xão até á extremidade da haste floral 2'",050. A principiar d'essa data, eis aqui a estatística a que procedeu Mr. Morren : DATAS HOR AS ALTURA TOTAL 19 abril 7 horas da manhã 2,100 II 1) 5 » » tarde 2.190 20 » 7 » i manhã 2.260 » tt o » ) tarde 2.344 21 D 7 . manhã 2.40(5 > > 5 . tarde 2,439 22 . 7- . 1 manhã 2.499 > 1 5 . tarde 2.552 23 . 7 1. ► manhã 2.617 > > 5 » > tarde 2.719 24 . 7 . > manhã 2.776 > > 5 . tarde 2.816 25 . 7 . manhã 2.871 > 5 . . tarde 2,923 26 . 7 . . manhã 2,952 > > 5 . . tarde 2.988 27 . 7 , > manhã 3,020 > > 5 . tarde 3.071 28 . 7 . > manhã 3,112 > > 5 . » tarde 3.154 29 . 7 . > manhã 3,186 1 maio 7 . > > 3.261 3 . 7 . > > 3,300 5 . 7 . » t 3.390 6 . 7 . > > 3,448 8 . 7 . » 3,503 Como se vê doesta observação, o des- envolvimento da haste floral dos Dasyli- riums é espantoso. A planta em si é bel- la, mas quando florida torna-se encanta- dora, levando a vantagem sobre as Aga- ves de não morrer depois de nos ter mos- trado os focos dos fructos — as flores. Oliveira Júnior. CULTURA DA RESEDA ARBÓREA A Reseda é uma planta mimosa, cuja flor 8Ó se torna notável pelo delicioso per- fume que exhala. Eu creio que não have- rá uma única dama, das que se entretcem com a cultura de flores, que não possua um vasinho de Minonétes ; será pois agra- dável mostrar- lhes que essa rasteira e de- licada planta anuual pôde ser transforma- da em arbusto elegante, capaz de viver de três até oito annos. Foi para mim uma novidade, não admira, mas como o poderá ser para muitos outros, vou expor o que me ensinou Mr. Chantrierno «Boletim da Sociedade de Horticultura de Senlis.» Para conseguir a Reseda arbórea, se- mcam-sC; na primavera^ algumas fiemeu- JíGRNAL DE HORTICULTURA PRATICA 103 tes em pequenos vasos de 10 centimetros de diâmetro, pouco mais ou menos; logo que tenham nascido, arrancam-se com cui- dado todos os pés, á excepção do que pa- reça mais vigoroso, e que esteja no cen- tro do vaso^ ou o mais próximo possivel : á medida que fôr crescendo, ligar-se-ha com precaução a um tutor até que se te- nha elevado de 30 a 60 centimetros de altura, conforme o vigor do individuo e o desejo de o ter mais ou menos alto. Não se deve conservar um único ramo de ra- mificação sobre a haste ; tiram-se mesmo algumas folhas que estejam próximas do olho. Logo que a planta chegar á altura de- sejada, corta-se com a unha a extremida- de da haste ; então começa a lançar bra- ços lateraes que se cortam com a unha egualmente na extremidade, até se conse- guir uma linda copa : Não se deve consen- tir que desabroche flor em quanto o pé não estiver forte, o que só acontecerá no inverno, se a planta tiver sido bem tracta- da. A Reseduj transformada em arbusto, pode facilmente viver três annos. O mes- mo Mr. Chantrier assevera que as viu em Inglaterra de seis e oito annos de edade, creadas debaixo de todas as formas, em pirâmide, em tufo, attingindo l^^jõO e 2'^,00 de altura, dando abundantes flores todo o inverno. Sendo certo que esta planta não gosta de ser incommodada com frequentes trans- plantações, é conveniente mudal-a, á me- dida que vae crescendo, para vasos gran- des. A Reseda gosta de boa terra franca, preparada com antecipação, e com mistu- ra de areia para a tornar leve, devendo regar-se, uma vez por semana com estru- me liquido. Os vasos devem ser bem drai- n/idos, isto é, devem levar no fundo uma porção de cacos para auxilliar a fuga das aguas, e sobre elles uma camada de fer- rugem de chaminé com a qual se obsta á invasão dos vermes, que perturbam as no- vas raizes em vegetação. A boa conservação doestas plantas exi- ge que nem uma gota de agua lhe caia sobre as folhas durante o inverno, e que a rega n'essa estação seja cautelosa e só quando as folhas comecem a murchar, de- vendo conservar-se em logar arejado. Esta planta, assim cultivada, produz um efifeito encantador, com a vantagem de espalhar um cheiro suavissimo. Também se pode semear em meado de agosto, quando se não tenha podido fazer a sementeira na primavera. Camillo Aureliano. MODO DE OBTER E PREPARAR BOA SEMENTE DE MORANGOS Da boa preparação das sementes é que está muitas vezes dependente o bom re- sultado d'uma cultura. A escolha de boas plantas reproductoras e a extracção da semente são operações a que um bom hor- ticultor deve prestar toda a attençao ; de- pendem d'ellas, muitas vezes, o seu cre- dito e a sua fortuna. Lemos ainda não ha muito um pro- cesso para preparar semente de moran- gos, ^ que achamos muito fácil. E pouco mais ou menos como se se- gue: Colhem-se os morangos quando têem chegado á sua perfeita maduração e guar- dam-se por algum tempo n'um logar sec- 00 até que dê principio a decomposição da parte carnosa ou gynophoro. Esma- gam-se então em agua, e reduzem-se a uma espécie de massa 5 n'este estado dei- ta-se tudo n^uma peneira, que se coloca sobre dous paus atravessados na boca d'uma vasilha qualquer. Depois d'isto as- sim disposto, com uma das mãos deita-se- Ihe agua d'um vaso, em quanto que com a outra se meche activamente o liquido a fira de que as sementes se soltem da polpa, que tornando-se cada vez mais li- quida, passa facilmente através do tecido da peneira. Repete-se esta lavagem até que a agua corra pura. Deixa-se então enxugar na mesma pe- neira, e á sombra, toda a parte que não pôde passar, e que depois de secca forma uma pasta. Então esfrega-se entre os de- dos para a pulverisar de modo que só íi- 104 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA quem sementes e pó. Desembaraçarao-nos do ultimo cora outra peneira, ou expomos a mistura ao vento que, levando comsigo as partes leves, deixa ficar a semente pura. Por este simples meio diz o auctor da receita, e nós confirmamol-o por expe- riência própria, obtem-se semente extre- mamente pura e sem prejuízo. A semente de morangos raras vezes conserva a sua faculdade germinativa além de um anno. A. J. DE Oliveira e Silva. DEBULHADORES DE MILHO Em vista das muitas perguntas que havemos recebido este anno sobre machi- nismo para debulhar milho, motivadas na- turalmente pela prolongação do inverno passado, que a muitos lavradores não lhes permittiu seccarem as colheitas ao ponto de se poderem malhar promptamente, of- ferecemos este artigo e aproveitamos a oc- casiào mais opportuna de inculcar uma das vantagens d'estas machinas de debulhar e qual a sua applicaçào n'estas occasiões de inverno, em que o milho ainda no cam- po e na própria haste que o creou está ger- minando com a humidade constante da chuva e lentura do solo. N'estas occasiiSes colhe-se o milho de- baixo de chuvas para o nao ver perdido de todo ; são as espigas estendidas em uma sala (se o lavrador a tem) suflâcientemen- te grande para o espalhar ; na falta de sol accendem-se estufas dentro do aposento para o seccar ; ventila-se a humidade pa- ra não continuar a germinação. Porém, como geralmente sabemos, to- dos estes meios faltam ao nosso lavrador, e a única cousa que elle pode ter com eco- nomia é uma machina americana para de- bulhar o milho assim mesmo húmido e moUe, o que se consegue sem prejuiso de um só grão. Estes debulhadores, como se observa das vinhetas, são pequenos e dispostos pa- ra serem tocados por um rapaz, podendo ser muito facilmente transportados por duas pessoas para o local em que tenham de servir. Quem desejar fazer uma debulha mul- to activa carece de preparar um deposito superior no cimo de alguns degraus, ten- do esse deposito ou caixão um lado afu- nilado por onde possam cahir as espigas em linha direita e seguir para o funil da machina. A sua passagem através d'ella, deixando o carollo perfeitamente debulhado, é tão rápida como a vista. E' porém menos perfeita esta debulha quando o carollo esteja menos duro com as humidades do inverno, em cujo caso alguns grãos pequenos perto da ponta não são separados, por isso que se esfarella o carollo. O milho porém, ainda que muito tenro, nada soffre com esta forma de de- bulha, e separado do carollo por uma joeira pode-se seccar só com o abrigo do ar húmido. Os lavradores que não têem eira, ou que estão privados d'ella por causa do mau tempo, e aquelles que tiverem espigueiros e queiram fazer serão dentro de casa, to- dos aproveitam com a acquisição de um debulhador, que apenas lhe custa três a cinco moedas; e muitos, em um anno de chuva como o que acabou, dariam para- béns á sua fortuna de terem mais este meio de proteger as suas colheitas. Para lavouras em ponto grande são construídas machinas maiores tocadas com manejo (motor) a gado ou com vapor. Além das vantagens apontadas enten- demos não deixar de mencionar outra, á qual poucos dão a devida attenção. Con- siderado o grão como semente, o processo da malha, como todos sabem, traça muito grão que pôde ser separado por meio de uma joeira, porém aquelles que apenas es- tiverem rachados não poderão ser separa- dos, e esses são más sementes, nascendo geralmente de uma semente dous pés ra- quíticos que estorvam o logar de um bom pé. Ora com as machinas de debulhar, o milho sahe perfeito e por conseguinte nas condições precisas para se constituir em boa sementeira. E' muito conveniente a todos os la- vradores em geral uma tarara para lim- peza do grão e escolha de sementeira : no JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 105 volume n d'este jornal já dêmos a sua descripção, porém ainda mais necessária se torna aos que houverem de fazer uso da machina de debulhar, a fim de sepa- rar do grão quaesquer outros corpos hú- midos que demorem a sua seccagem, taes como as fracções pequenas de carollo proveniente do estado molle em que se acham n'estas occasiões de debulha hú- mida. se A tarara, como já dissemos, compoe- , além dos crivos para separar os cor- Fig. 28 — Debulhador de Milho. consideravelmente a seccagem do grão, o qual depois de limpo poderá repassar mais de uma vez por esta forma pela tarara em estado de não recear-se que se estrague. Convindo em que muito lavrador d'aqui não tem meios para fazer acquisição do machinismo preciso para uma boa lavou- ra, lamentamos ver que os seus prejuisos annuaes sejam superiores ao custo d'es- ses instrumentos, e muito mais lamenta- mos que os proprietários não procurem fornecer aos seus caseiros esse machinis- mo além das terras que lhe confiam, para ambos colherem maiores proventos e para que se não realise, como vemos, entre ca- seiro 6 senhorio o ditado antigo: pos estranhos ao grão, de um ventilador forte que muito auxilia a seccagem ; o ar é aspirado nas tararas por duas aberturas lateraes, e projectado sobre o grão du- rante a crivagem. Se pois collocarem aos lados da tarara dous fogareiros a pequena distancia dos orifícios da entradado ar, es- te, livre da humidade ambiente, auxiliaria Fig. 29 — Debulhador de Milho. Quem tudo quer tudo perde* Ha caseiros intelligentes e activos que fazem a sua fortuna, porém a maior parte vive miseravelmente, quasi que sem meios de subsistência, e as terras que cultivara estão da mesma forma esfomeando-os a el- les e^ ao seu proprietário. É o caso de dizer-se, com figura de estylo e sem ella, que em vão esperava colher o que primeiramente não semear. Esta pobreza de calculo dos interes* sados tem chegado a tal extremo que pa- rece querer chegar ao outro extremo, is- to é, áquelle em que os melhoramentos se- jam devidamente apreciados — assim o es- peramos. A. DE La Rocque. 106 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA REVISTA SOBRE A JARDINAGEM Meu caro amigo snr. Oliveira Júnior. Ha ura aphorismo portuguez, que diz : O proviettido é devido. E conformando-me plenamente cora elle, vou cumprir a rai- nha promessa, feita em tempo ao meu amigo, enviando-llie um relatório, ou ana- lyse dos jardins públicos e particulares, que tenho visitado. É este um trabalho muito imperfeito sobre um assumjjto especial; que reclama nào só conhecimentos de um bom paiza- gista, mas também a vasta scieucia de ura Decaisne ou Naudin sobre a floricul- tura. Apesar, porém, de não possuir a sciencia d'estes, nem os conhecimentos d'aquelles, formulei esta «Revista sobre a Jardinagem» pelos apontamentos que pude colligir, quando visitei os diversos jardins públicos e particulares; como, porém, estes apontamentos eram exclusi- vamente para meu uso, é por esta razão um relatório imparcial do que vi, e exa- minei. A floricultura tera-se desenvolvido no nosso paiz, e nào vae longe o tempo em que as flores dos nossos jardins se resu- miam a plantas muito vulgares, já culti- vadas por nossos avós ha muitos annos. O progresso e gosto pela floiicultura pô- de attribuir-se á fiicilidade das comrauni- caçues qne nos facultam a fácil importa- ção de novas plantas, ás viagens de vá- rios proprietários amadores ao estrangei- ro, onde o gosto pelas flores está muito desenvolvido, ás exposições que temos feito, e aos bera sortidos estabelecimen- tos, que já possuímos. Comtudo, ainda estamos umito longe de chegarmos ao progresso que se nota na Bélgica (princi- palmente em Gand, a cidade das flores), na França, Inglaterra, e Allemanha, onde o clima é muito mais frio, que o do nos- so Portugal. iSuccede porém que o gosto e palxJto pelas flores é tào grande lá fo- ra, que fazendo muitas despczas, o dis- pensando excessivos cuidados, cultivam grande variedade de plantas em estufas, muitas das quaes no nosso bello paiz prosperam perfoitaraentc ao ar livre; quem 86 quizer convencer d'e8ta verdade, basta examinar os catálogos de J. Werschafí'elt, e de J. Linden, de Gand, de Vilmorin, de Pariz, e outros. O nosso Portugal pelo seu magnifico e ameno clima, assim como pelo seu ex- cellente solo, podia e devia ser o que diz o mimoso poeta do D. Jayme: Tal és do sol oásis reservado Jardim da Europa á beira mar plantado. Os nossos jardins públicos ainda estão pobríssimos de bellas plantas, que já hoje cultivam os amadores, e collecionadores particulares nos seus jardins. O ornamen- to dos canteiros ou relvas é feito com plantas muito vulgares, sem ordem, nem boa disposição na sua collocação, e por esta causa é que muitas vezes vemos um canteiro de flores todas da mesma espé- cie ou das mesmas cores. E necessário, que os nossos jardineiros prestem mais attenção e cuidado á ornamentação dos jardins, e para bem desempenharem este serviço devem consultar a obra «Les Fleurs en pleine terre», publicada por Vil- morin, em 1870, e alli encontrarão ma- gníficos modelos. Grande va^-iedade de plantas já pos- suímos, que crescem perfeitamente em pleno ar, com as quaes podemos orna- mentar os nossos jardins, como são as plantas da família das Ericaceas, os Rho- dodendrons : Prince Camille de Rohan, Álbum ellegans, Adolphe de Nassaii, Ma- dame Wagnevj Clyde, Salmonum roseum. As Azáleas, beauté de Flandres^ honneur de la Belgique, rósea formosíssima, Ale- xandre 2.°, Madame Verschaffelt, ru- bra splendidissima, dieudonné típáe, não esquecendo as lindas Kalmias. A família das Araliaceas fornece-nos a Aralia he- teroniorpha, A. japonica, A. Shefferi, A. trifoliata e a ^. papyrifera, de soberba folhagem. Também são plantas de bello eff'eito para ornamentação as variedades notáveis de Pelargoniums zonaes, taes como : Mis- tress Pollock, Lady, cidlum quadricolor. Os de flor dobrada : Capitaine U Hermite, gloire de Nancy, e as lindas variedades de Pelargoniums dos floristas, ou de cin- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 107 CO maculas, as elegantes Fuchsias, muito necessárias na ornamentação dos jardins, não só pelas brilhantes cores das suas flo- res, mas também pela sua prolongada florescência. Não me proponho indicar aqui circum- stanciadamente as plantas notáveis para a boa ornamentação dos nossos jardins; esse serviço á jardinagem é da exclusiva com- petência dos mestres, e um simples dis- cípulo da sciencia de Flora não deve in- vadir as attribuições, que áquelles per- tencem ; relevem-me portanto os mestres estas minhas indicações, e permittam-me ainda recommendar as plantas de folha- gem variegada, e aquellas de folhagem lustrosa e persistente, mui apreciáveis para a ornamentação, sendo de lindo ef- feito o Ahutilon Thompsoni, Aucuhas, as CamelUas sasanqua^ Lavinia Maggi, Cup of heauty, Frincipessa Aldohrandi- ni, Roma risorta, tricolor nova Mathot e tricolor imhricata flore pleno, e outras muitas elegantes plantas, que já encon- tramos nos estabelecimentos horticolas do paiz. Passando agora a cumprir a pro- messa, que fiz ao meu amigo, principia- rei pelos jardins públicos. Passeio Publico, Lisboa. — Depois do fatal terremoto de 175Õ, quando o Mar- quez de Pombal delineou a reconstruc- ção da cidade baixa sobre as ruinas d''es- se horrível cataclysmo, não esqueceu ao sábio ministro de el-rei D. José a cons- trucção de um passeio publico, principian- do-se a sua construcção em 1764 debai- xo da direcção e plantas feitas por Rei- naldo Manoel. Até 1836 permaneceu este passeio cercado de grossos muros reves- tidos interiormente com Buxo e Louro, tendo de cada lado trinta j ancilas gradea- das de ferro ; posteriormente a camará municipal, coadjuvada pelas subscripções voluntárias dos habitantes, reconstruiu, e adornou com bellas obras este passeio. A sua posição é muito central, porém muito baixa e abafada, tendo pelo lado da rua Occidental o bosque pertencente ao snr. Marquez de Castello Melhor, e pelo lado oriental os altos e magnificos prédios, que aformozentam esta rua; é excessivamen- te comprido em relação á sua largura ; está bem cultivado e limpo, e apesar de modernamente melhorado, ainda se no- tam vestígios do antigo e monótono es- tylo symetrico. Uma das bellas obras d'es- te passeio é a sua elegante cascata, e o lin- do terrado collocado sobre esta ao fundo da rua central. Jardim da Estrella, Lisboa. — Foi cons- truído por iniciativa do Conde de Tho- mar e plantado em 1850 pelos habilissi- mos jardineiros Bonard, e João Francis- co. Tem soberbos lagos, imitando a na- tureza, uma bella cascata, elegantes kios- ques e um lindo pavilhão ; é de risco mo- derno, sendo habilmente aproveitados os accidentes do terreno, despresando-se a symetria. dos antigos jardins, que apre- sentam uma perspectiva monótona. Este jardim tem uma montanhasinha artificial d'onde se gosam lindas vistas. Está bem cultivado, e as ruas são cuidadosamente limpas. Notei o grande desenvolvimento das plantas desde a epocha da plantação até dezembro de 1866 em que pela primeira vez o visitei. Considero-o o primeiro dos jardins públicos do paiz, não só pelas ele- gantes obras, que o adornam, mas também pela variedade e abundância (ias bellas arvores e arbustos, que o povoam. Se estivesse collocado em posição mais ele- vada, e livre das sombras dos Ciprestes ponteagudos, que tem por um dos lados, e pelo outro do convento, e altas torres do Templo do Coração de Jesus, seria um jardim magnifico, com todas as condições essenciaes e necessárias a um passeio publico. Jardim de S. Lazaro, Porto. — Este jardim é pequeno para passeio publico de uma cidade, cuja população se aproxima ao numero de cem mil habitantes (Hoje, felizmente, este defeito tão sensível foi reparado pela construcção dos novos jar- dins do Campo dos Martyres da Pátria, e do^ Palácio de Crystal). É todo plano, e cercado em volta pe- los edificios da bibliotheca, e recolhimen- to das orphãs, e pelas casas ao poente e norte; por esta rasão fica bastante aba- fado, não ofí'erecendo dilatadas vistas aos passeantes que alli concorrem. Não tem aformoseamentos notáveis em architectura, ou esculptura, e apenas no centro ha uma taça circular, que melhor 108 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA seria converter em um pequeno lago de risco elegante, fornecendo-lhe mais abun- dância dagua. As plantas d'este jardim, cm que predominam as Acácias e as plan- tas de lolhagem caduca, estão muito des- envolvidas, e bom seria que algumas das mais velhas e desorganisadas fossem sub- stituídas por outras plantas novas e raras, que ainda nào possue. Um grande serviço prestava o município ao publico e á flo- ricultura, se mandasse construir, por ser esto local bastante abrigado, uma estufa, com a frente exposta ao sul, no local on- de existe a fonte. A primitiva plantação d'e8te jardim foi feita pelo systema an- tigo, e apesar de ha poucos annos ser me- lhorada a sua disposição e risco, ain- da alli se notam as symetrias dos an- tigos jardins; a sua cultura, e limpeza nào é desprezada, com tudo merecem mais um poucochinho de attenção o corte e rega das relvas, e a maior variedade de plantas annuaes nas guarnições dos can- teiros. Jardim do Campo dos Martyres da Pá- tria, Porto. — i«i"este jardim, plantado ha poucos annos, ainda as plantas estão pouco desenvolvidas ; o risco, e disposi- ção d'elle são ao gosto moderno, e o jar- dineiro, que o dihneou soube aproveitar muito bem a área d'este passeio, abando- nando o antigo gosto dos jardins symetri- 008. As arvores, que orlam as avenidas priucipaes deviam ter menor distancia de umas ás outras, para que assombrassem melhor os passeios, pois sendo este local desaflrontado, principalmente do lado do poente, fica muito exposto ao sol nas tar- des do estio, que é sempre ardente até o seu occaso, privando os concorrentes de irem mais cedo gosar os divertimentos, que nas tardes de verão se facultam ao publico. Esta arborisação deveria ser feita com arvores de folha caduca, para que no in- verno não vedem aos passeantes o sol que n'aquella estação tanto se aprecia. Muito conveniente seria, demais d'isso, que os passeios fossem mais altos no centro (abau- lados) porque d'esta forma as aguas da chuva correm mais facilmente aos lados, e seccam com promptidão, não causando la- mas. Os canteiros deviam ter melhores rel- vas e ser guarnecidos de plantas próprias para bordaduras, como são: as Potentil- las, Verbenas^ Cinerarias, Violetas, e ou- tras. Ainda não possue este jardim gran- de variedade de plantas, e bom seria, que lhe plantassem arbustos escolhidos nas bellas collecções que hoje possuímos, e que prosperara perfeitamente ao ar livre. O lago é de bonito risco, os lados, ou bor- dos deveriam ser guarnecidos de plantas aquáticas, o que se tornaria de lindo effei- to. O pavilhão para a musica é de uma forma bastante elegante. Casa da Soenga. Joaquim de C. A. Mello e Faeo. (Continua). ORGHIDEAS Poucas familias de plantas haverá mais características e notáveis do que aquella, cujo nome serve de epigraphe a este pe- queno artigo. Pondo de parte grande nu- mero dorgãos de vegetação, como são principalmente as folhas, que apresentam o caracter geral das plantas monocotyle- doneas, e attendendo unicamente aos ór- gãos de reproducção — a flor — nota-se uma similhança de estructura de tal mo- do pronunciada, que qualquer, tendo exa- minado attentamente uma só das muitas espécies quecomprehende estafamilia, não deixará de reconhecer, quasi á primeira vista, qualquer outra que lhe seja dada. Todas as Orchideas são herbáceas e as raizes são n'umas fibrosas e n'outra8 tuberiformes, ovóides ou mais ou menos divididas : as folhas são alternas, intei- ras, invirginantes : as flores, umas vezes solitárias outras vezes agrupadas forman- do espiga mais ou menos densa^ são sem- pre acompanhadas de bracteas, muitas vezes coradas. A forma das flores é ex- tremamente notável : compõe-se de seis peças petaloides, três externas e três in- ternas, epigynicas. As internas são dese- guaes na forma e na grandeza, sendo no- tável uma d'ellas, (labello) muito maia desenvolvida que as outras e cuja forma, JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 109 extremamente variável d'especie para es- pécie, prende singularmente a attenção do observador. Ora toma a forma de fita mais ou me- nos longa, ora imita insectos, a vespa, a aranha ou a borboleta ; ora finge um pe- queno sapato. Seria impossível enume- ral-as todas. Não seria mais fácil indicar também as cores, que, no labello princi- palmente, se observam : tantas, tão va- riadas e tão variavelmente combinadas são ellas ! Os órgãos da reproducção propriamen- te ditos (estames e pistillo) tornam-se muito e muito notáveis. Uns e outros estão soldados, forman- do uma espécie de columna (gynostemo), A parte que fica voltada para o labello é constituída pelo estigma e a parte dorsal é formada pelos estames, que são três, sendo dous estéreis, rudimentares na gran- de maioria das espécies. A anthera é bi- locular e o pollen, constituído por grânu- los aglutinados (massulas) ligados por Fig. 30 — Aceras longibracteata. uma matéria elástica, cujo prolongamento constitue um pequeno pé (caudiculo) for- ma duas massas distinctas (massas jjolli- nicas). Prendem ellas ao estigma por meio d'uma glândula viscosa (bursicula ou retinaculo). O ovário é inferior, não torcido antes da flor abrir, mas torcido depois em geral, invertendo completamen- mente a posição dos órgãos floraes. A capsula unilocular, fendendo em três valvas e contendo sementes extrema- te pequenas. Todas as plantas d'eBta grande familia Fig, 31 — Flor da Aceras longibracteata. são terrestres ou epipliy tas. Vivem na maior parte da terra, mas onde ellas apresen- tam todo o seu vigor, onde o numero das espécies e o brilhantismo das formas e das cores são realmente surprehendentes, é nos paizes quentes. Ahi, nas florestas húmidas^ cada arvore é um verdadeiro jardim, porque seus ramos estão comple- tamente cobertos de Orchideas epiphytas, cujas raizes aéreas, muitas vezes de com- primento notável, aspiram a humidade do ar. E' em volta d'essas brilhantes flores 110 JOR!tAL DE HORTICULTURA PRATICA que esvoaçam as borboletas e outros in- sectos de cores nJlo menos brilhantes, e que procurando nutrir-se, concorrem pa- ra a fecundação, que d'outro modo seria quasi impossivel em muitas espécies. Nas estufas onde as leis da vida nuo silo as mesmas que as das regiões onde aquellas plantas vivera, é indispensável recorrer á fecundação artificial. Em Portugal nao ha Orchideas epi- phytas; sào todas terrestres. fSào muitas d'ella3 grandemente apreciáveis e dignís- simas de logar honroso em qualquer jar- dim. Entre outras sobresahe as Aceras longí- hracteata, (fig. 30) que Brotero denominou Orchis militaris. E' a maior de todas as Orchideas que vivem em Portugal. As flores formam longa e densa espiga e exhalam aroma agradável. Nào o das que mais brilham pelo colorido ou pela forma esquisita do labello. As três peças inte- riores do perigono apresentam leve cor purpurina, com veios verdes : as duas internas sào verdes e o labello (fig. 31) glande, quasi plano, o levemente purpu- rino com linhas sinuosas e alguns pontos de cor mais viva ; a margem é escura. As gravuras que acompanham este artigo me- lhor ideia poderão dar do aspecto geral d'esta bella planta, que cresce espontanea- mente nas visinhanças de 'Joimbra. Citarei além d'esta as mais notáveis, que vivera no nosso paiz. O primeiro lo- gar pertence á Oj)hrys lutea Cav., O. spe- culum Lk. (O. vernixia Brot). O. apife- ra Huds., O. arach'nites'Rch.h., O. tenthre- dinifera W. (?) conhecidas vulgarmente pelo nome de abelhas, porque o labello imita singularmente aquelle insecto ou outros similhantes. A Anacamptis pyra- midalis Rich. apresenta uma forte espiga cónica de mimosas flores cor de rosa. A Aceras anthropophora é notável porque a suas pequenas flores fazem lem- brar um homem enforcado. A Orchis papilionacea é uma das mais bellas. Encontrei-a em Elvas e d'a- hi a trouxe para o Jardim Botânico de Coimbra, onde floresceu dous annos. A O. morto Linn. merece ser enumerada. Além d'cstas ha muitas outras, todas curiosas ; Brotero menciona 23. A este nu- mero deve-se accrescentar pelo menos uma, é a Neottia nidus-avis Linn. que vive no Bussaco. Dos tubérculos d'algumas d'estas plan- tas extrahe-se uma farinha nutritiva, o salepo. No Jardim Botânico ha grande parte das Orchideas portuguezas. Infelizmente a cultura d'estas plantas, ou antes a sua conservação, não é facii. São refractárias a todos os cuidados. Parece que vivem melhor, se pouco com ellas se importarem. Para conseguir-se bom resultado, convém arrancar a planta com grande torrão e collocal-a assim em vasos. Coimbra — Jardim Botânico. JuLio A. Henriques. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DA CULTURA FLOKESTAL A Bciencia florestal ensina como de- vem ser tractadas e aproveitadas as flores- tas. O seu fim principal é elcval-as a ta- manho grau de aperfeiçoamento que d'el- las se possa auferir a maior soraraa de vantagens, sendo por conseguinte indis- pensável o seu estudo, para o tracto e pro- veito florestal. A economia florestal é a applicaçSo da doutrina sobre a industria das mattas. Os moios pelos quaes se obtém bons resultados na cultura d'uma floresta, po- dem variw considerftvolmeate. Assim, di- verso é o fito a que mira o empregado florestal do governo do fim a que se diri- ge o empregado florestal particular. Em todo o caso é incontroverso que o objecto primordial das attenções d'ambos é tra- ctar as mattas de modo que seja aprovei- tada a maior porção de productos com a menor despeza de tractamento. A educação e aproveitaraento do ar- voredo são os dous poios sobre que roda toda a economia florestal, não descurando nenhuma das partes que a constituem, co- mo abrigo, avaliação, etc. ; que tendo de JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 111 per si pouca importância, figuram apenas na sciencia florestal como meios de edu- cação e aproveitamento das madeiras. Esta parte a nosso ver é a mais inte- ressante na sciencia florestal. Cumpre todavia, observar : 1 .° que a educação não se pode eff^ectuar com o abrigo ; 2.° que a colheita dos productos florestaes constituo, ás vezes, com a edu- cação do arvoredo, um todo indispensá- vel; 3.° que nenhum corte de madeiras se deve effectuar sem previamente calcu- lar-se quanto é possivel tirar-se; 4." que só deve fazer-se o aproveitamento, e no máximo grau, quando se conhece o que tem mais procura e chega a um preço mais subido nos respectivos mercados. Estes divessos ramos da economia flo- restal formam o objecto d'um systema a que chamamos Cultura florestal. Acontece nas mattas o que se dá nos campos relativamente á cultura agricola. Assim, a cultora florestal consiste na crea- ção, tractamento e colheita dos productos florestaes. N'este género de cultura não se faz mister, como no tracto agricola, semear ou plantar primeiro as plantas para se colherem depois. Todavia, cumpre também administrar a colheita por forma que o rebentamento do arvoredo se faça n'uma serie natural, buscando, por um cultivo correcto, guiar ao seu fim a força natural, e procurando, pela remoção dos obstáculos, que o re- bentamento se faça por si mesmo. Esta espécie de educação do arvoredo appelida- se geralmente repovuação natural do ar- voredo. A que se faz por sementeira, plantação, estaca ou mergulhia chama-se repovoação artijicial. Estes dous systemas de cultura não têem relação com a repovoação que se faz sem a ajuda do homem. A repovoação natural e artificial das arvores apresenta- se, pois, face a face com a repovoa- ção espontânea do arvoredo onde se criam madeiras sem a minima cooperação do braço do homem e, conscguintemente, sem satisfazer aos nossos fins e utilidades. Repovoarão artificial parece signifi- car exclusivamente as repovoações para as quaes o homem concorre ; repovoação natural parece excluir pelo contrario tudo o que é artificial. Entretanto a na- tureza e a arte são necessárias em um e outro caso. Para evitar pois qualquer confusão é preciso assentar bem o sentido que se dá a estas palavras. Nós chamaremos pois repovoarão natural, á que se faz principalmente pela natureza. Repovoa- ção artificial a que exige mais cuidados por parte do homem. Repovoação espon- tânea a que se faz por si mesmo sem a minima ajuda do homem. Se a administração agricola não deve ser a mesma em toda a parte, com razão superior o não é no tractamento flores- tal. Circumstancias innumeraveis podem tornar altamente nocivo n'uma localidade aquillo que a experiência apregoa vanta- joso n'outra. Kegras absolutas, geraes, não as ha em nenhum género de cultura, e portanto não pôde havel-as na especia- lidade que é objecto d'este artigo. De pensar-se o contrario procedem gra- ves erros, em que laboram tanto o theo- rico, a quem failece o subsidio da prati- ca, como o pratico, a quem não esclare- ce a luz da theoria. O primeiro procede segundo regras geraes, que aliás deveram ser sacrificadas ás excepções, que reclamam a especialida- de do logar. O segundo nortêa-se pelos dados que colheu da experiência, sendo de todo o ponto avessos ao caso. Não é mais hábil florestal o que sabe todas as regras de cultura florestal ; é-o, sim, aquelle que sabe pratical-as em ca- sos especiaes. D'este modo o alvo a que deve, sobretudo, mirar-se em matéria de instrucções sobre cultura florestal é expor o conjuncto de tudo que ha a estudar, e colligir somma avultada de factos, afim de formar ideias solidas e saber discernir per- feitamente o que importa fazer em todo e qualquer logar. Assumpto é este que anda descurado, o que é verdadeiramente lamentável, por- que raros paizes serão mais vantajosa- mente dotados que o nosso para a cultura das florestas. Coimbra, Adolpho F. Moller. 112 JORN.\L DE HORTICULTURA PRATICA BALDIOS Os baldios suo o património dos po- bres; e em verdade, n'algumas partes, muitos devem a ellcs alguns beneíicios : os creadores de gados pelas pastagens : e as mattas e estrumes, que ahi se arrancam, nSo sào sem influencia sobre o bem-estar de muitas famílias. A partilha gratuita dos baldios esti- mulava mais interesse pessoal a cultivar ; é por ventura mais fructifera, dará maior desenvolvimento ao bem-estar das povoa- ções, e a certeza da propriedade d'uma porção de terreno compensará bem, até aos mais necessitados, a perda da posse em coramum. Na applicação dos principies das scien- cias sociaes nào se pode sempre, como em outras, governar-se o homem por princípios absolutos ; e aqui, como em outras ques- tões sociaes, de necessidade ó o attender aos hábitos dos povos, suas relações, neces- sidades, aspirações e circumstancias es- peciaes, e os meios, que o estado pode em- pregar para exercer uma influencia bene- íica. Parece ser de justiça a partilha gra- tuita dos baldios : no entanto em muitos pontos do paiz, menos felizmente dotados, uma partilha feita com a obrigação de cultura, só de per si não produziria gran- des resultados, especialmente onde o solo fosse mais ingrato, e onde faltassem os braços e os capitães para devidamente fe- cundar a terra repartida gratuitamente. Em muitas localidades seria óptima esta partilha: em outras quasi inútil. Adunar em uma forma superior, e n'uma providencia legislativa, que, com- prehendendo os multíplices, mixtos e con- trários interesses, que se debatera n'esta questão dos baldios, conviria para o bem commum ; pode-o fazer o estado. Certamente seria conveniente á cultura a repartição gratuita dos baldios, rcser- vando-se certas e determinadas porções de terrenos para o estado, para as cama- rás municipacs, c para as parochias. O estado sobrecarregando-se com obras de grande utilidade publica, como plan- tações do mattas, estabelecimentoB de quintas reglonaes e outros estabelecimen- tos de utilidade publica, deve quinhoar na partilha dos baldios; porque carece de possuir terrenos para construcções. As camarás .municipaes e juntas de parochia egualmente precisam, guardadas as devidas proporções, de certa porção de baldios para estabelecimentos de viveiros d'arvores, para passeios, jardins, mattas, e outras exigências de reconhecida utili- dade publica. Tenta-se agora a formação d'uma com- panhia para cultivar os terrenos incultos. Seja bem vinda e rociada com muita ben- ção. Grandes podem ser os lucros, que a empreza e o paiz toem a auferir d'essa iniciativa. Certamente que em quanto hou- ver terrenos de melhor qualidade, não se- rão escolhidos e pedidos os peiores : e não perderá o estado em lhe conceder para a cultura com justas condições as melhores terras incultas, as olgas, os sapaes, e mui- tos outros bons terrenos, que nem as ca- marás nem as juntas de parochia aprovei- tam. Distribua-se também para a partilha gratuita entre os moradores visinhos das parochias outra porção de terreno, desi- gnando-se n^esta lei agraria, que dota os pobres, o valor de cada terreno que por logo ou cabeça deve pertencer a cada um, consoante a totalidade dos bens a dividir na parochia ou no município; de maneira que o estado não fique sem domínio na- cional, e se não tire ás camarás ou jun- tas de parochia o que for indispensável : e se sobejarem ainda alguns bens, estes que sejam vendidos em hasta publica. O augmento da população dimanará também da cultura dos baldios ; porque a população cresce sempre onde as subsis- tências augmentam : 6 lei económica com- provada pela experiência ; e deve também a cultura minorar as diíEculdades do the- souro ; porque dá azo ao desenvolvimento da massa collectavel. Conciliar os Interesses do futuro com as necessidades do presente, ó diflSculda- de com que o legislador deve arcar n^esta JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 113 questão. Seria iníquo desapossar as cama- rás municipaes de bens que lhe seriam n'um próximo futuro necessários; mas também é desvantajoso e pouco curial con- servar-lhes os que hoje de nada lhes ser- vem. Nem sacrificar aos interesses do futu- ro bens, que hoje se podem aproveitar; nem também fazer holocausto das neces- sidades da geração futura aos interesses do presente. Pode-se com uma justa dis- tribuição dos terrenos evitar este obstá- culo, de modo que se inicie a grande cul- tura a par e passo com a pequena. A arborisação em grande escala pra- ticada pelo estado e pelas camarás muni- cipaes, e a cultura emprehendida por com- panhias também oíFerecem vantagens que na pequena propriedade se não encontram ; mas deve-se na lei estorvar ás companhias a creação da mão morta, cujo regimen desdiz dos principies da economia politi- ca, e da eschola liberal. Os mosteiros entre nós compensavam o mal que os morgados e fidalgos faziam com o seu despreso pela agricultura. A Inglaterra nada tem perdido com a gran- de propriedade. Na pequena propriedade escasseiam mais os meios para a cultura, torna-se im- possível o emprego das machinas agríco- las, ha menor divisão de trabalho, e por isso menor economia de tempo e de tra- balho; mas em compensação labuta-se ahi com maior cuidado e zelo. A Bélgica com a pequena propriedade tem colhido a mes- ma prosperidade que a Inglaterra com a grande. Collocal-as a par é tarefa útil para o nosso paiz, em que podem medrar ambas ; e pelo aproveitamento dos baldios se pode realisar o estabelecimento da gran- de e pequena propriedade. Os interesses dos munícipes e dos pa- rochianos não são feridos pela perda da posse em commum de terrenos, porque á maior parte d'elles pouco lhes tem apro- veitado : e o estado com a sua superior inspecção não deve continuar em abando- nar ao desmazelo a cultura, sob o pretex- to de respeitar um pretendido direito sem efficacia, e que nada utilisa á communi- dade. Quem possue a terra, deve cultival-a, e bem usufruil-a, para se alcançar pelo trabalho acompanhado da occupação a con- sciência de ter o mérito de ser proprietá- rio. O estado concedendo alguns baldios a companhias de cultura, e permittindo a repartição de outros, faculta os meios ; aos cidadãos cumpre aproveital-os : não pode o estado fazer mais ; porque elle não é só a cornucopia Amalthea, d'onde provenha toda a abundância. A partilha gratuita dos baldios posta ao lado da grande cultura do solo por em- preza de companhias deve beneficiar a na- ção ; porque ambas as culturas se compen- sam nas conveniências, e nos inconvenien- tes. Preferimos a partilha gratuita á ven- da. A venda rápida e a ida á praça de tantos terrenos seria a depreciação imme- diata da propriedade cultivada, e em mui- tos casos pouco aproveitaria á cultura; porque se comprariam por baixo preço muitos latifúndios, que não seriam gran- geados : e não tendo o paiz dinheiro para comprar pelo seu justo valor quasi ame- tade do solo de Portugal, é de arreceiar que a venda dos baldios seja causa de perturbações económicas pela grande di- minuição no valor da propriedade: o que essa grande massa de terrenos incultos postos em hasta publica originaria. O aforamento produzirá tambcm gran- des inconvenientes. A emphyteuse serviu muito na Europa para a cultura do solo ; mas foi em outro tempo. O aforamento de propriedades ao estado, ás camarás mu- nicipaes, e ás parochias implica um ónus perpetuo que pesará sobre o foreiro : e a facilidade de tomar de aforamento influirá em que muitos se emprazem em bens, que não possam cultivar; o que é um mal para o cultivador e para o paiz : e o cultivador terá de pagar um foro, que nem sempre pode extrahir da terra; e d'ahi resultará gravar o domínio útil com dividas. Tam- bém é fora de duvida que a emphyteuse não tem a simplicidade, facilidade e ga- rantia para transacções como o contracto de compra e venda. A emphyteuse tem no entanto a bené- fica influencia de estorvar a excessiva di- visão do solo, a pulverisação da proprie- dade territorial; mas nem ofiferece tantas vantagens ao senhorio como a venda, e 114 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA nem ao foreiro como a compra ou arren- damento : e niio é hoje muito de temer en- tre nós a extrema divisibilidade da terra, porque em Portugal ha muito grandes her- dades, e muitas também medianas. Na America ingleza nunca se tem afo- rado o domínio federal, mas sim vendido por baixo preço, e assim se tem colonisa- do aquella poderosa republica. Na verdade ha alli uma raça dotada de rauit i iniciativa individual: o que ge- ralmente acontece pouco na raça latina, em que é quasi sempre preciso substituir o estado aos individuos no commettimento de todos os melhoramentos. E n^este como em outros factos cumpre respeitar.as ten- dências e costumes inveterados. A venda d'alguns bens sempre dará maior lucro ao estado, do que o aforamen- to ; que também é maior estorvo á trans- missão da propriedade, do que a venda; e nem o valor do imposto de transmissão e a facilidade rápida das transacções sào cousas de tão pequeno momento, que não devam de ser tomadas em muita conside- ração. Portugal é um paiz montanhoso com duas grandes planicies — a que c forma- da ao sul do Tejo, e a que fica na embo- cadura do Vouga, — e é regado por mui- tos rios, cujas aguas podiam servir de aproveitamento para a agricultura, mas não tem um único canal como os que con- ta a fértil Lombardia; a França e ató a Hespanha na Huerta de Valência. As nossas mattas são pouquíssimas : e este paiz que ó um rincão de terra situa- do á beira-mar carece immensamente de madeiras, não só para as construcções de terra, como para as de mar. Com um solo abençoado, e uma tem- peratura boa, uma posição gcographia ex- cellente, porque estamos na extremidade Occidental da Europa, perto do Mediter- râneo, 6 banhados em toda a costa pelo oceano, que nos separa da America ou antes nos une, carecemos de continuamente importar matérias primas que facilmente podemos produzir, logo que appliquemos o trabalho ao solo, e aproveitemos os dons naturaes, que a natureza nos liberalisou. A situação pouco prospera da nossa agricultura não poderá transformar-se re- pcntinamonte ; porque a agricultura como todas as industrias precisam de longo tempo e de boas condições para o seu desenvolvimento; não apparecem repen- tinamente robustas e fortes como a Mi- nerva armada sabida da cabeça de Júpi- ter. Uma lei -não pôde transformar a socie- dade d'um só jacto; porque a sociedade não é tão malleavel que se possa fundir e tomar repentinamente uma determinada forma: mas muito influem as leis para o atrazo ou desenvolvimento das sociedades, e muito influem estas egualmente para a feitura das leis. E' um influxo reciproco. A lei ultima de desamortisação de 28 d'agosto de 1869, na parte relativa aos baldios, não satisfaz o que era para de- sejar no interesse da cultura do solo, e atim de que não teaha significação pra- tica na nossa lingua a palavra — baldio — que dizem vir do Árabe «baledon» terra inculta, logar agreste. São necessárias disposições sobre a divisão, partilha, venda, e obrigação de cultura dos terrenos baldios. A obriga- ção de cultura do solo nos terrenos que se dividirem entre os visinhos, é de ab- soluta necessidade, attento o nosso des- leixo meridional, e a obrigação imposta ás camarás e aos munícipes da plantação de arvores deve produzir alguns bons resultados; e pena é que a nossa antiga lei que ordenava isto, não fosse substituí- da por outra idêntica, porque não está o solo portuguez tão arborisado, que baste a iniciativa particular na grande tarefa da arborisação. A obrigação imposta nos paizes ruraes de cada varão emancipado plantar annual- mente õ ou 6 arvores fornecidas pelo es- tado ou pelas camarás municipaes não di- rimia nada aos rendimentos dos cidadãos e á sua liberdade natural; e no fim de cada anno haveria muitos milhares de ar- vores accrcscidas ás plantações. Portanto parece-nos que as principaes disposições, que deviam ser adoptadas depois da lei de 28 d'agosto de 1869, que desamortisou os baldios deviam ser : 1.* Que os baldios desamortisados pela lei de 28 d'agosto de 1869, serão divididos em 3 classes — uma dos bens que o estado possuirá e administrará di- rectamente ou por contracto com compa- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 115 nhias de cultura — outra que ficará per- tencendo ás camarás e juntas de paro- chia — e a terceira que será composta dos bens baldios que terão de ser repartidos entre os moradores visinhos da parochia. 2.* Só serão concedidos ás camarás municipaes e juntas de parochia os bens, que forem indispensáveis na administra- ção d'esses corpos collectivos, depois de obtida sentença do conselho de districto. 3.* Que a distribuição e repartição dos terrenos concedidos pelo estado, se- jam repartidos em egual valor, por meio de sorteamento, entre todos os chefes de familia dos visinhos portuguezes morado- res na parochia, onde estiverem sitos os bens. 4.* Que essa repartição seja feita pe- las camarás municipaes com audiência do delegado do procurador régio da com- marca, e com appr ovação do juiz de di- reito da comarca ; de que poderá haver recursos. 5.* Que os visinhos, a quem se dis- tribuírem essas terras, fiquem restricta- mente obrigados a cultivar os terrenos, que lhe forem repartidos, sob pena de perda d'esses bens, verificada ex-officio pelo delegado do procurador régio, que deve requerer ao juiz de direito posse dos mesmos terrenos para a fazenda na- cional, quando desertos e sem cultura. 6.* Qualquer morador visinho na pa- rochia pode trocar ou alienar o lote que lhe pertencer; mas o adquirente d'esse lote fica egualmente sujeito á obrigação de cultura, e ao perdiraento d'elle, na forma do artigo antecedente. 7.* Que no caso de abandono ou fal- ta de cultura, depois da fazenda nacio- nal se apossar d'esses bens, serão ven- didos em hasta publica a quem maior pre- ço offerecer. 8.* Que a obrigação de cultura é só imposta por dez annos contados desde o dia da entrega dos bens repartidos. 9.^ Que o governo poderá ceder ás camarás municipaes e juntas de parochia os bens, de que se falia no artigo 2.°; mas de forma que os bens cedidos a es- ses corpos collectivos nunca sejam d'egual ou superior valor aos que tiverem de ser repartidos entre os moradores visi- nhos. 10.^ As camarás municipaes e juntas de parochia ficam também restrictamente obrigadas a cultivar os bens cedidos pelo estado, ou a fazerem construcções, plan- tações, jardins, viveiros de arvores, ou quaesquer melhoramentos de reconhecida utilidade publica. 11.* As camarás municipaes designa- rão os terrenos para as plantações de ar- vores que os cidadãos são obrigados a fazer, quando estes não tenham terrenos, ou não as queiram plantar nos seus pró- prios. 12.» Os bens baldios, de logradou- ro commum, na forma declarada nos ar- tigos antecedentes, ficam d'esta forma abolidos. Estas disposições serviriam para me- lhorar a agricultura nacional, e com a ajuda indispensável do tempo se arran- caria ao abatimento, que a prostra. O aproveitamento dos baldios é hoje sonho dourado, que amanhã se pôde converter em realidade, se os poderes públicos, inspirados do amor da pátria, tomarem a peito esta questão, e praza aos ceos, que estas linhas sirvam sequer de incentivo para pensadores mais peritos, hábeis, e experimentados do que nós escreverem so- bre tão importante assumpto. Murça. Basílio C. de A. Sampaiq, O AQUÁRIO (') São innumeras as plantas que ainda | devemos de esperar ; comtudo o numero se podem accrescentar a este departamen to da Horticultura. Os descobrimentos d'estas plantas or- namentaes são ainda poucos para o que (1) Vide J. H. P. Yol. II, pag. 79. d'ellas tem ultimamente augmentado. Espero que os leitores tenham feito as suas experiências e que não só hajam sido felizes, mas ainda adquirido mais gosto por estas bellas plantas. Darei agora um resumo das mais no- 116 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA taveis que ficaram por mencionar, com uma breve descripção de cada uma. Pistia Stratiotei, planta natatoria de bonito effeito. Vallisneria spiralis, notável pela cu- riosidade que apresenta das flores femini- nas, que sào sustentadas por longos pe- dúnculos, se acharem na superfície da agua eraquanto que as masculinas estão no fundo e, no momento em que deveoperar-se a fecundação, dilatar-se o pedúnculo d'es- tas para procurar á superfície as flores femininas, voltando em seguida a occu- par a posiçiío primitiva. Ilydrolea spinosa e //. quadrivalvis ; flores azues j a primeira é assas orna- mental. Xyris calocephala, muito delicado, á similhança do Isolepis. Hydropeltis purpúrea, de lindo eflfeito. Limnocharis Plumierii, flor amarella elegante. Philydrum lanceginosum, folhas gran- des felpudas, serve bem para destacar. Thalia dealbata, flores azues, folhas largas. Xtrctis longifolia, muito elegante. Hydrophyllum canadtnse, de cor bran- ca, merece um logar na coUecção. Além d'estas ha muitas outras, mas que me parece não merecerem tanto os cuidados d'um amador, que não seja col- leccionista d'esta especialidade. Lisboa. D. J. deNautet MoNTEiKO. CHROIÍICA O «Jornal do Commercio», da nossa metrópole, publicou recentemente um ar- tigo sob a epigraphe Jardins que o «Jornal da Noite» da mesma cidade trans- creveu, e que nós lemos com intima sa- tisfação por ver que a imprensa se vae occupando d'um assumpto que ainda ha pouco tempo nenhuma attenção merecia. O jornal acima citado, depois de las- timar que Lisboa não tenha tantos jar- dins quantos deveria e poderia ter, dignos d'esse nome, diz : a Na parte mais elegivel da cidade existe uma arca de campo, com raras edi- ficações, que sem grande dispêndio po- deria ser expropriada, para se converter em bellos e bem arborisados jardins ; c entre o Salitre, Santa ^lartha e Santa Joanna de um lado, e Valle de Pereiro de outro, descobrindo um extenso e va- riado panorama. Dá-se a circumstancia de se poderem abrir commodas entradas para estes jar- dins em todas as suas extremidades, já do lado da rua das Pretas ou Salitre, já de Santa Joanna, de S. IMamede e Valle de Pereiro ; tornando-os assim de fácil accesso e aproximando os dous sitios mais frequentados. Porque não emprehende isto o gover- no, em logar da abandonada lagoa do Campo Grande? Porque não dota a ci- dade com este melhoramento, estabele- cendo-se uma taxa especial sobre os ha- bitantes dos três municípios de Lisboa, Belém e Olivaes para cobrir o juro e distrate de um empréstimo, contrahido no paiz, e destinado exclusivamente para aquella despeza, empréstimo que poderia ser economicamente administrado por uma commissão de homens bons, escolhidos nos três municípios '? Se a nossa voz tivesse echo, diríamos que nunca é infecunda a applicaçSo do preceito: procurae e achareis. d As obras que propõe o «Jornal do Commercio» são realisaveis e a capital muito teria a lucrar com ellas ; e com- quanto Lisboa já tenha o Passeio Publi- co^ a Estrella, etc, não possue o bastan- te n'este género para a população d'a- quella cidade. Não quizeramos porém que se suspen- dessem as obras do Campo Grande, por- que, depois de concluído, seria um dos passeios mais agradáveis das proximida- des de Lisboa e a sua área permitte que se faça um parquesinho á maneira dos que ha em França e Inglaterra. No Porto também ha falta de jardins públicos ; e mui principalmente se tomar- mos o adjectivo no seu próprio sentido. Sem querermos ofFender os vereado- res que têem tido a seu cargo o pelouro da jardinagem, ó justo confessar que o snr. visconde de Villar Allen prestou JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 117 muito á cidade durante o tempo que ad- ministrou este ramo dos serviços muni- cipaes. E, senão, lancemos uma vista retrospectiva sobre o que se fez duran- te a vereação de que aquelle cavalhei- ro fez parte. Está bem patente, e por- tanto é inútil apontal-o. Além do que se deve á sua efficaz iniciativa, queria fazer uma square ou passeio recreativo em Ca- mões, e outro na praça de Carlos Alber- to, porém a camará objectou dizendo que o primeiro local estava destinado para um mercado e que no segundo havia ideia de brevemente se fazer uma elegante fonte. Ha três para quatro annos que isto se di- zia, e onde está o mercado do largo de Camões e a fonte da praça de Carlos Al- berto? Estão sem duvida na imaginação dos architectos ! Sabemos que emquanto o snr. viscon- de de Villar Allen esteve na camará mu- nicipal como encarregado do pelouro dos passeios públicos, recommendava que não se tolhesse a entrada a pessoa alguma, a não ser que viesse incommodar as outras pessoas cora carretos, etc. E quando apre- sentou em camará a proposta para aquel- les passeios de que acima falíamos, bem como do dos Martyres da Pátria, que fe- lizmente se executou, foi sempre cora ideia de que similhantes locaes, arborisados e ajardinados, fossem completamente acces- siveis a todas as classes como os que ha nos paizes mais adiantados, onde os inspectores ou guardas não têem nada que ver com o calçar ou com o vestir do ope- rário que, em muitas terras, no inverno anda de sabot e a quem nem por isso é interdicta a entrada. Em Pariz, no parque Chaumont, no de Monceaux, no bosque de Boulogne, no de Vincennes, no jardim do Luxerabourg, e, se não estamos equivocados, também nas Tuileries ; em Londres, em Hyde-Park, St. James's, Park, Victoria Park e outros, vê-se nas horas de descanço e em dias fe- riados o operário passeiar e descançar tranquillamente n'aquelles recintos para a manutenção dos quaes elle concorre com a sua quota-parte. Entre nós diz-se que não se deve admittir nos jardins o proletário, ou, por outra, aquelles individues que não traja- rem com a precisa decência, sendo com- pellidos, no caso de quererem ter entra- da, a trocar o seu sapato de couro e pau (tamancos) por o de couro só (cothurno). E d'este modo civilisa-se a pobreza ! Esta providencia seria irrisória, se não fora cruel, porque, se um ou outro pôde su- jeitar-se a taes exigências, muitos ha a quem não é possível satisfazer os pre- conceitos da sociedade mais endinheirada e que por consequência deveria ser mais illustrada e muito menos melindrosa. Quizeramos inocular na ideia do pro- letário que para elle ser admittido n'um passeio publico é mister que largue o seu trajo de trabalho ; mas estamos longe de acceitar o modo como o querem compe- netrar d'isso. Façam como o finado prín- cipe consorte da rainha de Inglaterra que fundou uma associação em Windsor, que dava prémios ás farailias pobres que mos- trassera mais limpeza e melhor arranjo no interior das suas casinhas ; ás creadas e creados que tivessem melhor comporta- mento ; ás creanças que fizessem mais pro- gressos nos seus estudos, etc, etc. E' este o verdadeiro caminho a se- guir-se, querendo inplantar a valer a ci- vilisação no paiz ; e emquanto não se col- locarem os 7'ails que devem servir para levar o comboyo do progresso a esse pon- to— á civilisação — queremos que aca- mara municipal se resolva a pôr os jar- dins públicos francos a toda a classe de pessoas. Esta corporação é illustrada e deve, reflectindo, vêr que o seu procedi- mento é menos justo e popular. A's linhas que se acabam de ler va- mos juntar, como útil exemplo, uma noti- ciasinha de Mr. Delchevalerie do seu in- teressante folheto «Flore exotique du Jar- din d'acclimatation, de Ghézireh» sob a epigraphe — aCaracter democrático dos jar- dins no Egypto» e que transcrevemos em abono da opinião que sustentamos. « Em todos os paizes civilisados a introducção dos vegetaes é objecto de uma predilecção geral, porque é ao mes- mo tempo ura elemento de hygiene, de divertimento e de recreio, uma arte útil e uma fonte de commercio e de progres- so scientifico. Hoje coUecionam-se plantas nos jar- dins do mesmo modo que se fazem gale- 118 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 1 ias de quadros, museus darte, etc. Os so- beranos rodeiam os seus palácios com as produc^uos mais raras do reino vegetal e ojardimde Ghézireh (Egypto)é um exem- plo do que dizemos. As cidades têem um parque, um bosque nas suas visinhanças, e a maior parte d'ellas têem também um- brosos boulevards e sqiiarts. A cidade do Cairo tem o jardim de Ezbékieh e um grande numero das ruas já estào plantadas com arvores. Actual- mente vae-se ás pyramides sob a sombra produzida por uma immensa avenida plan- tada de Acácias Lebbek ; pode-se visitar os subúrbios do Cairo, taes como, Ghyzé, Choubrab, Abbassieh, Kobbeh, Velho- CairO; e outros indo-se sempre por longas estradas cobertas por bem tractado arvo- redo. O governo de S. Alteza comprehen- deu bem o caracter democrático que era preciso dar aos jardins e aos passeios pú- blicos e comprehendcu outrosim que o po- vo c os trabalhadores careciam de jardins onde podessem repousar. As squares sào pois os jardins de to- da a gente e faz-se portanto todo o possi- vel para as tornar bellas e attractivas.» Confrontando agora o que succede no Cairo com o que se passa entre nós, sem- pre ousaremos perguntar, porque deseja- mos saber : Qual será a terra da mouris- ma, lá ou cá? Que nos lesponda o bom-senso. — Aconselhamos a leitura da seguinte carta que tracta de ura assumpto summa- mente importante para o paiz, como é a elaboração d'uma Flora. E, porém, prin- cipalmente o governo que deve occupar- se d'elle, porque difficilraente haverá ini- ciativa particular que se atreva com uma obra de tanta ponderaçào. Prc>acii>sinio amigo. — Permitla-me que chame a sua altcnvão para uma grande lacuna que ha na nossa sciencia, lacuna tanto mais sensível, quanto é certo que nos conipromette aos olhos dos estran- geiros. E pois pelo jornal que V. tão dignamente redige aue eu quero ser o interprete de alguns botânicos c diversos paizes que desejam vivamente estudar as plantas indigenas do no»o bcllo Portugal. l'o- rém, para as estudar, é mister que tenham os exemplares indispensáveis, c é por isso que os pro- fessores A. Braun, de Heilin ; G. Meissncr, de Bil- le; K. Casnary, de Kofnigsberg ; V\illkomni,de Worpal; J. Uecaisne, de l'ariz, e Heuter, de Gcno- Ya, me téem escripto para lhes mandar sementes. amostras seccas e em álcool, de algumas das espé- cies indigenas. Além disso, tanto elles como nós, carecemos de uma obra ao nivel do progresso em que está actualmente a sciencia — um tractado sobre a ve- f;etavão espontânea d'este paiz ; e é essa uma ver- gonhosa lacuna. As obras de Brotero, taes como a «Flora Lusita- nicai» ea «Miytographia» são, na verdade publica- ções clássicas e bem dignas de ser consultadas, ftlas, infelizmente não correspondem ás exigências do tempo e estão longe de abraçar tudo o que concer- ne a uma das mais ricas Floras da Europa. Conheço, porém, alguns cavalheiros que pode- riam encarrcgar-se de escrever uma nova Flora do paiz, sendo que, por uma razão que me é alheia, hesitam em empreliender um trabalho tãoglorioso e que os collocaria em immorredouro pedestal. Faço vehemenles votos para que um botânico portuguez se decida a emprehender esta ordem de trabalhos, e para facililar-lhe o empenho seria bom que as pessoas que se occupam da botânica lizessem íiequentes herborizaçOes para enriquecer os seus llerbarios com o que viriam a contribuir eflicazmen- te para adiantar a publicação da obra que todos nós desejamos. Antes de concluir esta carta, dir-lhe-hei raais duas palavras sobre uma planta medicinal que me parece prosperar e cuja inlroducção se poderá trans- formar em manancial de riqueza. È o Exogonium l^iirga, da familia das Convolvulaceas e originário do México. Produz-se por meio dos seus tubérculos a verdadeira Jalappa, medicamento de grande mé- rito e de um preço muito elevado ; e como esta planta é cada vez mais procurada no seu paiz natal, lem-se tornado raríssima. Assim é que um dos pharmaceuticos mais conhecidos de Londres, Mr. D. llanbury, recommcnda no i(Gardener's Chroni- cle», a sua cultura no meio dia da Europa. Em virtude do pedido que eu dirigi áquelle ca- valheiro, dígnou-se envíar-me quatro tubérculos d'esta Convolvuíacea, assim como alguns aponta- mentos sobre a sua cultura. Plantei-os em difle- rentes sítios d'este jardim e mais tarde dar-lhe-hei uma notícia sobre o resultado das minhas experíen- cias. Seu amigo dedicado, etc. Coimbra — Jardim Botânico. Edmond Goeze. — Nas circuuivisinhanças de Bordéus, têem-se feito ultimamente grandes plan- tações do Pinus marítima (Pinheiro bra- vo). — Dizem-nos de Inglaterra que a Wisteria chineiisis (Glicínia) fructitícára n'aquelle paiz o anno passado. Entre nós esta trepadeira é muito an- tiga, mas não nos consta que tenha fru- ctiíicado. Ainda bem que multiplica com extrema facilidade pela mergulhia. — A Keal Associação Central da Agri- cultura l^ortugueza acaba de fundar um laboratório, onde se procederá ás analy- scs chimicas que forem solicitadas, me* JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 119 diante um preço moderado, a fim de que os agricultores possam com pequeno sa- crificio adquirir os esclarecimentos de que por ventura carecerem. Os indivíduos residentes na capital poderão dirigir-se todos os dias úteis, das 10 horas da manha até ás 4 da tarde, á Real Associação Central de Agricultura Portugueza ; os residentes na provincia ao secretario da mesma associação, o snr. Luiz Augusto Martins de Andrade. — Tem acontecido a muitas pessoas de nossas relações lançar á terra nos me- zes de março e abril semente de Amorei- ra, e germmar apenas uma quantidade insignificante, attribuindo geralmente es- te facto á má qualidade da semente. Não duvidamos que algumas vezes se- ja essa a razão ; comtudo, segundo as nos- sas observações, viemos á conclusão que a semente da Amoreira para nascer bem em Portugal deve ser lançada á terra nos fins de maio ou principies de junho. Já tínhamos tomado isto como regra, e foi com prazer que vimos ao acaso confirmadas as nossas experiências n'um magnifico tractado de sericultura pelo dr. Antoino Pitaro, intitulado «La Science de la Sétière». Fallando da sementeira da arvore do futuro, diz o dr. Pitaro que a epocha própria é o mez de maio nos pai- zes quentes, no mez de junho nos paizes temperados e ainda mais tarde nos pai- zes frios. Claro está portanto que a se- menteira no nosso paiz não deve fazer-se antes de maio. O terreno onde se quer fazer a se- menteira deve ser devidamente estruma- do e cavado, e em seguida traçam-se ta- boleiros que tenham aproximadamente 1",20, separados por umas ruasinhas de 20 a 30 centímetros de largo. Lança-se a semente á terra e cobre-se muito ao de le- ve com terra pulverisada, de modo que as sementes fiquem quasi na superfície, por- que a agua ou ainda as chuvas tomarão a seu cuidado leval-as á profundidade precisa. Dever-se-ha manter a terra fresca por meio de rega feita por infiltração, intro- duzindo a agua nas ruas que devem ter pequenos regos junto aos taboleiros, ou com regador de roseta muito fina. — Algumas vezes queremos plantas para dispor nas brechas dos muros do nosso jardim e não nos podemos recordar de repente d'aquellas que poderão ser mais adequadas a esse intento. A seguinte lista poupará todo o trabalho aos nossos leito- res, Ahi têem os vegetaes que mais lhes convêem : Corydalis lutea, Araòis areno- sa, A. petrcea, lonopsidium, acaulo Eeseda odorata, Túnica Saxifraga, Dianthus cce- sius, D. petroius, Lychnis alpina, Arena- riahalearica, muitas variedades de Sedum, de Sempervivum, de Saxifragas e outras plantas cuja menção achamos desneces- sária. — A vinheta n.° 32 que representa um vaso rústico para salas, devemol-a aos- snrs. Dick Radc]yfí'e & C", de Londres. Fig. 32 — Vaso rústico para plantas. Como se vê da gravura, é um vaso rústico, porém reúne á sua rusticidade a elegância, o que nem sempre se encon- tra em taes obras. Entre nós está pouco em voga este género de objectos de ornamentação ; em Inglaterra o caso é outro. Não ha casa que não possua uma caixa, ou um vaso de cortiça ou de madeira rústica, capri- chosamente feito, e adornado com bellas plantas de folhas zonadas ou variegadas. Nos salões encontramos alli as procel- lanas de Sèvres, e nos aposentos particu- lares e íntimos as obras de cortiça. Cada cousa em seu logar. — O pulgão lanígero, esta praga que invadiu os nossos pomares, diz-se que ó originário da America, d'onde, ao que pa- rece, foi importado para França depois da ter assígnalado a sua passagem por In- glaterra, aífectando as Macieiras e adqui- rindo também alli os seus foros de ci- dade. Doeste lado da Mancha, crê-se que atacara primeiramente as arvores da Nor- mandia antes de visitar as immediações de Pariz, e finalmente os demais depar- tamentos da França. Prescindindo de averiguar estes dados 120 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA coronologicos e históricos, limitamo-nos a chnsiernar que o mal também existe entre nós, e que é preciso combatel-o : a este ponto visamos. Haverá vinte annos que Mr. Bossin teve occasião de observar, na sua pro- priedade de Ilannecourt, os estragos d'este insecto damninho em dous indivíduos — a Macieira reinetfe du Canada, e a M. cal- ville hlanche. O tronco, os ramos e as ver- gonteas novas da reinette du Canada nao spresentavam senão cavidades e exosto- aes ; a calvillecstavii menos aíFectada. Ou- tras plantações novas de Macieiras co- meçavam cgwalnicnte a soífrer. Mr. Bos- sin experimentou todos os remédios indi- cados nos livros e collecções de horticul- tura, mas sahiram-lhe inefficazes. Ao ca- bo de tantas tentativas infructuosas, oc- correu-lhe tractar simultaneamente o tron- co e as raizes, e conseguiu desembaraçar- 86 completamente d'este insecto nocivo. Eis como procedeu, segundo as suas pró- prias palavras : a Escavámos ao pó das nossas Maciei- ras a uma profundidade de 20 a 2õ cen- tiraetros, formando um circulo em redor do tronco, da mesma largura aproxima- damente. Lançamos no fundo d'esta es- cavação uma camada de carvão pulveri- sado, da espessura de 8 a 10 centimetros, que abafamos logo com a mesma terra. Feito isto^ banhamos e corpo da arvore, os grossos e pequenos ramos com a se- guinte composição : . . . 10 litros 1 kilogr. 1 gram. . . 2 kilogr. Para banhar todas as partes das ar- vores com esta composição, bem diluida n'um pequeno balde, servimo-nos d'uma broxa grossa e d'outra mais fina para chegar mais facilmente aos contornos dos botòes e ás bifurcações mais delicadas. Por duas vezes, e com alguns dias de inter- vallo, repetimos a operação com a mistu- ra acima indicada. Quanto ao carvão, abstiverao-nos de lhe tornar a mecher. Pensando que o pulgão lanígero dei- xava os ramos e o tronco das Macieiras, onde habita durante o estio, para descer no outomno ás raizes e passar alli o in- verno, procedemos nos primeiros dias de Agua .... Cal viva . Enxofr» em pó . Guano do Peru . dezembro, logo depois da queda das fo- lhas, ao nosso tractamento sobre as raizes e ao banho no tronco e nos ramos. Ha mais de quinze annos que empre- o-ámos estes dous meios pela primeira vez e pudemos affirmar que nunca depois d'a- quella epocha tornou o pulgão lanígero a perseguir as nossas arvores assim tracta- das.» Outro horticultor illustrado, Mr. Daras, diz-nos que obtivera o mesmo resultado com a seguinte mistura : Sai lie soda, diluído em agua quente 20 gram . Sabão negro 20 » Mislura-se, perfazendo ao todo 500 grammas de liquido. Passe-se um pincel imbebidon'este li- quido pelas partes aftectadas da arvore, que o insecto desapparecerá. Este processo é simplicíssimo. Parece- nos comtudo que o de Mr. Bossin é mais racional e acaso de mais larga e geral applícação. Agora que o Phylloxera vas- tatrix destroe uma parte dos vinhedas do meio dia da França, e pôde por má ven- tura nossa visitar-nos, é útil observar que talvez o carvão e banho empregados por este modo sejam efficazes contra o novo flagelo. — Mr. Maillard recommenda, para evitar a moléstia das Batatas, uma disso- lução de 80 grammas de sulphato de co- bre era 10 litros de agua doce, imergindo n'esta solução 200 grammas de zinco du- rante 12 horas e retirando o metal de- pois d'este tempo. Em seguida lançara-se os tubérculos n'esta preparação por espa- ço de 10 horas, plantando-se imraediata- mente. Mr. Maillard assevera que desde que faz uso d'este processo, as Batatas não toem sido atacadas do mal. — Não ha quem não tenha ouvido fallar na espantosa fecundidade da Videi- ra de Hampton Court, em Inglaterra. Agora, diz-nos o «Messager du ]\Iídi» alguma cousa análoga com relação á ferti- lidade de uma Videira em S.'" Hélène (Montastruc) no meio-dia da França. Produziu a tal cepa 970 cachos que amadureceram completamente. Se todas as Videiras tivessem esta fe- cundidade ! Oliveieia Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 121 AGAVE FILIFERA Na Exposição Hortícola que teve lo- gar em junho de 1869 no Palácio de Crys- tal, expoz o snr. João Mendes Osório dous exemplares da Âgave Jilifera, já bastante fortes, que prendiam a vista dos visitan- tes apaixonados pelas plantas ornamen- taes. Já conheciamos esta Agave ; porém foi alli que lhe demos o apreço de que é di- gna. Observámos que destacada no jardim produziria bom effeito ; sobre um pedestal se tornaria extremamente bella, e emfim perto de qualquer obra rústica nos traria á ideia a America-central — d'onde ella é oriunda. Sentimos o pouco uso que se faz das Agaves nos nossos jardins. A que devemos attribuir isto? Dar-se- ha o caso que ellas sejam destituidas de belleza ou que a sua cultura seja difiScil? Não! As Agaves têem um porte nobre, pit- toresco e grandioso, não tendo ao mesmo tempo a sua cultura particularidades ; e são estas as razões porque as quereríamos ver introduzidas com profusão. Fig, 33 — Agave fili fera No género Agave ha algumas que são caulescentes e outras acaulescentes. A Aga- ve jilifera pertence a estas ultimas, e é de certo, — no dizer de Mr. Charles Lemaire, — uma das mais bellas do género debaixo de todos os pontos de vista, merecendo por isso o mais subido apreço entre os verdadeiros amadores. No principio d'esta noticia fizemos comprehender aos leitores que era uma planta de porte elegante, realmente orna- mental e pittoresca ; resta-nos accrescentar, que é de uma inflorescencia extremamente 1872 — Vol.m graciosa, muito mais bonita e de colorido mais bello que as suas congéneres. Com effeito, suas innumeraveis corollas, muito juntas e dispostas em espigas, são de 50 a 60 centimetros de comprimento, de um amarello desmaiado, com o limbo com seis lóbulos da mesma cor, orlado de ver- melho avinhado, e assumindo finalmente em pouco tempo esta cGr. Seus longos es- tames e estilete são vermelhos, e fazem um bello eífeito, em quanto que o indivi- duo florifero apresenta uma forma hemis- pherica, composta de muitas tolhas lanceo- N°. 7— Julho 122 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA ladas, muito espessas e rígidas ; sendo as inferiores patentes, as seguintes cada vez mais erectas, á medida que se aproximara do centro, o qual, antes da inflorescencia, tem a forma de um cone bastante espesso e agudo. Temos visto exemplares que têem as folhas verdes, glaucas, azeitonadas e es- curas. Egualmente observámos que em al- guns exemplares os bordos e os filamen- tos eram esbranquiçados, avermelhados, tendo por vezes estas cores bastante pro- nunciadas. Outro tanto succede com as duas estrias que as ornam e cujo colorido é mais vivo, mas sempre em relação com os bordos das folhas alternas do centro, sobre as quaes estes bordos se encontra- vam apertadamente antes de se soltarem e tornarem patentes. Em conclusão diremos que a Agave jilifera, uma das mais bellas do géne- ro, é principalmente notável pelos nume- rosos filamentos que se destacam das fo- lhas e pelas duas estrias de que acaba- mos de íallar. Oliveira Junioe, HERBARIUM CRYPTOGAMIGUM (^) DO PORTO E SEUS ARREDORES — COLLECÇÃO DE CRYPTOGAMICAS Blechnum spicantWith. Syn. — Loma- ria, Aci'ustickum Brot. (Nome dado pelos gregos a um Ftto.) Este Ftto é muito abundante por todos os logares húmidos sombrios e principalmente em Fanzeres, junto dos regatos, prezas e minas d'agua, aonde é muito desenvolvido, espalhando- se e crescendo vigorosamente. Possuo as frondes bipartidas, tripar- tidas, e qaadripartidas ; todas de Fanze- res aonde são muito frequentes. Ceterach officinarum AVild. Syn. — Grammatis, ^s/?^t;»iáím (Nome árabe dado á planta.) No Porto e circumvisinhanças : em Fanzeres e principalmente em Aguiar do Souza, aonde abunda nas fendas das paredes e no Castello d' Aguiar. Este c vulgarmente a Douradinha. Scolopendrinm vulgare Sym. Syn. — Of- jicinale Sw. Aspleniimi scolopendrium Linn. (Mil pés, Centopêa). Em Fanzeres e nos arredores do Porto, principalmente em Paranhos. Possuo as frondes bipartidas e tripartidas de Fanzeres aonde são fre- quentes. A variedade recortada, frequente em Villa Nova de Gaya e Paranhos ; a varie- dade recortada de ponta redonda, também de Paranhos. Este ó vulgarmente a Lín- gua Cervina. Asplenium lanceolatum Huds. (Sem baço). E&to Feto 6 abundantíssimo por to- da a parte, nas fendas dos muros. Possuo lambem as frondes bipartidas de Fanzeres. (1) Vide J. II. P. vol.m.pag. 85. Asplenium adiantum nigrum Linn. Syn. — Acutum Bory. Em Fanzeres, Villa Nova de Gaya, Paranhos e Lordello, d'onde possuo as frondes bipartidas. Este é vul- garmente a Avenca negra. Asplenium trichomanes Linn. Em Fanzeres e arredores do Porto, nas pare- des húmidas e nas minas d'agua, muito multiplicado. Alem das variedades maior e menor, possuo a variedade hastata(?), que encon- trei em Fanzeres nas minas bumidas e sombrias aonde não entra o sói; porem, é rarOi As pinnulas são pequenas e quasi orbículares, distantes umas das outras, ca- bendo ainda na distancia d'uma a outra uma pínnula á vontade ; e a ultima que termina a nervura media, em logar de ser alongada e aguda é hastata, larga e gran- de. Os soros arredondados e poucos, 2-4 em cada pínnula. Este é vulgarmente o Avencão. Asplenium marinum Linn. Em Leça de Palmeira, logar da Bôa-Nova, entre os ro- chedos da Costa, próximos da Capella; no Castello do Queijo, nas fendas das muralhas. Athyriumfilix foemina Roth. íS|yn. — As- pidium, Asplenium, Polypodium. (Sem portas). No Porto e seus arredores; em Fanzeres abundantíssimo nos logares hú- midos, aonde corre agua. Conservo as frondes bipartidas de Rio-Tinto. Tanto em Fanzeres como em Rio-Tin- to ó tão desenvolvido este Feto, que algu- mas frondes chegam quasi ao comprimen- to de meti'o. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 123 Conservo também cie Fanzeres as de- licadas variedades, e que são frequentes, cristada e arrendilhada , as quaes mais parecem outras espécies do que varieda- des. Este é vulgarmente o Feto fêmea. Aspidium íilix-mas Swartz. Syn. — Po- lysticum, Nephrodium Lastrea, Polypo- dium. (Escudo). Em Fanzeres, muito desen- volvido, e nos arredores do Porto, nos le- gares húmidos. Conservo a fronde bipartida de Fan- zeres ; porem, é raro. Encontrei ahi um exemplar grande, cujas frondes apresen- tavam quasi todas as pinnulas dando uma volta sobre si mesmas, similhante a um nó, das quaes conservo algumas no meu Her- bario. Este é vulgarmente o Feto macho. Aspidium dilatatum Swartz. Syn. — Las- trea. Em Fanzeres, Paranhos e Villa Nova de Gaya; mas em parte nenhuma é tão desenvolvido, como em Paranhos, tanto na espécie como nos individues, nos le- gares sombrios e húmidos. Algumas fron- des excedem um metro em comprimento, apresentando manchas d'um branco ama- rellado na parte superior. Possuo as fron- des bipartidas de Villa Nova de Gaya, bem como uma variedade com as primei- ras pinnulas muito separadas umas das outras. Aspidium aculeatum Swartz. Syn. — Polystichium, Nephrodium, Lastrea, Po- lypodium. Em Fanzeres e arredores do Porto, muito desenvolvido. Encontrei e conservo no Herbario uma variedade com os soros cobrindo a terça parte das pinnulas, para as extremidades. Cystopteris fragilis Bernh. Syn. — As- pidium, Polypodium, Cyathea. (Bexiga). Esta mimosa e delicada planta vive em to- dos os arredores do Porto e é muito abun- dante nos legares húmidos, junto d'agua. Conservo as frondes bipartidas de Fan- zeres, aonde é frequente, assim como por outras partes. Davallia canariensis Sm. Syn. — Tri- chomanes. Eis-nos chegados ao mais bello 8 formoso Feto do nosso paiz. O dr. Don Casimiro Gomez d'Ortega, na «Flora Es- panhola» por Don Joseph Quer, 1784, fallando d'este Feto, diz : «Esta rara e hermosa planta la he visto en Galicia jun- to á Pontevedra, antes de entrar en el puente viniendo de Santiago, como tam- bien en los muros de la raisraa Villa, y en outros muchos sitios circunvicinos en las cercas de los caminos y heredades. Es perene, y conserva todo el ano un ver- de muy hermoso.» Aqui, nas visinhanças do Porto, vive na Serra do Pilar, S. Cos- mo, margens do Rio Ferreira, em Cance e nas margens do Rio Sousa, aonde é ex- tremamente multiplicado, desde a ponte de Senande até á cascata do Roboredo, trepando pelos rochedos e raostrondo a mais forte e vigorosa vegetação, osten- tando um verde lustroso e brilhante e de- senvolvendo de tal sorte as frondes, que, sendo o meu Herbario formado de folhas inteiras de cartão, foi-me preciso rejeitar algumas das frondes maiores, para as po- der accommodar. Osmunda regalis Linn. (Nome d'uma divindade céltica emblema da força). Fan- zeres e as redores do Porto ; nas margens do Rio Ferreira é abundantíssimo, e al- guns tão antigos, que amontoadas as rhi- zomas, se elevam debaixo da apparencia de stipas, assimilhando-se a Fatos arbó- reos. Este é o Feto real. Deixando agora as cryptogamicas, co- mo fizera já no artigo antecedente, de novo fallarei na Rossdis, reiterando o que d'ella havia dito, e mudando-lhe o nome especifico, que, por a ter visto melhor, me parece ser antes a Drosera inter- média. Emquanto á sua cultura em va- sos, parece-me fácil, por as ter conservado e terem-me crescido e vegetado bem. Em vasos preparados com boa terra, com a ultima camada coberta de musgo, para lhe conservar a humidade, colocadas, por entre elle, as plantas, abrigadas em estu- fa e regadas três ou quatro vezes por dia, podem crescer e viver vigorosamente. Po- rém, para que o vaso seja mais vistoso e até bello e dos mais agradáveis que se po- dem offerecer á nossa vista, deveria elle, um pouco largo, preparado como disse e tapando-lhe o fundo, para se poder encher d'agua e conserval-a, conter por entre os musgos e Hepáticas, além das Droseras, uma outra planta, que encontrei nos mes- mos legares juntamente com ellas. O verde pallido das folhas, rentes ao chão, com as finas, e arroixadas veias ; a sua forma revolta e disposição estrellada j 124 as elevadas e delicadas hastes vellosas, no cimo das quaes abre a flor, isolada, monopetala, quinquetida, calcarada; d'uni violete desmaiado e branca, raiada de ver- melho, forma um rico e variado esmalte, por entre o aljofarado carmim das Dro- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA serás. Esta pequena planta é a Pingui- cola lusitanica de Linneu. Vive sempre com a raiz na agua ou em terrenos constantemente húmidos. (Continua), A. Luso. REVISTA SOBRE A JARDINAGEM (') Jardim do Palácio de Crystal.— Per- tencente a uma sociedade, este jardim é muito concorrido^ principalmente no ve- rão, por estar collocado em uma posição magnitica donde segosam variadissimos, e admiráveis panoramas ; a sua planta- ção, e disposição estão no gosto moderno, 6 sendo plantado já ha annos, as arvores não se tem desenvolvido muito, o que at- tribuo á exposição da barra, desabri- gos do norte, e talvez á qualidade do solo. Quando o arvoredo estiver bem de- senvolvido, e copado, será um dos rne- Ihores passeios da bella cidade da Vir- gem, não só pelas obras de embelleza- mento", que já possue, e que a sociedade deve augmentar, mas também pela sua especial, e encantadora posição d'onde se gosam dilatados horisontes, admirados por nacionaes, e estrangeiros. O chaltt, e pavilhão são de forma elegante, e a ca- pclla, que a piedade fraternal da princeza Augusta de Montlear mandou erigirá me- moria de Carlos Alberto é um padrão que muito ennobrece, e embelleza este jar- dim. Não posso deixar de aqui pedir ao jardineiro, que substitua as Acácias me- lanoxilun que estão em volta da capella por outras arvores de melhor effeito por- que me pareceram aquellas demasiado mo- nótonas. A cultura, e limpeza dVste jardim não ó descurada pelos empregados, po- rém a collecção de plantas não é das mais escolhidas ; precisa de mais variedades de lindas plantas, não esquecendo as de folhagem variegada e melhor tractadas as relvas. Jardim do campo de SanfAnna, Bra- ga.— Este jardim, plantado ha poucos (l) Vide J. II. r, vol. 111, pag. 106. annos, é um dos bellos passeios públicos do nosso paiz ; o seu risco elegante, eao gosto moderno^ dá honra ao jardineiro paízagista que o delineou; as ruas late- raes são espaçosas em relação á sua ex- tensão, e peia excellente coUocação das plantas que as orlam bem se conhece o gosto do artista, que o plantou. Tem ura bonito lago^ que devia ser mais abundante d'agua ; o pavilhão é de lindo risco, e uma das obras que mais em- bellezam este jardim é o kiosque envidra- çado com vidros de cores, collocado so- bre um rochedo artificial no centro de um lago; é pena, que este seja tão pequeno, e desguarnecido de plantas aquáticas. De todos os jai-dins públicos, que te- nho visto, exceptuando o da Estrella, é este o que tem melhor collecção de plan- tas, e alli se admira ura soberbo Eucaly- ptus globulus, que sendo plantado ha oito annos, tem talvez mais de vinte metros de altura! Também ha alli alguns cara- mancheis, ou casinhas de fresco assom- bradas por uma só planta de folhagem espessa, plantada no centro, o que é de ura bonito gosto e lindo effeito, e que ainda não tinha visto era outros jardins públicos ou particulares. A cultura e limpeza são feitas com es- mero e attenção, e aos futuros municí- pios, que a Brachara augusta eleger, d'aqui lhes supplico para que não deixem de prestar o seu zelo e cuidados a este bel- lo jardim de que se pôde ufanar a terceira cidade do reino. Gosa-se d'este passeio a vista da admirável montanha arborisada do Santuário do Bom Jesus. Jardins particulares, Cintra. — Na aprazível e fresca Cintra, entre muitas quintas e jardins, que ornara esta linda villa e seus subúrbios, ha dous legares dignos de admiração, e que todo o via- jante deve visitar; o castello e quinta da JORNAL DE HORTICULTUBA PRATICA 125 Pena^ pertencente a Sua Magestade El- Rei D. Fernando, e a encantadora quinta do Monserrate, pertencente actualmente a um rico cavalheiro inglez. Fallarei da primeira^ e depois da segunda. O castello árabe da Pena, mandado construir pelo seu actual possuidor, revela perfeitamente o gosto do :eal e sábio ar- tista, que o delineou; admiram-se alii os rendilhados, e arabescos da Alhambra de Granada, coUocados cora tanta perfeição gosto, e arte, que o visitante menos apaixonado por architectura não pode dei- xar de extasiar-se na presença de tantas bellezas. Este soberbo edifício está construído sobre um elevado rochedo no mais alto cume da serra, onde outr'ora as águias talvez fossem construir seus ninhos, e posteriormente a piedade dos fieis erigiu alli uma ermida á Virgem Nossa Senho- ra. Em 1503 o grande rei D. Manuel mandou construir naquelle logar um mos- teiro para os Jeronymos, hoje convertido em régio alcaçar admirado por nacionaes e estrangeiros, d'onde se gosam variadas e encantadoras vistas. Não vem aqui a propósito mencionar as bellezas archite- etonicas d'esta real mansão, por isso fal- larei dos seus lindos jardins ornados com beilissimas, e raras plantas entre as quaes predominam as Coníferas^ e as de folha- gem persistente ; foram plantados ao gosto moderno, e a sua cultura, e limpeza são feitas com toda a perfeição, e cuidado ; tem bellas carreiras seguindo algumas em espiral com bem lançadas voltas desde o cimo da serra até á base, no logar aonde está um bello lago com uma casa no cen- tro para a habitação dos alvos cysnes. Ad- mirei a pomposa vegetação das Camellias, e notei, que muitas carreiras eram bor- dadas de Pelargoniums zonaes, vegetando perfeitamente ao ar livre no alto da serra, prova evidentíssima da benignidade do clima d'esta excepcional montanha. Jardim, e quinta de Monserrate. — Esta magnifica quinta pertencente ao abas- tado inglez, o visconde de Monserrate, é digna de ser visitada por todos os via- jantes, que forem á pittoresca Cintra. Tudo alli foi executado com aprimorado, e lindo gosto ; a casa é notável pela sua architectura e riqueza de mármores, e os jardins pela elegância da sua forma, e variadíssimas cohecçÒes de magnitícas, e i-aras plantas. É notável o desenvolvi- mento das arvores e arbustos, que po- voam a quinta e jardins, e confesso, que admirei ver algumas plantas entre estas — Araucarids , MagmAius e Pcrseas in- dicas plantadas ha cinco annos, que ti- nham quasí três metros de altura ; é ma- gnitíca a collecção de Fetus, notando-se enrre elles bellos exemplares do — Ba- lantinm antnrdicum — Cilofiuni princeps, Dkkf^onia squarrusa, e outros muitos ; parecem-me excepcionaes a atmosphera, e o solo d'esta quinta, porque vejo não só o desenvolvimento excessivo de todas as plantas, mas também admiro a vege- em tacão em pleno ar de muitas, que outras localidades, apesar do nosso be- nigno clima, não podem deixar de ser recolhidas em estufa temperada no inver- no. É impossível descrever todas as bel- lezas d'esta quinta, sem occupar miiito espaço no jornal ; por esta rasão limito- me a recommendar aos viajantes, que fo- rem a Cintra, que vão a Monserrate ad- mirar o bom gosto, e riquezas architecto- nicas, e botânicas, que alli se encontram,. Jardins, e quinta do Lumiar. — E uma aprazível propriedade pertencente á família Palmella ; e merece ser visitada pelos amadores de bom gosto ; as ruas ar- borisadas com magníficas plantas são per- feitamente lançadas pelo terreno da quin- ta quasi todo em declive ; os jardins, plan- tados ao gosto moderno, são ornados com raras, e variadíssimas plantas, e perfeita- mente tractados ; as mattas têem soberbas arvores, e o lindo lago, ao fundo da quin- ta, povoado de alvos cysnes, e ornado em volta por veide, mimoza relva, e plantas aquáticas, é uma das obras, que mais prendem a attenção do visitante. O aviário aonde são creadas aves raras de brilhan- tes plumagens è também um dos orna- mentos que muito concorrem para a bel- leza doesta quinta. Quinta e jardins das Laranjeiras. — Esta soberba quinta, que era propriedade do Conde do Farrobo, é na minha opi- nião a primeira em magnificência de or- namentação. Não me proponho aqui des- 126 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA crever minuciosamente todas as bellezas d'e3ta magestosa quinta, por que mui lon- ge iria em tal assumpto; limito-me a in- dicar apenas as suas obras mais notáveis. Pelo lado da estrada de Bemfica tem uma elegante gradaria de ferro, e ao centro um bello portão, desde o qual segue em linha recta uma larfra rua até junto dos jardins em frente do magnifico palácio; no centro d'esta rua principal, guarneci- da de altas paredes de Buxo, admiram-se uma elegante pyramide de mármore do cores, e um soberbo lago, e varias estu- fas com vidros coloridos, e pórticos de mármore de architetura gothioa. São de uma bclleza notável o pequeno rio com a sua ponte pênsil, cujas pilares são de már- more ; a ilha copada por um magnifico Freixo, e o pavilhão chinez com sua ele- gante cúpula, rodeada de campainhas de crystal de cores, são obras muito notáveis, que provam o bom gosto de quem as man- dou construir. Os jardins em frente do palácio não são plantados ao gosto moderno, apresen- tando as regulares symetrias dos antigos, porem são magníficos, e povoados de va- riadíssimas plantas, ^ e ornados de ricos vasos de mármore. E pena, que esta lin- da quinta esteja em decadência, e em ris- co talvez de em breve serem destruídas as bellezas com tanta profuzão alli reuni- das, pois já em 1866^ quando pela pri- meira vez a visitei, se reconheciam signaes evidentes de pouco cuidado e attenção na limpeza e cultura d'esta excellente pro- priedade. Ahi tem, meu caro amigo, satisfeita a promessa, que lhe fiz, e se a não cumpro como devia em assumpto em que são ne- cessários vastíssimos conhecimentos, res- ta-me a satisfação de o ter feito expen- dendo fielmente o que tenho visto e exa- minado nos nossos jardins públicos, e par- ticulares. Casa da Soenga. Joaquim de C. A. Mello e Faro. CAIXAS DE PLANTAS PARA JAlíELLAS A cultura das plantas é a distracção mais innocente que o homem pode tomar para descanso dos seus trabalhos quotidia- nos. Que alegria não desperta n'alma a vista d^algumas flores por mais insignifi- cantes que sejam I Que doce prazer não é o descançar das fadigas do dia n'um jardim, respirando as suaves emanações da sua atmosphera ! Os habitantes das cidades, sendo os que geralmente mais precisam d'este gé- nero de distracções, vêem-se as mais das vezes privados d'ellas peia falta absoluta d'um palmo de terra onde possam deli- near um jardim. E' por isso, e sentindo a necessidade da companhia d'estas ele- gantes filhas da natureza, que aproveitam todos 03 logares que a sua habitação lhes subministra para os dar a esta cultura. D'e8te8, 03 mais procurados são as janel- las ; e com razão, porque além de forne- cerem boas condições para a vida das plantas tornam-se um excellente auxiliar da ornamentação dos edificios. Assim, cada janclla pode ser transformada n'um purissimo jardim, onde do companhia com as mais vulgares plantas podem ser culti- vadas outras de maior preço. N'esta cidade encontram-se eíFectiva- mente algumas caixas e vasos dispostos especialmente nas varandas ; porém essas caixas e vasos nem sempre abonara o bom gosto do seu proprietário. Além d^isso, os vasos tem um incon- veniente ; expostos como estão ao sol abra- sador dos nossos estios, seccam muito fa- cilmente, e por tanto, precisam de dupli- cado trabalho para a conservação das plan- tas; para este fira são melhores as caixas de madeira, mas construídas de modo dif- ferente das que por ahi se vêem. Devem ser escolhidas com methodo, queremos di- zer, devem harmonisar com a architectu- ra do editício para que são destinadas, porque seria prova de mau gosto coUocar na frontaria d'um edificio de custosa ar- chitectura uma caixa, que aliás diria per- feitamente n'um chalet ou n'uma poética cottage. Para aquelles temos caixas de luxo, ricas, elegantes, de madeira lavrada ou louça; para estas estão mais a propósito JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 127 as feitas de madeira tosca ou cortiça. Vide as figuras 34 e 36. O amador que queira juntar ao bom gosto a economia, pode fabricar por sua própria mão as caixas rústicas, o que lhe será mais um motivo para alegre passa- tempo. Interiormente são feitas de qualquer madeira, e por fora são cobertas, segun- do o gosto do amador, de cortiça ou pe- daços de madeira de vide e sovereiro. A inspecção das gravuras suprirá a difficiencia d'esta descripção. Quem não quizer dar-se a este trabalho, pode man- Fis. 34 — Caixa rústica de zinco Fig. 35 — Caixa de azulejo ^(W>/■A/V^/SA/^/^AA/^AA/^A^^^A^W^/.^w^/^•>y•v^^■A/v/^A/.^A Fig. 36 — Caixa rústica de madeira Fig. 37 — Caixa rústica e de azulejo dal-as vir por preços módicos da casa Dick Radclyffe áC."— 129 High Hol- born; W.C. London — que, seja dito de passagem, torna-se notável pela rica col- lecção de instrumentos adequados á hor- ticultura de sala e jardim. O redactor doeste jornal mandou vir um exemplar da caixa representada na fig. 35. E^ muito elegante ; por fora é forrada de tijolos de porcellana pintada, representan- do uma cercadura de folhas. Em seguida apresentamos uma lista de plantas que facilmente podem tomar logar n'estas caixas. Trepadeiras : — Bignonias, Aristolo' chias, Kerria japonica, Jasminum, Co- haeas, Convolvulus, Passijioras, Mande- villa, Hedera, etc. Arbustos: — Evonymus, Aucuhas, Ge- raniums, Fuchsias, Maurandias, Helio- tropium, Chrysanthemumj Gardénia fio* rida, etc. 128 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Bolbos : — Jacynthos, Tulipas, Cro- eui, Liliums, Junquilhos, GLadiulus, Nar- cisius, etc. Pequenas flores: — Viola tricolor, Violaodorata, Caheolarias, Mimulus, Pri- mulas, Dianthus, Gazanias, etc. A. J. DE Oliveira e Silva. UMA SUGCEDANEA DA BATATA Hoje que os batataes se acham tào ameaçados pela moléstia que os acomme- tc to(iu8 us aniioa e etn escala scaipre as- cendente, seria de muita utilidade aclimar em o nosso paiz uma planta de raiz tuber- culosa, que pudesse substituir a batata, que é, pôde dizer-se, o pào dos pobres. Com este intuito vou lembrar a Arra- cacha tsculenta D. (J., e auida que esta planta requer uma temperatura media de lò", estou convencido que prosperaria no Algarve, parte do Alemtejo, e na Extre- madura; e com quanto nào possa total- mente substituir a Bittata em todos os seus usos, serviria comtudo para attenuar a falta d'este precioso tubérculo. Era Fran- ça tizeram-se ensaios improductivos, sendo devido por ventura este mau resultado mais ao modo como se tem cultivado, do que á impropriedade do clima, e pode ser que ambas as causas concorressem para o mau êxito do ensaio ; hoje porém, depois das instrucçoes do sábio, e experiente Mr. Goudot, e em clima, como o nosso, é uma experiência que devera tentar-se. A Arracacha tsculenta D. C é uma espécie do género Arracacha da familia das Umbtlliftras, tribu das Aviyrneas, D. C. — Plauta de raizes tuberculosas, muito carnudas. Tronco de GU a 90 centímetros, herbáceo, pouco ramoso, estriado, glauco, guarnecido de algumas folhas, mais pe- quenas, que as radicaes; estas são longa- mente pecioladas, de 40 a òO centimetros do comprimento, irregulares, bi-ternati- sectas, de segmentos ovaes irregularmente trilobados, acuminadas, grosseiramente in- cisas, denteadas, glabras, e de um verde carregado. De julho até outubro, flores cor de vio- leta escuro, ou araarelladas, dispostas em umbellas pouco numerosas, ligeiramente concavas. Cálice inteiro; pétalas ovaes, glabras, de ápice inflexo. Fructo oblongo, do comprimento de um centímetro, o mais, comprimido late- ralmente. Carpellos de cinco costas salien- tes, um pouco membranosas, inteiras. Esta planta é vivaz, herbácea, e cul- tiva-se em grande escalla em Nova Gra- nada, em íSauta Fé de Bogotá, onde seus habitantes fazem muito uso das grossas rai- zes carnosas, as quaes sào mui nutrientes, e de fácil digestão. Demanda, como acima disse, temperatura media de lõ° até 22", solo rico, profundo, e húmido ; os terrenos um pouco compactos das vertentes das colinas, parece lhe serão convenientes. Logo que a Arracacha chega ao cres- cimento conveniente, o que se conhece pelo volume das folhas, e côr amarellada que tomam, arranca-se como as Cenouras, A parte ao nivel do solo apresenta uma massa carnuda, amarellada, coroada por os peciolos. Este collo é curto, e da base sahem muitas ramificações carnosas, fu- siformes, ordinariamente em numero de 4 a 8, compridas de 15 a 20 centimetros, e da grossura das nossas Cenouras. Estas ramificações são as que se empregam e servem de alimento para o homem, e o seu peso total pôde ser avaliado por cada pé em 2 kilogrammas pouco mais ou menos. Na Nova Granada comem estas raizes as- sadas nas cinzas, ou bozTalho, e mais ge- ralmente cosidas em agua, e misturadas com bananas verdes, ou com carne. Nas regiões frias misturam-as com batatas. E um alimento mui sadio, e saboroso, menos assucarado, e aromático, que as nossas Cenouras. A Arracacha pode considerar-se como planta não exhaurivel, ou gulosa, podendo a sua cultura continuar-se por muitos annos no mesmo terreno sem necessidade de adu- bos ; as folhas, que se deixam apodrecer sobre a terra, fornecem uma grande quan- tidade de estrume, que é sufíiciente para alimentar a planta no anno seguinte. A colheita das raizes da Arracacha ó feita antes de apparecer o tronco (antea de espigar), como se pratica com a Beter- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 129 raha, e Cenouras. Por conseguinte os grãos são nullos para a multiplicação d'esta plan- ta. Somente o collo é que se emprega para a multiplicação da espécie. Para esta ope- ração corta-se circularmente a parte su- perior do eixo por baixo dos pontos de insersâo dos peciolos, aos quaes se dei- xam 15 centímetros de comprimento; de- vide se perpendicularmente por fracções, tendo cada uma alguns peciolos adheren- tes, e conservam-se para se plantarem em outro terreno, ou no mesmo, ou immedia- mente nas mesmas covas d'onde se ar- rancaram as raizes, ou ao lado d'ellas. As estacas herbáceas são plantadas se- paradamente, na profandidade de 6 centí- metros, e na distancia de 60 ; deve escolher- se para esta plantação ura tempo chuvoso, ou ao menos húmido. Alguns dias depoÍ8 da plantação as folhas rudimentares se de- senvolvem, e então a planta não exige mais que duas sachas ; depois de sachar segunda vez as plantas, tiram-se-lhes as folhas mortas. Segundo o doutor Vargas, no tim de 3 a4 raezes as raizes estão boas para se comerem, Goudot porem pretende serem precisos 6 a 7. Lisboa. Marianno de Lemos Azevedo. PERA BEURRE DE 6HELIN A Pêra Beurré de Ghélín, repre- , artigo, foi obtida de semente em 1858, sentada na gravura, que acompanha este | bem como a General Tottltben e a maçã Fig. 38 — Pêra beurré de Ghélin Garibaldi, por Mr. Fontaíne, de Ghélin, cuja propriedade cedeu a Mr. A. Vers- chaffelt^ que então poEsuia o belíssimo es- tabelecimento de horticultura em Gand, de que hoje é proprietário Mr. J. Linden, e que a lançou no commercio em 1862, 190 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA O seu frncto foi provado em uma das exposições do outomno da Sociedade Real de Agricultura e Horticultura de Tournai, por um jury escolhido acl hoc, que a con siderou de primeira qualidade, conceden- do-lhe um primeiro premio. Como se vê da gravura corresponden- te, é um tructo irregularmente arredonda- do, giboso, ligeiramente contrahido na ba- se, que é um pouco concava na inserção do pedúnculo ; o olho é pouco entranhado. A casca ou epiderme é de côr amarella pálida, mas quasi coberta de castanho cla- ro, e com maculas mais escuras ; a polpa é de um branco amarellado, mui succosa, assucarada, e de um sabor perfumado ; finalmente é um fructo em que não pode- mos deixar de reconhecer qualidades su- periores. Quanto á epocha da sua maturação, divergem os dous escriptores que tcem fallado d'eila. Ch. Lemaire, antigo reda- ctor da olllustração Horticola», dizia no tomo I, que ella amadurece de 15 a 30 de novembro e que se conserva até ao fim de janeiro. André Leroy diz no seu aDic- cionario de Pomologia» que amadurece no fim de outubro, chegando com facilidade a dezembro. Seja porém qual for a verda- deira epocha da sua maturação, quer na Bélgica como diz Lemaire, quer em Fran- ça como diz A. Leroy, é certo que em Portugal deve ser um pouco mais cedo, em razão da nossa posição geographica, e condições climatéricas mais favoráveis á vegetação. As Pereiras em geral, como já disse- mos em outro logar, gostam de terreno fresco, profundo, movei e rico em húmus ; a variedade de que nos occupamos longe de destruir a regra confirma-a ; ella pode ser cultivada, em pleno vento, • mas pro- duzirá melhor em latada (espalier) en- costada a muros, ou em pyramide. O proprietário d'este jornal, o snr. Marques Loureiro, tem bellos exemplares d'esta magnifica Pereira á disposição dos seus freguezes. Camillo Aureliano. MANTEIGA DE OVELHAS Posto não ser tão saborosa como a manteiga ingleza (quando esta seja boa), comtudo a manteiga de ovelhas é de fácil fabrico, e de abundante producção, requi- sitos que a tornam muito barata. Não é do leite que se faz esta man- teiga directamente; mas sim do resíduo da fabricação dos queijos gordos, conhe- cidos em Lisboa pela denominação de tqueijo do Alemtcjo». Esse rcsiduo tem os nomes do «almi- ce», «alméccB e «almeice», segudo Eduar- do de Faria. Aqui no Alemtejo dão-lhe o nome de alméce. Assim lhe chamaremos. lia terras em que ao alméce lhe dão o nome de tatabéfe», porém julgo só rc- cahir bem essa denominação em alméce depois de fervido ao fogo, para o engros- sar, e tornar mais apto para alimento, em que «e fazem sopas. Essa operação de cozer o alméce cha- ma-se «atabafar» ; e não parece nome im- próprio, visto dizer o já citado diccio- nario de Faria, que o verbo «atabafar» parece vir do latim captare» adaptar, que é preparar para se comer com mais gosto. N'esta preparação do alméce é uso juntar-lhe um pouco de leite frio, na oc- casião em que o alméce está quente e que- rendo ferver. Esta addição de leite engros- sa o alméce ; porém pôde substituir-se por um golpe de agua fria, porque o essen- cial n'esta operação é perturbar e inter- romper a ebullição apenas começada, e depois d'esta interrupção ainda se con- serva ao lume até estar feito, o que se co- nhece em uma colher de madeira preta, ou de unha, na qual se toma uma porção, e se verifica se já existem umas concre- ções tenuíssimas como grãos de pólvora de principe, ou ainda menos volumo- sas. Também o tacho onde se ferve o al- méce dá signal de quando elle começa a cortar-se, e que necessita interromper o começo da fervura, por isso que produz ura som franco, eraquanto o alméce está pouco quente ou frio ; mas depois de mui- to quente toma um som baço ou surdo, que a pratica melhor faz conhecer. Isto JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 131 somente suceede quando o tacho é de co- bre ou de latão, como é costume. Já, de passagem^ ensinámos o modo de «fazer» ou «atabafar» o alméce para os usos culinários. Advirto, porém, que, para d'elle se fazer manteiga, não é necessário nem con- veniente «atabafar» o alméce. Também é origem de economia essa mesma desnecessidade^ porque se evita o dispêndio de muito combustível, e o da porção de leite que se gasta em o engros- sar. Toma-se, pois, o alméce frio e tal qual escorre dos queijos. Deita-se em al- guidares, de loiça que não seja vidrada, e ahi se deixa repousar por espaço de quatro ou cinco dias. Não é conveniente lançar novo alméce nos dias seguintes no mesmo alguidar por dous motivos: 1.° porque se perturba a formação do creme, ou nata : 2.", porque já não pode estar o alméce em descanço o período de quatro ou cinco dias, se um é antigo e outro re- cente, e resultaria produzir, ou menor quantidade, ou peior qualidade de man- teiga. Produziria menor quantidade, se so- mente a primeira porção de alméce tivesse completado os ditos dias. E produziria peior qualidade de manteiga se deixásse- mos decorrer o dito praso desde a ultima juncção de alméce. Porque temos notado que, excedendo os 5 dias, a nata cria bo- lor azulado, que daria péssimo sabor á manteiga. Mas, não chegando aos quatro dias, o creme será pouco grosso, e produz me- nos manteiga. E, n'e3se caso, conhece-se perfeita- mente que ficou no alraece muita substan- cia butyrosa ; pois o liquido azedo, tira- do o creme, fica turvo e esbranquiçado, ao passo que, tirada a nata ao fira de cinco dias, esta tem grande espessura, e o soro azedo, que resta, fica amarello, e quasi transparente. Pertence ao fabricante optar pela maior quantidade, ou pela mais fina qua- lidade da manteiga. Cinco dias de repou- so produzem maior quantidade ; quatro ou três dias dão um producto mais deli- cado, maa. em quantidade diminuta. O alméce torna-se muito azedo; nem se obtém d'elle manteiga sem se ter aze- dado; mas esta acidez em nada se com- munica á manteiga, que, por meio de re- petidas lavagens, com grande porção de agua fria (mudada tantas vezes que ulti- mamente sae perfeitamente limpida), per- de, de todo, o gosto do alméce azedo. Antes d'esta3 lavagens, a manteiga se- para-se do soro acido, batendo-a com ma- chinas próprias de fazer manteiga de vac- cas, e também pôde bater-se agitando a nata, por muito tempo e fortemente, com uma grande colher de pau, com uma es- pumadeira de lata branca, ou até com a mão e parte do braço, sendo porção grande. Advirto que, em março e todo ou par- te de abril, admitte-se metter a mão den- tro do creme para o bater, porque a esta- ção não é ainda quente ; porém do mela- do de abril em deante deve usar-se qual- quer batedor que não communique ne- nhum calor á manteiga, aliás será impos- sível fazer- se. Em começando o tempo mais quente, escolha-se a hora de menos calor para ba- ter a manteiga. Pode fazer-se depois de sol posto ; mas ainda é melhor hora ao nascer do sol, porque a noute é geralmen- te mais fria, e já esfriou o creme duran- te a noute. Em França e Inglaterra (paizes mais frios) chega a ser necessário deitar agua tépida no creme, para poder separar o soro; porém, no nosso paiz, a maior dif- ficuldade é quando o calor é demasiado. Feita a manteiga, e depois de lavada com todo o esmero, tracta-se de a salgar com sal muito fino e branco. Espalha-se uma pequena porção de sal pizado por cima da manteiga, e meche-se bem ; tor- na-se a espalhar mais sal, e a combinar- se bem. Salgando-se por vezes, com pou- co sal de cada vez, fica o sal mais repar- tido. Vae-se provando até que esteja em boa conta de sal, no caso que a manteiga seja para logo se gastar. Devemos considerar que, posta no pão, parece ter menos sal, que provando-a. E, por isso, convém deixaí-a um pouco mais salgada. Mas, principalmente, deve ficar ainda muito mais salgada, se tencionar- mos guardal-a para o tarde; pois não fi- cando muito salgada, não se conserva, e adquire raucidez. 132 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Parece-nos que o motivo d'esta man- teiga se conservar menos tempo do que a manteiga de vaccas é por ser um pouco mais branda. Ainda temos que advirtir que nem todo o alméce produz manteiga, ou nâo a pro- duz em quantidade que remunere o tra- balho e o valor absoluto do alméce. Para produzir muita manteiga é indispensável repizar a coalhada antes de fazer os quei- jos. Esta operação do repízo é foita por este modo : Lançando a coalhada toda den- tro da queijeira ^taboleiro com bica, ao qual em outras terras se chama Jrancéla) se lhe dá algum tempo para sahir parte do alméce, e se ajuda a sahir apoiando 08 braços e màos sobre a coalhada, sem carregar senào com o próprio peso do bra- ço, ora em um, ora em outro logar. Quando já a coalhada nào contem tan- to liquido, principiar-se-haorepizo, que se eflíectua apertando a coalhada entre as màos, e até estregando-a entre ellas até ficar como papas de íarinha de trigo. Éntào deita-se dentro de cinchos (aros, quasi sempre de madeira, como os das penei- ras), onde se fazem os queijos. Esta operação de rtpizar a coalhada, tendo unido inteiramente o resto do liqui- do que existia livre, faz que era seguida, por mais de dez minutos, os queijos nào deitem alméce, pois a este tempo ainda nào se carrega sobre elles senào com o peso do braço e estando assentado o ho- mem que 03 faz. Ora o primeiro alméce que sahir depois de repizada a coalhada é o mais grosso e mais oleoso; porque a fricçào entre as duas màos, (e também de encontro ao fundo da queijeira), dá como resultado desprender-se e manifestar-se a parte butyrosa contida no leite coalhado. Sem a operação do repizo, nem o al- méce conteria manteiga utilisavel, nem no queijo se conheceria a existência da parte oleosa ou butyrosa, a qual ficaria existindo no queijo, mas latente ou im- perceptivel ; e o queijo nào apresentaria aquella belleza e macio, que o torna apre- ciado, e lhe fez dar em França o nome de tfromage gras». Portanto esta tritura- çào da coalhada é tào útil para dar aos queijos o seu gosto particular, como é in- dispensável para fazer que o alméce con- tenha porção utilisavel de substancia bu- tyrosa. Obrigado pela necessidade, fallei tanto da fabricação dos queijos gordos do Alera- tejo, que talvez complete, era separado, a descri pçào do seu fabrico. O alméce que fica da fabricação dos queijos de leite de cal)ras, nào produz nata, que pague o trabalho sendo, aliás um bcllo rifrigcM-aiite, durante o tempo quente. Este btíbe-se crú, tal qual sáe dos quei- jos. A coalhada de leite de cabras não ad- mitte ser rtpizada; nem se torna neces- sária essa operação para produzir bom queijo. Do leite de cabras também se faz manteiga boa, e até muito superior á man- teiga de ovelhas, e de maior consistência do que a manteiga ingleza. Faz-se, corao esta, tirando a nata ao leite antes d'elle azedar; porque se faz a manteiga sem deixar de se fazerem bons queijos. A manteiga de cabras é feita exacta- mente como a de vaccas. Só difíere d'esta na cor ; pois a de ca- bras é muito branca, e a de ovelhas é amarellada. Facilmente podiamos tornar bem araa- rella a de cabras e a de ovelhas, pela casca de cenoura amarella, pelo urucú, pela curcúma, açafrão, açafroa, etc, etc. Poréra é pouco sensato dar valor á cor ! A manteiga de ovelhas em fatias tor- radas não se lhe conhece a côr, porque se derrete com o calor do pão. Para boUas faz muito bom effeito esta manteiga, económica e sadia, e só para fatias de pão frio é que ella não é tão boa. O seu sabor é intermédio entre a manteiga de vaccas e o bom queijo fresco do Alemtejo, a que se chama queijo de entorna ou de correr, do qual, sendo par- tido ao meio, sáe para fora o miolo. Já experimentei se se poderia fazer queijos depois do leite desnatado. Nada consegui ; pois era tào demo- rada a formação da nata, que azedou o leite antes de ter a nata Junta. Este leite é excepção, por sua excessiva espessura ou densidade, a qual retém de tal modo as partes butyrosas, que não é possível separarera-se pela diversidade do peso es- pecifico. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 133 A parte oleosa está retida, como se estivesse suspensa em um liquido mucila- ginoso. Imaginei um meio, que vou ensaiar este anno, para desnatar este leite (o de ovelhas), sem ter tempo de azedar. Em todo o caso será mais um meio theorico, do que de utilidade pratica. Porque se privarmos o leite da parte butyrosa antes de fazer os queijos, estes perderão a sua propriedade característica de conterem óleo, e o queijo do Alemtejo deixaria de ser «fromage gras.» Ferreira do Alemtejo. A. L. Marques Ferreira. CHRONICA As exposições hortícolas apparecem entre nós geralmente como sombras trans- parentes das que se celebram lá fora. E senão, haja vista á que se realisou em Lisboa no mez passado, promovida pela benemérita Real Associação Central da Agricultura Portugueza. Não se pôde porém attribuir a ialta de concorrência de expositores a poucos esforços que empregasse a Real Associa- ção. Fez ella quanto estava ao seu alcan- ce, mas as pessoas que se acham habilita- das para exhibir productos interessantes, já tomadas pelo laisser faíre dos france- zes, já por simples capricho, não vão ao certamen, e os primeiros a dar o exemplo são os horticultores de protíssão ! Ainda bem que alguns amadores fo- ram tirar o despique. Infelizmente, não eram em grande numero. Comecemos por mencionar o nome do snr. Augusto Daily Alves de Sá, que apre- sentou três exemplares de uma Buugain- villea obtida por elle de sementeira feit;i ha dous annos, e a que deu o nome de Bougainvillea fastuosa, var. foi. alhu va- rieg. E uma variedade apreciável e que mostra ter bem lixo o variegado, que dá tanto valor ás plantas, quando por ven- tura é possivel tornal-o permanente. O snr. J. J. Pereira Magalhães, ex- punha algumas Begónias Caladiums, Fe- tos, Camellias, Palmeiras, bonitas varie- dades de Cravos e outras plantas. Um bello exemplar da Yiicca aloefolia foi. var. e outro da Yucca flaccida, em flor, no centro d'um grupo de Pelargo- niums e Fuchsias chamavam a attençao dos visitantes. Eram creados pelo snr. José Maria Lobo, jardineiro do marquez da Fronteira^ a quem o jury conferiu uma menção honrosa. O snr. Luiz de Mello Breyner, van- tajosamente conhecido em Lisboa como verdadeiro amador de plantas e que nós chamaremos horticultor, sem com isso in- corrermos em grave erro, apresentou al- gumas collecções magnificas. Tomámos nota das seguintes plantas, que por serem exempl: res bastante fortes e attestarem uma boa cultura, julgamos dignos de menção : Btrtulonia margari- iacea em perfeito estado ; Dichorisandra mosaica; um bellissimo exemplar àa. Alo- casia metuUica; Aconitum giganteum ; Hig- ginsia Boezlii; H. discolur ; H. regalis; H. Ghitslreghtii; Anthurium flexuosum; A. magnifcum ; A. crassinerve ; A. fastuo- sum; A digitatum; A. cordiforme; Cya- nuphyllum magnifcum ; bella collecção de Dracanas e entre ellas a D. Guilfoyleiy admirável espécie da Nova-Zelandia que talvez se consiga cultivar ao ar livre como muitos outros vegetaes d^aquella região. Esta espécie torna-se distincta não só pela extraordinária magnificência das folhas, longamente acuminadas, multicolores — estriadas de verde, de amarello-palha, e de rosa vivo em diversas gradações — se- não também pela elegância do seu porte e pela densidade da sua folhagem. O exem- plar que o snr. Breyner expoz era porém novo, e portanto apenas apresentava o co- lorido nos bordos das folhas. E de crer que se desenvolverá gradualmente á me- dida que a planta fôr crescendo. E um arbusto de grande merecimento, devendo occupar um logar distinctissimo no orna- mento das nossas salas, logo que deixe de ser tão raro e de custo tão elevado. Entre uma numerosa collecção de se- lectas Begónias, não nos passou desper- cebido um pequenino exemplar de uma espécie, aliás esplendida, e que é descri» 134 lORNÂL DE HORTICULTURA PRATICA pta como completamente diíferente de to- das a3 suas congéneres. Keíerimo-nos á Begónia Vaitchi, originaria de Peru e descoberta a 12:500 pés acima do nivel do mar, que poderá viver como a Begónia discolor e outras, em plena terra, porque em Inglaterra tem soffrido a temperatura de 6.° centigrados abaixo de zero. É uma espécie anã, bulbosa e do porte da Saxifraga ciliata. As flores são de cor vermelho-escarlate extremamente vivo, e de dimensões grandiosas. Têem 0™,07 a O^OS de diâmetro. Uma estufasinha, contendo cerca de vinte Stlagimllas difterentes, adjudicou ao snr. Mello Breyner uma medalha de prata. Entre as plantas que este cavalheiro expoz avultava um grande numero de bem tractados Caladiums, Musas, Orchideas, Crotons, Marantas, Nidulariums, Billber- gias, etc, etc. Além do premio de que já fizemos menção, conferiu o jury a este mesmo expositor mais duas medalhas de prata, sendo uma pela collecçao de plantas de folhagem ornamental e outra pelas suas Orchídeas e varias elegantes suspensões. O avultadissimo numero de differentes se- mentes que o snr. Luiz de Mello Breyner apresentou era bem digno da menção hon- rosa, que teve. O snr. José Marques Loureiro não faltou na lice do progresso horticola, e era justo que não faltasse. Emmalou oito ri- cos specimens do reino vegetal e en- viou-os á exposição. As oito plantas for- mavam dous grupos^ cada um dos quaes conquistou a sua medalha para fazerem boa companhia á avultada série que o snr. Marques Loureiro possue, adquirida a tro- co de muitos esforços. A medalha de prata foi conferida ao grupo que constava de fortes exemplares da Lomaria cijcadajolia. Musa ensete, Cibo- tium princeps, o Alsophila australis. E a de cobre ao grupo que compre- hendia também exemplares adultos da Cy cas circinalis, Zamia vernicosa, Bona- partea gracílis c Phormium tenax. foi. var. Mencionado o nome das plantas que o snr. Marques Loureiro levou ao concur- so, vô-se que occupou alli um logar bas- tante distmcto, A camará municipal de Lisboa tinba na exposição alguns Feios, Coleus,Billber- gias, Pelar goniums, Cravos e outras plan- tas. Um magnifico exemplar da Cycas re- voluta exhibido pelo jardineiro do vis- conde d'Alcochete mereceu-lhe uma men- ção honrosa. Havia mais alguns expositores, mas os seus productos eram em pequeno nú- mero e não apresentavam novidade. Desejamos do intimo do coração que as futuras festas que se promovam em honra de Flora sejam mais concorridas e esplendidas do que foi a de 1872. Antes de concluirmos esta noticia da exposição, seja-nos licito lembrar aos membros da Real Associação Central da Agricultura Portugueza a conveniência de fazerem parte do concurso os vinhos e azeites, e ainda outros productos agrícolas e industriaes, mais ou menos ligados á agricultura. D'este modo seriam as suas festas mais brilhantes, interessariam a maior numero de pessoas e fomentariam o desenvolvimento doestes diversos ramos, única taboa de salvação no estado em que se encontra o paiz. — Foi apresentado ultimamente á Aca- demia das Sciencias de Pariz uma rodella do tronco de um Eucalyptus globulus, que media 50 centimetros de diâmetro, não contando a arvore mais que seis annos de edade. — Na enumeração que fizemos no nu- mero passado dos jardins, em que no ex- trangeiro pôde entrar livremente o prole- tário, omittimos um dos mais notáveis de Inglaterra. Recordaram-nos a omissão as duas li- nhas que se vão ler, e que encontramos no «Garden». Eil-as: a . . . . O Jardim Botânico de Kew pertence ao povo, no sentido mais popu- lar da palavra.» — A Mr. Gr. Delchevalerie compete- nos agradecer um elegante volume de cer- ca de 200 paginas, formato Jesus, e que tem por titulo «Eludes Egyptiennes — Les Jardins á les Champs de la Vallée du Nil.» Faz uma descripção dos principaes jardins, e occupa-se de numerosos assum- ptos Bummamente interessantes para os JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 135 que residem doeste lado do Mediterrâ- neo. Temos em subido apreço o livro com que fomos brindados, e portanto enviamos os sinceros emboras a Mr. G. Delcheva- lerie. — Infelizmente deixou de existir a du- vida acerca de existência d'esse famoso destruidor das vinhas a que chamamos Phylloxera vastatrix. Desde muito que se annunciava n'al- guns pontos do paiz a sua atterradora ap- parição, porém eram tão pequenos os seus estragos, que ninguém se deu ao traba- lho de certificar-se da verdade. Sabemol-a hoje, ainda mal! e se acaso não se toma uma medida enérgica ou se não applica um meio efficaz, veremos desapparecer as nossas regiões vinicolas dos mappas agri- colas, e a pobreza e a miséria visitarão ã casa d'aquelles que ainda hoje são opu- lentos lavradores. Triste quadro para imaginar-se quanto mais para ser contemplado na realidade! Em face porém de uma crise como esta que parece querer opprimir-nos, de- verá o homem de bom senso arredar de si o pânico, ter fé no Creador e observar religiosamente os conselhos dos homens illustrados e dos que emittem ideias sãs que só têem por fim dar o remédio ou ao menos minorar o mal. A França já se acha a braços com o Phylloxera ha cerca de cinco ou seis an- nos e lá têem experimentado quasi todos os recursos que nos ojBferece a therapeutica dos vegetaes, sendo uns mais úteis do que outros. Comtudo ainda não têem um que possa considerar-se geral, efficaz e barato, do mesmo modo que o é o enxofre con- tra o oidium tuckeri. D^ahi vem que o mal progride, e o viticultor, outr'ora abas- tado, vê-se reduzido a extrema penúria. E, comtudo, se alli houvera um governo que pudesse ou quizesse attender aos sa- grados interesses do seu paiz, possível é que a moléstia nunca tomasse tão grandes proporções. A grande mal, grande remé- dio ; este é o verdadeiro axioma a seguir- se entre nós, querendo combater o flagello que hoje apenas manifesta os seus perni- ciosos effeitos. O meio desesperado, — porque não ha- vemos de chamar-lhe assim ? — que pro- pomos no opúsculo que demos á luz da publicidade sob o titulo «Novo flagello das vinhas» nos princípios do mez passado, não será para muitas pessoas um remédio, com quanto, se for im mediamente appli- cado, o seja para nós. Consiste elle em atalhar o progresso do mal na sua origem, arrancando e queimando sem dó as cepas, logo que estas manifestem qualquer cara- cter da etisia. Confessamos que em tempos de menos luz o alvitre podia trazer consequências funestas. A nossa opinião todavia, tem por fiador seguro a valiosa auctoridade do il- lustre professor do Instituto da Agricul- tura Portugueza, o snr. J. I. Ferreira Lapa, que ainda ha poucos dias («Com- mercio do Porto», 16 de junho — 1872) emittiu opinião no mesmo sentido. As palavras do distincto agrónomo são placidamente meditadas e o seu alvitre, posto em pratica, poderá resolver o pro- blema; e quando não o faça, é um palia- tivo que evitará uma rápida propagação da moléstia em quanto não se encontra o remédio que se tem procurado debalde até hoje. Vejamos pois os próprios termos em que o snr. Ferreira Lapa se exprime : Sabe-se o que é este novo flagello, mas igno- ram-se as suas causas, e, o que é peior ainda, pro- cura-se debalde ura remédio efficaz para o debellar. No meio d'esta ignorância, e attenta a rapidez da marcha d'este inimigo, eu não vejo outro meio de evitar a sua propagação senão aqnelle mesmo que indiquei no anno passado e que se emprega para deter os progressos da peste que cabe soore os ani- maes. A destruição, e logo no principio, dos indi- víduos atacados pelo mal. O meio é enérgico, bár- baro até, mas é o único que a experiência abona como efficaz e radical. Folgo de ver esta opinião ac- ceita pelo snr. Oliveira Júnior na obra muito bem escripta que acaba de publicar sobre a Phylloxera vastatrix. No fim de tudo, é a este triste recurso que se deve a extincção ou pelo menos a diminuição de doenças análogas a esta que têem dado em outras culturas. O curativo, por exemplo, radical dos Li' moeiros e das Laranjeiras affectados veio a parar por fim em serem arrancados, queimados e o solo revolvido ou a plantação trocada ; os novos pomares vcem, felizmente, isentos da enfermidade. Ora o que se ha-de fazer no fim, quando já a epiphytia causou enormes perdas, é muito mais racional pra- tical-o, quando ainda as perdas podem ser incom- paravelmente menores. Uma cepa invadida pela Pkijlloxera infecta uma vinha toda. Uma vinha affe- ctada em grande numero de cepas é um foco de con- tagio a um grande raio de distancia. E' do interesse do vinhateiro, em cujas vinhas cahiu o raio da Phyl- loxera, ver se o pode suffocar conservando a sua 136 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA cultura. Mas como entretanto o insecto pódc enxa mear as vinhas de muitos outros proprietários, é do interesse d'esles que esta fonte de contagio se des- trua iinmediatamente. I*ara conciliar oste.sdous in teresses é preciso que, todos os vinhateiros se unam n'um só corpo, e que todos contribuam para a an- niquillaçJo de um inimigo que a todos pode atacar e prejudicar. O meio mais simples o a sua associação pa- ra a mutua indenmisavuo das vinh.is nue for ne ccssario destruir. Ksla associação podia lazer-se por districlos ou por províncias. .Mas o paiz é tão pe- queno, o seu clima e solo tão seccos. que, se a in- vas.To acertar de se pronunciar de vez. e muito para receiar que a propagação se faça de norte a sul e de leste a oeste com e.xtrema proinptidão. Desta ma- neira considero em risco de contaminação todas as Tinhas do paiz de-de que a doença cahir declarada- mente n'uma qualquer zona delle. Neste presup- posto, quereria que a associação para a destruição de todo o vinhedo invadido, fos-^e geial de todos os nossos vinhateiros. Mas qu m ha-de levar os vinha- teiros a colizarem-se pelo interesse commum? Quem? .NqucUa entidade a quem nós que estamos todos os dias a clamar por descenlralisação, recor- remos em qualquer apuio. O governo, sim o gover- no. O governo lança um tributo especial por hec- tare de vinha sobre todo o paiz. Constitue com elle caixas de indemnisação em todos os districlos. Faz por peritos verificar a invasão da Pknllo.vera n'esta ou n'aquella vinha eo valor d'csla. Manda destruir e paga ao propiietario o valor que se destruiu. E é o que o governo pode fazer de melhor. Não tem ou- tro amparo para acudir ao novo Hagello das vinhas. E' sub-;titnir-se ao sentimento coininurn e transfor- mar em medida'0 que «.-«se sentimento brada, mas não tem força nem habito de realisar por si mesmo. No fim de tudo, o tril)uto qnese lançasse, por maior que fossse. seria sempre muito menor que a despeza feita com os meios curativos e prophylaticos que se ttiem in\ítilmenle ensaiado em França. Calculando mie haja no paiz, como dizem as eslalislicas, *}úimO hectares de vinha e hoje lalvz 3 »U:000 hectares, ter-se-hia um fundode reis 3i)0:000,yUOO por um tributo de I #(JUJ réis em hectare Com este fundo poder-se-hia indemnisar mais do que é nec ;s- sario para debellar o contagio, sobretudo acudindo a tempo. E até mesmo poderia ser cobrado por par- cellas. Meditem os vinhateiros: uma pequena des- pcia a tempo salva ás vezes de grandes infortúnios. A associação miilliplica os elementos de força, tanto na boa sorte como na adversidade .\cudi-vos a to- dos, e não haver.á mal que vos entre em casa. O mal que se reparte por muitos quasi não é mal para ninguém. Mas cu sei que e^te con-;elho será de todos Conformes, em principio, com o pare- cer do illnstre e distincto professor lisbo- nense, confessando-nos até extremamente penhorados pela honrosa e indulgente refe- rencia que n'este logar, e ainda n'outro8 da sua excellente revista agricola, faz ao nosso despresuraido escripto sobre o Phyl- luxera vastatrix, permittir-nos-hemos com- tudo dissentir eraquanto á fonte de que devem provir os recursos para a impres- cindível indemnisação dos lavradores. Excellente cousa era, em verdade, a associação dos mais imraediatamente in- teressados. O mal repartido por todos, como exactamente pondera o snr. Ferreira Lapa,tornar-se-hia suave. Havemos porém de confiar n*este meio, attendendo-se á nossa ingenita indolência peninsular, á nossa proverbial incúria que tudo deixa ao Deus dará? Bera o reconhece o snr. Ferreira Lapa, quando appella para a intervenção do go- verno e lembra a conveniência de crear-se um imposto especial sobre as vinhas. Ain- da n'este ponto não podemos concordar, primeiro porque sirailhante meio é moro- so, e segundo porque nos parece menos justo. Ura imposto qualquer não pôde ser de- cretado sera que o approvem as cortes. Esperariaraos que as cortes se reunissem agora ou em janeiro, que se discutisse a raedida, que se convertesse em lei, que se cobrasse o tributo e que se destruíssem depois 03 vinhedos? E quera nos assegura que a esse tempo não tenha o flagello as- sumido taes proporções, que seja tardio, inefficaz e irapossivel o remédio? Forque importa não perder de vista que nós não pretendemos o absurdo. Se aconselhamos a destruição dos focos de contagião pela queima das cepas infecta- das, é agora, no principio, era quanto o mal está limitado. Era o flagello chegando a generalisar-se não achamos possibilida- o menos agradável e o menos escolhido. O instincto de nera sequer utilidade era applicar-se e o desejo farão crer mais depressa mie haverá um remediociirativo contra este novo mal da vinha, que se descobrirá porfiando nas tentativas, como se des cobriu o remédio contra o oidimn. Um remédio este extrerao e doloroso recurso. Depois, vindo á questão de equidade, quando o viticultor se vê luctando com uma receita de qualquer ingrediente insecticida se- uma terrível calamidade, pede a justiça ra muito mais apnlaudido. Ku poderia apresentar distributiva, deterrainam-no até as leis do anui uma iliizia pelo menos de remédios, uns acon- • n • i- • j íokados, outros experimentados com mais ou me- P^'^' "1^^ ^^'^ ^^J^™ aliviados OS encargos nos êxito, mas sem fidelidade do succcsso era todos^^o"^ V^^ contribue para as despezas ge- **-"*<»• raes do estado. O lavrador vitícola ha de JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 137 ver necessariamente, por um lado, diminuí- dos os seus rendimentos, e, pelo outro, au- gmentadas as suas despezas, já estudando o grangeio mais conveniente que o ponha ao abrigo do flagello, já experimentando qualquer dos meios curativos que têem sido indicados para atalhar a moléstia. N'estas circumstancias não nos parece jus- to pedir-lhe mais sacrifícios, por diminutos que sejam. Ao governo, portanto, e só a elle, in- cumbe tomar uma medida que todas as razões de prudência e de publico interesse estão urgentemente reclamando. Se elle o não fizer, mal de nós. Ver-se-ha destruída a nossa primeira fonte de riqueza agrícola, crime de leza-nação que não terá aqui as attenuantes que pôde apresentar o governo francez, porque não passámos pelo terrí- vel cataclysmo que desconjunctou aquelle desventuroso paiz. Accresce que em Portugal ha um tri- buto chamado «o real d'agua». O que será d'esse tributo quando fôr inteiramente per- dida a industria vinícola? E que mais justa applicação pôde dar-se-lhe do que a de salvar o producto ou a industria que O supporta? O governo, tendo em vista os clamo- res que se levantaram de todos os ângu- los do paiz, clamores de que nós nos fize- mos echo no opúsculo que publicámos sobre o assumpto, já deu o primeiro passo. Como a maior parte dos leitores devem saber, nomeou uma commissão para estudar a nova moléstia e no dia 18 do mez findo verificou-se a primeira reunião. Discutiu-se qual seria a organisação mais conveniente a dar á commissão e a direcção mais acommodada que deveriam ter os seus trabalhos para se conseguir os fins que se tinham em vista, e por propos- ta do snr. Ferreira Lapa resoíveu-se or- ganisar três centros de estudos, a saber: 1.° — Delegação de estudos entomolo- gicos na cidade de Coimbra. Será com- posta do snr. visconde de Villa Maior e dos membros aggregados da commissão que estiverem n'aquella cidade. 2." — Delegação de estudos locaes e de applicação de meios que possam comba- ter a moléstia nos pontos em que ella se manifestar com mais violência. 3." — Delegação que terá por fim co- nhecer mais especialmente dos resultados causados no desenvolvimento da Videira e na sua vegetação. Também por proposta do snr. Fer- reira Lapa resolveu a commissão que se tractasse de empregar os meios para se estabelecer o seguro mutuo da propriedade vinhateira, para o arrancamento e incine- ração das cepas atacadas, a fim de pre- venir a propagação da moléstia. Já mais acima emittimos a nossa opi- nião sobre o assumpto e de novamente insistimos em que, quer d'um modo quer do outro, deverá sem a mais pequena de- mora adoptar-se a seguinte desalentado- , ra mas benéfica divisa: Cepa afFectada, Cepa queimada. A commissão designará brevemente alguns dos seus membros para fazerem digressões pelas localidades onde a molés- tia se tem manifestado, para melhor se poderem examinar as causas do mal e as phases diíferentes do seu desenvolvimento. Para se realisarem os trabalhos, já a commissão pediu ao governo os meios pe- cuniários que lhe fossem indispensáveis. O presidente central da commissão é o snr. conselheiro Rodrigo de Moraes Soa- res, e depomos a máxima confiança na sua actividade, no seu zelo por tudo que con- cerne á agricultura, e nos seus vastíssi- mos conhecimentos. No dia 22 reuni u-se n'esta redacção a commissão que deve tractar d'este assum- pto no Porto e que é composto dos snrs. : Eduardo Mozer, dr. António Luiz Fer- reira Girão, Augusto Luzo da Silva e da nossa humilde pessoa. Todos fomos concordes em que o es- sencial era que a commissão enviasse al- guns dos seus delegados aos locaes onde se desenvolve a moléstia para ahi fazerem os seus estudos e experiências. O presidente da commissão do Porto é o snr. dr. António Luiz Ferreira Girão, cavalheiro altamente considerado pelo seu profundo saber. Ao mesmo tempo que o governo tra- ctava de crear a commissão central a que acima nos referimos, pela direcção geral do commercio e industria era dirigido ura officio ao governador civil de Villa Real, 138 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA pedindo os seguintes esclarecimentos que julgamos de summa valia: i." — A nova moléstia, que ataca e mata as ce- pas das vinhas do Douro, é devida a existência do intecto, descripto píjlos naluialislas francezes, e co- nhecido pela den')inInai;;Tode P/iijlloxeravastatrix? i." — Em i]iic epoclia apparece o dito insecto, de que modo manifesta os actos da sua vida, de que se nutre, e como se propaga"? 3." — A que profundidade do solo ataca as raí- zes das cepas, e que e-naro de teiupo nitideia entro o primeiro fermento das rai/.es e i morte da cepa ? 4." — Qui; numero de insectos, pouco mais ou monos, costumam apparecer cm uma cepa V 5. " — lia quantos annos se manifestou ahi o insecto, e quaps as localidades onde primeiramente se manifestou? 6." — A sua marcha é irradiante, isto é, parte de um ponto central para a circumferencia, ou se- gue a direcção das linhas dos quatro ventos ? 7." — Ataca indistinctamente todas as cepas, prefere determinadas castas, manifcsta-seem Iodas as exposições, ou prefere certos terrenos e certas ex- posições '? 8.'" — O seu desenvolvimento é imperturbá- vel,ou diversifica nos annos scccos c chuvosos, quen- tes ou frios ? y." — Km que proporções augmenta a sua ma- nifestação annualV 10." — Como se podem calcular os seus perni- ciosos estragos em superfície de vinhas, cem quan- tidade de vinho ? 11.' — Teem-se empregado alguns meios para destruir o insecto, e quaeâos resultados que se hão obtido? As respostas a estes quesitos serão acompanha- das de alguns exemplares do insecto, e de outros das cepas atacadas como se prescreve nas seguintes ins- trucçõcs : 1. " — Colher-.se-hjo alguns exemplares do in- secto, que serão recolhidos cm um vidro ou caixa de folha ; 2." — Colligir-se-ha uma série de cepas que possam representar os diversos períodos da moléstia, desdéns primeiros symptomas até á moi te completa d'ellas ; 3.' — Cada uma das cepas será mettidaem uma caixa de madeira ; •i." — Tanto os insectos, como as cepas, serão enviadas a c>ta direcção geral docoinmercio e in- dustria com a conta das despezas. A estes quesitos já um cavalheiro da Régua ileu as seguintes respostas que tras- ladamos (lo «Jurnal do l*orto» (20 de ju- nho de 1872^ onde foram publicadas, res- postas quo ate este ponto contirmam as hy- potheses quo avf-ntamos no nosso opús- culo sobre o Phi/lloxtra vastatrix. Eil-as: 1.° — Respondemos qui« sim. Os insectos que se descobrem nos no>sos vinhedos téem os mesmos si- gnaes e caracteres. . 2." — Apparece nas folhas somente depois da pnmavnra quando a vegetação é mais vigorosa e a temperatura mais ardente. Este anno ainda se não descobriu nos órfãos exteriores. Tem-se escondido no apparelho radicular. Cousa natural, porque gosa de duas existências : aérea e subterrânea. Emnuanto ao modo como se manifesta o Phyl- loxera denuncia exteriormente a sua existência por meio do emiiKujericadn da planta e das dobras e man- chas ainarellas das folhas. Estes signaes não são todavia svmptomas caracteristicos e particulares. São do enfraquecimento e cachelismo da Videira. Apresentam-se os mesmos symplomas logo que as funcçõcs orgânicas e vilães da planta padeçam em consequência d alguma ferida no systema caulinar, do apodrecimento do lenho, dos rigores da geada ou qualquer alteração meteorológica. Signaes mais evidentes observain-se porem na região das raízes. É ahi que verdadeiramente se denuncia oanimal- culo por uns circulosinhos cobertos de galhas, pela negrura das camadas cortícaes e por numerosos montículos de propagulos. Em quanto á ultima parte do quesito finalmente, elle propaga-se como todos os insectos que são oti- paros: por meio de ovos. Propaga-se assim esusten- ta-se dos suecos do lenho e dos órgãos parenchima- tosos. Esta ultima opinião não está bem confirmada todavia. Crêem vários entomologistas que zo Phtjl- loxera acontece o que succede aos persevejos no in- verno: passar sem alimento. 3." — Alcança toda a profundidade ou quasi toda a profundidade da estirpe encontrando-se logo abai- xo das raízes capillares ea todas as distancias do apparelho radicular. iNão se poderá calcular facil- mente a rapidez ou demora dos seus estragos. Mas devem mediar alguns annos entre a sua invasão ea morte da planta. Desde 1861 a 1862 que se mani- festou na quinta do snr. Lopo de .Mello, somente em 1868 é que os estragos se tornaram sensíveis e ape- nas este anno se observa a morte das Videiras. 4." — F*oucos apparecein no estado adulto. Ap- parecem com fartura grupos de 10 a 20 ovos e ainda immensos montículos de excreções. Em qualquer cepa será difiícil encontrarmos, principalmente com vida. acima de 12 ou 15, e cepas ha em que se não avistam mais de dous ou três insectos. Não gostam de grandes companhias, .\tacam as raízes *só em nume- ro capaz de promovera morte da planta, e cuidam de se ramificar e desenvolver o mais possível. Os terríveis enxames de que nos faliam osjor- nacs francezes não se tem até hoje obsei vado no paiz do Douro. Pelo menos eram parcas de PlujUoxera as riV/fíVav que por nós e outras pessoas curiosas fo- ram minuciosamente examinadas em Convinhas. 5." — iManifestou-se a primeira vez desde 1861 a 1862, na quinta do snr. António de Mello, em Con- vinhas, depois em Donello e Chancelleíros no anno de 1809, em Covas e Sabrosa ha dous annos. e na margem esquerda do Douro, na quinta das Águias do snr. José Constantino, ha pouco mais de um anno. A data da invasão em outras propriedades viní- colas, é recente c muito recente. 6." — Segue a direcção dos ventos cardiaes, c alarga-se em todos os sentidos. Deve todavia accommelter de preferencia os sí- tios açoutados pelos ventos que predominam nas vi- nhas enfcriiMs, pela simples razão de que o vento é o principal conduclor do P/ii/l/oxera. T." — Ataca indistinctamente. Apenas duas OU JORNAL DE HORTICULTUUA PRATICA 139 três Videiras da quinta que melhormente nos pode servir de observação parece resistirem aos daninos do devastador parasita. Mas outras Videiras da mes- ma raça, o Mourisco, se encontram affectadas. Por es- sa excepção nada pois se poderá resolver claramente. Ataca todos os terrenos também. Regiões excel- lentes, de vigorosa vegetação, de magnitica nature- za, e em bellas condições meteóricas e agrologicas foram invadidas já. Com o P/ujlloxera acontece o mesmo que com a epidemia do oídium. JNuo poupa terrenos nem exposições. 8_o — As differenças ou alterações do tempo na- da ou muito pouco influem. Estando nas folhas ou sob as camadas coiticaes, o Pliijlloxera occupa-se constantemente das gerações, e por isso não parece haver impertubabilidade no seu desenvolvimento. Os primeiros prejuisos causados na França foram attribuidos ás seccas de 1867, e logo se decidira que o calor favorecia a nova moléstia. Mas vieram depois quadras húmidas e geladas: ainda mais augmentou e se desenvolveu. Ficara reconhecida portanto a innocencia das ac- ções e influencias climatéricas. 9." — Em largas e assustadoras proporções, a darmos credito á opinião e ás noticias de alguns viti- cultores. Em quasi todos os concelhos do districto de Villa Real seaenuncioujá e ainda ha poucos annos nem sequer se fallava no Phyiloxera. Mas não será tanto assim. Hoje, logo que se ve- ja enferma ou secca qualquer cepa, se declara a pre- sença da terrível epiphitia e por isso a maior parte das vezes carecerão de fundamento estes receios. Seja como fôr todavia, calcula-se que uma vinha da capacidade de um milheiro de cepas terá no pri- meiro anno 8 ou 10 Videiras affectadas, 40 a 60 na segundo anno, talvez mais do triplo no terceiro anno e assim por deante. 10." — Para nos pouparmos a inconveniências dei.xamosde satisfazer á primeira parte. Nem rigo- rosa nem aproximadamente se pode calcular em su- perfície de terreno os estragos da nova lagarta. Em quanto a segunda parte, é possível respon- der-se e mesmo assim com bastante reserva. Na fre- guezia de Gouvinhas montam os estragos a3U0 pi- pas e em todo o concelho de Sabrosa a 800. Nas vi- nhatarias dos outros concelhos do Douro não passam de 200 pipas. 11." — Nenhuns por emquanto. Conhecem-se desde os últimos dias os remédios empregados na França e só no próximo inverno é que alguns dos nossos viticultores se propõem empregal-os também. Applaudimos o expediente que se to- mou porque é da maior conveniência que se estude a questão aò ovo no nosso paiz, sem desprezar comtudo as investigações dos sábios extrangeiros que tem estudado este assumpto. E tão importante o consideramos, que ao questionário enviado ao governador ci- vil do districto de Villa Real vamos addi- tar alguns quesitos, e empenhamo-nos com 08 proprietários cujas vinhas tenham sof- frido ou venham a soffrer, para que no in- teresse d'elles e da sciencia se dignem responder aos seguintes : 1.° — Qual é qualidade do solo e do subsolo das cepas atacadas? 2.° — A que profundidade estão as ce- pas? 3.° — A moléstia ataca de preferencia as cepas velhas ou as novas? 4." — Quaes são as castas mais ataca- das e quaes são as menos? 5.° — As cepas atacadas morrem no primeiro anno em que o são, ou resis- tem? 6." — Em que sitios ataca mais : nos quentes, nos húmidos ou nos frios? 7.° — As folhas que côr apresentam? 8.° — Mostram algumas pequenas pro- tuberâncias? 9.° — Têem manchas amarellas ou aver- melhadas? Em que mez se manifestam? 10.° — As folhas cahem? li.* — As cepas que se arrancam eque estão doentes conservam as radiculas in- tactas ? 12.° — As raizes adventícias apresen- tam algumas nodosidades tuberculosas com um tal ou qual aspecto de coral? 13.° — Inspeccionando-se occularmente as raizes de uma Videira doente desco- bre-se alguma espécie de montículos ou linhas de corpúsculos araareilados? 14." — No primeiro anno em que a cepa reveia estar doente fructifica como nos an- nos antecedentes e a uva amadurece com- pletamente? Pelo que a nós respeita, e sem nos for- rarmos a estudar as phases e evoluções que o novo flagello das vinhas fôr apre- sentando, a nossa opinião está formada. Vimos e, infelizmente, já não podemos se- quer duvidar ! Recebemos ha dias um bocado de cepa que media cerca de 10 centímetros de comprido e que nos foi remettido de Villa Real por obsequio do snr. dr. João Ba- ptista Gruerra, dentro de um frasco de vi- dro. Tinha sido arrancada n'uma proprie- dade pertencente ao snr. Francisco Claro, sita no vai da Ermida, no concelho de Villa Real, muito distante do local onde a moléstia tem grassado com mais violên- cia, prova de que ella se tem alastrado com espantosa rapidez. Continha aquelle bocadinho myriadas de Phylloxeras j una 140 JORNAL DE HORTICULTUIU. PRATICA eram t3o ágeis que diflScilmente se con- servavam no campo do microscópio, outros porém pareciam entorpecidos. Em volta dos pulgões notavam-se muitas substan- cias de aspecto cryst:ilino provenientes, provavelmente, da destruiçào dos vasos seivosos, e conseguinteniente producto da seiva que pela evaporação dera este re- síduo salino. Também pôde ser em resul- tado das excreyues do insecto, o que só observações e estudos menos rápidos no!-o poderão dizer. As radicellas estavam completamente seccas e apresentavam umas certas tube- rosidades, causadas sem duvida pela pi- cada do PhyJluxera. O apjiidio não habi- tava aqui, purque o seu pasto preferido já n3o lhe ministrava o sueco nutritivo e por- tanto emigrou para a base das radiculas onde ainda havia alguns pequenos signaes de vida. Ahi procurava com avidez o ali- mento indispensável á sua existência. Ainda nào vimos os Phylloxeras ala- dos nem tào pouco folh;is com galhas. Consta pelo intendente de pecuária do districto de Aveiro que também se havia manifestado alli a nova moléstia, e alguns jornaes de Lisboa dizem que egualmente apparecera nos subúrbios d'aquella cidade. lia quem pretenda que o Phylloxera vastatrix viera n'umas Videiras que o fallecido António de ]\Iello Vaz Sampaio importara da America. Nào aventamos opinião, mas ha um facto que parece pro- var a veracidade da hypothese. As Videi- ras vindas da America foram plantadas n'uma das propridades do snr. Vaz Sam- payo, sita em Gouvinhas e foi ahi que primeiro se declarou o flagello, facto que nós registáramos com a maior reserva na nossa Chronica de janeiro de 1871. Se o Phylloxera foi importado da America, ó provável que as indag-çòes e estudos que vlio fazer-se nos possam tra- zer a verdade. No entretanto recommendamos o maior cuidado ás pessoas que enviarem frascos com 08 insectos, porque um único ó bas- tante para propagar o mal em qualquer sitio que ainda esteja isento delle. — I)izcm-no3 que n'uma quinta dos subúrbios de Coimbra, tem fructificado a Wiateria chinensis (Glicínia) por varias ▼ezes. — Temos deante dos olhos os primei- ros quatro números de um jornal que se começou a publicar era Metz, e de quo sào proprietários MM. Simon Louis frères, vantajosamente coniiccidos pelos seus ma- íxniticos estabfilecimenlos de horticultura. o jornal a que nos referimos, tem por titulo «Kevue de TArboriculture Fruitière, Ornementale et Foresticre», mas dedica-se com especialidade á pomicultura. Falíamos pelas cadernetas que temos presentes. E' uma publicação de muita utilidade e que nào hesitamos em recoramendar, sendo o seu mais assiduo collaborador Mr. O. Thomas, que reúne a uma grande pra- tica a theoria indispensável em todos os ramos de conhecimentos humanos. Agradecemos aos snrs. Simon Louis frèies a attenciosa offerta que tiveram a lembiança de fazernos. — N'este numero publicamos um ar- tigo sobre a fabricação de manteiga de ovelhas. Já estava em nosso poder ha mais de três mczes e pedimos desculpa ao seu auctor, o sur. António Lourenço Marques Ferreira, por nào lhe termos dado logo publicidade, o que nào fizemos por estrei- teza de espaço. — Uma encantadora planta para a abotoadura do casaco é a Spircea pruni- folia Jl. pleno. Imagine-se uma CamelUa branca, pura e bem formada, mas de ta- manho tal que sete flores cobrem apenas uma moeda de 200 reis ; imagine-se mais que cada flor tem um pé muito curto e pouco mais grosso que um cabello, ver- gando com o peso das flores e ter-se-ha assim representado bem ao vivo o effeito incomparável que a Spircea prunifolia Ji. pleno deve produzir na abotoadura. — Recebemos de Coimbra o «Index seminarii Horti Botanici AcademiciConim- bricensisB (1872). Agradecemos. — O nosso collaborador, o snr. Ed- mond Goeze, que actualmente se acha na AUemanha aonde o acompanham os vo- tos que d'aqui fazemos pela sua felicidade, acaba de ser nomeado sócio correspon- dente da Société Linnéenne de Maine et Loire e da Real Associação Central da Agricultura Portugueza. Estas honras nào podiam cahir em cava- lheiro que melhor as mereça pelo seu eleva- do talento. Oliveika Junior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 141 HEDYCHIUM GARDNERIÂNUM WALL. Nào é para um vegetal de recente in- troducçao que queremos chamar a atten- cão dos leitores, mas sim para uma d'a- quellas plantas que, apesar da sua antigui- dade nos nossos jardins, será sempre di- gna de cultura pelos merecimentos que se lhe notam debaixo de todos os pontos de vista. E' o Hedychíum Gardiierianwn per- tencente á familia das Scilamhieas. Os numerosos caules que lança este so- berbo vegetal de ornamento são assas for- tes , direitos , arredondados e attingem aproximadamente um metro d 'altura; do centro d'este caule sahe uma inflorescencia em forma de espiga terminal, podendo-se contar, quasi ao mesmo tempo, 50 a 70 flores abertas, de delicado amarello limão, sobre o qual contrasta elegantemente o Fig. 39 — Hedychium Gardncrianum a\'ermelhado de seus longos estames. Ca- da flor é munida de uma pequena bractea membranosa e glabra, formando o conjun- cto da inflorescencia admirável efteito e embalsamando simultaneamente o ar com suavissimo aroma. As folhas são alternas, amplas, horisontaes, onduladas, decôr ver- de-alegre Insidia, tendo a face infera al- gum tanto esbranquiçada. A respeito da belleza do Hedychium Gardnerianum., disse o dr. Wallich, que a introduziu na Europa em 1819, trazen- do-a de Calcutta: Species omiiium piílcher- ri.ina. Estas três palavras do sábio botâ- nico encerram a apreciação mais justa que se poderia fazer d'e3ta planta. 187á — Vol. III O género Hedychium foi estabelecido por Mr. Koenig, professor de botânica em Bale, e conta cerca de 25 espécies. Dão-se bem á beira d'agua, nos sities paludosos, nos bosques inundados, etc. As mais cultivadas são: o Hedychium coronariuni que produz grandes flores bran- cas e odoríferas, dispostas em espiga ter- minal, o H auguslifdlium de flores de vermelho alaranjado e o H. auranliacuni de flores alaranjadas. Ainda podemos men- cionar o H. chrysoleucum de flores ama- reUas e brancas. Tudo nos leva a recommendar estas plantas aos amadores. Se olharmos para o seu porte, vemos que é bonito e se ob- N. 8 — Agosto 142 .ÍORNAL DE HORTICULTURA PRATICA scrvarmos a inflorescencia achamol-a en- cantadora. F;ilta-nos só fallar da sua cultura. Em duíus linhas diremos tudo ou pelo menos o essencial. Copio.sas regas na primavera e no ve- rão quando começa a lançar rebentões. De- ve dar-sc-lhc um recinto abrigado dos frios; e o que fica dito (■ o principal para a sua boa cultura quo é similhaute á da Canna indica. O dr. Wallich dedicou a espécie de que nos vimos occupando a Mr. Edouard Gar- dner, súbdito britânico residente na corte do Nepaul. Nào nos devemos esquivar a apontar o estabelecimento do snr. José Marques Loureiro, onde temos visto bonitos exem- plares, aos amadores que queiram obtel-os. Oliveira Júnior. VlfrUMAS PAIA> RAS ACERCA DA RESINAGEM A resinagem é uma industria ainda muito pouco explorada em Portugal, com especialidade pelos particulares. Os primeiros ensaios que se fizeram no paiz tiveram logar na floresta de Lei- ria, cremos que em 1860, devidos á inicia- tiva do snr. conselheiro José de Mello Gouveia, que era então administrador ge- ral das mattas do reino. Foi encarregado de proceder ás experiências de sangrar os Pinheiros e preparar os differentes produ- ctos que se obtém da gemma, o .snr. Ber- nardino José Gomes, hábil empregado da administração das mattas nacionaes, que com a habilidade e energia que todos lhe conhecemos conseguiu obter resultados taes, que o governo a instancias do snr. Mello Gouveia, se resolveu mandal-o em 1862 a França estudar esta industria, entào qua- 8Í desconhecida entre nós e comprar alguns apparelho.s próprios para o fabrico da gem- ma. Algumas amostras d'cstes productos foram enviadas á exposição universal de Londres em 1862 e á (>xposiçâo interna- cional do Porto em 1865, e em ambas, obtiveram cremos que o primeiro premio. Estes productos tiveram tanta acceitaçào no nosso mercado e era algims mercados extrangeiros, pela perfeição com que eram fabricados, que ouvimos dizer que muitas vezes a administração da fabrica de re- sinagem, que estíl estíibelecida na Marinha Grande, se via cm embaraços para poder satisfazer ás encommendas que lhe eram feitas. E de tíil modo augmentou o cí»n- sumo d'cstes productos, que o snr. Mello (Jouveia no seu relatório para o governo datado d(! oO de abril de 1867 e que se acha impresso no li(J'tim do Ministério (Ím Obras Publicas (n." 5 de maio de 1868, a pag. 364), exprime-se da seguinte maneira: «A extracção das resinas por incisão no vivo e por distillação da acha progre- diu, n'este anno, como accusam as colu- mnas do mappa B, e foi previsto nos me- lhoramentos com que a administração tem alargado e aperfeiçoado succcssivamentc estes serviços. Sobe a 23:307f5i362 reis o valor das substancias resinosas com fabri- co e sem fabrico, recolhidas aos depósitos da administração, pela gerência d'este an- no, em que avultam principalmente os preparados da gemma fabncados nas offi- cinas da nova installaçao. Os salários, re- sultados obtidos já d'esta industria, que a administração creou, educou e conduziu desde a extracção da gemma até a expor- tação dos seus preparados para os princi- paes mercados nacionaes e extrangeiros, amparando-a e defendendo-a de tantas difficuldades e ironias que lhe agouraram os primeiros passos, abonam as esperan- ças de a ver crescer em importância com vantagem do paiz, por pouco que se tra- balhe em a guiar e desenvolver por cami- nho medido com prudência, sem arrojos nem descuidos; que lhe estorvem o adian- tamento e lhe compromettam o futuro. O pinhal nacional de Leiria tvm faculdades para um grande desenvolvimento d'esta industria, c a administração pensando sempre em promovel-o pelos lucros rcali- sados d'este trabalho, manchiu vir de Fran- ça outro apparelho de destillação da gem- ma, similhaute ao q\ie já possnia da mes- ma origem, que chegou á j\Iarinlia Gran- de em outubro do 1865, e alli devia ser montíido na officina de resinagem, a qual, provida do dous apparelhos de distillação JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 143 n fogo directo, ficava habilitada para des- pachar a fabricação das colheitas da gem- ma, que me propunha augmentar todos os annos, até que chegassem a proporções de carecerem de apparelhos a vapor, caso que já estava previsto com os planos de outras officinasj que se haviam de con- struir opportunamente quando as necessi- dades do trafego o exigissem.» Hoje, segundo nos informam, acham-se já submettidos á exploração da resinagem 1:632 hectares de pinhal na floresta de Leiria, e em alguns outros pinhaes do es- tado \á se fizeram alguns ensaios para es- trahir a gemma. A resinagem pode-se talvez affouta- mente dizer que methodicamente explo- rada se tornará para o nosso paiz uma in- dustria de primeira ordem, onde a essên- cia dominante das suas mattas é o Pinus marilima (Pinheiro marítimo conhecido vidgarmente pelo nome de Pinheiro bra- vo). Cumpre por tanto que seja muito bem estudada pelos silvicultores e grandes pos- suidores de pinhaes; pois esta industria que ainda aqui se acha na infância pode ser para o futuro a principal fonte de ri- queza das nossas florestas resinosas e vir a mudar completamente o systema d'ex- ploração florestal no paiz. Devemos confessar que o crescimento dos Pinheiros que foram sangrados é um pouco menor que o d'aquelles que o não foram, talvez ura 1[3, e por tanto adqui- rem menores dimensões e a vida torna-se mais curta. A este respeito são concordes a maior parte dos auctores allemães e francezes que temos consultado sobre o assumpto. Mas não achamos que haja inconve- niente, quando se tracta de resinar um tracto de Pinheiros^ em deixar alguns d'aqueUes que se vê que tem melhor desen- volvimento por sangrar, uma vez que te- nhamos necessidade de crear arvores de grandes dimensões para fins especiaes, co- mo por exemplo para grandes construcções navaes; apesar que n'estas obras raras ve- zes se emprega madeira do Pinus marí- tima em poças de primeira ordem por não ter a duração e a elasticidade que se exige nas construcções d'esta natureza e que tem o Pinus sylvestris, da qualé feita em geral a maior parte da mastreação, por isso que a madeira do Pinheiro marilímo é muito mais pesada do que a d'este. No pinhal de Leiria está em uso san- grar unicamente 132 arvores por hectare, sendo o povoamento médio por cada su- perficie de dez mil metros quadrados o de 340 Pinheiros, o que achamos muito bem entendido. Em quanto á edade que o Pinheiro deve ter para se resinar varia conforme a qua- lidade do terreno em que vegeta. Em circumstancias favoráveis pode-se ás ve- zes sangral-o logo depois dos 20 annos,mas em regra só pode soffrer esta operação entre os 35 a 40 annos. A qualidade da madeira dos Pinheiros resinados parece á primeira vista que deve ser muito mais inferior do que a d'aquel- les que o não foram; mas não é assim. A madeira d'um Pinheiro que foi sangrado é mais firme, rija e pezada; pois quem ob- servar uma d'estas arvores depois de cor- tada, verá que apresenta as camadas an- nuaes muito mais estreitas em consequên- cia de ter um crescimento mais lento, e é fora de duvida que quanto mais apertados são os acréscimos annuaes tanto mais re- sistente se torna a madeira. Citaremos aqui vários trechos que ex- trahimos d'algumas obras que tractam este assumpto, devidas á pennade silvicultores extrangeiros notáveis. Mr. Mathieu, inspe- ctor das mattas francesas e professor na escola florestal de Nancy, diz na sua obra intitvilada «Flore Forestière.» «O Pinheiro (reiere-se ao Pinus ma- rilima) resinado é considerado nas Landes como bem superior em dureza e em resis- tência áquelle que não soífreu esta opera- ção, e isto com razão. A resinagem pode com effeito esgotar as arvores, e reduziras suas dimensões, mas em compensação produz madeira, cujos crescimentos mais fracos, são relativamente mais abundan- tes em pau d'outomno; determina além d'isso, do interior para a peripherie, uma corrente de terebinthina, da qual a porção mais fluida se espalha, deixando nos teci- dos do alburno que atravessa uma grande quantidade de resina. Os troncos que foram sangrados têem pois menor porção de alburno, ou, o que é o mesmo, ura alburno de qualidade supe- 144 .JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA rior, e têom alem (l'isso muito maior pezo, s2o mais duros c mais ccrncntos, o portanto mais resistentes, muis duradouros e de maior força calorilica. Lê-sc no «Traitó pratique des arbres rcsineux Conilcres á «grandes dinicnsions», cujo auctor é i\Ir. L. M. de Chambray: a A madeira dos Pinheiros marilimos methodieamento resinados é muito supe- rior em qualidade á d'aquelles Pinheiros que o nao foram; c é quasi egual á do Car- valho. y> Na obra intitiJada oCulture du Piu d'Autriche)) (Pinus nirjra ou auslriaca) de •J. Wesseley director da escola florestal moravo-silesiana, diz o seguinte: a A rcsinagem diminue um pouco o crescimento do Pinheiro; mas a madeira dos troncos resinados é cmpregnada de re- sina e o seu valor augmenta a ponto, que a perda do crescimento fica sensivelmente compensada.» Ouçamos também o que nos diz o snr. Delbet no seu artigo intitulado «Gemma- ge» e publicado na «Encyelopedic pratique de Tagriculture»: «A extracção da resina pela gemma- gcm dá á madeira uma qualidade que ella nào tem quando c cortada antes de ser sangrada. Debaixo de qualquer forma que se em- pregue o Pinheiro inarilimo, para qualquer uso que se destine, vale mais depois de gem- mado. A experiência de muitas gerações nâo deixa Tienhuma duvida a este respeito. A lenha dura mais no fogo, o carvão dá mais calor, e é de melhor qualidade, as madeiras de carpintaria adquirem condi- ções de dureza egual á do Carvalho; o ta- boado é menos sujeito a empenar c a fen- der-8C debaixo da acção do sol abrazador do Meio-dia.» i\Iuitas outras auctoridades poderia- mos aqui citar, extrahindo trechos de mui- tas obras, que temos sobro a nossa ban- ca de trabalho, c que acabamos de con- sultar, escriptas por distinctos engonliei- roB florestaes que se tem tomado celebres pelos seus estudos, taes como Pfeil, Ilun- deshagfn, Hnrtig, Parade, (Jurnaud, etc. O que acabamos de ciUir prova de so- bi'jo ostíi matéria. Em Portugal tem incontestavelmente H resinagem muito maior importância na economia florestal do que geralmente nas mattas d'alguns paizes extrangeiros, por exemplo na AUcmanhae Dinamarca, onde se vendem, tanto as madeiras como o combustivcl, por preços muito mais su- bidos do que nos nossos mercados em consequência de terem muito melhores vias para transportarem os seus produ- ctos lenhosos. Portanto podem mais facil- mente prescindir dos aproveitamentos sub- sidiários como é este da gemma. Entre nós ainda é muito dispendioso o transporte dos productos lenhosos da maior parte das nossas florestas até que cliegueni aos principaes mercados do paiz, de sorte que muitas vezes corapra-se ma- deira extrangeira em proporção mais ba- rata do que a nacional. Emquanto , pois , não conseguirmos abastecer em maior escala os nossos mer- cados de productos lenhosos de maneira que se possam vender por menores pre- ços, afim de que o consumo seja maior, somos de opinião que desenvolvamos em grande escala a resinagem n'aquellas flo- restas que se acham situadas em condi- ções de consumo deslavoraveis, como por exemplo está o pinhal de Leiria, e mui- tas outras mattas povoadas com essências resinosas análogas, em consequência da grande difficuldadc dos transportes; e isto quando se tracte de as tornar mais ren- dosas. Na margem esquerda do Tejo e na ex- tenção comprehendida entre o Sado e a costa de Caparica, aonde existem enor- mes superfícies arborisadas de Pinheiros ntaritiinos, ahi incontestavelmente deve- riam os proprietários dos pinhaes ensaiar esta industria; porque apesar d'aquelJas florestas se acharem a poucos kilometros de distancia de Lisboa e Setúbal, e com boas vias de communicaçao para estas duas cdades, aonde as madeiras de cons- trucção tem muita procura c dão bons preços, as arvores que povoam estas flo- restas com muito pequenas excepções acham -se de tal modo tractadas, pelo de- ])l'. Caecia arbórea e muitas outras? Acaso não serão delicadissimas? Façam pois os leitores um ensaio com as seguintes que noto, e bem depressa procurarão outras es- pécies, por isso que, não querendo ser fasti- dioso, mencionarei apenas uns dezoito Fetos pequenos e que estão ao alcance de todas as algibeiras. Gymnogramma chrysopliila, G. calome- lanos; Microlepia Novaezelandiae; Asple- nium Dryopteris; Pteris tricolor, P. Ar- gyrea, Acrostichum anreum (Chrysodium aiireumj; Adiantum Moritianum,A. Tra- pezi forme, A. Pedatum; Pteris cretica, P. c. variegala, Selaginella stolonifera^ S. Caesia arbórea, S. coeri ^ S. PoiUteri, S. Cuspidata. Lisboa. D. J. DE Nautet Monteiro. MEIO DE DESTRUIR OS INSECTOS NOS POMARES E NAS LATADAS Do «Journal d'Agriculture Pratique» extractamos o seguinte artigo que julgamos digno de communicar aos nossos leitores: «Emprego ha oito ou nove annos, diz o auctor do processo, um meio de destruir as vespas, e outros insectos alados que fa- zem grandes estragos nos pomares e latadas. Tomo garrafas de vidro branco — as garrafas de refugo, vendendo-se por um preço módico servem perfeitamente para este fim — e suspendo-as nas arvoí-es fruc- tiferas e latadas depois de lhe ter introdu- zido um terço d'agua contendo ameixas bem maduras esmagadas, ou pedaços de peras egualmente bem maduras. O cheiro d'este liquido é o bastante para attrahir as moscas, as vespas e uma grande quanti- dade de borboletas de cor parda avelluda- da, de O'", 01 a 0'",lõ de comprimento, que vindo esvoaçar em roda da garrafa, entram n'ella e, não podendo sahir, mor- rem afogadas. Quando a agua contém uma grande quantidade de insectos esvasio as garrafas e penduro-as de novo. Recommendo as garrafas de vidro bran- co que me tem sempre dado bom resulta- do; o vidro preto não oíferece as mesmas vantagens, sem duvida porque os insectos que volteam de roda d'este laço não po- dem vêr o que se passa no seu interior. Depois que emprego este processo, os meus fructos deixaram de ser a presa das ves- pas e das borboletas. Talvez se podesse destruir por este mes- mo processo, até certo ponto, o insecto ala- do Phylloxera. E' uma experiência para tentar. Em todo o caso eu indico aqui esta receita com a convicção de que poderá ser- vir ás pessoas que ignoram como hão-de defender os fructos dos seus jardins con- tra os ataques das vespas e pequenas bor- boletas.» A facilidade d'este processo e as van- tagens que d'elle se pode tirar, segundo o seu auctor affirma, convidam a experi- mental-o. A. J. DE Oliveira e Silva. BANKSÍA SERRATA Em um jornal de horticultura tem, senão o primeiro, ao menos o segundo le- gar as plantas ornamentaes, pelas quaes se têem pronunciado muitos amadores de gosto recentemente no nosso Portugal. De muitas d'ella8 se tem accupado proficien- temente abalisados escriptores, collabora- dores e correspondentes do «Jornal de Hor- ticultura Pratica» tão acreditado dentro e fora do paiz. E com quanto a minha mal 150 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA aparada penna não possa competir, nem ao menos rastejar outras de traços trxo elegan- tes como as que ordinariamente escrevem para este jornal, aiiima-mc coratudo a in- dulgência, que os homens scicntificos por ventura terDío com a minha humilde pes- soa por apresentar a descripção de uma ProUacea altamente elegante, c notável por sua folhagem, podendo rivalisar com as mais bellas do Cabo da Boa Esperan- ça, e que oíFereco a vantagem de vegetar ao ar livre em muitos legares de Portu- gal, clima abençoado, qiie está talhado para ser o jardim occidental da Eitropa, pois que o seu paiz natal (costa oriental e meridional da Nova Hollanda) é em tudo ajialogo ao nosso clima. Refiro-me á Danhsia serrata Willd, e R. Br., uma das espécies do género Bank- sia dedicado ao celebre botânico inglez Banks, companheiro do capitão Cook, que descobriíi a primeira espécie d'estc género. A Banksia sacola, introduzida pela primeira vez em Inglaterra cm 1788, tem sido alli ciUtivada cm estufa, do mesmo modo que em França, Bélgica, e Alle- raanha. E' uma pequena arvore, ou gran- de arbusto de 3 a 4 metros de altura; ra- mos fortes e ^^goro3os; folhas oblongas, ' insensivelmente attenuadas na base cu- neiforme, ou ainda levemente pecioladas, um pouco espatuladas na parte superior, armadas nos lados de profundos dentes acerados, similhando-se aos dentes de uma serra; são mucronaermanente. E no vasto paiz do Armazonas, Pani, província do Brazíl, debaixo de elevadas mattas virgens, onde nunca penetram os raios do sol, e em que as exalações do rio Annazonas, produzidas por um calor C(ms- tantí" de 40 graus, formam unia humidade perm:inf'nto, que os solícitos viajantes na- turalistas liarraquin e Petit, através de muitas fadigas e ])erígos tPíMii d<'>:<'ol»orto a riquíssima collecção de Caladiums que faz hoje uma das glorias mais imponentes das estufas da Europa. Moveu-nos o apetite de escrever este artigo uma visita recente ao estabelecimen- to do snr. Marques Loureiro. Entrámos em uma estufa dirigida pelo seu chefe de reproducções, chegado recentemente de In- glaterra, e ficámos maravilhados da pom- posa vegetação das plantas tropícaes. Como que nos quizemos persuadir que retrocedíamos aos nossos 15 ânuos de eda- de, em que presenciávamos no Maranhão, província íntertropícal do Brazil, uma ve- getação luxuriosa e brilhante, que então mal podíamos apreciar, porque a mocida- de é em regra descuidosa do que lhe não toca muito de perto. Por entre as copadas frondes de mi- mosos Fetos de formas anómalas e exque- sítas e de soberbas Palmeiras, tem alli o snr. Loureiro uma preciosidade nas nume- rosas variedades de Caladiums de capri- chosas pinturas, e elegantes folhagens, com uma vegetação opulenta. A surpreza do visitante ó infalível, e não concorre menos para ella o addicio- namento, de algumas variedades do géne- ro das Be(/0)naccas egiiíilmontc brilhantes, mas de um colorido luu pouco mais me- lancólico, e do género das Gesnereaceasno- taveis pela delicadeza e mimo de suas lin- das flores. Mas ponhamos de parte as digressões para voltarmos ao assumpto do que espe- cialmente nos occupamos. Ao passo que o Caladium ostenta bel- leza, magnificência e brilho, que nenhuma outra planta lhe pode disputar, é comtudo accessivel aos menos abastados pela bara- teza do seu custo, o que é devido á faci- lidade da sua cultura, e reproducção. (J Caladium satisfaz-se com uma pouca de terra rica, adubada com estrumtí vegetal; um pequeno vaso de 10 centímeti"os de diâmetro basta ])ara luna planta forte, conf um pouco de calor húmido, 25 graus cen- tígrados, e sombra permanente. São estas as circumstancias que tomam esta rica planta um dos mais bellos orna- ujriitfjs de salas e quartos, havendo o cuí- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 153 dado de lhes humedecer as folhas todos os dias, arejal-as e lirapar-lhes o pó com mna esponja . Que importa a delicadeza do seu tu- bérculo, a necessidade de o conservar secco durante o periodo de repouso, em uma es- tufa quente, e a renovação das regas só depois de brotarem os primeiros rebentões, se podemos ter as nossas salas elegante- mente adornadas, durante cinco mezes da bella estação, com bem pouco dinheiro, e sem trabalho? Mas se o amador curioso possuir uma estufa, aconselhamos-ihe a cultm-a d'este bello vegetal, que lhe compensará, com deleitosos gosos, o trabalho que empre- gar. No magnifico estabelecimento do snr. Loureiro encontrarão os amadores mais de 50 riquissimas variedades de uma belleza seductora ; e se os seus catálogos marca- vam no anno findo o preço de 500 reis por cada planta, sabemos que as vende hoje, e vão entrar no novo catalogo, pelo preço de 300 reis. E em verdade para admirar que em quanto na Bélgica, Inglaterra e França as mesmas variedades ainda sustentam o pre- ço de 2 francos ou 400 reis, em razão da perfeição com que as cultiva, e da facili- dade com que as reproduz, possa vendel-as, por um preço inferior. Bem haja elle, que ao passo que au- fere interesses, nos faculta ensejes de va- riados gosos. Camillo Aureliano. MELOLONTHÁ YULGARIS E M. HYPPOCASTÀNUM Chamamos á attenção dos horticultores para estes insectos, que todos devem co- nhecer. São pequenos, porém podem cau- sar estragos enormes fazendo morrer muitas plantas e ás vezes as de mais subido valor. Estes insectos apparecem desde os fins de abril até aos meados de maio e ali- mentam-se da folhagem de certas plantas despindo-as ás vezes de todas as suas fo- lhas. De meados de maio em deante, as fêmeas descem á terra e põem os ovos, de cada um dos quaes nasce pouco tempo depois uma larva de O", 003 de compri- mento e que vae crescendo até ao outom- no do terceiro anno (tendo então O'", 035 de comprimento) epocha da suametamor- phose. N'este estado permanece até aos fins do inverno seguinte que é quando o in- secto se toma perfeito, furando este a ter- ra na primavera na epocha acima men- cionada, de maneira que todos os cjuatro annos apparece este flagello. O anno passado, que era anno d'el- les aqui em Coimbra, appareceram bastan- tes. O que mais se vé entre nós é a Me- lolonllta Injppocaslanmn; ã M. vulgaris ?q)- parece nos paizes septentrionaes da Eu- ropa (1) No anno de 1859 estando eu (I) Distingue-se uma espécie da outra unica- meutc pela côr: no mais sào eguaes. nas florestas de Reinbeck, no ducado de Holstein, tive occasião de ver tantos d'es- tes insectos que os Carvalhos (que são as arvores que n'aquellas matias mais pre- dominam) ficaram completamente despi- dos das suas folhas. A larva nos dous últimos annos é que faz os maiores estragos, roendo as raizes das plantas, não poupando nenhuma espé- cie; mas de preferencia ataca as arvores fructiferas e Coníferas em quanto novas. A maneira de extinguir estes animaes é recommendar aos trabalhadores, quando andam a cavar a terra, que matem todas as larvas que encontrarem, pois são mui- to fáceis de ver, e no tempo mandar apa- nhar os insectos de madrugada quando es- tes se acham nas folhas das plantas e ain- da não podem voar por causa do orvalho. Por cada insecto que se matar vae-se uma boa porção de larvas que de menos appa- recem nos annos seguintes. Em 100 insectos encontram-se, termo médio, 75 fêmeas; cada uma põe 100 ovos (isto é muito por baixo), por conseguinte de 100 que se matarem destrocm-se 7:500 larvas e insectos que podem prejiulicar as nossas plantas. As fêmeas distinguem-se dos machos muito bem pelo abdómen. Coimbra. Adolpho Frederico Moller. 154 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA CHRONICA De Mr. Julcs Mcil, director dos Jar- dins Públicos de Sevilha, recebemos a bc- giiiute carta que respeitosamente endere- çamos li excm.*' camará municipal d'esta cidade. Sor. Oliveira Júnior. — Li com a maior at- tcnçào a sua Chrouica de junho e pela segunda voz estranhei o facto incomprehcnsivel de se ex- cluir o, trabalhador dos jardins públicos n'esse paiz. E uuia monstrosidade capaz de surprehen- der o mundo iuteiro e que nada poderia justifi- car. Este pri\-ilegio, para a parte da .sociedade mais afortunada e que tem completa facilidade de se proporcionar todos os resfolegos e todas as distracções possíveis, já uâo 6 para a nossa epo- cha. E abu.^ío, abuso contra o qual a imprensa nacional e extrangeira não deveria cessar de bra- dar ç bem rijo. E uma injustiça de que não ha exemplo em parte alguma, nem mesmo em Hespanha onde os abusos tiveram dm-ante longo periodo os direitos de cidade, conde, comtudo, nenhuma administra- ção teve a ideia de estabelecer similhante dis- tiucçào entre as classes d'iuna sociedade, deven- do pelo contrario conccntrar-se todos os esforços no bem-estar geral e na prosperidade publica. A classe obreira precisa de mna instrucçào ?|ue nào se diligenceia dar-se-lhe, com quanto Ò88C de grande utilidade social ; e não ha de ser com impedir que tenha toda a espécie de convi- vência com a classe instruída que se conseguirá que ella chegue mais depressa a adoptar os nos- sos usos modernos. Estas maneiras aristocratas passaram de mo- da c sào cheias de perigos, sobre tudo hoje que existe uma lucta tão encarniçada entre o capital e o traljalho. Estes dous elementos que se com- batem continuamente, e que se procuram as- sim distanciar o mais possível lun do outro, se- riam mutuamente mais úteis se aliás se aproxi- massem por todos os meios para melhor se co- nhcci^rein e chegarem mais rapidamente e sem abalo a uma fusào appetecída entre interesses tão oppoatos hoje, quando deveriam pelo contrario estar o mais estreitamente ligados. Quantos perigos nào frustraria e até evitaria um jjaiz f|ue soubesse aliar francamente o capi- tal ao tralmllio ! A aristocracia não deveria olvidar a phrase memorável que o Imperador da Rússia dirigiu á nol)re:'.a do seu paiz (piando preparava a lilierta- çRo dos servos de gleba. Ella encerra um gran- de pensamento, e seria melhor evitar a lucta que se jircpara por toda a parte com mais ou menos intfiisidade, do qu(; deixal-a rebentar. Em toda a parte o ojtcrario tem direitos eguaes na questão de que nos occupamos, e sobre tudo cm regiiliiiH para as rpiaos elle contribue com as suas decimas, e seria lun acto de muita justiça e da maior prudência não se lhe recusarem ainda por muito tempo para se evitar que elle experi- mente a sua força, cousa que elle já começa a co- nhecer . Que todos os amigos da ordem e da liberdade reunam as suas diligencias para combater a ín- cm'íadas administrações obcecadas nos seus tris- tes absolutismos para prever e conjui-ar os peri- gos que ameaçam a sociedade. Acceite, caro collega, as expressões dos meus sentimentos etc. Sevilha 27 de junho de 1872. — Jules Meil. Abstemo-nos de commentarios. A pes- soa ou pessoas que têem a seu cargo o pe- louro dos jardins públicos já devem saber quaes são as nossas ideias sobre este mo- mentoso assumpto. Já n'este logar o dissemos e ainda uma vez o repetimos — que não tira muito pelo fiado quem tem o maior interesse que elle não quebre. Jardins públicos inacessíveis ao publi- co, ou são uma irrisão, um escarneo de mau gosto, ou não podemos comprehender. Se a aristocracia dinheirosa se enver- gonha de arrastar as suas opulências ao la- do da capa do pobre, evite similhantes le- gares. Se a senhora bem nascida receia ver pisada a sua cândida botinha assetinada pela chinella da filha do povo, ninguém a obriga a ir lá. O sol de Deus, que não cus- ta dinheiro, e as arvores que elle faz bra- cejar, frondcjar c que custaram e custam o dinheiro dos munícipes, são de todos e para todos. Nos jardins de cmprezas particulares, no do Palácio de Cr}'stal, por exemplo, não nos oíFenderia muito que se estabele- cessem umas taes ou quaes restricções. E, comtudo, tem accesso alli todo aquelle que paga a entrada. Ufana-se a cidade do Porto com o no- bre titulo de liberal. Não está má a inter- pretação que lhe dão a este titulo os seus illustros representantes! — Se não houver algum contratempo, espera-se este anno mna abtmdantissima producção d'azcite. De todos os ângulos do paiz temos recebido noticias n'este sen- tido. Que estas esperanças sejam bafejadas pelo Crcador, e que nenhuma triste dece- ])ção venha colher de improviso os nossos uleaticultores! JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 155 — O snr. António Batalha Reis, cava- lheiro de vastissimos conhecimentos oeno- logicos, inventor do Theionoxyphero e de outros apparelhos vinícolas, acaba de re- ceber uma honra que raramente se confe- re e que portanto deve ser tida em gran- de valor. A Real Associação Central da Ag-ri- cultura Portugueza, n'uma das suas ulti- mas sessões, votou por unanimidade que o nome do snr. António Batalha Reis fosse lançado nos «Fastos Ruraes» da associa- ção, em testimunho do elevado apreço em que tem os serviços que o snr. Batalha Reis tem prestado á vinicultura. Por tão bem cabida honra não pode- mos esquivar-nos ao desejo de enviar um aperto de mão ao talentoso moço de que nós, os portuguezes, nos ufanamos de po- der chamar-lhe compatriota. — «Nomenclatin-c usuelle de 550 íibres textilles», é o ti tido de um opúsculo que nos foi offerecido pelo seu auctor — Mr. J. Bernardin, conservador do Museu Com- mercial-industrial de Gand. O reino vegetal tem muitas plantas que poderiam ser applicadas á industria da fiação, e com effeito o seriam, se essas applicações fossem melhor conhecidas. O fim do auctor é, portanto, prehencher uma lacuna que existia na economia da indus- tria, chamando a attenção dos industriaes sobre todos os productos que elles pode- riam utilisar nos seus artefactos. E' um trabalho interessantissimo e que muitas vezes teremos de consultar. Agra- decemos pois a Mr. Bernardin a prova de benevolência que se dignou dispensar- nos, offerecendo-nos o seu opúsculo. —No dia 13 de julho, por occasião das festas da Rainha Santa Izabel, em Coim- bra, promoveram alguns cavalheiros uma Exposição de plantas na magestosa quinta de Santa Cruz que ainda hoje está reve- lando nas suas ruinas a opulência antiga d'aquella religiosa mansão. A estreiteza de tempo, porém, que me- diou desde que se resolveu prestar esta ho- menagem a Flora até que se verificou, deu logar a que a exposição não se achasse tão bera representada como poderia. Os principaes expositores eram: Obras do Mondego, António Mendes Simões de Castro, Encarnação e Silva, e Daniel Rodri- gues. A exm.^ snr.^ D. Esmenia de Sou- za Pinto também concorreu com algumas plantas. Esta exposição não passou d'mn mero ensaio e os seus promotores tornam-se di- gnos dos maiores encómios. Para o anno publiquem o programma e estabeleçam prémios. As entradas darão para as despezas, e, se duvidam do bom êxito, consultem alguma druidiza. — Mr. A. Dumas enviou-nos recen- temente um saccosinho contendo algumas sementes de um Milho que elle deno- mina Milho em forma de mão ou palmado. Segundo Mr. Dumas, esta planta cerealí- fera tem uma particularidade, que de- certo deve interessar a todos os amadores. «Entre as espigas — textuaes palavras do nosso amigo — encontram-se todos os annos algumas em que as cinco phalan- ges dos dedos da mão estão perfeitamente equidistantes, e as experiências que se têem feito demonstram que é a variedade que produz melhor farinha. Experimentaremos e depois fallaremos d'esta singularidade vegetal. — Recebemos um fasciculo que tem por titulo «Descripção de Machinismo Agrí- cola» . E' devido á penna do nosso collabo- rador, o snr. António de La Rocque. Além das descripções que faz de va- rias machinas agrícolas e industriaes, in- dica as qiie mais convém introduzir na nossa agricultura e dá alguns conselhos que devem eer lidos. Conclue por occupar-se da emigração e da falta de braços que augmenta quo- tidianamente, e diz assim: Nola-se mais os chamados brazileiros ricos que voltam ao seu paiz, do que os pobres ; o gran- de numero dos que por lá ficam dizimados pe- las febres ou pela miséria são esquecidos comple- tamente ; a emigração é uma loteria em que o paiz perde um homem ou uma vida por cada bi- lhete de entrada, e quando algum premio volta ao paiz tem o pomposo titulo de Brazileiro e um busto para o commemorar. Assim é, infelizmente! Poupamo-no3 a encarecer este Catalo- go-livro, porque o nome que o firma é sobejamente conhecido dos nossos leitores. — Segundo a circular dob snrs. Sou- thard & C", de Londres, os vinhos conser- vam-ae firmes, mas com alguma tendência de subida. 156 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA — O snr. José SIarques Loureiro, for- necedor (la casa de Sua Mac^estade a Rai- nha, oftercccu dous ricos bouqucts a esta real senhora por occasião da estada de SS. iDI, n'et!ta cidade. Vimos apenas o que a Senhora D. Ma- ria Pia levou ao baile da Assembleia Por- tuense, e que, além de bellissimas folhas de raros Culndiímts, ali^umas frondes de FeÁos de subido morecimento e flores taes como Glo.rinias e Girden ias, continha uma admirável espatha do Anthurium sclierze- riunum e alf^umas flores das Orclndeas: Catllpi/a Forbesi e Omidium ciUalnm. Estas lindissimas flores , cní^astadas num delicado invólucro de ronda, forma- vam lun dos bouquvls de mais subido va- lor que temos visto cm Portuiíal. — Do nosso particular amigo o snr. conselheiro Camillo Aureliano da Silva e Sousa, recebemos a seguinte carta que gos- tosamente publicamos: Mtni bom amif;o. — Coin prando prazer li na Chronioa do (Jornal de Horticultura Pratica» do moz de abril d'cste anno, uma curiosa noticia da Mxu>a enstete, cm que V. nos diz i|ue o snr. José do Canto possue apenas um exemplar d'esta rara Bananeira, imi)ortada directamente da Arrelia, c que tanto na lielgiea como em Inglaterra se vende por ura preço elevadíssimo. Pelo modo co- mo V. escreve a noticia, aíigurou-se-me que ape- nas conhece este prodigioso vegetal pelas estam- pas que alguns jornaes têem produziclo. Desde já uie preparo ])ara acceitar os agradecimentos que V. me ha-de dar por lhe proporcionar occasiào de a admirar ao natural, em um formoso exem- plar. t^ui'ira V. ter o incommodo de dar um pas- seio á Quinta das Virtudes e pedir ao siu-. José Marqui's Loureiro que o acompanhe á sua estufa n" ^ — e estou certo que entre as outras que el- le possue, esta nào escapará á sua penetração. O snr. José Marques Loureiro fez acquisiçào d'clla o anno pas.sado; nào medindo mais ((ue um decimi-tro de altura, e custou-lhe 20:000 réis: ho- je mede l'",50 aproximadameuto, tal é a sua força de veg<>taçiio, E já que o desejo de o obserpiiar me levou a dar-lhe esta noticia, que por certo também che- gará a todos 03 assignantiís d'este jornal, peço- Ihe a ]M'rmissào de accrescentar aqui o que sobre a sua cultura diz o conde Léonce de Lamberty : • A Muna cimete é uma planta mui notável que desqjCTta o desejo de dar sobre a sua cultura, e sobre as differentes phases do seu esplendido di'3- envolvimento, todas as imformações que se pos- sam obter. Aqu"llas que tenho a dar referem-se a um cxcmjilar único que possuo, desde janeiro de I SC} l, cujo progresso tenho seguido cuidadosa- mente até hoje. t.° anno (ISfii). No mez de janeiro recebi uma permena planta do Jardim d'aclimaçào de Argel. Primeiramente foi coUocada cm estufa quente; no principio de abril foi tirada do vaso e plantada era plena terra sobre cama (couchej sosinha cm um caixão profundo, coberta com um chassis . A 12 de maio foi levantada com grande tor- rão e collocada ao ar livre cm um massiço de ter- ra do folhas da largura de 1"',íjO, com a espessu- ra de O", 40, repousando sobre um leito de 50 centímetros de bom estrume novo. Exposição ao sudoeste, abrigada dos grandes ventos. O seu caule tinha entào a grossura de um punho, a maior de suas nove folhas media 70 cen- timeti-os de comprido sobre 35 de largo. São es- tas as dimensões de luna bella folha de Canna. A 30 de julho mostrava quatorze folhas ; a ultima cjue desenvolvera tinha 1 metro de com- prido sobre 54 centímetros de largo. Xo 1 . ° de setembro mostrava dezoito folhas ; a idtima que desenvolvera tinha l metro e 35 ccutimetros de comprido sobre 75 centímetros de largo . Em 4 de outubro, finalmente, mostrava 21 fo- lhas, as duas ultimas que desenvolvera tinham 1 metro c 70 ccutimetros de comprido sobre 75 cen- tímetros de largo •, a planta media rente ao chão justamente l metro de circumferencia. Foi entào que, com receio dos gelos, fiz levan- tar a minha Bananeira com os maiores cuidados, e depositei-a cm plena terra, em uma estufa tem- perada, onde, apesar de um abatimento de tem- peratura de 2 a 3 graus centigi-ados acima de zero durante as noutes mais frias deste inverno rigoroso, ella continuou a vegetar, posto que len- tamente. Assim, pois, desde 12 de maio a 4 de outubro, no espaço de quatro mczes e meio, esta pequena planta pôde, ao ar li\T.-e, attingir dimensões pro- digiosas. Devo accrescentar que nunca lhe recu- sei agua ; durante os grandes calores, ella rece- bia de três em três ou de quatro em quatro dias de seis a doze regadores de agua. Nunca sofireii com a frescura das noutes •, as suas folhas resis- tiram aos ventos do estio e chegaram intactas até 3 de outubro. N'este dia um tufão violento rasgou alguma cousa as ultimas que se tinham desenvolvido . 2.0 anno (1S65). No dia 17 de maio a minha Bananeira sahiu da estufa, c pela segunda vez foi plantada em plena terra ao ar livre. Eu ti- nha escolhido com antecipação um logar de ex- posição quente e abrigado dos gi-andes ventos. Mandei abrir luna cova circular de 90 centíme- tros de profundidade, e de 1 metro c 40 centíme- tros de diâmetro, lançando-lhe uma espessura de 50 centímetros de estrume novo, bem coberto com terra de folhas. A planta occupou o centro d'e8- te local, e bem depressa começou a desenvolvcr-se . Todas as folhas antigas amarclleceram succea- sivamente, e foram supprimidas. Desde 17 de maio até ao 1.° de agosto era que tomei as minhas primeiras notas, a planta tinha desenvolvido nove folhas, termo médio, inna folha em cada doze dias. A primeira não tinha mais que 1 metro c 35 centímetros de com- prido, resultado da transplantação •, mas as se- guintes tomaram um desenvolvimento progi"essi- vo ; a nona (ultrnia) media 2 metros e 20 centi- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 157 metros de comprido sobre 70 centímetros de largo . No 1 . " de setembro tomei novas medidas •, des- envolveram-se quatro folhas no lapso de tempo de trinta dias, e a quinta estava a ponto de se dee enrolar . Todas ellas tinham mais de 2 metros de com- prido . Eu julgo que este anno se não podem pro- duzir maiores. A haste de um metro de altura, excluídas as folhas, mede na baze 1 metro e 40 centimetros de circumferencia . A minha Bananeira foi levantada pela tercei- ra vez, e coUocada na estufa temperada em con- dições similhantes ás dos annos anteriores, com a única differença de que fui obrigado a cortar- Ihe uma parte das folhas para poder alojal-a. No momento em que escrevo estas linhas ella coni- ix)rta-se maravilhosamente . A Bananeira de Bruce parece-mc ser a mais notável das espécies exóticas conhecidas até hoje, de que se podem colher ao ar livre tão poderosos cffeitos.» Eis aqui instrucções de um pratico emin-ente que podem ser aproveitadas por aquelles que ti- verem a fortuna de possuir tão beíla planta. E espero que V . as publicará no jornal se as con- siderar dignas disso. De V. etc. Camillo Aureliano. Agradecemos ao snr. conselheiro Ca- millo Aureliano a noticia que se acaba de ler concernente a uma planta que mais tarde poderá, com alguns cuidados, cons- tituir um bellissimo ornamento dos nos- sos jardins. Mais tarde, dizemos, porque d'um exemplar que havia em Sevilha sa- bemos nós que passou dous annos ao ar li- vre, resistindo á temperatura de 2^ centi- grados abaixo de zero, porém morrendo afinal por falta de regas durante a esta- ção calmosa. Ha cerca de um anno que observamos de perto a Musa ensete que o snr. Lou- reiro tem na sua estufa e, se não fora o seu elevado preço, já teria por nossa ins- tigação sido plantada em plena terra. Já se vê que ao escrevermos a no- ticia sobre a Musa ensele, no mez de abril, conheciamos o exemplar que possuia o es- tabelecimento Loureiro, e, se d'elle não fizemos menção, foi porque nem tudo pode Decorrer. Ainda bem que o nosso involuntário esquecimento foi vantajosamente reparado pelo nosso amigo, o snr. conselheiro Ca- millo Aureliano, a quem novamente agra- decemos. E diga-se que não ha bens que vêem por males! — Os ventiladores, uma das modernas invenções que promettem ser mais úteis ao homem, começam a ser bera acceites do pu- blico. E bom é que assim aconteça, já por- que podem prestar valiosos serviços á agri- cultura, applicados aos depósitos de cereaes ou ás cortes de gado, já porque devem contribuir poderosamente para a conser- vação da saúde do homem, o que não é de somenos valia. Ninguém ignwaqueda represa d'ar viciado no interior das habi- tações advêem graves doenças, que pode- riam e deveriam aliás evitar-se. No acreditado estabelecimento do snr. de La Rocque, importador de machinas in- dustriaes e agrícolas, acabamos de vêruns ventiladores aspiradores, de fabricação in- gleza, que se tornam recommendaveis pe- la sua grande simplicidade e perfeição. Fig. 43 — Ventilador aspirador As condições que a sua construcção apresenta são: 1 .^ — A cabeça revolvente como uma do- badoura, formada de uma serie de divi- sões por onde se escapa o ar viciado sem permittir a entrada de ar frio ou chuva, tendo na parte superior uma guarnição co- mo velas que o menor vento faz girar. 2. a — O parafuso de Arquimedes liga- do á cabeça, o qual, girando de continuo, forma a aspiração constante. 3.^ — A boa lubrificação dos moentes, permittindo que este apparelho trabalhe quatro a seis annos sem renovação d'azei- te ou óleo, com o menor vento e em si- lencio. 158 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Diz O snr. de La Rocqiie, na «Descri- pçâo (lo Machinismo Af^ricola», que temos ú niào, que estes ventiladores teem sido utilisados na industria de fiação d'alí?odão, no fabrico de las, tabacos, tinturarias, la- vagem, etc. , c que servem também para ex- trahir as humidades das matérias expos- tas á seccagem. Asseguram além d 'isso uma boa ven- tilação nas egrejas, capellas, escholas par- ticulares ou cdilicios p\d)licos, hospitaes, cadeias, clarabóias, quartos de banho o de lavar, cavallariças, chaminés de íbgòes, ca- sas de bilhar, botequins; emíim, convém a todos os aposentos onde o ar se possa \'iciar por agglomeraçiío de gente ou por motivo da manipulação industrial. Tendo o municipio de Liverpool man- dado coUocar 700 d'estes ventiladores nos couductos de despejos públicos, observou- 88 que a mortalidade se reduziu de 78G casos a 413. Os hospitaes que se haviam munido dos mesmos ventiladores em todas as enferma- rias e dormitórios, foram inspeccionados pelo inspector geral de saúde, cujo rela- tório testifica notáveis melhorias na con- dição dos doentes e na atmosphera que en- controu em todo o edifieio. Os ventiladores têem differentes for- mas, segundo a sua applicação a casas particulares, palácios ou edificios públicos. Seja qual fOr porém a sua forma a collo- «ação ó no telhado ou como chaminé ou co- mo ventilador, sendo posto em commimi- caçâo com o aposento que se quer venti- lar por meio de canos de folha de zinco, ft.-rro ou madeira. Sào construídos de dififerentes tama- nhos, para servir segundo as dimensões dos aposentos ou segundo as suas applica- çues. Quando se queira mna ventilação for- te para promover a seccagem de grãos, roupas, fazendas ou lã, etc, poder-se-ha applicar um ventilador grande, ou maior numero dellcs, sendo menores. Quanto á sua applicação propriamente agricola, vejamos os termos em que o snr. Aiitfjnio de La Kocque se exprime: Nào V inciiod vuiit:ijo.>«a a applica(;ào d'c3t(\s ventilador»;» nos aposento» do honieni (jiio vive no campo como no rrafl nflo têem cal que faça eftVrvescencia com os ácidos, e as outras duas muito pouca fazem. 3." — O lenho de uma raiz adectada é mais le- ve que o da raiz sà em egualdade de sec>u-a; e sendo reduziílo a farejlo, e esto fervido em agua distillada e depois filtrado, dá um liquido escuro c acido, que precipita uma matéria humificada, pelo acido chlorhydrieo. Na difticuldades em cer- tos terrenos. Seria pois muito importante encontrar um meio de tornar possível a cultura d'este legume delicioso era todos JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 165 OS terrenos seccos e húmidos , colhendo com abundância os seus pequenos repolhos. Mr. Bossin, a quem se devem tantas experiências engenhosas e preciosas infor- mações, encontrou o modo de resolver o problema da cultura da Couve de Bruocellas, mesmo em terrenos considerados impró- prios, até hoje, para este género de cul- tura. «Nas terras seccas como as minhas, diz elle, a cultura da Couve de BruxeUas não só é difficil mas mesmo impossivel, e um proprietário d'Orleans, Mr. Coquillard, que tinha uma horta de solo egual ao meu, escreveu-me as seguintes linhas: «Serieis ca- paz de vir com os vossos conselhos em soc- corro de um horticultor aprendiz embara- çado extremamente com a cultura da Cou- ve de Bruxellas, que fez a sua sementeira com todo o cuidado, que sachou e regou as suas plantas, e que está admirado, co- mo um fundidor de sinos, por ver que nas juncções das folhas não apparecem os pe- quenos repolhos que ahi se produzem or- dmariamente, e que em seu logar só ap- parecem ridiculas folhas pequenas? etc.» Muitos proprietários encontrara-se no mes- mo embaraço, e eu creio de utilidade vir em seu soccorro, publicando urii meio se- guro e fácil, com que me tenho dado bem ha quinze annos, sema menor interrupção. Ha duas variedades de Couve de Bru- ccellas, (irande e anã, a que também se c^.iama (iperfeiçoadn. E' d'esta, que eu me sirvo, e a que dou preferencia, porque a haste nunca excede nas minhas culturas a 50 centimetros. Semeio-a em viveiro a 15 de abril, umas vezes mais cedo, outras mais tarde, e planto-a pelo decurso de ju- nho, distanciando os pés 50 centimetros uns dos outros e em quinconce (desencon- trados) . Nos primeiros dias de setembro, isto é, logo que a haste das Couves de Bru- xelias, anãs, aperfeiçoadas, chegam a 30 centimetros de altura pouco mais ou me- nos, demoro-lhe a vegetação, suprimindo- Ihe a sumidade com o meu. canivete. Esta operação traz o resultado immediato de interceptar a seiva que, não tendo sabida, occasiona o nascimento de uma quantida- de considerável de pequenos repolhos, que apparecem nas juncções das folhas doze ou quinze dias depois da operação. D'aqui se vê que o resultado não se faz esperar; para estender a minha colhei- ta e ter pequenos repolhos frescos durante o inverno, corto a cabeça a uma vin- tena de pés ao mesmo tempo, todos os quinze dias, e continuo assim esta deca- pitação até novembro. Por este simples processo, que me pei^mitte fazer uma pi'i- meira colheita três semanas depois da ope- ração, tenho novas producções todo o in- verno, e estou convencido que todos os proprietários e jardineiros obterão o mes- mo resultado se obrarem com cuidado. Convido-os a ensaial-o. Em terrenos húmidos e gordos, parece-me inútil qual- quer processo; a natureza obra por si mes- ma; mas pelo contrario, nos tei-renos sec- cos e áridos, é necessário emprogal-o. A Couve de Bruxellas, mais doce que os BepoUtos^ e de mais fácil digestão, pode obter-se pelo modo acima indicado, tanto nas terras seccas como nas húmidas. O meu terreno pertence á primeira cathego- ria, e fornece-me por meio d'este pequeno trabalho, simples e fácil, Couves de Bru- xellas em grande quantidade para as ne- cessidades da minha casa. Por muito tempo fui privado d'ellas, e só depois de ter ensaiado debalde a sup- pressão total das folhas, depois de as ter cortado pelo meio, e depois de varias ex- periências, é que consegui, por meio da decapitação, o grande resultado. Eu dese- jo que as minhas experiências reiteradas encontrem echo, e que sejam adoptadas e seguidas por todas as pessoas que gostam das Couves de Bruxellas e que as cultivam sem resultado. Esta bella Couve data em França do começo d'este século, e á sua boa qualida- de incontestável é que ella deve a justa reputação de que gosa em todas as mesas e na maior parte das hortas; em Pariz é o objecto de um commercio importante du- rante o inverno e não sei porque ainda se considera como um legume de luxo.» Eis aqui as palavras de Mr. Bossin; e por ellas vemos a facilidade com que se pode obter um legimie tão apreciável, c que muita gente despresa pela difficulda- de da sua cultura. Prometto desde já de fazer este anno o primeiro ensaio, e darei o resultado d'elle aos leitores d'este jor- nal. Camillo Aureliano. IGG JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA AS acàclvs da austrália e outros vegetaes exóticos A bcllcza cl'estas plantas e o interesse que tenho por tudo que pode concorrer para mudar o aspecto monf)tono da vegetação dos nossos jardins públicos e particulares, induziu-me em 18(57 a introduzir imi a cen- tena de espécies do maguiíifo genei'o Acá- cia. No meio, porém, das minhas invosti- íjações, uma perda fatal me obrigou a sahir de Sevilha e a abandonar por consequência as plantas que ha\na introduzido, escapan- do apenas aquellas que a terra e o acaso pozeram ao abrigo da falta de cuidados. Entre as que sobreviveram contavam-se em 1809 as seguintes: 2 Acácia c)/a}iop/iylla. lophanla. — Neumanni. — lepfop/njlla. falcata. ncmalopIn/Ua. florilmnda. sem nome, de porte p}Ta- midal a principio, mas deixando mais tar- de pender as extremidades dos ramos; as folhas são mais largas do que na A. cya- nop/iylla e um tanto mais ondidadas. 1 — sem nome, de ramos com- pletamente pendentes, carecendo d? tutor para formar o caule. Os ramos depois en- tregues a si mesmos ainda se tornam mais pendentes c, quando se cobre de flores, pro- íluz o melhor oíFeito possivel e torna-se um dos mais bellos ornamentos entre os nos- sos vegetaes de ramos pendentes. As Ar(ir{((s cynnophj/Ua, lopltanla, le- ptopInjUa, falcata, nemctlop/n/lla, floúlmn- da e as duas sem nome resistiram perfei- tamente, tendo o thermometro descido a G° cf^ntigrados abaixo de zero em dezembro de 1870. As outras pereceram, exceptuan- do a lophanla IScumanni,(\\\Q^ depois de pa- recer estar sem vida, tomou a rebentar, mas não conseguiu escapar á morte. Desde que regressei a Sevilha, tenho continuado a rnunir todas as espécies co- nhecidas. Já poderia plantar em plena ter- ra cerca do GO espoeiess, e tivesse o meu estabelecimento mais adiantado. Em 1807 introduzi as seguintes plantas: A AcdCHi Cavoíiana, quo me parece muito superior á A. Farnesiana pelo porte e pela multidão de flores, de que se cobre completamente do meiado de março até fins de abril. O Negumlo variegata, cujo variegado a torna uma arvore de primeiro ordem. As folhas soff"rem um pouco com o sol for- te de julho e agosto, e por isso seria bom tcl-a em meia sombra. As Enjllirina floribunda, Madame Bellauf/er^ speciosa e Marie Bellanger são todas de um effi^ito encantador e esta ul- tima é soberba cultivada em vaso. Os Solanum marfjincdum, pyracan- iJtum, laciniahimebelaceivm, de vegetação tão rápida, que nos é dado cultival-os co- mo plantas annuaes. Com quanto o inver- no passado o tliermometi-o descesse a 2** centigrados abaixo de zero, não Poff'reram nada com o frio, exceptuando o S. laci- nicúmn, que ainda tinha pouca edade pa- ra ser exposto a uma temperatura d'ostas. A Ipomcva Lcari, levemente coberta de colmo, resistiu a 6° abaixo de zero e re- bentou depois vigorosamente. A Pohjmnia grandis, com o pé cober- to de excremento de cavallo, resistiu ao mesmo frio que a precedente. A Ipomcca grandiflora alba ou mexi' cana. Ainda não conheço o grau da sua rusticidade. A Passi flora Impcralrice Eiigcnie,co\- locada d'encontro a um muro a este e co- berta simplesmente com uma esteira, sof- freu o rigoroso inverno de 1870-1871. O Andropogon squarrosiis resiste ad- miravelmente. As suas raízes são empre- gadas na conservação dos ai'tefactos de lã. A Foucroga giganlea requer ser cober- ta nas noutos frias. O Phcrnicc reclinala perdeu as folhas, quando o thermometro marcou G" abaixo de zero, comtudo desenvolveu-se depois com bastante vigor. A Molinia c/iilcnsis é muito rústica. O Chamcvrops excelsa sofFre bem os nossos frios. O Cocos austral is é rusticissimo. A Musa ornata morreu por um dcs- ciiido, sem que podesse fazer ideia da sua rusticidade. A Acácia Decaisneana (JRobinia) de JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 167 numerosos cachos de flores cor de rosa, produz um eíFeito magnifico misturado com a Ihbinía pseudo Acácia. As Kennechja ovala rósea, alba, violá- cea e purpúrea, não supportara as geadas fortes. Mandevillea suaveolens. Ainda não pu- de fazer ideia da sua rusticidade assim como de muitos outros vegetaes, de que darei noticia opportunamente. Sevilha. — Hespanha. JULES MeIL. Director dos jardins e passeios públicos de Sevilha. OS ALOÉS COMO PÍANTAS CURIOSAS E ORNAMENTAES Ha imia serie de vegetaes, que, se não se distinguem, como em geral, pela belleza das flores, são comtudo muito dignos de reparo e da attenção dos amadores pelas formas singiúares e exquisitas que apre- sentam. Esta serie é especialmente formada pelas plantas vidgarmente chamadas gor- das, provenientes das sete seguintes fa- milias: Liliaceas, Amar f/U idaceas, Euphor- biaceas, Asclepiadeas , Crassulaceas, Ficoi- deas, e Compostas. N'ellas eíFecti vãmente se encontram al- gumas milito dignas dos nossos jardins, e cujas formas caprichosas contrastam com os outros vegetaes. E também não é só na forma que devemos procurar o la- do ornamental d'estas plantas ; algumas produzem lindas flores, ricas no colorido e diliciosas no cheiro. Emfim poucas plantas, quer em collec- ção, quer destacadas, p^dem concorrer tão bem para o ornamento dos canteiros. Propomo-nos dar uma serie de artigos sobre estas plantas, começando hoje por um género muito interessante, — os Aloes. iSIão vamos fazer uma monographia ; isso pertence a melhoi-es pennas do que a nossa ; apenas, simples amador d'estes vegetaes j contaremos em estylo singelo o que dos mestres e da pratica temos apren- dido. Quando os Aloes vieram pela primeira vez da sua terra natal, o Cabo da Boa Esperança, para a Europa, excitaram um espanto geral, justificado pela sua forma desconhecida, da qual nenhum dos nossos vegetaes apresentava modelo. Estranhou-selhes a falta de flexibili- dade e delicadeza, que distinguem as nos- sas plantas, a disposição rosiforme ou py- ramidal das suas folhas, o seu colorido e forma, as suas flores, emfim o seu modo de viver tão diíFerente dos outros vege- taes. Mas se formos analysar estas plan- tas á sua pátria, achar-se-ha a razão da forma e organisação que têem. Obrigadas a viver n'um clima árido, secco e areen- to, sobre ásperos rochedos expostos á ac- ção de ventos impetuosos, como é que po- deriam existir em taes circumstancias com folhas delgadas, delicadas e sustentadas por finos peciolos V E' por isso que as suas grossas folhas espessas, muito apertadas, e formando uma massa compacta, cónica ou arredondada e pouco elevada, arrostam com a impetuo- sidade dos ventos, por muito fortes que se- jam. Por outro lado, a espessura e tamanho das folhas e os suecos de que estão em- pregnadas supprem a agu.a que lhes fal- ta. A haste delgada, mas muito forte, ás vezes até lenhosa ou cuberta de folhas im- bricadas, é o sufficiente para sustentar as flores, que duram pouco, e quasi sempre desabrocham na estação quente. Pelo que fica dito, já os leitores vêem que são plan- tas dignas de attenção, e que no jardim do amador curioso deve haver um can- teiro destinado á cultura d'ellas, a qual sendo em grande escala e bem feita, pa- gará com usura o trabalho que dér. E' pouco mais ou menos a isto que se reduzem as vantagens da cultura dos Aloes, porém no Cabo da Boa Esperança, em Bengala, nas ilhas Barbadas, etc, são cultivados expressamente para d'elles se extrahir um sueco conhecido no commer- cio debaixo do nome de Aloes hepático, succotrino e cabalino, segundo o maior ou menor grau de pureza da sua composição. Extrahe-se este sueco por meio de in- cisões transversaes feitas nas folhas das espécies próprias para este fim. 1G8 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA E' muito empregado na medicina como purgante e tónico, e os seus preparados teem útil e vantajosa applicação. As artes e a economia também se aproveitam do sueco e das folhas; com o primeiro pre- para-se um verniz, que é muito útil para resguardar dos insectos as collecções de historia natural , li%'ros, etc, e preseve- rar os navios e construcções maritimas do devastador Thcredo naval is ; e das segun- das forma -se um soberbo adubo, depois de despojadas do sueco. O dr. Poerner obteve do Ahes uma excellente côr parda ; e Fabroni, notável sábio florentino, fez com a mesma planta uma tinta, que sem o auxilio de mordentes comnumica á seda uma côr violeta muito viva. Os habitantes da Cochinchina tiram do Aloés per fui i ad o wmíi excellente fecida, muito agradável ao gosto, fazendo mace- rar as folhas antecipadamente em agua aluminosa. Os hottentotes fazem o seu carcaz com as hastes áo Aloés, a qucLin- ncu deu o nome especilico de dicholoma. E, íinalmente, muitas espécies produzem um flo muito forte com que os índios da Ciuyana fabricam redes e velas. A Índole d'esta publicação não pcr- mitte que estendamos estas noticias como desejaria-mos, para passar á parte mais essencial: a cultura e descripção das espé- cies aproveitadas para ornamento. A cultiira d'cstas plantas é muito sim- ples ; de certo que todos os nossos leitores conhecem o tractamcnto dos Caclos ; pois 09 cuidados que os Aloés requerem são si- milhantes ; vegetam ao ar livre como el- les e só não precisam de ser conservados seccos no inverno tanto tempo. Na estação quente devem ser regados amiudadas vezes ao dia, por cima das fo- lhas. ]\Iultiplicam-se facilmente poios nu- merosos rebentões que lançam, ou pelas sementes que produzem em grande quan- tidade.Os Alues têem merecido a attenção de vários botânicos c horticultores. Entro os primeiros apresentamos como principal o príncipe de Salm-Dyk, illustre sábio alloniào, fpio principiou uma excel- lente monograpliia, cjue a sua morte repen- tina não deixou acabar. N'e8ta excellente obra vemos, ainda assim, descriptas e figu- radas cerca de 180 espécies, a maior parte das quaes eram então imperfeitamente co- nhecidas. Em seguida a este vem o anti- go, redactor da «Illustration Horticole» Mr. Ch. Lemaire (l),que em vários ar- tigos do «Jardin Fleuri:^te» e ulti!namente n'um bem escripto livrinho «Les plantes grasses» descreveu ura considerável nu- mero d'estes vegetaes. Emfim o amador que queira ter amplos conhecimentos acerca d'estas plantas pôde consultar com apro- veitamento Endlicher no seu «Genora plan- tarum», Schultes, Kunth, etc. Mais de cincoenta espécies de Alocs, sem contar as variedades, têem sido intro- duzidas na horticultura oi^namental ; nôs descreveremos resumidamente as princi- paes, rcmettendo o leitor, que queira ver os desenhos e melhores descripções, para a citada obra de Salm. Em primeiro logar citaremos um Aloés vulgar, mas ainda muito estimado : é o Aloés ferox Lamk. (Pachydendron ferox H. B.) A sua haste attinge ás vezes a al- tura de dous a três metros, c toma o diâ- metro de dez centimetros ; as folhas^ bas- tante largas na base, juntam-se no vértice da haste, são alternadas, armadas por am- bos os lados de pontas espinhosas. As flores, que desabrocham em uma abundante espiga, são amarellas e purpurinas, estria- das de verde e vermelho claro. Esta es- pécie é de bello effeito no centro d'uma boa coUecção das suas congéneres. A. albocinda Haw. (A. bordado de branco). Natural do Cabo da Boa Espe- rança. E' sub-acaule; as folhas de um cen- tímetro de espessura, e de seis a sete cen- timetros de largura na base, são esbran- quiçadas, glaucas, inermes, bordadas de branco. As flores são pendentes; de ver- melho cinabrio, bordadas de amarello ouro. A. /niuiilís Haw. (A. anão) Do Cabo, acaule ; folhas expcssas, não passando de 10 centímetros de comprimento, sobre um e meio de largura, guarnecidas de espinhos nas margens e nas duas faces, assim como (1) Quando o.scrcviaino.s estas linhas, igno- rávamos ainda a tnorto dostc voniTando vulto. Mr. Lemaire juntava aos sons profundos conhe- cimentos scicntificos o litterarios inna bondade, que o tornava estimado e rjuerido de todos. Sen- timos verdadeiramente a sua morte, que nos rou- bou um valoroso campeão nas lides scientiíicas e um cidadão exemplar pela nobresa do seu ta- racter. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 169 de pequenos papos que parecem ser espi- nhos nao desenvolvidos. As flores, lindis- simas, são vermelhas e em cachos. Esta espécie tem produzido algumas variedades; citaremos: a A.echinataVfillà., mais espinhosa ainda; a A. incurva Haw.; a ^4. major, folhas maiores, pouco espinho- sas nas margens e na parte superior, e muito pela inferior. A. soccotrina Lamk. Do Cabo: planta caulescente, pouco alta, d'um metro quan- do muito, ramificada; folhas curvas para a parte interior com muita elegância, d'uma cor verde bastante carregada, de 5 centi- metros de largura na base e ÕO de com- primento; os dentes são numerosos na base. Flores côr de rosa, esverdeadas na base. E' d'esta planta que se extrahe o bál- samo citado acima. E' cultivada em gran- de escala para esse fim. A. Uírihellata D. C. Linda planta do Cabo, produzindo flores vermelhas aça- froadas. Esta espécie produziu as seguin- tes variedades: A. grandidentala, folhas largas de 7 a 8 centimetros, mas menos compridas do que as da espécie typo ; A. variegcita, folhas ainda muito menos lar- gas, liniadas de branco como na Agave americana. A. mitraeformis WiUd. (Em forma de mitra). E' uma planta robusta, guarneci- da de alto a baixo de folhas curvas para a pax'te de dentro em forma de mitra al- longada, espinhosas ou denteadas pelas bordas, sendo os dentes ou espinhos collo- cados 1 centímetro de espaço a espaço, e munidos de pequenos papos. Produz inte- ressantes cachos de flores vermelhas. Tam- bém tem produzido algumas variedades, a saber: A. distans, de folhas muito cui-- tas e muito espaçadas; A. spinulosa^ Salm. folhas mais curtas que no typo, mais largas, mais espinhosas, e d'um porte mais ornamental. Flores egualmente ro- sadas, em cachos. Para não demoi'armos o leitor com minudencias, citaremos somente os no- mes de mais algumas espécies, muito di- gnas de figurarem a par das primeiras: São as seguintes: A. pentagona, A. re- tusa, A. verucosa, A. caenia, A. friUi- cosa, A. pliirídens, A. ciliaris, A. varie- gala, A. vireiís, A. depressa, A. prolife- ra, etc. etc. Todas estas espécies, ou quasi todas, além de serem interessantes para collecção, servem excellentemente para salas, pela facilidade com que se tractam em vasos. A. J. DE Oliveira e Silva. - AS PÂLMEÍRAS Eiitre as Monocotgledoneas não ha raça mais nobre nem que attinja proporções tão gigantescas como as Palmeiras. Ne- nhumas plantas se prestam tanto ás pre- cisões do homem como estas, que Von Mar- tins dizia serem a prole esplendida de Tel- lus e Phoebus, tal impressão lhe fizeram os mais interessantes individuos de todo o reino vegetal. Quem \najou por essas regiões felizes, onde as Palmeiras pullulam com profusão, jamais se esquecerá da magestosa appa- rencia de Palmeiras taes como o Borassus flahelliformis, com seus troncos ornados de folhagem gigantesca, debaixo da qual bem se poderia abrigar uma dúzia de ho- mens, de tal dimensão são estas folhas. Se fosse homem que se deliciasse nos grandes panoramas, que lindos prospectos não alcançaria,trepando pelo tronco de um Ceroxilon andicola, verdadeiro miradouro de 50 metros de altura! Se considerasse a fecundidade, acharia a Alfonsia amygdali- na com suas 600:000 flores todas abertas n'um só exemplar, ou ainda o Phoenix dadylifera (Tamareira), que poderia for- necer-lhe fructos com fecundidade espanto- sa. Ha-as também verdadeiras Liliputia- nas, como as Attaleas e o Chamaerops hu- milis. Para certos coUeccionistas, que varie- dades de folhagem! Umas folhas grandes e largas, outras todas recortadas e outras quasi fios pendentes! As Palmeiras constituem, pois, uma verdadeira riqueza para os habitantes dos trópicos , subministrando-lhes alimento , vestido, casa, utensilios e embriagantes bebidas, como o Toddy da Lídia. Algumas possuem troncos delgadissi- 170 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA mos: nutras crc=!Com vigorosas por entre as in;ittas ató attingiroin 200 e mais metros de altura. Nem todas Scão de caule indiviso; ha-as, para variar, que se dividem amiudadamen- tc como a Hi/p/iaene coriacea. Como os leitores poderão imaginar, são grandes as variantes que se notam de in- dividuo a individuo, mas quem tiver visto qualquer d'(dlas, reconhecerá todas as ou- tras como pertencentes á mesma familia. Se bem que no primeiro repente podesse ter suas duvidas sobre as Calamens o seus alliados, um leve exame o convenceria que eram da mosma familia. Se tirarmos o Cocos nucifera c talvez mais três ou quatro que estão dissimina- das pelos trópicos, cada espécie tem uma espliera mui limitada; por isso o viajante vae adiando constantemonte novidade no seu trajecto, o que é confirmado por Hun> boldt e outros, que obtinham uma nova va- riedade quasi todos os dias. E se tomarmos esta circumstancia em consideração e o pouco que se teiu explorado o interior de Africa e Ásia, poderemos assevorar que as variedades conhecidas triplicarão com as novas explorações. De Angola sei eu de algumas espécies novas, completamen- te distinctas de todas as conhecidas, as quaes espero serão em breve apresentadas ao mundo scientifico. Continuaremos n'outro numero, a tra- ctar d'este assumpto. Lisboa. D. J. DE Nautet Monteiro. FORRAGENS Não são somente as plantas ornamen- taes, que devem merecer a nossa attenção; algumas ha, que, humildes ao parecer, of- ferecem comtudo grandes vantagens á eco- nomia agrícola, e ás quaes o horticultor não deve dar por mal empregado o tem- po, que dispensar em seu estudo e cul- tura. As Gramineafi são sem duvida as que maior somma de vantagens proporcionam ao homem, entre estas porém algumas col- miferas ha, que não sendo de tanto prés- timo, ao menos são de utilidade, como forragens para a alimentação dos animaes de trabalho. Sem adubos não pode haver boa producção, e sem animaes não pode haver bons adubos para as terras. Entre as Gramitieas ha um género, cujas espé- cies humihles e despresadas por quasi to- da a gfnte, deveria merecer mais a nossa attenção. Keliro-me ao género Briza, da iami- lia das Gramíneas e especialmente á es- ])eoio Briza media Linn. (fíriza tremula, Koel). Quem ha ahi, que não conlieea a Gra- ma tremniosa, o Pão dos jiussaros, Amo- rcUc lios francezes, o //íí/íí hule dos nos- sos campos, o encostas áridas, cujas es- pigue tas, agitadas com o menor movimen- to aoreo, tanto encantam e prendem a at- tenção das crcancinhas no campo! Esta colmifera, pois, é vivaz, de cepa rclvosa, propensa a cstender-se. Seus colmos são de 30 a 40 centímetros, levantados. As folhas liníares, acuminadas, curtas, áspe- ras, de lígula curta e troncada: panicula laxa, ramosa, de ramos muito delgados, estendidos e alongados: espigue tas geral- mente matizadas de verde e violeta, quasi cordiformes, mais largas do que longas, pendentes e muito moveis, são formadas por 5 a 8 flores, as quaes apparecem em junho e julho. Caryopse oboval e cunei- forme. Esta planta não é exigente quanto ao terreno, com tanto que não seja húmido, nos mais áridos, ainda nosmais ingra- tos, vegeta muito bem. O feno é de boa qualidade, e quanto á sua producção, diz Mr. Gasparin, que um hectare semeado de Briza media produz 3:483 kilogram- mas de feno, o qual contem 1,39 p. c. de azote; além d'isto, mistm-ada esta planta com outras herbáceas, molhora a qualida- de das pastagens; mas n'esta parte, como planta de pastagem, é-lhe preferível a sua congénere annual a liriza minor de Lin- nou, a qual produz xun feno muito fino de exccllontc qualidade, mas de muito menor producção. Parece-me, que na província da Beira Alta, e principalmente em Traz-os-Mon-, tes, onde a forragem secca, com que ali- JORNAL DE HORTICULTUEA PRATICA 171 mentam os animaes de trabalho, é pela maior parte palha de centeio, e onde ter- renos ha, e ncão poucos, que não produzi- rão outra Graminea, se deveria ensaiar a Briza media, com probabilidades de van- tao-em. Como planta vivaz, deve dar algu- mas colheitas de feno sem mais cuidados de cultura, que os de estirpar as plantas nocivas, que invadam o terrreno. Villa Nova de Ourem. Marianno de Lemos Azevedo. ASPIDISTRA LURIDA, FOL. VAR. Hoje, que o gosto pelas plantas de sala tem tomado um desenvolvimento digno de notar-se, já não é raro encontrarem-se algumas casas esplendidamente adornadas com ellas. No Porto conhecemos alguns amado- res, que, tendo-se votado exclusivamente a este modo de floricultura, têem obtido re- sultados admiráveis. E na verdade, que melhor adorno parq, Fig. 45. — Aspidistra liu-ida, foi. var. o boudoir d'uma dama, para uma sala de jantar ou de espera do que essas bellas pro- ducções do reino vegetal, que os botânicos e horticultores viajantes têem trazido das admiráveis florestas do Novo Mundo! A Aspidistra lurida Ber.^ foi. var., (Plectofjyne variegata Link.), é uma ex- cellente planta para o género de cultura a que nos referimos; conserva-se perfeita- mente nas salas e a sua cviltura não ofife- rece a menor difficuldade. E' vivaz, de rhizoma subterrâneo, emittindo folhas largas, de 50 a 80 cen- tímetros de comprimento, muito peciola- das, lanceoladas; cor verde carregada, ge- ralmente estriadas ou zonadas por largas fachas brancas ou amarellas, de variada largura. Flores bracteadas, violetas, lívi- das, em forma de escudo (aspis em gre- go), de onde lhe vem o nome genérico. Esta Aspidistra só tem importância pela sua esplendida folhagem; porém é o bastante para a tornar uma planta recom- mendavel. Depois de muito foi-te e desenvolvida, é d'um bello effeito; quando coUocada no centro d'uma jardineira, ou adornando o fundo das étagêres, faz, pela bella cor ver- de das suas folhas, sobresahir as outras plantas. Vive perfeitamente ao ar livre, tor- nando-se n'este caso muito própria para 172 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA bordaduras dos massiços dos Coleus e Ire- sines ou outras quaesquer plantas que de- mandem alguma sombra. T(Mn esta espécie produzido algumas variedades, que julgamos útil apontar. AspidiHra lurida angusdfolia; A. lu- rida foi. argênteo jmndalis; A. lurida fui. áureo; A. lurida foi. alho nuwidaíis. Cultivam-se facilmente era estufa fria ou temperada, e raultiplicam-se pela divi- são dos pés. A. J. DE Oliveira e Silva. MAGNOLLV GRi^DIFLORÀ Estabelecida em Cadix a cscliola li- vre de pharmaeia pelo município d esta ci- dade ; em secção de 15 de agosto do anno próximo passado, fni nomeado jardineiro da mesma eschola, ficando debaixo da mi- nha direcção a plantação e boa ordem do Jardim botânico da faculdade de medicina c pharmaeia. Ainda que muito succintamente, vou expor n'estc modesto trabalho, a diíTerença que ha entre jardins botânicos c os de re- creio : dando ao mesmo tempo uma curta resenha do formoso vegetal chamado Ma- gnólia grandiflora. A disposição dos modernos jardins bo- tânicos é a eschola, onde se estudam os vegetaes debaixo do ponto de vista sci- entifico e com especialidade as plantas me- dicinaes, e onde se acham as plantas dis- postas por familias naturaes geríilmente classificadas pelos systemas ou methodos naturaes dos celebres Linneu e De Can- doUe.^ NVstes jardins botânicos examinamos c observamos attentamentc os caracteres genéricos das plantas, as propriedades, usos e nomes technicos de cada espécie ; por isso vemos que a configuração do terreno está formando largos e estreitos taboleiros com largas ruas, onde á direita e á es- (juerda se encontram as plantas formando linhas rectas, tendo cada planta um rotu- losinho, indicando a que classe c ordem pertence e donde ú natural, para que d'es- te modo tenham attractivo para os que se dedicam com algum interesse ao estudo da botânica e para as possoa", que passeam por o jardim-oscliola. Ao contrario, a disposição dos jardins «lo recreio apresenta distinctas figuras e objectos, que se não gosam nos jardins bo- tânicos. Encontramos pequí>no8 massiços de flórea, largas e tortuosas ruas, quadros irregulares de distinctas figuras c mediana extensão : estes quadros são geralmente plantados de relva, formando uma formosa alfombra com o Lolium pcrenne Linn., da familia das Gramineas, planta forraginosa, que pela sua magnifica côr verde se ado- pta perfeitamente a estes tapetes artifi- ciaes. Vemos além d'isso n'estes mesmos qua- dros formosos vegetaes de ornamento ; diífcrentes Coni feras, diversas variedades de rosas e lindas flores, que espanejam as suas brilhantes corollas e exhallam os mais agradáveis aromas. Fazendo uma curta dcscripção da cul- tura e propagação da Magnólia grandiflora apresentarei portanto uma resenha não só d'esta formosa arvore, mas de toda a sua familia natural, com os caracteres gené- ricos das espécies, que esta familia ou grupo encerra. Pertence esta bella arvore á familia das Magnoliaceas : os seus caracteres são; cálice com três sepalas petalòides cadu- cas, e corollas com seis pétalas, em ver- ticillo ternário ; estamos livres e indifi- nidos; pistillos indifinidos, frequentemente dispostos em espigas sobre um receptáculo único ; estyletes curtos com os estygmas simples ; carpellos livres, seccos ou carno- sos ; sementes pegadas ao angulo interno do carpello ; albumen carnoso ; embrião pequeno ; cotyledones curtos; raizes gros- sas. Arvores ou arbustos cora folhas al- ternas coriaceas e estipiJas caducas pro- tectoras dos gomos. Flores, raras vezes unisexuaes por aborto; terminacs, axilares, grandes, formosas e odorifei\as. Habita quasi toda esta familia natural as regiões próximas dos trópicos, achan- do-se particularmente muitas espécies na America soptentrional e faltando inteira- mente na Africa. Comprchende esta fa- milia umas cem espécies, com proprieda- des algumas, que obram como tónico ; es- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 173 timiJantes, estomacaes, etc, sendo as cas- cas de muitas espécies amargas e entre ellas uma é a da Magnólia granel i flo- ra. Cultura. — A melhor cultura applicada a esta planta é tel-a em boa exposição, onde nào a combatam os frios nem os ge- los, para que se não queimem os peque- nos gomos terminaes, que apresenta a planta quando se aproxima a epoclia de abrir as suas formosas flores. No clima de Pariz, aclima-se muito bem sempre que se planta em terra bastante substanciosa e em condições para a boa cultura. Entre as espécies que se cultivam, as mais notáveis são: a Magjiolía glauca, a M. macrophylla, a M. Yulan, a M. aurí- ciilata e com especialidade a M. grandi- flora, por ser a mais formosa de todas as espécies que existem. Apresenta esta arvore as suas flores brancas terminaes d'um cheiro ardente. As folhas são persis- tentes, coriaceas, ovaes e reluzentes. No seu paiz, em boa exposição, esta ar- vore adquire a altm-a de doze metros, e em climas frios ou temperados, em terra fértil, cresce até 8 metros. Multiplica-se por meio de semente, estacas, e enxertos e dos distinctos meios que temos para mul- tiplicar esta formosa planta, os que geral- mente se usam, por serem os mais segu- ros, é o da semente ou o da mergulhia. Quando se intente a propagação por meio de sementes, devem-se lançar em terra de urze e collocar os vasos em estufa, de- baixo de campanulas, até que tenham dous annos e a nova planta esteja bastante de- senvolvida, para se poder expor ao ar li- vre, tendo em conta, que sendo demasia- damente pequenas as plantas e correndo a estação fria, se devem abrigar com para- soes de palha. As sementes deitam-se á terra desde janeiro até meiados de abril, e se a pro- pagação for feita por mergulhia far-se-ha desde dezembro até abril, tendo cuidado de fazer á haste, que se escolheu para nova planta, ligaduras, cortes e incisões, para que mais facilmente se formem os borre- letes, de onde nascem as primeiras fibras, que constituem a verdadeira raiz da nova planta. Se esta for muito pequena, em razão de se haver feito a mergulhia n'uma haste nova e muito débil, deve pôr-se dentro da estufa, ou em paragem abriga- da, até que esteja sufficientemente forte para poder resistir ao ar livre, collocan- do-se depois no sitio mais conveniente para que venha a ser uma arvore de ele- gante porte. Como atraz disse, esta arvore multi- plica-se por enxerto e estaca. D'estes dous processos, o primeiro é o que está mais em uso, adoptando, d'entre as diíferentes ma- neiras de enxertar, o enxerto de approche, que se pratica antes da subida da seiva, e antes que as plantas comecem a apontar os novos gomos, para que, feito o enxerto, tenha bom resultado e se verifique a solda- dura entre os dous individues, sem que ao separar o enxerto tenha o mais pequeno mo- vimento. O segundo processo, ou por estaca, pode fazer-se facilmente, mas está quasi em desuso por causa da difficuldade que ha no lançar raizes, e no formar-se nova planta. Em todos os jardins que existem, em Sevilha, Sanlucar, Jerez, Madrid, Chicla- nae, para melhor dizer, em toda a Europa, vemos plantadas estas formosas arvores, que occupam os centros dos taboleiros, for- mando bosquetes, destacando-se com a elegante folhagem e as lindas e elegantes flores, que apresenta nos mezes de junho, julho, agosto, setembro e outubro, segun- do o clima e a boa ou má exposição que tiver, que ambas estas cousas concorrem efficazmente para que vegete bem e se apre- sente forte e magestosa. Muitas são as variedades de plantas de ornamento que existem no reino vegetal, distinctas tanto pela sua folhagem, como pela riqueza das flores, como são, para apontar algumas : Camellias^ Gardenlas , Dianellas, Roseiras, Rhododendrons ,Metro- sidéros, Fuchsias, Araucárias, Abies e infi- nitas espécies, que seria fastidioso enu- merar, mas entre tantas uma ha que nin- guém esquece e esta é a Magnólia grandi- flora, uma das primeiras por sua extraor- dinária belleza. Ao terminar este pequeno trabalho, que dedico aos meus queridos mestres, lhes dou os meus mais expressivos agradeci-» mentos, por serem elles que me nomearam jardineiro da eschola livre de pharmacia de esta cidade. Cadix. Hespanha. Francisco Ghersi. 174 JORNAL DE HOliTlCULTURA PRATICA CIIROMCÀ Começamos esta Chronica, pedindo desculpa aos assij^uHntcs d'estc jornal pelo ntrazo de alguns dias, com que sahe a lu- me o presente numero, atrazo devido á nossa ausência da redacção por motivo de termos sido nomeado pelo governo para fazer parte da commissào encarrega- da de estudar a nova moléstia das vinhas uas localidades affcctadas, e da qual faziam parte os snrs. António Batalha Kois e Jay- me Batalha Keis, bem como o intendente de pecuária do districto de Villa Kcal, o snr. António Koque da Silveira, que foi aggregado á commissào. Segundo as in- strucçòes que liaviamos recebido do respe- ctivo presidente da commissào central, o snr. Rodrigo de Moraes Soares, dirigimo- nos a Villa Real, para ahi recebermos in- formações do governador civil sobre os pontos mais atacados e que deveriam ser primeiramente visitados. Feito o itinerá- rio de accordo com aquella auctoridade, passamos a ^^sitar Gouvinhas, sitio este onde primeiramente se manifestou o Pliyl- loxera vaslatri.v. O triste quadro que pre- senciamos estava bem longe da nossa ima- ginação. A quinta do snr. Lopo Vaz Sampaio e Mello, denominada dos Montes, que ou- tr'ora era fértil, está hoje reduzida a não produzi)- uma só jjipa de vinho. Quando nos lembramos que se recolhiam alli regu- larmente 00 a 70 pipas, sentimo-nos do- lorosamente impressionados com similhante contraste. Além desta propriedade outras ha no mesmo local que se acham affectadas. Visitamos vinte c tantos concelhos e em Donello, Covas, Chancclleiros, Ce- leiroz, Valle da Ermida, Paredes, Batei- ras e em )nuitos outros pontos, enconti-amos o ten-ivcl aptero por myriadas. Em outros sítios, taes como Rogua, j\Iurça, etc, não vimos damnos causados polo J^/n/llo.re- r7«e5 muito próximos, segundo a nossa opinião, dos Phylloxera^ têem provavel- mente duas posturas. Tanto o Phylloxera da Videira como o do Carvalho (para fallar só dos que co- nhecemos) têem posturas successivas, ain- da em numero indeterminado. Estas posturas, no Phylloxera vasla- trix, começam logo no principio da pri- (l) A uuica excepção, que conhecemos a esta regra, é n'um Diaspis ainda inédito (Diaspis w- vi2Xt7-a Planch. msc.) que vive no Sedum altissi- mum Linn. 184 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA mavera, polo menos nos individuos con- servados n'nm vidro em quarto nao aque- cido. Uma fêmea aptera tinha j;l posto dous ovos no dia lodo fevereiro de 1869. Uma outra tinha ura ovo somente no dia 18. Três dias depois, no dia 21 do mes- mo mez, esta ultima fêmea tinha dous ovos (1), no dia 23 tinha três, a 25 qua- tro, a 27 cinco, a 2S seis, no dia 2 de março sete, no dia 6 oito. A obscrvaçíio pai'ou nlli em consequên- cia da morto aecideutal da mão. Daraol-a como prova de que, sob uma temperatura media ou ainda baixa, os ovos succedcm- se na mào poodeii'a de dous em dous dias. O numero de gerações que, sabidas d'uma primeira fêmea, se succedem desde os primeiros dias da primavera meridio- nal [iõ de março) ate aos primeiros frios do inverno (principios de novembro), está ainda indeterminado : mas não será, cm geral, de menos de oito posturas, por- que nós avabavamos n'um mez, termo médio, o tempo que é preciso a cada ge- ração para ser posta, nascer, mudar três ou quatro vezes e dar começo a uma nova geração. Este inter vallo é naturabiiento mais longo durante os primeiros mezes da primavera, mais curto durante os mezes quentes e novamente maior nos mezes do outomno. Mas a causa que parece influir mais sobre a rapidez da evolução dos P/n/llo- fvent d'uma geração dada, é a maior ou menor abundância de alimento. Fixos so- bre raizes succulentas, por exemplo sobi'e radiculas adventicias ainda novas e cheias de nodosidades feculentas, os insectos cres- cem mais depressa, tomam uma cOr ver- de-claro, mudam com intervallos mais cur- tos o puem com mais frequência. Ligados, pelo contrario, a raizes fra- cas mais ou menos seccas, cobertas de bo- lor, os PhyUoxera enfraquecem, tomam uma cor arruivada, crescem com diffieul- dade, e chegam lentamente ao estado adul- to, que caracterisa a faculdade de pôr. Emquanto ao numero de ovos que uma (1) As horas de observaçào foram notadas, mas nrts julgamos nâo dever transcrever estas minudeneias, porf|uc, se a exactidão geral c uma l)oa qualidade, a muita precisão d;i aos factos, já de si um pouco variáveis, uma apparenciade re- gularidade que illude e deturpa a realidade. mesma fêmea pode produzir, varia tam- bém segundo as circumstancias. No corpo esmagado d'uma mãe na occasião de pôr vimos o ovário com vinte e sete ovos em diversos graus de evolução. Trinta ovos são o maxímum de cada postura que nós observamos n'uma fêmea, de 15 a 24 de agosto de 1868, o que dá um termo mé- dio de cinco ovos por dia, n'um periodo quente do anno. Tomando aproximadamente o alga- rismo vinte como a media rasoavel em- quanto ao numero de ovos, e o algarismo oito como o de posturas possiveis, entre lõ de março e 15 de outubro, achar-se-hia pelo calculo esta progressão espantosa do numero crescente dos individues, tendo por ponto de partida uma única fêmea: em março, 20; em abril, 400; em maio, 8:000; em junho, 160:000; em julho, 3.200:000; em agosto, 64.000:000 ; em setembro, 1.280.000:000; em outubro, 25.600.000:000, — em summa mais de 25 milhares de milhões de ovos. E' verdade que similhantes cálculos só devem ser acceites com muita prudên- cia, como em miiitos outros resultados es- tatisticos, nos quaes não são levadas em conta as perdas inevitáveis pelos milhares de accidentes a que os seres estão expos- tos. Aqui, olhamos monos para os algaris- mos cm si mesmos do que para a pro- gressão geométrica do augmento dos in- sectos destruidores. Esta progressão ex- plica muito bem como os estragos, ape- nas perccptiveis na primavera, ainda sup- portaveis no verão, se tornam verdadei- ramente desastrosos no outomno. De resto, a postura de outubro deve ser singularmente subordinada ao estado da temperatura durante este mez. Frios precoces devem -n'a restringir, se bem que o solo aquecido durante muito tempo pe- los calores do verão perca lentamente, no nosso clima, a somma accumulada do seu calórico. A data mais tardia, cm que notámos ovos n'uma fêmea cm captiveiro, foi a 26 de novembro de 1868. Havia quatro d 'um pardo-claro, como os que estão próximos a nascer, comtudo não os vimos produzir. Se ficam alguns ovos espalhados aqui e alli, durante o inverno, deve ser por uma JORiíAL DE HORTICULTURA PRATICA 185 rara excepção, porque, ao contrario dos pulgões ordinários^ que habitualmente no estado d'ovo atravessam os mezes de gelo, é no estado de pequeno insecto que o Phyl- loxera passa, mais ou menos adormecido, este periodo hi venial. Os ovos do Phylloxera vaslatríx são pequenos ellipsoides allongados, de cerca de 32 centésimos de millimetro de com- primento, sobre 17 centésimos do millime- tro de diâmetro transversal. Dispostos em roda da mãe em pequenos grupos irregu- lares, são a principio d'um amarello claro, tornando-se cinco ou seis dias depois d'um amarello sujo passando ao pardo fusco. Tendo a primeira cor, destacara-se per- feitamente sobre o fundo muitas vezes pardo das raízes, e indicam facilmente a presença das mães poedeiras. Estes ovos não devem ser . confundi- dos com os de certos coleopteros do gru- po dos méloides (cantliaridas, meloe e si- taris) que estão dispostos em montículos na terra, e dos quaes nós temos visto sa- liir essas pequenas larvas tão singulares, conhecidas debaixo do nome de triongu- lins. J. E. Planchon e J. Lichtenstein. (Continua) RELVAS Uma das ]nelhorcs Gramíneas para for- mar tapetes de verdura em jardins ou par- ques é o Lolium perenne, chamado pelos inglezes Ray-grass e conhecido também entre nós por este nome. Esta Gramínea, porem, requer bastantes cuidados e certas condições, isto é: um solo substancial e fresco, tosquias repetidas, sachas, rolagens depois de cada tosquia, regas abundantes no verão, sendo esta ultima exigência mui- to para attender e mui principalmente no nosso paiz, onde os reflexos do rei desas- tres são intensamente quentes. A mistura de Gramíneas, de que se serviu o snr. visconde de Villar Allen (vide «Jornal de Horticultura Pratica» vol. II pag. 5G), deu excellente resultado, segun- do tivemos occasião de observar, e pare- ce-nos ser a que convém para o paiz: coni- tudo talvez que uma pequena modificação n'aquella mistura não desse resultado peior, pelo contrario, esta,mos firmemente con- vencidos que se obterá pleno êxito. Para formar esses tapetes «sempervi- rentes», dever-se-ha ter em vista que se- jam compostos de espécies que cresçam nas mesmas condições climatológicas. A seguinte composição, pois, é destinada mais para os solos leves e frescos, isto é, aquel- les em que a areia predomina, que para os húmidos e compactos. Quando a terra for secca e dominar o elemento calcário, de- ver-se-ha augmentar o Bromiis pratensís em grande proporção. Segundo as expe- riências, que se têem feito, vê-se que é ef- fectivamente esta Gramínea a que vae me- lhor em terrenos d'esta natureza. Eis agora a composição a que alludimos: Lolium perenne . . . .50 partes Poa nemoralis . . . .10 » — pratensis . . . .10 » Feshica tenuifolia . . .10 » Brovnis pratensis . . . 5 » Cynosurus cristatus . . . 5 )> Anthoxanthum odoratum. . 5 » Agrostis stolonifera . . . 5 » Outra mistura que estamos convenci- dos daria óptimo resultado, porque é pró- pria para os terrenos leves e areentos,.por ser composta das Gramíneas que resistem mais á secca, é a seguinte: Bromas pra- tensís, Festuca ovina, Festuca tenuifolia, Poa pratensís, Poa nemoralis, Cynosurus crístatíis, Agrostis stolonifera, Anthoxan- thum odoratum, ás quaes se deverá juntar metade do pezo total de Lolium perenne. Para a composição de uma relva n'um solo muito areento, não é preciso empre- gar uma serie de espécies tão considerá- vel. MM. Vilmorin Andrieux & C.'% de Pariz, dizem que em Fontainebleau, n'um ten-eno em que predominava abundante- mente a areia, se obteve uma linda rel- va, empregando-se apenas Festuca ovina e Poa pratensís, ás quaes se tinha junta- do uma boa quantidade de Lolium peren- ne. Este ultimo desapparecia rapidamente, mas só depois de ter servido de protecção ás espécies com que tinha sido misturado. Os terrenos, que são assombrados, tam- bém requerem uma mistura de Gramíneas 186 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA espeoiaes, porque ha muitas que nào é pos- sível cultivar onde haja falta de luz. A composição, que aconselhamos para os ter- ren(»s que estojam n'o:ísc caso, c a que se emprega no Jardim IJotanico de Dijon. A superfície ?í<, cvdtivada em terreno silico-argil- loso c húmido, não durará mais que três annos, mas semeada em terreno silicioso, pobre, e profundo, mas ricamente estru- mado, e cavado profundamente com an- tecipação de um ou dous annos, pode du- rar vinte annos, dando progi-essivos e con- tinuados cortes. Convenj sabor que a Luzerna gosta de boa terra, profunda, sã, limpa de más hcr- vas, e bem estrumada no anno anterior á sementeira; pôde coiutiado ainda produzir bem cm terrenos de natureza diversa com- tanto que não sejam alagadiços, e sejam bem preparados. Se a estrumação do ter- reno for feita na occasião da sementeira, convém que seja bem velho e consunáido o estrume empregado. Os consideráveis productos da Luzer- na e a sua longa duração dependem da facilidade que encontrarem as suas raizes pivotantes em penetrar a inna grande pro-. fundidade na terra, a qual por essa razão deve ser cavada profimdamente. O modo mais frequente de a semear ó por cima das sementeiras de Areia ou Cevada, na primavera: cm localidades fun- das, visinhas de bosques, ou por qualquer razão expostas ás neves tardias, manda a prudência que se semeie em maio. Em vários paizes da Europa é mesmo costu- me semeal-a só no estio por baixo do Li- nho, do Triyo nioitrisco ou mesmo por en- tre os Feijões na occasião de se lhes dar a ultima sacha, que serve ao mesmo tempo para enterrar a semente. Este ultimo meio é excellente sendo a sacha bem feita. Em ten'as seccas e ligeiras pôde se- mear-se com vantagem no outomno eon- junctamente com a Cerada e Centeio, de- vendo ser a terra bem nivelada, movei, e a sementeira executada da mesma forma que se pratica com as sementes miúdas. Pai'a bem sustentar os productos de um prado de Luzerna e prolongar a sua duração, é mui conveniente espalhar sobre elle, de inverno, ou no principio da pri- mavera, esti*ume bem velho e desfeito, cinzas de lenha, ou mesmo de carvão de^ pedra, e melhor ainda gesso calcinado e reduzido a pó, substancia que produz so- bre todas as plautas da familia das Legu- minosas, a que ella pertence, eíFeitos ad- miráveis. Esta operação deve ser feita com tem- po coberto, promettedor de chuva, ou se- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 189 ja no fira do inverno, antes da vegetação, ou mesmo na primavera, e ainda no estio sobre a primeira ou segunda ai'rebentaç<ão já desenvolvida. Gradagens vigorosas no iim do inverno contribuem muito para sus- tentar os produetos e a duração da Luzer- na, sobretudo quando as más hervas co- meçam a perseguil-a. E' preciso que os cultivadores estejam prevenidos de que, se esta bella forragem é a mais excellente para alimentação dos gados, demanda comtudo algumas cau- tellas para que se não torne fatal. E' pe- rigoso lançar o gado a um prado de Lu- zerna ou de Trevo em quanto o orvalho da noute se não tenha completamente enxu- gado, e bem assim depois de chuva, os animaes incham e morrem muitas vezes. Devem pois os proprietários estar vigi- lantes a este respeito, bem como sobre o emprego d'esta forragem, em verde, nas mangedoiras, porque sendo distribuida ainda húmida, ou mesmo em grande quan- tidade, pode occasionar eguaes acciden- tes. Vinte kilos de semente é o que ordina- riamente se emprega em cada hectare de terreno. O proprietário d'este jornal, o snr. J. M. Loui-eiro, sempre solicito pelos progres- sos da horticultura e agricultura, mandou vir do estrangeiro grande porção de se- mente de Luzerna, que vae pôr á dispo- sição dos seus freguezes. Çamillo Aureliano. YIOL ARBÓREA BRANDYANA E' impossível, ao pronunciarmos o no- me que serve de epigraphe a este artigo, que nos não lembre essa encantadora ílo- rinha, que cresce nas clareiras dos bos- ques e que os botânicos chamaram Viola odor ata. Poucos vegetaes têem recebido tantas homenagens como ella; e, se quizessemos reunir tudo o que a seu respeito se tem dito, formariamos um grosso volume. Todos os poetas a têem cantado; o ma- vioso cantor do Gama entapeta com ella a sua querida Ilha dos Amores, e a pi-o- pria antiguidade homérica não hesitou em dar-lhe uma origem illustre. E' assim que alguns poetas contam, que a Violeta fora creada para alimentar a joven Io, depois de transformada em vacca por um capricho de Júpiter; e os athenienses, que se julgavam descenden- tes dos jonios, tinham por esta planta uma grande veneração, porque, seguindo ou- tra lenda ou tradição, acreditavam que o Pae dos Deuses descendo um dia á Jo- nia, uma nympha d'aquelles logares lhe offertara uma Violeta como a flor mais estimada d'aquelle paiz. Deixando porem aos poetas o dicidi- rera qual das duas ficções é mais digna de credito, fallemos da nossa planta. De todas a flores, que ornamentam os nossos jardins, poucas são tão bem recebidas como ella; é no inverno, quando tudo está co- berto de gelo e os jardins estão despidos das suas primorosas galas, que esta plan- tasinha vem despertar a monotonia que alli reina. Quanto não é agradável n'um d'esses dias de sol, que janeií-o ás vezes nos mostra, o passear n'um jardim bem guar- necido de Violetas! O suave aroma, que ellas exhalam_, des- pertam no nosso coração sentimentos de ineífavel prazer. Tudo n'ella são encantos; nunca vem só, é uma planta social; é timida e modes- ta e por isso esconde-se entre a relva e debaixo das moitas, mas inutilmente, por- que o seu aroma trahe-a, e, roubada á obscu- ridade, vem nas nossas salas receber o preito e homenagem devidos á belleza. Analysada de perto, que de maravi- lhas se lhe não descobrem! Numerosas fo- lhas cordiformes, delicadamente dentea- das servem-lhe de abrigo e salva-guarda; durante os grandes calores absorvem os raios solai'es, protegendo assim a bellesa, que occultam; durante as chuvas, estas mesmas folhas recebem a agua na cavida- de que formam, e, pelo peciolo canalicula- do conduzemn-a ás raizes para lhe darem o alimento preciso. A nossa alma, que tudo engrandece e quer assimilar a si, quiz também euuo- 190 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA brecer a Violeta, tornando-a o emblema da mais estimada das virtudes, a modés- tia. Alguém ha todavia para quem a Vio- leta não pode representar bem a modés- tia, e para o provar cxtractaremos o seguin- te escripto de Alphoiise Karr, que brilhan- temente discorre sobre o thema: A Vio- leta não é modesta. ((Porque dizeis que a Violeta é mo- desta? porque se occulta debaixo da relva? A Violeta não se occulta debaixo da rel- va, foi ahi escondida pela naturesa. Não se é modesto por se ter tido um nasci- mento humilde e obscuro. Porque não di- zeis que o ouro é modesto, elle que está occulto no seio da terra, e que mesmo quando se encontra, se disfarça em qual- quer mineral que não tem o seu aspecto? Porque não dizeis que os brilhantes são modestos, elles, que estão occultos na terra e ainda mais do que o ouro, é pre- ciso lapidal-os e facetal-os para se lhe ar- rancar o brilho? Mas a Violeta ? A Violeta nasceu na herva, é verdade, mas que in- trigas para sahir d'ella! Alem das cores que aíFccta e a fazem distinguir facilmen- te, não exhala ella esse perfume provocan- te que a faria descobrir por um cogo? A Violeta modesta! Vede até onde ella che- gou! Com a sua côr cobriu os chefes da Egrcja, os bispos e os arcebispos; o preto 6 o luto de todos. A Violeta tornou-se o preto dos reis e o luto da purpura. A Violeta modesta! ^las observae os seus modos provoca- dores, a sua garridice: aqui simples, acolá dobrada como uma pequena rosa, branca, roxa, escura, parda, etc. Quando viu que a arrastavam para a politica, longe de fugir ás ovaçíles e ás perseguições que lhe preparavam, teve o charlatanismo de se mostrar tricolor! Eil-a aqui, a sua corolla exterior 6 violeta, as pétalas internas são azucs c cíjr de rosa; disfarçada assim, os jardineiros chamam- Ihe Violeta linmeau. A Violeta modesta! Ella tem sido pros- cripta, perseguida, exilada, o que da sua parte não é mais do que lun vaidoso or- gulho. A Violeta modesta! Ide ao theatro, duzentas damas têcm ramos de Violetas na mão. Como ella se vinga de ter nascido na obscuridade! Mas é preciso que eu ainda vos revele um dos ardis que ella emprega para se fa- zer valer; as outras flores conservam os seiís perfumes mais essenciaes; os perfu- mistas vendem de inverno o aroma das rosas, dos Jasmiiis, dos Heliotropiíuns. Só a Violeta se tem negado a scparar-se do seu: não é da sua corolla que elles o extrahem; os perfuraistas vêem-se força- dos a preparar, cora a raiz do Lyrio de Florença, um cheiro acre e forte que só na primavera reconheceis como falso. Quereis respirar o cheiro da Violeta? diz ella á dama que o deseja: Espcrae que eu volte; rcspirae as rosas, os Jasmins, e para isso não precisaes nem de rosas nem de Jasmins, os perfumistas mettem o seu aroma dentro d'um frasco de vidro; mas pelo que me diz respeito, minhas queri- das, é preciso esperar. Assim falia a modesta Violeta. A Violeta é uma espécie de Cincina- tus, como tem produzido os tempos mo- dernos, que só vão para o campo e lan- çam mão da charrua com a condição de vmi dia virem procural-os para cônsules, generacs ou dictadores». Desculpem-nos as nossas sympathicas leitoras se, extractando o artigo do espiri- tuoso auetor das ((Guêpes», lhe desconcei- tuainos a sua querida flor, opinando com Alphonse Karr, que a Violeta é uma se- ductora coquctte disfarçada por uma appa- rente modéstia. A Violeta pertence á familia das Vio- láceas e forma o typo da tribu das Vio- leas. Este género, formado pela primeira vez por Tournefort, foi depois collocado por Linneu na sua syngenesia monoga- mia. ]\Iodernamente e depois de algumas raodiflcaç(~es no systema linneano, como aquella grande classe fosse rejeitada, veio tomar logar na pentandria monogynia, ondo. ainda hoje se conserva. Ultimamente tem sido bastante redu- zido, mas, não obstante, o género Violeta conta ainda perto de 200 espécies. Encon- tram-se abundantemente nas regiões tem- peradas do hemispherio boreal, tornando- se mais raras á medida que se caminha para o hemispherio austral. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 191 Mr. Gingins, no seu trabalho monogra- phico sobre as Violetas no «Prodromus» de De Candolle, divide este género em cinco secções, a saber: Nominium, Dis- chidiíim, Chamoemelanium , Melaniiim, Septidium. A' primeira, segunda e quar- ta, e especialmente á primeira e quarta é que pertencem todas as nossas espécies indígenas ou cultivadas. O auctor da «Flora Lusitanica» dá ao nosso paiz as seguintes espécies: Viola hirta, V. odorata, V. canina, F. Ruppii, V. lusitanica, V. tricolor, V. arvensis e V. arborescens. De todas, as mais conhecidas em horti- cultura são a V. odorataea, V. tricolor; d'e8- ta ultima, é que, por múltiplos cruzamen- tos e sementeiras, se tem obtido essa im- Fig. 51 — Viola ar mensa variedade de Ancores perfeitos, va- riedade de que tanto se orgulham os in- glezes por terem formado as primeiras col- lecçôes, e que ainda hoje são as mais es- timadas. Voltando á V. odorata diremos que esta planta, considerada sob o ponto de vis- ta hortícola, representa um importante pa- pel nas scenas da natureza. O jardineiro de profissão e o simples amador terão n'es- ta planta um poderoso auxiliar para as suas decorações. Dispostas em pequenos prados prote- gidas por uma sombra pouco expessa, dis- tribuídas em grupos nos pequenos jardins, fazendo bordaduras em substituição da rel- borea brandyana va ou Buxo, cobrindo rochedos ou cons- trucções rústicas, emfim, desabrochando as suas flores nas margens d'um regato ou próximo d'uma fonte, são sempre bel- las e produzem um effeito encantador, perfumando ao mesmo tempo o ambiente com o seu agradável aroma. Na floricul- tura das salas, também as Violetas se tor- nam importantes; no inverno quando ha falta de flores e quando é preciso masca- rar ou cobrir os espaços, que os vasos de Camellias deixam entre si nas jardineiras, é que a Violeta mostra o que vale, disfar- çando estes espaços sempre desagradáveis á vista. Nas decorações de bailes pode ser empregada para guarnições, sendo planta- 192 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA (las em pequenos vasos. Siío ainda muitas e variadas as applicaçoes que na horticul- tura ornamental podem ter as Violelas; e destas uma das mais curiosas é asua trans- formação n'um lindo e pequeno arbusto de ali^uns centimctros de altura e muito ele- <^ante. E' o que vemos rcalisado na Vio- la arbórea Braníh/ana desenhada na cx- eellente tig. 51. Esta planta nada tem de commum com a Viola urborescens, com a qual tem sido confundida; o seu porte ar- borosconteé devidounicamente A pericia em lhe cortar os estolues ou braços, pouj)an- do unicamente o central, reservado aã hoc. Parece-se bastante com a Violeta Bruneau, de flores variegadas e dobradas; somente n'esta variedade as pétalas intcn-iores é que são variegadas. Foi obtida de semente por um notável amador de quem tomou o no- me, Mr. Brandy. Recommondal-a e proclamal-a excel- lente para conservar nas salas, plantada n'um elegante vasinho, seria duvidar do apurado gosto das nossas leitoras . A cultura é em tudo egual á das ou- tras Violetas; só n'esta é preciso cortar os estolòcs á medida que fore)n apparecendo. A. J. DE Oliveira e Silva. PROCESSO DE MR. BICIIAUD PARA CONSERVAR NO LOCAL EM QUE SE ACHAM PLANTADAS AS COUVES DE REPOLHO Quando a Couve de repolho houver che- gado ao ultimo grati de crescimento, dá-se um golpe no tronco nas duas terças par- tes da sua espessura, inclinando-lhe a cabeça, ou melhor o repolho, para leste, tendo o cuidado de interpor entre elle e a terra um pedaço de telha ou uma pe- dra. A Couve assim tractada fica estacio- naria; a restante parte do tronco que fi- cou intacta é sufficiente para entreter a planta no seu estado normal: a chuva, a neve e o gelo, que lhe são prejudiciaes de ordinário, não têem acção sobre o repolho resguardado pela= primeiras fo- lhas. «Eu posso certificar, diz i\Ir. Bichaud, que tenho praticado este processo ha qua- tro annos; tenho submettido ao ensaio Cou- ves de repolho durante três ovi quatro me- zes, sem perderem nenhuma das suas boas qualidades.» Parece-nos digno de ser experimenta- do este meio, que dará em i-esultado esten- der por um largo periodo o goso de legu- mes excellentes, que, por outra forma, seriam de duração quasi ephcmera. Camillo Aureliano. BREVE NOTICIi ROT.VMCl ACERCA DO CLNDLRANGO Esta planta tem sido ultimamente um dos objectos, que têem prendido a attenção tanto dos médicos como dos botânicos. Alguns jornaes francezes e hespanhoes, que tomos á vista, dão o Cunduraurjo co- mo planta indígena do E(iuaIesqui- ta, I). TJosa, o seja-mc itermittido confessar que. ao entrar n'clle jul;íuei estar n'uma sala de visitas, tauto era o aecio e a ordem, que em tu- do se obsci-vava. Mas onde a minha surpresa cresceu de ponto, foi quando peno.trei n'umada3 estufas. Seria ocio- so dar uma resenha de todis as plantas, cuja vis- ta me produziu agradável sensação, mas nào es- quecí^rei sobretudo uma admirável Maranta zebri- iia (Caldtlirn), cpie estava plantada no chào jun- to d'uma taça, e cujas folhas d'um metro de com- prido f O™, 30 de largo estavam perfeitamente con- servadas. Próximo brilhava inna Maranta exi- mia, qui? disputava primazias ú sua visinha. No centro da estufa avultava uma Dracaeiui Guilfoy- Ici, d'uni tamanho almiravel, apczar de muito nova. Eu conhecia estas plantas, por ter exempla- res no meu estabelecimento, mas nunca imaginei (jue apresentassem tào encantador aspecto. Obser- vei muitas outras jilantas, como Ca'a(liams, Be- gónias, mas nenhumas me enthu.siasmaram tanto como aquellas. A estufa, como o jardim, era um mimo de aceio c de ordem. Aproveito esta occasião para agradecer pu- blicamente A ex."» snr." baroneza de Mesquita II obsequio de me admittir no seu magnifico jar- dim, e para lhe dar os paraljens pelo seu gosto estremado pela horticultura. De V. etc. Porto — ^jnlho de \H11l. J. Manjues Loiu*ciro. — Sobre a influencia da luz no cres- timento da Videira, envia-nos o snr. D. EstebanQuct,coll;iborador d'este jornal, as po'TUÍntes (ibsorvaçnos oxtractadas da «Kc- vue de Therapeutiquc Medico-cirurgi- cal D . oDesde o anuo de 18(51, diz Mr. A. Poey, o j^eneral Plcasenton tem-sc dedi- cado a experiências mui curiosas sobre o deaonvolviniento dos vegetaoa e dos ani- mao^, dfbaixo da influencia da luz trana- inittifla por vidrou cor de violeta. Em abril de iMdl, varins sarmentos do Viileira enraizados no solo, de ims 7 millimetros de diâmetro e correspondentes H Mvún do 30 variedades foram transplan- tados c collocados n'uma estufa coberta com vidros da cor acima mencionada. Algumas semanas depois estavam as paredes do recinto cobertas até ao tecto de f(»lhas e ramos novos. Kos priacipios de setembro do mesmo anno, visitou Mr. Robcrt Buist as planta- ções e depois de um detido exame disse que «durante quai'cnta annos de experiên- cia adquirida pelo cultivo da Videira e de outras plantas em Inglaterra e Escócia nunca tinha visto um tào prodigioso cres- cimento. » Agradecemos ao snr. D. Esteban Quet esta communicaçào e já que nos occupa- mos da influencia da luz coada atravcz de meios coloridos sobre a vegetação men- cionaremos a conclusão que Mr. P. Bert tirou das suas minuciosas observações pu- blicadas no jornal «Science pour tous» que dào, em summa, os seguintes corolários: 1." — Que a cor verde é quasi tão fu- nesta para os vegetaes como a obscurida- de. Isto mesmo tinha J\[r. Bert observado nas suas experiências feitas com a Scnsi' tira («Comptes rendus»,tom. LXX, pag. 338 — 1870) e este facto tinha já sido pre- visto c explicado por Mr. Cailletet («Com- ptes rendus», tom. LXV, pag. 322 — 18G7). Não seria, comtudo, exacto dizer-se que a luz verde não tem influencia alguma sobre os vegetaes, porque Mr. Bert obser- vou que as plantas muito heliotropas vol- tam-se e inclinam-se mais para o lado do verde do que para o vermelho e encami- nham-se a este para fugir á obscuridade. 2." — Que a cor vermelha lhes c muito prejudicial ainda que em menor grau. 3.° — Que a cor amarella muito menos perniciosa do que as precedentes, é-o mais do que a azul. 4.^ — Em conclusão, que todas as co- res, tomadas isoladamente, são más para as plantas; que a reunião d'ellas, segundo as proporções que constituem a luz bran- ca, é necessária para a saúde dos vege- taes, e que os horticultores deverão renun- ciar ao emprego dos vidros coloridos para as estufas ou nbrigos. — A acredit^ida casa ingleza de Dick Radclyfí'e &C^ acaba de nos enviar o seu ultimo catalogo de bolbos, sementes o objectos hortícolas. N'csta ultima secçjlo JOEKAL DE HORTICULTURA PRATICA 197 primam os snrs. RadclyíFe & C.^ sobre todos os estabelecimentos que conhecemos. As numerosas illustraçoes que acompa- nham este catalogo são bem executadas e dão portanto uma perfeita ideia dos ob- jectos que representam. — Quem percorre a nossa via férrea, depois de ter viajado em França e prin- cipalmente na Inglaterra , haverá nota- do o desleixo com que os chefes das es- tações tractam os pequenos recintos adjun- ctos ás «gares», que no paiz de John Buli são verdadeiros jardimsinhos, que re- creiam a vista do fatigado viajante, dan- do ao mesmo tempo um documento de bom gosto e cuidado da pai-te dos respe- ctivos chefes, tornando- se assim as vias férreas verdadeiros certames horticolas. Fig. 52 — Dístico floral no caminho de ferro. Estimulados pelos applausos do publi- co, que diariamente é tansportado em gran- des massas n'este paiz excepcionalmente laborioso, envida cada ura todos os esfor- ços para que a estação que está a seu cargo sobresaia em bom gosto entre todas as outras. Na linha London and South Western, linha que mais frequentamos, é onde vi- mos os pequenos jardins mais bem culti- vados, apresentando muitos d'elles em vistosos e variegados caracteres floraes os nomes das estações. Este pensamento é tão original como agradável e a figura 52 dará uma peque- na ideia do effeito que produzem esses caracteres formados por multicolores co- rollas. Lembramos e desejamos que entre nós se faça outro tanto, mas desde já o pomos em duvida. — Começa a vulgarisar-se a cultura do Eucalyplu.s glohidus em Hespanha, vulga- risação que, com o decorrer dos séculos, tornará a península celebre pelas mattas de aquelles Mastodontes do reino vegetal; por isso que poucos climas europeus lhes são tão convenientes. De Sevilha, diz-nos o nosso amigo, Mr. Jules Meil, que começaram alli a fa- zer-se plantações em 1867 e que alguns dos exemplares plantados n'essa epocha já têem -um aspecto frondoso. A sua cul- tura, porem, segundo parece ao mesmo se- nhor, ainda não foi tão vantajosamente com- prehendida como devera ser. Daremos de bom gosto a palavra a Mr. Meil: Parece-me, diz elle, que esta planta é essen- cialmente florestal e a silvicultura deveria empre- gal-a em grande escala em consequência do seu rápido crescimento e da excellencia da sua ma- deira, duas cousas que se encontram raras vezes na mesma espécie. Aqui plantam-se isoladamente ou em linhas e entào os ventos fortes destroemn-os se nâo se pro- tegem com tutores fortes e grandes. Eu prefiro a plantação em massiços, e os grandes proprietários deveriam cobrir de Éucaly- ptus as vastas superfícies dos seus teiTcnos, mas plantando-os a pouca distancia uns dos outros. D'este modo, abrigando-se mutuamente dos ven- tos fortes, apenas requisitariam pequenos tutores e o Arundo clonax conviria perfeitamente para esse fim. Temos dito por mais de uma vez que, sendo os Eucalyplus plantados em tenra edade, quando tenham 20 ou 30 centíme- tros de altura, podem em muitos casos prescindir de tutores, mas para isso é mis- ter que não medeie entre elles mais de 2"\50 a 3'",00. Faça o snr. Jules Meil um pequeno ensaio e digiie-se communicai'-nos se é infundada a nossa asserção. A nossa pró- pria experiência é que nos induz a aven- tar este facto que um dia pode muito bem ser destruído por algum pampeiro que nos envie a America! — Falíamos da propagação do Euca- lyplus em terras extranhas. A sympathia, que nos merece esta bella arvore, faz com que nos regosljemos todas as vezes que novo soldado se vem alistar na cruzada, 198 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA qiic temos cmpreliondido em favor da plan- ta descoberta nas regiões da Tasmania por Labillardière. Um distincto estudante da eschola mc- dico-cirurgica de Lisboa, o snr. Carlos José Moreira, que este anuo completou o seu curso, escolheu para tlieiua da sua ! tliese o Eunili/jilus f/lohi([us e do seu i m- j prego, como excellcnte medicamento, nas febres paludosas. O snr. Moreira abi'e o seu trabalho por uma parte relativa ao estudo botâni- co da planta e n'ella cita as nossas mo- destas publicações, o que é muito pai'a se agradecer. O Encahiplol j;i tem sido empregado no hospital de S. José, e a experiencrji parece ser-lhe muito favorável, e é possi- vel que em muitos casos soja um excellen- te succedaneo da Quina. Além do papel tlierapeutico do Eucn- hjptns, o snr. Moreira attribue-lhe um ou- tro, não menos importante, como se vê da seguinte proposição que elle subscreveu com rcspoito á hygicne: «Nos terrenos pan- tanosos é preferível a plantação de Enca- hjplus a qualquer outra.» Não é S() na eschola medica de I^isboa que este assumpto tem merecido seria atten- ção. Na do Porto, o snr. Matheus de Sam- paio, que defendeii these este anno, a sua prop')sição em matéria medica era expressa nas seguintes palavras: «O hucali/idus (llobiilus V um succedaneo da Quina.r> liegosijamo-nos d'este3 factos, porque da importância merecida que o mundo me- dico der ao Eiicnh/ptus só tem a lucrar e muito a nossa silvicultura. — Os vários jornaes do paiz annunciam amiudadas vezos actos de vandalií-mo pra- ticados contra as arvores que ailornam as ruas, estradas e praças publicas . Quanto mais atrazado está um paiz, tantos mais actos de selvageria se prati- cam, c conforme se vae desenvolvendo e as leis vão molhorando, jiunindo aquollos que erram, assim se vão implantando o ra- dicando os benefícios da civilisação. Nada, pois, mais fácil para pôr as arvores ao abrigo dos seus inimigos, do que castigar severamente aquclles que, por mera distracção ou m;l Índole, se occupem em destruir as plantações. — O snr. Joaouim do Carvalho Aze- vedo Mello e Faro, da casa da Soenga, pro- xim ) a Lamego, escreve-nos sobre a flo- rescência d'ura exemplar do Lilium au- ralum. Em seguida transcrevemos da sua carta, que teve a bondade de nos dirigir em março, os períodos concernentes ao as- sumpto, Snr. Oliveira Júnior. — Deparei na Chronica do nosso bom «Jornal de Horticultura Pratica» a noticia em que Y. diz que o Lilium auratum deu ein Hraiíauça H) flores. K' olfectivainente o primeiro lÂlium anratíim, que jirodiiz tal numero de flores em Portufjal, e, em vista do que V. diz, tenho muita satisfação em lhe participar o se- guinte sobre o mesmo assumpto. Em novembro pa.^sado entre varias plantas, que me offereceu o meu nobre e muito particu- lar amigo o snr. Nicolau Pereira de Mendonça Fiílcào, veio também um magnifico bolbo do Li- lium auratum, que immcdiatamente plantei em um vaso dos de 00 reis, no fundo do qual lancei uma porção de areia grossa, e depois foi cheio com terra humosa, sendo collocado dentro da es- tufa ))or causa dos fortíssimos gelos; em princí- pios de março sahiu para o ar livre, e actualmente tem 86 centímetros de altura com "21 botões mui- to bem desenvolvidos que espero, em breve, ter a satisfaç.áo de ver abertos. Que horticultor, em Portugal, apre- sentr)u já esta bcUa Liliacea com tão abun- dante florescência? Teremos talvez o si- lencio como resposta a esta pergunta. Que nos comprehendam os liorticulto- res, que se deixam vencer pelos amadores de plantas. — Dos estudos feitos pela Academia das Sciencias de França sobre a moléstia das fíalalas, resultou reconhecer-se que era devida á presença de dons insectos — o Apius vaslator e o Eupleryx picla. Quantas moléstias, porem, dos vege- taes não se têem attribuido ao reino ani- mal e mais tarde se vem a reconhecer que são causados por alguma Cnjplogamlca in- visível! O homem está sempre predisposto a attribuir os males aos insectos e considera o reino vegetal uma família de inoíTensivcis creaturas. — Recommendamos a leitura das se- guintes erratas que nos enviou o snjr. Eduardo Moser. LEIA-SE V\C,. ERRO !".">§ 4 1. 7 novo I7r> ^0 1. 2 verdadeira — S '«^l- 3 qualidade nosso verdadeiramente quantidade. § — 1. ti como a planta, como o enxofre puro — Não ha ninguém que não conheça o Sahjueiro -chorão, simplesmente designado JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 199 no vulgo pelo nome de Chorão, essa ar- vore de aspecto melancólico, cujos ramos pendentes tantas vezes escondem as gra- des d'um sepulchro. Uma tradição, ainda hoje corrente na poesia, tem feito acreditar que era nos Chorões de Babylonia, que os judeus ca- ptivos suspendiam as harpas cançadas de chorar as saudades da pátria. O próprio Linneu seguiu a poesia da lenda e foi por isso que denominou esta arvore Scdix ba- bylonica. As investigações da sciencia, que tan- tas maravilhas têem destruido, deram em terra também com esta ficção realmente beUa, e hoje está demonstrado que a sua origem provem da má traducção d'uma palavra dos psalmos. Das investigações minuciosas do den- drologista allemão, Mr. Koch, resulta que este epitheto babijloníca é a afíirmação d'um erro, por isso que esta espécie não se en- contra em nenhuma parte da Ásia occi- dental, havendo todas as probabilidades de que seja originaria da China, onde existe abundantemente espalhada com o nome de Chorão cabelliido. Em substituição ao nome de Linneu, propõe Mr. Koch e com elle Moench, que se lhe chame Salijc pêndula, denomina- ção, qvie já principia a ser adoptada na sciencia. Já que tractamos d'esta planta, accres- centaremos a este respeito algumas indi- cações, que obsequiosamente nos forneceu o nosso coUaborador, o snr. Adolpho Fre- derico Moller. Em carta, que d'elle rece- bemos, ha tempos, lia-se o seguinte: .... F,ncontra-se com bastante frequência na matta do Choupal e em alguns pontos junto ao Monc!ep:o uma espécie de Salgueiro que Brotero nào descreveu na sua «Flora Lusitanica». Pelas observações que tenho feito ha 5 annos, julgo ser este Salgueiro uma variedade proveniente da se- mente do Salix alba abastardada com o Salix ba- bylonica. A.s folhas d'este Salgveiro são mais compri- da.s c de côr verde mais escura do que as do Sor- lix alba e rebentam primeiro; os ramos sào ])cn- dentes mas mais curt^js do que os do Chorão; a côr da casca c d'um verde mais escuro do que o do Salgueiro branco de maneira que os troncos, de- pois de cortados, distinguem-se bem dos d'aquelle. O crescimento d'este Salgueiro é maisrapidodo que o S. branco. O todo da planta é d'um Salgueiro branco com os ramos pendentes e por isso cliamo- Ihe ofiicialmente Salix alba pêndula. Agente rús- tica chama-lhe Salgueiro choroado.As folhas nào têem o prateado que o S. branco apresenta, espe- cialmente no outomno. Esta planta encontra-se quasi sempre associada ao S. branco. Cresce me- lhor nos terrenos magros do que este ultimo. A madeira nào é tão boa de obrar e por isso os pali- teiros fogem d'ella. — N'um dos últimos números d'este jornal occupou-se o snr. conselheiro Ca- millo Aureliano da Musa ensele, Musacea, que promette muito para o futuro da nos- sa jardinagem intertropical e tropical. A's palavras do nosso amigo, vamos juntar mais algumas do snr. Jules Meil, que deverão interessar os leitores apaixo- nados por plantas ornamentaes. Snr. Oliveira Júnior. — Li com summo prazer a carta do snr. conselheiro Camillo Aureliano so- bre a cultvn-a da Mu.?a ensefe, publicada no nume- ro de agosto do seu interessante jornal. Direi do que se passou em Sevilha a respeito d'esta bella planta, cuja introducçào na nossa cidade data somente de 1867, epocha, em que re- cebi dous exemplares do Jardim d'acliniação de Argel. Dei um ao jardineiro de S. Telmo para o palácio ducal e guardei o outro para mim. As duas plantas foram cultivadas em vasos no pri- meiro anno e lançadas á terra no segundo. Ao fim de alguns dias, o meu exemplar foi destruido por um accidente fortuito. O do palácio, bem abrigado dos ventos frios, por construcçòes e grandes arvores um pouco desviadas, prosperou admiravelmente e obteve n'um anno proporções colossaes, mas no verão de 1869 foi victima de um accidente devido tah'ez á malevolencia, at- tendendo á rapidez com qiie a haste se de- compoz; estava admirável á noute, e pela manhã perdido, como se fora cjueimado por algum acido. Tal foi a sorte dos dous primeiros. Em 1868 obtive outros exemplares que vendi, excepto um que plantei no meu estabelecimento hortícola. Nào conhecendo ainda bem o seu tem- peramento, mas sabendo que não estava tão bem situado com o do palácio, tive o cuidado de o li- vrar dos grandes frios; no primeiro anno, por meio d'um abrigo de vidro, e no segundo por meio d'um coberto de madeira. N'estes abrigos vege- tou quasi todo o inverno, apezar de o arejar to- dos os dias. Em junho de 1870 estava em toda a sua bel- leza e já pensava aT)rigal-o um pouco menos no inverno seguinte, quando fui obrigado a partir para a Itália. De volta em outubro, tive o gran- de pezar de saber que havia morrido no verão, sem que se podesse reconhecer a causa d'este ac- cidente, devido talvez á falta de rega, quando mais precisava de agua, por isso que estava mais privado da corrente do ar por causados massiços de arvores, que o cercavam de quasi todos os la- dos, excepto do meio dia. Estas arvores causa- vnm-lhe um calor, de que elle se devia resentir muito, por isso que precisava mais humidade do que se estivesse a descoberto. Em 1870 procurei ainda outros, que foram vendidos, á excepção d'um pé, que reservei para mim e que mais tarde cedi a um de meus amigos 200 JORNAL DE UORTICULTUKA PRATICA de Sevilha, que possnc na cidade um Jardim per- feitamente abrigado, onde as outras Musas cres- cem a Imiravelmente. Ainda o nào pôde i>lantar na terra, por causa de obras que anda fazendo no jardim, mas plantal-o-lia na primavera próxima. Oxalá que lhe nào esteja reservada a sorte dos precedentes! Li não sei onde que a Musa enjiefe era mais rústica que a M. paradisíaca e de boa mento o creio, pois que as suas folhas resistem ao v(Mito, que mutila tanto as outras espécies. Obbeiv<íi que aqui soíYre do sol ardente, quando c^^tA junta da parede para o lado do sul ou de fiualqu'^r abrigo que a privo do ser suflicicntemente arejada. Agradevo-lhco benévolo acolhimento que fez á minha critica sobre as medidas municipaes, que j)rivam ainda uma grande jiarte da população dos seus direitos de entrada nos jardins públicos. Peço-lhe j)ara que aeceite, mou querido colle- ga, a expressão de meus cordeaes sentimento.-*. Sevilha, 31 de agosto de 1872. — Jules Meil. Ao que se acaba de ler só podemos accrescentar que o editor do «Jornal de Horticultura Pratica» diminuiu o preço da Musa eu sele. Appellamos ainda para que SC venda mais barato, porque d'ahi advirá o cspalhar-se rapidamente e com profusão pelos nossos jardins, ainda pobres de plantas ornamentaes. No «Garden» de agosto lia-se que a Musa ensele estava ostentando toda a svia belleza nos jardins de Londres. Que pode- remos nós dizer d'ella d'aqui a um anno? — Mr. Riloy, entomologista americano, cst^l publicando um livro em que dará grande numero do minudencias sobre o Phi/lloxera colligidas durante a sua re- cente visita á Europa assim como das ob- servações que tem leito na America, onde a questão da moléstia parece que vae to- mando uma importância maior. — Mr. Prillicux apresentou ao Instituto uma interessante communicação, resultado d'uma serie d'estudos microscópicos acerca da doença da follia do Pecer/íieiro. finitas eram as opiniões até agora emittidas, muitas dissertações se tinham publicado, mas o conselho que dava me- lhor resultado era o que mandava, durante a primavera, abrigar as arvores, e se ain- da assim a moléstia apparecia, o que não era vulgar, arrancar todas as folhas ata- cadas c queimai -as. Fora para desejar que as observações de Mr. Prillieux dessem em resultado um preservativo mais simples, mas infelizmen- te, não servem senão para a sciencia, nSo lucrando com ellas a pratica. A doença, ao que parece, é produzida por imi cogumelo. A epiderme das folhas é formada, como se sabe, por cellulas so- brepostas exactamente umas ás outras e de- pois recobertas por uma membrana. E' entre esta membrana e as cellulas que se insinua a cryptogamica, enviando Hlamen- tos extromariíonte delgados a toda a pro- fundidade dos tecidos. Debaixo de sua acção, as cellulas das folhas mudam de natureza, formam -se septos entre ellas e multiplicam -se muito irregularmente, don- de provem a espessura, que se nota em certas partes. Desorganisados os tecidos, é fácil conceber que percam a sua cor ver- de; o que é todavia inexplicável é como certas folhas tomam um colorido de ex- traordinai*ia belleza, passando da cor de rosa ao carmezim mais vivo, colorido que nos leva a admirar o que não nos deveria despei*tar senão tristeza. Sabidas as experiências de Mr. Pril- lieux, uma pergunta recorre desde logo: — serão os cogumelos a causa da doença? Para se responder á pergunta era neces- sário ter-se chegado a um accordo defini- tivo, e esse facto ainda se não rcalisou. Quem diz cogumelo, diz podridão, e assim como a podridão se mistura muitas vezes com as partes aniinaes que perma- necem n'um estado mórbido, assim a po- dridão, isto é, o cogumelo, poderia appa- recer imicamente quando as partos vege- taes estão em estado de grande sofFrimen- to, em resultado das variações atinosphe- ricas, das gotas de chuva congeladas, dos nevoeiros, e ainda d'uma immensidade de outras causas. Seja como for, o que é certo é que o cogumelo, até agora desconhecido, e des- coberto com o auxilio do microscópio por Mr. Prillieux, é o característico da doença. Causa ou cfFeito, pouco importaria saber se houvesse um feliz mortal, que desco- bx'isse maneira de aniquilal-o. O nome do descobridor deveria ser inscripto com let- tras de ouro nos fastos da horticultura. — Acha- se actuahnente cm Lyon o snr. António Batalha Reis, onde foi com o fim de estudar a exposição de vinhos. — Já regressou da Allemanha o snr. Edmond Goeze, inspector do Jardim Bo- tânico de Coimbra. Oliveira Juniok. JOKNAL DE HORTICULTURA PRATICA 201 PEÍU BELRKE DE FROMENTEL Por vezes temos assignalado nas eolu- mnas d'este jornal as grandes vantagens das sementeiras. E' por ellas que se ad- quirem as variedades, e se melhoram as castas. Raro é o anno em que não appa- reçam produetos novos com qualidades distinctas, que compensam os trabalhos e cuidados do semeador. Fgi. 53— Pei-a Eeixrré do Fromontol. ^ esse paiz industrioso, agrícola por exeollencia, na Bol.o-ica, entro "muitos ou- tros que temos notado apparece iVIr. Fon- taine de Ghélin, horticultor de Mons, que tendo a fortuna de conseguir as bellas Pe- reiras^ Benrré de Ghélin e General ToUle- hen, é ainda o obtentor da formosa pêra representada na gravura que acompanha este artigo. Se as primeiras são consideradas de Vol. III— 1872 primeira ordem, a de que tractamos não é inferior. Eis aqui o que a respeito d'ella nos diz Mr. Ch. Lemaire no vol. XIII da «Illustration Horticole». «A pêra Beurré de Fromentel foi ob- tida ha poucos annos de semente por Mr. Fontaine de Ghélin, da Bélgica, junto de Mons, a quem se devem outras acquisi- çòes. Mr. Ambr. Verschaífelt comprou-lhe N.» 11 — Novembra 202 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA toda a edição, que põe á disposição dos seus freguczes. Kão só o editor, como nós e outros conhecedores provamol-a, e a opinião t^eral foi de que era unia das mais deliciosas peras da cathegoria das beiírrés conhecidas até hoje. O fructo c bastante vohunoso, peri- forme, pedúnculo curto, o olho pouco en- covado, epiderme lisa, ténue, de um bel- lo amurcUo na maturação, e quasi imma- culada. A polpa é esbranquiçada, desfa- zondo-se na bocca, e perfumada, o sueco abundante e assucarado. E' um fructo de primeira ordem, que amadurece do fim de outubro a meiado de novembro». O proprietário d'este jornal tem alguns exemplares á disposição dos seus freguc- zes. Camillo Aureliano. A CASCA DO QUERCUS HISPÂNICA COMO ANTÍDOTO DA IIYDROPHOBIA Só a necessidade de cumprir um im- preterível dever faz com que me atreva a levantar a voz para tornar publico um remédio recentemente descoberto para a cura radical da hydrophobia. Reconhecendo a pouquidade do meu talento e a escassez das minhas habilitações, poço para que se rae relevem as faltas que commetta n'este pequeno trabalho, laltas que todavia serão attenuadas pela utilidade que resultará do medicamento que vou expor. Keside elle na casca d'uma planta bas- tante conhecida chamada Quercus hispâ- nica Lamk. Pertence á classe monoecia, ordem po- liandria Linneu. Original do Oriente, abun- da muito nas serras da Estremadura e nos montes da Andalusia. Pelos srus caracte- res genéricos, pertence á família natural das Cupxdi feras de D. O. Apresenta esta formosa arvore as fo- lhas alternas, planas. Insidias e inteiras, com estipulas peciolares, livres e cadu- cas, flores monoicas com os órgãos mas- culinos compostos de cálix, caliciforme, de quatro a vinte estames ; flores femini- nas solitárias, ou reunidas dups a duas ou três a três n'um invólucro coinmum continuado com o ovário, o mesmo tubo do cálice, que apresenta um fructo monos- perma, acompanhado d'uma cúpula linea- da ou foliacea em varias porçòes, flores masculinas em amcntilho, e as femeninas accrescentadas com o fructo. São varias as propriedades mev)4 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA PHVLLOVKll.V VASTÀTíllXd) Ilibornaçno do pul^ào — A preâiimpeãi) mah natural qne se apresentava ao espi- rito, é que o P/njlloãcra vasUdrix devia atravessar o inverno no estado de ovo. A observação positiva tem demonstrado o contrario, attestando a ausência quasi que total dos ovos durante este periodo c a presença das croações da ultima geração outomnal. A partir dos frios de novem- bro, as fêmeas adultas desapparecem, can- çadas pola sua ultima postura, e talvez di- zimadas pela temperatura fria e húmida. Os novos que lhe sobrevivem, refugiados em pequeno numero nas fendas da casca, e muitas vezes escondidos debaixo dos fragmentos da peridermc (camadas corti- caes externas, de apparencia folhosa), fi- cam mais ou menos adormecidos, entoi*pe- cidos, presos pela tromba ao tecido alimcn- ticio, mas sem tomar desenvolvimento ma- nifesto senào debaixo da influencia dos pri- meiros calores da primavera. A sua cor, raras vezes amarello-clara, é quasi sem- pre ruivo-escura, como é no vei'ão a dos individuos mal alimentados ou que soffrcm por qualquer motivo. No dia 5 de janeiro de IbõU, vimos um d'estes novos, de cor alaranjada, mudar lentamente de logar, mas geralmente ficam entorpecidos e se- dentários até mciado de fevereiro, epocha em que alguns, sendo já adultos, passam ao estado de mães pocdeiras. jMas estas posturas precoces são excepcionaes, e o despertar activo dos insectos coincide pro- vavelmente com o recomeçar da vegeta- ção subterrânea da Vuleira, manifestada exteriormente pelo phenomeno da lagri- ma (2). ([) Vide J. H. P. vol. III, pa-. 185. (2) Extracto do diário de ol»sorva(;ào, artif^o da lubfrna(;ào do piilgào em captivoiro, (luorcmos dizer, collocado em l)0<'aes conservados ii'um quar- to escuro c nào aqufcido: 26 de novembro ISfiS. Uma fêmea adulta com 4 ovos pardo-claros (signal de próximo nasci- mento). 22 de dezembro 18G8. Nem ovos nem fêmea adulta. Muitos novos, a maior parte aniarello.s, alíjuns escuros, todos muito vivos, mas nào tendo crescido sensivelmente durante um mez. 5 de janeiro 1809. Nada de notável. Os pul- fjões parecem ter crescido um jiouco desde 22 de dezembro ultimo. Um individuo (de cor alaranja- da) muda de logar. Não deve crêr-se, todavia, que todos os individuos crescem indifterentemente e se tornam aptos para pôr num tempo da- do. Grande numero d'elles ficam como que atrophiados durante mezes inteiros, tomando então a cor arruivada, que cara- eterisa o estado de soífrimento do insecto. E', provavelmente, ás imperfeitas condi- ções de alimentação que é devida esta sus- pensão no seu desenvolvimento. Alguns mudara de logar, e, encontrando melho- res condições de subsistência, chegam ra- pidamente ao estado de mãe adulta e poe- dcira. Fêmeas aptcras adulta das raizes — As dimensões do insecto debaixo d'este estado definitivo são: cerca de três quar- tos de mijlimetro de comprimento, e um pouco mais de meio millimetro de largura. A forma é umas vezes largamente ovóide, com a parte posterior mais ou menos có- nica, o que lhe dá a apparencia turbinada 13 de fevereiro 1800. Nada notavelmente mu- dado, desde 5 de janeiro precedente. Pulgòcs em geral immoveis. Ob.servaçáo interrompida. Outra observarão: 5 de janeiro 180'J. Pulgões novos, immoveis. 13 de fevereiro 1809. Cinco pulgòes abando- naram o ponto em que se tinliam fixado para se estabelecerem n'um pedaço de raiz fresca. Outra observa(;ao: 12 de outubro 1808. Fêmeas adultas e ovos amarello-clarus soljrc as protuberâncias carnosas (jue se desenvolveram nas feridas d"um fragmen- to de raiz, depois de O de setembro ultimo. Siqipri- midos de propósito hoje alguns 23eda(;os velhos de sarmento ou de raiz sobre os quaes tinham sido feitas as observações anteriores a O de setembro. Despresado também o pedaço de sarmento sobre o qual se tinha desenvolvido a raiz adventícia tor- nada logo em nodosidadc debaixo da influencia da picada dos pulgões. 28 de outubro 1868.. Ha sempre muitos ovos, alguns novos fi.xos, muito poucas fêmeas adultas. 20 de novembro 1808. Nem fêmeas adultas nem ovos; muitos novos lixos e como que entorpe- cidos. 22 de dezembro 1808. Mesmo estado. 5 de janeiro 1809. Nada de novo. 2 de fevereiro 1809. Pulgòes abundantes, no- tavelmente nutridos, quasi todos immoveis. Ha um cm ac(,'ào de mudar de logar. 21 de fev(n*eiro 1809. Pulgões em bom esta- do; ainda nenhum começou a pôr. 28 de fevereiro 180',). Vê-se pola transparên- cia um ovo no corpo d'uma fêmea adulta. No seu todo 03 pulgòes têem manifestamente crescido. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 205 OU de piSo. E' principalmente no acto da postura ou nos momentos que a precedem que se produz este prolongamento do ab- dómen. Os últimos anneis d'esta região do corpo desencaixam-se mais ou menos para deixar passar o ovo, cuja sahicla gra- dual se executa muito á vontade, indo-se collocar levemente sobre o plano de posi- ção ou contra os ovos já depositados (1). E' por meio das inflexões lateraes do Phylloxera das raízes da Videira novo e ainda ágil. Fig. 54— Visto por cima. Fig. 55— Visto por baixo Fiff 56— Fêmea adulta do Phylloxera das raizes. Vista por cima e muito augmentada. abdome, que. ™r.e p6de rigo,.sa..e„te | ^as ^^^jr^:^^^:^J:J^ disseminav os seus ovos e™ roda de s, g^^-^ f, ,„, .«itude, girando sobre n'um raio naturalmente muito pequeno; (1) A pouca adherencia dos ovos entre si, a sua queda fácil, ao menor choque, devem tornar excessivamente acautelladas as pessoas que Ili- dam com o Phylloxera n'uma região ainda nao infectada. Pela nossa parte, temos sempre toma- n'estas do manipulações delicadas as maiores conversão na sua attitude, girando sobre Tirecaucões, queimando cuidadosamente, ou pas- SSpelachammaosobjectosonde os pulgões po- deria'n ser encontrados, examinando os msectos unicamente por tf «sparenca nos frascos e tu- bos ou collocando sobre uma folha de papei branco os fragmentos das raizes infectadas, per- 206 JORNAL DE HORTICULTURA PRATÍCA O mesmo ponto, quer por uma marcha lenta para um novo ponto de repouso. Esta faculdade de locomoção para uma curta distancia, mostra-se sobretudo nos individuos de uma forma particular, pois que similhando as fêmeas poedeiras, têem o abdómen mais curto, quasi troncado e os últimos anneis mais encaixados uns nos outros. Estes individuos nunca mos- trara pela tran-;parencia os ovos que es- tão para ser postos, que se vêem em nu- mero de um a três nas fêmeas bom ca- raeterisadas. A sua cor é quasi sempre d'um am.u-ello alaranjado bastante vivo. Mais de uma vez nos perguntámos se não seriam machos em estado de larva, porque para serem machos perfeitos fal- tam-lhes órgãos característicos, tanto in- ternos como externos, e no pulgão da vinha nunca nós encontramos indicio algum de co- habitaçào. Uma conjectura plausível nos fa- ria suj)por n'{dles o primeiro estado dos Plnjlloxera alados — se nós não tivéssemos visto estes últimos começar a tomar os seus attributos de nympha (revestimento d'azas e corsolete mais acentuado) quan- do as suas dimensões eram mais pequenas que as dos nossos individuos problemá- ticos. Estes últimos ficam, pois, em esta- do de enigma, mas julgamos do nosso dever assignalal-os desde já, esperando poder doscoln-ir mais tarde a sua verda- deira significação, n'ura grupo tão ex- traordinariamente polymorpho como os aphidios. Nymphas — Dá-se este nome, nos he- miptcros, ao estado transitório dos indi- víduos que, da forma de larva aptera, passam ao estado de insectos alados. Na maior parte dos individuos do Phyl- loxera da Videira, esta distincção entre larva, nympha e estado perfeito faz-se por simples mudas (três ou quatro?), que não se revelam por caracteres exteriores muito sensivois. Na forma alada, as phases de evolu- ção são mais distinctas denunciando já a nympha, pelo seu corsolete mais separado do abdómen e pelos poquenos appendices triangulares que constituem o revestimen- to das azas, as primeiras linhas do cle- oorren.lo com uma lento forte o campo onde os pul^^oos ou os ovos possam ter caliido c esmagan- do estes germens perigosos e do fácil infecção. gante mosquito de que não ó mais do qUC um esboço. Não vimos estas nymphas se- não a partir do mez de julho, mas devem apparecer com certeza mais cedo, porque ilesde o dia lõ de julho vimos nós o in- secto sahir perfeito. Sempre pouco nume- rosas em relação ás myriadas de insectos apteros, formam aqui e acolá, nas radi- culas ou nas raizes, pequenos grupos de individuos em differentes graus de evolu- ção, fixos pela tromba ao tecido nutritivo da raiz emquanto o seu crescimento não é completo; mas errantes e parecendo agi- tados, quando o crescimento está termina- do, vão despojar-se do seu involtorio e passam ao estado perfeito de insecto alado. Onde é que se faz a transformação da nympha? E' mesmo na terra sdbre as rai- zes mais ou menos profundas? Será antes ao ar livre ao pé das cepas, ou sobre o solo? Questão ainda não resolvida porque o phenomeno só tem sido visto nos frascos e por consequência fora das condições da vida normal do Phylloxera (1). ]\Ias todas as analogias convergem pa- ra a ultima hypothese. Os alados e as mu- das rápidas da nympha, procurando trans- formar-se, a delicadeza das azas que deve temer o menor attrito, a necessidade de um ar sêcco para dar a estas mesmas azas uma consistência de gaze, o exemplo das cigarras que deixam nos troncos das ar- vores os seus despojos de nymphas sub- terrâneas, tudo nos leva a pensar que a transformação do Plnjlloxcra em insecto alado faz-se ao ar livre, escapando á ob- servação em consequência da extrema pe- quenez da nympha e do insecto perfeito. Nos frascos e nos tubos de vidro, é umas vezes na raiz e outras nas paredes do próprio vidro que se opera a transfor- mação. (1) Verdade é que vi um Phylloxera alado n'uma pequena cavidade de terra compacta que envolvia as raizes atacadas do pulprào que me tinliain siilo enviadas por Mr. Fauro, de Bt'dar- ridcs. Tudo me leva, porem, a crer ([ue o insecto se refugiou para alli, depois da desenvoluçâo no ar. Por outro lado, Mr. Honri Leenhardt, de Sorgues, enviou-me um fragmento de raiz de Vi- deira em que tinlia descoberto um Phylloxera proviílo d'azas. Nada prova, todavia, que a trans- formação do individuo não tivesse logar ao de- pois da extracção da raia. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 207 As iiyraplias agitadas ao declinar da tarde, deixam durante a noiíte n'aquella parede um invólucro incolor e diaphano, reproduzindo com uma maravilhosa fide- lidade as suas formas um pouco massiças, em quanto que o mosquito sahido d'esta prisão membranosa espelha aos raios oblí- quos da luz os reflexos levemente pratea- dos das suas grandes azas. Qual é o ponto de partida d'e6tas nym- phas e, do? por consequência, do insecto ala- Nascem ellas, n'um periodo determi- nado, dos insectos apteros ordinários? Têem por mães primitivas individues apteros similhantes aos outros era appa- rencia, mas já predispostos por algumas modificações orgânicas a dar gerações ala- das? As circumstancias de nutrição e de ambiente são porventura causa bastante para explicar a apparição das nymphas destinadas a tomar azas? Em todos estes pontos faltam ainda os Fig. 57 — Phylloxera vastatrix — Fêmea alada vista por baixo. dados positivos e a hypothese não tem di- reito a substituir a observação. Fêmeas aladas — Foi a descoberta d'es- ta forma perfeita do pulgão da Videira que nos permittiu leval-a com certeza ao género Phylloxera de Boyer de Fonsco- lombe. Com effeito, nada mais sirailhante, ex- ceptuando a difí'erença de colorido e cos- tumes, do que o Phylloocera quercus, typo primitivo do género, e o Phylloxera vas- tatrix. Dir-se-hia serem menechmas sob uma libré um pouco diíFerente. A mesma cor é variável nos Phyllo- xera alados do Carvalho, sendo pretos os individuos vistos em maio, e mais ou me- nos vermelhos os que se observam no es- tio e no outomno. O Phylloxera da Vi- deira, observado nos mezes de estio e ou- tomno, tem o conjuncto do corpo ama- rello-pallido, com uma lista de ura casta- nho muito claro, occupando o semi-circu- lo que representa a parte inferior média do corsolete (mesolhorax) , no qual se acham inseridas as duas patas intermediarias. As azas, quasi duas vezes mais compridas do que o corpo (queremos dizer as duas azas superiores), são incolores e diaphanas, ex- ceptuando uma leve extensão do seu bor- do externo que constituo o que se chama o ponto espesso e que no nosso Phylloxe- ra apresenta uma leve cor pardacenta. Quando em repouso, as quatro azas estão atravessadas horisontalmente, em logar de formarem tecto, como no maior numero dos aphidios. O pequeno niimei'0 de nervuras d'es- tas azas exclue qualquer ideia de vôo poderoso e sustentado. Vimos este facto no Phylloxera do 208 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Carvalho. Levantava ao mesmo tempo as suas quatro azas n'uraa direcção quasi vertical, fazi-as vibrar um pequeno nu- mero de vezes, clevava-se rapidamente a cerca de um centimetro de altura e ia cahir a als^uns centimetros de distancia, sobre a mesa onde as observações se fa- ziam. Mais prudentes com o PhyUoxera da Videira, niío ousamos deixal-o levantar voo algum lura da sua prisiio de viilro. Porém, a identidade das azas entre esta espécie e a do CarvaUio, a maneira egual de as levantar e de as fazer vibrar, in- duzem-nos a pensar que o voo nas duas espécies deve ser da mesma natureza, queremos dizer, pouco extenso por si mes- mo, mas muito apto para ser coadjuvado pelo vento a lim de percorrer grandes dis- tancias. Este facto, mais supposto do que di- rectamente provado, encontra os seus aná- logos bem estabelecidos no exemplo da invasão das ruas de Gand, Bélgica, em 1834, por nuvens de pulgões verdes do Pecei/ueiro (Ap/iis persiccc Morren), como também na espécie de neve produzida, ha alguns annos, em Montpellier, pela folhe- ca cotonosa que cobria o corpo de um pulgão sabido das galhas das folhas do C/ioupo (Peniphifjus biwsarius). Esta influencia, quasi inevitável, do vento sobre a dispersão dos PliijUoxera alados, merece ser cuidadosamente estu- dada, porque pude indicar-nos a marcha da invasão dos vinhedos n'uma dada di- recção. Sem querermos aventar a este respei- to opinião definitiva, não é notável a ex- tensão longitudinal tomada pelos estragos do Pliylloxera seguimlo a direcção do cur- so do Rhune, região privilegiada do mis- tral? Verdade c que a extensão se desen- volveu também no sentido inverso da cor- rente, isto é, com direcção ao Drôme su- bindo o valle do RhOne e também com direcção a Nimes e Ardèche. Mas n'cstcs últimos factos ha redemoi- nhos que d000 reis e da Beira de 26 a 27;5»000 reis. — Sobre a colheita de 1872, publica a «Independência Belga» o resultado das averiguações feitas pela casa Barthêlmey, de Marselha, relativaiucntc aos resultados prováveis da colheita dos cereaes do cor- rente anno. Eil-as: Na maior parte dos departamentos francezes acolheitaé boa. — Em Inglaterra, méo nuc foi plantada, polo mau tractamento que tem distribuom-se prodiiramcnte estas arvores }., ' . " . . „r„. ^iioLiníiiv 111 v j Q tido e qu(! seria conveniente remedia.'. a quem as solicitar. ^ Eis no que consiste o indicado proce=;so: Em Bellos exemplos que deveriam encon- logar de esperar pela epocha da poda de inverpo trar imitadores por toda a parte! para opeiar a apara das sebes, Mr. Chiron exe- A-i. 1 „ 4.-„- i„ J^ A'^„t^^^ f , cuta-a durante a voírctacào, quando os rebentões propósito da rusticidade (1 estas la- ,_ t:^„„.- .7„.-... -_..-? _:.-^i„'..L .,...i_ i.„..i mosns arvores, liamos ha dias a seguinte passagem n'um artigo do snr. J. Torres que se occupa ameudadas vezes de assum- ptos agricolas na «Auroi-a do Lima», de Vianna: .... Como ia dizendOjOs frios que snccederam ao intempestivo calor da primavera nào só foram causa da escassa producçào do vinho; também prejudicaram muito as planta<;ões de Carvalhos^ e outras arvores indígenas. Só os EucalT/ptns transplantados de vasos se mostraram resistentes, continuando o seu prodi- gioso crescimento; parece esta arvore destinada nào só a substituir as que a moléstia nos tem roubado, como a formar em breves annos densas florestas que nos tragam immensas riquezas. Folgariamos se poderamos saber quaes foram as espécies que escaparam ao frio e a quantos graus havia descido o ther- mometro, quando cllc foi mais intenso. — N'uma carta que temos sobre a nos- sa banca e assignada pelo snr. Francisco José Rodrigues da Silva Basto lôem-se em post-scriptum estas palavras: P. S. Tenha a bondade de annunciar no seu jornal que eu oftereço Amoreiras, Amendoeiras doces e Damasq^ieiros as todas as pessoas que se quizcrem utilisar; c isso grátis. Moro no concelho de Louzada, freguezia de Cernedfllo, casa de Figueiredo. Tão delicado offerecimento é muito para sor aproveitado e agradecido. Havia muito tempo que tinhamos esta carta cm nosso poder e nào lhe demos publicidade logo que a recebemos por ser imprópria para a transplantação a epocha em que ella nos foi dirigida. — Chamamos a attenção dos leitores para a seguinte communicação relativa á cultura dos Esjnn/ieiros, communicação que nos foi transmittida pelo snr. António José de Oliveira e Silva. Lemos ha pouco no «Boletim da Sociedade Agricola o Hortícola.) do Vauduse, um intercs- Banto artigo devido á pcnna de Mr. Chiron, no qual se descreve um processo de poda para os Espinheiros, tendo por fim a conservação das se- bes essencialmente protectora», que se costumam fazer com estas plantas. Julgamos ser do interesse dos leitores a sua publica<,'ào n'e8te jornal; recommendando espe- cialmente a sua leitura ao jardineiro encarrega- do do Passeio da Cordoaria, onde existe uma sebe do Espinheiro estão ainda no estado herbáceo. Com uma fouce ou tesou-a bem afiada, cortam- se pela base todos os novos rebcníòes. Se a sebe é vigorosa não tarda a dar out:-os rebeniòes, que são egualmente cortados. Acontece que esta ope- ração é ainda repetida terceira vez. Em seguida a estas operações, que reduzem a (|uasi nada as dospezas de ])oda e conservação das s'^bes, os Espinheiros pi-oduzem na sua parte inferior um grande numero de ramificações, que tornam a sebe tufosa c realmente impenetrável. Ouíra vantagem resultante d'este processo consiste em que os rebentões verdes, que foram cortados, podem ser, segundo acoiiseMia Mr. Chi- ron, logo enterrados no solo, ao pc da sebe, con- stitvxiiulo assim um adubo, que lhe deve ser mui- to proveitoso. A. J. dk Oi.ivetka. e Silv.\. O processo é simples e resta experi- mental-o para ver se se verificam entre nós os resultados que colheu Mi-. Chiron. A experiência ensina os sábios! — Fez-se ultimamente um leilão de Orchiíleas^ em Inglaterra, e o.s preços por que foram vendidas são tão elevados e most]-am tanto ao vivo a paixão dos In- glezes por estas plantas, que julgamos cu- rioso dar um extracto dos pieços que al- guns exemplares obtiveram: 1 Cymhidinm eJnirneum 1 EpicJfiHlrum vHeUintim. majns I Fltalaenopais amahi'is i — Schilleríana 1 Caitleya Devoniana 1 — Iabin'a. i — Mosdae . . 1 Colax jvgosus .... 1 Anf/raeeum sesqvipechOe . 1 Dendrobiit/n Wardiannm 1 Cypripedium laevigalum i Ae rides Veitchi .... 1 Vanda in-^ignis \ — Lowi 1 Laeia elejant 1 Cymhidiínn ehurnenm Os principaes compradores eram: lord Londesborough, loi'd Rendlcsham, e os snrs. J. Day, R. Ilambui-y, Bockett,Ter- ry, B. S. Williams, W. Buli, Jakson & Son e o rev. Ellis, amadores e horticul- tores bem conhecidos no mundo hortícolas A quantos olhos profanos não passa- rão estes homens por excêntricos?! E com tudo obedecem a uma paixão nobilíssima — Amor pelas pkintas. Oliveira Júnior. 215 fr 415 215 105 8IH 225 215 393 375 215 551 315 500 500 :837 JORNAL DE llOirn CULTURA llí ATIÇA 221 CUPRESSUS MÀCROCiRPÀ HARTiv. o género Cnpressus pertence ás Co- iii feras clássicas, poi^quanto os auctoresan- ti:;-os taes como Homero, Theoplirasto, Virgílio e Ovidio faliam muitas vezes do nosso Cipreste commum (Cnpressus sem- pcrvirens) , originário da Pérsia e do Le- vante e que ainda era nossos dias éo mellior conhecido. A Monograpliia mais moderna sobre as Coníferas encontra-se no «Prodromus» — vol. XVI Sect. post. e ahi apenas en- contramos onze espécies de Cnpressus, porque o seu auctor, Mr. de Parlatore, coUocou alguns Cnpressus n^ontvo^ géneros. O bello Cnpj-essjis Lawsoniaíia, por exemplo, é segundo Mr. de Parlatore uva Chamaeci/paris, género, que em verdade se poderia considerar como uma simples secção do género Cujiressn.s. Estas onze espécies formam arvores Fig. 65 — Cnpressus macrocarpa. de altura mo. liana ou grandes arbustos, e sao todas originai'ias da Pérsia, das ín- dias orientaes e da Califórnia. Na folhagam parecem-se algumas es- pécies com os Ju?iiperus e ainda entre si é difficil conhecel-as, poi*que se distinguem mais pelo porte geral do que por alguns caracteres botânicos. N'um dos números precedentes falía- mos do Ceclrus Deodara, e hoje apresen- tamos aos leitores outra bella Conífera — o Cnpressus macrocarpa — que lhe não é de modo algum inferior debaixo do ponto 187-2 — Vol. Iir de vista de belleza e que ainda se rccora- menda mais pela rapidez do seu ci-esci- inento. Ha cerca de dez annos que fizcm">s a nossa primeira visita á Gran-Bretanha e alli vimos pela primeira vez esta espé- cie, que já é hoje uma das mais bellas ar- vores dos parques inglezes. Alguns exem- plares tinham 20 metros de altura e quan- do partimos para Portugal tivemos o cui- dado de trazer sementes que germinaram bem. Entre os individuos que assim ob- tivemos, ha um no Jardim Botânico de N." 12 — Dezembro 222 JORNAL DE llOIlTlCUr.TURA PKAÍICA Coimbra que foi plantado ha três annos, medindo hoje já 6'", 50 de altura e 11 me- tros de eircumterencia na base. Quando estivemos a ultima vez no Porto, mostrou-nos o nosso amij^o, o snr. Oliveira Júnior, duasbellissimas Coníferas no Palácio de Crystal em frente da ave- nida da entrada e a nossa surproza foi grande quan(h) as reconhecemos. Eram dous CiipressHs mucrucdrjm (úg. G5) que promettiam rivalisarem breve com os me- lhores de Inj;laterra. Esta espécie, conhecida também al- gumas vezes sob os nomos: Cujiressus Lamberliana H»c//m Tiasccra espontânea no ter- i-ão cultivado pela gentil jardineira e o seu nome era Duquczinha. Eis aqui um serio embaraço, um pro- blema difficil de resolver. Despenha-se n'estes abysmos quem procura estudar a origem d'uma planta e estabelecer a sua monographia. Sem desanimar todavia, sem levantar mão do assumpto, parece que o snr. Lou- reiro chegou a descobrir com provas ir- refragaveis que a Camellia Delia Por- iuense fora obtida de semente por ura grande amador,' o reverendo Manoel Sil- vestre, cujo corpo já hoje descança na ter- ra da verdade. Se assim é eíFecti vãmen- te, o seu nome bem merece ser archiva- do nos fastos da nossa horticultura. No que não resta duvida é que a Ca- mellia Delia Portuense ó nacional e entre as indigenas occupa um logar especialís- simo. Terminaremos esta noticia com a descripção que no princípio promcttemos. As flores são de tamanho mediano, for- ma rosa regular, cor de carne e as pri- meiras ordens de pétalas lavadas de côr de rosa. Algumas das pétalas têera leves maculas ou estrias de carmim; comtudo quasi todas, e mui principalmente as ex- teriores, são polvilhadas de carmim. A forma das pétalas é oboval e algu- mas d'ellas são levemente emarginadas no vértice e a imbricação ó perfeita. As folhas são ellipticas, acuminadas, serradas, medianas, de cor verde-azeito- na superiormente e de verde amarellado na parte inferior. Floresce abundante- mente. Oliveira Júnior. PELARGOMLMTllISTE EP. IIEDERVEFOLÍUM o Pelargonium Triste, d do Cabo da Boa Esperança, onde foi encontrado em 1635, por um botânico que lhe deu o no- me cora que ainda hoje é conhecido. Efifccti vara ente se attendermos á insi- gnificância das suas flores c ao seu porte, veremos que lhe foi bem applicada a qua- lificação de «Triste». Apesar d'isso, nós recommendamos aos nossos leitores que ainda o não pos- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 231 suam, que façam acquisição de um exem- plar e que o cultivem, que depressa se darão por bem pagos do seu trabalho. As suas flores, logo que o sol desap- parece e começa a noute, principiam a ex- halar um aroma á canella, tão delicado e activo que se sente a alguns passos de dis- tancia; e assim se conserva toda a noute, até que o sol torne a apparecer no hori- sonte. D'esta circumstancia lhe veio o nome vulgar de Nocturnos. Estes Pelargoniums podem ser leva- dos de noute para as salas, que perfuma- rão com o seu agradável cheiro, tendo o cuidado de pela manhã os levar outra vez para o jardim ou mesmo para uma janella onde lhes dê o sol. Observaremos que será grande imprudência levar estas flores para os quartos de dormir. Esta planta não gosta muito de sof- frer o inverno desagasalhada, por isso será bom, logo que comecem as chuvas. recolhel-a debaixo de um abrigo qual- quer. Multiplica-se pela divisão das raizes em outubro e em boa terra. Não é planta própria para os canteiros dos jardins; de- ve ser sempre conservada em vaso. O seu parente P. de folhas de hera é uma bella acquisição da jardinagem moderna. As suas hastes cylindricas e no- dosas são muito próprias para fazer bor- daduras e cobrir rochedos. Também é muito lindo e produz um eíFeito muito pittoresco em suspensões, ou guarnecendo janellas ou élagéres nas salas. As suas flores^ dispostas em graciosas umbellas, brancas, vermelhas ou estria- das, também concorrera muito para o eífei- to ornamental da planta. Vive em qual- quer terra e reproduz -se por estacas ou raergulhia em março e outubro . A. J. DE Oliveira e Silva. CENTÁUREA CLEMENTEI MM. Charles Huber & C.'% de Hyères, escreveram-nos ha dias chamando parti- cularmente a nossa attenção para uma planta nova e excellente para formar mas- siços que se destaquem dos outros. Eífectivaraente a côr e as dimensões Fig. G8 — Centáurea Clemeutei. da planta — Centáurea Clementeí — pres- tam-se a eíFeitos que não é vulgar obter. A Centáurea Clementeí (fig. G8) é uma planta muito vivaz; os seus tufos, que chegam muitas vezes á altura d'um me- tro, são cercados d'uma lai-ga roseta de folhas radicaes, profundamente recortadas em lóbulos, que são por sua vez egualmen- te lobulados e denteados. A' elegância da forma junta-se a belleza do colorido. Em- qu anto novas, a espessa penugem que as cobre dá-lhes a alvura da neve, e, quando crescidas, são ainda brancas, mas em me- nor grau. Os caules, ou para melhor di- zer as suas numerosas ramificações, ter- minam por grandes capitules esphericos de escamas ciliadas e de florões amarel- los palha. Esta bella planta, que dá ideia da Centáurea candidissima, pode ser como esta empregada para bordaduras em vol- ta dos grandes massiços, mas é melhor 232 JORNAL DE HORTICULTUEA PRATICA que se disponha em massiços, jil uo cen- 1 As sementes podem dar variedades tro d'outros diversamente coloridos, já superiores ao typo. nos tabuleiros de relva. Olr^eira Júnior. ilLPlSTA (PHALARIS CANARIEXSIS Linn.) A Alpisla é uma Gi'aminea que se presume oriunda das Ilhas Canárias. Ape- nas applicada entre nós para alimentarão de passarinhos exóticos, só é conhecida a sua semente, e por um preço elevado, porque é introduzida do estrangeiro. Se, porém, considerarmos que além d'esta applicaç'ão, ella nào só produz uma exeellente forragem para gados, mas ain- da uma óptima fariniia que serve para o uso do híiiihaiiça.s de Bordéus, os proprietários que têein as suas vinlias atacadas pelo Phylloxera, nào querem, como os de Portu- gal crer ([ue o estão presenccando. Verdade é que as grandes herdades do Mé- doc aimla estão isentas da moléstia, mas na mar- gem direita do Garonne verifiquei cu próprio a sua existência desde o anno de ISfiO e já causou grandes prejuizos principalmente na commurLade Flairac(?). Apesar d'isto, não ha ninguém era Bordéus que acredite na gravidade do mal. Nós temos luctado aqui com a maior energia mas 03 resultados colhidos até hoje são bem in- significantes, excepto quando c praticável a sub- mersão prolongada da vinha no outomno e no in- verno. Todos os outros meios são nullos. Em Pariz começam-se agora a occupar d'esta questão. lia dias que temos em Montpellier Mr. Le- fèvre de Sainte-Marie, director geral do ministé- rio da agricultiu*a, que veio aqui para estudar o assumpto. Já o acompanhei a varias localidades nfFcctadas emostrci-lhe vinhas que estão doentes ha doze ânuos. Visitou também o campo de expe- riências em que dons professores da Eschola de agricultura de Montpellier experimentaram todos os remédios propostos para o premio de 20:000 francos. ^Ir. Sainte-Marie ficou agora compenetrado da gravidade do mal e do pouquissimo que se tem cuidado cm debellal-o. N'este inverno vamo-nos occupar muito se- riamente de atacar o nosso inimigo por todos os modos, e talvez que no anno próximo possamos annunciar resultados mais satisfactorios do que até hoje. Pelo quo acaba de ler-se vê-se que o imico remédio, se assim se lhe pode cha- mar é a submersão. Esperemos, porém, que as observa- ções que se fizerem este inverno tragam a chave d*este enlabirynthado enigma. Oxalá! — Recebemos o Relatório apresentado á jimta geral do districto de Faro, no corrente anno, pelo conselheiro José de Beires, governador civil d'aqucllc districto. I Este cavalheiro dá conta dos progres- sos que a agricultura vae realisando no districto a seu cargo, e cabem-lhe mere- cidos elogios pelos bons serviços que tem prestado. São muito para ler-se com attenção os relatórios e respectivos mappas das sec- ções: Pecuária — Mattas Florestas — Hortas — Pomares e Amoreiras — Vinhas e Oli- veiras, etc, documentos que demonstram perfeitamente o estado florescente do dis- tricto. O digno governador civil tem jus a muito louvor pelas judiciosas propos- tas feitas á junta; taes como a da crea- ção de uma cadeira de agronomia, afora- mento de terreno para campo de expe- riências, creação de uma bibliotheca, mu- seu, etc. Ha ainda outras propostas tendentes ao desenvolvimento da agricultura e hor- ticultura, que deixamos de apontar pelo pequeno espaço de que podemos dispor. Receba o snr. governador civil os nossos agradecimentos pela offerta do seu relató- rio, ao mesmo tempo que fazemos votos para que a semente do progresso agríco- la, que tão proficuamente espalha, germi- ne e produza os mais sasonados fructos. — O snr. Graciano Franco Monteiro, morador em Penusinhos, próximo da vil- la d'Alemquer, é um dos cavalheiros do nosso paiz que maior plantação de Eu- calyplus (jlobulus tem feito. No anno do 1871 comprou nos viveiros das mattas do Choupal e Valle de Cannas próximo a Coimbra 1:180 pés e no corrente anno 4:300 pés. Ouvimos dizer que quer ele- var a sua plantação a 10:000. Este cava- lheiro também vae experimentar a cultura da Acácia dealbata e para esse fim já en- commendou 100 exemplares. — Dos snrs. Charles Huber&C.°, de Hyères, recebemos o Catalogo geral para o outomno de 1872 c primavera de 1873. Contem errando variedade de sémen- tes vindas directamante da Austrália e mui- tas outras sementes que são lançadas pela primeira vez no mercado. — O proprietário do Horto Lisbonen- se, que suppomos ser o snr. J. M. da Silva Vieira, enviou-nos o Catalogo n.''3 das plantas que tem á venda no seu esta- belecimento. JORNAL DB HORTICULTURA PRATICA 235 — Do nosso collaborador, o snr. Adol- 1 nheiro florestal, que foi alli expressamen- pho Frederico Moller recebemos a carta te a fim de estudara cultura dos £ítca7í/jj/íís. que em seguida insei'imos Prezado amifío e collega. — Aqui estou já ha dias, com iniulia faniilia, onde nos adiamos a ba- nhos. Por estas paragens pouco ha que possa interessar ao amigo, mas ainda assim dir-lhe-hei o pouco que tenlio visto que mais possa desper- tar a sua curiosidade nas pequenas excurções que pelos arrabaldes d'esta villa tenho feito. A 3 killometros d'aqui, n'um logar chamado Caçeira, próximo á estrada de Coimbra, existe uma superfície de cerca de um hectar povoado cora o Pinus sylvestris dentro d'uma quinta do negociante d'esta praça, o snr. Nestorio Dias. Este pinhalzinho, segundo as informações que me deu o seu dono, foi semeado haver/i apro- ximadamente 12 annos, e as sementes obteve-as de Hamburgo. A natureza do terreno onde se acha semeado é, se nào me engano, calcareo ar- giloso, e está a menos de meia encosta exposto áo norte. A apparencia dos Pinheiros é boa, e jiena é,' que o tractamento que se lhes tem dado não seja dos melhores; pois quando os desbasta- ram deixaramn-os com luz de mais, de maneira que, em logar de crescerem o que deviam, deita- ram muitos ramos horisontaes, o que os tornou como a gente do campo lhes chama; chaparros. Estas arvores podem ter as mais altas 3 metros, mas a média será de 2™, 50. Na sua Chronica do mez de abril ultimo falla- va o amigo das arvores adequadas á arborisação dos passeios e estradas á beira-mar, mas não se lembrou d'uma que talvez seja a mais apropria- da para este fim que são os Aníhocercis. Vi uma plantação d'cstas arvores no jardim do snr. Nes- torio Dias n'esta villa cjue fica quasi junto a este porto e distante do oceano os seus 500 metros : apresentam um desenvolvimento magnifico a ponto de se poder já j^assar á sombra de seus ra- mos nas horas de maior calor no estio. Junto a estas arvores acham-se também algum.as Acácia melanoxylon, as quaes têem um aspecto muito bom. Do lado de fora do jardim, n'um pequeno cães que o snr. Nestorio tem para desembarque de mercadorias para os seus armazéns, plantou elle também um Anthocercis que apesar de ser muitas vezes molhado pela agua salgada na oc- casiâo do rio se achar agitado na praêamar, se não está tào bom como os outros, ainda assim nào se pode dizer que o seu desenvolvimento seja mau. Fico hoje por aqui e creia-me seu amigo de- dicado. Figueira da Foz, 8 de outubro de 1872. Adolpho Fkederico Moller. — A camará municipal de Monte-mór- o-Velho officiou á camará de Coimbra pe- dindo-lhe que lhe cedesse 60 arvores do seu viveiro para arborisar as praças d'a- quella villa ao que esta vereação annuiu da melhor vontade. — Nos fins de outubro esteve em Coimbra, onde se demorou algmis dias, o snr. Bernardino Barros Gomes, enge- Visitou as vastas plantações que se fi zeram nas mattas do Choupal e Valle de Cannas, plantações que o suprehenderam . Conferenciou largamente sobre este objecto com os snrs. dr. Júlio A. Henriques, Ed- mond Goeze e Adolpho Frederico Moller. O snr. Barros Gomes, dignissimo ca- valheiro, é quem actualmente administra as florestas a cargo da administração ge- ral das mattas do reino, na secção flores- tal do norte do paiz, e tem os melhores desejos de fazer largas plantações de Eií- calyplus no pinhal nacional da Foja. — Próximo ás minas do Palhal (Es- tarreja) plantaram-se este anno as seguintes arvores: Eucalyptiis globulus Fraxinus excelsior Gleditschia triacanthus. Casuarina leptoclada e quadrivalis Grcvillea robusta 3:000 100 100 100 100 Total . 3:400 Nas minas de Villa Real de Santo António também se plantaram as seguin- tes arvores: Eucalyptus globulus .... 2:000 Acácia melanoxylon . . . . 100 Total . 2:100 Este exemplos são dignos de emita- ção. — Em sessão da camará municipal de Coimbra de 17 de outubro do corrente an- no, propoz o vereador e encarregado da arborisação da cidade, o snr. José Liber- tador de Magalhães Ferraz, que a ca- mará desse gratiútamente Amoreiras a to- dos os individues do concelho, que apre- sentassem attcstado da auctoridade admi- nistrativa em como possuem terrenos ade- quados para a cultura d'esta arvore; pois tinha uma grande porção no viveiro mu- nicipal. O viveiro que a camará municipal de Coimbra hoje possue, na cerca denomina- da dos Expostos, foi feito pela iniciativa do nosso amigo, o snr. Adolpho Frederico Moller, silvicultor e chefe dos trabalhos florestaes das mattas a cargo das obras publicas do Mondego, sendo sete cavalhei- ro quem tem dirigido alli todos os traba- lhos desde o seu pinncipio até hoje, a pe- dido d'aquella corporação. 236 JORNAL DE UOUTICULTURA PRATICA Este viveiro contém hoje perto de 8:0cr- nardo Ferreira. C(»m medalha de bronze — Condo de Villa Pouca. Estes cavalheiros tôom occupado n'ou- tras Exposições logares distinctos, c ainda bem que temos alguns compatriotas que tào vantajosamente nos vão representar lá fora. Ao snr. Batalha Reis cabem-lhe me- recidos elogios pelo modo como zelou os interesses do nosso paiz, fazendo sobrcsa- hir no jury as qualidades especiaes dos nossos vinhos. Batalha Reis allia aos seus profundos conhecimentos oenologicos uma educação esmerada, que o torna bem-querido de to- dos que têem a fortuna de conhecel-o de perto. Nào admira pois que os seus colle- gas d*alem Pyreneus fossem justos nos testimunhos de sympathia pelo seu dis- tincto merecimento. Pela nossa parte con- gratulamo-nos de ter no nosso paiz um ca- valheiro tão apreciável e que tantos ser- viços poderá prestar á sciencia, se os nos- sos conterrâneos continuarem a dispensar o mesmo acolhimento aos seus conscien- ciosos trabalhos, como até aqui. — Da Chronica do Boletim da Socie- dade de Aclimação relativa ao mez de agosto, extractamf»s a seguinte noticia que recommeiulamos aos nossos leitores. Ha uma espocie de Pinheiro que seria para cntinuir vor iiitrodiisida na Europa; ('; o i\\w o» in^Io7,<»s dcflRiiam debaixo do iiomf! do Vhiheiro fie /ío/jrrío.N'uiiiainoiiioria lida á Sociedade das artPí< de Londres "Sobre as madeiras de con- 8trucs"ào'ilia já aipins annos rpio o seu autor, Mr. HurncJl. faliava n'est«>s termos : Ifa uma espé- cie de Pinheiro recentemente introiluzida entre ni'(s, originaria da nossa colónia das costas do Pacifico, (juo me parece possuir (lualidadcs muito nutavcis. Esta madeira vcm-nos da ilha de Van- couver no estado natural c cm obra. Em logar de ter l í a Ki pollegadas de esquadria sobre GO pós de comprimento maxiiiio, como a madeira de carpinteria do Ikiltico, jiudemos medir, n'um tronco i)rovindo de ^'ancouver, 1;27 pcs de comprimento c 12 poUegadas de esquadria no primeiro terço do seu com])rimento partindo do pc, tcuí. \Villormoz, onde vem tractada d'um modo notável uma questão que traz ha muito tempo em divergência os astróno- mos, os physicos, os metereologistas e os horticultores — saber qual a influencia que a lua exerce nos phenomenos terrestres e principalmente nos vegetaes. Sobre esta questão ha prejuizos de tal modo inveterados e crenças populares tão gei'almente espalhadas, que nos pareceu útil offereeermos uma analyse critica do excellente trabalho de Mr. Willermoz, con- vidando comtudo a ler o texto na obra precitada. O titulo, que o auctor deu á noticia, apresenta desde logo a questão em toda a sua latitude: Exerce a lua, diz elle, alguma in- fluencia sobre o globo lerreàre e particu- larmente sobre os vegelaes ? Esta these, pela sua generalidade, era immensa; entra assim no dominio da sciencia e sahe do quadro puramente agri- cola e horticola que elle entendeu deli- near. O auctor reconheceu logo isto; porque á terceira pagina das suas observações, disse, que por agora não se occupava senão da pi-etendida influencia da lua so- bre os vegetaes, a saber: se o nosso sa- tellite contribue para o seu desenvolvi- mento, para o seu vigor, para a sua fer- tilidade ou para a sua qualidade, quer por uma acção mechanica, quer por cer- tas influencias eléctricas, queremfim por qualquer outro motivo. Resumido asnm o debate, estava a questão coUocada no seu verdadeiro cam- po, e, para ser lógico, o auctor devia formulal-a no titulo, do mesmo modo que nós julgamos devel-o fazer. Posto isto, sigamos Mr. Willermoz nas suas deduc- çòes. Compulsou elle com escrupulosa at- tenção os auctores sagrados e profanos, e não encontrou nada. Por um lado o Génesis e os Psalmos não contem nenhum texto, do qual se possa induzir a prova da influencia da lua sobre o nosso globo, e, por outro, con- sultando a historia profana na mais re- mota antiguidade, esta prova, do mes- mo modo, lhe faltou. Assim, n'uma col- 8 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Icccrio de 1900 ânuos de observações as- tronómicas, os babilónios e os ehaldeus nuo deixam entrever que tivessem a menor ideia sobre a influencia lunar. Se nos referimos aos antigos auctores gregos e romanos, c preciso, diz ]\lr. Wil- lermoz, tazel-o com certa reserva, porque entramos com clles no dominio da tabula e da íieçào. Os gi*egos e os romanos, e cora elles os egypcios, adoravam ou in- vocavam uma multidão de divindades at- tribuidas a diversos planetas que, segun- do elK'?, deviam exercer uma certa in- fluencia sobie o globo. Assim, por exemplo, Isis, que passava por ter inventado a agricultura, presidia á lua: representava-se com a fronte cin- gida d'uni crescente. E' d'ahi sem duvi- da, diz clle, que vem a crença de que a lua exerce tal ou qual influencia sobre os vegetaes. Esta ideia, qualquer que seja a sua origem, foi adoptada por muitos philoso- phos c celebres médicos da antiguidade. Hippocrates (nascido 460 annos an- tes de J. C), tinha uma fé viva na influencia que os astros exercem sobre os seres animados e sobre as doenças do ho- mem; mas não attribuia á lua senão um papel secundário. As Plêiadas, Arcturus e Procyon eram, segundo elle, os astros preponderantes. U celebre Aristóteles (nascido 384 annos antes de J. C) parece, pelos seus escriptos, persuadido da influencia da lua sobre a vegetação. Theophrasto, seu con- temporâneo e amigo, em muitos tractados relativos á historia natural, d metereolo- gia e á historia das plantas, onde elle procura as causas da vegetação, mostra- se partidai*io d'esta influencia. Não é para admirar que, com taes opiniões fosse esta crença adoptada con- fiadamente sem exame profundo, por um grande nimiero de sábios illustres, taes como Varrão, Yirgilio, Plinio, Lucrécio, o agrónomo latino Columella, o celebre medico grego Galeno, etc. Se procuramos os motivos sobre que repousa a sua opinião nada se encontra de serio. Em tudo isto a imaginação represen- tou o principal papel, e a seiencia foi completamente abandonada. Algumas citações extrahidas de Plinio, auctor latino, nascido no primeiro século da era vulgar, provará que este sábio, arvorado em defensor de similhante these, se entregava ás crenças mais supersti- ciosas. Assim, Plinio prescreve que se semeiem as favas na lua cheia e as lentilhas no tempo da conjuncção. E' preciso, diz Mr. Ai*ago, uma fé bem robusta pai-a admittir sem provas que, a quatro centos mil kilome- tros de distancia, a lua, n'uma posição, in- fluo vantajosamente sobre a vegetação das favas, e que, em posição opposta, são as lentilhas que ella favorece !.. «Quando se colhe o milho para ven- der, diz o mesmo auctor, é preciso esco- lher o tempo da lua cheia; e para ter se- mentes isentas de corrupção, importa pelo contrario escolher o tempo da lua nova, ou pelo menos o mingoante.» A antiguidade accreditava também na influencia das estrellas: «Uma atmosphe- ra doce e serena, dizia Plinio, transmitte á terra uma espécie de orvalho leitoso e fecundo, correndo da via láctea, entretan- to que a lua nos envia um orvalho frio, cujo amargor azeda o humor berafazejo da via láctea e mata os fructos ao nascer. » Mr. Arago repelle com desdém uma theoria tão extraordinária, que nenhuma experiência confirma e cuja origem se rela- ciona evidentemente com as concepções fantásticas e mythologicas sobre a natu- reza da via láctea. Acontece o mesmo com a virtude at- tribuida a uma simples estrella fixa, a Procyon ou Pequeno cão , que, segundo Plinio, decide exclusivamente da sorte das vindimas: «As malignas influencias de Procyon — diz elle — causam o carvão que queima a vinha.» Para terminar esta longa serie de ci- tações, mencionemos um singular apho- rismo do mesmo auctor. «Fazei com que o mosto ferva durante a noute, se a lua estiver em conjuncção, e durante o dia, se fôr cheia.» Ura, n'es- tes dous casos, a lua não illuminando a terra, pergunta-se como c que o nosso sa- tellitc pode exercer qualquer influencia em similhantes circumstancias, a não ser pela sua ausenciaV E' evidente, que os auctores gregos e JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA latinos não têem sido mais que o echo de prejuizos populares, de crenças supersti- ciosas que tiveram nascimento na ficção e na fabula. Conservaram-nos e vulgari- sam-nos sem poder affiançal-os com qual- quer experiência, nem documento ve- rosímil e plausível. A scíencía moderna nada tem demonstrado. Ao-ora ponhamos em pai'alello as opi- niões dos nossos mestres na arte da cul- tura que Jlr. Willermoz teve o cuidado de reprodusir. Todos elles tem outro caracter de im- portância. Diz La Quintinie, nas suas «Instruc- ções para os jardins»: Responsabiiiso-me pelo bom resultado das sementes, com tan- to que a terra seja boa, bem preparada, e que as sementes não sejam defeituosas. «O primeiro dia da lua e o ultimo são eíTVialmente favoi'aveis. » O abbade Chomel, fallando da lua,ex- prime-se assim: «A lua cheia ou mingoante não influe nada na jardinagem ou agricultura. E' virna illusão accreditar que é preciso semear plantar, e enxertar na lua cheia, ou du- rante o mingoante. Ha mais de quarenta annos que faço experiências, e só tenho i*econhecido que se enganam os jardinei- ros que têem esta crença.» Citemos em ultimo logar Bosc, que contribuiu tão poderosamente para o pro- gresso da sciencia . Este sábio, no seu «Curso do Agricultura», exprim.e-se nos seguintes termos: o Está hoje provado pela observação, que dado o conjuncto das circunstancias favoráveis, pode-se semear, plantar, en- xertar, cortar rs arvores, etc, indiíferen- temente no crescente oii mingoante da lua ;) . A's observações de homens tão emi- nentes, Mr. Willermoz, cuja experiência e saber são conhecidos e apreciados por todos os horticultores, quiz juntar uma serie de docmnentos pessoaes sobre a questão. Tendo-se entregado a grandes ensaios, faz d'elles um minucroso relatório. Consistem esses ensaios em sementei- ras de diversos legumes em enxertos de arvores fructi feras, em plantações de le- gumes, etc, e affirma que todas estas operações, feitas em diversas phrases da lua não lhe têem dado a mais pequena differença nos seus resultados. Aias ainda não é tudo; a estes docu- mentos, cuja authenticidade e força, são incontestáveis, vem ainda juntai'-se o con- tingente de provas que a sciencia mo- derna fornece para faser desapparecer a menor duvida, que ainda possa existir so- bre esta questão. A sciencia, com effeito, tem demonstrado que a lua não pode actuar nem pelo seu calor nem pela sua luz. Reco- lhida n'uma lente d'um metro de diâmetro e concentrada sobre um apparelho ther- mo-electrico, o calor é apenas sensivel. Em quanto á sua luz, é tão fraca^relativamen- te á que emana directamente a sua acção chimica é de tão pequena intensidade, que para se obter uma imaorem dacuerriotv- pada, e preciso muito tempo. Alem d'isso esta acção da lua sobre os vegetaes, se fosse real, exercer-se-hia necessariamente durante a noute , quer dizer, no momento em que as plantas em geral soffrem um affrouxamento na sua vegetação e tomara por consequência uma espécie de repouso. Isto seria uma singu- lar anomalia que é impossivel admittir. Esta-se ainda no direito de ajuntar, que esta influencia deveria variar segundo as phases da lua. Deveria ser maior nas épo- chas da lua cheia, menor na lua nova e durante o mingoante. Deveria diminuir também quando o tempo está encoberto e as nuvens se op- poem á sua acção. Ma?;, nem os sábios, nem os cultivadores notaram jamais simi- Ihantes variações. As únicas causas que activam a vegetação são o calor e a hu- midade, ao passo que o frio e a seccura a enfraquecem. Não é pois pelo seu calor nem pela sua luz que a lua pôde exercer uma acção qualquer sobre os vegetaes.» Apesar porém das observações que vimos colligindo , havei*á dados suf- ficientes para negar absolutamente a in- fluencia da lua sobre a vida vegetal? A similhante conclusão ainda não pôde che- gar a sciencia em matéria que merece ser estudada com attenção. A. J. DE Oliveira e Silva. (Conlinua) 10 JOIÍNAL DE HOiniCULTi:KA PKATKA TRIGO PALIllMLV VEKMEUIO DA AMERICA A Ihdliinlni vermelha dn Amerka, ou tiinibeni chamada Pal/iin/ui de inverno, é mu Trigo mollo do (jual se obtém uma das ineliiorcs qualidades de farinha, tanto para pào e bolacha, como para pastella- ria. U pào que produz esta farinha é mui- to abiscoitado, de excellente sabor e mui- to claro — : a bolacha e nuissas sào tam- bém muito folhadas, d'onde procede que este 7/770 é muito estimado e obtém gran- des preyos em quasi todos os mercados. Ha muitos annos que em Portugal se tem querido introduzir íi PaUiin/ia e se tem feito muitas experiências cm cultival-a, mas nào têem dado resultados favoráveis. Estou certo que estes maus resultados são devidos aos lavradores semearem a Pa- Ihinka muito tarde, isto é, na epocha em que fazem a sementeira do Tri'jo Ri- beiro, que é geralmente em fins de feve- reiro e principios de março; a sementeira da Palhinha ú.Q,\(i ser feita em meados de novembro e o mais tardar até principios de dezembro. Oauno passado a Companhia das Le- zírias mandou semear algumas impostas de terrenos d'aluviào de muito boa quali- dade (que é o terreno que este género de Trigo mais prefere) com Palhin/ta verme- lha da America, mas infelizmente esta se- menteira foi feita muito tarde (fins de fe- vereiro) e por isso nào deu resultado al- gum. Em fins de junho estava a ceara da Palhinha muito afilhada, era flor e muito promettcdora, mas como as chuvas acabassem, a. I\dhinh a SQCcon sem dar re- sultado algum , o que foi uma grande pe- na. Nào aconteceu assim com uma poryào que foi semeada no concelho da Gollegà, no mez de novembro, em terreno de alu- vião mas onde nào chegavam as cheias; este pequeno ensaio deu bom resultado tanto em producyào como em qualidade. Como a Palhinha afilha muito, é pre- ciso haver cuiilado em se semear muito raila para poder alastrar. Também na America ha uma outra qualidade de Palhinha, chamada da pri- maiera, c que se semeia em março, mas geralmente nào é tào bom Trigo como a Palhinha vermelha ou de inverno tanto em qualidade como em producçào e pe- so, e por isso nào tem tanta acceitaçào nos nossos mercados, como a denominada vermelha. Ha também um excellente Trigo \\\o\- le da Itália (antigo reino de Nápoles) que eu desejava muito que se experimentasse em Portugal nos terrenos d'aluviào, por que sendo o nosso paiz tào análogo áquel- le, estou certo que produziria muito bem. Este Trigo chama-se Barlella tem mui- to peso e produz uma farinha muito cla- ra e de excellente sabor, e também afi- lha muito; deve egvudmente semear-seem novembro ou principios de dezembro: hei- de fazer este auno um pequeno ensaio, e para o anno poderei dizer qual foi o resultado que tive, que espero seja favo- rável. Deveríamos egualmente ensaiar os Tri- gos molles da Califórnia e Austrália ({ue também sào Trigos de óptima qualidade e que estào obtendo bons preços nos mer- cados de Londres e Liverpool; estes Tri- gos devem dar-se bem em Portugal, por- que o clima d'aquelles paizes é muito anah)go ao nosso. Este anno vieram d'algumas íUias dos Açores (Graciosa e S. Miguel) porçòesdc Trigos molles de excellentes qualidades e que produzem uma farinha muito clara e de muita força; estou convencido que estes Trigos sTioúWxosãe Palhinhas da America semeadas n'aquellas ilhas. Nas principaes cidades de Portugal o maior consummo é do pào abiscoitado, ob- tido de Trigos molles, e por isso o preço dos Trigos rijos está muito reduzido nos nossos mercados, vendendo-se de 5(>() a 540 o alqueire, quando os melhores ribeiros se vcuílem de 070 a TOO reis. Por este exem- plo já vêem os lavradores agrando vanta- gem que ha nas sementeiras de Trigos molles e temos para nós que o estimulo dos seus próprios e mais legítimos inte- resses os levará a uma serie de experiên- cias em assumpto de que podem tirar mui- to proveito. GeOUGE a. WlIEELIlOUSE. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA n PER4 DUCHESSE DE MOUCHY Provámos o anno passado uma ma- yiiilica pêra que nos mandou o proprie- tário d'este jornal com o nome que ser- ve de epigraphe a esta noticia; fora crea- da nos seus magnificos viveiros de Villar 1 resta cidade. E' um fructo bastante volumoso, me- dindo alguns dos que temos presentes de O'", 25 a O'", 27 de circumferencia e cer- ca de O'", 09 de comprimento. A sua forma é, como se pode ver pe- la estampa que acompanha es^as linha?;, Fig. 3 — ^Pera Ducliesse de-Mbuchy — Desenhada no Horto Loureiro. turbinada, bastante obtusa e muito bo- juda; a polpa sumarenta, assucarada,. de gosto íigradavel, é levemente araarellada e pedregosa próximo ás lojas. A cor da pelle, que pelo seu brilho lembra o ver- niz, é verde azeitona, salpicada de pe- quenos pontos acastanhados, e rosada na parte exposta ao sol. Além da excellencia do fructo, tem um predicado que muito o recommenda: é o ser de uma maduração muito tardia. Pôde começar-se a comer era abril e du- ra em muitos annos até ao mez de junho. A pêra Duchesse de Mouc/ty, introdu- zida no nosso paiz pelo snr. José I\Iar- ques Loureiro ha dois annos, foi lança- da no commercio em França em 1866. Mr. Florentin Delavier. horticultor 12 JORNAL DE IIOUTICULTURA PRATICA em Beauvais, viu o pé-niae cm 1862 na propriedade do reverendo de Breteuil(Oisc), onde havia nascido espontaneamente. Trcs annos depois, submettia ]\[r. Delavier al- guns íructos á prova da commissào po- mologica da Sociedade de Horticultura de Pariz, e o relator, Mr. Michclin, ex- primiu-se a respeito d'ella («Journal de la Société d'Horticulture» — 18GÕ, pag. 413) nos termos que se seguem: «... Conclui mos por um fructo de que nos mandaram duas amostras no dia 8 de junho... Encontrou^fr. Delavier u*ama propriedade a arvore já adulta e provin- da de semente. Os fruotos eram de ura tamanho satisfactorio e de gosto agradá- vel, e parece-nos que ]\[r. Delavier pres- taria ura bom serviço á pomicultura pro- pagando esta variedade.» Mr. Delavier ainda diz parecer-lhe que o fructo tinha perdido parte da sua exccllencia em consequência de ter sido apresentado tão tarde; isto é, aos 8 do junho. Oliveira Júnior. O LAGARTO NA RAIZ DO MILHO Temos ouvido algumas queixas de' lavradores sobre este assumpto e notamos a sua grande hesitação em lavrar fundo certos campos por causa do desenvolvi- mento que isso promove dos lagartos roe- dores da raiz do il////í o. Demais, são varias as receitas empregadas, não para o pre- venir, mas sim para o aniquilar, sem o poder conseguir; em vista do que deve- mos entender que poucos sabem qual é a origem d'este mal. Nós também estamos na mesma ignorância, porém, felizmente, no pleno uso de nossa razão para reflectir sobre o assumpto e apresentarmos as nos- sas ideias, sujeitas ás contestações dos mais entendidos. Segundo o que temos ouvido a tal respeito, o apparecimento do lagarto, sen- do geral em alguns can)pos,n'outros ape- nas se torna notável em um ou mais pe- quenos pontos e em terrenos indistincta- mente altos ou baixos, pela repetição d'es- te mal nos mesmos sitios, o qual geral- mente se dá nas occasiões das lavras pre- cedidas de chuvas prolongadas e seguidas de calor forte, quanto mais profundas fo- rem maior será o seu desenvoivimeuto. Concluimos d'aqui que o sub-sólo con- tém a ovação, que exposta no calor do sol germina em lagarto, e que essa vida animal provém das humidades estagna- das do terreno. Em campos baixos, sujei- tos em toda a sua extensão, o remédio é fazer o tciTcno permeável por meio de cortes que esgotem as aguas da chuva; esses cortes costumam levar no fundo canos de barro topejados uns aos outros, em quanto que outros cortes de cada lado d'este cano, como uma espinha de peixe e cheios de cascalho ou areia grossa, per- mittirão ás humidades dirigirem-se ao cano de barro; tanto os canos como a areia ou cascalho são cobertos de terra, ficando o tei-renoliso: chamam a isto drai- nagcm, que significa escoaçào. Nos ou- tros casos, onde apparece o lagarto em pequenos pontos de um campo, alto ou baixo, tem de se romper a bacia que re- tém essas humidades, ou encher-se até á borda de qualquer material imperraeiavel, como greda, e com este nivelamento do leito não haverá a estagnação das humi- dades, que causa o mal de que se quei- xam. A. DE La Kocque. DA REPRODUCCÃO E IIVRlUDArAO DOS FETOS A grande familia dos Fetos é uma das majores e mais variadas do reino vegetal e também uma das quo mais contribuem para a ornamentação dos nossos jardins de inverno, das nossas estufas e dos nos- sos aposentos. Em toda a parte e sob a influencia de todos os climas se acham representantes d'esta familia. São era geral plantas her- báceas de haste horisontal e deitada no solo, algumas vezes curta e erecta, raras vezes se torna lenhosa, elevando-se a uma altura maior ou menor; e do raesrao modo que as Palmeiras, têem espiques simples, JOIiNAL DE HORTICULTURA PRATICA 13 sendo coroados por uma copa terminal de grandes frondes divididas. Só nos paizes tropicaes é que os Fe- tos se tornam arborescentes, e á medida que se caminha para o Norte diminuem as espécies e é menos opulenta a vegeta- ção. As folhas ou frondes dos Fetos tomam todas as formas; ora simples e acaules, ora chanfradas, ou lobadas, ou finalmen- te divididas quasi ao infinito em segmen- tos de variadas formas. As frondes são sempre enroladas em forma de cajado quando nascem, e, á me- dida que se adeanta o seu desenvolvimento, se são compostas, os segmentos secundá- rios, egualmente enrolados, desprendem-se e offerecem aos olhos do observador um efifeito deslumbrante. Desde alguns aiuaos que os Fetos estão e muito justamente, em grande voga, so- bre tudo na Inglaterra onde a predilecção por estas plantas subiu a tal ponto que ho- je em dia torna-se a feteira ura movei in- dispensável nos salões. Na Bélgica, porém, ainda não são vulgares as pequenas caixas envidraçadas que contéera collecções does- tes bonitos / é'ico > que se abre no momento da fecundação para dar passagem aos phytozoarios que vão ao fundo do archegono formar um glóbulo protoplasmatico. D'aqui se forma immediatamente um verdadeiro sporo fe- cundado, dando origem a um Feto que apresenta logo as frondes que o caracte- risam e distinguem das outras espécies. Se se deseja obter Félos hybridos, u JORNAL DE HORTICULTLliA PIÍATICA dever-se-ha semear os sporos das diffe- rentes espécies á mistura, em terra for- mada com detritos vegetacs e animaes combinados com tcn-a arg-ilosa c com bas- tante humidade, n'uma pedra molle e po- rosa ou ainda u'unia cortiça bem embe- bida em agua. Estando os prothallos pró- ximos uns dos outros, deve-se contar que os phytozoarios irão de um prothallo a outro e que produzirão cruzamentos. O prothallo que é coberto de pcllos na face infera, tem suspensa n'estes, no momento da fecundação, uma gottasinha liquida na qual se movem os elementos fecundantes. Ora se no momento oppor- tuno PC cobrirem de uma pequena quan- tidade de agua, tendo os phytozoarios mais fiicilidade para transportar-se de um prothallo a outro, ha mais proba- bilidades de bom êxito, porem este ser- viço requer a maior vigilância e cuidados. Uma submerção de algimias horas é bas- tante, mas é preciso que a agua tenha a mesma temperatura da atmosphera em que os prothallos se formaram, porque se a agua fosse mais fria destruiria os phytozoarios, o que traria comsigo a perda de todas as plantas. Acontece frequentemente que o horti- cultor semeia fructificaçòes de Fetos sem resultado. Isto é devido a ter-se colhido sporangios vasios que não podiam pro- duzir prothallos, em logar dos sporos. Quando se pretendem colher boas «se- mentes» é pouco tempo depois do indu- sio ter-se levantado; e pode-se reconhecer se eíFecti vãmente o são, lançando na pal- ma da mão ou sobre papel branco algum d'aquelle pó e com o auxilio de uma len- te reconhecer-se-ha a presença dos spo- ros, que são os únicos órgãos capazes de germinar. Acontece algumas vezes que os pro- thallos apodrecem e desapparecem, o que se deve attribuir a regas de agua fria ou a uma mudança rápida de tempera- tura no momento da fecundação. Os Fdos pcklem ser semeados em to- das as estações, mas é preferivel a pri- mavera em caixa coberta,huraida e quen- te. Se não houver interesse em obter-se hybridos, mondam-se os prothallos para terra de urze e folhas logo que tenham ad- quirido uma certa consistência e deixam- se assim até que appareçam as primeiras frondes. Então transplantam-se para pc- queninhos vasos e á medida que vão cres- cendo mudam-se para vasos maiores con- servando-os á sombra e n'uma atmosphe- ra húmida. Muitos Feios a]ém de se multiplicarem pela semente , podem propagar-se pela divisão das cepas, pelos rebentos, bulbi- Ihos e emfim pelas escamas do tronco. Os seguintes estão n'este caso: Pela divisão — Acrostichuni, Adiau- thum, Aspidium, Asplenium, Ceratople- 7'is, Davalliaf Drjimor/lossiim, Gleichenia, Gf/mnorp^amme, Imen oph ilhim , Merlensia Oteandrn, Osmxinda, Plalylotne, Polypo- dinm, Polijsticum, Pleris, Trichomanes, Scolopendriwii^ Slrio])lcris, etc, etc. Por bolbilhos ou plantas adventicias que se tractam como os Fetos provindos de semente — Asplenium, Conopteris, Ne- phrodium^ Oleandra, Polysticum, Wood- wardia. Por escamas que se tiram da base das folhas e que se criam collocando-as sob abrigo quente e em terrinas de terra areenta — Muratlia e Arr/iopleris. Gand — Beliiica. E. Dk Coninck. I.VUANJEIUV DO JAPÃO A Laranjeira do Japão não difere da Laranjeira commujti senão no tamanho.(Js chins que a cultivam em grande escala, designani-na pelo nome do Kinn-houal. Transportada da China, haverá vinte annos, pelo celebre collector inglez Ro- bert Fortune, é ainda hoje mui pouco co- nhecida na Europa, se bem que existam alguns exemplares nas estufasde Ingla- terra. E' um arbusto de 1'" ,00 a r",50 de altura, muito raras vezes maior; e pôde, por meio da poda, formar-se com elle uin arbusto anão de O'", 40, a O'", 50 de al- tura, sem lhe estorvar uma abundante fructificação. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 15 Tem as hastes espinhosas como as Laranjeiras ordinárias; as suas folhas são ovaes, luzentes, d'um verde escuro, per- sistentes, e com os peciolos alados; as suas flores sao brancas e perfumadas , axillares, e ordinariamente solitaxúas, con- tendo dezoito a vinte estames. O fructo é uma baga redonda ou li- geiramente ovóide, da grandeza de uma bella ginja, mas inteiramente similhante a uma pequenina laranja, e amadurece em dezembro e janeiro. A sua polpa é doce e assucarada, e a casca tão fina que não vale a pena de a descascar . Este fructo come-se inteiro como as cerejas e groselhas. O que po- rém lhe dá maior valor é prestar-se a ex- cellentes conservas , que o commercio transporta hoje para as grandes cidades da Europa e da America. Além dos méritos referidos, ainda junta o de resistir melhor ao frio do que a Laranjeira commum; devendo por isso pi'osperar muito bem debaixo do nosso clima. Esta bella planta não só é uma for- mosa arvore de fructo, mas de ornamen- to e seria por certo uma bella acquisição para as nossas culturas. Camillo Aureliano. CAIXA PARA PLANTAS As caixas para plantas são um impor- tante objecto da jardinagem, que não é muito fácil obter com todas as condições requeridas para o seu bom tractamento. Umas pcccam por muito pesadas, outras por falta de elegância; algumas emfim, e Fig. i — Caixa para plantas. — Fechada. este defeito é o mais grave, pelo seu modo de construcção tornam-se muito diííiceis para a transplantação e tractamento das plantas. Parece -nos que vemos remediados to- dos estes defeitos na caixa desenhada nas figuras 4 e 5. Estas duas estanjpas mosti*am a mesma caixa nos dous estados em que se pode apresentar, fechada e aberta, para exami- nar as raizes da planta ou transplantal-a. Segundo o que deprehendemos da sua inspecção, a caixa é formada de duas partes, unidas pela exterior por uma dobradiça , e pela interior por uma es- pécie de corrediça que encaixa n'uns an- neis de metal. Arcos de ferro introduzidos pela par- Fig. 5. — Caixa para plantas — Aberta. te inferior e superior, á maneira d'uma pipa, tornam esta peça ainda mais sólida. Parece-nos que são bem patentes as vantagens que se colhem desta espécie de caixas; a todo o tempo e a toda a hora podem examinar-se as raizes da planta ou mudal-a sem o menor damno. Para isto não temos mais do que ti- rar os arcos, levantar a corrediça e abrir para o lado as duas partes. Vista a planta, colloca-se tudo no mes- mo estado, fechando primeiro a corrediça e mettendo depois os arcos. Accresce que reúnem circumstancias muito importantes: são ricas, elegantes e baratas. São fabricadas pelos snrs. Dick Rad- clyfFe & C.*'. A. J. de Oliveira e Silva. 1G JORNAL DE IIORTICLT/rURA PKATICA CUROPslQ HOiaiCOLO-A(;iUCOLA As vanta2:ens do uso da cal na agricultura eram de ha muito conhecidas, o que nuo quer todavia dizer que a sua applicaçào se fizesse tanto quanto o estào reclamando os nossos terrenos faltos de aquellc elemento de vida. Directa e indirectamente concorre a cal para algumas das funcções mais im- portantes da physiologia vegetal. E' não só alimento, mas converte em alimenta- ção muitas das matérias, que existem inertes no solo. Está hoje demonstrado á evidencia que 03 vegctacs, que se empregam na culi- nária, e egualmcnte as fructas, não têem tão boas quuhdades, tão delicado sabor, se o terreno onde forem produzidos se achar pobre de cal. Os nossos lavradores fazem em geral grande despeza com adubos e não colhem resultado correspondente, porque não sa- bem fazer a devida escolha e o devido emprego dos adubos, onde é indispensá- vel que entrem certas matérias, como a potassa, a soda, a cal, oaluminium,etc. Em razão do nome, ha quem pense que a cal aquece o que está frio e que divide o que estii muito apertado ou com- pacto. Isto não passa todavia de um precon- ceito. Convençarao-nos tamsómente de que a cal convém a todos os terrenos, em cu- ja composição não entra, sejam ten^enos de argilla compacta ou de areia siliciosa, schisto ou granito. A cal deve fazer parte do sustento dos cereaes, das plantas industriaes e dos legumes. Não funcciona somente como clemeiít') nutritivo mas tainbem como sub- stancia para decompor c ainda como sub- stancia própria para impeslir o mau ef- fcito dos ácidos e destruir os insectos no- civos. Quando a cal é destinada a terrenos cheios de detritos vegetaes, convém em- pregal-a viva ou cáustica quanto pos- sível e na razão de 100 a 120 hectolitros por hectare, c quando é destinada somen- te a corrigir, a neutralisar a acidez d'ura terreno ou a enriquccel-o do elemento cal- careo, ou ainda quando se deseja mistu- i'al-a com os estercos, é melhor empre- gai-a extincta. De 60 a 80 hectolitros de cal extincta chegam geralmente para um hectare. Em França costuma-se fazer uso da cal de oito em oito annos, porem Joi- gneaux opina que seria melhor fazer esta operação com menor inter vallo: de três ou de quatro em quatro annos por exem- plo, e na quantidade de 30 a 40 hectoli- tros por hectare: d'este modo perder-se- hia menos cal e não haveria um desem- bolso avultado por uma só vez, o que é mui- to para ser attendido. — Mr. S. D. Baldwin, da Califórnia, obteve do Scirpus lacustris Wild., que cresce abundantemente, tanto n'aquelle paiz como na Europa, uma substancia ex- cellente para se fazer papel grosso para imprimir e fino para escrever. Empregando as arvores cortadas em junho, obteve 50 a 60 0[0 de uma massa que era tão fina e forte que nem a pro- veniente do melhor algodão. Segundo a opinião dos homens com- petentes, tanto da Europa, como da Ame- rica, é tão favorável o preço por que se obtém esta massa, que desde já se pôde assegurar o mais bello futuro a esta re- cente descoberta. — Um cavalheiro nosso conhecido e que se occupa dos assumptos horticolas, como verdadeiro amador e apaixonado de Flora, esci*eve-nos uma carta que decerto destinou á luz da publicidade, porque nós nada temos com os negócios da mu- nicipalidade portuense ou com o jardinei- ro da camará, pessoa a quem aliás tribu- tamos a consideração quo merece pelos serviços que tem prestado ao paiz na qualidade de horticultor. Nas cidades onde o progresso tem lan- çado as suas raizes mais profundamente do que n'este «grande aldt^ão», como Garrett chamava á cidade da Virgem, ha um jar- dineiro que tem a seu cargo os passeios públicos c cuida d'ellcs seriamente, por- que é convenientemente remunerado e não tem outros encargos que desviem a sua attenção. Mas, os representantes do JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 17 Porto compenetrarara-se de que a jardi- nagem é urna cousa secundaria, indigna das suas attençoes, e por consequência era caso para dizer-se, em que não fosse se- não ironicamente: . . . quem ha, qae por fauia nào conhece As obras portiiguezas singulares? De boa mente juatariamos pois a nos- sa humilde voz á queixa do nosso amigo; mas para que perder tempo se a jardinagem no entender da nossa municipalidade é uma chimera? N'este caso, damos tamsó- ; mente logar á carta que recebemos e po- ; mos a nossa penna de parte. | Mau caro Redactoi- — Fui um cVestes dias ao Jardim da Cordoariu ver os cysnes que S. Ma- j gestade se dignou oftertar a e^ta cidade. E' pre- 1 sente de príncipe, e de príncipe iJlustrado e ama- i dor do bcUo; é quanto basta. 1 !áào duas formosas aves como eu nunca vi. i Deixemos porem os cysnes, divagarem placida- raente n"aquellas aguas ci-3's(allinas(Vj, e vejamos se o jardim, aquelle malfadado jardim, é digno de tào bellos hospedes. Eu, amigo, nào creio nas sinas nem nas influencias planetárias sobre os indivíduos e so- bre os acontecimentos; mas comtndo parece-me que o digno vereador que teve a ideia de fun- dar aquelle jardim devia, em antes de a por cm pratica, ter consultado as sybillas e tirado o ho- róscopo ao seu pensamonto! Ah! que negra dc- cepç.ào nào teria elle, quando a feiticeira, invo- cando os espíritos, e depois de ter traçado os fa- tídicos hierogiyphícos, lhe predissesse cousas tre- mendas, assustadoras, de fazer arripiar as car- nes e 03 cabellotí só de ouvil-as quanto mais de vel-as. Fallí^mos serio. Quando nos disseram que a camará tinha contractado com um doa horticul- tores d'e3ta cidade o tractamento dos jardins públicos, exultamos. íamos emíim deixar de ver aquelles mara- vilhosos rendilhados; aquellas notáveis inscrí- pções de relva e Papagaios; iamos em siimma ter um jardim bem tractado, bem disposto, com bellos grupos, esplendidos ai-relvados,bem apara- dos, bem unido-, emíim um jardim bien soigné. Mas engana no-nos; foi mais uma cruel de- cepção! E' verdade, devemos confessal-o, que ha mais algum cuidado cora o jardim: as relvas fo- ram semeadas de novo, fizeram-so alguns gru- pos, etc. Mas de que valera esses pequenos me- lhoramentos se vemos ainda praticar cousas, que nos mostram a falta de mào verdadeiramente cuidadosa, qae se interesse por aquillo e que, seguny» .3 .;i/ em piírase vulgar, soubesse do seu oíiicio. Citemos alguns exemplos: A relva, que foi pessimamente semeada, apresenta-sc em alguns sitios demasiadamente crescida e basta, ao passo que n'outros escasseia. Demais, precisava já de ser segada, nào com as nossas foucinhas que cortam muito irregular- mente, mas sim com uma segadeira mechanlca, que corta rente, direito, e calca ao mesmo tempo. Entre nós ainda se nào sabe cuidar dos arrclvados. Na Inglaterra onde dèia .systema de ornameníaçào est.i levado ao non plus ultra da perfeiyào, empregam-se numerosos cuidados, \h segando, j i calcando, já impedindo o nascimento das más hervas, etc, etc, mil cuidados emfim, que feitos a tempo e com tempo, são facillimos e de pouca despeza. Outro exemploiQual seria a ideia que presi- diu á plantação d'aquelle Teixo, á entrada do jardim pela rua do C!alvario ? Pois o exímio plantador do Jardim do Campo dos Martyres da Pátria ignorará que a Arau- cária, que está próxima, é uma arvore de alto fuste e que dentro em pouco tomará todo o espa- ço onde o Teixo tem de desenvolver-se? Qual das plantas quererá depois cortar? Talvez a Araucária'.... Melhor seria que cortasse mas era a Acácia rnelanoxylon, que já estraga bastante a infeliz Conifera. Ainda mais: Para que será uma estacada de rústicos e indecentes paus, que está de volfa d'uni grupo, creio que de Salvia bplendens, junto ás Wiganãias? Desconfiamos que é para abrigar as Salvias, pondo-lhe depois esteiras por cima. Eu, no logar do illusstre jardineiro, cobril- as-hia antes com canas de Milho, como fazem os nossos lavradores com os alfobres de cebolo. Era talvez mais elegante!.. Meu amigo, eu tinha muito mais que lhe di- zer; mas esta carta já vae longa e o tempo apres- sa-se. Vou terminar portanto, mas em antes ha de permittir-me que faça a seguinte observação. Houve alguém que n'este mesmo jornal pro- póz qiie se levantasse um monumento ao jar- dineiro da Cordoaria, no próprio campo das suas façanhas. Eu subscrevo desde já para o mesmo fim, com a seguinte condição: que o monumento seja levantado no mesmo logar onde hoje está um monte nào sei de que, encoberto por Camel- lias, do lado de baixo da grande avenida, tíeria o meio de vermos aquillo d'alli para fora e os fre- quentadores do jardim poupariam o trabalho de ao perpassarem, ter de levar o lenço ao nariz. — Era consequência da jubilação do snr. conselheiro dr. Antonino José Rodri- gues Vidal, foi nomeado, pela faculdade de philosophia, director do Jardim Botâ- nico de Coimbra o snr. conselheiro dr. António de Carvalho Coutinho e Vascon- cellos e seu substituto o snr. dr. Júlio Au- gusto Henriques. — Se ha paiz em que se empregue limitado numero de plantas para borda- duras, é de certo no nosso. Quem percor- resse ha quatro ou cinco annos os nossos jardins, não encontraria senão o Biixiis sçnipervirens (Buxo anão) desenhando as diversas figuras do jardim. 18 JOKNAL DE IIOliTICULTUHA PIÍATICA Kus últimos tempos porém tcem-sc adoptado umas quatro ou seis plantas que vieram tirar aquella permanente monoto- nia; entre ellas poderemoá mencionar a Gauinia spbmlens, a Hera, o Morannuei- ro, a Violeta e a Centáurea cunditUssima. A introdncçào d'estas plantas já loi um bom passo para o gracioso aspecto dos jardins. Suggcriu-nos porém esta noticia um artigo (Io Mr. May, publicado ultima- mente na «Kevue ííorticoIe»sob aepigraphe — Bordaduras e tapetes — . Neste artigo ()ccupa-i;e o seu auctor das plantas mais adequadas a preencherem esse fim. Mr. May devido as plantas próprias para bordaduiws em duas series, comprc- liendendo a primeira as plantas que se elevam um puuco acima do solo e que tendo Caule persistente podem segurar o terreno. A segunda comprehende as que la- vram ou arrelvam, mas que, em conse- quência das suas pequenas dimensões, apenas podem sor empregadas para deli- mitar as alças, os açaiates ou os massiços pouco elevados. Eis pois as plantas que o auctor al- ludido tem como próprias para formar bordaduras de escora ou sustentação. Kil-as: LiijHfitnim vulgare, Buxns fntíicosa, diflfc rentes variedades de Heãera helix, husmariniis o/firinalis , Ili/pericuni ca- lycinum, T/i ijinua viilijaris, Teucrium cliamwdnjs, Iberis scmjieruirens, Jris Florentina, L germânica, Santolina to- menlosa, i'. pennala e S. chamoicyparis- sus. Eis a segunda serie — Plantas vivazes de caules aunuacs próprias a formar bor- daduras. — Aubriclia dclloidea, Bdonica vnlyaris, Ajwja rcjdans, Alyssiim saxa- lile, Dianllcas deltóides, Oi iyanuni majo- rana, Verónica c/iamwdrys, V. Jacqnini, V. cuneifolia, difForcntos variedades de Prirnnlas de flores dobradas o singelas, Sideriliis lunala, muitas plantas de folhas esbranquiçadas, taes como: Penedo marí- tima, Centáurea candidissinui, Gnaplialium lanatum, etc. A esta já longa lista poderiamos jun- tar innumera quantidade de plantas^ que, como bordaduras, representariam optimamente este papel. Não será pois ocioso recoramendar aos amadores algu- mas Clematis e entre ellas uma ultima- mente lançada no nosso mercado — a Cle- matis Jachmani. — Um dos nossos leitores, o snr. barão da Torre, escrevendo ha tempos sobre os resultados colhidos com o emprego dos adubos chimicos, exprimia-se assim: — Semeei este auno Triçju t emparão, nas terras que o auno passado tinham leviiilo o adu- bo cliimico, e o resultado é o mais lisongeiro pos- sível. Os Trigos estão bellos, muito especialmente aqucllas torras que foram semeadas de Tremez e que nada produziram o anno passado era conse- quência da secca; algumas d'cstas terras têcm Triyo tào furte, que, acamando em verde, pou- co grào vem a ter provavelmente; deviam ter si- do semeado maib tarde e menos basto. As terras que me deram 13 a 10 sementes de Cevada trcmezinhao auno ])assado com o adu- bo (cousa inaudita), este anno tem bello Trigo^ mesmo por serem terras menos fortes do que a já acima referida que é na Torre. O adubo ohimico nào ha duvida alguma que nos convém, mas também nào ha duvida que precisamos ainda maior liarateza no custo para nos jiodcrmos servir d'elle em larga escala. — Sahiu a lume ]io mez passado o «Alinanach do Horticultor» para 1873 (111 armo) de que é auctor o snr. A. J. de Oliveira e Silva, Como alguns dos leitores devem de- prehender pelo titulo, é este livrinho a se- quencia da publicação que nós princi- piamos em 1871 e que por motivos de saúdo e accumulação de traballio não po- demos redigir este anno. As pessoas que costumam compulsal-o nada perderam com isso, antes lucraram e muito, porque toem hoje um guia para os seus traba- lhos agricolo-horticolas o mais correcto entre nós, ou pelo menos de que tenha- mos conhecimento. Aqui poderíamos tecer merecidos elo- gios ao snr. Oliveira e Silva em quem sobejam merecimentos, segundo o com- provam as paginas d'este jornal. Um motivo porém nos embarga, e é que a ainisadc que nos dispensa o levou a dedicar-nos este seu primeiro traba- lho; e portanto qualquer cousa que dissés- semos, além do cordeal agradecimento que lhe dirigimos pela sua benévola attenção, poderia ser levado á conta de favor ou comprimento. Confiamos comtuJo que as pessoas JORNAL DE HORTICULTUEA PRATICA 19 que lerem este interessante opúsculo não darão por perdido ou por mal aproveitado o seu tempo. — No ultimo numei-o d'este jornal de- mos conta das pesquizas que havia feito em Hespanha sobre o Phylíoxera, o snr. D. Manuel Martorell j Pena, pesquizas que o levaram á conclusão de que não existia na província da Galliza o terrível aptero. Ao passo porem que do N. O. do reino visinho nos trazem a tranquillidade, escreve-nos o snr. Felismino Llorente y Clivares, lente de economia rural, em Valência, uma carta de que vamos dar um extracto para que os nossos leitores estejam ao lacto do que se passa relati- vamente a este momentoso assumpto — a nova moléstia das vinhas. Meu prezado amigo, snr. Oliveira Júnior. \ . Entre as varias communicaçòes que recebi da Catalunha, especialmente de Tarragona, paiz essencialmente vinicola, ha algumas que me ins- piram serias duvidas sobre a existência do Fliyl- loxera. O snr. Montolin, rico proprietário, diz-me que ainda nao tinha observado a presença do in- secto, e que níio acreditava na sua existência, nào obstante sabor que as vinhas da povoação de Morell soíixem uma doença que lhes causa a morte. Faz a descripçào, e diz que a moléstia co- meça a apparecer n'um dos braços da Videira, e que faz seccar o earmeuto e o fructo. íso anno seguinte ataca os outros braços, e acaba por matai- a cepa. Diz-me também que nada encon- trou nas raízes, o que o tranquillisa, mas que a parte lenhosa, sobre tiulo no tronco e na inserção dos braços, se converte cm vuna substancia pouco consistente, húmida, pastosa, a qual depois se pul- verisa. A casca parece estar em putrefacçào. Em um questionário cpie lhe remetti, antes de receber estas explicações, indicava-lhe al- guns escalerecimentos para mandar-mo peda- ços de raízes onde podesse habitar o insecto e de bom grado me mandou uma cepa morta pela moléstia, e que chegou ao meu poder com gran- de atrazo,por causa dos transtornos nas vias-fer- reasprovenientt-s da insurreição, acontecendo que por vir mal emjjacotada, estava secca. Vi que as suas raízes principaea tinham sof- frido também graves alterações, perdendo com- pletamente a epiderme, e sem duvida isto é a causa das modiíicaçues e morte dos braços da planta; porém, nào obstante esforçar-me por en- contrar o PhyUoxera,com o auxilio de fortes len- tes, e examinar alguns pedaços com um pequeno microscópio, nada achei. Fiquei um tanto desorientado, quando ob- servei que a cabcUcira de raizes pequenas, nas- cidas na superfície, nào apresentavam nodosida- des nem aspecto do ter sofirido muito; mas nào se deve estranhar a ausência do insecto, estando nós em meiados de novembro, e a planta ter per- manecido quatro ou cinco dias ao ar, mal coberta com uma esteira, depois de ter sido arrancada sem as precisas precauções. O snr. Montolin diz que a moléstia de que soíFrem as suas Videiras é contagiosa, porque se tem estendido para as immediatas e que as que mais têem solrrido acham-se plantadas em terra de excellente qualidade , a qual antes de ser vi- nha tinha sido pomar, cuidadosa e abundante- mente adubado. Aquelle cavalheiro (o snr. Mon(oliu) suppõe que a moléstia seja devida a um excesso de vida que dá em resultado uma como apoplexia da planta. D'este exccrpto conclue-se que existe em Hespanha uma moléstia que mata as Videiras sem comtudo se verificar ao cer- to a presença do PhyLloxera vasLalrix, o que também acontece em Portugal. No Baixo Corgo e em Murça tivemos occa- sião de observar isto mesmo, apresentan- do-se pequenas manchas aíFectadas como as que produz o Phylloxera. No Kelatorio tracta-se largamente esta questão e portanto é inútil anteciparmo- nos a dizer summariamente o que em bre- ve se poderá ler acerca das pliases e par- ticularidades que oíferece a intricada ques- tão da nova moléstia das vinhas. — Decretou o governo em tempo a crea- ção de três estações agronómicas, sendo uma em Lisboa, outra em Coimbra, e a terceira no Porto. Era Lisboa sabemos nós que foi immediatamente fundada, es- colhendo-se para isso um espaço de 4:000 metros quadrados de superfície, perfeita- mente exposta e muito egual. Em Coimbra, segundo informações que temos, já se escolheu local e até nos consta que a junta geral concorrera ou promettera concorrer com alguns meios para a sua fundação. No Porto, pelo menos que nós o saiba- mos, ainda se não deu um passo para a reali sacão d'cste progresso! E' notável si- milhante descanço, ou permitta-se-nos a phrase, despreso por uma instituição deque tantos e tão immediatos benefícios adviriam á agricultura. Não é novidade para ninguém as van- tagens e bons resultados que estas esta- ções tem dado n'outros paizes. Pois se lá, onde a agricidtura está certamente muito mais adeantada do que entre nós, se estão fundando todos os dias novas estações, não só nas capitães dos 20 JORNAL DE TIORTICULTLTUA PRATICA clistrictos mas tambíMii cm al;>;uma3 villas de pequena importância, porque motivo se descura a fundação d'esta eschola pratica na seí^imda capital do reino ? Uni campo d'cxperioncias é um livro aberto onde todos vão lor praticamente as theorias de que duvidavam; alli resolvem- a acquisição de plantas e sementes por diminuto preço, e emfim envidar todos os esforços para que os ramos correlativos d'aquellas irmãs gémeas — a horticultura e a agricultura — se engrandeçam no nosso paiz. Para levar a eífeito este pensamento se c e?tudam-se todas as grandes questões! convidamos alguns cavalheiros em quem agrieolas, que o lavrador pessoalmente reconhecemos competência e boa vontade despresa por falta de meios. j de se ^tornarem prestadios ao paiz; e no N'uma hora de experiências aprende- ' dia lõ de dezembro, dignando-se muitos 86 mais do que na leitura de muitos dias. : cl'elles annuir ao nosso pedido, reuniram- E'uma necessidade urgente a creação se n'esta redacção, da estação agronomica-expcrimental 'do Em breves palavras foi exposta a indo- Porto, necessidade que todos aquelles que, leda sociedade projectada e Hdos uns esta- verdadeiramente se interessam pelas cou- ^ tutos que haviam sido formulados pelo snrs. sas agrieolas devem reconhecer. Exora- j D. Joaquim de Carvalho Azevedo Mello mos pois 03 poderes públicos, ou a quem e Faro, digno representante da casa da Soen- corapctir a realisação do decreto para que |ga, e A. J. de Oliveira e Silva, illustra- o ponha em pratica, e terá concorrido ^ do collaborador d'este jornal. Depois d'al- com um notável melhoramento para a agri- ; gunias considerações por parte dos cava- cultura do districto do Porto. jlheiros presentes, resolveu-se nomear uma — O barão F. von Mueller diz na sua commissão composta de três membros para obra «Fragmenta Phytographiae Austra- liae», com cei"ta reserva, que se tinha descoberto na Austrália o Cocofi mi- ei fera, mas que não tinha a certeza de que houvesse sido importado. Agora vemos nós, por uma carta de Queensland e íir ultimar este serviço. Foi escolhido para o logar da presi- dência o snr. visconde de Villar ÃUen. São vogaes da commissão installadora os seguintes snrs: Gonçalo Guedes de Carvalho, Christiano Van-Zeller, Gusta- mada por :Mr. Thozet que outro exem- vo Ferreira Pinto Basto, Vasco Ferrei- plar dVsta planta tinha sido encontrada ra Pinto Basto, dr. Henrique Carlos de cm Cawaral a 36 Ie2-ua3 de Rockham- Miranda, Joaquim de Carvalho Azevedo pton n'um logar para onde, com certeza, esta Palmeira não fora levada pela mão do homem. Em vista d'esta descoberta pode-se di- zer, com a convicção de que se não erra, que o Cocos nucifera pertence também á rica Flora da Austrália, sendo que até ao presente se lhe dava como pátria a Africa. Mello e Faro, José Marques Loureiro, An- tónio José de Oliveira e Silva, Augusto Luso da Silva, António de La Rocque, dr. António Luiz Ferreira Girão, Arnal- do A. Pereira de Faria, e Oliveira Júnior. Urgências de serviço nos obrigam a fechar esta Chronica antes do dia 22 de dezembro, dia em que deverão ser apre- -Por intermédio do dignissimo reitor sentados os estatutos para serem discuti- da Universidade de Coimbra, o snr. vis- dos cm sessão. Ignoramos o que se re- cende de Villa Maior, cxpediram-se para solverá. Oxalá que se consigam os fins as Colónias 1 GO plantas do Chloroxylon (\i\e todos desejamos e que a nova «So- sivielcnia (Pau setim). | ciedade Horticolo-Agricola» não tope nos Estas plantas sahiram do Jardim Bo-| proverbiaes obstáculos que aqui impecom tanico de Coimbra. toda a instituição profícua aos verdadeiros — Alguns dos leitores já devem saber interesses do povo! pelos jornaes diários que se tracta de fun dar n'csta cidade uma associação desti- nada a desenvolver o gosto pela horticul- tura,propugnar pelo fomento c prosperida- No próximo numero daremos conta do que occorrer, tendo fé que não seremos obi'igados a sepultar, mortas cm flor, as esperanças que hoje, mais que nunca, in- deda agricultura, zelares seus interesses, tima e calorosamente alimentamos, esclarecer os associados, proporcionar-lhes 1 Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 21 IDESI POLYCÀRPi HOfíT. Na revista que fizemos n'este jornal 1 Noronha e Faro— o notável cultivador de da exposição promovida pela Real Asso- j Begónias, de Lisboa, ciação Central da AgTÍcultura Portugue- j Depois de termos feito menção d'ella za, em Lisboa, assignalamos iima nova 1 na supradita revista, dêmos noticia a seu planta pertencente á familia das iJ/íníTÍff- respeito no nosso «Almanach do Horticul- ceas, e cuja introducção no paiz se deve tor» para 1872, noticia demasiadamente ao snr. José IMartinho Pereira de Lucena! breve para que se podesse fazer ideia Fig. G — Idesia polycarpa — Ramo com fructos. do mérito do vegetal fructifero japonez — a Polycarpa Maximowiczii, ou Idesia po- lycarpa, sendo este nome o que se tem ado" ptado, porque c justamente o que lhe deu o botânico russo Maximovvicz. Um rotulo escripto pelo próprio pu- nho d'este botânico diz assim: ('Idesia polycarpa — Única arvore cul- tivada, de 40 pés de altura e 5 de gros- sura. Ti'onco direito, cabeça ampla — Nip- pon, 5 de outubro de 1862, perto da po- voação Futsi-Sava, nas visinhanças do monte Futsi». No dizer de !Mr. Carrière, parece Vol. IV— 1873 Fig. 7 — Fructo de tamanho natural. que a, Idesia polycarpa ,iannca, attingira em França tão grandes dimensões. No que respeita a Portugal, divergi- mos de tão valiosa opinião, porque todos sabem como as plantas do Japão prospe- rara geralmente bem entre nós. O tronco da Idesia polycarpa é direito e robusto ; os ramos, que são patentes, emit- tem ramificações reunidas que formam uma espécie de falsos verticilos. As fo- lhas são caducas, alternas, cordiformes, longamente pecioladas. O peciolo é gros- so, de 20 a 30 centiraetros de comprido, cylindrico, vermelho, tendo a alguma dis- N." 2 — Fevereiro 22 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA tancia cio seu ponto de partida duas glân- dulas salientes e allongadas. Algumas ve- zes tem mais duas ou três na inserção do limbo, que é fino e muito macio, attingindo até 25 centímetros de comprimento sobre cerca de 20 de largura, dum verde mui- to glauco, esbranquiçado por baixo, mais ou menos profundamente de?iteado nos bordos, acuminado no vértice e com ner- vuras avermelhadas. Us fructos (lig. 6 e 7) são bacciformes, pediccllados, de 10 a 12 milli metros do diâmetro, dispostos em cachos bastante compactos, de 20 a 30 centi metros de comprimento, carnosos, avermelhados ou tirante a morenos. Esta espécie, segundo Mr. Carrière, apresenta na sua vegetação uma particu- laridade bastante i'ara, posto que também se encontre na Magnólia f/randlfíora, já es- palhada por todo o paiz. Consiste no de- senvolvimento do gomo inferior que toma proporções muito mais consideráveis que os outros, tendendo a alargar incessan- temente a cabeça com prejuizo do eixo central, que porisso mesmo toma um desen- volvimento insignificante e como atrophia- do, o que explica a seguinte phrase empre- gada por Maximowicz para caracterisar o fácies geral da arvore — coma ampla. Para obviar a este inconveniente, a poda virá em auxilio do horticultor. Cortem-se os gomos iníei'iores á me- dida »pie se forem desenvolvendo e a plan- ta será forçada a elevar-se. Mr. J. Linden, actual proprietário da « Ilbistration Horticole » , publicava o seguinte annuncio no «Gardener's Chro- nicle» de 30 de niaiu de 1868: aPolycarpa Maximowiczii — Arvore fructifera e ornamental rústica. Do norte do Japão. Planta ornamental de primeira oi'dem e que produz, segundo se diz, fru- ctos parecidos com ameixas». Temos ainda a esperar alguns annos até que possamos fallar dos fructos, de visii e de giishi ; comtudo desejamos ver a arvore nos nossos jardins , onde é de crer que prosperará como a Eríobotrya japonica, ai-vore de excellentes fructos, consoante já o devia ásua illusíre prosápia, sendo oriunda do Celeste império — a China! A Idesia pobjcarpa fructifieou em 1871, era Angers, no estabelecimento de ^Ii'. André Leroy. Oliveira júnior. Dl INFLUENCIA DA LUA SOBRE A VEGETAÇÃO (1) Se é incontestável que o phenomeno das marés do oceano é o resultado da at- tracção lunar combinada com a do sol (2) é impossivel admittir que esta acção pos- sa obrar d 'um modo qualquer sobre a ve- getação. (l) Vid. J. II. P. vol. IV, pag. 7. ("2) Vide Ara.iíO « Astronoinie popiilaire» — Dc3 ^larí-es, tom. IV, pag. lOõ. O «Diet-ioiíario das Sciencias naturacs»de Levrault,toino XXIX, pag. ^217. _ Nós indicaremos emfim áquelles que nào estào suflicientenjcute iniciados nos priíicipio.s abstractos da scicncia, >itn excellente livriulio intitulado "La Terrd), fazendo partoda i'ScieiKc elémpníaire», tractado i)ara u,-o de todas as es- cholas, e das pessoas fstiauhas á sciencia, onde o auctor e.xpòe, com grande simplicidade c per- feita lucidez, as grandes qucstòes concernentes á organisacjào da torra, ao al< anee de todas as in- telligencias. O phenomeno das marós é tractado a pag. 2r>5 da precitada obra — «La Terre.» Depois d'e3ta leitura, nào é permittido ter a menor duvida sobre a causa das marés; ellas sào devidas á attrac(;ào exercida pela lua e pelo sol sobre o oceano. Existem, dizem, marés atmospheri- cas análogas ás do oceano, produzidas talvez pelas mesmas causas e ás quaes não seria inverosimel attribuir uma in- fluencia qualquer sobre a vegetação. Mas estas marés aerias são tão fracas que foi preciso á sciencia longas observações para as reconhecer. ]\ír.Aragodizque a acção attractiva da lua px-oduz eíFeitos muito duvidosos sobre a nossa atmosphera. Os adeptos d'e3ta influencia deviam primeiro indicar-nos de que maneira oUa se pode exercer sobre os vegetaes, o que seria para elles muito difficil de fazer. E' para sentir que o auctor cujo trabalho nós anali.sanios desconhecesse esta verdade in- contestável, adquirida pela sciencia, nào a ad- mittindo senão como uma probabilidade. As pro\ as cm apoio sào numerosas e deci- sivas, c se isto nào íevas.-^e mais longe do qu« queremos, ser-nos-hia fácil pordeducvòes chegar a uma demonstração. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 23 Suppondo mesmo que o nosso satelli- te exerce uma acção assas poderosa so- bre o invulucro gazozo da terra, esta ac- ção não poderia determinar outra cousa mais do que variantes na direcção dos ventos e trazer por consequência mudanças de tempo. Mas d'ahi não se pode induzir uma influencia directa da lua sobi'e a vegeta- ção. Existe ainda um prejuizo popular que consiste em lançar á conta da lua as ne- ves que apparecera nas madrugadas dos mezes de abx'il e maio. Muitos cultivadores, não obstante o progresso das sciencias, persistem ainda em attribu'r a este astro os desastrosos eíFeitos causados pelas neves da prima- vera nas colheitas; como sobre este as- sumpto nada lia escripto, pareceu-nos útil completar o nosso trabalho por algumas observações tiradas das obras de Arago e outros auctores para combater este erro. (1) Os jardineiros, que se accusam de ser um pouco lunáticos, se bem que o sejam tanto como os outros, dão o nome de tua ruiva {2) alua que se segue á da paschoa. Sabe-sc que segundo o Concilio de Nicea a paschoa é sempre no domingo depois da lua cheia posterior a 21 de março; por exemplo para 1872,(3) sendo a lua cheia no dia 25, segunda feira, a paschoas no domingo seguinte, 31. De então por dian- te a lua que começa no dia 8 de abril e acaba no dia 7 de maio, será a lua ruiva d'esse anno. Numerosas observações têem demons- trado que nas noutes frias de abril e maio, quando o ceu está sereno, os novos re- bentões podem gelar, supposto que o ther- mometro se conserve superior a zero. Este effeito tem sido attribuido á lua, e por consequência tem sido designado debaixo do nome de «Lua ruiva». (1) Viile — «Lune Rousse etdu rayoiinsraeat dela chaleur», Arago, Noticss scientiíiques»,tom. X, pag. ]"2(J e I83e tom. iii,pag. 497. (2) Ignoramos se em Portugal existe este prejuizo da —Lua ruiva — ; pelo menos debaixo d'este nome. Nas differentes partes do Minho onde temos estado nunca nos fallaram d'elle; egualmente o nào encontramos citado nas diver- sas obras que temos lido. ^Nào hesitamos todavia em o traduzir-, senos o não conhecemo.^, podem d'elleter noticia os nossos leitores; e demais ficamos sabendo o mo- Porém a descoberta do doutor Wels permitte explicar d'um modo plausível este phenomeno. Nmguem antes de Wels tinha notado que os corpos podem adquirir uma tem- peratura diíTerente da atmosphera. E' hoje uma verdade conquistada pela scien- cia. E' constante que se expozermos ao ar livre, a uma certa altura, flocos dela, de algodão ou de qualquer outra subs- tancia filamentosa, mesmamente um peque- no punhado de hervas, durante uma noute fria e serena, a temperatura d estes cor- pos abaixar-se-ha em pouco tempo 5,6,7 e até mesmo 8 graus centígrados abaixo da atmosphera. Este phenomeno é devido ao radia- mento do calórico, quer dizer, á proprie- dade que todos os corpos tem de emittir raios de calor em todas as direcções, ainda que seja a longas distancias, e ope- rar assim entre si uma espécie de troca. Resulta d'ahi que se um coi'po coUo- cado em certas condições emitte calórico e não recebe dos corpos que o rodeiam uma porçHO egual áquella que perde, de- scerá arrefecer mais ou menos. Ora nas noutes da primavera, quando o ceu está sereno e o tempo frio, o radiamento no- cturno dos vegetaes é considerável, e o calórico que elles emittem para as i-eo-iões geladas do espaço não é compensado por outro. Se o thermometro não estiver senão a 3, 4 e 5 graus acima de zero, o que acontece frequentes vezes n'esta epocha, resulta d'ahi, que como a perda do caló- rico originada paio radiamento pôde ser de 7 a 8 graus centígrados abaixo da temperatura da atmosphera, as plantas podem sentir um frio de 1 a 2 graus, se bem que não gele ao pé d'ellas. Deve notar-se que se o solo se cobre de nuvens, q radiamento cessa, ou torna-se quasi nullo; as plantas n'este caso, reco- bram toda a parte de calórico que tinham perdido e não gelam em tanto que o ther- mometro desce abaixo de zero. As nuvens n'este caso, fazem o ofíicio dos abrigos ou tivo do phenomeno que effectivamente tem lo- gar no tempo indicado pelo auctor. (3) No texto vemfeito o calculo para 1869, nós porém entendemos devel-o fazer jiara o fu- turo de 1872. Este artigo está em nosso poder desde meia- dos de 1872— Red. 24 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA capas que são empregadas na jardinagem para abrigar as plantas; oppocm-se ao ra- diamcnto do calórico e garantem asaini os vegetaes da neve. E' pois verdade qne em circumstancias atmosphcricas análogas, uma planta gela- rá ou não, segundo a lua estiver ou não escondida pelas nuvens. Este fiicto não é duvidoso; somente as consequências que d'elle se tem querido tirar são falsas. A lua não desempenha aqui nenhum papel: não é mais do que uma testemu- nha passiva, é simplesmente o indicio d'uma noute serena. Isto c tão verdade que tanto importa que o astro se tenha levantado a cima ou collocado debaixo do horisonte; o pheno- meno produz-se sempre, logo que o ceu está sereno. Para admittir a these contraria, era preciso que se estabeleces^.c que a luz do nosso satellite fosso dotada d'uma virtude frigorifica; ora a lua tem tanto cfita pro- priedade como a de emittir calórico. Em resumo, o arrefecimento dos vege- taes é unicamente devido ao radiamento excessivo de calórico para as regiões ce- lestes durante as frias c serenas noutes da primavera, arrefecimento que, n'estaepo- cha, pódc abaixar até ao gelo. Deve-se pois collocar no numero dos erros e prejuizos populares os eíFeitos at- tribuidos á lua ruiva sobre os vegetaes. E' som a menor hesitação e com uma profunda convicção que nos associamos plenamente ás conclusões de ]\I. AViller- moz, e com elle i-epetiremos que nada explica nem justifica a influencia da lua sobre os vegetaes. A norma que é preciso deduzir d'esta conclusão é que os agricultores e horticul- tores devem evitar o perderem tempo pre- cioso e ate opportuno para se entrega- rem ás operaçòos de cultura. Não ha necessidade, para isso, de consultar as pha- ses da lua nem os almanachs. Nós lhe diremos, como o auctor, ter- minando: «Não acrediteis na influencia da lua sobre os vegetaes; semeae, p]antae,po- dae e cortae quando o tempo íGr favorá- vel. Não deixeis para amanhã o que po- derdes hojo fazer, e lembrae-vos de que o tempo perdido é irreparável». Terminando a exeellente analise ao consciencioso artigo deM. Willermoz,re8- ta-nos fazer a nossa profissão de fé sobre o assumpto. Adherimos completamente á opinião do illustre escriptor, e despresamos todas essas antigas crenças e prejuizos qne só servem para entravar a roda do verda- deii'o progresso. Acreditamos que todos os nossos lei- tores pensam do mesmo modo que nós; comtudo se algum ha que pense o con- trario, e se não confesse vencido deante da sciencia e experiência de longos an- nos, como acabamos de ver, só nos resta dizer-lhe — que, fazendo o que quizer,goza d'um direito que nós lhe não queremos contestar, e por isso... continue. A. J. DE Oliveira e Silva. OS ALNLS NA SILVICULTURA No «Jornal de Horticultura Pratica» do mez de novembro de 1872 apontei a paginas 211 a importância das liehilas na silvicultura e industria; e já que a bondade proverbial do redactor de tão il- lustrado jornal, e a indulgência de seus leitores toleram os meus exiguos escri- ptos, vou hoje occupar-me de outro gé- nero da mesma família, de cujas espé- cies BC podem tirar vantagens, sendo con- venientemente plantadas, e aproveita- das. E' o género Almis que vou apresentar da familia das B€h(Uneas,o qual se compõe de muitas espécies. Deixando porém de parte as espécies Almis viruds D. C. ou Alnaster viridis Spach., ou Belula al])ina IV.rkh.; Almis iicpnlensis Don., ou ClcUiropsis nt^jjiilensis Spach.; Alims MirbcUi Spach., ou A. acu- minala Mirb.; ou i^l. scmtula Willd., ou Ikiiild rojosa Ehrh., e outras, que são pela maior parte arbustos, e por isso pró- prios para outros usos, tractarei das gran- des arvores, e em primeiro logar do Al- )ius fjlulinosa, que é o nosso Amieiro, e JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 25 suas variedades; planta conhecida por to- dos , possuida pelos proprietários que têem terrenos cultivados confinantes com rios, ou regatos, mas muito despresada, sendo por ventura, ignorado por muitos 0 seu préstimo e riqueza. Em Portugal o /1j>í/c«'0 é tolerado e raras vezes plantado cora o fim principal de segurar as barreiras dos rios, e com o se- cundário de aproveitarem alguns troncos (que raro deixara crescer) para fazerem eixos para os toscos carros de bois; e em alguns sitios as mulheres camponezas ti- rara aqui e alli pedaços de casca, com que tingem de ruivo pardacento um tecido de lã, de que fazem suas saias. O Alnus (jlidinosa Gairtn. (Belula cd- nus Linn. Belula glutínosaliokm.; Alnus vulgar is Rich,; Alnus communis Lois.) é o nosso Amieiro commnm, arvore que regularmente attinge a altura de 20 me- tros; e sm boas condições, quer dizer, era terreno leve, substancial, cora humidade constante na camada inferior, sendo a su- perior simplesmente fresca, pôde attingir a altura de 33 metros com ura tronco de 1 de espessura. Sua capa é tufosa, e cónica; a casca, verde-azcitona caiTegado em os novos troncos e ramos, torna-se pardo-escura nos troncos velhos. Os ra- mos principaes estendem-se quasi hori- sontalmente, ramificam-se muito; seus pimpolhos são glabros, ou ligeiramente vilosos, semeados de lenticellas era for- ma de pequenas verrugas brancas e arre- dondadas, ao px"incipio ovaes no sentido ho- risontal, e depois allongando-se era linhas transversaes, á raedida que o pimpolho e ramo vão engrossando. Folhas obovaes, ou ovaes-arredondadas, ou chanfradas no ápice, geralmente cu- neiformes na base, desegualmente denti- culadas, ou creneladas, mais ou menos viscosas, de um verde intenso nas duas faces, tendo na inferior pellos cotanilho- sos nos angulfs formados pelas ramifica- ções das ner\ uras. Em fevereiro e março appai'ece a inílorescencia com seus amen- tilhos pistillados, longamente pedicelados, cora escamas estreitamente imbricadas, e aglutinadas, antes da maduração. A cul- tura tera obtido as segu.intes variedades: 1.^ — Alnus emarg inata Krock. (A. glutínosa emarginala Willd.) Arvore de folhas obovaes, ou elliptieas-obovaes, ar- redondadas, e mais ou menos profunda- mente chamfradas no ápice, de base cunei- forme, ou menos arredondada. 2.'* — Alnus gkdinosa sub-rotunda Spach. (A. sub-rotunda Desf.) Arvore de folhas obovaes, ou obovaes-orbicula- res, cuneiformes na base, arredondadas, e pouco ou nada chanfradas no ápice. 3.^ — Alnus glutinosa aculi folia Spa- ch. (A. obonga Willd.) Ai'vore de folhas obovaes, ou ellipticas, ou ellipticas oblon- gas, agudas, ou quasi acurainadas, cu- neiformes na base. 4:.^— Alnus glutinosa laciniata Willd. Arvore de folhas oblongas, profundamen- te pinnatifidas, de segmentos semi-lan- ceolados, ou ura pouco falciformes, agu- dos, muito inteiros. Já acima disse, que o Amieiro e suas vai'iedades querem humidade constante nas raizes, sem que a camada superior do solo seja verdadeiramente huraosa raas fres- ca, porque é certo que estas arvores ex- trahera a huraidade por capillaridade ou por infiltração. Nos terrenos seccos e áridos vegetam mal, e não passara de rachiticos arbustos. Assim em boas con- dições o A. glutinosa cresce cora rapidez iucrivel nos primeiros 15 annos, d'esta epocha por deante é lento seu crescimento. A propagação, ou multiplicação d'esta es- pécie é fácil, ou por meio de semente, a qual é mui leve, e por si mesma se se- meia, ou por estaca, ou mergulhia, e por meio dos innumeros rebentões, que bro- tara das raizes, as quaes se estendem, não muito profundas a grandes distan- cias. O lenho do Amieiro, emquanto verde, ou cortado de fresco, é branco, ligeira- mente esverdeado depois de secco toma uma cor amarellada. E' de muita solidez a madeira, e dizem que mettida na agua, ou era terra constanteraente huraida, é de rauita duração, e em muitos paizes em- pregara-a nos canos de esgoto era terre- nos huraidos, dando-lhe preferencia ao Carvalho. Dizem que a cidade de Veneza está edificada sobi'e estacaria de Amieiro. Tem rauita elasticidade, e veia fina, e por isso é própria para obras de torno, de raar- cenaria, entalha e de estatuário; é um bom 26 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA combustível, e para fugues de sala não tem rival, porque arde com prestcsa sem chamma nem fumo. O carvão é próprio para forja e muito bom para o fabrico de pólvora. A casca tem 16,5 por 0[0 de bom tauino, exce- dendo a do Carvalho, que tem somente 16 por 0[0. Suas cinzas toem grande por- ção de potassa, que avaliam na septima parte de seu peso, e por isso mui própria para adubos das terras e outros usos. Alem d'isso, a casca, que substitue muito bem a do Vidoeiro na tanagem do couro cha- mado «couro da Rússia» serve para tin- gir estofos de côr preta, sendo misturada com sulphato de ferro. Não é só o Almis glutinosa que deve merecer a nossa attenção; a sua congéne- re— Alnus incana Willd. (Detida incana Linn. Alnns alpina Borkh.) é uma arvo- re de grandes dimensões nos paizes do norte, mas que na Europa meridional não attinge a mais de 6 metros de altura. E' robustíssima, e muito rústica, qua- si indiíferente á natureza do terreno, af- frontando os gelos da Rússia, da Suécia, Noruega, Laponia, Finlândia, Sibéria; ve- geta egualmente na America do norte, e nos Alpes. Sua casca por muito tempo branca argentada, vae pouco e pouco cora a edade fazendo-sc pardo escura, e fcn- dendo-se á maneira de cortiça. Os pimpo- lhos são cotanilhoso-pardacentos. Folhas ovaes, algumas vezes quasi orbiculares, geralmente agudas, ou accuminadas no ápice, arredondadas, ou troncadas na ba- se, dupla, ou desegualmente denticuladas, com dentaduras agudas, não viscosas, ver- de-carregado, e não lustrosas, e reves- tidas na face inferior de um cotão pardo, que se continua sobre o peciolo; ou glau- cas inferiormente, e longas de 8 a 11 centimctros. Strobilos brevemente pedim- culados. De seus fructos bem maduros fazem aguardente e vinagre, e em algu- mas partes do Norte servem de alimento no estado em que se costumam comer as sorvas. Presta-se aos mesmos usos que o Amieiro, mas Icva-lhe vantagem no le- nhf> ser mais duro, e compacto, e como aquclla sua congénere lança raizes a gran- des distancias, emittindo muitos reben- tões. Seu desenvolvimento ainda é mais rápido que o do Amieiro, pois dizem que em G annos adquire 5 metros de altura, e um tronco de 10 a 12 centímetros de espessura. Mr . Spach, distingue 5 variedades n'esta espécie. 1.^ — Alnas incana vidgaris Spach. (A. ijlauca Mich.) 2.^ — Alnus incana r/l abrescen s Spa,c\i. (A. piibescens Tausch.) 3.^ — Alnus incana pinnatifida Spa- ch. (A. pinnala Lundm.) 4.'* — Alnus incana hirsuta Spach . (A. hirsuta Turczan.) 5.^ — Alnus incana Sibirica Spach. (A. Sibirica Fisch.) O Alnus cordifolia Tenore (Betula cordata Lois.), é uma arvore apreciável das montanhas da Córsega, Sardenha e Meio-dia da Itália; muito análoga ao Amieiro na altura e porte, de casca lisa e parda; pimpolhos glabros, ligeiramente viscosos, semeados de pequenas verrugas brancas; botòcs glabros e glutinosos. Fo- lhas quasi sempre cordiformes, accumina- das, bordadas de dentaduras quasi eguaes, e callosas no ápice; de tecido firme, e um tanto coriaceo, um pouco glutinosas, verde carregado por cima, pontilhadas por baixo e glabras nas duas faces. Strobilos ovóides grossos em pedúncu- los espessos, assas allongados. Esta espé- cie, alem do préstimo das suas congéne- res, é ornamental. O Alnus orientalis Dne., é uma ar- vore oriunda do monte Libano; tem as folhas elliptico-oblongas, ou lanceolado- oblongas, obtusas, ou acumínadas no ápi- ce, arredondadas, entroncadas, ou cunei- formes na base, diversamente denteadas, ou sinuadas nos bordos; um pouco gluti- nosas, com pequenas pontuações na face inferior, e providas de pequenos fascículos de pellos nas bifurcações das nervuras. Strobilos ovóides, ou quasi globulosos, assas grossos, resinosos, com escamas profundamente devididas em 4 lóbulos, sendo os dous lateraes mais largos, e ar- redondados, divaricados, ao passo que os dous intermédios são um pouco oblongos e direitos. Esta espécie presta-se aos mesmos usos que o Amieiro e deveria ser generalisada em o nosso paiz. Se tiver tempo e saúde irei lembrando JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA ^7 algumas outras arvores de que a nossa silvicultura se poderá aproveitar com van- tagem; pois não somente as arvores de primeira ordem, como os Eucalyplus e outras, devem povoar as nossas florestas por ora em embryão, mas devem-se cul- tivar também as secundarias, que têem sua utilidade relativa. Alem d'isso, apresentando o nosso Amieiro, que é tão nosso como o Carva- lho e Castanheiro com os predicados que llie pertencem e ás suas congéneres, não pretendo senão ver se consigo levantal-o do esquecimento e despreso com que en- ti-e nós é tractado. E' digno de melhor sorte . Villa Nova de Ourem. Marianno de Lemos Azevedo ARADO DE DUPLO REGO E DE SUR-SOLO Já havemos feito as nossas observa- ções sobre o sub-solo e sobre as vantagens que offerece quando seja de qualidade simi- Ihante á terra da superfície e o cuidado Fig. 8 — Arado a duplo rego. '"•->^- iV^-^-^^-^-V T.K \~' -"'- '^>'-\^-^\VX\^ _x ,f >^\x^-í- OfVNj; w; vn -ns-v^.x. Eíg. 9 — Arado de rego e de sub-sólo em trabalho. que o lavrador deve ter em o fabricar gradualmente, profundando o seu arado um ou dous centimetros em cada larra que faça. 28 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Independente d'esta conveniência, de- vemos mostrar outra, que é pulverisar esse sub--ólo, seja elle do que natureza for, a fim servir de escoante ás chu- vas e de caixa de humidade para o tempo do sol, pois supp indo que o sub- solo estd duro e impenetrável, a camada pcqaena da superfície arável achar-se-ha no inverno inconvenientemente alagada e no verão demasiadamente sccca, em vir- tude da sua pouca espessura. A pulveribação do sub-sólo é, pois, um serviço muito distincto do outro em que se revolve o sub-sólo para a super- fície, ao que muitos lavradores se negam por se lhes estragar a sementeira acamada n'cssa má terra. Tal principio não exce- ptua os bons sub-sólos. Para aquelles que prevalecem n'esta rotina do habito, deve-lhes ser agradável uma disposição de lavoura, que, revolven- do o sub-sólo, ainda deixa á superfície a mesma terra que tinha antes da lavoura; é por isso que, sem o risco que temem, vão gradualmente tornando esse sub-sólo em melhores condições pela infiltração n'elle de componentes da camada supe- rior. Aconselhamos, porém, ao lavrador que se utilisc dos bons sub-sólos e que se lembre que estes estão ha séculos em re- pouso, impregnados de bons elementos fructi feros. Os arados a duplo effeito de que nos vamos agora occupar, (fig. 8) são de uma construcção adaptada aos serviços geraes de lavoura com novas disposições mechani- cas, as quaes reúnem todos os melhora- mentos suggeridos pela longa experiên- cia do lavrador inglez. A forma como se levanta este ara- do para fora da torra e como vira no fim das leivas foi por elles julgada a melhor e a mais simples que tem sido inventada para este fim. das mãos ou de uma alavanca á esquerda Por meio braços do arado, a roda da terra que se aclia d'esse lado e uma ou- tra que está á direita no mesmo eixo, sus- pensas ao centro do arado, podem ser abaixadas quando se chegar ao fím da leiva e essa mesma alavanca, logo que rodar sobre o solo a força da tracção, suspenderá o arado para fura da terra al- guns centímetros, e assim se poderá vol- tar sobre as mesmas rodas, em qualquer direcção que se queira e com a maior fa- cilidade possivel. Por meio de uma braçadeira de ajus- tar, que se pôde fixar em qualquer posi- ção de um arco circular, pó le o operá- rio no seu logar regular a profundidade da lavra, entre O'", 12 aO"",2G centímetros. Os corpos dos arados são ajustados por meio de dous fortes parafusos, de modo que podem cortar leivas de qualquer lar- gura, entre O'", 18 a O'», 30. Por meio de outro melhoramento, que consiste em levantar o corpo do arado da frente, a profundidade da leiva relativa aos dous corpos poderá ser alterada, e por meio d'esta disposição, muito prora- pta em manejar-se, pôde o ai'ado da fren- te, assim suspenso, cortar o angulo da leiva anterior, para com elle cobrir a se- mente em quanto que o segundo corpo vae formando outra leiva ; assim como pôde trabalhar somente este segundo cor- po como fosse um arado singelo. Pela explicação acima vemos que cora este arado se faz uma boa sementeira li- near, podendo-se cobrir ao mesmo tempo; n'este caso, abre somente um sulco, vis- to que o corpo da frente vae suspenso e corta o angulí^ da leiva anterior, dei- tando-o no rego, onde a semente pôde ser distribuida á mão ou mecanicamente; este servdço de certo é mais conveniente do que feito com as costas de uma grade de pau e uma segunda passagom do gado através do campo, como habitualmente fazemos para cobrir a sementeira graúda. O arado RNDD 4 — Pôde ser munido com a roda de fricção, ou com sapata de ferro fundido: serve para serviços ge- raes em terras misturadas e peza 231 ki- los. O arado RNFD — E' como acima; serve para terras presas e peza 257 kilos. A figura 9 representa o arado já des- cripto, disposto por outra forma, era que se muda o corpo da frente por outro de sub-sólo. Já falíamos sobre a utilidade para o lavrador de ter um bom sub-sólo; por conseguinte, quem o tiver não deixará de conhecer o merecimento d'este arado. Como vemos pela figura 9, o corpo JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 29 do sub-sólo collocado na frente vae traba- lhar na camada de terra que está por bai- xo do rego aberto na tira antecedente ; á proporção, pois, que este sub-sólo é pul- verisado, é a leiva cortada pelo segun- do corpo, cahindo sobre elle, sem que os cavallos a trilhem, visto que estes têem passagem larga sobre o rego antecedente. Esta é uma forma muito efficiente de trabalhar os sub-sólos, salvo, porém, nos casos em que estes se tenham de trazer á superfície, trocando a camada superior pela inferior. Estes arados podem trabalhar na pro- fundidade de 0"\30 e pezarão : oKNDD 4—205 kilos e o REFD— 257 kilos. Pela figura 10, se observará que o corpo de sub-sólo tem um jogo ao meio do caixilho que supporta os dous corpos, assim como que é puchado para fora da Fig. 10— Arado de rego e de sub-sólo fora do trabalho. terra por meio de uma alavanca colloca- da do lado direito das mãos, ao alcance do trabalhador. O dente que se vê por baixo do corpo de sub-sólo, logo que este seja descido á terra, espeta-se e prende com a tracção, entrando era trabalho immediatamente, e o cadeado que o prende ao extremo do caixilho dá-lhe a necessária consistência para este serviço, sem fazer o instrumen- to pesado. Com os arados acima descriptos pode o lavrador que tem boas terras utilisar a força de seu gado, reduzindo o serviço a uma ametade do tempo, tanto nas oc- casiões em que abra dous sulcos ao mes- mo tempo, como quando tenha de pulve- risar o sub-sólo, serviço que costuma ser feito com dous arados em peiores condi- ções de trilho e de força. Não os recom- mendamos, porém, para os terrenos mais bravios ou quasi incultos de barro virgem que temos para o norte de Portugal. A. DE La Rocque. DUAS NOVAS ESPÉCIES DE EUCALYPTUS Ha perto de um anno que o barão F. von Mueller, director do Jardim Botânico de Melbourne, nos mandou algumas semen- tes, e entra ellas dous pequenos pacotes com semente de Eucalyplus , as quaes traziam (js nomes de Eucalyplus macrocarpa e Eucalylpus cilríodora. Acostumados a receber sempre do nos- so illustre compatriota offertas preciosas, estas sementes ibram semeadas com todo o cuidado e já na primavera passada o Jar- dim Botânico de Coimbra possuia bom numero de pequenas plantas, que, depois de serem mudadas para vasos, attingiram em pouco tempo a altura de 1 a 2 pés. Como estas espécies são inteiramente desconhecidas n'este paiz, e como a acli- mação d'ellas se torna recommendavel por mais de ura motivo vamos tentar descre- vel-as. Eucalyptiis macrocarpa Hook. (Icon. PI. vol. 5, tab. 405, 406, 407.— Bot. 30 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Magazine t. 4333 — Flora Australiensis vol. III.) Esta espécie, introduzida pela primei- ra vez na Europa por J. Drummond, que a desco])riu na colónia Swan Kivcr, é sem duvida uni dos mais bellos repre- sentantes do numeroso género das Mijrta- ceas. Toma a forma d'uma pequena arvo- re, ou antes d'um grande ai"busto, e tor- na-se notável pela sua frondosa e rica fo- lhagem glauca, entre a qual as flores grandes e solitárias, quasi sesseis, com uma cor vermelha viva, são d'um effeito admirável. Os ramos novos são quadrilá- teros, e as folhas grandes, oppostas elli- ptico-ovaes ou cordiformes. Os fructos e ainda as sementes são d'um tamanho ex- cepcional. Os indigenasdão-lhe o nome de «Morral.» Vamos descrever a nossa segunda es- pécie : Eucahjptiis cilriochra Hook. (Mitch. TrojJ. Austr. 235. — F. Mucll. Fragmenta n, 47.— Flora Austraheusis III.) Esta espécie chama a attenção não só pela sua belleza, como também porque o cheiro muito agradável, exhalado pelas folhas, é muito similhante ao do limão. Forma uma arvore elevada, com a casca lisa, e em diversos caracteres aproxima- se do Encali/jdus coripnbom. As folhas, que exhalam cheiro quando se esfregam e que sem duvida devera servir para a distil- lacão d'algura óleo volátil, são muito si- milhantes ás de aquella espécie, quer dizer, são ovaes ou lanccoladas, acuminadas, de 3 a 6 pés de comprido. As nervuras são salientes e os peciolos mais curtos do que no Eucalyplus corymhosa. N'esta espécie as nervuras são tão pouco salientes que quasi se não vêem a olho desarmado. Encontra-se cm Quecnsland e é cha- mada ahi «Balmy Creek» . O Jardim de Coimbra já distribuiu individues d'estas duas espécies a alguns amadores e esperamos que as primeiras experiências tenham bom resultado para assim enriquecer a nossa Flora d'arvoi'es exóticas. Coimbra — Jardim Botânico. Edmoxd Goeze IIERBARIUM CRYPTOGAMICUM (1) DO PORTO E SEUS ARREDORES— COLLECCÃO DE CRYPTOGAMICAS Hepaticae. Se as luzentes e escamosas Ilepalicas não abundam nos arredores do Porto em géneros e espécies, algumas d'ellas são extremamente multiplicadas, tapetando os legares cm que nasceram, tornando mais agradáveis as fontes e mais appctecidas as margens dos regatos nos calmosos dias de estio. Eis aqui as que pude colher nos di- versos logares por onde andei. Marchantia polymorpha Linn. No Por- to, cm Villar, cm Fanzcrcs, etc. Muito abundante nos logares aonde corre agua. Aneura pinguis Dumort. No Porto, Fanzeres, etc. Nos logares molhados e húmidos. Lunularia vulgaris Mich.Em Senande, nas margens do rio Souza. (1) Vide J. II. P. vol. in, pag. 223. Riccia fluitans Linn. Em Fanzeres; cm diíferentes logares. Frullania tamarisci N. a E. Em Aguiar do Souza. Frullania dilatata N.aE. Em Aguiar do Souza. Radula complanata Dumort. Em Fan- zeres, logares húmidos. Scapania undulata M. e N. Em Guin- fães, na terra. Jungermanniataylori Hook. Em Aguiar do Souza. Jungermannia obtusifoliaN. a E. Em Fanzeres. Plagiochila asplenioides M. e N. Em Covello; na matta do Lagareiro, junto do ribeiro. Muito abundante e desenvolvida. Mais algumas espécies, c entre ellas uma pequena planta, que encontrei nos tanques do Jardim Botânico do Porto, as- similhando-se na f(jrma e disposição das folhas a uma Ilcpalica; mas pela maneira JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 31 de viver, debaixo d'agua, a uma Alf/a; e pela forte incmstação que a reveste, pare- ce pertencer ás Cliaras. AMPHIGENÂE. Vegetaos sem eixo e sem órgãos ap- pendiculares distinctos; crescimento peri- plierico. Reproducção por sporos ou embryões nus. LICHENS Os Líc/iens, essas Algas do ar, a quem a natureza encarregara, para a sua re- producção, de levarem a toda e por toda a parte as suas subtilíssimas sementes, ca- hindo nas terras seccas e húmidas, nas rochas mais estéreis, nos desertos, nas ai-- vores e nos telhados, são como sedas das mais finas e variadas cores, com que pintam os rochedos escalvados, ti- rando o triste aspecto dos schistos e en- cobrindo a aspereza dos granitos: e com que tecem no solo assetinadas alcatifas e bordam as cascas das arvores. Os prin- cipaes que possuo no meu Herbario são os seguintes: Parmelia parietina Linn. No Porto, em Fanzeres, por toda a parte. Nas pe- dras ao sol, nos telhados, etc. Parmelia ceraíophyla Wallr. Em S. Pedro da Cova, nas cascas dos P/ííAeiVos. Parmelia caperata D. M. Em Fanze- res, nas cascas das arvores. Parmelia tiliacea Ach. No Porto, Fan- zeres, etc. Em diíferentes logares. Parmelia pulverulenta Fries. Em Fan- zeres nos troncos das arvores. Parmelia centrífuga Ach. Em Fanze- res, nas paredes sobre as pedras. Parmelia olivacea Linn. Em Fanzeres, nos troncos das arvores. Parmelia acetabulum Neck. Em Fan- zeres nas piredes. Mais outras espécies. Peltigera aphtosa Linn. Em Fanze- res; junto dos Carvalhos velhos, no chão. Peltigera canina Linn. Em Fanzeres, no pé dos Carvalhos annosos. Peltigera polydactila Linn. Em Fan- zeres, nos pós dos Carval/ios annosos. Umbilicaria pustulata IIoíFm. Em Fan- zeres; no ]\Ionte-alto, nos rochedos ex- postos ao sol. Endocarpon miniatum Ach. Em Fan- zeres; Monte-alto, nas pedras ao sol. Collema nigrescens Ach. Em Fanze- res e no Porto; nas pedras ao sol. Lecanora cinerea Linn. Em Fanzeres e no Porto; nos rochedos de granito. Lecanora subfusca Ach. Em Fanzeres. Mais outras espécies. Sticta pulmonaria Ach, Em Fanze- res; nos pés dos velhos troncos d'arvores e nas pedras. Usnea barbata Hofifra. Em Fanzeres; nos Pinheiros e Carvalhos. Usnea florida Fries. Em Fanzeres; nos Pinheiros e Carvalhos Usnea hirta Fries. Em Fanzeres; nos Pinheiros. Usnea longíssima Ach. Nas cascas das arvores. Evernia prunastrí Linn. Era Fanze- res; nos Pinheiros. Mais outras espécies. Alectoría jubata Ach. Em Fanzeres; nas cascas das arvores. Alectoría ochroléiica Nyl. Em Fan- zeres; nos Pinheiros. Chlorea vulpina Nyl. Em Fanzeres; nos Pinheiros. Ramalína canaliculata Fries, Em Fan- zeres nos Pinheiros. Ramalína poliinaria Ach. Em Fan- zeres; nos Pinheiros, Sobros e Carvalhos. etc. Stereocaulon csreolínum Ach. Em Pa- ranhos; nos muros com terra e entre o Mus f/o. Physcía aureola Fries. Em Fanzeres; nas Macieiras e arvores de fructo. Cladonia rangeferína Linn. Em Fan- zeres; no Monte-alto e S. Pedro da Cova; no chão na terra bravia. Mais três varie- dades. Cladonia cornuta Fries, Era Fanze- res; no chão no Monte-alto. Cladonia pyxíáata Linn. Em Fanze- res, Villa Nova de Gaya e Porto; nas paredes húmidas. Cladonia alcícornísLigth. Era Fanze- res, Leça e Porto; no chão e nos muros. Cladonia stellata Ach. Em Fanzeres, Porto, etc. Mais outras espécies. Roccella tinctoría D, C. Em Leça, logar da Bôa-Nova; nos rochedos á beira mar. Mais outras espécies de Lichens. (Continua) A, Luso. 32 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA NOVO SYSTEMA DE REPRODLCâO DOS GEllÀiMUMS O Geranium é uma planta indispen- sável para o embellezamento dos jardins, as suas bellas e variadas flores de vivís- simo colorido quasi que se perpetuam, suceedendo-se constantemente em todas as estações. A sua mac^nifica folhagem, muitas ve- zes fantasticamente variegada, c de um cfíeito maravilhoso na composição dos grupos. A illu-trada habilidade dos horticul- tores da Europa tem conseguido exem- plares surprchendentes em colorido de folhagem, e matiz das flores. Recommen- daremos n'este género os seguintes: Itá- lia nnila, Luna, Mislress Pollock e La- dij CoUum. Um grupo formado com taes variedades seria um encanto. Os Geraniums de flor dobrada são magníficos para a formação de grupos, porque as suas flores em capitulos com- pactos não deixam nada a desejar — O proprietário d'este jornal possue as se- guintes variedades dignas de toda a at- tenção : Capitaine UHermile, Qoire de Nancy, Madame Rose Charmeux,Sur pas- se Gloire de Nancy, Triomphe de Ger- govinl, Triomphe de Lorrai ne, Triomphe de Thumcsnil. Toáíis estas variedades são de cores escarlates vivissimas, c sabemos que mandou vir recentes novidades de flores claras, que, matizadas com aquellas, serão de mui bello effeito. As circumstancias que referimos leva- ram-nos a apresentar aos nossos ama- dores o novo systema de reproducção dos Geraniums empregado pelo visconde F. du Buisson. A sua simplicidade e certeza de bom resultado deve animares curiosos na pre- ferencia a outro qualquer meio. «Em vez de cortar, diz elle, as mi- nhas estacas abaixo do nó foliar, quebro- as exactamente em o entrc-nó, não con- servando mais que uma folha guarnecida de um olho, de forma que posso fazer tantas estacas quantas sejam as folhas. Enterro as estacas até ao olho em um canteiro cheio de areia, em pleno ar, e ao sol. Conservo a areia húmida por meio de regas ao regador. Passados quinze dias, as estacas estão todas ou a maior par- te pegadas c postas em vasos. Este único olho conservado dá-me ura individuo mui- to mais bem formado que qualquer outro obtido pelo meio ordinário; tem sim um desenvolvimento mais demorado , mas compensa a demora a elegância do ar- busto. Estas estacas não devem cortar-se a canivete, são quebradas á mão. Os horticultores que empregarem este processo poderão fazer uma enorme quan- tidade de rcproducções estragando poucos ramos, e sobi-e tudo com poucos cuida- dos. Advertindo que este systema só pode realisar-se nos mozes quentes do anno .» C(mvidamos todos os amadores a en- riquecer os seus jardins com grupos va- riados d'esta bella flor, e tenho por certo que se não conspirarão contra o auctor d'este artigo. Camillo Aureliano. tília EUR0PAE\ LlNN. Esta arvore pertence á família das Tiliaceas a qual faz parte da vigessima ordem das Dicotylcdoneas. A Tilia europaea é arvore de pouco valor na economia florestal, pois que a sua madeira por ser de inferior qualida- de, tem poucas applicaçoes. Esta arvore assim como as suas congéneres são mais do dominio da cultura ornamental do que da florestal, E' arvore de elevado porte, muito frondosa e vivedoura 5 segundo Hmi- deshagen, pode chegar á edade de 500 an- nos e mais ainda. O tronco apresenta uni- camente até pouca altura uma forma re- gular, posto que ás vezes obtém uma altura de 3o metros por 1 a 5 metros de diâmetro no pé. As suas folhas são tenras, de ta- manlio mediano; rebentam nos principies de abril e cahom em novembro, fertilisam bem o solo; floresce pelos fins de junho e os fructos (sementes) acham-se ma- duros em outubro, e germinam quasi sem- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 53 pre só na seguinte primavera. Fructiíica eutre os 25 e 30 annos. E' planta lier- maphrodita. As suas i*aizes são mui vi- gorosas, profundam, alastram immenso, e afilham. E' uma das arvores que melhor rebentam de cepa e por isso pode-se em- pregar, querendo, para mattas de talha- dia associada a outras arvores que tenham esta mesma tendência. A' Tília eiiropaea a,gva,da,m-\hG mais os climas septenterionaes do que os meri- dionaes; dá-se nas montanhas e collinas, mas prefere os valles e planícies: nas mon- tanhas não se encontra a altitude superior de 1:000 metros. Os terrenos que lhe são mais aífei coa- das são os arenosos, férteis, profundos e frescos; dão-se nos calcareos e argilosos*, fogem dos solos cretáceos e dos pantano- sos. Encontram-se em todas as exposições mas preferem as do norte e noroeste. As doenças de que esta arvore mais so- íFre são a carie e fen-ugem. A madeira é leve, branda, de cor branca e de pou- ca duração.; Empregam-namiicamente os marceneiros para o interior dos moveis e os torneiros e escuiptores. Para combus- tível é de péssima qualidade. Do liber, depois de bem macerado em agua, cons- truem-se muitos objectos. No norte da Rússia e Sibéria empre- gam-no muito para fazer as afamadas esteiras, fatos, sapatos, cestos, chapéus e cordas; um camponez, segundo diz Vol- ger na sua «Historia Natural» (Vol. II), gas- ta por anno 100 a lõO par de sapatos! feitos do liber d 'esta arvore; e para fazer um par é necessário cortar seis varas d'uma cepa de Tília. Da Tília também se ex- trahe uma gomma muito similhante á das Cijcadeas. As folhas servem para o sus- tento do gado. As suas flores são empre- gadas na medicina e dão ás vezes bom l^reço. Ha muitas outras espécies de Tiliit, taes como a T. americana, T. argêntea, T. canadends, T. dasi/iihylla, T. missi- ssipensis, T. platypliyíla, f. macropJiylla, etc, etc. Coimbra. Adolpho Frederico Moller. ASPLENIUM NIDUS-ÂYIS Os Feios representaram sempre na ve- getação do globo os principaes papeis, e produziram sempre sensações admiráveis de esplendor e curiosidade. Formando quasi que unicamente, nas primeiras edades do mundo, o vestido da terra, fazem-nos hoje admirar as dimen- sões colossaes que então tomavam, ao mesmo tempo que preparavam o solo a receber espécies mais complexas e per- feitas. A geologia, esse moderno ramo dos conhecimentos humanos, que tantos ser- \'iços tem prestado ás sciencias, descu- brindo e verificando factos importantíssi- mos e que, sem o seu auxílio, ficariam eternamente ignorados, tem provado a existência de mais de 200 espécies fos- seis. Ainda hoje os Fetos são a admi- ração dos viajantes que têem percorrido as florestas do novo continente, pelas suas formas giganteas, que mais lhes dão as proporções de altivas Palmeiras do que de simples Cryptorjamicas! E' notável que os naturalistas antigos não fallassem d'esta bella forma vegetal , ao passo que citam outras, como por exem- plo os Bambus. A primeira descripção de Fetos que se encontra, segundo Humboldt, é na «Historia das índias», de Oviedo. «Helechos (Fetos) que yo cuento por ar- boles, tan gruesos como grandes pinos y muy altos» — diz o auctor. Humboldt af- firma que esta descripção é exaggerada. E ainda na America e Oceania que se encontram esses suberbos exemplares, que enriquecera algumas collecções da Eu- ropa. Na Inglaterra, onde o gosto pelos Fetos está levado ao mais alto grau, ven- dem-se exemplares por quantias verdadei- ramente fabulosas. Construem-se estufas expressamente para a sua conservação e alimenta-se,n'ellas com grande despeza uma atmosphera quente, saturada por um elevado grau de humidade, única própria para a perfeita conservação e vida d'estas plantas. Assim devia ser; a horticultura, conquistando para o seu domínio todas as formas elegantes e ricos coloridos que a natureza lhe apresenta, não podia nem de- • JOUNAL DE IIORTICULTIIKA PliAlKA via passar indifterentc ao lado d'estas for- mosas plantas. Nào flcTescem apparenteiiiente; nào produzem folhas ricas de colorido; não sào aromáticas; o que importa, se nem por isso deixam de ser menos bellas do que as esplendidas Orc/iideas ou as fra- grantes IiLKsas! Quo ha ahi que se possa comparar com o delicado, fino e subtil rendilhado das frondes do Dipinziwn r/i/janleum, da Ci/a- l/iea fernx, d<»s Balaidium, dos Lycopo- (liiim, das Selwjinelids, etc, com o verde brilhante vivissimo do Asjilenium tiiilus- avis, do Po!i/)iõ(liiim morbillosum, da .^(í- valia canariensis, com as primorosa fo- lhagem do Adianlinn Farlcycnse, lenenim, cajiiUus-veneris, e cunealum! Seria um não acabar jamais, se quizes- semos enumerar todas as espécies que mais ferem a attenção do observador. O leitor que já teve a fortuna de os observar na sua pátria ou n'essas impo- nentes collecçoes como as do Jardim de Kew, sabe que não cxaggeramos. Aquclle que ainda os não viu em nenhum d'estes logarcs visite a importante collecção do snr. Mai-ques Loureiro, na quinta das Vir- tudes, e ahi verá um BaJanlium de 2 me- tros de altura; Alsopliilas de egual tama- nho, Dihsonias, Lomarlas, Ciholium, Cya- thcus, ctc, etc, de eguaes, maiores ou menores dimensões, que lhe darão uma pequena idea da magnificência que a na- tureza empregou com estas plantas. Crentes do que o k-itor nos desculpará esta curta divagação, entremos desde já na descripção da planta, que serve de epigraphe a este artigo. Os Asplenínm formam uma numerosa tribu da familia dos Feios, caracterisada principalmente pelos grupos de capsulas lineares parallelas ás nervuras secunda- rias, e cobertas por um tegiunento, que nasce lateralmente d'esta3 nervuras, abrin- do-se interiormente com relação á nervu- ra principal. Reúne cerca de cento e tan- tas espécies conimuns a todas as regiões do Globo. Na Flora indigena é este gé- nero representado pelas seguintes espé- cies. Asplenium rula-muraria, lanceolalum, adianlum nlrjrum, tric/mmancs, marinum, etc. ' Das exóticas citaremos por hoje unica- mente o Asplenium nidus-avis, fig. 11 que vamos descrever. E' uma planta herbácea de grandes folhas (frondes) inteiras, lanceoladas, lu- zidias, brilhantes e onduladas, formando um grande açafate de rodor da cepa meio enterrada. O aspecto d'csta planta é vei'dadeira- mente arrebatador; o lindo e fn-sco verde de que as suas frondes são vestidas, a sua elegante e graciosa curvatura dão-lhe um porte e uma graça que raras vezes vemos em outras plantas. Nas salas, dispostas em suspensões ou em vasos, são arreba- tadoras, e produzem á luz artificial um bello eíFeito. Comtudo não é n'cstes legares que este género de plantas vive bem e se apresenta com todo o seu vigor; querem a sua atmosphera própria: luz e hu- midade. Nas salas dentro de pouco estio- lam-se, tornam- se rachiticas e morrem. N'uma gruta ou na margem ^d'um lago bem assombrado é que é o seu verda- deiro logar; ahi sim, que se desenvolvem bem e se tornam plantas ornamentaes em toda a extensão da palavra. Frescura, luz e ar, tudo aqui se reúne em grande abundância para que a planta produza bem e se desenvolva rapidamente. E que prazer o repousar nas horas de ca- lor n'um d'estcs sitios bem ornados de plantas! Que alegria não sentimos quando nos vemos no meio dos vegetaes, quando respiramos o seu aroma, quando admira- mos as suas formas elegantes e agradá- veis! Como a alma se sente alli bem, des- prendida das vulgaridades d'este numdo, engolfada unicamente na contemplação do maravilhoso quadro que a natureza lhe dcsenrolla deante dos olhos; admirando e estudando a sua organisação c os pheno- mcnos chimicos e physicos que n'ella se dão! Perdoe-nos o leitor o aífastarmo-nos mais uma vez do caminho que tinhamos traçado. Os vegetaes, o campo, a natureza em- fim, com todos os seus grandes e esplen- didos espectáculos, fazem assim pensar; arrebatam, extasiam, e n'estas occasiões a imaginação, divagando por outros mun- JOKXAL DE HORTICULTURA PRATICA 35 dos, transmitte ao papel, como sente, as suas impresòe.i. Reatando o no do nosso assumpto, res- ta-nos fallar da cultura do Asplenhim nidus-avis. O que n'este jornal se tem dito a respeito da cultura d'outros Félos pode^ applicar-se perfeitamente a este. Aquelles dos nossos leitores que vi- verem no campo, aconselhamos-llie o uso do seguinte composto, que ensaiamos este anno com alguns Fetos. Dentro das tocas ou troncos dos CarvulliOH existe uma terra resultante da decomposição das folhas e pó, que alli se junta todos os annos. Apanhamos unia porção d 'esta e addi- cionamos-lhe um terço de terra ordinária e Fig. 11 — Asplenium Nidus-avis — Desenhado no Horto Loureiro. areia ; misturamol-a bem e enchemos com ella os vasos em que plantamos al- guns Adianliiin,Davidlias e Douradinhas. O resultado foi muito alem do que esperávamos; as frondes desenvolveram-se muito depressa e com muita força Esta mistura conserva muito bem a humidade d ..s regas, condição muito im- portante para a boa vegetação das plan- tas. Posto que para muitos não seja no- vidade, achamos que ella é também ex- cellente para muitas outras plantas como: Begónias, Qdadíums, Maranlas, Coleus, etc. Recommendando-a aos nossos leitores, fazemos votos para que colham o mesmo resultado que nós obtivemos. Quinta da Egreja — Fanzeres. A. J. DE Oliveira e Silva CHRONICA HORTICOLO-AGRÍCOLA A nova moléstia das vinhas conti- nua a preoccupar os viticultores em ge- ral, e particularmente os da França, que já crêem nos seus eífeitos. Entre nós ainda não se acredita se- riamente na existência do mal e alguns proprietários que já poderam contemplar esse doloroso quadro nas nossas regiões affectadas, cruzam os braços, meditam ca- bisbaixos e invocam a protecção da Pro- videncia, como se estivessem em eminen- te naufrágio onde só se divisa a extenção do oceano c algumas nuvens escuras que se destacam do azul da abobada celeste. Para estes não ha observações, não ha experiências, e a sciencia é uma chiraera ao passo que a Providencia é uma pana- cea. 36 JORNAL DE IIOUTICULTUKA PliATICA São modos depon?arI Dcixemol -os po- rém c temos lo que da iiitura illustcaçrio emanará a luz a ([ue deverão ser vistos es- tes assumptos. No entretanto vamos dan- do publicidade a uma carta de mn pro- prietário distincto a muitos respeitos eem quem reconhecemos a vontade de ser útil ao paiz de que é filho benemérito. Agradecemos-lhe as expressões lisonjei- ras que nos dirige com a consciência de quem sabe que são mal cabidas, c que só as pôde obter de pessoas de tão pródiga indulgência, como o snr. Joaquim de Car- valho Azevedo Mello e Faro. I\Ieii caro amigo snr. Oliveira Júnior. Ao meu amigo deve o paiz, muito cspecial- nieute os viticultores, grandes beneticios nào só pela sua publica(,'ào, a primeira que tivemos so- ijreo FhyUoxera vastafrix, mas também pelos con- tínuos esforços e cuidados que tem empregado em estudar este novo flagello, que ameaça destruir a nossa mais rica producçào. Eu como proprietá- rio e viticultor, aqui lhe presto amais sincera ho- menagem e jirofunda gratidão. liem reconheço queé excessivo arrojo escre- ver sobre um assumpto, a respeito do (jual tan- tos homens scientificos tèem eâcripto,e até hoje in- felizmente ainda está occulta nas trevas a causa que produz o novo flagello, e o antidoto para o combater. l'orem sco «Fiatluxu ainda nào raiou, continuando um veu espesso a vedar-nos o ))cr- feito conhecimento da causa que produz o Phyl- loxera, e dos meios mais fáceis para o combater, muitas vezes uma ténue centelha de luz é guia para regiões onde nos allumiem fachos de Í)ri- Ihantc claridade, e baseado n'este principio é que eu vou expúr ao meu nobre amigo o que pen- so, e o (jue tenho observado sobre o terrível fla- gello, implorando a benevolência de tào proficien- te escriptor sobre este assumpto. Este novo inimigo, que actualmente assola as nossas vinhas, jamais foi conhecido outrOra, a dá-se a circumstancia muito attendivcl, que só passados alguns amios depois que o oidinin veio artcctar algumas plantas, e muito especialmente as Videirasjé que se desenvolveu o novo flagello; muitas vezes tenho pensado, se o Phylloxera terá por origem o oidinin, j)or quanto ainda qui! com- batido este coui o enxofre nào o cura radical- mente; minoraudo-lheos destruidores etb-itos nào é antidoto (jue dá completa saúde á i)lanta. E' i)or todos reconhecido, que as Vides desde a invasào do uidiuin estão fora das condições normacs eu» i|ue estavam, quando vegetavam sadias, e que actualmente aflectadas pelo oidium este lhe in- flltra principios mórbidos, que o enxofre nào cu- ra radicalmente; e a prova evidente é que as Vi- des, ainda (juando perfeitamente enxofriídas mos- tram em todos os annos nas varas signacs da atfec- çà,o. Já disse, c repito, que considero o enxofre co- mo especifico para minorar os efteitos do oidium mas nào para o curar completamente, e por esta razào as Vides continuam ha annos no i)adeci- mento, que o en.xofreminora mas nào cura. Con- siderando muito análogos o reino vegetal, e o animal, vemos que muitas moléstias, que atiec- tam a hmnanidade, e sào combatidas com re- médios conhecidos jielos médicos para as debel- lar, se minoram muitas vezes os sofirimentos do enfermo , também ha factos , que provam serem origem de outras moléstias; é por esta razào que eu penso, que talvez o Phylloxera te- nha a sua origem, ou nos juMUcipios mórbidos causados pela aflecçào de oidium, ou no remédio applicado para o combater. E' este um vasto as- sumpto que só os homens da sciencia podem vir talvez um dia a decidir depois de profundo estu- do, e repetidas experiencias.Considero muito con- veniente, que se examinasse e estudasse nào só no paiz, mas também em França quaes foram as localidades aonde primeiro se manifestou o oi- dium e se fez uso do enxofre para o combater, e se n'essas localidades primeiro se desenvolveu o Phylloxera ou se foi em outros sitios; este estudo talvez nos servisse de facho para esclarecer as trevas em que nos achamos. Nào ha efteitos sem causa, e qual é a que produz o Phylloxera? eis o desideratum a que as- piramos, e seguindo o axioma, que de pequenos regatos se formam caudalosos rios, por este prin- cipio p(Jde acontecer (pie com os estudos e expe- riências feitas pelos viticultores que devem pu- blicar se venha a descobrir (piai a causa que o produz, eo antidoto ))ara o combater. Consta que o Phylloxera fora importado da America em Vides, que para a sua quinta, no Douro, mandou vir o snr. t^ampaio, e até para mais confirmarem esta opinião diz-se que não só foi alli,(iue primeiro se desenvolveu, mas tam- bém na dita quinta todas as Vide.t actualmente se acham mortas, continuando o flagello a atiectar as propriedailes visinhas. Nào me conformo com esta ojjiniào e só posso admittil-a, provando-me que em França nos sitios aonde primeiro appare- ceu houve idêntica importação de Vides aflecta- das. Estou convencido, que a razào porque pri- meiro se desenvolveu o Phylloxera na quinta do snr. Sampaio e nas vinhas limitrophes, foi por condições pecidiares ou da composição geo- lógica do terreno ou por quahpier outra causa por emquanto desconhecida, fundamentando esta minha opinião. em que as epidemias que sem se- rem importadas afllijxem os povos primeiro se desenvolvem nos indivíduos que estão em cspe- ciaes circumstancias de localidade, c por analogia de principios se pôde dar a mesma circumstancia no reino vegetal. A' pathologia vegetal pertence investigar, c estudar este assumpto, e se esta sciencia ainda está muito atrazada no nosso paiz, quer-me pa- recer que na França e na Bélgica, onde ella tem progredido, os homens que professam esta scien- cia deviam empregar todos os esforços para reco- nhecer a causa ((ue produz o Phylloxera. Eu te- nho a convicção (pie se felizmente se descobrira causa da aft'ecçào ha de ser mais fácil encontrar o antidoto para combater este novo flagello. Todos os proprietários de vinhas hào-de ter observado, cpie em todos os annos, e princi- JOKNAL DE HORTICULTURA PRATICA 37 palmente nos mais ardentes seccain algumas Vi- des, e u'estes ultinios annos tenho notado nas minlias quintas terem seccado em maior numero, ignorando se isto será principio da affecção da moléstia. Também tenho encontrado nas minhas propriedades nos mezes de julho e agosto Vi- des com os simptomas do novo flagello, e poste- riormente, quando vem as primeiras chuvas, tornam-se sadias e vigorosas. Ainda n'es- te anno, no mez de agosto, indo eu com alguns amigos á minha quinta de S. Gonçalo da liibei- riuha, alli me disse o meu parente António Fer- reira Cabral: «Infelizmente já aqui tens o Phyllo- xera». Confirmando esta apparição o meu parti- cular amigo Nicolau de Mendonça, confesso que fiquei apouqnentado,e indo eu em outubro assis- tir á vindima fui immediatamente ver as plantas em que elles tinham encontrado a moléstia, iiquei admirado de as encontrar magnificas, attrilniin- do a causa d'isto ás chuvas que houve no fim de setembro. Se as Vides, em que os meus amigos reco- nheceram o Fhylloxera em agosto, melhoraram com a mudança de temperatura e com a chuva, é certo que esta moléstia ataca com maior ou menor força e u'este ultimo caso as Videiras lhe resistem. Considero muito conveniente, que todos os proprietários viticultores no futuro anno exami- nassem com minuciosa attencào aaftecçào ou pa- decimento das Vides cpieappareçam doentes nas suas vinhas, tomando nota da epocha em que as reconhecem affec*^adas, e também de todos os simptomas que apresentam, bem como se estas plantas seccaram,ou se posteriormente se vigori- saram. De todas estas observações se daria par- te á redacção do jornal que o meu amigo tào distinctamente redige, para vermos se vamos rasgando o veu espesso que nos veda reconhecer a causa do novo flagello e o descobrimento do antídoto. Bem sei, meu caro amigo, cpie este appello que aqui faço, é o mesmo cpie pregar no deser- to do iSahará. Infelizmente no nosso paiz que é es- sencialmente agrícola com mais afan se tracta de politica, do que dos interesses e pi-ogresso da agricultura, e se por ventura alguém por amor a esta scieticia, ou palxào pelo dt senvolvimento agrícola no paiz escreve sobre este assumpto, é cognominado j or certa gentinha como maníaco, porém cada um com sua mania. Desculpe a massada, que é o que lhe implo- ra o seu verdadeiro amigo. Joaquim de C. A. Mello e Fako. Temos á mno outra communicaçao so- bre este assumpto. Damos-lhe publicida- de, porque em questões d'este género é útil conhecer-se todas e quaesquer obser- vações. Snr. Oliveira Jvinior. — Comprei o folheto por V. escripto sobre o novo fiagcllo,!'a3 vincas causado pelo Phylloxera vastatrix. E nm primor que folguei de ler, e a sua leitura fez; coiri qie peça à V. liceuça para uma pecpiena observa- ção filha da experiência La 6U annos. O Phylloxera vastatrix, por este nome ou por outro, é conhecido do agricultor ha mais de cem annos, é velha a sua destruição na cepa. Agora o problema c — qual o remédio para a destruição do Phylloxera vastatrix f Segundo a minha crença e opinião sào os pa.ssaros. Estes desappareceram (porque os mataram) por conse- guinte appareceu om grande quantidade o Phjl- loxera vastatrix. Ha OU annos vi eu terrenos em que appareeia o Phylloxera; em seguida appare- ciam bandos de pássaros que só se sustentam de bichos, e cpie os devastavam todos: entre o agri- cultor passava como crença que as aves, cpie co- miam bichos, se nào matavam, e antes se prote- giam •, essa crença desappareceu e hoje mata-se toda a ave. O resultado é a multiplicação dos bichos dam ninhos. Na minha fraca opiniào, o problema a deci- dir é ver como voltarão as aves que comem toda a qualidade de insectos. Todos os remédios por V. apontados me parecem muito bons, mas nào efiicazes. Estimarei mesmo que V. dê publicidade a esta minha insignificantíssima observação, filha do desejo de fazer bem á agricnltura e aos meus patrícios. Souetc. Lisboa. Domingos de Gamboa e Liz. Seja-nos licito fazer uma pergunta ao signatário da carta. Não confundirá o snr. Domingos Gam- boa e Liz o Phylloxera vastalrix com ou- tro insecto? Pensamos que sim, porque mais nin- guém se lembra de ter observado o Phyl- loxera ha mais de 60 annos em parte al- guma, quer no paiz quer na Europa. — Temos a agradecer a remessa do volume correspondente ao anno lindo do «Bulletin d'Arboriculture, de Floriculture et de Culture potagère» órgão do Centro d' Arboricultura da Belo-ica. E' uma publicação nitidamente im- pressa e redigida pelos snrs. Fréd. Bur- venich. Ed. Pynaert, Em. Redigas e H. J. Van Hulle, cavalheiros de reconhecido merecimento. Publica-se um fasciculo por mez, o qual vera acompanhado de uma chromo-lito- graphia e varias vinhetas. — Occnpamo-no3 no numero passado da projectada Sociedade Horticolo-Agri- cola Ptjrtiigucza, e hoje temos a juntíir ao que já dissemos que era sessão de 22 de dezembro, celebrada iia redacção deste jornal, foram aprcseiitndt.is os estatutos quo haviam sido rcdi .,i.Ios pchi. respectiva omviiissrio e ([uc, depois de algumas pe- que:\T:-; mcdilicaçocs, tiveram a aprovação dos membros presentes. 38 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Os fins cVesta sociodade podeiu infe- rir-se da sua denominação; comtudo, para que se possa fazer melhor ideia do seu alcance, damos o seguinte extracto do programma que cila se propõe reali- sar: Fomentar e desenvolver a horticultura c agricultura, em geral, e os ^ seus ramos correlativos; investigar os seus interesses ou nessidades; proteger tudo, emfim, que tcnlia relaçuo com este importante ramo do trabalho e a nobre classe que o pro- fessa; crear um campo de experiências c aclimação de plantas úteis e ornamen- taes; formar collecçues completas de fru- ctos indígenas e dos melhores exóticos, diligenciando particularmente organisar a flora pomologica nacional ; facilitar aos seus sócios a acquisiçào de plantas e sementes úteis e ornamentaes por um módico preço, ou ainda distribuindo-as gratuitamente quando julgar conveniente; promover o gosto pela cultura de utilidade e ornamento, pela crcncào e introducçào de animaes, organisando para esse fim exposições e concursos quando a sociedade tiver meios para isso; crear imia agencia ou deposito para onde os associados pos- sam enviar os seus productos, ou as amos- tras, facilitando-sc-lhes assim uma venda prompta e vantajosa, mediante uma pe- quena agencia para a sociedade ; formar uma bibliotheca de obras agricolas e hor- tícolas para uso exclusivo dos sócios , bem como um museu ou collocçao do productos naturaes, modelos de machinas e instrumentos agricolas, etc; crear uma eschola pratica de jardineiros e hortelões; crear um jornal horticolo-agricola, órgão da sociedade, etc, etc. Finalmente representar ao governo contra qualquer medida que possa tolher o desenvolvimento da cultura ou propor todas as medidas que se julgarem de uti- lidade para o seu progresso e para o au- gmentoe bem-estar da classe cultivadora. Os sócios são divididos nas seguintes cathegorias: 1.^ Effectivos — Formada de todos 08 individues do paiz que se queiram ins- crever como sócios; pagando a jóia de 2:250 reis no acto da entrada e 4:õ00 animaes pagos em duas prestações. As senhoras também são admittidas como só- cias, pagando a jóia de entrada de 1:000 reis e a quota annual de 1:200 reis. 2.^ Correspondentes- — Formada de residentes no estrangeiro. 3.^ Honorários— Formada de todos os indivíduos de qualquer nação que a sociedade nomeie como taes em attrnção aos serviços prestados a esta associação, ou ás sciencias em geral, não pagando jóia nem quota. 4.^ Vitalicios — Formada d'aquelles que se queiram inscrever como taes, pa- gando por uma só vez a quantia de lOOj^OOO reis. Segundo uma disposição dos estatutos também serão admittidos gratuitamente para sócios os lavradores de pequena cul- tura e operários hortícolas que possam com os seus conhecimentos práticos ser úteis á sociedade. Os direitos dos sócios são estes : Livre accesso a todos os estabeleci- mentos da sociedade, como jardim, estu- fas, hortas, pomares, exposições, sala de leitura, etc. Direito de fazer e dirigir nos jardins da sociedade qualquer ponto de cultura, conformando-se com os res- pectivos regulamentos; apresentar á so- ciedade oralmente ou por escripto propos- tas sobre qualquer assumpto hortícola ou agrícola; exigir da sociedade qualquer esclarecimento que ella lhe possa dar ou obter; concorrer a todas as sessões; fre- quentar, logo que o haja, todas as nou- tes o gabinete de leitura. As senhoras terão os mesmos direitos dos sócios. Confiamos na boa vontade e superior intelligencia da commissão installadora e estamos bem certos que ella envidará to- dos os esforços para que vingue este uti- líssimo pensamento. E como Voltaire lhes diremos: Soldados, conqnistae os louros da victoria! — As Xanlfiorrcas, essas Liliareas gi- gantescas da Austrália meridional, cujo aspecto fora do com m um é tão ])ittoresco, gosavam de má reputação para com os colonos, que não reconheciam n'ella8 nenhuma utilidade, e deixavam-nas ve- getar nos terrenos mais pobres d'este fera- cissimo paiz. Até agora o mais que se fazia era transplantar para os jardins ou parques JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 39 algtms dos mais bcllos exemplares, onde formavam um exeellente contraste com as outras arvores de folhagem. Ultimamente, porém, descobriu-se que o tronco d'estas arvores (Xanlhorrea haslilis) contem the- rebentina e uma grande quantidade de as- sucar. Na provincia de Victoria edificou- se desde logo uma fabrica para similhan- te exploração. Se se realizarem estas es- peranças, as Xanlhurreas, tSo desprezadas até hoje, exercerão dentro em pouco uma importante influencia na industria da Aus- trália. — «O Phylloxera no Alto-Douro — Carta dirigida aos seus irmãos lavradores do paiz vinhateiro», é o titulo de ura opúsculo com que fomos attenciosamente obsequiados pelo snr. barão da Roeda. Este cavalheiro que se tem dedicado á agricultura c visitou ultimamente a re- gião vinicola que se acha atacada em Fran- ça pela nova moléstia das vinhas, dá conta no seu livro do que alli pôde observar e dos esclarecimentos que lhe foi possivel colher. Apresenta o tractamento preventivo que lhe parece convir mais ás Videiras, e es- tuda muitas outras circurastancias de uti- lidade pratica. Agradecemos cordealmente ao snr. barão da Roeda a sua delicada offerta. — Outra interessante publicação que temos deante de nós é o «Manual Pratico do Agricultor Indiano», volume primeiro, obra que o seu esclarecido auctor, o snr. Bernardo Francisco da Costa, consagra especialmente a desenvolver as culturas mais adequadas á bella região dos pal- mares, onde vira a luz do dia. Ornado de formosas gravuras illus- trativas do texto, o trabalho que o snr. Costa se propõe desempenhar divide-se em duas secções. A primeira, que é a que nos foi dado compulsar, comprehende as noções mais elementares de agronomia, e a segunda, que prometteser a mais impor- tante tractará particularmente da applica- ção d'essas leis. Possa tão útil quanto civilisador em- penho do illuetrado agrónomo ser mais feliz do que o são em geral as obras litte- rarias ou scientificas em terra e lingua de portuguezes • jornal que vê a luz da publicidade em Coimbra, transcrevendo para as suas co- lumnas a noticia que demos sobre a crea- ção das estações agronómicas, no numero de janeiro, em que dizíamos que em Coimbra se havia escolhido um recinto para este fim, informa-nos que apesar de estar indicado o local, «nada se tem feito, nem em tal se pensa.» Sentimos deveras esta rectificação que tão pouco lisongeira é para as respectivas auctoridades que de certo nos dirão: Nunca ninguém desespere em quanto lhe a vida dui-a, ua memoria se tempere que o mal que entào o fere por tempo pôde ter cura. Nós objectaremos que — qfuem espera, desespera, e que o mal já vem de muito longe, tornando-sepor conseguinte a cura cada dia mais difficil. Emfim, pôde ser I — Tracta-se de organisar n'esta cidade uma exposição permanente de todos os productos naturaes e de suas transforma- ções, e, segundo uma cii-cular-prospecto que nos foi dirigida pelo snr. Eduardo Moser, já se acha alugado o circo do Pa- lácio de Crystal para esse fim. Os preços locativos de espaço não ex- cederão a 5:000 reis ao anno por cada metro superficial, em meza, galeria, ou parede. No centro do edificio a taxa é a mesma por metro cubico. Por seis mezes, o abatimento será de 40"!^; e por três mezes de BO^j^,. A entrada na exposição será gratuita, excepto nos dias santificados e n'outros que a empreza julgar conveniente. Desejamos que o iniciador d'este em- prehendimento seja feliz e que os indus- triaes, artistas e agricultores o coadju- vem, porque são os que mais interesses po- dem auferir d'este certame perenne. — Havíamos noticiado, no numero passado, que em consequência dajubila- ção do snr. dr. Antonino José Rodrigues Vidal fora nomeado para director do Jar- dim Botânico de Coimbra o snr. dr. An- tónio de Carvalho Coutinho e Vasconcellos. Com profunda magoa noticiamos hoje o fallecimento d'este illustrado cavalheiro, em quem sobejavam titules para exercer — O «Tribuno Popular», exeellente | um cargo tão importante. 40 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA As pessoas que tinham rcLações com o finado perderam um excellente amigo e a seiencia perdeu ura vulto que a ador- nava brilhantemente . — A casa J. Rothschild, de Pariz,em- .prehendeu a publicação de duas soberbas obras, soyjundo aquelle senhor nos certi- fica n'uma carta que temos presente. O titulo d 'um d'estes livros é «Les Roses» e o do outro «Les plantes alpinos». O snr. J. Rothschild é editor por ex- cellencia de obras agricolas e horticolas : a intitulada «Les Promenadcs de Paris», que ora está em via de publicação, pro- niette ser uma das mais notáveis que o sur. Rothschild tem publicado. — A Robinia pseiulo Acácia, queCob- bett considerava como uma das melhores arvores para pi'oducto, conhecida vulgar- mente pelo nome de Acácia, esta arvore anti'iU!?sima no nosso paiz, vae desappare- cendo dos jardins e ruas publicas. Que ra- zão haverá para que assim se despreze vuna planta que tão soberba é quando está en- feitada com myriadas de grandes cachos de um bríinco puro e que exhalam tão suave aroma? Porque não se planta á mar- gem das estradas , pois que as suas lon- gas raizes seguram e consolidam a terra, ao passo que a folhagem abriga o viajan- te do calor? Tudo está na incúria dos homens! Aqui no Porto, por exemplo, ha uma arvore predominante — a Acácia melano- jcyhii — pela qual a jardinagem camará- ria tem verdadeira predilecção, e pòe de parto outras verdadeiramente bellas, taes como esta a que nos referimos. A sua variedade Dectiisneana, que foi encontrada n'uma sementeira da espécie typo no.s viveiros de ]\ír. Villevieille Jú- nior, CU' ]\Ianosf[ue (P>aixos Alpes — Fran- ça), c \i'iia excellente acquisição que re- eomineudamos a todas as pessoas que gostam de bellos vegetaes.Pela carta que em hcguida inserimos dirigida ao obtentor por Mr. Dccnisne, membro do Instituto de FríMiça, ver-se-ha com que enthiisias- mo o oriíililo professor recebeu as floi'es d'a(]:i'^lla Acnili'.. Eis a carta: J>Ir.\ illcvicille. — A caixa f^vo mo remotteii conto.ulo :il!4iiiis raiiiMS coiu llrno.-: .la sua I{i>bi- nia pstHih)- Acácia, i!c fli-rc lur de lo^a, c1ip;_'ou áa iiilnlias 'nJM.s algiuid instantes aiúes da li(,'ào que tiiiba de dar, e portanto aprovcitci-iac d'a- quella coincidência para que o meu auditório ad- mirasse a planta que V. obteve, e que si>p:undo parece, devo fazer uma espécie de revolução no ornamento dos nossos passeios públicos. A cor de rosa das flores que, só se pode comparar á das mais brilhantes variediules da Robinia hispida, dará aos nossos i)arques um aspecto completamente novo, n'uma epocha do anno em que as arvores de ornamento já toem perdido todo o seu brilho. Acabo de mandar fazer um desenho a Mr. Riocreux e aconselharei a Mr. Carricre que o in- sira na "Revue llorticole» para que todos possam conhecer bem esta belliseima acquisiçào. Seu amigo, etc. Decaisne. Esta carta, comquanto laconicanien- te escripta, deixa ver que a planta obti- da por J\Ir. Villevieille é uma preciosida- de horticola que julgamos desnecessário encarecer. E se disséramos que ia lançar- se breve no mercado uma Robinia semperjlorens, seria necessário precedel-a d'encomios? Pois somos nós a dar essa nova e abs- temo-nos de fazer qualquer elogio, limi- tando-nos a expor á consideração dos nossos leitores as seguintes linhas que ]\Ir. E, A. Carrière publica a respeito d'ella n'um dos últimos números da sua «Revue Horticole». Para completar a serie das Bolinias, nào faltava senào nina variedade francamente remon- tante: scmperflorens. Esta lacuna acaba de ser preenchida, e melhor talvez do que se pensai-ia. Com etioito, n'uma sementeira que fez um nosso coUega ha cerca de oito annos, encontrou um in- dividuo que, nào apresentando nada de notável no seu aspecto, poderia ter sido arrancado, mas felizmente nào o foi. Quatro amios depois esta Robinia tloresceu como as outras em abril e maio, e durante o verào d'aquelle mesmo anno produ- ziu algumas flores. Este ultimo facto, porisso que se mostrava frequente e accidentalmente, nào mereceu a menor attençào; porem renovou-se nos ainios seguintes e mais bem caracte- risado. Em 1l)iilosa, cora pequeno com cinco divisões; a corolla é mo- 1 cinco divisões. Tem dez estamcí pouco sa- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 49 lientes e a capsula é de cinco lóbulos polys- permos, com cinco válvulas. A Andromeda buxífolia é indígena da ilha Bourbon onde habita as mais ári- das montanhas na altura de 554 metros, acima do nivel do mar. O solo qu^- lhe é apropriado não nos é fácil imital-o porque se compíjc de cama- das de fragmentos vegetaes sobre uma rocha volcanica, em que abundam muito as ilhas Bourbon, França e Rodriga no mar das índias. Cultiva-se nas estufas em terra de urze não muito fina. Multiplica-se de mergulhia e de esta- ca, sendo este ultimo modo de reproduc- ção bastante difiScil. As flores são terminaes, em cacho, en- carnadas pelo lado superior e amarelladas pelo inferior. Lisboa. A. M. L. DE Carvalho. HERB4RI0 FLORESTAL DO CONTINENTE PORTUGUEZ Vamos hoje apresentar aos leitores as plantas florestaes, tanto arvores como ar- bustos, que se encontram no nosso paiz e que mais importância têem na economia florestal. Umas são indígenas, e espon- tâneas, e outras foram introduzidas e en- tre estas algumas tão recentes que só se encontram como plantas de estimação nos parques e jardins. Não se deve estranhar o mencionar- mos alguns arbustos na classe de plantas florestaes; pois que não são só as arvores das quaes podemos aproveitar madeiras e cora- bustiveis que devem merecer a attenção do silvicultor, mas também as que ser- vem para consolidar as terras moveis, charnecas arenosas, dunas, ribas, e as margens dos rios, ribeiros e lagoas. Mui- tas d'estas produzem madeiras que têem applicação nas artes e industrias. Não é nossa intenção fazer um tra- balho botânico, unicamente dar uma lista das plantas lenhosas que mais se encon- tram no paiz; e só para seguirmos uma tal ou qual ordem, as dispomos pelas fa- mílias naturaes. CUPULIFERAS. Fagus castanea Linn. — Caslanea vesca, Goert; Castanea vidgaris Lam. — Casta- nheiro — Arvore de primeira grandeza, muito frequente em quasi todo o reino. Fagus silvatica Linn. — Arvore de ele vado poi'te, indígena dos paizes septen- trionaes da Europa, Ásia e America, e encontra-se no paiz unicamente como ar- vore de ornamento. Quercus robur Linn. — Q. pedunculala Ehrh. Q. racemosa Lara. — Carvalho com- muui — Arvore de elevado porte; habita a província do Minho e encontra-se com muita frequência em Traz-os-]\Iontes, Beira, e em parte da Extreinadura. Quercus sessiliflora Smith. — Carva- lho roble — Arvore de grandeza egual ás antecedentes, muito frequente na parte septentrional do paiz. Quercus hybrida Brot. — Carvalho cer- quinho da Beira — Arvore de pequeno porte muito vulgar na parte austral da província da Beira. Encontra-se tam- iDem n'alguns pontos do Minho e Ti'az-os- Montes. Quercus pubescens Willd. — Carvalho pardo da Beira — Arvore de porte me- diano; encontra-se na Beira, Traz-os- Montes e Minho. Quercus toza Bosc, — Carvalho toz- za — Arvore de pequeno porte; habita em alguns pontos da provinda do Douro. Quercus fructicosa Brot. — Q. humiUs Lam. — Este Carvalho anão — arbusto, encontra-se na Extremadura e na Beira austral. Quercus coccifera Linn. — Carrasquei- ro — E' um ai*busto, abunda em todo o paiz, exceptuando na parte septentrional* Quercus lusitanica Lam. — Carvalho lu- sitano— Arvore de primeira grandeza, encontra-se na Extremadura e Alemtejo. Quercus ilex Linn. — Azinheiro — Ar- vore de medianas proporções, muito vul- gar no Alemtejo, Algarve e na Beira, no districto de Castello Branco. Quercus ballota Desf. — Variedade da antecedente; vive associada a ella. Seus fructos são muito saborosos. 50 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Quercus suber Linn. — Sobreiro — Arvore cUaltura mediana; habita em abun- danciano Alcmtejo, mas encontra-se tam- bém cm outras muitas partes do reino. Quercus occidentalis Gay. — Carvalho Occidental — Arvi)rc de porte quasi ogual á antecedente; muito frequente no norte do reino. Esta arvore andou por muito tempo confundida com o Sobreiro. Quercus hispânica Lam. — Carvalho de Hespaniia — Arvore de primeira gran- deza; habita a serra de Monchique no Algarve. No paiz encontram-se ainda algumas espécies exóticas de Carvalhos que se cul- tivam simplesmente como arvores de ornamento, taes como Quercus alba., (J. coccinea, Q. discolor, Q. nigra, Q. pa- luslris, Q. AeijUops, Q. rubra, etc, etc. D'esta ultima espécie encontram-se alguns exemplares na matta de Valle de Cannas, próximo a Coimbra. OLEAGEAS Fraxinus excelsior Linn. —Freixo com- mum — Arvore de grande porte; encon- tra-se em quasi todo o reino. Encontram-se no paiz mais algumas outras espécies exóticas de Freixos, culti- vadas nos parques e jardins, algumas das quaes se poderiam accommodar á cul- tura Horestal, como por exemplo o Fraxi- mus ornus, F. americana, F. ejiiptera, etc. Olea europaea Linn. — Oliveira — Arvore de mediana grandeza, muito vulgar nas regiões centraes e meridionaes do paiz, Olea europaea, var sylvestris lírot. — Zambujeiro — Arvore de pequena gran- deza; encontra-se próximo aos olivedos. Phillyrea angustifolia Linn. — Lentisco bastardo — Arbusto ou arvore de peque- nas dimensões; habita em geral as regiões centraes e austraes do paiz. Phillyrea latifolia Linn. — Aderno de folhas largas. Phillyrea media Liim. — Aderno de fo- lhas intermedcas — Arvore ou arbusto de porte egual á primeira e habita os mesmos sitios. ULMACEAS. Ulmus campestris Linn. — Olmeiro — Arvore de elevado porte, encontra-se na Extre madura. Beira e em todo o norte do paiz. Encontram-se no paiz mais algumas espécies d'esta arvore cultivadas em ali- nhamentos, taes como Uínius di ffiisaWúd. Uimus monlana Smith, etc. CELTIDEAS. Ceitis australis Linn. — Agreira ou Lodào— Arvore muitas vezes de grande porte; encontra-se em quasi todo o paiz. Nos parques e jardins cultivara-se ou- tras espécies como o Ceitis americana, C. occidenUdis, C. crassifolia, C. Toiír- neforli, etc. ACERINEAS. Acer campestris Linn.- Bordo com- mum — Arvore de altura mediana; muito vulgar na serra da AiTabida e encontra-se n'alguns outros pontos do paiz, em geral como arvore d'ornamento. Acer pseudo -platanus Linn, — Plátano bastardo — Arvore de primeira grandeza; habita a serra do Gerez e encontra-se n'al- guns pontos do paiz como arvore de alinha- mento. Acer Monspessulanum Linn. — Bordo de Montpellier — Arvore de pequeno porte e ás vezes arbusto; habita a província de Traz-os-]\Iontes. Acer negundo Liim. — Bordo negun- do — Arvore de porte mediano; encon- tra-se no paiz como arvore de ornamento. Encontram-se no reino algumas outras espécies nos parques e jardins, como por exemplo o Acer macroplujllum, A. Opa- lus, A. rubrum, A. saccharinum, etc. TAMARICINEAS. Tamaria gallica Linn. — Tamarguei- ra — Arbusto; encontra-se na Extremadura e Beira. TILIACEAS. Tilia europaea Linn, — Tilia da Euro- pa.— Arvore de elevado porte; encon- tra-se no paiz como arvore d'ornamento, preferindo as nossas regiões centraes e septentrionaes . Tilia americana Linn. — Tilia d 'Ame- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 51 rica — Tilia grandi folia Ehrh. ou Tilia intermediaria DC. — Tilia de folhas lar- gas. Tilia argêntea Tilia prateada — A es- tas espécies cabe tudo quanto diz respeito á pi'imeira. HIPPOCASTANEAS. Aesculus hippocastanum Linn. — Cas- tanheiro da índia — Arvore de grandeza mediana; encontra-se em quasi todo o paiz como arvore ornamental; é originaria da Pérsia. Aesculus rubicunda — Arbusto e ás vezes uma pequena arvore; é uma espécie só própria dos jardins e parques. ILICINEAS. Ilex aquifolium Linn. — Azevinho — Arbusto; habita a parte septeutrional do paiz. RHAMNEAS. de agua — Algumas pessoas também lhe chamam Amieiro negro, o que é erro; pois esse nome é o do Almis glutinosa. Arbusto, e ás vezes uma pequena arvore; encontra-se com frequência na Beira e Minho. Rhamnus alaternus Linn. — Sanguinho das sebes ou Aderno bastardo. — Arbusto ou pequena arvore, muito frequente no paiz. Rhamnus zizyphus Linn. — Anafega maior ou Açufeifa maior — Pequena ar- vore; habita o Algarve. Rhamnus lótus Linn. — Anafega me- nor ou Açufeifa menor — Ax-busto; encon- tra-se na Extremadura e Beira. No paiz ainda ha mais duas espécies d'esta planta que são o Rliamnus lyciosi- des Linn; e Uhamnus buxifolius Link. O primeiro é frequente na Extremadura e o seo-undo no Douro. Adolpho Frederico Moller. Rhamnus frangula Linn. -Sanguinho Coimbra. (Contimia) CiMELLIiV MAGESTOSA DE VILLAR A Camellia é inquestionavelmente uma das mais bel las conquistas que fez a hor- ticultura no decorrer do século passa- do. O porte do arbusto é sobremodo ele- gante. O formoso verde das folhas e as suasbellas flores axillares, que tanto variam em tamanho e perfeição de formas, toimam estas plantas indispensáveis em qualquer jardim. Além da belleza com que a na- tureza capriclidsamente as dotou, accresce que só patenteiam as suas brilhantes co- rollas quando quasi toda a vegetação está sopitada em somno lethargico, — e então como que dizem: «Mulher, queres ser bella? Aqui nos tens. Aproxima os teus delicados dedos virginaes e ceifa-nos a vida. Que importa a morte prematura? Se nos deixares embaladas nos braços de nossa mãe, ser-nos-ha mais longa a vida; mas nós não viemos ao mundo só pai-a recreio da vista nos jardins. Nós queremos incessantemente indemnisar-te dos cari- nhos que prodigalisaste a nossa mãe desde que ella aqui veio fixar residência. Somos, pois, vossas. O que somos, a vós o deve- mos...» Fica a donzella narcisando-se na flor; e, pensando ver n'ella a sua imagem, co- Ihe-a e engrinalda a fronte. Ahi parece mais formosa a Camellia;. ahi é que ella impera como verdadeira rainha. E' no rodopiar oífegante da célere valsa que a Camellia jubilosamente se es- panneja, porque a vida tranquilla e monó- tona do jardim é-lhe remanço enfadonho. D'aqui se infere que a tal ponto se germanisam flor e mulher, que mais parece a watureza havel-as creado irmãs que ri- vaes. O mesmo colorido em ambas: nas faces d'uma e nas pétalas da outra. Am- bas rainhas: uma no jardim, outra nas salas. Egual elegância nas formas d'uma e nos contornos da outra. Uma vestida de natural setim que só com uma gotta d'a- gua se macula; a outra pura como o crys- tal que, na phrase do padre Vieira, o mais subtil hálito poderá perturbar. A Camellia cuja nome especifico sõ olí JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA encontra na epis^raphe d'csta noticia tem invencilhadissima historia. Damos portanto a palavra ao snr. Cln'istiano Van-Z'>ller, porque é na quinta d'este cavalheiro, cm Villar, que existe o exemplar que consi- deramos pé-màe. Eis o que nos diz: Meu bom ainiço — Dcsciava tor bases pai-a lhe dar a historia da nossa bclla Cainellia Ma- gestosa de Villar, mas iufcliz;nente d'ellas estou carecido. E' certo que esta CameUia nasceu no meu jardim, mas — coitadinha! — tíio poucos foram os cuidados e desvellos que lhe dispensaram, que mesmo a usaram como «cavallou para uma muito nossa conhecida, a Pomponia Monstruosa. Creio que seria por esquecimento que deixaram crescer juntas tanto o «cavallo» como o enxerto, até que conliecendo-se finalmente a superioridade do «ca- vallo" decretaram a morte á Poitqjouia. Esta é a tradi(,'ào; e diz o meu hortelão que quando veio para minha casa (ha íiO aunos) já cila existia. A descripçào que o mou amigo fazd'ella está muito exacta — ma.s temos a accrescentar a gran- de variedade de flores que dá. Algumas são todas maculadas de branco, ou- tras nào. Umas vezes regulares, outras irregula- res— a meu vêr é a CameUia que otlercce maior variedade de flores. Felizmente a chuva dei.xou escapar as três flores que lhe mando todas no mesmo pé. Mais tarde principiam a apparecer muito maculadas. Para o que lhe poder ser útil mande quem se confessa de V. etc, C. Van-Zellek. Ac^radecemos ao snr. Christiano Van- Zcller os seus benévolos esclarecimentos, e resta-nos agora dar a descripçào das flores que nos foram enviadas. Sào bastante volumosas, fórraa ranún- culo; a primeira ordem de pétalas é côr de rosa carregado e maculadas de branco; as interiores cor de rosa assalmoado. As flores perfeitas apresentam algu- mas das pétalas interiores maculadas de branco. As pétalas são obovato-cordiformes e de imbricação regular. As folhas são ellipticas, acuminadas, grandes, levemente denteadas junto da base e serradas para o vértice. Sào de côr verde azeitona brilhante superiormente, e verde amarellado na face infera. Esta descripçào foi feita era presença das flores que nos remetteu o snr. Van- Zeller, mas é possível que ellas variem caprichosamente como muitas das suas conireneres. Oliveira Júnior. SORGIIO S.VCCIIVUI.XO, OU ZVBLimO DO ASSUC.VR Hoje, que as vinhas ameaçam ruina por causa das diversas moléstias, que as atacam, e que já o preço do vinho torna o álcool, extraindo d'esto liquido, exces- sivamente caro; e por outro lado, devendo o grande consumo de cereaes, no fabrico do álcool, causar difficuldades para o futuro alimento do povo, não será supérfluo, an- tes me parece ser de utilidade, o estudar aquellas plantas, que possam produzir maior e melhor quantidade de álcool para supprir a escassez do vinho e obstar ao grande desvio de cereaes do seu verda- deiro fim, consumindo uma grande parte cm distillaçòes alcoólicas como presente- mente se estíi fazendo. A França, em occasiào de grande apuro, lançou mão da Beterraba, de que tirou grandes recursos em assucar e ál- cool. Hoje, receando do futuro vinícola, lá está ensaiando outra planta que riva- lisa, se não excede, em partes sacchari- nas, a Beterraba. Esta planta é o Andro- pogon saccharatiis Roxb.; Holcus sacchara- /i(.s- Linn.; e Sortj/tuin sacc/iaratuni Fers.] a ([ue mis poderemos chamar Sonj/io sac- c/iarino, ou Zaburro du assacar, por causa da affinidade que tem com o nosso Mill/to Zaburro, ou Sonjho vuli/ar (Andropogon sorghum Brot. ou Holcus sorglium Linn.) O género Andropogon pertence á familia das Gramíneas. O Andropogon saccliaratus (Sorgho saccharino), oriundo das índias e da Ará- bia, é uma planta annual, mui visinha do Sorgho vulgar (Milho Zaburro), e differe d'oste : 1.° por ter a panicula maior e mais laxa, cujos ramos se estendera hori- sontalmente, ou se tornara pendentes, quando sustentam o fructo; 2.^ por sua gluma vilosa; 3.^ pela longa arista de suas flores hermaphroditas. Em tudo o mais c similiuinte, até na altura, que se eleva de 2 a 4 metros, e feracissima pro- dueção. Esta espécie rústica, e de fácil cultura, JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 53 tem já dado óptimos resultados em bom assucar e álcool, superiores em quanti- dade e qualidade ao de muitas outras plantas e grãos. Mas nào é somente o as- sucar e o álcool que produz esta planta. Além d'isso contém uma matéria coíorante magnifica para tingir seda de vermelho, e contém ainda uma espécie de cera, a que dào o nome de «cerosia». Esta planta semeia-se na primavera, e requer o mesmo terreno e cuidados que o nosso Milho vommum. Villa Nova de Ourem. Marianno de Lemos Azevedo. J.VIIDINEIRAS PARA SALAS As flores nos quartos, a horticultura nos nossos hábitos de casa são uma das mais delicadas distracções dos salões du- rante o inverno, e a moda toi'nou-a hoje parte integrante das occupações da dona de casa. Depois que acabaram os bellos dias. Fig. 15 — Jardineira para salas. sala, e mesmo das jardineiras, foi saudada cora verdadeiro alvoroço, e fizeram logo a sua entrada triumphante nos salões das elegantes mais notáveis pelo seu bom gosto. Os excellentes modelos que a casa Dick RadclyíFe & C.° introduz constan- temente na industria, têem também con- corrido bastante para que o gosto e en- thusiasrao pela floricultura caseira tenha tomado o incremento que hoje se lhe nota. Acompanhamos esta noticia com dous mo- delos d'estas jardineiras extrahidas do ca- tálogo annual que aquelles senhores pu- blicam. quando os campos ficam desertos e vamos pedir ao calor dos fogões, ao redemoinhar das valsas ou á alegre palestra, o bem- estar e o prazer, quanto não é agradável vermo-nos rodeados d'estas innocentes pro- ducções naturaes que Flora protege! A apparição das estufas-jardineiras de Fig. 16 — Jardineira para salas. São de construcção tão simples, que o próprio amador pode construil-as por sua» mãos. A figura 15, é realmente muito elegante, a Dracaena, que se acha plantada ao meio, rodeada de Selaginellas , forma com o ap- parelho um todo harmónico, que produz um lindo efí'eito. Aconselhariamos a sua collocação nas salas, ao meio das janellas entre os cortinados. A figura 16, supposto seja mais simples, não deixa coratudo de ser elegante. E' feita de fragmentos de madeira por descascar. A- J. DE Oliveira e Silva. 54 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA HERBUllUM CRYPrOG.UIlCUM (l) DO PORTO E SEUS ARREDORES— COLLECÇÃO DE CRYPTOGAmCAS ALG^E. N'essa vasta refj^iào, n'esse liquido con- tinente, n'esse occulto mundo do mar, as Algas, a diíFerentes alturas, similhantes aos Lichens, espalham os seus sporos por toda a parte, adherindo aos rochedos, se- gurando-se na areia, pegando-se ás madre- poras, sustentando-se nas conchas e segu- rando-se umas a outras. Nao só enchem o extenso campo dos mares, mas vera ainda habitar os rios, os lagos, os charcos e as fontes, apresentando a vida na sua maior simplicidade, por toda a parte liquida, como o fazem os Li- chens, por toda a parte solida. A sua colheita, sendo na maior parte, entre as ci-yptogamicns, a mais fácil de todas, por se encarregarem as próprias ondas de as arrancar e trazei- as a nossos pés, é ao mesmo tempo a que demanda mais vagar, para se poder fazer uma boa collecção, por ser preciso esperar por di- versas marés em epochas differentes. Eis aqui as que tenho encontrado e reunido no meu herbario: Uiva latíssima Kg. Em S. João da Foz. Uiva purpúrea Roth. Em S. João da Foz; mais outras. Laminaria digitata Lamour. Em S. João da Foz, mais duas variedades. Fucus vesiculosus Linn. Em S. João da Foz. Outros Fucus. Muito abundante. Rodymenia palmatta Lyngb. Em S. João da Foz. Chondrus crispus Linn. (vulgo, carra- (jahectn) om S. Jào da Foz. Nitophyllum laceratum Grev. Em S. João da Foz. Mais outras. Delesseria sanguínea Lamour. Era S. João da Foz. Polysiphonia nigrescens Grev. Em S. João da Foz e Leça. Mais outras es- pécies. Halymenia reniformis Ag. Em S. João da Foz. Halymenia palmatta Ag. Em S. João da Foz. Dasya coccinea Ag. Em S. João da Foz. Sphacelaria scoparia Lyngb. Em S. João da Foz. Ceramium rubrum Ag. Em Leça. Ou- tras espécies. Zonaria pavonia Ag. Era Leça. Corallina officinalis Eli. et Soland. Em S. João da Foz, em Leça e Granja. Muito abundante. Rytiphlaea complanata Ag. Em S. João da Foz. Batrachospermum moniliforme Roth. Era S. Cosrae de Gondomar, nos ribeiros. Spirogyra nitida? Link. No Porto, no Bicalho, nas pedras cobertas d'agua. Nitella mucronata Ktz. Abundantís- sima em todas as aguas de Fanzeres. Tetraspora gelatinosa Vauch. Em Fanzeres, no ribeiro da Fonte de S. Thiago. Ectocarpus víridis Lyngb. Era Fan- zeres, no ribeiro de S. Thiago. Mais algumas Algas como — Chylodo- nia, Collophyllis, Cladophora, etc, etc. Não pude colligir os Fungus, por me não ser possível, apesar d'algum;is expe- riências, preparal-os e conserval-os no herbario; tencionando, por isso, fazer d'el- les uma collecção em separado. A. Luso. DAS LARANJEIRAS Como está chegada a epocha de se fa- zerem os enxertos de alporque nas Laran- jeiras, vamos dizer alguma cousa sobre (1) Vide J. H. P. vol. IV. pag, 30. estas plantas, porque quando a sua cultu- ra^spja convenientemente feita poder-se-hão tirar lucros avultados. O proprietário que quizer tirar bons resultados nas enxertias das Laranjeiras JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 55 deve fazer como resumidamente vamos expor. Nas Laranjeiras que tiverem boas hastes novas colloca-se, em fevereiro e março, um cortiço era cada haste mas de modo que fique bem direito e não deita- do, para que receba a agua das chuvas e da rega. A haste deve estar bem presa assim como o cortiço á arvore ou a um tutor que se lhe colloque; para estar firme, ao meio do cortiço na haste que fica dentro d'elle, é feito um annel tirando em toda a volta a casca e também ura bocadinho do lenho. Se o ramo é grosso tira-se mais e se fôr delgado menos, porem a casca tira-se serapre toda, quer elle seja delgado ou grosso. Este annel deve ter a largura de um dedo pollegar, mas se o rarao fôr delgado menos, e se fôr grosso mais. Feita esta operação, enche-se de terra o cortiço sendo calcada com um pau, para que fique bera chegada a terra ao annel, a fim de não dar de si com as regas. A terra com que se hão de encher os cortiços não deve ser estrumada, e quan- do não houver perto terra por cultivar que é a que convém, abre-se uma cova de O™, 50 de profundidade e a que se ti- rar serve perfeitamente. Haja porera o cuidado de se regar uma vez por semana durante o verão. No principio de setem- bro o cortiço deve estar cheio de raízes e é n'esta epocha que se devera cortar e plantal-os nos seus legares. Se se ar- rancar uma em raarço próximo, ver-se-ha a quantidade de raizes que já ha a gran- de distancia. Feita a plantação assim, pode-se ter a certeza de que se adiantara dous an- nos. Bera sei que era rauitos legares se te- mem as geadas, mas estas não fazem mal ás raizes; apenas soffrem ura pouco as hastes. Quem todavia tiver palha de milho, centeio, colloque três paus em redor de cada arv^ore fazendo no cirao d'ella uma espécie de coberto, pois unindo-se os três paus a palha abriga a planta. Se não se quizer estar com este tra- balho, cortam-se os enxertos na mesma epocha, tira se-lhes o cortiço e abre-se uma valeira ou rego, em logar abrigado, e d'este modo podem -se cobrir com pouca despeza. Em raarço então plantara se em seus legares, e levarão já uma porção de raizes novas. Do systema priraeiraraente indicado tirara-se porem melhores resultados e pas- sados 4 ou 5 annos haverá um bom pomar. Quem quizer que os seus pomares não sejam tão atacados da moléstia e os fru- çtos sejara mais doces, delicados, e abun- dantes, precisa de plantar as Laranjei- ras era terra leve e saibrenta devendo ser regadas alguma vez de verão. Geralmente escolhera um terreno forte e húmido, o que é ura grande erro, por- que são ahi mais atacadas da moléstia, dão muito menos fructo, e muito ordinário. Recommendo muito que a plantação seja ieita serapre á superficie da terra, e também será bom que quando ellase fizer se lhe cortera alguns ramos do enxer- to. Mesmo se fôr toda podada, a Laran- jeira rebenta immediatamente fazendo-se um arbusto completamente novo. Quando alguma apresenta signaes da moléstia ge- ralmente perto da terra, mostrando uma nódoa preta cora uraa espécie de resina, corta-se com uraa navalha a parte atacada até chegar á sã. Se se lhe deitar uma pequena emplastada de bosta ou bar- ro, em pouco tempo torna-se a cobrir de casca nova. Também é bom tirar-lhe a terra perto do tronco deixando-a estar um ou dous mezes cora as raizes expos- tas a todo o tempo, e depois deitar-lhe uraa porção de terra por cultivar, e se fôr sai- bro rauito raelhor será. Isto pouco custará a experiraentar e eu tenho tirado bons resultados cora a mi- nha pratica. O que acima fica dito comprehende tarabera as Limeiras, Limoeiros e Tange- rineiras. Acrescentarei aqui a lista das Laran- jeiras mais notáveis, que são as seguintes: Celeste império, de Emhigo, Lima, Lima monstruosa, Praia, Sanguínea, e Saúde. As que se devem porém cultivar em grande numero são a de Emhigo e a da Saúde. Estas são as duas variedades que não teem pevide e tem Emhigo mais ou 56 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA menos saliente. Dào fructo c;rande e muito doce podendo-se comer cm dezembro e ja- neiro. A Laranja Lima também se pode comer na mesma epocha e já muito mais doce. Tem porem o deleito de ter muitas pevides Tonia-se saliente em uma mesa porque a apparcncia é d'uma laranja c é corada como as outras. Partida, é branca por dentro. Comida, tem o mesmo gosto que a Lima. José Marquks Loureiro. CIIKO.MCA lIOliTlCOLO-ArTlUCOU Uma grande perda soffi-eu a scien- cia, nos fins do anno passado, com a morte do dr. Frédérick Wclvvitsch, que no dia 20 de outubro, contando GG aimos, desceu á valia, onde fenecem todas as esperanças e illusões da vida. O dr. Wehvitsch morreu em Londres, e era natural de Carinthia, provincia da Áustria, onde estudara direito e depois medicina na Universidade de Vienna, to- mando ahi o grau de doutor. Seupae, abas- tado recebedor d impostos ruraes, como não estivesse satisfeito com a esquivança do filho aos seus estudos de direito, sup- primiu-lhe a mezada, de modo que o col loocu na triste posição de trabalhar para fazer face ás despezas quotidianas. Era com algumas peças dramáticas e criticas musicaes que escrevia nas publicações diárias que conseguia enrostar a vida á qual seu pae o arremessara. Decorrido algum tempo, foi Wehvitsch commissionado a Sabóia para estudar os efifeitos do cólera. Com a perspectiva de futuro brilhante obtiveram seus amigos que o pae de Wehvitsch se reconciliasse com elle. Se d'est'arte lhe honrava o nome, que admira que elle cedesse! Logo ao começo da sua mocidade entrcgava-se F, Welwitsch a pesquizas bo- tânicas e ao depois veio a abandonar a medicina para se dedicar zelosamente ao estudo dos vegetaes e herborisaçòes: para logo estudou as Cryptogamicas, com espe- cialidade as Ahjas e os l\hisgos. Um oífereci monto que lhe foi feito pela «Unio Itinerária» de Wiirtemburg decidiu-o a visitar o nosso paiz como ex plorador botânico, e é d'entào que datam as nossas relações com o botânico aus- tríaco, relações que só a sua morte podia interceptar. Fez cm o nosso paiz grandes herbori- saçòes e teve nas màos por algum tempo a direcção do Jardim Botânico de Lisboa. Agora se completam 20 annos depois que um ministro desvelado, particular- mente por tudo quanto respeitava ás nos- sas provindas ultramarinas, o então vis- conde de Sá da Bandeira, influiu para que o governo ordenasse uma expedição des- tinada a fazer pesquizas sobre a historia natural da Africa Occidental portugueza, bem como para estudar os interesses das nossas possessões no attinente ao desen- volvimento dos recursos d'estas regiões. Esta empreza foi confiada ao dr. Welwitsch, que se deu pressa em partir, percorrendo e examinando 120 milhas geographicas de littoral desde a emboca- dura do Cuanza até Quizembo ao norte do Ambriz, e para o interior 250 milhas, contadas sobre o prolongamento do rio Cuanza até Banca de Quizonde, abran- gendo n'esta observação 2:500 milhas quadradas, em cuja área foi comprehen- dido, além de outros, o districto do Am- briz, o do Golungo Alto, Ambaca, Punge Andongo e Cambambe, as margens dos rios Loge, Liíune, Dande, Bengo e Cuan- za, as serranias das Pedras de Guinga, as mattas de Quizonde e Condo, situadas no vasto território de Angola. O «Diário de Lisboa», de 2 de junho de 1863, que dá esta noticia rubricada por iim cavalheiro cujos conhecimentos são justamente apreciados, o snr. dr. Bernar- dino António Gomes, diz-nos qixe depois d'esta penosa e forçadamente demorada digressão, na qual foram colhidos os re- presentantes de mais de três mil espécies da Flora de toda a região, com muitos outros objectos de historia natural e as notas que devem acompanhar similhantes collecções, não resistira o dr. Welwitsch a visitar Bengaella, e ainda mais demo- radamente os districtos de Mossamedes e Huilla. JORNAL DE HORTlCULTUIiA PRATICA 57 Sete annos se demorou na Africa onde fez grandes explorações. As suas coui- municações seientificas estão archivadas em jornaes inglezes, e d'outi-as nacionali- dades. Diz-se que durante parte do tempo em que residira n'aquella região vivera em companhia do celebre explorador David Livingstone, auctor de vários livros so- bre a Africa, e que tanta luz tem proje- ctado, com as suas viagens, sobre a scien- cia. No primeiro anno da sua estada em Angola, exposto ao calor tórrido do de ser- tão e aos cruéis horrores da sede e da fo- me, explorou a costa que se estende so- bre uma largura de mais de 3" de latitu- de, entre Congo e Cuanza. Em outubro de 1854 dirigiu se para o este e atravessou um montanhoso paiz para chegar ás regiões de luxuriante ve- getação ai-borea, de Cazengo e de Go- lungo alto. Ahi se demorou Welwitsh cerca de dous annos a percorrer o paiz em todas as direcções, a maior parte das vezes a pé, exhausto pelas febres e outras moléstias próprias do clima. Era data de 16 de agosto de 1855 mandou uma relação das collccções dos objectos de historia natural organisadas até então nos districtos de Golungo alto, Cazengo e em parte do de Ambaca; — a qual relação, publicada n'ura periódico de Lisboa, demonstra o assíduo trabalho com que luctou, porque em tão curto espaço de tempo difficil era formar collecções ao mesmo passo tão ricas e avultadas. Eil-a: 1 Um Herbario, cuidadosamente pi'e- parado, de todos os vegetaes que encon- trei até agora nos districtos acima apon- tados. Esta collecção contem actualmente perto de 1:000 espécies em mais de 6:000 exemplares, todos primorosamente con- servados, e deve servir de base para a publicação da «Flora Angolense». 2 Uma collecção de amostras de ma- deiras e de trepadeiras mui curiosa, con- tendo 70 exemplares escolhidos. Esta col- lecção não é somente destinada a provar a immensa riqueza de variadas madeiras, que oíFtirecem estes districtos, mas servi- rá também para o estudo de tecidos le- nhosos, muito pouco conhecidos até hoje respectivamente a arvores tropicaes. 3 Uma collecção carpologica de 110 espécies, differentes formas de fructi- ficações, cuja maior parte presentemente é desconhecida na sciencia. 4 Uma collecção mycologica constan- do de muitos e bem preparados exempla- res de Fungos e Cogumellos, que destroem as madeiras, servindo esta mesma collec- ção para o estudo da Flora mycologica d'estes sitios, e bem assim para o estudo da monographia florestal dos paizes tropi- caes em geral. 5 Uma collecção de plantas e raizes, cascas, paus, e fructos medicinaes, que se acham em uzo entre os curandeiros pre- tos d'este sertão. 6 Uma collecção de amostras de va- rias espécies de gommas e rezinas que encontrei nas arvores d'estes districtos. 7 Uma collecção de plantas textis e tinctoriaes, que encontrei n'estes sertões, para servir de baze á ennumeração dos mes- mos vegetaes, que me foi pedida pela por- taria n.'* 356, em 15 de fevereiro d'este anno corrente, portaria do conselho ultra- marino n.^' 679 de 13 de outubro de 1854. 8 Uma collecção de flores e fructos dos géneros mais importantes d'esta flora, conservados em espirito de vinho para servir ao exame morphologico dos mes- mos géneros em tempo opportuno. 9 Uma collecção completa de todos os vegetaes cultivados n'estes districtos, a fim de poder compor uma flora agricola d'elles, e ao mesmo tempo apontar as plantas úteis de outras regiões tropicaes, cuja introducção para o futuro se torna conveniente e proveitosa para esta pi-o- vincia. JO Uma collecção escolhida e bem conservada de 150 espécies de sementes, de plantas, arbustos e arvores destas re- giões, para serem distribuidas aos jardins scientiflcos e ornamentaes de Portug^al, e nominalmente ao Real Jardim das Neces- sidades, e ao Jardim Botânico de Coim- bra. 11 Uma collecção de plantas vivas, era caixotes, contendo até agora perto de 60 espécies de plantas ornamentaes, taes como Palmeiras, Orchideas, Liliaceas, Fe- tos, etc, etc. Esta collecção também é des- tinada para o Real Jardim das Necessida- des, em Lisboa, 58 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 12 Uma collecçíío entomoloí^ica de perto de 300 espécies dlnsectos, principal- mente coleopteros, parte d'elles em exem- plares seccos, e parte em espirito de vi- nho. Toda esta collecção contém n)ais de 1:200 exemplares. 13 Uma collecção malacolocjica, con- tendo perto de 100 exemplares de mol- luscos terrestres e agua doce. 14 Uma collecção de reptis c peixes e outra de Arachnides, em espirito de vi- nho, Consistindo em cerca de 130 exempla- res dos animaes acima nomeados. 15 Uma pequena collecção de rochas, cuja decomposição principalmente influo na formação da terra-humus dos terrenos cultivados, modificando a quantidade e a qualidade dos productos a^j^ricolas. Welwitsch soíFreu quasi sempre tractos mais ou menos graves em quanto por ahi demorou, e aproveitou-se de algumas me- lhoras que experimentara pai'a visitar de setembro a dezembro (1858), que são alli os mezes de primavera, as margens do Daraee ao norte de S. Paulo de Loan- da. Ko anuo seguinte (1859) escrevia de S. Paulo de Loanda ao snr. Bento Antó- nio Alves, de Lisboa, sobi'e os seus sof- frimentos, e trabalhos que tinha promptos para serem expedidos. Exprime se n'estes termos o dr. Welwitsch: Nào posso explicar ao ainiíío quanta abne- gação e resignação demandam os soth-imentos chronicos da perna direita, que apenas me dei- xam treu ou (juando muito cinco horas por dia, sendo cada semana obrigado a guardar a cama por dous ou três dias; mas desde algumas s( ma- nas permitte aminlia saúde que eu trabalhe com todo o ardor, e tenho já perto de vinte caixotes promptos para o embarque, tudo a miúdo revis- tado. Os herbariosacham-se admiravelmente bem conservados, o que me causou sumnia satisfação (piando aln-i os caixotes para a ultima revista delles na Africa. (Maio 7 de 1850). ^<: .«..^i.C*--^-^'-!--^ Fig. 17 — F;ic-simileda assignatura de Welwitsch. Este excerpto 6 copiado textualmente da carta do infeliz doutor, que, comquanto fosse austriaco, escrevia correntiamente em portuguez. N este mesmo anno percorreu as mar- gens de Mossamedcs até ao cabo Negro, que se estende ao sul de Benguella. Em seguida dirigiu-se a Huilla, pla- nicie pittoresca e sadia, situada á altura de 5:000 a (3:000 pés, e onde recuperou inteira saúde, partindo depois para a Eu- ropa em 1860. Com intuito de estudar melhor as suas collecçoes e de preparal-as para serem publicadas, sahiu de Lisboa para Lon- dres em 1863, a bordo do «Tatar». Antes de partir para a capital inglesa foi encarregado pelo snr. conselheiro Ro- drigo de Moraes Soares, cavalheiro sem- pre do imo peito interessado em negó- cios agricolas, de seguir o estudo sobre os Carvalhos de Portugal. Para isso re- cebeu exemplares enviados de todas as províncias portuguezas. Mas com tama- nhas difficuldades houve de luctar para a precisa determinação das espécies e va- riedades, como presentemente está acon- tecendo aos monographos das Salicineas e outras famílias, que resolveu parar, de- sempenhando-se com oíFerecer ao Insti- tuto agrícola uma monographia dos Car- valhos europeus ornada de bellissimas estampas. Welwitsch nas suas cartas de 1867 mostrava desejos de tornar a visitar Por- tugal e publicar alguma cousa no nosso idioma sobre os Carvalhos portuguezes. Este trabalho occupar-se-hia também de observações climatologico-topographicas. Os seus estudos, particularmente para nós, e para a sciencia em geral, são de extrema valia. Por testamento legou Welwitsch uma copia dos seus trabalhos sobre as plantas da Africa para ser ofFerecidaaoMuseu bri- tânico a 11:250 reis por cada cem espé- cies, exceptuando porém uma collecção de Musgos que deixou a Mr. Duly, de Géno- va; Ao Governo portuguez duas collecçijes de plantas da Africa, gratuitas; Ao dr. Schweinl"urth, ao professor de Candolle, á Academia de Lisboa, ao Mu- seu de Corínthea, ao Museu imperial do Rio de Janeiro, ao Jardim de Kew, ao Museu botânico de Pariz, ao de Berlim, ao de Copenhagen e ao de Vionna uma collecção gratuita a cada um; Ao Museu zoológico de Lisboa a co- pia do seu estudo de collecção entomolo- gica da Africa, Molluscos africanos, todos JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 59 OS seus livros, instrumentos e objectos zoológicos; Ao dr. Peters de Berlim e ao Museu de Corinthea, uma collecção dos Coleo- pteros e Molluscos africanos; Tanto o seu herbario portuguez como o íreral foram deixados á Real Academia de Lisboa. E' este pouco mais ou menos o sum- mario do testamento de Wehvitsch. Não obstante o dever de respeitarmos 03 que já não podem manejar armas em defesa própria, somos a dizer aqui muito á puridade que não comprehendiamos que tão liberalmente dispozesse dos trabalhos executados á custa do governo portuguez e que portanto pertenciam ao paiz. A imprensa portugueza condemnou se- veramente este acto que também a nós nos impressionou, e que por algum tempo nos fez duvidar da honradez do seu cara- cter, ainda que visto unicamente pelo lado do sentimento. Parecia-nos que deveria ser mais gra- to, quando não fosse generoso, mas essa plúmbea nuvem que obscurecia e feria o caracter do nosso commissionado dissi- pou-se logo que tivemos conhecimento da desharmonia que se dera entre Wehvitsch Ora parecp-me que Jlie iiào seria ilifficil fa- zer calar os seus inimigos, se da questão estou bem informado, porquanto estão muito adianta- dos os traballios d'aqueUc distincto naturalista e, mesmo depois da suspensão do subsidio, nào es- moreceu na sua continuaç<ào. Sobre os Molluscos de Angola sei eu quo está no prelo uma obra mui interessante que em breve será admirada; e sobre as plantas novas estão mui adiantados os trabalhos para a publicação de um livro sob o titulo de «Sertumu quo também ha de causar sen- sação. Não ha também decorrido muito tem- po depois que o snr. Bento António Alves nos escrevia as seguintes linhas a respeito do infeliz botânico austríaco: O meu amigo António Borges por duas ve- zes visitou, em Londres, o dr. Welwitsch nos tempos últimos da desgraça e encontrou-o,apezar de doente, sempre entretido com arranjos e exa- me de plantas nos herbarios,e ouviu-lhe os quei- xumes e lamentações asseverando que elle havia já disposto tudo de modo tal que pela sua morte nada perderia o governo portuguez do que lhe pertencia e era devido. O snr. António Alves parece suspei- tar ter havido alguma influencia da parte dos inglezes respeitante ao testamento, e exprime-se assim: Eu attribuoo que agora acontece á influen- cia dos sagazes bretões sempre astutos e avaros em aproveitarem e disputarem a preza segundo as suas diversas especialidades e jerarchias. O dr. Hooker, director do Jardim e o Governo, procedente da roazuitrií^a, r)^,„„- ^ i xr • i ' ^ . , , p *= ' I JDOtanico de Kew, escrevia ha pouco a um arma com que se aquicnolam os fracos e' - ^ obscuros no campo da intellectualidade. Welwitsch innocente nas accusacões que seus detractores lhe faziam, conser- vava o mais profundo silencio abroquela- do com a lição do Theodoro do «Tartufo» portuguez: As setas da calumnia, é baldo oppor escudo. Parlem sem tom nem som que eu fico surdo e mudo. Nào façamos nós mal que o mais importa pouco. Era uma carta que temos presente firmada pelo snr. José do Canto, de S. Miguel, e datada de Pariz aos 25 de ja- neiro de 1867, léem-se os seguintes pe- ríodos que mostrara as boas disposições em que estava Welwitsch, não obstante o governo haver- lhe retirado era outubi-o de 1865 o subsidio que elle vencia: No principio d'este mez tive noticias do dr. Welwitsch que continua a ser afirontado e vili- pendiado segundo me escreveu. Parece que um novo jornal que ahi appareceu em novembro passado, sob os auspícios da Academia, inaugurou a sua tarefa atacando de novo Welwitsch. nosso araigo as linhas que se vão ler re- lativamente ao testamento de Welwitsch: As collecçòes de Welwitscli são de immen- so valor, peço-lhe portanto que exponha isto á consideração do governo portuguez todas as vezes que possa, e faça uso da minha auctoridade para dizer que são as melhores collecçòes que se téem feito na Africa até hqje, e que a perda d'el- las para Portugal seria uma desgraça nacional. Consta-nos que o dr. Hooker fora en- carregado pelo governo portuguez de tra- ctar sobre o caso cora os herdeiros de Welwitsch e oxalá que o erudito botânico inglez zele devidamente os nossos inte- resses. Consta-nos outrosim que nos prin- cípios de março partirá d'aqui para Ingla- terra um cavalheiro a tractar d'esta ques- tão tão moraentosa para Portugal. Welwitsch soffreu bastantes privações em Portugal chegando a viver misérri- mo. Era elle bastante excêntrico e affian- çara-nos que tentava adormentar a alma sempre alanceada abuzando de bebidas alcoólicas. 60 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Entre outras distincçõos que ornavam "WeUvitsch limitar-nos-henios a fazer men- ção de sor condecorado con» a cruz de cavalleiro da ordem de S. José por j^ra- ^•a do imperador da Áustria em 25 de novembro de 1863, e sócio honorário da Real Academia das Sciencias de Lisboa. Poderíamos ser muito mais extensos n'esta noticia e dar numerosos pormenores sobre os estudos de Welwitsch. Sabemos porém que o snr. dr. Bernardino António Gomes está curando da publicação de um opúsculo que tracta detidamente das investii;ações e estudos feitos por aquelle notável botânico, e portanto não queremos de modo algum usurpar direitos que de justiça pertencem ao snr. Bernardino An- tónio Gomes, cavalheiro de vastissimos conhecimentos em vários ramos scientifi- cos e que teve occasião de conhecer bem de perto o explorador Frederico Welwi- tsch. — Consta-nos que o snr. Batalha Reis vae verter para idioma francez o seu im- portante opúsculo intitulado «Enxofre e vinho », para acceder ao pedido que lhe fi- zeram alguns cavalheiros em Lyon. — Relativamente aos serviços que a camará municipal de Lisboa tem presta- do á arborisaçào da capital, recebemos a seguinte carta a que gostosamente damos publicidade: Snr. Rcilactor — Tenho visto que Y. não costuma poupar os merecidos elogios áquell es que 86 disvelam no interesse das cousas que mais ou menos directamente prendem com o desenvol- vimento da agricultura. Vejo repetidas vezos que V. publica muitas noticias que chegam ao seu conhecimento com rela(,-!\o á arl)orisa(,-ào de largos, estradas, etc, a cargo das camarás municipaes, por isso acredito que se nào recusará a publicar no seu curiosissimo jornal esta pequena noticia, com relação á camará de Lisboa. N'esta cidade a plantaçiio tem tido um lar- go desenvolvimento, muito especialmente desde que o pelouro respectivo está a cargo do snr. Margiochi Júnior, distincto engenheiro agrónomo. Nào era de esperar outra cousa da sua com- petência. O snr. ^largiochi sabe pcrfeitanu^nte que a planta(,'ào das arvores nào importa só ao embellezamento, condi^ào bastante para nào afrouxar no propósito f|ue o anima, mas inclusi- vamente á salubridade da capital, que, por des- gra(,a, é mna das menos saudáveis da Kuropií. "No anno de 1871 a lS7í2, foram plantadas 1:300 arvores. Kstào concedidas pela camará para artorisar o campo da Piedade ízOOe a uma camará do Alemtejo já foram concedidas ou- tras 2U0. No Campo da Parada, ao cemitério dos Pra- zeres, c na estrada, vào ser plantadas cerca de 300. No viveiro das Piooa-j, organisado em 1863, e cuja superíiiic é de líliíU) metros, existem actualmente para cima de 18:000 arvores, de va- riadas e.~pecies, que nao menciono para não oc- cupar mais espa^'o ao seu iniportantissimo jor- nal. Lisboa. Cesak do Inso. — Quem diria que; a formiga, este ani- malsiuho tão louvado pela sua laboriosi- dade, que é de per si uma eschola pratica de economia politica e que tão impoi*tante papel representa nas fabulas do Ixnn La- fontaine, quem diria, repetimos, que este animalsinho, tão inoíFensivo na apparen- cia, anda sempre de más avenças com o horticultor? Pois é verdade. Na Inglaterra, princi- palmente, os periódicos que se dedicam com especialidade á horticultura, opresen- tam incessantes remédios contra estes in- sectos, sobretudo contra as formigas mi- núsculas das estufas, que acompanham as plantas tropicaes. Apresentaremos aqui al- gumas d'essas receitas, que o horticultor terá cuidado de applicar nas suas estufas: L'"' — Conservar dous sapos na estufa. 2.'^ — Collocar alguns pratos cheios da mel, no qual ficarão presos os insectos, que se deitarão depois em agua a ferver. 3.^ — Ter nas estufas alguns passares insectivoros. 4.^ — Destruir as lagartas (Aphis), cujas secreções attrahem as formigas. 5.^ — Lançar agua a ferver nos escon- drijos dos insectos. 6.^ — Espalhar tabaco em pó. Esta lista de receitas poder-se-ia pro- longar indefinidamente, tal é a imagina- ção dos horticultores inglezes, mas jul- gamol-o desnecessário, porque qualquer dos remédios apontados bastará, na opi- nião de ]\Ir. Edouard André, para destruir estes incommodos hospedes da*? estufas. — O snr. André de ]\Ieirelles de Tá- vora do Canto e Castro acaba de dar a lume uma traducção do livro intitulado «O Phylloxera» escriptopor Mr.E.Loarer. N'este opúsculo tracta o seu auctorda origem do P/njUo.ierarece querer indicar a palavra zebritia. Esta, bem como a M\isa discolor, já se acham representadas ii'aigumas coUecções de Portugal e tanto a primeira como a segunda exigem estufa quente. 10 — Musa maculata Jacq. — Entre as espécies cujos fructos nao são comes- tíveis e que ao mesmo tempo sào despro- vidos de sementes, colloca Colla esta es- pécie cujos fructos são amarello-escuro, maculados de nódoas mais escuras. O seu caule é arredondado, erecto, e attinge a altura de 2 a 2 '",50. 11 — Musa superba Roxb. — Bot. Mag. t. 3840. — O caule é cónico, e tem apenas 1 metro d'altura mas as folhas tor- nam-o por tal modo grosso que chega a medir até 2'", 50 de circumferencia ao pé do BÓlo. As suae numerosas folhas são oblongo-lanc'"ladas e de 2 a 3 metros de comprido. Us fructos sào oblongos e do tamanho de um ovo de pato mas sec- coB quando maduros. Cada um tem três lojas que encerram sementes pretas. Eista magniiica espécie é ainda bastante rara nas nossas coUecções. Nas estufas de Kew já vimos alguns exemplares bellissimos. Enoontra-8e no estado espontâneo nas ín- dias orientaes d'onde veio para a Europa em 1823. 12 — Musa glauca Roxb. — Todas as partes que compSem esta planta são glau- cas e o caule mede de 3 a 4 metros d'altu- ra. A inflorescencia é completamente pen dente, os rniotos sHo quasi trigouos e con- tecni sementes feríeis mas não são bons para comer. Esta espécie foi introduzida do Peru cm 1824. 13 — Musa textilis Nees. — Caule grosso elevando-se pouco mais ou menos a 2'", 50. As folhas que são muito gran- des têem 2 metros de compi-ido e 0'^,50 de largo. Os fructos são peíjuenos e du- ros e não são comestiveis mas proiluzeni sementes bem desenvolvidas. O mérito d'esta espécie consiste nas fibras que se extraem do caule. Os filamentos que cons- titu-Mu estas fihras são conhecidos nas Pliy- lippinas, paiz natal d 'es ta espécie, sob o nome de avaca. E' uma matéria muito preciosa pela sua tenacidade. A data da sua introducção é desconhecida. 14— Musa Ensete Gniel.— l]ot. I^Iag. tab. 5223 — 5224 — Este soberbo vegetal foi descoberto ha quasi um século na Abys- sinia, por Bruce. Aproxima-se o mais possível da Musa snperba e debaixo d'al- guns pontos de vista também se parece com a Musa glauca. O caule da Masa Ensele é muito íntumecido na base e at- tinge uma altura de 40 pés. As bainhas das folhas são muitas vezes de 17 a 18 pés de comprimento e tornam-se princi- palmente notáveis pelo bello vermelho co- ral que tem a nervura media. E'uma das espécies que exige menos calor e as fo- lhas não se i'asgam tão facilmente com o vento como acontece ás suas congéneres. Multiplica-se exclusivamente pelas semen- tes, razão porque o seu preço ainda c bastante elevado. Os fructos, que são pouco carnosos, não são comestíveis. O Jardim Botânico de Coimbra possue actiuxlmente bom numero de exemplares d'esta planta já desenvolvidos e d'este modopoder-se-ha no próximo inverno avaliar a sua rusti- cidade. 15— Musa Livingstoniana Kírk — .Jour- nal of the Linn. Soe, Vol. IX, n." 34. — Esta espécie foi descoberta pelo dr. Kirk que a dedicou a seu illustre chefe, o dr. Livingstone, durante a expedição na Africa. Parece-se muito no porte com a Musa ensete mas não attinge mais de 18 pés d 'altura. IG — Musa sanguínea Hook. filho — Bot. Mag. 5975 — Com esta vamos con- .cluir a enumeração das Baneiras que com- 90 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA tudo estii longe de ser completa, porque apenas descrevemos as espécies mais co- nhecidas na Europa. Veio-nos agora áá niàos um dos idtimos números do excfl- Icnte jornal britannico, o «Botanical Ma- gazine», acompanhado por uma magniíica estampa representando esta espécie. Foi descoberta em 1 861) nas florestas de As- sam por Mr. Gustave Mann que mandou alguns pequenos indivíduos para Kcw, onde um d'ellcs floresceu o anuo passado. O caule mede de 3 a 4 pés de altura e ad- j quire a grossura d'uma bengala grossa. Às bracteas são de um bello vermelho i sangue, do que lhe provém o nome espe- 1 ciíico. As tolhas sào oblongas ou oblongo- I lanceoladas e cordiformes na base, attin-l ; gindo as bainhas o comprimento de 2 pés I a 2 e meio. Os fructos não sào comes- i tiveis mas produzem sementes férteis. ' Para a Europa e principalmente para os jardins do norte da nossa parte do globo I as Musas têem um valor quasi exclusiva- [ mente ornamental, ao passo que nos paizes ' quentes as Bananeiras tornam-se, pelos ' seus fructos e pelas folhas com que co- brem as choupanas e se fabricam toalhas etc, uma das primeiras necessidades da população indigena e é a razão porque o viajante Dampier chama á banana o rei dos fructos. Coimbra — Jardim Botânico. EUMOND GOEZE. SARRACENIAS NOVO REMÉDIO PARA AS BEXIGAS A natureza é sempre admirável nas suas obras. A menor molécula, o mais insignificante átomo da matéria, revelam- nos leis de admirável physica e mecha- nica natural. Examinae o Musgo, essa humilde e despretenciosa Cryptogamica que se ar- rasta no fundo dos valles ou sobe ao cume das montaniias, vivendo sempre na mais diminuta parcella de terra, e vereis phe nomenos physicos e chimicos que vos ad- mirarão sem comtudo poder explical-os d'um modo satisfactorio!... Se analysarmos organisaçíjes mais complicadas, subirá de ponto a nossa ad- miração diante das variadas metamorpho- ses e transformações da matéria. Tudo é grande e admirável; tudo é esplendido; o mosso espirito sente se confuso e pequeno perante tantas maravilhas, e somos obri- gados a proclamar bem alto a grande sa- bedoria do Auctor da natureza. Isto é o que vemos todo os dias, a toda a hora, vulgarmente; mas se nos ar- marmos d'um simples instrumento, um microscópio, oh! essas maravilhas quadru- plicam, são novos mundos, novos habitan- tes, novos costumes; e esses mundos e es- ses habitantes augmentam e multiplicam-sc na mesma proporção cm que vamos des- cendo para os últimos átomos da matéria. O Mus(/o torna-se-nos uma floresta de Palmeiras; as nódoas pretas e esbranqui- çadas que mancham as pedras das nos- sas habitações desdobram-se-nos n'uraa elegante planta! Os bolores que se desen- volvem prodigiosamente por toda a parte, transformam -se n'um jardim, n'um prado, u'uina matta, onde as plantas apesar da sua extrema pequenez têem flores, hastes, sementes, vivem e reproduzem-se! Onde iriam estas considerações se fos- semos a analysar uma por uma as mara- vilhas que nos revela o microscópio no estudo da natureza! E note-se bem, que não nos referimos aqui ao reino animal, o qual seria um labyrintho d'onde difficil- mente sairiamos. Só a grande classe dos infusorios daria assumpto para escrever um volume de muitas paginas. Que mais brilhante estudo que o da natureza, e principalmente o do reino ve- getal ! Que immensas vantagens presta ao homem! A que é devido, por exemplo, o co- nhecimento de muitos remédios para as enfermidades do homem senão ao conhe- cimento dos vegetaesV Não foi o seu es- tudo que nos revelou a maior parte das plantas que nos vestem e alimentam? O conhecimento das propriedades da« JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 91 plantas que hoje vamos descrever nSo nos i'evelm- primento, verdes, simiihantes a uma cor- neta. Flores amarellas, em junho, susten- tadas por hastes de 30 centimetros d'al- tura . S. ruhra\\'i\\i. (S. wtworSweet.) Ca- rolina. Folhas delgadas, com o (^perculo quasi erecto em logar de ser curvado so- bre o oriíicio do tubo formado pela tolha. Eu) junho, floi es vermelhas carmim carre- gado, exhalando ima cheiro a violeta muito pronunciado. í». Drmuondii Hook. Geórgia. Fo- lhas de 50 centimetros de compriniento, erectas de tubo regularmente dilatado da base ao vértice, amarelladas na parte su- perior, cobertas de veias de purpura vio- leta, de aza estreita, etc, etc; flores de pétalas obtusas d'um violeta carregado ; estigmas anuirellos. S. variolaris jVIchy. (S. adunca Smi- th.) Carolina e Florida. Folhas erectas, de tubo quasi regularmente dilatado desde a base ao vértice, verde lavado de vio- leta na parte superior, as costas são se- meadas de nódoas arredondadas brancas e quasi transparentes; operculo violeta ar- redondado, abatido em forma de capuz; flores de pétalas ovaes, verdes ou verdes amarellas, de bordos curvos. A respeito d 'esta espécie temos a fa- zer uma commuuicaçãu importante aos lei- tores. Os Índios do norte da America usam a Sarracenia variolaris o\i purpiirea como remédio para as bexigas. Segundo o que deprehendemos da leitura d'uma carta es- cripta por Mr. Mille,distincto pharmaceu- tico em Bourges (França) e publicada no «Journal d'Agricultuie Pratique», carta que abaixo transcrevemos na sua integra, este remédio não foi ignorado dos médi- cos nos séculos passados. Hoje. o que po- demos aftirmar fora de toda a duvida , é que era completamente desconhecido até á epocha em que o dr. Frederico ?»Iorris o apresentou ao mundo scicntilico debaixo deste duplo ponto de vista de historia na- tural e nuiteria medica. Deixemos a pcnna a Mr. Millenadea- cripção do novo remédio: aApresso-me a responder a.) desejo que me exprimistes de conhecer o remé- dio indiano para curar as bexigas. Foram JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 93 já enviadas por mim duas memoi'ias á Sociedade de therapentica de França que depois de ter ouvido a sua leitura me di- rigiu os mais lisongeiros agradecimentos. Desde tempos imraemoriaes que os ín- dios do norte da America penem ás pro- priedades therapeuticas da S. purpúrea (1) planta da familia das Sarracenias a cura das bexigas. O conhecimento d'este precioso agente tberapeutico nào devia ter sido ií^norado da medicina europea nos séculos passados, mas sim talvez depois esquecido, foi-nos communicado pelo dr. inglez Charles Mils, o primeiro que d'el]e fall(7u; todavia ao dr. Frederi- co Morris, medico do despen^atorio de rialiiax, é que coube a honra de o tornar conhecido tanto debaixo do ponto de vis- ta de liistoria natural como de matéria medica. Estas noçòes loram dadas á luz n'uma carta dirigida por elle ao editor do «American Medicai Times» inserida no numero d'este jornal correspondente ao dia 22 de maio de 1862. Foi ás relações que tive directamente coma America que devo a honra de h-iver importado para a França ha talvez oito annos a raiz da S. purpúrea ou variola- ris. Possuidor d'esta benéfica raiz, ficaria sem duvida durante muito tempo sem patenteal-a ao corpo medico, se uma epidemia de bexigas que n'esta occasiào grassou em Bourgeseseus arrabaldes nào me offerecesse occasiào de verificar d'um modo satisfatório as propriedades anti-va- riolicas d'este precioso especifico. Foi depois de mais de 500 casos de cura obtidos com o seu auxilio, que fiquei convencido da espantosa efficacia da raiz da iS. purj.urea, e hoje é Jóra de toda a duvida para mim, qiie esta humilde planta das lagoas da Nova Escossia obra como remédio efficaz sobre as bexigas debaixo de todas as suas fóimas. E' egualmente tik) curioso como admirável, diz o dr. Morris, que por muito grande e numerosa que seja a erupçào, por muito confluente e terrivel que ella possa ser, a acçào par- ticular do medicamento é tal, que raras vezes fica uma cicatriz para dar testemu- nho da doença. A Sarraccnia, ajunta (1) S. purpúrea ou variolarisf; o auctor confunde, segundo nos parece, uma cctii a outra. ainda o mesmo sábio, cura a doença como nenhum outro agente medicamentoso o faz; nào excitíindo uma reacção fvmccional, mas pelo seu contacto com o vii'us no san- gue torna-o inerte e inoffensivo; e esta in- terpretação do seu modo de acção é de- monstrado por esto facto: Se humedecer- mos vaccina ou matéria variolica com a decocção de Sarracenia, estes vi rus ficam destituídos das suas propriedades conta- giosas. Se acreditarmos ainda o que se conta das propriedades da Sarracenia para a cura das bexigas, esta planta virá um dia a prestar serviços de tal ordem, diante dos quaes desapparecerá completamente o uso da vaccina. ísào ignoro, diz o dr. Morris, que esta, asserção sobre as propriedades da Sarra- cenia suscitará bastantes duvidas; mas quantas duvidas se nào têem suscitado so- bre o emprogo da Quina nas curas das febres intermittentes! E nàoha ainda bons espirites, médicos experimentados, que admittem que a Belludona pode obrar como prophylactica da escarlatina? Os indianos julgam além d'isso que este medicamento tem uma acção preven- tiva; levam sempre para os campos uma fraca decocção da salutar planta, e tomam de tempos a tempos uma dose, para con- servar, dizem elles, o antídoto no fangue. Os numerosos casos de bexigas que obser- vei permittem-me acreditar, a exemplo dos indianos, na acçào preventiva da Serra- cenia e tive mesmo occasiào de verificar sempre esta acçào, quando os membros da familia ou os individues que tractavam os doentes atacados d'esta moléstia que- riam tomar de quatro a seis meios copos por dia, da bencfica decocção. Por agora nào vos posso dar a conhe- cer para emprego da Sarracenia além de duas preparações pharmaceuticas: a tisana cuja preparação se laz pela decocção e o xarope da mesma planta. Eis aqui o processo que emprego para fazer a tisana e o modo de usal-a: to- mam-ee 8 grammas de raizes meudamente partidas, fazem-se ferver n'um liti-o d'a- gua durante meia hora, de modo que se obtenha a reducção a um quarto pouco mais ou menos, coando-se depois atravez d'um panno fino. Logo que o medico ve- 94 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA rificou 09 primeiros «yraptoTnas da floença, é administrada a decocnSo quento. ado- çada ou não, segundo o gosto, do doente, na dose de raeio copo de quatro em qua- tro horas, de ni>do i^ue durante 24 horas se tomom 6 meios copos. A erupção variolica raras vozes se faz esperar além de 24 a 48 horas; continua-se o uso da Sarracenia durante cinco a seis dias. N'este espaço de tempo a doença percorre todos os seus períodos e raras vezes persiste por mais tempo. Um projuiso popuhir, que é muito im- portante combater, é de acreditar que quando a erupção cstii feita e que os bo- tões estão em plena erupção, nada ha a temer da variola; este erro pófie tornar-se muito funesto attendendo a que, n'este pe- riodo da moléstia, pôde dar-se infecção purulenta e a vida do doente correr i-isco. A única influencia funccional que esta tisana parece exercer consiste era excitar um fluxo de ouriíia, que de verraellia e muito carregada no começo dos sympto- mas se torna de repente límpida ao mesmo tempo que abundante, o que pode ser de- vido á eliminação do veneno ou á modi- ficação do virus mórbiflo. O xarope de Sarracenia^ é preparado segundo as regras mais escrupulosas da arte pharmaceutica; contém o principio activo de lg. 50c de Sarracenia por 0k.020 ae xarope (uma colher ordinária). Este saccharino liquido convém sobre tudo ás pessoas que difficilraente tomam as tisa- nas, e é particularmente mais oommodo para as crianças que geralmente recusam o uro dos remédios; administra-sn aos adul- tos na dose d'uma colher ordinária de 4 em 4 lioras, ou 6 colheres em 24 horas. As crianças de 4 a G annos tomarão 6 colheres de chá em 24 horas, Tima de 4 em 4 horas. As creinças de 1 rnno a G tomarão egualmente uma colher de chá de 4 em 4 horas, ou 6 colheres era 24 horas. O medico variará as dósr.z segundo a experiência adquirida no uso d'esta planta. Para completar as informações que a convite da Sociedade Therapoutica de França julguei dever fornecer, penso se- nhor, que não será fora de propósito dar- vos a conhecer que a Sarracenia ou as Sarracenias poderão ser chamadas a pres- tar grandes serviços e ser freque^.temente empregadas em todas as doenças erupti- vas como o sarampo, a escarlatina, etc. jidgo porém, debaixo d 'este ponto de vis- ta,não dever entrar em minudencias mais complicadas.» Publicando a carta de Mr, Mille leva- mos em vista unicamente dar a conhecer mais este notável agente therapeutico n» cura da variola e ver se pE HORTICULTURA PRATICA MOLESTLV DAS LAKANJRiKAS A m?lo3tia fias Laydiijeira.s, que tom devastado eeutenarcá de niagnilicos po- mares, Começou a apparecer pelos annns de 1845 o 1846, e reduziu ao estado de pobreza proprietários outr'ora abasta dos. Em Hospanlia, sul da França, e toda a bacia do Mediterrâneo têem os pomares de laranja soífrido o mesmo mal. A moléstia parece produzida pela sei- va, que em lop^ar de so desenvolver em folhas ou rebentos, vae apparecer no tron- co ou raízes, a maior parte das vezes lo- go abaixo da superfície do solo; e por onde se introduz mata a epiderme da ar- vore, por que lhe veda os poros, e em pouco tempo volve-se era tal estado de podridão, que exhala péssimo cheiro. Quando a seiva rebenta acima do solo, no tronco da arvore, também destroe a epiderme por onde se derrama, mas en- tão não apodrece, como no caso anterior; a casca seca e a seiva em contacto com o ar torna-se em resina. A maneira por mim uzada para com- bater esta contrariedade, e de que tenho tirado bons resultados, é a seguinte: — Assim que a Laranjeira se apresenta com as folhas amarellas, mando a escavar e logo abaixo da superfície do solo se descobre o logar onde a seiva se derrama, e ge- ralmente essa parte já está sem vida. Mando tirar com qualquer instrumen- to cortante bem afíado toda a casca que está podre, até chegar ao sao, isto é, até encontrar a epiderme verde. Feito istf», mando cobrir toda a parte operada com uma porção d'areia grossa (doce) e em roda da ai'eia uma porção d'estrume velho ou composto, conservando se sempre hú- mida a areia em volta da parte operada. Deve era seguida a Laranjeira operada ser decotada logo acima da primeira bi- furcação, para conservar a pequena por- ção de seiva que ainda existe na arvore. Cumpre que os cortes sejam cobertos com betuíne de enxerto, ou com barro mis- turado com bosta. Geralmente, dons a três mezes depois da operação, enconta se a epiderme, que ficou metida na areia, cau- terisada e cheia de raizcs capillares que dep.)is se vão introduzindo no estrume, ou composto, e a Laranjeira esUi salva. Quando a seiva r B â (1) Experiências sobre o emprego das aguas nas irrigações nos diversos climas. 112 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Voltaremos mais longe a estes núme- ros, mas é evidente pela sua simples ins- pecção que em nenhum caso se devem despresar as quantidades de azote assi- milável trasidas pelas aguas ao solo, de- baixo da forma de chuva, neve, nevoei- ro, orvalho ou agua da fonte ou ribeiro. Para completar este estudo prelemi- nar, vejamos agora a que algarismo se pôde elevar, por hectare, o peso de azo- te, de ammoniaca e nitratos contidos nas diversas terras de lavradio. Tanto para o solo, como para as aguas, os algarismos resultantes das analyses são muito difFe rentes uns dos outros. Mas estas próprias variantes offerecem um grande interesse. Agrupei nos três quadros seguintes os principaes resultados espalhados nas nu- merosas memorias publicadas até hoje so- bre este objecto na França e na AUema- nha. O quadro 1.° indica em kilogram- mas o peso do azote total (ammoniaca, aci- do nitrico, azote das matérias orgânicas) contido n'uma camada de teri'a de 1 he- ctare de superfície e de 0"\30 de espes- sura (condição média das lavouras). — Os algarismos que ahi estão inscriptos resul- tam de analyses feitas por investigação do coUegio real de economia rural de Berhm. O azote foi determinado por três chimicos diíFcrentes; este quadro compre- hende as médias das três determinações: QUADRO I Pno VEN lESCIADOS SOLOS KILOG. DE AZOTE POR Prlssia) HECTARE. Solo de Havixbec 22,296 « II Burgwegeleben 2l,2:.9 (1 II Jurgaitscheii 17,71S II 11 Wallup 10,197 « II Beesdan 9,.il/t 1' II Turve 9, 1 1 1 l — Cunninghamias 9 — Pinus 11 — Salis- hiiria 5 — Acácias 2.702 — Eucalyptus 733 — Citrus 183 — AcerW) — Ailanthus 53 — Bignonias 123 — Ceitis \2ií— Juglans 1.122 — Morus 132 — Robinias 'iO— Platanus m—Ulmus 62. Total 6.740. Nos viveiros de Valle de Cannas, as seguintes: Cupressus b^ — Eucalyptus 7.952 — Chinus lo — Acácias li — Citrus :26i) — Juglans 517 — Me- tias {)('■>— Morus 499— i?oò/Hm.«f ^^'^—Tilias 10. Total ln.0l2. Seraearam-se nos viveiros do Choupal e Vallo de Cannas as seguintes espécies d'urvores: JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 119 Morus— Acer— GleditscMa—Tilia— Araucá- ria— AUes — Cupressus — Casuarinas—Juniperus —Pinus—Salishuria— Thnya — Wellingtonia— Acácias — Eucalyptns — Hakea—Chimbs—Behda — Cereis — Macl u ra — Eobinias . Ficaram existindo em 30 de junho de 1872 nos viveiros do Choupal 18.235 plan- tas no valor de 1.791^10 reis; no de Valle de Cannas 12.882 plantas no valor de 940^940 reis. A receita do Choupal foi de 1.891?5i795 em dinheiro e de 1.32o;$305 de productos sahidos para diversas obras da direcção e fornecidos gratuitamente para differen- tes estabelecimentos públicos. Total da receita 3.215)$iU95. A receita de Valle de Cannas foi de 24^965 em dinheiro e de 25Ô5$060 de productos sa- hidos para diversas obras da direcção. To- tal da receita 280)$i02õ. A receita da matta das Remolhas foi de 1435$865 em dinheiro e de 70)$Í700 de differentes productos sahidos para diver- sas obras da direcção. Os camalhõeSj nome que se dá a diver- sas propriedades que as obras do Monde- go administram, venderam 371;$Í165 em dinheiro. Na receita da matta da Geria foi de 20^000 em dinheiro. Ficaram existindo no deposito madei- ras apparelhadas no valor de 263?$í300rs. A despeza que se fez com as planta- ções, viveiros, caminhos, pontes, repara- ção dos estragos causados pelas cheias, empregados, compra de materiaes, etc, nas mattas e camalhões a cargo das obras do Mondego foi aproximadamente de l.ôOOéíOOO reis. As forragens semeadas nas mattas dos rios e valles rendeu em dinheiro 355j$í66õ reis. Ocioso seria encarecer o zelo desen- volvido pela direcção das obras do Mon- dego durante o anno económico de 1871 a 1872, porque aos snrs. Adolpho Lou- reiro e Adolpho Frederico Moller bastará como justo galardão a precisa eloquência dos factos e dos algarismos. Se todos os portuguezes lhes imitassem o exemplo, aproveitando a feracidade do sóhj que a Providencia nos deu por berço, das forças naturaes tirariamos riquesa de sobra para atalhar a muitas misérias do paiz. — Damos um desenho do Milho pal- mado de que Mr. A. Dumas nos man- dou algumas sementes. Comquanto não apresente as phalan- ges tão distinctas como dizia o nosso il- lustre collega na carta que nos dirigiu, ainda assim tem uns longes de similhan- ça com a mão do homem. Será bom to- davia dizer-se que a maior parte das es- pigas eram da forma oixlinaria; isto é, ob- longa e cylindrica, o que se comprehende bem se se attender a que o pollen, não estando as variedades resguardadas quer pela distancia quer por um abrigo de qualquer espécie, produz o cruzamento e portanto a degeneração. Fiy. 27 — Millio palmado. Esta variedade é muito cultivada em Bresse e na Lombardia, segundo decla- rou Mr. Willermoz, na reunião de 14 de setembro da Sociedade de Horticultura do Rhône, que havia semeado alguns grãos que Mr. A. Dumas lhe oíFerecêra. A cor e a delicadeza da pelle, assim como a fécula do grão, revelam uma finu- ra que o tornam recommendavel. O saquinho de sementes com que nos brindou o nosso amigo foi distribuído por vários amadores de Portugal e também enviamos algumas para Hespanha, ao snr. Jules Meil,com o intuito de colhermos uma certa reunião de experiências que podes- sem trazer alguma luz sobre qualquer van- 120 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA ta^xem que acaso tenha o Milho palmado, alem de planta curiosa para jardim pela sua fructiíicaçao. — O snr. Feliciano Llorente y Clivares, de Valência, em Tarragona, respondendo a uns quesitos que lhe havíamos feito so- bre a nova moléstia das vinhas, respon- deu o seguinte: 1 .0 — Que aspecto apresentam no principio da moléstia os ramos e as folhas das plantas ata- cadas? Seccam lentamente começando pelas extre- midades. "2.0 — Qual é o aspecto das raizes? Completamente sào. 3.0 __ o tecido lenhoso do tronco e ramos apresenta alguns signaes de decomposição; man- chas ou pontos negros que façam suspeitar alte- ração nos tocidos? O tecido lenhoso decompõe-se sobre tudo na inserção dos ramos e converte-se em uma sub- stancia que se pulverisa tocaudo-lhe com os de- dos. 4." — Que signaes apresentam as cepas des- de a appariçào do primeiro symptoraa atéií morte da planta? (Veja-se a resposta ao 1.° quesito.) 5." — Uma planta depois de atacada resta- belece-se? Muito poucas; morrem quasi todas. Qo — Ag piautas morrem no mesmo anno em que se manifesta a moléstia? Morrem geralmente nos primeiros três an- nos, diminuindo de anno para anno a força da vegetação. 7.° — Era que anno e estação começou a manifostar-se a moléstia? Ha cinco annos; no verão. 8.0 — As cepas atacadas encontram-se em volta de ura primeiro centro, ou ao acaso pelos vinhedos e sem direcção determinada? Formam centros irradiando as cepas visinhas. 9.0 — Padecem indistinctamente todas as castas, ou só algumas d'ella3? Todas sem distincção. l(j.o_A temperatura tem sido normal nos últimos annos? Tem. 1-2.°— A moléstia mostra preferencia cm atacar as vinhas em bacello ás que estão em pi- Iheiros ou ramadas? Só SC observa nos bacellos. 13.°— Ataca indistinctamente em todos os terrenos? As vinhas que têem soffirido estão em terre- nos calcaroos ou argillosos. li." — Tem-se empregado alguns remédios? A cal, ou agua de cal, o dcscascamento e a poda, mas sem resultados. — Em 1870 publicamos n'este jornal a traducçao de uma noticia sobre a Godwinia (iiijas, devida á delicada pcnna da exm. snr.^ D. Izabel Mavinhé. Acabamos de ler agora na « Illustration Horticole» que esta famosa e gigantesca Aroidea flo- rescera nos fins do anuo passado, nas es- tufas de Mr. W. Buli, em Londres. E' a primeira vez que esta interessante planta floresce na Europa. — Recebemos ultimamenicas seguintes publicações, com que os seus auctores nos obsequiaram. «Etude sur les divers Phylloxera et leurs médicationscc; por Mr. L. Laliman. «La Maladie nouvelle de la vigne», por Mr. II. Trimoulet, relator da com- missào encarregada de estudar a molés- tia das vinhas. «Mémoire sur la Maladie nouvelle de la vigne»; por Mr. H. Trimoulet. 1 Catalogo das plantas novas » de Mr. J . Linden. N.« 90—1873. «Annales de la Societé d'Agriculture du département de la Gironde» — anno XXVI. «As Explorações phyto-geographicas da Africa tropical e em especial as da Guino inferior, ordenadas pelo dr. Frie- derich Wehvitsch nos annos 1853 a 1861»; pelo dr. Bernardino António Gomes. «Fitologia Medica ó estúdio de plantas medicinales indígenas y exóticas», vol. I; pelo dr. D. Esteban Quet. «La Belgique Horticole — Annales d'Horticulture Belge et Étrangère» — vol. XXII; por Mr. Edouard Morren. «Catalogo dos Expositores na IX Ex- posição Internacional de Gand». «Catalogo de MM. Jules de Cock & Soeur» de Gand. «El Restaurador Farmacêutico» — 1873; por D. Juan Texidor. «Revue de L'Arboriculture» — vol. I; propinctarios MM. Simon-Louis fréres. «Bulletins d'arboriculture, de floricul- ture et de culture potagère» — 1872; por MM. Burvenich, Pynaert,Rodiga3 e Vau Hulle. ((L'Horticulteur Lyonnais» — 1872 ; por Mr. L. Cusin. «The Gardení — 1872; redactor Mr. W. Robinson. «Journal d'Horticulture Pratique;» vo- lume I. «Journal des Campagnes» — 1872; director Mr. Ed. Vianne. Aos seus auctores agradecemos mui cordealmente a deferência que tiveram para comnosco. Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 121 BREVE NOTICIA ACERCA DO JARDIM BOTÂNICO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA A creação cVeste grandioso estabele- cimento foi providenciada nos Estatutos da Universidade decretados era 1772, nos seguintes termos: «Ainda que no gabinete de historia natural se incluem as producções do rei- no vegetal; como, porém, não podem ver- se n'elle as plantas senão nos seus cadá- veres, seccos, macerados e embalsamados, será necessário para complemento da mes- ma historia o estabelecimento de um Jar- dim Botânico, no qual se mostrem as plan- Fig. 28— Estufa do Jardi tas vivas. Pelo que: no logar que se achar mais próprio e competente nas visinhan- ças da Universidade se estabelecerá logo o dito jardim, para que n'elle se cultive todo o género de plantas, e particular- mente aquellas, das quaes se conhecer ou esperar algum préstimo na medicina e nas outras artes: havendo o cuidado e provi- dencia necessária, para se ajuntarem as plantas dos meus dominios ultramarinos, os quaes têem riquezas immensas no que pertence ao reino vegetal.» O reitor que no tempo da Reforma 1873— Yol IV. in Botânico de Coimbra. residia aos destinos da Universidade, o illustre D. Francisco de Lemos, tractou logo com todo o zelo e fervor de executar esta providencia. Foi escolhido o local, que pareceu mais conveniente, em terreno que pela maior parte pertencia ás cercas dos reli- giosos de S. Bento e S. José dos Marian- nos. Estipulou-se contracto, recebendo os segundos uma indemnisação, e cedendo 08 primeiros gratuitamente a parte que lhes pertencia. Aforou-se também ás reli- giosas de SanfAnna parte de um olival N.» 7 Julho. 122 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA para dar maior extensão e regularidade ao Jardim Botânico. Os professores Vandelli e Dalla-Bella foram encarregados dos projectos c traça- dos da obra. O marqucz de Pombal, em carta de 12 de fevereiro de 1773 dirigida ao reitor da Universidade, dizia: «Devendo ahi chegar com muita bre- vidade o tenente -coronel Guilherme Els- den, ellc delineará perfeitamente o Horto Botânico pelos apontamentos dos profes- sores que V. S.'' mo avisou que iam em suft companhia reconhecer o terreno que para elle se acha destinado». Em 2 de março seguinte dizia ainda o mai'quez ao prelado: «A inspecção, a que V. S.^ foi assis- tir, do terreno destinado para o Horto Bo- tânico, me causou grande prazer por to- das as considerações que V. S.^ faz ao sobredito respeito. A esse fim vae a pro- visão necessária para se proceder á com- pra do dito terreno, demarcação d'elle e ao prompto estabalecimento do referido Horto.» Submettidos á approvação do governo os projectos delineados pelos professores italianos, o marquez desapprovou-os,como se vê de uma carta interessante, dirigida ao reitor em 5 de outubro de 1773, que está registada no tomo 1.** dos originaes do grande ministro, archivados na secre- taria da Universidade. Transcrevemos este documento, que 6 curioso para a his- toria do Jardim Botânico: «Reservei até agora a resposta sobre a planta que esses professores delinearam para o Jardim Botânico, porque julguei preciso precaver a V. Exc.^ mais parti- cularmente sobre esta matéria. «Os ditos professores são italianos: e a gente d'esta nação, costumada a ver dei- tar para o ar centenas de mil cruzados de Portugal em Roma, e cheia d'este enthu- siasmo, julga que tudo o que não é exces- sivamente custoso não é digno do nome portuguez ou do seu nome d'elle8. aD'aqui veio que, ideando ellesn'esta corte, junto ao palácio real de Nossa Se- nhora de Ajuda, em pequeno espaço de terra, um jardim de plantas para a curio- sidade, quando eu menos esperava, achei mais de cem mil cruzados de despeza tão exorbitante como inútil. «Com esta mesma ideia talharam pelas medidas da sua vasta phantasia o dilatado esprço que se acha descripto na referida planta. O qual vi que, sendo edificado á imitação do pequeno recinto do outro Jardim Botânico de que acima fallo, absor- veria os meios pecuniários da Universida- de antes de concluir-se. «Eu, porém, entendi até agora, e enten- derei sempre, que as cousas não são boas porque são muito custosas e magnificas, mas sim tão somente porque são próprias e adequadas para o uso que d'ellas se deve fazer. «Isto, que a rasão me ditou, sempre vi praticado especialmente nos Jardins Bo- tânicos das Universidades de Inglaterra, Hollanda e Allemanha; e me consta que o mesmo succede em Pádua, porque nenhum d'estes foi feito com dinheiro portuguez. Todos estes jardins são reduzidos a ura pequeno recinto cercado de muros, cora as commodidades indispensáveis para um certo numero de hervas medicinaes e pró- prias para uso da faculdade medica; sem que se excedesse d'ellas a comprehender outras hervas, ai*bustos, e ainda arvores das diversas partes do mundo, em que se tem derramado a curiosidade, já viciosa e transcendente, dos sequazes de Linneu, que hoje têem arruinado as suas casas para mostrarem o Malmequer da Pérsia, uma Açucena da Turquia, e uma geração e propagação de Aloés cora differentes ap- pelidos, que os fazem pomposos. «Debaixo d'estas regulares medidas deve pois V. Exc.^ fazer delinear outro plano, redusido somente ao numero de hervas medicinaes que são indispensáveis para os exercicios botânicos, e necessárias para se darem aos estudantes as instr acções pre- cisas para que não ignorem esta parte da medicina, como se está praticando nas ou- tras Universidades acima referidas com bem pouca despesa; deixando-se para ou- tro tempo o que pertence ao luxo botâni- co, que actualmente grassa em toda a Eu- ropa. E para tirar toda a duvida, pode V. Exc.'^ determinar logo, por uma parte que Sua Magestade não quer jardim maior nem mais sumptuoso, que o de Chelsea na cidade de Londres, que é a mais opu- lenta da Europa; e pela outra parte, que debaixo d'esta ideia se demarque o logar; JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 123 se faça a planta d'elle com toda especifi- cação das suas partes; e se calcule poi' um justo orçamento o que ha de custar tal jardim de estudo de rapazes, e não de os- tentação de príncipes, ou de particulares, d'aquelles extravagantes e opulentos, que estão arruinando grandes casas na cultu- ra de Bredos, Beldroegas e Poejos da índia, da China e da Arábia». Conformou-se o prelado D. Francisco de Lemos com as detei'minações do mi- nistro, e mandou preparar o jardiín, li- mitando-o ao terrapleno central, sem or- natos nem grandezas artísticas; e no prin- cipio do anno lectivo de 1774 estava prompto para receber plantas o plano in- ferior, que constituo o recinto, occupado hoje pela eschola linneana. Em 14 de no- vembro do mesmo anno escrevia o mar- quez ao reitor da Universidade, o seguinte: «O portador d'esta será o jardineiro do real Jardim Botânico, Júlio Matiarri, que passa a essa Universidade encarrega cado de muros, como era ordenado pelas determinações do marquez, e muito me- nos podia conformar-se com o contraste que fazia esta obra por seu acanhamento com a grandeza e magestade dos outros edifícios universitários, que depois da Re- forma em 1772 se tinham fundado. Ins- pirado por tão bons desejos, o sábio pre- lado foi dirigindo os trabalhos de modo que o teri'eno ficasse dividido em diversos terraplenos, apropriados para a execução de mais vasto projecto. Os prelados que lhe succederara no governo da Universidade, encontraram já as principaes ruas alinhadas, os terraple- nos e canteiros levantados, e os grandes lanços de escadas indicados nos logares competentes. O principal Mendonça e o principal Castro proseguiram na execução d'estes trabalhos e principiai'am as obras de aformoseamento. Sobre o grande quadrado, que servia de Horto Botânico, fizeram-se três lanços do de fazer plantar no Horto Botânico de escadas, parapeitos, e portaes. d'ella as plantas que agora se remettem pela via do mar para o mesmo effeito. E depois de executar esta diligencia deve voltar para esta corte, ficando para tra- ctar das sobreditas plantas João Luiz Ro- drigues, que o acompanha. «O que participo a V. Exc.', para que ao sobredito fim dê as providencias que necessárias forem; fazendo pagar ao so- bredito Júlio Matiarri a despeza que fizer na sua jornada, assim na ida como na vol- ta, s Esta carta foi archivada no livro 2° do registo dos alvarás e cartas regias, etc., pertencentes ao governo da Univer- sidade, desde janeiro de 1774 a fevereiro de 1777. Cumpriram-se estas prescripções, e depois de concluídos os trabalhos de plan- tação, o primeiro d'aquelles jardineiros regressou a Lisboa, e o segundo ficou em Coimbra, encarregado de tractar do Jar- dim Botânico sob a direcção do professor de historia natural. Por esta forma fica- ram satisfeitas as primeiras e mais urgen- tes necessidades do ensino. O génio eraprehendedor e animo ge- neroso de D. Francisco de Lemos não po- dia consentir que o Jardim Botânico ficas- se redusido a um pequeno recinto cer- Uma inscripção da porta central com- memora a conclusão d'estas obras no an^ no de 1791. D. Francisco de Lemos voltou ao rei- torado da Universidade em 1799, e pelo espaço de 22 annos se conservou n'esta importante e honrosa commissão. Apenas reassumiu as suas funcções, tractou logo com todo o empenho de dar o maior des- envolvimento ás obras do Jardim Botâni- co. Infelizmente as circumstancias difíi- ceis e melindrosas da epocha, os desastres e calamidades da invasão franceza, e as vicissitudes e commoções politicas do paiz não permittiram que este segundo reito- rado fosse tão feliz e fecundo para a Uni- versidade, como seria em tempos de bo- nança. Assim mesmo, nos primeiros an- nos d'este século, construiu-se a extensa e elegante gradaria de ferro e bronze as- sente sobre pilares de cantaria e continua- ram outras obras, que concorreram para dar mais largueza ao jardim. Depois da creação da cadeira de bo- tânica e agricultura em 1791, para a qual foi nomeado o dr. Brotero, foi este distincto professor encarregado da orga- nisação scientifica do jai'dim. E' sabido o modo como este insigne botânico desem- penhou esta commissão, fazendo muitas 124 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA herborisaçucs por todo o reino, e enrique- cendo as collecções do jardim com mui- tas plantas, até então desconhecidas ou mal estudadas. Brotero conhecia muito bem a organi- sação dos principaes jardins botânicos da Europa, e o seu grande empenho era se- guir no de Coimbra o plano dos estabe- lecimentos d'esta ordem, pertencentes ás mais celebres Universidades. Alcançámos um mar.uscripto curioso e interessante d'es- te illustre professor, cora data de 5 de março de 1807, onde véera consignadas extensamente as suas ideias sobre a orga- nisacào e fins dos jardins botânicos, e es- pecialmente sobre o da Universidade de Coimbra. Sentimos que a extensão d'este traba- lho não nos perraitta transcrevel-o. Podemos porém affirmar que é digno do seu auctor, e contém muitos rdvitres razoáveis, que ainda hoje se podiam se- guir com proveito. Decorreu um largo periodo até 1850 sem se fazerem no Jardim Botânico obras de vulto. Em 1851 principiou nova epo- cha de melhoramentos, quetêem continua- do até hoje. Completaram -se terraplenos e escadarias do lado do sul, formaram-se alamedas, abrii'am-se novas communica- ções para a conveniente distribuição das aguas, e por fim construiu-se a magnifica estufa de ferro e crystal, que é uma ver- dadeira eschola de aclimação. Pelo novo destino do antigo collegio de S. Bento de- moli ram-se as construcções irregulares, que tiravam a belleza á magestosa fron- taria d'esde edifício, alargou-se o jardim com plantações e canteiros até ás portas do novo lyceu, e na parte concedida pelo governo á Faculdade de Philosophia já estão estabelecidas as habitações do dire- ctor, seu substituto, jardineiro e mais em- pregados, um museu botânico, onde exis- tem collecções de sementes, de madeira e de outros productos vegetaes, herbario e a bibliotlu ca respectiva, etrabalha-se cora empenho na construcção da aula de botâni- ca c agricultura, de um gabinete de estu- dos e observações, e de outras repartições indispensáveis. Importantes reformas scientificas se- guiram de perto eetes melhoramentos ma- teriaes; e actualmente é bem sensivel o estado de progresso e adiantamento a que tem chegado o Jardim Botânico. E' riquissima a collccção de plantas exóticas, que se cultivam na estufa, no- tando-se entre ellas formosos Félos arbo- rescentes da AustraUae Brazil, Palmeiras, Bananeiras, o Cafeseiro, arvore da cera do Japão, Strelitzias, Cycadeas, Pandaneas, Míiscadeira e outras plantas tropicaes, no- táveis pelas suas flores, pelos seus fru- ctos ou por sua bella folhagem. A valiosa collecção de plantas raras, offerecidas generosa e expontaneamente á Universidade por vários cavalheiros da ilha de S. Miguel, foi uma grande rique- za para o Jardim Botânico. Outras dadi- vas importantes toem sido feitas pelos di- rectores de vários jardins botânicos, e es- pecialmente pelos de Kew, Pariz e Mel- bourne. Nas duas pequenas estufas de alta temperatura tem-se conseguido re- produzir milhares de plantas, e muitas de gi'ande valor scientifico, medicinal e industrial, como a Quina e Bálsamo do Peru. Para as nossas possessões ultrama- rinas têera ido remessas importantes do jardim de Coimbra; e estes ensaios de aclimação promettem excellentes e prós- peros resultados. Coimbra (Continua) J. A. Simões de Carvalho. HERBARIO FLORESTAL DO COrsTlNEINTE PORTUGUEZ (1) ANACARDIACEAS Schinus molle Linn. — Pimenteira. — Pequena arvore , indigena da America. Encontra-se no paiz como planta de orna- mento. ZANTHOXYLEAS Ailanthus glandulosa Desf. — Ailan- tho glanduloso. — Arvore de elevado porte, exótica no paiz. Cultiva-sc no reino como (1) Vide J. H. P., vol. IV, pag. 105 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 125 espécie cVornamento e d'alinhaniento. E' uma arvore recommendavel para povoar terrenos seccos e ligeiros; o seu crescimen- to é rápido. Na matta do Choupal, próxi- mo a Coimbra, existem plantações d'esta arvore em solo arenoso, tendo um aspe- cto muito satisfatório. BIGNONEACEAS A fsta familia referem-se os géneros Ccdalpa Juss., Bigtwnia Juss., e Tecomn Juss., aos quaes pertence um grande nu- mero de arvores e arbustos exóticos no nosso paiz,que nenhuma importância têem na economia florestal, e que só se empre- gam na cultura ornamental como por exem- plo: a Bignonia Catalpa Linn. SCROFULARIACEAS Paulownia imperialis Sieb. e Sue. — Paulownia imperial. — Arvore de porte me- diano; encontra-se no paiz como espécie ornamental. BUXACEAS Buxus sempervirens Linn. — Buxo ar- bóreo— Arbusto, encontra-se no paiz com muita frequência pelas quintas e jardins orlando as ruas, e segundo Brotero cresce espontâneo em todo o território que vae de Figueiró dos Vinhos a Thomar (Ex- tremadura) . Ha uma variedade d'esta planta muito vulgar nos jardins, que é o Buxo anão ou de Hollanda. JUGLANDEAS Juglans regia Linn. — Nogueira com- mum. — Arvore de elevado porte; é origi- naria da Pérsia e naturalisada ha muito no reino . Encontra-se com frequência em quasi todo o paiz. Ha algumas varieda- des d'esta arvore, taes como a Nogueira têmpora, serôdia , mollar, durazia, de fructo grande ou Nogão, etc. Juglans nigra Linn. — Nogueira preta. — Arvore de porte elevado; é indigena da America e naturalisada ha poucos an- nos no nosso paiz. Tanto esta como a an- tecedente são duas valiosas espécies flo- restaes, pois que produzem madeira de primeira qualidade, com especialidade a Nogueira preta. Na matta do Choupal exis- tem numerosas plantações d'estas arvores assim como de Juglans alba Linn., e J. cinerea Linn. CORYLACEAS OU CARPINEAS Corylus avellana Linn. — Avelleira — Arvore de pequeno porte ou arbusto. Muito frequente na pai-te septentrional do paiz. Carpinus betulus Linn. — Arvore exó- tica no paiz ; encontra-se unicamente al- gum exemplar como planta ornamental. Esta arvore é muito commum nas flores- tas d'AlIemanha, Dinamarca e da parte septentrional da França, onde é conside- rada como uma das mais valiosas espécies florestaes. BETULACEAS Betula alba Linn. — Vidoeiro. — Arvo- re de porte mediano. Habita na serra do Gerez e do Marão e era alguns outros pon- tos das nossas provincias septentrionaes. Na matta de Valle de Cannas, próximo a Coimbra, existem plantações d'esta arvo- re. Dos vegetaes arbóreos é esta a ultima arvore que se encontra, percorrendo na di- recção do pólo do norte. Alnus glutinosa Gaertn. — Amieiro glutinoso, ou A. negro.— Arvore deporte mediano. E' muito frequente na Beira, Minho e Traz-os-Montes. Alnus incana Gaertn. — Amieiro bran- co.— Arvore de medianas proporções; é exótica no paiz e indigena dos paizes se- ptentrionaes da Europa e America. Na matta do Choupal encontram -se alguns exemplares novos. PLATANEAS Platanus orientalis Linn. Plátano orien- tal.— Arvore de elevado porte, indigena do Oriente, e naturalisada no reino. En- contra-se no paiz como arvore de orna- mentação e alinhamentos. Platanus occidentalis Linn. — Plátano Occidental. — Arvore oriunda da America septentrional e aclimada no paiz; adquire proporções maiores do que a espécie an- tecedente. Cultiva-se no reino como arvo- re própria para alinhamentos e de orna- mentação. 126 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Na matta do Choupal cultiva-se uma outra espécie que foi importada d'um es- tabelecimento horticola de França: o Pla- tanus pyramidalis. Os Plátanos são uma valiosa espécie fli)restal. MYRGEAS Myrica faya Brot. — Samouco ou Faya das Ilhas. — Arbusto e ás vezes pequena arvore. Habita na serra de Cintra, e no pinhal nacional de Leiria, e terrenos ane- xos (Extrcmadura). Myrica gale Linn. — Pequeno arbusto. Encontra-se em alguns sitios da Extrc- madura. SALICINEAS Populus tremula Linn. — Choupo tre- medorou Alemo lybico. — Arvore de porte elevado. Muito frequente em alguns pon- tos das provincias do Douro e da Beira com especialidade nos terrenos mai'ginae3 ao rio Mondego, e alguns dos seus afluen- tes. Esta arvore é a essência predomi- nante da matta do Choupal. Populus pyramidalis Rosier. — Choupo pyramidal ou d'Italia. — Arvore de ele- vado porte; é originaria da Pérsia e do Cáucaso. Encontra-se no paiz como arvo- re d'alinhamento. Populus alba Linn. — Choupo branco ou alvar. — Em geral dá-sc erradamente entre nós, a esta arvore, o nome de Faya. Arvore de grande e esbelto porte; encon- tra-se no paiz como arvore de alinhamento e ornamento. Populus nigra Linn. — Choupo negro. — Arvore de menor porte do que a ante- cedente. Muito vulgar nas nossas provin- cias septentrionaes . ' Populus canadensis Mich. — P. vir' f/iniana Linn., P. monilifera Ait. — Choupo do Canadá. — Arvore de elevado porte, indigena da America septentrional. Cultiva-se no paiz como arvore de orna- mento e alinhamento. Populus virginiaua Desf., P. monili- fera Mich. — Choupo da Virgínia. — Arvo- re de porte egual á espécie antecedente; é oriunda da America do norte. Cultiva-se como planta de alinhamento e ornamento. Esta espécie é geralmente confundida com a precedente. Salix alba Linn. — Salgueiro bran- co.— Arvore do pequeno porte ou arbus- to. Encontra-se em quasi todo o paiz. Salix atro-cinerea Brot. — Salgueiro preto. — Arbusto e ás vezes pequena ar- vore. Muito vulgar nas margens do Mon- dego, e seus affluentes. Salix salvifolia Brot. — Salgueirinha. — Arbusto muito frequente nas margens do Mondego próximo a Coimbra. Salix babylonica Linn. — Salgueiro chorão. — Pequena arvore. Encontra-se com frequência no paiz, plantada junto das fontes. Salix viminalis Linn. — Vimeiro do nor- te ou Salgueiro francez. — Arbusto. Cultiva- se nas nossas provincias septentrionaes. Salix vitellina Linn. — Vimeiro ordi- nário.— Arbusto. Habita em quasi todo o reino. Segundo Brotero, existem no paiz mais três espécies de Salgueiros a sabei* : Salix monandra D. C. S. triandra^ Linn. S. fragilis, Linn. Coimbra. (Conlimui) Adolpho Frederido Moller. NOTICIA BI0GR4PHIC4 DE DOMINGOS VANDELLI Era filho do doutor era medicina, Je- ronymo Vandelli, lente da Universidade de Pádua. N'e3ta cidade nasceu, e na mes- ma Universidade de que seu pae era pro- fessor recebeu o grau de doutor em philo- Bophia. Convidado pelo marquez de Pom- bal para professor das duas cadeiras de historia natural e chimica da nova facul- dade de philosophia, instituída em 1772, veio exercer o magistério para Coimbra^ onde o próprio marquez de Pombal o gra- duou gratuitamente nas de philosophia a D e de medicina a 12 de outubro do mes- mo anno. Naturalista dístincto, desempenhou o professorado com muita superioridade, e mereceu grandes elogios e consideração no governo, e nao menos veneração de seus JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 127 discípulos. Gosou sempre de grandes hon- ras e distincções, não só pela sua seien- cia, mas também pelo génio insinuante, com que sabia captar a benevolência dos homens eminentes, que dirigiam os negó- cios do estado. Prestou grandes serviços a Portugal no ensino das sciencias de que estava encarre- n-ado, especialmente no laboratório de chi- mica e jardim botânico. Doou ao museu im- portantes collecções de historia natural. Fundou em Coimbra uma fabrica de louca, cujos productos tanto se distinguiram por sua perfeição, que lhes chamavam louça de Vandelli, denominação que ainda hoje se conserva, corrompida pelo decurso do tempo. Dirigiu os primeiros trabalhos do Jardim Botânico da Universidade, e foi o primeiro director do Jardim Botânico da Ajuda em Lisboa. Quando desempenhava esta ultima com- missão, no tempo da invasão franceza, hou- ve quem o accusasse de suspeito e afrance- zado; e em 1810, apesar dos seus 80 an- nos, e das enfermidades próprias de tão longa vida, foi com outros incluído na de- nominada SEPTEMBRISADA, e deportado para bordo da fragata «Amazona» para n'el- la seguir viagem para a ilha Terceira com os seus companheiros de infortúnio. Con- cederam-lhe porém a transferencia para Inglaterra, onde teve de demorar-se até á paz geral. Quando os exércitos de Na- poleão talavam os nossos campos e sa- queavam as nossas cidades, houve muitas victimas d'estas suspeições, e o povo in- dignado odiava tanto ou mais os JACOBI- NOS do que os próprios invasores. Regressando a Portugal, ainda viveu por algum tempo em Lisboa, onde falleceu em 27 de junho de 1816. O dr. Vandelli mantinha relações com muitos sábios ex- trangeiros, e particularmente com o cele- bre Linneu, com quem frequentes vezes se correspondia. Foi sócio de muitas acade- mias. Publicou muitas obras em portu- guez, latim e italiano e deixou importan- tes manuscriptos em poder de seus filhos e d'outras pessoas. No DICCIONARIO BIBLIOGRAPHICO do snr. Innocencio Francisco da Silva vem a seguinte lista d' estas publicações: — Dissertatio de arbore Draconis, seu Dracoena. Accessií dissertatio de stiidio Hislorim Naturalis necessário in Medicina Oeconomiu, Agricnlíura , ÁHibus et Com- mercio. Olysipone, apud Ant. Rod. Gal- liardum 17G8. 8.« de VI— 39 pag. Com uma estampa. — Fascicidns planlanmi ciim novis ge- neribus el speciebus. Ibi, ex Typ. Regia 1771. 4.^ de 20 pag. Com quatro estam- pas. — Memoria sobre a utilidade dos jar- dins botânicos. Lisboa, na Regia Offic. Typ. 1770. 8.0 de 23 pag. Anda tam- bém impressa no fim da obra seguinte: Diccionario dos termos technicos da His- toria Natural, extrahidos das obras de Lin- neu, com sua explicação, e estampas aber- tas em cobre, para facilitar a intelligencia dos mesmos. E a Memoria sobre a utili- dade dos jardins botânicos. Coimbra, na Regia Offic. da Univ. 1788.4.» De VI— XXXVI— 301 pag., acompanhado de 22 estampas gravadas em chapas de me- tal. — Viridarium Grisley Lusitaniaimy Linnacanis nominibus illustratum. Jussu Academice in lucem edilum. Olysipone, ex Typ. Reg. Acad. Scient. 1789. S.*^ de XX — 134 pag. — Florae Lusitanicae el Braziliensis Specimen. Et Epistolae ab eruditis viris Carolo a Linné, António de Haen ad Dom. Vandelli scriptae. Conimbricae, ex Typ. Academico-Regia. 1788. 4.*^ de 96 pag. com cinco estampas. — Este opúsculo, que Vandelli publicou, servindo-se de indica- ções fornecidas pelo dr. Joaquim Velloso de Miranda, correspondente da Acad. Real das Sciencias, e residente na provincia de Minas Geraes, foi depois alterado em par- te por decisão da mesma Acad., substi- tuindo-se por outros os nomes de varias plantas, que Velloso dedicara a certas per- sonagens (sem se esquecer de si próprio, como se vê a pag. 32 do referido opúsculo). A Memoria assim reformada sahiu nas da Academia a pag. 37 e seguintes do tomol. — De Vulcano Olisiponensi et montis Erminii. No tomo I das Mem. da Acad., 1797, foi. Nas Mem. Económicas da Academia, que foram ao principio colleccionadas era separado, no formato de 4.», vem d'elle as seguintes: 128 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA — Memoria sobre ferrugem das Olivei- ras.— No tomo I. — Memoria sobre a ar/r icuJ lura d'esle reino e das conquistas. — No mesmo vol. — Memoria sobre algumas producções naluraes d'esle reino. — Idem. — Memoria sobre algumas producções naturaes das conquistas. — Idem. — Memoria sobre as producções natu- raes do reino e das conquistas, primeiras matérias de differentes fabricas e manu- facturas.— Idem. — Memoria sobre a preferencia que em Portugal se deve dar á agricultura sobre as fabricas. — Idem. j — Memoria sobre varias misturas dei matérias vegetaes na factura dos chapéus. — Tomo II. — Memoria sobre o modo de aproveitar o carvão de pedra e paus bituminosos. — No mesmo vol. — Memoria sobre o encanamento do rio Mondego. — No tomo III. — Memoria sobre as aguas livres. — No mesmo vol. — Memoria sobre o sal gemma das ilhas de Cabo Verde. — No tomo IV. Alem d'estas, publicou muitas outras obras era linguas cxtraiigeiras, autes de vir para Portugal. Coimbra. J. A. Simões de Carvalho. CROTÔN YEITCHl Os Crotons formam um género da fa- mília das Euphorbiaceas, muito notável por algumas espécies altamente ornamen- taes, e por outras que gosam de proprie- dades therapeuticas. Entre as ultimas citaremos o Crolon eluterioa cuja casca tónica, adstringente e febrifuga, é muito conhecida no commer- cio debaixo do nome de Cascar illa. Os habitantes do Brazil têera em gran- de reputação como diurético e antisyphi- litico o C. campestris. Do C. t/mriferum, indigena das margens do Am:\zonas, ex- trahe-se um precioso incenso, e, finalmen- te, as sementes do C. liglium, conhecidas mais vulgarmente com o nome de semen- tes de Tillg ou Pinhão da índia, são a tal ponto purgativas, que uma só gota é bas- tante para preparar um purgante muito forte. Entre as espécies ornamentaes citare- mos primeiro o C. Veitchi, cujo desenho os leitores podem ver na fig. 29. Poucas vezes recebemos tão agradáveis impressões ao examinar uma planta como nos aconteceu com esta. E' d'uma belleza pouco vulgar, as suas longas folhas lan- ceoladas e grandes são manchadas nas ner- vuras c bordos por uma brilhante côr amarclla. A parte verde da folha c d'um vivo tSo brilhante, que difficilmente se encon- tra similhante nos vegetaes. Einfim o todo do arbusto é um conjuncto de bollezas^ que a nossa penna mal pode descrever. Só analysando-a viva, como nós fizemos, nas estufas do snr. Loureiro, c que se poderá fazer ideia do mérito decorativo d'e3ta EU' phorbiacea. Alli encontramos também uma collec- ção de mais 12 Crotons, cada qual mais bello e explendido. Um que também nos feriu bastante a attenção, foi o C. in- terruplum. N'csta espécie as folhas são lineares, de 30 centimetros de comprimento sobre 2 de largura, muitas vezes torcidas em es- piral; os pcciolos curtos, avermelhados, verdes nas extremidades; a nervura cen- tral amarella a principio, purpurina depois, o limbo interrompido aqui e acolá, redu- zindo-se unicamente á nervura e reappa- rccendo depois em forma de corneta, de coifa, de hélice, etc, em summa, forma um todo de maravilhas que o olho do obser- vador não se cança de admirar. Em seguida a este citaremos o C. an- gustissimum. Que differença das outras es- pécies! Aqui as folhas são filiformes e pen- dentes, attingindo algumas vezes 50 a 60 centimetros de comprimento, são verdes brilhantes, com o centro c a margem man- chada de amarello-laranja. E' uma plan-^ ta que não tem rival emquanto á elegân- cia de porte. O C. maximum, que também faz parte da collecção, é explendido e o mais vigo- roso de todos. As suas folhas tomam odes- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 129 envolvimento de 25 a 30 centímetros; sao ovaes, ellipticas, nervadas ou reticuladas por longas manchas d'um aniarello-ouro vivo. O snr. Loureiro possue ainda os Cro- lons anguslifulnun, elegans, HiUíi, maxi- mum, variegalum, etc, etc,. Nào sabemoá sobre qual nos havemos de pronunciar; se este é mais bello na for- ma, aquelle é mais rico no colorido, e aqueiroutro no tamanho das folhas. E' o que temos visto de mais bello e mais rico em plantas. Para isto concorre poderosamente tam- bém o óptimo tractamento que têem, e as excellentes condições da estufa, que é aque- cida por um thermosiphão dos mais aper- feiçoados. De passagem diremos os nomes de duas plantas que também alli vimos e que mui- Fig. 29 — Croton Veitchí, to nos enthusiasmaram. Referimo-nos á Musa vilala e AUocasiacuprea. Fastas duas plantas foram ultimamente importadas pelo incansável horticultor, por preços verda- deiramente fabulosos. Voltando aos Crotons, diremos que es- tas plantas estão fazendo verdadeiro furor em Inglaterra; no nosso paiz estamos cer- tos de que em sendo bem conhecidas e de- vidamente apreciadas, obterão o mesmo resultado. A. J. DE Oliveira e Silva. A CULTURA DOS RANUNCULUS EM CANTEIRO DOS JARDINS Geralmente cultivam-se os Ranuncu- lus em vasos ou caixas, se bem que pou- cas vezes com prospero resultado, em rasão das chuvas a que, sendo cultivados em mezes invernosos, estão expostos. Assim é que os vasos recebem a chu- va na cavidade aberta para a rega, com riedade poder-se-ia evitar guardando os Ranuncídus em cobertos, se ao mesmo passo os não privassem de are luz. Como flores que são, prejudica-os ainda o an- dal-os a cobrir e descobrir. Esta opera- ção enfesa-os. As geadas já lhes não são tão nocivas, grave prejuiso das plantas; esta contra- 1 como estejam expostos a todo o tempo. 130 JORNAL DE HOliTlCULTURA PRATICA O melhor meio cie obter formosos Ra- lUDiculus, e com menor cuidado, é dis- pol-os cm canteiros de largura de ÕO a 80 ccntimetroK, c cavando-se aterra á pro- fundidade de £)0 ccntimetros. Sobre o can- teiro deve deitar-se uma porção de terra, que n!io tenha ainda sido cultivada, com outra parte de areia e duas de estrume, que teidia estado alguns mezes cm pilha. Sc esta trilogia se conservar cm pilha com- raum até se fnser a plantação, melhor se- rá. Convém advertir que os melhores es- trumes são: excremento de gallinha, pom- ba, ovelha e cavallo, com tanto que sejam velhos. Forçosamente darão boas flores os Ha- nuncuhis que forem cultivados com a mis- tura acima receitada, em camada d'um palmo d'altura. Abram-se depois buracos um pouco dis- tantes entre si, e enten-em se as raizes, mas requer que também fiquem distantes, para que ao depois a rama não roube o sol ã terra. Urge igualmente que os buracos se- jam cobertos com uma camada da mes- ma trilogia. Devera os canteiros, cuja terra con- vém estar sempre um pouco húmida, ser relativamente elevados ao centro, ou en- tão cm declive, para que as aguas da chusma desliseni. Quando as plantas es folham convém picar amiudadas vezes a terra, e regai -a com excremento de gallinha, pomba ou boi, dissolvido em agua. De 15 de outubro a 15 de novembro se devem mctter na terra as raizes; a se- gunda plantação, havendo empenho de ter flores durante mais tempo, convém ser feita em dezembro e janeiro. Colhidas ou mortas as flores, é preciso arrancar as raizes, porque, ficando na ter- ra até seccar a rama, ficam sobremodo miúdas. Cumpre guardal-as em logar secco e arejado, para que não ganhem bolor. Conservem-sc d'um anno para outro em taboleiros ou em saccos, mas não ao sol. O receituário, que vimos expondo, é applicavel a Anémonas, Jacinthoa c Tuli- pas, se bem que as duas ultimas plantas devam ficar cora metade da cebola fora da terra. José Marques Loureiro. BIBLIOGRAPHIA HORTÍCOLA Mais dous interessantes livrinhos que vieram enriquecer a estante do horticultor iutelligente. Referimo-nos á 3.^ edição da «Culture Maraichère pour le midi de la Franco», devida a pennadeMr. A. Dumas, hábil jardineiro em chefe da quinta — modelo dcl3asin;e ao «Calendrier Horticolc pour le midi de la France», mesmo auctor. Estes opúsculos fasem parte d'uma valio- sa collecção de manuaos horticolas e agri- colas, debaixo do titulo de « Bibliotheca docultivador ejardiueiro», publicações fei- tas sob a protecção do Ministério de Agri- cultura. Queroriamos ver este exemplo imita- do pÍDRON PONTICUM Nào ha muitos annos que na compa- nhia de excellentes amigos percorri as margens d'ura pequeno confluente do Águeda. Foi um bello dia; dia de sol cla- ro e quente, como os temos frequentíssimas vezes no principio do verão. Era para um dia assim que a Providencia vestiu par- te da margem com soberbos Caryaí/í os, cu- ja sombra era em extremo agradável. Fiquei deveras surprehendido com a vegetação, que encontrei cm parte do ter- reno que era banhado pelo pequeno rio. Margem e encosta d'um pequeno monte es- tavam abundantemente forradas pelo Rho (lodendron ponlicum.W esse tempo era só para admirar a frescura e abundância da folha. Hoje deverá ser um jardim de inve- jar, porque deve estar coberto de bellas flores. Tem esta espécie um habitai extenso. Encontra-se na Ásia menor, no Cáucaso, íSyria etc. , e entre nós vive em mais do que um ponto. Não é melindroso. Toda a cultura se reduz, como para todas íis EricaceaSj a cujafarailia pertence, a empregar boa ter- ra d'urze ou terriço formado de folha mis- turado com areia. Vive porém também em terreno d'outras naturezas. Requer humi- dade no ar, boa drainagem nos vasos ou no terreno e exposição não muito quente. O Rkododendron ponticam, já de per si, tal como se encontra na natureza, é digno de ser cultivado nos jardins. E' ar- busto de 2'" a 4"^ de folhagem verde escu- ra ó abundante. Os ramos, terminam por grupas de flores com granulados bastante grandes, d'uma bella côr purpurina com pontuação no lábio superior e fauce do tubo. D'elles tem sido obtidas muitas das bel- las variedades que os horticultores conhe- cem. Pôde servir de cavallo para enxer- to d'outra espécie. Creio que será de vantagem a propa- gação d'este lindo arbusto, que se não eguala em bellesa alguma das espécies exóticas, lhes é superior pela facilidade da cultura. J. A. Henriques. CIIR0N1C4 HORTICOLO-AGRICOLA Falleceu meiado maio, em Lisboa, o snr. Francisco Rodrigues Batalha, pae do snr. Gregório Rodrigues Batalha, amador distincto d 'esta cidade. Era um homem prestante. O paiz perdeu um bom cidadão, nós um ami- go e a sciencia ura incansável propaga- dor, Ao snr. Batalha se deve a introducção, no nosso paiz, de muitas plantas, tanto industriaes como d'ornamento. Lactando com bastantes dificuldades, mas sempre animado da melhor vontade, o snr. Bata- lha passou ás nossas possessões d' Africa, onde fez muitas descobertas scientificas, sendo a descoberta da Urzella o seu maior triumpho. Para a introducção no paiz dos Eiiadtj- plus e da Boelimeria lenacissima, fez o snr. Rodrigues Batalha quanto coube cm suas forças. Sempre modesto e desinteressado nunca recebeu dos governos a minima re- tribuição. — O dr. Muot aconselha para a con- servação dos fructos do verão, taes como pecegos, damascos, ameixas, etc, que se accommodem em caixas de folha de' Flan- dres, que deverão ser hermeticamente fe- chadas e coUocadas em sitio fresco e era que a temperatura não varie muito, n'uraa JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 135 adega, por exemplo. Por este modo asse vera o dr. Muot que a frueta se conser- vará bem. Este processo não tem nada de novo. Noisette já faz menção d'elle no seu «Jour- nal des Jardins» de 1828. — E' tal o incremento da cultura da Delerraba em França, que, em dezembro do anno passado, contavam-se em activi- dade industrial 512 fabricas, calculando- se aproducção doassucarem 39.864:463 kilogr animas. — O sábio professor de botânica da Fa- culdade das Sciencias, em Montpellier, Mr. Planchon, dirigiu vdtimamente uma carta á redacção do excellente « Archivo Rural» em que se occupa do estado da questão da nova moléstia das vinhas, sob o ponto de vista do tractamento que se deve empregar con- tra o flagello . Esta carta é interessante. Não nos fur- taremos, pois, aos desejos de traduzil-a do «Archivo Rural» e, com a devida vénia, in- seril-a em seguida. Eil-a: O insecto é evidentemente a causa da mo- léstia e a sua supprcssão importará a cura; to- davia os insecticitlas apenas lêem dado até hoje resultados muito incompletos. A razão está na difficuldadc de alcançar o insecto em todas as raízes, problema quasi impossível de resolver nas eobdiçòes económicas em que nos colloca o pou- co valor dos nossos vinhos em França. Mas o va- lor dos vinhos de Bordéus e dos vinhos finos de Portugal justificaria provavelmente o emprego dos meios mais custosos e, desde então, os in- secticidas poderiam ser applicados. A submersão total e prolongada das vinhas deu a Mr. Faucon de Graveron resultados relati- vamente satisfactorios. Sobre este ponto os jor- naes d 'agricultura de Pariz publicaram indica- ções que farte dilatadas. Os estrumes fortes e, sobre tudo ricos em potassa, tem conservado a vegetação das vinhas atacadas-, todavia eu apenas os reputo palliati- vos. Os nossos ensaios vão recahir este anno so- bre um systema imaginado por Mr. Lichten- stein, e aperfeiçoado por mim, que consiste no se- guinte: Reconhecendo-se atacado um ponto do vinhe- do,colloquem-se no mezde fevereiro ou março, ao pé de cada cepa, três ou quatro sarmentos, que se devem ter raspado de modo a apresentar li- nhas de desnudaçâo, como se faz no Meio-dia para as plantações ordinárias. Os Phylloxeras das raizes subjacentes, accor- dados do seu toi-por, subirão ás estacas postas ao seu alcance, logo que o sol aperte. Aos pri- meiros dias de abril arrancar-se-hão cuidado- samente algumas estacas, e ver-se-ha se as fa- mílias dos novos Phylloxeras já ahi foram esta- belecer-se. N'este caso, cumpre arrancal-as to- das, supprimír com a fouce a parte subterrânea, queimar as extremidades infectadas e substituir as estacas por outras que devem estar de reserva. Mais tarde, no mez de junho, enterrar-sc- hão os sarmentos do anno, de modo que se fa- çam mergulhias ás quaes subamos insectos. Le- vantar-se-hào dopeis as mergulhiasparalhes sup- primir a parte infectada. Ao mesmo tempo se escorará a base da ce- pa para poder produzir raizes adventicias nas quaes se poderá fazer, decorrido tempo, uma ou mais colheitas de insectos. Isto será apenas um palliativo, mas o essencial ó que a vinha pos- sa viver com o seu novo inimigo. E' um erro sup^wr que os terrenos calcários escapam á devastação d'este insecto. Tudo o que ha de verdade na influencia do solo é que nos terrenos argilosos que se fendem, as devastações do Phylloxera são no verão mais frequentes e mais rápidas que nas terras friáveis e que não se fendem, mas a natureza chimica do solo nada influe. Importa aos proprietários dos vinhedos ata- cados não se deixar adormecer pelos raciocínios dos que vêem no insecto um effeíto da moléstia. Esta opinião, já refutada, deve ser comple- tamente posta de parte. Como se vê por esta carta, Mr. Plan- chon ainda attribue a nova moléstia das vinhas á presença do PhyUoocera vcistalrix. Isto é: que o pulgão é causa e não effeilo. Mal se descobriu a presença do P/iyllo- xera vaslalrix nos vinhedos aflfectados, apresentou-se immediatamente a questão: Será elle ca^lsa ou effeito da moléstia? — , e desde logo os homens que se occu- pam destes assumptos se dividiram em dous grupos. Os que attribuiam a morte dos vinhe» dos á presença do insecto tinham á sua frente homens tão competentes como MM. Planchon, Lichenstein, Bazile, Faucon; e os que a attribuiam a uma causa qualquer tinham entre si nomes que honram ascien- cia, taes como Giiyot, De Gasparin, Ma- res, Boisduval, Signoret e muitos mais que não nos occorrem agora. A este ultimo grupo, porem, ainda de- vemos ajuntar o nome de Mr. H. Trimou- let, entomologista vantajosamente conhe- cido, e que tão activa parte tem tomado n'esta questão. Ha cerca de quatro annos que Mr. Tri- moulet se occupa d'este assumpto, e, no dizer d'elle, a primeira impressão que recebeu foi e continua a ser a mesma. Temos á mão um opúsculo devido á 136 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA penna deste entoraologista em que se de- bate vigorosamente contra aquelles que acreditam que o P/rf/lloxera ú causa e não eíFeito da moléstia. O trabalho de Mr. Trimoulet tem por titulo «Mémoire sur la maladie nouvelle de la vigne». E' um estudo interessante e baseado em observações conscienciosa^?, parecen- do-nos por isso do nosso dever dar era ex- tracto alguns periodos em que o auctor fun- da a sua opinião contraria á do professor Planchon e que mais acima publicamos. A sciencia caminha a largos passos, mas como nos diz Lucrécio Caro no seu Poema «Da Natureza das cousas»: Teremos a decidir questões ainda, E difficuldades muitas resolver. No entretanto demos logar á opinião de Mr. H. Trimoulet e oxalá que venha a projectar um raio de luz n'esta envencilha- da questão. Era preciso ser destituído de senso commum, sendo partidário da geração espontânea, para procurar o meio de destruir o insecto que nos preoccupa, porque, segundo este systema, renas- ceria sempre das suas próprias cinzas. Uma vez estabelecido este ponto, que de res- to é indiscutível e acceite por todos os entomolo- gistas, vou responder á segunda questão que não é mais dífficíl de resolver apesar de ter sido ha- bilmente dividida em duas pelos nossos adver- sários 03 Phi/lloxcristas . ijíindo o pulgão de origem antiga, E de origem americana? I^ de origem europeia? E de origem americana? Esta é a grande questão porquo é aqui somente que os Phylloxe- rístas, tem algumas vantagem. E aqui ({ue elles estão no seu campo, e ó por isso que ellcs gritavam com todas as veras contra os importa- dores de cepa.s americanas, accusando-os de pro- pagadores da terrível moléstia. Esta questão co- mo a precedente não é susceptível de um exame severo, c como cila deve ser dcspresada dos ho- mens sérios. E, em primeiro logar, o Phylloxera vastatrix do moio-día da França é o mesmo que o pulgão da vinha da America? Respondem-nos a isto que Mr. Riley que veio á Europa especialmente para o estudar dissera que sim. Mas provou-o oUe? Viu os indivíduos frente a frente? Compa- rou-o.s? Mandaram-lhc specímens americanos pa- ra serem examinados, verificados, comparados, c emfim para se poder fazer um trabalho qual- quer? Não! E porque? Querem que acreditemos em Mr. Riley. Se- ja assim porque não tenho nenhuma razão para duvidar do que elle aventou, contudo responde- remos que >Ir. Signoret, o melhor hemipteralo- gista da Europa, não está concorde e se elle não atlirma o contrario duvida muito e para nós a duvida de um homem tão experiente equivale a uinii artirniativa. Além disso a maneira de viver dos Phylloxeras da Europa e da America é com- pletamente dífterente. Os primeiros vivem constantemente nas raí- zes e os segundos, pelo contrario, vivem nas fo- lhas e habitam em galhas. Uns são radícicolas e os outros são gallicolas. Na Europa, pretendem que matam a vinha. Na America, não lhe causam mal algum. E a isto chamam os Phylloxeristas factos ad- quiridos pela sciencia mas se toda a sciencia fos- se baseada em factos similhantes ainda estaría- mos muito atrazados. Provaram somente que o nosso Phylloxera, das raízes é o mesmo que o Phylloxera gallíco- la encontrado nas propriedades de MM. Lali- man e Chaígneau nas cepas americanas que es- tes cavalheiros receberam directamente da Ame- rica? Sustentam a affirmativa mas é uma questão que ainda está em terreno duvidoso pela parte dos botânicos, médicos, agricultores, chimicos e entomologistas. Quanto a mim, que a tenho segui- do um pouco, reservo-me para responder a esta questão ponderosa depois de ter estudado de no- vo o insecto na galha e só então responderei de- pois de uma informação mais ampla. Querem que o Phylloxera que é gallicola nos Estados Unidos, viesse i)or via da importa- ção das cepas americanas? Mas os senhores es- quecem-se que os sarmentos e As plantiXs estão então desprovidos de folhas, e, mesmo se as ti- vessem, os pulgões teriam morrido quati-o dias depois de viagem! Os resultados seriam idên- ticos para as plantas enraizadas, admittindo que no momento da importação os pulgões tives- sem descido ás raizes,o que seria preciso pi'Ovar. Mr. Laliman, nosso esclarecido coUega da Sociedade de Agricultura, tendo consultado gran- de numero de proprietários que plantaram avul- tadíssima quantidade de vinhas americanas, de- ram resposta idêntica; todos estavam d'accordo. A resposta foi que não encontraram o pulgão ao pé das suas vinhas nem ao pé d'aquellas que as rodeiam. Responderão que factos negativos não po- dem abalar um único aftirmatívo mas era pre- ciso para isso que este facto affirmatívo existisse e fosse legalmente observado e provado. E os senhores não o fazem: são apenas conjecturas da sua parte, fáceis de dizer mas difficeis de pro- var. Mr. Laliman possue uma correspondência volumosa sobre este assumpto muito instru- ctiva e digna de ser consultada. Em Itália, o marquez Kidolphi, faz ha quinze annos immensas plantações de vinhas americanas. Em ISG^á produziram -lhe mais de oito centos hectolitros de vinho e declara que ignora o que seja o pulgão chamado Phylloxera e que 08 seus vinhedos estão magníficos e que por em quanto não tem a queixar-se de moléstia alguma. JORNAL 1)K HOKTICULTUEa PliATlCA 137 »■ lia OLiíi-o facto que ó digao ilc ser aiísigiia- lado ç que vem em apoio do que avançamos. E que exactamente os Phylloxeristas que foram os mais ardentes em accusar as vinhas americanas de ser as importadoras da moléstia para a Europa, são principalmente os que foram 03 promotores do pedido ao ministro da Marinlia para fazer transportar vinhas americanas pela esquadra do Estado. Nào pode, porém, haver dous pesos e duas me- didas; dever-se-hia ser consequente comsigo mes- mo. Ou as vinhas americanas sào as importadoras da moléstia... e então é preciso prohibir e impe- dir a importaçAo cuidadosamente-, ou entào nào o sào e podem substituir vantajosamente as nos- sas vinhas cançadas. N'este ultimo caso, pelo con- trario, é preciso pe lir-se a import.;çào. !s'isto nao ha meio termo e é incomprehensivel que homens qu ' se dizem sérios sejam os propugna- dores d'e3ta3 duas proposições oppostas, o quere- umido prova i|ue elles nào acre litam mais do que nós na origem americana do pulgào. Emfim se o pulgào nao é nem devido á ge- ração espontânea retii d'oi''gem americana íica- Ihe somente a origem europeia e existia por- tanto desde sempre nas nossas vinhas n'um esta- do occulto, nao lhes causando mal algum. Preci- sava de um caso fortuito para que fosse desco- berto e para que se lhe desse celebridade. — Em Inglaterra, o professor Oliver tem contintiado, com applauso geral, as suas prelecções sobre botânica, havendo ultimamente instituído uma classe unica- mente para o bello sexo. As senhoras que frequentam o curso do snr. Oliver são em numero avultado, o que não admira, attendendo ao excellente methodo d'ensino do esclarecido professor. A botânica, um dos ramos mais inte- ressantes da historia natural, é indispen sável a toda a pe.^jsoa, que aspira a ter foros d'instruida. Entre nós todavia acha- se muito descurada e poucas são as escho^ las, onde se aprende com proficiência. E pena que tao útil e recreativo estudo não esteja mais vul_,^arisado entre nós! • — E' sabido que a flor das Yuccos tem tal forma, que é impossível ao pollen pôr- se em contacto com o estigma sem haver uma intervenção alheia. Um entomologista acaba, porém, de descobrir que o agente da fecundação das Yuccas é ua insecto desconhecido até hoje, sendo a fêmea de conforniação ex- tremamente curiosa e exactamente apro- priada a esta operação. Com a ajuda de ura comprido tentaculo recolhe o pollen e o introduz no tubo do estigma. A este insecto deu-se o nome de Pro- riitba Yucca Sella. — Iveferem jornaes inglezes que a ma- rinhagem franceza tem consegui doiíi troduzir n'aquelle melancólico paiz dos ge- los e das névoas o uso dos caracoes como alimento e que já os belfurinheiros os andam vendendo cosidos pelas ruas de Gloucester. D'aqui a pouco duas personalidades distin- ctas se encontrarão provavelmente nas ruas de Londres: o policeman e o snail. Como quem diz: Snr. policia; Snr. caracvl. Imaginem que os marinheiros france- zes encarreiravam para Portugal com os seus caracoes. Que foi-tuna não era para os hortelões! Einguem n 'um restaiiranle pe- deria mais uma omelelle; dirse-hia apenas: — Salta caracol. E se estivesse presente alguma senho- ra levaria logo a mão á cabeça para vêr se realmente lhe estava saltanU) aj-uni caracol do penteado, que, diga-se a ver- dade, as senhoras preferem os caracoes do figurino aos caracoes do prato. Pois não é assim, amável leitora'?! — De uma estatística publicada n'um dos últimos números do «Cultivador», esta- tística que podemos considerar como officíal tiramos as seguintes notas com relação exportação de fructa, de Ponte Delgada na finda colheita, e seus valores: Laranja, 230:518 e meia caixas gran- des,por 432:452j5i043 reis; tangerina, 2:435 malotes, por l:46l?5íOOO reis; ananazes 2:521 por 2:905^700 reis; bananas, 267 cachos por 130^650 reis. Como se sabe, a cultura de ananazes tem-se ultimamente desenvolvido muitis- simo, não seudo para admirar que em bre- ves annos a exportação exceda a uma de- zena de milhares de frnctos; a cultura de bananas, para exportação, também co- meça a tomar increniento. — Mr. liafarín e.Kplica ultimamente a mudança da cor das folhas, no outomno, d'este modo: Em quanto que existe uma certa rebição en- tre a duração das funcções diurnas e nocturnas das folhas, ha uma producçào e conservação da chlorophylla, ou matéria verde; mas, logo que, pela prolongaçào das noutes, no outomno, deixa de existir esta relação, ha a producçào de uma outra matéria amarclla ou vermelha que domina a chlorophylla. A pallidez da morte explicaria isto wais cabalmente. Assim é que umas se finam autes do outomno e outra» lhe sobrevivem. 12H JOUNAI. l!i: UCRTICU-IURA PIlATiCA — Acaba-se tie descobrir que asfoihaB òo Laurvs )?t»6//i5 (Loureiro ordinário), sec- cas e rcduziflas a pó, constitup)!! lun re- médio infallivel contra as lebres iiiTermil- tentes. IMíicera-se n'uin copo durante doze ho- ras 1 granima deste pó e niinistra-sc ao doente duas hor;\s antes aqneda em que se presume que o accesso deve mani- festar se. — O snr. dr. Zeferino de Almeida Pinto acaba j .0 8— Asrosto. 142 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA encontra, e por isso tem um preço clemca- siadamentc elevado para quo se possa plan- tar em grande quantidade. E entcào uma arvore de luxo e ornamento. Desenvolvimento rápido, junto a uma grande íacilidade de multiplicação, são estas as qualidades ossenciaes, ou antes indispensáveis a uma arvore, para que seja considerada florestal. A estas vanta- gens se deve que certas madeiras, posto que relativamente inferiores, sejam muito conhecidas e vulgarisadas, como os Chou- pos, por exemplo. Durante muito tempo consideraram-se unicamente arvores jiorestaes algumas es- sências, a maior parte indígenas da Eu- ropa, taes como o Carvalho, Castanheiro Faia, Bordo, Amieiro, Freixo, Álamo, etc, ás quaes se podem juntar algumas Coníferas como por exemplo o Pinheiro silvestre, o Pinheiro dos Vesgos ou da Lorena (Ahies pedinata), o Pinheiro ne- gro da Áustria, a E])icea commum e, por excepção o Pinheiro laricio. Principiou- se a reconhecer que este numero era bastante restricto, e tentou-so por conse- quência em differentes pontos a cultura d'outras essências exóticas notáveis, prin- cipalmente da >6'e(^»a?'a sempervirens Eadl., oriunda da Califórnia, e introdvizida em 1840. Os resultados já obtidos nenhuma duvida deixam sobre o futuro silvícola d'esta espécie que, na Califórnia, nos ar- rabaldes de S. Francisco, por exemplo, é tão abundante que em parte c a única essência empregada nas construcções. A armação de todas as casas de S. Francis- co é formada com a madeira d'esta espé- cie, cujos caracteres vamos indicar. A IS. sempervirens Endl., descoberta em 1796 por Menzies, o observada de novo por Douglas, em 1836, forma uma arvore de 80 metrcts e mais de altura por um diâmetro de 4 a 8 metros. A sua haste cylindrica é coberta por uma casca es- ponjosa, fibrosa, que chega a attingir0'",35 de espessura. O lenho, vermelho, solido, flexível, é 8usce}itivel d'um bello pollído; obra-se muito facilmente, e a sua regiUa- ridade é tal quo não ofterece duvida em poder ser empregado em numerosas ap- plicaçòes industriaes e económicas. Esta arvore, dcljaix(j do praga residente no largo do Viriato d'esta cidade. Foi plantado ha 9 annos, talvez, pois 144 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA tem hoje um desenvolvimento respeitável. Os seus braços occupam uma área de al- guns metros de circumíerencia. E um lin- díssimo exemplar. Encontram-se ainda ou- tros em vários pontos da cidade, porem nenliimi tão perfeito como aquelle. Consta-nos que o proprietário d'este jornal annuncia no seu novo catalogo exemplares d'esta planta pelo preço de 200 reis cada um. Supposto que este preço seja relativa- mente barato, julgamos comtudo que ain- da nào convida á exploração em grande escala. Se aquelle snr. os annunciasse pelo mesmo preço dos Euccãyptus (10:>000 reis o cento), estamos certos que a pro- cura das Sequoias havia de augmentar e tornar-se até superior á dos Euccãyptus. Fanzeres, Quinta da Egreja. A. J. DE Oliveira e Silva. OS CEDROS DO BISSACO D'entre a grande variedade de arvores de que se compõe a magestosa floresta do Bussaco, as aue mais sobresahem por sua eorpolencia e notável formosura, são os Cedros. O viajante que caminha pela matta, absorto na contemplação de tantas ma- ravilhas que alli se ostentam, é singu- larmente impressionado quando encontra ... o cedro a prumo, topetaudo Co'as estrellas do céo, cingido d'hera, Que era lustrosa espiral sobe constante, A segredar-lhe amores com que esqueça Aqui seu pátrio Libano JoAO BE Lemos. Esta allusão do poeta á originaria pro- cedência dos Cedros do Biissaco (>'up>res- sus glauca Lam. ; (Jupret^sus lusitanicaj, Miller) é justiiicavel em razão de serem tão similhante, em grandeza aos do Liba- no, que á primeira vista alguns botânicos os téem chegado a confundir com estes ; todavia, parece estar averiguado que esta formosa espécie só é nativa na terra dos Gates, próximo de Goa. Segundo o tostimunho de Fr. Leão de S. Thomaz, os primeiros ( 'edros que se plantaram no nosso paiz, são os que exis- tem no Bussaco, junto da ermida de S. José í. Com esta opinião concorda Fr. João do Sacramento, affirmando que no mesmo logar se encontram os primeiros Cedros que vieram das ilhas dos Açores a Portugal^ progenitores de quantos hoje gosa o mesmo reino, por industria do reitor da Universidade Manoel de Saldanha, que no anno de ICiS fundou aquella ermida -. 1 "Benedictina Lusitana" tom. II, pag. 283. 2 "Chronica dos Carmelitas Descalços" tom. II, liv. IV, cap. XX. Com quanto os auctores citados nos mereçam todo o credito, principalmente o primeiro que, escrevendo em 1651, foi con- temporâneo do facto, algumas duvidas se nos suscitam a este respeito visto como auctorisados botânicos nos inculcam os Ce- dros do Bussaco como originários da serra dos Gates. O snr. dr. António Augusto da Costa Simões, occupando-se d'esta ques- tão, affirma terem-lhe dito que nos Aço- res não ha memoria d'estes c edros, e que só ha poucos annos são cidtivados, como novidade, n'alguns jardins das ilhas do Pico e S. Miguel; e tem como possivel que primeiramente se aclimassem nos Aço- res, e se perdessem n'estas ilhas, pouco depois de terem passado a Portugal i. D'esta maneira podem justiíicar-se as asserções dos chronistas que citamos. Seja como for, é certo que ainda não vimos Cedros tão corpulentos como os do Bussaco. Alguns são verdadeiros coUossos vegetaes. Entre os que mais se distinguem por seu desenvolvimento, merece particu- íarisar-se mn que se encontra ao lado da rua que vae do convento para a Porta de El-rei, pouco adeante da ermida de Santa Thereza, e outro na rua do Horto, muito próximo e ao norte da Fonte Fria. Com propriedade se lhes podem applicar os ver- sos : De Icur immensité le calcnl nous écrasse ; Xos pas se latiguaient à contourner leur base Et de nos bras tendns lo vain enlacement iSenibrassait pas un pli dccoree seulement. Debout, riiomme est à peino íi ces plantes divines Co qucst une Iburmi snr leurs vastes racines, Coimbra. A. M. Simões de Castro. 1 "Historia do Mosteiro da Vacariça e da Cerca do Bussaco." JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 145 HERBARIO FLORESTAL DO CONTINENTE PORTUGÀEZ * GNETACEAS Ephedra distachya Linn. — Cornicabra dos algarvios. — Pequeno arbusto. Ha- bita em certos sitios do litoral do Algar- ve. Esta planta tem muita importância na economia florestal, para consolidar os terrenos moveis da beira-mar; assim como os solos escarpados, soltos e seccos. A esta familia pertencem ainda os gé- neros Gnetum Linn. ; e Welwitschia Hoo- ker, os quaes são exóticos no nosso paiz; o primeiro é indigena da Ásia tropical e da America do Sul e o segundo é originá- rio da Africa Austral onde foi descoberto pelo dr. Welwitsch quando fazia as suas explorações botânicas n'aquellas regiões. Todas as plantas pertencentes a esta fa- milia são arbustivas ou sub- arbustivas e rarissimamente arbóreas. TAXINEAS Taxus bacata Linn. — Teixo commum. — Arvore de pequeno porte. Plabita nas nossas províncias da Beira, Minho e Traz- os-Montes. Pertencem ainda a esta familia os gé- neros Prumnopitys Phil ; Torrei /a Gord. ; Dacrydium Sol. ; Pliyllodadus Salíshu- ?'ia Smth, (G-ingko); Cephalotaxus ^\e\).'^ e Podocarpus Her. Este ultimo é natural da Africa e os outros habitam os conti- nentes americano e asiáticos. No nosso paiz encontram-se como plantas d'ornamento povoando os parques e jardins. Endlicher classificou as Podocarpeas como uma familia e não como um género das Taxineas. CUPRESSINEAS Cupressus glauca Lam. ; C. Lusitani- ca Mill. — Cypreste de G-oa ou Cedro do Bussaco. — Arvore de porte elevado. En- contra-se em muitos pontos do reino como arvore de ornamento e na matta do Bus- saco constitue uma parte dos povoamen- tos florestaes, existindo ahi exemplares de tamanho admirável. Na matta de Valle de Cannas também existem numerosas plantações novas d'esta arvore, bem como em grande parte dos terrenos contíguos ao cemitério de Coimbra. Consideramos o Cupressus glauca como uma das nossas mais valiosas espécies florestaes e aconse- lhamos a sua cultura de preferencia a muitas outras arvores. O seu crescimento é bastante rápido, e supporta muito a secca. Cupressus sempervirens Linn. — Cy- preste.— Arvore de elevado porte, En- contra-se no paiz como espécie ornamen- tal, e é a arvore entre nós mais empre- gada para arborisar os cemitérios. Encontram-se no paiz pelos parques e jardins ainda outras espécies de Cupres- sus taes como C. eleqaiis, C. maqesticaj, C. chinensis^ C. funehrís, C. tkyoideSj C. macrocarpa, etc. Aconselhamos aos ama- dores esta ultima espécie que é d'um ef- feito admirável. Juniperus communis Linn. — Zimbro. — Pequena arvore. Habita entre nós as serras do Gerez e da Beira. Juniperus Oxycedrus Linn. — Arbusto muito vulgar em alguns sitios do Alem- tejo e na Estremadura na parte compre- hendida entre o Tejo e o Sado. Juniperus phoenicea Lam, — Arbusto. Encontra-se em diversos pontos das nossas províncias da Estremadura, Alemtejo e Algarve. Pelos parques e jardins encontram-se algumas espécies exóticas taes como Ju- niperus sabina Linn. ; J. virginiana Linn. ; J. thurifera Linn. ; etc. Taxodium sempervirens Lamb. — Se- quoia sempervirens Endl. — Arvore de elevado porte; é exótica no paiz, e origi- naria da Califórnia onde se torna rival da Wellingtonia gigantea.l^a.^ mattas de Val- le de Cannas e do Bussaco existem al- guns exemplares d'esta Conífera que tem tido um desenvolvimento muito satisfa- ctorio. Thuya orientalis Linn. — Vulgarmente chamada Cedro de palma. Arvore de pe- queno porte; é indigena da America e aclimada no paiz como planta de orna- mento. 1 Vide J. H. P., vol. IV, pa;?. 124. 146 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Ha muitas outras espécies de Thiiya e algiunas cl'e]las encontram-se nos nossos parques e jardins, como T. occíãentalís Linn.; T. jilicafa Don.; etc. Cryptomeria japonica Don. — Cypreste do Japào. — Arvore de elevado porte, oriunda do Japão e da China e cultivada no paiz como espécie ornamental. Abrange esta familia mais os géneros Jiiota Mirbel. ; Libocedrus Endl. ; Frc- jícZa Mirbcl. ; WícldringtoniaFénãl.; Cha- maecyparis Spacli.; e Callitris Yent. os quaôs se compõem de um grande numero de espécies arbóreas e arbustivas, sendo todas exóticas no nosso paiz c orig inarias umas da Austrália e outras da America, Africa e Ásia. Muitas espécies d'estes gé- neros empregam-so na nossa cultura orna- mental. Coimbra. (Continua) Adolpho Frederico Moller. SEMENTEIRA DE ELORES Eu attribuo ao mau processo de se- menteira as repetidas queixas que de to- da a parte estou recebendo sobre não nascerem sementes enviadas do meu es- tabelecimento. Não o posso attribuir a outra causa, por isso que não costumo mandar a nin- guém sementes de flores sem primeiro ter experimentado se ellas nascem ou não. Em todo o caso, e como prevenyão, di- gamos duas palavras acerca do methodo a seguir nas sementeiras. Convém que sejam feitas em caixas ou vasos não só para estarem mais reca- tadas das chuvas fortes senão também para estarem menos expostas aos bi- chos. No fundo do vaso devem ser deposita- das bastantes pedras ovl fragmentos de barro para abrirem esgoto ás aguas. Importa adubar imi pouco a terra com estrume miúdo e velho, e deitar-lhe uma pequena camada de terra crivada antes de c(^nfiar-lhe as sementes. Por cima das sementes é conveniente lançar outra camada de terra egualmente passada pelo crivo, se bem que baste ter a espessura de uma folha de papel al- masso, especialmente, quando forem se- mentes tinas ; quando sejam grandes, como Milho, Oamellian, Papofjaios, antes de co- bertas, devem ser batidas com uma roda de madeira, do diâmetro d'um prato de sobremesa, com um pau ao centro para se poder manipular. Xa falta (Veste fácil inslnnnento, ])óde servir um va.so, do fundo liso, dentro do qual se deitem as sementes, que, depois de cobertas, devem bater-se para ficarem bem comprimidas. Convém regar as sementes com rega- dor de raro muito fino, para que não se- jam arrastadas para os lados das caixas ou dos vasos que as contcem. Devem cobrir-se com esteiras, das nove horas da manhã ás cinco da tarde, pre- caução indispensável para se resguarda- rem do sol e dos pássaros. A melhor epocha de semear é do prin- cipio d' abril até 2õ do mesmo mez ; mas se forem Amores j^erfeitos ou Goivos de- vem semear-se em setembro para florirem mais bellamente em chegando a prima- vera. Os Amores perfeitos semeados em mar- ço e abril dão flores pequenas, forçados pelo calor. As Amoreiras semeiam-se em maio e ju- nho. E mister fazer as sementeiras ao abri- go da nortada, e ter em vista que a terra esteja sempre mn pouco hmnida. A hora mais conveniente para eflectuar a transplantação das plantas novas é das cinco da tarde em deante, porque a nou- te as ajuda a enrijecer, ao passo que o sol e o ar sêcco as damnifica. Notemos por ultimo as plantas que de- vem ficar no logar onde forem semeadas, para que a transplantação não as torne rachiticas — a saber: Papaver (Papoidas), Delp)hinium (Es- poras) Remeda odorata (]\Iinonete). José Marques Loureiro. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 147 DllACiVENA REGINA A Dracacna regi na c uma planta so- berba de porte mais similhante a uma Mu- sacea do que a uma Dracaena. O exemplar que temos á vista^ o de que é cópia fiel a gravura que acompa- nha este artigo, mede aproximadamente oO centimetros d'altura. E uma planta muito forte, e quando bem tractada ad- quire proporções gigantescas. O porte é egual ao das outras Dracae- nas, ^orém mais magestoso; as folhas são de 10 a 20 centimetros de largura, tendo Fig. 36 — DrAcaena regina — Desenliada no Horto Loureiro a nervura central muito grossa e canelada ; curvam-se graciosamente e são dispostas em espiral. Na base da planta são completamente verdes, mas á medida que sobem vão-se rajando de branco creme, até que no vér- tice da planta são quasi brancas. Vimos este arbusto no meio d'uma es- plendida collecção de plantas tropicaes: Crotons, CaladiumSj MusaceaSj Plume- riaSj Fetos, etc. ; junto a ella estavam também algumas Dracaenas como a hra- siliensisj toda verde ; a stricta, com as folhas inferiores verdes com raios verme- lhos e as superiores vermelho sulferino; a GuUfoylei, de folhas rajadas de branco, vermelho e verde, todavia nenhuma se destacava tanto, quer pela magestade do porte, quer pela riqueza do colorido. Es- tamos certos de que, quando esta planta fizer a sua apparição nas salas e for verda- deiramente conhecida dos amadores, hade fazer furor e tornar-se popular. Disposta n'um vaso fino e guarnecida na base por uma Tradescantia ou por um pé da Al- ternanthera amalis tricolor^, deve ser d'um eíFeito surprohendente para o remate de uma jardineira. Aconsolhal-a aos leitores seria duvidar do seu bom gosto, e por isso limitar-nos- hemos a dizer que o editor d'este jornal tem uma rica collecção de exemplares bastante desenvolvidos. A. J. DE Oliveira e Silva. 148 JORNAL DK HORTICULTLRA l'RATl('A BREVE NOTICIA ÁCEliCA DO JARDIM BOTAMCO DA UiMVERSIDADE DE COIMBRA ^ As diversas escholas que hoje existem no jardim estão miniiciosameute descri- ptas no relatório do director qne adeante publicamos, e ahi se encontram muitas no- ticias curiosas sobre os progressos do esta- belecimento n'estes últimos annos. Agora vamos completar este esboço histórico com alguns factos, que attestam de um modo indubitável quanto tem jirosperado mo- dernamente o Jai*dim Botânico, c com al- gumas indicações S(jbre as mais urgentes necessidades a que cumpre attender. Os jardins botânicos em toda a parte publicam catálogos, que uns aos outros se enviam para trocarem as sementes e eutreterem as suas rcei})rocas relações para o adiantamento da sciencia. O Jardim de Coimbra, que até 18G8 era estranho a esta recÍ2)rocidade de relações, enviou pela primeira vez n'esta epocha o seu «Index seminum» aos e tabelecimentos análogos da Eui-opa e de Melbourne (Austrália) ; e posto que este primeiro numero nào con- tivesse senão 380 espécies, muitas lhe fo- ram pedidas pelos principacs jardins bo- tânicos. Isto não é para estranhar, porque o nosso pequeno cathalogo continha já um grande numero de espécies indigenas, muito apreciadas pelos botânicos dos ou- tros paizes. Começando d'e8te modo a fazer-se co- nhecido o jardim botânico de Coimbra, pôde logo alcançar por troca muitas se- mentes. O segundo cathalogo, publicado em fevereiro de 18G1), continha já 830 espécies; e o terceiro, que se publicou em fevereii*o do anno passado, mostra que a ultima colheita foi de 1:237 espécies. As- sim, os desiraia dos outros jardins botâ- nicos tomavam-se cada vez mais numero- sos, e muito botânicos estrangeiros têem louvado 08 nossos primeiros ensaios. Em 18G8 organisou-se a cschola das plantas medicinaes e industriaes, de que falia o relatório do director. Nos n."* 7 a 12 do volume XIV do «Ins- tituto» de Coimbra, foi jjublicado o cata- logo d'estas plantas pelo jardineiro da Uni- versidade. No mesmo anuo se fizeram trabalhos de plantações de muitas espécies exóticas de plantas florestaes e de ornamento em di- versas partes do jardim. Em 18G9 reformou-se e foi enriquecida com muitas espécies a eschola botânica, representada pelo systema de Linneu. Durante os mezes de agosto e setembro do mesmo anno o Jardim da Universidade fez uma viagem a França, Allemanha e Inglaterra, obteve dos directores dos Jar- dins de Kew e do Jardim das Plantas de Paris, e de outros botânicos, mais de 200 espécies de plantas de estufa, e uma col- lecção de numerosas sementes, fazendo ao mesmo tempo unia avultada acquisição de plantas nos estabelecimentos commerciaes mais acreditados de Pariz, e estabelecendo novas relações com os homens especiaes n'este ramo. No anno de 1870, exeeutaram-se os se- guintes trabalhos : 1." Deu-se ])riueipio á plantação d'uma eollecção am])elographica, na qual já se contam mais de 100 castas de Videiras das melhores do Douro, do Ribatejo, e de algumas das regiões vinícolas mais cele- bres da França, da Allemanha e da Hun- gria. Plantuu-se ao mesmo tempo um vi- veiro das mesmas plantas, para poder substituir as que não vingassem na eollec- ção. Esta interessante plantação deve con- tinuar a accrescentar-se nos annos seguin- tes com as outras castas de Portugal, e das regiões vinícolas mais celebres do mundo ; 2.° Creou-se também um viveiro de Oli- veiras; 3.° Estabeleceu-se uma grande nitreii*a agrícola ; 4.° Plantaram-se dous grandes quadros de arvores de pequeno porte e arbustos da família das Lcf/nminosas ; õ.'^ Fez-se a ])lantação das monocoty- ledoneas na eschola das famílias naturaes, que vao descrípta no relatório do dire- ctor ; G.° Plantou-se lun grande taboleíro com Palmeiras, Liliareas, (rramineas e outras, que se deve considerar como appendice da 1 V^itle J. H. r., vol. IV, pslg. 121. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 149 eschola antecedente, a qiie forma um dos mais bellos ornamentos do jardim ; 7.° Fez-se plantação de mais de 400 arvores de espécies Ôorestaes, no terreno que liade servir de continuação ao peque- no bosque da parte oriental. Resmuindo o que acabamos de dizer sobre os recentes progressos do jardim, pode asseverar-se que o numero actual das plantas n'elle ciútivadas sobe a 2:000 gé- neros com 4:000 espécies, e que d'estas 1:200 géneros com 2:500 espécies estão plantadas ao ar livre, e o resto nas estu- fas. Logo que o permittam os trabalhos em- prehendidos, e que se tenha ultimado a verificação de muitas plantas que ainda estão por determinar, deverá o jardineiro occupar-se da redacção completa do ca- talogo de todos os géneros e espécies que alli se cultivam. Mais de 2:000 plantas, arvores e ar- bustos foram gratiiitamente distribuidas em 1869, entrando n'este numero 100 pés do Cinchona succirubra, obtidos por se- mente, os quaes foram enviados para as colónias. Presentemente existem d'esta arvore muitos pés em diverso estado de desen- volvimento, que dentro em pouco tempo estarão aptos para serem enviados para as colónias, para os Açores e para o Algar- ve, a fim de propagar tão útil planta. Em vista do que levamos dito, e do que se vê mais extensamente mencionado no relatório do director do jardim, se re- conhece que o estado actual d'este esta- belecimento é satisfactorio, se o compa- rarmos com o de outros jardins botânicos da Europa; porém o que resta a fazer para elevar este estabelecimento ao grau da perfeição e riqueza a que deve che- gar, para que possa fazer hom'a á Uni- versidade de Coimbra e ao nosso paiz, e para auxiliar, como deve, os progressos da sciencia, é ainda muito considerável. Posto que o fim principal de Jardim Bo- tânico seja facilitar o estudo da sciencia dos vegetaes, deve também este estabe- lecimento satisfazer a outras condições. A parte industrial, principalmente aquella que se liga com a agricultura, carece de ser largamente estudada. Por outro lado não se pode nem deve prescindir de tornar agradável o aspecto exterior do jardim, já pela riqueza e va- riedade das plantas e flores, já pelo aceio de todas as suas partes, pela boa dispo- sição das ruas, caminhos e veredas, pela abundância e belleza das fontes e tanques, e por tudo o mais quo, tornando-o apra- zivel, attrahe a attenção dos visitantes, e os convida ao estudo. Em relação a todos estes pontos ha ainda muito que fazer, e não se deve de modo algum desamparar o intento de o realisar. Seria grave injustiça deixar no esque- cimento os serviços prestados ao jardim ]3elo snr. António Borges da Camará na direcção dos primeiros trabalhos que se fizeram para utilisar e aformosear a parte destinada á eschola fructifera, e que in- felizmente, depois d'este intelligente ca- valheiro haver consagrado não só o seu tempo, o seu saber, e até o seu dinheiro ao traçado e execução de importantes obras para o melhoramento d'esta eschola, foram interrompidos por falta de meios. E de grande conveniência e até neces- sidade que as obras começadas pela di- recção d'este cavalheiro continuem debai- xo do mesmo plano. Foi este melhoramento um dos mais importantes que se téem realisado no jar- dim botânico. Uma collecção de 1:898 arvores fructi- feras, compradas em França, foi plantada no terreno da antiga horta da cerca de S. Bento, e á borda de diversas ruas. A estas arvores exóticas accresceu ainda uma collecção egual ou superior de arvo- res fructiferas indigenas, pertencendo a maior parte aos viveiros do estabeleci- mento, e outras obtidas por generosos do- nativos. Todas estas plantas téem pros- perado muito, principalmente as que fo- ram plantadas no terreno da eschola, que foi convenientemente preparado e drai- nado. A actual dotação do jardim, sendo bem applicada, pôde proporcionar os meios de realisar em poucos annos os melhoramen- tos desejados. Os proveitos que ha de auferir a scien- cia e a pratica agrícola na escolha e tra- ctamento das plantas úteis, são incalcu- láveis, e d'elles se podem utilisar não só 150 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 08 alumuos da faculdade de philosophia, mas o publico, que todos aqui devem ter patentes os melhores exemj)los a seguir. O ponto está em que a administração d'este estabelecimento seja dirijida com perse- verança e bom discernimento. O director no seu relatório menciona as obras que jiUga necessárias para o me- lhoramento geral do jardim e suas depen- dências, muitas das quaes nào podem ser executadas de prompto á custa da dota- ção annual do estabelecimento: taes Scào as que téem por objecto a refomia das ca- sas que no antigo coUegio dos beuedicti- nos pertencem á faculdade da philosojjhia. Para a prompta conclusão destas obras seria necessária a concessão de moios ex- traordinários. Teiininados os trabalhos que devem ligar a alameda da entrada lateral do jardim com o ediíicio de S. Bento, é da maior urgência, além do complemento e arranjo das escholas botânicas, a con- clusão das obras no teiTeno da cerca des- tinado ás escholas do horticultura e cul- tui-as especiaes da vinlia, OUvciraSj Avio- )rii-as e arvores fructiferas. Esta parte pôde tornar-se muito útil, nào só pelo que respeita ao ensino practico o propagação de bons methodos, mas ainda como origem de rendimento. Outras obras que nao vao mencionadas no relatório dtj director, c que devem con- siderar-se muito necessárias, sào : 1.* A reforma do aquecimento das es- tufas, que além de ser actualmente dis- pendioso, é imperfeito e incompleto; 2.* A acquisiçào, canalisaçào e distri- buição de maior quantidade de agua para as regas do jardim e cerca, e a construc- ção de depósitos e albufeiras para o apro- veitamento das aguas no tempo das chu- vas abundantes. O material da jardinagem é presente- mente muito escasso; e u'este ponto ha grandes refonnas a fazer, bombas e man- gueiras para regas, ferramentas aperfei- çoadas para podas e enxertias, carros e outros meios de conduccão, etc. No numero seguinte começaremos a pu- blicação do relatório do director em 1870, e por elle poderão os leitoi-es alcançar mais cabal noticia do estado deste tão útil es- tabelecimento. Coimbra. /tí ±- ' \ (Lontinua.J J. A. Simões de Carvalho. O ESTRUME DE PILHA Depois que a vida da planta desappa- receu, a qual conservava unidos os in- gredientes da sua existência animada de- baixo da forma de vários productos, as suas primitivas e naturaes affinidades chy- micas perderam a obediência ás leis que as regiam; e estes productos tendem a reassumir as primitivas combinações de que tiraram a sua origem. Este processo torua-se mais rápido com o auxilio do calor e da humidade. Em uma pilha húmida, formada do ma- térias vcgetacs, a acção da decomposição é expedita, e o oxygenio que a planta largou de si durante o seu crescimento será reabsorvido agora c restabelecerá as C(>ndiçí5es da sua natureza primitiva. íSc pois esta pilha for removida por ve- zes, de f<)iTna a permittir que o oxygenio da atmosphera penetre com mais facili- dade, o processo será accelerado c a de- Cíimposição virá napida. As primitivas affinidades e antigas com- binações entrarão em acção, de modo que o carbono e o hydrogenio, reunindo-se ao oxygenio, formarão acido carbónico e mii vapor acquoso que desapparecem na atmos- phera d'onde vieram. O nitrogénio retoma a forma de ammonia e também se escapa, enti*etanto que os mincraes, destacados do tecido vegetal, são levados pelas aguas da chuva. Este é na verdade o processo que occor- re com as simples pilhas de estrume que habitualmente fazemos. As palhas e mais matérias vegetaes são alli misturadas com os estrumes do gado, os quaes geralmente contéem maior som- ma dos ingredientes nitrogenios das plan- tas que favorecem esta recomposição de elementos, promovendo assim a feraien- tação. Todo o estrume por conseguinte apo- drece com o contacto do ar, porém com um grave prejuizo da sua boa qualidade. Um trabalho bem dirigido na formação JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 151 das pilhas de estrume deve prevenir este desperdicio, retendo as substancias volá- teis e solúveis que se possam escapar. Para esclarecimento dos interessados da- remos as explicações precisas para a for- mação d'estas pilhas em artigo subse- quente. A. DE La Rocque. CHRONIC HORTICOLO-AGRICOU Flora e Pomona, as duas divindades gentilicas tão queridas de gregos e de romanos, ainda hoje, em plena civilisação do século XIX, teem festas, culto, adora- dores. A ideia cln-istã, longe de ser no- civa a estes symbolos naturaes da belleza e abundância, purificou-os, depurou-os do que n'elles havia de mais grosseiro e pa- gão, tornando-os dignos das nossas sym- pathias e amores. Nem podia deixar de ser. O génio do christianismo, tocando com a sua vara fa- tidica os productos innocentes do trabalho, exalta, abençoa e glorifica o que ha de mais bello no mundo moral e no physico. Os dias que mediaram entre 30 de março e 6 de abril do corrente anno ins- cidpiu-os em lettras d'ouro a laboriosa ci- dade de Gaud. Foram sete dias de jubilo para aquelles que amam as duas deusas que andam sempre de mãos dadas; uma prodigalisando-nos flores com que suavi- samos os males que affligem a nossa exis- tência ephemera como ellas, e a outra offerecendo-nos rubros e am-eos fructos que tanto nos deleitam á mesa, como nos extasiam no pomar, quando, em fresca manhã, alli vamos preparar-nos para o la- butar incessante do dia. Gand é e será sempre a cidade d'estas duas divindades. Quando ellas fazem o seu apello aos que alimentam o fogo sa- grado da horticultura, todos acodem ao chamamento como fieis sacerdotes que sao. Em Gand nunca será cxtincto esse fogo do amor pelo bello, senão que, pelo con- trario, vel-o-hemos atear-se de anno para anno que for decorrendo. Gand conta centenas de jardineiros, e as innumeraveis estufas que estão a cargo do seu desvelo e cuidado, renovam-se to- dos os dias com plantas novas devidas á arte e á intrepidez de exploradores e na- turahstas arrojados que trocariam de boa- mente a sua existência por uma descober- ta qualquer que podessc engrandecer o cortejo de Flora. Jean Vershaffelt, J. Linden, Van Houtte, Alexis Dallière, Charles Van Hul- le, e muitos outros horticultores notáveis de Gand, dão-nos testimunho dos pro- gressos que alli faz esta arte nobilissima. Do dia 30 de março até ao dia G de abril houve occasião de verificar esse pro- gresso na Exposição Internacional promo- vida pela Sociedade Real de Agricultura e de Botânica, exposição que esta socie- dade promove de cinco em cinco annos — e todos que a viram são concordes cm que excedeu em attractivos qualquer das que até hoje a precederam. Esta festa verdadeiramente internacio- nal teve um jury composto de cento e de- zeuove membros, sendo 29 de França, 19 da Allemanha, lõ de Inglaterra, 11 do Paizes Baixos, 2 da Áustria, 2 da Itália, 2 da Rússia, 1 da Suissa e 3õ da Bélgica. A commissão organisadora teve por norma separar os expositores de Gand com o fim de dar ao jury todas as garan- tia de imparcialidade e a esta medida ju- diciosissima ajuntou outra que foi o divi- dir o jury cm grande numero de secções, o que trou.xe comsigo um trabalho mais consciencioso e rápido. A estufa quente era o que produzia menos efteito ao visitante profano, mas aos olhos dos iniciados e para os verdadeiros conhecedores era o sanctuario em que não se entrava sem se tirar o chapéu. Ahi achavam-se as mais delicadas Orchideas, os Anaectochilus^ as curiosas Nepenthes, os Fetos de variadissimas formas, etc, etc. As Bromdíaceas que attrahiam os olha- res de todos tinham quatro concorrentes : MM. Van Houtte, Gloner, Van Gecrt e Beaucarne. Este género de plantas do que Mr. Ed. Morren se está occupando seriamente — e ainda ha pouco nos obsequiou com um catalogo tão completo quanto possivel — vae-sc generalisando e com efPeito mere- cc-o bem porque os indivíduos que o com- 152 JORNAL Dl' HOllTIOULTUllA I-RAIICA põem s3o muito ornamcntaes e as flores, mui bellas. As bracteas são a maior parte (las vezes de uni colorido brilhante e a sua cultura em geral nào é diffieil. Ainda téem o raro mérito de convir perfeita- mente para guarnecer rochedos ou muros. Na exposição avultavam as seguintes espécies: EnchoUrion Jonghi, E. Saun- dersi, E. roseum, Vriesia fipleudens, V. Glaiziouana, V. argêntea, Pitcairiiea ta- huJaeformis, Tillanâsia fessellafa, Ntdu- larium innocenfi e N. fulr/ens. Ao lado de numerosas collecçoes espe- ciaes notava-se grande numero de plantas novas e expostas pela primeira vez. Entre estas merecem especialmente sor assigna- ladas as que vamos ennumerar perten- centes a Mr. Gloner-Linden. Anthurium cristaUinum de porte rigi- do, folhas amplas d'um verde-carregado com nervuras de branco puro. PhiUotoenium Lindeni ; folhas quasi completamente brancas. ('urmeria pidurata; folhas numerosas, de um verde pallido, com estrias parda- centas no meio. Tillandsia mosaica; admiravelmente ze- brada e muito distincta. Theophrasta Andreana; de porte ma- gestoso, folhas bronzeadas superiormente e carminadas por baixo. Dracaena Gloneri; do mesmo porte que a D. Draco mas admiravelmente varie- gada. Mr. Veitch, de Chelsea, levou ao certa- raen as seguintes novidades: Dracaena amahilis, D. Baj^tisti e D. imperalis; todas três egualmente distin- ctas e d'um porte altamente decorativo. A Mr. Jean Verschaffelt pertenciam estas : Azálea linear if alia completamente dif- forento das suas congéneres. Bonapartea Hijstrix compacta e a Za- mia corallipes. Na coUecção de Mr. Van Geert nota- va-se a Marattia < 'ooperi. Para que melhor se possa fazer uma ideia justa d'esta esplendida festa floral, apresentamos cm algarismos os represen- tantes que alli tinham algumas plantas: Palmeiras 312, Fetos 103, < 'ijcadeas GO, Dracaenas VòO, Licopodiaceas 50, Ooni- feras 413, Agaves 284, Azáleas 661, Rho- dodendrons 443, famellias 438, Orchideas 73, Bromeliaceas 101, Amarijllis 280, Jacinthos 650 e 7:402 plantas differentes que formavam ao todo um total de mais de 10:000 vegetaes raros e escolhidos! O nosso amigo Mr. Jean Verschaffelt foi de certo um dos expositores que melhor se representou n'este certame em que os louros colhidos são honras imperecedouras que se inscrevem nos annaes da horticul- tura. O estabelecimento do Mr. Jean Ver- schaff'elt avantaja-se aos outros e como pro- va evidente será bastante dizer-se que foi o que obteve maior numero de distincçoes. Só as medalhas sobem a 42, sendo umas de ouro, outras de prata e algumas de prata dourada. A este torneio floral assistiram SS. MM. o Rei e a Rainha da Bélgica bem como S. A. a Princeza Luiza, que fize- ram a distincção de condecorar pelas suas próprias mãos a Mr. Ed. de Ghellinck de Walle, presidente, e a Mr. Jean Ver- schaffelt, administrador da sociedade, com as insígnias de cavalleiros da ordem de Leopoldo. Na mesma occasião, recebia Mr. Jean Verschaffelt, de S. M. o Imperador do Brazil, a nomeação de cavalleiro da ordem da Rosa. No dia em que foi inaugurada esta ex- posição, offbreceu a Real Sociedade de Agricultura e Botânica um banquete a SS. MM. a Rainha e o Rei, a S. A. R., a Princeza Luiza, e aos membros que cons- tituíam o jury. Os brindes foram inmmie- ros e o que fez o conde de Kerchove de Denterghen a SS. MM. mereceu numero- sos applausos e acclamaçoes interrom- pidas por estrepitosos hip, hip, hip, hur- rah. A este discurso respondeu El-Rei em termos lacónicos mas ardentes, felicitan- do-se pela prosperidade do seu paiz. Eis as suas próprias expressões: Senhores ! A Rainha, rainha filha e ou, estamos extrema- mente reconhecidos pelo acoUiimento que acabaes le dar ao discurso do conde de Kerchove. E felicitando-vos novamente do êxito que teve ;sta niaf^nifica exiiosipão, peço-vos para brindar i Real Sociedade do Horticultura e de Botânica le Gand, bem como aos expositores que respon- leram ao appello ([ue se lhes dirigiu, aos sábios membros do jury, o emfim a todos aquelles que . ontribuiram para abrilhantar esta fosta. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 153 Estas palavras tão sypathicas do sobe- rano deram fim ao esplendido banquete. São estas as noticias que nos foi dado colher sobre a brilhante exposição de Gand e d' aqui enviamos os nossos agradecimen- tos aos cavalheiros que tiveram a delica- deza e amabilidade de nos ministrarem apontamentos importantes. Oxalá que Gand se vista ainda muita vez com todas as suas galas para bem da seiencia e da horticultvu-a de que aquella cidade laboriosa se pôde considerar mãe ! — Do livrinho «O Campo e o Jardim»^ que ultimamente acaba de ver a luz da publicidade, extractamos uma noticia so- bre as bordaduras de arvores fvuctiferas em cordSes-grinaldas, por nos parecer de interesse para todos que se occupam de arboricultura. Eil-a: As vantagens da cultura das arvores fructiferas em bordaduras de cordões ho- risontaes têem sido muito controvertidas em França; e comquanto esta espécie de cultura fosse complemente proscripta, bem como os cordoes de dous braços e os de ordens sobrepostas, sendo substituídos por cordoes simples e unilateraes, parece que os resultados obtidos não são demasiada- mente satisfactorios. O que é um facto incontestável ó que se os cordões não produzem muito, ao menos dão bellos fructos e as plantas não invadem os alegretes, aos quaes servem ao mesmo tempo de bordadura e ornamento. Ora as bordaduras que téem dado me- lhor resultado são as que vamos indicar e que devem ser feitas com individuus bifurcados, isto é, com dous braços a 0^,10 acima do solo. Estas arvoresinhas bifurcadas deverão ficar três a quatro me- tros distantes umas das outras. No primeiro anno deixam-se sem poda e quasi sem estacaria, segurando os ra- mos por meio de dous pequenos tutores collocados como mostra a fig. 32. Ao segundo anno, na primavera, dei- xam-se os rebentos intactos e é n'esta epocha que se faz a armação em que se téem de collocar os cordões e que consiste nas estacas — c^ b^ a — de Pinheiro^ de Carvalho^ de Acácia ou ainda melhor de Eucalyptiis. As estacas terão pelo menos O"", 04 quadrados e deverão ser dispostas a meio da distancia que houver entre as arvores, elevando-se a C^jôO do solo. Ao pé de cada arvore enterra-se também uma es- taca (h) que deve chegar até á bifurcação. No cimo de cada estaca haverá um gan- cho por onde passará um arame (d) for- mando uma linha quebrada, á qual se en- latam as arvores cujos ramos têem d'este modo uma direcção ascendente. Fig. 37 — Disposição das arvoí-es para a formação do cordâo-grinalda Este conjuncto apresentará um aspecto gracioso que justifica perfeitamente o no- me de «cordão-grinalda» que lhe dão os belgas. Convém para obter o resultado appete- cido, e%Qo\\\QY Pereirris enxertadas &m Mar- meleiro e sobre tudo variedades férteis. Fit^. 38 — Disposição das arvores para a formação do cordâo-grinalda Em seguida estendemos o rol das va- riedades mais convenientes para este fim : Alexandrine Doiiillard, Uelle de liru- xelles^ Beurré Bachelier^, Beurré Bosc, Beiírré Dumont, Beurré Hardij, Bonne Louise d/Avranchefi^ GelelxxHKe Garafon, Colmar d' Arcinherg, Dnchesse d' Angoulê- me, General Tottleben, Madame Tre,ve, Marie-Louise, Nec plus Meuris, ScBur Grégrnrej, SoJdat lahoureur^ JSouvenir du • ongres^ Tonrjre (DurondeauJ, Tuerlinck e William. As pessoas que preferirem as Macieiras ás íereiras para bordaduras, encontrarão nas variedades que se seguem uma ex- cellente aequisiçào : Bcddwin^ Belle Duhoisj Bedfordshire's Foundlinfi, Brenheim pippin, ( alville hlanc^ Calville de St. Sauveur, Empereur Alexandre^ Ménar/ère, Reine des Reinét- tesj Reinette de Canada, Rihston pippin, Vaugoyeau, Warner s King. 154 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA — O Jai-dim Botânico de Coimbra ex- pediu para a Africa 120 pés da planta da Quina. Pertenciam ás espécies Cin- chona officinaUs o C. succlruhra. — Mr. Julos ]\[eil, de Sevilha, escrcve- nos communicando que o Milho jicdinado, de que demos uma f^ravura na caderneta de juiilio, liavia alli perdido, logo no pri- meiro anno, a forma palmada que lhe c pe- culiar. — O snr. Francisco Pedro da Veiga, de Lamego, n'uma carta que nos dirigiu no mez passado, pergunta-nos como po- derá fazer com que as Flores de Lisj, Bor- dões de S. José e Angélicas^ dêem flores todos 03 annos, pois que possuindo exem- plares d'estas plantas acontece que uns annos florescem e outros não. Não podemos responder d'um modo sa- tisfactorio á sua pergunta emquanto a explicar o phenomeno. Parcce-nos todavia que o motivo d'estas plantas bolbosas não produzirem flor todos os annos, deve-se atribuir á mudança de terra no outomno ou na primavera, epoclia cm que se cos- tuma reformar a terra dos vasos. Geralmente os jardineiros costumam, quando preparam as plantas bolbosas, sa- cudir completamento a terra do bolbo, e transplantal-o assim para terra nova; esta pratica apresenta inconvenientes com re- lação ás Amaryllideaceas. Quasi todas es- tas téem além dos bolbos um abundante fasciculo de raizes fibrosas e grossas, que sSo em parte as que alimentam a planta. Ora está claro que cortadas ou oftendidas estas raizes, a planta deve enfraquecer e o resultado d'esse enfraquecimento será a não producção de flores. Devcr-se-ha, pois, notar que exactamen- te todas as plantas que o snr. Pedro da Veiga cita estão n'este caso. A Flor de liz (Amaryllis formosissima Linn.), tem junto ao prato do bolbo uma abundante cabelleira do raizes gordas, que é preciso conservar e não offender. Parece-nes portanto que o motivo da AmaryJl is formosissiimt /Polianthestuhero- sa, e A(japanthus não darem flores todos 08 annos, procede de lhe cortarem as rai- zes e por consequência enfraquecerem a planta. Não obstante esta nossa opinião, nós vemos o facto, a q\ie o snr. Veiga alhide. citado por muitos botânicos e horticultores, sem todavia nos darem a sua explicação. O snr. Oliveira e 8ilva, n'um artigo pu- blicado a pag. 51 do II volimie ^ d'este jornal, falia já d'este phenomeno. É para esse artigo que enviamos o snr. Pedro da Veiga, sobre ó melhor modo de cultivar as Amaryllis. — O estrumar as arvores fructiferas que se mostram defecadas ou estéreis por meio de adubo liquido, é muito recommendado por Mr. Arnold, de Lohndorf, apoiando-se nas suas repetidas experiências. Um amigo de Mr. Arnold tinha oito filas de Macieiras que mandou adubar abundantemente no outomno de 1870 e na primavera de 1871. No outomno se- guinte estas arvores estavam carregadis- simas de fructo, ao passo que algumas cen- tenas d'outras que as rodeavam não apre- sentavam um para amostra! Mr. Arnold, como encostado á sua opi- nião, diz-nos que visitando um jardim, nos principies de maio de 1872, vira que as arvores depois de terem florescido abun- dantemente, deixavam cahir os fructos. jMandou immediatamente regal-as com um liquido composto de sangue, de superphos- phato e de agua e ao terceiro dia deixa- ram de cahir os fructos ! Para corroborar este processo, Mr. Ar- nold ainda nos refere que vira uma linha de Macieiras que apresentavam tão mau aspecto, que o proprietário estava resol- vido a destruil-as no outomno seguinte. Metade d'ellas foram adubadas pelo mo- do indicado e ao quinto dia já as folhas tinham adquirido imia cor verde-cscura. Devemos dizer, muito á puridade, que os resultados assignalados por Mr. Arnold parece terem tal ou qual exaggeração : comtudo é inquestionável que o adubo ap- plicado ás arvores fructiferas deve pro- duzir um efteito vantajoso e não hesitamos em recommendar que se faça a experiên- cia. Dever-se-ha, porém, ser parco no em- prego d'este adubo, porque querondo-so muitas vezes rcmediar-se o mal empre- gando remédios violentos, acontece que se realisa a máxima de La Fontaiue : Lc trop tVattention ciu'on a pour le danger Fait le plns souvent quon y tombe. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 155 — A magnifica Araucária excelsa^ que tanto attrahe as attenções das pessoas que visitam a quinta do Lumiar, pertencente á casa de Palmella, produziu sementes fecundas que deram origem a noventa in- dividues. Todos esses pequenos exemplares, aos quaes se prodigalizam agora todos os cui- dados que merecem, estão vivos e vão-se desenvolvendo perfeitamente. A Araucária mãe tem 35 a 40 annos de edade. Consta-nos egualmente que um exem- plar d'esta mesma espécie, que existe na quinta do snr. visconde de Benegazil, perto de Palma, também produziu semen- tes que germinaram, dando origem a gran- de nimiero de exemplares. Se continuarem assim a reproduzir-se terão grande baixa no mercado estas ar- vores que até agora têem tido elevada co- tação. Com relação á Araucária excelsa escre- via-nos ha pouco tempo o snr. Mendonça Falcão, amador conspícuo e curioso inves- tigador : Como sabe, os inglezes apenas descobrirairi n'rma sua ilhota (Norfolk) ao pé dos nossos antí- podas, a 29 gráos de latitude austral, no ultimo quartel dn século passado, o celebre Pinheiro de Xorfolk Araucária excelsa talvez a mais bella das arvores conhecidas, — principiaram logo a se- meal-a em estabelecimentos próprios, fazendo mo- nopólio d'esta industria e não vendendo aos es- trangeiros os pinhões por preço algum, mas sim as plantas por preços fabulosos. Contaram-me, em Lisboa, que a primeira intro- duzida em Portugal foi a da quinta do Lumiar, do snr. duque de Palmella, tendo apenas um metro e que custara 1.000:000 réis, haverá trinta annos pouco mais ou menos. Continuou bastante tempo este monopólio dos in- glezes até que ha annos os belgas e francezes, guer- reando, como costumam, todas as industrias in- glezas, conseguiram obter por estacas dos reben- tos centraes e termina es indivíduos tão bellos e regulares como os de sementeira ingleza e d'ahi data o abatimento no preço d'esta Conífera, que hoje se obtém nos estabelecimentos hortícolas por preços rasoaveis. Como havia o preconceito de que esta Conífera só produzia gjãos no paiz natal fiquei surpre- hendido vendo na nossa privilegiada Cintra, em novembro de 18G7, na quinta do snr. Pinto da Fon- seca (Monte Christo) pinhas perfeitas n'uma das Araucárias que estão em frente do seu bello pa- lacete daquella quinta e que me disseram ser a primeira que as dá. As Araucárias teem sido geralmente consideradas como plantas dioicas, isto é, que uns indivíduos são masculinos e ou- tros femininos e que para produzirem sementes perfeitas e haver feciuidação era mister a promiscuidade dos dous sexos. Apesar porém de estar bem assente que as Araucárias eram dioicas, Mr. A. Ri- vière apresentou ultimamente á Sociedade Central de Horticultura do Franca alguns cones masculinos e femininos, nascidos n'um exemplar da Araucária excelsa, no jardim de Hamma, perto de Argel. A arvore que acabava de produzir sinuil- taneamente as inílorescencias dos dous sexos e que d'este modo veio provar que esta espécie também, embora excepcional- mente, se apresenta como monoica, é um individuo que tem mais de vinte metros d'altura e desde alguns annos que não dava regularmente senão cones femininos — estéreis, por consequência, visto não terem sido fecundados. O decano da nossa agricultura e illus- tre agrónomo, o snr. conselheiro Rodri- go de Moraes Soares, occupava-se recen- temente d'este assumpto na sua interes- sante chronica do «Archivo Rural», e eis aqui o resumo das observações feitas em Portugal relativas á sexualidade das Arau- cárias : As dua? Arancariíts bradlíensís, plantadas no Jardim Botânico de Coimbra, em ISIG, produziram pinh(5cs fecundos, pc^la primeira vez, cm 1832, re- conhecendo então o dr. António José das Neves e Mello, conspícuo lente de botânica, e director d'a- quelle jardim, em cada um dos ditos exemplares, os dous órgãos sexuaes ; os masci^linos situados nos verticillos superiores, e os femininos nos inferiores. Continuaram os dous exemplares a jiroduzir pi- nhas, mas com pinhões sem grão, até que em 1855 tornaram a dar sementes fecundas, das quaes ha muitos exemplares, principalmente no Bussaco, e alguns com oito a dez metros de altura. O que aconteceu com a espécie braítilíensín i e- petiu-se ultimamente com a Araucária excelsa. As mais antigas produziam pinhas, e pinhões ocos, mas n'este anno, appareceu o terreno subjacente das arvores coberto de ])lantas, nascidas esponta- neamente, que téem sido com o maior cnidado re- colhidas, e tratadas. Foi na Araucária da quinta do liumiar, que isto se verificou em maior escal- la. Temos outro exemplo na quinta das Laranjei- ras, pertencente ao snr. visconde de Benagazil. N'estas Araucárias como nas de Coimbra, re- conhecem-se os dous sexos distinctamonie, na mesma arvore. Para testificar este facto, isto é, que as Arau carias brasílíensís e excelsa, são monoicas, e não ilioica s, como dizem os botânicos, que se téem oc- cupado d'e3tas Coníferas reportamo-nos á respei- tável auctoridade dos snrs. dr. Bernardino António Gromes, Bento António Alves, e Jacob Weiss. E' fácil de explicar aintermittencia da fecunda- rão das sementes da Araucária, dado ocaso de se- 156 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA rem monoicas, cm um clima como o de Poi-tupfaL Técm os observadores notado, (|ue nos annos mais adversos á prolificação das Araucárias apparecem atropliiados os seus orpãos iniiiscuinius. Não obstante aquella interniittencia, ainda as- sim os amadores d'cstas elcfíantes, e magostosas plantas devem festejar os proliHcos amores, quando se acreditava na sua esterilidade, ou por ser dif- ficil de obter individuos de ambos os sexos, sendo dioicas, ou por ser contrariada ])elo nosso clima a sua reproducção, sendo monoicas. Não levaiitcaremos a ponna tVeste assum- pto sem agradecermos muito eordealmen- te ao snr. couselhciro Rodrigo de Moraes Soares as palavras benévolas que nos di- rige, bem como as rectiíicações que deli- cadamente faz a alguns lapsos que com- mettemos com referencia á epocha da in- troducção de algumas espécies de Araii- can'as_, na nossa passageira «Noticia sobre as Araucárias cultivadas cm Portugal». — N'este grande aldeão, de Garrett, a que chamamos Porto, a jardinagem pu- blica tem caminhado como o receioso la- drão que ora dá um passo para a frente e mais logo, ao presentir o menor ruido, recua líalmos e procura geitos de esguei- rar-se. E isto o que tem succedido desde que a conhecemos. Hoje dão-nos esperan- ças de termos bonitos jardins, e amanhã — triste decepção ! — vemos as nossas sonha- das esperanças cortadas por mão impla- cável e retrograda. Uma carta que temos presente contem uma d'essas repetidas queixas que che- gam a esta redacção assignadas com pseu- donymos, asteriscos e iniciaes, mas a que nunca damos publicidade. iloje, porém, desviamo-nos excepcional- mente do caminho trilhado, porque pes- soa fidedigna nos assevera que a quei- xa é justissima, affiançando-nos todavia que a alameda da La])a não está compre- hendida na jardinagem municipal, mas sim a cargo da administração dn egreja de N. S. da Lapa. Seja porém como fôr ahi a vamos es- tampar. Não sabemos quem é a pessoa (|ue dirif^e a cul- tura das arvores da alameda de Nossa Senhora da Lapa, mas é muito jiara sentir que (iuen\ (|uer qut Sfja não tenha o direito de ser acjui condifínanien- te honrado pelo seu trabalho. Tem havido erros nn encolha das arvores i)ara aquelle sitio, não os de- vendo haver, porque hi tecm o exemplo de quatr< linuissimaa e elej^antes arvores que se ostentau: com toda a magestadc; e houve barbaridade ( vandalismo no decote a que nlrinmniente se pro- cedeu. Só uma ip:norancia crassa podia faser simlhante poda, especialmente na Acácia melaixoxylon ti- rando-lhe a forma cónica, uma das qualidades porque ella se recommenda, pois que o seu ver- de não é o que mais agrada. Se a((uellas arvores alli são plantadas, como pa- rece, para fazer sombra que conveniência have- ria cm lhes cortar mais de metade á sua rama- gem ? Não podem por certo todos os homens en- tender de tudo, mas quem se encarrega d'um ser- vido deve, quando não sabe d'elle, consultar pes- soas competentes, que o possam dirigir. Seria bom lembrar a quem quer que é, qtae nào torne 660 reis por mez ! o o laboratório da Real Associação Central de Agricul- tura, que não tem subsidio official. Factos d'estcs revelam claramente o caso que se faz da instrucção agricola en- tre nós. Não precisam commentarios. — A «Illustration Horticole» correspon- dente ao mez de fevereiro vem acompa- nhada de uma bella estampa chromo-li- thographica da Camellia D. Carlos Fer- nando (Príncipe real) que Mr. Ed. André descreve assim : «A Camellia D. Carlos Fernando, ^ro- veniente de sementeira portuguza, é ca- racterisada por flores muito grandes, de imbricação perfeita, de pétalas obtusas dispostas em zonas de um bello vermelho- sanguc-arteríal fugindo para o carmim: algumas téem na ponta uma mancha bran- ca pura.» Queremos que se dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus e por- tanto não podemos fugir n'esta occasião a prestar um tributo honroso ao obtentor d'esta bellissima Camellia. Mr. Ed. André de certo que ignorava o modo por que esta planta liavia chegado á Bélgica aliás não se limitaria a escrever a seu respeito as poucas linhas que acima se vêem transcriptas da a Illustration Hor- ticole». Vamos pois esclarecer o assum- pto. A Camellia D. Carlos Fernando foi obtida de sementeira pelo snr. José Mar- ques Loureii'o e floresceu no seu estabe- lecimento pela primeira vez em 1864. Na Exposição Internacional que tovelogar em 1865 no nosso Palácio de Crystal ex- hibia o seu obtentor um exemplar da flor contrafeita em cera pelo snr. Jeron^Tno Philippc Simões. Esta Camellia fazia par- to da arvore genealógica da casa consti- tucional de Bragança, que era, como al- guns dos leitores estarão lembrados, uma colleci^ão de dezoito famellias uox^s, por- tuguezas, a maior pai-te obtidas de se- mente no estabelecimento do snr. Marques Loureiro, e que alcançaram então o pre- mio da medalha de primeira classe. A notável e riquíssima collecção de no- vas variedades estava disposta na arvoi'e pela sua ordem genealógica, que é a se- guinte : Imperador e Rei D. Pedro IV; Infanta D. Isabel Maria; Imperatriz D. Leopol- dina; Imp>eratriz D. Amélia; Princeza D. Amélia; D. Maria II, Rainha de Portu- gal; D. Fernando II, Rei de Portugal; D. Pedro V, Rei de Portugal; D. Ste- phania. Rainha de Portugal; Infante D. João; Infanta D. Maria Anna; Infanta D. Antónia; Infante D. Fernando; In- fante 1). Augusto; P, Luiz I, Rei de Portugal; D. Maria Fia, Rainha de Por- tugal; D. Carlos Fernando, Príncipe Real e Infante D. Affonso Henriques. Esta collecção foi oíferecida por occa- sião d'essa festa civilisadora, cuja data jamais se obliterará dos annaes portuen- ses, a S. M. a Rainha a Senhora D. Ma- ria Pia. Em 1866 enviava o snr. Loureiro ao seu amigo de Gand, Mr. Ambroise Vers- haífelt, como brinde, algumas das Camel- lias da arvore genealógica, entre as quaes se achava a variedade de que nos occu- pamos. E, pois, d'este modo que ella se acha hoje na Bélgica occupando um lo- gar distincto na sua numerosa cohorte. Para nós, como para todas as pessoas que se occupam de horticultura, devo sor summamente grato ver que a horticultu- ra se vae irmanando de dia para dia, graças aos esforços de beneméritos cava- lheiros que cm toda a parte a cultivam. Oliveira Júnior JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 161 PÊRA FORMOSA DE BESTEIROS Se os amadores e horticultores fizessem sementeiras das pevides e caroços das me- lhores fructas, appareceriam continua- mente novas variedades. Vê-se entre as que procedem de similhante modo de re- produção algumas tão notáveis como esta de que vou fallar. Nasceu inteiramente do acaso, sem ha- ver recebido os cuidados necessários. As- sim, quando apparecem boas qualidades sem serem semeadas de propósito, o que não appareceria de notável se procedes- sem de sementes de boas qualidades e com os cuidados precisos? Este anno lancei eu á terra pevides de algumas qualidades distinctas e tenho es- peranças de obter bom resultado. Todos sabem que as fructeiras de se- mente levam muitos annos a fructear, mas ha um meio d'ellas darem frueto aos três Fig. '10 — Pêra Formosa de Besteiros — Desenho do snr. Joaquim de Azevedo S. e Albuquerque. ou quatro annos. Procede-se da maneira seguinte : Semeia-se em outubro ou março, e, em fevereiro, no tempo da enxertia, corta-se a cabeça a cada uma das plantas enxer- tando-se de garfo em Marmeleiro e não em outro padrão por ser este o que faz dar fructos mais cedo. Ao cabo de dous a três annos forçosa- mente fructificam. Se sahem variedades novas e de merecimento, bem está, do con- trario tornam a servir de padrão para ou- tras variedades. Esta experiência fiz eu já, ainda que não fui feliz em obter novas variedades, mas sim o fui na experiência de as fazer fructear em 3 e 4 annos. Isto Vol. IV— 1873. se pode fazer a todas as arvores fructife- ras de folhas caducas. As sementes das Macieiras e Pereiras devem ser lavadas e esfregadas com arêa fina antes de serem semeadas, para se lhes tirar uma gordura que téem ; muitas dei- xam de nascer não se lhes fazendo esta operação. A pêra Formosa de Besteiros (fig. 40) foi-me apresentada pelo snr. Joaquim de Azevedo Sousa e Albuquerque e deveras me surprehendeu este cavalheiro quando me disse que era uma pêra creada na sua quinta de Casal d'Asco, em Vai de Bes- teiros. Respondi desconfiado da natureza do N.° 9— Setembro. 162 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA fructo que me parecia maçã. O snr. Al- buquerque riu e com razão por illudir um horticultor; deu-me alguns íructos, exami- nei-os e admirei, porque a forma c de ma- çã. Parti um e ua verdade era uma pêra magnifica. Eu nao conheci esta formosa pêra, quan- do alli estava em 1844. Depois fui chamado ao Porto aos tra- balhos horticolas. Volveram-se 29 annos e apparece-me uma magnifica fructa da minha terra na- tal. Dei-lhe o nome de Formosa de Bes- teiros em memoria da minha terra. Nasceu a excellente pêra em um logar chamado Litrella, perto da quinta de Ca- sal d'Asco, onde ha pessoas curiosas, por que me lembro que em todo o Vai de Bes- teiros só n'aquelle logar se faziam enxer- tos para vender. Posso aífiançar que é portugucza, porque nasceu espontanea- mente em uma horta onde fructificou e ainda só é conhecida no logar em que nasceu e nas suas visinhanças. O fructo é grande, de casca esverdiada, muito suc- coso, aromático e amanteigado, podendo- se considerar de primeira ordem. Ama- durece de outubro até janeiro, e este é mais um merecimento d'elle, por serem os me- zes em que as fructas são mais raras e apreciáveis. Os amadores já poderão obter esta va- riedade em outubro próximo por um preço bastante diminuto. Espero que passado cinco ou seis annos principiarão a appai-ecer muitas varieda- des novas, porque us amadores vão fazendo as suas sementeiras e é nos amadores que eu tenho esperança : os horticultores e jar- dineiros só tractam de cultivar o que lhes pôde dar interesse e raro se importam com o progresso da horticultura. Confesso que lhes sobra razão, porque eu tive outra maneira de pensar e algu- mas vezes me tenho aiTcpendido. Os meus fins foram sempre não trabalhar só para mim, senão que também empenhar-me em introduzir plantas novas, para desenvol- ver a liorticultura no paiz. Oi'a o paiz não raro costuma dizer : « Quem te encommen- dou o sermão -que t'o pague!» José Marques Loureiro. JARDIM BOTÂNICO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA' RELATÓRIO DO DIRECTOR EM 1870 IU."'° e exc."^" snr. reitor da Universi- dade. — Para satisfazer ao que v. exc* se dignou incumbir-me pela circular de 17 de março ultimo, tenho a honra de levar ao conhecimento de v. exc* o se- guinte, em resposta aos quesitos indicados na mesma: QUESITO 1.°— ESTADO DO JARDLM BOTÂNICO 0 jardim botânico da Universidade de Coimbra no seu estado actual não sorve unicamente para ministrar plantas de uso medicinal, como parece haver sido o mes- quinho destino com que foi creado pelo famoso estadista j\Iarquez de Pombal, que n'este ponto docahiu da sublimidade da scicncia no baixo sentimentalismo do cui hono, rotulo sabido dos utilitários e ma- terialistas. ... já fidniiuados pelo innnor- tal Linneu. 1 Vido J. H. P., vol. IV, pap. 118. O jardim botânico, como estabeleci- mento scientifico, inhereute á cadeira de botânica philosophica, presta ao ensino d'esta scieucia os auxílios necessários, mi- nistrando as plantas precisas para as de- monstrações e exercicios de taxonomia vegetal e physiologia vegetal experimen- tal; mas, além d'isto, é um auxiliar po- deroso da medicina, offerecendo-ihe mn quadro extenso de vegetaes empregados na therapeutica ; da agricultura, apresen- tando-lhe mna collecção cada vez mais rica de vegetaes alimenticios e de appli- caçào industrial, fornecendo aos agricul- tores do paiz as mais imjiortantes varie- dades de horticultura e de agricultura fructiiera e fiorestal. Finalmente pela sua cschola do aclimação ministra ao paiz plantas exóticas das mais preciosas, para ensaiar a sua cultura nas provincias ul- tramarinas, (pio Portugal ainda possuo nas regiões tropicacs. A vevdade do que assevero ficará pa- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 163 tente, quando se discorrer pelas diíferen- tes escliolas que occupam actualmente o jardim. 1.''^ — Eschola linneana Consta de mais de 1:500 géneros e 3:000 espécies, a maior parte das quaes são cultivadas no plano inferior primittivo do jardim, no qual se acha representada a Flora lusitana, simultaneamente com grande numero de typos das floras exó- ticas, havendo-se dado preferencia ás es- pécies arbustivas e arbóreas para a re- presentação genérica; porque as circum- stancias especiaes do solo e subsolo e de exposição, donde resulta mna concentra- ção excessiva dos raios luminosos e calo- ríficos, 6 por consequência a ardência do solo, permittem com difficuldade a cultura das plantas herbáceas, principalmente das annuaes e bisannuaes. Muitas d'ellas se acham representadas com plantas peren- nes; e um grande numero de géneros de plantas pertencentes ás regiões tropicaes 6 que deve figurar no quadro da eschola, tão somente no verão, são cultivadas no caldario da grande estufa, de que adiante tractaremos. Neste ultimo anuo acquisiç^es importan- tes se fizeram de plantas notáveis, forne- cidas pelos mercados de Pariz e Ham- burgo, e de grande niunero de outras, offerecidas gratuitamente pelos directores dos jardins botânicos de Pariz e Kew, ou enviadas por troca de sementes dos di- versos jardins da Europa, com os quaes o jardim botânico de Coimbra se acha em relação directa. Esta eschola foi renovada quasi com- pletamente durante o anno próximo pre- térito e no anno corrente. As classes, or- dens, géneros e espécies continuam a ser etiquetadas com rótulos gravados em pla- ca de chumbo, cobre, e haste de ferro, com muitas etiquetas de pau interinas. 2.^ — Eschola das famílias naturaes Occupa 08 terraplenos orientaes, supe- rior e médio, e comprehendo as plantas dispostas segundo o methodo de Endli- cher, por famílias naturaes, compostas de géneros caracterisados segundo o Genera plantarwn do mesmo auctor, obra n'este assumpto a mais moderna e bem acabada que possuímos. Se os distinctos botânicos ínglezes, Benthan e Hooker, levarem a cabo o seu excellente Genera plantaomm^ de que já se acha publicado o primeiro volume em três partes, será então por elle que deverá regular-se a círcumscrípção das famílias e a determinação dos géne- ros: o que já se publicou, pode, todavia, ser convenientemente ajDroveitado. A re- novação d'esta eschola, começada na pri- mavera do anno pretérito, acha-se consi- deravelmente adiantada com muitas fa- milias, particularmente a das Gramíneas e visinhas, representadas por muitos gé- neros e espécies, adquiridas ultimamente e algumas d'ellas das sementes recebidas dos jardins extrangeiros por troca. Algumas das mais notáveis familias, representadas n'esta eschola, receberam maior desenvolvimento em diversas partes do jardim, que se consideram mais api'o- priadas : foi assim que nas bordas daruella oriental do terrapleno médio e oriental se plantou uma numerosa collecção de Legu- minosas^ da tribu das Acácias^ da flora da Austrália, plantas de ornato formosíssi- mas ; no terrapleno superior ao sul da re- ferida eschola, uma collecção da familia importantíssima das Coníferas^ que se es- tendeu pelo terrapleno superior meridio- nal, onde o género Araucária é represen- tado pela totalidade das espécies hoje co- nhecidas ; no terrajDleno médio meridional acha-se uma numerosa collecção de Pro- teaceas; nas ruellas orientaes dos terra- plenos inferiores orientaes e no canto se- ptentrional dos mesmos uma collecção da utilíssima familia Aurantiaceas, e no dito canto as Palmeiras ^ no terrapleno meri- dional superior á eschola linneana uma collecção de Myrtaceas ; e no plano fron- teiro septemtrional um grande numero da vastíssima família das Leguminosas. Nas estufas, as famílias das Cacteas e muitas outras são representadas por grande nu- mero de géneros e espécies, que precisam de resguardo. 3.* — Eschola medica e industrial Foi estabelecida no plano contíguo á rua central das Tílias^ comprehendendo uma collecção de mais de 700 espécies de 164 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA applicaçào á medicina e á industria, dis- tribuidas por familias naturaes, segundo o methodo candoUeano ou do Prociromus systematis sexual is rcfjni vegetahilis de De CandoUe. As plantas sào indicadas com etiquetas, interinas, de pau. O au- gmento d'esta coUecção é incessante do espécies indigenas e exóticas. 4.* — Eschola fructifera Foi estabelecida no plano inferior ou horta de S. Bento ao lado do miu'0 de vedação da Alegria, continuando-se nas ruas e ruellas praticadas na encosta me- ridional adjacente á eschola lineanna, e comprehende mais de 2:õOO variedades, indigenas e exóticas, das mais estimadas plantas frutiferas, arbóreas e arbustivas. Como desenvolvimento d'esta eschola co- meçou-se no anno de 1869, e continuou-se no anno actual, a fundação da eschola ampelographica, comprehcndendo já uma numerosa collecçào de variedades de Vi- deira (Vitis vinifera Linn.) do Alto Dou- ro, da Bairrada, da Beira Alta, dos su- búrbios de Lisboa, e do districto de San- tarém, accrescendo muitas do Rheno, de França, e outras adquiridas do mercado de Hamburgo e da estufa de Kow. A dis- criminação de todas estas variedades e a determinação de suas synonymias, de in- controversa e instante necessidade, não podem sempre vorificax'-se, e demandam tempo e trabalho incessante para augmeu- tar a collecção e deixar desenvolver as plantas até á fructiíicação. Uma boa parte d'estas variedades foi plantada sob direcção e com assistência de V. exc.*, que mimoseou o jardim com uma collecção de variedades do Alto Dou- ro, a que se addiciíjnou outra, ministrada pelo snr. dr. José Ferreira de Macedo Pinto, lento jubilado da faciddade de me- dicina, e outra pelo snr. dr. Bernardino António Gomes: todas foram plantadas na encosta septentrional adjacente ao edi- lieio, sondo o terreno disposto em socal- cos com os convenientes muros do sup- porte. Deve considorar-se como desenvol- vimento d'esta eschola o olival da exti'e- midade occidental da dita encosta com as Oliveiras existentes, junto do muro supe- rior de vedação, e o pomar de Laranjeiras existente no fundo do valle, que separa as duas encostas. A maior parte das plan- tas d'esta eschola acham-se etiquetadas com etiquetas de pau, ou em vasos nume- rados com referencia ao catalogo respe- ctivo. 5.''' — Eschola de aclimação Comprehende os três géneros de estu- fas, caldaríum (estufa quente ou propria- mente dita), frigidarium (abrigadoiro), e estufa temperada (tepidarium). A primei- ra é constituída pelos dous corpos lateraes da grande estufa, a segmida pelo pavilhão intermédio, e a terceira pela galeria adja- cente á estufa e pelos estuíins maiores (chassis). Como annexo do caldario ha duas estuías menores, uma dita de repro- ducção, e a outra de Ananazes. No calda- rio e nos annexos acha-se reunida uma rica collecção das arvores e ai-bustos mais raros dos climas e regiões tropicaes, d'en- tre os quaes, para evitar prolixidade, so- mente citaremos os seguintes : Café (CoJ^ea arahica Linn.), Anonaj muitas espécies de Palmeirxíj de Bananeiras (Musaceae), dif- ferentes espécies do género Quina (Cin- chona)j a Arvore do pão (Artocarjyiis in- cisa Linn.), o arbusto da pimenta (Piper nigrinn Linn.), o Patchouli, a Mangueira (Mancjifera indica Linn.), grande n mero de espécies de Orchideas (Orclndeae), de Cacteas e muitas outras. A instancias minhas se fez, pela pri- meira vez, o ensaio da cultura da Quina (Cinchona snccirulra Wedd.) em três das nossas províncias ultramarinas. Cabo Ver- de, Angola e S. Thomé e Príncipe, para as quaes se expediram, por ordem do governo de ISua Magestade, seis estuíins com um numero considerável de exem- plares, que, segundo as informações offi- ciaes ultimamente recebidas, apresentam um esperançoso estado de vegetação, que deve animar-nos a continuar incessante- mente o mesmo ensaio, até ao estabeleci- mento e gencralisação da referida cultui'a. 6.^ — Eschola florestal Bem que estabelecida irregularmente em differentes pontos do jardim botânico, esta eschola é rej)rescntada por uma nu- merosa collecção de espécies de arvores JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 165 florestíieSj que foram plantadas em diver- sos locaes do estabelecimento, que foram considerados mais apropriados; os arvo- redos ou massiços de arvores junto das . duas portas septentrional e meridional do jardim, a antiga matta situada na encosta meridional; a continuação da mesma no anno corrente pela encosta de S. Bento, desde o muro da cerca das ursulinas até á rua que é destinada a communicar o plano da escliola linneana com a escho- la fructifera ; a alameda central do jardim ; e a linha de arvores que guarnecem a rua principal exterior, limitada pela gra- daria de vedação; sào os representantes principaes da eschola florestal do jardim botânico. 7/ — Eschola de horticultura e floricultura A representação d'estas escholas é ain- da mais irregular; porque as espécies nu- merosas que as representam foram collo- cadas nos locaes variadíssimos, que se acham nos intervallos dos vegetaes das outras escholas, a fim de occupar-se con- venientemente todo o terreno do jardim, em que não se acha alguma das outras escholas, os alegretes e paredes de todos os miu'os de supporte com as espaleiras sobre as mesmas bordas das ruas e ruel- las, etc. Concluimos aqui a resposta ao quesito primeiro, que se refere ao estado actual do jardim botânico, porque mais extenso desenvolvimento deverá fazer-se n'uma obra scientifica, que tenha por titulo — Jardim Bot. da Universidade de Coimbra. QUESITO 2.°— MATERIAL DO EDIFÍCIO O edifício do outr'ora collegio de S. Bento, incorporado no jardim botânico pelo decreto de 21 de novembro de 1848 e portaria de 13 de agosto de 18 GO, foi, todavia, pelo decreto de 30 de julho de 1869, destinado para n'elle se estabele- cer o lyccu de Coimbra, declarando-se mui expressamente no numero segundo do mesmo decreto que «o andar térreo do «mesmo edifício, bem como no primeiro «andar metade do dormitório que olha «para o jardim botânico e o que fica fron- «teiro á cerca do convento, são reserva- «dos para officinas, aula de botânica, casa «de arrecadação e mais usos que lhe mar- «car a Faculdade de Philosophia. » As casas de habitação para o director, para o jardineiro e para os criados, a aula de botânica, as casas de arrecadação para os productos naturaes e para os utensílios do jardim, são os usos para que ha muito foi reservado o edifício. O Concelho da Faculdade de Philoso- phia, em sessão de 1 de jtJho de 1869, resolveu sobre proposta minha que o lente substituto ordinário de botânica tivesse habitação gratuita no referido edifício, a fim de auxiliar o lente director cathedra- tico de botânica, e tornar permanente a físcalisação dos trabalhos do jardim. De todos estes usos, auctorisados por lei, o primeiro a que se devia attender era indubitavelmente o da habitação do lente director, porque, logo que ella se achasse concluída, cessaria o fundamento para ser contada ao mesmo director a gra- tifícação de 100,í>000 reis que a lei lhe concede, em quanto o Estado não lhe mi- nistrar casa de habitação no jardim. A este motivo de economia para o thesouro deve ajunctar-se a conveniência scientifica da habitação do director dentro de um estabelecimento dos mais complicados e de mais importância scientifica da Universi- dade. Esta conveniência acha-se estreitamen- te ligada com a habitação do lente subs- tituto ordinário dentro do referido estabe- lecimento; porque, sendo as funcçSes do professor de botânica de duas ordens in- teiramente distinctas, sedentária ou tra- balhos de gabinete, e excursiva ou traba- lhos de herborisação, não pode nem deve exigir-se que o professor de botânica re- sida constantemente no jardim, sendo as viagens botânicas o meio mais profícuo para enriquecer um jardim botânico, que deve, primeiro que tudo, representar a Flora do paiz, e depois as floras exóticas. D'este modo creio que fíca plenamente justificada a resolução do Conselho da Faculdade de Philosophia, para que o lente substituto ordinário de botânica tenha ha- bitação gratuita no edifício do jardim ; porque assim a ausência d'um dos dire- ctores não obstará á incessante físcalisação dos trabalhos do estabelecimento. 166 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA A promptificação da casa para o jardi- neiro era também de primeira necessidade, não somente para conveniência dos tra- balhos scientificos do estabelecimento, que demandam a presença constante do jardi- neiro como fiscal de criados e trabalhado- res, mas também por economia do the- souro publico, que é obrigado por lei a pagar a verba de casa ao jardineiro, em t[uanto não tiver habitação dentro do jar- dim. De importância innnediatamcnte in- ferior é a habitação de criados, que para guarda do estabelecimento, cíiicacia e re- gularidade dos trabalhos é de conveniên- cia incontroversa que residam dentro do jardim. Foi por tão ponderosos motivos que, executando as disposições do decreto de 30 de julho ultimo, dirigi a minha attenção, primeiro que tudo, para a promptificação e conveniente separação das habitações dos directores, proprietário e substituto, e do jardineiro, que ficaram concluídas em 1 de janeií-o tJtimo. A demolição dos casebres immuudos, que tornavam indecente a entrada septem- trional do jardim e arruinavam a saúde dos moços do mesmo, era instantemente re- clamada pela opinião publica. Por esta demolição começou durante as ferias de agosto e setembro a execução do supra citado decreto. A solidez da construcção das paredes da cosinha do convento e da cavalhariça era tal, que foi forçoso recor- rer á força ex])losiva da pólvora para as destruir. A habitação interina dos criados na dita cavalhariça foi substituída pela installação dos mesmos nas casas térreas do edificio contíguas ao jardim, até que se lhes proporcionou uma habitação regu- lar e sadia no edificio. Sendo preciso dar uma forma conve- niente ao terreno que liga o edificio com o jardim, o Conselho da Faculdade no- meou uma commissão, que apresentou um plano para os trabalhos a executar no dito toi'reno com o auxilio prestante do dire- ctor das obras publicas do districto de Coimbra, com cujo auxilio se promptifi- caram egualmento os orçamentos das di- versas obras que deviam oxecutar-se: foi tudo, plano, obras e orçamentos, appro- vado pelo Conselho da Faculdade. A pri- meira d'esta8 obras era a construcção de um muro de supporte, já começado em continuação do já existente, que limita ao norte o jardim floristico contíguo á grande estufa. Concluiu-se em março a obra de alvenaria do dito muro, restando ainda para fazer o capeamento do mesmo, e o assentamento do cano descoberto, para conducção de agua de rega até á extre- midade do referido jardim. Para acabamento das outras obras, que demanda o edificio, como são a aula de botânica, gabinete do jardineiro e guarda do jardim, bibliotheca botânica, casa do herbario e seminário botânico para arre- cadação de sementes, bolbos e tubercidos, fructos e collecção de amostras de ma- deira, casa de arrecadação de utensílios do jardim, e casa de habitação dos cria- dos, falta levantar os convenientes planos e orçamentos para proceder á sua execu- ção no começo do anno financeiro próxi- mo.^ E quanto me parece conveniente dizer em resposta ao segundo quesito. QUESITO S.-^ COLLECÇÃO DE PRODUCTOS KATURAES A collecção de productos naturaes tem- se limitado ás sementes, bolbos, tubércu- los, constantes do Index seminarii Horti Botanici Academici Conimbricensi 1870 mutuae commiitationi ohlatus, que no ter- ceiro anno da sua publicação offerece em troca aos jardins da Europa sementes de 1:277 espécies, justificando o vires adqui- rit eundo; pois que no primeiro anno ape- nas mencionava pouco mais de 350 espé- cies. Este Index tem grangeado para o jardim mais de 2:000 espécies, promet- tendo um successivo crescimento, estrei- tamente ligado com a representação, cada dia mais extensa, da Flora portugueza no jardim botânico da Universidade. Para alargar a collecção de productos naturaes é mister promptificar as casas precisas para a arrecadação, e guarne- cel-as dos convenientes utensilos. Entre- tanto algmnas acquisições importantes se téem feito de plantas preparadas para herbario; das floras exóticas e das plan- tas do paiz vão-se colligindo as mais notáveis das que florescem no jardim e muitas das que crescem espontaneamente. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 167 QUESITO 4.°— SEU ESTADO ; DESPEZAS E CLASSIFICAÇÕES Sobre o estado actual do jardim botâ- nico parece-me haver dito quanto basta para se fazer uma idéa exacta do mesmo jardim^ fazend.o sobresahir os melhora- mentos que tem experimentado n'estes dous últimos annos. Quanto ás classificações, parece-me tam bem haver já respondido, se a palavra classificações se refere ás plantas cultiva- das no jardim, as quaes se acham classi- ficadas na eschola linneana segundo o sys- tema sexual de Linneu, e na eschola de familias naturaes segundo o methodo de Endlicher Quanto ás despezas feitas, constam ellas dos respectivos livros, em que são lança- das as folhas mensaes, e que se dividem naturalmente em ordinárias e extraordi- nárias, comprehendendo as primeiras os salários dos moços e parte do ordenado do jardineiro a cai-go da dotação do jar- dim, o costeamento das estufas, em que avulta a despeza do carvão para elevar a temperatura; sendo comprehendidas nas segundas as acquisiçoes de plantas repre- sentantes de géneros que não havia no jai'dim, alguns utensilios de primeira ne- cessidade, como estufins, paus para espa- leiros, etiquetas de chumbo e de vidraça, carros de mão para o transporte de terras e estrumes, etc. QUESITO 5.° — OBRAS E ACQUÍSICÕES NECESSÁRIAS, SEU ORÇAMENTO As obras, cuja execução é de mais evi- dente necessidade na ordem da sua ur- gência, são as seguintes: 1.* Resto da demolição dos casebres em frente do edifício; 2." Aterro do muro de supporte ulti- mamente construido, e abertura da valia de alicerce do muro de supporte Occiden- tal; 3/ Capeamento do muro de supporte e coUocação dos telhões para o cano desco- berto ; 4.* Reforma da frente do edifício, que olha para o jardim, nas casas térreas, que devem ficar com 8 janellas e 2 portões, um para entrada da aula e gabinete do jardineiro, outro para entrada do edifício, na parte occupada pelas habitações dos directores e jardineiro e para a casa de habitação dos criados ; ò.^ Reforma da casa antiga de dispensa com destino para gabinete do jardineiro, com duas janellas para o jardim e uma porta para a casa de espera ou de entrada para a aula; 6.^ Reforma do refeitório com destino para casa de aula, cujas seis janellas, qua- tro que olham para o sul e duas para oeste, devem ser rasgadas, abrindo-se um portal para a casa da livraria dita do capitulo ; 7.^ Reforma da casa do capitulo com destino para bibliotheca, e abertura d'uma porta de communicação com a casa do seminário botânico e do herbario; 8.^ Reforma das casas térreas adjacen- tes ao corredor de entrada para o edifício, com destino para casa de habitação para os moços, que devem comprehender uma cosinha, casa de refeitório e casa de dor- mitório ; 9.^ Reforma do claustro, que deve ser revestido de plantas, com as paredes guar- necidas de espaleiras ; 10/ Reforma da canalisação da agua da cisterna para o jardim do claustro e para as rampas em frente do edifício; 11/ Uma bomba aspirante e compres- sora para a cisterna; 12/ Reforma dos canos conductores da agua dos beiraes para o vestíbulo da cis- terna ; 13/ Capeamento e revestimento do mu- ro de vedação da Alegria, que foi accres- centado no anno ultimo, e reparação do muro de supporte arruinado; 14/ Construcção do resto do muro de vedação, que foi arruinado pelas chuvas dos invernos anteriores á gerência da com- missão administrativa; lõ,'"^ Demolição do muro, que ainda se- para a matta antiga da que foi plantada n'este anno na encosta adjacente ao muro da cerca das ursulinas; 16/ Communicação da porta Occiden- tal da eschola linneana com o principio da rua aberta na encosta meridional da cerca, e que, seguindo as sinuosidades do terreno, segue até a eschola fructifera. Muitas mais obras poderia mencionar; mas limitarei aqui a relação das mais ur- 168 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA gentes, cuja importância é muito superior á dotação actual do jardim. V. exc.'"*, com o pessoal da repartição das obras da Universidade e cooperação do snr. director das obras publicas do dis- tricto, mandará proceder aos respectivos traçados e orçamentos. QUESITO 6.°— ENSINO PRATICO O ensino pratico do jardim botânico da Universidade divide-se em duas ordens: 1.* ensino pratico dos alumnos da aula de botânica ; 2.* ensino pratico dos apren- dizes de jardineiro. O ensino dos alumnos, que frequentam a aula de botânica philosopliica, c feito por meio de demonstrações sobre a mesa da avda, e por meio de herborisações nas diversas escholas dos jardim, que é fran- queado aos ditos alumnos a todas as ho- ras do dia em que as portas se acham abertas. O ensino pratico dos aprendizes de jar- dineiro é feito por meio da pratica das operações horticolas na estufa e annexos, em que se acham empregados, além dos criados ordinários, dous pequenos, um dos quaes foi ha mezes admittido sem venci- mento até se achar iniciado conveniente- mente. Sei'ia muito para desejar que uma eschola de jardinagem fosse estabelecida no jardim botânico da Universidade, que podesse fornecer ao paiz operários horti- colas, de que ha uma carência quasi ab- soluta. É quanto se me offerece levar ao co- nhecimento de V. exc.^ em -resposta aos quesitos da circular que v. exc'' se dignou dirigir-me; v. exc.^ ordenará o que lhe parecer mais conveniente. Deus guarde a v. exc." — Coimbra, 25 de abril de 1870. o lente de prima, decano e director da Faculdade de Philosophia Antonino José Rodrigues Vidal. y> E este o relatório do ex-director do Jar- dim Botânico da Universidade de Coim- bra a que alludimos no n.° passado d'este jornal e cuja publicação prometteramos aos nossos leitores. Coimbra. J. A. SiMÒES DE Carvalho. HERBARIO FLORESTAL DO CONTINENTE PORTUGUEZ ABIETINEAS 2 Abies excelsa D. C. ; Picea excelsior Lam. ; Picea vulgaris e Picea excelsa Link. ; — Pinus jyieea Duroi ; Pinus alies Linn. — Arvore de elevado porte ; é natu- ral da Europa central e septentrional e d'algumas regiões da Ásia e da America boreal, onde só ou associada a outras es- fjecies florestaes, constituo vastas florestas. E exótica no paiz. Nas mattas do Bussaco e "Valle de Cannas existem plantações d'csta arvore assim como é empregada também na nossa cultura ornamental. Abies pectinata D. C; Pinus abies Du- roi; Pinus picea Linn. — Arvore de porte 1 Vide J. H. P., vol. IV, pag. 145. 2 Acerca d'e8te importantissimo fifrupo das Co- niferns aconselhamos aos nossos leitores as obras auutxu mencionadas aonde encontrarão a s\ia des- cripçào; a saber: Carrière, "Tr. <íén. Conif."; Volger. "Natnrgeschichta"; 2 Abt. (Botanik.); De Cham- bray "Tr. prat. Arbr. résin."; Dcsfontaines, "Ilist. Arbr."; Mathien, "Flora fore8tière;""Flora florestal espanola," etc. elevado, oriunda da Europa central e se- ptentrional e do certos pontos da Ásia e America boreal ; esta espécie não se adian- ta tanto para as regiões do norte, e vae a menores altitudes do que a antecedente, íío seu paiz natal constitue soberbas e vastas florestas, só ou associada a outras espécies; como, por exemplo, no Hartz, na Floresta negra, nos Alpes, nos Pyre- neus, etc. No nosso paiz aproveita-se na cultura ornamental. Na matta do Bussaco encontram-se exemplares d'esta Conif era constituindo plantações florestaes, e ahi apresentam um crescimento muito \'igo- roso, o que prova que deviamos ensaiar a cultura d'esta valiosa espécie nas nossas províncias septentrionaes. Abies pinsapo Bois. — Arvore de porto menos elevado do que as espécies antece- dentes. E originaria de Hcspanha aonde foi descoberta em 1839 por Mr. Boissier nas serras Nevada e Benneja, assim co- mo nas montanhas de Granada e na pro- víncia de Ronda, á notável altura de JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 169 1:100 a 1:200 metros. É iinia espécie muito robusta, pois supporta tão bem o frio como o calor. A este respeito diz o snr. dr. B. Gomes, n'um artigo que pu- blicou sobre esta arvore no III volume d'este jornal: «Na eschola florestal de Villa Viçosa em Hespanha mostrou elle sup- portar tão bem o frio de — 10^ como a temperatura elevada de 48°,4 centigrados, extremos que se verificaram nos mezes de fevei*eiro de 1860 e agosto de 1861.» Este Aheto tem um aspecto original que o não deixa confundir facilmente com os seus congéneres. Em Portugal por emquanto é exclusi- vamente do dominio da cultura ornamen- tal. Em Lisboa encontram-se pelos par- ques e jardins alguns exemplares do Abe- to hespanhol muito bem desenvolvidos. Pertencente ao género Ahies encontram- se ainda pelos nossos parques e jardins al- gumas outras espécies taes como Ahies halsamea, A. nigra, A. olha, A. Nord- maniaiiaj etc. Pinus marítima Lam. ; P. pinaster So- land. — Pinheiro marítimo e vulgarmente chamado PiWzeiro J>'ai'o. — Arvoredo 26 a 29 metros d' altura. Encontra-se com mui- to pequenas excepções em todo o paiz; é a essência florestal predominante de Por- tugal, aonde forma mattas, de per si, de superfícies muito variáveis, entre as quaes a de maior importância, não só pela sua grandeza como também pela superiori- dade de suas madeiras, é o bem conheci- do pinhal de Leiria, o qual, segundo a his- toria, data do reinado d'El-Rei D. Di- niz. 1 Pinus pinea Linn. — Pinheiro manso — Arvore de grande porte. Encontra-se em quasi todo o paiz, constituindo em alguns sitios pequenas florestas per si só e mui- tas vezes associado ao Pinheiro maritimOj Sobreiro e Carvalho. E uma valiosa es- pécie florestal, pois a sua madeira é muito empregada nas construções navaes. Pinus halepensis Mill. — Pinheiro de Alepo. — Arvoí-e de 16 a 18 metros de 1 Esta soberba floresta é propriedade nacional e contem uma área de 11:463 hectares sendo cerca de 9:354 hectares de superfície arborisada e 2:109 de superfície desarborisada. Está situada na pro- víncia da Estremadura, próximo á ])ovoação da Marinha Grande, que fica ao poente da cidade de Leiria á distancia de 10 kilometros. altura; é natural dos paizes meridionaes da Europa, e da Palestina e Pérsia na Ásia. No nosso paiz cultiva-se muito como espécie ornamental. Na quinta denominada das Laranjeiras, próximo a Lisboa, existe uma pequena mattad'esta Conifera. A terebenthina cha- mada de Veneza, é obtida da gemma d'este Pinheiro . Esta arvore é uma sober- ba essência para arborisar os terrenos cal- cários, gredosos e de lage onde não se dão com facilidade outras espécies, i Pinus silvestris Linn. — Pinheiro sil- vestre.— Arvore de elevado porte. E ori- ginaria dos paizes septentrionaes da Eu- ropa, onde constitue vastas florestas per si só ou associada aos Vidoeiros , Carva- lhos e algumas vezes, porém raras, aos Abetos e Larices. Na Europa central en- contra-se á altitude de 1:200 metros. O Pinheiro silvestre não é indigena de Por- tugal e entre nós geralmente só é empre- gado na cultura ornamental ; mas em setembro do anno passado tivemos occa- sião de ver uma pequena matta d'esta Co- nifera próximo da Villa da Figueira da Foz, no logar chamado Caçeira, que foi semeada ha 12 annos. - E a darmos credito ao que nos diz José Bonifácio de Andrade na sua «Memoria sobre a necessidade e utilidade do plantio de novos bosques em Portugal» (pag. 56 e Õ7) já houve pinhaes povoados com esta valiosa Conifera no nosso paiz. Transcre- vemos um trecho da dita memoria onde falia d'este assumpto, que não deixará de interessar aos nossos leitores : Temos também o verdadeiro Pinus sil- vestris de Linneu, Pinheiro de Flandres ou de Riga, em vários logares do nosso reino. Nas terras da quinta dos Chavões, distri- cto do Cartaxo, ha uma grande matta d'estes Pinheiros quasi de duas léguas de comprido, que pertence á casa da Niza. «Este grande pinhal já tem paus de mais de 2 palmos de diâmetro, muito bellos e direitos : o terreno em que foi se- meado é quasi de planície, elevado sobre o Tejo 50 a 60 braças. Em um sitio da ser- ra do Marão foram também semeados em 1 Soí^undo Mr. Hooker a maior parte da ma- deira emprer^ada na constrncçãi^ do templo de Salomão foi do Pinus halepensis- 2 J. H. P., vol. 111, pag. 235. 170 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 1800, e estào hoje (1815), segundo ouço di- zer, bem vingados e crescidos: sua se- meuto fui mandada vir do norte pelo hon- radíssimo ministro D. Eodrigo de Sousa Coutinho, conde de Linhares, cuja pre- matura morte lamentam os portuguezes patriotas e doutos. O commendador Do- mingos Vandelli, a quem Portugal deve o primeiro ensino da historia natural e chimica, também os naturalisou em uma sua terra ao pé de Aveiras de Cima.» E a pag. 57 nota: «Soube posterior- mente que também no districto do Samo- ra Correia ha outro pinlial d'esta espécie.» Na matta de Valle de Cannas também existem alguns exemplares novos. Cidtivam-se no reino, como essência or- namental, ainda muitas outras espécies pertencentes ao género Pínus e entre ellas citaremos algumas, taes como o Pínus la- ricio Poir. ; P. uncinata D. C. ; P. jjumi- lo Haenk. (variedade da espécie antece- dentei ; P. austriaca Hoss. ; P. strobus Linn. ; P.- cernira Linn. ; P. canadensis Linn. ; P. canariensis ; P. insignis Dougl. ; etc. Na matta do Bussaco encontram-se algumas destas espécies, que foram plan- tadas ha poucos annos e entre ellas so- brcsahe pelo seu desenvolvimento o P. in- .sífinis. Coimbra. (Continua.) Adolpho Frederico Moller. BIO-BIBLIOGRAPHIÀ HENRI LECOQ — LE MONDE DES FLEURS Henri Lecoq nasceu na pequena cidade de Avesnes no dia 14 de abril do 1802 e depois de ter feito os seus estudos na Es- chola de Pharmacia de Pariz, onde obteve quatro medalhas d'om'0, foi chamado em 1826, de recommendação do chimico Gay- Lussae, para occupar a cadeira de histo- ria natural de Clermont-Ferrand. No mesmo anno foi encarregado da dircc- yão do Jardim Botânico d'aquella cidade. Em agosto de 1827 apresentou Lecoq como thcse á Eschola de Pharmacia da capital, para obter o titulo de pharmaceu- tico de primeira classe, um t)'abalho so- bre a fecundação dos vegetaes. O jury, porém, por uma decisão especial e to- mando em consideração os elevados co- nhecimentos que o joven sábio havia já mostrado, exigiu do candidato somente uma these cm logar dos quatro exames por que era preciso passar. De 182G a 1854, isto é, durante 29 annos, occupou a cadeira de Clermont onde tinha elevado o ensino até ás mais altas regiões da sciencia. A sua linguagem era simples, a sua palavra limpida, e na- turaes c claras as suas razões e deducções. Soube nas suas brilhantes lições, diz um dos seus panegyristas, abaixar tão bem os ramos da arvore da sciencia que assim grandes como pequenos podiam saborear 08 seus fructos. A sciencia, o talento e a reputação que adquiriu pelos seus numerosos trabalhos accendeu em muitos institutos scientificos o desejo de o ver no seu seio, e assim foi que em janeiro de 1827 entrou como membro honorário da Academia de Cler- mont, de que então era decano. Em 1859 foi eleito correspondente do Instituto de França. Na Bélgica, a Socie- dade de Botânica deu-se jiressa em asso- cial-o como seu membro estrangeiro, dis- tincção que só é concedida a sábios que tenham prestado assignalados serviços á sciencia. Lecoq não faltou cora a sua presença aos diversos concursos botânicos instituí- dos desde 1864 nas principaes capitães da Europa e em cada uma d'estas assem- bleias tomou grande parte nas discussões que se suscitavam. Em 1870, apesar da sua edade já avançada c das fadigas que trazem uma viagem longiqua atravez da Europa do norte, não quiz faltar ao no- tável congresso de S. Petersburgo, onde fez um brilhante discurso aos seus con- frades, sobre a fecundação das Strelitzias e dos Hcãf/chium. Pouco tempo depois, aos 4 de agosto de 1871, deixava o notável naturalista de ser contado entre os vivos, attribuindo-se a sua morte aos golpes nioraes que liavia rece- bido, vendo a humilhação o desastres da JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 171 pátria. Os seus sentimentos patrióticos fo- ram feridos por tal modo que o perturba- ram e lhe trouxeram uma prostração ge- ral, seguida dentro em pouco por uma moléstia de estômago, que nunca se havia revelado até então. O assumpto dos estudos e dos escriptos de Mr. Lecoq comprehende todos os ra- Fisf. 41 — Cibotium princcps mos das sciencias naturaes, deixando-nos numerosas obras sobre botânica, minera- logia, geologia, astronomia, agricultura e horticultura. Depois d'este rápido esboço biograplii- co vamos dizer duas palavras sobre iima das ultimas publicações de Lecoq, obra que per si só bastaria para immorredouro pedestal que levasse á posteridade a me- moria do seu nome. Referimo-nos ao «Monde des Fleurs». Cada pagina d' este livro é um poema e o titulo em si resume da maneira mais fe- liz a união da sciencia e da poesia, cou- sas que em nenhuma parte se encontram tão intimamente ligadas como nas obras de llenri Lecoq. Haja vista por exem- plo a sua publicação anterior — «La Vie des Fleurs», que enfeicha no mesmo rami- llaote a sciencia de De Candolle, a obser- 172 JOKXAL DE ÍÍORTÍCULTURA PRATICA vaçào de Kéaumur c o formoso est}'lo do Buffon. Percorrendo as varias parte.s que cons- tituem esse bello ramo dos conliecimcntos humanos a que chamamos botânica, Lc- coq historia-os e descrevo-os como cm amena conversação. Dir-se-hia que está- vamos ao aconchego do fogão ouvindo a interessante palestra de um dos nossos Íntimos amigos. Em volta do poelc esta- riam então as damas prestando attcnyão ás palavras de Lecoq, porque ello falia para os dous sexos e ambos comprchendem perfeitamente a sua sublime linguagem. Abramos o livro ao acaso. E escusado olhar cm volta do nós para ver quem é que nos está prestando ouvidos, que a lin- guagem d'elle todos por ahi a comprc- hendem. Abramos pois o livro: «Aquelles que de boamente nos quizc- rem seguir n'esta peregrinação, esperamos poder contar, ao passo que foi'mos cami- nhando, os costumes dos vegetaes, o seu nascimento e os cuidados de que a sua in- fância está rodeada, a sua adolescência e os seus amores. Encontraremos, sem duvi- da, provas das suas sympathias e das suas inimisades ; assistiremos aos seus comba- tes, ás suas derrotas e ás suas victorias. Seremos testimunhas das suas viagens, dos engenhosos meios de transporte que devem á Providencia; e se ainda nos quizerem seguir mais longe, faremos por chegar ás suas colónias e por encontrar os pontos de partida da sua emigração. .... «Le Monde des Fleurs» está li- gado á existência de todos os seres orga- nisados, ás vicissitudes das estações, ás variações dos climas.» Mais adeante, quando vac tractar da creação das flores, abre um capitulo pelas seguintes palavras: «Deus mostra-se por toda a parte e em parte alguma se comprehende. A sua grandeza revela-se nos seres mais Íntimos da terra como nos astros des- lumbrantes que povoam o universo. Não é bastante sabermos que um vege- tal é formado de um caule e de uma raiz, que oílcrece uma folhagem variada, flores elegantes, fructos saborosos e sementes fecundas ; nós queremos conhecer ainda quaes são as partes constituintes d'estes órgãos, o que forma as folhas, o que cons- tituo o tecido da flor; queremos, com o auxilio do microscópio, chegar aos pri- meiros elementos da vida, á origem de todos os órgãos; chegamos á cellula.» Assim dá Lecoq principio ao seu ex- cellente «Monde des Fleurs» que desde a primeira pagina até á idtima offerece sem- pre o mesmo interesse. Pondo agora de parte o merecimento litterario e seientifico da obra e olhando para ella sob o ponto de vista artístico, diremos que é uma d'essas luxuosas e ri- quíssimas obras que só um editor pari- siense, JNIr. J. Rothschild, seria capaz de nos dar. A Mr. Rothschild cabem pois merecidos elogios pelos esforços que em- prega para nos apresentar em edições tao arriscadas e de tanto custo os escríptos de notabílidades scientificas tacs como Henri Lecoq. Excellentc papel, bonito typo renas- cença e 480 esplendidas e magnificas gravuras em madeira e aço, devidas aos lápis e buris dos primeiros artistas fran- cezes, inglezes e allemães, adornam as ele- gantes e bellissimas paginas do «Monde des í^lours». As figuras 41 e 42 extrahidas d'este li- vro, podem dar uma leve ideia do que va- lem as outras. A primeira apresenta o bello Feto Cihotium princejjs e a segunda re- presenta um forte exemplar da Araucária imhricata de que nos occuparemos em ar- tigo subsequente. Oliveira Júnior. AKALCARIA DIBIUCATA A Araucária imhricata attinge de qua- renta a cincoenta metros; os ramos são verticillados, erectos, patentes ou inclina- dos para f('»ra; os ramúsculos são oppos- tos ou espalhados, conservando as folhas por muito tempo; as folha tcem de dous a quatro centimetros do comprido o são ovaos lanceoladas ou oUipticas, brilhantes, de um verde escuro, rijas, terminadas por uma ponta cylindrica mais colorida do quo o limbo. Os amentilhos masculinos são erectos, levemente cónicos, obtusos, JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 173 e os cones quasi espliericos ou um pouco deprimidos superiormente, de doze ca quin- ze centimetros de diâmetro, curtamente pedunculados, pendentes. As escamas são terminadas por uma ponta em forma de bractea inflexa, e as sementes téem do quatro a seis centimetros de comprido e são triangulares ou subtetragonas com ân- gulos arredondados, comprimidos no vér- tice, que é algumas vezes terminado por uma curta ponta achatada e obtusa. É esta uma das espef^ies mais ornamen- Y]rr. 42 — Araucária imbricata taes e, segundo a nossa opinião, excede em belleza a Araucária excelsa, que aluis é a predilecta de muitos horticultores que nos accusarão de profanos, proferindo tal sentença. A sua rusticidade e a sua belleza como arvore ornamental deveriam assegurar a esta planta uma propagação rápida no nosso paiz, se fosse mais conhecida dos amadores. As suas qualidades florestacs, é de crer que um dia venham a assigna- lar-lhe um papel mais importante nas nos- sas culturas. Não nos admiraríamos se, com o andar dos tempos, a vissemos con- tribuir para a alimentação do homem, por- f^ue as suas sementes são comestiveis e kVellas também se pode extrahir óleo. I Isto não passa de mera conjectura que 174 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA nos não parece destituiria de fundamento, reportando-nos ao que dizem os viajantes, que a viram no paiz natal. Entre elles ha , um que nos merece a maior confiança. E o dr. Poeppig, sábio botânico c judicioso observador, ao qual a Flora da America do Sul deve niune- rosas e importantes descobertas. Eis, segundo o «Floricultui'al Cabinet», o que elle consagrou nos seus apontamen- tos a esta arvore: «A Araucária imhrirafa é originaria dos Andes do Cliili meridional e lorma vastas florestas sobre as montanhas de Caramivida e de Naguellenta. A região que ella occupa é cortada de rochedos, e, aqui e além, por pântanos formados pelas chuvas e pela neve derre- tida. O monte Corcovado, situado em face da ilha de Chiloe é, segundo se diz, co- berto de Araucai'{as desde a base até á linha das neves perpetuas. O que causa mais admiração ao viajan- te, quando se acha na presença d'estas arvores, sào as suas poderosas raizes que sobem á superfice da rocha e que se assi- milham a gigantescas serpentes: — algu- mas d'ellus nào téem menos de um metro de diâmetro. Estas raizes sàq cobertas de uma casca rugosa, similhante á dos tron- cos, que se parecem com columnas immen- sas, que vào topar com as nuvens a ses- senta metros do solo. Isto porém, refere-se somente ás jjlan- tas femininas, porque as masculinas raras vezes passam de quinze a vinte metros. A copa da arvore occupa aproximadamen- te a quarta parte da sua altura; é quasi em parasol, formado de muitos verticil- los de rumos estendidos horisontalmente, sendo regularmente distribuídos cm volta do tronco como os raios de um circulo. Os ramos secundários são revestidos de xima verdadeira couraça de folhas, porque estas ultimas, com quanto sejam muito aproxi- madas umas das outras e de vinte e cinco milimetros de largo, sào tão lenhosas e tão firmes que difficilmente se podem arrancar ílos ramos, a nào ser com ferro bem afia- do. Estas arvores, vistas do certa distan- cia, sào extremamente imponentes era vir- tude do sou grande porto, da sua côr vcrdc-carregado, o que causa grande im- pressão lio viajante, apesar da ideia que possa fazer antecipadamente pelos exem- plares que conheça.» O viajante a que acima nos referimos, o dr. Poeppig, accrescenta que a Araucá- ria é para as tribus indigenas dos Andes, desde 37' até 48^ de latitude austral, o mesmo que o i hoenix dactyJifera (Tama- reira) para as populações do Sahara, e o Cocos nucifera (Coqueiro) para os insula- res do Pacifico equatorial. As suas se- mentes formam, por assim dizer, a base da alimentação" dos indigenas, os quaes fazem d'ellas um consumo tanto maior quanto mais distantes se acham dos esta- belecimentos europeus e quanto mais dif- ficil lhes é obter Trigo. A quantidade de sementes que produz cada arvore feminina excede o que se imagina, e não se exaggerará affirmando que os Índios da região Araucariana estão completamente livres do passar fome. Uma só pinha, ou uma «cabeça» (ca- bezcij como lhe chamam os hespanhoes do Chili) contém de duzentas a trezentas sementes, e cada ramo tem geralmente de vinte a trinta cones. Estas sementes téem a forma das nos- sas amêndoas, mas são de dobrado tama- nho. No mez de março, isto é, no principio do inverno, cahem as pinhas ; e as esca- mas que se abrem de per si deixam sahir as sementes, que cobrem o solo em gran- de quantidade. São exportadas para Val- paraiso e é d'ahi que vêem para a Euro- pa, mas quasi sempre, quando chegam, téem perdido as faculdades de germina- ção, ou porque sejam já velhas, ou por terem sido assadas. Está reconhecido que a Araucária im- Lricata é completamente rústica no nosso paiz, e o único defeito que ella tem, se assim lhe podemos chamar, é o desenvol- ver-se muito vagarosamente nos primeiros annos e não gostar de uma exposição de- masiado quente. Este inconveniente, que não parece ge- ral, pois que algumas de vinte e quatro a vinte o cinco annos téem fructificado na Bretanha, não servirá de motivo para se deixar de propagar a sua cultura nos nossos jardins e parques, onde é mais rara que muitas outras de menos merecimento ornamental. JORNAL DE HORTICULTURA TRATICA 175 Se os amadores conhecessem os encan- tos d'esta espécie, não a veríamos aban- donada como está — defeito das plantas que se desenvolvem paulatinamente. A Araucária excelsa é por certo bonita e o seu garbo é o que mais nos seduz. A Arau- cária imhricata não é elegante, mas tem um porte austero e como que nobre. Só temos noticia de um exemplar da Araucária imhricata^ que mereça ser as- signalado. Pertence esse individuo ao snr. Chris- tiano Van-Zeller e está disposto na sua quinta de Villar (Porto). E um bellissimo specimen d'esta espécie : mede de treze a quatorze metros e os verticillos estào dis- postos com a maior regularidade possivel, parecendo mais uma obra do homem do que da natureza. Como se a natureza não fosse mais caprichosa que a imaginação do homem! Repetimos : é o único exemplar forte da Araucária imhricata que conhecemos, e admira-nos cm extremo que cm Lisboa, onde ha verdadeiros amadores, não se en- contre este individuo. Não o vimos nem em Cintra, na quinta de S. M. El-Rei D. Fernando, nem tam- pouco na do snr. visconde de Monserrate. A imaginarmos, poi*ém, pela rica collec- ção de Coníferas que possue El-Rei nas Necessidades, parece que também a esta espécie deveria caber alli um distincto logar. Mr. F. Barillet escrevia ultimamente na «Revue Horticole» (1872), qiie um seu amigo que soíFria de dor de dentes tivera a ideia de fazer uma incisão no ramo de uma Araucária ivthricata e tomando a seiva (resina), que se parece bastante com pasta branca e compacta, fez uma bolasi- nha que collocou na cavidade do dente que o incommodava. Alginnas horas depois cessou a dor, e esta matéria, que íicou no orifício do dente, substituiu a melhor chumbadura. A resi- na endureceu, fixou-se e o individuo que levado pelo acaso fez a experiência, nunca mais se queixou de dor de dentes. Não sabemos até que ponto seja ver- dade o que Mr. F. Barillet refere; com- tudo, sabemos que ha uma preparação para os dentes na qual entra o Ceclrus Deodara^ e cujas propriedades odontológicas não são contestadas. Oliveira Júnior. FORMAÇÃO DAS PILHAS DE ESTRUME Para maior esclarecimento d'este assum- pto devemos considerar as pilhas de es- trume em duas classes. A primeira formada d'aquelle que o la- vrador ajunta diariamente. A segunda d'aquelle que o lavrador tira da primeira pilha para as ir formando nos seus campos. Tanto umas como outras, exigem cui- dados para prevenir que estes estrumes não percam as boas qualidades que con- téem, o que acontece, como já explica- mos, permittindo a fermentação ao ar livre. A pilha diária — As condições d'esta pi- lha, que recebe em deposito todos os resí- duos diários das mangedouras, dos aidos e das cavallariças, exigem que seja feita entre paredes e coberta como se fosse uma casa para cevados, e eíFectivamente o la- vrador que os tem deve introduzir n'elles alguns d'estes animaes, a fim do calcarem e misturarem bem os resíduos, ao mesmo tempo que aproveitam d'elles alguma cou- ,sa, assim como das hervas raspadas das ruas ou caminhos, que alli se devem de- positar. De tempo a tempo convém dei- tar-lhe uma porção de liquido de ourinas, e assim se p, de Hyè- res, enviaram-nos os preços correntes das diversas Pvimulas que téem á venda. 178 JORNAL 1)K lIOUTlCULTLItA 1'11ATI'V — Chamaiuus ti attençSo dos leitores para o aunuucio da venda de Orchicleas que vae na segunda cajía d'este jornal. Pertencem a ura amador d'esta cidade, que, a troco de alguns sacrifícios, tem lo- grado obter uma excellente collecção de plantas. As que elle agora oôerece á ven- da são alguns exemplares duplicados, de que não precisa. — No «Diário de Noticias», de Lisboa, lê- se : o s)ir. Eclmoiul Uoeze, coimnisfiionado pela Es- fola I*olylcchnica de Lisboa para formar o Horto Botânico, na viagem qne acaba de fazer á Alle- mauha, foi á Universidade de Gottingen defender tliose para obter o grau de doutor em philosophia j o qual lhe foi conferido com fjrande eloofio da fa- culdade. Este estabelecimento scientifico, sendo um dos primeiros da Europa, é bastante difficil cm dar graus d'esta ordem. Felicitamos o snr. Edmond Goeze. — Í5ob o titido «Descripção de Machi- nisrao Agricola» recebemos um elegante volume de perto de 150 paginas nitida- mente impresso e adornado com numero- sas gravuras illustrando o texto. Esta interessante publicação, que muito recommendamos, é devida á penna do nosso estimável collaborador, o commendador A. de La Rocque. — A companhia das Lezirias acaba de adoptar nas suas propriedades do Ribate- jo um melhoramento que pôde ser causa de grandes vantagens para a agricultura d'aquella região, se for seguido pelos de- mais lavradores. Consiste o melhoramento na irrigação da leziria com a agua doce do Tejo por meio de moinhos de systeina americano, movidos pelo vento, de construcçao facili- ma, e de fácil reparação. íSão pouco dis- pendiosos, pois cada um posto a trabalhar não custa mais de 74-5»000 reis. Com estes moinhos obtera-se um jacto não superior a dous decimetros de uma profundidade de 22 pés inglczcs. A companhia tem já eollocado três d'es- tcs moinhos como cn.saio e o digno dire- ctor, o snr. George A. Wheelhouse, que foi o iniciador d'este melhoramento, ins- peccionnu-os c ficou muito satisfeito com o resultado obtido. l')n dos moinhos, di/.-nos o snr. Wheel- house, é para o ensaio de prados artificiaes durante o estio e o.s dous restantes são destinados a encher d'agua doce as valias que cortam a leziria de Villa Franca, para o gado beber. As sementeiras experimentadas para serem regadas são : Bcterraha, Nabo e Lu- zerna. Estes moinhos são muito usados nas margens do Rheno, e também na Ame- rica, nas margens do Ohio. Os ])rados artificiaes, que por agora se ensaiam no nosso paiz, estão lindos e mui- to proincttedores, principalmente a Beter- raba. O terreno onde se fez esta experiên- cia acaba de dar uma colheita de Trigo, sendo de esperar que, por este systema de irrigação as terras das lezirias que são de primeira qualidade darão duas colhei- tas ^em logar de uma. É de crer que os lavradores, em vendo 0 fructo que se colhe d'este melhoramento, se dêem pressa em adquirir para as suas propriedades estes apparelhos, que, pela sua simplicissima construcçao facilmente podem ser reparados. — O conselho municipal de Pariz offe- receu ao Shah da Pérsia, como recorda- ção da capital das capitães, o presente mais apreciável e delicado que se pode imaginar. Foi o brinde «Les Promenades de Paris» de Mr. Alphand, uma das pu- blicações mais notáveis sobre a jardina- gem, que tem visto a luz da publicidade e de que a bibliotheca do Porto já possue um exemplar. Esta obra começou-se em 1867 e só agora se concluiu, formando dous grossos volumes in-folio. O exemplar oíFerecido a S. M. Nasser- ed-Din era encadernado em marroquim vermelho e no frontispicio lia-se esta ins- cripção em caracteres illuminados: HOMMAGE DE LA VILLE DE PARIS A SA MAJESTÉ IMPÉRLA.LE LE SHAH DE PERSE Esta importante publicação que foi em- prehendida pelo editor J. Rothschild, de Pariz, importou em cerca de 130 contos de reis. Brevemente daremos noticia mais des- 1 envolvida d'este monumento artistico e scientifico, que o Shah da Pérsia folheará um dia saudoso ao lado das houris entre as Mil c uma noites e o Alcorão, no seu palácio de Téhcran. JURNAL DE iiOllTiCULTUr.A PUATICA 179 — o hábil illustrador d'este jornal, Mr. F. Pellereau, esteve o mez passado peri- gosamente enfermo com a variola e mais de mna vez nos lembramos que o nosso amigo atravessaria o espaço que separa a vida da morte. Felizmente para elle, e para todos os que o estimam como nós, não foi o snr. Pellereau victimado por essa terrível epidemia que não respeita nin- guém. — Experiências feitas o anno passado, diz o «Agricultor Americano», demons- traram que o melhor fertilisador de ce- reaes é o sangue de rez e estrumes de carnes. Contém grande quantidade d'am- monia ; é muito solúvel, e actua immedia- tamente, desenvolvendo calórico e dando rápido impulso ás novidades, que assim amadurecem mais cedo. Este adubo appli- ca-se secco e em pó, e quando se não deite á terra juntamente com a semente, o que é preferível, pôde ser deitado em redor da planta quando nova, cobrindo-se com terra. — Falleceu no dia 27 do corrente o snr. E. David, jardineiro paizagista allemão, bem conhecido n'esta cidade. — O snr. Ferreira Lapa, digníssimo lente do Instituto Agrícola, opina que para se fazer uma mãe-vinagreira, activa e prompta, é preferido ao processo vulgar de deitar fermento de pão no vinho, o mis- turar a este, um terço de vinagre e dei- tar sobre a mistura do vinagre e do vi- nho alguns pedaços de teagem esbranqui- çada que se tiram com um pau de uma vinagreira em bom andamento. — Esta teagem é o fermento, ou verdadeira mãe do vinagre. Tendo o cuidado que estes pedaços de fermento fiquem ao de cima do liquido em que se semeiam, dentro de dous a três dias a nova vasilha começará a avinagrar o liquido. O vinagre é for- mado em cima e não no fundo da vina- greira, como geralmente se acredita. Vi- nagreira com muita borra não presta; as- sim como não pôde trabalhar a vinagrei- ra que não tiver camiza, isto é, o fer- mento ou teagem á superfície do liquido. — Lemos ha tempos, no bem concei- tuado «Jornal do Porto», algumas consi- derações sensatas sobre a questão que hoje preoccupa todos os viticultores — a nova moléstia das vinhas — e tão bem fundadas as achamos que nos julgamos no dever de as transcrever para as columnas do nosso jornal. São como segue : E' ua verdado uma calamidade, nacional o ima- ginarmos qu8 em meia dúzia d'aunos, iima das proTiucias mais foi-mosas e ricas do nosso Portu- g'al ficará reduzida á fome !... Que teremos de emi- £;'rar, por não termos que comer ! E os poderes pú- blicos não olharão por isto, tractando de ensaiar uma outra cultiira entre nós ? Se o não fizerem, de- ver-lhe-hemos bem pouco. Teio aqui uma commissão encarregada d' estu- dar o modo como se deveria fazer a guerra ao Phylloxera, ou veio unicamente para nos dizer que elle residia entre nós ? Eram na verdade todos os membros d'essa com- missão homens de intelligencia e de saber, que do coração se dedicaram ao trabalho que se lhes •ommetteu; mas parece-me que seria muito mais icertado, que essa commissão ou outra fosse antes ?nviada ao Douro, para estudar o modo como se deveria substituir a vinha, quando ella falte, o que breve acontecerá, visto o progressivo desenvolvi- mento de tal flagello. O paiz vinhateiro, por muito accidentado e de- clivoso, não se presta a nenhuma cultura das co- ihecidas entre nós, com vantagem para o agricul- tor ; mas seria de grande conveniência ensaiar a cultura do algodão, que estamos convencidos que aos terrenos do vinho fino se daria muito bem; mas ssses ensaios deveria o governo mandal-os fazer por sua conta, porque n'isso teria toda a facili- dade, ao passo que o proprietai'io, á mais pequena difticuldade que se lhe levantasse, desistiria do seu intento. Admittida a hypothese da cultura do algodão no Douro, e a sua boa aclimação, ficaria esta provín- cia ao abrigo da calamidade que a ameaça ; ha ainda outro meio de salvação, e será o exclusivo do tabaco, que aqui produz d'uma maneira admirá- vel ! Se o governo fizer um exclusivo para o Douro da sementeira do tabaco, pôde duplicar-lhe a con- tribuição predial, porque lhe dá uma fonte de re- ceita superior duas vezes ao producto dos seus vi- nhos. Ha também a sericultura, posto que menos van- tajosa, já porque seria preciso crear em primeiro logar as Amoreiras que levam annos a desenvol- ver-se, já porque ó uma industria que como remé- dio, para atenuar o mal que se nos apresenta tão potente, era preciso ser montada em grande esca- la, ou pela associação de capitalistas, que edificas- sem casas para a creação, em todas as freguezias, ou com a intervenção do governo que mais tarde poderia ir amortisando o capital que gastasse, tor aando-se essas casas depois património das fre- ijuezias em que fossem levantadas pára tal uso. Lembram-me estes meios de salvação para esta rica província que em breve se verá a braços com 1 miséria, se braço potente a não tirar do abysmo! Xão vejo, cm presença dos magros terrenos que possuímos, que nem herva dariam para apascen- tar rebanhos, outras industrias que possam tornar pouco sensível a dura transição porque vamos passar; e então é preciso que o governo protector não descure um tão interessante negocio, porque do contrario verá em pouco despovoada uma das províncias que mais tem feito conhecido o nosso commercio, e os cofres do estado resentír-se-hão em breve da falta que a contribuição predial d'esta província lhe ha de fazer. E' preciso que tenhamos agora um governo, que «ejf» iiossn pae, já que nté hojp nãn temos tido se- 180 JORNAL DE lIORTirUI.TURA RR ÁTICA não padrastos o que é Bufficiente attestatlo i)eL pouco (loseiivolvimcnto material da via(,-ão, que s encontra n'i'Rt:i provincia. E' pi-cciso quo soja pa' previdente, e que desde Já comece o seu trabalhe. para a nossa transição, ou inetaniorphose. Par; isso não devo esperar o auiquilaniento geral do: vinhedos, o mal está entre nós, estendendo-se con. uma velocidade espantosa ; basta pois que oUiemo: para a França para eabormos a sorte que nos es pêra, triste sorte fci-á na verdadr» ! O que é para sentir n'este escripto c que se appelle unicamente para o gover- no, e que só (Felle se espere, como de mi- lagreiro patrono, o remédio do mal, que já vae lavrando e que tào temeroso se afigura. Onde está a iniciativa jDarticularV Esto (' o grande defeito do nosso systema centralisador. — A pi*oposito da nova moléstia das vi- nhas publicou o snr. Bernardo Francisco da Costa, no «Jornal do Commercio», de Lisboa, imi artigo em que dá conta de ter combatido o J'hi/Uoxera com cinza de vides. Duas Videirrifi atacadas, uma nova, ou- tra velha, foram pelo snr. Custa amputa- das até onde se pôde deixar mais no sào, ficando a cepa nova só em raiz, e a an- tiga com os membros nào aftectadus, le- vando-se o corto tào longe quanto era possível, sem comprometter estes membros. Depois, mandou cavar cuidadosamente até deixar descobertas as radiculas sem as damnificar, deitar-lhes algumas pása- das de cinza de vides, regal-as immedia- tamente e cobrir com a terra. Com este tractamonto, cm abril do cor- rente anno rebentaram ambas as cepas, a antiga tem cachos bem conlbrmados o da raiz lhe nasceram rebentos vigorosos ; a nova porém rebentou frouxamente e com poucas esperanças de que fosse avante. Mandou abrir mais larga caldeira, buscar- Ihe melhor as raizcs, cortar as que lhe pareceram doentes, incinzeirar de novo, regar e cobrir com a terra. Então reben- tou cora um vigor, que é muito para se ver. Outras experiências tem feito o snr. Francisco da Costa e diz que t( m colhido excellcnte resultado. Escreve-nos também por outro lado, a este propósito uma das maiores victimas do novo flaecllo, o snr. Lopo Vaz de .Samj)aio c Mello, c diz-nos que Mr. Laliman, de Bordéus, lhe asse- vera que apesar das ultimas experiências, nenhum remédio efficaz appareceu ainda e que a moléstia progride. Mr. Laliman ainda accrcscenta que nenhiun fructo ob- tivera do expediente aconselhado por MM. Planchon e Lichtenstcin, segundo o qual o PhyUuxera deixaria as cepas para ir alimentar -se nas pequenas plantas de Vi- deircij ou sarmentos })lantados em volta d'ellas. — No «Archivo Rural» lê-se o seguinte relativamente ás moléstias das Videiras: Kinqiiaiito ás autiga-í e novas moléstias,, ainda r.ão são bein eonliecidos e averiguados os factos do anno corrente. Continua a manilestar-se o oi- dium cedendo ao cnxoframeuto rea-nlnv. Dissemos novas moléstias, porque, além du PliijUuxera VãS- lairix i\])\y,^re'^ outra, proveniente ue uma espe- •10 de Acarus que não 6 menos damninho que e Phylloxera A existenca d( Acarus está verificado •iu algiuiias vinhas doa districtos de Lisboa e Coimbra. Não nos consta que na i-egiào vinícola do Douro se tenha manifestado este novo ílagello, mas depois de se conhecer o dis- curso que Pio IX pronunciou a uma de- putação de difforentes collegíos de prela- dos, nào nos admiraria que amanhã ou ainda hoje surgisse uma nova moléstia das vinhas que se pudesse com razão denomi- nar o fíagdio dos far/ellos. 8ua Santidade 10 infallivel) houve por bem dizer que as inundações do Tibre c do Pó, as erupções volcanicas, a diphterite que matou imi grande numero de creancínhas, o cholera, os tremores de terra, as geadas devasta- doras— e naturalmente também a molés- tia que tem destruído innumeros batataes em Inglaterra e a dos tomates que tem originado importantes prejuízos aos culti- vadores do sul da França, eram castigos de Deus causados pelas injustiças enoiínes commettidas pelos que ahisam da força. Um correspondente de Pariz pergunta qual era o Deus a que Sua Santidade se releria. Será o Deus de Moysés ou o de Je- sus-Christo ? E o Deus das pragas do Egy- [)to ou o Deus do Evangelho? Um Deus que mata creanças e que nos envia geadas devastadoras por causa do abuso da força. . . c'est trvj) fortf Que Deus revelava aos peccadores a sua cholera por intermédio dos trovões e dos relâmpagos, isso já nol-o tinha conta- do a nossa ama de leite, mas, que matava creanças innoccntinhas sn agf>i'a nol-o diz Pio IX, o infallivel. Aqui, por fina força, ha historia! Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 181 AMEIXA AVASHINGTON Este fructo mede cerca de 4 centíme- tros de altura. É arredondado, quasi es- pherico, algumas vezes cylindrico. O sulco pouco saliente e o pedúnculo grosso, de 17 millimetros de comprimento. A epider- me é esbranquiçada e fina. O seu colorido não deixa de ser característico : já pró- ximo da maduração, a côr verde torna-se amarellada e passa pouco e pouco para ro- sada. Phenomeno curioso e digno de ser notado : se se esfregar a parte vermelha, esta desapparece como se a coloração de- pendesse da eíílorescencia. Depois o friicto mostra-se amarello-castanho. A pelle é tenaz, fina e transparente, destacando-se bem da polpa. Esta é de um amarello-dourado, exceptuando a parte que esteve exposta contra a luz e que fica um pouco esverdeada ; é bastante con- sistente, sumarenta e solúvel. O gosto é muito agradável. Passa na Bélgica por ser a melhor va- Fig. 43 — Ameixa Washington riedade de fructos grandes, e segundo Mr. Liegel não ha outra que tanto mereça ser cultivada. Esta Ameixieira parece ser de origem americana ou ingleza. Além d'esta variedade que hoje des- crevemos, encontram-se no nosso mercado as seguintes, cujas descripções tomamos do catalogo do snr. José Marques Lou- reiro : Aòricotée — Grande, violeta. Altesse — Grande, violeta, muito fértil e bella. Goe's Golden Drojp — Grande, amarella, fértil. Colhida antes da sua perfeita ma- duração pôde conservar-se muito tempo. Vol. IV— 1873. Couestche d'ItaUe — Grande, purpura. D'Agen — Grande, violeta, fértil. Excel- lente fructo para seccar. Dame Auhert — Muito grande, amarella, fértil, muito curiosa pela sua forma que é a de um ovo de gallinha e excellente para compota, empregando-se antes da sua com- pleta maduração. De Monfort — Mediana, verde, mui bella. Drap d'iT d^Esperen — Grande, ama- rella, muito fértil. Jefferson — Grande, amarello-averme- Ihada. Monsieur d fruits jaunes — Mediana, amarella, muito fértil. N."^ 10— Outubro, 182 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Pond' s seedling anglaise — Grande, pur- pura esverdeada e de uma belleza notável. Reine Claude (Caranguejeira) — Gran- de, verde-avermelhado, incontestavelmen- te a melhor variedade cultivada. Ktine Claude de Bavay — Grande, ama- rello-esverdeada, muito fértil e muito se- rôdia. Reine Claude precoce — Grande, ama- rella. Reine Claude rouge — Grande, verme- lha. Reine Claude tardive — Mediana, bran- ca. Reine Claude violete — Grande, violeta, muito bom fructo. Reine Victoria — Grande, vermelha, muito fértil. Oliveira Jl-nior. A NOVA MOLÉSTIA DAS VINHAS o estudo da origem e natureza do Phi/l- loxera e do medicamento mortifero, que destrua este terrível insecto, tem preoc- cupado o espirito do auctorisados escri- ptores pátrios e estrangeiros, e é a ques- tão vital da actualidade para todos os viticultores e para o paiz, porque da sua solução dependem o pão de milhões de familias e imia das primeiras fontes da riqueza publica. Hábeis entomologistas, chimicos e viti- cidtores, taes como MM. Planchon, Lich- tenstein, Laliman, Guyot, Trimoulet, Hou- zé e muitos outros, téem no estrangeiro estudado a questão com decidido empe- nho. Entre nós, além dos trabalhos da commissão para esse fira nomeada, cujo relatório ignoramos se já viu a luz publica, é-nos grato citar o precioso H-sto do nosso amigo o snr. Oliveira Júnior, alguns ar- tigos do snr. Lapa insertos na imprensa periódica e uma carta aos lavradores do Douro pelo snr. barão da lioeda. Publicando o que vae ler-se, não pre- tendemos resolver o grave problema da salvação das nossas vinhas, pois que, com- pletamente alheio aos estudos entomolo- gicos e pouco dado ao estudo da medicina agrícola, somos o menos competente para descobrir o remédio cfficaz contra a en- fermidade, que ameaça a principal ri- queza do nosso paiz e que destruiu já parte da nossa fortuna e da dos nossos visinhos e conterrâneos. Temos unicamente cm vista chamar a attenção do governo para o assumpto, e elucidar os viticultores acerca dos resul- tados da» experiências o estudos feitos no estrangeiro. N'este ultimo intuito serão distribuídos gratuitamente alguns centos de exemplares cVestes apontamentos pelos viticultores, que os pedirem. II O Phylloxeraj que geralmente ataca as nossas vinhas e as francezas, é aptero e tão pequeno que, sem o auxilio do mi- croscópio ou de uma lente, 'o mais des- envolvido apresenta-se á vista como um pequeníssimo ovo, cujas formas é impos- sível distinguir. Estes insectos são de or- dinário amarelladosj comquanto haja al- guns pardos e esverdinhados^ e téem seis patas e duas antennas. A sua forma é ovóide, são mais ou menos achatados na parte inferior e convexos na superior, e estão divididos em pequenos anneis. Na sua máxima simplicidade é esta a descripção dos insectos segundo Mr. Plan- chon, e a experiência tem-nos mostrado que corresponde exactamente á verdade dos factos. Vivem principalmente nas raízes, onde se multiplicam e reproduzem prodigiosa- mente; também appareccm alguns nas folhas, onde, á maneira de muitos outros insectos, fazem os seus ninhos, que são denunciados pelas galhas, pequenas man- chas, que indicam falta de circulação da seiva e incisão dos tecidos. Tal é o Phylloxera fêmea ; o macho não é bem conhecido ainda e a muitos escri- ptores parece problemática a sua existên- cia, pois que o detido exame dos entomo- logistas tem-lhos dado margem a observar o lacto geral do as feineas se reproduzi- rem sem terem communicação com o ma- cho o que faz siu^pcitar que o insecto é hermaphrodita. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 183 O dr. Boisduval diz acerca dos pulgces em geral que ha copula entre os machos 6 fêmeas, que d'esta copula provém so- mente fêmeas e que estas bem como todas as suas gerações successivamente se re- produzem sem communicação alguma com os machos. Diz este insigne escriptor: «Os pulgões provenientes d'estas gera- ções são, em geral, viviparos ; nascem vi- vos e agitando as patas; as mães, apenas terminado o parto, que dm-a alguns dias, mudam de cor o morrem. «A nova geração tem diversas mudas até ao decimo dia, pouco mais ou menos, em que dá á luz novas fêmeas apteras sem previa copula com os machos, e assim successivamente até ao outomno. «No outomno, ordinariamente no fim de setembro, a ultima geração dá á luz pul- gões pela maior parte alados, sendo me- tade machos e metade fêmeas. Tem então logar a copula, em seguida á qual os ma- chos morrem, e as fêmeas, em logar de produzirem pulgões viviparos, põem ovos, que atravessam incolmnes o inverno.» Em face d'esta exposição os Phylloxe- ras seriam sempre viviparos com excepção dos provenientes do ultimo parto das fê- meas no outomno, os quaes seriam ovi- paros. Estes ovos fecundariam com o calor da primavera, transformando-se em 1 hi/l- loxeras fêmeas apteras e estas dariam á luz Phylloxeras viviparos também apteros e fêmeas, que se iriam reproduzindo até ao outomno sem communicação com os machos. Em contrario d'estas asserções de tão insigne entomologista a respeito dos pulgões em geral, cumpre-nos declarar que temos visto myriadas de ovos de Phyllo- xeras tanto no decurso da primavera, como durante o verão, formando pequenissimos grupos junto das fêmeas poedeiras e que não observamos ainda que estas produzis- sem Phylloxeras viviparos. São, pois, ovi- paros. Apparecem na primavera e desappare- cem no decurso do outomno. Os pulgões são de ordinário apteros, mas os entomologistas téem visto alguns alados, que sem duvida são raros em Fran- ça e em Portugal; nós não conseguimos ainda vel-os, apesar dos nossos esforços. Segundo Mr. Planchon, os alados téem qua- tro azas. sendo as superiores duas vezes mais compridas que o corpo do insecto e diaphanas e sem cor no cenrto. No estado de repouso as quatro azas estão horison- talmente cruzadas. in Teve ao principio muitos sectários a opinião de que as vinhas europeas impor- taram das americanas o Phylloxeras mas a discussão tem esclarecido o assumpto e na actualidade é crença mais geral que nem aquellas o importaram d'estas, nem estas d'aquellas, pois que é coevo de umas e outras. Mr. L. Laliman no seu «Estudo» sobre a nova moléstia, do qual se dignou oflferecer-nos um exemplar, demonstra-o cabalmente e accrescenta que, assim como a Europa tem importado cepas america- nas, também a America tem importado as de cá, sendo por consequência tão plau- sível que o Phylloxera viesse de lá para cá, como que fosse de cá para lá. Este rico proprietário e sábio escriptor termina a discussão d'esta questão com as seguin- tes considerações: «A verdade é que o Phylloxera deve ter existido sempre na Europa e na Ame- rica. Causas difficeis de conhecer faziam que elle vivesse no estado latente. Estas causas desappareceram , principalmente por falta do homem, e desde essa data téem apparecido estes phenomenos epide- micos em França e particularmente nos departamentos, onde o vicio de caçar passa a monomania.» Ha sensíveis differenças entre o pulgão americano e o europeu. No que respeita ao seu modo de viver, aquelle encontra-se somente nas folhas, emquanto que este vive principalmente nas raizes. Em rela- ção aos seus effeitos a diíferença não é menos notável; aquelle coexiste com as vinhas e não lhes prejudica essencialmen- te a vegetação, este esgota-lhes a seiva e mata-as. O facto hoje averiguado de o Phyllo- xera da America viver somente nas folhas mostra quanto é errónea a opinião dos que sustentavam que elle tinha vindo para a Europa nas cepas importadas de lá, pois que estas vem de lá, ou pelo menos che- gam cá completamente desguarnecidas de pâmpanos. 184 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Além cl'ísso, se se tem dado a hypo- these do manifestar-se a nova moléstia em vinhas, onde havia algumas plan- tas da America, não é menos certo que ha na Europa muitos terrenos povoados do cepas americanas, que nào apresen- tam ainda symptomas da terrivcl enfei-mi- dade. Os escriptores francezes citam, entro muitos outros exemplos, as vinhas do mar- quez do Kidolphi em Itália e principal- mente a sua quinta do Mouetto, perto do Florença. Este proprietário tem plantado tal porção de cepas americanas, que já em 1862 produziram 80:000 litros do vi- nho, sem que até á actualidade se ma- nifestasse a nova moléstia nas suas vi- nhas. Em Portugal foi na nossa quinta da Azinheira sita na freguezia de douvinhas (concelho de Sabroza, districto de Villa Real), que primeiro appareceu o Phyllo- xera, atacando-a com tal Ímpeto, que em 1872 produziu apenas uma pipa de vinho, tendo produzido òõ em 1865. Havia n'esta quinta cinco plantas ame- ricanas e nào faltou quem por esse moti- vo nos accusasse de sermos o importador do novo flagello. Ainda que se provasse que a Europa importou da America o Phylloxera, opinião a nosso ver errónea, não poderiamos ser accusado com justo motivo de o ter introduzido no paiz, por- que as plantas americanas, que havia na nossa quinta, não tinham lolhas, nem raí- zes, quando nos foram enviadas : eram apenas haceleiros. Estes bacelos foram plantados em sub- stituição de outros de origem europoa, quo, depois de terem creadu raizes, desenvol- vido vegetação luxm-iante e fructiíicado, haviam seccado, facto quo nos leva a crer quo a nova moléstia era anterior na nossa quinta á plantação dos referidos bacelos americanos. Actualmente é facto quasi geralmente aceite, que o Phylloxera americano è coe- vo das vinhas da America o o europeu coevo das da Europa, o que o demasiado incremento d'este ao ponto de destruir as vinhas é devido ao concurso do causas supervenientes, que lhe facilitam os meios de vida o por consequência a roproduc- çào. IV Não tem sido menos discutida pelos phylloxeristas a questão de saber se o Phylloxera c a causa da morte das vinhas, ou se tanto esta, como aquelle, são eífei- tos do uma outra enfermidade. Não podendo admittir-se a hypothese das gerações espontâneas, é claro que o Phylloxera não c de origem reconte. Esta simples consideração e o facto de antiga- mente se não reproduzir e multiplicar em tão alta escala, como na actualidade, até ser classificado entre os mais terríveis fla- gellos, lovam-nos á conclusão do que ou seja effeito da enfermidade das vinhas, ou causa da sua morte, o seu extraordinário desenvolvimento provém sem duvida de uma causa superveniente, tal como mor- bidez das vinhas, alteração nas condições climatéricas ou nas do solo, ou finalmente alguma outra circmnstancia, que nos é desconhecida. Seja ou não eíFeito da antiga doença das vinhas, não é menos temível, porque pela sua faculdade reproductora multipli- ca-se de tal arte, que concorre essencial- mente para a morte da planta, esgotan- do-lhe a seiva. Averiguar, pois, se o 7 hylloxera é cau- sa ou effeito reduz-se a saber se temos de combater somente o pulgão, ou se além d'isso ha a curar as plantas de alguma outra enfermidade : em qualquer dos casos não é menos importante o estudo dos meios attinentes á destruição do insecto devas- tador. Durante algum tempo attribuiu-se ás condições climatéricas, isto é, ao quente e ao frio a morte das vinhas, mas o tempo destruiu uma hypothese, que n'elle se ba- seava. Nos mais diversos climas, quer o anno corresse húmido, quer secco, ou as estações fossem regulares ou inconstantes, a nova moléstia continuou progredindo sempre e continua ainda com a máxima rapidez. (Jutros escriptores consideram a morte das vinhas como sendo unicamente efteito immediato do oiíUnm; esta opinião tem muitos sectários, mas aííigura-so-nos que não é plenamente verdadeira. O oidium ataca com maior intensidade os valles, as vinhas plantadas em terrenos fortes e as JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 185 expostas ao norte ou ao poente, emquanto que a nova moléstia ataca de preferencia e em primeiro logar as encostas e a parte das vinhas exposta ao nascente, ou ao sul. Além d'isso, a nova moléstia tem des- truido bacelos com quatro annos de exis- tência, que não produziam ainda uvas e qne tinliam tido muito pouco oidium, e vinhas robustas, vigorosas e bem gran- geadas, que poderiam resistir por muito tempo, poupando vinhas velhas e quasi exhaustas, minadas pelo oidium ha mui- tos annos. Outros attribuem a nova enfermidade á acção estimulante do enxofre, que cansa a planta, fazendo-a viver muito em pouco tempo, mas contra esta asserção levanta-se o facto da morte de vinhas novíssimas plantadas em terrenos virgens. Este mesmo facto lança por terra a hy- pothese, segundo a qual a morte das ce- pas provém da esterilidade dos terrenos gastos por successivas producções. Ha também quem supponha que a mor- te das vinhas é filha da incúria nos gran- geios. Se esta aífirmação é verdadeira, como explicar a preferencia, que a nova moléstia tem dado ás minhas vinhas, sendo certo e sabido em todo o paiz vinhateiro do Douro que meu fallecido pae era um dos lavradores, que mais esmero punha nos grangeios? A experiência tem mostrado que as vi- nhas mais cavadas e redradas não só não são poupadas, mas até parecem ser ata- cadas de preferencia, e n'este ponto ousa- mos discordar plenamente da opinião do snr. barão da Roeda. Protesta contra a hypothese do mau grangeio o que aconteceu a meu pae. Sem embargo d'elle grangear sempre luxuosa- mente as suas vinhas, a nova moléstia es- colheu-o durante a sua vida para lh'as aniquilar entre todas as dos seus conter- râneos e, como que por acinte, destruiu- Ihe primeiro a sua melhor quinta, plan- tada magnificamente, grangeada melhor que nem uma das restantes, povoada de cepas novas, sãs e robustíssimas, que oc- cupava constantemente os seus cuidados agrícolas e causava admiração a quantos a viam. A este respeito convém dizer que o mar- quez de Lespine, tendo sido commissio- nado para estudar a nova moléstia em Vaucluse, diz no relatório que das suas observações concluiu, « que as vinhas mais cavadas ou estrumadas são mais maltra- tadas pelo pulgão que as pouco ou nada cultivadas, e que os terrenos húmidos, seccos, pedregosos e arenosos são ataca- dos egualmente». Não levantaremos mão d'este assumpto sem expor a opinião de mr. H. Trimou- let, archi vista da a Sociéte Linnéennei) de Bordeaux, exarada n'uma «.Memoria sohre a nova moléstia das vinhas y>^ da qual teve a bondade de offerecer-nos um exemplar. «A moléstia, diz este escriptor, referin- do-se á causa geradora do oidium^ refu- giada nas raizes em virtude dos medica- mentos empregados (a enxofração), origi- na a podridão d'ellas, detém a seiva na extremidade das radiculas, e estas esta- lam e extravasam-a, dando logar a que os Phylloxeras attrahidos pela abundân- cia de alimento se desenvolvam rapida- mente e dupliquem, tripliquem ou centu- pliquem a sua fecundidade». Segundo este escriptor é a extravasão da seiva, causada, pela velha moléstia das vinhas, que occa- siona o extraordinário desenvolvimento e reproducção do Phylloxeras fornecendo- Ihe meios de vida, e em abono da sua opinião accrescenta que as raizes das Vi- deiras são tão duras e consistentes que, suppondo-as no estado normal, todos os esforços do insecto seriam ineíiicazes para as romper. Argumenta ainda, por analo- gia, d'esta maneira: «Fazei uma ferida n'um PecegueirOj n'uma Ameixieira ou n'um Álamo, e no mesmo dia ou no im- mediato vereis a ferida coberta de pul- gões e de outros insectos: o Phylloxera está no mesmo caso, é e continua sendo effeito e não causa da doença». Mr. Tri- moulet affirma que a nova moléstia só ataca as vinhas doentes e aquellas cujos terrenos estão exhaustos, e aconselha co- mo remédio único o esmerado grangeio das vinhas e minucioso cuidado na poda das cepas. Não concordamos com a opinião d'este eximio escriptor. Em primeiro logar, dizer que a nova moléstia só ataca as vinhas doentes equi- vale a dizer que as ataca todas, pois que 186 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA era todas apparece o oidium, ou sejam bera ou mal grangeadas, ou sejara novas e robustas ou velhas e exhaustas. Era se- gundo logar, é ponto averiguado que a velha moléstia occasionadora do oidium nào foi, nem é effeito de mau grangeio, mas sim de uma outra cousa, que nos não é dado conhecer, e portanto o bom gran- geio nào é por certo o antídoto ou con- tra-veneno, cuja efficacia nao seja licito contestar; é unicamente um palliativo. Em terceiro e ultimo logar, a argumentação de Mr. Trimoidet prova que a antiga mo- léstia das Videiras lhes faz estalar as raí- zes, facilitando a reproducção do rivjllo- xeraj mas não prova que este, depois de reproduzido em alta escala, não concorra i também para a destruição das vinhas. Que a maravilhosa multiplicação dos insectos seja effeito da antiga moléstia, pôde acre- ditar-se, mas que estes insectos multipli- cados até ao infinito, continuem sendo sempre e somente effeito é uma asserção radicalmente gratuita. Ou as Videiras téem um período im- portante de existência e a antiga molés- tia ter-lhe-ha feito estalar as raízes, dando assim margem á acção destruidora do Phjlloxera, que lhes absorverá a seiva e evitará a cicatriz; ou as Videiras téem ura pequeno período de existência, e n'esse caso as suas raízes são pouco duras e pou- co consistentes, podendo por consequên- cia ser facilmente penetradas pelo Fhjllo- xera. Em qualquer dos casos o pulgão, seja ou não effeito da velha moléstia, conver- te-se pelo seu numero era uma das causas mais importantes da destruição das vi- nhas, vSe o PA lloxera não fosse também cau- sa não poderia explícar-se a morte de ba- celos com três ou quatro annos de exis- tência, nos quaes o oidium era recente de mais para já ter levado ás raízes a des- organisaçãõ e a gangrena. Expostas e exarainadas as principaes opiniões acerca do assumpto, que nos oc- cupa, direraos a nossa, se é que é possí- vel assentar opinião a este respeito. Muitas Videirn.t doentes, c d'estas to- da» as velhas e adultas, que temos exa- minado, ou estejam já gangrenadas ou ain- da não, mostram nas raizes c principal- mente nas radiculas chagas de maiores dimensões, pelas quaes extravasam a sei- va, círcvmistancía que não pôde deixar de concorrer poderosamente para o desenvol- vimento 6 propagação do Phylloxera, por- que lhe fornece alimento com abundân- cia. N'estes termos concordamos com Mr. Trímoulet e cora alguns entomologistas dístinctos, em que a antiga ou nova mo- léstia, em todo o caso a moléstia que faz entumecer as raizes , seja uma das princi- paes causas da infinita multiplicação dos insectos, mas acreditamos profundamente que ellcs concorrem muitíssimo para a destruição das plantas, que os alimentam, fazendo-lhe sangrar constantemente as fe- ridas, abríndo-lhes outras e absorvendo- Ihes a seiva vital até as deixai*em tysícas e com as raízes podres e desorganísa- I das. A nosso ver, a morte das vinhas pro- vém immediatamente, já da acção dele- téria da causa geradora do oidium ou de uma outra qualquer, cujo effeito é o en- turaecíraento das raízes, já do Phylloxera, já d'este e d'aquella conjunctaraente. Esta opinião constitue o meio teniio entre a que attribue somente ao oidium a morte das cepas e a que considera o Phylloxera causa primaria e uníca de ta- manha destruição. Os meios geralmente empregados para corabater o oidium miram ao effeito de momento, isto é, á salvação do cacho, mas não são remédio efficaz para curar a en- fermidade das plantas. O oidium appa- rece sem interrupção todos os annos, o que nos leva á conclusão de que a sua causa geradora não é destruída, e de que o estado mórbido da planta é perma- nente. Esta enfermidade, actuando sempre com maior ou menor intensidade na vinha, mi- na-lhe pouco a pouco o príraittivo vigor até lhe enturaeccr as radiculas e segui da- raente as deraais raizes, que vão estalan- do c extravasando a seiva, acabando por gangrenarem. D'esta maneira a cepa mor- re victima ao mesmo tempo da podridão e da tysica. Temos visto algumas Videiras doentes com as raízes estaladas e gangrena inci- piente, era que não se encontra o Phyllo- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 187 9'era, nem indícios de alli ter residido, o que confirma a oj^inião, que expendemos, segundo a qual a morte das cepas provém algumas vezes unicamente da antiga mo- léstia. Esta liypothese verifica-se só em cepas velhas e não é muito vulgar, A sua raridade fortalece-nos na ideia de que o pulgão representa o papel prin- cipal na obra infernal da destruição das vinhas. Temos observado também muitas Vi- deiras doentes, que além d'aquelles sjm- ptomas, téem as raizes cobertas de my- riadas de Phylloxeras, não só onde ha chagas abertas, mas também na parte sã das raizes, e n'este caso são victimas da acção destruidora dos pulgões facilitada pelos estragos causados pela antiga mo- léstia. É este o facto mais geral. Examinamos finalmente Videiras novas e já gravemente afí^ctadas, cujas raizes, crivadas de Phylloxeras, não tinham cha- gas apreciáveis, nem indicavam ainda co- meço de gangrena. Cremos que ninguém contestará que estas foram victimas so- mente dos pulgões e não da causa gera- dora do oidium. Como se vê, a nossa opinião explica as três principaes hypothoses, que se verifi- cam na doença das nossas vinhas. O facto de a secca das Videiras atacar de preferencia as exposições ao nascente e ao meio dia e os terrenos delgados não destroe a nossa opinião. E certo que o oidium se manifesta com mais intensidade nas exposições ao norte e ao poente, mas em compensação as ex- posições quentes e terrenos delgados fa- vorecem consideravelmente a reproducção do Phylloxera, e por consequência o re- ferido facto corrobora o principio de que é este insecto o principal agente da des- truição. Em conclusão, temos dous inimigos a combater, qual d'elles o mais poderoso, o Phylloxera e a moléstia antiga ou moder- na, que faz entumecer, estalar e gangre- nar as raizes das cepas. A Videira^ que escapar da acção rápida do Phylloxera, ha de necessariamente ser victima da acção morosa da outra enfermidade, se alguém não descobrir remédios aptos para com- bater esta e destruir aquelle. (Continua). Lopo Vaz de Sampaio e Mello. CULTURA DÁS AZÁLEAS E RHODODENDRONS Greralmente encontram-se poucas varie- dades d'estas plantas nos jardins, o que é devido naturalmente a terem morrido, pois ha terrenos em que ellas não vege- tam, mas este inconveniente remedeia-se fazendo-se alguns sacrificios. Quem deixará de ter nos seus jardins Azáleas e Rhododendrons, quando são dous arbustos de primeira ordem tanto na sua forma como em cores tão brilhantes, quan- do resistem a todos os frios e até aos mais intensos calores?! Que vista surpre- hendente não faz um redondo com diífe- rentes cores de RhododendronSj no centro, tendo na margem uma ordem ou duas de Azáleas f! Se estas plantas estão bem des- envolvidas e na sua florescência, o verda- deiro amador custa-lhe a separar-se d'ellas quando as visita. As Azáleas G Rhododendrons precisam de terreno leve e não gordo nem compa- cto. Não gostam d'estrumes, e o que que- rem é terra d'aquella que existe debaixo dos PinheiroSj Carvalhos e U'7'ze e que não tenha sido cultivada. Um adubo de que também gostam muito é o das folhas das arvores. Quem tiver jardins cuja terra não esteja n'estas condições, o que succede muitas vezes nos pequenos jardins dentro da ci- dade, onde o solo foi estragado com os estrumes e aguas das latrinas, adopte o seguinte expediente: mande vir alguma terra da que acima apontei, basta deitar- Ihe dous palmos de altura porque estas plantas lançam as raizes á superficie e são muito finas, pelo que também devem ser plantadas muito á flor da terra. Em legares muito descobertos será bom terem alguma sombra ainda que tenho visto alguns Rhododendrons com mais de 2 metros d'altura vegetando a todo o sol. Como estas plantas são enxertadas, é preciso ter o cuidado de lhes tirar todos os rebentões do enxerto para baixo, e 188 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA quando se nào faça esta operação, morre! a planta boa, e ficam as plantas bravas qiio cm pouco se differcnçam, porque as folhas téem a mesma apparencla. Só quan- do dão flor é que se conhece que são or- dinárias e dizem então os amadores que foram logrados ! Estas plantas só rebentam nos primei- ros dons annos, o que depois muito raras vezes acontece. Temos duas espécies de Azáleas. As Azáleas indicas são aquellas que conser- vam sempre a folha e as A. americanas ou caucasianas são as que perdem as fo- lhas. Estas téem cures distinctissimas como o amarello e carmezim, cores que não existem nas indicas; algumas téem cheiro a violeta. Ha ura arbusto notável pela sua flor e bonita folhagem que requer a mesma terra: é a Kalmia latifoUa. Todas as despezas e trabalho que se tem com estas plantas são bem recom- pensadas pela formosura das suas flores, porque não téem rival. A reproducção da Kalmia latifolia entre nós é difficil. Os Rhododendrons de qualidades finas só se reproduzem por meio cVaproche ou placage. Com as Azáleas acontece o mes- mo, porém os ramos d'estas deitam raizes mergulhando-os . As aguas mais convenientes para a rega d'estas plantas são as das chuvas, embora possam ser regadas com agua que tenha estado dous ou tros dias em tanques mas nunca com agua fresca tirada da bica. Para mostrar o resultado do que acima fica dito, direi o que me aconteceu em outras espécies de Rhododendron de flo- res amarellas o Sikkivi, e Hinialaya, que mencionarei no primeiro catalogo que pu- blicar. Fiz altas diligencias para ver se pode- ria ter estas duas espécies, que são muito raras entre nós o muito distinctas. Ha muitas variedades e entre ellas algumas téem um aroma soberbo, porém, estas pre- cisam de mais assíduos cuidados. No es- trangeiro são cultivadas em estufa, mas, entre nós muitas variedades vão muito bem ao ar livre. Já possuo muitas varie- dades que téem florescido e vegetam per- feitamente, tendo-lhes dado a cultura que já disse, o que em quasi toda a parte se poderá executar. Nos jardins onde não ha terra própria, mandando-se fazer uma cova funda, lá se encontrará terra ainda por cultivar e é esta a que pôde servir. Sendo ella muito compacta, mistura-se uma pouca d'areia deita-se-lhe algumas folhas e sendo das que se encontram debaixo dos Carvalhos melhor resultado se tirará. Isto é de primeira necessidade. José Marques Loureiro. HERBARIO FLORESTAL DO CONTINENTE PORTUGUEZ ' ABIETINEAS Larix europea D. C. ; Pinus larix Linn. — Larice cVÈuropa. — Arvore de elevado porto, é própria para a arborisação das regiões serranas e dos climas frios. Até ao fim do século passado excontrava-se como csscncia florestal quasi exclusivamente na Europa, nos Alpes germânicos e suissos, e nos Karpathos; c na Ásia no território pertencente ao império da Rússia. No sé- culo actual, porém, tentou-se aclimal-a em quasi toda a Euro})a soptentrional e com tão bons resultados, que presentemente na Allcmanha, Dinamarca e na parte meri- dional da Suécia e Noruega, tem um dos 1 Yiflp .T. H. P., rol. IT, pn?. 1G8. primeiros legares entre as arvores flores- taes. 1 Esta Conifera tem as agvdhas ca- ducas. No nosso paiz encontra-se unica- mente como arvore d'ornamento. Ha ain- da outras espécies d'esta Conifera taes co- mo : Larix clahurica Turez ou L. sibirica Hort., que habita na Sibéria e Kamsts- chatka; L. Griffthii Hook., as montanhas do Himalaya; L. japonica Carr., as mon- tanhas do Japão septentrional ; L. micro- carpa Poir. e Forbes, ou L. Americana Loud., a America do norte desde o Cana- dá até á Virginia, etc. Cedrus deodara Loud. ; Ahies deodara Lindl.; Pinus deodara Koxb. — Cedro do 1 Km 1860 tivcinoa occasião de ver p^randes plantações d'e8ta Conifera nos ducados do Holstein ; Lauenbur;-. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 189 Himalaya. — Arvore de porte elevado. É originaria das montanhas da índia septen- trional, (Himalaya e os Alpes do Népaul e do Tibet) aonde floresce quasi no limite das neves perpetuas, isto é á altitude de 4:000 metros. Esta arvore foi introduzida na Europa em 1822. Encontra-se no paiz como ar- vore de ornamento, e pena é que se não tenha empregado na nossa cultura flores- tal; pois é das arvores exóticas, uma das que melhor se dá entre nós e para exem- plo é vêr o desenvolvimento que tem tido alguns exemplares que se acham na matta do Bussaco. Ha algumas variedades d'esta Conífera taes como Cedrus ãeoãara ro- busta^ C. d. crassifoUa e C. d. viridis, etc. Cedrus libani Loud. ; Ahies cedrus Poir.; Larix cedrics Mill. ; Pinus cedrus Linn. — Cedro do Libano. — Arvore de elevado porte. É natural da Syria e da Ásia me- nor, especialmente do Libano e do Tau- rus. Os individues mais antigos que se conhecem são os que se acham á altura de Kedisha valley, que constituem um grupo, composto de uns 400 exemplares pouco mais ou menos, entre os quaes os mais velhos, segundo o calculo do dr. Hoo- ker, devem ter hoje 2:500 annos de edade. Esta arvore foi introduzida na Europa depois de 1603. No nosss paiz encontra-se esta Gonifera como planta ornamental. Co- nhecem-se algumas variedades d'este Ce- drOj taes como Cedrus libani pyramida- lis; C. l. glauca; C. l. pêndula^ etc. Cedrus atlântica Man. ; Cedrus argên- tea Hort. ; Pinus atlântica Endl. — Cedro do Atlas ou d' Argélia. — Arvore de porte elevado. E oriunda das cadeias orientaes do Atlas e da provincia de Constantina. Foi introduzida na Europa pouco mais ou menos em 1833. Encontra-se no paiz como espécie ornamental i. Araucárias -. — Estas Oonifn-r/H são, a nosso ver, as mais bellas de todas as ar- vores até hoje conhecidas e além d'isso 1 Sobre os Cedros inculcamos aos nossos leito- res nm escripto do dr. Hooker intitulado "On the Cedras of Lebanon, Taurus, Alo^eria and índia. The Natural History Review — January 1862." 2 Recommendamos aos nossos leitores um fo- lheto intitulado "Noticia sobre as Araucárias cul- tivadas em Portugal", cujo anctor é o snr. Oliveira Júnior. téem a vantagem de reunirem o útil ao agradável; pois produzem madeiras de excellente qualidade e os fructos d'algu- mas espécies são comestiveis. As Araucá- rias são oriundas quasi exclusivamente do hemispherio austral, mas encontram-se também, ainda que em numero limitado, áquem do Equador. O seu nome provém- Ihe da A7xiucaniaj, cuja capital é Arau- cos, que fica situada na America na par- te meridional de Chili a 3õ graus de la- titude austral. O género Araucária acha- se dividido em duas tribus a saber : Gu- hjmhea e Eutacta. Pertencem á tribu GoUjínhea: Araucária brasiliensis A. Rich. ; A. Ridolfiana Savi ; A. di Bihbiani Hort. ; Gohinihra angustifolia Bertol; Pinus dioi- ca Arab. — Arvore de elevado porte. É originaria do Brazil. No paiz encontra-se como espécie ornamental. No Jardim Bo- tânico de Coimbra ha alguns exemplares, entre os quaes alguns já téem dimensões próprias de poderem dar taboado ou vigas ; e alguns fructificam quasi todos os annos. Foram plantados em 1816. No Jardim do paço episcopal de Coimbra também exis- te um exemplar egual em dimensões ao mais alto do Jardim Botânico. Esta ar- vore foi introduzida em Portugal no prin- cipio d'este século. Ha uma variedade d'esta Gonifeva que é a Araucária brasi- liensis gracilis Hort., {A. elegans Hort., A. Ridolfiana Knight.) Araucária imbricata Pav. ; GoJi/mlea quadrifaria Salisb. ; Dombe a chilensis Lam. ; Dombe a araucária Roeusch; Abies araucana Poir. ; Abies columbaria Desf. ; Pinus araucária Mollin. — Arvore de porte elevado, oriunda dos Andes do Chili me- ridional, onde forma vastas florestas nas montanhas de Caramivida e de Naguel- lenta. No reino encontra-se como arvore ornamental, pelos parques e jardins ; o maior exemplar que dizem existir no paiz acha-se plantado na quinta do snr. C. Wanzeller, em Villar, próximo á ci- dade do Porto, o qual mede entre 13 a 14 metros d'altura. Pertencem á tribu Eutacta: Araucária Bidwille Hook — Arvore de menor elevação do que as espécies ante- cedentes ; habita as montanhas Brisbanes, próximo de Moreton-Bay (Austrália). En- 190 JORNAL IVE HORTICULTURA PRATICA contra-so no paiz como planta ornamental. Foi introduzida em Portugal cm 1860. Araucária Cumiinghami Ait. ; Altinfjia Ciu)nin(//i(i)tn G. l3on. ; Eidacta. Cun- ninghami Link. Eutassa Gunninf/hami Spach. — Arvore do porte menos elevado do que a espécie antecedente, é originaria da costa oriental da Nova Hollanda, pró- ximo de Moroton-Bay. Encontra-so no paiz como arvore de ornamento. O maior exem- plar de que temos conhecimento cm Por- tugal aclia-se plantado n'um dos quintacs junto a um dos dormitórios do convento do Bussaco; o qual fructificou este anno, cremos que pela primeira vez, oxalá que os pinhões sejam fecundos. O primeiro exemplar que veio para o nosso paiz foi por 1860. Araucária Cookii R. Br.; A. columna- o'is Hort. CiijJi-essiis columnaris Forst. — Arvore de porte elevado; habita a Nova Caledónia. Foi descoberta em 1774 pelo capitão Cook e mais tarde em 1850, por Mr. Moore. No nosso paiz encontra-se como arvore de ornamento. O exemplar mais desenvolvido que dizem existir no reino, acha-se plantado na quinta do snr. barão de Roeda, na Foz (Porto). Esta Gonifera foi introduzida em Portugal entre 1863 a 1864. Araucária excelsa R. Br. Domhe-a ex- celsa Lamb. ; Eutassa Heteroph lia Sa- lisb. ; AJtingia excelsa Loud.; Oolymbea 6' celsa Spreng. ; Eidacta e- celsa Link. — Arvore de porte elevado. E originaria da ilha Norfolk, que fica situada a 29 graus de latitude austral, isto é próximo dos nossos antípodas. Esta ijonifrra foi descoberta nos fins do século passado. No paiz encontra-se como arvore ornamental, e hoje acha-se profu- samente espalhada pelos nossos parques e jardins. O maior exemplar que existe no paiz de que temos conhecimento, é um que está na quinta do Lumiar, próximo a T^isboa, propriedade do snr. duque do Palmella, que mede aproximadamente 20 a 22 metros d'altura. Esta arvoro foi plan- tada haverá pouco mais ou menos 40 an- nos, e segundo nos affirmaram custou n'a(iuclla cpocha 1:000,6000 reis, tendo apenas 1 niftro d'alto. Já ha alguns oxcm piares (mas raros) que tem fructitícado no nosso paiz. Esta (Jonifem foi introduzida cm Portugal em 1830. Ha algumas varie- dades d'csta arvore taes como Araucária excelsa f/l a uca ?Iort.; etc. Araucária rulei l'\ von IMilller. — Arvore do porte menos elevado do que a espécie antecedente. E originaria da Nova Cale- dónia onde foi descoberta ha poucos annos. No paiz encontram-se ainda muito poucos exem])lares d'esta Gonifera. Wellingtonia gigantea Lind. ; Sequoia gifjanfea Endl. — Arvore de elevadíssimo porte, chegando a attingir na terra natal 75 a 96 metros d'a]tura, com um diâme- tro de 3 a 6 metros e algumas vezes 9 metros! Em consequência do seu enorme tamanho, Lobb iutitulou-a «Monarchadas florestas». Esta Gnnifern habita, a Califór- nia, n'um ponto solitário nas altas encostas da Serra Nevada, próximo da origem dos rios Stanislau e Santo António na altitude de 1667 metros acima do nivel do mar, a 38 lat. N. e 120^ 10' long. O (meridiana de Greenwich) . N'aquelle local não existem mais que 80 a 90 exemplares d'esta Go- nifera. Em Portugal cultiva-se como espé- cie ornamental. Na matta de Valle de Cannas existem alguns exemplares que téem tido um magnifico desenvolvimento. Damara — Arvores de elevado porte. São originarias das ilhas Molucas, Suma- tra, Java, Sonda, e d'alguns pontos da Nova Zelândia (Oceania). Ha diíFerentes espécies d'estas arvores taes como Dama- ra alha^ D. ohtusa, D. robusta^ D. Broio- ni, etc. No paiz cultivam-se algumas es- pécies como plantas d'ornamento. Ha ainda outros géneros pertencentes a esta familia, mas não os descrevemos pela sua pouca importância na economia florestal. CASUARINEAS i Familia composta somente pelo género (^itsiKiriíKi. As espécies pertencentes a esta familia habitam a maior parte da Nova Hollanda. No nosso paiz encontram-se como arvores ornamentaes. Citaremos algumas das espécies que mais se cultivam entre nós, a saber : Casitarina quaãrivalvis La- bill. ; C. sfricta Ait ; C. dist /aVentu; C equisiti folia Fost. ; G. suherosa Hort.; etc. Coimbra. Adolpiio Frederico Moller. 1 Yiile J. n. P., vol. IV, pag. 103. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 191 TACSONIÂ MOLLISSIMÂ E TACSONIÂ IGNEÂ Tomemos da nossa estante o «Manuel I que nos dizem os snrs. Decaisne e Nau- de TAmateur des Jardins» e vejamos ojdin sobre as Passijioreaceas. Fig. i4i — Tacsouia moUissima — Desenhada no Jardim Botânico do Porto Fik-. 45 — Tacdúuia i^-nea — Desenhada no Horto Loureiro «Estabella família, que équasi toda tro- pical, compõe-se principalmente de plantas lenhosas e trepadeiras, mas encerra tam- bém algumas espécies herbáceas e outras completamente arboresccntcs. As folhas são alternas, geralmente estipuladas, simples. 192 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA inteiras ou diversamente lobadas, raras vezes compostas e imparipennadas, mui- tas vezes acompanhadas de uma gavinha axillar. As flores são hermaphroditas, regula- res, de cálice muitas vezes colorido, mais ou menos tubuloso na base, dividido em quatro ou cinco lóbulos petaloides com os quaes alterna egual numero de pétalas. No interior da corolla e em volta do re- ceptáculo, cleva-sc uma serie de numero- sos appendices, filiformes, mais ou menos compridos e coloridos, muitas vezes pa- tentes e formando uma elegante coroa á volta dos órgãos interiores. Os estames são umas vezes em numero cgual ao das peças da corolla, com as quaes alternam, e outras vezes em nume- ro dobrado com autheras introrsas, gran- des, inconstantes. O ovário é livre, ovoidal, quasi sempre pedicellado, unilocular, com três e raras vezes cinco placentas parietaes, ás quaes prendem numerosos óvulos por compridos fuiiiculos. Os estigmas, em numero egual ás pla- centas do ovário, são geralmente clavifor- mes e patentes. O fructo é raras vezes uma capsula dehiscente, mas muitas, pelo contrario, uma baga peponifoi*me e as se- mentes estão envolvidas n'um arilho pul- poso e providos de perisperma. » Depois de descriptos os caracteres prin- cipaes d'esta familia passemos a dar noti- cia das duas plantas que nos servem de epigi*aphe pára estas linhas. A Tacsonia niollissima, oriunda da Co- lumbia, foi descoberta por Humboldt e Bonpland, no principio d'este século, em Santa Fé de Bogotá e mais tarde foi no- vamente descoberta por Mr. Hartweg e por Mr. W. Lobb perto de Chito : este ultimo introduziu-a na Europa em 1844. A flor é cor de rosa e o cálice longa- mente tubular como se vê na figura 44. E mais rústica do que a Tacsonia ir/nca e floresce abundantemente ao ar livre, adaptando-se bem para cobrir caraman- chões, forrar gradearias, vestir paredes, etc. Tivemos por muito tempo em du^Hída o verdadeiro nome da Tacsonia ignea, com que vamos concluir esta noticia e que como a precedente é indispensável em to- dos os jardins. Tractando de a classificar, afigurava- se-nos, pelos seus caracteres específicos, sor uma Passijlora e não uma Tacsonia, porém, tínhamos contra a nossa opmião o ter ella vindo de vários estabelecimentos hortícolas estrangeiros sob o nome de Ta- csonia. Não nos sendo pois possível chegar a uma conclusão satisfactoria e não encon- trando nenhimia Tacsonia que tivesse o especifico ignea, enviamos alguns exem- plares mortos ao nosso amigo e illustrado redactor da «BelgiqueHorticole», que ob- sequiosamente nos informou e que veio confirmar até certo ponto as duvidas que se nos suscitavam sobre o género a que deveria pertencer a planta em questão. Eis as palavras de Mr. Edouard Morreu: (í Tacsonia manicata Jussieu, var. ignea Hort. — E de todas as Tacsonias a mais visinha das Passijioras: occupa de algu- ma maneira o meio entre os dous géneros. Foi encontrada nos subúrbios de Loxa por Humboldt e Bonpland. Produz um fructo globuloso e liso. » A esta succinta descripção que deve- mos a Mr. Morreu, temos tamsómente a juntar que a flor é de um bellissimo es- carlate vivo e ao contrario da T. mollis- sima é bem patente ; tem o cálice breve- mente tubular e a sua florescência é abun- dantíssima. Já se encontra em muitos dos nossos jardins e em Ervedoza do Douro, no jar- dim do snr. António Augusto Vieira Pi- menta, tem softrido incólume frios de 8 e 10 graus centígrados abaixo de zero (!) segundo aquelle cavalheiro nos affinna. E uma boa garantia para quem quizer fa- zer a sua acquisição. Olr^eira Júnior. IRRIGAÇÃO Em paizes quentes como o nosso a rega é de uma absoluta necessidade para a cul- tura, especialmente nos sities montanho- sos do nosso Minho, que no geral são pouco arborisados, e por esta falta, as aguas quo os montes contém só provém de depósitos JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 193 do inverno, que se escoam facilmente, re- sultando d' aqui que a maior parte dos nossos rios seccam quasi completamente com prejuizo da lavoura e das mais in- dustrias dependentes do motor hydrau- lico. A arborisação fornece fontes perennes e o proprietário que queira ter agua de bica todo o anno não tem mais do que plantar os seus montes e verá na propor- ção do crescimento das arvores augmen- tar a quantidade de agua de bica. Em quanto, porém assim não fizer, terá o tra- balho e despeza de a procurar na parte mais baixa do solo, e fazel-a elevar á al- tura dos seus campos que queira irri- gar. Ha também outros proprietários de ter- renos baixos encharcados de aguas inver- neiras que muito lhes conviria esgotar a tempo de os poder cultivar utilmente, e tanto para uns como para outros pode ser muito conveniente o emprego de uma ma- china a vapor e de uma bomba centrí- fuga. A despeza e custo de uma machina a vapor, quando esta possa ter varias appli- caçoes, como de serragem, moagem, ma- lha de cereaes, etc, etc, é facilmente re- mida, porém, quando apenas poder ser applicada á irrigação ter-se-ha a calcular se o augmento da producção de um ou mais proprietários associados proveniente d'essa rega offerece uma decidida vanta- gem. Para formar esta apreciação vamos of- ferecer um exemplo de um apparelho en- tre os menores e maiores que julgamos estar nas proporções da maioria, que se- ria preciso para uma grande quinta ou para vários associados. Este dispêndio poderá ser baseado da seguinte forma, sobre o capital de 1:500?5> reis, que poderá custar uma locomovei e bomba de elevação. Amortisação do juro e capital por um an- no incluindo reparos lOp. c 150:000 Dous mezes de rega a um operário me- chanico, 60 dias a 400 reis 24:000 Combustivel de lenha por 600 horas de trabalho 45:000 Despeza de azeite e outras extraordiná- rias 6:000 Reis. 225:000 Esta despeza de 22õ'3000 reis annuaes representa onze carros e dez alqueires de pão milho pelo preço actual de 500 reis. Se pois o augmento do producto do solo de um ou mais proprietários associados exceder muito esta cifra é evidente que haverá um bom emprego de capital n'este meio de irrigação, mas como dissemos, podendo-se dar ao motor outras applica- ções, as vantagens poderão ser mais que duplicadas. A. DE La Rocque. UMÀ NOVA PLANTA PRAIENSE E ECONÓMICA Não é raro ouvir dizer que as forra- gens faltam e que, em certos paizes, no meio-dia principalmente, não ha plantas pratenses apropriadas ao clima. Haverá razão para assim fallar, ou será porque não sabemos aproveitar as plantas que possuimos ? Inclinamo-nos pela nega- tiva. Em apoio da nossa opinião vamos citar um exemplo, que nos é fornecido pelo Gymnothrix latifolia Schultz. A espécie de que nos occupamos é origi- naria da America meridional e cresce par- ticularmente no Uruguay, e com espe- cialidade nos arredores de Montevideu, onde adquire dimensões verdadeiramente coUossaes. Em França, onde se dá egual- mente bem e quasi que em todos os ter- renos, attinge também proporções consi- deráveis. Introduzida em França em 1866 pelo nosso chorado collega Mr. Lasseau, a elegância do seu porte e a rapidez do desen- volvimento fizeram-na logo notar e julgar como podendo apresentar grandes vanta- gens debaixo do ponto de vista ornamen- tal. Estas previsões foram justificadas. Mas isto não c mais do que um dos la- dos da questão ; o importante deve ser o lado útil, o seu emprego como planta pra- tense e económica. Segundo o fim a que nos propomos, dever-se-ha submetter a diflferentes tractamentos. O Gymnothrix latifolia Schultz, de que nós vamos indicar os principaes ca- racteres, é uma planta vivace, cespitosa, do rápido desenvolvimento, de hastes no- dosas, numerosas, attingindo até 3 metros 194 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA e mais de altura, sobre 0"',01 e mais de diâmetro, cmittindo muitas vezes na sua base raizes adventieias, como acontece nas hastes de Milho, tornando-so quasi solidas quando adquirirem todo o seu completo des- envolvimento, sendo entào próprias para diversos usos económicos. Folhas envagi- nantes, numerosas, de 0^,20 a O'", 35 de comprimento, sobre 0'",02 a 0'",05 de largura, planas e glabras. As flores, dis- postas cm espigas tenninaes, não se mos- tram completamente em França senão no outomno, de sorte que são destruidas pela neve. Não é pois senão nas partes quentes da França ou no sul da Europa que se poderão colher as sementes para a sua multiplicação. E preciso observar que nos paizes meridionaes a colheita da se- mente poder-se-ha fazer com mais abun- dância. Infelizmente no clima de Pariz, e mes- mo na França central, o Gymnothrix la- tifolia não resiste aos invernos. Isto toda- via não passa de leve inconveniente, pois que são estes paizes principalmente onde as plantas pratenses são mais abundantes e mais variadas, além de possuirem pas- tos que faltam nos paizes quentes. Mas não temos nós por ventura a França me- ridional, a Argélia, onde se nota extrema falta de forragens V Debaixo d'este ponto do vista merece o Gymnothrix toda a nos- sa attenção. O tractamento d'esta planta deverá ser fcito^ conforme o íim que tivermos em vis- ta. E bem claro com côeito que se a qui- zermos para a dar a comer em verde, será preciso cortar estas plantas quando tiverem adquirido corto desenvolvimento em relação com a natureza e necessidades dos animaes a que se destinam. Devemos obrar do mesmo modo se as quizermos para forragem secca de inverno. Se pelo contrario os productos são destinados a lazer abrigos, coberturas, etc, poder-se- hão deixar as plantas attingir o seu com- pleto desenvolvimento. Tudo isto, de resto, é elementar; como sempre, o fim ó que deve guiar. í^iu ou- tros termos, os meios devem estar em re- lação com os fins, conformo o proberbio: Quem quor os fins quer os moios Vamos tonninar este artigo sobre o Gi/m- nothrív com alguns dados geraes sobre a sua cultura. Kepetimos ainda que esta cultura poderá variar e apresentar gran- des difterenças, segundo o fim que tiver- mos em vista e sobretudo segundo as con- dições em que nos acharmos collocados, a natureza e a posição do solo de que dis- pozermos, etc. Segundo a quantidade de sementes que tivermos, semearemos no seu logar ou em viveiro; no primeiro caso deveremos se- mear muito raro, sendo o Gymnothrix muito vigoroso e cespitoso. Julgamos que haveria vantagem em semear em alfobre e em adoptar uma cul- tura análoga á que se dá a certas plantas industriaes: á Colza ou á Beterraba, por exemplo. Se adoptarmos este ultimo modo de cul- tura, ficará ainda á escolha a epocha da plantação, que, comprehende-se, poderá variar segundo o clima e as condições em que se opera. Comtudo, como a cultura do Gymnothrix só pôde apresentar sérias vantagens nos paizes quentes, onde em ge- ral as chuvas são raras, dever-se-ha pois, olhando a estas circumstancias, obrar de modo que se lhe tornem favoráveis; por exemplo, operar de modo que as plantas, quando chegarem as grandes seccas, te- nham adquirido toda a força possivel, para que as possam supportar facilmente. Cremos pois que a epocha mais vanta- josa para semear o Gymnothrix é o ou- tomno, ou melhor no fim do verão. Admit- tamos que a sementeira foi feita em vi- veiro, e que o terreno foi apropriado para a plantação, quer dizer lavrado e grada- do, eis aqui como se deverá proceder : tra- çar os regos em sentidos oppostos, a 0'",30 um dos outros, e em cada ponto de inter- cessão das linhas isto c onde ellas se cor- tavam em angulo recto (o que deixa ficar as plantas em quincunce e espaçadas 1"',30 centimetros em todos os sentidos), dispõe- se uma ou duas plantas. E preciso tanto quanto for possivel, fazer isto quando o tempo estiver sombrio ou quando prometta chover, ao menos que se façam regas quan- do for possivel. Terminada a plantação nada mais ha a lazer do que livrar as plantas das más hervas, todas as vezes que for preciso. Como o Gymnothrix é vivace e muito JORNAL fE HORTICULTURA PRATICA 195 vigoroso pôde ser que se podesse multi- plicar por pedaços do pé, no que haveria muita vantagem. E uma tentativa a fazer. Não obstante o termos recommendado particularmente o Gymnotlirix para a Eu- ropa meridional ou para a Africa septen- trional, isto não quer dizer que em certas partes da França se não possam tirar al- gumas vantagens. Julgamos mesmo o con- trario, pois que considerando a planta co- mo annual e semeando-a no principio da primavera, e collocando as plantas em boas condições, podem n'este mesmo anno, no espaço de alguns mezes, attingir de 1"*,50 a 2 metros de altura. São ensaios que ainda não foram tentados e que seria bom fazer. Terminamos este artigo indicando que se podem encontrar quer sementes, quer plantas do Gijmnothríâ', em casa de MM. Courtois-Gerard e Pavart, negociantes de sementes na rua Pont-Neuf, 26, em Pa- riz. E. A. Carrière. (Joiírnal d'Agriculture Pratique). CHRONICÁ HORTICOLO-AGRICOLA Tem havido numerosas controvérsias sobre se as plantas nos aposentos são no- civas ou não quando estes sejam habita- dos de noute, porque, como todos sabem é então que os vegetaes expellem todo o acido carbónico que haviam recebido du- rante o dia. Para que este momentoso assumpto não ficasse só em meras conjecturas, o pro- fessor Kedzie procedeu a alguns trabalhos importantissimos tanto para a sciencia co- mo para as pessoas que receiosas dos ef- feitos deletérios das plantas nos quartos de dormir, as retiravam dos seus haudoirs todas as noutes. Mr. Kedzie procedeu ás suas analyses, mas em logar de as ir fazer no ambiente de um quarto que tivesse somente algu- mas plantas, preferiu o de uma estufa que continha mais de seis mil plantas. As ex- periências foram feitas nos dias 16 e 17 d'abril antes de levantar o sol. O recinto tinha estado fechado, havia mais de doze horas, e se fosse certo que as plantas exhalam acido carbónico em quantidade que prejudicasse os nossos pul- mões, a analyse do ar de um local nas condições d'este deveria forçosamente re- solver toda e qualquer duvida que exis- tisse. Foi o que succedeu. Tomaram-se três amostras de ar nas diíferentes partes da estufa e deram 4'11, 4-00 partes de acido carbónico em 10:()0U de ar, ou termo médio 4-03 em 10:000. No dia 17 de abril repctiu-se a experiên- cia da qual resultou encontrar-se 3*80 e 3*80 partes de acido carbónico em 10:000 de ar ou termo médio 3-94 partes de acido carbónico em 10:000 de ar, ao passo que o ar livre contém 4 partes em 10:000, e portanto vê-se que o da estufa é melhor que o ar mais puro do campo. O professor Kedzie ainda não deu com isto por terminados os seus estudoíf. Para saber se o ar da estufa tinha mais acido carbónico de noute do que de dia, tomou dons specimens de ar em diíferentes partes d'aquelle recinto, ás 2 horas da tarde, que produziram 1-40 e 1*38 ou ter- mo médio 1-39 partes de acido carbónico em 10:000 o que demonstra que a atmos- phera está muito mais carregada de acido carbónico durante a noute do que de dia. D'estas analyses curiosas conclue Mr. Kedzie que «ao passo que um recinto no qual se acham 6:000 plantas contém mais acido carbónico de noute do que de dia, contém ainda assim menos do que qualquer quarto de dormir, podendo-se portanto, sem correr risco, ter n'esse aposento duas dúzias de plantas». — D'uma carta que recebemos do snr. George A. Wheelhouse, vamos extrair o seguinte periodo em que dá conta de ha- ver encontrado alguns pés de uma arvore que suppõe ser alguma variedade do Qmr- cus suber. . . . Ultimamente vi em um montado, da Com- panhia das Lezírias, que se anda arroteando de matto, algumas arvores que supponho ser uma variedade do QiiercHS Sliber, as folhas são maia re- dondas e mais iusiuias e os seus ramos £ahem gra- ciosamente como os ramos do Chorão. Estas arvo- res serão quatro a cinco e por aquelles sitios nin- cíuem se lembra de ter visto Sobreiros d'aquel]a qualidade. Tem cort'ça como o Sobreiro eommum e l)ela elegância de seus ramos merecia um logar nos nossos jardins, e valeria a pena ser enxertada no Sobreiro eommum. 196 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA — A propósito da applicação da folha da Robviía pseudo-Acacia como forragem, lê-se o seguinte no «Jornal de Agricultui-a Pratica» : Li algures que muitos lavradorps d"Allcmanha empregavam a folha da Acácia branca como forra- gem, e que, usando d'este alimento, o gado nutria mais e as vaccas davam mais e melhor leite. Fiz a experiência, e tive occasião do observar que com etteito o gado, princiíialmente o bovino, come com avidez esta folha seja verde, seja secca. Não tenho, porém, ainda dados sufficientes para formar o meu juizo acerca das suas qualidades nu- tritivas ; mas mesmo que ellas não sejam eguaes ás das plantas forraginosas de que geralmente se faz uso, ainda assim, em muitos casos, a Acácia não podo deixar de ser considerada como um recurso muito aproveitável, se attendermos a que ha mui- tos terrenos que se não prestam á cultura das plantas forraginosas, o que alguns lavradores não téem outros. Além d'isto esta arvore vegeta em todos os ter- renos, preferindo os mais áridos, e não exige cui- dados— cresce e desenvolve-se rapidamente á mer- co das suas próprias forças, A rusticidade da Acácia, e sobre tudo a sua pre- dilecção pelos terrenos que não são regados, tor- nam-na muito apreciável, porque são justamente estes cuja producçào é menor e ás vezes nuUa. Que grande numero do cabeças de gado grosso não podem sustentar as charnecas do Alemtejo, votadas presentemente a uma estorelidado deso- ladora, quando sejam occupadas por esta arvore ! Talvez que d'esta maneira se possa realisar o indispensável equilíbrio entr^e a producçào pecuá- ria e as exigências sempre crescentes do consumo. Talvez que a Acácia considerada apenas arvore de ornamento haja de representar ainda um papel importante no mundo agrícola. — A pêra Beiírré de Ghélinjá. é conhe- cida dos nossos leitores pela gravura que d'ella demos acompanhando o artigo do snr. conselheiro Camillo Aureliano, no III voliune d'este jornal. Este fructo, que o nosso collaborador tanto encarecia, serviu agora d'objecto a largas considerações ao celebre pomologo Oberdieck que investigou as condições de exposição, em que ella precisa estar para adquirir todas as qualidades que a cara- cterisara. Mr. Oberdieck pretende que a pêra Beurré de Ghélin é facilmente modi- ficada desde que nào está em terreno apro- priado o nao gosa de outras vantagens que lhe síio essenciaes. Em muitos casos as peras tornam-se pequenas, a polpa pedregosa e de quali- dade mediocro. Mr. Du Mortier observa na sua «Po- mono Tournaisienne» que a pêra Beurré dn GhHln .soífre com a humidade, ao passo que Mr. Oberdieck não acredita que esta causa per si só soja capaz de inHuir na sua qualidade porque obteve sempre maus residtados no terreno seceo em que a cul- tivava. O auctor da «Pomone Tournaisienne» considera como de primeira necessidade que esta variedade seja plantada junto a um muro com exposição ao oeste. Kegistremos estas observações em pro- veito dos pomicultores curiosos. — Da excellente revista agricola do 11- lustrado professor do Instituto, o snr. Fer- reira Lapa, extrahimos a seguinte noticia relativa á Beterraba. A causa da Beterraba continua provocando a curiosidade dos nossos agricultores, e recrutando grande numero de prosélitos. A remessa de semen- tes da melhor casta sacharina que o snr. conse- lheiro Moraes Soares distribuiu, está esgotada. Sei de alguns que mandaram fazer encomraendas da mesma casta directamente. A todos se antolha a Beterraba, não só como o melhor ou pelo menos um dos melhores sustentes para o gado, mas tam- bém polo assucar, a única industria que possa con- trabalançar em muitos pontos a decadência da in- dustria vinícola, se por infelicidade o Phylloxera progredir nas suas devastações. Ainda ha poucos dias fallando com o nosso emi- nente historiador e agrónomo distinctissimo, o snr. Alexandre Herculano, no gabinete do snr. Rodrigo de Moraes Soares, onde a todo o momento se deba- tem as ideias agrícolas, aquelle mestre sublime dos mais sublimes pensamentos, disse : que quem uma vez começar a usar da Beterraba para susten- to do seu gadOjdepois já não poderá passar sem ella. Porque esta planta é a que proporciona maior far- tura e regalo aos animaes, sendo para notar a sau- dade que 03 possue nos primeiros dias, quando lar- gam d'este penso para serem postos a outro. O snr. Herculano foi doa primeiros, senão o primeiro, que cultivou a Beterraba em Portugal. Sc a Beterraba só para a alimentação do gado tem esta importân- cia, muito maior será quando se lhe unir o fabrico do assucar ou ainda a distillação do álcool. E' en- tão que esta cultura não tem rival. Nào é sem profundas e seguras razões económi- cas que na AUemanha, na Áustria, na Inglaterra, na Bélgica, na Suissa e n'outros maispaizes se dão tão grandes largas á cultura da Beterraba apuran- do-se cada vez mais as castas sacharinas, ousaian- do-se na sua cultura os adubos que mais a favore- cem, e experimentando-so no seu serviço cultural os mais geitosos motliodos c instrumentos. — A seguinte receita é prescripta por ]\[r. Rohart para compor ima estrume que parece dar resultados fabulosos: Mattos do charneca 25 partes Cinzas 5 " Estrume fresco 50 " Matérias animaes 10 " Pó do cssos 10 " 100 " Todas estas matérias devem ser incor- poradas em montureira, que se deve dei- xar em fermentação, regando-a com agua de tempos a tempos. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 197 — Sic eunt fata hominum! No nosso numero passado noticiamos o fallecimento do snr. Emilio David, jardineiro paiza- gista allemao que maiores serviços pres- tou ao Porto, no ramo a que se dedicava e de que sào principaes testimunhos os jardins do Palácio de Crystal e dos Mar- tyres da Pátria, hoje meras sombras d'a- quillo que se delineou e que a imagina- ção engenhosa e fecunda do snr. David havia concebido. Este senhor, que veio para o Porto em 1864 para dirigir os trabalhos de jardi- nagem do Palácio de Crystal, conservou- se alli até 1869, associando-se em seguida com o snr. José Marques Loureiro, socie- dade que apenas durou cerca de um anno. Em seguida fundou um estabelecimento horticola, de que colhia magros interesses. Alguns padecimentos de que soíFria eram sem duvida a principal causa do estabe- lecimento nào prosperar nem ter tomado maior desenvolvimento. Deu bastantes provas de cavalheiro hon- rado e era geralmente estimado e prote- gido pelos seus compatriotas. O snr. Emilio David era natural de Berlim e falleceu no dia 27 de agosto con- tando apenas 34 annos. — O residuo das uvas, peras e maças, consiste n'aquella parte que fica depois de se ter extrahido, por exemplo, da uva o vinho, da maçã a cidra, etc. Estes resíduos devem, na boa cultura, voltar para as vinhas ou para os pomares, que se empobreceram para os produzir. Os cultivadores, porém, nem sempre ad- mittem este principio. Em muitas propriedade da Côte-d'Or o residuo das uvas é restituído ás vinhas, que muitas vezes não recebem outro adu- bo. Esta restituição, muito natural e ra- cional ao mesmo tempo, diz Mr. Joigneaux, tem o mérito de proteger a delicadeza das vinhas. Os cultivadores d'Argenteuil as- severam que o residuo das uvas é precio- so para as Figueiras. Os resíduos das maçãs e das peras, das quaes nos servimos para a fabricação da cidra, ficam muitas vezes sem emprego. Esta j^erda é muito para se sentir, porque elles constituem um adubo natural para os pomares. Sabemos que ha quem os re- jeite, porque são muito ácidos e n'este es- tado podem contrariar a vegetação. Não ha porque o neguemos, mas como é muito fácil destruir este inconveniente, parece- nos mais próprio que se aproveitem. Para corrigir a acidez, juntar-se-lhes-ha cal, cinza de madeira ou estrume, que por certo produzirão o efteito que se pretende. Em quanto a nós, o melhor modo de empregar este adubo, é entorral-o, depois de uma ligeira lavra, junto do tronco das arvores, na occasião da queda das folhas. Não é necessário estendel-o sobre uma grande superficie, attendendo a que as raizes das arvores, são por assim dizer drainos naturaes, que conduzem os líqui- dos entre a terra e o lenho, até ás suas extremidades. Os fructos podres constituem, como os resíduos, um adubo. Em logar de se dei- tarem fora ou mesmo nas estrumeiras, o que é melhor e mais conveniente, quando a quantidade não é diminuta, é pol-os de parte, esmagal-os um pouco, deitar algu- ma cal ou cinza de madeira por cima, re- gal-os de tempos a tempos com agua pro- veniente da estrumeira, e servir-se d'este adubo durante o inverno para estrumar as arvores do jardim ou do pomar. N'este sitio, pelo menos, estarão os fructos po- dres no seu verdadeiro logar. — Do Jardim Botânico de Coimbra fo- ram quatro estufins com Quinas (Cin- chona siicciruhra) para a Africa. — A uma pergunta dirigida a um dos nossos collegas da imprensa ingleza sobre a escolha das vinte rosas que considerava serem melhores, respondeu-lhe apresen- tando a lista seguinte: Charles Lefehre^ Alfred Cvlomh^ Ma- dame de Eothschildj, John Hopiier, La France, Marie Baumann^ Marquise de Castellane, Sénateur Vaissej, Pierre Not- ting , Duke of Edinhurgh, Louis Van Houtte^ Eugénie Verdier, Madame Victor Verdier, Marie Rady , Marguerite de Saint-Amand, Edouard Morren, Xavier Oliboj, Docteicr Andry, Victor Verdier, e Exjposition de Brie. — Recommendamos a seguinte receita para dar força e vigor ás arvores doentes e fracas. Desfaz-se um pouco de excre- mento de boi n'um vaso qualquer, e de- pois de ter descoberto a arvore a alguns centímetros de profundidade e n'um peri- 198 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA metro espherico de ura metro de largo, lança-se nas raizes meio regador d'aquelle liquido, o immediatamonte trcs ou quatro de agua pui'a, a fim de que o adubo des- cendo ás raizes se infiltre n'ellas. Depois de feita esta operação, enclie-se a cova com a mesma terra que se lho ti- rou e dá-se o trabalho por concluido. Dizem-nos que se obtém o mesmo re- sultado, mas com mais demora, cobrindo a terra em roda da arvore com bom es- terco. Esquecia-nos lembrar que a primeira d 'estas operações deve ser feita cm abril e com tempo chuvoso. — Para a cura das arvores c arbustos doentes vamos dar iima receita que deverá ser applicada quando as folhas começarem a amarellecer e as plantas mostrarem en- iVaqueci mento. Dever-se-ha, porém, cavar previamente a terra até 1"',Õ0 distante do tronco para que as raizes doentes possam receber o composto seguinte : Sulfato de ferro pulvci'isado. . . . Ok. 525 gr. Sal commnni lk.500 gr. Alun do rocha Ok. 525 gr. 2k.550 gr. Este composto deverá ser diluido em 40 litros d'agua até que tudo esteja bem des- feito. Applica-se no primeiro dia duas ve- zes e no segundo repete-se a operação em forma de rega ao pé do tronco. Dará vigor ás raizes que não estão doentes, destruirá as que estiverem ata- cadas e restituirá a força áquellas que o não estiverem completamente. — Pensava-se geralmente que o guano era exclusivamente excremento de pássa- ros, mas o dr. Habel, que acaba de fazer observações microscópicas e chimicas, des- cobriu diípois de tractar a substancia com ura acido, que o residuo insolúvel é com- posto de esponjas fosseis e de varias plan- tas e animaes maritimos, precisamente eguaes a muitos que ainda hoje existem n'aquellos mares. O facto de que muitas vezes as ancoras dos navio.';, que fundeiam nas proximida- des das ilhas de guano, trazem comsigo d esto adubo do fundo do mar, ])arece cor- roborar a opinião do dr. Jlabel. — ITm iivrosinho publicado sob o titulo «Los Plantes à Feuilluge Ornemental », acaba de enriquecer a nossa estante. Não ha nada na existência que não se cm've ao jugo das leis geraes que nos re- gem e a moda também tem foros de lei. Ainda não vae longe o tempo era que se ignorava o que erara plantas ornamentaes, e essas raras que existiam eram geral- mente olhadas com indifferença: as suas flores insignificantes eram destituidas de valor para as massas que n'esse tempo s(') queriam flores. Assim como a moda faz passar as damas pelas phantasias mais capricliosas, succedo também que os nos- sos jardins seguem essas ondulações agi- tadas do gosto, e a historia moderna da jardinagem offerece-nos numerosos exem- plos d'estas fluctuaç^es. «Les Plantes à Feuillage Ornemental» devido á erudita penna do actual redactor da «lUustration Horticole», Mr. Ed. An- dré, é ura livro indispensável a todas as pessoas que se occupam de jardinagem, porque, contendo a descripção e a cultura de cada planta em particular, torna-se um guia seguro ainda para os mais experien- tes. Accresce que um grande numero de gravm-as illustram o texto, o que ajuda a reter o nome das plantas e a dar mais exacta ideia do seu porte geral ás pes- soas que as desconhecem. Este Iivrosinho poderá obter-se do seu editor, Mr. J. Rothschild — 13 rue des Saints-Pères, Paris — e nos seus corres- pondentes em Portugal, Y. More, no Por- to ; e Silva, em Lisboa. — Mr. Duchartre assignala, segundo um jornal allemão («Mannh. Hurze Beri- chte»), na sua «Revista Bibliographica Estrangeira » publicada ultimamente no «Journal de la Société Centrale d'Horti- culture de France», uma propriedade par- ticular que tem a Cariaria tliijmifolia — a de produzir fácil e quasi instantanea- mente uma tinta muito superior, o que fez com que a Cariaria merecesse a denomi- nação" de «Planta da tinta». Eis como Mr. Duchartre se exprime : A Cariaria Ih;/ mi foi ia é chamada vulgarmente no seu paiz natal, Nova Granada, "Planta da tinta" porque o sumo dos fructos pode ser empregado como tinta eem prei)aração alguma, constituindo n'este estado unia tinta excellcnte e indestructi- vol. A tradição diz que durante o tempo que os Les- panhoes senhorearam aqu(>lla parte da America meridional fo' que sn (l(>scobriu esta notável pro- priedade do sueco dos fructos d;t Cariaria thytnifo- lia chamada pelos habitantes "Chanci". JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 199 Fizeram-se experiências com o "Chanci" c com a tinta ordinária, molhando os escriptos com agua do mar e o resultado foi tornar-se a ultima illegirel e o "Chanci" conservar-se sem a menor alteração. Atteuto este successo, o governo promiilgou um decreto exigindo que todos os ducnraentos officiaes sejam escriptos com o sumo da Coriariu em sub- stituição da tinta commum. Quando se acaba de escrever, a tinta vegetal é avermelhada, mas passadas algumas horas torna- se perfeitamente negra. Ainda possue uma preciosa qualidade. Hoje que se faz uso de pennas d' aço será bom dizer-se que a nova tinta não as altera como acontece com mui- tas das que usamos. — Quando se submette o vinho a uma temperatura bastante baixa para determi- nar a congelação da agua, lê-se nos «An- nales du Génie Civil » , esta substancia pode separar-se no estado solido, e como o ál- cool se não solidifica, o liquido restante é naturalmente mais rico. Os snrs- Mignon e Ronard imaginaram apparelhos, que parecem bastante práticos para se chegar a este residtado. Podem empregar-se dous methodos. O primeiro consiste em collocar o vinho em um vaso resfriado lateralmente pelo contacto de um liquido incongelavel, co- nio a glycerina, no qual circule uma cor- i^cnte fria obtida por um processo qual- quer. O segundo processo consiste em submet- ter ao frio o vinho que se quer congelar, agitando-o constantemente por meio de um mecanismo. Quando a congelação se julga sufíiciente, decanta-se o liquido, e da parte solida que fica separa-se o gelo propria- mente dito, o qual pôde ser utilisado em refrescar o vinho antes do o submetter ás mencionadas operações. — Os Bambus podem multiplicar-se do seguinte modo: Toma-se um ramo, uma haste secun- daria, conserva-se-lhe unicamente um pe- daço com dous ou três olhos, raspa-se a epiderme até pôr o lenho a descoberto, para que a humidade o possa penetrar e fazer desenvolver as raizes. Planta,m-se assim em um vaso cheio de terra que te- nha bastante areia, e recolhe-se na estufa coberto com uma redoma. O que obsta ao desenvolvimento das raizes nos Bamhus, é a espécie de verniz de que a epiderme está revestida. — N'uma obra publicada recentemente em dioma flamengo, sob o titulo «A ar- boricultura fructifera e as suas relações com a grande cultura», insiste seu auctor, Mr. Burvenich, n'uma precaução que é preciso tomar por occasião da plantação das arvores, precaução a que poucas pes- soas attendem entre nós e que repetidas vezes temos lembrado nas columnas d'este jornal. Referimo-nos á profundidade a que de- vem ser enterradas as arvores. Mr. Burvenich exprime-se assim na sua obra. Um dos grandes progressos realisados nos últi- mos annos na plantação das arvores florestaes, fru- ctiferas, etc, é a applicação geral da plantação ao nivel do solo oti em montículos. Se se observar com attenção o que se passa Jia natureza, vê-se que as raizes occupam a superfície do solo. São justamente as que estão n'estas condi- ções que apresentam vegetação mais vigorosa e porte mais direito. Admittimos que haja grande vantagem em que as raizes fiquem á superficie do solo e que a plantação em monticulos deva ser recommendada mas não tão genera- lisada como parece querer Mr. Burve- nich. A profundidade, a que deve ser plan- tada uma arvore, depende completamente, segundo a nossa opinião e o resultado que temos colhido no campo da experiência, da qualidade do terreno que a vae rece- ber; mas como regra geral devemos indi- car que quanto mais húmido for o terre- no, menos profunda deve ser a plantação. Quando, porém, se dê o caso de ser hú- mido e compacto, é muito útil que as rai- zes fiquem acima do nivel do solo e que se faça um raonticulo de terra em que as plantas sejam dispostas. O termo médio, pois, que se deverá adoptar é de 0'",03 a 0"',05 acima do nó vital, e sendo o terreno muito secco. O'", 05 a 0'",07, mas nunca mais e de preferencia menos do que isto. — Mr. Auguste Van Geert, esclarecido horticultor de Gand, acaba de nos enviar o seu Catalogo geral para 1873-1874, o qual forma um volume de 140 pagi- nas. Este estabelecimento possue avultada quantidade de Palmeiras^ que vende por preço diminuto. Chamamos especialmente a attenção dos amadores para as collecções de Cycadeas. Bastará dizer em abono da verdade, que Mr. Van Geert tem sido o introductor dos maiores exemplares de Cy- 200 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA cachas, que adornam as estufas da Europa e que possue actualmente algumas que nào medem menos de 12 pés d'altura! Nào ha nada tào imponente como estes enormes troncos escamosos de cujo nasci- mento se poderia dizer que se perde na noute dos tempos. Ao lado d'estes vegetaes, que nos recor- dam as opoclias antidiluvianas, as estufas do acreditado horticultdr acham-se cheias de bcllissimos Fetos arbóreos, oriundos dos dous hemispherius. Entre ellcs recum- mendariamos aos nossos amadores a ae- quisição da Ahophila Van Geerti, esplen- dido Feto arbóreo de origem mexicana, ostentando elegantes frondes. Os peciolos, assim como o estipe, sr.o pretos e cheios de espinhosinhos, e é espécie muito rara, apesar de ter sido propagada por Mr. Van Geert, de quem tem o nome especifico como se acaba de ver. A sua congénere, a AlsojyJiila ausfra- líft, tem passado os últimos dous annos ao ar livre, no estabelecimento horticola do snr. Marques Loureiro, razão porque so- bem de ponto os nossos desejos de ver a nova espécie aclimada cm Portugal. E possivel que se colha bom resultado e as- sim ficarão os nossos jardins enriqueci- dos com mais uma planta de merecimento. — A propósito do descngaçamento da uva escrevia o distincto anologo portu- guez, o snr. António Batalha Eeis, no «C\'\mpo e o Jardim», as linhas que vào êr-se : De sempre, houve renhida qnestão entre os ri- nicultores sol)re se deviam ou não desengaçar. E uVsta contenda, como cm muitas outras, que ainda hoje se continuam, encontra-se a razão om ambos os campos : — o que nào quer dizer, conitudo, f|ue possa haver mais d'nma verdade sobre a mes- ma discussão. O caso é que tem tanta razão os que mandam desengaçar as uvas aguadas e pouco ricas em as- fucar como os que teimam em não desengaçar as <[\io são muito doces e originadas por sitios quen- tes e abafadiços. Na mesma localidade, deve usat^-se alternada- mente dos dous systcmas, conforme os annosfo- rcm liumidos ou seccos. O erro está em admittir a uniformidade nas pra- ticas, com circumstaneias diversas e por vezes in- teiramente o]>postas. R' uso o desengace em muitas localidades com Krave projuizo dos seus vinhos, (pie ficam doces era excesso e custam muito a cfinservarem-so sãos, e n'outras acontece o contrario. O Alemtejo e o Minho fornecem largos exemplos do viciamonto d'esta pratica, um ]inr fiilta c o ou- tro i)or excesso. — No Jardim Botânico de Coimbra es- tão algumas Xymphaeas ao ar livre ve- getando admiravelmente. Entre ellas dis- tingue-se a N. dtntata. — E diga-se que só a Europa se des- envolve e que só a Europa se civilisa! O Imperador da China acaba de expe- dir ordens para França com o fim de t;e ajustar n'aquelle paiz um jardineiro há- bil, que tome a seu cargo o restaurar os jardins imperiacs e os jardins públicos á maneira dos de Pariz. O excelso monarcha parece que quer imitar o Khediva do Egypto, que ha al- guns annos tem o nosso collaborador, Mr. G. Delchevalerie, e um grande numero de jardineiros francezes, a cuidar dos seus jardins do Cairo, no que dispende sommas fabulosas, mas não tanto como o que pa- rece disposto a gastar o soberano do mais antigo e poderoso império da Ásia. Ao jardineiro francez offerece o Imperador da China onze contos de reis annuaes e resi- dência na embaixada de França em Pe- kin! Deante d'esta grandeza dá vontade de ser súbdito do celeste império ! — Isto é com as senhoras. As damas são em geral mais exigentes que os ho- mens e desejam que tudo seja perfeito, para o seu gosto, hien eiitendu. Oi"a uma d'essas tontinhas Benoitons, procurando ultimamente um horticidtor disse-lhe cora um tom pietencioso: «Eu queria comprar uma Roseira, mas varie- dade rústica, porque as delicadas soífrem cora os frios; desejava comtudo que ao mesmo tempo produzisse flores dobradas, muito odoríferas, de cGr bonita, muito flo- rifera e erafira que tivesse todas as boas qualidades.» O horticultor que não era para vieias- medidas, não obstante ter passado a raaior parte da sua vida entre as flores — do jar- dim, já se sabe — ponderou-lhe : «Minha senhora, v. exc.* não se admire se eu lhe disser que raras vezes tenho a felici- dade de vêr uma dama que seja rica e que ao raesmo tempo tenha bom génio, seja nova, espirituosa, instruída e reúna I cniflm todas as perfeições do seu sexo.» Não respondeu mal, porcra o bárbaro ! estava de mau lumior, como nós. Per- doam V Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 201 ALSOPIIILA AUSTRALIS Quando R. Brow fez a reforma das Cya- tkeas de Sinith, formou um novo género de FetoSj a que chamou Alsophilaj e que, como as verdadeiras Cyailieas, compre- hende grande numero de Fetos arbores- centes, indígenas quasi todos da America e Oceania. Presl divide as Alsophilas em duas secções : uma com as nervuras secun- darias bifurcadas, e com capsulas n'esta bifurcação; a outra com nervuras secun- darias simples com os grupos das capsu- las no centro. Este género reúne cerca de 40 espécies, todas arborescentes, á exce- pção d'uma, a A. pruinata, indígena do Chili. Hoje occupar-nos-liemos unicamen- te da Ahophila australis. Este Feto é um dos mais brilhantes do género; as suas enormes frondes graciosamente curvas são d'uma rara elegância ; é um perfeito pa- rasol de renda veí^otal. Os foliolos são de N ^.«^V.NS^>' Fig. 46 — Alsophila australis — Desenhada no Horto Loureiro um recortado delicadíssimo, e a esplen- dida cor que os cobre é d'um verde vivis- BÍrao difficilmente imitado em outras con- géneres. A Tasmania e as costas do sud- oeste da Nova Hollanda são a pátria d'es- ta preciosa planta, mas é nos arrabald;^s de tíidney que ella toma as verdadeiras proporções : não 6 raro ver exemplares attingirem 22 metros d'altura. A íig. 46 representa um exemplar d'este FetO;, co- piado no horto do snr. Loureiro, que os possue excellentes. Aconselhamos a sua posse aos nossos leitores para adorno dos Vol. lY— 1S73. vestíbulos, escadas e salas das suas habi- tações, onde de noute produzem um effeito surprehcndente. Cultiva-seem estufa fi^ia ou temperada; no verão pôde viver perfeitamente ao ar livre debaixo de qualquer arvore ou casa de fresco; talvez que se conseguisse mes- mo conserval-o no inverno, tendo o cuida- do de cobril-o com uma esteira por causa da neve. E uma experiência para tentar, de que estamos certos se ha de colher bom resultado. A. J. DE Oliveira e Silva. N. 11 — Novembro 202 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA AS PALMEIRAS Todas as Palmeiras que produzem óleos distinguem-se das outras, por uma singu- laridade na construcção do fructo, que foi observada pela primeira vez pelo insigne botânico Brown, que lhes deu o nome de Cocoinae. Esta singularidade consiste em o puta- men, originalmente trilocular, ter as suas cellulas, quando fertilisadas, perfuradas no lado opposto ao sitio do cmbryào, e quando abortivo indicado por fwamina caeca. É sem duvida maior o numero das Pal- meiras que produzem farináceos do que olcos, mas talvez estas poucas façam mais peso no commercio, pois temos o oleo^ de Palma produzido pelo Elais giàneensis e E. melanococca, Palmeiras que constituem uma importante riqueza nas costas d'A- frica Occidental e n'outras regiões. O Coccos nucifera produz, alim do fru- cto de agradável paladar, um excellonte óleo que se importa em quantidades con- sideráveis para a Europa, onde tem gran- de consumo, sendo estes os dous princi- paes óleos que se empregam no commer- cio. O Oenocarpus Bacaha na America do sul produz óleo e uma bebida alcoólica. Alem d'estas ha as Attaleas, as Acro- comias c mais algumas que produzem óleos, outras produzem cera como o Ceroxyloii andicola, cujo tronco cobre-se de uma cera que sahe das incisões das f lhas, e que parece ser uma matéria inflammavel composta de um terço de cera o dous ter- ços do rezina. Poróm, para que não ficasse esta ordem de utilissimas plantas com um orgulho desmesurado, se se nos permitte a expres- são, quiz o Omnipotente que houvesse al- gumas posto que poucas espécies, um tan- to nocivas, e portanto encontramos o Sa- f/ueriis saccharifer, que produz grande in- tlammaçao na bocca e parece ser a subs- tancia principal da agua infernal, que o gentio das jMoluccas usa para arremessar ao inimigo. O seu albumen verde produz, porém, um doce, depois de dividamente preparado, que é muito estimado na Chi- na e em algumas partes da índia. O mes- mo ardente azedume apparece na Caryota urens, linda Palmeira, e em outras. São infinitas as applicaçSes da Palmei- ra nas suas diversas espécies para os usos do homem, e, se as quizessemos ennume- rar simplesmente, encheriamos um volu- me. Como objetos decorativos são impagá- veis, e constituem hoje um elemento pre- cioso nos deslumbrantes ornamentos de uma sala ou refeitório. Citaremos algumas das mais elegantes em exemplares peque- nos: Arecaruhra^A. alba, Coryphaumhracu- liferaj Seaforfhi((s, Latania Borhonica, Livistonia humilis, Chamaerops humilis, C. gracilis, C. Palmetto, Thrinax parvi- ■flora, Astrocaryum aculeatum, Phoenix redinaia^ Chamaedora Bartlingii, Seafor- tJtia elegans. Lisboa. D. J. DE Nautet Monteiro. A NOVA MOLÉSTIA DAS VINHAS ' Vãos téem sido, na verdade, os esforços empregados para c(jmbater este pernicioso flagello, que já tem levado a ruinaauns, a miséria e a fome a outros o o pânico a todos os viticultores europeus. Entomologistas, chimicos, médicos, vi- ticultores e dezenas de as})irantes aos pré- mios promcttidos em França ao inventor 1 Vide J. H. P., vol. IV, pag. 182. do remédio, todos toem tentado até hoje inutilmente salvar a humanidade do ca- taclysmo, que a ameaça. Vamos fazer uma resenha dos principaes medicamentos ensaiados sem vantagem, não para levar o terror aos nossos com- patriotas, mas para os poupar a despezas avultadas e inúteis. Servir-nos-ha de guia n'esto assumpto o estudo de i\Ir. Laliman. jNIr. Dcsplaiis indicou a sementeira de favas como remcdio efficaz contra o Phyl- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 203 loxera^ mas a experiência demonstrou a sua inefficacia, pois que na communa de Flairac cultiva-se a fava nas vinhas e a moléstia progride lá a passos de gigante. Mr. Laliman semeou nas suas vinhasfavas, tremoços e outros vegetaes, enterrando es- tas plantas durante a primavera, e a mo- léstia continuou progredindo inalteravel- mente. MM. Leenhardt e Planclion recommen- daram a applicaçcão do acido carbónico, mas as experiências feitas pelas diversas commissões instituídas na Gironde demons- traram o nenhum resultado d'este expe- diente. Mr. Penanrun, inspector das alfande- gas, e outros, empregaram sem vantagem o alcatrão, o enxofre, a cal, o jDetroleo o a cinza. Mr. Desplans e outros asseveram que nem sequer retardaram os progres- sos da moléstia com o cuidadoso emprego de estrumes, de cal, de enxofre e de gesso. MM. Noirot e Laliman declaram que não obtiveram resultado da applicação de enxofre e de sulfato de ferro ás raizes das X^ideiras, e o mesmo aconteceu a todos os que applicaram estes medicamentos no dejjartamento de Vaucluse. Mr. Planchon assevera que pelas suas experiências veriíicou que o Phylloxera resiste á immersão em ourina de vacca e em cozimentos de tabaco, de aloés e de noz vomica. Foi indicada como remédio salvador a immersão das vinhas em agua, mas em um paiz accidentado como o do Douro, e a respeito do qual já alguém disse que tem menos agua, qne vinho, a immersão seria impossível; ainda assim convém notar que a efíicacia d'esta operação não é incon- cussa, pois que o sábio entomologista, Mr. Planchon, aííirma que um Phylloxera^ que teve a má fortuna de lhe cair nas mãos, escapou vivo de uma immersão du- rante treze dias, o quo faz dizer a Mr. La- liman que este insecto é de natureza me- tallica. Também foi aconselhada a incineração das cepas doentes. Este expediente limi- ta-se quando muito a retardar algum tan- to a propagação da moléstia, e é com- pletamente inapplicavel desde que estão aífectadas vastíssimas regiões. Triste me- dicamento é aquelle que, no intuito de preservar a saúde de uma familia, vae successivamente matando cada um dos seus membros. Não tem egualmente dado resultado sa- tisfactorio a applicação de guanos, do aci- do phenico, do sulphurico, de cal viva, do sulphureto de cal, de carbone, de sulphu- reto de carbone, de carbonato de forro, de sulphato de soda e de varias substancias azotadas. N'uma palavra, mil outras experiências téem sido feitas sem vantagem, nem re- sultado algum. Mr. E. Loarer aconselha como remédio infallivel a applicação do arsénico, quer em pó misturado com dez partes de cinza e dez partes de cal, quer formando com o enxofre sulphureto de arsénico. Apesar da convicção apparentada por este escriptor acerca da efíicacia do seu remédio, não sabemos que em França tenha sido expe- rimentado com bom êxito, e é provável que seja tão infallivel como todos os ou- tros, cuja inefílcacia está já sobejamente demonstrada. Suspendemos, todavia, o nosso juizo até que nos chegue de Fran- ça resposta a algumas perguntas, que a este respeito fizemos a alguns especialis- tas, com quem estamos em correspondên- cia. Entre todos tem sido incansável nos seus estudos e experiências Mr. Laliman, o qual, depois de todos os seus esforços, con- cluo': «inútil é dizer que os pulgões con- tinuam gozando perfeita saúde, deixando- nos as vinhas e a bolsa gravemente en- fermas». A respeito dos diversos medicamentos tentados contra o Phylloxera diz este es- criptor : «Uns medicamentos são racionaes e por consequência seductores, outros empíricos e tentadores, como tudo quanto tem o cu- nho de incógnito; todos téem tido a du- ração de um sonho. Aprouve á Providen- cia vencer a razão humana e abater o nosso orgulho». A Memoria recente ^ de Mr. Trimoulet não indica descoberta alguma para a sal- varão das vinhas, mas promette que em breve serão publicados os resultados de 1 Foi publicada posteriormente a 5 do mez de fevereiro próximo passado. 204 JORNAL DE HORTICULTURA TRATICA numerosas experiências ultimamente fei- tas por diversas commissões. Esperemos, emquanto as nossas vinhas se vão deteriorando. Visto que nos falta o remédio e que a iniciativa do governo sobre o assumpto dorme profundamente, sobeje-nos ao me- nos a resignação. VI É velha máxima, que facilmente acre- ditamos o que favorece os nossos interes- ses : quod voJiinms, facile creclhinií(. E talvez este o motivo por que, apesar da inefficacia das experiências feitas, confia- mos em que tantos esforços hão-de mais tarde ou mais cedo ser coroados de feliz resultado. Se a infinita multiplicação dos pulgões provém principalmente da morbidez das vinhas, esta cessará certamente no futuro em virtude da acção do homem e da na- tureza sempre providente, pois que o es- tado mórbido não é, nem pôde ser o es- tado normal e jDcrmanente de qualquer das espécies dos tros grandes reinos da creação. Se pi'ovém, como é possivel, de alguma emigração que aquelles insectos fizeram do seu paiz natal para a Europa, nno ha duvida de que foi determinada pela alte- ração das condições normaes dos meios de vida próprios d'aquelle insectos, e cm tal caso a natureza auxiliada pelos esforços dos viticultores restabelecerá o equilibrio quebrantado, fazendo terminar esta in- vasão o rareando as fileiras dos invaso- res. Se provém da alteração da seiva das l)lantas pelas successivas enxofraçoes ', alteração que não repugna qiie possa ser favorável ao desenvolvimento do Pyllo- xera '-, m nos restaria suspender a appli- 1 Actualmonto o enxofre entra como elemento importante na constituição das nossas vinhas. Es- fregando litfeiramonte nas mãos um peciuono jjam- l»ano, (jue aiiula não tenha sido enxofrado, denun- ciará immodiatamcnte ao olfacto a existência do enxofre. 2 Comquanto o enxofre soja mais ou monos in- secticida, nada mais jdausivel que ser um óptimo meio de vida para certa ordem do insectos. A cada passo estamos vendo que j)lantas venenosas, que dariam a morte á máxima parte dos insecto.-!, ali- mentam uma determinada espécie d'elles. cação do enxofre e pedir á sciencia outro meio de combater o oidhon. Se provém da alteração do fluido vital dos terrenos, S('tmente poderemos salvar as nossas vinhas quando aprouver á na- tureza voltar ao estado normal, ou quan- do a sciencia descubrir em que consiste essa alteração e nos fornecer os medica- mentos, cuja applicação restabeleça a de- vida proporção entre as substancias, com que a terra alimenta a vinha. Como se vê, tudo é mysterio ainda acerca das causas, que determinam este flagello, e dos remédios a oppor-lhe. Seja porém, qual for a causa da mul- tiplicação dos pulgões, é incontestável que elles se propagam com infinita rapidez e que, tendo feito já grandes estragos, estão mais ou menos disseminados por todo o paiz vinhateiro do Douro '. Sc se não descobrir remédio, a calami- dade imminente será ine^•itavel, milhares de familias abastadas terão de esmolar o pão de cada dia, milhares de braços sem trabalho procurarão na emigração e talvez no crime os meios de subsistência, e o paiz tcra de atravessar um gravissmio ca- taclysmo económico. Não devemos, nem podemos cruzar os braços em face do abysmo para que so- mos impellidos, porque o presente mostra- 1 Segundo cartas de pessoas fidedignas, qno temos recebido, a nova moléstia augmenta de in- tensidade nas froguozias de Gouvinhas e Covas do Douro, e já se manifesta em Celleiroz, Ervedoza, S. Christovão, Cazal de Loivos, Castedo, Roncão, Gal- lafura, Covellinhas e outros pontos importantes do Alto Corgo, bem como em alguns jiontos do Baixo Corgo. A' maneira do que tem acontecido em Fran- ça, a máxima parte dos viticultores obstina-se em não vèr no sonsivel e gradual enfraquecimento das vinhas senão effeito do quente ou do frio, das gea- das ou do calor excessivo. O futuro se incumbirá in- felizmente de dar-lhes amarga dosillusão. Aillusão é resultante da falta de symi)tonias exteriores que caractei-isem a nova doença. Manifesta-se esta pelo enfraíiuecimento da cepa, jiela diminuição da vai-a cm volume o comprimento, pela pequenez e falta do côr dos pâmpanos, (jue não raio se apresontam também com côr avermelhada, pela socca d'elles antes da quadra rmtomniça, pela pequenez e ás vezes pouca madureza dos cachos e por mnit.as ou- tras circumstancias que não são ])eculiares d'esta enfermidade, mas commnns a t(vlo e qualquer es- tado mórbido de (pie resulte a liinguide/. da vege- tação. Convém saber, todavia, que a seiva extrava- sada no acto da poda pelo golpe das plantas doen- tes não tom a côr da extravasada pelo das Videi- ras sãs; é amarella escura. Este symtoma, que cum])re não esquecer, prova a adulteração da seiva das plantas, e 6 um dos maia seguros para o diagnostico da nova moléstia. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 205 nos no futuro a ruina, a miséria e a fume como galardões da nossa inércia. Urge tomar providencias tào extraor- dinárias, como extraordinária é a situa- ção, que a enfermidade das nossas vinhas nos está creando. Não é possível esperar tudo da acção da natureza e confiar ao acaso a salvação da fortuna publica, porque a acção da natureza é morosa e o acaso não é lei económica. Quando uma epidemia qual- quer chega a dominar e destruir plantas robustas e seculares, tem creado raizes tão fundas, que a sua existência será tam- bém secular, se o trabalho do homem não secundar a natureza na grande obra da sua extirpação. A natureza não faltará á sua missão se conseguir evitar a completa extincção da espécie, mas isto não é quanto basta; é necessário salvar as nossas vinhas, que são a nossa principal industria e a nossa principal riqueza. Milhares de experiências téem sido fei- tas no estrangeiro infructiferamente, mas não é isto razão bastante para desanimar, porque é estudando e trabalhando que se obtém a descoberta da verdade e dos se- gredos da creação. Já que nos não é dado conhecer exa- ctamente e muito menos combater a causa da extraordinária multiplicação dos pul- gões, façam-se convergir as experiências e o estudo para os meios aptos para os destruir. O pulgão não é, não pode ser in- vulnerável; ha de necessariamente exis- tir uma substancia, que lhe seja no- civa. Consiga-se a destruição do Phylloxera e teremos vinhas. E certo que segundo a nossa opinião acima expedida a acção con- tinua da causa geradora do oidium debi- lita e enfraquece as plantas e acaba por matal-as, mas estes effeitos são lentos, não inhibem as vinhas de florescer e fructifi- car por largo espaço de annos, e por con- sequência podem ser contraminados por successivas plantações e renovações. A acção porém do Phylloxera é rápida e decisiva e tanto mais violenta e breve quanto maior é o viço e mais abundante é a seiva da planta. A questão de momento c pois o Phyllo- xera^ ou elle seja causa, ou seja effeito e causa, quer a antiga moléstia coopere, quer não, na devastação dos nosso vinhedos. D 'aqui se vê que as attenções devem voltar-se para o estudo do remédio mor- tífero, que o destrua. Este estudo exige conhecimentos espe- ciaes das sciencias naturaes e da medici- na agrícola ; feito a esmo por mim e pela máxima parte dos viticultores do paiz, só por casualidade poderia ter fehz êxito. É, pois indispensável que o governo se de- termine a intervir directamente n'uma questão, em que estão envolvidos os in- teresses nacionaes, empregando no seu es- tudo especialistas ou homens versados nas sciencias naturaes e habilitados com o curso de agricultura, ou com a formatura na faculdade de philosophia. Não satifaz á opinião publica e á gra- vidade das circvunstancias apenas com a nomeação de uma commissão não estipen- diada, composta de homens aliás compe- tentíssimos, mas que téem outros afazeres a seu cargo e a quem se não oíferece o justo premio das suas fadigas e traba- lhos. E mister que em logar de uma se no- meiem diversas commissões, que os seus membros vão residir temporariamente no Douro, que sejam postos á sua disposição os recursos indispensáveis para tentarem largas experiências sempre dispendiosas e que sejam retribuídos condignamente. Tu- do quanto não seja isto, pôde ser um ma- gnifico expediente para armar ao effeito de momento ou para receber uma ovação em um dia determinado, mas não exprime o desejo sincero de salvar a causa pu- blica. E urgente que o governo se convença e que todos nós nos convençamos de que o novo flagello, que destroe as nossas vi- nhas, não respeita somente aos interesses particulares de Pedro ou de Paulo, mas também á prosperidade económica e finan- ceira da nação. Entre os diversos modos de ser da ri- queza publica em Portugal, occupam as vinhas o primeiro logar e fornecem um contingente importantíssimo para as re- ceitas do estado e dos municípios. As ex- periências a fazer no actual estado de in- certeza são muitas e por isso mesmo dis- pendiosissimas e superiores aos recursos 206 JORNAL DE riORTICULTUllA rUATlCA de que dispõem os viticultores já sobre- modo onerados com as despezas dos gran- geios, com as alternativas e incerteza do mercado, com os impostos directos, que pagam pelas suas viniias, e com os in- directos, nacionaes e municipaes, que per- seguem o seu vinho de mào em mo. Além d'isso, pouco conhecedores, em geral, da chimica e das sciencias naturaes são eÚes os mais incompetentes para tentar estas experiências. É ás camarás municipaes, em nome dos seus munícipes, e ao governo, cm nome dos interesses públicos, que incumbe in- tervir quanto antes, commissionando ho- mens competentes para irem para o paiz vinhateiro estudar a moléstia e fazer de- tidas 6 variadas experiências. vn Descripta a forma, a origem e cffeitos do Phylloxera, indicadas as principaes experiências contra elle tentadas até á actualidade e demonstrada a urgência de os poderes públicos intervirem n'esta gra- ve questão, é tempo de terminarmos estes apontamentos. Dar-nos-hemos por bem pago do nosso trabalho se conseguirmos despertar a at- tençao do governo e a das camarás mu- nicipaes para o estudo dos meios condu- centes á destruição do Phylloxera vasta- trix. Entre nós poucas experiências de que tenhamos conhecimento téem sido feitas. Experimentamos já sem vantagem o sal, o alcatrão, o enxofre, a fuligem e a cinza, e consta-nos que alguns viticultores em- pregaram a cinza e o carvão vegetal tam- bém sem obter um resultado satisfacto- rio. Convém, todavia, ter em vista que tan- to nós como os viticultores francezes, te- mo-nos occupado principalmente em me- dicar cOpas visivelmente doentes, sendo aliás certo que a vinha, cuja vegetação é languida e moribunda, tem em regra ge- ral, as raizes mais ou menos gangrena- das. Kão será pois ])ara admirar que medi- camentos ineficazes para salvar Videiras enfermas possam preservar as sãs do con- tagio da terrivel enfermidade. A gangre- na é incurável e por consequência ha de fatalmente matar a planta desde que lho ataca órgãos essenciaes á vida, cuja am- putação ó impossivel; mas evitar qvie a gangrena se declare, se não é certo nem provável, é possível. Affigura-se-nos como chimeríca a sal- vação das vinhas, cujas raízes estiverem já mais ou menos gangrenadas, e não nos espantaria que a inefficacia de muitas das experiências feitas até á actualidade pro- viesse d'csta circumstancia ; é mister cui- dar sobretudo das que ainda estiverem sãs. N'este intuito, muito proveitosa será a applicaeão do sulphato de ferro (caparoza verde), não como preservativo cuja effi- cacia seja incontestável, mas como res- taurador das forças da planta e como ex- purgador das substancias nocivas, que estiverem inoculadas nos seus tecidos. Também é muito útil a escava no mea- do de outomno para afastar dos pés das cepas a terra gasta e cansada e para fa- cilitar a destruição dos ovos dos pulgões pela intempérie do inverno. São estes os principaes preceitos de hy- giene, que nos occorre indicar e que só de per si envolvem depezas superiores ao orçamento da maior parte dos viticulto- res. É incontestável que as vinhas melhora- riam muito cora a observância destes pre- ceitos, mas não é menos certo que elles não bastam para as salvar da terrivel en- fermidade, com que lutam ^. É já rifão antigo que moléstias agudas não se curam com cozimentos de cevada e grama. E necessário um remédio enérgico e mortífero que, destruindo o pulgão, poupo as vinhas. Para esta necessidade imprete- rível chamamos a attenção do governo e a das camarás municipaes do paiz vinha- teiro do Douro. Lopo Vaz de Sampaio e Mello. 1 o nosso parente e amipo, António Caetano de Mello Sampaio, mandou escavar a sua quinta da Sarzeda, sita na tVeguezia de Covas. A vinha sã mclliorou muito de aspecto, mas a doente continua a enfraquecer, e informam-nos de que algumas ce- pas, apesar do terem sido cuidadosamente escava- das, não rebentaram já n'esta jJrimavera, tendo fi- cado ainda do anno passado para este com vara de poda. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 207 MACHINÀ PARA ESPALHAR ESTRUMES SÓLIDOS, SECCOS OU HÚMIDOS Os lavradores do Minho, que costumam fazer estrumes de tojo ou matto, devem achar esta machina perfeitamente inútil, pois de certo ella nao poderá fazer boa distribuição das numerosas gravetas d'esta planta, que forma o grande volume das pilhas de estrume que elles preparam to- dos os annos para adubo, sem lhe dar o tempo necessário para a sua completa de- composição. Quando, porém, esses nossos lavradores souberem fazer do tojo uma mais útil ap- plicaçào, alimentando com eUe o seu gado, os estrumes serào menos volumosos, porém de melhor qualidade e de mais prompto cffeitopara a cultura a que sào destinados. Então esses lavradores e aquelles que hoje não téem matto nas suas terras, compre- henderão facilmente que será de conve- niência uma machina que, além de dis- tribuir os estrumes bem diluidos, os mis- ture uns com os outros, scientes de que Fig. 47 — Machina para espalhar estrumes esta amalgama tem por fim desenvolver todas as boas qualidades alimentícias da planta. Os estrumes de guanos, cinzas e outros compostos, são distribuidos por esta ma- china em toda a superfície de um campo com a egualdade e quantidade que se quei- ra, para o que tem registos convenien- tes. Em cima tem a machina uma grande caixa que serve de deposito, d'onde se es- capa gradualmente o estrume para outra caixa distribuidora, onde trabalha uma serie de copos, que em cada rotação são limpos por meio de raspadeiras de aço. Além da rapidez com que se pode fazer este serviço e das vantagens provenientes de uma boa mistura, não podemos deixar de a recommendar, como fazemos com todo e qualquer processo de lavoura que tenda a fazer produzir a planta com uniformi- dade ; quando um pé estiver maduro, que o estejam todos ; nada ha mais desagradá- vel do que ver o trigo misturado com uma porção colhida em verde, e por isso engi- Ihada, ou do que estar a escolher os pés de milho, deixando no campo mn grande numero d'elles ainda verdes; isto tudo se pode evitar empregando os cuidados pre- cisos na lavoura e sementeira, sobre cujos assumptos já escrevemos. A. DE La Rocque. A FLORA ESPONTÂNEA DOS TERRENOS YINICOLAS DO DOURO No mez de agosto do anno passado fomos nomeado pelo governo para irmos em commissão, com os snrs. António Ba- talha Reis e seu irmão Jayme, percorrer a região vinícola do Douro que se dizia aíFectada pela nova moléstia das vinhas, que ainda contínua a preoccupar os pro- prietários d'aquella província. A commissão, julgando conveniente apresentar um estudo, ligeiro que fosse, da Flora espontânea d'aquella região, delegou-nos esse trabalho, a que proce- 208 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA demos consoante as nossas forças e o cur- to espaço de tempo de que se podia dis- por. Nào obstante a sua deíícieneia, o di- gnissimo presidente da Commissào central encarregada de estudar a nova moléstia, o sm\ conselheiro Rodrigo de Moraes Soa- res, honrou-nos com a publicidade do nosso escripto no «Archivo Rural» e no numero em que o publicava escrevia este illustrado cavalheiro as seguintes palavras em que mostra o motivo porque nào sae appenso ao Relatório da Commissào : «No logar competente vao inserta uma curiosa nota das plantas espontâneas, pro- duzidas pelos terrenos vinicolus do Douro. Estava aquella nota, elaborada pelo sr. Oliveira Júnior, destinada para fazer par- te do Relatório da commissào, que foi es- tiular ao Douro a nova moléstia das vi- nhas. Deixou de imprimlr-se com o rela- tório, para o nào avolumar, porém como é interessante, a todos os respeitos, deu- se-lhc publicidade n'esto jornal. E mais um titulo do bem merecida consideração, que o snr. ( )liveira Júnior pócle juntar a outros que já possuo.» Eis agora o trabalho a que allude o snr. conselheiro Moraes Soares, a quem nào podemos deixar de agradecer a delicadeza das suas expi'essòes, excessivamente lison- gciras para o nosso fraco merecimento. A Flora espontânea dos terrenos das vinhas do Douro A Flora indígena pode-se formular co- mo regra (pie é lun perfeito indicador, nào só da natureza do clima, mas da quali- dade do solo. Nào queremos com isto dizer que seja um methodo infallivel, para o conhecimen- to d(js terrenos, o conhecimento das plan- tas (juc o povoam. E a chimica com os seus píxlerosos re- cursos (pie avaliará com toda a exactidào 03 elementos que entram na comjjosiçào do solo que se pretende estudar. No ein- tanto, como todas as sciencias naturaes estào presas entre si ])or uma cadeia in- dissolúvel, a chimica c a botauiea ijodcm n'este serviço ajudar-se nuituani<'iite se- não complotar-se. O estudo dos vegetaes é, em verdade, de grande auxilio, porque são muitas e variadas as causas, que influem no seu crescimento e propagaçào. Muitas vezes a mesma planta softre modificações taes com a sua diversa situaçào, que muitos botânicos se téem enganado consideran- do-a uma nova espécie. Debaixo d'este ponto de vista é que herborisamos aquellas plantas que viaraos brotar com mais abundância por entre as vinhas (pie visitamos. ]\Iuitas circumstancias influiram para que este trabalho fosse meramente secun- (íario. O nosso fim principal nào tinha li- gaçào intima com similhante estudo e além d'isso nem nos sobrava o tempo nem a epocha era das mais propicias. Aproxi- mava-se o outomno e só a exuberância da primavera é que nos soubera dar conta de todos os vegetaes que pullulam livre- mente nas encostas, nos campos e nos val- les. As redras já estavam feitas e como era nutural muitas das hervas soffreram os golpes dos instrumentos que lhes tira- ram a vida. Os terrenos da província que percorre- mos sào quasi todos schistoso-argillosos, e por isso a Flora espontânea nào podia apresentar grande variedade como acon- tece n'outras províncias do paiz onde as condições geológicas mudam de sitio para sitio. Os mesmos indivíduos do reino vegetal que encontramos, por exemplo, em Gou- vinhas, apparecíam, com raras excepções, em Donello, Chancelleíros, Celeiroz, etc., A vasta família das Gramíneas era a que mais abundantemente se achava re- presentada, mas nào se poderam classifi- car senào alguns dos seus indivíduos, por- que á maior parte d'elles faltavam já os órgãos essenciaes para a classificação. Principiemos por ennumerar o Triticum repens Linn., conhecido vulgarmente pelo nome de Gramma das boticas de França ou simplesmente Gramma. Inimiga cruel dos agricultores, esta planta crescia em quasi todas as j)ropriedades, mas aonde a vimos com mais feracidade foi na quin- ta da Formigosa, em Chancclleiros. Asso- ciada ao Panivnm sant/uinaJe Linn., en- trelaçava-se profundanu^nte nas raízes das Videiras. O Triticum repens apparece em todos JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 209 OS terrenos; quasi que nenhum lhe é ex- clusivo, mas prefere os argillosos, porque gosta de ter uma certa frescura nas raí- zes. Mr. Dombasle diz que quando um terreno está atacado pelo Triticum^ o me- lhor é deixal-o em descanço, alqueival-o e lavral-o por tempo secco, desenraizando e trazendo as raizes á superfície do solo. Este não deve ser gradado logo depois da lavra, porque assim secca mais devagar e quanto mais depressa seccar tanto mais breve morrem as raizes. Na véspera de uma segunda lavra passar-se-ha a grade pelo terreno. No Douro não se emprega na cultura da vinha o arado nem a grade, mas usam- se outros instrumentos, com que se podei"á fazer esta operação. As raizes podei'-se- hão queimar, ou, o que ainda seria me- lhor, laval-ás cuidadosamente e dal-as aos porcos que as comera com avidez. A Avena satíva Linn. ostenta galhar- damente a sua áurea panicula aqui e além, não sendo, todavia, tão vulgar nas vinhas como a sua congénere a Briza máxima Linn., o Bolehole dos nossos campos que todos conhecemos. Ninguém ignora o quan- to esta planta é rústica; todos a vêem desenvolver-se espontaneamente nas en- costas mais áridas. Este facto é digno de ser meditado n'uma epocha em que ha uma certa área de terreno cultivado que se acha seriamente ameaçado pela nova moléstia e é portanto mister que o homem envide todos os seus esforços acompanha- dos pelo estado e observação para que no momento angustioso se não ache entregue unicamente á desgraça que o persegue sem estar prevenido com algum novo re- curso. Lembremo-nos, pois, de que ainda nos restam muitos recursos; numerosas minas agrícolas que ainda não foram exploradas. A creação dos gados é uma que não deve esquecer e portanto nós lembramol-a aos agricultores da região vinícola do Douro. Ahi temos essa humilde planta a Briza máxima, que nascendo com espontanei- dade e abundância pelos nossos vinhagos, apesar dos trabalhos incessantes que tem o agricultor para a expulsar dos seus do- mínios, parece que é a própria a dizer-lhe: «Dísj)ensae-me alguns carinhos que cu vos remunerarei. » As outras suas congéneres, a Briza media Linn. e a Briza minor Linn. são egualmente rústicas, vegetando prospera- mente ainda nos terrenos mais ingratos. O feno é de boa qualidade e fallando da sua producção, diz Mr. de Gasparin que um hectare semeado de Briza media pro- duz 3:483 kílogrammas de feno, o qual contém 1,39 p. c. de azote. Segundo pa- rece, a Briza minor produz um feno muito fino, de excellente qualidade, mas a pro- ducção é muito menor. Aqui temos ainda três Gramineas que poderão ser aproveitadas vantajosamente. O Cynosurus echinatus Linn. é uma d'ellas e Mr. de Gasparin fallando da sua congénere, o Cynosurus cristatus, que tam- bém é indígena, diz que produz 2:067 kilograramas por hectare de uma herva que perde 70 p. c. no momento da sega e que contém 1,11 de azote sobre 100 de feno. Este feno é de boa qualidade e tem a vantagem de vegetar bem nas terras seccas. A segunda é a Festuca mi/urus Linn. que é bastante vulgar nos terrenos fracos e seccos das vinhas que visitamos. Em fim também lá encontramos, mas com raridade, a Melica ciliata Linn., planta que se eleva elegantemente de O'", 40 a O'", 80. Considerada como forra- gem pode ser aproveitada, porque o gado come-a bem, mas é pouco productiva. Como já dissemos, é rara nos vinhedos. Ha dixas plantas pertencentes á família das Polygoneaceas e do género Rumex que se encontram na maior parte das vi- nhas e principalmente n'aquellas que an- dam mais mal cuidadas. Na quinta dos Montes, era Gouvinhas, que havia annos não se grangeava, eram estas as plantas que predominavam. Não nos foi possível verificar as espécies que eram, em conse- quência do adiantado da estação, mas pa- receram ser o Rumex acetosella Linn. e o Rumex tinf/ifanus Linn. Em Traz-os- ^lontes chamam-lhes vulgarmente Couve de raposa verde e Couve de raposa ama- rella. Ainda colhemos outro Rumex que se nos afigura ser o Rumex pulcJier de Linn. O Ilypericum perforatum Linn. é abu,n- dante também em Gouvinhas, mas nas outras localidades que visitamos via-se só 210 JORNAL UE irORTICUl-TURA rUATICA em diminutas proporções. As folhas, as flores e as sementes cVesta Hypericinea são empregadas na medicina como vidne- rario, resolutivo c vcrmifugo. Sào tam- bém empregadas contra os escarros de sangue e segundo se diz ^ também pode obstar á plitisica pulmonar quando ainda esteja em principies. O Senecio Jacobaca Linn., da família das Compostas, encoutramol-o amiudadas vezes, mas nào nos parece que possa ter applicaçào alguma. O Daphne Gnidium Linn. (Trovisco or- dinário) appareco n'esta região como por quasi todo o paiz, assim como o Cistus laclaniferus Linn. (Esteva) de que se ex- trahe na ilha Cândia uma substancia gom- mosa conliecida por «ladauo» ou «gomma das estevas » , que não é outra cousa senão a resina que transsuda das folhas. A madeira do Cistus laclaniferus tem variadas applicações em Portugal, sendo excellente para estacas. 0 Lotus arenariuS) que Brotero encon- trou nos terrenos areentos da beira-mar e especialmente na costa da Trafaria, foi por nós colhido na região do Douro, ape- sar de ser alli bastante raro. Nas quintas abandonadas apparecem aqui e acolá alguns pés do Antirrhínum hellidifuliurn Linn. e ao passo que esta planta não era vulgar, encontrava-se em abundância a Chondrilla Juncea Linn., bem como o Silene Xicaensis. Na herborisação que fizemos com a ce- leridade própria de quem visita vinte e tantos concelhos em cerca de trinta dias, ainda colhemos uma planta que nascia espontaneamente e com abundância por entre quasi todas as vinhas, planta para qne chamamos a attenção dos viticiútores que téem as suas vinhas seriamente amea- çadas. Referimo-nos ao Rhus cariaria Linn. (Sumagre) oriundo dos paizes quentes da Euro])a o que nasce espontaneamente na Sicilia, Itália, llespanha, no meio dia da França, e em Portugal, como todos sabem. Em alguns d'estes paizes data a sua cultura de epocha remota e em Provence, por exemplo, já era conhecido cm 11G5. As suas folhas contéem em grande quan. 1 "IMaiitcs, Arbros et Arbustos," vol. I, pag. 23iJ. tidade tanino excellente para a prepara- ção de couros, e ó por isso principalmente que merece os cuidados do agricultor. Na tinturaria tem também emprego para se tingir de preto e pardo. ISão vantajosas, como se vê, as applica- ções do Sumagre, mas dobram de valor ao saber-se que vegeta nos mais seccos terrenos que são rebeldes a qualquer cul- tura. Além d'isso dura muito tempo, sem exigir grandes despezas. Multiplica-sc esta planta por meio dos rebentos ou por sementeiras feitas em vi- veiro, o que é preferivel porque produz individues mais vigorosos e aptos a resis- tirem melhor ás intempéries atmospheri- cas. As plantas deverão ser dispostas a O"', 40 ou O'", 60 umas das outras. A primeira colheita será feita dous ou três annos depois da plantação, nos fins de julho. Então cortam-se-lhe os caules a 0'",08 ou a O'", 10 do solo; separam-se os ramos maiores dos ramuscidos e folhas e quando estes estiverem seccos, operação que deverá ser feita á sombra, reduzem- se, no moinho, a pó mais ou menos fino. Esta colheita deverá ser feita de dous ou de três cm três annos para não enfraque- cer as plantas. A França importa annualmente grande quantidade d'esta matéria, e Portugal po- derá, sem duvida, fazer concorrência aos outros mercados se attendermos ás nossas excellentes condições climatológicas e por- tanto julgamos de utilidade encarecer a sua cultura. As folhas do nosso herbario contéem ainda algumas plantas que colhemos no nosso jornadear pelo paiz vinhateiro, mas é-nos impossível classificál-as sem receio de errar, pela razão acima dada de falta- rem órgãos essenciaes. Julgamos útil acompanhar o resumido catalogo de plantas que apresentamos do algumas observações acerca do papel que poderiam representar na nossa agricul- tura. Temos fé que a nova doença das vinhas não será tão fatal que reduza a completa esterilidade o torrão do Douro, tão cele- bre pelos seus ricos productos vinicolas. Assim como se descobriu um remédio para o oidium, é provável que a expe- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 211 riencia, o estudo mais apurado, a appli- cação de todos os dias, o acaso talvez, nos apresentem um antidoto. Mas em quanto se não descobrir; o la- vrador poder-se-ha ver reduzido a gran- des privações, visto faltar-lhe o principal, senão^ o único rendimento das suas ter- ras. É necessário por consequência estar prevenido e não cruzar os braços diante do perigo que se aproxima. A confiança extrema na obra pi'ovidencial redunda apenas no fatalismo do Oriente. Não deve o lavrador desprezar a antiga cultura, quando por acaso a doença a ac- cometta de morte, mas buscar uma com- pensação em outra qualquer, tentada com toda a prudência. Os nossos agricultores de certas províncias estão habituados tra- dicionalmente a um certo ramo, e não poderiam, á falta de experiência, vol- tai'-se inopinadamente para outro. Perder tempo e dinheiro não em ensaios modestos, mas em emprezas arriscadas, seria isso nada menos que loucura. As plantas, que descrevemos acima, po- der-se-hiam aproveitar e é certo que de algumas d'ellas se tiraria algum lucro. Longe de nós, porém, o aventar sobre as suas vantagens e aproveitamento umjui- zo seguro. Lembramos apenas, e esta lem- brança, desejáramos que a tivessem á conta de incentivo. Um conhecimento mais profundo das nossas regiões vinhateiras deverá servir de guia aos nossos lavradores, que se não deixam dominar dos preconceitos e da rotina. Tem-se visto que as industrias não são permanentes nem fixam perpetua- mente a sua residência no mesmo local. Uma industria nova vem substituir, e por vezes com melhoria, a antiga. O que é palpável, o que é de razão, é buscar um meio de compensar os prejui-. zos causados pela nova moléstia das vi- nhas, emquanto se não obtiver a regene- ração d'ellas. Cuidar n'uma e n'outra cousa ao mesmo tempo cremos nós que não será difficil ao agricultor intelligente e laborioso. Oliveira Júnior. ERYTHRINA CRISTA-GÂLLI Esta magnifica arvore, oriunda do Bra- zil e ha muito tempo já introduzida na Eu- ropa, tem sempre occupado o primeiro le- gar nas nossas estufas temperadas, o que é devido ao seu magnifico porte e belleza das flores. Pertencendo á familia das Papiliona- ceas, a Erythrina tem os ramos, bem co- mo os peciolos, cheios de espinhos, as fo- lhas téem três foliolos, ovaes, lanceolados, acuminados e glandulosos na inserção. Poucas pessoas poderão possuir esta bella arvore n'um estado perfeitamente desen- volvido, attendendo ás exigências que a sua cultura reclama, pois como é natural, sendo esta arvore d'um paiz quente qual o Brazil, é difficil, sem o auxilio da es- tufa, cultival-a no nosso paiz ' , principal- mente nas provindas do norte, onde os invernos são tão rigorosos. Cultivando-a em estufa, não se poderá obter mais que um arbusto de 2'" a 2'", 50 1 No Porto e subúrbios vegeta tnuito bem ao ar livre e conhecemos bastantes exemplares bem desenvolvidos. RED. de altura, e 0'",õO de diâmetro; e o que é isto comparado com o porte que ella attinge no seu paiz natal, onde existem exemplares com 7 metros de altura e ás vezes mais? Immensos ensaios se téem feito em França sobre a aclimação da Erythrina Crista-Galli, não correspondendo a maior parte das vezes os resultados aos esforços e diligencias dos cultivadores. Em 1856 dava conta na «Revue Horticole» Mr. Sahut, horticviltor em Montpellier, do re- sultado que tinha obtido com o tracta- mento por ello empregado n'uma Erythri- na. Cabe-nos agora a vez de pormos ao facto os leitores d'este interessante jornal da proficuidade da sua receita. Possuindo nós um exemjilar da Ery- thrina Crísta-Galli, e cultivando-o por espaço de dous annos ao ar livre, na nos- sa propriedade da Labrugeira, sem que podessemos conseguir algum resultado sa- tisfactorio, pois as hasteas que lançava no estio eram queimadas nos invernos pelas geadas e pelo nordeste, pozemos em pra- tica o que o illustre horticultor nos ensi- 212 .TOTÍXAL DE IIORTICULTURA PRATICA nava, conseguindo com bastante trabalho, quo a nossa Erythrina tenha presente- mente 4 metros de altura. Eis a maneira como obtivemos um tao feliz e lisongeiro resultado. Conservamol-a numa estufa por espaço de anno e meio, onde deitou fortes e ro- bustos lançamentos ; passamol-a depois ])ara o ar livre na primavera de 1869, ficando voltada para o sul, e abrigada do norte ])or luna sebe de Tvyna. Quando o inverno cliegou cobrimos-Ihe todas as partes com tiras de trajio, forrando-as de- pois com uma grossa camada de palha de Arlindo dunax, a lim de a preservarmos da geada e do frio excessivo. Assim licou até maio de 1870, quando a desembara- çamos da sua cobertura, achando todas as hasteas muito bem conservadas, e algumas já prestes a rebentar. Repetimos este tra- ctamcnto nos invernos de 1871 e 1872, iicandono de 1873 sem cobertura alguma. Em março d' este mesmo anno uma forte geada damniíicou-lhe alguma cousa as ex- tremidades dos lançamentos do anno an- terior, o que não impediu ainda assim. que se cobrisse de flores nos mezes de julho e agosto. Aqui deixamos relatados os meios que empregamos para chegarmos á conclusão que tanto desejávamos. Diremos mais duas palavras acerca do terreno que lhe é adequado, e sobre a sua multiplicação, fazendo isso mui resumida- mente, pois já d'este mesmo assumpto se occupou o digno collaborador d'este jor- nal o snr. Oliveira e Silva a pag. 178 do vol. 11. O terreno ligeiro e ao mesmo tempo substancial é o que mais lhe convém, ca- recendo sobre tudo d'um subsolo bem pro- miavel, pois a excessiva humidade du- rante o inverno lhe é muito prejudicial. A multiplicação pode fazer-se de se- mente ou de estaca, sendo preferido este ultimo modo por ser mais rápido; deve- mos comtudo observar, que nunca as ar- vores provenientes de estaca poderão ser perfeitas, pois lhes falta, como é sabido, um órgão muito essencial á vida que é o colum ou nó vital. Lisboa. A. M. L. de Cakvai.iio. AMÀRANTHUS SALICIFOLIUS A pi'imeira caderneta da «Flore des seiTeset des jardins de TEurope», trouxe- no8 um primoroso desenho do Amaranthus salicifoliusj encantadora espécie d'um gé- nero ha muitos annos introduzido nos nossos jardins. Nada temos visto mais bello e mais surprehendente do que esta planta. Imagine o leitor um pequeno exem- plar do /Salix pêndula, revestido de bra- ços desde a base, bem coberto de folhas, e que tanto estas como aquelles sejam co- loridíjs por uma brilhante cor vermelha vivissima, o terá uma leve ideia do porte e elegância d'este vegetal. O «Gardener's Chronicle» exprime-se a seu respeito nos termos seguintes : «E annual ou bisannual, de f()i"ma py- raniidal, e attinge 2 a 3 pés de altura; as suas folhas tem 5 a 7 jjollegadas de comprimento, sobre um quarto de lar- gura. (guando a planta é nova, é d'um verde alaranjado, que se metamorijhosca, quan- do a j)lanta adípiire edade e vigor, em um brilliante vermelho alaranjado. Nenhuma descripção — continua o ci- tado jornal — pode dar uma ideia da bel- leza d'esta planta, nem do seu mérito, se ella se aeommodar ao ar livre durante os nossos estios ! Nenhuma planta a egualará, quer na estufa, quer como ornamento de mesa ou de vaso pelos seus longos braços tão graciosamente inclinados, tão ricos de colorido e tão bellos de forma.» Depois do que deixamos dito abstemo- nos de emittir a nossa opinião, a não ser para concordar plenamente com o i Ilus- trado correspondente do «Gardner's Chro- nicle. » Foi em South Kensington, Londres, onde pela primeira vez appai"eceu esta no- vidade exposta por Mr. Veitch, obtendo por essa occasiào a unanimidade dos elo- gios j)ela luxuriante belleza desta filha das Philippinas. Aconselhamos, pois, aos nossos leitores a sua introducçao ; certos de que viverá perfeitamente ao ar livre no nosso clima benigno. A. J. DE Oliveira e Silva. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 213 BILLBERGIÁ ZEBRINA CAPPEANA Na «Revue Horticole» esci-ovia Mr. E. Carrière a seg-uinte noticia sobre a Billher- gia zehrina Cappeanna: «A planta de que é assumpto este artigo faz parte do grupo tão notável, que contém a Billbergia zehrina, a B. Leopoldi, a B. Porteana, a B. vittata, etc, todas plan- tas muito procuradas por causa do seu porte e das suas listras que são na verda- de muito bonitas, o que seria sufficiente para justificar e fama de que gozam. Além d'isso tem outra vantagem que é de serem rústicas e de poderem servir para o ornamento de salas. A estes differentes predicados accresce outro: a belleza das flores. Sob este ponto de vista a B. zehri- na Cajppeana excede as suas congéneres pelo brilho das flores; isto é: pelo colorido das suas bracteas. Eis aqui a ennumeração dos seus cara- cteres : Planta robusta, vigorosa, aspecto da B. Leopoldi; folhas largamente conca- vas, arqueadas, accentuadamente zonadas, esbranquiçadas, principalmente pela parte de baixo, dentes distantes, curtos, brusca- mente arredondadas no cimo e terminadas por uma ponta spiniforme e curva. Inflo- rescencia centro-tcrminal em longo cacho ; eixo vermelho-sangue, tendo grandes bra- cteas de um vermelho escarlate brilhante. Bjtões de um violeta muito escuro antes de desabrocharem. Flores solitárias, geminadas algumas vezes ou tornadas, sesseis ou sustentadas por um pedúnculo dilatado que se podei'ia tomar por uma dilatação do ovário. Esta- mos applicados ao estylete ; antheras ama- rellas; estylete trifido com divisões con- torneadas. O B. zehrina Cajppeana foi obtida de semente da B. Leopoldi, por M. E. Cap- pe, horticultor e architecto do jardim de Vésinet perto de 8aint-Germain-en-Laye, que a dedicou ao seu defunto pae Louis Cappe, um dos jardineiros mais notáveis do secvdo XIX. E uma das plantas mais bellas do gru- po a que pertence. Muito bella pelo seu aspecto e flores, principalmente quando estas estão quasi a desabrochar, porque o eixo floral e as bracteas d'um vermelho- escuro-brilhante, formam um contraste lin- díssimo com os botões que téem a parte su- perior d'um violeta escuro quasi preto». As Billherr/ias concorrem poderosamen- te para a boa ornamentação dos nossos aposentos, não obstante florescerem ahi ra- ras vezes. Temos tido por longo tempo no nosso gabinete a B. vifata e a B. Leo- poldi, de que demos uma gravura n'um dos primeiros volumes d'este jornal e tanto uma como a outra não téem m^anifestado exigência alguma de cultura. É pois pro- vável que a nova variedade não seja mais exigente do que as suas parentes, razão porque desejáramos vêl-a introduzida com profusão. Oliveira Júnior. CHRONICA HORTICOLO-AGRICOLA Estamos quasi chegados ao inverno. Já lhe sentimos os prenúncios! Como que vi-, mos em viagem d'um paiz de luz, de lu- xuriante vegetação, e nos aproximamos d'uma terra brumosa e árida. Como nos fugiram rápidos aquelles dias da primavera ! E com olles lembrar- se a gente que nos fugiu uma parte da primavera da vida, da mocidade, d'este sonho encantado, que nos não torna a po- voar a mente senão para nos encher de saudade ! E bem mais feliz a natureza do que nós. Cahe, arrefece, estaciona todos os annos, mas todos os annos também tem o seu rejuvenescimento. Vedes da vossa janella o arvoredo despido, hirto, agitado pelo vento, murmurando umas longas tris- tezas ? Pois bem ; esperae apenas uma quadra; deixae vir as manhãs alegres e lá o vereis bracejando, pomposo de folhas e de flores, rumorejante com a musica do seus ninhos, convidativo com as suas poé- ticas sombras. E o homem? Reviverá o seu espirito em novo orga- nismo? purificar-se-ha a sua intelligencia em novo cérebro? ou para as suas ideias 214 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA O sentimentos deixou de existir a lei da natureza, que nada aniquila, que apenas transforma? E a e?ta pergunta, filha da duvida, responde-nos a própria duvida cora o seu silencio amarissimo. Premicias do inverno ! Cá está também o espirito a querer embrcnhar-se nas tris- tezas imminentes da natureza. Está vedado o campo, está quasi aban- donado o jardim; pois bem voltemos á sala e no doce aconchego do lar evoque- mos apenas as recordações suaves e des- terremos os phantasmas da duvida, que melhor fora povoassem unicamente os cra- neos shakespeareanos. Ainda agora nos acode á lembrança uma agradável digressão campestre, no estio passado, e como fossem indeléveis as impressões que recolhemos, de boa mente nos ficou gravada a data d'esse dia, que era por signal 26 de agosto. O leitor que araa do coração as flores deve conhecer, mais que nào seja senào de nome, uma quinta de Villar do Paraizo pertencente ao nosso actual cônsul em França, o snr. visconde de Proença Viei- ra. Foi ahi que passamos o dia 26 de agosto. O snr. visconde de Proença Vieira, ca- valheiro sobremodo estimável, ainda que pagào pelo culto que vota a Flora, de- pois de ter percorrido muitos pontos da Europa, onde a jardinagem é um elemento indispensável da vida recreativa, inoculou em si o gérmen d'este encantador passa- tempo que nos deleita a nós e a todos que nos rodeiam e vivem na nossa convivência. Compenetrado d'isto, tendo gravado no seu intimo o ideial do bello, tractou de fa- zer d'esse valle de Villar du Paraizo uma habitação que nos recordasse esses castel- los habitados por fadas e príncipes lendá- rios. Um grande portão, que dá accesso á quinta e cuja architectura nào nos é dado canhecer, denota desde logo que nào será a vulgaridade quem nos ha de fazer as hon- ras da visita. Entremos porém nos jardins e ponha- mos de part • a habitação. Em frente d'el- la vemos boUissinias Araucárias de diver- sas espécies, o Cnpressus Lavsoniana com 7 a 8 metros do altura o Thuwpiiis ho- realis com 4 metros, o Anthocercis picta com 7 metros, e entre muitas plantas cu- riosas e raras que estão próximas á casa acha-se um forte exemplar da Welling- tonia f]lgontea que mede cerca de 12 me- tros cl'altura. Algumas Cycadeas, Pal- meiras, Dracaenas e muitas outras plan- tas são também um dos principaes enle- vos do jardim. Pela esplendida avenida que nos leva do jardim ao lago cavalgava uma gentil castellã em fogoso buccphalo e o seu viUto gentil divisava-se phantastico entre a den- sa e variadíssima folhagem do Lilioden- âron tulip)iferaj, Acer negundo, Ceitis ans- tralisj Betula alha^ Popidus argêntea, Paiãoicnia imperialis, Plataniis orienfa- lis, Gleditsckia triacanthos, Grevillea ro- busta de 12 metros e de numerosas espé- cies de Acácias e d'outras arvores que não nos recordam agora. Chegamos emfim ao lago, onde se vogasse uma gôndola, nos supporiamos em alguma d'aquellas es- plendidas filias italianas, ou nas aguas da encantadora Veneza. Desenhado pelo snr. Proença, é um dos lagos mais formosos que temos visto, re- produzindo exactamente a natureza que está aqui bem alliada á arte. De qual- quer ponto que se olhe, nào se encontra o fim. Sempre paizagem nova, sempre variados attractivos ! Aqui um grosso tufo da Banhusa arundinacea, que pela sua vegetação luxuriante nos lembra a região tropical das índias Orientaes, d'onde veio para a Enropa. Acolá fortes tufos do Pa- pjyrus antiquorum, e mais além vigorosos Caladium esculentum. Fetos, Salix hahy- lonica, Pojyulus canadcnsis, Pojndus alba e outras arvores, cuja folhagem se estam- pa serenamente na superfície do lago. Duas ilhas ornam a grande taça e estão, como as margens, guarnecidas com plan- tas formosas, sendo a maior parte de ra- mos pendentes. Para o lado do poente vô-se uma assas extensa matta, que só o tempo, poderá tornar frondosa. Por cmquanto, a não ser alguns Pinheiros, as outras arvores são todas de tenra edade. No topo da collina ha um pequeno cas- tollo, d'onde se avistam os montes circum- visinlios o se gosa um espectaciúo verda- deiramente grandioso. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 215 Hoje porém estão todas estas bellezas sopitadas, dormindo o seu somno lethar- gico. Esperemos, pois, pela primavera, esperançados de que mais uma vez pas- saremos algumas horas agradáveis con- templando a obra da natureza e da arte n'aquelle retiro encantado, que, sem ca- lembourg, bem se pode dizer um retalho do paraizo. — Varias experiências feitas em Ber- lim, com o intuito de determinar que pre- juizo realmente soífriam as raízes das ar- vores 6 arbustos em contacto com o gaz, que se escapa dos tubos conductores e se infiltra no solo, deram em resultado que uma pequena quantidade de gaz equiva- lente a 25 pés cúbicos por dia, dissimi- nado por Ò76 pés cúbicos de terra, rapi- damente destroe as raizes de todas as ar- vores a que chega. — Mr. Denis, director da Eschola de Arboricultura do parque da Tête-d'Or, em Lyon, acaba de descobrir um meio de afastar das arvores fructiferas os insectos, que, na epocha da floração, perfuram o ovário das flores, para n'elle deporem os seus ovos. O meio a que Mr. Denis allude consis- te em borrifar as arvores, no momento em que as flores estão a desabrochar, com um liquido composto de agua e vinagre na pro- porção de 1 litro d'este para 2 d'aquella. — Alguns escriptores allemães querem que as í^atafas sejam proscriptas dos nos- sas mezas, pretendendo que as nações per- der-se-hão mental e phisicaraente, se aquel- la planta se tornar a principal base da alimentação. A este propósito diz o celebre Cari Voi- ght que «não restauram os tecidos perdi- dos mas que enfraquecem a progénie phi- sica e mentalmente.» O physiologista hollandez Mulder, é da mesma opinião e declara que o uso em excesso das Batatas entre as classes po- bres, assim como o chá e o café nas clas- ses elevadas é a origem da indolência das nações. A sciencia tem por vezes opiniões ca- prichosas, paradoxacs. Apesar dos nomes que citamos serem muito auctorisados, quem nos diz que a sua opinião não é uma novidade paradoxal? — Na Exposição de Lyon appareceram para aparar as sebes umas tesouras novas fabricadas pelo snr. H. F. Aiibert sendo de uma utilidade incontestável e de ex- tremada pei^feição. Estas tesouras, como se poderá ver pela figura 48 téem umas laminas compridas para cortar os ramos delgados e mais abaixo outra lamina mais curta e mais forte que trabalha conjun- ctamente mas que por ser muito forte ser- ve para cortar os ramos grossos que se encontram. Quantas vezes o horticultor que anda occupado n'este serviço, não ten- Fig. 48 — Tesoura para aparar sebes do outro instrumento á mão corta ramos já robustos com as tesouras ordinárias ? D'ahi resulta que em breve estão inuti- lisadas. Estas novas tesouras podem cortar ra- mos que tenham até 3 centimetros de diâmetro sem estragar o utensilio nem cançar o operador. Mr. Aubert (à la Villate, prés Nozay- Loire-Inférieure) obteve ultimamente ura premio monetário assas considerável que lhe foi conferido pelo ministro da agricul- tura por serviços que tem prestado á agri- cultura com a excellencia dos seus ins- trumentos e nos últimos doze annos con- quistou em diversas exposições Õ9 meda- lhas de prata. Estas distincções são por certo uma ga- rantia para as pessoas, que desejem diri- gir-se áquelle estabelecimento. 216 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA — Mr. Naudin, escrevendo aMr. Le Ver- rier, emittc a opinião de que os dous fla- gellos da vinha, o uiãium e o Phylloxera^ sào provenientes de uma causa communi, — o excesso de cultura intensiva, conti- nuada sem interrupção durante séculos. É muito possivel, diz elle, que o modo de propagação usado, que consiste sempre e invariavelmente na plantação de rebentos (bacellos) e nunca na sementeira, tenha contribuido de alguma maneira para estas moléstias, talvez mesmo seja a sua causa ])rincipal. Em todo o caso é bem evidente que a constituição do arbusto é aftectada, 6 que o enxofre não extingue o mal : é um simples paliativo a que se recorre cons- tantemente sob pena de nada colher. — Pessoa muito dedicada á horticultura, dirigiu-nos uma epistola, em que patenteia a impressão que lhe causou uma visita, que fizera ao estabelecimento do proprie- tário deste jornal. De bom grado a inse- rimos n'estas columnas. E um documento que deve honrar subidamente o nosso ami- go, o snr. Loureiro. Visitamos lia pouco o estabelecimento horticola do snr. José Marques Loureiro e ficamos verdadei- ramente surprehendidos pelo constante mereci- mento d'aquelle variado horto. As plantas d'ar livre contam-se aos milhares, e todas bellas, todas esplendidas de vigorosa vege- tação. Não sabemos o que mais admirar: tudo é bello ! Atravessamos os primeiros depósitos e dirigi- mo-nos ás estufas, fim principal, que alli nos en- caminhava. Entrando na primeiía, a nossa admiração subiu em presença da l>rilhante collecção de plantas, quo tínhamos diante dos olhos. Imiuensos Cfl/fl- diiiins das m!ii3 ricas variedades, robustos e mu'lo bem dcsenvohidos, Palmeiras, uma rica collecção de fortes e.vemjjlares de Bromeliaceas,Gesnerinceas, etc, tudo cmfim nos occui)ava a attenção; sem sa- bermos onde demoral-a mais. Tudo era realmente encantador ! Dirigimo-nos a todas as outras estufas, mais pe- quenas do que aquella que acabávamos de visitar, mas aonde nos estavam reservados quadros ainda mais admiráveis. Uma d'ellas, especialmente quan- do alli entramos, nos foz suppôr como n'um dos con- tos das "Mil o uma noites", repentinamente trans- portado.'? a essas admiráveis mattas tropicaes, on- de a natureza parece qno caprichou em reunir as mais bellas formas, os mais delicados coloridos e os mais suaves aromas! Tal foi a im])ressão que Bentimos ao admirar esse brilhante quadro da na- tureza, que o incansável horticultor alli tinha pre- parado! Imagino o leitor nma estufa de alguns metros de extensão cf)m o tecto n as paredes com]deta- mente guarnecidas \yir uma inimensidado do tre- Jiadeiras do riea foUingoino iiiidissimns floi-es, dis- tin;íiiindo-ae entre ellas a l)rilhante Passi/lora tri- fasciala, muito desenvolvida o apresentando mi- lhares de folhas do mais bello colorido metallico. Além d'esta viam-se também excellentes exempla- res do Stephanoiis piirpnrae, interessante Asclepia- dea de Madagáscar, cujas tlôres brancas são muito siinilhantes no aroma ás do Jasmim do Cabo. São to- davia mais bellas, não só pela loima como pela sua disposição em corymbo. Uma lindíssima Apocytlia, a Allamanda Hendersonii, da Guyana, notável tre- padeira de grandes fiôres em forma de trombeta, o do mais vivo amarello chromío que se pôde ima- ginar, desenvolvia-se prodigiosamente, cobrindo- se de centenares de flores que se succcdem umas ás outras, como no exemplar a que nos referimos. Nada temos visto de mais bello do que esta plan- ta. O exemplar do snr. Loureiro cobre uma cir- cumfcrencia talvez de três metros ; este espaço es- tá completamente atapetado de bellas flores ama- rellas e esplendidas foUias do mais lindo verde. Esta trepadeira ainda não é bem conhecida dos amadores ; temos fé era que logo que o seja, rece- berá o apreço que merece. Dá-se bem em estufa fria, nas salas, e quem sabe, talvez mesmo ao ar livre, tendo o cuidado de a cobrir no inverno. E' mais uma experiência a tentar, e estamos certos de que o snr. Loureiro não se recusará a isso. Um immenso Clerodtndron de variadíssimas fiôres vermellias, rajadas, etc, e finalmente uma grande variedade de muitas outras trepadeiras de lindissimas cores, entrelaçam. se umas nas outras, e formam todas um conjuncto muito agradável na belleza e nos perfumes. Mas ainda isto não era tudo, havia n'essa mes- ma estufa mais alguma cousa digna de attenção, ora o centro do quadro, a figura principal, que se destacava magestosamente no fundo que acaba- mos de descrever. Era o taboleiro do meio onde se patenteava em elegante pele-mele, (permitta-se- nos a phrase), as mais bellas plantas que jamais os nossos olhos téem visto: Musas do folhas es- plendidas e ceres variadissimas, Alocasias, Cro- tons, Marantas, Plumerias, um soberbo Imanto, pliylliim, Dracaenas, etc, tudo no melhor estado lie vegetação possível, robustas, formosas, surpro- hcndentesemfim.N'estaestufa admira vam-se ainda alguns exemplares de Fetos, entre os quaes sobre sahiam alguns Adiantums, cujos nomes específicos nos não lembram agora. Passamos a outra estufa onde admiramos uma magnifica collecção de Begó- nias c Fetot; entre os últimos impressionaram-nos 'oastantc dons Gijmno/jrammas obtidos ultimamen- te de semente e acerca dos ijuacs brevemente oc- ciiparemos os leitores. As Begónias não podiam es- tar melhor; vimos alguns exemplares, onde se po- diam contar de 15 a 20 folhas que facilmente se poderiam confundir com as das Bananeiras ; tal é a sua força e robustez. Terminamos a nossa visita pela estufa dos Fe- ios. O seu aspecto, posto que não fosse tão variado como o das outras, impressionava todavia mais. Aquellas formosas "arvores de renda" patcn- tcavam-se com toda a louçania das frondes co- mo se respirassem a atmosphera pátria; sober- bos ]?alantium o AlsophUas d'algnns metros d'8l- tura e com uma cu[)ula de verdura, como não apresentam muitas Dycotiledonías, que gozam da classificaçã<-) d'arvi)res. Torna-se notável n'esta es- tufa um Sidularium, cujo desenho já foi dado n'es- te jornal. Todas as outras estufas, inclusive as de repro- ducção, tinham muito que vèr o admirar, para o amador intelligcnte e curioso. Kesta-nos, ao terminar esta rápida revista, agra- decer ao snr. Loureiro a benevolência com que nos I recebeu, prestando-se a dar-nos todas as explica- JORNAL DE HORTICULTURA RRATICA 217 ções qne pedíamos. Este intelligente horticultor é um verdadeiro patriota, atravez de immensas difficuldades e arrostando com a indifferença da maior parte do vulgo, tem conseguido crear um estabelecimento que não tem rival na península ; Bào os seus próprios collegas que o dizem e todos os individues que tem viajado e téem visto o que ha de melhor n'este género. E' também digno de elogio o empregado das es- tufas, o snr. Claudino, ao cuidado e conhecimentos do qual se deve o excellente estado das plantas que lhe estão confiadas. Ao publico recommendamos que visite mais re- petidas vezes aquelle soberbo deposito ; ha alli muito que ver e admirar, e o amador encontrará plantas com que satisfazer o seu gosto por preços realmente baratos. Na terceira linha d'esta carta, onde se lê merecimento^ dever-se-hulèv incremento. — Quasi todos os jornaes do mez pas- sado publicaram o projecto de uma socie- dade anonyma de responsabilidade limi- tada, que tem por fim auxiliar os proprie- tários do Alto Douro, tractando de acre- ditar e vender, por conta dos seus donos, nos principaes empórios estrangeiros, os vinhos da sua lavra. A ideia é grandiosa e desejáramos que ella não ficasse em projecto, mas, se nos lembrarmos do que succede entre nós ás emprezas, não lhe podemos agourar bom êxito. É preciso também não nos esquecermos de que o agricultor do Douro está por tal modo sobrecarregado, que, quando chega a epocha da vindima, precisa de vender logo o seu producto para fazer face ás despe- zas de grangeios que se seguem á colheita, e portanto prefere vender logo e por preço mais diminuto a receber uma dada quan- tia por conta do producto e a arriscar-se a uma série de difficuldades no fim de um ou dous annos. Perguntaremos: a Companhia Vinicola poderá apresentar vinhos de uma quinta qualquer, que queira acreditar, antes de um certo numero de annos? Parece- nos que não. E então a companhia abonará os meios precisos para os grangeios do cultivador por espaço de dous, quatro, ou cinco annos, se por ventura não se realisar a venda do vinho ? Pensamos também que não, mas, em todo o caso os proprietários que puderem dispor de meios que experimentem. Oxalá, porém, que, para bem dos ini- ciadores, a Companhia Vinicola Portuen- se não tenha êxito egual ao que teve a Companhia dos Lavradores do Douro, ini- ciada cm 1869 pelos snrs. conde de Sa- modães e António Carneiro de Azevedo. — ■ Publicou-se e recebemos o Catalogo n." 4 do Horto Lisbonense pertencente ao snr. J. M. da Silva Vieira, de Valladares. Este estabelecimento dedica-se com es- pecialidade á creação de boas sementes de hortaliças. — Noticiamos com vivo pezar a sahida do barão Ferd. von Mueller, do Jardim Botânico de Melbourne (Austrália). Este notável botanico,que, já havia bas- tantes annos, tinha a seu cargo a direcção de aquelle estabelecimento de estudo, foi despedido pelo governo de Victoria, que segundo parece, não apreciava devida- mente os valiosos serviços que von Muel- ler estava prestando. Lastimamos o pro- cedimento do governo, e mais uma vez se confirma verem os homens da sciencia re- compensado o trabalho assiduo de muitos annos com a moeda vil da vil ingratidão. Ao nosso paiz dispensou o barão von Mueller alguns favores de subida impor- tância, taes como o offerecimento ao Jar- dim Botânico de Coimbra de variadas plantas, entre as quaes merecem ser prin- cipalmente mencionadas os frondosos Fe- tos arbóreos : Alsophila australis, Balan- tiiim antarticum e Tocha africana, cujo va- lor se pôde calcular em alguns contos de rs. A sciencia ha de sentir a falta do dr. Mueller, mas é provável que o governo inglez, pondo de parte os caprichos da au- ctoridade e por ventura os caprichos do insigne botânico, o reintegre no logar que tão nobremente exercia. — 8i non é vero é hien trovato! Entre os numerosos remédios, que téem sido in- culcados para combater a nova moléstia das vinhas, alguns são tão fora do com- mum, que a sua própria originalidade os torna recommendaveis. Por exemplo : re- gar as cepas com vinho branco fino. Mas agora blague à jpart. O reverendo Rolland communica ao «Cultivateur de laPégionLyonnaise» que encontrou um remédio infallivel contra o Phylloxera e que depois de o ter experi- mentado durante o longo periodo de dous annos, o recommenda com a máxima con- fiança aos cultivadores. 218 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Agora dê o leitor voltas á imaginaçito e diga-nos francanientc se lhe occorre o que poderá ser. Consisto pois o remédio cm inocular na Videira essência do Eiicali/pfus glohulus! Eis como se procede segundo o reve- rendo Rolland : Faz-se uma incisão na casca e introduzem-se algumas gotas da essência com a ajuda de um pincel íino. Em quanto ao resultado diz-nos o in- ventor do especifico que no curto espaço de três dias desapparecem completamente os PhyJJoxeraSj, nào soflrondo a Videira nada absolutamente com a operação. Mr. Rolland concluo por dizer que a incisão poderá ser feita em qualquer parte da cepa mas que, quanto mais próxima da raiz, mais rápido se produz o efteito que se pretende obter. Qualquer consideração que fizéssemos sobre este assumpto seria destituida de fundamento e portanto relatamos o facto e abstemo-nos de o commentar. Não encontrou a medicina no Exicaly- ptus (jlolidus uma succcdanea da Quina? Ao passo, porém, que o abbade Rol- land apresenta um especifico contra o Phylloxera, MM. Ortoman, Lautaud e Monestier declaram no «Languedocien» haver descoberto definitivamente um re- médio que destroe egualmenta o peque- no insecto. Esse remédio consiste, segun- do os seus inventores, cm fazer com um ferro, a golpe de martello, três furos da profundidade de O"', 80 próximo de cada cepa e introduzir em cada um dos furos, por meio de um tubo munido de funil, 50 grammas de sulfureto de carbono o tapar novamente os furos com terra. Depois de praticada a operação, convém, no dizer dos auctores do processo, não fazer regas, porque causariam damno ás raizes das Videiras. Agora perguntar-nos-hão : Qual dos re- médios é o eflficaz? Bom seria que podessemos responder satisfactoriamente. — O snr. José Marques Loureiro pu- blicou um catalogo especial de Roseiras. Cada variedade traz uma ligeira des- cripçào, o que facilita a escolha. Com as instnicçoes acerca da cultura d'csta plan- ta, vêm também alguns apontamentos his- tóricos, com que abre o catalogo. Extrahimos algumas palavras sobre as rosas. Não é um encarecimento, porque não obstante os espinhos, técm ellas jus a se- rem estimadas e bem-queridas. Ab rosas ! que mais bello enfeite para o jardim do verdadeiro amador do que estas encantadoras plantas! que ha ahi que eguale o seu perfume, a Bua côr, a sua belleza! Olhae os poetas, todos can- tam as rosas; vede a virgem, é com esta flor ainda em botão e coberta de orvalho, que ella enfeita o Bcu seio gentil; os amantes felizes, os novos espo- sos, associam-na aos seus prazeres e a todo o mo- mento a tornam o premio da sua aíTeição, e final- mente, no inverno da vida, quando o seu perfume exaltado pelo calor do sol nos vem despertar os sentidos enfraquecidos, é ainda a rosa que olha- mos como a mais deliciosa das flores." Isto é só uma amostra do panno. — Temos a agradecer á direcção das obras do Mondego e barra da Figueira a remessa da relação das plantas florestaes, que se acham á venda nos viveiros das mattas do Choupal e Valle de Cannas. Este catalogo contém 47 Coniferas^ 14 Acácias, 28 Eucalyptus, 23 Amoreiras e 9 Nogueiras. Os preços das plantas variam segundo a edade, mas costumam ser módicos. — A colheita do vinho foi feita este anno debaixo dos melhores auspicies. Na Beira, ha muitos annos que os agricultores não precisaram tanto de va- silhas: tudo se aproveitou e a qualidade do vinho é excellente. No Douro também a colheita foi soffri- vel. Calcula-se que no Baixo Corgo a producção fosse cerca de um terço menos da novidade passada mas em compensação deu outro tanto a mais no Alto Corgo, que c a região productora dos nossos vinhos mais afamados. A actual novidade, ainda que se não con- sidere das mais superfinas e se n".o se possa pôr a par das de 1834 e outras posterio- res, é comtudo muito regular. — A producção de lã no districto do Porto durante o anno findo foi do 17:631 kilogrammas da branca e 7:401 da preta. — j\Ir. E. Regei acaba do dar a lume uma monographia das Videiras da Ame- rica septentrional, da China boreal e do Japão. Estas espécies de Vitis são: a V. arhorea Linn., T". heteropliyJla Thbg., V. incisa Nutt., V. inconsfans Miq., V. vul- pina Linn., e T'^ Lahrusca Linn. No fim do seu trabalho, que tem por titulo «Conspectus specierum generis Vi- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 219 tis, etc», Mr. Regei occupa-se da origem da Videira e expõe os motivos que o le- vara a considerar como hybrida a Vitis vulpina e a Vitis Lahrusca. — O nosso conhecido e festejado escri- ptor Pinheiro Chagas, n'uma das suas «Cartas da Beira» que publicou no «Diá- rio Illustrado», occupava-se da quinta do snr. Domingos José Roballo, uma das mais notáveis da Beira. Os dous paragraphos, que vamos ex- tractar, demonstrarão os serviços, que o snr. Roballo tem prestado e continua a prestar á agricultura. Diz assim o snr. Pinheiro Chagas: ... Para demonstrar mais uma vez o que disse da tendência que se nota hoje em Castello Branco para romper com a rotina, citarei, depois de um asylo-modelo, uma quinta-modelo também, para onde dirigimos depois de jantar o nosso passeio. E' a quinta da Carapalba pertencente ao snr. Do- mingos Roballo, cavalheiro extremamente amável e obsequioso. E' um agricultor apaixonado, que tem pela sua quinta a adoração que se pôde ter por uma amante. Conhece-lhe as plantas a uma e uma, vigia-as de perto com uns desvelos incomparáveis, lucta intrepidamente com as doenças que atacam os vegetaes, e para elle é iima qiTestão de pundo- nor o não deixar morrer uma só arvore que lhe po- nha pé na quinta. E' capaz de se ir sentar á cabe- ceira de um Eucalyptus a tomar-lhe o pulso de ho- ra a hora, e a tractal-o com todo o carinho. Se es- tas disposições do snr. Roballo se tornam conhe- cidas, a Carapalha deixa de ser quinta e passa a ser a casa de saúde dos vegetaes. Como não ha melhoramentos que elle não co- nheça, nem progresso agrícola que elle não acom- panhe, e não ponha logo em pratica, a sua quinta éuma verdadeira quinta regional, que tem até de bom o não ter os caracteres officiaes. Quando o snr. Roballo introduz um novo systema de cul- tura, os visinhos riem -se primeiro, espantam-se depois, e imitam-n'o a final. Se houvesse um agri- cultor assim em cada concelho do reino, dispen- Bavam-se as missões agrícolas, as quintas regio- naes e a agricultura prosperava. Ainda bem que o snr. Roballo vê os seus trabalhos dignamente galardoados. Na Exposição de Vienna obteve aquelle cavalheiro um premio pela excellencia dos vinhos que exhibiu. . . . não obstante o es- panto e o riso da visinhança. — Com o fim de ser prestante ao seu paiz, acaba o snr. Alexandre de Sousa Figuei- redo de publicar um pequeno opúsculo, em que dá algumas importantes instruc- ções praticas para melhorar o fabrico dos vinhos do Algarve. O snr. Sousa Figueiredo, professor de agricultura e agrónomo do districto de Faro, revela no seu escripto que tem feito um estudo muito particular do assumpto de que tracta e com que os interessados menos iniciados na fabricarão dos vinhos muito terão que aproveitar. A direcção da Sociedade Agrícola do districto de Faro, reconhecendo a utili- dade d'este trabalho, foi a própria a dar ordem para a sua publicação. Agradecemos ao snr. Alexandre de Sou- sa Figueiredo os exemplares com que se dignou obsequiar-nos, desejando que a sua aptidão e a sua penna auctorisada se não deixem ficar ociosas. — Na noticia com que abrimos a nossa Chronica de setembro, pedíamos á camará municipal e ao delegado da saúde que mandassem substituir os Âilantus glandu- Josaj que orlam a estrada do Porto á Foz e ultimamente alli foram plantados, por outra arvore que não tivesse os inconve- nientes a que alludimos. Vem-nos agora á mão o n.° 6 da «Illus- tration Horticole» e o seu redactor, Mr. Ed. André, escreve as seguintes linhas sob a epigraphe : «A multiplicação dos Âilan- tus», que endossamos acamara municipal, esperando se dignará lêl-as. Eis as palavras de Mr. André : Por toda a parte onde o individuo masculino de esta arvore dioica está agora em flor, e pi-incipal- mente nos boulevards de Pariz, desenvolve- se um chei]'o desagradável, enjoativo, pôde dizer-se que incommodo a muitos dos transeuntes. Esta es- pécie deverá ser completamente proscripta dos jardins, onde a sua folhagem é comtudo tão bellae de crescimento tão rápido. Ha porém um meio simples de dar remédio. E' cultivar só a arvore feminina que não apresenta este inconveniente. Nunca tivemos occasião de estar ao pé de ^i7a?iíMS femininos, que estivessem com- pletamente separados dos masculinos, e por tanto não podemos affiançar que estes se- jam completamente destituídos de tão aborrecido cheiro, mas pôde ser que Mr. André tenha razões bem fundadas para nos dizer o que acaba de lêr-se nas linhas transcriptas do seu escripto. N'esta hypothese, tenham a camará mu- nicipal e a junta de saúde o incommodo do mandar divorciar os Ailanfus da es- trada da Foz. As damas que fiquem e os cavalheiros que vão viver separados das suas consortes carinhosas para longe das barreiras. Mas ó doces virações ! ó borboletas ! ó insectos ! trazei á carinhosa consorte so- 220 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA litaria os longínquos afagos de um esposo invisível. — Sob o titulo «Cultivador» publiea-se em Ponta Delgada, capital da ilha de !S. ]\[íguel, um periódico do agricultura, tào notável pela abundância, variedade e boa secção dos assumptos, como pela profi- ciência com que os tracta. E proprietário e principal redactor d'esta publicaçcão mensal o snr. Guilherme Kcad Cabral, director da alfandega d'aquella cidade, e tem por collaboradores quasi todas as mais insignes capacidades da ilha do S. Miguel. Na introducçíío díz-se que o «Cultiva- dor» é ura digesto das melhores publica- ções modernas dos paizes mais adiantados na grande e primeira de todas as scien- cias, a cultura da terra, e n'este vasto campo d'exploração dcstina-se elle a fazer conhecido no paiz e suas possessões tudo quanto pôde ser proveitoso á agricultura, e a instruir o povo nas cousas úteis ávida. Agradecendo os números que nos foram enviados, saudamos d'aqui o nascimento do novo campeão e desejamos que a sua vida seja longa. Que brilhante aureola il- lumine incessantemente as suas paginas ! — O verdadeiro amador de plantas não gosta de colher as flores, prefere vêl-as no arbusto, que é a sua grande e natiu'al corheille ao ar livre. Nós somos d'esses. Fazem-nos medo os vândalos do jardim, mais do que os vân- dalos da historia. Preferimos cumprir um sacrifício a que nos peçam uma Rosa ou uma Camellia, porque bem sabemos que é uma crueza, por um capricho, por uma exigência dos olhos ou uma requisição do olfacto, por uma necessidade fútil, por um goso momentâneo, despir as arvores do seu mais bello e brilhante attractivo. Porque havemos de encurtar uma exis- tência já de si tão curta e tão melindrosa? Que as pétalas caiam emurchecidas sobre a folhagem luzente, como filhas que des- fallccem no seio de sua mãe! Talvez que os profanos se riam, mas que se riam embora, que não arrancare- mos do peito a religião das flores, este sentimento indifinivel que votamos á alma indifinida das plantas. Pois que! pensaes por ventura que pedir um rarailhetc, uma Rosa sequer, é o mesmo que pedir fogo ao que passa tirando a fumarada do ca- chimbo ? Duas são as pragas dos floricidas; a dos que pedem flores e a dos que as. . . . furtam. A phrase é dura, mas o facto não o é menos : A tout seigneur tout honneur ! Não quizcramos dizer que o sexo amá- vel, as que vêem cançadas do perspontar das pingas e das impertinências do cro- chdj são também as mais impertinentes. V. exc.'^* têem razão ; querem um Amor lierfeito para o seu livro de missa, uma Rosa Qiieen Victoria ou Marechal Niel para as suas tranças. . . mas não são v. exc.^* também flores ? e deixam-se colher pelo primeiro adventício? Estas reflexões vêem a propósito d' uma carta que nos escreveu um nosso amigo, apaixonado florista, que nos remetteu o seguinte projecto de lei ofterecido á dis- cussão do senado hortícola. Está formidado nos seguintes artigos : 1.° Nunca deixeis produzir fructo ás flores do vosso jardim, porque isso enfra- quece a planta. 2.° Nunca admittireis no vosso jardim profanos em horticultura, e para lhes ve- dar a entrada bastará que ponhaes á porta o seguinte dístico: « Senhoras e senhores ! O proprietário d'este jardim é um cavalheiro extrema- mente excêntrico, e como seja zelosamente apaixonado pelas suas queridas flores, pede a v. exc.^* encarecidamente o obsequio de gosarem o jardim .... da porta. Assígnado — Fulano de tah) O artigo 3.° continha a phrase sacra- mental— «fica revogada toda a legislação em contrario » — comtudo em vez d'ella poremos a seguinte interrogação: Mas se a senhora que bater á porta do jardim for deliciosamente amável e bonita e tiver além d'isso o attractivo do amor, não perderá o cavalheiro excêntrico algu- ma cousa da sua excentricidade? Sim ! Se até o próprio índio Boudha- Vhar, de que nos falia Méry , dizia : « Rien n'excíte comme la parole d'une femme bonne et belle ; elle arrachcrait les morts du tombeau.» Se assim é, lá se vae de certo toda a excentricidade do protector das filhas de Flora! Oliveira Júnior. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 221 CUPRESSUS LÀWSONIÂNA Nos últimos annos qtie téem decorrido^ as Coníferas tornaram-se objecto da má- xima attenção por parto dos jardineiros paizagistas, que tiram d'ellas effeitos pit- torescos e surprehendentes, porque esta família possue numerosíssimos represen- tantes, sendo uns de formas mathemati- camente regulares, como as Araucárias, outros irregulares como os Cedrus, outros dotados de garbo e elegância taes como as Flg. 49 — Cupressus Lawsoniana Cryptomerias e ainda outros de porte aus- tero, piramidal, fúnebre, etc, etc. N'esta vasta família pode o horticultor fazer uma escolha variadíssima, e o que sobremodo torna as Coníferas apreciáveis é o pertencerem á cathegoria das plantas semper virentes, não havendo para ellas, Voi ÍV— 1873. deixem-nos assim dízel-o, nem outomno nem primavera : estão sempre verdes. Occupando-nos agora exclusivamente da espécie, cujo nome se lê na nossa epi- graphe, e que também é conhecida por Chamaecyparis Boursieri Dcne. ; devemos dizer que é digna da máxima attenção e jí o 12 — Dezembro 222 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA O leitor poderá fazer ideia do seu porte geral pela gra^n^ra (fig. 49) que d'ella da- mos, extraliida d'esse livro, que hoje se adia entro as mãos de todos os homens, que se entregam ao cultivo das plantas, e nos houdoirs das illustradas e gentis don- zellas, que povoam os sonhos dos moços de vinte annos. Estamo-nos agora referindo á obra do Henri Lecoq — «Le Monde des Fleurs.» O Cupressus Lawsoniana tem a folha- gem inbricada e escamiformc e a forma geral da arvore é piramidal. Cresce nas margens dos rios, que banham os valles do norte da Califórnia, de 40 a 42 graus de latitude, e no seu paiz natal eleva-se a 25 e 30 metros, e se ligarmos credito ao que Vilmorin diz nos seus catálogos che- ga a attingir 50 metros. Um facto porém que se deu com Mr. Boursier de la Ri- viòre, quando a descobriu em 1853, pa- rece vir em apoio do que diz Vilmorin. Aquelle explorador chegou-a a confun- dir pela sua grandeza com a Sequoia gi- (jantea, arvore que attinge, como o seu no- me indica, proporções prodigiosas. Mr. Carrière pretende que o caule não tem mais do que 60 centímetros de diâ- metro e que esta cspccie tem a particula- ridade de fructificar muito cedo, o que fa- cilita em extremo a sua multiplicação. A cultura não offerece difficuldade, por- quanto vegeta bem nos terrenos fortes as- sim como nos areentos e delgados. E mui- to rústica e, relativamente a algumas das suas congéneres, o seu desenvolvimento pode considerar-se rápido. O snr. visconde do Proença Vieira pos- sue na sua quinta de Villar do Paraizo um exemplar do Cupressus Lawsoniana que mede de 7 a 8 metros d'altura e, se a memoria nos não falha, existem alguns individues ainda mais desenvolvidos na quinta do sm*. visconde de Monserrate, em Cintra. Oliveira Júnior. CULTURA DE PLANTAS DE FOLHAGEM ORNAMENTAL NOS JARDINS DESDE MAIO ATÉ OUTUBRO Que esplendidos massiços se podem fa- zer nos jardins de plantas ornamentaes e com uma despeza tão diminuta e de pou- cos cuidados ! As plantas para este fim são de preços tão rasoaveis nos estabele- cimentos horticolas, que muitos amadores estarão no caso de poder fazer esta pe- quena despeza. Enumeraremos as seguin- tes: AlternantJieras, dando a preferencia á A. p)aronychoide& ; Coleus de dififerentes variedades; Iresine, não faltando a /. áurea reticulata; Centáurea marítima e C. Ra- gulina; Pelargonium zonale: Itália Uni- tttj Luna, Mistress Pollock, Quadricolor; Pyrethrum parthenifolium aureum oxi Gul- den Fcather, /Stachys Lanata, ctc, etc. Como são precisas muitas plantas para se fazerem lindos massiços, pedem-se qua- tro ou seis de cada variedade a qualquer estabelecimento o em abril pode quem quer fazer rcproducçoos d'e8tas plantas do modo seguinte: Colloca-se uma pequena vidraça (chas- sis) cm logar abrigado do norte e que te- nha sol todo o dia. Os vidros devem ser| cobertos com panno ou esteiras quando está sol, e podem também ser caiados, mas ó melhor cobril-os, para que tenham luz de manhã, emquanto o sol está brando e o mesmo á tarde. Estas vidraças téem uma guarnição de madeira dos lados e é preciso que sejam bem vedadas para que não recebam ar algum. A guarnição deve ter de altura 0"\25 pouco mais ou menos, sondo um pouco mais alta na frente para que a agua seja expedida logo que lhe caia. Collo- cam-se as plantas mães dentro e vae-se- Ihes cortando a flecha e as ramificações, porque, quanto mais se cortam, mais se ra- mificam. Vão-se plantando estas estacas em pe- quenos alguidares ou vasos, á superfície da terra, e sendo á volta do vaso dá me- lhor resultado que no meio. A terra deve ser leve e com pouca humidade. Ficando debaixo d'cstas vidraças 10 ou 12 dias, estão enraizadas o então dispõc-se cada uma em seu pequeno vaso, deixando-as ainda todavia debaixo das vidraças. Den- tro em pouco já dão reproducção, cortan- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 223 do-se-lhes a flecha, pois é mesmo preciso para se ramificarem. Em fins de maio já deve haver uma boa reproducçào. Retiram-se para a som- bra ao ar livre, onde devem estar oito dias, para nao serem expostas rapidamen- te ao sol. Depois fazem-se massiços de differentes formas, devendo haver todo o cuidade em dispol-as em ordem de modo que sobre- saiam as cores, formando um bonito con- traste. A estas plantas é preciso cortar sempre a flecha até outubro, para que estejam bem ramificadas e eguaes. Devem ser re- gadas todos os dias, e ainda que sejam collocadas a todo o sol e sombra, de todo o modo vão bem, toda a terra serve, com- tanto que esteja bem estrumada. D'esta maneira conservam-se os jardins lindíssi- mos no verào, e, se os massiços tiverem sido feitos nos canteiros que téem todo o sol, quando as plantas principiam a mor- rer, podem ser plantadas alli raizes de Ra- nunculus para que no inverno estejam guar- necidos com estas flores. No nosso estabelecimento ha massiços esplendidos com estas plantas. Os Pelargonium zonale, das variedades que acima ficam ditas, são lindissimos e os massiços podem ser feitos unicamente com estas plantas. N'esse caso nunca se lhes deve deixar dar flor, porque lhes tira a belleza da folhagem. As folhas dos Pe- largoniums são muito variadas, umas ama- rellas, outras brancas, outras verdes, etc, dando motivo a um agradável mosaico. No centro deve ficar o P. Luna^ porque se desenvolve mais. Uma planta que não se pode dispensar para este fim é a Centáurea marítima. Fa- zendo-se uma ordem d'esta planta no meio do massiço, sobresae admiravelmente, por serem as folhas todas brancas e as das ou- tras variedades roxas, vermelhas, ama- rellas, etc. A Centáurea Eagusina ainda é melhor, mas a sua reproducção é difficil e fica mais anã, emquanto que a C. marítima é de fácil reprodução e desenvolve-se rapida- mente. O que é preciso é cortar-lhe a fle- cha amiudadas vezes, para ir acompa- nhando as outras. Em França e na Ingla- terra, onde ha muito gosto por plantas de folhagem ornamental, dão a preferencia a esta variedade. As Alter nantheraSj Pyrethrum aureum e Stachys Lanata devem ser sempre collo- cadas nas ordens de baixo, porque são as que crescem menos. A reproducção do Pyrethrum aureum é por meio de sementeira feita em março. E d'um effeito lindíssimo pela sua folhagem dourada. A Stachys Lanata é lindíssima pela sua folhagem toda branca, muito baixa e de fácil reproducção. Se estes grupos de plantas forem feitos em jardins que tenham relva ainda são mais formosos. Os amadores, que não queiram ter o trabalho de fazer as reproducções, podem pedir ao nosso estabelecimento em maio e junho todas estas plantas pelos preços seguintes : Cada 100 Coleus variados, 4^500; e cada milheiro, 2õiíi000 reis. Todas as ou- tras plantas, que acima digo, téem o mes- mo preço. José Marques Loureiro. BEGÓNIAS Já este jornal, dignando-se dar impor- tância á communicação que fizemos ao seu benemérito proprietário e distincto colla- borador, começou do chamar a attenção dos muito amorosos de Floi-a sobre a fácil e singular multiplicação das Begónias em pura agua. Sendo tão formosa e ornamental, e por isso mesmo tão querida, esta soberba plan- ta, em suas numerosíssimas variedades, admira o pouco que tem escripto a seu respeito os horticultores estrangeiros; os quaes todavia se tem occupado de mono- graphias do Pelargonium, da Lantana, e outras certamente boas, mas mui inferio- res áquella. Todo aquelle que se guiar pelas indica- ções d'esses mestres, esforçando-se por es- tender quaesquer folhas sobre a terra, se- gurando-as cuidadosamente com os peque- nos colchetes, e abafando-as com quaes- quer cúpulas, terá a semsaboria de perder 224 JORNAL DE HORTICULTURA TRATICA O tempo, não poiícas vezes. Succeder-lhe- ha, conforaic as circumstancias da estação, do estado da folha, da maior ou menor humidade, umas vezes conseguir pleno re- sultado, outras vel-a podre, quasi instan- taneamente ou poucos dias depois. A respeito d'algumas espécies, quaes as Fuchsioidcs, a incarnaia, semj)erj{orenSj, etc., o methodo é inexequível. Outras como a dedálea^ hào do reben- tar, mas não pelo seio ou nervuras da fo- lha, mas fora d'ella pelo peciolo. A pessoa, em quem suppúnhamos pela pratica maior conhecimento d'esses phe- nomenos, fizemos ver como se multiplicam espécies, a respeito das quaes em vão se aguardará o apparecimento de quaesqucr rebentos no seio ou nas nervuras; e que essas pessoas nos indicavam por insusce- ptiveis de fácil multiplicação. Aos ama- dores, impacientes do prompto resultado, aconselhamos primeiro que tudo — paciên- cia, e quasi o esquecimento das tentati- vas emprehendidas. Esperem; e passado tempo a terra lhes enviará o fructo dos seus cuidados, e também da sua paciên- cia. Desapparecerào as folhas, mas uma vez que o peciolo fique firme na terra, es- perem e obterão. Não falíamos das plan- tas, que se multiplicam por estacas herbá- ceas, as quaes breve se desenvolvem por si mesmas, e dos pés enraizados e esga- lhados das mães, que em regra pouco sof- frem, e proseguem em seu desenvolvi- mento. Pode portanto fazer-se a multiplicação por folha estendida, por folha enroscada, por folha vertical, por estaca, por esga- lhe do pés enraizados, em boa terra ve- getal, etc. E de baixo de cúpula ou em chassis? Necessária o indispcnsavelmentc não, ao menos n'este abençoado clima dos arre- dores do Coimbra. É experiência nossa, re])otida, do multiplicação de estaca o do i folhas a toda o ar, do estaca e folhas es- j quecidas cm vasos d'outras ou das mes- , mas espécies, soltas em liberdade álguisaj do Monsorrate (de ^nenhuma maravilha já , agora para nós). E experiência nossa so- berbas o viçosas folhas bem estendidas em taças, em boa terra, sem excesso de' huniidad(í, cobertas com exellentes cupu- ! Ias, cm doce temperatura ; o podres intei- ' ramente até ao extremo do peciolo, d'ahi a pouco. Quadra isto com a certeza que não me- nos temos obtido de que a Begónia, na boa estação ao menos, quer muito ar, e muita luz; — e se está em força de vege- tação— muita e l)oa agua. E seringagens? dizem os livros. . . não; o nós dizemos. . . sim. A Begónia agra- deee-nos, a seu modo e promptamente, as frequentes seringagens, em apparencia de chuva fina, cahindo do alto, e ainda mes- mo tocando-a directamente, de longe: acha- se de rosto lavado, e por ventura livro d'algum incommodo hospede, dos muitos gulosos de suas tenras folhas que já deram alimento nos horrorosos dias do cerco de Pariz. Se uma ou outi-a vez, e uma ou outra espécie mais melindrosa, se ressente, é um inconveniente de sobejo compensado no viçoso e esplendido da mesma e das outras ou mais robustas ou mais habitua- das a esse tracto grosseiro e desamimado a que as temos costumado. Convém certa- mente que, depois das seringagens, liaja calor natural e ar abundante que não per- mittam a demasiada demora da hmni- dade. A esta demonstração do amor que a Be- gónia, vigorosa, e na boa estação, tem á agua, accresce o bom resultado que temos tirado de ter os vasos em pequenas taças com agua, que naturalmente absorvem. Poupam-se regas, e a humidade mais re- gular e constante, intercepta-se a humi- dade da atmosphcra pela evaporação. D'aqui á nova forma do multiplicação em agua pura parece não haver senão um passo. Cremos haver n'esta uma grande com- modidade^e economia de tempo o cuidado. Desde que principiamos a tirar bons re- sultados, costumamos deitar n'um qual- quer deposito d'agua, mesmo u'unia bacia grande ou alguidar, as folhas que, por qualquer razão, cortamos. Sem curar do vasinhos, vasos, (ju taças para as plantar, deixamol-as ficar, de niolhf», e esquecidas. Passado tempo, comcç;im de sahir as raí- zes, como na terra, o mais tarde a reben- tar as tolhas. Então ou as transferimos para vasos, ou as deixamos i^lanids aquá- ticas. Experiência com estas — desenvol- vimento vagaroso mas progressivo do gru- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 225 po principal, — formação e desenvolvi- mento cVoutros cm norvaduras, — folhas até Crescendo inteiramente debaixo da agua. Temos levantado sobre pequenas tiras de cannas, postas em triangulo sobre os vasos, as folhas, deixando apenas as rai- zes na agua, e procurando d'est'arte im- pedir que apodreçam. Parece-nos provei- toso. Em vidro próprio para bolbos de Jacinthos, temos uma spectahilis com seu grupo de folhinhas sahindo do meio da folha mãe, enroscada. Uma Rex traz ao cimo d'agua uma boa folha, e outras debaixo d'ella, inteiramente submergi- das. Concluimos, reconhecendo que a prati- ca é útil, curiosa e divertida ; e convidan- do os amadores, mais habilitados do que nós, para que estudem, melhorem, e apro- veitem o invento (que não é nosso). Não tendo tido, este anno, occasião de visitar alguns jardins de Lisboa ou do Porto, e comparando o que possuimos so- mente com o pouco extranho ao nosso alcance, não sabemos se as medidas das minhas maiores folhas tem a singiilarida- de que algumas pessoas lhe reconhecem. Ha uma President Van ãen Heclxe, que mede 47 centimetros de comprido por 33 de largo; uma R. Leopardinus 46 por 31; uma granais 45 por 32; um Jornal de Horticultura 42 por 32; uma ilf."? Perrier 40 por 30 ; e Ch. Warjner (?) 42 por 30. Temos uma Fuchsioides^ sempre florida, carmim vivo, que mede 2'", 10 de compri- mento de haste. A esta não se lhe mudou a terra, vive no mesmo vaso desde o anno proxmio; vaso dos maiores, o que consi- dero miportante. Todas as plantas maio- res tem sido reenvasadas á medida de seu desenvolvimento. Nem ha perigo em as transferir assim, e antes uma urgente necessidade desde que as raízes tocam as paredes do vaso e a terra falta, consumida por ellas. Claro é que, na força de vegetação, não se deve alterar o estado do torrão, limitando a trans±eril-o para o vaso maior, e a enter- ral-o com terra fresca que se insinue em toda a volta, seguindo-se uma boa rega. L tão smgular absurdo querer que uma planta, ao menos no nosso clima, e na boa estaç^;o, viva contente n'uma sala ou n'um quarto, apesar de pouco ar e sobra de pó • como querel-a submetter indeterminada- mente ao estreito cárcere d'um vasito, para que não deixe de caber n'uma dada étagere, ou n um circumscripto espaço da jardinei- ra. Para as amáveis leitoras e boas floris- tas, que tanto gostam de se rodear com os encantos de Flora (ainda apesar dos perigos da noute), força é condemnar as suas pobres prisioneiras a dormirem, mui- tas vezes, ao relento; a receberem banhos de seringagem frequentemente; e apesar de tudo isto, a deixal-as fora, livres do spl, desterradas das salas e camarins, subs- tituindo-as por outras innocentes victi- mas. Coimbra. A. DE Sampaio. CLETHRA ARBÓREA As Cletliras formam um género da es- iilendida e abundante familia das Eri- caceas. São arbustos erectos, de folhas nervadas e caducas, oriundos da America do Norte. A forma d'estes arbustos é muito agra- dável, a sua cultura fácil, e o cheiro suave que exhalam as suas flores brancas no ou- tomno, quando os bosques principiam a despir-se e as flores a desapparecer, são predicados que tornam esta planta digna de alguma attenção. Comtudo não está muito vulgarisada. A espécie, que dá o titulo a este peque- no artigo, é uma das mais notáveis ; é na- tural da Ilha da Madeira, , onde tem o nome vulgar de Folhado. É um grande arbusto, ou uma pequena arvore, de porte erecto elegante; as folhas são oblongas, lanceoladas, acuminadas, denteadas no vértice e glabras ; as flores são brancas, grandes, em cachos, que formam reunidos uma interessante panicula terminal; os lóbulos da corolla e do cálice são muito obtusos e inteiros; os estames estão inclu- sos, porém o estylete é saliente. _ N'uma quinta sita nos arrebaldcs d'esta cidade, existe uma porção de pés e apesar de estarem entregues a si mesmo e sem cul- tura fazem o encanto de quem os observa. 226 JOllXAL DE HORTICULTURA RRATICA As Chthras nào exigem grandes cui- dados do amador; satisfazem-se com qual- quer torra, mas se d'ellas se quizer tirar todo o partido possivel, devo dar-se-lhes um terreno de urses ou turboso. Gostam também de exposição sombria. Propagam-se facilmente por sementes, estacas, mergulhias, rebentões, estacas her- báceas em estufa e abafadas debaixo de rodoma. As exigências da floricultura tem in- troduzido nos jardins mais algumas espé- cies de Chthras _, entre outras citaremos as seguintes: C. almifoUa Linn., da America do Nor- te, importada em 1731. C. tomentosa Lamark, da Virgiuia.(Mi- cliaux e outros consideram a C. tomentosa, como uma simples variedade da C. alni- folia). C. paniculata Michx., da Carolina, im- portada em 1806. Cultivam-so ainda as C. scabrttj tini- folia, fagifolia, nervosa, Mco.-kana, Bra- silioisis, ohovata, revoluta e muitas outras que seria longo enumerar. A. J. DE Oliveira e Silva. APULYERISàCAO É ESTRUMÀCiO Um dado do pedra que medido tenha COO contimetros de superfície, sendo cor- tado ao meio augmentará esta superfície a 900 centimetros; sendo em 4 partes, a 1"',925; em 8 partes, a 1™,3Õ0, e assim successivamente ; quanto maior for a sua subdivisão maior será a superfície em con- tacto com o ar; d'onde a pedra recebe n'essa forma quanto mais pulverisada, os elementos próprios á vida vegetal; essa pedra que apenas poderia produzir um pouco do musgo á volta da sua circumfe- rencia, sendo reduzida a pó fíno, adquiri- rá a faculdade de servir do leito a uma frondosa arvoro ou a qualquer outra cul- tura. A pedra tem em si mineraes e outros ingredientes que a pulverisação faz des- tacar, o estes unidos ao acido carbónico e outros elementos introduzidos pelas chu- vas atravez d'este pó, constituem o solo nas suas condições naturaes para lavoura. O nosso lavrador tem o prejuizo de sup- por que a pedra miúda no campo favore- ce aquellcs pés que estejam cm contacto com a mesma ; como, porém, o facto existe, devemos explicar este incidente, que em nada altera a lei geral e fundamental das boas terras do cultura baseadas na pulve- risaçuo. Dissemos que a boa sementeira c aquel- la que se faz em um solo profundo e com a machina que a enterra uniformemente em uma ])rofundidade ao abrigo dos raios solares, ou semeada entre os regos do an- gulo, cujo angulo c lançado sobro a se- mente para a cobrir. Ora como o geral das lavras entre n(')S são baixas c os tri- gos ou outras sementes são gradadas para se enterrarem, acontece que o grão sahido por baixo do uma pedra é favorecido pelo abrigo d'esta dos raios solares; e exacta- mente por conseguinte em melhores con- dições de produzir bem ; estas são as nos- sas conclusões, entendendo que se este pedregulho estivesse reduzido a pó seria o solo muito mais productivo; porém as suas más condições de cultura fazem des- tacar aquelles pés que por casualidade fi- caram mais profundos. Também podemos concluir d'esta theo- ria da formação do solo, que quanto mais revolvido elle fOr, mais elementos recebe em si apropriados á cultura; e está de- monstrado praticamente que as lavras que mais aproveitam ao solo são aquellas que mais o pulverisam. E tão corrente esta doutrina, que os constructores de arados tem um typo que denominam — arado es- trumador — por isso que tem a proprie- dade do expor ao contacto do ar o solo que lavra. Como corroborando o que acabamos do dizer, enviamos o leitor para o artigo «Cultura do trigo sem adubos», que hado seguir-se a este e no qual veremos que o ar é o único elemento que se procura para favorecer a planta na haste ou no solo. A. DE La Rocque. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 227 ARiUJIA SERICIFERÀ As plantas trepadeiras, assim como re- presentam ura importante papel na eco- nomia da vegetação, tem do mesmo modo logar distincto na ornamentação dos jar- dins. São variadissimos os seus usos : ves- tem muros, tapetam rochedos, cobrem gradeamentos, kiosques e casas de fresco, enrolam-se nas pilastras e columnas das varandas, correm sobre fios metallicos, produzindo assim grinaldas de verdura de muitos e variados feitios, florejam as ja- nellas das habitações, e, encobrem emfim com as suas ramagens as sebes seccas e os precipicios. Por uma conveniente cul- tura e rigorosa escolha de espécies, podem entrar na ornamentação dos canteiros nos Fig. 50 — Flor da Araujia sei-icifera pequenos jardins, sendo sempre plantadas de modo que não oífusquem a vista das outras plantas. A maior parte das trepadeiras são pro- curadas exclusivamente pela sua rica fo- lhagem, variegada ou unicolor, lustrosa, grande, própria para produzir sombra; mas ha um grande numero d'ellas tam- bém que são procuradas pela belleza das flores, algumas das quaes são dotadas de suave aroma. Outras apresentam fructos curiosos na forma e colorido, e citaremos para exem- plo : as Pa^sifloras e Cucurbitaceas. Final- mente, o partido que se pode tirar d'esta classe de plantas, é idêntico ao que se colhe das plantas baixas de alegrete. Assim como com estas se podem produzir grupos e massiços diíferentes na cor e na forma, as- sim com aquellas se pôde variar a dispo- sição até ao infinito, entrelaçando os braços d'umas com os das outras, d'onde resul- tam esplendidos mantos de verdura, mati- sados pelo agradável variegado das flores. A planta, cujo nome serve de epigraphe a este artigo, é uma elegante filha da nu- merosa corte, de que temos vindo até ago- ra discursando. 228 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA É a Araujia sericifera, que faz parte da família das Asclepiades, o bastante conhecida na floricultura. A maior parte dos géneros d'esta familia habitam a re- gião tropical, sendo poucas as espécies próprias dos climas temperados. A nossa Flora possue aAsclejyia vincetoxicum{y\A- garraente Herva contra-venenoj e a -á. nic/ra. O sueco leitoso e corrosivo, que as plan- tas d'esta familia possuem, posto que possa causar algum damno na economia animal, não é todavia tão venenoso como o das Apocyneas, com as quaes tem bastante afinidade de caracteres. A Araujia sericifera, cujo synonimo é o Phisiantkus alhens de Martins, foi dedi- cada pelo nosso Brotero a António Araújo de Azevedo («Trans. Linnn. Soe», tit. XIII). E natural do Brazil, onde cresce espon- taneamente, trepando ás arvores mais al- tas d'aquelle paiz. As suas hastes volúveis são guarnecidas de folhas oblongas, coriaceas, onduladas, esbranquiçadas; as flores são dispostas em cymo, de corolla campanulada, com o limbo patente, crespas ou enrugadas, es- branquiçadas ou d'uma levíssima cor de rosa; a coroa estaminai é formada de 5 appendices em forma de capuz ; as anthe- ras largamente appendiculadas, são lan- ceoladas. Os fructos são grandes e reúnem cen- tenares de sementes comprimidas, lenti- culares e terminadas por um corutilho 1 António Araújo d' Azevedo, conde da Barca, ministro de estado, qne representou Portugal em Haya o Berlim. Foi encarregado de varias commis- Bões junto do governo da republica franccza e cha- mado ao ministério em 1804. Depois da invasão franceza, foi elle quem aconselhou a D. João VI a mudança da corte para o Brazil. Em ([uanto esteve no cxtrangeiro, dispensou grande protecção aos portuguezes ausentes da pátria, incluindo n'este numero o auctor da "Flora lusitanica" e Filynto Elysio Brotero, grato á protecção de tão bondoso Me- cenas, dedicou-lhe a planta cm questão. Azevedo cultivava as artes o as Icttras; o Brazil devp-lhe a fundação da sua eschola de Bellas-artos no Rio de Janeiro, o a iutroducção da cultura do Chá- O seu vasto jardim i)articular estava clasHÍficado Byetematicamcnte e publicou debai.xo do titulo de "Hortus Araujucnsis" o catalogo das plantas que n'ellc cultivava, demonstrando n'esta ]nil)licação o seu esclarecido gosto c vastos conliccimentos em botânica. A Villa de Ponto do Lima foi a que o viu nascer em maio de 1784. I setoso, dirigido para o vértice do car- pello. Tenho notado n'esta planta um facto bastante importante para a physiologia vegetal; rcfiro-me aos movimentos, que o apparclho estaminai apresenta, quando n'ello pousa alguma borboleta ou outro pequeno insecto. Não é raro encontrar voltejando em roda da Araujia centenares de Lepido])teroSj attrahidos pelo sueco raellifluo que as suas flores lhes offerecem ; porém, aquelles que n'ellas pousam, pagam geralmente com a vida a sua ousadia. O apparelho es- taminai, que até ahi se apresentava ere- cto e patente, fecha-se repentinamente, prendendo a imprudente borboleta que ia buscar alimento. O pequeno animal, force- jando por sahir d'aquella prisão, se não morre extenuado, retira-se mal ferido do combate. Este phenomeno, que eu observara mui- tas vezes, feriu-me muito a attenção, de modo que procurei logo indagar a causa e procurar em alguns livros a explicação. Nada encontrei todavia que me satisfizesse, nem nos tractados que consultei em tal cou- sa se fallava. Intentei uma serie de expe- riências, quando um dia, folheando um in- teressante jornal horticola contemporâneo, encontrei a explicação do phenomeno tão completamente quanto podia desejar. O auctor do artigo veio coiToborar al- gumas das minhas observações e elucidar- me em alguns pontos sobre que tinha du- vida. Escrevendo um artigo sobre a Araujia sericifera, era forçoso fallar d'este pheno- meno, e esclarecel-o o mais que pudesse. Parecc-me que o não podia fazer melhor do que transcrever d'aquelle jornal o cu- rioso artigo do sm'. J. Belleroche, que é como se segue : «Desejoso de conhecer por que é que as borboletas ficavam presas ás flores da Araujia, dissequei muitas flores depois do ter cortado a tromba d 'aquelles insectos, junto á sua nascença; e depois de ter des- pegado cuidadosamente do pistillo o reti- naculo munido das suas massas pollinicas, vi que aqucllo órgão do insecto atraves- sava o rctinaculo cm toda a sua extensão; d 'onde se segue, segundo me parece, quo sem outro accesso ás massas pollinicas, por JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 229 causa da pressão da corolla contra o pis- tillo, immediatamente sobre os retinaculos (em numero de cinco), a borboleta ó for- çada a mergulhar a sua tromba na fenda do retinaculo ; friccionando a cutícula pe- los movimentos que faz para chegar e quebrar as massas pollinicas. N'esta occa- sião, a matéria viscosa contida no retina- culo agarra-se á tromba e solidifica-se em contacto com o ar. Fig. 51 — rructo da Araujia sericifera A preparação microscópica que fiz d'es- te phenomeno, assas difficil de distinguir a olho nu, permitte dar-nos o seu desenho muito augmentado (fig. 52). O diâmetro d'esta preparação é apenas de 3 millimetros; o retinaculo difficilmen- te se vê. E muito extraordinário que um órgão tão pequeno possa reter captiva uma borboleta como a Pieris brassiçae.)) O incansável observador continua ain- 52 — Apparellio estamiual da Avaujia sericifoia da em outros artigos a serie das suas in- dagações; entre ellas citaremos as seguin- tes, que nos admiraram bastante : verificou que as Phalenas, borboletas cujas trom- bas são guarnecidas de muitas mamillas bastante salientes, difficultando por tanto a sua entrada no retinaculo, cahiam tam- bém no laço armado pela Avaujia serici- fera. A Macroglossa stdlarumj mais conhe- cida pelo nome de Morosphynx^ borboleta de asas vigorosas e movimentos bruscos, mergulha algumas vezes o seu sugadoiro na AraiLJia, sendo poucas as que se reti- ra sem levar o retinaculo preso á tromba, que, apertando-lh'a demasiadamente, pro- duz a morte. Triste fim de que só a na- tureza tem culpa. 230 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA Uma immcnsidaclc de insectos destituí- dos de tromba encontram também muitas vezes a morte nas flores da Araiijia. Ci- taremos para exemplo os Thrips, os Smin- thures e outros. Estes insectos aprovei- tam a occasiào em que a flOr se acha mais aberta para descerem a ella, e raras vezes escapam sem o castigo da sua ousadia. Esta planta serve de grande auxilio aos amadores de historia natural para apanha- rem uma immcnsidadc de pequenos inse- ctos, que d'outro modo difficilmente obte- riam. A Araujia tem também o seu lado mau; nenhuma medalha, por muito boa que seja, deixa de ter reverso. O que va- mos contar é a parte fraca d'esta planta. Deixemos a penna ao snr. Bellcroche na descripção d'este outro phenomeno. «Resta-me fallar das abelhas. No verão, pela abundância das flores, não procuram esta planta, porém em setembro e outubro a Araujia torna-se uma verdadeira apicida. Obrigadas pela fome e não tendo onde escolher, procuram esta flor, e posto que lhe custe a chegar ao retinaculo, e apesar de todos 03 seus esforços para sahirem, raras vezes o conseguem. Observadas as abelhas, apresentam-se a principio como que adormecidas, o que faz suppor que a planta tora algumas proprie- dades narcóticas. Esta hypotese é apoiada pelo pronunciado cheiro de Stramonium que as folhas novas exhalam quando leve- mente esfregadas nos dedos. Quando a abelha consegue livrar-se, apesar de apparentemcnte morta, no fim do alguns minutos agita-se, o foge com um vGo incerto e fraco ; mas como leva comsigo as massas pollinicas tem tanta probabilidade de viver como a Morosplnnx. Estamos certos que uma parede de certo tamanho, forrada com esta trepadeira, se- ria o bastante para dar cabo de uma col- meia.» Estas curiosas observações apresentam grande interesse pelo lado physiologico ; dando-lhes a popularidade que merecem julgamos fazer um bom serviço á scien- cia. Agora mais duas palavras a respeito do valor ornamental da planta. O leitor tem na fig. ÕO o desenho das suas flores com uma borboleta no acto de lhes sugar o mel, mas, não obstante honrar brilhante- mente o lápis o o buril do desenhador e gravador d'este jornal, é necessário con- fessar que a estampa fica ainda muito aquém da verdade. E preciso vel-a viva, cobrindo um gran- de espaço e perfumando a atmosphera com o agradável aroma que as suas graciosas flores exhalam. Nos jardins deve tomar logar junto das PeriplocaSj Asclepias, Ce- ropegias, Koyas, de quem é digna co-ir- mã. O Apocynum aãrosaemifolium também deve ser plantado junto d'este curioso ve- getal; os phenomenos que ambos offere- cem são muito similhantes. Esta trepadeira é de cultura fácil ; mas para a tornar muito vigorosa é preciso não lhe poupar adubos ou um bom terre- no formado de detritos de folhas. Para se desenvolver com força e mostrar todo o seu esplendor deve ser plantada no chão ; todavia por um bom tractamento, podem obter-se bonitos exemplares em vasos para dentro de salas. Resiste perfeitamente ao inverno. Multiplica-se por estacas debaixo de campânula em estufa quente, ou melhor por sementeira em março ao ar livre. Os corutilhos setosos que acompanham as sementes da Araujia sericifera podem ser fiados, misturados com lã e seda e servem também pela sua elasticidade para acolchoar almofadas e travesseiras. Fanzeres — Quinta da Egreja. A. J. DE Oliveira e Silva. YINIIOS Por vezes chegamos a pensar que tal- vez os nossos viticultores, demasiado pre- videntes, receiem, em futuro não distante, a decadência do nosso commcrcio do vi- nhos, considerando o extraordinário pro- gresso da lavoura dos norte-americanos, que, não contentos do abastecer os mer- cados europeus de trigo, já exploram cm grande escala a cultura das vinhas. Na realidade não devemos deixar de observar n'este como n'outro qualquer ra- mo do industria, principalmente das que JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 231 constituem a nossa riqueza nacional, o pro- gresso dos outros, a lim de que não seja- mos tristemente surpreliendidos ; assim o faria o capitão prudente a quem estivesse confiada a defeza da pátria, quando visse de perto o inimigo. Por muito tempo se julgou, e talvez ain- da haja quem o acredite, que os vinhos europeus nunca encontrariam competido- res ; pode ser que os celebres viijhos do Douro, Madeira, Xerez e Hungria conser- vem sempre a sua justa soberania, mas de certo não terão egual sorte os vinhos com- muns do continente. Na Califórnia, aonde por muitos annos só o ouro attrahia as attenções, voltaram- se de repente os exploradores para o ama- nho da terra, e em breve tempo experi- mentaram que produziam mais as searas do que os ricos jazigos do cubicado me- tal ; em toda a America e Austrália a la- voura substituiu a exploração das minas. Para d'isto convencermos os nossos lei- tores, transcreveremos a seguinte noticia, que devemos ao snr. Ferreira Lapa : « Na America do Norte encontram-se mais de trinta espécies de uvas silvestres infinitamente variadas nas qualidades e nas cores. Entre ellas algumas cultivadas ou plantadas de sementes dão excellentes vinhos, que rivalisam com os da Europa. N'estes 25 annos alguns americanos teem feito immensas fortunas com esta indus- tria, como por exemplo, o snr. Longworth, de Cincinatti, que em 15 annos adquiriu uma riqueza de 7 :000 contos ! Outros, no espaço de 8 a 10 annos, teem ganho egual- mente milhares de contos de reis. Em 1867, o valor do vinho feito nos Estados-Unidos foi estimado em 600 milhões de pesos du- ros, somma correspondente á quarta parte da divida nacional. O producto das uvas e vinhos para 1870 subiu a mais de 1:000 milhões de dollars, equivalente a quasi me- tade da divida publica n'aquelle paiz. Na mesma Revista se diz ainda que o Brazil pretende seguir o exemplo dos Estados- Unidos, e que já na provincia de S. Paulo se colheram nas cercanias da cidade 300 pipas, estando feito um plantio para muito maior producção. » Para desvanecermos o susto ou espanto dos nossos leitores, diremos que devem, como nós, pôr de quarentena estas fabu- losas noticias que a «Revista Agrícola do Imperial Instituto Fluminense de Agri- cultura» nos dou, talvez por enthusiasmo, e que o snr. Lapa transcreveu de boa fé, mas sem duvida dando o devido desconto á exaltação do espirito americano. Acreditamos muito seriamente que a cultura das vinhas está estabelecida sob felizes auspicios nas regiões do novo mun- do, attendendo que os seus terrenos, por longos séculos incultos, dispõem de um fundo de fertilidade que levará largos an- nos a esgotar, mas analysando bem aquel- las monstruosas cifras, a exaggeração se tornará palpável. Estudemos o primeiro exemplo, uma fortuna de 7:000 contos feita em 15 an- nos ! Estabeleçamos a hypothese de que um vinhateiro, fazendo uma extensa plantação de bacellos, colhe logo no primeiro anno 5 pipas de vinho, e dobrando a producção de anno para anno colhe no decimo anno 2:560 pipas, teremos um total de 4:115; no decimo anno é de suppôr que as Vi- deiras tenham, em um terreno feracissimo, chegado ao seu perfeito desenvolvimento; mas concedamos ainda que nos annos sub- sequente colhe 5:000 pipas, termo médio, chegamos ao resultado de 29:115 pipas, que, a nosso vôr, não podem, livres das extraordinárias despezas que occasiona uma tão colossal cultura, produzir a de- cantada cifra de 7:000 contos ! Se é palpável a exaggeração no primei- ro exemplo, mais ainda se mostra no se- gundo ; para produzir a cifra de 1 :000 mi- lhões de dollars, é precisa uma produc- ção de 5 milhões de pipas de vinho ! Tal quantidade talvez não a produza ;'. Euro- pa, apesar de estar estabelecida no nosso continente a cultura das vinhas não ha 25 annos, mas ha alguns séculos: o que sup- pomos é que, como acontece n'outros pai- zes, esteja n'aquello iraraensamente des- envolvida a industria do fabrico de vinhos artificiaes. Comtudo não nos illu damos ; não deve- mos ser demasiado optimistas nem pessi- mistas; é certo que os vinhos europeus, sem temer a competência dos vinhos ame- ricanos, toem ainda diante de si um lar- go pcriodo de acolhimento no novo mun- do, mas é egualmente certo que no norte 232 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA como no sul — na America c na Austrália — os lavradores se esforçam para possuir vi- nhedos, porque a isso os convida a diífe- rença que sempre terào contra si os nos- sos vinhos, em razão dos avultados direi- tos o fretos a que estjío sujeitos. So furamos dotados de mais actividade o génio mercantil, poderíamos, porque nos favorecem peculiares circumstancias, ter do tal forma diisenvolvido a viticultura, que nos tivesse produzido immensas ri- quezas. Poderíamos ainda agora crcal-os, por- que, como julgamos, ainda por largo pe- ríodo o commcrcio dos nossos vinhos ca- minhará desassombrado. E ainda agora vem cm nosso auxilio um incidente digno de consideração, que c a paralysaçãodas co- lheitas em alguns departamentos da Fran- ça, aonde o PliyUoxt-ra tem feito bastantes estragos. Se fôramos um bocadinho previdentes, sem descurar esto importante ramo da agricultura, em substituição de alguns que pouco ou nenhum interesse nos dei- xam, abraçaríamos outros de maior utili- dade, o que na 0])inião do snr. Ferreira Lapa (que profundamente acatamos) nos trariam tal ou qual independência do es- trangeiro. Queremos fallar de três géneros de gran- de consumo, o trigo, o assucar e o tabaco. J. Torres. VISITAS Á QUINTA DAS VIRTUDES CAETAS A UMA SENHORA Minha senhora. Quer lhe descreva com a proficiência que não tenho, com o colorido de linguagem que não possuo, e com a minudência micros- cópica dos grandes investigadores, as im- pressões que recebi na primeira visita que fiz este anno ao magnifico estabelecimento hortícola, sustentado pela perseverança o pelo génio verdadeiramente enthusiasta e criador de um homem que sabe muito mais do que eu e talvez do quev. exc.^, apesar sei, e de que v. exc.'"^ talvez, que sabe muito, porque elle sabe mais do que muito, exc.^ que eu 1 Xo campo em que elle hasteou o seu pen- dão, a theoria pôde vir em ajuda da pratica, mas a pratica esmerada e con- scienciosa tem muito mais valor do que a theoria. V. exc.^ sabe já quem é o homem a que me refiro; é José Marques Lourei- ro, o organisador e ornamentador d'aquel- le estabelecimento que faz honra ao Porto, como Marques Loureiro faz honra ao paiz. Não diffo as razões porque avanço isto, de V. exc.^ saber de cór a «Histoire des porque as resumidas dimensões de uma plantes» de Louis Figuier, o «Tableau de la nature», a «Terre avant le deluge», a «Terre et les mers» do mesmo infatigável cscriptor ; apesar de v. exc."* conhecer muito profundamente a «Phytographie et Histoire naturelle des plantes» de La- niouroux, apesar de ser altamente ama- dora da floricultura e do ter lido muito do que sobre ella se tem por alii escripto, não lho sendo estranhos não somente os trabalhos dos modernos mas também os dfts homens que deixaram um nome na sfioncia como os dons Jussiou, De Can- dollo, Lauiark, Brown, ^Icret, Linneu, o celebrado mestre, o o nosso Brotero, não esquecendo o 83U dilecto Guillemin. E disso que esse homem, a que acima me referi, sabe mais do que eu, que nada carta não podem dar largas ao desenvol- vimento de ... . um artigo de fundo de jornal politico, cousa que felizmente jánão escrevo. Entrei eu, minha senhora, por uma bel- la tarde de agosto, mez que findou ha quinze dias, seja dito de passagem; entrei eu na quinta das Virtudes com o intuito mais prozaico e mais para se não dizer, a não ser á puridade, que pôde haver n'este mundo: para pagar a minha assi- gnatura do «Jornal de Horticultura Pra- tica». Admirei eu, antes de descer até ao oscriptorio do estabelecimento, a muita variedade de plantas o arvores lindíssi- mas que por alli se agglomeram, Conife- raa esplendidas e Cnjptofiamicas exóticas expostas ao ar livro, que deviam incon- JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 233 testavelmente encher de jubilo o mais dis- tincto cryptogamista do paiz, o meu ve- lho companheiro nas lides da imprensa litteraria e hoje distinctissimo professor do lyceu do Porto, Aug-usto Luso, homem que possue duas cousas apreciáveis — grande coração e alta intelligencia. Passei por todas estas conquistas do trabalho, da intelligencia e da perseve- rança e dirigi-me ás estufas, onde já uma vez me enamoraram umas magniíicas Or- chideas, mas d'esta vez, minha senho- ra, fiquei completamente surprehendido do que vi. Em uma das estufas guarnecida de Pas- siflora trifasciatcij notável trepadeira de folhagem bellamente ornamental, encon- trei eu magnificas Dvaecenas, Dieffenha- chias, Crotons admiráveis, Allocasia^ An- thurium e muitas outras plantas, de que a memoria me não deixou conservar o nome, talvez devido isto a eu entrar seguida- mente em outra estufa, em que magnificos Fetos arbóreos e Musas de folhagem orna- mental me deixaram ficar enthusiasmaclo de uma forma indizivel. Entrei seguidamente, minha senhora, em outra estufa, onde me surprehendeu a Allamanda Hendersoni coberta brilhan- temente de flores amarellas e de um admi- rável desenvolvimento. Também alli de- parei com centenares de Caladium de fo- lhagem pomposa e de cores variadíssimas, bem como com riquissimas collecções de Palmeiras^ Pandcmeas^ e CycadeaSj que surprehendem pela sua belleza e desen- volvimento. Ha outra estufa, minha senhora, riquis- sinia em grupos de Begónias, essas plantas pomposas e variadíssimas, cuja folhagem ornamental é tanto do agrado de v. exc.*\ que tanto estimou aquelle exemplar flori- do, com que me obsequeára Marques Lou- reiro. Encontram-se também alli em perfeito es- tado de florescência, surprehendendo pela belleza do colorido, lindissimos e nume- rosos-ác7íi))?e?ies e Gloxinias, que bem me- receriam largo acolhimento nas estufas, se o gosto pelas estufas estivesse, como devia, mais desenvolvido entre nós. Quando depois d'esta primeira visita, demos os parabéns ao proprietário do es- tabelecimento hortícola, lamentou elle o pouco gosto que entre nós ha pelas plantas de estufa, e que elle mais como amador do que como commerciante é que conti- nuava a ter assim povoadas as suas estu- fas e que ainda ha pouco fizera encom- menda de novas vaiúedades, entre as quaes algumas eram, além de alta novidade, de uma belleza surprehendente. Fico hoje por aqui, minha senhora^ por que já é longa esta minha carta, em breve porém, já que v. exc.^ assim o quer, da- rei conta das impressões que me ficaram das minhas visitas á quinta das Virtudes. ^^* De V. exc'' etc. Silva Rosa Júnior. HISTORIi E CULTURA DOS CYCLAMENS Poucas plantas ha que possam satisfa- zer tanto o amador de flores curiosas e or- namentaes, como as difterentes espécies e variedades de Cydamens. A sua florescência, dando-sc principal- mente n'uma epocha em que ha falta de flores, torna esta planta preciosa para or- namentação das étageres nas salas, e a ri- queza das numerosas flores, sahindo de um abundante tufo do f jlhagem de bclla cor verde, dá-lhe uma feição particular, que poucas plantas podem exceder. Os Cydamens são pequenas plantas vi- vazes, de rhizoma tuberculoso, globuloso, deprimido e de cor escura. D'estc rhizoma nascera todos os annos as fulhas e flores; aquellas são arredondadas, reniformes ou cordiformes, ordinariamente embellezadas por grandes manchas pardas ou esbran- quiçadas sobre o fundo verde; as flores solitaiias no vértice de uma haste cylin- drica, são grandes, perfumadas, i-cflexas, com os lóbulos da corolla levantados do lado do pedúnculo. A cor das corollas varia do mais lindo lilaz claro até á purpura violeta e algumas vezes são completamente brancas e díjbram facilmente por moio do uma boa cultura. Os botânicos dividem o género Cycla- men em duas grandes secções naturaes: os de florescência estival e vernal. As espécies de florescência vernal são : 234 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA O Cydamen europoeum, vermim, chio (ou coumjj a mais pequena de todas as espé- cies, persicum, antíochium e altpijkinn. As espécies estivaes são: o Cydamen afrícan um, ncapolitan um, hederaefoUum o groeciim. Do todas as espécies que deixamos en- numeradas as qiio mais geralmente se cul- tivam sào : primeiro (secção vcrnal) : Cydamen da Pérsia, que tem dado ori- gem a immcnsas variedades de ílôres bran- cas e muito dobradas. Distingue-so de todas as outras espécies pelos seus pedún- culos nào se enrolarem em espiral depois da floração. Era seguida vem quasi como uma simples variedade. Cydamen d' Antiodiia, notável pela al- vura da sua coroUa, cuja garganta é de puro carmin violeta. Cydamen aleppicum, que é também mui- to cultivado e tem produzido muitas sub- variedes de flores dobradas. A segunda secção, estival, distingue-se perfeitamente da primeira pelas pregas e sinuosidades que existem na circumíeren- cia da garganta; d'esta o mais cultivado é o hederaefoUum. Ha mais de dous séculos Que a cultura d'estas plantas nos jardins tem sido sem- pre constante, e, posto que tenha cabido hoje um pouco em desuso, ainda assim conta dedicados amadores. Com este pequeno artigo nào queremos mais do que recommendal-as para a cultu- ra das salas, onde realmente produzem um bello efteito. Poucas plantas fícam tào bem n'um vaso de boa porcellana, como estas. Os Cydamens propngam-se geralmente por dous modos; o primeiro cortando as raízes grossas em pedaços, e o segundo por semente, que se lança á terra logo de- pois de madura. Nào nos occuparemos do primeiro mcthodo, porque poucas vezes dá bom resultado, apodrecendo geralmente as raizes ao flm d'um anno depois da sepa- ração ou mesmo quando está no estado de repouso. E na primavera ou no outomno que a semente se lança á terra em terrinas cheias de uma composição em partes eguaes de toiTa franca, areia e terriço de folhas, tudo bem misturado o crivado. 8o a se- menteira se faz na primavera, coUocam-se as terrinas n'uma estula fria qnc so con- serva fechada; sendo pelo contrario feita no outomno collocam-se as terrinas nas bancadas posteriores de uma estufa tem- perada, e conservam-se um pouco seccas durante o inverno, principiando-as a regar á medida que se for aproximando a pri- mavera. Semeadas d'este modo, estarão as plan- tas promptas para serem transplantadas no flm de maio ou principio de junho se- guinte, ao passo que tendo sido semeadas na primavera, só deverão ser mudadas na primavera seguinte. N'esta epocha terão ellas apenas a raiz do tamanho do uma avellà. Preparam-se entào grandes vasos ou terrinas, cheios de terra egual á já dcscripta, que se secca e esgota comple- tamente antes de se plantarem n'ella as raizes. Collocam-se com o espaço de 10 a 12 centimetros umas das outras segundo o seu tamanho e transportam-se as terri- nas para a estufa fria que se conservará fechada até que os novos Cydamens co- mecem a rebentar ; então dá-se-lhes ar du- rante o dia, e á noute fecham-se outra vez fazendo-se esta operação até ao fim de ju- nho ; epocha em que se podem pôr os va- sos ao ar livre contanto que não sejam innundados pela agua da chuva. CoUocados n'este estado, os Cydamens não exigem mais cuidados senão o de li- vral-os dos caracoes o cxtrahir-lhes as her- vas nocivas até meado de setembro, tem- po em que se mudam para outros vasos pequenos conforme o tamanho das raizes e previamente cheios da mesma terra de que antecedentemente se fez uso. N'esta operação é preciso que os bolbos não fiquem muito enterrados; um terço^ pouco mais ou menos, do seu tamanho de- ve ficar de fora. Na segunda estação, de- pois do nascidos, principiarão as raizes a dar flor, podendo então ser levados os va- sos para os quartos onde devem ser rega- dos com muita parcimonia, mas não com tanta que a terra seque. Poucos mais cuidados exigem os Cy- damens, e esses são do tal ordem, que nos abstemos de os ennumerar, supprindo a intolligencia do amador a nossa falta. Estas jilantas podem obtcr-se por preço muito diminuto em casa de qualquer hor- ticultor. A. J. DE Oliveira e Silva. JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 235 CRHONICA HORTICOLO-AGRICOLÂ A transplantação de um vaso para ou- tro tem por fim dar mais espaço ás raí- zes e ao mesmo tempo substituir a terra fraca por outra mais rica. Esta operação, porem, não pode ser feita indistinctamente em todas as epochas do anno. Por exem- plo as plantas que se podam, deverão ser primeiramente podadas, e assim que a seiva começar a circular então c que se transplantarão. As plantas de folha caduca só devem ser mudadas do vaso quando comecem a mostrar as folhas novas. Es- tas espécies vegetam pouco ou nada no inverno e tendo estado muito seccas du- rante esta estação, é inútil dar-lhes um alimento substancioso no periodo de re- pouso. Em geral, é quando a vegetação começa a manifestar-se pelos rebentos que convém fazer a transplantação. As plantas de folha persistente, taes como as Camellias^ Azáleas^ Laranjeiras^ etc, etc, téem uma epocha em que as raizes se desenvolvem mais rapidamente do que n' outro tempo qualquer : é imrae- diatamente depois de terem lançado os rebentos, ramos e folhas. É este o ensejo próprio para se lhes dar novos vasos e terra mais substanciosa. As plantas, que não se podam, carecem quasi sempre de vaso maior e a necessi- dade da transplantação é-nos manifestada pelas raizes que sahem pelo escuadouro do vaso. As transplantações para vasos succes- sivamente maiores são muito úteis para accelerar o crescimento das plantas e de- ver-se-hào fazer toda a vez que se julgar conveniente, respeitando as observações passageiras que acabam de lêr-sc. Convém dar a preferencia aos vasos de barro poroso e devem estar bem limpos e seccos, e, se tiverem já servido, serão la- vados cuidadosamente, interior e exterior- mente, deixando-os seccar bem antes de se proceder ao seu emprego. Os melhores vasos são os geralmente • usados, de forma cónica com um ou mais buracos dos lados. No extrangoiro, os va- sos costumara ter um orifício no fundo, mas a pratica entre nós tem provado que este systema não é bom, porque succede muitas vezes que a raiz da planta saho para fora ; entranha-se no solo e quando se vae a tirar a planta do seu logar vc-se que é preciso arrancal-a por meio violento, o que causa muitas vezes a sua morte e quasi sempre, pelo menos, o resentir-se. A razão está bem clara. Não obstante os orifícios para a passa- gem das aguas serem lateraes, ainda assim recommendamos que se guarneça o fundo do vaso com uma porção de cacos para que a drainagcm fíque perfeitamente es- tabelecida e se não possa dar a podridão das raizes. Ha diversas opiniões sobre se deve ou não desfazer-se o torrão da arvore ou ar- busto que se transplanta. Nós optamos pelos primeiros, mas a opei-ação terá de ser feita com o máximo cuidado e até achamos muito conveniente que se ampu- tem as radieulas, que, como estioladas por falta de alimento, guarnecem geralmente as paredes dos vasos. D'aqui advirá que as raizes livres d'estas radieulas estiola- das e rachiticas lançarão outras com o vi- gor preciso para absorver os alimentos ne- cessários para o sustento da planta. Na horticultura divergem muitas vezes as opiniões em quanto a certos processos e nem sempre se podem estabelecer leis fíxas, cumprindo a cada uma esclarecer-se pelas suas próprias experiências. Não é raro o que dá bom resultado n'unia de- terminada localidade, dál-o negativo n'uma outra bem próxima. — Como lembrança do benévolo acolhi- mento que os cavalheiros a cargo de quem está a direcção do Museu de Pariz dis- pensaram ao Imperador do Brazil por oc- casião da sua estada n'aquella capital, acaba o Jardim das Plantas de ser enri- quecido com una rica collccção de Aroi- ckas, dadiva d'aquelle monarcha. Graças a esta remessa e a outras feitas pelos Jardins Keaos de Inglaterra, a collcc- ção de Aruiãeas, que tinha sido destruida em janeiro de 1871 pelas bombas prus- siarias, está novamente i'econstitviida. É para se dar os parabéns ao Museu de Pariz e á scicncia. — Já se acha publicada a primeira parte 236 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA do relatório da direcção geral do com- ! mcrcio e industria acerca dos serviços de- pendentes da repartição do agricultura desde a sua fundação até 1870. Tem por titulo «Subsistências» e ó fir- mado polo aureolado nome do snr. conse- : llieiro Kodrigo de Moraes Soares. ] O snr. Ferreira Lapa, que dá noticia d'c6ta publicação na sua «Revista agri- cula)),exprime-se do modo mais lisongeiro })ara o snr. Moraes Soai'es. 1 Eis as suas próprias palavras : N'este trabalho, puramente estatístico, esfor- ] çon-sp o seu auctor por apresentar, o mais apro- ximadamente possível da verdade, qual o consu- mo, a produc\'ão o a importação dos diversos gé- neros alimeuticios que formam a nossa subsistên- cia publica, organisando por fim uma tabeliã das quotas annuaes de alimentação por individuo, tra- balho este que, por abranger os consumos do to- dos os géneros alimentícios, me parece ir um pou- co além do que se acha publicado n'outros paizes. Longe de se cingir cegamente aos dados da es- tatística official deficiente e imperfeita, como se sabe em muitos pontos, e que conduzem algumas vezes a resultados evidentemente absurdos, o snr. Moraes Soares chamou em seu auxilio os elemen- tos inductivos e as confrontações para corrigir es- ses da000 reis de amêndoa aproximadamente. — As noticias da Guarda com relação á industria sericola são extremamente fa- voráveis. Segundo o Relatório do intendente de pecuária, vê-se que n'aquelle districto tem tomado, nos últimos quatro annos, grande desenvolvimento similhante industria. Ao passo que em 1869 produziu kilos 15.243:125 de casulo de seda, subiu no anno corrente a sua produccão a kilos 58.244:546. É para nós summamente agradável re- gistrar estes progressos, e oxalá que em todos os pontos do paiz e em todos os ra- mos da industria agrícola se notasse idên- tico desenvolvimento. Fomos outrora um povo de guerreiros, fizemo-nos navegantes, descobridores e homens de conquista, e voltamo-nos de- pois para as colónias e para a emigração. Quem sabe se será chegada a epocha, em que sejamos um paiz essencialmente in- dustrial e agricultor ? ! Oxalá que esse destino se realise, pois o estão natural- mente exigindo as condições do solo. — Segundo diz o «Grocer», Mr. Jou- glet, engenheiro franccz, descobriu um meio de fazer assucar artificial egual ao que produz a Canna. Custa apenas 10 reis cada kilo e o in- ventor já fez a venda do seu processo por 1.200:000 francos a uma companhia, que o vac pôr em pratica em grande escala. — O poder executivo da província de Buenos-Ayres apresentou á legislatura provincial um projecto de lei, que tem por fim dar grande desenvolvimento á silvi- cultura. Por esta lei concedem-se prémios valiosos aos individues, que cultivarem o Pinus maritima, Eucalyptus glohuluSj Acácia melanoxylon, A. clealhata^ Rohinia pseudo-acacicij algumas espécies de Sal- gueiros e de Alamos e outras arvores flo- restaes. Os prémios consistem em dinheiro e variam de quatrocentos a mil e quinhen- tos pezos segundo a qualidade da arvore plantada, sendo o Pinus marítima a que maior remuneração recebe. Alem d'isso os plantadores ficam dispensados das contri- buições territoriaes. Por este mesmo decreto cria-se uma officina para dirigir a repartição das se- mentes e a melhor escolha das plantações. Para a compra de sementes destinam-se 50:000 pezos. A mesma republica fomenta com todo o cuidado a industria sericola, e para isso votou o senado da nação 10:000 pezos fortes. Bom seria que nos servissem de lição estes exemplos da joven America. — Dos snrs. Dick RadclyíFe & C." re- cebemos o seu catalogo de objectos hortí- colas, sementes, plantas, etc, para o ou- tomno de 1873. Como todos os outros, traz algumas novidades. Esta casa, de que nos temos occupa- do por varias vezes, é muito acreditada em Inglaterra e ainda agora recebeu na exposição de Vienna a medalha do mé- rito pelas sementes e variados utensílios hortícolas que expôz. — Recebemos e agradecemos o «Cata- logue raisonné des produits^ de Thorticul- ture et de Tagriculture Egyptiennes à TExposition Universelle de 1873, à Vien- ne» por G. Delchevalerie. Este nosso amigo e collaborador é o di- rector em chefe dos jardins do Khediva. — N'este numero transcrevemos da «Au- rora do Lima» um artigo sobre vinhos, rubricado pelo snr. J. Torres, cavalheiro mui versado em assumptos d'este género. Chamamos a attenção dos leitores para o referido escripto. 238 JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA — Começam a chegar-nos os catálogos para a primavera o estio do 1874. Mr. Jean Verschaffelt já tem publicado o supplomcnto ao catalogo das plantas do seu acreditado estabelecimento, o qual se- rá remettido ás pessoas que o queiram hon- rar com os seus pedidos. Contém algimaas novidades de mereci- mento. — Sobre os meios de debellar o Phyl- hxtra vastatríxj, escreveu-nos o snr. Gui- lherme Read Cabral, dignissimo redactor do «Cultivador», a carta quo se segue: Snr. Kedactor do "J. de H. Pratica". Yejo nos últimos uumoros do seu illustrado jor- nal quo os proprietários das ricas vinhas do Dou- ro estão ameaçados do fazerem substituir a vinha por ortros géneros de cultura em razão das devas- tações que lhe está fazendo o Phijlloxera. Dos antídotos apresentados por diversos ne- nhum tem provado — e ultimamente um, declarado efficaz, como se vê na "Revue Horticole" de 16 de setembro próximo passado, offerece tão graves in- convenientes que o mesmo jornal o reprova com- pletamente. No numero antecedente apresenta a "Revue" um meio que julgo bom, ainda qae dependente de tempo e incertezas. E' a enxertia da vinha na Amoreira do Japão. Não duvido nada, porque na primavera d'este anno enxertei-a em Mannclleiío com bom resulta- do, mas quando começava a deitar vara, o pó de Marmelleiro, em consequência d'e8tar em terreno árido, morreu com a grande sccca, o que só se co- nheceu quando era já tarde para lho acudir. A vinha assim mesmo ainda apresentou alguma vida depois da extincção d'esta no cavallo. Ainda tenciono experimentar este meio em mais d'um pé de Marmelleiro para o anno que vem, e do resultado darei parte a V. O que me parece porem muito possivel e em to- do o caso muito fácil é ensaiar em Portugal a cul- tura d'uma vinha por ora desconhecida no conti- nente e ha poucos annos importada n'esta ilha aonde lhe damos o nome de ira de cheiro pelo seu pronunciado aroma e sabor diflerente da outra, mas agradável. E' rústica, vigorosa em extremo, e d'uma extra- ordinária producçào. Envio a V. uma dúzia de pés pelo vapor "Insu- lano" ao cuidado do snr. Germano Serrão Arnauld a quem peço a sua remessa para o Porto. Queira V. fazer com quo ella soja distribuida pelos pontos mais atacados pelo flylloxerae se tiver a felici- dade de resistir, como tenho esperanças, ao inse- cto, não ha mais que enxertar n'ella da outra, por- que a experiência tem mostrado quo não só pega o cresce com vigor, mas produz excellente uva e abundantemente. Assim como esta nova vinha resiste ao oidium, possivel também resistir ao Phylloxera. Desejarei muito saber do sou recebimento e re- sultado, e sou com a maior consideração, S. Miguel, 4 de novembro de 1873. De V., etc. GuiLHEiíMf; Rkad Cabral, Cumprc-nos agradecer ao snr. Cabral a remessa das cepas a que allude na car- ta que se acaba de lêr, as quaes logo se- guiram o sou destino. Aproveitamo-nos d'este ensejo para tes- timunhur ao illustrado redactor do «Cul- tivador» a honra que teriaraos em quo o seu nomo abrilhantasse ameudadas vezes as columnas do «Jornal de Horticultura Pratica», que sempre estarão abertas para receber tao honrosa v^ ita, qual a do snr. Guilherme Read CabrcJ. — A camará legislativa da Califórnia resolveu premiar os creadorcs de sirgo que apresentassem 100:000 casidos, com 270)$ reis. Offerece também 225,!>000 reis, como premio, ao pi'oprietario que tiver uma plantação de 5:000 Ar.ioreií-as de dous annos de edade. É este o verdadeiro meio de estimular uma industria, que tão vantajosos resulta- dos dá para o proprietário e para a nação. — De uma noticia que se lê na «Revue Horticole» conclue-se que o verdadeiro no- me da Monsttra deliciosa (vido « J. H. P.» vol. n, pag. 19 e vol. Hl, pag. 61) é Tor- nelia fragrans em consequência de ter si- do dedicada ao snr. Tornelia, ministro da guerra mexicano. A Monstera dclicioía também era co- nhecida por Pliilodendron pertxisum e Scin- dajysus j^ertusus e vem a pello dizer-se que passou o inverno passado ao ar livre no estabelecimento do snr. Marques Lou- reiro, chegando a produzir dous ou três fructos, que não vingaram. — Mr. Ed. Vianne, redactor do «Jour- nal des Campagnes», estando a montar uma machina nas suas propriedades de Lorraiue, fcriu-sc na mão direita, o que o inhibe de redigir temporariamente a sua interessante publicação. O quo desejamos, é que o illustrado en- fermo tenha prompto restabelecimento. — O snr. Alfredo Ferreira dos Anjos, estudioso e intelligcnte moço, deu a lume uma breve descripçuo da Quinta Regional de Cintra e seus annexos. Descreve minuciosamente a sua situa- ção, os terrenos occupados pelas diversas culturas, resultados colhidos c muitas ou- tras ]>articularida(lcs de interesse. O snr. Ferreira dos Anjos, estudante JORNAL DE HORTICULTURA PRATICA 239 do primeiro anno do curso de regentes ag-ricolas do estabelecimento acima men- cionado, continuando assiduamente com os seus estudos, será um discipulo que hon- rará os professores ao mesmo tempo que a si próprio. O trabalho a que alludimos é uma prova evidente do merecimento do joven escriptor. — Na America do sul também se tracta da propagação do Euccvyptus glohulus. No jornal que é ^orgáo da Associação Rural de Uruguay^u; que temos presente, lê-se que o snr. Pippert ofForecera á muni- cipalidade de Buenos Ayres alguns exem- plares de um pequeno folheto que contém a descripção e a cultura da alludida arvo- re, folheto escripto em três idiomas : fran- cez, inglez e hespanhol. Estes opúsculos foram offerecidos á mu- nicipalidade de Buenos Ayres com o íim de esta os distribuir pelas localidades que julgar conveniente. — Sempre ouvimos dizer que valia mais uma boa tradiicção do quo um sofFrivel trabalho original. E assim é. O livro de que nos vamos occupar é uma traducção feita por um cavalheiro que occulta o seu nome sob duas iniciaes. Firma-o M. L. e intitula-se «Arte Vete- rinária ou Tractado dos Aiiimaes Domés- ticos— sua creação, propagação e conser- vação. » Este primeiro volume (a obra ficará completa em dous) é dividido em quatro capítulos, a saber: I Considerações sobre a machina animal, e seu apparelho de movimento. — II Anatomia e physiologia dos animaes. — III Cirurgia. — IV Pa- thologia. Cada um d'estes capitules tra- cta detidamente do assumpto quo lhe cabe 6 as pessoas que por qualquer eventuali- dade tenham de se occupar de veteriná- ria encontrarão na traducção do snr. M. L. os esclarecimentos de que por ventura possam carecer. Aos proprietários, lavra- dores, alveitares e ferradores, recommen- damos com especialidade este livro. Forma ura grosso volume do cerca de 500 paginas cm 8.° francez. Ao snr. M. L. cumpre-nos agradecer a sua dedicada attenção e felicital-o pelo importante serviço quo prestou á veteri- nária. — Na Universidade de Coimbra fez-se um melhoramento, que de ha muito era desejado. Até aqui ensinava-se a parte theorica da botânica nos edifícios da Uni- versidade, indo depois os estudantes para o jardim fazer o estudo pratico. Hoje, po- rém, lecciona-se esta sciencia no antigo convento de S. Bento, que fica contíguo ao jardim, tornando-se d'este modo de muito mais proveito o estudo para aquel- les que se dedicam a elle. Estimamos que se realisasse este me- lhoramento. — Vae tomando grande incremento a nossa exportação de fructas verdes e hor- taliças, sendo a da Cebola a principal. O snr. conselheiro Rodrigo de Moraes Soares, occupando-se d'esto objecto, acon- selha aos cultivadores d'estes géneros que acompanhem as vantagens da procura com as boas condições da oíferta, devendo para esse eífeito alargar e aperfeiçoar as culturas, porque, se as hortaliças e fru- ctas verdes encarecerem pelo excesso da procura, os compradores irão explorar outros mercados, acontecendo outro tanto se não houver o máximo cuidado em me- lhorar as castas. O distincto agrónomo concluo d'est6 mo- do as suas considerações : «Não ha cultura mais lucrativa do que a das hortaliças e fructas verdes, quando a venda é certa e os preços são remuneradores. Oxalá que o incentivo, que actua sobre o progresso da nossa horticultura e pomi- cultura, se não converta em um instru- mento pernicioso. Entre nós os preços demasiadamente remuneradores, em vez de activarem o melhoramento dos productos, costumam esfriar e amortecer os cuidados dos culti- vadores, aos quaes se pôde applicar o ada- gio latino : Miserae tolerantur, felicitate corrompimur. Soífremos as misérias e deixamo-nos corromper pela felicidade». —MM. Charles Huber & C.ío de Hyè- res, enviaram -nos o seu Catalogo geral para o outomno de 1873 e primavera de 1874. Os snrs. Huber & C^f^ dedicam-se es- pecialmente á producção de sementes de flores, arvores o arbustos de ornamento indígenas e exóticas. 240 JORNAL DE HORTICULTURA TRATICA Dos snrs. Ferreira & C/ cVesta ci- ' confiei, certo do que desempenharia este cargo dade também recebemos um catalogo àe^^^^^lít^^^^^^^^^^^^^^ licença para que eu, eomo bolbos, raizes e sementes de flores para proprietário do jornal, aprradeça cordealmento a 1873-1874. todas as pessoas que me téom auxiliado n'esta em- ií a nninto oit-iloo-n nue estes senhores ' P""^""^' "1"® ""' P""" ''""''" P""^"" ® ^^^cidido amor pe- tL, O qUiniO caiaJOgO que esies sennoies ^^ horticultura continuarei a sustentar não obs- tante os jnuitos dissabores que tenho sofTrido. Se as pessoas com quem estou mais intimamen- te ligado polo laços da amizade me téem coadju- vado, não devo esquecer a solicitude, boa- vontade e zelo de que V. dispõe para que as paginas do JoHXAL DE Horticultura Pratica formem no fim de cada anno um livro de leitura amena e inatru- ctiva. Para V. não tenho expressões com que lhe mani- feste o meu reconhecimento. Acredite, porém, snr. Oliveira Júnior, na since- ra estima do seu amigo dedicado publicam. Fazendo estes horticultores exclusiva- mente negocio com os productos hortico- las que mencionamoSj é de crer que sejam escrupulosos na selecção dos artigos que annunciam. ' — Em Cadix, teve logar recentemente uma exposição horticola, sendo o jury com- posto pelo nosso coUaborador Francisco Ghersi e pelo snr. A. Carillo. Os prémios foram adjudicados pelo se- guinte modo : A primeira medalha de prata ao snr. D. Juan Lopez Padilla pelas suas collec- ções de Coníferas e Orchideas ; a segun- da medalha, que era de cobre, coube ao snr. D. Diego de Agreda pelos bellos exemplares de Begónias que apresentou. Á snr.^ D. Rafaela Ponce de Leon foi conferida uma menção honrosa, bem como ao Casino Jerezano e a alguns particula- res pelas plantas que exposeram. Fazemos votos para que a horticultura, na nossa visinha Hespanha, que hoje tem os arados cheios de ferrugem, caminhe a passo agigantado na senda do progresso, porque com isso lucraria ella e o nosso paiz também. — E este o ultimo numero do FV volume do Jornal de Horticltltura Pratica, que prefaz hoje quatro annos de existên- cia. Para Portugal, paiz em que as publi- cações scientificas e litterarias morrem á nascença, já é alguma cousa um jornal contar tão longo periodo de vida. Do boamente festejariamos este anni- vcrsario, mas uma carta que temos á mão firmada pelo snr. José Marques Loureiro dispensa-nos o prazer que experimentaría- mos de mais uma vez agradecer a todos os cavalheiros que téem cooperado para o florescimento d'esta publicação. Dêmos logar á carta do nosso particu- lar amigo e estimável floricultor : Amigo e sxr. redactor. NSo se tem V. esquecido de agradecer todos os annoa aos cavalheiros que ge dignam coadjuval-o na coUaboração do periódico, cuja redacção lho JosÉ JIarques Loureiro. Depois d'este amável bilhete de visita já vêem os leitores que nos não resta se- não enderaçal-o a cada um dos nossos es- timáveis collaboradores e assignantes. Pelo que mais particularmente nos diz respeito não negamos que envidamos to- dos os esforços para que esta publicação attinja uma certa altura enti'e as peregri- nas de Índole idêntica e como diz Thié- baut de Berneaud: «heuroux si nous rem- plissons. . . . , au grè de tous, le but que nous nous proposons d'atteindre ! » Temos por divisa o iifile diílce e é abro- quelado com ella que borboleteamos de ramo em ramo, buscando espalhar ora fru- ctos, ora flores. Póde-se concorrer efficaz- mente para o sustento, regalando junta- mente o paladar. Assim como a alimenta- ção excessivamente azotada é prejudicial ao organismo, assim a leitura árida cança e esterilisa o espirito. Em tudo é pois preciso o meio termo. Leitores ! Eis chegado o momento de fazer as nossas depedidas para só nos tor- narmos a ver no próximo anno do 1874. Voioi rinstant suprôme, L'instant de nos adieux... E até lá boa saúde, e boa alegria, que é a boa disposição de espirito, com que haveis de receber o palavriado do chro- nista. E venha o shake-kanrj o viva o anno novo, pois que para nós já morreu o anno da graça de 1873. Isto de annos é como com os reis : rei morto, rei posto. Não cho- remos o que passa ; saudemos o que chega. Oliveira Júnior.