emarm < uam aa Ds E————— mms o cade a = T—— a) rm = = ——— Te | = —————— roma —— nat 4 E! O! e) ido ê, ba 2! En U Rua r DM Li ai aa Pê si “tr | 14 Rd ç si A = E o N o o . 3 = e vs = “ E 0 hi E na o a = o . q o o o a DE q o . N no Deer l E ta o o a. an! . é : - o bas mad ad Ê Mao) os 2 ARG E DE = | SS O E TS VN O O Fi z í ' E o a Rd E t D $ p , a » ” 4 — ' “ x E [= $ 4 1 à E E í a y Í En e ” " q Re her “o + - o 4 - mi] Ra ) : 1» “1 E qk | ms Bo i [Es a E o » ) . E Ly D) To w - 1 ) p FIÇà . fas à “ ' PY p toa 4 t 4 1º k E 1 ' Es (d) Pis a me o EPE epa RuDDE 14 hd es > E X z dr ] Fa F Ni Ro ; h Tea + 1 Pa - !) pa Iser Em Ê E E PN E, à LIVRO DA MONTARIA D. JOÃO 1, REI DE PORTUGAL EA ” "tac As e ia e TR O FE SEIVRO DA MONTARIA FEITO POR D. JOÃO I, REI DE PORTUGAL, * CONFORME O MANUSCRITO N.º 4352 DA BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA ? PUBLICADO POR ORDEM DA ACADEMIA DAS SCIÊNCIAS DE LISBOA POR Francisco Maria Esteves Pereira COIMBRA IMPRENSA DA UNIVERSIDADE 1918 INTRODUÇÃO I O livro da Montaria Manuscrito. — O Livro da Montaria nunca foi im- presso, e dêle é conhecida sómente uma cópia manus- crita, depositada na Biblioteca Nacional de Lisboa, onde tem a numeração: P-—-3 — 4 (antiga) e 4352 (moderna). Esta cópia é um volume encadernado com as pastas de “papelão cobertas de papel de côr, um pouco deterio- rado. O livro tem 134 fôlhas paginadas de 1 a 267, sómente com os números ímpares, na parte superior e direita da página recto de cada fôlha; e mais duas fôlhas de guarda, não numeradas, no princípio, e outras duas, tambêm não numeradas, no fm. As fôlhas não foram aparadas, quando se fez a encadernação; a fôlha tem 0",228x 0",188. A márgem superior tem o",018 a o",020; a márgem lateral esquerda tem o",018 a 0”",020; as márgens inferior e lateral direita são muito pequenas. As fôlhas do livro são dispostas em cader- nos de seis fôlhas duplas (12 fôlhas de livro ou 24 pá- ginas): a ordem dos cadernos está errada, e é a seguinte: Cadernos 1,2 e3........ Páginas 1a 72 , Drops s eres 0% » IZ1a 144 +» e VI — Cadernos 4 e'5...v:2..0.00 "páginas: 43 R-106/ » MB, O, LD € 11 » 145a 264 ft Tólha duplas assa » 265 a 268. Na página 1, antes do comêço da obra, está escrita a seguinte declaração : «Libro de Monteria composto pelo Sefior Rey Don Joaom de Portugal, e dos Algarues, e Sefior de Ceuta, trasladado de un original de maom escrito em perga- minho, que se achou na Libreria do Collego da Comp.* . de Ihs. de Monforte de Lemos polo Bacharel Manoel Serrão de Paz este anno de mil e seyscentos e vinte e seis. | | «Começa assi o libro desta maneyra.» Em seguida está escrita a inscrição da obra, que começa assim: «Aqui se começa o livro da Montaria, o qual he - tomado e ajuntado com acordo de muytos bôos mon- teiros...». Depois da inscrição segue-se o Prólogo, em cujo fim se diz que a obra consta de setenta capitulos; depois deveria seguir-se a tauoa dos capítulos, que o escrivão do manuscrito diz que porá no fim da obra; mas a tauoa não se encontra ali. A obra ocupa todas as páginas do livro até à página 267; e em seguida está escrita a seguinte subscrição : «Copiado ficlmente com todas as variações orthogra- — yu — phicas que vinhão no manuscrito, com todas as: phra- zes não acabadas e periodos ininteligiveis, sem que lhe mudasse cousa alguma: até os borrões lhe copiaria se não temesse que m'os atribuissem, e não ao manuscrito. Só lhe acrescentei alguns acentos para que ficasse menos inintelligivel. Estou certo que me imputarão mui- tos erros que não são meus. (Ora é pena que eu não esteja lá com o manuscrito nas mãos para lhe mostrar o contrario, e lhes roçar os narizes com elle. Pacien- cia sobre paciencia! Que bastante tive em atentar em palavra por palavra, mas até lettra por lettra, F. A, C. (2)». É A letra dêste manuscrito é de uma só mão, miuda, mas bem legível; foi escrito no fim do século xvrrr ou princípio do século xix. A primeira das duas fôlhas de guarda do princípio tem a página recto colada à pasta de papelão; na pá- gina verso da mesma folha está escrito, por letra dife- rente da do manuscrito e mais moderna, o seguinte: a A A. d'Az. Vn.º gbro 1844 T. NORTON (carimbo). «Este ms. talvez único em Portugal é de um mereci- mento extraordinário. Se el Rey D. Duarte delle não fizesse menção, até se ignoraria que el Rey D. João Io escrevera. (Os nossos Bibliógraphos não fazem delle menção algúa. Se as publicações neste paiz tivessem lies; PE esto uma extração regular, quem o quizesse imprimir pode- ria compralo por 30 ou 40 moedas. Val comtudo 10 moedas.» Nas páginas recto e verso da segunda das duas fôlhas da guarda do princípio, está escrito, por letra diferente da do manuscrito e da da nota anterior, e ainda mais moderna, o seguinte: «Pelo que se lê no livro da ensinança de bem caval- gar toda a sela que fez el.Rey D. Eduarte de Portugal e do Algarve e senhor de Cepta, o qual começou em sendo Iffante, este livro da montaria é de el Rey D. João 1.º «Diz D. Duarte no citado livro cap. 11.º que se ins- creve «porque se da ensinança de maneira que em monte averam de dencontrar». E por se ferirem mais prestamente el rey meu Senhor põe alguús auisamentos “no seu liuro da montaria de nom leuar a lança muito soo braço por a pontaria nom perder...». Segue-se depois a seguinte nota, escrita de outra letra, tambêm moderna: «Do livro de D. João I não se encontram rastros nem ' sequer na Torre do Tombo onde ha preciosidades que tu não imaginas. (Carta de A. Herculano ao Dez.” A. C. de Seabra em 1845). O Snr. Herculano, que isto escrevera, diz-nos depois no seu Monge de Cister impresso em 1848, a pág. 7 do 3.º tomo de Monasticon: «Aqui afastado do tumulto da corte, quando as tregoas com Castela lho consen- e 1 = tiam, vinha ás vezes passar o antigo mestre d'Aviz largas horas de trabalho mental, ou escrevendo o seu b) livro da caça de altanaria...» e a pág. 276 do mesmo vo- an lume: «Depois do trabalho de algum tempo no seu livro sobre a caça de altanaria, o livro em que satisfazia a (2 sua vaidade de autor...». Parece-me que nesta última parte o Snr. Herculano nos quiz persuadir que lhe não era desconhecida esta obra, mas àlêm da notícia que dela tem pela obra de D. Duarte, e pela pergunta que * lhe fez o Snr. Seabra, cremos piamente que nada mais soube de tal obra. Quem a ler não se capacitará que D. João a escrevesse para satisfazer a vaidade de autor. Muitas vezes convem inculcar que temos lido obras, cujos autores apenas apontamos. Não quero com isto ., dizer cousa que desabone o Snr. Herculano, pelo con- trário é êle um dos homens mais profúndos no nosso paiz.» Pela declaração que precede a inscrição do Livro da Montaria, sabe-se que um original de mão, escrito em pergaminho, existia na livraria do Colégio da Companhia de Jesus em Monforte de Lemos; e que dêste foi feito um traslado pelo Bacharel Manoel Serrão de Paz no ano de 1626. E como a copia do Livro da Montaria, contida no manuscrito 4352 da Biblioteca Nacional de Lisboa, é do fim do século xvitr ou princípio do século Xix, segue-se que esta cópia foi feita do traslado do Bacharel Manoel Serrão de Paz, tendo o escrivão do «manuscrito 4352 transcrito a declaração do princípio do mesmo traslado. Há assim notícia das seguintes cópias do Livro da Montaria: 1. Original de mão escrito em pergaminho, prova- ER E AN velmente do século xv, que em 1626 pertencia á livra- ria do Colégio da Companhia de Jesus, em Monforte de Lemos. | 2. Traslado do original de mão, feito pelo Bacharel Manuel Serrão de Paz no ano de 1626. 3. Copia feita por F. A. €. (?) no fim do século xvrli ou princípio do século x1x, que pertenceu a Tomaz Norton, Dezembargador da Relação do Porto, que a adquiriu em 1844, e atualmente depositada na Biblio- teca Nacional de Lisboa. Apezar das diligências que se fizeram, não alcança- mos notícia da existência do original de mão escrito em pergaminho, nem do traslado feito pelo Bacharel Manuel Serrão de Paz; parece-nos contudo, que ma- nuscritos de tão grande valor, sôbre tudo o original de mão escrito em pergaminho, não terão sido destruidos, antes cremos que farão parte de livrarias pertencentes a particulares, porque D. José Gutierrez de la Vega os não menciona na sua bibliografia venatória (!); e por ven- tura a presente publicação será motivo ou ocasião de se fazer conhecida a existência de algum daqueles ma- nuscritos. ig: | | Do manuscrito 4352 da Biblioteca Nacional de Lisboa deram notícia Gama Barros (Historia da administração publica em Portugal nos seculos x11 a xv, Lisboa, 1885, tom. 1, p. 425, nota 8), Gabriel Pereira (Estudos Eboren- ses, n.º 29, As caçadas, 1.º parte, p. 6-10), e José Leite de Vasconcellos (Textos archaicos, Lisboa, 1908, p. 55). dá (1) D. José Gutierres de la Vega, Libro de la monteria del Rey D. Alfonso XI, Madrid, 1877, tom. 1, p. cxlv e ccix, e tom. 11, p. Ixii a Ixxii. E SRU O “ns SER iso RNA e Eferii ar for SE NS der 5 e HT EstADO DA CÓPIA DO MANUSCRITO 4352. — Pelà decla- ração que precede a inscrição do Livro da Montaria, sabe-se que um original de-mão escrito em pergaminho existia na livraria do Colégio da Companhia de Jesus em Monforte de Lemos, da província de Lugo, na Ga- liza; e que do mesmo original foi feito um traslado pelo Bacharel Manoel Serrão de Paz no ano de 1626. Esta declaração, feita pelo Bacharel Manoel Serrão de Paz, foi transcrita pelo escrivão que fez a cópia contida no manuscrito 4352 da Biblioteca Nacional de Lisboa; e na subscripção dêste mesmo manuscrito, o escrivão declara, que o manuscrito que teve presente, certa- mente o traslado feito pelo Bacharel Manoel Serrão de Paz, foi copiado fielmente com todas as frases não acabadas e periodos ininteligíveis, sem lhe mudar cousa alguma, sómente acrescentou alguns acentos para que fôsse mais inteligível. Não há motivo algum aparente para julgar que a declaração do escrivão, que fez a cópia contida no manuscrito 4352, não seja sincera e verdadeira; e por tanto deve considerar-se o manuscrito 4352 como cópia muito fiel do traslado feito pelo Bacharel Manoel Serrão de Paz. Mas no texto do manuscrito 4352 observam-se as seguintes particularidades de escrita: 1. À nasalação de vogal final de palavra, que em por- tuguês é indicada por m ou til, está representada por n; assim en (em), non (nom), can (cão), fizeron (fizerom). 2. O emprêgo frequente de b em vez de u (v), como dubidoso (duuidoso), libro (livro), etc. 3. O emprêgo frequente de em vez de nh, como cofioce (conhoce), tamafio (tamanho), etc, — x — 4. O emprêgo da letra 1 em vez de 1, como plazer (prazer), noble (nobre), plouger (prouger) etc. 5. O emprêgo do grupo sc antes de e, sôbretudo nos verbos da segunda conjugação, e palavras deri- vadas dos mesmos verbos, como acontescer, conhescer, fallescer, etc. 6. O iotacismo de e átono, como diante, milhor, piqueno, etc. | 7. O uso das seguintes palavras: naturaleza (natu- reza), medes (mesmo), arredrado (arredado), sal (sahe). As particularidades indicadas em os n.º 1, 2,3,4,5 e 7 são características da língua castelhana do século xvir, e a 3.º indica a pronúncia privativa da Galiza, onde foi feito o traslado pelo Bacharel Manoel Serrão de Paz. Do que precede conclue-se que o traslado de que foi feita a cópia contida no manuscrito 4352, tinha sido escrito por português, que falava habitualmente a língua castelhana, e que inadvertidamente introduziu no seu traslado formas gramaticais e palavras estranhas à língua portuguesa, mas próprias da língua castelhana; ou por pessoa de nacionalidade castelhana, que pelo costume de escrever na sua língua, introduziu no tres- lado as modificações de escrita indicadas. Deve obser- var-se ainda, que o traslado foi feito no ano de 1626, isto é, durante o tempo que Portugal esteve sujeito ao domínio de Espanha, e que pelo seu nome o Bacharel Manoel Serrão de Paz parece ser originário de Portu-' gal, talvez residente em Monforte de LATE, e ali ligado a alguma família castelhana. LincuÁcEM E EsTILO. — Se se abstrai.das particulari- dades de escrita precedentemente indicadas, e de outras -— Xiii — que são evidentemente devidas à transformação da língua portuguesa, desde a época em que o Livro da Montaria foi composto até ao ano de 1626, em que foi escrito o traslado feito pelo Bacharel Manoel Serrão de Paz, pode dizer-se que a linguágem do Livro da Man taria, tanto pelo que diz respeito à forma das palavras e sua morfologia, como à sua coordenação para consti- tuir a frase (!), é a mesma que a das melhores obras do século xv, como o Leal Conselheiro, a Arte de bem cavalgar a toda a sela, a Virtuosa bemfeitoria, a Corte imperial, as crónicas dos reis D. Pedro 1, D. Fernando, D. João I (primeira e segunda parte), a Cronica do descobrimento e conquista de Guiné, a Cronica da to- mada de Ceuta, e as crónicas do Conde D. Pedro de Menezes e do Conde D. Duarte de Menezes. O estilo do Livro da Montaria é sempre nobre E grave, como convem a uma obra didática, mas sem ser pesado; e posto que algumas vezes por necessidade se aluda a alguns actos fisiológicos dos animais, cães e porcos, todavia as palavras empregadas são discretas, “e não ofendem o pudor, sem comtudo faltar nada à devida claresa. O autor soube manter sempre o seu discurso a altura correspondente à sua própria majestade, quer orde- nando como rei, quer ensinando como monteiro muito experimentado, e que era muito afeiçoado ao exercício (1) Entre outras particularidades de sintaxe dos escritores do século xv, apenas citaremos a colocação do pronome da terceira pessoa complemento antes do sujeito; ex.: em que se o homem a de manter em no mister da guerra (p. 9, 1. 26-2%: se virem que ao porco abaixou com as unhas (p. 113, 1. 14-15). * siso RTV tas da montaria (!). E assim como el rei D. João 1 foi pai e rei dos autores das obras acima mencionadas, assim tambem o seu Livro da Montaria é superior em mere- Y cimento intrínseco às mesmas obras, todavia de altís- 5) simo valor. Divisão DA OBRA, —O Livro da Montaria divide-se em três livros, dos quais o primeiro tem trinta capítulos, o segundo vinte, e o terceiro vinte; ao todo setenta capi- tulos, exactamente como se diz no fim do prólogo. No manuscrito 4352 parece hesitar-se algumas vezes em denominar cada uma das três grandes divisões da obra pela palavra livro ou parte; conservou-se todavia a denominação de livro para cada uma das grandes divisões, por ser a mais constante. [NTEGRIDADE DA OBRA. — O manuscrito 4352 conservou a obra em toda a sua integridade, não havendo-lacunas ném falta de capítulos. No mesmo manuscrito falta sômente a tauoa dos capitulos, a que se alude no fim do prólogo; no fim da impressão foi ajuntada pelos títulos . dos capítulos dados no decurso da obra. Avror. — No prólogo do Livro da Montaria está escrito que D. João por graça de Deus rey de Portu- gal e do Algarve e senhor de Cepta, pelas razões que no mesmo prólogo são dadas, trabalhou por fazer êste livro da montaria; e na inscrição diz-se que foi tomado e ajuntado com acôrdo de muitos bons monteiros. Po- deria, contudo, julgar-se que o Livro da Montaria seria “ (1) Libro da Montaria, liv. 1, cap. iij. DV é composição de um autor anónimo, o qual para autori- sar mais a sua obra, a atribuiria a el rei D. João 1, o que era um artifício literário muitas vezes usado na idade média. Mas el rei D. Duarte, no Leal Conselheiro (cap. xxvi)), | diz: «E semelhante o muy excellente e virtuoso Rey, meu Senhor e Padre, cuja alma Deos aja, fez húu livro das Horas de Santa Maria, e salmos certos pera os finados, e outro da montaria.» E ainda o mesmo rei D. Duarte, na Arte de bem cavalgar a toda a sela (parte v, cap. xi), diz: «E por se ferirem mais presta- mente el Rey meu Senhor põe alguus avysamentos no. seu Livro da montaria.» Estes testemunhos confirmam plenamente a declaração do prólogo do Livro da Mon- taria; é pois certo, de modo incontestável, que êste livro é obra de el rei D. João 1. j Um testemunho do século xv confirma tambem a mesma atribuição do Livro da Montaria a el rei D. João 1. No Códice, conhecido pelo nome de Livro da Cartuxa de Evora, escrito provavelmente no sé- culo xv, do qual existe uma cópia do século xvr no Arquivo Nacional, Cód. 1928, e outra na Biblioteca Nacional de Lisboa (Cód. 3390), no título dos livros do uso del rei D. Duarte, é mencionado o seguinte (!): «Liuro da montaria que compilou o victorioso Rey Dom João, ao qual Deos dee eternal gloria.» Na inscrição do Livro da Montaria diz-se que êste (1) Livro da Cartuxa de Evora, Arquivo Nacional, Cód, 1928, fol.; Biblioteca Nacional de Lisboa, ms, 3390, fol, 163 v. ccxiij v.- 165 v. ccxv v.; D. Antonio Caetano de Sousa, Provas da historia genealogica da Casa Real Portuguesa, tom.1, p. 544; Leal Con- selheiro, p. xx. — 4Vi —s livro foi tomado e ajuntado com acordo de muitos bôos monteiros. No livro II, cap. xij, diz-se que as indica- ções relativas ao modo de matar o porco fôram dadas principalmente por Aires Gonçalves de Figueiredo (!). Dos outros monteiros que prestaram ensinamentos acêrca da montaria não são dados os nomes; mas cer- tamente um dêles foi, em razão do seu cargo, Lopo Vaz de Castel Branco, monteiro mor del rei; entre os outros seriam tambem Martim Afonso de Mello, guarda mor del rei, grande caçador e monteiro (2); Fernão Ro- drigues de Sequeira, mestre de Aviz, de quem D. João 1 tanto se fiava; e talvez o próprio condestável D. Nuno Alvares Pereira, que segundo afirma Fernão Lopes (Cronica de D. João I, parte primeira, cap. xxx1) era mais monteiro que caçador, como quer que de tudo usava quando cumpria. No princípio do capítulo xviii do livro segundo diz-se que certos assuntos da montaria, cuja resolução era duvidosa, eram trazidos a juízo perante outros bons monteiros com o fim de determinar (resolverem), como se devia de proceder. E provável, por isso, que na. côrte del rei D. João I, houvesse uma espécie de juízo, certamente sem carácter oficial, composto dos montei- ros mais autorisados pela sua prática da montaria, que era consultado nos casos duvidosos e difíceis; e que fôssem os monteiros que compunham êsse juízo, aquel- (1) Acerca de Aires Gonçalves de Figueiredo veja-se: Fernão Lopes, Cronica del Rei D. João 1, parte primeira, cap. 161, 184, 185, e parte segunda, cap. 116, 173, 177 e 178; Gomes Eannes de Zurara, Cronica da tomada de Ceuta, cap. xXxv, XXXV), le lxxxiii). (2) Gomes Eanes de Zurara, Cronica da tomada de Ceuta, cap. xxi). -—s — KVIL —s les que el rei D. João I ouvia para compôr, de acôrdo com o seu parecer, o Livro da Montaria. Todavia não pode deixar de se reconhecer, pelo que se diz no pró- logo, e muitas vezes no decurso da obra, dirigindo-se o o autor aos monteiros, que o Livro da Montaria foi composto por iniciativa del rei D. João I, que deu o plano geral da obra, mas tambem que são suas próprias muitas regras e preceitos enunciados nela, pois são dados como determinações de pessoa investida da su- prema autoridade, e fundados no parecer de pessoa que tinha longa prática da montaria. D. João, filho bastardo del rei D. Pedro I, sendo de idade de sete anos, foi feito Mestre da Ordem de Aviz, e criou-se entre os freires. da mesma ordem; e posto que os seus principais exercícios fôssem os das armas e da cavalaria, contudo a sua instrução literária não foi descurada; e ainda que as perturbações e guerras que se seguiram depois da morte del rei D. Fernando até ao estabelecimento das trégoas. com Castela, não lhe deixassem tempo para se entregar a estudos literá- rios (!), é certo que D. João I possuia uma notável ins- “trução geral (2). Esta instrução certamente foi adquirida “no convívio da sua casa e pela conversação dos fidalgos da sua côrte. Em primeiro lugar deve mencionar-se sua mulher, a rainha D. Filipa, filha de D. João duque de Alencastre, e neta de Eduardo IV, rei de Inglaterra, - em cuja côrte fôra educada, e que era dotada de grandes (1) Posto que el Rey despendesse pouco tempo em aprender sciência, todas as suas palavras, porem, eram ditas com grande autoridade. (Gomes Eannes de Zurara, Cronica da tomada de Ceuta, cap. xxvij). (2) Veja-se Fernão Lopes, Cronica del Rey D. João I, parte se- gunda, Prólogo; e Leal Conselheiro, cap. xxvi). — XvII — virtudes e muita prudência ; ela fez na côrte portuguesa diversos melhoramentos e reformas nos costumes; e in- troduziu o uso de rezar as Horas de Nossa Senhora segundo o rito da Sé de Salisbury (!); e dirigiu a educa- ção de seus filhos a inclita geração. Entre os fidalgos, que compunham a sua côrte e eram notáveis pelo seu valor, e que certamente el rei D. João I consultava, devem mencionar-se : nos assuntos relativos à religião, àlêm dos prelados de Lisboa, Braga, Porto, Coimbra e Lamego, os seus confessores Frey João Xira e Frey Vasco Pereira; no que dizia respeito à guerra e defesa do reino, o condestável D. Nuno Alvares Pereira, o marichal D. Gonçalo Vaz Coutinho, o comendador mor da Ordem de Aviz Fernão Rodrigues de Sequeira, o mestre da Ordem de Cristo D. Lopo Dias de Sousa, e muitos outros fidalgos; no que dizia respeito à nave- gação, o capitão do mar Afonso Furtado e o almirante Mice Carlos Pecanha; em relação ao regimento do reino o Dr. João das Regras, o Dr. Gil d Ocem, eo Dr. Mar- tim Afonso de Azambuja; e em relação à física (medi- cina) Mestre João Vicente seu físico-mor, que depois foi bispo de Vizeu e de Coimbra. | | N - O Livro da Montaria quasi exclusivamente consti- tuido por noções, regras e preceitos relativos à caça do porco montês, sem diversões, nem citações extensas, mostram que o seu autor, se não possuia uma instru- ção geral muito profunda, era todavia consideravelmente extensa, como se vê das suas citações, que são: A Biblia: Velho Testamento: Génesis, Isaias, Jeremias, Job; Novo Testamento: Evangelhos. (1) Gomes Eanes de Zurara, Cronica da tomada de Ceuta, cap. xlvj. | — Xix — Santos Padres: S. Agustinho, S. Bernardo, Beda. '* Escritores castelhanos: D. Alfonso X, o Sabio, D. Lu- cas de Tuy, D. João Manuel. Astrónomos: Ptolemeu, Albenazar, Ali ben Ragel, João Gil. Livros de Gramática, de Retórica, de Celorgia, de j Alveitaria, e de Falcoaria. A el rei D. João 1, que declara ser muito afeiçoado ao exercício da montaria(!), eram sem dúvida conhecidos | alguns livros compostos sôbre a caça, e particularmente “sôbre a montaria. Ele mesmo no prólogo do Livro “da Montaria afirma, que outros escreveram livros sôbre * diversas artes, entre outras a Falcoaria (altanaria ou cetraria); e posto que não mencione nenhum livro de - montaria, não se pode duvidar que lhe foram conhe- “| cidos alguns, sôbre tudo o Libro de la Monteria man- dado escrever por el rei D, Alfonso XI de Castela e " de Leon. Com efeito, no prólogo do Livro da Monta- ria compilado por el rei D. João 1, dão-se as mesmas 41 razões que no prólogo do Libro de la Monteria del rei “| D. Alfonso XI, para justificar a composição da obra (2). E Alêm disso no manuscrito do século xv, denominado — Livro da Cartuxa de Evora, no título dos livros do “uso del rei D. Duarte, e que certamente provinham É pela maior parte da livraria de seu pai el rei D. João 1, - são mencionados os seguintes livros: 4 De montaria : 31. Livro de montaria, que compilou o victorioso a rey D. João ao qual Deus dee eternal gloria. id Tac be - (1) Livro da Montaria, liv. 1, cap. iij. — (QD. José Gutierres de la Vega, Libro de la Monteria del Rey — D. Alfonso XI, Madrid, 1877, tom. 1, prólogo (p. 4 e 5). a qu 65. Livro de Montaria por Castelão. 69. Livro de Montaria. De Cetraria (altanaria ou falcoaria): 36. Livro de cetraria por Castelão. 55. Livro de cetraria que foy del Rey D. João. O n.º 31 é certamente o livro que adeante se im- prime. O n.º 65 era provavelmente o Livro de la Monteria que mandou fazer el Rei D. Alfonso XI de Castela e de | Leon (41350), publicado por Argote de Molina em 1582, e novamente por D. José Gutierrez de la Vega em 1877. O n.º 69 era certamente em português, talvez uma cópia do n.º 31. O n.º 36 era provavelmente o Libro de cetraria, composto por Pero Lopes de Ayala (+1407), publicado por Lafuente e Gayangos em 1869. O n.º 55 era certamente em português, talvez uma versão portuguesa abreviada do n.º 36, ou por ventura uma cópia mais antiga da obra do mesmo título, exis- tente no manuscrito n.º 68 da Colecção Pombalina da Biblioteca Nacional de Lisboa. REDACÇÃO DEFINITIVA. — É de presumir que nas reu- niões que el rei D. João I tinha com os bons montei- ros para escrever o Livro da Montaria, se tomassem lembranças dos assuntos tratados, e talvez fôssem redi- gidos alguns capítulos ou passágens relativas aos assun- tos mais duvidosos ou difíceis; e que depois fôsse tudo, reduzido a discurso por pessoa idónea. E isso mesmo ERRO E AA hd id N a 4 — a o que se depreende do Livro da Montaria (liv. mu, cap. viij)), em que se recomenda que qualquer adição deverá ser feita não só com o parecer de bons mon- teiros, mas tambem que a escritura seja feita por um bom retorico, para não desmerecer da parte já escrita. E na verdade o Livro da Montaria, tanto pela pureza da sua ligguagem, como pela propriedade dos termos, e ainda pela gravidade do seu estilo, pode igerse que foi escrito por um bom retórico. Entre os fidalgos, atraz mencionados, com cujo acôrdo supozemos que el rei D. João I compuzera o Livro da Montaria, há um que parece reunir as duas qualidades necessárias para bem fazer a sua escritura: ser bom monteiro, isto é, prático das cousas da mon- taria; e ser bom retórico, isto é, perito em dar à escri- tura forma literária perfeita. Essa pessoa foi Martim Affonso de Mello, o qual era não só grande caçador e monteiro, mas tambem autor de diversas obras literá- rias. Com efeito sabe-se que Martim Affonso de Mello compoz uma obra intitulada Regimento da Guerra (4), e que escreveu as memórias d n- do (2). Conjecturâmos por isso que foi Martim Affonso de Mello o bom retorico que fez a redacção definitiva do Livro da montaria ; êle, pelas lembranças, ditava a um escrivão (?) o discurso, que o escrevia; e a escritura erá depois lida perante el rei e os monteiros com os quais = (1) Gomes Eanes de Zurara, Cronica da tomada de Ceuta, cap. c. (2) Fernão Lopes, Cronica del rei D, Fernando, cap. xlvij. (3) Fernão Lopes compraz-se em referir nas crónicas de D. Fer- nando e de D. João I alguns episódios de montaria; não seria por ventura êle mesmo o escrivão? Menit $4 6 am se acordara, e modificada quando parecesse necessá- rio. N Época E LUGAR EM QUE Foi composto. — No prólogo do Livro da Montaria, D. João I intitula-se rei de Por- tugal e do Algarve, senhor de Cepta; e por tanto o livro foi composto ou pelo menos recebeu a redacção definitiva depois de 21 de agosto de 1415, em que foi tomada a-cidade de Cepta. D. João I nasceu a 11 de abril de 1357; foi aclamado rei em 6 de abril de 1385; ajustaram-se as primeiras tréguas com o reino de Castella em 1390, e faleceu em 14 de agosto de 1433, com setenta e seis anos de idade. Foi, pois, provavelmente no período decorrido de 1415 a 1433, que êle se ocupou da composição do Livro da Montaria. E é bem de crer que D. João I, tendo vencido a batalha real junto de Aljubarrota, estabelecido as tré- guas com Castela, e assegurado a sua sucessão por uma numerosa geração de inclitos infantes, se comprazeria em contar aos fidalgos as suas boas venturas, que lhe tinham sucedido na montaria desde mancebo e Mestre da Or- dem de Aviz até então; e que como era muito afeiçoado á montaria, lhe ocorresse a ideia de compor um livro para ensinamento dos monteiros. A. Herculano, no seu romance O Monge de Cister, cuja primeira edição foi feita em Lisboa em 1848, diz o seguinte (cap. xv): «Num quarto baixo dos paços ditos d'apar de S. Martinho, da Moeda, ou dos Infan- tes, que por todos estes nomes foram successivamente conhecidos, coava através das vidraças de uma janela historiadas de muitas cores, um clarão como de duas ou | + tres tochas... Esta janela baixa, cujas hombreiras de es ATI —— pedra canelada e volta ogival ainda (em 1848) se veem no muro que segue para nascente da cadeia do Limo- êiro, pertencia a uma quadra da habitação, que entre as residencias reais de Lisboa D. João I escolhera para viver, em quanto não acabava as grandiosas obras com que então se ennobreciam os paços da Alcaçova ou Castelo... Aqui, afastado do tumulto da corte, quando as treguas com Castella lh'o consentiam, vinha ás vezes passar o antigo Mestre d'Aviz largas horas de trabalho mental, ou escrevendo o seu livro de caça de altanaria, ou debatendo com os seus conselheiros e privados, pela maior parte doutores de Bolonha ou de Pisa, ou das outras escolas italianas, as modificações necessarias nas leis do imperio romano, que se derramavam então a esmo sobre Portugal.» Como se sabe, A. Herculano no seu romance O Monge de Cister, procurou fazer conhecida a época del rei D. João I, retratando os fidalgos mais eminentes da corte, e descrevendo os seus usos e costumes. Mas como se trata de um romance, não sabemos que valor histórico o próprio autor atribuia aos factos contados por êle na passágem atrás transcrita; se são ou não fundados em documentos que não citou: mas, como quer que fôsse, a notícia de que o Livro da Montaria foi composto nos paços reais d'apar de S. Martinho, se não é verdadeira, é pelo menos verosímil. Deve ainda notar-se que A. Herculano soube que el rei D. João I compozera um livro acêrca da arte venatória; mas na época em que compoz o romance O Monge de Cister, mão conhecia o livro, pois que o indica pelo nome de | Livro de caça de altanaria. CELT mm armação 6 CR Ma MERECIMENTO DO LiVRO DA MONTARIA. — Para avaliar o merecimento do Livro da Montaria deve êle ser apre- ciado sob dois principais aspectos: sob o ponto de vista técnico, isto é, como um tratado da arte da montaria, e sob o ponto de vista literário (lexicografia, gramática e estilo). Antes de tudo deve notar-se que o Livro da Monta- ria é uma obra original em todas as suas partes, e não a tradução, imitação, ou adaptação de outra obra se- milhante, escrita em português ou língua estranha. Sob o ponto de vista técnico, o Livro da Montaria é um tratado da arte da caça do monte, e compreende não só as regras e preceitos que deve observar o mon- teiro para ser perfeito na sua profissão, mas tambem as razões que os justificam; e em que todas as opera- ções da caça do monte são descritas com admirável minuciosidade, não só as destinadas a apreender a caça, como tambem a preparar os meios para obter o resul- tado desejado. ra As regras e preceitos não são deduzidos de conside- rações teóricas, mas são o resultado da observação judiciosa dos melhores monteiros, depurada pela sua discussão. Nesta obra observa-se ainda a boa escolha dos assuntos tratados, que são os mais importantes da arte, e a regular coordenação e natural (lógica) suces- são, de modo que pela leitura do livro se pode fazer completa e perfeita ideia da montaria. Sob o ponto de vista literário o Livro da Montaria tem grande merecimento; contem, como era de espe- rar, grande número de termos usados neste género de caça, e pelo qual se pode determinar a sua significação especial; àlêm disso contem tambem numerosos termos ES ias b 4 poeta empregados na descrição orográfica do terreno, e no- mes dos matos, moutas e arvoredos, que floresciam nos montes, onde era costume fazer-se a montaria, e alguns deles já hoje esquecidos ou ignorados. As formas gra- maticais das palavras são conformes com a linguágem culta, que se lê nas obras dos escritores do século xv; e a disposição das palavras na frase é muito cuidada. O estilo é, como convem a uma obra didática, sin- gelo, preciso e mesmo elegante, e sempre nobre; nele não se encontram palavras da linguágem baixa, e muito menos obscenas. O Livro da Montaria está pois a par das melhores obras do século xv: o Leal Conselheiro del rei D. Duarte, a Virtuosa Bemfeituria do infante D. Pe- dro, a Corte Imperial provavelmente do mesmo infante, |£ ) as Cronicas dos reis D. Pedro, D. Fernando e D. João I compostas por Fernão Lopes, e as Cronicas da tomada de Ceuta, e dos Condes D. Pedro de Meneses e D. Hen- rique de Meneses, compostas por Gomes Eanes de Zu- rara; pode mesmo dizer-se que excede a todas, como foi superior a autoridade do seu autor, de pai e de rei, à de seus filhos e dos seus leais servidores. O Livro da Montaria, ainda que pelo seu assunto - possa ser tido no conceito vulgar como de somenos im- portância, deve com razão ser considerado como uma das obras mais notáveis compostas na língua portu- guesa no século xv. Impressão. — A impressão do texto do Livro da Mon- taria não é como seria para desejar, e como se faria, se alcançassemos o manuscrito original, ou ao menos a cópia que em 1626 estava na livraria do Colégio dos cado Oh Mem Padres da Companhia de Jesus, em Monforte de Le- mos; mas é tão conforme quanto possível com a cópia contida no manuscrito n.º 4352 da Biblioteca Nacional de Lisboa, única cópia de nós conhecida (!). Todavia, como a grafia desta cópia contem evidentes signais de influência da língua castelhana, como atrás fica dito, expurgamos o texto impresso dêsses signais, procurando assim restabelecer a forma portuguesa, e na maior parte dos casos a original. Fizeram-se por isso as seguintes modificações: * Restabeleceu-se o sinal de Reação da vogal a pisa m ou til; Si Subotisiii sé por » a letra b de algumas palavras it com esta letra em castelhano, e com aquela em português, como I:bro (liuro), dubida (duuida); * Uniformisou-se'a escrita do singular e plural dos seguintes substantivos: a. christaão, christaãos; maão, maãos; alaão, ala- ãos; cado, caãdes; paão, paães; rezom, rezoões; peticom, peticoões; parxom, paixoões; ocastom, ocasioões; cajom, cajoões; entençom, entençoões; perfeicom, perfeicoões; bem, bêes; homem, homêes; sõo, sõos; manhãa, manhãas ; b. paao, paaos; ceeo, ceeos; c. exemplo, fame, paaço, praneta (fem.), proue, pro- uezas é 4.º Uniformisou-se a escrita dos seguintes adjectivos; (1) Para a impressão empregou-se um traslado feito sob a direc- ção de Gabriel Pereira, que foi director da Biblioteca Nacional de Lisboa; mas as provas foram corregidas em presença do manus- crito 4352. asd A) ra a. hum, híia, huíis, hitas; e assim nos seus compostos algum e nenhum; bom, bôa, bõos, bôas; maao, maa, maaos, maas; elle, ella, ello; este, esta, esto; tal, taaes; qual, quaaes; meesmo, meesma por medes; muyto antes de consoante; muy antes de vogal; milhor; mayor ; todollo, todollas; pollo, pars: fermoso, fermosa ; loucaão, loucãa; emiigo; contrairo. 5.* Uniformizou-se a escrita dos seguintes verbos: ter, pres. tem, teendes, teem. ser, pres. he, som; pret. foy, forom; conj. seia, seram. estar, pres. estaa, pret. esteue. aueer, pres. ei, as, a, auemos, aueis, am; con). aja, ajam. Nos verbos, cujo infinito términa pela silaba ir, pre- cedida de vogal, o ditongo é formado pela vogal ter- minal da raiz com a subjuntiva y; e a separação das vogais é indicada pela letra A, assim: cahir, pres. caye, pret. cahio, part. cahido; sahir, pres. saye, pret. sahio, part. sahido ; comprir, pres. compre; creer, imp. creede ; dar, pres. daa, conj. dee; ir, pres. uou, pret. fuy, part. ido, conj. uaa, uaam ; leer, pres. lee. se AVALIA “ea poer, pres. 3.º p. sing. poem; 3.º p. pl. poem. ueer, pres. uee, ucedes; uiir, pres. uem, pret. ueyo, part. uiindo. 6.º suprimiu-se o s dos verbos em ecer, escritos em escer, como acontescer, conhescer, parescer. 7.º Uniformisou-se a escrita das seguintes partículas: a. Preposições: per, so (sub). b. Adverbios: nom; mais, demais ; assi, outro- si; des hu, des que; a fora. c. Conjunções: senom, ora (escrito sempre hora). | | 8.º O número de ordem dos capítulos, que no ma- nuscrito está escrito com algarismo arábico, foi im- presso à maneira romana, j, ij, lij, etc. No fundo da página dam-se na maior parte dos casos as leituras exactas do manuscrito, sôbretudo das pala- vras que teem a forma usada na língua castelhana. LITERATURA VENATÓRIA PORTUGUESA. — O Livro da Montaria, compilado por el rei D. João I, não foi a única obra sôbre a caça composta em língua portu- guesa; muitas outras fôram escritas sôbre o mesmo assunto. - Aqui sômente mencionaremos as três seguin- tes, por serem as mais antigas de que alcançamos conhecimento: 1. Tratado da curiosidade da caça da montaria, composto por Antonio Rodrigues Pimentel, natural da vila de Aldea Gallega do Ribatejo, caçador do Serenis- simo rey D. João IV, offerecido ao muito alto e pode- roso Rey D. João IV, legitimo successor da Monarquia Lusitana. Escrito a 4 de Janeiro de 1649. Este tratado consta de três livros: o primeiro tem 26 ea ? a. e F . — XXX — capítulos; o segundo, 30, e o terceiro, 19. O manus- crito conserva-se no Arquivo da Sereníssima Casa de Bragança. (Diogo de Barbosa Machado, Bibliotheca Lu- sitana, tom. Iv, p. 58). Este tratado não foi impresso, e não há notícia do manuscrito. 2. Livro de cetraria e experiencias de alguns caça- dores; primeiramente fala das prumágens das aves por onde se conhecem, e como se hão de tratar e fazer segundo as doenças e signais em que se conhecem, e remédios com que se curam. | Este tratado é anónimo; está dividido em 26 capí- tulos. Na segunda fôlha de guarda do fim está escrita a data: 5 de Julho de 1617. Manuscrito do formato de 4.º, de 68 fôlhas, de letra do século xvrr. (Biblioteca Nacional de Lisboa, ms. n.º 518 da Colecção Pomba- lina). ENIO Neste tratado são dados os sinais das prumagens e qualidades dos falcões (nebris, bafaris, sacres, girofal- tes, alfeques, bornis e lagatotes), dos açores, e dos ga- viães. 3. Arte da caça de altanaria, composta por Diogo Fernandes Ferreira, moço da Camara del Rey e do seu serviço. Dirigida a D. Francisco de Mello, Marquez de Ferreyra, Conde de Tentugal, etc. | Repartida em seis partes: Na primeira trata da criação dos Gaviães e sua caça. Na segunda, dos Assores e sua caça. Na terceira, dos Falcões e sua caça. Na quarta, das suas doenças e mezinhas, Na quinta, das armadilhas, Na sexta, da passagem e peregrinação das aves, — XXX —s Em Lisboa. Na officina de Jorge Rodrigues. Anno de m.pc.xvr. (Com privilegio real por dez aunos. IconoGraFIA, — À montaria não foi somente assunto de obras de literatura; mas os seus episódios, alguns certamente muito emocionantes, foram representados em paineis, uns gravados na pedra para decoração de túmulos e edifícios, e outros pintados em tela ou em azulejos para ornamento dos paços e conventos. Cita- remos por isso como muito notável o painel da face di- reita do túmulo de D. Fernão Sanches, atualmente de- positado no Museu arqueológico do Carmo, e como dignos de atenta consideração os paineis de azulejos da escada principal do antigo palácio do Marquês de Lavradio, onde atualmente estão estabelecidos os Tri- bunais militares em Lisboa. HM A Montaria em Portugal nos séculos xt a xv o 1. Aprouada antigamente foi, e muyto de louuar, a ocupação de caçar, e da mais antigua gente hauida por singular. 2. He o mais contrario oficio, que tem a ociosidade, | mãe de todo o bruto vicio: | por este limpo exercicio se preserua a castidade. | 3. Este dos grandes senhores foi sempre muito estimado ; | ; e he grande parte do estado | ter monteiros, caçadores, como oficio que he presado. Luís ne Camões, Auto do Filodemo. Caça. — À palavra caçar, de * captiare (de capio, tomar, apreender), significa a apropriação dos animais “bravios (não domesticos), que se criam pelos campos e matos; e o caçador apropria-se do animal pela apre- ensão dele, matando-o, ou retendo-o nos seus aparelhos de caça (armadilhas). (Código Civil, art, 384.º e 388.º). Em Portugal, nos séculos xrr a xy, a caça tomou di- versas denominações conforme os animais a que se — Ski — dava caça, ou com que se caçava. (Chamava-se mon- taria (de monte) a caça dos animais de maior corpu- lência (caça maior), como o porco montês, o urso, O cervo, o lobo e a raposa; a caça dos animais bravios de menor corpulência (caça menor), como a lebre, o coelho, a lontra, o texugo, não tinha denominação espe- cial. A caça, em que eram empregadas aves de rapina, o gavião (!), o assor(2) e o falção(?), adestradas para tomar a presa, era denominada em geral altanaria (*) e volataria (3); e em especial denominava-se cetraria (º) se se empregava o gavião, e falcoaria (?), se se empre- gava o falcão. Todavia muitas vezes não se observava com exactidão esta terminalogia. A caça, em que para se tomar a presa, se empregavam cães, o furão, ou aparelhos especiais (armadilhas), tais como redes, boi- zes, esparrelas, costelas (3), não tinha tambem denomi- nação especial, (!) Gavião, pl. gaviães; do castelhano gavilan. (?) Assor, ou açor, de dustorius e astur (baixa latinidade); fran- cês autour, provençal austor ; italiano astore; castelhano agor. (*) Falcão, de falco, falconem, castelhano halcon. (4) Altanaria, ou altaneria, de altanus (de altus), que vem do alto, aludindo ao facto da ave de rapina adestrada voar muito alto para cair sôbre a sua presa, (5) Volataria, ou volateria (de volatilis, que voa), caça em que . se empregam aves adestradas para apreender a presa. (6) Cetraria, em castelhano cetraria e acetraria, de accipiter accipitrem, gavião. (7) Falcoaria, de falcão (de falco, falconem). (8) Acêrca das armadilhas empregadas no século xv para caçar perdizes, veja-se o Livro Vermelho do sr. rey D. Affonso V, n.º 43, na Collecção de livros ineditos da historia portugueza, tom. m, Lisboa, 1793, Pp. 499 e 500. — XXXIII — Montaria. — No Libro de la Monteria, que mandou fazer el rei D. Alfonso de Castela e de Leão (1310 a 1350), pela palavra montaria designa-se a caça das vea- ções (venados) que se criavam pelos montes, e princi- cipalmente a caça do porco montês, do urso e do cervo (!). No Livro da Montaria que compoz el rei D. João 1 de Portugal, pela palavra montaria designa-se sómente a caça do porco (porco montês), aludindo-se muito raras vezes ao urso e ao cervo. - Posteriormente pelo arroteamento de grandes tratos de terreno, que antes eram cobertos de mato, e pela sua cultura, os animais bravios, o porco montês, o urso, o cêrvo, o lobo e a raposa, tornaram-se cada vez mais raros e alguns desapareceram; de modo que actual- mente pela palavra montaria designa-se sómente a caça do lobo e da raposa, que acossados pela fome, sôbre tudo no inverno, descem das serras, e vem aos campos perseguir os rebanhos de carneiros, ovelhas e cabras, para arrebatar alguma das suas crias, ou assaltam os casais para furtar a criação (galinhas, perus, patos e coelhos mansos). Nos séculos x1 a xv a caça dos animais bravios era em Portugal um exercício muito frequentemente usado ; por ela obtinham para alimentação carne muito apre- ciada pelo seu fino gosto, como era a do porco montês, do cervo, da perdis, da galinhola, do pombo, da rôla, (!) D. Alfonso XI, rei de Castella e de Leão, faleceu a 27 de março de 1350; o Libro de la monteria foi escrito entre 1342 e 1350. (Libro de la Monteria, ed. de D. José Gutierres de la Vega, Madrid, 1877, tom. 1, p. xlii, xJiii, e Jiii). c ú — XXXIV — etc: por ela se desembaraçavam dos animais, como & lobo e a raposa, que arrebatavam crias dos rebanhos e furtavam criação dos casais; por ela destruiam os ani- mais, como o urso e o porco montês, que devastavam as sementeiras de cereais, as hortas, as vinhas e os col- meais; e ainda porque a caça constituia um excelente exercício físico, que muito contribuia para desenvolver e conservar a força e agilidade, e servia de preparação para a guerra, principal ocupação dos nobres; e emfim porque a caça era uma diversão (desenfadamento) muito aprazível. Nos séculos x1 a xv, em Portugal, como nos outros reinos de Espanha, a caça, sôbre tudo a montaria e a altanaria, era o desenfadamento usual dos reis. Nas Ordenações del rei D. Afonso III, datadas de janeiro da era de 1299 (1261 de J. GC.) prescreveu-se que «el Rey aya pera scu corpo oito bestas em sa estrebaria e qua- torze azemalas, e dous monteiros de caualo com duas bestas, e nom sejam caualeiros, e seos monteiros de pee tragam dous sabujos, e tres açoreiros e quatro fal- coeiros com senhas bestas, e quatro allaaons e oito sa- bujos e doze podengos; e os açoreiros tragam os po: “dengos, e dous ou tres mouzinhos que tragam e guardem os allaaons (!).» | Nas crónicas dos reis D. Dinís, D. Afonso IV, D. Pe- dro 1, D. Fernando, e de D. João I, referem-se, ainda que brevemente, diversos sucessos notaveis, que acon- teceram na caça a êles próprios, ou aos infantes seus filhos. E o próprio D. João 1, no Livro da Montaria (1) Portugaliae Monumenta historica, Leges et consuetudines, tom. 1, p. 200. — XXXV — (livro 111, capitulo xiij), conta o sucesso de uma maravi- lhosa azcumada, com que êle mesmo, andando a cavalo ao monte, feriu um porco montês. De tudo isto se infere que o exercício da caça, sôbre tudo da montaria e da altanaria, era muito frequente ocupação dos reis e seus filhos. Algumas vezes tambem os reis e grandes senhores desenfadavam-se no exercício da montaria quando iam de caminho de uma cidade para outra. Na primavera de 1414 os infantes D. Pedro e D. Henrique, filhos del rei D. João 1, partindo de Vizeu para se encontra- rem com el rei seu pai em Monte-mór, foram correndo monte até chegarem a Evora; dali seguiram por Elvas “e outros lugares das ribas do rio Guadiana; e depois fazendo volta para Monte-mór, no caminho, cerca de Portel, mataram um grande urso, que enviaram a el rei seu paí, «mandandolhe dizer pallauras graciosas, de que seu padre ouue grande prazer» (1). Não era sómente durante a paz que os reis e grandes senhores se desenfadavam com o exercício da montaria, Em 1384, quando D. João II rei de Castela estava cer- cando a cidade de Lisboa, D. Nuno Álvares Pereira veiu de Évora para Palmela- com tenção de tomar Al- mada, onde estava Pero Xarmento com gente de Cas- tela; e um dia D. Nuno Álvares Pereira foi correr - monte, e matou um porco montês grande e mui for- moso; e mandou-o pôr logo em cima de uma azémala, “e enviou-o de presente a Pero Xarmento por um escu- deiro, a quem deu cargo de o apresentar a Pero (!) Gomes Eanes de Zurara, Cronica da tomada de Ceuta, | cap. xxiv. —a — KXXVI — Xarmento e de lhe dizer que em poucos dias o iria ver (!). Alguns sucessos da guerra eram assemelhados a uma montaria, Na memorável expedição delrei D. Afonso V a África, em 1464, o conde de Viana, D. Duarte de Menezes, estando na serra de Benacofu, mandou dizer a el rei: «Senhor, envia-nos dizer o Conde de Viana, que se quiserdes ver huma fermosa montaria, que man- dees a gente de pee com besteiros e espingardeiros que se metam em aquela mata, e que lancem fora os Mou- ros que jazem dentro; e que estees os de cavallo por derrador em armadas, e que averees assaz de desenfa- damento» (2). Não conhecemos, ou não chegou até nós, nenhuma relação circunstanciada de montaria daquela época, preparada para festa de acontecimento notável, ou para desenfadamento do rei ou grande senhor; mas pelo Livro da Montaria pode fazer-se ideia aproximada do que seria. (om efeito, àlêm dos escudeiros e moços, que acompanhavam sempre el rei para o servir, eram empregados monteiros de cavalo para buscar e aprazar a veação, e para correr nas armadas; monteiros de pé para fazer as vozarias e guardar as armadas; moços de ; monte para conduzir os cães, e fazer as vozarias; cães ias de busca (sabujos) e de correr (alãos); moços para fazer a comida dos homens e preparar o seu alojamento nas aldeias e casais próximos, quando a montaria durava (1) Cronica do Condestabre, cap. 35; Fernão Lopes, Cronica del Rei D. João 1, parte primeira, cap. 147, ed. Braamcamp. (2) Gomes Eannês de Zurara, Cronica do conde de Viana D. Duarte de Menezes, cap. 154; Damião de Goes, Cronica do Principe D. Joam, cap. 17. — AAXVII — mais de um dia; bestas para conduzir os géneros e alfaias para fazer a comida dos homens e dos cães; bestas para transportar o alimento das bestas, e por ventura no verão, em charneca longe de ribeiras, a água para os homens, cães e bestas, e ainda os artigos de vestuá- rio e de calçado, indispensaveis para mudar em tempo chuvoso e para agasalho em tempo frio. Alêm disso sabe-se que os trajos dos homens, monteiros de cavalo e de pé, dos escudeiros, e até dos moços de monte, ainda que apropriados ao trabalho da montaria e consentâneos com a estação do ano, eram feitos do bons tecidos, de cuidadoso feitio, e muitas vezes de custosos lavores. O número de homens, de cães e de bestas, dependia certa- mente da extensão e configuração do monte a correr, das vozarias e armadas a estabelecer, dos dias que se presupunha que duraria a montaria, e dos recursos de “géneros para alimento dos homens, dos cães e das bestas que se poderiam obter nas aldeias e casais mais próximos. Resulta de tudo o que fica dito, que na montaria assim preparada para festa ou para desenfada- mento del rei ou de grandes senhores, se faziam gran- des despesas em géneros para sustentação dos homens, cães e bestas, e em dinheiro para paga do salário dos homens. | Duração. — A montaria de uma veação, porco mon- tês, urso ou cervo, durava geralmente um dia; mas se os monteiros só alcançavam aprazar a veação já tarde, guardavam o monte, em que estava a veação, com cães e fazendo fogueiras em volta; e no dia seguinte, a vea- ção era levantada, corrida e morta. A montaria de algumas veações, sôbre tudo de porco ue RAM VIL montês e de urso, durava ainda às vezes mais de um dia, quando os monteiros com os seus cães não conseguiam cansar bastante o animal para o poder correr e matar. “El rei D. Alfonso XI de Castela conta que a mon- taria de um urso, que fez nos montes denominados Ca- brera de Nava Luenga, na província de Avila, durou cinco dias, desde uma terça feira até sábado, tendo tomado parte nela os seus mais afamados monteiros, como Diogo Bravo e Martim Gil com muitos e bons cães; e acrescenta, que quando os monteiros levantam alguma veação, boa ou mesmo comum, e se acontece não a matarem nesse dia, a matarão no segundo ou no terceiro, fazendo os monteiros como bons (4). O mesmo rei conta que a montaria de um urso que fez no monte denominado Val do Inferno, da mesma provincia de Avila, durou cinco dias, desde segunda até sexta feira; e acrescenta muito sentenciosamente, que por tal montaria como esta diz o exemplo, quem porfia mata veação (2). Éste provérbio é, em castelhano, completado assim : Quem porfia mata venado, que non montero cansado. A êste provérbio corresponde em português o dito. bem conhecido: Quem porfia, mata caca. Gil Vicente na Farça dos Fisicos, conservou a forma antiga do provérbio : E Caza mata el porfiar, como dice el refran viego. * (!) Libro de la Monteria del rey D. Alfonso XI, ed. de D. José . Gutierres de la Vega, tom. u, Madrid, ao: Pp. 117-121 (2) Ibidem, p. 149-152. ve G / EE e 4 * » ss MAXI Perigos (CAJÕES) DA MONTARIA. — À montaria, com- tudo, não era sem perigo e riscos de serem feridos os que se empregavam nella. A veação, porco montês, urso ou cervo, quando se sentia perseguida pelos cães e monteiros de cavalo, ou era impedida de fugir pelos monteiros de pé e moços de monte, e apreendida pelos cães (alãos), defendia-se com as suas armas, O porco montês com as presas, o urso com as unhas dos dedos das mãos, e o'cervo com os galhos, e produziam feri- mentos, algumas vezes tão graves, que causavam a morte. No paço del rei, e nas casas dos grandes senhores, os monteiros compraziam-se de contar nos serões as boas e más venturas, que haviam sucedido nas suas montarias; e muitas daquelas façanhas, que lhes pare- ciam exceder as forças ou a destreza do homem, eram atribuidas, em conformidade com o sentimento religioso da epoca, à intervenção miraculosa do seu santo pa- droeiro(!). A tradição oral transmitiu algumas das nar- rações dessas montarias, e mais tarde foram postas por escrito (2). (!) O padroeiro dos caçadores é S. Humberto (Hugbert), bispo Trajectense, em Brabante, que viveu pelos anos de 700, e cuja comemoração se faz a 3 de novembro. Era de nobre família, e quando mancebo muito afeiçoado ao exercício da caça; conver- teu-se ao cristianismo em razão de uma miraculosa aparição de Christo crucificado entre os galhos de um cervo, que perseguia com os seus cães. (Acta Sanctorum, Novembris, dies tertia, vol. 1, p. 834). (2) Segundo uma antiga tradição, recolhida por Fr. Bernardo | de Brito (Monarchia Lusitana, parte m, liv. vis, cap. 1v), D. Fuas Roupinho andando no monte a cavalo, perseguindo um cervo, foi salvo de cair de um alto precipício sôbre o mar, pela intervenção miraculosa de Nossa Senhora da Nazareth. Antonio Feliciano de ARE 4 El rei D. Alfonso XI de Castela e Leão conta que, na montaria que fez no Souto, situado entre Priego e Luque, na província de Alcalá la Real, o porco montês matou dois monteiros, dois alãos, uma azemala, e feriu um cavalo, antes de ser morto (1). Del rei D. Diniz se conta, que saindo da cidade de Beja para o monte, e tendo-se afastado dos que o acom- panhavam na montaria, lhe saiu ao encontro no sitio de Belmonte, junto do rio Guadiana, um grande urso; e perseguindo-o el rei a cavalo, o urso arremeteu com êle, e o derrubou do cavalo; mas el rei, sem perder o animo, lutou corpo a corpo com o urso, e cravou no peito dêste o punhal que trazia à cinta, livrando-se assim dêle. A memória desta façanha foi perpetuada no túmulo del rei D, Dinís, na egreja do convento de Odivelas, em que se vê um urso, debaixo do qual está um homem cravando-lhe no peito um punhal (2). D. Fernão Sanches, filho bastardo del rei D. Dinís, morreu, segundo é tradição, em resultado dos ferimen- tos causados por um porco montês em uma montaria feita em Almeirim (3). : O infante D. João, filho del rei D. Pedro I e de D. Inês de Castro, que no seu tempo era considerado como o melhor cavaleiro de toda a Espanha, andando em montaria por terra da Beira, encontrou nas ribas do Coa um grande urso; e indo a cavalo seguiu o urso Castilho poz em verso esta piedosa lenda compondo uma Xacara, que incluiu no seu poema O Outono. (!) Libro de la Monteria del rey D. Alfonso XI, ed. a D. José Gutierres de la Vega, tom. 11, 1877, p. 375. (?) Veja-se no fim o apêndice III. (3) Veja-se no fim o apêndice IV. enaÃo SA demo muito de perto para o ferir; mas o urso firmou-se sôbre os pés, e levantou os braços para o arrebatar da sela. O infante, quando viu isto, elevou-se sôbre a sela, e foi de todo sôbre o arção deanteiro, e o urso alcançou com | as mãos e arrancou o arção trazeiro, ferindo o cavalo na anca. O infante, apezar de ter o cavalo ferido, vol- tou-o, e lutou com o urso, até que sôbrevieram outros monteiros que o ajudaram a matar o urso com as az- cumas (!). REGRAS DA MONTARIA E SUA COORDENAÇÃO, — (O) exerci- cio da montaria, praticado tão frequentemente durante séculos, tinha mostrado, que para apreender a veação, porco montês, urso ou cervo, se deviam empregar di- versos meios e proceder de determinados modos, que a experiência tinha feito conhecer que eram os melhores para alcançar aquele fim; êsses modos referiam-se à. maneira de descobrir no monte o lugar em que a vea- ção estava, e sôbre tudo onde costumava dormir; de assegurar que a veação não saisse do monte; de a levan- tar; de a obrigar a passar em determinados lugares (armadas); de a correr, e de a abater matando-a. Por isso é natural que aos homens mais afeiçoados ao exercício da montaria sugerisse a ideia de coligir e coordenar as regras e preceitos considerados como mais profícuos, no emprêgo dos meios usados na mon- taria, e àcêrca dos modos de proceder para alcançar o fim, isto é, abater a veação com a menor fadiga e sem risco de ser ferido. E el rei D. João I, tendo reconhe- cido como o exercício da montaria era o desenfada- (!) Veja-se no fim o apêndice VIII, — XLII — mento mais próprio para desenvolver nos mancebos a robustês física e agilidade, e acostumá-los aos trabalhos da guerra, como é exposto no prólogo, resolveu com- pilar com o acôrdo de muitos bons monteiros os pre- ceitos relativos á montaria, especialmente do porco montês. DECADÊNCIA DA MONTARIA. — Até ao meiado do sé- culo xv, o exercício da montaria era praticado com fre- quência, não só como desenfadamento dos reis e grandes senhores, mas tambem como preparação para os feitos de cavalaria, isto é, para a guerra, dos mancebos filhos dos nobres. Mas depois da tomada de Ceuta, em-21 de agosto de 1415, e sôbretudo depois da tomada das vilas de Alcácer em 23 de outubro de 1458, e de Ar- zila em 24 de agosto de 1471, e da cidade de Tânger pouco depois, o permanente estado de guerra dos Por- tuguezes moradores: nas mencionadas cidades e vilas com os Mouros naturais do país, e os frequentes e su- cessivos socorros de gente de guerra, que lhes foram enviados de Portugal, fizeram das mesmas cidades e vilas escolas práticas da guerra, onde os mancebos filhos dos nobres íam aprender o exercício das armas, e os fidalgos e cavaleiros fazer de suas honras. Por isso desde então o exercício da montaria deixou de ser pra- ticado com tanta frequência, não tanto porque fôsse tido em menor aprêço, mas porque as guerras de África ocupavam a maior parte dos fidalgos e cavaleiros, em que despendiam muito da sua própria fazenda. Veações. — As veações, a que em Portugal, nos sé- culos x11 à xv, se dava caça na montaria, eram o porco -— "MET — montês, o urso e o cervo; pareceu por isso conveniente, para melhor compreensão do Livro da Montaria, dar aqui uma sucinta notícia das variedades dos mesmos animais, que se criavam nos montes de Portugal. a) O pôrco montês O porco (Sus de Lin.) é um animal do género dos ma- | miferos ungulados, e o tipo da família dos Suidae. Esta família dos Suidaé divide-se em quatro sub-famílias : 1.º Porcos propriamente ditos, monteses ou domésticos (Suinae); 2.º Babirusses (Babirussinae); 3.º Phacoche- ras (Phacochoerinae); 4.* Pécaris (Dicotylinae). Os caracteres da sub-família dos Suinae (porcos mon- teses ou domésticos) são os seguintes: Ungulados artiodactílios (de dedos pares), tendo cada membro duas unhas anteriores e duas posteriores (re- elas), sendo estas mais pequenas, e collocadas mais altas, de modo que não tocam o chão senão em terre- nos pantanosos ou lavrados; os pés (patas) geralmente curtos e grossos; o tronco do corpo recolhido e com- primido lateralmente; o pescoço muito curto; a cabeça cónica e forte ; o focinho alongado, e terminado por uma tromba móvel, própria para escavar (foçar) a terra; as orelhas estreitas, mais compridas que o terço da cabeça, e cobertas de pêlos; a cauda delgada e terminada por um pincel.de pêlos; a pele (couro) espessa, e quando o animal é novo tem malhas e riscas ruivas sôbre um. fundo mais escuro; o couro coberto de pêlos, chamados sedas e cerdas, muito duras e pouco abundantes, tendo desde o pescoço até às costas uma crina mais ou menos comprida. o o RLIV —— A dentição é: (incisivos > caninos e premolares : , molares 3 X2==44 dentes. Os incisivos não são nunca menos de seis em cada queixada. Os caninos, grossos e fortes, são prismáticos de secção triangular, e no animal adulto alongam-se e saem da bôca em forma de defesas (presas ou colmi- lhos); os da queixada superior curvam-se para fora, ea sua ponta é voltada para cima, paralelamente aos da queixada inferior. O espaço que separa os cani- nos dos premolares, é pouco extenso. Em cada quei- xada há sempre quatro pares de premolares que são permanentes; o primeiro premolar é mais pequeno do que os outros, e muitas vezes junto do canino. Em cada queixada há sempre três pares de verdadeiros molares; êstes são tuberculosos (bunodontes). A tromba do focinho é reforçada por um ôsso livre, “isolado de carne, móvel, e ligado aos ossos intermaxi- lares e aos nasais por meio de músculos e cartilágens; a tromba termina na parte anterior por uma superfície circular nua (sem pêlos) coberta de folículos mucosos, cujo derme tem muitos vasos e nervos, que dela fazem um órgão do tacto de grande sensibilidade, de que se serve o animal para descubrir as raizes e tubérculos enterrados na terra. As mamas são em número de oito a dez.s O pôrco montês da Europa (Sus scrofa de Lin.) é o tipo da sub-família dos Suinae; é um animal de estatura média, tendo 1",60 de comprimento, excluindo a cauda, que tem or,45, e cerca de o”",go de altura na cernelha (garrot). A pelagem, composta de pêlos (sedas ou cer- E e. io qto e SD o ci e mm Y í ” - É — ELV —s das) duras e rígidas, é de côr escura quási preta; cada pêlo tem ao meio um anel rúivo. O porco montês alimenta-se de erva, lande, bagas de faia, raizes e tubérculos tenros, insectos, reptis, ovos, passarinhos, arganazes, pequenos coelhos e lebres, crias dos cervos e das cabras; devasta os campos cultivados de batata, milho, trigo, centeio, cevada e aveia, e as vinhas e as hortas. | O porco montês estabelece o seu retiro (covil), cha- mado pocilga, no meio do monte, principalmente do que é coberto de mato denso; e pouco afastado de campos cultivados, e na proximidade de um charco, pântano ou lagõa. Durante o dia conserva-se deitado no seu covil, e no verão, nas horas de maior calor, vai chafurdar-se (enxurdar-se) nos charcos, ao que os mon- teiros chamam souil. Perto da noite sai do covil, e vai procurar alimento, cavando a terra com o focinho a direito deante de si, até extrair as raizes ou tubérculos que descobriu pelo olfato. Passa todo o tempo uma vida vagabunda, emigrando de lugar em lugar, princi- palmente no outono e inverno; por isso aparece muitas vezes em sítio, onde antes nunca fôra visto. E de seu natural feroz e selvágem; tem considerável fôrça; faz frente resistindo aos lobos e cães; e é perigoso para o homem e para o cavalo, quando é atacado ou perse- guido. O coito faz-se pelos meses de outubro a dezembro; os machos tornam-se furiosos, e atacam-se uns aos ou- tros para possuir a fêmea. Depois do coito pouco mais de quatro meses, isto é, de fevereiro a abril, a porca pare os filhos (bácoros) de três a nove, que ela amamenta três ou quatro meses, e que a seguem ainda uso RR US Mia durante muito tempo depois de desmamados; e não atingem o seu completo desenvolvimento senão pelos seis anos, ainda que possam reproduzir-se depois do segundo ano. Aos seis meses, quando seguem ainda a sua mãe, são chamados betes rousses, e mais tarde betes de compagnie; aos dois anos ragotis; então reu- nem-se em grupos (varas), formados de muitos porters com suas mães, e viajam todos juntos. (Os porcos monteses à leurs lters (de três anos), os quarteniers' (de quatro anos) e os veux sangliers (de cinco anos ou mais), vivem isolados uns dos outros, e não procuram as fêmeas senão na época do cio. O porco montês habita em toda a Europa, estendendo a sua habitação ao norte até à latitude de 55º, limite | médio dos carvalhos; a leste por toda a Ásia ao norte dos montes Himalayas; ao sul por toda a África situada ao norte do Sahará. Foi extinto da Inglaterra durante o século xII. A carne do porco montês foi sempre muito estimada como alimentação do homem, e nos séculos xi a XV era muito apreciada na mesa dos príncipes e fidalgos.: No Livro da Montaria o porco montês é designado simplesmente pelo nome de porco; e nas Ordenações del rei D. Afonso V (liv. 1, cap. 67) mencionam-se o porco e porca, bácoro e bácora monteses. Os escritores portugueses dos séculos xiv a xvi designam o porco criado nos montes pelo nome de porco montêés (*); os escritores do século xvrr, empregaram já algumas ve- (1) Gomes Eannes de Zurara, Cronica da tomada de Ceuta, cap. xlix; Damião de Goes, Chronica del rei D. Manuel, terceira parte, cap. 1, e quarta parte, cap. x, — SLVIÍ — zes, para designar o porco montês, as palavras javali “ejarardo, do árabe chingir javali, literalmente porco montês (*), provavelmente por influência da língua cas- telhana (?). “No Livro da Montaria a voz emitida pelo porco montês, quando se sentia perseguido pelos cães e pelos monteiros, é designada pela palavra ladrar. Na lin- gua portuguesa, atualmente, a voz do porco é designada por duas palavras: roncar, a voz baixa emitida pelo porco quando dormita; e grunhir, a voz alta emitida pelo porco quando tem fome ou chama os filhos. - No conceito popular, e segundo a tradição, o porco - montês simbolisa o homem teimoso e obstinado, que não atende a nenhumas razões, nem desiste do que começou de fazer, o que se exprime pelo dito: «é tei- — moso como o porco montês que não torce carreira». à A linguágem popular conservou diferentes adágios relativos ao porco montês, que se referem a algumas “das suas qualidades mais caraterísticas; citam-se os se- E ibintes - Quem porcos busca a cada mouta lhe grunhem. (1) O porco montês tem em latim o nome de aper, em caste- "-lhano porco (Libro de la Monteria), em francês sanglier, em ita- — Jíiano cignale, em inglês wild boar, e em alemão wild Schwein. - “()0porco doméstico é designado actualmente pelo símples “nome de porco ou porca; os machos adultos não capados (castra- 3 dos), que servem para a reprodução, teem o nome de varrão ou — varrasco; as crias de leite teem o nome de leitão ou leitoa; os filhos de um ano, bácoro ou bácora; os de dois, farropos; e os À “adultos engordados para o talho, cevados e cevões. (Costa Caldas, — O Porco, na Tradição, revista mensal de etnografia portuguesa, — tom.y,p. 145 e seguintes). - 2a e - a cm KLVIÍI coma Qem a porcos ha medo, as moutas lhe roncam. O peor porco, come a melhor lande. A mau bacoro, a boa lande. A cada bacorinho vem seu S. Martinho. Feriste o javali deixará quem seguia, e tornará a ti. b) O urso O urso é um animal do género dos mamíferos car- nívoros, e o tipo da família dos Ursidae. Os caracté- res desta família são os seguintes: 7 A dentição tem a disposição : E 5 ) me É Me ar | E “mostram que naqueles tempos o urso era frequente nos matos de Portugal; e parecem tambem indicar que a carne do urso era aproveitada para alimentação do homem (!. Sabe-se, todavia, que a pele do urso, depois de preparada convenientemente, era empregada como | tapete, e em outros usos domésticos. | No reinado del rei D. João I, o urso era já bastante raro em Portugal; comtudo, em 1414, seus filhos, os infantes D. Pedro e D. Henrique, mataram um grande urso próximo de Portel (2). | El rei D. Afonso V prescreveu que o urso não pode- ria ser morto sem sua licença (º). c) Cervo O cervo (Cervus de Lin.) é um animal pertencente à ordem dos Ruminantes segundo Cuvier, ou à ordem * dos autio-dactylos segundo os naturalistas modernos; e — éo tipo de uma família, que tem os caractéres seguin- ES tes: eo | — Ungulados, ruminantes, sendo os machos geralmente | providos de cornos em forma de galhos, ou pontas, bo (1) O urso ferocíssimo, o javali indomável, a leve corça abas- — teciam a grosseira mesa dêsses Godos [de Pelágio, duque de * Cantabria, e seus companheiros nas Asturias]. (A. Herculano, Eu- a rico, O Presbytero, cap. xiii). Cf. A. de Sousa Silva Costa Lobo, “Historia da sociedade em Portugal no seculo xv, Lisboa, 1904, — Pe 77-96. (*) Gomes Eannes de Zurara, Cronica da tomada de Ceuta, “cap. xxiiij. () Ordenações do senhor rey D. Affonso V, livro primeiro, ti- tulo Ixvij, n.º 17. neo SE Mara que se renovam periodicamente cada ano, e que se ra- mificam com a idade. Esta família divide-se em duas sub- andinos Cervos propriamente ditos (Cervinae), e Porta-muscos (Mus- chinae). Os dentes do cervo são, como de todos os rumi- nantes em número de 32; o desenvolvimento dos cani- nos, que eleva o número dos dentes a 34, está na razão inversa dos galhos; as fêmeas são geralmente despro- vidas de galhos. Os cornos do cervo são suportados | por uma apofise do ôsso frontal, que lhes serve de base e de raiz; e apresentam neste ponto um círculo de excrecências ósseas, que cai com os anos. O género Cervus tem por tipo o cervo da Europa; e o sub-género Dama, tem por tipo o gamo do sul da Eu- ropa, originário das regiões que cercam o Mediterrâneo. O cervo da Europa (Cervis elaphus de Lin.) é o tipo do sub- -género Cervus propriamente dito; é um animal de estatura regular, cuja altura é de 1”,40 na cernelha (garrot); a pelágem é de côr escura no verão, e escura cinzenta no inverno; o pescoço do macho adulto é guarnecido de longos pêlos, que formam crina lançada para baixo; a cauda é muito curta. O macho tem dentes caninos na queixada inferior. Os cornos do cervo são arqueados e cilíndricos; e aos seis anos tem três galhos dirigidos para diante e um terminal de dois a cinco ramos. O cervo habita de preferência os matos das planí- cies; vive em famílias compostas de um macho adulto, de muitas fêmeas com as suas crias; os machos novos formam banda à parte, sendo afastados pelo macho chefe da família. eme TETE es Os cervos repousam e ruminam de dia; e comem | (viandam) e ruminam sôbretudo de noite. Alimentam-se E de fôlhas, gomos e casca tenra dos troncos e ramos É das árvores e arbustos, de frutas, de erva, e de cevada, | aveia, trigo e milho. E A época do coito começa em setembro; os machos bramam para chamar as fêmeas; e lutam ia com- “bates uns contra os outros para possuir a fêmea. O cervo que afastou todos os seus rivais, fica senhor das | cervas da banda, e guarda-as com cioso cuidado, con- | duzindo-as aos pastos que escolheu. A cerva não tem geralmente senão uma cria (faon); a pelágem da cria é de côr escura com manchas claras; no fim de seis mezes as manchas desaparecem; no fim de um ano os tubérculos da fronte alongam-se e formam dagues; no mês de maio do terceiro ano as dagues ' caem, e refaz-se a sua armação nascendo os galhos. Et O cervo é notável pela ligeireza da sua carreira, no * | que todavia é embaraçado pelos galhos entre o arvo- - | redo; no Livro de Esopo lê-se uma fábula em que o E autor se aproveita desta circunstância para fazer um | — À singular ensinamento moral (!). Antigamente o cervo parece ter sido frequente nos matos de Portugal; nos forais de diversas povoações dados nos séculos xr1 e xr prescreve-se que o caçador é obrigado a pagar ao senhor da terra, pelo cervo (ve- natus) morto, um lombo. -Isto mostra que então, como ainda até ao presente, a carne do cervo (veado) era muito apreciada como alimentação na mesa dos grandes (1) J. Leite de Vasconcellos, O Livro de Esopo, Lisboa, 1896, fábula 33, p. 32. | cd VD senhores. Depois o cervo tornou-se mais raro, encon- trando-se apenas nas coutadas; e el rei D. Afonso V prescreveu graves penas aos que nas coutadas reais matassem cervo ou cerva, corso ou corsa. A frequência do cervo em Portugal é atestada pelo nome de Cerveira da povoação vila da Cerveira; cer- veira designa certamente o lugar em que a cerva tinha o seu covil e guardava as suas crias, em quanto não podiam andar. | Na língua portuguesa o cervo da Europa (Cervus elaphus) tem o nome de cervo (femea cerva); os ani- mais do sub-género Dama vulgaris (Oliv.) tem o nome de gamo (fêmea gama); e os do sub-género Cervus ca- preolus, Lin. tem o nome de corso (fêmea corsa), e ainda o de cabrito montês (fêmea cabra montesa). A palavra veado, do castelhano venado, do latim ve- natus, era primitivamente a designação de qualquer espécie de caça maior, veação; e ficou depois apli- cando-se sómente ao sub-género propriamente dito. A origem da palavra gamo não está suficientemente esclarecida; Kóôrting, no artigo correspondente à pala- vra damus (fem. dama), em francês daim, diz que a palavra usada em castelhano e português é gamo, na qual a sílaba inicial parece ter-se formado de gamuza, cabra montesa. (Lateinischer-Romanisches Worterbuch, n.º 2748.) A palavra gama é bastante antiga na língua portu- guesa, como é atestado pelo seu emprêgo como ape- lido de família ; êste certamente proveiu da denominação vulgar (alcunha), porque era conhecido algum monteiro, aludindo-se provavelmente a um episódio notável da sua montaria. És e ADE maça - Cáes. — Us monteiros empregavam os cães como seus ajudadores, não só para descobrir a jazida da vea- "ção, mas tambem para a perseguir e apreender; pare- ceu por isso necessário dar aqui notícia das variedades dêste útil animal, empregadas na montaria. E O cão (Canis de Lin.) é um animal do género dos mamíferos, da ordem dos carnívoros, no qual são in- — | cluidos tanto os animais domésticos como os selvágens. | O género Canis de Lineu é o tipo de uma numerosa F. família, Canidae, cujos caractéres são os seguintes: — carnívoros de focinho alongado; digitigrados de mem- bros mais ou menos elevados, tendo os membros ante- riores (mãos) cinco dedos, e os posteriores (pés) quatro, com unhas embotadas, não retracteis. A sua dentição é: = Es = 2 (incisivos Ea caninos Eu premolares o molares 3)>x. o — ET ms bem, muy sem siso seriam, se nom trabalhassem de fazer as cousas, em que ouuerem de seruir, que seiam a uontade de seu senhor, ca doutra guisa marauilha seria de acadarem bem. Porem muyto se deue traba- lhar cada hum quando taaes cousas ouuer de fazer, que as faça ledamente e bem, em tal guisa, que seu senhor se aja por contemto, e nom faça assi, como seem fazer alguus, que com maa condiçom pigriçosa e temerosa , À leixam de fazer aquillo que deuem, e posto que o sai- | bam muy Dem fazer, O leixam de fazer por sua astro- sia e uergonça, em que tal cousa nunca traz bem: e por uos mostrarmos, em que guisa este joguo teuerom | os antiguos, que he muyto bõo a repairar o entender, porque assi foi aleuantado, * uceloedes em nesta guisa. 10 Nos uos dissemos, que o entender cansaua, quando lhe eram demostradas muytas cousas pollos sentidos que fossem grandes de departir, ou fossem tantas que o en- tender estiuesse muyto [cansado] ante que as acabasse de determinar: este joguo lhes daa folgança, ca se os olhos dam cansaço ao entender em ueer muytas petiçoões, quem duuida, que nom perca o cansaço em ueer a sala muy bem guarnida de muy ricos panos, e outrosi ueer muytas donas e donzellas muy ricamente uestidas, e |b X tambem caualeiros como escudeiros, que todos nom pa- | rasem mentes senom em tomar prazer: quem duuida *, que o entender com tam bôas cousas como estas nom perdesse o anoiamento que recebesse por as cousas sobreditas: c se o entender cansa em ouuir cousas noiosas de muytos que com elle querem desembargar, bem parece que se deuia alegrar em ouuir os muy doces tangeres que fazem os instrumentos: se o tocar 5. tães. — 10. em] e. — 12. teuerom] texerom. — 14. em] e. — t6. eráon. — 18. cansado] om. — 19. da. — 20. cansanço. — peti- çõees — 21. cansanço, — 31, doçes. fe Susd: - v- Auvarcoa «(dr ti Locty Xamaenar 1). II daa noio ao entender tomandoo polla maão dizendolhe que lhe dee audiencias, e outrosi dandolhe petiçoões, quem cuydaria que nom perdesse tal enfadamento e noio em tomar húa fermosa dona ou donzella polla maão e dançar com ella. Depois que uirom os antiguos que este joguo era bõôo a recrear o entender, de que elles queriam estar guarnidos, quando mister fosse, que seu cansaço uiesse, que com tal cansaço o senhor nom lei- xasse de bem fazer o que a elle he compridoiro: entom aleuantarom outros joguos, per que se nom perdesse o uso das armas, e assacarom as manhas das ligeirices, dese. ca tiuerom que muyto conuinha a tal feito como o uso das armas: como quer que asligeirices seiam muytas, pero poucas as que os fidalgos am de fazer e usar, que ao feito de homées darmas pertença, ca como quer que os saltos das maãos (!) seiam muytos, e de muytas guisas, pero nom som proueitosos a os fazerem os homêes dar- mas, senom este hum, poer a maão na coma e no arçom, e saltar em cima do cauallo, ca dos outros mays pertencentes som a sabellos fazer os mareantes, que os homées darmas: ca todos som tombos é reuoluimentos de braços, que os mareantes fazem pollas cordas dos naulos, que aos homêes darmas nom pertencem, e por o A isto nom deuem dar muyto polio saberem fazer. E das outras ligeirices de saltos que comprem pera os * homêes darmas se aproueitarem delles som estes: correr bem, saltar bem, e de corredilhas, e outrosi com palanca de corredilhas, ca todollos outros nom som que ualham nada pera se os homées a tempo de mister se aprouei- tarem delles. E uendo os antiguos como esta manha (1) .. .té maaos. (Nota marginal). 1. mão. — 2. dee | de. — petições. — 15. de armas. — 16, aa muas. — 24. debem. — 27. corredillas, Io 15 20 25 3o Censo eq id ad eine E o nom compria pera todallas cousas, que de manhas de corpo pertenciam pera os homêes, que em alguus gran- des feitos de perigo os ouuessem de usar, depois cata- rom outros joguos de serem braceiros: e como quer que muyto seia preçada esta manha da braçaria, pero ella nom ual muyto aos homêes que darmas am de usar, senom tam solamente quanto he lançar bem húa lança, e este lançar de lança mais faz de bem ainda aos ginetes que aos homêes darmas, ca nunca em nossos dias uimos, nem ouuimos dizer, que hum homem que de todo ponto fosse armado acabasse grande feito por remessar lança: assi que este joguo de braçaria nom acharom que muyto ualesse a guardar que se nom perdesse o uso das armas, como quer segundo susso dissemos, que nom esta mal aos homêes saberem fazer todallas manhas da bra- caria. E ainda que os antiguos tiuessem todos estes joguos assi aleuantados, todauia nom lhes parecia que estauam abastados ao que compria, por quanto se auia de fazer em feito darmas, ca as manhas do corpo que pertencem pera homêes darmas som estas: Primeira- mente auerem bõo folego, deshi serem ligeiros em as cousas que de susso dissemos, outrosi braceiros, e depois ferirem de facha, e de espada, e de todallas outras ar- mas que se de susso referem; ainda mais saberem ferir de justa; e com todo esto lhes compre auer bõo auya- mento, que saibam obrar destas manhas assi como lhes conuem nos lugares onde cumprir de se fazerem, e depois leuarem suas armas bem apostamente, e deshi caualgarem bem, e com todo isto lhes faz mister de aue- rem bõa força: e porque estas manhas am os homêes por duas cousas. A primeira por natureza, segundo Deus lhe daa a graça, e a segunda do uso, ca muytas 5. braceria. — 12. braceria. — 14. sta. — 21. em] en em. — 24. suso, — 25, cumpre. — 26. ansi. —31. naturaleza. — 32. daa] da, — 14 — uezes ueedes, que muytos nom am estas manhas, e usando as cobram em ellas, e ainda que as ajam da na- 12 tureza, muytas uezes *as perdem nom as usando: por ende todollos fidalgos as deuem desejar, ca por isto os antiguos tiuerom por bem de assacarem taaes joguos; e como quer que tanto tiúessem feito em estes joguos, que ja aleuantados auiam, ainda lhes nom pareceo que estauam como compria, e catarom qutros muyto mais fermosos joguos, e estes forom o justar, e o tornear: e porque dissemos, que todollos homees fidalgos, que por armas auiam de uir a bem, conuinhalhes usar das manhas que pera isto forom aleuantadas, entre todallas outras deuem usar destas duas, porque som melhores, que as outras; ca quando estam os senhores quedados em suas terras, e fazem estes joguos, fazlhes remem- brar os feitos das armas, e outrosi lhes repaira as ma- nhas dos corpos, que pera tal feito compre, que se lhes nom percam, ca este joguo de justar, se aos homêes darmas compre bem caualgar, este os faz ser bõôos caualgantes, e se compre aos homées darmas trazerem bem e apostamente suas armas, e outrosi encontrar bem, este joguo os ensina a fazello: e esto mesmo faz o tornear, que os faz ser bõos caualgantes, e outrosi fa- zeos saber ferir bem dalto, e trazer suas armas aposta- mente. Mas como quer que todos estes joguos que dito auemos seiam muy bõos pera repairar o feito dar- mas, como do entender, todauia nom o faz cada hum per si juntamente, ante o faz cada hum per sua parte, ca assi como o justar nom repaira senom o reger, e o encontrar, e leuar as armas apostamente, pero nom. satisfaz porem a quanto compre ao que am de fazer os que dos feitos das armas am de usar: ca ueedes 4. todos os. —dezejar. —11. conuinhales. — 26. seijam. — 29. rei- | j J 9 ; para, - - ES tam que dar golpe de sobre maão, e de remessar lança, e de ligeirice, e de todallas outras cousas, bem uisto esta, que este joguo de justar nom faz nada, e se uirdes o tor- near, nom faz as cousas que os que a justa fazem, e assi todollos outros, que dito azemos, e assi que nom fazem húus os que os outros fazem. Capitulo ij, em que se mostra como o joguo de andar ao monte he melhor que todollos outros joguos pera re- crear o entender, e tambem a correger o feito darmas, mais que todollos outros que pera isto forom aleuantados. Porem uendo os antiguos que a uirtude ajuntada he mais forte que as que som Ra e porque tambem os homêes que das armas am de usar, nom podem acca- dar todallas manhas que susso som escriptas por falleci- mento da força dos corpos, que a todallas manhas nom podem comprehender: e uendo ainda em como a se correger a fraqueza do entender, quando por algíias cousas se quer enfraquecer, de que os antiguos quiserom estar percebidos, segundo susso dito auemos, nom esta- uam tam percebidos que nom ouuessem de estar de mays : uierom a aleuantar hum joguo, que aquellas cou- sas que elles quiserom, que se lhes nom perdessem, fos- sem por elle guardadas, e assacarom de andar ao monte ; e este joguo de andar ao monte de ussos ou de porcos comprehende e repaira todallas cousas, pera que to- dollos joguos forom aleuantados, tambem a recrear o entender, como o feito das armas, ca elle juntamente daa folgança, e recreamento a todollos sentidos pollas 15. suso. — scriptas. — 17. ueendo, — 20. suso. — 20-21, stabam, — 28, como] com. — 29. daa] da. tear 13 14 Egg AA cousas que se em elles fazem, e outrosi aos que delle bem usam, lhes guarda que nom percam o uso das armas, ca o que cada hum dos joguos faz apartada- mente por si, o joguo da montaria o faz juntamente, con- uem a saber. Nos uos dissemos que o entendimento cansaua em ueer muytas cousas que lhe fossem maas de departir, e que sua folgança era ueer cousas ligeiras de passar com prazer: ora ueede se o ueer que he o mais principal sentido, porque o entender filha com este mais prazer, ueede se quando for anoiado, se o pode perder, em ueer muytos caualeiros, e escudeiros muy bem enca- ualgados de bõôos cauallos, e outrosi uestidos como compre pera tal mister, que nom parece menos bem trazerse nas roupas que comprem pera o monte, que panos douro pera dançar em sala, ca muy fermosa uista he * quando homem uee quem se bemtraz. E por- que este bem trazer am filhado os homêes deste rreino de muytas maneiras, ca dizem alguus por bem trazer, trazerse muy ricamente, e outros trazerse muy lou- çaãos: e estes dizeres ainda que ditos seiam, pero nom he todo hum, ca posto que o homem se traza louçaão, nom se traz por isso bem, e posto que se traza bem, nom he por isso louçaão; e se quiserdes ueer como som departidas estas tres cousas, sabeis que trazerse rica- mente nom he trazerse bem, ca muytas uezes ueedes que hum homem se traz de muy ricos panos, ainda que seiam brolados de aljofar, ou de pedras, e podem ser tam mal feitos, ou trazellos em tal lugar que todallas riquezas que em si trouuesse lhe pareceriam tanto como nada. Assi como andando hum caualeiro ou escudeiro em sua casa, e indo ueer em como se cauam as uinhas, e entom leuando panos de ouro, nom lhe poderiam di-. 4. monteria, — 8. hora. — 10. ueede] uede, — 16. uee] ue. — 21. loução. — 29. pareciriam. IO 20 25 30 — 17 — zer que se trazia bem: ja trazendoos muy mal feitos, esto nom he duuida que lhe nom digam, que se nom | traz bem: ser louçaão em tal guisa o pode seer que lhe podem dizer que se nom traz bem, porque louçania nom esta senom em húãa aparencia a qual homem nom pode dizer: empero muytos som que som louçaãos, e com todo isto todauia se nom trazem bem, ca trazerse bem esta em duas cousas: a primeira trazer as cousas que se ouuerem de trazer; que seiam bem feitas; a segunda trazellas segundo os lugares e tempos que conuem de as trazer; ca trazer homem quando fosse ao monte por tempo de agua hãa gona muy longa de baldoquim com penaueiras, e outrosi quando estiuesse em sala trazer hum saio de Irlanda com botas, este tal non traria os trajos ao tempo que lhe conuinha, e pertencia, segundo os tempos que os auia de trazer, e assi estaria que se non traria bem. Outrosi louçaãos som muytos que nom trazem os trajos bem feitos, nem os trazem a tempo, e quando assi se trouuerem + nunca lhes diriam que se traziam bem; e pois que trazerse bem esta em trazer os trajos bem feitos, e trazellos a tempo que lhe conuenha, bem pareçe que os que andam ao monte se podem bem trazer: ca de trazer os trajos bem feitos, ueedes que os podem trazer tam bem feitos segundo o que compre pera andar ao monte, como os podem tra- zer quaesquer que os bem feitos possam trazer pera esta- rem em hãa festa: e trazellos a tempo assi o podem fazer andando ao monte, como em outro qualquer [lugar] que seia, pois quaesquer que se bem trazem nom he duuida que bem nom pareçam, e porem forçado seria quando bem parecessem, que o entender folgasse na uista da- quelles, que pera este joguo de andar ao monte se bem trouuessem. Ainda ahi a muytas outras cousas, em 3. beem. — 14. saco. — 15, trajes. — 24. uedes. — 28, lugar om, 2 O a - que se pode o entender em as ueer nom menos delei- tar, que em isto que dito auemos: ca ueer homem como uam os moços poer os caães quando muytos som, nom duuidedes que nom he muy fermosa uista, ja em ueer quando o usso sahe por algúa trauessa do monte, e os sabujos ueem todos juntos com elle, e de quando em quando o uam filhando, por certo muy enfermo seria o entender que com tal uista nom perdesse algum can- y saço, se o em si tiuesse pollas cousas sobreditas, que pollo ueer em este joguo lhe som demostradas, como dito auemos: ja quando o usso sahe por algúa armada, entom he tam fermosa cousa de ueer que aquelles homêes que o ueem nom podem seer tam pouco monteiros que nom seiam em tal folgança, que todallas cousas que io de fazer, que lhe nom esquecessem, ca em dizer uerdade esta uista he tam saborosa em ueer, que Y| comparada he com a uista da gloria de Deus: e nom nos ajam por mal em dizer isto, ca este dizer he compara- com, que muytas uezes fizerom os Sanctos Padres, poendo em comparaçom as pequenas cousas com gran- des, e as grandes com pequenas, e por isso dissemos isto, porque somos monteiro, polla grande afeiçom que lhe auemos: ca em uerdade a nosso ueer comparada esta em gloria esta uista, que se dizem os sabedores . que os que estam em gloria nom am fame, nem sede, nem sentem cansaço, nem nuydade, verdadeiramente 16 tal he esta uista, * que aquelles que a ueem nom po- demos cuidar que estas cousas possam aueer. ÀÁssi meesmo se o entender cansa pollo ouuir, ouuindo cousas que o anoiam, este joguo o esforça, pollas muy sabo- rosas cousas de ouuir, que em este joguo som feitas, ca muy fermosas cousas som de ouuir, quando os mon- 4. fremosa. — 8-9. cansanço. — 16. sabrosa. — 24. (1.º) está, — 25. ham. — 26, cansanço. — 19) — teiros tangem rastro, e depois em quuir quando os caães uam a achar a uozes, e acham, ja quando todos cor- rem ensembra: esto nom he de osmar, ca podemos dizer muy bem, que Guilherme de Machado nom fez SC 5 tam fermosa concordança de melodia, nem que tam bem paPEca Como a TsZem cs caes quando bem correi quando bem correm. Ainda mais o tanger das bozinas, e o fallar dos moços quando Tallam aos cases, de mais quando dizem éylo uay, eylo vay, todas estas cousas som tam pertencentes | je ro | pera correger o entender, se cansado he por ouuir cou- sas que o anoiem, e o façam cansar, como o ruybarbo | pera correger o figado. Mais ainda se o tocar daa algúas uezes ao entender enfadamento, tomando os rreys pollas maãos, pedindolhes que os ouçam, assi como dito aue- 15 | mos, creede que este joguo lhes faz esqueçer aquelle enfadamento, quando esta sobre hum bõo cauallo, e tem húa bõôa azcuma na maão, e que seja a uara bem longa, Ye dereita, e o ferro bem talhado, e seer bem agudo tambem da ponta, como das naualhas, e com todo esto 30 nom seia muy pesada, nem muy leue, ca tal compre a ho monteiro de cauallo. Porque quando as maãos tocam algum instrumento, com que algúa cousa aja de fazer, que seia pertencente pera aquella cousa que quer fazer, | sempre se o entender alegra com ella, porque sabe que *. 25 O fará mays perfeitamente, ca assi aconteceo ao armiral que o bõo duque Gudufel prendeo no cerco de Antio- chia, quando este Doo duque o fez uir per ante si, e meteolhe hãa bõa espada na maão, e diz a historia, que quando a sentio que era bõa, nembrandose que se 30 dali saysse, o bem que com ella poderia fazer, que se alegrou muyto com ella, em tal guisa * que parecia a 17 9. eylo vay (2.º)] aposição marginal. — 12. da. — 17. azeuma. — 25, Ormiral. — 29. membrandose. / TARA A A , nadilrchaaa As (Mactade = MK anna 7 àR PA acha osAte + | Cv “LX. Frau. Slugk. u Zago P-IE .) NEGÃO todos os que hi estauam que nom sentia a prisom em que jouuera. E como quer que o cheirar, e o gostar nom som sentidos que o entender muyto agrauem em aquello que dissemos, de que os antiguos quiserom ser percebidos: empero ainda este joguo correge algúus falimentos destes sentidos, que bem ueredes que se o gosto esta com fastio por mingua de exercicio, que o andar ao monte lho faz perder, ca creede que quando homem uem do monte, e o monte lhe faz aa sua vontade, e lhe passou hum pouco a hora de comer, que nada acha que lhe mal saiba: e quanto ho cheirar, quando homem uai por algúus prados, e por so algãas aruores, que cheirem bem, algúa cousa de bem podem fazer ao entender de folgança por este sentido. Ora pera recrear o entendimento uos ueedes que de todollos joguos nom parece nenhum tam perfeito como este: e o porque nenhum dos joguos nom correge assi todollos sentidos em geral pera correger o entender do seu enfadamento, que recebe pollas cousas noiosas que lhe som demostradas pollos sentidos, como este joguo de andar ao monte: e ainda tam somente nom he em si bõo pera correger o: entender, mas ainda correge o feito das armas, que quando os senhores estam quietos nom o leixam, que com elle nom ajam gram parte de refazimento, usandoo bem. 4. antigos. — 5. correje. — 8. crede. — 9. o homem — ho monte. -——11. ho] no, —13. arbores, — 14. hora. — 17, correje, — 18. cor- rejer. Eee mea poe sem ig do Po o om + + ) 4 d di ' fds si o do six RA ida di 7 AE , Pao da Pay Capitulo iv, em que se mostra como o joguo de andar ao monte guarda o feito das armas por que se nom perca. OSS sds ia la A do it o ça 2a = a E por saberdes em como he, ueloedes por esta guisa, Nos uos dissemos que compria muyto aos homées dar- mas auerem bõo folego, e depois disto serem ligeiros e auerem braçaria, e depois ferir bem de todallas armas, que se de sobremão ferem, e ainda mais saberem ferir de justa, e com todo isto que lhes compria serem bem auisados, e * caualgar bem, e que lhes compria auer bõa força. (Ora tambem uos dissemos, que usando os homêes as manhas, que auantajariam muyto em si, e em ellas, e que por isto forom todollos joguos aleuan- tados em usandoos homem, que se nom perdesse a destreza dos corpos, que pertencia aos que com armas auiam de defender a terra. Ora este joguo usandoo; ensina todas estas manhas por esta guisa. Se aos rreys compre auer bõo conhecimento, em como filharam Bêm hum campo que seia a sua auantagem pera batalha, este joguo lho quer dar a demostrar assi como cousa que seja de joguo pera outra, que seja de tam alto feito, como em ser batalha entre rrey e rrey: ca se aos rreys compre parar bem mentes ao lugar, em que poem sua batalha, que seia a sua auantagem, esto mesmo deue fazer o que for monteiro, quando quizer correr algum monte em que nunca fosse: e porque fallamos em que os rreys deuiam ser auisados em poer a batalha que seia a sua auantagem, queremos dizer hum pouco, em como os homêes nas batalhas podem filhar auantagem ro mm mm E ! e | | rat pet er disse Y e e e mm 16. hora. — 19. uantagem, — 27. pooer. a 18 segundo razom natural, quando o puderem fazer, ca algúas uezes se acontecem as batalhas por tal guisa, que os que em ellas som, nom podem obrar, senom 4 | como lhes daa a ventura: mas quando as filham assi como se mais a miudo soem filhar, entom podem sa- ber, os que o souberem fazer, que seia sua a auanta- gem: e a primeira cousa em que O rrey deue filhar auantagem em filhar o campo contra seus imigos, he esta, que o filhe sempre com dereito, ca doutra guisa as outras artes naturaaes nunca lhe podem muyto ualer. A segunda cousa de que deue seer auisado todauia com esta que dito auemos, deuese auisar o rrey quando ouuer de filhar o campo pera estar em húãa batalha, que pare bem mentes quanta gente he a sua, e que campo | pode tomar com ella, em tal guisa que a todo o seu osmar, nom possam mais pelejarem no frontal da bata- lha"que os seus, ca doutra guisa serialhe perigoso: e isto pode fazer em esta maneira: ueer o campo:que- 19 jendo he, e entom deue ahi meter * as batalhas em tal lugar, que as pontas dellas seiam assi cerradas, que os outros nom possam por outro lugar uir, senom per ante; e isto pode fazer poendo sua batalha, que as pon- tas cheguem a par de algãas pedras,'ou de alguas ar- uores, que seiam muytas e espessas, ou entre ualles, ou em outras cousas semelhantes, que esta cousa pos- 4, | sam embargar, que todauia non possam mais pelejar que os seus. E com todo esto deuem parar mentes que lugar he aquelle, em que querem pelejar; e se uirem que he de tal guisa que alleuante poo, deuem fazer muyto que lhes dee o uento nas costas, porque em sendo assi, entom de razom estaria, que o uento leua- » | ria o poo, e entraria pollas uisages das caras, e taparia | 4. da. — 5. miude. — 8. inimigos. — 9. direito. — 14. parem — he] á. — 22. pondo. — 27. deuem] de bem. — 30. de. ao atputann sta . É De ii its , Ceci. | | | | | E Tree e pd Eds pe Jd TH O a a e e Si á ei E * á “a a dt qe x — 25 — o ueer, e o resfolegar aos da outra parte, e assi natu- - ralmente seria de auerem o milhor com tal auantagem : e se o campo nom alleuantasse poo entom deuem fazer doutra guisa, ca compre a tomar o campo, que os ros- tros estem contra o uento: ca entom quando o poo nom fosse, se lhes o uento entrasse pollas uisages, em ra- zom esta sofrer milhor o folego, e quanto o milhor so- frém, tanto mayor auantagem com razom deueriam ha- uer: e outrosi fazer outras cousas que muyto som auantagem quando se faz tal mister. E compre ao ho- mem ser muyto auisado : assi como quando homem tem pouca gente, e a outra he tanta, que elle nom pode a uanguarda meter com alas, que igualado podesse seer com os da outra parte, como he de costume de se fazer; entom a milhor maneira que se pode teer em feito de tal batalha he fazerse desta “guisa: tome sua gente e metaa em húa batalha, quanto puder seer de longo, e com todo isto que nom seia muy delgada, e depois to- mar uinte ou trinta homées dos mais auisados, e que seiam dos mais ardidos, que em sua gente tiuer, e entom compre de os fazer estar detraz dos outros, e nom juntos, mas nos terços da batalha de dez em dez com fachas nas maãos, e esto de ser dez, ou mais estaa no aluidro daquelle que ouuer de reger a batalha: e estes que assim estam, nom he por outra cousa, senom quando se rompesse a batalha, que estes fossem pres- tes pera reterem * aquelle lugar que se nom rompa. E ainda mays deue de fazer, que muyto he compri- douro pera todallas batalhas, que seiam de poucos a muytos, ou de muytos a poucos, que sempre meta da milhor gente que tiuer nas pontas das batalhas, e no meyo donde estam as bandeyras: e esto porque em 1. desfollegar. — 19. 29 ou 30, — 23, está, — 24. estos, 20 ne — 24 — estas partes esta a mayor força da batalha, ca porque as pontas das batalhas, sempre os que estam em ellas, lhes parece que estam como se fossem desemparados; se bõôas nom fossem poderia por alli perder a batalha, e outrosi os que estam em meyo, he de força auerem mayor trabalho, e por esto compre de se poer desta guisa, que os milhores estem em estes lugares. E como quer que nos isto começassemos de fallar em como os rreys [auiam de] poer as batalhas, e depois tornamos a dizer como se as batalhas auiam de poer de poucos a muytos, diriam alguus que os rreys non poderiam teer | tam pouca gente, em que esto pudesse cair em elles; e esto nom se faz assi: ca muytas uezes acontece, que os rreys algúas uezes pelejam com poucas gentes: mays em ES assi dizer, nom deuem dar por ello muyto, ca se (ne mays graues cousas som repairadas, as outras que nom som, todas ficam repairadas: e demais que os caualeiros, e escudeiros assi podem leer este liuro, e filhar algua cousa que lhes bem pareçer, como os rreys, que por esto foi nossa entençom de poermos esto em este liuro de montaria, que se algum rrey ou caualeiro, “ou escudeiro o leesse, achasse que se dello podesse aproueitar quando lhe comprisse, mais que por muyto uir a efeito do que começamos de fazer. E em como quer que em filhar o monte algãa cousa que em esto. tomar do monte parecer em filhar o campo pera pele- jar, nos em esto nom nos queremos muyto deteer, ca bem dizem todos, que quem bem sabe filhar hum monte, 4, que assi sabera filhar hum campo, em que aja de pele- jar: e porque todos esto dizem, nos nom auemos mais porque o dizer. (Ora uos dissemos que compria de auer o que fosse bõo homem darmas bõo * folego. Di: é. he] é. — 9. auiam de om. — poor. — 10. poor. — 18. podeem. — 21.0U] 0. — 27. deter. — 31. hora, — 32. bõo (1.º)] boom. Ed a ho poe zem os physicos que naturaaes som, que quando se perde do homem auer bõôo folego, que se nom faz senom pollas cousas que ja dissemos, do comer e do beuer so- bejo, e esto dizem, porque he: e dizem que quando o corpo estaa quedo, que entom as humidades crecem sobejas fora da naturaleza, e quando assi som muytas, que entom sobem a cabeça: e quando a multidom he grande nom podem baixar por os lugares que deuem fazer, entom descendem aos canos dos bofes por que ueem o folego, e tapaos, e entom faz os bofes (!) pesados em tal guisa, que nom podem tam bem auentar como deuem, e assi fica que nom pode auer tam bõo folego, como deue: e os que deste joguo usam corregem muy bem esta manha do folego, e aleuantandose de manhãa no andar, e correr que fazem em andar ao monte, se for bem regido em comer e beuer, de força sera de se desecarem as humidades: e sendo as humidades secas, entom aquello que perdesse por a muyta humidade, corregersia, quando fossem desecadas. E assi seria que os caualeiros, e escudeiros que deste joguo usas- sem, que sempre aueriam bõo folego, e que nom leixa- riam de o auer, se o de si bõo ouuessem, se usassem deste joguo: e esto mesmo dissemos dos homêes darmas, que era muyto mister saberem bem encontrar, e ou- trosi bem caualgar, e que o joguo de justar ensinaua, e corregiã muy bem de auerem estas manhas, mas muy milhor as correge o joguo de andar ao monte: ca de bem encontrar hum que justa, nom he marauilha de encontrar bem, ca estando homem sobre bõo cauallo, que corra de boamente, entom nom tem outia cousa (!) por que ueem o folego, e tapa os, e entom faz-os bofes. (aposição marginal). 5. está, — humedades. — 8. por] poz. — 17. doesecarem (?). — 22. auessem, — 27. melhor, ” ai DEDE: si que o embargue senom ter mentes em aquelle com quem a de justar: entom nom faz muyto de bem en- contrar hua tamanha cousa, como hum caualeiro que traz escudo, e outrosi hum elmo tam grande em como he: e outrosi caualgar bem os que justam, e em irem 5 apostamente nom fazem em ello muyto, nem ainda os ensina assi a caualgar por ello tanto, que quando hum E tempo de mister seia, que aquello de muyto preste, j porque quando hum quer justar, sempre lhe entroxam l as stribeyras, e lhas atam por fundo do uentre do ca- 10 + uallo, e deshi poemlhe faxas nas pernas arredor dos giolhos, ainda atamse de alguns atamentos: e todas estas cousas nunca se fazem aos que andam em guerra pera bem caualgar, * e por esso nom nos ensina este 22 joguo de justar a caualgar, como o de andar ao monte 15 ensina aos homêes a serem bõos caualgantes, como. compre à todo homem que anda em guerra, ca Os que É am de pelejar de cauallo, nunca lhes catam carreira, que ç seia tal como a rua noua de Lisboa, quando em ella É | justam: mas como lhes acontece o lugar de pelejar, 20 É ou de correr de cauallo de poz seus imigos, assi pele- F jam, ou correm em qualquer lugar que se acontece de f| o fazerem, em tal o fazem. E esso meesmo os que andam ao monte, em como acertam a terra, porque ajam de correr, per tal correm, quer seia a so pee, quer chão: e posto que seia fragoso, quer espessa do monte, todauia por alliam de correr; e assi aquelle que se per ali bem souber teer no cauallo, em todo lugar se teera em elle bem, ca elle nom ha outra ajuda doutra cousa, y | senom de si meesmo, o que nom fazem os que justam, que as am em como ja dissemos; e por esto ensina 15. nom] no. — 19. ande pellejar. — de] da. — 22. inimigos. — 24. medesmo, — 27. châm. — 30. elle (2.º)] el. —nom] no, — 31. mesmo, — 32. ham. p v- binheas : A juris ma Ao nleca . — 27 — E milhor o andar ao monte a caualgar, que o justar: pois que faz aquelle caualgar que caualgam, he mays a ma- neira dos que am de andar a guerra, que o que fazem os que justam. Se quiserdes bem ueredes que o en- contrar das justas nom faz os homêes ser tam auisados em encontrar, como o que anda ao monte; e o por- que he, que o que justa sempre uay auisado daquello que a de fazer, e tambem a carreira, como todallas outras cousas, que seiam pera encontrar bem, de todo se auisam os que justam de as fazer; e esto non fazem os que andam ao monte, ca estes donde quer que se lhe acerta, em tal lhes conuem de justar com o porco, quer seia lugar espesso de matos, ou daruores, ou de pe- dras, em tal guisa uem, e tam a deshoras, que a maas penas o pode o homem ueer, e o que milhor he, uem passo, ca em uerdade hum uirotom pouco menos sahe da sua besta de tiro, que o que elle uem: pois o que ouuer de justar com elle, muyto lhe faz mister, que seia muy percebido, e auisado, como aquelle que nom sabe em que lugar, nem em que guisa se a de acertar com elle. Demais quando o porco assi uem ao homem, elle mostra tam pequeno lugar * pera o homem lhe po- der dar, que se o homem nom for tam ponteiro, e ou- trosi auendo muy usado este joguo, nunca o bem poderia encontrar. Pois usandoo homem, pareceria que mais ensinado seria a encontrar ben, que pollo justar ; ca de todallas cousas que de encontrar seiam, que pertencerem a hãa guerra, todallas ensina o andar ao monte: ca encontrar a trauez, a direito, como em fugindolhe, como em lugar embargoso tambem como em bõo, como de sobreuento, por todallas maneiras, que se podem fazer encontros em guerra, por tantas 2. aquel. — 7, uai. — 18. seija. — 19. aquel. — 21. demays. — 25. o homem. 23 24 E À, maneiras as ensina a fazer o joguo de andar ao monte, e assi o ensina mais milhor que o justar. E se o joguo do tornear ensina a ferir dalto ferindo com hãa espada sobre húa capellina, se ensinaria milhor a ferir dalto qualquer homem com hãa azcuma de sobremaão a hum porco, de que se nom pode bem liurar, senom por lhe dar grande azcumada. E ja se os homêes darmas deuerem de auer de manha, e ligeirice, em que nos dissemos que de toda a lígeirice nom compria senom o saltar de corredilhas, e outrosi correr bem, e saltar per pallanca, ca se lho bem parardes mentes, nom ha cousa que milhor ensine ao homem a auer esta manha que andar ao monte, ca se os homêes usam as manhas alcançamnas, posto que as nom ajam de sua nascença: seede certos que este joguo he tal, que se nom pode fazer sem usar esta manha que compre de ligeirice, afazer aos homêes darmas de correr, e de saltar; e esto nom o queremos mais dizer, porque todos sabem, que he assi como nos dizemos: e pois que se em elle usa, forçado sera que academ esta manha os que ao monte andam. Outrosi se a braçaria de lançar lança faz algum bem ao uso das armas, se o saberam fazer aos que andam ao monte cada hua das cousas, porque os monteyros am de matar o porço, ou usso, assi he de remessa, e por esto he forçado que o saibam mi- lhor fazer que os outros homêes. Ainda este joguo ensina mais a fazer alguas cousas que pertencem aos guerreiros, que hum dos pontos que compre aaquelle que perfeito caualeiro deue de seer, que a de saber fazer * assi: he seer bõo corredor, pois o andar ao monte lhe ensina à teer bõo tento da terra, e deshi sofrer bem seu cavallo que lhe nom canse tanto como 2. melhor. — 6. per. —14. nam. — alcança nas —16. cumpre — 17. affazer. — 21. braceria. — 24. uso. — 25-26. melhor. — 20 — ido ol a mad . cdi DÁ . q y » “ k r 4 ty a outro homem que o non aja usado: deshi tambem saber passar hãa terra grande aginha; ca todas estas cousas compre saber fazer aaquelle que for bõo corre- dor: ora he assi, que este joguo per si soo repaira o en- tender, se pollo cansaço he enfadado, outros! guarda o uso das armas muyto milhor que se non perca que eSdolss-sutros que pera clio forom alsuantados se este joguo que assi guarda estas duas cousas tam nobres, em que se guardam os estados dos reynos, e soiamlhe de chamar o joguo dos rreys, e esto nom sem guisa por tres cousas. A primeira he, porque este joguo foi dado pera guardar o uso das armas, quando estiuessem em paz, que se nom perdesse, pois a quem pertence tanto esta guarda a fazer, como uos rreys, ca toda a defen- som do reyno, em como quer que a todollos delles pertença a se poerem por defensom de sua terra, pero todauia aos rreys compre mais que a nenhum dos ou- tros, ca tantos som Os pouos, e os reynos dos rréys que por uezes pena uem aos pouos pollos pecados dos rreys, e nunca foi achado que o rrey fosse penado pollo pecado do pouo; e desto podedes auer exemplo do rrey Dauid, que mandou contar o pouo de Israel: e porem ueo o propheta a elle, e disselhe depois das muytas ra- zoões que com elle ouue, que Deus lhe mandaua que por aquelle pecado que assi auia feito escolhesse de tres cousas hãa, ou fame por sua terra toda, ou ser conquis- tado de seus imigos, ou pestenença por tres dias, e elle escolheo a pestenença, e assi foi feito. E porem bem parece que os tem Deus por seus, pois que os pena pollo que el rrey faz, ca se os tanto nom tivesse por seus, nom os penaria pollo que elle fizesse, e por esto lhe conuem mais a defensom que a todollos outros: e A qu br pe ret q « ms e Y o k E b -. o dino « O o e me e pm — 4. hora. — assi] si. — 5. cansanço, — 6. percam. — 10. giusa, — 13. perdessem. — 14. affazer, — 16. porem. — 17. cumpre, — 23. Israél. — 26. cousa. — 30 —. assi este joguo he mais dado aos rreys, que a outros homêes. E se pera o regimento dos reynos forom ale- 25 uantados estes joguos, * a quem conuem mais que aos rreys, pois os am de reger, ca a entençom dos antiguos que este joguo aleuantarom, nom foi por al, senom por guardar aquella fraqueza, que o entender dos rreys toma pollo enfadamento de muytas cousas em que se ocupam, e que podesse seer em tal guisa, que nom lei- xassem de fazer o bõo reger, que auiam de fazer por tal cousa. E desta guisa tambem pollo reger como polla defensom, em todo he pertencente mays aos rreys, que a outros homêes; e demais que buscando todallas esto- rias antiguas acharedes que o primeiro porco que foi morto, foi o porco de Calidom, e a esta morte deste porco forom juntados o iffante Melleagro de Calidom, e os Iffantes Castor e Pollus fihos da rainha Leda, e a ante Atalanta filha del rrey Jasio, que o ferio pri- meiro, e foilhe dada a honrra, que ella o matara, assi como se agora faz, que quando algum fere primeiro, este dizem que o mata. É porque os rreys forom os primeiros que correrom monte, e matarom porco, como -ouuistes, e outrosi como a elles mais pertençe, como uos ja dissemos, por quanto lhe puserom aquelle nome, em que lhe disserom que era joguo de rreys: ca como quer que se mostra, que iffantes forom os que matarom este porco, pero nom poemos diferença de iffante a rrey, quanto em linhagem, demais em os tempos anti- | guos, e ora em alguas partes os iffantes som chamados rreys, e por isto cuidamos que nom erramos em dizer que rreys iorom os que matarom este porco. E uisto em como este joguo he em si tam bõôo, e demais que em memoria dos homêes nom he dacordo que nenhum rrey 12-13. 'estorias. —13. antigas. —16. Reinha. — 26. nom] nos, — 27. linagem. — 27-28. antigos — 28, hora. RE. ps que bem soubesse ser monteyro, e usasse de correr - monte fosse maao: e porque sempre foi usado de to- — dollos bõos, extremadamente pollos rreys que deste | joguo usarom: porem o deuem os rreys muyto pre- 5 gar, e fazer que nom seja tam auilado como agora he: | | ca nom fica vaqueiro, nem clerigo, nem homem astroso -, | que nom queira ja seer monteyro; e esto he gram mal de o solrerem, que use gente tam refece «a cousa que — pollos muyto bõos foi aleuantada pera guardar os esta- “to dos dos rreys: e portanto todollos rreys deuiam de de- fe ue nenhuus nom matassem porcos, nem ussos, * e aldemente besteiros, uaqueiros, nem gente astrosa, e aldemenos se nom fosse em sua terra toda, que fosse 5 quando fazem algúas cousas que outros nom façam, e por isto dizem quando algum faz algua obra que grande seia, que he obra real, e esto nom he dito, senom por- ques nO pode ouro fazer, senom o rrey: pois como se pode contentar nenhum rrey, quando fosse correr monte por matar hum porco, ou dous, quando hum ui- laão o mata em hum cepo assi como o rrey faz, com direyto nom se deuia a contentar: demais que pode- Eles ueer hum exemplo, e he assi: se hum homem amasse hãa mulher que fosse muy fermosa, e de grande linhagem; c cllu nom amasse outro senom aquelle que a amasse, posto que muytos fossem muy “contentos que fossem amados della: entom de razom seria que aquelle que assi fosse amado della, que em si se prezasse, pois que a ssi era feito o que a outro nom » era, demais se os outros merecessem tanto como elle: | fese pollo contrairo fosse, e que ella outros amasse com À aquelle que a ssi amasse: nos cuidamos que nom ha no - — 7 este, — 25. linagem, — 28, aquel. — 29. assi, — 30, el, — 3a. aquel. — assi, em parte della. É porque todollos homêes se contentam' are 26 — 9) mundo homem, que se muyto deuesse contentar: e por - esto com razom nom se deuia a contentar nenhum rrey de andar ao monte, quando tanta gente astrosa se dello trabalha: mais cuydamos que este sofrimento, que lhes os rreys assi sofrem do assi correrem, que lhes non “ROD rcarearremearrasos ueem senom per alguus. frades que muytas uezes lhes fazem conciencia em cousas, que O nom som. Capitulo v, em que se mostra, em que guisa podem os rreys correr monte, que seia pecado, e que nom seia pecado, nem mercee, e que o pode correr em tal que faça em no correr obra meritoria, Porque elles nom tomam as cousas assi como se de- uem de tomar, ca em dizer que andar a ho monte he uaydade, e por ello nom deuiam a mandar defender, que nom matassem os porcos, a esto dizem uerdade: mays 27 esta vaydade, e este * pecado esta em este joguo, como he em todallas outras obras, que os homees fazem, ca em todallas obras que os homees fazem, em todas podem en- correr em bem fazer, ou em pecado, ou em cousa que nom seia bem fazer, nem pecado: ca se he no pregar a palaura de Deus, que he tam bôa cousa, e nella pode encorrer O pregador em tantas uaydades, como o que anda ao monte, que quando algum frade resarE Tea de pregar de Deus, e prega de si, entom elle pode tomar tanta uaydade, e muyta mais qu e ande ao monte: pero se elle prega por reprehender pecados | ou por ge as iniudes Sic eia de is abas quando o que prega nas grandes e sotis opinioões, por: se Tiostrar que Tie sabedor, Entom prega de sl e em | isto pode tomar tanta uaydade quanta pode tomar em. 5. Rey. — 13. aho. — 15. a esto] a en esto. [1 Deseenabirino des frades - Jasdade - ERAS “ão qualquer auto que uaydade seia: e por isto disse nosso senhor Deus em o euangelho, o que de Deus he a pa- laura de Deus ouue, e nom disse o que a palaura de Deus prega, porque muytas uezes o pregador pregar as palauras de Deus, e encorrer em ellas em pecado, quando toma em si uamgloria, pensando que o diz tam bem, que outro o nom pode dizer assi como elle, e em esta guisa pode cahir em pecado de uamgloria, e estando naquella uaydade, que he pecado mortal, nunca pode seer de Deus: e o que a palaura de Deus ouue nunca pode em ella cahir em pecado, ca a palaura que o homem ouue, nunca he de Deus em aquelle que a ouue, senom quando a toma per aquella guisa que se deue tomar: e quando se assi toma, entom he em aquelle que a bem toma, feita a palaura de Deus. Porem em todallas guisas, que o homem correr monte, nom he em todas pecado, ca assi em como o que prega nom faz pecado, pero todauia pode pecar em pregando, assi o que anda ao monte, podeo correr em tal guisa, que pode pecar, e podeo correr em tal guisa que nom pecara, e ainda podeo correr, que nom sera pecado, nem mericimento: e nom dizemos ainda nom pecado, mas todauia fazer | + em ello obra meritoria. E dizemos assi que todallas cousas que os homêes fazem por Deus, com tanto que a obra nom seia errada, que todas som meritorias: ora todallas cousas que os homêes fazem, que seiam contra os preceitos que Deus * mandou, quer seram por palaura, 28 ou por obra todas som pecado. Assi quando o rrey corre o monte nom parando mentes como o corre, se- nom que sua uontade seia comprida, o qual compri- mento de uontade he uamgloria, porque nom para “mentes se faz em ello mal, ou leixa de fazer bem, que 4- Depois de vezes parece faltar a palavra acontece, ou seme- lhante. —- 5. em (2.º)] om. — 8. cahir. — 11. cair, nl ds ai POA he uamgloria, entom corre em pecado. Bem assi todal- las cousas, que se fazem por as cousas que aos homêes conuem de fazer, estas nom som pecado, nem meri- cimento: por esta guisa a nos compre irmos a Lis- boa, e imos alla, esta ida quando em si nom he pe- cadô, fer mericimento. Ássi quando o rrey corre seu monte, porque lhe he dado de o correr, segundo seu estado per esta condiçom, indo ao monte nom he pecado, nem mericimento: mas quando algum homem faz algãa cousa, que seia em entençom por Deus, com tanto que a obra nom seia errada, posto que nom seia meritoria, por ella merece algum galardom: y| e dizemos assi se hum tiuer a sua carne tam forte, que por nenhúa cousa a podesse someter a conhecer seu Deus com obra, e entom por esto se metesse a grandes jejuus, como quer que o jejuum per si simplesmente nom seia meritorio, pero pois que o faz por se mays chegar a Deus, todauia por aquelle jejuum merece, pois que a obra he feita por aprazer a Deus. - E esto dizemos que assi o pode fazer qualquer rrey que andar ao monte, ca fazendo por se mais chegar a Deus, entendendo que E indo ao monte poderia milhor fazer, o que he theudo de fazer, e entom merecia (!), ca posto que o andar ao | monte nom seia obra meritoria, pois que elle corre por fazer milhor, o que lhe Deus mandou, todauia por ello merecia por esta guisa: e quando o corresse por esta en- tençom, em parando mentes, em como Deus lhe deu a reger tam muyta gente, e como lhe tem dado tam grande encarrego pera o bem reger, e se achasse o entendi- (!) ca posto que o andar ao monte non seia obra meritoria (aposição marginal). 4. nos) non. — 14. nenhuma. — 16. jejus. — simplemente. — 18. jejum. — 22, teudo. — 25. melhor. — elle. — 29. hachasse. v distoa-(3) Etta mento tam enfadado e tam cansado, que por tal enfa- damento nom podesse chegar a fazer os desembargos, que theudo he de fazer, entom por perder aquelle enfa- damento, com uontade de fazer aquella cousa milhor que lhe Deus mandou fazer, sobre tal entençom indo ao monte, em tal correr do monte força seria, que elle ante Deus merecesse. Outrosi per esta outra guisa tam- bem pode correr, que mereceria em no correr, ueendo em como estando per longos dias * em desembargos, que todos o nom podem ueer pera lhe falar de seus feitos, assi como muytas uezes acontece aos rreys de o faze- rem, entom indo ao monte com entençom que se algúus quiserem falar de seus feitos, que tiuessem tempo pera o milhor fazer, todauia esta ida non poderia seer, que de tal monte nom fosse de grande mericimento : ca por esso disse Deus na sancta scriptura, guardarei a fim do homem: e diz S. Augustinho no Soliloquio, que nom disse Deus, que guardaria a fim dos dias do homem, mais que guardaria a que entençom, e a que proposito o homem fazia as cousas que fazia, ca diz S. Augustinho, que mais para Deus mentes a que fim o homem faz, o que faz, que na obra que he feita, pois se a obra de andar ao monte fosse feita por fazer milhor o que: lhe Deus mandou, todauia forçado seria a obra ser merito- ria. Por tanto qualquer frade que dissesse que em todal- las maneiras, que os rreys andassem ao monte, que em todas seria pecado, nos teriamos que elle erraria em ello, e pero nom deuiam os rreys assi de andar, nem leixar de os defender que o nom matassem, quando uissem que nom seria grande perda da sua terra, 1 1. tam cansado e tam enfadado que por. — 3. teudo. — 18, fin. 20. Agustinho. — 27, ella. — 28. por o, emma » 29 Capitulo vj, em que se mostra que posto que algum fosse ferido de porco ainda que morresse, que sua alma nom — seria por ello perdida. Esto meesmo algúus dizem, que o homem que he ferido de porco, que se morre daquellas feridas, que sua alma sera perdida: e a isto dam rezom porque se mata animalia bruta, e que non he cousa licita pera fazer: e esto quem quer que o diz, a nosso ueer nom diz bem: ca se per licita cousa he auida, os que uam sobre mar a ganhar de comer, e posto que no mar morram, que nom seriam suas almas perdidas, pois que uam trabalhar as uidas. Pois muyto o seriam menos os que andassem ao monte: ca os escudeiros, e os moços do monte, todos por aquelle trabalho em que trabalham, assi 3o | ganham de comer, e uem a * grandes honras e esta- dos, como os que uam sobre mar, e muyto mais: ca sabudo he que muytos dos escudeiros uierom a aueer grandes comendas, e outrosi serem muy bem casados, e auerem grandes estados, e senhorios: e outrosi os moços do monte sahirem escudeiros, e auerem bõos casamentos, per que ueem a seer honrados, e ricos. Pois se os que andam no mar, porque ganham de comer, lhes he auido por cousa licita, tambem o deuiam a seer os que andam ao monte, pois por ello ganham de comer, como os que uam sobre mar: pois se he pecado porem- se em perigo, qual he mayor entrar sobre mar, ou an- dar ao monte: ca muytos mais morrem dos que andam sobre mar, que morrem dos que andam ao monte: ca pr ] o * 3. elle, — 4. mesmo. — 6. razam. — 8. isto. —q. por. — 19. se- fiorios. — 24. elle. [é À Go Sr ca pollo anno morrem mais de mil dos que andam sobre “4 | mar, e dos que andam ao monte nom morre hum em dez annos: pois onde mais morrem mayor perigo he: e de- mais nom uam com tal entençom os que uam ao monte, 5 como os mercadores quando passam o mar: ca estes sabudo he, que sua uontade sempre he fundarse em grandes ganancias, de que se recrecem cobiças, e outras reuoltas do mundo, e nom dam muyto por enganar seu proximo com suas mercadorias, com tanto que elles aca- 1o dem aquella ganancia, por que uam. (Com rezom muyto menos deuiam perder suas almas os que andam ao monte, em como quer que se lhe delles recreça, que per aquelle andar do monte academ suas uidas, empero suas pro- prias entençoões nunca som senom em seruirem bem a 15 seus senhores, e fazeremlhes prazer em tal guisa, que pollo prazer e seruiço que lhes assi fazem possam uir aueer delles bem: assi que as entençoões nom som iguaaes em bondade, ca se a entençom dos mercadores he por ganhar, que he fundada sobre cobiça, e he raiz de toda maldade, lhe he tida por cousa licita, e que por tal fa- zer, em que leuam taaes entençoões nom perdem suas almas, ainda que no mar morram, como a poderam perder aquelles que andam ao monte, pois que o fazer, e a * entençom, nom som senom por fazerem prazer e seruiço aaquelles, com quem uiuem, por auerem delles bem, daguisado e rezom natural he, se a hãa non fosse pecado mortal, muyto menos o deueria ser a outra: e por esto dissemos que nom disse bem quem quer: que o disse, que por morrer de feridas de porcos seriam suas almas perdidas. á Es ao eia qu [mg tr pi TO O es ea me SA a 10. razom. — 14. entenções, — 17. entençoys. — 26, razom. — 27. deuria. 31 32 Capitulo »1j, como os rreys se deuem de guardar de nom cahirem em erro de serem monteyros. Ora este joguo que tam saboroso he, em como de susso dissemos a quantos o usam, se deuem muyto os rreys de guardar, de usarem delle em tal guisa, que por elle perdessem as grandes cousas, que theudos som de fazer, ca muytas uezes a algúus rreys aconteceo de o fazerem, de leixar de fazer as cousas que lhes eram pro- ueitosas, por irem ao monte: ca os rreys nom o deuem a tomar senom pollo que he, ca elle nom foi aleuantado senom por joguo, e os rreys por tal o deuiam de teer. E porem nom deuem de leixar de fazer o que comprir a sua honrra, e prol de seu reyno, ou sua por andar ao monte: ca o rrey em todallas cousas que diz, e faz, deue a parar mentes em como as faz, que assi selam feitas, que por ellas de bôo conto a Deus de si, que o fez rrey: e deshi que aquelles que o uirem, tenham que faz Dem todos seus feitos, e nom se deue a esforçar porque he rrey: ca se encubriram seus feitos, que bõos nom forem, ca deue cuidar que homem que tantos ho- mêes ueem como ao rrey, que mays toste lhe nom uejam alguas cousas se forem feas, que a outro homem: e porem deue a trager tal cautela em seus feitos, que quando lhe forem mays saborosos, que entom pare mays mentes como os faz, que por seu sabor nom possa cahir em tamanha afeiçom aaquella cousa, que assi fizer, que seu entendimento seia enganado, que nom conheça se faz bem, se mal: ca o homem nunca cahe em erro grande * senom por as cousas em que toma 4. suso. — 6, teudos. — 26. cair. a AE grande prazer; e porque o monte he de grande pra- zer, e por aquelles prazeres que no monte a, se se o homem bem nom guardar delles, poderia muy toste cahir em grande erro. Porem deuem em ello ser muy auisados os rreys. A primeira cousa em que os rreys começam de fazer he esta, de que os mays dos erros ueem, ou todos: o primeiro he grande sabor de andar a busca, e este officio nom pertence pera o fazer nenhum rrey que seia, ca este ofício he tal, e de tal natureza, que se nom pode fazer senom leuantandose ante manham, porque doutra guisa nom chegaria ao lugar, a que ouuesse de fazer a busca, ca se tarde chegasse nom lhe poderiam os sabuios cheirar o porco. Pois quando se assi leuantasse cedo, logo he de força que começasse a perder a Deus, a que tam theudo he, ca elle nom pode rezar pera dar graças a Deus das merces, que lhe em cada hum dia faz: deshi elle nom podera ouuir suas missas, como lhe compre de ouuir: ca ainda que al nom seia, forçado sera que tenha o coraçom em como a de ir aaquella busca, de mais se he longe onde assi a de ir, e lhe uem esclarecendo a manhãa, bem creo que de força sera de teer em ello o coraçom: e assi que nom compriria a palaura de Deus, que disse, primeiro requerede o reyno de Deus, ca uerdadeiramente nom demanda o reyno de Deus, o que tem o coraçom em outra cousa que seia do mundo, posto que ouça as missas ante que uaa à busca. Des- hi mais que logo parece que este officio de andar a busca contradiz ao officio de rrey, ca ao rrey he dado sem- pre de seer acompanhado de muytas gentes e bõas, e dos grandes de seu reyno: e este officio da busca nunca se quer senom soo, e com gentes de pouco ualor, o 10. naturaleza, — 13. chegassem. — 21, esclacendo. — 22, ma- nham. — ben. 33 — 40 — que nom pertence aos rreys de acompanhar: pois nom he de cuidar que se se acompanha com gente que nom seia tal que pera o estado do rrey pertença, que nom tome das manhas que ouuerem aquelles com quem acompanhou, posto que seia de tam bôa natureza, em como elle puder ser: ca sabudo he que * acostumando homem com aquelles que mal acostumados som, for- çado sera tomar dos costumes de aquelles com que acostuma: ca certo he que os costumes longamente usados fazem mudar a natureza. Ainda trazem outro maao costume, que os demais que este mister de busca usam, tomam: que os faz beuer polla manhãa, que di- zem se faz quentura, beuamos que faz sol quente; e se faz frio, beuamos e esquentarnos emos; e assi sempre am achaque pera beuer polla manhãa: e este cos- tume he muy maao pera qualquer homem que seia, de ade- mais pera os rreys: e por esto o sesudo Salomon, uendo em como era mal a nenhum de o fazer, dezia que maldito era o reyno, que auia o rrey moço, e os seus conselheiros beuiam polla manhãa: pois que mal esta aos conselheiros beuerem polla manhãa, que fara ao rrey que a de tomar os conselhos delles, se elle beue como os outros: e pois este costume he maao, nom he dado aos rreys de o fazerem, ca podera seer, que usando assi de beuer polla manhãa, que perderiam per hi por ello todo seu bôo prez. E pois começamos de fallar, em como poderiam os rreys uiuer em serem mal rejudos por este officio, se se bem nom soubessem guar- dar: porem queremos fallar hãa cousa pequena, que se se nom guardarem, nom cahiram em menos caiom, que poderiam cahir em outra qualquer cousa que de maao regimento fosse: e esto que assi queremos dizer, he t. acompafiar. —11. se (1.º)] so, — 12. beuemos. — 15. mal] mel, — 19. delle. — 22. menhaa. — 24. uiuir. — 29. isto, IO 25 EGP NE ARS ' 4 — 41 — isto, de que se deuem de guardar, que quando uierem do monte, ajam temperança no beuer, ca pollo esquen- tamento do trabalho que tomam, se se nom souberem guardar, toste poderiam seer embargados: e porem de- uem a fazer assi, que o comer seia pouco, e posto que as iguarias seiam muytas, como compre de auerem os rreys, que em taaes lugares comerem: e outrosi que o uinho que ouuerem de beuer, que se ouuerem usado de o beuerem terçado de augua, que entom seia meado daugua, ou mais: ca seede certos que mais torua hum pouco o beuer, quando hum uem esquentado, que muyto mais quando o nom esta: e esto nom o deuem teer em pouco, ca o que de bõo siso he, nom tem em menos a cousa pequena, per que pode uir a muy gram mal, que as outras que * som mal. Mais tomando ainda os rreys em costume de andar a busca, ou ao monte sem dis- crecom, lhes faz tomar outra manha muy maa, ca por sabor desta busca, os faz seer apartadiços, em andar de casal em casal, de monte em monte, e todauia com gente pequena: e deste apartamento se deuem muyto era rr ca por aquelle apartamento que assi tomam, lhes faz filhar alguas manhas que nom som bõas quando assi andam apartados, ca estas gentes que assi andam com elles, sempre lhe fallam em cousas, em que o entender nom a trabalho: e sempre se trabalham em lhes fazer, ou dizer cousas, em que cuidam que aueram prazer: e por estas cousas que usam, quando ueem a estar nos grandes feitos, que a seu estado per- tencem, logo se enfadam de se ocupar em elles, logo tomam embargo de os ouuirem, e esto nom lho faz se- nom o gram costume, e auezamento que am com aquellas gentes refeçes, com que am acostumado de 5. affazer. — 8. uifio. — susado, — 13. sisso. — 18. saber. — 27. plazer. 34 ——s ca — 42 — andar, o que he muy maa manha pera qualquer rrey que seia: e desto se deuem muyto de guardar, que nom caiam em tal empacho: ca este que assi non fol- gasse com a uista dos bõos, forçado he que os enten- dudos, que assi uirem em seu gesto, e obras que nom folga em ueer os bõos, que presumam delle que nom he bõôo, porque certo he, que cada hua cousa se allegra com seu semelhante, ca os bõôos folgam com os bõos, e os maaos com os maaos. É porque o estado e honrra dos rreys nom esta senom nos bõôos de sua terra, porem muyto se deuem de guardar, que por ne- nhum sabor do mundo nom perdessem os bôos talan- tes delles. E este apartamento lhes faz ainda de se bem nom tragerem tambem a elles, como aos seus, assi em os corpos, como em suas casas: ca os que sempre an- dam per matos, que sabor aueram em se bem trager: e assi meesmo teremos ueedores discretos que saibam as salas ricamente apostadas, e que saibam mandar fazer estranhos manjares, e todallas cousas que pera casa de hum rrey, que honrradamente ouuesse de manteer seu estado, bem certo somos que com tal apartamento pouco lhe poderiam prestar : nem cuidamos que nunca | lhe poderia uir em coraçom, de o mandar fazer, quando este apartamento continuado ouuesse. Outra cousa a hi que os monteiros que bem sisudos nom som, nunca quedam de fallar no monte, e nas cousas que lhes em elle * acontece: da qual cousa se os rreys deuem muyto de guardar, ca he muy maa manha pera qualquer ho- mem que seia, demais pera el rrey falarem nos feitos do monte, e a meude, ca os rreys quando estivessem entre os seus, e ainda em praca, quando o pudessem fazer, sempre deuiam a fallar nos grandes feitos, e das guer- 1. mancha, — 6. del. — 16. saber oueram. —17. Depois de saibam parece faltar ter ou semelhante. — 19. estrafios. — 20, manter, — 32. a ffallar. 20 25 ras que se fazem pollas partes da terra, todauia lou- uando os que foram leays, e em ardimento bõos, e esto por dar uontade aos seus de serem todos bõos: ca muy grande talante da aos que andam com os rreys de fa- zerem os grandes feitos, quando ueem que o rrey folga de fallar em elles, e o tem por bem aos que os fazém. | Ora este fallar em o monte, quando se assi falla a meude, muytas uezes fallam muytas mentiras, ou que- > | rem parecer quando as assi dizem que som mentiras, * vo | por as muy estranhas cousas, que se em elle muytas uezes acontecem: a qual palaura esta muy fea na boca do rrey: e deuemse os rreys muyto de guardar, que tal palaura nom digam em joguo nem em uerdade, nem em cousa que pudesse parecer, nem deuia a andar em 15 [sua boca, ca por esto lhe dam a beijar o euangelho, quando ouue a missa, como em juramento, que porque o euangelho he uerdade, que a boca que em elle poem sempre diga uerdade; assi que por todas estas cousas | que uimos distinguindo, em que os rreys podem cahir “20 em erro em serem monteiros, quando o fossem, como nom deuiam seer; e em outras muytas cousas, que es- creuer nom queremos, por nom fazermos mais longa escritura: deuem a parar mentes que nom andem assi ao monte, porque uenham a seer taaes como o iffante tu 25 Anteom, que por andar ao monte, diz o Ouuidio na sua storia, que se tornou ceruo, e que o comerom os seus caães: esto disse o author, que non disse Ouuídio, que se tornara ceruo, como os outros que o som de sua natureza propria: mas que se tornou ceruo per as con- 3o diçoões, que tomou por andar ao monte sem discre- com: ca porque sempre mais a uída delle era sempre andar por montes, que por uillas, e porque o anojaua 2. ardumento. — 4, tallente. — 10, estrafias, — 11. bocca, — 29-30, condiçooens. | Fo es mn ATO rs 17º “Mo E a A SENA pn da Qurdio ) a uista das grandes gentes, em como soem a fazer os que monteyros som, que o som como nom deuem, por . . o EERESaá ABRA esto lhe chamou e Ouuidio que era ceruo, e diz que o comerom os seus cãaes : e o comer que assi o comerom, L foi que despendeo quanto auia, que lhe ficara de seu pa- dre; e porque o despendeo com os caães andando assi ao 36 monte, nom parando mentes, como non era * senom | joguo, e em cousa de joguo o foi assi despender, auen- doo Ouuidio por mal, e por esto lhe disse que o come- rom os seus caães. ta por certo grande embargo na uontade de aueer vergonha, deuia aueer o rrey, que seu tempo nunca despendesse em outra cousa, senom em andar por matos em como o fazem as alimarias: ca como ] quer que o monte seia dado aos rreys de andar a elle, pero todauia o mais de seu tempo deuiam a poer nas S SRdES Cosa que ISRede Tea ne a sos estado comprem: ca se de outra guisao fezessem, muyto erra- riam nas cousas que theudos som de fazer: ca aquello que o rrey he theudo de fazer, assi a de fazer em tal guisa, que sempre as gentes de sua terra, tambem como a terra seiam assi percebudas, que nom possam rece- ber mal de seus imigos, posto que duuidosa cousa fosse de lho fazer : e deue trabalhar que faça sempre dereito, e justiça com temor de Deus. Capitulo viij, que falla em como se deuem os caualeiros, e escudeiros, e tambem os moços do monte guardar, que por tal officio nom possam caw em erro. Pois que ata aqui começamos a fallar das cousas, per que os rreys poderam uir a mal se fossem monteiros, em como nom deuiam a seer, pollas poderem milhor 1. affazer. — 11, vergonça — 19. a de fazer] he fazer. — 23. di- reito. — 28. ata qui. ; 15 20 25 ERR RN A - ep - o dad dna Lorca que di a A ag a at rt , vs ; AO cm ueer, e as conhecer, e que se podem milhor guardar de em ellas nom cahirem : e esto meesmo compre de serem guardados todollos caualeiros e escudeiros que deste joguo am de usar, ca os caualeiros, e escudeiros sem- pre deuiam a teer este andar do monte por joguo, e fazerem assi conta delle, em como a fazem os uilaãos da sebe, com que tem o pam cercado, que quando ella em si nom ual mais que outra lenha, mais pera guardar o pam que se nom perca, por os ueados, ou gados que em elle pcderiam entrar, e por aquella guarda que ella assi faz, apreçam aquelles que tem com ella o pam cer- cado: e assi esse joguo nom ual mais que outro joguo, senom em quanto a mais perfeiçoões pera guardar que o uso das armas se nom perca, que outro joguo de quantos por esto forom aleuantados: e por esta guarda o deuem os caualeiros, e escudeiros preçar, ca nom * por outra cousa que em elle aja: ca as outras cousas, que por entendimento bõôo deuem ser preçadas som aquellas, per que os homêes podem uir a seer theudos por bõos entre aquelles que bõôos som: e por ende todollos fidalgos, em como quer que em este joguo andassem sempre, deuem a teer seus coraçoões e suas uontades de chegarem a grandes feitos, e guardaremse das cou- sas que lhes poderiam tolher de nom uirem a elles. Ca. em este joguo muytas uezes filham os homêes taaes gei- tos, per que podem perder todallas cousas que de seu bem podem seer: ca muytas uezes usam de tal guisa os homêes de andar ao monte que se esuaecem, e outra cousa do mundo nom sabem fazer nem dizer, que pera seu bem seia, senom todauia andar ao monte, ca todo seu fazer, e andar nom he em outra cousa; e esta he muy maa manha mesturada com pouco recado a qual- quer que esto fizesse. E por ende se deue de guardar qualquer escudeiro, que este joguo ouuer de usar, que 34. este] em este, 37 38 IS Sam o use em tal guisa, que nom perca por elle de leixar de fazer as cousas, que lhe compridouras som, pera lhe uir bem: ca muytos tomam em costume em se mal trazer por andar ao monte, em como aquelles que lhes nom faz mister; e porque lhes nom faz mister, nunca filham cuydado em como poderam andar bem uestidos; e com esto quando uem as grandes praças, e ueem outros que estam ricamente apostados, a uontade lhes filha embargo de estarem com elles, e entom afastamse delles, quando o muyto usam. E quando se assi afas- tam daquelles que bõos som, nunca podem daprender cousas, que seiam bDôas pera fazer, nem pera dizer quando mister for: e desto os que bõôos querem seer, muyto se deuem de guardar de taaes cousas fazer, an- tes deuem folgar de estarem sempre antre os que bõôos som, e pararem mentes nos costumes que lhes uirem que am, e trabalharem de os fazer, assi como elles fazem. É se algãas uezes uirem fallar em algãus gran- des feitos, que alguus fizessem, deuemnos reteer em seus coraçõões, e pensarem que se os Deus leixasse uir a tempo de o poderem fazer, que de bõo talante o fa- riam: e com todo esto todauia trabalharemse sempre de bem seruir aaquelle, com que andarem nas cousas de seu senhor, em que compre de seruir, por as quaaes cousas seu senhor presuma delle, que he bõo, e que de uontade lhe de encarrego dos seus feitos, que aa sua fazenda, e honrra compre. Ca o escudeiro que ande * com algum senhor, e o senhor lhe non da encarrego de seus feitos, como encomendandolhe officio ou mandando- lhe recadar alguas cousas, sempre seu bem fazer esta em uentura : e por esto se deuem de guardar os escudeiros, que por andar ao monte, nom percam de fazer as cousas, 1. el. —g. astarem — 11. deprender. — 24. sefior. — 25. sefior. -— del. 20 per que he caminho de uirem a seer bõos, e prezados de seu senhor. Qutrosi os moços do monte sempre deuem a cuidar em como uerram a seer escudeiros, ou em como uerram a seer bem casados, e os que taaes cousas qui- serem aueer deuemse de guardar de fazerem taaes fei- tos, per que se lhes podessem seer tornadas em tal guisa, que nom fossem merecedores de as aueer, ca por serem monteiros nom deuem de leixar de seruir em todallas outras cousas em que podessem seruir: e com esto nom deuem a atender, que seu senhor lho mande fazer; mais em aquellas cousas, em que uirem que podem seruir, que a seu estado pertençam, que seiam sempre prestes pera o fazerem: e ainda que o mandassem fazer a algúus outros, se uissem que o faziam referteiramente, e fosse cousa que elles podessem fazer, e que a elles conuinha de fazer, que elles meesmos se offerecessem a o querer fazer, por auerem sabor de seruir: ca por taaes manei- ras ucem os homêes a bem: ca nom por serem moços do monte, e cuidarem que am de seruir mal, e com esto lancandose per tauernas, e com putas, e em rapa- zias, e leixam de parar mentes em como façam aquellas cousas, per que poderam uir a bem, o que lhes muy pouco he compridouro de leixar. Capitulo ix, em como os monteiros am de fazer por auerem os cáaes que seram fermosos e bôos. Pois que dissemos em como os rreys, e os senhores, e tambem os escudeiros, e os moços do monte pode- riam cahir em erro de bem fazer em serem monteiros, se se nom soubessem guardar, e por seguirmos o que 1. camifio —2. sefior. — 10. sefior. — 27. tambem] a tambem, -— 28, caher. Ee BR começamos, e mostrarmos em como os homêes deuem a seer monteiros, porque este joguo do monte se nom pode 39 fazer sem caães, começaremos a * fallar dlelles, em como os poderam aueer, que seiam lindos e bõos, e deshi como se deuem de guardar, e de como se deuem escolher na cama depois que forem nados, e depois de como se de- uem a criar, e como se deuem a ensinar aquelles, que com elles ouuerem de obrar segundo o mister que cada hum delles ouuer de fazer. A primeira cousa, e a mais principal, que os monteiros podem catar pera aueer os caães fermosos, assi he catarem os caães, e as cadelas, que seiam fermosas, e de bõôa casta; ca esta he a mais + certa, e principal cousa, per que os cãaes uem fermosos, quando som de fermoso cam, e de fermosa cadela. Ora deuedes a saber, que dos cadelinhos a nacença que mi- lhor he, assi he na entrada do inuerno: e por tanto todollos monteiros nom deuem a lançar as cadelas aos caães senom no tempo do estio: e esto por lhe nace- rem os cadelinhos na entrada do inuerno: ca se a cadela emprenhasse em no mes de junho, ou no de julho por os dous meses que as cadelas andam prenhadas, quando ueem a parir, de força seria nacerem na entrada do in- | uerno, ou acerca delle: e se lhes alguas uezes quisesem sahir antes deste tempo, deuemnas de guardar que nom sayam: e as cousas per que se podem guardar, som estas : enmagrentallas por mingoa de comer, e com esto deuemnas afanar andando ao monte: e ainda dizem os monteiros que presta muyto pera perderem aquella uon- tade, de as usarem a lauar com augua quente, que quando assi se usarem a lauar, que perderiam aquella uontade natural, que lhes assi uem: e contra este lauamento dizem algúus, em como podem perder aquella uontade, pois que a augua he quente: e a esto da razom o que 20. emprefiasse. — 21. prefiadas. — 29. agua. 20 25 30 a a ain o a a a e e DO ia DR E E a ad DE TO A se Sa o fa inda sra, Rena Da i = e. 13 o j E te ! I esto diz, que esta natural uontade que lhe assi uem he por quentura natural encerrada que em si ueem, e em lauandoa com augua quente, todauia de força seria exhalar aquella quentura quando se lauasse a meude, e quando se muyto exhalasse, de feito o corpo ficaria esfriado, e sendo o corpo frio, certa cousa seria perder aaquella uontade que assi recebesse por a quentura que em si tinha encerrada. Ainda deuem os monteiros * a pa- rar mentes, quando ouuerem de lançar a cadela ao caão, que nom estee hi outro caão, ca muytas uezes acontece que parando mentes a cadela em outro caão, quando a tiuesse aquelle a que fosse lançada, que os filhos sai- riam aaquelle em que assi parasse mentes: e esto nom o deuem a teer por burla, porque certo he, que assi aconteceo a Jacob quando preitejou com seu sogro La- ban, dizendo que elle uiueria com tal preitesia, que todollos cordeiros que nacessem das ouelhas que elle guardaua, que fossem malhados, que fossem de Jacob, e os outros que nacessem de húa color, que fossem de seu sogro: e depois que esta preitesia foi feita, Jacob tomou seus gados, que auia de guardar, e diz a es- toria da Briuia, que tomou Jacob uergas de allamo, e doutras aruores, e que as estouou a pedaços, e que as lançou na augua, onde hiam a beuer as ouelhas, e quando se os carneiros ajuntauam com as ouelhas parauam mentes naquellas uaras, que jaziam na augua, naciam os cordeiros todos malhados. E pois que nos temos tam bôa authoridade, como esta, nom a deuem a teer os monteiros em pouco, aquelles que bõos caães quiserem aueer. Ainda soem muytas uezes os monteiros a teer por força as cadelas aos caães, e esto non he o milhor que se em esto deue de fazer, porque quando 3. agua. — 5. exhallase. — 9. can. — 10, esté. — can, — 11, a ca- dela mentes. — 16. uiuiria. — 24. agua. — 26, agua, 4 rd a o. NO Vide: àssi teem as cadelas, estam sempre contra sua uontade, e por esto nom tem mentes em no caão que as tem, e por tal cousa muytas uezes acontece de nom ficarem prenhadas, porque he feito contra sua uontade: ca di- zem os naturaes que nenhúãa animalia, nem aue, nem as outras cousas, que por ajuntamento concebem, que cad emprenham sem consentimento da femea: e “À | assi quando fosse contra sua uontade poderia acontecer que nom emprenharia, assi como alguas uezes acon- tece: mais quando assi a quiserem lançar pera o fazer milhor, a deuem a guardar que seia a cadela bem saida, e entom os deuem apartar ambos em casa que tenha curral, por andarem mais a seu sabor, e entom ella auera uontade em no caão: e assi seria daguisado, que por aquella uontade, que em elle ouuesse, que ficasse prenhada, e os caães pareceriam a seu padre. Outrosi 41 quando a assi quiserem lançar, * deuem a guardar que nom seia muyto grossa, nem muyto magra, ca se fosse muyto magra nom poderia soportar o emprenhido, e se fosse grossa quando empecasse a emprenhar, polla gros- sidom streitaria os lugares, em que ouuesse de criar os cadelinhos, e por esto poderia seer que seriam pe- quenos: e com todo esto nom deuem a consentir, que "a tenha mais de duas ata tres uezes, ca se mais fosse nom se seguraria tam cedo. | Capitulo x, que falla da guarda dos cadelinhos, e da limpeza em que os am de criar. Esto meesmo na guarda delles, e outrosi na limpeza, estas duas cousas nom se podem demostrar departidas 2. cam. — g-10. acontesce — 17. a aguardar. — 20-21, grossi- doem. — 24. ate. — 28. mesmo. A (RSA em como se am de fazer, senom fallando de ambas juntamente, porque estas duas cousas correm pollo tempo em que os caães se am de criar tam juntamente, que per nenhua guisa nom se podem stremar, pera se poderem dizer apartadamente cada húa cousa per si. Assi a pri- meira guarda que se a de fazer, he quando a cadela parir, logo a deuem de guardar que nom mate os cade- linhos, ca muytas uezes acontece, que quando algúa cadela pare, tanto que o cadelinho he nado, que algãa cousa a hi, que em querendoo alimpar daquello com que elle nace, que em alimpandoo o come. Outrosi he em quanto os cadelinhos som pequenos a sua madre se quer lançar, nom os sabe guardar, e lançase sobre elles, e mataos: e ainda lhe entram os caães na casa em que jaz, e por defender os filhos aleuantase rijamente, e poemlhe os pees, e acontece que muytas uezes lhes quebra os braços ou as pernas, ou os corta de tal guisa com as unhas, que os mata: e por todas estas caioões os deuem logo de guardar o mais que puderem: e de- uemnos de guardar por esta guisa. (Quando uirem que quizer parir, catemlhe hua casa, que seia apartada, em que nom entrem a meude os homées, nem caães, porque depois que for parida, nom aja caiom de se assi querer aleuantar a querer defender os filhos: e aaquella hora que parir, logo a mister de poerem com ella hum homem que os guarde, que a madre alimpandoos, os nom coma: e outrosi quando se quizer lançar, que olhe mentes que se nom lance sobre elles em tal guisa que os mate : e esta guarda lhe deuem de fazer ata que os ca- delinhos ajam quinze dias, ou vinte, ca dalli em diante se- guros som destas caioões, * que aqui escreuemos que lhes logo no começo poderiam auir. E em quanto assi forem 6. á. — 10, ha. —11. ho, —14. caza. — 21. querer. — 25. poorem. — 30. 15 dias ou 20. — 32. podriam, 42 Se om pequenos que estiuerem em aquella casa, compre que a guardem, que nom entrem em ella muytos, por lhes nom poerem as mãaos: ca seede certos, que os cade- linhos som muyto apalpadiços, que o apalpallos faz seer de”maao cabello: e outrosi tragendoos a meude nas 5 maãos, toste recebem caioões: e ainda pollos teer limpos, lhes cumpre que lhes mudem a meude a cama, que sera de palha, quer de roupa: ca se muyto esteuessem na cama em que se ouuessem de criar, que muyto tempo se nom mudassem, nom faleceria, que nom criassem 10 . pulgas, ou lixo, e este lixo quando muyto he, logo os | cadelinhos traz a aueer rouugem. E deuem os que de criar ouuerem os cadelinhos, que a madre delles seia muyto limpa de pulgas, e de todo outro lixo: ca se a madre fosse lixosa, os cadelinhos nunca poderiam seer 5 limpos: e se a madre ou os cadelinhos tiuerem pulgas, antre os muytos remedios que pera esto os monteiros “am, o mais principal he untallos a meude com o azeite e uinagre, porque quando o assi poem, todallas pulgas que trazem lhas mata, e defendeos que nom ajam ou- 40 | tras, em quanto assi andarem untados. E apartados assi na casa compre de nom estarem mais que ata que ajam de dois mezes ata tres, porque dalli em diante começam a correr, e a trebelhar: e porque esta cousa he de sua natureza, se lha tirassem, poderia seer que receberiam ,5 É algãas doores, e por tanto os deuem dalli a tirar: e 4 quando os assi tirarem, ponhamnos em lugares que + seiam compridouros pera se auerem de criar: ca se forem sabuios o lugar que lhes mais compre pera sua criaçom, assi som casaaes de montanhas, que seiam frias, e de muytas auguas, e des que forem crecidos, que os auezem a dormir de fora das casas: ca faz aos sabuios Ua [o] 3. poorem. —8. palla. — 18. miude. — 23. dois] 2 — tres] 3. — 24. trebellar. — 25, recebiriam. — 27. ponhannos. — 31. aguas. E se ria asa E a Doe E O aaa SR 54 sis auerem milhores corpos pera sofrerem o afan que os outros que estam nas casas: ca os monteiros que usa- rom de teer presos os caães de dia, e de noite, nom foi por al, senom por nom irem as carnicerias, e andarem com as cadelas, e pollos nom furtarem: ca onde des- tas cousas os sabuios som quites, milhor lhes he de dormirem fora que na casa, se a terra he tal em como ja dissemos: e esto seia com protestaçaão de nom seer a terra, em que os lobos comem os caães, ca em esta tal nom diriamos nos que os lançassem fora a dormir. E se allaãos forem, e quiserem catar lugar pera os criar, compre que o lugar em que os ouuerem de criar, que seia apartado de muytas gentes, e que nom ajam maneira de irem 'as carnicerias, e deuemnos a guardar muyto * que nom conheçam as cadelas: ca sai- 43 bam todollos monteiros, que os caães ante que ajam o anno se teem algúa cadela, que aa de leue pode seer achado nenhum,?que bõo possa seer: e o lugar em que milhor se podem criar assi, som os alcaceres que som de curraes, espaçosos, em que aja muyta augua, ou em quintas apartadas, em que nom possam aueer aazo de fazerem taaes cousas que dissemos, de que os auiam de guardar: e depois que os allaãosinhos forem de sete meses ata oyto: e aquelle que os pensar lhe deue poer colares: e o porque ? por nom se decolgarem os couros do colo, ca muytas uezes acontece que se lhes assi nom poem os colares, que lhes ficam os couros assi dependurados, que lhes faz muyto perder da fermosura que auiam de aueer. Qutrosi seiam percebidos todollos monteiros, que nom prendam os allaãos pera fazerem presos, a menos que nom ajam acabado o anno: ca de certo esta que se os prendessem, que todos sahem man- rr. alla os. —17. se] a. — 20. espaciosos — agua, — 23. allaãos- zinhos. — 27. coyros. —3o, fazerem (trazerem?). — 32. está. — saem, Ei abr cos das pernas. Pero nom deslouuam os monteiros que des que os allaãos trouuerem colares, de os tragerem nas treellas pollos começarem a ensinar a andar em ellas. Capitulo xj, de como se deuem escolher os caães cachor- rinhos na cama aquelles que milhores som, assi allaãos, como sabuios. . No conhecimento que dissemos que os monteiros de- uem a conhecer os cadelinhos quando nacem, pera esco- lher os que milhores forem: quando os assi quiserem escolher, deuemnos escolher por esta guisa: pollas colo- res, des hi pollos talhos dos corpos, e pollos sinaaes que cada hum delles a, em que se mostrafos que deuem ser bõos, ou maaos. Deuedes a saber que muytos forom os que fallarom quantas eram as colores, e os mais se Y| acordam que nom som mais de duas, e que so estas + | estam todallas outras colores: e estas som branco e preto: e dam razom desto, ca dizem, que quando cada hãa de todallas colores se uee de longe, que todas se mudam em preto ou branco, e o preto nunca muda suas colores ainda que seia de longe, ca de quando a uista pode ueer a color branca e a preta, nunca a color he cambada em outra, por esto dizem que estam todal- las outras colores em estas duas: e porem dizem os que departem as armas, que branco e preto som as mais milhores colores, que todallas outras, porque se nom mudam: em como quer que elles esto dissessem, pero nos teemos que som seys, que nos teemos por color 444 propria per si aquella que * nom pode fazer por ajunta- 11. escoller (1.º). — 13. ha. —16. so) sob (aposição marginal). — 20. € o preto (ou branco) (?). — 28, teemos (1.º)| tenemos. — 29. por, = = dC IO 15 E 20 EE e 26 bar pp li ERA em A es a pas a ir ft aa fusca a DR SPV e e Ne cio E a E od aadd sá Ei nada ei item E pe PE EIA E fes ns ES dr rw TS ERICO es MO E = CRT; E Ta “oa — de pa As 3 Enmtános ata , q E | mio ni É e E em + “= q Ê - EMA (uno mento doutras, e estas que assi som colores proprias per si, que por ajuntamento doutras nom possam fazer: assi he branco, e preto, uerde, uermelho, amarelo, e azul, estas som colores que nunca se podem fazer pro- prias, quanto por mestura doutras colores: e por esto dizemos que som seys colores proprias per si, e nom duas, como dizem aquelles que dizem que nom ha hi outras colores senom branco e preto: ca todallas ou- tras nom som colores quanto cada húãa per si simples- mente : e nos caães nom teemos mais que duas que pro- prias seiam, e estas som branco e preto, ca a color propria do amarelo deue a seer de color douro, e em nos caães nom na a, em como quer que de força he de a contarmos por color. Assi quando os monteiros quiserem escolher os cadelinhos, nom os deuem a esco- lher senom do dia que nascerem a dez dias ata quinze, que em antes dos dez dias nom se poderiam a tam bem conhe- cer, e depois que os dez dias ata os quinze forem passa- dos, e os quiserem escolher deuem a parar mentes em nas colores. E destas tres colores que dissemos que os caães auiam, a milhor dellas he a branca, e depois a amarela, e des hi a preta, e com estas colores se mes- turam as outras colores muytas, assim como uarzinos, pardos, grises, alazoões. E ainda outros sinaaes que os caães am, assi como. malhados, e colleirados, e estas colores nom som das que dissemos que eram seys, nom som proprias per si, porque esta color uarzina sempre he mesturada de amarelo e de preto, e os pardos som mesturados de branco e de preto, e os ala- zoões damarelo e uermelho e preto. E em todas estas colores, como nos sinaaes deuem a parar mentes os monteiros por escolher os milhores, e húa das milhores 3. aumarelo. — q. per si cada hãa. — 13, ha. — 16, quinze] 15. — 18. que os] dos — dez] 10. — quinze] 15. —17. taão. — 23, Var- zinos. — 27, Varzina, — 29-30, alazaães, 45 — 56 — he a branca toda, e depos ella a amarella: ca de toda preta ainda que em si seta perfecta color, pero nos nom queremos em ella fallar a menos que nom fallemos em as outras. Assi quando os monteiros quiserem escolher os cachorrinhos em a cama, de todallas colores deuem escolher os que forem brancos, porque esta he a mais nobre color que os caães podem aueer, nom porque a color ainda em si seer fermosa, como he, mas porque os demais som bõos. A color amarela outrosi he bõa, mais nom tam bôa como a branca, e os caães que tem a color toda preta, que nom tem sinal branco, nem ama- relo, todos som maaos, que peor he aos caães* aueer a color toda preta, em como quer que seia propria color, que nenhãa das outras que som mesturadas: e esta maldade lhes ueem porque os caães todos de sua natu- reza som quentes, e secos, e quanto assi a color toma de negro, bem parece que aquella compreissom, que em si de natureza am, que he queimada, e entom se torna em fria, e seca, em que esta toda couardice, e maldade. Assi das colores que som enteyras, que nom som malhadas, assi como pardos, ou das outras colores que dissemos, que os caães am, todas quanto mais tomam da bõa color, tanto lhes da mais de bon- dade. Assi como a color branca he milhor que todal- las outras, assi quanto a color toma mais de branco, tanto milhor he: assi como a color parda he de branco e preto, se o branco na color parda he mays que o preto, tanto da a color a mostrar que o caão sera mi- lhor: e assi dos uarzinos, que quanto mais toma da color amarela que da preta, tanto milhor he, e assi das outras: ca da color alazaão nom fallamos, ca todollos monteiros a teem por maa. Ainda hi a 1. depoz. — 7. noble. —16. quando. — 17. compleixom. —18, na- turaleza. — 26. he] e. — 31. alazam. — 32. ha. a ini cito Ps mo o A To“ q qu EU NA Pa cl o ES me ad eis " é á + ' a dis Pude, k IO a 000 e AP RS , 15 = GRC dé CR a O - + e a qem - “ad us ima orem qudes . Masi a” ..— Do DS ua outros caães que som malhados, e estes nom se contam por colores mays por sinaaes, porque todas estam, ou as demais sobre a color branca, e porque estam sobre a color propria per si, quaesquer malhas que tenham, todas se deuem mais a nomear per sinaaes que per co- lores. Estes sinaaes quando os caães os am, sempre mostram da bondade que am de aueer, ou da maldade: e esso meesmo todollos caães que som malhados, ou seram por todo o corpo, ou nos quartos deanteyros, ou nos quartos trazeyros: se som por todo o corpo, e as malhas som grandes, que tomem a mayor parte do corpo, estas som as peores que pode aueer: porque quanto as malhas mais tomam do aluo, tanto he peor sinal pera serem bõos: ca se a color branca he milhor que os caães podem aueer, quanto mais toma da outra, tanto mais lhe faz perder da sua bondade: e se as malhas som pequenas, comtanto que nom seiam tam meudas em como dinheyros, tanto som milhores, de mais quando som de bôa color: porque quanto as ma- lhas som de milhor color, tanto milhores som, e tanto dam mais demonstrança que o caão que as tem que sera milhor. Assi quando as malhas som amarelas sobre branco, tanto mostrara que seram milhores, e assi das outras colores * de que malhas podem aueer tambem : e se as malhas som por todo o corpo, e som pequenas, que nom seiam muytas, estas som milhores que as grandes. Ainda hi a alguus caães que som malhados de híúãas malhas tam meudas, que parece que som dinheyros, ou mais pequenas, e estas muy feas, e peores que as outras que som maas, e estas malhas de que color som, assi mostram quanto som milhores hãas que as outras: ca as amarelas som as milhores, porque som de propria color, e de milhor 6. signaaes, — 8, medesmo. — 21. cam. — 27, alguns. 40 Misa NA A que todallas outras colores: as grises som milhores que /- | as pretas, e assi som todallas outras, que quanto mais tômam da boa color tanto som milhores, e quanto da peor tanto som peores. E esto meesmo se o caão tem as malhas nos quartos traseyros, som maas, e mostram que o caão nom sera bõo, ou nom tam bõo como outro que as tiuer nos quartos dianteyros estremadamente se as ouuer na cabeça. Esto que ata aqui fallamos foi em geeral de todollos caães com que am de correr monte, que allaãos, e sabuios seiam: e se os monteiros qui- serem escolher algúus allaãos nouos em na cama, de- uemlhes a parar mentes nas colores e sinaaes que de cima ueemos dizendo: e compre de tomandoos das milhores colores, e de milhores sinaaes, se os dos Sinaaes ouuerem de tomar: e des hi deuemlhes de a parar mentes nas composiçoões dos corpos, que ajam os corpos longos, e os braços grossos, e nodosos, e os peitos anchos, e a peituga derribada, com tanto que seiam anchos os costados, e as cadeiras: outrosi que ajam os corpos pesados e duros em sentir, quando os tomarem nas maãos, e o cabello seia pequeno, e es- pesso, e rijo, e o cabo longo, ca grande fealdade he o allaão aueer o cabo curto. Esto meesmo que aja o collo longo, e grosso, assi como engalado, ea cabeça ancha, e as queixadas de fundo que seiam grossas, e anchas: todas estas cousas seiam esmadas! segundo os poucos dias que os allaãos ouuerem. É deuem ainda os monteiros buscar os paadares aos allaãosinhos por uerem quejandos sam: ca dizem os monteiros que em esto pararom mentes, que o allaão que tiver o paadar preto que sempre sera bõo, e o que o tiuer branco, que mostra que nom deue seer bôo: mays nom he assi 4. medesmo. — 7. ata qui. — 13. uehemos. — 14. signaaes. — 15. signaes, — 18. nohosos. — 23. hauer. — medesmo. — 28. allãoe- zinhos. E as em todollos allaãos: ca os allaãos brancos, que tiuerem os paadares brancos, com tanto que os beiços ajam uer- melhos, estes paadares taaes, com esta color branca, e beiços uermelhos, como ja dissemos, da aos allaãos de serem muy mais ardidos: e em esto meesmo deuem a parar mentes que unhas am, e se*as tiuerem ueosas, partidas de branco e de preto, nom nos deuem a tomar, porque nunca aa de leue am bõos pees, ca se am rijas as unhas, como querem correr, logo se lhes esta- cham, e ficam os caães por ello mancos, e se som mo- les nunca bem podem correr, e por tal condiçom como esta muyto se deuem os monteiros guardar de os to- mar. Outrosi os sabuios se deuem a escolher em nas colores como os allaãos, mais nos talhos, e nas lãas se deuem a escolher doutra guisa: e quando quiserem escolher-os sabuios em na cama que forem pequenos, deuem a parar mentes que os rostros delles seiam cur- tos, os laiuos grandes, os olhos pequenos, e as sobran- celhas derribadas, e o toutuço da cabeça que seia leuan- tado, e as orelhas longas, e grossas, e anchas, e os couros do papo decolgados, e a laa doce no sentido da maão: e tal como este se deue a escolher, quando o ouuerem de escolher com todallas outras colores, e sinages, e unhas, que compriam pera todollos caães, que o monte deuem correr: e inda mais se quiserem ueer quanto sera dagudo ou de rombo depois que for de hum anno, logo no escolher façam por esta guisa, trauemlhe do couro do pescoço, e tirem por elle por detraz rijamente, e logo ueram quanto sera dagudo, ou de rombo, que assi como lhe parecer entom agudo, ou rombo, assi lhe ficara depois quando for grande: e todos estes sinaaes que som meudos, tambem os trazeyros, como os dianteyros, estes em como som bõos ou maaos 2-3. bermelhos. — 4, bermelhos. — 5, medesmo. — 21. signaaes. =— 25. coiro. — 27. parescer. — 29. signaaes. e 74 NO “ ni esto nom esta em razom natural em como he senom na experiencia, que os monteiros prouaram por muytos tempos, que quando assi he muyto prouada he tam certa como as que estam por razom que fossem pro- uadas. ; Capitulo xif, que falla como se am de criar os caães com que am de correr monte assi allaãos, como sabuios. E da criaçom dos caães dizem os sabedores que fal- larom na criaçom de todallas cousas, que as principaes cousas a que deuem teer mentes os que alguas criaturas quiserem criar, que * assi he no gouerno, e depois na lim- peza, e a outra he que os guardem o mays que pude- rem das caioões que per a nouidade elles som prestes de aueer. E porque o gouerno he a mais necessaria cousa que as outras, porque minguando esta As oltras duas nom ualeriam nada: e de sobre esté gouerho ouueram grande referta em departimento os monteiros sobre o creamento dos allaãos, e sabuios, e teuerom alguus que o leyte era milhor comer que lhes poderiam dar: é outros alguus disserom que dando de comer aos alaãos, quando fossem nouos carne, que este seria O milhor mantimento que lhes poderiam dar: e outros tiuerom que o pam seco lhe faria milhores corpos : outros disserom que o pam no azeite era milhor: outros disserom que o pam no caldo era milhor. E estes que assi fizerom estes departimentos cada hum delles deu suas razoões por sua parte: e antre as muy- tas razõoes que assi cada hum deu, as mais principaes 2. esperiencia. — 3. probada. — 4-5. probadas. — 15. nesces- saria. — 21. alguns. ES, APORTE O 10 * mg ds, ir a Dedos 15 SE SUA Mm a = Dudoo D E O o 35 faso Pipe forom estas. Primeiramente os que disserom que era milhor de lhes darem a comer leyte, que era o milhor comer que os monteiros aos caães poderiam dar, esfor- cando sua razom, disserom que Deus que sabe todal- las cousas, ordenou que o mantimento das criaturas que animalias fossem, que fossem criadas de leyte, e pois que o Deus assi ordenaua, bem parece que o seu man- timento de leyte deuia ser tambem em no começo, como ata que fossem grandes. (Contra esta razom os que tinham que a carne era milhor, disserom que esta razom nom ualia nada, no que dizem que Deus ordenou que as animalias fossem criadas de leyte, e que assi pare- ceria que ata a fim tal deuia seer o seu mantimento : e em este dizer disserom que som errados, ca bem pa- rece que assi em como lhes Deus deu em na primeira «criaçom a comer leyte, que assi lhes deu depois que forom grandes as outras cousas, porque todallas anima- lias som manteudas, e que bem parece que Deus nom ordenou que as animalias fossem sempre gouernadas per leyte, senom a tempo certo, e o porque sabudo he que todallas animalias que criam, que lhes nom dura o leyte senom a tempo certo, e se assi fosse em como estes deziam que Deus dera o mantimento aas anima- lias de comer leyte, nom desfaleceria, como desfalece, * e pois que desfalece, parece que nom he tal a orde- nança de Deus, que se mantenham de leyte. Mais dando- lhes a comer carne, que esta era a milhor cousa que lhes poderiam dar, e antre as muytas razoões que mos- trarom, forom estas: dizem que porque a natureza dos caães he de comerem ossos, o que nom faz outra animalia assi em como fazem os caães, e porque a 7. paresce. — 12-13. — paresceria. — 13. ataa. — 14-15. pa- resce. — 18, paresce, — 24. desfalesceria — dsfalesce. — 25. desfa- lesce. — 29. naturaleza. 49 ERA a carne tem os ossos encerrados em si, demostra que este deuia mais a seer o seu proprio manjar que outro. Ainda disserom mais que aquelle deuia seer proprio manjar pera aquelle, que por elle gouernado deue de seer, pollo qual correge sua compreissom: e porque os caães som de sua compreissom seca, que comendo a carne que he humeda, que deuia de correger em aquella secura. E derom outra razom: ca dizem que tanta he sua natura de comer carne, que todallas animalias que som do linhage dos caães som brauas, que se nom . manteem pollos homêes, assi como lobos ou raposos, todos uluem o mais por comerem carne: e de mais que a razom o mostra, que se os caães fossem brauos, que se nom poderiam manteer por outra cousa, e pois que lho assi prouauam por natureza que outro comer lhes nom pode seer mais natural que este. Depois que estes disserom estas razoões: os outros que tinham que o pam era milhor comer pera os caães, disserom que tal comer como este da carne que o nom deuiam em ne- nhúa guisa dar aos caães a comer, ca todas estas ra- zoões eram apparecentes, mais nom que seiam que possam dar a entender que elle he o milhor comer, ca ao que estes deziam que por os caães comerem ossos, e porque os ossos estam encerrados na carne, que por esto deuia a carne seer seu proprio comer, e esta razom bem deuia a parecer que he nada: ca bem se deue a ueer que tódallas cousas que tem em si as cousas que de comer som, encerradas, que nom som todas pera comer, ca se assi fosse uerdade, o que nom he, todallas nozes, e ostras, e mariscos, que tem em si encerradas aquellas cousas, que se dellas comem, que todallas cas- cas dellas seriam dereyto comer dos homéêes, e esto nom 5. compleixom, — 6. compleixom. —o. todallas as animalias. -— 15. probauam — naturaleza. — 26, aparescer. — 29. todas. PER TS estaua em effecto, nem em razom de seer assi: e se o estas nom som, tam pouco o pode seer esta outra, que por a carne teer os ossos em si encerrados, seria o mais proprio comer pera os caães. E ao que diziam que aquelle deuia seer dereyto comer, pollo qual corregia a sua compreissom daquelle que o comia, a esto dis- serom que nom falarom naturalmente como quer que elles o assi tiuessem, que por assi seer humeda, que por esso corrigiria a sua compreissom: ca se estes bem. * soubessem em como se faz por direyta natureza, nom falarom em esta guisa, ca a uianda que bem correge a compreissom, he aquella em que o estamago faz bõôa degestom, e a bôa degestom creessem que se nom fazia por seer o comer mole, nem rijo, mais faziase quando o comer he tal segundo perteence ao estamago, em que elle a de fazer o cozimento, e entom se faz a bõa digestom por esta guisa. Quando o estamago he que as partes de fora delle seiam grossas, e de dentro he bem encrespado, e o figado he quente, e o baço esta em sua dereyta disposiçom, e a compreissom he como entensa em quentura, este estamago que tal fosse, nom. faria bõôa digestom em uiandas que fossem moles: e porque os caães som de sua propria natureza muy quentes, e tem os estamagos fortes, por esso esmoyam os ossos, e fazem elles em si bõôa digestom, porque os ossos sostem mais em si a sua forte quentura: e quando comessem carne, porque era cousa muy fraca, nom poderiam sofrer a gram quentura que os caães am, e era de força, que se tornasse tudo em fumos, os quaaes nom poderiam muyto criar, ném correger a sua compreissom, assi como os outros disserom: ca assi 1. estaba — effectom. — 6, compleixom. — 9. compleixom. — to, naturaleza. — 12. compleixom, — 14. faziasse. — 16. el. — 20. su dereyte — compleixom, — 23. naturaleza, — 31, compleixom, 5o 51 Rg Açã o deziam todollos authores da Phisica, que quando o “estamago he tal assi como dito he, e o comer he mole, que por a fortaleza delle, que aquello que auia de uol- uer em criaçom, todo se fazia em fumos: ca assi como em hum grande fogo, quando lhe lançassem hum bra- cado de herua, nunca esta herua se tornaria em braza, e esto nom he senom polla fraqueza da herua, e outrosi polla grande quentura do fogo, que nom tem cousa que a sostenha: e por esta guisa meesma o fazia o estamago, quando era muy quente, que nom podia aquella uianda tornar em bõo criamento, e por esta cousa o comer da carne, quando a os caães comessem, nom lhes corregiria sua compreissom, antes lhes danaria. Ora disserom os que tinham esta razom, leixemos estar de recontar as cousas, que parecem que estas cousas contradizem por direyta natureza, mais fallemos em nas cousas, que antre nos cada hum dia auemos todollos monteiros, Nos sabemos que quando os caães som fartos de carne, que som sempre em si tristes, e pesados, e nom fazem tam bem q que am de fazer, em como os que som usados de comer o pam, e esto lhes uem, porque o comer da carne he fraco pera os caães segundo * a sua compreis- som, que auiam que era muy quente, e por a sua quentura quando comessem carne que era uianda fraca, em que se nom podia sofrer aquella forte quentura, entom a tornaria em fumos: e estes fumos lhes faziam inchar os uentres, e sobiam a cabeça, e tangeriam o coraçom, e tornariam assi os caães, que nom poderiam fazer bem o que deuiam. E esto meesmo ueemos que nenhum caão que seia criado a carne, que nunca he bem talhado, e sempre tem o uentre grande, e decolgado, 3-4. boluer. — 6. herba, — 7. herba. —g. mesma, — 12. corre- geria, — 13. compleixom. — r6. naturaleza. — 20. os om. — 22-23, compleixom. — 27. hinchar. — 29. medesmo. Ena Le ad Di dd DS ie o — 65 — e por sua fraqueza de comer, lhe faz aueer maaos pes e fracos, que quanto quer que afana, logo despea. sto sabemos todos que he verdade, e com o pam nunca esto fazem, por quanto he mais forte comer que a carne: e pois que este mais forte he, e a natureza dos caães he de forte cozimento, este deuia a seer mais daguisado de correger a compreissom dos caães que a carne. E do que deziam que tanto era este comer da carne aos caães de sua natureza, que todallas animalias que de natureza de caães fossem, nom se manteriam senom por carne, demais que o entender nom daua, que se os caães fossem brauos, que se nom mantiuessem pollos homêes, que se nom poderiam-per al manteer: ca tal dizer nom toruaua que o pam nom fosse milhor manti- mento que a carne, ca aquelle Senhor que fez todallas cousas, esse fez que os lobos, e os raposos uluessem nos montes, e comessem carnes, e esse meesmo fez aos caães pera uiuerem com os homêes, e que o seu ui- uer fosse de pam. E esto deuia de dar ao entender, que per esta guisa pode seer mais de sua natureza O seu proprio comer de pam, que de carne, como estes outros deziam: e ainda deziam que auia hi outra ra- zom que era muy forçada: ca uos uedes que se hum senhor trouuesse cem sabuios, e uinte ou trinta alaãos, nom pareceria que seria aguisado de os manteer em tal guisa, que todos se mantiuessem por lhes dar a comer carne, ca todallas uacas do mundo nom poderiam abas- tar todollos cáães, com que andam ao monte, de mais todollos outros quantos no mundo som. E por estas razoões, tambem por razom da natureza, como por 5, natura. — 7. compleixom. — q. naturaleza. — 10, naturaleza, — 17. medesmo. — 19-21. E esto deziam... outros deuia (apo- sição marginal). — 33, vos) nos, — 24, sefior. — 25, paresceria — manter. — 30. naturaleza, ó 52 EE + quê costume todo parecia, que o pam era o seu mais de- reito comer que os caães podiam aueer. E os que dis- serom que o pam no azeite era o milhor comer, disse- rom que nom entendiam a elles contradizer, ca lhes pareceram estas muy bôas razoões, mais que hua duuida tinham sobre esto: e a duuida era tal, que posto que o pam seia tam bõo comer pera os caães, pero parecia que aos cachorrinhos polla sua fraqueza, e pollos poucos dias que auiam, nom poderiam tam bem comer o pam seco, e se o nom comessem * falleceria o criamento, que aos caães nouos muyto compre : e entom todos se acordarom que na criaçom dos caães, assi alaãos, como sabuios, tambem em sendo piquenos, como grandes, que todos se deuessem de pensar em nesta guisa. Des que os cadelinhos fossem caães, que lhes ouuessem a dar a comer, entom tomassem o pam, e lançallo migado em hiúãa escudella, e tomar auga quente, e lançalla no pam, e depois que fosse bem mo- lhado, lançarlhe o azeite per acima, e britassemno com a maão, que fosse tam meudo, em como milhor po- desse seer, e que assi o dessem a comer aos cadelinhos, e esto nom seer por uezes contadas, senom quanto quiserem comer: ca na primeira criaçom nom ha mister de dar regra aos cachorrinhos em comer, ca se lha dessem, perderiam por ello o criamento em que auiam de crecer. Ca por tanto a nossa piadosa madre Santa Igreia escusa aos moços que non seiam teudos aos jejuns que por ella som encomendados aos christaãos ata que ajam dezoito annos: e esto non he senom por se nom perder o criamento, que os moços em aquelle tempo am, ca em jejuando polla mingua do comer des- falleceriam, assi lhes deuiam dar de comer ata que ou- 1. parescia. — direito — 5. paresceram. — 8. parescia — 10. fal- lesceria. — 17. agua. — 20. melhor. — 22. q.te — 28, Xpiãos. — 29. dezoito] 18. — 31-32. desfallesceriam, Io 15 20 - 30 25 asa é 4 E Es" La - MEROS E Ma e E A Aa Po sodio air ni PR A q Res a EN Ca uessem cinco meses, ou seis: e depois que os cadelinhos passassem os seis meses auia mister de lhes darem o pam com auga fria, e que os pedaços do pam fossem cre- cidos, e todauia nom lhes tolhe de lançar o azeite assi como no principio, e esto seer tres uezes em no dia, ou aldemenos duas, e que assi os auiam de criar ata que os cadelinhos acabassem de dez meses ata o anno: e depois os tornassem ao comer o pam seco, e nom lhes dando a comer mais que hua uez no dia, ca este era) o mais dereito comer que os monteiros acharam que era milhor pera os caães: e com esto nom tolherom que . se algum senhor teuesse algum alaão, de que se pagasse, que lhe nom leixasse de dar o pam com o azeite pollo trager mais limpo: ca o azeite aos caães que o comem, sempre os faz seer mais limpos que os outros que o nom comem, em como quer que nom seia tam bõo comer pera os caães, como o pam seco. | . ... . Cond | Capitulo xi1j, que falla como se am de ensinar os alaãos 53 as cousas que am de saber fazer. Depois que os caães assi alaãos, como sabuios pas- sarem o anno, compre logo de os começarem a ensinar, ca este he o mais certo tempo, que os monteiros, que da antiguidade forom, poderom achar pera ensinarem os caães: ca sabudo he, que se se trabalhassem ante deste tempo do acabamento do anno, e quisessem com elles trabalhar, que por a sua fraqueza, porque nom tem os corpos compridos de todalla sua força, que de ligeiro se perdem, e se som mais uelhos, nom querem tam bem tomar o castigo: e por tanto disserom os | 1. cinco] 5 — mezes — seis] 6. — 2, passasem — mezes. — 3. agua. —, mezes. — 10, direito. — 12, sefior. — 13. deixasse. — 16. co- messem. — 26. por] pos. — 27, todalla] toda a, — 29. tam bem (aposição marginal). 54 om OB monteiros que tanto que os caães ouuessem o anno, que logo trabalhassem em nos ensinar em aquellas cou- sas a que os quisessem ensinar, ca este era o milhor tempo pera os caães poderem receber o ensinamento, a que os quisessem poer. E o ensinamento dos alaãos, pera com elles correrem monte, nom esta senom em duas cousas, em andar na treela, e em filhar: e por tanto nom queremos fallar nas outras cousas que lhes muytas uezes soem a ensinar os que os tragem, assi como jazer assesegados em quanto seu senhor comer, que nom curem andar lambiscando: e porque este cos- tume, e os outros semelhantes destes nom som per as cousas que pertencem pera correr monte, por tanto nom queremos em ellas fallar em como se podem ensi- nar, mais queremos dizer em como os am de ensinar a estas duas cousas de andar na treela, e de filhar. Assi quando os alaãos forem de dez meses em diante, e trouuerem collares, aquelles que os ouuerem de en- sinar, tragamnos as uezes nas treelas, e que em tre- belhando com elles comecem de correr com elles leuan- doos nas treelas: é esto nom seia em nenhúãa guisa per força, senom per seus talantes, ca de lho fazerem fazer per força se deuem de guardar os que os ouuerem de ensinar: seiam tambem certos todollos monteiros, que os alaãos soma mais linda casta de caães, que todal-, las óutras que Deus fez, e nos conhecemos: e porque todallas cousas se querem castigar segundo sua natu- reza, assi como em hum * filho de hum grande que fosse de grande linhagem, nom compria que fosse castigado como castigam o filho de hum azamel, assi nom deuem - castigar hum alaão como hum podengo de mostra, que nunca se castiga senom per couces, e pancadas, e esto nom compre fazer aos alaãos. (Ca falando o conde 3. melhor. —6. esta] sta. — 17. mezes. — 28. linagem, IO 15 20 25 30 dB a ) Lucanor do castigo dos moços fidalgos, pos em seu éxemplo, e disse, nom castigues moco mal tragendo, mas dilhe co do: e assi porque os po o op nr meme ro alaãos som da mais nobre casta dos caães, por tanto 5 os nom deuem castigar por mal, ca sua nobreza he i tamanha antre todollos caães, em como os fidalgos som. " antre todollos homêes, e por tanto nom querem seercas- | . tigados per força. Depois que os alados nouos come- | | çarem de querer andar na treela, e correr com aquelle io que O traz, e que ueja, que ja uay tomando em ella sa- bor, entom deue a catar algãa cousa a que o ponha, com tanto que nom seiam caães: porque quando o poem aos caães, fazemlhe filhar háa manha que he muy maa pera os alaãos, com que am de andar ao monte: — 15 ca se o alaão filha os caães, muytas uezes acontece que sahe o porco polla armada, e uem os sabuios muy 5 juntos com elle, e entom poendolhe o homem o alaão | ao porco, e se acontece de o nom ueer, e uec os sa- | buios, logo leixa de parar mentes aaquello a que o 20 poem, e uay filhar qualquer sabuio que antes acha: e | esta cousa faz dous grandes erros, hum he por nom | filhar o porco, a que he posto, e outro he por filhar os sabuios: por tanto compre que em joguo, nem em uer- | t e, dade nunca lhe seia posto: e quando assi o quijer poer, 25 deue ante correr com elle na treela, ata que chegue aaquelle lugar a que o a de poer: e quando o assi poser, nom lhe tire a treela, mais atenda que elle tire pera se sahir della, e per esta guisa o faça ao alaão duas ou tres uezes, e entom auera sabor: e por o sabor que assi ão tomar, darlhe a mayor uontade de querer andar na treela: e depois que uir aquelle que o a de ensinar, que 3. plazendo, — 4. noble. — 5. nobleza. — 10. e] a — 15. acon- tesce. — 16. sahe] sal. — 18. acontesce. — 19. loguo — deixa. — 20. hacha. — 23. jogo. — 26, o assi poser] assi posier. — 29. 0] os. esa ao “ Conde de Justo uorn elle anda bem na treela, e que quando lhe falam com aquelle som, com que o soem a poer, logo para mentes pera filhar, entom o tenham per algúus dias preso, em tal maneyra que elle aja saudade de andar fora: entom o faça aquelle que o ouuer de ensinar, leuar de fora da 5 uila a hum moço de pee: e depois que forem fora, ; tomeo de caualo na treela, afagandoo primeiro, e * de. pois indo com elle seu passo e passo, e em tal guisa | que o alaão nom tome medo do caualo: e se uir que nom a medo do caualo, nom leixe de trotar com elle 10 na treela, e fale indo: e se uir que uay com elle bem i sem nenhum receo, deçase, e afagueo, e deo ao moço que lho leue, e por aquelle dia nom ande mais com elle: e esto lho faça por uezes, ata que o alaão o saiba fazer como por officio: e com esto se guarde que o nom tri- 15 lhe, ca se o alaão nouo he trilhado do caualo, quando o ensinam a andar na treela, aa de leve nunca depois anda bem em ella: e ainda pera o guardar compre que quando assi ouuer de correr com elle, que nunca corra primeiro que nom falle ao alaão, e depois de lhe fallar 40 quando quiser sahir, que sempre saya a troto de caualo, e nom rijo, ca se sahisse de rijo poderlhia ficar o alaão detras, e arrastralohia, e arrastrandoo poderia filhar o alaão tal medo, que depois nom no poderia perder: e esta he a mayor cousa porque aos alaãos que nouos »,5 | som mais toste perdem de bem andar nas treelas. De- pois de o monteiro que ouuer de ensinar o alaão, uir que lke sabe ja andar na treela, pera o fazer seer mais certo em no saber fazer, a mister que o leue pollos campos, e se achar corço, ou lebre, ou outra alimaria 39 que seia braua, que lho nom ponha de treela: e se o poder ante leuar na treela que o ponha: esta he a mi- 1. elle] el — 10 a] ha. — 13. aquelle] aquel. — 21. sair, — 27. ouver de (entrelinha). — 29. a] ha. — 31. pofia — traella. — 32. ante (entrelinha). Eid is. oafrs E CD” El + Já :: | 3 — 71 — lhor cousa que lhe podem fazer pera bem andar na” treela, E quando assim o quiserem poer, sempre se deuem de guardar que a corruda que ouuerem de fazer nom seia longa: ca muytas uezes acontece aos mon- teiros, por sabor de poerem o alaão ainda que seia nouo, que entom começam de ensinar, que nom param mentes em tal cousa: e se a corruda he longa, o alaão se lhe pode afogar, e por aquelle afogamento fica tam anojado, que depois nom quer de boamente andar na treela, ca sua propria condiçom he fazer as cousas por sua uontade, e nom por outra guisa, e os monteiros assi lho deuem a demostrar, ca nom per força, nem os mal tragendo. E des que os alaãos forem de quinze me- ses adiante, e os quiserem encarnar, as cousas que os monteiros acharom que lhes eram mais compridouras de fazer, como as que se deuiam de guardar, e outras cousas, em que nas encarnas mostram os alaãos serem bõos, ou nom: quando os monteiros quiserem encarnar os alaãos nouos, depois que uirem que sabem ja andar na treela, e os alaãos som de quinze meses adiante, como ja dissemos, este tempo lhes compre a serem en- carnados, e ante nom. E o monte que lhes he per-' tencente pera bem os encarnar, ha de seer * tal que seiam as armadas poucas, e certas, e limpas, em que os alaãos nom andem na treela, senom pouco: e aquelle que tiuer o alaão pera encarnar, seia auisado de teer com elle outro algum alaão que seia feito, e seia bôo: e a primeira uez que o ouuerem de poer, seia ata duas uezes, ou tres, e seia posto a porcas, e nom a porcos: e quando o assi poser falle rijo, e corralhe em tal guisa que sempre ua junto com elle ata que a filhe, e 3. que a corruda que ouuerem de fazer (aposição marginal). — 4. acontesce. — 13, quinze] 15. — 13-14. mezes, — 20. 15 mezes. 21-22, à serem encarnados (entrelinha). — 22, antes (emendado). — 26, tiuere, — 30. corrhalle. 56 — 12 — "como a filhar que logo lhe de com a azcuma: e o fallar de rijo, e correr de pressa todo se faz por esforçar o alaão nouo: ca sabede que se o monteiro uay de caualo che- gado ao porco, que muyto faz milhor o alaão filhar o porco: e o que dissemos que lhe desse logo com a azcuma, esto he por o alaão sentir que he accorrido daquelle que o poem, e des que lhe der a primeira azcumada, nom lhe dee mais porque he porca, e des que assi lhe der a primeira azcumada, logo compre de se descer, e tirelhe o alaão feito, e leixe andar o alaão nouo com a porca, e nom seia tanto que o alaão canse, que se o alaão cansa, muytas uezes com o cansaço se anoja, e leixa: e se toma manha de leixar, he muyto empeciuel pera ser bôo: mais como a tiuer hum pouco sem o outro alaão, logo a deue a matar. (Ora quando a assi filhar o alaão, e quiser saber se lhe sera bõo, ueja em como filha, e se uir que o alaão nouo filha, que parece que filha com.os dentes dianteyros, e que anda abocanhando, assi como que nom pode morder, em tal guisa que os dentes entrem dentro na carne, o alaão que assi filhar nunca sera bõôo. Ora posto que o alaão filhe esforçadamente (!). Ainda os alaãos fazem outro sinal, em que muytos monteiros som enganados por cuydarem que som bõos: ca des que o porco he morto, e nom o leixa senom per força, cuydam que o faz com bondade, e esto nom he assi: ca des que o porco he morto, e o alaão o nom leixa de boamente, os demais que esto fazem, nom he senom por couardice, ca o medo he tamanho em elle, que cuida se o leixar, donde (1) Parece que falta aqui com que acabar o sentido. ( Nota mar- ginal.) 1. logo] lo — azeuma — 2. depresa — 0] e o. — 4. o alaão (en- trelinha). — 6. aseuma. — 8. azeumada — dee] dé. — q. azeumada — cumpre. —12. cansanço. — 14. empecibel. — 15. hora. — 18. pa- resca. — rg. abocafiando — 21. Hora, — 29. elle] el. 1O o) 20 25 sé ta A ” o a ac o ei RE ro E PEA o SR MR 22, o MD RD TIN, ND MEN SU — 73 — o tem, que logo sera morto: e por esto nom o leixa de boamente, e os alaãos que esto fezerem, poucos seram os bõos. Mais em quanto-o porco he uiuo, e o alaão o tem esforçadamente mordendoo com grande força, tanto que sente que o porco he morto, logo o leixa, este alaão que assi fezer quer seer bôo, logo mostra da no- breza da sua propriedade, ca o alaão que uindo he por sua nobreza, nunca se contenta das cousas que peque- nas som: ca uiredes que muytas uezes hum pequeno branchete ladra a hum alaão, e uay em pos elle, e 0 |“ alaão quanto melhor for, tanto menos torna a elle. E assi aconteceo a el rrey Alexandre, que el rrey Dario lhe mandou dous * grandes e fermosos, e mandoulhe 57 dizer que eram os mais ardidos que no mundo auia: e Alexandre o quiz prouar se era assi, e conta a histo- ria que foi com elles ao monte, e sahiolhe hum porco polla armada, e os alaãos quando o uirom nom se em- pacharom de o filhar, nem ainda de ir em pos delle: e quando Alexandre esto uio, cuydou que lho fizera por escarnio de lhos mandar por tam bõos, e parecerem que eram tam maaos, pero nom quiz dar lugar ao que parecia, e ante que o ouuesse por mal, ante o quiz saber se o era: e mandoulhe dizer o que lhe aconte- cera com aquelles alaãos que lhe mandara. Elrrey Da- rio lhe respondeo que nom parasse mentes por aquello, ca a nobreza daquelles caães era a tam grande, que nunca curauam de cousas tam pequenas, em como estas: mas se quisesse uer de que nobreza eram aquel- les alaãos, que os pusesse a algum alifante, ou a algum leom, e que entom poderia uer de que nobreza eram: e Alexandre o fez assi, entom fez uir perante si hum 6-7. nobleza, — 8 nobleza, — 10, poz, —12, acontesceo, — 20. parescerem, — 21, maãos. —32, parescia, — 23-24. acontescera. — 26, nobleza. — 28, nobleza, — 30. nobleza. o de Mes nicdan 58 alifante, e poselhe os alaãos, e elles tanto que o uirom forom toste a filhallo como se fosse hãa pequena caça, e a tam bem o filharom, que Alexandre foy muyto pa- gado, e agradeceo muyto aaquelle que lhos mandara, posto que fosse seu imigo. Assi quando o alaão tem o porco, e o mata na boca, e o leixa de boamente, nom o faz senom com nobreza de si, porque sente que aquelle porco que assi tem he morto, que ja contra elle nom deue demostrar sua força, nem seu ardimento, e porque o sente, por tal o leixa de boamente. Ainda cuydam algúus monteiros, que por dar de comer ao alaão do porco quando o filha, que por aquello sera milhor: e em esto som errados, e nom o deuem de fazer por nenhúa guisa, que os alaãos que bõos som, todos o som por sua bondade, ca nom por lhes darem de comer: e qualquer alaão que coma o porco nunca sera bôo, como aquelle que faz a cousa contra sua propria natureza: e por esto se cabidem todollos mon- teiros, que nunca dem a comer do porco ao alaão quando o filhar. E depois que o alaão nouo for encar- nado duas ou tres uezes nas porcas, e o quiserem poer ao porco, todallas cousas que lhe am de fazer em poendoo as porcas, todallas as deuem a fazer quando quiserem poer ao porco, e ainda estas que ao diante diremos, que tanto que o alaão filhar o porco, logo deue seer bem accorrido: e o monteiro des que lhe der a pri- meira azcumada, e aginha logo lhe de outra em lugar que uir que mays toste morrera: e o lugar per que o porco * mais toste caae assi, he da ferida detras os coue- dos, com tanto que des que a azcuma for de dentro em elle, que o monteiro a uolua nas maãos dentro no porco: e se forem dous monteiros os que lhe ouuerem de acor- 2. foram. —3. foi. — 7. nobleza. — 18. naturaleza. — 21. por. — 27. azeumada — azinha. — 29. cobedos, — 29-30. azeuma. — 32. dous] dos. 15 a A rer, tanto que lhe derem, logo se deçam, e hum lhe meta a azcuma na boca, e o outro o derrube: ca em quanto o porco tem algãa cousa na boca, nunca para mentes por ferir o alaão que o tem, e o outro monteiro que o a de derrubar, pare mentes que quando lhe der a azcu- mada que nom trespasse da outra parte, ca por tres- passar muytos alaãos forom feridos e mortos: tambem nestas encarnas da primeira uez que filha o porco, se o alaão nouo he ferido, mostra em si sea de seer bõo, ou nom por esta guisa. Quando os alaãos filham o primeyro porco mostram quejandos am de seer, ca ainda que bem tomem as porcas, da primeira encarna que tomarem o porco se he ferido, logo mostram se som ardidos ou nom: e se os monteiros quiserem ueer quando lhes este alaão assi a primeira uez filhar o porco, se lhe sera ardido ou nom, parem mentes se da primeira uez que lho filhar, se o porco o ferir que he aquello que faz: e se uir que quando o alaão tem o porco, e o porco o fere, e o alaão o tem com grande força, e com sanha, e que polla ferida se apega mais fortemente com elle, por esto podem saber que he sinal de seer o seu alaão bõo : e ainda se acontecer que o alaão seja posto ao porco, e que o nom filha de boamente, e o anda la- drando, se o porco em andando assi com elle o fere, e sendo ferido uolue com a ferida a filhar aquelle porco com grande força, e com sanha: este he hum sinal que os monteiros tiuerom, que o alaão que esto fez, esse seria muyto bõo. Ainda ha hi outro sinal, em que o alaão demostra ser bõo, e he este: se acontecer que o monteiro ponha o seu alaão nouo em na primeira encarna que poser ao porco, e o alaão o filha alon- gado do monteiro que o poem, e o porco o fere de al- 2. azeuma. — 5-6, azeumada — 7. foram, — 11. ser. — 21. saer, — 22. acontescer. — 25, seendo. — 29. acontescer. — 30, na (ens trelinha). — 31-32, alongando, alongado, e) 59 ad Lad gua ferida grande, ou de feridas, em tal guisa, que o desapega de si, e lhe sahe da boca, se o alaão for em pos delle, posto que o nom possa encalçar, todollos monteiros tiverom que o alaão que tal fezesse em esta primeira encarna que sempre seria bõo, por- que parece que o coraçom seu he grande de filhar, e de se uingar das feridas que lhe deram, demais que nom perde a bõôa uontade pollas feridas que tem de o filhar: e os monteiros seiam bem certos que os alaãos que da primeira encarna forem feridos, e lhes estas cou- sas nom fezerem, que nunca seram bõos. QOutrosi se deuem guardar os monteiros que nunca ponham *o seu alaão ao primeiro porco que ouuer de filhar, quando a lua for muyto minguada, e demais ainda quando for antrelunho (!), ca em este tempo tiuerom muytos, e bôos monteiros, que se o alaão fosse ferido, que logo ficaua couarde, e a esto nom acharam nenhúãa razom, senom tam somente polla experiencia, em que a prouaram muytas uezes: e desta cousa nom deuem ilhar | seer assi, que se quando a lua assi he em antrelunho, e faz ficar os corpos dos homêes em fraqueza, e ainda alguus em minguamento do entender, bem pode seer aueer de sua uirtude, que quando o alaão em tal tempo: fosse ferido que ficasse couarde: e pois esta cousa assi he duuidosa, demais que por alguus bôos monteiros foi achada por uerdade, deuemse os monteyros de guardar de nom meterem os seus alaãos em tal auen- tura. (1) Nota en los tres dias que la luna no paresce que es total- mente uieja. (Nota marginal). 2. sahe] sal. — 6. paresce. — 14. rezom. — 19. minguamente, Capitulo xiiij, que falla do ensinamento dos sabuios, tambem dos de correr, como de treela, como dos de achar. O ensinamento dos sabuios todo esta em tres cousas, em correr, em atrelar e em achar: e assi quando os monteiros quiserem a qualquer ensinar destas cousas algum sabuio, deuem a fazer segundo o que cada hum quiser ensinar: ca se quiserem ensinar o sabuio a cor- rer, que he a mais piquena cousa destas tres, deuemno ensinar desta guisa: catarem qual tempo he milhor, e o tempo que milhor he, assi he o do outono: ca este tempo uay ja fora do estio, e entram os tempos frios, e demais que os porcos começam a andar com as por- cas, e quando assim andam com as porcas, em este tempo am os porcos mayores cheiros que em todo anno, e pollo grande cheiro que assi am, os caães correm de melhor mente. E ainda deuemse de guardar, que quando assi quiserem encarnar os caães nouos, posto que seia neste tempo que dissemos do outono, que o monte nom seia de queimadas, ca se de queimadas for, nunca os caães as correm bem, ainda que seiam feitos, a menos que nom choua sobre ellas tam muyto que tire o cheyro do queimado: e ainda que os caães feitos seiam, quando lhes o porco entra polla queimada, e a queimada he noua, logo o erram, e muyto mais * he forçado faze- remno os que de primeiro começam de correr, e encer- randoo, e nom indo a encarna faleceriam de seer bõos, e por esto se deuem os monteiros de guardar de poe- rem os seus caães nouos no monte, em que ajam muy- 2. treella, — 5, atrellar. — 22. choyua. tas queimadas, ca bem sabem todollos monteiros, que as boas encarnas fazem os sabuios seer bõos, e as maas encarnas os fazem maaos. De correr. Ora quando -da primeira uez os quiserem poer a correr, e assi cada uez que forem ao monte com elles, leuemnos sempre nas treelas, e nom soltos, ca sabudo he a todollos monteiros que os sabuios que uam soltos, que nunca bem correm: e quando se o porco leuantar, nom lhos ponham, mas tenhamnos nas treelas, ata que o porco corra dereyto, e entom lhos ponham: e o porque nos o diremos no lugar onde escreuermos, como o monteiro a de fazer quando aleuantar o porco por treela pera lhe poer bem os caães. Ainda tiuerom os demais dos monteiros, que o milhor poer dos caães nouos assi he, depois que o porco uay encaminhado escontra as armadas: e quando o monteiro quiser fazer como deue, ha mister trager seus caães nouos na treela, e andar daquella parte escontra onde forem as armadas, e em quanto puder seia per carreyros, ou per lugares rasos, em tal que os caães nouos andem a seu sabor, ca se fossem per lugares espessos por o empeçar que os caães fariam, e pollo trabalho, de força he que se afo- gassem, e quando os leuassem afogados nom aueriam tam bõo talante de correr. E quando chegarem acerca donde ueherem os sabuios correndo com o porco, nom os ponham a menos que nom cheguem aa trauessa do porco: e des que os sabuios passarem, ou algúus delles, entom lhes tirem as treelas, e fallemlhes de rijo, tan- gendolhes as bozinas, e façam o mais que poderem de 7. treellas, — 22. espesos. —3o0, puderem. DO O PR DR ME NEN 258 ditar, RE = rd 7) ie ria prece ; o 2 ” a e 30 K ace, 0 hp ps É! dg td aim a - 4 E , pis E | Hei f irem o mais acerca delles que poderem ir, todauia fa- landolhes, e tangendolhes em tal maneyra, que sempre quando chegarem a encarna, logo os moços os tomem nas treelas, e façam afastar a fora os outros sabuios, e entom acheguemnos ao porco, e se quiserem comer em elle, leixemnos comer, e nom muyto, e guardemnos de se roerem per nom filharem caioões. Ha hi mon- teiros que quando encarnam seus sabuios, que lhes un- tam os rostros, e em esto erram muy fortemente, e guardemse de o fazer, ca a muytos sabuios aconteceo que por lhes * untarem os rostros do sangue filhauam tal empacho, e aborrecimento que nunca mais queriam correr com o porco, ca os que esto primeiro começa- rom, cuidamos que o nom fezerom, senom como fazem os que ueem sacudir a besta, e cospem logo: e que esto foi aleuantado per hum sabedor, que estaua acerca de hum caualo, e o cauallo se sacudio, e saltou hum ca- bello na boca daquelle sabedor, e pollo embargo que o cabello lhe fazia na boca cospio, e os outros que o ui- rom assi cospir, pensarom que o fazia por algum bem, e começarom entom os homées aueer de manha cospir quando ueem sacudir algãa besta, e assi o fizerom os monteiros. (Ca poderia seer que ueriam algum sabuio que comera dentro no porco na encarna, e untouselhe a cabeça, e o rostro de sangue, e pareceolhe bem aaquelle que primeiro o uio, e pensou que lho fezera algum por bem: e desto tomarom os que tanto nom souberam em seer monteiros, de untarem os rostros aos caães, ca nom por outro bem que em ello aja. Mais se bem quiser fazer qualquer monteiro que seia 3. posseram. — 11. acontesceo. — 16, uem, — 19. daquel, — 21. cuspir. — 22. hauer. — 23. sacudir (entrelinha). — 25. no] do, — 28, beem, os sabuios ajam esforço dos moços que os poserem. E | 61 62 PE que os seus caães quiser encarnar de nouo, faça em esta guisa. Se o sabuio quiser comer no porco, a esto nom a mister de lhe fazer outra meestria, e se nom quiser comer em elle, entom uejam se se quer chegar ao porco, e acerca delle, untemlhe os peitos e as maãos com o sangue do porco, quanto mais poder seer un- tado. E se o sabuio nom quiser chegar de boamente ao porco, nom o cheguem per força: que ja algúus forom que sempre depois ouuerom medo, e leixaram de seer bôos per tal cousa, e o que aconteceo aos que dantes de nos forom, nom esta seguro, que esso meesmo a nos nom aconteça, ca os que pararom mentes em esta cousa sempre se guardarom de o fazer, e nos assi o deuemos de fazer, ca em outra guisa erraram os que o fezerem. E quando se o sabuio nom quiser chegar ao porco de boamente, tiremno a fora arredado do porco, e leixemno estar, e tomem o sangue, e untem- lhe os braços em como dito auemos, e ainda que nom queira estar senom per força, todauia untemno, ca ainda que seia per força nom perde por ello, ante lhe he bem quando lho fazem a força, com tanto que nom seia acerca do porco, ca se acerca delle for serialhe periguo, e alongandoo do porco que jaz morto sempre lhe seria bõo: porque quando o assi untam per força, elle cuyda que o ferirom, ou lhe fezerom por mal, e depois que he untado, e o leixam, elle que se quer guarecer, ou alim- par daquelle sangue, e em se alimpando nom tem outra cousa senom com a lingoa, como he de sua natu- reza, gosta aquelle * sangue do porco de que he untado, e algo pollo gosto o entender recorda a natureza, e filha em ello sabor, e quando outra uez uem a encarna, ja 10. acontesceo. — 11. esta] este — mesmo. — 12, acontesça,. — 16. arredrado. — 22. delle] del. — 28. linguoa. — 28-29. naturaleza, — 30. naturaleza. 10: 15 j 20 É 8%] a RE ste. fim erga ” n< de E is | k . ss ' + A á E; É, “ o come de milhor mente, e assi fica bem encarnado: e quanto he do encarnar de todallas maneyras dos sa- buios todo se deue fazer em esta guisa que dissemos, des que chegarem donde o porco jouuer morto. Dos sabuios de treela. Outrosi quando quiserem fazer ao sabuio que seia de treela deuemno a fazer em estoutra guisa que se segue. Ássi quando qualquer monteiro que seia, que algum caão quiser fazer de treela, tenhao sempre preso o mayor que puder, em tal guisa que nunca, ou poucas uezes saia da treela, e des hi faça que ande deante: e se uir que lhe anda pesadamente na treela, ou de maa mente, nom cure de trabalhar muyto com elle, ca o sabuio que mal anda na treela, a de leue nunca bõo de treela possa seer: e de qualquer sabuio que quiser fazer de treela, e achar que seia ledo, e que lhe anda de boa mente em ella, com aquelle traba- lhe pera o fazer, ca destes que assi som ledos se fazem os bõos sabuios de treela, com tanto que esta ledice nom seia sandia, ca muytos sabuios a hi, que aquella ledice que assi am, toda lhes uem como de sandice, ca os demais destes, cousa que lhes ensinem nunca a querem daprender: e quando o monteiro que caão de treela quiser fazer, guardese do sabuio que tal ledice ouuer, de nom filhar com elle tal trabalho, ca todo o seu afan sera perdido. E des que o monteiro uir que seu caão lhe anda bem na treela, aguarde tempo que bõo seia pera começar a fazello, ca o milhor tempo, em 1. melhor. —7. a a fazer. — 10. mayor [tempo]. — 11. salga, — 15, traela. — 20 ha. — 23. deprender. 6 63 E RO que com elle ajam de começar, he o que ja ante dis- semos, e este he o outono depois que muyto chouer: e entom cate monte que seia grande, e que os porcos andem em elle seguros, e que se assentem perto das fal- das do monte: e a mister que se leuante muy cedo em tal guisa, que chegue ao lugar, em que ouuer de dar a trauessa, que seia ante de manhãa, e atenda tanto que se acolham os porcos ao monte, e tam toste que elle entender que os porcos podem ja seer entrados ao monte, de a trauessa daquella parte, que souber que mais porcos entram, e uaa seu passo e passo, eo sa- buio ante si, e falle com aquellas palauras e soom, com que lhes soem a falar, todauia fazendoo ante si ir: e se ao sabuio lhe cheirar algua trauessa, * que nom seia porco, assi como ceruo, ou outra animalia qualquer que seia, posto que seia coelho, que os sabuios nouos sem- pre cheiram de boa mente, nom lhes façam mal, nem se aqueixem contra elles, senom tiremnos dos passos do ras- tro, e uaa andando sua trauessa adiante: e se toparem porco soo, e o cheirar o sabuio, afagueo muyto, e delhe a treela duas ou tres uezes, todauia afagandoo, e depois o tire a fora, e ande tanto que ache algua banda de porcas, e meta o sabuio em ellas: e como as come- çar a cheirar afaguco, e ande com elle todauia sempre atentadamente que o olho uaa no rastro, que se o sabuio errar, que logo o emende, e assi uaa com elle ata que as aleuante: e depois que forem aleuantadas, uaa em pos ellas hum pedaço, e quando ouuer de tirar o sa- buio do rastro, percebase que seia de sobre rastro. E esto a de fazer em esta guisa: se nom uir que lho leua, encurtelhe a treela, e pare mentes se uay no rastro, ou 5: ha miste. —7. manhaam. — o. jaa. — 13, sooen. — 18. dos] om, — passo. — 25, ollo. — 29. percebasse. ty im “” ; j j | o E / Piores VIRE e qu su a DEN Ci fr aão esaf ra Sa 7 RA nom, e se uir que nom uay no rastro, façao torriar a elle, e des que for tornado em elle, entom o tire, afagueo muyto, e tireo a fora. E porque uos dissemos que quando o ouuessem de tirar do rastro, que fosse de sobre elle, esto he porque muytas uezes acontece que quando assi aleuantam per treela com o sabuio nouo, que pollo grande cheiro que a, uay tam rijo fora do. rastro, em como se fosse por elle. E os monteiros que em esto nom param mentes, que lhes uay no rastro, cuydam, e afaguamno, e tiramno a fora: e quando assi tiram a fora do rastro, cuydam que fazem pollo afagua- mento que lhe assi fazem, e ficalhe de manha de nom parar mentes se errou ou nom, e se depois o querem correger, sempre he maao de correger. E este aleuantar faz muyto bem pera os sabuios seerem bõos de treela, ca acerca tanto monta como húãa encarna. E depois que o sabuio ja souber o que he aleuantar, e que uay filhando sabor em na treela: o senhor que tiuer os mo- ços que lhe aprazem os porcos a que a de correr, des que o moço, ou moços disserem que seu caão, ou caães cheiram bem o porco, e que era ja tempo pera seerem encarnados, ou encarnado, quando os ouuerem de en- carnar, deuem u catar monte, em que seiam porcas pera as poderem milhor aleuantar, e que seiam as armadas certas, *e taes que de razom o porco nom possa fugir per ellas. E entom mande qualquer senhor a este monte, onde ouuer de ir, os escudeiros muy cedo as armadas, e em tal guisa que quando for manhãa logo seiam nas armadas, e os moços dem a trauessa ao monte, e como acharem banda de porcas uam per ellas ata que as aleuantem: e des que forem aleuantadas, e forem hum 5. acontesce. — 7. ha. — 10. afagoãno. — 19. aplazem, — 23, a acatar. — 24. melhor. — 30. uaam. * 64 aa Pardo pouco per ellas, afastemse hum espaço a fora, e os mo- ços que trouxerem os caães de correr tiremlhes as treelas. Des que os caães começarem de correr, o mon- teiro que aleuantou as porcas com o sabuio nouo afa- gueo, e entom uaase quanto puder a parte onde estam as armadas que souber que som mais certas, e esto seia pollos lugares que mais limpos puder achar por lhe nom ir cansando o sabuio, e nom de muyto quer lhe uaa deante, quer detras, ata que ueja que algua das porcas que aleuantou uay ja fora: e des que uir que uay ja fora, de a treela ao sabuio, e meta adiante si, e ande tanto ata que chegue a trauessa por onde sahio: e como lhe o sabuio cheirar uaa per ella, ata que chegue onde a porca jouuer morta, e des hi encar- neo, como ja dito auemos de suso em na encarna dos sabuios que se auiam de fazer de correr: se nom tanto que o sabuio quisesse comer do porco, que lhe de a comer o coraçom delle, ca milhor he pera o sabuio da treela daremlhe a comer na encarna, depois que o tirarem a fora, o coraçom do porco, que outra nenhúa carne delle. Ainda lhe soem a fazer algúus monteiros, por auerem mais toste os seus caães seer feitos, húa cousa que a muytos monteiros aborrece, pero todauia os caães se fazem por ello mais toste de treela, que doutra guisa: ca lhes soem a fazer que quando as porcas comem a lande, fazem a alguus bes- teiros que lhe tirem, e des que algãa uay ferida, me- tem o sabuio no rastro daquella que assi uay ferida, e porque a sempre acha em pee tomada da herua, por tal cousa filha em ello mayor sabor, e som por ello mais toste feitos da treela em auendo taes encarnas. 5. ua se, — 9. ua. — 17. do] o. — 23. aborresce. — 29. hacha. » 15 20 25 30 Ms! aieshprbetê ã E mars Be DS e O DP e ii si " ENT a DR” RR, É É 10 E É! E 4 e a Pr. 4 15 % E 3 H ] o 25 Se Do ensinar os sabuios de correr. * E esto meesmo se quiserem fazer algum caão de achar, em este ensinamento disserom todollos monteiros que fallecia mais a força de todallas mestrias que auiam de fazer pera ensinar algum caão, ca em todallas outras: ca € dizem que todos por ensino podem seer bõos, | ou enmendar na sua maldade em a tornar em menos mal, se bem forem mostrados, e em seer bõo de achar nunca O he senom per sua uontade: ca dizem todos que todallas mestrias que lhe podem fazer, nunca lhe muyto poderiam prestar a seer bõo, se o nom for per sua uon- tade: ca assi em como os caçadores dizem que todollos falcoões se podem fazer per mestria a seerem bõos, se- nom os que fazem altancas, ca estes nunca som bõos senom per sua uontade, assi se faz nos monteiros que: todollos cases se podem fazer per mestria bõôos, senom os sabuios de achar. E em como quer que aja hi alguas cousas de que os monteiros usarom, e prestam aaquelles que de sua natureza querem seer bõos, estas nem outras nom lhes podem prestar aaquelles que de sua natureza som maaos: e as cousas que am de ensinar aos caães que seiam de achar, que usarom os monteiros, som estas que se seguem. Quando quiserem ensinar algum caão de achar, nom deuem a tomar qual- quer caão que seia, ca nom som todollos caães pera esto pertencentes. E os caães que mais a meudo sahem bõos de achar som os grandes nos corpos, e no aspeito fortes, ca os pequenos e fracos em parecer aa de leue 2. medesmo, —4 fallescia, — que (2.º)] om. —10. maestrias. —- 17, ahi, — 19. naturaleza, — 21, naturaleza, — 26, saen. — 27. respeito, 65 66 ROO ed nunca som bõôos dachar. E se algãus monteiros qui- serem saber porque he o caão grande e forte milhor pera achar que os pegnenos e fracos: a esto saybam todollos monteiros que quiserem saber porque he, ca todollos caães que igualmente som grandes, todos som mais ardidos que os pequenos, de mais se o seu as- peito o parece forte, e todos por a mayor parte som ardidos. Ora todollos caães quando uam a achar, todos uam acouardados, em tal guisa que muytos delles nom querem achar o porco com medo: e se som grandes e ardidos, sempre os monteiros acharom que estes achariam milhor, ca polla sua fortaleza e ardi- mento era de força de acharem milhor. Outra rezom tiuerom ainda que seriam os sabuios grandes * milhores pera achar que os pequenos, ca dizem que todollos caães grandes som mais pesados que os pequenos, ca des que os caães ueem as casas dos rreys, ou dos outros senho- res, sempre ou polla mayor parte som postos tarde, e pollo rastro que uay ja sendo frio, se ligeiros som pollo mouimento que fazem rijo; logo erram, o que nom fazem os que uam mais passo: e porque os caães grandes som passeiros, por tanto som milhores que os pequenos que uam rijos. Pero os monteiros que dante nos forom, sempre se trabalharom em auerem bõos caães dachar, porque se o monteiro nom tiuer em sua casa caães da- char, nunca -pode seer bem guarnido de monte: e por tal fallimento todos se trabalharom de auer bõos caães dachar: e as cousas que acharom per que deuiam a auantajar pera fazer seus caães seer bõos, som estas, Primeyramente qualquer monteiro que seia, que sabuio de achar quiser fazer, deue catar terra que seia de - 6-7. respeito. — 7. paresce. — 8. hora —q. que] he que. — 15. que (2.º)] om. — 16. piquenos. — 20. eram. — 22. piguenos. e) 20 25 30 + ; 2. 2 ks e E 2 una, é a a q Apre OC a E á b E! E Fm H sd a a ms cm ho Pri, es ú E mg montes pequenos em redondeza, e espessos dentro, e em si uerdes, e frios, se for uerão, ca em estes montes acham os sabuios milhor que em outros montes, ca por serem pequenos, sempre uam acompanhados daquelles que os poem, quer uaa junto delles, ou do falar que lhe o monteiro fala, ca porque o monte he pequeno, nunca se o sabuio pode arredar, que possa perder o ouuir do falar que lhe fala aquelle que o poem a achar, e quando assi ouue sempre se esforça mais em achar: e por esto he bôo o monte pequeno pera começar a fazer os sabuios de achar: e comprelhes que seia o monte es- pesso per auerem mais cheiro, ca sabudo he a todollos monteiros que quanto o monte he mais espesso que tanto mayor cheiro fica do porco quando por alli passa. E uerde e frio lhe compre por achar o cheiro milhor, e mayor, e quanto o monte he mais frio, tanto he mais partido hum do outro, ca se o rastro he quente, e o monte he frio, entom o pode o sabuio cheirar milhor : ca em como sahe fora do rastro que he quente, e topa no frio, tanto mais aginha conhece que o erra, e por este logo torna do rastro que errou: e porque mais toste se corregem quando erram, por tanto lhes he mais cumpridouro pera os ensinar este monte que outro. Ora assi quando o quiserem começar a fazer, a mis- ter * de se alleuantarem cedo com elle em tal guisa, que como for manhãa, logo seiam acerca daquelle monte em que o ouuerem de poer, e tanto que for luz assi que possa enxergar o rastro, metase o mais cerca do monte que puder, e nom meta o sabuio diante, mais elle uaa parando mentes pollo rastro do porco, e como o achar, façao cheirar ao sabuio, e como o cheirar 1. piquenos. — 2, ueraão, — 5. ua. —6. é — nunca] bis. — —7, arredrar. — 8. aquel, — 15. 0 frio, — 19. sal. — 20. conhoce. —24. hora. — 28, metasse. 67. RO CL logo lhe tire a trecla: e se tiuer algum outro que ja seia certo em achar, tirelhe logo a treela em pos elle, e fale com aquellas palauras ensoadas, com que lhe os monteiros falam quando uam a achar, e com esto façam que uam o mais acerca delles que poderem, pero que nom uaa correndo, ca se correm, toste o poderiam fazer errar: e por ende sempre lhe compre que uaa a tento, que se ulrem que erram, que lhes falem que uoluam a elle, e se uirem que uam direytos, façam que uam o mais perto delles que poderem, todauia falando- lhes esforçadamente: ca seede certos que todollos sabuios que uam a achar, todos uam acouardados, e em tal guisa que muytos o neguam, e outros nom querem ir a achar, em como ja dito auemos, senom com medo: e por esto lhes compre de ir acerca delles, e lhes falem esforçadamente, em tal guisa que sempre os sabuios que uam a achar ajam grande esforço, e se acharem o porco, | entom lhes falem mais esforçadamente que o filhem: e se hi nom ouuer de cauallo que o possa matar, en- tom faça muyto que des que o porco sahir, que saya de ante a trauessa por onde o porco passar, e filhe uoz - em fazendolhe mal: ca muytas uezes acontece aos monteiros, que se lhes o porco passa polla armada, ou per algúa uozeria, que em querendo tornar aos sabuios, ou sabuio, que em tornando o ferem, quando o nom podem tomar, e esto nom lhes conuem quando o pri- meyro começam a ensinar a achar, ca se o ferissem no rastro, poderia filhar tal medo, que depois nunca mais aueria sabor de achar, e por tanto quando o quiserem tomar depois que o porco correr, assi em como antes escreuemos, nunca o firam, ca mais ual deixallo ir em pos o porco, ca o ferir no rastro delle quando o assi 7. ua. — 9. boluam. — 20, sair. — 21. a atrauessa — bos. — 22. acontesce. — 24. bozeria. — 31, feiram. 10 15 20 25 30 SPO p= DA pe gica ds f AR o pla e E RE Sr agonc deles PN Car saga io é di a GETE o RP 280 acha: ca o monteiro non deue per nenhãa guisa a fazer tornar o seu sabuio do rastro per feridas, senom quando camba o rastro a que he posto, assi como seer * posto a porco e cambasseo pollo ceruo, ou por outra ueaçom, entom fazendoo tornar com feridas, muyto lhe faz bem, e nunca mal. Mais quando sahe com o porco, e o faz tornar com feridas, nunca lhe faz bem, ou lhes faz, que des que chegam a armada nom ousam mais a passar com o porco. Mais com todo he de força que os mon- teiros o façam em hum caso, e esto he quando jazem muytos porcos em hum monte, e algum sahe reuesado, e nom o podem matar, e a tornar os caães ao monte, nom o podem fazer de outra guisa, senom per força, e ainda que em tornando os firam, nom erram quaes- quer monteiros em no fazer: e por quanto os que som entendidos dizem, que nom erra nenhum em aquello que a de fazer, fazendo hum pequeno mal por lhe uir depois hum grande bem. Assi fazendo o monteiro tor- nar os caães per força, ou com feridas, por lhes nom' ficarem os porcos no monte, de mais depois que os caães som feitos que he mais bem, nom erram em ello, Assi como o filhar afagueo muyto, e tireo do rastro, e se achar auga delhe a beuer, e façalhe todallas cousas que uir, per que pudera dar a entender que lhe faz aquello, pollo bem que fez: e se tiuer de cauallo que lhe mate o porco, leixeo correr: e se sahir a encarna, façalhe assi em no encarnar como he scrito, que lhe a de fazer na encarna dos caães de correr: e com esto lhe he compridouro de nunca lhe fazer leixar nenhum pórco na treela pera ir por elle nem pouco, nem muyto: ca o sabuio de achar, tanto que estiuer no rastro, logo 4. ucaçaom. — 6. sal — 11. sal, — 14. feiram, — 19. per) por. — 33, agua — delle, — 26, sair. — 29. he] om. — 30. el. lhe deuem tirar a treela por lhe mostrar que solto deue fazer aquello que deue fazer: ainda mais este sempre preso, ca a estes caães compre mais seerem presos, que a outros caães, e com todas estas ensinanças que 5 lhes os monteiros fazem, nunca podem ser bõos, se o nom som de si. : Capitulo xv, que falla em como he pertencente aos mon- E teiros que apraçam de saber conhecer. E Em o começo deste liuro departimos que cousa era entender, e depois que cousa era entendimento: feestas 69 . uirtúdes em como quer que seiam muy nobres em os 4 homees, pero a hi outra uirtude que os homéêes am, que q 3. | he muyto milhor que nenhua destas, a qual se o homem nom ouuer neste mundo, nem no outro, nom pode auer Dem: é esta uirtude he O conhecer, na qual esta toda nossa bemauenturança, sem a qual nom podemos auer bemauenturança, nem bondade: ca assi como a alma he milhor que o corpo, assi esta uirtude he mi- | lhor que as outras uirtudes, que dissemos do entender, e da uontade: ca em como o corpo nom demanda senom cousas terreaes, e a bôa alma nunca cura se- nom das cousas espirituaes, assi estas uirtudes enten- | der e uontade, nunca ou de mais da sua força esta nas cousas que som corpos, ca per este sabem as »5 | cousas que sabem, mais esta uirtude nom conhece, senom as cousas despiracom, como quer que das cou- sas corporaes nom leixa de conhecer: ca assi o diz S. Agustinho estando na sua alta contemplaçom, que | fo) si dci a AN ai . í ati o cido E ei team ERA a ei ga Jide: E, MEN " 20 e qa 2. esté. —8. Neste capitulo as formas do verbo conhecer são escri- tas quasi sempre como derivadas do verbo conhescer.— 11. nobles. — 12. ham. — 16. bemauenturança nossa. — 23. está. — 28. Agostinho. Gee iai 7 q f , pa th ce cet e Cos cl dry reg a Si y H o extaudor 2 o corte com . Ae VR “Co Ao tr.. E E — eps, my = pe tio dei ÉS. E 7 tida pn e am " AEE TT ET SAP — Qt — fazia por querer conhecer seu Deus, e dezia que elle mandara os seus mensageiros do corpo que som os sentidos, pera buscar o seu Deus, e que o nom pudera per elles achar, em como quer que elle era dentro em elle. Ca perguntara os sentidos, se souberam per onde êntrara em elle, e disseromlhe que nom sabiam: ca di- zem os olhos, se elle nom a color, nom entrou por nos, e o ouuir esso meesmo diz que se nom deu soom, que nom passou tambem por clle, e esta meesma resposta lhe derom os outros sentidos, ca todos lhe disserom que nom poderia por elles saber por onde Deus em elle en- trara, ca Deus nom pode seer conhecido pollos sentidos. E concludindo disse, que nom quisesse Deus que elle pensasse, que os sentidos lhe poderiam dar a conhecer o seu Deus, mais quando elle Bus ; que buscaua hua luz que he sobre toda outra luz, a qual nom pode caber em olho, nem a podem ucer olhos hu- manaes: e assi ucho correndo per tódollos sentidos, ata que chegou ao tangimento, que elle buscaua hum abraçamento que era sobre outro abraçamento, o qual nom poderia seer tangido senom do tangimento da sua alma: e depois do longo processo que fez em dar rezoões pera conhecer o seu Deus, disse que o conhe- cia nom assi em como elle era em si, mais em como elle era a elle, e em elle, e que assi o conhecia, e esto per a sua graça, e de como Deus he ao homem, ou no * homem, nom se pode conhecer pollos sentidos: e assi quanto se a uirtude mais achega a conhecer o seu Deus, tanto he a uirtude mais perfeita: assi que estas cousas que os homées am pera conhecerem seu Deus, nom as podem alcançar senom pollo conhecimento. 7: collor. — 8. medesmo. — g. mesma, — 13. el, — 17. ollo, — ollos. — 25. elle (1.º)] el. — 30. ham. 70 jz. — 92 — . Ainda mais como a alma dura por sempre, assi esta uirtude de conhecer dura com a alma por sempre. Ca dizem todollos sabedores que a nossa bemauenturança b esta em conhecer o seu Deus, ca a gloria da alma he conhecer o seu Deus, em como som aquellas tres bem 5 auenturadas pessoas em húa substancia, e nom depar- tida trindade, e seu filho Jesu Christo: e em conhecendoo amandoo, e em o amando glorificandose em elle, por que prougue a elle de o fazer pera si, e elle per elle fecto praz a elle de o saluar querer: e esta bemauenturança 10 dura com o homem por sempre aaquelles que bem auenturados am de seer. Ca assi o disse nosso Senhor Jesu Christo no euangelho da cea, se me amades, os meus mandamentos guardade, e eu rogarei a meu Pa- dre, e daruos a outro mandadeiro que he Spiritu de 15 consolaçom, que fique conuosco por sempre, e este Spiritu de verdade, o qual o mundo nom pode receber, porque nom no sabe, mais uos o conheceredes, e con- + uosco morara, e conuosco sera, e non uos leixara or- faãos. E esto quer tanto dizer que com elles durara 20 por sempre: e o que clle disse a elles, assi se estendeo aaquelles que som seus escolheitos: ca assi em como aquelle Spiritu de uerdade, per que os apostolos conhe- cerom seu Deus, durou e dura, e pera sempre a de durar, esso meesmo faz com aquelles que am de seer »5 na gloria, onde Deus he: e em este conhecer he toda nossa bemauenturança que auemos de auer no outro mundo, sem o qual nom podemos bemauenturados seer, 4 | pois em o homem seer bõo, nunca o pode seer se nom | ouuer Doo conhecimento, ca forçado he a qualquer que 30 bôo for, que aja em elle bõôo conhecimento, ca forçado Cedar, 4. está. — 7. Xpô. —o. plougue — el per el. — 10. plaz. — 12. ham. — 13. Xpô. — 15. ha — Spú. — 17. Spú. — 23. Spã. — 25. mesmo — han. — 31. el. Ao Epindo da vexlaLo . + PRNTS q he a qualquer que bõo conhecimento aja, de seer bõo, ca se o em elle nom quuer, nunca pode seer bõôo: ca ao homem compre primeiramente depois do conhecimento N do seu Deus, conhecer si meesmo, quem he, e que E! 5 he, e que poder tem, e depois se o a de si, ou de a E, outrem, é conhecer se o a de outrem, e porque lho quiz dar, se pollos seus mericimentos, se por sua pro- pria graça: e se por sua graça conhecendolho com todo £ coraçom, e uontade, e com todallas forças de seu corpo, 1 pera o poer em obra. Des hi conhecer todo bem que = lhe he feito, ora * seia de seruidor a senhor, ou de se- nhor a seruidor, ca o seruidor se bõôo ouuer de seer, ne- cessario lhe he conhecer bem aquelle bem, que recebe de seu senhor, ora seia criança, ora seia merce: e — 45 esto meesmo deue a fazer o senhor, que ao seu ser- uidor deue a conhecer todollos bõos seruiços que delle receber. Ainda ha mais, que conhecer a qualquer ho- mem que seia todallas cousas que faz, se som maas, se bõas, ca se nom conhece quaes som bõas, e quaes som “ao |maas, nunca podera leixar o mal, e fazer o bem, ca — assi o disse S. Agustinho em hum capitulo, em que fala como Deus he luz dos justos, e disse que quarito ais se emuoluia em nas treuas, tanto menos uia os laços em no seu caminho, e porem mais pouco conhece, 25 e por mingua do conhecer caae mais a meude, e o que peor he que nom conhece se cahio, e quem nom conhece a sua queeda nom cura de se aleuantar, porque nom conhece se cahio, ou se esta, e porem conuem de força a qualquer que receber bondade, e for bõo, que aja em si bõo conhecer, ca sem bõo conhecér, nunca o homem pode auer bondade; e em saberdes 4. medesmo. — 5. ha. — 6, ha. — 7. mericimento, — 8. sua] sã. tt. hora, — 12-13, nescessario. — 14. hora] bis. — 15. medesmo, — 16. del. — 19. conhoce. — 23, treuers. — 26, cayo. — 27. su, — cura] tura. — 28, está. Do goiano - 71 7a O CombieceX 22X ua oia ca mes como este conhecer esta na força da alma, e posto que as forças alguas uezes queiram parecer que as conhece pollas cousas corporaes, pero ainda que assi seia, toda- uia as de mais que assi parecem som per si medes sem outra ajuda conhecidas, e que fora de si seiam, pouco conhece, ou nada. (Ca se algum seruidor re- cebe bem de algum senhor, e lho conhece, este conhe- cer nom esta em este bem fazer, mais este conhecer conhece o bem que recebe, e posto que faça algum seruiço ou seruiços pollo bem que recebeo, pero os ser- uiços que assi faz nom som elles o conhecer, mais he signal daquelle conhecer. Ca como o ramo onde uendem o uinho, nom he o uinho que se uende, mais he sinal que alli uendem uinho: assi o seruiço que o seruidor faz ao senhor pollo bem. que delle recebe, nom he o conhecer, que elle conhece, mais he demonstrança que conhece aquelle bem que recebe: e assi bem parece que.o conhecer nom esta em no corpo, nem nos sentidos, mais que esta na força da alma, e elle per si se entende sem ajuda de outro nenhum: ca assi o disse Aristoteles no liuro terceiro da alma, que o conhecer humanal conhecendo e auendo noticia das cousas per elle conhe- cidas, se retornaua sobre si conhecendo de si meesmo as cousas per si meesmo conhecidas. Assi porque o homem nom pode fazer nenhum bem sem auer bõo conhecer, he de força que os monteiros ajam em si. bõo conhecer: e em como quer que a todollos mon- teiros em geeral pertença auer bõo conhecimento, * pera os que andam a busca compre mais em muytas guisas : e porque a primeira cousa que se ao monteiro requere, assi he o aprazar, e qualquer que apraza nom pode bem 1. está — 6-7. rescebe. — 8. está. — q. rescebe. — 10. recebo. — 17. paresce, — 18. está. — 19. está — el. — 23. mesmo. — 24. mesmo. — 3o. monteiro] mote. A FE" 1 o sa o Nmgço | 15 8 20 Rã K Ra PRI RE: A 3 k " de patas pio É ass ds pr Daire o o rc So ace Po! E — 4 TE PN. Tira + Alda ei tai 3 a Dida pá id, À E 4 4 | aprazar, senom ouuer bõôo conhecer, em como quer que muytos o saibum bem fazer, pero nos nom leixa- remos aqui de o escreuer, que os liuros nunca forom feitos senom. pera aquelles que nom sabem e querem: aprender, que aprendam per elles, ou se o sabem que o retenham: e porque o saber he em alguas cousas muy longo, e.a memoria nom poderia reteer que o po- desse mais perfeito e tostemente achar sem escriptura per ella, por tanto queremos aqui poer em este livro, ca teemos que todollos monteiros ainda que saybam aprazar, nom o saberam perfeitamente. Ora este conhecer deuem de o saber os que andam a busca, ca o que a este joguo pertence, assi he conhecer os ras- tros húus dos outros, e departillos de que animalias som, e depois conhecer de que horas he aquelle ras- tro, que uee pollas fresquidoões das terras, e das her- uas, e do britamento dos paães e das outras cousas. Des hi conhecer as cousas que os tempos fazem que toruam aos monteiros de nom poderem conhecer de que horas he aquelle rastro que quer aprazar. E com- pre de conhecer as cousas que os porcos fazem dauia- mento, per que os monteyros cahem em erro de nom poderem aprazar: e deuem de conhecer o monte que he azaado de seer o porco, e esto segundo o tempo, em que quer aprazar. Ainda a mister de conhecer as cousas que os demais dos porcos fazem, quando se que- rem assentar, em como quer que muytos monteiros a hi que aprazam, que nom parom mentes, em como se pode filhar aquelle porco que assi tem aprazado : pero helhe necessario de saber conhecer de que guisa pode milhor filhar aquelle porco: ca assi em como tragem 11. hora. — 13. jogo. — 21, caaem. — 27. ha. — 28, paraom, — 31. melhor. 73 de costume nas casas dos rreys que qualquer ouuidor, ou desembargador que uee algum feito, que delle aja de fazer relaçom, elle deue dizer primeiro o que lhe pa- rece daquelle feito, que todollos outros que som em aquella relaçom: e assi deue dizer primeiro o que apraza, em como se deue filhar aquelle porco, que assi tem aprazado, e por tanto lhe he mister de conhecer bem todallas cousas per que se deue a filhar milhor, ca pera esto bem saber fazer, compre conhecer, como, e em que lugar he milhor pera lhe poerem a uozeria, e em como lhe deue a fazer aquelle que a puzer, e como a de fazer depois que for posta, e tambem conhecer o lugar, em que se ajam de poer as arma- das, aquellas que som bôas pera se filhar o porco, ca sem este conhecer, o monteiro qualquer que fosse, nom poderia bem falar em estas cousas, quando lhe seu senhor preguntasse, em como se pode filhar aquelle porco que assi tem aprazado: e' por esto lhe compre de se trabalhar de saber bem conhecer todas estas cousas. «“ Capitulo xvj, que fala como os monteiros deuem saber conhecer os rastros hílus dos outros, e departillos de que animalias som. Ora pera mostrarmos que nom sabem em como aue- ram algúus mouimentos a conhecer estas cousas que aos monteiros compre de conhecer: diremos primeira- mente quaes som os rastros que se querem parecer huus com os outros, e des hi mostraremos que departi- mentos a antre hum e outro: e os rastros que se pa- 1. quequer. — 3-4. paresce. — 8. melhor. — 21. departidos. — 27. parescer. — 29. ha. Ur eo pe De pr 25 E j E “ + |: ' recer querem com o rastro do porco som estes: o do ceruo, e des hi o do bezerro: e estes rastros pera se po- derem conhecer cada hum de qual delles he, a mister que qualquer monteiro que queira saber aprazar, que conheça as formas e os talhos destes rastros, ca se os bem non conhecer, nunca pode saber bem aprazar. E os talhos destes rastros som estes, per que se podem conhecer. Primeiramente o rastro do porco he de mais fermoso talho, que nenhum outro daquelles que se com elle querem parecer: e he o talho que talha da ponta da unha ancho segundo sua grandeza, e das partes das paredes das unhas faz o talho igual, e a abertura das unhas som em bôa mesura, ca nom som muyto abertas, nem pouco, e as reelas que tem, som longas e arredadas e delgadas: e quando se mostra todo o rastro, passam pollas paredes de fora do começo da entrada do rastro hum pedaço: e esta forma e este talho a o rastro do porco. E o rastro do ceruo a as unhas longas e estreitas, e muyto mais abridas que as do porco: e quando talha da ponta da unha a terra, faz o talho muyto estreito, e o rastro quando bem parece, sempre mostra de si mais longura e estreiteza que o do porco: e as reelas que as poem em lugar, que todo o rastro pareça tambem das unhas de diante * como das reelas, sempre som alongadas da entrada do rastro, e as reelas juntas e curtas e grossas: e o talho quando o poem em terra, que se bem possa parecer, nom se ajuntam as reelas ao rastro com grande peça, ca tal talho he o do rastro do ceruo. E o do bezerro, ou boy que seia pequeno, este a as unhas dianteyras curtas, e 74 enarcadas, e o talho que talha da ponta da unha na N 1. com 0] ó. —3, conhescer, e assim neste cap. — 10. parescer, e assim neste cap. — 20. porco] glossa marginal, no texto corpo, — 24. ufias. — 30. dianteiras. . 7 siga ae terra, sempre he mais estreito dentro na abertura das unhas que descontra fora: e este talho que assi muyto estreito segundo sua grandeza que nenhum dos outros rastros, que de porcos ou de ceruos seiam: e das pa- redes de fora das unhas sempre corta muyto a terra: e as reelas quando as poem, sempre as poem em mais estreita largueza, que as das unhas dianteyras, e som assi grossas e curtas, como as do ceruo, e sempre bo- tas: e o abrimento das unhas dianteyras mais çarrado que o dos outros rastros, que fallamos: e desta guisa som as differenças dos outros rastros, e per ellas se pode conhecer cada hum de qual destas animalias he. Ainda todollos monteiros quiserom conhecer se o porco que aprazam, se era grande, se pequeno, e a cousa de que mais usarom a o saber, e em que se mais certifi- carom assi he, quando ueem que o rastro do porco he grande, logo dizem que he grande aquelle porco, que aquelle rastro fez: e esta he bõa speculaçom, porque nos mais sahe uerdade, mas nom em todos: ca muytos porcos acontece aos monteiros de achar, que som muy grandes de rastro, e som pequenos de corpos, e. outros que som pequenos dos rastros, e grandes dos corpos, e por tanto nom he esta esperiencia em todo uerdadeira. Ainda acontece aos monteiros outras cousas, das quaaes he esta hãa: quando acham a lama alta, que o porco pos, quando uay aleuantado de sobre alguas ramas, ou boynhos, ou outras cousas, logo di- zem por aquelle poer de lama que aquelle porco fez, que tambem he grande: e em este leixar da lama som muytas uezes os monteiros tambem enganados em no assi cuydarem, e deuemse guardar de assi cuydarem, 2. des contra — este talho] parece que faltam palavras, talvez deva completar-se: este talho que assi talha he muito mais es- treito. —q7. dianteiras — 19. sahe] sal. — 20. acontesce, e assim neste cap. — 26. aleuantado] alauayado — 27. ou (2.º)] o. E AR E, pe ' y q irado Ds CÍ A o tio a pes Aut a dei | o, à dá de o . É - As 4 Pres E E cnddide “bem io, e ça e ia a e E Ta Sin o CLà 8 à ME : E em gra b nfs 0o Estampa 1 S9JUOLI 0J10d op oJsey — -—- “eve e. —— - e o o A A] - - Co = z e e - O qu e um o o — "1 o — «us (99) e de o dizerem, ca ficariam em mingoa se a seu senhor *o dissessem. E tambem esso meesmo se faz aynda outra cousa, em que ja algúus monteiros ficarom enga- nados tambem em cuydar que o porco he grande: e esto he quando ucem em algum arbor a esfregadura do porco que he alta, e pensam algúus monteiros que he o porco grande, e tambem quando ueem a esfrega- dura baixa, cuydam que he o porco pequeno: e por sahirem destas duuidas, e saber a uerdade, deuem saber se he porco grande, se pequeno, e per cada hua dellas deuem fazer assi: primeiramente deuem conhecer pollos rastros se he porco grande, se pequeno. (Quando os monteiros assi acharem rastro grande, ou pequeno, porque em esta cousa se faz esta duuida que de susso dito auemos, façam assi: parem mentes aas passadas que o porco faz, e se uirem que o porco faz as passadas grandes, posto que o rastro seia pequeno, diga segura- mente que o porco he grande quanto de longo: e ainda que ueja o rastro que seia grande, se lhe uir as pas- sadas pequenas, sempre tenha que o porco he pequeno tambem de longo: ca sabudo he a todollos homéêes, que nunca o porco pequeno pode fazer as passadas longas, nem o grande de longo as passadas pequenas: e por esto he esta a mais certa esperiencia que se em esto pode achar, pera se os monteiros de tal cousa como esta fazerem certos. Em como quer que aa feitura deste liuro nos sabemos, muy poucos monteiros que em tal cousa como esta parassem mentes: e quando esta cousa quiserem olhar, ou medir, nom o deuem de medir nos primeiros dous sinaaes que o rastro mostra, mais aos tres sinaaes que per esta guisa som afigurados (1). Ainda se quiserem saber quantos palmos a o porco (!) Veja-se estampa 1, figura 1. t, ficaria, — 2. medesmo, —13. hacharem, — 14. suso, —31. sinays, — 100 — de longo, que nom fallecera, nem crecera tanto como nada, meçamlhe as passadas per palmos, quando o porco for em passo de boa mesura, e depois que o porco jouuer morto, e for tendido no chaão, meça so do foci- nho ata a ponta da unha do pee, e achara que o porco lhe crece mais hum terço daquello que medio nas passadas por esta guisa: se as passadas forem de seis palmos da entrada da primeira pegada ata a ponta das unhas, mais se de fora da inteira pegada * ouuer seis palmos, o porco auera noue, medindo assi como ja dito auemos, conuem a saber da rodela do focinho ata a unha da ponta do pee. E se quiserem saber se aquelle porco que leixou a lama, he grande de alto, parem mentes per que lugar entrou no monte, que assi leixou aquella lama: e se uirem que aquelle monte he espesso em tal guisa, que ao entrar que o porco entrou em elle, leuasse a lama entre as maãos: quando lhes per tal lugar acontecer, que uejam que uay a lama muy alta, nom pensem, que por lhes parecer assi a lama alta, que por aquello he o porco alto, ca muytas uezes acontece, que quando o porco uay aleuantado, que entra em hum monte, e ao entrar acertasse, que o lugar per que entra he espesso, e as ramas, ou boynhos, ou heruas segundo o monte he, som taaes que o porco as pode leuar ante os braços pollo passar que per cima dellas passa, e as tinge de lama que o porco leua ata as pontas dellas: e tanto que o porco passa, as ramas logo se tornam a aleuantar, assi como de antes estauam. E quando o monteiro uir que o porco entrou per tal lugar, nom se esfiuze muyto, que per tal leixar da lama alta, que o porco he alto, como esta dito, o que pode fazer o grande, como o pequeno. Mais quando quiserem conhecer 1. fallescerá. — 3. de] om, — mesure. — 6. cresce. — 17. lama ] rama. to [o] ! Es. a y TE AE DE o ts ESG. ay 4 aa peça, qto pas, 27 E A, AE ' E dá pe ço ai edad caga o E: a US AME ERA , ” cado 48) este porco que esta lama leixou alta, se he grande, nom pare mentes em os lugares espessos, assi como dito auemos, que se esta cousa pode fazer, mais pare men- tes em lugares que seiam de carreiros limpos, e de tal anchura que o porco nom possa meter a rama antre as maãos: e quando em tal lugar o leixamento da lama uir alta posta nas ramas, entom seia certo, e pode dizer que o porco he alto, que assi aquella lama leixou, e desta guisa se pode certificar, e sahir de tal duuida. E se quiserem saber polla esfregadura, se he o porco grande, se pequeno, e quanto a de alto, em como ja dito auemos, parem mentes ao rastro alli onde se esfregou, e se uirem que o rastro mostra as pontas das unhas metidas polla terra, mais que de traz das reelas, en- tenda que o porco se leuantou nas maãos por esfregar a cabeça, e por aquella cousa tenha que o porco nom he alto, posto que a esfregadura * alta seia, e com todo esto concordando com o rastro, e com.as passadas pera ueer se he grande, ou pequeno: ca se lhe parecessem as passadas curtas, e o rastro pequeno, com este sinal das unhas que dito auemos, nunca tenha que o porco he alto: e se uir a esfregadura baixa, e quiser saber se aquelle porco que a fez, he grande ou pequeno, pare mentes a tambem ao rastro: e se uir que o rastro se faz como encostado, e o rastro for grande, e as passa- das compridas, posto que a esfregadura a tambem seia baixa, nom tenha que o porço he pequeno: ca muytas uezes acontece ao porco, posto que seia grande, de lhe — proir em cima do espinhaço, e por aquelle proido, porque 9 se nom pode coçar todo direito, se abaixa do corpo tam — muyto, que a esfregadura parece pequena: e porem nom O deuem os monteiros de teer que he pequeno, senom 9. sair. — 11. a] om. — 19. piqueno, — 23. parem, — 27. piqueno, -— 29. espinaço, 77 Loans 457 Atua quando uirem o rastro sem encostadura, e a tambem seer pequeno, e as passadas curtas, que quando estas cou- sas hi som, forçado he de o porco seer pequeno. E aynda quiserom os monteiros mais saber, ca quiserom saber se eram porcos, se porcas, o que leuauam, e forom parando mentes nas cousas que os porcos faziam: e uirom em como as porcas andam sempre juntas por se melhor po- derem defender: e como os porcos pollas suas armas, com que se defendem, que polla sua fortaleza e defen- som, andam sempre apartados, por esto disserom os primeiros que a esto catarom, e uirom, que em todollos lugares que fossem, em que muytos rastros ouuessem, sempre disseram que eram porcas, a hum rastro soo que era porco, e assi dizem ainda agora os monteiros, e em no dizer nom erram em ello, e nos assi o auemos a dizer com elles. Mais a hi algúus tempos no anno, em que os porcos andam juntos com as porcas, e estes tempos se repartem em dous tempos, ca hum he em que os porcos ajuntados com as porcas toda a noite, ou a metade, e des a metade leixamnas: e outro tempo a hi, que an- dam com ellas, e nunca as leixam nem de noite, nem de dia: e por este ajuntamento, quando assi andam, ouue- rom grande departimento antre si os monteiros em como . poderiam saber, ou conhecer, quando uissem grande banda de rastros todos juntos, se a antre elles porco: e as cousas que determinarom pera o poderem saber forom estas que se seguem. A primeira he, quando o. porco assi anda com as porcas no primeiro tempo da * caualgaçom, a de sua propriedade e natureza, que com o ceume e Draueza que em si traz, que amassa com as. maãos de sobre algúa mouta pequena, e da escuma que | | 13. disserem. — 19. ajuntados! [andam] ajuntados. — 21. nem (1.º)] emendado. — 25. entre. — 28. tempo primeiro. — 103 — lança da boca enche todallas ramas: e quando os mon- teiros uirem este sinal, digam que porco he aquelle que aquello fez, ca assi o tiuerom os monteiros que dante nos forom. A segunda cousa per que os monteiros sou- berom quando ueem muytos rastros juntos, se uay hi algum porco, ou porcos, he esta, que os porcos fazem, quando assi andam com as porcas: se uaam dous porcos com ellas, e hum he mais forte que o outro, e lhe nom quer consentir que se achegue as porcas, e quando se quer chegar, logo sahe fora das porcas com que uay, escontra o outro porco, que se assi quer chegar as por- cas, e logo parece nos rastros quando esto fazem: ca logo o monteiro uem, se o lugar for tal, em que possa enxergar os rastros, quando acha o rastro estremado, e que uay escontra o outro, e se torna a banda das porcas, e o outro rastro uay afastado das porcas, bem podem dizer que porcos som os que uaam com aquellas porcas, que assi leua. Ainda pararom mentes os mon- teiros, quando uaam per algua banda de porcas em no primeiro tempo, que os porcos andam com as porcas, se uem que uay antre ellas algum rastro que grande seia, se se aparta das porcas a entrada do monte, logo digam que he porco, porque as porcas nunca se apar- tam em tal tempo das outras porcas. E os porcos no primeiro tempo em que andam com as porcas, nunca seem com ellas, ca os porcos nunca seem junto com as porcas senom no mes de novembro, dezembro, e ja- neiro, e em estes meses seem com ellas, ou mais cedo, ou mais tarde, segundo os tempos fazem : ca se o tempo começa a seer mais cedo frio, tanto se assentam mais cedo com ellas: e se mais tarde, entom se assentam 1. henche, — 10 sahe) sal, — 22, a entrada do monte das por- cas. 79 com ellas mais tarde: e assi o tempo frio os faz assen- tar com as porcas: e em outro tempo que quente seia, nunca se assentam com ellas: e por esto no primeiro tempo, que os porcos começam a andar com as porcas, que he no mes de setembro, que he ainda quente, se uir que se lhe aparta o rastro a entrada do monte, como ja dito auemos, logo diga que he porco, e nom no diga no tempo de dezembro ata a Pascoa, posto que ueja algum rastro apartar da banda das porcas se as leuar, ca em este tempo som as porcas prenhes, e acontece de se apartarem a parir, e * por esto leixam as outras como uaam: e se o monteiro por tal apartamento em tal tempo dissesse que tinha porco, poderiaficar em fali- mento de nom seer uerdade aquello que assi diria, de mais os que bôos monteiros fossem, entenderiam, e di- riam que falleceria em saber, em aquello que denis E algãus monteiros a hi, que dizem que no rastro conhecem se he porco, ou porca, aquelle que fez aquelle rastro: mais esto quem o disser, mentira sempre, ca nom esta em razom, que se possa conhecer se he porca ou porco, senom per esta guisa que ueemos dizendo. E ainda per outra cousa se conhece, ca se o monteiro topar na cca, nom leixara polla cea, se for em tempo de foça, de conhecer se he porco, ou porca, posto que a porca ande soo, e esto he polla foçadura, porque todallas porcas de sua propriedade am a rodela do fo- cinho mais estreita que o porco, e quando foça, nunca foça senom muy baixo a face da terra, e nom em de- reito, mais em reuoltas: e o porco sempre a a rodela ancha, e a foçadura faz muy ancha e profunda: e esto o podem aynda os monteiros conhecer: e quando ui- 8. vejam. — 15. entendiriam. — 16. fallesceria. — 20, está. — 21. vehemos. rn CT E SS rr é ni , : q dolo , dt | ” ' í , Et. h b ) k é ! —" To5 — ” rem esta cea, tambem podem dizer se he porco, ou porca, que assi teuer a rodela ancha, e a foçadura faz alta, sempre he de porco: e o que tem a rodela estreita, e a foçadura baixa, e em reuoltas, sempre he de por- cas, em como de susso dissemos. E podem dizer os monteiros sem errar so as forças destas esperiencias, se he porco, se porca, o que teuer aprazado quando lhe tal sinal uir. Capitulo xvij, como se deue conhecer de que horas he aquelle rastro que uee pollas fresquidoões das terras, das heruas, e outras cousas. Compre ainda muyto ao monteiro conhecer de que horas he o rastro que achou: este conhecer de que horas he, he muy maao em no homem poder dar a conhecer em escritura aquelles que daprender quise- rem: ca assi como na phisica a algúus fruxos que se nom podem ensinar por escritura, e quando se demostram aos que querem daprender de tal sciencia, sempre lhos mostram, e lhos dam a conhecer pro- uendoos, dizendolhes este fruxo que tal color ouuer he mortal, e doutra guisa lho nom * podem mostrar, ca em escreuendo non1 lhe poderiam poer a color. E bem assi nos rastros nom pode nenhum monteiro poer por escrito as fresquidoões, nem as sequidoões que fazem sobre a terra, e na herua, e nos paaos que quebra, quando passa por encima delles, e nas outras cousas, em que se os rastros podem conhecer : ca mais 5. suso, — 6, so texto, sob glossa marginal, — q. conhescer, e — assim neste cap. — 10. he] om. — 15. deprender. — 18. deprender, — 25, paãos. 8o == [60 — se mostra polla uista aos que daprendem, que polla poer por escrito: mais como quer que assi seia, todauia nos nom o leixaremos de o poer o melhor que pudermos em este liuro, ca se as aqui nom posessemos, teriamos que ficaria a escritura delle minguada, e porem o mos- traremos o melhor que o podermos mostrar: e os que por este liuro nom poderem uir a perfeiçom, de em esto poderem conhecer, fiquelhes a o saberem por esperi- encia, em que se demostra melhor que por escrito. Ora assi em conhecer os rastros de que horas som, poderiam dizer alguus, a que poderia este conhecer dos rastros prestar aos monteiros, em nos saberem conhe- cer aquelles que aprazom: ca pois que os monteiros que aprazam, am de aprazar com os sabuios, que lhes am de cheirar o porco, nom lhes deuia a fazer muyto sa- ber de qual hora era, ou nom: ca se lho o sabuio cheirar, aprazalo am, e se o nom cheirar, nom o pode- riam aprazar, pois que o aprazar esta no sabuio, nom lhe montaria mais saber de qual hora he o rastro, que de o nom saber. A esta pregunta se responde, que este conhecer dos rastros he a tanto de necessidade aos monteiros a o sáberem bem conhecer, que se os bem nom conhecerem, nunca poderam seer bõos apra- zadores, se bôos quiserem seer: ca o que ouuer de apra- zar, nom deue andar por nenhum porco, senom por aquelle que for da manhãa, ca das outras horas, se por elle andasse, filharia grande trabalho, ca a potima nom o poderia aprazar,' posto que o seu tambem cheire, como ja dito auemos: ca em como quer que algúus monteiros se acertassem de aprazar algúus porcos, que fossem de seraão quando os achassem: pero de certo 1. deprendem. — 3. milhor. — 5. del. — 9. milhor. — 10. hora. — 15. a afazer. —18, está. —25.a potima]? — 26. manham, e assim neste cap. Ma Si jã l a “mM a. E O VB NAS PGE EEE TEIA EO PSD PAD Omi po ) Tdanes esta que todos, ou os demais nunca se aprazom. E por o monteiro nom errar em esto, por tanto lhe he neces- sario conhecer o rastro de que hora he, por tal que se de seraão for, que nom ande mais por elle, posto que lhe o seu caão cheire: e ainda lhe aproueita mais este conhecer de que horas he o rastro, ca acontece que alguus monteiros acham algum porco, e am sabor de irem per elle per olho, e se nom fosse da manhãa, nunca poderiam bem aprazar. E pera saber se he da manhãa, ou nom, nunca o pode saber, senom pollo saber: por estes dous proueitos, a que o conhecer he com- pridouro, se parte * em duas partes, a hãa he aprazar com os sabuios, e a outra he quando querem aprazar per olho: e pera este conhecer, que aos monteiros compre conhecer, quando quiserem aprazar com o sa- buio, he de necessidade que tenham estes principios. Primeiramente conhecer, e saber em qual guisa lhe cheira o seu sabuio o porco, que he de manhãa, que differença faz entre o cheiro do porco que uay de ma- nhãa, pera o que uay do seraão: ca non a hi tam bõo sabuio no mundo, que nom faça departimento antre o cheirar do porco que uay da manhãa pera o que uay do seraão: e pera esto o monteiro conhecer, ligeiro lhe he o conhecer, com tanto que elle seia de bõo entendi- mento, ca se ouuer usado o seu sabuio, e prouado em estes rastros, e as uezes no da manhãa, e as uezes no do seraão, se bem parar mentes, e for tal em como ante dissemos, logo bem podera uer, e em uendo en- tender, que departimento lhe faz o sabuio que traz, de que guisa lhe cheira o porco que assi uay de manhãa, do que uay do seraão. E ainda com esto saber bem conhecer, de que guisa lhe cheira o porco que uay de — 5. can. — 6. acontesce, — 21. de partimento. — 24. el. — 28, an- tes. 81 mermo no TOO “es manhãa, do que uay do seraão, ha mister o monteiro que seia sabedor e auisado, sabedor em saber estas cousas que adiante diremos, e auisado que a tanto que estas cousas achar, que a tam toste se nembre do que sobre esto a de fazer. Ora de conhecer de que horas he o porco, per que assi quer andar, se he da manhãa, ou nom, nom se conhece senom pollas fresquidoões da terra, e dos paaos que quebra, e do talho das her- uas, e do passar das aguas, e do tirar do orualho, e esto em como se conhece, como ja dissemos, que era muy maao de se poer em escrito. E porem di- zemos com o propheta Jeremias, que dezia, aa, aa Senhor Deus, que paruo som eu, e nom sey o que diga. E nos esto dizemos em esto que queremos escreuer, ca tanto nos he forte, que a memoria e a imaginatiua nos teme, € à maao nos enfraquece com temor de nom po- dermos poer por escrito, per que guisa se possa enten- der, em tal guisa que traga fruto de ensino aos que quiserem daprender: e porem dizemos que melhor nos seria de calar, ca em esto falarmos: mais que assi sela, moue a piedade daquelles que querem daprender, forçanos o amor que a este joguo auemos, e dizemos, em nossa ajuda uem tu Spiritu Santo nosso senhor, que es aquelle que as linguas desuairadas das muytas gentes em húa fee ajuntaste, uem, e ajudame em esta pequena obra, ca sem o teu esforço nom posso fazer nada, a uir a mostrar em como poderam conhecer esta fresquidom, que se faz na terra * pollo talho da unha do porco que em ella faz. Saibam os que esto quiserem da- Ea RR e prender que esta fresquidom nom lhe pode ser conhe-: 30 cida a sua differença que jasida he, senom polla guisa 4. membre. — 5. hora. — 7. conhosce. — 8. paãos. —ro. conhos- ce. — 13. som] so texto, son glossa marginal. —19. deprender. — 21. deprender. — 22. jogo. — 29-30. deprender. + "a nda des pude, Game Gees va | | | — 109 — que parece húa ferida de húa enxada, ou de hum paao, ou de outra cousa qualquer que seia, que fira na terra: ca logo parece em aquella ferida, quando se da aquella fresquidom que faz do arrancamento da terra, e da sua molidom que fica, e esta fresquidom nom he senom porque o ar nom a tange, e quando por espaço esta pollo ar que a corrompe, logo a faz parecer seca, e tirada daquela molidom, que ella de si mostra, a qual a de sua natureza: ora esto meesmo fazem os ras- tros, que aquelle que he da manhãa logo se mostra desta meesma fresquidom, pollo talho que a unha ta- lhou: e se de seraão he, ou de alta noite, de que horas he, de mais, ou de menos, assi parece a sequidom em elle, e estremadamente na terra que leuanta a unha, seia da borda da unha, ou das pontas, ca logo parece polla sua delgadeza a sequidom delle, se de alta noite he: e quando os monteiros assi uirem esta terra seca, ou mais, ou menos, segundo seu estimar, podem dizer que de taaes horas he aquelle porco : e se uirem aquella fresquidom, e que essa terra assi abalada nom seia seca, digam que he da manhãa, ca ella he a tam sotil, que nom pode muyto estar que se nom mostre seca, senom se for pollas cousas que depois diremos, dos tempos que fazem os rastros trasnoitados parecer da manhãa, e os da manhãa parecer trasnoitados. E ainda a hi outra cousa per que se conhece esta fresquidom deste rastro, e he esta; todo rastro de porco que he da ma- nhãa, a toda a talhadura chãa, e muyto nedea, e se he de alta noite, toda se faz como se fosse pontas desponja, ou como poo, ou cousa que seia poenta: e esto he nos rastros dos porcos, ca nos dos ussos he pollo contrairo: 2. feira. —7. ar glossa marginal, er texto — está, — q. natura- leza — hora — medesmo. — 11. medesma, — 24. tresnoitados. — 25. tresnoitados, — 38. chaa. — 29. pontas] portas. — 31. Usos, — ar mm ams TT (mo ca todo rastro de usso que ua per carreyro, ou per lu- gar que seia de molidom seca, todo o que he de ma- nhãa, he todo assi aleuantado como em maneyra de. espongidom, assi como dissemos que tinha o rastro do porco que era-trasnoitado: e o rastro do usso que for trasnoitado, he todo chaão, e nom tem daquello nenhúa cousa. E podiamuos dizer algúus, porque se fazia esta cousa, que o do porco que era de manhãa era chaão, e o do usso quando he de manhãa esponjento, e o do porco “do seraão esponjento, e o rastro do usso que uay do seraão, ser todo chaão: a esto dizemos que se faz por esto: a terra, de sua natureza, sempre quer ser igual em sua igualdade, ou quando o nom he, nom o he senom per algúa ujolencia, que lhe he feita per algua força: e quando esta força assi he * feita, a terra por a sua pro- priedade, que a da natureza, logo a quer correger, assi em como bem ueedes que se faz, que se algua terra he motada, assi como de algum ualado, ou de outra cousa semelhante, se por longo tempo esta a terra, per sua | direyta natureza, O faz tornar chaão: e esto meesmo, se algua cousa he feita em algum chaão, ella per si meesma tambem, se per longo tempo esta, se tapa, e se torna a sua primeyra natureza, na qual ella sempre de- zeja de seer. E por esto se faz esto nos rastros, que quando o porco que tem a maão chãa preme sobre a terra, fica a terra cauada, e dentro na concauidade praina: e a terra quando se quer tornar a sua natureza por encher aquella uaguidom, que lhe foi feita da unha do porco, tanto que he o tempo longo, logo começa a criar aquelle poo pera comprir, e encher aquella uaga, e pera esto encher se mostra o rastro do porco 1. Uso. — 9. do (2.º)] om. — 13. ou glossa marginal, ó texto. — 16. á texto, ha glossa marginal. — 19. está. — 20. naturaleza — iMmedesmo. — 22. mesma — está. — 25. chan Lose — 20. come- çam. — 30. hencher. — 31. hencher. 10 20 + SS] (o) 25 + Seed) ACTA É Merten ia” -. aê FO Ra Vip a is a 8-1] -.=> de seraão esponjoso, e o da manhãa se mostra chaão, porque nom ouue ainda tempo pera encher aquella uaguidom. E do usso he pollo contrairo, ca bem sabem todollos monteiros, que o usso tem as maãos graçosas, e quando as poem na terra, ou em poo que seia molle, logo aquellas gretas ficam cheas de poo, e o poo fica aleuantado, e porem parece o da manhãa assi espon- joso e aleuantado, porque a terra nom ouue ainda es- paço pera abaixar aquellas leuantaduras, que assi foram feitas, e tornalas a sua natureza meesma. E aquelle que de seraão he, faz em elle aquello que he de sua natureza aquelles leuantamentos, que o rastro fez pollas suas gra. cidoões, fazeos tornar chaãos: ca estes esponjimentos som a tam sotys, que do espaço do começo da noite ata a manhãa, a terra faz em elle sua obra de a fazer tornar chãa, e por esto se faz esta cousa. A hi outra cousa, que ainda faz estes rastros mostrar da manhãa, e estes som os orualhos que sempre cahem de noyte, e des que he dia, nom cahe orualho, senom se he polla ne- uoa, que he grossa, e uem com augas meudas: por ende quando algum monteiro achar algum porco que ua desorualhado, entom seia bem seguro, que aquelle porco he de manhãa. Mais pera isto ainda hi a hãa contrariedade, de que se os monteiros deuem de guar- dar, e he esta: muytas uezes acontece, que parece toda a herua por onde o porco passou, toda desorua- lhada, e nom leixa por ende o porco de seer de alta noite, e de como se esta cousa faz, he per esta guisa. Muytas uezes acontece, e demais no tempo de ueraão, que as heruas som grandes, e na noyte orualhou logo ao seraão, ou a mea noite, e o porco depois passou per alli, e tirou todo aquelle orualho: e logo a tanto 2. hencher. — 7. e] om. — 10. mesma. — 15. faz em] fazen. — 16, á texto, ha glossa marginal, —18. caem, —19. cae. — 20. aguas, Caneca O ara que elle passou, ou depois na manhãa orualhou, e ora pollo orualho que o porco sacodio das heruas por onde: 84 *foy, ficou mais pouco, que o outro que jaz por todo o campo, posto que o outro orualho cahisse depois que elle per ali passasse. E por tanto muytas uezes se faz 5 aos monteiros, quando se desta cousa nom guardam, E que lhes parece desorualhado, e que lhes uay da ma- nhãa, e esto nom lho faz cuydar senom porque pa- rece mais pouco orualho, por onde o porco passou, que por todo outro campo: e pera esto nom errarem, 10 e saberem que este porco, que assi foy, he da manhãa, ou de alta noite, parem mentes em aquella herua, que lhe assi parece desorualhada, e se uir que as heruas tem orualho nas pontas, tenham que he de alta noite, e que nom he da manhãa: ca esto que dissemos que 15 tem o orualho nas pontas, he porque todollos orualhos + quando cahem, sempre começam nas pontas das heruas, nos meos, e nas rayzes nom, saluo se o orualho he tanto que comprehende todo: e por esto dissemos, que parassem mentes, se o orualho o tinha nas pontas, ca 50 toda herua que o assi tem, nunca podera ser da ma- nhãa. A hi outra cousa, em que tambem se mostram as fresquidoões, esto he a talhadura da herua que o porco trilha, que se mostra ser mais fresca, ou mais seca: e a mais uerde, e a mais seca se faz conhecer 45 aos monteiros por esta guisa: quando elle he da ma- a ed Pa Er dm * e = SP = se ET 2 + a o à > a e PRE SA RE Pato e acid A ia age E Ta is à =» emeecas . a sa eres Ss = seo E PE TAS eo MEN id UE ed - - asd a do ps “ o > A E seo o e! o. Es e SERIA O om O o O ni = cus o va » pn = , po E nO pao ab nhãa, logo esta herua, que assi esta trilhada, esta com :ú ' . . +88 toda sua força, em demostramento de sua uirelidom, e :R parece que esta uerdura tem ainda o cumo em si: e j quando he da alta noite, ou de alto seraão, logo parece 30 : » | que he negra, em escuridom de sua uerdura, assi como A: aquella cousa que he enferma, ou se quer secar. E I- | 4 1, hora. — 17. caem. — 23. À texto, ha glossa marginal. — E 27. esta (2.º e 3.º)] está. dy A a + E rEaró Te Es Sa ra pe quo Ta. medos Pro a ] sy qu emp ps 1 é it Mi me ço gp ço NS a . h EJ Fi 1 o ãe / tm to 15 | — 113 — por ende quando os monteiros uirem que he toda uerde, e çumarenta, tenham que he da manhãa, e se a uirem negra, ou do sequidom, tenham que he de alta noite, ou de seraão, ou demais, ou de menos, segundo elles poderem osmar. Ainda em nas heruas se podem mostrar alguas cousas, se o porco he da manhãa, ou nom, posto que nellas nom caya orualho, e que seiam ainda a tam secas assi como no tempo do estio, ou do ou- tono, que nom podem mostrar a sua fresquidom polla mingoa da sua uerdura, quando a o porco talha com a unha: e a cousa em que se esto mostra, he esta per que se sabe: parem mentes todollos monteiros, que quando o porco for por herua seca, que nom tenha orualho, que nom possa de si mostrar uerdidom, que se uirem, que a o porco abaixou com as unhas, e esta toda baixa, e assessegada em aquelle lugar donde o porco a baixou: e esto ser assi em toda, ou em a mayor parte della, que assi foy abaixada, * logo tenham que he da manhãa: e se a acharem toda, ou a demais aleuantada em sua alteza, assi como deue de seer, que o porco he de alta noite: ca sabudo he a todos, que quando algúa herua he assi abaixada pollo porco que per ella passa, que se longo tempo esta, que logo torna assi a seer como dantes era: e per esta guisa julgam todollos monteiros, se he da manhãa, se do seraão. Ainda na cousa que dissemos que a tambem se mostrauam as fresquidoões de que horas eram: ora quando se esta cousa mostra no passamento das aguas, que os porcos per ellas pas- sam, a uer se he da mankãa, ou nom, parem mentes os monteiros, se esta agua esta enuolta, demais se for corrente, e se uirem que a agua esta enuolta, digam que o porco he da manhãa, e se a acharem declarada, di- 4. do] de. — 5. osmar] omar — pode. — 6. da] de. — 15. está, — 18, da] de. — 27. ora] hora. — 28. aguas, assim neste cap. — Jo. Us ig abolta, — 31. abolta, 85 86 — 114 — gam que he de alta noite. Mais acontece de sobre esto algúas duuidas, que se esta agua corre per algua area, de tal guisa, que de hum cabo, nem doutro nom a lama, e a tanto que o porco per alli passa, fica a agua em sua claridade, que nom pode mostrar o toruamento em si. E seo monteiro a esto tiuesse mentes, e em esto nom fosse auisado poderia ficar enganado, pensando que porque a agua era clara, per que o porco passara, que era de alta noite: e por ende se se desta cousa quiser. guardar, e seer certo se he assi, ounom, pare mentes da outra parte por onde o porco passa, e se entrar per her- bas, ou per outro lugar que assi seia espesso, se as her- uas, ou o mato ficarem molhados das aguas, per que pas- sou, e se as achar molhadas tenha que he da manhãa: e se as nom achar molhadas, concordando com o cheirar do seu sabuio, nom lhe cheirando, entom tenha que lhe nom he da manhãa, e que he de alta noite, e entom se podera certificar que nom he da manhãa. Ainda hi a outra cousa, em que se conhece a fresquidom do porco que uay da manhãa, e he esta, que se quer pa- recer com o passamento das aguas, que se se algum porco lança em algum lauaio, e depois que de tal sahe, entra por algum lugar espesso, e aquella agua que uay enuolta no barro, que fica em sua molidom, ou demais, “se escorre pollas folhas, ou pollos paaos, quando o monteiro uir esta tal cousa, logo entenda que he da manhãa: e quando acontecer que esta agua assi en- uolta se tenha pollo contrairo, assi como dissemos que se tenha sobre as folhas, ou sobre os paaos, demais se se mostra em ella algum apartamento de sequidom, logo tenha que he de alta noite, ou de seraão. * Ainda disse- mos que se mostrauam estas fresquidoões nos paaos, 19. conhesce, e assim neste cap. — 20. da] de, — 22, sahe] sal, 27. acontescer. — 31. tenham. im 115 — quando o porco por cima delles passa, e estas fresqui- doões se mostram per duas guisas. A primeira he assi nos paaos uerdes, a segunda he nos paaos secos : e de como se mostra nos paaos uerdes he per esta guisa. Quando o porco passa per cima de algum paao uerde, ou o quebra, ou lhe tira a casca, e quando assi acon- tece, que este porco poem o pee sobre este paao, e se a dps fica indo: ua o a ida Pen se conhece per aquella guisa que dissemos do trilhar das heruas, ca polla sua uerdidom quando a casca fica uerde, se mostra que he da manhãa, e quando acontece que esta casca assi he tirada, que se mostra que he negra, ou seca, assi como se faz no trilhar das heruas, entom se mostra que he do seraão, ou de alta noite: e quando assi acontece que este porco poem o pee sobre este paao uerde, e o quebra todo, os paaos que uerdes som, e se querem secar, mostram a quebradura branca . quando som frescos, e quando som de alta noite mos- tram a quebradura amarela, e tirada da sua color toda. E a segunda, quando passa por paaos secos, e os que- bra, se mostra per esta guisa, e esto he, que todollos paaos quando se querem secar, mostramse mais bran- cos, que o que dantes eram: e se acontecer que este paao que assi quebrou, he seco, ainda faz nelle outra de- monstrança, ca bem dissemos que os paaos, quando eram uerdes, e se queriam secar, mostrauam de si branqui- dom, e os paaos secos que ja tem esta branquidom da secura, quando assi som quebrados, logo tornam aquella quebradura amarela pollo ar que lhes da, quando he de seraão, ou de alta noite. É assi quando os montei- ros uirem estes sinaaes em estes paaos secos, aquelles que nos dissemos que se assi mostrauam brancos, tenham que som da manhãa, e os outros que se mos- 4. he om. — per esta]. — desta, — 29. ar) o ar, 87 Ê 116 — trauam amarelos, tenham que som trasnoitados, ou de . alta noite. Ainda mais dissemos, que se conheciam pollas pedras por que o porco passaua: e este conhe- cimento he em duas guisas, ou em mouer as pedras, ou em as quebrar. E esto he assi, quando se aballa a pe- dra, que fica a terra do assentamento da pedra fresca, assi como antes dissemos na primeira cousa em que falamos das fresquidoões da terra, e por aquella fres- quidom podem os monteiros conhecer se he da manhãa, ou nom, segundo dito auemos. (Ora quando acontece que o porco poem o pee sobre pedra que seia pequena, e a moue, ella de si mostra a fresquidom, assi como outra terra que de nouo seia mouida: e por esta podem os monteiros conhecer se he da manhãa, ou de alta noite. E se * acontece que a pedra se torna em poo, assi como acontece no tempo do estio, que o porco he grande, e grosso, quando se assi acerta que o porco poem o pee em ella, e a pedra he caliça, logo se des- faz toda em poo: a esto podem tambem parar mentes todollos monteiros, e uejam que mostra faz, que ou o poo jara todo assessegado, ou sera todo derramado, ou parte delle: e se for derramado todo, ou a mayor parte delle, e que o tempo seia amoroso, tenham que este porco nom he da manhãa, mais se uirem que o poo sera bem meudo assi como a cal uirgem, e que jaz todo assessegado alli onde o porco britou a pedra, e a faz uoluer em põo, entom tenham que he da manhãa aquelle porco: e per esta guisa se conhecem as fresqui- doões que dissemos, que se mostrauam de sobre as pedras. E posto que nos assi estas cousas das fresqui- doões uiessemos escreuendo, pera amostrarmos aos que quisesem daprender, pero nos nom podemos dizer de 10. Ora] hora. —21. jara] jazera glossa marginal. — 26. assesse- gado. — 27. tenha, — 32. deprender. 15 20 25 30 ' ' A ! a dd a a À pd à E MR, Toei al td bd a 5 esa CE Ca o Sá 2 s a a Ç o ' =p O E RSRDETA ve Ipem is GER PI a nos assi como disse Moyses de nosso Senhor Deus, que diz que uio que todallas obras, que fizera, que eranr bem feitas : e nos nom podemos dizer esto por esta escri- tura das fresquidoões que escreuemos: ca tanto he grande cousa de o homem poder poer em escrito, que nom somos ousado em nos em o podermos cuydar que uay bom. E porem rogamos a todollos monteiros que agora som, e aos que depois uierem, que em esto me- lhor souberem, que glossem sobre ello: ca os empera- dores romanos fizerom as leyes, e porem nom deixou o doutor Acursio de glossar ainda sobre ellas, e o Bardo nom leixou de sobre ellas muytas lecturas de fazer. E porem uos companheiros nom leixedes de fazer que quanto for milhor feita, tanto sera mais pro- ueitosa a obra. Er Capitulo xvitj, das cousas que aos tempos fazem, que nom possam os monteiros conhecer de que horas he o rastro que querem aprazar. Em a parte que dissemos ante que o monteiro pollo cheirar do seu sabuio prouando hora de hum rastro no outro, e que por esto podia saber de que horas era, em como quer que assi seia, a hi algúas cousas que os tempos muytas uezes fazem aos sabuios fazer, per que os monteiros som em si meesmos enganados por este cheirar do sabuio: ca acontece que o monteiro acha hum * rastro de porco, que uay da manhãa, e quando o assi acha, aquelle lugar em que o assi acha, he de campo, e este campo he sem herua, como se faz no ueraão, que ficam os campos sem herua, por a terra 1. Moysen. — 2. que uio entrelinha. —11. glosar, —14. melhor, —17. conhescer, e assim neste cap. — 24. mesmos, — 25. acontesce. ama [ES —— seer tal que de si nom seia de muyta herua, e polla quentura a perde, ca muytas terras som de tal guisa, que quando o estio he, que em ella nom fica cousa de herua que de contar seia, e esto meesmo faz quando se aleuantam os paães, e os lauradores metem os gados 5 sobre as resteuas, muytas uezes ficam tam sem palha, “Sem herua, que nom a hi outra cousa de herua que de nada seia, senom solamente o chaão: e € esto meesmo se faz nos alqueiues, que os demais som se sem semelhante, se lhe o uento uem de tras das costas, ou atraues do rastro, nunca o sabuio pode bem cheirar o porco, posto que lhe o porco uaa muyto da manhãa. Ainda se fazem outras cousas, que a tambem embargam que acontece nos tempos de inuerno, que uay o porco da manhãa, e acontece cair tanta neue, ou geada em na manhãa que acrecenta o rastro, que os sabuios nom o cheiram daquella guisa, que soem a cheirar o porco, que estes embargos nom tem. Ainda hi a ou- 20 trá cousa que he grande embargo, que he bem certo que quando correr soam, em no primeiro dia nunca tenham mentes os montejros,.queos.seus-caães. tam- bem possam cheirar o porco, como o cheiram nos dias que o nom correr. E quando assi acontece que 25 o monteiro topar em no porco, que lhe pareça que uay da manhãa, e esto pollas cousas que ja dissemos, e lhe o seu caão nom cheirar, e tambem em como lhe sooe de cheirar quando a taaes embargos nom a, nom deue logo a cuydar que aquelle'porco nom he da manhãa, 30 mais deue concordar o que lhe parece do rastro, que 1. de si] entrelinha. — 4, meesmo] medes texto, mesmo gilossa marginal, — 5. paãos. — 9. medes. — 12. a traves. — 13. da] de. —15. da] de. —18, acrescenta. — 23. soam] soão vento glossa mar- ginal. — 27. da] de. — 28, cam. ; ret laih fone Onda dc a ca sd O herua: e quando assi acham em tal lugar, ou em outro. 10. os sabuios a bem cheirar o porco que for da manhãa, 15 E) E RES ZTEE — E TEEN prado Sao o E nd “ nt A f PR, y. rem E ft E24 4 Ea p. 4 . i É | | b b — 10 — assi parece que uay da manhãa, com o nom cheirar bem do seu sabuio, e ueer qual delles lhe he mais uer- dadeiro, e podeo fazer per tal guisa. Quando o mon- teiro achar o porco em tal lugar, que seia sem herua, polla guisa, que ja escreuemos pera o saber, se lhe leixa o sabuio de cheirar polla mingoa de nom seer da manhãa, ou pollo lugar seer sem herua, faça em esta guisa : logo que lhe o sabuio nom quiser em tal lugar cheirar o porco, e lhe o rastro parecer que uay da manhãa, afastese logo delle, e nom faça muyto pollo fazer chei-. rar ao £ sabuio em tal lugar, ca nom lhe he prol de nada afanando muyto por elle, ca se muyto afanasse andando por elle, cansarlhe ia o sabuio, e se o depois achasse com afan, nom o poderia cheirar bem, e des que se assi fizer a fora, e nom souber o monte, em que o porco com aguisado possa seer, entom de a trauessa por aquella parte que entender que he mais de aguisado que aquelle porco de razom aueria de seer, e quando a assi ouuer de dar, faça muyto que a de sempre em lugares, que seiam de monte, ou de herua, em que possa teer em si o cheiro do porco, E se o sabuio no espesso bem cheirar, tenha que uay da manhãa: e se uir que lhe uem o uento atraues do rastro, e que por esso lhe nom cheira bem, entom lhe nom pode fazer milhor, que de ir per olho ata que o rastro se uolua per outra parte, em tal guisa que nom uenha atraues do uento, ou dar trauessa per algum outro lugar que seia espesso, assi em como antes dissemos: e se lhe o sabuio bem cheirar em tal lugar assi em como o faz aos outros porcos que nom som duuidosos em serem da manhãa, e entom com esto pode seer certo que he da manhãa assi como lhe a elle pareceo: ca se o sabuio 1. paresce. — 2. seu entrelinha. —12, el. — 13. el. — 22. da] de, 27. do] o. — 32, el, 89 — 120 — he bõo, e nom cheira o porco no monte, se elle errou tal porco, non tenha o monteiro que uay da manhãa, ca o lugar em que milhor os sabuios cheiram o porco, assi he nos lugares que som espessos do monte, ou de heruas, com tanto que seiam uerdes: e quando lhe nom cheirar bem, tenha que nom he da manhãa. Outrosi se o monteiro que apraza, achasse o porco em tal lugar que caysse muyta geada, ou muyta neue em na manhãa de sobre O rastro, e o rastro assi fosse frio em tal guisa, que o sabuio nom quer cheirar polla neue, ou geada, que sobre elle cahio: e outrosi pollas cousas que ja antes dissemos, em que se poderia conhecer, e per ellas lhe parecesse que uay da manhãa, e quiser sair de tal duuida, leixe de andar naquelle lugar, e de a trauessa per lugares que uir que som mais sem gea- das, ou em que nom cahio a tanta neue: e se lhe o sa- buio cheirar bem, segundo sooe de cheirar os outros porcos, quando lhe uaam da manhãa, deue a seer certo que he da manhãa, assi como lhe a elle pareceo, e en- tom se lhe nom cheirar, tenha que nom uay da manhãa: ca quando estas cousas taaes acontecem aos montei- ros, porque som em duuida, nom a hi mais certo juizo * pera dar a sentença, se he uerdade ou nom, que o sabuio se bõo he, pollo seu cheirar elle certifica, e da certidom ao monteiro se o porco por que anda he da manhãa, ou nom. E a hi hãa cousa que quando os rastros assi som cerrados, em conhecer de que horas “he aos monteiros, que muyto certifica, e he daquellas, que dissemos que diriamos adiante, e he esta que os monteiros deuem a fazer que por a tal duuida seerem fora della: he que quando assi acharem duuidoso, e o acharem acerca do monte, que nom possam ir mais ao 1. el herrou —3. o (1.º)] ao — melhor. — 18. uam. — 24. se boo he entrelinha. — 26. daquelles. — 30. seerem] searem. IO 15 20 25 30 Mr ipa Onde Coil rd descia meti Cas RE de e ça q RS. ea - a “is = - 1 us pe da A ST dá , us da Apt cipa AS a ç Ó ra « do, EN ê = =, — ue —— qe — 12] — diante por medo, que o nom aleuante, que logo uolua polla auessa ata que chegue a algúa agua, per que o porco passasse, e se achar a agua enuolta demais de seer corrente, bem seia certo que aquelle porco he da manhãa, ca nom pode a agua estar muyto espaço en- uolta, quando he pollo passar que o porco por ella pas- sasse, demais se a agua for corrente, ca nom pode estar por longo espaço, que se nom declare: e esta he a mayor certidom que em tal tempo os monteiros pode- ram achar pera seerem certos se he o porco da manhãa ou nom, ca das outras cousas per que se mostram as fresquidoões dos rastros, quando cahem na manhãa gea- das, ou neues, que seiam taaes, per que o monteiro possa aprazar, nom podem seer a tam bem conheci- das, como per esta que dissemos do enuoluimento da agua. Acontece ainda que o porco no tempo do in- uerno, demais quando os inuernos som muyto chu- uosos, e o porco passa per aleúus lugares, que som len- teyros, e nestes tempos, e em taaes lugares as minhocas sahem mais a meude sobre a terra, e fazem aquelle sinal per que os homêes conhecem que jazem alli: e assi quando o porco por alli passa, tam toste em como passa, e crece o dia, logo as minhocas sahem, e quando se acerta de sahirem de dentro do rastro, e o monteiro este sinal uee, de razom esta que o porco fosse da manhãa, e o monteiro topasse em elle cedo, que tal sinal nom deuia em elle de parecer: e por tanto leixam os monteiros que muyto nom sabem, posto que lhes o seu caão cheire bem, de irem per elle, porque cuydam “que nom he da manhãa: e a tal cousa nom a deuem os monteiros a cuidar, nem dar authoridade a tal sinal, ca em como quer que de razom esta, em no assi cuyda- rem, porque o porco que fosse da manhãa, nom deuia 4. sejam. — 6-7. pasasse, — 12. caem, — 17-18, chuiuosos. — 18. logares, — 20. saem. — 24. da] de. — 29. cam. 91 O o Do Dae a teer o sinal das minhocas dentro no rastro. Mais em como quer que assi seia em razom, todauia algúas ue- zes se acontece pollo contrairo, ca ainda que o porco entre na manhãa, tam toste que o dia uem, nom leixa de parecer a tal.sinal em no rastro como este que disse- mos das minhocas. Mais este sinal nom se faz * em todo tempo no rastro que uay muyto da manhãa, e por. tanto compre ao monteiro de seer auisado, que tanto que esto uir, que saiba o que a de fazer, ca este sinal nunca se faz tam toste, senom em os lugares lentey- ros, de mais no tempo do inuerno, assi em como antes dissemos. E por tanto quando o monteiro em tal. tempo, e em tal lugar achar, se lhe o seu sabuio bem cheirar, nom leixe por tal sinal de ir por elle. Mais a hi ainda outra cousa, que faz em esto mais duuidar os monteiros quando a tal rastro acham em este sinal, ca se lhes o sabuio nom cheira espertamente, logo os faz mais certamente duuidar, e esta em razom agui- sada pera o assi crerem, ca pois lhes faz o sinal, e o sabuio o nom cheira bem, nom erra o monteiro de o cuydar. Mais sempre por sair de tal duuida, pare mentes a talhadura do rastro, nom embargando o sinal das minhocas que em elle pareça, e se uir a talhadura fresca, segundo ja dissemos do sinal das minhocas fresco, e em como se am de conhecer os rastros, pense que aquelle sinal lhe pode uir pollas cousas que disse- mos de que lhe uinham, quando acontecia de lhe ui- rem: e per o nom cheirar bem se deue nembrar, se o seu sabuio he bõôo, ou nom, e do que nom he bõo, nos deste nom falamos, mais se he bõo, deue de cuydar,. que pollo lugar que he frio, e o tempo esso meesmo, que por esto lhe nom cheira a tam bem o seu sabuio, 4. dia nem no leixa. —g. a] ha glossa marginal. —r1 do] de. — 14. may. —21. semper. — tal entrelinha. — 31. medesmo. Ea E e o q rapio dé RA Do ui E ão PRM, ps , 4% — 123 — e entom passe por aquelle lugar, o milhor que puder, ata que chegue a outro lugar, em que nom sera a tal duuida: e se lhe o sabuio bem cheirar, entom sera certo, que uay da manhãa, e se lhe nom cheirar bem, 5 tenha que nom he da manhãa, e por esta guisa se tira a duuida deste sinal, que se no rastro acha: e ao que dissemos que passasse por elle, esto se pode fazer por “dar a trauessa, ou por ir dereyto por elle, ata que saya daquelle lugar lenteyro, e frio, em que se tal sinal faz: “to mais a meude. Ainda se fazem nos rastros outras cousas pollos tempos, ca se fazem os rastros que som da manhãa parecer secos, e os que som trasnoitados, parecer frescos: e estas cousas que se assi fazem nos . rastros, som feitas pollos tempos, assi como antes dis- “15 semos: e he grande marauilha a nos em correr hum uento que seia de agua, ou soam, que fazem em esta terra seer os tempos secos, ca elles som de si a tam “secos, que nom solamente a terra fazem seer seca, mais ainda as aguas, de sua propriedade som frias e hume- 2o das, e nom as leixam, que pollo seu corrimento quando esforçadamente correm, * que nom seiam secas; pois estes uentos meesmos correm alguas outras uezes que nom secam a nenhúas cousas, ante as temperam muy bem em suas naturezas, e nom aynda tam somente tem- "25 peram as cousas em suas naturezas, mais ainda uiirem no seu correr muytas aguas: e esto meesmo se faz alguas outras uezes que corre o uento do abrego, que he quente e humedo, que fazem em estas terras as cousas seer humedas, e sempre no seu corrimento trager muy- nom choue quando assi corre, mais ja algãas uezes faz t. melhor. — 2. a) ao, — 22. medesmos. — 24. naturalezas, — 26. medesmo, — 28. em om. — 30. medes. EO adoro as ““ tas aguas, e este uento meesmo tambem corre alguas | uezes que nom choue com elle, e nom tam somente | 92 Veto MM dgua LULA vid. em, secura nas terras: e desto fallarom algúus em como se pode tal cousa fazer: e esto dizem outros que se faz pollos tempos, que quando o abrego no estio corre, que porque o tempo de si he quente, que embarga o abrego que nom faça seu curso, em trager no seu corri- mento aguas, e que esto meesmo faz no inuerno o aguiam, que lhe faz que nom seia seco em como elle he de sua natureza, e esto nom he uerdade, ca muy- tas uezes uemos no estio correr o uento uendaual, e chouer, e no inuerno correr aguiam, e fazer os tempos secos: e esto meesmo dizem algúus húãa palaura, mais parece que he abusom, ca dizem que quando corre o abrego, e leua as nuues carregadas de agua, e ante que todo as nuues selam descarregadas das aguas, que se encontram com o uento do aguiam, e se O uento do aguiam he mays forçoso que o abrego, que Taz tornar as nuúes que assi leuam as aguas, e pollo corri- mento do uendaual, e na tornada que assi tornam lan-.. cam as aguas, e que por esto parece aos homêes, que pollo corrimento do aguiam uem estas cousas. Mais a uerdade de como esto ueem, como quer que aos mon- teiros esto nom aproueite de o saberem polla guisa que se esto faz, ca de saber como som as securas, e as fresquidoões dos rastros feitos, e aos tempos quando as fazem, abasta. Mais pois nos em esto acertamos de falar, nom queremos leixar de o escreuer aqui, nom por uir tanto a feito a este liuro da montaria, mais porque se nos acertou de falar em esto, e por tal escreuer po- dem dizer os monteiros, que delle algãa cousa quiserem daprender por este liuro, em como dizem os letrados, que estam em algúus grandes feitos, e lhes acontece 4. é. —6. medes. — 7, aguiam] aquilo ou norte, glossa marginal. — 11. medes. — 17-19. e pollo corrimento... as aguas, aposição marginal. — 27. a feito] affeito. — 29. del. — 30. deprender. . = 9 alia seg Io EA 20 25 às Ag epiacia A E, — 125 — em algãa historia que seia leue, e que uaa fora daquello que estauam falando, logo lhe dizem interpone tuis, e esto meesmo me podem dizer por esto que aqui queremos escreuer, os que este liuro leerem, estremadamente os monteiros que por elle quiserem leer, porque lhes nom uem *a feito. Ora sabede que diz Joam Gilno seu grande 93 liuro de estronoaiiã, que todallEs CSUSES que SO Feitas, todas som feitas per natura naturante, que he Deus, ou por natura naturada, que Deus fez, que por elle he or- denada, segundo a ordenaçom que lhe elle pos, à qual ordenacom chamamos nos outros natureza, que por | ella segundo seu ordenamento fossem feitas todallas | cousas, assi que nenhãa cousa nom he feita, que nom seia por Deus, ou por este seu ordenamento, a que nos chamamos natureza, destas cousas que naturalmente som feitas. E nos podemos conhecer as cousas que som feitas por n rque som semelhantes a nos que somos feitos natural mente, em ueermos as obras da natureza, nom nos espantamos: mais quando ueemos que faz esta natura naturante, que he Deus, | que seia fora desta regra que elle fez desta natura natu- rada, logo nos espantamos, e dizemos que he milagre: e porque o nosso ser em esta uida presente participa mais com esta natura naturada, que com a natura naturante, a qual em como quer que nas almas ajamos participaçom com elle, todauia em esta uida, nom a podemos assi acadar como esta natura naturada de que somos feitos. E este Deus segundo os philosophos que nom forom hereges, derom hum arneço pollo poder deste Deus, e disserom que elle todo sabedor, e pode- roso, pollo seu saber e poder fez de nouo hãa materia, | a qual nos nom podemos saber que he, nem de que 3. medes — me] nos (?). — 6. Hora. — 10, el. — 11. naturaleza. —15, naturaleza. — 21. regla — el, — 24. natureza (1.º). — 27. natu- rada| naturanda. — 29. arneço] começo (?). — 30, el, te Ee LAO vu ande QrcÃs a o O DD PE 1 Ap N o DE Ds PPP am OM ce he, senom que lhe chamam todo da qual fez os quatro ellementos, e que por esta mate-. ria, a que elles disserom zlle, e que por esto leuarom elles nome ellementos, destes quatro ellementos segundo os philosophos criou Deus, a que elles dizem natura 5 naturante, todallas cousas que som, tambem ceeos, como as pranetas, e signos, e estrellas, as quaes elles disserom que eram feitas destes ellementos: e porque nos todos ueemos que cada hua destas estrellas som | corpos compostos, e porque nos lhes podemos com- 1,0 | | prehender as suas quantidades, e esto per uista, per | conto, e per medidas, em tal guisa, que nom a grãao + | nem meudos, que os homêes nom possam acadar, quan- | tos som. Ainda lhes ucemos calidades e accidentes, e às cousas que estas cousas teem, dizem os philosophos 15. que lhe nom podem negar que nom som compostos: | ca dizem todollos philosophos que as cousas à que po-. dem poer circunferencias, cantidades, calidades, e acci- + dentes, que todas som compostas: e se compostas som, : nom o podem seer senom dos ellementos, ca cousa 108 que composta seia, nom o pode seer senom dos elle- | mentos e das cousas que som delles: e pois que as pranetas e signos am circunferencias, * cantidades, e ca- lidades, e accidentes, nom podemos negar que nom som — compostos, todauia he de força que lhes digamos que 45. | som formas destes ellementos, ca assi o prouarom to-. dollos sabedores, ca todos dizem que som compostos: ca Joam Gil o grande estrologo no seu grande liuro | disse que Mars he de color uermelha, e Mercurio, ca Lua: | de color branca, e esso meesmo disse que o Sol, Jupiter, 30. e Venus som de color amarela como ouro, e Saturno fez 2. ellamentos — 4. ellamentos bis. — 6. ceos. — 8, ellamen- tos. — 12. graão. — 22. de «elles. — 23. os Planetas. — 25. lhes entrelinha. — 30. cor — medes. — 81. cor. a DE a certo que auia color negra, e assi pos a estas pranetas accidentes, e ainda lhes deu calidades, ca deu a Saturno frio, a Jupiter quente e humedo, a Mars seco, a o Sol quente, a Venus humedo e quente, e a Mercurio frio e seco, e a Lua fria e humeda, e estas meesmas calidades pos que auiam os signos: ca destes signos disse Joam Gil, e Albamazar no seu liuro das deferenças e dos juizos, e Tolomeu no seu almagesto, e Ali abem Ragel no seu liuro dos juizos, e o author da sphera, e da ceeo octauo, a que os estrologos dizem octava sphaera, esta sphaera partirom os sabedores em doze partes, ca este partimento disserom os astrologos zodiaco, por- que estas doze partes comprehendem os doze signos. E disse este Joam Gil que estes signos eram adoptados as quatro partes desta sphaera, e disse que os tres son orientaes, e os tres meridionaes, e os tres occidentaes, e os tres septentrionaes, e esto pollas calidades que am, ca a aries deu que era quente, e o meesmo a sagi- tario e leo, ca estes tres deu que eram orientaes, e a geminis frio, e libra, e aquario, e que eram occidentaes, e a tauro, e a uírgo, e a capricornio secos, e a can- cer, escorpio, e pisces humedos, e que eram septentrio- naes: e a estes signos poserom os sabedores calidades, e influencias diversas, e poseromlhes nomes, assi como a alguas animalias que som na terra, e no mar, e nom por elles teerem as proprias figuras dellas, mais por auerem estas animalias as calidades que am que asse- melharom os signos, mais que todallas outras que som S0o O ceeco: e porque estas animalias am mais as pro- DO dl 1. estes Planetas. — 3. a o Sol) o Sol. — 5. medes. — 8. alia- bemragel. — 10. dos Planetas. —r11, ceo. — 19. mesmo, — 21, occi- dentaaes. — 22. secos] e que eram meridionues falta. — 23. que om, — 23-24 septentrionaaes. — 24 posserom. — 28. aueram. —3o. soo o ceeo] sob, sub coelo, aposição marginal. theorica das pranetas, e todos estes disserom que no. 74 “9fs- — 128 — priedades dos signos que todallas outras que Deus criou de soo ceeo, por tanto os sabedores as nomearom se- gundo os nomes dellas, e disserom que todollos corpos 95 ,que pollos quatro * ellementos som gouernados, que todos som regidos por estes signos, e pranetas, e pose- romlhe as calidades ditas. Ora em como quer que algúus tiuessem, que pois que as pranetas e signos auiam em cada hum calidades, e cantidades, e accidentes, que eram formas dos ellementos, mais os demais tiuerom que nom embargando que elles tiuessem em si estas cousas, que todaula ellas forom criadas de Deus, e que as criou de nouo assi em como criou os angeos, e pa- rece mais de razom de seer desta guisa que destoutra. E o porque sabudo he que os corpos celestiaaes som mais nobres criaturas que os ellementos, e nom esta de razom que Deus produzesse os corpos celestiaaes de cousa peyor que elles, e mais que na nossa ley auemos hãa autoridade grande, ca diz que no começo criou | Deus o ceeo, e a terra, e des hi o sol, e a lua, e assi parece que todos forom cada hum per si feitos: ca assi em como Deus deu aos ellementos cantidades, e cali- dades, e accidentes, esso meesmo deu aos signos, e pra- netas, e assi pareceria que todos forom feitos por esta natura naturante, que elles dizem Deus: e assi pollos signos auerem estas cousas, nom ajam dos ellementos, mais de Deus que as deu aos ellementos, e esso meesmo aos signos, e pranetas, e por esto parece que esta razom he milhor que estoutra. Mais de qualquer guisa que selam ora de"húa, ora de outra, todauia som feitas por Deus, ou pollo seu ordenamento: e em esto nom [30 | monta nada de em esto mais saber, senom tanto que 2. ceu. — 5. planetas. — 6. Hora. — 7. os Planetas. — 12. ansi. — angos. — 15. nobles. — 16. rezom — produxese. — 19. ceo. — 22. medes. — 22-23, planetas. — 26. medes. — 27. planetas — re- zom — 29. hora bis. CRE tr A OE Coe a eg Rag DT Ob ii a a a E Ian ca sdiio ! , PPS A eg TER) a * E, é a a —— 129 — Ê am em si estas cousas que ja escreuemos das influen- n cias e calidades, per que ueemos que regem os corpos i que som de soo ceeo: ora auirmos a mostrar esto, que E. nos acertamos de fallar dos uentos, em como uinham as 5 uezes com aguas, e as uezes secos, em esta materia fallarom muyto os philosophos, e disserom que O uento se aleuantaua de qualquer lugar que seia, e que de todo lugar se pode aleuantar, e outros disserom que era o ar mouido: e porque esta materia he muy longa de dizer, ca de força seria a quem em esto quisesse fallar, de dizer se este uento quando se assi aleuanta, quem o faz assi aleuantar: e des hi quem o faz correr, e ora se he pollo mouimento do ar, se pollos uapores da terra, e dos uapores se se multiplicam no ar, se se consu- mem em elle: e des hi sé se consumem, que he aquello que os faz consumir, ca do multiplicar nom deuemos fazer questom, porque nom esta em rezom que se multiplicassem, ca des que a terra de si uapores lançou, . se se destes uapores fizera o uento, e se se nom con- sumira, * ja agora no mundo nóm couberam, e-por esto nom he de fazer questom. E esto meesmo se he ar mo- uido, quem o moue, e quando se assi moue, quem o faz mouer: e se se moue, se he da parte de que se moue, ou se se moue todo ou parte, e se parte, porque se moue esta parte, e nom outra. É outrosi porque todollos philosophos se acordam que nom he de dar uago em nenhãa cousa, e quando assim fallece de seer algãa cousa occupada por algua cousa corporal, que logo se compre, e se enche de ar: e dalli donde este ar he mouido, que he aquello que compre a este lugar donde se moue: e assi muytas outras materias que seriam longas pera sobre tal cousa escreucr, e por tanto nom — ———— q time a as e ii a | | 3. ceo — hora. — 11. quem] G. — 12, quem] q— 21. me- des. — 22. quem (1.º)] que — quem (2.º)] que — 27. fallesce. — 29. compre] complet glossa marginal — henche — aar bis, car go aih — Mame = — = reta” qe, ST a emuro TA. dá q as E 4. — 130 — o queremos escreuer. Ora todollos homêes ueemos que a hi ento, quer seia de hãa guisa quer de outra, toda- uia ueemos que a hi uentos. Ainda he de saber que estas sete pranetas cada húa esta em seu ceeo: ca em os seteé ceeos em que estam so a outaua sphaera, que em cada hum esta sua praneta, e estes ceeos am os seus ““mouimentos tam desuayrados, que cada hum anda de 4 - sua guisa, ca O ceeo em que esta a Lua, faz o seu moui- mento tam breue, que faz o seu torno em 29 dias e 12 horas, e o Sol que esta em ametade de todallas pra- netas, faz o seu torno ja a tam passo, que nom acaba senom em hum anno: e Saturno, que he a mais alta praneta, de todo faz o seu torno a tam passo que segundo os astrologos dizem nom se acaba menos de 30 annos: “e assi o fazem todollas outras pranetas que som em meyo destas, que cada húa a os seus mouimentos desuayrados como cada húa de estoutras que ja disse- mos: e por esto os seus cursos som desuayrados em tal guisa, que nunca se acerta a seerem todas juntas em húãa conjunçom: ca dizem alguus que des o primeiro tempo que começou o mundo, no qual começo junta- mente mouerom estas pranetas, que depois nunca assi em conjunçom forom como entom: tanto a cada hãa o seu correr em desuayrados mouimentos, e por esto nom quedam ellas fazer sobre os corpos, e tempos as cousas que fazem, ca ellas entram cada hum dia, e cada tempo em estes signos, e algúas horas estam em tal signo, que afortalecem a sua força, e em tal signo 1. homes. —4. estes —Planetas — hum — ceo. — 5. 850] sob, glossa marginal. — 6. seu planeta — ceos. —8. ceo. — 10-11. todollos Pla- netas —12-13. o mays alto Planeta. — 15. fazem] faz en — todollos outros Planetas. — 16. hum. — 17. hum — estoutros. — 19. serem — todos juntos. — 22. estes Planetas. — 23. hum. — 25. quedam] descansã glossa marginal. IO 15 20 25. io did co PAÇO TE PTS Te PAI e PO sai bi ii ai ad ed Fa AY Pis “aos Si ei ipa gr Eua ese Arg remo pap qe E e o E em cmd 131 ente entram que lhes faz perder a sua força, ca se a pra- neta he quente, e entra em signo frio, nom a tam grande força da sua quentura, como quando nom esta em elle, e quando se acerta de estar em signo que seia quente, e a praneta que em elle entra he tambem quente, a sua quentura he mais accrescentada, ca bem dizem todollos naturaaes que cousa que seia quente jun- tandose com outra que seia mais quente, que logo hi a mayor quentura; se esta regra nom se erra quando se faz por exhalaçom, que quando hi a exhalaçom, entom pollo exhalar faz hãa cousa quente a outra quente ficar fria, e assi pollo contrairo, que quando a fria se ajunta com outra fria, logo he mais fria. x E estes signos que dissemos que eram no zodiaco, e que tres som orientaaes, tres occidentaaes, tres septentrionaaes, e tres meri- dionaaes, e que os tres eram quentes, tres frios, tres secos, e tres humedos, pero elles nom uam por esta regra de tres em tres, mais começam sua ordem per esta guisa: o signo de aries começa primeiro que he quente, e depois delle tauro que he seco, e assi uam dali auante todollos outros, ca todos uam em quente, e seco, e frio, e humedo. E quando estas pranetas en- tram em estes signos, se o signo he quente, e a pra- neta he quente, assi como o Sol-em leo, e porque 6 Sol he quente, dizemlhe que he sua casa, e entom faz elle, em quanto esta em aquelle signo, todallas cousas e tempos seerem quentes per aquella ordenança, que lhes Deus deu que ouuessem, e fezessem continua- mente sobre os corpos e tempos: e porem se entom correr o abrego, nom o leixa esta praneta no seu correr trager aguas, demais se a conjunçom de duas, ou de 1-2.0 Planeta. — 5. planeta. — 7, naturaes. — q. herra, — 12. Q frio. — 13. outro frio — frio (2.º). — 14. orientaaes, tres] om. — 15.€ (1.º)] om. — 22. estes Planetas, — 23-24. o Planeta. — 30, este Planeta, — 31. dous. 97 98 tres planetas que seiam quentes, ese acértam a seer em: signo quente; ou em catamento de algãas outras pranetas quentes, e esto meesmo fazem todollos outros: ca assi o disse este Joam,Gil na: segunda parte do seu liurô que-falia da tempestade, e uentos, e chuyuas, € pedriscos: ça elle diz que quando for a conjunçom do Sof e da Lua em-noue graaos de capricornio; e Sa- turno em quatro graaos de sagitario, e Jupiter em sexto graao de aquario, acerca de sextil: de Saturno, e de Mars e Mercurio em dezasete graaos de capricornio, qué fara grande uento dabrego, e que non chouera com elle,'e se chouer que sera pouco: assi o fazem todollos outros uentos, que som de sua propriedade secos, - que guando as conjunçoões que em seus effectos tragem as chuyuas, e posto que corra uento, ou uentos, que de sua propriedade em esta terra seiam secos, polla força das pranetas nom leixam de trager muytas aguas, € assi mask, e menos se-faz, segundo a conjunçom das pra- netas; que se faz por esta guisa, que se fazem pollas forças das pranetas as fresquidoões, ou securas nos ras- tros: -ca posto que corra hum uento que seia seco, nom faz todallas uezes que corre, tornar as talhaduras. dos rastros-que seiam secos, ca em correndo este meesmo uento as mais das uezes traz no seu correr, que nom séca-as talhaduras em tal guisa, que sayam das suas naturezas, ante as faz estar em como deuem estar. (ra se acontece que choue em na manhãa, e depois deixa de chouer, ante que o porco entre * ao monte: e depois que entra ao monte, e torna o uento ao aguiam, e uem. com estas forças destas pranetas, e signos que «dissemos; que se faziam de tornar às cousas secas, e fa- “ «4. Planetas. — 2-3. alguns outros Planetas. — 3. medes, — 6: el — 1x. fará. — 17. dos planetas. — 18-19. dos planetas. — «9. pollas forças dos planetas entrelinha. — 23, medes. — 27. Hora — acontesce. — 29. despois. — 30. destes planetas. — 31. faz esse. RA Ásis que 15 20 2 di Ea ÁS nei aà os trad ' SME Di Das a Tas id ld ld q E sÓ AS — 133 — zese entom na terra da talhadura do rastro tam seca, que nom a homem que a uisse, quê nom dissesse que era de dous dias, ou de mais, se nom souber em comó: se esto faz, e porque se faz: e esto meesmo se faz que o rastro he trasnoitado, e se as pranetas fazem ajuntá- mento em signos quentes e humedos em bôa tempe- rança, e se corre o uento do uendaual, logo faz tornar as talhaduras tam frescas, que tambem nom podé ne-: nhum homem estremar se he trasnoitado, se da manhãa, se nom for em esto sabedor. Ca deue a parar mentes, se se mudou o tempo da chuyua aa manhãa em aguiam, que: pollas pranetas uem com tam grande força de secura; que faça secar os rastros, ou se faça de noyte o tempo assi brando, que pollo seu abrandamento fezesse tornar: os rastros, que fossem da outra noyte, ou do seraão: parecer assi frescos que parecessem assi da manhãa :- e esta contradiçom quando se assi faz, he muy maa de: conhecer: ca como quer que os monteiros por este: liuro saybam como se faz, e porque se faz, todauia sem: mais saber nom poderiam uir nas cousas que som pro-: ueitosas, que compre pera aprazar: e como quer- que: seiam pequenas, porque pensamos de nom leixarmos falar nas cousas pequenas, que forem escuras aos mon- teiros de o saberem, assi como nas grandes, portanto . diremos em como- som, e quaaes som as cousas per que uiiram a seguramente desta duuida. Todollos monteiros que esta cousa uirom, sempre tiuerom que nom poderiam, quando o tempo uiesse daguiam- sobre agua, que chouesse na manhãa com a força destes sig- nos e pranetas, tanto fazer, per que pudessem certa- mente aprazar aquelle porco, sobre que taaes cousas 4. medes. — 5, dos Planetas. — g. home — tresnoitado, — 12. pol- los planetas. — 14. ablandamento. — 16. parescer assi entrelinha. — 30. planetas. 99 — 134 — fezessem no rastro. Pero disserom que se algum monte fosse certo, que porcos continuadamente soem ali des- cer, e achassem algum porco a elle entrar, que poderiam teer, nom per firme certidom, que sia em aquelle monte, quando a tal porco achassem entrar, pero se mais qui- sessem uir a mayor certidom, se uissem que tal tempo: corria, e lhes o rastro assi parecesse seco, entrasse ao monte, e fosse por elle ata algum ualle, em que o uento nom ouuesse a tamanha força: e esta ida se deue enten- der, que se achasse o rastro muy acerca do monte, que logo torne por elle polla auessa, assi como ante disse- mos no lugar onde fallamos, que quando a neue * ou geada fosse grande, que tornasse polla auessa, por nom aleuantar o porco, ata que achasse agua enuolta, a tam- bem em esto assi se deue fazer: e quando chegasse a algum ualle, que poderia seer certo pollas fresquidoões dos rastros, pois que o uento nom podesse tanto a sua força mostrar, como nos altos. E ainda disserom mais, que poderiam conhecer per outra guisa, se acontecesse ante hum dia, aquelle que fosse a busca a tentar aquelle monte, e nom achasse aquelle porco alli entrar, que entom entraua, que por esto podem pensar que he daquella noyte. E outros disserom outra mais certa rezom pera conhecer este porco, se he da manhãa, ou nom: ca dizem, se esta sequidom se faz por chouer, e que des que pollo chouer corre este uento com esta força, que nom embargando esto, que se nom leixa de | saber esto, de que horas he: ca dizem que sabudo esta que quando choue, demais se as chuyuas som grandes ou ainda comunaaes, que todollos rastros que dante so chuyuas som, todos ficam mortos: e por esto se o rastro fica em todo lugar uiuo, assi em como deue de 3. el. — 5. achassem entrelinha. — 11. antes. — 14. auolta. — 28. está. — 29, chuuas. — 30. dantes. — 31. chuuas. 15 20 25 30 Ei dd o E ES IE 2 id dat e do 'eplasom pl Fargo rcpao pa trem gp 9 ot " E » rar ; E e ra to 15 — 135 — seer, nom embargando a sequidom do uento, bem po- dem dizer, que des polla agua he aquelle rastro. E a dizer de que horas he, disserom que deuem a parar mentes em que horas deixou de chouer, e que de taaes horas he aquelle rastro: e porque muytos som que dizem as contradiçoões, e nom sabem conhecer as uerdades, poderiam dizer, que pois as horas som muytas des a mea noyte ata manhãa, que nom pode- riam dizer em certo de qual daquellas horas era: ca se leixasse de chouer a mea noyte, e o porco entrasse na manhãa, por esta maneira nom poderiam dizer de que horas he: e a esto respondemos, que assaz he de res- posta certa, quando disserem que des polla agua entrou aquelle porco: ca esto contem todallas horas, que des polla chuyua contem ata o entrar que o porco entrasse ao monte. Mais por esto que este conhecer seia assi conhecido, nom podem seer certos no cercar, pois lhes o sabuio nom cheira, em como quer que polla terra scer molle, em que o rastro pode parecer, em pero com todo esto nom tenham nenhúus monteiros que o certo possa aprazar. Mais quando pollo aprazar fezer quanto puder em tal tempo, se o disser a seu senhor, sempre lho diga com esta cautela, que nom he dello bem certo, e que pode alla ir se quizer, e se o achar, que o filhe, senom que o leixe: e no que o tempo faz em tornar os * rastros frescos, esto se nom faz em todollos lugares, ca posto que o tempo seia assi, que faça tornar as terras frescas, seede bem certos que as nom faz em todallas terras por tal guisa, que homem nom possa conhe- cer: mais onde se faz continuadamente som dous lu- gares principaaes, mais que em todollos outros, e som 2. des polla agua] despo la agua no texto, despois da chuua glossa marginal, —13. despo la agua. —14-15, despos a chuua. — 15. conteem. — 22. allá. — 29. o homem. ci 430 — estes: nos lauaios aa sahida delles, e nos steuays nouos que estam em terra preta como darea, ca em estes lu- gares se fazem as uezes os rastros tam frescos em tal guisa, que nom a no mundo monteiro que o possa stremar, se he da mankãa, ou nom, quanto por olho. Mais porque esta cousa se pode ligeiramente conhecer per passar per tal lugar, como em óutros lugares que em este liuro escreuemos, em dizermos cómo se fazem os rastros frescos, nom queremos mais esto escreuer, nem ainda dizer como se faz, nem porque se faz: ca assi como polla força das pranetas se fazem tornar os tempos secos, assi fazem tornar os tempos humedos, pera tornar as terras humedas: e quando som assi hume- das, entom faz a força das pranetas que esta humidade tragem, tornar os rastros que som trasnoitados em tal disposiçom, que a todollos monteiros parecem frescos, Ainda hi a outra cousa que faz o tempo, e esto he à tea que se faz de sobre o rastro: e quando esta tea | assi parece sobre os rastros, todollos monteiros tinerom que o rastro que a tal tea tiuesse, que era trasnoitado, ou de alto seraão : e parece daguisado de seer assi, ca de rezom esta que se hum porco fosse bem da manhãa, que tal sinal nom deuia em elle de parecer: e logo por este sinal faz aos monteiros ficar em tal duuida, que leixam por elle de aprazar aquelle porco, sobre que tal “= sinal se mostre em no rastro: e em como quer que muytos monteiros a hi que sabem que algutas uezes se faz pollo contrairo: ca he assi, que posto que assi aconteça que o porco uaa da manhãa, nom leixa de ter a tea sobre o rastro, que posto que o porco ua da ma- nhãa clara, todauia algas uezes fazem os tempos taaes, que logo tanto que o porco per alli passa, logo tam 1. sayda — steuays] nas moutas de esteuas glossa marginal, — 11. dos Planetas. —13. som] se. — 14. dos Planetas. IO 15 20 25 toda pt ta Winston “ong ab ertçs MRE TO Er) f «e o Jd nd CEM É rir rara ja o 10 Es 137 + toste o tempo faz estar a tea sobre o rastro. Ora em esto fica de saber conhecer aos monteiros, de que horas se faz esta tea sobre-o rastro, ca pois se a tea faz no seraão, e na mea noyte, e a tambem na manhãa clara, nom deuia seer dereyto monteiro o que nom sou- besse, e se lho algum preguntasse, e lho nom podesse dizer em como se poderia conhecer, de qual daquellas horas era, pollos monteiros que muito * aginha em estas cousas nom param mentes, ou nom teem taaes que lho dem a saber: nos com grande piadade daquelles que nom teem quem nos ensine, o queremos poer em este liuro tom todallas outras cousas que ja escreuemos, e entendemos de escreuer. Ora he de saber que todollos orualhos cayem de noyte, e depois que he manhãa nom caye orualho : outrosi estas teas taaes som de sua pro- priedade por sotys, que como som feitas logo a pequeno espaço tomam carom de sua uelhice, assi quanto mais de seraão for, tanto se mostra mais uelha, e esta de- monstrança que de si mostra, he que se torna negra, e quanto de mais longe, tanto mais negra, e a que se faz de manhãa, sempre se mostra branca: e pollo cayr do orualho se a noyte he em que caya orualho, a tea que for de noyte, sempre tem gotas sobre si, e a que he-da manhãa, nunca as tem, nem as pode ter, pois na manhãa nom caye orualho, saluo se fizer neuoa cerrada, que traga aguas: e porem podem dizer os monteiros que toda tea que tiuer orualho que he de alta noyte, e a que nom tiuer orualho, e for bem branca, digam que he da manhãa, e nom leixem pollo sinal de ir por elle, e achalo am. t. Hora. — 6. perguntasse. — 9. tem. — 13. Hora, — 14. caem. — 15. Cade. — 25. cae. IoI eat — 138 — Capitulo xviiig, como os monteiros am de conhecer as cousas que os porcos fazem daviamento, por onde cayem - em erro de nom poder aprazar, Dissemos que compria aos monteiros de saber as cousas que os porcos fazem por auiamento, e estas cousas forom aos monteiros muy maas de saber, pero per alguus tempos parandolhes mentes, assi como | fazem os primeiros physicos na arte da sua Physica, que em uendo, e parando mentes as cousas da natu- reza e prouandoas, uierom a esta perfeicom que agora he. Ássi por esta meesma guisa souberom as cousas os monteiros que os porcos faziam por auiamento, e praticaromnas, e souberom em como se fazem, e ule- romnas ensinando húus aos outros, e ensinarom em como se ouuessem a guardar, que pollo seu fazer nom leixassem de aprazar: em como quer que o assi ensi- nassem, nom todos hãas, mais hãus húãas, e outros ou- tras, ca nom sabemos monteiro que pudesse acadar todallas cousas que os porcos fazem de auiamento, mais nos escreuemos aquellas que nos ensinarom, e prati- camos, de que somos certos que se fazem, e diremos polla guisa que se deuem a fazer pera uirem em de- reito conhecimento pera aprazar em esta guisa. Pri- meiramente acontece que algum porco uay cear, e uay per algum caminho, que seia carreyro, ou outro lugar qualquer, e per alli per hu foy, per alli tornou, e se o monteiro topa em elle, porque todo he auessa, e todo he dereita: esta he hãa das cousas, que os porcos fa- 1. conhescer assim neste cap. — 2. caem. — 8. Phísica. — 10. a entrelinha. —11. medes — 22. fazer] afazer. — 24. acontesce, e assim neste cap. — 26. hu] ha. X pal Figo “ar o (ptifericao 5 ug IO 15 20 25 RR O da A e + A a do À MR cc a po zem per auiamento, que aos monteiros he * muy maa de 102 estremar qual he a auessa, e qual a dereita. A segunda he esta, muytas uezes acerta que hum porco see em hum monte, e em ceando entrou, e sahio daquelle monte por 5 uezes, e todallas idas com as uindas cheira o sabuio, que o monteiro leua, tam bem, que em nenhúa faz defe- rença: de como o monteiro pode sahir desta duuida, he graue de saber, se fica dentro no monte, ou se uay fora. A terceira daquellas que os porcos algúas uezes fazem to por este auiamento, he esta: quando acontece que hum porco see em um monte, e sahio delle aa cea, e tornou aaquelle monte, e entrou daquella parte per que sahira aa cea, e daquella entrada traspassou aquelle monte, e foi longo tracto fora, e depois tornouse aaquelle monte 15 meesmo de que sahira, e tornou daquella parte donde a segunda uez sahira: he de saber, se som dous porcos, se hum, ou se uay fora, ou se fica em aquelle monte : he a tambem duuidoso aos monteiros de o saberem, porque som duas entradas e duas sahidas, e cada ha 20 pode ser tomada por sahida daquellas que sahem, e assi tambem das que entram, ca se podem tomar por en- tradas. A quarta destas he ja muy maa de saber: ca acontece que hum monteiro achou hum porco que uinha de algãa cea, e andar por elle, e foi ho meter em hum 35 monte, e em aquelle monte, em que o assi meteu, ceou outro porco, e sahio daquelle monte a seer a outra parte daquellas horas meesmas que era o outro que elle metera, em tal guisa que o sabuio lhe nom faz estre- mança no cheirar do outro que metera: pera saber se 3o lhe o porco fica no monte, ou lhe uay fora, ou som | 4 dous, he graue de saber aos monteiros. A quinta acon- - . « o e. o .» ; , eb dra dig + » ár 41 a ação 8 ps a gate é PEC q cd e ad o ERR 1 ra praçro . ” À TA o à DS A AP q t. maao. —7. sair, — 12. sayra. — 12-13, e entrou daquella parte... aquelle monte aposição marginal. — 15. medes — sayra, — 20. sayda — saem, — 24. andor (?). — 27. mesmas, — 140 — “tece de hum monteiro achar hum porco, e atraelar por elle, e o porco entrou per algum rio corrente, e uay longo espaço, em tal guisa que o sabuio o nom pode cheirar pollo corrimento das aguas: e em este ir do porco pollo rio se departe em duas guisas, a hua he entrar no rio, e sahir delle ante que entre no monte, e a outra ir pollo rio ata que entre ao monte, demais se o monte he tal que como o porco sahir do rio que. logo o porco possa seer em elle: e como quer que os demais saybam, e usem como se tira a duuida da pri- meira parte, nos nom leixamos de escreuer, ca enten- deriamos que o liuro iria como nom compria, se em elle nom posessemos todallas cousas que nos sabemos, pero que os monteiros o deuem de saber, posto que seram usados em nas saberem: e porem escreueremos esta primeira parte, ca da segunda bem certo somos que nom o sabem bem todollos monteiros em como se. a de fazer, ca posto que por tal lugar entre o porco, nom o leixem porem de aprazar. A sexta destas cousas he esta, que acontece * que o porco sahio de hum monte, e foi cear em algum lugar, quer seia de pam, ou de uinhas, e assentouse em aquelle lugar em que ceou, e esto, e as maneyras em como o monteiro pode aprazar este porco, necessario he de o saber. A septima cousa he que elles fazém dauiamento que se acerta que sahio hum porco de húa cea, e foi longa terra, assi como de espaço de húa legoa, e depois que andou esta legoa tornouse pera outra parte, e ueyo a entrar aa meya legoa de sobre seu rastro meesmo per que antes fora, em tal guisa, que as uezes uay de sobre seu rastro, e as uezes de fora, em tal maneyra que torna a outra meya 4. aguas, e assim neste cap. — 8. sair. — 11. deixamos. — 11-12. en- tendiriamos. —15. escreueramos. — 24. o entrelinha. — 27. leguoa (1.º). — 28. ueho. — 29. medes. — 30. de entrelinha. + vSy o po + 10 1 pras. E E PO 20 455 30 legoa, que ja outra uez andara: em saber se som dous porcos, compre aos monteiros de seerem auisados, e en- sinados os que o nom souberem, em como-se a de fa- zer, demais se o porco ante que acabe a meya legoa, se acerta de se assentar. A octaua cousa he esta, que muytas uezes se acerta aos porcos de fazerem nos lu- gares dos pauys, que entrando no monte, se acerta de se ajuntarem dous porcos, ou tres, ou mais, em como se acontece, e ao entrar uoluemse húus por cima dos outros, se a este entrar acharem agua que nadem, ata |: que uaam grande tracto nadando per alli per hu na- dam: em estremar o monteiro qual daquelles he o porco per que uinha, e- desuoluelo, e apartalo per cima da agua, per que assi todos nadam, esta cousa nom a sabem todollos monteiros: e por tanto o queremos poer em este liuro, e amostralo emos em como se pode saber, «qual he aquelle porco per que antes uinha: e nom se espante nenhum por dizer que-se a de saber em nos porcos nadarem, e que am de ir por elles, ca des que hãa agua da ao homem pollos peitos, nóm-a hi tam grande porco que nom nade em ella.. A nona cousa he, que tambem os porcos fazem por auiamento, que pode hum porco uir a seer em hum monte, e o monteiro ueyo por elle, e meteo no monte, e daquella entrada o porco traspasou o monte, e des que foy um pedaço de fora, tornou a seer daquella parte por que entrara, ou por outra qualquer que seia: e quando ueyo a cercar, achou ho sahir fora, e entrar, he de saber se forom dous, se hum aquello que aquelles porcos fizerom, em como quer que todollos monteiros o usam, e o sabem igual- mente fazer, porem nom o leixamos de escreuer em este o 2, serem. — 7, pauuys. — 11. per hu] por onde glossa margi- nal, — 15. e entrelinha. — 20. dá, — 24. ucho, — 27. veho texto, veyo glossa marginal. — 28. foram, 104 | liuro. A decima he esta, que ja uimos acontecer, e pois que se aconteceo, certa cousa he que se pode acontecer, e porem he mister aos monteiros de seerem auisados dello, que quando tal cousa acontecer, que saybam o que am de fazer. Nos uimos acontecer que dous monteiros andauam aa busca, e hum meteo hum porco em hum monte, e quando assi meteo, entrou muyto pollo monte, ante que posesse o sinal, e des hi sahiose fora pera o cercar, e andou ho cercando, e logo a pouco espaço que lhe pusera o sinal, entrou outro * porco por cima do outro que ante entrara, em tal guisa que nom desuaria ne- nhua cousa donde o outro entrara: e o monteiro que uinha em pos do derradeiro porco, tanto que chegou ao: monte, logo lhe pos o sinal, em tal guisa que nom uio o outro sinal, que o outro posera: e o porco que entrou mais derradeyro achou a soba do outro monteiro, que primeiro posera o sinal ao outro porco, e anojouse, e sahio daquelle monte correndo: e em dando os montei- ros o cerco acharomno sahir, e hum dezia que aquelle era o seu porco, e o outro dezia que aquelle era o seu, e sobre esta porfia tornarom por onde os porcos entrarom, e hum disse, eu o meti por aqui, e o outro “disse esso meesmo, e entom uierom a se desauir, e hum foi apos o porco que sahio do monte, e o outro se tor- nou pera a pousada, e ficou o outro porco primeiro no monte pera aprazar: e porque esto uimos, por os mon- teiros seerem sabedores do que em tal cousa ajam de fazer, se lhes acontecer, que saybam o que am de fazer, o escreueremos em este liuro. A undecima he, que os porcos fazem em esta cousa por auiamento: acontece que hum porco se uee em hum monte, que he acerca de outro monte, e des a meya noite ata a manhãa sahio, 7. meteu. — 8. sahiosse. — 19. sair. — 20, que] mas que. — 21.e sobre entrelinha. — 23, medes. — 32. des a] de la. 15 “acid: Ad ser vvegitricd, 20 25 30 ne q09% mst; x PI RA DO e RATO EU “E al pró: ve vos E im sê. 143 são e entrou de hum monte ao outro por uezes, e estas uezes que assi entrou forom pares, conuem a saber seis uezes a hum, € seis uezes ao outro, ou mais ou menos, com tanto que seiam pares: e se o monteiro fizesse a busca por antre ambollos montes, e achasse tal porco entrar em ambollos montes, e lhe o sabuio chei- rasse tam bem, que nunca ouuesse de estremar de hum ao outro, a tambem aas entradas como aas sahidas, esta cousa a se saber foy muyto maa de a saberem ter- minar os monteiros, em como se poderia tirar tal du- uida, pera saberem em qual de cada hum daquelles mon- tes sia o porco. A duodecima cousa he esta, que acontece de seerem dous montes acerca hum do outro, e hum porco se uee em hum daquelles montes, e no outro monte se uee o outro, e na manhãa sahio hum daquelles porcos do monte, em que ante aquelle dia se ueera, e foise assentar no monte em ante aquelle dia o outro se uia, e O outro porco fez per essa meesma guisa, que sahio daquelle monte em que se ueera o outro, e ceara, e foyse assentar ao monte em que ante aquelle dia se ueera o outro, e se o monteiro der a trauessa por entre aquelles montes, e topasse em taaes porcos, nom. he muy bõo de saber aos monteiros se he hum, ou dous, ou se he hum, em qual daquelles montes see: em como esto se podera saber, nos O escreueremos em como se pode saber: porque esta he hãa das mais altas cousas que os porcos fazem dauiamento, per que os monteiros ficam em duuida, e por a duuida nom leixarem de apra- zar aquelles porcos. 6. ambolos. — 7. de (1.º)] que (?) — 12. sia texto, esteja glossa marginal, —17, antes — aquel, —18, medes. — 20. antes. — 25, po- derá, de AA e 105 - Capitulo xx, do assoluimento das duuidas “do dito capitulo, das cousas que os porcos fazem l -— por auiamento. “A primeira cousa que dissemos que os porcos faziam “dauiamento, quando acontecia de os monteiros acharem hum porco, que ia por algum lugar que seia carreyro, quer outro lugar, e per alli per hu foy, per alli tornou, que os monteiros metiam em duuida, e que per ello muytas uezes os que desto nom sabiam leixauam de aprazar, quando em ella cahiam, e tirase per esta guisa. Quando acontecer que o monteiro ache tal rastro, que “assi uaa por onde ueyo, ou outro, e nom poder estre- mar qual he a auessa, ou a dereyta, entom pare mentes, qual dos rastros trilha o outro, e o desfaz, e aquelle que desfezer o outro, aquelle he a dereita, e assi se tira esta duuida. A segunda duuida que dissemos que “aos monteiros uinha, quando achauam muytas sahidas e entradas : quando os monteiros esta duuida acharem, e della quiserem sahir, deuem a contar as entradas com 'as sahidas, e se dchatem mais entradas que sahidas tenham que o porco ficou ali, e se acharem mais À sahidas que entradas, tenham que o porco uay' fora, Estas mais sahidas que entradas, ou mais entradas que '“sahidas, nunca se multiplicam, nem minguam, senom per hãa, assi como seerem dez as entradas e onze as sahidas, e que quando assi som onze entradas, tenham os mon- teiros que o porco fica em aquelle monte, e se dez fo- “rem as entradas, e onze as sahidas, tenham que uay fora. Mais posto que esto saibam, e que lhes aquelle ——s= 1. asoluimento. — 5, acontescia e assim neste cap. — 12. veho. — 17: saydas e assim neste cap. —19. della] de la: — sayr. — 25. se- rem. E — 145 — porco fica no monte, e que o tem aprazado, ainda se lhes recrece outra duuida muy mais mayor que esta, que se se nom auisarem, nom cayram em menos falli- mento que destoutra, ca muyto mais tem por mingua aos monteiros, e a qualquer que de aprazar se trabalha, de nom saber aleuantar o porco que tem aprazado, que de o nom aprazar, e pera este aleuantar tal porco, que muytas uezes entrasse ao monte, e que fosse de taaes horas, em que nom aja departimento no cheirar do sa- buio que leua de hãa entrada e da outra, demais se o monte he largo, pera esto regras e modos tiuerom os monteiros antiguos antre si pera saberem conhecer estas cousas, quando lhes acontecia de as acharem, e que pollo achar em ellas uiessem em duuida: entom per tal duuida regras e modos tiuerom os monteiros que ante de nos forom, ca todos disserom que todollos porcos faziam mudança nas cousas que faziam, ca hãa. cousa que faziam quando sahiam a cear, e a outra quando entrauam ao monte a seer, e a tambem quando entrauam em algum monte pera nom seer, * e que assi o fazem em todallas cousas, ca nom a cousa que o porco faça quando anda por sua uontade, que nom aja outro embargo, que quantas cousas faz, que cada. hãa nom seia por seu modo desuairado, se o bem souberem conhecer aquelles que de tal joguo usam pera o conhe- cerem. Acharom antre si regras por que ueessem a esta perfeiçom, segundo os modos que os porcos tem quando se querem assentar, e fazem todallas cousas que fazem, segundo dito auemos; e as regras que os monteiros tiuerom, e ainda hoje usam os que o bem fazem em tm K 1 Lê o e z ea f b .» e : 2. recresce. — 3, nom (1.º)] nos — cahiram. — 12. entre — conhes- cer, e assim neste cap. — 16. que de ante. — 25. jogo. — 26. entre — uchessem. — 27. perfecçom. 10 pes 146 prrAss este officio de andar a busca, nos as diremos quaaes som, quando fallarmos no lugár em que prometemos dizer as cousas que os porcos fazem quando se querem assentar. Teuerom os monteiros grande departimento | em como esto poderiam fazer que milhor fosse, e al- 5. guus disserom que o aleuantassem per treela, e outros tiuerom que milhor seria que lhe posessem os sabuios dachar soltos: em como quer que taaes aleuantares pollos monteiros assi fossem ditos, e os demais que | agora som, assi o usem, pero nom som elles os milho- 10 | res aleuantamentos que se em ello podem fazer, ca bem uisto he que se o monteiro ouuesse daleuantar per treela, e se acertasse quando ouuesse daleuantar de ir per cada húa das entradas, per que o porco entrou, e que nom fosse a derradeyra, da que o porco fosse a seer 15. pollo tempo que passa, des que o monteiro aprazasse, | ata que ueesse seu senhor pera lhe poer os caães, e outrosi polla espessura do monte, e pollas muytas uol- tas que lhe conuinha de dar, ora de ir dentro, ora de ir fora, segundo as andadas que o porco andou, nom so poderia seer que se lhe nom fizesse muyto tarde, e por . | seer tarde duuidosa cousa seria, que o seu sabuio fosse tam bõo que o podesse bem aleuantar per treela: e este meesmo embargo, e muyto mais a no poer dos sabuios, | ca poendoos em outra entrada que nom fosse a derra- 45 deyra, muyto menos o poderia achar, ca nom a tam | F bõo sabuio que tanto podesse desenuoluer, demais sahirem duas outras uezes fora pollas sahidas e entradas. E pera esto, em como dito auemos, o milhor que seem ello pode fazer, assi he saber escolher o monteiro qual 30 . “he a mais derradeyra entrada que o porco fez, de quan- | , o ” :, 5-6. alguns — 6. per. — 10. melhores. —13. treella. —r5. derra- deira. — 17. vehesse. — 10. hora bis. — 24. medes. — 28. say- das. — 31. derradeira. ERP. ASIA > Ê 1 j o À tas uezes entrou aaquelle monte, per essa se trabalhasse de o aleuantar, quer per treela, quer por lhe poer os caães dachar: e por ensinarmos em * como se esta en- trada se a de conhecer, nos a diremos quando adeante escreuermos as cousas que os porcos fazem, quando se querem assentar: segundo as regras e modos que dis- semos, que os antiguos monteiros tiuerom pera saberem 107 taaes cousas como estas conhecer. E quando os mon-. teiros souberem bem todallas cousas, que os porcos fazem quando se querem assentar, e em cada húa destas entradas uirem cada hãa daquellas cousas, digam que aquella he a mais derradeyra entrada, e per ella podem aleuantar sem errar segundo a arte da montaria, e per ella aleuantem se quiserem aleuantar, quer per treela, ou por poer os caães. A terceira cousa que dissemos que aos monteiros fazia duuidar, quando achauam porco que sahisse de algum monte, e tornasse a elle daquella parte per que entrara, e sahiose outra uez, e tornouse a tambem a elle, teuerom todos os monteiros que seria maao de saber determinar, quando se tal cousa aconte- cesse a qualquer monteiro que andasse a busca: mais pero que assi seia maa de departir, dizela emos em como se a de tirar tal duuida, quando aos monteiros acontecer de a acharem, e esto o milhor que nos soubermos de- mostrar. (ra saibam todollos que deste officio de andar a busca quiserem usar, que quando algum mon- teiro achar tal porco, que assi seia duuidoso, des que tiuer acabado o primeiro cerco, logo se deue de nem- brar que poderia seer, que hum porco poderia fazer aquellas entradas e sahidas: e pera saber se he hum porco ou dous, pare mentes nos rastros, e ueja se he 1. trabalhase, —10, se om, —13. de monteria. — 19. a tambem entrelinha, — 24. melhor. — 25, hora. — 28-29. membrar, ———— 108 — 148 — a tal hum em como o outro, e se uir que os rastros som desuayrados, pollo que dissemos da forma, ou do longo das passadas, entom pode conhecer que som dous: mais quando acontecesse ao monteiro/a mayor duuida que sobre esto queremos escreuer, assi como seer hum rastro tambem de longo das passadas, como da grandeza e forma, pero que todauia duuidasse, como quer que estas cousas parecessem, que deuiam a seer hum, e elle tiuesse que poderiam seer dous aquelles porcos, pera sahir o monteiro de tal duuida a mister que faça desta guisa quando a ouuer: des que uir qual daquellas sahidas he da manhãa, mais segundo as regras que lhe ja dissemos, uolua polla auessa ata que seia fora pollo rastro da entrada, e des hi ata que chegue a outra sahida, e se uir que a outra sahida concorda com a outra entrada, per que uay, em tal guisa que toda he hua, entom tenha que o porco que assi meteo, lhe fica no monte, ca pois som duas entradas, e hua sahida, bem deue a seer certo que em aquelle monte see aquelle porco, que esta entrada e sahida fez: mais porque dis- semos que tornasse polla * avessa, diram os monteiros, e nom sem rezom, que tal tornada seria errada, ca poderia aleuantar aquelle porco que assi ia: ca acon- teceria que seria o monte tam pequeno, que o porco se poderia assentar acerca do rastro per que assi fosse, e em uoluendo polla auessa poderiao sentir o porco, e aleuantarse, e esto he uerdade: mais quando aos mon- teiros compre de fazer esto, nom he senom com deses- peraçom, porque a duuida he tam grande, e nom a, podendo tirar senom auenturando, nom erraram ainda que o façam: se lhe ainda esta cousa for embargosa, 10, Sair — 12. saydas — 15. sayda bis. —18. sayda. — 20. sayda. — 22. razom. — 23, hia. — 24. piqueno, > o - . ETR ST na pm E serao cade o nb cida cotas 2 a dinda ' pa E q to E . a q td Ud tm a caio 15 2 “3 = 149 — assi como he tambem pollo aleuantar, como quer que por aquello nom ficam muyto certos, se o quiserem mais certa fazer, empero que se recreça muy grande trabalho, tanto que em esta duuida forem, arredemse a fora do monte, tanto quanto possam entender que aquelle porco auera as ceas, e cerquemno todo em saluo, e entom se nom acharem mais que húa ida, que ua pera a cea, e a outra entre pera o monte, e se nom acharem as outras duas, entendam que o porco lhes fica no monte: e esta cousa nom ajam os monteiros que se aguisadamente nom' possa fazer, que quando lhe o sa- “buio cheira as sahidas, como as entradas, núnca se faz tam a meude senom nos montes, em que os porcos tem as ceas muy preto dos montes, em que seem, ora seia em inuerno, como em ueraão, ca nom pode nenhum caão cheirar bem as sahidas que se de alta noite façam. E por ende pois que as ceas som acerca, bem pode o monteiro dar o cerco; que lhe fique cada hãa das ceas, ou ambas dentro no cerco, e os monteiros que esto usarem, façam per esta guisa, e sahiram fora destas duuidas. A quarta duuida que escreuemos, que se fazia quando hum porco entraua em hum monte, e o outro sahia daquellas mesmas horas: quando estas duuidas assi uírem os monteiros, nom lhes uem por des- uayro dos rastros, ou das passadas, ou do dar dos ras- tros: e esta duuida por onde uem, por hi se tira, ca se ella uem pollo rastro, e lhe parece mais pequeno, logo a duuida he tirada, e esso meesmo pollas passadas, que quando parecem mais pequenas, e a duuida he assi que he certo que som mais pequenas, logo aquella du- uída he a tambem fora: e se o rastro he mayor, ou | 7. hida. dl 14. preto no texto, perto glossa marginal — hora, -— 16, saydas. — 20. sayram. — 25-26, rostros. — 27. paresce e assim neste cap. — 28, medes. meio EO ema mais pequeno, e esso meesmo as passadas, nom auemos porque o dizer de que guisa se a de saber, ca todo esta . em estimar e em medir, ca por esta guisa se conhece qual he o mayor, ou o mais pequeno, e assi se tira esta duuida: que quando o rastro que entra he mayor, e o 5 outro he mais pequeno, bem parece que nom he ras-: tro todo hum, e por ende deue a certificar que aquelle porco que meteo, que nom he aquelle que uay fora: 109 mais deuemse auisar * os monteiros, que quando assi quiserem parar mentes se he a tamanho hum rastro 1a como outro, que uejam que terra he aquella em que primeiramente uio aquelle rastro, per que uinha, e em tal terra meesma pare mentes em outro rastro em que poem duuida, que tal seia a terra em como a outra, que. se nom for tal, muyto aginha poderia seer enganado: ca 15 saybam os monteiros que terra a hi que do rastro pe- queno faz parecer grande, e terra a hi que do rastro “|grande faz parecer pequeno. E pois que o começa- à | mos a ensinar, sabede, que a terra do barro, ou lama */) que seia corolha, que nom seia solta, estas terras fazem +,9 | parecer os rastros grandes, posto que seiam mais pe- quenos, e as areas soltas, e a lama a tambem solta, estas fazem parecer os rastros pequenos; posto que ela grandes: e esto porque no passar que o porco | passa polla area, tanto que passa, logo o rastro carra 55. da area polla sua soltura: e ainda que a area se nom çarra per si meesma, mais se faz uento, pollo seu cor- | rer tambem faz correr as areas, e carram os rastros, que ainda que seiam grandes, fazeos parecer pequenos. 4 E a tambem a lama solta, que se nom çarra com o 39. uento, senom per si meesma, que em tal guisa he que tam toste que o porco tira o pee da lama, e ella e au 1 d be A + Ea RES e RT Pa . mesmo. — 2. está. — 4.0 (1.º) entrelinha. — 7. a entrelinha. — 13. medes. — 27. se medes. — 31. medes. — 32, tam] que tam. x 4 RR Egas: + ra ns e pla he solta, logo fica assi çarrado o rastro, que muytas ue- zes o nom pode homem enxergar: e se o monteiro nom for desta cousa bem auisado, poderia ficar enganado ; e por ende compre todauia que façam por esta regra, e assi de mayor ou de mais pequeno serom seguros de em ello nom fallecerem : mais poderiam poer os mon- teyros húa questom a dizer, se acontecesse que este porco, que assi sahisse fora, fosse tam grande, em como o outro que entrou ao monte, tambem das passadas como dos rastros, que poderiam fazer, em rezom esta que nom deue hum seer tal como outro, saluo se fosse por milagre, e se tal cousa acontecesse, nom aconte- ceria senom por milagre. E a esta questom se pode responder, que marauilha seria tal cousa acontecer, que fosse em passadas, e em rastro'tal hum porco como outro, que nom ouuesse antre elles algum desuayro, ou - por nacença, ou por cajom que aos porcos acontece; assi como a todallas outras animalias: e quando fosse que seria por milagre, e se milagre for, nom deuemos muyto dello de curar, porque poucas uezes acontece: e pois que assi he, nom embargaria aos monteiros de “fazerem seu joguo, ca posto que o errassem de o faze- rem por esta cousa hum dia, nom falleceria de o faze- rem todollos outros dias: mais por nos nom dizerem que lhes respondiamos com palauras affeitadas, e que * nom chegauam a effeito, e que esto era por mingua de saber, como quer que a nos parece, que assas he de resposta, pero por grande infamia e desfallimento am a qualquer a que dizem, que nom sabe demais aaquel- RNA TR Ealiaa de ENdPao por Cinto nos quêrs mos esforçar por comprir a uontade, aos que tal pre- > 5. seram. — 6, fallescerem — poer entrelinha. — 10. razom está. — 16. entre. — 20, dello entrelinha. — 22, jogo, — 23. fallesceria. — 25. que (2.º) falta por estar rasgada a folha. — 27. assaz. IO “a — 152 — Pa gunta poderiam fazer. Ora creede todos aquelles que esto quiserdes saber, que quando tal cousa acontecesse, que o porco fosse em rastros e em passadas tal hum em como o outro, o que nunca se acontece, ou poucas uezes acontece, que nenhum monteiro o nom pode sa- ber como he, se ante nom duuidar, e quando assi du- uidar, nom se pode tirar a duuida, senom per auentu- rar o monteiro aquelle porco que assi uinha, quando assi o auenturar quiser pera sahir de tal duuida, tenha esta maneyra: pare mentes per que lugar entrou este porco que assi meteo ao monte, e per que lugar lhe sahio o outro, ese uir que he tal lugar, em que pode dar a trauessa, ainda que seia embargosa, dea, e se achar que o porco nom passa, tenha que outro he que uay fora, e outro he o que meteo no monte, e per esta guisa se pode tirar esta duuida quando a ouuer: e se nos dissessem que poderia seer que aquelle porco passa- ria aquella trauessa, que foi dada per meyo do monte, e por ende nom iria fora, ca poderia ficar na outra me- tade do monte que ficaua alem da trauessa: quanto a esta pregunta com as outras que em esto nos poderiam fazer, dizemos que nom diremos mais em ello, ca dize- mos que hum sandeú deitara hua pedra no mar de Espanha, que a nom poderiam tirar todollos sabedores do mundo. A quinta Quuida do entrar do rio, quando acontece a algum monteiro de achar porco que em rio entrasse, quer fosse a seer polla agua, e ante que en- trasse ao monte, ante sahisse fora da agua, ou em indo polla agua, logo tiuesse lugar na sahida pera seer, e si- uesse: a este entrar da agua, que assi o porco entrasse, he de força, que faça desta guisa, ir pollo rio a fundo, ou pollo rio a cima gram peça, e depois passar a outra 1. hora. — 10. por, — 17. dissesem. — 27. agua, e assim neste cap. — 29-30. si uesse. — 32, acima. Extinto -» in o ICE SEA PDT PPM END EMPREGAR — 153 — parte dalem du entrou, ou entrar na agua, e sahir da- quella parte de que entrou, ou ir pollo rio ata que che gue ao monte, em que see: pera esto desentrepetrar, e sahir de tal duuida o monteiro que apraza, faça desta guisa. Tanto que lhe o porco entrar na agua, passe logo da outra parte, e uaa dando a trauessa polla beira do rio ata que o ache: e se por uentura for tam longo * espaço, que de rezom nom deuia ir tanto polla agua, por se desempachar do que ouuer de fazer, passe logo o rio, e uolua da parte, de que lhe o porco entrou, por se guardar daquello que lhe dissemos, que os porcos algãas uezes faziam, que tanto que entrauam na agua, que logo sahiam daquella parte donde entrauam: mais se elle leuou a primeira trauessa pera cima, e uem pera fundo, escontra hu meteo o porco na agua, e chegou onde o meteo, e nom no achar sahir da agua, nom passe logo a agua, mais uaa daquella parte meesma, assi como se o cercasse: e des que for tam longo espaço pera fundo, em como foi pera cima, se o nom achar, “passe a agua da outra parte, uenha descontra cima, e assi sera força de o achar. Mais este passar destas aguas, em dando o cerco, compre que a seu poder non o dee senom per lugares espessos deruas, ou de “matos, em que podesse ficar o cheiro do porco, ca se o desse por agua limpa, poderia seer que o porco nom sahiria ainda fora da agua, e passaria per ali, e quando o assi achasse, entom poderia ir por elle, aprazalo, e sahiria em esta primeira parte da tal duuida. Ora assi quando acontecesse que o porco uay polla agua ata que chegue ao monte, em que a de seer, e na 1, du texto, donde glossa marginal, — 4. sair. — 8, razom. — 15. hu texto, onde glossa marginal, — 17. medes. — 23. dé, — 24. mantos texto, matos glossa marginal. — 28. hora. — 154 — entrada o monte he tal, que o porco pode em elle seer,, e o monteiro uee aquelle monte, e parecelhe que o. porco bem poderia seer em aquelle monte, e o nom achasse sahir, entom o milhor que se podera fazer, he cercar o monte dentro nos cercos que ante dissemos: e nom o achando sahir, deue de teer que alli lhe see: pero se o monte nom for mais que de húa parte do rio, eo rio for tam pequeno, que de húa parte podesse enxergar a outra, leixé o sabuio, e uera se a hi car- reyro per que entrasse, ou lama posta em algúas ra-, mas, per que possa entender que o porco por alli entra, e quando o uir, sera mais certo que por alli entrou, e quando uler a poer os caães, poerlhos a mays certos: mas guardemse, que quando aquello quiserem fazer, que o uento lhes nom uenha detras das costas, ca se o uento uiesse da parte donde elle ucem, podelo hia sen- tir, e muyto aginha o poderia aleuantar: ca saybam todollos monteiros, que a mais certa cousa que he, per que se o porco aleuanta assi, he quando lhe poem o sinal de lhe uir o uento das costas, e ficarlhe o porco a souento. A sexta duuida destas cousas que dissemos, de quando se os porcos assentauam, onde ceauam, se 112 pode tirar per esta guisa: acontece aos * monteiros de fazerem a busca por algum lugar que seia de charneca de uassa, que nom tenha o porco lugar certo onde seia, senom onde lhe da a uontade, ou per carualhaaes, ou per soueraaes, em que o porco se pode assentar, onde quer que quizer, ou sera que dara o monteiro a tra- uessa per algum monte pera saber os porcos, que em elle entram, em que nom auera de fazer Ro cousa senom pera lhe poer o sinal, e passara por elle. Ora -- 4, sair — melhor. — 6. sair. — 13. a (2.º)] ha. — 21, souento texto, sottavento glossa marginal. — 26. bassa (vasa). cmi FOME —— quando esta cousa assi acontecesse de o monteiro achar porco em tal lugar, e o porco possa seer em todo lu- gar, quando o assi achar, em como quer que ante de esto que escreuemos, dissemos que nenhum monteiro deuia de andar pollo porco senom da manhãa: pero porque os monteiros quando tal porco acham, algúas uezes nom leixam de ir por elle: e os que assi quise- rem andar pollo porco que uay de alta noyte, e lhes acontecesse esto, compre de seerem ensinados pera se saberem desto guardar: e a cousa em que os monteiros podem em si tomar duuida, e polla duuida irem sem- pre a reguardo, he esta: quando acharem tal porco, e acontecer que ueem com elle de longe, e em toda a carreyra que com elle uierom, nom acharem lugar, em que o porco ceasse, nem lhe pareceo que uay de taaes horas, que de aguisado nom leixasse de cear, e quanto mais uam por elle, tanto lhes cheira o seu sabuio mi- lhor, e a tambem o rastro lhes parece mais da manhãa: ' e depois que topasse na cea, de mais se for pam, ou uuas, ou outra algúa cousa assignada, que nom seia em toda parte, senom em aquelle lugar, onde uay cear, assi como muytas uezes acontece, e lhe parece no chei-. rar do seu sabuio, e da uista, que todo he da manhãa, com estes sinaes: a húa pollo ir de longe, e a outra polla cea seer da manhãa, se o lugar for tal em que da- guisado podesse seer, logo lhe compre tam toste que achar a cea, que assi seia da manhãa, que se afaste fora delle, e que nom cure de lhe poer o sinal: ca pollo en- trar que os monteiros a todollos porcos fazem, quando lhes querem poer o sinal, forom muytos taaes porcos aleuantados, entom cerquemno, e entom faram duas bõôas montarias. A primeira se hi see, aprazalo am, e ar a E od, DES EA PODE Ra A PR To end If À - =» 9. serem. — 17-18. melhor. — 19. de. — 20, uvas. — 30. signal, 113 ami "156; —— se hi nom seuer, nom se deteram andando polla cea, ca a todo monteiro he grande erro do que a de fazer, em andar polla cea do porco: e ao que dissemos que se uissem o lugar aguisado, tanto deue de seer aos mon- teiros em duuida, quando estas cousas assi ueerem, ca assi se deuem a guardar do pam alto, como de outro lugar de mato, em que daguisado deuesse seer: e pois aconteceo a alguus porcos seerem em no pam, assi se deuem de guardar delle, em como de todo outro lugar * que de guardar seia, e esto meesmo tambem nas uinhas. A segunda he assi, que os monteiros deuem a filhar em si duuida, que lhes pode esto meesmo acontecer, assi quando da na trauessa em fazendo a busca a tal monte, em como ante desto dissemos, que o monteiro nom deuia al de fazer, senom metendo o porco no monte, e poerlhe o sinal, e leixalo: e quando tal trauessa qual- quer monteiro der, e achar algum porco sahir do monte, e depois o nom achar tornar, entom deue a sospeitar que lhe ficou fora: e se quiser andar por elle, seia aui- sado, que se lhe uir as cousas que na outra parte es- creuemos com esta, da nom tornada do monte, que sempre tambem ua duuidoso : e pera se guardar deste erro, tenha o modo que ante desto escreuemos, e assi por amballas partes sera guardado. A septima duuida he em que fallamos, que os porcos assi fazem dauia- mento, quando os monteiros quiserem saber, como sahi- ram de tal duuída quando tal porco acharem, se som dous ou hum: pera esto poderem saber quaaesquer monteiros, a mister que parem mentes nos rastros, e no cheirar que lhes o seu sabuio cheira, e no entrar do monte, em que lhe tal porco entra: e este entrar se 5. ucherem. — 6. de] do. — ro. medes. — 12, medes — 17. sair. — 22, uaa. — 23. antes. — 26-27. sairam. parte em duas guisas: a primeira he que se se o porco assenta per ali per onde foi, assi em como da primeira ida achasse algum monte, em que podesse seer, quer fosse grande quer pequeno, e da primeira ida trespas- sasse aquelle monte, e da outra ficasse, e se assentasse em aquelle monte meesmo: a segunda he quando assi fosse per cima de seu rastro, e indo assi o leixasse, e se fosse assentar noutra parte: pera esto saber compre, que primeiramente ueja em como lhe cheira o seu sa- buio em quanto uem em elle, ata que se o outro rastro ajunte com aquelle que antes leuaua, e o sabuio se se em elle mais auíua no cheirar, que antes que o achasse assi entrar, deue de presumir que aquelle he o porco, mais nom certificarse, que assi he sem mais saber. Ca pois dissemos que lhe conuinha a saber se som dous, se hum, pois podem seer dous, e hum, posto que lhe cheire mais uiuamente, nom deue ainda a seer certo que he hum, ca de o caão cheirar mais uiuamente o porco, des que entrasse sobre o seu rastro, he cousa razoauel de se fazer: e por esto, se acontecesse assi poendolo por exemplo, que o porco andasse hãa legoa, e a f* cabo da legoa tornasse fora daquelle caminho que ,,, ante leuaua, e entrasse de sobre o seu rastro, bem de- uia esta cousa a parecer aos monteiros, que o caão se deuia mais auiuar no rastro em o cheirar: e se o mon- teiro nom uir desuayramento na forma dos rastros hum do outro, nem esso meesmo no longo das passadas, e com esto lhe parecesse mais fresco, e o sabuio lho cheira milhor, por esto quando o monteiro uir que na entrada, que se o outro rastro ajuntou aaquelle que leua, e o sabuio lho cheirar mais uiuamente, logo deue Te E py RARE geme gás ao qu Usa “4 é 3. quer] q. — 6. medes, — 8. a sentar. — 17. uiuamente] uniça- mente. — 19. o entrelinha. — 23. antes, — 27, medes, — 29, me- lhor. O ae si 758 a presumir que aquelle he, mais nom se deue certificar sem mais fazer, assi em como ante dissemos. Mas quando mais quiser saber, e seer certo, deue a parar mentes se o mata, O que entrou, e se uir que o que entrou de sobre o outro, e o mata, deue mais a pen- sar, que aquelle he o que ante leuaua, porque nos dissemos que deuia a parar mentes no rastro, se o rastro he a tamanho hum como o outro, e se o talho das unhas som taaes húas como as outras, e a tambem as passadas, e se o monteiro estes sinaaes uir que nom “desuiam, tenha de certo que he hum porco. Ca assi como dissemos na quarta duuida, que nom seria senom de milagre que hum porco fosse em rastro e em pas- sadas tal em como outro, bem assi dizemos aqui. | Per -ende se deuem a certificar os monteiros que he hum, quando todos estes sinaaes uirem, e nom per hum sinal soo : ca assi deue a fazer em esto o monteiro em estes sinaaes, em como o faz o Phisico que posto que lhe a urina mostre hum sinal, nunca he certo da door do paciente, a menos que nom concorde com o pulso, e «com o gesto, e disposiçom que tem aquelle paciente de que pensa: e des que os concorda, entom diz aquello que he, e entom he certo da dor: e assi o deuem a fazer os monteiros em este:caso, que per hum sinal nom deuem a teer que he hum nem dous, a menos que nom concordem estes sinaaes: e des que os concordar, se todo o rastro for hum, e se for hum que nom seia tal em como o outro, deue de teer que som dous, assi em como o rastro hum seer mayor, e o outro mais peque-. no: mais na parte do assentar que se pode ainda cer- tificar, pero todauia com estes sinaaes que ja escre- 2. antes. — q. antes. — 11. tenham — 13. porco] porto. — 22. aquel. — 26. concorde — signaaes. — 29-30. piqueno, — 31. signaaes.. IO Y b y ; Dc nd E ci AS 4 uemos, que quando assi for por tal porco, e levar os rastros ambos de sembra, e lhe o sabuio leixa aquelle per que antes uinha, e uem mais uiuamente per aquelle que se aparta a seer, bem tenha que aquelle meesmo he o porco que lhe entrou de sobre o seu rastro, que en- tom se uay a assentar, e que aquello foi uolta que andou dando: e esto meesmo se se assenta em tal monte, em como ante desto dissemos, todauia com estes si- naaes se deue a certificar que quando metesse dous rastros, e lhe nom sahisse mais que hum, de mais se lhe o sabuio cheira * mais que o outro, logo deue a seer 115 | certo que todo aquellé rastro fez hum porco. E outra cousa a hi, per que os monteiros sahem mais certos desta duuida, quando nella cayem, mais he de gram tra- balho, e he esta: quando lhe o porco assi passar, logo uam por elle, e posto que fique aprazado pera uerem se torna o rastro, em tal guisa que mostre que uerda- deiramente aquelle meesmo he o porco, por que primeiro começou de atraelar: e quando lho assi mostrar que em tal guisa torna esta tornada, faz mais certos os mon- teiros que aquelle he o porco, que outra cousa que seia dita: pero que os monteiros em esto certos seiam, nom deuem dello de curar, senom o fazerem as cousas per que mais toste podem aprazar, e das outras nom curem nada. A outaua duuida que dissemos, que os porcos faziam nas entradas dos pauys, se tira per esta guisa. Seiam certos todollos monteiros que estas cousas qui- serem saber, que quando estas cousas acontecessem, que em todo lugar nom acontece, porque se possam saber estremar, e quando se assi estremam, nom se estremam |; senom nos pauys que som cheios derua ou de junco meudo, e nestes lugares se estrema e nom em outro 4. medes. — 7. medes, — 8, antes. — 13, saaem, — 14. caem, — 18, medes. — 26. pauues (?). — 31, paules. — 160 — nenhum. E esto quando os monteiros quiserem saber, parem mentes o uado per que o porco uinha, e uejam que anchura fez na herua o seu porco per que assi uay: e quando se cruzar, ou der uoltas por cima do outro, pode ueer se o seu porco fez a anchura na herua mayor, ou mais pequena, e por esso o pode conhecer: mais a hi outra cousa mais certa que esta, per que se co- nhece, e he esta: quando o porco assi nada, e no uado acama as heruas, ou os juncos de ilharga: e os outros porcos, quando assi entram, esso meesmo o fazem, e as pontas das heruas, ou dos juncos sempre uão lançadas escontra onde o porco leua o rostro: quando este porco assinalou, e leuou consigo a herua, ora seia mais cedo que os outros, ora mais tarde, de força he que hum delles desfaça o uado do outro, e que aquelle que aa for mais tarde desfaça o uado do que for de mais alta noite: e ao desfazer que assi-desfaz, he que a herua que o primeiro porco que por alli passou, lançou as pontas por deante, que o outro porco que de pos elle uem, que as torne por ametade do uado que o outro faz, ou por a outra parte contraira onde passa o uado. E com estas cousas pode o monteiro conhecer, qual he o seu : porco per que uinha, se parar mentes quando o porco, per que assi uay,' se cruza com os outros, e uir que aquelle per que uay, brita o uado dos outros, sempre tenha. que aquelle he o seu porco: e esso meesmo se ( . . o seu for britado dos outros, tambem podera dizer que aquelle uado que he britado, que he o do seu porco, per que antes uinha, e assi de hua guisa ou da outra tam- 100 bem se pode saber qual he. * A nona duuida se res- ponde per esta guisa, que ja sabudo he aos monteiros, segundo ja dissemos na segunda duuida, que quando se 10. medes. —11. lançados. —13, hora. — 14. hora — 26. medes. — 28, do om. en A O Pt MS A E WD AE & di ira da Io. PESE ” É TESE Speção MO ge] » tm EE dis O Se era o SR e aro pico Vremeaçma so 167 = achassem mais rastros entrar que sahir, que aquelle porco ficaua naquelle monte, ca pois som duas entra- das, e húa sahida, forçado he que hum porco fique apra- zado. Mais se o monteiro quiser saber se som dous porcos os que lhe aquello fizerom, deuese certificar pollos rastros e pollas passadas, se som taaes húas como as outras, assi como ja nos outros lugares escreuemos, em como fazem os monteiros quando metem muytos porcos em húa banda juntos no monte, e a entrada contam os rastros, e se todos uam fora, logo dizem, tantos porcos ficam neste monte, e assi deuem a fazer na entrada deste porco: e se taaes forem huas como as outras, deue a seer certo que hum porco he o que aquella cousa faz. E se forem desuayradas, que nom he tal hãa como a outra, he de teer que som dous. Pero porque se pode fazer húa duuida, que ja he muyto usada aos monteiros, a se dizer, como ja escreuemos “em este liuro em muytos lugares, que se hum porco fosse tal em rastro como em passadas, como se poderia saber se fossem dous, se hum: dizemos que se pode- ria saber, mais que sera com grande trabalho do mon- teiro, e que ainda que o nom faça, nom erraria em sua montaria, saluo se ouuesse muy grande uontade pera aprazar muytos porcos: e de como se podera saber, he per esta guisa: que se meta por outro porco que uay » fora, e ua tanto por elle ata que o apraze, ou se uolua ao rastro ata a entrada, donde achou o outro rastro que entraua ao monte, e per esta guisa se podera saber se som dous, se hum: case o aprazar, sabera que som dous, e se lhe o rastro tornar a outra entrada, bem uera que faz todo hum: e assi se tira essa duuida, quando aos monteiros acontecer de a acharem. A de- 1. sayr — 3, saida, — 15, he] de. — 1. será — 24. poderá, — 25. por. — 28. poderá. — 31, uerá. H 117 | | — 162 — cima duuida dizemos que se ha de tirar per esta guisa: se os monteiros nom quiserem errar, nem quiserem tomar porfia nesta cousa, deuem a fazer per esta guisa: quando chegarem ao lugar, por onde entram os porcos, logo se nembrem que poderiam seer dous: pera sahirem desta duuida, uoluam ambollos monteiros polla auessa, e logo sahiram da duuida, ca nom poderiam muyto andar que se nom estremassem os rastros: e logo diria cada hum delles, nom uim eu por este, e se for esto meesmo o pode dizer: ca logo diria, per aqui uim eu, e esso meesmo diria o outro, e logo essa duuida sera fora. A undecima cousa que assi os porcos fazem dauiamento he esta, que he peor de saber que todallas outras, ca tanto he maa de saber, que dizem todollos monteiros, que se seis entradas entram em hum dos montes, e no outro seis, ou mays ou menos, com tanto que de cada hua das partes as entradas seiam pares, e lhe o sabuio cheire * todo.de húa guisa, e os rastros som todos de hãa igualdança, que nom façam estremança em nenhãa dellas, que nom poderia saber em qual daquelles montes see o porco: e nos assi o dizemos com elles, que se nom pode saber, ca por uezes ouuimos acertar de se acontecer assi, e nunca uimos nenhum monteiro que lhe pudesse dar bom remedio, quando esto lhe acon- tecesse de o achar: e por ende nos aconselhariamos a qualquer monteiro que fosse, que quando tal porco achasse, que antes o leixasse, que afanar muyto pollo aprazar: ca como quer que ha hi húa cousa, mais he de pouco ualor, em que se pode certificar em ello, e he aquella que adiante diremos no capitulo das cou- sas, que os porcos fazem quando se querem assentar: e quando o monteiro uisse cada hum daquelles sinaaes, 3.por. — q. medes. —11. medes — será, — pra acontescesse. — 30. capitulo] cap. — 32. signaaes. Io 15 DE MS, MD JA 5 8 = 10 ; 15 é 4 . 20 mo A 25 3 ai 1a Pr d+ Mp À ma a O LA ERP poderia cuydar que aquella era a derradeyra entrada, e entom poderia dizer, que em aquella parte do monte sia, mais nom com grande certidom. A duodecima cousa que dissemos, que os porcos faziam dauiamento, quando se esta duuida se faz, os monteiros a deuem a tirar per tres guisas: a primeira he esta, per que se esta duuida tira: nos fallamos na quarta duuida, que por seer o rastro mais pequeno, ou mais grande hum que outro, se tiraua aquella duuida, com todallas outras cousas que. dissemos que se auia de tirar, e em esta primeira parte, per que a duuida se tira, he assi como a quarta duuida. A segunda cousa he esta, por que o monteiro podera fazer pera sahir de tal duuida: tanto que esta duuida tal achar, tome hum daquelles rastros, e uolua polla auessa, e ande tanto por ella ata que tope na cea da- quelle porco de que leua a auessa, ou sahira polla outra entrada que entrou aaquelle monte: e se sahir polla outra entrada, per aquella pode seer certo que he hum porco, “e se assi for indo por elle, e topar na cea, logo se tire a fora, e faça esso meesmo a outra entrada, e se uoluer em como dissemos da outra, e sahir per aquella per que antes uiera, esso meesmo pode dizer que he hum, se achar a cea, ou as camas, em que ante aquelle dia se- uerom, entom seia certo que som dous, e assi se tira esta duuida per esta segunda guisa. A terceira cousa per que se tira esta duuida, he esta: dar a trauessa por ambollos montes em tal guisa, que os possa partir, e se nom achar nenhum delles passar, sera certo que som dous: ca pois cada hum entra em seu monte, e nenhum nos passa a trauessa, logo bem parece que som dous. A este dar desta trauessa tiuerom algúus monteiros, 1. derradeira. — 12. poderá. — 15. elle. — 16. sairá, — 17. sair. — 20, medes. — 22. medes. — 23. antes — aquel. — 23-24. se uerom. — 30. paresce. Es 164 — que era maa de a darem, e outros tiuerom que era bõa de a darem: e os que disserom que era maa, disserom, que pois que os porcos siam em aquelles montes, que em dando assi a trauessa que os poderiam aleuantar, e por tanto era maa de se dar: e os outros que tiuerom 18 que era bõôa de se dar, * disserom que era milhor poer- se em auentura a qualquer monteiro em aleuantar ou nom, ca de nom aprazar, quando o faz sobre algúa du- uida, e a esta parte se tiuerom todollos bôos monteiros. Mais quando tal trauessa ouuer de dar qualquer mon- teiro, que daprazar se trabalhe, seia auisado que a nom dee senom per força, e entom nom per todo lugar, ca se per todo lugar a desse, poderlhe hia auir de o aleuan- tar, assi como disserom os outros que este dar de tal trauessa era maao: mais quando a ouuer de dar, sem- pre a dee per carreiros que seiam mais limpos que elle poder achar, ou per mais raso monte que elle uir que em aquelle monte ha: ca bem sabem todollos mon- teiros, que em taaes lugares as mais poucas uezes seem . os porcos: e qualquer monteiro que sobre tal duuida destas cousas fezer, ou cada hãa dellas per aprazar o porco, que assi for duuidoso, nom erra em fazer o mon- teiro o que deue sobre tal cousa. E per estas guisas | que uiemos escreuendo, poderam saber os monteiros as cousas que os porcos fazem por auiamento, e saberse ) | am guardar que per ellas nom fiquem em fallimento de leixar por ello de aprazar. “6. melhor. — o. a om. — 12. dé. — 13. leuantar. — 16. dé. — 18. aquel. — 25. saber se. , t . = 4 ; E “q o À va sa va » ] po 1 E: EM ES É) E tu á é E E o “M A EA sp ay [E E d om a ' a q e Pd E) i f A ç + Eta A y == 165 — Capitulo xxj, de como os monteiros am de conhecer os lugares que som mais azados, em que os porcos mais a meude soem seer segundo o tempo de aprazar. . Ainda dissemos que era compridouro ao que ouuesse de aprazar, de conhecer os lugares azados pera os por- cos seerem, e esto segundo os tempos em que aprazam, lhes he necessario por se saberem guardar daquelles lugares quando forem pollo porco, pollo nom aleuanta- rem: e os lugares em que os porcos mais continuadamente seem no ueraão, som estes que se seguem. Primeira- mente nos outeyros altos, e nos ualles per que correm aguas, e em silueyras, e murteyras, e em aueleyras, e em fentaaes, em que nom dee sol naquelle tempo, e em carualheyras, € geasteyras: e em estes lugares se assen- tam os porcos mais a meude, que em todollos outros | no tempo do ueraão, e esto he segundo as terras que som: ca em todollos lugares do monte nom som todos estes que assi dissemos, ca entre Tejo e Odyana, em poucos lugares, ou em nenhuus, se acham carualheyras que seiam de folha ancha, nem em Serra de Estrella, aa de leue se podem achar murteyras. E ainda he assi que entre Tejo e Odyana, posto que o assi dissemos, que nas feiteyras se assentassem os porcos em tal tempo, À posto que em algúus * lugares as aja, os porcos nom se assentam em ellas de boamente, em tal guisa que pou- cos ou nenhúus se assentam em ellas. E esto he por- que entre Tejo e Odyana he a terra mais quente que na Beira, e todollos carrapatos se uam pera os fentos, porque os acham frios, e por esso ha mais em ellos que R [ Ê E | da HQ 1. conhescer e assim neste cap. —g. continuadamente, —r2, aguas e assim neste cap. — aueleyras] aueseiras (?) — 13. dé. Lo = 166 — em todallas outras heruas: e por esto todollos porcos em as terras quentes se anojam de seer em ellas: ca como quer que dissemos, que em estes lugares siam os porcos mais a meude, nom deuem a tomar todollos monteiros, que esta cousa que dissemos, he geral em todallas terras: mais assi como as terras de quentes, ou de frias que som, assi deuem de tomar a se guardar destes lugares, que dissemos, em que podem seer, e em estes lugares seem no ueraão mais a meude os porcos. E ainda que em todollos lugares se assentem por tal fe ta pero muyto mais a meude em estes que em todollos outros: por ende quando aos monteiros lhes entrar em este tempo do ueraão em tal lugar, logo se guardem delle, e nom uam por elle mais adiante: mais se uir algúas daquellas cousas que adiante diremos, que os porcos fazem quando se querem assentar: mas a primeira cousa que dissemos, quando se os porcos em tal tempo assentam nos altos, em esta cousa compre aos monteiros de seerem bem auisados, ca em todo lugar nom som os altos azados pera se assentarem os porcos: ca se algum outeiro ou monte fosse tal, em que se o porco podesse assentar, que fosse de esteueyras, em que nom ouuesse soueral, ou sargaços, ou outro qual- quer monte que fosse quente, em semelhante deste que dissemos, nom tenha nenhum monteiro, que se no tempo de ueraão o porco em elle de boamente assente, saluo se for com algúa força de nom teer outro lugar, em que se assente, senom em aquelle: e porem posto que o porco em tal, ou por tal monte entre, nom tenha que lhe hi see, e em ir por elle nom erraria segundo opiniom de algúus monteiros que sobre esto fallarom, | pero que a nosso juizo milhor he de se guardarem 10, todallas] todas, — 17. se entrelinha. — 18. assentassem (?). — 23. otro, — 32, melhor. IO 20 25 30 07 == de tal lugar, ca de ir por elle: ca por irem por elle poderia seer que o porco per algum azo seria alli, e se por elle fosse aleuantallo hia: e se se delle guardasse, e o porco por algúa cousa se assentasse em aquelle monte, posto que o monte nom fosse a tal, que pollo tempo daguisado nom deuesse de seer, nom leixaria de seer aprazado. Por ende parece que esta segunda rezom he milhor que a primeira, e assi o deuem a fazer todollos bôos monteiros * que quiserem aprazar : e em 120. todollos outros lugares que dissemos, que daguisado no tempo do ueraão deuiam seer os porcos, de todos se os monteiros deuem de guardar, que a tanto que os uirem, que nom uaam por elles mais adiante. E esso meesmo os lugares que no inuerno som azados pera se os porcos assentarem mais a meude, assi he nos lugares em que o sol daa mais continuadamente, e nos lugares que som abrigados dos uentos, assi como corregos, os uales que “seiam de si quentes, é que o uento nom possa em elles entrar: e os montes que som quentes, som de esteuaes, 4 e de carrascais, e de sargaços, e de tojaaes que seiam grandes e uelhos, e em estes muy continuadamente seem os porcos no tempo do inuerno, que em outros montes: e de taaes montes como estes se deuem os monteiros de guardar, que nom entrem por elles quando atraela- rem pollo porco no tempo de inuerno : e em esto meesmo se deuem de guardar do monte em que continuada- mente todo o dia daa o sol, ca em estes lugares no tempo do inuerno se assentam mais a meude os por- cos, que em outros algúus lugares, posto que as matas seiam daquellas que nos dissemos que seram frias. e 3. alevantallo] alevanlo, — 7. paresce. — 8, razom. — 9. bos. — 12 de om. —13. medes. — 16. dá. — 17, corregas. — 20. segarços — de (3.º) om. — 25. medes. — 27. dá. ” ( e. 4 , k É. ! t + tê 08 Capitulo xxij, como os monteiros podem conhecer as cousas que os demais dos porcos fazem, quando se querem assentar. Ainda dissemos que lhes era compridouro de saber as cousas, que os porcos fazem, quando se querem as- sentar, ou as demais das uezes que se assentam as fazem, e esso em como quer que os monteiros sou- bessem em as uzando muytas uezes, e achandoas cer- tas era uerdade, todas ou as demais que assi prouarom, nom som ellas em si tam certas que algúas uezes nom: desfalleçam: ca esta regra he assi uerdadeyra em como a dos celurgiaães: ca diz hãa regra na celurgia, que todo homem que for ferido no miolo em tal guisa, que a tela * da dura mater e da pia mater seiam rotas, que todas som mortaaes, em pero nom leixam algúus de uiuer por esso: e sobre esta contradiçom desta regra uimos auer grande desputaçom: ca algúus diziam que esta regra era falsa, porque se algúus uiuiam, e a regra de- zia que todos morriam, que ella era falsa, e outros di- ziam que nom, ca diziam que se os que esta regra daua por mortaaes, e que os mais delles se morriam, e os que uiuiam em como se fosse per milagre, e que por ende . a regra era em siuerdadeira, pois que nos demais estaua em si uerdadeira: e em esto meesmo he o que diremos das cousas que os porcos fazem, quando se querem as- sentar, ca todos quando as fazem, se querem assentar, e poucos a hi que as façam, que falleçam de se assen- tarem: e per esta guisa as tem os monteiros por uer- dade, porque as demais ou todas se acertam de seer É 1. conhescer. — 11. regla — verdadeira. — 16. regla. — 18, re- gla bis. — 20. regla. — 24. medes. — 27. fallesçam. — 28. por. » nad, - Carga — o su Ed certas, e qualquer porco que as faça, logo se assenta: e por ende quando algum monteiro que se trabalhar de | aprazar, uir que lhe o * porco cada húãa destas cousas quando entrar ao monte fezer, logo tenha que o porco se quer assentar, demais se o porco for da manhãa, e lhe o seu caão cheirar bem. Ora as cousas que os porcos fazem, quando se assi querem assentar, per que os monteiros podem certificar, que aquelle porco he que lhe aquellas cousas faz, que see no monte, em que en- tra, som estas que se seguem. Primeiramente quando hum porco entra em hum monte, entra a tam passo, que do uir que antes uinha, lhe faz grande differença ao en- trar, que entra muyto passo do que antes uinha, como se as mais das uezes acontece, que quando se o porco - quer assentar, que entra-tam passo que os monteiros a maas penas podem enxergar por onde entra: e quando os monteiros uirem que lhes o porco esto faz, logo se guardem que nom uaam mais por elle adiante: e di- zem alguus per que fazem os porcos esto, ca pois uem de passo, que assas seria de entrar assi na cama: e algâus disserom, que sobre esto fallarom, que o fazem por instincto natural, que lhe daa pera se auerem de guardar, porque quando assi entra no monte, onde se quer assentar, por lhe nom seer achado o rastro por elle, e lhe seria perigo s que por esso entra assi a passo: e que esto assi seia uerdade, ou nom, esto nom he sem fallacia, como quer que elle em si nom leixara de secr verdade, ca muytas animalias e aues per guar- damento de suas uidas fazem muytas cousas seme- lhantes a estas. A segunda cousa que assi os porcos fazem, per que os monteiros deuem a conhecer, quando 5. manham. — 6. can — hora. —13. muyto)] mais (?). — 14. acon- tesce, — 16. más. — 18, adeante. — 20, assaz, — 22. dá. — 27, lei- xará. — 31. a conhecer] a aconhescer. 121 = 122 h se os porcos querem assentar, he quando o porco uay bem da mankãa, e a entrada do monte da do rastro, e entom tiuerom que era htia das cousas per que os mon- teiros podem conhecer que se quer assentar, e a rezom per que esto-faz, he que elle tem ja por seguro o monte, onde se quer assentar. A terceira he quando hura porco entra em algúus montes, assi como charne- cas, ou montes grandes, e des que he em lugar agui- sado, em que se deue assentar, e ande dando uoltas de hãa parte e da outra, esta he húa das cousas per que os monteiros podem conhecer, quando se querem assentar: e o porque fazem estas cousas estes porcos, assi he, porque tem muytos lugares em que se assentem: e quando se assi uoluem, nom he senom polla uontade que lhes daa ora pera seerem em hum lugar, ora em outro: e quando os monteiros esto uirem fazer, tenham que acerca se lhes quer assentar, e guardemse que nom uam mais por elle, ca os demais ou todos que esto fezes- sem, se * por elle fossem adiante, seriam aleuantados. A quarta he esta, que os porcos fazem, que ainda he muyto certa, que quando algum porco entra em hum monte per algum carreyro, e uay bem da manhãa, e de passo aguisado, e se lhe desuia pera entrar em algum monte, e quando entra, entra a tam passo, assi como ante dissemos. (Ora esta cousa he a tam certa aos mon- teiros, que logo se lhe assenta a tam junto do carreyro, que he defezo a todollos monteiros, que tâm soomente o rostro do caão nom leixem desuiar do carreyro: ca seiam bem certos os que este liuro leerem, que a muy- tos aconteceo, que leuando assi este porco encarreyrado, que por darem ao seu a treela longa, que como se lhes 2. da do] daa do (?). — 4. conhescer — razom, — 10. per om. — 11. conhescer. — 15. dá — orã (2.º)] hora. — 18-19. fezesse. — 22. carreiro. — 24. antes. — 25. hora. — 27. solamente, — 28. ros- tro] rastro (?). — 30. acontesceo. = 31. ao seu [cãao]? IO 20 30 as bgrá amd Ein Cp E O Rs GM Mncgoso 4 2 Vi na = nt NES dá Nm er e ba E E ol " E, “FP. q : bi a er A * - PW” r N : — 171 — o seu caão desuiaua por onde o porco ia, tam toste sal- taua o caão com elle na cama, e o porco-era por ello aleuantado. A quinta cousa he contrayra destas que - dissemos, que o porco entraua passo, ca muytas uezes acontece que hum porco uay per hum monte, e nom uay encarreyrado, e quando chega acerca da cama, arrebatase com saltos longos e grandes correndo rijo. Ora em esta cousa se mostra a tambem que quer seer, e mais pera esto compre aos monteiros de se auisarem, que parem bem mentes, se o faz per sua uontade, ou por outra algãa- cousa de que se espante, assi como soem a fazer por lobos, ou boys, ou por algãas outras bestas: e se uir que assi se espanta por algãa destas animalias, achandolhe o rastro ou uendoas do olho, nom seia bem seguro que lhe see em aquelle monte: mais se nom uir nenhãa destas animalias, nem achar o rastro dellas, entom se certifique que see hi, ca muytas uezes acontece aos porcos, que por cuydarem que algúa outra animalia lhe tem a cama tomada, em que se assi quer lançar, que mouem rijos pollas espantarem pera lhes leixarem a cama, em que se querem assentar. Ainda algúus dizem que o fazem por algua outra cousa, ca assi como os homêes am sabor de trebelhar, e que elles com sabor de si meesmos filham aquelles saltos, com sabor de se lançarem na cama: em como quer que cada hua destas cousas assi seia, todauia os monteiros, quando assi forem por montes, logo se guardem delles, ca seiam bem certos, que quando estas cousas fazem, que acerca se querem assentar: ainda mais, que des que elles começam os saltos, nunca os querem leixar de fazer ata que se nom deitem na cama. A sexta cousa, 2. can, — 5, acontesce. — 6. achega. —8. hora. — 15. see em] seem, — 18, acontesce. — 26, assi entrelinha — sejam. — 31. À sexta cousa... he esta] apposição marginal. 123 Eros 172 paro per que se a tambem parece que se querem assentar, he esta: muytas uezes acontece a hum porco, que chega a hum monte, e anda arredor delle, e passando a metade, ou as duas partes delle, daa uolta: e tanto que o mon: teiro lhe uir dar esta uolta, logo se guarde delle, *ca seia bem certo que este he hum dos sinaaes, per que se lhe o porco mais mostra, que se lhe uay assentar no monte, a que assi tornaua: e esta uolta a tambem se faz, ainda que o porco atrauesse polla metade do monte, assi “como esta outra que dissemos, que andaua darredor: e a esta cousa dizem os monteiros, que o faz por muytas cousas, ca: húus dizem que o faz, porque quando per alli passa, nom ha uontade pera se assentar, e outros dizem que o faz por se segurar no monte, ora ande a darredor, ou passe por elle, e des que o sente seguro, entom uolue a assentarse: e todollos monteiros que cada hãa destas cousas uirem, que lhes o porco faz, quando por elle forem, todos tenham que se quer assen- tar, ca estas som todallas cousas que elles fazem, per que se mostra, quando se querem assentar. Ned Capitulo xxi1j, que ensina como os monteiros que se trabalham de andar a busca, como deuem de saber aprazar. Em como quer que uiemos dizendo as cousas, que pertenciam de saber conhecer aquelles que auiam de aprazar, conuem a saber os rastros húus dos outros, e departilos de que animalias som : e de conhecer aquelle rastro que uee, de que horas he, e des hi conhecer as cousas que os tempos fazem, que tornam aos monteiros de nom poderem conhecer de que horas he: e esso 1. paresce. — 2. acontesce. — 3. un. — 4. dá. —'10. derredor. — 15. derredor. — 20. mostrem, — 25, conhescer, e assim neste cap. — 173 — meesmo conhecer as cousas, que os porcos fazem da- uentura, per que os monteiros cayem em erro de nom poderem aprazar: e que esta maneyra lhes era com- pridoura de saber conhecer o monte, que era azado pera seer o porco, e esto segundo os tempos em que quiserem aprazar: e que ainda deuiam conhecer as cousas que os porcos fazem, quando se querem assen- tar. E como quer que estas cousas som pertencentes de as saberem fazer os que andam a busca, e se as / nom souberem, nom podem bem aprazar: e posto que as saibam, e nom obrarem dellas, nunca podem seer bõôos aprazadores. E porque a hi hãa palaura em latim, que compreende a muytas partes demais aos que as obram, que diz assi: Omnis laus in fine canitur, que quer dizer, todo louuor esta em fim das cousas, quando bem feitas som, ca das cousas que bem feitas nom som, nom pode em elfas Ftouuor: mas como quer que os monteiros todas estas cousas soubessem, que uiemos ensinando aaquelles que de aprazar se trabalhassem, pero nom poderiam ser louuados de bõos aprazadores, se bem nom aprazassem, a qual cousa he fim daquelles que am de seer bôos aprazadores. E porem mouendo- “nos com bõo dezejo pera o demostrarmos, segundo nos saber podermos, e por nos foi praticado, e com acordo de algúus outros, que em esto entendiam bem, per quaaes guisas e modos deuiam «a fazer aquelles que bõos aprazadores quisessem seer: dizem os sabedores que conuem a qualquer, que algúa cousa aja de fazer, demais daquellas per que a de uir a bem, que lhe he de força, se em ellas quiser seer perfeito, que ame aquella cousa que a de fazer, e que a preze, como 4 4 Ê À a E e 6 e 1 medes. — 2, caem, — 12. huma, — 13. comprehende, — -— 15. está. — 16. ca das cousas que bem feitas nom son, aposiçãa marginal. — 29. á de. —3o. perfecto, — 31, á de. — 174 — cousa, em que entenda, esta seu bem: e outrosi que 124 por ella sera louuado, ca dizem os sabedores, que * se estas cousas o homem nom a, aquella cousa que assi quer fazer, que per nenhúa guisa nom pode uir a ne- nhúa perfeiçom de a bem fazer: por ende he de necessi- dade a qualquer que for monteiro, e se trabalhar de aprazar, que ame este officio de aprazar, e todallas cou- sas com que o bem a de fazer, e se preze dello em tal guisa, que osme de si que quando o bem fizer, que sera auantajado entre os seus parceyros, e que seu senhor lhe fara por ello merce, por que uenha a gram bem: e porque húa, e das mais principais cousas, com que os monteiros am de aprazar, assi he o sabuio, por esta cousa deue o monteiro muyto amar aquelle que bõo for, e guardallo, como aquella cousa em que esta a mayor parte do seu bem fazer, e pensallo muy bem, e teendoo preso, e em bôa cama limpa, e dandolhe bem de comer, que a agua nunca lhe mingue, ca seiam bem certos todollos monteiros que mais se torua o caão do seu bom fazer polla mingua do beber, que por outra cousa que seia. Des hi inda lhe compre pera esto de nom ser pigriçoso quando ouuer de ir a busca, que se ale- uante cedo: e posto que lho algãa uez seu senhor nom *? mande, que uaa a busca, que elle o nom leixe de fazer de ir a ella: ca ainda que alguús monteiros hi aja, que quando andam algúus dias pera continuadamente anda- rem ao monte, nom querem que lhes os moços andem a busca, senom alli onde lhes elles mandaram, nom a se- nhor que quando continuadamente nom andar ao monte, ainda que occupado seia em algúas outras cousas, que lhe pese quando o moço tras recado, que tem algum 1. está. — 5. perfecçom. — 5-6. nescidade. — 8. à de. — g. os- me] os me. —11. sefior. —15. está. —r9. can. —20. beuer. — 21. des : hi] de si. — 23. sefior. — 28. á. — 28-29. sefior. e, — 17) — porco aprazado. Ante seiam os monteiros, ou os mo- cos que de aprazar se trabalham, certos que esta he hãa das cousas com que os senhores mais folgam, aquelles que monteiros som, quando lho o seu monteiro faz. Por ende deuem de teer tal maneira, os que de aprazar se trabalham, que quando seu senhor for pera hãa terra pera continuadamente andar ao monte, que nom uam a busca senom por seu mandado delle aquelle lugar, que lhe for assinado: ou se tal for aquelle com que uiuer, que tenha monteiro moor que o faça por seu mandado delle: e quando estiuer seu senhor dasossego, que continuadamente nom ande ao monte, entom fazello milhor, e mais a meude que o poder fa- zer em aquella comarca, em que seu senhor estiver, e esto por mostrar que elle a grande affeiçom aaquello que faz, e outrosi por o seu senhor auer por bõo. Assi|+ quando o'moço da busca quiser ir a busca, deuese ale- | uantar muy cedo, assi como ja dito auemos, e se acontecer que aquelle monte que a de buscar, he gran- de, em que nom conuem aos monteiros * mais de fazer 125 que de meter o porco no monte, e poerlhe o sinal, assi como ja dito âuemos na declaraçom da sexta duuida, que os porcos faziam dauiamento, e por ende quando tal monte buscarem, nom lhes compre mais de fazer, e esso meesmo dar a trauessa, e como entrar no monte, e poer o sinal: e em esto nom auemos mais porque o escreuer, ca se bem souberem as duuidas com as decla- raçoões que uiemos dizendo, logo saberam bem como em taaes montes aueram de aprazar: e quando ouue- rem de aprazar algum porco, que seia em mouta pe- quena, em que esta a mayor força da mestria de apra- ETTA mem o k | e | k l ” + : "e b 9. assignado. —10. mor — 11. seu] se. —15. affecçom — 12. me- lhor. 17. deuesse. — 19. acontescer. — 21, poerlhe o] poer lho. — 22. sesta. — 25. medes. — 27-28, declaraçons, — 31. está, zar: e quando assi quiserem ir a busca, deuemse ale- uantar muy cedo, em como ja dito auemos. Qualquer monteiro que esta busca ouuer de fazer, he de força que seia em duas guisas, conuem a saber, seer o lugar a tal em que o porco cee, que depois que cear, que se uaa assentar a húa parte certa, posto que a busca seia longa: a outra que ou sera em tal lugar, onde o porco cear, que em toda a parte aa redondeza tenha lugares em que se assente: se este lugar em que o porco cear for tal, que des que leixar de cear, nom tenha senom hãa parte, em que se uaa assentar: e o monteiro que tal busca ouuer de fazer, nom cure de ir aaquelle lu- gar, em que o porco cear, mais dee a trauessa escontra -aquella parte que souber em que o porco auera de tornar para se auer de assentar. E esto he bem de o - fazer assi por duas cousas: a primeira pollo achar mais da manhãa, e a segunda pollo dereito que ja uay, e porque sera mais perto do lugar, em que a de seer, e aprazallo a mais aginha, e por. esto he bem de o fazer desta guisa: mais se o lugar em que o porco cear, for tal, que des que cear, se possa ir assentar a toda parte, entom compre ao monteiro de ir fazer a busca aaquelle lugar, onde o porco cear: e esto se entenda se o lugar em que o porco ouuer de cear, for tam grande que se lhe quisesse dar a trauessa em darredor da cea, se de- “tivesse muyto em ella: ca se o lugar fosse pequeno, assi. como de húa uinha soo, ou de hum pam que esteuesse em hãa laura apartada, que o monteiro aginha o po- desse andar darredor, milhor lhe seria cercalo aginha a derredor, que se meter dentro no lugar onde cea. Mais se o lugar for grande, assi como de muytas ui- nhas, ou de grande soueral, em que aja muyta lande, 4. O lugar entrelinha. — 7. será. —8. aa] a. —13. dé. — 18. será. — 29. derredor. — 29. melhor. ou de paães, ou de outras cousas semelhantes, em que os porcos ceam, entom he de força ao monteiro por.o |. fazer milhor, que se meta por aquelle lugar onde o porco cea, ca se quisesse andar darredor, e o * lugar (26 fosse grande, assi como dito auemos, e o porco tiuesse a todas partes em que: seer, podello hia achar a tam tarde que lho nom cheiraria o seu caão: e porem po- dello hia perder de o aprazar, e por esto he milhor de ofazer em esta guisa, em tal cea que assi seia grande. Ora quando assi buscar este porco em esta cea grande, nom entendam os monteiros que deuam andar polla cea do porco, nem desenuoluello de quantas uoltas o porco der na cea, assi como ja dissemos em na sexta duuida, em o lugar que diz quando se os porcos assen- tauam no lugar onde ceauam: mais tanto que o mon- * teiro topar em no lugar, onde assi cea este porco, por | fazer o que déue, façao desta guisa: tam toste como — O achar, osme em camanha terra podera aquelle porco acabar de cear, e entom tome o retorno daquella terra, * € cerqueo, e seia em tamanha cantidade da terra, em que a possa andar aginha: e quando o assi achar, he de força de o achar em estas guisas, ou dereito pera ir a * seer, ou andando ainda ceando, ou que uay cear a ou- “tra parte: e quando o achar que anda ceando, logo se “afaste delle, e deelhe outro tal cerco per aquella parte, “donde uay, assi como fez daprimeira: e se o achar que uay cear a outra parte, ua por elle, e esto meesmo a * tanto que topar na cea, cerqueo logo: e façalhe esto “a tantas vezes, ata que o ache ir dereito pera o lugar, D onde a deir a seer: e o porco que cea em tal lugar, Z he muyto louuada esta montaria aos monteiros de a fa- E. "o v tm +“ po] ee oo o 2 + : . w er dg egydgs ç a Es ao = a TO du dO prior Mia a Mm id e” efa Y see sys O e. “ 3, melhor, — 8, melhor. — 10. hora. — 11. devem (?) entre- * linha. —18. poderá, —25. délhe. — 27. medes. 12 - e mm mo cm ira 178 Asa zerem assi, porque toda a aguça, e desempacho dos feitos he muyto louuada aos homées em qualquer cousa que aj: ajam de fazer, quando a aguça nom anda ante o siso, ca depois que o siso he determinado em se fazer, muyto o O louuarom os entendidos aaquelles que o faziam deliberadamente com bôa aguça: e por esto O louuarom os monteiros em esta guisa, a qualquer que esto fazia, porque se faz mais deliberadamente e com bõôa aguça. de aprazar a tal porco como este. Porem por nom tar- darem, se deuem a guardar muyto os monteiros, que em este lugar, nem em outro nenhum, nom deuem a andar muyto polla cea do porco, posto que o seu caão lhe cheire bem. Ora quando o assi achar ir dereito,: que uay ja pera o lugar onde a de seer, quer seia da o ride pçs trauessa que dissemos que nom tinha ne- | nhum lugar, senom por hãa das partes, quer seia por | esta que tinha lugares pera seer, ou seia de outra qual- quer guisa que se acerte, per que o monteiro possa ir per algum porco, a mester de ter grandes cautelas em tr por elle. : Capitulo xxi1ij, como os monteiros am de guardar as 127 manhas que os seus sabuios am, que * por ellas nom em- “barguem de aprazar. | Logo primeiramente no seu sabuio com que atreela: e porque os caães de atreelar filham em si muytos gei- tos de atreelar, por tanto os deuem guardar os montei- ros em tal guisa, que de qualquer condiçom que o seu caão ouuer, que se lhe o porco for de longo, que o seu |: caão lhe nom enfraqueça, que taaes a hi que quando | — 2, homes, — 4. determinhado. — 6. delibradamente — boa — 8. delibradamente. — 13. hora. — 19. mister. MN agura LonAsa. *o - Tua, » Par id á , ds RA t deli W , cheiram o porco, posto que o bem cheirem, nunca po- dem ir grande espaço, nem dereito: mais tanto que o) cheiram hum pouco, logo uam fora a tam rijos, assi como se os)leuassem: e de la onde uam fora, uoluem 5 outra uez ao rastro. (Outros caães a hi que: filham outra manha, que a tam toste que cheiram o porco, logo o leixam, e uam fora do rastro, pero uam a tam iguaaes, e a tam dereitos, assi por fora delle, como se fos- sem de sobre elle, e a longo espaço uem a entrar de sobre o rastro, e logo a tambem o leixam, e uam de ilharga delle ata o lugar onde o porco a de seer: e assi o faz a tantas uezes ata que acheguem onde o porco a de seer. Outros caães a hi que tomam outra ma- nha, que tanto que topam no porco, tiram a tam forte- mente polla treela, e se afogam a tanto, que a pequeno tracto, se os nom souberem guardar se afogam, que o nom podem cheirar, nem mouer os corpos. Ainda a hi outros caães de treela, que tomam de manha a chei- rarem o porco passamente, e nom leixam porem de seerem bõos caães, mais nom som porem aguçosos. Ainda a hi outros caães que nom querem cheirar o porco, senom em lugar de monte, ou de heruas que seiam altas, e nom o querem cheirar em terra, que seia cam- peira, e de pouca herua;: estas manhas deue o monteiro a conhecer ao seu caão qualquer dellas que ouuer, e guardallo que pollas contrariedades da manha lhe nom fique o porco por aprazar. E em guardar qualquer “caão que cada húa destas manhas ouuer, a qual lhe nos diremos em como se lhe milhor deuem de guar- dar. A esta primeira manha que os caães tomam, que assi dissemos que era sair a traues do rastro, a longo espaço delle, e que depois tornauam outra uez ao ras- rtp + » a m Q ” ui E INI VS PTD SOCRATES VT if t a VT “AS RA a US Cd um AS Sm qe a”. É ie Ps td “a > k - ED SR, my ” tm a! - qu a a q “ 11. ata] ta — á — 12. à cheguem, — 20. serem. — 25. conhes- cer. —29. nos] non — melhor. — 31, a traues entr, “tro, e que assi o faziam sempre, e que por esta cousa se quebrantauam muyto, e que porem andauam pouca “terra, e se afogauam, ou se lhes achegaua o dia com o sol alto e quente, e que por esto lhes ficaua muytas uezes o porco por aprazar: e quando o monteiro tiuer o caão que aja esta manha, pera o guardar deue fazer assi; tanto que o seu caão cheirar o porco, deueo aten- tar na treela, que lhe nom ua fora do rastro: e des hi trabalhese o mais que poder de sempre leuar o rastro do porco em uista, em tal maneira que como o caão lhe sahir fora do rastro, logo o faça uoluer de sobre elle: e ainda mais o pode fazer de outra guisa que sera mais sem trabalho, porque como o caão a por manha que 128 * como anda hum pedaço dereito pollo rastro, que logo | salte a traues, que tanto que uir que o caão sahe a traues do esmo, que lhe o porco uay a dereito, que logo pare mentes no rastro, se lhe uay per alli, ou nom: e se uir que por alli nom uay, façao logo uoluer sobre o rastro: e per esta guisa guardara o seu caão de trabalho que a das muytas uezes que uay fora e torna de sobre o rastro, e aprazara mais aginha seu porco. A segunda manha que dissemos que os cãaes filham, que tanto que cheirauam o porco, que logo sahiam fora delle, e iam de ilharga do rastro, a tam dereitos como se sobre elle fossem: a esta manha, pera os monteiros guardarem seus caães, nom o deuem a fazer desta guisa deste outro que sahia a traues do rastro, ca se o assi aten- “tassem na treela, ou quisessem ueer continuadamente o que leuaua, quebrantallo hiam, e toruallo hiam em tal guisa, que nunca com elle poderiam fazer cousa que . bem fosse: mais quando o bem quiser guardar qual- 7. a tentar. —14. como] que como. — 15. sahe] sal bis. —18. fa- çao] faça. — 19. per] por. — 23. hiam. — 24. ilhargo — direitos. — 27-28. a tentassem.. 5 1 d . o 10 O y EU ESTRONDO 20 | 25 Md Pi a . “3% Vias E Rm Ta EE ; Dor E E z pa MT PR e G q ES do — 181 — quer monteiro, façao desta guisa: tanto que lhe o caão cheirar, e uir que he o porco, e que o caão se ende- rença com elle, assi como a de manha, nom no em- bargue da treela, mais leixeo ir quanto com-elle poder andar, nem se queira deteer pera lhe parar mentes que he aquello que leua, a menos que lhe o caão outra uez nom entre de sobre o rastro: e esto podem bem ueer, porque quando o caão assi uay de ilharga com o porco, nunca cheira paaos, nem heruas, nem põe o rostro no campo, mais sempre leua o rostro aleuantado no uento: e quando lhe assi cheirar paaos, ou heruas, ou poser O rostro no campo, entom pare mentes pera ueer o que lhe cheira, e assi podera leuar o seu caão folgado, e a seu prazer se aprazara seu porco: ca se o embargasse, “assi como fazia o outro, que ante deste dissemos, nunca com elle poderia aprazar. Ainda em esta cousa poderiam dizer os monteiros, e poerem hiúa tal duuida, “que se acontecesse que o caão que assi uay a igual do rastro, e fora delle, que quando uiesse a entrada do monte, e assi quisesse ir fora do rastro do porco, se lhe quisessem poer o sinal, que nom saberiam por onde lhe o porco entraua, e por ende nom o poderiam certa- mente poer o sinal. A esto respondemos, que a taaes caães que esta manha filham, que a nom filham senom por o muy gram uento que am, e que o mais do seu fazer esta no uento, que no rastro: ca em como quer que todo cheirar que o caão cheire, todo esta no cheiro “que lhe o porco da, pero que caães a hi que am o cheiro a tam pequeno, de tal guisa que como quer que elle he o milhor cheiro que os caães podem auer, quer: seiam de treela, ou de correr, que sempre leuam o rastro baixo de sobre a unha do porco: e outros caães 6. lhe entr. — 9. põe] pon. —11. puser, — 14. plazer. — 15, an- “tes, —18. acontescesse. —19. á. — 27. está. — 28, dá. — 30. melhor. 129 | — 182 — a hi que am o uento a tam grande, que nom * querem ir senom com o rostro aleuantado, e sempre ao soouento do porco: e estes que esta manha que assi dito auemos am, nom a am senom per o muy grande uento que am, des hi que todos, ou os demais fazem a entrada do monte o que nom fazem quando uem pollo campo com o porco!: ca em como quer que pollo campo ue- nham a traues do rastro, tanto que entram ao monte, logo se endereitam de sobre o rastro do porco. E ainda em esta cousa nos poderiam dizer, porque o fazem os caães, que pollo campo uam a traues do rastro, e pollo monte uam por cima delle dereitos: dizemos por res- ponder aos que esta pregunta nos poderiam fazer, que quando os caães que tal manha am, uam por campo, ou por charnecas que seiam pequenas e baixas, que o caão em quanto por alli uay, a O cheiro desembargado, que mom a cousa que o embargue, e por tanto uay assi de ilharga do rastro: e quando entra pollo monte, nom pode assi ir fora do rastro, ca se o caão quando fosse pollo monte, metesse entre si e o rastro tres ou quatro braças em ancho do monte, nom esta de rezom que possa assi auer o cheiro desembargado, como o a, pollo campo: e das charnecas que ja dissemos, posto que o cheiro do porco seia mayor no monte que no campo, e por esta cousa uam elles assi pollo porco, de ilharga delle pollo campo e polla charneca, e pollo monte nom podem assi ir. E ainda que assi fosse que se nom aderençasse, podem ueer os monteiros que se lhes o seu caão nom cheira os paaos a entrada do monte, ou põe o rostro debaixo assi como dito auemos: logo deuem entender que o porco lhe nom entra por alli, e em tal lugar o nom deuem de leixar ir per alli, mais 2. souento. — 5. à. —12. direitos. —16. ha. —17. ha. — 21. está. — 29. paãos. — 3o. põe o] poelo. — 32, de entr. RES A deuemno de tirar, e nom o leixar ir assi, e entom da tra- uessa, e onde lhe o caão uier cheirar o rastro, e entom puser o sinal, em esta guisa se pode tirar de tal duuida, fazendo assi aquelles que a ouuerem de fazer. A ter- — 5 ceira cousa que dissemos que os caães filhauam de ma- nha, e se afogauam, em tirando muyto polla treela no rastro, e que a tambem os deuiam guardar que se nom afogassem: esta manha os monteiros que bem quiserem obrar de seu officio, deuem de guardar seus caães que “10 esta manha ouuerem, desta guisa : deuemlhe de fazer > colar grande e ancho, em tal guisa, que quando uier ao cerrar, que o a treela carre, tire mais polla parte dos peitos, que por cima da garganta: e ainda se poder - seer, que o colar fosse de tal guisa que o caão tirasse "45 dos peitos, e nom da garganta, serialhe esto muy bõa - cousa: e quando este colar tal nom trouxer, tanto que o seu caão topar no porco, uolualhe a treela antre as maãos, e ua com elle: e porque a treela uem antre as “maãos e o colar de cima, o caão nom se afoga * tanto: “20 é des hi logo a primeira, atenteo da treela, e des que uir que lhe o caão uay hum pouco mais enfraquecendo, deelhe mais largueza da treela, e per esta guisa guar- dara mais seu caão que Ike nom afogue, nem canse, e “aprazara seu porco, que polla manha deste caão nom as sera por ello toruado de o leixar daprazar. A quarta cousa que dissemos, que a hi caães que tomam de > manha a cheirarem o porco passamente, e nom leixa- — uam per ende de seerem bõos caães, mais nom som = porem aguçosos: a estes caães que assi am esta ma- 3o nha de nom seeremi aguçosos, quando o monteiro uir | que o porco uay por tal terra, que se lhe nom pode assentar preto dalli donde o achou, segundo seu esmar sd - sã u É + hd “ > E MAN PIA o ) TE “ es E ace e e - mms 4 ? AO q rn qm 1 do om e a áda di Gem entr. — 12. garre] çare texto, cerre glossa marginal, — “14. collar. — 21, lhe entr. — 22. délhe. — 28. por. — 30, serém. o 130 SEA pera o guardar, nom leixe' de aprazar seus porcos, pollas manhas que o seu caão a de lhe seer passeyro: e tanto que com elle topar no porco, nom o deue de re- teer em nenhúa guisa do mundo, ante lhe deue de dar a treela muyto longa, e andar com elle muyto ligeiro quanto puder, em tal guisa que o caão lhe nom seia reteudo nada: e se lhe acontecer que queira ueer o rastro do porco que leua, em algum lugar, nem por esso o nom deue de reteer na treela, ante o leixe da maão, e leixeo ir por ella quanto quiser, e em tanto ueja o rastro, e depois corra, e uaa filhar a treela alli onde o caão uay: e per esta guisa o guardara, que por . o seu caão seer passeyro nom leixara de aprazar o porco, que quando esto fazem os caães que pesados som, fázeos auantajar muyto na aguça esta cousa, se entenda que se a de fazer do soltamento da treela, quando quiser ueer o rastro em aquelles lugares que o monte seia alongado dalli onde o porco auera de seer, - que quando fora preto nom he a nenhum monteiro dado de leixar a treela da maão, posto que lhe o seu caão seia passeyro. A quinta cousa que dissemos que a hi caães que nom querem cheirar o porco senom em lu- gar de monte, ou de heruas que seiam altas, e nom o quiserem cheirar em terra que seia campeira, e de pouca herua: esta he a mais peor manha que nenhum caão de treela pode auer, um monteiro quando lhe a tal manha uisse, nom no deuia a trager quanto pera aprazar com elle: pero quando lhe acontecesse de o. : trager, e em tal porco topasse, por o fazer milhor que se em esto pode fazer, como achasse o porco, e lhe fosse por chaão, ou sahisse de algum monte, e entrasse 1. leixe. — 2. passeiro. —3-4, reter. — 7. acontescer — uer. — 9. deua. — 11. uela. — 14. pessados. — 16. á. — 28. acontescesse. — 29. melhor. — 185 — por algum chaão, nom o deue mais atender, nem espe- rar que lhe o caão cheire, nem trabalhar mais andando per elle, senom tam solamente parar mentes escontra onde o porco uay, e per alli por onde uir que he monte, 5 ou de heruas altas, dee a trauessa, e como o achar, em quanto lhe for pollo monte, ou per heruas altas uaa por elle, e como lhe dalli sahir, e entrar em chaão, logo o leixe: e assi uaa dando trauessas per montes, ou per lugares espessos ata que o apraze: e em como quer que muytos assi aprazassem, nom leixa porem de seer muyto noioso aprazar aaquelles que aprazam de. tal guisa : e por estas guisas suso escritas poderam os monteiros guardar os seus caães, que pollas manhas que am, nom lhes ficaram os seus porcos por aprazar. dd ri aa am EPE NR » a d o Por - -— e ' , .— tm Capitulo xxv, como os monteiros deuem poer o sinal ao porco. ! ua Es 1 A” prato, Disse mestre Lucas, Bispo que foi dE Tuy, que com- poz a estoria geral, que achou nos escritos dos Arabios que falam da feitura * do mundo, e daa rezom das cria- 131 ao turas delle, que quando nosso Senhor criou Adam, e - oTançou aquelle dia meesmo que o criou, fora do Pa- rayso, que lhe deu todallas sementes, por que se man- tiuesse: e des que Adam foi em aquelle lugar de ual dAbram, que coméçou de mouer a terra com suas & maãos com fustes, e começou de sementar anpUde à sementes que lhe Deus dera, e em uez de lhe nascer cousa de que se mantivesse, a terra nom lhe daua se- nom espinhas e cardos, e por esto era Adam muy triste, porque do seu trabalho nom lhe uinha fructo a de qu im Sa =”, 4 q ade E dd a indios ce go há 3 : a . ua. o à A SAR = “ 5. dé. — 9. espesos. — 17. Tui. — 19. dá — razon. — 20. -delles. —24. com] per? — 28. espifias, — 29. lhe] le, ER, REG 3º 1 juro cai «a 204 meitn do ara Lonas 4 — 186 — que o alegrasse: e porque a alegria do que apraza he achar aquelle porco com que trabalhou pollo apra- zar, portanto he necessario ao que apraza, auer ale- gria do seu trabalho, que tenha grandes cautellas e resguardo em-poer o sinal, quando meter o porco no monte, e a tambem no cercar, que se ao diante dira, ca em estas cousas esta a bôa fim destes trabalhos: e em como quer que os demais dos que aprazam, nom parem mentes por estas cousas, pero nos nom o leixa- remos aqui de escreuer, ca temos que nom pode ne- nhum seer bõo aprazador, se esto nom souber fazer, e des hi usar dello, ca saber homem as cousas, e nom as obrar do saber que a, nunca o podem teer por sabe- dor: porem he de força aaquelle que sabedor a de ser chamado, que saiba, e obre, ca de outra guisa nom pode ser conhecido por sabedor: porem quando aquelle que apraza, quiser poer o sinal na entrada por onde o porco entra, faz mester que ueja em que monte lhe entra aquelle porco, se he grande ou pequeno: e des hi per onde lhe uem o uento, se de rostro, se por detras, ou se he uento partido: e este uento partido entendese que se diz que he partido, quando atrauessa o rastro, que parte per meio antre o porco e o que apraza, e a este dizem uento partido: e deuem a ueer, se aquelle lugar per que entra o porco, se he de herua ou de pedras, e se de pedras, se som muytas e meudas, que possam fazer soom, ca em tal lugar deuem os que aprazam de teer grande resguardo, se a mouta for pequena: quando assi o monteiro deue poer o sinal, deue fazer muyto que na entrada do monte ueja bem o rastro do porco, em aquelle lugar, em que ouuer de poer o sinal, e a razom: porque som duas, a primeira he que quando | ea mp 2. acharem — aquel. — 3, nescessario, — 7. está. — 14. que om. — 16. conhescido. — 27. som. [+ Otras do PaSLaX Gane Ka. se - — 187 — elle assi nom uisse o rastro, e posesse o sinal, os que com elle fossem a aleuantar, e nom uissem o rastro do porco, se se nom achassem, como muytas uezes se acon- tece, diriam que nom metera o porco naquelle monte: e por se guardar de tal erro, portanto lhe compre que ponha o sinal no lugar onde uir o rastro do porco: e ainda- mais deue a fazer por se tambem desto guar- dar, quando achegar ao sinal, mostre o rastro do porco aaquelles que com elle forem, e digalhe: * uedes, este lie 132 o rastro do porco que eu por aqui meti, e entom sera “fora daquelle profato de lhe dizerem, que nom meteo o porco por aquelle lugar em aquelle monte. A segunda, porque se o monteiro nom uisse o rastro do porco por onde entra, nunca poderia poer os caães dereitos a achar, porque alguas uezes acontece que pollo porco entrar muy muyto de manhãa, ueem os caães muyto “aguçosos, e com grande cheiro, e nom leixam de entrar a entrada do monte per outro lugar, per onde o porco , nom entra: e se o monteiro em tal lugar posesse o sinal, * 20 seria grande erro, que quando uiesse a poder dos caães, — eos posesse de fora do rastro polla tardança, os caães nunca o achariam, e por tal cousa ficaria o porco por aleuantar: por estas cousas compre a qualquer monteiro “por nom errar, e fazer o que deue, de nom poer o 25 sinal, senom onde uir o rastro do porco, Ora se o porco entrar por lugar de pedras, ou de paaos, ou de outras cousas que deem soom, pare mentes donde lhe uem o uento, e se uir que o uento lhe uem de costas, guardese de longe ante que chegue ao monte, em tal * 4 3o guisa, que pollo uento, e pollo soom que faz em as cou- — Sas per que uay, nom o senta, e se leuante: e posto que — He entom ponha o sinal ao longe do monte, nom erra . Rca 4 E er Do CS TO EATON DO is Ç 7 . w “ar » dr DP dedo e . E = E q 4. nomo visse, — 3-4, acontesce, — 15. acontesce, — 16. ma- nham. — 19. lugar] sinal. — 25. hora. — 27. den. ” os o por esso na montaria de o fazer assi, ante faz o que deue, e a guisa de bôo monteiro, com tanto que ueja o rastro alli onde poe o sinal: e se lhe o uento for tal que uenha deante pollo rostro, nom embargando que o lugar per onde uay, seia tal que dee soom, assi como dito he, nom se leixe de entrar a chegada do monte a poer o sinal, posto que a mouta seia pequena, que quando o uento assi uem de rostro ao monteiro, por - muy preto que se achegue ao porco, nunca o porco Ns 133 sente: mais a em esto híia contrariedade, a qual he que muy poucos monteiros a sabem, ca mais he de usança de a saberem os beesteyros do monte, que os monteiros: pero que nom he mal de os monteiros sa- berem, porque assi he que muytas uezes em tal lugar see o porco, que mais perigoso he pera o aleuantar entrando com o uento ao rostro a lhe poer sinal, que de | espaldas: ca em muytos lugares seem os porcos, que o uento uem de rostro, e podelhe ficar algum outeyro nas espaldas, e pollo ferimento que o uento faz no outeyro, torna em contrairo do seu ferimento, e faz pollo seu refreixo, que aquelle uento que o monteiro cuyda que leua em rostro, se lhe uolue de espaldas, e por esta cousa o sente o porco, e se aleuanta. É sobre tal cousa compre aos monteiros seerem auisados que por este con- trairo nom aleuantem o porco, ca assi como elle esta cousa faz, quando lhe o uento uem de espaldas, o que esta no outeyro que o faz uoluer de rostro, esto meesmo lhe faz que pollo seu refreixo fica o porco sem senti- mento daquelle * que ha pollo uento, que nom sente nenhua cousa. E do uento que dissemos, que era par- tido: este he o mais seguro uento de entrar a poer o “ J 2. à. —3. poem. — 4-5. uenha deante. . seia tal que] appo- sição marginal. — 5. dé: — 10, senta. — 24. serem. — 27. medes. crias nad 4 ne É a “ .e . CH PLIMENT RA ui h a 5 "A o a pm DE ARS VEN Ns ES CPTA : ” - to a ee o a dt À sp rd O li é + SRT TE | x E pára dd 54 2" +, - a — o Ed he. . já de RO cao sinal, aos monteiros, que outro uento que seia, porque quando com este uento entram, nunca por refreixo, ou por outra cousa que seta, o pode sentir, saluo se o uento remuinhasse, o que se em poucos lugares faz. E no al que dissemos, que se fosse lugar de herua, ou de outra terra, que nom fezesse soom, em esta cousa nom queremos poer differenças, porque guardando todas estas cousas que uiemos dizendo que eram perigosas, todallas outras ficam guardadas, e podemnas fazer os monteiros como milhor lhes parecer, porque poucas uezes recebem em ello erro de o aleuantar. Capitulo xxvi, como os monteiros deuem cercar o porco. o Des que o monteiro tiuer posto o sinal, e quiser cer- car o porco, cerqueo muy passo, e posto que o seu sabuio tal seia, em que se esforce que lhe nom passe, “pero elle sempre tenha mentes pollo ueer de olho, se lhe passa o sabuio, e a esto parando mentes pollos carrey- ros e pollos saltos dos corregos, e em todollos outros lugares, per que os porcos podem passar. Des hi sem- pre se auise, que quando passar sobre o uento, que se “afaste mais de longe, que das outras partes do cerco: ca se o monteiro chegasse ao monte, quando lhe o porco ficasse de soouento, muy toste pollo uento o po- deria aleuantar, portanto quando for de sobre o uento, se deue de alongar mais de longe: e des que tiuer o * cerco primeiro dado, e ouuer de dar o outro, nom o dee per aquelle lugar que ja deu o outro, ca se aconte- “Cesse, que daquelle primeiro cerco o seu sabuio pas- 6. son. — 10, melhor. — 17. se] e. — 28-29. acontescesse, E 154. sasse, e o elle nom uisse, aquellas meesmas cousas que o embargarom, que lhe o seu sabuio nom cheirasse, nem o elle nom uio, essas meesmas lho fariam embargar, ainda que por alli o cercasse mil uezes: e portanto nom deue por aquelle lugar de tornar, mais deue de dar o outro cerco por outro lugar, e assi o deue de fazer a quantos cercos der, em tal guisa que hum nom seia dado por onde os outros, ou algum delles for dado: pero com todo esto, a todo seu poder cerqueo per tal lugar, que seia espesso de heruas ou de mato: ca em . estes lugares fica mais o cheiro do porco, ca em ne- nhuus outros que esto nom tenham: e posto que este cercar seia bôo, empero a hi outro que he muy mais milhor, do qual todos os monteiros que de aprazar se trabalham, a todo o seu poder deuem de fazer, porque este cercar he o mais certo pera o seu sabuio * nom pas- sar, que todos estes que escreuemos, e he este que se segue. Des que o monteiro tiuer posto sinal ao porco, e se afastar fora pera o auer de cercar, pare logo men- tes donde lhe uem o uento, e des hi dee o cerco - escontra donde lhe uem o uento, em tal guisa uaa que nom passe o rumo por onde uem o uento, senom que sempre o sabuio leue o uento no rostro, e tanto que chegar por alli, por onde assi uem o rumo do uento, tornese por alli, por onde começou de cercar, tanto que chegar ao sinal: e esto seia, se ao entrar que o porco entrou, foi com o uento no rostro: e se ao entrar. que o porco entrou, foi o uento partido, em como ante | desto dissemos, entom nom deue de dar por chegar ao | sinal: mais se ao meter, o uento deu no rostro, entom | “deue de chegar ao sinal: e des hi ir da outra parte ata 1. elle] el — mesmas. — 2. cheirassem. — 3. elle] el — medes. — 9. pero] per. — 11-12. nenhuns. — 14. melhor. — 20. donde] e donde — dé, — 28, entra — antes. . E LEVES CAD TA, rw. DR aos mi d » A. F Tp PES IS as MD a o ir pri Pendio (ES rs im Ta 1] — 191 — aquelle lugar donde se ante tornou, que a tambem nom passe o rumo do uento: e assi o cercara sempre com o uento no rostro do seu caão, e este he o milhor cer- car que se pode fazer: ca bem sabem todollos montei- ros que a mais segura cousa pera o caão poder cheirar, que assi he quando leua o uento no rostro, e se lhe entrar ao uento partido, nom faça conta do cerco que der, ata que chegue ao rumo do uento, em tal guisa que lhe dee no rostro, e dalli deue de contar que começa de dar o cerco, e ata alli torne, e dalli comece a ir da outra parte: e a este cerco dizem os monteiros meio cerco, porque nom pode seer em sua perfeiçom, senom em meo cerco, assi como ja escreuemos: ca posto que algum monteiro quisesse dar o cerco todo em “torno, de força seria que a metade do cerco fosse com o uento nas costas, e este cerco nunca he seguro, nem os monteiros que bõôos som, nunca o dam por per- fecto, em como quer que poucos sabemos que no cer- car usem desto, e nom som por esso milhores montei- o ros: e ainda quando chegarem ao sinal do cerco enteiro, “e quiserem tornar polla parte, onde ueyo, por leuar o uento daquella parte no rostro do sabuio, que monta tanto em como o que escreuemos : empero todauia he meio cerco, porque de húa uez se nom pode acabar * perfectamente, e por esto lhe dizem cercar de meo cerco, e esto deuem de fazer todollos monteiros com | todallas outras cousas, que nos outros cercos escreue- “mos, assi como de nom dar o cerco por hum lugar, e des hi a seu poder dallo por lugares espessos. Ainda hi a outro cercar, mais esto se faz nas charnecas: este — se nom desuaira dos outros cercos, senom que dizem os monteiros, que deem o primeiro cerco grande, e os 3. melhor. — 16. e a este. — 19. melhores. — 21. ueheo, — — 26, este, —32, den. outros mais pequenos, e dizem que lhe aproueita muyto 135 por esto, porque dandolhe * o cerco grande, se lhe o porco sahe fora, achao mais longe, e desembargase mais toste delle, que indo sempre de sobre elle: e outra se lhe fica, entom pode milhor esmar o lugar em que see, e podelhe dar o cerco mais chegado, e mais seguro: e por esta cousa dizem os monteiros que lhe he proueitoso dar o cerco grande, pero todauia de hua guisa e da outra deue de guardar principalmente estas cousas que segun- damente escreuemos deste meo cerco, ca se esto assi nom for feito, todollos monteiros tiuerom que se o porco assi nom fosse aprazado, sempre seria duuidoso de o hi acha- rem. É porque este meo cerco pode seer que aos montei- ros a tambem podera nom seer entendido pollo escreuer, porem pensamos de o poer aqui na figura precedente. Ainda a hi outra cousa, que quando o porco assi uay de longo, sobre que os monteiros tiuerom algúus departi- mentos, dizendo que quando o porco assi fosse de longo, que era bem de o homem cercar em todo lugar, outros disserom que nom era bem de o assi cercarem: e o porque deziam que nom era bem, porque indolhe assi o porco de longo, e cercandoo em todo lugar, em que ouuesse sospeita, que se lhe poderia asseentar, que pollos muytos cercos que lhe desse, de força seria de se enfadar o sabuio, e podello hia passar, e assi ficaria qualquer mon- teiro, que esto fizesse, em mingua, e que portanto nom era bem de o cercar em todo lugar, em que podessem cuidar que o porco poderia seer: ca dizem, milhor he a qualquer monteiro que seia de leixar de aprazar por mingua do seu caão, ca de o aleuantar. E em como quer que cada hum delles tiuesse estas rezoões, uierom 4 Raro NEGA Pes a , Res + 5 “e = q k É, O, | “4: s . | A Pê ; E q va Ê E. ' 2 | RS 4d EM 1. piquenos. — 3, sahe] sal. — 4. outre, — 5. melhor. — 9. deue] om. — 16, ha. — 17. alguns. — 22. o ouuesse. — 23. asseentar, — 28. melhor. — 31. razoms. Estampa Il Onde está a figura do ramo se mostra que he o sinal por onde o porco entrou ao monte; e o cerco branco demostra, como se ha de dar o cerco, quando o monteiro quiser cercar o porco de meo cerco (192) DOS em a concordar, que em estas maneiras de cercar, quando * O porco assi fosse de longo, qualquer * dellas podia fazer — omonteiro sem errar: mais assi como disse nosso Senhor — Jesu Christo aaquelle que lhe dezia das cousas que fazia, 5 e elle disselhe: queres ser perfecto, uende o que as, e - dao a pobres: e esto meesmo qualquer monteiro que - dezejar seer perfecto em este cercar, quando lhe o porco assi for por terra, em que nom aja lugar certo, “em que se o porco assente, e demais que lhe he de força que o cerque muytas uezes, faça em esta guisa, nom o cerque em nenhum lugar que seia, senom quando “uir cada hãa das cousas, que ante desto dissemos no - xx capitulo da declaraçom que diz, em como os mon- — teiros podem conhecer as cousas que os porcos fazem Eb Sia - destas cousas a entrada de algãa mouta, entom o cer- “quem, e nom de outra guisa, e fazendo assim faram como perfectos monteiros. Em como quer que ante — desto dissemos, que tiuerom algúus que em esta cousa departirom, que fazendoo por cada húãa destas guisas, erp erguer da ', 4 ari a- : ” i ye quo e soraia à sadio Reta a? o % | Am aids ; v e i q a ! é q o a os (ide Po em serem perfectos conuem que o façam desta outra maneyra. | + Capitulo xxvij, como os monteiros deuem aleuantar o porco, per que atreelam aciente fazendo bôa montaria. . td Adi! É E y E a + UNA q po ' á Ditos todollos modos per que os que aprazam am de — aprazar, fica ainda húa cousa que aos monteiros muyto | aborrece, pero he assi que nom podem seer perfectos DD 34.N. Sefior J. xpto — dizia, — 6. medes. — q. asseente — é, — 42. antes. — 13. xx capitulo) 20 cap — 14. conhescer — 16, cousa, 18, priges — 25, atraelam, — 29. aborresce, > o quando se querem assentar: e quando uirem cada hãa - que nom errariam, e nos assi teemos com elles, mais 136 — 194 — monteiros, se o nom souberem fazer, e usarem dello, quando lhe fezer mester: e porque compre aos montei- ros que todauia o saibam, por nom errarem por min-. gua de saber, portanto o poremos aqui com as outras cousas, que ditas auemos. E a cousa he esta, aleuantar o porco ante que seia aprazado: esta cousa do aleuan- tar he muyto aborrecida a todollos monteiros, assi como dito auemos: sobre este aleuantar fallarom algâus | monteiros, como em maneyra de questom, preguntando se poderia o monteiro que fosse per hum porco atree- lando, aleuantallo, e fezesse em ello bôa e dereita mon- taria: disserom que si, e demais determinarom, que nom seria bõo e perfecto monteiro, se nom soubesse fazer, e o fezesse aos tempos que lhe mester fosse. Con- uem a saber per esta guisa: fazendo aciente pera o fazer, ca se o nom fezesse aciente, nom lhe recreceria. louuor dello, mas quando o fezer a entençom de o mi- lhor aprazar, e des hi guardar o lugar em que o a de fazer, que entom faria dereita montaria: ca os lugares em que o monteiro a de aleuantar o porco, som charnecas grandes, * assi como as de Santarem, ou outras seme-| | lhantes, que posto que se o porco aleuante nom possa ir a lugar seer, que depois que for aprazado, que lhe ' nom possam bem poer os caães, e filhallo em qualquer lugar que seia, onde o porco for aleuantado, e que no 25 outro monte, em que se fosse assentar, se possa filhar, E e o monteiro o deue aleuantar quando lhe os tempos fizerem as cousas que adeante diremos: ca se hum porco seuesse em húa mouta pequena acerca de algum grande monte, em tal guisa que se nom pudesse bem : correr em tal lugar como este, nom faria o monteiro | 10-11. atraclando — aleuantalo. —14. mister. — 15. por — aciente] a acinte. — 17-18. melhor. — 18. guardar o] guardallo. — 19. di- . reita. — 20. à. — 23. logar. — 24. filhalho. — 29. se uesse. — 195 —— bôa montaria em no aleuantar, posto que lhe o porco “fosse duuidoso: ca se acontecesse a algum monteiro ir a busca, e topasse em hum porco que fosse bem da manhãa, e indo por elle lhe chouesse grande agua, em EM 5 tal guisa que lhe matasse o rastro, e lho arrefentasse, É em guisa que lhe o seu caão nom podesse bem cheirar, = | entom faria dereita montaria, posto que o tiuesse cer- E - “cado, aleuantallo, se o cerco fosse dado em chouendo, | ou depois da chuiua, e esto nom he senom por sahir da “vo duuida, e depois que lhe o porco fosse aleuantado apra- - zallo hia mais certo. E esto meesmo deue fazer, quando * por algãa grande calma lhe o seu caão nom cheirasse — bem, por uir com elle atreelando longa terra, ou longo | tracto, ou por outras quaaesquer cousas que seiam se- 4 » melhantes, em que o monteiro sera duuidoso do porco “que meteo no monte, se o tem ahi ou nom: mais quando pso:aleuantar quiser, por fazer milhor, deueo aleuantar “em esta guisa: se a mouta for pequena, leixe o caão — preso a longe da mouta, ou o dee a algum seu compa- » nheiro, se o tiuer, e entom uenha alli onde cuidar que - lhe see o porco: e quando entrar a mouta, nom entre - de qualquer parte que seia, senom adqurde de qual parte lhe uem o vento: e entom filhe o uento no rostro, | E per aquella parte entre a mouta, e ande per ella ata “que o aleuante, e como sentir que he aleuantado, uolua * com o uento as costas, quanto no mundo mais po- | der, esaya da mouta. E o porque estas cousas som E — bõas de se fazerem assi, he por esto: quando o mon- E, teyro leua assi o uento no rostro, o porco nom ha o * Cheiro do monteiro, e posto que seia aleuantado, pollo e a es ge Tha ta, E — — — - 4 cado + — 2. acontescesse. —5-6. que lhe matasse o rastro, e lho arrefee- , asse em guisa, aposição marginal. — 10-11. apraza lo hia. — E Pé “11. medes. —13, atraelando — por uir] por o" uir (?). — 14. quaes- DD quer. — 17. melhor. — 19. dê, — 24. entra. — 196 — soom, ou pollo sentir, se delle nom a o cheiro, sempre se seguira mais toste, e se assentara mais presto, e por esto he esta bôa cousa, e dereita montaria, fazendo o monteiro assi: esso meesmo ao que dissemos que sahisse fora do monte a pressa, he por esto proueitosa, porque 5. muytas uezes acontece, que quando o porco assi he aleuantado pollo soom, ou pollo sentir, quando nom a o cheiro, muytas uezes o porco por ueer que he aquella cousa que o faz assi aleuantar, anda darredor e filha o uento pera se certificar que cousa he aquella de que se 10. assi espantou: e por ende se o monteiro assi estiuesse | quedo, e o porco lhe filhasse o soouento, espantarse hia muito mais, e nom se assentaria tam cedo: por ende 138 he * esta outra cousa aos monteiros muy proueitosa de o assi fazerem, e assi o faça qualquer que for mon- 15. teiro, e fara em ello bôa e dereita montaria.. E Capitulo xx»itj, como deuem conhecer os monteiros qual he milhor lugar pera poer as uozarias, e armadas pera filhar o porco. Ainda dissemos que compria a qualquer que andasse a busca, de saber em como se filharia aquelle porco | que tem aprazado: e a primeira cousa que se a esto requere, he saber em que lugar se poem asuozarias, e | que gentes podem abondar. As uozarias quando se poem, nom se poem todas de hãa guisa, mais poemse 35. segundo os montes som, e outrosi segundo as manei- ras que os senhores tem, quando os querem correr: . pero as que som mais geralmente usadas, a que os . 2. assentasse — presto] preto (?). — 4. medes. — 6. acontesce. — 9. derredor. —12. souento espantar hia se. — 17.conhescer. — | +18, melhor — bozerias, e assim muitas vezes neste capítulo. — 27. sefiores. monteiros que aprazam deuem parar mentes, per que se mais aquelle porco deue de filhar, assi he que seiam per lugares altos e limpos, e quando nom forem per lugares altos e limpos, que seiam chaãos: e se acontecer que nom achem lugar que seia alto ou limpo e chaão, per onde a ouuer de poer que seia alto, posto que seia espesso, ca per estes lugares hc milhor em comum pera se poer a uozaria, que o porco nom possa passar, que por outros nenhúus que seiam : e por aquellas uozarias deuem mais comunalmente parar mentes os monteiros que o porco aprazarem, com tanto que estas uozarias se acordem com as armadas que seiam postas em tal lugar, que quando o porco nom passar estas uozarias, e - sair as armadas, que seiam a taaés, que de rezom o "45 porco se possa em ellas filhar. Ainda hi a montes, - em que se nom podem filhar taaes uozarias, e nom lei- xam porem os senhores de os correr, e de lhe poerem “ uozarias, ainda que nom seiam taaes como estas que dizemos, e som montes de pequeno compasso, que o “porco nom pode por elles correr, senom logo sahir fora, “€ falecemlhes todas estas cousas que dizemos que eram - em bondade das uozarias, ca nom se departem senom — por algum carreiro, ou por monte meesmo. E esta | uozaria deue o monteiro que apraza, de ueer que a ponha as em o mais estreito lugar que poder, e que em todallas — guísas do mundo, que a sahida que o porco fezer, que | as armadas seiam taaes, em que se o porco possa filhar, | assi como ja dito auemos: e deuemse de guardar que “em esta uozaria, nem em todallas outras, que nunca ; Sejam em arcadas, nem homées arremetidos, que huus * Sayam mais adeante, e os outros fiquem de tras, senom ne da ie SE VIP SS, j iria hot dE si * FUN ” PARA bs e as t TIE IR PANA 4 o e o dae cr ad O e E sa" É o a 4 » * + eiaço pa rest o E "Trees Eres E q ' q E — eee —— a ii “ 4 acontescer. —7. melhor. — 14. razom, — 17. Sefiores — — poerem 1.º] porem. — 19. piqueno. — 20. sair. — 24. uer. — 26, say- “da — fizer. — 30. arcada. Ma AS ON 139 todauia que seiam assi todos * dereitos, como húa dereita ne | parede, e a rezom porque he esta: os porcos quando se tornam que nom passam uozaria, nom he senom por medo dos homêes que ouuem fallar: ora assi quando acontece que a uozaria he em arcada, e o porco topa em meyo, e lhe as pontas ficam nas costas, e todos bradam, elle se espanta tambem dos que lhe ficam detras, como dos que tem deante si, e polla grande uontade que tem pera fugir por aquelle lugar, onde tem a creença, forçado he que passe tal uozaria, se o em ella nom matarem. E por esto compre a todollos mon- teiros de se guardarem, que nom ponham a uozaria em arcada, nem arremetida, assi como dito auemos, ca tal faz na arremetida, como na arcada, que pollos homêes que lhe ficam nas espaldas, quando lhe fallam os outros que acha ante si, o fazem passar. Ainda hi a outros montes, em que se poem uozarias, e som montes muy longos, assi como em ameaaes, ou paules, ou ainda em montanhas, e destes alguus som em tal guisa, que todal- las creenças, a que se os porcos am de acolher, som longe, e elles mesmos nom tem outra creença, senom | saltar em aquelle monte meesmo que he departido polla uozaria, e quando assi saltam nom he senom por força da uozaria, que os faz pauear. Qra assi he que quando o monteiro em esto parar mentes, per que lugar a de poer esta uozaria, que sempre deue de esguardar, que a ponta da uozaria, ou as pontas sayam em tal lugar, em que o porco de milhor uontade saya, e que depois que assi sahir, que seia em tal lugar em que o | possam bem filhar os caães: e esto de saberem os lugares que milhores som pera onde os porcos sahem 1. direita. — 2, razom, — 4. hora, — 5. acontesce. — 8, diante. . — 4. tremetida. — 19-20. todas. — 22. mesmo. —23. saltam] satam. — 24. hora — parnear. — 28. melhor. — 29. sayr — 30. hesto. — 31. melhores — saem. de milhor mente, assi he quando se a uozaria cerra dos cabos dos montes, e ficam do cabo do monte, onde poem os cãaes, alguas mangas, ou pontas mais sahidas que as uozarias, que seiam espessas, entom per aquelle lugar 5 sahem os porcos de milhor mente, e em tal lugar deuem a parar mentes os monteiros que sempre ponham as uozarias, ainda que se lhes o monte faça mais largo ja quanto que am de poer os caães: e porque os porcos - sahem de milhor mente por tal lugar, nom he senom por 10 esto, porque quando assi acham em este monte estas pontas, ou estas mangas, cuidam elles que nom iram por alli por onde os homêes fallam, e que indo por aquella manga ou ponta, que por alli se lançam mais aginha no monte, per que querem ir. E ainda posto 15 que sentam os de cauallo, pollos cãaes que ueem apos | elle, e a tambem os moços, por esto he de força que em todallas guisas sayam fora. E pois que tam bõo he de se fazer * assi pera se filharem os porcos, por 140 tanto deuem a parar mentes os moços que aprazam, 20 que saibam que por tal lugar he milhor pera se poer a uozaria. Ainda disserom algúus que quando este lugar a tal fosse, que de amballas partes lhe podessem poer as armadas, e que nom era bõo de lhe poer a uozaria atrauessada, e que era muyto milhor de se poer desta | 25 outra guisa: em a metade deste monte assi estreito poe-- rem hum homem ou dous, que ouuesse espaço muyto | pequeno antre hum e o outro, e des hi poerem os ho- A méêes as uozarias assi enuiasadas, assi como se fossem | duas linhas que sahissem da ponta de hum triangulo, á Jo e se espalhassem pera fora. E entom seerem estes homéêes tantos postos ata que cheguem aos chaãos, onde DP quê e a Er dadas y = q kb : CN , ps E: —— a 2" PR tio ig ars + si Pp; 8 3. saydas. — 5, saem. — 7. ia. — 9. saem — melhor. —19. apra- çam. —20. melhor — por, dematur. — 21. logar, — 24. melhor. — — 27. piqueno. some | | | an À 8) am de ser as armadas: e disserom os monteiros que tiuerom esta rezom, que esta uozaria era muyto pro- ueitosa, e muyto milhor que esta outra que estaua atra- uessada, e a rezom que assi dauam porque era bôa, era esta: deziam que se o porco topasse na ponta donde sahem estas linhas das uozarias, ou esso meesmo em cada húa das metades das linhas, que de força seria de desuiar, e des hi porque achaua o monte largo per que corria de longo, e sempre. lhe iam fallando, que por aquella cousa era mais segura de a nom passar, que por aquella uozaria que era atrauessada, e sahiria mais desembargadamente nas armadas, porque quando assi achaua os homêes, nom o fazia senom por correr de longe, pera os acabar, e quando os assi acabaua, que se achaua nas armadas, e que por esta cousa saya de milhor mente. Ainda em este monte dizem que pode seer tal que nom auera lugar per onde sayam os porcos mais que per hum cabo: entom o milhor que lhe podem fazer, assi he que lha façam enuiasada, que húãa ponta saya onde estiuerem os de cauallo, e a outra saya em aquelle lugar que for mais trageitado, pera onde os porcos nom ajam de sahir. E esto pera os porcos nom auerem de sahir, bem sabem todollos monteiros que ou sera terra muyto pobrada, ou serra muyto alta, ou de fraga, ou de terra que sera muyto desamparada, por- que os porcos per taaes lugares nom sahem de boamente. Ainda acontece muytas uezes que em taaes montes, que assi seiam longos e estreitos assi como dissemos, que os senhores querem correr todo asuando, pero que lho sera de mais pouco trabalho querello departir com uozaria, porque lhes os porcos sayam de milhor mente, 2. razom. — 3. melhor. — 4. razom — porque, entrelinha. — 5. diziam. — 6, saem — medes. — 13. homes. — 16. sahia. — 17. melhor. — 22. sair. — 23, sair. = 26, saem. — 28. acontesce, — 29. Sefiores — so: querer no. , É o o E) e A a 4 7a + Yr 4 1 8 . + £ 4 A ce | amd = E e — BOL — e os possam filhar quando se assim pauearem. E em esta uozaria saibam os monteiros, que quando a tal monte quiserem correr, que nunca lhe hãa uozaria soo podem uedar, que os porcos nom saltem de hum cabo - no outro, quer seia atrauessada, ou enuiasada, ou em triangulo, que jamais lha nom podem uedar, que lhe os * porcos nom passem, ca em todollos lugares que os 141 porcos uem pollas costas dos homêes que estam nas “uozarias, posto que os homêes seiam muyto espessos, todollos passam, que nenhum delles torna: e portanto he de força que os homêes tenham os rostros pera húa parte do monte, e todollos porcos que lhes uem pol- las costas, todollos passam. E porem quando se tal monte ouuer de correr, ha mester que o corram com uozaria que seia dobrada, que em hãa das uozarias os homes tenham os rostros contra hãa parte do monte, “e os outros contra a outra, e assi se pode correr, e de outra guisa nom: e dizem algúus porque he tal cousa “como esta, que pois se os porcos nom tornam das uo- - zarias senom pollas uozes dos homêes, que pois a uoz tambem soa detras como deante, que assi se deuiam “tornar os porcos daquelles que teuessem as costas contra “elles, como daquelles que contra os porcos tiuessem os rostros. A esto dizemos que todauia se faz assi: e é qualquer monteiro que esto nom prouou, que o proue, “e achara que he uerdade : mas o que se faz nom he “sem a natura, que da a conhecer as — animalias aquellas cousas que lhe podem empecer, pera Ee dellas guardarem, e das que lhes empecer nom pô- “dem, nom dam por ellas tanto: e que por este instincto " quando o homem esta de costas, conhecem elles polla uoz que nom esta de guisa pera lhes fazer mal, e po- +, se, entrelinha. -8 ucem. — 12. uchem. — 14. mister. — E a. diante. — 27. dá — conhescer. — 31, conhescem. — 32. está. aii 142 — 202 rem o passam sem reçeo: e esso meesmo o fazem quando o homem esta, que tem o rostro contra o porco que lhe podera fazer mal, 'e porem o nom passa de tam boamente. E pera esto auerdes em exemplo, bem sa- bem todollos monteiros que os ceruos nom am em si rezom, que se possam ensinar húus aos outros das cou- sasque se am de guardar: pero he assi, e sabemno bem todollos monteiros, que quando o ceruo uem acerca dalgum de cauallo, e uem de tal guisa que o pode re- messar, que logo salta por alto, ainda que o de cauallo nom remesse, e esto nom por outra cousa, senom por se guardar, que quando o remessassem que o nom feyram: e assi como o ceruo sabe esto por se guardar por ins- tincto da natura, assi o sabem conhecer os porcos, que os homées que estam de espaldas que lhes nom podem fazer mal. Todas estas cousas das uozarias em como se deuem de poer, e em que lugares, compre de sabe- rem todollos moços que andarem a busca: e a tambem as armadas, em que se o porco pode filhar quantas som, e esto nom o queremos fallar aos moços do monte senom em geral, o que deuem de saber, quejandas som as armadas, e de quantas guisas, nos conuem de fallar, quando fallarmos como os escudeiros de cauallo am de saber fazer pera seerem bôos monteiros. Mais as ar- madas a que os moços em geral am de parar mentes, que som pera se filhar o porco, am de ser chãas e limpas, ou enfeytosas e limpas, e as que milhores som, som as enfeytosas e limpas, e esta limpidom nom entendam os moços que * a de seer tal, que nom tenha outra cousa senom herua, ca posto que o lugar seia de charneca, que ” 1. mesmo. — 5-8. que os ceruos nom am... pero he assi, e sabem bem todollos monteiros, aposição marginal, — 6, razom. — g-10. remesar. — 12. remesasse — feyram] firão, glosa marginal. 13-14. intinto. — 14. de — conhescer. — 27. melhores. — 203 — o alaão possa desembargadamente ueer o porco, e lhe correr, a todollos monteiros som contadas por limpas. Estas armadas deuem osmar, que som bôõas pera se em - ellas filhar o porco, segundo o uso que elles ueem, que 5 os alaãos igualmente nas armadas filham os porcos: pera quando acontecesse que lho preguntasse seu senhor, que lho saybam bem dizer em como se correra aquelle monte, ou como se tomara aquelle porco que tiuessem aprazado. + CEEE GANA Cai po Z a x Fi Em é 10 Capitulo xxyiitj, em como deuem fazer aquelles E que puserem a uozaria, depois que a tiuerem posta. Ainda os monteiros que aprazam, posto que saibam em como se am de poer estas uozarias, ainda lhes fica - de saberem hiúa cousa que he muyto necessaria pera "15 uirem em perfeiçom de saberem, em como poderam — filhar aquelle porco que tem aprazado: outrosi sabe- rem em como depois que as uozarias forem filhadas, como am de mandar fazer aaquelles que as filharem. Ca “dizem os logicos que toda proposiçom que he posta, se * 20 asua definiçom nom he dereita determinaçom, que toda | a proposiçom nom ual nenhãa cousa: e assi fazem em no poer destas uozarias, que posto que os moços as saibam muy bem poer, e as mandem poer, assi como E, | jaescreuemos que se deuiam de poer, se nom souberem | à5 O que depois ouuerem de fazer, depois que forem pos- tas, em como am de tornar o porco que nom passe por ellas, que he a sua conclusom e o seu saber, pouco ou nada ualeria de as poerem. Ora pera saberem os e—— eme + + + a. / 6. acontescesse — perguntasse — Sefior, — 11. pozerem. — 44. nescessaria, — 15-16. poderam filhar aquelle porco que tem = aprazado, aposição marginal, — 18. aqueles. — 28, hora, Te .—. — ——— a a ta - = y 143 moços em geral em como se am de poer as uozarias, “compre aaquelle que as a de poer, que as ponha sem arruido, em tal guisa que todos entendam toda cousa que lhes elle disser, em tal maneira que aquelles a que o disserem, saibam o que am de fazer, e esso meesmo os lugares em" que os mandam estar : e des hi que aquel- las cousas que lhes mandarem fazer, que as nom errem de as fazerem, como lhes elle mandar: e outrosi lhes deue de defender que nenhum nom se suba a nenhãa aruor, nem a penedo alto, ca seiam bem certos que qualquer que assi estiuer em aruor, ou em penedo alto, logo o porco passa, senom todauia que seiam em chaão. E depois que as tiuer postas, a todallas uozarias em geral lhe compre de as requerer, e ande por ellas, e esto por fazer estar todollos homêées quedos cada hum em seu lugar, que se nom abalem, e des hi que se o porco puser grande força por passar por algum lugar, pera lhe fazer uedar com mayor força de brados, * ou por lhe poer os caães, ou por lhe fazer as outras cousas que adeante diremos, com que se os porcos uedam de nom passarem as uozarias. A esta primeira uozaria, que se pode filhar por altos que seiam espessos, tanto que for bem filhada, assi como ja uiemos dizendo que se compria de fazer, que nom seia arremetida, nem em arcada, como for acabada de se poer, se o monte for grande. e largo, deue de mandar a todollos que estam na uozaria, que britem o mato que cada hum tem ante si, O mais que poderem, em tal guisa que façam como caminho, ou talhada: é este fazer creede que faz muy grande ajuda a tornar os porcos, que nom'passem a tal uozaria, e a rezom porque he esta: quando os que assi estam em esta talhada ueemse huns aos outros, e 4. el. — 5. medes. — 8. el. — 17. posser. — 20. adiante. — 23, ui- hemos. — 24. atremetida, — 31. razom. — 205 — quando o porco assi uem pera passar, fallamlhe de mi- lhor mente, e am milhor maneira de o guardar que a nom passe. Ainda os porcos que som usados a passar per aquelle lugar, e sabem que he aquelle monte todo por alli cerrado, quando a tal talhada ueem, e a sentem, re- ceamse muyto mais, e per ende nom a passam de tam boamente. Depois que esta talhada assi for feita, faça estar todos quedos, e nom falle nenhúãa cousa, ata que os caães achem, e corram: e por estarem assi quedos presta pera os acharem os caães milhor, e depois que correrem, correm mais dereitos: ca muytas uezes acon- tece, que quando o monte he grande, e os da uozaria estam bradando, que os caães se aluoroçam, e quando “uam a achar, se acontece que o porco entra grande espaço pollo monte, ante que achem os caães, com o aluoroço nom uam a tam atento a achar, como quando nom sentem alguem, e muytas uezes leixam o rastro do porco, e uam as uozes dos homêes: e por aquelle embargo fica o porco por achar, e ainda que se ache, quando lhe poem os caães de correr, se os brados som muytos, ante que os caães se ajuntem ao porco, os bra- - dos tolhem o soom das uozes do caão que acha, e quando os caães nom ouuem as uozes do caão que acha, nom podem ir a elle, e entom uam dereitos as uozes dos homées, que bradam: assi fica muytas uezes, por este fallar dos homées, que fallam ante que os caães derei- “tos corram, a montaria errada: e portanto compre aaquelle que poser a tal uozaria em tal monte, de os fazer estar callados ata que os caães corram dereitos, assi como dito auemos. E depois que os caães todos correm emsembra, e que todos uenham correndo derei- 1-2. melormente. — 2. melhor. — 5. uem. — 10, melhor. —11. di- reitos — 11-12, acontesce. — 14. acontesce. — 22. som, — 24. di- reitos. —26-27. direitos. — 31. en sembra, riscado em parte, 144 — 206 — tos com o porco, deue dizer aquelle que poser a uoza- ria, que fallem todos, e que nom seia muyto rijo, nem com * uozes muyto apressadas: e esto nom he senom tam somente por sentir o porco, que estam aquelles homêes alli, quer uenha pera elles, ou se torne: e por nom seerem as uozes apressadas, nom he senom tam sola- mente pera quando elle chegar junto com elles, que lhe fallem com uozes grandes e mais apressadas, ca se lhe fallassem uozes apressadas, e de longe, quando ache- gasse a elles, ja uiria mais seguro, e passallos hia mais toste, que quando elle uem, as uozes som passeiras, quando achega, e lhe fallam rijo, e com uozes apressadas, espantase por aquella cousa que ouuio, que ainda nom ouuira, e tornase por ello mais toste, porque lhe uem de sospeita. Ainda se acontecer que o senhor mande algum sabuio a uozaria, aquelle que a puser, deue lei- xar estar os moços com os caães, e naquelles lugares que forem mais fortes, e mais azados pera se a uozaria | passar, e percebaos que nom soltem os seus caães, mais que os tenham nas treelas, e que os leixem fazer grande arruido de uozes, ata que o porco chegue muyto acerca: e des que o porco for muyto acerca aaquella parte donde lhe mais dereito chegar, e mais preto, ponhamlhe os caães que tiuerem, mais nom todos: assi como se hum moço tiuer dous caães, ponhalhejhum, e o outro tenha na treela, e percebaos, e auiseos, que per nenhúa guisa |. do mundo, nom leixem os seus lugares, onde estam, | posto que se o porco ladre muy acerca da uozaria, a . qual cousa se acontece muytas uezes de se fazer, que quando se o porco assi ladra, se os moços leixam a uozaria, polloeir onde se o porco ladra, pera o matar, 3. apresadas. — 8. apresadas. —. apresadas. —10. ja, entrelinha — ueria. — 12, falla. —13. espantasse. — 15, acontescer — Sefior. — 16. poser. — 18. se, entrelinha. — 23. direito — ponhamle. — 25. ponhalle. — 29. acontesc '. quando esto fazem, fazem em esto dous erros: o pri- meiro he que logo fazem a montaria arremetida, que he muy grande erro, como ja dissemos: e o segundo Jeixam o lugar desamparado que am de guardar, por a qual cousa lhe passam os porcos muy de ligeiro: e por tal cousa deuem os que puserem a uozaria, de aui- sarem e castigarem os moços, que nom leixem os luga- res, em que os assi puserem: ca mais he de louuar ao moço de guardar aquelle lugar, onde o mandam estar, que de ir a ladradura, posto que elle o porco matasse: e esto que dissemos, que pusesse hum caão, e que o outro tiuesse na treela, e esto nom he senom porque aquelle que fica, faz mayor arruido: e ainda mais se se o porco tornar, que quando uier aa outra uez, que tenha caães que lhe ponha. E ainda deue auisar os moços que assi estiuerem na uozaria, que se algúus caães sahirem errados aa uozaria, quer seiam seus, ou de “outrem, que logo os prendam, e metam nas treelas, pera depois auerem de os poer, quando acontecer que compra de os poer, ca esta he húa muy bôa montaria pera fazer qualquer * moço que ande ao monte. Outros 145 montes a hi que som pequenos, e de pequeno com- passo em grandeza a estes montes, o que ouuer de filhar a uozaria, deue fazer desta outra guisa, que lha deue “de poer toste, e todauia o mais callado que elle poder, e des hi com todallas outras cousas que ja escreuemos, que se deuiam fazer em geral em todallas outras uoza- rias: e a tanto que for acabada de tomar, nom deue a atender que lhe ponham os caães, mais deue de mandar que lhes falle muyto rijo hum gram pedaço, e des hi “ façaos todos callar, que nenhum nom falle, ata que os caães achem, e des que lhe os caães acharem, entom lhe “ dio 1, Ez ; e o é tm E ' -- Ee) Calado dá PPT PP E ra o Siri ) eres e VR Dado É dp) -— ty a err Ai Ew. ” - a , q — Tee v oO. as so é E, o MME, k a) PLA as ada ++ , da ando O O a a Ld Pa. Ê . ap Eq e q mm e gre =. á É á Ed pd - di E" - o ad Pai é q y e . a E! a k 2. antremetida. — 4. desemparado, — 8. poserem, — 10. el, — 22. piquenos. E — 208 — faça fallar, assi como uir que lhe compre de lhes falla- rem os que estam na uozaria. E o porque estas cou- sas assi som bôas de lhes fazer desta outra guisa, em este monte que assi seia pequeno, e de pequeno com- | passo, o poer da uozaria apressada lhe he bõo, em tal que se lhe o porco nom aleuante, ca se lha pusessem passo, seendo o monte pequeno, poderia seer que o porco sentiria aquelles que hiam filhando a uozaria, e poderse hia aleuantar, e lançarse no monte grande, e per aquella guisa ficaria o monte por correr, o qual seria pollo contrayro que se lho filhassem aginha, e callado, nom se lhe poderia tam toste aleuantar, nem. perder, e por esto he esta cousa bôa de se lhe fazer. assi. A outra cousa que assi he bem de lhe fallarem. logo rijo, ante que lhe ponham os caães, he por fazerem espertar o porco, o que ante que os caães uenham a achar, que ante senta que os homêes estam por aquelle ge e que ajam duldança de ir por alli, e que por | aquella duldança que assi ouuer, tome em uontade sahir ante pollas armadas, em que nom ouue nenhum, ca de . ir por onde estam os que som de uozaria: ca se lhe - assi nom fezessem em este monte pequeno, quando o | porco estiuesse despercebido, e os caães o achassem, por o grande sabor que a de se lançar no outro mon-. te, e des hi porque nom a lugar de espaço do monte 2 per que corra, por aquesta cousa he de força de a | passar, posto que os da uozaria em ello fizessem quanto | podessem. Ainda tiuerom algúus monteiros, e he bôa montaria, que em este monte pequeno, ou mouta pe- | quena, que se departe por tal uozaria, tanto forom E duuidosos, se lhe pusessem os caães, de lha o porco | 5. presa: — 6. posessem. — 7. seyendo — piqueno. — 18. du-. uidadça. — 19. sair. — 22. piqueno. — 28. pudessem, — 29. piqueno, — 30, de parte. — 31. possessem. — 209 —. passar, que disserom que nom he bem de lhe porem ne- nhúus caães, senom tam solamente que os que estam na “uozaria lhe fallassem rijo, em tal guisa que o porco os "ouça, em ouuindo que se leuantasse, e que sahiria como -5 de furtado mais de ligeiro as armadas, e que por esta cousa nom passaria a uozaria: mas pero de sobre esta * cousa * disserom algúus monteiros que esta cousa lhes parecia mal, posto que bõôa fosse, que era hum pouco | empachosa, porque em fallandolhe assi, que parecia "10 O monte como surdo, e pois que o monte he de sabor, que hum dos sabores que hi a, he acharem os caães, | e correr, e que este sabor se perderia desta guisa, E ainda mais, que muytas uezes acontece, que os | porcos, quando sentem assi a uozaria filhada das partes 45 donde entendem de se lançar, que muytas uezes se leixam estar, posto que os caães o achem, e estem com elle, e ainda ante esperar que o matem, que sahir “as armadas, posto que em ellas se nom faça algum arroido: e que porem pera se milhor fazer, e esta ao parecer milhor rezom, he fazerem desta guisa. Tanto que a uozaria for posta, e lhe fallarem de rijo, assi como dito he, o moço que o porco tiuer aprazado, “ponhalhe os caães a achar, e nom lhe falle nenhãa “cousa, senom pouco, quando lhe os caães poser: e como os caães acharem, nom lhes falle mais, nem lhes ponha A mais outros, ainda que os tenha: e se se o porco deti- * Juer, andem os moços que lhe poserem os caães de “achar, e todollos outros, posto que caães tenham, e an- - dem darredor do monte, e metamse da parte donde ks E esta a uozaria, e dali lhe fallem, e lhe ponham os outros | caães: e o que dalli auante ouuerem de fazer, se lhes mi at ETR o vi O é , + 4 Ea o é se “e s E q e eg epa e de Ro 1. poerem ? — 6, pera. -— 8. parescia. — q. parescia. —13, acon- — tesce. — 16, o sic. — 17. elle sic — o matem sic. — 19. melhor, — 20, melhor. — 29. derredor. — 30. está. 14 Ed coa? “a ÉS Haro o porco detiuer, nos lho diremos quando escreuermos . o que os moços do monte ouuerem de fazer. Ainda hi | a algãas outras uozarias, que som de algáus montes | semelhantes destes que ja dissemos, que nom som - muyto grandes, nem muyto pequenos. Ora este monte - se acerta algúas uezes daquelles que aprazam, nom po- . derem departir o porco, que assi aprazam, senom por | alguas uozarias por tal lugar, que algãa montanha fique alta de sobre a uozaria, em tal guisa que quando o porco correr por chegar a uozaria, uenha ao sopee | deste monte a tal, aquelle que poser a uozaria, nom deue | de teer estes outros modos que ja dissemos, auiam de . teer em estes outros montes, que ja uiemos dizendo, | estremadamente em no primeiro que fallamos, que era | do grande monte, quando dissemos, que quando o porco uiesse de longe que lhe fallassem com-uozes que fossem. longas, e nom de muy grande arroydo: mais em esta - tal uozaria, o que a poser, lhe deue de mandar fallar ante que lhe ponham os caães, assi como em outra. mouta pequena, e des hi sempre lhe fallar muyto rijo estremadamente quando o porco subir em cima de algúa montanha, que aja de decer pera a uozaria, entom lhe - 147 deuem a fazer todo * arroido que poderem, em tal guisa, | que daquelle lugar o tornem, ca seiam bem certos to- | dollos monteiros que des que o porco deu ao sopee pera a uozaria, pollos moços, e Os caães que uem apos elle, e ainda que os moços nom uenham, nem lhe fallem, que poucos, ou nenhúus som dos porcos, que a tal uo- zaria nom passem: e por ende he necessario, que aquelle que poser a uozaria, que lhe faça fazer tal ar- 30 roido, que tanto que chegar acima da montanha, o - 4. hora. — 7. de partir. — 11. deste] e este. — 20. piquena. — — 21. stremadamente. — 22. montafia, — 25. deu] dece? — 29. nes- cessario, E E 7 = 211 — q , ne - façam tornar, que de outra guisa nom-no poderiam tor- nar, assi como dito auemos. Ao monte longo, em que — dissemos, que em poendo a uozaria, que os porcos nom Ea “aulam outra creença, senom como em passear, e sal- 2 E tar em aquelle monte, que se departe por a uozaria: x E se esta uozaria for atrauessada, assi como dito auemos, | e que as armadas possam estar em amballas pontas, “façalhe em aquella maneira que dissemos, que deuiam — ateer aquelles que punham a uozaria em nos montes jo grandes, e a uozaria fosse por alto, se o paul, ou os ameaes, ou ainda a montanha for chãa, e o monte ficar E. “largo, em que poserem os caães: mais se a quiserem - poer desta outra guisa, que algúus tiuerom que era milhor de se poer, assi como em triangulo, aquelle que “a tal vozaria poser, por fazer bem aquello que he mi- “lhor de se fazer, deuea fazer por esta guisa. Des que “Os caães correm, ou ainda depois que lhes fallar algúa uez, deue de mandar callar todos, que nenhúus lhe nom Rico, senom tam solamente aquelles que estam na » metade do monte, da ponta do triangulo da uozaria, e entom dez, ou doze homêes que corram pollas linhas da “ Jvozaria escontra as armadas, e estes dez, ou doze, ou | mais seiam no aluidro daquelle que a poser, segundo o E E monte for, e os outros estem todos callados, ata que o a as porco chegue a elles por qualquer parte que uaa: e o - porque se esto faz, pera se milhor fazer, he por esto: “os primeyros que lhe fallam, que estam como na ponta E “do triangulo da uozaria que he posta, e os dez ou doze que lhe fallam de cada hãa das partes daquella uozaria, que lhe corre como Jinhas de triangulo, nom he senom E ior o fazer desúaliar da metade do monte, e des hi que ads La < baga di a ORE mi bah cy “ Tea br R “2. dA Di a oa MR O 1 ips, do a DA 7 La ah 1 é A dc | * 4 a 28" presta cê di RR da id né so, » dd ad . . e , E l pés 1. fação. —3. nom] no. —-4. passear] panear. —11. chaa. — 14 melhor. — 15-16. melhor, — 21. homes. — 23, albidro, — 26. me- — hor. — 31, desualiar (?). 148 “Ds e corra o outro monte de longo das uozarias pera sahir nas armadas, e os outros que lhe uam fallando, quando em elle topam, nom he senom por lhe dar lugar, que de milhormente os corra de longo, ca se lhe aconte- cesse que de-toda a uozaria fallasse ata os derradeyros que estam na * ponta das armadas, que os demais dos porcos nom sahiriam de tam boamente: e porem he bem daquelle que a uozaria pos, de lhe fazer fallar destas guisas. “Ora em estes montes longos, em que dissemos que se poderiam poer as uozarias enuiasadas, em que | nom estiuessem as armadas senom de húãa parte, aquelle que a poser, des que for posta, lhe deue de fazer desta guisa: fazerlhe fazer todas estas cousas que dissemos em geral, que se deuiam fazer nas outras uozarias, e a tambem se for monte pequeno mandarlhe fallar como em monte pequeno, ante que lhe ponham os | caães: e se for monte grande, teer o outro modo de fallar, que dissemos do outro monte grande, conuem a | +49 8 , | saber, nom lhe fallar a menos que os caães acham: mas | quando assi lhe ouuer de fallar, tenha este modo, falle- . lhe daquella parte da ponta da uozaria, por onde os . porcos nom ouuerem de sahir, e depois que o porco se uier mais chegando escontra a uozaria, fallelhe da me- tade, tambem com os modos que lhe os outros fallarom, . e os da outra parte estem callados. Ora se uir que o porco se começa ja a desuiar, e que a uontade de cor- . rer a uozaria de longo, façalhe fallar de todallas par- tes, e assi sahira mais dereito as armadas, e por esta . guisa lhe he proueitoso de se fazer em esta uozaria, | assi como ja dissemos, que se auia de poer em trian- gulo, ca esta uozaria semelhante he da outra, porque | 4. melhormente. —. 4-5. acontescesse. —g. hora. — 15. pl- ; queno. —15-16. mandarlhe fallar como em monte pequeno, apo- sição marginal. — 16. piqueno. — 25, hora. — 26. á uontade., — 213 — ; aquella que he posta: em triangulo, se começa a poer em meio, e correm duas linhas enuiasadas pera fora, “assi em esta he húa linha desta uozaria, que começa em húa parte do monte, e uem sahir na outra, onde estam 5 as armadas: e porem pollo que he proueitoso de fallar, - que falla a uozaria do triangulo, assi he proueitoso de fallar em esta uozaria que assi he enuiasada. E pode- riam dizer os monteiros, que pois o monte era largo, — em que se deuiam a poer estas uozarias departidas, | o húa de hãa guisa, e outra de outra, conuem a saber, hãa em triangulo, e a outra enuiasada, porque se de- uiam assi poer: a esto lhe respondemos, que está uozaria de triangulo se deue assi de poer, quando o monte for tal, que aja as armadas de amballas partes, 15 e que a uozaria enuiasada se deue de poer, quando — este monte assi for longo, e nom ouuer as armadas senom de húa parte. Na outra parte que dissemos, * que este monte longo poderiam correr de amballas par- tes, e que se nom poderia correr bem, senom seendo “as uozarias dobradas: estas uozarias aquelles que as poserem, obrem em ellas segundo estas outras, quer seiam em triangulo, quer atrauessada, ou enuiasada, ca ellas se nom podem fazer que bem seia, senom como se faz em estas outras uozarias. a PRA ga A X! rel simei soe . — Fa Dad e. id F “"W Ê * Capitulo xxx, que falla como o monteiro que apraza, 149 a de saber aleuantar o' porco que assi tem apragzado. Ui e ASAP tê ad " Ge e Tete n Pois que ja dissemos em como o moço que se tra- “balha de aprazar, o ha de saber fazer tambem em apra- Jo zar, como tornar as uozarias, e depois saber o que lhe 3. em) na. — 7. fallar] fallas. — 19. seendo] seyendo. — 26, á, 29. tam bem, — 214 — a de mandar fazer aquelle que a poser, e tambem as armadas, ainda lhe fica a saber hua cousa muyto pro-. ueitosa, que se a o monteiro nom souber fazer, muy toste cahiria em fallimento, e que nom era bõo apraza- dor, e pero nom seria por mingua de saber aprazar: e esto he, quando nom sabe bem aleuantar o porco que tem aprazado: ca muytas uezes aconteceo ao monteiro de ter o porco aprazado, e por mingua de o nom saber + aleuantar, ficalhe o porco no monte, e quando lhe assi fica, escarnecem os outros delle, e dizem que o nom soube aprazar. E porque a todollos homges he dado a E á fazerem muyto por auerem bôa nomeada, em no mes-. ter que ouuerem de fazer, que por a nomeada com affecto de ser uerdade, o que delle assi dizem, possa . receber galardom de seu trabalho, que he se faz bem, de receber bem: este aleuantar, que o moço quer ale-. uantar, ou o aleuantara per olho, ou por treela, ou poendolhe os caães de achar, ou batendo a calçada: e quando assi quiser aleuantar per olho, em esto nom ha mais que o ensinar, senom que quando assi for por elle, que se guarde que nenhum nom uaa ante elle, por | tal que lhe nom trilhem o rastro, que bem sabem os monteiros, que todo rastro que he trilhado, que o nom pode nenhum leuar per olho: e fazem algâus monteiros, | que assi querem aleuantar per olho, hãúa cousa, que lhe he muyto proueitosa, ca chama algum monteiro que “uaa com elle, e tanto que perde o rastro, no lugar em que o derradéyro ueem, em aquelle lugar lhe faz poeer o pee, e que estee quedo ata que elle uaa mais adeante, | e ache o rastro que alli perdeo: este teer do. pee lhe faz muyto bem pera poder aleuantar o porco, quando 4. caheriã. — 7. acontesceo. — 11. soube] sobe. — 13. posa. — 17. per] por — 22. trulhem. — 24. leuar] texto ilegível, leuar aposição marginal — per] por. — 29. estê, PES gr o assi quiser aleuantar per olho, que quando ja sabe o “lugar em que o perdeo, nom o buscam j jamais detras, donde aquelle tem o pee: porque muytas uezes acon- teceo a algúus monteiros ueerem o rastro em algum “5 lugar, e querendo parar mentes, por onde ia mais “adeante o rastro, porque assi ia, nom o podiam mais. “achar: e quando queria tornar aaquelle lugar, em que o - derradeyro uia, enalheauao em tal guisa, que nom sabia — em que lugar o leixaua, e entom tornaua pera onde “o ante fora, ata que achegaua aaquelle lugar, per que - ante passara, assi andara muyto mais que o que ante - deuera de andar, se em certo soubera, onde derradeyro - The ficaua o rastro, e por esto he bõo de lhe poerem = assi o pee. E se o aleuantar quiser * por treela, faça “45 em ello desta guisa: chame todollos moços consigo, que - tragam todollos caães de correr, e castigueos que ne- E nhum saya ante elle, nem ponham os caães sem seu mandado, e se acontecer que algúus caães uam soltos, La f ” rs PE rEcerqra qe Fá nsiida. e | - ap mb; contr Drag Sa Ega ' air q À aid MES + q K! ur percebaos dello, e façaos todos prender em tal guisa, que nom uam soltos: ca a todollos monteiros he > - Sabudo que quando algúus caães uam soltos, ou algúus “se atrauessam adeante daquelle que uay atreelando, 25 O senta, logo se aluoroça em tal guisa, que jamais nom * quer leuar o porco, senom ir por onde o outro uay, ca pele cuyda, que o outro lho ha de aleuantar, e com ceu- mes daquello nom para mentes do que ha de fazer, e “por esto leixam de leuar o porco, e por tanto deuem a “fazer, que nenhum caão uaa solto, pollo nom toruar do Ene ouuer de fazer: e depois que assi entrar ao monte, “€oseu caão for enderençado no rastro do porco, chame 3-4. acontesceo. — 5. hia, — 6, hia, — q. ondes. — 10. antes. — 11. antes. — 18. acontescer, — 23, atraelando. — 32. aderençado, “ou ainda que nom atrauesse, senom tam solamente que. 150 | assi como se algãas uezes faz, ante que entre a aleuan- dis 216 — todollos moços que uenham juntos com elle, e como o caão errar, digamlhes que estem quedos: e des hi desen- uolua seu porco, ata que o caão uaa a dereito per elle, c nom aja doo da falla, que como se o caão enderen- çar, que logo chame os moços, e assiuaa por elle, quando o errar, dizendo aos moços que estem quedos : e quando o achar ir dereito, chame os que uam com elle, e assi uaa ata que o aleuante: e este dizer de estarem quedos presta ao monteiro por se non atrauessarem adeante, por lhe nom fazer toruar seu caão: e o chamar que os assi chama, lhe he bõôo pera lhe poer os caães mais chega- dos, e acharem o rastro mais quente, ca se o porco fosse aleuantado, e os moços ficassem longe, iriam tam ' Jonge, que depois nom o poderiam os caães bem en- 151 calçar, e por esta cousa he bõôo ao monteiro de leuar os caães todos juntos consigo: e quando o moço assi aleuantar este porco, nom lhe ponha logo os caães, ata que por elle nom uaa hum grande pedaço por treela, e elle ache que o porco uay dereito, ca muytas uezes acontece, que quando assi o moço uay per treela a. aleuantar, que o porco por jazer dormindo, ou por lhe nom dar o uento do monteiro, ou pollo porco sentir o monte filhado, esta a tam quedo, que nunca se leuanta, senom quando o cãao salta com elle na cama, e quando com elle assi salta, os demais em na primeira nom cor- rem dereito, senom todauia em reuoltas, ora pera hum cabo, ora pera outro. E se lhe os caães assi todos fossem postos, pollo arroido, e pollas uoltas que lhe o porco daa, os demais delles o errariam, quando lhe assi fossem postos. E porem dizemos que lhe nom-* ponham os caães, quando assi andar em reuoltas, mais que toda- 1. el —4. cam — 10.e o a chamar. — 14. bem, entrelinha. — 20. acontesce — traela, — 21. dormido. — 23. está. — 26. hora. — 27. hora. — 29. dá. - f ao ay ua [is ; Cade ai oa ” cem mu elle eo ções y + 4 £ ã — 217 — uia ande com o caão de treela ata que lhe o porco uaa dereito. Quando lhe assi quiser poer os caães, nom lhos ponha todos juntos, mais tome os milhores tres ou quatro caães de correr que tiuer, que seiam bem certos em correr, e ponhalhos bem dereitos de sobre o rastro, e des que uir que uam com elle bem enderença: dos de sobre o rastro, faça tirar as treelas a seis, ou a oyto caães, e des que entender que uam todos bem dereitos, tire as treelas a todollos outros caães: e per esta guisa os poera bem, ca creede que este poer he mais proueitoso pera os caães bem correrem, que os. monteiros poderom achar pera o porco que he aleuan- tado por treela. QOutrosi opiniom he de algúus mon- teiros, que o porco que assi seia aleuantado por treela, e lhe assi seiam postos os caães, que nunca pode seer “ desacompanhado de todos elles, ou de algãa parte, se os caães bôos som, posto que no monte seiam algúas ueaçoões, ora seiam de porcos, ou de ceruos. Eo que quiser aleuantar a lhe poer os sabuios de achar, faça estar os moços arredados a hãa peça do sinal, e per- cebaos que em nenhãa guisa do mundo nom tenham — os caães soltos, assi como dito he, ca nom empecem " menos aos caães que uam achar, mesturaremse outros “caães com elles, que o que fazem ao caão da treela, 25 mas fazelho ainda muyto mais. Cao caão da treela, “ainda que lho faça errar, podeo o monteiro ja quanto - emendar, e o que uay solto, nunca o pode fazer emen- dar, saluo se he por grande auentura: e porem he - mais de necessidade que os caães nom uam soltos, | quando o quiserem aleuantar por poer os caães a achar. — E des que o moço assi fezer teer os caães presos, tome 1. cam. — 3. melhores. — 5. ponhallos, — 9. direitos. — 13. tra- ela. — 14. traela, — 16. desacompafiado. — 18. hora, — 20. arre- — drados. — 24. can. — 25. de. — 27. emmendar. — 27-28, enmendar, — 28. eventura. o da seu caão na treela, com que aprazou seu porco, e deeo a algum que o tenha, ca esto he o milhor que pode fazer, ca algãas uezes acontece aos moços que em le- uando o seu caão de treela ao sinal, fazem em tal guisa que o porco nom pode seer achado, e he por esta guisa: acontece aos mais dos moços, que quando assi uam ao sinal, que assi leua o seu caão na treela, que o caão por- que se nembra que lhe entrou por all aquelle porco, ainda que seiam taaes horas que o nom possa bem . leuar, assi como acontece as demais das uezes aos moços que aprazam, que depois que uam dar recado a seu senhor, mais a meude lhe uam poer os caães depois - de comer, e entom he forçado de se lhes fazer de taaes 152 horas, que o sabuio com-que atreelam, nom lho pode assi leuar, como quando com elle aprazom, que se deixa correr ao sinal, e o moço com sabor do caão que sc uay ao sinal, uay rijo com elle, e o caão lhe tras-. passa o * sinal, e entra mais pollo monte, que onde o “sinal estaua posto. E depois que alli passa o caão, nom pode mais leuar o porco pollo tarde que he, e assi ficam, que quando lhe am de poer os caães, se lhos querem poer no sinal, o rastro lhe fica trilhado, e pollo trilhamento que assi fica, quando lhe querem poer os caães, os caães o nom podem achar: ca sabudo he a todollos monteiros, que quando poem os caães a achar, que se lhes elles nom cheiram o porco logo a primeira no sinal, que nunca o podem achar, saluo se he de uentura, e assi que quando he trilhado o rastro, o caão nom cheira alli onde o sinal foi posto, e polla “mingua do cheirar que assi nom cheira, o erram todol- los caães, e fica o porco por achar: esso meesmo se o. 1. can — dêo. — 2. melhor. — 3. acontesce. — 4. can. — 6. acon- tesce. — 10. acontesce. — as| aos. — 12. sefior, — 26. à. — 31. medes» no ee =." Arari Ve pras ei As Mo e q) ; Pr RO SU ed à ad i ] RIAL o Eva À 4 v ” h ! | Quo 1 a , Edicao Callao dad 65:26 JF ti : Y dd Vora, a. ' a” e emgrerr er mer E px anda 4; 8 ço dm ai pi VET acids en do ET ET repre , “ .". . dd A nd q” e» o fo -— 210 — “querem desenuoluer ata que.o ache, pera depois lhe poerem em outro lugar os caães pollo tarde, o que das “mais das vezes, em que se lhe acontece de poer os “caães, assi como dito he, nom lho pode cheirar o sabuio de treela, e por esta guisa ficam muytas uezes os porcos “por aleuantar. Mas podiamnos dizer algúus, como se - poderia tal cousa fazer, que o caão de treela nom chei- “rasse, e auello de cheirar o caão de achar, quando lho - posessem, posto que o rastro nom fosse trilhado, ca pois o sabuio de treela nom cheiraua, o outro sabuio de achar daguisado nom o deuia a cheirar. A esto saibam os que por este liuro leerem, que nenhum sa- - buio nom pode seer bõo de achar, senom aquelles que -— am o uento grande mais auantajado que outros ne- nhúus, e pollo grande cheiro que am, por esso acham elles a todas horas: e por esto se lhe os monteiros bem pararem mentes, acharam, que qualquer caão que seia — bõo de achar, e que ache a todas horas, que nunca - aa de leue he ferido do porco, e se o algum for, forçado he que o seia muyto mais poucas uezes que nenhum - outro caão que de correr seia. (Ca elles pollo seu grande cheiro que am, se seguiram a tam longe do porco, porque sabem em certo que esta alli, que quando — uam, sempre uam percebidos pera se auerem de guar- dar, e por esta cousa os que bõos caães de achar som, - pollo seu grande cheiro nom leixam de cheirar o porco, pe so Estero que os caães de treela o nom cheirem, ainda que “seia muyto aa tarde. E ainda hi a outra cousa que as achar os caães, que de achar som, que cheiram o — porco a todas horas, e nom o fazem assi os caães de “ad > . . e DR ótia, e esto segundo a experiencia, que todollos mon- — feiros, que em taaes cousas pararom mentes, bem ui- — rom, que todollos demais dos caães que algúa cousa * 3, acontesce. — 8. can, — 11. a, entrelinha. — 23, está, — 220 —- 153 sabiam * fazer, que era por uso: ca usando as cousas sa- bemnas fazer por grande uso que dellas am. E nom di- zemos saber fazer segundo o que de natureza lhes he dado, mais por este uso passam a razom da natureza, ca em rázom de natureza esta que os caães cheirem o porco, ou outra qualquer ueaçom que seia quente. Ora assi esta, e de fecto he, que os caães dos beesteiros do monte, que pollo uso que am de quando o beesteiro tira ao ueado, e elle ouue o deslato da beesta, e quando o beesteiro assi tira, que a beesta faz esto deslato, logo o “beesteiro chama o caão, quando entende que o ueado. uay ferido: e como o caão chega, logo o mete no rastro daquelle ueado: e por este uso que assi a de seer metido no rastro, a tanto que a besta deslata, filha em si hãa cousa tam natural, que passa a razom de sua propria natureza: ca a sua propria natureza, como dito he, he em cheirar os rastros quentes, e elle por este grande uso passa ainda esta natureza, que de seu ser lhe he dada: a hi hãa cousa que naturalmente se faz, que passa esta, que pollo grande uso cobra natu- ralmente, que quando ouue este deslato, cheira os ras- tros que som trasnoitados, e se os nom ouue, nom os cheira por cousa que no mundo seia, ainda que o ponham de sobre elle: e esto ainda que pareça que he cousa graue de se entender, que naturalmente se faz, pero ella todauia naturalmente he feita: ca sabudo he que o. grande uso faz criar em cada hum corpo noua natureza. E esta cousa que assi dissemos, que os caães fazem, que passauam sua natureza, que acontecia aos beesteiros do monte ferirem hum ueado, em cerrandose a noite, ou acerca della, em tal guisa que elle entende, 1. sabia. — 3. naturaleza, e assim neste capítulo. — 5. está. . — 9. hora — está — 8, desalato] lato texto, estálo glosa marginal — 10. deslato] lato —27. noua] nossa, cf. p. 221, |. 30. — 29. acon- tescia. e BE mo E “que o nom podera obrar ante que seia noite, e por esta cousa o leixa, e nom quer atreelar por elle, e uay ter sua malhada, alli onde a de dormir: e quando uem a outro dia polla manhãa, uay alli onde tirou aaquelle a Es ueado, quer seia ceruo quer porco, € he estranha cousa * que tome aquelle seu caão, e o ponha de sobre aquelle “rastro do ueado que assi uay ferido, que por nenhãa - guisa do mundo o nom queira cheirar. E porque os * beesteiros que sabem esto, que o seu caão nom lho a de 10 atrelr, quando assi querem atreelar aquelle ueado, “Jeixam o caão, e fingem como se quisessem tirar a al- “gum uecado, e quando achega aaquelle lugar, onde se “o ueado arrancou com a ferida no outro dia, tira da — beesta, em tal guisa que o caão ouça o deslato, e cha- A e como o caão uem a elle, assi como a de cos- — tume, meteo na treela, e fan de sobre aquelle ras- E tro, que ante aquelle dia ferira, * por aquelle modo que Sg - soem a fazer quando algum ueado fere. Ora he assi * quando este caão com o deslato da beesta, e das outras “ao cousas que ja dissemos, he metido de sobre aquele * rastro, que assi he trasnoitado, que elle o leua a tam- * bem, e tam dereitamente como se fosse ferido daquella E “hora, que he de sobre sua natureza, e ainda nom o | faz tam solamente leuallo, mais posto que lhe ainda 5 outro ueado atrauesse, e o elle ueja de olho, nom 8 E “ camba aquelle rastro que leua do ueado ferido, pollo Es - “outro que uee, que he muyto fora da sua natureza, ca 3 “a natureza se torna em si meesma, e guaança húãa “Cousa que naturalmente lhe uem, que he leuar aquelle “rastro sobre que he posto, e nom o leixar por outro, o — qua he de sobre natureza, a qual lhe ueo de auer pollo * Uso, ca certo he que todo uso faz criar noua natureza. | Es :- de ma DANA, e ao, E E - » Pipe, = A À y mm tau LA 1 e Meteo a AT Rosi? E ” a 4 na Edi “ a” E 3a) á. —sS, estrafia, — 10. atraelar bis, — 16, pon no. — a 18. hora. — 22. dirçitamente. — 23, sobra? — 25, do. — 28, medes. — = Epa a q Do pe sa. Í » 154 — 222 — E se algum monteiro uir esta cousa escrita em este liuro, e entender, ou cuydar, que esta cousa nom pode. seer verdade, pregunteo aos beesteiros do monte, e elles lhes podem muy bem dizer que esta cousa he assi em como a aqui escreuemos. Por este uso am os caães. de achar, que acham os porcos de tarde, e os chei- ram, e os de treela nom, porque os caães de treela nunca lhes o monteiro faz cheirar o porco, senom aquelle que uay da manhã, e muyto cedo, e quando uem a tarde, pollo uso que nom ham, o nom querem a tambem cheirar. E os sabuios de achar que tragem os senhores, que som usados a poer cedo, ou tarde, por aquelle uso a que som usados a achar, lhes faz passar a natureza, assi como faz aos caães dos beesteiros, que os faz que cheiram o porco, e o acham, posto que seia tarde: portanto he esta cousa bõôa de a fazer qualquer monteiro, que o porco tenha aprazado, de dar seu caão a algum que lho tenha, quando o quiser aleuantar pera lhe poer os caães de achar. Assi quando lhe der seu caão que lho tenha, chegue ali onde estiuer o sinal, e tome aquelle que for milhor caão, e alli onde for o sinal, faça cheirar o caão que for de achar, e tanto que lho cheirar, logo lhe tire a treela, assi como dito auemos no capitulo xiij, que falla como se os caães am de ensinar, com que am de correr monte, no lugar onde diz, como am de fazer aos caães que ensinarem a achar, quando os ouuerem de poer: e depois que o caão for posto, logo a tanto que hum pouco for, tire a treela ao outro, porque em seendo dous lhe faz mais bem que seer hum soo, pollas cousas que dissemos no sobredito capitulo, como os sabuios de achar iam sempre aco- uardados, e por filharem em si mayor esforço, por 3. pregunte ho. —6. hacham. — 12, sefiores. — 24. Cap. 13. — 29. sendo. —31. Cap. — hiam, = 223 — “tanto he milhor de lhe poer dous, que hum. Des que — os caães forem a achar, aquelle que os trouuer uaa com elles, * e outro nenhum nom, e fallelhe por aquella guisa “que no dito capitulo xilj auemos dito, e per esta guisa “5 seraa o porco bem aleuantado, quando o quiser aleuan- E- “tar poendolhe os caães de achar. E porque ao moço “que apraza, lhe he conjunto com o seu officio de apra- Zzar, o saber bem poer os caães, por tal cousa que ao seu officio tange, tanto que os caães a achar forem, e acha- to rem, façalhos poer por esta guisa: como os caães acha- rem, faça tirar a treela a dous ou tres caães, os mais certos que tiuer, e leixeos ir ata que se ajuntem com os caães de achar, e como uir que dobram, faça tirar E treelas a outros poucos de caães, e assi lhos ponha “as pRoicos e poucos, ata que lhos ponha todos, se se o “porco a tanto detiuer na cama. Ca seo porco logo “em na primeira solta se aleuantasse, ou quisesse cor- E er, entom nom lhe auiam “de fazer desta guisa: mas "| tanto que corresse, logo lhe auiam de poer os caães "30 juntos, e o porque se aguardassem a lhos poer poucos * | e poucos, alongarse hia o porco a tanto delles, que os dé E “caães que estiuessem nas treelas, que o nom poderiam — acadar, e ainda que se fariam peores, que perderiam a “ ouuida dos caães, que com elle iam, em tal guisa que 5 polla mingua da ouuida os caães que lhe assi fossem Eppetos, nom poderiom com elle a tambem correr, em “como correriam de outra guisa, quando bem postos “ fossem. Aqui he de notar hum bõo auisamento pera E mioor monteiro que uaa poer os caães de achar, que » quando poser os caães, e o porco se lhe assi aleuantar, que assi corra, que uaa alongado dos caães que tiuer 3 — pera poer, que he muyto fermosa montaria fazello aos RO PP RA 9 , “o , ) ' e as e es 1 melhor. — 4. Cap. 13. — 5, será. —7. conjinto? — 21. hia. — 24 hiam, — 26. el. 155 eme 224 —s moços que os tenham nas treelas, e leixar ir com elle que lhe o primeiro pos: ca se o porco logo quer ir as armadas, com aquelles caães que leua, nom se perde: e se daa uolta no monte, entom os moços lhos podem milhor poer,-e mais chegados, segundo lhes nos dire- mos adiante no capitulo 1ij da segunda parte deste li- uro, que falla como os moços que tragem os caães de correr, como os am de poer bem: e assi fazendo o mon- teiro por esta guisa, que he escrito, fara em ello fer- mosa montaria tambem em aleuantar seu porco, que 10 tem aprazado com seus caães de achar, como em po- — endolhe os caães de correr, depois que o porco for achado. Quando estas cousas fallecerem ao monteiro . que o porco tem aprazado, que por ellas nom possa aleuantar, de força he que o busque aa calçada, e quando aa calçada quiser aleuantar, pera o bem fazer, façao em esta guisa que se segue. "Faça entrar todos os moços em ella, em tal guisa que nenhum nom uaa por onde for o outro, e faça tirar a treela aos caães, e quando lha assi tirarem, castigue os moços que nom | fallem aos caães senom muy pouco, e se lhes alguús ouuerem de fallar, fallemlhes os que esto souberem | bem fazer, que por nenhúa guisa do mundo nom lhe . 156 tanjam as bozinas, * e o porque esto he bem, he por esto que se segue, Quando assi soltam os caães polla uontade que am de correr, que elles uam todos como caães que nom acham com que correr, e aluoroçamse fortemente: e se todollos moços fallam rijamente e lhes tangem as bozinas, fazemnos em tal guisa seer, que nom param mentes em uento, nem em nenhãa -outra | cousa senom em ladrar andando pollo monte, e por esta 2. que lhe, entrelinha — ás. — 4. dá. — 5. melhor. — 6. Cap. 3 da seg.la, — 13. fallesceram.— 15. à acalçada. — 16. o acalçada, — 18. alla. — 23, nehuma. — 24. tangam. — 31. ladar. M r WA = 095 e * cousaficao porco por achar, porque elles com o arroido — e como tanger das bozinas, uam taaes que ainda que E- - O porco seia acerca delles, ou se aleuante, nunca am E o cheiro delle, nem o sentem, por estas cousas que lhe ES assi fazem contrairo: e he bõo ao moço que assi ouuer - de aleuantar aa calcada, de castigar os outros moços que tragem os caães de correr, que lhes nom fallem rijo, “nem lhes tanjam as bozinas, ata que o porco seia ale- EE — uantado: quando se faz pollo contrairo, que os moços “so uam passo e com arroido, fazse muyto bem a este leuantar de calcada, e quando se os caães assi nom | “aluoroçam, uam todos quedos, e entom pollo sentir, ou - pollo cheiro, tanto que acerca do porco uam, logo o q “acham, e por esto he bõôo de irem assi com pequeno 5 “arroido: e porque ao moço que apraza, lhe deue de seer “mais desejoso de aleuantar aquelle porco que assi apra- “204, elle meesmo deue de andar, e ande pollos lugares que elle uir em que mais de aguisado deue de seer s — aquelle porco, e chame os moços que lhe uam por alli, A “onde elle for. E esto pode conhecer pollos lugares - em que for mais trageitado, em que o porco a de seer, * segundo lhe dito auemos no capitulo xxj, que falla como “os monteiros am de conhecer os lugares que som mais a azados, em que os porcos mais a meude soem de seer, e esto pégênco o tempo, em que quer aprazar. me - A, “1.roido. — 6. a acalcada, — 8. tangam. — 10. fazesse. — 17. mes- E mois, em om —20. conhescer, — 21, á de. — 22, Cap. 21, — 3, conhescer. Sae 15 aa -—— ER Ee memo + “bem parece que todallas cousas nom som de compa- | rar pera aquellas que tangem ao corpo, em feridas, ou 20 “e ainda nosso senhor Jesu Christo disse no euangelho = "226 = PARTE SEGUNDA DA MONTARIA. Capitulo j, como se am de trager os moços limpos, que tragem os caães de correr, ainda quando estam em casa de seus senhores. Escrita a primeira parte deste liuro da montaria, em 5 que se contem o feito de aprazar: seguese esta segunda . | parte, em que guisa os moços do monte am de saber, em como am de fazer bem este joguo: e porque esta he grande cousa, segundo que diz no liuro de Job, que E disse o inimigo a nosso senhor Deus, des que Job foi 10 ferido das mortes dos filhos, e das outras cousas que perdera, gabandose Deus do seu seruo Job, segundo he | escrito, disselhe o inimigo, leixamo ferir na carne, ca. todallas outras cousas os homêes podem * sofrer, mais esta he tam grande cousa, que poucos a podem sofrer: & é da cea, segundo disse S. Joham, que nom poderia ne- nhum mais fazer, que morrer por seu amigo: e pois | per ellas, ou fazem uir a morte. E porque esto joguo . traz os moços a perigos de feridas, e mortes, por es. dello saberem guardar, he de necessidade saberem, em como podem fazer este joguo, e uirem a seer teudos. por boôs monteiros, e des hi de seerem ensinados em. como poderiam seer guardados, em se poderem milhor | 3. caza. —4. sefiores. — 10, sir. — 14. sufrir. — 16. sfir J. C.. — 19. paresce. — 21. jogo. — 23. nescessidade, — 26. melhor, . y y o a o ” p r f, to á f ts : Da ' j Mi 4 — 227 — — guardar das cousas, que a esto as poderiam reduzir a Sa “feridas e mortes. Primeiramente em fallar como he “bem aos moços, trageremse limpos, tambem nos tra- o ainda que seiam do monte, como nos que ouuerem s de trager na uila: ca em como ja dissemos no capi- — tulo viij, que falla como se deuem guardar os escudei- Eres de se mal trager. E esto meesmo a tambem o Ê - deuem fazer como elles os moços do monte muyto mais: 5 “ca se aos escudeiros pertence, por se nom apartarem da conuersaçom dos bõos, muyto mais compre aos = moços, porque nom am tam grande azo de conuersar Es tom elles, pois tanto menos azo am os homêes de . se achegarem a sua prol, tanto mais lhe he compri- douro de afanarem pollo auerem: e por esto lhes he “mester que se trajam bem, e demais por seerem pra- ge “ziveis a seu senhor, que quando o senhor uee que o seu Das sen sidor se amanha bem a fazer o que a de fazer, e — pollo officio nom leixa de seruir e honrar a sua casa, — que se delle mais nom pague, e o tem por stimamento o que lhe uerra bõo: e em como quer que em este trager se poderiam fazer muytas declaraçoões, porque nom esta | EA em húãa cousa somente, pero por nom fazermos longa : ces ” tura, leixallo emos, e nom diremos senom da azcuma « e treela, que pertence a este joguo, ca das outras cou- , em que se a de trager bem, assaz lhe abaste quanto e ja escreuemos no capitulo viij sobredito da primeira par e deste liuro, e no capitulo viii, que se alem delle “segue. A treela que deue de trager qualquer moço, que “an nde ao monte, quer seia da busca, quer seia que traga ão de correr, a de ser de sedas de comas de besta, . * MO Vos eu e à À v E < os 2” e € ç ss Cap. 8. — 8. medes. — 12, aazo. — 15. mister —- tragam = serem, — 16. sefior bis. — 19. del, — 21. Et ig E — Jeixalo — azcuma sic. — 26. Cap. 8. — 27. capitulo om — 9.º f = 9 ca desto se fazem milhores, e som mais bõas, que de outra cousa qualquer que seiam feitas: e esta treela deue seer longa e grossa em bôa maneira, empero que a dos moços da busca deue seer mais grossa e mais longa que a dos outros moços, que tragem caães de correr, e o porque lhe tal compre, he por esto: a treela “longa lhe compre, porque muytas uezes quer o mon- teiro leuantar o porco por treela, e quando lhe o porco 158 passa * por algua silueira, ou per algum outro mato, que | o monteiro nom pode bem passar, he força que dee a 10. treela a outro que a tenha, e que elle passe da outra | parte, e uaa a tomar o sabuio, ca se nom pode de outra guisa fazer milhor, ca se a treela fosse curta, em todo | o lugar nom o poderiam assi fazer. Ainda lhe he pro- ueitosa, porque muytas uezes uay hum monteiro por | hum porco, e o porco lhe uay por algum campo, e por auer sabor, ou por querer uer o rastro, leixa toda a treela ao seu caão, e uay assi com elle, e pera este ir, se a treela fosse curta, toste poderia em tal auer algum “embargo, o que nom pode tam toste por a treela que . fosse longa e grossa: ca polla curteza e leuidom, podia + sahir o caão tam rijo, que o nom poderia colher a maão, e se fosse longa e grossa, nom pode tam ligeiro esto fazer, que por o pesume nom podera com ella a tanto correr, e polla longueza o monteiro o alcançara 35. mais toste. Ainda lhe aproueita de seer mais grossa, . que quando o monteiro atreela com o caão, nom lhe | corra o caão tanto a-maão com a treela grossa, como com a delgada: e por estes proueitos compre aos mo- | cos do monte tragerem as treelas desta guisa, e a tam- : bem os da busca, como os que tragem os caães de cor- 1. ca] qua — melhores. -— 10. dee] dê. — 12. ua. —13. me- - lhor. — 24. poderá. — 25. alcaçará. — 27. atraela. — 28, traela — grosa. | - See — 229 — - rer. Azcuma deuem os moços de trager que seia na ponta — ma estreitura bem igual, e bem sacada, e o malhadiço - da ponta bem chaão, em tal guisa, que nom aja senom, “que tamalauez pareça o sinal do lombo: e as naualhas pnchas, e bem talhantes, e mais ancha acerca do alua- - do, que em nenhua parte do ferro: e o aluado seia bem incho e grande, em tal guisa, que possa bem leuar a — Juara: e a sua uara seia de auelam, ou de uimem, ca a “deste paao he milhor a uara, que se para a azcuma do 10º Jão ço pode escolher, e guardese quando -ouuer de “estear o ferro em ella, que faça em tal guisa que a “Juara entre sãa em todo o aluado, ca setam bem cer- E — tos, que se a uara he tal que nom possa entrar enteyra Er: “pollo aluado da azcuma, e quando a esteam, e dego- 5 lam, e o aluado fica metido de so a uara, que todallas E * uaras ficam fracas, em tal guisa, que mais forte he hãa — Juara delgada que entra enteyra no aluado, que outra — que assi seia muyto grossa, e seia degolada. Deuemse "os moços de guardar de a tragerem esteada por tal e ver” es 0 nad TETE > x E: ca uos damos de nos fee, que uimos ja a moços | “berem cajoões pollo fallimento das uaras que assi eram — esteadas. Das azcumas se deuem os moços muyto de E pagar, como de cousa com que se am de defender de 35 seu contrairo: e deuem as de trager muyto limpas dos - ferros, que seiam muy agudas das pontas, e das naua- — lhas, e as uaras de bõa color, e bem dereitas, e com Es “muy bõos contos, e bem fermosos, * e esto deuem de a — trager assi por duas cousas: a primeira e principal, por ) Se poder milhor aproueitar de se guardar de nom re- * ceder cajom: a segunda, porque dizem todos que qual- o “e ”. + Rd tr. azeuma. —2,eo)co, —8. auelan — uimen. — o. melhor, e Ra guardesse. —11. estear] hastear, glosa marginal, —12. saam. r 33 azeumas, — 30. melhor. — por tal estear de uara justarem com o porco, e rece-. — 230 — quer homem de armas, que nom traz seu arnes bem concertado em si, em tal guisa que nom embargue de fazer qualquer cousa, que ouuer de fazer, e outrosi fer- moso quanto elle por sua riqueza poder fazer, ca este. | que o assi nom trouuer, que nunca sera bõo homem de 5 1 armas: ca dizem os entendidos, que em esto fallarom, + que nunca os homêes de armas leixam de trager assi os seus arneses, senom porque lhes a uontade he pesada, e lhes filha aborrecimento daquelle mester: e aquelle | que aborrece o mester das armas, nunca cura de as “10 trager bôas, nem limpas: este he hum sinal, em que os entendidos disserom, em que se poderiam conhecer todollos homées, ou os demais delles, em tal guisa, que em poucos desfallecera, se som bõôos homêes de armas, posto que ainda os nom uissem entrar em algum feito 15. de armas, em que perigo fosse: ca qualquer que nom trouxer seu arnes que seia bem concertado nem limpo, que nunca podera seer bôo homem de armas, e todos os que os trouxerem bem concertados em si, e se paga-: rem de os tragerem limpos, todos ou os demais seram 20 bõôos homêes de armas. E por esta cousa se conhecem, ainda que os nom uejam seer em algúus feitos grandes: e por esto deuem os moços a trager as suas azcumas bem limpas e bôas, e todallas outras cousas, em tal guisa que seu senhor entenda que som bõos. aa 5. nom entrelinha. — 10. mister. — 12. conhescer.— 14. desfal- lescerá. — 15. ainda que. —16, armar. — 18, poderá. — 21. conhes- cem. — 23, azeumas. — 24. booas. — 25. sefior, h 4 t | . J iz Capitulo ij, das cousas que am de fazer os moços que tragem os caães de andar ao monte, assi en levallos, como em tellos nas treelas. o Dito nos auemos no capitulo xilij da primeira parte, 5 em qual guisa deuiam os moços que tragiam os caães de - correr, e em que maneyra deuiam ensinar os caães no- uos de correr, em poendoos, e em que guisa se punham milhor, des hi em como se deuiam de encarnar, porque — estas cousas som pertencentes a sabellas fazer os mo- “10 Cos que os caães tragem, e porque ja som escritas, por | esso as nom escreuemos aqui, porque quem as quiser saber, por se aproueitar dellas, ou de algúa, uaa as bus- car no dito capitulo xiiij, e allio achara. E ainda lhe fal- amos no capitulo xxx, que falla como o monteiro a de 15 aleuantar o porco que tem aprazado, e na parte quando | oaleuantasse por olho, ou per treela, e a tambem quando fosse a pollos caães, e esso meesmo quando fosse aa calcada, em todas estas partes se tange muy grande parte * do poer dos caães: e esso meesmo no capitulo xxviiij, que falla como deuem a fazer aquelles que tomarem as “Juozarias, como am de poer os caães dellas: pero todo “se refere, em como a de fazer o moço que apraza, e em como o a de mandar fazer aos moços * que tragem E: os caães de correr. E porque todos estes ditos som - da primeira parte deste liuro, a qual nom pertence aos E - moços que tragem os caães de correr, ainda que fosse tratado no capítulo xiiij e no capitulo xxx derradeyro “do aleuantamento que o moço a de aleuantar o porco CT PUT. acre eram 2. leualos. — 4. Cap. 14. -- 8. melhor. — 12. ua. — 13, Cap. 14. — achará. — 14. Cap. 30. — 17. pollos] poer os (?) — medes, — E; 19. medes — Cap. 29. SE, pano DS, que tem aprazado, e tambem no capitulo xxvilij, pero nos por ende nom o leixaremos de poer em esta se- gunda parte, porque ella compre aos moços que tragem os caães de correr, mais que a nenhúus outros: ca os moços que som da busca, compre saber como se a de fazer, e de mais fazeremno. E porque mayor cousa “he fazer que mandar fazer, demais em as cousas em que a perigo, por tanto as recontaremos em esta se- gunda parte, porque nos parece que a elles conuem mais que aos moços da busca. Mais posto que aos outros capitulos fosse tangido, assi como dito he, os moços que trouuerem os caães e forem ao monte, nom deuem ir espalhados, mas todos juntos, e esto por duas cou- “sas: a primeira, por seu senhor os achar todos juntos, “pera lhes poder mandar fazer aquello, que elle por bem - uir, que se em aquelle monte deue de fazer: a se- gunda, por parecerem bem: ca creede que hãa das bõas uistas, que se no monte pode fazer, he quando os mo- ços som muytos, e bem apostados pera tal officio, e os caães som fermosos, quando os homem assi uee ir ao monte todos juntos: quando assi forem, por nenhiia guisa do mundo nom leixem ir os caães soltos : porque muytas uezes, por leuarem os caães soltos se aconte- ceo muytos erros auer na montaria: ca muytas uezes acontece, que em indo assi os moços pera o monte, e leuando os caães soltos, que atrauessauam algúus uea- dos, quer lobo, ou ceruo, ou qualquer outra ueaçom que seia, que corriam os caães a ella: e o ueado por se acolher ao monte, acolhiase aaquelle monte, em que o porco sia aprazado, e o porco ouuia os caães, e aleuantauase, e sahia fora, e ijase a perder, ante que 1. Cap. 29. — 5. cumpre. — 9. paresce. —11. Cap. —14, sefior. 23-24. acontesceo. — 25, acontesce. — 29. acolhiasse, — 31..hia se. es ás — 233 — eq ne =. eso dida qd * o Dfaiig 1 as armadas fossem filhadas, e ficaua o monte por correr: e esso meesmo, ainda que o porco nom fosse aleuantado, quando os caães assi acertauam algum ueado, corriam a tanto com elle, que em aquelle dia os "5 nom podiam filhar. Por estas cousas que lhes assi — acontecem, e por outras que os monteiros bem sabem, - quando os moços forem pera o monte, sempre leuem seus caães nas treelas, ca esta he húa cousa que os- moços deuem a fazer pera seerem bõos moços do monte: “demais ainda lhes he proueitoso de os assi leuarem, ca os caães, quando assim uam nas treelas, sempre uam mais orgulhosos, e mais ledos pera bem auerem de “fazer seu officio: e quando assi chegarem ao monte, e ouuerem de poer seus caães, compre que uam bem aui- “sados pera saberem o que am de fazer: e guardemse muyto de leuar grande arroydo, nem de irem muyto o departindo húus com os outros, senom todauia teerem E mentes em aquello que ouuerem * de fazer, assi como 161 “les for mandado: ca se assi nom fossem, muy toste 20 » poderiam errar em aquello que auiam de fazer. Ora dizem os entendidos, que o entendimento nunca se | presforça de fazer bem em aquello que a de fazer, senom - tam solar em húa cousa soo, posto que muytas saiba “fazer: ca elles dizem, que o homem que muytas cousas sabe fazer, bem pcdera fazer húãa, apricandose a ella — pera a fazer, mas tres, nem quatro, que corram junta- — mente, nunca se pode em ellas fazer perfeito, pera as — bem fazer. E por esto compre aos moços quando esto — ouuerem de fazer, que leuem todo seu atento em ello, . e nom irem com uoltas, nem com outros FERA “em tal guisa, que qualquer cousa que lhes mandar “ fazer o moço que tem o porco aprazado, que como lhe rega dr “ao dps ) Dad ari 1 tados > à « ibedio EA À, e ces - - emo Pis Cai é 4 é Ei TOUR mm , o . j MH nt “ Je MM e. — — q —.— e. O Ya “ = é . a 1. armalhadas. — 2. medes. 156: acontesceo, — q. serem, — | 42. bem entrelinha. — 20. Hora, — 23. tam solar) tem solaz? » o = emp Tae oo — 234 — disser a cousa, que logo seia feita. Quando o mon- teiro, que o porco tem aprazado, quiser aleuantar por olho, ou per treela, logo deue de chamar os moços, assi como lhe ja dito auemos no capitulo xxx da primeira parte, no lugar onde dissemos como a de aleuantar per treela: e os moços que tragem os caães de correr, se deuem de meter logo em pos elle, de tal guisa que uam hum pedaço delle arredrados, e todos bem aui- sados, que quando lhes elle disser que andem, que todos andem, e quando lhes elle disser que estem que- dos, que logo estem, assi como dissemos no capitulo xxx, no lugar onde falla, de como lhe a de mandar fazer aquelle que o porco quisesse aleuantar per treela, e com todo esto sempre se guardem de se nom derrama- rem, nem de se enuoluerem com aquelle que o a de aleuantar por olho, ou per treela: ca muytas uezes aconteceo que pollo derramar, que aquelles que assi iam derramados dos outros, cuidando que iam bem, que passauam mais que o que deuiam, e o rastro do porco, per que o monteiro assi ta, uoluia por aquella parte, por onde elles assi iam, e trilhauamno: e quando o que auia de aleuantar, topaua ali onde o rastro era trilhado, errauao o caão, e ficaua o porco por aleuan- tar, ou se se aleuantaua, era com mayor trabalho. E ainda mais lhe fazem mal, quando assi uam derrama- dos, porque indo assi o caão que o moço leua, quando os sente ir de ilharga, muytas uezes leixa o rastro que leua, e uay pera alli onde o sente, e por aquella cousa fica o porco errado, e nom se pode por ello a tambem aleuantar, e por estas cousas lhes compre que uenham todos juntos: e esso meesmo se ouuerem de poer os 3. por. — 4. Cap. 30. — 5. por. — g-10. que todos andem entre- linha. — 11. Cap. 30. — 12. fazer entrelinha. — 14-15. arramarem. — 17. acontesceo — arramar. — 18. arramados, — 24. se se] se o (?). — 31. medes. ee merenda 1 05,2% comerem o o a rua Ed ahora a deé dd ad ! b ed] y = " + É res A re e Bear stos ei e o e a j es b AE» ) sa gi + é E “Jo - — 235 — - caães a achar, nom se enuoluam com o moço, que pri- meiramente ouuer de poer os caães, ante lhe dem lugar que uaa ante elles: e a tanto que chegarem ao monte hum pequeno espaço, onde estiuer o sinal, estem todos quedos e sem nenhum arroido: e como os caães forem a achar, se forem a achar a uozes, cada hum se perceba * de terem - seus caães bem arrecadados nas treelas, que por nenhúa guisa do mundo se nom soltem, e des hi guardallos a tambem que nom estem ladrando nas treelas, ata que o porco nom seia achado: ca muytas uezes acontece, - que polla grande uolta que fazem os sabuios, que - estam nas treelas, que os sabuios que uam a achar, ca | “lhes acontece, que indose assi pollo porco, que o É erram, e entom leixam de uoluer a elle, e tornam aas ; a uozes dos outros que estam nas treelas, e fica por ende ' | o ç |) mea A Lo y e " nd , “que o porco nom he por ello aleuantado. Podem os moços guardar estes caães de assi nom ladrarem nas treelas por aleuantandoos em ellas em tal guisa, que nom tenham senom os pees no chaão, ca per esta guisa “se teem os demais dos caães, quando a tal tempo he, * de nom ladrarem aquelles que tem por costume de la- “ drarem nas treelas, Pero quando algum tal for, que - por esto senom quiser castigar, o monteiro que o tiuer — afastese a fora dos outros em tal guisa, que nom meta E rcido ca milhor montaria fara qualquer monteiro * que o assi fizer, posto que lhe o caão ponha de longe - por aquella uez, que de estar mais perto por lhe o caão * fazer arroido, e por ello o porco nom sera achado. 62 260 — Capitulo ij, como o moços am de poer os caães assi . de achar como de correr ao porco, e como lhe am de fallar e andar, quando quiserem leuantar por calcada. Tanto que o moço aleuantar o porco que leua por treela, os moços nom lhe ponham os caães, sem man- dado do moço que aleuanta: e o porque he bõo, he por dar lugar ao moço, que o possa desenuoluer dos. saltos e das reuoltas, que o porco daa, quando assi he aleuantado, e lhe entom poderem poer os caães derei- tos, assi como dissemos no capitulo xxx, e quando assi aleuantar, que assi for dereito, ponhamlhe os caães por. esta guisa: logo de sobre a trauessa ponhalhe tres, ou |. quatro caães dos milhores que tiuer, que se enderecem com elle bem, e depois sete, oito, e des que forem bem dereitos, ponhamlhos todos, como dissemos no capitulo xxx: e se ouuerem de poer os caães a achar, guardemse | que nom entrem mais pollo monte, senom alli onde esti- | uer o sinal, e como lhe o caão cheirar, ou posto que lhe ainda nom cheire, logo lhe tire a treela: e dissemos que ainda que o nom cheirasse, que lho posesse, e he por esto: muytos caães de achar a hi, que quanto mais | bôos som, quanto o mais fazem, ca tanto que achegam ao sinal, nom fazem sembrante por cheirar o porco, se- | “nom estam esperando que o monteiro lhe tire a treela: e ainda muytas uezes acontece, se lhe o moço quer . fallar em aquellas fallas, que lhe fallam quando os caães . am de cheirar o porco, que elles nom tam solamente estam quedos, mas uoluem os rostros escontra aquelles | g. dá. — 11. e entrelinha. e 13. ponha lle. — 14. melhores. — — 16. pofiamlhos. — 21. cherasse. — 26. acontesce. | e. 237 has que os tem, * que os soltem. E por esto dissemos, 163 ainda que o nom cheirassem, que lhos posessem, de mais que pois que postos am de seer, nom os podem * poer em milhor lugar que em aquelle do sinal, ca se alem “5 do sinal fosse, aconteceria o erro que dissemos no capi- - tulo xxx, que poderia uir ao moço que tinha o porco — aprazado, quando o quisesse aleuantar com os caães de = achar. Depois que os caães forem postos, e acharem o porco, os moços que tem os.caães de correr, nom lhos E 10 ponham todos juntos, mais ponhamlhe quatro ou cinco: e depois que aquelles estiuerem com o porco, e dobra- "rem, ponhamlhe outra solta, que seia ja mais que os = primeiros: e se se o porco a tanto detiuer na cama, en- E: tom lhos ponha todos, como auemos dito no capitulo xxx. 15 Mais ainda hi a outra cousa, que aos moços compre de seerem auisados, ca acontece que os porcos que som “usados a lhes poerem os caães, tanto que o caão ladra “na cama, ou antes, se o porco sente, logo se aleuanta, E e começa de correr: e este porco tal, se o monte fosse 20 BE rende, nom era bõo de lhe poerem assi os caães, como - dito he. Mas aos moços he de uer, se a mouta em que “O porco see, he mouta pequena, ou grande, e se em “mouta pequena for, tanto que uirem que o caão corre, “logo todos deuem de soltar os caães, o mais a pressa * que puderem: e se o monte for grande, deuem a fazer “ie esta outra guisa : ueerem quando este caão acha assi — este porco aleuantado, se o achou longe, ou acerca delles, “eseacerca delles for, deuem tirar as treelas a hãa partida - doscaães pera acompanhar os caães de achar, e os outros ERserem nas treelas, pera os auerem de poer milhor, se Pete k dead Lupo tg du E” ia ' ad Pere eae, | asim» res Te reçaraçéopo g à né DR as t 's Eq ê , bm. “do a, — e e roger 4. aquel, — 5. acontesceria. —g. lhes. — 10, ponhamle. — | 12. ponham le, — 14. Cap. 30. — 16. serem — acontesce. — 22, pi- — quena. — 29. pera acompanhar os cãaes aposição marginal, — - 3o. melhor. o * e Trem q-s + om à — 238 — o porco desse uolta pollo monte: e quando o caão assi achar o porco ir aleuantado, e for longe, nom lhe de- “uem de poer os caães, ata que cheguem aaquella parte, 164 onde os outros caães uem com elle, e entom andarem quanto puderem, ata que topem na trauessa, donde uay aleuantado, e entom lhos poerem: e este poer, em como.he milhor de lhos poerem, nos lhó diremos ade- ante, em como he milhor de se fazer. Ainda tiuerom algúus monteiros, que quando assi os moços quisessem andar, pera poerem milhor os caães ao porco, que assi uay de longo, se o monte era grande, como dito he, que nom era bõôo de irem todos juntos, mas que mi- lhor era irem derramados de cinco em cinco, ou de seys em seys, cada hum por seu lugar. E o porque esto assi deziam que he bem de irem assi derramados, que se o monte fosse grande, como dito he, porque se poderia acertar o porco de andar em tal guisa, que os moços, se fossem juntos a grande espaço, ou muyto aginha, em todo o dia nom lhe poderiam poer caães. E quando derramados fossem, de força era que com * huús, ou com outros O porco topasse, ou se achegasse acerca de algua das partes delles, e por aquella guisa poderiam mais toste poerlhe os caães, e seria o porco mais acom- panhado que polla outra, quando fossem todos juntos. Ainda se acontece em estes montes grandes, que quando assi poem os caães a achar, e uam a achar muyto longe, e se acham, este achar que os caães assi acham, ou acharam calado, ou a uozes. Quando o caão for tal que ache calado, os moços deuem estar todos quedos, e nom entrar pollo monte, ata que o caão nom ache: e tanto que achar, e for longe, os 7. melhor. — 7-8. adiante. — 8, melhor. — 10. melhor. — 12-13. melhor. — 13, arramados. — 15. arramados. — 20. arrama- dos. — 23-24. acompanado, — 25. acontesce. « — 239 — moços nom deuem de poer os caães, assi como dissemos na primeira, ata que mais nom façam, e o que mais deuem de fazer he esto: compre de andarem por onde o caão esta com o porco, o mais que poderem, e sem grande arroido, e des que forem acerca onde o caão estiuer com o porco, façamlhes as soltas per aquella guisa que ante dissemos, poendolhe logo aa primeira “cinco ou seys caães, e des hi mais, e depois todos: e se o caão ou caães que forem a achar, forem a uozes, e o monte assi for grande, tanto que uirem que os caães uam a achar dereitos, e se alongarem dos moços hum grande espaço, assim como passandolhe algum ualle, ou algua portela, nom deuem mais atender, mais logo se meterem pollo monte, e uaam em pos os caães: e esta “he muy bôa montaria de o fazerem assi, por lhe poer — os caães mais de presto, e des hi pollo acharem na — cama: que grande erramento do monte he, quando o * porco se aleuanta da cama, e corre ante que lhe os * caães cheguem: ca muytas uezes se acontece, que o “caão uay a achar o porco, e se os moços estam quedos alli onde he o sinal, que o caão acha o porco, a tam * Jonge que ante que os moços cheguem, ante se o — porco enfada, e se aleuanta, e depois a muy grande — trabalho de lhe poerem os caães, e por esto he bõa “montaria de entrarem logo pollo monte, a tanto que os “caães forem hãa peça arredrados: e esto se deue en- , % tender, quando os caães andarem em uoltas desenuol- - uwendo, defeso he a todollos monteiros de se nom ache- — garem a elles, ca os poderiam toste fazer errar. Mas o diriam algúus monteiros, porque era bõo de andarem — Os moços com os caães que uam a achar a uozes, e 7. antes — á. — 11, direitos. — 14. pos os] polos. — 16. presto] preto (perto) ?. — 19. acontesce, — 22, antes (1.º). — 23. se enfa- da] se se enfada. — 27-28. desemboluendo. — 28. defesso, iz = a o E; eme - ca 1: (6 e q nom era bõo de irem com o caão que uay calado: a “esto dizemos que he bõo de se fazer assi, porque os. 165 moços podem ir bem apos o caão que uay a uozes, que sempre sabem por onde uay, e nom o podem assi fazer com o-caão que uay calado, porque nom podem bem saber por onde uay. Ainda hi a outro aleuan- tar, em que os monteiros am de poer os caães, o qual he aleuantar aa calcada. Assi quando o quiserem ale- uantar aa calcada, tenham esta maneira pera lhe poer bem os caães: quando entrarem no monte, entrem todos espalhados em tal guisa, que hum nom uaa por onde for o outro, e des hi * soltem os caães: e quando os soltarem, nom fallem de rijo, nem tanjam as bozinas, e esto de nom fallarem de rijo, nem de tangerem as bozinas, por- que he bem de o nom fazerem assi, dissemos no capi- tulo xxx, e quando assi andarem pollo monte, deuemse guardar de húa cousa, que muytas uezes acontece aos: moços que desto nom sabem, e ainda que o saibam, nom querem por ello parar mentes, e a cousa he esta, que em cada huma dia a muytos acontece, quando assi an- dam, que se se lhe aleuanta algum ceruo, ou outra algua ueaçom, e pollo monte que he alto, elles nom o ueem, senom ouuem a arrancada, e quando a assi ou- uem, cuydam que he o porco que se aleuanta, e bra- dam todos, eylo uay, eylo uay: e quando os caães que a estas uozes som usados, de os poerem, e correrem. com o porco, logo correm pera aquelle lugar: e porque nom acham outra cousa com que correr, cuydam que os monteiros que lhos poem, e entom uam em pos elle, e por aquella cousa fica muytas uezes o porco por ale- uantar, que ou os caães correram com elle em tal guisa, que os nom poderam bem tomar, ou quando os toma- 8. a calçada. —11. ua. —13. tangam. — 15-16. Cap. 30. — 16. de uemse)] deuem. —17. acontesce. — 20. acontesce. — 20. empos. — 241 — rem, uerram ja tam cansados, que depois nem pode- ram achar, nem correr: e por esto fica muytas uezes o porco por aleuantar, e os monteiros leixam por ello de fazer seu mester. Mas quando qualquer monteiro que esta arrancada uir, e quiser fazer aquello que se em esto milhor pode fazer, faça em esta guisa: quando esta arrancada ouuir, nom se atrigue a bradar, mas uaa — aaquelle lugar onde elle ouuio a arrancada, e pare + o, “guisa postos, quer de outra, e os moços tiuerem algúus j Caães pera poerem, ora seia pera os poer de renouo, ou ficassem nas treelas, que nom fossem de primeiro — postos, ou se nom acertassem os moços em na primeira =. 4 & mentes polla cama daquelle ueado que arrancou, ou se nom uir a cama, pare mentes pollo rastro, e se uir a cama, ou o rastro, que he de ceruo, callese, e nom faça outro arroido, porque se os caães aluoroçam. E “ainda que algúus caães queiram correr, se apar delle forem, torneos, ca milhor os tornara no começo, que depois que com elle forem aderençados: e se uir na cama ou no rastro que he porco, entom pode cha- mar os caães, e poerlhos, e em esto, quando lhe assi acontecer, fara em ello fermosa montaria, qualquer * que o assi fezer, quando assi quiser leuantar o porco a calcada. Capitulo iiij, como os moços am de poer os codes, quando o porco correr. Depois que os caães correrem, quer seiam de hãa em aquelle lugar, onde pusessem os caães, compre - pera bem fazer em cada húãa destas duas guisas de o 1. jaa. — 4. mister, — 5, uir] ouuir? — 6 melhor, — 14. me- | Thor. -—15, uirem. — 16. podem, — 18, acontescer, — 20. acalcada, — 25, hora, — 26. primeiros. 16 — 442 —. auerem de fazer: se os moços que tiverem os caães . 166 * pera os poerem de renouo, tanto que os caães uierem pera aquelle lugar onde elles estam, deuem a seer bem nembrados pera que os alli puserom, ca elles nom som postos senom se algum porco uier sem caães, pera lhos poerem elles, ou se uier muy longueiro, que lhe | possam poer aquelles que teem, por irem com elle mais | chegados, ou se uler com poucos, que lhe ponham elles os que tem, por uir milhor acompanhado, e pera esto bem auerem de fazer, he em esta guisa: se uirem 10. que o porco uem com os caães, que nom uem de ne. nhãa destas guisas, que de suso he escrito, mais que E todauia uem bem acompanhado dos caães, que lhe pri- | meiramente poserom, tenham seus caães nas treelas, e leixemno passar, e falem aos caães, e esforcemnos: todauia nom lhe ponham nenhum daquelles que tem, | ca esta he fermosa montaria a qualquer moço do monte que a fezer, porque em poendolhe os caães, nom faz al | senom perdellos, ca pois que o porco uay bem acom- “| panhado, se mais lhe som postos, he cousa sobeja, e de 2 mais que quando os teuesse nas treelas, fariam esta bõa | montaria per esta guisa: ca poderia acontecer, ou por. se tornar o porco das armadas, se poderia alongar | muyto dos caães, ou os caães o poderiam muy toste . errar, e uir sem elles, e entom poendolhe os caães que | tiuessem, aquelle poer que lhe assi posessem, compreria | pera aquello, pera que o seu senhor mandasse alli estar, | e nom seria o porco perdido, qual se poderia perder, se uiesse desacompanhado, e os moços nom tivessem caães que lhe poer. E quando assi uier desacompa- . nhado, e lhe ouuerem de poer os caães, cheguem de- . 2. ucherem. —g. elles. —8. ueher. — 9. acompafiado. — 13. acom- . pafiado. —15. pasar. — 19-20. acompafiado. — 22. acontescer. — 27. 0] 0s? — 29. desacompapafiado. — 30-31. desaçompafiado. ria o Per mae a = at ZA + dy RETO Srs ia A + qu 4 | ss fa 4 4 amo” RT ET UC ima e em tm GEO PE reito de sobre a trauessa, e façamlhe a solta dos caães, poendolhe primeiro dous, ou tres dos milhores, e des hi os outros, como lhe ja de suso dissemos no capi- tulo xxx. Se acontecer a qualquer moço que seia, de - lhe ficarem seus caães nas treelas, por lhos nom poer da primeira uez que se o porco aleuanta, ou a tambem por se nom acertar, quando da primeira começarom de correr o monte, quando os caães assi correrem, que uem, com o porco, nom lhe ponham os caães que tra- gem nas treelas, de tam longe como os ouuirem, ca “esta he muy maa montaria aos moços que a assi fazem, ca os caães que assi de longe som postos, nunca aa de- leue podem correr bem, pollos muytos desuayros que lhes podem acontecer, ante que cheguem aos outros caães que uem com o porco, dos quaaes som estes: o primeiro he por perderem a ouuida dos outros a que uam, e o segundo por acertarem * algúas ueaçoões ante que a elles cheguem, e o terceiro porque muytas uezes se acerta de seerem os caães de taaes condiçoões, que nom querem ir aas uozes dos outros, quando os ouuem longe, e começam logo de oyuar: e por estes des- uayros que em este poer de longe se fazem, nom com- “pre a nenhum moço que bõôo monteiro queira seer, de poer seus caães de longe. Mais quando bem quiser * fazer, que he poer ao porco seus caães bem chegados, — em como o dissemos no capitulo xiiijj, que se achegue onde os caães uem, o mais toste que puderem, e a todo seu poder seia por lugares limpos, ca seiam bem certos “que esto faz muy grande bem aos caães de correr, assi como dito he no capitulo xiiij. E quando assi chega- - rem na trauessa, por onde o porco passou, leixe passar “dous ou tres caães, assi como dito he no capitulo xilij, 2. melhores. — 3, suso] cima. — 4. acontescer. — 12-13. a ade- leue, — 14. acontescer. — 17. ucaçons. — 31. pasou, — 344 — e entom lhe ponha os caães seus: ca seiam bem certos quaaesquer monteiros que desto queiram deprender, que mais certos correm os caães, dos que uem aderençados com o porco, que os que de nouo sahem das treelas: e por ende he bem de leixarem passar de ante aquelles que uem com o porco, ca elles correm mais certos, que os que de nouo sahem das treelas, e entom lhe ponham os seus. (Que a muytos aconteceo de tirarem as treelas aos seus caães na trauessa, ante que os outros chegas- sem, e com o aluoroçamento e aleuantamento de si meesmos, errarem o porco a que eram postos: e quando o assi errauam, faziam errar aos outros que atras do “porco uinham, e por ende he bõo de leixarem passar algúus delles primeiro, como dito he, e depois poerem os que assi tragem, quando forem a atalhar a trauessa, q que este he o milhor poer que outro nenhum que seia, que assi o disserom todollos bôos monteiros que deste joguo usarom. Mais este poer se deue de entender, que he bõo des que os caães passarem, quando o porco | nom for muyto alongado dos caães que com elle uem: 20 + que quando o porco for muyto alongado dos caães que - com elle uem, e os monteiros atalharem o rastro muyto | “adeante dos caães que uem com o porco, os monteiros. nom lhe deuem esto de guardar mais tam toste como - chegarem aa trauessa, logo lhe ponham os caães que : - tragem: e se os monteiros que assi aa trauessa ule- rem, forem tres, ou quatro, ou mais, tenham o modo | dito no capitulo xxx. Mais ainda hi a hãa contrarie- dade, que se faz a este poer, que ainda alguas vezes: acontece que os moços nom podem chegar aa trauessa, e esto, ou por embargo do monte, ou de penhas, ou de 1. pofia. — 4. saem. — 7. saem. — 8. acontesceu. — 11, mes- mos. — 15. travesa. — 16. melhor. — 18. poer] poder. — 25. tra- | vesa. — 26, trauesa. — 26-27. uiherem. —3o0. acontesce — trauesa. — 31. penas. IE CARDS RNA ' 44h Edi o e, ta 3 ', Era dad + t h = Ee nm “4 XE [e EM E a to A e É: RES À o Es há nas a tio “1 “ bá do A di SP WAS o) ad irá AS p Pu Oy FT" Tres cao ae ço, Le À dp do ls demo E - A E, 245 — outra cousa que o embargue, e querem renouar, ou poer seus caães que teem, ainda que seia de hum es- paço longo, que nom he maa montaria, quando se de vutra guisa nom pode fazer, e se acerta em tempo que he mester de se fazer: e quando he tempo de assi poe- rem os caães, compre muyto de pararem mentes como entom corre o uento: e se o uento uier de * rostro aos * caães que correm, quando assi a tal uento uier, entom leixem passar algãa parte dos caães em dereito donde elles estiuerem, e entom tirem as treelas aos seus: e se 168 lhes acontecer, que assi o uento lhe uenha de espaldas . aos caães, que assi correm com o porco, entom nom aguardem que passem por onde elles estam, nem ainda tam solamente que cheguem em dereito delles. Mas como uierem assi acerca, ante que cheguem a elles, “Jogo tirem as treelas aos seus caães, que com tal uento, “e assi fora da trauessa forem postos, este he bõo poer “de caães. E por saberem os monteiros porque este poer he assi bõo, saibam que o he por estas cousas: quando o uento uem de rostro aos caães, os caães que - som nas treelas nom ham tam bõôo ouuir dos caães que correm, porque o uento uay de elles pera os outros que correm, e entom nom am a tam bôa ouuida, e polla * mingua de ouuir nom podem ir certos aas uozes dos “outros, que ueem com o porco, e portanto he bõo de "hos poer ata que passem, ca se acontece que os caães — passam com este vento, o uento tras as uozes aos caães “que tem os monteiros, e entom os caães uam milhor, - e mais dereitos onde os outros uam, e por esto he bõo “de os leixarem passar, c depois do passar, lhe poerem - Os caães, quando lhos ouuerem de poer a ouuida, e lhe * e 5. mister. — 11. acontescer. — 15, uiherem. — 21. traelas. — | 25. uchem, — 26. acontesce. — 28, melhor. va — 246 — o uento uier de rostro, como dito auemos. E se lhe o uento uier de costas aos caães que correm, se os mon- teiros leixassem passar per si, o uento leuaria as uozes. em tal guisa, que os caães que estam nas treelas per- deriam a ouuida, e nom poderiam ir aos outros como deuiam, a qual cousa nom fariam se lhos pusessem, ante que passassem por onde os moços estam: ca se o uento uiesse com os caães, de força que os que estiuessem nas treelas que os ouuissem, e em os ouuindo iriam milhor a elles. Ca sabudo he aos monteiros, que os caães que som postos a ouuida, quanto mais ouuem, quanto milhor postos som: porque destas guisas, quando os uentos assi correm, os caães ouuem milhor: por tanto aos monteiros he muy compridouro, quando a ou- uida os ouuerem de poer, de os poerem assi como dito. auemos. Capitulo v, como os moços do monte am de fazer, quando lhes dous, ou tres porcos, ou mais lhe entrarem em hum monte, e a qual poram os caães. Ainda acontece em no monte muytas uezes, quando os senhores andam a filhar prazer em este joguo da montaria, que fazem poer seus caães ao porco, que se aquelle porco, a que assi som postos os caães he grande, assi como todollos monteiros tem de uso de fazer, ca posto que lhes algúus porcos entrem no monte, aquel- , les que lhes mandam poer os caães, sempre os man-. dam poer ao mayor porco, que no monte entra, e fazem em ello bôa montaria, segundo a opiniom de todollos | e 10. melhor. — 12. melhor. -- 13. melhor. — 20. acontesce, — | 23. Sefiores — plazer — jogo. dr O pre tn ad ta o SPO O ; 4 Pa Po o as o E” NA 4 >». i o W R + Ri) 8 > a) Da di O aca ad + ed quim ad e é Nada na? j- é Teses Edi nao id — 247 no » ” me . . O. bõos monteiros: ca todollos bõos monteiros disserom, que quando assi posessem os caães ao porco grande, o qual todallas uontades dos monteiros requerem * mais a o matar, que os outros que som mais pequenos, dizem que se lhes os caães som postos, e elle he aleuantado, e os caães comecem a correr com elle, que aa de leue se acerta de ficar no monte, e assi he uerdade. Mas “ tiuerom todollos monteiros, que quando assi algum porco grande entrasse no monte, e outros porcos entrassem com elle, que posto que esta montaria fosse bôa de o poerem assi ao grande, que esto se entendia que era montaria bôa de os poerem assi ao porco grande, quando elle entrasse bem da manhãa: ca se acontecesse que o porco grande entrasse de seraão, ou de alta noite, em tal guisa a que os caães de rezom o nom pu- dessem achar, que milhor montaria seria poellos ao porco, que assi entrasse bem da manhãa, posto que fosse mais pequeno, que de os poer ao porco que grande fosse, e fosse de taaes horas, que os caães o nom pudessem bem cheirar: e esto esta em dereito “conhecimento que se deue assi fazer, porque poendose - ao porco que fosse de taaes horas, e os caães o nom pudessem bem achar, que seu trabalho seria feito em balde, ca pois que o os caães nom podem bem achar, de força era de se meterem todos a aleuantallo aa cal- cada: e pois que o a calcada auiam de aleuantar, qual- quer outro porco que bem da manhãa entrasse, era milhor de lhe poerem os caães, que de cometerem de andar aa calcada: ca achando os caães aquelle porco, e correndo com elles, fariase em ello mays fermosa montaria, e os que no monte estiuessem ora fosse se- 5.eJa. —6.a ado leue, —13, manhã — acontescesse. — 16. me- “Jhor, — 18. piqueno. — 21, conhescimento, — 25. leuantallo, — 26. leuanitar. — 28. melhor. — 30. fariasse, — 31. hora, 169 170 — 248 — nhor, ou outras gentes, ou tambem nas armadas, aue- riam aquelle sabor, que os monteiros am, quando os caães com os porcos bem correm. Des hi ainda mais pollas uoltas que o porco daria com os caães pollo monte, em que os porcos assi entrauam pera se ale- uantar, nom comprehende menos estas uoltas, quando | as este porco desse no monte, de se outro porco grande . aleuantar, que de o fazerem aleuantar a calcada: e por quanto o porco se nom podia achar senom quando se aleuantasse a calcada, quando pollos caães nom he achado, pois que em poendolhe os caães repaira tanto como se fosse a calcada, por tanto he este poer dos caães bôo ao porco pequeno que entra mais de manhãa, pois tanto faz como se o quizesse aleuantar aa calcada, de mais qué faz ainda parecer a montaria mais fer- mosa: por tanto o façam assi os monteiros, como aqui he escrito, aquelles que querem fazer bem, e dereita montaria: e se algúus disserem que em poendo assi os caães, o porco poderia sahir dereito as armadas, e nom. daria uolta no monte, e por esta cousa ficaria o porco x grande por aleuantar: dizemos que esto nom a monta, . que por tal cousa nom leixaria o porco grande de seer aleuantado, ainda que o porco mais pequeno, a que os caães assi fossem postos, fosse dereito as armadas, que hi fica aos monteiros uoluerem os caães, ora seia da 2 encarna, ou nom uoluerem os caães ao monte, e entom começarem a aleuantar a calcada : e ainda se dissessem, quando os caães assi uoluessem que seria ja muyto * tarde quando os assi uoluessem, e que por seer tarde seria maao de achar, dizemos que o nom embargue, | que se nom ache, ca todo-porco que se ache a calcada, 15. parescer. — 21-23. dizemos... de ser aleuantado, aposição marginal, — 25, hora. “nom a monta mais aos monteiros de seer mais de tarde ; E de cedo, ca elle quando se aleuanta, se os caães “uam juntos, que lhe corram a todo he cedo: que quando - os caães acham o porco quando se aleuanta, todo he s cedo pera o bem correrem, os que taaes caães som. 1a Ea - Ee Capitulo v), como os moços am de andar, depois que os SA “caães correrem primeiramente escontra as armadas, e E E des hi em todallas outras guisas. Des que os caães forem postos por qualquer es E guisas que som escritas, ou per outra qualquer guisa * que se possam poer, segundo he escrito em este capi- E io suso dito, e começarem a correr: quando assim e Ensisterm, he de força que corram per algua destas gui- “sas que se seguem: a primeira, ir dereito pera as arma- e a segunda, escontra as uozarias no monte que cor- “rerem ata uer: a terceira, ou se o porco andara enuol- “vendo pollo monte, e nom querra sahir: a quarta, quando “os caães correrem bem: a quinta, ou lhe iram chega- x “dos, ou lhe iram longueiros, ou se acertara que os Eae > cafes o leuaram em calcada. Tanto que assi aconte- É “cer que o porco seia aleuantado, e os caães corram * com elle, os moços por bem fazerem aquello, que em E “seu officio am de fazer, entrem pollo monte, nom guar- - dando outra cousa senom que logo os caães sentam, A que elles uam em pos delles, ca este entrar faz aos * caães correr bem, ca elles filham em si mayor esforço, e mayor uontade em correrem bem, e no entrar assi — jumamen metem mayor arroydo, e he assi. Muytas vw amonta. —3, a todo] atado. — 16. ateuer. — 20-21. acon- 171 — 250 — uezes se acontece que filha o porco tal espanto daquelle primeiro arroido, que nom faz outra cousa senom sahir dereito as armadas, demais se se o porco detem com os caães na cama a tanto que elle ouça os moços en- trar: e estes porcos que se assi detem, estes som os que em si filham mais toste medo pera sahirem as arma- das. Des que os caães assi forem aderençados com o porco, logo a tanto que assi sahirem daquella primeira entrada, que assi entrarem pollo monte, logo os moços . parem mentes por monte que seia raso, ou por caminhos, ou per carreiros desembargados, per que mais toste- mente possam andar, a tal guisa que uam mais chega- dos dos caães que elles poderem, e nom deem muyto por irem por onde o porco uay, o que muytos moços | fazem, e tomam de costume de irem sempre por onde os caães uam: e esta nom he bôa montaria de irem assi, ca elles se uam todos quebrantando, e nom andam tam toste como andariam, se por * elle nom fossem, e o porco com os caães he de força que se alongue delles, ca polla espessura do monte que o porco sempre re- quere, de força he aos moços de o nom passarem a tam de ligeiro, como o porco passa. Demais ainda que os moços que assi andam por onde o porco uay, nom o matam por ende mais toste. E porem nom he bõa montaria a nenhúus moços irem por onde o porco uay, saluo se o monte he tal, que se possa andar bem desem- | bargado, e quando a tal he, entom o moço nom erra . em ir em pos dos caães: e quando assi acertar o car- reyro ou monte, que assi seia desembargado, que possa sempre andar bem, faça muyto quanto puder de se teer pollo alto, e que o porco fique a soo elles, que este he 1. acontesce. — 2. sair. —6. sairem. — 11. desenbargados. — 13. dem. — 18. como om. — 19. alonge. — 20. espesura, — 31. so. ese me BOL Ss muy bõo andar a todollos moços, quando assi uam apos “o porco, porque elles des que cobram o alto, sempre —* andam mais folgados, e uam mais prestes e mais segu- “ros de entrarem, e o porco se acontece de se ladrar, e És “esto sabem todollos monteyros, que quando o moço - entra ao porco, que se ladra de cima pera fundo, que entom entra mais toste, e he mays seguro de receber “delle perigo, saluo per algúas contrariedades que lhe — adeante diremos, que lhe a esto podem uir. Ainda este "vo andar he aos moços a tam louuado de irem por car- E - reyros limpos, que nos montes que som de paues, ou | de siluados, muyto carrados, ou em ameaaes que se - bem nom possam andar, que lhe nom am por erro de e sahirem de fora, ou irem antre o monte e as armadas, 5 comtanto que guardem as cousas que lhes adeante di- - - remos, que am de fazer quando se acertar de corre- rem a tal monte: e quando acontecer que o porco corra * escontra as armadas, e os moços que forem em pos elle, | * quando uirem que de todo se endereça pera se auer de o ir as armadas, metamse todos como em alla, e atri. — guemse de andarem o mais toste que puderem, em tal - guisa que do arroido; como do fallar, como do tanger - das bozinas, como do andar, façam sentir e ouuir ao F. É. porco o mayor arroido que puderem, que pollo arroido “25 do fallar, do tanger, e do andar, os caães se esforçam Ê — mais em correr, e o porco se espanta, que nom aja sa- * bor de atender aquellas vozes, e aquelle arroido, e uaa “mais toste as armadas. Ca esta cousa, quando se assi E Diaz deste andar, e deste arroido, faz mais em embargo “Jo sahir o porco aas armadas: ca muytas uezes acontece, que o porco quer sahir nas armadas, e em sahindo sente Pé E 5 ace Ev = re Te q pe. enigma sas o A pa hd » pe 4 acontesce, — 17. acontescer, — 19. endereça] aderença P — a 20-21. atriguem-se. — 30, sair — acontesce. — 31. sair — saindo. ç 4 e “ o e ne E a .- 172 — 252 — os de cauallo, ou por auer uento delles, ou pollos sen- tir, ou pollos ueer, e pollo instinto de natura que a de se guardar de seu contrairo, assi como fazem todallas animalias, segundo dito auemos no capitulo xxviij da parte primeira; e assi por este instinto de natura, quando os porcos entram em na armada, em que he seu cajom, logo conhecem todos igualmente o que am * de auer de alli, E se per algãa guisa- destas que escritas som, sentem os de cauallo, logo sentem que he sem perigo . de passarem por alli, e por esta cousa se tornam algúus pera o monte donde sahem. É ainda sabem bem todollos monteiros, que a tanto conhece o porco que na armada esta o seu perigo, e que podera em ella seer filhado, que | por muytas uoltas que dee no monte, e aos homées . pareça que uem cansado, sempre se guarda que possa correr a armada, em tal guisa que possa escapar: e quando assi uem os moços com grande arroido, e muy achegados, departese aquella cousa, que elle assi ha por instinto de natura pera se guardar, que nom sabe se he milhor sahir aas armadas, se milhor atender aquel- les que uem em pos delle: ca pollo arroido grande, que ha, que uem atras delle, nom sabe de dous males qual aja de escolher: e porque lhe parece que aquello | que uem detras elle, he mayor perigo, e pollo grande | sabor que a de se lançar no outro monte, por aquello sahe mais toste nas armadas: e por quanto he bôa mon- taria aos moços de lhe fallarem, assi como dito aue- |. mos: e em alla lhe faz bem de irem, por o porco nom auer geito de se tornar: que quando os moços fossem todos por hurn lugar, e o monte ficasse desembargado, que por o temor que a de sahir as armadas, muytas 2. stinto. — 4. Cap. 28. — 5. stinto. — 7. conhescem. — 9. sem] seu? — 12. conhesce. — 13, elle. — 14. dê. — 18, departesse. — 19. stinto. — 20. melhor — sair — melhor. — 21. delles. — 23. pa- resce. — 26. sahe] sal. — 31. sair. ss GO é “uezes acontece que daa uolta, e se torna ao monte, O qual nom faria quando os moços fossem em alla, e o "monte nom ficasse desembargado, per que se o porco pudesse tornar, ca. elles quando assi uam, nom uam as armadas, e por Nnio he bõôo de irem assi como em uozaria: mais se o porco correr contra a uozaria, a | mester qualquer moço que ao monte ouuer de andar, que lhe faça destoutra maneira. Tanto que uir que o “o porco, a que assi os caães forem postos, que correm 4 F “escontra a uozaria, logo a todollos moços compre de EE: * quedarem de tanger as bozinas, e esso meesmo de muyto — fallar, e ainda de andar, ca nom deuem de ir a tam “ Tijo, em como pera outra parte do monte, em que nom E estiuesse a uozaria: e esto he bõo de saber a qualquer | monteiro, porque he bem, porque estas cousas lhe som | assi compridouras de se fazerem: que quando assi este “porco corre escontra a uozaria, he bõo aos moços de nom E Sadesem assi rijos, nem de tanger as bozinas, como dito “20 he, porque se assi andassem rijos polla uolta dos caães — que ucem com elle, e outrosi pollo tanger das bozi- "nas, quando se o porco assi uisse apertado, antre os da “Uozaria, e os moços, e os caães que ueem atras elle, de “les, de mais em nos montes onde ha uozaria, sempre o À monte he mais pequeno, em que o porco see, que o ou- PESO escontra onde lhe poem a uozaria. E porque a sua - natureza do porco he, quando lhe som postos os caães, » montes, por esta cousa quando se uee assi apertado 1. acontesce — dã, — 5, sahe) sal — melhor. — 8. mister, — Es “12. medes. — 13. do andar. — 21. o outro si. — 23, uchem, -— - 27. pequeno, — 29. naturaleza, “força lhe seria de romper cada hãa das partes: e por-. sempre esperar por saluaçom de sua uida os grandes. — 254 — antre os que ueem de pos elle, e os da uozaria, dagui- sada a cousa he, e de feito assi se faz, que os demais delles a passam, posto que a uozaria seia tomada o milhor que pode seer. E quando os moços assi uirem correr o porco escontra a uozaria, tenhamse muyto do correr, e do muyto fallar: e porque esto he bõo de o assi fazerem, por nom perderem o porco, a que assi | teem posto os caães, ca assi como lhe faz prol de lhe andarem rijos, quando o porco uay escontra as armadas, pera o fazerem sahir a ellas, assi lhes faz perda de lhe andarem rijo, quando o porco uay escontra a uozaria, porque he escontra o lugar, onde se pode perder. Se o porco, a que os caães som postos, que andar uol- uendo no monte, e nom quer sahir as armadas, nem esto meesmo escontra as uozarias, ou podera seer tal monte que uozaria nom teera: a esse porco que assi anda uoluendo pollo monte, deuem os moços de andar pollas guisas que ja dito auemos em este capitulo no lugar onde diz, como os moços logo no começo deuem de andar, senom tam solamente que se deuem de guar- dar que quando o porco assi andar em reuoltas, e pas- sar por ante elle, tanto que assi passar por elle, e uir que nom possa ferir, nom corra mais em pos elle, a menos que todollos caães, ou os demais nom passem por elle, ca esta he muy bôa montaria de o assi fazer qualquer monteiro que ao monte anda, quando se o porco anda reuoluendo, ca a muytos moços aconteceo, quando o porco assi andaua em reuoltas, passarem ante os caães, e quando queriam ferir o porco, o porco se espantaua de elles, e elles por cuydarem que faziam bem, corriam em pos elle, e acertauase que o porco se 4. melhor. —14. sair. —15. — medes, —16. teera] terra — esse) . esto. — 22. pasar. — 23. posa. — 27. acontesceo. Me “ a ease k RÃS É cho ” a “q PÇ: 7 — a co é ap Seg mu ué À sa id + am T — 255 — alongaua delles, e ao correr quando assi iam, nom iam por onde o porco ia: e os caães quando passauam por alli, por onde o moço ia correndo, cuidauam que o moço leuaua o porco ante si, e por aquella cousa erraua o porco. E pollo grande correr do porco, quando se assi espantaua, e pollo correr que os caães errauam, ficauam os caães em tal guisa a tam longe, que o nom “podiam cobrar, e se o algum cobraua, era a tam tarde, que o porco lhe ia a tanto de longe, que em todo p- : - aquelle dia o porco nom podia seer acompanhado. E E q o" - p, a por tal * cousa que aos moços do monte muytas uezes aconteceo de o fazer cahirem em erro, e por se guar- darem de tal erro, deuemse os monteiros de guardar de o assi fazer aquelles, que quiserem seer dereitos mon- teiros: mais quando bem quiserem fazer, e lhes assi acontecer de toparem no porco que anda em reuoltas, “tam toste que ássi toparem com elle, e uirem que o nom podem ferir em aquelle lugar, onde se o porco - delles alongar, logo deuem estar quedos, e darem uozes, eylo vay, eylo uay, e fazerem uir os caães, e encami- nharemnos todos dereitos, e ata que todos nom seiam enderençados, ou a mayor parte delles, nom moua “dalli, donde se o porco espantou: e depois que os caães * todos forem encaminhados, ou a mayor parte delles, 5 segundo de suso dito he em este capitulo, entom pode seguramente andar sem temor de errar aquello, que o “ dereito monteiro a de fazer. Non diga quemquer — que este livro leer, que he cousa baldada, que quando — Se assi o porco espanta do monteiro, que he bem de o monteiro dizer, eylo uay, eylo uay, que este dizer faz - muyto bem em no correr do monte, ao porco que assi t. hiam bis. — 2. hia. — 9. hia. — 10. acompafiado.— 12. acontes- — ceo — cayrem. — 13, se entreinha. — 16. acontescer, — 19. logo] longo. — 20. uinr, — 24. encamifiados. 174 mea 2 90) e anda em uoltas, e os moços que ueem longueyros dos caães, ou atraues delles, ou em algum lugar que se “possa ouuir, quando se assi diz, logo se certificam que o porco uay alli, onde o monteiro diz aquellas palauras, e polla certidom que o porco alli uay, auiuamse mais, e andam milhor, e mais certos a fazer aquello que am de fazer. E ainda he mais, que os caães, quando estas uozes ouuem, se esforçam muyto mais em no correr, e correm mais aguçosos, e de milhor mente: e quem esto nom sabe que he uerdade, que os caães por estas uozes correm de milhor mente, quando o monteiro assi topa com este porco, parelhe mentes, e achara que esto he uerdade, que quando lhe assi disserem estas uozes, que os caães correm de melhor mente, saluo se forem muy sobejamente cansados: e ainda que cansados seiam, se igualmente ucem chegados ao porco, qualquer mon- teiro que seia, parelhe mentes, e uerra que elles se esforçam no seu correr, quando estas uozes ouuem: e ainda mais lhe compre, a tanto que este porco se co- meça a reuoluer no monte, logo se os moços deuem apartar, em andar cada hum derramado, por onde mi- lhor poder atalhar, e esso meesmo quando uirem no lugar ou lugares, em que o porco mais a meude faz as “uoltas, em aquelle lugar o deuem algáus delles aguar- dar: e este andar assi derramados, e em lugar em que a meude toparem com elle, e esso meesmo o aguarda- rem em aquelles lugares, onde o porco mais a meude 175 faz as uoltas, he muyto bõo pera os * moços tragerem seu feito mais toste a fim. (a quando o porco estas uoltas daa, e em cada hum lugar topar com os moços, de si meesmo se anoja, e se espanta, e por aquella cousa . 6. melhor. — 9. melhormente. — 11. melhor. — 21: arramado. — 21-22. melhor. — 22, medes. — 25. arramados. — 26. medes, — Jo. dá. sahe de milhor mente as armadas, a qual cousa nom: faria, se todollos moços andassem juntos em pos delle, por onde elle anda. Des ende se os moços atras elle — quisessem andar, era de força de leuarem mayor tra- (os balho sem mais pouco effecto de bem fazer. Ainda “lhes faz definirem seu feito mais aginha, quando assi - andam derramados, que por assi andarem o matam mais — aginha, ora seia que se o porco ladre, ou em atraues- * sandoo, ou de outra qualquer guisa, que se: o porco o deua de matar: ca esto esta em uista a qualquer homem — que rezom aja, que quando assi os moços andarem der-. “ramados, que mais a meude toparam com elle, mais que * se andassem juntos: e pollo ajuntamento que se assi | com elles ajunta, esta em rezom de o mais toste mata- y E rem, ou a fazerem em tal guisa espantar, que leixe as - reuoltas, e saya mais aginha as armadas. Se lhe os Ee caães correrem chegados, quando lhe assi correrem, e “os moços ouuerem de andar, compre de andarem desta “guisa: como uirem que os caães começam de alcançar o porco, logo se deuem de meter por onde os caães “uam, e nom deuem a teer mentes por onde andarem x — por carreyros, nem por lugares altos, assi como lhes ú “antes escreuemos, senom tam solamente por alli por * onde o porco uay, saluo que em assi andando, se lhe á - acertasse ir por monte limpo, mais todauia ir a igual - delle, ou muyto achegado, que quando o porco assi - alcançado dos caães uay, e os caães uam achegados a E É alte, de força he que logo a pequeno espaço se lhe o — porco ladre: ca posto que algúus monteiros dissessem 3o que o uissem alcançado, e o porco nom se ladrasse, por — esto os que este liuro leerem, nom dem por ello nada, a . Ss. sahe) sal — melhor. — 6. de finirem, (de acabarem ?). — 7. arramadas. — 8. hora. — 8-9. atravesandoo —10. está, —11.ra- — zom, — 11-12, arremados. — 14. está — razom — 24. andado, — — 26, chegado. — 27. chegados. — 28. piqueno, =. 17 ER, pe a e a que ainda que hum porco fosse assi alcançado, e se nom. ladrasse, bem sabudo he que os demais, ou todos se. ladram: e porque se assi ladram, deuem os moços de lhes andar por onde quer que elle uay, em tal guisa que a tanto que o porco ladrar, logo saltem com elle a o matarem, a qual cousa nom poderiam fazer quando o quisessem atalhar, ou quisessem catar carreyros lim- pos ou montes limpos, per que andassem, como dito auemos no começo deste capitulo: e quando assi anda- rem em pos o porco, que assi for alcançado dos caães, todollos moços se auisem de nom tanger as bozinas, des hi de se calarem todos, que nenhum delles nom falle senom muy pouco, e tanto se mais calam, tanto fazem mais chegar o porco aa morte, e os moços uam mais seguros: ca o porco quando nom ouue o ar- roido das uozes, atende mais os caães, ora seia por can- saço, ou por ardideza, ca os demais dos porcos, que os caães atendem, todollos demais atendem, ou per can- saço, ou por mingua de ligeirice, ca nom a am tanto como algúus * outros porcos. E ainda que assi seia al- cançado, nom leixam porem algúus de seerem assi alcan- cados por mingua de ligeirice, senom tanto solamente por grande ardideza: e ora seia por cansaço, ou por ardideza, quer per mingua de ligeirice, muyto presta aos moços de irem calados, quando o porco assi for alcançado, ca emquanto elles assim uam calados, o porco nom nos ouue, e assi nom se espanta, por qual- quer modo que seia alcançado, e daa mayor lugar aos caães de se achegarem mais a elle: e quanto lhe mais achegados som, tanto mais o tragem a morte, e esso meesmo os moços andam mais seguros de si: ca pollo 4. quer que entrelinha. — 16. hora. — 16-17. cansanço. — 19. li- geirice] ligeiros. — 21. serem. — 23. hora. — 24. ligeirize emendado.. — 28. dá. — 29. chegarem. — 30. chegados. — 31. medes, ” sto A nom fallar leixam de fazer arroido, e quanto menos arroido fazem, tanto mais ouuem o abalar, que se o porco abala, e a arrancada que fazem os caães com elle: e quanto o moço o mais ouue e o sente, tanto mais 5 seguro entra a elle, onde se esta ladrando, que quando E o moço nom ouue o porco, nem o sente, nem esso meesmo as arrancadas, que o porco faz com os caães, nunca a elle pode entrar seguro: por todas estas cou- | sas deuem os moços andar calados, quando o porco for * o alcançado dos caães. E ao que dissemos, como lhe os moços auiam de andar, quando os caães forem longuey- * ros, ouirem folgados, ou cansados, se forem folgados, os - “moçostenham o modo dito em este capitulo no principio, e quando os caães assi correm, que elles uam folgados, “45 e o porco uaa delles longe, deuem os moços de andar - «como dito he, senom que ainda am mais de fazer os “moços que andarem ao monte, que quando este porco assi for longueyro, nom deuem a tanto de fallar, nem a — tanger, como fariam em outros tempos, que o porco “20 nom fosse alongado: ca se os moços fizessem grande - arroido de brados e das bozinas, quando elle assi fosse alongado, pollo espanto que de elles tomasse, sempre andaria mais rijo, e se lhe pouco fallassem, andaria mais passo, e por esso os caães se achegariam a elle mais toste, e assi esta de rezom que faria bôa monta- ria qualquer monteiro que o assi fezer. E se os caães “forem cansados, quando o porco assi for alongado, os moços lhe deuem de andar destoutra guisa, que se am — bem de achegar aos caães, e irem com elles muyto jun- jo tos, fallandolhes em bõas uozes esforçadamente, em tal - guisa que os caães se esforcem pollas vozes, e ajam qe em ue a me = — - ie ia SS 3. aballa, — 5, está, — 7, medes. — 24. achagariam. — 25, está — —razom., — 31. aiam, SA, = 9009 — sabor de teer milhor o correr. (Guardemse que nunca se acheguem muyto a elles que os alcancem, nem se enuoluam com elles, mais sempre uam delles arredrados, quanto puderem seer dez ou doze braças, segundo se esto pode dizer em estimar em tal guisa, que os caães filhem esforço, e nom ajam azo por leixar o porco: ca seiam bem certos todollos que deste joguo usarem, que quando os caães assi uem cansados, de muy pequena cousa filham embargo, per que am * o azo de leixarem o porco, apos que assi uaam, ca pollo cansaço, pollo qual elles ja am sabor de leixar, e esso meesmo. pollo porco ir longueyro, quando se assi ajuntam estas cou- sas, com pequeno embargo de ligeiro leixam os caães “o porco. E cream os moços que se se enuoluem com os caães, que pollo espanto que elles as uezes tomam, quando se assi com elles enuoluem, por nom seerem elles os moços que pensam delles, ou pollo trilhar que trilham o rastro, por estas cousas o leixam bem toste, e he perigosa cousa de o fazerem os moços, quando os caães assi uem cansados: e por tal cousa defenderom todollos entendidos monteiros, e nos assi os aconselha- mos, que quando os caães assi forem cansados, que os moços se guardem de se enuoluerem com elles, nem esso meesmo de se a elles achegarem, ca aquelles que o fezerem, erraram de fazer em ello dereita montaria. Ainda dissemos no principio deste capitulo, que tanto era louuado de andarem os moços por carreyros lim- pos, ou por monte raso, que quando corriam o monte per pauys que fossem espados de siluas ou de ameaaes, ou de outra qualquer cousa, que se nom podesse bem andar, que lhe era louuado de sahirem fora, e irem 1. melhor. — 4. ser. — 6, aazo. —7. jogo. — 9, aazo. —11, medes — 15. ás. — 16. serem. — 17. trilar, — 18, trilam. — 23. embolue- rem. — 24. medes — chegarem. — 25. direita. TO SH 15 20 25 à jo O AO rs ge (o y , ml PE a Te e, SD + e ao SA PN E rd E EDS f E ad A Fa > ade ENC ri E NE e iram pi 5 1 0 A a “o - > = 10 Roc. po a as E) * >, a - ã br * < o p - o ri 261 Ra antre as armadas e o monte, com tanto que nom façam as cousas que lhe adeante diremos, de que se deuiam de guardar pera nom cahirem em erro. As cousas em que os monteiros podem errar, quando assi sahirem fora dos pauys, pera irem antre as armadas e o paul, assi he, des que for de fora, ir fallando ou tangendo, ou correrem a tam muyto que se separem, antre onde o porco ouuer de sahir, e as armadas, ca os que estas cou- sas fezessem, todo o que em sua montaria auiam de fazer, seria errado. Mais quando em tal monte corre- rem, e lhes for de força sahirem fora, nom fallem nenhãa cousa, que seia, senom andem quanto puderem andar em “tal guisa, que se igualem com os caães, e des hi os nom - passe por nenhua guisa que seia, mais sempre leixe ir os caães deante em tal guisa, que os nom passe: e se uirem, ante que outra uez entrem ao monte, que o porco “lhes faz sembrante pera sahir, logo estem quedos ata “que o porco saya, se quiser sahir, em tal guisa que nom uam antre o porco e as armadas. (Creede que os mon- teiros, quando se em tal monte acertarem de sahir com tal porco, e o fezerem por esta guisa, que faram como - dereitos monteiros, quando desta guisa andarem. Capitulo vij, como am de fazer os moços, quando lhes os seus caães cambam o porco, per que uaam, a que asst som postos. Ora assi quando acontece que os caães som postos “a algum porco grande, ora entre da manhãa, que se “aja de aleuantar com os caães, ora seia que se aleuante a calcada: quando os caães assi correm com este porco 8. sair. — 11. sayrem. —13, guisem — igualem] iguem no texto, - igualem glosa marginal, — 17, sair. — 18. sair, — 20. sair. — 24. cambam]) caybam. — 26, hora — acontesce, — 27. hora — “manham — 28, hora. ; cas DO is grande, acontece muytas uezes que o porco, em dando uoltas pollo monte, ou por ir requerer os montes, que som muyto espessos, assi como dissemos em este liuro, em * muytos lugares se acertaua algum outro porco, e em saltando com elle na cama, o outro se aleuanta, e corre logo da cama, e o porco grande fica em aquelle lugar, donde o outro se aleuantou, e os caães que sen- tem o correr do outro porco que se uay, leixam aquelle, por que uinham, e filham aquelle que se assi aleuantou; e fica o porco grande, e os caães uaam com o mais pequeno: por este ficar, que assi o porco fica, dizem os monteiros que o porco grande lança o outro fora, e que elle fica no monte, esto bem pode seer que sera como elles dizem, mais nos teemos, que lhes ucem por algum instincto natural que am as animalias de o fazerem assi: mais segundo nos pensamos, termos que se faz por auiamento, des hi que se achega com ello algum azo de natureza, ca a elle por sua natureza lhe daa, . assi como dito auemos, requerer os montes grandes, e muyto espessos, des hi a tambem lhe daa de quando os caães assi correm com elle, de se achegar a algiias outras animalias suas semelhantes, pera se por ellas milhor poder defender, por estas duas rezoões, ou per cada húa dellas, nos teemos que elle podera aquello fazer, e esto meesmo de auiamento o pode fazer em andando pollo monte, que topara com outro porco, e des hi por se teer no outro monte que he espesso, po- dem aquello fazer, ca nom por outra cousa, que elles arrazoadamente façam: mais ora como quer que seia, que esta cousa se assi faça, acontece em no monte “muytas uezes continuadamente de se fazer, que o porco 1. acontesce. — 12. ser. — 15. stinto. — 18. naturaleza bis — dá. — 20. dá. — 23, melhor. — 24. poderá. — 25, medes. — 27. spes- | SO, — 29. hora. — 30, acontesce. y E Ea SRA DES grande fica em no monte, e os caães sahem com o outro mais pequeno: e dizemos que sahe com o porco mais pequeno, ca desta guisa nom lhe podem dizer que o sabuio camba o porco per que uay: e quando o camba, uay per o rastro de hum porco, e acha atrauessado outro, e leixa aquelle per que uay, e filha o outro, a este dizem os monteiros que he cambar hum porco por ou- tro, quando o sabuio assi camba. Ainda esto meesmo soem a fazer, e assi se acontece de feito, que em cor- rendo os caães com o porco, o leixam pollo ceruo, ou elles esso meesmo erram muytas uezes o porco de si meesmos, que o perdem em tal guisa, que nom sabem por onde se lhes uay, nem onde fica: a esta cousa a “correger o monteiro seus caães, quando per cada hãa destas guisas lhe uaam errados, logo primeyramente que- remos dizer, quando o porco grande fica em algua mouta, e os caães sahem por onde uay o outro mais pequeno. Em todallas cousas da montaria compre aos 'monteiros de andarem bem auisados das cousas, que lhes no monte podem acontecer, e seerem bem nem- brados dos remedios que am de fazer pera corregerem aquellas cousas danosas pera seu joguo, que se lhes em elle muytas uezes fazem. Assi quando ao moço acon- tecesse de póer os caães ao porco grande, compre de “se nembrar, se entrou algum porco ou porcos naquelle — monte, que assi era espesso, em que o porco ou porcos poderiam seer, que em aquelle monte entrarom: tanto que dalli os caães começarem a * sahir de alli a fora, faça muyto por se fazer certo, se he aquelle porco grande a que pos os caães, e desto se pode fazer certo em sahindo 1. Sage. — 2. piqueno assim neste cap. — 4. por. — 8. medes. 9. acontesce, — 11, medes. — 17. saem, — 20. acontescer — e] 8 —22. jogo. — 23-24. acontescesse, — 26. espeso. — 28, sair. — —3o, saindo. 179 pira 264 — por algúus altos, ou por atalhar deante os caães, ou por outra qualquer guisa, que possa ueer o porco com que uaam os caães: e se uir aquelle porco, logo podera seer bem certo, se he grande, se pequeno, e se pequeno for, podera seer bem certo que nom he aquelle porco a que pos os caães. Em como quer que muytas uezes se acontece, que em algúus lugares parece o porco grande pequeno, e o pequeno grande: mais porque nom uem muyto proueito aos monteiros de saberem os luga- res, em que esto parece, conuem a saber, os porcos grandes pequenos e os pequenos grandes, por ende nom o queremos escreuer, ca nos parece que nom uem muyto a prol aos monteiros de o saberem, segundo dito he : de- mais por uos nom determos a demostrar o que am de fazer. Quando o porco grande assi fica no monte, e o pequeno sahe fora com os caães, porque esta cousa aos monteiros lhe he proueitosa de o saberem, por tanto . diremos como am de fazer. Assi quando o porco for ao monteiro de certo polla uista que o uee, que o porco pequeno lhe uay fora da mouta, e o grande lhe fica, logo elle per si tome os caães que uaam com o outro, quantos mais puder, e dee uozes aos outros moços que lhos tomem, porque nom leuam o porco a que forom postos: e guardemse quanto puderem, de quando assi tomarem os caães, que lhes nom façam mal, ca . mais uale tomando poucos caães, sem lhes fazendo mal, que tomar muytos fazendolhes a tal tempo mal, como aquelles que nom erram de fazer aquello que am de fazer: ca grande erro he ao monteiro, quando de . outra guisa o pode fazer, tomar seu caão com feridas, 2. ueer] aucr. — 3, poderá. — 6. uez. — 7. acontesce — paresce, IO. paresce. — 12. paresce. — 15. e om. —16. Os piquenos al fora. — 22, dê. — 23, perque. — 26, ual. — 28, aquillo. — 30. tornar. à 10 4 — 265 — quando o elle bem faz, ca asst lho dissemos ja no capi- tulo xiiij do liuro primeiro. E se acontecer que o mon- teiro nom possa ueer o porco, a que poem os caães por subir em algúus altos, ou sahindo ante elles na trauessa, entom nom podendo assi ueer o porco com que os caães correm, pare mentes no rastro, e ueja se he grande, se * pequeno, ca esta he húa cousa, em que faz fazer aos - monteiros certo se he grande, se pequeno o porco, se- gundo dito he no absoluimento da duuida quarta que os porcos fazem de auiamento no liuro primeiro: mais - quando assi quiser parar mentes pollo rastro, nom se “esfeuze de o ueer em hum lugar, ca bem lhe dissemos “emo absoluimento desta duuida, em que hi auia terras, — que dos rastros grandes faziam parecer pequenos, e dos 15 pequenos grandes: e em taaes terras como estas, ora x lhes pareça o rastro pequeno, ora grande, nom se deue — muyto a fiar, que o porco he pequeno nem grande. Mais ERP qu esta cousa a de fazer depressa em ueendo o — Fastro, se muyto tardasse, poderse iam alongar a tam muyto os caães do monteiro, que depois * os nom pode- “riam cobrar, e quando esta cousa depressa quiser ueer, “ nembrese bem quejanda era a unha do porco que no E: monte foi metido, se o monfeiro uio, e se o nom uio: “e dizemos ainda se o nom uio, porque todollos moços, rio o monteiro que tem o porco aprazado, lhe arposm os caães, que a poucos ou a nenhúus ucem o ras- “tro quando poem os caães, nem o monteiro que o me- É, “te no monte, nunca a de leue o mostra aos moços: — pero que se quiser fazer bôa montaria, teudo he de lho o mostrar, segundo lho dito auemos: e porque o poucos ueem, ou nenhum, por esso dizemos, que ainda que o o al E) — 1-2 Cap. 14. —2. lib. 1, — 4. saindo. —g. quarta] 4. —1o.lib. 1. a. un. — 14. parescer, — 15, hora. — 16. paresça — hora. — a E hiam. — 21. depresa. — 22, nembresse. — 29. tende. 18o —— 466 — nom uisse, poderia dizer que aquelle porco que entraua naquelle monte, era grande, ou pollo ouuir que ouuio dizer que era grande, ou pollo ueer, por esta cousa deue sempre de teer que o porco he grande. Assi quando | elle quiser ueer, se he grande ou nom, nom deve a pa- 5. rar mentes na largueza do rastro, quanto seia de húa | parte a outra, segundo se faz quando o porco uay de passo: quando o porco corre algãas uezes pollos lugares, e esso meesmo pollas terras, se enancham as unhas delle de hãa parede a outra de fora, que faz parecer 10: o rastro muy largo: mas se o monteiro esto quiser sa- ber por certo, quando o porco assi corre, pare mentes a unha delle, e esto dizemos porque a de parar mentes . de ambas as unhas da maão, ou do pee, cada húa de per | si, e se uir a unha do porco grande de forma, e ancha, 15. estimandoa o que uay correndo, entom pode creer que aquelle he o porco meesmo a que pos os caães, e entom nom ha mais de fazer, senom andar, assi como | lhe dito auemos em o capitulo itij deste liuro segundo. E se uir que o rastro he desuayrado de este, assi como de 20 seer muyto delgado, ou muyto estreito, ou pequeno em | sua quantidade, entom pode bem saber que nom he grande o porco, com que uaam os caães, e entom pera + retornar os caães ao porco grande que fica no monte, deue a fazer por esta guisa: tanto que os caães forem tomados, aquelles que assi puder tomar, torne aaquella mouta, em que osme que o porco fica, e ueja de qual parte lhe uem o uento, e ponhase- de so uento com os caães, e entom lhes tire as treelas, e fallelhes, e faça como dito auemos no capitulo xxx do livro pri- 9. medes — enancham no texto, alargam glosa marginal, — a 10. parescer. — 14. mão. — 17. mesmo. — 19. Cap. 4 —lib. 2. — JR 23-24. pode a retornar — 27. osme no texto, imagine glosa mar-. q ginal, — 28. ponhasse — des so] des o, — 30. Cap. 30 — lib. 1. pá 4 * e - m E j E Oo meiro no lugar onde diz, como se a de aleuantar o porco a calcada: em esto fallarom os monteiros, que como quer que esta cousa seia bôa de a fazerem assi, pera acharem o porco que ficaua no monte em algua mouta, empero que lhe podia uir o contrairo por esta guisa : quando os caães assi fossem soltos polla creença que ja tinham pera alli, por onde outro passara, que de rezom estaria de nom curar de outra cousa, senom sahir na trauessa, per que ja antes fora, e por tal cousa quando assi fezesse, ficaria o porco grande por achar: por ende disserom algúus que seria milhor de leuarem os caães nas treelas, é uirem ao so uento, assi como dito he neste capitulo, e que se os monteiros * fossem tres “ou quatro, ou mais, que lhes compria de uirem derra- mados, assi como lhes ensinamos, que o am de fazer quando andassem a calcada, porque de rezom estaua, * que quando assi fossem derramados, que os caães aue- - riam o uento do porco, que assi estaua furtado, e que ora desse o uento delle aos caães, ora se o porco ale- uantasse de ante os moços, que os caães lhe seriam pos- tos milhor, e mais certamente. E esta parece que he “muy milhor, e mais certa rezom que a outra, de se " lhe assi fazer, senom que aos moços do monte sera “de grande trabalho leuarem assi seus caães nas treelas pollo monte: e assi quem quiser retornar os caães ao — porco, faça por cada húa destas guisas, e fara como bõo e dereito monteiro, em como quer que nos aconselha- mos a qualquer que o ouuer de fazer, que o faça por esta segunda guisa, ca muyto milhor he a qualquer que algúa cousa queira fazer bem, fazella, ainda que seia “com mayor tabalho, ca de a fazer menos bem, e seer “com menos afam. 2. a) aa, — 8. razom, — 10, fizesse. —rr, melhor. —13, hee. — 14-15. arramades, —- 17. arramados. — 19. hora. — 21. melhor — paresce. — 22, melhor — razom. —29. melhor. 181 = 208 — Capitulo viij, do corrigimento do cambar dos caães, quando cambam algum porco por outro, ou cambam porco por certo. Acontece ainda que os sabuios cambam o porco per que uaam, assi como dissemos no capitulo vij, que em cambar quando o caão ia pollo rastro de hum porco, e o leixaua por outro rastro, que lhe atrauessaua per sua ida dereita. Quando se acontece que se esta cousa assi faça no monte, se o sabuio larga o porco grande por outro mais pequeno, a qual cousa deuem os monteiros 10: de remediar. Tanto que esta cousa conhecer bem pollo rastro, ou polla uista, segundo dito auemos que se pode | conhecer, no capitulo vij deste liuro segundo, faça a todo seu poder tomar aquelles caães, que assi camba- rem aquelle porco, nom lhes fazendo mal, como all a dissemos: e se os nom poder tomar, dee uozes aos — outros moços que os tomem com aquelle som, que os | monteiros tragem de costume, quando o porco assi he E cambado, tangendo rastro e torna delle: e se os poder tomar todos, ou quantos quer que possa tomar, che- 30 gue aa trauessa, alli onde o porco foi cambado, e guarde- - se que quando alli chegar, que nom tire logo as treelas | aos caães, ca poderia seer que os caães quando fossem - postos em amballas trauessas, leixariam o porco gran-. de, como antes fizerom, e tomariam o rastro do mais pequeno: e esto poderiam dizer quando o fizessem, que . seria peor erro que o primeyro o derradeyro. Mais . quando bem quiserem fazer, uaam polla trauessa do porco grande hum grande espaço, e entom lhe ponham 4 - 4 acontesce. — 5. Cap. 7. — 8. direita — acontesce — assi | entrelinha. — 10. piqueno. — 11. conhescer — Cap. 7. — lib. 2. — 14. tomar om. — 16, dê. — 19. del. — 26. piqueno. ES afo == os caães, como dito he no capitulo xxx do liuro pri- meiro, onde falla do aleuantar por treela. Guardemse que quando assi lhe ouuerem de poer os caães, que os “nom ponham em lugar raso, nem em moutas arredradas, * 5 ca seiam bem certos, que quando o porco assi fica no "monte, e lhe fica espaço grande, do que foi leixado ata de lhe poerem os caães, ca poucos caães som, saluo se “forem de muy grande. bondade, que em taaes lugares forem postos, que bem possam correr: por ende faz rm. assi ouuerem de tornar os caães a lhos poerem outra uez, que sempre se guardem de lhos nom poerem em taaes lugares, mais ponhamnos em lugares que seiam espessos, que em estes correm os caães milhor. E se *acontecer que os caães cambem porco por ceruo, a esto deuem os monteiros fazer de outra guisa: tanto que os * caães uaam errados, e leixam o porco a que os poserom - pollo ceruo, logo com muy grande aguça deuem correr * o mais que puderem por sahirem de ante os sabuios, » que uaam apos o ceruo: e como chegarem a trauessa, * atendam os caães ata que uenham a elles, e como hj | chegarem, façamnos uoluer com feridas, dandolhes “pancadas com as azcumas, e fallemlhes as palauras — que os monteiros soem a fallar aos caães, quando fazem 25 mal, que quando elles leixam o porco pollo ceruo, tor- * nandoos entom com aquelle mal que lhes assi fizerem, — lhes faz grande bem a os fazer ser bõos: que assi como * o caão quando corre bem, que achega a encarna, e o Rr nteiço o assi encarna e afaga, lhe daa a conhecer que | fez aquelle bem, e por aquelle bem que lhe assi faz * conhece, e pollo conhecimento se faz bõo: assi quando As o Eh Cap. 30 — lib. 1. — 3. arredadas. — g. bem possan entrelinha. = 10; mister, — 14. melhor, — 15. acontescer. — 19. sairem. — — 23. azeumas, — 29 de — conhescer. — 31. conhesce — conhesci- — mento. Jo mester aos monteiros de seerem auisados, que quando 182 faz tamanho mal, poello ao porco, e leixallo pollo ceruo, que he hum dos mayores males que elle pode fazer, entom fazendolhe mal, elle por seu instincto conhece que nom he bem aquella cousa, e entom se cabida de | fazer aquelle mal, e pollo cabidamento torna a seer bõo. Por esto he dereita montaria, quando o sabuio camba o porco pollo ceruo, que o quiserem tornar, que o tornem com pancadas e com asperas palauras. Ora quando os caães assi forem tornados da trauessa do ceruo, per que hiam, logo os moços os tomem nas treelas: e des que forem hum espaço dalli, onde lhes fizeram este mal, comecemnos a afagar, e se acharem agua dem- lhes a beber, e todo esto o façam o mais a pressa que o poderem fazer. . E este tomar nas treelas lhes he muyto bõôo: porque saibam todollos monteiros, que os caães que som usados a os poerem de treela, que posto que uenham cansados da corrida de qualquer ueaçom que seia, que se os algúus monteiros filham nas treelas, que elles se fazem assi em semelhante, como se noua- mente fossem postos, a qual cousa nom fazem quando os tornam, e os leixam uir soltos: e demais quando os - 8 ferem, e elles am medo das feridas que lhe derom: tanto que os tiuerem tomados nas treelas, e lhes derem . de beber se acharem agua, assi como dito auemos, afa- guemnos em tal guisa, que lhes façam perder o medo: entom tornem o mais toste que o fazer puderem, aa- quelle lugar, onde os caães cambarom o porco pollo ceruo, e entom demlhes a sahida per olho, per onde o porco uay: e des: que uirem pera onde o porco uay dereito, uejam o caão que de milhor mente quer correr com elle: e pera conhecer qual dos caães he milhor 3. conhesce. —8. hora. —. da] de. — 13. beuer — presa. — 24. beuer. — 28, saida. — 30. direito — melhor. -— 31, conhescer. — melhor. — 291 Solis pera correr com elle, nom se conhece senom polla que- rença que os caães fazem, quando estam de sobre a travessa, ca aquelle que mais querença faz, aquelle — parece que a mayor uontade de correr com elle, e 5 aqueste lhe ponham primeyramente, e depois os outros, assi como ja dissemos. E em como quer que dissemos, *- que aquelle caão que mor querença faz, quando esta de * sobre a trauessa, que esse he milhor de lhe poerem, porque elle quer milhor * correr com elle, e esto he "Ho certo: ca em nos demais que milhor querença fazem, - quando o porco he aleuantado, estando de sobre a tra- — Juessa, que este, ou os demais correm milhor com elle, “al menos em na primeira solta: mais empero nom leixa * hi de auer outros caães, que nom fazem grande que- 5 rença, estando nas treelas, posto que o porco seia, ale- * uantado, e nom leixam por ende de ser muyto bõos, e — correrem muyto milhor com o porco, que os outros que | fazem as grandes querenças: e por esto os monteiros * que os ouuerem de poer, auisemnos que os ponham ao ao porco, e todauia aquelle que for milhor de todollos * caães que comsigo tiuerem: e des que aquelle for ende- | rençado, e todollos outros apos elle, fallemlhes e tanjam- | lhes bozinas, ca por esta guisa tinerom os monteiros | de ante nos que forom bõos, que assi se auiam de 25 emendar os caães, que cambassem o porco pollo ceruo, E a Et 7. está. — q. melhor. — 13. al de menos? — 21-22. endere- | ado. — 22-23, — tangamlhe, — 24. de ante nos, entrelinha. 183 — 292 — Capitulo »iri;, de como os caães que erram de si meesmos, se am de emendar. Acontece ainda que os caães erram de si meesmos: dizemos de si meesmos, porque nom erram senom por toruamento, quer do tempo que os faz toruar, a qual cousa elles de si nom podem bem emendar, ou errarem algúus caães que som assi como sandeus, que sahem a uozes em tal som, como se algãa ueaçom leuassem ante si: e elles quando estas uozes ouuem, leixam o + que am de fazer, e uoluem a ellas, e em uoltendo a elles leixam o rastro per que uaam, ou o erram | por algum atrauessamento, que lhe algum de cauallo atrauesse, porque som auezados a lhes os de cauallo matarem o porco, tanto que ouuem os strupos de cauallos, leixam o porco per que uaam, e uoluem a 15 elle, ou o leixam por cansaço, porque todas estas cou- sas som por seu fazer meesmo delles: por tanto dis- semos que deixauam per si meesmos, porque elles por sua mingoa errarom de fazer aquello que deuiam j de fazer: por ende quando taaes cousas acontece- 26 rem. aos monteiros, de os caães assi errarem por si. meesmos, deuem a seer auisados, e des hi aber AR = 1 como am de correger a taaes cousas, quando lhes aucerem: pera as saber correger, am mester que façam desta guisa, aquelles que o nom souberem, que ouue- 25) e Sa É rem uontade de seer bõos monteiros, se lhes aconte- cer que os caães errem, por algum caão ou caães, que se antre elles meesmos que seiam sandeus, assi como 3. acontesce — mesmos. — 4. mesmos. — 7. alguns — saem. -— 12. de cauallo] de a cauallo. — 14. estrepito (?) do. — 17. mesmo. . -— 18. mesmos. — 20-21. acontescerem. — 22. medesses. — 24. mis- | ter. — 26-27. acontescer. — 28. se! he? — mesmos. ) N 3 ” 44 ” — .—ss « eai ms Mo Da E , À ” 4 — 273. — , muytos caães som. Desto nom se marauilhem os mon- teiros que este liuro leerem, por lho nos assi dizermos, que os caães som sandeus, ca seiam bem certos os monteiros que a hi alguus caães, que em seu seer-a na- tureza que am de os fazer obrar, fallece em elles tanto, que se mostram em elles sinaaes, e a tantos afectos de sandice em aquello, que am de fazer, assi como se pode mostrar em algua outra creatura que humanada seia: e se esto nom souberem, ou algua vez o nom prouassem, prouemno pollo ueer, e ueendo húus caães e outros que maneyra teem, acharom que na natureza dos caães assi a hi sandeus, segundo mais e çom que * cada hum recebe. Assi quando alguus caães recebem a tal disposiçom desta sandice, que dito aue- mos, que he quando correm, sahirem com uozes, nom indo no rastro do porco, nem de outra ueaçom que seia, em tal guisa, que os caães se ajuntam a elles, e leixam o porco, per que uam, e quando o assi leixam, torham as uozes dos outros, que som como sandeus: os monteiros que em este joguo tal se acertarem de an- dar, por fazerem bem e enmendarem a perda, e o erramento de seus caães, lhes he necessario pera estas cousas enmendarem, de os enmendar por esta guisa. Tanto que os uirem que assi uaam errados por esta dita cousa da sandice dos caães, que assi sahem a uozes, “Jogo tam toste que puderem uaam tomar aquelles caães, que andam sandiamente, e prendamnos, e des que forem presos, façam tornar os outros com as pala- uras que os monteiros soem a dizer aos sabuios quando erram, que som dizer: aca, aca, uoluer, uoluer. E 4. alguns. —4-5. naturaleza, — 5, fallesce, —7. affectos, — 10. uen- do, —12, naturaleza — 21. jogo. — 23. nescessario. —26. saem, — 31. boluer bis. 18 menos, em como o som os homées, segundo a disposi- : 84 — 94 — ainda quando toparem com algum dos caães, que assi sahirom as uozes dos outros sabuios, tragamnos mal de palaura, com que os caães som acostumados de ouuirem quando os quiserem castigar, e guardemse de-os nom ferirem de paao, nem de pedra, que em tal caso como este pollas feridas nom lhe poderia uir bem, ante lhe faria mal. Des hi quando ouuerem de uoluer os caães aaquelle lugar, onde leixaram o porco, quando: pera a la ouuerem de ir, uoluam todos rijos, e com muytas destas uozes, ata que cheguem a dereita tra- uessa do porco, e entom encaminhemnos, e façamnos mais dereitamente encaminhar que elles puderem. E. ainda esto façam mais, que como os caães começarem a encaminhar, que todos uaam muy rijos em pos elles, tangendolhe o mais e 'o-melhor que puderem, pera lhes darem esforço pera melhor correrem. (Guardemse que pollo muyto correr, os nom passem, nem se enuoluam com os caães, que assi uaam apos o porco, como disse- mos no capitulo iij do livro segundo. Ainda algúus caães per si meesmos, como dito auemos, erram, e esto he pollos tempos, os quaaes tempos quando assi ueem, “que fazem aos caães errar, ou he pollo tempo todo seer hum, que comprenda todallas partes do monte, assi como he o soão no primeiro dia do seu correr, o muy grande aguiam, que uem com grande força de sobre as aguas, que chouem em na manhãa, ou ante, e em estes tempos taaes nos dizemos geerais, porque com- prendem todallas partes do monte assi altas como bai- xas, a qual cousa nom fazem os outros tempos todos, que adeante diremos. Quando estes tempos que assi som geerais, fazem errar os caães, em esto os montei- 2. sayrom. — 3. som om. — 6. uinr. —7. boluer. —'o. a la] alo. — boluam. — 10. direita. — 12. direitamente. — 17. embol- uam. — 20. medeses. — 24. o muy] a muy. "o = Tra AR RARO O det CO ERES E EE DETESTA 2 DAS O 10 = 295 — ros podem enmendar muy poucos: e por ende milhor seria a qualquer monteiro, quando uisse que os seus bõos caães errauam por estes uentos, que assi eram gee- rais, de os acolher, e de se ir pera *a pousada, ca de filhar grande perfia em querer correr aquelle monte : ca em como quer que alguus monteiros em taaes tem- pos algúuas uezes matassem algum porco, pero sabudo he a qualquer monteiro, que se em ello parar mentes, que poucas uezes, ou nenhúas se acertara em monte que seia grande, de matarem hum porco, quando taaes tempos fizerem: por esto lhe dizemos, que pois esta em experiencia de esto seer uerdade, que milhor sera a qualquer monteiro, quando a tal tempo geeral fizer, de se ir pera a pousada, que de filhar grande perfia por andar ao monte: e se acontecer em algúus tempos, que nom seiam geerais em todo assi como dissemos, senom que tanja algua parte, assi como se acontece que se faz no tempo do ueraão, em algúus vales, ou ladeiras a tam quentes, que nom a no mundo caão que em elles entre, por muyto bõo que elle seia, que possa bem cheirar o porco, nem correr bem com elle: esso meesmo se faz no tempo do inuerno em algâus lugares, que se fazem a tam frios pollas geadas, ou neues, ou ainda disposiçoões da terra, que recebem a tal frialdade, que nom a caão por bôo que seia, que posto que ainda fosse chegado ao porco, que nom erre. E esto he muyto estranho a o dizer aos monteiros, ca aquelles que em estas cousas nom param mentes, lhes parecem estranhas, ca estranha cousa parece dizer seer algum tempo tam quente, que faça perder o cheiro ao sabuio, « esso meesmo pollo contrairo, seer o tempo tam 1. pocas — melhor, — 5. porfia. — 8. elle, — 15. acontescer. — 17. tanga — acontesce. —18. ueerãao. — 22. medes, - - 27, estrafio, — 2). parescem — estrafias — estrafia, — 31, medes, 185 186 — 276 — frio, que tambem polla sua frialdade lhe faça perder o cheiro, assi como dissemos no capitulo xviij do liuro primeyro : dito auemos ja que os caães nom cheirauam o porco, senom pollo departimento que fazia do cheiro, seendo o ar frio e o rastro do porco quente. Ora se acontece assi, que algãas uezes o tempo he a tam quente em bafo, que em algúa parte comprende todo o. monte, que nenhum caão per nenhãa guisa que seia, pode auer aquelle departimento que dissemos, per que os cheiraua, que a tam quente he o ar, que o nom quer consentir, nem dar lugar que o do porco seia mais quente que elle: e esto meesmo o faz o frio, ora seia de neue, ou de geada, ou de algúus outros uentos frios, que as uezes correm, que a tam toste que o porco per alli passa, logo lhe arrefenta o rastro, que per nenhãa guisa lhe nom leixa nenhãa quentura, que o caão possa cheirar: e nom dizemos que este tempo he geeral, que. se faz assi, que he cousa natural de se fazer, mais faze- | se ainda a pedaços, que he cousa mais estranha, que em hum monte, em hum lugar sera muy frio, e em outro sera em boa temperança, e em hum lugar muy quente, e em outro em bôa temperança, assi como dissemos no capitulo xviij do liuro primeyro. E como quer que os monteiros saibam que se esto assi faz, pero se o quiserem ueer por mayor experiencia prouem * a andar de noite ao. monte, e acharam que em hum lugar lhes uerra o bafo tam quente que lhes parecera que estam em húa es- tufa, ou em hum “banho, e durarlhes a aquelle bafo hum grande pedaço, ata hum tracto de beesta, em andadura do monte, mais ou menos, e como o passar, logo fica em ar frio, e bem temperado, e assi lhe po- 5. hora. — 6. acontesce. — 12. medes. — 13. ou (2.º) om. — 19. estrafia. — 25. prauem. — 27. parescerá. — 28, bafio — a] ha. -— 30. pasar “o “e. Te 1. e eq eo o , =- E 1a é + ' “ dera acontecer em a noite tres ou quatro uezes, ou mais, ou menos, quando a noite for em que se aquelle tempo faça, ca em todallas noites nom fazem aquello, e esso meesmo os dias, que todos nom fazem os ares assia espaços que toruem os caães de correr. E quando assi acontecer aos monteiros, que topem em estes lugares, * que assi som quentes, ou frios, e sentam que os caães por aquello erram, se os quiserem enmendar, uejam se aquelle erramento, que os caães erram, he pollo tempo, se erram em uale, onde estas cousas se fazem mais a meude, que em nenhum outro lugar que seia, ca em nenhum outro lugar nunca se faz, saluo se lhe uem por auentura, de que homem nom he de fazer conto, saluo quando se faz pollo uento grande, que he muyto frio ou muyto quente, mais o faz nos altos, ou nos chaãos, que nos uales. Assi quando quiserem enmen- dar os caães, que pollo tempo forem errados, cha- memnos com as uozes, com que os usam de cha- mar, quando andam soltos, e o monteiro uee algum porco, e lhe quer poer, e saya o monteiro muy toste de aquelle uale, em que aquelle tempo faz, como for em cima, e lhe os caães cheirarem o porco, fallelhes, e ande bem chegado a elles. Ca bem sabudo he aos monteiros, que quando elles usam bem achegados aos caães, que os caães fazem milhor seu officio, que quando uaam arredrados delles, de mais depois que algãa uez erram, e por aquella guisa recobraram seus caães, quando por aquella guisa errarem pollo tempo de si meesmos. E dissemos sahir fora o mais toste que sahir pudesse, e que per alli enmendariam os seus caães, e esto he assi bem de se fazer, quando se acontecer que 1. acontescer. —2. for entrelinha. — 4. medes — aares, — 6. acontescer. — 8. emendar. — 24. — chegados. — 25. melhor. -— 26. delle. - - 29. mesmos — sair bis, — 31. acontescer. — 278 — E na sahida de aquelle uale os caães logo acham a ida por onde o porco uay. Mais a hi húa cousa que he muyto contraira, e deuemna os monteiros repairar desta guisa, que o porco pode sahir por algãa outra | parte, que nom sayra em aquelle dereito, e poderia sahir em outra parte mais alta ou mais baixa, donde o monteiro sahisse com os caães. Pera o bem enmendar, tanto que o monteiro sahir, que os caães lhe nom topa- rem com a ida do porco, logo se deue a auisar que o porco lhe sayra polla outra parte, e nom per aquella per onde elle saya, e entom pare mentes aaquella parte, per que mais de aguisado o porco lhe deuia de leuar, e per aquella uolua com os caães, assi daquella . guisa como sahio da primeira, e com aquellas uozes, ata que tope em a trauessa, por onde o porco uay, e por aquella guisa, o podera recobrar, quando lhe assi sahir errado, ou a cima, ou a fundo, * donde elle sahir, segundo seu estimamento daquella parte que elle enten- der que lhe deuia sahir. Mais posto que alguus disses- sem que em aquelle uale, em que lhe os caães erras- sem pollo tempo, assi como dito he, que o porco ficasse, c nom sahisse fora, que polla sahida que o monteiro fezesse, nom seriam os caães enmendados, ou ainda se sahissem pera outra parte, na qual o monteiro se nom | acertasse. a uoluer da sahida que sahisse, assi como filhar a maão esquerda, e o porco sahir a maão dereita, ou o contrairo: a estas duas cousas dizemos, de o porco ficar alli, onde os caães errarem, ou de sahir errado, donde o monteiro assi fosse com os caães, nom o queremos departir o que se deue de fazer, porque poucas uezes, ou nenhúas se fazem, pois que som re- 1.sayda. — 2. huaa. — 4. sair. — 7. sahyse. — 8. sair. — 11. el 13. boluã. — 16. poderá. — 17. sair bis. — 19. sair. —21. ficase, — 22. sahyse. — 23. fizesse. — 24. se entrelinha. — 25. boluer — sa- hyse. — 26. sair. — 28. sair, 5 = 10 = 15 as 30 * Fq em pairadas, como se bem deuem de fazer do recobrar dos caães, das outras nom fazemos conta. E os monteiros que esto quiserem fazer, tenham estes modos, e faram em ello bôa montaria em este cobramento dos caães. Acontecese ainda que os caães de si erram por algum de cauallo, que se mete no monte, e nom corre per onde o porco uay, pollo atrauessar do rastro, ou uay acerca ' delle, e por estas cousas o caão o erra: e dizemos que o erra de si, porque elle leixa o rastro que deuia a leuar, e esto lhe faz, porque algúas uezes he usado, quando os de cauallo correm com o porco, e lho ma- tam, e elles chegam a encarna, por aquella cousa: elles de si leixam de fazer a cousa, porque deuem de seer bõos, e tornam aaquella cousa que estimam, em que mais toste compriram sua uontade : na qual cousa he de . notar por este exemplo que os caães fazem, que grande multidom de mal he quando qualquer animalia que seia, de mais os homées casoaueis leixam de fazer as cou- sas que realmente som bõas, por tam somente com- prirem os seus desejos, ou pera pedir, ou pera outra cousa qualquer, per que seia comprida sua uontade: quando estes caães assi erram pollo correr que este de cauallo faz, o qual nom o pode fazer, saluo se for maao monteiro, assi como se muytas uezes acontece nas casas dos reys, em que ha todollos oficios, demais em “aquelles que som geerais, polla sua multidom, de força he que seiam maaos e bõos. Assi quando estes caães pollo corrimento do cauallo, que corre apos o porco, ou atraues delle, assi como dissemos: tanto que os monteiros uirem que os seus caães lhe uaam errados, ou ainda no primeiro correr uirem que podem errar, 5. acontescesse. — q. ella. — 18. cazoaveis, (que obram por acaso ?). — 20. dezejos. — 24. acontesce. — 25, Reys. 188 — 989 — logo dem uozes aaquelle de cauallo, que este quedo, que nom corra mais, e entom uaam aos seus caães, e tomemnos em as treelas, e uoluamnos aa trauessa do porco, alli onde o de catishio começou primeiramente de correr, € façamlhe aquello que lhe dissemos no capi- tulo 1i1j do liuro segundo. Ainda muytas uezes leixam os caães per cansaço, e este leixar quando assi leixam estes caães per cansaço, nom se podem * bem recobrar, ca assi esta em uerdade, que quando algum diz, eu em tal cousa nom posso mais fazer, escusado he polla sua necessidade, de mingoa de bõa uontade: e por ende porque os caães erram por cansaço, e este cansaço he de necessidade, e o erro nom he por uontade, por esto -nom podem seer bem corregidos: empero queremos dizer hua cousa, que a algúus hum pouco poderia pres- tar, em como quer que segundo nosso estimamento a poucos prestara pera enmendarem seus caães, quando assi forem cansados: mais pois que nos esto uimos fazer, € algãas uezes prestar, nom o leixaremos aqui de escreuer: e esta cousa que escreuermos, ualha quanto “ualer, ou se nom prestar, nom seia nada. (Quando estes caães assi erram per cansaço, que quer tanto seer como Jeixarem, ou seram muytos, ou poucos, ca de hum nom fallamos, porque nom lhe pode esta cousa prestar, mais quantos quer que seiam, assi muytos como poucos, que todauia seiam ata dous ou mais: e quando esta cousa. assi errarem por este cansaço, e os moços os en- calçarem, uoluamnos sobre a trauessa do porco, no lugar donde errarom, e uejam qual he aquelle que de milhor mente lhes parece quer correr segundo seu poder, e uoluao per sua dereita trauessa do porco, o 1. estê —3. boluam nos. — 7. cansanço. — 8. cansanço. — 17. prestará, — 20. ualla. — 27, cansanço, — 27-28. os al encal- çarem. — 28. do] do do. — 30, melhor — paresce. - TE A, O CQUERESISRAE um 2 == Ad) 5 q q x E 30 É 4 Ji» =. dá SE cm mais toste, e o mais dereito que puderem, e encami- nhemno, ajudandoo, assi como ja em muytos lugares deste livro dito auemos, e os outros moços, se a tantos forem, tomem todollos outros caães nas treelas, e ainda nom leixem de tomar algúus daquelles que bõos forem, e que lhes pareça que som fortes pera correr: e em quanto aquelles outros moços forem com os caães, que mais fortes se tem em correr, cheguemnos a agua, se a preto tiuerem, e des hi cheguem a algum lugar, onde possam cobrar algum uento, em tal guisa que percam ja quanto quer daquelle cansaço. E des que uirem que taaes som, que cobram algãa cousa do correr, sayam deante a trauessa, donde os outros caães ueem, - e quanto poderem sayam muito*deante delles, em tal 5 guisa que elles possam achar a trauessa per que o porco uay. E este sahir muyto ante dos caães lhes presta por acharem mais preto o porco, e os caães lhe correrem de milhor mente: e quando assi chegarem de sobre a trauessa, e os caães lhe cheirarem, façamlhe o que dis- semos, que se auia de fazer em este capitulo, no lugar “onde diz, quando uoluerem os caães da trauessa do - Ceruo, e o ouuerem de poer na trauessa do porco etc. Este recobrar dos caães se entende que se a de fazer em aquelle monte, em que o porco nom passou as ar- | madas, ou em algãa outra creença, que o porco nom corre de longo, mais anda dando uoltas, e nom quer sahir em taaes montes. Este recobrar dos caães se- - gundo aos monteiros pode prestar, se lhes de prestar ouuer, ca nos montes em que o porco uay de longo, que nom queda de andar, nem se detem, nem quer dar uoltas, esta maneira de recobrar * nom presta pera nada: 1, direito. — 6. paresça. — 9. preto no texto, perto glosa mar- — ginal. — 13. diante. — 14. diante, — 16. sahir om, — 18. melhor. —a. boluerem. — 23. á, —24. em (1.º) entrelinha. — 25. creança. — 27. sair. 89 — 282 — ca os caães que dissemos, a que dessem da agua, e. uagar de folgar, se lhe o porco andasse de longo, em quanto elles folgassem, de força era que o porco se arredrasse muyto: e se o monteiro quisesse leuar os caães nas treelas pollo encalçar a lhos poerem bem, de força era que os caães tornassem aaquelle cansaço, que | ante ouuerom, por esta cousa nom presta ao porco que uaa de longo. (Quando os monteiros uirem, que lhes assi uay de longo, nom lhes aconselhamos, que quando assi acharem seus caães cansados, que nom filhem sobre ello mais afam, ca pouco lhes prestara, ou nada, e o que milhor podem fazer, colherem seus caães, e tornarse pera a pousada.. Capitulo x, do que am de fazer os mocos, quando algítus monteiros pedirem os caães por algum porco que ueem. Ainda hi a hãa cousa na montaria, em que cada dia “se enuoluem os monteiros, e os mais delles fallecem em aquelle bem, que se em ello pode fazer, e por esto lhe “he muyto necessario, quando lhe acontece, de o fazer bem, e os monteiros nom. erram por lhes a tal cousa “acontecer, por esso queremos escreuer como lhes he compridouro de o fazerem, quando tal cousa lhes acon- tecer. A todos acontece igualmente os dias que uaam | ao monte grande, em que seiam muytos porcos, quando lhe o senhor põem os caães, que os porcos se uoluem pollo monte húus com os outros, que segundo dito auemos, os caães cambam o porco grande, per que 7. antes, — 12 melhor. —14. do om. — 18. fallescem. —19.“elle — esto om. — 20. nescessario — acontescem, — 22, acontescer. — — 23-24. acontescer. — 24. acontesce — uaão. — 26. boluem. 1783 — uaam, pollo ceruo, ou por outro porco mais pequeno, ou ainda sahindo as armadas, que ora lhes matassem o porco, ou nom, que em cada húa destas cousas quando se fazem, que em fazendose cada húãa dellas, algum 5 monteiro topa com algum porco, que ueem sem caães, ja demais se elle he grande. E porque o monteiro assi uee ir sem caães, daa uozes que lhe dem caães, ora os “demais dos monteiros, e ainda o poderiam dizer todos que em nosso tempo som, leixam de fazer o que lhe o o outro demanda, e bradam todos, daálhe os caães, daalhe os caães, e nenhum delles nom se trabalha de lhos le- uar: e esta cousa he maa, seer o dito do monteiro bra- dado, e nenhum nom se remeter de comprir aquello que elle pede, que lhe dem os caães. E pois que he 15 mal de o assi fazerem, os que o bem quiserem fazer, façamno desta guisa: tanto que assi uirem pedir os “caães, aquelle que os tiuer em as treelas, ou ainda a par de si em tal lugar, que os possa tomar, tam toste os tome, e uaa pera aquelle lugar onde o monteiro esta » que pede os caães: e tanto que hi chegar, pregunte por onde foy o porco, que assi uio, e ponhalhos, e façalhes no andar, e no poer * aquello que lhe fallamos no capi- 183 tulo v do liuro segundo, que quando assi fizerem, esta sera a mais alta montaria que podem fazer. e, PER ET AÇO DE 1 O AE ADO PEN RO ade) e oa ae a , á à a 7 | ao, A tag r E + pesa s -— - pm » w o pesto dh dis atado id a o md a , ” , " aih cá la v W - 1. piqueno. — 2. saindo — hora, — 5, ueem, — 7. dá — hora. — — 8. podriam. — 10. da lhe bis. — 21. ponhallos. — 23. liuro] parte — segundo] 2. — 284 — Capitulo xj, como am de fazer os mocos, quando algum porco passar as armadas, ou as uozarias, e élles que- rem correr pollo matar, ou tornar. Cada dia se faz aos moços do monte, e ainda aaquel- les que bõos som, que se prezam de mostrar sua bon- dade, que se lhe algum. porco passa as armadas, ou lhes salta a uozaria, que elles uam em pos elle a o ma- tar por força de andar, ou fazello tornar ao monte de que sahio. E-em esta cousa quando se faz, aquelle que ouuer uontade de o fazer, podera seer que nom sera a tam percebido das cousas, que lhe pera esto per- tencem de em ello milhor fazer. E por seerem ensi- nados aquelles que bôa uontade ouuerem de fazer | a tal cousa como esta, façam em esta maneyra, que que- “remos escreuer, e faram em ello bôa e nobre monta- ria. Quando o porco assi passar as armadas, ou a uo- zaria, assi em como dito auemos, os moços que assi quiserem ir em pos elle, pera irem em dereita perfec- com de aquello que am de fazer, em na primeira cousa que assi ouuerem de fazer, am de teer mentes que corrida leuam os caães que assi uaam com o porco, ou se os caães som muytos ou poucos, e se som muy- tos, assi como passando de dez em cima, que som abastosos pera bem correrem com hum porco. E o porque dizemos, que som abastosos pera correrem com hum porco, he porque todollos caães se enfraquentam por mingoa de companhia, ou per fraquimento de couardice, segundo dissemos no capitulo xilij do liuro 2. bozarias assim neste cap. — 4-5. aquelles, — 11. será. — 12. melhor, — 13. fazerem. — 15. noble. — 18. direita. — 21. cor- ruda. — 24. hum entrelinha. — 27. compafiia. — 28. couardia, E E * "285 = primeyro: porem dissemos que de dez a cima eram abas- tosos pera correrem com hum porco, porque sendo o sabuio que corre com hum porco, hum ou dous, ata tres, sempre se enfraquentam no seu fazer por mingoa * 5 de companhia de nom seerem muytos, ou de couardice, polla qual cousa dissemos no capitulo xiiij, que aquelle que posesse o caão a achar, que sempre fosse junto com elle pollo esforçar: de mais ainda hi a outra cousa, que he natural a nos todollos monteiros, e sabe- “to mos que he assi, que continuadamente ueemos, que | muytos caães uaam 'apos hum porco, e os primeiros o | erram, e os que uecem em na metade, ou de tras algúus - delles o nom erram, e em sahindo daquellé lugar, em que os outros errarom a uozes polla sua dereita, os outros que assi errarom, que conhecem que aquelles que uaam a uozes dereitos por onde am de ir, uoluemse aas uozes dos outros, e quando chegam aa sua dereita trauessa por onde o porco uay, recobram o seu fazer. E ainda algúuas vezes acontece, que aquelles que assi ) erram, que ao cobrar recobram mais espertamente * que os outros, que uaam sobre a sua dereita trauessa, a uai nom faz se he hum, ou dous, ata tres, ca se a estes todos errassem, bem esta em dereita experien- “cia, que polla mingoa das vozes dos outros que nom “errassem pois os hi nom a, nom poderiam tornar - ao rastro que erraram, demais se lhes uiesse can- * saço, ou couardice, assi como ja ante desto dissemos, “certo esta que em nos mais poucos dos caães, sem- — pre fallece de nom correrem a tam bem, nem a tam ? muyto, como os muytos que bõos som: ca posto que endriço Ãà Iprdião quad RR saí 1. primeiro] 1, — 5. compafiia — couardia. —q7. posese, — 13. saindo. — 15, conhescem, — 19. acontesce. — 23-25, bem — esta... que nom errassem, aposição bi — 27. ante] en ante | —28. está. — 29. fallesce. maia DSO hum ou dous caães uaam a pos o porco, estes se E 1)1 erram nom podem * uoluer as uozes dos outros, pois que 1 os hi nom a: porem dissemos que de dez a cima eram À abastosos pera correr com o porco, e hum, ou dous ata tres, nom tanto pera correr, porque os dous ou tres 5 sabuios nom podem tam perfectamente recobrar o seu erro, quando o erram, como o fazem os muytos. Ora ' assi quando os moços, que o porco, que assi passar as armadas, ou a uozaria, quiserem matar, ou per força fazello tornar aaquelle monte onde sahio, tanto que forem a igual dos caães, logo qualquer que esto quiser fazer, pare mentes que corrida lhe leuam aquelles caães, que com aquelle porco sahirom: e se uirem que aquelles caães som do numero dez ou mais, ou pouco menos, e uirem que andam bem, e a bôas uozes, de mais se andam achegados em aquello, nom a de fazer outra mestria, senom andarlhe, como dissemos no ca- pitulo ti) do liuro segundo, pollas quaaes cousas anda- riam mais achegados aos caães, demais ainda quando ouuessem de entrar ao porco que assi ladrasse, entra- ria mais seguro. Assi-com esto, quando os moços qui- serem prouar de fazer esto que dito he, façamno desta guisa, e faram em ello bôa montaria: mais se acon- tecer que"os caães seiam poucos, que assi uaam com o. porco, que assi quiser matar, he lhe mester de o faze- rem desta outra guisa: se uirem que os caães som poucos, assi como dito he, temendose que os seus caães lhe leixaram, se acharem algúus caães errados, e ui- rem que os caães, que assi correm com o porco, lhe uaam achegados, tomemnos nas treelas, e façam muyto 3 - por se irem deante aquelle porco que querem tomar, a ou matar, todauia requerendo" carreiros limpos, e luga- 1. apos 0] a pollo. Beda Hora. — 16. á. — 22, probar. .— 23-24. acontescer. — 25. mister. — 26. destra. — 30. chegados. —. 31. diamte, anitos RS A E saA nã fá dA Veias, PR bio) ETA re ) 4 = | ! j b - 4 -* nl ls a A. res limpos, per que se o caão nom afogue na treela: e esto podem bem fazer sabendo a creénça, a que se o porco quer lançar, ou algum porto, per que o porco tenha que aja de passar. Assi quando o monteiro, ou Iê 5 monteiros, que este caão ou caães tomarem nas tre- E. 1 elas, nom deuem a parar mentes, por onde o porco uay, senom tam soomente atalhando a sua dereita cre- ença, e fazendo muyto pera quando a la chegar, que aquelles caães que leuam nas treelas, que cheguem assi so como folgados. (Compre, se o puderem fazer, se a tanto andarem ante o porco, que ante que o porco chegue a elles, lhes possam dar da agua, e ja quando “quer de folga, pera lhes poerem como de renouo. E porque poderia acontecer, que os caães que assi fossem “com o porco, se sentiriam como desemparados dos mo- ços, se os moços fossem quatro, ou cinco, ou seis, húa - parte delles tomem os caães nas treelas, que assi sahi- - rem errados, e façam esto, como dito he, e os outros uaam dereitamente apos os caães, tangendolhes e fallan- '* dolhes com aquelles fallamentos que entenderem, com * que os caães mais esforçadamente correm, assi como á E dem auer de exemplo e de ensino em este liuro, em muytos lugares, em que lhes sobre este fallamos: mais ainda * acontece, que quando este porco assi salta as ar- a5 madas, ou a uozaria, e uay muyto longueyro dos caães, os moços pollo encalçar nom podem teer a tal modo * como este que dito auemos, de leuar os caães nas tre- * Jas, que em leuandoos nom poderiam encalçar o porco — que assi for longueyro, por chegarem mais toste a elle “pollo fazer morrer, ou tornar ao monte de que sahio. Mais quando lhe assi for longueyro, nom tomem os caães nas treelas, mais aquelles que acharem, chamemnos 2. a (1.º) om. — 7.somente. —8, a la] alo, — 14. acontescer, — — 24. acontesce. 192 qa com as uozes que os monteiros som acostumados de colherem os caães a si, e entom desuiemse daquelle lugar, donde o porco for em tal guisa, que os caães que com elle uaam, nom lhe cheirem o porco, nem se ache- guem so a sua ida, e o monteiro que esta cousa fezer, ponha grande força de andar de passar os caães, que uaam com o porco, e des que os passar, e os outros achegarem a elle, ponhalhe aquelles que traz consigo: e se os tiuer hum pouco na treela, ante que os ponha, fazerlhe am grande prol, e desta guisa fazendoo os monteiros, recobraram seus caães, e uerram em dereito caminho de irem a fim de acabar aquello que começam. Ora assi depois que estes caães de renouo forem pos- tos, de húãa guisa, ou de outra, des que lhe o porco for. encalçado, nom se lhe deue fazer outro modo senom aquelle, que lhe dissemos em este sobredito capitulo 1íij do liuro segundo. E qualquer monteiro que em esta parte de lhe o porco assi passar polla armada, ou polla uo- zaria, querendo matar, ou tornar, e lhe estas cousas. nom fezer, nom fara como dereito monteiro, e todos: aquelles que as fezerem, faram dereita montaria, e ga- nharam prez de aquelles que o bem entenderem, que aquelles que aquello fezerem que som bõôos monteiros. Ora assi como dito auemos, se passarem alguus caães com algum porco polla uozaria, ou armadas, e os mon- 55 teiros am dezejo de os tornar outra uez ao monte, pol- los porcos que lhes'a la ficam, ou porque se sahem longe, os perderam logo: e dizemos perder, porque muytas uezes acontece a algúus monteiros, sahiremlhe os caães 1. as] a — acostumadas. — 2. a si] assi. — 5. so a] sob ella. — 6. fizer. —8. comsigo. — 13. hora. — 14. lhe entrelinha. —16. Cap. 4. lib. 2. — 17. do om. — 23. fizerem. — 24. hora. — 25. ouj)o — com algum porco, entrelinha. — 27. a la] alo no texto, ali glosa marginal — saem. — 29. acontesce — sayrem lhe, 1. — 289 — com o porco por tal terra que os caães som perdidos todos, ou algúus, e muyto aginha acontece a todos aquelles que assi sahem: ou dizemos ainda perder, porque em aquelle dia os monteiros os nom podem cobrar pera tornar ao monte, se lhe em elle ficam por- cos: por esta cousa que lhes assi dizemos am algúas uezes os monteiros uontade de os tomarem pollos nom perderem: e quando os assi quiserem tomar, pollos rom perderem, ponham toda sua força no andar em tal guisa, que passem todollos caães, e paremse em a trauessa por onde passou o porco, e se os poderem tomar sem lhes fazer mal, faram em ello bôa e dereita montaria, e se os nom poderem tomar senom com feri- das, absolto he qualquer monteiro que o fezer, quando lhe o porco, ou porcos lhe ficarem no monte, de lhe. dizer que o nom erra, quando assi torna com feridas pollo que ja dissemos no capitulo xilij do liuro pri- meyro. Capitulo xif, de como os monteiros “am de matar o porco de traues, em atrauessandoo. Dito auemos no começo deste liuro segundo, que antre os homêes nom auia mais grande cousa, que aquella per que poinham suas almas em auentura de seerem partidas dos corpos, que este joguo da montaria fazia aos moços poerem suas almas em tal auentura, e que por ende lhe era compridouro de seerem ensinados, por se mais compridamente guardarem de tal feito: ca seede certos que a muytos monteiros aconteceo, e acon- tecera, em quanto no mundo andarem ao monte, que por 2. alguns — acontesce. — 3, saem, — 6-7. por esta cousa... os monteiros]| texto riscado, e emenda em entrelinha. — 13, 0s] o, — = 1. xi) om. — 24. lib, 2. — 24. serem, — 28, sede — acontesceo, — 28-29. acontescerá. 9 ECT — 290 — mingua de saber, seerem feridos dos porcos, ca des que o homem he ferido do porco, nom he nenhum sabedor, se morrera, ou se uiuira de tal ferida, ca a muytos aconteceo que de muy pequenas feridas morre- rom, e outros de muy grandes guarecerom: e por se os moços guardarem, e saberem bem fazer aquello que am de fazer em no matar de porco, queremos começar a dizer como am de fazer. Ca em como quer que nos alguas uezes estas cousas fizessemos, pero nos nom uimos em todo aquello que queremos escreuer, senom pollos ditos de alguus bõos monteiros que em esto usa- rom: e sobre todos o que nos desto mais disse foy Ay- res Gonçalues de Figueyredo, que em esta cousa foy muyto usado, e prouado por bõôo monteiro em todal- las maneyras, que pode seer bôo monteiro: e por que a perfeiçom nom esta em hum homem soo, ca assi como nos achamos em esta materia mais prouado este que nenhum outro, assi pode seer, que algum outro mon- teiro auera algúa outra cousa, ou cousas mais de sobre “ esta, que este Ayres Gonçalues ouue: e por ende se a ouuer, que seia com dereita rezom, nom leixe de acre- centar, e poer em este liuro, que quanto mais os mon- teiros ouuerem arte de se guardar de seerem feridos, tanto fara mais prol aaquelles que o souberem. Ca hua das cousas per que os moços matam os porcos, assi he atrauessandoos: este atrauessar, quando se faz, atra- uessase em estes lugares, e alguas uezes em chaão | limpo, ca muytas uezes uem o porco por passar, e o monteiro atrauessao e fereo, e esto meesmo em este ou- tro lugar, quando o porco uay pera algum monte, e quando uay por algum carreyro, e ao saltar de algum 4. acontesceo — piquenas. — 11. alguns. — 12. foi. — 14. espro- bado. — 20. porem de. — 21. razon. -— 21-22. acrescentar. — 26. atravesar. — 29. atravesao — medes. PART + FA (dy sd Es é sp ad “ W Ra E o à os Id HE ria | Ro j E. E 2 0 d . s a * “a 201 corrego, e quando esta ladrando em algum lugar espesso, assi como de silueyras, ou de grandes moutas, como de aroeiras, ou outros lugares que seiam muyto espessos, e os moços nom possam entrar a elle, e queremno aten- der de fora da mouta, pollo matarem mais a seu saluo. Outro matar hi a, per que os moços matam tambem a traues, que esta o porco em hum lugar, e os moços pollo matarem mais a seu saluo, tomam os caães, e poemnos por algum dereyto carreyro pera alli, por onde “10 O porco esta, e quando o porco sahe, faz a corruda com os caães, e a hi muytos moços, que o matam assi a traues: outro matar a hi a traues, quando o porco uem por algua ladeyra. E na primeyra parte deste matar que dissemos, que o monteiro a de matar o porco em chaão, a o de fazer em esta guisa: se lhe o porco uem por passar, enderencese com elle o mais que puder, e quando ao mouer lhe quiser dar com a azcuma, nom tire aaquelle lugar, onde lhe deue dar, mais tirelhe hum espaço * mais deante, assi-como lhe quisesse dar » pollas espaldas, tirelhe antre o olho e a caluga, e assim o pode milhor acertar em aquelle lugar, onde lhe quiser dar: ca pollo ir que o porco faz, de mais quando uem por passar, se lhe tirasse mais detras, assi como nos costados, ou nas ilhargas, pollo grande correr do passar que o porco passa, poderia seer, e de força * seeria de o porco ficar errado, o que nom faz, se lhe tiram deante, como dito he. Guardemse os moços que se no campo atrauessarem o porco, que nom percam a “azcuma das maãos, que seiam bem certos, que chegam “a grande perigo, quando assi atrauessam o porco no campo, ca nos uimos a algúus moços atrauessarem 1, espesso, — 10, sahe] sal. — 15, á. — 16: enderencesse, — 21. podem — melhor. — 22. quisser. — 23. tirassem, — 31. alguns, 194 — 292 — porcos, e ao dar que lhes dauam com a azcuma, cor- tauamnos muyto, e quando o porco passaua por elles, leuaualhes a azcuma das maãos, e que pollo embargo da azcuma, e polla grande ferida que tinha, que nom passaua muyto, e como se assi tinha, tam toste que punha os olhos em elle, corria a elle, e os moços pollo campo nom se podendo delle guardar, por nom terem cousa que os amparasse, foram encalçados dos porcos, e feridos. E por que esta cousa uimos acontecer, damos de conselho a qualquer moço, que no campo assi ferir o porco de traues; que faça muyto por lhe ficar a azcuma nas mãaos, que em quanto a tiuer sera mais guardado de tal cajom. E esto meesmo dissemos, que quando acontecer, que o moço aja de atrauessar algum porco em algum monte que seia espesso, e em esto nom a outro ensino, senom aquello que ja dissemos em este meesmo capitulo, de teer a azcuma bem nas maãos, que a nom perca: e mais que quando assi ouuir uir a ladra- dura contra si, ou uir o porco, que pare bem mentes por elle em lugar que seia descuberto, pollo milhor ferir, assi como se fazem nos montes que som espessos, algúus lu- gares que o monte nom he a tanto de espesso que se leixe de ueer: e pera o monteiro milhor ueer, e ajudarse milhor de ello, se o monte for espesso em tal guisa que nom aja estes lugares, em que se possa bem ueer, tanto que ouuir a ladradura, e uir que nom pode ouuir desem- bargadamente o porco, deue parar mentes contra onde o porco uem, pera ueer se ueera bolir o monte, que o porco faça abalar, e quando o assi uir, logo se podera milhor correger pera o matar a traues: e se nom uir O monte assi abalar, pode escuytar o struido dos paãos, 9. acontescer. —13. caion — medes. — 14.ºacontescer. — 15. es- eso. — 17. medes — cap. — 21. espesos — alguns. — 22. des- 7 y peso. — 23. melhor. — 26. uer. — 31, paaos? ; IO 15 25 4 TR 1 DS PN VR PE . Ns AT O RE o ar | a e .. , V à t “ Dá : NT rd Gu à CAM É: E PO add WIy a A ba AZ dé + TU 3 y EE FRIO oi ”. iu Ho sos 293 Perito ou das aguas, ou o abalamento das pedras, por que o porco passa: ca ouuindo, muytas uezes fazemse os monteiros certos por onde o porco ueem: ca em toda “guisa que o monteiro pode fazer cousa, em que seia certo milhor, por onde o porco uenha a elle, tanto lhe sera seguro, e mais prestes pera o matar: e por esto he compridouro aos moços de se certificarem do porco, quando assi quer atrauessar per apar delles por estas guisas. * Ainda matam os moços de traues o porco, quando lhes ueem por algum carreyro, e este matar de carreyro qualquer moço que o quiser bem matar, faça em esta maneira, que lhe aqui queremos escreuer, ca seiam bem certos que quando desta guisa matarem, que sempre o mataram mais a seu saluo. Quando o moço sentir que o porco uem per algum carreyro, logo se desuie do carreyro, e metase dentro no monte, em tal guisa que nom tenha senom o ferro da azcuma na carreyro, ou sequer ametade: e quando o porco assi uier pollo carreyro, se o moço esto bem fezer, assi como escrito he aqui, que elle o feira tanto a sua uontade, “como elle no mundo quiser, de mais se o porco for fe- rido, posto que lhe leue a azcuma das maãos, nunca o monteiro pode receber mal, nem ainda que o erre: por- que quando o monteiro assi o fere, ou que o erre, o porco nom o uee, e quando nom o uee, bem esta a uista de todos, que o porco lhe nom pode mal fazer. Podem ainda os moços matar o porco de traues, ao saltar de algum ribeyro, ou de algum corrego que o porco passe, e sahe por algum porto. Se o moço uir uiir, assi como de hãa ladeyra em outra estando, se uir que lhe o porco quer passar algum regato, ou corrego por algum porto, 5. melhor, — 10. carreiro. — 15, carreiro, — 16. carreyro. — 18, carreira. — 21. mondo, — 27. travessa. — 29. sahe] sal — uiir] uiár no texto, vir glosa margínal. — 294 — assi como dito he, o moço a bem fazer perã o matáãr, tanto que uir que o porco se enderença pera o passar, logo corra a elle, quanto puder ir, em tal guisa, que se ache com elle a passada do ribeyro, ou corrego: e seiam bem cértos os monteiros que qualquer porco que assi uenha a passar, que aa de leue nunca se desuiara, senom muyto menos que o faz em outros lugares, ja se acerta o porco per que quer passar, e se o monteiro acerta com elle, nom a hi al senom darlhe por onde quiser: por ende quando os monteiros uirem uiir o porco que assi quer passar de húa ladeyra pera a ou- tra, façam assi como aqui lhes dissemos, e acharse am muyto auantajados a o matarem, se o muytas uezes prouarem. E assim meesmo matam o porco de traues, quando se esta ladrando em algum lugar espesso, assi como de silueyras, ou de moutas espessas, ou de outros lugares espessos, e a taaes, que os moços nom possam bem desembargadamente entrar: pero que quando taaes : som, muytas uezes esperam os moços de fora pera lhes sahir, e entom se o podem ferir de traues, entom o fe- . rem. Quando se o porco em tal mouta ladrar, que assi. o nom possam entrar, pera o bem fazerem, cheguemse bem junto com. a mouta, e uejam o carreyro per que de rezom lhe possa sahir, e ponhamse a traues do car- reyro, assi daquella guisa que lhe dissemos atras, e se o porco por alli sahir, podeo ferir milhor que em outro lugar. Ainda lhe soem a fazer os monteiros, e assi he bem de lhe fazerem aquelles que o poderem fazer, que tomam algúus caães se os tragem, ou se os sentem andar darredor da mouta, ou se uem errados, e poem- nos por aquelle carreyro com pequenas uozes, se os 14. medes. — 15. espeso: — 16. espesas. — 17. espesos. — 20. sair. — 24. razon — sair. — 26. sair — melhor. — 30. ueem, E gS — VS ads ho, , . a p 1 caães com * afoutamento dos monteiros que os poem, e 196 ' pollo lugar que acham desembargado, correm dereitos ao porco, e o porco quando quer fazer a esporoada com elles, sahe por aquelle carreyro com os caães, e os moços se o hi bem aguardarem, podemno bem ferir: e quando se por esta guisa o porco ladra, o matam muy- tas uezes os moços a traues, e assi o façam aquelles que o bem quiserem fazer. Matam ainda os moços o porco a traues, em uindo per algua ladeyra: quando acontecer a algum monteiro que aja de atrauessar algum porco -- em algãa ladeyra, quando o ouuer de ferir, pera milhor - omatar aseu saluo, faça muyto que lhe dee, e elle estee de cima, e o porco de fundo: ca seia bem certo, que quando lhe assi der em tal guisa.que seia de cima, e. O porco fique de so elle, que jamais delle pode receber * cajom, ca posto que o “porco seia ferido de grande ferida, ou do embargo da azcuma, quando elle ficar - alto, nunca o porco pode tornar a elle, posto que per- * desse a azcuma das maãos. E do porco que uay por algua ereita acima, ou que uay ao sopee, nos nom que- remos em ello falar, porque som semelhantes a estas ditas, em como quer que do porco, que vay polla ereita acima, mais perigoso lhe he que outro nenhum que * seia, pollo ficar, que o porco fica junto com elle quando “he ferido. t ur ferros pre pmeaio Ee dns 4 1 “Capitulo xiij, de como os moços am de matar o porco de remessa, Necessario he aos monteiros de matarem o porco de remessa, e porque lhes he compridouro de o assi mata- - 4 sahe] sal. — 7. fazam, — q. ladeira — acontescer. — 12, de e — elle estê, —13. fundo] findo, — 27. da remesa, — 296 — rem, pollo saberem fazer, pois que nos dispoemos a' lho ensinar, queremos escreuer os modos que deuem a teer aquelles monteiros que o quiserem matar de re- messa. Primeiramente dizemos que hum porco uem a hum monteiro, assi como se cada dia acontece, e quando assi uem, se uem por passar, porque aos mon- teiros he esto graue de entender, quando o porco uem. a elles por passar, ou por uiir a elles, os monteiros quando o assi uirem uiir, pera se aperceberem de am- ballas cousas, atendamno em esta guisa. Tome a azcuma assi como a tras na maão dereita, que a nom moua dalli daquelle lugar, em que a azcuma he começada, que quando o homem remessar, que daquelle lugar, onde teem a maão, arremesse, e a maão esquerda ponha deante, ora seia o polegar da maão escontra o uiso da uara onde esta o ferro, ou escontra a outra parte, onde esta, onde teem o conto, teendo a maão de- reita hum pouco alta, eeste estar assi o monteiro em atender o porco lhe he bõo, quando he em lugares ra- sos, ou limpos, no qual ainda o porco nom mostre que anda em toda sua braueza: ca no lugar que fosse muyto espesso, e ao monteiro parecesse que ja lhe o porco mostraua toda sua braueza, o qual os monteiros bem podem conhecer, quando uirem que o porco anda encalçado dos caães, e ladrandose muyto a meude, requerendo os lugares espessos, e altos do monte, em na ladradura quando a fezer sempre, acutela muyto os caães, quando o porco esta cousa faz: teuerom os mon- teiros que o porco que estas cousas fazia, era ja muyto brauo, e em tal lugar ao moço desta guisa leuar a azcu- ma nas maãos. Assí quando lhe o porco uier por 1. pois que] entrelinha. — 5. acontesce. — 12-13. em que a az- cuma... daquelle lugar] aposição marginal, — 14. arremese, — 15. hora = escontea contra. — 16. o om. — 20. no] em. — 22. es- - peso. — 24. conhescer. 25 30 1 TR o a Ra Sp SÉ Ar qui rações par omg . a Ea a VE É Dios cnc dicti so do rd Enade etica mil cd ie qse q rd o pr PER a E na t É: 8, Ff. tm Pad - Prado + nt to E) 5 o) ss ido quina Aço quo A O am E ad z r" dá , o a te "E Err PER — na » a Rd US a dn (e 80 dd e da e - * ha E / A aê Tee asd! chaão, ou por monte raso, ja quanto longueiro dos caães, a tal porco quando assi uier, ao homem * nom pode seer bem certo se uem por passar, ou por uiir a elle. A este porco deue homem de teer a azcuma nas maãos, assi como dito he, e fazlhe segurança pera milhor o poder matar: ca se o porco uem a elle de todo em todo, e elle tem a azcuma aguisadamente nas maãos pera o poder com ella bem ferir, e de mais teelo ainda na azcuma, quando lhe assi der esforçadamente, des hi se o porco passa por elle, nom quer com elle justar, logo tem a azcuma prestes pera o poder remes- sar, e assi esta proueudo pera amballas cousas, a húa pera o matar de justa, se a elle uier, e a outra pera o matar de remessa, se por elle passar. (Quando assi por elle passar, porque o porco arrede longo, quando o monteiro ouuer de remessar, nunca lhe tire a nenhãa parte do corpo, senom tam somente ao toutiço da ca- “beça, ou ainda hum pouco mais longe, e por esta guisa o podera acadar, que se lhe tirasse as cadeiras ou ainda antre amballas espadoas, a maas penas o poderia - acadar com a azcuma: ca porque o porco uay de grande ir, quando assi passa pollo monteiro, nunca o monteiro pode acadar de lhe dar com a azcuma em aquelle lugar onde lhe tira, mais quando lhe tira hum pouco deante, | elle meesmo se achega onde a de seer ferido. Por estas cousas he bõo ao monteiro, quando o porco assi uier a elle, de teer assi a azcuma nas maãos, e de tirar a estes lugares, ca em fazendoo assi, matallo a mais aginha de remessa. Ainda correm os porcos, assi como se faz em todollos montes que os homêes correm, e atra- uessam por ante algum monteiro, se o monteiro quiser 2, uiher. — 4. homem] o homem. — 11-12. remesar, — 14. re- mesa. — 15. pasar. — 19. ás. — 28. matalo. 197 — 298 — bem matar de remessa, pare mentes que uiir lhe traz o porco, que por elle quer passar, e se uir que uem muyto rijo, tirelhe hum pedaço de ante, e se uir que lhe uem mais passo, tirelhe a cabeça, ou a espadoa: e se lhe assi em cada hum destes lugares tirar como dito he, nunca o errara de o acadar, se o monteiro tiuer tal força no braço, que bem espertamente possa chegar alli por onde o porco atrauessa. Ainda hi a que algum porco sahe ante algum monteiro, e corre de ante elle, e este sahir que assi sahe ante elle, e os monteiros alguas uezes o remessam tambem desta guisa, como das outras ditas, que os monteiros o ferem de remessa. E pera esta cousa auerem de fazer, que o ajam de remessar, tiremlhe com a azcuma da- quella maneira que lhe em este capitulo falamos, quando o porco uiria por passar, e passaua por o mon- teiro, que nom queria justar com elle, e assi remes- sandoo per aquella guisa, remessallo a como deue, e o porco sera mais toste ferido. Capitulo x1117, como os monteiros am de matar o porco de justa em mouta espessa, que nom possam entrar senom de geolhos. 198 * Continuadamente ueemos fazer quando se os porcos ladram, que sempre se ladram nas mais espessas partes do monte, em que elles estam: e acontecese que quando se assi ladram, que se ladram em algúas moutas a tam espessas ou em siluados, que os montei- ros nom podem a elle entrar: des hi ainda que o quei- 1. remesa. — 4. espaldoa. — 9. saae. — 10. sair — sahe] sal. — 14. remesar, —15. cap. —18. remesalo. — 21. espesa — 22, giolhos. — 23. uiemos, — 24. esperas. — 25. acontescesse. — 27. espessas] espidas (ispidas (ispidas ?) — siluadas. Es sz La taí a SEN! Ê, pa . á R R q o 4 ' da Bom o dp Sé o ' i Wise rr DSR A E ico cota PAR PE RR TO PA à . l / Ç tê id E AU dee ni, E e e nd , RCE cancao pic DS A Rm o a K E air O E a " ias é, Bye ha ME SVPN TEAR fo Ds Ac a a ui di bx pr em qm ba a a 50 o dg DES Mi DME e A a picda ad TN ” k Rê harpa E poa! ass ram aguardar de fora pera o matarem em atrauessandoo, polla guisa que auemos dito no capitulo xij do liuro segundo. Algumas uezes filha o porco em si tal reti- mento de sahir daquella mouta, que per nenhúa guisa do mundo nom quer sahir fora aos caães, nem a outra cousa que seia: e esto faz elle muytas uezes por grande cansaço que a, ou por firmamento que filha de sua segurança, o qual estima que em aquelle lugar sera mais seguro pera nom perder sua uida, que em nenhãa outra parte. (Quando os monteiros uirem que se o porco assi retem em aquella mouta, em que esta, e que por nenhúa guisa do mundo nom quer sahir de la fora: se aquelles que assi a ella quiserem entrar a o “matar, quando a elle quiserem entrar a mayor segura- mento de si meesmos, façam em esta guisa: parem men- tes por algum carreyro, e metamse por elle, e quando assi entrarem, que osmem se o porco esta ainda longe, “ou preto delles: e se uirem que o porco esta ainda longe, que nom podera uiir a elles, entrem como milhor A puderem, quer em ambollos geolhos, quer de uentre, furando. E esto façam ata acerca donde o porco esta, “e que elles de si osmem que o porco podera ja uiir a elles: e esto podem bem saber, quando o porco podera “uiir a elles, por estas guíisas, ou em uendo, ou pollos “ caães, ca em uendo, logo por seu sembrante ueram, que quer uiir a elles, ca em esto que dissemos, que o monteiro poderia conhecer quando o porco quer uiir a elle, em como quer que hum pouco daquesto uaa fora, que começamos a dizer, de como o monteiro auia de entrar ao porco, que se ladraua em algãa mouta espes- sa, e matalo de uista. Pero a nos parece, que este 2. cap. 12 do lib. 2. — 4. sair, — 5, sair, —7, cansanço.—1 1. está, — 12. nom entrelinha — lá. — 22, ja entrelinha. — 27. conhescer» — 30-31, espessa. — 31, paresce, 199 — 300 — conhecimento de conhecer o monteiro, quando o porco quer uiir a elle, que compridouro he de o saber, a hua pera quando quiser uiir a elle, pera se fazer prestes pera o atender milhor: e a outra quando elle nom qui- sesse uilr, pera o poder matar das outras guisas, que lhe ja escreuemos no capitulo xij. Dissemos quando assi o monteiro entraua ao porco, podia conhecer por uista, ou pollos caães, quando o porco queria uiir a elles: seiam certos os monteiros, que quando se o porco assi ladra, e o uirem que pollo seu gesto o podem conhecer, se quer uiir a elle por esta guisa: se o mon- teiro uir o porco, quando assi entra a ladradura, onde se ladra, que tem o focinho baixo de junto com a terra, e as orelhas apegadas com o pescoço, e que de quando em quando aguça os dentes, este porco, ou ou- tros que assim façam, quando se ladrarem, todos, ou os demais, querem uiir ao monteiro que a elles entra: quando o monteiro a tal porco uir, percebase, ca hi nom auera al senom justar com elle. Ainda hi a mais. em esta uista, per que o podem conhecer: ca muytas uezes acontece, que tam toste que o monteiro uee o porco, e o porco esso meesmo o uee, logo aleuanta as orelhas altas de sobre os olhos, e logo a uista dos olhos moue, como de cousa que he mouida de ardi- | mento. Ardimento dizemos, porque a hi grande de- partimento entre ardimento e proeza: que ardimento chamam a qualquer homem, que com sanha mouida de coraçom, * por uingar seu despeito, sem nenhua ordem de rezom, em que he conhecer aquello que faz, se lhe uem a perigo do corpo, ou de honrra, ou de fama, ou de outra qualquer cousa, qu lr, 1.- conhescimento — conhescer — 6. cap. 12. — 7. conhescer. 11. conhescer. — 21, acontesce. — 28. despecto, — 29. razon — conhester. eai SA ae a A ca Tr Sc ad Di Ss a a E MOS » — Gai Ses SA ai a ii Ci — 3oi — senom tam somente acabar aquella cousa, que lhe a sanha daa, que quer que acabe, a este tal chamam ardi- mento : ca proeza he aquelles, que se poem em grandes feitos, e quando em elles som, som muy auisados da- Es quello que am de fazer, tambem em nas palauras, como em no trager do corpo, e a tambem des que no feito som, ferirem nos lugares que entenderem que sera sua auentagem, per que mais aginha trageram a fim aquella cousa que tem começada, e mais a sua honrra. Exem- plo por esta guisa: aquelle que algúa cousa faz por ar- dimento, sempre o faz com sanha mouida, e o que faz com proeza, he assi: hum rrey entra em hãa batalha escontra outro rrey: e os caualleiros que som de hãa parte, e da outra, nom am sanha huns dos outros, se- gundo a sanha pode seer estimada per como se deue de auer: e quando aquelle, que em tal lugar entra, faz aquella cousa bem, que a de fazer, a este dizem que o faz com proeza. É porque os porcos nom fazem a cousa por proeza, pois que dissemos que os olhos se uoluiam em doayro do ardimento, e assi como esta moue duas ou tres passadas, com as orelhas altas escontra elle. Tanto que lhe o monteiro esto uir fazer, logo se auise como aja de entender, ca seia bem certo, que quando a tal uir, e assi der aquellas duas passadas escontra elle, que logo uerra a elle tam rijo, que bem lhe parecera que nom a espaço antre donde moue, ata entrar na azcuma: ca parece a qualquer, que em aquelle tempo com elle justa, quando esta assi que os olhos nom podem filhar nenhum esmo de espaço pera o: deliberadamente poderem ueer, ca parece que tam toste nom moue, que mais aginha nom seia na azcuma, ou o k am a, 4 esmo , que re e ue e e du +. , e « a 4 Ed Qu a é DO a ted» ' ' E 4. a 3 Mm o - quem e qe Fê 2. daa, — 15. safia. - - 20. está. — 25. uerrá. — 26. parescerá. — spaço. —27. paresce, — 29. despacio. — 30. delibradamente — parescerá. — 31. non entrelinha — seija. g — 302 — com o monteiro se o erra, por esto lhe dizemos que se auise, que quando tal uir, que seia muy esperto, e muy prestes pera o auer de atender. Dissemos ainda que conheceria pollos caães: o monteiro o pode conhecer por elles, quando assi entrar que ja os caães estam antre elle e o porco, bem deue de osmar que o porco nom uerra a elle, a menos que nom passe os caães, e portanto ata que nom chegue a elles, seia certo que o porco nom uerra a elles, e por este conhecimento po- | dera entrar a elle o milhor que puder, como dissemos. Mais quando o porco assi sente ir o monteiro, ou ou- ue, e daa uolta com os caães de húãa parte pera a outra, tanto que o monteiro esto uir, logo aperte bem a azcu- ma nas maãos, e percebase muy bem de o atender, que a tanto que a uolta for feita dos caães, logo sem mais tardança sera com elle. (Quando o monteiro que “assi entrar com elle, como dissemos em este capítulo, 200 em mouta espessa, quer seia silueyra, quer outra mou- ta, que nom possa entrar a elle senom de geolhos, nom ajam por estranho de esto dizermos, que o monteiro a de entrar ao porco de geolhos, ca em esta nossa terra continuadamente o fazem os moços do monte: e quando assi entrar, e uir que o porco quer uiir a elle per aquel- les sinaaes que lhe ja dissemos, pera estar mais forte * pera o atender, correjase em esta guisa: meta o geolho diante da parte da maão, que tiuer deanteyra escontra o ferro, e a outra perna detras leuante em tal guisa, que ponha o pee no chaão que seia bem firme, e assi o atenda, que seia bem certo, quando o assi atender, que pouco menos estara de firme, que se esteuesse em am- bollos pees, e por estas guisas pode entrar a elle mais a 4. conhesceria. — 7. uerrá. — q. uerrá — conhescimento, — 10. melhor. —12. dá. — 14. percebasse. — 17. cap. — 18. espesa. — 20. estrafio. — 303 — “seu saluo que de outra guisa. Nembrese que quando assi esteuer, que tenha a azcuma nas maãos polla guisa y que lhe ao deante diremos, no lugar onde fallaremos — como o monteiro a de teer o corpo, e a azcuma nas — 5 maãos, se o fazer puder, quando justar com o porco. Capitulo x», como os mocos am de matar o porco de justa, quando ladrar em parte, onde o monteiro o nom possa ueer desembargadamente. | - Matam os monteiros o porco de justa, quando se “o esta ladrando em algum boinhal, ou monte de esteual, - que se possa bem andar. Este monte qualquer que "seia de esteual, ou de boinhal, ou carrascal, ou outro - qualquer que se possa bem andar, e que desembarga- damente possa ueer o monteiro o porco de longo, . "45 quando quiser uiir a elle: em taaes lugares os montei-, — ros que nom sabem como o am de fazer, quando assi querem entrar a elle, nom parem mentes pollo que am de fazer, e esto lhes faz fazer a mingoa de o bem nom saberem fazer, muytas uezes recebem cajoões de feri- "ao das, as quaaes algãas vezes som taaes, que os faz to- her das pernas, e dos braços, ou os faz morrer dellas: ca aquelles que esta cousa assi nom sabem, quando se em tal lugar ladra o porco, que se possa bem andar, - elles nom fazem outra cousa senom ir, por onde quer que podem mais toste chegar a elle, ora se acertem - per carreyro, ora seia fora delle: e quando assi uam - por fora do carreyro, e o porco uem a elles, sempre o monteiro esta em auentura de o poder filhar na azcu- 1. nembrasse. — 3, diante, — 10. está, — 25. hora, — 26. hora, E- — 28, está. , adiados ma. “E o porque quando elle uem pollo mato, polla uista que o monteiro nom pode auer tam clara polla espesura do mato que o cobre, e des hi porque o porco, quando se assi achega a entrada da azcuma, se lhe “pode acontecer, como muytas uezes acontece, e esta de 201 rezom que continuadamente aconteça, que a rama, e os paaos que tem polla espesura do monte, se metam antre a ponta da azcuma e o porco, o monteiro o nom pode filhar na azcuma: ca seiam bem certos os mon- teiros que esto leerem, que o mais pequeno paao que possa seer, ainda que nom seia mais groso que hum dedo, que fara errar hum porco por grande que seia em traues mais de hããa braça, e por esto faz grande perigo aos moços, quando o em tel lugar atendem, se o elles nom sabem aguardar a sua auentagem, e se entram por elle por carreyro, e o porco a tambem uem, elles logo em esse meesmo instante que o porco a elles uem, logo com elle som em perigo tambem de o errarem, como de o nom matarem. E a rezom em como *he esta de o errarem, em que os monteiros som em perigo, por esta guisa: quando o porco assi uem por carreyro, o monteiro polla espessura do monte nom pode fazer aas mestrias de teer a azcuma na maão, assi como todollos monteiros bem sabem que se deue de teer, segundo “nos adeante diremos, ca elle quando assi uem polla “carreyra, uem a tam direyto ao monteiro, que a maas penas o monteiro lhe pode dar senom dereito a cabeça, e se o erra, que azcuma aparelhe com elle, logo esta em perigo, e se lhe daa em ella, as mais das uezes des- uaira a azcuma, porque nom pode prender na cabeça: e por todas estas cousas, quando o moço assi esta com 5. acontescer — acontesce — está. — 6. razon — acontesça, — 10. piqueno. —15. nom] nos. — 17. medes, — 19. razon. — 28. está. ma. 29» dá. . - ] + r Ca ger o = VET pt teor nato tm =] RR) Pes 25305 em elle, as mais das uezes lhe sera em perigo, e mais ainda que se lhe o porco assi uem por carreyro, como dito auemos, e o moço o assi atende em meo do car- reyro, pollo porco ainda nom andar cansado, he de toda a natureza nom seer brauo, quando o assi uir no car- reyro, tam toste que o uee, logo se espanta delle, e salta de traues, e por aquella cousa o leixam os moços de matar: e pera os moços se guardarem do perigo, e outrosi pera o matarem mais assegurados, façam em | esta guisa. Quando uirem que se o porco. ladra, em tal lugar como este que sobredito he, parem mentes pollo carreyro que mais dereitamente uay por onde se o porco ladra, e esto nom no ajam os monteiros por muyto, que aa de leue se pode ladrar o porco em ne- nhum monte que seia tal, que se possa andar como dis- semos, que nom aja carreyro pera todallas partes, ora seia dos porcos, que'por elle uam, ou de ceruos, ou de qualquer outra ueaçom que seia, que no monte ande: assi como acertar aquelle carreyro, que assi uay mais dereito, por onde o porco esta, uaa a elle em tal guisa: meta o pee que uay da parte de maão que uay deante na azcuma por dentro no carreyro, e o outro pee e o corpo uaa todo metido pollo mato quer seia boinhal, quer esteual, ca esto pode elle muy bem fazer, se o monte for tal que se possa bem andar, assi como primeyra- mente dissemos. Em tal guisa uaa, que sempre leixe ao porco todo o carreyro desembargado, ou aldemenos as duas partes delle, em tal guisa que se se o porco quiser ir, nom tenha que o embargar : e entom leue a azcuma nas maãos, como diremos, e se o acertar esta * bem, que quando o monteiro acerta o porco, sempre - 6. 0] os. —7.0] os. —q. asegurados. —14. a de leue, — 20. está, 33. mato om. — 24. stebal, — 28, delles. — 30, está, 20 202 "SO — sua fazenda esta bem, e posto que o ainda erre, nunca delle pode receber cajom, que pollo carreyro que o porco leua desembargado, nunca faz conta de se teer com o monteiro, por muy brauo que ande: de mais o monteiro fica ainda coberto do monte, e polla uista que o porco delle nom ha, nunca pode fazer mal, assi como dissemos no capitulo xij deste liuro segundo: por ende os.moços que em tal lugar estiuerem, em que se o porco este ladrando, e lhe quiser entrar, façam em esta guisa que lhes aqui escreuemos, de leuarem hum pee no carreyro, e o mais do corpo no mato, e assi sempre mataram o porco as mais das uezes a seu saluo. E ainda mais, que posto que * o porco nom seia tam sa- nhudo quando acha o carreyro desembargado, posto que aja o sentimento do monteiro, nom leixa de uiir por elle, e entom o pode o moço milhor matar, e nom auer lúgar pera se desuiar do monteiro, como dissemos, que se poderia desuiar, que faria se nom uiesse muy sa- nhudo. Capitulo xvj, do que am de fazer os moços, quando o porco ladra em tal lugar, que se nom pode ueer bem, e os caães o ladram a derredor, e elle entrar. Entram os moços a ladradura do porco, quando esta em algum lugar do monte alto e espesso, que ainda que “se ande, o monteiro nom pode bem ueer o porco, e os caães todos estam a derredor delle, húus a húa parte e outros a outra, assi como se muytas uezes acontece: estam os caães a derredor do porco, assi nom todos. I. está. a. esté. — 13-14. safiudo. — 15. uir. — 16. melhor. — 18-19. safiudo. — 20. do] om. — 22. a] o. — 23. a] aa (?) — está, — 24. espeso. — 26. a]Jo. — 27. acontesce. . Io. 4 15. “2a oa : fas a jugo RS DE VE PR da e COMER SS gb sois da pr ” UM - Fa Cn egos . + . E CAR RT E ER = dude ; ao tacos do AO US e ada pa alega dg Pici ps = o ro PB DS: e “4; Raí ep e e eae Dao RR pass eo iz E rs e E DP Gere meros e. + 4 e Td À à À CEPE EE om e mid Did & — 307 — juntos com elle, mais húus estam a hãa parte, e húus estam detras, e outros deante, e outros nas ilhargas: e este estar he afastado donde o porco esta, ca acontece -que quando o porco assi esta, e os caães estam a der- redor delle, e esso meesmo arredrados, que elles quando assi estam, nom he por outra cousa, senom porque o porco os enxoualhou, ou correu com elles, ou ferio, ou pollo medo que delle am, e pollo lugar espesso, nom ousam com elle de entrar, nem de se chegar a elle: que quando o porco he grande, e ja algúas uezes correo com aquelles caães que andam com elle, aa de leue acharedes caães que se com elle queiram meter em tal monte, de mais quando se elles pollo uento seguram de elle. Dizemos que se seguram os caães do porco, porque he muy grande cousa ueer o homem, como Deus dotou os caães de tal conhecimento, que am pollo uento aquelles que bõôos som, nem ainda ao cor- rer, nem ao cheirar, que fazem com o porco de sobre o rastro, mais elles sentem pollo cheirar, quando lhe “uem pollo uento, que o porco esta ou anda. E porem dissemos, que se segura bem pollo uento, que a tanto | que o porco esta quedo, logo os caães o sabem, e por aquello se segurara do porco, e elles se poem em tal lugar, que o porco lhes nom pode empecer: e quando elles assi estam, esta he cousa muyto perigosa aos mo- ços de entrarem a elle, de mais quando o todollos caães ladram, cada hum daquelle lugar donde esta, húus de preto, c os outros de mais longe: e quando elles esta cousa fazem como assi dissemos, he muyto perigoso ao monteiro de ao porco entrar, porgue nom sabe em que lugar lhe esta, ca os caães ladram o porco, 3. acontesce. — 4. está, — 5. medes. — 8. espeso. — g. ello, — 14. el. — 16. conhescimento. —.20. está, — 22, está. — 23, segu- rará — 27, está. —3o. perigosa. — 31. está — 0] os. 203 "806 se hãus de húa parte, e outros da outra, e elles quando assi entram, nom sabem se fica detras, ou de traues: por esta cousa muytos entrarom ao porco, nom sa- bendo o que auiam de fazer, cuydando que o tinham. deante, e o porco uinha detras ou de traues, e porque o nom podiam correger, eram acutelados: e como quer que algúus monteiros saibam como esto am de fazer, pera se saberem guardar, pero nos nom somos bem certos, se o sabem todollos moços. E porque esta cousa he de grande cajom, em tal guisa, que dizem todollos monteiros que bõos som, que este he o mais duuidoso lugar pera o monteiro entrar ao porco, que outro ne- nhum que seia, e por esto o queremos poer em este liuro, pera o saberem todollos moços que este liuro leerem, e saberem fazer, o que mais segurança he pera *se de tal perigo guardarem. A cousa que todollos bõos monteiros tiuerom que se em esto poderia fazer milhor, e nos assi o teemos com elles, que assi se deue de fazer: quando o porco entrar em algum lugar de boinhal, ou em outro qualquer monte como dito he, e os caães assi estiuerem a derredor delle, e ladrarem todos a de longe, assi como dito auemos, o moço que a elle quiser entrar, pera o auer de matar mais a seu saluo, faça em esta guisa: pare mentes onde esta cada hum dos caães que estam com o porco, e ainda pera o fazer mais a seu saluo, escolha o caão que pollo seu estimar esta mais longe do porco, e leixe de ir onde esta o porco, e uaa onde esta o caão, ca se aquelle caão for, sera lhe mais seguro, que outro caão que esta mais preto do porco, poderia seer que estaria o porco antre hum e outro, e uiir assi de traues, que o moço se nom 17. melhor. —21. arredor. — 24. está. — 27. está, — 28, está. — 30. perto: — entre. --- 31. uir. p. > A IO. VU Õ Mas “Pano A aà A MI a É ADS ade e a Ei e do fria ” Ra df > > dd Le A E , — 309 — poderia delle guardar, e receberia delle cajom. Por ende lhe dissemos que era milhor de ir ao caão que esta mais arredrado do porco, e a tanto que chegar onde o caão esta, fallelhe passo, ca lhe he muy bõo de o fazer assi: ca tanto que lhe assi falla, o caão se es- força com o monteiro, e a tanto que a o esforço do monteiro, logo o caão uay dereito pera onde o porco esta, e o monteiro uaa logo em pos elle, o mais ache- gado que puder, em tal guisa que o nom perca de uista: - e quando assi for em pos elle, lhe faz tanto bem, que o porco lhe nom pode uiir senom por deante, porque o caão que uay dereyto ao porco, faz o monteiro ir de- reyto a elle, e assi o porco lhe nom pode uiir senom por deante. Ainda lhe faz muy bem, que quando assi uay chegado ao caão, que muytas uezes poem o porco — primeyramente os olhos no caão, que no monteiro, e leixa de uiir ao monteiro, e uem ao-caão, se o caão se quer tornar ao monteiro pera se acoutar a elle, o mon- teiro o fere mais a seu saluo, porem estas som bõas aos monteiros de fazerem assi, quando se em tades lu- gares o porco estiuer ladrando. ey Mu Rr Sr que e TA ARR tm ' R he toi en ra ds Wa ' . “ o. v” qr “ba: | ovo dias aà Dê au Eno a Pã à ds á dd MO * Ed o bn da o 0. Capitulo xvij, que a de fazer o moço quando entrar ao porco, nom possa senom polla ereita acima, ou assi quando uem de fundo pera cima. e a pois peão co ani dy in alo q-+ Acontece de se o porco ladrar em tal lugar, que os moços quando a elle entram, nom podem entrar senom * polla ereita acima deste lugar, que seia de tal guisa, que quando se o porco assi estiuer ladrando, que os = 4 + 1. caiom. — 2. melhor. — 4. está. — 6, ao esforço] ha o esforço, 7. caão] porco. — 8, está. — 11, diante, — 14. diante — lhe entre- linha. —1g. aj e. — 22. á. — 23, erecta — ou] o. — 24. ucem. — — 25. açontesce, — 27. erecta — acima) arriba. -——- rpg = <= o. — 310 — moços nóm possam a elle entrar, senom polla ereita. QOuueram contenda os monteiros antre si sobre tal feito, dizendo qual era mais perigoso, atender hum porco que uiesse de cima, ou atendello de fundo, ou se era mayor perigo ulir o moço de cima, e o porco ir polla ereita a 5 elle: e deziam os que tinham que era mayor perigo que o porco uiesse de cima, e os moços fossem de fundo, É que quando o porco assi uinha, era muyto perigoso a | 204 qualquer monteiro * que o atendesse, ca dizem que a tam rijo uinha o porco, quando assi uinha ao sopee ao moço, que nunca o moço a tam bem podia dar, que lhe o porco nom uiesse sobre as maãos, ou dar com elle em terra: e porque esto em cada hum dia acontecia, que esta cousa era muyto perigosa aos moços de aten- derem o porco em tal lugar: e ainda mais lhe faz em tal lugar ser perigoso, porque os moços que pollo monte andam, pollo grande andar, e pollo correr que tragem, quando assi chegam a algum lugar de ereita, por onde am de subir, que nom a hi tam bõôo moço, nem a “tam corredor, que nom mingue da sua força que a, e outrosi do bafejar, quando o porco assi uem a elle, leua a tam minguada sua força, que quando o porco assi uem de cima a elle, e justa com elle, que nom a hi al: senom seer derribado, ou ferido, o qual esta cousa nom faz, quando uem de fundo pera cima. E os outros dis- serom, que tinham a parte de o atenderem de cima pera fundo, que esto era uerdade, mas que tanto tinham de bem, que os fariam seer sem perigo grande, que | quando o porco assi uinha de cima pera fundo, eo. | moço o atendia, que por rijo que o porco uenha, assi como lhe a cajom fora, o moço desse ou lhe nom desse, ' Ko 9 SORO da CR od o di pd ER ad 1. erecta. — 5. erecta. — 13. — acontesceria. — 18. erecta. — 20, corredor] arredor. — 22. mingua da. — 30. assi] des hi(?). o porco nunca se poderia teer com elle, posto que der- ribado fosse: e se se algum tiuesse com o-moço, quando o assi derribasse, que os demais dos porcos nunca se tinham com elle: e por aquella cousa era muyto sem 5 cajom atendello de fundo pera cima, o qual nom fazia quando o porco uinha de fundo, e o monteiro: estaua de cima: que quando assi uinha, se o monteiro erraua, ou lhe daua por tal lugar, que o porco chegaua a elle, e o monteiro fosse derribado, ora fosse de húa guisa; o ou de outra, logo o porco ficaua com elle, em tal guisa, que de seer o monteiro ferido ou morto, que nunca se escusaua de hua dellas, e que por esto era muyto mais perigoso, que a outra de o atender de fundo pera cima. Ainda mais que quando o porco assi uem “5 de fundo pera cima, faz a tam maao atender a qual- ” quer que o assi atende, que nom sabe se tem a azcuma alta, se baixa: ca muytas uezes lhe parece que tema azcuma assi como deue, e polla altura em que esta, lhe fica a azcuma tam alta, que o porco lhe entra todo “ao de so ella, e as vezes tam baixa, que uem ao porco an- tre as maãos: e assi que de hãa guisa que da outra sempre he embargoso de atender, quando uay de fundo pera cima: e por todas estas cousas dizem, os que tinham esta parte, que era muyto mais perigosa que a 25 outra: e nos assi o teemos com elles, que he mais pe- — rigo atendello de cima, e ir o porco de fundo, que o atender uindo o porco de cima, e o monteiro estar de fundo : mais amostrar como o milhor poderiam atender, | o moço que estiuer em fundo faça em esta guisa, e sera 3% mais a seu saluo. Quando assi ouuer de entrar, ueja | se acha carreyro que uaa dereyto pera onde o porco 9. hora. — 13. muyto entrelinha, — 16, azeuma, — 17. paresce, — 18. está. — 24. hera. — 27. estar entrelinha. — 28. melhor. — — 31, dereito. — — Map à dd a na pod Mp cado * ba) e ti é q NA po cs esta ladrando, segundo dissemos no capitulo xv deste liuro segundo: e se o nom achar, auisese bem quando a elle for, que sempre leue cuydado, que tanto que o porco a elle uler, que a todo seu poder desuie o corpo . delle, em tal-guisa, que ora lhe dee, ora lhe nom dee, 5 que o porco nom aja lugar de topar em elle: ca seiam bem certos os monteiros que esto poderem fazer, e o. assi fezerem, que aa de leue receberam do porco cajom, 205 quando uier de cima pera fundo. * Ora descreuermos, como se o porco a de matar, quando uem de fundo 10 pera cima, nom auemos mais porque o escreuer em. este capitulo, porque no razoar que dissemos, tiuerom os monteiros antre si como foi dito, que nom compre mais de o escreuer, senom tam somente, que quando o porco assi uem de fundo pera cima, se se o moço pu- 15. desse desuiar delle, e darlhe a traues, que em esto fara cousa, em que podera receber mais pouco perigo, que todos aquelles que lhe som de rezom pera auer. ih ci cc a É dd Capitulo x»iiy, como a de justar o moço com o porco, que uem per algiia ladeyra, que seia mais . 20 a seu saluo. PEN A e e o A Ditos estes modos que auemos escrito, que os mon- teiros deuem teer, quando ouuerem de matar o porco de justa, pollos quaaes segundo nosso sentido, e des hi por aquelles que bõôos monteiros eram, que sobre taaes 25 | cousas muytas uezes lhes uimos departimentos, e uirem com elles a juizo ante outros bõôos monteiros, e auerem fim de determinamentos, e definirem aquellas cousas, 1. está. — 2. auisesse. — 3. elle] el. — 4. elle] el. — 5. dê bis. — 8. aa de] a de. — g. hora — descreueremos, — 13. como] om, — 15. ueem. — 17. poderá. — 18, razom. (E sea EA Pedi A ig. Pé sird EST dr ER E EEE SADS ET qa! k ” ad E Qd TR E me 313 — que se em este matar dos porcos poderiam fazer: os quaaes disserom, e determinarom que eram mais pro- ueitosas pera os homêes serem guardados, quando assi justassem, de seer feridos dos porcos: seguese ainda outro matar, o qual a nosso ueer, he de fermoso saber a qualquer monteiro, que o bem sabe fazer, e a qual- quer que o souber bem fazer, he lhe forçado que seia ardido, e muyto auisado, que tam toste que quiser a elle entrar, que logo lhe uenha em mente qual maão a de teer deante na azcuma, que em tal lugar a tenha, posto que o moço seia erreyro, e teer sempre húãa maão deante, ora a esquerda, ou a dereita, nom lhe seria pe- rigo de o atender, se lhe acontecesse de o atender da- quella maão que fosse dereita ou esquerda, de cada hãa que dellas ouuesse o geito, ca atendendo assi da- quella maão, de que fosse erreyro, seria lhe cajom, assi como diremos adeante. Des hi comprelhe ir pro- ueudo, que ueja em qual lugar he milhor pera o aten- der, se o puder fazer, e mais ainda corregerse do corpo e da azcuma em a teer nas maãos, segundo for — o lugar: ca creede, e sabemno bem todollos monteiros, * que em tal lugar teendo o homem a azcuma nas maãos, “que de tal guisa a tera, que se nom podem guardar de cajom, ante o recebera mais toste: e em aquelle lugar em tal guisa a podera teer, que com aguisada rezom, mom recebem cajom. Este matar que assi dizemos que “he de fermosa arte, pollo auisamento que compre ao monteiro, he quando o porco uem a traues dalgua la- * deyra. Ora quando o porco uem a traues desta la- deyra, o moço nom deue a parar mentes, quando assi uay a justar com o porco, que nom leue o conto escon- Ea aero prRá + o “7 ema " : ps Da da É dd RE o A e ar af k + A do E! + w - re aos» [ DR « <=da oo À aii cp! q — Aim k = E o q ADA cdi as - 4. seguesse. — 8, elle] el. — 10. tefia. — 11. herreyro, — — 13, acontescesse — 14. ezquerda, — 17. adiante, — 18. milhor. — 21, todos — 23, terra, — 25, a guisa da razom, es sda tra a parte de fundo polla ladeyra, mas ora aja o erro daquella maão, ou nom, faça sempre muyto por leuar a azcuma que o conto uaa: pera cima da ladeyra. E esto nos podiam dizer porque? E nos por amostrar- mos que o nom dissemos debalde, e os moços que em estas cousas nom pararom mentes, ou nom as uirom, e teerem que som palauras sem proueyto, queremoslhes dizer O proueyto, que em esto am de auer, de teer a azcuma nas maãos do conto contra cima da ladeyra, quando em tal lugar ouuessem de justar com o porco: proueytoso he aos moços de teerem assi a azcuma nas maãos, como dito he, porque sempre lhes fica de geito 206 quando dam ao porco, de o botar logo * pera fundo, que quando a azcuma assi esta, e o porco topa em elle, logo esta em parecença de o milhor poder botar, e assi esta de feito porque he de cima pera fundo, que de nenhãa outra guisa. E se o conto da azcuma esta pera fundo da ladeyra, nom esta em rezom que o a tam de ligeyro bote de fundo pera cima, como o botara de cima pera fundo, e por esto lhe he proueytoso de teer assi a azcu- ma nas maãos por seer mais guardado, e he cajom a elle de teer o conto de fundo pera a ladeyra: ca nos uos dizemos que poucos moços uimos justar com o porco, que aguisadamente fosse grande, que em tal lugar tiuessem a azcuma nas maãos com o conto pera fundo da ladeyra, que nom fossem derribados ou feri- dos, que quando elles assi justam com elle, e o conto esta pera fundo, como dito auemos, e lhe o porco topar a azcuma, a azcuma nom faz de si senom pontal, ca nom faz al senom sostido, que nom ha poder de se espedir do moço: de mais quando o porco assi bota o moço em algúa ladeyra, que assi tenha a azcuma nas 7. queremos] quera nos. — 14. está. — 15. está — melhor. — está — 17. está. — 18. razom. — 28. está. 5 10 "an so — 315 — maãos, sempre o bota de cima pera fundo, por aquella cousa os moços recebem cajom, assi como dito auemos, o qual nom faz quando tem o conto da azcuma contra cima da ladeyra, assi como dito he. Auisados deuem a seer, se o lugar for limpo, quando assi ouuerem de jus- tar com o porco, pararem mentes se poderam ueer barroca, per que o derribem, ou algua aruore, porque quando lhe derem, e uoluer o corpo, que logo possa ficar a aruore antre elles e o porco. Esto pode o moço fazer, chegárse em tal lugar, que quando assi o porco uier a elle, e topar na azcuma, que tam toste que o botar, que uaa sobre a barroca. E em esto meesmo pode fazer na aruore, ca elle pode poer o hombro da parte da maão que uay deante na azcuma, e poer o hombro na aruore ou acerca della: e como lhe o porco topar na azcuma, e o botar logo, à aruore ficara antre | elle e o porco. Estas cousas som de muy bõo auisa- mento aos moços, quando as fezerem. Ainda deuem estar muy auisados, quando assi justarem, e o milhor poderem fazer, que como lhes o porco uier acerca da azcuma, que logo mouam os corpos hum pouco pera | cima, e se o nom poderem mouer dos pees, que mo- uam do gesto do corpo, ou das maãos, em tal guisa que quando a azcuma ouuer de entrar, que entre hum pouco atrauessada: e esto he muy bõo a qualquer que o assi fezer, pollo milhor acertar, e outrosi fica milhor de o botar logo de si pera fundo, que quando o mon- teiro tem o corpo ou as maãos assi desta guisa, e esta bem auisado do que hã de fazer com bõo auisamento, logo tem a metade da auentagem pera o milhor poder botar de si: e estas cousas prouemnas os monteiros que 7. arbor. — 9. arbor. — 12. ua — medes, — 13, arbor. — 14-16. e poer o hombro... topar na azcuma] aposição marginal. -— 15. arbor, —16. arbor, — 19. melhor. — 23, gesto] resto (?). — 26. melhor bis. — 28. está. 207 =—-410-<— muyto nom souberem, e acharam que todas som bõas, e uerdadeyras, e seram guardados mais a meude, dos perigos, quando em tal lugar da ladeyra justarem com o porco. * Capitulo xviits, como o moço a de matar o orco, e / no é p quando lhe passar algíia agua pera justar com elle. Ainda hi a outro matar, per que os moços matam o porco de justa, e esto he quando os porcos passam al- gum rio, que uam a nado: muytos monteiros por min- gua de nom saberem como se auiam de matar, forom muyto feridos dos porcos, quando assi com elles jus- tauam. E porque em este liuro hua das grandes for- ças he em amostrar, em como os monteiros am de saber bem fazer as cousas, que pera este joguo compre, des hi ensinandolhas como compre de seerem guardados de cajoões, que lhes em tal joguo poderiam auiir: porem he forçado de o ensinarmos, e poermollo em este liuro. Ora quando o porco assi passa as aguas a nado, O monteiro se guarde muyto de nom leixar ao porco filhar terra, que quando lhe o porco filha terra, esta o monteiro em tal auentura, como em outro qualquer lugar que justasse com o porco. Mas quando bem quiser fazer, e o porco uier nadando, metase o mon- teiro na agua em tal guisa, que lhe dee a agua a tam alto que seia pollos peitos, que elle entenda que o porco nom podera guançar terra com os pees, e assi o aten- da: ca seia bem certo, que se o em tal lugar atender, 2. uerdadeiras. — 5. á. —10. uaam, —12. muitos. — 15. iogo. -— 17. lhes entrelinha — jogo — auiir no texto, succeder glosa mar- ginal, — 21. terras — está. — 25. dê, — 27. poderá. ER ON 20 1a) bp ENE E A cor 25 Eds SE caça E cesta atendo CRE che UE EeGUCE TE ao RR TEAR DRA E a Kan cos. “10 Fis PIA. Tops * - tm kd pd rt e me ah Fo , a h y q d bes 5 , e" lia É ph " | Mud 4 + quiere - O dd ia o Ut doom qi , Pa mer os de 4 k * — 317 — que nunca podera delle receber cajom:.e quando o assi atender, des que o tiuer na azcuma, faça muyto por lhe nom sahir della, em como quer que este sahir da az-. cuma nom lhe ual muyto, mais pois presta, nom se lhe leixa de escreuer, e prestarlhe a de o teer na azcuma por morrer mais preto da riba, e nom se lhe perdera, e sera milhor de o tirar a força, ca se lhe da azcuma sahisse, e se uoluesse pera outra parte, que em nadando poderia morrer no peego, e o peego poderia seer a tam alto, que seria maao de tirar, ou se passasse da outra. parte do rio, poderse ia com a azcuma tambem per- der: e por se nom perder ao monteiro o porco, que assi tem ferido em tal lugar, porem lhe he proueitoso de o assi teer na azcuma ata que lhe morra em ella. Capitulo xx, como o moço a de matar o porco de justa em geral, teendo a azcuma nas maãos, e corpo como a de estar. | Em como quer que nos uiessemos dizendo aquellas cousas, que segundo nosso entender podemos acadar, que aos moços do monte eram compridouras pera sa- berem bem fazer seu officio, assi como he conteudo em este liuro segundo, no qual se conteem como antre todallas cousas o monteiro a de matar o porco, e des hi pollo matar pode seer guardado de nom receber tam toste cajom do porco, com que ouuesse de justar, como se nom soubessem em como auiam de fazer. E como quer que em este matar dos porcos, lhes tocamos em como auiam de estar dos corpos, e a tambem de teer 1, poderá — del — caiom. — 3. sair bis, — 5. leixe, — 6. perderá, -— 7. melhor, — 11, hia, — 15, á, — 17. á. — 25, caiom, 208 “e o DES co a azcuma nas maãos, mais empero porque uay espa- lhado por muytas partes, cuydamos que os moços em lhes lendo pollo liuro nom o poderiam bem tomar, nem saber, quando assi ouuessem de justar com o porco, como auiam * de teer a azcuma nas maãos, e des hi a tambem teer o corpo em tal guisa que podesse justar com o porco mais a seu saluo. E cream os monteiros que este liuro leerem, que grande segurança he ao moço que a de justar com o porco, de nom receber mal do porco com que justa, quando bem sabe teer a azcuma . nas maãos, e outrosi o corpo que seia a sua auenta- gem. E porque nos capitulos escritos uem espalhadas muytas cousas destas, pensamos de as poer aqui em este capitulo. Ora assi he que muytos moços, quando querem justar com o porco, metem a azcuma de so o braço, e apertamse fortemente com ella, e pollo apertar que fazem com as maãos na uara de so o braço, esque- celhes o auisamento que am de teer pera acertar o porco, e esto esta em rezom de se assi fazer, porque aos homées a sua natureza non pode auer senom húa enten- | com, e assi esta que quando tem mentes em húãa, logo todallas outras cessam. E esto esta que assi he em dercito conhecimento, que os Physicos, quando algum homem a algum enfraquecimento, ou se afoga, que lhe | mandam atar as pernas e os braços muy fortemente, em tal guisa que os lugares atados recebam grande door, e polla door que assi recebem, a natureza que nom tem mentes senom em acorrer as partes em que recebe mayor door, leixa aquella cousa, de que assi uem aquella door, e aquelle afogamento, e aquella parte, e acorre aaquel- les atamentos: e esta cousa nom he senom porque a 9. à. — 12. Cap. 12. — espalhado. — 14. cap. — hora. — 15. des o 0. — 19. razom. — 23, conhescimento — 24. enfraquimento. — 26. dor. — 27. dor — natura. — 28. correr, — 29. dor. EE hibcirca is ” ba nt dio PO 4 Coma vrRusr uso que ho Dr a bit, deatda A Ah ie o . o DT . Vol y já 3 N “ MW - ea - ao “usa NE & MZ : rima a! 1 o natureza nom pode auer a entençom a amballas partes, ca ella como toma húãa entençom de acorrer a húa parte, logo leixa a outra de todo, ou a mayor parte. E assi quando o moço tem a azcuma nas maãos, e de so o braço, e outra entençom nom he senom de a teer, e apertar fortemente nas maãos, todallas outras cousas que som de seu auentajamento lhe esquecem, e ainda mais que nom tam somente esquecerlhe, assi como de rezom esta de se fazer aos que aquello fazem, mais ainda que estem auisados, logo estam prestes pera er- rar: e a rezom porque dissemos, que quando assi tinha apertada a azcuma de so o braço, que estaua prestes - pera errar, he por duas cousas: a primeira quando assi dem, nom podem fazer al da azcuma, nem do corpo, senom atender o porco de dereito em dereito, e quando assi atende o porco lhe amostra tam pequeno lugar, que a maas penas pode al fazer senom darlhe na ca- beça: o qual assi ferindoo na cabeça, poucas som as azcumadas que as demais nom -seiam perigosas pera o moço, a hãa pollo desuayrar, que as azcumas desuay- ram, quando assi ferem o porco na cabeça, e a outra E: polla sua regidom da cabeça polla azcumada que em ella dam, despontam, ou nom podem a tambem entrar: e quando assi desuayram, logo o porco entra de so a azcuma, e uem de sobre os moços, e logo os demais som feridos, ou derribados. A segunda cousa porque dissemos, que era mal de teer assi a azcuma de so o — braço, he porque quando o moço a assi tem, nom he se- — nom por mingua de auisamento, por nom saber aquello que a de fazer, se a tanto teem a uontade de teer a azcuma de so o braço, e de teer as maãos aperta- 1. naturaleza. — 2, ela — toma] torna — correr. — 6, todas as. 9. razom — está, —- 11, razom. — 16, piqueno. — 23. regidom no texto, dureza glosa marginal, — 24. so] soo, — 27. so 0] sobre o, — 28, a om. — 30. a (1.º)) á — 31, so 0] sobre o, 209 mim DO em das em ella, que lhe esquece todo o al que a de fazer, como dissemos: por este apertar das maãos pera ao homem nom esquecer aquello que a de fazer, he defesó; na arte de luitar a todos aquelles que o usam, que nunca façam grande conta dello em apertar nas maãos, e dizem * aquelles que esto defendem, que o homem nom pode auer em esto senom hãa entençom, segundo dissemos : que como o homem tomar hãa entençom do apertar das maãos, logo lhe esquece a força dos pees, em que esta a mestria do luitar: e por ende nos assi o defendemos por sua prol a todollos moços, que ouue- rum de justar com o porco, que nunca tenham assi a azcuma, quando com elle ouuerem de justar, de so o braço, nem apertada nas maãos, que a nosso esmar, se uinte moços justassem com uinte porcos por esta guisa, “que todos ou os mais delles fossem feridos ou derri- bados. E porque na escritura deste liuro foy sempre nossa entençom ensinar, por esto que se os moços ou- uerem de justar com elle a sua auentagem, quanto he a teerem os corpos, e outrost as azcumas nas maãos: a mayor auentagem que possam teer, façam assi em como se segue. Pare mentes a todas estas cousas que uiemos escreuendo, como am de justar com os porcos de todas guisas, e acharse am dello muyto auentajados aquelles que o assi fezerem. Mais quando ouuerem de justar com o porco, em lugar em que possam fazer toda sua uontade, tenham os corpos desta guisa: quando me- terem o pee, que for da maão da azcuma, que tem deante, "e dizemos esto de meter o pee da maão que estiuer ante da azcuma, porque muytos moços am de geito de teer a maão dereita deante, e outros a esquerda, e assi he de força pera bem fazer, que quando a maão 1. al] el(?) — 2.á. — 5. dizem o. — 7. do] de. — 10. está, — 13, so O] soo. — 23. uimos, a Er E det id à te = a = am A x 4 A rd ” = é ' = TT à me Das St dereyta for deanteyra na azcuma, que o pee dereyto seia deanteyro, e assi pollo contrairo. E quando cada hum destes pees for deanteyro, nunca o outro a todo seu — poderseiaatrauessado, em desuayramento do que he de- - 5 anteyro, mais seia a tam dereyto com o deanteyro quanto : puder seer, ca esto lhe faz grande segurança de tam toste nom receber cajom, porque quando o porco uem a elle, “e elle assi esta, se lhe acontece de o errar, nunca lhe o' . porco entra por antre as pernas, a qual cousa he a tam to certa a todollos monteiros, que quando o porco nom entra por antre as pernas ao monteiro, nunca o mon- teiro he derribado do porco, quando o assi erra: saluo se o “monteiro que com elle justa, he de tam maao coraçom, “que quando o assi erra, do uento que o porco traz, for o medo tam grande em elle, que pollo uento, e pollo topar do costado, que o porco em elle topa, elle se leixa cahir, e quando o moço nom cay, elle esta em mayor segurança de nom seer ferido. Ainda quando assi ou- - Juer de estar, deue hum pouco de teer o corpo baixo o de so a maão da azcuma que for deanteyra, e esto he — por se teer milhor, quando o golpe for grande, ca este “ abaixamento faz seer mais forte, e mais pesado a mo- * ver, que se estiuesse de outra guisa: e desta deuem de — teer os moços os corpos quando ouuerem de justar, que 5 seia pera sua auentagem, conuem a saber, as maãos na azcuma, por estas guisas que se seguem. As maãos deuem de teer que ja a azcuma seia em dereito - da cinta, em tal guisa, que nom seiam os braços muito — tendídos, nem muyto, encolheytos, e he o milhor teer » que o moço pode teer, quando assi justar com o porco, “porque pode fazer das maãos quanto elle quiser, o que A 1, dianteyra. — 4. atrauesado. — 5, dianteyro bis. — 6, ser. — 8. el — acontesce. — 17. caer — cae, — 20, so a] sobella — dian- teyra. — 21, melhor, — 25. auentajem. — 29 melhor, 21 ) es a Eacr NAS si nom faria quando tiuesse de so o braço. Ainda tem alguus moços as azcumas nas maãos, mais nom he a tam bõo como este, pero que muytos o fazem, e por 210 tal teer * matam algúus moços mais porcos, mais nom he a tam seguro, o qual he este, que metem a maão 5 esquerda deante como dissemos, e a dereyta no terço da azcuma, assi prestes como. se ouuessem de remessar: e se o porco a elle uem, e com elle quer justar, atendeo assi | ainda-que seia de mais forte uentura, ca da outra guisa que lhe ja dissemos, que era bõo teer: e se lhe o porco uem a elle por passar, logo a azcuma lhe fica prestes, pera o poder remessar: e por esta guisa ficam os mon- teiros prestes pera o poder matar de justa, ou de re- messa, e assi o matam por aquellas duas guisas. A azcuma deuem assi de teer nas maãos, que quando assi com o porco ouuer de justar, que nom seia de dereyto a dereyto com elle, senom que seia hum pouco atra-. uessado em tal guisa, que se o nom acertar por antre a cabeça e a espalda, que o acerte por todo o corpo, ca esto esta em esperiencia de seer assi esta cousa prouei-. tosa, que quando a azcuma esta assi de dereyto com o porco, por hum dedo que o erre, corre logo a azcuma toda de longo do porco, em tal guisa que o nom pode ferir: e quando tem a azcuma hum pouco atrauessada, > nunca fallece de lhe dar desde a cabeça ata as coxas, e por esto he este o milhor teer da azcuma, que os mo- cos podem teer, quando assi com elle ouuerem de justar, porque he mais aguisada cousa de o acertarem, que de outra guisa que seia. Esta cousa podem os mo- ços fazer muy de ligeyro, que quando assi ouuerem de teer a azcuma nas maãos, tenham a maão deanteyra d la Ss o b o y le ! ' Y à oii Ras ed gd + ada o , E asd, e Eee DT pa TS eo res amo cnpna ad o e k . é nP Moe | eo RT ALHO 2. alguns. — 4. alguns. — 6. diante — direita. — 7, remesar, — 8. el bis. — 12. remesar. — 13-14. remesa. — 17-18. atrauesado. — 20. está — 25. fallesce. — 26. melhor. PRE a e pd" aos hist la Rene 5 RR 4 e AS E, assi como a deuem teer, e a outra que fica detras escontra o conto, arredemna hum pouco de si, que quando a assi arredarem, logo fica atrauessada como a de estar. Ainda fazem os moços hua cousa que he muy bôa, quando justam com o porco aquelles que o bem sabem matar, e a cousa he esta: nunca atentam “que lhes o porco tope na azcuma, mais tam toste que lhes o porco uem a entrada da azcuma, logo fazem pender o corpo contra elle, e botam os braços com a azcuma que tem na maão. Esto cream os que esto leerem, que quando o moço esto faz, que o faz mais esforçado, e des hi estar mais forte pollo pendimento do corpo, que se de outra guisa estiuesse: e o botar das maãos lhe faz que lhe dee mayor azcumada, ca a azcuma corta mais pollo botar que assi bota, que se esti- uesse queda: e quando o porco assi he muyto cortado “da azcuma, faz muy grande segurança ao monteiro de nom receber delle mal: ca posto que o porco seia ani- malia bruta, tanto que se sente muyto talhado da az- cuma, nom faz delle tam grande força ao monteiro, como aquelle que he talhado pouco: e por esto lhe | fazem os moços do botar das maãos aquelles que o sabem matar, e porem aquelles que o assi | bem quise- rem fazer, façam como dito he. 3. a) as — atrauesada. — 4. á. — 5, atentem, — 8. á. —14. dee) dá — 16. corto no texto, cortado glosa marginal. — 21, ha. 21 — 324 — LIURO TERCEIRO DA MONTARIA. . Capitulo j, que os senhores am de ser bõos monteiros, e saber agasalhar os seus monteiros, de sorte que folguem de ir com elles ao monte. Pois que assi he que auemos de começar a terceira parte deste liuro da montaria, em que esta o fim, e acabamento delle, porque he grande cousa, segundo diz Beda, bem começar, e bem mear, e bem finir: e porque estas cousas se nom podem fazer sem estré- mada graça, porem nos * acorremos a ti, Senhor Deus, que es tres pessoas iguaaes, e nom departidas, hum Deus uerdadeyro, Padre, Filho, e Spirito Sancto, que moras- em morada perduravel, e em luz, ao qual nenhum pode chegar, que fezeste todo o mundo, e he em no teu pode- rio, e o reges em tua sabedoria, em tal guisa, Senhor, he que nenhúãa cousa nom he fora do teu poderio. E porque nenhum nom pode fazer, nem querer bem sem a tua estremada graça, como dito he, porem te rogamos que nom dees graça, que pois as duas partes deste liuro som acabadas, que nos ajamos poder de acabar esta terceira, em tal guisa que seia em acabamento e - aproueitamento dos monteiros, segundo as duas partes | passadas. E porque o aprender nom guarda grandeza a nenhum que seia, com tanto que nom sayba, assi que o pode fazer a outro qualquer que seia de pequena condi- com, ca de força he que qualquer que nom souber, ainda que seia de grande linhagem, ou de grande estado, se 4. seflores, e assim neste capitulo. — 11, eguaes. — 14. fizeste - he om, — 19. dês. — 25. piquena, — 27. linagem. | ps i A Li 4 É MV cit, ROÇA pf ted nt ST RE A QN RD PO Ap e E TES GR o MS | ção 15 25 sd Aro de ça á Es hs ! dis k E ue a iodo E ca ENE Sado e tgp És sms a af gas * t set e o No A nom sabe, forçado he que receba ensinamento, se qui- ser saber aquellas cousas que nom sabe, ca na humana natura nom faz departimento em estas cousas, ca assi he igual ao grande, e ao pequeno, quando nom soube- rem aquellas cousas que quiserem saber, que as ajam por ensinamento. E porque os senhores, que som cabeça, e authoridade de todos aquelles que monteiros som, que com elles andam, segundo nosso estimamento lhe escreueremos as cousas em como elles em si am de seer, e a regerem aquelles que com elles ouuerem de andar ao monte, e como no monte am de trager bõo regimento: ca das cousas, em que a de seer bõôo mon- teiro, e assi he em como a de poer bem os caães, e esso meesmo tornar as uozarias, e a tambem em no en- carnar, como em saber as armadas que bôas som, ja lho auemos dito em na parte primeira e segunda deste liuro. Ora nos conuem de lhes ensinarmos em como am de poer bem seus alaãos, e des hi fazerlhes as corrudas aquelles que os com alaãos ouuerem de matar, des hi matallo de caualo com alaão, e sem alaão, e as corrudas que auiam de fazer, quando comalaão, ou sem alaão ou- uerem de matar, todas estas cousas o senhor pode bem daprender pollo que lhe aueremos de escreuer em esta terceyra parte. Mais porque aos senhores compre pera tragerem bem a seu monte, outras cousas que non som nenhãas destas, que nas outras partes escreuemos, nem feemos de escreuer, que pera o monte nom pertençam: em como quer que com a montaria seiam conjunctas, queremos escreuer estas que aos senhores pertence de saberem fazer, e pera aquelles que as nom souberem, que as saybam. Dito he no liuro de Julio Cesar hãa 2. na] ha (a)? — 4. piqueno, — q. cousas que (?). — 12, á. — 13. á. — 14. medes. — 16, 1.º e 2.º — 17. hora, — 18, de si, — 19. matalo. — 23, deprender. — 24. 3.º = "330 == grande authoridade, que diz que todo princepe ou se- nhor, que algãa terra deua de reger, que nunca bem a pode reger, se nom for temido e amado: empero que quando alguúa destas ouuesse de desfallecer, que antes desfallecesse o amor, que o temor: e assi em 5 como esta cousa he no reger, assi compre a qualquer que seia senhor, de trager tal cautella com os seus, quando andar em este joguo, que sempre lhe compre ser amado dos seus, e de lhes amostrar bom talante, | e com boa ledice, em tal guisa que dos seus, e ainda alguus outros que nom seiam dos seus, que ao monte com elle uam, que todos ajam prazer, e outrosi bõo agasalhado de elle: e esso meesmo, que aquelles que seus forem, entendam em elle que a tal authoridade, que se o bem seruirem em este joguo, receberam delle mercee, assi em como sempre foy: he de uso dos escu- deyros, e dos moços, que com algum senhor andem que bem seia monteiro, que igualmente o delle rece- bem, e que assi tenham delle, que se o em elle bem seruirem, e lhe fezerem prazer, que ajam bõôa espe- 212 rança * de receberem delle algum bem. Esto meesmo deue teer qualquer senhor, que ao monte ouuer de “andar, tal authoridade pollos feitos que fezer, que assi como. fosse amado, assi dos seus seia temido, em tal guisa, que nom seia escudeyro, nem moço do monte, que seia a tam ousado de passar escontra aquello que lhe elle mandar fazer, ca dizem os legistas que uer- gonhosa cousa he ao emperador, e mingua de seu estado poer leis, e nom se dar a execuçom. E pois que es:a cousa assi he, semelhante he a qualquer se- nhor que monteiro seia, trager seus seruidores deste E a e 2. alguma. — 5. desfallescesse. —11. alguns. —12. uaam — pla- zer. — 13. de el — medes. — 14. el. — 15. ser uirem — jogo. — 16. merce. —18-19. recebam. — 20. plazer. — 21. medes. — 24, te- mudo. — 26. pasar. — 27-28. uergonçosa. — — ato a, e o mg Rios, me — 327 — joguo a tam desordenados, que cousa que lhes mande fazer, nom ajam delle temor, que se o nom fezerem como lhes elle mandar, que nom receberam delle pena: por ende he necessario a qualquer senhor, que a este joguo ouuer de andar, que todos os seus sentam de elle, que se elles nom fezerem aquellas cousas, que lhes elle ordenar, ou mandar, que aueram delle pena sensiuel. “Ca disserom os sabedores, que quando o rey ou prin- cipe ouuesse a algum de fazer mercee, ou lhe dar pena, pollo que fizesse, que cada hum delles auia de sentir, segundo a cousa he, ca os bôos deuem sentir a mercee, quando pollo seu bem fazer lhes he feita em tal guisa, que lhes pareça que a uontade de seu senhor he bõa, e que bem conhece o seruiço, que lhe fezerom, e que | aquello que delle receberem, sentam que se auentajam em honra, ou em grande acrescentamento de riqueza : “e assi deuem a dar a pena, quando algum mal fezerem, “deuem de sentir que seu senhor lhes he queixoso por ello, e que os tem por maaos, e des hi que a pena que lhes ouuer de dar, que seia nos corpos, ou nos bêes, dee tal sentido que o sentam bem em contrayro da sua uon- —- tade aquelles que o mal fezerem. E esta pena quando a o senhor ouuer de fazer, quanto ao spiritual, nunca a deue dar senom com doo daquelle que a receber, mais empero todauia faça por castigar aquelle que mal fezer, ca em fazendo assi certifica a todos, que qualquer que o fezer nom passara, senom como aquelle passou. E esta cousa de tragerem os senhores os seus regrados a sua — uontade, todos o deuem de fazer, e o que o nom fezer, minguara no bem fazer daquello que a de fazer. Des hi compre que conheça bem os seus, e que lhes saiba 3. el, — 4. nescessario, — 5. jogo. — 7. sentiuel. — q. mercé. — 13, paresça. — 14. conhesce. — 27. pasará — pasou, — 30, min- guará. — 31, conhesça. e 336 ss bem os nomes, e esto he bem, porque muytas uezes É acontece aos reys, e aos outros grandes principes, e : senhores, que pollo pequeno uso que am com os escu- 7 deyros que andam ao monte, e esto meesmo com os Ê moços, oluidamse lhes os nomes delles, e quando os 5 querem mandar aaquello que am de fazer, que pera este joguo pertença, nom lhes podem a tam bem dizer, moços fazede uos esto, se lhes nom sabem os nomes, em como quando dizem, tu fuaão, e tu soaão fazede tal cousa: e assi em todallas outras cousas que ouuerem o | de fazer, e esso meesmo como se disser aos moços, assi se deue de dizer aos escudeyros que forem as armadas, tu fuaão filharas tal armada, e faras em tal guisa. Ainda -* compre a qualquer rey ou principe, ou outro grande senhor, que ao monte ouuer de andar, que se auise, e 15 tenha em sua entençom, que quando assi andar ao monte, que sempre se guarde, que per aquella terra em que andar ao monte, que os moradores della nom re- cebam mal em nos corpos, e damnificacom em seus | bêes, que este he muy grande mal a qualquer rey ou | 30 principe, ou senhor, que algua terra tenha por andar 213 ao * monte, a sua terra delle receber mal ou damno, e este he bõo ensino em este liuro seer escrito, ca pro- ueitoso sera aaquelle que o tomar, e obrar como dito he. (Ca os que este liuro leerem, nom ajam esto por 35 | cousa uaydosa, que nos uiímos muytos, e ainda pensa- mos, que os demais que ao monte andam, quando assi | continuadamente a elle andam, que se nom sabem guardar, e esta cousa nom teem em sua uontade de se assi guardarem, que a sua terra per que andam ao 39 | monte, todas estas cousas padece, ou cada hua dellas, id dora caiba dd AR RD na * ata comme tn DEN is Sa een RE a iai 2. acontesce — aos (2.º) as. — 3, piqueno. — 4. medes. — Bs — 7. jogo. — 11. medes, — 27. se] se se. SE — 329 — Ainda mais cuydam algúus reys, ou principes, ou ou: tros senhores, que he grande auentagem de matarem “muitos porcos ou ueados, e por esta cousa se desorde- nam em tal guisa, que húa, e duas, e tres uezes uam ao monte, nom aguardando o tempo que seia quente ou chuiuoso, nem preto, nem quentura, nem frio, nem trabalho dos seus: e esta cousa deuem os reys, prin- cipes, e senhores muyto de guardar, que o nom façam, " ca sabido he que onde ha infinda estremidade, toda he mal, e erro de bem fazer portanto: se deuem bem guar- dar que o nom façam, e qualquer que o fezer, nunca fara bem de sua honra e fazenda. Acontece ainda al- gúas uezes aos senhores de estarem assessegados em seus desembargos, e des hi quando lhes uem a maão. com rezom os poderem leixar dizendo, uamonos desen- -fadar em andar ao monte, e des hi quando assi uam ao monte, nom aguardam tempo, assi como dito he, e des hi ainda mais começamse a soltar em joguos em tal modo, que se recorre em elles grande dissoluçom, ca som tam maaos, e tam astrosos, que aquelles que se- sudos som, ainda que O riam, sempre os tem por mal feitos. E esta cousa nom deue fazer qualquer rey, ou princepe, nem outro algum grande que seia, ca nunca se deue de desenfadar em cousa que seia fea, nem desaposta, ca por nenhúa guisa do mundo a nenhum grande que seia, nunca lhe pertence de mouer o seu bom seer em cousa que scia maa, senom todaula fazer bondade por uerdade, nem por joguo, nem por outra algúa cousa que seia. Nos nom dizemos que quando a este joguo de montaria forem, que nom joguem, riam, e filhem prazer, mais esto seia sempre em todallas aquellas cousas que bõas forem, que por joguetarem, 8. muito entrelinha. — 11, fizer. — 12, fará — honrra — acon- tesce. — 13. assesegados. — 15. razom, — 18, des] del — jogos. — 27. ser, — 30. jogo. 214 = DDD era e por rirem se possam fazer, e que das maas nom curem, porque em ellas esta erro. Certas cousas com- pre de fazerem os reys, e principes, e senhores aquellas q - ue bõas som guardemse de as fazerem. (ra compre de amostrar- mos as cousas que os senhores e monteiros de caualo deuem fazer pera seer bõôos monteiros, e som as que se seguem. “* Capitulo 17, do uestido e trajo dos monteiros. Dito nos auemos no capitulo xviij do liuro primeiro, em como era pertencente aos escudeyros que ao monte am de andar, de se tragerem bem, e como este bem trager nom estaua, senom em tragerem os trajos bem feitos, e ao tempo que compria de os tragerem: e que qualquer que andasse ao monte, que assi se poderia trager bem, como outro que se bem trouxesse, que ao monte nom andasse : e em como quer que a todo ho- mem conuenha de se trager bein, ainda aos escudeyros que andam ao monte, conuem muyto mais, e a rezom porque quanto mayor praça ha, tanto conuem mais aos homêes de se tragerem bem, e os escudeyros que anda- rem ao monte, quando a elle forem, de força he que uam em presença de algum rey, ou de algum outro senhor, que he a mayor praça que pode seer, que assi he dito em hãa glossa sobre a prophecia de Isayas, quando prophetizou da uinda dos Reys Magos, que uie- rom adorar nosso Senhor Jesu Christo, que disse que todollos de Sabba trouxerom ouro, e encenso, e falarom . do louuor de Deus: e foi desto questom, porque Isayas 1. riyrem. — 2. está. — 5. hora. — 6. sefiores, e assim neste ca-. pitulo — 10. Cap. 18 do lib.1. — 19. razom. — 21. homes, — 27. xpô. — 29. Isayas]| Isayas [disse que] (?). mas mw o) Sa 8, fpucas SRS (+ some . . Ê 4: Ectreio irado Eid a di TA ed A pi Mr PD e A o Ja AA ' RM RR PENA 4 Emei oq dr Abe Su Sa CRS PENA Sn rr Ape DU DO D es Es RA TITS au RA é ty caia 4 me É 3 ad Es ic e sie ie os ' Re E qua o gr VN pra a VN E DO AT a gr ma! A Pe GRE DO todollos de Sabba offereceriam ao Senhor, se por ui- rem os reys, que era a tam pouca gente, se era por. aquello acabada, pois disse o propheta todos, e dizem na glossa que todos uierom, que quando uierom os reys, que eram cabeça, e coudees de todo o pouo, que onde elles uinham, que por tanto era contado, que todo o pouo uinha: e assi parece, que onde el rey uay, alli uam todollos do reyno, e onde el rey uay e todollos do reyno, em aquelle reyno, onde elle he rey, nom pode seer de mayor praça, que alli onde elle esta. Por estas cousas os escudeyros que ao monte uam, he de força de estarem em tam grande praça, como dito he, a esta cousa os deue com rezom de cons- trager de se tragerem bem, e nos assi os aconselhamos que assi o façam: em como quer que este trager bem se pode partir em muytas partes, que a cada húãa com- pria de se fazer, mais empero nos nom lhe falaremos senom daquellas cousas, que a elles comprem pera tal joguo, que sera roupa, caualo, e azcuma, e treela, amostrarlhes hemos, quejandas deuem estas cousas seer aquellas que milhores forem. As roupas que ouuerem de trager, e de qual pano deuem de seer, nos nom di- zemos nenhãa cousa, ca tirando a fora panos de sirgo, que em tal joguo como este se nom deuem trager, to- “dollos panos que de lãa forem, todos se podem trager, segundo o estado daquelle que os trouxer: que assi como a hum pobre escudeyro nom lhe parecera mal de trager hum pano pardo, com tanto que o trajo seia bem feito, segundo compre pera o monte, a tambem pode trager hum rey, ou outro grande senhor que grande seia, qualquer uestido que compra pera tal officio, posto 1. todos os. — 5, caudees. — 7. paresce. — 10. está., — 13. ra- zom, — 19. será, — 20, que jandas — ser. — 21. melhores, — 25. laa. — 27. parescerá — de entrelinha, 215 SEARA fe dy que seia de escarlata, e por esto nom fallaremos nos panos, como dito he, mais de como am de ser feitos lhes diremos. Qualquer monteiro que ao monte ande, deue de trager tal trajo que lhe nom empache ao * corpo, em tal guisa que pollo mal que lhe o dito trajo fezer, leixe de fazer bem aquello a que anda: ca assi como aos homéêes de armas he dado de tragerem seus arnezes bem concertados, em tal guisa que quando forem ar- mados, e que com as armas queiram fazer algúus gran- des feitos, que por mingua de nom teerem os arnezes a tam bem concertados, nom o leixem de fazer: e esto meesmo deue o escudeyro de trager taaes trajos, que lhe nom embarguem de fazer aquello que a de fazer: os trajos que pera este mester se deuem trager, som estes, que seiam de mangas estreitas, ou de mangas de pe- queno abaldocamento, de maneyra que a anchesa dellas nom passe o quadril, e destas quanto mais pequenas som, tanto som milhores, com tanto que este seer pe- quena, nom uenha em parecer feo, e fora dos usos, e trajos que se em aquelle tempo trouxerem, ca esto pode muy bem seer, que em aquelle tempo que os homêes ao monte andarem, que os outros que no reyno forem, usaram a trager manga de luiua, e segundo o uso poderia parecer bem a qualquer que a trouxesse. Ora se o mon- teiro quisesse trager manga de luiua, que se cosesse com o braço, assi como húa manga abotoada, parece- ria a tam mal segundo as os outros usam, que nenhum a nom deue de trager, e assi em todallas outras man- gas que seiam, que as nom deuem de trager em tal disposiçom, que a elles embargue de fazer aquello que am de fazer, assi como dito he, e que seia tal que 2. panos| passos. —7. homes. —. alguns. — 12. medes. — — 13.á. — 14. trajer. — 17. piquenas. — 18. milhores. — 19. pa- rescer. — 21. homes, — 23. luiba no texto, luva glosa marginal. 24. parescer — hora, — 26-27. paresceria. 15 20 Do DR o ds Sã da a E elvis uh ias de at eps e nã St = 383 — acorde com os trajos que em aquelle tempo trouxerem, que ajam por bõos. A longura do trajo que assi trou- xerem, nom seia mais longo, que dee pollo geolho, ou des hi acima, e seia justo como anselim, ou o traga recinto: ca seiam bem certos todollos monteiros, que todo trajo que he largo, posto que seia curto, sempre embarga aos monteiros aquello que am de fazer, ca elle embarga assi ao monteiro, que em si nom parece que se faz pera seer prestes, o qual nom pa- recer lhe embarga a sua adoctaçom, que o torua de parecer pera aquello que a de fazer: mais lhe em- barga ainda que os braços o nom leixam andar a tam solto, nem a tam de desenuolto, como andaria aquelle que o nom trouxesse. Ainda mais lhe he embargo grande, assi como dito he, de costume aos monteiros de cauallo, que por muytas guisas lhes acontece de see- rem a pee, e matarem o porco por estas guisas, e por outras que escreuer nom queremos. A primeira dize- mos que continuadamente acontece aos monteiros de caualo de poerem o alaão ao porco, e o alaão nom o -* poder alcançar na armada, e quando se o porco lança no monte, o alaão se mete com elle, e filhao dentro: e dizemos que continuadamente acontece, porque muy- tas uezes acontece, e entom he de força que o mon- teiro descaualgue, e acorra a seu alaão: e se entom le- uasse a roupa larga, de força seria de o embargar, que polla espessura do monte nom poderia a tanto se ache- gar a acorrer a seu alaão, e ainda peor lhe poderia acontecer, que o porco feriria muyto o alaão em tal guisa, que chegando elle ao * alaão, o alaão o leixaria, e quando elle alli fosse embargado do corpo, e dos bra- 3. de —pello. —qg. paresce. — 11, á. — 13. desembolto, — 16, acontesce, — 19. acontesce. — 20. poeerem. — 23. acontesce, — 24. acontesce, — 27. espesura. — 29. acontescer, 216 — 334 — | ços, que bem nom pudesse fazer aquello que auia de fazer, de força seria, se nom fosse por grande milagre, que nom recebesse do porco muy grande cajom, com que se assi embaraçasse. Por todas estas cousas, e outras muytas mais, he pertencente ao monteiro de tra- ger as roupas feitas daquella guisa, que de susso lhe dissemos. O calçado que deue-trager, seiam botas, ou cafoões, e per nenhãa guisa do mundo seiam calças soladas, nem çcapatos, ca esto lhe nom parece bem, e | de mais que lhes he de pouco proueito, como sabem. 10 - Capitulo 117, quejandos am de seer os caualos, com que am de andar ao monte os monteiros. “Os caualos, aquelles que os puderem trager, deuem- nos auer fortes, e muy saãos, que nom ajam nenhãa mangueira, e da mayor ligeirice, que os elles poderem auer, e a mais principal manha que o caualo do mon- teiro deue auer, aquelle que o ouuer de buscar, he que o aja de bôa boca. Nos das outras manhas nom que-. - remos dizer, porque som bõas, porque creemos que igualmente todos as sabem: mais esta em auer o ca- ualo bõa boca, guarda muytas uezes, e as demais os. monteiros de grandes eajoões, de mais fazlhes mais aginha matar o porco: ca de cajoões que o caualo guarda seu senhor, que som muytas, e as mais princi- paaes som estas: se acontecer que elle corra com hum porco, e ante elle se acerta com algúa barroca, ou gran- “des pedras, ou ramos atrauessados, ou espessura de ar- uores, e o monteiro as nom uee, como se muytas uezes “6, suso. — 8. cafooes. —. . paresce. — 16, cauallo. —18-19. que- rem. — 24. seu] se, -- 25, acontescer — um, — 27. espesura. — 335 — acontece, senom a tam achegado comsigo, que he muy to acerca delle, e quando o caualo assi he de bôa boca, podeo parar, ou desuiar em tal guisa que escu- sara o cajom, que nom cahira, ou topara com elle, assi como soem a fazer aquelles que trazem os caualos que nom som de boôa boca, e demais matara muito milhor o porco, e este matar como he milhor nos lho diremos quando lhe escreuermos de que guisa o pode o monteiro milhor matar: deuese guardar o monteiro de nunca trager caualo de maaos sinaaes, assi como trastrauado no rostro, ou nos pees, nem de maaos re- “domoinhos, que atrauessem o coraçom, nem de outros maaos sinaaes, aquelles que no liuro de alueytaria som reprouados, ca creede que nos uimos esto, e no seu entender assi o affirma, que mais ual pera andar ao monte hum caualo que assi seia pequeno, e de pequena composiçom, que aja bõos sinaaes, que hum grande, e de grande composiçom, que aja maaos sinaaes. De- uemse guardar muyto de caualo que he espantoso, ca nos dizemos que esta he * hãa das peores manhas que 217 nenhãu caualo pode auer, que ao monte ande, ca se- jam certos os monteiros que este liuro leerem, que nos per o corpo o passamos mais de dez ou doze uezes, que fomos em perigo de morte aos porcos, senom por se nos acertar de andar em caualos espantosos: e po- rem aconselhamos aos monteiros, aquelles que o pode- rem fazer, que nunca em tal caualo ponham os pees, quanto he por andar ao monte. 1. acontesce, — 4. cahirá — topará. — 5. sooem. — 6. matará, — 7. melhor bis. —8. daremos. — q. melhor. — 10, cauallo. — 16. piqueno bis. — 19. cauallo, 1456 me “ Capitulo ij, quejandas am de seer a azcuma, e atreela, A azcuma, como nos dissemos no liuro primeiro, capitulo 11j, onde fallamos como os instrumentos dam folgança, ca o sentido do tangimento : nos ainda assi o dizemos, que tal deue de teer a azcuma que nom seia muyto leue, nem muyto pesada, e de bõo compri- mento, com todallas outras cousas que escritas som: e ainda mais alem do que escrito he, deue de seer a uara forte, e nom sabemos paao que o mais seia, que o do uimem, ou dauelãa, como dissemos no liuro segundo, onde fallamos quejandas am de seer as azcumas, que aulam de trager os monteiros, e que tragendoas assi fortes, fazemlhes grande segurança de si meesmos, e “de-seus caualos: ca nos uimos assi acontecer muytas uezes aos monteiros de tragerem as uaras das azcumas de pinhos dAlamanha, e justauam com o porco, e da uinda que o porco uinha, quebrauase muy de ligeyro a uara, e o porco ainda que fosse muy talhado da azcuma, em tal guisa que o bem acertasse o monteiro, nom lei- xaua de uir porem de so o caualo, e logo o caualo ficaua ferido do porco, e o monteiro estaua em auen- “tura de receber grande cajom:: e ainda algãus escudey- ros uimos em justando assi com o porco, como dito he, que pollo falimento da. azcuma, entraua o porco de so o caualo, e ferindo cahia o caualo morto, e algúus escudeiros daquelles que uimos, ante que se espedissem . 2. traela. — 3-4. lib. 1, cap. 3. — 5, ca oJao (2). — 11. d'aue- laão — no om. — 14. mesmos. — 15. acontescer. — 17. d'alamafia, — 23. alguns. — 24. juntando. — 26. caya — alguns. — 27. espidis- sem. 5 - asd dia a TT e Cp rp im pu 20 É El 258 he Ny Ro trad Í q aa! a RO Er E - | ! PETS apago ad by, Estad a pipas DD re do A “E, 339 as ainda mais acontece, e poucos som os monteiros, a que nom aconteça hãa uez, ou outra, de seus alaãos filha- rem o porco em tal lugar, e lhes nom poderem acorrer de caualo, assi como dito he, e poderia seer, e muytas uezes o uimos acontecer, que em querendo o monteiro * acorrer ao alaão, que em chegando elle ao porco, o porco se espedia do alaão, ou por feridas, ou por cansaço, ou por outros auiimentos, que muitas uezes acontecem: e “ quando assi acontecesse a qualquer monteiro de caualo que lhe assi ouuesse de acorrer, e leuasse a uara da “azcuma fraca, nom estaua muy * seguro que lhe nom uiesse grande cajom. Por estas cousas, e por outras muytas, que se em tal cousa como esta poderiam escre- uer, por guardarem si meesmos de cajom, lhes he muyto compridouro de tragerem as uaras fortes, ca nom a hi tal que ao monte use de andar, que se trouuer a uara fraca, que se nom ueja em grande barato do porco “por mingua da fraquidom da uara da azcuma. “Ainda deue de trager mais qualquer monteiro de caualo, que ao monte ouuer de andar, a azcuma que lhe scia bem deanteyra escontra o ferro, que quanto mais deanteyra he, tanto lhe uem mais a maão de milhor matar o porco de sobre maão, ou de justa, por qualquer guisa que o quiser matar. A treela lhe he muy compri- douro de a trager de comas de bestas caualares, que esta he a milhor que se pode fazer, assi como lhe fal- — Jamos no capitulo j do livro segundo. Ao monteiro de caualo lhe he mester que traga a treela muyto longa, e muyto curta, segundo as maneyras que tiuer pera que- rer obrar: e dizemos primeyramente que lhe compre 2. acontesce, e assim neste capitulo. — 6, o uimos entrelinha. -— Q. auijmentos no texto, acontecimentos glosa marginal. — 15. mesmos, — 16. trazerem. — 22. dianteyra bis. — 27, melhor, — 28. no liuro primeiro cap. 1. — 29, mister — traja, 22 dos caualos, uinham os porcos a elles, e feriamnos. E - 218 — 338 — - de trager a treela curta, e todauia de igual grossidom, porque ao tempo que este linro foy feito usarom algúus monteiros de meter a treela em hum paao, que elles chamam trauinca, e tomamna na maão, e a treela sahe por antre os dedos, e entom conuem que seia a treela curta, porque nom a de seer mais longa que descenda da maão ao collar, e tornar aa maão. Este he muy bõo trager da treela ao monteiro, que ouuer de andar ao monte, porque tal trager o guarda de alguas cajoões que lhe acontecem: e as cajoões que este trager guarda, som estas, que se usam a trager. As treelas em nos braços com uoltas, e quando uay atreelando com seu alaão, a algúus monteiros aconteceo, e a outros acon- tecera, se continuadamente ao monte andarem, que em atreelando, se passa o alaão a alem de algúa aruore, ou de algúa mouta, ou pedra: e entom quando o monteiro quer leixar a treela da maão, a treela daa uolta em cima do fozil, ou em si meesma em tal guisa, que empacha o correr: e quando assi faz, entom nom a hi outra cousa, senom se a treela nom quebra, todauia deue de leixar a sella, e uir cahir por cima das ancas do caualo: e esta queda he muyto desatentada, e de grande perigo, porque cahe muyto desapoderado por detras, e deste perigo o | guarda, quando a o monteiro tras na maão. Outro tra- ger a hi, que os monteiros tragem a treela, e tragemna enuolta no braço, assi como dito he, e a esto com- pre de seer muyto mais comprida, que esta outra que lhe dissemos, porque pollo emborilhamento que anda no braço, e ainda que uay ao collar do alaão, e des hi tornar aa maão, faz que a mester que a treela seia muyto mais comprida: e ainda a tragem os mon- 4. trajer, — 4. trauíca — saae. — 6. á. —7. á. — q. trazer, — 12. atraelando. — 15. atraelando — arbor. — 17. dá. — 18. mes- ma. — 23. caae. — 24-25. trazer. — 25, trazem. — 29. collo. — 30. à — mister. — 31. muyto entrelinha. M 4 o “2. div PA E + pacto eee =... rópra pi e e my sda Lo Db : | em que tm mom mm — 339 — teiros muyto mais comprida que esta: e este trager tal nom o podem fazer, senom aquelles que forem bõos * monteiros, e bem caualgantes, e estes som os que qui- serem leuar dous alaãos na treela, em tal guisa que possam soltar hum, e outro lhes ficar na treela; e quando esto quiserem fazer, entom dobrem a treela fiquem dous cabos, e em cada hum delles pode filhar seu alaão, em tal guisa que assi podera leuar dous, cada hum em seu cabo da treela, como se leuasse hum: e estes leuares todos som bõos a cada hum, se se pagar de'o fazer, e sem errar na montaria o pode fazer: ca os monteiros deuem de trager, que quando ouue- rem de trager dous alaãos, que seiam mais longas, e quando ouuerem de trager hum alaão, e a treela ouuer de andar enuolta no braço, deue seer menos curta que esta: e a que a de seer de todo curta mais pouco que esta, he a que leuer a trauinca que o monteiro ha treela que os monteiros am de trager, segundo lho prometemos a lho ensinarmos, quando em taaes guisas as quiserem trager. Mais pera saberem os monteiros qual destás he milhor pera trager, assi he a que se tras no braço enuolta pera trager hum alaão, ainda que seia periigosa, que a da trauinca, porque quando a tragem mo braço, esta treela nunca he perdida, e a que tras a trauinca muy de ligeiro se perde, e he grande erro, ca podera seer que o monte seerre em tal lugar, como se as demais uezes acontece, que o monte he de armadas, e seem em elle muytos porcos: e o escudeyro de cauallo 6. este. — q. poderá. — 10. leuase. — 13, paresce. — 19. teuer] teer. — 24. melhor. — 26. perijgosa (mais perigosa ?). — 29. poderá — ser, — 31 seem] sem. polla metade, e enuoluamna no braço, em tal guisa que | 219 nos parece que a taaes deuem de seer as treelas que - de trager na maão: desta guisa, e talhe a de seer a: — 340 — que a de guardar a armada, que tras a treela da tra- uinca, ao primeiro porco que lhe sahe, pode perder a ' treela, assi como he em disposiçom de se fazer mais a meude que de outra guisa, e daquella ida mata o por- co, ou lhe fuge: e quando recolhe seu alaão polla tre- ela, que perdeo, por nom teer treela, em que o tenha, fica toda a armada desguardada, ca elle nom pode a armada, em que arrazoadamente com o alaão possa filhar o porco, assi guardar tam bem, como se o tiuesse, ca elle com o seu caualo nom pode matar o porco, saluo se for dauentura, como o mata quando com o “seu-alaão o filha: e assi por este perdimento da treela 220 da trauinca, nom he a tam bõo trager, como o trager do braço por o perdimento que se de ligeyro perde. Capitulo v, como deuem trager os alaãos nas treelas. Ainda compre aos escudeyros que se ao monte ouue-. rem de andar, que quando forem pera o monte, que sempre leuem moços consigo, que lhes leuem seus ala- ãos presos nas treelas, aquelles que o poderem fazer, ca este leuar nas treelas, que os moços assi leuam, lhes faz muy grande bem, ca leuandoos assi guardam os “alaãos de meterem seus senhores em algãas sanhas, ca elles quando uam soltos, porque alãas uezes ueem ua- cas, ou alguus gados, am sabor de os filhar, e por. aquello os escudeyros* que os tragem, os ferem, ou ainda que os nom feiram, detemse em tal guisa que nom po- dem chegar a seu senhor: e por estas cousas recebem algúus monteiros, quando lhes acontece, grande sanha, 1. a (1.º)]á.—2. ao] a— sahe] sal, — 3. traela. — 5-6. traela. — 23, sefiores — saíias. — 28. sefior. — 29. safia, É a e por tanto por nom uiirem a tal afrontamento, he bem de os darem aos moços, que os tragam nas treelas, quando assi forem pera o monte. Mais a hi algúus escudeyros, que som de estado que nom podem leuar — 5 consigo seus moços ao monte, pera lhes leuarem seus alaãos, e foy contenda antre os monteiros, se era milhor leuarem elles meesmos os alaãos nas treelas, quando fossem pera o monte, se milhor leuallos soltos aquelles que de tal estado fossem: e desto concludirom que era ro milhor de os leuarem soltos, que nas treelas, e nos assi o temos com elles, “e a rezom porque, he esta: a mi- lhor cousa que homem pode fazer he que a sua enten- çom seia de uiir a perfeiçom daquella cousa que a de fazer: ora assi he, que se hum alaão fosse leuado na 15 treela, des que sahisse da uila ata que o escudeyro que o leuasse chegasse ao monte, nom era de duuidar, que o alaão nom fosse enfadado, e anojado de tal leuar: e porque se este anojado fosse, nom era de duuidar, que elle nom enfraquecesse pollo anojamento de sua uon- “tade, de muy gram parte do seu bem fazer, o qual he bem andar na treela, e filhar bem. E assi foy conclu- dido, que por este anojamento que os alaãos filham, que era milhor de os leuar soltos aquelles que moços nom tiuessem, que de os leuarem nas treelas, ca milhor he auer hum nojo pequeno, que fallecer aquelle escu- “ deyro que a de guardar a armada per mingua de seu alaão, nom uiir a perfeiçom daquello que a de fazer. Demais que aquellas cousas de filharem os alaãos as uacas, nom se faz cada dia continuadamente, que as de- mais das uezes uam os senhores ao monte per taaes 1. Uijrem, — 6. entre — melhor. — 7. mesmos. — 8. melhor. — 10 melhor. —11, razom. — 11-12. melhor. — 13, uijr — a (2,º)] á. — 14. hora. — 20, do] de (?), — 23, melhor. — 24. traelas — me- lhor. -- 25. fallescer. — 27. vijr— a (1.º)] 4. — a (2.9)] á. —-30, se- fiores. 22 a 342 e. lugares, que nom acham os alaãos gados, com que estas cousas façam: e por ende teemos que aquelles que moços nom tiuerem, que he milhor de os leuarem soltos, que nas treelas, quando pera o monte forem, e os que os moços tiuerem, daremnos a elles que os le- uem. Capitulo vj, como o monteiro a de teer o seu alaão -na armada pera a milhor guardar. A primeira cousa a hi, alem das cousas que ditas som, em como o escudeyro deue de teer o seu alaão na treela, ca acontece que hum alaão he a tam monteiro, e a tam bem acostumado, que elle de si meesmo guarda tam bem a armada, que homem nenhum a nom pode tam bem guardar, que elle pollo sentido, ou polla uista, ou pollo cheiro a guarda tam bem, ainda que seia muyto embargosa, que nom pode uiir ne- nhum porco, que o elle nom senta, e em o sentindo, logo o mostra aaquelle que o tem: ca elle quando o assi sente, ou uee, logo ao tirar da treela, ou pollo * ale- uantar das orelhas, ou do corpo, logo faz sembrante que o uee, ou que o sente, e o que o traz, logo per aquello conhece que o porco lhe sahe polla armada. Este alaão à tal, aquelle que o ouuer de teer na treela, sempre se deue de poer com elle em lugares altos, e em os mais desembargados, que elle poder, em tal guisa, que ne- nhúa cousa se nom atrauesse ante o alaão, de o embar- gar de fazer aquello que sabe fazer. A segunda cousa, a hi outros alaãos que am outra condiçom desuayrada desta, e nom leixam por ende de seer bõos alãaos de 3. melhor. — 4. traelas. — 7. à. — 8, melhor. — 11. traela — acontesce. —12. mesmo. — 16. uijr. — 21. ou] 0. — 22. cofiosce — Sahe] sal, — 23. traela. mo SUS rm filharem, e de guardarem bem as armadas, mais a tanto que sentem o porco, ou o ueem, logo querem correr a elle, e aquelle que o tem na treela nom o quer leyxar, porque uee que nom he tempo de lho poer: e quando o assi tem na treela, o alaão começa de se esganiçar, e dar uozes, este alaão tal nom he bõo de o teer na tre- ela em alto per a guisa deste outro, que dissemos que era bõo monteiro: mais compre a qualquer que tiuer - na treela a tal alaão como este, de se poer detras de algúus penedos ou outeyros, ou algãa mouta, por tal de o alaão nom ueer o porco quando sahe, e ainda de os: nom sentir quanto no mundo elle poder. E quando elle nenhúa destas cousas poder achar, que o nom possa fazer, atrauesse o cauallo em tal guisa, que tape a uista ao alaão, e aleuanteo per a treela, se uir que o cauallo o nom tapa, e esto seia feito quando o porco quiser sahir, ou que esta em esperança pera sahir. A terceyra cousa he, que os monteiros tem por bem de fazer ao alaão que se lhes queixa, he esta: dizem os monteiros que he bem de andarem com o alaão, e em quanto assi andarem com elle, que o alaão se lhes'nom queixara, e esto he verdade: mais a hi hãa contrarie- dade, que quando o monteiro assi anda com o alaão na treela, que seo porco sahe, ueeo, ou o ouue mais toste, que os outros que estam assessegados, e pollo ueer, ou pollo ouuir, se torna mais toste da armada: mais em como quer que assi seia, que o alaão seia tal que se nom queira calar pollas cousas que ditas auemos, que lhe deuem de fazer, nem per outra cousa que lhe façam, nom se quer calar, senom por andarem com elle: e o monteiro por tomar do mal o menos, em que esta hãa 3. traela. — 6, ter. — 6-7. traela, — 8, tiuer] o tiuer. —g. tra- ela. —10,0u) o. — 11. sahe) sal. — 15, traela, — 17. sair — está — sair. — 22. queixará. — 24. traela — saae — O (2.º)] ho, — 25. assesegados. — 31. está. 222 = 344 — parte do obrar daquelles que som auidos por sesudos: ca dizemos que em esta cousa departem que os funda- mentos dos sisos som estes, tomar do bem o milhor, e quando for forçado, tomar do mal o mais pouco: e por- que andar o-alaão em a treela he muy pouco mal, que se estar esganiçando, por tanto he milhor ao monteiro que tal alaão tiver, ante andar com elle, que se estar esganiçando na treela: ca sabudo he aos monteiros que mais arroido, e mais duuida o porco, quando o alaão se esta esganiçando na treela, que por o porco sentir o andar de * hum caualo: e por esta guisa deuem de teer os escudeyros os alaãos nas treelas, aquelles que as ar- madas ouuerem de guardar. (Quando os escudeyros que assi estiuerem na armada, e tiuerem assi os seus alaãos nas treelas, como dito he, se lhes o monte muyto durar, de mais se o dia for quente, em quanto elles puderem, deuem de catar maneyra como tenham seus alaãos aa sombra, em tal guisa que por a quentura do sol os seus alaãos nom enfraqueçam, façamno assi: . catem penedo, ou mouta, ou algãa pedra, se hi esti- uer,*e for tal que possa fazer sombra, e ali tenha seu alaão: e-ainda pode de s1, e seu caualo fazer sombra, e ali tenha seu alaão, meterse antre o sol e o seu alaão, em tal guisa que o caualo, e o corpo do monteiro dem sombra ao alaão: e por esta guisa, ainda que nom ache lugar que lhe dee sombra, por sua industria pode fazer que seu alaão auera sombra: que sabudo he que muy- tos alaãos a hi, que pollo afogamento da grande quen- tura se enfraquecem tanto, que depois de ao porco poer, nom o podem filhar, e quando elles este querer nom querem, se o alaão he bõo, nom o leixara de filhar, 3. melhor. — 5. muy] mais (?). — 6. melhor. — q. duuida a o porco (?) — douida. — 10. traela. — 18. aa] á. — 20. hi] ahi, — 21. alli, — 26, dé. n o senom por elle em si sentir tamanha fraqueza, que entende, que se o filhasse nom aueria força pera o tecer: e he bõôa cousa aos monteiros, pois sabem que aos ' alaãos o afogamento lhes faz fazer esto, que por esta guisa que dissemos, ou por outra algua, de os guar- darem que pollo afogamento nom seiam em tal dispo- siçom, que nom possam filhar o porco. Capitulo vij, como am de leuar os alaãos nas treelas, quando quiserem atalhar, e castigallos de algiias ma- nhas que filham, que embargam ao atalhar. Ja auemos dito no capitulo viij do liuro primeyro, como auiam de ensinar os alaãos, e leuallos nas treelas, pera lhes ensinar como am de andar em ellas: ali se contem todo o que importa saber ao monteiro em esto, “saluo que pera andar ao monte lhe ficam estas que ora * diremos, e a cousa primeyra he esta: todo escudeyro que seu alaão tiver nã treela, e queira atalhar hum porco “pera lhe poer seu alaão. “Quando assi ouuer de ata- “lhar, pare mentes que longura he aquelle espaço da “terra, per que a de atalhar aaquelle, e se o espaço he - pequeno, e em tal disposiçom, que possa bem leuar seu caão na treela sem se afogar, e sem cansar, leueo na treela, como no capitulo xiij dissemos: e se a terra for “tam longe por onde a de atalhar, que o nom possa fazer sem grande seu trabalho, ou de seu alaão, entom - osolte, ca mais lhe ualera de o leuar solto, que de ata- lhar assi com elle por terra muyto espessa, ou muyto longe, ca sabudo he a todollos monteiros, que mais fol- 1. tamaíia. — 2, aueria, emenda em entrelinha, — 5, alguma, — g-10. mafias, — 11. Cap. 8 do lib. 1, — 15, hora. — 20, dá. — 21. pi- queno. — 23. cap. 13, — 26. ualerá, — 27. espesa. gado uay o alaão, e mais a seu prazer quando a cor- 223 ruda he longe indo solto, que quando uay na treela: * ca pollo topar, que elle sempre vay topando pollos ma- tos, e pollos sobereyros, e pollo saltar dos barrancos que lhe compre muytas uezes de fazer, he de força que algãas uezes ua deante, e aas uegadas detras de seu do- no, € aas uezes empeçer por matos, e por pedras: e estas cousas fazem muy grande embargo aaquelle que o traz na treela, e ao alaão faz fazer grande cansaço: porem he milhor ao alaão leuallo solto o escudeyro, que de o le- var na treela, posto que lhe seia auenturado de com elle poder tomar o porco: e desto a hi húa bôa authori- dade, que se diz no liuro dos Sabedores, que mais ual auenturar, ca em certo perder: e assi a de fazer o escudeyro, que mais lhe ualera de se poer em auen- tura por mingua de seu alaão, por o nom teer em na treela, de nom poder tomar o porco, que de certo seer de o nom poder tomar por seu cansaço, e por o tra- balho do seu alaão o nom poder filhar. Mais a hi E (o) É alaãos que filham manhas, quando aquelles que os teem | querem atreelar com elles; as quaaes manhas som estas. Algúus alaãos a hi que som muy rixosos de andar na treela, e auantajamse a tanto ante o caualo todo de- reyto de longo com elle, que aquelle que os traz se embarga pollo seu andar, de fazer aquello que deue de fazer, assi como de os atalhar, ou de os bem poer. Quando o monteiro, que o tal trouuer, que assi queira correr mais do que lhe compre, posto que corra com cauallo, como. dito he: o milhor que lhe pode fazer, tireo pera si, e meta o couedo de sobre a treela em que o leua, e encurtarlha ha hum grande pedaço, e de 1-2. corrida. — 6, diante — aas] as, — 7. aas] as — empeçar — 9. ao] o. —10. melhor. —15. ualerá. — 20. mafias. — 21. atraelar. — 23, traela. — 25-24. direito. — 29. melhor. — 30, conedo. “ 15 É DS Da ESG uau pm A 20. ve AS tia :; DS am a PAC Ee Sh (LS ço CI, 30. & dy fé o DS ER ANE eRhts sia ae ig BR É A a ga dp PRE To tdo EX vá CET ga, É De a = 24] = a mais leuallo ha prestes pera o poder bem soltar pres- tes quando quizer: e quando acontecer de achar campo per que corra sem outro embargo, pode tirar o couedo de sobre a treela, e leuara o alaão mais a seu prazer, e qualquer monteiro que o assi fezer, fara em ello dereyta montaria. A hi outros alaãos, que quando andam na treela, filham outra condiçom, e he muy maa, que nom fazem outra cousa, quando os assi trazem na treela, senom atrauessaremse ante os peitos do ca- uallo: a estes taaes que esta manha am, o monteiro os nom pode emendar, senom tam somente por castigo : e este castigo, quando o assi ouuer de fazer, he de força que ponha em auentura si, ou seu alaão: e quando se assi atrauessar, o que o monteiro milhor lhe pode fazer pera o castigar, he esto, deixar o caualo ir correndo por cima do alaão, em tal guisa que o trilhe bem: e quando o alaão assi he bem trilhado, e aas uegadas, quando o caualo empeça em elle cahe, e he auentura daquelle que em elle uay, de filhar em ello cajom: e esso meesmo quando o alaão he trilhado do caualo muy- tas uezes, lhe quebram as pernas, ou os costados, * ou lhe uem por ello outro mal. Por esso dizemos, que quando se assi ouuesse de castigar, que se nom podia fazer senom com auentura delle, ou do seu alaão: em como quer que esto he a milhor cousa, que lhe so- bre esto pode fazer pera perder o alaão aquella manha, ca elle quando se assi uee trilhado, a tamanho medo de se atrauessar ante os peitos do caualo, que jamais nuncasse quer atrauessar : e quando se nom atrauessa por esta guisa, ainda que perigoso seia, nom leixa de ulir a perfeiçom de castigar o seu alaão. 2. acontescer. — 3 por — cobedo, — 4. leuará — plazer. — 9. atravesarense. — 11. Emendar. — 14. atrauesar — melhor. — 17. aas) as. —18. caae, — 20. medes. — 25. melhor. — 27. tamafio. — 28, atrauesar — 29. atrauesa. — 31, uijr. 224 ade ng Ea Capitulo viij, de conhecer quejandas som as armadas, e quantas som. Dito nos auemos no capitulo xviij do liuro primeyro, em como os moços que aprazam, deuem conhecer as armadas, que milhores som pera se filhar o porco: mais em como quer que os escudeyros que andam ao monte pollo escreuer, que ante desto he feito em o dito capi- tulo xviij, soubessem quaaes som milhores armadas, com todo esto, sem mais saber, nom poderiam uiir a sua perfeiçom. “Sabede todollos monteiros, que quanto nos podemos acadar, que as armadas nos lugares, em que. se podem poer, nom som em mais differenças que estas que se seguem, as quaaes nos diremos em este liuro adeante, segundo nossa authoridade, como os monteiros que as ouuerem de guardar, lhes am de fazer, no que lhes uem mayor perfeiçom, que no que ante desto he escrito no liuro segundo, que he de saber qual he bõa, qual he maa. As armadas de quantas differenças som, “segundo os lugares se am de poer, e segundo nossa authoridade as quaaes cuidamos que nom som mais que estas, que se ao deante diram: e os monteiros que este liuro leerem, se mais souberem, nom leixem de acre- centar em o conhecimento dellas, que quanto mais for, mais sera proueitoso: e esto dizemos nos com tal pro- testaçom, que aquelles que quiserem emendar, e acre- centar em ellas, que primeiro se prouejam com algúus bõôos monteiros, ante que as escreuam, pera ueer se he natural rezom, e proueitosa aquella cousa que elles am 1. conhescer. —3. cap. 18 do lib. 1. — 4. conhescer. — 5. me- lhores. — 7-8. cap. 18. — 8. melhores. — g. uijr. — 11. podermos, — 14. adiante. — 17. lib. 2. — 21, diante. — 22-23, acrescentar. — — 23. conhescimento. — 24. más. — 25. Emendar. — 25-26. acres- centar. — 38. razom. — 349 Ea bõo prouimento de algum, ou de algúus bõos retori- cos, em tal guisa que polla escritura da enaddiçom nom seia a tam maao retorico em a escreuer, que toda a composiçom do liuro desta parte das armadas seia leua. Esto dizemos, porque muytos homêes a hi, que querem acrecentar alguas escrituras, e o seu acre- centamento he tal, que mais corrompe a escritura, que a faz milhor: por tanto dizemos, que o faça com con- selho de bõos monteiros, quando o ouuer de fazer, em tal guisa que seia auentajada, e nom minguada, E di- zemos quando ouuesse de escreuer com acordo de bõos retoricos, porque a todos he sabudo, que todollos liuros que som de historias, ou de ensinamentos, quando nom som escritos por bôa retorica, todos quando se leem som feos no leer, e de mais se de ensinamentos he, por min- gua de retorica, os homées o nom tomam a tam bem. * Por estes desfallecimentos aconselhamos a qualquer que anhader quiser, que tenha estes dous modos susso ditos, que he filhar conselho de bôos monteiros, e no escreuer conselho de bõos retoricos. Primeiramente as som chãas e largas, e aguisadamente bem uistosas, que aquelles que as guardam, sempre osmam, que se estam bem encaualgados, e tem bõos alaãos, que se nom uiesse em grande desauentura, o porco lhes nom pode- ria por ellas fugir. A hi outras armadas, que som en- festosas: e estas armadas som em tal guisa, que se departem em duas, e húa he bôa aaquelle que a a de guardar pera estar junto com o monte, onde se o porco 1. medes, — 6. paresça. — 8, acrescentar. — 8-9. acrescenta- mento. — 10. melhor. — 16. escritas, —18, tomais. — 19. desfal- lescimentos. — 20. afiader — suso. — 23. quaes. — 24. chaas, — 28. elles. — 30,a a de] a ha de. — 31, pera] por (?). de ordenar: e esso méesmo que a tambem o façam com. corrompida, e nom pareça segundo o ordenamento que armadas quaaes som: a hi algúas armadas, e estas : IO 20 25 30 "350 is ouuer de lançar. Outras armadas a hi, que som de muyto grande espaço de correr, em tal guisa que o de caualo que a armadã ouuer de guardar, se esforce mi- “lhor, que posto que o alaão nom filhasse o porco, elle o mataria : e esta armada. assi he uistosa como a pri- meira que dissemos. A hi outras armadas, que som das pontas das uozarias, outras armadas que som de soope, assi como esta outra, mas guardamse da ponta da uozaria. A hi outras'armadas, que som de grandes ereitas, e o porco a tanto que a acaba, acha monte em que se lançar, ou acha a tam grande soope, que como corre, logo se uay em saluo, ou he assi que se salta pollas ladeyras, logo corre de soope, e a tambem se lança em saluo. A hi outras armadas, que som de ar- uoredos muyto cerrados em tal guisa, que bem pode o porco passar por elles, que o de caualo o nom pode bem ueer, se nom for de auentura. Outras armadas a hi que som de muy grandes soopees, e a tanto que o porco acaba o soope, logo se lança no monte. A hi outras armadas, que som ao longo de hãa ribey- ra, ou de algãa cheeyra, em tal guisa que o monte onde se o porco a de lançar, he a tamanho hum como o outro, e o espaçó da armada nom he mais de traues, senom quanto se o porco mais igualmente pode filhar. Outras armadas a hi, que som taaes como estas, que de cima ditas som, que se departem por algãa ribeyra, . “ou per algúa cheeyra, e som a tanto de longas, que as nom podem guardar, senom tres, ou quatro, ou mais, segundo o lugar he. A hi outras armadas, que som assaz de bõas pera os alaãos filharem o porco, empero metese húa ponta de mato, que crece pera onde esta 3-4. melhor. — 8. soopé. — ro, erectas. — 11, soopé. — 12-14. ou he assi... em saluo, aposição marginal. —13. soopé. —18. a sopees. — 19. soopé. — 22. a (1.º)] à. — 27. cheeyra] chaada. — 30. asaz. — 31. cresce — está. — 351 — o monte, e juntase a tanto com o lugar, onde se O porco a de lançar, que de rezom esta que o porco que pera alli fosse, nom poderia ser filhado. Outras arma- das a hi, que teem dous uales de guardar, pero a ar- mada toda he hua. A hi outra armada que he de muy grande longura, e corremna dous, ou tres uales gran- des, e quando se os uales ajuntam, juntamse com o outro monte, onde se o porco deue de lançar, em tal guisa que nom fica espaço, em que o alaão daguisado possa filhar o porco. * Capitulo viii, como os monteiros am de filhar as armadas. O filhamento das armadas que os monteiros am de filhar, aquelles que as bem filham, sempre param men- tes por muytas cousas, as quaaes que todas homem possa abranger, nom se podem poer em escrito, por- que som muytas, e desuayradas as cousas que os mon- teiros acham que os embarguem : e cada hãa cousa que 220 os assi embarga, a cada hãa deue o monteiro poer seu. remedio, ca nas armadas muytas uezes embarga o sol, e o uento, e esse meesmo quebradas de agua, que se fazem em tal guisa, que o monteiro nom pode fazer a corruda a sua uontade, e ainda mais as embarga a espes- sura de aruores, tremedaaes de aguas, pontas de mon- tes que entram pollas armadas, que as embargam de nom seerem em sua dereyta rezom: ca dizemos que tantas som, e de tam desuayradas guisas, que assi como dizem na Physica que os padecimentos do humor ma- E à 1. juntasse, — 2. razom. — 18. embargue. — 21, medes. — 23. corrida — mais] mas. — 24. aruores] aruoredo (?) — treme- daes. — 26, serem, — 28, padescimentos. e 352 —. E lenconico, que som infindos, que se nom podem contar; assi dizemos de estes embargos que as armadas am, que som tantos que nom podem seer contados. Pero nos em no filhamento das armadas que queremos escre- uer, lhes iremos contando aquelles que acadar podermos, em tal maneyra que segundo a armada for, distingui- | remos aquellas que nos nembrarem, que se em cada hãa das armadas poder fazer: das mais que nos em escrito nom pusermos, fiquem em discreçom dos mon- teiros, que façam em ello o milhor que puderem acadar: ca assi fazem os doctores das leys, que nunca puderam. proueer a todollos casos que a todollos homées aucem “* em seus feitos, e tiuerom que feitos os prouimentos de algúus casos, que por conjecturas fizessem os outros, que espressamente nom eram proueudos: e os monteiros e escudeyros de caualo que ao monte andam, façam. sobre ello as cousas que forem das armadas, como estos fazem, que daquelles casos que lhes forem pro- ueudos expressamente, conjecturem aquelles que lhes poderem auiir, que escritos nom som, ca de outra guisa nom poderam uiir a perfeiçom de seerem bôos montei- ros. | 1. Da armada que he grande eichãa, e larga, e bem uistosa. Dissemos, quando fallamos das armadas quejandas eram, que hi auia algãas armadas, que eram chãas, e lar- gas, e aguisadamente bem uistosas: e em estas arma- das taaes como dito he, quando as o monteiro ouuer de 10, melhor. — 11, Doctores de Leyes. — 12. todollos (1.º)] todos os aueem no texto, acontescem glossa marginal. — 14. al-. guns — conjecturar. — 15. expresamente. — 20. auijr. — 21. uijr “— serem. — 23, A numeração dos paragrijos não é dada no mas nuscrito. — 25. e om. do — 353 — filhar, ponha se em meo da armada em tal guisa, que quando a elle chegar o porco, que tenha a tam grande corruda pera o monte donde uem, como pera o monte “onde se ouuer de lançar: e este estar em a metade 5 * desta armada lhe faz grande bem, porque estando — assi em a metade da armada, como dito he, lhe faz mi- lhor a guardar: ca sabudo he a todollos monteiros, que quanto o de caualo esta arredrado donde o porco sahe, tanto milhor guarda a armada, saluo se he em algúus lugares que lhes nos diremos adeante, em que se fazem * algúas contrariedades: e ainda lhes faz mais bem, que quando assi esta na metade desta armada, que o porco lhe sahe de milhormente, ca pollo porco o nom ueer, e ; To, e des hi quando achega a elle, e lhe passa, sempre - esta mais aderençado pera o milhor poder filhar, e se “se quer tornar, ficalhe a armada abastosa, em que o * pode filhar. E sobre esto poderiam dizer os monteiros - sem fallecer, que sobre tal armada poderia auer algúas “contrariedades, as quaaes seriam estas, que logo de tras ellas seriam grandes quebradas, ou tremedaaes de aguas, * ou de algúas outras cousas, que a embargassem, e que “tal estar, se taaes cousas hi ouuesse, que nom seria bõo * ao monteiro pera filhar o porco em tal lugar. E nos * dizemos que se o algum disser, que nom dira uerdade, * mais nos em esta armada nom lhe falamos senom da ; que he chãa, em que nom aja a taaes contrariedades. * Mais a hi hãa cousa, que todo o monteiro que o bem “queira fazer, o deue de fazer, quando em tal armada Ester, e uir que o uento lhe uem ao rostro, da parte = 1. pofia se. — 3. de onde — ueem. — 4. ametade, — 6, ame- * tade, — 6-7. melhor. — 7. aguardar. — 8. sal, — 9, melhor. — “0, adiante — 12. está, —13. sal — melhormente —porco 0] o porco — uer, — 14. medes — sal, — 16, está. —19. fallescer, — 20. quaes, 21, tremedaes. — 25, dirá. A 23 227 esso meesmo pollo nom ouuir, por esso sahe mais segu- | donde os caães correm, ou lhe o uento he partido, assi como dissemos no capitulo xxviiij do liuro primeiro: entom leixe de estar na metade da armada, e cheguese pera o monte em tal guisa, que acrecente mais do longo da sua armada, e quanto mais acrecentar, tanto sa sera mais em disposiçom de filhar milhor o porco, e este chegar seia em tal guisa, que possa bem guardar a armada, ca a muytos aconteceo, que por se assi quererem chegar ao monte, que o porco saltaua por algum cabo da armada, e nom lhe podiam poer o caão senom de longe, e ante que-o encalçasse, ante se poinha o porco em saluo. Ainda seia auisado, que quando assi estiuer acerca do monte, que seia o mais encuberto que o elle puder fazer, em tal guisa que o porco o nom ueja, ca de o ouuir, em quanto taaes uentos correrem, seia o monteiro seguro de o sentir, nem de o ouuir. 2º Das armadas enfestosas, que se guardam junto com o pee da enfesta. Ainda, dissemos que auia hi outras armadas que som enfestosas, e que estas armadas se guardam de junto com o pee da enfesta, e as outras se guardam da metade da enfesta, e outras de cima da enfesta. Os 228 monteiros se quiserem * conhecer, qual he cada hãa de estas armadas que se assi am de guardar, conhecellas am per esta guisa: se o monteiro uir que o monte se estreita em tal guisa, que quando se ajunta com a ar- mada, uem com pequena cantidade de largueza, o mon- teiro quando tal armada uir, deuea de conhecer, que 6. melhor. — 8. acontesceo. — 10, can. —: 23, conhescer, — 24. conhescellas. — 27. piqueno, — 28. conhescer. — 355 — se a de guardar de junto com o monte, logo ao pee da enfesta: e outras armadas, que ja ditas som assi enfestosas, que se am de guardar de cima da enfesta, os monteiros as deuem de conhecer, que se juntam, que ellas som em contrairo de estas outras segundo dissemos, que he que chegam ao monte muy estreyto, e que estas se am de guardar ao pee da enfesta: assi quando uirem esta outra, que o monte se alarga ao pee da enfesta, entom conheçam, e tenham que se nom pode guardar senom de cima da enfesta. Ora he assi que quando o monteiro quiser tomar esta armada en- festosa, se uir que o monte se estreyta ao pee da en- “festa, ponhase em a beyra do monte a tanto junto com elle, o mais que puder, em tal guisa que o porco o nom senta: e se a armada enfestosa for tal que o monte se alargue muyto, entom se afaste fora do monte, quanto uir que podera estar pera guardar toda aquella lar- gueza do monte, a que se a armada achega, e a maas - penas se podera fazer, que o arredamento nom seia em tal guisa, que nom uenha como um triangulo, e por “ende nom deue de catar, que seia perto, nem longe, . ainda que seia tanto arredrado, que dee com as costas no monte, onde se o porco deue lançar : e desta armada qualquer monteiro que em estas armadas enfestosas ouuer de estar, façao desta guisa, e filhara bem as ar- madas quando as taaes achar. . | 3. Das armadas que som grandes de correr. A hi outras armadas, que som grandes de correr, como dissemos, que ainda que o alaão nom filhasse o 1. com, entrelinha. — 4 conhescer. — 9. conhesçam, — 10. hora, — 17. poderá. — 18. achegua, — 19. poderá — 22, arredado — dé, — 25. filhará. : 229 — 356 — porco, que elle se estreueria a o matar de caualo: e estas armadas taaes, onde se mais a meude acham, assi he nas charnecas, que som taães como as de Santarem ? b) ou outras semelhantes. Estas taaes quando o monteiro | as ouuer de filhar, nom a hi outra meestria, senom poerse em lugar, em que possa milhor ueer o porco quando sahir, em tal guisa que nom passe, que o elle nom ueja, e des hi quando lhe ouuer de poer seu alaão, que cate lugar que seia limpo, em que o alaão possa ueer. Ca porque dissemos que estas armadas de tam longo espaço se achauam de seer em nas charnecas, assi he verdade, porque as charnecas tem em si montes ale- uantados, e se ao sahir da treela o alaão o nom uisse, sempre ficaria em duuida de o poder filhar, ca creede. que quando o alaão, ainda que em tal lugar seia, que uir que o porco corre, e elle sahe da treela, e o uee, sempre faz grande auentagem ao monteiro de o poder | tomar, e os monteiros que se em taaes armadas acer- tarem, façamno desta guisa, e acharam em ello grande * aproueitamento pera tomarem o porco, * que de tal ar- “mada sahir. 4. Das armadas das pontas das uozarias. Outras armadas a hi que som das pontas das uoza-. rias, assi como dissemos no capitulo xxviij do liuro pri- meiro. Em todas estas armadas, em que se am de poer nas pontas das uozarias, nom som taaes hãas como as outras, mais empero em geral aquelle que ou- uer de tomar a armada, tomea, ora seia hãa, ora seia outra, a tam perto daquelles que falam da uozaria, que 1. estreueria] atreueria (?). — 10, uer. — 11. ser. — 13, sair. — 16. sal — ue. — 17. auentajem, — 21. sair. — 23-24. cap. 28 do ib. 1. —27. hora bis. agia põe is Ps Ei ae S EA VR; tid ai é E e) nom aja mayor delle aaquelles que falam, senom quanto a de donde esta hum homem a outro. Pero podese acontecer, que daquella parte donde os caães correm, que o monte he estreyto, e onde se o porco a de lançar, he largo: em este monte tal deue o mon- teiro bem ueer que lugar he aquelle per que se o porco lança: e se uir que no monte onde se o porco lança, mete algãa ponta do monte, que se achega aaquelte “onde se o porco a de lançar, nom se pode bem guar- dar, senom com dous monteiros, hum que guarde a ponta da uozaria, e o outro que guarde a outra ponta do monte escontra onde os caães correm: ca sabudo he a todollos monteiros, que todollos porcos desejam os mais curtos saltos que elles podem achar. Mais 5 pera se lançarem no monte, em que se querem aco- - lher, de como am de fazer os monteiros, em que se declarara milhor, esto nos diremos quando falarmos em como am de filhar -aquelle porco, e-entom lhes sera mais declarado. Mais em geral, como dito he, o mon- “ teiro que ouuer de guardar a armada da ponta da uoza- — ria, sempre esteeljunto com os homêes, assi como dito auemos: e se se no monte meter, em que os caâes cor- rem, hãa ponta escontra o monte onde se o porco a de lançar, cate outro que a guarde, que hum soo nom a poder de a guardar toda. 5. Das armadas que som de sopee, que se guardam da ponta da uozaria. - A hi outras armadas que som de sopee, assi como estas outras que dito auemos: estas quando se guar- 1. mayor [espaço|)? — 2, de donde sic — está. — 3, acontes- cer. — 7. se uir) seuir. —1o, á. — 15. se (1.º)] de. —17. declarará — melhor — quando falarmos, entrelinha. — 21. esté, — 23, á — 25. de a om. — «b. sopec] a sopce. — 28, soopee. — 358 — dam, guardamse da ponta da uozaria: e estas arma- das, ou seram onde se acaba a uozaria, que atrauessa | todo o monte, onde se o porco a de lançar, ou sera que a uozaria atrauessara todo o monte, onde o porco see, e ficara muyto mayor parte, onde se o porco a de lançar: quando esta uozaria atravessar todo o monte, o “monteiro que taaes armadas ouuer de filhar, meta as ancas do seu caualo o mais junto que elle puder com -o monte, ca este he o lugar onde elle milhor pode 230 estar, e elle meesmo sera uozaria, ca elle deue de man- dar falar aaquelles que na uozaria estam, e elle meesmo fale assi como elles: e se o monte que fica, passa mais gram peça que a uozaria, entom se ponha arredrado da uozaria, quanto possa seer hum pequeno tracto, assi como elle uir que he mais azado pera aquella cousa: ca estas cousas de as fazer assi, lhe som proueytosas.. Quando a uozaria atrauessa todo o monte, o porco que por aquella ponta * da uozaria sahe, nom lho faz senom por panear, e uoltarse aaquelle monte que esta de tras das costas da uozaria. E porque nom tem outra cre- ença senom aquella, sempre se uem achegar o mais preto da uozaria, que elle pode, e esto por fazer o salto do panear mais curto: e entom estando o: monteiro ar- redrado da uozaria, assi como em esta outra parte dis-. semos, poderia o porco saltar antre elle e os da uoza- ria, e por aquella cousa o perderiam: ca sabudo he aos monteiros, que quando o porco assi corresse, nom auia hi al senom perderse. Per ende he bõo de estarem assi com as ancas do caualo na ponta da uozaria, assi como dito he: e se o monte crecer mais que à ponta 2. atrauesa. — 4. atrauesará. — 5. ficará. — 6. atrauesar. — 9. melhor. — 10. mesmo.. — 11. mesmo. — 12. falle. — 13. pofia. — arredado. — 16. ca estas, quasi ilegivel. — 18. sal. — 23-24. ar- redado. — 30, cresçer. ss 359 — da uozaria, he lhes bôo de estarem hum pouco arredra- dos, porque quando o porco sente que o monte crece mais que a uozaria, e a uozaria torna aaquelle lugar, per que se o monte ajunta com o outro, elle nom daa por aquello muyto, estreuendose no sopee, que a de cor- rer, nom daa por sahir por qualquer lugar que seia: e porque o espaço he longo do outro monte, se o que ouuesse de guardar a armada estiuesse com as ancas ' do caualo dentro na uozaria, se o porco sahisse de longe, nom lhe poderia a tam bem acorrer, e por lhe acorrer milhor, e porque os-porcos nom fazem conta - de requerer a ponta da uozaria, por tanto he bem de “estar hum tracto arredrado. Dizem ainda os monteiros, e assi he verdade, que quando se a tal armada ouuesse de guardar, a que o monte mais crecesse, que a uo- zaria, que lhe faz muy grande bem pera auer de filhar, acrecentandolhe dous ou tres homêes pollo chaão na ponta da uozaria: e nos assi o dizemos como elles, que assi he uerdade, e qualquer monteiro que o assi fizer, sera mais auentajado pera tomar o porco, que lhe por tal armada sahir. Este estar assi nas pontas das uoza- rias assi como faz bem de seer nas armadas de sopee, assi o faz em todallas outras armadas, que da ponta da uozaria seiam: mas os de caualo am de fazer de outra guisa nas de sopee, e de outra nas que som enfestosas, e de outra nas que som chãas. 6. Das armadas que som de ereitas. E Outras armadas a hi que som de ereitas, e o porco tem a creença em cima da creita, ou a traues de 1-2, arredados, — 2, cresce, — 4. dá. — 5. soopee — á. — 6, dá — sair. — 9. saysse. —11, melhor. — 13. arredado. -—15. crescesse. — 21. Sair — 22, soopee. — 25. soopee, —27. herectas. --- 28, he- rectas. — 29. herecta — traueces, 231 — 360 — ella, ou elle quer saltar por cima da ereita, ou saltar de hum ualle em outro, assi que pera amballas partes | tem a creença em que se acolha: e esta armada he muy maa de guardar, ca nunca se pode guardar senom * com bõo alaão, e com bôo monteiro, que lha sayba muy bem filhar: e outrosi pera auer de poer bem seu alaão. Deste poer do alaão nom lhe dizemos aqui nada, ca nos lho diremos adeante: mais quando se o monteiro acertar de filhar a tal armada, se a armada ouuer estas duas corrudas, que som a húa acabar a ereita, e lan- carse logo em saluo, e a outra saltar per algúa lom- bada a traues polla ladeyra dereyta, e lançarse tambem em saluo, ponhase no traues da ladeyra da lombada, e a tam chegado a ponta do monte, que possa bem guardar amballas corrudas, pero ante escontra a cor- ruda que he da ladeyra, que a corruda que he de cima, em tal guisa que fique acima de si hum pedaço da ponta do monte, e estee em tal lugar, que sempre fique a mayor corruda que elle poder pera o seu alaão:. e este he o milhor estar que pode fazer em tal armada como esta. 7. Das armadas que som de aruoredos “muyto cerrados. A hi outras armadas que som de aruoredos muy cerrados, que embargam a uista ao monteiro que a de. guardar a armada: e em esta armada nom a outra meestria, de qualquer guisa que seia, quer seia de sopee, quer seia de chaão ou de ereita, segundo som estas outras, que lhes ditas auemos, senom fazer em ella, herecta. — 3. ambalas. — 8. adiante. — 11. a (2.º)] entre- linha — erecta. —11-12. lomba dá. — 13. ponhasse. —14. a (1.º)] á. —18. esté. — 20. melhor. — 25. a (2.º)] á. — 27. quer seja entre- linha — soopee. — 28, erecta. te ; É É Ê f Ê : — 361 — assi como em cada hãa das outras, ca em cada hiãa das que ditas auemos, pode acontecer auer muytos ar- uoredos, e o monteiro o que em ello milhor pode fazer, quando assi for de aruoredos, assi he catar o lugar que seia mais uistoso pera ueer donde o porco lhe sahe, e esso meesmo pera lhe poer seu alaão: ca. em tal ar- mada nom o pode milhor fazer, que estar em tal lugar, so condiçom que faça todallas outras cousas ditas, em cada hua das armadas ditas. é. Das armadas de grandes sopees “que se guardam de si, e nom das pontas das uogzarias. Outras armadas a hi que som de grandes sopees. A armada de sopee, quando o monteiro a ouuer de: filhar, sempre a filhe o mais achegado pera o monte, onde se o porco ouuer de lançar, mais que pera a parte, donde o porco sahe, assi que esta guisa, que a seu en- tender as duas! partes fiquem do espaço da armada escontra onde o porco sahe, e a húa depois que o porco chegar a ella pera o monte onde se a de lançar. E esto faça o monteiro quando o bem poder fazer, ca em todallas armadas nom podemos departir quantos em- bargos os monteiros podem receber: ca este estar assi no terço da armada lhe faz bem, porque depois que o porco passa os dous terços da armada de sopee, nom a al senom sahir fora: e o monteiro quando o assi uir, podese milhor auisar do que sobre esto a de fazer: ca de força he * quando o porco assi uem de sopee, que ou uerra rijo, ou passo: e porque o monteiro que a ar- mada guarda de sopee, a de fazer húa caya ao porco 3. que em ello o melhor. — 5. sal, — 6. medes, — 10, asso- pees. — 12. a hi om — asopees. — 13, assopee, — 16. sal — que (1.º)] per? — 19. elle. — 21, de partir. — 24. soopee, — 25, sair, — 26. á. — 27. ucem — sooppee, — 28, paso, — 29, soopce. 232 — 362 — que uem rijo, e outra ao porco que uem passo, cada hãa dellas a de seer a fim de o matar milhor: ca por esto lhe he bõo de estar assi no terço da armada, pera se auisar do que a de fazer, como dito auemos, 9. Das armadas que som em saltos de ribeyras, ou cheeyras, e som todas chãas e limpas. Ainda hi a outras armadas que som em saltos de ribeyras, ou cheeyras, e estas taaes som que o monte seia a tamanho de hãa parte como da outra, e som todas chãas e limpas: cada hãa destas armadas, aquelle que a ouuer de guardar, afastese a fora a tanto que possa bem ueer, que se lhe o porco sahir de húa parte do monte ao outro, que de cada hum cabo lhe possa bem poer seu alaão, e em tal lugar he o milhor em que pode o monteiro estar pera filhar a armada que tal he, ca se se ajuntasse com o monte, ainda que fosse em a metade, pollo salto que he curto, ante que lhe o alaão chegasse, pollo espaço longo donde lhe fosse posto, e o salto seer a curto, ante o porco seria posto em saluo: | e assi he bem de estarem em taaes lugares os que taaes armadas ouuerem de guardar. 4 10. Das armadas que som por algiia ribeyra, ou cheeyra, e som todauia limpas. A hi outras armadas, e som semelhantes de estas, que som por algúa ribeyra, ou per algãa cheeyra, e som todauia limpas, e estas som a tanto de longo, que as 1. ueem bis. — paso. — 2. a (1.º)] á — melhor. — 3. he om. — 4. à. — 6. cheiras. — 8. cheeiras. — 9. tamafio. — 10. aqueel. —. 11. afastase. — 12, sair. — 14. melhor, — 23. cheeira. s 5 E a; CEiriá E ES O nene E Es = Ra “e PÉ pad iii é E e E a EA » RRRCA! e “Aa es E E atom cam Rios xá 1 pa b DE io os É ag T A E — 363 — nom podem guardar senom tres ou quatro de caualo, e nom os ajam estes por muytos, ca nos uimos a taaes, e as sabemos, que se tomassem dez, ou doze, ou mais, que as nom poderiam guardar: e esta armada quando tres ou quatro que ditos auemos, a ouuerem de guar- dar, ponhamse em tal lugar, em como lhes ante disse- mos em a armada ante desta, que he estar assi arre- drado do monte que emprenda bem a poer seu alaão. Mais ainda hi a outra cousa de fazer aos de caualo que tal armada guardarem, que se nom ajuntem húus com os outros, nem outrosi que se nom arredrem longe, senom todauia em bom compasso, em tal guisa que possam .bem poer seus alaãos, e fazerem bem suas cor- rudas: porque estas cousas lhe som bõas de as fazerem assi, nos lho diremos, quando falarmos como am de poer bem seus alaãos em taaes armadas como estas, e a tambem as corrudas que lhe am de fazer. 11. Das armadas que som grandes e bôas, em que se mete algíia ponta do monte. Ainda hi a outras armadas que som assaz grandes e bõôas, pero metese algãa ponta do monte, que corre a tanto esta armada, que se quer ajuntar a tam junto com o monte, onde se o porco a de lançar, que de aguisada rezom nom pode seer * filhado em esta armada: e se esta ponta he estreyta, que o de caualo possa ligeyramente passar de hãa parte e da outra, a que elle soo abasta per amballas partes: e a tambem se o monte nom he de tam grande cadaual, ou outros montes que lhe em- 7. antes, — 7-8, arredado, — 20. asaz. — 22. junta (?) — 23 á, — 24. razon — se entrelinha, — 25. estreita — ligeiramente. — 27. ambalas. 233 barguem a uista, entom quando a tal fosse esta ponta, o milhor lugar, em que pode estar, assi he meterse em a metade do mato em aquella ponta, e todauia arre- drado hum pouco do monte, de que aquella ponta sahe em tal guisa;-que lhe fique chaão a ueer de hua: parte, e de outra hum bõo espaço: este he o milhor lugar em que pode estar em tal armada, se o monte for tal, que elle possa bem ueer o porco, e o correr. 12. Das armadas que tem dous uales de guardar, e nom se ajuntam hum com outro. As outras armadas que dissemos, que tinham dous uales de guardar. Estas armadas taaes se departem de muytas guisas, ca hãas som, que os uales se espa- lham em tal guisa, que hum nom se ajunta com o ou- tro: outros taaes a hi, que a pequeno espaço se jun- tam em algúus campos, ou cheeyras, e elles em si nom som armadas em que se o porco possa filhar, senom quando entra em aquella cheeyra. A hi outros uales. que se am de guardar, e como per cada hum delles sahe logo a armada, he pera se poder filhar : e esta ar- mada que estes dous uales tem, que se espalham, que hum nom se junta com o outro, quanto mais uam adeante onde se o porco a de lançar, tanto se mais es- palham : e estes uales taaes, ou logo som cubertos no começo do monte, e depois grande espaço sahe em ar- madas, em que se deue de filhar, ou sera que como sahir do monte, que se podera filhar. Nos creemos bem que todollos monteiros sabem, como se am de filhar 2. melhor. — 3-4. arredado. — 4. saae. — 6. melhor —12. guardar] parece faltar: som estas, ou semelhante. — taes. — 16. alguns. — 20, sal. — 23, adiante, — 25. sal. — 27. saír. 10. 20 p 158 E 25. Tenda ds Ga Lo di pa BEM SN, mia id ' a di e li AREAS Di a SL À SA Dm o OO estas armadas, pero nos nom lhe leixaremos de escre- uer, porque segundo nos ja alguas uezes dissemos, nom teriamos que o liuro iria comprido, se todallas cousas nom posessemos em elle, a tambem das que nom som usadas, como das que som usadas de se saberem. Ca se algum nom souber algua cousa destas, que usadas. som, e por este liunro as souber, proueito lhe uira, ca pera os que as sabem, nom foy nossa entençom de as aqui escreuer: em como quer que sobre semelhantes. cousas auemos hum fermoso dito do Crispo Acurio, quando falaua a Julio Cesar, que lhe preguntaua pollas puridades do rio Nilo, e dezialhe: como quer que tu, Cesar, seias entendido e muyto sabedor, nom te leixa- rey eu de falar em estas cousas, que me preguntas, que sabudo he que bôa cousa he ao caualo, posto que seia muyto aguçoso, poer húa uez as espolas na carreyra, e qualquer que he * sabedor falarem nasua sabedoria: e nos bem creemos, que ainda que os monteiros estas cousas saibam, que se leerem este liuro, nom lhes pe- sara de o achar em elle escrito. (Ora quando estes ua- les ouuerem de guardar, que se assi espalham, a mes- ter de se poerem' em a metade da lombada, que se departe em ambollos uales, quer seiam os uales taaes que logo os possam filhar, ou seiam que logo como sahir do monte, que se nom possam filhar senom a grande espaço. A este lugar da metade que dizemos, deue de guardar o monteiro, que seia assi uistoso, que lhe nom possa sahir o porco, que o elle nom ueja, posto que o lugar seia espesso do monte, em que elle ouuer de estar, ca mais lhe ual estar em lugar espesso, e poder bem guardar a armada, que nom em lugar chaão, 3. terriamos. — q. virá — 11. perguntaba. — 14. perguntas. — 19-20, pesará. —20. hora, — 21. á, — 23. ambolos. — 25, sair, — 28. sair. — 30, espeso., 234 — 366 — e nom seer a tam uistoso, ca pera este guardamento dos uales, a mais nobre cousa que he que o monteiro possa fazer, assi he estar em lugar que seia de grande uista. Dos outros uales que dissemos, que logo que saya o porco, que lôgo se podia filhar, em este lugar a tam- bem, em que o monteiro milhor pode estar, assi he em a metade, em tanto que a guardem bem, que o lugar. seia a tal, em que milhor possa poer seu alaão. Dos outros uales que nos dissemos, que se carrauam sobre algua cheeyra, a estes dizemos, que o milhor lugar em que pode estar, assi he aquelle em, que se cerra a ponta dos uales, demais pois lhe fica a armada, em que pode bem filhar o porco, e em estes, e em todollos outros lugares, sempre o monteiro que a armada ouuer de guardar, sempre em geral tenha esto de catar lugar em que aja de estar, que seia uistoso e auentajado pera poer bem seu alaão, pera o poder bem filhar, e outrosi fazer bem a corruda, 13. Das armadas em que ha tres ou quatro uales de guardar, e ajuntamse todos cerca do monte onde se o porco lança. - Ainda dissemos que auia hi outras armadas, em que auia tres ou quatro uales de guardar, e que se ajuntauam todos cerca do monte, onde se o porco auia de lançar, e estes uales ou seram espessos, ou seram todos limpos: os de caualo os nom podem guardar, ainda que seia junto com o monte, onde se o porco ouuer de lançar: e como quer que nom posessemos aqui estas duas 2. noble. — 6. melhor, — 8, melhor. —10. o] em o — melhor. 15. geeral, — 19.3 ou 4. — 23,3 ou 4. — 25. espesos. — 28, pos- sesemos. distinçoões, espesso e limpo, nom entendemos de falar em ello, senom quando lhe dissermos, em como o monteiro a de poer seu alaão, e da corruda que lhe a de fazer: e entom lhe falaremos nos uales que som limpos, ca dos que som de monte espesso nom lhe falaremos nenhãa cousa, e os monteiros que em taaes lugares estiuerem, façam em ello o milhor que pude- rem, ca nos nunca uimos em tal lugar que assi fosse espesso, filhar o porco, saluo se he de auentura. Capitulo x, como o monteiro a de poer o alaão ao porco quando lhe sahir polla armada, e as corrudas que lhe a de fazer. . * Depois do que escreuemos, de como se am de filhar as armadas, pera seguir nossos correlarios deste liuro, que som todas as partes ditas no liuro primeiro e se- gundo e no terceiro ata aqui escrito, fica de saber aos monteiros ainda algãas cousas, as quaes som estas: a primeira he como o monteiro a de poer bem seu alaão, e a segunda as corrudas que lhe a de fazer: ca cream os monteiros que este liuro leerem, que pera matar o porco, ora seia com alaão, ora sem alaão, outrosi lançallo fora do monte, que húãa das grandes meestrias, que em todo liuro da montaria a, he em fazer bem as corrudas: e creede que o monteiro que as corrudas nom sabe bem fazer, que nunca matara bem o porco, saluo se for dauentura: e esta auentura traz seu nome proprio consigo, que aquello que dauentura he, poucas uezes acontece, daquellas cousas, que se fazem, nunca se 1. espeso. — 3. á. — 4. á — ualles, — 5, espeso. — 7, melhor. — (),. espeso. — 11, sair. — 12. á, — 15-16, lib. 1. e 2. eno 3, — 16, ataqui. — 19. a (2.º)] á. — 21. hora bis. — 22, lança lo — mestrias. — 24. corrudas (2.º)] corridas. — 25, matará, — 26, uen- tura. — 27. aquelle, — 28, acontesce. 235 — 368 — chamam fazer dauentura, senom daquelle que as nom sabe fazer: e se se lhe acerta de fazer algua cousa daquellas cousas, de que elle he falido ou do saber, ou do poder: e quando assi algua cousa faz, entom lhe dizem que he dauentura: e por esto dizemos nos, que aquelle que as corrudas nom souber fazer, que nunca matara o porco, se nom for de auentura, e a tam pou- cos seram os que matar, que dauentura sera chamado, se algúus por elle forem mortos. Em como quer que estas duas cousas de poer bem o alaão som tam con- juntas, que em si nom recebem espaço, que a tanto -que o de caualo poem o alaão, logo lhe conuem de correr, assi como ao deante diremos nos lugares, e tempos em que se a de fazer: ca lugares e tempos a hi, que se o monteiro fezer bem aquello que a de fazer, primeiro lhe conuem de correr, ante que lhe ponha seu alaão: e outras uezes a hi que primeyro lhe deue poer seu alaão, ante que lhe corra : por estas cousas nos fala- remos agora juntamente em como o monteiro a de poer seu alaão, e em poendolho, como a de fazer as corru-: das: ou como ante que o ponha, a de correr, e depois da corruda, ou em na corruda, como lhe a de poer o alaão, ca todo esto he a tam conjunto, que se nom pode tam bem declarar, que como se disser a hãa, que logo conuem de se dizer a outra, e por esto lhe falaremos assi de amballas juntas: ca de matar o porco de caualo, sem alaão, ou fora do monte, adeante' lho diremos apartado, cada hum sobre si. 5. deuentura. — 7. matará. — 10. alguns — depois de alaão, parece faltarem as palavras: e de fazer as corrudas. — 13, diante. —- 14. á. — 15. á, — 21, á. — 26, ambas. — 27, adiante, cbr puá AS fre alta dia NERD sa nao o q E EM F EE E: o É Era 2 a Ja iê Es NE Te A 1. Da armada que he grande e chãa. Em na primeyra armada que dissemos, que era larga e chãa, e arrezoadamente bem uistosa, se acontecer que o porco saya por tal armada, e se torna ao monte, 5 ou se tornara preto do monteiro que a armada * guarda, ou se tornara grande tracto ante que chegue a elle: se de preto lhe tornar, em tal guisa que lhe pode bem poer seu alaão de alli onde esta, entom lhe tire a treela, — e façalhe assi como se por elle passasse, e se for de io longe que lhe nom pode bem poer seu alaão, senom em correndolhe, leixeo tornar, e nom lhe ponha o alaão, ca esta he a milhor montaria que lhe pode fazer, ca elle em correndolhe, a de leue nunca o tomara: e se O leixar ir, ainda pode seer que lhe saya por aquella 15 armada, ca muytas uezes acontece que hum porco sahe por hua armada, e des que uay hum espaço sem embargo de nenhãa cousa, senom por sua uontade, se uolue pera o monte: e esto uedes uos bem, monteiros, em cada hum dia, que hum porco see em hum monte, e sahe delle per sua uontade, e panea de fora, e torna * - aaquelle monte meesmo, de que sahio: e assi como per * sua uontade faz esto que dito auemos, de uiir polla ar- mada, e de se tornar pera o monte, posto que nom aja algum embargo per que o deua fazer. E o monteiro que se em esta armada estiuer, quando o assi uir tor- nar de longe pera o monte, leixco ir assi como dito auemos, e fara em ello bôa montaria. A primeira cousa he porque elle bem uee, que o nom pode matar: 3. acontescer, — 5, tornará. — 6. tornará — el, — 8, está, — 9. el. — 13. tomará. — 15, acontesce — saae — 19. hum (2.º)] un. — 20, saae. — 21. medes — sayo, — 22. uijr — 25, uijr, 24 236 LPQdO ba | e a segunda por nom perder seu alaão, o qual ligeira- mente poderia perder, se lhe tirasse a treela: e a ter- ceira podera acontecer, porque o porco se tornou por sua uontade, que se lhe os caães correm bem, que auera uontade outra uez de sahir por aquella armada, 5 e entom o podera filhar: e por todas estas cousas fara bôa montaria em no assi fazer. Dito uos auemos em como a armada, que fosse grande e chãa, como o monteiro que a guardasse, auia de estar em a metade della: ou se os uentos fossem de rostro, ou partidos, 10 como era mais proueitoso de se achegar ao monte, que de estar em a metade: e se o porco sahir polla armada, atenda a tanto com seu alaão na treela, que o porco passe por elle: e quando ouuer de poer o alaão, seo | porco uier achegado, a tanto que lhe o alaão seia bem 15) posto, logo alli onde estiver lhe tire a treela, ca cream que he muy embargoso a filhar o porco a quem quer que correr primeyro. E saibam todollos monteiros que este liuro leerem, que se puserem o alaão ao porco, ante que o alaão chegue a elle, ou ainda no começo 20 que lhe corre o de caualo a tam rijo, que se meta antre | o porco e o alaão, ainda que a armada seia muyto comprida: e posto que o seu alaão seia muyto ligeyro, se elle entrar antre o porco e o alaão, jamais nunca o seu alaão lhe passara deante, saluo se for de auentura, 25 e por esto nom deue correr quando lhe poser o alaão: e des que uir que o alaão se enderença bem com o |. porco, entom lhe corra, e faça em guisa quanto elle 237 puder, que usa bem achegado com o alaão, * mas nom | - ja que em nenhãa guisa passe, todauia falandolhe, e 30 esforçandoo assi, e per aquella guisa que lhe dissemos 3. poderã — acontescer. — 5. sair. — 6. poderá. — 9. aguardasse, - 10. della. — 13. sair. — 16. treella. — 18. primeiro, —2o0, el. -- 23. ligeiro. — 25. passará. — 31. dissemos. . . DE a Dm "eim 371 ma -no capitulo iij do liuro primeyro, que assi como os álaãos “nouos he bem de os esforçarem, assi he bem de o fazer a qualquer alaão, ainda que seia uelho. E se lhe o porco sahir ja quanto quer arredrado daquelle: lugar, onde esta com seu alaão na treela, em tal guisa que'o alaão nom ueja, ou que a solta lhe fosse de longe, en- “tom o milhor que elle pode fazer, leue o seu caualo a troto, ou a correr, daquella guisa que uir que lhe mais “compre, e todauia seu alaão na treela, ata que chegue “o mais acerca do porco que elle puder, ante que lhe tire a treela: e des que for chegado a elle, e uir que “seu alaão o uee, e se triga mais em tirar polla treela, que o que ante fazia, tirelhe a treela, e retire seu ca- ualo hum pouco do correr, em tal guisa que dee auen- tagem ao seu alaão, que sempre he bõo de o fazer assi. 2. Das armadas enfestosas. Nas armadas enfestosas, que nos dissemos que se auiam de guardar do pee da enfesta, e que aquelle monteiro que aquella armada ouuer de guardar, que auia de estar junto com o monte, elle deue de esguardar se lhe a armada he tanto de longo, que seguramente o seu alaão pode bem tomar o porco, ou se he a tam pequena que lhe faça duuida, se o podera bem tomar: e se uir que a armada he tam longa, que o alaão lho pode bem tomar, entom atenda que o porco se apare- lha, e com elle, oulhe passe pouco, e a tam toste que uir que o passa, ou que com elle se aparelha, tire a treela ao seu caão, e corralhe per aquella meesma t. cap. 3 do lib, 1. — 4. sair — arredado — daquel. — 7, me= lhor. — 10, el — 11. el. — 12. triga] traga, — 13, antes. — 14. dé, — 23. piquena — poderá — 26. e] omitir? — 28, can — mesma, — 372 — guisa, que lho ja dissemos em esta outra armada pri-. meyra grande e longa: e se uir que a armada he pe- quena, como elle uir que o porco começa a sahir do monte daquelle modo que elles sahem, quando querem correr as armadas, logo tam toste uolua a cabeça do caualo a elle, e logo tire a treela ao seu caão, ante que seo porco com elle aparelhe, e des hi metase: antre elle e o monte, quanto elle mais no mundo puder: e em tal correr nom a de guardar que lhe o seu alaão fique de tras, nem de ante, senom todauia meterse an- tre o porco e o monte, quanto elle mais puder andar: empero se uir que o seu caualo faz grande auentagem ao porco, sofrase de o correr em tal guisa que nom passe pollo porco, nem fique de tras, mais uaa o mais igual que puder com elle: e esta corruda fazendoa o monteiro por esta guisa he lhe grande auentagem pera fllhar o porco, quando per tal armada sahir, e o porque lhe faz grande auentagem he por esto: quando lhe poem seu alaão, o porco se enderença pera sahir, e o alaão quando sahe da treela, ou Sahira dereito ao porco, ou 238 lhe atalhara: em * como quer. que de sahir dereito a elle poucos alaãos o fazem, quando de estas guisas som postos, mas os demais os atalham: e quanto o porco mais corre polla armada, tanto se mais chega o alaão, e o filha mais aginha, e esso meesmo, ainda que o alaão corra dereito, nom se perde nada pera o filhar: e a corruda que o monteiro de caualo assi faz, lhe presta: que quando o monteiro assi corre, lhe faz fazer a ar- mada muyto mais longa, que quando o porco uee que o monteiro uay assi aparelhado com elle, pollo passar corre sempre de longo da armada: e por esto he bõa 2-3. piquena. — 3. sair. — 4. saem. — 7. se entrelinha — me- tasse. — 17. sair.. — 18. auentajem. — 19. sair. — 20. sae — sairá. — 21, atalhará — sair, — 25. medes. SAS q corruda de ir o monteiro sempre aparelhado com elle, em tal guisa que o nom passe, nem fique de tras elle, a todo seu poder: ca se o passar, o porco lhe salta por tras das ancas do caualo, e logo fica a armada curta, e esta em auentura de se tomar: e se ficar tras o porco, como se o porco acha desempachado, logo salta por ante o de caualo, e assi se encurta a armada, como esta outra que dito auemos, e por esto he bõo de ir sempre aparelhado com elle: e o monteiro que assi - desta guisa correr, fara em ello bôa corruda, e muyto proueitosa pera tomar o porco, quando lhe por tal ar- mada sahir. E poderiam dizer alguus monteiros, que esta corruda que fosse em esta armada enfestosa, que o de caualo assi corresse, lhe poderia ser mays duui- dosa pera tomar aquelle porco, que quando o porco uisse que o monteiro de caualo o assi embargaua, que muy toste se uolueria ao monte de que sahira, e esto he uerdade que se pode fazer. Mas todauia todollos bõos monteiros tiuerom sempre que milhor era faze- rem tornar o porco ao monte onde sahio, que o auen- turarem per maa armada: de mais que esta corruda de se meterem antre o porco, e de lhe fazerem correr a armada de longo, em muytas armadas se conuem a fazer assi, como lhes nos adeante diremos, ca nas arma- das que mais curtas som, de força he aos monteiros de fazerem esta corruda por fazerem sua armada longa, e os que a nom fizerem, erraram muyto em ello. Ainda uos queremos dizer aqui em feito deste tornamento hãa cousa de montaria, per que se o porco pode tor- nar, porque cuydamos que nom achariamos lugar em que a milhor pudessemos poer, que em este capitulo, 2. detra. — 5. está. — 8. bom. — 10. fará. — 12. sair — alguns. —14. mays] muy (?). — 17. sairá. — 19. melhor. — 20, sayo (?). — 24. adiante. — 31. melhor — cap. “porque he dito a questom do tornamento do potco.. Ora sabeede que nos uimos teer aos monteiros em mo- uimento de duuida, que se hum escudeyro estaua em hãa bôa armada, e estaua muy bem aderençado de caualo, e de-alaão, e de todallas cousas outras que pera filhar hum porco se pertencesse, e lhe sahem muytos. porcos polla armada juntos, assi como se faz muytas: uezes, demais no tempo do inuerno em que andam os porcos com as porcas, e sahem juntos muytas uezes: porcos e porcas, dez, ou doze, ou uinte, ou mais, como se acerta que quando lhe assi sahissem, se faria milhor aquelle monteiro se estiuesse prestes, leixallo uiir, e matasse aquelles que podesse, ou se seria milhor falar-: lhes, e fazellos tornar aaquelle monte onde sahirom .' todos aquelles que em este departimento uimos falar, 239 determinarom * que era muyto milhor montaria fazellos tornar, que de os leixar passar por si. | 3. Da armada enfestosa, que se a de guardar da metade da enfesta. Outra armada enfestosa, que dissemos que se auia de guardar da metade da enfesta: esta armada que assi se a de guardar, a que he de tal compasso do monté. de que o porco sahe, que estando o monteiro na me- tade da enfesta pode guardar todallas partes, que de húa parte, nem da outra que o porco sahir, que lhe nom ponha bem seu alaão, e lhe faça a corruda, ca esto lhe faz bem filhar o porco, quando lhe fica gram chaão des a metade da armada ata onde se o porco a de 2. hora. — 6. saaem. — 9. saaem. — 11. melhor. — 13. melhor. — 14. sayrom. — 15. uimos| ouuimos (?) todavia acima 1. 2. — 16. melhor —18 à. —23, sal. — 25. sair. — 28. a. (2.º)] á. Ed — 3795 — lançar. E quando assi estiner em esta armada, ou lhe o porco sahira dereito onde elle esta, ou desuiado: se lhe sahir desuiado, façalhe a corruda por aquella guisa que dissemos na segunda armada que era enfestosa, que se auia de guardar do pee da enfesta: e se lhe sahir a dereito donde elle esta, guardese que lhe nom ponha o alaão por cousa que seia, assi como uem dereito a elle, ca por esta cousa se perdem todollos porcos que por tal armada sahem, quando lhe os alaãos assi som postos: e o porque .he assi, quando o alaão assi he posto pollo sopee a fundo, uay muy desatentado no correr, e o porco o atende: e tanto que o alaão a elle chega, o porco se desuia, e corre todo dereito a ereita sem desuiar, e o alaão quando assi fica, fici tam longe do porco, que a maas penas o pode alcançar nas arma- das, que assi som enfestosas e curtas. Ainda lhe faz peor, que o aluão des que assi uem correndo com o porco, ja a de leue nom acharedes nenhum porco que se queira desuiar, posto que lhe o de cauallo corra assi como dissemos em esta armada, segundo que era enfes- tosa: mas se bem quiser fazer o monteiro que estiuer em esta ârmada, que a de guardar da metade da en- festa, quando o porco sahir a elle dereito, tanto que uir que sahe fora do monte, logo lhe tussa, ou lhe fale, ou faça cousa por que o porco o senta, ca todollos porcos am de manha, quando lhes assi fazem, de se desuiarem donde o monteiro esta: e como se elle desuiar, se elle uir que uay passo, ou de troto, assi leue seu caualo sempre antre elle e o monte, onde se o porco ouuer de lançar: e tanto que uir que o porco faz contenença por passar polla armada, faça muyto pollo mostrar a 4 i M 1.4 4 8 > E: +, 2. sayrá — está, — 5, enfestosa, — 6, sair — está. — q. saaem, 11. soopee. —13. á — erecta. — 20. segunda (?). — 22. á, — 23. sair — el. — 24. sal — tusa. — 27. está. e BB seu alaão: e dizemos que faça muyto pollo mostrar a seu alaão, porque quando hum porco sahe a hum mon- teiro em tal armada como esta, que seia de ladeyra, e lhe o alaão fica a maão esquerda, e o porco a maão dereita, pollo cauallo que se mete antre ambos, a maas penas lho pode bem mostrar, saluo se o monteiro for bõo: por isso dizemos que faça muito por lho bem 240 * mostrar, que quando lhe o porco sahe a maão esquer- da, e o alaão uay antre o caualo e o porco, ligeira- mente se uee, e ali nom a de fazer nenhãa meestria, ca os que som monteiros e em esto usarom, bem saberam que dizemos em esto uérdade, e os que tanto nom som usados em esto, prouemno, e acharse am em ello bem pera guardar sua armada, e tomar o porco bem. 4. Da armada que se a de guardar de cima da enfesta. A outra armada que dissemos -que se auia de guar- dar de cima da enfesta: este guardamento nom se deue de fazer de cima da enfesta, senom quando o monte for de tam gram cantidade em grandeza, que se nom possa guardar da metade da armada: e saybam os monteiros que estas armadas que se assi guardam nas ladeyras, e que som de curtos saltos, que se nom po- dem guardar quanto com hum de cauallo, senom tam somente o que a ouuer de guardar, tome tal esmo, que alli onde ouuer de estar, ata as pontas do monte, por onde o porco ouuer de sahir, que seia feita como de hum triangulo, ca se de outra guisa estiver, e lhe o porco O es Di O E TÊM Le 2. sal. — 4. ezquerda. — 8. saae — á. — 8-9. ezquerda. —15. á 23. saltos (?). — 27. sair. Nf Ego e mpg CS Ud ae — 377 — saltasse por cada húia das pontas, nunca o filharia: e em tal lugar como este, nunca pode seer senom em monte que seia tam largo, que se nom possa guardar, senom de cima da enfesta: e o monteiro que assi esti- 5 uer, faça a corruda, e o falamento, como em esta outra armada antecedente dissemos, ca posto que os lugares seiam desuayrados, nom se deue fazer senom assi em hum como em outro. 5. Das armadas chãas, largas, e bem uistosas, Io mas de charnecas. Outras armadas a hi, que assi som chãas, e largas, e bem uistosas, mas som de charneca, em tal guisa que o monteiro se esforce, que posto que nom tenha” caão que lhe matara o porco, se bem encaualgado esti- 15 Juer, assi como ja dito auemos, e em poer 'bem seu alaão, como ja esta escrito: mas a corruda que a de fazer, quando assi puser este alaão, faça o mais que puder que sempre saya da treela primeyro que elle “corra, e des hi retenha de nom passar seu alaão, assi 2o como ja escreuemos em outros lugares, que he bem de o monteiro fazer, e esto faça quando uir que o alaão faz grande chegada ao porco: porque muytas uezes acontece em taaes lugares que som de charnecas, que porcos que som tam ligeyros por feito do embargo das 25 charnecas, que posto que o alaão seia muy bõo, a maas penas o pode alcançar. Entom quando uir que o alaão nom pode fazer tam bôa chegada ao porco, que elle entenda que lho nom pode bem tomar, entom nom LÓ. corrida — á, — 18, traela, — 19. retefia, — 23. acontesçe. 241 — 358 — atenda por leixar ir seu alaão deante, mas desutese, por nom topar com elle, ca certo he que muytas uezes acontece aos monteiros por nom pararem mentes ao alaão que ia em pos o porco, * e trilhauamno, e pollo tri- lharem, muitas uezes escapaua o porco de ser filhado. Ora he assi, des que elle for em pos o porco, e for des- | uiado de seu alaão, tam toste que alcançar o porco, logo deue de dar uozes ao alaão, com aquelle soom que lhe em tal cousa soem a fazer, e assi como fezer aquella uez, assi lhe dee uozes a cada húa uez que o alcançar. Esta cousa he bõôa ao monteiro de. o assi fazer, que pollo meter que se assi mete antre o alaão, os demais delles ficam cegos, que nom podem a tam bem ueer o porco, como quando uaam deante, e quando lhe assi fala, ainda que nom ueja o porco, sempre uay aas uozes do monteiro que o traz: e daguisado he que se algãa uez o porco for delle alcançado, quando o alaão assi for aas uozes, que de húa uez que da outra, forçado he que tope com o porco, e topando com elle fara grande auentagem, e ainda ao monteiro pera o poder matar, é aquelle que o assi fezer em estas armadas, fara em ello bem. 6. Das armadas que se am de guardar das pontas das uozarias. a Quando aquelle que ouuer de guardar a ponta da uozaria, que he onde a ponta della he acabada, que a armada lhe fique chãa, uolua as ancas do caualo escon- tra onde estam os oito da uozaria, e a tam toste 1. desuiesse. — 3. acontescer. — 4. ija. — 6-7. e for des- viado... alcançar o porco, aposição marginal. — 10, dé. — 14. diante. — 15. ás. — 18. ás. — 21, aquel, — 28, homes, IO 15 que o porco sahir, como se delle desuiar, tire a treela a' seu alaão, e leixeo ir, e elle corra antre o monte e o. porco, e se o monte for tal como este outro que dis! semos, que nom era mais ancho que aquelle onde o. porco sahio. Em esta corruda faz grande auentagem. em filhar bem o alaão, porque quando se o porco des-: uia daquelle que estaua na ponta da uozaria, metese mais ao chaão, que per alli onde se o porco quer lan-. car, embarga o porco, que se nom lança tam aginha,. como se lançaria se lhe assi nom corresse : e pollo alon-: gar que se o porco alonga polla armada, o alaão tem. milhor espaço pera o poder milhor filhar: e dissemos. que estinesse com as ancas do caualo uoltas pera onde estauam os homêes, e esto nom he por al, senom por' seer mais prestes a fazer aquello que a de fazer, e que. pollo falimento de seer prestes nom errasse aquello que. auia de fazer. Ca uos bem ueedes, que se hum ho-: mem que estiuer em cima de hum caualo, e tiuesse o, rostro escontra onde o porco uinha, quando se o porco. delle desujasse, e lhe elle ounesse de poer o alaão, e uoltasse o caualo pera correr o monte de longo, que mais tarde o faria, que se estiuesse per esta guisa que escreuemos, que he teer as ancas do caualo uoltas escontra aquelles que estam na uozaria, ca aquelles que assi estam com as ancas voltas, bem uos parecera, que quando assi estiuerem, que os seus caualos estam meio uoltos, e porem fazem mais toste a uolta, por estas cousas lhe he de força estarem assi. E se acontecer que o monte em que se o porco a de lançar, he * mais. largo que aquelle donde sahe, e demais se faz algãa 1. sair — traela, — 5. saijo. — 6-7. desualia. — 7. metesse. — 12. melhor bis. —13, uoltas do cauallo. —14. homes. —15. a (2.º)] á, —15-17. e que pollo fallimento... auia de fazer, aposição mar- ginal, — 20. desualiasse. — 23. uoltas do caualo, — 25. parescerá, — 28, acontescer. — 29. á, —3o. sal, 242 Big ho pn ponta a alem da uozaria, que aula mester dous de caualo, que a guardassem. Assi o dizemos, ainda que he bem de se fazer, e demais aquelle que ouuer de guardar a ponta da manga, que faça por esta guisa que escreuemos, que o auia de fazer aquelle que guardasse a ponta da uozaria, que aquello he seu dereito fazer de qualquer que em estas armadas estiver. E ainda hi a mais, que o porco que sahir polla manga, que se queira lançar antre aquelle que esta na manga, e o outro que esta na ponta da uozaria, e esto como o am de fazer, e o que milhor naquella cousa he, nos nom lho queremos dizer aqui, por nom escreuermos duas uezes hãa cousa: ca nos lho escreueremos, quando fa- larmos do poer do alaão, e das armadas, que os mon- teiros am de fazer em algúas ribeyras, ou em alguas cheeyras, que som taaes, que se nom podem a tam bem guardar senom com sete ou oito de caualo: ca assi como se am de poer os alaãos, e fazer as corrudas em aquestas, assi se am de fazer em esta, quando o porco sahir antre ambos daquelles que guardam a ponta da uozaria e a manga. 7. Das armadas que se am de guardar das pontas das uozarias. A hi outras armadas, que a tambem se am de guar- dar das pontas das uozarias: mas estas que nos aqui escreuemos, nom am de teer os modos, nem de fazer as corrudas, nem de poer o alaão, assi como em esta que dito auemos, que he chãa, e de monte, em que o porco queira panear, e saltar aaquelle monte que de 4. guiza, —8. sair. — q. está. — 10. está. — 11. melhor. — 17. OuUto. — 20. sair. se ) ne e 3 ' . | — 381 — tras da uozaria estaa: ora que nom seia mais ancha que a uozaria, ou mais ancho como dissemos. E posto que algãas cousas se queiram assemelhar aos montei- ros a fazer assi em hum, como em outro, e que esto seia assi uerdade, pero pois lhes escreuemos as cousas que ditas som, nos nom lhes queremos escreuer as cousas que dissemos, que lhes escreueriamos das armadas das ribeyras, e das cheeyras, que lhes ainda aueremos de escreuer. E o que o monteiro a de fazer em estas ar- madas de sopee, que se am de guardar da ponta do monte donde estam as uozarias, pera poer bem seu alaão, e fazer bem a corruda, he esto: este monte em que o monteiro a de guardar, he que seia de tamanha largueza, que o porco nom se possa lançar senom em panear: e dizemos que o porco panea, quando o monte he de húa largueza quanto abrange a uozaria de largo, tanto he o monte de ancho, em que se o porco a de lançar, porque o porco nom faz al senom * sahir do monte donde see, e correr pollo chaão, e lançarse no monte de tras as costas da uozaria: ca se acontecesse que o monte, em que se o porco ouuesse de lançar, fosse mais ancho, que o que a uozaria abrange daquelle monte em que o porco see, entom nom lhe dizem os monteiros panear, ca o porco quando sahe do monte, e tem outro monte em que se lance, que nom seia a tal como este outro que dito auemos, logo dizem os monteiros que saltou de hum monte em outro. Ora he assi, quando o monteiro ouuer de guardar a armada da ponta da uozaria, que seia de sopee, e o porco nom tenha al de fazer, senom panear, faça desta guisa: arredese a fora do homem que estiuer em o cabo da 1. hora, — 9. á, — 10. soopee. — 12, esto| este. — 13. tamafia, 17. á, — 18, sair. — 20. acontescesse. — 24, saae, — 25, lança, — 27. hora, — 29, soopee. 243 a 382 — uozaria em tam grande largueza, que entenda que O porco nom se pode lançar antre elle e o homem, que esta no cabo da uozaria, e des hi uolua a cabeça do seu caualo escontra cima donde o porco ouuer de sahir, e quando lhe o porco sahir, estime em que espaço sahe, e se uir que sahe muito longe da uozaria, estee calado, e leixeo uiir em tal espaço segundo elle milhor poder estimar, em tal guisa que elle possa fazer aquello que deue: ca elle deue fazer ao porco; quando assi uier fora “do monte em espaço razoado, daquelle soom que lhe «x falam os da uozaria, ou ainda mais se uir que se nom quer reteer pollas uozes, deue mouer seu caualo, e trabalhar muito por fazer grande soom com os pees delle em pedras, ou em ramas, ou em outros lugares “que possa fazer soom, e todauia falandolhe: ca certo “he aos monteiros que mais se torua, ou se retem o porco por hum estruido do caualo, ou por seu correr, que o que podem fazer tres ou quatro homêes por muito que falem: por esto dizemos que he bem, que quando se nom quiser reteer das uozes, que faça esto | com seu caualo, e todauia pollo fazer reteer. Ora a tam toste que uir que se o porco retem, ueja que he o que quer fazer: e se uir que pollo que elle faz, o porco se torna ao monte, estee quedo, e tenha seu alaão na treela: e se uir que des que se retem, e que filha es- forço em si pollo sopee, e todauia quer passar, tam toste que uir que se mete em soom de ulir, se a armada for limpa, que o seu alaão o ueja bem, logo lhe tire a treela, e a tam toste como se o alaão chegar a igual tracto delle, logo lhe corra a traues, e esto seia em cor- 'rendo seu caualo rijo, e falando o mais forte que elle 3. está. — 4. sair. — 5. sair — sahe] sal. — 6. saae, — 7. uir “- melhor. — 21. pelo — hora. — 24-25. estee quedo... que se retem, aposição marginal. — 25. traela. — 26. soopee. — 27. som -— uijr. — 29. traela, — 383 — poder, em tal guisa que o faça desuiar que nom cotra o sopee dereito, senom que o faça ladear: ca os mon- teiros bem sabem que milhor he filhar o alaão o porco correndolhe polla ladeyra, que em correndolhe pollo sopee: e esta armada do panear que seia do sopee, a milhor maneyra que a pera se guardar, he esta, que escreuemos, e faça em tal guisa, que se assi for guar- dada, e o porco ladear, que nunca * se pode perder que nom seia filhado, saluo se for por grande desauentura. Se a armada deste sopee for de salto, assi como dito he, e for tamanho que o elle possa guardar, nom ha em ello mais de fazer que esto que dito he, ca assi o deue de fazer em húa como na outra: e se for a tam longo o monte, em que o porco a de saltar, que o nom possa guardar senom dous ou tres, a se de guardar como as outras armadas das ribeyras, e das cheeyras: e quando escreuermos em como das armadas das cheey- ras, e das ribeyras se am de guardar, entom lho decla- raremos e ainda mais hum pouco, como se esto a de fazer. (Os monteiros de caualo que este liuro leerem, e lhes prouger deste joguo, retenham, e prouem esto que escrito he, e ueram como se acharam em taaes arma- das auentajados em filhar o porco, que lhe per ellas “sahir, mais que de o fazerem de outra guisa. é: Das armadas que som de ereitas, que o monteiro a de guardar. Esta armada que dissemos que era de ereitas, que o monteiro auia de guardar, em que o porco tenha a 1. desualiar. — 2. soopee — ladear] ladrar. — 3. melhor. — 5. soopee bis. — 6, melhor. — 10, sopee] a soopee, —11. tamafio, 15. à, —19. 4 — 21, plouger no texto, gostarem glossa marginal — jogo. —24. sair. — 25, de om. — erectas, — 26. á. — 27, erectas, 244 creençã em cima da ereita pera se lançar dentro no monte, ou decer logo per a tam grande sopee, que o alaão nom podia fazer mais, nem outrosi o monteiro, senom leixallo ir: e que esso meesmo tinha creença que em saltando a traues da outra ladeyra, logo em aquelle ponto saltaua no monte, ou em a tam grande sopee, que o monteiro o nom podia tomar. Esta armada de a homem poer por escrito, nom entendemos a nosso al- uidro, que se possa a tam bem poer em tal perfeiçom, que o monteiro saiba em como lhe a de poer bem o alaão, nem que lhe possa fazer a corruda assi como deue de fazer, que pollo escreuer possam os monteiros seer a tanto ensinados, que pudessem uiir a perfeiçom: ca em esta armada de lhe homem poer o alaão, he mais graue, que em nenhúa de todallas outras, que nos sabemos, que o monteiro aja de guardar, e mais se en- sina pollo homem ueer, e o fazer praticar aaquelles que ensinar, que de lho poer em escrito: e he estranho que em esta armada, quando o porco sahe, e tem a creença em cima na lombada, os demais, ou todos sahem a tam passo, que he húa estranha cousa: ora se o monteiro quer andar com elle, que assi como elle anda, assi “ande elle: ora o porco uay sempre montando polla ladeyra em que elle a de correr, ata que se assenhora da mayor altura da ladeyra que pode, e entom se o de caualo esta a igual delle, logo tam toste uolue polla ladeyra ao sopee pera se lançar de tras as ancas do ca- ualo, e sempre polla ladeyra ao sopee, e assi per esta guisa passa a lombada: e se o de caualo for atras, e elle uay deante, esto meesmo lhe quer fazer, que se 1. erecta. — 2. soo pee. — 4. leixa lo — medes. — 6. assopee, -— q. perfeçom. — 10. á. — 13. uijr — perfecçom. — 17. uer, — 18. estrafio. — 19. sal. — 21. estraífia — hora. — 23, hora. — 24, á — assefiora. — 27. soopee. — 30, medes, SUR: quer lançar por deante, e sempre pera o sopee, e sê o de caualo lhe quer dar algua largueza, e elle he em tal ponto, que de ligeiro quer atrauessar, * ante que se lhe 245 o de caualo achegue, logo atrauessa a ladeyra, e se lança em saluo: que uos diremos he a tam maa esta armada de guardar, que se o monteiro erra hua pe- quena cousa do que a 'de fazer, a maas penas nunca podera tomar o porco. Mais em como quer que seia maao de o poer em escrito, nos o poremos milhor que se fazer puder, e des hi os monteiros tomem dello o que lhes parecer que he milhor de se fazer, e em pra- ticando podem conhecer aquello que lhes mais com- pridouro he de fazer, ca no praticar esta a mayor sus- tancia pera se conhecer, que em outra cousa que seia. Assi quando o monteiro ouuer de guardar esta armada, e estiuer nos lugares que lhe dito auemos, quando o porco sahir, ueja em como lhe sahe, ca ou sahira dereyto onde elle esta, ou sahira a fundo, ou sahira a cima: se lhe o porco sahir a fundo donde elle esta, o milhor que lhe a de fazer, logo se torne em uozaria em esta guisa: leue seu caão na trecla, e nom o solte, e fale ao porco, e faça muito pollo tornar ao monte donde sahio, ca o porco que sahe em tal armada, se sahe a fundo daquelle que a armada guarda, nunca o porco pode seer tomado, e se sahir em dereyto delle, tanto que uir que sahe, moua o seu caualo hum pouco pera contra fundo, e se uir que o porco se quer uiir dereyto, como uir que esta em dereyto delle, logo tire a treela ao seu caão, que nom aguarde que lhe entre o porco muito na ereita, e 1. querem— soope. — 2,0 om — he en, — 8, tomar emendado, — 9. milhor. — 11, parescer — melhor. — 12, conhescer. — 13. está, — 14. conhescer. — 17. sair — sahe] sal — sayrá — dereito, — 18. está — sayrá bis, —19. sair — melhor. — 21. traela. — 22. sayo, — 23. saae bis. — 25. sair — sahe) sal, — 27. uijr (1.º) — dereito, — 28, dereito — traela. — 29. erecta. 25 — 386 —. des hi façalhe a corruda por aquella guisa que lhe ja dissemos, que se auia de fazer na armada enfestosa, que he meterse antre elle e a comeada, per que se a de lançar, pera lhe fazer a armada mais longa. Se o porco sahir acima delle, e quiser leuar a ladeyra pera se apode-. rar do alto, como o porco andar, ande elle em tal gui- sa, que sempre uaa o porco hum pouco ante elle, e nom dee nada por se lhe o porco tornar ao monte: e porque em taaes armadas nom faz maa montaria ao monteiro por fazer bem o que deue, ainda que se lhe o porco uolua ao monte, ca mais ual uoluerse, ca de certo se perder, que quando o porco uolue ao monte, podemno os moços matar, ou sahira per algãúa armada, que sera milhor que aquella, e filhallo am em ella, e assi nom deue de dar muito por se o porco tornar. E quando assi for com elle, sempre uaa em tal guisa, que o porco nom aja grande lugar de tomar grande parte da ladeyra, como se logo ficasse a armada curta, ora fosse pera se lançar deante, ou pera se lançar a traues: ca sabudo he, que quanto a armada mais curta he, tanto o porco esta mais em auentura de se perder. E quando uir que o porco se enderença a sahir, e por esso nom se quer tornar ao monte, logo a tam toste tire a treela a seu caão, e façalhe a corruda per aquella guisa que dito auemos, que he meterse antre elle e a co- meada, e assi o podera milhor tomar: e se o porco lhe sahir polla ereita acima, como dito auemos, aqui nom se a de fazer'senom por aquella guisa, que lhe ja nos outros escreuemos: esta he a milhor maneyra, que pera praticar podemos achar, que se em taaes armadas po- dia fazer: e os monteiros as uejam, e usem dellas: e 1. corrida. — 5. sair. — 7. hum pouco entrelinha. — 8. dé. — 11. boluerse — 13. sayrá. — 14. melhor — filha lo. — 18, hora, —: 22. uijr — sair, — 24. traela, — 25-26. comemeada — 26. melhor. — 27, sair — erecta. — 29. melhor. Se se acharem * outra em praticando, que lhes pareça mi- 246 lhor, nom a leixem de fazer, ca a nos assi parece, e o ouuimos dizer a todollos monteiros, que estas armadas eram muy maas de guardar, e nos assi o dizemos como elles. TES Puedo o mim james = ã "e + E, ias > : , Cart Pe v ms à Sa i€- N) f A pis ) à 1 IP - 4 4 dé Et E, tg 9. Das armadas que som de aruoredos. Esta armada que dissemos que era de aruoredos, ja auemos dito como a de ser filhada, e como se a de tomar, mas pera poer bem seu alaão, e fazer a cor- ruda, e como deue de fazer aquelle que ouuer de fazer, faça em desta guisa que se segue: quando o porco sahir por tal armada, aquelle que a guardar correja seu alaão o milhor que puder pera ucer bem o porco, e des hi quando for o porco chegado a elle, em tal espaço que elle ueja que he tempo de lhe seu alaão correr, tirelhe entom a treela, e faça todallas cousas ditas no capitulo xiij, que se auiam de fazer aos alaãos da primeira encarna, senom tanto que a corruda se a de fazer de outra guisa: ca nos em tal lugar lhe dissemos, que por dar esforço a seu alaão, que lhe era compri- douro correr muito rijo, e de lhe falar muito rijo, que quando lhe assi fezesse, que sempre daua grande es- forço ao alaão de o milhor filhar por estas cousas. Ora he assi, que em tal armada que seia espessa de ar- uores, nom he pertencente aos monteiros de fazer a cor- ruda assi apressadamente, como se na outra faz: e por- que lhe nom he bõo a tal fazer, porque se elle fezesse corruda tam forte no monte pollo lugar que he espesso de aruores, assi como o faria em charneca chãa, nom 1-2. melhor. — 2, paresce. —3, todos os. — 10. aquel. — 11. en entrelinha. — 12. sair. — 13, melhor. — 14. el. — — 17, auia. — 21. fallar, — 23. melhor, — 24. hora — espesa. — 26, e nie 4 27. lhe entrelinha — 28. espeso. — 388 — - Se:escusaria, se nom fosse de auentura, que nom to- passe em algua aruore, do corpo, ou do caualo, no tronco, ou nos ramos, e quando assi topasse, forçado lhe seria, de cahir, ou desuiarse. Estas duas cousas quando se acertam ambas, ou cada hua dellas de se fazerem, certo he que sempre o porco se uay em saluo pollas cousas susso escritas, Guardemse os monteiros fazerem em tal lugar a tal corruda que assi seia forte, como lhes dito auemos, e que quando assi a fezessem forte, como nos outros lugares em que lhes falamos, que nunca lhes poderia uiir bem: mas se bem quizer fazer o monteiro. a corruda em tal lugar espesso, faça assi: tam toste que lhe puser o alaão, como dito he, leue seu caualo em no correr sempre tentado em tal guisa, que quando achar muito espesso que passe por elle sem ca- jom, e quando achar outro lugar mais desembargado, entom faça mouer seu caualo mais rijo, todauia sempre tentado, ca se o desatentado corresse por aquelle lugar que-fosse menos espesso, de rezom esta que nom lei- xaria de filhar gram cajom, e certo he que se filhasse cajom, que o porco nom seria filhado, e se iria em saluo. E assi de se o porco nom perder, nem o es- cudeiro que a armada guarda nom uiir em grande cajom por guarda destas cousas, lhe he forçado, se o bem quiser fazer, que faça em esta guisa a corruda, Depois que seu alaão for posto, e em quanto for pollo espesso, sempre uaa em no correr muito atentado, em. tal guisa que nom tope, nem caya em lugar espesso, e des hi com esto que nom seia a tam passo, que perca de uista o porco, nem seu alaão, ca creede que a mui- tos monteiros aconteceo, que por fazerem a corruda muy passo em taaes lugares, o porco e o alaão se ar- 2. aruor. — 4. caer. — 6. suso. —8. tal (1.º) entrelinha. - 12, es- peso. — 15. espeso — el. — 19. razom. — 27. espeso. — 28. espeso, — 31, acontesceo. beta o redrauam delle em tal guisa, que os perdia de * uista, e 247 entom o filhaua o alaão, e por nom ser acorrido, o porco o mataua, e com este fallimento desta corruda que o monteiro?assi filhaua passo, pollo correr que elle corria, se lhe seguiam tres perdas: a primeira he que lhe fugia o porco, a segunda que seu alaão he morto, ca nom he pequena perda ao monteiro perder seu alaão, se o bom tem, des hi à outra que lhe fuge o porco: e a terceyra he a mayor, que se lhe recrece maao nome, o qual he aborrecido a todo o homem, quando lhe dizem que aquella cousa que faz, que a nom sabe fazer: porem guardemse os monteiros de fazerem tal corruda, porque quando a tal fezerem, sempre per- deram de seu bõo secr: mas quando o monteiro bõa “corruda quiser fazer, façaa como ja dito auemos, con- uem a saber, corra muito atentado por lugar espesso; e mais rijo por lugar limpo: e assi fara bem em esta armada o que ouuer de fazer. 10. Das armadas de sopee, que se guardam de si e nom das pontas das uozarias. A oytaua armada de que nos fallamos, que era de -- grandes sopees, e que quando a o monteiro ouuesse | de filhar, que se posesse no terço da armada, conuem a saber, as duas partes leixar escontra onde o porco“a de sahir, e a hãa onde se o porco a de lançar, assi como lhe agora escreueremos, segundo que ouuer de fazer, 'e quando o souber, entom podera entender pera que lhe he proucitoso de estar assi. Quando o monteiro assi filhar esta armada de sopee, e estiuer no terço como 1. arredauam. — 2. à corrido. — 4. paso: — 9. recresce. — 16. es- peso. — 19. asopee. — 22: assopees. — 25, sair. — 29. soopee. 248 — 390 — . dito he, quando o porco sahir como dito auemos, ou uerra rijo, ou uerra passo, e se uier rijo, tanto que elle uir que o porco assi uem, ainda que uenha longe, fale- lhe com aquellas palauras, com que os monteiros soem a falar quando querem tornar o porco: e se uir que se nom quer tornar polla fala, moua seu caualo a troto por lugar de pedras, ou de mato, que faça sõo de struidos de caualo, em tal guisa que a todo seu poder, pollo falar, e pollos struidos o porco se retenha de nom uir rijo: e quando se o porco assi retiuer, ueja se se retem de longe, se de preto: e se de longe for, ueja que quer fazer, conuem a saber, se quer tornar, se quer uilr de-.. reyto, ainda que uenha passo: se se quiser tornar de preto pollos dous terços que lhe ficam da armada pera o porco correr, e de mais porque a armada se faz en- festosa, logo tire a treela ao seu alaão, e corralhe em tal guisa que nom passe seu alaão, ca muitas uezes aconteceo aos monteiros que por passarem seu alaão, e alcançarem o porco nas armadas enfestosas, que o porco se sentia uencido do caualo, e porque uia que nom podia leuar a ereita, uoltaua a cabeça ao sopee, o que elles todos desejam de fazer de boamente, e quando assi corria ao sopee, logo se punha em saluo, em tal guisa que o de * caualo, nem o alaão o nom po- diam tomar. Assi fara bem qualquer monteiro que “tal corruda ouuer de fazer, de nunca poer grande força em alcançar o porco, que lhe por tal armada cor- rer: mas todauia uaa atendendo que o seu bõo alaão lho tome, e per esta guisa o filhara milhor na tornada, “que de outra guisa que seia. Se o porco uier rijo, e 1. sair. — 2. uerrà bis. — 3, uijr — falhe le. — 7. soom. — 9. re- tefia. — 11. longo. — 13-13. derecto. — 14. perto. — 15-16. en- festosa. — 16. traela — corrhalhe estava no manuscrito glosa mar- ginal, —18, acontesceo. — 20. de, — 21. erecta — soopee. — 22. 0| à — 25, assim, — 26, gran. — 29. melhor. i Fº o : E 2. k . É , às — 391 — se parar pollo falar que lhe o monteiro fala, ueja que quer fazer, e todauia se quiser uiir ainda que uenha passo, falelhe mais, e faça struidos com seu caualo, ata que o porco queira ladear: e se do primeiro falar o porco ladear, ora seia da primeira ou da segunda uez que lhe o porco ladear, se o lugar for limpo, a tal que o alaão possa bem ueer, e fazer a corruda, logo lhe tire a treela sem mais tardar, e corra quanto puder antre elle e o monte, em tal guisa que o nom passe, nem o porco uaa deante, mas uaa sempre de ilharga delle, ca esta he a milhor corruda que lhe pode fazer em tal lu- gar: ca muitas uezes acontece ao de caualo, ainda que Corra antre o porco e o monte, de passar pollo porco, ainda que uaa a traues delle, e o porco salta per tras as ancas do caualo, e faz a armada mais curta, e por aquello se poem em saluo, e esto mesmo se faz, se fica: quando se o porco sente alcançado do alaão, e uee que o de caualo fica detras, entom uolue a cabeça ao sopee, e lançase em no monte, assi como este outro que dis- semos, que saltou per tras das ancas do caualo. Assi a milhor corruda que o monteiro de caualo pode fazer em esta armada, assi he ir a traues do porco antre elle e o monte, em que se a de lançar, ca se assi for sem- pre, fara ao porco sempre filhar mayor armada, e sempre per ladeyra, ca pera o alaão he tam bõo, como se fosse chaão. E o porque dissemos que lhe falasse quando assi uisse uiir, ora de preto, ora de longe, nom se faz a outro fim, senom a que o porco ladee, e nom lhe uenha de rostro: ca sabudo he que todo porco que pollo so- pee uem dereyto, nunca se toma, saluo se he de auen- 3, paso. — 5. hora, — 10, diante. — 11. melhor. — 12. uezes emendado — acontesce. — 16. medes. — 18. o om. — soopee. — 21. melhor. — 26. falasse. — 27. uijsse — hora — perto — hora, — 29. rosto. — 29-30. assopee. 249 tura, ainda que o monteiro estec abasteso de alaão: pera guardar a armada. 11. - Das armadas que som de cheeyras, ou ribeyras. Da armada que era de cheeyra, ou de ribeyra, e que esta armada aquelle que a ouuesse bem de filhar, que. sempre se deue acostar mais pera o monte onde se o porco a de lançar, que pera aquelle donde elle sahe, Assi quando o monteiro em tal armada estiver, ueja como o porco sahe, ca ou sahira dereyto a elle, ou sahira ja quanto arredrado: dizemos ja quanto arredrado, que a pois que a armada he tal, que com rezom o monteiro a | deua de guardar, nom pode seer tal, que o porco possa sahir muito alongado. - Se o monteiro uir que o porco sahe dereyto a elle, tanto que uir que entra igualmente na armada, falelhe per aquella guisa, que lhe ja disse-' mos em esta armada oytaua de * sopee. Este falar lhe he bom pollo desuiar, que nom uenha dereyto, assi como dito he, e creede que quando se desuia, faz accrecentar a armada mais hum terço longo, ca o que 20) faria se dereyto uiesse. Ora se tanto uir que se des- uia, e começa a uiir rijo em correndo, ou a troto, logo tire a treela a seu alaão, e corra a traues do monte, onde | se o porco a de lançar, per aquella guisa, que lhe ja na oytaua armada falamos, que esto nom uaa muy deante : do porco, nem muy detras, senom que a todo seu po- der uaa a igual delle. Este poer deste alaão assi, e 1, esté, — 6. aquel. — to. saae — sairá. — 11. arredado bis. — . 12. razom, — 14. sair — uijr. — 15. saae — uijr. — 17. outaua — — asoopee — fallar. — 18. desualiar. — 19-20. faz acrescentar... se desuia aposição marginal. — 20. acrescentar. — 21. hora — uijr. — 23, traela. dá Aga =: fazer esta corruda, he o milhor que se em taaes arma- das pode fazer pera se tomar o porco, des que pollo. falar se desutar: e se o porco todauia quiser utir de- reyto, e nom se tornar polla fala, o milhor que pode fazer he esto: corra logo a elle com seu alaão na treela nom o soltando, esta he muy bôa montaria aaquelle que a fezer, quando o porco pollo falar se nom quer desuiar: e as cousas per que assi he bõo de lho faze- rem som estas que se seguem. (Quando o monteiro assi corre, conuem ao porco de fazer de tres cousas: hua: a primeyra de se tornar ao monte donde sahio, a segunda de se dêsuiar, a terceyra de uiir dereyto assi como começou. Se se ao monte torna, posto que 0 0 monteiro nom tome, nom he perdido de todo, e ainda esta em auentura, pois que se ao monte torna, de sahir per aquella armada, ou per outra, em que se pode tomar: nom teuerom os monteiros que em todo lugar era maa montaria ao que guardaua a armada, fazer tornar o porco ao monte em tal lugar como este he, ou onde lhe o porco sahe dereyto, ainda que se torne ao monte, nom he maa montaria, quando se o porco desuia pollo correr, ca assi como se desuia pollo falar, assi lho deuem de fazer, pois que se desuia pollo correr: quando se desuiar nom quiser, e lhe o monteiro assi correr, esto faz logo bôa montaria, ca se fezer cada húa destas partes que dissemos, ha em ellas este prouimento que ja dito he, e des hi mais que quando uem per hu corre o porco, que se assi nom quer tornar, faz a armada muito mais longa pera lho milhkor poder filhar seu alaão: ca sabudo he que quanto a armada he mais longa, tanto esta mais em disposiçom 1. melhor. — 5. traela. — 6. aquel, — q. fallar. — 8. couzas. — H. sayo. — 12. de uiir] ouuir — assi entrelinha, — 15. sair, — 20. saae. — 22. desualia bis. — 23. fallar — desualiar, — 27, dessi. — 28. hu] hua. — 30. melhor — quando, de o filhar mais de certo seu alaão: e quando lhe assi ouuer de correr, faça o mais que puder, que o porco lhe fique da parte donde o alaão uay na treela, ca lhe sera muy grande auentagem ao poer, porque elle lhe nom deue poer o alaão per nenhúa guisa do rostro em tal lugar, senom tanto como for igual do alaão, lhe deue tirar a treela, ca leixallo passar mais alem do alaão, ou lhe tirar do rostro, estas cousas som impeci- veis: ca sabudo he a todollos monteiros, que em taaes lugares que som de saltos, que hãa pequena auentagem que o porco leue, lhe daa grande segurança de o porco se poer em saluo: e se lhe tirarem a treela de rostro ao porco, o caão uay fixo ao porco, e pollo ir que uay, e o porco se desuia delle, fazese igualmente grande de- partimento antre hum e o outro, em tal guisa, que ainda que o alaão seia ligeyro em tal armada, a maas penas o pode em tal lugar alcançar. Assi he milhor * de todas estas tres que dissemos, poerlhe o alaão tanto | 250 Que o porco uier a traues. Ora ueede se esta he a milhor parte de se poer, como se lhe poderia poer bem a traues, porque quando lhe o porco saltasse a maão dereyta, que de força he que do correr do caualo, que do passar do porco, o alaão nom seer bem posto, se o monteiro quiser poer seu alaão como lhe ja dissemos, faça assi que o porco fique a mão esquerda, em que leua seu alaão como lhe ja dissemos, e este he o mi-' lhor poer que lhe pode fazer com as cousas que lhe | ditas auemos. A corruda que ouuer de fazer, faça - como outra qualquer que seia dereyta, senom a que se guarde, nom passe seu alaão, nem o trilhe, ca toda outra corruda he bõa. 7. leixa lo — pasar, — 9. todos os, — 11. dá. — 12. traela.— do rostro, o porco. —14. fazesse. — 17. melhor. —20. hora. — 21. me- lhor. — 25. ezquerda. — 26-27. melhor. — 28, fazer] façar emen- dado. — 31. todo. | E , F É | ; ) = 008 a 12. Das armadas que som de ribeyras ou de cheeyras. Estas armadas que uos dissemos, que eram de ribey- ras ou de cheeyras, em que os de caualo auiam de estar em bõo compasso, que nom fossem muy longe, nem muito arredrados daquelles que as ouuessem de guar- dar, e que estiuessem mais chegados ao monte, onde se o porco ouuesse de lançar que do outro, onde o porco sahisse. Em estas armadas das ribeyras ou cheeyras, que taaes seiam como escreuemos, em todas se deue de fazer em poer o alaão nas corrudas, assi, como escreuemos na armada nona antes desta. E ainda alem desto, mais de que os monteiros deuem ser percebu- dos, quando em tal lugar estiuerem, e do que se deuem de perceber, he esto: se o porco sahir dereyto, onde hum dos monteiros de caualo esta, e lhe o porco ladear, ou o elle fezer ladear, façalhe a corruda como dito he: e o outro monteiro que estiuer deante pera onde o porco correr, por nenhúa guisa nom lhe corra ata que o porco passe por elle: e como por elle passar, ponhalhe o alaão, e façalhe a corruda como auemos dito: e per nenhia guisa do mundo nom corra escontra onde o primeyro monteiro corre: ca seiam bem certos todollos montei- ros, que se o monteiro que esta deante corre pera o porco, que ao outro monteiro sahio, que logo faz en- curtar a armada ao porco, ca o porco quando se uec antre os dous de caualo, nom cura tam somente senom pollos passar, ca tamanho espanto filha delles, porque 6. arredados — g. saysse, — 12. nona antes] 9 antes (dantes?) — 15. sair. — 16, está — ladear] ladrar. — 17. ladear] ladrar, — 19. guisa om. — 20, ponhale, — 25. saio. — 28. pollas. lhe uem hum deante, e o outro detras, que entom poem todo seu feito em auentura, e nom faz ende al senom atrauessar a armada, e pollo atrauessar que assi faz, ficalhe a armada curta, e uayse por ello mais aginha em saluo: dissemos que o porco passaua hum, ou dous, quando assi estauam quedos, nom o ajam por muito, ca nos uimos muitas uezes, quando nos acertauamos de - estar com bôos monteiros em tal lugar, de fazermos as corrudas por esta guisa que dito he, e passar o porco delles tres de caualo, ante que fosse filhado, ou se lan- çasse no monte. (Os monteiros que tal armada ouue- rem de guardar, façamno em esta guisa que dissemos, que nenhum nom corra escontra outro, que uem escon- tra o porco, e o que assi fezer, fara em ello fermosa e bõôa montaria, e os porcos que lhe per tal lugar salta- rem, fazendoo elle assi, seram os mais delles filhados. 13. Das armadas em que se mete hila ponta de mato. * A undecima armada de que nos falamos, em que se mete hãa ponta de mato por ella, a qual fazia pequena armada, onde se a ponta acabaua, ata o monte onde se o porco auia de lançar, em que dissemos que o milhor estar, que o monteiro podia fazer, quando ouuesse de filhar aquella armada, assi era estar na metade do monte daquella ponta, que fosse com taaes condiçoões, como lhe escreuemos. Este estar assi daa grande auentagem ao monteiro pera filhar o porco, que lhe por tal armada sahir em esta guisa: e elle quando assi , 3. atrauesar bis, — 8, fazeremos. —12. no entrelinha. —13. nom entrelinha. — 19. fallamos. — 22, melhor; — 26. dá. — 28. sair. 10 re h 3 ! ly po E ç É ' ! dark, ==: 307 = esta, faz como se elle fosse uozaria, e mais, que se faz prestes pera guardar de amballas partes os chaãos, que som de aquella armada, que elle a de guardar. Ainda quando se mais mete pollo monte da manga, tanto faz a armada mais comprida, com tanto que se nom chegue muito ao monte donde o porco sahe, ca defeso he aos monteiros em todo lugar fazerem esto. Quando o porco assi sahir polla armada, se sahir polla manga- onde elle esta, faça muito pollo desuiar que saia fora ao chaão, e o que lhe assi ouuer de fazer, seia aquello que dissemos na armada quinta. E como uir que o porco se desuia delle pera se ir pera o chaão, nom o atenda mais, que logo nom uaa a troto de ca- ualo, ou a galope, segundo uir que lhe o porco uay de rijo, ca se for passo, deue ir a troto: e se sentir que se desuia rijo, deue sahir a galope: e de hua guisa, e ou- tra sempre leue seu caão na treela, a todo seu poder, ca nom he bõo de lha tirar antes: e como uir que o porco salta no chaão, e o seu alaão o uee, logo lhe tire a treela, e des hi façalhe a corruda do modo es- crito, ca em tal lugar nom a mester meestria, pois que a armada fica longa, como esta escrito, e assi he bem de poer o alaão, e fazer corruda em esta armada. 14. Das armadas de dois uales. A duodecima armada de que falamos, que eram dous uales, e que algãas âuia hi, que como o porco sahia, logo o lugar era tal pera poer seu alaão, e filhallo: e outros taaes uales eram que se cerrauam em algias 1. está — elle entrelinha. — 6. saae, — 8. sair bis, — q, está. — 10, saya. — 17. traela, — 20. lhe entrelinha — corrida, — 22. ar mada entrelinha. — 24. da armada, — 27. filha lo, IO. 15 20 25 292 ” — 398 — chaadas, e que aa sahida se nom podia filhar, senom onde se juntauam os uales nas chaadas: e dissemos que algúus uales auia hi, que sahiam de junto do monte, e quanto mais creciam, tanto mais. se espalhauam, em tal maneyra que hum de caualo nom podia guardar amballas pontas dos uales, e que milhor era o lugar em que podia estar pera guardar a armada, na comeada que era antre ambollos uales, em aquelle lugar que uisse que desembargadamente podia ueer ambollos ua- les. Assi quando o monteiro filhar esta armada, que estee no começo dos uales, se os uales forem limpos, que o alaão possa ueer desembargadamente e filhar bem, em esto nom ha mester mais meestria, senom tam so: mente quanto he em poer o alaão, e leixar passar o porco, e entom tire a treela ao alaão, e leixeo ir: em na corruda que lhe fezer, quando o monteiro em tal ar- mada estiuer, como o alaão for solto, logo da comeada em que esta, lhe corra pollo uale acima, e quando assi esta, he * guardado de algúas cousas que aos monteiros acontecerom, ca ja aconteceo a algum monteiro poer seu alaão, e correrlhe polla comeada, e o alaão alcan- çaua o porco, e o porco se sentia uencido do alaão, e + por ueer o porco que o alaão o alcançaua, daua uolta ao sopee, e tornauase ao monte donde sahia, e por , tanto nom era filhado. Assi o milhor correr, quando 25: o alaão em tal lugar for posto, he logo descender de | cima da comeada, e corralhe pollo uale acima dereyto, que pollo correr dos estropios do caualo, e pollo falar do monteiro, que fala a seu caão que o filhe, aa de leue | foy, a nosso ueer, achado porco que se tornasse quando 3 1. à sayda. — 4. cresciam, — 6. ambalas — melhor. — 8. am- bolos. —11. esté. —12. uer. — 13, mestria. — 16, corrida. —-18, está. . — 19. está. — 20. acontescerom om — acontesceo, — 23. ver. — 24. saia. — 25. melhor. — 28. fallar. —- 30. uer. a Tt re a - lhe o alaão assi fosse posto, e a corruda assi feita: e ainda mais que era grande contrayro ao monteiro que se elle corresse polla comeada, e o alaão lhe filhasse o porco no uale, poderia seer o porco tam ualente, que ante que lhe o monteiro chegasse, que pollo longo es- paço que se fazia ao correr, e outrosi pollo sopee, que todollos monteiros receam correr, daguisado estaria quer por feridas, quer por cansaço o alaão deixar o porco, ante que lhe o monteiro acorresse, e por ende he bôa montaria esta escrita, que he como o alaão for posto, descender logo ao uale, e correr o uale de longo: mais em esta corruda que assi a de correr pollo uale, os monteiros nom corram por onde soem a correr as aguas, nem ainda afastado dellas quanto possa ser hãa largueza de cinco ou seis braças segundo seu estimar: ca seiam bem certos os monteiros, que se per tal lugar correm, que logo lhes he prestes húa muy grande queda: como esto he, mostrase em este modo, ca uos os mon- teiros o sabedes bem, que como assi fazem este corri- mento das aguas, logo se fazem cadouços de aguas, e quebradas de terras, em tal modo, que se o de caualo por alli corresse, a maas penas poderia passar, que o caualo com elle nom cahisse: e dissemoslhe ainda que se guardasse de correr por alli, arredrandose seis ou sete braças, a seu estimar, daquelle lugar por onde as aguas corriam, € isto por muis se segurar de nom cahir, ca uos monteiros sabedes bem que nos uales per que continuadamente correm as aguas, que as demais, ou todas nom correm dereytas, mas ora uaam de húãa parte da ladeyra, ora da outra, e se o monteiro quisesse cor- rer nom muito afastado do corrimento das aguas, logo de força he topar no lugar, onde as aguas fazem a 4. ualle. — 6. se entrelinha — soopee,. -- 11, ualle, —12. ualle. — 14. afastada. — 24. arredando, — 26, cair, — 29, hora —3o. hora, uolta, e quando em elle assi topasse, logo esta certo de ser obrigado pera cahir seu caualo. Se aquella comeada em que o monteiro estiuer, for matosa, dize- mos que he bem estar alli, se ouuesse dall milhor uista: | quando em'tal lugar estiuer, e lhe o porco sahir, como 5 | lhe passar dBmde elle esta, logo saya dereyto polla 'comeada com seu alaão polla treela, ata que entre no chaão: e se uir da entrada do chaão, que lho pode bem poer, ponhalho, e façalhe a corruda como dito he: E : e se uir que lho nom pode bem poer, ande com seu 191 caão,na treela, e uaao aguardar onde se o uale acaba: . 4 | e assi fara bôa montaria, porque dalli onde esta, guarda. bem sua armada, que he hãa cousa que ao monteiro | 253 mais compre de fazer : e a outra ficamlhe lugares *pera | poer bem seu alaão pera poder milhor filhar o porco: 15 e se acontecer que as entradas destes uales forem “a taaes, que se nom possam guardar senom todauia É estar na chaada onde se juntam os uales, em esto nom 1 lhe conuem mais de fazer, senom poerse em lugar À que possa ueer amballas sahidas dos uales, em tal modo 20. que porco nenhum nom possa sahir, que o elle nom ueja, e des hi que estee a tam apoderado, que nunca o porco lhe possa leuar auentagem, que lhe elle leixe de poer seu caão, e fazer a corruda. E a esta corruda nom se pode poer outra deferença, porque estas arma-. das se conuertem em parecer aas mais escritas chãas, ca algúas dellas som taaes que lhe comprira de la- . dear ao porco, outras de lhe correr peu e por qu | estam escritas, etc. etc. | 2, obligado — caer. — 4. melhor. — 5. sair. — 3, traela. — 9. pofia lo. — [1. traela — uaao] ua o — ualle. — 14. fica lhes. — 15. melhor. — 16. acontescer — as] nas, — 18. cheada. — 21. sair. | — 22. esté. — 24. corrida bis, e — 401 — 15. Da armada de tres uales. - À esta armada que dissemos, que auia tres ou quatro uales chegados ao monte, e quando se cerrauam, jun- tauamse com o monte em que se o porco auia de lan- çar, e que o monteiro nom tinha outro lugar, onde o guardar, senom de tam perto de donde o porco se auia de lançar, que nom estaua em rezom que em tal lugar podesse seer filhado. Ora he assi que nos nom lhe falaremos dos lugares espessos, porque em tal lugar nunca se filha o porco senom nos uales, que som bem limpos, e a armada bem comprida, ca em taaes luga- res se a de fazer esto, que escreuer queremos. O que o monteiro ouuer de fazer quando em tal lugar estiuer, he esto: tanto que uir sahir o porco do monte, mostreo a seu alaão, e como uir que o porco entra no terço da armada, ou em ametade, onde elle entender que milhor he, tire a treela ao alaão, e estee quedo que se nom moua, nem lhe fale, e espere tanto que se junte o alaão com o porco: e tanto que uir que.o alaão he junto com o porco, logo rijamente dee das esporas a seu caualo, e quando esto assi fezer, fara fermosa mon- taria, ca de força he ao porco fazer de tres cousas hua, e de cada húa dellas sempre esta em certidom de seer filhado, se o alaão bõôo he, ca todollos porcos nas ar- madas compridas, quanto he por correr de hum alaão, nunca se torna ao monte. E porem dissemos que ao porco era forçado de fazer de tres cousas húa, nom ja pollo ir que o alaão uay a elle, mais quando o de 3. ualles. — 7. razom. — 8. hora, — 9. espesos. — 14. uijr — sair —17. melhor — traela — esté. — 20, dé.. — 23, está, — 26. tor- nam (?). 26 — 404 — taualo ia a elle, que entom se faria: ca ou se elle querra tornar ao monte, ou atendera o alaão, ou querra passar: e se elle quisesse tornar ao monte polla ar- mada que era longa, e o alaão estiuesse junto com elle, ja estaua em disposiçom de o alaão filhar eo 5. monteiro correr mais aginha: e se o porco atende o 'alaão, este atender dizemos, porque muitas uezes acon- 254 tece que o porco he * tam brauo, ou tam grande de sua natureza, que por hum caão, ainda que seia alaão, | nom daa nada, e mais he seu prazer de o atender, que 10 1 de lhe fugir. Ou ainda acontece, que muitas uezes uem o porco a tam cansado polla armada, que ja nom tem outra cousa,:a que se acorra pera saluar sua uida, senom tam somente por se defender. Estes porcos que estas cousas am, dizemos que atendem os alaãos, 15 | e assi se o porco atendesse o alaão, e o alaão fosse bõo e o filhasse, a ida que o monteiro fazia, faria seer o alaão mais toste corrudo: e se acontecesse que o porco quisesse passar, bem parece que a armada lhe | ficaria longa assaz, ca se fazia tamanha, donde o alaão 20 chegaua ao porco ata onde o porco se auia de lançar: | e de mais que quando lhe o escudeiro corresse o alaão, que uehesse em pos o porco, sempre se esforçaria mais | em no filhar, e se o porco ladeasse, certo he que faria a armada mais comprida: e des hi ja esto he sabudo 251 que quando se a armada faz mais comprida, tanto o | porco he mais aginha filhado. (Os monteiros que em tal armada estiuerem, façam como he escrito, e faram | E bôa montaria. | É 1.ya, — 2. querrá (1.º) — querra (2.º)| querá, — 5. e o entrelinha, »-8. acontesce. — 8, grande] forte emendado. — 10. dá — plazer. -— 11. acontesce. — 18. acontescesse. — 20, tamafia. — 22. acor- resse (?) — 25. comprido — des hi] dessi. SA Capitulo xj, de como os de caualo | am de andar dentro no monte, e as corrudas que am de fazer, Acabado de escreuer como se am de poer os alaãos e de fazer as corrudas, fica a escreuer em como se a de matar o porco de caualo com alaão tambem, como sem alaão: e outra cousa mais ainda, que se o mon- teiro ouuer sabor de andar dentro no monte, e lhe seu senhor der lugar que ande, em como o a de fazer, de necessidade aos monteiros de o saber fazer, ca nom seriam logo chamados dereytos monteiros. Primeyra- mente andar dentro no monte: este andar se departe. em duas partes, a húa he sabello matar, a outra he andar de tal guisa que faça sahir o porco, e que ajude os caães em tal guisa, que os nom torue, que pollo seu andar errem o porco. Quando o monteiro que assi andar no monte, uir que os caães lhe correm bem com o porco, faça quanto mais puder por ir junto com elles, e guardese quando assi for junto, que se nom enuolua com os caães, nem os passe: que quando o monteiro que de caualo anda ao monte, se enuolue com os caães, ou os passa, logo os faz todos errar, demais os sabuios que andam nas casas dos senhores, ca elles porque som usados de lhes os de caualo matarem o porco, tanto que ouuem o struido do caualo, logo perdem a uontade que leuam de correr com o porco, e tem mentes por “onde uay o caualo, pensando que lho a de matar, por irem a encarna, assi como lhes soem a fazer: por estas 5. corridas, —q. sefior — de] he de (?). -- 11, dereitos, — 14 sayr. — 41. enbolua. — 23. sefiores. 255 a 104 —. cousas nom se deue o de caualo que ao monte andar, enuoluer com os sabuios, ca des que se com elles enuolue, logo se tornam: ja de os passar he certo, assi como ante' dissemos, que todos leixam ir o porco por * tornarem aos estrópios do caualo. No que dissemos que auia de andar muito chegado, podiam dizer alguus monteiros que se o monte fosse espesso de pedras, ou de areaaes, ou de ladeyras baixas, e profundas, ou de siluados, como auia de andar o de caualo dentro no monte: dizemos que diz bem quem esto diz, mas nos fhom lhe falamos senom naqueles montes, em que o de caualo pode andar, e daquelles em que elle nom pode andar, esta palaura nom pode andar, traz con- sigo sua certidom, ca onde diz, nom pode andar, nom esta daguisado que nos falemos. Mais he assi que a- nosso ueer, poucos som os montes, em que o de taualo nom possa andar, ainda que nom seiam taaes per que nom possa andar com os caães, porem nom |. leixara de andar por algúa uozaria, se a o monte tiuer, ou subir em algum alto ou altos, ou falar dali aós caães, e assinar aos moços por onde uam, ali onde o porco for. Ora quando o monte for tal, em que o de caualo possa andar, dissemos que deuia ir mais juuto com os caães, que pudesse, e esto em con- tinuar sempre com os caães, nom esta em rezom que. “o monteiro sempre continue, ca de força lhe he, que as uezes ache montes espessos, que o de caualo nom possa sahir delles, ou fragas, ou quebradas de aguas: entom quando estas cousas achar, leixe ir os caães hãa peça arredrados donde elle esta, e entom ueja o milhor lugar por onde lhes pode atalhar, e atalhe: e quando 4. antes. — 15. está, — 18. per que nom possa andar com os MG 258 *atentado na redea em tal guisa, que como o alaão filhar, que o caualo nom passe, mais tam toste como chegar, que logo pare de sobre elle: esta he muy bôa monta- ria, ora uaa o monteiro soo, ou de companha com outros monteiros, ca esto cream os monteiros que se algúus uaam de companha correndo algâus pórcos, que aquelle que assi tentar seu caualo, quando uir que o alaão se chega pera o filhar, que matara muytos mais porcos, que os outros que corram desatentados: e quando assim correr, nom dee muito se os outros: cor- rerem desatentados, por lhe irem hum pouco deante, e quando assi uaam deante faz segurar aquelle que leua o caualo atentado de matar mais aginha o porco. Os que assi correm desatentados, de força he que quando o alaão filha o porco, que elles que o passem, e ante que uoluam os caualos, o outro que uem acerca detras, muito mais toste lhe chegara que os outros, que uoltam os caualos, e por esto he bem, e segurança de milhor “matar o porco quando o alaão filhar, leuar sempre seu caualo atentado. Ainda hi a mais de fazer, que quando assi correr o porco, que o alaão a de filhar, sempre leue a azcuma de sobre maão, e nom de justa: em como quer que a muitos monteiros acontece que “que por leuarem assi a azcuma de justa, de mais os que correm desatentados, se lhes acertou alguas uezes de matarem o porco, e algúus teem que por leuarem a azcuma de so o braçoo matauam mais aginha: empero “nom he assi, ca elles nom o matam mais aginha por ende, de mais he mal que sempre ficam obrigados a lhes o alaão receber cajom. (Quando assi leuam a az- cuma de so o braço, nom som certos pollas uoltas que o 4. hora— comp.º. — 5. uam — compafia. — 7. tentar] atentar (?). — 8. matará. — ro. dé. —11. diante. —r2. diante — aquel. — 17. che- gará. — 18, melhor. —21. á. —23. acontesce. — 25. alguns. — 27. So 0] soo. — 29. obligados. — 31. soobraço. — 411 — porco daa, se fica o alaão entre elles e o porco, o qual ficando, podiam errar o porco, e dar no alaão, ou que lhes o alaão ficasse da outra parte do porco, pollo ir que iam rijos passar o porco, e passar o alaão: da outra parte, e assi ficaria o alaão morto. Das quaaes cousas nos uos damos testemunho, que algãas uezes uimos acontecer, e uos queremos dizer hum aconte- cimento que a nos aconteceo por leuar assi a azcuma de so o braço, que nos corriamos hum dia em pos hum porco, e leuando assi a azcuma de so o braço, iamos muy chegado ao porco, e o alaão filhou o porco polla perna, e do filhar que filhou, o porco uolueo o rostro pera onde nos uinhamos, e no ir que iamos, lhe de- mos com a azcuma por cima de hua ponta da espalda, e a azcuma cortoulhe todas as costas por junto do espinhaço, que se contem da espalda ata as cadeiras, e . as cadeiras em tal guisa forom estremadas, que sahio “todo o ferro fora, e a naualha da azcuma deu ao alaão pollo peito, e cortoulhe o couro com hum pedaço de carne, e entrou grande parte do ferro pollo chaão, an- tre os pees e as maãos do * alaão, e o porco ficou todo partido, como se o quisessem fazer em toucinhos. E assi porque estas azcumadas, quando uaam de soo maão a correr do caualo som grandes, e o monteiro nom podé teer tento, nem auisamento daquello que a de fazer, esto faz que os alaãos alguas uezes recebem ca- jom. Da qual cousa os monteiros deuemse de guardar, que se a meesma azcuma feria o alaão que tinha o porco polla perna, que se a de fazer aaquelle que tem o porco polla orelha, ca sabudo he que o leuar de so o braço mais seguro he ao alaão que filha polla perna, 1. dá. —4. ijam. — 7. acontescer. — 7-8. acontescimento. — 8. acontesceo. — q. so 0] soo. —1o, so 0] soo — ijamos. --13. ui- nhamos) uinha nos — ijamos. — 16. espinaço, — 17. saijo, — 18. ferro] forro. — 25, à. 259 — 412 — que o que filha polla orelha. Ainda mais a de fazer . o monteiro que mata o porco com alaão, quando lhe assi ouuer de dar de sobre maão, sempre abaixe a maão dereyta, porque quando assim baixar, sempre o ferira milhor, e mais desembargado: e desta guisa se mata o o porco com alaão, com todallas outras cousas que dissemos, como se auiam de encarnar os alaãos nouos, e a tambem como se auiam de poer nas armadas, que ali o dissemos. Capitulo x1117, como o monteiro de caualo a de matar o porco sem alaão, em monte alto. Muytas uezes acontece ao monteiro de se acertar a correr em pos algum porco que corre por monte alto, em tal guisa que o monteiro que em pos elle corre continuadamente, em quanto assi em pos elle uay, nom o pode ueer senom algúas uezes, ca este porco quando assi corre por monte alto, nunca al faz ainda que o monteiro corra bem, e lhe uaa muito chegado, senom tam somente como o uee, logo se lhe no monte cerra, em tal guisa que se o monteiro nom for sabedor, logo o perdera de vista: e em este monte tal, que assi for tal, em que o monteiro ouuer de correr pera o auer de matar, o milhor que pode fazer he esto: quando lhe assi correr, sempre leue a azcuma de sobre maão, e guardese quanto mais puder de topar com ella nas es- teuas, ou nas urzes, ou em outro qualquer mato que seia alto. (Ca nos uimos acontecer a algúus monteiros, e a nos meesmo aconteceo, que esguardando de uista 1. à. — 5. melhor. — 10. á. — 11. acontesce. — 13. el. — 14. el, — 20. perderá. — 22, melhor. — 26, acontescer, — 27. mesmo — acontesceo. im 413 mad por onde ia o porco, a azcuma se abaixaua, as esteuas a filhauam, ou outro qualquer mato que alto fosse, em tal guisa que do grande ir que faziamos, logo a perdiamos da maão, e em quanto tornauamos por ella, iase o porco em saluo, e nom o podiamos jamais cobrar. Ora a aqui hãa muy bôa montaria, e he esta: se aquelle que a azcuma perdeu, uay em compa- nha de alguus de caualo, pera se elle mostrar bõo monteiro, e elle uay mais chegado ao porco, em tal lu- gar nom deue dar por sua azcuma, senom leixalla, e correr ao porco tam rijo, e tam apressado, como se le- uasse a azcuma na maão, e aquelle que o assi fezer, ueede como faz bôa montaria: ca se elle *uay deanteyro dos outros, e tornasse por a azcuma, esta em rezom que o porco se alongaria muito dos que uinham em pos elle, e perdello iam de vista, em tal guisa que nom saberiam por onde ia, e assi nenhum delles o nom ma- taria: e se elle fosse de sobre o porco, ainda que non le- uasse a azcuma, os outros que depois delle uehessem, saberiam per onde o porco ia, e das uoltas que lhe elle fezesse dar, chegariam outros de caualo, e quando assi chegassem, estaua em disposiçom, que posto que o elle nom matasse, que o faria matar aos outros, e fazendo assi fariam em ello fermosa montaria: ca muito he de louuar a todollos homêes seerem bem auisados E -aquello que am de fazer, e muy prestes a fazello: por ello nom he de duuidar que os monteiros que esto uissem fazer, que o nom tiuessem por muito auisado, e que bem sabia aquello que auia de fazer. Quando assi correr com elle por este monte alto, como disse- mos, em tal guisa que as uezes o uee, e as uezes nom, t. ya —S5. ia] ija. — 6, hora. — 7. aquel. — 7-8. compa — 8. el. —g. el. — 10. leixa la. — 12. aquel. — 13. el. — 14, está — razom, — 16. perde lo yam. — 17. hia, — 18, que om, — 19. del, — 20, ija — el. — 25. homes. 260 - tm 414 — 0 milhor que a de fazer pera o nom perder de uista, he correrlhe muy rijo quanto elle puder, e des hi nom tenha tanto mentes no porco, quanto nas ramas que bulem por onde elle uay : e porem creede todollos monteiros, que se o monteiro corre por tal lugar ao porco, e tem mentes em elle em quanto o uee, e nom as ramas que se abalam, muy aginha o perdera de uista, e em quanto uir as ramas bulir, nunca o perdera, ou mais tarde que se os olhos em elle tiuesse, e fazendo assi, fara bõôa montaria, e acharse a muy auantajado pera o matar. Capitulo xy, como o monteiro a de matar o porco em charnecas altas que deem ao peito ao caualo, como se ueja. Outro lugar a hi, onde os monteiros matam o porco de caualo sem alaão, assi como em charneca, que se o caualo lhe uay chegado, poucas uezes o perde de uista, pero nom deixa de ser tam alto que as uegadas daa ao caualo por cima dos peitos, as uezes mais e menos, pero que elle nom o perde de uista. Ora assi he que a milhor cousa que o monteiro pode fazer pera matar o porco, he esta que se segue: primeyramente leue sua azcuma ao colo, ainda que se muito chegue ao porco, e logo na primeyra chegada nom dee muito por abaixar - | a azcuma, ca em a baixando faz muito embargo aos monteiros pera o bem matar. (Ca muitos homées a hi que nom sabem andar ao monte, e tanto que ueem que seu caualo faz chegada ao porco, metem a azcuma 1. melhor — à. — 4. todollos] todos, — 6. el. — 7, perderá. — 8, uir| ucer — perderá. —o. el. — ro. a] ha. — 13. dem. — 18, dá. -— 20. hora, — 21. melhor. — 22. collo. — 24. primeira — dé. — 25. baxando. — 26. homes. — 27. uem, — 415 — de so o braço, e o porco porque uay ainda folgado, faz uoltas, e como daa uolta, uoluem com elle todauia com a azcuma de so o braço: e seede certos que nom a hi tam auisado homem, que a azcuma leue de so o braço, ainda que seia leue, que se lhe o porco der cinco ou seis uoltas, e elle assi trouuer a azcuma em pos elle, que nom fique tam cansado, que a maas penas a podera trager na maão, e ainda lhe faz mais embargo leuandoa assi, ou por cansaço, ou por enfadamento lhe faz per- der a pontaria que traz pera lhe dar: e se algum duui- dar de esto seer assi, proueo, e o prouar lhe tragera a esperiencia, e sabera que esto he uerdade: mais o mi- lhor trager da azcuma he ao colo como dissemos. Quando acontecer que ueja que o seu caualo faz grande chegada ao porco, e lhe ueher sabor de prouar de ueer se lhe dara, e daquella * ida que for, o nom acer- 56: tar, e se desuiar, tostemente leuante a azcuma, e ponhaa ao colo, como antes tragia, e ass! pode ir sem- pre folgado, que como chegar ao porco, abaixe a az- cuma de so o braço pera lhe dar, e como o porco der uolta, logo a leuante, e tornea ao colo: e quando assi fezer, nom tam somente lhe aproueitara pera ir folgado, mais ainda si, e seus companheiros de grandes cajoões que se acontecem, quando assi andam em uoltas com os porcos, e tragem as azcumas de so os braços. Mas posto que assi leuem as azcumas, e façam como dito he: empero ainda hi a outras cousas que os monteiros deuem a saber pera bem matar o porco em tal lugar como este: a primeyra quando o monteiro em tal lugar correr o porco, e assi leuar a azcuma como dito he, 1. soobraço, — 2. dá. — 3. soobraço. — 4. auisado] arrizado — soobraço. — 7. poderá, — 11. tragerá. —13. esperiença — melhor, — 14. acontescer, — 18. collo. — 20. soo braço. — 21, collo, = 22. aproveitará, — 24. acontescer. — 25. soobraços, — 416 — da primeyra chegada que chegar ao porco, e uir quê uay folgado, nom faça grande conta abaixar logo a az- cuma, mas faça muito pollo emburilhar com seu caualo, e o encalçar tantas uezes que a elle pareça que o porco lhe conheça melhoria correndo o caualo mais que elle: e depois que elle uir que seu caualo tem grande auen- tagem do porco, e que o porco lhe conhece melhoria, entom se leixe assi andar com elle, ata que acerte al- gum carreyro: e como uir que o porco lhe uay pollo carreyro, tirese com o caualo fora, e leixe ir o porco por elle, e entom meta a azcuma de so o braço, e ponha em sua uontade onde lhe dara, e ali lhe dee, ca o porco nunca se desuiara do carreyro, porque o de ca- ualo uay de fora, e porque se sente abaldoado do ca- ualo. Quando elle acha o carreyro assi desembargado, cuvda por ali milhor fugir, que pollo monte espesso, e por ende nom se desuia, e por esta guisa se mata milhor o porco nas charnecas que taaes som, como dito he. E non tenham os monteiros porem dizermos, que leixem o porco encarreyrar, porque poderiam dizer algúus, que se se o monteiro teuesse aaquello, que ante que o porco achasse carreyro que ante fugiria, e uos sabede que nos nom falamos do carreyro que seia tam ancho como a estrada de Lyelba, que uay pera Santa- + rem, mais fallamoslhes dos carreyros, que continuada- mente som nas charnecas, em que se fazem taaes cor- rudas, ca se bem parar mentes qualquer que esto quiser saber, poucos lugares achara em taaes charnecas, e ainda nos montes, em que nom ache carreyros, ora seiam de trilhamentos de homêes, ou gados, ou de . 4. el, — 5. cofieça. — 7. conhesce. — 11. so 0] s00. — 12. alli = dé. — 13. desuiará. — 16. melhor. — 18. melhor, — 19. tefiam, - 24. de Lyelba] de Lixboa (?). — 28. achará. — 29. hora. e 417 — ceruos, ou de porcos, ca pollo uso de andar, que em estas cousas usam em esta maneyra, poucos lugares acharam, em que nom aja carreyros, em tal guisa que como o porco se sente alcançado do caualo, e abal- doado, logo acha carreyro per que gatias e se o nom achar sera gram uentura. Capitulo xvj, como se am de guardar os monteiros de cahir quando fezerem as corrudas aos porcos. Ainda hi a outra cousa, per que muytas vezes se perdem os porcos, e o monteiro filha cajom, e esto he geralmente em todo lugar em que o monteiro aja de correr ao porco, por as quedas que lhe acontecem: e por se desto guardarem, he de * saber que quando o monteiro de cavalo cahe, e lhe o alaão nom filha o porco, que o porco se uay em saluo, e ainda que o filhe, muytas uezes se perde o alaão por mingua de “ acorrimento que seu dono lhe nam acorre: mais em como quer que assim seia, os monteiros nom podem tanto saber, que se possam guardar de cahir, porque muytas uezes cahem os caualos em couas de coelhos, e em couas de souereyros velhos, e em paaos atra- uessados, em tremedaaes de aguas, e em outras muy- tas cousas que se nom podem contar: mais empero a hi duas cousas que som tam certas pera estes montes de charnecas, em que homem nom pode bem ueer a terra pollo mato que a embarga, que nom pode per alli passar, que aa de leue nom caya, se a 2. usaom. — 6. será. — 8, cair — corridas. — 11. caiom. — 12. ala, — 13. acontescem. — 15, caae. — 20. cair, — 21. caem, — 26, homens, — 27. uer. az 262 EB do todo correr for, e som estas: a primeyra he atraues- sar qualquer uale, que seia grande ou pequeno, a se- gunda correr o caualo por meo do uale ao longo de- reyto: estas cousas som tam certas do que por ali cor- rer, de cahir, que ainda que fossem mil nom escaparia hum, se o monte fosse cuberto: e a rezom he esta, e os monteiros todos a sabem, que nom a hi uale, per que nom corram aguas nadiues, que corram todo anno, | ou aguas de inuerno: e assi continuadamente pollos uales pollo corrimento destas aguas, se fazem muytas quebradas de aguas, e poças altas e baixas, em guisa que se o monteiro nom uisse lugar desembargado, per que ouuesse de atrauessar o uale, logo esta em auen- tura de cahir, esto he pollas barrocas muytas que nos uales estam. Ora assi he, que se as correr de longo do uale que muyto mais certo esta pera cahir, ca de força que acerte húa ou outra, demais que quando estas aguas correm assi todas pollo uale, nom correm derey- tas, porque ora se lançam pera húa parte ora pera ou- tra, porem quando se o monteiro que o corre quiser. guardar, faça em esta guisa: tanto que chegar a algum uale, posto que uaa muy chegado ao porco, se o ouuer de atrauessar, ainda que o uale seia pequeno, atente seu caualo em tal guisa, que o passe seguro, e nom dee muyto por se o porco arredrar, ca mais certo sera de o depois cobrar, ainda que se arredre, ca depois que cahir. Ca ja sabudo he como dissemos, que depois que o monteiro cahe, que nunca jamais pode cobrar o porco: e se lhe correr pollo uale dereyto, por se guardar daquelles cajoões, o milhor que pode fazer, meta o caualo per hãa das ladeyras, e uaa a igual do porco, 5. cair. — 6. razom —. nadiues no texto, nativas glosa margi- nal, — 13, está. — 14. caer. — 15. hora. — 16. caer. — 19. hora. — | 23. piqueno. — 25. arredar. — 26. arrede — cair. — 28. caae— podem, — 29. dereito. — 30. melhor, + 410 — ata que o porco chegue a tal lugar, que lhe possa cot- rer desembargado, assi como dissemos na duodecima armada: e quando fezer estas cousas, ira guardado das cajoões ditas. Capitulo xvij, como se a de matar o porco em charnecas pequenas, ou em campo grande. Acontece ainda aos monteiros de correrem em pos de algúus porcos por charnecas baixas, em que se o porco uee sempre bem descuberto, e as charnecas som tam baixas, que nom podem mostrar carreyros, como ante disse: e nestas charnecas baixas nom deue o mon- teiro teer mentes que se lhe o porco encarreyre, pois nom a carreyros, e ainda que os aja, o porco nom para mentes por aquelles que assi corre, tambem por fora do carreyro como por elle, e esto nom o faz quando os montes som altos, (Quando o porco assi' correr por charneca baixa, o milhor que o monteiro pode fazer pera o matar mais desembargadamente, he esto: faça muito pollo trager alcançado com seu caualo, como dissemos no quando o auia de leixar encarreyrar, e tanto que uir que o porco começa a subir algua ereita pequena, assi como se faz continuamente nas charnecas, posto que o seu caualo faça grande auenta- gem ao porco em correr, tanto que uir que o porco entra na ereita, retenha seu caualo de correr, em tal guisa que o porco nom seia alcançado, que se possa desuiar, e faça que uaa igual delle o que puder: e tanto que uir que o porco sobe em cima da ereita, * e quer 2, 12. — 7. acontesce. — 11. antes, — 16. o porco entrelinha, — 17. melhor. — 20, no omitir (?) — 22. erecta — piquena, — 25. erecta — retefia. — 28, erecta. 263 «— 420 — uoluer ao sopee, entom pique o caualo o mais rijo que puder, ata que o alcance no sopee, e seia bem certo que o porco que assi for pollo sopee, nunca se des- uiara, ainda que o caualo o alcance, e que elle a tamanha gana de fugir polla ligeirice, que em si acha no sopee, que nom faz senom pollo acabar, e quando assi uay, nom tem mentes de se desuiar, e quando se assi nom desuia, logo o monteiro o pode ferir a sua uon- tade: e per esta guisa se mata milhor o porco nas char- necas baixas, que de outro geito. Outro matar hi a destas charnecas baixas, ou de campo, do qual nom sa- bemos monteiro que de aquesto use: pero a nos acon- teceo de o fazermos, e quem o prouar achara que he uerdade: que se se hum de caualo meter por húa char- neca, ou por hum campo, e o andar alcançando, que a | maas penas, em quanto assi de sobre elle andar, que | lhe o porco possa mostrar nenhum cansaço, nem fra- queza do seu correr, demais se for no tempo de Mayo, depois que os porcos começam a criar sangue. E o que a nos aconteceo, he esto, que andando nos em pos al- guus porcos, quando uiamos que nom queria algum afracar de correr, sofriamos o caualo, e deixauamos lhe tomar tamanha auentagem pera se alongar de nos, assi como hum tiro de beesta de sessenta passadas, ou mais, e assi fomos com elle hum pedaço sem perdello de uista: e quando elle se sentia alongado de nos, perdia aquelle espanto que leuaua do correr do caualo, e leixaua aquelle correr, e entonces nos corriamos a elle: e se- jam bem certos os letores, que nunca esto fezemos a tantos porcos, que jamáis cobrassem o correr: e logo 1. soopee. — 2. soopee. — 3. asoopee. — 4. o de caualo — á. — 5. tamafia. — 6. sóopee. — g. melhor. — 12-13. acontesceo, — 13. achará. — 20. acontesceo. — 22. a fracar — deixauasmo, — 23. tamafia. — 24. 60. — 27. deixaua. — 30. cobrassemo. - EE HH l . b ad - l ex faziam de duas cousas hãa, ou uinham a nos, ou nom se podiam desuiar, e entom os feriamos: e desta outra guisa se matam os porcos mais em charnecas peque- nas, ou em campo longo. Capitulo xvitj, como se a de matar o porco sem alaão em salto curto. Ainda hi a outra cousa que os bõôos monteiros fazem pera matar o porco nas armadas curtas, quando nom tem alaão, andando em lugares de charnecas, e saltos curtos, por onde o porco a de saltar, se uee que o porco quer saltar, uolue as ancas do caualo per onde o porco uem, e esto faz grande auentagem ao monteiro pera o milhor matar, e a rezom he esta: quando o monteiro de caualo esta volto de rostro pera onde o porco uem, e da sahida que o porco faz, finge como se quizesse justar com o monteiro, o que fazem os mais dos porcos: e quando o porco uay a entrada da azcu- ma, e o monteiro quando quer uoluer contra elle, filha o porco tanta auentagem, que pollo lugar curto nom o pode alcançar, e per esto o perde: e quando esta com - as ancas uoltas a elle, e o porco salta a traues, logo o monteiro fica endereçado pera lhe dar, e logo o caualo se iguala com o porco por o dar das esporas. E pera fazer bem, ponha tambem o uoluer a azcuma ao colo, leixando sempre o porco a maão dereyta, e teello sem- pre ao olho: e tanto que lhe uir dar o salto, meta a azcuma de so o braço batendo as pernas ao caualo, e assi fara grande auentagem pera o matar: porque quando o 12. uentagem, — 13. melhor — razom, — 14. está, — 15, sayda — 17. à. — 19. uentagem. — 24. deixando. — 26. uijr. — 27. soobraço — às] 6 — perna. — 28, uentagem. — 29. dá, 264 porco assi daa o salto, se o monteiro der prestes as es- poras ao caualo, e pollo abaixar da azcuma, faz em ello tantas auentagées, que a maas penas o Roo leixara de leuar Ena azcumada. Capitulo xviiij, como o monteiro a de matar o porco de justa. e Dito como o porco se a de matar sem alaão, dire- mos como de justa, e em que lugar, ca os porcos se matam de muytos modos, segundo as entençoões dos monteiros que com elles justam, ca algúus sempre os leixam aa maão esquerda, e per cima das comas do caualo justam com elles: outros metem a azcuma igual- mente ao rostro do seu caualo, e uaam ao porco de- reytos: outros afastamse * todo ao longo da azcuma, se o lugar he desembargado, e dizem que ,se lhe dam, que he mais seguro ao caualo nom ser ferido: outros atendem o porco que uem a elles de sobre maão, e he muy bôo matar, se o bem sabem: mas nos diremos o modo de matallo mais sem perigo, em como quer que seia auenturado seu caualo a seer ferido: outros estam quedos, quando o porco uem a elles, e baixa a azcuma o atendem: outros quando tragem alcançado o porco, e elle uem a elles, am uergonha de lhe fugir, e uoltam- se na sella, e atendemno por cima das ancas do caualo, e isto pode ser com proueito, e sem elle : outros leixam o porco aa maão dereyta, trazendo a azcuma arredrada do caualo quanto dous couedos, mais ou menos, sem ter outra entençom senom afemençar o lugar onde lhe quer dar, e este justar a nosso ueer he milhor: e de 3. uentagens — leixará, — 7.á. —11. á — ezquerda. — 14. ao] ó. — 23. uergonça. — 24. atendeno. — 26. arredado. — 29. melhor, e abdaaç das: 4 o nd » R , W py à Cm H e. a : E RÊ f A — 423 du todos diremos como cada hum falece, e este he o milhor de todos. O leixar o porco aa maão esquerda, e trager a azcuma por cima das comas do caualo, he muy maao, e a rezom he: porque entom a azcuma fica mais curta, que quando atende aa maão dereyta, e se o monteiro acerta o porco com a azcuma, muytas uezes se acertou que elle uem com a azcumada de so o uen- tre do caualo, e o fere, e o caualo ferido, ou ainda nom ferido, dalhe o monteiro das esporas pera se sahir do porco, e entom a azcuma que teue o monteiro atraues- sada por cima do colo lhe empacha muyto: e assi he de força, que ante que se espeça da azcuma, dee com a cabeça nas ancas do caualo, e cahir, e assi receber cajom do porco, que uem sobre elle, e o menos mal darlhe a azcuma pollos seus beiços, e narizes: e assi nos aconteceo a nos mesmo, assi aconselhamos, que nom usem este modo de justar. O outro que poem a azcuma a igual do rostro do caualo, nom he perfeita- mente bõo: e o porque he, do que dissemos do pouco lugar que daa o porco ao monteiro no capitulo xiiij do liuro primeyro: e quando assi justa deste modo nom faz al senom poer a azcuma em dereyto, e correr a elle, e assi esta em rezom de o errar, por lhe nom poder dar senom pollas queixadas, e caluga, e estes som tam pe- quenos lugares, que de auentura se acertam, e assi nom he perfeito este modo. O outro de afastarse ao longo da azcuma nom em todo he bõo, porque este que assi justa se mostra couarde e medroso, o que he contra o intento deste joguo inuentado pera mostrar os homêes sua proeza e ardimento. O outro de atendello de so- bre maão, que dissemos que era bõo aos que o bem 1. fallesce. — 2, melhor — á — ezquerda. — 4. razom. — 5. à. — 9. sair. — 12. dé. — 13. cair. — 14. caiom — 20, dá. — 20-21, cap. 14 do lib, 1, — 22. dereito. —23. está — razom. — 26. ao] ó. — 29. jogo, 265 — 424 — sabiam, e que nos lhe diriamos como milhor o matas- sem, e mais sem cajom de seus caualos: .c em tal caso defeso he ao monteiro nom aguardar ao porco, se o caualo andar cansado, porque quando o porco entra de so o uentre do caualo, ainda que continuamente seia folgado, que ante que delle saya, o monteiro lhe daa quatro ou cinco uezes as esporas, em tal guisa que muytas uezes lhe parece sahe tarde: e quando assi faz o caualo folgado, muyto mais o fara o cansado, e por esto lhes he defeso justar com elle cansado. Em como quer que dissemos em esta outra parte, que quando o porco estiuesse ladrando em monte delgado, * que nom auia hi al senom ir a elle com a azcuma de sobre maão: esto foy dito somente pera os que se lhe nom daa nada pollos caualos, senom somente pretendem matar o porco: mas aquelle que guardar quiser seu caualo, quando ouuer de atender o porco de sobre maão, o milhor que pode fazer he, quando uir que o porco quer uiir a elle, ou anda em tal lugar que se nom pode des- uiar de uiir a elle, auiue o caualo das esporas, e estee prestes da redea, e azcuma, e uolua a cabeça e o ca- ualo tanto que nom dee ao porco lugar que uenha, se- nom sobella chãa da perna do caualo, ou quando me- nos ata o ilhal: e tanto que o porco chegar, e lhe der com a azcuma, tam toste bata as pernas ao caualo, em tal guisa que scia hum o dar com a azcuma e o bater das pernas: e este justar muytas uezes guarda o ca- ualo de ser ferido, e os monteiros se mostram soltos, e auisados. O outro de estar quedo, nom o faz com- pridamente de bem como se deuia, porque quando elle assi esta, acontece algúas uezes que o porco uem tam 1. melhor. —5. so 0] soo. — 6. dá. — 8. paresce — saae. — 14. dá. — 15. pellos entrelinha. -- 16. aquel. — 18, melhor, — 19. uir, — 20. uijr — este, — 22. dé. — 31. acontesce. maga 250” eg” E ET a QUEEN Ae E To) 15 “20 25 passo, que se nom pode talhar na azcuma, nem o mon- teiro assi quedo daa ajuda pera o talhar: e ainda que o talhe, he tam pouco, como se nom talhasse, e podera seer errar o porco quando elle uier, e elle se entrara so o caualo, e nom se podera sahir delle tam bem, como se o caualo utesse a galope, ou correndo, o que he mais perigoso que o sobredito: e assi nom he per- feyto este modo. (O outro que atende o porco por cima das ancas do caualo, quando alcançaua o porco, e lhe ficaua detras, a esto dissemos seer parte maao, e parte bõo, e o milhor atender em este modo he estar quedo, sem se mouer, ora filhe o porco grande azcu- mada ou pequena, porque atendello indo o caualo chou-. tando he cousa sem proueito, porque nem o porco pode leuar grande azcumada, e parece que uay fugindo a porco que uem detras. O outro atender arredrando a azcuma da espalda do caualo hum couedo, ou dous da parte dereyta, he o milhor a nosso ueer que o monteiro pode fazer, quando esta em seu poder, porque as uezes nom podem polias contrariedades que succedem: e assi sempre esta seguro de todos os acontecimentos, que dito auemos em estes outros modos de justar: e quando elle assi quiser justar bem, ora seia atendendoo, ou correndo a elle, faça que hum pouco lhe uaa a azcuma atrauessada, em tal guisa que das queixadas do porco ata as cadeyras sempre quede obrigado de lhe dar, de sorte que se o errar em hum lugar, lhe dee em outro. E uera per onde o fere com a azcuma, e se for polla caluga, ou espalda, ou hombros, se puder teer na az- cuma, tenhao, que dello nom lhe pode uiir mal nem ao 2. dá, —4. entrará. — 5. poderá — sair. — 9. alcançauam. — 11. melhor. — 12. hora. — 13. pequeno. — 16. arredando, — 18. melhor. — 19. está. — 21. está — acontescimentos. — 27. dé, — 3o, uir. DS do o seu caualo: e se o ferir pollos quartos traseyros, como o ilhal, ou coxas, ou cadeyras, logo leixe a azcuma da maão em elle, e dee das esporas ao caualo saindose o mais que puder : porem sede certos, monteiros, que nom se pode trager a azcuma tam dianteyra, que se ferir o porco por estes lugares sobreditos, e o porco for grande, 266 que todauia nom uenha so o caualo, a * húa polla gran- deza do porco, que he tam grande que nada o embargua que leixe de chegar ao caualo, que antre o entrar da azcuma por elle, a sua grandeza logo se iguala com a longura da azcuma, e quanto a uara he mais longa, tanto he mais fraca, ou por quebrar, ou torcer: e assi aconselhamos que logo que o ferir pollos quartos tra- seyros, pique o caualo, e solte a azcuma, e saya delle: e este he o milhor modo de justar. Capitulo xx, como se mata o porco de remessa, Dito como se auia de matar o porco com alaão, ou sem alaão, fica hum matar sem alaão muy usado dos monteiros, e he matalo de remessa; o qual nom he se- gundo nosso ueer mais que de quatro maneyras. A pri- meyra he quando o monteiro corre em pos o porco, e o porco a maão esquerda em o remessando atraues da coma do caualo: e este he bôo matar sem perigo de si, ou do caualo. (O outro matar quando he em saltos curtos, e o porco atrauessa per ante homem, entom o monteiro nom pode hi al fazer senom remessallo, e esto he bôa montaria, se o sabe fazer bem. Outro remessar a que o porco lhe uay de longo, e se quer lançar no monte, a que se acolhe, e o caualo enfraqueça, em tal 5. dé. — 8. embargue,. — q. deixe. — 15. melhor. — 20. uer. — 23-24. e este he bõo... ou do caualo, aposição marginal. Ee — 427 — nat Duro do odeio, io A AL ee ao di] to io Ao: * guisa, se nom o pode matar, senom remessando, he bõôo, mas nom tam seguro como os passados. Outro matar a hi de remessa muy seguro e certo, que he: quando o monteiro corre por chaão, charnecas, ou lu- 5 gar per que possa bem correr, leixando o porco a maão dereyta, em tal guisa que fique em dereyto da estri- beyra do caualo, quanto quer a cabeça ou os hombros do porco, entom uolua o corpo na sela, e remesseo dali, que he muy certo pera o nom poder errar, por ro seer de preto. E nom a outras maneyras de remessar - senom estas a nosso entender. Na primeyra aquelle q - que ouuer de remessar, a mester ser auisado pera bem A acertar o porco, que lhe nom tire aos costados, nem a Ê perna, mas a todo seu poder ao rostro ou cabeça, e assi | 15 O acertara bem, ca certo he que depois que a azcuma sahe das maãos ata que ao porco chega, algum espaço j a de auer, e as uezes ainda que lhe ao monteiro pa- E ge 5 — (o sa ve e a tm eim vd do o dr, SpRraRs fra | reça pequeno, tirandolhe aos costados ou perna, ante | | que a azcuma chegue, passa o porco por elle, e assi 20 fica errado: e quando tira ao rostro ou cabeça, nom pode | o porco passar tamanho espaço, que a azcuma o nom | - alcance em algua parte. No segundo matar de remessa | tirelhe sempre deante, como em este outro esta escrito, IE saluo se por guardar si e seu caualo de cajom leixe o fas porco passar todo o corpo, ante o rostro do caualo, | | entom tirelhe aa cabeça, como he dito, porque se re- E messa ante que passe, fica obrigado a cajoões, porque | entom o monteiro toda a entençom tem no remessar, ! sem ter mentes nas outras cousas: e entom o caualo 3 uay de sobre o porco, e topa com elle dos peitos: e nos F h 4 E 10. á. — 11. aquel. — 12. mister. — 14. ao) 6. — 15, acertará, — 16. sae. — 17. á, — 17-18. e as vezes... ou perna, aposição mar gi- nal. — 18. piqueno — aos] ós. — 20/a0] 6 — rosto, — 23, está. — 26. á, O o da a da z ” » És a" | 267 — 428 — uimos por tal topar, cahir muitas uezes os monteiros, e mais uimos ser o porco errado, e o monteiro da uinda que uinha nom se poder guardar da azcuma, e o conto della acertaua a algúus caualos, e eram mal feridos, e assi meesmo os monteiros, e assi lhes aconselhamos façam o dito. Do terceyro modo de remessar, sempre o remesse aa cabeça, ou hombro, e nunca as ancas, polla rezom que dissemos no primeyro modo, mas guarde a cajom que os monteiros recebem, quando assi remes- sam, a qual he topar em * sua azcuma, e tam toste como se a azcuma sahir fora da maão, logo desuie a todo, seu poder o caualo aa maão esquerda, ca bem sabedes que a esta parte uoluem os caualos mais ligeyramente que a dereyta, e assim fica o monteiro guardado de nom topar nas azcumas. Na quarta maneyra nom ha cajom algúa, mas nom lhe tire como em estes outros adeante, mas ficandolhe em dereyto da estribeyra, tirelhe onde quiser, que pollo ir do porco, e uiir da azcuma, fica tam pequeno compasso, que logo lhe a azcuma chega: e desta guisa entendemos que se pode milhor matar o porco de remessa. 4 . FINITO LIBRO DEO GRATIAS Copiado fielmente com todas as variações ortographicas que vinhão no Manuscripto, com todas as phrazes não acabadas, e pe- riodos inintelligiveis, sem que lhe mudasse cousa alguma : até os borrões lhe copiaria, se não temesse que m'os attribuissem, e não r. cair. — 5. medes. — 7. àá — ás. — 8, razom. — 11. sair. —12. á, — ezquerda. —14. direito. —18, uir. — 19. piqueno. — 20. melhor. ' Ng-* A — 42) — ao Manuscripto. Só lhe acçrescentei alguns accentos para que ficasse menos inintelligivcl. Estou certo que me imputarão mui- tos erros que não são meus. Ora é pena que eu não esteja lá com o Manuscripto nas mãos para lhes mostrar o contrario, e lhes roçar os narizes com elle. Paciencia, sobre paciencia! Que bastante tive em atentar ená palavra por palavra, mas até lettra - por lettra. o F. A C (2. ã 74 “a e o pe po cti e— pi rt Tiii a ) , * A) " + E , y a e dita é A: ER 8 TAUOADA DOS CAPITULOS. ProLoG o . ” - - - = - “ DD O ia =, A E a . - - . ” . . LIURO PRIMEIRO DA MONTARIA. Capitulo primeiro, em que se mostra porque forom ale- uantados todollos joguos, a que agora chamam ma-. BA aaa o jo pre ae tes aero? po? é EDS ET acto SPIPLO ei Capitul ij, em que se prosegue o começado, e se mostra que joguos som bõos pera guardar o feito das armas, que senom perca, e quaes som aquelles que os homêes de armas deuem saber, e outrosi para recrear o en- O ADE JOBS ENE TAGS DE INPE SRP A Eles E Capítulo iij, em que se mostra como o joguo de ste ao monte he melhor que todollos outros joguos pera recrear o entender, e tambem a correger o feito dar- mas, mais que todollos outros que pera isto forom DOS ooo e rice dpmrgo S PSTU Pe db: (o Cairo DO ESA Capítulo iv, em que se mostra como o joguo de andar ao monte guarda o feito das armas porque se nom perca. Capitulo v, em que se mostra, em que guisa podem os rreys correr monte, que seia pecado, e que nom seia pecado, nem mercee, e que o pode correr em tal que faça em no correr obra meritoria. . . «cvs Capítulo vj, em que se mostra que posto que algum fosse ferido de porco ainda que morresse, que sua alma nom seria por ello perdida. . . . «cc cre us Capitulo vij, como os rreys se deuem de guardar de nom cahirem em erro de serem monteyros . +... Capitulo viij, que falla em como se deuem os caualeiros, e escudeiros, e tambem os moços do monte guardar, que por tal officio nom possam cair em erro . . .. pag. 2 15 21 32 36 38 “Capitulo ix, em como os monteiros am de fazer por aue- rem os cãaes que seiam fermosos e bõos . . +... Capitulo x, que falla da guarda dos cadelinhos, e da lim- DEzA em Quê Os amde Ciro Sire Ns sa Capitulo xj, de como se deuem escolher os caães cachor- rinhos na cama aquelles que milhores som, assi al- Iaãdos; COMO SABAHOS so é Seas Cj Ma ug a Capitulo x1j, que falla como se am de criar os caães com que am de correr monte assi allaãos, como sabuios . Capitulo xiij, que falla como se am de ensinar os alaãos as cousas que am de saber fazer. +. . . +... 0. Capitulo xiiij, que falla do ensinamento dos sabuios, tam- bem dos de correr, como de treela, como dos de ACHAS rosa aro E ds eis ea a pd dp Lico Goa PADAS de Vs DE CBO iss A o O pen D O UDN à. Dos:sabuios de -treela o srs ti ONE aa ngeRio 3. Do ensinar os sabuios de correr. . +... «uu Capitulo xv, que falla em como he pertencente aos mon- teiros que aprazam de saber conhecer . . . ..... Capitulo xvj, que fala como os monteiros deuem saber conhecer os rastros húãus dos outros, e departillos de que anithalias SOM Case urcta NG AS Dia aa Capitulo xvij, como se deue conhecer de que horas he aquelle rastro que ueé pollas fresquidoões das terras, das heruas, e outras Cousas iso Vis, sa else Capitulo xviij, das cousas que aos tempos fazem, que nom possam os monteiros conhecer de que horas he o rastro que querem aprazar. . . «vc. co. Capitulo xviiij, como os monteiros am de conhecer as cousas que os porcos fazem daviamento, por onde cayem em erro de nom poder aprazar . +... .. Capitulo xx, do assoluimento das duuidas do dito capi- tulo, das cousas que os porcos fazem por auiamento. Capitulo xxj, de como os monteiros am de conhecer os lugares que som mais azados, em que os porcos mais a meude soem seer segundo o tempo de aprazar. . . Capitulo xxij, como os monteiros podem conhecer as * cousas que os demais porcos fazem, quando se que- remassentars LPop Astros ao A Dina A Capitulo xxiij, que ensina como os monteiros que se tra- balham de andar a busca, como deuem de saber apra- gar, º º Lud e Ed e “ a . “ º e e e . -e Led Ed “ . Ed id hd 47 5o . 105 117 . 138 144 . 165 168 172 Ê o : ; . : b Ras : EA) Capitulo xxiiij, como os monteiros am de guardar as “manhas que os seus sabuios am, que por ellas nom embargueni:de apragar ..s solos NI e Rs Capitulo xxv, como os monteiros deuem poer o sinal ao Dorcórss E au AE Cs a Eno nr E Ser ST e IR é Capitulo xxvi, como os monteiros deuem cercar o porco. Capitulo xxvij, como os monteiros deuem aleuantar o porco, per que atreelam aciente fazendo bôa monta- IRES a RS A SS eg A RI SPAS io a O IF tpa UAÊ NLS Capitulo xxviij, como deuem douliécdo os monteiros qual he milhor lugar pera poer as uozarias, e armadas pera DBO: DONCO RE E err es rh DU Dada de WA a SR Capitulo xxviij, en como deuem fazer aquelles que pu- serem a uozaria, depois que a tiuerem posta . . .. Capitulo xxx, que falla como o monteiro que apraza, a de saber aleuantar o porco que assi tem aprazado. . LIURO SEGUNDO. Capitulo j, como se am de trager os moços limpos, que tragem os caães de correr, ainda quando estam em Casa do stDs sENhOTes; LS So e sie a Capitulo ij, das cousas que am de fazer os moços que tragem os caães de andar ao monte, assi em leuallos, como em tellos nas treellas . . +... ....... Capítulo iij, como os moços am de poer os caães assi de achar como de correr ao porco, e como lhe am de fallar e andar, quando quiserem leuantar por calcada. Capitulo iiij, como os moços am de poer os caães, quando NEON CONDE Custe e es a ATO É aro Capitulo v, como os moços do monte am de fazer, quando lhes dous, ou tres porcos, ou mais lhe entrarem em hum monte, e a qual poram os caães. . +. ... Capitulo vj, como os moços am de andar, depois que os caães correrem primeiramente escontra as A e des hi em todallas outras guisas . . . ..... Capítulo vij, como am de fazer os moços, quando lhes os seus caães cambam o porco, per que uaam, a que assi som postos. . « «cu cce cuanto Capitulo viij, do corrigimento do cambar dos caães, quando cambam algum porco por outro. ou cambam BERCO DOR CeTUO cas e so Ep SIE o 203 213 . 226 231 236 : 241 . 246 . 249 . 261 268 — 434 — Capitulo viiij, de como os caães que erram de si mees- mos, seam de emendar: js. Las NTE “Capitulo x, do que am de fazer os moços, quando algúus monteiros pedirem os caães por algum porco que To Jus RARAS D RR RR DO SNPA RR A SS Ce ap DO RT RA Capitulo xj, como am dé fazer os moços, quando algum porco passar as armadas, ou as uozarias, e elles que- rem correr pollo matar, ou tornar... . . . «cv “Capitulo xij, de como os monteiros am de matar o porco de traues, em atrauessandoo. . +. «cu wir. Capitulo xiij, de como os moços am de matar o porco de Femesda > cobalto Elo na DA IAN RR RETO UERR ja Capitulo xiiij, como os monteiros am de matar o porco de justa em mouta espessa, que nom possam entrar senom de geolhos. . +... cuco PR Capitulo xv, como os moços am de matar o porco de justa, quando ladrar em parte, onde o monteiro o nom possa ueer desembargadamente , +. +... cv... Capitulo xvj, do que am de fazer os moços, quando o porco ladra em tal lugar, que se nom pode ueer bem, e os caães o ladram a derredor, e elle entrar . +... Capitulo xvij, que a de fazer o moço quando entrar ao porco, nom possa senom polla ereita acima, ou assi quando uem de fundo pera cima. . « «cc cv. cs Capitulo xviij, como a de justar o moço com O porco, que uem per algãa ladeyra, que seia mais a seu saluo. Capitulo xviiij, como o moço a de matar o porco, quando lhe passar algúa agua pera justar com elle . . +... Capitulo xx, como o moço a de matar o porco de justa em geral, teendo a azcuma nas maãos, e corpo como à de estar; is qi DU ENS SDS ES RE ORE Siad LIURO TERCEIRO. Capitulo j, que os senhores am de ser bôos monteiros, e saber agasalhar os seus monteiros, de sorte que fol- guem de ir com elles ao monte. . . +... ... +. Capitulo ij, do vestido e trajo dos monteiros . . . . +. Capitulo iij, quejandos am de seer os caualos, com que am de andar ao monte os monteiros . . +... «+. Capitulo iiij, quejandas am de seer a azcuma, e a treela, o p. 303 p. 324 p. 330 p. 334 p. 336 Capitulo v, como deuem trager os alaãos nas treelas . . Capitulo vj, como o monteiro a de teer o seu alaão na armada pera a milhor guardar . +. . v0.0 cv cv. Capitulo vij, como am de leuar os alaãos nas treelas, quando quiserem atalhar, e castigallos de algãas ma- nhas que filham, que embargam ao atalhar . . +... Capitulo viij, de conhecer quejandas som as armadas, e quantas som . +... , Capitulo vilij, como os monteiros am de filhar as piada 1. Da armada que he grande e chãa, e larga, e Den USED E sra Si esa Dri A o 2. Das armadas enfestosas, que se a junto com o pee da enfesta . .. RE 3. Das armadas que som grandes de correr. 4- Das armadas das pontas das uozarias . . .. 5. Das armadas que som de sopee, que se guardam da ponta da uozaria. . +... css ts 6. Das armadas que som de ereitas. +. . ... 7. Das armadas que som de aruoredos GINO? cer- PUdOR o 64: 355. ),5 | 6 8. Das armadas de Cistciio: queda ua se SUE ARDA 2 de si, e nom das pontas das uozarias . .. 9. Das armadas que som em saltos de ribeyras, ou cheeyras, e som todas chãs e limpas . . 10. Das armadas que som por algiãa ribeyra, ou cheeyra, e som todauia limpas. . +. +... 11, Das armadas que som grandes e bõas, em que se mete algiia ponta do monte. é 12. Das armadas que tem dous uales de VincáRca nom se ajuntam hum com outro. . . .. 13. Das armadas em que ha tres ou quatro uales de guardar, e ajuntamse todos cerca do monte onde se o porco lança . o Capitulo x, como o monteiro a de poer o alaão ao DORÇE quando lhe sahir ia armada, e as corrudas que lhe ade fazer. ... ; POVO DARE So 1. Da armada ai he ida e chãa. » 2. Das armadas enfestosas. . . «vc. 0% 3. Da armada enfestosa, que se a de Enibiridat da metade da enfesta. . . . «Lc cu cross 4: Da armada que se a de gudrdar de cima da en- DERUNRE PSRrG es rc Co, sp ao ro PIO CU RA p. 340 p. 342 y p. 351 p. 352 « 356 dn ARO “5. Das armadas chãas, largas, e bem uistosas, mas DE Charadas Li os ssa o Sr ES 6. Das armadas que se am de guardar das pontas DAS LIOZAMAS ras SUL OR RS 7. Das armadas que se am de guardar das pontas dês TOLLER VOL 8. Das armadas que som de ereitas, que o mon- teiro à. de guardar Le sao do us Lia e pres 9. Das armadas que som de aruoredos. . +... 10. Das armadas de sopee, que se guardam de si | e nom das pontas das uozarias . . +... 11. Das armadas que som de cheeyras ou ribey- LAS Ge Tia RO 8 LO ANO AS CASINO AA 12. Das armadas que soim de ribeyras ou de cheey- POST AS TES Laos ER RR O A A DIR Rg 13. Das armadas em que se mete húa ponta de MIMO ESSA COCA SLI O UALO PE DOURAR RD o tg 14. Das armadas de dois uales . +... .. 0... 15: Da armada-dé tres uales: SO hiAca US gs Capitulo xj, de como os de caualo am de andar dentro no monte, e as corrudas que am de fazer. . . . +. Capitulo xij, como o monteiro de caualo deue entrar ao monte de caualo, quando o porco esta ladrando, e mátallo sem alado (is or sao Cp a Capitulo xiij, como se matara o porco sem alaão. . ... Capitulo xiiij, como o monteiro de caualo a de matar o porco sem alaão, em monte alto. . . . «cc... Capitulo xv, como o monteiro a de matar o porco em charnecas altas que deem ao peito ao caualo, com SECAS CS Es NS Sp SIS E A a MR SS A OUT RR Capitulo xvj, como se am de guardar os monteiros de cahir quando fezerem as corrudas aos porcos. . . . Capitulo xvij, como se a de matar o porco em charnecas pequenas, ou em campo grande . .. ... 0.0. Capitulo xviij, como se a de matar o porco sem alaão em B6B BRITO CUPÃO: CiRle ci ca rara ASTRO TE Ego Ra e Capítulo xvitij, como o monteiro ha de matar o porco de A je PS a CO UTC a UA ed RS E Cpitulo xx, como se mata o porco de remessa. . . .. APENDICES J Ordenações do Senhor Rey D. Affonso V. LIVRO 1. Truco ixvn. — Do Monteiro Moor, e cousas, que a seu oflicio pertencem. El Rey meu Senhor, e Padre de louvada memoria, em seu tempo fez certas hordenaçoões acerca do Mon- teiro Moor, e do que a seu officio perteence, segundo se contem em certos Alvaraaes firmados por elle, e per húu depoimento feito por seu mandado per Vicente Esteves, a esse tempo Monteiro Moor da Montaria de Santarem, o qual foi especialmente perguntado sobre os foros, que ha d'aver o Monteiro Moor, e os Montei- ros de cavallo, e os moços do monte, e os nossos escu- deiros, que teverem caães, e sobre a coutada velha, per onde partia: os quaaes Alvaraaes, e depoimento assy feito per o dito Vicente Esteves, som estes, que se adiante seguem. ) 1. Nós El Rey fazemos saber aos que este Alvara virem, que Nós achamos desvairo nas cartas, que eram dadas aos nossos Monteiros no tempo do mui virtuoso, e de grandes virtudes El Rey meu Senhor, e Padre, cuja alma Deos haja, por quanto em as mais antiguas era contheudo, que os que matassem porcos, e bacoros nas coutadas, ou posessem fogo nas matas, ou a redor ER a dellas, ou lançassem armadilhas algúas pera as ditas veaçoões, que pagassem vinte cinco libras da moeda antigua, e fossem pera os monteiros; e nas mais novas faz meençom que paguem quinhentas libras da dita moeda, e que sejam pera nós, as quaaes leva Lopo Vaasques Monteiro Moor nosso. . 2. E querendo Nós temperar estas penas, por as matas serem razoadamente guardadas, e os que cahi- rem na dita cooima nom receberem tam grande dampno, mandamos que quaaesquer, que cahirem nos lugares coutados em cada húu dos falimentos suso ditos, que paguem por cada húua cooima doos mil reis desta moeda corrente, dos quaaes sejam mil pera o dito Lopo Vaasques, e quinhentos pera o Monteiro Moor da montaria, e os outros quinhentos pera os monteiros da terra, dando por doos aaquelle, que os descobrir. 3. E ao dito monteiro da montaria fique carrego de demandar as ditas cooimas perante o Almoxarife da- quella Comarca, ao qual Nós mandamos, que lhe faça comprimento de direito; e se o caso for d'apellaçom, o dito Monteiro Moor da dita montaria a mande aa nossa Corte perante os nossos Veedores da Fazenda, onde fique carrego ao nosso Monteiro Moor, ou a quem seu loguo tever, de demandar, e seguir a demanda ataa finalmente a desembargar. 4. Item. Se forem em alguma montaria os cervos coutados, paguem por cada cervo, ou cervato, que ma- tarem, a meetade desta pena, a qual seja repartida per a guisa suso scripta. Pe RR 5. Por que em as ditas matas de coutamento he defeso, que nom cortem madeira, nem lenha, nem encas- quem, e nom se declara a pena, que manda dar aos que em ello cahirem, Nós mandamos que de cada carrada, ou outra alguma madeira grossa, que se a. jorro tira com bois, paguem quatrocentos reis, e por ha + E ES E DP A a id Dc a ii A E A NE E ço CA mi carregua de lenha de casa paguem duzentos reis: os quaaes mandamos, que sejam repartidos pela guisa suso escripta. 6. Item. Por quanto achamos, que as cartas novas vaão em outro stillo desvairado do que as antigas soyam de seer, mandamos, que as que se fizerem daqui em diante sejam feitas em aquelle stillo, que se faziam ataa Era de Cesar de quatrocentôs e quarenta annos; e as outras que feitas som, se guardem per a maneira das que eram feitas ata aquelle tempo: salvo no tragimento das armas, que ora novamente mandamos dar lugar a aquelles monteiros que nolas requerem, aos quaaes mandamos, que lhe guardem suas cartas, se dello ex- pressamente fezer mençom. E matamos, que este nosso Alvara seja registado em a nossa Chancellaria. Feito em Sintra a doos dias de Setembro. Johanne Esteves o fez. Era do Nacimento de nosso Senhor Jesus Christo de mil e quatrocentos e trinta e cinco annos. Nós mandamos dar este Alvara ao nosso Mon- teiro Moor da montaria de Santarem. 7. Nós El Rey fazemos saber a vós Vicente Esteves, nosso Monteiro Moor das matas nossas do termo da Villa de Santarem, que sobre o que nos escrepvestes, que Nós declarassemos a maneira que haviees de teer em guarda dellas, por quanto agora deramos ao Con- celho da dita Villa nosso Alvara, porque lhe devassamos algãas matas pera lenha, e esso meesmo algãas vea- çoões nos paães, e vinhas, nossa mercee he que todas as nossas matas de aquem Tejo sejam defezas, e cou- tadas per a guisa, que o forom ataa ora; e-da parte aalem a do Freixeal soomente; e das outras logrem, como he contheudo no nosso Alvara, que ao dito Con- celho temos dado; do qual vós requeree aos homêes bõos, que vos dem o trelado, e per elle vos regerees do que em ellas haverees de guardar, e defender por o BR ERA hosso serviço; e por este Alvara lhe mandamos, que vos dem, e façam dar o dito trelado sem outro em- bargo nenhúu. Feito em Avix dezaseis dias de Junho. Ruy Peres Godinho a fez. Anno do Nacimento de nosso Senhor Jesus Christo de mil e quatrocentos e trinta e oito annos. Este he o depoimento, que Vicente Esteves fez per mandado de El Rey Dom Eduarte, que faz mençom em cima no começo deste titulo. 8. Item. O Monteiro Moor, e os moços do monte, e os Monteiros de cauallo, e os Escudeiros de El Rey, e os Moços da Camara do dito Senhor, que tevessem caães do dito Senhor, houvessem sempre dos Mouros de Lixboa esta louça, que se segue, a saber, húu pote com húu cobertor, e húu pucaro, e huu alguidar, que leve húu pote de augua, e húa panella com seu testo, e hãa tijella com húu cobertor, e hãa enfusa com húa almotolia, e húu candieiro, dado ao Moteiro Moor todo esto dobrado, e a cada húu dos sobreditos singello: e esto cada vez que El Rey fosse aa Cidade, teendo elle Vicente Esteves carrego de lhe esto fazer dar como sempre ouverom, e esto em tempo de El Rey Dom Joham, cuja lia Deos aja. o: Despois que El Rey Dom Duarte, a que Deos dee o seu santo Paraiso, regnou, mandou, que posto que fosse aa dita cidade quatro, ou cinquo vezes no anno, ou mais, que nom dessem a dita louça mais que hãa vez;:e nom hindo aa dita Cidade, em húu anno, que nom dessem nenhãa das ditas cousas. “10. Item, Que o Monteiro Moor daa as montarias das Comarcas per sua carta assinada per elle; e pas- sada per ementa de El Rey, e seellada do seello do dito Senhor, avendo o dito Monteiro Moor de cada húu dos ditos Monteiros, que assi fazia, hâu marco de prata. Es date: 11. E se algãu Monteiro das Comarcas era velho, é em hidade de settenta annos, o Monteiro Moor ho apou- sentava, e lhe dava hua sobre carta, per que lhe guar- dassem suas honras contheudas em seu privilegio; e desto nom pagava, senom Chancellaria ao dito Senhor. Esta he a divisom da coutada velha segundo o depoi- mento de Vicente Esteves. 12. Item. A foz de Merateca pola ribeira acima ataa Cabrella; e des y pelo termo de Monte Moor ataa ribeira de Canho; e des y atta ponte de Lavar; e dhi a Amora; e do Amora a Monte argil pola augua do Soor3 “e dhi aas Becouças; e dhi ao val de ÁAlcolula; é dhi a Abrantes, resalvando o Tamargual, que he acima da estrada como se vai direito aa foz da ribeira de Tomar, que entra no Zezer; e dhi a Tomar hindo pola estrada coimbrãa atee o porto. E destas divisõoes suso ditas contra o mar todo he coutado de porcos, e porcas, e bacoros, e bacoras monteses, e tinha de pena quem quer que o matasse, que pagasse por cada cabeça quinhentas libras de boa moeda; e esto em tempo de El Rey Dom Joham. 13. Item. Mais a mata de Butam, que he acima da estrada, que he coutada. 14. Item. Todo o termo de Monte Moor o Novo, que he todo coutado, o qual coutou El Rey Dom Duarte em seendo Ifante, a saber, de porcos, e porcas, baco- ros, e bacoras. 155. Item. Antre Evora, e Monsaras, e o Redondo, e Portel estas matas, que se seguem. Primeiramente desde o peego de lobo aa Mouta de perichalvo; e des y aa ribeira do allemo; e dhi aa cabeça das fasquias ; e dhi ao paaço da pedra alçada; e dhi hindo per a ri- beira da aroeira aa ribeira do freixio, e pela ribeira de bem casadi aa mouta da cegua; e des y ao peego do lobo. Todos estes montes deste couto a dentro som | | Pa dr coutados de porcos, e porcas, bacoros, e bacoras mon. teses, e de fogos, e armadilhas; e qualquer, que errasse em cada húa destas cousas, que pagasse quinhentas libras da moeda antiga: e esto em tempo de El e Dom Joham. 16. Item. Disse mais o dito Vicente Esteves, que o Monteiro Moor tinha jurdiçom, como tem, sobre os . Monteiros da Camara, e Monteiros de Cavallo, e os Moços do monte, que errassem em seus oficios, ou fezessem o que nom deviam, de os privar dos officios, e poer outros em seus logares, e mandallos aa cadea, e darlhes pena, qual entendesse que mereciam com . direito, segundo esto mais: compridamente se contem em hua carta, que o dito Lopo Vaasquez dello tem ; e esso 'meesmo mandava por seus Alvaraaes aas justiças, que lhes dessem a pena que elle mandava, e os que presos eram, por seus Alvaraaes os soltavam. 17. Item. Qualguer, que matasse usso per todo o Reyno sem mandado de El-Rey, pagava mil libras de boa moeda. | 18. As quaaes hordenaçoões assi feitas per o dito meu Senhor, e Padre, e depoimento assi feito per seu mandado, e vistas per Nós, e examinadas, mandamos | que se guardem por Ley daqui em diante, porque achamos, que antiguamente foi assi usado em estes Regnos. (No fim do RE 1)» 16. Feito na nossa mui nobre, e mui leal Cidade de | Lixboa a tres dias de Março per autoridade do Senhor Rey, Regedor, e com a ajuda de Deos Defensor por el * de seus Regnos, e Senhorio, Affonso Vaasques o fez. Anno do Nacimento de nosso Senhor Jesus Christo de mil e quatrocentos e quarenta e tres annos. Infante Dom Pedro Titor, e Curador do dito Senhor . — 445 — HI Livro vermelho do senhor Rey D. Affonso V N.º 38. Titulo da defesa, e penas jeraaes daquelles que matam veaçam nas matas e luguares coutados, ou em elas cortam madeira, ou poem fogo. Item. Quem matar porco, ou porca, bacoro, ou ba- cora, por cada cabeça pague dous mil reis da cadea, e seja degradado huum anno pera Arzila, e asy preso seja la levado. Item. Quem matar cervo, ou cerva, ou enho, pague por cada cabeça mil reis da cadea, e seja degradado huum anno pera Arzila, e preso seja la levado. o MNA SDTLXOIOLSEPAEANARILAAEARUVUOASIATERNANAANEITIISETRUTRESZFR: C. 1. H. P.(9 rr, p. 485. N.º 39. Titulo dos coutamentos de Santarem, e seu: termo em espicial, com suas comarcas, asy como diz. a montaria. Nos El Rey fazemos saber a quantos este alvara vi- rem que per os Reix nosos antecesores, e per nos foram coutadas amtiguamentc alguas matas que sam no termo da nosa vila de Santarem, asy da montaria como de qualquer outra veaçam que fose; e porque ora acha- mos que alem do Regimento que asy era feito da dita coutada, deveriam de ser emendadas e postas algãas pennas aaqueles, que nas ditas matas achasem caçar ou matar a dita veaçam, detriminamos que daquy em (! Collecção de livros ineditos de historia portugueza, tomo mr, Lisboa, 1793. diante se tevese acerca do que dito he esta maneira que se segue. | Item. Queremos, e mandamos que quem quer que matar porco ou porca, ou bacoro, ou bacoras monte- ses, que por cada cabeça que asy matar, pague dous mil reis, e seja preso, e degradado por huum anno pera Arzila; e esto de toda a terra de dentro destas confrom- tações: A saber, da foz da Atela per a ribeira arriba atee as cimalhas do carreiro das moutas da dita Atela,. a qual travesa per cima delas; e asy polo carreiro que se vay meter na ribeira do Chouto ate onde entra na ribeira. de Muja, e per ella a fundo atee os moynhos de ..., e dhy polo caminho da serra atee a ribeira da Lamorosa; e himdo pola ribeira a fundo atee o caminho que vay da Regerfeira pera Curuche, onde torna a entrar na Lamo- rosa, e dy himdo pera a Grorya, e pera as cimalhas do * paul de Maguos, atee Albofeira, e atee o Tejo. “Item. Quem quer que matar cervo, ou cerva, ou enho, que pague por cada hua cabeça que asy matar mil reis, e seja degradado huum anno pera Ar- zila. deco “eco on qo 00 vo 00 Dn 00 q 0 q 00 4 4 é C. 1. H. P., 11, p. 486-487. N.º 40. Trellado do coutamento dos olivaes dAlam- quer com toda a terra deles, asy como diz des a ponte de Pancas asy como vay polo caminho velho atee a de Bemgrada, e como vay aa dos Cozidos, e des y aa cabeça do Mosqueiro, e o casal de Dyogo, e a mouta, e o val da Lobagueira abaixo, e aos Casaes como entestam na. ribeira dOta, e des y polo ryo a fumdo atee o rio dAlam- quer, e des y pola ribeira acima dAlamquer atee a dita ponte de Pancas; e o que se no dito coutamento de- fende he esto que se segue. Item. Qualquer que daquy em diante matar porco, ou porca, bacoros, ou bacoras, que por,cada hiúa cabeça pague dous mil reis, e seja degradado huum anno pera Arzila. Item. (Quem matar cervo, ou cerva, ou enho, pague mil reis, e seja degradado por outro pera Arzila. “0... a... |. C. 1. H.P.,m, p. 492. N.º 41. Este que se ao diante segue he o couta- mento de Mira, e das guandaras darredor dAveiro, a saber des a ponte de Pero Ceguo, que estaa na estrada que vay de Coymbra pera o Porto, atee Santa Maria da Vimieira, que he húa leguoa da dita ponte; e de hy asy como vay atravesamdo a Casal Comba e a Cipiins, e a Torres do Bairro, e aos Coucoes, e dhy direito a Jelfa e aa laguoa da Limpa, e dhy a Mira, e a Quyayos ataa Mondego, e a laguoa de Mira, e da coutada dos coelhos que he acerqua do dito loguo de Mira onde an- tigamente soya de ser. Item. Que nénhiãa pesoa de qualquer estado e con- diçam que seja, nom corra monte, nem balhestee, pes- que, nem caçe em toda a dita coutaria, posto que pera elo alvaraaes de licença tenham, por quanto per esta os ha por revoguados. Item. Qualquer homem da terra que correr monte, pague quinhentos reis e seja preso, cada vez que se lhe provar. | Item. Qualquer que matar veado, ou veada, corço ou corça, ou qualquer outra veaçam, pague por cabeça mil reis brancos, e seja preso, e degradado huum anno pera Arzila, Item. Qualquer outra pesoa de qualquer estado e condiçam que seja, que for achado com beesta fora das — 448 — estradas pubricas, que perca a beesta com todalas cousas que a ela pertencem, e seja preso. Item. (Que qualquer homem a que for achado em sua casa pele de veado, pague trezentos reis, se nom der autor donde a ouve. Item. Qualquer homem que agasalhar beesteiro de monte em sua casa e for conhecido, pague trezemtos reis. | Item. Qualquer que matar enho com caães, pague mil reis por cabeça, e seja preso, e degradado huum anno pera Arzila. “o... o... a ot. 0 pn... ....... C. 1. H. P. mm, p. 494-495. N.º 42. Coutamento das suas matas, e coutadas dObidos, e da Atouguia asy dos porcos e veaçoões, como das outras caças que tem coutadas, a saber, a Mata velha, ho Aveenal, e a Ribeira rica, Faldreu, e as Navalhas, e a Delguada, e a de Vode, e os Arrifes, e Valbemfeito, e o Ameal, e a Cezedoira, e a Mata Seca, e a Mata dAmoreira, e a de João Manoel Tra- qualay, e a Mouta Longua, e a Mata do Formigual, e a Cezereda, e o Zimbral, e a Ilha de Peniche, e a Alber- guaria, e outras matas alguas que per seus privilegios sam coutadas. : Item. Que qualquer que matar porco, ou porca, ou bacoros, pague por cada cabeça dous mil reis, e seja preso, e degradado huum anno pera Arzila. Item. Se matar cervo, ou cerva, ou outra veaçam, pague por cada cabeça mil reis, e seja degradado huum anno pera Arzila. (1 H. P., um, p. 490. II El rei D. Diniz. - Para que el rei [D. Diniz] tivesse maiores evidencias das insignes virtudes da Santa Rainha [D. Isabel], dis- - poz Deos que por meio de sua devoção livrasse elle a vida de um mortal perigo. Florescia neste tempo em toda a christandade a maravilhosa fama dos espantosos mi- lagres que o Senhor obrava pela intercessão de S. Luiz, bispo de Tolosa. Foi este santo prelado filho primo- genito de Carlos Il, rei de uma e outra Sicilia, e da Rainha D. Maria, filha del rei de Hungria ; e ainda que, pela prerogativa da primogenitura, era herdeiro de uma e outra coroa, querendo antes ser menino na terra que no mundo rei, trocou a magestosa insignia da real pur- pura pelo aspero burel da penitencia seraphica, e obri- gado da pontificia santidade, aceitou a mitra da diocese de Tolosa. Era a Santa Rainha, por sua avó a rainha D. Violante, parenta do santo, e sua irmã delle casada com el rei D. Jayme, irmão da mesma santa, e obrigada ella mais que do parentesco, da devoção, referia repe- tidas vezes os successivos milagres com que Deos acre-. ditava as heroicas virtudes do santo bispo, aos quais el rei, porque o varonil sexo é menos piedoso que q feminino, não dava credito, até que, tendo a fé por mi- lagre, lhe ficou com devoção por agradecimento. Como a caça é uma laboriosa semelhança da guerra, e el rei [era] inclinado ao robusto exercicio da caça, estando na cidade de Beja saiu ao monte, achando-se distante dos que o acompanhavam na montaria, lhe saiu ao encontro no sitio de Belmonte, junto ao rio Guadiana, um urso, que por sua grandeza e ferocidade era terror dos homens e das feras, e já conhecido na- 29 quelles bosques pelos repetidos estragos. Empenhado o valor del rei com o furor do bruto, o seguiu a cavallo para honrar com a sua lança a sua morte. Vendo-se, | elle acossado, se poz com feroz instincto detrás de uma À quebrada penha, e passando el rei, arremetendo a elle com toda a furia, o lançou impensadamente na terra, | para lhe tirar ferozmente a vida. Ficou el rei pros- | trado, mas não rendido; e conhecendo o perigo, sem que se lhe alterasse o valor, procurava, como se fosse David, despedaçar com as mãos aquella fera, e lem- brando-lhe, entre a perigosa contenda, os milagres que a Santa Rainha referia do santo bispo de Tolosa, implo- rou, com toda a devoção, O seu'soccorro; e apenas o tinha implorado, quando lhe apareceu o santo, vestido no humilde habito de sua religião, com a mitra ponti- fical na cabeça, e lhe disse que com o punhal que trazia na cinta podia alcançar a victoria. Com este aviso cobrou el rei, senão o animo que não tinha perdido, o acordo que tinha perturbado; e desembainhando com animosa destreza o punhal luzente, o cravou com valo- rosa felicidade no ombro direito do animal disforme, e se levantou victorioso, livrando-se a si do perigo, | aquelles contornos do dano. » | Alcançado o triumpho, montou el rei a cavallo a Bh R car os monteiros, de que se havia perdido, e encon- trando um lavrador melancolico, lhe preguntou donde era. E elle lhe respondeu que de um lugar vizinho, onde se estava fazendo a el rei de jantar, com grande desagrado de Deos e do mundo. Ouvindo el rei a res- posta, inquiriu a causa; e O lavrador lhe disse, que o cozinheiro lhe tomara por força o que el rei havia de jantar naquelle dia, negando-lhe a paga com a escusa de dizer, que era para o Deos da terra, e que elle sen- tido da perda se via quasi em desesperação. Ouvindo el rei que com o nome real se fazia uma extorsão tão Eis FORCA escandalosa, sentindo que se vexasse a pobreza, de- vendo-se remediar a miseria, consolou o lavrador aflicto, | eo levou ao lugar destinado, onde, informando-se da verdade, lhe mandou satisfazer o damno com interesse, | castigar com a morte a culpa, para que a todos cons- tasse, que a autoridade real, sendo objecto da venera- ção, não deve ser pretexto da insolencia; e ensinando aos principes que a nenhuns ministros hão de dessimu- "Jar as culpas, antes hão de inquirir as culpas de todos os seus ministros, porque se as não inquirirem, estão | em perigo de lhas imputarem, e nenhum principe pela | propria graça ha de patrocinar a culpa alheia. Por jus- | tificar a sua prudencia pediu o Senhor ao villico, que "lhe désse conta. Neste sitio levantou a devoção daquella comarca uma | ermida da invocação do santo bispo de Tolosa, a que | concorrem os devotos romeiros com agradecidos votos, e no mesmo logar nasceu uma fonte, cujas agoas, sendo * mais que medicinais, milagrosas saram muitos enfermos de doenças incuraveis; e desde então até agora, sendo perennes os cristaes, são muito mais perennes os mila- gres. Á devoção da Santa Rainha deveu el rei o escapar com vida naquella ocasião. Porque ella fallava sempre no glorioso santo, se lembrou elle de o implorar na- quelle grande risco; e se não mandou em testemunho do milagre, pendurar no sagrado templo ainda horrivel pelle, mandou no convento de S. Francisco, da cidade de Beja, edificar uma decente capella em memoria de sua gratificação; e para perpetuar em marmores o seu agradecimento, fez esculpir em um dos em que assenta o tumujo que oculta o seu cadaver, na sumptuosa iniz, de Odivelas, um * urso, debaixo do qual está um homem metendo-lhe um punhal pelos peitos ; deixando esta agradecida memoria, ASR te não por elogio da façanha, mas em reconhecimento da maravilha, que os principes em quem a religião é insigne agradecem as maravilhas, e não se jactam das façanhas. O pendurar David no tabernaculo a espada com que matou o gigante não foi querer para si a gloria do ven- cimento, mas mostrar que foi de Deos o triumpho (!). IV - Tumulo de D. am RuuCãoS: El rei D. Dinis houve de sua mulher a rainha. D. Isa bel de Aragão, dois filhos: D. Afonso, que lhe sucedeu no reino; e D. Constança, que casou com D. Fernando, | rei de Entela: Além destes filhos legitimos, el rei D. Dinis houve de outras mulheres nobres, sete filhos e filhas, bastar. Roo, que foram: o D. Afonso Sanches, filho de D. Aldonça nda pj Telha, a quem el rei seu pai queria grande bem, e por quem o infante D. Afonso fez com seu pai gran- des desvairos. Este D. Afonso Sanches, ainda em vida de seu pai, foi para Castela; casou com D. Tereza Martins, e faleceu em Caneta, mandou-se enterrar no Mosteiço de Santa Clara em Vila do Conde, que êle mesmo tinha fundado, e a que tinha feito grandes doa- ções. 2.º D. Pedro, que for casado com D. Branca: filha de Pedro Eannes de Portel, filho de D. João de Aboim e de D. Constança Mendes. 7 (1) Historia da vida, morte, milagres, canonisação e traslada- ção de Santa Isabel, sexta Rainha de Portugal, escrita por D. Fer- nando Correia de Lacerda, Bispo do FORO: Lisboa, 1.º ed. om, 1680, 2.º ed: 1868, p. 72-74. gi - 3.º D. Pedro, que depois foi conde em Portugal, E) “escreveu o Livro das Linhagens. 4.º D. João Afonso, ao qual depois seu irmão el rei D. Afonso IV giandon matar em Lisboa a 4 de junho de 1364. 5.º D. Fernão Sanches, que foi casado com D. Froi. lha Annes de Briteiros. 6.º D. Maria, que foi casada com D. João de Las cerda. | 7.º D. Maria, que foi monja no mosteiro de Odivelas, D. Fernão Sanches foi casado com D. Froilha Annes de Briteiros, filha de D. João Rodrigues de Briteiros e de D. Guiomar Gil. El rei D. Dinis fez a este seu filho muitas doações: em 1294, a aldeia de Recadães e “outras no julgado do Vouga; em 1300, a herdade da Orta de Nomão; em 1303, a Leziria dos Pastos, em termo de Sdntaném; e em 1306, o Reguengo de Oliveira do Conde. Segundo confirma o Conde D. Pedro no Livro das Linhagens, D. Fernão Sanches não teve filhos de sua mulher D. Froilha Annes de Briteiros. Provavelmente por esta razão, D. Fernão Sanches dispos em sua vida de quasi todos os bens que possuia. Das herdades que D. Fernão Sanches possuia no termo de Santarem, fez doação a seu irmão el rei D. Afonso IV, o qual as deu á rainha D. Brites, sua mulher, que as annexou ás capelas e hospital, que tinha instituido em Lisboa. Sendo ainda casado com D. Froilha Annes de Briteiros, em 31 de Janeiro de 1323, doaram tudo quanto pos- suiam em Miranda do Douro, Bragança, Vilarinho de Castanheira, S. Lourenço de Riba Pinho, Paredes, Sam Fins, Almodouvar e Algarve, a D. João Afonso seu irmão, alferes mor que então era del rei. A 13 de Novembro de 1327 doou tudo quanto ainda lhe restava a el rei D, Afonso IV, seu irmão, Tecto. e DOM e Não se sabe ao certo o anno da sua morte; mas foi depois de 13 de Novembro de 1327, provavelmente pouco depois. Consta, não se sabe com que funda- mento, que D. Fernão Sanches, morreu em consequen- cia dos ferimentos que recebeu de um porco montês em uma caçada em Almeirim (4). O tumulo de D. Fernão Sanches foi encontrado na antiga capela do Rosario de N. S. da Oliveira, fundada em 1222, junto da qual, depois em 1225, foi edificado o convento de S. Domingos em Santarem. O tumulo estava embebido em uma parede; mas na sua face di- reita tinham sido abertos roços para entrar o tardoz das duas ombreiras de uma porta fingida, que estava deante dele. O tumulo está depositado atualmente no Museu arqueologico do Carmo. O tumulo de D. Fernão Sanches é não só um nota- vel monumento funerario do século xrv, mas tambem um documento iconográfico muito elucidativo do exer- cício da montaria no mesmo século em Portugal. O túmulo consta de duas peças: o cofre ou arca (caixa), e a campa (tampa). O cofre mede exterior- mente, na parte superior: comprimento 2”,22; largura. o”,92; altura 0",68. A cavidade tem cerca de 1",90 x x o",70xo",60. A campa tem: comprimento 2",22; largura 0",92; espessura mínima 0",09. O tumulo: é de pedra cálcarea branda, de côr cin- zenta. | A caixa e tampa foram mutiladas, tendo sido abertos dois roços na face direita, na direcção vertical, tendo cada um o",30 de largura e o”,10 de profundidade. (!) Livro das Linhagens, Portugaliae Monumenta historica, Scriptores, vol. 1, p. 256; Ruy de Pina, Cronica del Rei D. Dinis, cap. 1v; Monarchia lusitana, parte,u, lív. xvit, cap. 11, (tomo 16 p. 282-285); D. Antonio Caetano de Sousa, Historia genealogica da Casa Real Portuguesa, vol. 1, Lisboa, 1735, p. 282. - Sôbre a tampa, que representa uma cama, está em alto relevo a figura de um homem deitado sôbre o seu lado direito com a cabeça apoiada sôbre uma larga almofada. A figura do homem tem longa cabeleira, apartada na fronte e caindo sôbre os ombros; e a barba é comprida e frisada dando-lhe a aparência de um homem de mais de cincoenta anos; está vestido: de um longo saio que chega até quasi aos pés; e é coberto com um manto desde os hombros até um pouco abaixo dos joelhos. Abâáixo dos pés dêste homem está um corpulento cão, com colar ao pescoço, e os membros anteriores e posteriores estendidos, de modo que toca o chão com o ventre. O cão tem a cabeça mutilada. Atrás da figura do homem estão dois anjos meio dei- tados sôbre os seus lados direitos, um correspondendo à cabeça e outro aos joelhos do homem;'o anjo de baixo tem na mão esquerda um turíbulo, que lança sôbre a figura do homem; o anjo de cima tinha na mão: esquerda tambem um objecto na mesma disposição, mas está mutilado. N Na borda direita da campa estão gravados: do lado da cabeceira um brazão de armas, formado por um escudo dividido em quatro partes por duas linhas oblí- quas crusadas, e em cada parte um pequeno escudo com cinco pontos. Este brazão é gravado mais quatro vezes na mesma borda da campa de distancia em dis- tancia. Depois do primeiro brazão há uma inscrição gravada em caratéres esculturais do século xiv, mas muito mutilada; parece ler-se: aqui ja (escudo) dom (roço) sanch (ilegível). O cofre é decorado com três retábulos em baixo relevo, na facç da cabeceira, na façe direita, e na face dos pés; a face esquerda é apenas. trabalhada ao picão, porque deveria estar encostada a uma parede. No retábulo da cabeceira estão representados: ao meio, Jesus Christo crucificado, tendo do lado esquerdo a Virgem Maria, e do lado direito o discípulo amado S. João. No retábulo dos pés estão representados: ao meio, um vaso com plantas floridas (lilás ?); do lado direito um anjo apontando com a mão direita para as flores, e “do lado esquerdo a figura de uma mulher, apontando com a mão direita para as flores, e tendo na mão esquerda um livro (?). - O retábulo da face direita representa uma scena de montaria. As figuras a começar da cabeceira para os pés são : | 1. Uma azinheira, caraterizada. pelas folhas e lande, a cujo tronco está um pequeno cão (sabujo) em atitude de querer subir. 2. Um monteiro de cavalo tendo na mão direita um açor. A parte anterior do cavalo falta, e corresponde ao primeiro roço. ; PATA 3. Um moço de monte subido em uma -azinheira tocando a bozina. 4. Um monteiro de cavalo, tendo na mão direita uma lança (azcuma), cuja ponta chega até à parte superior ' do pescoço de um porco montês. O cavalo tem a mão esquerda junto do focinho do porco. Debaixo do cavalo há dois cães (alãos). | 5. Um porco montês, do qual só resta a cabeça e a parte anterior do pescoço, em atitude de agredir o cava- leiro. A parte restante do porco falta, e corresponde ao segundo roço. 6. Um moço de monte subido em uma azinheira por temor do porco. s 7- Um monteiro de pé, tendo enrolada no braço” es- ct hdi querdo a trela do cão, e ao ombro esquerdo uma lança (azcuma) *). | V El rei D. Affonso IV. Eu vos direi, disse el Rei [D. Fernando]. Meu auoo (el Rei D. Affonso o quarto do nome] quando começou de reinar, tijnha mais sentido nas cousas em que auia prazer, como homem nouo que era, mais que naquello que perteençia a rregimento do reino: e estando todol- los do consselho em Lixboa juntos, fallando nas cousas que perteençiam a rregimento do reino e prol do poboo: e elle leixou o consselho e foisse aa caça a termo de Sintra, e durou la bem acerca de húu mes. Os do consselho, quando virom que elle tam pouco sentido tijnha, em começo de seu reinado, das cousas que auia dordenar por seu seruiço e bem do poboo, ouuerom no por maao começo: e quando el Rei veo e foy ao consselho, depois que fallarom na caça em que an dara, disselhe hãu delles por acordo dos outros: Se- nhor, seia vossa merçee nom teerdes tal geito como este que ora teuestes: leixardes vosso consselho per “tantos dias, honde tão necessario he destardes, e hirdes- uos a caça ha ja húu mes, e nos estarmos aqui sem vos, com pouco vosso proueito e seruiço. Por merçee teende outra maneira em esto daqui em diante: senom. Como senom, disse elle. Allafee disserom, senom bus- (1) Uma fotografia e notícia dêste túmulo foi publicada por Joaquim Narciso Possidonio da Siva, no Boletim da R. Associação dos Architectos e Archeglogos Portugueses, série 3.º, tom, 11, p. 169 e 170; e uma fototipia e noticia por Afonso de Dornelas na Historia e Genealogia, tomo 1, p. 180-182; cf. Gabriel Pereira, Es- tudos Eborenses, As caçadas, p. 9 a caremos nos outro que reine sobre nos, que tenha cui- dado de manteer o poboo em dereito e em justiça, e nom leixe as cousas que tem de fazer de sua fazenda por hir ao monte e aa caça andar húu mes. El Rei houue disto grande menencoria, e disse braadando: E como os meus me am a mij de dizer, senom, .e elles me am a mim de fazer isso, Os vossos disserom elles, quando vos fezerdes o que nom deuees. El Rei sa- hiosse muj queixoso do consselho, e foisse: e depois cuidou em ello, e achou que lho deziam por seu ser- uiço, e perdeo queixume delles, e ouueos por bõôos ser- uidores. Fernão Lopes, Cronica del Rey D. Fernando, cap. 65 (3). VI EI Rei D. Fernando. “Era ainda el Rei D. Fernando mujto caçador e mon- teiro, em guisa que nenhúu tempo aazado pera ello leixaua que o nom husasse. A hordenança como ele partia o ano em taaes desenfadamentos, contado todo pollo meudo, seria longo douuir, ca elle. mandaua chamar todos seus monteiros no tempo pera ello per- teençente, e nom sse partiam de sua casa ataa que os falcoões sahiam da muda, e entom desembargados hiansse pera hu viuiam, e vijnham os falcoeiros e outros que de fazer aues tijnham cuidado. Elle trazia quarenta e cinco falcoeiros de besta, afora outros de pee e moços de caça, e dezia que nom auia de folgar ataa que pouoasse em Santarem húua rua, em que ou- . á E (1) Cronicas dos reis D, Pedro e D. Fernando, Biblioteca Na- cional de Lisboa, manuscrito iluminado, nº 123; CL H. P,, «tom, Iv. - uesse cem falcoeiros. Quando mandaua fora da terra por aues, nom lhe tragiam menos de cincoenta, antre açores e falcoões neuris e girofalcos, todos primas. Com elle andauom mouros, que aprazauom garças e outras aues, e estes nadauom os peegos e apahues, se os falcoões cahiam em elles. | Quando el Rei hia aa caça, todallas maneiras daues e caães que se cuidar podem pera tal desenfadamento, todas hiam em sa campanha, em guisa que nenhuúãa aue grande nem pequena se leuantar podia, posto que fosse grou e abetarda, ataa o pardal e péquena follosa, que ante que suas ligeiras pennas a podessem poer em saluo, primeiro era presa do seu contrairo: nem as simprezes poombas, que a nenhúu fazem impeçimento em seme- lhante caso, nom eram jsentas de seus jmmijgos. Pera coelhos, raposas e lebres e outros semelhantes salua- jées monteses, leuaua el Rei tantos caães de seguir suas peegaadas e cheiro, que nenhuúa arte nem multi- dom de couas, lhe prestar podia, que logo nom fossem tomadas. E porem nunca el Rei hia vez alguma aa caça, que sempre em ella nom ouuesse grande sabor e desenfadamento. Fernão Lopes, Cronica del Rei D. Fernando, prologo. VII El Rei D. Fecaundo, Ca el Rei D. Fernando a seu requerimento [do rei de Granada], lhe enuiou estonçe em presente seis alla- ãos e seis sabujos, todos com collares brollados e fozijs de prata dourados, e as treellas delles douro fiado, e trinta azcumas todas com contos e anguados de prata dourados, que leuauom quareenta e seis marcos de & — 460 ANA, prata em guarnimento : e leuaronlhe este presente, que apodauom a seis centas dobras, sete moços aos monte. del Rei D. Fernando... g4 da ernão ali Cronica del Rei D. Fernando, cap. 44. VIII Infante D. João, filho del rei D. Pedro e de D. Ines de Castro. Cronica del rei D. Fernando. Carrructo xcviris. — Das manhas e condições | do Iffante D. Joham de Portugal. 4 » Cessando dos fejtos del Rei Dom Fernando com el Rei Dom Henrrique e isso mesmo com el Rei de Ara- gom, pois cousa nenhuúa mais achar nom podemos que destoriar necessaria seja, conuem que digamos: doutras cousas perteençentes a nosso fallamento, segundo aquello que prometido teemos no rreinado: del Rei Dom Pedro, onde dissemos que fallariamos dos Iffantes Dom Joham e Dom Denis quando conuehesse razoar de seus feitos. Mas por abreuiar leixando de todo o Iffante Dom Denis, que ja he em Castella, digamos qual foy o azo por que sse o Iffante Dom Joham depois partio de Portugal, e se foy pera la: e ante que disto façamos meençom, nom sse agrauem vossas orelhas douuir em breue rreconta- mento alguu pouco de seus geitos e manhas, sequer | por honrra de sua pessoa. Este Iffante D. Joham era muito jgual homem, em corpo e gesto bem composto, em parecer e feições, e comprido de muitas boas ma- nhas, muito mesurado e paaçam, agasalhador de mujtos fidaligos do rreino e estrangeiros, e muito grado e pres- — 401 — tador a qualquer que em elle catasse cobro, dando-lhe cauallos e mullas e armas e vestidos e dinheiros e auees e allaãos, e quaaesquer outras cousas que em seu poder fosse de dar. Foy muito amigo de sseu jrmaão Dom Jo- ham, mestre dAuis, de guisa que como el Rei Dom Pedro hordenara que sempre acompanhassem ambos quando eram na corte, assi nunca eram partidos de monte é de caça e comer e dormir e das oútras conuersaçoões husadas daquelles que sse bem amam: em tanto que seendo ele muy doente huúa vez em Euora, dum grande acidente que lhe dera, teendo ele carrego com o mes- tre seu jrmaão de manteer a tauolla em huúas grandes justas que el Rei Dom Fernando fazia a huúa festa que hordenou o conde de Viana, filho do conde velho, em hum arroido que sse leuantou em ellas antre Vaasco Porcalho comendador .moor dAuis e Fernam dAluarez de Queiroos, que era da parte dos condes, nom podia Affonso Gomez da Silua e outros fidallgos teer o Iffante, que sse nom leuantasse da cama por hir ajudar seu jrmaão o mestre, quando lhe disserom que andaua em cima de hãu cauallo com húu traçom de paao na maão por desuiar de cajom a Vaasco Porcalho que nom rre- cebesse dampno dos outros. O qual arroido prougue a Deos que foy amanssado sem perda de nenhúu delles. Elle foy homem de toda a Espanha que milhor- e mais aposto desenuoluia húu cauallo, de guisa que suas ma- nhas maas nem braueza lhe prestar podia que o nom amansasse: grande justador e torneador, e lançaua muito atauollado, Era muito husado de salltar e correr e rremessar a cauallo e a pee, soffredor de grandes tra- balhos a monte e a caça e semelhantes desenfadamen- tos: ca elle por dias e noites nunca perdia affam, leuan- tandosse duas e tres horas ante manhãa, aprazando de noite per jnuernos é calmas: des hi caualgar e correr fragas e montes espessos, e saltar rregatos e corregos de grandes cajoões, cahindo em elles e os cauallos sobre elle. Em tanto era querençoso de montes, que nunca rreceaua porco nem husso com que sse emcontrasse a pee nem a cauallo: e de muitos perigos em semilhantes feitos o quis Deos guardar, que contados per meudo seriam assaz saborosos douuir: mas reçeando de vos fazer fastio nom ousaremos de contar mais de hu ou dous de taaes aqueeçimentos. » E] “CarrruLto c. — Do que aueo ao Ifante Dom Joham com hiiu husso e com hilu porco andando ao monte. El Rei Dom Fernando era muy querençoso de caça e monte, onde quer que sabia que os hauia bõos, filhando em ello grande prazer e desemfadamento: e. porque o certificarom que em terra da Beira e per rriba de Coa auia bõôos montes de hussos e porcos em grande auondança, fez sse prestes com toda sua casa e da rrainha, e muitos monteiros com sabujos e allaãos, e leuou caminho daquella comarca. E fazendo em elles grande matança aconteçeo húãu dia que o Iffante se encontrou com hum muy grande husso, e juntousse tanto a elle pollo ferir amantenente, que o husso firmou bem seus pees, e leuantou os braços pollo arreuatar da ssella. O Iffante quando esto viu, empicotou sse tanto sobre a ssella, que foy de todo sobre o arçom deanteiro: e o husso tendendo as pontas das maãos pollo filhar alcançou o arçom derradeiro da ssella taua- renha, segundo estonçes husauom, e arrancou o arçom com huúa grande aljaua da anca do cauallo. E o Iffante por todo esto nom o leixou, e assi sem arçom e com o cauallo ferido voltou sobre elle pollo remessar, e nunca sse delle quitou ataa que sobreuierom outros, e lho — 463 — ajudarom a ffilhar nas azcumas. Outra vez lhe aque- eçeo que aprazou húu porco muy grande, o quall achou com gram trabalho fazendoo andar longa terra antre dia e noite, de que ficou muy cansado: e depois que o ouue cercado mandou huu seu page que lhe leuaua a azcuma, que fosse aa pressa chamar os de cauallo e os monteiros e toda a uozaria, e que lhe trouuessem dous allaãos, os quaaes amaua tanto, que os lançaua de noite consigo na cama, e ele em meo delles: hãu auia nome Bra jrmaão o mestre dAvis, outro chamauom Rabez, que lhe enuiara Fernam Peres dAn- drade, tio de Ruy Freire [dAndrade], de Galliza. Quando a companha foy toda junta, feze sse muito tarde, porque uinham de longe: e depois que o Iffante partio as armadas, ficou ele em húua dellas, e mandou poer os caães a achar: e postos nom acharom nada, por que o porco se leuantara em tanto, e nom estaua em aquelle lugar: e dúrou jsto tam grande espaço que o Iffante emfadado do quebranto, nom se pode soffrer, que nom dormisse. (O page seu que tinha os allaãos, semelha- uelmente forçandoo o sono teuelhe companha e ador- meçeo: e ante que adormeçesse, por quanto nom sen- tia vozes de monteiros, nem ladridos de caães no monte, cuidou de dormir de seu vagar, e atou as treellas dos allaãos hua na perna e outra darredor de ssi polla cinta. Em este comeos sobreueo o gram porco seguro e desacompanhado de sabujos e dallaãos, exudrado por a gram calma que fazia: e veo naçer per a bicada de hãu monte junto com a armada onde jazia o Ifante e seu page dormindo. (Ora deuees de saber que aquele bom allaãão de Brauor, comprido dardimento e de bondades, segundo sua natureza, era assi acostumado que sem treella aguardaua com o rrostro na estribeira quanto o cauallo podesse andar, e porco nem husso, nem outra animalia com que sse encontrasse nom auia — 404 — de trauar em ella, a menos de lho mandarem fazer. E quando o porco assi naçeo, o outro allaão Rabez deo huúa arrancada, e o Brauor teue sse quedo: e quando Rabez vio que sse o porco saya, e que o nom desa- treelauam, fez huúa grande arrancada per húu mesto mato, leuando apos ssi o page e o outro allaão. Ao soom disto acordou o Iffante, e quando vio o moço e os “allaãos hir desta guisa, e o porco que sse poinha em saluo, ouue tam gram sanha que mayor ser nom podia: e ffoisse rijo com húu cutello de caça fora da bainha, e cortou'as treellas que hiam ataadas no page. Os alaãos com as treellas cortas forom filhar o porco em hum espesso aruoredo: e chegando o Iffante a elle, o porco se queria espedir dos allaãos, que eram empe- çados em huiúas curtas carualheiras: e sahindosse o porco, nom querendo aguardar de justa, o Iffante o rremessou: e entom foy feita a mais fremosa azcumada de seu braço, que ata alli fora vista nem ouuida antre monteiros, porque as cuitellas da azcuma entrarom pol- los polpoões da coxa, e cortaram os ossos e as juntas, e sahirom as cuitellas com toda a asta pollo conto da azcuma, da outra parte da calluga da espalda. E mui- tas outras boas andanças, e dellas contrairas, lhe aquee- cerom em seus montes, que seriam longas de contar, de que nom curamos fazer mençom. E assi como era grande monteiro, dessa guisa era caçador de todas ma- neiras daues, assi daçores como falcoões e gauiaães, galgos de lebres e rapozas, e podengos de mostra: e ele meesmo trabalhaua com elles a lhes tirar, em tanto que todos auiam por muyto o trabalho e affam que em semelhantes feitos leuaua. JX No antigo palácio, situado no Campo de Santa Clara, em Lisboa, que foi residencia dos Marquezes de La- vradio, e onde atualmente estão estabelecidos os Tri- bunais militares, as paredes do átrio, da escada e da sala de espera são profusamente decoradas com no- taveis paineis de azulejos, os quais provavelmente foram fabricados no século xvm1 na antiga Fabrica de Louça do Rato. Nas paredes do primeiro lanço (lado direito e esquerdo da escada) há quatro paineis, em que são representados episódios de montaria. Os paineis estão compreendidos entre o guarda-chapim e o corrimão, que são de lioz brunido; tem a forma de um paralelo- gramo, cujos lados maiores (base) tem 2",15, e distam entre si de 0”",85; os azulejos tem 0",23x0",23; os quadros estão pintados com côr azul, e são circum- dados por sanefas de côr amarela e verde. Nos dois paineis do lanço direito da escada estão representados, no painel da direita a perseguição de um cervo, e no da esquerda a de um touro; nos dois paineis do lanço esquerdo estão representados, no painel da direita um grupo de cães (alãos) tomando um urso, e no da es- querda outro grupo de cães (alãos) tomando um porco montês, Posto que os azulejos tenham sido pintados no sé- culo xvrir, as armas (azcumas) que usam os monteiros, e os cães (alãos) parecem indicar que os mesmos pai- neis são a reprodução de quadros mais antigos. (Estam- pas 1, 1, IH € Iv). 30 Estampa LI Ê A A Estampa VI at certos 000 A E DT O (460 d) F E 2 Pág. xt Xv » CORRECÇÕES IMPORTANTES Linha I 23 29 22 2z 24 onde se lé: plazer (Cód. 3390), fol.; Biblioteca Na- cional de Lisboa, mss. 3390, fol. 163, v. cexiij », "* Leon e Leão trazer; fará Gudufel seja naturaleza espessa porcç pertençe era mal desfalesce 100 derredor pauear calçada calçada Parte segunda - es en alãas 11,13 € 19 soope 29 todos os aueem leia-se : plagzer. Cod. 3390, fol. cciij v., Bibliotheca Nacio- nal de Lisboa, ms. 3390, fol. 163, v. Leão e de Leão trazer, fara é Gudufré (Godofredo de Bouil- lon). seia natureza, e no fundo da página acrescente-se: 25. naturaleza. talvez espessura. porco pertence talvez [não] era [conuinhauel) desfalece 116 darredor panear calcada calcada Livro segundo, e no fundo da pág. acrescente-se: 1. Parte segunda. se em algãas sopee todos os — aueem, Binviiva --.d. JULO PLEASE DO NOT REMOVE CARDS OR SLIPS FROM THIS POCKET UNIVERSITY OF TORONTO LIBRARY SK Joao 1 211. Livro da montaria J6 BioMed. SS: o ups ú E Wra'g a PE Let Dedo du mpi a bri o viÊ glad Pg, Mechas Cena Bt: A ESA a fr EA Rea y AT) t Ea nais dA E Prev at SEA IO s 4 anita ex y ir vz 4 mig bictçti a pedi Ro. Md Bis oa d gut Fai AM ANS Baia da a, Re ARLS A si Mohi +53 RA ps Ra Nr WA: A : Y ERA o > ME ga fia di "is “ õ : Ro us Po xe E À dede h wi Er ds FASE Eos a E) io Eq ; Ao a ] E loja ba nata t BA! * Ê E já Zr uu A | pbnif sa ts) t nei y Didi Es es Ee 30 RS AE SN UE AO, FSEs Re pen