''V , f . , ^r• J, ' •/^-r"- 5^' •:i> "'%■ *- >»»■ al?^-^iDj* MEMORI AS D E AGRICULTURA PREMIADAS _ r^ ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS [ ^( i) E LI S B O A. J Em 1787* , e 1788. Ni^i utile eft quod jacimus ftulta eft gloria. L I S B O A: •tA' -T^/ Na OfEcina da mefma Academia Real* Amno Mdcc.lxxxviii. <^om lktni;a da Real Md7.'i da Conmiffcia Geral fol»i 0 Examc , e Cenfiira dos Livros. Vende-fe na loja da Viuva Bertrand e Fillios, JVIercadores de Livros , junto a Igreja dc N. SsnboiA dos Wartyres ao Xiado em Lisboa, =M/ / A R T I G O EXTRAHIDO DAS ACtAS D A ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS, da SeffaC de iz de Agofto de 1788. P Ermite a Academia ^ que fe tirem do feu cartorio copias das quatro Memorias de Agricultura , que for ao premiadas nd anno pajfado de 1787. , e no corrente ^ para fe imprimirem na fua Officina ^ e debaixQ do feu Frivilegi§<, Jof^ Corr^a da Serr^ Seoretario da Academisi 11 P B. ci<= P R O L O G O. N O Programma de ^ de Outuhro de 1 78 1, tinha a Academ'ta propojlo para 0 anno de 1784. a quejiao fcguinte. Qual lie o methodo mais conveniente e caute- las necefTarias para a cultura das Vi- nhas em Portugal ; para a vindima j ex- tracfao e fermenta^ao do mofto \ confer- vajao e bondade do Vinho , e para a me- Ihor reputa^ao e vantajem deile impor- tante ramo do nollo Commercio. Adveriio ao mefmo tempo a Academia , que nao premlaria Memoria alguma , cm que 0 feu Autor alcm da theorica indifpenfa" lie I para a digna fatisfa^ao dcfte ajfum-' pto , e aleni da indaga^ao e compara^ao das obferva^oes que fe achao efcritas , nao expuzejje taSbem experiencias pro- prias , pela maior parte felt as em gran" de , ou por elle , ou por pejfoas nomeadas e Jidedignas. A/em dcjlas condi^oes , mof-' trou a Academioi dezejo , de que os Au^ tores indicajfem as diverfas vari^dades de cepas com os feus names triviaes , a propriedade de cada huma a refpeito da quantidade e qualtdade do Vinho que prO'^ duz , qual 0 terreno conveniente , os in-^ p^Qs que Ihc fag nniiios ^ s iudo eut fim jim quant 0 concorrejjc a aperjei^oar entte -nbs cjla tad ut'tl cultura. Entre os papeis que vierao a concur-^ fo no anno de 1 784. , nenhum foi julga- do d'lgno dc fer premiado. Tomoif-fe a proper 0 mcfnw ajftnnpto pard 1787, com prtmio dohrado , ifto he de ioo^oooi rets , e ainda que das Memorias que con-* corrcrao , nenhuma fatisfizejje completa- mentc ao que a Academia pedia , com tu~ do julgou-fe mereccdora de aten^ao a Me~ vioria de Joie Veriifuiio Alva res da Silva , que he a j. rimeira dejla coilec^ao , por con- fer muitas couzas uteis 5 e por confe- guinte refolveo a Academia premialla com 0 premio ordinnrio ; tornando a propor a mcfma quejlao com 0 mefmo premio do^ hrado para 0 anno de 1790. Huma pejjoa que nao quiz ahfohita- mente fer conhecida fez rennet er em 1783. , no Sccrctario da Academia a qudntia de itnti' inoedas , para fe darem d Mcmoria que inelhor Catisfzcffe afegvinte queftao y import antijfima para os progreffos del Agriciiltura. (^lacs fao os meios mais convcnientcs de fiipprir a falra dos ef- trumes aniinacs , nos lugares onde lie dif-' ficultozo havellos ; averiguando-fe parti-' cularmcnte fc o revolver e' expor por va- Fias vezes a rcrra a influepcia da at-*' piopfera , feri hum modo fufficiente de fer-' tilizalla , i^niXo tudo comprovadx) com re-^ I petidas e autorizadas cxperlencias. AAca- demia propoz o affmnpto no Program-^ via de i-ij de ^ulho de 178:5. , para fer julgado no concurfo de 1788. Varlas Memorias concorrerao parA 0 premio , entre as quaes duas fe dif- tinguirao , mas como nao ohjlante 0 co~ 7ihecido merecimento de amhas , nao faffs- faziao intciramente ao que fe rc'queria julgou a Academia repartir 0 premio en- tre as duas Memorias , caroando por ejle modo OS talentos , e luzes dos dois Auto- res , ( Manoel Joaquim Henriques de Pai- va , e Joze VerifTimo Alvares da Silva ) 7nas tornou a propor a queftao com 0 ynef- mo premio , para fe dar Jem reparticao no anno de 1791. ao que fatisjizer ple- namente ao quefito , e de outro modo nao. As Memorias premiadas fao a fegunda e terceira defta collec^ao. Depots do concurfo acahado chegou as maos da Academia huma muito efti- rnauel Memoria fob re 0 mefmo affumpto , c logo que fe pode faher 0 nome do Au- tor , determinou premiallo com huma fe- rie das medMlhas da Academia em pra- ta e com a carta de feu correfpondente , mandando que efta Memoria fe imprimif fe com as outras. He a quarta e ulti- ma dejia collec^ao e 0 feu Autor Conllati- tino Botelho de Laccrda Lobo. ]VIe- M E M O R I A SohrQ a ciihura das Vinhas ^ e fohr^, OS Vtnhos, VOK JOS E VERI3SIMO ALVARE5 DA SIL VA, ^VVV\A--- • vyvYYV yvvvvvyy vyvvvV.-yv\-vvvvvyvyv"y^;(V yy v\->.v V V y y •. v \. v y\ ;• v ?S'=^^;?^5J:^='^=;^=: P R O E M I O. Ntre OS diverfos ge-Utnida^ iieros de bebidas , que vl'.ij'Jj'; fe extraem dos fniiflos das plantaG para d vidii do homem , nao ha iie- tihiiraa mais generica 3 nem mais eili- mada , que o Vinho. Eire licor tao loir- vado pelos antigos Poetas , tornado com moderajao , nao i'6 conferva a faudc com robullez j porcm prolonga a vida , reproduz as fore as perdidas , e cura infinidade de doenjas. Si Paulo o recomenda a Timotheo por cauza de certa enfermidade do eftomago. Hypc- crates , Galeno, Hoffman 3 e ourros ce- ^ iebres Medicos Ihe. dao louvores prO~ porcionados as utilidades , que elle pro- cura ao genero iuimano. O Vinho con- fiderado como objefto do Commercio he hum dos ramos mais extenios , que podem ter as Na0es , que vivem nas zonas tcmperadas. A excluzao , que a naiurezii fez defte genero nos povQs A fep- ' t Memorias Septentrionaes , merece , que as outras Najoes , que o pofTueni , ponhao todo o cuidado na fua cultura. As riquezas fainigeradas , que os Reys antigos Por- tuguczes poiruiao antes da aquifijao das colonias , provinJiao das grandes extraccoes , que fe fliziao deile gencro naquelles tempos. ( I. ) E ilFo pois nos conduz a examinar, qua! he o methodo mais conveniente , e cautellas necef* farias para a cultura das vinhas em Portugal ; para a vindima , extracjao , e fcrmentajao do mofto , confervacao , e bondade ; dos Vinhos para melhor reputajao , e vantajem deile impor- tante ramo do noffo Commercio. CAPITULOI. Da natureza da Videira, ?c,*/rd3 ^ \T -^1"^^^ zQiXiti a Videira no nu* Videira, V mcro das arvores : a ifto deu lugar OS troncos de Videiras pfodi- giozas , de que a Antiguidade nos dei- xou mcmoria. Em Populonia havia hu- riii' eftatua de Jupiter feita de huma fepa de Videira : cm Metaponto as colum- nas , que luftiniiao o Templo dc Juno , era 6 de ramos dc Videira : Chypre era o Jugar, ondc as Videiras ehagavao k liitma altura , e groiTura extraordinariaA ( II. ) He certo porem , que a Videira fern o apoio de outras arvores riao fe eleva ; por^m crefce , e lan§:a feus ramos pela terra a maneira de hum grande nu- mero de ervas. A natureza formou os ramos das Videiras cheios de gavio- ens J com os quaes a maneira de maos ellas fe arrimao , e vao crefcendo junto a tudo , que encontra6. A flor da Vi- deira he em f6rma de roza, compofta de cinco petalos , e guarnecida de cinco eftaminos , ( III. ) no meio dos quaes efta hum peftilo ( IV. ) , que elles fe- cundao , e de que fe fbrmao os bagos* As differentes efpecies , que fe tem achadoj fao tantas, que ja Virgilio dizia: S^d nequB quant multde fpeties , nee no^ mtJta qu£ fint , ^fi numerus : neque emm numero com- prendere refert. Georg. II. verf. 1031 Eile as deftingue pelas terras, ondeDirTereri. OS Vinhos erao famigerados ; pelas qua- ^^^5^^^^*' lidades de terrenos, em que meihor pro- videi-. duziao j pelos lugares , aonde tmhao fi- "•*• do transferidas j ( V. ) pehi quantidade de Vinho , que davao j &c. Boerhaave conta as feguintes efpecies de Videiras : h Vitis fylvejlris labrusca. ^* Vitis vinifera , ex cujus uvis jA ii ^i'^r* 'if M E M 0 i^r a's ' acerhh immaturis omphacimn cxprt" mitur. III. Kitis Corinthiaca , five Apy- r'lna. ' IV. Vitis Appiana. V. litis Pfrgiilana, VI. Virir folio Apii. VII. Fitis alba dulcis. VIII. Vitis frontiniaca, IX. litis nigra dulcis. X. Vitis imiltipJex alia pro dii)er-^ fit ate , qUc'e ohtinet in acinis rations coloris , faporis , magnitudinis adnio^ dum rarid' , cultuqtie induftrii vindi-^ matoris femper nova. XI. Vitis quinquc folia Canadenfs fcandens. XII. Vitis vulpina dicta Virgin niana alba. Dar a cada huma deflas efpecies os feus nomes triviais , he huma das cou- zas mcramcntc impo/Tiveis. A cauza he, porquc nao 16 cm huma meliua pro- vincla , ou comarca variao os nome^ das Videiras ; mas de Juima terra a ou* t'"a , c as vezcs na piquena diftancia dc huma legoa. O que na Beira he Malvafio , na Eilremadura he , o que fc chama Cachudo j e o que he Mai-* valio em certas terras defta provincia, em outras , c bcni vezinhas, ne>, o que [chamao Olho de lebre. As deAgricultitra. 5" * ^ As Videiras podem fer divididas "iffeien- pelas folhas ; pelos loros das vides , v\lnsT, pelos quaes no Inverno coniieceiii os nue re trabalhadores as diverfas callas de Vi- ^f°^^^'^ deiras ; pela figura das uvas ; peJa cor , &c ; porem nenJiuma deilas devizoes , que fe podem fazer , caracfteriiadas com OS nomes triviaes de algumas ter- ras , pode facilitar as regras , e percei- tos , que ha para fe beneficiarem os Vi- nhos. _ ^j,3„ 4 As uvas mais aptas para mofto I'^io as fao aquellas , cuja pelicula he mui de- e'r-edes* licada j as que fe paflao com facilidade; de vi- as que fao muito faborozas. ( VI. ) A '■^"'''' razao )unta a expenencia aliim o mol- \ ini.o. trao. As caftas de pelicula delicada fao , -^ fis que mais de prega , e melhor ama- durccem. O Sol as penetra com mais taciiidade , e faz perfeiramente nellas a primeira coccao. Efta he a razao , porque o Vinho das vinJias vclhas he melhor , que o das iiovas ; o das ter- ras pcdragozas , areentas , e altas , do que das terras baxas j dos outciros , do que o dos vales , e lugares Ibm- brios. As vinhas novas trabalhando com huma grande abuiidancia de feva , os fuccos , que pallao aos caches , fao mais groceiros , e por confequcncia menos aptos para reccbcrcm a primeira oc- ^ Memohias cocgao dos raios do Sol , que tambem fao impedidos pelo grande numero de folhas , e ramos , em que a bundao as vinhas novas. As terras pedragozas , e areentas tern a mefma razao. Os raios do Sol , refledindo das pedras , e areas aos caches , vera com maior vehe-« mencia ; e por iflb o maduro da uva he com maior perfeijao. Nas terras altas , e baixas ha tambem a mefma cauza ; naquellas os raios do Sol durao por mais tempo y ncftas menos ; e d'a- qui a madureza da uva a proporjadi do calor do Sol. A experiencia concorda com a ra- zao : nos vemos, que aquellas terras, que produsem uvas inlipidas y e dif- iaborozas , eilas produzem Vinhos fra- cos J e inlipidos j pelo contrano aquel- las , que criao uvas de gofto excel- Jente , eifas dao Vinhos de boa quali- dade , e gerierozos. Ellas notas , com que cara(fteriza- moo as uvas aptas para darem Vinhos bons , fe achao nas clalTes triviaes , o que em algumas terras chamao Fernao- Pires , Caxudo , Malvazia , Almafogo , Italia , Caftellao, Tintoreiro , Tinta de Franca , Prcto-Martinho , Baftardo. ( VII. ) He verdade , que entre ellas cafos ha humas , que primeiro amadu-« recem , DE At^RICULTUR A. 'f receth , donde nafce o inconveniente de fe acliarem pafladas , quando as mais fe vindimao j porem elle incon- veniente fe pode remedial- , fazendo vi- nhas feparadas , que fe vindimem a tempo • feparando as paflas , para dar o vifcozo doce necefl'ario ao Vinho j, de que ao depois fallaremos. C A P I T U L O II. Da cultura das Videiras. 5 1\T ^s cultivamos as Videiras de Difleren* ■ 1.^ differentes modos. Arrimadas j^p'/j°" a arvores , em parreiras , ou latadas , cuitivar e em vinhas. Cada lium d'eftes me- ^^ Videi-< thodos produz difFerentes Vinhos \ requer differente poda , e cultura. ( VIII. ) 6 Toda a efpecie de arvores he viaeiraf apta para fe Ihe lancarem Videiras ; ''^ E'"- porem as que mais convem as Videi- .^ ^j^ie ar- ras fao aquellas , que crefcem em pira- ^ores fe mide : taes fao os CJioupos , as Faias , ^eUa'r! OS Caftanheiros brabos : as Videiras fe^ apoderao com facilidade da arvore ; e OS raios do Sol penetrao as uvas de- faflbmbradas \ o que principalmente concorre para a fua madureza. ( IX. ) O lavrador, que por alguma razad qui- ?^ Memorias qiiizer uzar dos Carvalhos , Sobreiros^ Salgueiros , Amieiros , deve-lhes dar cortes , e faze-los crefcer em pirami- des , fepara-ilos em dillancia propor- cionada , a que-lhe entrem os raios do Sol. Como_ ^ J ^s ViJeiras , que fe lan^arem as as viJei-arvores , devem ler Barbados ; ifto he, ras de baccllos , Guc Icvcm alguinas raizes. A rudo. razao he , porque , coilio a terra nao fica mexiJa por todas as partes , como nos bacellos , paraque as tenues raizes dos bacellos polTao facilmente pene- trar , he prccizo algumas raizes , qu« tenhao niais forja para iuccarem a le- va , coin que a Videira crefce. E , co- mo a arvore com as fuas raizes , e fombra tern empobrecido a terra , que Ihe elta chegada , convem lanjar a Vi- deira mais ao longe , e ajuda-la com. algiim adubo , que Ihe nao chegue as raizes , pelas razoes , que ao depois ie dirao, Os Barbados , que fe lanca- , rem as arvores , fe devem efcoihiir mui compridos , paraque a ponta fe ap- proxime a arvore , aonde fe quer Ian jar. er- 3 Asefpecics de Videiras, que mais Vidijlras convdm as arvores , flio aquellas, cjue cuiive.n mais a bundao no vifcozo doce \ por- ''kT'^' 4^^- OS mui^os , e grand.cs vamos , coinL, cue -md 9D DE Agricultural 9 que ficao as Videiras , fazem abundar o moflo em partes aguozas. ( X. ) fe a cafla das Videiras por fua natureza abunda ja nellas , vem a concorrer duas couzas para produzir hum mofto cheio .obrm°' de fleuma , ou parte aguoza , a qual , quando lie iuperabundante , damnifica o Vinho , e prodiiz , o que chama6 Zor- rapa , Vinho fraco , e de pouca con- fidera^ao. Em algumas paites do nof- fb Reino pddao eftas Videiras quazi todos 03 annos. Ella he a pradiica da provincia do Minho. Nas terras mais fituadas' ao Meio-dia paflao-fe annos , que as Videiras_de Embarrado nao fao podadas , nem fe Ihes da cul- tura alguma ; com tudo ellas produ- zem melhor Vinho. A razao he , por- que o Sol as faz melhor amadurecer ;■ pelo que adquirem mais vifcozo doce , que nas terras frias. No anno de 1784. eu provei na Eftremadura Vinhos de Embarrado muito Ibfriveis , os quaes fe vendiao a 800. reis o almude : el- les erao produzidos de Videiras , que , havia muitos annos, nao erao podadas , e de cafras nao muito aptas para a producgao do bom Vinho j como he a Labrufca , de que commummente ufao nos Embarrados. ( XL ) 9 Os, Romanes ufavao muito das Razao » yi- porquft fb '"Memorias t>% Roma- Videiras poftas de Embarrado. O clima' tiTav'^as' s^^ muico apto ; e a abundancia , que muito as produzcm as Videiras de Embarrado , ViJenas j^^ incomparavcl. Acreicenta-fe , que barraiio. ellas le dao Icm maior rabrico , e na-) quellas partes do campo, que pouco oc-^ cupao a cultura de outros generos. Os Piemonrczes ( XII. ) no mefmo terre- ne , que cultivao as Amoreiras , cullivao rambcm as Videiras , enlajando-as de humas a outras Amoreiras , o que forma huma agradavel perfpetftiva. Os Vi- nhos produzidos das Videiras cultiva-' das do lobredito modo fe podem me-^ Ihorar , I. podando as Videiras , e def- pondo as arvores deforte , que ellas re- cebao os beneficios do Sol o melhor , que poder fer. II. efcolhendo aquellas cartas, que mais abundao no vifcozo doce , como iao. =: O Fernao-Pires , o Cafteliao, &c. ( n. 4.) III. Ufando de todos aquelles remedies , com que le diminucm no mofto as partes a- quofas J e elle adquire o viicozo doce , de que ao depois fallaremos. lelatla'a ^^ ^ fegundo raodo de cultivar as de eiieT- Videirds he em parreiras , ou latadas ; ■ "• as quaes ou fao de efteira , que fao aquellas , em que as Videiras de duas alias oppoftas le ajuntao em certa al-. tura y ja em figura quadrada , ja em arco , DeAgRICULTURA. II arco , ou em outra qualquer forma , ou fao em ruas defcubertas ; eftas fe fazem por via de canas , ou paos , que iuftem OS ramos das Videiras enlaja- dos huns pelos outros. As latadas de efteira nao produ- zem uvas deftinadas para Vinho j po- rem fim. para comer. A cauza he , por- que , pollas as Videiras defte modo , as uvas nao recebem do Sol aquelle grao de calor , que era precizo para adqui- rirem o vifcozo doce , neceflario ao Vinho. Alem dillo , como as Videiras fi- cao altas , e de muitos ramos , abun- dao demafiadamente em partes aquo- fas , as quaes impedem o fazer bom Vi- nho J porem he certo , que confervao as uvas fem aquelle doce , que, fendo preci- zo para o Vinho , anoja o paladar. Deile jnodo fe cultivao affim as caftas tem- porans , corno as ferodeas. As Mal- vazias , que em algumas partes chamao Olho de lebre , as Formozas , todas as efpecies de Mofcatel , as Bolotas , as Dedo de dama , as Tameras, as Bar- rete de Clerigo , as Mulatas , as Fer- raes , &c. fao as caftas mais ufuaes , que fe coftumao por em latadas de efteira. II As latadas, que nao fao cuber-i'Stadas tas , porem, que fao difpoftas em ruas jbeJus" fao II M E M O R 1 A S fa6 huma efpecie de vinhas altas. Pe- netradas pelo Sol , ellas priiduzem uvas aptas para Vinho. Todas as calks aptas para dellas fe formar o bom Vi- nno fe dao bem nas latadas ; o mof-»' to porem he mais aquofo pelas razoes ja ponderadas ( i). o. ) ; pelo que de todos OS modes de cultivar as Videiras a vinha he o mais apto para aproduc- 536 do melhor Vinho. Ceovg. J 2 Virgilio recomenda para as vl- 229. " nhas as terras delgadas 'j' e para as Terieno fcaras as terras fortes. ( XIII. ) Os pant' T Fyficos modernos fazendo a analyfe vinha. dos terreiios , onde fe davao os me- Ihores Vinhos , acharao , que eftas erao cheias de pederneiras , de calhaos , de ere , de area ; e que as terras dema- fiadamenre fortes , e barrozas , as de cor negra , e brancas nao erao aptas para a produccao do Vinho : que os melhores Vinhos fe davao entre qua- renta , e cincoenta graos de latitude ; como fao as de Hungria , Hefpanha , Portugal , Italia , Franga , e parte da Alemanlia. Os climas , que eflao acima deiles graos , fao demaiiadamcnte frios para as uvas poderem adquirir o grao dc madurcza , que Ihe da o vifcozo dc- cc , necefiario ao Vinho : os aue cflao abaixo pelo dcniafiado calor Ihc tirad .0 DE AgRICULTUII a; t^ t) gvio de acido , que faz o ponto do Vinho. As terras cralTas , e nimiamente barrozas , a que os homcns do campo ■chamao Barrao , nao produzem tap tons Vinhos ; porque a leva , que ellas dao as vides > he craiTa , groceira , e nao tao bem filtrada , e attenuada , como aquella , que dao os terrenes pe- dragofos. D'aqui provem a differenga dos Vinhos celebrados affim na Anti- guidade , como nos noflbs tempos , o Falerno , o Maflico &c. 1:5 Alem deftas obferva^oes fobre Conti- a qualidade do terreno ,; e clima , a""^'^'^^ J . . r, -f'' ^ dss qua- expenencia moitra , 1. que as uvas lidades aptas para darem o bom Vinho fao '^° *^'^- aquellas , que o terreno Ihes da fuccos convenientes para ellas ferem bem crea- . das j e que a expozijao , em que eftao . faz , que o Sol as amadureja bem. Hu- ma terra nimiamente arida , cujas par- tes pelo calor nao contivelfem fuccos para produzir mais , que uvas miudas , e caxos esfarrapados , efta he incapaz de vinha , por falta de feva fuffici- ente a nutrijao da cepa. II. Quando fe diz , que os outeiros lao os terrenes mais adquados para as plantacoes das vinhas , Btichus amat colles , deve-ie entender com tanto , que os outeiros abundcm em fuccos , que yigorem as ce- pas. "14 -Memorias pas. III. D'aqui fe moftra fer falfk 4 regra , que alguns Authores de Agri* cultura eftabelecein , mandando p6r as viniias longe do rios ; porque a expe- riencia tem moftrado , que os Vinnos produzidos nos montes poftos ao longo dos rios fao muito melhores , que os outros. A razao he , porque a bondade do Vinho nao £6 he em razao do calor do Sol ; porem tambem em razao da nucrijao dos caxos. Para ifto concorreni muito OS grandes orvalhos , que todos OS dias recebem as Videiras levantados dos rios , e por cujo beneficio as uvas vem bem crcadas. Feita a eleicao do terreno , feguece a efcolha dos bacellos* Efcoiha 14 Ja acima dicemos ( n. 4. ) » que as caftas de uvas raais aptas para a produccao de bom Vinho fa6 aquel* las, que mais depreja amadurecemj que fao mais faborozas ; e que fe palla6 com mais facilidade. He oppiniao com-* mum , que as Caftas pretas iao as me- lhores para o Vinho j como porem nos temos caftas brancas , e em grande nu- mcro J que tern as quaiidades requeri- das , o lavrador fara bem , fe dellas uzar : o Vinho em alguma couzJa fe deteriora ; porem a fertilidade dcpen- de muito defta miftura de Videiras* ( XIV. ) As Videiras fao , como as de dos ba- «eUos. deAgricultura. 15- mais arvores , e plantas , as quaes , fe por hum tempo de grandes chuvas fao impedidas , a que o p6 fecujndante entre nas matrifes , legue-fe a eftirilidade. As copiozas chuvas , que efte anno vie- -rao pelo Santo Antonio , fizerao per- jder a mais bem principiada colheita de uvas , que jamais le tinha vifto. As caftas pretas forao , as que mais pa- decerao. O Fernao-Ph-es , como era mais temporao , foi a unica cafta , que ^ icve toda a fua produc^ao. 15 Os bacellos devem-fe efcolher Quaii- dos mais grocos ; efte he hum fignal , ^os bL .que a vide nao he defecada , e he fern ceiios. peco. Ifto he contra a opiniao do vul- go dos trabalhadores , que poem vinhas. Dizem elles , que os bacellos devem fer delgados ; porque iflb he hum iig- nal , que a cepa , donde fahio o bacello , Jie fecunda em dar uvasj e que pelo con- trario as vides gro^as denotao abun- dancia de vidonho ; porem efterilidade de uvas. A razao , e a experiencia me moftrarao o contrario. Ha trez annos, em varias plantacoes de bacellos , que tenho feito , obfervei , que os bacellos , que melhor pegavao , e os que toma- rao melhor crefcimento , forao os mais grojos. A razao convence de iofisma von caufa pro caufa a oppiniao tri- vial l5 • M E M O 1^ t A S vial de preferir os bacellos d^lgadoS aos grofos ; porque a fecundidade d6 qualquer arvore , on planta nao pen- de de ter raaibs delgados j porem fun do vigor , com que a Teva os nutre* Comofe i5 A coni'ervacao dos bacellos, ate* "".15 OS que ellcs I'eponhao, he hum ponto eP- bacellos, fencial para a boa poilura da vinha i fe'^po-^ porque poucas vezes pode acontecer o nhao. irenvfe pondo a propor^ao j que fe Va6 cortando , o que he melhor. A inuita humidadc obftruc os cailaes , pof onde circula a leva ; a falta della produz ^ lequldao nos bacellos > Os quaes, pcrden* do a fua natural contextura , ficao ine* ptos para pegarCm , qUando fao poftos. ( XV. ) Pclo que o lugar , onde forem abacellados , deve fer ral , em que as agoas nao cftagnem ; e, para conferva- rem a humidade preciza , devem ficar enterrados treiz palmos. Deve-fe tam^ bem acautelar muito , quando fe abacel-^ lao as vides , que fe hao de plantar j nao fiquem humas fobre. outras ^ pois de nao haver cfta cautella os bacellos ardem , f a planLaca6 j que delles fe £it, \ fica inutil. O fogo , que , cfpalliando-fe \ em ar livre , nao era nocivo aos cor* i pos , donde cmanava , quando eftes fe : ajunta6, cOncentrando-le hum no outra, ; produz a fua dcitruijao : o Gxemplol da DE AgRICULT tJR Ai \J poftas de feis palmos e meio a feis palmos e meio. Hum lavrador das mi- iihas vizinhanfas apurado na plantajao das vinhas nie dilte , que na6 ufava ja de outra medida , fe nao de fete pal- mos ; e eu creio , que ainda fe podera paflar adiante* Alem das cepas fe vi- gorarem mais difpollas nefta diftancia , ;as uvas recebem melhor o beneficio do Sol tao neceifario para a l^idlura dos bons Vinhos. 10 A regra , que fe deve obfervar ^i^"""^ . !►, J . r -L das fiim- na altura , que devem ter as iurnbas, em ^as. que fe poem os bacellos, he variavel, fe- gunJo OS terrenes. Muitos julgao , que B ii 0 10 M E jii 0 R I A s o efTencial na poftura das vinhas lie ferem as furribas dc dez , e doze pal-* mos de alto ; porque a fubftancia dos baccllos dependc da profundidade , em que ficao. Ella regra he falla muitas vezcs. Todos os vegetaes crefcem , e fe nutrem em razao do calor do Sol : o feu beneficio entra Jias terras ate certa altura ; mais nas terras areentas ; menos nas teiras dridas j porem , que nao fao areentas ; muito menos nas terras bar- rozas , ou fortes; e entre eftas ainda fe obfervao diiferentes graos. O lavra- dor , que nas bordas do Tejo vir fazer huma furriba de doze , e quinze pal- inos , e em huma terra barroza quizer iazer o mefmo com grandes cuftos , perdera a fua plantajao. As grandes furribas, que fe fazem na terra de area , he para chegar ao fahio ; e a area, co- mo tern inlinitos poros , del ficil paf- fagem ao calor do Sol para ir viviiicar a ultima parte do baccUo. Nas terras barrozas , como as m.oleculas , ou pri- meiras particulas, fizem humas com ou- tras huma contextura forte , o bene- ficio do Sol chega ate certa altura , palfada a qual , o bacello fe obftrue, e apodrece por cauza da feva , que Ihe toca , nao fer apta para o fazer crefcer.'jl Pclo que nas terras fortes cinco , ou ' " qua? DE AgR ICULTTJR A. 21 iquatro palmos e meio de altura , e pal- mo e meio de unhamento faz prof- ' perar bem os baccllos ; nas mais terras a regra deve fer a proporcao da lua conrextura. 20 Os bacellos , qiiando fe langao na ^"i quf furriba , devem no unhamento ficar in- cia'de!.' ciirvados : defte modo , levando a vara vem tk-ai- mais exteniko , as raizes, que faem de to- ?^ ^''""^^i- da ella, fazem mellior crefccr o bacello. A funibas. .altura, em que o bacello deve ficar fora da terra , he de trez olhos ; menos, ar- rifcar-fe-hia o cobrarem-le os bacellos i\o fabrico , que fe da as terras fur- ribadas , em quanto a vinha nao fccha : mais , perderfe-hia entao huma boa por^ao de feva neceflaria a vigorar a vide. Muitos uzao lancar-lhe no unha- mento mato ; outros eflerco ; huma , e outra couza ferve para ddr fuccos as terras , ou fracas , ou empcbrecidas , •muito principalmente , fe a falta de fuc- ■cos he procedida de vinhas velhas , que de novo fe querem por. Deve-fe po- rem acautelar , que o eflerco feja ve- ■Iho , e que nao chegue a vara ; o que fe deve obfervar tambem no mato , o qual nao deve fer verde : por falta def- tas cautelas pode provir hum tal grao de calor a os bacellos , que os deilrua. 31 Nos primeiros trez annos , em po^^^ do quan- "^ 11 Memorias eterce'i- quanto os bacellos nao fechao, a terr^ JO anno. pj.Q(^j^2 , ainda I'em o foccorro de adu- bos , milho , feija6 , meloens , pepinos , melancias , coves , repolhos 6cc. As raizes das planras , achando a terra me- xida , tern extenfao fufficiente para pro- curarem os fuccos , que Ihes fao prccizos para a fua nutrifao. O amanho , que fe da aos generos , que fe fabricao nas bacelladas , ferve tambem de fabrico para as novas Videiras. A poJa do fegundo anno Jie , a que me- rcce maior attenjao. O commum dos Agronomos he de opiniao de deixa- rem qs baceilos em dois olhos y porem a expcricncja tern moftrado , que efta prad:ica nao he melhor , e que as mais das vezes o bacello por cauza della perde a forfa. Todas as plantas , alem da natureza commum , tem iiuma par- ticular , porque fe diverfificao humas das outras : o bom agricultor deve ef- tudar efTa particular natureza , e fe- gui-la, O corte he effencial ao vigor de muitas plantas. Os meloeiros entre n6s poaco, ou nada produziriao , fe nao fof- fem cortados. ( XVI. ) O corte do fe- gundo anno nos bacellos he huma das couzas , donde mais pende o vigor das cepas. Todos os rcnovos do primcira anno deveni ir fora ; e do pao velho f6 bEAcRICULTUBA. 2^ fo fe deve deixar , o que for baflante , paraque os fabricos da terra os rao cubra ; para evitar iflo fe deixa ao pe de cada bacello huma piqucna efcava , a qiial fe entupe ao fegundo fabrico , qiiando o bacello efta Jl4 arrebentado , e nao corre ja rifco de fear ciibeito de terra. Efte mefmo corte fe deve repetir no terceiro anno em todos os bacellos , que eftiverem ainda fracos. Os fortes, e vigorozos devem iicar de dois, trez , ou quatro olhos , os quaes co- mecao a alegrar o lavrador com as permicias dos feus frucTios. 22 No quarto anno , e nos feguin- Po^'i dd tes OS bacellos devem ficar ja a vara , anno.** a qual deve fer proporcionada a fua forca. 23 Desde o fegundo anno , paraosba- que o bacello crefca direito , fe deve """^ a cada hum arrimar hum pao , ou cana , crefcer a que feja atado. A vinlia , que crcfce ^ireitos. torta , nao reccbe com igualdade os be- reficios do Sol j alem da vindima , e os fabricos , que fe ]lie dao, ferem mais cuftozos. Arrnnados a paos fe devem confervar os bacellos , atetjue cheguem a grandeza de trez , ou quatro palmos j e a cepa tenlia vigor , paraque nella altura fe forme em ramos , aos quaes podados cliamao talocns. A 14 Memorias Qua] feia 24 A poda dis vinJias no feu me- pqJ^/"'^ tliodo mais ufado he dc varas , as quaes ficao a cada cepa fegundo a forga , que tern. Eftas ou lao atadas a paos , ou dobradas cada liuma fobre fl , a que cJiamao de rodiiha ; ou em archo , a que chama6 de vara de Juftifa. Todos eftes methodos tern varios inconveni- enres ; porque I. os caxos , que as varas torcidas criao, nao tern o grao de per- feicao, que deviao ter : II. as uvas ficao humas fobre outras , e os ramos crefcem com varias direcjoes ; o que tudo impede as uvas , a que amadu- re^ao bem : HI. a feva nao circula com igualdade por cauza das varias pofturas , que as varas tern ; pelo que a poda a taloens he a melhor , e a mais apra para a producgao dos bons Vi- nhos. Os fuccos nutritivos da cepa circulao fem conflrangimento algum ; c os taloens repartidos com igualdade dao lugar , a que o Sol beneficie as uvas. Deve-fe porem acautelar nefta poda , que os taloens fejao piquenos ; a grandeza de qua fro diedos he a me- dida commum , que devem ter os ta- loens ; porque , fe fao mnis compridos , OS dois ulrimos olhos he , que tomn6 torgi , e djo uvas , ficando os outros inpa^jazes no anno, que vem , de ficarem deAgbicultura. 15* para talones , a que vulgarmente cha- mao vara do Vinho. Peloque , quando a cepa efta vigoroza , deve o podador carrega-la , nao no comprimento dos taloens ; porem na quantidade delles. 25" Quando as cepas fe fazem ve- ihas , e por concequencia a vinha perde as for^as neceflarias para a fua ferti- iidade , podcm-fe reparar , ou cortan- do as cepas junto a terra , ou deitan- do-as que tern boas varas de cabe^a , ou langando mergulhoens , ou eftercan- do-as i e , fe Jie em lugares altos , en- ceirando-as. O corte das cepas junto a terra ^°'"°^* If . . ^ , -> . repaiara' lie hum meio mm to adquado para repa- a vinha Tar as cepas velhas ; podem-fe tambem veiha. enxertar , fe o pao velho admitte enxer- tia ; e entao a cepa fica , como nova. O corte fe deve fazer no Outono , efcavando a cepa alguma couza. O cor- te feito na Primavera ( excepto , fe he para fe fazer enxertia ) corre rifco de lazer fecar a cepa , que fe extravaza em feva. '* 26 O deitar as Videiras de cabeca , ^J'^'g^,/® ID lancar mergulhoes , fao couzas tri- eiiercar viaes , e que todos os trabalhadores ^^ ^'^" fabem. O ellcrco , que fe delta nas vi-' nhas para Ihes dar for^a, pede difFcrentes ^oniideragoes j aili'-n rcfpective ao mo- do. l6 Memorias do , como a qualidade. O modo de ef- tercar as vinlias ou he cobrindo a terra de efterco , e femeando-lhes fa- vas , ervilhas , milho , e outras femeriT tes , que admitao facho ; porque eftas em razao dos fabricos fao as melhores para as vinhas •, ou he fazcndo pique- nas covas junto as Videiras , eftercan- do-as , e lemeando-as j defle modo fe poupa muito efterco y porque as plan- tas , e as mefraa arvores fo gozao do efterco, que efta per to das raizes j o mais io Ihes aproveita^ quando as vanas vol- tas , que o terreno leva , fe Ihes apro- xima , para delle poderem gozar. Todo o efterco he apto para adu- bar as vinhas , com tanto que elle ef- teja bcm cortido ; ifto he , que elJe ten ha pcrdido o maior fogo. Em falta de eftercos podeiTe uzar de cinzas , fo- Ihas de arvores , femear as vinhas de tromocos , e , quando elles eftao no feu maior vigor , cavar a terra de forte , que clles fiquem bem enterrados j ef- cavar as Vidcirj.s , e lancar-ihes terra ' nova y fazer miftura do terreno da vi- nha com outra terra ; v. g. fe a terra he forte , e pegajoza , miftura-la com a ibha , &c. Cava Lias nj Na cava da vinha fe pronoem o lavrauor duas couzas , huma he dif- por deAgricultura. ^7 por a terra para receber novos fuccos por meio do Sol , chuva , e Ar ; ou- tra deftruir as ervas , que haviao de confumir os fuccos neceifarios as ce- pas. Em algumas partes do noflb Reino dao fo huma cava as vinhas na Pri- mavera , a que chamao de montes ; a fertilidade das terras fuppre as faltas de amanlio. Em outras, que melhor cui- tivao , cavao as vinhas a montes , en- terrando-lhes as folhas , que em outras erradamente deixao comer ao gado ; e ^fle fabrico Ihes dao ou no Outono , ou no Inverno j e na Primavera Jhes dao fegunda cava, desfazendo os montes. Se as terras fao aptas para a produc^ao do milho , as vinhas por cauza do feu fabrico goliao muito dcfta fcmenteira. As terras montuozas continuamen-Reme- te vao efcorregando 5 e desfazendo-re||^°'^^^/'*' para os vales ; pelo que as cepas per- vinhas dem a fubrtancia. O meio de remediar j'^'^^j^^;; efte mal he enfeirando todos os annos ti-uao. as vides, que laem das mefiTias Videiras. Enfeirar as vides iie dii'po-las em cor- doens em diftancia de feis , ou fete pal- mos de cordao a cordao. O Sol , as chuvas, e as geadas de hum annofazem, que ellas eftejao capazes de ferem ca- va das no outro ; quando o novo corte da vinha produz tambem novos cor- doens i8 M E M O R I A S doens de vides , que devcm ficar quafi pegados aos velhos, que fe hao de cavar. A vinha tcm duas utilidades dos en- ceiros : I. Icrvem-lhe de adubo , com que a vinha fe fortifica ; II. a terra , que continuamente refvalava ja com as chuvas , ja com as cavas , defte mo- do le fuftcm. Deve-fe porem advertir , que as viiihas de terra alta nao fe de- vem cavar de baixo para cima ; porem de ilharga j porque defte modo as ter- ras nao caem tanto. Temos fallado dos dois principaes fabricos, que as vl- nhas tern , ifto he , a poda , da qua! o melhor tempo he o do Outono ; e a cava , a qual nunca fe deve dar em tempo chuvozo , nem , quando as Vi- deiras eftao em fior. PafTemos a tra- tar das doengas , e males , que padecem as Videiras , entre os quaes o mais principal , e que deftroe muitas vezes as mais bem efperadas colheitas , he dos inl'ecflos. infeaos , 28 Trez fao , os que mais deftroem Jwuem" ^'^ vinhas , o Pulgao ,' os Befouros , os aAin- Caracocs ; porem de todos o que entre ^"- n6s mais damno fez , he o Pulgao , in- fecfto volatil , o qual poem os ovos nas folhai das parreiras , e as enrola : as Lagartas, que eftes ovos produzem, he, o que ao depois mais damiiifica as Vi- dei' deAgricitltura 49 deiras , confumindo-lhes as folhas : efte vem em dois tempos , huma ; a que chamao tempora , e outra Agoilinha , por vir em Agoflo ; ellas tem am- bas a mefma origem ; difFerem fo no tempo 5 em que os ovos do Pulgao fre- mentarao. Remedea-fe de algum modo efte mal , dando caiTa ao Pulgao , e as Lagartas. Muitos cailao o Pulgao, tiran- do as folhas j o que fe deve practical" nas que eftiverem ja enroladas ; pois- que as folhas fao partes efTenciaes para OS fruftos crefcerem bem acondecio- nados. O melhor methodo he por em hum arco huma efpecie de faco feiro de mantas de azeitona , lencol , ou ou- tro qualquer pano. Os ramos , que eftao cheios de Pulgao, fe facodem para den- tro ; e , quando fe tem boa porjao , ou fe queimao , ou fe enterrao para nao tornarem outra vez d vinha. Tambem fe pode caffar o Pulgao em caldeiras , ou alguidares , untando-os de algum liquido pegajozo , como he o mel , o algadrao , &c. A Lagarta, que ao de- pois apparece , que he a producjao dos Pulgoes , que fe nao poderao ex- tinguir , fe deve tirar com menos fo- Iha , que poder fer ; principalmente aquella folha , que eftd chegada ao3 taxos ;, ou proxima ; e toda aquella;, que ei- 1^6 M E M 0 H I A S cfta abaixo. Eu tenho vilto vinhas por falta defta percaujao ainda mals ef- truidas , do que , fe fofTe.n comidas da' Lagarta- Os Befouros palfao o Inverno ao pe das cepas ; e muitas vezes nas vinhas novas Ihes rocin as raizes. Saem em Maio da terra , e entao atacao as folhas , e botoes das Videiras , e no Ou- tone OS caxos para porem ovos. As favas femeadas por entre a vinha fazem, que efle infe^fto deixe as cepas pelas folhas das favas , as quaes fe tirao com cile infeClo para o matarem. Outros poem montcs de efterco pelas vinhas ; e , como efte infedio o bufca de Inver- no, como habitajao mais commoda , no fim do Inverno o tirao , e o queimao para matarem os Befouros. A calTa dos Caracoes he mais facil ; os que perfe- guem a vinha, fao de duas caftas j huns fao fern concha , a que vulgarmente chamao Lefmas j outros fao conchudos ; ambas as caftas cauzao grande def- truigao nas vinhas, roendo-lhes os pim- polhos , e folhas novas. A fua fecun- didade afTun como he grande, ( XVII. ) affim tambem pede a maior attenjad do agricultor. O tempo mais apto pa- ra caiTar os Caracoes he o da madai- gada ; e , f e he tempo de chuva , elles faem logo a primcira noute. As JjeAgricultura: 3r 19 As Videiras afTim como as de Doenqaf mais arvores , alTemelhando-fe aos cor- d«iras.' pos dos animaes ^ tern humas doenjas , ©u por abuiidancia de fuccos , ou por efles fe depravarem , ou por falta del- les. Muitas vezes as Videiras por hu- ma g.rande abundancia de feva nao produzem frucflo , e fe tornao todas em vidonho j outras vezes a feva, extra- vafando-fe do feu curfo, gera grandes tuberolldades na cepa , em que a feva fe confome em damno da Videira. No primeiro cazo o que fe deve ufar antes de tudo he carregar a Videira de va- ras ; fe ainda affmi nao pega em fru6lo, entao efcava-fe , e deita-fe-Uie nas raizes area : defte modo as Videi- ras entrao a fer fecundas. As tubero- fidades , ou calos , tirao-fe com a podoa ao tempo da poda , e nefte meirno fe devem alimpar as Videiras das cafcas velhas , que eilao ao redor da cepa , que fao o alojamento de muitos infe- ctos , e que impedem a tranfpiracao da Videira. Succede muitas vezes na Primave-^ ■i*a efgotarem-fe as Videiras cm feva , de que procede , ou ficarem fracas , ou fecaremj remedeao-fe eftes males, fazen- -do-lhes inclfoens nas raizes groffas , e pondo-lhes borra de azeite. CA- ^1 . M E M 0 R I A S ( C A P I T U L O IIL Da vindhna , fermenta^ao , e confer-* vaCaS do Vinho. Anaiyfe rjo A Ntcfquc cntremos no exatna Cliyjmca ^^ ^g ^^^^ jj^^ ^gl^gg pontes > nho. convem primeiro expor os principios ^ que a Chymica enfina , como confti-' tuentes da efTencia do Vinho. (XVIII.) Os principios conilituentes do Vinho fao : I. hum efpirito inflammavel , a que chamamos Agoa-ardente ; 11. , a fleuina, ou partes aquofas ; III. Sal aci- do tartarco ; IIII. huma fubftancia Hufurea oieofa 5 IIIII. huma fubftancia doce. Segundo a varia combinacao def- tes principios he , que os Vinhos fe dif* ferenfao ; porque em huns fao as par* tes fulfureas mais fubtis ; e em outros mais cralTas : huns tern mais copia de partes aquofas ; outros de efpirito in- liammavel. D'aqui proV^mos differentes Vinhos nao fo de climas , e regioes di-* verfasj mas muitas vezes domefmo fitio. O mofto deftilado produz quanti* dade de agoa infipida , hum pouco de oleo fetido , e hum pouco de efpirito fraco , que he o mefmo , que o ial re- zolvido. A? bE AfiRICULTURA 3^ As uvas, de que fe faz o mofto, con* tern huma fubftancia vifcoza , aqiial pode fei* infipida , acre , afpera , ou doce. Qiiando as uvas na6 contem mais , que huma fubftancia vifcoza infi- pida, ellas nao podem produzir Vi- rho ; porein fim hum licor pouco aci- do , que depreffa fe corrompe. Quando contem f6 vifcozo acre , ellas entao produzcm o Vinagre. As que contem vifcozo aspero , produzem fim Vinho ; porem he afpero, e duro. O vifcozo doce he o apto para produzir o bom Vinho. As uvas reduzldas a liqliido , ou mofto , entrao a fermentar. A fermentacao vinoza he hum mo- vimento mtellino , que le excita nas fubftancias vegetaes mucilaginorozas , cujas partes eitavao antes em repouzo; e ifto exiftindo hum grao de calor , e fluidos competente. As difFerentes partes de hum corpo, penetrando-fe , produzem difFerentes combinacoes , por meio das quaes ^ cef- fando a fermentajao , ou diminuida em grande parte , fica ja outra fubftan- cia. Do que fe fegue , I, que, para ha- ver bom Vinho , he neceflario , que as \ivas ellejao em certo eftado de madu- reza : d'aqui as regras para a vindi- C ma. 44 , M E M O R I A S mil. II., que, dcpendciuio a fermerrtacao do mofto J e Vinho dc certo grao de calor , he neccflario attendcr a certas re- gras affim refpcL'^tive as vazilhas , co- mo ao lugar , onde devcm cflar. 31 O tempo da vindima em algu- mas terras he fixado pclas Pofluras das Camaras ; em outras he depei]dcntc de Accordaos provinciaes das memtas Ca- maras : na maior parte os lavradores tern liberdade ampla para fozerem as fiias vindimas , quando^ quizerem j o que he meliior ; pois os terrenos , c as cartas das Videiras fazem variar muito o tempo apto para [q fazer a vindima. Os lignaes mais gcrdes , que fc coftumao dar para cfte fe conhecer, fao I. , fe as viiihas Ihes cae ja parte das fuas folhas ; II. , fe os bagos facil- mente fe feparao do caxoj III. , fe os pes dos caxos de verdcs fe tern feito pardos : porque , em quanto o pe efta verde , he fignal de que os fucos , que reccbe o caxo , fao chcios de panes aquofas J e que nao tern o vifcozo doce precizo para o Vinho ; o qual fe forma cm maior abundancia , quando OS candes , por onde i'c communicava a feva , I'e apertao , nao dcixando paf- far , fenao huma parte mais atcnuada, Qumdo jMuitos Outoaos fao chuvozos ; deAgrigultura. :55' ^elo que os lavradores fe-vem obriga-""'^^*^^ Gos a fazer as fuas vindimas , fern que^os?'^" as uvas eftejao no pontO de raadureza necelTario ; como no anno pafTado de 1785'. Nefles cazos a regra lie : De dois males efcolher o menor. As chuvas continuas fazem a podrecer as uvas ; em quanto a podrida6 nao ataca, fenao a pelicula , e o carniido do bago fe conferva unido ^ o damno nao he ma- ior ; porem ^ quando a podridao tem entrado por todo o amago dos bagcs , quando as uvas eilao reduzidas a huns foliculos de fungao com algumas par- tes aquozas , o Vinho ou he de huma ma condijao , ou nao fe chcga a fazer por cauza das uvas nao conteremjfe- nao hum vifcozo infipido , inepto para ,fazer Vinho. Pelo que o menor mal he o vendimar, fern que as uvas eftejao perfeitamente maduras , do que intei- ramente podres. Os Vinhos , que o Ja- vrador deve fazer, fio , os que o deVeni guiar na vindima , poisque a cor ver-* melha , ou branca dos Vinhos efti de- pendente da vindima. 3:5 A experiencia tem mofifado^vinji- que OS mais perfeitos Vinhos brancos"^"^^.^^'* fao aquelles , que fe fazem de uvasnhos pretas , as uvas brancas produzem nao'"''"^^''^' iuun Vinho perfeitamente branco ; po- C ii rem ■tj^ M E M 0 R r A s rem fim alambreado. Todo o culdado do lavmdor fc deve reduzir a que as partes rezinozas , que produzem a cor vcrmelha, que cflao juntas apelicula, fe nao delpeguem , e ajuntem ao mofto. E. conio o calor do Sol concorre muito para fazer cfta defuniao , por ilFo os vindimadorcs entrao de madrugada na vinha , e contiiniao a vindima , em quanto o Sol Jiao aquece , c as uvas eftao orvalhadas. Se o lagar efta ao pe das vinhas , Jie melhor ; porque as uvas juntas comecao alguma fermcntafao ; para evitar a qual , as uvas fe devem tranfportar aos lagares , nao em car- ros \ porque ailim o pezo das uvas , como OS grandes balancos, que dao aos carros , conduzem a fermcjitacao ; po- rem em jumentos , cobertos os cellos com parras , e panos molliados , para- que o calor do Sol Ihes nao entre. Logo que chegao ao lagar, fe liies deve dar o primeiro pizo , e p6rem-fe a pezo ; o que nao deve fer por muito tempo. Nos annos , em que as vindimas forem quentes , o lavrador fe deve contentar i'6 com cfle mofto , c do refto fazer Vinho vcrnieliio ; nos annos frios o fegundo pizo pode ainda fervir para OS Vinhos brancos , com tanto que efte pizo nao feja muito cxadio. Efte Vinho, nao r> E A G R I C U L T U R A. 57 nao Je deve ter em ciivas a fazer a pri- fiieira fermenta§:a6 , porem logo fe de- re lancar em toneis. Muitos uzao ta- pailos logo com algumas folhas j illo he , fazer-lhes hum tapume ; porem de forteqiie haja alguma e , vaporacao , paraque o Ar comprimido nao faca ef- toirar a vaziiha. Outros enchem os to- neis de forre , que fique a quarta parte em vazio , e logo os tapao bem j por- que o vazio , que Ihes fica , nao corre nfco de que o Ar fe comprima a pon- to , que damnifique a vaziiha. Tal he o methodo de fazer Vinhos brancos em Champanha , e que alguns dos noifos lavradores tem experimen- tado : nao havendo entre nos pelo commum Vinhos brancos ; porem iim alambreados , a que denominamos com o nome de brancos ; a cauza he faze- rem-nos com as uvas brancas , que de fua natureza produzem hum moftoj que fe aflemcIJia ao alambre. ^54 A vmdima para o Vinho ver-vencH- melho , fc o tempo da lugar , he dif- "\^P'V^ tercnte. (Js vmdimadores nao devem vemie- entrar na vinha , fe nao depois do Sol ^''°- ter aquecido as uvas : o calor he o principal a gente , que faz o Vinho cortado. As uvas devem-fe expor por algum tempo ao maior calor do Sol , o ^2 Memorias o que fe faz commodamente , pon- do-as em cfbciras :, e , fe poder fer , el- las fe devem pizar no mefmo dia 5, poisque o calor ajuda a fermenta^^ao. A nofia vindima fe faz commum- mente colhcndo primeiro as uvas bran- cas 5 e depois as pretas. Os que pro- curao a qualidade nos Vinhos , fazem efcolha de tudo , que he acido , fc- co , podre , ou verde, Huns mandao fazcr efla efcolha , logoque fe vai vindimando ; outros a mandao fazer nos montes , em que as uvas fe deK tao. O primeiro mcthodo he o mais foci! 5 e raelhor , paraque fenao pifeni as uvas ; o que nao he proveitozo pa- ra a qualidade dos Vinhos j porque nas mefmas uvas , conforme os diver- fos graos de pizaduras dos ca^os , ha- veria difFerentes graos de fcrmenta- cao , que , ajuntando-fe a outras cau- fas , deftroem o ponto de perfeicao j, que poderiao ter os Vinhos. Eip algumas partes de Franca fazem a vindima dcftc modo : Na pri- meira coiheita vindimaq lodos os ca- xos , que fao menos fechados, os de gofto mais delicado , e mais madu- ros , efcolhendo-lhes bem o podre , fe- co, c verde: na fegurda coiheita vin- dima 6 OS caxos feghados , e menos ma-» du* D E A G R I C U L T U R A. ^^ f'uros ; e na terceira os caxos verdes, fecos , podres , &c. (XIX) Ve-fe bem, que cfca efpecie de viiidima ha de dar "v^inlios de differentes merecimentos ; e cue as uva-? , que tern Jium vifcozo i:cido, e alpero nao dellruirao aquel- b^ , que tem o vifcozo doce , o que he To apro para a produccao de Vi- riios bons. O calor porem do noflb cli- nm faz cite methodo de vindima dif- j'-iidiozo J e deiheceflario. Huma io cciheita , em que fe faga. feparacao do feco , verde , podre , &c. , he baftante. Deve-fe tambem atiender ao anno ; porque muitas vezes lera neceiTario fa- zer~ duas coilieitas , v. g. no anno pai- fado de 1585' , em que as viudimas fo- rao muito molhadas , e por ella'cau- za haviao uvas , humas podres fungo- zas , que tinhao perdido todo o vif- cozo doce ; outras , que eftavao ainda verdes , e que nao tinliao , ienao o vif- cozo acre ; todas eftas fe deviao dei- xar para fazer fegunda colheita , e fa- zer feparacao do Vinho da fua pro- duccao. Eita a cauza dos macs Vinlios , que tem havido efte anno. A vindi- ma tambem delle anno de 1786 pre- cizavi de duas colheitas , paraque os Vinhos hajao de fer de qualidade. As «huvas do Santo. Antonio nao fomen-s te '^6 Memohias te produzirao a cfterilidade , lavando o p6 fecundante ; porem as uvas , que elcapirao , rccebendo pizadellas das aguas grollas de Junho , ficarao cm to- da a fua creapo , como aleijadas j don- de proveio huns bagos ficaiem intei- ramente fecos , outros verdes , ciitros mctade em boa confiftencia , metade fecos de huma [eva alpera. O Ja- vrador attentivo divia fazer efta colhei-. ta a parte , fe elJe cuida nao em ter abundancia de Vinhos ; porem em os ter de boa qualidade , a qual no ren- dimento excede muito a grande abun- dancia ; porem de inferior condijao. Seja , que fe faja huma , ou duas co- Iheitas conforme o pedir o anno , os vindhnadores devem fer advertidos , que o pe do caxo feja o mais curto , que poder fer; os fuccos, que elles con- tem , fendo em grande quantidade , fe fe communicarem ao mofto , fa6 capazes de fazer perder ao Vinho a fua qualidade ; e , quanto mais com- pridos iao , mais indigeilos fao os fuc-. cos , que elles contem. riverros :j^ A cxtracgao do mofto diveril- doV'^de ^^^ "^^ ^^ ^^""^ Yzzzo de Povos , e extrair 0 Reinos difterentes j mas em razao do« moAo. Vinhos , cue fe pertendem fazer. Ajffi- jna dicemos ( n. 33. ) o modo, comos OS \ deAgricultura. 41 OS Champanhezes extraiao o mofto das uvas pretas para fazerem o me- ]hor Vinho branco. Agora paflamos a tratar outfos diverfos metliodos de ex- traccao , alTim eftrangeiros , como do nofTo Paiz ; e qual deljes he o melhor relativamente ao gofto das Nacoes , com quern commerciamos. ^6 Os vinhos de Ai irierecerao J^^otJo ^ifi pela fua bondade fazer a terra , em que yi^^^oT le fabricao , celebrada. He certo , que de al. a primaria difFeren^a dos Vinhos he em razao dos difterentes terrcnos,em que as Videiras lao creadas ; porem ainda entre aqucUes , que fao a pros Eara a produc^ao dos bons Vinhos 5 a fua ditFerenca : a mcfma , que fe acha V. g. nas terras , que dao bons meloens , ou boas melancias , que de , certos fitios flio melhores , que de ou- tros. Os habitadores de Ai , attendendo a differen^a dos tcrrcnos , ajuntao no lagar hum pizo de uvas de trez , ou ' quatro difFerentes rerrenos : e huma longa experiencia tern mollrado , que efla manobra he, que da a grande re- putajao , que tern tido os Vinhos de Ai. (XX) 37 A_ Hungria tern diverfos Vi- ^^^^ ^/, :ihos y cuja divcriidade precede do mo- vinhos do , com que mauobrac os moflos. O ^',^i ,,"""* \ i" Canirias, 42 Memorias e de Aii-Yinho, que eJlcs chamao EJfens , he d mals delicado j as mezas dos Grandes iao fervidas delle ; e por ilTo fe ven- de por grande preco. Para fazerem efle Vinho os Hungaros fe fervem de huma efpccic de uvas , a que chamao Augjier Tratiben ( XXI ) j porquc ama- dureccni no principio de Agcfto^ Qiiando as uvas eilao mcias paila- das , cntao fe levao ao Ligar , e fc o calor do Sol as nao pode rcduzir ao eftado de meias palTadas , eJles as jnetem em fornos , que com huina branda quentm-a as reduza ao cflado ^ em que haviao de hear com o Sol : cf- te Vinho gafta hum anno em i"c apu- rar : e os lagares , em que elle fe tra- balha , devem fer de pezos grandes 5 poisque o mofto efpelfo , que as uvas , contem , neceffita para a fua extrac- cao grandes forcas. O fegundo genero de Vinhcs , a que chamao Ausuruch oder Beer'vjeis ^ fazcm delle modo : Efcolhidos os ca- xos das uvas mais nobres , fe redu- 2cm no Ligar a moflo ; e , depois de palTados alguns dias de fervura, Ihes Jancao uvas mais pafladas , cuja doyu- ra fe extrae pcla fervura do mofto y o que Ihe da hum fabor muito agra-i davel. o deAgricultura. 43 O terceiro genero he feiro de uvas efcolhidas ; porem fern a miftura das uvas meias palTadas : efte Vin]io he menos doce ; porem efpirituozo. O quarto genero he feito de uvas de todas as callas fem felepo dos ca- xos mais perfeitos : elle Vinho nao ' he de ma condicao ; porem nao he i tao generozo. O Vinho das Canarias , j a que chamao Sut , os Vinhos de j Alicante fao feitos pelo methodo do primeiro , e fegundo genero dos de I Hungria. ( XXII ) j rjS Os Vinhos vermelhos de Bor-j^^oJode gonha excedem aos de Champanlia. vfniios"' Os liabitadores daquella provincia tem verme- melhor methodo de os fabricar , que B'),°t,j'i® OS defla. Os Champanhezes colhem as nhar uvas , quando o Sol ja Ihes tem dado baftantc caior \ no que concordao com OS de Borgonha ; diicordno porem , em que os Champanhezes cuvao as uvas por dois dias , e ao dcpois as pizao : os Borgonhezes pizao-nas pri- meiro J e ao depois as cuvao por trez , quatro , ou cinco dias , e ainda por mais tempo. Defle modo a Borgonha da os melhores Vinhos vermelhos \ porque os Champanhezes, nao tendo pi- zado as uvas antes da cuva ( alem d'eda fer iraperfeita ) fe fe extende a mais de dois 44 Memorias dois dias , arrifcao-fe a que o VI- nho contraia o goflo do engage Pa- ra fe evitar efte mal , quando o an- no he frio , e cluivozo , e por efta cauza OS Vinhos neceffitao de mais tempo de cuva , logoque as uvas fad pizadas , fe facodem os engacos com hum forcado de rrez pontas : defte modo o Vinho fica Jivre de tomar o fabor dos engacos , dos quiies fempre devcm ficar alguns , paraquc , quando as uvas tornarem ao lagar para fazer o fegundo pizo^ os bagos expremidos te- nhao alginna couza , que os una para le porem a pezo. Wetho- ^cj Ja dicemos ( n. 3^- ) que nos conio^fe "^^ tinhamos Vinhos brancos ; porem fazem os fim alambrcados , ou palhetes , a que "h''r^'''^ vulgo chama brancos. O modo de biaiicos. OS fazer he muito fimples. Feita hu- ma exarta feparacao da uva branca da preta , extraido o moilo , fe poem a fcrmentar ; o refulrado he o Vinho palhcre. Os que poem mais algum cui- dado , deitao na fervura hum quarrao de Agoa-ardente por pipa ; outros Ca- moezas , e huma boa maochea de flor deAlccrim.Na Chamufca arrobao-no ; o que he a cauza da docura defte Vi- nho. o qual fe compra a bom pre- $o para ir para o None , e para adu- bar DE AgRICULTI/RA. 'A^ i>ar outros. O methodo de deitar o arrobe na fervura he mclhor, que no trasfego. A fermentacao efpumoza , que faz o mofto, da huma melhor mif- tura das particulas doces do arrobe , do que ao depois a fermentacao in- fenfivel do Vinho. 30 O methodo de fazer o Vinho ^^^^^^^ vermelho diverfifica, fegundo o uzoiho. das terras , e gofto dos lavradores. O cofturae mais antigo , e de que a maior parte ainda hoje uza , he fazer duas colheitas ^ a primeira de uvas brancas , que fempre fao em maior numero ; e a fegunda de uvas pretas. As brancas levadas ao lagar , e extrai- do o moilo , fe poem a fermentar nos toneis ; entre tanto , pizadas as uvas pretas em huma dorna , fe paflao para outra por meio de huma dezenga^a- deira ; ou , pizadas no lagar, fe Ihes ef- colhem os engagos , e ao depois fe deitao em dornas , nas quaes todos OS dias fao mexidas por vezes. Palfa- dos trez , quatro , ou mais dias , fe- gundo fe vc 5 que ellas tingem mais , ou mcnos , fe deitao aos almudes no moilo branco , que efta fervcndo , em niedida de dois almudes a caJa dez. Alguns lavradores achei , que coftumtio deitar a tinta , logoque efta pizada. Ou- 4^ M E M O R I A S Outros uzao ferverem-na em grande^ lambiques , e depois fervendo a lan^ao ros toneis. Ha tambem alguns , que , ferventada a rinta em grandes doinas, Ihe extraem o mofto tinto por huma torneira , pofta perro da bale da dor-^ na j e com efte mofto tinto tingem o branco , e do bagulho fazem Agoa- pe. O methodo , que hoje uzao os maiores lavradores , he , o que chamao de Feitoria. Efte he o melhor metho- do ainda conciderado relative as Na- co^s , com quern commerciamos , que amao Viiihos de coniiftencia. As uvas pretas fao juntranente vindimadas com as brancas j e aftim fad levadas ao Ja- gar. Efte he elpacozo , e tem os ro- davinhos altos. Segundo a quantida- de de uvas , entra hum , ou dois ho- mens dentro a fazer o pizo ; eftando eftes canpdos , entrao outros , e afllm fe vao alternando de dia , e de noite por efpaco ou de vinte e quatro ho- ra^ , ou de quarenta e oito ; o que cha- mao ter mais , ou menos Feitoria : e por efte modo fazem o Vinho o mais tinto. Eftes os diverlbs methodos de extrair o mofto, Ade^a 41 O lugar, onde fermcnta, e fe con- como fe x^i\2i o Viulio , pcdc iium exa'flo cui-» deve i:.- ■' ^ 1^ D E A G R I C U L T U ft A. 47 _dado , ailim em quanto a fua pozi- jao , como limpeza. Os Romanes ti- nhao dilFerentes adegas , fegundo a qualidade dos Vinhos , que fe propu- nhao fazer. Os Vinhos vigorozos , aos quaes elles chamavao Polyphcra ^ expunhao-nos em toneis ao Ar , ao Sol J e a chuva , dcpois de eftaren) trez annos em lugares frefcos. Os Vi- nhos menos fortes fe punhao em lu- gares cubertos , e para os fracos fa- ziao covas , e ccbriao os toneis de ter- ra. Cella vinaria era propriamente , o que nos chamamos adega j e Apothe- ca era hum lugar no cimo das cazas , ao qual era conduzido o fumo , para por meio delle os Vinhos adquirirem mais forca. Os Efcritores Francezes fazem menjao de duas cazas differentes , em que confervao os Vinhos , fegundo as ellafoes , cellier , e celleiro para o In- verno ; e adega para o Verao. Entre nos nao ha mais , que as adegas , ou loges , em que fermentao , e fe con- fervao OS Vinhos. Os noflfos antigos tinhao por preceito na formajao das adegas ficar fempre a porta , ou hu- ma janella , ao Norte \ o que nao fo- mente nao traz proveito algum aos Yinhos j porcm Ihes traz muito dam- no. 4^ M E M O R I A S no. Os grandes frios , e grandes ca- lores lao perniciozos aos Vinhos \ pa- ra evitar eltes males , he , que em al- giimas partes da Franca razem duas adegas , huma quente para o Inveino , a que chamao celleiro \ outra freica para o Verao , a que chamao cave , adega. A nofla cxpozi^ao ao Norte he mais quente de Verao, e fria de Inverno : a razao he clara ; porque , fendo o calor , c o frio em razao da exiftencia , ou falta do Sol , efte de Verao exiile na expozicao do Norte, e faira jio Invenio j o que he pelo contrario na expozicao do Meio-dia , a mclhor, e mais adquada para as nolfas adegas , como a experiencia o prova. As adegas devem fcr forradas pela razao de evitar os grandes ca- lores , ou frios j e , fe poder fer , fora das cazas , em que fe habita. A exhala- cao do gax , e as marerias fulfi'ireas , que fe quelmao nos toneis , fiizem dam- no a faude. Os toneis devem eftar pof- tos em alto affim pela razao do Ar circular mais livrcmcnrc , como tam- bem pela commodidade dc fazer ta- par algumas fendas , porque marcjao as vazilhas,a pezar dos cuidados dos tanociros. A limpcza da adega deve ier muito exa'5la ^ tudo j que iaz gran- des bE Agrigultuira: 4^ 'iies fermentafoes ; pofto que Infenfl- veis , ( V. g. OS fenos ainda humidos , ;as lenhas verdes ) deve eftar I'epara- do das adegas , affim tambem tudo , que exhala mao cheiro ; o ar obra muito na fermentagao infenfivel dos Vinhos. 42 Se huraa boa adega he neceira'-'^'-'zi"'^* ria para a confervacao , e bondade do jeveln Vinno y as vazilhas , em que elle fe rer , e : delta , pois o tocao de mais perto , de'"°,^ * requerem ainda maior attenjao, Os uactari. Vinhos fermentao J e fe confervao em vazilhas de pao , barro , ou vidro. As que fao mais frequentes , fao as de pao , a que chamao quartos , pipas , toneis , 6cc. As talhas , e potes fao menos uzuaes , e tambem menos ap- tas para a facftura de bons Vinhos. As de vidro nem ainda para a con- . fervafao de Vinho trasfegado tern uzo no paiz , em que vivemos. A experien- , cia tern moftrado , que o pao das va- . 2ilhas communica o feu gofto aos Vi- - iihos* As partes rezinozas da madeira . ie difTolvem nos Vinhos em boa par- . te j efta a cauza , porque importa mui- (^ to fazer boa fclegao da madeira, de que J, fe hao de fazer as vazilhas. O caftanho . he a madeira mais commum , de que 1, IJUl'amos J Q vinhate , e o bordo fao ; ; ' D ula- Tifacios Co pdl-os la'v*radores'"rfc6§'. As flduelas de caftanho devcm-fe eicol'her Claras , e llzas ; porque tudo modra , que o pao he baftantemente compa- d:o , e que ellc nao foi criidto , 6 Dao eftava ao tempo do cofte cheio de huma leva grofleira , e mal dige- rida : os camponezes chamao a efta madeira de leva grofleira paOs 'd* aveceiro ; pbr KTo o co'rte feit-b eiti tempo, no qual as arvor^s nao ^urt-^ dao em fuccos , he o melhor. Os an- tigos , e OS homens do campo a pre- ciao muito o corre de Janeiro , e que nao he para defprezar. As vafilhas de caft-afiho pela maior parte fao unidas com miiitog arcos ja de vime, jd do mefmo caf- tanlio. Duas couzas fe devem adver- tir no ufo , e efcolha dos arcos ; hu- ma he , que os arcos tenha6 os nos muito chegados •, o que he fignal , que o pao gaftou tempo em crelcer ; ou- tra , que os tanoeiros ambiciozos na6 uiem nos toneis dos arcos das pipas, nem nos toneis grandcs dos arcos ,- que pertencem a toneis pequenos. Por fal- ta defta obfervacno tern acontecido el- tourarem as vafilhas com damno nao pequeno dos lavradores. Os toneis dc vinhate , ou de bordo, fao unidos qua- bE AGRieiTLTVR A. 5't ■ tjuafe fempre com arcos de ferro j e ^ OS que mais cuida6 nas fiias adcgas , OS mandad envernizar , pafaque a en- trada do ar fique mais vedada. 43 Os toneis ou ainda iia6 tem Suadou^ fervido a feimentar mofto , on ja tem '° ' fervido. Huns , e outros devem ter fuadouro ; por(^m os primeiros de maior neceffidade , por cauza das inuitas partes gomozas , que tem o pao , as quaes fe diflbiverao no Vi- hho , fe antes fe na6 extrahirem por meio dos fuadouros. Os toneis , que ja tem cofido mofto , podera6 palTar fern fuadouro , ou quando fe desfun- darem , ou tiverem tao grandes pof- tigos , que por elles fe poffa entrar , paraque os toneis inteiramenre fsjao bem bafculhados. Defte iiiodo as par- tes tartarozas , que ficarao pegadas por todo o concavo dos toneis , fe defpegao , e o novo Vinho nca livre dos damnos, que o tartaro Ihe podia tauzar. Em algunias partes coftumao dar 05 faudouros com o mofto fervendo ; em outras com arrobe tambem ferven- do ; efta pracflica era boa , fe ailiiiT 6 mofto , como o arrobs foffcm cx- ^elidos dos toneis , logo que acaba o fuadouro 3 porem, ficando* nos toneis, co- D ii mo 5*1 MlMORIAS mo pradlicao , com clle ficao todas as impuridadcs , que o fuadouro tinha ex- trahido , as quaes fe communicao ao novo Vinho. Coftumao outros fazer o fuadouro com agoa fervendo com ervas aromaticas , e fementes , v. g. o funcho , a erva-doce , as pinhas ver- des feitas aos bocados. Na Chamuf- ca ufao hum fuadouro mui flmplcs , e que me parece o melhor. Na por- 936 fufficiente a vazilha de agoa fer- vendo , Ihe deitao fal , que agoa diflbl-' va ; deitada ella agoa no tonel , efte he mui bem chifpado no batoque , c lo- go barcolejado por algiun tempo. A agoa dilTolvida em vapores falinos, de que ellava cheia , nao fomente extrahe as impuridadcs ; porcm as partes fali- nas J de que a madeira fica cheia , fer- vem para a melhor condijao do Vi- nho. Quando as vazilhas por falta de alTeio , e limpeza dellas eil:a6 tao de- terioradas , que os fuadouros as nao poem em bom eftado , uzao alguns me- terem-nas a Vinagre , e pailados alguns tempos , ufarem outra vez dellas para o Vinho- A experiencia tern moflrado , que as lavages dc Vinagre ( XXIII. ) nas vazilhas tao longe eftao de de- teriorarcm os \'inhos , que antes os meihorao , e -fortificao o§ mollos. O^ mcio deAgricultura. 5'3; melo porem mais prompto de fe po- der iizar das vafillias mal acondiciona- das he queinia-Ias ; porem nem toda a materia , que ferve dc pafto ao fo- go, he commoda para qucimar a fu- perficie interna dos toneis ; porque com OS fumos exlialados podem ir particu- ]as , que communicadas a madeira de- teriorem ao depois os Vinhos. A ra- ma dos pinheiros , as rafpas , que os carpinteiros tirao defta arvorc Jauda- vel , he a materia, que a Fyfica jun- ta a expcriencia approvao para por meio do fogo fe remediar o damno das vafdhas. As partlculas oleozas, que fe exhaiao do pinheiro , e que en- trao em lugar das que o fogo expul- fa , fervem muito para beneficar os Vi- nhos. 44. O uzo das mechas para puri-^'"^ /^^^ ficar as vafilhas , em que fe ha de dei- tar o mofto , he muito antigo : os ingre- dientes , que fe Ihe cuftumao ajuntar , fao infinitos ; julgando cada hum , co- mo hum myfterio util , o methodo, que tern em as fabricar. Toda a utilida- de J que produzem as mechas , provem do enxofre , cujo fumo pode concor- rer por dois modos para beneficiar os Vinhos J dos quaes trataremos ao de- pois ;, quando fallarmos ( n. '^6.) do tras- 5'4 Memorias trasfego , e clareficacao dos VInhos* A diveiTidade della vem das difleren- tes efpeciarias , que fe fazera entrar na fua compozicao. Huns yjuntao ao en^ xofre erva doce , cravo da India i outros craves do Maranhao , pedra-" hume , canela : eftes Ihe accrefcentaa agoa ardente j aquelles cafcas de ovos torradas , e pizadas. Tcdas eftas ad^ dicoes fao olhadas por hum bom Fy- fico , ( o Abbade Roffier ) como pre- judiciaes aos Vinhos. As efpeciarias , e outras couzas juntas ao enxofre po^ dcra produzir um olco empyreumati' CO , que communicado ao Vinho fa- ja nojo a quem o beber. O enxofre fo per fi he baftante para purificar o ar dasvazilhas, e communicar ao Vi- nho algumas partes oleozas. ( XXIV. ) ycrmenr Q produdto da fermentacao do Yinho.*^ mofto he o Vinho : grande parte dos cuidados do lavrador fe deve de- rigir a efta , fe elle cflimar rer Vi- nhos de boa qualidade. ( XXV ) Pa- ra haver fermentagao , he precizo ar , e calor em certos graos. ( XXVI ) Os Romanos j quando queriao confervar o mofto , femque fermenta-fe , langavad OS toneis no mar, ou em algum ria fundo > e ahi OS tinhao por alguri), tempo, O fno , di? Piutarco, fufucando^ a DE AgRIGULTURA. ^^. a adividade dos efpiritos , impede a lermentacao. Afluidez tambein he hum eflencial para a fermentacao. A experiencia moilra , que os corpos carnudos , que contem partes vifcozas , nao tern fer- mentacao eftrondoza , em quanto elles nao iao reduzidos a liquido. ,, Nao he „ indilFerente , diz hum habil Phyii- „ CO, ( M. Saintignon. Phyfique vol. y. 5, fee. 4. cap. 3. ) deJxar fermentar 3, o Vinho nas adegas ou muito , ou 5, pouco. A feparajao dos faes , e a 5, divifao das moieculas tern hum grao „ determinado , e invariavel para dar ^ ao Vinho a melhor qualidade , que 55 elle polTa ter. Efla opperacao pede o 55 olho de hum conduiflor inteligente, 5, forma do per huma longa experien- 5, cia ; e requer mais attenjao , do que 5, aquella , que ordinariamente fe llie 55 da. Hum termometro mctido no li- 5, quido 5 que fermenta , indicaria o 55 grao de calor, de que depende-fe. 5, o fuccellb do trabalho ; e outro pof- 5, to no ar livre indicaria a difpozi- 5, cao do ar externo ; o grao de ma- 55 dureza das uvas bem conliecido por 5, obfervagoes precedentes formaria. 55 hum relultado , que poderia derigir 5, a condudta dcila opperacao. Tern 5*6 M E M 0 R I A s Tem OS homens regras , e precel- tos , que latisfafao nefte ponto , ou ao menos tem rentado o caminho ? Eu as nao tenlio encontrado. Podcrao elles acha-las ? So efte ponto pedia hiima larga difl'ertacao. Conhecer o grao de madureza da uva he , o que aqui fe aprczenta de mais diticil j por- que J prelbindindo da maior parte das vinhas ferem compoflas de uvas de differeiues cartas , que amadurao em diverfos tempos , ainda as vinhas , que tbrem fo de huma cafta , nao hao de ter todas o meimo grao de madureza j por- que efta he em razao do terreno , da forca da feva da Videira , e da expo- llcao , em que eftao as uvas. O mofto conciderado mais , ou menos efpellb , mais , ou menos doce , que fuftivelTe , mais , ou menos certos corpos , que fe fhe lan^afTcm , he, que podcria delbu- brir o grao de fermentagao , que era preciza. Porem , pondo ifto inter deji- derata , paflemos a moftrar , quando i'e deve ajudar a fermentajao , ou quan- do fe deve dcminuir \ a que o vulgo chama confertar os Vinhos j tomando por efte nome aquillo principalmen- te , que fe Ihe deita na fervura. A dois pontos fe pode reduzir tudo , a que o lav ra dor tem , que obfervar fo-- bic DE AgRICULTUR A 5*7 tre a fermenta^ao do mofto : I. aju- dar , attenuar , e devidir as partes componentes do moflo. II. impedir , que OS efpiritos fenao exhalem. 46 Os Romanos deitavao na fer- Tempe* inenta^ao do mofto enxofre , calj^^i^oma* gejo , greda , p6 de marmore , pez , "os da- i lal de liiado , rezina , paflas , agoa '-^o^'-^^nhos. I mar , mirra , ervas aromaticas ; e a i ilto chamavao conditura vifwruni. I ( XXVII ) Deile ufo antigo emanou I para alguns dos Povos da Eiiropa , ': principalmente para a Hefpanhs a ; damnofa pradlica de engecar os Vi- i nhos , o que tambem fazem os Prc- i ven^aes. Ella fubftancia , alem de fer I dececativa , e que por illo concome i muita parte aquofa fiiperfliia ao Vi- j nJio , pelo feu pezo faz precipitar o i tartaro ; e por iflb clarifica o Vinlio. j O mcrmo fuccede ao enxofre , e com !i a cp.l , e o p6 de marmore. O Ano- nimo Auiftor da Diflertafao fobre os Vinhos , ( Impr. em Pariz em 1772 ) louvando os Romanos pela grande in- duftria , que tinhao no raethodo de perparar os Vinhos , e nos meios , que punhao para os confervar , diz na in- troducf ao , que elles guiados pela ex- periencia , e obferva^ao , obrarao de tai modo , que a boa Fyfica; e Chimia fi^Q poden; reproyar, Po- \ 5^8, M E M O R I A S ^orc«i , ic huin cego amor da An-f tiguidade nos nao arraftra , cu me atT ;revo a dizor , que nao fomente clJcs nos nap deJiXjarao concidcraveis regras pgi^a beqeficiar os Vinhos ; poicm , que a boa Fyiica reprova as mais das couzas , de que elles ulavao na fermen- tafao do moflo. O ufo da cal , de que muitos con- t.Fatadores de Vinjio ulao, lie perne-r cioziflimo. O Javrador na fadlura dos^ VinJios nao fe propoem fazer huma bebida damnola a laude do homem i porcm J que Ihe firva cu para a conlervacao , ou para o reflabelccl- menio da faude. BoerJiaave nas fuas Inftituig. Medic, fee. i. 143 , numcra a cal cntre os venenos , que matao , ou prompta , ou lentamente , fegundo. OS feus graos de forga. Na Hiiloria da Academia Real das Sciencias ( an- no de 1700 ) [e 16 , que hum boi , ten- do bebido por accazo agora de cal , morreo, logo depois ; e que os Vi- nhos , em que fe tin ha mifturado cal , erao muito prejudiciaes pelo exceifivo, calor J que excitavao. O geco he huma efpecie de cal feita de pedras brancas j produz os mefmos males , que a cal j e a expe- riencia nos coavencc todos os diasi da- DE Agricultural 5:9 llaqui a cauza , porque a nofla Legis- Jacao o prohibe feveramente. O pianno-r xe J e o enxofre fo fe podera conii- 4erar como fubftancias , que pelp feu pezo Jevao apoz de fi as impurlda- des , que achao na fua defcida ; do mefmo modo , que a area , a greda , ou terra-cre confiderada , ccmo ah- forvenre , pode ter alguma utilidade , quando os moilos abundairem muitQ em partes aquofas j porem a propie- dade , que a greda tern de abforver OS acidos , pode damnificar os Vinhos , abforvendo-llies parte do acido tarta- reo eflencial a fermenta^ao. O fal he o melhor impedetivo d% corrupcao j porem por effa mefma ra- zao , que he de obftaculo para as fcr- jneutacoes , o methodo , que os Ro.- manos empregavao , impedia , que os, Vinhos alcanfaccm a melhor qualida- d? J de que ei;a6 capazes. Elles nao £6 uzavao do fal na fermentajao , poremj jias uvas , logoque erao colhidas ; ou-; tros Iho lanjavao no lagar ; cuja pra- d:ica tinhao tambem no ufo da agoa, do mar, Impedida a parte era fermen- ta^ao , a divizao das moleculas nad chcgiva a fua maior perfeijao , da uai depende a bondade dos Vinhcs. mefmo mal fe pode co-ndderar na asoa Z '€o M E M O R r A s agoa do mar , por conter muitas par-^' tes falinas , principalmente a dos cli- mas qiientes ( XXVIII ) pelas fuas partes aquodis , que fazcm perder ao Vinho a lua forja , como a cxperien- cia o moftra nas agoas-pes. Pela mel- ma razao de ferem impedeiivo das fermentafoes , fe devem regeitar as er- vas aromaticas , e outras quaesquer gomas muiro principalmente na maior fermenta^iao dos VinJios. A lia dos Vinlios frcfca , as refi- nas , a mirra , o pez da multidao dos ingredientes , que os Romanos tinhao para tcmperar os Vinlios , he , que po- dem fer olhados , como proveitozos a fcrmentacao. Celfo lib. 2. cap. 24. falla do Vinho relinado , como bemfeitor do cftomago. Diofcorides diz , (J. 2. cap. 42. ) que , nao amadurccendo as uvas na Galacia , enrefinavao os Vinlios pa- ra fenao azedarera. As rezinas , a mir- ra , o pez rem partes oleozas , que impcdcm no Vinho a exhalajao dos el'piritos , de que depende a liia bon- dade. A lia do Vinho frefca he hum dos melhores fermentos , que fe lan- ga no cozimento dos Vinhos. Fernini- 47 Duas couzas fc dcvcm olhar na mol^dc-f^i'i^i^^i-^^''^^ • '^juda-la para melhor di- vi- DE ASRICULTUR A.' Sx >ifad das moleculas , e exaltajao dos ^^= =Ji4 x)lios , que o mofto contem ; e impe- dir , quanto poder fer , a exhalagao dos efpiritos. 48 Para a divifad das moleculas , Atenus- € millura a mais perfeira dos compo-i„e°ir»" nentes do Vinho he a feitoria , ou'»eio. cortimenta , que fe Ihe da nos laga- res , o melhor remedio , que fe tern defcuberto. O mofto batido por efpa- go de dois dias continues fe devide em partes minutilTimas , o vifcozo do- ce aflim dividido exalta perfeitamente OS oleos i e os efpiritos , iicando ad- hcrentes , dao ao Vinho for^a , e con-* fiftcncia. A experiencia diaria , que fe oblerva , e a que eu tenho feito entre Vinhos do meimo fitio , que fao fei- tos dc curtimenta por efpa^o de dois dias nos lagares , refpc(5live aquclles , que a nao tern , me tern moftrado cla- ramente ; que efte he o mais efficaz meio de o ajudar a natureza na fer- inentacaoj e que de todos os attenuan- tes defcubertos efte he , o que da ao Vinlio lium corpo , e huma confiften- cia admiravel. O fegundo meio mais apto , que tenho experimentado , para- que de moftos da mefma natureza fahia lium Vinho muito mais fino , e generozo , e meuos fugeito a raudar , lie >fi Mem 6*1 A§ lie agoa de alcatrao feita pelo metllo*-* do de Jorge Berkelei Bifpo de Cloio-» na. ( XXIX ) Efta agoa , cujas virtudes fao admiraveis na Medicina , he dd hurria vif tude efEcaz no Cofimento dos Virihos. Ella tern hum efpirito acidoi aptiffimo para ajudar a fermentacao, dividindo o vifcozo doce , e fazendo exaltar d olio. No anno paflado de 1785" eu fiz a experiencia , deitando em pipa de vinte e cinco almudes liurri quarrilho de agoa de Berkelei ; Ht corrtp3raca6^ com Vinhos do mefmo fitio , e fahio era muitOs graos me- Ihor. E , poftoque as muitas chuvas do Ourono palTado fizerao perder as tivas o vifcOzo doce ^ com tudo , aleir da approva§a6 de muitos inteligentes ^ hunt meti conhecido , verfado nos Vi^ fihos deerti barque da Chamufca , m@ difTe , que alii fenao achava Vinho melhor. He de norar , que o firio , don- de fahio , poftoque abundante em Vi- nhos , nunca deu Vinhos de embar- que j e para a Corte fe extrahe al- ^uns , iia poucos annos. Dos efFeitos defte anno de 1786, em que lancei quartilho e meio por pipa de vinte e cinco almudes , diremos no fim em nota ( XXX ) ; porque ao tempo , que ifto vaitios efcrevendo , os Vinhos ain--^ i3a fermentao. Agoap^ , que foi feita ^ com a mefma quantidade de agoa de •Berkelei , levando daa^ ^Taffes (^e ago'a j, € huma de moflo , laliio bok j e fe co-fi^ fcrva mivi clara , e de 'hcm go(k) ; poUoqtie quafe todas as 'mais i'^ ItM azedado. " '49' Gomo o vifcozo doce he a ba- '^^'^'^^?'' , t' dos bohs Vin-hos ; 'pciisque elles f as quaes as copiozas chuvas dos Outonos rem inteiramcnte defpojado do vifcozo do* ce : do que fe moilra > que o primei- ro meio , que fe prezenta para reter OS efpiritos para leuao exhalarcm > he o vilcozo , afliin pelas partes vifco- zas , que concern , coino tambem pe- las oleofas : affuna fica dito ( n. 49. ) o modo J como fe deve fupprir. A agoa de Berkeleij e de que aflima fallamos , ( 2. 48. ) he o fegundo meio mui adquado para impedir a exhala^ao do gdz : ella cont^m hum efpirito , e olio volatil , que introduzindo-fe pe- lo mollo fervc maravilhozamente p*- ra reter o gaz. As rezinas , e tormen- tina , o pez &c. pelos oleos , que con tern , fe podem refcrir ao terceiro jneio de confervar o gaz : o ufo da Antiguidade nella parte concorre com a raza6. 5'2. Dos principips poftos para a Coroii- fermentaca6 do Vinho a fim de o me- \-°^thlT Ihorar , deduzidos da razad , e expe- Jos prin- yiencia fe leguem os feguintes Corofi- p^fitoL V E rios : ^'6 Memorias Tios : I. , que o uzo de deitar Canada? «de Agoa-ardente na fervura , e femien* tacao do moilo , he inipedimcnto pa* ra fe formarem Vinhos de qualidade ; porque , dependendo a qualidade do Vinlio da attenuacao, e divizao das mo- jeculas , como Agoa-ardente impe- de efta divizao ; impede por confe- quencia o mellior grao de qualidade, que o Vinho podia ter ; o que fuc- cede na fiid:ura da Miftella , da huma prova clara do que acabaraos de di-? zer. Em liuma canada de Agoa-ar- deme le lan?a6 duas de moilo pou- cos dias pailados , ella efta em termos de fe beber. Em todo o tempo nun- ca fe obferva nefta miftura efFervefcen- cia J ou fennentacao eftrondoza , o que Jie a cauza da lua do^ura ; por- que , nao fendo attenuado o vifcofo , nao pode exiftir o acido efpirituozo , gue refulta da fua fennentacao. II. que a pra(ftica commum de deitar ai tinta em dornas , iilo he , o bagulho , j e mbfto das uvas pretas , e nas mef- mas dornas trazer a cortir por alguns dias a tinta , e depots lanja-Ia nos to- neis , he nociva a qualidade dos Vi- nhos ; porque tudo , o que impede a fermen tacao damnifica a qualidade dos Vinhos. Oo coiinheiros fab em bem , que. D s A G R I c u L T u n a; '^y •a fervura impedida com alguma liitro^ duccao , V. g. agoa fria , faz muitas vezes encruar , o que tinhao para co zer. Efta a cauza , porque dies tein iempre agoa quente de relerva para- que a fervura nao pare. Ha poucos dias , o fucceffo de hum meu vilinho me provou o grande raal , que cauza o interromper a fermenta^ao do Vi- nho. Paflados alguns dias , que elle ti- nha vindimado , e , deitado o molto em vazilha , que pela efterilidade do anno nao ficou cheia , Ihe ofFerecerao mof- to para acrefcentar ao que eftava ja fermentado. Fez a compra ; c o re- fultado da miilura he hum liquido in- lipido fern qualidade alguma de Vi- nno. Por efta mefma raza6 fe fegue III. , que a pradica de algiuiias pro- vincias da Franca , come lao o Del- iinado , e a Proven ja , de atteftar os toneis nos primeiros dias da fermen- tagao cinco , cu feis vezes por dia , cm lugar de augmentar a fervura , a di- minue muito principahiiente , fe o mof- to nao he de igual fermentajao : o mefmo fe deve dizer da praftica de atteftar os toneis de oito em oito dias , e depois de mez em mez ; a •razao , que dao , de fe purificarcm os ^inhos; kncando inuita cipuma^ e impu- E U ri- 15S M E M 0 H I A S rldadcs £61-35 n^o mercce attenjao ; poN que elle bem apparentc produz muitos males , como ia6 , imped ir a fervura , ou ao menos muda-la , romper a c6^ dea , t]ue o Vinho vai formando , a qual he , como huma abobeda natural , que impede grande parte da cxhalacao dos efpiritos. DilTemos , que as impu- ridades , que o mofto lancava por meio da ei'pumujao , era hum bem apparen- te j porque , trazendo comfigo os ma- les ponderados, efte bem fe confegue por via da precipitajao. A' porpor- ^^6 5 que hum liquido fe rarefaz , todos OS corpos hererogenios fegundo as leis da Hydraulica tern hum defcenfo mais facil. IV. , que a pradica de dcixar OS Vinhos detlapados , paflada a fervu- ra eftTOndoza , faz perder o Vinho par- te da forca , que havia de ter por fal- ta dos efpiritos , que fe decipao pelo batoque , que achao aberto. Pode-fe di- zer, que ifto fe faz paraque o gdz te- nha fahida ; poisque, nao a tendo, fa- ria rebentar os toneis ; a que rem fuc- cedido nao poucas vezes j porem ifto evita-fe , deixando paffar a maior for- ja da fermentajao cftroiidoza , na6 rolhando o batoque exaiflamente , e deixando algum vazio no tonel ; paf- iando porem alguns dias , a roiha de- ve DE Agrictjltura. (Tp ve fer chifpada exaftamente •, para iir- to fe podc fervir de cebo pizado com carvao J ou de barro dos oleiros , ou de pez mifturado com cera. V. , que o ulb de deitar agoa na fcrvura dos Vinhos , o que ordinariamente he em trinta almudes hum , faz perder a qua- lidade do Vinho : os lavradores di- 2em , que fazem ifto , paraque o Vi- nho nos annos , e vindimas quentes , e que o vifcofo doce he em grande abundancia , nao engorde j porem a diaria experiencia os podia convencer , que efla doenga dos Vinhos nao pro- vinha da abundancia do vifcozo doce. A maior parte das Agoas-pes , em Ihes vindo o tempo quenre da Primavera, fe fazem gordas : logo por falta de principios aquofos nao fe acha alii o vifcozo doce fcm fer attenuado i ao que attribucm a gordura do Vinho. O muito viicozo doce procurado pe- la arte , alem do que prcvem da na- tureza , comque fe nianobrao os efiima- dos Vinhos de Eflens , ( ■•:. 157. ) mof- tra bem , que a gordura dos Vinlios nao Ihes provcm do vifcozo doce. 5"^ Acabada a fermcnta^ao eflrondo- za , o Vinho contimia na icrmentajao infenhvel, com a quai fe apura ; o tar- Fermen- taro fe percipica , 0 vifcozo tioce fe reSveu' at- ^t^ M E M O R I A g attenua , e fe torna em fubftancia dci- da , efpiriaioza. Os tersios dcfta fer^ menta^ao nao tern limitcs certos ; por- que alem das cauzas , que podem ace- lerar , ou diminuir a fermenta5a6 , ella depende princi'palmente da qualidadc do mofto ; fendo mais dilatada nos moilos J que abundao em vifcozo do- cc , de tal forte , que os mais eftima- dos Vinhos de Hungria gaftao hum anno em fe cozorem ; e menos na- qucUes , que abundao em partes aquo- zas. Os vinhos ainda depois de cla- rificados , e fendo ia potaveis , con- tinuao na fermentajao infcnfivel ■■, e huma prova he a bondade , que os Vinhos vao adquirindo a proporjao , que o tempo difcorre. Porque A fermentaj ao , ou movimento in- dev"fJ- ^enfivel , he huma cauza interna da 2er o raudan^a , que muitas vezes fiizcm os do'' vf-^ '^'^in^os J mifturandu-fe outra vez nelles pho. o tartaro , e borra , que fe tinhao prc- cipitado , cujo mal faz de generar o Viniio ainda , quando fe remedca. Elle nial precede tambem mairas vezes do ar agitado com grande vehemencia y V. g. pelas grandes trovoadas , pclo cftrondo de artiiharia , pelo ar rare- feito, pelos grandes calorcs , c mais , ^e tudo , como tenho obfcrvado , peia;. atli- DE AgRICULTUH A. 7I' athmosfera demaiiadamente carregadci.- O vulgo chama a efta doenca do Vi- nho dar volta as luas. Para evitar ef-- t3 mal he , que fe uza trasfegar o Vi- nho , que he o mcfaio , que tira-lo da borra , e lanja-lo em hum tonel lim- po. A expeiiencia de muitos feculos tern moflrado , que a borra he hu- ma das maiorcs cauzas das doengas do Vinho. Os Champanhezes , para Jhe procurarem remedio , Jhe dao trez tras- fegos : hum no meado de Dezembro , o fegundo no meado de Fcvereiro , e o terceiro em Marco , ou em Abril. ( XXVI ) O nolTo "'coftume he trasfe- gar OS Vinhos em Janeiro ; e aquel- les J que bufcao hum dia de Sol cla* ro , obrao fegundo as regras da ex- periencia , que moftra nefles dias o tar- taro mais precipitado. 55" For meio do trasfcgo fe procu- f.)'^"-'^j ra tirar o Vinlio das impuridades , vinho. que o deftroem ; por iflb fe ufa de aJguns meios , que ajudao a purifica- cao alguns dias antes do trasfego. Pa- ra elte fim fervcm certas fuitancias vifcozas , as deflecativas , as abforven- tes , as quaes deitadas nos toneis pre- cipitao com ellas as impuridades , que fao nofcivas aos Vinhos. Os Ncgocian- tes de Vinho , com tanto q^uc elles al- can- •Ti M E M o n r a' s cangem a clarificacao do mefmo , e ifto por pi'Cfo commodo , nao cuidao em mais. Na fadura do Vinho deve- fe procurar forma r huma bebida pro- veitoza ao homem , e conrervadora da fua iaude , e nao deftruidora della. Por iflb enrre as fubllancias vifcoias fe devem efcolher a gomma Arabia , a gomma de peixe , as claras de ovos : entre as iubftancjas de&cativas , e ab- forventes as cafcas de ovos torradas , € reduzidas a p6 , a greda , o fal torrado ; e pela mefma razao fe de- vem regeitar o gello , a cal , a pedra hume. Uza-fe da gomma Arabia reduzi- da a p6 fino, como farinha, e pineira- da fe langa pelo batoque , com hum pao brandamente fe vai mexendo pa- ra huma , e outra parte , a iim de fe efpalhar a gomma por todo o Vi- nho ; e como a cacia , de que fe tira eila gomma , he medicinal , fenao ha commodidade de trasfegar depois o Vi- r;ho , pode-fe dclle ufar fem rcceio. Os DrogLiiftas , como obferva Miller , raras vezes tern a verdadc-ira gomma Arabia, que he de hum branco , que tira a amarelo ; porem em feu lugar ufno do fucco de ameixas bravas coa- giilado ao fogo. DE AgRICULTUTIA. 7:5 ^- A gomma de peixe he , a deque commummente fe ufa para ajudar a clarificajao do Vinho branco. Ha va- ries methodos de a dilToIver. A gom- ma fe delta em Vinho , uma Canada em trinra graos , medida proporciona- da a huma pipa j e em liuma bacia fe tem a diflblver per hum , ou dois dias. Alguns deitao a gomma feita em " pedajos em agoa , oiitros em Agoa-ar- dente ; quando a gomma ella ja bran- da , e capaz de fe diffolver , deita- fe-Ihe mais Vinho , com o qual fe des- faz ; e depois coaffe huma , e mais ve- zes , ateque nao fique nada no coa- doiro. Deitada na pipa , fe mexe bran- damente com hum pao , que nao paffe do meio ; pafTados oito dias , entao fe pode fazer o trasfego , fe o Vinho ef- ta claro. Algumas vezes he neceflaria engoma-lo fegunda vez. Os pedacos de gomma devem fcr brancos , e al- guma couza tranfparentes , fignaes , que caradierizao a boa gomma de peixe , que vem de Archangel. O Vinho vermelho clarifica-fe commummente com claras de ovos bem batidas , e lan^adas nos roneis do mefmo modo , que dicemos da gomma de peixe. Qiiandafe faz a clarificacao com as 74 Memorias as cafcas de ovos torradas , ou outro qualquer abforvente , deve-fe pra(fticar e mclmo , que fica dito na gomma Ara- bia. A ddfe deve fer proporcionada a Vazilha , que fe propoem clarificar ; advertindo porem , que a rolha do baroque nos primeiros dias , depoisque fe lanjao no Vinho as fubilancias , que ajudaoa clarificacao , nao deve fer exa- (flamente chifpada , a Urn de que as ditas fubilancias nao fe precepitem ra- pida j mas iim lentamenre. Trasfe- ^5 Logo que fe confegue a clari- ** ' ficajao do Vinho , feguc-fe o trasfe- go , em cuja manobra le procura buf- car todos os meios paraque o Vinho nao exhale os efpiritos , de que prin- cipalmente depende a fua bondade. A efte iim fervem as torneiras chamadas de vafar, as quaes pela fua largura cnchem com muita brevidadc os can- taros ; a maquina dos Champanhezes, e varias efpecies de bombas de lata , que- ie ufa6 nas adegas grandes , pelas quaes o Vinho com muita brevidade pall'a de hum tonel para outro. De qualquer modo , que fe uze , o lavrador deve attender, ate que ponto o Vinho fahe claro ; logoque elle vir , que fahe com algumas impuridades , o nao deve mifturar com o Vinho , que poem em Iim- DE AgRICT?LTUR A. 75? IlmpO. Pode-fe fervir defte Vinho pa- ra formar Aguas-pes , ou para o qiiei- mar , e delle fazer Agua-ardente. O ufo de deitar mexa nos trasfegos he muito antigo. O enxofre queimado lanca hum acido muito fubtil , que impede a exhalacao dos efpiritos. A quanridade da mexa , que ie Ihe coP- ■ "? tuma deitar , he de meio pahno em ;'; c<3mprimento , e dois dedos de largu- 'r ra em pipa. A efte mefmo fim de ^• impedir a exh.alacao dcs efpiritos tcn- dia o ufo dos antigos de deitar oleos na fuperficie dos toneis , o que fe pra- diica ainda nos Vinhos engarrafados. C A P I T U L O IV. Das enfennidades do I'lnho , e fuas falcificacoes, 57 "P Oftoque o Vinho finaliza a J"J'^'"j^ X fermentajao eftrondoza , com yiaho. * tudo elle fica em huma fermeutacao infenfivel , em cujo efliado ainda de- pois de ciareficado pela fermenta^cao , e pelas ajudas , que a arte Ihe bulca , Jhe provcm varias doengas , que ja o dcteriorad inteiramente , ja Ihe flizeiu perdor o preco no feu commercio.' Muitas Yczes os Vinhos azedao-fe ;, cho- cao yS Memorias cao-fe , engordao , e toldao-fe. O la- vrador deve attender as cauzas , que podcm produzir nos Vinhos eftes ma- les , paraque os poITa precaver , fe po- der fer , ou cura-los , dcpois do Vinho OS ter adquirido , na hypothefe de que o eftado do mefmo adinitta' cura. ,1 Caufas rg Os Viiilios fc torna6 azedos do Vi i,j,o fe OU por fua natureza , ifto he , porque tornai- 35 partes compouentes do mofto teii- '^^^ °' diao a produzir no Vinho a fermen- ta§:a6 , a que chamao acetofa j ou por- que algumas cauzas txternas o fizerao tornar em Vinagre. Do primeiro ge- nero he o Vinagre , que fe faz das uvas J que nao chegarao a fer madu- ras , nao adquirisdo por iffo o vifco- zo doce , o qual he effencial para a fermentajao elpirituofa do Vinho. Pro- cede efte mai muitas vezes do lavra- dor vindiinar antes do perfeito eftado da madureza das uvas , temendo as chuvas do Oatono , que Ihe arruinao a fua coiheita ; outras vezes he , por- que o clima Jie tao frio , que as uvas iiunca iicao em grao de madureza ap- ta paraque poifao dar bons Vinhos ; outras vezes fuccede efte mal , por- que as uvas abundao demaziadamente em partes aquofis ; tacs fao algumas vezes as de iatadas , e uuiito mais as de deAqricultura. 77 de embarrado ; ou tambem , porque o Outono foi nimiamente chuvozo. As cauzas externas , que fazeiH tornar o Vinho em Vinagre , ou ao menos picante , fao : I. os fermenros acitofos , que confeivao as vazilhas, que por muitos tempos tiverao Vina- gres fortes. II. toda a vizinhanja , que houver de alguma fermentajao aci- da, poftoque ja elleja feira. III. as adegas , que nao fao abrigadas aos grandes calores , os quaes fazem per- der ao Vinho o nexo , que o gaz tinha com o efpirito ardente. IV. os grandcs movimentos do ar , v. g. o ellrondo da artelharia , de grandes tro- voes &c. O movimento por fi fo he capaz de tornar o melhor Vinho em Vinagre , ccmo prova a experiencia , que fez Mr. Hombcrg. Efte habil Academico poz huma garrafa de bom Vinho bem rolhada na ponta da vel- ]a de hum moinho de vento ; e , paiTa- dos trez dias , eftava hum excelienie Vinagre. Hift. da Acad. Real das Scien- cias anno de 1700. P. 11. 59 Convem muito ao lavrador fa- si^rirJt.- ber, quando o feu Vinho tern difpo- que jn- zifo^s a tornar-fe em Vinagi-e , para ^[,"'',/ o queimar , ou gafta-io , ou applicar- vinho fe Ihe aiguns remedios. A feguinte ex-^'Jp^^^^^^ pe- ie acido. ^S M E M O R I A » ^eriencia pafla , como hum fignal, que aviza ao lavrador da dilpozicao , que tern o VinJio , k fermentacaa aceto- fa. No alto dos toneis ie abrira hum buraco proporcioiiado a hum canudo de trez , ou quatro dedos de altura , o qual fe metera no burraco feito de- , forte, que a toche bem. No fimo do canudo deve eltar huma bexiga . un- tada de qualquer oleo para hear flc- xivel . e chea de ar. Eftando o tonel cheio , coraprimindo-fe a bexiga de- baixo para fima , fe eiia conferva o ar, indica a difpoficao , que tem , a fazer-fe azedo. signass , ^q, Como o tartaro he o principal di'cas"' conftitutivo doVinagre, feja volatiii- «,ue o zando-fe , feja, como quer Glauber, du'poem ( Mem. inferida nas Trans. Filofof. a tomur- fobrc o Vluagre ) unindo-fe o tartaro fe acido. ^ parte flogiftica , ou efpirito arden- te , e mudando efte da natureza , o lavrador deve por grande cuidado em purificar o Vinho , tanto engomando-o , como paflando-o depois a outras va- zilhas bem limpas. De todos OS modos de purificar o Vinho , a experiencia me tem moP j;rado , que o pez he a melhor gem- ma , que fe Ihe podc dcitar. A dofe he hum arrate em pipa ; bem pizado ^ r>E Agricultvra. 79 *' peneirado pelo batoque fe vai dei-^ tando J e mexendo brandamente. Efta gomma lie preferiveJ , afllm pela com- modidade do prego, comOj porque na- da tern , que deteriore a faude j mas antes concorie muito para a fiui con- fervajao. II. como o calor concor- re para a fermentacao do Vinagre. O Vinho que fe fufpeita poder-ie aze- dar , deve paflar a huma adcga frefca , e na qual os fooens iiao fajao impreP- fao. III. que , azedado o Vinho , 011 tendo algum pico , o cuidado do la- vrador deve fer em fazcr perder a configura^ao das particulas pungentes do acido ; o que fe pode fazer de muitos modos. I. , arrobando os Vi- nhos , que tern pico , e deitando-lhes mel , ou melajo. II. , deitando-lhes couzas oleozas. Mr. Lameri ( na Chj- mia ) obferva , que , fendo os oleos compoftos de partes romofas , e os acidos de partes agudas , a uniao def- ies com OS oleos fazem perder ao aci- do o feu pico. Para ifto podem fer- vir as amendoas , as nozes , os pi- nhoes j &c. ( Vej. as Memorias da Acadcmia Real das Sciencias , anno dc 1740. ) ajuntando ao Vinho , que tem pico, alguns Alcalis , ou abforventes , OS quaes , como podcm fer dc fnuitas caf- So M E iw 6 R r A s cartas , daqui provein a infinidade dt receitas , que tern os Mercadores de Vi- nhos fern diftinjao alguma do que po- de confervar a faude , ou dellrui-la. Os abforveates , que podem diminuir o acido do Vinho , fa6 as cafcas de ovos torradas ; todas as efpecics de con- chas queimadas , e reduzidas a p6 , o barro chamado de Ellremos , o fai- bro , a greda , ik.c. A cal , e geiTo , a lilharga fao venenos , que os tabernei- ros empregao nos Vinhos acidos fem confideracao alguma ao bem do Pu- blico. ^^'^^y 6 1. O perder o Vinho a forca , de dpi- OU gaz , que eltava combinado com ritos, 3g partes oleozas , cuio fummo grao he J o que chamamos Vmho choco , he peor doenja , que tornar-ie em Vina- gre. Efta doenja provem ao? Vinhos , que nao tern o vifcozo doce precizo para foraiar a parte oleoHi , a qual re- tenha o gaz. Os nioftos feitos de uvas demaziadamente podres eftao muito fufreitos a darem Vinhos fracos , e dif- poftos a apodrecerem nos primeiros calores. 6i Conhcce-re , que os Vinhos tern difpozir:a6 a chocarem-fe, quando , pol- ta no tonel a bexiga, de que a/lima DE AgR I CULT tin A. ^ j^llamos , ( n. 58 ) ella eila bem che^ de ar j quando os toneis perdem Vi- I nho ; por tcda a roda dos fundos , o que tudo he hum final 3 que o Vinho perde o ar combinado , que tinha , e que as ofcilagoes da athmosfera obra6 inuito nelle. 6:5 A cnra defta doen^a do Vinho Cnrai deve tender a duas couzas : reter cs efpiritos , que o Vinho conferva , e introduzir-Uie novos , fe poder fer. Os efpiritos retem-fe no Vinho por tudo aquillo , que Ihe pode dar ne- xo. O arrobe , o mel , o mela^ o , o alTucar , as paifas cozidas em Vinho fao fubHancias aptas para darem nexo , e fazerem , que os efpiritos do Vinho fenao deihpem. Para o mcfino fim pc- dem tambeiii concorrer as fubftancias oleozas ; a Agoa-ardente, a que chamao de cabeja , ou mejhor , aquella , que he fegunda vez eftillada. Todos eftes miftos metidos no Vinho , Ihe da6 nexo paraque os efpiritos fenao defii- pem. A dole he variavel a proporcao affim da iubftancia , que fe lan^a no Vinho , como da falta de efpiritos ^ que o Vinho tem. O lancar mexa nos toneis de tempos a tempos , he impe- ditivo paraque o gaz i'e nao exhale* Q enx'jfri? aueiinado ianja hv.m oleo » ^ Memotiias o qual , tocando a fuperficie do Vliilid forma liuma cfpecif" de abobeda , que impede a delTipa^ao do gaz. Pode-fe tambem curar o Vinho , que tendc a chocar-fe , ou apodrecer perdendo os elpiritos , introduziiido- Ihos novos. Fas-fe illo , ajuntando-lhe a tcrga parte de mofto ; pafliindo-o a outros toneis , que tenJiao borras de Vinho frefcas j ou lancando-lhe a lia Jica. Em todos eftcs cazos o Vinho enira em nova fermenracao , a qua! Ihe faz I'ubir diverias combinacoes , e formarnovo nexo , que firva de im- pedimento a exlialajao do gaz. CoiJu- 6^ O fazer-le o Vinlio gordo , e nho!^ ^ '" f"Zei" fio 5 como o mcl , he Jiuma das doencas , que Ihe vem algumas vezcs jkT iermentacao infenilvel. A cauza della doenca , dizem alguns Enojogif- tas , provem das uvas lerem colhidas muito maduras. Para evirar efte mal , muiros dos ProYcn^aes adianrao a vin- dima ; c entrc nos muitos lavr-adorcs nos annos quentes coftumao lancar hum almude de agoa em pipa. Porem quem iabe o modo , como fe fazem os ef- timados Vinhos de Sut, deque aflima fillamos , ( n. 37. ) e a Alalvaiia de Setubal , para a faclura dos quaes Vi- nhos as • uvas. fao meias pailadas , vc beiu DE AeRiGtJLTUR A "^^ hem], que o madiiro da uva de nenhuni modo pode concorrer para iemeihan-' tc doenca. O ourro exemplo bcm cla- ro , como ja dicemos , ( n. 5-2. ) fao as Aguas-pes , que engordao, quando vein OS tempos quente^ ^ nas quaes ie nio pode di2;er , que o muiro vifcozo do- Ce procedido do maduro das uvas he , que as faz engordar." Dizem outros , que a gordura dos Vinhos precede ' de nao lerem bem cubados , e per i confequencla lenao deftruir a parte vif-* ! coza ; porem he bem iabido , que mui- ' tos Vinhos engordao nos calores , e i que , vindo os frios de Inverno , tornao I ao antigo eftado : logo, fe era a do- I cnf a pelo vifcozo doce nao eftar ate- I nuado , a gordura do Vinho lempre devia permanecer : pelo que parece , que eda doenca do Vinho precede de perder o nexo , que tinhao as partes oleozas , entrando por elias o tartaro , que eftava depofto. A falta de tartaro depoflo , que tern OS Vinhos gordos , o calor , que produz a dilToiucao dos corpos , e pe- Ja exiilencia do qua! os Vinhos , e Aguas-pes fe tornao gordos , o frio , que reflringe , e conferva os corpos , e pela vinda do qual a gordura dos Viiihos fc perde , provao^ que a cau- F ii 2a ^4 M^MOXIAS za defta doenca dos VIdHos he o ne«* xo, que as partes oleofas perdem poi: via do tartaro , que fe elpalha por to- do o liquido ; porem de outro modo , oue na temientajao acetofa. Conhecef- le , que o Vinlio tern difpozicoes a fhzer-ie gordo , quando o tartaro fe nao picrepita , e quando perdcr a cor. Cura. (^- Alguiis dos noffos lavradores curao ella doenca , batendo-o por baf- tante tempo nos toneis de forte , que elle faca muita efpuma : fe o Vinho com OS frios torn a ao antigo eftado , deve-fe trasfegar , e lang^r-lhe alguma Agoa-ardente da mais cfpirituoza ) tam- beiii fe remedea cfla doen'^a do Vi- nho , pondo-o em nova fermentajao , lancando-lhe trez partes de mofio. yiniio ^^ Muitas vezes os Vinbos fe tol- dao , fern que , cu fe azedcm , oa enp;.ordem. Nefta iituacao tudo , o que aiTiaia dicem_os ( n, 5>. ) > T--'^ fervia para a clarificacao dos Vinbos , teui aqui bagar. FayciiT- 67 Os mercadores de Vinbos , e cacao tarerneiros J que nao fe contentao mui- nhos. '" fas vezes com a cura das enfcrmida- des do' Vinbo , que naa ilias maos fe deteriora , a qual , fendo pelos raodos afliaia diros , em nada faz mal a £im- de J porem eiies ambiciozos do bacro , com toldudo. DE Agricultural ^j com grande damno d6 Publico Eilfi- ficao o Viiiho , vendendo no pcvo Vinagre por Vinho ; enchendo os Vi- rhos damnificados de cai , e gefib , lanjando-Jhes agoa ; e vendenao os Vinhos novcs , e mal cozicios , per ve- Ihos. Convem pois examinar , fe ha al- guns finals , que defcubrao a faiiifica- g:a6 , a fim de evitar o mal. De todos OS remedies , que fe teni defcuberto para affucarar os Vinhos aci- dos , ou ja tornados em Vinagre, nc- jihum iguala a litharga , ou churnbo vitrificado , porem o Vinho afiim iai- fificado produz os mais terrivcis dam- nos na faude do homem. Ella falfifi- ca^ao do Vinho pode-fe conhecer per dois modos ; ou por meio dos alcd- lis , ou pelo hepar do enxofre. To- dos OS alcaJis , que fe lancao nos Vi- nhos vermelhos , os toldao, e fazem negros j porque cs acidos fe ajuntao ao alcaJi , e a parte , que dava cor ao Vinho , que eflava em difTolucao pelo acido , feparando-fe delie , toma a fua c6r negra ; pcrem , ie o Vinlio tern a litharga , enrao elle nao tcma huma cor negra ; porem cinzenta , e lanfa hum cheiro dezngradavel. O hepar do enxofre tambem faz teconhecer^ que o Vinho Jie falfuica- do S6 M E M O R I A S . - do pela litharga. Para conhecer a fallili?' cacao , fe lancao cm liura copo de Yir nlio algumas pingas de liepar de en- xofre ; fe o Vinho tern lidiarga , en- tao fe tolda , e fe faz negro. O aci- do fe ajunta a parte alcalina do hepar , e o enxofre , unindo-fe com o cJium- bo 3 fe precipita formando huma cor negra. Nefta operagao , fe o Vinho nao tern litharga , elle fe tolda fim j porem nao fe faz negro. Os mercadores de Vinho iifao de cal, e geflb nao fomcnte para o cla-? reficarem ; mas tambem para Ihe dar forca. Nao lomente elles iifio defies vcnenos lentos ; porem os recomcndao aos hivradores , ' prometendo-lhes facil compra , fe aifim os rempcrarem. Eil^" falfificajao lie mais difficil de conher cer-fe ; conhccc-fe porem pelos effci-; tos, que o Vinho aflim temperado pro- duz. Paflado algum tempo , o Vinho bebido cauza Jiuma fede fora do cof> tume ; a boca fica com mdo fabor ; e o corpo em lugar de ter huma re- para^ao de forjas , que o bom Vinho produz , fentc arjciednde. O Vinho agoado nao damn i fica a faude J e de todos os enganos , que os tabernciros fazem ao Publico, efle he, o c^uc menos mai Ihc cauza. Algu-* jr.as " DE AgRICUT U R a. ^ ff mas Camaras tern Polluras para co- nhecerem efte dolo dos vinhateiros.- Entre outros finaes o da torcida he o raais commum. Pofta eila no Vi- nho , as partes aquofas entrao por ella a deftillarem-fe. Poreni eila expe- riencia nao pode fazer plena prova , fenao , quando as partes aquoias , que fe delllllaiO , fao muitas. Eila fe tern Jpeito em Vinhos puros ; c nelles ie tern tirado algumas partes de agoa ; o que Jie procedido das partes aquo- fas , que entrao na compozicao do Vi- Jiho. ^ Outra falfificajao , que fazem os taverneiros , Jie a miilura dos moilos mal fermentados com os Vinlios ve- Ihos J a iim de os reputarem por bom prego : eila falfificacao Jie facil de fe conhecer ; porque , ccmo os Vinhos pe- ja dilatada iermentajao infeniivcl , que tern tido , eilao miiito claros , quan- do fe miilurao com os nioftos , que ape- nas tern acabado a i'crmentajao ef- trondoza , eilcs os cnciiem de impu- ridadcs , que ainda nao tern depofio , e fazem perder o criilaiino dos Vinlios veihos. 68 Ha outros enganos nos Vinhos , i"""tacao aos qu^es fe pode chamar dolo bom ; iiv.Mes aillm como aos procedcntes dolo mao. viahos. Eu 82 Memorias jEu fallo do modo de imitar a/Hm o? mais eftimados eilrangeiros , como Na- cionaes- Os AucHiores de fegredos , e re- ceitas dao diverlcs methodos , os quaes ie reduzeai a diffcrenies milluras de gromas , e llibLtancias dulcificantes. Eis:aqui algumas receitas. Tara cmtrafazer o Vinho de Hef- panha, E Vinho branco feis canadas , de mel huma libra , de boas paf- fas de uvas huma libra , ooriandra pi- zada groUa huma oitava , afiucar mai- . eavado huma libra : em vazilha tapa- da le ferva tudo em fogo brando per trez horas. Depois fe coe tudo ; e jneta em gariatas , das quaes fe pode- ra beber , paflados oito , ou dez dias« Para faze r Vinho mufcatel M hum pequeno faco fe lancem flores de fabugueiro , as que qui- ?rem \ efte fe fufpenda no batoque de forte , que fioue metido no moito , o qua! devc ainda ferver ; deve ti- rar'ie paiTados doze ^ ou .quinze dias. E D E A G R I C U L T U R A. t^ Para fazer Vinho do Rhim, M quarenta canadas de Vinho branco fe lancara hum punhado de cafcas de cidra leca , e huma Ca- nada de Ago-arozada. Tapada a pipa , fe deve rodar por algum tempo. De- I)ois fe abre o batoque, pelo qual fe he mete huma aftea de hormino , que alii efla por infuzao vinte , e qua- tro horas. A Para fazer a Malvazia. Verdadeira Malvazia ( diz M.' Garidel ) vem de Candia : aquella em que fe prepara em Coerjem , Soliers , Pignan , e cutros iugares , he quail tao boa. M. Rai poem a Mal- vazia entre os Vinhos naturaes , pof- toque feja hum Vinho , para aifim o di- zer , artificial. A Malvazia lie huma efpecie dc Carenuni , ou Vinho cozi- do \ elle fe faz do mofto das uvas mof- ca-teis , para o preparo do qual fe fas confumir ao rogo a terceira parte. Nos temos a Malvazia das Ilhas ; e a Malvazia de Setubal , a qual fc faz com us uvas meias palladas. 9© M E M O R I AS Outro methodo de fazer a Malvazia. GAlanga , cravo da India , gengi- bre , de cada couza huma oita- va , maxocado tudo le ponha em in- fuzao por vinte e qiiatro horas em Agoa-ardente em vazilha bem cuber- ta. Deitadas eftas drogas em hum pa- no , por dois dias ao menos fe devem ■deixar ellar no VinJio pendentes de hum fio prezo ao batoque. Se a ver- dade deftas imitajocs correfponde aos fegredos, comque as propoem feus AA , eu me nao atrrevo a afiirma-Io. Julgo porem , que eilas imiracoes por via'de efpeciarias i'ao mui fracas a vifta da- cjuellas , que ie fazem , quando com a extraccao , e fermentacao do mofto fe .prafticao as mefmas manobras , com que fe fazem os Vinhos , que fe per- teiidem imitar. Hum tanoeiro meu co- iihecido , baftantemente praclico por -cauza do feu officio na manobra dos VinJios da CJiamufca , foi perfuadido por mim , que fizelfe o mefmo aos feus , OS quaes Jhe haviao de fair , fe- nao tao bons , ao menos melhores , do que erao. No anno feguinte me pre- fentou Vinho , que nao tinha dilferen- ca tiaquclk ; cue fe imitou. AlTinia fi-« deAgricultura; 91 ca dlto o metliodo de fazer os mais eftimados Vinlios de Hungria , dc Champanha brancos , os de" Borgo- nha , &c. elles fe devem imitar pelo ineimo methodo de vindima , e extrac- cao do moflo. As vinhas do Fundao , Alcaide , Covilha , Guarda , &c. ferao mais aptas pclo clima mais frio para a imitacao dos Vinhos brancos de Champanha ; os da Chamufca , Gole- ga , Santarem , Setubal , Torres-novas , Lisboa , &c. ferao mais adquadas pa- ra a imitacao dos Vinhos de Hun- gria. Ifto he , o que tinliamos para dizer affim fobre a cultura dos Viniios , co- mo dos melhores methodos da extrac- cao , e fermentacao dos moftos , pa- ra formar Vinhos de qualidade. Tu lene tormentum ingenio adm.oves Plerumque duro : tu Sapientium Curas , et arcanum jocofo Coniilium rctegis Ly^eo : Tu fpem reducis mentibus anxiis , Viresque , et addis cornua pauperi : Poft te J neque iratos trcmenti Regum apices , neque militum arma. Horacio L. 3. Ode 21. **. NO- DE Agrictjltura; $^ N O T A S (T") Mariz DIalogo. 5. c. 5-; (llj Plinio i. XIV. cap. 21. (III) Os Naruraliftas chamao eftlminas J Jlamina, Lapillamema, aquellas partes da flor, c]ue conrem no fimo huma elpecie de p6, lem o qu.ti nao pode haver fru^flo. (IV) Piftilo he a matriz , na qual fe dtpoziti o p6 fecundante das Eftaminas. (V) Os Romanos faziao cazo de muitas Videiras , que linhao transferido de oucro'S paizes ://;?Jt Thafu vites , frmt et Mareoti- dcs alb£. Algumas razoes dao lugar a con- je6i:urar , Cjue aflim como os animaes le- vadob a di/1-erentes climas a proporfao, que fc afaftao das primeiras rajas, dege- nerao j alKm tambem fuccedera no reino Vegetal. (\''I) Efti regra he rirada de Palladas- , antigo Agronomo ; a qual a razao junta a experiencia tern approvado. (VII) As uvas , que melhor amadure- cem, e que mais facilmente fe paflTao , tern fua difFcrcnfa, aflim na penicula , como nas p.irtes ribroias , deque fe com- poem OS bagos , e mofto , que contem. Hu- mas ao partir cefpegao a penicula inteira , ficando tambem inteiras as partes fibrozas. Eilas ccmo fao a Italia , as Galegas , a que na Beira chamao Folgozno , dao iT.ui- to mofto ; porcm eftc abunda muito em partes aquofas : cutras dao hum eftalo ; e cfus iao as primeiras , que apodreccm , quan- ^^ ' Mem 0 R I AS tjuando Ihes vem aguas repetidas s dao po- rem hum moftb, que abunda no vifcozo doce. Pelo que , a vinha compoftade huma porporcionacfa miftura deltas caftas , domi- nando fempfd aquellas , que abundao no vifcozo doce , he a mais apca ailim para A producfao, como para a qualidade dos •vinhos ; e fera para dezejar, que as vi- nhas fe fofTem fazendo mais uniformes : a deverfidade de caftas deftroe a qualidade dos Vinhos. (VIII) Os Romanos , comb referePli-, nio. 1. 17. c. 22., tinhac cinco gcneros de vinhas. F'incaritm quinque fnnt genera ; unum fparfis palmitibns hmnt repens ; alte- rum peditHUi finiplici adminiculo ffijlenta^ turn i tertitim jugatum ; quartwn compluvia" turn ; qnintum arbuftivMn. Nos defconhc- cemos o primeiro genero ; e no nolFo cli- ma teria muIro3 incomodos. O Segundo , o cerceiro , e o quarto fo fe differen9a- vao no modo de atar as parreiras ; porque no fegundo genero fe atava a parreira a hum fimples arrimo ; porem , quando fe el- la atava , imicando hum jugo de bois , en- tao Ihe chamavao jugara ; e , fe a forma era affemelhando-fe ao compkivio , que era hum lugar no fimo das cazas , cm que fc ajunravao as agoas para della correrem , C Varrao de L. ) Ihe chamavao compluvia- ta. Arbuftiva era a vinha , que nos cha-- mamos de embarrado. (IX) Columeia no c. 16. fallando da vinha de embarrado diz : Arhtifitim inter ijnadraj^enos pedes dijpofitum cjfe , convex hit ; fig cnini ff ipf>i arbor^s , ct appoft- t4. DE ACRICrLTURA. ^f f-i viies melius invalefcmt , fruSltimque me-^. \liorem dahint. (X) A experiencia prova , que as Vi- Ideiras , que ficao para deitar no anno fe- guintc, tern menost vircozo do9e , que as po- !dadas. (XI) A Labrufca he huma efpecie de ^uva preta de bagos compridos , porem delgados , e que amadurecc perro dos Santos : do que le moftra os inconveni- entes , que ella tern para a producfao do Vinho bom : carrega porem muito ■■, e ef- ta he a cauza , porque a efcolhem para as arvores. (XII) V. Blelfeld. Inft. Polit. p. 2. c. I. §. 40. (XIII) Denfa mag is eercH , rarijjima qiLcqui Li£0. Horacio diz o mefmo 1. i. Od. 17 : Nil! lam , Fare , facra vite prius feveiis arborem circa mite folum Tiburis. (XIV) Efta miftura lempre fe deve en- tender das caftasj que amadurecem pelo mef- mo tempo. (XXV) Quando os bacellos eftao ob- ftruidos per cauza da muita humidade , que tinha a terra , em que eftavao abaceilados , pode-fe de algum modo remediar efte mal , cortando a parte mais obftruida , que he, a que eftava na terra , fe elles fao com- pridos •■, tendo-os ao Sol algum tempo , ou cm parte , que Ihes nao caiao geadas. Os que eftao em mao eftado por cauza dc fe acharem fec'os , devem-fe ter alguns dias nietidos cm agoa , nao em toda a fua ex- ten9ao ; porem em parte. (XVI) Morifon ( Voyage au Mont- .6' ^6 Me MORI A 5 iinai ) d\7. , que na planicic de Magcdo Achi-^ ra cjuantidade He meloes bravos tao gran-* Vinhos nos quae fes mifturao muitas )) uvas BarbnroHX , a experiencia nos enfi- 5) na , que o Vinho , que fe extrae defta T\ efpecie de uvas , he muito fuicito a fer- Y mentar , c a toldar-fe , logoque o calor I ji da Primavera fe faz fcntir. » Garidel I Hiiloire des PUntes qui, nailTent ay.^: environs | t) E A d R I C U L t U R A* 9"^ iirAIx. Do que fe moftra , que a multipli-^ cidade de cauas , de que abundao as nollas vinhas , cujo mal nos vem dos nofTos Avos j he hum impedimento , pai-aqne o Vinho alcan9e o melhor grao de perteifao , de que he cnpaz. (XXI) Eu penfo , que hum dos me'os de melhorar os Vmiios , feria a introduc- ^ao deftas uvas : Aiigjler Ttaiihai : c tem- po , em que ellas amadurccem , n-:oicra , que nenhuma oucra efpecie pode tinio abun- dar no vifcozodocej tao neceiTario para a produc9a6 do horn Vin!-;o. (XXII) Hoffman. Hiilorla vini Tocka- vienfis . (XXIII) Devc-fe advertir , que iftd fe^ nao dcve cntender das va2ilhas , que poi? annoi tern fciio V'inagre ; porque eftas con- fervao hum fermenro accrozo , capaz de tor-> nar o Vinho em Viiiagre. (XXIV) O ufo de I'e deicar mexa nas vazilhas antes de Ihes lanfar o mofto he prejudicial ; porque", fendo o lumo do en- xofre hum impedciivo da ferrnenta9a6 , he claro , que , requercndo nelle tempo o mof- to huma boa fervura para fe tornar em Vinho , e impcdindo-lha o fumo do enxo- ffe , efte Ihe he entao nocivo. Boerhaave diz , que huma grande quantidade de qual- quer acido forte Ke capaz de produzir o niefmo effeiro , fendo mifturado com a ma- i teria fermentante : v. g. os acidos de pe- I dra-hume , de nitro , de fal do mar, Sec. piiem , que dies dcftroem os licores. j Chym. I (XXV) O vallo cfpirito de Boerhaave Q pa- 9$ M E r^ O R I A s ra examlnar o; pallbs , que a natureza ic;j;uc ti.T t'ennenL da a materia fc cntra a encher dc bolhas j e a parte mais cfpeflci paila a fupcrficie, e nella forma huma coJea , a qual con- tcm OS efpiritos : e efte he o pr'mciro poriodo da fermcnta9ao. No fe^undo a materia fermentante fe divide em trez par- tes ; a lia , ou flor do \''i!iho , occupa a fu- perficie ; a baixo huma fubltancia liquida ; e mais abaixo huma rabilancia , que co- me9a a pricipitar-fe , que he , ao que cha- mamos borra do Vinho. No terceiro periodo a materia fer- mentante fe divide em duas partes ; huma clara, a tpc ch.imamos \'inIiO ; outra craf- fa, a que fe ch.ima borra, ou fezes. Em cada hum defies periodos os diverfos mo- vimentos , que faz a fubftancia fermentan- te , dao gofto grande ao obfervador Boer- haave. Chymia. (XXVI) Boerhaave obferva , que a fcr- menta9a6 nao poje exiftir, fenao em ca- lor de trinra e feis graos para fima , ate novenra. ibid. (XXVII) Garidcl verbo Vitis. (XXVIII) As experiencias rciteradas mollrao , que hnma canada de agoa do Mediterratieo tirada nos clirr.as quctues tern | huma on 9a de fal ; e tirada no Bakico , I onde o dima he frio , nao tern mais, que meia onja. I Acua ! DeAgRICULTURA. t)!^ (XXIX) Agua de Berkelei faz-fe do fe- guinte modo : Em huma canada de alcatrad fe lan9em quatro de agoa fria j e por ef- pa90 de cirico minucos fe mexa tudo cortl hum pao. Tenha-fe de infuzao por dois dias em vazo bem rolhado , efpumefTe de- pois , e fe lan9e em frafcos , para fe uzar, quando for precizo. Recherches fuf les vertils del eau de Goudron. (XXX) Alem de outros menos inteligen- tes , que tinhao admirado a qualidade , for- 9a , e criitalino do Vinho feiro pelo mc- thodo defcripto n, 48. em 18 de Janeiro defte anno de 1787. , eu chamei hum gran- de lavrador das minhas vizinhan9as , o quat depois de miudas provas concordou com a opiniao dos mais. (XXXI) Em algumas partes o trasfegao pelo S. Martinho ; porem entao fe dcve iuet outre tra'^fcgo em Janeiro. Qii IN- I N D I C E D O QUE CONTEM ESTA MEMORIA. ROEMIO Pag. r; CAP. I. Da vatnreziZ da Fidcira. 2. CAP. II. Da cultura das Videiras. 7. CAP. III. Da viruiima , fcrmcntacao \ e conferva'^ao do Finho " >-• CAP. IV. Das enfermidades do Vinho , e fuas fa!cijica<^oes 75. Para contrafazer 0 P'inbo de Hefpanha. 88. Para fazcr Finho mnfcatel. . . . ibid. Para fazcr Finho do Rhim. . . . 80. Para fazer a Malvazia. . . . ibid. ME- M E M O R I A QUIMICO-AGRONOMICA. SOB RE QUAES SAO OS MEIOS mais coavenientes de fupprir a falta dos eftrumes animaes nos lugarcs, onde he dlf- ficLiltozo have-los i averiguando-Te parti- cularmcnte , fe o revolver , e cxpor por varias vezes a terra a intluencia da At- mosfcra fera hum modo fufficicrkte de fer- tiliza-la ; e fendo tudo comprovado com experiencias repecidas , e autorizadas. Queflao extraonlinaria , propojia pcia Real ylcadcmia dns Scknci.^s de Lisbon. POR MANGEL JOAQUIM HEMRlQUES D E P A I V A. If s* enfmt done de Id que le vrai ntO" y^n defe pajfer des engrais , de fertilifer ncs urres , et (Pen titer tout le parti pdjjible , ne confijle fit* a produire heaucoup de terreau ; C*f/t a dire , ^«' a multiplier ies vegetaia. Dickfofl, CAPITULO I. J)os principiQS mitritixos dos ve- getaes. § I. fgm^ Onsistindo a meu ver , SS*(-=t^)) toda a forca da refolugao def- (iJ-J^:ft:Sl>) te problema no cofihecimen- jS=^^:^i:^<5' j.^ ^^ natureza dos eftrumes , dos feus principios conftitutivos , e do modo , porque obrao na vegetacao ; e nao podendo ifto confeguir-fe , fern. fe .Qpnhecerem tambein os principios nutritivos dos vegetyes , tratarei pri- meiramente deftes no prefente capi-- tulo. '' § n« Em toda a Hiflorla Natural naa ha por certo materia , que teuha da- do occafiao a tantas difputas , como' o determinar os verdadeiros principio!? das plantas. Os Filolbfos antigos af- lentavao , que ellas le alimentava6 uni- camente dci terra affas dividida , e RibtiL. DciV to6 M E M O R I A S § III. Defta opiniao ( § II. ) forad de- pois Tui/ , Dii-Hardel , Linneu , e ou- tros j nao fallando naquelles , que fe perfuadiao que o nutrimento das plancas conliilia em cartas particu'as organicas , que as raizes chupavao da terra , e que nellas fe preparavao , c convertiao ^ na natureza das melmas plantas. § IV. Porem a terra nao pode dividir- fe tanto , que as fuas particulas fejao capazes de enrrar pelos poros , ou de- licadifrimas bocas dos vazcs abforven- tes das plantas ; nem eftas admittem fuflento , que nao feja capaz dc fer abforvido em vapor fluido afias fubtiJ. Alem difto , dilpoftas as plantas fern nenhuma communicajao coin a terra , nutrem-fe pelas folhas , como fe fora pelas raizes. § V. E por confeguinte (§ IV.) as plantas nao fe nutrcm unicamente da terra ; nem efta concorre materialmente para <1 crcfcenca daquelias : fern que a illo ob- beAgeicultura. 107 obfte o alimentarem-fe , e medrarem mais n'um rerreno , que n'outro ; por- que iilodepende, como ad iante fe ve- ra das diiFerentes fubftancias miftura- das com a terra. § VI. Nem fe pode duvidar da verdade defta conclufao (§ V.) , refledindo-fe na iingulariffima experiencia de Helmoncio , confirmada por outra femclhante de Roberto Boile , a qual he a feguinte : Tomei ( diz elle ) hum vafo de bar- ro , e nelle puz duzentos arrates de terra fecca n'um forno : reguei-a com agua da chuva , e nella defpuz huma eftaca de Salgueiro , que pezava cinco arrates > a eftaca produzio huma ar- vore J que no cabo de cinco annos pezou i6q arrates , e quafi trez on- gas. Regou-fe a terra , lempre que foi neceflario , com agua da chuva , cu, deftillada. O vafo era grande , e efta- va fcguro no terreno j e paraque na- quella terra nao podefTe cair poeh-a ,, tapou-fe a boca com huma tarn pa de eftanho cheia de buraquinhos. Nao fiz conta do que pezarao as foihas , que iao caindo nos primeiros quatro an- nos, No fim do quiuto anuo fcquei a lo8 M E M O R I A S a terra , que ellava dentro do vafo , e vi J que pezava 200 arratcs , como d'antes , menos duas oncas , que fal- tavao. § Vll. Igualmente fe moftra fer verdadei- ra a mefma conclufaS ( §• V. ) pe- las experiencias de Gkditj'ch , e Bofi- vet ; OS quaes experimentarao que as plantas metidas em muigo , cu n'uma efponja entre vidracas , c rcgadas com agua , medravao bem , c flloreciao : e pelos experimentos de Dtc-Hajnel ^ que achou por analyfe Quimica , que as plantas cnadas em agua conti- nhao as mefmas partes , que outros pes da mefma efpecie criados em ter- ra ; e finalmente pelas experiencias de Kraft , e de Aljion , os quaes femcan- do avea , e canamo em diverfas fubf- tancias , a faber , em terra pinguc , em areia perfeiramente fecca , em aparas de papel , em pedacos de panno , em feno machucado , e regando depois as ditas fementcs com agua obfervarao que fe criavao igualmente bem , aifim n'uma , como n'outra iubftancia com curtiffima riifFcrcnja , em quanto ao tempo em certos cafos. Fi- DE Agricultura. 109 § VIIL Finalmente confirma-fe ainda mais a rcferida conclufao ( §. V. ) pelos experimentos de Tricxald feitos em Suecia , e de Eller em Berlin \ eile obrervou , que fe dera perfeitamenre huma porcao de pepineiros n'uma ter- ra , cujo pezo crefcera , em vez de di- ininuir-fe ; c aquelle vio , que , poftas as raize> de Jacinthos em agua def- tillada , nao fo prcduzirao plantas per- feitas \ mas depois de queimadas de- rao verdadeira terra. IX. Defies experimentos ( §. VI. VIL VIIL) podemos iim inferir que as plan- tas abforvem grande porcao de agua ; mas , que efta nao he o unico alimen- to dellas , como fe perfuadiao os ci- tados Autores ; pois as plantas, con- forme diz Sage , e outros , nutridas iinicamente de agua nao chegao a frutitica^ao completa j e as cebolas , que fe fazem florecer no Inverno em garrafas , iancao muitas folhas , e fio- res menos cheirozas \ mas nao fruri- ficao : e ;,fegundo adyerte Wooclvjard ^ as ilO M E M O R I A S as mefmas planras cefiao de crercer , e nao completao a vegctacao, onde nao ha terra vegetal. § X. Donde podemos concluir Coirl Bradley , c outros Fyficos que as plantas ncceflitao d'outro principio nu- tritive , alem da agua , e do que Ihes da a terra vcgetaL Qnal he pois cile ? Alguns Filoiofos , tendo obier- vado , que nenhuma planta pode me- drar em lugar privado de ar , e ten- do igualmente moftrado , que ha ar dcntro dos vegetaes , pertenderao com o Doutor Halles , que devia admitir- fe aquelle , como elemento dos mef- mos vegetaes ; e fundados niilo con-' chi^rao , que elle contribue fobre ma- neira para a vegetajao. § XL Mas , para averiguarmos com exac-^ ^ao efta queflao ( § X^ ) , devemos contempiar o ar. 1. ) purificitlo , e fcparado de qnaI-< quer outra fubftancia ncterogcnia j ifto he , como vcrdadciro ar. z , ) combinado c£ Agricultural ti^ todas as feis couves eftava6 igualmen* te rodeadas defte elemento ; e toda- vla as trez plantadas no feu jardim era6 mais vigorozas , que as outras , que eftava6 em ar delcoberto j mas eni liuin lugar efteril. § XV* Comprova-fe illo ( §. Xlll. XIV. > ttiais evidentemeiite com as experien-* cias de certo Autor das Reflexoes [o* bre o eftado aftual da Agricultura , Has quaes fe ve j 1. ) qiie a vergontea de arnendoelra ,' que eftava dentro de hum pequeno quar- to , cujo ar era inficiotiado dc vapores de efterco frefco , lanfara boroes , flo- res , e fdlhas , femque o refto da aman- doeira , que ficara de fora ao ar livre^ delTe nenhum fignal de vegetajao: 2. ) que t)3 ramos de outras amen- doeirds , de hum damafqueiro , de huma rozeira , e de hum jafmineiro , que in- tfoduzira por hUm buraco dentro da ca- valhari9a , cujo ar na5 he puro , vegc- tatao com vigor , e florec&rao primeiro ^ H que toque as raizes eftivefTem em boa terra , eraS mengradas , pallidas , e pequenas ; e ao contra- rio as outras , que eflava6 no jardim , nao ob~ flante a mi terra , em que eftava6 , a-s raizes fUQ grandes j c. mui vi5czas.^ |JI| - M E M O R I A S t; . que OS que eftava5 fora ; nao obftant* ^ nafcerem do mefmo tronco , e eflarenj ao ar defcuberro : :5. ) que duas ccbolas , que depen- ■■ durara n'um pequeno quarto , onde efta- vao apodrecendo pequenos animaes , t cujo ar por coniequencia era alias imr puro, engronara5 muito mais , e lanja- rao niaior numero de folhas , do que outras duas , que eftavao dependuradas no te£lo de hum ccleiro limpo, e,bem arejado. § XVI. Poiem , contemphdo o ar , comq Atmosfera , que he hum compofto dc muitas fubftancias , entre as quaes fe iiota o ar puro , o flogifticado , e o inflammavel , e no qual relpirao os ani- maes , brotao , vivem , e crefcem os vegetaes , he inconteilavel , que da as plantas certo principio nutritivo : e das expericncias aciuia rcferidas ( § XIV. XV. ) fe colhe evidentemenrc , que o mencionado principio dimana fern dii- vid^a dos eftrumes , eftercos , e ani- maes , que apodrccem ; o qual parece fer o gas inflammavel , e o flogifticado ; viito , que fe defprendem d'aqueiles corpos J fegundo moftrao os Qiiimi-*- cos J pela fermenta^-aoj e podridaCi , e' que conftituem Jiuma parte daAiracs-, lera. £.^ § XVIL E na verdade o c^lebre Priejlley , alem de moftrar , que as plantas ve-* geta6 no ar impregnado dos vapcres podres , ou flogifticos , que rezultaS da podridao , e da combuftao , e que ellas *ab!brvem f6mente os principios mallgnos , deixando intacHio o ar pu- ro , provou com expeiiencias , que as plantas crefcem muito mais no ar flo- gifticado , que no commum ; e menos no deflogiflicado , que naquelle. § XVIII. Alem difto ( § XVIL ) obfervou o Inefmo Priejlley , que 1. ) OS pes de Salicaria , qtie puzera debaixo de campainKas cheias de af commum , vegetarao alii optimamente i 2.) nenhum defies pes (I.) abfor- V&ra mais , que a quarta parte do dito ar: 5-) outros da mefma cafta, poftos no ar flogifticado, abforv&rao hum pou- CO , e chuparao todo o flogiflo , e o pufificarao fobre maneira j ifto he j-- tor- narao-no fimilhantc ao ar commum : 4. ) as mefmas plantas abforvcrao intciramente o gaz itiflammavel , quando J»uro , e au(]|uinra6 nelle grande vigor : JJ Ji pof-r %l6 Memorias 5. ) poftas eftas plantas no ar deflo- gifticado , murcharao j e durarao muiro pouco tempo. § XIX. DasreferidasobfervagoeS) (§ XVIII.) e das ounas ( § XIV. XV. ) fe colhe claramente , que 1.) as plantas nec^eflitao do flogifto, C fobre tudo do gaz inflammavea para medrarem , e que aelle fe apoderao avi- damente, onde cjuer que o encot^trao : 2. ) o ar podre, ifto he , o fluido ae- rlforme , que fae das fubftancias , que apo- drecem , o qual pela maior parte confta do gaz inflimmavel , do flogifticado , e do acido acreo , he o verdadeiro princl- pio nutritivo dos vegetaes ; poisque neile crefcem admiravelmentc , e o con- fomem fern deixar mais , cue hum pou*| CO de ar puro , que Ihes fervia de bafe» § XX. Porem > apezar d:is experlenclas , c obferv-^^oes aciraa referidas , ( § XIV. XV.XVIII.) comque provamos ferem os efiuvios podi es , e fobre tudo o gaz inflammavel , o principio nutritivo dos vegetaes; oDoutor Percival , Me- dico Inglez , a quern nao podiao fcr defconhecidas aquellas experiencias, ( § XIV. deAgtitcultura. 117 ^§ XIV.XV.XVIII.) difTe, e affiima em conlequencia de ver medrar plantas na maquina do Doutor Nootb por meio do acido aereo , que efte era o verda- deiro paflo , e alimento dos vegetaes. § XXI. Defpertado o Doutor Priejlley pe- la autoridade deile fabio Medico , ( § XX. ) a qual era contraria a fua opinia6 , repetio , mas inirucfluoza- mente , as experiencias do referido Medico ; e por confeguinte fufpeitou^ que efte fe havia enganado. § XXII. Porem , tendo o Doutor Ferchal feito as fuas experiencias na maquina de Nooth , cuja conftrucjao he tal , que lo permitte prefentar as plantas huma miilura de mul pouco acido adreo , e muito ar commum , e ha- vendo repetido as mefmas experien- cias em outros vafos com mifturas ar- tificiaes de acido aereo , e dc ar com- mum em difFerentes porporgoes , de que a menor era j do mefmo aci- do, e "I do dito ar, fern ja mais a imi- ' ilS M E M O R I A S imitar a proporjao accidental do cI- tado Fere real , nao he de eftranhar., que as plantas medraflem dentro da ra* ferida maquina , e que morrefTem com as experiencias de Priejlley , onde ha- via fempre maior quantidade de aci- do aereo. § XXIII. E com efFeito o mefmo Priejlley ^onfega , que fazendo crefcer algumas plantas com a raiz em agua pura, e outias na melma quantidade de agua impregnada de acido aereo , eftas me- drarao , e viverao muito mais , do que aquellag ; poisque as plantas , que "^eftavao em agua pura, morrerao no ca- bo de quatro dias, e as outras huma femana depois. § XXIV* Porem quer o dito Priejlley , que «fte efFeito ( § XXIII. ) dependa do ef- timuio , que nas raizes faz o acido aereo ; porque > conforme as fuas ex^ jperiencias , I. ) as plantas nutridas em agua , em que ha alguns gHos de fal , ou algu]- mas, gQttas de acid^ nitrozo 3 medraot DE ArJRieULTUR'A. fl^ f.'fluafi da mefma forte , tjuc na do acL- co acreo : 2. ) aquellas , cujas raizes eftao em agua , que concern cpafi trez graos de fai por onfa , crefcem com admiravel ce- .leridade: '5 3- ) ^5 plantas poftas em- agua ,' que - contenlia maior cuancidade de ial ^ ou dc - acido 3 morrem logo. § XXV. Mas , feja , como for , nao fe j.ode negar , a vifta das mencionadas cxpe- riencias , e autoridades , ( § XX» XXIV. ) que o acido aereo entra pe- las raizes das plantas , e que ou he hum dos feus principios iiutritivos , ou concorre , como inilrumento , para a vegetajao. § XXVI. Alem de todos os mencionados principios nutritivos das plantas , iia outro igualmente interelfante para a vegetacao , c ibbre tudo neceflario a frudiiicacao , que he a' hiz ; porqi;© I,) as plantas privadas daTuainfiu- . cncia fao mengradas , e apcnas dao^fo- i Ihas pequenas , mal conformadas , e def- ^T.'fcradas : 1. 2.) as que eftao na efcurldade , hao '^Jao flores , nem frudos"; , mui- tld Memoi^ias 5. ) muitas , criadas fomcntC a fom* bra, fao eftcrcis, § XXVII. Vifto pois pelas experienclas de Jlelmancio , Boyle , Gkditfch , Bon^ net , Du'Hamel , Kraft, Aljlon , Trie* nvald, e Elkr , (§ Vl.VII.VlII.) que as plantas abforvem grande quantidade de agua : pelas de Saffure Pai , do Ano^ -nynw^t&tPrieJlley, (§ XIV.XV.XVIL XVIII. ) que expollas as mefmas plantas ao ar podie , alterado pelo flogiilo , ou mifturado com o gaz inflammavel, vegetao , e medrao nelle affas bem , e Ihe abforvem os principios malignos : c pelas de Percival , e algumas do nieimo Priejlley , (§ XX.XXIIL) que o acido aereo , tendo contafto com as rai- zes , promove a vegerajao, e faz alon- gar confideravelmente as plantas: vif- to emfiin , ( § XXVI. ) que a luz he ef- fencialiffinia aos vegetaes , podemos de todas eftas experi^ncias , e autorida* 4es concluir, que I. ) o gaz inflammavel , e a luz ab- forvidas pelas folhas , a .igua , e o aci- do acreo chupados peias raizes , e mais partes externas das plantas , fao os feus verdadeiros principios cicmcntares , e Tiutritivos : lAi DE ASRICULTVRA.* Ill 2. ) todos OS principios proxitnos das mcfmas plantas , como os oleos , rcfinas , gommas , faes , &c. fao formados pelas varias combinagoes , e decompofifoes daijuelles , durante a vegeta9a6. C A P I T U L O II. Da nature'za dos eftrumes. § XXVIII. HAvendo moftrado no ' capitulo antecedente , que as plantas fe nutrera , e alimentao principalmente do gaz inflqmmavel , e do acido a(freo , colhe-fe direitamente, que as fubllancias, que derem ambos eftes principios , ou hum delles, fao os verdadeiros eftrumes, e OS que na verdade accelerao a ve- getacao , e fazem medrar os vegetaes ; concorrendo tambem , como flea dito , ( § VI.VII.VIILXXVI.) a agua, e a luz, que a Natureza da em ^bundancia. § XXIX. E como nos trez Reinos da Na- tureza ha fubflancias , d^s quaes , me- diante a fermentafad , podridao , fa^ .tifcencia , e outras vias , fe defpren- ^eiT) , e feparao os mencionados dois prin- Hi Memorial •: fcrinclpios ( § I. XIV. XV. XVII. XVIII. XX. XXIV. ) , podemos razoa- damente dividir os eftnimes em ani- maes , vegetaes , e mineraes , aos quaes acrefcentaremos outro com o nome de eftrume mixto. § XXX. Os eftrumes animaes fao *ou os eftercos deftes , ou as luas partes mo- les , e duras ; vifto que de todas eftas fubftancias fe defprendem por nieio da. podridao o gaz inflammavel , e o acido a6reo. § XXXI. Os eftercos pois (§ XXX.), que os Agricultores' fundados em principios falfos dividem em mais , ou menos quenres , devem-fe reputar, como ,-os JTiais infer lores ; porque 1. ) enrrao mui facilmente em podr?- <3a5 , e delles fe defprendc tanta copia de gaz inflammavel J e de acido aereo, <]uc efte deftroe as raizes , e acjuelle of- . tende as folhas , e botoes das plantas ; e por iflTo talvez os Agricultores os guardao longo tempo amontoados ao ar livre , e nao ufao delles frefcos : 2. ) a podrida5 he tao momerrtSnea J ■ ^uelles ; e por ifTo os feus efteitos durao mrxis : ^. ) rem a precioza vantagem de eftor- var a multiplicafao dos inie6ios. § XXXV. Defies ( § XXXIII. ) reputa-fe por melhor o ere , que , fendo puro , con- tem J fegundo as experiencias de Berg^ man , por quintal quail :54 anates de acido aereo , e i j de agua. E com efFeito todos os outros , ■como a marga , a cal extin£n;a , a ca- liga , &c. nao fertilizao os terrenos , fenao em razao da maior , ou menor quantidade de ere , ou terra calcarea , ^ue contem 3 ifto he, de hum com^i I pof- DE Agricultuka. I25: podo de acido a^reo , e de terra abforvente. § xxx\n[. D'aqui ( § XXXV.) pois , e do que difle no (§ XXXIV.) p6de-fe direitamen- te concluir, que os eftrumes mineraes ( § XXXIII. ) nao fertilizao o terreno j nem nutrem as plantas , fenao em razao do acido aereo , que contem , e que delles fe defprende , durante a fua de- compofijao. § XXXVII. Mas, como pode a cal viva, a quem o fogo privara inteiramente do acido aereo , e que tern a virtude de attraiiir efte , onde quer que exifte , enirar no numero dos eftrumes mine- raes , OS quaes f6 fertilizao os terre- no3 , como fica dito , ( § XXXVI.) dan- do-lJies acido aereo ? § XXXVIII. ^ A efta duvida, ( § XXXVII ) que i j prlmeira villa parece deftruir a te6ri- ca eftabeleclda, (§ XXXVL) p6de-fe dar liuma refpofta mui natural , fern nc- cefr Ti5 ■ M E M O R I A S cefTidade imaginar caufas , e cntida" dcs , cuja exiftencia , e realidade ja-? mais fe pofla6 provan He verdade , que a cal viva tende affas a attrahir , e carregar-fe do acido aereo , e da agua ; de man.eira , que efpalhando- fe fobre o terreno , longe de dar as plantas principios alimentares , priva a Atmosfera , que efla em torno del-* las , do acido aereo , e Ihes furta a iiumidade, que deveria fervir de ve- Wculo ali in en tar, as mefmas plantas ; pelo que algumas veze3 as fecca , e def-* troe : mas com tudo , abforvendo da At- mosfera o acido . ac^reo , de que fora privada pela calcinacao , pouco , e pouco fe converte no que d'antes era j ifto lie , em terra calcarea ; e entao he y que na verdade comeja os feus bons effeitos na vegetajao ; de forte , que fegundo as experiencias de Anderfon , ( ^ ) apenas fe manifeftao no primei- ro , e fegundo anno ; e fo defde o terceiro he, que fao notavelmente fen-^ iiveis , e vantajozos : ou , como obfer- vou o Doutor Home , {b ) no primei- ro anno nao faz mais, que matar os vermes ,5 e inferos ; o qual aflegura tam-' (a) EfTay relating to Agriculture , &c. torn. 1 I. pag. 39 1 ► - I Ck^ The principiss of» Agriculture, DE AcillCULTURA. IIJT tambem por confiflao dos Agriculto? res , que a calija , que efta totalmente extin(fta , e o entulho dos edificios" , he muito melhor eftrume, que a cal viva. § XXXIX. '," • D'aqui pois ( § XXXVIII. ) fe co^ the, que a cal viva nao pode fer util aos terrenos, fenao depois de convertida em terra calcarea ; e que , fe ha algu- ina vantagein na calcinagao , he cuf-. tar menos , e reduzi-la a p6 fubtil , e poder-fe melhor tranfportar. § XL, ij ' E com effeito ja Du-Hamel , fa- f zendo cortar , e picar marmores para I as chamines da uia caza de campo , ' cbfervou por acazo , que a poeira , e peda^os do mefmo marmore fizerao I crefcer com muiro vigor as gramas I no lugar , onde fe trabalhava ; c { que a vegetajao continuara ahi com . Hiais for^a , que n'outros lugares j e. j conjeiflurarido por ifTo , que a pedra ' calcarea em p6 poderia fervir de eftm- me tao bom , e tao aiflivo , como a cal j viva , efpaihou por fima do terreno •a pedra calcarea em p6 ^ e verificou a fua 128 M E M O R t A S Tua conjedura pela immenfa fcrtili-i dade , que fcmpre obteve. § XLI. O Arcebifpo de Dublin re fere nag Trail fac^oes Filofdficas , que em Cey* la6 fe tertilizao as terras , elpalliando nellas conxas calcinadas ; e que n'ou- tro tempo fe ufara na Irlanda defte mefmo methodo ; e adverte , que cer- to lavradoi' , ou por pregaica , ou por mizeria , ten do cfpalhado fobre o ter- reno as conxas fern as calcinar j achara ^ !. ) que a fua primeirt colheita fori tao boi , como a dos feus vizinhos , . ^ue fomence ufarao de conxas calcina- das : 2. ) que a fegunda foi multo melhor^ que a dos feus vizinhos j e a terceira ain-? da mais abundance. § XLIL Efte fucceffo ( § XLI. ) defenga- j nou , e abrio os olhos aos mais , que | defde entao preferirao com vantagem ' o fortilizar feus campos com conxas, ^em fcrcm calcinadas. UE Aqricultura; 129 .1. § XLIII. Mas independentemente das men- cionadas experiencias ( § XLI. ) fe de- viria ter advertido , que 1. ) as marges fertilizao os terrenos fo- mente em razao da terra calcarcn , q e concern com todo o feu acido a; r o : 2. ) as terras deixadas prio mar , , e compoilas de mui pouco lodo vege- tal , e muica quantidade de pedafos , e poeira dc conchas calcareas , fao ferci- liflimas. § XLIV. . Henry , celebre Boticario Inglez , depois de provar , que o acido aereo pode ler utilifTimo na vegetagao , (ci) accrefcenta as reflexoes feguintes : Ora a terra , ou pedra calcdrea antes da calcinacao , ou quando expofta ^ duran- te muitos mezes , ao ar livre , depois de caicinada , contcui quad amctade de feu pezo de ar fixo , ou acido aereo, e de agua. Nefte cllado ei'pa- IJiflda pelo terreno attnihe gradativa- mente o acido contido na terra , e o que fe acha no ar. No tempo da uniao I ex- (45 Memorias § LXV. He verdade , que em alguns luga- res fe obierva , que de duas porjoes do mefino campo , exaffbamente nas jnefmas circunilancias , e fetneadas da meiVaa quantidadc de trigo , aquella , cuja terra fora mais dividida pela la^ vra , prodiizira inais , que a outra , que fc lavrara menos. E o mefmo Mor- gue , ja cirado , diz j que , fazendo la- vrar piofuiuiamemc liuma por^ao de terra , cxpondo-a por vr.rias vezes ao ar 3 culdvando iegunda peio methodo ordinirio , ea tercel ra , eftercandc-a com dlerco de ovelhas , e carneiros, ficira afTas fatisfeito do produCio do trigo da primeira porcao , lavrada profunda, e frequentemente ; pois co- jijera huma quantidade qu'ifi igual a que tin ha tido ua porcao citercada. § LXVI, Pbr^m dcftas experienclas ( § LXV.) jiao fe pode deduzir , como com ef- feito deduzjrao lull , Du-Hr,7ncl , e outros , que as Javouras rcpetidas po-. dem fervir de cdrume j poisque o mefmo Morgue , fa- DE AgRICUTURA. 147 1. ) fazendo lavrar amiude , e com toda a piofundura , que permitria o ara- do , amctade de hum campo graridi^ , , fern o eilercar , e a oucra anierade , fj- gundo o coftume antigo, e fcmern.lo ambas de rrigo ao melnio tempo , as refultas forao totalmente oppollas ao que efperava ; porauc , nlcm de nao produzirem as reperidas lavras os efFeicos dos eftrumcs , o trigo , que aquel- ia deu , foi inferior , e muito menos , que o d'efta : 2, ) efcolhcndo para as fuas cxperien- cias hum diiatado campo , que paffava pelo melhor do lugar , e , dividindo-o em quatro partes iguais , fez eitercar a pri- meira com eftcrco do curral, e, que fe cul- tivafTe pelo methodo ordinario ; a fegun- da c(lercou-fe com o gado de la , e fe cultivou , como a primeira j a terceira fc lavrou a miude , e profundamente ; e a quarta em fim pe!o antigo co-tume ■■, if- to he , com poucas iavr:i5 , c fcm nc- nhum eftrume. A femen.teira de todas . ellas tez-fe ao mefmo tempo , e com a mefma femcnte • e por fim obrervou , que a colheita de trigo fora exceilentc nas partes eftercadas ; boa na parte cul- tivada com lavras , e neuliuui efterco ; e pellima na Oiie fe havia lavrado re- petidas vezes. § LXVII. • Aiem dido, ( § LXVI. ) repetin- K ii do- 148 M E M O R I A S do-fe por muitos annos a mefma e\'-^ periencia ( § LXV. ) fobre o terreno , em que nos piimciros annos furtira bem , nao fo i'e reconhecera facilmen- te o erro j mas vcr-fe-ha , que I. ) nos primeiros annos a porfr.o do campo lavrado a triiudc da mais fru- ^o ; ou por center ainda eftrume , ou por andar mais mal culiivado , e haver no interior dcUe alguma camada de ter- ra vegetal, que fc rcvolvera com as pro-- fini^.s lavras de nianeira , que expof- ta a fnper:icie deia as plantas os prin- cip OS nutntivos ' z. ) eila 'nefma por9ao de campo da meno; fni6\o , a medida da cvapora9a6 torfaji , c abundantiflimi dos princlp'os iuuritiv05 5 que occafionao as frequen- tcs lavras , vindo por fi;n a afracar-fe a terra , como obfervarao os Agricultorcs Romanes : 5. ) a por9ao de terra frcf|nentemcn-> te lavrada fica totalmcnte efteril mui- to antes , que a outra dc ilgnacs de peioi vapiento. § LXVIII, E OS Agricultores , que Iavra6 a terra , e a ex poem por varias vczcs ao ar , teriao ja experimentado ef- tas trifles confequencias ( § LXVI, LXVIL), fe tivcflt-miDtciramciHc abra* DE AgRICULTURA. I49 ^ado o fyftema de Tull , de Du-Ha-' 7/ie/ , e nao as reparaflcm dc alguma forte com os differentes ertrumes ^ de que ji fallamos. § LXIX. De todas cllas expericnclas fe In- fere direitamente J que, revolvendo-i'e muitas vczes a terra com frcqucntcs lavras , fen-ao faz mais , que accelerar a evaporacao dos principios jiutriii- vos J deflipando talvez trez quarto.> do alimento deftinado para os vegc- taes ; e obrigando o Agricultor a iuf- tentar immenias beftas , e fazer tra- balhos , que poderia fern duvida evi- tar. § LXX. E , pofloque Xencfonte , Findafo , Vtrgilio , e ourros Autores antigos , recomendaflem as lavouras , e Icuvai- fem a frequencia dellas , todavia o mefmo Virgilio adveriio ja , que eiao nocivas era ditferentes tempos do an- no. {a) Ef- (fl) Ncc tibi tarn prudens quifquam perfiiadeat audor , Telliirem borca rigidam fpirante movere : Et ftsrilis telku medio v^rl'sm fub srv.. jt^.o Memo R IAS § LXXI. EUc mefmo Pocta ( § LXX. ) difle , que as terras magras precizao de meiios lavras , que as forres , pa- ra nao pcrJereni a pouca iubicancia, de que gozao. (^) § LXXII. E de tudo , o que fica dito neftc capimlo , e ainda nos precedentcs , concluimcs , 1. ) que o revolver as terras , e ex- pSr por varias vezes a terra a influen- cia da Atmosfcra , na5 he hum modo fnrHcientc de fertillza-la ; e por confe- quencia , que elle trabalho nao pode fup- prir OS eftrumes : 2. ) que as lavras profundas , e fre- quenres , em vez de tertilizar a terra , a cfterilizao : i>. ) que as lavras feiras com pruden- cia , e accomodadas a natureia do rer- reno , e em tempos convenien-tes , po- dem de alguma forte promover a vege- ta9ao , e concorrer para a producfao dos fruilos. I N-. At, fi non fuerit telliis fseciinJa fub ipluni Ari£)Lirijm , teiuii fnt ent lulpendere lulco. Illic otficiaiu Ixits ne frugibi;-! herbnc- (a) Hie fteiilem exi^uus nc deferat butnof aren.i;r, I N D I C E '^' D O QUE CONTEM ESTA MEMORIA, V_^ AP. I. JDos principles rutritivos dos vegetaes Pag. 105, CAP. II. Da nature7a ^ci ejlnmes. 121. CAP. III. £m que fe averigua particw . larmente , fe 0 revolver as terras , e fx- fo-las por varias vezes a infucncia da At- tnosfera , ferd hum n,odo Jiffficietite defer- tili'za-las. ».,...... 145. UE' I M E M O R I A, QUE CONCORRE A o ASSUMPTO EXTRAORDINARIO , de AgricLiltura propofto pela Aca- demia Real das Sciencias pa- ra o anno de 1788. P O R JOZE VERISSIMO ALVARES DA SILVA. Jnfelix a^er , cujus villicus magijirum non audit , fed docet, Colum. Recobra o anno fertil , e abundante , Na terra o lavrador , fe nella canfa. Camoes. Egloga V. 1 ^f^i.i5^,i^^*^,J!£>Si^*^^^9w^(^*^^ j^ ;oc<;cx;<;cxxx; quel vou a expor a vofTa cenrii- ra. Eu me julgarei bem recompenca- do delles , fe no vollb juizo eu po- der dar aos meus Cidadaos algumas 11050CS uteis ao bcm da Agiicuitura ; para augmento defte v6s propofeftes ,, 5, Qi^iaes lao os mcios mais conveni- 55 entes de fupprir a falra dos eftru- 3, mes aniinaes nos lugaies , onde he 5, difficultozo havc-los ; averigiiando- 55 le particuhirmente , ie o revolver , 55 e expor por varias vezes a terra a ,5 influoncia da Annosfera , fera hum 55 modo fufficientc de ferrilifa-Ia ] fen- 5, do tudo comprovado com experieii- 5, cias repetidas , e autoriladas. 5, Queira o Omnipotente dirigir as minhas ideas na fua folujaoi para a qual fera bom dar primeiro algumas nocoes , relativas ^o fucco nutritivo das plantas. C A P I T U L O I. Da feva , ou fucco nutritivo , das plantas. Diverfos 2 /^ Ual feja a natureza do fuc- fvltemas ■ ■ -' fbbre » V^ CO nutntivo das plantas , o feva. modo , como he traballiado , fe li9 hum uniyerfal , e hoinog^neo a to« DE AGRICULTtTRA'; 15^7 todas as plantas , ou fe he diverfo pa- ra cada claiTe de plantas , que meios fe poira6 empregar para as fazer ve- getar com vigor , fao pontes , que a probablidade Fyiica difputa varia- mente. 3 Muitos FyilcDS feguindo o fyf- tema de Mr. de BufFon ( Saintignon Trait- de Phyf. p. 4. c. i. ) dizem , que todos os corpos organizados , ai- nm vegetaes , como animaes , fao (1.) compoflos de partes organicas ; e que na formajao das plantas as partes me- talicas , oleozas , os faes , a terra , e o ar , entrao fo em certa porj ao pa- ra variar a materia organica , e viven- t? , c fazer diverfas claiTes de vege- taes : a qual materia organica , confor- me Heji-kg! , efta efpalhada por toda a parte aflim na terra , como no ar. 4 Mr, Tuil Inglez , e outros Fy- ficos , que vierao depois delle , iize- rao a terra o conftitutivo eflencial do fucco das plantas ; porem a terra re- duzida a pOj e particulas minutiflimas. As plantas , dizem elles , fe reduzem em terra pela podridao : os outros pincipios , que entrao na fua compo- Zijao , nao fervem taivez mais , do que pnra dar a terra as preparajoes ne- ceilarias para a fazer propria , para nu- trir 1'5'S^ Memoi^ias trir as planta?. Os fies atenuando a terra ; a agoa fervindo-lhe de vehi- culo ; o ar , e o fogo , dando-lhe a(fti- vidade. ( Du-Hamel de Monfeau. Trat. de la cult. t. i. c. 3. ) 5" Houve outros Filolbfos , que pu- Ehao a eflencia da feva das plantas na agoa. Nao contribuirao para ifto pouco as experiencias de Vanhelmon , e de Boile. Vanlielmon pJantando hum falgueiro , que pezava cinco arrates , em hum vazo cuberto de huma bar- ra de chumbo com aJguns pequenos buracos para fer regado , no fim de cinco annos achou , que o falgueiro pezava cento feflenta e nove arra- tes e trez oncas j e que a terra do vazo nao tinha perdido no feu pezo mais , que trez onj as. Boile poz em agoa clara ramcs de horteiam , c man- gerona , os quaes pezavao meia on- ^a , e depois pezarao trez on^as ; e fendo deftilados nao derao differentes princlpios , nem em menor quantida- de , do que outros ramos das mefmas plantas , e de igual pezo , que tinhao iido creados em huma terra forte. ( Geo- froi prin. dos corp. ) 6 O ar tambem teve Filofofos feus partidiftas. I. , dizcm elles : Por- que fern ar nap fe pode crear nenhu- ma DE AGRICULTtJBA. 1^^ jna plants : II. , porque fe vem gran- dcs aibuilos , arvores , e outras plan- ta;, em abv-Tturas de rochedcs, e em muros velhos , onde as raizes nao po- diao achar terra , ou agoa confidera- vel para a fua nutri^ao. (*) A eftas razoes , que propoem a Atmosfera , co- nio o fundamento da nutrifao das jilantas , nos podemos acrefcentar as feguintes : I. quaefquer fementes de plantas , pofloque fejao fcrneadas cm boa terra , e convenientemente humi' dicida , ajuntando-lhe os graos de ca- lor competente , fe rem debaixo dc hum copo , nem nafcem , nem d?6 lignal algum de vida. ( Boerhaave Chym. ) II. as plantas mais vigorozas , tira- das do ar , e fechadas em huma ca- za J pofloque fe liies de calor , e agoa preciza , afrouxao , e morrem ; e ss que eflao a fonibra dc grandes ar- vores , fao languidas , e frouxas. III. criem-fc quaefquer plantas com lachos frequentes , que as facao bem vege- tar ; cfcolhao-fe ac]uelliis , que tenhao igual vegetajao j humas fiquem em ar livre J e as outras ponha-fe huma ef- {)ecic de chapeo de fol , feito de fo- a, papelao 6cc. ; continueu>fe-lhes os ia- ' C * ) As teboliS ve^^taiJ uUeir-imente i;^ At* 1^ Mem©riAs fachos : as que eftao em ar livre , con- tinua6 em profp.erar; e as que eftao vedadas , enfraquecem , e pcrdem o vigor. IV. poiloque os Lavradores po- niiao OS melmos adubos , e Ibccorrao as plantas com fachos , e regas ne- ceflarias , elles obfervao , quff- as ter- ras produzem os fruiftos huns annos melliores , do que cutros j ao que cha- mao fer , ou nao , anno da coifa. A cau- za fe pode deduzir da diveriidade da Atmosfera ; porque efta , como he hum liquido , compoilo das particulas vc- lateis de todos os corpos , pelos di- verfos balanibs , correntes , e fermen- - ta^oes , que tern, nr.o he iempre a mefma. V. as plantas na Primavera , e Outono , he , que tern o maior grao de vegata^ao , tempos , em que cs cr- valhos , e os ferenos , fao niais abun-> dautes. ( H ) FeHexo- y _^s raizcs das plantas fao as OS Syrte. prmcipacs bocas , comque elhis tirao na^pre- (j^ terra O' feu fuftento ; feja por hu- tes, ' ma forja abforventc , e efponjoza j fe- ja por hum tado natural , pelo qual cada vivente procura , o que Ihe he precizp para a iua confervajao. 8 As anclyfes Chimicas mcftrao, que a feva , cu fucco nutritivo, das plantas p he compolto.de oieo ,, terra, agoa , DE AcRlCtyLTUR A. i^t agoa , ^r, e fal. E a maior probabi- lidade indica , que a leva he univer- fal , e homogenea em todo o Reino vegetal , diveifificando-fe as plantas em razao das differentes filtrajoes &c., que ella recebe em cada efpecie : dQ mefmo modo , que das mei'mas ervas fe fuftentao diverfas efpecies de ani- maes. ( III ) o Refledlindo nas diverfas thcori-^^^^; as , que hcao expcltas , e que enlinao jbie os qual leja , e donde vem , o fuftento'V/^enias as plantas , ve-fe bem , que cllas nao^emei. nos dao hum fyjftema fufficiente para explicar todos os diverfos mccos ex- perimentados de fecundar as tei'iras. Nao he fufficiente o fyllema de Mr. de BufFon j porque , alcm dos mui- tos , e fortes argumentos , que ha con- tra as formas organicas , elJe nao eii- iina OS meios , porque fe poira6 dar as plantas eftas partes organicas , de que fao compcftas. O fyllema , que fez a agoa o principal luilcnto das plan- tas , menos concorreo ainda para co- uhecimento dos meios de fecundar a terra : do mefmo modo , que o fyf- tema dos que derao a Atmcsfera as principaes fungoes na feva , cu fucco Jiutritivo dos vegetaes , fern concide- jarem os meios , com que a terra ie at- h te .l62 M E M O. R I A S ^ atteniia , e prepara , para receber^ as iniiuencias da Atmosfcra. lo O fyftema de Mr. Tull foi de . todos 5 o que mais aproveitou a Agri- cultura , e do qual na praclica fe ti- rarao regras proveitozas para a mais . intcreiranie arte , que os honiens lem. ^ Porem eile fyflema , poftoque muito util a lavoura , aleni de attribuir , ou • fazer a terra a elfencia do fucco nu- tritivo das planias , ( o que tern con- tra fi a maior probabilidade , que fe aprczenta da parte da Atmosfera ) nao' comprehende todos os diverfos meios de attenuar a terra para receber os metlie6ros , que a fecundao, &c. Ellc trata fo da machinal divizao da terra pela enchada , ou arado ; porcm ha ccrto , que muitas vezes os homens ou nada podem , ou nao tern utilida- . de nefta machinal atrcnuacao de .ter- ra. Pelo que parece precizo hum fyi- , tema , que comprehenda principios mais genericos , que expliquem Fyficamen- te todos OS diverfos mcdos de pre- parar a matriz dos vegetaes , e a terra-, ])ara receber o ar , que fccunda. Meios II Como as raizes das plantas fao niais ad-' • principacs bocas , por onde ellas re- ]iuraave-cebem 03 luccQS , quc. as vegctao j 'a getacao. propbrjao , que for maior o iiuiiiero^ ' ' .. - - • Yg, ■bEAGRIGULTURA." t6l^ fera tambem maior a fecundidadc , e vigor dos vegetaes. Para o maior nu- mero de raizes he preciza a terra ate- nuada , e reduzida , como a p6 : deile modo he , que ella efta difpofla para receber a fecundagao do ar , o qual pelo feu acido forma os diverlbs faes , que fe obfervao , fegundo a diverfida- de das terras , com as quaes fe combi- na. Pelo concurfo de divcrfos faes , e olios , de que a terra fe enche , fe for- mao fuccos faponaceos , os quaes dif- poem as partes componentes das plan- tas a entrarera-lhe pelas raizes para fua formafao. (IV) 12 A terra fe atteiiua , e divide, ou pelos faes , que fe Ihe da ; ou ma- chinalmente OS faes, que fe ihe dao^ podem fer L por calcinajao : II. por iermentagao piitrida : III. adubando a terra com faes ja formados. Machinal-? mente fe divide a terra i. pela millu- ra de diverfas terras ( I ) : 2. pela encha- da , ou arado. ( II ) Vamos agora a tracfhar de cada hum deftes meios de melhorar a cultura das terras pela or- fiem J em que os piopofemos. ( V ) t ii CA- 164 M E M O R I A S C A P I T U L O II. Da cakinacao , me'io mui amplo de eji" cher a terra de facs. A caici- 13 A Calcinajao he a applica- 'S'^'^ei'o "^^ ?^^ ^^ ^"^S^ ^^^ cdrpos Sol , e folldos , pela qual fc delh-oe o tecido j-.eio fo-das particulas aos corpos. Elle he hum fnum?'"" rncrhodo mui amplo de fertiJizar as terras, enchendo-as de faes alkalis. O Sol , ou fogo commiim , fao os inftrii- mentos , comque fe obra a calcinacao. Pclo Sol fe calcinao as terras cavadas a montes \ as que levao as primeiras enchurradas ; as que fao lavradas def- de Maio ate ao Outono. A' calcina- cao do fogo commum pcrtcncem a cal , as cinzas , as boujas , ou queimadas, as borralheiras. Peio Sol 14 As cavas a montes fa6 hum a L' man-^^ efpecie de pyramides feitas pela cava tes. de enchada , ficando a terra cheia de pyramides difpoftas em linhas recftas. Duas regras eilenciaes fe devem ob- fervar nella cava : a primeira , que a terra , que faz a bafc dos montes , fi- que be.n mexida ; a fegunda , que ef- ta cava fe fa 5a em tempo ; que os montes de terra %uem expoilos aos gran- DE Agricultura. t6^ grandes calores do Eftio ; porque def- te modo he , que fe obra huma boa calcinacao. Os iioffos camponezes fal- tao a legunda regra ; porque ordina- riamente fazem as eavas a monres em Janeiro , e as desfazem no principio , ou meio , da Prima vera. 15: Maisadquadas , para a fazer liu-N'os ai. ma boa calcinacao , faoas lavouras dcj^^j^^g Maio, Junho &c. as quaes ten ho vif-.Tunho. to pradicar com feliz fuccefTo da^^* Agricultura. A lavoura feita nos fiirS" de Maio , e em Junho , e Julho , he a melhorj porque ja nefte tempo as er- vas de Inverno nao coBrem a fuper^ iicie do terreno lavrado , tirandc-lhe OS fuccos , comque etia hade alimentar as fementes, que fe Ihe^'hao-de lancar no Outono ; e os grandes calcres do Verao tem tempo fufficiente para cal- cinarem por todas as partes as terras mexidas. Qiiando as p-imciras agoas ca-* hem nas terras affim difpoftas , ellas obrao n ellas , como em cal virgem. A, terra fe acha enta6 qucnte , bem af- fim , como a cal , quando fe derrega. As grandes leivas , qu5 erao compac- tas J e duras , fe reduzem a p6 com qualquer lavoura , ou cava. As femen- tes deitadns nas terras alFmi difpoflas , achan- lS6 M E M O R I A S achando facil padhgem com as fuas rai- zes , le imbebem de feva , que ellas Yao bufcar a grandes efpaftos. Primei- j^ PaiTado o Eftio , as primeiras ch'um- enchurradas , que vem no Outono , fer- dn-i fer- tilizao 38 tciTas baxas , que por ellas terras? ^^ ^^^ regadas. E a razao he ; porque as primeiras enchurradas trazem comfigo a fliperficie das terras , que fe achao cal- cinadas com os grandes calores do Vc- rao. Na provincia do Minho fe acha frequentemenre efta praftica , quaze. defconhecida nas mais do nollb Reino. Logoque comeffao a cair as prin^ei- ras agoas , embrulhados os cranpone- 2es nas fuas capas de junco, elles en-! caminhao as fuas terras as enchurradas ; porem, como eftas trazem comiigo areia, e calhao , que , em lugar de fecunda- rem , deitroem os campos , advertida- mente elles deixao os quebradouros dos regos altos , paraquc nao polfa paf-t far , fenao a fuperficie da agoa j a qual traz as partes mais ibltas da terra , indo as partes mais pezadas no refto da agoa , , que elles encaminhao aos ribeiros. Def-. te modo fe imita a Natureza , que nasi enclientes dos rios fertiliza os campos. na.s partes , onde o remanco das agoas ,j^ caii'e-deixa a fua fuperficie. ^ufida OS ly ^ g^l jj^ ^.ijj.^ ^Q £q^q commumvw D E A Q R I C U L T U R A. 1^-j " EilS fertiliza as terras principalmente' pelos faes alkalinos , que contem ; os ^ quaes fc provao pelos feus eifeitos. ■ ■ ' A cal ferve com os acidos j dif- fdlve as fubitancias refinczas \ tinge ■ o charope de vioietas em verde ; pre- cepita OS metaes dilTolvidos ncs mcnf- truos acidos , que Ihe fao proprios : todas eftas propriedades prcvem dos feus alkalis. ( Hift. da Acad. R. das Sci. anno de 1700 171 1 1720. ) Eu' tenho experimentado em horta boas pro- diicoes J adubada a terra de cal. A qu alidade do terreno , em que a deitei , era folto ; e por todas as razoes da Fyfica dos vegetaes efte adubo deve produzir melhores effeitos nas terras fortes j e argillozas \ por- que nefta obra nao fo em razao dos alkalis ; porem tambem em razao das moleculas ibltas , que milhiradas com' as terras fortes llies dao mais poros ,• e as torna mais aptas para receberem OS metheoros. 18 Os modos, com que eile adubo fe'^^°'^°' . ■' „ _j T^, . ^ com que ianca nos campos , iao difierentes ; re-xe lanca. duzida a cal em p6 , fe coftuma lan- ^ar em pequenos montes , os quaes' ^fpaihados cubrao o terreno. A qua- iidade do terreno he , que deve giiiar olavr'ador;, para conliecer a hicdida da cal , t6S M e m 6 r I a f cal , que dcve deitar ; devendo as ter- ras barrozas levar mais , que as terras de arneiro , ou fokas. Os da Normandia-Baxa a efpa- Ihao nos campos por hum methodo excellente. O campo , que fe quer fe- mear , depois de lavrado , fe enche de montes de cal em pedra : ao re- dor deftes montes fe forma huma ba- cia de terra de largura de hum pe , a qual fe cobre de terra em forma de zimbdrio , ficando a cal dentro , ?[U3 com a humidade da terra fe des- az 5 e augmentando o volume faz , que OS montes fe abrao. Se as fendas dos montes ficaifem abcrtas , a cliuva fie infinuaria por ellas , e tornaria a cal em huma argamaila inepta para, fe poder efpalh.ir pelos campos. Por qfta razao os lavradores de tempos a tempos vezitao as fua.^ herdades , para qubrirem com terra os montes fendi- dos. Quando a cal efta reduzida a p6 , miltura-fe entao bem com a ter- ra , e allim fe deixa expofta ao ar por algum tempo j porque nefle efta- do ella nao corrc ja rifco de fe tor- jiar em argamafla. Pedes montes fe formao outros mais pequcnos em pro-^ porcods juftas , e efpalnados pela ter- ra Ihe dao hum cxcejicnte adubo. ( Du- Ha- DE AgRICULTURA. 169 Hamel de Monceau Trait, de cult. torn. III. c. I. §. VI. ) Os Authores da Encyclopedia Eco- Ddmica propoem hum methodo ex- cellente de deitara cal nas terras. ( Art. Amander ) Feita huma miftura com lama , cinzas , terra frefca , &c. eflia miftura fe efpaiha com igualdade pelo campo , que fe quer adubar : defte modo as materias mifturadas fe enchem dos alkalis da cal ; e , formando com OS feus oleos fuccos laponaceos , fer- tilizao a terra , imped indo tambem por outra parte , que a cal fe vok' tife. 19 O uzo das cinzas melhora mui-<^''e •'»s to as terras , principalmente as fortes • f,'^'''''i'urn do que tenho experiencias frequentes.bomadu- Os antigos uzirao tambem das cinzas ^°" para melhorarem as terras. Virg. no I das G2org. vers. 80 , diz fievs pudeat Ejf(£tos cinerem imtnundum jaElare per agros. Com as cinzas os campos can- cados de produzir adquiriao novas for J as. 20 Eu adubei fete geiras de ter-Expe- ra , com feis carradas de cinza cada."'^"^'''' geira. Trez geiras erao de terra bar- roza J a que yulgarmente chamao .r.ou- ni- . I70 M E M O R I A S ■ rifca de cor alguma couza amarella;^ as outras erao de huma ere folta cor de cinza. A terra barroza produzio bem j de tal forte , que , iicando jun- to a huma eftrada publica , era a ad- miracao dos que palliivao , confecan- do que nunca alii tinhao viflo feara- de trigo femilhante. Nao foi porem' affim na terra de ere , na qual pou- ca difFerenca havia da terra adubada com cinzas aquella , que o nao tinha fido. Muitos Livradores das minhas ^ vizinhancas fe vao refolvendo a ufar das cinzas por cauza dos efFeitos , que tern prezenciado. Ao principio diziao , que as cinzas fo tinhao lugar nas ter- ras de regadio , e que nas terras de fequeiro nao tinhao lugar; porque as faziao mais aridas. As experiencias continuadas os forao dezenganando de forte , que as cinzas , que , ha poucos annos, nao tinhao valor algum, hoje fao. mui procuradas. Em huma terra con- tjgua , e da mefma natureza, forao duas pm-^oes nao pequenas adubadas , l\^ii^^^ com ellrume de ovelhasbem conido, outra com cinzas ; foi a cultura igual ,■ e ao mefmo tempo ; porem a pro- ducjao da terra adubada com cinzas foi melhor. Com efte adubo de cin- zas eu obfervei elle.aiuio era huma terra 1-ao as DE AgHICULTUJ A. IJt- terra duas novidades mui bellas. A > primeira foi de cevada , a qual deu hum bom ferrejal em Abril ; nefte mez foi outra vez a terra femcada de mi- Iho , que tambem produzio bem. ( VI ) Ella terra he de fequeiro , com algu- mas oliveiras , barroza alguma couza , mifturada de pedrinhas calcinaveis. No anno de 1786. paflado , a pezar da efcaces do anno , teve huma boa feara de favas ; e no outro anno teve hu- ma bella feara de trigo. Hum anno jdm , outro nao , he adubada com mon- tes de cinza. 2:5 As cinzas fao oreflo dos corpos ^^^°. vegetaes de natureza terroza, Eftasfecintas formao por meio da inflammajao y^^^^^^^^^ que faz fair o fogo , que eilava inclu- lis pro- zo nos corpos. As cinzas tern mais , '^^^^^y^, * ou menos abundancia de faes , fegun-dade. do OS corpos , donde fairao. Os faes alkalis fixos fao obra das cinzas. Ef- tas fe cozem ate dilTolugao dos fies ; e depois , filtradas , 2 agoa da lexivia fe faz evaporar j o rello he o fai alkaiino. A natureza deile fai he ^t- trahir a agoa ; e d'aqui provem huma parte da fecundidade , que elle da as terras ; porque a agoa he o vehiculo , que leva o fuftento as plantas ; attra- te tambem cs acidos 3 e , como he ef-. pon- Divcrfi- 171 Memorias ponjozo , e cheio de pequenos vafios , forma com os dcidos huma efFervefcen- cia J da qual refulrao fuccos convenien- tes a nutrijao das plantas. jid ferti^ htatem terris jlerilibus confiliandam gramina accenduntur , ut abeant in ci- neres , et in Sal jixum ; vel ipf^c ter- Ttie ejf£tte liquorihus falis lixivioris impragnantur , ut Sal in acre eonten- tum fe in fale hoc alkalino fjgat , et nitri'.m , quod omnis fd'cunditatis pri^ 7?iaria caufa ejl , confiituat. Holfmanus' Difp. Med. Chym. de nitro , et ejus natiira. § 5'. daJeda's ^2, As cinzas dos vegetaes fao as cinzaj. mais communs ; ha-as tambem de car- vao de pedra , e de terras betumino- zas ; das quaes terras os ferreiros fe Tervem em lugar de carvao. Eftas cin-; zas em razao dos alkalis , de que abun- dao , ainda produzem melhor fecundi-- dade. Das de carvao de pedra eu te- nho baftante expcriencia \ e Mr. Tla- vigni faz menjao de huma mina de^ terra betuminoza junto de Aflbi , cu-. jas cinzas adubao bem as terras. ( Du-; Hamel. t. VI. c. III. art. II.) a Na- tureza provida efpalhou por toda a parte os meios de fecundar a terra. ..» 23 Asqucimadas, ou bou^as , ferti- liza(5 bem os campos por via da cai* DE AgRICULTURA. I75 cinacao , que a terra recebe. Os me- tliodos , comque fe praticao , lao difFe- renres. Huns ro9a6 o mato , e , pon- do-o as mantas , o queimao em Agof- to, e Setembro. Efte mcthodo he mui- todefeiruozo ^ porque, calcinando-le a terra fo no lugar das mantas de mato , alii {6 he , que fe deixa ver a fe- cundidade. Outros rogao o mato no tempo de Inverno , e , tirado para fo- ra 3 cavao a terra , e depois efpalhao o mato por toda ella , ao qual llie lancao o logo no tempo de Vera6. Delle modo a terra , cftando mexida , fe calcin?. primeiramente pelo calor do Sol , e depois pelo fogo do mato y que cfta efpalhado por todo o terre- no 5 cujas cinzas tambem concorrem a fertiiiza-lo. 24 Maior grao dc calcina5a6 i"e- J^Jhd'^'^ cebem ainda as terras por via das bor^ ras. ralheiras j e por iflb a fertilidade he nclias maior. Ellas fe praticao em al- gumas partes do noiTo Reino do fe- guinte m.odo : Tirado o mato, fe cava a terra , em fima da qual fe fazem com o mato mantas em juftas pro- porfoes : eftas fe cobrem com terra , tleixando-lhes hum fufpiradouro , a ma- neira de quern faz carvao. A terra tanto inferigr ^ coino fupcrior , lica cni- ci- 174 M E M O R I A S xrinada j e fecunda por efte modo pc_ mais de dois annos , fen do todo o campo adubado com as cinzas , e ter- ra calcinada. As nofl'as borralheiras tern alguina femilhanja com o me- thodo , que algumas partes da Franca ,tem em queimar as luas terras. ( Du- •Hamel t. I. .c VII. art. HI. ) O? •jornaleiros tirao a fuperiicie da terra •em leivas , ou torroes , que tenhao oi- «to , ou dez polegadas em quadro , e ?de groffura aois , ou trez dedos , os •quaes ajuntao dois a dois em angu- Jos agudos ate fe fecarem. Logoque ^eftao iecos , formao com elles peque- J103 fornos de hum pe de deametro ^ -antes porem , que liies fa^ao abobeda , OS enciiem de mato , ou palha. Qiian-r do a abobeda efla para fe concluir , fe ]he Ian fa fogo ; e ao depois fe fe- cha a porta ; porem deforte , que o fumo tenha alguma pequena fani-- da. Se o fnmo faiie com grande abun-* •dancia por algimia parte , deve haver cuidado em a tapar; porque entao^ nao ficaria a terra cofida , o que fe faz em vinte e quatro horas. Nas pri-^ meiras agoas fe efpalhao eftes forni- Ihos de terra calcinada , que produ- ^ zem belias fearas. do"'An. 25 Os Antigos , OS quaes fo 4e?' pois deAgricultui cal- 'tj6 Memorias calcinavao as covas , ja, tendo-as ca- vadas de antemao hum anno para o Sol as calcinarj ja, calcinando as co- vas por meio do fogo ; o que faziao deirando-lhes mato dentro , e queiman- do-o. Ante annum quam pomaria dif- fonere voles , fcroi?es fodilo , ita Jo^ le 5 pluviaque macerabuntur , et , quod poJueriSj citb comprehendet \fed , Jiquo anno fcrohes feceris , etiam femina po~ nere voles , minimum ante duos men- fes fodito fcrohes , pojiea ftramentis eos complcto , et inundito. Coluni. lib. de arb. cap. XIX. Ao inethodo de calclnagao fe dc- vc actribuir a fertilidade , que os tre- jnores da terfa tern produzido em al- gumas partes do Globo. A terra abra- zada em fbgo , que a faz tremer , fe calcina , e d"'aqul a fertilidade. O an- jio de 1755' , tao fatal para os Portu- guezes , foi o maisfertil, que contao OS noitos tempos. ( VII ) CA- DE AORIGULTtJR A \'JJ C A P I T U L O III. t^a fermenta^ao pntrida conio fertl- liza as terras^ POr meio da podridao fe enclic- Q'^^. =°"* tambem a terra de faes , e por el-fennen~ Jes fe fertiliza. A podridao he huina taq-io pu* dilToIufao intima das partes dos cor- pos vegetaes , cu animaes j pela qua! fe deilroe a natureza , e qualidades dos mefmos corpos. Para Jiaver fei- mentajao piitrida , he neceflario duas couzas , calor , e humidade. As partes aquofas rem iempre Jium movimento inteftino. Ellas fao , como hum meni- iruo , que infinuandc-fe pelos p6ro;s dos corpos , OS defune , e fepara. Ef- te inovimento fe augmenta com o ca- Jor , que confifte em hum movimcnto rapido da materia , e terra. A humi- dade junta com o calor , cbrando nos corpos diipoftos a fe corrcmpc- ' rem , dilfolve as partes falinas , fulfil- reas , e terreftes. Que a podridao dc fees alkalinos que , attraindo a hu- midade , e o acido , forma fucccs con- venientes ( n. 21. ) ao fjftcnto das plantas , fe m.oflra I. pelo fcrido , cue dao as matcrias corruptas \, 0 qua! , fc- 17^ Memorias gundo as andlyfes Chymicas , prov^m dc hum principio oleoib , e fulfureo , e de hum fal voJdtil : II. , porque a matriz do iiitro he huma terra feita alkaliiia por meio das materias cor- nipras ; como obfervao aquelles , que trabalhao nas nitreiras artificiaes. ( n. 21.) Se pois todas as materias corni- ptas fervem para encher a terra de faes , e por confequencia para a fecundar ; tudo , que concorre para a corrupcao , concorre tambem para fazer os cam- pos ferteis. O reino animal , e vegetal , fubme- niflrao por elle caminho bailante ma- teria para a fertilidade das terras. No rei- 27 O reino vegetal concorre para ta**]/^^^" fecundar os campos com as eftruma- das , com as ervas , e reftolhos enter- rados j com as covas de mato , ou fo- Ihas y com os limos polios em mon- tes ; com os farelos , e rafpas tiradas- das madeiras. Eihun-.a- 28 As eftrumddas fiio os matos , '^^^' que fe deitao nas eftradas , patcos , oir azinhagas , por onde haja paflage fre- quentemcntc. O tempo ordinario , em que fc cofluma lancar o mato nelte cortimento , he por todo o Oitono. A frequente paflage , feja de animaes , fe-* ja ( DE AgRICULTURA. l-J^ ja dos hoiTiens , moe o cftrume , e o torna mais apto para a pcdridao. Pa- ra eile fim , pallado hum mez , fe ihe coftuma dar huma cava. Na Primave- ra , quando o ma:o ella ja baftante- meute moido , fe tira , e poem em raontc para alii fe acabar de cortir. Dias couz s fe devem obfervar , quan- do fe tirao eftes eftrumes para montes : a primeira , que nao eile^a o mato mui icco ; a fegunda , que nao efccja em. lama. Eftas regras tern os bons lavra- dores , quando mandao traballiar nef- tes fervifos. O calor , e a humidade lao dois requeziios effenciaes para to- da a fermentacao. Se a ellrumeira ef- ta em lama, as particulas do fogo fi- cao como airogadas na iiumidade j e por iffo fe nao pode fazer huma boa diflolujao de partes \ do raefmo mo- do , fe efla nmiiamente feca \ porque entao Ihe falta a humidade , que he , como hum menftruo , que produz a dif- folujao. ( n. 26. ) Em huma reira confideravel defle Reino eu obiervei , que em name da Camara fe pailavao lodos os annos acima de vinte mil licencas para fe fazerem eftas eftrumeiras. Cauzou-me admirajao ver , que huma couza , 4g^ue 0 corpo da Magiftratura Mu- M ii ni- i8o Memorias nicipal devia fomentar , a defficultafle , e fizcfTe dependenre das fuas licencas. Invelliguci a Poftara para conhccer a cauza da prohibicao j porcm tal Poftu- ra na6 havia. Soiibe cntao dos mais velhos , que as racs licencas erao hum mero util ao Juiz de Fora , que, coino Prczidente da Camara , aflignava as dr- tas licencas , e util no Efcnvao da Camara , que as pafTava : que era cof- tume cullar a allignatura dez reis f e c o iheor da liccnja hum vintem ; porem , que , havia alguns annos , fe ti- nha dado as ditas licencas o nome de Alvaras ; pclo que ficou cuRando a aflignatura dois vinreins ; e que proxi- mamentc tlnliao introduzido ourro Al- v.3ra annual , fem o qual os campo- nezes nao podiao alimpar fuas arvo- res. O oiiicio , que tinha em Camara- , mc obrigou a fallar pelo bem conr- nium. Eu moftrei aos Camarifes o mode , como os Grandes de PrulTia fa- Bieifeid 2ia6 Cortc a Federico 1 ; que era te- ]it. p. 2, rem grandes montes cle eitrumes nos * 2z. pareos das fuas quinias , e herdades , }5or onde clle havia de paifar : moftrei OS incommcdos dos camponezes , nao fdmente em Ihes imporem hum tributo , dc que nao liavia urilidade alguma ; mas no3 muinos dias , que perdiao do feu DE Agricultura. i8i feu trabalho , paraque o Efcrivao Jhcs pa^alle odencminado Alvara. Confegui, que a Camara fizclfe hum Acoidr.o , pa- raque fe nao pagallem femilhantcs liccn- ^as ; porem de baide. Como o pcder executivo eftava no Prezidentc , die nunca teve utb em tantos efcolhos do bem commum da lavoura , o qual nos levou a efta digreffao. 29 Os reilolhos , e ervas entcrra-Feiio- das tambem fertilizao as terras. Eis-^'.!"'^* ^ _ aqui o modo , como fe podc uzar def- tsaadas. te methodo com maior utiiidade :• Sc- meados tramocos , fenteio , ou outras quaefquer ervas vigorozas, no Outono , em Marjo , ou Abril , i'c dcvem en- terrar : em Julho , ou Agofto , fe Ihes deve dar huma lavoura ; c, pallado al- gum tempo , fe Ihes devem lan^ar as fementes de Inverno. Defce modo con- correm trez oauzas de fecundacao : a caicinacao das terras expodas pcia ia- voura aos grandes foes do Eilio ; a podridao das ervas cntcrradas ; e a rc- pctijao de fabr:cos tao cflcnciai para a fertilidade. 30 As covas de mato , as folhas Covasde das ervas , e das arvores ^ os montes .'."fj'*' ' de limos , os farelos ,e rafpas das rna-;cc. ' deiras poilas em montcs a cunir ; to- das ellas materias fecuiidao as terras por via da corrup^^ao. O lS2 M E M O R I A S Ko rei- ^j Q i-gino animal , precindlndo niai. da parte fecal , da qual nao traramos , fecunda os campos com os feus cor- pos , pelles , lam , olFos , pontas , unhas , efpinhas , conchas. Todas cftas inatcrias rcduzidas a podridao formao faes alkalis ( Geofrei dos princ. dos corpos ) aptos para attraiiem o ni- tre. Defte principio fe fegue , que fe- cimdao a5 terras os liros das lojas dos capateiros , correeiros , curtido- res 5 acougues , fibricas de materia de Oifo3 , pontas , barbas de Balea , &c. Os de M';cina cftercao as v in has com as unhas de Carneiro , e fuas ];onias ; ( En- cyclopedia Art. Vinha ) O; Inglezes no Condado de Norfolk adubi^o as ter- ns co^n facos de retaihos : ( Elem. c? Com. cap. 3. ) O mefmo fazem os Genovezes. ( Alemoria do Doutor Dal- ]a Bella fobre a cultura das olivei- ras. ) Da fecundacao caiizada as ter- ras pelas pontas de Garneiros , Ecis , ^':c. , metidos era agoa per algiim temi- po , e ao depois efj^alhados pcla ter- ra, e enterrados , eu tenho baftante experJencia ; affim como de hum po- mar de larangeiras , que efcava lan- guido ; o qua! com o foccorro de va- rias pontas , que fe entcrrarao perro dtis arv'ores , fe vigorou , e crcfceo com DE Agricultura. i8^ com forca. Em huma palavra , tudo , o que pode fer corrompido , he apto para fazer a terra fertil. C A P I T U L O IV. Dos faes jd formados , ou juntos a. corpos 5 de que facilmente fe fe- parao. 31 f~^ S faes per fi efpalhados^^^^^^^^J_- pela terra , ou juntamen-dos te langados com os corpos , dos quaes facilmente fe feparao , (*) femque ha- jao de fupprir a calcina^ ao , ou a fer- menta^ao putrida , fertilizao a terra ; poftoquc em algumas circunftancias a dcfpeza feja maior , que a utilidade ^ o que evita o lavrador. Aos faes fe deve a fertilidade , que fe experimenta nos annos trios , fe- gundo o antigo proverbio : anno de Jievao anno de pao. . . . by ernes ( Virg. I. das Georg. V. 100. ) optate ferenas , Agricol£ j hyberno Icetlffima pulve- re farrd Lcitus £ger : Os (*) A fertilidade, que produz o Nilocoiii as fuas encheiites , he pela abundancia di faes, que entr<6 traz : e erta he a caiiza das frecii Ga- tes defeiUerias , que entao alii Is rentem. Graji- gcr Voyage. l*arj.z. J 745. 184 M E M 0 B I A S Os que trabalhao nas nitreiras ar- tificiaes , iabem por expericncia , que o iiitro fe forma , quando foprao os venros do Nafcente , e do Norte , cs quaes produzem Invernos ferenos , e aptos para a formajao do nitro , que fecunda os campos, ( * ) Do fal-gcma fe uza na AJta-Ungria , na Polonia , e em Hefpanha ; e M. PutuIIo enfina , que quatro , ou cinco quintaes de fal lazem hum excellente adubo para cem varas de terra em quadro. ( Encyclop. - Ecconomica Art Amender. ) A almo- feira mifturada com agoa , de que ufa-». vao OS Antigos para eflercar as Oli- veiras j as borras de Vinho , de que cu •P'^i^^'y tenho expericncia ; varios fosnis que c'.'i. * " fe tem acliado , e que adubao bera as 9. XXI. terras ; varias falmoeiras , e lixivias de falitre , de que fe ufa em algumas partes ; todas eftas couzas obrao em razao dos feus faes , que abrem , e di* videm a terra, ( VIII ) Xnfuzoos T^ Antes de patfarmos aos ireios ^as, de terundar a terra pela lua div;lao meciianica , feria aqui lu^^ar de tratar das inliizoes prolificas , fe ellas corref- pondeifem aos uteis fins , paraque as propo(^:n feus Authores. Vallemcn , ' ( * ) Vedi iioffii:^!), HiRoriii, et Ai.atomia lUiii Fiufi-.o Cbjmica ;um obfwvatioiiibus laiiyiibiw. DE AgRICULTUR A. l8^ Rabineau , e outrps muitos pertendd- rao fazer a terra ferril a pouco cufto por meio de varias infuzoes das fe- menres. Efle methodo teve grandes ap- plauzos. Os homens amao o maravi- Ihozo ; o que viao por tal methodo ; e mais , quetudo, o evitar os grandes trabalhos, que a Agricultura traz com ii- go. Pcrem a experiencia mcflrou , que tacs infuzoes pouco , ou nada valiao* ( Du-Hamel t. VI. c. V. art. III. ) , Eu iiz varias expericncias ; e nao ob- fervei couza , que merega tal traba- liio. O proveito , que podem dar as infuzoes , he nafcerem melhcr as fc' monies , quando a terra ella alguma couza feca , e o tempo tern dilpozi- coes para Eflio. Efte anno na ultima iementeira , que fiz , de meloes , par- I te da femente foi infundida em Vi- nho , parte nao ; como a terra eftava alguma couza leca , e Ihe fobrevie- rao calmas, a parte infundida nafceo I bem , a outra nao. Os Antigos tambem coflumavao infundir as fementes. Virg. Georg. lib. j. .J. verf. 201. Scmina vidi equidem mtdtos rnedi-' care ferentes , Et n'ttro pr'ius , et nigra perfunde- re amurcd. O iim era j Qrandlor nt iS6 Memorias ut jaUusfiUqiiis fallacibus ejjet. Poi(^m Virgilio eftava dezcnganado : Vidi leSla diu , et mtilto Jpe8iata lab ore , Degenerare tamen. . . . O verdadeiro fim das infuzoes he , para prefervarem as plantas de varias doenjas , que fe Ihes communicao no germe : como he v. g. no trigo a fer- ruge , o fungao , &c. Eu fci de hum feareiro , que , v^ndo-le perleguido de fungao no feu trigo , tomou o conle- Iho de infundir a femente em Vina- gre : parte foi em Vinagre forte , par- te foi infundida em Vinagre brando : a femente da primeira infuzao pro- duzio eite anno beliffimo trigo iem fungao algum ; a da fegunda por(^m achava-fe baftantemente manchada. Ef- te feareiro pouparia del'peza , fe em lu- gar da infuzao do Vinagre , uza-fe da infuzao da cal virgem , da qual eu tenho boas experiencias • ou ainda da infuzao do fal commum. CA^ DE AgRICULTUBA. iS^/ CAPITULO V. Da miftura de diverfas terras. 33 C E a terra he cievedora da fua ^^j^-;^^^ O fertilidade aos laes , que Ihe dao ; ella o nao he menos aos diver- fos fabricos , com que he trabalhada. Entre eftes tem hum deftiniilo lugar a miftura de diverfas terras. For dois modes pode a terra fer comraria a vegetacao das plamas : ou por muito folta , ou por muito com- pa(fta. No primeiro cazo as raizes , achando na terra muitos interfticios , palTao , femque recebao os fuccos com- petentes ; e daqui provem a langui- dez , e fraqueza das plantas : no le- gundo J nao podendo as raizes pene- trar por cauza da fortaleza , com que a terra efta unida , as plantas , quan- do principalmente Ihes vem loes con- tinues , perecem no meio da abundan- cia. Era precizo pois defcobrir hum meio , que delTe nexo as terras foi- tas , e abriffe as terras fortes , e ar- gillozas. A ifto fatisfez admiravelmen- te o marne. ^± O marne he huma efpecie de ^^^"""^ arro, que metido n'agoa ie desfaz ^a leja. com iSS Memorias com promptidao ; ficando as partes des- feitas a]guma couza pegajozas. Da definicao dada , que continuas experiencias me tem confirmado, fe fegue , que o marne he hum dos me- Ihores adubos , que os campos podem ter. Paraoue ^^ ^g propricdades do marne mof- ,a. trao , que elle ferve para toda a for- te de terras. Para as terras fortes ; por- que , mifturando-fe com ellas , as abre , e as torna aptas para a vegetacao ^ o que indica a facUidade , com que o marne fe desfaz , logoque fe langa em agoa : para as terras deJgadas ; por- que , fendo as moleculas do marne de natureza pegajozas , as une , e Jhes ta- pa OS demaziados poros , de que abun- dao. O marne he de dilFerentes cores ; branco , negro , pardo ; e eu o tenho achado tarabem vermelho. Muitas ve- zes elle eila a fuperficie da terra ; ou- tras vezes fe defcobre mais abaixo nas diverfas concavidades , que fazem as agoas. He felicidade para o Javrado.r acha-lo no terreno , que quer marnar. Para o defcubrir fe uza muitas vczes da huma fonda. Sonda he hum inf- trumento de ferro a maneira de hum uado de qiiatro pes de comprido , e de DE AgRICULTURA. I^^ de huma polegada de grocura : . final!- za por huma lingua de ago , ailima da qual efta huma calha de feis po- legadas de comprido para receber a terra. Dois homcns trabalhao com ef- te inftrumento ; de feis a feis polega- das o tirao para ver na calha a qua- lidade de terreno , que fae. A fonda pode fer de oito , doze pes , ou mais. O ufo defla machina faz muitas ve- zes achar bens , que os proprietarios das terras defconheciao ; v. g. minas de carvao de p,edra , bancos de mar- more , &c. 26 A quantidade de marne , queQ"«* . le deve langar nas terras, vana legun-desie de- do a natureza das terras , e qualida- vem ha- de marne. Du-Hamel ( t. VI. c. III. '^''• art. II. ) quer, que para cem varas em quadro fe lanjem vinte e fete })almo3 ciibicos de marne. O meu ufo le cobrir a terra de marne , como quern a cobre de efterco. Paifados trez annos , ei]ta6 he , que olavrador deve obfervar a confiftencia , em que efta a terra , e o modo como produz , para , ou a deixar , ou Ihe acrefcentar o mar- ne. Os eifeitos do marne durao a cima de trinta annos. O melhor tempo de m:arnar he no Verao j porque , eftando as terras fecas com os ^randes calo- res ipo Memo. RiAs res do Eftio , com as primeiras agoag? fe desfazein quaze a maneira de caJ ^ e fe fazem aptas para huma boa mif- tura. ( IX ) Efpe- -yj Q marne fe divide , nao fo em razao da cor , cuja divizao nada faz para a Agricultura ; porem tam- bem em razao dos miilos ^ que ella contem. E entao ou he grolTo , cheio de conchas , ou areento. O areento convem melhor as terras fortes , e ar- gillozas ^ o cralTo , e barrofo , he mais apto para as terras delgadas, Deile eu tenho ufado , vai em cinco annos , em terra delgada , a qual eila de boa con- liftencia , e tern produzido bem. Aro-iiia , -^g ]sj^g f^ Q marne fccunda as ter- ras , porem outras muitas mifturas de diverfas qualidadcs de terra fazem o mefmo effeito. Os Inglezes com baf- tante razao ufao da argilla y ou bar- ro forte , para melhorar as terras del- gadas , e folras : e pela mefma razao fe podem melhorar as fortes , miftu- rando-lhes area fina , ou faibro. Deile modo as terras fe engrolTao com a ar- gilla j ou , fendo argiliozas, fe attenuao , e abrem com area , ou faibro , ou ainda terra de arneiro. Eu tenho ob- fervado terras , que erao compacflas em fummo grao.j e que per beneiicip da 1 DE AgR I C ULTUR A. I9I ar^'a fe fizera6 fecundas , e de facil i^odo, h- trabalho. n^«s,scc. 39 O lodo , a lama das eftradas , o p6 das terras calcireas, a ferruge , OS cntulhos j todas eftas qualidades de terra milturadas com o rerreno , que fe quer adiibar , o fertJlizao , abrmdo-o , e tornando-o apto para receber as in- fluencias da Atmosfcra } no que obrao mechanicamente j podendo tambem pro- duzir a fertilidade por meio dos faes , de que abundao. He certo pelas experiencias Fyii- cas, que todos os rios abundao cm gran- de copia de fal , que junto as pajxir_ culas foltas do lodo fazem o terreno enlodado fertil. As moleculas do lo- do , poftoque fejao foltas , como fe moftra do facil fabrico , comque os nateiros fao trabalhados ; com tudo nao rem os grandes interfticios das terras delgadas; nas quaes, nao achando as rai- zes das plantas fuftento , fe fazem frou- xas , e languidas. Os que eftao per- to de terras, de mar , tambem adubao as fuas terras com o lodo do mar j porem elles por expcriencia conhecem , que a demazia lie nociva a frudlitica- cao. A lama das cflradas , e das ruas , tambem fccunda as terras. A experien- ci* leat. 19a Memorias cia tern moftrado , que , quanto mais huma terra he dividida , e expofta sL influencia da Atinosfcra , maior he a fua fecundidade : ora por elle princi- pio he, que as lamas fercilizao as ter- ras , onde fao lanjadas. Deve-le efco- Iher o tempo Icco para fercm lanca- das nos campos ; porque entao lie , que ellas fe miflurao bem com o terrene , que va6 adubar, ped?aV 4° ^ P° ^^5 pedras calcareas tam- caica- bem aduba as terras. Mr. Du-Hamel refere efta experiencia ( t. V. c. I. § XXI. ) Efte Academico , mandando trabalhar certas pedras calcareas , que tomavao o polido quafe taobem , co- mo o marmore , obfervou , que a rel- va , onde tinha ficado o p6 , crefceo com muito vigor j nao Uie fendo a ou- tra erva vezinha comparavel , e que o mefmo vigor confervou por muitos 3, annos. Se a cal , diz elle , forma „ hum bom adubo para as terras , tal- „ vez que feja pela razao , que a „ calcinajao reduz a pedra a p6 fi- „ nlffimo. Sabe-fe , que ha terras , onde 3, a pedra he tao abundante , que na6 „ fe pcrcebe mais , que pedras , quan- „ do tern cahido chuvas i com tudo „ algumas deflas terras fad mui fer- " "''• Da bE AcRlCULTUfiA. t^* Da fecundidade do p6 das pedras calcareas eu nao teniio exp eriencia j porem eu tenho baftantes experimen- tos dc boas , e frequentcs collieitas fei^ tas em terras cheias de pedras cai-* careas , nas quaes nao podcndo entrar o arado fao feitas as fementeiras ao enchadao. Efte anno hum fcareiro , fc- meando por elle mcdo alqueire e meio de cevada , teve cincoenta alqueires , o que lie huma grande producjao. O rrigo , que fe da por efte medio-; do J alem da produc^ao fer mui fe- Gunda , he o mais bello. Que terras de pedragueiros defta qualidade fcnao achao incultas , e que podiao fer fru- cftiferas a pouco cufto ? Nao poflb po- rem com^rehender a cauza Fyfica, que efte Academico da a fertilidade defta efpecie de terrenos pedragozos. j, 55 He mui provavel , diz elle , que o 5, p6 , que le forma pela fricfao na- 55 tural deflas pedras contribua para 5 5tal fertilidade. Para fe dizer, que por fricjao natural cntende a vegetacao oas pedras 5 cuja vegetacao Ihe dao alguns NaturaliHas (*) nem entao fe pode comprehender , que hum rafpa- N meii- (^*) Pournefort , relacao da dcfcida da griita ile antipaios. Hiltoria dij Real Acad, das Ss>. 194 Memohias mento , ou fricjao Datural , pofla pro- duzir hum p6 donde provenlia a fe- cundidade das plantas , que ahi fao fcmeadas quafi pelas pedras. He mais natural crer , que efta fecundidade pro- vcm do Aphronitro , ou do nitro dos Antigos , de que abundao as pedras calcareas. yjphronitrum , quod identic dem ex ipjis fpecubus lapide calcario elahoratis , generatKr , eft fal falfuni le niter amaricans folubile , minus au~ te:n inflamahile , et oritur ex [ale uniijcrj'ale acido aeris concentrato , ac fixato infixioribus alcalinis- lapidum particulis , qus cum ipfo fale acido intime combinantur. HofFmano Difp. jVIcd. Chym. de nitro , et ejus natura Fevru- ^i A fcrrujem , e os entulhos de ^^'"' paredes , tambern fecundao os cam- pos , muito principalrnente os que fe compoem de terns fortes , as quaes fe abrem e atenuao pelas moleculas foltas defies adubos j ao que fe deve ajuntar os faes em que elles abundao. A chymica enfina , que a ferrujem he compoua principalrnente de partes ter- reas volateis \ ( Boerhaave , Chym. ) ella contcm tambem hum fal acre alkali- no, que pelas razoes indicadas (n. 21. ) fcrtiliza as terras , do mefmo modo que . DeAgricultura. 195' ique a efcuma de nitro da qual eftao cheias as parcdcs velhas , principal- men te J puma nitri , quae vara , ,ac cadefcens in meatibus fuhterra?ieis iJi- njenitur , et e mur'is deraditur , fabo-' ies eft falls aerei in lapidibus calca- riam naturam habentibus coagolati ( HofF. ibidem. ) ~ 42 Os Antigos conhccerao tambem Grediw o uzo de fecundar os campos por meio de mifturas de diverfos tcrrenos. Var- rao conta , que algims Francezes do feu tempo adubavao as terras fecaa , e eftereis com greda branca ,, Qi^iall 3, por toda a parte , efcreve hum Fi- 5, lofofo refpeitavel ( Antonio Genu- ^, enfe Sefioni di commer. P. i. c. j". 5, §. II. ) ha grandes minas defta gre- ^, da , que para nada fervem. Que me- 5, Ihor uzo fe poderia fazer della do 5, que fecundar as terras ? Nao podiao „ ter melhor emprego tantos milhares ^, de vagabundos que infeftao os pai- ^, zes cultos , e certos reos que podiao 5, fer mais uteis vivos , que mcrtos. J,, Efla efpecie de greda he mais fre- J, quente nas terras de cafcalho , do „ que nas terras barrozas. Os Ingle- „ zes diftinguem cinco qiialidades de p, greda ; a primeira a que chama6 pu- 5j rap he terra mole , fem miftura algu- ^ 14 l^^i 'if^ Memotiias '„ ma , e cfta fe dcvide cm varlas qua- 5, lidades v. g. Jiuma qualidadc ierve ,, p:A-a o pizp das fabncas de Jam , e ^5 eftmme das terras. Outra greda tira „ para o azul , a que chamo Klcy „ Marl , e della uzao muito na cul- ,, tura das terras Icves , e arcnozas. A 5, boa greda Jie azulada fern millura „ aiguma de area , Iblida , crafla , e „ muito pezada : della fe uza na coiif- „ truccao do tcjolo, cem carradas fe J, jiilgao necellarias para hum acre de J 31 terra. Milord Toweshende , foi o 3, priiTieiro que fecundou as terras con"^ „ greda. EUe pelo feu cuidado efta- ,, belcceo rendas no meio dos matos. „ Cap.iii. ]^efei-;,nos cfta paflagcim do Author dos EJem, do Commercio , p?.ra dar- mos a conhecer as notas carad:erilli- cas comqne os Inglezes dao a conhe- cer a greda i e para a confrontar-mosi com aquella de Varrao , que recom- menda Genuenfe , que fendo branccj, hediverfa da azulde que uzao os Ingle- zes. A mim me parece , que hum fo cpi-. theto de Virgilio a carederiza melhor. Fallando do modo de fazer a eira Georg. I. V. 179. ells a caracterizou com o epitheto da ilia texmra icNaz. Area cum primts ingenti aqtianda, Cylindro* de'Agricultur A. 197 Et vertenda manu , et cretd fol'i- danda tenaci. C A P I T U L O VI. T)a repeti^ao dos fabricos , e efpecial- mente da Nova cultura. 43 A Repeticao de fabricos, que ^'^''i^^^^^ JTV difpolla por certo metho-em I'n- do fe Jhe da o nome de nova cultu-&i"''-='r^ ra , he o quarto , e mais amplo meio dc fecundar as terras. Da-fe o nom-e d2 Nova cultura ao methodo que in- troduzio Mr. Tull. no fabrico das ter- ras. Eile Inglez fabio retirado ao cam- po por experiencias repctidas formou hum novo fyfteina fobrc a agricultu- ra. A fua theoria fobre os fuccos nu- tritivos das plantas era que a terra dividida em p6 fiiii/Timo , Ihe fcrvia de nutricao ( Du-Hamel.t. I.e. XVllI. ) Delle principio ellc ccncluia , que pa- ra augmentar a fcrtil'idade , era preci- zo dar huma lufliciente divizao as mo- leculas da terra. A eftc principio fun- damental fe fcguiao outros accefforios. A jufta proporf ao das plantas para que humas a outras nao tirallem os fuccos , e todas ficallem languidas , a repeti^ao de fabricos eai quanto as pi^ntas ef- tao ipS Memorias tao na terra para por elles receberem novos fuccos , lao tambem pontos ef- fenciaes da Nova cultura. Para tiido fe fdzer commodamente era neceflariia inventar huina maquina para que os graoo na lementcira ficaflem em juftas diftancias huns dos oiitros , erao pre- cizas charruas grandcs , c ligciras , pa- ra mover bem a terra , e para foccor- rer as plantas com fabricos , quando folTe precizo ; a tudo fe fatlsfez. In- ventarao-fe tambem inftrumeiitos para arrancar as ervas , que com as I'uas muitas raizes deftroem os cair.pos j acharao-fe cylindros dentadros de pon- tas de ferro para qucbrar as eivas. &c. NaFran- ^^ A vivacidade Franccza , pro- ^"' curou logo imitar os inventos da me- ditacao Ingleza. O Alarichal de Noail- Ics empenhou Mr. Otter da Academia das Bellas Letras , para traduzir cm Francez a obra de Mr. Tull. ; porem. como para huma boa traduccao nao baf- ta lo entendcr a lingoa em que c{l;i clcripta a obra , que le quer traduzir , porem he precizo conhccer bem a ma- teria , que fe traCla ; Mr. de Bufibn foi cncarregado de a corrigir. A mef- ma £ilta de corJiecimento da agricul- tura rinha outra traduccao de Mr. Got- tert 3 e por citi cauza Mr. Du-Hamel foi DE AgRICULTURA. I99 fol Incumbido de a emmendar. Mr. de BiiiFon fendo informado do trabalho defte Academico Uie iiiviou as corrup- tees , que tlnha feito na traducf ao de Orrert para llie fervirem de fcccorro. Julgando porem Du-Hamel , que as ideas uteis de Mr. Tull. , ficavao obf- curecidas com huma multiplicidade de raciocinios vagos ; e que a diffuzao da obra impedia a fua intelligencia ; fez hum extra (fto da obra de Tull. , abreviando , ampliando , e accreicen- tando o que julgou utii para tazer comprehender o novo fyftema de Agricukura. Para eile fim elle trata das raizes das plantas , que divide em per- pendicuiares , e orizotiitaes ; das fo- Ihas com que ellas a maneira de bo- fes afpirao , e refpirao : da natureza do fucco nutritive das plantas ; fe o fucco do rcino vegetal he diverfo , fegun- do as diverfas clalTes de vegetaes , cu he fo hum , porque meios le pcde fa- zer a divizao da terra ; como fe de- vem trabalhar as terras novas ; que diverfas terras requerem diverfa lavou- ra. Todos elles pontos lao como pre- liminares para fazer comprehender a Nova cultura ; cujos principios ho , I. preparar bem a terra , que fe de- ve femear ; II. , efcolher a femente , que ^00 M E M O R I A S aue fe dcve deftribuir com igualda* e : III. , quando os graos fao naf- cidos , cultivallos de tempos a tem- pos com laclios , afllm como fe cul^ tivao as plantas de horta. f^^'aNr'^t 45' ^'•''^ ^'^^ fcguir cftes prlnci- vVcuku- pios Tull. quer, que a primeira la- «' voura feja de oito , ou dez polega- das. Para fazer efta , clle inventou a charrua de quatro cegas. Prepaiada bem a terra com repetidas lavouras , as fementes fao deitadas em regos em jufta proporgao , por huma maquina , que chamao Dril lemeador. Efta faz lancar a fcmente , que fe julga pre- ciza em altura , e diftancia , que fe quer. Para le conliecer a altura , que he preciza para os graos nafcerem bem , OS graos fe experimcntao pri- meiro fendo femeados em diverfas al- turas para por o fcmeador na altura em que elles nafcerem bem. Mas cc« mo nem todos os graos nafcem , he precizo em certa quantidade tomada ao acazo j e contados os graos ver OS que nao nafcem para fe augment tar eifa quantidade , que fe lanja na terra. Efpa^os, ^^ Como OS graos depois de naf^ vim ter cidos dcvcm fer cnltivados ; he ne^ r.s pUn- geflario efpajos para fe fazer cfla cul/» I I DE Agricultura. 20r tura. Eftes efpajos , ou feparagoes fao diverfas , fegundo o vigor das plan- tas , por fua natureza tern maior , ou menor for^a , mais , ou inerios raizes. E para fallar com maior clareza nefte fyftema fe podem confiderar trez ef- pecies de efpajos. Efpajo , ou diftan- cia de huma planta a outra planta ; efpafo , ou diilancia de rego a rego, OS quaes regos nefte fyftema fo fe confiderao juntos ate o numero trez. Alem deftas duas efpecies de ef- pafos , ha terceira , que he a maior, Efta he a diftancia , que hum , dois , ou trez regos de plantas tem de hum , dois , ou trez regos que fe feguem. Os primeiros efpafos de plan- ta a planta , ou de rego , a rego fao de feis , ou oito polegadas. O terceiro efpa5:o he de quatro pes , ou quarenta , e quatro polegadas. Eftas iao as medidas commuas , as quaes fe modeiicao fegundo a natureza das plantas. 20Z A C - - I. II. M E M 0 R I A S h A b r A c b J U / t- ' u 4r 1 I / n A. B. Figura I. lie o primeiro re- go de hiun campo femeado em regos ou fileiras fimplices , porque de rego a rego ha o eipa^o grande de qiia- tro pes , V. g. Ab. cd. A fegunda fi- gura reprezenta hum campo femeado de dois regos , em dois regos , v. g. Ab. cd. que ilio os primeiros dois re- gos diftao a El", gh. quatro pes , que era a mefma diilancia , que havia dos regos fimplices Ab cd. da primeira figura. Efta mefma obfervagao fe po- de fazcr na fig. terceira , que he de trez regos a trez regos. ca^s'^dL" 47 ^O'^'io a baze da Nova cultu- fabngos. ra , he afofar a terra , e rcduzilla qua- zi a cinza , dando-Ihe a maior fepa- racao de moleculas , que poder fer , as plantas por iilb meiino Icvao mui- tos lachos ; e como iilo era dclpendio- 'zo , fciro a hracos de homens foi inven- tada a charrualigcira ; de huma lo rcda, c deAgricutura. 203 e do hum fo animal para lavrar os ef- pacos grandes , quando fe viffe que a terra endurecia , e fe tornava com- pacl:a. As plantas de Inverno , entre as quaes fe comprehende o trigo , genero que em lodas as idades foi o prin- cipal fuilento do homem civilizado , forao tambem cultivadas por eile me- thodo. Deo-le-lhe no Inverno a pri- meira cultura nos grandes efpaflbs , quando tinha trez , ou quatro folhas , a fegunda cultura na Primavera quan- do elle principiava a encanar ; a ter- ceira quando comecava a engradecer. As repetidas experiencias moftrarao a utilidade defte methodo , e que os grandes efpaiTos , ou ruas , que media- vao ennre os regos das plantas nao erao inuteis ; porque faindo de hum grao vinre e quatro , e trinta efpjgas , eftas fuppriao a falta dos muitos graos que haviao de cobrir a terra , e que pelo ordinario nao produziao mais que luima efpiga , e efta nial acondicionada. Outras muitas utilidades apparccerao por efte methodo de cultura. As mas ervas fao deftruidas pelos repetidos fa- bricos : poupa-fe grande parte da fe- mente : as fearas licao raenos fujeitas a camarem ; os eftruiTjes cuflozos _, e mui- tas 104 M E M O R I A S tas vezes defficeis de fe acolJierem , fi- cao beiB fuppridos , e o que he mais , a melma terra pode fcr todos os an- nos femecida , fcm rifco de fe Jhc ef- gotarem os fiiccos nutritives ; antes a proporjao dos annos a terra ficara mais Fofa, e por ilTo mais fertil. da'^anti-° 4^ Fez-fe o paralcllo das terras cul- ja com tivadr.s pelo metliodo antigo , e pela cuitura ^ova cultura , e achou-le , que efra dava ainda maior produc5a6. Reftava porcm huma difficuldade , que era a falta de paftos para os gados j poisquc ncRe fyflema todas as terras de cultu- ra fao todos OS annos femeadas. Elle inconveniente foi bcm fupprido com OS prados artificiaes de Luierna Sain- frin &c. com as quaes ervas , que dao abundantes cortes ; os lavradores fica- rao mais abafttcidos do forrages , do que com as contrafolhas. Provas 49 A Nova cultura Ingleza paflada cuituM^ ^ Franca , teve hum curfo rapido ; fegundo o genio da Najao. Publicou-fe hum Diario , que te- YC por fim inflruir o publico dos ma- ravjjhozos fucceflbs , que em varias partes da Franca , e ainda fora como na Polonia , Genova , &c. tinha tido a Nova cultura. Dcflinguirao-fe varios Fvflcos neilas uteis obfervacocs , e en- tre DE AgRICULTUHA. 10^ tre dies Lullin de Chateauveux , pri- meiro Syndico da Republica de Ge- j]ova , e' Vandusfel &c. Inventarao-fe novas Charruas , e os femeadores fo- rao aperfeicoados. Defcubriiao-fe no- vas grades de cylindros rodantes , far- pados de dentes de fcrro , que Icrvi- rao bem para quebrar as leivas , e tor- roes J que levantao as charruas. Al- gumas tentativas porem houve , que iiao correfponderao por falta de nao laberem alguns campoiiezes por em, praxe a Nova cultura ; porem as mais das experiencias feitas derao provas authenticas da grande utilidade , que a lavoura recebia em lodos os gene- ros de plantas , que forao cultivadas por tal methodo. Os annos de 1750, $1 , 52, forao de muitas , e repetidas experiencias da Nova cultura. Houve muitos , que para a animarem prometterao aos la- vradores o recariimento da perda , no cazo que a JiouvclTe ; porque eftes fal- tos de conhecimentos Fyficos fenao podiau perfuadir , que hum tao pe- tjueno numero de plantas difpoftas en- tre grandes efpailbs havia dar o mef- mo produd:o , que hum campo cheio ; porem a expcrieiicia os dezenganou. 50 Como as plantas crefcem , ^ fJi"o/^' pro- aa Nova $;ultura. io. 'til Memorial 3, pendicular , que divide o terreno j „ e como ella tern poucas raizes ca- j, pilares lateraes , eJla fenao appro- J, veita dos iuccos da fuperficie. Aitevna- ^j Ef|;e principio da devizao da tiva das ^ A . » . ~ _, femen- ^^^^ra por iTieio das raizes , que lao tes. diverfamente figuradas , he a cauza mais provavcl da fertilidade que pro- duz a alternativa das feraentes conhe- cida em todos os tempos (X) Ac- crefcenta-fe , que tendo as plantas di-» verfas raizes , humas vao bufcar os fuccos onde as outras nao chegao , o que parece mais provavel , que a multiplicidade de fuccos, que muiros Fyficos admittem para o luilento da» plantas. Os Antigos conhecerao tambem. alternativa das fementes para alcancar a fertilidade. Ouvidio ( 1. I. de Pont. El. 5'. ) diz Qti£ nunqtiam vacua folita cjl cef^ fare novali FfuSiibiis ajjlduis lajfa fenefcit humus. E Virg. Geor. I. v. 71- diz. Alternis idem tonfas cejfare novate Sy Et fegnem patiere jitu durefcere campum. Plinio faz mencao defte preceito de Virgilio ( I. 18. c, 21. /Ihernis DE AgRICUL'TUR A. 22J cejfare arvafuadet Virgilius , et hoc , fi patiuntur ruris fpatia , utiUJJlmum ejt. Temos tradlado dos diverfos mo- dos de fecundar a terra , feja dan- do-lhe foes por meio de calcinajao , ou fermentacao putrida ^ feja abrin- do-a , e devidindo-a por meio da mif- tura de diverfas terras > ou por di- verfas , e repetidas cavas , e lavouras , que expoem a terra as influencias da athraosfera. Como a queftao propofta he relativa : Quaes fao os meios mais, convenientes de fupprir os eftrumes animaes ( n. 21. ) ella fe deve de- cider legundo as fuas diverfas reia- §:oes pelos meios propoflo , v. g. nas terras de mato j porem que nao tern Marne perto , nem terra para millurar ' com a que fe quer cultivar ( n. ^^. ) ( n. i:^. &c. ) o meio mais provei- tozo he a calcinagao por via do fo- go. Nas terras em que ha abundan- ; cia de cinzas , porem faltao matos , nas terras em que ha pedras calca- reas , porem faltao cinzas &c. Mas o racio mais ampJo de fupprir a falta d.os eftrumes animaes , he o revolver por varias vezes a terra ( n. 43 , ) e depois defte a calcinajao por via do fol ( n. 14. } C A- ^24 Memorial C A P I T U L O VI. Synopfe. AAgricultura he a baze, e o fun- damento dos Povos civilizados ( n. I. ) Diverfos fyftemas fobre o fucco nutritive dos vegetaes : ( n. 2. ) infufficiencia deftes fyftemas ( n. 9. ) A divizao , e attenua5a6 da terra he o priiicipio da fua fecundidade: ( n.ii.) ou efta le abra por meio dos faes , ou machinalmente ( n. 12. ) os faes fao, ou por calcina^ao , ou por fermenta- ^ao putrida • ou fe efpalhao na terra ja formados. ( ibidem ) A calcinajao fe faz pelo fol , ou pelo fogo. ( n.13.) Pelo fbl nas cavas a montes ( n. 14. ) 310S alqueives de Maio , Junho &c. ( n. 15-. ) na materia das primeiras enchurradas ( n. 16. ) Pelo fogo com- inum obrao a cal ( n. 17. ) ^s cin- zas (n. 19. , ) as queimadas ( n.23.) its borralheiras ( n. 24. ) o^ ^'^^^ P^'^ fermentajao putrida vem ou do reino vegetal , ou animal. ( n. 26. ) O rei- no vegetal da a terra faes por via das eftrumadas , ( n. 28. ) pelos reftolhos , e ervas enterradas , ( n. 29. ) pclas coyas de mato , e follias ( n. 30. ) o ' p.ei- DE AgR1CULTU1< A. 22^ Reino animal com osfeusclTcs, pel^ les , Jaa _, pcncas , unhas , 8ic. ( n.:^i.) Os lacs ja tbrmados dados a terra , a fertili'zao tambem ; v. g. as lexi^ vias das nitreiras , o fal ccrr.mum , o fal gemma , o nitro , c:c. ( n. ^i. ) MaquiniJmente a terra fe fecunda por via do Marne ( n. 33 , e ^^ ) em certos cazos pela argilla , cuteira for- te , em outros pela terra del gada. ( n. 38. ) pelo Icdo J lamas, p6 das j pedras calcareas ( n. 39. e 40. ) pe- los entullios, ferriige , greda (n. 41., e 42. ) De todcs os meics de fe- cundar as terras , o raais aiiiplo lie a repetijao de fabricos , on grandes ama- nhos a que fe reduz a Nova ciiltura 1 ( n. 43* ) as cavas chamadas a gre-^ I ta ( n. 58. ) 5 as furribas , ( n^ ^c;. ) I as plantas que com fuas raizes divi- 1 dem a terra ( 11. 59. ) a alternativii ! das fementes ( n. 60. ) K (V DE AgRICULTURA. 227 N O T A S. ( I ) Mr. de BufFon . fallando da rfia |^roduc9a6 dos corpos organizados „ ( Hift. ^, dos Anim. C. II. ) diz : o primeiro raeio „ e mais fimples de todos , he ajuntar cm 3, hum ente numa infinidade de ences or- 3, ganicos femelhantes , e compor de tal 3, modo a fua fubftancia , que elle nao te- jj nha huma parte , a oual nao conrenha 3, o germe da mefma eipecie , e que per 3, coniequencia pode vir a fcr efla parte 3, hum todo femelhante aquelle em o qual 5, he contido. J, Elie fyitema inventado'pa- 13. evitar os argumentos que fe oppunhao a inclufive de cada efpecie de plantas no primeiro germe , tern contra fi argumen- tos mui nervozos ; porcue era precizo prl- inciro moftrar que as partes organicas erad primitivas , e incorruptiveis , fempre adi- vas , e commuas aos vegetaes , e aos ani- jnaes , fern ferem nem vegetaes, ncm ani- maes. Em fegundo lugar devia-fe moftrar como as partes organicas fe podiao >;unir para formar hum todo organizado , fcm. fe recorrer a huma faculdade occulta, v. Vi- tct Medicine Velerinarie. P. 7. T. i. Nos fo confideramos o fyflema de Mr. de Buf- Jon refpeclive a Agricultura. (II) Os Antigos parece que erao tam- bem da opiniao , de que a terra deve a fua fecundidade ao Ar j o que fe moftra por va- tiis palTagens de Antigos Authores , e entre ^utr^s de Virg. Georg. II. y, 525. 2i8 Memorias Turn paxr omnipatcns fa'cnndis imbrU I'fis JLthcr Anibos cftes dois granjcs Poctas fal- latiuo da fecnndidade cjue a terra tern na J-'rimavcra a r.ttribucm ao feu ajuntamen*. •to com Jup'tcr c o Ar. ^ ( III ) Qiic o fucco dos vegetaes feja ho- n".oi;eneo , e univ^erral , i=. port]u6 fe criao na mefma agoa muitas , c diverfiis efpecics dc }5lani.as Za. as planras juntas no mefmo lerrcno, humas as outcas ie lirao a fubftancia. ( R' ) Tantas , c tao divcrfas opinioes, fobre a naturcza , e forma9a6 dos fuccos. ' doo vc^c^etaes , inollrao bem que efta he" JiiiRia das op;;ra9oes occtikas danarureza/ na qual o raciocinio toma caminhos di- vcrfos ; partinJo muiras vczes de princi- ples prccarioi. As noiTas conje^turas fobre a t'ormayao da leva , Tao cftas. A nature- 7.a prin^ipalmente por meio de oleos , e laci de que abunda a terra , e atmosfera forma faeces faponaceos , de que as plan-' tas fe alimsintao. lilo fe prova , i°. por-. que por expjriencias fe fabe , que a fer-- t'.lidade exiitc ond- ha faes , c oleos v. g.^ lias terras adubadas bem com a parte fe-^ car do Reino animal , a qiial al>unda em ambas as couzas : 2^. as anjlyics chymicas^ t^05 fucco^ das plantas , mofirao que elles. alcm da terra ^ agoi j ^' ■> co'atcmfaes, e;,' parte; oleozas , do concur! o dos quaes jKnc'pal.mente alk.ilinos fe lorma o fabao^ rlcificlal , o quo nos indica o narural que- veg-'ta aj phnias , porque do concurlo dos- niJmoJ p.r..uip:o3 femprc fe julgao iguais,.' e (osmef.nj'j e.'i'.-ito.'^ feja que obre a Na-' tu- DE AgRICULTUR A. 229 tureza , feja que obre a Arte. Efies fuc- cos faponaceos exillein na terra pcio con- curio dos faes que a terra tern , c doi oleos em que abunda , como fe moftra cia? Analyfes Chymicas ;. e exiftem na arir.osfe- ra, e ahi parece que com maior abundancia ( n. 6. ) pois que as folhas fao tarr.bem hum caminho por ondc as plantas vegc: ,ta6. Do que fica dito podemos concluir , que o lucco nutritivo das planras fendo trabalhado por dois modes no leio da ter- ra e na atmosfera , vem , e he reccbido pelas plantas por trcz diverfos modos ; i-, tocando nas raizes capilares das planras cs fuccos formados pelos olcos da ccira , e pelos files que fe dao a mefma terra , ou elJ.i OS tern ; para o que nao concorrem pouco os diverfos iachos que fe Ihe dao ; pcrque c;;- tao fe faz huma boa miilura com as partes oleozas ( * ) 2°. os luccos faponaccoj d.i atmosfera , que cahem na terra por nieiu <3os ferenos , orvalhos , e outros metheo- ros , OS quaes como fe tern experimcnttdo deixa5 huma efpecie de limo s;rodurento , e faponaceo ; que da a fertilidade aos cam- pes : :?'. 03 fuccos faponaccos que nadao na atmosfera , que as folhas das plantas fnccac. (V) Parece que os laes concorrem do <3ois modos para fecundar as terras , )a dif- iblvendo-aj , ja formando com os oleos qa terra fuccos faponaceos. Os facs fao huns corpos duros , cujas pecjucnas partes pel a iua O Talves que efte feja o principio da f*;- eundidade que fe tern experimentado Da tultii- »a Nova , e nr.6 a? pr.ites tctrens miiuui(iu)i:<5 d« Wr. Tull. b>^b Memorias fua figura , fao mui proprias para obra'r rt fiivizao da terra. Os Chymicos dividerrt os faes em rrcz clafTes , acidos , alkalifaos , neutros. Aos acidos dao a figura de fufos i aos alkalinos dao a figura de esfcra , porcm cheia de pontaj : os Hies neutros fao hum compofto formado dqs acidos , e alkali- nos ( Geofroi princip. dos Corp.) ' ( VI. ) Elta mefma foi efte anno ou- tra vez femcada de cevada nas primeiras agoas , que vierao em Setembro. No prin-r cipio de Dezembro eu obfervei efta fe- menteira ; ella efta mui alta ja , toda de bum verde efcuro , e hum grande nume- ro de pis que obfervei tern a nove , e a dez •filhos , fern embargo de fer femcada bafta. (VII) A fertilidade , que tem alguns do-> torritorios da Italia, nao he improva- vel que feja procedida de calcina9a6 , que a;? terras recebem dos fogos fubteraneos ; para o que fervem as muitas materias com- bulViveis que alii ha , pols o enxofre i'a achi por toda a parte. Alem difto a fecun- didadc nos annos em que fe fcntem gran- ges tremores ; creio que com baftante fun- damento fe pode attribuir ao fogo ele£lri-» CO que ie commiinica a toda a terra qua tremc ; principalmentc quando o tremo» fe fente quizi ao mefmo tempo em par-» tcs difta-ates. O3 efrciros da caicinafao da fogo elecirico fe deixao bcm ver nas ma-*. terias mais folidas que os ralos reduzent a p6. ( Vni ) Parecera talvcz que o fyfte-«' ma de que fazemos depeudente a fecun'-ti Uidade da terra, he incomplero : poisquq, pro-s DE AgRICULTUHA. 2^1 propondo os faes como hum dos mais ge-* nericos principios da fertilidade , nao tra- tamos delles nas fuas diverfas efpecies , V. g. do vetriolo , da pedra hume. Sec. A ifto refpondemos , que o lavrador nao fe propoem conleguir fimplesmente a fertili- dade ; porem fim confeguilla pelos rneios OS mais commodos : 2.° que fo fe deviao propor aquelles faes de que ha experien- cia : ]o , que os lavradores judiciozos que eftiverem em alguns (Itios onde fe fabri- quem os diverfos faes de que nao tracla- mos ; podem fazer a experiencia , pois os gaftos , e as utilidades he que Ihe fervi- rao de guia , e ella he que moftrara os que convem aos campos. Hofibmano deC- crevendo huma terra vitriolica diz : Qjii- dam vevo agricolamm banc terram pro ni- ifofa forte hahentcs , earn per agros fnos pro meliore fxcnndatiorie dijiribiiernnt ; fed fpcm dcfidctatam non obtinnernnt , ac potms agri vitrioUco principio Jleriliorcs redditi fue- te quod in illis adhn: hodie obfervdtnr. (Oryclographia Halcnfis. c. I. de fitu et nat. agri Halenfis. j (IX) A utiliuade do Marne , e ainda da miftura de diverfos rerrenos , fe deixa bem ver comparando eftes modos de adu- bar a terra com os melhores eftrumes ani- maes. O das ovelhas paffi pcio melhor , pois que elle contem mais faes que ne- nhum dos outros ( Diftionaire Domeftique ) com tudo a fua maior dura^ao apenas che- ga a feis annos : fazendo as ovelhas o amalho n\s terras que fe hao de cultivar. « Os efcrsmcntos , a ourina ,60 calor dos )5 cor- S3^ M E M O R I A' .^ }) corpos deftc gado animarao em pouco )) tempo as terms cangadas , frias , e in- 3) ferccis ; cem carneiros melhorao cm )ium vcrao, oito arpens cem vams cm qundvo pa- ra fcis annos, Bufl-'on Kill. Nar. de la Brcbis. Efta melina rc:;ra »cral cjue poem cfte grande Nacuraliita do mcl!ioramcnra das terra? coni cftc ellrumc iiiimal dc feis annos , fe ac!ia nao po.iras vezes falfa. Eu tenho experiencia de repotidos annos , e cm cxterifao de inais dc trez legois do terreno , c cm diltcrentes partes onde as ovelhas amalhao todos o> anno? fobre a mefmo rerrcno pira elle Per fni^'-lifcro , e cjue ao muiio d'lra cfte adubo dois ay.nos. As terras cancidas dc c.ne hlia Mr. i^c Binlo 1 podem (er de difi'ercnre n.irijrcza , c concxtura , e a todas nao fe Ibe pode app'icar a niefnia rc^:;ra. Do que fe pode in^erir , que a miftura de terrcnos he mai* vatitajoza. (X) Hum lavr.idor das minbas vizi- n ban fas , amanre de hizer boa culrura , pro- jioida4he cu o prepare da terra com re- }-«erid.is lavo'.iras antes de fc Ihc deitar a iemcntc , principalmcnce com as lavouras «.io vcrao , me objei^ioii , (.jnc efta regra encrc n6> era impo'livel , porque as ter- ras no tempo do vcraS crao tau compa^ (ilas, principalmcntc as barrozas , cjue ror- ^ra"? nenbumas as poderiao lavrar. Eu Ihe Kcfpondi , que nao fo era poUivcl lavrar as terras de vcrao , mas que entao , pr'ncU palmentc no fim , fe dcviao femcar ; que t;n tinha efti experienc'a, e qne ella nao. ^rJt muTib'i. ^<3 , porjm tr.iha fijo dos Ra<. DE Agricultura. J^:} Jlianbs . , e antes delles dos Gregos* .. Ntidtis ara , fere nudus .... Virg. G^ I. V. jpp. Dtim ficca tellure licet ^ dum nuhila pen* dent. V. 214. Duas fao as razoens fyficas deftas ex- periencias que os Antigos nos tranfmitti- rao. A primeira he porque femeando-fe cedo as plantas , quando chegao as grandes chuvas , e frios do Inverno , tem ja raizes forces para poderem reziftir e fofFrer as "intempenes da atmosfera , a fegunda por- que a terra cftando fecca , e fendo lavra- da , fe calcina , e fe cnchc de faes alka- linos. Em qnanco a objecjao , de que era iiH' po'Iivel meter o arado nas terras compa- (J-^-as com 03 grandes calores do verao , ifto ailini he ; porcm era no cazo , que en- tao 'fe Ihe dcHe a primeira lavoura. Mas no tempo da fementeira a terra devc eftar preparada ao menos com duas lavouras da- das em differentes tempos. Ella eia a pra- ftica do3 Antigos ; e etla he a pratica das Nacois que melhor cultivao , e ha "■multas que Ihe dao quatro. Eu nao porTo ver iem grande magoa , o que todos os dias prezenceio. Ontem i^ de Janeiro do prezente anno dc 1788 indo ao campo vcr alguns homens que alii trazia a trabalhar , eu vi muitos lavradores ( c efta pratica he frequence ) que femeavao cevada pot ftma da terra crua , e que depois ihe da- vao huma lavoura fern grade , nem mais cultura alguma. Ifto msfmo fazem ao tri- go i e ao muico lavrao a terra, e fobre ?i^a terra layrada deicao o cr'so nor fima , Q 454 Memorias e dcpois gradao. Cdmo poderao ir as plan^ fas com as fuas raizes bufcar os fuccos que Ihe fao precizos , fe a terra fica compa6ta? Como poderao fcr vivificadas pelos me- thcoros, fc elles tern o caminho fee h ado ? Em algumas partes lavrao com jumentos ; em oatras fao os arados tao pcquenos , que apcnas tocao na fiiperficie da terra. Senao attendermos a efta ma culrura , nos nao poderemos crer , que as terras que habi- tamos fao aquellas que no Reinado de . Dom ]oa6 I. mandavao Naos depao a Ita- lia ( Faria , e Souza , Chr ; ) e que ain- da no Reinado de Dom Joa5 II. fuften- tavao oito mil cavallos ( Garcia de Re- zende, Chr. ) (XI) A mudan9a de fementes nao fo fe entende de difFerentes efpecies de fe- Tnentes , que fe alternao aos annos , mas tambem das fementes da mefma efpecie , as ques nao devem de fer femeadas na ter- ra que as produzio , a fim de fe poderem jiiclhorar. Efta regra he eftabelecida por JvTr. de BufFon , entre outros Agronomos » » o bello , diz elle , efia efpalhado por to- il da a terra , e em cada clima refide hu- y ma porfao que degencra fempre ao mc- 31 nos que fenao una com huma porfao to- y mada no longe ; de forte que para ter 3) bom gra5 , e bellas fiores he neccffario 31 mudar as fementes , e nunca a femear y no mefmo terreno que as produzio ( Hift. "Nat. du Cheval ) As mi»has experiencias fao cm pirte contrarias , ou para mclhor dizcr modificao cfta regra. Se o rcrreno ' he proprio da femente , cao longc efta que el- I BE AqRICULT UR A. 2^5? ella degenere , que antes fe melhora. Eii tenho experimentado , e outras mais pef- foas tern feito as mefmas experiencias em milho grofTo , feijoes brancos &c. os quaes femeados fempre no mefmo terrcno nao fo nao degenera5 , mas antes fe fizerao melhores ; porque o terreno Ihe era pro? prio , e para me explicar em fraze rufti- ca, era o terreno caroal deftas fementes. Se pelo contrario as fementes nao fao pro- prias do terreno , entao he que tera lu- gar a regra da mudan9a das fementes paf- lando-as dos terrenos proprios para os im- proprios. F I M, JN- 43? INDICE D O QUE CONTEM ESTA MEMORIA. ROEMIO. : . . . Fag. i^^, CAl^. I. Da feva , ou fucco nutritivo , das plantas 156^ CAP. II. Da calcina^ao , meio mui am- plo de encher a terra de faes . . 164, CAP. III. Da fermemai^ao ptitrida co- mo feniliza as terras 177. CAP. IV. Dos faes jd formados , ou jun- tos a corpos , de que facilmente fe fe^ parao. 185, CAP. V. Da mijtura de diverfas ter- ras 187. CAP. VI. Da repeticao dos jabrkos , e cfpccir.huente da Nova cuhura. , 1^7. CAP. VII. Synopfe 224. UU ^39 M E M O R I A S O B R E ASSUMPTO EXTRAORDINARIO propofto pela Academia Real das Sciencias para o anno de 1788. ^AES SAO OS MEIOS MAIS Conuen'ientes de fupprir a falta das ejlrumes animaes nos lu- gares aonde he dtfficul- tozo havellos ? FOR CONSTANTINO BOTELHO DE LACERDA LOBOi O F7M M^/J' PRINCIPAL da A?rtcultU}'-a conftfie 7ia format {;ao dos principios que cojlituem c fucco dos vege.taes , e prepaj'-ar 0 terrcno de forma , rpe fcja fuf- ceptivel de conftrvar aqttella hum:- dade proporclonada d 'datureza de cad a plant a, EJles dois pontos fa^ rao 0 objeSlo da primeira , e fe-^ gunda parte dejla Memoria , e na tcrceira exporei o modo mats Jim* plez , e natural , dvC fupprir a fal^ ta dos ejlrumes animaes. PARTE I. CAPITULO I. l)os principios primarios da Vege^ taCao, §'i. f**^^;! Ara decidir qiial feja o mo-' % P S'^ ^^ "^'^^^ fegiiro de lupprir a (^Sij..>- 1^'^ falta dos eftrumes animaes , he ^. Aos terfeiios muIto jfoltos , e ma^ 'ji^ros fe podem reduzir os puramente a i R ii re- ,,1 , t^ •- Bj -. (ji) A defpeza , que o cultivador faz na mif- :■'* tura da argilla , e exportagao longinqua da nief- fcia , quando mais perto nao fe pode acliar , fie* 'Compenfada com © inelhgramen^o eonfideraiiv^t ^o feu terieno., ■l6o Memokias 'a^'era.'eos , e aquelles aonde a area lia tao doraiiiantc , que nao fe podeni cukivar com urilidade do eiikivador. Eftes terrcnos tambem le podem corri- gir com a argilla guardando aqui tu- do aquillo , que ja a refpeito daquel- ■les tei]ho advcrtido. § XXV. Quando o cultivador nao poder defcobrir argilla para o mellioramen- to do feu terreno podera uzar de (ni- tra qualqner terra, que ieja de facii exporrajao , e menos Ibka , que a do terreno , que perteiide corrigir , e fa- ra a millura naquella proporcao, que for conveniente. § XXVL Nao querendo porem o lavrador ' uzar dos meios ja referidos para cor- rigir o feu terreno , ou por iJie pare- cerem difficukozos , ou por outra qual- quer cauza , devera procurar para q lobredito ten*cno aquelles vegetaes , que vivem felizmente com pouca liu-* midade , c que produzao perfeiramen- te o icu fruto antes dos calores , e"., efte talvez fcra o mCio mais fcguro^^ ^U9 / f deAgricultura. i6j( que fe pode empregar quando os ter- renes muito foltos , e magros tem hur. ! ma demaziada extenlao , os quaes , ou ' ! feria impofllvel corrigillos pelos' mo- • I dos fobreditos , on com exceffivo tra- • I balho , e delpeza , que os pobres cul- ■ livadores nao podem fazer. {a) § XXVII. Confide pois toda a induflria do : I lavrador , que poffue muitos terrenos •; foltos , e magros, ou era os corrigir • I na. forma rcferida , ou em procurar I vegetacs , que nos ditos meilior fe ) i.poimo produzir. Em confequencia dii- • to nao poflb dilTimular o c>bufo , que ; jtenho oblervado em muitos lugares da iProvincia da Beira aonde coflumao fe- ,mear milho nas terras ibltas , e ma- 'gras j coniervando-fe neflas pouca hu- imidade , e por breve tempo, fe accon- r Itece fer a Primavera pouco cluivoza , . lo lavrador nao tira lucro algum do . I eu trabalho iji mas antes perde muitas . fvezes a fcmente. , Ha )> I - os-Moiites j porquc o. iavradcr cora menos defpeza pooe ter huma col-'°i- ta mais abundante , e meaos arrijcu- di? i devcra efcolher muito prii cipal- mente aquella elpecie de centeio , i^ue fofffc fer desfoiiudo ; ou fegada an* DE AGRICUTURA. 26^ antes de langar o colmo , porque def^ te nao iomente rira paftagem para os feus gados , mas maior quantidade de pao. (a) § XXX. Concluo pois , que fe os terre-* nos magros de que temos fallado fo- rem formados de huma terra vegetal , muito folta , fendo ella mifturada com largiila, como ella .fubminiftra poucos meios de evaporajao , o humus con- ferva por mais tempo as fuas parti— culas oleozas , e por confequencia as plantas fe confervao vigorozas , e re- cebem huma nutricao proporcionada ao feu augmento. Se porem os fobre- di- C") Elle fenteio langa muitos filhos como viil- gannente fe exprimeiii os rullicos e vem mais tarde o feu fruto ; e pcrifTo feria conveniente o feu uzo a onde a experiencia tern moilrado, que o fenteio , que fenieiao lanca a fiia ef|iiga ;i-^empo que efla he damnificada pelo frio ; logo ros terrenos magros deve o cultivador preferir ao milho o centeio daquella efpecie , que a expe- riencia Ihe moflrar ineibor fe produz no feu terre- ne , e ainda que a efpecie de ceiv.eio , que foflrrer fer fegado , e desfolhado frudifique adniiravelmen- te no Minho e Trasos- Monies nau deve fervir de regra para os mais lugares fern que primeiro feja decjidido peja experiencia em pequeno , pa- I Mr^laviador nao perder 0 trabalho , e feiuente. 1,64 M E M O R I A S diros terrenos nao poderem fer corri- gidos na forma rcterida o cultivador devera qxaminar por muitas experien- cias feitas en pequeno aquelles ve- getaes , que neceffirao de menor hu- niidade , e que melhor fruclifiquem ros ditos predios ; e por iflb eu nao polFo imaginar terreno algum nefte Jleino , que o induftriozo lavrador nao poiFa (converter em fua utilidade* C A P I T U L O IV. J)a prepara^ao dos terrenos , que fau inuito apertados , ou purarnente argillaceos, § XXXI. QUando porem o terreno for pu« ramente argiilaceo , ou muito apertado , como efte nao contem particulas algumas oleozas , ou fe exif- tem fao apenas fcnfiveis , deve fcr re.- putada a fua acgao como purament^ mcchanica , e por iiTo podemos cha- mar infeliz aquelle proprietario , que tern muitos predios deila natureza , porque nos annos chuvozos adquirem tao grandc quantidade de agua , que as raizes das phntas facilmente apo* dre> Hrecem , e com o calor indurecendo-* fe a terra , fe comprimem de tal for- ma , que fe faz languida a fua vege- tacap ate que finalmente morrem- § XXXII. Sendo porem a argilla pura , ou Si terra barrenta ( como vulgarmente )he chamao ) mifturada com outras de differente natureza em huma conve- riente proporjao teremos hum optimo terreno , e o mais fruiftifero , confif- tindo toda efta bondade na bem pro- porcionada miftura , e feita de mode , que fe conferve a agua em hum pon- to neceffario para a vegeta^ao da plan- ta , que fe confia da mefma terra , e que nao deixe evaporar fenao len- tamente a humidade , que em fi con- t^m. § XXXIII. Como OS terrenos puramente ar- gillaceos , ou barrentos offendem mui- to a vegetacao , e mifturados conve- nientemente fao os mais produiflivos , fegue-fe , que todo o fim do cultiv-i- dor deve confiftir em achar o ponto ^e perfeicao nefta miiUira , e nao fa delle modo fe podem melhorar os fo- bie- ^66 Memorias b^teditos terrenes , mas tambem de ou- tros muitos os quaes todo5 fe redu- zem a finco , i. as repetidas lavouras , 2. a miftura da area , 3. os eftrumes , 4. a combuftao do terrene , 5". o femear plantas , e deoois ente'rrailas logo que chegarem a numa certa altura. § XXXIV. * O melhoramento do terreno fo- mente fe efFecftua pela conveniente miftura de fubftancias heterogeneas , logo nada contribuem para efte fim as lavouras , e ainda que eftas dividao a terra voltando huma parte da fua fuper- iicie , expondo-a a chuva , aos orva- Ihos , a geada , aos raios do Sol , e a attracao do acido aereo todos huns fortes agentes da natureza , e capazes de attenuarem muito a terra , com tu-i do efta pallado hum certo tempo fe abaixa , e as fuas particulas ficao tao unidas entre fi , como fe nunca tivci-, fe lido lavrada. § XXXV; Tanto fao inuteis as lavouras pa- fa melhorar hum terreno puramente ar-l gillaceo , ou barrento , que baft^l £6 menr i DE Agricultura; 26-^ itiente a chuva de 24 lioras para con4 centrar , e unir de novo as fuas mo-* leculas , o menor calor , o vento o menos violento he capaz de defecar de tal forma a fuperficie , que nao po- de deixar evaporar a agua , que no mefmo fe contem , demora-fe pois ef- ta no interior do terreno , e a da chuva fe accumula na fuperficie do meiuio , dor:,ie accontece que por cau- za daquella apodrecem as raizes das planras , e por cauza defta- os novos vegetaesj que vao nafcendo, § XXXVL Se porem o terreno for formado de huma terra muito fclta , e arena- cea tambem nada contribuem para o ieu melhoramento as repetidas lavou- ras , antes quanto mais vezes for la- •vrado , menores ferao as colheitas •, lo- go fe as lavouras de nada fervem pa- ra raeihorar o terreno fegue-fe que o -feu uzo he fuperfluo , e defnecelTario j applicando-o para o fobredito fim. § XXXVII. O melhoramento do terreno pu* j/iamente argillaceO; ou barrento fe ob-. tem t68 M E M 0 R r A s tern feguramente com a miftura da area em huma conveniente p-'ioporfao , porque como as moleculas delta terra tern huma minima adhelao , facilmen- te recebem a humidade , e como tam- bem adq^uirem hum maior grao de ca- lor , fe facilita mais a evaporajao da agua , que tern recebido , peio con- trario as moleculas da argilla fendo excefllvamente divididas fe unem hu- mas com outras , e forma 6 hum ter- reno tao dure , e compafto , que ape- nas pode fer penetrado pelo calor , e humidade , fazendo pois huma bein proporcionada miftura da terra a re- nacea com a argilla , ficao as molecu- las defta mais leparadas , e o terreno o mais produdiivo , porque nao £6 recolhe todas as influencias da ath- mcsphera , mas as conferva de hum mo- de util aos vegetaes , que produz. {a^ § XXXVIII. Se o cultivador tiver commodidi- de ((j") Efte inei9 tfe melhorar o terreno lie o mais facil , e fimplez , que fe pode defcobrir,, j e muito neceffarin para aquelles , a quern he dif- ficultoza a exportaca6 da area por terein os fejis terreiios diftantes das praias , e rios aond^' p\ais ordinariamente fe encontra. I DE Agricultura. 26^ 0e de efcolher a area , deveri antea fazer iizo daquella , que for mais feca , e de maior volume , e que nao tivei: milLura de outra qualquer terra , fal- tando efte meio , ou rendo muito dif- ficulrozo fe pode uzar de quaefquer pedras reduziJa^ a pecuenos pedajos p;-efe"indo iempre aquellas , que mais favilmcnte Te decompoem. § XXXIX. Efles pequenos pedacos de pedra I mlfturados com huma terra puramente I argillacea , ou barrenta na6 lomente ; corrigem a fua demaziada adhefao , j permittindo as plantas o poderem mais i livremente ellender as fuas raizes , mas i tambem concentrao mais o calor nos 1 terrenos chalmados frios ; porque hum jcorpo expoflo aos raios do fol , quan- :to ellc he mais duro , e folido , tan- ito maior calor adquire , e conferva 'por mais tempo, verificando-fe jflo nos fobreditos fragmentos lapidozos, Ineceflariamente eftes hao de commu« Jiicar o feu calor adquirido as parti- I iculas terreftes , que os cercao ; e por liiflb OS terrenos ainda que fejao frios jldquirem hum maior grao de calor, j \i ficfio ji.o eftado de iexem muito fru-, 670 Memo«ias iftiferoSj com tanto que os pequenod pedaf OS de pedra fejao mifturados eiU liurna conveniente proporcao, XL. A quantidade de area ^ ou de pe* (dagos de pedra , que fe deve langar no terreno , deve fcr malor , ou menor conlbrme elle fcr mais , ou menos apertado , e -como em geral nao po- demos determinar exacftamente a re- ferida quantidade, fe permitte ao pru-- dente cultivador , que o faga atten- dendo as circunftancias ; porera a reA peito do uzo da area devemos adver-* tir que he mais conveniente , que ef» ta feja efpaihada antes das lavouras por differentcs vezes em mcnor quan- tidade , do que muita junta por hu-* Hia vez fomcnte , porque nefte cafo a area fe amontoa toda nos regos feitos pelo arado , e com as chuvas fe in-* troduz no interior do terreno , e nadp cauza aquelle beneficio , que fe de-» zeja. § XLL A Intima comblnajad da argilM torn area nao he obra de duas 3 oil DE Agricultvita; r--^ trez lavouras , mas de muitas ] e luc- ceffivas , querendo por^m o proprie- tario obter o mefmo efFeito mais prom- ptamente devera antes mandar cavar p terreno , porque os obreiros com as enxadas levantao pouco a terra quebrao os terroens , mifturao a area com as differentes porjoens terreftes , depois as cliuvas , e geadas complc- tao a combinagao. § XLII. Quando porem o terreno for pro- ximo a lugares aonde haja muita le-? jiha , fe pode melhorar do modo fe- guinte i fe fazem de diftancia em dif- tancia , por exemplo de 20 ., em 20 pal- jnos huns pequenos monteculos dele- nha , OS quaes fe devem ciibrir de terra barrenta de que fe compoem o terreno , levantada em f6rma de trin- cheira , formando como efpecies de for- iios ( o que he facil praticar no tem- po de verao quando a terra efta mui-« to dura , e fe tirao grandes torroens ) ^eito ifto , e lan^ado o fogo a to da a lenlia , que fe acha recolhida nelies pequenos fornos , deve haver caute- la para que a chamma nao fahia pe- j^s pequenas fendas da argiila. ♦ ■ H i ft 0 » 1 A s § XLIII. Feita a combuft;a6 defle modo fe exalta6 pelo fogo as partes calcareas , que na argil la le con tern , fe deftroe a nimia adhelao , que as moleculas delta tern entre fi de forma , que fi- ca o terreno com huma grande quan- tidade de parte alkalinas poftas no ef- tado de ferem uteis a vegetacao co- mo ten ho dita : Accrcfce ficar o mef- mo terreno mais porozo , e capaz de recolher as influencias da atmosfera , e de as deftribuir aos vegetaes na- quella proporcao dc que elles preci- 23 6 , por eftas mefmas razoens fe po- de fazer hum uzo mil da cal , geco, e marne para corrigir o terreno pu- ramente argillaceo , ou barren to* § XLIV. Qiiando o cultivador nao poder fazer uzo da area , ou pedras reduzi- das a pequcnos pedajos para corrigirl o fobredito terreno , podera fupprir 2f fua falta procurando outra terra j que' feja muito folta , e dc facil exporta-i gao , a qual millurada com a argilla* CjQi huma conveniente proporjao poflif mo- aioderar a demaziada adliefao , que at partes dcfta tern entre fi. A propor- ^ao que fe deve guardar nefta miftiH ra nao pode fer dererminada fenao pe* lo prudente lavrador attendendo as circunllaiicias do feu terrenOi § XLV* Os eftercos das cavalliarl^as , que nefte lugar fe coniiderao como obran- do mechanicamente , tambem com uti- lidade fe podem empregar para corri- girem os terrenos muito apertados , porque nao fomente dividem as fuas partes j mas tambem as levanrao de forma , que facilita huma conveniens te evaporacao da humidade. Etles dols iins fe obtem com maior vantagem j qnanto mais palhentos forem os efter- eos J porque Confomem mais tempo para fe decomporeni , e por todo eftei confervao as terras levantadas. § XLVL Langado porem nas cavalharijas em lugar de palha , juncos , urzes , giedas , e folhas debuxo ^ todos eftes vegetaes apodrecidos dao hum cftrume pieJihor J que o das pallias , porqua S aquiij- ii74 Memorias ^quelle nao fomente fc carrega mais de laes , e paiticulas pinguidinozas re- coUiidas nos cfcrementos dos animaes , mas tambem obra como outras tantas lavancas , que impcdcm a reuniao das particulas aa argiUa dc que fe coni- poem o tcrreiio. § XLVII. Efte methodo nao terii lugar , quan- do OS terrenos , que ic pertendcm me- jhorar forem ir.uito diilantes das ca- valharicas , por cauzar muita defpcza a cxportacao dos eitercos , porcm eu o exponho juntamente com os cutrosja reicridos para que o lavrador atten- dendo as circunlcaucias poila crcolher aquelle , que llie parecer mais convex niente. § XLVIIl. Sao dois OS tempos , que princi- palmente deve efcolhcr o lavrador pa- ra lanjar o ellerco no feu terrene. O primeiro deve fcr antes do Inverno , para que por tcdo efte l"e pofla in- corporar com a terra , o fegundo pou- co tempo antes da Tementcira para que a terra fe coni'erve Jevantada em quanto as I'ementes nao lanjao as fuas pri- piimeiras raizes , e como o eftercO de Invcrno foffre huma pequena de-t compozijao, as boas fementes vege- tarao felizmente por cauza de pode- rem eflender as fuas raizes mais fa- cilmente entre as moleculas da argil- la, e do ellerco. § XLIX. Como toda a preparagao dos ter^ renos fe dirige para que os mefmos nao contenhao J'enao aqueJla agua , que convem a cada planra , fegue-fe que o meliioramento do terreno deve ier relativo a natureza daquelles ve- getaes , que o mefmo houver de pro- duzir ; porque as arvores fruclireras OS bofques , as vinhas ^ os prados na- turaes , e artificiaes , o trigo j fen- teio , millio , painco , cevada reque- rem difterente qualidade de terrenes , os quaes devem fer de tal forma psj-e- parados , ou pela natureza 5 ou pela Snduftria dos homens , que confervem a humidade naquella exaifta propor- jao , que convem a cada hum dos ge-* Micros dos i^jbreditos vegetaes. ^M ^ ^7^ M E W o ir r A * '"' § L. Eftii rcgra he tao intercfrnntc > ■•que a nao cbfcrviincia della cauza gra- viilimo damno aos lavradores , os quaes perdem muitas vezes as femen- tcs quando nao examinao por hum breve , e repetido cnfaio fe cflas fao accommodadas a natuicza do feu terre- no. Quantas vinlias fe rem cortado em muiros kigares delle Reino para Jeinea- rem trigo , milho , eentcio , ceva- d;a , e outros generos , que cm muitos annos nem prou oito , que reftao , de nada ferveni , e por con- lequencia fao fupcrfluas. Se o terreno he apertado , ou argillaceo , e nao teiii Udo corrigido por aJgum dos modos refcridos ainda que feja lavrado vin-' te vezes baftaia chuva de hum f6 dia para ficar no eftado como ie nunca fofle lavrado. Accrefce mais , que a argilla por mais que feja attenuada , e dividida nunca pode fervir de nu- trimento as plantas , concluimos pois , que as muir^fs lavouras tan to nao I'up- prem a falia dos ellrumes animaes, que antes fao abfolutamente inuteisj § LX. Du-Hamcl , e Tull. perfuadindo-ib tarobem , que os vegetaes recolhia6 to-» j das as fuas particulas nutritivas fomen- 1 te pelas raizes , diziao , que ellendeni j dc-fe , e ramificando-fe muiro eflas , r5cebia6 os fobreditos vegetaes maior quail- t)E Agricultur'a. aSjf ijuantidade de nutrimento , como po^ rem as repetidas lavouras attenuao , e dividem a terra , ficava efta no efta- do de as raizes fe ramificarem , e ef^ tenderem mais ao longe, fendo pois ellas OS unicos orgaos da nutrifao das plantas na hypotnefe de TuU , e Du-Hamel , feguc-fe que liao de as mefmas vegetar mais vigorozas , quan- to mais attenuado e dividido for o rer- reno , o qual effeito fendo unicamen- te produzido pelas muitas lavouras , concluiao pois que as mefmas erao abfolutamente neceffarias. § LXI. Os vegctaes nao fomente rece- bem o feu alimento pelas raizes , co* mo falfamente fe perfuadirao Tull ,• e Du-Himel ; mas tatnbem pelas fo- Jhas , e pelo tron::o. Nas fendas dos duros rochedos fe obferva'o vegeta- rem plantas vigorozas as quaes nao podem tirar o nutrimento da athmos- phera fenao pelas folhas , e tronco. § LXir. O fim , a que fe propoem as fre-' iguentGS lavouras dc attenuar^ e divi- h.%5 M fi M 0 u r A s - dir a terra , he executado pela nattii* Teza por meios mais efficazes fern foe* corro algiim da charrua , ou d'outro qualquer inftrumento , porque fe ob- fervar-mos a terra dos prados os mais fecundos , dos bofqiies os mais anti- gos , veremos que efta he baftante mo- vel , dividida , e branda ; efte efFeito, que debalde fe pertende imitar pelas repetidas lavouras he produzidt) pelo iiovo humus , que fe forma da putre- facao das folhas, dos ramos , que ca^, da anno coftumao cahir das arvores* Eila nova terra vegetal , que em hum anno he produzida , embaraja que aquella do anno precedente agitada pe- los ventos fe apcrte , e indurega. O' grande numero de vegetaes , que pe- netrao de todos os lados a terra , que: OS cerca reduzem efta a fer muito bran*' da , porque obrao como outras tantasn cunhas , e dividem o terreno miuito' meihor do que as repetidas lavou- ras. (a) O Qi') A forga que tern as raizes pnra penetraf | a terra, e aiiida inefmo as lubflancias mais du-' ras , he prodigioza , por efla cauza obfervamos jj niuros , e cazas lancadas por terra , rochedos e- iiormes eflalados peia incrivel forca das raises d que I'e inrroduzem por fcndas imperceptiveisj Iksb'ies confeffa tcr viflo nos Feriaeos faias , f feE AGRlCtJLTUR A. 287 § LXIII. O outro fim das repetidas lavou- ras 5 o qual confifte em arrancar to- das as mas ervas , que exiftem no terreno , tambem nao fe verifica ; por- :que lavrando-fe a terra com o arado ordinario nada mais fe faz do que cubrir as ditas ervas de algumas pol- gadas de terra , donde accontece que as mefmas continuao a vegetar co«io dantes , e as vezes ainda meilior. § LXIV. Nao fcndo a charrua ordinarla e iufficiente para arrancar as mas ervas inventarao os Inglezes huma maqui- na mais propria para efte Urn ; con- fifte efla em hum ferro incurvado em forma de arco com hum gume baf- tan- cafianheiros , que tern feito eilalar com as fuas raizes grandes rochedos fobre os quaes cafiia!- mente nal'cerao. O ge!o he tambem hum inftiu- mento , de que a natureza adm-iravelmente fe fervc para dividir as terras ; porque a agua , que fe introduz entre as particulas da terra augmen- tando de vohune pela conglaciacao as fepara , e divide , e as reduz a Terem muito mais impal- paveis. Eftes fad pois os inftrumentos deflinado ♦288 'M E M 0 R r X 5 -. tantcmcnte afiado , o qual fe introduj na terra fern a virar , corta as raizes ■das plantas que encontra na fua pat* lagera. § LXV. As repetidas Javouras nao fo £a6 fuperfluas como tenho moftrado ^ mas tambem nocivas , porque accelerao a decompozicao do humus crcadoror de todos OS vegetaes , c mudao em de- fcrros OS mais fecundos terrcnos , c para cu dar huma prova mais palpa-* vel defta verdade , baila fo obfervar , que quando le rotea hum campo que rem Tervido muitos annos de boiqucj e fe femea de trigo , ceiiteio , ou ou- tra qualqucr planta accommcdada a na-* lureza da terra , no primciro anno fe recoihe huma grande colheita ; no fe- gundo diminue efta , no terceiro he muito menor , e ailim por dia^te , de forma que o tcrreno privado ja de ]iuma grande parte de terra vegetal de que abundava , toma huma cor mais branca , at6 que finalmente mudando j inteiramentc de natureza , fe transfor- ! ina em Jium campo polvorulento y e to- talmente eileril. U) Na_ (rt) Fallo de Imm tcrreno jnculta, que de- pois, que le priiTCfpia a cultivar nao receb^ bE Aqp. icullura; -z8^ § LXVI. Na minha patria tenho obfervado ^ que muitos iavradcres roteando alguns terrenos inculros didaiitcs da povoa- cao, e queiraando juntamente todos OS arbuftos , que nos mefnios arrancao j fazem no pnmeiro anno huma gran- de colheita dos frutos , cue ihe fe- meiao , que ordinariamente Jie cenreio* Nos annos feguintes , como pela dil^ tancia he difficil a exportaca6 dos ef- trumes animaes j uao ihe fazem outro beneficio aos ditos terrenes fenao la- vrallos algumas vezes ; donde aconrece que no fegundo e terceiro anno ainda OS frutos pagao o trabalho do culti- vador , porem depois diminuem de tal forma as colheitas , que efte he obri- gado a defamparar o feu campo. § LXVIL Conckilmos pois , que fe as la- ViDuras fupprilTem a faJta dos eftrumes animaes , nunca os terrenos , que fof-* fem frequentemente lavrados , de fecun- dos fe fariao progreffivamente eflc- T re is , •utro beneficio annualmente fenae o das b* Vouras, ijo Memorial reis , como mollra a todos a expe- ricncia ; por eila caula fe obfervao em muitos lugares de Portugal incultos iiquellcs prcdios diilantes das povoa- cocns , e ainda muitos dos proximo s , quando cftas I'ao tao pequenas , que nao podem tcr todos os eftrumes ani- maes necefTarios para beneficiar os feus campos vizinhos. § LXVIII. A mri cultura dos Antigos Roma- nos os fez perliuadir , que as terras fe envelheciao fazendo-fe progrefliva- mcnte eftcreis , de f6rma que aquelles campos , que erao reduzidos a liuma grande eflerilidade , totalmente os de- famparavao. Conila pois da Hiftoria , que efles predios deixados pelos Ro- ananos , fao hoje tao ferteis como fc foffem terras novas ; o que nao deve- ria acontccer , fe os terrcnos folfem fuiccptiveis de velliice , ou de huma efterilidade progreiTiva. A cauia defte cfFcito nao pode fer outra , fenao que OS Antigos pofTuidorcs lavrav?.6 ex- ceflivamcnte os fobreditos terrcnos , e aquelles , que artualmente os cuitivao ulao de hum numero de lavouras mais modcrado. (a) As ' (it') A mi cultura introdiizidci pelos povos con"* quiftadores nos Paizes lubjugados , caufa mas el" t)E Agricultura; iyt § LXIX. As lavouras na6 fdmente decom^ poem o humus , como tenlio moftrado , mas tambem obrigao a fahircm do ter- rene OS principles nutritivos dos ve- getaes por huma continuada evapora- jaoj lego quanto mais efla he aug- mentada , tanto diminue a ferrilidade do predio. Como porcm as repctidas lavouras produzem huma for^ada eva- T ii po- trago do que IniiTia guerra fuccefTiva , porque cul" tivando fe inal os cainpos diminuem os friitos • c na mefma razao que eftes faltao , tambein a povoacao he cada vez metior ; e deRe modo muitas anti^as , e ricas Cidades fe deRruirao , das quaes ainda hoje admiramos as fuas ruinas j tal foi a antiga Palmyra : fendo pois ella Ci- dade huma das mais opolentaS da Afia pela fertilidade dos feus terrenes , hoje faz parte dos defertos de Tadmor , aonde fe olha ainda com adiTlira9a6 para algumas ruinas defla foberba Ci- dade , e como a Hiftoria nao faz mencau da deflruigao da dita Pahnyra ( porque todas as mu- dancas , que fe fazeai por degraos muito lentos « fempre em todos os tempos tern efcapado ao'? Hiftoriadores , os quaes fomente referem os acci- dentes repentinos e notaveis ) nao deve pois fer attribuida a outra caufa fenao a rr,a cultura , 1 ^ue introdiizirao os Romanos , quando a ecn- quirtarao , a qual lentamentc pode converter eiii dtffertos os centinentes mais fciteis, e po-ca-* 1 dos.: ipi M E M O R I A » porajao dos principios volateis , e nu- trienres , fegue-le , que tao longe eftao eftas de poderem fupprir a falta dos eftrumes animaes , que antes fao ca- pazes de converter em defertos os mais fecundos terrenes. § LXX. Como a forcada evaporacao dos principios volateis caufa a efterilidade dos terrcnos , fegue-le que demorando- • ie iielles por alguma cauia os fobre- ditos principios , os predios confer- vao , e augmenta6 a lua fertilidade , e produzem frutos em maior quanti- dade ; por efta caufa eu tenlio obfer- vado na minha Provincia , que nos an- nos em que fao mais frequentes as ne- ves , e geadas , e ellas fe demorao por algum tempo nas fcaras , entao produ- zem colheitas mais abundantes , por- que os corpufcuios volateis , que ape- nas fe defenvolvem do interior da ter- ra , chegando a fuperficie , fao condenfa- dos pela neve , e obrigados , ou a fi- carem no terreno , ou a ferem abfor- bidos pela neve, a qual fundindo-le , pouco a pouco, OS conduz para o feio | da terra , donde tinliao fahido. (a) Na I (<») No tempo de Inverno os fuccos recolliido^ no terreno Ibbein pouco , antes fao obrigadgs ^ BE AgRICULTURA. 295 § LXXI. Na feguinre Primavera a evapo- ra.jao fe faz fern obflaculo , e os ve- getaes gozao de hum alimcnto ad:ual , augmentado daquelle que feria perdi- do no tempo de Inverno , e defte modo fendo o fuftento duplo , tambem fera duplo o vigor , e numero das plantas. Fatigando-fe a fuperficie do terreno com frequentes lavouras , fe adianta a evaporacao dos principlos nutritivos de forma , que fe volati- lizao trez quartas partes da nutricao deftinada para os vegetaes , que hou- vefTem de nafcer. Caufao mais as fu- perfluas lavouras outros muitos incom- modos , como perda de tempo , aug- mento de trabalho inutil dos lavrado* rcs 5 e dos animaes. § LXXII. Ten ho moilrado , que as muitas lavouras nao fupprem a faita dos ef- trumes animaes , mas antes fao fuper- fiuas , defcer; porifTo nefta eftagao crefcem muito as raizes ; porcin na Primavera as neves , que fe fundem , as chuvas quentes , o fol que adquire forqas de momento a momento , contribueiri muito para que as plantas brotem , e vegctent :om vigor, c produzao muico fruto. $94 Memorias fJuas J e nocivas , porem Tull. , e Du- Ha-mel [c perfuadirao do contrario, tal-^ vez movidos da leguinte experiencia. Se em hum campo (a) tomarmos duas por^oens de terra iguaes em quanto a jiatureza do terreno , expofifao do mefmo, c todas as mais circunftancias j fe em homa , e outra for femeada ha-f ma igual quantidade , por exempio de trigo , dara mais fruto aquella por-» ^ao, que tiver iido mais vezes lavra- da. Daqui concluem Tull. , e Du-Ha- mel, que as repetidas lavouras podem jfupprir a falta dos cflrumes animaes, § LXXIII. O efFeito enganador deila expe-! riencia nafce , de que a fuperficie da- quella por^ao de terreno , que tem dado mais fruto, feita mais dezigual pcla lavoura , aprefenta hum maior nu- inero de fuperficies ao Sol , o qua! augmenta a evaporajao ordinaria dos principios volateis ; os vegetaes , que jiafcem cercados de huma athmosphera cheia deftas exahalacoens , que formao a parte principal do feu nutrimento , de- (a) ERe campo le deve entender preparado! de F6rma , que coiiferve a humidade naquella pro- porcao , que for convenience as plantas , que fq hoqvereii; de remear. DE Agrigultura. 295" devem augmentar a proporgao o feu fmto. § LXXIV. Porem fera facil conliecer o erro , fe for repetida mais vezes a fobredi- ta cxperiencia ; porque nos primeiros annos obfervaremos , que a por^ao que tiver recebido hum maior nume- ro de lavouras , da liuma maior quan- tidade de fruto j porem nos futuros tendo ja fido exhaurida dos fuccos mi- triticios por huma evaporacao forga- da , da liuma colheiia incomparavcl- mente menor , do que a outra por- cao , que modicamente foi lavrada i e quando a primeira for reduzida- a huma total efterilidade , a fegunda nao dara delta os mais ieves iinaes. § LXXV. Tenho moilrado os maos efFeiros , que fe feguem das rcpetidas lavouras adoptadas pelo iyllema de Tull. , po- rem para de huma vez provar a in- fufficiencia e inutilidade deiie fyftema , baft^i Ibmente advertirmos , que he def- conhecido na China , defprezado na Inglatcrra , na SueiFia , e em outros muitos Paizes , aonde a Agricultura o tern 1^6 Memorias tern chegado a ultimo ponto de per- feicao. § LXXVL Os Antigos tambem na6 aprova- vao as lavoLiras exceilivas , antes diz Virgilio 5 que era difFerentes tempos do anno fao muiro nocivas. O mef- mo Virgilio , e outros do feu tempo affirmao , que as terras magras fe de- vem lavrar menos vezes do que as for- tes, para que aquellas nao fejao priva- das do poaco humor , que contem, Donde podemos concluir, que os An* tigos nao eftavad perfuadidos , que as muitas lavouras fertilizavao os terre-» nos , porque de outra forma teriao re-i commendado o contrano. (a) Defta doutrina podemos deduzir alguns Go^ rollarios . COROLLARIO L AS lavouras nao tern por fim o por a terra no eftado de penc- trar pelos vafos tenuifllmos dos vege- taes J porque por eftes nao podc fer ab' (iv) ,, JSlec tibt tarn pradcns tjiilfijuani pcrfuft' ,, (ieat at porque como ordinariamente he habitado por poucos vegetaes , recebe huma pequena quantidade de humus nafcida da decompozijao dos mef- mos , a qual he roubada pela agua das chuvas. Accrefce mais , que efte terreno inculto nao pode fer penetra- do pelos adubos meteoiicos , e que a evaporacao produzida pelo calor do Sol , pouco a pouco Ihe difllpa todos OS principios volateis , que no mefmo ie con tern. § LXXXI. Concluo pois , que hum terreno inculto nada recebe , nem ^a decom- pozijao dos vegetaes , que fuflenta , nem da athmosphera, e perde lentam.en-' te todos OS principios volateis , que Jicr interior do melmo eflao recolhi- dos ; logo o cultivador que deixar as fuas terras de pouzio , com a efperan- ca de fazer dcpois maior colheita , ie acha inteiramente enganado , porque ji'do f6mente perde todos os Frutos , que poderia recolher naquelle tempo An que as ditas terras ficao em def- canjo , mas ate promovc a efterilida- de progieiliva d;is mefmas. Quan-* DE AGRICULTURi<; ^JOJ § LXXXII. Quando porem o terreno no tern-, po do defcanjo fe lavra repetidas ve- zes , recebe hum mais grave detri- mento do que fe licalle de pouzio , porque as muitas lavouras alem de nao fupprirem a flilta dos eftrumes aaimaes , como tenho moftrado , faci- Jitao mais a evapora^ao dos principios volateis recolhidos no interior da ter- ra , e reduzem efta mais brevemente a Jiuma jjrande efleriiidade. § LXXXIII. Em confequencia difto , devemos repurar como Iiuma corruptella o cof- tume adoptado por Du-Hamcl, e fe- [juido em muiros lugares defies Rei- nos ; o qual confifte cm femear as ter- ras hum anno J e no feguinte deixallas de pouzio , a fim de ierem eflas divi- didas J e attcnuadas pelas repetidas la- vouras j como temos moftrado , que eftas nao fo fao fuperfluas , mas no- civas , fcgue-fe , que efte coftume de- teriora o lavrador em metade , ou hum t«r*po dos feus frutos . na perda de tempo ^ no augmenro do trabalho inu-t '304 . M E M 0 R I A S . til afllm feu , como dos animaes ] c tanto nao augmenta a fertilidadc do feu terreno , que antes padece eflc jnaior decadencia. § LXXXIV. Se porem nos terrenes , que fe deixarem por culrivar nafcerem fpon- taneamente muitos arbullos , como em alguns tenho obfervado , e fe fe con- fervar o humus produzido pela de- compozicao dos vegetacs , e fc impe- dir a evaporacao dos principios vo- lateis , nelte cafo os fobreditos terre- jios augmentarao a fua fertilidadc. Daqui talvez tivelTe origem o coftume introduzido de deixarem as terras do pouzio ; porem dcvemos advertir , que affim como eilas fuftentao muitos ar- builos , dos quaes nenhuma , ou pou- ca utilidade ie tira , tambem podeni nutrir plantas , das quaes o lavrador pofla tirar a fua fubfiflencia , e riqueza. § LXXXV, Ultimamente moftrarei , que he repugnante a experiencia , e a pratica, do? povos^ aonde mais florel'cc a Agri-' cui- tultUra , que as terras de pouzio aug- meiirem a iua fertilidade 3 porc^ue fe iangarmos os olhos para os bolques , e prados naturaes obfervamos , que o terreno fuftenta hum grande nume- ^■0 de vegetaes , e que a pezar delta •condnuada producgao , o terreno fe conferva extremamente fertiL Logo o deixar os predios alguns tempos por cultivar , nao he o meio de fertilizal- ios de forma , que fe poffa fupprir a falta dos eftrumes animaes , mas Rm o procurar , que os mefmos produzao a maior quantidade de vegetaes > que for pofllvel. Efta verdade nao era ab- folutamcnte defconhecida dos Antigos , OS quaes confefTavao , que na6 havia terra mais fertil do que aquella , que finha produzido plantas por hum lon-« go tempo, (a) § LXXXVI. Na China , geralmente fallando > as . ^rras nao fao de melhor qualidade , que as noflas ; entre eftes povos fe obferva6 boas , mediocres , e mas , ou para melhor me explicar , terras fortes , e argillaceas , ligeiras , e pc* ^ V dra^- (a) Talis fere ejl in novalibas , ca:fa viierc j^h»«i, qaa etnfenfu laudatur Plin. Cap. 17. "^06 -Me m 0 r i\a s> 'dragozas , as qiia^es nas Provincias dp Norte dao fruto huma , e duas \^ ,2es cada anno , e algumas jfinco ve- zes em dois annos nas Provincias me<- ridionaes. Todas eftas terras nunca ja mais le deixarao do poiizio, aindaquc a maior parte dellas produzem friit© Xucceflivamcntc , lia mais de mil annos* § LXXXVII. Os habitantes do Tirol pela fuai induftria , e per huma cultura bem re- gulada chegarao a povoar de vegetaes OS rochedos mais efcarpados. E ain? ■da que a natureza dos feus terrenos ieja naturalmente ingrata , e o - clima pouco favoravel para a vegetajao , com tudo nao fe fabe entre eftes povos ^ que coila Ieja deixailos em delcanjoj antes annualmente fazem trcz , oij quatro colheitas de differentes frutos , as quaes tao.longe ellao de enfraque- cerem o terreno , que antes o tazem mais fecundo. He finalmente defconhe- cido o coitume de deixar as terras d^ pouzio em Flandres , Normandia y I Artoi , Piemont , Lombardia , Ingla- terra j e outros muitos povos para os quaes a Agricultura deveo fempre 05 maiores cuidados. Defta doutrina fe podcm deduzir alguns Corollarios. CO-, COROLLARIO L OS terrenos , que fe deixad alguni tempo por cultivar , e que ap&* nas fullenta6 hum ^ ou outro vegetal', ■nao adquirem melhoramento algimi , antes perdem a fua fertilidade. COROLLARIO IL ODeixar as terras de pouzio he hnm abufo , que caufa detri-- men to ao lavrador , e ao Eitado. COROLLARIO III. COmo «s lavouras muito repeti- das caufao huma forgada eva- poraca6 dos principios volateis , e adiantao a efterilidade do terreno , fe-* gue*fe que he igualmente abufo intro- duzido em muitos lugares defies Rei-*' nos , o deixar defcanjar as terras hum anno , para neflc ferem frequentes ve- ies lavradas. ^^ IDE AGRICtTLTURA; ^,i^ Utllidade que lefulta aos caftanhei- los , e oliveiras de ferem lavrados os feus predios ; por^m deve fer de for- ma que na6 fe confervem nus de ve- getaes. Pode-fe femear centeio , ou outra qualquer planta accommodada a, natureza do terreno. § xcv. Nao devemos crer , que os cafta- rheiros , e oliveiras fervem de impe- dimento a vegetacao das plantas , que no mefmo terreno fe houverem de fe- mear ( excepto fe as fobreditas arvo- res eftiverem tao proximas humas daa cutras- 5 que nao deixem entrar os raios do Sol ) porque como as raizes das ditas plantas nao fe extendem fe- iiao duas , ou trez polegadas abaixo da iliperficie da terra , recebem todo o nu- trimento , que fe contem nefta camada. § XCVI. Nem tambem os caftanheiros , ' e oliveiras Ihes roubao a nutrijao , que Ihe pode dar a athmosphera ; porque como OS vapores nutriticios fobem a differentes alturas , as plantas , que fao inccm^^aravelmente mais baixas do .que , f 14^ Me MORI AS que as arvores hao de abforber aquel-^ les , que eftao mais proximos a fuper- ficie do terreno , ncando os que fe fi]ftenta6 a huma maior almra , para favoreceretn a vegetacao das olivei- ras , e caftanheiros. Logo podemos eftabelecer como huma regra geral y que fe podem fcmear quaefquer plan- tas debaixo das arvores , com tanto que eftas nao eftejao muito proximas nu- mas das outras. {a) § XCVII. . > Todos aquelles campos defies Rei- nos J que de Inverno fe convertem em ' (o) Civltas Afi'icc in medlls aren'is , petentibtis' fyrtes Leplintjuc magnam , vocatitr Tacape , felici fuper ontnt miraculsnt vlguo folo : tern'is Jere millikus paffuttm , In emnem partem fons ahitndat , turaus tju'idem , feci ccrtit hornriiin fpatils dlf- penjatiir Inter incolas. Pnlnijc Ibi pr^grandi Jub' dltur olea , hu'ic ficus , fico pumca , llVi vilis ; fub vite ferilur fnuncntiini , mox legumen , de^ inde clus , cmrtia eodcm anno : omnlaqne alle- na umbra aliintiir, Et ni/i mulllplici porta txinaniatiir itbertas , perettnt hixuria Jinguli friiSius, Nunc vero toto anno niiititur alitjuid, Conjlat fcrtilitttll nnn cccurrere homines. Qua" terna cubita ejus foli in . quadrattim , nee iit a pcrreHis metiantur digitls ,' fed in pugnum contraEiis , quotern'ts dcoariis vsniiiidiiiitiir. Plin.' liv. iS. Capt 22. DE AGRICULTiryAr ^If em prados naturaes , e fao inundadoa pelas enclientcs dos rios , naa precifao ae ellrumes animaes , e fao os mais ferteis , que obfervamos. Porque os di-* tos campos annualmente recebem o humus depozitado pelas aguas , e pro-* duzido pela putrefajao dos vegetaes. § XCVIII. Se aquelles terrenes , que depols: das colheitas fa6 convertidos em pra- dos naturaes , pelas rauitas plantas , que nelles nafcem , fe confervao fempre ferteis fern neceffidade alguma dos ef- trumes animaes , porque nao havemos DOS imitar , quanto for polTivel , efte- meio facil , de que ufa a natureza nos predios longinquos das povoajoes , para os quaes a exportaj?.© dos efter-, cos exige dp lavrador hum grande tra- ballio , e dcfpeza. § XCIX. Em confequencia do que tenho di- to devo affirmar fer falfa a perfuaza6' de cfue as terras precifao de muitas. lavouras , e eftrumes animaes para pro- duzirem fruto. Devemos pois refor- mar o methodo da cultura. A nature- ' ■ za . ^t6 MlMOlIAS' ta. deve fer o modelo , que devemos" imitar , e o noflb trabalho todo elle' convem , que tenda a formar a maior quantidade de humus , que for pofli- rel , e obtido efte fim teremos fem- pre colheitas abundantes. § C. O caminho , que a natureza to^ ma para produzir huma grande quan- tidade de terra vegetal , he a multi- plicajao , e a reproduccao continuada de plantas , por efta caufa devemos procurar que os terrenos produzao o maior numero , que for pofTivel , de Vegetaes. Efte fera o meio de os con- fer var fempre ferteis , e de reduzir a efte eftado aquelles , que por huma ailtura mal entendida , fe fazem pro- progreiUvamente mais eftereis (a) § CI. Entre os vegetaes de que fe po- ^; de__ (j) Catao , e Pliiiio erao tambem defle fen- limento , e confefTavao que os tremoqos , as favas , e as ervilhas lerviao para eftrumar 09 terrenos. Solum , in quo fata cjl , latiJUat jler-, *cris vicehb. 18. Cap. 12. Bt vicla pingucscitnt «rva f nee ipfa agrlcolis operofa. Lib. iZ, Csp» IS' I € liv. J7. Cap. i8. bE ACRICULTtni A. ^tf. •fle fazer ufo para fervirem como dg, 4:ftrumes aos terrenos , fe devem ef- colher aquelies , que tiverem raizes mais groftas , e que penetrarem a ter^ ra a hum a maior proflindidade ; por- que huinas , e outras apodrecendo , dad huma maior quantidade de terra ve- getal J e eftes dividem mais o terre- no obrando como outras tantas cunJias. Por efta caufa os predios recebem em maior abundancia os adubos meteori- cos , e adquirem mais mobilidade nas fuas particulas. Temos muitos exem- plos, que nos podem fervir para con- firmar efta verdade , e entre eftes baP- ta fo referir o Condado de Norfolk em Inglaterra, no qual havendo mui- tos campos J todos de huma terra are- jiacea , infecunda por natureza , fora6 eftes fo pela fimplez , e repetida cul- tura dos nabos , transformados em ter^* \renos fecundos, e ricos. § CII. Em confequencia difto fe o terre- ro for de tal natureza , que apenas fe fizex a colheita logo for mudado cm hum prado natural , nao necejQl- tara de outro eftrume , mais do que a(juellep que recebe dos cadaveres dos ^himaes , que morrem no mefmo te'ft reno , dos feus excrementos , e deii pojos , e juntamenj:e dos vegetaes apo*- tlrecidos , que elle fuftenra ; e pari nos convencennos diflo mefmo , bafla attend«rmos para a reliexao feguinte; § cm. ': ■ O nuraero dos animaes, que vl- vem em qualquer tcrreno , he fempre J)roporGionado aquelle das plantas , que no mefmo exilcem ; e quanto mais as efpecies deftas variao , tanto maiof he o numero dos incetos ; a maiof parte dos quaes nao durao mais do que hum anno , e alguns nem efte tem- po. Qs excrementos de cada hum def- ies animaes no tempo da fua vida , fa-* iem o triplo do feu volume. Defpem k pelle em tod as as metamorphofes, at6 que fe transformao em hum animal perfeito. Devemos pois ajuntar o in- crivel numero de incetos, que vivem na terra dos prados , e fe fuftentao das fuas raizes , como fe pode ver ca- vando huma pequena porgao de hunt prado de dois pes em quadro. i^3 DE AgR ICULTtTR A. 319 § CIV. Os cadaveres deftes animaes , os jTeus defpojos , e extrementos fubrai- niftrando fubllancias oleozas , e al^ kalinas , a decompozi^ao annual de huma parte das folhas das piantas j 4e que fe compoem os prados , as fubllancias meteorlcas , que Ihe fa^ apropriadas , tudo contribue para que eftes confervem huma continuada fer- dlidaide ; por iflb a experiencia trof- tra , que aquelles campos , que dt Inverno fe convertem em prados na- turaes , dao nefte tempo paftagem aos gados ; e fem foccorro dos eflrumes animaes dao frutos ,. em abundancia. § cv. Logo fe a experiencia moflra ^ que aquelles campos , que naturaimen- te fe enchem de piantas fao os mais ferteis , e nao precifao de eftrume al- gum animal ; imitemos pois a natu- uez3. , fajamos , que aquelles terrenes , que depois da fua colheita nao pro- duzem vegetaes em abundancia , fe re- duzao a prados artificiaes , femeando Aquelles., qu(? fcrem mais accommo' da- i^'id < M E M 0 11 1 A 5 a dados i natureza do terreno. Eis-aqTrl temos que eftcs predios de Inverno podem dar paftagem aos gados , ou feno para os melmos ; e na Primave- ra femearem-fe de trigo , pain go , ou 'outras quaefquer plantas lem necelli- dade de eftrumes anima-es. Ifto mef- mo provo com a experiencia feita re- petidas vezes em muitos lugares def» te Reino. § CVI. No termo de Alafoens , aonde hi feis annos tenho eftado em diiFcrenteS mezes do anno , tenho oblervado , que alguns cultivadores defte paiz depois de fazerem a colheita do milho , ou antes da mefma , coftumao femear em eftes terrcnos herva molar , paflados alguns tempos tern o cuidado de os limar com agua de algum rio , ou fonte vizinha. Tem os iavradores her- va para os animaes por todo o tempo de Inverno , e na Primavera femeao de milho os feus terrenos ,- fern neftes lanfarem eftrume algum , dos quae? rccolhem depois huma abundante coi Iheita. § CVII. '! Em alguns lugares d^ ProvincI^ dQ bE A GRICULTUR A. 32! do Minho , e Traz-os-Montes ccflu- mao tambem praticar o mefmo , tendo lempre muita cautela de confcrvareni OS leus predios limadcs de agua o mais tempo ^ que he poffivel j de torm^ que a diflribuijao defta no Minho he a caufa da maior pane das lites e dezordens , que fe obfervao entre OS feus habitantes. § CVIII. De ferem os prados , ou lameiros como vulgarmente Ihe chamao , lima- I dos de agua o maior tempo , que ', he poffivel J fe feguem duas utilidades ; 1 a primeira confute na maior quanti- ! dade de herva , que tern os lavr'ado- res , muito principahnente por fazerem ufo de plantas , que fern muita hu- I midade crefcem pouco ; a fegunda pro- cede de fe augmentar a fertilidade ao terreno j porque o humus , que a agua tern diflblvido , fe precipita no mefmo pouco a pouco y por efta caufa os fo- i breditos predios fem ellrume algum I animal prcduzem frutos ' em abun- dancia. I § CIX. Coflumao pois nefte Reino recfu- '^21 ' M E M O R I"A S ' •air. a prados artificiaes f6mcnte aquel- -les campos , que por todo o Inverno ati a Primavera fao limados de agiia. Porem conio he maito pequcno o nu- mero delles predics em comparajao daquellcs , que fa6 deftituidos deltas circanllancias , fao obrigados os lavra?- dores a procurarem eftiumcs animaes para os aduburem ; e nao chegando ef* tes , ou fendo difEculroza a fua cx- poitacao , recorrem huns as rcpctidas lavouras ; oiitros deixao os fobreditos terrenos de poiizio \ outros finaJmeii- te OS deiam'parao dcixaado-os iiicukos ^ e deicrtos. § ex. Moftra a experiencia fcita em al* guns terrenos delle Reino , e daquei- les povos aonde mais floreice a Agri- culmra , como fao Inglatcrra , China , Lombardia , e outros , que os predios aonde os vegetaes fuccedem huns aos outros com o nienor intervallo pofli- vel , fiio OS mais ferteis. Na conformi- dade delles principios podcmos fupprir a faha dos cftrumes animaes de quatro por recolherem todos os adiibos ath* mosphericos , e inuito prjncipalnieiite aqucllas ^ (que chovem no tempo das trovoadas. Por efl^ principio era conveniente , que os iavradores fizefTcm grandes cillernas , aonde recebeflem tu- das eftas aguas para depois poderem limar os feus campos. (Ji) O diligente lavfador naa fe deve; elque- cer de encaminiiar para 03 feus prados , ou la- nieirbs a agua da chuva, e fazer com que a rnefma fe demore o mai" que puder i'ti. Pr;r- ticara oorcai. a conttaria , fg os terrenos i/ay tv- r324 M E M O R I A S * § CXII. Dcfta pratica fe podcm fegulr mui- tas utilidades ; i. ic augmentao os paftos , e pode o lavrador tcr maior luimero de animaes ; 2. crei'ce muito a fcrtilidade dos predios ; ^. fao ef- CLifados OS eftrumes animaes. Eftes prados podcm fer confervados fomcn- te no tempo de Invcrno , e na Pri- mavera lb IJies podem femear aquel- las plantas mals accommodadas ao cli- ma , e natureza do terreno. § GXIIL ir. Mo- Nos'terrenos montanhozos , e ma- gros , e que nao Je podem reduzir a prados , ie fuppre a falta dos eftru- mes animaes do modo feguinte. De- vem-fe femear todas , e quaefquer plan- tas , com tanto que pelas liias ilores nao tornem a fer rcproduzidas , como fao as ervilhas , favas , centeio , ce- vada , aveia , lucerna , rrevo , tremo- cos ; e outras muitas , que forem accommodadas a natureza do terreno. As_ rem pindos , e tiverem liuir.a tal inclinacao, que as aguas Ihes roubem as cetras. DE-AgR I CU LTU R A. 325" § CXIV. As fementes {a) deftas plantas , ou podem fer femeadas todas junra- mente , mifturando humas com outras , ou o cultivador efcolher aquella , que for mais accommodada a natureza do terreno , e vegetar neile com maior vantagem do que ourra qualquer. Em quanto a fementeira convem , que o lavrador ao mefmo tempo , que for abrindo o rego lanje a fementc de for- ma , que poiTa fer efla cuberta com a terra , que for fahindo , quando fe faz o outro rego im.mediato. Havendo al- gum inconveniente para nao fe poder executar defte modo a fementeira , fe fara conforme o collumej que tiver adoptado o paiz. § cxv. O tempo, em que efta fementeira fe deve fazer , icra regalado pelas cir- cunftancias do lugar aonde eftiver o terreno j porque fe for fujeito a gran- des calores , nao fe fara logo imme- -( dia- i " («) Ertas fementes podem fer o rebotallio daS lotttras , porque o fim nao he de fazer coHieiU lalguma, mas de mulupHcar plamas^ i^id. M E M O R I A S ■ ^ diatamente a ceifa , pordm convem antes cfperar por algiima chuva ^ fal- tando ella , o diligente lavrador nao deixara palTar o mez de Setembro j'em ter teito. a fua lementcira , porque ja nelle tempo fendo as noites mais frefcas , e os orv.ilhos mais frequcn- tes , as femeiites podeiTi mais facilmen- te gennar , e nutrirem-fe. § CXVI. Se port'm o pa^z nao for fujeito • a graiidcs cdorcs , e o terreno con- iervar aquclla humidadc , que for ne- cciT^iiia para que as piantas poflao germar , c nurrirei-n-le ; nepje caib fe flira a feme,)'*, 'ira logo immediatamen- to a ceifa , ieincando ao mefmo tem- po , que fe lavrar o terreno , poden- do fcr , quando nao daquelle modo , que for mais convenientc ao lavrador, § CXVII. Tanto que o terreno adquirir hu- jna ccrta conrii"ieiKia , fe deve lavrar dc novo , e enterrar todas as plan- tas, que no mefmo tiv-irem crelcido. O tempo dcdi fcgunda lavoura , dc-' ys fer t-ektivo i conltitiiijao da ath- deAgricultura. '327 mosphera do paiz aonde fe habita , ha- vendo lemprc cautela de prevenir as geadas. Porem logo que eflas pafl'arem , como tambem as chuvas , e neves , e a terra fe achar no cftado de poder- fcr lavrada , fe pod.em tornar a femear as mefmas plantas ; e logo , que ef- tas eftiverem floridas , convcm que iejao eftercadas antes , que lance as fiias fementes. (a) § CXVIII. Depois que na Prinmvera titer ii- do lavrado o terreno para enrerrar as fobrediras plantas , em quanto nao paf- far o raez de Julho , e Agoilo , deve ficar efte de pouzio , para que nefte tempo com o calor do Sol to- da a herva enterrada pofia apodre- eer. Vindo Setembro , ou Ourubro fe podera fazer a fementeira ; dcHe mo- do podcm fer efcufados os eftrumes animaes , e os terrenes confervarao fempre a ilia fertilidade primitiva. El- mil nas terras. § CXXVI. Todos OS vegetaes amontoados , e penetrados de humidade fermentao ,. a qua! fcrmentajao na6 a pode haver fem calor. Muis como hum dos effei- tos delte he volatilizar , e evaporar os • .': V flui- DE Agricvltvra. 3^5' fliwdos , fegue-fe que quanto malor for o calor interior pofto em accao pelo da athmospliera , mais aifliva ier^ a evaporafao. Por efta caufa fa6 ap- plicadas as camadas fucceflivas de ter- ra entre as dos vegetaes , porque nao fomente embarajao que fe volatilize a humidade , mas tambem concentrao o caloF de raaneira , que cada camada tern o Tea foco particular , e goza ao mefm. tempo do trabalho da mafla to- tal, (u) § CXXVII. Que OS vegetaes p'utrefatftos fa6 o melhor eftrume , que fe pode appli- car para fertilizar os terrenos, nao fomente fe prova pela experiencia fei- ta nefte Reino , mas tambem por mui- tas e repetidas dos outros Reinos. Na Irlanda fe fertiriza6 os campos com palha apodrccida pelas chuvas ^ na Tofcana femeando ervillias, e en-' ter- (0 Se as camada? de terra interpoftas entre as dns vegetaes fofTem de cal , ou de uiarne poderiamos obter o iiiefino effeito ? Certament^ nao. Poderia inn aiigmentar-fe fimplezmente o principio Salino. Porcin fe romperia a comhi- na9a6 dos principios dos eftiumes vegetaes , porque o Sal feria ein fuperabuiidanda , e pot confeqiisncia mui:© nofivo. j ' ^^6 Memorias terrando-as logo que chegao a floref- cencia , com as favas fe praticava ifto mefmo antigamentc em Macedo- nia. A utilidade delle mcthodo era muito bem conhecida no tempo dos Romanos como rcfere Plinio liv. 17. Cap. 19. (a) Attefta mais efte antigo Natural ifta , que em Treves confumin- do-fe em hum anno todas as fearas por caufa de hum grand e frio , fe iembrarao os feus habitantes de femear novamente as fuas terras no mez de Marfo, de que Ihe refultou terem huma abundante colheita. § CXXVIII. Devo iikimamente advertir , que o melhor methodo de que fe pode ufar para fupprir a falta dos eftrumes ani- maes , he o alternar as terras , fazendo- as produzir diverfos frutos em dif- ferentes annos. Ella altcrnativa fe po- de fazer annualmente , ou lomente de- pois que fe pallarem muitos annos. Obferva-fe por exemplo em hum cam- po femeado de lucerna , ou outra qualquer planta , que efta paifados al- guns Q') Inter omnes atttein conjLit nihil ejfc ittilim Jiipini fe^ete , priiijijiiam /iliijuetur aralro , vcl I'l-". . denli v i^. DE AgRI GULl^UR A. 345 § CXXXVII. Dos principios eftabelecidos fe con- clue a utilidade , que as terras podem rcceber das cinzas , a qual he muito vizivel principalmente nos prados ; o que paflb a moftrar com a feguinte lefle- xao. Se olharmos para hum prado aon- de OS vegetaes , que nelle vivem fe tocao huns aos outros , obfervaremos , que o mefmo fe augmenta cada an- no de huma camada de terra vegetal , produzida pela decompozijao de mui- tas plantas annuaes , e biennaes , que morrem logo , que tern dado as luas fementes j pela folha de outras , que, ou em parte , ou toda annualmente fe fecca. Accrefce mais , que hum ter-^ reno cuberto de muitas plantas fuilenta hum grande numero de incetos , os quaes pagando o tributo a natureza huns mais tarde , outros mais cedo fubminiilrao ao predio muitas materias oleozas , c huma terra foluvel na agua. Donde fe fegue , que liavendo nos prados huma grande quantidade de terra vegetal involvida com muitos prin- Ne . , . pudcat "E-Wcetos clnerem immundum jnSlare ver agros» V'lrg. Gccrg, lib, I. Y. iiO. ^544 M E M O R I A s principios oleozos , procedida da de- compozifao dos animacs e vegetaes, fe faz necelTario o principio falino para fazer milcivel com a agua as dif- terentes fubrtancias oleozas , e terreftrcs. Iflo he o que tazcm as cinzas por cau- ia do fil alkalino , que contem , o alkale , como tambem tern a proprie- dade de ablorber a humidade da ath- mosphera , e com efta o acido aerea faz mais promptamente mifciveis com a agua , e proprias para a vegetajad as fubftancias animaes. § CXXXVIII. Podemos pois daqui concluir , que OS prados recebem numa nova vida com as cinzas ; porque fem eflas , fen- do as fubftancias animaes em maior quantidade , que o principio falino , as plantas vegerao mai , fe fazem lan- guidas , e amarelas , e o feu nutrimen- to he indigefto , e nao pode chegar ao ellado faponaceo ; ajuntando-lhc pois em huma conveniente proporgao .OS faes , que as cinzas podem dar, a. combinafao fe faz mais intima , e exa- cla , e OS vegetaes recolhem entao hu«* ma nutri5a6 proporcionada as fuas ne^ cellidades 3 e fc reanima , e profper^ ©E AgRICULTU RA 945* miiito a fua vegetagao. Se porem for exceffivo o ufo da cinza , obfervaremos fazer-fe amarela , e defeccar-fe a her- va dos prados , como fe fofTe queima- da pelo fal ; porque o fal nao achan- do Jiuma conveniente quantidade de materias oleozas para com eftas fe combin-ar , e reduzir-fe a huma iubf- tancia faponacea , entra nas plantas no eftado lalino diflblvido na agua , cor- roe depois os feus vafos , e as faz perecer. Logo da jufta propor^ao dps principios unidos entre fi depende a boa vegetajao. § CXXXIX. A fecundidade , que caufao as cin- zas tanto nao he equivoca , que an- tes he decidida pela experiencia. A grande fertilidade dos campos vizi- nhos ao Etena he attribuida as cin- zas , que continuamente fahem defte Vulcano , e fe efpalhab nos ditos pre- dios. Em muitas Provincias da Franja , muito principalmente em Bourgone fe tern obfervado , que com o ufo das cinzas as vinhas quail mortas tem fi- de reftituidas ao feu antigo vigor. Em Auverne , e muitas outras Provincias ^e Inglaterra 3 e Holanda recolhem os la- :^46 M E M O R I A S lavradores muito bom fruto das fuas terras , as quaes fao unicamente adu- badas com cinzas feiras perto das met- mas , o mais que he poflivel. Uld- mamente Febroni refere no feu Jor- nal , que no anno de 1771 rendo fer- tilizado huma porjao de terra muito magra com cinzas , elle recolheo pou- co mais de treze , por hum, ainda que a ceifa do anno foi geralmente mediocre. § CXL. Se tirao das cinzas alem das refe- rldas utilidades , mais as feguintes j i. fao contrarias a multiplicajao dos- Incetos J e vermes ; {a) 2. deftroem certas plantas , como fao os mufgos , OS quaes cubrindo algumas vezes os- prados , Ihes caufao huma total ellc- rilidade ; 3. fervem uitimamente as cinzas para defenderem o trigo de muitas enfermidades como a ferrugem , c outras. (b) Em (j») Os caracoes coinendo os gomos das vi- des quando brotao , e as hortaliqas , caufao hum gravifTimo damno , o qual fe evita lan9ando cin- zas nas vinhas , e hortas. ^i) Febroni tein obfervado , que as cinzas mifluradas com o trigo nos faccos o livra6 dos ataques dos incetos , e einbaragao que o mef- 910 le coaoixipa. EiU (^ualidade das cinzas iie DE ACRICULTUHA. :^47 § CXLI. Em quanto ao ufo , que-fe pode fazer das cinzas convem advertir , que ellas nao devem ler empregadas fenao em huma proporjao conveniente , por- que fendo exceffivas caufao aqueiie damno , que ja referimos fallando dos prados j e fuppofto , que fejao uteis a toda a cafta de terreno , com tudo deve-fe attender a natureza do mef- mo , porque nas terras ligeiras , e quentes he util mifturar as cinzas com argilla , como tambem nas terras are- naceas. Praticando pois ifto , o lavra- dor experimentara nas fuas fearas hum bcneficio maior , e mais feguro. § CXLIL O methodo de fazer cinzas nos Ingares vizinhos das fearas para de- pois as efpalhar nas mefmas , fomente le devera praticar no cafo de haverem per- precioza nos paizes quentes , aonde lie difficul- tozo livrar o trigo dos incetos. Produzeni tan- to melhor effeito , quanto as ditas cinzas forem mais alkalinas. Querendo depois fazer ul'o do trigo he facil o feparallo das cinzas per meio da iium crivo. 34^ Memorias perto das ditas fearas muitas lenhas , das quaes nao fe polfa tirar outro ufo mais util , ou tambem eftas mefmas le- nhas fe podcm efpalhar nas terras em diiFerentes monticulos , e depois lan- ^ar-lhe o fogo. Porem como he mais facil a exportajao da cinza do que da lenha , fica ao arbitrio do lavrador o decidir , fegundo as circunftancias , aquillo que Ihc for mais conveniente, § CXLIII. Havendo porem abundancia de vc- getaes , que facilmente pofTao apodre- cer , he mais util ufar do methodo referido no § 122, ou enterrallos , do que tirar dos mefmos as fuas cinzas , porque as plantas pela corabuftao per- dem a maior parte dos feus principios , como fao a agua , faes , oleos , e mui- to do feu fluido aeriforme , os quaes o fogo fepara , e efpalha na athmos- phera , reftando por fim as cinzas , que fao hum compofto de huma porjao de terra vegetal , gaz , e hum pouco de fal. § CXLIV, Praticando o methodo referido no § 122, as plantas fenneiitao ; e como fc BE AgRICULTURA. :^4^ ft acha impedida a evaporagao fe re- duzem a huma materia putrida fem perda alguma dos feus principios. Ef- colhendo antes o lavrador o enteirar as mefmas plantas no terreno em que houver de fazer a fua fementeira , acontece o melmo eifeito ; porque e[- tas fendo penetradas pelas chuvas , Sol , e ventos , fe dccompoem por huma lenta fermcnta^ao , e deixao ef- capar pouco a pouco todos aquelles principios , que podem nutrir os no- vos vegetaes , que fe tern femeado. Devo ultimamente advertir , que ie as cinzas pela pcquena quantidade de par- ticulas nutritivas , que Ihe reftao fer- tilizaoas terras como tenho moftrado, com muita maior razao o devem fa- zer as plantas donde as mefmas cin- zas fao tiradas. § CXLV. Em muitos povos he coftume adu- bar as terras com cinzas feitas dos ref- tolhos , e em Inglaterra fe obferva6 muito efpeflos , fortes , e altos para com as cinzas defies eftrumarem os feus predios. Em Normandia , Auverne , e outros mais lugares co{luma6 trazer OS reftoihos para as cavalliaricas. E che- ^$ cia de frma , que perdem toda a fua forja , e vigor; e quando a cal ja na6 encontra oleos para mudar em fuccos faponaceos , necellariamente hade pre- dominar o principio iaiipo por caufa do ido qual fcra cada vez mais fraca a vegetajao , e crefcera a efterilidade do terreno tanto mais , quanto menos fre- quentes forem as chuvas no paiz. § CLIIL Nas terras fortes , e puramente argillaceas , como tambem nas frias ^ humidas , e montanhozas , he geralmen- te approvado o ufo da cal j e moflra a experiencia ter neftas produzido ad- miraveis effeitos , como le tern obfer- vado na Normandia , Irlanda , e ou- tros muitos povos. Porem dos boiis ef- feitos , que a cal produz em hum paiz nao fe deve concluir para outro , fern que a natureza da terra feja a mef- ma , e iguaes todas as mais eircunftan- cias. § GLIV. For efta caufa o intelligente cul- tivador , querendo ufar da cal nos feuS predios , deye primeiramente examinar a natureza da terra , e todas as mais circunftancias , e refledlir muito Ibbrc aquillo , que houver de cxecutar j de- pois fara alguns enfaios em pequeno , c fe o fuccelFo os coroar , ainda deve advertir fe elte bom eiFeito depende Z ii an-^ 35'6 M E M O R I A » antes da benignidade da eftajao db que da dita terra. Fazendo pois mui- tas e fucceifivas expenencias , podera o lavrador dcterminar-fe a fazer ufo da cal em grande , porque efte nao tern meio. He muito vantajozo fe as iubilancias oleozss exiilem em abun- dancia no terreno j he pelo contrario muito nocivo , fe as terras fao magras, arenaceas , e pouco humedecidas pe- las chuvas. § CLV. Quando a experiencia mollrar ao lavrador , que com vautagem pode fa- zer ufo da cal nos feus terrenos , fe eftes eftiverem vizinhos dos lugares aonde haja pedra calcaria em abuiir dancia , devera antes efcolher efta re- duzida em po.; muito principalmente tendo o lavrador a commodidade de ter perto dos feus predios hum moi- nho para a dita pedra fer moida. De- ve fer preferida a pedra calcaria pul- verizada a cal , nao fomente pelas ra- zocns jii referidoS , mas tambem por- qne cRa caufa grave damno aos ani-. maes que trcTbalhao nas terras , aonde a mefma tern fido efpalhada j donde fe fegue morrercm os ditos animaes , on D E A G R rc U L T U R A. 35-7 ficarem arruinados , e incapazes dc trabalharem. § CLVI. Como a pedra calcaria pulverizada fertiliza as terras por caufa do ar fi- xo , que da mefma lentamente fe de- fenvolve , fegue-fe , que fendo fatura- da , e neutralizada com o menftiiio , que tern feito fahir pouco a pouco o ar fixo , fica depois huma terra calca- lea pezada , que nao ferve para outra coiza mais , fenao para caufar efteri- lidade ao tcrreno. Por efta caufa fo- mente fe devera fazer ufo defte adu- bo de tantos em tantos annos , tendo antes decidido a experiencia , que o inelmo he conveniente. X>ejla doutrina fe pedeni deduzir or feguintes corollarios, COROLLARIO I, ASucceffiva multiplicagao do liu- mus he a bafe , e fundamento da fertilidade dos terrenes.. CO- i35B Memorias COROLLJRIO 77, A Terra humoza fe pode dizer , que he produzida pela decom* pozijao dos animaes , e vegetaes. COROLLARIO IIL OTerreno mais fertil he aquelle , que produz a maior quantidade- . CAP. VIII. Das Cinzas. . . . :^4u CAP, IX. Da Cal , e Marne, . ^51. IN- Z^7 I NDICE DOS TITULOS DESTAS QUATRO MEMORIAS. M EMORIA I. Sohn a cultura d/is Finhas, For Jofc Veriffimo Alvares da Silva, pag. I, MEMORIA. II. Sohre quaes fao os meios mats convenientes de Jupprir a falta dos ejimmes animaes nos hfgares , onde he dif- ficultozo havdos. For Manoel Joaquim Henriques de Paiva. lo^. MEMORIA III. Sobre o mefmo a/umpto. For Jofe Viriffimo Alvares da Silva. 154, MEMORIA IV. Sobre 0 mefmo ajfumpto. For Conftantino Bocelho dc Lacerda LoBq. 259, VVSEVM BBJTAiJ MEM ORI AS agricuLtura PREMIADAS P P E L A " ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS D E L I S B O A Em i7po. Niji utile ejl (jmd Jacimus , Jltilta ejl gloria. T O M O 11. L I S B O A NA OFFIC. DA MFSMA REAL ACADEMIA. ANNO MDCCXCI. Com Vicefiqa da Real Alexfl da Coiumi^ao Geratjo' hre 0 Exame , e Cenfura dos Livros. Vende-fe na loja da Viuva Bixtrand e Fiihon, Mercadoret de Livros , junto a I^reja de N. Senho* ra dos Martyres ao Xiado cm Lisboa. BRITAIN M E M O R I A SOBRE O ASSUMPTO PROPOSTO P E L A ACADEMIA REAL DAS SGIENCIAS Para o anno dc 1790. QU AL HE 0 MET H 0 DO MAIS conveiiiantc , e cnutcllas neceffarias para a cul- twa dits vlnhas em Portugal ; para a vlndiina ; txtracgco , e fcrmentagao do mrflo ; eonferva- fao , e bondude do vlnho , e para a n)clhi>r re- putagao , e vantagetn d'^jlc imporlantc vamo dt tioffo commercio ? PoR Francisco Pereira Rebello DA FONSECCA. Si mi dueiitt me poda de Dezlembro , ii de Enero , y Me cava , d ara de Febrero , vergnen- ffl me flier a , jl no le hinchara deVlno la bodega, Se*redos de As:ricultura. 1 N D I C E D O QUE CONTEM ESTA MEMORIA. I NTRODUCqAO . . Pag. i. CAP. I. Da natureza da videira. 5-, CAP. II. Das efpecies , ou varieda-^ des da pldeira. ■* 31. CAP. III. Da Plant a^ao da Vinha. 46. CAP. IV. Dapoda. 62. CAP. V. Das mergulhas. 75'. CAP. VI. Dos dijferentes lavores , que fe devem dar d uinha. - 80. CAP.. VII. Da erguida , ou cmpa. 88. CAP. VIII. Da enxertia. 92. CAP. IX. Da Opera ^ao de esfolhar ^ ejpampar , e capar a vinha. - 100. CAP- X. Da velhice , e das enfer^ midades da vinha , e dos infetios , que Ihe fao nocivos. 102. CAP. XI. Da vindima. — ^ - 113. CAP. XII. Da extracQao ^ e fermen- tacao do mojlo para fe converter em vinho. -------- — 123. CAP. XIII. Da conferva^ao do Vi- nho , das fuas doencas , e dos re- medios. — — -_- 14^, CAP. XIV. Dos diver fos methodos de fazer 0 vtnho ^ e do modo de imi' tar OS jnelhores , e mais ejlimados vtnhos ejlra-n^eiros. 163. IN- INTRODUGCAO. |?>^JM| Og6 i\u6 vi no anno de :frXg***f|X^ 178 1 propofto pela Real %x$ ^ JkS Academia o Aflunto fobre *xSx^t^ S*^^ > poj" baixo cinzentas com tcipo -, bran- de Agricxjltura. ^^ J, branco ; vides aivermelhadas , botoes „ em efpafo de tres dedos j caches em ,, efcadeas , e abertos ; bagos media- i, nos , ovaes , pfetos lavados de azul , „ cafea grofla , e dura , huma gralinha j „ fucco doCe auftero : fica6~lhe mui- „ tos bagos miudos verdes por entre „ OS que amadurao , e difto toma o 3, nome. ,, „ EJpadeiro , fdlhas profundamen- „ te abertas em cinco , terminadas em „ pdnta de fetta , em roda recortadas 5, em forma de ferra ^ por lima de „ cor verde efcuro , pdr baixo cinzen- j, ras com felpo branco ^ vides cinzen- ,, ras , boroes em efpago de tres dedos; ,, cacho eomprido , mfediananiente fe- „ chado , e quafi igual , d feu pefinho „ amarellado , e eomprido de tres de- J, dos , bagos redondos j e alguma cdti- „ £i ibbre o eomprido , prctos , grof- 5, fos , carnudos , cafca grolTa , diias „ grafinhas ; lucco fubacido. ,, 5, Labrufca (17) , foihas medianas -^i abertas em cinco , terminadas em 5, ponta de fetta , deligual , e profun- ,^ damente recortadas em forma de fer- „ ra , de cor verde efcuro com maihas Jj vermelhas , e verrugas , por baixo ^i cinzentas com felpo amarellado ^ p6- )ii finho vermelho , nervos verdes j vi- C ii ., des ^6 M E M O R I A S des amarelladas com falpicos pre- tos , botoes em efpaco de cinco de- dos ; cacho comprido , unido , pe- finho da cor da vide , e comprido de cinco dedos , bagos miudos, rc- dondos , pretos lavados de azul , pi- co na ponta , cafca dura , e groila , tres grafinhas; fucco fubacido. ,, „ Lourela (i2) , folhas profurrda- mente abertas em cinco , terminadas em ponta de ietta ,■ em roda era forma de ferra , por fima de cor verde efcuro luzente , por baixocin- zentas com felpo brancoj vides cin- zentas , botoes em efpaco de tres dedos J cachos pequenos , e raros , peiinho comprido de tres dedos, bagos redondos , negros , com hum pico pouco fenfivel na ponta , liu- ma gralinha j fucco acido auftero. „ „ Malvazia (19), folhas profua- damente abertas em cinco , termina- das em ponta de fetta , em roda profundamente recortadas em f6rma de ferra , por lima cor verde cla- ro , por baixo o mefmo com muito felpo branco , pclinlio ruivo, ner- V03 verdes , vides vermelhas , for- raando angulos na parte oppofta aos botoes , que fao em elpajo de quaf tro ded^s j cachos graiides formados- „ de DE A G R I C-U'L T U R A. 37-- de efcadeas de figuni conica, bagos ovaes louros com falpicos pardos , cafca delgada , dura , duas grafinhas j fucco doce ambreado. „ Negrao , follias levemente aber- tas em tres , terminadas em pont^ de fetta , em roda profundamente recortadas em f6rma de ferra , por /ima , e por baixo nuas , e de c6r verde cinzento ; vides yermelhas , botoes em efpajo de cinco dedos ; cacho formado de efcadeas , groflb , fechado acabando em figura redon- da , pefinho comprido , vermelho , bagos redondos , groflbs , pretos la- vadcs de azul , calca delgada , e du- ra , duas grafinhas ; fucco vifcofo do- ce fubacido : produz com abundan- cia em qualquer terreno, ,, Pe agudo y ou pardainho (20) , folhas abertas em cinco , terminadas em lanja , em roda profunda , e de- figualmente recortadas em forma de ferra , pefinho vermelho , nervos cinzentos , por fima de cor verde efcuro , por baixo cinzentas com muito felpo branco ; vides cinzentas atirando a negras , botoes em dif- tancia de cinco dedos , e mais : ca- ches formados de efcadeas , e fecha- dos , pefinho da ^6r da vide ^ com- 3^ M E M O R I A S 3, prido de quatro e cincos dedos , ,, bagos redondos , medianos , preros , ,, pelle grofla , e dura , dqas grafinhas j 5, iucco dpce auftero. ,, Ficalpolho y folhas abertas em „ cinco , teiminadas em ponta de let- „ ta , em roda em forma de lerra , ,, por fima de cor verde efcuro , por J, baixo cinzentas ; vides avermelliadas , ,, boroes diftantes quatro, pu cinco de- ,, dos ; cacho qomprido muito unido, 3, pefinho comprido , verde , bagos re- 3, dondos , encarnados efcurps , cafca 3, delgada , du^s grafinhas ; fucco infi- 3, pido ; em qualquer terreno cria gran- „ de trpnco, produz muito. 3, Samarrinho preto ^ folhas aber- 3, tas em tres , terpinadas em ponta 3, de ferta , a do meio mui comprida , „ em roda em forma de ferra de cor ,, verde amarellado , com falpicos ver- „ melhos , por baixo felpo branco , „ pefinho vermelho , nervos cinzen- 3, tos \ vides vermelhas cinzentas , bo- 3, toes diftantes quatro dedos ; cacho ,, grande , fechado , pefinho compri- 3, do , e vermelhp ', bagos redondos , 3, medianos , pretos , com pico no fun- do , cafca groifa , e dura , duas grafi- ^, nhas ; fucco doce auflero : produz „ com abundancia ainda em terras fra- „ cas. „ Sou- 3> DE AgRICULTURA. ^9 „ Souzao (21) , folhas alguraas ve- 2es pouco abertas cm tres , figiira- das em cora^ao , em roda defigual- mente recorradas em forma de Ter- ra , de cor verde amareliado ^ vides avermelhadas com muitos elos , bo- toes em diftancia de quatro dedos ; cacho comprido , unido , pefinho da cor da vide , bagos redondos , pre- tos lavados de azul , cafca grolFa , duas grafinhas ; lucco avermelhado de ii^bor fubacido ; em terras fortes , e humidas produz em abundancia j em terras fracas produz pouco ; e as uvas , que ahi produz , la6 fu- jeitas a feccar ainda antes de per- feita madureza. „ Tint a cam (22) , folhas grandes lizas , abertas em tres, terminadas em ponta de fetta , em roda defi- gualmente recortadas em fdrma de ferra , pefinho cor de rofa , por fi- ma de cor verde amarellada com al- gumas manchas carmezins , por bai- xo mui pouco felpo branco ; vides avermelhadas ; botoes ate ao meio da vide em diftancia de tres dedos , para diante em diftancia de cinco dedos ; caches pouco unidos , me- Vj dianos fem regularidade na figura , 4> bagos ledondos , pretos lavados de „ azul , 4© M E M O R I X S ■„ azul , pico pouco perceptivel n^ ,, ponta , cafca groffa , e dura , tres „ grafinhas ; fucco doce auftero. „ Ti}Jta Cajlelam ( 23) , folhas fo- „ bre o redondo , abertas em trcs , ter- ,, minadas em ponta de Janja , ejn 10- 3, da mui ligeiramente recorradas err\ 3, forma de ferra , cor verde efcuro 3, com manchas avermelhadas ; vidcsi J, curtas , avermelhadas , botoes diftan- j, res dous , e tre-s dedos ; caclios mui 5, pegado? A vide , redondos , groiros , 3,muiro fechados , bagos groflbs , pre- j, tos , redondos , carnudos , cafca del- „ gada , duas grafinhas ; fucco doce , „ ajucarado, „ Tinta Coufoeira, folhas median^-> 3, mcnte abertas cm tres , terminadas em ^, ponta de fetta , em roda em torma de 3, ferra , cor verde efcuro luzenre ; vi- j, des muito curtas , vcrmelhas , bo- j, toes pouco diftantes ; cuchos grolfos , ,, fechados , bagos redondos , media- j , nos , carnudos , pretos , cafca groi- ,, fa , huma , ou duas grafinhas , fuccQ 3, infipido ; produz muito ainda en) ,, terras fracas , he muito fujeito o J, feu fruflo a apodrecer , morre eni 3, poucos annos, nao havendo a cau- 3, tela de a podar em hum talao de 3j feis botSes ao muito. D E A G R I C U L T U H A. 4I . „ Tint a de Franca (24) , folhas pe- 5, quenas fobre o redondo , abertas em ,, cinco , terminadas em ponta de letta , ,, em roda defigualmente recortadas em 3, forma de ferra , cor vermelha por 5, baixo, e felpo cinzeiito; vides cur- ,, tas , vermelhas denegridas , boroes 5, em erpa5:o de poJlegada ate dous de- 5, dos ; c;icho pequeno fechado , bagos 3, redondos , pretos , cafca deJgada , ,, duas grafinhas; fucco encarnado do- 53 ce. ,, Tjnta Mufguenta{i^), folhas pe- 5, quenas , e retorcidas , abertas em rres , 3, terminadas em ponra de fetta , em 35 roda defigualmente recortadas em ,, forma de ferra , por fima cor ver^- ,, de , por baixo cinzenta , e.muito 35 felpudas \ no tempo da primavera 3, como erafarinhadas ; vides curtas , „ vermeJhas denegridas , botoes em el- ,5 pago de dous dedos ; cachos curtos 3, quafi fechados 3 bagos medianos , 5, mui unidos ao canganho, redondos, _3, pretos com hum pico na ponca, 3, caica grolfa , e dura , duas grafinhas j ,5 fucco doce auflero. ,, „ Tinta de Manoel Fereira , fo^ ^, Ihas fobre o vedondo , leveraeute .J, abertas em cinco , terminadas em ponr ;,-ta de lanja , em roda miudamcnte „ cor^' 4* Memorias „ cortadas em f6rma de ferra , ped- 3, nho , e nervos roxo fanguineos, por 5, fima cor verde elcuro , por baixo „ verde cinzento , com pouco felpo 3, branco j vides fanguineas , botoes 3, em efpajo de tres dedos ; cachos 3, fechados , redondos , com duas ef- 5, cadeas no fimo , bagos pretos , re- 3, dondos , grollos , carnudos , com 3, pico no fundo , cafca grofla , tres „ grafinhas ; fucco doce infipido. „ 3, Tinta Pinbeiya{i6) , folhas aber- 3, tas em tres, a femelhanf a da de figuei- 3, ra , por fima de cor verde efcuro „ luzente , por balxo cinzenta ; vides ,3 vermelhss , botoes em dift;^ncia de 3, tres dedos ; cacho formado de ef- 3, cadeas , curro , aberto , bagos nao 3, unidos , pretos , redondos miudos , J, cafca grofla , c dura , tres grafinhas \ 3, fucco doce auftcro. ., „ Touriga (27) , folhas extraordi- „ nariamente abertas em cinco , ter- 3, minadas em f6rma de coragao , em 3, roda miudamente repicadas , e mui 3, femelhantes na figura as de Amorei- 3, ra brava , por fima cor verde cla- 3, ro , por baixo verde amarellado com 33 felpo branco muiro futil ; vides cur- 3, tas J denegridas , botoes em. efpajo d© „ tres dedos i cachos compridos , fe-- „ cha- DE Agricultura. 4^ 3, chados , bagos mals que medianos , „ pretos , ovaes , com pico na ponr „ u , calca delgada , dura , tres , oi| „ quatro grafinhas j fucco doce ajuca- „ rado. „ „ yerdTaI(i2) , folha crefpa , le- 3, vemente aberta em tres , termmaci^ „ em ponta de fetta , e a do meio „ muito mais comprida , em roda rcr ,, cortada em forma de lerra , c6r ver- j, de claro , peiinho roxo , nervos cin- ,, zentos ; vides avermelhadas , botoes „ em diftancia de cinco dedos j cacho „ fechado , comprido , groflb , no fun- j, do redoudo , no fimo duas efcadeas 3, fahidas , pelinho comprido , roxo , ,, bagos medianos , ovaes , pretos la- „ vados de azul , pico no fundo , caf- „ ca delgada , duas grafmhas ; fucco „ acido muito vivo : alguns bagos ficao „ fem tomar cor , e daqui provem o J, nome de verdial. „ § XXVI. Fixar huma regra certa , e inva- riavel para a efcolha das efpecies da videira mais proprias para fazer bom \inho , he o que me parece impofli- vel ; todas as que fe tern dado ate ago- Ja fao mui faliiyeis : no bajlardo te- mos 44 M E M O R I A S temos huma prova de que nao fao hem fundadas as regras de Paladio : eile tern a pellicula ddgada , palla-fe com niuita facilidade : he das uvas mais faborofas , e comtudo nao lie proprio para fazer bom vinho , co- mo fe diz em a nota (14). O Ab- bade Rozier nao quiz abaianjar-fe a dar huma regra a e(te refpeito : de- pois (29) de eibbelecer o piincipio de que fo o corpo mucofo he fubllancia rermentavel , e que quanto efte cor" po mucofo he mais doce , tanto mais he perfeito , e fe conferva o vinho , que delle fe faz ; palla a dividir o inucofo em infipido , acido , auftero , e doce , ou acucaraJo , e diz , que o vinho aonde domina o infipido he fu- jeito a apodreccr ; que o mucofo aci- do paifa mais lentamente a podridao ; que o mucofo auftero , porque con- tem muito mucoib doce , faz hum vi- nho mais auftero , e adftringente , e que he fujeito a fazer^-fe gordo , ou azedo ; que o mucofo doce he o uni- co fufceptivcl da fermentacao efpiri- tuofa : conclue finalmente , que fobre ■ eftes principios fe deve fazer a efco- iha das efpecies de uvas ; e que , pa- . ra melhor acerto , fe devem fazer as experiencias que elle indica, § DE A G R I CU L T U R A. 45" § XXVII. Os Commerciantes de vinhos da Praqa do Porto , mais liabeis no co- nhecimento das qualidades que deve ter o vinho para fe conlervar dilata- dos annos , e refiftir melhor a pafla- gem do mar , depois de repetidas ex- pcriencias ^ e oblervacces de huma. longa ferie de annos , tern geralmen- te convindo , que o vinho deve ter hum labor auftero , adlliingente ftipti- eo para fe confervar , e rejeitao , co- mo incapaz de conCervacao , todo '.aquelle que nao tem efte labor" aufte- To : querem , alein dillo , que elle te- nha hum pico vinliolb , que o faga rijo J como elles fe explicao. He pois pela miftura de uvas , que tenhao fa- bor doce aullero com as que o tem fubacido , e com algumas que o te- nhao doce acucarado , que fe pode confeguir hum vinho efpirituofo , ad- ftringente , e com o pico vinhofo con- veniente : daqui infiro , que nao he acertado o methodo preicriro por mui- tos Oenologijias de fazer o vinho dc eada efpecie de uvas feparadamente : devem fim para cada vinha efcolher- is as clpecies , que cenhao aquellcs cii- 46 M E M O R I A S diverfos fabores , e que riiehos diftem humas das outras no tempo da madu- reza ; fe comtudo le houvefTe de fa- zer vinho de alguma el'pecie fepara- da , eu pi"eferiria a de fabor doce au- ftero , o que fe prova com a expe-- riencia feita com a tinta cam referida €01 a nota (24). C A P 1 T U L O III. i)a Planta^ao da Vtnha. § XXVIII. COnhecIdas as efpecies de videira , , que deveifi efcolher-fe para for- mar numa vinha , que produza vinho da melhor qualidade pofTivel , he ne- ceflario efcolhef o terreno , e a expo- fi^ao , que concorrcm muito para i qualidade do vinho (30). Hum terre- ne gOrdo , e lodofo nao he propria para vinha ; a terra delgada , ligeira , e pedragofa he a melhor : deixa paf- far mais facilmente a humidade da athmosfera , e a agua das chuvas , e diflblver os oJeos , que pelos raios do Sol concentrados em as pedras , ou fe infinuao pelos poros das raizes , ou fe eleva6 em yapores proprios pa- ru DE Agricultural 47 ra alimcntar as videiras pelas folhas : a expofifao deve ler em coftas , ou ladciras , que eftejao dominando algu- ma nbeira , cuja viziilhanga Ihe minif- tre OS orvalhos forinados dos vapores que dellas fe levantao , e que tendo em dilFolugao os gazes , os oleos , os laes voiateis » e os mais principios aeri formes , Ihes firva6 de nutrifao , ou ablbrvidos pelas folhas , ou introduzi- dos na terra , e elevados em feva pe- las raizes , mediante o calor do Sol (^i). Deve o terreno eftar virado do Nalcente para o Meio dia : efta he a expofigao que goza por mais teiitpo' as intiuencias do Sol , e efta mais a falvo do furor dos ventos tempeft:uo- fos de Oefte , e livre do frio dos ven- tos Septentrionaes. § XXIX. A efcolha da planta para formar a nova vinha he tambem hum pohto muito confideravel : as planras fao de duas qualidades , I. barbadas , 11. ba- cellos : barbadas fiio plantas com rai-' zes ; bacelios I'ao as vides do anno an- tecedente com a vara nova na ponta, ou a vara nova com hum bocado ve- Iho no fundo , ou a vara nova feai '48 ' MeMorIAs velho algum : he controveifo entre os Oenologijlas fe he mais convenience plantar bacellos , ou barbadas : divi- dein-fe os pareceres (^2) \ nao deve demorar-nos efta cjuefiao , pois que para as planta^es cm grande n36 he facil apparecer barbad^is ; por iflb de for9a he neceflario ufar de bacello : igualmenre fe dividem os pareceres at reipeito de ferem os bsfeellos de vide velha , ou de vara nova : Mr. Bidet ^ e muitos outros preferem vides de dous, e mefnio de tres annos; dizcm, que produzem mais cedo , porem nao afTignao razao alguma : Columella quef que fe Ihe corte toda a vide velha y porque mettida na terfa , diz elle , nao cria raizes , e apodrece damniH-" cando a planta : Beguillet deixa ifto k experiencia ; porem diz, que em Bor- deaux fe plantao as varas novas fem velho algum , e que produzem tao de- }>fefla como as outras j e que fabe de lum habil cultivador de vinhas , que a experiencia moftrjiva , que o velho damnifica a vinha , que no velho na6 criava raizes , e que eftas fahiao to?" das no encaixe da vara nova em o velho , que efte aprodrecia , c ficava a nova videira com huma chaga incu-» 1-aveL A minha experiencia nic con-' duz D E A G R I C XJ L T U R A. 49 duz a rejeitar o bacello de vara ve^ Iha (3^). § XXX. De qualquer dos modbs refer! dds ( § XXIX. ) que haja de I'cr o bacello para plantar , depois de ter cahido toda a foiha , que rnoftra ter ja deci- do a leva , deve fer cortado por pef- foa , que tenha toda a intelligencia ne- ceflaria para efcolher as efpecies , que quereiri plantar-le ; e o mais leguro pa- ra evitar os enganos , he mandar mar- cair as videiras , de que i"e ha de cor- tar o bacello , em quanto eftao em uVas : Mr. Colas (34) recommenda , que feja cortado daquellas videiras , em que ficalFem os pes dos caches curtos , duros , e groflbs , que he hu- ma prova de que o fruflo fora bem nutrido , e que a videira efta vigoro- faj que as varas , que fe hso de cor-^ tar , tenhao os nos yedondos , pouco diftantes , e os eios pouco enrodilha- i dos ; que as vides mais grolTas iem I eftes finaes , que antes tem os nos cha- I tos , e em muito efpaco , devcm re- ijeitar-Ce como fujeitas a dar mais ra- ma do que fru'5l:o ; que a planta mais diftante da cepa he a mdhor j finalr. Tom. U. I> \vxi\- ^» Memorias niente que a planta fe na5 deve rirar de liuma terra mellior para outra me- nos boa , porque fendo nella menos bem nutrida corre o rilco de degene- rar. Mr. Beguillct quer que ie elco- Ihao para plantar as vides mais bem nutridas , que tenhao a cafca unida , e luzente , o pao firme , e bem madu- ro , e que cortadas com o podao moi- trem hum verde claro ; que fejao as vides , qre moftrem tcr produzido mais caches , e que nao iejao de nenhum mode OS ladroes , ou pampanos , que rebentao pela cepa , e que de ordina- rio lao eflereis. Se o bacello ha de fer plantado pouco depois de corta- do , bada enrerrar dous palmos dclle , e deixar o rello fora da terra ; e fe ]ia de demorar-ie a plantaqao , deve en- terrar-fe todo de maneira que fique por entre elle terra baftante para que nao arda , e que ficando todo bem co- berto , nao feja damnificado pelo ar , e pela geada , e conlerve melhor a I'ua feva. § XXXI. Antes de tratar do modo de pJan- tar o baccllo , he neceflario faber pri- Hieiro 0 lea deftino , porque ha qua- tro t) E A G R I C U L T U » A. ff tro modos de formar a vinha : i.° tra- zendo as videiras fobre arvores , a que nas Provineias do Alinho , e Beira chamao de enforcado , e na da Eftrc- madiira de cmbavrado ; 2.° em lara- das baixas , como fe ufa na ribeira do Lima ; \° em bardos , que fao fi- leiras de videiras diilantes humas fi- leiras das outras quinze , vinte , e mais palmos , e levantadas em chantoes al-^ los como fe ufa nas terras mais frias do Alto-Douro \ 4.'^ em vinha baixa do modo ordinario , de que geral- mente fe ufa no Reino : cada hum deftes modos pede diverfo methodo de planta^ao. Para o primeiro modo dcvem abrir-fe covas de nove , ou dez pahiios de comprido , quatro de lar- go , e einco de alto : em hum dos la- dos do comprimento deve plantar-fe a arvore , que ha de iervir de arri-- mo a vide \ no lado oppofto deve unhar-fe o bacello , ou baibada le- Vando-o deitado para a parte ^ qm que efta a arvore , e antes de chegar a el- Ja em diftancia de tres paliTins fe for- ma hum anguio a vide, que fe levan- ta direira 5 e fe vai cortando terra dos Jados , com que fe entupe a cova j Galea ndo-fe a arvore, e a videira pa- ra que Hquem direitas , e na clifiaa-' 5'2 M E M O R I A S cia convenience de modo que as rai- zes de iumia , e outra tenJiao Jugar de crefcer iem fe roubarem a nutricao ; fori da terra ie corta a vide, fican- do-lhe lomente dous , ou ires botoes defcobertos •, continuando-le defte mo- de a planra^ao em dillancias taes , que as arvores , e videiras fe nao allbm* hem humas as outras (35") . § XXXII. O 2.° modo era pefTimamente con^ duzido na ribeira do Lima , porque na altura de finco , ou feis palmos for- ma vao huma latada continuada , e unida , que cobria toda huma pefTa de terra , que dellinavao para vinha , fi- cando affim toda aquella latada quafi impenecravel ao fol , e a luz , de lorte que produzia6 muito pouco, e de mui- to ma quaiidade; porque alem de na6 ferem as uvas vifiradas pelo fol , re- cebia6 da terra , que Ihe ficava muito proxima , e toda affombrada , muitos vapores , que as nao deixavao amadu- rar ; ainda alii fe confervao rauitas def- tas laradas ; alguns lavradores conven- cidos delte erro rem reduzido eftas la- tadas a altura de dez , e mais palmos j^ e a quail Jgual largura em roda dai pef- DE A GRIGU^LT UR A. 5'3 peffas , que andavao todas cobertas ; no meio culrivao pao, erne confeila- rao que affim mefmo colhiao mais vi- nho , e melhor. Para as formar deve plantar-fe o baceilo em covas de fin- co palmos de diametro , e quatro de al- tura , diftantes humas das outras vin- te palmos na fua fileira , e doze de Jiuma a outra fileira , formando efta fi- gura .•.••• , ficando alFim com as vi- deiras convenientes para cobrir a la- tada I'em excefl'o , nem falta , defte mo- do fao melhor vifiradas do loJ , e da luz •, nao recebem tanta affluencia de vapores , porque ticao mais elevadas , e porque as plantas , que cultivao por baixQ abibrvem grande parte delles ; por ilFo nao temibbejo de alimento , e alem de produzirem muito mais , amadurao as uvas melhor. § XXXIII, O ^.° modo he o que fe chama plantacao a bardos ; para elle fim fe abre Jiuma val/eira de I'eis palmos de largo , e quatro de alto , em cada hum dos dous lados fe planta huma fileira de bacelloi em diftancia de quatro pal- mos de hum a outro , de modo que as duas fileiras vao formando efta fi- gu- ^a ate ao meio da vajleira , aonde ie levanta di- reito fern o forj ar de maneira que ef- tale , e ifto he que vulgarmente fe chama unhamento (40) : depois de le- vantado o bacello , fe corta de hum , c outro lado da valleira a terra crua , ao que chamao pefco^ar , para que fique a terra cortada , e movida em maior diftancia , e pofla o bacello ex- tender melhor as fuas raizes , e para com efta terra encher a valleira , fican-^ do a fervir a que fe tin ha tirado pa- ra formar o cavallcte da parte dchai- xo , que nas culturas futuras ferve pa^ ra fe hir puxando para o pe das no- vas plantas ; ao lancar a terra dentro da valleira , fe deve hir calcando Jun- to ao bacello para que Ihe lique bem unida , e para que elle fique bem a prumo no meio da valleira , que deve ficar bem arrazada , e depois fe deve cortar o bacello ficando-l!ie foraente dous botocs a/Hma da terra (41) . § xxxvir. Pedindb fempre a vinha huma muito cuidadofa cuUura , muito mais a re- deAgricultuba. 5'9 feOjUer nos primeiros cinco annos , que fao OS da iua creajao , e em que de ordinario he mais delprezada ; em mui- tas partes he mais lufFocada por di- verfas plantas , que Ihe femeao , e que em toxio o cafo fervem de ruin a aos bicellos , e Ihes roubao a nutri^ao. (42) No anno , em que he plantado o ba- cello , nao he ordinario nalcer planta alguma , porque tica na fuperficie a terra crua , aonde nao havia fementes ; fe com tudo cria algumas , convem ri- lallas antes que«Jancem lementes , que fe propaguem , e he quanto bafta fa- 7er-lhe ate que chegue o tempo de ter cahido a fua primeira folha , chegado o qual , fc deve efcavar , formando cm roda de cada bacello huma cova da altura de hum pajmo , para fe ihe poderem cor tar as raizes fuperficiaes, o que deve fer feito com o poda6 na occaliao da poda , e para que por ella fc communique mais profundamen- te a humidade do Inverno ; no fiin delle he que deve fer podado , e lim- po , porque fendo-o antes , ficavao as feridas feitas pelo podao expoftas aos efFeitos das geadas , e a perecer a plan- ta ; deve porem fer antes que a feva eftcja cm movimento , para que fe nao cxtrjvazc pelas feridas 3 e fe enipobre-t 5* 6o M E iM O R I A S ^a o bacello ; na poda devem deixar-fe*' Ihe dous boroes no mellior lan^o, que tiver (4^) ; depois de rebentarem os botoes , e de rerem os novos lanfos aJgum vigor , e o cornprimento de quatro , ou cinco dedos , fe cava a terra chegando-a muito bem acs ba- cellos para que os lanjos fiquem com ella amparados da for^a dos ventos ; i'e ate ao S. Joao a terra tern produ- zido hervas , he conveniente redrar. § XXXVWI. No 2.° , e ^."^ anno fe dev^m conti- miar as mcfmas operacoes com a diffe- renca , que na poda fe Ihe vai deixando em cada anno hum botao de mais , fe a for^a , com que puxa , o permitte , e fe ihe deve efpetar ao pe Jium pao de quatro , ou cinco palmos , a que fe ate a ponta da nova vide para fe hir formando o pe da videira direito, e fe • vao abra^ando com o pao os no-, vos lanfos para nao efgacharem com o impeto dos ventos , ou com o feu proprio pezo : no quarto anno , ou para me explicar melhor , depois de cahida a terceira folha fe continuao as mefmas operaqoes , e na poda fe efcolhe ja a vara mais capi^z de pro-: du- DE A G B l"c U LT U R A. 6l duzir , que de ordinario he a terceira afliina do pe , e le ihe deixao ieis bo- t6es , ou mais fegundo a forja da vi- deira (44) ; e efta vara ja le levanta em dous paos antes de rebeiitarem os botoes y a curvadura , que fe f6rma a vara com o pao , que le mette proxi- mo a cepa , deve ler feita adiante dos tres primeiros boroes da parte da ce- pa , porque ate ahi deve ficar a vara quanto for poflivel perpendicular a ter- ra para ficar ainda iervindo de pe , e para lancar no terceiro botao a p6- da mais certa para o anno futuro : nef- te quarto anno he o tempo de povoar por meio de mergulhas os efpa^os das fiieiras , que fe achao fern videiras y porque nao pegou o bacello , ou por- que ao depois feccou por algum in- cidente : depois de caJiir a quarta fo- Iha ie come^a a tratar ja o bacello como vinha feita , e elle da fua par- te comeca com o feu frmHio a coroar o trabalho de quem o tern trarado na fua infancia. C A- 62 M E M O R I A S C A P I T U L O IV. Da pdda* § XXXIX. DEvem podar-fe as vinhas : efta propofijao he demonftrada pela eonfenfo univerfal de todos os povos , que cultivao vinhas (45) : nao me de- nioro em produzir as razoes , por que fe deve podar, Mr. Bidet me difpen- 5a defte rrabalho , aflignando tod as as que eu poderia produzir (46) : palTo a trarar I. do tempo , em que fe d-eve podar ; II. do modo , com que fe de- ve podar. Difputao muito os Oenoh- gijlas fobre o tempo de fazer a p6- da ; huns preferem o Outono , outros o fim do Inverno , e todos provao o feu fyftema com muito boas razoes y ie as eilajoes foffem lempre regula- res J e nao podelfem fobrevir acciden- tes fora de Efta^ao iguaes aos que fao proprios nas Elb§:6es , feria facil ef- tabelecer a relpeito do melhor tempa de podar a mais conveniente regfa ;. quaiquer que fe eft^beleja , pode tef inconvenienres , e o mais das vezes nos Paizes de grandes Vinhagos a fal- ta D E A G R 1 C U L T O R A. 6:5. ta de obreiros pioduz a neceflldade de ie aproveitar rodo o tempo defde que cahe a folha ate que as videiras comecem a brotar , fem que os dam- nos fejao viliveis a todos os olhos : de todas as regras , que a efte refpei- to eftabelecem os Oenologiftas , eu me acconimodo mais a de Mr. Bidet , que em rodas as terras , a exceflao de al- gumas mui frias , em que as vides amadurao mais tarde , convem melhor a poda do OutOno , porque Jiavendo a cautela de deixar adiante do ulti- mo botao na extremidade da vara hu- ma poliegada de mais , fe acha efta iecca dentro de fete , ou oito dias , e as vezes em menos \ todos os feus pdros fe apertao , fecca , e endurece a medulla , edreita-fe o diametro do tubo , em que ella exifte , deforte que por alli nao pode penctrar a neve , ou a geada , nem derramar-fe a feva na Primavera ; alem difto nao fe con- fome a feva em fullentar inutilmente as vides, que fe hao de cortar, e fe emprega toda em nutrir as raizes da videira , e as varas ,^ que Jicao para a produccao futura (47) . § &4 M i: M o ^ I A s • § XL. Nada mais facil aos oUios de hum podador do que a irnportante opera- §6 de podar huma -vinha ; tanto que I'abe mar>ear o podao, e dar os gol-' pes na viJeiia lem ferir as vides, que o leu arbitrio deftrna deixar-lhe , tem poifuido toda a Iciencia da fua arre-y lienhuma regra , nenhum conhecimen- to J e are huma incrivel indocilidade para os adquirir ; eifaqui o que fe- encontra de ordinario nos podadores, em cujas maos os proprierarios de vi- ^ nhas irremediavelmente as facrificao ; ^ rada pois mais neceflaria do que re- duzir a regras , e a preccitos ella de- licada opera^ao (48) . Para .intelligen- cia de algumas , que vou eftabelecer , he neceflario primeiro convir nos ter- mos. l^arj , he a vide principal , que fe deixa a huma videira , que tem dcz , doze , e mais bot6es : Talao he huma vide, que le deixa mais curta , tendo i'6 de quatro ate oito botoes : polle- gar he huma vi4e ainda mais peque-* na J que tem fomente de hum ate t res. botoes : poda em galheiros he for- mando a Jiuma videira muitas cabejas todas em taloes , cu poliegares letn va- DE Agrigultura. 6^ vara alguma : carregar huma videira he deixar-lhe hum grande numero de botoes , feja em varas , feja em ta- loes , ou cm pollegares , pois que o numero dos botoes , e na6 o com- primento das vides he que deve regu- lar : defcarregar a videira he deixar- lhe hum pequeno numero de botoes. § XLI. Para bem podar a vinha he ne- ceflario faber conhecer I. a quantida- de j II. a qualidade de vides , que I'e devem dcixarj 111. o modo de as tra- tar : para regular a quantidade he ne- celTario attender a idade , ^ forca , a natureza do terreno , a boa , ou ma cultura, a regularidade , ou irregulari- dade das Eflacoes do anno antecedcn- te , e ao eftado de cada huma das ce- pas em particular : quanto a idade , huma vinha nova tem huma grande abundancia de feya , por iflb he ne- ceflario carregala , e lie menos noci- vo deixar-lhe alguns botoes de mais , do que deixar-lhos de menos , como ponderei ( nota 44 ) i fe a vinha he velha , necefllta de toda a economia na leva , por iflb deve deixar-ie-lhe antes algum botao de menos , do que Toyn, JL E de 66 M E M O R I A s' de mais : qua n to a forja , fc ella fc reduz a ter produzido muitas uvas , o que fe conhece pela multiplicidade de pefinhos groffos , que ficarao nas vides , deve moderar-fe-lhe cfla for^a de produc5a6 , deixando*a mais defcar- regada , para que acuda tambem a pro- duzir vides fufficJentes , em que fe continuem as producjoes futuras ; fe elia fe reduz a produzir muita rama , deve carregar-fe para que dividindo-fe a feva , produza tambem frucfto : quan- to a natureza do terrene , le elle he iencoftado , jfraco , e hem expofto ao fol , deve trazer-fe a vinha baixa pa- ra melhor gozar dos vapores da terra , que a nutrao , e para receber maior intencao de calor de reverberio , que augmente a matura^ao ; deve nao fe carregar , porque abunda menos em fe- va; e fe o terreno lie forte , deve carre- gar-fe a vinha para dar maior movi- menro , e util confuramo a abundancia da feva ; fe he baixo , ou menos bem expofto ao fol , deve puxar-fe a vinha a huma altura conveniente , em que melhor polTa receber as influencias do foL $ D E A 0 R I C U L T U » A. tj § XLIL A boa , ou mi cultura , que fe tern dado a vinha , tambem he cir- cumftancia , que deve confiderar-fe , porque huma vinha em boa cultura , que tern mais abundantQ nutrif a6 , p6- de mais carregar-fe , do que a mal cul- tivada , que tern huma efcaja nutri- jao ; fe as cepas eftao pouco diftan- tes , deve fer a poda curta em galhei- ros , para que a rama feja formada na circumferencia da cepa , e lique alguma entrada livre ao ar , ao fol , e a luz ; fe tern maiores diftancias, p6de carregar-fe mais em vara , e me- nos em pollegares , ou taloes : quanto a regularidade , ou irregularidade das Eftajoes antecedentes , fe ellas tem li- do regulares , deve attender-fe ao efta- do das videiras j fe tem fido irregu- lares , e que a vinha efta diminuta em rama por alguma geada intempeftiva , por falta de chuvas aos tempos com- petentes , ou por ter havido foes fortes , ou fe moftra ter produzido pouco fru- fto , e ifto provem de chuvas , ou ne- voas humidas no tempo da fiorefcen- cia , dcvem attender-fe as mais cir- cumftancias , e nao o eftado das videi-» E ii ras , €8 Memorias ras , que neftes cazos poderia fer Iiu- ma indicacao muito enganofa : tirado o cazo dos accidentes procedidos da ir- regularidade das Eftacoes , deve olJiar- fe muito para o eftado das videiras 9 fe ellas com doze botoes , por exem- plo , nao puxarao com vigor em to- dos elles , devem reduzir-fe a menor rumero j fe em todos puxarao com vi- gor J e fern excelTo , deve continuar- l"e-lhes o mefmo numero; fe puxara6 com exceflb , lanfando duas , ou tres vides em cada botao , deve augmentar- fc-lhes o numero ; fe ao travez do pao duro da cepa rebentarao ladroes mui- to vigorofos , final de que nella girou abundancia demafiada de feva , deve- fe reduzir o melhor a hum talao pa- ra por elle fe defaffogar a cepa , que de outro modo fe iria obftruindo com a fuperabundancia da feva. § XLIII. Do conhecimento das vides , que fe 4336 de deixar na poda a huma vi* -deira , depende muito a fua produc- §a6 , e confervacao , e he o que de ordinario falta aos podadores, que as -mais das vczes fo attendem , fe a vi- ^eira fica bem , ou mal parecida > pa-" ra deAgricultura. 69 ra que huma videira fique com maisi galhardia , e mais bello ar ao feu mo- do de penfar , facrificao vinho , e vi- nha ; tambem muitas vezes fazem elles prejuizos , porque ficando as melho- res vides , nao acliao tao bom geito para os golpes do podao : em todo o cafo fe deve procurar , que as vides , que fe deixarem a videira, fejao fru- (fliferas ( § XX. ) , por iflb a vide pro- duzida no primeiro , e ainda no fegun- do botao immediatos ao golpe da va- ra do anno antecedente , fe nao devem aproveitar para vara , ou talao ; po- dem porem fervir para pollegar , que fe deftina mais particularmente para produzir ra^na , em que fe fegura a poda do anno futuro , c para abaixar a videira , que nao va tomando huma exceffiva elevaj ao : entre as vides fru- dliferas devem efcolher-fe as que fa- hirao em botoes da vara do anno an- tecedente , e que fe conhece terem produzido mais , e melhores fruilos , pois que difto fe ve que a natureza -tern para alii encaminJiado a for^a pro- jduftiva (49) , devem fer feguras , bem encaixadas na vara velha , e que na6 fejao fobrepoftas , fern que importc ■^ftarem muito diftantes da cepa , por- [ que para ifTo Jia o remedio de deixar hum jQ Memorias hum pollegar mais proximo a cepa , que me firva de fiador para a poda do anno futuro : fe a videira , ou pe- la fua efpecie , ou pela fua fituacao , ou por liuma grande pobreza de ra- ma deve formar-fe em galiieiros (5'o) , podem aproveitar-fe quaefquer vides de vara do anno antecedente , e mef- mo algumas , que tiverem rebentado em a coroa , ou joelho da cepa ; fe abfolutamente nao tiver a videira vi- des , com que ie pofla formar em ga- liieiros , deve-fe-Ihe deixar hum polle- gar na vide mais proxima a cepa ; e l"e efta fe acha tao pobre , que nem para ilfo tenha , deve-fe-lhe formar da vara do anno antecedente hum polle- gar , a que chamao de olhos mortos. Em tres cafes fe pode tirar partido dos ladroes ( § XX..), i.° quando a videira anda exceilivamente elevada , porque entao convem deixar-lhe hum ladrao em pollegar, para no anno fe- guinte a abaixar arredondando-a fobre o lugar , em que fe Ihe deixou ; 2." quando a videira nao teve vide algu- ma do anno, em que ficaffe pollegar , porque ficando no velho, fempre he incerto o puxar, convem deixar hum ladrao em pollegar j 3.° na efpecie fi- gurada (§ XLII. ) (p). § DE AgRICULTURA. Jl § XLIV. O modo de tratar as videiras na opera5a6 da p6da tambem influc mui- to fobre a lUa producgao , e confer- Viijao, e he no que fe tern introdu- zido danofifllmas praticas, procurando emendar erros antigos com outros ain- da maiores , principalmente no Alto- Douro , aonde fe prefume ter levado a cultura das vinhas ao ultimo pon- to de perfeicao : no lugar , em que hao de ficar as novas vides , he ne- celtario cortar as velhas , para ifto Ihe dao do lado oppofto a vara hum gol- pe tranrverfai , ou em forma de apparo de penna, que va terminar na ultima extremidade da haze da vara , que fi- ca, com o fundamento de foldar me- Ihor pela extenjao da cafca ( § II. ) > mas he hum erro perniciofo , porque cortada alFim tranfverfalniente a baze da vara , fica expofla a rachar pelo meio, e a efcachar com qualquer leve im- pulfo , como a experiencia me tern moftrado ; deve fer efte golpe horizon- tal, e dado duas linhas adiante da ex- tremidade da baze , ou encaixe da va- ra , porque fo afllm fica fegura , e no anno feguinte quando ja nao tern pe- ri-' ti 72 Memorias rigb de efgachar , fe reduz aquelle gol- pe horizontal a tranfverfal , entao fe recebe o beneficio de foldar fern effe damno de efcachar : devem limpar-fe as varas dos elos , e das enrrefolhas (^a) , porem deve haver caurela , que nefta opera^ao nao fique a vara feri- da , nem a cafca levemente tocada , porqiie ifto he noclvo ; no corte das entrefolhas deve fer maior a cautela , cortando-as fempre duas , ou tres li- Tihas a fima da fua baze , para que lenao offenda o botao , que ao mais leve toque fica defpido da fua cafca ( §• XIV. ) , e expofto a perecer ; he por idb perniciola a pratica de cor- tar as enrrefolhas muito rentes, pois dahi procedc o mais das vezes enca- vielarem (53) as vides , o que de or- dinario fe iinputa a intemperanga da Eflajao : devem tambem limpar-fc- Ihe todos OS botoes , que eftao em ro- da do encaixe da vara , que nao fer- vem fenao de produzir huns pequenos Tamos , que roubao a nutricao , e o niefmo fe deve praticar com o pri- meiro botao da vara junto a fua ba- ze : a ponta da vara , talao , ou polle- gar nunca deve fer cortada horizonral- mente ; porque para fazer efta opera- jao he necelTarJo curvar a vide, que de deAgricultura. 75 de ordinario racha pelo meio, o que he damnofo , e nos taloes , ou polle- gares muiras vezes ao curvar , e dar o goipe, acontece eftalar pela baze , como tenho viflo , ficando a videira deftruida , fern que com tudo daquel- le golpe horizontal fe figa utilidade al- gunia -J deve pois fazer-fe efte corte tranfverfal duas pollegadas adiante do ultimo botao , e virado para a parte oppofta delle , para que fe nao fuffoque no cafo de correr alguma feva do gol- pe. § XLV. Depois de prcparadas as varas , taloes , e poUegares fegue-fc trarar a cepa , que deve limpar-le dos ladroes, que em todo o calo fera6 cortados a. ponta do podao para os extirpar at6 a fua origem , fern que com tudo fe corte nada da cepa ; i'c cfta tiver can- cros , tumores , excrefcencias , ou algu- ma coufa fecca , deve cortar-fe-lhe , entrando os golpes pelo fao o menos que for poflivel ; todas aquellas fuper- fluidades confervadas na cepa fao ver- dadeiras doencas , que as vao condu- zindo a morte , fazcndo preverter to- do o giro dos fuccos , obftruindo huns vazos , e mudando a direcjao a ou- tros , 74 Memorias tros , deve tambem limpar-fe de toda a cafca veiha , e fecca , que le acha defpegada , debaixo da qua! fe acha ja outra regenerada ; efta cafca velha , e por affim o dizer , errijada he o ber- ^o dos infedtos, e a fua principal ha- bitajao , ate que chegue o temj^o de fe dcfenvolverem , e fahirem a devo- rar os arrcbentos das videiras j alem difto recebendo a cepa por entie aquel- las cafcas muita humidade , corre o rifco de fe geiar alii , e arruinar a videira , o que fe evita , limpando-a bem : devem tambem cortar-fe-lhe as raizes fuperficiaes ( § XXXVII. ) , que nafcem do collo ( § X. ) , e fe exten- dem quafi na fuperficie da terra , e que alem de cftarem por iflb fujeitas a ferem alteradas por frios , ou calo- res exceflivos , impedem as raizes prin- cipaes mais profundas de as produzir novas, mais proprias a chupar a feva , como bem adverte Mr. Beguillet (5" 4) , para o que he neceffario efcavar as cepas. Na occafiao da poda he que devem efcolher-fe as videiras , que de- vem mergulhar-fe nos lugares , que eftao defpovoados , para o que fe deve iiao fo efcolher a videira , que tenha vides proprias para fe mergu- Iharem, mas attender a que ella fcja de DE A G R I C If L T U R A. 75: de boa efpecie , e que fique fempre da parte debaixo , ou de hum dos lados do lugar , que pretende povoar-fe (jj) , CAPITULO V. Das mergulhas. § XLVI. SE he util , ou nocivo as vinhas lanpr mergulhas , he para mim hum problema bem difficil de refol- veri deixada porem efta queflao , que pede fer tratada feparadamente , expo- rei o modo , que me parece mais con- veniente de mergulhar ; nao ha outro meio de povoar os efpa^os das vi- nhas , que eftao defpovoados de videl- ras, que defapparecerao dos lugares , cm que haviao fido plantadas , ou por velhice , ou por doencas , ou por al- guns accidentes , pois que a encrepiaiT- ta he hum modo abfolutamence inutil de povoar as vinhas (5'6) . Lancarhu'- ma mergulha nao he outra coufa mais do que enterrar huma videira , de mo- do que a cepa fique enterrada , que as vides voltem para fima da terra pelos lugares , que querem povoar-fe \ para ifto Jie neceflario , que a videira , que ha 7^ Memorias ha de lanfar-fe , tenha vides bem nu- tridas j e compridas para que nos lu- gares , em que devem fahir da terra , fiquem dous botoes , aonde a vide fe- ia vigorofa , como fe diife do ba- cello (41) : o tempo de langar as mergulhas be o mefmo que para plan- tar o bacello ( § XXXIV. ) ; como diz Serres no feu Theatre de Agri- cultura pag. 160. § XLVII. Para fe langiar bem huma mergu- Iha , deve no lugar conveniente ( no- ta ^^ ) abrir-fe huma cova de altura tal que fe defcubra o unhadouro da videira , e que permittindo-o as prin- cipaes raizes , tenha fempre de cinco palmos de alto para lima , quatro pal- mos de largo , e a extengao convenien- te ao terreno , e as varas da videi- ra (5'7) -y depois de aberta a cova , fe deve mover a terra na altura de Jium palmo , como para o bacello ( § XXXVI. ) ; ao principiar a abertu- ra da cova , fc deve feparar para hum dos lados a terra , que fe tira na fu- perficie da altura de hum palmo , pacr te da qual fe efpalha por lima da ter- ra movida em o fuado da cova, para que deAgricultura. 77 que a cepa , e vides nao fiquem fobre a terra efteril , e para que poflao lan- jar as fuas delicadas raizes em a ter- ra da fuperficie fecundada pelos me- teoros , e pela influencia da athmos- fera (jS) ; fobre efta cania de terra allim preparada fe lan^a a cepa elten- dida horizontalmente , tendo o maior cuidado para que ao abaixar nao ef- talem , ou fe nao defpeguem da terra as principaes 'raizes da cepa , que de- vem ier confervadas com a maior vi- gilancia ; depois fe eftendem horizon- talmente as vides nas direcjoes dos lugares , em que devem ficar , e ahi formando hum joelho , fe levantao perpendicularmente langando-fe-lhe fo- bre tudo ifto o redo da terra da fu- perficie , que i'e tinha feparado , pef- co^a-fe a terra dos lados ( § XXXVI ) , e fe vai enchendo a cova , calcando a terra , e confervando as vides per- pendiculares at^ a fuperficie da terra , que nao deve deixar-fe raza com a ou- tra , e depois fe Jhe deve continuar o melmo tratamemo , que ao bacello ( §§ XXXVI. XXXVII. XXXVIII. ) ; fe o fundo da cova he argillaceo , ou por algum outro principio na6 he per- meavel a agua , deve rormar-fe-lhe na fuperficie -hujn defaguadowro para que fe- 7^ Mer^orias fe nao eftagnc a agua , que eftagnada faria recozer a mergulha. , § XLVIII. Ha outro modo de mergulhar muito analogo a efte , menos difpen- diofo J e com a vantagem de fe nao per- derem as cepas , a que no Ako-Dou- ro chamao niergulhoes ; para povoar hum efpafo de terra defpovoada de viaha per meio de mergulhoes, devem deixar-fe as cepas , que eftao em ro^ da , poilegares de dous botoes forma- dos em os ladroes mais proximos a terra , para que alii puxem vides ca- pazes de mergulhar-fe; havendo-as , fe riprma no lugar , e diftancia conve- nienre huma cova de dous palmos de diametro , e da neceflaria altura , abrin- do-fe hum rego em direcjao da cepa para a cova , pelo qual fe conduz a vide , a que na cova fe forma o joe- Iho para fe levantar perpendicularmen- te , fazendo-fe-lhe as mais operajoes applicaveis (§ XLVII.) , a vide fica pe- gada a cepa formando hum pequeno arco , aonde no anno feguinte fe da hum golpe horizontal ate ao meio da vide para defte modo a hir feparando lentamente da nutrijao , que fe Ihc com- DE AgRICULTURA. 79 communica da cepa may ; no 2." , ou 3.° anno , o que fe deve regular pela forja do mergulhao , fe acaba de feparar da cepa , e efla cauda do mer- gulhao fe enterra na maior profundi- dade poflivel ; deve haver todo o cui- dado de limpar de todos os botoes o arco da vide , que fica pegado a cepa , para que alii nao rebente , por- que rebentando alii perderia o mergu- lhao a maior parte do fuftento , que fe ihe communica da cepa may j igualmente fe lanjao mergulhoes das vides do fimo da videira , mas alem de fazer ifto maior embarago na vi- nha J tenho repetidas experiencias de que nao medrao tanto : a videira may fe p6da , como fe della fe nao tomafle a vide para o mergulhao , porque fup- pofto que pareja , que ella difpendera parte da fua feva para fuftentar o mer- gulhao , e que por iffo na6 pode fi- car carregada , como fe o nao tivera j deve com tudo refledlir-fe , que tam- bem do mergulhao fe communica pa- ra a videira parte da feva , que el- le recebe pelas fuas novas raizes , e dos principles , que recebe pelas fuas folhas , ou ella communicajao fe faga por circulacao , como querem muitos , ou por afcenfo , e defcenfo , como que- rem outros, C A- Bo Memorias C A P I T U L O VL Dos djfferentes lavores , que Je de* vem dar d vinha. § XLIX. COmo as raizes da videira fao do- tadas de boccas abforventes para por ellas afpirar os luccos nutricios ( § XI. ) , he neceflario procurar , que ellas le eftendao , e que a terra abun- de dos principios, de que fe forma a feva j fendo pois , como diz o Abbade Rozier (yp) , o fim dos lavores divi- dir as molleculas da terra para facili- tar o crefcimento das raizes , e facili- tar a efta terra a abforfao dos princi- pios efpalhados na athmosfera , he evi- dente , que fe devem dar lavores a vi- nha : determinar , le elles devem fer frequentes, e profundos , parece que depende da refolujao de outro Pro- blema propofto pela Academia ; po- rem lembro-me, que tudo quanto dizem OS fequazes do fyftema Tuleziano , e OS que fobre os alicerces de Mr. Fa- broni tern formado fyftemas oppoftos aos lavores frequentes , e profundos ,• fe reduz com efpecialidade a culture?] dp DE Agricultwra. 8i do pao j a vinha efta em diverfas circumftancias ; as fuas raizes exten- dem-fe a profundidade de muitos pal- mos , e nao as feis pollegadas , a que Fabroni diz , fe eftendem as do pao j fe pois he hum dos fins dos lavores dividir a terra para facilitar a exten- fao das raizes , devem per illo fer profuiidos OS lavores das vinhas , em que fenao verifica o damno , que Fa- broni teme de fe enterrar a terra fer- til tao profundamcnte , que fe nao apro- vcitem della as raizes das plantas, e de fe tirar para a fuperficie huma ter- ra , que nao he vegetal , em que as plantas nao medrem ; antes por efta mefma razao devem fer profundos os. lavores da vinha , para que a terra fer- til fe aproxime das fuas raizes. § L. Tambem nao he applicavel as vi- nhas o temor , que tern Fabroni da evaporaqao dos principios, que a ter- ra contem promovida pelos Jrrequentes lavores , pois que nutnndo-fe a videi- ra muito principalmente pelas* folhas ( §§ XVII. XVllI. ) , parece dever-fe promover por algum modo efta eva- poraqao (60) j com tudo como os Tom. IL F mui- 8i Memorias muiro frequentes lavores accelerao a decompofijao do humus (6i) , e in- terrompem a combinajao dos princi- pios para formar a fevu (62) , por i^- Ib nao approve muiros lavores , que aconfelhao alguns Oenologiftas Fran- cezes (6:5) 5 e os reduzo lomente a tres 1.° efcava -^ 2.° cava\ 3.° redra. Ac cahir a folha da vinha fe deve immediatamente efcavar , abrindo toda a fuperficie da terra em covas de al- tura de hum palmo pelo menos , e de dous palmos de diametro , de manei- ra que os pes das cepas nao fiquem nas covas , antes Ihes fique chegada al- guma da que fe tira das covas (64) ; com efte lavor fe cortao, e enterrao as plantas , que nafcerao de verao , e as fuas raizes para formar a terra vegetal ; abre-fe a terra endurecida pe- lo tempo , e por ter fido mui calca- da na vindima para fe fazer permea- vel a agua , e as influencias da athmos- fera , ficao as raizes das videiras mais cobertas de terra , e por iflb defendi- das dos gellos , rerem a folha , que cahe nas covas para apodrecer , e for- mar mflis humus ; demora nas covas a agua das chuvas , para que penetre mais ao interior da terra , e para que nao ya formando legos , e levando com- figo DE Agricultura. 8^ figo a terra da fuperficle , e forma alem difto muito maior extenfao de fuperficies , que no tempo do Inverno fempre recebem mais principios do que cvaporao ; por tudo ifto fe conhece quanto he importante efle primeiro lavor (65-) . § LI. A cava he o fegundo lavor , que \ deve dar-fe as vinhas , he tanto mais ! facil de fazer quanto mais bem feita , I e profunda tiver fido a efcava (66) : I o principio de Fevereiro he o tempo de comef ar efte lavor nas terras encof- tadas , e bem expoftas do Nafcente ao Meio dia ; nos fitios aveffos , nas ter- ras baixas , ou excefllvamente frias i deve fazer-fe em Margo , em que ja fao menos de temer os .gelos, ou ain- da melmo em Abril ; deve com tudo eftar feito antes que os botoes come- cem a engroflar para fe defenvolve- rem i he efte o tempo mais perigofo de entrar na vinha , porque o mais leve toque nao fo nos botoes , quan- do eftao naquelle eftado , mas tambem na cepa faz faltar muitos deilcs , o que he muito nocivo ; por iflb fe per algum inconveniente nao cftiverem as F ii vi- ^4 M E M O R I A g vinhas cavadas antes defta conjuntura , deve deixar-fe efta operacao para de- pois que os botoes elliverem rebenta- dos , e do comprimento de duas pol- legadas , nao porque nelle tempo nao tenliao perigo , porem porque o tern jnenor : na cava devc retirar-fe do pu da ccpa a terra em baftante profun- didade para fe limpar niuito bem com o podao , e depois fe Ihe chega ter- la da que fazia a divifao das covas, c]ue tendo mais fuperficie fe deve re- putar mais bem fecundada; devem fi- car muito bem enrerradas todas as her- vas , para apodrecerem , e fe reduzi- rem a humus , excepto a grama , e o rengo , que como plantas parafitas , e que enterradas nao apodrecem , an- tes ie reproduzem com mais forga , fe devem lancar fora da vinha , pois que ainda ficando exacftamente facudidas da terra , e Jan^adas na fuperficie pren- dem , como muitas vezes tenho obfer- vado ; deve finalmente fer a terra mui- to bem elmiugada para que nao fiquem torroes , e toda a fuperficie da terra em pequenos monies com muito pouco in- tcrvallo de huns a outros (Sy) , e if- to deve fer feito em tempo enxuto, porque chovendo , ou ellando a terra moihada fe mo confegue nenhum dosj fins PE Agricitltura. Sy fins , para que he feito efte lavor , que nas terras , que de qualquer modo i'o- rem encofladas deve fer praticado de hum lado para o outro , e nunca de- baixo para fima para -fe nao puxar a terra abaixo , com o que dentro de poucos annos ficariao as cepas com as raizes defcobertas. § LII. A redra he o terceiro , e ultimo lavor , que fe da as vinhas ; da efco- Iha do tempo depende fer efte lavor utii , ou muito nocivo ; o que eu jul- go menos fujeito a inconveniente he depois de pallada a florefcencia , e de terem adquirido os bagos das uvas a groilura de hum grao de chumbo baftardo j quanto for pofTivel , deve pr^curar-le , que feja feito depois de ter cahido aiguma chuva ; na6 deve fazer-fe em tempo de nevoas humi- das, porque a poeira cjue fe levanta , fe pega aos cacnos , e folhas , que ob- I ftrue , e Ihc embara^a a tranfpiracao , e a afpiragao ; tambem nao deve fer feito em tempo dc calor muito forte , que accelere exccflivamente a cvapora- 5a6 dos principios, e que trafpalTan- •do muito ao interior da terra , a pri- vc 26 Memorias ve da humidade necefTaria , e damnl- fique as raizes ; nem por chuva pela melma razao dada para a cava ( § LI. ) : nao deve fer feito efte lavor com tan- ta profundidade como os anteceden- tes , porqiie he feito em tempo , em que mais deve temer-le a evaporajao, e algum foite goipe de fol nas rai- zes ; deve com tudo fer feito na altu- la conveniente para que todas as her- vas fiquem totalmente arrancadas , e i^uiro bem enterradas para que nao tornem a prender , e para que apodre- ^ao ; deve fer feito com cuidado para que OS chantoes , com que a videira ja neffe tempo deve ei^ar erguida jia6 fiquem aballados , cu mal fegu- ros ; deve finalmentc Hear a fuperficie da terra unida , e raza , para deile modo fe reduzir a menos extenfao do que nos lavores antecedentes , e %:ar por ilTo menos fujcita a huma perni- ciofa evapora^ao , que Ihe promoveria o ardente fol do Eftio. § LIII. A pratica de hir tirando das vi- jihas na occaiiao defies lavores toda$ as pedras efta tao longe de fer util , que muitas vczes he ncciva j a ra- zao, DE Agricultura. 8/ zao , que fe da para defapedrar as vi- nhas ne , que as pedras fervem de embarago a expedi^ao dos lav ores , e que impedem , que elles fejao feitos com a profundidade , conveniente ; po- rem ella nao he concludente : aflim he que as pedra? grandes tern os ponde- rados inconvenientes , eftas devem ti- rar-fe ; o mefmo le deve praticar com as granitofas , ou quaefquer outras de natureza vitrificavel de qualquer gran' deza , que fejao , porque eftas nunca fe decompoe : fe ellas fao de natureza calcaria , ou de qualquer outra , que fejao fufceptiveis de pronta divilao das fuas partes pelo effeito dos me- teoros , devem deixar-fe , procurando quanto for pofTivel , que ellas fiquem na fuperficie : ellas retem a humidade na terra ; fe fe levantar huma pedra era huma vinha , de que a fuperficie pareca fecca pelo fol , fe achar^ por baixo della humidade , porque tern em- baragado a evapora^^ao da que fe cxiial- la do feio da terra : augmentao o ca- lor muito conveniente para a matu- racao das uvas ; como fao corpos mais denfos do que a term , abforvem hu- ma maior maja de calor, que confcr- vao mais tempo , e com»munica6 k ter- ra , que as cerca : attrahcm mais orva- Iho 88 M E M O R I A S llio do que a terra ; hum corpo mais aquecido attrahe mais orvalho , do que aquelle , que o efta menos : he pois evidente a utilidade das pedras nas vinhas , e nociva a pratica de as defapedrar , porq'ue fuppofto cauzem as pedras alguma demora nos lavQies , •fica efte damno mais que muito re- compenjado com as vantagens , que cauzao. C A P I T U L O VII. Da erguida , em empa. § LIV. A Erguida como Ihe chamao no Alto-Douro, ou empa , como di- zera em outros vinhagos do Reino , he muito util i.° a qualidade do vi- •nho, e 2.° a conferva^ao da vinha : a qualidade do vinho , porquc ficando levantada a vinha da terra em con- veniente altura , he mais bem vilitada •do i'ol j OS feus raios quebrando na ter- ra , que fica ailim mais defcoberta , . reverberao pnra as uvas , que fe aper- i'eijoao com efte augmento de calor ; • jiao iicando os ramos , e frafto das vi- dei- deAgricfltura. 89 deiras eftendidos na terra , nao rece- bem della vapores tao grofleiros , e tao mal digeridos , que facao contra- hir mao gofto as uvas , e que as fa- jao apodrecer ; nem ficao tao privados da luz , a falta da- qual he tao noci- va inefmo a perfeijao das uvas , e a confervajao da vinha i a fubida, e def- cida dos fuccos da videira he pratica- da por vazos longitudinaes difpoftos •verticalmente , e parallelos entre fi , e ao eixo ( §§ V. , e VIII. ) , he pois certo 5 que fe nao encontrarera os fuc- cos algum embarago ao feu curfo , hao de fazer a fua maior irrupqao nas ul- timas extremidades , e por iflb nos bo- 46es fuperiores fe ha de fazer maior vegetacao , e aos inferiores Jia de con- correr menos nutricao , de forte , que deixando a videira a difcricao da na- J tureza , feria ferapre neceffario hir buf- '' car na p6da as varas , que rebentaffem nos ulrimos botoes da ponta da vara do anno anteccdente , tomando affim em poucos annos huma perniciofa ex- tenfao j ifto fe evita com a erguida , com a qual fe faz huma curvadura a vara para que os fuccds nao levem liu- ma direccao redla , e para que de al- gum modo encalhem , e tomem o ca- minho dos primeiros bot6es, forman- do- 90 Memorias do-fe afllm neftas vides perfeitas , que firvao para o anno feguinte fern a rui- nofa extenfao , que fern iito tomariao : moftrada a utilidade , ou para melhor dizer a neceffidade da erguida , veja- mos em que tempo , e como fe ha de fazer. § LV. Depois de feita a cava he que fe deve fazer a erguida ; o melhor tempo de a fazer , e em que melhor fe confe- guem OS fins , para que he feita , he antes que os botoes comecem a en- grofTar , porque le podem menear li- vremente as varas lem o rifco de os perder , que fica ponderado ( § LI. ) , le com tudo iia6 eftiver feita nefte tem- po , deve efperar-fe , que os botoes te- nhao rebentado , e eftejao os oiiios do comprimento de duas' pollegadas , em que ja na6 tern tanto perigo , como quando brotao. Entre os diverfos mo- des de erguida , que tenho encontra- do , fao dous os que geralmente fao mais praticados ; hum a que chamao de rodiiha, ou de pandeiro, que con- fille em efpetar'huma eftaca (68) jun- to a cepa , e curvar em forma de cir- culo a vara , qwe fe ata affim a efta- ca , que nca formando o diametro do cir- DE AgRICULTURA. 9I circulo ; efte methodo na6 fatisfaz a todos OS fins , por iflb nao deve pra- ticar-fe ; o que tenho achado mais con- forme a huma boa theoria , he o que fe pratica no Alto-Douro : entre o ter- ceiro , e quarto botao da vara da par- te da cepa le fonna com a mao hu- ma curvadura , e ahi fe mette huma eftaca bem efpetada na terra , a que fe ata a vide com hum vime no lu- gar da curvadura , de modo que efta fique elcvada , formando hum pequeno arco , em que a feva afcendente en- conrre algum embarngo, para que fu- bindo pelos lanyos dos tres botoes pof- teriores os nutra melJior ^ efta he a ope- rajao mais eflenciai da erguida, que deve fazer-fe bem , e com cautela , pa- ra que a vide nao eftalle , ao encurvar; o rcfto da vara fe deve erguer com ou- tra eftaca na ponta , e outra no meio , ij fe tanto pedir o comprimento da vara ij para que fique fegura , e fe pofla bem luftentar o pezo da rama , e das uvas; deve dar-fe a ponta da vara a elevaqao propria fegundo a figura , e expoficao 1 do terrcno para que toda a videira re- I ceba melhor o fol. ^1 M E M O R I A S § LVI. Hums difcreta defordem na di- rec^ao das varas pode augmentar mui- to a quaiidade do vinho , procurando- fe-lhe na inegularidade das direcfoes a ; cada huma dellas aquella , que melhor convier para que fe nao entrelacem os ramos de hum as com os de outras , e que fiquem encaminliadas para os efpafos mais deibccupados , para que defte modo pofTao as uv.is gozar me- lhor do fol : por efta razao he erra- da , e contraria a boa iheoria a pra- tica de alinhar com muita regularida- de as varas em huma mefma direcjao , ficando a/Iim muitos efpajos vazios demafiadamente , e ourros muitos aba- fados , e impenetraveis ao fol , e a luz , o que nao fo he nocivo a qua- iidade , fenao ainda mefmo a quanti- dade da prodiiccao j deve com tudo preferir-fe fempre a dircc^ao de Nor- te a Sul , quanto a figura do terreno, e as mais circumftancias o permittirem. Aquellas cepas , que forem podadas em galheiros , devem fer fuftidas pcM: huma eUaca forte , para que fe nao in- cline com o pezo dos ramos : as que Scarem fo com hum pollegar no iimo da DE AgRICULTURA. 95 da cepa , ou mefmo redondas no ve- Jiio , devem ler luftidas por huma ef- taca pela mefma razao para que os no- Yos lanjos tao neceflarios para a con- tinuajao da produccao fe abracem com ella , e nao fejao clgachados pelo ven- to , ou pelo leu mermo pezo. C A P I T U L O VIII. Da enxertia. § LVII. POr meio da enxertia das videiras. I'e renovao as vinhas velhas, e de- cadcntcs , e fe confegue defterrar dellas lodas as efpecies , que nao convem , ou por ferem perguijofas , ou impro- '' prias ao terreno , ou a boa qualidade 1 do vinho ; cfte meio he rauito facil , ! e prompio (69) j porque as vezes lo- go no primeiro anno fe colhem uvas das videiras , que as nao produziao , j e he alem dilTo o unico para reduzir I huma vinha feita a produzir as varie- jdades de uvas , que feu dono deze- |ja ter, vindo alFim a fer hum dos meios ■de aperfeigoar a qualidade do vinho. O bom fuceffo da enxertia depende i.*^ da planta ., de que fe ha de enxer- tar ; 94 Memorias tar j 2." do tempo , em que fe enxer- ta ; 3.° da habilidade do enxertador ; 4.** da exac^ao de a cobrir com a ter- ra. A efcoiha .da planta (70) , deve fer feita com muita exac^ao , devem marcar-fe com algumas divizas, quan- do eftao com uvas , aquellas efpecies de videiras , de que fe quer enxertar , para evitar com efla cautela os enga- nos J que pela falta della a mim mef- mo me tern acconteciJo ; chegado o tempo de colher a planta , que deve fer na malor fufpenfao do movimento da feva , que entre nos he no mez de Janeiro , fe devem efcolher fomente vides frudiferas ( § XX. ) , e entre eftas preferir as que moftrarem ter pro- duzido bons caches ( § XLIII. ) , por- que OS ladroes , e rama ( § XX. ) fendo de fua natureza infrucftiferos , ou pouco frufliferos , fervindo para garfo , tern o perigo de produzirem videiras perguicoias , e per iflb fe de- vem rejeitar ; depois de coihida a plan- ta fe deve confervar com tal cautela , que ncm brotem os boroes , ncm feque a planta , ou fe gele , para ifto deve ter-fe toda enterrada em lugar enxu- to , e coberto (71) : fe podeilem pro- porcionar-fe os meios de confervar a planta mefmo nas videiras ate aa'i pon- deAgricultura. 95^ ponto de a empregar iia enxertia , fe- ria muito conveniente (72). § LVIII. Difcordao os praticos fobre o tem- po mais conveniente de fazer a en- xertia , huns dizem , que he melhor fazela alguns dias antes de comejar o movimento da feva no principio da Primavera , porque antes de fubir ha tempo de fe fecharem os p6ros da ponta fuperior do garfo , para por el- la fe nao extravazar a feva ; fera mui- to bom efte tempo ^ mas he difficil de I marcar , porque hum frio agudo , que i fobrevcnha , pode retardar muito mais lO principio do movimento , e ate ge- i lar OS garfos ; nefta materia fo fe po- dem indicar epocas naturaes determi- ; nadas pela melma videira , que fe ha de enxertar : outros dizem que o me- lhor he logo depois de ter palfado o maior impeto da feva ; a eftes acho alguma razao , porque a feva , que en- tao fdbe, ja he em pouca quantidade, . inao tern perigo de fe efgotar a cepa , , e tambcni he mais vifcoia para melhor . Icollar o garfo com o padrao (73) , e ficar bem difpofto para receber a fe- va do fegundo moviaiento em Agof- to 96 Memorias to (74) : o tempo , que a propria ex- periencia me tern moftrado , e feito julgar melhor , he quando os botoes comecao a engrolTar , o que moilra que a feva comeca a entrar em movi- mento ; ifto he o mais conforme as marchas da natureza ; a feva ainda en- tao he mui vifcofa , para fazer collar o garfo , e para obftruir a chaga da. cepa , e o garfo efti nas circumilan- cias de rebentar quando as mais vi- des , e ate de produzir uvas , que amadurem no tempo conveniente (75) ; deve evitar-fe com grande cuidado enxertar por tempo de chuva , ou lo- go depois que tern chovido muito , e ainda mais por tempo, em que fa^a vento vulgarmente dito T^^o , que he. abrazador, e fecca os garfos prompta- mcnte. § LIX. O enxertador deve fer habil , e bem verfado nefta opera ^ao , e fervir- fe de inftrumentos muito affiados ; que cortem promptamente j deve examinar fe a planta efti em bom eftado , e ta- Ihar aquelia porcao de garfos , que po- dera metter em duas horas, trazendo- os em huraa cefta mettidos entre her-^.- vas • D E A G R I GU L T Xr R A. Cff vas verdes ; deve deixar a cada hum dous botoes , que fejao ambos perfei-" tos J e bem nutridos 3 rejeitando as pontas das varas , que fern pre iao del- gadas , e mal nutridas ; depois de el- eavada a cepa na altura de hum palrao , ou mais abaixo do collo § X. , de- ve cortar-re horizontalmente com a Ter- ra de mao , aonde for mais liza , e diftaiite de nos , limpar-fe com a pon- ta do podao da ferradura , e de tu- do aquillo , em que parece puxara la- droes , fender-fe perpendicularmente com Juim inftrumento proprio , abrir- fe a fenda com huma cunha de pao ate quafi ao no , que fica por bai- xo , que a conferve abcrta para fe fazer livremente a opcrafao dc met- ier o primeiro garfo , que deve ter grof- fura proporcionada ao padrao , e a fenda , e fe deve apparar de dous lados em figura propria para ajuftar entre dous raios de circulo dillantes poucos graos j e que efte apparo nao tenha maior comprimento do que a fenda , cortando-fe de hum lado ate ao miollo , e de outro muito menos - com hmna faca curva fe deve limpaj- a fenda das fibras eftaladas, para que o garto mctido perpendicularmente nag encontre embaralTo a unir-fe muito Torn. IL G b-m 98 Memorias bem dos lados com a cepa ; deve fJ- car exteriormente unida a cafca do garfo , e da cepa {jS) , e tirar-fe a cunha , para que a cepa forcejando para tornar ao feu eftado natural , fe ix^z fortemente com o garfo fem ne- ceffidade de fer ligada ; fe com tudo fe poder temer , que a cepa aperte com tanta violencia , que haja de ef- magar , ou expellir o garfo , fe deve levar com a ponta da faca curva a- quelle pao da fenda da cepa , que for necelTano para que o garfo na6 fique comprimido ; depois convem esfregar o c6rte da cepa com terra argiiiacea humedecida para tapar a fahida da fi^va. § LX. Depois de feito o eiixerto deve fer coberto de terra com a maior ex- ac^ao , e cuidado para que fe nao abal- Ic o garfo , que no eftado em que fica , ella expofto a defunir-fe ao mais leve toque ; deve ficar o garfo todo cobero , porque fica com mais humidade , e mais livre dos toques da atmosfera ; porque cria raizes pro- prias , com que mais fe nutre , e os langos que puxa , ficao mais feguros para nao efgalhar ^ a terra com que fe CO- deAgricultura. 99 cobrirem , deve fer Iblta fern miflura alguma de argilla , para que fe na6 fa- ^a tao compadla com o ibl , que nao polTao romper os lanjos i area bem miuda he preferivel , ate porque a ope- ra ^^ao fe faz ma is de preifa , e lem rilco (77) ; fe porem for com lerra , deve fer muito efmiufada , e efcolhi- da de qualquer pedra ; depois de for- mado o monte de terra , ou area que cubra o garfo , e que fe calca em ro- da levemente , fe Ihe efpetao dous ar- cos de vide em cruz , para indicar que alli ha enxerto , e que deve ref- peirar-fe aquelle lugar , e que deve tratar-fe a videira para o futuro co- mo enxerto. Em palfando o S. Joao , fe deve vifitar toda a enxertia , para fe Ihe tirarem todos os Jadroes com tanto cuidado , e cautcla , que fe nao aballe o garfo , ou fe efgalhe algum lanco do enxerto , e eltas viiitas de- vem repetir-fe dalii em diante mais vezcs : fobre o tratamento dos annos feguintes , fe deve cblcrvar o mefmo , que a refpeito do bacello , e das mer- gulhas fe difTe ( §§ XXXVI. XXXVII. XXXVIII. XLVII. ) no que Ihe for ap- plicavel , excepto em corrar as raizes , que lancar o garfo , que fe dcvem confervar : permittindo-o as circumf- G ii tan- 100 • M E M O R I A S tancias , he melhor merguihar os en-« xertos : nunca fera demais que eu re- commende a enxertia , com que ate fe pode confeguir o emendar os defei- tos de algumas efpecies (78) , CATITULO IX. Da Opera fao de esfolhar , efpampar , e capar a 'vinha, § LXI. DO que fica dito ( §§ XVII. , e XVIII ) fe conhecebem quanto he perigofa a pradiica de esfolhar , e ef- pampar as vinhas ; alFentando, que as folhas das videiras fao feus effencia- liiUmos orgaos de rranfpiracao , e afpi-' rafa6 j e como eftas duas funccoes fe fazem narazao da quantidade , e gran- deza das folhas , he bem certo que ha de diirsinuir na razao da quantidade das folhas , que fe Ihes tirarem ; por ifTo eu fo permittiria esfolhar algumas videiras raq vicofas , que exprelTamen- te moftrairem huma ta6 exceifiva nu- tricno , que Ihes embaraiTafle vingar o fruifto , neftas deveria tirar-fe alguma porcao tie folha corrada com a unha , ou com a tizoura , de modo que Ihts fi- DE Agricultura. loi! ficafle pegada parte do pezinho , pa- ra que ao botao nao faltaflTe aquelle amparo ( § XVIII. ) ; no cafo tambem de tanta folha , que embarafTaffe pe- netrar a luz aos cachos , conviria eC- folhar , de modo que fe praticalTem entradas a luz : tirando-fe maior quan- tidade de folha do que convem , por pouca que leja , he certo murcharem as uvas antes de amadurar , ficarem os botoes mal nutridos , e as vides por aperfeicoar , de modo que nao fo fe perde a colheita , mas ate a vinha : o Abbade Rozier aconfelha esfolhar quando as uvas tern chegado quail ao ponto da fua maiureza completa (79) , porem he difficultofo achar eile pon- to , e errando-fe he o damno fern re- medio.. A pratica de efpampar , ifto he , de tirar a videira os ladroes , e OS ramos , que nao tern frudlo, tam- bem a julgo mais perigofa do que util , por felicidaJe he ella pouco co- nhecida no Alto Douro ; eu fo a ad- mittiria no cafo de terem rebentado muitos ladroes no tronco , e no joe- Iho da videira , deixados dous mais Irigorofos , e feguros , de que fe po- defTe tirar utiiidade ( § XLIII. ) , dei- xaria tirar todos os mais , depois de t2r parado o movimento da primeira fc- 102 M E M O R I A S feva , e de eftarem as uvas vingadas. Ainda he mais defconhecida enrre nos a pracflica de capar as vinhas (80) tao recommendada pela maior parte dos Oenologiftas Francezes , e de que em lugar de fe tirar o proveitp , que elles inculca6 , fe tira iomenrc o damno de fe encherem os ramos capados de enrre^ folhas ( nor. ^2) , que muitas vezes fa-^ ?em abortar os botoes , que Jhes ficao na baze ; e que alem dilto efgotao muito mais as videiras , e fazem damno ao tiu- dlo i cfta opeiacao , que eu I'empre repu- te nociva , dcve com tudo praricar-lo nos bacellos , mergulhas , e enxertos n^ f6rma recommendada na (not. 44) . CAPITULO X. Da velh'rce , e das enjermidades da vinha , e dos infe^ios , que Ihe fao nochos. § LXII. ' AInda que a videira feja de hu- ma immenfa duragao ; chega com tudo a envelhecer , e a enfraquecer- fe , nefte eftado precifa fer tratada com maior dilVelo i a mefma terra canjada de receber , e dar tantas vezes OS deAgrictjltura. io^ OS principios da vegetagao fe faz mais rebelde a efta acjao , e reacfa6 , he pois neceflario reparar de algum mo- do a fua forga perdida. Nao deve defanimar ao vigilante Cultivador o ver as fuas vinhas velhas, e enfraque- cidas , ainda ha remedios que minif- trar-Ihes , deve tentallos : a enxertia ( § LVII. ) he o modo mais conveniente de as renovar ; porque fe o vigor da ce- pa nao eftd de todo extinifto , ou pe- ga o enxerto , ou rebenta a mefuia cepa junto a terra , ou fica ainda ver- de , e nos termos de fe Ihe renovar a enxertia no anno feguinte , efcavan- do-a mais profundamente , e cortan- do-a mais abaixo; fe a cepa nao tem padrao capaz de rcccber o garfo , de- ve deixar-fe efcavada para que reben- te \ de qualquer dos ditos modos que a cepa rebente , eUa em principio de poder confider.^r-fe renovada , e fe de- ve tratar como dilTe ( § LX. ) ; fe corn tudo de nenhum dos fobreditos modos a cepa rebenta , he certo que o feu def^^ fallecimento era irremediavel , e deve fer fubftituido o feu lugar com mer^ gulha de algum dos enxertos , que pe- garao , ou das cepas que rebentarao ; efta oper^jao das mergulhas , que nef- ^s calbs he ta6 necelTaria , e frequen- ce, 104 Memorias te , fera hum dos bons meios de re- parar a forja da terra para receber, e dar os principios-da vegetaca6 , pois que a terra virgem , que I'e revolve para a fuperficie , e que fica expofta ao ar , attrahe com maior forja os principles da vegetafao ( nor. ^S) , e correndo para as videiras , que- ficao vizinhas a mergulha , as beneficia , q Ihes rellaura 4s forcas perdidas. § LXIII, He pois muito conveniente nefte cafo procurar quanto for poflivel re-. volver a terra virgem (not. 58) para a lliperiicie laibrando-a (81) , renovan^ do-lhe , ou fazcndo de novo calcos (82) ; convem crear o humus ^ ou tcr-r ra vegetal , para o que nad defcubra melhor meio do que o de femear a ter- ra ih trcmocos para os cnterrar quan- do ellao com muita rama , e na for- ca da vegetaca6 (83) , e-fte meio he de huma decidida utilidade fern in^^ conveniente algum : tambem nao he para deiprczar o de cortar as vides muito miudas , e de as enterrar , de que jci fe lembrou Catao (84) : as cin- ?as lancadas fobre a terra junto a vi- flf ira ;, quando principia a lanqar fo-. Iha i DE AgRICULTURA. 105: Iha , reftaurao muito a fua forfa per- dida (85-) : os eftercos iao o meio mais efficaz de fe ferdlizar a terra ; porem nas vinlias fao maiores os in- convenientes do que as uti]idades , que caufa (86) : as terras incultas conduzi- das para as vinhas , e a poeira das eftradas fao meios uteis , ainda que allaz difpendiofos , por iflb fe deve confiderar , fe a utiJidade correfponde- ra a defpeza : o lodo das bordas dos rios convem muito 5 porque quafi tu- do he humus : o m^irne nao convem a todas as terras , por ifTo he necelTario difcernimento para o ufo dclle , alem diflb he mui pouco frequente em. as nolTas Provincias. § LXIV. I ' A vinhn , como as demais plantas , tambem padece enfermidades humas ciiraveis , outras incuraveis , e mortaes ; iao muitas as niezinhas , que acho ef- critas para curar as doen^as das videi- ras , e que na pratica de ordinario fe reduzem a nada , como a experiencia I , me tern moftrado ; a mefma pratica I me tern feito reduzir as doen^as das 1 videiras a tres ciaiTes pela fua fituagao : 1 cllas cu fao nos ramos , ou na cepa , ou |o6 . Memorias ou nas raizes : nos ramos podem pro- ceder da geada , ou de hum a forte ia- raiva , ou de golpes de fol ardente fi- cando os botoes deftruidos , e as vides feridas , ou por atempar ; na poda he que fe remedea o mal , que os ramos tern padecido , deixando-a muito cur- ta , de modo que fe atrenda ma is a confervajao da vinha , do que produc- cao das uvas daquelle anno: na cepa iao OS tumores , as excrecencias , as gommas , os cancros , a que fe deve ap- plicar o remedio ( § XLV ) , ou a cepa efta carcomida , e nefte cafo deve cor- tar-fe junto a terra paia que alii reben- te , e fe renove livre daquelia doen§a. § LXV. As moleftias , que a videira con- trahe nas raizes fao as mais das ve- zes incuraveis , ou ao menos de mui difficultoza cura ; fe huma videira fe ve enferma , ou porque nao puxa con- veniente rama , ou porque a folha fe faz amarelia , ou vermelha , e fecca antes do tempo , nao fc vendo caufa externa da parte dos meteoros , ou fe. Ihe nao defcobre doenja na cepa , he final evidente de que a enfermidade exifte nas raizes , e fe deve efcavar pro- DE AgKICULTURA. lOJ profundamente para fe examinar aonde efta o mal , que o mais das vezes pro- cede de tcr lido efmsgada alguma das raizes principaes com pancadas do en- x.^.ciafi ao dar-lhe os lavores ; efta ef- magadura , que nao foJda , deixa ef- tiavazar a feva , conrrahe podridao , que muitas vezes fe communica ao to- do ; he pois neceilario coitar-liie com o podao toda a parte gangrenada, fi- cando bem apparada no fao para que folde J tambem outras vezes procede de terem recofido , e apodrecido qua- fi todas as raizes \ porque a vinha he pouco , ou nada inclinada , e o feu fundo he argjllaceo , que nao deixa pe- netrar a agua , fica ellagnada , e da- qui precede a podridio das raizes j para efte mal he difficultola a cura , com tudo devem limpar-fe de roda a podridao , e praticarem-fe por entre a vinha vailados , por onde a terra fe ij defonere da exceiliva humidade , para [| ficar nos termos de poder extender as li raizes , que Ihe reftao fans , e refla- ! belecer-fe por meio dellas i todas as j mais enfermidades , ou fe remedeao pelos esforjos da natureza , ou fao in- Wiraveis pela arte. I08 M E M O R IAS § LXVI. A videira rem huma grande mul- tida6 de inimigos em os infecftos, que Ihe tern declarado guerra ; os prin- cipaes fao o pulga6 , o perilliao , a aranha , o bifouro , a abelha , o cara- col : o piilgao , e o perilliao , que I'o tem a diiferenf a , de que no eftado de chryfalidas , o primeiro tem a capa de hum verde muito efcuro dourado , e o fegundo avermelhada com pequenos falpicos pretos , fao os primeiros , que fahem ao campo a fazer guerra a videi- ra , a penas Ihe vao faindo as primei- ras folhas , tambem aquelles infe(ftos fiihem dos i'eus nichos a devorallas ; hu- mas Ihes lervem de fuftento , e outrag para por os ovos , que guardao en- roladas ate fervirem de primeiro ali- mento as Jagartas , que delles fahem , e que ao depois fe fuftentao roendo as folhas , picando os bagos das uvas, e roendo a cafca dos feus pezinhos , €m quanto he tenra , de forte que- lanjao a perder o fruto , e a vinha , que fern folha perece por falta de nu- trijao : em grande parte fe pode pre- venir efte flagello , trazendo fempre as cepas bem limpas da cafca velha , co-« mo , DE AgRICULTURA. I09 mo le dilTe ( § XLV. ) , depois de ap- parecerem , devem carar-fe com gian- de cuidado , corcando todas asfolhas, que eibverem enroiadas com os ovos , guardando tudo em faccos para quei- iTiar i porem debalde fe canjara o do- no de huma vinha , em fazer que ella feja bem catada , fe em todas as dos GOncornos , que fao tambem atacadas, fe nao pioceder do mefmo mode , re- petindo efta cata , muitas vezes no tem- po de chryfalidas , de ovos , e de Ja- garras ; porque bafta ficar huma fo vi- nha por catar , para eftes inl'ecftos fe propagarem para as outras : no cafo de andarem inficionadas as vinhas com eftes infedos , he util femear por en- tre ellas em diftancias convenientes moutas de favas ; porque efles infedos as prefFerem a folha das videiras , que deixao de roer , e juntando-fe a roer as favas ahi fe catao com mais faci- lidadc (87) . § LXVIL ' O bifouro, ou efcaravelho nao he menos para temerj porque de inverno fe efconde na terra , e roe as raizes da videira , e na Primavera fahe da terra a fuftentar-fe dos produdos da vi- no Memosias videira , at6 fe defpir da foiha , e fen- do fempre confideravel o damno , que caufd , he fempre muiro maior depois que amadurao as uvas j porque pica OS bagos de caches inteiros , que proin- ptatnenre apodrecem ; o remedio , que mais apflovelta he o da cata j tambcm he conveniente fazer-lhe ao cahir da fo- iha da vinha montes de efterco , em que mentacao tumukuola nao efta ainda de todo extiiKfta, e ainda continua em algumas particulas mais tardias , como fe explica Mr. Maupin ; por iflb he iiecefTario , que as vafilhas j em que fe ha de langar o vinho , fejao correl- pondentes na grandeza ao lagar , ou Cuba , em que tern fermenrado , para que na mefma vazilha fe nao lanje vi- nho de duas diverfas cubas , ou laga- res ; porque nao podendo fer nunca uniformes no ellado da fermentajao , fe deftruiriao mutuamente , excitando- fe mais fermentajao em hum , e re- tardando-fe erh outro , o que lie mui- to nocivo ; e alem diflb porque len- do aflim as vazilhas correfpondentes ,. fica o vinho tirado a limpo , miflu- fado com o das empizaduras j que Ihe compete : affim como o lagar deve ler grande (§ LXXXI. ) , tambem o deve fer a vazilha , em que fe ha de lan- car o vinho; poique quanto maiof for a raaila de vinho junta em iiuma- vazilha , melhor fe acabara de concluif a fermentacao tumukuofa , e fera mais perfeita a infenlivel (119), por iffo- melhor fe confervara o vinho : lie noci* va a practica , que recommenda6 niui* tos Ocnoiogiftas , de atteilar frequen-i DE Agrigultura. 143: tcmente as vafilhas com vinho por mais femcihante que feja , em quanto dura o refto da fermentaca6 tumultuofa j porque nao le leguindo utilidade al- guma , Te fegue o damno da interrup- jao : em quanto dura eila fermenta- jiio , deve cobrir-fe o baroque da va- 11 Ilia com hum chuma^o de folhas de videira para evitar , quanto he pollivel , a evaporajao, e depois de concluida fe deve tapar muito exa(ftamente pa- fa evitar a evaporafao , e o contacto do ar athmosferico. CAPITULO fflL Da confervacao do t'lnho , das fuas doencas , e dos remcdios* § XCI. GOncIuida a fermentacao tumul- tuola , em que a natureza tniba- . Ihou na formacao do vinho , come^a a fermentacao infenfivel , que apcrfci- coa o que a primeira- tinha tracado , ^recipitao-fc as particulas crafTas , que fortiiao as fezes, e o liquido he re- duzido infenfivelmente ao eftado da fua inaior perfeicao pofllvel ; porem o mef- jno movimento imperceptiyei , qu^Ie- Tom. II K va 146 Memorias va a perfeifao do vinho ao mais alfo ponto , tende infenfivelmente a fua de- compofifao , que tarde , ou cedo he inevitavel ; o grande ponto da arte he dilatar quanto for poflirel , efta fata! decompofipo, que he obrada pela eva- poracao luccefliva dos principios do vinho , que fao mais volateis , como he o efpirito inflammavel , e o ar fi- xo ; pela difrolu5a6, e recombinajao do tartaro precipitado ; e pela preci- pita^ao das particulas falinas , c vif- cofas , que fe feparao da agua da ve- getajao , que as tinha em diflblufao : por ilTo para confervar o vinho , e ratardar a fua decompoficao , he ne- ceifario livrallo das imprefsoes do ar athmosferico , do calor , das variafoes da athmosfera, dos cheiros fortes , e e de tudo o qse p6de dar-lhe hum movimento inteftino fempre noclvo a hum liquor , em que ja eftao defen- volvidos OS principios , que o confti- tuem tal. § XCII. O ar athmosferico pela fua flul- dez J e ehfticidade defprende o ar fixo combinado com o viiiho , e promove o feu movimento inteftino (§ t>E AGRlGtJLtURA. I47 (§ LXXVII. ) , por iHu em lugar de fe manter a fermentacao infeniivel no ef* tado de augmentar a pcrfeijad do v'l* nho , Te promove oiitra fermentajao inteiramente diverfa da efpirituola ^ que necefTariamcnre rompe a uniad dos principios , evaporando os vola-> teis J e recombinando , ou precipitan- do OS outros : por ilTo os toneis gran- des de madeira giolTa , iiireiraimente alcatroados , bem tapados ^ e guarda- dos em huma adega pouco fujeita is variances do ar athmosferico j ferao de hum grande foccorro para a confer- va9a6 do viiiho , pois efte lie o meio mais efficaz de o defdnder do toque do ar athmosferico , e das luas impref- s6es : o calor tambem cxcita o movi- mento inteftino do vinho (§ LliXVII.) , e Ihe caufa o mefmo dam no ^ por ifTo pede a fua confcrvacao , que elle efte j a em hum lugnr frefco. Coin razao diz o Abbade Rozicr (iio)^ que. a imprefsao mais vantajofli para lodo o liquor , durante a fermcntaeao infenfivelj he em geral a do frio lem- perado ; porquG diminue o movimcn- to fermeritativo , conccntrando os feus principios ; o vinho em grande mafia, e huma adega ^ cm qucm^is eonllan- temente fe conferve aquclla tcmnera- K ii tu- 148 M E M O R I A S tura (121) fao os prefervativos , que podem procurar-fe. § XCIII. As variagoes da athmosfera pro- duzem huma fuccefliva variacao no modo de eftar do vinho , que perver- te a uniformidade , com que deve con- tinuar a fermcntacao infenlivel , e acce- lera a fua decompofijao ; as cautelas para efte mal fao as mefmas , que fi- cao recommendadas ( § XClI. ) . Os cheiros fortes de ordinario fao effei- tos de huma fermenta^ao podre , que augmenta o calor da adega , o qual rarefaz o vinho , mette em movimen- to as fuas particulas , e promove , a 'evapora9a6 , e decompofi^ao do vi- nho , deve pois apartar-fe toda a ma- teria , de que podem fahir eftes chei- ros, nao fo da adega , mas ate das fuas vizinhanjas. Todos os eftrondos , que fore'm capazes de produzir vi- brac6es na athmosfera de huma ade- ga , tambem devem evitar-fe j porque as repetidas ofcllla^oes de ar podem caufar hum movlmento inteftino fenii- vel ao vinho , que feja o agente da fua deftruicao. A fuperabundancia do fiui- do eieiflrico efoalhado pela athmof- . ' fe- . DE AgRICULTITRA. I49 fera he muitas vezes o inimigo mor- tal da conferva^ao do vinho , e os feus effeitos ainda poderao melhor cu- rar-fe , do que precaver-fe. Nem fem- pre porem as indicadas cautelas baf- tao a evitar, que o vinho adoeca de alguma das enfermidades , a que he fujeito; pede pois a conl'crvajao do vinho huma conftante vigilancia de quem o dirige , provando-o com fre- quencia , para Ihe applicar os reme- dios no principio das enfermidades , em que he mais facil a cura ; porqueN depois de paffar a huma crize funef- ta , nao ha de ordinario remedio , que aproveite. § XCIV. Muitas vezes , a pezar de todas as cautelas , fe excita em o vinho hum movimento inteftino extraordinano , que he caufa das fuas principaes doen- jas ; que fao : I. fazer-fe o vinlio gor- Qoj II. azedo , ou vinagre ^ III. tolda- do , a que na Provincia do Minho , aonde efta doenca he muito vulgar , chamao lota(lo\ todas ellas comecao pela defuniao do ar fixo , e pela ex- cefllva evapora^ao do efpirito arden- te ; nao ha pois hum remedio , que no principio dcilas doenjas enclir^ me- lhor 15"© M|:mokias Jhor todas as indicajoes, e Teja rnais analcgo a natureza do corpo enfernio , do que he aaddijao de huma boa por- ^ad de agua ardente fern defeito , q que fa§:a a prova de efcada (122) \ com ella fe reftauvao os efpiritos eva- porados , e fe fulpende o movimento inteftino (123) , o que he corrar pe- Ja rai? a caui'a primeira de todas as enfermidades com o remedio mais inno- cente , e mais efficaz , que ate iuf- pqpde a defuniao do ar fixo : porem quaes fa6 os fyftemas deftas enfermi-' dades , e quaes as fuas caulas , e quaes OS feus remedios efpecificos ? He o que vamos examinar , tendo fcmpre ate lojige da minha lembranga aquelles crueis remedios , que tem inventado a infame cubi^a dos verdugos faiaes da humanidade, § xcv. A gordura do vinho he huma qua- fi total decompofica6 delle ; a evapo" fao do efpirito inflammavel , e do ar iixo fazem perder o nexo dos mais principios , e huma nova combina^ao cs faz contrahir diverfas figuras ; os faes , que ate alli eftsva^ defpidos da fua baze , e faziao com 0 ar fixo o pi- co DE AdllCUI. TURA. 15*1 CO vinhofo , torna6 a tomar a fua ba- ze , e Te precipitao com ella , ou ao irenos perdem a fua adlividade, com que tinhao dividido o oleo , que unin- do-fe outra vez com o flogiflo nao fi- ca mifcivel com a agua ; do mefmo mo- do o tartaio je decompoe ; a rezina colorante , a quern falta o feu diflolven- te o efpirito inflammavel , fe depoe, e toda a mafTa , perdendo o equilibrio das fuas antigas compofijoes , entra em hum movimento perturbado , que faz apparecer hum iiquido defcora- do , tendendo para a^marellado , turvo, grofTo , e vifcofo , de hum fabor ado- cicado com huma mixrura defTagrada- vel de agro , e moftrando na ultima crize deftas enfermidades a confiften- cia de mel quentc : quando apparecem OS primeiros fymptomas defta cnfermi- dade , nao he impoilivel o remedial- la , fe com tudo fe deixa adiantar a ultima crize , nao ha remedio algum efficaz ; no principio pois da enfermi- dade convem a addijao de huma por- jao de agua ardente ( § XCIV. ) , e a introducjao da maior quantidade pof- fivel de ar fixo ^ por efl^e niodo fe reftaura a forja , e o nexo do vinho , que tirado pouco depois para pipas , esfria , e perde o movimento , ficando ref- lyi Memorias reftabelecido de modo , que mettido promptamente em pequena quantidade em lotafao com outro vinho fao, ihe Xis.6 caulara detrimento (124). § XCVI. Sem a deftrui5:a6 do ar fixo , e do efpirito ardente nao pode o vinho paiTar ao eftado de vinagre , ou feja comecado , ou feja completo , pois que , como affirma o Abbade Rozier , (125), o vinho fe nao faz vinagre fe- 3136 pela abforcao do ar athmosferico, a qual fe nao poderia etFeituar , fe o ?ir fixo nao eftiveffe deftruido , e com a elafticidade perdida : a diiTolu^iao do tartaro , que fe tinha cryilallizado, e pre- cipitado na razao do efpirito ardenre , que fe formou no vinho , moftra , que file efpirito fe tern perdido ; o tarta-- ro dinolvido , e recombinado , da ao vinho o fabor acido ; o acido , como convem os Quymicos , abforve o ar athmosferico , e progrelTivamente vai caminhando a vinagre ; na mefma pro- grcifao Ihe vai faltando a cor brilhan- te^, pois que falta o diflblvente da par- te rezinofa , e fo fica a parte extra- ^iva foluvel na agua da vegetajao ; qu? nciic cafo domina , pois que dif- fol- i DE AgKICULTURA. J^^ folve OS cryftaes de tartaro , que pe- dem huma gr;inde quantidade dclla pa- ra i'erem dilTolvidos j a cor , o chei- ro , e o gofto indicao deide o prin- cipio efta enfermidade , que tambem [6 pode remediar-fe, quando comeja. § XCVII. i A primeira opera^ao , que deve pra(fl:icar-fe logo que o vinho prin- cipia a caminhar para vinagre , he trasfegallo para pipas novas , em que nao haja tartaro, que fe dilTolva , e que augmeute a caufa da enfermidade, e nao eftando ainda completamente cheias , ie devem rolar bailante tem- po , para que repetidas comprefloes poflao reftabclecer de algum . modo a elafticidade do ar fixo , e expulfar algum athmosferico ; feita efta opera- jao , fe Ihe deve langar hu na boa por^ao de agua ardente ■( § XCIV. ) , para que unindo-fe a agua de vegeta- ^ao , com que tem maior affinidade ,, fe torne a precipitar o tartaro , que caufa o acido , que he abforvente do ar athmosferico , e que fahando no vinho , fari cellar a abforjao defte ar deftruidor do compoilo ; fe fcJto ifto ainda doniina algum acido , que hu- ma 154 M E M O R 1 A S ma nova addi^ao de agua ardente na6 pode de todo extinguir , ja he pouca a efperanca , que pode haver , de cu-i rar a enfermidade , com tudo ainda fe devem tratar alguns remedies ; co- nhejo , que os alkalis tern affinidade com OS acidos , e que os podem neu- tralizar ; porem nenhum reipeito inno- cente , a nao fer a cinza de vides , huma boa por^rao de leite , que acon- felha Mr. Bedet , e muitos outros , pode fer conveniente ; porque unin- do-fe as particulas oleofas do Jeite com as acidas do vinho , perdem eftas a fua acftividade , e ac§:a6 , e as par- ticulas craflas do Jeite fe coaiha6 , fi precipita6 (126) . § XCVIII. O movimento inteftino extraor- dinario do vinho obra por diverfos modos , e produz differentes effeitos ; humas vezes fa6 os feus produtflos os que ficao referidos (§ XCV. , e XCVI.) , outras poe o ar fixo em liberdade pa- ra obrar fegundo a forfa da fua elaf- ticidade ; defprende o ar combinado com as particulas conftitutivas do vi- nho , que obra do mefmo modo , que forcejando por fahir , e encontrando OS DE AgRI^CULTURA. 15*5' OS obftaculos do tonel tapado , faz fn- hir o vinho pelv^s mais impreccptiveis juntas da vafilha , e efte he o primei- ro fignal de que o vinho entra em putrefacfaoi perdem'fe as particulas ef- pirituofas , e aromaticas i o movimen" to impetufo do ar fixo , dando im- pulfo as fezes as faz elevar , e niixru- rar no fluido , e entao apparece hum liquor turvo , fern forja , fern pico vinhofo i porque as particulas terreas fe tern recombinado com os acidos , e pouco tarda , que na6 appareca hum cheiro a choco , ultima crize defta enfermidade , a que chamao Toldar-fe , ou Lotar-fe o vinho , e fignal da fua inteira putrefacgao. O efpirito inflam- mavel he o primeiro pacificador do movimento inteftino ( § XCIV. ) , nor iiTo logo que fe conhecer o primeiro fignal defta enfermidade J deve juntar- fe ao vinho huma porfad de agua ar- dente , e hum pouco de melajo , que pela fua vifcofidade depura as parti- culas craflas , que ja eftavao em mo- vimento , e fendo hum vifcofo emi- nentemente doce defenvolve de novo 0 efpirito confervador do vinho. 156 M E M O R I A S § XCIX. Se ainda afTim nao delapparecem OS fympromas defta enfermidade , he Jiecelrario fufpender de algum modo a elafticidade do ar , que he o prin- cipal movel della : 03 vapores do en- xofre inflammado iiitroduzidos em o vinho , fao o melhor meio conhecido para fufpender aquella elaflicidade pe- la diffolufao do flogifto , que aquelles vapores contem abundantifllmamente. O Abbade Rozier (127) exalta o mais que hg poflivel efta pradlica , e elle repura os vapores do enxofre inflam- mado , como o melhor meio de con- fervar o vinho : fempre que na Pro- vincia do Minho tenho provado vinhos enxofrados , Ihe renho conhecido o chei- ro, e hum fabor empyreumatico , que me motiva nauzea j fera talvez pelo mao methodo de enxofrar ^ porque Ro- zier attefla com propria experiencia , que ]he nao communica fabor aigum , e inventou para efta operajao huma rnaquina , que nao incommoda a quem faz a operacao , e evita os inconve- nientes , pelo que merece fer conhe- cida (128) . Mr. Barberet diz que 0 vapor do enxofre faz pcrder a cor ao vi- DE AgRICULTURA. 15'/ vinhotinto, fundado em que eJle deC- troe as cores vegetaes : Hoffman , e oucros pretendem , que eila operaqao augmenta a cor dos vinlios tintos : o Abbade Rozier affirma , que he £6 quando os vapores obrao immediata- mente fobre certas cores vegetaes , que elles as deftroem. § C. Eitas fa6 as pnncipaes enferml- . dades do vinho , de que todas as mais , ( qu fao principio , ou confequencia ; feria exceder os tcrmos de huma Me- moria , dar formulas para corregir to- ; dos OS defeitos , a que o vinho efta \ fujeito : a Differtacao Anonyma fobre ll OS vinhos Impreda em Pariz no anno I de 1772 defde pag. 90. ate pag. 242. contem huma collcc^ao de receitas , 1 que podem fatisfazer a curiofidade de quern quizer fazcr ufo dcllas , e cfti- ver nas circumftancias de as experi- mentar ; alii achara tambem indicados varios remedies para os diverfos de- feitos , que fao communicados ao vi- nho pelas vaiilhas , devc com tudo ter- . i ie fempre como certo , que de bnl- j de fe esforcara em e men dar os defei- ; -tos , que tern contrahido as vafiHias , que 15"^ M E M O ft i A s que poderao fer de algum modo dii** fargados , porem nunca extindos ; o remedio , que aconJelha o Abbade Ro- zier , he lervir dellas para o fogo , pois como as madeiras fao nimiamen- te porolas ^ fe deixao penetrar inti- mamcnte de qualquer mao cheiro , ou fabor , por illo he fempre muito arrif-' cado o ufo de taes vafilhas : o unico remedio , que p(5de deixar algumas ef- peranj as , he lan^ar-lhe fogo denrro ^ de modo , que por todo o interior da Vafilha (e queime parre da grolTura da madeira; porque aquillo, que o fogo nao confome, lica purificado pela in- troduc5a6 do flogifto nos poros da ma* delra. § CI. Por ifto fe conhece o grande cui- dado , que deve haver na conferva- gao das vafilhas , para que rtao che-' guem a contrahir mao fabor ^ ou fflio cheiro; antes de concertadas para fer- vireiTi a receber o vinho , devem fer | muito exadlamente rafpadas pelo in- terior , de modo , que Ihes liao fique particula alguma daS fezes feccas , ou do tartaro cryftaliizado , que diffol- vendc-fe no vinho o damnificariao j' depois de bem rafpadas , e bem var- ri- DE AgRICULTHTR A. 15*9 ridas com huma vaflbura de piafTd , ou de outra materia dura, e afpera, ao tapar fe devem lavar muito bem com agua ardente , e confervar-fe bem tapadas ate ao ponto de Ihes lancar vinho : Janjado o vinho , deve haver todo o cuidado , para que nao fiquem tempo algum com tanto efpa^o vazio , que polla criar bolor , ou contrahir fabor ao fecco : logo que fe defpeja- rem , devem fer muito bem varridas , c enxuras , deixando-as expoftas ao ar , para que enxuguem com brevidade , o que fe p6de tambem confeguir mui- to utilmente com o vapor do enxo- frc inflammado ; depois de enxutas fe devem rafpar , varrer , e tapar. Se el- las contem algum vinho , que fe arrui- na , devem augmentar-fe os cuida- dos , tirando-lhes com a maior brevi- dade poflivel o vinho arruinado , e alem das opera coes indicadas , de- vem repetir-fe por mais vezes os va- pores do enxofrc , lavar-fe muito bem com agua ardente , tapar-fe , e pafTa- do pouco tempo repetir-fe o vapor , deixando-as deftapadas , expoftas ao ar , para que fc nao concentre o mao cheiro , e mao fabor ; ainda com ef- tas cautelas deve nas vefperas da vin- dima f.uer-fe hum fevero exame , fe. ain- i6o Memorias ainda o cheiro indica algum defeito j porque neflc cafo pcde a prudencia , que fe nao fa^a ufo de taes vafilhas* § CII. Nao fao fo as doen^as do vinho , as que fazem o feu ufo defagradavel j fe elle nao he bem claro j e brilhan- te , nao he ta6 agradavel , nem he proprio para fer tranfporrado 5 porque fempre depofita particulas craflas j por iflb , tirado o vinho das fezes , fobre as quaes nunca deve efperar os gran- des calores , fern grande rifco de fe arruinar , fe deve clarificar huma , e inais vezes , ate que ianjado em hum copo de calix , e examinado em hum lugaf efcuro contra a luz de huma ^^ela y fe veja perfeitamente tranfpa- rente , fem que fe Ihe defcubrao hu- mas como nuvens , que moftra6 , que ainda nao depoz todas as fuas impu^ •rezas. Toda a clariricaga6 , diz 0 Autor da diifertajao anonyma fobre, OS vinhos ( § C. ) > depende princi^ , palmente da precipitafao das partes p. groffeir.is, ou das impurezas fufpenfas |^ tin o liquor j que nao f6mcnte o fa- 2em opaco , mas ate muitas vezes K; Ihe dao iium mao gofto. Os inil rumen- |k., tos D E i!\. G R 1 C U L t U R A. l6t tos J por que fe obtem clla precipita^ fao, foo certas Itibilancias , ck* que as partes grolTeiras , e vifcofas podetn combinar-fc com eftas fezes lufpenias , c que vindo a |)recipitar-ie as arrallaS comfigo ^, laes fao a colla de peixe^ as claras de ovos , a gomma Arabi* ca &c. Eftas fao as iubftancias mais jnnocenres , e proprias para a clarifi- cafao do vinho ^ o methodo de ufar dellas he tao vulgar , que feria ocio- fo efcrevello ; todas as mais fubft:an-> cias , que fe empregao para efte iim , fa6 perigofas , ou para o vinho , ou para queiii o bcbe. § CIIL Ha homens tao cegos da coblca , que para darem luima fatal palfagem aos vinhos, que Dies cnfermao , fe fer- vem dc remedies deiiruidores da fau- dc , e ate da vida humana ; grandes i;omcns tern trabaihado fobre os meios do dcfcobrir , e conhecer eftas mali- ciofas fajfificacoes do vinho i Iiuma Memoria de Mr. Lebel me guiaria iJira cii dar a conhecer os meios dc jccbr;r os vinhos falfincados com ■uDrtancias corrofivas , e arfenicaes , j.'crem cii icmo enlinar a ufar dcllas, 2'o?7i. IL L 4i- l6l M E M O R I A S dizendo os meios de delcobrir os vl- nhos , q^ie as contem ; os dous cele- bres Qiiymlcos Mrs. Cadet, e Lavoi- j Her efcreverao por ordem da Policia ■ de Pariz cada hum fua*Memoria , fru- (flo de grandes trabaihos , e analyfes , em que dao os meios de conhecer os vinhos faliificados com drogas pernio ciolas ; fe eu repetiOTe aqui o que di- j zem eftes grandes homens , faria mais ■ damno do que utilidade ; os Sabios podem hir ver is fontes , e aos que o nao fao , fo ferviria efta noticia pa- j ra o abufo : fallarei fomente do mo- | do de conhecer os vinhos , que fao fal- fificados com o alumen , pois que he I hem vulgar efta perniciofa compoficao , que lendo olhada por muita gente co- mo innocente , caufa violentas cardial- gias , e tenazes obftruccoes : dilTolvi- do hum pouco de mercurio em agua- forre , e lancadas humas gotas defta difTohijao em o vinho , fe eile tiver alumen, fe fara hum precipitado ordi- nariamente de cor amarella , coniiecido com o nome de turbilo mimral j o acido vitriolico do alumen deixando a terra aluminofa fe une ao mercurio , que abandona a agua-forte , que o ti- nha em diflolucao , donde refulra o ' dito precipitado \ fe o vinho nao con-, tern DE AGRIGULTtJRA. t6^ tcm alurnen , o mercuria fica fufpen- To (129). C A P I T U L O XIV. Djt diver fos methcdos de fazer 0 vi* nho , e do modo de imitar os me- Ihoves , e mah ejiimados vi- nhos ef.rangeivos. § CIV. DEpois de fe terem moftrado 6rti todo o Capitulo Xll. os princi- pios ) que poclem condiizir a mais per- feira fermenracao do vinhoj os quaes fiio geralmente appJicaveis a todos os Paizes , porque a natureza he toda a mefma ; e depols de fe ter irtdicado o methodo de dirigir a ferrrtentajad , que. parece facisfazer melhor a todos OS fins , c a todas as condi^des ne- ccf{;\rias , para fe confcguir o melhor vinlio pofTivcI , fegundo a fua cfpe- cie \ e que por ifio parece fer o me^ Jhor para todas as efpccies de vinhcs , e para toda a qualidadc de terrenos ; rcfcrirei os diverfos methodos de o fazer em vanas terras , para fe pode- rem combinar, e fe vir mdhor no co- nheeimcnto dos feus defcitos , ou das L ii fuaa 1^4 M E M O R I A S fuas vantagens a refjjeito domethodo, que deixo eUab^lecido : feja o primei- ro o que geralmente fe pra^5lica no Alto Douro , donde fahe a uiaior imaf- fa de vinhos de Portugal , para o com- mercio com as Nacoes do Norte. Cheio o lagar de uvas fe mette nelle hufti grande nutnero de hoinerrs a pi- zallas , durando efta opera^ao fuccefH- vaiiiente 48 ate 70 iioras , e fe deixa levantar o vinhaco , e fe conferva af- lim ate que pela prova fe conheja , que elle trava bem , que he o fignal para fe tirar o vinlio do lagar para os toneis y em que ha de ficar envafilhado. § cv. O methodo gerahnente ufado na Pi'ovincia do Minho he lanjar as uvas ao lagar , e pizando-as com a bica a- berta , para que o modo va logo cor- rendo a dorna, immediatamente o Ian- gao as vadlha? , em que ha de ficar y para que Hellas' mefmas fermente j e efte mefmo methodo fe pra^ftica em; grande parte da Provincia da Beira > e em algamas partes da Eftremadu- ra , aonde chamao e(fe methodo dc ca'ua , que principalmente praiftlcao na Eitremidura com os vinhos de uvas brancas , para que nao fiquem cor de , alam- DE Agricultura. i6^ alnirbre. Na EllrciTiadura , e parte da Beira he quafi geral o methcdo de pizar as uvas em tinas , ou lagarcs , que rem cs tampos baixos , e Janjar toda a mafla cm balfeiros , em que fer- mentao, em humas partes com o can- ganho , e em cutras fern elle , e fo com a cafca , cobrindo os baJfeiros , e lan- jando-lhe arrobe querte , euvasefma- gadas a mao , e fervidas (i^o) ; em al- gumas partes depois de entrar a maf- fa em fermenta^ao a mexem duas ve- zes , e majs cada dia , cm outras ra6 a mexem nunca , depois que ertra a fermentar (131), confervando-a aflim 4 , 5 , 8 , e mais dias fegundo o ufo das terras , no fim dos quaes tirao o vinho do curtimento , crmo fe expli- ca6 J e laiicao em as vafilhas , em que deve ficar j efte methodo he tairbem o mais geral em quafi todas as Pro- vincias da Franca para cs vinhos tin- tos J e para os brancos feitos de uvas brancas. § CVI. Os vinhos de Borgonha , que dcA de muitos feculos tem fido tanto ef- timados , principalmcnte os que alli chamao de printer , que de ordinario fe uad confervas sacs mais do que hum an- i66 Memorias anno, fe fazem pelo feguinte modo : colhidas as uvas por tempo fecco , e pel4 forja do Ibl , e biicadas na Cu- ba , fe deixa6 aflim fermentar , revol- vendo-as fempre ; logo que comejao a fermentay , entra hu na , ou duas peflToas na cuba a pizar por efpago de duas horas , o que le repete por trez vezes , com interrup^ao de duas ho- ras , depois do que fe tiia o liquor pela cannella da cuba para as vaiilnas , e o vinhajo fe lanj.a ao lagar para fe efpremer , havendo cuidado de dif- tribuir com igualdade nas vafilhas , que contem o primeiro liquor efte fe- gundo , que fahe da efpremedura (132) . O vinho perfeitamente branco de Champanha he feito de uvas tintas, he vinho mui delicado , e de hum gofto exquifito; porem nao foffre o tranfito do mar fenao engarrafado : o metho- do de o fazer com perfei5a6 conlifte emvindimaras uvas, antes que eftejao CJXcefTivamente maduras por dias de nc- voa , ou de manhaa cedo em quanto eftao or.valhadas , efcolher uvas , que todas eftejao igualmente maduras , e que feja6 conduzidas ao lagar cober- tas com pannos molhados , e mui do^ cemente para que o fol as nao aque^a , C fe nao efmaguem j juntas no lagar fe em' DE AgRICULTURA. 167 empezao muiro levemente , eftando a bica aberia para que corra f6ra o li- quor fem fe demorar , e efte primciro he que fe cliama vinho de gotta ; Jevan- ta-fe com prefteza o pezo para Jan^ar ao meio da mafTa as uvas , que tern ef- corregado , e fe torna a empezar j tor- na-fe a Jevantar o pezo , e fe repete a mefma operagao , de modo que em todas elJas fe nao gafte mais de huma iiora ; todo o Jiquor, que fe tern re- cebido em huma dorna capaz de o con- fer , fe Janja nas vafilhas , em que fer- menta , e fe conferva ate a Primave- ra , tempo em que fe tira a limpo , e fe purifica para fe engarrafar : o Ji- quor , que ao depois fe tira da maffa por empezaduras fortes , e repetidas da o vinho , a que chamao olho de perdiz. § CVII. Os vinhos de Chianti , Carigna- no , e Val d'Arno em Italia , de que em Inglaterra fe fez tanto confumo em outro tempo , fao feitos por di- verfos modos : para os vinhos tintos conduzem as uvas em pcquenrs dor- iias , em que as pizao com hum pao , e as lan^ao immediatamente a huma ina- <}uina , que fica fupcrior a bocca da cu- t68 M e m o r I a s Cuba , e he miiito femelhante na figu- ra a tremonha de hum raolnho , o fun-' do da qual he huma grade ; hum ra- paz piza dentro da maquina as uvas de modo , que pela miuda grade paf- fem muito bem efmagadas a cuba com as cafcas , e canganho eimiucado , o que fe vai repetindo ate fe encher convenientemenre a cuba , em que a mafia fe deixa fernientar fern raais bo- iir com ella , per efpaco de lo , ly , e 20 dias , ate que pelo goilo fe co- nheca , que efta feito o vinho , para ie envazilhar : os vinJios brancos or-- dinarios , ou os mofcateis fe fazera tra- zendo primeiro a feccar as uvas , ate cftarem meias pafladas , e depois de fe pizarem na forma fobredita , fe dei- xao fermentar na cuba iinco , ou feis dias ao muito , e fe envazllhao i de- pois que acabao de ferver fenfivelmen- te nas vazilhas , os trasfegao duas , ou irez vezes : o Verdea , ou Florenja branco fe faz de uvas preparadas do jiiefmo modo , e logo que comcga a ferver nas cubas , fe muda para to- rieis, em que fe deixa ferver 36 ho- jf-ns , ou ao muito 48 , e depois fe mu- da de poucas em poucas horas , de hu- maP vazilhas para outras , para Ihe fuf- p?ndtn* 3 fermentagao , o que o faz fi-. car deAgricultura. 169 car doce , porem nunca chega a lim- par perfeitamente : os vinhos das llhas do Archipelago fao de ordinario f'ei- tos pelos fobreditos methodos de Clii- anti. Geralmente os vinhos liquorofos, tanto de Tokay , como de todas as mais partes da Europa fao feitos de uvas meias pafladas , ou artificialmen- te , ou mefmo nas videiras , torcendo para efle fi-n os pes dos caches de- pois de eftarem maduros. § CVIII. As vinhas de Portugal nao cedem vantagem alguma as demais vinhas da Europa , fe he que nao excedem a to- dis na temperatura do ar, na expofi- ^a6 , e qualidade do terreno , e nas iTiais circumftancias , que podem in- iiuir na bondade do vinho , e na fua variedade ; nada pois mais facil do que imitarmos os melhores , e mais ef- timados vinhos eftrangeiros j em ne- nhum Paiz podem abundar tanto os vinhos liquorofos como em Portugal , huma vez que quizermos facrificar a quantidade , deixando rcduzir as uvas ao ponto de meias paffadas ; o AI- garve , Riba-Tejo , defde o rio de Coi- na para fima , em que fe indue Pa- Iha- 170 Memorias ]haes , Lavradio , e fuas vizinhan^as ; o rerreno defde Almada a Setubal j o diftn(n:o de Povos , e outros que nos contornos de Lisboa fe achao nas mef- mas circumftancias , e o Alto-Douro produzem uvas muito temporans , e de fua natureza doces , das quaes redu- zidas, ao eftado de meias pafTadas, fe pode fazer o mais preciofo vinho de liquor (133). Na maior parte dos vi- nhagos do Reino , a excepjao da Pro- vincia do Minho , fe podem imitar os vinhos perfeiramente brancos de Cham- panha , fazendo-os pelo methodo dito ( § CVI. ) ; e fendo feitos dc baftardo feparadamente , excederia6 certamente aos de Champa nha (134) . § CIX. Para imitar os vinhos tintos de Borgonha , baftaria , que os de Val de B^'fteiros , S. Miguel de Outeiro , Ana- dia , e Bairrada na Proyineia da Bei- ra foflem devidamente fermentados fern o canganho ; elles teriao certamente a delicadeza , e o toque dos de Bor- gonha ; porque ainda mal feitos fe affemelhao muito no toque. Se na ri- beira do Lima , e em Mon^ao na Provincia do Minho, em Torres ¥6-^ dras DE AgRICULTURA. I7I dras na Eftremadura fe fermentarem devidamente os vinhos tintos , e bran- cos lem mais confeicao alguma , do que a addicfa6 de alguma fubllancia affucarada na fermentajao dos vinhos brancos , fe confeguira o ter imitado OS vinhos de Bordeaux , e do Rheno. Os vinhos , que unicamente me pare- ce na6 podermos imitar , fao os do Cabo de Boa-Efperanca ; pois que nao pode haver hum meio natural de dar- Ihe a cor , que tern aquelles vinhos. § ex. Concluo finalmente efta Memo- ria , talvez aflaz faftidiofa , com o Ab- bade Rozier (135"). =5 Attrevi-me a combater os prejuizos , difficultofa- mente confeguirei o deftruillos , dies fao tranfmittidos entre os cultivado- res de pais a filhos , e he o mais das vezes a parte mais efcrupulofamente confervada ' de toda a heranj a. Nao ha prejuizos mais radicados , do que aquelles , de que fa6 menos folidos os fundamentos. Podem os homens de- fenganar-fe de hum erro de racioci- nio ; mas corao combater o que na6 , tern nem principio, nem confequen- I cia ? A vcrdade_ coratudo apprefenta- i da 172 Memorias da ao homem , que a bufca de boa fe , o fubmette infallivelmente ao feu imperio ; e os feus prejuizos nao fe fuftem muito tempo contra a fua ra- zao. He nefta idea , que eu empre- hendi refolver a Queftao propofta , e fe eu tivefle de apparecer diante de outro Tribunal , que nao folfe o de huma Academia , temeria , que o men zelo fofle olhado como temerario. Ser util he a minha unica ambigao =3 . NO- DE AgRICULTURA. I/^ N O T A S. (i) No anno de 1784 fui cntregue dc hu- ma por9a6 confideravel de vinhas em di- verfos fitios do Alto-Douro , que eftavao tocando o ultimo ponto de fua total rui- na , e talvez erao as mais miferaveis de todo o Paiz ; parte dellas tinhao fido pef- fimamente cultivadas havia mais de 25 an- nos , e outras havia perto de 50 , a pri- meira cultura , que Ihe fiz , foi a do anno de 1785 , e continuei nos de 86 , e 87 , fem que nelles podefTe afliftir-lhes com a frequencia , que defejava , fendo obrigado a confiar-me de feitores , que nem tudo cxecutavao , como eu ordenava , e que (6 com muito cufto podia levar a fahirem das praclicas ufadas ; porque tudo o que nao tinhao vifto ufar , olhavao como outros tantos erros , ou extravagancias , e o mef- mo juizo faria o publico , que por cir- .cumftancias tinha pofto 05 olnos fobre a minha culrura , e que aborrece natural- mente tudo o que fahe da fua antiga rurina -, nos annos de 1788, e 89, tenho poiiido alTiftir-lhes com mais frequencia , as minhas vinhas tem tornado hum augmen- to , que nem eu mefmo cfperava ; a fua produc9a6 tem fido na razao feguinte : no anno de 1778, foi como i. no de 8^, foi como i|; no de 86, foicomo iy;no de 87 , foi como Zj ; no de 88 foi como 4v , c foi himi anno geralmente abundan- te ; no de 89 , foi como ^f. No anno dc 1-84, 174 M E M O R I A § I784 , comecei a fazer os vinhos por hutW mechodo inteiramente novo , e aflim tenho continuado arc agora ; os meus vinhos tern confeguido huma gfande reputafao , e ap- prova^ao dos mais intelligentes ; todos tera admirado a coragem , com que ao feu mo* do de penfar eu me tenho avcnturado a perder as minha novidades , e a pezar das experiencias feguidas , que tenho feito , ainda temem do mefmo modo ; tanto p6- de o prejuizo ! e ainda pode mais alguma coufa. (2) Talvez que o achat Mr. Duhamel o epiderme da videira esbranquifado , pro-^ cedefTe de o nao ver exa6lamente feparado das glandulas corticaes , ou dos utriculos do parenquymio ; ou procedefTe de alguma illufao de Optica. (^) He fern fundamento algum, que Mr. Beguillet na fua Oenologia cap. 2. art. 2. p. 46. , nega a exiftencia do emrecafco , e ate da cafca na videira , e quer que ella feia unicamenre hum compofto de iimpleces fi- bras , direitas, e porofas , que tranfmer- rem a feva por todas as partes do pao , efte Sabio Oenologifta he convencido ds erro neftfi parte, pois a vifta fern o loc- corro de algum ihftrumento moftra nas vi- des a cafca , que perfeitamente fe fepara e deixa ver todas as partes , de que he compofta ; e em muitas mil cepas , que para enxertar tenho feito cortar horizontal- mente , fempre Ihes renho dlvizado , ainda mefmo fem o foccorro do microfcopio , por baixo da cafca elU cinta de hbras mais tenrasj e mais esbranquif^das ;, a q"« DE Ar, RICULTUBA. I75' OS mais exaiftos obfeivadores da anatomia vegccal chamao entrccafco. (4) O eftudo mais exa61o da anatomie vegetal nao rem oiFerecido nada certo a Malpighi , Duhamel , e oucros Sabios ob- fervadores da Reigo vegetal , a refpeito da ordem , que guardatS entre fi os vafos lyn- faticos , proprios , e aerios : he fomente conftante , que em cada camada lignofa fe achao todos trez juntamente , e que o in- tervallo fenfivel , que fe defcobre entre duas camadas cortadas horizontalmente , he antes indicado pelas cavidades dos utricu- los , do que pela falta dos vafos lynfati- cos , proprios , e aerios. (5) O Cavalheiro de Muftel no feu Tra- tado da Fegetacao nega a exiftencia das Tra^ueas vegetaes , que Malpighi tinha defcoberto , e de que Mr. Mongez demof- tra a exiftencia. Grew depois de muitas experiencias , pen fa , que nas traqueas nao circula fomente ar ; que em cerras cpocas da vegeta9a6 a «iuita affluencia da levx a faz retluirpara cftes vafos. O diamctro das traqueas he maior do, que o dos vafos proprios } e o deftes maior do que o do^ vafo; lynfaticos. Hales Ihc confidera hum movimento periftaltico em fentido contra- rio ao movimento diurno do fol. As tri- queas nas videiras fao mais grolTas , e eni muito maior quantidaJc do que na maior parte d.^s outras plantas , como bem ad- verte Beguiller. (6) He muito notavel efte lugar do Sa- jbio Oenoiogifta Beguillet , para en nao cleix-^.r dc o tranfcrevcr aqui ;r; La tige commu- 176 M E M O R 1 A S communique a la racine par un point c^ti- tral ou elpece de noeud qu'on nome liai- fori , parceque c eft le lieu ou leurs par- ties internes fe joignent , fe melent , ef fe lient enfemble , a peu pres comme deux cones , qui fe touifnent par leurs ba- fes , et dont les parties fe correfpondenc dans une fituation renverfec , et ne s'allon* gent que par leurs extremites oppofees. Ici le corps fpongeux , au lieu d'etre a I'exterieur comme dans la racine , occupe le milieu de la tige fous le nom de tnoelle , et le corps ligneux qui etoit au milieu de la racine , fe trouve a la circonference , ou il forme une efpcce de cylindre creux qui enyeloppe la moelle.-r; Nao pofTo def- cobrir a razao , em que Beguillet fe fun- da , para fuppor no coUo da cepa efte en- cruzado , pois rendo feito exame em mui- tas cepas cortadas horizontalmente no collo para enxertar, tenho fempre obfervado , que as fuas fibras , e todas as partes internas correm no mefmo fentidS do tronco para as raizes : do mefmo modo he fern razao que clle diz , que por efte encruzado a medulla , que no tronco cxifte no interior , forma o exterior da raiz , e que o feu interior he o corpo lignofo , que forma o exterior do tronco : tendo exam.ina quclla cjnirta , que ja tern algumas uvas nelle anno de 1789 ; porcm nao fao ain- da baftinces para fobrc ellas fazer maio- res obi cm 9063. (18) l-.Lh uva come9a a amadurar mui- to pritiiciro do que todas as outras , e nun- ca adoc.i ; produz pouco , e elTe mefmo de ordiPcir o o comem os paffaros , e infeiflos , nern he boa para vinho , nem para co- mer ,, e fo tem a fingularidade de fe fa- zer ve»ra primeiro do que as outras : be a nr Vit's pracrox Columellx =! de Mil- Iw , c MoTihon hatif , ou Raifin de la Mag- d..':ne =3 de Be^uillet. ; I ■•) A variedacJe , a que no Alto-Dou- rc !e da o nome de Malvazia , e que eu uunca vi nos contornos de Lisboa , proJuz muitas uvas em roda a qualidade de terrene , nem eu conbe9o videira , que a exceja na quantidade , e na qua- lid:ide entre as uvas brancas fo o A^uf- catel a excede : nao tcnbo tido meios de examinar , fc ella he a mefma , que corn efte nome ferve para fazer o vinho Mai-* vazia da Ilha da Madeira , porcm confi- derando o que fe diz em o torn. 1. do =3 Traitc complcr fur la maniere de plan- ter , d'elever , et de cultiver la vigne =; da Sociedade Economica de Berne cap. 1. efpece 2^. , affento fer a mefma, e que be aquella , a que Mr. Rozier no feu Diccionario no art. Blanqnette cbamaBlan- queta , de que na Gafconba , e no Bai- xo Langucdoc fe faz vinho famofo : no anno de 1788 , fiz huma pipa de vinho defta uva fcparada , e nad obftanre ter fi- do i86 Memorias do anno de m:ios vinlios , foi repurado per pelToas muito inrelligentes , de hum,i qunlidade muiro fuperior ao eftado do anno, e polio que nao igualava a Mal- vazia da Madeira , excedia ao vinho fcc- co das Uhas. So nos fitios de Palhaes , Chamulca , e oucros de Beira-Tcjo , que prodozem vinhos doces , e fao naruraes para vinhos brancos , fc propagaiTe efta efpecie de uvas , e alguma porcao de Afufcatel branco , fe confeguiriao em Por- tugal vinhos de liquor, que fenao igua- lafTem , ao mcnos ImitafTem bem aos das Coftas do Archipelago , e ainda mefmo no Alto-Donro fe reftabeleceria com cftas uvas a reputafao , que os feus vinhos brancos tern perdido com a introducfao dc uvas grofTas , aquofas , e fem goflo. (20) Ha ye agudo de trez qualidades , que fe nao diflinguem bem por c?.ra<5le- res botanicos , e 16 a vifta de hum culci- vador acoflumado a examinar , he que me- Ihor as diftingue ; duas fao priguicofas , que nada produzem , e oucra produz tan- to como o alvarelhao , ou ainda mais , e faz hum vinho forte , encorpado , e co- berto ; amadura bem , e refifte ao fol , e a chuva : quanto a mim , a miftura defta uva , e da tinta-cam he que attribuo a fingularidade dos vinhos de Guiaes , que tern confeguido a primeira e£l:ima9ao en- tre OS do Alto-Douro , tomo direi em a nota (it') . (21") Os Commerciantes Inglezes , que extrahem a maior parte dos noffos vinhos , dao preferencia aos que fao muito tintos , o que DK AgRICULTURA. 187 t> que tern feito procurar com difvelo no Alto-Douro as cartas de uvas , que fao capazes de dar ao vinho a cor natural mais coberca : Barnabc Vellofo Barreto de Miranda adual Provedor da Companhia do Douro , e o Deutor Panraleao da Cu- nha fizerao vir p'anta de Soufao da Pro- vincia do Minho, aondc ha miiito , e o propagarao nas fuas quintas em grande quantidade , de forte que por eile meio confeguira5 ter vinhos muito cobertos , e ao mefmo tempo de huma cor viva de nibim ; deftas quintas fe tern efpalhado por todo o Douro , e na realidade he a tinea , que deve preferir-fe , porque alem da cor tern do9ura , e gofto : efta , e a tinta de Franca fao as unicas uva* , que tern o fucco vermelho , e que fegundo difto conje6luro , farao a cor mais dura- vel : eu tenho propagado muito Soufao nas minhas vinhas , e fuppofto comecei ha poucos annos , e que elle produz pouco em quanto na5 cria cepa , pelo que o nao tenho podido fazer leparado em grande por9a6 , comtudo no anno de 17B7 man- dei feparar deftas uvas , que defTem trez almudes de vinho , e depois de efcan^a- nhadas , as m:\ndei.pizar bem em hum bal- de aonde as deixei fermentar , e feito o vinho fe tirou , efprem:ndo-fe a cafca a mao , pois que nao tinha meio dc o fazer de outro modo ; mandei lavar efta cafca com outra tanta por9ao de vinho defcora- do , e fahio igualmente tinto , que o pri- meiro ; tirido efte a tornei a mandar lavar com ourra i^ual porjao de vinho , que fa- ll lo i88 Memorias hio tinto do mcfmo modo ; vendo Ifto , mandei lan9nr todo eftc vinho com toda a cafc.i em hum ronel de nove pi pas do vInho mais delcorado, que cinha , e que ainda eftava fervendo , o qualao depois de limpar foi o mais coberto , que tive nefle anno com liuma cor muita viva. (22) A tinta-cam he hums efpecie , ou variedadc de uva , que irerece hum dos primeiros lugnres entre as que fe cultivao em Portugal ; amadurii bem , e nao fec- ca , nem apodrece , na5 produz excefli- vamenre ; porem a fua produc9uo toda fe conferva , e della fe faz o vinho multo coberro ', forte , e generofo ; Manoel Xa- vier Ribeiro Vaz de Carvalho homem de hum diftin6lo merecimento , e intelligen- cia , feparou em o anno de 177 1 uvas de tinta-cam , de que fez huma por9a6 de vinho , que foi reputado muito fuperior a todos OS ourros feus vinhos produzidos nas mefmas vinhas , e a todos os mais da fua vizinhanfa , fazendo delle a maior ef- timafao o Commerciante Inglez Francifco Bearsley , que Iho comprou , e por elJe confeguiria hum extraordinario pre9o , fe as Leis o nao prohibidem. Tendo eu re- fle^lido multas vezes fobre as caufas , por que OS vinhos de Guiaes tcm merecido a preferencla fobre todos os outros vinhos do Aho-Douro, e vendo que na5 excede aquellc fitio aos outros terrenos , nem na qualidade da terra , nem na fua expofi9a6, e forma, me vim a convencer , de que a fua fuperiorioridade provinha de fe cul- tivar naquellas vinhas huma grande quan- tida- DE AgRICULTURA. 189 tldade de tinta-cam , c pe-agndo , que mifturadas com alvarelhnd , como ja diflc em a nota (20) fazem o vinho , que 03 Commerciantes Inglezes hoje mais efti- mao , e em que elles confeflao achat cor , cheiro , corpo , e gofto , que os fatisTa- zem. Efta efpecie de videira puxa muitas grandes vides , tern a folha muito grande , por iflo em terras fortes impede a entra- da da Luz , tanto ao feu frudo , como ao das videiras vizinhas , de maneira , que nem humas , nem outras produzem , co- mo evidentemente mo tern moftrado a ex- pericncia , obrigando-me a enxertallas de outra qualidade em huma porfa5 de vinha forte , que me produzia mui pouco , e que logo produzio j\ mais no mefmo anno ,' em que fiz a enxertia , nao obftante fer o anno dc menos producfao do que o an- tecedente , e ter cortado fetenta e finco ccpas para cnxcrtar '. ao mefmo paffo em terra fraca cuidadofamente planto defta iiva , convencldo de que he a meihor para fazer bom vinho : nas terras de mediana produc9ao produz meihor , e ainda mefmo n.is fracas, porcm para produzir bem , he necelTario na poda deixar-lhc trcz , ou qua- tro talocs de trez , ou quatro botoes a pro- porgao da forca da cep.i , e nao Ihe deixar vara, porqiie deixando Iha , puxa muira rama , 0 nnii junta , que cmbara9a mais a cntrada da luz , e d:i por ilTo menos frucH-o. (i^) Parece-me , que a tinta-cafieilam he a que o Abbade Rozier , e outros Oenclogiftas Fraucezes chamao G\'ds ncir dEf- 19© Memorias d'Efpagne , e Miller r; Vitis uva peram- pla acinis nigricantibus majoribus =i , porcni no Ako-Douro nao produz o fucco ver- melho , que Ihe da Miller , antes da mui- to pouca tinta : a quantidade da fua pro- duc9ao he das maiores , a qualidade nao he das melhores , e he muico fujeita a fer devorada pelas abelhas , e pelos efcarave- Ihos : para fe confervar efta efpecie de videira fern fe efgotar com muita quan- tidade de fru61o , he necefTario fazer-fe-Ihe huma poda muito curta , e a melhor he em dous , ou trez taloes de trez botoes cada hum. (24) Efta tinta foi mandada vir de Fran- ya pelo Irlandez Diogo Archibold , e fez della huma grande plantajao na quinta de Roriz , que fica na margem feptentrional do rio Douro pouco abaixo de S. Joa5 da Pefqueira, e he hoje de Nicolao Kopke, donde o vinho he muito bom , e coberto de huma excellente cor ; produz muitos cachos , porem como fao muito peque- nos , nao he a fua produc9ao muito abun- dante , e alem diOb como amadura muito mais cedo que as ourras uvas , nao pode efperar para fer vindimada com ellas , e de ordinario fecca , ou apodrece : necefli- ta fer podada em hum talao de feis bo- toes ; porque ficando em mais, em pou- eos annos morre -, quer terra de fubftan- cia , mas nao forte , que Ihe promova mais a podridao : nao ha uva alguma , nem ain- da o Soufao , que h^a o vinho tao tin- to ; porque o feu fucco he cor de rubim , e efta he a fua principal excellencia. Tal- ve7. DE AgRICULTURA. I9I vez efta tinea feja o rJ Morillon noir or- dinaire =: de Beguillec, :::2 Vitis praecox Columellx acinis duicibus nigricantibus =; de Milier , fe a mudan9a do clima Ihe fez fazer alguma na ligura dos feus ba- gos , como algumas vezes accontece , por- que a nao fer aflim , os caradteres , com que aciuelles dous Autores dcfcrevem efte Morillon , melhor fe encontrao em o nof- fo bajiardo : nefte cafo ommittem os Oeno- logiftas Francezes a defcrip9a6 de huma uva celebre no feu Paiz , que fe o nao fofle , a nao teria mandado vir com gran- de defpeza de Franfa ao Douro , Archi- bold infatigavel na curiofidade de dar a maior iperfeifao poflivel aos vinhos da quinta de Roriz : por induftria defte mef- mo Irlandez , fe propagou efta tinci em Oeyras na quinta do Marquez do Pcm- bal , aonde pode fer examinada por olhos mais prefpicazes do que os meus , e que pode icr convenhao commigo , que efta tin- ta he o Noiron de Mr. Arnoux cultivado na Borgonlia , e que faz o excellente vi- nho daquelle terreno , e que a defcrip9a6 della efcapou a Miller ; porque efcrcvia em Inglarerra , e a Beguillec , porque nao efcrevia em Borgonha , como Mr. Arnoux. (25) Scgundo as minhas indagacocs , A tnita muf^^tietua he a =; Vitis fubhirfu- ta :=i de Miller, =! Vitis lanata dc Ro- terto Eftevao no feu Prxditim Jiujticttm 3 Morillon tacone =! do Au6lor da yT/E Agricultura. t^f boa por9a6 de bacello em terra delgada j pnrrc ddle foi de varas novas fera yelho algum , parte foi de varas novas , com hum palmo e menos de velho no fundo , e de ambas eftas plantas profperou admi- ravelmcnte , engrofTou , e puxou muito ; e ja nefte anno de 1789 deu mais uvas do que fe podia efperar na terceira folha , em que de ordinario apenas moftrao uvas : plantei duas valeiras de vides de dous an- nos na mefma terra , e do mefmo modo , que nao profpcrarao igualmente ; puxarao pouco , nao engrofiarao , e apenas algun^j delles moftrarao uvas , de forte , que na mefma terra tenho planta9a5 de varas no- vas feita no anno feguinte , que efta mais adiantada em groffura , e em varas. (54) Le Manuel dn Cultivateur dans le Vlgnoble d'Orleans Part. i. cap, 4. arc. i. e 2. (^5) Mr. Fabroni nas fuas Rcflexoes fobre o eftado aflual da Agricultura , dcf- de pag. 182. no cap. i. quer moftrar com hum.i cngenhofa theoria , que a vinha fo- bre arvores ate convem melhor para a qua- lidade do vinho. (^6) Mr. Durival o M090 na fua Me- moria fobre a Cultura da Vinha coroada pela Academia Real das Sciencias de Metz no anno de 1776, defde pag. 45 traz hum proje£lo de cultura , que prova a urilida- de da planta9a6 a hardos , tanto pela quan- lidade , como pela qualidade da fua pro- duc9ac. Mr. Maupin no cap. 15 , e 16 iJa fua Arte da Vinha defacredita efte me- thodo , e parece nifto conttariar os feus "N ii pripi- 196 Memoria s principios eftabelecidos no cap. i., porerri no feu novo methodo de plantar , e cul- rivar a vinha , imprefib em 178'. , parece voltar aos feus principios , e pede huma maior diftancia entre as fileiras da vinha, tendo dado no feu Avizo , e Lifao aos La- rradores , imprefTo em 1781 pag. 15. mui- to boas razoes para a preferencia defte methodo. Mr. Duhamel tentou efte me- thodo de cultivar a. bardos , e achou aug- mento na produc9ao , e bond.ide no vinho , como refere Valmont de Bomare no feu Diccionario dc Hiftoria Nat. art. Fignc. (57) Mr. Durival diz , que =5 Quem planta cede , ganha hum anno ; quem plan- ta bem , ganha dez =:3 : Mr. Bidet no feu Tratado da Vinha P. i. cap. :^o. prefere a planta9a6 do Outono , c que com ella fe ganhao mais de | de plantas: Mr. Co- las no feu Manual P. 1. cap. 5. diz, que nas terras areofas , ou cheias de pedras , de que o fundo nao retem a agua , fe pa- de plantar defde que cahe a folha ate a forfa do Invemo , fern temor dc que a planta recoza ; nas terras fortes , e que retem a agua , quer que a planta9a6 feja felta muito tarde , para que a planta nao recoza ; nas terras , que nem fao tao (qc- cas como as primeiras , nem tao humidaj como as fegundas , quer que a plantafao feja feita no principio da Primavera, Mr, Maupin na fua Arte da Vinha cap. 7,. diz , que a excep9a6 das terras muito humidas f c alagadi9as, ou muito barrentas, em to>- das as mais he mais acertado plantar antes do Invcrno , do que depots } porque a no»- va t>E Agricultura. 197 va planta apertada pela terra , que a cer- ca , e fe abate pelo feu pezo , e pelas abundantes chuvas do Inverno , fe, liga , e fe apega mais eftreitamente as molecu- las da terra , de que expreme os fuccos , e a humidade , ficando por efte meio , quando a vcgetagao fe renova , eftabele- cida na terra , que Ihe he deftinada , e provida de toda a feva , que Ihe he ne- nefTaria para prender , e puxar com for9a ; que eftai vantagens fao fempre cerras , e que fao incertos os inconvenientes de recozer , ou fer damnificp.da pelos gelos. Mr. BcguiUet na fua Oenologia cap. ^. art. 4. depois de combater as razoes de Mr. Bidet , conclue , que nos Paizes quen- tes , e feccos he melhor plantar o mais cedo ,que poffa fer ; e que nos mais frios do que quentes fe deve plantar pouco an- tes da Primavera. (;8) ]a o Poeta Dante no feu PurgatO' rio cantou =3 » Guarda il calor del fol che fi fa vino » Giunto all'umor , che dalla vite cola. E o celebre Abbade Frugoni no feu lin- do Poema do Outono diz zi J) Vedi quanti racemi in ore tinti )) Gia dai materni tortuozi rami J) Pendon tra verdi foglie. In efli il fole » Padre del giorno , e delle cofe padre , D Un raggio imprigiono dell'aurea luce, J) Un ragio avvivator , che poi paiTando » Col largo vin de' bevitor nel fanguc » Divien'aura di vita 8cc: 198 Memorias (^9) Efta medida , regularmente fallando , he boa em codas as terras , exceptuando algum^s exceflivamente foltas , cu areo- fas , em que o fol fafa os feus eiFeitos mais abaixo ; porque as raizes nao reben- tao no bacello mais abaixo do efpa9o , em <]ue o fol faz a fua acfao , per ilTo nas terras exceptuadas , ou em fituafoes tao ardentes , que os efFeitos do fol penetrem mais ao interior , he que deve profundar- fc mais. Ao principiar a abrir-fe a vallei- ra , deve haver a providencia de lanfar a parte de fima a terra , que eilava na fu- perficie , e que tern fido fecundada pelas influcncias da achmosfera, para fe lan9ar ao depois junto ao bacello , e a terra cru'a fe lanfa a parte debaixo para ficar for^ mando o cavallete , como Ic explica no § 47. , e nota ^8, (40) Nao ha materia , em que feja mais difficil combater os abuzos , i\i) que na Agricultura , e algumas vczes he necefTa- rio fazcr algum facrilicio ao cbftume : ef- le nnhamcuto , que eu reputo , fenao como huma pradVica Inreiramente nociva , ao me- nos como abfolutamcnte fuperflua, ainda a prailico nas minhas plantafoes : Mr, Maupin na fua Arte da Vinha cap. ^, diz , que fe deve fazer efte unhamento , e que Ihe feria facil dar as razoes difto , fe qui- feOe extender-fe : parece-me , que por mais que fe extendeffe na6 daria nenhu- ma boa ; nem o fao tambem as que da Mr. Bidet no feu Tratado da Vinha i.P. cap. Z(j. ; pcrque falla nos termos , em que o baceilo he plantado em feis pollegadas de DE A G R I C U L T U R A. I99 de profundidadc , o que nao tern lugar cm o noflb modo de plantar : Mr. BegaiHet na fua Oenologia cap. ^. art. 4. prova com muiio boas razoes , e com authoridade de Columella , e de Oliveiros de Serres , que efte mihamento he huma pra6lica fuper- flua , e de algum modo nociva; quer an- tes , que depois de preparadas as valleiras, entupidas j e arrazadas pelo modo conve- niente , fe fafao na terra com huma eftaca buracos , em os quaes por melo de hum inftrumenro , a que chama pajlinum , fe introduza o bacello direito fem alguma. curvadura , e que depois fc Ihe caique a terra muito bem , para que nao fique em vafio expofto a acfao do ar , e do fol ; que efte he o methodo ufado , e feguido em Proven9a , e em Bordeaux , e aflim fe pra6tica em Chianti , aonde as vinhas du- rao niais de trezcntos annos , como fe diz no Tra6lado de cultivar a vinha da Socie- dade Economica de Berne Tom. i. cap. 2. Damiao Jofe Alvares Rebello , da Fregue- zia da Cumieira em Penaguiao , ProfefTor Regio de Filofofia Racional apofentado na Comarca de Villa Real , meu intimo ami- go , e de huma vcrdade a toda a prova , Fez no anno de 1786 huma plantafao dc bacello por efte modo , e me fegurou , que profperara muito melhor , do que ou- tro , que fizcra plantar pelo modo ordina- rio com unhaniento , que tern continuado a plantar fem curvadura alguma , e que aa fuas plantafoes tem profperado admiravcl- mente. (41) Deve rcjeitar-fe rodo o b ..cello , que 200 Memorias que nao tiver o comprimenro necefTario , para que depois de piantado fe Ihe corte toda a flecha , ou ponta delgada , em que OS botoes fao fempre mal nutridos , e as fuas produc96es de ordinario infru6tiferas: OS dous boroes , que fe Ihe devem dei- xar fobre a terra , devem fer aonde ain- da a vide feja vigorofa , e elles bem nu- tridos. (42) Alguns Authores nao fo approvao , mas ate recommendao a deceftavel pra6ti- ca de femear algumas hortalifas , e ate batatas em a terra dos bacellos , dizendo, que acultura, que fe da a eftas plantas , he util aos bacellos ; Mr. Colas no feu Manual P. i . cap. 6. fe lembra do erro , que ha nefta pradlica ; todos os benefi- •:io3 , que pocieria receber o bicellos dos frequentes lavores , que fe dcdem as ou- rras plantas , nao fao capazes de refarcir a nutrifao , que com as raizes , c fo- Jhas Ihes roubao da terra , e da athmos- fera. (45) Efta doutrina he de Columella : Wr. Bidet tio Tr.itado da Vinha P. i. cap* 25. no fim , e cap. ^y, pag. 324. he con- irario a cftn prailica ; elle quer , que nos primeiros dous annos fe nao podc o ba- cello; porq'je , diz elle, quanto mais hu- ma planta parece enfraquecer-fe no exte- rior pelo numero dos feus pcquenos ra- mos , tanto n'vflis fe fortifica pelas fuas rai- zes; a razao , que da, he que a feva , a que fe da alguma abertura , conduzin- do-fe mais lentamente em cada hum dos ditos ramo3 J pois que ella he obrigadaa fu- DE AgRICULTURA. 20I fubdividir-fe infinitamente , engrofla mais o pe , dcnrro do qual circula com menos preciplta9a6 , e fortifica fempre mais as nizes. Parece defneceflario combater eftas razoes , que de fi mefmas fe manifeftao inconcludentes ; e die mefmo no principio do cap. ^6. diz o conrrario ; comtudo Mr. Beguillet na fua Oenologia cap. ]. art. 5. as combare , e prova concludentemente , que fe deve podar ; igualmente moftra , que he nociva a praclica de arredondar o baccllo rirando-lhe todos os novos Ian 90s ; por- Gue fcndo os do anno fururo obrigados a iahir do velbo , fao menos (eguros, e me- nos fruiiiferos, Huma minha falta de ad- vertencia mc fez , bem a meu pezar, pro- var efta experiencia cm parre de huma mi- nha planta9a6 , que hum podador , feguin- do o feu coftume , arredondou ; fao pr.ffa- dos trez annos , e ainda nao pude reme- diar os males , que me caufou efte meu defcuido ; alguns bacellos de todo perece- rao , e em outros nao tenho podido con- feguir huma vara fegura , e bem encabe- cada J como vulgarmente fe diz ; com- tudo , ainda fe ufao eftas duas damno- fillimas praiticas , que deverao defterrar- fe. (44) Depots que o bacello entra a pu- xar com grande for9a , he necelfario tec huma extrema cautela de o nao dcixar niuito apertado , ifto he , com poucos bo- toes ; porque puxa com demaziada luxu- ria , lan9a em cada botao dous , e trcz lan9os , que formao no encaixc da vide velha hum cafco rao mal feguro , que cf- 202 Memo R IAS gaga com o mais leve impulfo; por ilTo he mais convenience deixar-ihe antes dous botoes de mais , do que hum de menos : he tambem muito vantajofo , que nos bo- toes , em que rebenta mais dc hum lan- 90 , depois de eftarem do comprimento de fmco dedos , fe Ihe deixe fomence o me- Ihor , e mais bem nutrido , e os outros fe Ihe cortem com a unha huma polle- ^ada aflima do feu nafcimento ; porque defte modo o lango que fica , fe nutre melhor , nao corre tanto rifco de efga- gxc , nem forma na fua baze hum cako , ou excrefcencia , que pafTado tempo , ve- nha a fer hum cancro mortifero para a vi- deira. Efta operafao he recommendada por Mr. Durival e M090 na fua Memoria da Vinha pag. 18. (45) Talvez que a ma intelligencia de huma palTagem de Mr. Fabroni em as Re- flexoes fobre o eftado aftual da Agricul- tura cap. 10. pag. 182. unida com outra do cap. I. pag. 2. tenha feiro chamar em hum dos cadernos do nofTo Jornal Ency- clopedico deteftavel o ufo de poclar as vi- nhas ; aquelle Author nao condemna o ufo de podar ; a fua pondera9a5 fe reftringe a dizer, que nas vinhas alias , e elevadas fobre arvores tambem fe produz bom vi- nho , e que nao he fo nas vinhas bai- xas , que fe proJuz bom ; para provar ifto , refere as experiencias feitas em Frioul , e em Figlino na Tofcana ; de que elle diga pag. 189 r: On fait que les muf- cats du'C.ip de Xanto , de Chypre , de Candie , et d'autres provinces de la Gre- ce. DE AgRICULTU!RA. lOJ cc , et de la Morce font le produit dc vignes qu'on a laifie croitre a leur gre , et meme fans foutiens ; perfonne n'ofera avancer fans doute que ces vins-la pour- roient etre encore meilleurs qu ils ne le font , fi on mutiloit les vignes a la ma- niere deBourgogne, et de Champagne zu nao fe intere bem , que fe nao devem po- dar as vinhas ; nem as palavras , nem o argumento do Author dao lugar a hum'a tao cthanha iilafao ; o expreffar-fe d leur gre nao induzem , que nos ficios referi- dos fe nao poda abfohuamente ■■, porera que fe deixa tomar a videira huma grande exten9a6 dos feus ramos , que fe nao re- duzem a huma tao curta cxtenjao , co- mo cm Borgonha , e em Champanha ; o leu argumento nao he condemnar o ufo de podar as videiras , he apoiar o ufo das videiras altas , ou lanfadas fobre arvores ; o que mais fe confirma com os exemplos , com que, depois da jjaiTagem referida , con- tinua a provar o feu argumento dizendo , que OS vinhos 60 Cabo , da Madeira , de Portugal , da Hefpanha , e da Italia todos fao o produtlo de vinhas de huma gran- deza muito mais confideravel do que as de Champanha , e Borgonha ; ora he bem fabido , que todas eftas vinhas fao poda- das. O accafo me fez conhccer por ex- periencia a ncceffidade da poda. Em o anno de 1786 ficarao por mcrgulhar em huma minha vinha duas ccpas muito vi- gorofas , que para effc fim ficarao com todas as vides , produzirao nefle anno mui- tas uvas , que ainda nao eftavao bem ma- du- 204 M E M O R I A S duras , quando fe vindimou a vinha , em ?iue eftavao , porcm puxarao vides niuico racas , e poucas ; como vi a experiencia comefada , excitou-fe-me o defejo de a levar ao fim , mandando confervar aquel- las duas videiras , fern fe podirem ; no IJegundo anno produzirao muico poucas avas , miudas , e amargofas , ainda me- nos rama , e folhas muito miudas y no tercciro anno nao produzirao uvas algu- mas , e lanfarao huma rama rao pe- quena , e tao bravia , que apenas davao a conhecer , que erao videiras, dc forte, que foi neceflario" cortarem-fc as cepas re- dondas para tornarem a rebentar , c vim por accafo a verificar o que fe di^ nas Memorias da Academia das Sciencias de- Pariz do anno de 1707. pag. 285. por Mr. de Reneaume. (46) Bidet no Tratado da Vinba P, i. cap. ^6. Q47) Mr. Colas no, feu Manual cap. 4. art. 1. abraja efta mefma regra : Mr. Be- guillet cap. 4. art. 1. diz , que fe deve podar no Outono , ou no fim de Feverei- ro , e conclue com huma maxima de Mr. de Scrres , que a poda tarde he mais pro- pria para dar frudro ; nao poffo compre- nender a razao , que conduzio de Serres a eftabelecer efta maxima : Mr. Maupiti na Arte da Vinha cap. 5. diz , que a ex- ccpjao das terras baixas , e das fortemen- te humidas por fua nacureza , ou pela fua pori9ao , fe pode igualmente podar , ou np Outono, on na Primaveraj prefere com- tudo a do Outono para as terras fracas, e ma- DE AqBIGULTURA. 20^ e tnagras. Do que indifpenfavelmente fc dcve tugir , he de podar em tempo de gea- das fortes , que fazem hum damnofiflimo eifeito nos golpes das videiras ; e por grandes chuvas , que diftrahem o efpirito do podador , que nefta operajao deve tra- balhar mais do que o corpo. (48) Efta materia nao pode fer tratada com a extenfao necefTaria no meio de hu- ma Memoria , que ja vai fendo excefliva- mcnte extenfa ; fe a Academia approvar OS meus trabalhos , e o tempo me nao faltar , eu reduzirei efta materia a hu- ma Arte methodica propria a comprehen- 936 das pelToas , que fe empregao nef- te exercicio , de que talvez refulte baf- tante utilidade ■■, e de algumas outras ma- terias darei tratados particulates , pois que muitas dellas pediao , para fer con- venientemente tratadas , cada huma fua Memoria. (49) Mr. Bidet no Tr.ttado da Vinha P. I. cap. iz. diz , que a vara, que pro- duzio frudto , fe deve cortar inteiramente : fe eila nao morre no anno feguinte , ao menos nao produz mais que numa rama fraca , e nunca fru£lo ; porque nao fe a- chando afiaz provida dc feva para fe for- tificar , e refiitir as injurias do ar, fe fccca infenfivelmencc , perece finalmente em pouco tempo. Efta razao certamente nao he verdadeira ; para fer cerra era necef- fario , que as vidcs , que tiveffem produ- 2ido caches , ficadcm magras , e mal vi- gorofas ; a experiencia moftra o contra- rio i e fe ellas ficao yigorofas , e hem nu- 206 M E M O R 1 A S nutridas , porque razao ficao defprovidas de feva , e tao proximas a morie i" O cer- to he , que fao as que melhor produzem no anno feguince , e aflim mo tern mof- trado conftantemente a experiencia nas minhas vinhas , cujo augmenco de pro- ducfao (not. i.) nao accufa a minha tbeo- ri» de pouco exadla. (50) A poda em galheiros he muito ufa- da nas vinhas dos contornos de Lisboa ; a produc9a6 das videiras podadas deile mo- do , fenao he maior , ao menos he igual a das vinhas podadas em vara , e alem difto poupa muito chantao , e vimes , que fe confomem na erguida , ou empa , e as uvas amadurao aflim melhor ; ha efpecies de videiras , como a Tinta-cam , e outras , que fo produzem bem fendo aflim poda- das ; quando as videiras nao tem boa va- ra , OS podadores de ordinario as reduzem a hum poUegar , que pouco ou nada pro- duz ; nao feria mais conveniente cm ga- lheiros , em que alem da melhor produc- 9a5 , haveria no anno futuro mais vidcs , cm que efcolher ? (51) He nociva a praflica de deixar em vara os ladroes , que de ordinario nao dao fru6lo § 20. , e ainda no cafo de ficar a cepa em pollegar , por ter lanfado vides muito fracas , he damnofo deixar o ladrao em vara ; porque ficando o ladrao infe- rior ao pollegar , diftrahe huma, grande parte da feva , e a que corre adiante , ja nao he baftante para fazer puxat no pol- legar huma vide perfeita , ficando defte tnodo a videira peiorada , como ja port-\ de- DE AgRIGULTURA. IOJ dcrei no cap. 8. da minha fegunda Me- moria da Defcripfao Fyfica , e Econo- mica do terrirorio do Alto-Douro apprefen- rada a Academia {a). (52) £ntrejolhas fao os ramos axil ares , que nafcem noangulo, que forma a folha com a vide, na bazc dos qur.es ha hum borao. (5^) EncancUar fe diz quando muitos dos boroes de huma vide deixao de bro- tar : algumas vezes procede ifto de algum golpe de fol exceflivo no Eftio anteceden- te , que nao deixa criar , ou murcha o gcrme ; ou de algum forte gelo no Inver- no , que os obftrue , ou queima ; pcrem o mais das vezes procede de os terem dc{- pido OS podadores da fua cafca § 14. (54) Beguillet Oenoiogia cap. 4. art. 2., c nao menos bem Mr. Durival na fna Me- nioria da Vinha pag. 27. (55) No citado cap. da minha dita Me- moria recommendo , que as mergulhas fe- jao fempre lanfadas para fmia , ou para o lado da cepa , e nunca para baixo , e a razao he , que havendo de delcer a ce- pa para baixo, fe nao pode dar a cova a profundidade neceflaria , e alem dido co- mo da parte inferior fe rebaixa a terra , iicao as raizes da videira nos termos de fe dcfpegarem todas ao abrir da cova , ou ex- ponas a ficarem dentro de poacos annos defcobertas, (56) Plantar por entre as vinhas bacel- los , («) Acha-fe incorporad."! no Tomo Terceiro 'tfas Memoria* Economicas da AcaUemia R^a\ iit Sci?nciii$ i^ Liiboa. 2o8 Memorias los , ou barbadas nao he meio de po- voar as vinhas das videiras , que Ihes hil- tao ; repetidas experiencias rem moftrado, que nem o bacello , nem as barbadas en- treplantadas em vinhas medrao coufa al- gi^rna ; a terra , que fica profundamente revolvida nas covas , em que fe faz a planra9ao , he fenhoreada pelas raizes das vidciras vizinhas em poucos annos , quan- do sinda as novas plancas nao cem tido tempo de formar forres raizes , e que ao pallo , que procuraj extender-fe , achao roubada pelas raizes niais vigorofas a nu- rrifao, de que neceffitavao para medrarj criao por tanro pouca rama , e tambem Ihes falta o fuftento da achmosfera. Po- derao applicar-fe eftas mefmas razoes pa- ra as mergulhas , porem nellas ha gran- de raz?.6 de differenfa , pois que fempre fica preza a cepa por algumas das fuas raizes , e as folhas de todas as pontas fi- cao fendo commuas para conduzirem a nu- trifao a mai commua ; comtudo as cepas, que fe formao de mergulhas , nunca fao tao vigorofas , que venhao a igualar as da primeira plantafao , como )a adverti no dito cap. 8. da minha dita Memoria. (5:7) Muitos pra6licos infiftem , que a huma mergulha fe nao devem deixar mais do que trez , ou quatro vides , ou pontas , como vulgarmente Ihes chamao no Alto- Douro , c dao para ifto muito boarazao, dizem , que devendo fuftentar-fe das rai- zes da cepa , nao medrariao bem , fe fof- fem mais as pontas i com tudo pelo mo- do com que eu as lanjo, tenho delxa- do DE AgRICULTURA. 10^ do em mergulhas ate treze pontas de hu- ma fo videira , e tern medrado excel- lentemente ; he muito grandc o numera das cjue tenho lancado , de feis , e oito pontas , c tern fahido admiravelmente j tenho feito defenterrar algumas no In- verno fsi^uince ao em cjuc forao lan9a-- das , tenho achado em cada huma d.is pontas ballantes raizes proprias , com cjuc polTao fniicntar-fe : quanto a prokindida- de , fabiamcnte (e recommenda no Trata- do de cuitiv^ir a Vinha da Sociedade Ecc^ nomica de Berne Tom. 2. cap. 15-. art* 4. n. 4. , que fejao lanfadas bcm profun- damente as mergulhas , para que ao ca* var fc na5 abalem a; maes , porem que devem fer mais profundas cm. as terras fracas , e menos em as fortes ; que fern ifto o calor do fol feccaria as pr.meiras, e nao poderia penetrar as fegundas. (58) A' terra , que nao tern fido re- volvida , ou expofta a acfao do ar cha- mao huns cjieiii , outros terra virgcm ^ como fe le nos Elementos Quymicos do Conde Gillemborg cap. 16. Sec. 6. Hoft- man , e Neum?.n jnlgao efta terra abfolu- tamente efteril , e com efieito ella nunca efta tao impregnada dos priucipios da ve- geiafao ; efta razao , e o que diz Mr. de SaufTure em huma Mcmoria fobre as mergulhas imprefla em Berne no anno de '775^ » S"^ aconfeiha pag, 9. eila pra(£lica de lanfar a terra da fuperficie no futido da cova , e fobre as vides , me fizerao fe- guir o mefmo caminho , que tenha acha- zer DE ACRICULTURA. 2lt zer Mr. Beguillet na fua Ocnologia cap. z'n arr. 2. no fim. (6\) Lacerda Lobo na fua Memoria fo- brc OS Meios de fupprir a falta dos eftrumes premiada pela Academia Real das Scien- cias de Lisboa em 1788. § (j^. (62) Rozier no lugar proximamente ci- tado. (6^) Mr. Colas no feu Manual aconfe- Iha finco lavores com os nomes Parage, Labour y B\nage , Rebinage ^ Qrirtage ; ef- tes trc7. uliimos nao podiao deixar de fer fcitos corn muico curtos inrcrvallos , por ilTo feriao niais nocivos do que ureis. (64) Efte modo de praihlicar a cfcava he dUi'erente do que defcrevi na minha uica Memoria cap. 8. , porcm a!li de- via dizer o que fe fazia , aqui o que fe deve fazer , por iffo em algumns outras pra6licas , que prefcrevo , fe eacontra dif- fcren9a. (65) Na Ribeira do Lima em lugar da efcava cavao profundamente as vinhas em o mez de Novembro , e fo depois de re- benradas Ihes tornao a dar oiirro lavor mais fuperficial ; como alii de ordinario fao ter- ras planas , e muico areolas , nao necedi-!- tao tanto que efte lavor feja feico as co- vas, como nas vinhas, que eftao ficuadas em ladeiras, e que fe arruinariao fe fof- fem aflim cavadas em tal tempo , porque a terra Ihe correria toda abaixo. (<56) Nifto concorda Maupin na Arte da Vinha cap. 7. ; nao polTo porem convir torn o que efte grande praftico diz no mef- tno cap. fobre a pouca profundidade dos O ii hvo- 212 Memorias • Javores , elle a reduz a duas pollegadas j no § 49. dci as razoes , porquc ellcs de- TCm fer profundos ; Maupin nao da razao alguma , o que nao he novo em rodas as fuas obras , em que poucas vezes lalla co- mo Fyfico. (67) A cava a montes nao deixara dc achar muitos contradi^lores ; o augment© ■da evaporafao dos principles na razao do augmento da fuperficie fera o feu unico fundamento ; alcm do que ja rcfpondi a iflo § 50. , accrefce , que efte iavor he feito quando ainda o foi he pouco forte para promover huma rr.pida evaporajao , e quando as chuvas fao frcquenres para refarcir com ufura efta imaginada perda , por i(To he mais util , cue nccivo eite aug- rr.ento de fuperficie ; de mais difto acho nefta pracStica outras vantagens ; ficando aHim augmentacla a fuperficie , fica maiot numero de fementes txpoflo a acfao dos mcteoros para brotar na Primavera , e fe iufTocar por meio da redra , e que nao iendo aflim , brotaria depois da redra em detrimento da vrnha ; os intervallos , que licao baixos cntre os montes , demorao a agua das chuvas , e os montes fervem-Ihes de barreiras para que nao corra , e va a- brindo regos , por ondc leve a terra ve- getal 1 que defte modo fe introduz para o centro por meio da agua demorada , que tambem fe introduz altim em maior quan<- ridade para dilToIver os principios , e for- mar mais abundancia de feva. (rova ; em finco annos fucceflivos tenl)0 fcito pradicar nas minhas vinhas huma ,ta6 grande enxertia, que ja exccde o nu- mero de vinte mil enxertos ; tenho-a acha- do tao pouco delicada , que nao tenho chegado a perder j\ dos que tenhc felto fazer , e ainda- nefles mefmos grande par- te das cepas rebentarao junto 'a terra., e £ca- -114 Memorias ficarao renovadas ; tenho-a achado tao poU' CO cuftofa, que ainda pagando amplamen- te aos enxertadores , para poder ter (em- pre OS mais habeis , e fuftentando-os com abundancia , feita exaclamenre toda a con- ta de todo o meu defembolfo , para toda a minha enxertia , ine tern importado cen-» to e vinte e trez mil e oito centos rcis ; tenho-a achado de huma tao grande utili- dade , que efpero em poucos annos ver augmentada a produc9a6 das minhas viiihas quafi ao dobro do eftado prefente (not. i), porque quafi todos puxao mergulhias , com que tenho augmentado muito a povoa9a6 dellas , e alcm diflo multiplicado por efte meio huma grande variedade deefpecies, que tenho julgado pela obferva9a6 mais proprias para augmentar a qualidade do meu vinho , que tenho todo o motivo de efperar , venha a fer , nao quero dizcr muito fuperior a todos os de Alto-Dou- ro , por nao offender aos mens Patricios , porem muito fuperior ao que d^ntes pro- uuziao as minhas vinhas •, porque alcm de rcrem a vantagem das fuas boas fitua96es , rem de mais a feu favor o alTortimento das efpecies de uvas , que Ihes tenho pro- curado pelo meio da enxertia : nao def- conhero , que muitas vezes fe gaftao oito , ou dez annos para ver hum enxer- to em plena produc9a6 , porem alcm de lerem reitos de ordinario em cepas , de que ja fe efpera pouco , ou nada , devem fazer-fe alguns facrificios de quantidade em conremplacao da qualidade , e eu nao co- nheco oucro meio dc mudar as efpecies fp- nao DE AgRIGULTURA. 2I5' nao a enxertia. No Alto-Douro ha mi- Ihares de cxemplos de enxertias praiiica- das em grande com muito bom ruccefTo , e hum dos mais proximos he na famofa quinta da Vaccaria de Anronio Jofe da Cii- nha Reis actual Depurado da Junta da Companhia do Alto-Douro ; na cjuinta de Oeyras do Excell. Marquez do Pombal tam- bem fe tern pra6licado grandes enxertias de vinha. (70) Chamo planta aquellas vides , de que fe hao de fazer os g^i'fos , que hao de fervir de enxercos , outros impropria- mentc Ihe chamao femente. (71) Depois de ter tentado varies meios de confervar a planta , fern poder conle- guir , que deixafTe de danmificar-fe alguma , me lembrei de a metter em barricas , que depois enchi de area miuda muito cnxura , e bem calcada , guardando eftas barricas em huma loja , e foi efte o modo de nao petder planta alguma , antes fe confervou coda fern altera9a6. (72) Mr. Bidet no Tratado da Vinha torn. I. cap, 41. he de contrario parecer , e clama contra a praiflica de enxertar com planta recentemente colhida , fundando-fc na razao , de que confervando defte mo- do o garfo ainia a fua feva , quercrido elevar-fe a da cepi , em que fe enxerta, para o garfo , e nao achando lugar defoc- cupado nelle , nao pode communicarlhe , nem por coniequencia collarem-fe , e uni- rem-fe : que nao podendo fazer-fe a cir- cula9ao da leva , por for9a hi de pcrecer o garfo i por me nao demorar a impugtiat ef- 21 5 M E M O R I A S efta theoria com nzoes , que logo fe tp- prefcncao, bafte dizer, que aquella plan- ta ajlim cortada e mettida na cepa , tem o mefmo logar defoccHpado o afccnfo da feva , que tinha na fua Propria videira , de que foi cortada , e allim como la ha- via de brotar fern mais lugar defoccupado, tambem o pode fazer no enxerro lem dit- ferenfa ; da mefma opiniao de Bidet he a Sociedade Economica de Berne no Tra- tado da Vinha torn. 2. cap. 15. art. ^. n, 1. Em Marfo de 1789. por accafo nz ef- ta experiencia , e de oitenca e dons en- xertos J quo fc fizerao a minha vilb com j)lanta cortada na mcfma vinha , e ime- diatamente mettida, fo me feccara5 fete , C a maior parte dellcs puxarao com tanta forfa , que por i(To excitarao a varias pef- loas a curioudade de os hirver, c Ic ad- miravao da multiplicidade , groirura , e ex- tenfao das fuas vides. O Abbade Rozier no feu Diccionario art. Grcffe cap. 2. Setl. 7^. he do meu parecer. (7^) Chamo padrap a cepa , em que fe praflica a enxenia ; outrds Ihe chamao Cfl- v^llo. (74) No anno de 1774 , fe bem me lembro , fez Jcronymo Jofe Correa Bote- Iho , do Pczo da Regoa , pradicar huma muito grande enxertia na fua quinta da Povoacao do vermo Je Villa Real ; as ce« pas, que fe haviao de enxertar , ja efta- vao tao frondofas , que depois de cort^ das , e conduzidas para cafa Ihes comiao OS porcos avidamcntc a rama ; os vizinhos; laivicntavao a grande dcftruijao , q«e fe fa- D E A G R I C U L T U B A. 2I7 fazia aquellas vinhas , comtudo .1 cnxer- tia foi excellente , e huma grande parte dos enxertos puxoa mergulhas , que fo- rao lan9adas no Inverno feguinre. (75) O Abbade Rozier no art. , e cap. citado ( not. 7Z. ) em a Se6l. 2. diz , c]uc em quanto a primeira feva exifte , fe p6- de enxert.u ; ifto he verdade , porque em lodo efte tempo pegao enxertos , a diiFe- ren9a confifte em pegarem mais , ou me- nos , e por iflb fe deve fazer efcolha do que parecer melhor , fendo certo , que o peior de todos he na for9a do movimen- to da feva ; porque tern o perigo de (uf- focar o garfo , e de fe extravazar toda a feva , que fobe da ccpa. (76) Mr. Beguillet na fua Oenologia cap. 2. art. 2. pag. 67. diz , que a videi- ra he a unica , que fe enxerta fern fujei- 530 ao encontro da cafca , porque nao rem Liher , ncm Camadas Corticaes ; em a not. :;. moftrei convencida de falfa a caufa , que elle da , e tambem nao he acertado nao procurar o encontro das cafcas ; por- que fuppofto alguns enxertos prendao fern efta fujeijao , ifto acontece a mui pou- cos , e fe prendem nao he pela razao ex- pofta , he fim que a videira abunda de tecido cellular § 5. , que facilita a commu- nicafao da feva enrre o padrao , e o gar- fo , vifto fcr de huma m.iteria efpon)ofa. (77) Depois de ter obfervndo , que al- guns enxertos fe me perdiao, por«)ue os Ian9os ficavao enrodilhados debaixo da ter- ra , e mengrados , por nao po-^erem rom- per a dureza , que ella contrahia, confi- de- ^i8 Memorias derando , que ncnhuma terra encontrava nas mefmas vinhas fern alguma miftura de argilla , me cntrei a fervir de area miu- da para cobrir os enxertos , com o que te- nho evitado aquelle inconveniente , e arc me garece poder affirmar , que aflim prof- perao meihor os enxertos. (78) Algumas minhas obfervafoes me induzem a conje6lurar , que os enxertos partidpao alguma coufa da natureza do padrao , em que fao feitos , c que pela miftura das naturezas do p:idrao , e do garfo fe podem vir a emendar alguns de- feitos das efpecies ; para vir meihor no conhecimento defta materia , fiz enxertar em padroes de baftardo , que amadura ce- de , e rem fabor doce afTucarado , garfos de Verdial , que amadura tarde , e tern o fabor acido-vivo ; o refultado foi produzi- rem-me eftes enxertos todos uvas , que ti- nhao toda a figura de Verdial , porcm ma- durarao mais cedo que os outros verdiaes , e fa5 de hum fabor fub-acido ; deftes hei- de continuar a enxertar fobre baftardo , para vcr fe perdem cada vez mais o aci- do , o que me parece deve acontecer. (79) O Abbade Rozier no feu Diccio- nario Art. Effaner diz , que chegadas as uvas quafi ao ponto da fua completa ma- dureza , fe ganha muito em ferem as vi- nhas rigorofamente csfolhadas , porque efta opera9a6 modera a feva ; a pouca , que pcnetra da vide ao cacho , he mais bem elaborada , menos aquofa ; a parte afiuca- rada fe defenvolve mais nofrufioi o aci- do he mais envolvido pela parte afifuca- ra- BE ACRICtJLTVllA. 219 -tada ; c puxando em fim a tranfpira9ao para o exterior a fuperabundancia de agua contida em cada bago , nao Ihe fica mais que hum fucco bem apurado , bem alTuca- rado , bem aromatizado fcgundo a fua ef- pecie ; conclue por iffo , que quando as uvas fe avizinhao ao ponto da fua com- pleta madureza, cm todo o paiz he util a esfolha. Todas eftas razocs fao optima- menie deduzidas dos melhores principios; he porem necefiarlo acertar o ponto re- commendado , fe elle fe nao acerta, fo- mente refta o arrependimento. (80) Capar a vinha he cortar-lhe as pontas dos novos lanfos allimada quinta , ou fex- ta folha ; a efta pra^tica , e as de esfolhar , e efpampar tao geralmente recebidas , e executadas em Fran9a, he que cu attribuo em grande parte a precipitacao , com que alii morrem as vinhas , e de que refulta a neceffidade de as arrancar , e replantar ta5 frequentemente , ao mefmo tempo que no Alto-Douro , aonde todas ellas fao pou- co em ufo , fao de huma immcnfa dura- 936 ; eu tenho vinhas , que em Tombos de mais de duzentos annos fe moltra , que ja entao erao vinhas da minha cafa , e a pezar de terem fido mal tratadas , ainda cxiftem no paiz , em que he defconheci- do o ufo de replantar. Ainda mcfmo em Fran9a fao conhecidos os inconvenientes deftas pra6licas ; Mr. Durival na fua dita Memoria pag. 1^^. depois de dar excellent tes razoes , para defterrarem eftas praticas , conclue , que ellas fao mutila96es Igual- mente deftrudivas da vinha, e das fuas pro- 120 M E MO R I A S producfoes, o que confirtna com as razoes pag. 41- c 8^. (8i) Chama-fe no Alto-Douro Sa'ibrar a vinha dar-ihe hum lavor , cortando a terra na altura de dous , ou trez palmos , de forte, que fe revolva para a fuperficie hu- ma grande quantidade de terra virgem ; ef- te lavor he feito em lugar da cava (§ 51.) » e deve pra^licar-fe logo no principio dc Fe- veteiro , para que as chuvas ainda tenhao lu- gar de unir a terra com as raizes , que com eftaopera9ao ficao baftante abaladas. Quern tiveffe de fazer efta opera9ao nao erraria em a prailicar no Outono em lugar da ef- cava (§ 50.) (8i) Cal^os , ou geios , oufticalcos , como em diverfas terras Ihes chama5 , fao pare- des parallelas a eleva9a6 do terreno , quff atravcflao huma vinha , e fao formadas pa- ra ter mao na terra , que fem ifto nas ter- ras encoftadas correria fempre ao fundo , . e em pouco tempo ficarlao defcobertas as raizes das cepas : no principio do ja ci- tado cap. 8. da fegunda minha dita Me- moria aifTe , que grande parte das vi- nhas do Alto-Douro fao formadas com ef- r€S cal90s : as vinhas do Cantao de Ber- ne fao formadas do mefmo modo , como fe diz no Tratado da Vinha pela Socie- dade Economica de Berne cap. if. art. 2. n. 6. : cftes cal90s fe renovao para beneficiar as vinhas velhas , e enfraque- cidas , desfazendo-os. Cortando a terra fu- perior na grollura , que ha de ter a nova parede , e sbrindo novo alicerce , para que toda efta terra virgem corra as yideiras, que D E A G R I CU LT U R A. 221 que ficao da parte debaixo: nas provai o vinho , que fahir , e feguramen- te nao fera vinagre , mas vos achareis hum vinho feito acidulo pela quantidade de ar fixo , que efte chapeo reteve ; elle fera no feu genero , o que fao as aguas aereas de Spa , de Pyrmont, e de Seltz &c, ; fe ao depois voj diftillaes efte vinho , tiraes del- le mais efpirito ardente , do quedaquelle, que fahio pela cannella , ou obtido pela prenfa do refto do vinhago. Ha huma gran- de diffcren9a entre a fignificafao da pala- vra agro , e da palavra acidulo ( acido aereo ). O vinho de Champanha , que falta , c el- puma em o copo , poflue em pequeno o chciro , que o chapeo polTue em grande ; de hum , e de outro fe eleva hum acido aereo picanre , e vivo ; mas em ncnhum delles o cheiro de agro : he precifo pelo contrario confervar preciofamente efte cha- peo , nao o defunir de algum modo no tempo da fermentafao , e quando fe tira o vinho da cuba pela cannella ; porque he hum refervatorio immenfo de ar fixo , e de efpiriiuofo para o vinho , que fe devc efpremer. Nao he hum vinagre , pois que o mofto nao pode mudar-fe em vinagre em 3uanto dura a fermenta9ao tumultuofa , e epois que o vinho he reito , nao fe con- Verte em vinagre fenao pela abforpao do ar athmosferico , que fe combina com a fleuma , o tartaro , e o efpirito ardente, que efte vinho continha. E fuppondo com o autor que o fucco contido no chapeo fe- ja agro , eu ihe psrgunto j por que conta- 6to DE AgRICULTURA. 25*3 <^o de efpecie de ar , elle fe faz agro ? He pclo do ar athmosferico , ou peJo do gaz J ou ar fixo ? O primeiro he impofli- vel ; todos OS fyficos fabem , que o ar fi- xo he clpecificamente mais pezado do que o ourro , e por confequencia a fuperficie da Cuba cfta fempre livre do contadio do ar arhmosterico pela camada de ar fixo , que a pezar da fua di(Tolu9a6 no ar achmof- f erico , fc renova fern cefiar durante a fer- menta9ao, Os fabricadores de vinho cha- mao a efte ar mdo ; elles fabem igualmen- tc , que elle cerca todo o fimo da cuba , e nao ha anno , que com huma luz na mao elles nao me^ao efta camaua de r.r mor- tal , de que bem conhecem as confequen cias. Se o ar athmosferico nao pode pro- duzir efte efFeito, fera o ar fixo, que fe cfcapa da fermenta9a6 ; mas nunca eft:e at communicou o gofto agro, nem mudou o vinho em vinagre: elle fez o chapeo aci- dulo , como faz acidulas todas as aguas aeradas ; em huma palavra communicou-lhe hum cheiro forte , picante , acidulo , e vo- latil , e nada mais. Tenho infiftido fobrc efte obje£lo; porque autores m.uito recom- mendaveis nao rem penetrado efta diftin- jao cao importante da palavra agro , ou acido ■■, de mais fe o chapeo eftivclTe agro , e o feu fucco vinagre , ou fermento , co- mo feria pofiivel , que pela diftilla9ao fc tirade delle .efpirito ardente,, pois que he demonftjtado por experiencias mil ve- zes repetidas , que efte cfpirito de tal forte fe recCmbinpu , ou dettruio na for- mafio do vinajjrc , que pela dcftilla9a6 le 25'4 Memorias fe nao tira huma fo gota delle , fe of vinho foi perfeitamente convertido em vi- nagre ? Efta refpofta do grande Rozier foi confirmada por huma minha cafual expc- riencia no anno de 1788 , em (jue lanpci em hum peqneno tonel de trez ppas fe- parado o vinho , que nas empifaduras fe efpremeo do vinhafo de huma lagarada ; dando a pfovar os meus vinhos neiTeanno a hum muito habil provador , foi aquelle o ultimo tonel , que provou ; depois de re- petidos exames aiTencou , que o vinho ef- tava vinagre , eu tambem affentei o mef- mo , e nas primeiras imprefsoes nao fiquei fatisfcito , depois que pjnfei na caufa per- di todo o temor , e com efteito , corren- do o tempo , o vinho foi dos melhores , que five nefte anno , foi carregado a dous de Mar9o , e ficarao no fundo do tonel as fezes ate 10 de Junho , em que forao diflilladas , eftavao saas , e perfeitas , fen- do alias as fezes muito faceis de fe envi- nagrarem , e produzirao a quantidade dc agua ardente , que devia correfpondet a fua quantidade , iendo ainda mais para no- tar, que todo aquelle tempo efteve o to- nel deftapado , e que foi hum anno , em que as fezes da maior parte dos vinhos fe faziao vinagre em muito pouco tempo. Da cor fallarei mais largamente no feu de- vido lugar. Eis-aqui como o meu metho- do he o mais conforme a melhor theoria , nao he fujeito a inconvenientes , e he abo- nado pelas niinhas tao repetidas experien- cias , e pelas deftes ultimos dous annos do Dou- DE AgRICU LTURA. 2^^ Doutor Datniao Jofe Alvares Rebello , e do Primeiro Tenente de Bombeiros Jofe Joaquim Pereira Rebello , da Freguezia da Cumieira em Penaguiao , pefTo s de co- nhucida probidade , intelligencia, e appli- cafao. (112) A' vifta defta thcoria fc conhece bem quanto o meu methodo he convenien- te , para formar ao vinho tinto a nielhor cor poJHvel , e cjuanto he fuperior ao que geralmenic fe pra(51:ica no Alto-Oouro ( § 82 ) : confervando-fe o vinhafo fempre ele- vado fobre o fluido , he a parce coloran- ,te diflblvida pcio efpirico inflammavel , que fobe do fluido, e pclo acido as particulas fao reduzidas a major atcenua9a6 , e da- () nhos de inferior qualidade , lanfai-lhe fezes frefcas de huma qualidade fuperior, e ef- pirito dc vinho \ rolai-o muttas vezes , e defdc que chegar o tempo do trasfego , tirai-o , e fera tnelhor do que qualquer outro vinho de igual produc^ao. z^ Mr. Bridelle de Neuillant no feu Manual pra- ctice de fazer Vinhos , e Arte methodica de OS governar cap. 2. pag. 55. diz =3 o meio mais fimples , e o rnais certo para reftabelecer o vinho gordo, he o de o paf- far fobre as fezes de hum tonel de pou- codefpejado, fern que fefa necedario dar- Ihe mecha ; ao depois fe rola com bem for9a para mifturar o vinho com as fezes , dcixa-ie a repouzar , e palTados oito dias depois que efta rcpouzado , fc tira a lim- po em outra vafilna , e fe acaba clarifi- cando-o com claras de ovos. For efte mo- do feguramenre fe defengorda5 todas as fortes de vinhos. z: Felizmente nao tenho rido o:cafia6 de fazcr cxperiencias de re- medios pnra as enfermidades do vinho , per ilTo nao ajunto a eftas mezinhas mais fc do que a que fe devc aos feus ainorcs. (125) Rozier no dito i\rt. Fermentation P. 2. Nao fallo da obferva9a6 da bexiga chcia dc ar, dc que Rozier trata no dito Art. , e na fua JVIemoria fobrc os Vinhos de Provcnfa ; porque a fupponao ja co- nhccida de rodos. (126) O Doutor Francifco Taveira de Wagalhacs , da Quinta de Vallado no ter- mo de Villa Real , homem mtiiro digno de credao me afHnnou, que em lium dos •anr^os p.illados tomara hum doj feus torcis de 270 M E M O R I A S de vinho pique de vinagre , de modo que o commerciante , que Ihe comprara os feu* vinhos , o nao qnizera carregar ; que ime- diatamente , que fe defpejou hum dos me- Ihores vinhos , que elle tinha , tendo-lhc deixado as fezes , trasfegara para elle o vinho enfermo , e Ihe lan9ara alguma agua ardente , que paffados algans diss tinhao defapparecido os fymptomas da enfermida- de , e que fazendo vir o CommifTario do comprador para o examinar , e depois de feita huma exadla prova , nao duvidou car- regar-lho , por ter achado , que elle ja nao tinha defeiro algum. Efte meio he hum dos recommendados por Mr. Bidet. (127) Memoria fobre os Vinhos de Pro- ven9a n. 5^ , 6 , e 7. (128) Em o n. 6. do lugar citado , diz o Abbade Rozier rj He impoflivel nao fer incommodado ao enxofrar o vinho pelo va- por do enxofre , que fuffoca , e he para temer , que algumas gotas cniao no vi- nho. P.ira evitar eftes inconveniefftc? fiz conftrnir huma pequena chamine de lami- nis He ferro , de que a baze rem trez pol- Ie=;ad.is de largo , e quacro de aire, e a fua cohercura em forma de zimborio , de que fahe no fimo hum tubo defcrevendo hum pouco mais de hum meio circulo , if- to he , caindo mais abaixo da baze da cha- mine : a parte de dianre da chaminc fe fe- cha com huma porta de dobradi9as : met- te-fe no tonel a extremiJade do tnbo , accende-fe a mecha , abre-{e m:ii> ou me- nos a porta fei^undo a aclivldade da cham- ma : quando o tonel efta cheio dcile fur mo. DE AgRICULTURA. 27I rro , elle re flue pela porta , e apaga a chamma , porque o ar nao tern mais ellaf- ticidade .... Dcve tapar-fe muico bem a abertura do baroque , que nao for occupa- da com o tube. =i (ii(p) Os proceflbs para conhecer o vi- nho aguado fao todos muito equivocos , porque hum vinho , que conrem fupera- bundancia de agua da vegeta9ao , pode produzir o me{mo efFeito : Mr. Bridelle de Neuillant no fim do feu Manual praflico acoiifelha metrer hum ovo no vinho , fe elle defce promptamente , he o vinho mif- turado com agua, fe tarda em defcer, he o vinho puro ; mais aconfelha lan9ar hum pouco de vinho fobre hum bocado de cal v\v3.; fe he mifturado com agua , fe dif- folveri a cal ; fe nao he mifturado , ella conferva a fua forma , e dureza ; nunca pude verificar eftas experiencias em vinhos de fua natureza aquofos , por ilTo Ihcs dou fo a fc do Aucor. (i^o) Eftas pradicas de fazer o vinho fao muiro antig.is em Portugal ; o Autor da Agricultura das Vinhas imprelTa em Lis- boa no anno de 1712 , com o nome de Viccncio Alarte cap. 26. ja fe lembra del- las , donde he va a gloria , que fe attri- bue Mr. Maupin de ter fido o inventor das caldeiras de uvas fcrvendo , da addi9a6 do arrobe quence na fcrmenra^ao do mofto , pols que tudo ifto , e a addi9ao do mel tinha lenibrado o dito Autor mais de 50 annos ai'.res de cfcrever Maupin ; afiim co- me tamb^-ni acobcrcura dos balfeiros com ceirocs de oalhj. ^'J^ M E M o R I A s (i^i) O fobredito Autor no lugar cita- do diz rj Eftando os vinhos em cortimert- to nao convem bolir-lhe, nem mexer a balfa porque mexendo efta balfa ex- hala OS efpiritos , e eftes fe furrao a valert» tia do vinho, com que tenho por acerta- do , que nao convem bolir com os balfei- ros z2 . (1^2) Efte metKodo de fazer os vinhos em Borgonha , he o que refere Mr. Ar- noux na fua Di(rerta9a6 fobre a {ltua9ao de -Borgonha , e dos vinhos , que eila produz. . , (i^^) Ha 15 annos pouco mais , ou me- nos fez Carlos Alexandre Pinto de Aze- vedo , do Concelho de Godim no Alto- Douro , hum ronel de excellenre vinho de liquor , que fegundo minha lembranfa con- tinha oiro pipas , e para o confeguir na— da mais fez , do que rediizir rodas as avas brancas da quinta de Ponre-gallego no Pe- zo da Regoa ao eftado de meias pa(Ta- das ; pira o que a hurts caches fez torcer OS pes , e aos outros Ihe fez dar gol- pes has viJes ate ao meio , para que nao correlTem tantos fuccos aos cachos ; o mo- do de o fermentar foi o gcralmente u fa- da para os onnos vinhos , e eUe foi repu- tado por mui femelhante aos vinhos Gre- (i?4) Em 2T deDezeinbro de T789 pro- vei hum vinho , que jofe Joao Pinco de Queiroz e Fi^ueiredo , Capitao Mor de Penasj'iiao , tipha mandado fazer no annd antsce.letuc a imiiacao do ue Chanipanha, extr.ihido de uva b.iltardo fern miftara al- ET gu- OE Agricultura. 27^ guma , c o achei multo fuperior a todoa OS c)ue tenho provado , melmo de Cham- pan 'i a. (1:5) Rozier Memoria fobre os vinhos de Proven 9a no fim da recapitulajaO geral* Nao foi exafta a informacao , que tive para dizer em a not. 14 , que o vinho , de que alii fa90 men9a6 , era fe- paradamente de baftardo ; depois de efcri- ta aquella nota tive occafno de fallar com Carlos Correa de Figueiredo Plmentel , e me fegurou , que aquelle vinho fora fei- to das uvas tintas j que indiftinitamente fe vindimarao fern atten9a6 particular a efpe- cie determinada , e que por iflb havia de dominar o alvarelha6« torn. It. $ ME- M E M O R I A S O B R E » A CULTURA DAS VlDEIRASi. MANUFACTURA DOSVINHOS PoR Vicente Coelho Seabra SiLVA E Tellks, 5U « Si mi Jtieno me poJa de Dezlemlre , ii Je JEnere , i/ me cava, o ara ie Feirero , vergneyt- fa me fucra ^ fi m le hinchara de Vino la bcdtgot Segredos de AgiicuJ'tur»« ^i P R O E M I O. § I- ^S{g^^ Grande ufo , que fazem do W0^^^^A vinlio todas as Naj^es , MM O fx(i;^ principalmente as do Nor- MxgH^xp te ; a impoffiblidade da ^.SjSkSk;^ cultura da vinha naquelle paiz ', a abundancia defte liquor , que pode haver nos paizes inais chegados ao Equador , hem moftrao as grandes vantagens , que eftes povos podem ti- rar do trafico defte genero. Com efFei- to as Nacoes induftriofas do meio dia como a Italia, huma grande parte da Franca, c Alemanha , e huma peque- na parte da Hefpanha , &c. tem-fe aperfeifoado , e utilizado defte impor- tante , e extenfo ramo de commercio , que a Natureza negou a todo' o Nor- te. Portugal , hum dos paizes , onde a vinha geralmente produz , como fe fof- fe na fua terra nativa , ainda efta nnii- to atrazado ( fe exceptuarmos a Pro- vincia do Doiro ) no verdadeiro mc-^ thodo de trabalhar nefte genero , bem como na maior parte dos outros ; e ti- rar dellc a mefma utilidade , que as ou- 178 Memohias outras Na96es, Efta a razao porquc a Sabia Academia , fempre vigilante nos interelTes do feu paiz , propoz o fe- guinte Problema : Qual he 0 methodo mats conveniente , e cautelas necejfa- rias para a cultura das v'tnhas em Portugal \ para a vindima , extrac^aS 4o mojlo J confervacao , bondade , e ferment a^ao do uinho , e para a me-' ihor reputa^ao , e vantagem dejle irn^ fort ante ramo do noffo Commercio : rroblema , que pretendo refolver fc- gundo as minhas for^as ; forcejando iia6 pela gloria vaa de efcrevcr , mas por fer util aos meus femelhantes a minha Patria ; por iflb digo com o grande Cullen : Utilem plerumque futf- fe mihi fufficit , ubique perfeSlum fore non fpero. Para o fim pois , a que me proponiio, dividirei efta Memoria em iinco partes : na primeira tratarei da Agricultura geral : na fegunda da cultu- ra das vinhas , e fuas enfermidades : na terceira da vindima , extraccao do mofto , fermenta^ao , bondade , e con- ferva^ao do vinho , e como fe fazcm OS melhores vinhos eftrangeiros : na quarta das enfermidades do vinho , e |j| fuas falfiiieafdes , e os meios de co- " nhecer tudo ifto : na quinta em fim dos vafos , e adega. PAR. I DE AqkICULTVRA. 27^ PARTE I. Da Jgricultura geraL § II. COmo o bom vinho diz relajao i boa uva , e efte a boa cultura das vinhas , que depende de conhe- cimentos pertencentes a Agricultura geral, fobre cujos principios tem ha- vido diverfifllmos pareceres ; por iflb , para levarmos tudo de huma vez a direito , julgamos de acerto tocar mui- to em fumma nos verdadciros princi- pios da Agricultura , para depois fal- larmos com mais ciareza , e evidencia na cultura das vinhas. § III. A Agricultura he aquella fciencia , que tem por obje(fto a plantajao , cul- tura dos vegetaes , e colhcita das par- tes uteis dos mefmos vegetaes. O feu fim pois confide em dar as plantas tu- do aquillo , que Ihes he precifo para que medrem com o vigor neceflario, e pror 28a M EM 0 R I A S e produzad abundantemente , favore- cendo a eftajao. Em confequencia to- do o funcjamento dcfta iciencia , con- fiftc , a meu ver , em examinar i." quaes fao as coufas , ou principios ne- ceffarios para a vegetacao : 2. como fe dcvem dar aos vegetaes eftes mef- mos principios. , Dos principios neceffarios para 4r "vegeta^ao, § IV. PAra virmos ao perfeito conheci- mento defies principios , devemos examinar as partes conftituentes dos ve- gitaes tanto anatomica , como fyfiolo- gicamente. Elles entes fao corpos orga- nizados , firmes na luperficie da terra , fem o movimento , a que chamao lo^ co-^mohilidade ; e fem fenfibilidade : nutrem-fe por intus-fufcep^ao : traba- Jhao fuccos proprios para a fua nutri- 536 ; e fe reproduzem por fementes , ou ovos J como os animaes. DitFeren- g:a6-le entre ii pela grandeza , como as arvores dos arbuftos , eftes das her- vas , e eftas dos mufgos &c. : pelo lu- gar nativo ; huns nafcem nos terrenos i'eccos, outros nos humidos i outros nos DE A GR I C U L T U R A. 281 nos areentos , outros nos argillofcs , ou barrenros : aquclles nas aguas , ef- tas nas fuperficies das pedras , e nos telhados , aquell'outros em fim fobre outros vegetaes &c. : pela cor , cheiro , € fahor : pela duracao ; huns vivcm mezes fomente , outros anno , outros dous ou tres , e outros muitos annos : pelo ufo \ fervem ou de alimento , ou bem como os vafos excretorios dos ani- maes : communicao-fe com os vafos communs. III. Vafos traqueaes , em que circulao os fluidos aeriformes , que recebem da athmosfera : muitas vezes fe achao cheios de feva , o que prova a fua communicagao com os vafos com- muns : fao em forma efpiral como o faca-trapo : conhecem-fe bem abrindo hum ramo novo , e verde como eftes vafos fe communifao com os com- muns , e fe achao muitas vezes cheios de feva ; nao fe devem confiderar co- mo difFerentes dos vafos communs primeira ordem fenao em quanto nao achao cheios de feva. IIII. Os utriculos formados de faccos , que en- cerrao a medulla , e muitas vezes hum principio colorante , eftao polios no meio do pao. V. O tecido cellular , que oflFerece huma ferie de pequenas cel- lulas, que fe fepara6 horizontalmente da medulla , atravelTando os vafos com- muns , e OS outros , cujas areolas en- chem , fe terminao , e abrem debaixo da epiderme, formando ahi hum te-. ci- co- da L DE AORICULTURA. 2S7 cido cerrado , e felnado femelhante a pelle dos animaes. O tccido cellular dos vegetaes correfponde ao tecido cel- lular dos animaes. Todas as plantas contem eftas finco efpecies de vafos ; porem fegundo o feu numero, difpo- fijao , eftreiteza , dilatagao , direc^ao , groflura , pofigad , forma &c. affim a diverfidade dos vegetaes , e feus fuc- cos proprios , a diverfidade da forma da raiz , tronco , folhas , flores , fru- £los , &c. Taes fao os conhecimentos anatomicos dos vegetaes devidos a Malpighyo , Grew , Duhamel , e ou- tros muitos modernos. Todas eftas iTn- CO ordens de vafos fao dotados de cer- ta forja elaftica , com que obrao fo- bre OS fluidos , e promovem a circu- la^ao delles , favorecendo as outras circumftancias , que adiante veremos. Fyfiologia Vegetal. § VII. OS orga6s dos vegetaes , que af- lim numeramos ( § V. , e VI. ) fao deftinados a executar certos movimen- tos , a que chama6 func^oes , e fa6 i.* a circula^ao geral dos fluidos : ^^ as {tUera^m, c mndan^as dejlss Jluidos : 3-* l8S M E M 0 K 1 A S 3. a 0 crefcimento , e defenvolvimerti-9 dos vegetaes , ou a fua nutri^ao : 4*" exhala^ao , e inhala^ao "vetegal : 5"*' a irritahilidade : 6^ a reproducgao ou gera^ao vegetal. § VIII. A circulac^o geral fe executa pe-* la feva , ou lucco nutritivo dentrodos vafos communs ( § VI. i.^ ) . Bern co-* mo o fangue entre os animaes , a fe- va he o manancial , donde fe fepara6 por orgaos proprios todas as outras partes vegetaes. A feva he hum flui- do fern cor , mais ou menos diffabo- rofo , compoilo de agua , mucilagem' com refina , ou oleo em eftado fapo- naceo, e varies faes ou nlinerais , ou propriamenfe vegetaes (i) : (■ompofto^ digo , de agoa , e huma deltas cou- zas foments , ou duas , oU tres , ou todas juntamente : fendo extrahida, e efpelTada , forma o ext]'a(n:o gommofo y reiinofo , faponaceo , ou falino con- forme o principio predorrfinantie. Oi^ rafos abforventes , ou communs da primeira ordem abforvem da terra , c da athmosfera a humidade carregada dos principios foluveis nella , e' vadr levala aos vaios communs- 4a fegund* or- t)E Agrioultu^a. 289 oidem , que acabao de reduzila em fe-« va y bem como os yafos lad:eos abfor- vem o chylo dos inteflinos, e o levad as veias , e as arterias , onde fe torna em fangue. A feva corre abundante^ mente pela incifao das plantas : e nel- Ja fe nao acha terra alguma j mas fo- mente hum , dous , ou tres dos prin- cipios acima referidos ; nem pelos va-» lbs abforventes , que fao ramifica^ocs dos valbs communs da primeira or- dem , podem-fe abforver , fenao o que for foluvel n'agoa : a terra calcarea, a cal de ferro , a manganefia , que fe tem achado em alguns vegetaes , en- trarao em eftado falino diflolvidos na humidade. A feva he deftinada co^ mo o fangue a feparar-fe por diver- fos orgaos em differentes fuccos para a nutri5a6 , e conlervacao do vegetal. He muito abundante na primavera , em que o feu movimento fe manifefta pelof defenvolvimento das folhas , flo- res , frudos &c. A iigadura , e todos os fenomenos da vegetacao moftrao , que o feu movimento progreffivo he da raiz para o tronco , e ramos , e dahi para as folhas &c. Nao fe fabe fc «lla torna para a raiz. As valvulas ad- mettidas por alguns nos vafos com- muns y nao fao demonftradas. Tom, IL T § ipo M E M O R I A « § IX. Altera coes , e mudan^as da feva* Efte fucco pafiando dos vafos com- muns parte para os utriculos ( § VL 4.^ ) , e daqui para os vafos pro- prios ; e parte immediatamente para os Tafos proprios ( pois que ha comrau- nicafao entre todos eftes vafos ) foiFre alterajoes paniculares , devidas a eP- trudlura dos vafos por onde pafla : daqui a origem dos fuccos aflucara- dos , oleofos J mucilaginofos , odorife- ros , colorantes &:c. Eftas alrerajoes fad mais fenfiveis em varies orgaos de cer- tas plantas , como nos iiedarios , ef- tigmas , baze dos calices , frudlos , fe- mentes , e folhas i e pertencem ana- ]ogamente a funcjao chamada nos ani- maes excrecao , e fao eifenciaes a vi- da de cada planta , pois que nao pT- dem foffrer liuma perda confideravel deftes fuccos. O ar atmosferico , a hu- midade , e a luz com calor em cer- tas proporcoes fa6 preciofos , para que fe fapo eftas excre^oes , por quamo ellas fe nao fazem, faltando eftas cir- cumftancias, como logo yeremos (§ XI. ) . "bE AQRlCULTtJRA. Ipt § X. Nutri^ad y e crefchiiento dos ve-* getaes. A feva pela fua demora nos Utriculos j e tecido cellular , ou vcfi-' cular das plantas ( § VI. 4.'^ e j.^ ) fe efpefla j torna-fc mais confiftente , apega-le as paredes dos vafos , ou das fuas fibras , e friz com eftas eorpo , augmentando afTim as dimenfoes do vegetal: daqui o augmento momenra-» neo do comprimento , e grofl'ura das plantas. Tal he o mechanifmo da nu-^ trigao , e crefcimetito , e defenvolvi- mcnto do todas as partes das plantas ^ como o das folhas , flores , fruclos , e do mefmo pao &c. (2) o que tu-» do fe faz , quando ha abundancia de feva j e a fua circula^ao he mais aug- mentada , como defde o principio da primavera ate o fim do outono. Quan-^ do por^m a fibra vegetal fe tern en- durecido , os vafos fe tornao mais rl- jos , de maneira que na6 cedem fa- cilmente ao impulfo do movimento da circulajao : nefte eftado ^ he manifefto , que OS vafos fe irao obtufando pou- co a poueo ; o effeito das forcas dif- tendentes hirdo diminuindo , e por con- fequencia tarabem q Grefciaiento. Da- T ii q\»i ■29^ Memorias qui a vclhice vegetal , ate que , obtu- rando-fe inteirarnente os vafos , vem a morte. Bern fc ve a grande analo- gla entre efte mechanifmo , e o ani- mal. Com effeito nos utriculos , e no tecido cellular ha huma grande feme- Ihanja fia eflrurtura , e no ufo entre OS dous reinos organizados. Eiles pe- netrao igualmente todos os feus orgaos , e eftabelecem entre elles huma com- municajao immediata , e fao a verda- deira fede da nutrigao. § XI. ExhaJacao , e inhalacao vegetal, Os Botanicos modernos tern moftrado, que todos os vegetaes lanjao continua- mente exhalaf6es aeriformes , mais , ou menos cheirofas, O aroma dasfo- Ihas , e flores forma a roda da plan- ta , que o exhala , huma athmosfera cheirofa. O dicflamo branco forma em torno de ii huma athmosfera , que fe inflamma pelo contadlo de humcorpolt abrazado. Outras plantas como a no- gueira , e o teixo exhalao vapores mor*^ tiferos aos animaes. Eftes vapores fa6 cxhalados pelos vafos exhalantes , que" fao as extremidades dos communs di fegunda ordem. Aleni difto as expe- DE AgRICULTURA. 29:} riencias de Ingen-Houz moftrao, que as folhas de todas as plantas expoftas a luz do Sol , ou ao calor exhalao pela pa- gina fuperior oar puriirimo : na fom- bra porem perdem efta propriadade , e exhalao o acido cretaceo , ou carbona- ceo (rj) . Pela pagina inferior das folhas abforvem nao fomente a humidade da athmosfera , pelas experiencias de Bon- net , mas tambem o aci.lo carbonaceo , e o gaz inflammavel , fegundo as ex- periencias de Priestley , Pereival , e Saujfiire. Eiles fluidos fao abibrvi- dos pelos vaibs traqueaes , e communs da primeira ordem ( § VI. i.^ e 3.^ ) . A humidade" pois , e o acido carbona- ceo fao eflenciaes para que fe execu- te efta funcjao das plantas , e para a ^ua vegetajao , porque fegundo as experiencias de Prtejlley as plantas vegetao com mais vigor mettidas cm acido carbonaceo. Ora fendo certo , que as plantas abforvem a humidade , e acido carbonaceo , e exhalao o ar purifTimo , e principios odoriferos , que fao a parte mais volatil dos o- leos eifenciaes , ou volateis das mef- mas plantas ; fendo tambem cerro , que a agua he compofta de hydroginio , e oxyginio (4) ; e o acido carbona- ceo compofto de oxyginio , e princi- pio ^94 Memorias pio carbonaceo , ifto Jie , a parte mais pura , e combuftivel do carvao (j) j lica manifefto , que tanto a humidade como o acido carbonaceo fofFrem hu^ ma decompofipo dentro deftes va- Ibs abforventes , onde a maior parte do oxyginio da agua , e do acido carbo- naceo fundido pelo calor he exhalado em ar puro (6) : o hydroginio da agua , combinando^fe com parte do princi- pio carbonaceo , da origem aos oleos , e aromas (7) : a outra parte do prin- cipio carbonaceo fixa-ie no vegetal , e da orlgein ao carvao vegetal. Eltas decoinpoficoes nao fe podem fazer fcm o caior ou dos raios do Ibl, ou artificial ; porque nao fomente o ca^ lor augmentando a forja elaftica dos valbs , e rarefazendo os fuccos vege- taes promove a circuliijao (8) , e por confequcncia os poem em melhor el'-^ tado de obrarem os principios huns I'obre cs outros, e dc fe combinarem; mas tambcm entra na eompofifao dos iiovoG reiukados ; por quanto he cer- 10 , que todos os corpos tem feu ca-* lor elpecifico , effencial a fua nature- za 5 como moflrao Lavoifier , Craw-' fori: , e a moderna (*) Diflertajao fo^ bre o Calor. Ifto he tanto verdade , que as (*) He Uo niefmo Author defta Memoria. DE AgRICULTURA. 295' as plantas na ibmbra , e fern calor nao vegetao , e morrern. O gaz inflammavel zbforvido vai tambem dar origem aos oleos (9) . § XII. Se compararmos a exhala^ao , e inhalagao vegetal ( que fe pode cha- mar refpira^ao vegetal^ com a refpi- rajao animal , acharemos duas funcfoes inteiramente contrarias. Os animaes infpiraS o ar puro , e expirao o aci- do carbonaceo : os vegetacs porem infpirao o acido carbonaceo , e expi- rao , ou exhalao o ar puro. Os ani- maes por meio da refpirao adquirem o feu calor animal j os vegetaesnao: efta a raza6 porque fomentc gozao do grao de calor da atmosfera , que ha- bitao. O ar puro he continuamente alterado pela combuftao pulmonar , c pclas outras combuftoes , e conti- nuamente renovado pela refpira^ao ve- getal. Efte o admiravel circulo da Providencia , para que os animaes fe nao extinguiflem. § XIII. Irritabilidade vegetal. Todas as plantas gozao em grao mais , ou mo- nos ^()(i MemoriaS nos fenfivel a noflbs olhos de hums cfpecie de irritabilidade. Efta forja he muito vifivel na Senfitiva , nos cftames da Parietaria, e outros muitos vegetaes. As foihas em razao defta forja murchao pela accao do fol i poique fendo os feus vafos eftimula- dos comtrahem-fe , cxpeJlem a parte mais fubtil do feu fucco \ e repellem a maior parte delle para o tronco &c. diminuem de volume , e por confe- quencia murchao. No Gira-fol com iiores pelo eflimulo do fol fe encolhem as hbras daquella parte , e defte mo- do ellas fe virao para elle. § XIV. A reproduc^ao dos vegetaes faz- fe tambem como a dos animaes per meio de ovos , ou fementes fecundadas no gcrme , ou ovario do orgao feme- nino pelo p6 fecundande das antheras ( § V. e4.° ). Sem ifto as fementes fao infecundas , como demonftrou o gran- dc hinneo. Os vegetaes fendo de eftru- clura muito mais fimples , que os ani- maes , e fendo quafi todas as fuas pi?ir- tes compoftas dos mefmos vafos ( § VI. ) cada huma deltas he capaz de re- produzir hum ngvo individuo feme- Ihan- DE AgRICULTURA. 297 Ihante aquelle a quern pertencia : bem como OS Polypos , os inferos crufta- ceos 5 e muitos vermes. Efta a razao porque os vegetaes taobem fe repro- duzem pelas raizes , por borhulha , por ejlaca , por filhos , e por mer- gulhao , como vamos a ver, § XV. Reproduccao por femcntes. Para que efta reproducjao tenha lugar , he precifo , que as fementes , bem como OS ovos dos animaes , fejao poftas em lugar quente , e humido. A terra por iflo que conferva eftas dua? coula? he o melhor lugar para a germinacao das fementes. O calor he precifo : i.° x-'?.~ ra que os principios adlivos do ruu mento da nova planta fe ponhao em acfao : 2.^ para que a humidade dif- folva melhor a gomma , e os outros principios contidos nos cotyledoes ( § V. 64.° ) , para entrar com elles na cir- culagao da nova planta : 3.° em fim para que o fucco fe attenue de manei- ra 5 que pofTa circular nos minimos va- fos do rudimento vegetal. Eis a razao po,rque o calor , e humidade fao pre- cifos para a germinacao das fementes. Porem tanto huma, como outra coufa ; " de- 29? M E M O » I A S deve fer em certa proporcao : o ni- mio calor he nocivo , porquc poem as forjas da vida do rudimento n^huma ac^ao preternatural , e daqui a Tua def- truijaS j na6 fomente por ifto , mas ainda porque diffipa as partes fluidas mais fiibtis , que podem unicamente entreter a vida do novo vivente. A nl- niia hiimidade induz huma verdadeira plethora nos vafos , que por muito chcos perdem a fua nc^a.6 , e o rudi- mento da planta morre , como afFoga- do. Pela falta de calor , e peia nimia humidade nao germina6 as Tementes no inverno. As plantas , cujas fementes i)a6 tem cotyledoes , lao aquellas , que para a germina^ao das fuas fementes i]a6 precilao fenao do calor , e hu- midade carregada dos principles , que conifjgo acarrcta da terra , e da atmos- fera. § XVI. A reproduccao das plantas pelas Maizes lie de dous modos ; ou fepa- rando-fe os filhos nafcidos da mefma raiz da planta, e que tenha6 ja raizes, e plantando-fe a parte com as fuas raizes : ou feparando-fe parte f6mente da raiz , ainda mefmo fern filhos , e plantando-fe a parte a porgao fepara- da ; «E Aqricultura. 2 99 da : no primeiro cafo p6de-fe fazer com todas as plantas ; no legundo po- rem f6mente' fe p6de fazer com as raizes tuberofas , ou bulbofas , como com o alho , cebollas , batatas &c, § XVII. A reproduc^ao por borhulha fe faz por mcio da enxertia. Corta-fc a borbulha de huma planta com huma por^ao da cafca , e entrecafco , e de figura quadrangular, ou triangular, e faz-fe huma incifao no lugar corref- pondente de outra planta de maneira que polTa center a borbulha , e mette- Ib-lhe efta de forte , que os dous cortes iranfverfaes fiquem bem unidos ; e Xi' ga-le^ Mas para que o enxerto pegue , he precifo l.° que as duas plantas fe- jao , fenao da mefma el'pecie, ao me- nos muito femelhantes pelo que toca a fua eftru(flura : 2.° que os cortes iranfverfaes da borbulha fe unao bem com OS cortes tranfverfaes da planta, em que fe enxerta :, os de cima com OS de cima , e os debaixo com os de- baixo, para que os vafos longitudinaes da cafca da planta fe dcfeniboquem nos longitudinaes da borbulha ; porque lomente affim podc a leva circular cntre a plan- '300 Memorias a planta , e borbulha : de outra forte morre o enxerto , por iffo que a cir- culagao da feva fica interrompida en- tre a planta , e borbulha. Se as plan- tas nao fao ao menos muito femelhan- tes , o enxerto pode variar em razao da difFerente eftrudura de vafos , e di- ve rfidade de feva. § XVIII. A reproduccao por ejlaca fiz-fe cortando de huma , e outra parte o ramo de huma arvore , e enterrando- fe a parte inferior. Tambem fe faz pe- la enxertia de garfo bem conhecida. (lo) A reproducfaoporji/bosna.6d[£- fere da precedente , fenao em que a parte fuperior nao he cortada. A re- produccao por mergulhao he bem co- nhecida. Taes fao em fumma os conhe- cimentos , que temos das partes conf- tituentes dos vegetaes , e das fuas func- ^oes , cuja perfeijao , e confervapo confifte na circulafao dos fiiccos , na fua devida quantidadc, na devida pro- porcao dos contentos , era fim na fua boa qualidade. A falta de qualquer dcftas coufas traz a perturbajao de al- guma , ou algumas funcgoes , e produz €m confequencia a doenga , em cujo re- DE AgRICULTURA. ^Ot remedio verfa a Agricultura , que he hunia verdadeira Medicina vegetal, que poderemos dividir em Agricultura Pathologica , e Therapeutica. Jlgricultura Pathologica , ou Patho- logia Vegetal, § XIX. ATequi ( § IV. XVIII. ) temos e- xaminados a eftrudlura, e as func- coes vegetaes ; agora paiG^anios a tra- tar das lezdes deltas funcf oes , ifto he , das doencas , e fuas cauzas , e depois vereuios como fe devem curar eftas doencas. A Pathologia vegetal nos enfina a primeira , e a Therapeutica a fegunda caufa. Chamo doenca ve- getal toda a lezao de qttalquer das funccoes ( § VII ) ; o que pode fer de t;;ez modos , por lezao abfoluta , quando a funcjao fe nao pode execu- tar por qualquer couza : por lezao per defeito , quando fe axecuta em grao me- nor : por lezao por excejfo , quando ha excelTo na funcjao. Como porem to- do a funcjao ( § VII ) fe executa por algum , ou alguns dos orgaos ( § VI , e VII ) , e eltes conftao de vafos , c illes de partes folidas j e fluidas ; por ilTo 30i Memorias iflb tcmOs de confiderar tres clafles de doenfas : huma pertencente aofolido: outra ao fluido : e a terceira perten'- cente ao folido , e ao fluido. Doefj^as dos folidos^ § XX. PAra conliecefmos de quatiros mo-*- dos pode aceontecer efta enfermi-- dade , devemos piimeiro que tudo ex- am inar a na tureza da fibra vegetal. A , parte fibrofa das plantas he aquella , de ciija reunia6 remha nao f<6mente o que chamao propriamente pd& ( Lig- num ) , mas ainda os vafos. Na fua compozifao entra o pfincipio carbo- naceo ( § XI ) , a fecula , gomma , agua , e huma fubflancia terrea , que parece for o phosphato cakareo ; nao fabemos por era fe ha ou nao outros princi- pjos. Schcele achou em alguns vcge- taes a manganefia em cal , outros acharao huma por^ao de ferro tarn- bem em cal ; todas eftas materias en- trarao em eftado falino , ct^mo dice- mos ( § VIll ). Porem lejao embora , ou nao eftes os unicos principios com- ponentes da fibra vegetal j o certo he, que elles fe unem nao lomente pelaf . afR- 13E Agricultura. ^o^ affinidade que ha em todos os corpos, mas rambem por meio da gomma , da fecula , e humidade ; bem entendido, que eilas tres couzas devem fer em certas , e devidas propor^oes ; para que tenhao aquella dureza , confiften- cia , e adhefao propria as difFerentes partes dos vegetaes. Logo o folido vegetal pode peccar por molleza , quan- do a humidade , a fecula , e a gomma forem fuperabundantes ; por dureza y quando o principio caibonaceo , e a parte terrea forem exceffivcs , por/r^- gilidade , quando , havendo exceflb def- ies mefmos principios , faltar a par- te gommofa. Como porem a fibra , e em confequencia os folidos fe for- mao pelo depofito do fucco appro- priado ( § X ) , he manifefto , que os ieus vicios devem depender dos vicios dos fuccos , ou fluidos , de que va- mos tratar. Doen^as dos Fluidos, § XXL J A vimos , qus a leva fofFria di- verfas alterafoes nos diverfos or- ga6s por onde paiTava ( § IX ) : que a fua boa circula^ao dependia da for- J04 Memorias oa elaftica dos vafos , humidadc , ca^ ior , e ar athmosfenco , tudo em certa proporjao ( § VI. , IX. , e XI. .) ; alem difto J que a perfeigao, e confervagao das fiincjoes vegetaes ( em que confifte a faude vegetal ) pendiao da devida quanridade , e propoifao dos conten- tos da feva , e da fua boa qualidade ( § XVIII. ) : Logo qualquer vegetal pode adoecer por quantidade , quali^ dade , ou vicio dos Jluidos. % XXII. Tor quantidade, O fluido pode peecar ou por muita abundancia , o que fe chama plethora^ ou por defei- to ^ o que fe diz inani^ao. A nimia abundancia de liquidos dilata os vafos alem do natural : daqui os aberrajoes de excregoes , o erro delugar, e por confeguinte as excregoes mal feitas , e a lezao das funcgoes. Donde vem a ma producjao de fru(n:os , e femen- tes ( § V. , e VI. ) , a ruptura de vafos , a tranfudajao de liquidos preternatu- ral , em fim a perda da accao dos va- fos , e a fufFocagao da plants. A fua cauza , ou he a nimia abundancia de- humidade abforvida pelos vafos abfor-. ventes , ou communs da primeira or> dem^ > DE AfiRIClTLTURA. pj dem ; ou a relaxacao dos vafos pelo nimio calor , e ao mefmo tempo a maita humidade abforvida. § XXIIL A faha do fucco nao deixa que fe fagao as excrejoes devidarnenre \ c por confequencia produz a fua per- turbajao , os fruclos , e graos mal vin- gados 5 e exfuccos , a dureza da fi- bra ( § XX. ) &c. A fua cauza p6- de ler a falra de humidade ua terra > e na arhmosfera ; o nimio calor ; hu* ma granJe evacuacao de leva por meio de incisoes , ou ourra qualquer couza* § XXIV. Por quaUdade. O liquido pode peccar ou por dcmaziada efpelTura , ou por nimia fluidez. A demazinda efpelV fura traz a imms.^abilidade nos vafos : daqui a falta , e eno de excrcgoes , a lua perturbagao, e imperfeicao , a rijcza da libra &c. A fua caufa ordi- nana he o demaziado calor , que dif- iipa as partes mais volateis , e lluidas* Pode taobem fer o muito abforvimen- to de acido ca -bonaceo , ou gnz inflam- mavel : no primeiro cafo o liquido ie ■Tmi, 11 V car- 9o6 Memorias carrega de niuito principio oleofo , c carbonaceo ( § XL ) , e no I'egundo carrega-fe de muita parte oleofa ( § XI. ). Nelles dous ultimos cafos a plan* ta crefce com muito vicio , mas pro- duz muito pouco fru6lo , e grao , por caufa da immeabilidade do liquido nef- tes ultimos orgaos. § XXV. A nimia jluidez produz as aber- ragoes de liquidos , o erro de excre- coes J e daqui a perturbajao das func- §6es , a molleza da fibra , e por con- iequencia a ma producjao. A lua caufa pode fer o nimio calor com pouca hu- midadc ; o abforvimento de pouco aci- do carbonaceo , ou de gaz inflamma- vcl ; o abforvimento da liumidade fim- ples , e defcarregada de acido carbo- naceo , gaz inflammavel , e materias fa- linas , &c. ( § VIII. ) . § XXVI. Por vicio , ou pecca por falta da proporjao devida eutre os principios, que conftituem a feva de cada planta ( § VIII. ) , ou por exceflo de algum delles : allim pode vir a doenca , ou por fair. deAgkigultura. ^oy falta da parte aqiiofa, ou gommofa , o.i lalina , &c. , ou por exccllo de al- guma 6ic. § XXVII. Quando ao mefmo tempo padece o Tolido , e o fluido, vem a doenfa eomplicada de huma , e outra coufa ( § XX. , e XXI. ) Tberapeutica vegetal , ou Agricuhu- ra tberapeutica. § XXVIII. TEmos vifto ( § XX. e XXVIII. ) as enfermidades dos folidos , e fluidos vegetaes , e as fuas caiifas ; ago- ra porem pafTainos a tratar daquella parte da Agriciiltura , que enfina a cu- rar cflas enfermidades. Mas como os folidos fe formao dos^-fluido? ( § X. ) , a lezao daqueiles deve-l'e necelTaria- mente referir a lezao defies. Ella a razao porque fallaremos lomenre di Therapeutica dos fluidcs. Nao lie aHim nos animaes , cujos folidos gozando nao fo da forca morta , ou elaftica, mas tambem da for^a viva , merecem huma attencao particular pelo que roca V ii a ef- 5oB Memorias a efta forja , que diftingue bem a fi- bra animal da vegetal. § XXIX. Se a plethora ( § XXII. ) prece- de da niuita humidade da eftacao chu- vofa &c. J o unico remedio he difni- nuir a quantidade da feva por incisoes mais , ou menos amiudadas , ou des- folhando a planra mais , cu menos, conforme a necelTidade. Se precede de fer a terra mais humida , do que pede a natureza da planta , he precifo diminuir efta humidade : o que fe faz de dous modos ; ou dando defvio as aguas por meio de vallas , efcoantes &c. ; ou , fe a terra confervar muita humidade por fer barrenta , mixturan- do-a com area , faibro &c. , que lao terras feccas : defte modo fe modera a humidade do terreno , como he mif- ter. Se a falta defucco ( § XXIII. ) vem da feccura da terra por fer efta areenta , ou muito pedragoia , he pre- cifo mifturala com terra barrenta , ou argillofa ( que he humida ) ate que o terreno conferve a humidade preci- fa. Se procede da feccura da atmos- fera , ou do nimio calor , o unico re- medio he regar a planta. § DE AgRICULTURA. 309 § XXX. Se a efpeffura ( § XXIV. ) pro- vem do demaziado calor , o remedio he regar a planta. Se pelo abforvi-.' mento de muito acido carbonaceo, ou gaz inflammavel , tern 4 remedies : i.* desfolhar a planta para que abforva menos ( § XI. ) : 2.° plantar outras plantas ao pe , porque deile modo, iendo o acido carbonaceo , e o gaz inflamavel abforvidos por mais plan- tas , a arvore doente abforve menos : 3.° regala a miiido , para que a agua diminua a efpefllira do fucco , fendo abforvida em maior quantidade pelas raizes : 4.° cavar a planta , e langar-lhe ao pe terra areenta , ou barrenta , con- forme a humidade , ou feccura do ter- reno. Efte he o melhor remedio. § XXXI. Se a ftimia fiuidez ( § XXV. ) tern origem do muito calor com pouca humidade , he mifter logo logo regar a' planta repetidas vezes. Se da falta de acido carbonaceo , ou gaz inflamma- vel , he neceflario darem-ie-lhe eftes principios , eftercando a planta iVja com 310 M E M O R I A S com eftrume vegetal , feja animal ; ou com o carbonate calcareo em p6 ( ere, ou greda ) , ou com cinza. Efta , e o carbonato calcareo tern preferencia , quando ha falta de principio falino. ( § XXV. ) § XXXII. Quando o fucco pecca por fal- ta de propor^ao dos pnncipio§ ( § XXVI. ) J he neceflario regar a plan- ta com agua carregad^ do pincipio , que Ihe falta. Hygiene Vegetal , ou Agricultura pror phylatica, § XXXIII. ATequi temos vifto as leis da eco- nomia vegetal , as fuas pertur- ba^des , e ps meics de remediar cftas perturbafoes j agora porem vanios ex- por as regras daquella parte mais pro- veitofa da Agricultura , pelas quaes faberemos fazer , que as plantas me- In ^rem com o vigor precifo , e livres K de enfermidades. He melhor precaver, L do que curar as dcenjas. Para iftq ■ pois lembremo-nos i.° que a humida-: ' ■ de. deAgricultura. 311 de , acido carbonaceo , e luz com ca- lor fao elTcnciacs para a vegetacao ( § VIII. , IX. , e XI ) : 2.° que o gaz inflammavel , e alguns faes concorretn efficazmenre para o mefmo fim ( § VIII. ,eXI. ): 3.° que eftes princi- pios entrao em certas funcjoes efl'en- ciaes a vida vegetal , e nellas foffrem varias alterajoes , e decompolijoes ( VIIL, eXI) (11): 4.° que as diffe- rences efpecies de vegetaes neceflltao de differences proporjoes deftes princi- pios : 5".° que a terra nao fervindo de nutrimcnto as plantas , i'crvs unicamen- te para as firmar , e deixalas abfor- ver pelas raizes os principios da ve- getejao , que em li concern , e por confequencia ferve como de matriz , donde as planras rccebem huma gran- dc parte do feu nutrimento. Ifto pof- to 5 he claro , que o verdadeiro fim do Agricuiror confiile i.° em prcparar os terrenos de maneira , que tenJiao os principios da vegetacao neceiVarios pa- ra o medramento das plantas , que nel- les fe houverem de plantar : ^.° pro- porcionar eftes principios a natureza das plantas. Eifaqui os dous princi- paes fundamentos da boa Agricultura, Dos ^TS M E M O R I A S " Dos nieios de preparar os terrenos de maneira , que tenhao os prin- cipios da vegeta^ao. § XXXIV. OS vcrdadeiros principios da vege- rajao , como vimos (§ XXXIII.) , fao agua , acido caibonaceo , luz com calor , e tambem gaz inflamir.avel , e alguns faes. Os terrenos conferva6 dif- ferentemente a humidade. Segundo a fua fituacao , e terra , de que ie com- poem. Em quanto a ritua5a6 , ou fad altos , ou baixos : eftes fa6 todos hu- midos y huns porem mais , do que ontros , conforme as fuas vertentes. Os altos fao pelo contrario feccos pC' la maior parte j mas illo depende do efcoante , que tem, § XXXV. Em quanto a terra de que fe corn- poem , fio ou [oh OS , cu barrentos : OS foltos ou fao areentos , ou humo" Jos , OS areetUos fe dividem em altos , e baixos \ aquelles perdem a humida- de com muita facilidade pelo calor, que confervad por muito tempo , e na5 DH AgRICULT UR A. 31:5 ra6 con tern nenhum outro principio da vegeta^ao ( § XXXIV ) , e por if- fo raras fao as plantas , que ne]]cs ine- dra6. Os areentos baixos podcin con- fer mais , ou menos humidane con- forme a lua fituajao , e poicjuc nao contem nenhum ourro principio da ve- getajao ( § XXXIV ) , nao he bom terrene para a cultura. Os humofos , que fao aquelles , que conftao dc ve- getaes podres , fe Jao altos perdem tambem faciJraente a fua humidade pe- lo calor, e fe aquecem demaziadamen- te ; raz6es porque nao fcrvem para a cultura, a pczar do acido carbonaceo , e gaz inflammavel , que conrem. ( § XXXIV ) . Se porem a lua liiuacao he baixa , e humida nao demaziada- mente , e expofta aos raios do lol , tornao-fe em fecundilFimos rerrenos , porque tern todos os principios da vegetajao , por quanto dos vegetaes , e animaes em podridao defenvolve-fe niuito acido carbonaceo, e gaz inflam- mavpl , que unidos com a humidade , e OS raios do fol fazem o terrene fe- cundo (§ XXXIV.). § XXXVI. A terra harrenta conlla de mui- ta 314 Memorias ta argilla : he mais , ou menos unlda , compad:a , e conferva mais, ou menos humidade conformc a quantidade de argilla , que contem : alem da humi- dade nao contem outro principio da vegeta^ao , fe nao algum fal , que mui"» tas vezes he indiiFerente para a cultu- ra , razao porque nem todas as plan- tas medrao nella. Se a terra barrenta for baixa , coniervara muita humidadc, c as plantas padeccrao ( § XXIX. ) . § XXXVII. Logo nenhum dos mencionados terrenes tem todos os principios da vegetaqao ( § XXXIV. ) ; porem cor- rigindo-fe huns com os outros , pode- rad fer cultivados todos os terrenos. Pelo que tanto o terreno areento , como barrento precifao fer eftrumados ou com terra huniofa , ou com ederco tan- to vegetal , como animal (12) , ou com cinzas , ou tambem com conchas moi" das , carbonato calcareo ( fpatho cai- careo , ere , ou greda ) , ou marne em p6(i3). Todas eftas materias dao a- cido carbonaceo aos vegetaes ; e por ilTo fervem para a vegetajao ( § XXXIV. ) * DE AgRICU LTUR A. 315: § XXXVIII. Se o terreno for areento , e hu- mido ( § XXXV. ) , foniente ha mifter fer ellrumado por alguns dos eftrumes refcridos ( § XXXVII.) . Se for areen- to , e fccco J precifa fer eftrumado por algum dos eihumes ( XXXVII. ) , e alem dido fer mixturado com terra barrcnta , para que tenha todos os prin- cipios da vegetajao ( § XXXIV. ) E quando fe ilie nao poffa miilurar ter- ra barrenta , deve-fe cultivar ou com piantas , que medrem com pouca hu- midade, ou com piantas, que produ- zao no inverno- § XXXIX. Se o tcrrcno for humofo , e hu-? mido ( § XXXV. ) fera muito fertil , fe nao peccar por viclo ; e nefte cafo fe remedeani por aJgum dos meios refcridos ( § XXX. ) . Se for humofo , e fccco ( § XXXV. ) , dcve-fc-lhe ir.if- turar muita terra barrenta ( § XXXVI.) ; ou cultivar-fe foniente no inverno , ou com piantas , que medrem com pou- ca Jiumidade. \l6 M E M O R I A S § xxxx. Se o tcrreno for barrento ( § XXXVI. ) , e fecco , deve fer eftruma- do nao com eftrume vegetal , nem ani- mal , que o fariao mais fecco , mas com conchas moidas , ou melhor com marne , ou carbonato calcareo ( ere , ou greda ) em p6 ; porque fa 6 mate- rias J que conferva© humidade ( §* XXXVII. ) . Se for iiumido , e muita unido he mifter fer mifturado com terra areenta , e algum dos eilrumes ( § XXXVII ) ; porem nefte cafo tern preferencia o efterco animal , e vege- tal. Eftes OS meios de preparar os terrenos de maneira que tenhao rodos OS principios da vegetacao (§ XXXIV.), quando a mefma provida natureza os nao tern preparado , poupando efte tra- balho ao Agricultor , e augmentando- Ihe a riqueza. x># DE AgRICULTUR A. 3I7 Do modo de proporctonar os princi- pi OS da 'vegeta^ao d natureza de cada planta. § XLI. ACabamos de ver ( § XXXIV. e XL, ) como fe devem preparar OS terrenos , para que tenhao todos os principios da vegcta^ao ; porem nao faalla i'6mente efta preparacao , para que todas as plantas medrem devida- mente \ he precifo laber de que prin- cipios deve tal , ou tal terreno abun- dar mais , para que efta , ou aquella planra nelle medre com o vigor pre- cilo. Efte he o fegundo potuo eilencial da Agricultura , por cuja ignorancia fao baldados muitos e muitos trabalhos do Agricultor incauro. Por quanto fen- do certo , que para a boa vegetajao he miftcr , que o terreno tenha todos OS principios da vegeta§:a6 acima re- feridos ( § XXXI V ) , he taobera cer- to J que cada efpccie de planta medra melhor nefte , ou aquclle terreno , que abunda mais defte , ou aquelle princi- pio \ por quanto a obi'ervacao moftra , que humas planras vcgetao mejhor no terreno humido ^ outras no lecco , ou- tras 5l8 M E Ni O R I A S tras no bafrento , outras no arecnto , e humido , e quafi rodas no humofo. Logo o Agricultor deve conhecer i,"* a naturcza do terreno ; fe he baixo , ou alro , humido J ou lecco , humofo, barrento , ou areento &c. , fegundo o que dicemos ( § XXXIV. ) : 2° quaes fao as plantas , que convem a efte , ou aquelle terreno ; o que fomente fe p6- de apprender da experiencia , e obfer- vajao de alguns annos : t^.'' fe o ter- reno nao convier a planta , que nelle fe quer plantar, coino fe deve prepa- rar , para que polTa fervir , o que en- finamos ( § XXXVII. ) : 4.° em que eftajao do anno fe deve plantar efce , ou aquelle vegetal \ fendo certo , que huns fe devem plantar no outono , ou- tros no inverno , outros na primavera , e outros por todo o anno , conforme a fua natureza , e a do terreno. A efte refpeito fomente a obfervajao , e expe- riencia de annos nos pode enfmar : 5'.° OS differentes fabricos , que fe devem fazer as plantas para melhor produzi- rem : 6.° as vantajens , que fe podem tirar dos terrenos : j.^ os trabalhos , que fe devem fazer nas plantas para mais produzirem. Defies fete pontos, dc que o Agricultor deve ter claro conhecimento , fallaremos fomente nos tres DE AqRICULTUR A. 3I9 tfes ultimos , por nao termos mais na* da que dizer a refpeito dos outros , alem do que efta di(fto. Dos dijferentes fabricos , que fe de- vem fazer as plant as para me- Ihor produz-irem, § XLII. SEndo diverfas as cartas de plantas , que le cultivao , tambem Icrao di- verfos OS fabricos , que fe Ihes devem fazer para que produzam bem. Como porem excederiamos niuito aos limi- tes , a que nos propomos , fe tfatafTe- mos dos fabricos , que particularmente fe devem fazer a cada cafta de planta , por ifTo daremos fomente as regras ge- racs , que he o objedlo defta obra. Obfervando pois o que diceraos ( § XLI. i.° 64.°), eis-aqui as regras. Regra t.* Nao fe deve plantar ou feja de femente , on de ejiaca , ou de outro qualquer modo ( § XV , XVI , e XVIII. ) fenao em terra lavrada. miudamente , ou com arado , ou com. enchada conforme a commodidade ; e limpa de outros vegetaes. i.° porque as raizes , por onde a planta reccbe a ma- I 320 Memorias a maior parte do feu nutrimento (^ Vlll. ) , e por onde Te firma na ter- ra , crefce nefta , e por ella fe entra- nha defembarajadamente i e a planta nefte calb recebe mais nutrimento , e mais le firaia na terra , o que nao fuc- cede na terra , que nao he lavfada , a qual refifte ao crefcimento das rai- zes , prende a humidade , que por iflb alem de nao fer tao facilmente ablbr- vida pelas u^aizes , nao vai ta6 car- regada dos outros principios da ve-" getucao &c. : 2.° porque iendo a terra limpa dos outros vegetaes , os princi- pios da vegetayao contidos no terre- no empregao-fe unicamente na iiutri- trifao do vegetal plantado. Regra 2.=> Os vegetaes devem-fe plantar mais , ou menos profundamen- te , con forme a firmeza , que devem ter na terra , e a natureza do ter^ reno. A raza6 he clara porque i.° o tiigo , o milho , o meloeiro &c. nao fe deve plantar na mefma profundu- ra , que a pereira , larangeira 6cc. : 2." jfe a cainada de terra mais profunda for a que convem a planta , he cla- ro , que fe deve cavar ate efta cama- da , e peio contrario. ' Regra 1^,^ As fementes , e em ge-. ral tudo , 0 ^ue fe plantar , feja o-* V, mais D E AgRICULT UK A. JJI utiais' hem medrado , e da milhor qua- lidade. A razao he clara. Rcgra 4.^ Todas as plantas devent ejlar limpns de outras plantas ao pe de fi , quando ejlas pddem confumir OS principios da vegeta^ao das plan- tas cultivadas , 0 que fe deve fazer no tempo proximo , aquelle em que ejlas brotao , para que arrebentem , e produzao com vigor. Ilegra 5'.^ As plantas menfaes , bi- menfaes ^c, ate annuaes devem-fe con- fe'rvar Ibnpas dcfde a fua plant a^ao ate a ' efjlorefcencia , peja mefma ra- zao da regra 4.-'* Regra 6.^ As arvores podem efcu- zar ejle fahrico , exceptuando 0 tem- po proximo aquelle , em que arre- bentao ; pela raefma razao da regra 4.' Regra /.a As plantas dtvem fer cavadas a roda de ft todos os annos antes de arrebentarem , e entao po- • dem-fe alimpar ao mefmo tempo ; por duas razoes: i.* por quanto defte mo- do fica a terra mais iolta , he raais bem penetrada das aguas , que levao comfigo OS principios da vegetaf ao , <]ue encontrao na athmosfera , e na mefma terra : 2.^ as raizes eilendem-fe com mais liberdade , e abforvem por iflb maiof eopia da huiuidade referi- Tom, JjT. X da ^ 322 Memorias da ; que he elTencial para a vegetacao ( § XXXIV. ) . Regra S."* Devem fer ( fe fer pof- five I ) regadas , quando a terra ejli' ver fecca , para que Ihes nao fake a humidade ( § XXXIV. ) . Das uantajens , que fe pddem tirar dos terrcnos. § XLIII. COino he certo , que huns vege- taes abforvem mais de huns prin- cipios da vegetacao , do que outros ( § XLI. ) ; he evidente , que fe qui- zermos fempre cultivar huma fo cafta de planta em hum mefmo terreno , efle vira a ficar fako daquelle prin- cipio , que a planta mais abforve , fe Iho nao dermos todos os annos por al- gum dos meios referidos ( § XXXVII.) : porem fe no mefmo terreno plantar- mos outra efpecie de planta, que ab- forva menos daquelle principio , que a planta antecedente abforvia, efcuza- remos o trabalho de preparar o dito terreno todos os annos. hogo o ha- vjrador intelligente deve no mefmo ter- reno variar de cajla de plantas huns annos por outros , Je ijio Ihefor mais pro- DE ACRICULTURA* 325 proveitofo , do que preparar de notJo 0 terreno , qtiajl todos os annos , pa- ra que nelle pojfa jempre culttvar a mejma cajla de plant a. § XLIV. Sendo tambem certo , que os ve-» gctaes nao profundao igualir.ente a ten a com as fuas raizes; he claroi.° qne a terra , que ficar per baixo do alcance das raizes, confervara intadla OS feus principles da vegetajao : 2*** que a que ticar por fima do alcance das raizes , coni'ervara ainda muita quantidade dos feus principios da ve- getajao. Logo o Agricultor ( fe Ihe nao for mais util preparar o terreno quafi todos os annos ) deve plantar fio mefnio terreno huns annos por ou- tros plant as , que prof undent ora me" nos , ora mais as fuas raizes , e defie modo poderd pajfar ate tres an- nos fern preparar a terra. Por eila mefma razao fe p6dem plantar ao pe , e mefmo debaixo das arvores ( quando he po/Tivel ) vegetaes , cujas raizes fe- jao fuperficiaes , como centeio , millio , feijoes^ tremojos &c. X a Dof 9^4 M E M O R I A S Dos trahalbos , que fe devem fazer nas plantas para melhor produzirem. § XLV. COmo as plantas fe defenvolvem, quando a feva he mais abun- dante , e circula com mais velocida- de ( § IX. e X. ) , e como as folhas flores , frudlos &c. pendem do defen- volvimento da planta ( § IX. , e X. ) ; e alem difto no defenvolvimento hu- ma grande parte da feva le emprega unicamente no augmento das dimen- foes da pJanta , e muito principalmen- te no comprimenlo , e a outra parte fe emprega no folham.ento e fru(ftifi- cacao ( § X. ) ; he manifefto , que fe iizermos , que huma parte da feva , que fe emprega no augmento das di- menfoes , ie confuma na frudlificajao , teremos muitos mais frudos , ou ao menos miais bem vingados. Ora ifto he o que fe confegue pelas feguintes regras. Regra i.=* Os ramos das plantas deueni fer iguahnente medrados. Ifto fe faz ou cortando os muito vifofos, ou OS muito pouco vingados. Os mui-, to DE AoRICULTUaA. 925" to vifofos indicao grande quantidade de fucco , plethora , dilatajao demazia- da dos vafos &:c. : daqui fe fegue hu- ma de duas , ou a eflerilidade ( § XXIX. ) ; ou a fertilidade unicamente neftes rainos vijofos , quando o viciq nao he deraaziado , e a efterilidade nos outros por menos vingados. Eftes nao produzindo confomem com tudo na fua nutrijao huma grande parte da feva , que podia ajudar a melhor fecundajao dos outros. Logo fazendo-fe , o que a regra prefcreve , todos os ramos me- dra6 igualinente e produzirao com. igualdade. Regra 2.'^ As plant as , que tilaf- trao , e crefcem muito , de'vem per ca~ padas ( fe forem de durajao de mez ate anno*, taes como pipineiros , me- loeiros , &c. ) , ou podadas ( fe foreni de mais durajao , como a videira &c. ). Regra 3.^ Devem-fe aparar as pon- tas dos ramos das arvores muito vi- ^ofas , para que filhem mats : por- que delle modo o fucco fe diftribue por mais partes \ e por confequencia a planta da mais frudos , e nao c.ihe no vicio referido ( § XXII. ) . Regra 4.^ Felo contrario fe a ar- "oore for pouco uingada , devemfe-lbe cortar bcm junto ao tronco os ramos me- ¥ 326 Memobias Vienos medrados , e deixar-lhe fomen- te hum , dous , - tres ate quatro , ou mais dos mats bem medrados confor- me a for^a da plant a. A razao he porque os ramos affim cortados ou na6 iiihao , ou filhao pouco ; e o fucco , que fe deveria confumir na fua nutri- cao , emprega-re todo na nutricao dos ramos deixados , e por conrequenci;^ eltes produzirao abundantemeiite, § XL VI. Eis o que me lembra dizer fobre a Agrjcultura em geral , cujos princi- pios , e preceitos fora6 ategora expof^ tos vagamenre pelos Agricukores , que nao cuidara6 tanto na fua coUecfao , e generalizagao , como na cuhura par- ticular de cada plf.ita. Em huma pa- lavra a fua Agrkuitura era toda ana^ Jytica. Porem como o mcthodo fynthe- tico he nielhor , do que o anajytico para enfinar ; poi iffo o noflb cuidado foi em colligir os principios , e pre* ceitos elTenciaes , e geraes da Agricul^ tura , unilos , e expolos conforme a melhor ordem , que nos parcceo : ra- zao porque tudo, quanto at^qui temos dido 5 he expcilo por hum merhodo , e ordem inteirameute nova. Dos print ci- DE AgKICU LTURA. 327 cipios geraes , que temos referido , fe podem tirar com facilidade as regras lolidas para a cultura de cada planra em particular; mas aqui fallaremos fo- mente da cultura da vinha para con- feguirmos a relolujao da Problema , a que nos propomos. PARTE II. CuUura das vinhas , e fuas enfer- midades. § XLVII. AAntiguidade da vidcira ( plan- ta natural da Afia , e trazida pa- ra Europa pelos Phenicios ) he bem notoria pela mythologia de Bacho , pela ellatua de Jupiter em Populonia , feita de huma cepa , pelas columnas, que foftinhao o templo de Juno em Metaponto , fabricadas de ramas de videira , e outros muitos monumentos antigos referidos na fua hiftoria , que fe acha muito bem refumida per Bo- viare no feu Diccionario de Hiftoria Natural. A videira he huma planta pertencerite a ClafTe Pentandria , or- dem Monogynia , Genero Fit is dc Lin- 3"^^ M E M O R I A S Linneo : petal a apice coh^rentia , e- marcidd , hacca quincpie-fperma , fu- pera. Efpecic Vitis "vinifera : foliis lobatis , finuatis , nudis. A fua raiz Jie comprida , pouco profunda , Jigno- fa , e vivaz , della nalcem hum , ou iTiais arbuftos capazes de fubir a gran- de altura , cujo tronco he ma! ligu- rado , torto , lignofo , folido , como iiodolb , de groffura defigual , e cober- To de hum.a cafca efciira, ou averme- Ihada , e chea de fendas. Lanja mui- tos farmcntos , ou ramos armados de cirrhos multifidos , que nafcem nos ]k5s oppoftamente ds folhas , com os quaes fe apegao as arvores vizinhas. Folhas grandes , verdes , Jargas 3— f lobadas , 0^ — 5* angulares , ferradas , ou c]uaii inteiras , conforme as difierentes variedades. As flores nafcem nas axil- jas das folhas , e fao em racemo com- pofto ) e nu , pequenas , de 5 petalos difpoftos em forma redonda , cor ama- rellada : 5 eftames com antheras fim- pliccs , e hum piftillo tambem fimples. Calls per'tancio. Pericarpio bacca , re- donda , ou oval, verde , e agro quan- do he verde, e branco-efverdenhada , avermelhada , ou.negra , quando madu- la , c ciiea dc hum fwcco mais , ou menos doce , e agradavcl. Efta bacca cha- DE AgRICULTURA. 329 chama-fe vujgarmenro Lago de uvai Floreibe no eftio , e as uvas amadu- recem defde o principio ate o fim do outono. § XLVIII. N6s faremos tres divifoes de vi- deiras fegundo a cor da uva , que pro- diizem J brancas ^ fret as ^ e avermeJha- das. Entre cada huma deltas divifoes principalmcnre nas brancas ha por affim dizer variedades infinitas , para o que concorre o clima , terreno , e o modo de as cultivar , e mais que tudo a enxertia ; por quanto he evidente , que a videira preta enxertada na branca deve ter fua variaqao , e pelo conrra- rio ( § XVII. ) : e como quafi todas as variedades de videiras tern difFeren- tes nomes nas difFerentes povoaj oes ; por ifTo numeralas todas com os feus nomes triviaes, nao fomente he huma coufa impoffivel , mas tambem inutil, porque fe nefte lugar me entendeflem , naquelie me nao entenderiao : e quan- do pretendeffe dar a cada huma varie- dadc OS feus diverfos nomes nas Pro- vincias , nas Comarcas , nas Villas , e nos Lugares ( por quanto as vezes em todas eftas paries tern diffcrente nome ) nao 330 Memorias nao fdmente nos feria precifo viajar todos OS lugares de Portugal., mas ram- bem occuparia hum volume fomente com OS diverfos nomes de videiras. Efla a razao porque tomamos hum ex- pediente , que desfazendo eftas difti- caldades , nos enfina a conhecer a me- Ihor uva para dar o melhor vinho : confifte em defcrever fomente as prin- cipaes variedades com os feus nomes triviaes nas diverfas Provincias ; e di- zer em geral quaes fejao as qualida- des da boa uva para dar o melhor vi- nho ( feja qual for o feu nome ) ; por- que illo he , o que intereifa ao vinha- teiro. Principiemos pelas videiras , que dao uvas brancas. § XLIX. Divifho I.* Videiras brancas. Va- riedades. 1.=' Mofcatel branco ( nome geral ). Folhas 5" •— Jobadas , ferradas , lizas com o pezinho da cor da vara, ou branco. Caixo de grandeza ate hum palmo •, ba- go unido , redondo , branco tirando a cor de azeite , pellicula alguma coufa groffa , carnudo , fuccofo , cheiro , e fa- bor particular , e docc. Come-fe , paffa- fe, e faz-fe della optimo vinho. O feu ter- deAgricultuba. ^31 terreno deve fer nem muito humido, nem muito fecco ( § LIV. , e LXX. , 2.» Mofcatel de Jefus ( noir.e ge- ral ) . Follias 5"— lobadas , ferradas , quifi lizas com 6 peziuho encarnado. Caixo comprido are dous palmos ; bago grande , ovado , raro , de cor alambrea- da , pellicula carniida , nao muito fuc- cofo , faborofo , doce , e com feu cliei- ro- Tem o mefmo ufo , que a antecc- dentc. Teireno nem muito humido , nem muito fecco ( § LIV, e LXX. 5.^ ). :5.» Malvazia ( nome geral ) . Fo- Ihas 5" ►—lobadas , ferradas , com algu- ma lanugem na pagina inferior , pe- zinho mais esbranqui^ado , que a vara. Caixo grande ate hum pahno , bago do ramanho da azeirona ordinaria , raro, aloirado, pellicula alguma coufa carnuda , fuccofo , doce , e cheirofo. Come-fe , pafla-fe , e da bello vinho , meihormente mixiurando-fe com par- re igual de mofcatel. Efla uva fegun- do a analyfe , que fiz , muito pouco , ou nada fc differenja dos que na Bei- ra , e Eilremadura chamao D. Bran- ca , Alvaro de Soire , ou i:oal cachu- do ; e como efta videira nenhum an- no da caixos bem cheios , e n'outro esfarrapados y por illb nenhum anno cha- 332- Memorias chama6-l!ie Alvaro de So ire , ou voal cachudo , n'outro Alvaro de Soire , ou 'uoal esfarrapado. Quanto duraras hor- rivel ignorancia ! Terreno nem muito fecco , nem muito humido ( XLIV. , c LXX. 5.0 . 4.* Fernam Pires ( norae da Bei- ra , e Doiro , e Camarate da Extre- madura ) . Folhas 5" n-lobadas , finua- das , com alguma lanugem na pagina inferior , e pezinhos arermelhados Caixo ate meio palmo ; bago muito unido , reJondo, branco-aloiiado , pel- licula delgada , e alguma couza car- nuda , fuccofo , e doce , com algum cheiro. Come-fe , e da bom vinho. Terreno nem muito fecco , nem mui- to humido ( § LXX. 5.=* ) . 5'.a Val de arinto. ( nome da Bei- ra , e Extremadura ) . Folhas 5"— ,lo- badas , ferradas , com alguma lanugem na pagina inferior ; pezinhos da cor da vara , que he caftanho claro. Cai- xo de grandeza at^ palmo : bago uni- do , ovado , c6r de azeite , pellicula carnuda , e rija , fuccofo , doce , com feu cheiro. Come-fe , e da bom vi- nho. Terreno pouco mais fecco , do que humido , alguma couza areento (§ LXX. 3.0. ^. ^ d^ Formofa ( na Beira , e Dtagah ves DE AgRICULTURA. 333 Tf J na Extrcmadura ) . Folhas 5" _lo- badas , ferradas ; pezinhos avermelha- dos. Caixo pequeno ; bago redondo , Hiuito uniflo, cor alambreada , pellicu- la fina , e alguma couza carnuda ; luc- colb , doce , e icu cheiro. Come-fe , e da bom vinho. Terreno commum (§UV. , e LXX. 5-.a). 7." Ferola ( da Beira ) . Folhas 5:- lobadas , defigualiriente ferradas , vil- lolas na pagina inferior , pezinhos en- carnados. Elos , ou nos muito baf- tos. Caixo comprido ate hum palmo , bago raro , muito redondo , cor bran- co-alambreada , pellicula fina , e algu- ma couza carnuda ; fuccofo , doce , com feu cheiro. Tern as fementes mui- to pequenas. Come-fe , e da bom vi- nho. Terreno commum ( § LIV. , e LXX. 5.0- 8.» Diagahes ( da Beira ) . Folhas 5— lobadas , mal ferradas , ou melhor , linuadas , com os pezinhos avermelha- dos. Somente fe differen^a da varie- dade 6.^ pclo feguinte. Caixo compri- do ate palmo , m.uito groflb , bago unido , grande , ovado j aloirado , pel- licula fina com alguma carne , fucco- fo , e doce , com algum travo. Co- me-fe, pafTa-fe, e da vinho. Terreno commum ( § LIV. , e LXX. 5.* ) . 9-* 334 M E M O R I A s 9.* Rabo de Ovelha ( nome da Bei^ ra , Doiro , e Extrcinadura ) . Tron- co groflo* Follias 5'—, lobadas , ferra* das corn alguma lanugem na pagina inferior, e com os pezinhos brancos. Caixo grande at6 dous palmos ^ bago unido , redondo , alambreado , pellicu- la carnofa j pouco fiiccofo , e doce , com algum travo. Come-fe , pafla-fe , e da vinho , nao do mellior. Terre- no ma Is humido , do que fecco ( § LXX.2.0._ 10.* Arinto ( nome da Beira , Doi- ro , e Extremadura ) . Varas averme-^ liiadas : folhas ^^ lobadas , ferradas , muito villofas na pagina inferior , pe- zinhos avermelhados. Caixo ate pal- mo de gtandeza , muito groffo j bago miudo , e muito unido , oval , bran- co-elverdenhado , pellicula grolTa , ri- ja , carnada , pouco fuccofo , doce , com baftante travo. Deve ter pouca ufo , principalmente para vinho. Ter- reno mais humido , que fecco , e al- guma coufa humofo ( § LXX. 4.* ) . 1 1.3 Colhao de gallo\Ao Doiro,. e Beira, e Dona branca da Extrema- dura ) . Folhas 5— lobadas , mal fer- radas , ou finuadas , com alguma lanu- gem na pagina inferior , e pezinhos de c6r de caftanbo-claro-esbranquija- do. DE AgRICULTURA. 395^ do. Cairo comprido ate palmo , ef- galhado ; bago raro , ovado , e gran- de , cor alambreada , pellicula groila , carnuda , com pouco fucco , c doce. Serve principalmente para comer. Ter- reno mais numido , que fecco , e al- guma coufa humofo ( LXX. 4.^ ) . 12." Mourifca ( nome da Beira , c Extremadura ) . Varas de cor de caftanha. Folhas 5'— .lobadas, ferradas, com o lobo do meio muito grande : villofas na pagina inferior , e pezi- nlios da cor da vara. Caixo are pal- mo , e groflb : bago muito unido , grande do tamanho de avelam , cor a- lambreada , pellicula muito grofla , c carnuda \ pouco fucco , doce com baf- tante travo. Eftalla ao comer , e fo- mente deve fervir para dependu ar , e guardar para o inverno. Terreno o mefmo que o da antecedente. 13.' De^os de clam a (nome geral). Folhas ^^ lobadas , ferradas , com pe- 2;inhos avermelhados. Caixo grande , efgalhadoj bagos grandes, compridos, da figura de dedos , foltos , e claro-a- \ lambreados : pellicula grofla , carnuda , pouco fucco ) fabor proprip , doce com aigum travo. Serve para comer. Ter- reno o mefmo que o da antecedente, I4.» Jljrochciro ( nome da Beira, Doi- 336 M E M O R I A S Doiro , e Eftremadura ) . Folhas 5'-!o- badas , mal ferradas, 011 finuadas, com; OS pezinhos brancos. Caixo ate pal- mo de tamanho ; bago unido , ovado , pellicula carnuda , fuccofo , doce com algum rravo , cor branco-alambreada. Apodrecem antes dc bem maduras j razao porque nao deve ter ufo. Ter- leno alguma couza mais para fecco , do que para humido , e alguma cou- za areento (§ LXX. 3.^) . 15".^ Tamer as brancas ( i^ome ge- ral ) . Varas de cor de caftanha \ tb- Ihas 5:—. lobadas , mal cerradas , ou fi- nuadas , com alguma lanugcm na pa- giria inferior , e pezinhos da cor da vara. Caixo ate palmo , e meio ; ba- go raro , quafi redondo , cor branco- aloirada , pellicula groffa , rija , carnu- da , pouco fucco , fabor proprio , e pouco doce. Serve para comer. Ter- reno alguma couza humofo , e mais humido , que feco ( § LXX. 4.* ) . 1 6.* Ferral branco ( nome geral ) . Folhas 5'— .lobadas, finuadas, lizas n^ pagina fuperior , e quafi lizas na in- ferior , com OS pezinhos brancos , ou com huma leve miftura da cor da va- ra. Elos compridos ordinariamente. Caixo grande at^ dous palmos , qua- il de figura conica , acabando em agu* do ; DE AgrICULTURA. ^37 do : bago de figura ellyptica , c6r de azeite , ou elVerdenliada , pellicula del- gada , coriacea , e alguma couza car- mida : muico fuccofo , fabor particular, e pouco doce. Come-fe , e nao da o melhor vinho. Em Arazede lugar da Beira ha huma larada de hum i'6 pe defta videira , que tern dado por varias vezes vinte almudes de vinho de hu- ma [6 vindima , e daria mais fe o feii dono rivefle por onde o podefle eflen- der mais. Terreno mais fecco , do que humido (§ LXX. i-O . Alem deftas variedades ha ourras muitas como a Alicante , Abefo , Ba^ tn^o , Barrete de ckr'igo &c. que nao defcrevo ; porque nefta occafiao nao as pude ver , e porque nao me quero fiar fenao na delcripcao das que vi , e examinei na mefma vinha por na6 haver engano. § L. .Divifa6 i.^ Videiras pretas. Va- riedades. i.^ Mar Ota ( da Beira , Bom-vedro da Extremadura ). Folhas 5:— lobada?, Jfinuadas , ou mal ferradas , villolas principalmente na pagina inferior , com OS pezinhos encarnados. Caixo Tom. IL Y me- ^38 M E M O R I A S menos de palmo ^ bago unido , redoii- do 5 grandeza ordinaria , muito negro , pellicula rija , carnofa j iuccoib , mui- to doce. Da optimo vinho , e parece- fe muito com o Alvarilhao do Doiro. Terreno commum ( § LXX. 5'.* ) . 2.* Baftardo ( nome geral ). Fo- Ihas 5— lobadas , fenadc.s , com algu- jna lanugem na pagina inferior , e pe- zinhos avermelhados \ cflas folhas fe vao enchendo de mais , ou menos man- chas avermclhadas , quando ci-iVelhe- cem. Caixo pequeno , bago unido , ovado , preto , pellicula delgada , e carnuda ; fuccofo , doce , e muito gof- tofo. Come-fe , e da optimo vinho. Terreno commum ( § LXX. ^.^ ) . 3.^ Baftardo de outeiro ( da Beira , Trincadeira da Extremadura ). Folhas 5—' lobadas , mal ferradas , quad lizas , com OS pezinhos da cor da vara. Caixo grande , muito baftp i bago unido , ovado , e negro , pellicula grolTa , carnuda , nao muito fucco , doce , coca algum travo. Da vinho , e come-fo. Terreno commum, ou mais humido, que fecco ( § LXX. 5.^ e 2.^1 ) . 4.^ Mortagoa ( da Beira , Ramifco dfi Extremadura ). Vara .acaftanhada. Folhas 5— lobadas, finuadas , ou mal ibnadas com alguma lanugcin na pa- D fc AgrICULT ORA, :J39 gina inferior , e pezinhos da c6r da vara : elos , ou nos miiito baftos. Cai- xo pequdno \ bago pouco unido , ne- gro , quail redondo , pellicula iina , pouco carnuda ; fucco baftaiite , e doce* Arrebenrao muitos filhos da raiz , que he precilb cortar todos os annos com inuita attengao ^ do contrario o tronco principal nfraca , e perde-ie a cepa. Come-fe , e da bom vinho. Terreno mais fecco , do que liumido ( § LXX. 5'.^ Ti'fJta Sdhreirinha , ou tfiol/t* ( da Beira , Sabra molle da Extrema- dura ). Folhas 5:— lobadas, ferradas com alguma lanugem na pagina infe- rior, e pezinhos hrancos. Caixo menos do paliPO ; bago unido , quali redon- do , muito negro, pellicula Iina , mui" to pouco carnuda , muito fucco , e do-^ ce. Da hum vinho fraco. Terreno o mefmo , que o da antecedents Alcm deilas ha cutras , que na6 delcrevo por nao as poder ver. § LI. Divifao 3.^ J^ideiras rermelhas. Variedades. * 1.=* Mofcatelrocbo, (nomegeral) fiaCj fe difFerenca do molcatel branco ^ Yii (§ 340 Memorias ( § XLIX. i.^ ) , fenao iia cor. Come- fe , e da optimo vinho. 2, a Ferraes rochos ( nome geral ). Folhas 5'—^ lobadas , ferradas , lizas , com OS pezinhos da cor da vara : e- los compridos. Caixo ate dous palmosj bago nao muito unido , quafi rcdon- do , rochc-efcuro , pellicula alguma coufa grolTa , carnuda , pouco fucco , fabor proprio , e pouco doce. Serve para comer no inverno por amadurecer tarde , e poder-fe confervar. Terrene algurna coufa humofo , e nao mais hu- mido , que fecco ( § LXX. 4.3 ) . 3.^ Tameras vermelhas ( nome ge- ral ). Varas groITas cor de caftanha. Folhas cordiformes 5'—* lobadas, ferra- das , lizas , com os pezinhos da cor da vara , ou brancos. Caixo ate palmo, e meio ; bago unido, bem ovado, cor rocho-avermelhada , pellicula delgada , porem muito carnuda , pouco fucco , fabor proprio , pouco doce. Serve pa- ra comer , e eftalla na bocca. Terreno humofo , ou eftrumado , e nao mais humido , que fecco ( § LXX. 4.=^ ) . 4." Tameras rochas ( nome geral , porem na Beira tambem fe chama6 Jdcaes). Folhas 5'—' lobadas , ferradas , lizas , com os pezinhos brancos. Caixo ate dous palmos , e meio j bago oval , pou- DE AgRICULTURA. ^^I pouco unido , rocho-efcuro , pellicula groffa , muito carnuda , pouco fucco , e doce. Come-fe , e eftalla na bocca. O mefmo terreno , que o da antece- dente. § LII. Eis a defcripjao das mais nota- veis variedades de videiras , que a6lual- mente pude ver , e defcrever : outras ha cuja defcripjao pudera pedir ; po- rcm fempre efcrupulofo em nao arredar do caminho da verdade , deixci de o fazer com o receio de que m'as nao defcreveirem com aquella exadlidao de- vida. Ellas vao carafterizadas com os nomes , que mais geralmente tem nas difFerentes Provincias. Pela defcripgao de cada liuma , pelo ufo , que Ihe aflignamos , e pelas qualidades da boa uva para dar o melhor vinho , que adiante referiremos ( § XCIII. ) , fe podera facllmente conhecer efta •, ou aquella videira pelo que toca ao ufo , que deve ter , e a qualidade de vinho, que podera dar, feja qual for o feu nome particular. Agora paflamos a tra- tar da fua cultura. C//- :^2 M E M O R I A S Clima , Expofi^ao ao Sol , e Tcrrcm conveniente as Videiras, % LIII. J A viiTios ( § XI. ) , que a Juz com calor era eflencial para a vegetagao das plantas , promovendo a circula^ao dos ieus fuccos &c. ; que o crefcimen- to das plantas ( § X. ) pendia da co- pia dc leva , e da fua circulacao aug- mentada. Ifto pofto he claro , que fen- do a videira das plantas , que mais crcrccm desde a primavera ate o fim do outono , exigira Jium clima , aondc , Jiavendo abundancia de feva , poiTa clla circular bem livrementej e como o calor favorece efta circulacao , he claro , que o feu melhor clima fera , o que for mais chegado ao Equador , e que nao feja demaziadamente quen- le , porque entao cahiria nos vicios rofcridos ( § XXIII. e XXV. ). Com cfFeito a experiencia tern moflrado , que as videiras produzem melhor , e dad melhores vinhos na latitude de 30 ate 56 grdos. Em taes circumftancias eftao as videiras de Portugal , Hefpa- nha , Franqa , Italia , Hungria , parte da Akmsnha . e ^ Ilha da Madeira ^ e par- DE Agricultura. ^4j e parte das Canarias. O frio oppon- do-fe a circulacao da feva , he muito nocivo as videiras , e as raata. Ifto he conforme aexperincia, por quanto tem-fe obfervado ha tempos immemo- raveis : i.° que as videiras nao medrao nos cliuias chegados ao Norte : 2.** que a fua expofit^ao *ao Nafcente , e ao Meio dia he a mais vantajofa , por- que logo de manham Ihe da o Sol : 7° que devem fer lavadas antes pelo vento Norte , que pelo Nord-ouefl. § UV. A Expericncia tern mcllrado , que as videiras em terreno fecco dao boa uva , porcm medrao pouco , e produ- zem niuito pouco : e em terreno hu- mido medrao bem , e produzem mui- ,ta uva, porem agoada , dilTaborofa, e ma. O terreno alguma couza inagro , e leve , nem muito humido , nem mui- to fecco , em huma palavra , o ter- reno mifto de barrento , e areento he o melhor para as videiras ; tal he o faibrofo , ou pedreguento ; por quan- to ellas querem hum terreno , que nao feja humido , mas que conferve algu- ma humidade. Efta a razao porque , a pezar de Ihes fer propria o terre- ne , 344 Memorias no V nao fe devein plantar em collinas muito elevadas , quando forem feccns, uem em lugares baixos , fendo humi- dos. A fua melhor planta^po he, Un- do o terreno proprio , em coliinas piu- co elevadas , achatadas ou arredcnda- das em fima ; porque l"a6 feridas peio fol todo o dia , e nao fao rem miii- to feccas , nem muito humicias. Da Efcolha das plant as , dos d/ffe" rentes modos de plantar , e qiial 0 tempo , em que fe deveni plantar as z'ideiras, § LV. Uando quizermos cultivar Iiuma videira , que de uv^as , e vmho inteiramente lemelhante ao que da em outro lygar , devemos efcolher as planias de hum igual terreno, que- ro dizer , de hum mefmo clima , da mefma expofijao ao fol , e da mef- ma qualidade de terra , que aquella , em que fe quer plantar , porque de outra lorte a uva , e o vinho fernpre terao alguma difFerenja. Poreni quando fomente interelTa ter boa uva , e bom vinho J deve-ie efcolher huina boa caf-" ta de viddraa e tirar delia plantas vi^ go- DE AgRICULTUBA. 345: jorofas J a videira deve fer nova , que tenha ao mais 8 annos. Efta regra devt-fe rigorofamente guardar em to- da a plantacao de videiras , e a ra- 2.16 he clara. Ellas fe planta6 de va- ries modos : i.° de eftaca : 2." de en- xerto : 3.° de raiz : 4.° de vara : 5.° de mergulhao : 6.'' de femente. § LVI. Corta-fe de huma , e outra parte huma vara forte , e de boa cafta de vi- deira , que tenha ate 8 annos : efta va- ra deve fer compofta de huma parte , que tenha dous annos, e outra, que tenha hum anno fomente de idade. Enterra-fe a parte mais velha ( cur- vando-fe no unhamento , ou ponta ) mais , ou menos profui:damente con- forme, a qualidade do terreno , como adianre veremos ( § LX ) . Ifto he o que fe diz plantar de ejlaca , ou de hacello. § LVII. Quando fe plantao de enxerto , enxertao-fe ordinariamente de garfo : na efcolha da planta , e da cepa deve- fe attender ao que dicemos ( § LV , e XVII. ) . De raiz plantao-fe de dous mo- 34<^ Memorias modos ; ou arrancando-fe da videira velha hum fillio vigorofo , ja com raiz , e plantando-fe na outra parte ^ on fa- zendo paffar huma' boa vara arravez de huma panella, ou corti^o dieio de terra ( langando-fe-lhe agua de quan- do em quando ) , e depois de criar raizes , cortar-fe da parte do tronco , e cnterrar-fe j a ifto charaao plantar de corti^o, § LVIII. Plantar de "vara nao lie difteren- te do plantar de eftaca , fenao em fe cortar a vara foinente da parte do tron- co , e podar-fe fomente depois de paf- fados hum oudousannos. Plantar de ynergulhao lie enterrar huma vara vigo- rola fcm fer cortada da parte do tron- co , e cortar a ponta , deixando fora da terra 2 ate 3 elos fomente : paf- iados porem dous ate 3 annos , corta- fe a vara da parte do tronco. Flan- tar de femente he bem. fabido , como fe deve fazer : porem a experiencia tern raoftrado , que as videiras de fe- mente nao medrao tan to , como as outras ; e dao uvas mais azedas. deAqricultura. 347 § LIX. O tempo da plantayao das videi- deiras lie differente nos difFerentes lu- gares : huns plantao no outono , e ou- tros na priinavera , e qiiando podao no outono , guardao os baceJlos para OS plantaicm na primavera (14). Ifto nao he inl'ignificante , como alguns pen- fao \ a praclica de cortar os bacellos no outono para plantalos na primave- ra he muito ma ; porque fendo certo , que a feva no outono ainda circula , he evidcnte , que cortando-fe o bacel- Jo , e enterrando-fe , a fua circulacao deve neceffariamente padecer, e o ba^ cello nao fe podera nutrir , em quan- ro fe nao tiver acaraado na terra , e lanjado raizes ; ora lendo efte bacel- lo arrancado , e cnterrado fegunda vez na primavera , a fua nutrifao , e cir- culacao deve legunda vez padecer, cm quanto fe na6 tiver acoftumado , aca- camado , e langado novas raizes , ou acoftumando as que ja tinha na nova terra , em que foi mettido : ora he bem, manifeflo , que depois de duas alter- nativas tao contrarias a vegetagao, os bacellos nao medrarao com tanto vi- gor , como fe foffem cortados , e lo" go 348 M E M O R I A S go plantados para velho. Efta a razao porque digo , que o tempo da plan- ta^ao deve ler regulado pelo tempo da poda , tempo em que coftumao cor- tar OS bacellos ; por iflb fe a poda fe fizer no outono , deverti-fe plantar OS bacellos no outono ; fe na primave- ra , nefte mefmo tempp fe plantarao. Com tudo plantar no outono he me- Ihor ; porque os bacellos do outono ate a primavera fe acoilumao com a terra, tem ja lanqado raizes, e na pri- mavera defenvolvera-fe com vigor , e fern interrupjao na fua circula9a6, o que nao fuccedera , fendo plantados na primavera. Mas o enxerto de gar- fo nao fe deve fazer , fenao na prima- vera' , porque efta obra deve fer feita , quando a leva principia a circular ca- da vez mais ( § XVIII. ) . I)os differentes modos de cuUivar as v/deiras , e qual 0 melhor para dar bom vinho. § LX. DE tres modos fe cultivad as vi- deiras de embarrado , latada , e 'vinha. O primeiro confifte em plan- tar vides ao pe de arvores grandes , fo- deAgricultura. 349 fobre que fobem, e dao uvas todos OS annos , ou fern ferem podadas , ou fendo podadas fomente de 3 em 3 , oude 4 em 4 annos. Come porem eftas uvas em razao de ferem forabrias , e por iflb pouco feridas do fol , fao pou- co doces , agoadas , e incapazes de dar bom vinho, nao infiftiremos fobre efte modo de as cultivar , que he o peior de todos. As vide ir as de lata- das nao fe difFeren^ao das preceden- tes , fenao em ierem podadas todos os annos , e em nao fe eltenderera fobre as arvores , mas fim fobre tecidos de cannas , e paos , a que dao differentes figuras ja formando hum piano hori- zontal , ja vertical , e ja abobedado , a que chamao latada de arcos. Eftas uvas fad mais doces , que as preceden- tes , com tudo por ferem ainda fom- brias , agoadas ; e nao terem toda a- quella do^ura , que Ihes he propria , e eflencial para o bom vinho , como adiante veremcs (§ XCIII , 5:.^ ) i por iifo o feu vinho nao he o melhor , e nao infiftiremos mais , fenao em dizer, que fomente devem fervir para comer , e ornar os quintaes &c. iQw- ;do de boa cafta. ,35*0 MeMoaias' § LXI. Por derradeiro uvas para bom vi* nho i'ao as de vinha, Confifte efte modo de as cultivar em efcolher ter- renos appropriados ( § LIII , e LIV ) ; fazer nelles covas mais , ou menos pro^ fundas conforme as diverias camadas de terra , de que fe compoem o ter- reno , qucro dizer, fe a camada de fi- ma for fecca , e a debaixo alguma couza humida , dever-fe-hao prcfundar as covas ate efta camada ^ fe pelo coii- trario , o conrrario. As covas devem ler diftaiues humas das outras 3 ate 5 p(^s (15) : nellas fe enterrao hum , ou dous bacellos , que fe nao encon- trem , attendendo-fe ao que diceraos ( § LV , e LVI ) , e deixao-fe hear de fora da terra 1 ate 3 elos fomente. As covas nao fe devem entulhar de todo , devem fim ficar entulhadas de maneira , que refte hum palmo , ate palmo e meio ( havendo lugar ) , pa- ra que cntulhando-fe totalmente no fe- gundo anno, fiquem os bacellos in- teiramente cobertos na fua parte ve- Iha- Devem diilar humas das outras 3 ate 5 pes : i.° para que as raizes fe polfao ellender livrcmente pela terra fem DE AgRICULTURA. 95"! fem tomar o fuftento humas videiras as outras ; o mefmo fe entende das follias : 2.° para que as uvas nao fi- quem fombrias com as muitas folhas, c carregadas facilmente de humidadej e para que recebao melhormente os laios do fol , o que he muito effcncial para a boa uva , fegundo a obiervar iy'ao de todos os fabios Agricul tores : 3.° para que fe pofFao araanhar com mais defembarajo. AlTim o moftra a theorica , c afTim o confirma a pradli- ca dos vinhateiros de Bordeaux, Pro- venca , e ouiros paizes da Franca, e tambeai de alguns lugares defte Rei- no na Provincia do Doiro. Ja vimcs ( § LVllI. ) o tempo em que melhor- mente fe plantao as videiras de bacel- lo , e de garfo. Em quanto ao terre- 110 balla , que tenha as condicoes re- feridas ( § LIV. ) j porque as videiras fao do numero das plantas , que mc- drao bem com a humidade , c acido carbonaceo athmosferico fendo fcridas do fol ( § XXXIII. ) . § LXIL Como entre as variedades de uvas brancas , c pretas humas amadurecem primciro ;, do que outras ^ humas fao mais 35'i Memorias mais fuccofas , e tnenos doces , do qutf outras , he claro , que plantando-fe , e vindimando-le promircuamente , e no mefmo tempo , as boas qualidades de humas ficarao deftruidas , ou ao me- nos diminuidas com as ma qualida- des de outras nefte tempo , fendo pi- zadas juntamente. Logo o vigilante vinhateiro por eftas razoes ^ e pelag que exporemos ( § XCV. ) devc obfer- var J como religiolamente , as feguintes regras para ter bom vinho. I.''' As videiras brancas devem-fe -cultivar feparadamente das pretas. 2.^ Entre as videiras brancas deve- fe plantar cada cafta feparadamente das outras. O melmo fe entenda das pretas. 3.^ Nao fe devem cultivar fenao videiras de boa cafta para bom vinho. Eft:as regras fa6 efcrupulofamente obfervadas em muitas Provincias de Franca , e vao fendo em parte obfer- vadas na Provincia do Doiro. Daqui huma caufa muito eifencial dos bellos vinhos deftes Lugares. Na Provincia da Beira , e na maior parte da Ex- tremadura nao ha cautela alguma a ci- te reipeito, elle hum dos motivos por- que na6 preftao os feus vinhos. Dizem que plantar mifturadamente he bom , porque nos annos , em que humas nao dao. CE AgR I CU LTUR A. l^^^ dao , dao outras. Razao injuriofa a Ef- pccie Humana ! Por ventura nao monta D mefino plantar o mermo numero de pes juntos , que feparados pelo que to- ca a quantidade de uvas , que deverii dar? Se neRe anno aquella vinha me foi efcaffa , eila me foi fertil. Seria pois neceilario , que os Magiftrados tivef- fem huma vigilante infpecjao fobre ef- te importante ramo de Agricultura , mandando arrancar pouco a pouco as vinhas , e pra(flicar a rifca o que aflima enfinamos nas videiras, que de novo fe plantaffem : defte modo em menos de ii annos as vinhas fe aclia^ riao todas renovadas , e com facilida- de fe fariao em todo o Portugal opti- mos vinhos , fem detrimento fenfivel nas rcndas dos proprietaries em todo o curfo dos 12 annos (i6). Sem efte melo inutilmente fera6 todos os ef- criptos a efte refpeito *, ferao baldadas todas as pafladas , que zelofos patrio- tas derem , para confeguir dos lavra-;-. dores deltas Provincias a devida mu-i dan^a no modo de cultivar as videiras. Eu digo eomo experimentado : a pe- zar de varias circumilancias j que me accompanhao , para que me fizefle acre- ditado por aquelles , a quern quiz per- fuadir, muitos a pezar de ferem eon*' Tom. II. Z ven- 35'4 M E M O R I A S vencidos por mim , refpondiao final- mentc , que pelo fcguro queriao feguir a andaina de feus Pais. Tanto podenv OS erros dos Pais entre os filhos igno- rantes ! Da poda , cava , empa , monda , lim^ pa , e desfolhamento , ou em geral, Dos fabricos annuaes das vinhas* § LXIII. OPritneiro entre eftes fabricos he a poda , em que fe devem guar- dar as feguintes regras. I.* A poda deve-fe fazer no outo- no , e ao mais rardar ate o fim de de- zembro pelas razoes , que abaixo di- remos. 2.* Se a videira for fraca , e tiver muitas varas , cortar-fe-liao bem rente . todas as varas fracas , deixando fomen- •re 2 ate 3 das mais fortes , que fe po- darao curto , quero dizer , deixar-fe- Jiao em cada vara fomente 2 ate 3 c- los. ( § XLV. 2.a e 4.^ ). g.'* Se for forte, e bemmedrada, podem-fe-lhe deixar mais varas , porem podando-fe fempre curto j porque he me- deAgbicultura. ^5'5' tnelhor ter mais uvas em razao do maior numcro de varas , do que em raza6 do comprimento dellas* As va- ras compridas puxao muito pela cepa , e a afracao de prefla ^ e alem diflb a quantidade de caixos na6 correfponde! ao comprimento , como tenho obferva- do. Veja-fe o § LXIX* 4.' Devem-fe cortar bettl rente da cepa toda a vara fraca , paos vclhos, murchos , ou feccos , cabejas iliuteis , em huraa palavra tudo aqtiillo , que pode afracar a vinha , demorando a circulaGa6 da feva , ou divertindo-a pa- ra ourra banda a nutrir partes inuteis* Somente devem ficar as varas , que houverem de dar uVas ( § XLV. 4.^ ) . 5'i* Muitas videiras como a For- mola ( § XLIX. 6.=" ) tern em cada no j on elo dous ate tres olhos : nef- te calo devcm-fe na poda , ou empa tirar os oJhos fracos j e deixar hum iomente , e o riiais vigorofo ; porque fe todos arrcbentarem afracarao a cepa , c darao pouca uva. • 6.^ As vinhas novas devem fe po- dar curto , porque a cepa crefca com irigor , e direita : para efte fim encof- 6'(e as varas« Defte modo a feva ircula com mais iiberdade , e a pro- uc^ad he maior. Z il Po- 35'6 Memorias Poda-fe a vinha r.° Para que lan- ce varas ma is fortes , e grofi'as : 2 ** para que d^ uvas mais bem vingadas : 3.° para que nao cance em poucos an- nos ( § LXII. 3.^ ) : 4.° para que lan- ce novos pimpolhos , ou vergonteas. Tudo ifto he deduzido do que dice- mos aflima ( § XLV. ). Deve-fe po- dar no outono ; porque fendo o fim da poda vigorar , e dar for^a a cepa } e empregando-fe do outono ate a pri- mavera grande parte da feva em nutrir inutilmente as varas ; he evidente que fazendo-fe naquelle tempo a poda , a leva , que fe empregaria na inutil nu- tri5a6 das varas , fe confome em nu- trir a cepa , e por confequencia em vigorala. O Author dos Segredos da Agricultura recommenda , que as vi-» deiras novas fe podem na lua mingo- ante , e as velhas no quarto erefcente. Muitos coftumao podar na primavera : cfta pradtica nao he a melhor pelas razoes ponderadas. § LXIV. Em Portugal nao coftuma6 podar, nem cavar as vinhas no outono ; o ttiais que fazem , he mandar alimpar as cepas, e dcixar nellas fomente as ' va- DE Ar, RIGULTURA. ^^J varas , que devera fer podadas na pri- maverd. Com effeito pelas razoes , que acabamos de ponderar , he melhor ifto , do que deixar as vinhas por inteiro com todas as varas ate a primavera. Mas por Ventura alem das razoes aillma refeiidas , nao he melhor fazer a poda ao melmo tempo , do que gaftar com dous trabalhos hum em fazer efta lim- pa , e outro em podar na primavera ? D^zem : hum fo homem depois defte trabalho poda na primavera hum gran- de pedafo de vinha por dia. Nao ha duvida ; mas para que he fazer efle mef- mo gafto , ie de huma vez tudo fe pode fazer , e bem P Todo o gafto for- rado Jie ganho (17). Em muitos Lu- gares da Franca , e Alemanha ha o coftume de as podar , e cavar no ou- tono , o que he muito util ; porque a terra cavada nefte tempo he mais bem penetrada das aguas das chuvas , que tra- zem comfigo muito gaz inflammaveJ, e acido carbonaceo atraosferico ; e por efte modo fica a terra carregada def- ies principios tao uteis ( § XXXIV. ) , que depois iao abforvidos pelas raizes ^.da videira (§ XLII. 7.--'). 35^ M E M O R I A S § LXV, Se a vinha fe nao poda no outO' no , nao fe Ihe faz trabalho algum fe- na6 na primavera depois da poda : po- rem fe fe poda no outono, ou fe ca- va , ou nao , como vimos ( § LXIII. ) ; e depois difto nao le ]he faz traba- lho algum fenao tambem na primave- ra. Nefte tempo , podada a vinha , huns a cava6 antes de a emparem , e outros fazem a empa antes da cava. ]fto he infignificante , por^m o melhor he cavar primeiramente ; o c ue fe de- ve fazer melhormente no mez de Mar- 50. Cava-fe a roda da cepa , c a mon- toa-fe a terra , que ao depois fe torna a chegar para a cepa , como veremos. A cava deve fermais, ou menos pro- funda conform e a cepa eftiver mais , ou menos profundamente enterrada com as fuas raizes. Efte trabalho he mui- jO util y porque ferve de remover a jCrra , pondo-a em termos de fer pene- rada pelas aguas , que vao carregadas dos principios , que acima dicemos , ( § LXIII. ) , e de fermais livremente penetrada pelas raizes da videira, O que fe conforma com a regra ( § XLII, 7," ) , Porem he de notar , que a cava nao DE AgRICULTURA. ^5*9 nao fe deve fazer fempre no mefmo tempo em todas as vinhas. Aquellas , cujo terreno for mais quente , e fec- co , do que liumido , devem-fe cavar mais fedo logo no principio de Mar- 50 , oil em geral antes de brotarem quinze dias ao menos j aquellas po- rem cujo terreno for mais humido , que fecco , podem-fe cavar mais tar- de, mas fempre quinze dias ao menos antes de arrebentarem. Deve-fe fazer ao menos quinze dias antes do arre- bentamento : i.° porque depois de ar- rebentada a vinha , he incommode , e mefmo prejudicial , por fe quebra- rem muitos olhos novos com efte tra- balhoj-e com o da cmpa , e monda, que por iffo mefmo fe fazem antes do arrebentamento : 2." porque fendo o fim da cava dar vigor as videiras ( § LXIV. ) , he claro , que deve fer feita ao menos quinze dias antes, pa- ra que tenhao tempo de fevigorarem, e brotarem com fortaleza. As vinhas de terra miais fecca , e quente, do que humida , arrebentao mais cedo , do que as de terra fria , e humida ; logo tam- bem aquellas fe dcvem cavar mais de prefTa. A mefma provida natureza nos eniina, o que devemos fazer. Se o terreno permictir , que fe poffao plan- tar •^6o Memorias tar as vinhas em fileiras , poder-fe-had <;avar com mais facilidade, e menos defpeza por meio de charruas de hu^ ma i6 roda , e de hum fo boi , ou tambem por meio de arados de hum fo hoi : Podendo ifto fer forra-le muir to gafto , como bem advene Bomare , ? Du-Hamel no feu Novo raerhodo de Cultuva provou com a experiencia. § LXVI. Depois da cava fegue-fe a empa. Confifte eile trabalho em atar as no- vas varas podadas , virando-as ora fo-^ bre fi em forma de vara de jurtija , ora fobre a vara velha , torcendo-as quan- do fao compridas &c. a que chamao enipar de rodilba , de vara de jtifii- ca &c. ; ou em fim atando as varas podadas fern as dobrar , o que dizem empar de taloens. Os primeiros mo- • dos de empar fao maos , por quanto em razao da curvatufa , a livre circula- ^ao da feva nao fe pode fazer , e a cepa entorta-fe demaziadamente : alem difto tcnho obfervado, que fomenie as va- ras , que nafcem dos dous primeiros elos , produzem , as outras fao pela maior parte infecundas ; o que deve fucceder em razao da circulacao da fe- DE AaillCULTURA. . 361 feva embaragada. Por confequencia o jnelhoi modo he empar de taloens ^ em que as varas ficao pela maior par- te no feu natural , e o circulo da leva he livre : as varas por^m pira einpar de taloens devem-fe podar curtas , coH'^ tendo 2 elos ordinariamente , para que as videiras nao fejao muito puxadas , o que as afraca muito. Os taloens de- vem-fe atar a varas , ou cannas de ma- neira , que recebao os raios do fol , e nao fajao fombra humas as outras as novas varas , que nafcerem , para que as uvas nao fiquem fombrias , e pcrcao por iiTo a fua natural docura, A empa deve-fe fazcr logo depois da cava da primavera , antes do brota- mento. § LXVII. Feita a empa ainda reftao tres trabalhos monda , limpa , e desfolha- mento. A monda confifte em alimpar as hervas nafcidas ( § XLII. j.^ ) entre as videiras , e em chegar ao mefmo tempo para a cepa a terra cavada ( § LXIV. ) , a fim de Ihe dar mats vigor ( § LXIV. ) . Se a vinha fe tiver ca- vado com charruas , ou arados , como dicemos ( § LXIV. ) , grada-fe com gra- de propria de hum fo boi , ou com cy- 362 Memorial cylindro de ferro clieio de pontas , to- da a terra lavrada , que lendo necef- fario chega-fe com facilidade para a cepa com enchadas. Nefte cafo porem deve-fe fazer a monda primeiro , do que a empa. Ao fazer a monda he que fe eftrumao as vinhas , fe ha pre- cifao. A efte refpeiro devem-fe guar- dar as regras dadas ( § XXXIV. ) , ad- vertindo porem , que o melhor eftru- me para as vinhas he , pelo ciue vi- mos ( § XXX VII. not. r^. e § LX. ) , o carbonaro calcareo em p6 ( ere , ou greda , crate dos Francezes) , e de- pois delle o eftrume vegetal , e com preferencia o bagajo , que fe tira da uva , depois de expremido o mofto. Eftes eftrumes fao mais proprios , e OS feus efFeitos mais duraveis , e nao dao tanto vicio como o eftrume ani- mal. As videiras muito vifofas dao uvas agoadas , cujo vinho he verde , e pouco efpirituofo, como hem adver- te o Jornal Economico de Berne anno de 1766. Efta a razao porque tambem fe deve mifturar bem o eftrume com a terra : defte modo o feu eifeico he mais lento, maisduravel, e naodade repente muito vicio as videiras. Co- nhece-fe , que he precifo eftrumar , quando a videira nao fendo velha , e nao DE Agbicultura. ^6^ na6 fendo o terreno fecco , e quente , produz muito pouco , e he mal me- drada , como veremos no § LXX. , oii- de tratamos exrenfamenre do modo de eftrumar as videiras. A monda nao le deve fazer logo depois da cava , po- reiTJ ao menos 15: dias depois, quan- do as videiras principiao a arrebenrar , e de neniium modo , quando as flo- res comejao a apparecer ; nao fo por- que muitas deltas fe deftruiriao en- tao , mas porque leria ja tarde para confeguir o fim defte trabalho , que he tambem vigorar as videiras. Era todos eftes trabalhos ganha-fe no feu adiantamento, e perde-fe na fua tar* dan^a. § LXVIII. A limpa faz-fe depois da monda : confide em arrancar bem rente todos OS olhos , que nafcerem na cepa , e nas varas velhas ; e quando nas no- vas nafcerem 2 ou t^ olhos-^juntamen- te , arranca6-fe os mais fracos , e dei- xa-fe fomente hum , e o mais vigoro-^ fo. Depois de apparecerem as flores , fera muito uiil , que fe cortem bem rente , ou fe arranquem a maior- par- te das varas novas, que nao trouxerem flor ; porque delle modo fe confeguc a me- 3^4 M E M O R I A S a melhor nutricao das outras varas frudiferas , que por confequencia da- rao uvas mais bem vingadas ( § LXII. 4.* ) . Ifto fe deve particularmente fa- zer , quando as varas fru6lificantes fo- rem fracas j quando porem forem bem vingadas , e fortes , poder-fe-ha difpen- far efte rrabalho. Advertindo porcm que fe nao deve nunca arrancar todas as varas infrucbferas , deve-fe deixar algumas , porque elbs vem a dar no anno feguinte vergonteas fortes , e bem frudliferas. Em Provenca , Bordeaux , e outros lugares de Franja , depois de murcha a flor , quando os bagos co- mejao a apparecer , coftuma6 fincar no- vas varas , fendo precifo , e atar nel- Jas as novas vergonteas. Bomare affirma haver nifto grande utilidade. CoilLmiao tambem ncfte mefmo tempo capar as novas varas , quando nao fao fuffi- cientemente vigoroias , e alimpalas fe- gunda vez , o que deve fer muito util pelo que dicemos ( § XLV. 2.* e § LXII. ) . Quando os caixos ja eftao vingados , e a eftajao nao he fecea , e calmofa , he mifter desfolhar a vi- nha para que os caixos fejao feridos do fol , amadurejao , e ganhem baftan- te dofura , o que he muito effencial para o bom vinho , como adiante ve- re- DE AgRICULTURA. ^65: , rcmos ( XCIII. 5'.=' ) . Porein efte tra- balho ultimo pode-le evitar empando- le , como enfinamos ( § LXV. ) . § LXIX. Em alguns paizes da Franca cof- tumao dar huma fegunda monda depois dos caixos vingados , ordinariamente no mez de Junho , eftando o tempo ejicuberto. Efte trabalho nao podc dei- xar de fer util pelas mefmas razoes , que OS outros. Em Portugal porem nao ha efte coftume. Como fe ejirumao as vinhas fracas , e como fe renovad as 'vinhas "velhas. § LXX. S videiras afracao por tres cau- fas , ou por lerem muito puxa- das , dcixando-l'e-lhes na poda mais dc tres ellos todos os annos ; ou por nao acharem no terreno os principios para a fua vegetacao ( § LX. ) ; ou por ve- lliice. A primeira caufa remedea-fe bem antes do feu etfeito , qucro dizer , ha- vendo na poda as cautelas prefcriptas ( § LXII. ). Porem fe o mal fe nao pre- caveo , he precifo curalo : o que fe faz , ^66 Memorias faz , enterrando-fe a videira em cova mais , ou menos profunda conforme a natureza da terra ( § LX. ) , e deixan- do-fe para huma , e outra banda da cova duas , ou huma vara das mais vi- gorofas J bem como fe fe plantafle de novo i como enfinamos ( § LX« ). De- pois difto haverao nas podas as cau* telas referidas ( § LXII. ) , deixando- fe antes mais varas , do que podando* fe largo , ou comprido. Defte modo a videira ganha forjas, c fc renova* § LXXI. Se as vidciras afracao por faita de principios para a fua vegetaca6 ^ he preciTo examinar , o que Ihes falta ^ fe a humidade j fe o acido carbona- ceo , ou gaz inflammavel , ou era fim fe por falta de Sol ( § XXXIV. ). Se , a terra for fecca j e fokaj havera fal- ta de humidade , e fera mifter miftu- ralla com terra barrenta j no cafo que a fitua^ao o permitta ( § XXXIV. , XXXVI. , e XXXVIII. ) : fe depols difto nao produzirem bem , Ou fe nao houver no terreno falta de humidade , fera precifo eftrumala em ambos eftes cafos ; e nifto fe guardarao as feguin- tes regras deduzidas dos principios da diAgkicultura. 367 da Agricultura geral ( § XXXIV. e XLI. ) , e da obfervajad. I.* O melhor eftrume para as vi- deiras he o carbonate calcareo em p6 ( fpatho calcareo , ere , ou greda , que tambcm chamao marne ) ; depois delle o eftrume feito do bagajo das uvas de- pois da extracfao do mofto ; em ter- ceiro lugar o eftrume vegetal feito de hervas , e ramos podres , como dicemos ( § LXVI. ). Em Champanha ufao en- terrar hervas ao p6 das cepas , que fe tornao em eftrume depois de podres. Em ultimo lugar cabe o animal, por- que efte eftrume acaba de apodrccer mais de prefla , que o vegetal , donde o feu effeito he mais prompto , e da mais vigor as cepas , porem menos du- ravel \ ora ifto he o que nao convem as vidciras , como vimos ( § LXVI. ) (18). 2.* Sendo o terreno alguma coufa mais humido , do que deve fer , he melhor eftrumalo com eftrume animal , ou vegetal ; porque ainda que feja precifo eftrumalo mais a miudo , do que fe fe eftrumaffe com o carbonato calcareo , com tudo o cultivador de- pois d'alguns annos vem a ganhar ; porque reduz o terreno a menos hu- mido ( § XL. ). 3-a 368 Memorias :5.^ Para fe eftrumaiem as videiras j deve-fe cavar a roda da cepa ate as fuas raizes , para que eftas poflao abfor- ver da terra eftrumada os prineipios da vegeta^ao ( § XXXVII. ). 4.* Nao fe deve por o eftrume ifo- ladamente a roda da cepa j mas deve-- fe mifturar bem com a terra , do que refulta6 tres grandes utilidades : a pri- meira he hir a cepa recebendo do el^ trume pouco a pouco os prineipios , que Ihe fao proveitofos , nao fe tor- riando por iflb demaziadamente vijo- fa , o que nao convem ( § LXVI. ) . A fegunda he , que os prineipios , que fe defenvolvem do eftrume , uteis pa- ra a vegetacao , nao fe confumindo tao de prella , fera o feu effeito mais du- ravel ; e por confequencia a cepa me- nos vezes precifara de fer eftrumada.' A terceira he , que o eftrume bem mif- turado com a terra , nao acaba de apo- drecer tao de prefta , como fe foife Jancado junto , e ifoladamente ; e como OS prineipios da vcgetajao fo- mente fe defenvolvem pela podridao ( § XXXVII. ) , fera o feu effeito mui- to mais duravel.Alem de que o eftrume ifolado affoga as piantai ( § XXVI. ) « D E A G K I G U L T tJ R A, 5^9 § LXXII. vSe a videira afraca por velliice, podem-fc-lhe dar tres remedios : hum he enterrar a cepa de novo , como dicemos ( § LXIX. ). He huina bella pracflica enterrar todos os annos , na occafiao da cava , huma porjao da ce- pa velha de maneira , que na6 feja of- fendida na cava do anno feguinte ; para o que enterrao-fe todas n'huma direc^ao fabida ; e nao fe profunda tanto a cava no fitio , onde a cepa ella enterrada. Delle trabalho feguem- fe duas utilidades : r.^ as cepas durao com vigor dobrado tempo : 2." Jan- ^ando todos os annos raizes novas por novas terras, ainda nad exhauftas dos feus principios da vegeta^ao , vegetao com vigor , e poupa6 o eftrume , e outros fjbricos. AiT\m o perluade a theoria, c confinna a praflica de Pro- venja , Champdnha , e outras Provin- cias da Franca , onde as cepas eden- dem-fe deba'ixo da terra em liniia di-- reira muitas toczas. As videiras a/Tim cuitivadas nao fc tornao velJias fenao depois de :^o ate 60 annos , e ma is ; quando as outras cnvelhecem de 20 ^te rjo annos. Tom. IL Aa § 37^ Memorias § LXXIIL Quando as cepas a pezar da ma- nobra ( § LXXI. ) nao produzem de- vidamente , he miller applicar-fe-lhes o fegusd* remedio , que he a enxer- tia : mas para ifto he precilb , que a videira tenha huma , ou duas varas fortes. Nelles termos enrerra-fe toda a cepa , e fomente fe deixa fahir a flor da terra as duas varas fortes , que fe cortao hum , ou meio palmo ainda abaixo da flor da terra , e nellas fe enxerta de garfo. O enxerto dcve-fe tirar de outra videira da mefma natu-- reza , como dicemos ( § XLVIII. , e LV. ). Em alguns Lugares de Portu- gal 5 maiormente na Beira , coftumao fa- zer ^ftes enxertos no mefmo tronco da cepa velha , cortando-o horilbntal- itiente junto as raizes ; porem o me- thodo , que acabamos de enfinar he melhor , do que efte : i.° porque o tronco fendc-fe com muito roaior dit- ficuldade : 2.° a groffura do tronco he defproporcionada a groflura do enxer- to , e por coniequencia tambem os va- fos ferao defproporcionados : confe- guintemente os vaibs do tronco nao fe poderad defembocar , e unir com os va- t) E A G R I C U L t U 5 A. :*7i Vaios do cr.xerto com t^nra igualdr- de , como os vafos da vara ( § XVII. ), Logo a circula^ao da leva fera mais interrornpida no enxerto feito no tron- CO , do que no feiro ftas vaias , co- mo enfi names : confeguinteinente o -lioflo method o he melhor : 3*° a cepa nao fendo coriada , mas enterrada com parte das varas , lanjara maior nume- to de raizes , por onde recebera mais Vigor ( § LXIX. j e LXXl. ). § LXXIV. Qiiando porem as videiras Velhas na6 rem vnra alguma forte; entao o ■ unieo reraedio he, on cnxerrar degar- fo no tronco , como vimos ( § LXXII. ) ^ nu arrancaias , c plantar ourras no- vas em feu Jugar , como dieemos ( § LX , e LXI. ) : mas como a terra , donde fe arrancarao as cepas , ordina- ' riam.ente fe acha exhaurida dOs prin- cipios para a vegetajao das mefmas Vicieiras . he neceirnvio ou eftrumaJa j ■como enfmrmos ( § LXX. ) ; ou dei- Xa!a em. poufio dous ate tres anno? ^ plantando nella neilc tempo vegetaes , que alji apodrcfao .. como trev^, tre- molos &c. Defte modo fe reftitue a •terra os pnncipios, que Ihe faltao. .\^W Aa ii ^er- 372. M E M O R I A S vertiremos finalmente, que qualquer dos trabalhos referidos atequi a refpeito das videiras , nao fe deve fazer nem lo- go depois de chuvas , nem depois de neves , ou geadas ; por quanto a ob- fervajao tern moftrado , que as vinhas fe tornao froxas , e amarellas , nao ha* vendo efte cuidado. Como fe podem corrigir os 'vicios das uvas por meio dos terrenos. § LXXV. ATheorica perfuade , e a obferva- gao tern confirmado i.° , que huma mefma planta medra , e produz difFerentemente nos diverfos terrenos ( XLI. ) : 2.° , que os frudlos de hu- ma planta em terreno humido fao mais agoados , ou fuccofos , e menos doces , do que os que da efla mefma planta em terreno pouco humido ; porque a feva abunda muito de partes aquolas ( § XXII. ). Logo daqui podemos lirar as feguintes regras , para fe corrigirem OS vicios das videiras ( § LIV. ) . i.^ As videiras que produzem uvas muito fuccolas , e de pellicula delga- da devem fer plantadas em terreno, que propenda mais para fecco , do que pa- DE AgRICULTURA. 375 para humido, e que nao feja muito cftrumado , iiem muito unido. 2.* As que produzem uvas muiro pouco fuccoias , e de pellicula muito grofl'a , devem fer plantadas em ter- reno mais humido que fecco, e al- guma coufa areento. 3." As que dao uvas muito fucco- fas , com pellicula grofla , e carnuda , devem fer plantadas em terreno mais fecco do que humido e folto , ou alguma couza areento. 4.3 Aquellas , cujas uvas fa6 mui- to doces , muito pouco fuccofas , e de pellicula carnuda , e grofla , devem fer plantadas em terreno mais humido , que fecco , e que feja alguma coufa humofo. Se porem forem pouco do- ces , ferao plantadas em terreno pro- prio ( § LIV. ) , e que feja ao mefmo tempo humofo, ou eftrumado : (e for humido , perderao grande parte da do- jura , e graja. 5'.* As videiras , cujas uvas nao fao nem muito fuccofas , e de pellicula nem muito groffa , nem muito carnu- da , e que fao doces , devem-fe plan- tar em terrenos da natureza dos refe- ridos ( § LIV. ) , Bern entendido , que todas as caftas de videiras, feja qual for o feu melhor terreno , devem ler plan- 374 M E M O R I A S plantadas em tal pofijao , que rece» bao OS raios do fol de manlia are o meio dia , e mais fe for poilivel ; e feja6 antes lavadas do vento Norte, fjU^ do Nord-oueft ( § Llll. ) , § LXXVI. Pelas regras , qye acabamos de dar , fe pode fazer que todas as uvas ( a excep5:a6 daquellas que travao mui^ to ) fe tornem doces , medianamente fuccofas , de pellicuIJa mediocremente groffa , e carnuda : condicoes eftas ne-^ ceffarias a toda uva para dar bom vinho , como adiante veremos ( § XCllI. 5.* ) , D^s enfermidddes , a que as vinbas fao fujeitas, § LXXVII, AS videiras fao fugeitas a todas as enfermidades geraes das plan-^ tas , que referimos ( § XX, h-XXVII. , e LXIX,— , LXXIII. ) , cujos remedies ficao indicado? na Therapeutica Vege-r tal ( § XXVIII.- XXXII. , e LXIX.^ LXXIII. ) . Porem alem deftas enfer-t midades , fao fujeitas g outras , que Ihes fad prpprias , como I.* DE AgRICULTURA. 375' I. a Grandes exrravafafoes de feva na primavera : o que fe conhece pe- lo fucco extravafado , e pelas folhas , que eiitao murchao. Cura-I'e fazendo- fe-lhes inciloes nas raizes , e metten- do-fe nellas borra de azeite. 2.3 Huma plethora geral , quando o terreno he humido , e muiro ellerca- do : a videira nefte cafo lanca varas muito fortes , mas nao da caixos , ou produz muito pouco. O remedio he nao eftercala por alguns annos , def- cubrir-lhe as raizes, e lan^ar-lhe a ter- ra mifturada com area , ou terra areen- ta , e principalmente fe for humida. :5.a As chuvas muito abundantes fao nocivas , porque Ihe podem caufar a i.^ , e 2.3 enfermidade. 4.^ O gelo , e a geada fazem mui- to damno , porque privao a livre cir- culajao da feva ; por cujo motivo as folhas J OS caixos , e as mefmas va- ras morrem , ou , na fraze vulgar , fao queimadas ; o que maiormcnte ac- contece havendo ao mefmo tempo ca- lor , ou vento frio. 5". a Podem-fe tornar infecundas , fe no tempo da flor houvcrem chuvas , e ventos fortes que molhem muito , c levem o po fecundante das flores. I ^j6 Memorias § LXXVIII. He bem claro , que eftas tres ul- timas enfermidades ou fao incuraveis, ou de cura muito trabalhofa. As vi- jihas durao fegundo a i'ua. variedade, terreno , clima , e cultura. As bran- cas durao mais , que as pretas : as cultivadas em terras fortes mais , do que as cultivadas em terras leves , e feccas : as mais cliegadas ao Norte , e as que fao enterradas todos os an- iios mais , que as outras &c. De 60 annos para diante reputa 6-fe muito ve- Ihas. InfeSlcs , que atacao as videiras , co- mo tambeyn os vermes, § LXXIX. AS videiras tambem fao fujeitas as invafoes de varios infedlos , e vermes. Entre os infeiftos fomente conheceraos quatro ; huma efpecie de horboleta 7ioBurna , o pulgao , e duas efpecies de befouros. A borboleta no- £iurna , pertence ao genero Vhalana de Linneo =1 Antenna fetacea a bajl ad apcem fe7tfmi attenuate. Al<3C {fe- den- DE AgRICULTUR A. :i^'J'J dent is ) fapius dejlex£ ( volatu no- B.urno ) . Os Francczes a chamao Ver- coquin. Tern as azas fuperiores pardas , manchadas de efcuro , e com as bordas exteriores amarellas. Corpo amarello , e pelludo : antennas foli-foime?. A lua larva defenvolve-fe no tempo da floref-. cencia da vinha. Tern a cabeja negra , e menos grofla , que o corpo : dous pe- quenos olhos negros : boca armada de duas maxillas em forma de tifoura com movimento circular , e rapido. Corpo avermelhado , compofto de lo anneis , com pequenos pontos cobertos de pelos curtos , e finos : o derradeiro annel he negro J e terminado em ponta muito fi- na. Tern 8 pes de cada lado. Com as maxillas roe a cafca do caixo ; e a parte roida fecca-fe pouco a pouco. Para fua habita§:a6 lan^a fios delgados , bran- cos , e femelhantes aos da feda , e for- ma com elles a fua cafa , eftendendo-os ibbre as flores , bagos a penas nafci- dos , pedunculos &c. Nao fahe da ca- fa , ou cejlula , fenad depois do fol pofto , ou de dia , quando o tempo he fufco. Porem nao fe tira nunca do caixo , em que habita ; e dos feus ba- gos pica a polpa , e come as flores. Quinze dias depois defte eftado de lar- va paffa ao eftado de pupa , encer- ran- :578 M E M o R I A s rando-fe n'hum foliculo delgado , ele- ve compoflo de huma bolfa esbran- quifada , mifturada fern ordein coin OS rcflos das ilores , e bagos comi' dos. Em fiin 12, ou i^ dias depois fa he em imago revel at a na forma da boiboletta , como affima vimos. Igno- ijp-fe ainda , aonde vai defovar, Nao ie tern achxdo remedio algum contra efte infccfto ; e he difficil achalo com ventajem , a excepca6 fe for , o que adiante referimos ( § LXXXII. ) . § LXXX. a. O Pulgao. ( Curculio Bacchus de Linneo =: Longirojlris , aureus , rojlro , plantifque ntgris , corpus rubro-au- reum y fupra fubvillofum) . Os Fran- cezes chamao Beche. Eftraga as uvas , e cm Jiinho faz o mefmo as foihas ainda tenras , que enrola em forma ef- piral , e as forra de huma forte teia_ onde depoflta os ovos , que fao cla- ros J redondos , branco-amarellados , e do tamanho de fementes de moftar- da. A larva defenvolve-fe no fim de 10 dias , a que chamao lagarta \ e he do comprimento de 6 linhas : a pel- le do corpo he branca , e liza , e a da cabega amarelia. Ifto lie em Junho; em DE AgRICULTURA. ^J<) em Agofto tambem apparece , e cha- ma-le por iflb Agojiinha. Come , e dcitroe as folhas tenras das videiras. No inverno enterra-re na terra , e ahi pafla efte tempo , como adormecida. De muitos modos , coftumao evitar os dannos do />/^/^^^. i.° Cagando-fe tan- ro OS mefmos pulgoes , como as fuas larvas , ou lagartas : o que he de mui- to trabalho. 2.° Ca^ando-fe os pulgoes em alguidares , ou outros vafos unra- dos com algum liquido pegajofo , e doce , como o mel , melago &c. , e depois dando caga as lagartas. Nefte methodo ha pouca vantajcm. 3.° A* p.-inhando-fe as folhas , que eftao en^ roladas com os ovos , e queimando-as. Efte he o mais vantajofo no cafo , que nao feja neceflario dcsfolliar de- maziadamente as videiras ; por quan- to as folhas conftituem hum orgao ei- fencial a vegetaqao ( § XI. ) : e eutao feria remediar hum mal com outro mal talvcz nao menor. 4.° Sacodindo-fe fo- bre pannos de azeitona , lengoes , ou outros quaefquer eftendidos commoda- mente , os ramos , e folhas cheias dos pulgoes, lagartas , eovos, e quciman- do-OS , depois de fe apanhar huma boa porgao delles &c, Efte methodo tern muito bom lugar ;, quando o an- te- ^8o AIemorias t€cedente fe nao pode pradicar. O Au- thor dos Segredos da Agricuiaura diz que untando-fe as varas novas poda- das , e o ferro , com que fe poda , com tutano , ou alho , e azeite , as vi- deiras nao criao pulg6es. Ifto porem nao merece muiro credito , porque Ihe nao vejo razao fufiiciente ; e parece- me antes Jiuma praclica filha da fu- perfticao. Que tern as vergonteas , e folhas novamente nafcidas com o un- guento untado nas varas podadas ? P6- dem ellas receber alguma virtude do unguento ? § LXXXI. As duas efpecies de befouros per- tencem ao genero Coleoptera Chryfo- meld de Linneo. Hum he menor, e outro maior : efte he o cryptocephalus uiridi-auratus , fericeus de GeofFroy , a que os Francezes chamao Veloiirf- I'ert. Enterra-fe no outono , e appa- rece na primavera para flagello das videiras , cujas folhas , e bagos fao o leu fuflento. Extingue-fe da mefma for- te , que o feguinte , que he o Befouro Pequeno , que me parcce fer o Chryfo- wela Zr-punSlata de Linneo : he mais pequeno , que o antecedente , e muito mais. IKE AgRICULTURA. 381 mais , que o befouro ordinario. Pafla o inverno na terra em eftado de larva , ou lagarta ; penetra ate as raizes , e roe as mais tenras , e melhor as das videiras novas , que muitas vezes morrem depois difl"0. Sahe em raaio , e fe lanfa fobre as folhas tenras , de que fe nutre , como tambem dos pim- polhos , caixos ainda tenros &c. Pica a uva depois de madura , e lan^a den- tro do bago os feus ovos , donde fe defenvolvem infinidades de larvas ^ ou Jagartas , que fazem apodrecer as uvas antes da vindima. De dous modos fe cajao OS befouros : ou plantando favas entre as videiras , cortando , e quei- mando-as depois de cheas delles ; por- que goftao ainda mais das favas , que das videiras : ou efpalliando efterco entre eftas , e queimando-o no lim do outono ; tempo em que nelle fe achao rccolbidos em forma de larva , e paf- fao todo o inverno correndo os outros eltados. As cinzas do elterco fervem de eftrume. § LXXXII. Os vermes , que perfeguem as vi- deiras fao as lejmas , e diverfas caftas de caracoes , eftragao as videiras co- men- 5^2 Memorias mendo os pimpolhos , folhas terifas^ e caixos novos &c^ Coftumao cajalos de noite ; ao entrar da noire j fe o tempo he chuvofo ^ e o melhor he ca- ^alos de madrugada j quando fe vad recolhendoi Porem o melhor he plan- tar entre as videiras os caracolleiros ( Phafeotus car ac alia de Linneo ) , e depois de bem carregados dos cara- coes , cortalos , e queimalos ; e ainda que fe nao cortem he muito util j por- que OS caracoes goftao inais defta plan- ta , e em quanto a achao comem-na ^ e deixao de perfeguir tanto as videi- ras. Eftes OS Inferos ^ e Vermes, que perfeguem as videifas , e os meios ategora cohhecidos para evirar os feus damnos. Porem he manifefto , que {'6- fnente fe podcm e^ecutar em vinhas pcquenas ; nas grandes porem as dcP- pezas cXcederao aos lucres. O melhor ineio he certamente plantar enrre as videiras planras ,- de que eftes nniniaes goftem-mais 5 do qxit das mefmas vi- deiras ; e coftalas , e queimala? quan- do eftivcrem mais ch^as dos ditos in- feclos , ou vermes. Os caracoes , c lefmas evita6-fe tnmbem com vaiuajem cultivando as videiras em renerios iim- pos de pedras , ou por natufeza , on por trakllho de leu dono ; porque col- DE AgRIcULTURA. 383 coftumao efconder-fe entrc as pcdias ; e nao as havendo j vem-fe obrigados a defamparar a vinha depois de poda- da , e limpa ; e como entao coftumao efconder-fe nos Jugares vizinhos , por iflb fera util defcampar , e livrar as vi- nhas de arvores , filvas , e pedras vi- zinhas , em que fe polTao occultar. Ef- ta mefma cautela pode tambcm affli- genrar a borboleta ( § LXXIX. ) , que nao defova nas vinhas , mas iim nos lugares vizinhos. PARTE III. Da vindima , Extraccao do mojld ^ Fernientacao , Bondade , Conferva- cad dos Plnhos , e como fe faz-em OS melhores linbos Eflraiigeiros. § LXXXIII. AVwdlma he a colheita das u-vas, Eftas rao amadurecem todas ao mefino rempo : liumas caftas vem mais fedo , e outras ma is rarde ; mas em geral o tempo da madureza das uvas Jie <\z{>^\.q. os fins de Sctembro ate o fim de Outubro. Como do modo de vindimar pende muito a bondade dos 384 MemOrias dos vinlxos , nos exporemos as regras dadas pelos melhores Agricultores , e tiradas da verdadeira Agricultura , que fe devem guardar nefta colheita , e de- pois referiremos os modos de vindi- mar nos difFerentes lugares de Portu- gal , para melhor conhecermos os feus defeitos. Eis as regras. i.^ O vinhateiro antes da vindima deve apromptar o lagar , ceftas , bal- ceiros , ou dornas , toneis , pipas &c. , como diremos ( § CVII. ) , e ter ho- mens promptos para trabalhar o mof- to no lagar. 2.^ A 'vindima nao fe devefa2er, fenao depois das uvas eftarem bem ma- duras ; e como nem todas amadurecem no mefmo tempo , por ifib deve-fe plan- tar feparadamente cada cafta ( § LXI. ), para que fe principle a vindima pela que mais de preffa amadureccr. Conhe- cc-fe , que a uva efta uiadura , quan- do as folhas comejao a cahir ^ os ba- gos fe feparao facilmente do caixo j OS pes dos eaixos de verdes fe tornao pardos ; em fim quando tem adqui- rido o feu proprio fabor doce &c. 3.* Deve-fe fazer em tempo bom , e fereno ; e em lua minguanre fe for pofRvel. O tempo chuvofo as torna agoadas ; e o vinho he fraco , agoado, e pou- t»E Agkicultura. 385" e pouco efpirituofo. O tempo calmofo as torna muito pouco fuccofas •, o vi- nho he bom , porcm muito pouco. Mas fe o tempo continuar chuvofo , lie melJior collier , do que perder as uvas , que entao podem apodrecer. A vindima das uvas pretas para vinho tinto he melhor fazer-fe huma hora depois de fahir o Sol , fe a eftajao permittir. 4.=" Era Ai", Silleri J e outros Lu- gares da Franca , cujos vinhos fad afa- inados coftumao fazer 3 vindimas : a 3.* das uvas bem maduras : a 2.' das uvas menos maduras : e a 3.^ das mc- nos maduras de todas , que ferve para o viiiho verde. Cada huma deftas uvas trabalhao-fe feparadamente. Em Portu- gal porem balla , que fe facao duas vijidimas; das maduras, e verd^?. 5".^ Hum dos meios de dar maior perfeijao aos vinhos he feparar os caixos verdes dos maduros , e os que tem bagos podres , dos faos. Efta he a prattica dos lugares eftrangeiros , cujos vinhos fao nomeados. A razao tambem o enlina ; porque nao fe pode duvidar , que os bagos verdes , e po- dres devem communicar ao moilo o feu mao gofto. Na Beira ( aonde fe Jiao conhece a boa arte de fazer vi- Tom. II. Bb nlio ) ^26 M E M O R I A S nho ) dizem , que Ifto he huma gran- de inipertinencia , fern olharem , que OS vinhos optimos tern quadruplieado valor , e que he melhor gaftar 8 para ganhar 24, do que gaftar 2 para ga- nhar 4. Como cojiumao vindhnar , e extrahir 0 mojio. § LXXXIV. VIndimadas as uvas pelo modo referido ( § LXXIX. ) , fegue-fe a extrac^ao do leu fucco , a que cha- mao mofto. Efte trabalho he differente nos diflerentes paizes , e conforme a qualidade de vinho , que fe intenta fazer. Como do modo de vindimar , e extrahir o mofto pende muito a boa qualidade do vinho j referiremos as di- verlas maneiras de fazer efta manobra nas difFerentes Provincias de Portugal , e outros Reinos j e depois examina- remos , qual he o melhor. Em geral ha duas qualidades de moJlo j branco , e linto , aqueile tira-fe de uvas bran- cas , e pretas , e delle ie faz o vinho branco : o tinto tira-fe de uvas pre- tas J e faz o vinho tinto. UE Agricultuha. 387 § LXXXV. Na Beira nao coftumao exrraJiir mofto branco de uvas pretas. Somen- te o extrahem de uvas brancas da ma- neira fcguintc : fazem huma io vindi- ma , e coiliem os caixos maduros , ver- dcs , e podies mifturadamente ; e os acearretao em dornas. Depois difto pir zao as uvas ou nos mefmos balceiros , ou no lagar ; e ordinariamente as dei- xao eftar afTim pizadas no balceiro , ou no lagar por 34 horas , ou em ge- ral ate comecarem a ferver , o que di- zem dar hal^a : depois rirao com ba- cias , ou aJguidares, ou baldes de pao todo o molk) , que podem tirar , o qua I filriT.do por huma ccfta , he lan^a- do immediatamente em toneis , ou pipas para a hi fermentar. O bngajo ( que confta do engage , e pellicula? das uvas com alguns bagos ainda inteJros ) lie expremido no lagar com o nome de ■pc duas , ou trcs vczes , e o moilo , que delle rirao , he lancado da mefma forte nos toneis , ou pipas para fer- mentar. - O mefmo fazem com as uvas pretas colhendo mifturadamente huinas cartas de uvas pretas com outras. He de notar, que com as uvas pretas pi- Bb ii zao ■388 M E M O R I A S zao muitas brancas, e pelo contrarlo; alem diflb vindimao quando Ihes pa- rece , quer chova , quer fa^a calma , e ordinariamente efpera6, que chova para que as uvas fe tornem mais agoa- das , e rendao mais. Tambem mifturao as uvas de embarrado , e de latada com as de vinha. Eftas algumas das razoes porque os vinhos defta Provincia fao agoados , azedos , travao pela m^aior parte , n'huma palavra fao peffimos ( § LIX. , LXXIX. , XCVI. , 4.a^ ^.» e 6.3 ) ; alem de que os vafos fao mal tratados , porque fomente fe lavao , e apenas Ihes dao fuadouros. Tambem fazem o vinho de Feitoria como ve- remos ( § LXXXV. ) . § LXXXVL Na Eftremadura extrahem o mof- to como na Beira ; porem efcolhem meihor tempo para a vindima , na3 fazem tanta miliura de uvas , cuidao meihor na felecjao dellas , e ufa6 mais do meio de extrahir o mofto para vi- nho de feitoria , como diremos ( §■ LXXXVI. ) . i)E Agricultura. 589 § LXXXVII. No Doiro as uvas pretas fao cul- llvadas em vinhas feparadas das bran- cas ; porem ainda cultivao mifturada- mente todas as caftas de uvas pretas , que julgao boas para vinho , e o mef- mo he a refpeito das brancas , o que he hum defeito , como vimos (§ LXI.) . Efcolhem tempo opporturno para a vindima ( § LXXIX. 3.* ) . Vindimao as uvas de huma fo vez , e as accarre- tao em cellos parao la gar , onde, ien- do as uvas brancas , fao pizadas por 8 ate 12 homens ( corforme o taraa- iiho do lagar ) fern interrupcao algu- ma por 48 horas , fe fe vindima em tempo fecco , e io fe em tempo chu- vofo. Pizadas affmi as uvas ( adver- tindo , que na6 feparao iiem os cai- xos mais verdes , nem os podres, nem ocngafo), deixao levantar o mofto, e depois de levantado , abrem o lagar , e paffao o mofto para tuneis bem Ja- vados , e rafpados por denlro ate a madeira nova. O pe expreme-fe no Jagar 2 ate 3 veze? , e o mofto extra- hido he tambem lancado nos tuneis. Ailini extrahem o mofto branco de uvas brancas. Da mefma forma extra- hem ^90 M E M O R I A S hem o mofto prero , com a dlfFeren- f a porem , que trabalhao eftas uvas lio lacar ametade do tempo , em que tra- balhao as brancaf. Tambem tirao ( o que he ainda muito raro ) o mode bran- co de uvas pretas : para ifto apenas quebrao os bagos no lagar , tirao lo- go o mofto antes qne f'e core ; e logo que principia a corar , tapao o lagar, c continuao a trabalhar o refto a fim de tirar o mofto preto. No Doiro he fern contradic^ao , onde fe trabalha me- Jhor o vinho , que nas outras Provin- cias de Portugal; porem ainda ha va- ries dePeitos , como vercmos ( § XCV, , e XCVI. ) . § LXXXVIII. Com pouca difFerenga do Doiro fe extrahe o raollo na maior parte da Franca ; em muitns partes porem fiizem 2 ate 3 colheitas de uvas na mefma vinha , e feparao os caixos ver- des dos maduros , e o? podresdos faos , como dicemos ( § LXXIX. ) ■■, e alem difto efperao tempo quente para a vin- dima das uvas pretas para vinho Ver- mel ho ; e logo depois do primeiro pizo , defengagao as uvas com forca- dos de tres , e quatro pontas. Em Cham- pa- DE A G R I C U L T U R A. 39I panlia fazem o vinlio branco do mof- to branco tirado de uvas pretas da ma- neira leguinte j os vindimadores en- trao de inadriigada ras vinhas pretas , e concinuao a vindima era quaiuo o fol nao aquece , e em quanto as uvas eftao orvalhadas : eftas accarretao-fe pa- ra o lagar em jumentos , ccbertos os ceftos com parras , e pannos rriolhadcs, para que o fol nao as aqueja : che- gando ao lagar, da-fe logo o priir.ei- ro pizo , e poem-fe por muito pouco tempo a pezo , e tira-fe o mofto antes de comecar a tomar cor. Nos annos fries o mofto do fegundo pizo pode ainda fervir para vinho branco : o mof- to aflim extrahido ianca-fe cm tcijcis ou pipas , preparadas como no Doiro ( § LXXXIIL ) , e ahi fermenta. Efte o methodo de fazer os vinhos pcrfcita- mente brancos ; as uvas brancas dao vinhos alambreados , e nao inteiramen- te brancos : taes fao os nolTos vinhos chamados brancos. Tcmos pois vifto OS differentes meios de extrahir o mof- to ; e logo veremos qual he o me- Ihor : por ora vcjamos os diverfos me- ihodos de fazer vinho. Dos 391 M E M 0 R I A S Dos diverfos methodos de jazer vi- nho em Portugal , e fdra delle. N § LXXXIX. As diverfas Provincias de Por- J.N tugal ha diverfos modos de fa- 2er vinho , afTim como tambem fao diverfos os modos de extraliir o mof- to. Na Beira , extrahido o mofto co- mo dicemos ( § li/XXXI. ) , o mettetn logo em tuneis , ou pipas fimplefmen- te lavadas , e ahi o deixao fermcntar. No tempo da fermentajao , ou logo quando o lanjao ncs tuneis, huns nao Ihe mifturao couza alguma , outros po- rem Ian5:a6-l]ie a quarta parte de hum quartao de agua ardente por pipa , outros meio , e outros hum quartao inteiro ; outros em fim Ihe langao ar- robe fimplefmente ou com marmellos , camoezas &c. , para Ihe dar mais cor- po , e dogura. Acabada a fermenta- cao trafegao huma fo vez , e outros neni huma fo : alguns dos maiores Lavradores da Beira tambem fazem o vinho , a que chamao de Feitoria pe- lo methodo feguinte y vindima6 as uvas pretas juntamente com as bran- cas ( quando a quantia deilas he pe- que- DE AgRI CULTUR A. 399 quena relativamenre as pretas ) , do modo referido ( § LXXXl. ) , e fem de- mora as lanjao no lagar , onde fem interrupfao alguma fao pizadas por 2 , 3 ate 5" homens per 24 horas , ou 48 , quando o tempo da vindima he chuvofo : cancados os primeiros ho- mens, entrao outros tantos, que eftao de rezerva : e fegundo he mais , ou menos trabalho o mofto , affim dizem ter mais , ou menos feitoria. Acaba- do o pizo , deixao o vinho levantar , e depois paflao o mofto para os tu- reis , em que hao de fermentar. AfTun fazem tanto o vinho de Feitoria bran- co J como preto ou tinto. Acabando o vinho de fermentar , o que fucccde defde S. Martinho ate o fim de No- vembro , he trafegado , e paifado pa- ra outros tuneis bem lavados comagua quente , e depois tambem com vinho quente , que depois ferve para dar agua ardente. Na fermentajao do mof- to de Feitoria tambem coftumao lan- jar agua aidente, arrobe , camoezes , e marmellos, como aiuma vimos. § XC. Taes fao os methodos de fazer vinho na Beira , Eftremadura , e ou- tias 394 M E M O R I. A tras Provincias de Portugal : na Eftre- madura porem ufao mais do vinlio de Feitoria ( § LXXXV. ) , fazem me- Ihor as fiias vindimas , coino vimos ( § LXXXII. ) , e coftumao lavar me- ihor OS runeis , e os mexao. § XCI. No Doiro fazem duas qualidades de vinho tanto branco , coino rinto: Jiuma , que chamao vinho de venda y e ourra vinbo de commercio. Publicado o Edid:o da licenja da Companhia ( antes do qual ninguem pode vindi- mar ) , fazem a vindima tanro das uvas pretas como braiicas feparadamente , e as leva6 em ceftas,, as brancas para o Icu lagar , c as pretas -para o feu , por quanto no lagar da uva preta nao fe trabalha a uva branca, e pelo coqtra- rio : exrrahem o moilo , como dicemos ( § LXXXIII. ) , e o paflao para tuneis hem lavados , e rafpados ate a madei- ra nova , fe ja fervirao , e ahi fermen- ra. Acabando de fermentar , trafega-fe, c vende-fe. O vhiho de venda nao tem outro trabalho, nem Ihe coflumao fazer mais nada. O uinho de ccmmercio po- rem depois de trafegado , he clarifica- do logo que cliega ad Porto pela ma- nei- DE AgRIGULTURA. 395' hcira feguinte : tomao por pipa pouco mais , ou menos 24 claras de ovo , ou parte correfpondente de colla de peixe desfeita n'agua ; tomao mais huma Ca- nada de agua ardente boa , e coula de tres , ou duas canadas de vinho; mif- turao tudo iito , e batera bem ate fe desfazerem as claras de ovo, e Jevan- tarem muita efpuma , e depois lanjao dentro da pipa. Pelo batoque mettein hum pao cheo de cabellos na ponta , a que chamao batedor , e hum homem fobre a pipa bate bem o vinho com elJe por algumas horas j depois tapa- fe o batoque, e paffados 8 ate 10 dias acha-fe o viniio clarificado. O vinho branco acaba de I'e clariticar mais tar- de , que o tinto. Clarificado o vinho , trafega-fe outra vez para outras plpas ou novas , ou bem lavadas , e rafpa- das ate a madeira nova , c erixofradas , ou mexadas (19). Se paflado algum tempo , fe nao acha bem puro , e lim- po , torna-fe a clarificar , e trafegar de novo. AfTim fe fazem cs bellos vi- iihos do Doiro , que fendo ties ate quatro vezcs cJarificados , e trafcgados , durad 60 ate 80 annos fem alteracao , como fei de alguns. Vao a India , ao Brazil , ao Norte , e voltao da mef- vlya forma. Os v:niios da Madeira fa- zem- ^g6 Memorias zem-fe quail da mefma forma , que OS do Doiro. § XCII. Em Silleri , Ai , e Hautvilliers fezem na melraa vinha duas ate tres vindimas , como dicemos ( § LXXIX. ), e mifturao as uvas de dous ate tres terrenes differentes, porem da mefma qualidade , quero dizer , as uvas de hum terreno mais forte , barrento , e Jiumido , com a mefma caila de uva de outro terreno mais fecco ; e com a mefma cafta de outro terreno mais Iblto , e fraco (20). Extrahcm dellas o mofto pelo metliodo do Doiro ( § LXXXVII. ) , defenga^ando-as lo- go no primeiro pizo , e o lancao o fermentar em tuneis bem limpos , e rafpados ate a madeira nova. No ref- to fazem o mefmo , que no Doiro ( § LXXXVII. ). Na Hungria fazem varias caftas de vinho. O mellior he o que fe faz de huma uva , que cha- mao Augjler trauben , que amadurece logo no principio de Agolto , e a deixao foffrer na cepa os ardores do Sol ate ficar meia paflada , e quando o tempo nao he favoravel , a reduzem a ^e eftado em fornos j o mofto he del- DE Acn ICtTLTUP. A. 397 dclb rirado , fermentado &c. , como no Doiro ( § LXXXVII. ) , com a differen^a porem de fer trabalhada no lagar por mais homens , em razao de fer o leu fucco mais efpeflb , e por iflb mais difficil de fe extrahir. De- pois defte vinho o melhor he o que fazem da uva Ausbruch oder beerweis , de cujos caixos efcolliidos tirao o mof- to , como no Doiro ( § LXXXIII. ) , e o lanfao em tuneis , onde , palTados alguns dias de fermentaqao , Ihe lan- jao da mefma uva meia paiTada , e ieparada do engafo algumas ceftas , para Ihe dar a do9ura agradavel , que tern. Depois de ferraentado , he tra- fegado , e clarificado , como no Doiro ( § LXXXVII. ). Tambem o fazem nao Ihe ajuntando as ceftas de uva meia palTada. O rinh» ordinario de Hungria he feito quafi do mefmo mo- do , que o vinho de venda do Doiro ( § LXXXVII. ). Nas Canarias , e Alicanie fazem os feus vinlios como na Hungria , ou Doiro. Em Champa- iiha faz-fe hum bello vinho branco de uvas pretas , cujo mofto extrahem , como dicemos ( § LXXXIV. ) ; c -depois de fermentado , he trafega- do , e clarificado , como no Doiro (§ LXXXVII.). O vinho tinto dcfta Pro- 39^ M E M O R I A S Provincm he tirado das mefmas uvas , que o vinho branco ; porem fao vin- dimadas depois doSolquente, e pof-. tas mal pizadas ou em bakeiros , ou no lagar , e pafTados dous dias , fao pizadas \ cujo moflo entao extrahido lie Jan^ado a fermentar em tuneis bem puros , e limpos, e depois de fervi- do he trafegado , e clarificado , como no Doiro ( § LXXXVII. ). Quando o tempo he frio , paffao-fe mais de dous dias , para que fe pizem , e co- mo entao podem tomar o gofto do engajo , as defengajao , quando as pizao , mal pizadas com forcados de tres , ou quatro pontas. Os vinhos ver- melhos de Borgonha fazem-fe da mef- ma forma , que os de Champanha ; porem as uvas fao logo que chegao ao lagar pizadas , e defenga^adas , e depois deixao cuvar por dous dias , ou mais , conforme o tempo , e depois palTao o mofto para tuneis , onde fer- mentad , no refto nao tem diiferenja tlos que fe trabalhaS em Champanha. Ateqiii temos vifto os diverfos methor dos de extraliir o mofto , e fazer del- le o vinho no nolTo Reino , e fora delle , agora vejamos , qnal Jie o me- Ihor j mas antes dilTo he necelfario faber , como do mofto le forma aauel- 'le DE AgRICULTURA. 399 le faborofo liquor , o que nos induz raturalmentc a fallar da fermentacao vinofa. Da fermentacao Vinofa. § XCIII. OS melhores Chymicos modernos entendem i^ov fermentacao vino- fa aquelle movimento efpontaneo , que dadas cert as circumjlancias , fe exci- ta foment e nos fuccos ^ ou fluidos mu- cilaginofofaccharinos , que depois del- le mudad inteiramente de proprieda- de , e fe tornao em hum liquor par- ticular branco , ou mais , ou menos co- rado , de cheiro aromatico , fabor al- gunia cnuza piquante , e quente , e que hebido defproporcionadamente em- hebeda , 0 qual chamno 'vinho. A ex- j^ericncia (em moRr.ido , que foiTiente as marerias gommolb , ou mucilagi- nofo-doccs foffrcm efta fennentaqao ; mas para que c!!a tenha lugar fao pre- ciias as condicoes fcguintes : i.-' que aquc'Ua? materias eftejao n'huma flui- dez vircofa , nem muito flu Ida , neni muito efpefla : 2.=' que tenhao o con- ta(flo de athmosfcra : ^.'^ que eftejao expoftas a lium calor de lo are 15" graos 400 M E M O R I A S graos do theimometro de Reaumur; em maior calor a fermenta^ao he mui- to rapida , e por iffo nao he a mc- Ihor; em menor calor nao he boa por ier muito lenta : o frio porem oppoe- fe-lhe: 4.^ Huma grande maffa , em que fe pofla excitar hum movimento rapido. § XCIV. As experiencias dos melhores Chy- micos modernos , e mais exadlos fa- zem crer , que a cauza defte movimen- to inteftino he devida a decompofi^ao d'agoa pela materia , ou principio car- bonaceo , e oleofo deftas materias a be- neficio do calor ; donde o oxyginio d'agua (21) combina-fe parte com o principio carbonaceo , e forma o aci- do carbonaceo (2-2) , que fe defenvol- ve , durante a fermentayao , formr.n- do as bolhas , que entao fe obfervao ra fuperficie do liquido , onde fe for- jna huma athmosfera muito nociva aos vinhatciros , cujo antidoto he cheirar o alcali volatil : a outra parte do oxy- ginio d'agua combina-fe com a parte do oleo fixo exiftente no mofto , efor- ina o acido tartarofo. O hydroginio d'agua combi]>a-fe com o oleo menos fixo do mefmo moflo , e f6rma o el- DE AgRIGULTURA. 40! pirito de vinho (25) • O liquido mui- to fluido 1)3.6 fenncnra ; porque a ac- qao dos principios carbonaceo , e oleo- jo he diminuida fobre os principios d'agua. O liquido muito efpefib tam- bem nao fermenta bem , porque os di- tos principios nao podem obrar jivre- menre fobre a agua ; logo o eftado iiuido medio fera o melhor para que fe pofTa excitar a fermentajao. O con- tacfto do ar he precilb , nao fomente para que favoreca com o feu pezo a decompofifao d'agua , combinajao dos leus principios , e o que he muito eC- fencial para que pofTao defcnvolver-fe as materias aeriformes ; ma? tambeni })ara que fornega algum oxyginio pre- cifo. Da reac^ao routua deftes princi- pros refiilruo os fjguinies fenom?nos : 1.° moviinenro no liquido , que fe augmenta at(i ccrto ponto , e depois diminue, e fe torna infenfivel no iim da fermentacad : 2." augmento confi- deravel na ma'Ta do liquido: 3.^ turvo- cao do mefmo Iqijido: 4.* augmenro do calor de lo ate i8 grdos do thenno- iiietro dc Reaumur : 5." defenvolucao de p.uiito acido carbonaceo : 6.^ formacao de huma crufta das partes heteroge- iieas na fuperficie do liquido , que fe fende , e fe precipita pouco a pouco To}}i. 11. Cc de- 402 M E M O R I A S depots de acabada a fermenrac^o: 7.* diminui^ao da mafla total do iiquido: S.** em lim Iiuma inteira mudanga na ratureza do liquor (24) . Todos eftes fenomenos defappareccm , quando afer- mentafao acaba ; e entao o Iiquido fe torna de differente natureza, tranfpa- rente , faborofo , &c. e conftitue o vi- nho. § xcv. A experiencia tern moHrado mais 1.** , que logo que a fermentafao vinofa acaba , o Iiquido fe torna tranfparen- te , e OS fenomenos affima referidos ceffao , he mifter logo logo feparar o vinho da borra ; fenao pafla immedia- tamente a fermenta^ao acida , e fe vai tornando em vinagre : 2.° , que liuma vez , que o vinho comece a szedar- fe, nao he facil embara^ar, que nao fe azedc cada vez mais , a pezar de fe feparar da borra : efte trabalho nao faz outra couza , fenao que a fermen- tajay acida feja mais lenta : 3-° ? ^^^ OS vinhos em grande maifa nao le aze- dao tao facilmente , como em peque- na maiTai: 4.°, que o contacf^o do ar ta- vorece muito a fermentacao acida : $> , que qualquer corpo azedo mettido no vinho faz , que logo fe comece a azed-if. Si Dfi AGRicuLttjR a: 463 § XCVI. Jd vlmos ( § LXXXIX. ) qime^ fad as fubltancias , que fomente podem dar vinho J as uvas , por iflb que tern a prlmazia entre elJas , dao o melhor vi- nho ; mas nem todas dao a mefma qualidade de vinlio; pcrque a experien-^ cia tem mollrado , que elle varia fe- gundd a qualidade das uvas , clima , expofijao ao fol , terrene , tempo da vindima ^ eftado de madureza , modo de extrahir o mofto , as materias ef-' tranhas , que mifturao com el'e , ou com as uvas , conforme he mais j ou menos bem fermentado , o trabalho j que Ihe fazem depois de fermentado , e as yafilhas era fim em que fermen- tao , e fe guardao. Exarairiemos cada huma deftas couzas ; por^m antes diflb notenios , que o vinho , conforme as melhores analyfes ^ que fe tem feito ^ e eu tenho repetido , contem agua , ef- pirito de vinho , e rartrito acidulo de potafla j ou cremof de tartaro mifiu-' rado com hum extraclo gommo-^refi- nofo , a quem 09 vinhos devem a Aia c6r vermelha , ou alambreada. A agua he em maior parte do que o efpirito dc vinho, e efte em maior, do que O Cc ii ere- -404 Memoria s cremor de tartaro. O extrado gom- mo-iefinofo nao perrence ao iucco das uvas, mas ella unido junramente coin huma fubilancia gommo-doce na parte interna da pellicula das uvas ; enrra em fennentacaS igualmenre com o fuc- co , e a parte relinofa cora er.tao to- do o liquido. Qual a melhor cajla de uva para dar bom vinbff, $ XCVII. A vlmos ( § XLIX. , L.-^ LIT. ) a maior parte das uvas de Portu- gal ; inas por ventura todas ellas po- derao dar bom vinho? nao certamen- te. Vimos (§ LXXXIX. ) , que fomen- te podem dar bom vinho aquellas ma- terias liquidas mucilaginolb-doces de huma fluidez nem muito tenue , nem muito cfpeffa. Logo daqui fe deduzem as feguintes regras. I.* As uvas muito* fuccofas na6 po- dem dar bom vinho j e muito menos fe forsm ao mefmo tempo pouco doces. 1.^ As muito fuccofas , e doces dao imelhor vinho , que as precedentes , mas nao fao da melJior qualidade. 3.=' As muito pouco fuccofas na^ po- DE AgRICULTUBA. 407 pcdem dar bom vinho , e muito menos le forem pouco doces. 4.* As uvas , que travao tambem nao pvodem dar bcm vinho , porque tatrbem ha de travar, e ir.uito peior fe forem pcuco doces. 5.=* As uvas mediccremente fucco- fas , e alguma coufa carnudas , e dcces ierao aquellas , que fomente podem dar hum mofto capaz de dar o melJior vinho; e muito melhor fe tiverem ao meimo tempo algum chei:-o agradavel : logo cntre as uvasbrancas, que refe- rimos ( § XLIX. ) , as melhores fao a mufcatel hranco , mufcatel de Jefus , malvazia , alicante , fernam -pircs , "valde arinto , formofa , e perola. En- tre as pretas fa6 a viarota , bajlardo , hajlardo de outeiro , e a mortagoa. Entre as vermellias he fomente a mof- catel rocha. 6.^ Aquellas , que fao muito fuc- cofas , porem ao luefmo tempo muito carnudas , e doces , podem tam.bem dar bom vinho; porque 11a fermenta- cao a parte carnuda corrige a dema- ziada fluidcz. 7.=> Entre as uvas boas as pretas cm razao da fua docura , e fabor particu- lar dao hum vinho mais fr.bororo , e agradavel , que as brancas ( cxccptuan- do 4o6 M E M O R I A S do ?.s mufcateis , malvazia , alicantfe , e algumas mais ) j ifto he conforme a experiencia. 8,* Entre as boas uvas as que ama' durecem mais fedo fao as melhores ; porque fe vindimao em melhor tempo, Eis-aqui as regras para conhecer" mos a melhor qualidade de uva , para dar o melhor vinho , feja qual for o feu nome , e a fua cafta ; ora ifto he o que importa ao vinhateiro como di^ cemcs ( § XLVIII. ). ^ XCVIII. O clima mais proprio para a uva he o que referimos ( § LIII. ) , onde tambem dicemos , qual era a fua me- Ihor expofigao ao Sol. O terreno pro- prio para a videira he fem contradic9a6 o referido ( § LIV. ). A vindima de^ ve-fe fazer fegundo as regras , que expozemos ( § LXXIX. ), Teroos re- ferido OS diverfos meios de extrahir o mofto , e de fazer vinho delle em Portugal , e em varies lugares eftran- ^reiros ( § LXXX. e LXXXIX. ) ; ve- Jamos porem agora qual he o melhor merhodo de Extrahir o mofto, e fazer vinho, Qual DE AgRICULTURA. 407 Otf^l 0 melhor meto de conhecer a boa uva , culti-vala , fabricala ; de extrahir 0 vwjlo , fazer 0 melhor xinbo , e conferialo por muitos tew.' pos Je77i alteracao alguma. Ou em gerr.l quaes Jao os prcceitos , e re- gras para fazer 0 melhor xinho. § XCIX. As iivas , que podem dar bom vi- nho , fad aquellas , que tern as condi- cf'es referidas ( § XCIII. 5'.^ ) , alem difto como fpmente as materias fluido- niucilaginofo-doces podem fermentar bem , e dar bom vinho ( § LXXXIX. ) ; he manifefto i.° Que fomente as uvas bem ma- duras podem dar bom vinho ; porque fomente nefte eftado adquirem a fluidez mucilaginofo-doce , que he eflencial ( § LXXXIX. ). As uvas verdes rem tern a docura , nem a fluidez propria ; alem de que a maior parte dellas fa6 de niao fabor , ou fabem ao azedo com travo. 2.° As uvas podres tambem rao podem dar bom viniio ; pao romcrte porque o feu lucco tern perdido a qua- Jidade fluido-vifcofo-doce j mas tam- bem 4o8 Memorias bem porque todos fabem , que hum a pcquena porca6 de materia podre met- tida entre as saas promove a corrupcao deltas. 3.° Que o fucco do engajo , fen- do de- rnao fabor , azedo , e adftrin- gente , deve neceirariamente perturbar o fabor agradavel , e adocado , que o mofto deve ter ■■, por confequencia o vigilante vinhateiro deve por todos os meios , para que o moflo nao perca a fua boa qualidade por meio do enga- ge; logo deve fcparalo , como a bai- xo cnfinaremos. No Doiro ainda pec- ca6 em na6 guardar cpni rigor ellas trez fegras. § c. Attendendo-fe pois ao que temos dito ( §§ LXXXIX. , XCI. , XCII. , XCIII. , XCIV. , e XCV. ) eis-aqui as regias , que o vinhateiro deve ri- gorofamente guardar para fazer os me- Ihores vinhos. Regra i.^ Efcolher as melhores qualidades de uva (§ XCIIl. 5.O • Regra 2.^ Cultivallas em terrenes appropriados ( §§ LIII. , LIV. , e LXXIV.). Regra. 3." Fabricalas fegundo as re- deAgricultura. 409 rcgras dadas ( §§ LV.- LXXVIII. ) . Regra 4.^ Vmdimar confarme as re- gras dadas ( § LXXIX. ) . Se o vinha- teiro quizer fazer vinho bianco de uvas pretas , deve fazer a vindima de ma- drugada ^ntes de nafcer o fol , como diccmos ( § LXXXIV. ) . Ccmo po- rem o nolTo clima permitte , que fe vinditne de huma vez fomente avinha, pcdern-fe ao mefmo tempo ^ vindi- ma feparar os caixos maduros dos ver- des > ou poiico maduros , e os faos dos podres ; mifturando os verdes com OS podres , que fervem para hum vi- nho inferior (25) . Em fim fe o tem- po , e a cafta da uva permittir , nao fe deve vindimar lenao depois que a uva eftivcr bem madura , e at6 mefmo meia paflada ; deile modo o feu fucco fe, torna mais doce , e mais vifcofo , e . dara fim menos quantidade de vinho; porem muito mais fuperior na qua- lidade. Regra 5'.'* VIndimadas as uvas, de- vem-fe trazer logo pai-a o lagar ou em cellas , como he coftume no Doi- ro , Champanha , Borgonha &c. , ou em dornas , como coftumao na Beira , e Eftremadura , com tanto porem , que fe nao demorem muito tempo nas dornas, e que nao Ihes entre a cliu- va , 410 Memorias va , por eftarem defcoberras , como he coirumc na Beira &c. ; devern-ie rer cobcrtas com encerados , ou outra qual- quer couza , que nao deixe paflar agua ; porque a cliuva as torna aguadas j e mas por iifo mcfmo. licgra 6.'"' As uvas em cliegando ao lagar (26) devem-le logo rrabalhar a mancira do Doiro (27) ; porem com ■efta adv«rtencla , que primeiraraente fe dcvem rrabalhar as uvas maduras , e faas , e depois as menos maduras mif- turadas com os caixos podres , que ja afimi devem vir da vinha como dice- mos ( § XCVI. 4.^ ) . As uvas faas darao o melhor vinho , e as outras hum vinho iiiuito inferior § XCV (28). Logo depois dos primeiros pizos , de- ve-fc feparar o engaco com forcados de 9 ou 4 pontas para que o mofto nao tome o gofto do engaco ( § XCV. ■ ^.° ) : porem o pe deve-fe cercar com huma porcao do engaco para fe ef- prejner com mais facilidade. Tambem le podem mifturar uvas da mefma caf- ta , mas de di(Ferentes rerrenos , como fe faz em Ai ( § LXXXVIII- ) , o que lie muito boa pradlica. Regra 7.=* Extrahido o mofto ( §^ XCVI. 6.^ ) , metta-fe a fermentar em itqneis bem rafpados , e lavados ate a ma- DE AgRICULTUKA. 4II madeira nova , como fazem no Doiro ( § LXXXllI. , e LXXXVII. ) : efta pra<5lica he muito boa ; porque por mais que fe lavem os tuneis nunca fe Ihes pode feparar aquelle cheiro aze- dp , que nelles fica depois que tive- rao vinho ; o qual cheiro nao fomen- te perturba o cheiro agradavel , e aro- matico do vinho , como tambem por- que favorece a que o vinho fe aze- de , como a faa experlencia tern mof- trado ( § XCI. 5.° ) i e como a par- te da madeira paftada do vinJio re- tem nao fomcnte efte cheiro azedo , mas tambem huma porcao de tartrito- acidulo de potafTa ( cremor de tarta- ro ) , que em razao da fua acidez de- ve promover a acidez do vinho ( § XCI. 5.° ) , he claro , que fomcnte ie- parando efta parte paftada dos tuneis, ficaremos fem efte fermento acido ; lo- go OS tuneis devcm fer rafpados ate a madeira nova , e lavados , como di- remos ( § CVII. ) . Os tuneis detem ficar por encher perto de hum pahno , para cue o mofto nao fe derrame pe- lo batcque na fermentagao. Regra 8." Lancado o mofto nos tu- neis , dcvem cftes iicar por encher per- to de palmo , como acabam.os de dl- zer j nao fomente para que 0 mofto fe nau 412 M -E-^M O R I A S nao derrame no augmento da fermen- rac.io; ma5 para que fe nad perturbe a niefiiia fermentacao eftrondofa ; por- que lendo cerLo , que ella nao pode execturar-fe (em o acceflb do ar ( § LXXXIX. ) , he claro, que quando o mcfto fahe pelo hatoque fica o reilo ■do liquido privado do acccfib doar, e por conl'cquencia ,deve diminuir-fe o movimenro inteflino. Com effeito ob- ierva-fe , que na fervura quando fe der- rama a] gum a porcao dc mofto , palla- dos alguns minutes a mafia abare , e pafiado algum tempo torna'a fervura a levantar , e a derramar mais mofto porquc tcve accelTo do ar ; e a mafia anda nefia alternativa, que nao he boa porque retarda a for?a da fermentagao. Lancado pois o mofto nos tuneis da forma que acabainos de dizer, deixa- fe fermentar com o batoque aberto ; e nao he precifo, em quanto fermenta , ]ancar-lhe nada , fe o mofto tern as qualjdades devidas , ifto he, doce , e de confiftencia vifcofo-fluida nem muito tenue, nem muito efpefi^a § LXXXIII. , e XCV. (29) . Se porem for maisliui- do, e menos doce, do que deve fcr , pode-fe remediar efta ma qualidade , efpcfiiindo-o , e reduzindc-o a devida conMencia , o que fc faz deitando-Jhe ar- DE Ag RICULTURA. 4I3 anobe, affucar, melaco , on niel , em quantidade iuficienre para que tome a devida confiltencia. He melhor lancar ellas materias quentes , do que frias , pcrque o calor ajuda a fermentagao. Nefte cafo rem lugar o lancar-lhe ca- inoezas , peras , figos , ou uvas paiTa- das. Neile mefmo cafo mandao alguns efpeffar o mofto antes de o deitar a fermentar ; mas efta pra6tica he de grandiffimo trabalho ate que chegue a dar ao mofto a devida confiftencia ; e o vinho adquire hum fabor parti- cular , e nao agradavel. Alguns Ihe lancao agua ardente : porem como efte liquido impede , e retarda as fermen- tacoes , he claro , que langado no mof- 10 antes de fermentado , na6 foinenre deve embaracar a lua iermenracao, mas deve-fc pcrdcr huma grande parte do jeu erpirlto pelo mefmo calor da fer- mcntacao : logo por cftas raefma'? ra- 760s fe deve lancar agua ardente ( quan- do for miiler, quero dizer , quando o vinho for fraco, e falto de efpirito ) no vinho depois de fermentado, e nao . no mollo. A fermentajao do mofto conhecc-fe bem pcios lenomenos re- fcridos ( § XC. ) , e pela forca dcftcs fc pode julgar da for^a da fermcuta- cao : quando os fenomenos vao aca- ban- 414 M E M O R i A S bando , ou ceffando , tambem o vinihd vai determinando a fua fermentajao ; e antes que efla termine de todo he mifter hir tapando pouco a pouco o buraco dos tuiieis , e tapalos inteiramen- w antes do ultimo termo , que he quan- do a crufta fe vai abrindo para fe pre- cipitar, ou nao, Gonforme a fua gra- vidade efpecifica ; e quando nao appa- recem afTima do liquido, fenao muita poucas bolhas de materia gazofa , ou aeriforme j em fim quando o Jiquor fe torna homogeneo, limpo , e tranf- parente ( § XC. ) : ifto fe deve fazer por varias razoes : i-° porque o liqui- do chegando a efte ultimo termo , co- mega logo a pafTar a fermentacao aci- da ( § XCI. ) , e como he difficil co- nhecer, e marcar o jufto ponto defte termo, he melhor, que nOs anticipe- mos alguma couza , no que nao ha pcrda (30) : 2.° porque a faita do ac- ceflo do ar impede, que o vinho fe iiao azede : 3.° porque tapando-^fe a tunel nao fe defenvolve todo o acida carbonacco , cuja porgao , que fica mif- turada com o vinho , o torna mais ef- pirituofo; alem de que tambem fenao defenvolve , e evolatiliza-fe a parte mais fubtil do efpirito de vinho, o que po- de ter lugar eftando o tunc! aberto » e ha- D E A G R I G U I, T U R A. 415: c haverdo qualquer caior. A iTeimen- tacao dura inais , ou meno? tempo le- gundo a efpelThra dos mollos : nos me- nos efpelfos he mais breve ; nos efpef- Ibs porem mais longa , e chega a an- no ; nao he mao fignal o tardar mais. O vinhateiro pois deve ter iflo em lembran^a ; para que fe nao engane, julgando que o vinho efta toldado , quando ainda nao acabou dc fermen- tar. Regra 9.^ Depois que os tuneis fe confervao tapados por 4 at^ 8 dias ( o que indica , que a fermentacao vi- nofa findou ) he mifter logo logo fepa- rar o vinho da borra , para que fe nao comece a azedar ( § XCI. ). Ella ma- nobra chama-fe trafegar , e confifte em paffar o vinho do tunel , em que f'ermenrou , para ourro tuncl , cu para pipas novas , ou rafpadas ate a ma- deira nova , e bem lavadas , e bafcu- Je^adas como cnlinaremos ( § CVll. ) , peias razoes aqui referidas , e apon- tadas no ( § XCVI. y.^ ), No Doiro coftiimao paflalo para pipas novas , em qu* defce para o Porto em barcos. O trcfego faz-fe de dous modes , ou paffando o vinho para vafilhas , e daqui para outros luneis , ou pipas ; ou paliando immcdiatamcnte de huiu pa- 41^ Me m o r I- a s para outro tunel , ou pipas por meio de iifao de lata , ou de vidro , ou bom- ba feita de propofito (31). Quando porem fe ufa de fifao he preclfo , que a vafilha , que rem o vinho efteja mais alta , do que aquella para a qual fe prctende palTar o vinho, quanto he a altura defta , o que fe faz muito bem por meio de hunia maquina de rolda- nas, que defereveremos ( § CX. ). O tempo do trafego he diverfo , porque o termo da fermentajao tambem he ora mais fedo , ora mais tarde ( § XCVI, 8.^ ). Eoi Franca coftumao fazer tres trafegos : o primeiro em Dezembro , o fegundo em Fevereira , e o rerceiro em Marco. No Doiro fao trafegados varias rezes r a primeira quando def- cem. para o Porto ; e logo que chega6 , •fao clarificado? , e fegunda vez trafe- j^ados (32). Nas outras Provincias d? Portugal nao le faz fcnao luim trafego no anno. Bepois do trafego he que fe pode lanpr agua ardenre com utrlida- de , como dicemos ( § XCVI. 8.=* ) . Regra lo.-^ O vinho depois de tra- fegado ainda conferva em fufpenfao muita parte da b'orra a mais fubtil, e como efta materia heter<»gcnea con- corre para que o vinlio fe azeds ( § XCI. ) J lie prccifo feparala por meio i)E AORICULTURA. 417 Ineio da depuracad , ou clarificajao* O vinho , que le Jiouver de gaftar at6 Julho ) pode muitas vezes eicuiar a cla- rificaf ao , ie fe nao comej ar fedo a aze-* dar ; porem o que Te houver de guar- dar para rnais tempo , e prineipalmeri- te o que fe fizer para o commercio > nao pode deixar de fer clarificado, para que fe nao azede , ou deieriore. A clarilicacao pode fazer-fe muito bem pelo metho^o do Porto (§ LXXXVIL). O vinho , feita a clarifica^ao, e palTa- dos 8 ate. 15" dias , fe for tintb ■, e mais fe for branco , acha-fe clarifi- cado f neite cftado torna-fe a trafe- gar para o feparar da borra , com. as mcfmas condi^ocs referidas acim^ ( § XGVI. 9.'); e depois delle tra-* fego tapa-fe bem o batoque do tunel , ou pipa para que Ihe nao .eritre af algum* Nao bafta fonlente huma clari- ficafao para depurar o vinho de toda a materia heterogenea , he mifter fa- zer duas , tres , e as vezes mais em hum anno j e tantas fao as clarifica^ ^oes, quantos fao os trafcgos , que fc lazem ( failamos do vinho" para guar- dar , e para o commmercio ; o vinho de venda pode efcufar efte trabalho , porque logo fe gafla. ) Os Champa- nhezes clarificao , e trafeguo os feus Tom, IL Dd vi- Jt3- Memorias vinhos Iiurna vez em Dezembro , outra em Feverciro , e outra em Marjo. Etn geral deve-fe clariiicar o vinho em quanto tivar algumi impureza (33), ifto he, em quanto fe nao tornar em hu n liquor homogeneo , tranfparente , p'^rfeitamente puro , e fern polme algum miftu'-ado , e de huma c6r ho- mo^ensa. Efta he a praftica do Doiro , Charnpanha , e em geral de todos os- Lugares , onde os vinhos fao afFama- do3. Em razao deile trabalho ( a pezar de fe nao fazer ainda a cultura , a vindimi , e extracgao do mofto com a devida perfeica6 , como fe ve dos §§ LXXXIII. , e XCVI. ^=; e 9.=* ) he que fe fabrica6 os "feellos vinhos do Porto , que durao annos e annos fem a menor alter^ijao. Quando os vinhos , a pezar de varias clarificajoes , fe nao ali npao , coflumao no Porto filtralos por hum fiJtro de lona bem tanada do feitio de hum funil , ou melhor, de huma pyramide conica , a que cha- rrrao ve//a ; os vinhos aflim filtrados chamao-fe limpos de vella. Tambem quando os vinhos nao fe torna6 per- feicamente clarificados por meio da clarificacao com clara de ovo , ou col la de peixe , pddem-fe-lhes Ian- e ar^iiiofas fee- cas , DE AgrICULTI/RA. 4!^ eas j e em p6 , e depois de algurts dias clarificalos cntau com clara de ovo , ou colla de peixe na forma acl- ma enilnada. O . barro , ou a argilla acarreta comfigo por tneio da clarifi- ca^ao todas , ou quafi todas as partes eftranhas dos vinhos , e os torna lim- pos. O barro deve fer o mais pure, que for poffivel , de terra calcarea por fer nociva , como veremos ( § CIV. ). Coftumao em todos os tr.ifegos m^xar as pipas , ou tuneis para onde Janfao o vinho f mas a efte refpeito veja- fe o que dicemos na nota 19 do § XCI. O vinho bom he aquelle, que he firme, encorpado , e ao mefmo tem- po leve , dc huma cor firme , brilhan- te , e tranfparente , de cheiro aroma* tico, e agradavel ; de fabor delicado, aromatico , adocado , e alguma coufa quente ; homogeneo , e tranfparente (34). Eftas qualidades fao exprimidas no feguinte adagio da Efcola de Sa- lerno :=: Vina probantur odore , fapo- re , nit ore , colore • de maneir^ , que aos provadores de vinho bafta velos , e cheiralos para que conhc^ao a iua boa , ou ma qualidade. O Leitor pois poderd agora co- nhecer , quam mais generofos ferdo os vinhos feicos fegundo as regras dadas Dd ii ( S 420 M E M O R I A S (§ XCVI. i.a e ro.»), que nao f6- mente envolvem o que ha de melhor jia Pra(ftica do Doiro , e das Piovin- cias da Franja , Italia , Alemanha , Hefpanha , e das Ilhas , cujos vinhos fao mais notaveis , mas ainda varios preceitos tirados de huma faa theoria , confirmada pelas minhas experiencias , e pelas de muitos Chymicos do maior name , e mcrccimcnto. Para le conhe- cerem os. defeitos , que ha em Por- tugal na manufacHiura dos vinhos , baf- ta comparar as regras , que expuze- mos ( § XCVI. i.a e io.» ) com a pra(ftica das Provincias da Beira ( § LXXXI. , e LXXXV. ) ; com a pradlica da Eftremadura ( § LXXXII. , e LXXXVI. ) ; e com a do Doiro ( § LXXXIII. , e LXXXVII. ). As outras Provincias feguem a pradica ou da Beira , ou da Eftremadura , e muito pouco a do Doiro , que he a melhor. Atequi do modo de fazer o vinho , agora das fuas alteragoes , ou. cnfcrmidades. PAR- DE AORICULTURA. 42I PARTE IV. Das enfermidades do vinho , e fuas falfificacoes. § CI. OS vinhos adoccem , ou alterao-fe de quatro modos i.° azedando- fe : 2." apodrecendo : 3.° engor- dando ; 4.° toldando-fe. Quando o vi- nho acaba de fermentar, fe nao he logo fcparado da borra , pa(Ia a huroa nova alterajao, cm que fe azeda , a qual cha- mao fermenta^ao acida ( § XCI. ) : efta alteragao he natural a todas as ma- terias , que fofFrcrao a fermentacao ef- pirituofa , ou vinofa , fe a cafo na6 le Ihc oppoem os nieios de a evitar. A experiencia tern moftrado , que a borra favorece a fermentagao acida do vinho (35-) •, que efte retem fufpcnfa a parte m^is fubtil da mefma borra , que deJle fe nao pode feparar fenao por meio da clarifica^ao. O vinho tendo con- tacflo com o ar , e eftando u^huma at- mosfera de 15' ate 25* graos de ther- mometro de Reaumur azeda-fc, e com inuito maior promptidao fe nao tiver 4^2. AIemorias fido feparado da borra, e clarificado. Efte liquido em mafla menor azeda-fe mais deprefla , que em mafia maior, O muico frio impede , que fe nao aze- de. As matejfias acidas , ou azedadas promovem promptamente a fermenta- ^ao acida do vinlio : elte o motivo por- que OS vafos, que tiverao vinhos, em razao de eftarem azedados , devem fer rafpados ate a madeira nova , e bern Javados, como dicemos (§ XCVI. j.^) . Tudo ifto he huma verdade de fado confirmada todos os dias. Logo para que OS vinlios fe nao azedem , iie ne^ ceiTario que feja6 poftos em condifoes contraries, quaes fao i.' : Livralos do accelTo do ar , enchendo bem os vafos , em que fe deitao , e tapando-os bem. t.^ Separalos da borra. 3.^ Clarifica- los para delles feparar a parte da borra tida em lufpcnfao , o que fe faz , co- mo enfinamos ( § XCVI. 8.^- 10.^ ) . 4.=» Guardando-os em grande quanti^ dade , ou tambem em garrafas bem ta- padas , e lacradas, f .'^ Confervando-os em lugar frio. 6."" Nao llies chegando corpos azedos : daqui fe ve , que o inexar as pipas nao he util , e pode fer damnofo , fe os vapores do enxo-^ fre forem muitos , porque eftes fao a^- cidos y e que o rap^r as plpas he DE A GK r CULTUR A. 423 hmna bella pradica , porque f6menre afTim fe pode feparar a ir.adeira azc- dada pelo vinho velho , que ie enira- nhou por elJa , e fe azedcu. 7.^ Lan- ^ando-lhe agua ardente ; porque tfta embaraja as fennenta^oes , e por cfTa mefma razao fe nao deve deitar no mof- to , como notamos ( § XCVI. 8.^ ) : a quantidade he varia , maior nos que fao fracos , e propendem niais para fe azedarem. Eftes meios raras ve- zes fe podem fazer juntos; empregao- ie conforme as commodidades , para que OS vinlios nao fe azedem. § CII. Eftes OS meios para que os vinhos fe nao azedem ; mas fe por algum def- tuido comejarao a feazedar, he dif- ficil remediar o damno , e os feus pro- gielTos ( § XCI. ) ; por iflb o vinha- teiro ou deve logo vende!os para fecon- fumirem , antes de fe azedarem mais ; ou diftillalos para agua ardente , ou abrir-lhe o batoque , e deixalos tornar em vinagre. Com tudo no principio p6dc-fe disfar^ar o azedo , J<^nq.?ndo no vinho affucar , mela^^o, inel , ou ou- tras quaefquer materias doces em baftan" te quantidade ; e parece , que eftas ma- te- 424 Memorias terias entrando na fermenragao vlnojfk demorao a fermentajao acida do vi-r nho J e defle modo fazem parar o feu progrelTo. Tambem fe pode remediar por algum tempo lancando-lhe efpiri-? to de vinho tartarizado , porque oaU cale fatura-fe com a parte acida , e forma iium fal innocente ; e o efpiri- to de vinho retarda a fermcntajao aci-r da. Alguns attendendo mais aos ff^us interefles , do que aos deveres da hiir manidade , ianjao no vinho para dis- farjar o azedo caes de chumbo , como alvaiade , zarcao , fezes de euro &c. He verdade, que eftas caes combinan- do-fc com o vinagre formao o vinu-* griro de chumbo , ou aflucar de fatur- no , Jium fal adofado , que em razao ^o feu fabor , e diiToIvido no vinho disfarfa o azedo j porcm efte fal he hum venenp lento , e muito nocivo ; e por iflb dc nenhum modo fe deve ufar de tal meio. Outr-os Ihes ]an9a6 cal , ou carbonato calcareo em po ( ere , ou grcda ) , ou cafcas de ovos torra- da?. Outros larjao fulfurato calca-r reo ( ^.dio ) cm p6 , ou pedra hume : jienhutna deftjs materias embarac-a d, fermentacao acida ; e pofto que algu- jnas disfarcem o azedo do vinho , com ;udo nao f? devem ufar porque fao. noi? DE AgRICULTUPA. ^1^ civas , como vcremos (§ CIV.) , ondc fallamos mais extenfamente dcilas ma- rerias. Ourros lancao hum arrarel de pez em p6 por pipa : do bom effeito defta refina nada poflb dizer , porquq nao rcnho della experiencia ; com tur do julgo que tera muito pouco cHeito. O unico iignal certo , que nos pode enflnar que o vinlio ie difpoem a azedar, he o tornar-fe turvo com fir lamentos mais , ou menos fubtiz a na- dar pelo liquor. O caraifler do vinho azedo he o ieu fabor^azedo ; os outros jfignaes de que ufao para conheccrem a difpoficao azeda do vinho fao to-- dos enganofos ; o da bexiga cheia de ar fobre a pipa nada enfina de certo. Se o vinho tomar com o xaropc de violas huma cor vermelha , fendo o vinho branco , comeca-fe a azedar; o mefmo he do vinho tinio diiuido invenio , c outra frcfca chamada Cave ., 444 Memorias Cave , para o verao quente. Os noflbs antigos , e o author dos Segredos da Agricultura recommendao, que as Ade- gas efteja6 na expofigao ao Norte. Po- rem fe refledliirmos i." que o nimio calor , c o nimio frio fao nocivos ao vinho , como todos confeffao ; o nimio calor porque aprefla deraaziadamente a fermentacao vinola ( § XCIII. 3.^ ) , o que nao he bom , e podc cauzaral- guma das cnfermidades referidas ( § CI.—' CV. ) ; o nimio frio impede a mefma fermentaj ao , e nao deixa o mol- to acabar de fermentar (§ XCIII.): 2.° que a nofla expoficao ao Norte he a mais quente no verao, e a mais fria no inverno ; e que ao contrario fuc- cede na expofigao ao Meio dia ; fe re- fleflirmos torno a dizer fobre o refe- rido , veremos , que a melhor expofi- cao das noflas adegas he a do Meio dia. Com cfFeito alguns dos noflbs vi- nhateiros tern chegado a conheeer ifto , mefmo pela fua obfervagao , que tern muito bem correfpondido com o que temos di(fto. Como a experiencia tern moftrado , que as cafas terreas , ou foa- Ihadas de pedra fa 6 mais frefcas , do que as foalhadas de madeira , e co- mo o nimio calor he mais prejudicial ao vinho , do que o frio ^ he claro , que as DE AgRICULTURA. 445" as adegas devcm ou fer teireas , ou foalhadas de pedra. Como as cazas forradas , e foalhadas de pedra fao mais bem guardadas do nimio calor, e do nimio frio, he manifefto, que as ade- gas forradas por fima de madeira , e jnuito melhor de tejolos , ou de pe- dra , e foalhadas de pedra ferao as me- Ihores. Ifto pelo que toca a expofi jad , e conftruccao j agora fallaremos da fua limpeza. „ As adegas ( diz o AutJior dos Segredos da Agricukura ) devem J, cftar feparadas de toda a cafta de mdo ,5 cheiro , e de eftrume ; nao fe deve met- „ ter dentro coufa alguma , que tenha „ mao cheiro , como queijos , alhos , „ cebolas , azeite , couros , legumes , J, nem outras coufas femelhantes j por- „ que nao ha coufa que mais corrom- „ pa o vinho , principalmente o novo. „ Com efFeito aflim como o vinho con- trahe facilmente o cheiro das materias aromaticas , que fe Ihe ajuntao ; a/Tim tambem contrahe facilmente qualquer mao cheiro , qne fe exhalle na Adege. Entre nos tambem ufad de lojas , e ar- inazens para vinho , o que nad he mui- to bom ; porque as adegas devem ef- tar feparadas, e fobrc fi. 44^ M E M O K I 4 g» §^ CXIII. Dentro da Adega fe faz ordina^ riamente o lagar , que fe pode fazer de emprenfa J oa de vara : cfte he me- Ihor ; porque he mais maneiro , e a fua forga , ou pezo he muito baftan- te para efpremer todo o mofto. O /*- gar deve rer hum declivio para a par- te da bica ; a tim dc fe poder efgo- tar por ella rodo o mofto. Como as uvas devem fer trabalhadas no lagar da maneira referida ( § C. 6.» ) , c cfte trabalho fe dirige a- pizar bem os bagos com o fim de extrahir delles a 'cor , e a carne ( § C. 6.^ nor. 27. ) , e como para ifto he precifo occupar muitos homens , eftando ametade de referva , e outra trabalha-ndo ( § G. 6.^ ) ; he claro , que fe houver hum meio de confeguir ifto mefmo occu- pando fomente dous , ou trez homens , fera muito mais vantajofo. Ora ifto he o que fe confegue em hum lagapconf- truido da forma aqui reprefentada. A, B , C , he o chao do lagar , que de* ve fer foalhado de pedra. Dfg,DE g , D E f , fao as paredes externas.do Ja» gar , que devem fer de pedra de can- tarfa. O chao do lagar A , B, C ^ eftc di- . DE Agricultuka. 447 dividido em trez efpajos , ou partes A, B, Cj pelas duas paredes ff, e gg, tambem de pedra de cantaria, e da mefma altura , que as paredes ex- ternas DD , e EE. O efpajo C he maior , ou igual ao efpajo A , e o cfpa JO C he o menoi de todos i de ma- neira , que fomente dous , ou trez ho- mens poflao a'ndar defembarajadamen- te de f g para f g. Em C efta a vara do Jagar , e A he hum efpajo , que cftd vazio , e f6 tern huma bica i , que tambem os efpaqos B, e C tern. AfTuii conltruido o Jagar , mertem-fe as uvas logo que chegao da vinha em Aj e dous , ou trez homens tirao daqui , e lanf ao em B quantas uvas julgao baf- tantes para pizarem defembaraqadamen- te : logo depois dos primeiros pizos de- fengajad ; e acabadas de fer bem pi- zadas , tira6 todo o mofto com o ba-^ gajo para C j e vao fazendo ifto fuc- ceflivamente , ate acabarem de pizar as uvas , que eftavao em A ; ou que erao fufficientes para fazer hum pe pro- porcional a forga da vara. Depois dei- xao Jevantar, ou ( que val o mefmo) cuvar o mofto em C por ii, ou 24 horas ; e por fim tira-fe o mofto , e efpreme-fe o pe &c. Bern fe ve i.* que as uvas no pequeno efpajo B p6- dem 448 M E M O R 1 A S dem fer mais bem pizadas por 1 ou trez homens , do que por 8 no gran- de efpajo C j onde depois dos pri- meiros pizos o liquido fufpende os ba- gos , que fogem aos pes em razao do grande efpajo , que tern : 2.° que ha- vendo em B liquido , ou Aicco em copia , que levante os bigos , e Ihes facilite por iflb o efcaparaos pes; po- de-fe diminuir paflfando-o para C. Em .fim : :^° que ainda que hama mefma quantidade de uva gafte algum tempo mais em fe pizar em B per dous ho- mens , do que em C por oito , com tudo vem-fe a forrar a defpeza de dous , ou trez liomens > e ( o que he muito atten- divel ) efte traballio he mais facil , e certo ; por quanto as vezes cufta mui- to achar 18 homens promptos, ametade em trabalho , e a outra ametade em referva. Somente quem nao tem eftas fabricas , he que nao conhece os in- commodos, e defpezas, que tantos Iio- inens caufao. Alem de tudo ifto be fern contradiccao , que as uvas fa6 mais bem pizadas , e com igualdade , como affima dicemos , 0 que nao ke pouca vantajem. $ t) E A G R re tJ L T U R A. . 449 § CXIV. A maqillna de it)ldanas j de que fizemos menyao ( C. 9.^ ) he da f6r- ma aqui reprefentada 5 g H I L he hum reflangulo de trez pscas fepara* veis em I , H , de madeira , que ai^ feritao , e fuftentao-fe em p€ pelos p^s largos g, Lj o fariiho f p r E (que tern OS feus dous pontes de appoio em em p , e E nas pernas H g , e E q j que efta firme em n q na perna Hg ) tern preza a corda B m n o , que pafla pelas roldanas D , C , e que em B le abre em quatro divisoes das quaes duas prendem o tunel , ou pipa A da- parte de diante , e duas pela parte de traz. Tocando-ie o lariliio pelas fuas pernas SS pode levantar o tunel , ou pipa A quafi ate' a roldana C. As trez pernas g H , IL podem-fe feparar, e o iarilho pode-fe tirar, e metter a von- tade , o que facilita muito o movi- mento da maquina de hum lugar pa* ra outro. Delia ufao em varies luga- res eftrangeiros : com tudo devcmos advertir , que o trafego por bombas , ou por vafilhas , como dicemos ( § G. 9.^ ) faz-fe com mais prompti- dao , e menos trabalho ; porque por Tom. IL Ff Cm- 45'6 Memorias fimples, que fcja a maquina , gafta-fe tempo em fe mover de Jium lugar pa- ra outro , armar , e defarmar , arar , e defatar cordas &c. Porem tera algum lugar , quando a Adega efta muito cheia , e nao cabe nella mais valo al- gum ; porque entao levanta-fe o tu- nel A , e mett€-fe outro debaixo del- le em feu lugar , e trafega-fe para el- le o vinlio por bomba, ou por fifao; e depols tira-fe para fora o tunel A ; e o mefmo fe faz com os outros tu- neis cheios , cujo vinho fe quer tra- fegar. § CXV. Temos pois vifto qual he o me- thodo mais conveniente, e cautelas ne- ceffarias para a cultura das vinhas em Portugal ( § XLVII- LXXVIII ) ; pa- ra a vindima ( § LXXXIII. , e C. 4.^ ) ; extracjao do mofto ( § XCIX. , e C. 5".'^ e 6.3 ) ; conferva^ao , bon- dade , e fermentagao do vinho , e para melhor reputacao , e vantajem delle importante ramo do noflb com- mercio (§ C. 7.% 8.S 9.% e lo-S e § CI.-. CXI). Referindo ao mef- mo tempo as differentes variedades de cepas com os feus nomes triviaes, ari- DE ACxRICULTURA. 4^:1 Cara(flerizadas fegundo em outras .eP- pecies de frutas , e iias meliTias vi* dejias rem pradlicado o Abbade Ro- zier, Du-Hamel , e outros Naturalif-" taa Agricuhores ( § XLVlI.-< LII. ) : qual ieja a propriodade , e valor de cada huraa a refpeito da qualidade , e quantidade de vinho , que produz , e qunl o tcrreno , que jlies convem (' § XLIX.^ LII.; LIIL, LIV., LXXV.; XCVil. , e XCVIIL) : os inledos , e vermes ^ que Jhcs fao pernicio'- Ibs ; as cautelas uteis conrra elles , e OS modos cOnvenientes de deftruilos ( i LXXIX. -LXXXII.) : as enfermi- dades , a que as vinhas la6 fujeitas ( § LXXVai. , e LXXVIII. ) ; as cau- fas , e OS remedios experimeutados de algumas cnformidades , a que o vinho Jie rujcito ( § CI. — CV. ) : os fneios: de OS tazer ifcntos de todas as enfcr- midades ( CI. ) : o diverfo methc- do de o fazer pradlicado cm varies lugares dcrte Reino , e fora delle ( § LXXXIX.-- XCII. ) : como tam- bem o de o guardar , e purificar para o commcrcio ( § XCIX. ^ e C* ) : os meios de conhecer os que fao nialicivofa- raente falfificados (§ CVI.-CVIil.) : c finalmcnte como fe podem imirar OS melhores vinhos eftrangeiros , co- Ff ii mo 45** Memorias mo o vinho branco de Champanha , os vinhos de Borgonha , Silleri , Ai , Haut- villiers , Hungria &c. ( § LXXXVIII. , e XCII. ) . Os vinhos mofcatel , mal- Vflzla y de alicante &c. fazem-ie das uvas mofcatel , malvazia , alicante &c. pclas regras dadas ( § XCI. ) ; fao tanto niais generofos , quanto male doces fao as uvas , e quanto mais ma- duras eftao , de mancira que fe co- Iherem ja meias pafladas darao hum vinho melhor. Os contrafeitos nunca chegao a imitar os naturaes , e quan- to mais , que podemos fazer natural- mente os melhores vinhos , porque no noffo clima produzem bem todas as caftas de uvas. Tao liberal tern fido para com nofco a provida natureza , e ; tao pouco nos lemos aproveitado dos feus favores i Slquid novljli rttllus ijlis « CendiSui imperii , fi non ^ hit utere mecum. Huraci9. NO- DE AgRICULTURA. 45*3 N O T A S. (i) Os nataraliftas tem-fe dividido em dous partidos fobre a origem dos faes mi- neraes , que fe acha5 nas plantas : huns dizem , que eftes faes dilTolvidos nas en- tranhas da terra pela agua , fao acarreta- dos , e introduzidos pela mefma agua nos vegetaes pclos vafos abforventes fern al- tera9a6 alguma : ourros penfao , que as plantas fao capazes de os produzir em fi mefmas pelo feu organifmo particular. He certo , que duas plantas muito difFerentes o tornefol ( croton tiir^orium de Linneo ) , c o mille-folio crefcendo em hum mef- mo terreno , a primeira da o nitro , que Ihe he proprio , e a fegunda da o fulphu- rato de potada , ou tartaro vltriolado , que he o feu fal effencial. Huma fo experien- cia bem feita decidiria o cafo , como diz Fourcrqy , c confifte em fazer vegetar hu- ma planta , que fomente defle hum fal effencial conhecido , como o nitro por ex- emplo , em hum terreno bem lixiviado , e livre defte fal , e depois regalo com agua carregada de outro fal , como o fal marino ; e f e a pezar difto a planta nao deffe fenao o nitro , feria certo , que a planta produzio o nitro. Com tudo a pri- meira opiniao parcce muito mais prova- vel pelas experiencias de Boyle , Helmort eio y Du-Hantel , Bonnet , EUer , e outros" Os faes , que fe achao nas plantas lejao ,• ou nao mineraes , chamao-fe faes eflfen- ciaes a tal , ou tal planta ; potem elte no- 454 M E M O R I A S nome fe deveria dar fomente aos faes propriamenre vegetae^ , cotno o crcrnor de tarcaro , &:c, (2) A terra que fe acha nos vegetaes ciepois >morias da Academia de Lisboa anno cic 1788. ( Tom. I. dejtas Manorias) . (m) Todas eltas fubltancias fervem em razao do acido carbonaceo , que contem C § XXXIV.) ; mas pelo que dicemos (S XXXIII. ) p6de-fe duvidar , como o car- bonato calcareo , fendo muito pouco folu- vel na agua , pofTa dar o feu acido aos vegetaes ? A iflo refpondo , que do car- bonato calcareo fomenre entra aquella pe- quena parte foluvel na agua, e dentro do vegefal por dccompofi jao > que ?hi lofFrq , per- DE AgRICULTURA. 45*7 pcrde o ieu acido , que entra etitao na ve- geta9ao ; e polio que defta materia entre para o vegetal muito pouco per dia , com tu- 00 no £m do anno vem a entrar huma quan- tidade fenfivel , e entao o feu effeito feri fenfivel. Logo o carbonato calcareo he dos melhores eftnumes , i." porq ue ofeu eiFei- to he fim lento, mas muito duravel : 2.° porque ainda que efteja faturado de acido carbonaceo , com tudo attrahe o da ath- mosfera , como confta das cxperiencias chy- micas , e defte modo nao fomente per U , mas tambem pelo acido , que attrahe da athmosf ra , lerve para a vegeta9a6. Que o carbonato calcareo entra nas plantas , nao ha duvida , porque acha-fe nas plan- tas nas terras , onde o ha. As conchas ttioidas , e o marne pouco fe difFeren9ao do carbonato calcareo. Alguns recommen- ^ao como eftrume a cal viva , porem efta nao fer ve de eftrume , fenao depois dc fe combinxr com o acido carbonaceo , e en- tao efta no cafo do carbonato calcareo , que he mcnos difpendiofo , que a cal viva. (14) Quando guardac os bacellos do ou- tono para plantarem na Primavera , cof- tumao enterralos mais de ametade em ter- ra nem fecca , nem demafiadamentc hu- mida. (15) Se as cova? fe poderem fazer era fileiras , fera melhor , (§ LXV. ). (16) Muitos fujeitos prefumidos de agri- cultores repararao em dizer eu , que fe man- dem arrancar pouco a pouco as videiras , para plantar outras cm leu lugar , a fim dc ter 45"8 M E M O R I A s tcr em cada quarteirao de vinha videiras de huma fo caila , e nao mifturas de diver- fas qualidades ; e fe perfuadirao talvez , como ja me dicerao alguns , que ifto mef- mo fe poderia confeguir mais facilmente , enxerrando-fe humas nas outras. Enxer- tar huma videira branca , c doce em ou- tra preta , e de mao gofto ; e pelo con- trario enxercar huma videira preta , e boa em ourra branca , e de mao fabor -, fern pretender , que deftes enxertos fe figa hu- ma alterafao , ou mudanga fenfivel nas uvas da videira enxertada , he hum erro craflb contra o que enfma a cxperiencia , e as regras folidas de huma Agricuhura filofofica : por quanto hum limoeiro azedo enxertado em outro doce, ou em Jaran- jeira , muda de gorto , e nao fomente cor- na-fe menos azedo , porem rem alguns go- mos inteiramente doces : o contrario fuc- cede no limoeiro doce enxerrado no aze- do , o qual torna-fe menos doce , e tcm gomos azedos. Eu vi em huma qninta ao pe de Condeixa , comarca de Coimbra , hu- ma limeira , que fendo enxertada em la- ranjeira duas vezes , dava ja limas intei- ramente femelhantes as laranjas na gran- deza , na cafca, e no cheiro , e fomente abrindo-fe , he que fe conhecia fer lima pela cor dos gomos , e fabor , que era medio entre o da lima , e laranja ; per- £uado-me, que fe defta limeira fe enxer- tafle terceira ate quarta vez em laranjei- ra , teriamos huma nova cafta de laranjas. Vi hum enxerto de mufcatel feito na mou- rifca, cujas uvas tinhao hum gofto dege- ncra- deAgricultura. 45*9 fierado com algum rravo , ainda cjue fe £onhecia muiro bem fcr mufcatel. Ai'rm mefmo enfina a razao ; porque preparan- tkj-l'e o fucco defde as raizes , e tronco da videira ma para dar Iiuma uva ma , eiurando eftc fucco a Him preparado nos v;'.fos do enxerto da videira boa, nao po- dera fcr tao bem trabalhado per cft:;S va- fos para dar huma uva tao boa , como fe ellc defde as raizes da videira viclTe tra- balhado , e ja deftinado para formar hu- ma boa uva. Quern for contra ifto , rriof- trara ignorar as leis da economia vegetal , contra as quaes nao ha experiencias fe- nao mal fcitas , e mal obfervadas. Hum menino nao fe pode nutrir bem com h.um m.'io leire. O cnxertar pode ter , c tern efTe affim mef- ITTO da fua bondade. (^o) A fermenta9a6 vinofa nos feus \A- timos termos nao precifa do acceffo do ar para que fe termine , como tenho muitas vezes experimentado. He predfo tambem haver caurela em tapar qs tuneij ; por- que DE AgrKSuLTuIIA. 4^5- iquc fe forem tapados de repente , ha- Vendo ainda defenvolufao de materias gazofas , he facil arrebentarcm : razao forque fe deve ir ajuftando a tapadoi- ra pouco a pouco ^ de mancira , que fe- ja mais facil faltar ella fora pela forja das materias gazofas , do que arrebentar O tonel. O vinhateiro pois deve ir hum dia por outre correr a fua adega , e ajuf- tar cada vcz mais as tipadeiras ; e tornaf a msrter aquellas , que fe tiverem def- ajuftado , 011 falrado fora pela forja dos gazes , ou vapores. (^i) O trafego feiro por bombas , ou por fifao he meihor ; porque o vinho he me- nos tempo e:tpofto ad ar , que Ihe he liiui- to nocivo. C?i) Os vinhcJs defcem do Doiro pira o Porto desd" FevereirO ate ao fim de ]u- nho , ou Julhoi e aquelles , que por fal- ta? de agiia no rio nao poderao defcer , fao trabalhados da niefma forte no Doiro aonde ficarao. (^5) Nao temos outro meio de feparar 60 vinho as materias heterogencas lenao pela clarificafao. (Vl-) O feu pefo efpecifico deve fer de ifOi^Si ate t,99^9, tomando o pefo efpe- cifico da aqua por unlidade. (^5) Parece , que a borra promove a ffcrmentafao acida , em razao do cremoc de-tartat'o, qac contem', que he acidiila- do , ou azedado ; e os corpos azcdadoS firomovem a fcrmentafao acid^. (^6) Gomo i decompofifao da agua a tfeneficio do caior he a principal c.'.ufa das Tom. Ih Cg fcr- 466 Memorias fermentafoes vinofa , acida, e pod re (vc- ja-fe Fourcroy , e DilTertafao fobre a Fer- menia9a6 por Seabra ) ; he provavcl , co- mo efte diz , que a agua atdentc em ra- zao da fua grande affinidade com a agua, combina-fe com ella , e nao a deixa fet decompofta , e por confequencia nao da lu- gar a que haja alguma das fermentajoes feferidas ; e por ifllb a agua ardente he hum antifermentativo. (^7) Parece , como ja temos feito ver ( § XCIV. ) , que humas fermentafoes fe oppoem as outras ; e daqui refulta o mo- vimento inteftino triplo , e a grande turva- (fao do liquido. Para darmos huma razao mais clara defte fenomcno , he mifter que entremos no exame da caufa de cada hu- ma das tres fermenta9oes , e dos feus di- verfos produ6los. Ja vimos ( § XCVI. ) a caufa da vinofa , e dos feus produc^os , que fao acido carbonaceo , que fe defenvolve ( compofto de principio carbonaceo , e oxy- ginio da agua decompofta); acido tarta- rojo ( compofto de oleo fixo , e oxyginio da agna decompofta ) ; e efpirito de vinho ( compofto do oleo menos fixo , e hydror ginio da agua). A fermentn.(^ao acida he tambem devida ( a beneficio de hum maior calor) em grande parte a decompofi9a5 da agua , de cujo oxyginio parte combi- nando-fe com a parte oleofa do efpirito de vinho , o torna em vinagrc ; parte fatu- rando mais o acido tartarofo , o torna tam- bem vinagre ■■, e pj^rte combinando-fe com materia carbonacea , forma o acido carbo- naceo , que fe defenvolve com a maior par* DE AgRICULTURA. 467 parte do hydroginio da agua em eftado de gaz. A fcrmenta(iao podie he tambem de- vida a continua^ao da decompo3avega9a6 Portugueza. CoIIecfao de Livros ineditos de Hiftoria Portugueza , dos Reinados dos Senhores Reis D. Joao I. , D, Duarte , D. AfFon- fo V. , e D. Joao II. , 2.^ e ^.° vol. Dicciouario da Lingua Portugueza. Memorias de Litteratura Portugueza , I. e 2. vol. Memorias Economicas da Academia Real das Sciencias de Lisboa , ^.° vol. Vcndem-fe em Lisboa nas logeas de BO" rel , (? de Bertrand , e na da Gazeta ; e em Coimbra tambem pelos mefmos precos. ",.^-f : \-*v,^ - ♦ M ' . . -■-" ■ * 'f'^ ♦ --< *-'t*S : > ■^ '♦t.i»'j.::« it^ :¥.^ >'_' .v'Jv;.'*:: sf-v: • r- .V