o FAZENDEÍRO DO BRAZIL CULTIVADOR, %jcj) / :# p»^. / / o FAZENDEIRO D O B R A Z I L, CULTIVADOR, Melhorado na economia rural dos géneros já cultivados, e de outros , que se podem introduzir ; e nas fa- bricas 5 que lhe são próprias , segundo o me- lhor, que se tem escrito a este assumpto. DEBAIXO DOS A U S 1' I C I O S , DE E DE ORDEM SUA ALTEZA REAL príncipe regente, NOSSO SENHOR. E AXJGMENTADO ÍCESTA SEGUNDA EDIÇÃO DE VARIAS MEMOEIAS MAIS SOBRE O ANIL, E DA CULTURA, Ç FABRICO DOURUCU; Collegido de Memorias Estrangeiras POR Fr. JOSÉ' MARIANO DA GONCEiqSo VELLOSO. Menor Reformado da Província da Conceição do Rio de Janeiro , etc. TOMO íí. TINTURARIA. PARTE I. LISBOA. Na Impressam Regia. Fçr Or^sm Superior, Ce seroit sans doute le moment de fane revivre Jes andennes Ordennances qui ont été portées sur cet ebjet 5 mais ellcs ne tarderont súrement pas à étre re- mifes en viguetir, ainsi que toutes Jes autres Loix sa- ges. J' ose même me flatter que toutes les innovations doi>t je crois avoir démonfrc Jes avantages , setont ellesmcmes appuyées par dcs Ordonnanccs nouvçlles , si leur ulilité est rcconnue. Mr, píjenvui^ SENHOR- E U fiao seria digno do honroso encargâ^ dt que em o Augusto nome de V* A* R» fui iuumbidõ , se , ã vista do ardor , e grande-- •m ^ com que V. A, anima , e promove o a-- ãantamento , e melhoramento da 'Economia mral ^ e fabricas do seu Brazilico Principa- lo 5 nao declamasse contra a inércia , que mtorpeceo os seus primitivos Colonos ; os que pr huma longa serie de annos lhe succedê- rio \ os Magistrados , que se poserao ã sua^ ttsta , por não darem hum novo choque , e mvimento d industria Nacional ^ no estahe-i leimmto da cultura ^ de huma planta^ que ã ri- rka NMureza todos os dias , a cada passo , e espontaneamente offerecia aos seus olhçs, cuja bellissima fécula , tão nec^ssarta a ttr do o género de tecidos , faz hum dos granr des fundos das riquezas da Asla , e di America-, cujas fabricas , se fossem de %ne> ros. rendimento que as Assucareiras , tam^ hem tinhão sohre ellas a vantagem de seren mais ao alcance das pessoas menos poderosas, por menos complicadas nos seus aprestos, menos dispendiosas no seu costeio , muití menos destruidoras das maltas ^ e por est lados superiores áqu ellas. %. Eu y SENHOR , ôs desculparia , se esta planta fosse forasteira ^ como a do Assucar ^ que veio da CiclUa , como as das Espécie^ vias y e de outros fruct os cornestiueis , que yierão da Ásia ^ e algumas que for ao da Eu- ropa 5 as quaes todas hoje se considerf^o di- tnati^adas , e tinidas as nativas engrossao a massa dos seus alivdtntes ^ e flrm^o a de- licia ^4J ^uas jnezas \ mas be imperdoável , que y havendo-a em tanta abundância ^ e de- rivando-se para elles os conhecinmitos ^ que tiver ao os primitivos inquilinos do Brazil y a p£^ar dà sua rusticidade ^ assim a fespei-' to to da sua existência, como do seu préstimo àe tingir, decifrado com muita propriedade no„„medec.iyé, .« caávutyar. que lhes Hnhao tn,posto, {q,e quer dizer herva , ou mato azul usado na tintura dos seus fios , e algcdoes) houvessem de fechar de proposi- to os olhos , para não verem os vantajosos partidos , quepoderino tirar da sua cultu- ra pela extracção da sua color ante fécula , pnv ando por esta razão aos futuros Colonos , c a industria Nacional dos soccorros , que lhes deveriSo deixar. Disse que de propósito o havido feito d VIS' vista áa grande facilidade , que tinhcio de adiantar os seus conhecimentos , sobre o que conseguirão dos naturaes a est^ respeito. E fpiem assim nao discorrerão Sabendo a gran^ 4e communicãção dos Protuguezes America- ms com os Portugueses Asiáticos ^ nos por- tps da Pátria Mãi ., onde era impossível^ çmio em centro coMrãum , qiie huns , e outros deixassem de concorrer muitas vezes , epar* ticularmente nos do Brazil ^ ao depois de po- voado j assim em razão das arribadas , co- mo das escallas. a. Sabendo que sem esta çjommunica^ãç se não introâu^iriio as plan- tas tas Asiáticas tio EraziL 3. Sabendo que os vossos compatriotas tinhão tanta familiari-- dade com estas fabricas na índia , que neU las se usão de 7tomes Pcrtuguezes ex, gr. , qirc o anil , qiíe provinha das plantas do primeiro corte , se chamava cabeça ; o d» segundo curte , ou primeira socca , barri- ga, o da segunda socca , ou terceiro corte pé. 4. Lembra ndo-se que o Brazil , igualmente com o Reino , estivera sujeito d Coroa de Hcrpanha quasi sessenta annos , quando con- tava pouco menos de povoado , e que sendo vassallòs communs de hum mesmo Soberano ^ lhes lhes não seria difficil aprenderem dos Ties- panhoes a sua prática , por serem os primei- ros Europeos y que na America o tinhao fei" to» As Indigoarias Americam-Kespanhollas datão a sua antiguidade da Conquista do México 5 feita em 1521 aos 13 de Agosto ^ cu porque aprenderão com os Mexicanos , que erão mais policiados , que os Brazilianos , o que he mais provável , ou porque , tendo des'. coberto as Moluccas , transferissem destas fora o México a sua prática. Se bem não falta , quem diga : que ainda antes da con- ■ ^ quis- quista do México y eltes as tinhão estatele^ eido na Eespanholla , hoje S. Domingos. He certo que elles fcnío os primeiros Inâígoeiros Europeos. , Os Francezes , e Ingkzes , con- ^uistaJída algumas Ilhas aos Castelhanos , logo estabelecerão fabricas , e se declararão seus rivaes , conseguindo os primeiros nesta lihã , os segundos na Carolina , fazerem ç seu índigo mais subido. No Brazil porém ^ descoberto em tsoo ^ povoado em 15-33 5 sujeito a Hespanlm em 15-81 , libertado em 1640 , conhecendo os seus Colonos a herví^ ^ e o seu préstimo^ vendo-a todos os instantes pelas mattas , e campos 5 como huma das suas ynais communs habitadoras , a pezar de todos os motixos \ qtie acima se expuzerao , cpue os deveriao es- timular y e aguilhoar , se conservarão inscn^ siveis , e entorpecidos até a década quinta deste século , em q-ue alguns moradores do Rio de Janeiro se lembrarão de arriscar as suas tentativas j e ensayos para a extracção da fécula. Desprezo , SENHOR , tanto mais es- tranharei , quanto he a relevância de hum objecto y qtte^ podendo ter feitQ a felicidade de àe muitos , não fez:, em tantos annòs a dê hum so. A preciosidade desta color ant e fecu* la he tanta , quc , havendo-se de conceder , como pertendem alguns Historiadores , ciue também se fazia em algumas partes da Eu* ropa , como em Malta , era isto com tanto segredo , e mysterio , ciue nunca 7ía realida-' de se soube o como ; por isso ficou sendo pro- blemática 5 e equivoca a sua existência, Ella só foi conhecida forynalmente ao depois do descobrimento das htdias Oriental ^ e Occi- dcfítal y e 7nais rigorosamente ao depois do descobrimento do Mçkícq ^ tanto assim yq^ ah ■aígunia 3 qne , untes desta data , appãrecea na Europa^ vinda da índia , era reputada por pedra , pertencente ao Reino mineral, A sua introducção nas Fabricas da Europa fei tão grande , e tão bem acceita ^ que ptm em total esquecimento ós decantados azues ^ ti-- rodos ^5 Que sendo o Anil ^ e Cochonilha dois objectos importantissimos para a conser- vação das Fabricas , e augmento do com- mer^ nterao do Reím de Portugal, e seus Do- fntmos , e querendo por isso a Rainha Nossa Senhora por Sua Real grandeza promover estes dois utilissimos ramos , em hemficio de todos os que temos a honra de ser seus fiéis vassallos , ordenou se rece- besse na Provedoria da Fazenda desta Cidade , todo o Anil, e Cochonilha, que as partes -voluntariamente quJzessem ven- der d sua Real Fazenda, pela qual sem falta se lhe pagarão os preços estabeleci- dos, segundo suas differ entes qualidades, ficando a liberdade de poderem transpor- tar tar po)r sua cogita , e risco ó Anit ^ ê C(h thmilha j que mo quizerem trazer ames*, ma 'Provedoria , e para qut ^ etc. >> O qual pelo contrario faz vêr evidentemen- te ^ que o apoio docommercio per si so , sem ú concurso de Sua Magestade , não era bas- tante para lhe fixar a sua permanência» A razão era clara , se a velleidade dos cultiva- dores , e fabricantes lhes pennittisse atten^ delia: Que o commercio ^ não estando segu- ro do credito , ou acceitação , que teria nos Mercados da Europa o novo género de mer- cancia , que para elles remettia , o que só ãê ao depois deannos poderia conseguir, lhe era preciso rebaixar a altura dos preços , que Sua Magestade tinha arbitrado somente pe^ h fim de os animar. Que , provavelmente em fabricas nascentes , não poderia ter a sua manufactura chegado dquelle alto ponto de perfeição , a que já tinha tocado nas estra- nhas , que lhes precedido séculos na antigui^ dade , para poder concorrer , e por-se a par delias-. E ultimamente ; porque em razão do seu próprio interesse , para salvar hum maior lucro , no caso de ser acceita , se esforçaria. em abater os preços na primeira mão, etc. A imperfeição do índigo i fabricado m Rio 5 tinha jã sido advertida aos fabrican* tes pelo Aviso Régio ^ datado emijjjj quan* do se concedeo vender, ao commercio ^ talvez feio motivo , de que melhor conhecessem os cultivadores ser mera graça , a que Sua Magestade lhes fazia até então em o com" frar-j vista a imperfeição ^e impureza y com que era feito ^ a qual certamente lhe causa-- ria rebaixamento no preço dos commercian-» tes 5 por ser insustentável a sua taxa , no giro do commercio ; e estimulados por isso , ^e esforçassem emfazello melhor , ou por via dos ^os seus correspondentes procurassem os co-' nhe cimentos das práticas Estrangeiras ^ e an- tigas , de que tanta necessitavão, A adver- tência era concebida do theor seguinte : 5> jE ainda que o Anil , que até agora ' tem vindo do Rio de Janeiro , não pode ■ servir de muito , sem o beneficio do refino , •/ que aqui se lhe faz. Não se devem por v modo algum impedir as experiências ^ que ► os cultivadores quizerem fazer , remeta • tendo-o por sua conta \ porque deste modo conhecerão melhor , o que ainda lhe falta ^ para chegarem á perfeição da fabrica \ e 'ú- pro' pròcUf ardo pôr meíó de seUs còrrespèndem tes j e sócios neste Reino , instruir-se do "verdadeiro methodo de fabricar o Anil ^ para tirareni de Ih os grandes lucros^ que lhes pode dar , etc, yi Sita Magestade cheia da maior londa- de 5 e affeiçãô com os novos fabricantes > àé^ se j ando ardentemente o adiantamento , é per^ feição deste fabrico ^ não só continuou a to* inallo pela sua Real Provedoria^ como tam^ bem 5 se bem me lembro , lhe mandou levan- tar mais os preços : o da primeira sorte g. i^zcoí o da segunda a t<|)00o : o da terceis rã a 800, € passou a aliviar dós direitos ^ 0 que se exportava , pelo commercio , cujos do- cumentos não tenho d vista , 7nas a pezar disto continuarão ãs remessas com as nies'^ mas imperfeições do principio. Desta sorte ^ se por hum lado favoreci- dos y por outro abandonados a si mesmos , os fabricantes , homens faltos de toda a ins- trucção 5 cowo pela maior parte são os culti- vadores 5 entregues a certas receitas cu mal copiadas , ou mal vertidas , firmados em ex- periências próprias sem princípios , longe de terem feito progresso algum vantajoso , c a pezar de terem sido sustentados ^ e aguilhoa- dos feias bondades Regias , se tem recuado , e atr azado lastimosamente neste fabrico. Ora os fenómenos , que apresenta a manipulação desta fécula , são as vezes tco extraordiná- rios ^ como expõem estas Memorias ^ que fa- zem pasmar aos seus mais atinados , e anti- gos práticos 5 e por isso elles são dignos de escusa. Este he , AUGUSIO PRÍNCIPE , o estado crítico , e fatal , em que se achao as fabricas desta preciosa \ e interessante fecu^, Id y estabelecidas no Rio de Janeiro , que^põ-. d ião t àiãõ fater a felicidade de todo o Brazil-, as quaes T. A, por hum singular destino da- quella alt(i Providencia , que olha , attmde , e move tudo , sempre a favor do homem , m^mcomunada com as h^es , de que singu- Urmente V, 4* he dotado , ainda nao cônsul* tada a Historia dos seus revezes , e acontecia mçntos y tão sabiamente tem previsto ^ t pro- videnciado 5 mandando trasladar , e imprimir todas as Memorias , que se tem escrito sobre este assumpto pelas Nações Estrangeiras ^ para que ^ d vista delias , possíio escolher os cultivadqre^ , ks, ^ue mais lhes quadrarem , e confrontanão-as com as suas práticas , e experiências , em qualquer parte da vasta , e dilatada superfície Brazilica , eni que se a- chão 3 hajào de leuar as suas fabricas ao Mltimç ponto de perfeição. Esta he também^ SENHOR , a razão , porque sem affectar conhecimentos 7 que não possuo 5 traslado as obras de maior credito , deixando aos mesmos fabricantes o julgar , se são y ou não convenientes as suas fabricas y conforme as circumst anciãs do terreno , cli- ma 5 e tempo , em que se achão» Nesta pri- meira parte do segundo Tomo lerão elles , 0 que que escreveo Mr. Dijonval, Francez, sobre o modo de cultivar, e de o remetter para Eu- ropa^ e o que escreverão Mr. Edward , ^Mr. Miller, Ingkzes, Mr.Monereau, e os Ency- clopedistas, Franceses \ ajuntando-se a estes huma ccpia das tabeas , que mandarão gra- 'var , e cinco estampas de diff crentes Indi- goeiras , e entre estas a da Indigoeira bas- tarda até agora não conhecida no Brazil , mas utilíssima pela sua fécula. Na segunda parte deste segundo Tomo lerdo tudo quanto escreveo a este assumpto Mr. Beauvais de Raseau com as estampas , que agora não vão. A' A^ primeira reimpressão deste tomo a- crescentamos três estampas mais àe três no», vas espécies de plantas de Anil , e concluímos com Memorias sobre a cultura do Urucií , e fabrico da sua estimável fecula ^ ajuntando- lhe a estampa da sua planta , e da sua fa» brica. Os Soberanos j SENHOR^ entre os hu- manos sao transsumptos do Supremo Ente- Divino ; e tanto a elle mais semelhantes na cópia j quanto no seu ser Supremo , ou Sobe-- rania se empenhao em diffundir luzes ^ em repartir beneficios. Ah quem ^ fl nao ser fal- to to de entendimento , poderá negar a V, A, R^ a mais verdadeira semelhança com aquelk Original Divino. Assim o confessa Be V. A. R. O seu mais humilde v«ssaIío Fr. Josi Martam dn Çmc^iíãa ydUsf, FAZENDEIRO DO B R A Z I L CULTIVADOR TINTURARIA. TOM, li. PÃRT, L INDIGOARIA. EXTRACTO DÀ ANALYSE , E EXAME CHYMICO DO ÍNDIGO ■, ^«e se acha no Commercw fará as Tlniuranas» Por Mi. Dijonvai. ..... Vlncant , ^aeis Neptune dedisti , Qiiamqnam ó ! . . . i. An' são três nomes com- muns ao Vegetal , de que. se extrahe esta substancia T,ll. P.h A CO- (O corante , é sólida , conhecida nõ Commtrcío pelo na- me de índigo. Em a JJha de S. Domingos, e nas Co^ longas Vizinhas , c]ue sáo as partes de donde nos vem a maior quantida 2 Oíeo leve n I Óleo pesado 0 i Carvão 2 4 Total } * No tempo da operação se perderão seis oitavas ae mateiia , cuja maior parte me parecço ar , o que re- (9) reconheci pelo aparelho Chymico pneumático de Ha- les, O resíduo da distillação do índigo , tendo sido exposto ao fogo para ser convertido em cinzas , se in- cinerou, ou se reduzio a ellas mui difficultosamente ; e estas duas onças , e quatro oitavas de carvão não de- lão , por esta operação , senão três oitavas de cinza? pardas, que não fervião com os ácidos. Lançando es- pirito de Nitro sobre ellas, tomarão huma côr escura. As cinzas do índigo contém feno , que o íman attrahe. Distillei huma porção destas cinzas com seis par- tes de sal ammoniaco , e apenas se despegarão algumas gottas dealkali volátil. O sal ammoniaco, que se subli- mou ao colo da retorta , timia huma cór amarella. O resíduo era de hum pardo alvejado. Dissolvi o sal ammoniaco colorido em agua djstil- íada , e lhe separei o ferro , derramando nesta disso* lução alkali fixo de tártaro. A côr azul do índigo se não altera pelo ácido. vitriolico, nem pelo ácido marino. Derramando ss qual- quer destes ácidos no índigo , feito em pó , fervem brandamente. Não acontece o mesmo com o espirito ^de Nitro que lhe decompõem a còr azul com huma efervescência forte. Derramei huma onça de ácido nitroso precipitado cm duas oitavas de índigo em pó ; a mistura inchou demasiadamente , e tom.ou huma côr de morangos , vermelha. Amassa, resultada desta mistura ^ era gkiíi' no». ( IO ) -I' "03a, tenaz , manchava a peJle de hum amarello aça- froado. A agua regia decompoz o índigo com effcrves- cencia , e o reduzio quasi ao mesmo estado que p ácU do nitroso. Pareceo-me que o ácido do limão , o cremor da íartaro , o vinagre não alterarão a cór azul do índi- go, ainda que estivessem postos em digestão com es- ta fécula. Os alkalis não tem acção sensível , ou ao menos , apparente sobre o índigo. Oaikaii fixo de tártaro des. prendeo hum cheiro lexivioso , que procurei reprimir, pondo-lhe esta mistura de alkali , e de índigo com quatro partes de agua distilhida em hum Alambique de vidro, posto em hum banho de arêa. A agua distillada no tempo desta operação não tinha propriedade algu- ma alkalina, O alkali volátil digerido com o índigo , não mu- dou a sua côr , e me pareceo que não aitacára alguma das suas partes de modo que se podesse perceber. Mas nem por isso devem inferir que os alkalis geralmente não hajão de ter acção nesta fécula. Tal- vez não será assim , antes pelo contrario : que são a- gentes Ciiymicos , dotados de tanta analogia comella, que ajudão muito o descubrimento de suas partes ; e também me persuado que os mesmos Artistas já vie- rão no conhecimento desta verdade primeiro que to- dos. Os que tingem lãs, costumão macerar o índigo em ourina, muito tempo antes de o empregar. Hum ' dos C 'O do5 procedimentos mais interessantes, quando se tinje algodão, he preparar huma lexivia de s©da , e cal , em que também se piacera , ou se infunde o índigo por hum certo tempo, para ao depois se moer. JVIas o que muito , e muito me çonvenceo da grande acção, que osalkalis tem sobre o índigo, forão as experiências que fiz , procurando aperfeiçoai: o azul de Saxonia. Geralmente se sabe que o azul de Saxonia se con* segue por huma mistura de óleo de vitriolo com o melhor, e mais fíno Índigo, pulverizado o mais sub- tihiient.e que for possível. Esta mistura , chamada na. Tinturaria Composição , certamente he huma preciosa descoberta; porque somente a eMa se deve o azul, e o verde de Saxonia , cóves ambas tão ricas , como ex- cellentes , e brilhantes , bem que requeirão ser feitas huma , e outra em toda a sua perfeição. De quantas fabricas corri de Tinturaria , apenas encontrei huma , ou duas , que soubessem o segredo de fazer chegar a composição ao interior dos pannos , ou têas , c que em termos de arte se chama troncher ^ ou percer ^ úni- co meio de se chegar a fazer qualquer côr durável , e sólida. Quasi todos os Tintureiros , com os qua-es tra- tei esta matéria , me responderão : que tinhão feito todas as tentativas , mas que estas forão de tal sorte inúteis, que não as proseguirão. Tendo eu também feito muitas experiências sem proveito , procurei neutralizar o ácido vitriolico pela mistura de hum alkali. Em consequência introduzi por diíferentes vezes huma onça de alkali hxo em hum va- ( 12 ) vaso, que continha já seis onças de oleo c'e vitríolo, e huma onça de Indis^o bem dissolvido. Desde que n menor parte do aIkaJi fixo se poz em contacto com a iDistura, notei hum calor, e huma effcrvescencia mui grande, que excediao ao que faz , quando se mistura o ácido vitriolico com o aJkaii , para se conseguir o tártaro vitrioJado. Também nunca me vi mais suffoca, do pelos vapores do que fui nesta ultima operação. Continuando a ajuntar o resto do alkali pouco a pou^ CO, a mistura^cre.ceo mais alta cue as paredes do vaso ; mas, deixando de o mexer por alguns instantes, esta cmpollamento se desvaneceo de todo , e a mistura se fez riu ida. Lancei-lhe então huma quantidade proDorcionada ^e agua quente , e mergulhe: hum pedaço' de pano. Em menos de sete minutos, ou oito , consegui não so tn^gir o pano em azul mai. vivo , e mais carrega- do , mas também penetrar o lio a fazer a acção ,\ que chamão imncher , de hum matiz, tão escuro /co. mo , superfície do pano. Tendo repetido por muitas vezes esta experiência em grande , e semnre com o n,esmo successo , ;ulgo que a devo pre.entar aos Ar, tistas como a solução de todas as difficuldades que el- les experimentão acerca desta còr. Além disto, offere- ce , como já di.se a prova mais cabal da influencia que tem os alkalis sobre o índigo, e mostra bem que ionge de lhe alterar as partículas colorantes , como aí- guns pertendem, pelo contrario asavivão, e as fazem mais penetrantes , e fixas, Quc« Cn) Querendo conhecer , se o índigo continha parte ■extractiva , procurei dissolveilo por inenstruos vinosos ; • com este íiin «introduzi, quantidade igual, em huma jrarraía cheia de espirito de vinho ^ e em outra cheia de ether. Arrolhando-lhes bem a bocca , e deixando-as até o outro dia, adverti, passado este tempo , que a côr clara -, e limpa dos dois liquores se mudara em -araarella. Continuando a deixar o índigo em digestão , se voltou a côr em escura mais , e mais , e se fez de ihum vermelho iouro mui distincto. Quando percebi ^^e a côr não escurecia mais, decantei ambos os líqui- dos, que estavão igualmente carregados ^ 'c tendo re- ílectido com todo o cuidado no índigo , que tinliii dividido em partes mtiito miúdas', vim no conheéi- mento , por qiíantas experiências podião haver imagi- náveis, c que me poderião dar luz , que a côr azul, lotige de se alterar, adquirira huma maior intengão , e tiqueza i que os principios coloranteí? ^ em azul , longe de terem perdido cousa alguma essencial nesta diges- tão ^ se íizerão mais livres, e mais activos^ e que £Ó se tinhão desembaraçado das matérias supérfluas, eain- da prejudiciaes á tinta. Afinai tenho conhecido que sen- do os extractos resinosos , os únicos colorantes solú- veis em liquores espirituosos , que a matéria colorante avermelhada 5 obtida por esta digestão, era exactam^en* te de huma natureza exíracto-resinosa. Este successo , que não será o único nesta arte, vista a careza dos mentruos espirituosos , me obrigarão a obter os m.esmos eífeiíos de huma mai^eira menos cus- m ttli Ifpl IWi' Ç 14) ciístos?.. Todos os extractos resinosos sendo igualmente soJuvcis em^agua commiim , puz o índigo dividido em partes miudissimas em iuima garrafa de agua nâo dis- tillada , e lhe dei huma ligeira fervura mediante o ba- nho de arêa. A agua não tardou em tomar exactamen- te os mesmos caracteres que os dois liquores espirituo- sos. Primeiramente ficou vermelha , ao depois mais , e .mais se fez loura, ao passo que a digestão se foicon^ tinuando. Querendo nesta experiência despojar a fécula da parte extractiva , quanto podesse , Jhe renovei a agua , e o continuei a fazer até que o índigo lhe não houvesse decommunicar amais leve tintura de louro, ou de vermelho. O índigo , que ao depois de haver decantado esta agua, colhi, não só o não achei alta- rado, como o primeiro, por huma fervura tão dilata- da, e por este seguimento de lexivias , mas também, pelo contrario, me pareceo de hum azul ainda mais bri- lhante. E ainda que era de São Domingos, o que en empreguei nesta experiência, conheci que ella lhe dera todas as qualidades , e todos os caracteres , que distin- guem os soberbos Indigos , conhecidos com o nome de Guatininlo, Em consequência appliquei este procedimento ao próprio Guatimaio. A agua lhe sahio igualmente muito colorida , mas a matéria extractiva era muito menor evidentemente em quantidade , e a còr da acjua muis to menos carregada. Tendo continuado as experiencia- sobre os Indigos de huma qualidade media , a grada- ção , que obiive no matiz das dissoluções, e na quan- ti- Cm) tidade da matéria extiactiva me mostrou de mais a mais, que ambas estavão na qualidade mesma do ín- digo , e que este respeito era dos mais exactos , que se pode desejar. i Com difficuldade quererão acreditar , qUe huma operação tão simplez metamorphosea os índigos còm- muns em Índigos de luima qualidade , e de hum pre- ço infinitamente superiores i que os últimos ainda ao depois de iiaVerem soffrido j são levados ã hum gráo de pureza , e de perfeição , que se não achão termos , com que se comparem. Mas peço que se hajão de iembrat , do que dissemos no resumo da Theoria dos trabalhos do Indigoeiro. Nós fizemos advertir, que a cor verde , que oíferecia antes o extracto , primeira- mente era devida a huma parte amarelia , misturada neste primeiro descobrimento com as partes azues da planta 5 que hum dos principaes objectos da batedura era despegar esta's duas partes huma da outra 3 e de precipitar as partes azues , que como mais pezadas., iiáo deixão sempre de ir ao fuHdo. He hum principio bem sabido pelos fabricantes , que o índigo sahe tanto jnclhor , quanto maior he o repouso , que se lhe éá ao depois de batido ; e por consequência mais bem des- pegado do seu amarello. Ora, á vista disto, não fica sendo claro que as partes colorantes das dissoluções do índigo em hum amárelio tão carregado nada mais são •que hum sobejo destas partes amarellas , que se pro- curão dissipar por meio da batedura, as quaes os meS' -mos fabricantes as reconhecem , como prejudiciaes? Que Çue toáa a operação própria a renovar, ou i. ap'errejk coar a extracção da batecíura , deve aperfeiçoar infínita- ri:ent,e a qualidade mesma do índigo l E se estas par- tes prejudiciaes , apegadas em maior , e menor quantida- lie em todos , e em qiiaesquer Indigos , não tem sido até agora reconhecidas he ; porque nunca procurarão -apurar , ou refinar, ( atrevo me a dizello assim) os Indigos , que se tem exportado das Colónias da America. O primeiro proveito , que os Artistas podem tirar deste descobrimento , he o de hum meio infallivel de conhecerem a qualidade dos differentes Indigos , e de os comparar com a maior exactidão. A leveza , e fineza da massa , a cor de cobre interior , o polido da que- bradura muitas vezes são signaes equivocos ^ e outras tantas são desmentidos ^ quando se empregão. Lem- brem-se , peio contrario, da constante relação , que acabo' de fazer da matéria extractiva , e da qualidade especifica do índigo , e se convirá que este processo , que indico , offerece hum. meio , o mais simples , o ínais resumido ,.. e ao mesmo tempo o mais capaz de se sahir bem deste exame , sobre o qual até agora sé tem tido tão poucos principies seguros. He vantagem ainda mais estimável , sem contra- dicção , que me parece offerecer esta experiência ,. o apurar todos , e quaesquer Indigos de huma quantida- de maior , ou menor de partes sempre nocivas , e de avivar não somente os de baixa qualidade , mas tam- bém os mais finos , e bem acabados. Os Tintureiros achs^rão facilmente muitos meios para executarem em C «7 ) ffrahde hum taò simples processo ; rhâs áo qué eu que- íeria dar preferencia , seria o de introduzir o índi- go , na maior divisão fíóssitèl ^ em saccos de hum pa- no , que fosse bem tapado , que não deixasse passar atravéí dei!c o mais subtil j oú o seu pó , e cnchet huma pequena caldeira de agua Commua ^ e de fazer ferver o índigo contido ém os saccos , dando Ihé hu« -ma pequena fervura ^ e dè lhe renovar a agua até que ® índigo lhe não communicasse mais a menor côt aver- melhada. Querendo-se estender o índigo em hum pa- no, e lançar-lhe muitas lexivias dè agua quente , otí lançar esta mesma agua em huma célha , que contives- se o índigo , cada parte sentiria maior embaraço em Ser atacada pela agtía quente j è além disto lhe viriãõ a resultar eutros muitos incoriveniehtesi Certamente os méiís Juizes hátí de appÉoVai* O ter eu levado os metia exames ainda muito mais longe, « que ao depois de ter etí aesccberto meios dè aper- feiçoar qualquer índigo, que seja j immediatamente an- tes de sér empregadfii , me tenha também occupado da mudança geral , que á rnuitoâ annos tem reíhad© cm todas as classes do índigo. Exporei as minhas vis- tas á cerca dê hum problema tão interessante , e ao incsmo tempo proporei os ínéics d^' remediar outros inuitos abusos. Os productos da arte , ordinariamente sáo tanto inais perfeitos, quanto mais se apartão do instante do $eu descobrimento. G tempo , as riianipulaçóes repeti^ éas são de ordinário os qué a levao ao seu maior pon- T.ÍI. P.í. ----^^ I C «8 ) U» de perfeição. Ora isto parece que não acontecera a respeito do Índigo. A prova he terem decorrido cem annos que o índigo he conhecido , e as suas prepara- ções. O consumo rápido, que tiveráo os seus primei- ros ensaios, obrigou a levantar Indigoarias em todas as partes do novo mundo. O preço desta fécula he hoje o dobro do que valia á dez annos a esta parte e a pe2ar disto nos vimos obrigados a suspirar pelo tem- po , em que as Indigoarias estavão ainda no berço, Comparando-se as qualidades actuaes com as amostras ! ) das Charruas nos campos dos Indigos , em todos os pontos de vista , offerece só vantagens ; que este ins- trumento não pode ter inconveniente algum nas terras planas , e que com certas mudanças ligeiras se faria também igualmente util nas terra s^ de morros. Final- mente, não se passará muito tempo, que eu não haja de ter a prova a mais cabal , e completa a este res- ptjito. Antes de me ausentar de Nantes , e deEordeaux, persuadi a alguns amigos que hou\'es"em de enviar em navios , que estavão a desferrar para Leogade , e Cayes S.Luiz, carregações de Ciiarruas. Quaesquer, que fo- rem ossuccessos destes instrumentos, que julgo serem lá desconhecidos , ©u pelo menos j sem uso em todas as nossas Colónias , me aproveitarei das primeiras no- ticias , que tiver, para as participar ao público. Ainda se dá outra reforma , que talvez represen- tará ser acerca de hum objecto menos essencial , mas que huma vez introduzida em todas as nossas Indigoa- rias , produziria vantagens inappreciaveis a todos os que lhe dizem respeito , ou tem relação com ellas assim na venda , como na factura do índigo. Disse no resu- iTiO das operações da Indigoaria , que os conductores deste trabalho , ao depois de terem tirado a fécula do terceiro tanque , a mettem em saccos de panno , onde a deixão esgotar por certo tempo ; que quando ella está meia fluida , se lança em taboleiros quadrados ^ cujos rebordes tem quasi dois dedos ; em fim accres- centei que quando o índigo tem chegado ao ponto de huma massa quasi sólida, se partia esta superfície uni- da C24) da pelo meio de facas feitas expressamente para isto, cm pequenos cubos de duas pollegadas quasi em toda? as face^ ; e que estes , ou pequenas pedras , estandp bem enxutos se embarricavão ornais apertado, ecnm- primido que podesse ser ; mas destas ultimas manipu- lações resulrâo sempre os maiores inconvenientes a pe- z^r do cuidado, que se haja de ter. Sendo cscas pedras , ou cubos de íium pequeno volume, não podem ser postos ordenadamente nas bar- ricas ; a sua pequenhes obrigando pelo contrario a lan- çallas ao acaso , esta multidão de ângulos innumera- veis ^ e de superfícies , formão outros tantos vãos , que se augmentão pelo encolhimento, que padecem as pe- dras , seccando se cada vez mais. Donde qualquer ba- lanço causa a fractura de huma grande quantidade de pedras em todos os movimentos , que se dão ao índi- go nas barricas. Ora não podendo o índigo ser emprer gado na Tinturaria sem ser moido : todas estas pedras britadas , todas as lascas que resultão das suas fractu* fas , certamente devem occasionar alguma perda ; mas nao haveria esta , se a vasilha , que contém o índigo O encerrasse hermeticamente. Mas em que vasos a maior parte das Nações exportão huma mercadoria tão preciosa fora de suas Colónias ? Em barricas , semelhan- tes á dos nossos vinhos , ás quaes ainda accresce a ciir cumstancia de serem feitas pelos pretos grosseiramen- te, cujas aduéllas mal unidas por taes obreiros, pou- co industriosos, dão mil sabidas ao pó , que se forma , ç se renova sem cessar no interior da barrica , cuja per- ( *5 ) perfeita uniSo não poderia subsistir por muito tempo, ainda no caso de terem sido muito bem fabricadas ; pois que só os fluidos gosão da propriedade de fazer .unir hermeticamente as partes de htima barrica. A pou- ca coherencia destas partes entre si causa portanto liu- ^a perda immensa dos objectos nella conteúdos. Ser- meha também fácil o demonstrar que a mesma fôima deste vaso , basta para o fazer sujeito a dois grandes inconvenientes. í. A forma redonda das barricas convida , assim nas CoJonias como nos nossos Portos, aos mariollas % jque roHem as barricas de índigo em todos os trans* portes , que elles hão de fazer. Náo he facil de con- ceituar-se a grandeza djo dam no , que este movimento de rotação lhe faz-, acabando de attenuar as pedras já quebradas , e quantas novas fracturas lhe não faz ? E sobte tudo quanto pó lhe não faz sahir atravcz das paredes da barrica? Ora istiO não havia de acontecer se 4)s taes vasos tivessem outra figura, II. Quando viajei pelos nossos Portos , entrando ;em <)s na ios de todas as grandezas., me convenci que 9 forma usual das barricas era a peior de todas , pelo que respeita á sua arrumação : que as barricas nãò dei- ;xáo de gastar em pura perda hum terço do loc^i j que «ccupão ; e que huma mesma quantidade de mercan- cia , que .fosse , por exemplo , contida em caixas qua« d.rada.s , .occuparião hum terço menos de espaço nas es» cotilha5. Attendendo se que o primeiro beneficio do JVleri- eante depende de hum frete maior, ou menor de sçus na- C 26 ) navioj ; e que eíles não ò podem ter bastante , sobre tudo , de retorno ; coiíviria sem dúvida que de tudo aquiilo , que embaraça a arrumação da carga , se lhe houvesse de dar hum ganho mais avultado. O. a eu o repito; todas as pessoas, que tenho consultado a este respeito, Crpitães, Matelotes , Mestres, etc. convierão comigo por hum comn.un accordo : que de todos os objectos , que entraváo em carregação , as barricas, quasquer que fossem , erão , as que tomavão maior lu- gar, a pezar das precauções, que se pozessem notem- po do seu arranjamei.to ; e estas razoes sáo tão evi- dentes , que he de balde gatai-se mais tempo em as mostrar. Se eu me piopozesse remediar ton^cís por cento, o que foi a causa de se conceder sempre hum abatimento a favor dos vendedores. Se, como he viisi- vei , esta perda enorme não tem outra origem que a c:onformação viciosa das pedras do índigo ; e ainda mais a das barricas , hão de indubitavelmente concordar que esta matéria merecia algum exame, e que ellacra nsui- to digna de submetter-se aos olhos de huma sociedade igualmente zellosa , assim pelo progresso das artes , co- mo pelo bem do Commercio* A ultima observação, qUe dirigirei aos nossos Co» lonos ) e que também lha dirigirei cm nome do Com- mercio , e de todos os consummadores , tem por obje- cto a precipitação^ com que a maior parte entre elíet émbarricão o seu índigo, logo que acabão de O fabri- car. He huma das Leis estabelecidas nas Indigoarias : deixat-se ainda por algum tempo enxugar o índigo, a pezar de se achar dividido em pedras , para que estas possáo conseguir toda aquella solidez , de que são ca- pa- ( ío) pazes, e que dem no seu exterior todos os indícios éé iium perfeito desseccamento. Nu realidade he da maior necessidade , e iiriportancia que o índigo nesta occasião se aciíe privado de toda a sua humidade" superfi«a. Apenas se tem posío á sombra, e se ap.rta deJla, pa- érá rôgõs pequenos de duas , até três pollegadas de al- tura ; doze , e quatorze de largura ; ou distancia de íiuns para outros. Lanção-se a mão ás sementes no fundo dos sobreditos regos , « se cobrem levemente dé terra ; mas , rebentando as plantas j sé deverá mon- dar o campo , e conservar constantemente limpo , até que ellas tenhão todo o seu crescimento , e se esten- dão formando copa, com ã qual possão abrigar íl terra com a sua sombrâo §. IV. EstaçÉOc A melhor para a semeadura has índias Occídèri-^ Cães hc a do mez de MarÇo , se bem a planta virá a ílorecer em outro qualquer periodo. Semeada ella em terra nova, caminhará a huma bella llorecençá (tendo chegado ao seu periodo de perfeição ) quasi em três mezes. A estação porém de o plantar nas ProvijL^ias do Sul , depende muito da natureza das brotas, que varião muito nestes Paizes. Se as plantas apparecem desabrolhadas na superfície da terra no i de Março , ji â 20 de Agosto hão de estar promptas , para serem cO' \h\ác ou cortadas. Ora muitas vezes são muito me. íhores , ou iguaes ás melhores das índias Occidentaes. Consequentemente se dá entre estes dois Paizes €sta differença : que nas índias Occidentaes em situa- ções estimáveis se dão algumas vezes quatro cortes da xnesma socca , e no mesmo anno *, mas ao Norte da America já mais dá ^ ou pode dar mais de dois : e C 2 mui- *■ ttiuítissimas vezes só hum. Esta planta he absoluia-» mente filha do Sol ; por onde julgo que pôde muito bem ser cultivada nas terras situadas entre trópicos , e não nesta , com muita , e grande vantagem. §. V, Insecto destruidor. Mas este mesmo Sol, que avigora , e augmenta a planta ao mesmo tempo, também lhe propaga hum insecto destruidor. He este huma espécie de lagarta , que se converte em huma mosca , que se ceva das fo- lhas, e nunca falha em fazer malogradas as esperanças do Lavrador no seu segundo anno na mesma terra. O único remédio, que se tem até aqui descoberto, he o de mudar o terreno todos os annos. O nã© terse pos- to todo o cuidado, e devida attenção em huma circum- stancia de tanta ponderação, tem provavelmente sido a causa , pela qual tantas pessoas tem visto frustrados os intentos, que tiverão, de aviventarem a cultura de hum género mercantil tão precioso. §. VI. Predueto, Ora je chegar a ser preservado felizmente desta peste destruidora , ou peio menos de se conseguir a sua diminuição em grande parte , cada geira , ou acre po- derá produzir, ou render oito libras da espécie , a que os Francezes, pelo diverso colorido, chamão coUo , ou pesiop de pomba ; ou quasi seis iguaes na bondade ao d« C n ) de Giiatimala. O seu producto ao Norte da America he algumas vezes muito mesquinho , e outras vezes grande. No tempo, em que o thermometro de Fare- nheit accusa huma baixa de sessenta gráos , os lucros? assim na quantidade , como na qualidade são muito incertos. He absolutamente necessário hum calor maior, que este , assim para a sua maior vegetação , como para seu maior rendimento. Nos segundos cortes tam- bém o rendimento he menor , se bem que em Jamai* ca, e S. Domingos, se forem novas as terras, em que tiver sido semeado , se podem esperar annuahmente quasi trezentas libras da segunda qualidade por geira de terra de todos os cortes ; juntamente serão bastantes quatro pretos , para se trazerem na cultura de cinco geiras ; e alçm disto , ainda poderáõ ser occupados nos trabalhos contingentes , os quaes bastarão para o reem- bolso da despeza do seu sustento, e vestiaria , ficando 0 mais em puro ganho. §. VII. "Procedimento -para se jfazer a tinta. Conduz-se geralmente a herva. para dois tanques , os quaes se achão. postos em forma de dois dsgráos , hum mais acima , outro mais abaixo. O mais alto que também he o maior , se chama iirfunàldolro , e as suas dimensões são quasi de dezaseis pés quadrados , e dais pés e meio de profundidade. O primeiro tem hum fu- ro perto do fundo para dt?spejar o íluido no segundo , q}i^ se chama de bater ,, ou biitedyiro , © commum- men- u. $1 mente tem dois pés quadrados , e quatro e meio díe> altura. Os tanques com est^s dimensões sáo bastantej para desmanchar toda a planta que render sete §. XI. Lucr os. o que se disse acima , acerca da natureza da ber- va, seguindo amesma em qualquer terreno particular, que. produza quatro cortes cada anno , se pôde também accrescentar a barateza do preço das construcçóes , edi- fícios, aparelhos, aprestos., e mais pertences deste tra- balho , com o grande valor deste género ; com tudo alli se julgará cousa mui pequena, e se pasmará avis- ta das esplendidas relações, que se remetterão , as quaes çxpunhão a grande opulência dos primeiros fabricantes desta qualidade de granjeo, ,Concedendo-se ser o producto de cada geira tre- zentas libras , e Q seu preço não mais que quatro sol- dos esterlinos por libra , será o total mil e duzentas li- bras do rendimento de vinte geiras , produzido pelo trabalho de dezaseis escravos , e de hum fundo , ou capital de terras , e edifícios , que rara vez merecerá contemplação alguma. Taes serão sem dúvida as primeiras reílexoes do Leitor. ^lâs desgraçadamente as douradas esperanças, que semelhantes especulações levantao em os entendi- mentos de milhares de pessoas , como os sonhos da madrugada , se tem desvanecido pelas experiências a^ ctuaes. Devo julgar pela' minha própria , que no de- curso de dezoito annos , que resido nas índias Occi- dentaes , ainda não conheci huma só pessoa entre vm» te que , tendo principiado pela granjearia do índigo, hou- (44) houvesse de deixar qualquer signal , peio qual ao m^ nos se apontasse o- Jugar , aonde estabelecera a sua Granja , ou fabrica. Menos poicn. que estes não hajão ^e ser os esborcinados restos dos seu2 tanques , cober- tos de hervas, cheios de rans, e outros aniiralejos efe ro;o. Ora muitos, entre eJles , erão homens de conhe- cimentos previdenciaes ,. e que possuião bens. He certo que eJles ^fallirâo , mas confesso , que não ousaria a dar numa razão, que satisfaça. §. XII. Descontas, Ha occasiÕes, nas quaes a fermentação dura mui- to tempo ; em outras muito pouco. Agora a fécula graniza muito mal , agora muito bem. Quando por hum lado se descobrem remédios, para ss-atalharem in- convenientes, que fazião muito mal, fazendo a práti- ca arriscada , pdo outro lado se descobrem inconve- mentes, que fazem o mal muito maior. A mortalidade dos escravos , motivada pelo vapor do liquor fermen- tado (arcumstancia pasmosa , de que sou informado, a^^sim pelos Granjeiros desta fabrica, IngJezes , como Francezes, e da qual actualmente espero o processo), a falhbiJidade das estações , os estragos dos devorado- res msectos, etc. Estes, ou qualquer desXes males a«. gmentão tanto as outras perseguições, que a industria nao pôde segurar huma conveniente recompensa. A sua historia consequentemente subministra hu- ma nova iJhistração para huma mui vulgar , mas im- por» í ^5 > portânte advertência, e vem a ser, que qualquer ma- nufactura , huma vez destruida, rara vez se torna a es- tabelecer de novo no mesmo lugar. Outros tem escri- pto bastantemente a respeito das causas , pelas quaes a cultura geral, e o Granjeo do índigo fora abandonada na Jamaicav Aiém de que os mesmos arnimentcs , que t)brigárão ao governo Inglez a sobrecarregar esta mer. cadoria de tributos, com os quàes a afundarão, conti- •nuão ainda em outras producçóes das Colónias , até que muitas hajáo de experimentar o mesmo fatal fado, que experimentou o índigo. Desta monstruosa loucu- ra , e impolitica de sobrecarregar com grandes tributos a hum artigo , tão necessário ás manufacturas Inglezas m«,^ N EXTPvACTO SOBRE A INDIGOEIRA, (plctlonalre des Jardeniers,) Por Fílippe Miller. Caracteres Botânicos: Este género hi.ma folha estendida q^^si horisoni" talmente , e recortada em cinco pofltas, ou segmert- tos, forma o calis : a flor he aborboletada , o estan- darte quasi redondo, aterto , adentado na sua extre- m,dade e revirado: as azas oblongas, e obtusas, cot, as bordas inferiores estendidas , a cjuilba he obtusa es- tendida, e terminada em ponta aguda. Tem esta flor dez estames unidos em duas espécies de cylmdros : as pontas erguidas, e terminadas por ápices redondos ■ o germe cyhndrico , e sostem hum estilo curto coroado por hum estigma obtuso. Este germe se muda, quan. do Jhe cahe a ílor, em hiim legume comprido, e co- "■CO , que contc-m sementes da figura di buni lim ■ ou tinzadas, ' * M,: Lh„e, arranjou este género de plantas em » tercew secção do da decima sétima tlasje intitulada- Dei- C 47 5 Diâdelphía Decandria , que abrange todas aquellas , que tem flores de dez estames , unidos em dois moliios^ (deixando as outras espécies que não pertencem aqui.} Mcthodo de se fazer o Indico secundo o P. Lahat. O P. Labat éscreveo circumstanciádamente nas suas viagens o modo , pelo qual se fazia o índigo ^ que he o seguinte. Fazia-se em outro tempo muito ín- digo na Fregueiia dá Macauba. Não èe via hella córre- go algum , ou ribeiro , em que sê náo encontrassem tanques de pedra muito bem feitos , e amalgamados, que serviáo de conter plantas de Ihdigo , para se fer- rnentarem. Ordinariamente se põem três , hum por ci- ma do outro ^ erh figura de cascata , de sorte qUe o isegundo fica mais baixo , quê q fundo do prirreiro pa- ra receber o iiquor, que o primeiro contém , desarro- Ihando-se os buracos , que tem no fundo ; e que o terceiro possa , quando chegar a sua vez , receber o que está no segundo. Ú primeiro tanque mais largo , t mais profundo , que òs outros , se chama de Injitsão , DU dt fermentação. As suas dimensões oídinariamente são de vinte pés de comprimento , e doze , ou quinze de largura , e hes , oú quatro de profundidade. O se- gundo tanque, que se chama de hatsr , ou hatedcuro y só teií) ametãde da cíJpacidade do primeiro. O terceiro , ainda miais pequeno qUe o segundo, se chama álabtoiln. Os nornes dos dois primeiros correspondem perfeita- mente ao uso 5 quã delles se faz; porque no primeiro s© (48) SC poem as plantas de molho , a rriacerar , ôu a feír^ mentar j de sorte que elJas ahi apodrecem do mesmo modo que hum estrume : neste trabalho os saes , e a substancia das folhas se despegão , e se misturão com a agUa por meio da fermentação 5 pela qual passaiáó , estando nella. No segundo se agita , e move esta agua carregada , Ou saturada dos saes , até que as pequenas porções da fécula , que ellas contém , se unão huma» com as outras. Em quanto ao nome do terceiro , abso- lutamente ignoro a sua propriedade , ou a quem clle se refere , se acaso não for a còr , que nelle se vê ; porque, o que a este tempo já se acha formado, fica nelle ; e por consequência a sua cor he mais carrega- da , e forte do que nos outros superiores. Devo dizer que só em S. Domingos se lhe dá es- te nome ; porque nas Ilhas de Sota vento se chama este ultimo tanque o reposadoiiro , nome que segura- mente lhe convém melhor por ser aquelic , em qu« o' índigo principiado no da fermentação , ou infundidoi- ro , aperfeiçoado no batedoiro , se separa da agua , e se deposita no fundo em hum corpo sólido, o qual ao depois se mette em saccos , e em caixas , como se dirá daqui a pouco. Quando se fazem estes taíiques , não se deve des- prezar cousa alguma , que possa conduzir a fazellos mais sólidos, e fortes; por quanto, a fermentação do índigo he tanta, que se a alvenaria for mal feita , e a amalgama mal trabalhada, form.ar-se-hão fendas , t aberturas , que deixarão escapar o índigo do tanque ; C4?) e virão a causar grande perda ao Granjeiro , ou pro- prietário. Se acaso acontecer este accidente , haja de se applicar o remédio seguinte , que aponto y como hum meio fácil , e infaliivel , que a experiência tem comprovado. Tomem-se algumas conchas do mar, ipulverizem- se , e sejão passadas a travéz de huma peneira íina *, to- me-se também huma porção de cal viva , e pelo mes- mo modo seja peneirada ; misturem-se com huma quan- tidade de agua proporcionada para fazer huma amalga- ma dura 5 e com elia se tapem as aberturas dos tan- ques com a promptidão possível. Esta mistura se sec- ca , e se incorpora em hum instante , e ao mesmo tempo impede , que a matéria saia fora do tanque. Todos sabem , que o índigo he huma substancia , de que se servem para tingir de azul a lã , a seda , os pannos , e as têas. Os Hespanhoes a chamão Aailo, O melhor , ou o mais íino , que se faz em a Nova Hes- panha vem de Guatlmala , e por esta razão a chamão Giiatlmtxlo, Também se fabrica em as índias Orientaes , e principalmente no Império do Grão Mogor , e no Reino de Golconda , segundo o refere Tavcrnier. Mais eommummente na Europa he chamado Inde que índi- go , ©u Anil ; porque lhe davão o nome do lugar don- de começou a vir no principio. Alguns Authores , e principalmente o P. Du Tertre , Dominicano, julgarão que o índigo das índias Orientaes era melhor , mais fino, e mais caro, do que aquelle , que nos vinha da America ; porque » este chamavão Indi^ çhtíto , ou y.íi. F^h, m pia- ( 50) plano , quando o da índia appelidavão Indico redari. do : pois toda a differença entre estçs dois Indigos consistia em que o das índias Orientaes tem a figura j|a. ametade de hum ovo ; e o da America da ametade de hum pequeno páo chato ; mas no que toca*á sua qualidade, não ha entre hum, e outro differença algu* ma, quando são feitos, ou trabalhados com o mesmQ cuidado. A forma do índigo Oriental obriga aos commer- ciante3 , que o trazem á Europa , a reduziilo em pó pelo fim de augmentar as suas caixas , ou toneis , em que o põem. He certo porém que , sendo reduzido a pó desta sorte , deve parecer mais fino , do que aquel- le que nos trazem da America, que , vindo em pães chatos, deixa ver as veias , pelas quaçs se julga ser íiiais grosseiro, que o outro. Ajas tudo isto nada influs sobre a bondadç intrínseca desta mercadfsria. Eu per- t.endo , que hum , e outro tem a mesma , ou i^rual {jondade , sem embargo de qualquer differença , que queirão descobrir çntrc eiles. Para se reconhecer (diz o mesmo Author) a ver- dade disto, que acabo de dizer , tomareis hum torrão ç|e assucar que seja igualmente branco em todas as suas partes : quebrai-o em duas partçs , reduzi huma destas çm pó ; e então vereis qu- esta se vos representará rnats fina , e mais branca que a porção , que deixastes inteira. Isto procede de que o grão da ametade , que se reduzio a pó , foi dividido cm hum maior nuríiero de partes , as quaes ainda que pequenas , e quasi ínvj- $i- Ç sO siveis 5 tem com tudo maior superfície , e por conse" ' qtrencia rellectem huma maior luz , ao mesmo passo <]ue a outra ametade , que se deixou ficar inteira j ten» do iiuma superfície menor , só offerece á vista grãos grossos 5 reflectindo huma menor luz, e parecendo me- nos brancos : e por consequência se reputa hum assu- car de inferior qualidade , por consistir toda a sua bel- Icza na maior alvura. Parece que poderemos applicar e<;te mesmo discur- so ao índigo , e dizer que todas as cousas iguaes além destas : o índigo da America he tão bom , como o das índias Orientaes , quando se faz do mesmo modo^ Julgo que ainda posso dizer mais : que o índigo da America he muito melhor para o uso , que o ou* tro ; porque», não he evidente , que as suas partes mais delicadas , e finas se hajão de dissipar, quando se re-- duzem a pó, como diz Tavernier ? e quem poderá pôr em dúvida , que as taes partes mais finas não fossem as mais próprias, para haverem de dar huma boa tint-a ? Conheço, que o índigo das índias Orientaes^ hef muito mais caro, que aquelle que se imporia da Amé- rica. Mas he claro , que isto deve ser assim , porque vem de muito mais longe , e que aquelles que com- merceão com elle , não encontrarião proveito , se o houvessem de vender por aquelle mesmo preço , por- que se vende o outro.., que nos vem de-hum paiz ^tíuí- to msis vizinho. Mas todos conhecem que este argu- mento não he sufficiente para provar a sua bondade, ou ruindade, quanto mais « sua melhoria. D 2, Com- C50 Compoem-se o índigo de sacs , da substancia daá folhas, e casca de huma planta, que gosa do mesmo nome , e por isso se deve dizer , que he huma disso^ lução, ou digestão da planta , causada pela fermenta- ção. Sei, que não falta, quem diga, e talvez muitos, que a substancia das folhas não hc a que faz o índi- go , e que, conforme estes mesmos , nada mais he^ senão huma côr, ou tintura viscosa , que a fermenta- ção da planta espalha pela agua. JVlas eu lhes pergun- tara de antemão a esta sua opinião , que me houves- sem de dizer , que se fez da substancia desta planta? Por quanto , quando se tira da infusão , já não tem o mesmo peso , a mesma consistência , nem a mesma côr , que antes delia tinha. Isto he certo. As suas fo- lhas , que antes erão gordas , c muito abastecidas dô sueco ao depois delia apparecem leves, murchas, bran-i das , e mais semelhantes a hum estrume do que a ou- tra qualquer cousa. E esta he a causa ; porque se deo o nome, ao tanque da infusão^ de tanque da podridão. Ora não se encontrando mais nas folhas , e nas outras partes da planta a mesma substancia , que tinhão antes de serem postas a macerar , he muito mais natural o julgar, que esta mesma substancia , sendo despegada dos vasos , em que ella está encerrada , se haja de ter espalhado pela agua. Ao corpo, a que se reduz , de huma côr azul, se chama índigo. CuU C sO Cultura. Esta planta requer hum terreno rico _, e unido, mas muito secco. Ella cança muito a terra , em que he cultivada : devem«na separar de outra qualquei? planta: conseryalla sempre mondada, e limpa, emba-^ raçando que outra qualquer planta haja de nascer junto, a ella. Cumpre alimpar-se o terreno, onde se haja de plantar o índigo cinco, ou seis vezes antes. Julgo que se diria melhor Semear ; mas como o termo plantar çstá recebido no uso das nossas Ilhas , por este princi- pio não me devo embrulhar com os nossos Granjeiros , que por toda a qualidade de titulos possíveis merecem todo o nosso respeito , ainda que tenhão o máo costu- me de des6gurar a nossa linguagem. Algumas vezes são tão escrupulosos acerca da limpeza do terreno, em que o hão de plantar, que o varrem como se elle fos- se huma camará. Ao depois lhe abrem as covas , em <|ue devem pôr as sementes. Os escravos , ou outros quaesqiier homens destinados a esta acção , se põem çm fileira, ou linha em huma das suas extremidades, e recuando , ou andando para traz , abrem as covas da grandeza das suas enxadas com duas , ou três pollega- das de altura, e hum pé de distancia em todos ossen-^. tidos, e as alinhão o melhor que cabe nas suas possi- ^)ilidades. Chegados que sejão a outra extremidade do terreno, cada hum se provê de hum pequeno sacco de 5.ç.mentes3 e voltando pelo mesmo caminho, vem pon- ( 54) do onze , ou treze sementes em cada cova. O numero impar, de que usão , he resto da superstição. A esta, se bem que estou lonoe de appvovar, porque conheça a loucura, e inutijidade , não quero impugnar; porque perderia o meu tempo , e não viria a conseguir cousa alguma. Esta parte da cultura do índigo he a mais traba- lhosa ; por necessitar de que aquelles , que se empre- gão nella, andem sempre curvos, sem se poderem pôr direitos , em quanto não acabao toda a longitude do terreno, de sorte que quando elle fie grande , o que ^uasi sempre acontece , são obrigados a ficar por duas horas , e ás vezes mais , nesta postura. Quando chegão ao fim da peça, que hão de plan- tar , desandão sobre os seus passos para cobrir as co. vas , em que pozerao as sementes , deitando com os pés era cima a terra, que cavarão, quando as abrirão , e com a qual fica a semente coberta com duas pole- gadas quasi de terrra. Ora se os habitantes da nossa America se quizes- sem servir de huma ci-iarrua em a Cultura desta plan. ta, e ainda para a semear, poderião facilitar muito o seu trabalho ; porque com este instrumento duas pes- soas , hum cavallo, ou hiur.a besta muar , semearião cada dia maior quantidade de índigo, do que o pode- rião fazer vinte pessoas no mesmo espaço de tempo, e segimdo o seu methodo ordinário. Por quanto esta charrua forma os regos , e o semeador, que está fixO neJia, segue, e lhe espalha asseuisntes igualmente de dis,' ( 5S ) distancia em distancia : e o outro instrumento , píostô atrás do mesmo , as vai cobrindo de terra : por este meio toda a operação se faz ao mesmo tempo, e com huma grande facilidade. He bem verdade ser necessá- rio , que o uso desta maquina haja de ser conliecido por aqucíles , que houvessem- de trabalhar com ella , pois do contrario se não sahirião bem ; ainda que mui. to pouca experiência seria bastante para o fazer habií dentro em pouco tempo. Como o índigo se planta em fileiras , se poderia empregar huma charrua de enxada, que tivesse huma largura porporcionada pára mondar o terreno entre as fileiras : por meio deste instrumento a operação se aca- baria em milito m.enos tempo do que pelo methodo ordinário ; mas eu aconselharia de lhe promover a terra logo que o índigo começasse a apparecer ; é também de não esperar , que as más hervas crescè^^sera ; porque então se destroem facilmente ; e -esta Cultura fortale- cendo as plantas , se volta em huma granjearia m^uito útil ao proprietário, que recebe hum índigo tanto me- lhor , quanto as plantas , qu« o dão , são mais vigo- rosas. O conselho , que dá o P. Labat de cortar estas plantas , antes que ellas envelheçao muito ; porque as- sim dão huma melhor côr ao índigo , he muito justo; c para isto se requer que se dê principio ao seu corte , assim que as flores entrarem a apparecer , por quan- to , deixando-as maior espaço de tempo , as hastes, ou tallas se eurijecem , e as folhas debaixo amarele- cem 3 C 50 cem, e "dao laum índigo de má qualidade. O mesma, diz eIJe, acontece, se as plantas forem plantadas mui- to conchegadas , ou havendo descuido de se deixar crescer entre ellas hervas bravias 5 e que por este mo- tivo se haja de ter grande cuidado em o conservar sempre limpo. Ainda que todas as estações sejão igualmente fa- voráveis para se plantar o índigo , todavia requer at- tcnder se a não escolher para isto o tempo secco. He verdade , que a semente pode conservar-se hum mez na terra sem se arruinar ; mas sempre se deve recear que -os insectos a não destruão ; que os ventos a não Jevem comsigo , ou que as hervas bravias a não affo- guem. Por estas razoes , os que sabem mais desta gran- jearia , nunca plantão o índigo em tempo secco f^ou , o que vale o mesmo, sem esperar que naquelles dois, ou três dias haja de chover ; mas quando escolhem huma estação húmida , que promette chuva , fícão se< ?uros que dalli a três, ou quatro dias verão rebentar as suas plantas. Sem embargo de todos os cuidados , quantos se hajão de tomar, para se limpar o terreno, antes de se ]he lançarem os grãos , deve-se renovar esta operação. Jogo que estas plantas começarem a apparecer sobre a terra; porque a qualidade do terreno, ajudada pela hu- midade, calor do clima, orvalhos abundantes das noi- tes, produz huma grande quantidade de hervas bravias, que affogarião, e destruirião totalmente o índigo, ha- vendo o menor desleixo em as arrancar, logo que ellas Ç 57 ) ^ entrão a manifestar*se , ou a repontar, e efe forcelar, a qqe este terreno se conserve sempre mondado, As hervas bravias muitíssimas vezes também são causa do nascimento de certa espécie de lagarta , que róe ,. e de- vora as folhas das plantas em muito pouco tempo. Desde o momento em que a planta apparece , até chegar o tempo de ficar vez , para ser cortada , só se pass^ão dois mezes ; e logo que chegue este ponto^ de a cortar, sç não deve prolongar por mais tempo; por- que entrando a florecer , suas folhas se fazem seccas , menos cheias de substancia, e muito menos próprias, por consequência, para haverem de dar huma côr boa. Depois de se ter cortada a primeira haste, os no- Tos ramos , e folhas , que a planta fâz repulíular , se deverá repetir o seu corte de seis em seis semanas , sen- do a estação húmida , e pelo contrario sendo secca ; para que a planta não morra com as suas soccas , co- mo aconteceria infallivelmente , e se ficaria então obri- gado a replantar outras. Ora , tratando-se delias , como convém , pedem durar dois annos •, mas , passados es- tes , he preciso , que se arranquem , e se plantem ou» trás de novo. Quando a planta estiver madura , o que se co- nhece pelas suas folhas , que se voltão mais quebradi- ças , e menos macias , se cortão algumas poUegadas acima da superficie da terra com facas , ou foices cur- vas. Alguns lavradores as atão em molhos , como fei- xes de feno , para que os pretos possão com maior commodidade carregallas para o tanque de fermentar; po- C 5í 3 porém » maibr pa>t. as ,ju„u'o em grandes p„,„o, »os quaes prendem pe!a, quatro pon.as , o c;ue hemel Ihor, que o modo antecedente; porqtre a, plantas „- s.m vão «.enos esfregadas, e se levão tanto as peq„s. Síias como as grandes. Alem disto, este modo he mui- to ma,s expedito: ecomo quer que o tempo seja mu,- toprecoso, especialmente, na Americ, , he preciso perder-se o menos que for possível. Dezoito, ou vinte cargas da grandeza cada humí de dois pannos de palha , bastão para encher o tanque dfe fermentar, ctijas medidas ji se deráo. Tendo se lan- çado agua neste tan.que , que cubra as plantas , ou que ellas hajão de ficar mergulhadas , se carre?ão es- tas com alguns pedaços de páo para embaraçar", que se lev.-intem acima do mesmo modo , que se pratica com o Imho cânhamo ; e se dei.a fermentar mais ou menos, segundo o calor, ou o mais, enienos n,aduto da planta. A fermentação costuma gastar de ordinário oito, ou dez horas , e acontece algumas vezes gastar dezoito , ou vinte horas ; porém raríssima vez mais. Çuando se percebe oeffeito desta fermentação, aa«ua « aquece, ferve, ou gorgulha por toda a parte como as uvas na dorna , e de claras, que antes estavão, se fazem insensivelmente espessas , e de côr a7ul tirando a violete. Estando as cousas neste ponto , sem se b«l- l'r nas plantas se abrem os tornos , que estão no fun. do do tanque de fermentar, e se dei.a correr no tan- que de bater, a agua carregada, ou saturada dossaes, e da substancia colorante das plantas divididas pela fer- men- i ( Ç9) tnentação: depois disto se lançao Fora as plantas, que estão podres , e inúteis ; e se alimpa o tanque de fer- mentar para se lhe porem novas ; e se bate a agua , que decorreo do tanque de fermentar no de bater. An- tigamente se servia para esta operação de huma roda guarnecida de batedoiros , cujo eixo estava no meio do tanque , e que se fazia voltar por meio de dois ca- bos postos nas duas extremidades do eixo : mas ao de- pois se substituirão os batedores de caixas com fundos furados de buracos. Hoje se empregao baldes muito grandes encabados em varas fortes á maneira de ean- dieiros , por cujo meio os pretos agitão , e batem a agua com violência ^ e continuamente , até que os saes , e as outras substancias das plantas se unã® , e sufficientemente unidas hajão de formar corpo. Consiste a habilidade , do que preside a este tra- balho , em saber aproveitar se do instante ', porque , fazendo o pa,rar hum pouco antes , que o grão esteja form.ado , o índigo ficará espalhado pela agua sem se precipitar , e unir no fundo, do tanque. Acontecendo as3im , a parte colorante se excoará com a agua •, e o proprietário experimentará huma grande perda. Pelo con- trario , continuando-se a bater ao depois de estar o grão formado , resultará o mesmo inconveniente. He preciso consequentemente aproveitallo, observando com toda a precisão este instante , e logo que eile appare- cer , fazer parar a batedura , e deixar repousar a maté- ria 5 e a agua. Servem-se , para achar este instante , de huma ta- ç. de praea pequem , fejt, rfeterminacfan.ente pa„ ;-. to ; enche-, desu agua , e segundo o .ue se perce- ber, ou que «depósito se precipita no fundo, cuque fi^ue suspenso na agua, ou se cessa de bater , ou se continua. ^ o Diccionario Universal, impresso em Trevoux, refere muito seriamente por authoridade do P. Piumier «'".mo, que o fabricante do índigo, tendo tomado a agua de bater na taça, lhe cospe dentro, e que se o Indago ,á estiver formado , depressa se precipitará no fundo da taça, e que então cessa o trabalho ; mas que pc-o contrario, se o depósito não descer, se faz con- t.nuar por diante a batedura. Não foi nisto ró que se íJ.udio a srmpUcdade , e credulidade do P. Piumier, mas em outras muitas cousas , como tenho percebido.' ^ Tendo-se cessado de bater a agua , o depósito des. cè para o fundo do tanque , e se une entre si em hu- jna m, q„^ ^^ p^^^^^ ^^_^ ^ ^^^^^ ^ ^^^_^^ ^^^^ Jhada dos saes, deque estava saturada , nada por cima *"es , e se faz clara : abrem-se então as, torneiras pos- tas no batedouro em differentes alturas, e se dei«,ex- correr a agua. Quando se chega i superfície do depô- s>to, se abrem as torneiras inferiores ; e cahe o Indico no reposadoiro , ou DM!o,l. , onde se deixa passear n^s algum tempo, e ao depois disto se lança em pe- Suenos saccos de panno , que hajáo de ter quinze ou dezo,to pollcgadas de comprimento , e que cabem em ponta, onde se despoja de toda a humidade, que con- tem : estende-se ao depois em taboleiros pwjuenos qua- dra» ( 61 ) tfrados de quatro pés de longura , dois de largura , três pollegadas de profundidade , e se expõem ao ar , para se seccar muito bem. Mas se ^eve resguardar do Sol , tiue lhe destruiria a cor , e igiialmente da chuva , que o arruinaria de todo. Alf^umas vezes acontece, que as lagartas se arro- jão sobre os Indigoaes ; sobrevindo estes insectos deve- rão todas as folhas , è muitas vezes passão a rtiesmá casca , e as pontas dos ramos , o que faz seccar a has- te. Como ate aqui se não tem descoberto meio algum de refrear , e impedir que não deVorèm a colheita , nérh ainda por meio de valias abertas em torno do Indi- goai , tião se tem achado outro meio mais do que pas- èar immediAamente a cortar todas as plantas , ainda que elias sejão novas , e de ás lançar com as mesmas lagartas nó tanque dá infusão. Estes insectos morrerão nelle, e lhe deixarão a tinta das folhas , que tiverem comido 5 e nem por isso o índigo , que se fizer , será menos belio. He verdade porém, que quando as plan- tas não tiverem chegado ao ponto da stia perfeição, hajao de dar muito menos substancia ; más como mui- tas experiências nos tem ensinado , que á cqr das de- voradas pelos bicijos he muito mais belia , se virá a ganhar por hum lado , o que se houver de perder peio outro. Eu não esperaria para cortar estas plantas , que ellas absolutamente estivessem maduras. Talvez que todo o segredo , dos que fazem o índigo mais estima- d© y esteja em cortar a planta , quando a sua côr h« mvsÁ n^ais viva. Fizhui^a experiência análoga , deixando Cd- chon.ilias sobre Figueiras da índia, oue estavão muito maduras. Estas Cochonilhas em vez de serem verme- lhas, se hzerão de huma côr de foJhas seccas , seme- Jhante á dos fructos , de que se nutrião. Pôde ser que o mesmo ha;a de acontecer ao índigo ; e o que aqui me lembra, não he destituído de fundamento; porque esta conjectura se confirma pela experiência , que aca- ^o de contar: de maneira que parece certo que ames- ma planta cortada em differentes idades , produza cô- res mais ou menos beijas. Não emprenderei dar este conselho , aos que são muito afferrados aos seus pro- pnos interesses ; querendo antes a quantidade, do que ^ qualidade da sua mercadoria ; mas julgo que nada tenho de temer dos vizinhos de nossas Ilhas, que são generosos, vivem nobremente, e algumas vezes mui- to além, do que permittem suas forças , ou faculda- des. Em consequência do meu conceito lhes aconse- Jharia , que fizessem differentes experiências relativas ao terreno, a estação , a idade de suas plantas, a ai^ua em que são infundidas , ao momento de sua dissolu- ção. Estou persuadido que dentro em pouco tempo , tendo cuidado, e paciência, virião a fazer hum Indi! go igual, e ainda meJhor que o de São Domingos , tão gavado nos Paizes Estrangeiros. Sabe-se que- o assucar dos fabricantes de São Domingos em 1701 era muito máo , e que fora feito com hum trabalho indizível ; mas presentemente todo o mundo conhece que pelo' 5CU trabalho, sua reíle.xão , e seus exames , esta pro- duc- dtícção melhorara sobre todas as das Ilhas de SottaVeti- to. Ora qual será a razáo porque não hajaipos de es- perar hum acontecimento igual , ou idêntico a respeito do índigo ? Mr. Pqmet , Author da Historia Ger^I das Dfp- »as 5 nos diz na primeira parte da sqa Obr^ Cap. X» cjue os vizinhos da Villa de Sarquesse na índia Orien^ tal , junto de Amadabat ,^ se servem unicamente das folhas do índigo, e que rejeitão as hastes , e ramos, e deste lugar he que nos vem o Índigo mais gava,- do. Muito me agrada a opinião ; porque vemos quq aquelles , que querem passar pelo incommodo de des^ granizar as uvas , antes de a lançarem na dorna , e que lhe rejeitão os engaços , fazem hum vinho de muito melhor qualidade ; porque estes engaços contém sem- pre huma qualidade de ácido , que se mistura com O çumo do bago , quando se piza. Ora a mesma cousa deve acontecer ao índigo, cujas hastes contem neçes« sariamente liquores de huma côr muito menos perfei- ta, que o das folhas ; mas ser nos-hia indispensável % pachorra , e a paciência dos índios , para emprender- mos obras d^stí\ natureza ; e ter também trabalhadore« tão baratos, copno elles. Isto h e , suppondo ser verdar de , o que aífirma Pom^et por tester^iunho de Taver» nier. Setp embargo de ter muita paix^ por tqd^s as «xpericncias , que são capazes, de anima.r, e de. apeífçif qoax as nossas ínanufacturas ^ tçd^vi.a n^q Quso propel- ias Ias pelo receio das grandes despezas, que ellas causfo a todes os emprehendedores , na contingência do pro- veito não corresponder aos gastos. Com tudo apontei neste lugar o methodo dos vizinhos de Sarquesse ; por- igue não quero ficar rco da culpa de ter ©mittido hu- ma cousa, cuja noticia pôde ser de utilidade á minha pátria. O bom índigo deve ser muito leve , de sorte , que haja de nadar na superfície da agua , e se pôde suspeitar, quando eJIe se precipita no fundo , que está misturado de terras, de cinzas, ou de ardoezas feitas em pó ; deve ser de hum azul escuro, ou carregado tirando a violete , brilhante, vivo, e claro , melhor por dentro que' por fora , eomo se clle fosse prateado. Se for muito pesado relativamente ao seu volu- me, deve^se suspeitar, que está falsificado pela mistu- ra de materiaes , que lhe são estranhos ; e passar-sc por isso a examinar a sua qualidade : por quanto , co- mo muitas vezes o seu preço sobe de ponto , he jus- tissimo, que, os que o comprão , conheção os diffe- rentes modos , com os quaes praticão a sua falsifica- ção. A primeira vem a ser : quando esteve muito tem- po em o tanque de Infusão^ de sorte que assim as fo- lhas , como as cascas se consumirão totalmente. Esta operação augmenta muito a quantidade da matéria ; mas ella perde muito da sua natural belleza, e se vol- ta denegrida , espessa , pesada , c muito pouco pro- pria, para o que se quer. ( 65 > A ^e^unda se faz , misturando com o índigo ein* sras , terra , e huma certa arêa parda , e brilhante j que commummente se encontra nas Bahias junto ás praias do mar ; e principalmente ardoiza feita em pó. Ajun- tão-se*lhe estas differentes matérias no instante ^ em cue o índigo se precipita no fundo do tanque terceiro ^ chamado de repousar (JDiablotin), Esta fraude se occul- ta muito mais, ou melhor ^ quando o índigo he em pó ; mas quando elle estiver em pães , se pode conhe- cer muito bem ; por ser difficukosissimo , que corpos ÚQ huma natureza tão differente , se possão misturar tão intimamente com o índigo , que não deixem per- ceber muitas camadas de matérias differentes ; e que > óuebrando^os , com toda a facilidade se não possa des- cobrir o seu enganoi Póde-se servir dos dois meios seguintes para sô vir no conhecimento da boa, ou má qualidade do In» di^o. I. Faça-s€ dissolver huma portão de índigo em hum copo de agua. Se elle for puro, e bem feito, a sua dissolução será perfeita \ mas se for falsificado , a matéria estranha ^ que houver deter, se precipitará no fundo do copo. II. Queimando-se , o verdadeiro se consome to- talmente , entretanto que a terra, as cinzas, a arêa ^ c a ardoiza Feita em pó devem ficar. Em 1694 se vendia o índigo nas Ilhas de Sotta- vento de três libras , e dez soldos , até quatro francos a libra conforme a sua bondade, e quantidade de na- T.U. P.L ;E vios. C<50 vios, qiié o vinhão procurar. Ao depois o vi vender por hum preço muito baixo, a pezar disto o seu Gran. jeiro poderia tirar deJle hum grande proveito , ainda (lue só se vendesse por quarenta soldos a Ijbra ; por- que esta mercadoria requer menos utensis , instrumen- . tos , e despezas , do que pedem as fabricas de assucar. Desde o tempo , em que se introduzio a fabrica do índigo na Carolina Meridional , se exportava para Inglaterra huma grande quantidade desta finta útil. De- vemos esperar, que os prémios outorgados pelo Parla- mento aos seus Granjeiros, e Cultivadores os hajao de pôr em estado de prosseguirem este ramo de commer- U cio, elevallo a gráo tal, que possa ser de hum gran- 'i^' de proveito , assim á Nação , como ás nossas Colónias. ,r Mas os nossos Granjeiros ainda não chegarão a hum tal ponto, qual se poderia desejar; porque quasi todo o Índigo, que dalli se tem despachado, e expedido, 4„ tinha tanta-rijeza , e empedernecimc-Ho , que apenas se ,- podia dissolver ; o que foi causado pela agua de cal, ' que se lhe tinha misturado , para se separarem as ma- térias impuras- da planta. Sufce também por muitas car- tas escritas pelos mesmos fabricantes, que, passada a fermentação , se íiravão as plantas quasi inteiras dos tanques ; e que ellas mostravao não ter perdido do seu volume , cu do seu peso , quasi cousa alguma. Este defeito somente pôde ser imputado a algum vicio da Cultura , ou a pouca capacidade dos tanques , ou de estarem postos ao ar , o que faz que a fermenta- s5o não tenha toda a fortaleza , que he precisa para as ( 57 ) - às dissolver, e taSnbem que esta dissolução forâ retar^ dada pelos ventos frios da noite. Nas Ilhas , em que se fabrica o melhor índigo j Os tanques se conservão sempre cobertos , a pezai- de que o calor seja rnuito maior nellas , do que he na Carolina. Os fabricantes devem pensar nestas reflexões , para que por confor- tiiidade a ellas possão dirigir as sUas manipulações, oU operações. Em quanto ao que peirtence á Cultura desta pjan_ ta j os nossos plantadores comméttem hum grande er- ro plantando<^a muito junta •, porque desta iiianeirà cresce com as hastes milito delgadas , fc pouco provida de folhas, que também não são tão suceulentas, nern tão grandes como o havião de ser , se tivessem aigH- ma maior distancia. Resulta disto , que as' hastes só são compostas de pequenos vasos j qiie a fermentação não pode dissolver ^ e que unicamente as suas pontas são providas de folhas como acontece ás arvores novas muito juntas, que só teiii hastes delgadas sem folhas, nem ramos pelos lados j e só as tem na siia extremida* de, de sorte que senão deve esperar hiima grande quan- tidade de índigo dé huma píanta cultivada por este mo- do. Os que cultivão a Gaiida , ou Pastel observão sempre , que, quando suas plantas são delgadas , e só tem folhas estreitas, é delgadas, dão pouquíssima tinta. Para evi-* tar este inconveniente escolhem hum terreno rico , e forte para as semear ^ e cuidão mUito em as plantar raras para lhes dar bastante espaço para se alargarem , «5 lançarem folhas grandes , e suceulentas , que dera E .2 sem- C 6% ) Sempre huma grande quantidade de matéria coloranté» Se os cultivadores da America quizessem imitar o exemplo dos que plantão o Pastel ^ tirarião seguramen- te hum grande benefício. Commettem ainda outra falta , cortando as suas plantas muito tarde com a idca de procurar ainda hu- ma triaior qUantida»íe de índigo ; mas isto he hum er- ro grosseiro ; porque quanto mais a planta for velha , mais seccas serão as hastes , e se endureceráõ , e por e.na razão pouquíssimas partes se poderáô dissolver pe- la fermentação, e ©depósito destas velhas plantas nlo será tão bom , como o das novas, Querer-se-hia , que , depois de todas estas obser- vações, os lavradores fizessem algumas experiências a- cerca da Gultura , e tratamento destas plantas, semean- do-as largas, conservando -as limpas das hervas bravias, e cortando-as no comenos , que são novas , e cheias de seiba. Estas experiências nos darião luz acerca dos meios, que se devem applicar para tirar delias o mais vantajoso partido. IVlas como a mão de obra seja cara neste Paiz , talvez opporáõ a excessiva despcza , que se ha de fazer nomethodo, que proponho ; mas para que estes meios sejão menos dispendiosos propuz semear o índigo com a charrua de semear, o que diminuirá con- sideravelmente as primeiras despezas , ficando as semen- tes ao mesmo tempo igualmente espalhadas. Também aconselhei o servirem-se da charrua de enxada , com a qual se pode mecher a terra, e ajuntalla ao redor das raízes para as fortificar , e p6r a planta eu) estado de re* resistir aos altaques dos Insectos ; por cujo meio suâs folhas , e suas hastes se farão mais succulentas , e mais próprias a subministrar hwma boa quantidade de rnate- sia çolorante, (70) '' ^■■' ' ■ iiil III H IFIWillMIlWfiiW^Kr— , I i„i. O PERFEITO INDIGOEIRO, Que contêm huma exposição clrcimnt andada desta plan^ ia , seu carte , fermentação , batediira com muitas advertências úteis acerca desta maiiitfacturo. Por Elias Monnerau, (^VUlnho de Llmonade^ repartição do Cabo nas Ilhas l^rancei,as da América, ) PARTE I. §. I. Vescrtpção da Indl^oaria, á\S Indigoarias são tanques feitos de alvenaria, re- bocados , e cimentados , nos qiuies se põem a fermen- tar a planta cliamada índigo , da qual se tira huma fécula , que dá a mesma còr. Estes tanques são três, e postos huns sobre os outros , formando huma espé- cie de cascata por hum tal modo , que o segundo ^ ^'' sea- C70 sendo mais baixo que o primeiro , pos.sa receber o }í- ijuido, que o primeiro contem , quando se destapa a abertura , que se lhe tem feito : e que o terceiro pos- sa por seu turno , quando ]he couber a sua vez , re- ceber o que contem o segundo. O prim.eiro destes tanques, que deve ser o maior, t o mais levantado , se chama o da Fermentação. Or- dinariamente se lhe dá dez , até doze pés de ccmpri- piento , nove , a dez de largo , e três de altura : de- ve-se-lhe dar hum declive , ou inclinação no fundo , que conduz ao registro , para que possa escoar com fa- cilidade as aguas. O segundo tanque , que se chama o batedolro ^ ou de hnter he mais estreito que o primeiro ; porém muito mais alto , para que a agua , com a acção , ou movimento de bater, se não espalhe, cuja quantidade haja de causar huma grande perda ; e por este motivo se deve fazer o mesmo , que em o primeiro , isto he j dar-lhe hum declive menor para o excôo das aguas : c ao terceiro , que sem comparação alguma deve ser me- nor que o segundo, d^o nomes diversos, ^ caráõ também os esteios , que tem cinco , oara seis pés de circumferenciâ , e cuja ametade he fincada na terra ; mas o tanque soffre por pouco tempo huma tal fervura : he verdade que estes casos não são com- muns, e só acontecem nos grandes calores, quando o índigo fermenta com muita força. §. IV. Erros de alguns Aathores refutados. Antes de passarmos adiante, advertirei hum erro, em que tem cabido muitos Authores por ignorância, ou, dizendo melhor , por falta de experiência. Estes Senhores sustentão ( fysicamente sem dúvida) que não ht a folha, que faz o índigo, o qual, segundo o seu parecer, nada he mais que huma tinta viscosa, que a fermentação da planta espalha na agua. Que probabi- lidade pôde haver de que os ramos, e a casca possão causar hum cfleito tão repentino em mais de 200 , e SCO barris de agua summamente fresca , como he o «Pi^rossar esta mesma qualidade de agua em menos de dçz. (75) dez, até doze horas de tempo , em que muitas vezes íícontece fermentar hum tanque ? He evidentemente contradictorio, que sendo a planta fijaye quebradiça, possa engrossar^ a agua em hu,m gráo síiperior á gros^ sura , que tem a clara do ovo , como effeçtivament© conhecem todos os que tem visto fabricar o IndigOi Poderia duvidar-se á vista da herva que se lhe deita , que , depois de ter fermentado , a folha , que antes era forte, e carnuda, se volta em fina , e moile ? Que foi feito do seu volume ? Sem dúvida que se dissol- veo , e que desta dissolução he que se formou o Indi- cio. Se for precisa para o convencimento desta ver^ dade, dar provas mais claras , farei ver aos Senhores Fysicos que , quando a lagarta tem acabado de devo- rar todas as folhas , se vem obrigados a parar o corte. Se a planta contivesse saes próprios para a composição desta tinta, os estragos das lagartas não farião damno algum çranossas rendas, nem impressão eiu nossos es- piritos. §. V. JrJigo de S^rcjziesse ; só se serve ^> as Jolhãs ^ cemo diz Mí\ Tavemàer, Mr. Pomet , Author da Historia das Drogas , es-' creve fundado na relação de Mr. Tavernier , que Qs índios da Aldéa de Sarquesse só se servem» das folhas j e rejeitão os troços , e que esta he a causa porque este Índigo he ornais estimado. Isto confirmaria muito beifn g.fpinha opinião , se este facto não parecesse dqvidoso ; V'.' (7(5) e por Uso não quero estabelecella sobre hum tão dô- bJ] testemunho. Que probabilidade ha de que homens, cuja indolência he igual á sua estupidez , se queirao occupar em o desfolhar? Que tempo não se precisaria para poder abastecer hum tanque com folhas ainda me, nores , que as do nosso bucho. Suppondose mesmo a possibilidade da execução, acaso temos certeza do sue cesso da dissolução ? Todas as folhas amontoadas hu- jnas sobre as outras não farião huma inassa embaraçosa á agua de a penetrar? Poderião por ventura mil índios cortar herva , e desfolhalla para encher hum tanque? Mo se responderá que em lugar de hum dia gastarião três ; pois que a primeira herva cortada seria queimada pelo Sol ; e que apenas se lhe tocasse com a mão , se reduziria a pó. Se este for emotivo, porque o índigo das índias Orientaes se reputa superior ao nosso , eii estou em direito de fazer valer o antigo provérbio, á letra que a opinião fax. tudo com os homens, A experiência me tem convencido que podemos levar a qualidade do nosso índigo ao mais alto ponto d« perfeição , empregando o fielmente ; mas o que apar- ta as pessoas unicamente aferradas aos seus interesses, vem a ser , que ao melhor se não dá hum preço su- perior ao commum : pois tenho á muito tempo refle- ctido, que não he o habitante , qu« taxa o preça do seu género ; antes , pelo contrario , elle he o que se conforma á taxa , que lhe põem os Capitães dos na^ vios. Em quanto a minha fabrica, sem me embaraçar té; í>or4ue he então muito diificil o manufacturarse. E se o C «J ) ò índigoeiro mo tiver bastante destreza que o cíic'^tíé a conseguir, o seu rendimento será mui diminuto (coiii íanto que não seja em tempo de fortes calores) , e de pouco proveito , fnas quando se tèm cuidado de sé prevenir , faz hum magnifico índigo ; com tanto po- rém que se appjique a mesma diligencia , assim ná tanque de fermentar , como no de bater. Esta casta db índigo gasta muito tempo nó seíi crescimento ; e por este motivo m oitos preferem o" franco , se o terreno cOnse^nte ; porque este em dois mezes, algumas vezes em seis semanas , correndolhe O tempo bem , se põem prompto para o córté ; parx o bastardo porém he preciso mais de três mezes. Tam- bém se misturão hum , e outro ; e ainda que o bastar- do seja mais vagaroso , nem por isso se deixai de cor- tar todo ao mesmo tempo, quando qualquer dos dois se acha em estado disso. As brotas , ou novedios vera assim nO bastardo , como no franco com a mesma for- ça : por onde seis semanas ao depois se cor tão , como se as duas espécies só fossem huma. Tem se com isto a vantagem , mediante a mistura , de que o bastard© embelléza j e aformosenta o lustre do franco, e este a seu tump , tendo hum grão melhor, dá maior facili« dade ao Indigoeiro para ^,r bem succedida no ponto de fermentação. f ^ QUMn CM) §. IX. GitanmaJo : sua quaVidacle, O Guatimalo he hnina espécie de índigo, qut se assemelha tanto ao bastardo , que seria quasi impossi-' vel distinguir hum do outro , sem as siliquas , que' contém as sementes , de huma còr parda escura " co- ^|it ir>o as suas sementes : as do bastardo são amare] Ias , e ^ o seu grão he negro , como pólvora , com quem se parece inteiramente. Como o GuatimaJo seja mui dif- ficil de se manufacturar , e seja muito menos rendo- í so , que o bastardo , não se tem até agora usado ; •«" mas, achando se misturado com o outro, não se pó- y de destruir por maiores cautelks , que se tomem para 11 e*te effeito.' §. X, índigo bravio. Existe huma espécie de índigo , que cresce nos prados semelhante a hum arbusto, com o tronco cur- to, copado, e muito grosso, ramos adherentes á raiz , folhas mais redondas , e menores que as do franco ;' porem muito delgadas : e por isso não serve. §. XI. Indico Mary, O índigo Mary , que se parece com' o franco na folha , excepto em serem menos carnosas , se encontra muito pouca* vezes : yl^uns assegurão ser de muito ^ reft- r- jendimento , inas ha -toda a probabilidade do contra- íio ; porque até agora ninguém se resolveo a plantallo. Ainda se topa outia espécie , que cresce muito alto, .cujos ramos se estendem por mais de seis pés em ro- da , que tem as bajès do comprimento de hum pé ^ e da figura de huma agulha de enfardar. §. XII. A grande fràtlca fax. o Sahio Indigoelra, V-' Sem muito exercício , e huma prática consumma- da, se não consegue a perfeição, que se precisa nesU manufactura ; pela variedade de acontecimentos , a que ella está exposta, vendo se em hum tempo casos, que cm outros ainda se não tenhao visto. Menos se pode- ria dar destes hum.a idéa justa , sem que antes se ti- vesse visto praticar. Quando estamos em huma bella estação 5 a prática ordinária nos he bastante ; mas em huma estação desordenada, o que se julga sábio, na- da mais he que hum" ignorante. He verdade que o ín- digo não tem em toda a parte a mesma delicadeza : quanto o ar for mais temperado , tanto rn,âis crescerá a difíiculdade da sua manufactura. Ora como quer que o terreno , em qtie eu habito , requeira muito cuidado a este assumpto, posso jisonjear-me , avista da minha grande' applicação , da minha exacção em observar , ate os seus menores movimentos, que tenho feito "desco- bertas , que talvez exceda a todos os que até o presen- te se tem empregado nelle ; tenho duplicado os meiís cuidados i medida que ms pullulavão difíiculdades ; de ! l'; (86) maneira^ que nada me aconteceo, de que eu não me lizesse hum mj-sterio : e se eu não temesse ser sen,u- rado de affectaçã^ , diria, que para esta arte era ne, cessano hum especial talento, ou especial dom da Na- pureza. §. XIII, fie preciso vlsUar-sc a hcrva para se fazer juízo da sua fermentação. Qualquer Indigoeiro , que soiiher , antes de cortar ? herva , a deve vér para que possa formar conceito «lo tempo que gastará em fermentar, o que se não po- deria assignar justamente; fazem hum juizo mais, ou menos , segundo a estação , ou tempo secco , e humi- «io. Não carece entender muito desta mestria para sâ- l^er que o índigo , que nasce em dias bons, fermen^^ J^uito mais que o que nasce de pancada , forçado d^ abundância das chuvas, e por este modo he que o Inr digoeiro deve discorrer , e ser exacto em visitar seu tanque oito , ou dez horas antes que tenha adquirido a sua própria qualidade, ou, pelo menos, segundo a fdca que tiver concebido. S- XIV. Em que estação se planta o Indico, Os habitantes (ao menos os da repartição .do Ca- bo ) que não querem arriscar as suas sementes', come- rão a plantallas ao depois da Festa do Natal , e o po- dem continuar até o mez de JVIaio. Esta ultima plan- ta- (87) ta^ão he ainda a mais favorável , não ficando sujeita a^ ser queimada; mas, como a estação já se acha muito adiantada , vem a dar duas , ou três colheUas , ou corte somente : depois destas cahindo os Nortes em a- bundancia , as soccas morrem ; mas o que se planta primeiro chega a dar a quinta colheita. O índigo bas- tardo se costuma plantar logo depois de Todos os San- tos 3 até o mez d^ Maio inclusivamente. Ainda que a expressão , plantar a semente , pa- reça imprópria , não deixarei de me servir delia para me conformai ao uso do Paiz , pois jiâo^he dia minha jurisdicção o mudalla. Ora eu não a julgo tão ridícu- la, como alguns o querem persuadir ; porque se não poderia dizer absolutamente que se semea , quando, em cada cova feita á enxada , se lanção as sementes ■; e semear , propriamente só he quanuo ellas são lança-, das aqui , e acolá á ventura , sem se poder determi- nar o lugar, em que elja? nascerão. Direi porim , com o resto dos Granjeiros , que , antes de se plantar o ín- digo, he preciso arrancar as soccas velhas : o que se faz com grandes golpes de enxada : ao depois desta obra se monda o terreno, quanto se pode; e para isto se servem de hum rodo para ajuntar as soccas em monte 5 para que se possão queimar. Este rodo se faz de hum pedaço do fundo de hum barril. Encaba-se em hum páo de quasi seis pés de comprido , depois de o haver furado no meio , com o que fica próprio p^ra este uso. Estando o terreno preparado deste mo*» ^ dD, III I ào , fica capaz para ser plantado Io*o que cahirem ^9 pnmeiras chuvas , o que se faz da maneira seguinte, §. XV. jMvda de se flantar o ludi^^o. Os pretos , que devem plantar , se dispõem em íiuma Jinha em frente ao terreno, e marchando recua- íiamente, ou para trás, abrem pequenas covas da lar?, gura da sua enxada , e da profundeza de cuasi duas pollegadas, distantes de cinco, para seis em linha re- fta, p mais que podem a este íim ; e para não serem interrompidos, quando se planta, se requer, que an- tes se tenhão repartido , ou feito as divisões , que se mo pelá sua quantidade : a qualidade he de ardõez ,- a qual no preço faz huma differença muito notável. Ao crescentem se a isto os grãos dissolvidos, que deixar> do a agua se perdem em parte, e se não poderia es- gotar, o que resta ; e por este feitio se vem a achar huma caixa de índigo líquido , que , antes de ttr adquirido a sua consistência ordinária, diminue ameta* de y preço por preço : cu- qiíereria antes peccar por fa)^ fa de batedura, do que por excesso. Se o índigo for leve , he menos bom , e passará entre o bom ; e além disto se pode remediar, quando se conhece, em tem- po , tornando a começar a batedura ; e por este moti- vo SC deve examinar a agua duas horas depois de á bater.- -^ §. XXI. R^caplíidação, Como me parece impossível deixar de haver a!» gurria confusão em hUm detalhe tão comprido , pen« so , que ao depois de ter explicado em particular as difficuldades causadas pelas desordens das estações cumpre lembrar em geral tudo , quanto pode contri- builr a desorientar o Indigoeiro , para que se possa a^ cautellar sempre contra as surprezas ; porque a perda de huma tancada conduz a da segunda , e esta a da terceira , e desconcerta ao Indigoeiro ; para prevenir es» te inconveniente, he preciso tello em hum prato ,• e fazer siras reflexões sobre os pontos seguintes, i. Em o excesso da3 chuvas , não tendo o Jndigo- corpo , de- ve t §7 ) V« por (Tonsequcncia ter hum grão imperfeito ^ e por isso o Indigoeiro não deve parar no grão simplesmen- te , mas também deve attetider a agua , examinando a vivacidade da sua coro 2. Quando as seçcas forem gíandes , faltando substancia ao índigo j só pôde pro- duzir hum grão mal formado , e também a sua agua será cuja , ou toldada , o que será sinal de huma tan- cada muito ferméntadai. 3. No primeiro corte , se as terras estiverem resfriadas como as aguas j o índigo í!eve mostrar hum falso grão , mas sendo as aguas boas , o Indigceiro se deve applicar ao seu estudo uni- camente j bem entendido > que na batedura seguinte a agua haja de ser a sua guia fiel ^ que elle deve reger com grande circumspecção. 4. O corte , que se faz im- mediatamente aO depois dos estragos das lagartas j não deixará de produzir huma agua immunda , isto he , que reinará nella huma flor > a qual deve acautellar de não confundir com huma excessiva fermentação ^ e também a deve bater menos do ordinário , para ».^.ae Jhe não saia hum índigo ardoez : o que digo deste corte se po- de tarnbem ampliar ao índigo carregado de grão. |, XXII. Qjtcãldade da íigita depois da hatedura^ Huma hora 5 ôu duas , aó depois de se bater, convém examinar a qualidade da agua. Isto he mui necessário, para se desvanecerem as dúvidas, que hou- verem acerca da sua falta : nunca huma má tancada produz boa agua ; « quanto mais esta for carregada, J. Ih P. I, G tan- C 9< ) tnhto maisT se deve suppôr a nimia fermentação ; píií- tém he mais provável que este effeito seja devido á nimia batedtira ; porque a tancada fermentando-se até ao pOnto de produzir huma agua catregadai , será im- possivel qiíe o Indigoeiro a deixe dé .perceber pela fra- f]ueza do seu giãe , pois que o índigo, chegando a seu ponto ííxOj se refinaria, se fosse batido só o necessa- fio , e não demais , que he a causa deste deleito : este caso será de decidir , reflectindo sobre o gráo de bate» dura, que se lhe deo , isto he , sobre a agua carrega» da, que muitas vezes engana ao Indigoeiro; e qué eii já disse que Se confirmava pelos saccos , que parecéníí çujos , ou plúmbeos , o que he inseparável , assim da índigo muito batido, como do muito fermentado, o que faz que se confunda hum com o outro : donde naturalmente resulta huma grande desordem as tanca* das seguintes. Esta casta de tanques produz huma agua azulada com hum fundo verde , o qual procede de es** tar a tanca!f^ muito fermentada , e não poder suppor- tàr assas a batôdura , para clarificar a sua agua. A suâ mistura he azul provém dos grãos dissolvidos , e cuj* dissolução tinje toda a massa»da agua. §. XXIII. Outra nota sobre o mesmo assumpto. Dá se outra qualidade de agua muito comnina à Iiuma tancada nr.uito fermentada, que he parda no aF- io , e que a huma pollegada mais abaixo se acha ver- de 5 o que he hum signal infallivd do seu excesso: t«- ( 99 ) tocíáS estas tancadãs são ordinariamente acompaníiádas de huma flor espessa, que se divide em forma de pe- quenas ramajes , que cobrem todo o batedoiro , imme- diatamente que se acaba de bater ; mas se o seu ex- cesso não for grande , ãe vê huma agua verde clara , algumas vezes parda , e sem grande trabalho se nâo conhece o seu defeito, a agua fica limpa, más esgo- ta se com muita difficuldade , sendo fácil' a bater , e escumando muito ; o índigo brando tirando sobre o ar- doez pela qualidade , prova huma hora , oU duas de íhuita fermentação ; se poderia também estimar em três horas ria boa estação. A razão disto he porque a fermentação não faz miaiores progressos em três horas por S. João 5 do que faria em huma hora nas estações ííesordenadas. Quando o índigo tem mais corpo , a sua folha gasta muito mais tempo em fermentar. §', XXIV. Qiialldades de agiin de huma taiicada , ijuQ teve folta ds Jermentação. Huma táncada , a qué faltou fermentação, mos- tra quasi sempre huma agua loira , ou de hum verde tirante para amárello. Quando o índigo he batido a propósito j • não tem a mistura de azul; mas he mais, ou menos vermelho , á proporção que se afi^asta do Seu ponto ; algumas vezes se tomaria esta agua como huma verdadeira cerveja. Esta regra porém não he tão certa, que não tenha excepção : porque ha cortes in- teiros ^ cujas aguas são sempre vermelhas ^ bem que G a te- ( 200 ) tcnhão fermentado convenientemente : então o ínáU goeiro pôde perceber o grão : a final a agua vermelha não he sempre hum presagio mdo : o índigo secca bem , e a sua qualidade he sempre boa, A agua 5 que tem a côr da agua-ardente de vi- nho , ou cidra, he a melhor , que se pôde desejar ^ porque com elja nos certificamos de se ter tirado a quinta essência ^ e que nada lhe falta , quer em bate- dura, qu»r em fermentação. Eu nunca aconselharei d» ateimarem cm procurar a qualidade desta agua ; porque dão-se tempos , em que se não encontraria principal- mente nos primeiros ^ e últimos cortas. Eis-aqui os signaes dos saccos , que por muitas vezeá sáo muito duvidosos , por falta do Indi<»oeiro não reflectir assas acerca do gráo da batedura , que deo ao seu índigo. Eu em hum momento me atrevia a destruir os signaes mais sólidos , mas ao fabricante ào índigo só pertence conhecer se são verdadeiros, ou fal- sos. Por exemplo, quando quízerdes fazer trazer os sac- cos, que estão no cabide , para encaixar o índigo , lan- ^ai-Jhe a vista por cima, e os achareis por fora babo- SOS (supponho que elles o estejão), observareis hum» costra côr de chumbo grossa, ou de ardoez : aqui ren- des , me direis logo hum tanque muito fermentado : concordarei comvosco de boa vontade ; mas o que di- rigio a batedura decidirá mais seguramente ; porque de- ve saber , se o fez bater de mais , e neste caso esta côdea, ou costra pôde nascer da batedura : a tancada ( 101 > podia ter a sua fermentação justa, e • ter sido muit» batida , ser a causa desta costra , da mesma maneira <]ue huma tancada muito fermentada poderia dar aos saccos a côr de cobre , o que he signal de huma tan- cada , a que falta a fermentação ; e isto por huma ra- zão totahnente contraria, isto he ,, por ter sido muito batida , ou ao menos pela falta da batedura , ainda que , neste ultimo caso , seja fácil de se desabusar, olhando para elle de perto ; pois que não deixará de Jhe ver huma mistura de çujidade , que reina entre a sua côr de cobre , a qual tirará as dúvidas em hum momento , fazendo ver a verdade. O Indigoeiro perfeito tem os seus saccòs sem a tal côr de cobre , e çujidade ; achallosha seccos , c limpos , e deste modo conhecerá o como manejou a batçdura , para julgar com descripcão dos saccos 3 qUQ podem receber huma, e outra, §. XXV. Calculo ão rendimento de hama hoâi tíineada^ Por não deixar alguma cousa a desejar no que res- peita ao índigo , julgo que deveria dar a quantidade de índigo, que pôde render huma boa tancada, que me persuado ser a seguinte. Hum tanque da grandeza, que disse acima , pôde produzir quasi trinta libras. Sup-» ponho que se fabrica em hum tempo bom COí eque se* (1) O que daria huma renda considerável , a não haverem circumstancias inevitáveis, i. O primeiro^ cdr- $ç rende pouco , damdo pouca herva. a. O 5eguíi.d(> seja índigo plantado tm várzeas , ou planos ( porque p dos morros rende menos , sendo neljes o ar mais tem- perado). O bastardo quando muito dará vinte e cinco Jibras. Tendo-se a agua demorado dez , para doze ^oras no tanque , a fermentação faz o seu effeito ordinário (l) , e tendo passado pelos gráos marcados acima , se abre o resisto para se tirar hum pouco de iiquor em huma taça de prata , destinada somente para este uso ; se agita esta agua em a tassa , até que os grãos sejão formados , e se examina a qualidade , e a da agua ; e se ella tem adquirido a sua fermentação conveniente- mente , se laxa o torno para fazer correr a agua em o batedoiro , onde se deve aperfeiçoar por meio da ba- tedura. §. XXVI. Modo o mais seguro para sondar a tancjue. He preciso que eu aqui diga algum.a cousa de pas- sagem sobre a péssima máxima , que tem muitos In- dij^oeiros de sondar os tanques peio alto , sem distin- ção dos tempos, e dos lugares ; se em os morros per- tenderem usar da mesrr.a prática , seriao muitas vezes enganados ; porque em cima só mostra hum grão fal- so ; ctKte he o melhor: o terceiro diminue de hum terço: o quVrto de três quartos; e o quinto se reduz a quasi 'Dada: fl isto se devem ajuntar as avarias da plantação. ■' (!) ' A fermentação da primeira tancada he muito branda 5 e quasi só faz escumar. C 103 ) ao; menos se arrisca, observando-se a agua cio fundo, onde se vê o grão ao natural ; a prova he nnanifesta , e a razão toda simples ; pois que são precisas du^s ho- ras para encher o tanque da agua , durante esta alter- nativa a herva debaixo se infunde, o que he huma oc- casião próxima de fermentação , e por huma conse- quência necessariíi, deve mostrar o seu grão, primeiro que a agua de cima , a qual só se engrossa , pelo bur- bulhamento, que o baixo do tanque lhe excita. Além disto se observa, que nos tempos chuvosos, nos quaes o índigo, só passadas dez, ou doze horas, fermenta, apenas o alto do tanque tem tempo de mudar. Será porventura prudência o esperar , que se veja ahi gráõ ? Mão, sem dúvida, antes extravagância o imaginallo : he preciso logo necessariamente arriscar-se a perdello , , querendo esperar que a superfície seja suficientemente . colorada , para lhe achar grão. §, XXVII. Mod0 de o hater. :-^ Tendo se achado o ponto fixo da dissolução , vera . a faltar unicamente a batedura para o aperfeiçoar , esta se executa da maneira seguinte : tém-se três espécies de caixões sem fundo , encabados em huma vara , da grossura de hum braço (i) : com estes he que se ba-- te , (i) Os batedores devem dar juntamente a pancada para não saltar fóta a agua : ha outro modo de bater de nova invenção , por meio de huma roda movida por lium çavallo , o que poupa muito traballio aos. esçra\:QSA ( 104 ) te , e que se agita fortemente esta agua sem parar , ató <]ue os saes, e outras partes da planta se unão , e se encorporem juntamente : então he , fallando propria- mente 5 que se descobre o defeito da fermentação , e desta maneira a batedura requer de algum modo huma jTiaior applicação, pois que por seu meio se conhecem os defeitos , e ainda o expediente para os remediar : com tanto porém que não haja excesso : duas , ou três horas de mais, ou de menos, no bom tempo (expli* co.me) não causão perda , e a qualidade do índigo, sendo a batedura bem conduzida, não será menos bella, §. XXVIII. Explicação da batedura^ A batedura he o emético do officio áo Indiffoei- ro ; porque nella he , que se descobrem os seus defei» tos , por ella se remedeão , e se regula a continuação do cóite. Também pela batedura, he que se pôde ar- ruinar a melhor tancada , fazendo-se bater muito pou- co , ou com muito excesso : não se batendo assas , o grão, que ainda se não acha formado , fica espalhado pela agua sem se precipitar , nem amontoar no fundo do tanque, e se perde, quando se quer largar: e tam- bém , havendo se batido, continuando-se mais, dissol- ve se , e resulta o mesmo inconveniente; he preciso, por isvo, ver hum momento justo, e cessar Jogo, que tiver lugar, para que repouse, ou descanse a matéria. Ç^ C 105 ) §. XXIX. Como se solta o lanqae, Parando-sc a batedura , a fécula se precipita no fundo do tanque, aonde ella se ajunta , como huma espécie de lama; e a agua despegada de seus saes , que estava impregnada, sobrenada, e se torna clara : duas , até três horas são bastantes para o seu repous® , quando não tem algum defeito : depois disto ^ sendo necessário, se pode soltar a agua; mas he melhor dei- xalla por algum tempo mais , para que fiquem menos particulas na agua , e que os grãos mais leves tenhão tempo de correr para o fundo , como fizerão os outros 2 então se abre a torneira , que se pôz no fundo do tan- que de hater , e que tem três cavilhas differçntes, observando começar pela primeira somente , tendo as íiguas decorrido até o nivel do buraco : se tira o. se- gundo pata deixar livre o mesmo excôo até á superfí- cie do índigo : ao depois se faz cahir este na bacia. Mas se acontecer , ficar-lhe ainda alguma agua , o que he assas commum , se tira o ultimo torno , e se ihe introduz promptamente em seu lugar hum torno qua- drado : então se vê com huma espécie de admirarão o índigo parar,, para deixar passar a agua, que vasa pe- los quadrados deste torno , e se excôa até que se siga o índigo : então se poem> hum panno por baixo , para receber todas as immundicias , que ordinariatrente ca- bem no batedoiro , e passando huma pluma marinha 80 xedor da bacia , s«f aciba. de ajuntar ^ o t^we pódç ha- mu (105) líaver de grossaria : depois se põem o índigo em sac» cos, onde se acaba ^..purgar do resto de agua , que ficara entre suas partes. Deixa-se nos suecos ordinariamente o índigo até o seguinte dia , para que se enxugue radicalmente da agua, que lhe restava, e até adquirir a consistência de iium queijo molle , com qye se assemelha, menos na çôr : isto feito se divide a metade dos saccos , e se 3 sahirão muito bem , não obstante não serem ignoran- tes do officio, ou mestria; mas isto mesmo era justa. mente o que os botava a perder: e assim , a pezar de qualquer destreza , dão«se momentos , em que he pre« ciso não se envergonhar de se aconselhar com outro. X. 21. P. IL H Não '.,} ^ ■< 1 CII4) Mo sou encarecido , quando vos dií?scr , que hum ^ menos destro que vós , vos poderá aconselhar ; porque elle o Fará de hum sanijue frio, a vós estareis de hum espirito inquieto, que bastará para vos aliucinar. O successo de huma segunda tancada , he como a base de toda a safra ; mas com tudo se precisa at- tender, a que as duas seguintes diminuirão de fermen- tação , e que o resto sçgUQ a prática ordinária , em quanto o- tempo estiver constante; porem, mudando- se, se mudará o índigo também: nem se deve admi- rar, se três dias de chuvas fizerem huma mudança de dez , para doze horas ; então he que o Indigoeiro está verdadeiramente embaraçado , e que tem precisão de toda a sua prática ; mas , se pelo contrario continuar o bom tempo 5 não se apartará, quando muito , senão de huma, ate duas horas , de sorte que , sendo bom o tempo, será. preciso ser ignorante para o perder , quan- do se tem tido huma secunda, e terceira tancada boas. §. II. Explicação (Ias dificuldades de hum primeiro corte. Hum primeiro corte hs sempre diffícii pela razão seguinte : as terras não tem sido sufficientemente quen- tes, e as chuvas , que nesta estação são ir.uito frequen- tes , amcntoão difficuldades , que occiípão , e embaraf ção excessivamente ao Indigoeiro , o qual necessita nes- te caso de toda a sua experiência ; porque o índigo entra a mostrar hum grão contrario , ao que elle pro- cu- C 115 ) cura ; o fiio , privandò-o da sua substancia , enfi-aqiiecé o »ião , quií , devendo apparecer redondo , se faz cha- to , e largo , e não pode distinguir o muito fermenta- do , do que ainda o não está : também não tem mui- to tempo , para ficar em equilibrio entre o mais , e o inenoi ^ pois não chega para reflectir , sendo a mudan- ça do grão imperceptivel : ora em taes casos he mais seguro regular*se pela agua, que pelo grão; e não ha cousa alguma , que concorra tanto a desordenar o In- digoeiro, como estar inquieto ; de-^concertar se , fazer milhareâ de reflexões , que só servem de o encher de abusos : admira se ainda , que huma herva táo fraca j seja tão tardia ; e fatigado da sua lentidão^ se arroja rnuitas vezes a soltar a tancada a Deos, e ú ventura ^ a íim de ver, se a baíedura lhe descobre j em que es- teve seu erro, ou engano. §. III. Sí^nacs múis ordinários ia tancada i^ a que falia a fermentação. Aqui he mister que o Indigoeiro sejámliíto atten- íeíoso em observar os signaes de huma tancada, a qud falta cinco , oU seis horas de fermentação em huma es- tação y em que o grão está tão mal nutrido : não he pela fraqueza deste grão , que elle se deve reger ; por- que a qualidade da agua , e a de siias escumas leves , he que o hão de desabusar , ainda que ella não esteja dura ao bater : _disto não devereis inferir que haja ex- cesso : a fraqueza do seu grão não consente que resista H a aa ■■R ■a-os baldes , c assim he preciso apegír-se á cualidadij de agua ; e notar , se a escuma resiste ao azeite , que se lhe I.inça , ou se ella se dissipa ^ logo que este se lhe lançar: neste aso tem hum signal mfallivel, que lhe faita : conseguirá maior certeza , se a tancada ficar Jimpa j ao depois que se tiver parado a batedura , ou se ella se cobrir de huma espécie de flor , como de borra : mas se esta flor se espalhar, em feição de na- ta 5 ou creme , se deve desconfiar que houve muita fermentação. Ora , para maior certeza , se examina a agua duas horas, ao depois de se bater, para que se acabe de convencer do mais , e do menos que esta acção po- deria ter : verse-ha ao depois a qualidade da água de huma tancada muito fermentada , e daquella , que o não foi , quanto era sufficiente. Accusarei tamibem os signaes , que se podem , ou devein encontrar nos sac- cos , e a final os mesnios , cu© mostra o índigo já pos- to nos taboleiros , para que se duvide por hum.a ma- neira tal , que se dé occasião , ou li!o;ar , a que se adquirão todos os conhecimentos , ou luzes possíveis, ainda que sejáo por outros caminhos , ou meios. Era necesraiio ser muito estúpido para se affastar da boa estrada , ao depois de haverem tantos carreiros diffe- rentes, que nos conduzem a ella com toda a seguran» ça 5 quando se i~az para isto a diligencia , que convém. A falta em o ponto da dissolução faço descobrir por meio da batedura. Duvidando-se desta , recorra-se á qualidade da agua ; e finalmente , em ultima instancia, aos sigiiacs dos saccoj , cujo signal não he menos só- Ç 117 5 Jido, tendose observado o pvó , e o contra, qne nelie se pôde descobrir solidamente. §. IV. Notas sobre o mesmo assumpto. Não he absolutamente imnossive.1 vêr Iiuma tan- cada, a quai falta a feuneníação , espumar, como se cila tivesse m.uita , com a differença porém , que a ul^ tima teria huma espuma grossa , espessa , que nunca se desvanece absolutamente, mas antes se ajunta con- stantemente nos cantos, cu ângulos do batedoiro , com huma côr de azul celeste, e que forma pequenas na- tas , quando se acaba de bater : ao passo uue em hii- ma tancada , que não foi bastaníemente batida , o o!eo faz desapparecer eíD hum instante a espuma mais es-^ pessa , e se por acaso lhe resta alguma em os cantos , he então huma espuma de huma côr roxa ^ ou violeta muito carregada ; e ainda que muitas vezes repitlo , nem por isso (ao modo dos novatos no ofíicio) se de» ve inferir, que houvera excesso, e economizar a bate- dura ; mas antes, pelo contrario , se deve bater com toda a força , porque sem isto o índigo não poderia e^gotar-se : o tempo, que lhe faltou de fermentação, diminuído pela economia da baíedura , produz sem contradicção hwm grão imperfeito, que muitos impii- tão ao seu excesso ; e a imaginação percutida deste er- ro , os obriga a perder certa quantidade j attribuindo a falta , qu@ houve á herva , da qual afíirmão , que pa;- u nada vale, o que tudo os acaba de perder, A agua ver-.. ÍP •Teíde, que apparece, ao depois que se acaba debater', he que accusa com toda a clareza o e;;cesso da fermen- tação ; mas que fundamentalmente só procede da fulta de batedura , não a tendo tido, quanto era bastante, para purgar a agua de todos os seus saes , que , por íjuma consequência natural , deve ficar carregada do seu supérfluo , occasicnando lhe esta cór verde , que existe espalhada. §. V. Meios de se evitar este perda. O meio mais effícaz para o Indigoeiro se curar da sua preoceupaçáo, he o de levar a sua batedura tanto adiante , que haja de extinguir o grão , e obrigar a agua a mudar a côr , até que , a força da batedura, fique russa ; mas, se realmente tiver sido muito fer- mentada, eila se voltará denegrida, década vez mais 5 porque o seu grão se dissolverá. Logo se convencerão da sua falta, e se porão na figura de poder emendar a tancada seguinte, e por este meio remediar o resto do coite. O Indigoeir-o , que se achar em hum caso emba- raçoso , deve por todos os lados procurar conseguir a -verdade. Ke assas importante ao resultado do corte, saberem-sc as faltas da primeira tancada , (a qjal ordi- nviiamente se arrisca) para acertalla na segunda; por- que, se esta vier a faltar , rarisJima vez, se sahirá bem na terceira. Poicm , acontecendo isto, he preciso que, pu consulte, ou se dcniore per alguns diss ; se a côn- sul- tultada, não sahe melhor: o mais seguro será esperat mais oito dias, para ver se pode certiíicar-se ; está íóra da estrada , e continuando , tudo virá a perder. §. VI. Observação curiosa fará evitar o vigiar as tancadas dn noite. Como seja summamente trabalhoso velar huma parte da noite , .até com o risco de moléstias perigo- sas , meditando eu á cerca dos meios de evitar tantos trabalhos, e perigos, que as vigílias occasionão muitas vezes , cheguei ao ponto de fazer huma observação , 6-,ue me tem sido muito proveitosa. Este he o facto : Kindo hum dia a explorar o m.eu primeiro tanque, já quasi ao pôr do Sol (estávamos em huma estação , em que tudo hia bem ) pelo mez de Outubro , observei que apenas começava a lançar alguma tinta verdç ; e explorando-o em consequência disto , julguei que po- deria chegar até ás duas horas , ao depois da meia noi" te ,^ pela idéa , que fiz do seu gurgulhamento : vi o meu relógio para saber a hora , em que me achava ; mas chegada que foi a de me deitar ^ ( ao depois de ter dado ordem de se soltar a agua á hora estimsda ) dormj tranquillamente ; e ao outro dia achei , que tudo se tinha feito m^uito bem. Fiz â mesma observação na segunda tancada , acautellando-me com m.e achar ahi presente duâs horas antes, e -tendo reconhecido o seu gurgulhamento no mesmo gráo que o outro , .lhe di- minui as duas horas, qiie julguei ter adiantado, e tive i i ■ C 120 ) O me^mo bom successo. Desta sorte continuei o re^it-^ da safra , sem me affa^ar deste plano , c de alc^uma maneira ine regulei melhor , do que exannnando. A luz do fogo, decue re usa de noite , não equivale á do di,i em tal rccasião ; pois todos sabem , que o verde, sa representa azul de noite , e isto não deixa de desorde- nar aos de vista cuita. §. V]I. Aviso i-nportnníe para se achar o ponto Jix» ds dissolução. He preciso que sempre se principie com tempo a examinar huma tancada , principalm.ente , a ptimeira , para não se íicar surprendido , e afferrar-se assim á qua- Jjdade da agua, como a do grão ; e paia i^to basta so- mente ir de quatro, em quatro horas: hindo em todos os instantes he o melhor micio de o perder ; e imoa- cientando-se , t yúo sabendo conhecer a sua mudança, se persuadirá, que sempre vé o m.esmo grão. E se , pe- lo contrario, houver de dar a distancia d» tempo, que prescrevo , será notável : três visitas bastarão. Por exem- plo : quando se tem examinado huma tancada a pri- meira vez , se lhe faltar (eu o supponho) dez horas para a sua fermentação, eque, passadas quatro horas, se volta ao segundo exame, i;ão se poderá no terceiro ^xame conhecer o estado? Quando se ra7em estas-*-visitas , ou exames em gran.ies espaços de tempo, i proporção destes he que se dçve oLseivcu a mudança, que nclies deve haver: ( 121 ) e se acaso a ultima vez, que se houver dei!", ?;e achar, por hum azar, passada a hora, he sem dúvida que se ha de perceber na ar^ua , e que se pode faier hum jui- 10 do seu excesso pelo exame precedente , e que S3 não vera mais.aqueile verde , qus feria a vista : pois em lugar deiJe se encontraria hum verde cujo , ou hum amarello pallido, que sáo os signaes evidentes do seu excesso : a mesma agua , que amarellece nas mãos , não faz neJlas impressão alguma , no que he oppcsta i que não teve excesso , que mancha as mãos por fei- tio, que o sabão não poderia tirar-lhes a côr. O líidigo , a que faltão estas circumstancias da fermentação , he de hum verde tão vivo , que qual» quer gctta de agua , que amarellece as mãos , faz hu- ma impressão tão forte , que se faz preciso , para o apagar, repetir muitas vezes a ensaboadura : ao contra- rio , a impressão de huma gotta de água , que sahe de huma íancada , onde domina a fermentação , he tão fraca , q|^e ella per si mesmo se apaga á medida , que se vai seccando, §, VIII. Differ entes figuras de grãos , segunda a ordem das estaçõjj. Segundo a ordem das estações , ou do tempo secco , e húmido, apparecem tancadas , nas quaes se ob-^erva li.um grão alongado em feição de ponta , ( íeni^ po secco ) , outros tem o grão redondo como atêa ( tenim po Javorayciy^ e íinalnienc© outras , em que o grãa . . he ■ C lt2 ) be chato , e alargado Çtempo cluwaso^. Este temp« vos póic facilmente surprender , e pede huma grande applicação : com tudo, por pouco que o índigoeiro se esbulhe da sua prevenção , ou preoccupação , elJe se não enganará ; o grão se separa facilmente , rolando na taça, e deixa a agua de huma còr verde brilhante, e escura: quando no tanque, estando muito fermenta- do ^ o gráo , ainda que alargado como o outro , não Stí separa sem m.uito trabalho , e íica como nadando entre duas aguas, das quaes a còr he pela maior par- te de hucn amarello páilido , ou de hum verde dene- grido , e outras de hum verde esbranquiçado ; a esta a^ua succede huma flor , ou nata , que se une , e •que, 'vsobre a superfície da agua, forma na taça , co- mo híim meio circulo , ou hum arco Íris ; tudo pro- va com muita certeza o seu excesso. Huma tancada ■, cue tem falta , pode também formar iiuma nata ( ou pela quantidade das chuvas , ou porque o grão se acha- va j4 inchado pela muita maduieza da ^^rva ) ; mas ella não se une , como em huma tancada _, que tem excesso. O bom índigo exime de tantos trabalhos , e se faz com muita facilidade : o seu grão , e a sua agua apparecem em o seu natural ; e como clle parece sec vagaroso em fermentar, se tem todo o tempo preciso para o levar á sua ultima perfeição. Quem he, o que nos pôde embaraçar , a que cheguemos ao ponto de perfeição, que a este respeito tem os Orientaes ? Será o seu terreno , cjuem nos possa embaraçar ? 'iVIas ests jnot h'o carece de toda a realidade ; pois que tambera lá se faz bom , e mio , e na mesma fabrica ; logo is- to só depende da destreza, ou mestria de quem dirije este trabalho. Qual será a delicadeza de entendimento, que hum Indigoeiro pôde ter sobre o nosso ? Eu certamen- te não conheço homens de huma inteliigencia mais U- rnitada que elles. Ninguém me contrariará este juizo. O R. P. Labat pensava que todo o segredo da» quelles , cujo índigo se vende com prejuízo do nosso , só consistia em cortar a herva em hum tempo , em que ella dá huma còr mais viva ;, e que elle julgava , que era cortar a herva antes da sua madureza. Isto certamente só sahio da viveza do seu entendimento : mas a experiência lhe he totalmente contraria : porque o índigo , que não está assas maduro , além de render menos fécula , (como elle convém) não poderia adqui- rir a liação , que lhe he própria , não obstante qual- (^uer cautela que se tome na batedura ; a herva faz sempre hum índigo oiolle , e que se esmigalha 3 es- tando seccoj como hum índigo mal trabalhado. li §• IX. Definição da hatednra. Eu disse antes : que a baíedtira era o emético d? arte de Indigoeiro, e eu não julgo esta expressão de- sordenada , com eíTeiío , pôde dizer-se que este he a sua ultima resorte , e que unicamente pôde levar á sua perfeição o índigo , ou perdello. Sem a batedura fica imperfeito , e todos os trabalhos ílcão inúteis ; he por tan- tanto muito a propósito , preferir-se o saber da batecíu- ra ao conhecimento da fermentação , e de se applicar mais áqueila , pois que descobre, o que esta tem de defeituosa. As faltas da fermentação se percebem muito mais , ou muito melhor na batedura , do que no tanque da fermentação. Desde o principio (e isto he o essencia^^ e o fim desta arte) se pode julgar a este respeito ; com tanto porém , que se não esteja preoccupado : inas , por pouco que se tenha tomado o equilibrio en- tre o mais , e o menos , hum bom Indjgoeiro deve conhecer, o que deve seguir, antes que o seu grão s« tenha formado. Quando huma tancada não está assas fermentada , ella lança huma espuiiia esverdeada, ou verdoenga , que , não obstante ser grossa , não deixa cie se separar prompíamente , quando se Mie Jança azeito ( i ). Então he que se emenda a falta , que teve na sua fermentação ; porque não tendo tido , quanto era Í?a até que se redu- za a hum.a massa f.na , da qual compõem pequenos pães , que secção i sombía. ar.ii. p.í. I Os O^ ílheos de Madagáscar tirão o seu índigo ctc huma espécie de giesta , que os Portuguezes cíianião herva de anil. Pizão as folhas com os ramos tenros, e delias formão pães de quasi três libras , que secção ao Sol. Çuando querem tingir , moem hum destes pães , e lanção este pó em panellas de barro , e as fazem fer- Ver certo tempo. Deixao nas esfriar , e infundem nellas sua seda, e algodão , que, quando se tirão , são de hum bello azul carregado. Dizem também que perto do Cairo se acha huma lierva chamada nil ^ que dá hum belJo Indico. Indico da Asia, Baldeu , na sua descripção das Costas do Malabar , diz que a planta , de que se tira o índigo , he hum arbusto da altura de hum homem , com o tronco pa- recido ao das silveiras das cercas : a flor se assemelha á da roseira canina , ou brava , c o gião ao das alfor- vas. A espécie mais larga cresce junto á Villa de Chir* sca, ou Glrcca , da qual se lhe dá o nome , a duaS léguas de Amadah.n , Capital de Guzarate. Cresce também o índigo em outros muitos luga- res da índia. O q\o território de Baiana , de Indona , e de Corsa em o Indostan , passa pelo melhor. Dão se outras muitas espécies de plantas taes , como o AVi , o Coliiill , o Tarroi; , que dão índigo aos índios. Herbelot , cmh a sua Ejbliotheca Oriental, diz que 05 Persas, e Turcos chamão Nil i planta, que os Gre- gos, ;i,' gòs 3 c Latinos chnmão hatls , é gíasuim , cUjo siiccô faz a còr aziil , ou violete , que vulgarmente chamá- mos Indie , ou índigo , e por corrupção anil em lugar éeahill j que he huma ÍJalavía turca com o artigo ara^ be ai. A maneira de trabalhar esta planta n^o he unifor- ;tiie na Ásia , e muitas vezes se vê fabricas de hum inesmo povo fazerem entre si differença grande. Entre estas diversas práticas , se notao duas principaes , cujos productos se distinguem pelos nomes Inde ^ e Indio^o. A manipulação do hide differe muito da do ín- digo ; porque só se põem as folhas da planta a infun- dir na agua , para se obter o Indè : pelo contrario se põem toda a hêrVa , menos a raiz , a macerar , quasi pelo mesmo modo que para se conseguir o índigo. Além destes dois processos , que são tão vários nas isuas circumstancias , ainda se dá outro , usado nas In^ dias ^ que Vem a ser unicainente a trituração , e hu- medecido destas folhas , de que se forma huma massa , como pastel, qUe também se chama Inde, Os habitantes de Sarauesse^ Cidade a oitenta lé- guas de Siirrate , e vizinha de Amadabat ^ cortada a planta , a despem de toda a sua folhagemi , e a infun- dem em huma certa porção de agua , que se lança em hum Vaso , chamado infimdhlolro , onde íi deixão ds trinta , a trinta e cinco horas. No íim deste tem.po , se faz passar esta agua , que está carregada dô tinta , para outro vaso chamado batedoira ^ e se faz bater este extracto em hora e meia por quatro índios fortes , agi- I C 132 5 tando o com colheres de madeira , cujos cabos tem òç dezoito j a vinte pés de compiido , postos sobre for» cjuilhas. Em alguns lugares se poupa ò trabalho de mui- tos homens, servindo*se hum grosso rollo de madeira com seis faces, de cujas extremidades sahem dois eixos de ferro, que voltão sobre gollas da mesma matéria, encaixadas nos dois lados do batedoiro. Nas duas faces inferiores , perto do baixo deste rollo 5 estão pegados seis baldes em forma de pyramide inversa , e abertos por baixo. Kum índio move conti- nuamente este roJIp por meio de huma manivella fixa em hum dos seus eixos , de sorte que três baldçs se levantão de hum lado, e os outros três descem, con- tinuando sempre d© mesmo modo, até que a agua fi- CjUe carregada de muita escuma. Lança-se então com huma penna hum pouco de azeite nesta escuma. Em- prega-se nesta aspersão quasi huma libra de azeite em hum tanque, que pôde dar setenta libras de Inde. No mesmo tempo , em que se lança este azeite sobre a escuma, ella se separa em duas partes, atra- véz das quaes se entrevem grupos , como os que se vem no leite alterado. Cessa se por então a batedura do extracto , e ao depois de ter repousado , se abre o tubo do batedoiro , e se escoa a agua clara , e se tira a fécula do fundo do vaso em forma de lodo , ou pc do vinho: tendo se tirado, se põem em saccos de pan- no , para fazer sahir ainda alguma agua , que pôde con- ter : e depois disto se lança em tabolsiroj de meia pol. 19- (I30 leífada de altura para o acabar de seccar , e a este cíia« mão os mercadores IrJe. O índigo da pruneira colheita passa pelo me« Ihor. O da segunda hc menos bom , e assim os outros á proporção. A côr do primeiro he de hum violete mais vivo, e brilhante, que as dos cortes seguintes. O Author do Hervario de Amboino ^ expõem o processo , de que uí^ão os Chinas na factura do seu índigo. Tomão as hastes, e folhas das hervas verdes, (alguns lhe ajuntão também os troços da raiz), e lan- ç?o tudo em hum tanque com huma grande quantida- de de agua. Deixão macerar a herva vinte e quatro horas , em cujo tempo a agua lhe extrahe toda a côr. Tiião se fora depois as hervas com as suas hastes , e se lança no tanque três , ou quatro medidas , que s© chama gantang , de eal íina passada pela peneira , e so mexe vigorosamente com grossos páos , até levantar-se huma escuma purpúrea. Deixa-se então em repouso por vinte e quatro horas , tira-se-lhe a agua , e se faz então seccar ao Sol a substancia 5 que se acha no fun- do. Facilita-se o desseccamento pela divisão em peda- ços quadrados , os quaes , estando bem seccos , formão hum índigo próprio a ser transportado, e traficado. O Author do Hervario de Amboino , indica oufa preparação do índigo , usada nas vizinhanças ds Agra. Sçndo o Indigoal plantado em hum terremo frio , ? tendo apanhado as aguas- do mez de Juaho , quando chega a altura de huma vara , se corta , e se põem em Inuma doína çhamad.^ tank , que se enche de agua. CI54) Carrega-se esta herva com os pesos , que ella possa soffrer. Deixa-se neste estado por alguns dias , até se perceber que a agua tem adquirido huma forte cór azul. Poím se debaixo , ou junto , outra dorna , e se faz pas- sar para esta o liquor por meio de hum canal ; e se bate com as mãos. Exaniina-se a escuma , para se jul* gar^ quando convém fazer parar o movimento. Lança- se então a quarta parte de huma libra de azeite, e se cobre o tanque , até que toda a parte azul , que neste estado se parece com a lama , se precipite no fundo. Tendo-se escorrido a agua , se ajunta a fécula , e se estende em hum panno , para se fazer seccar sobre hum terreno arenoso ; mas em quanto está humida , se fazem com a mão bollas , ou montes , que se põem em hum lu^ar quente. Fica então esta matéria azul em termos de poder ser vendida. No índostan a chamão Noti ; e os Portu- guezes Barrica. Este índigo só tem o segundo lugar j, quanto á sua qualidade ; porque , quando as chuvas do segundo anno humedecem a terra , e que as soccas dq Indigcal, cortado no anno precedente, tem repulJula- tdo , os garfos cortados , e tratados , como antes disse* mos, dão hum índigo de primeira qualidade, que no índostan se chama Tajerri ^ e entre os Portuguezes Ca^ leça. Ao terceiro anno se faz hum corte das vergon- tas , que as chuvas fuerão nascer, pelo mesmo modo, que acima , mas o índigo , que delias se tira , he da mais baixa quahdade , e se lhe dá o nome át^ossala^ ps Portuguezes de Pé. Par < MS > jPara se distinguir estas três qualidades , he neces- sário advertir tejue o Tojerri , ou Cabeça he muito 9.zul , e tem huma còr finíssima. A sua substancia he muito tenra : nada em cima da agua : produz huma fumaça muito vioiete , e posta sobre brazas , deixa pou- cas cinzas. O Noti , ou Barrica he de huma côr tirante s vermelha , quando se examina ao Sol, O Sassalã 3 ou Pé hô huma substancia duríssima^ de còr baça, sem lustre. In d 1(1 da America, Cultivão-se três qualidades de indigoeiras na Ca- rolina , Província situada na America a trinta e hun^ gráo de latitude Sepíentrional. Cada huma destas espécies requer terreno differen- te 5 a primeira , a saber , a de França ^ ou da Hesfa^. nhla , lança hum espigão muito comprido , e neces- sita de hum terreno gordo , donde vem. , que ainda que a sua espécie seja boa , he pouco cultivada nos bairros de beira mar da Carolina ; porque são areno-. SOS. Dá se outra razão, que igualmente embaraça a sua cultura , que vem a ser j os frios da Carolina. A segunda espécie , o falso Guéitimalo , ou ver- dadeiro Bahnma , supporta melhor o frio , por ser hu- ma planta mais forte , mais vigorosa , e além disto, mais abundante. Nasce em máos tetrenos : por cuja causa he mais cultivada , que a primeira ^ ainda qu©.. íaferior para a tiiit?. A I i^h Ci30 A terceira , o índigo bravio , que sendo natural «3o Paiz , corresponde melhor ás vistas do cultivador, tanto na duração da planta , e facilidade da cultura , como na quantidade do rendimento. Corta-se a planta , desde que começa a florecer, mas , ao depois de cortada , he necessário acautellar de Tião a sacodir, de não a apertar , quando se traz para o lugar, onde se ha de trabalhar; porque a maior bcl- leza do índigo depende do pó, que tem adherente as suas folhas. O aparelho , para se fazer o índigo , consta dç huma bomba, e alguns tanques, ou tonneis de madei- ra de cypreste, que he muito commum , e barata no Paiz. Lança-se o índigo em hum tanque de doze , para quatorze pés de comprido, quatro de profundo, altura de quasi quatorze pollegadas , para o fazer macerar ; enche-se de agua o tanque; e no fim de doze, a dez- aseis horas , conforme correr o tempo , começa a fer- mentar , incha-se , levanta-se , e insensivelmente se aquece. Então com pedaços de madeira, postos através» sados 5 se impede a que suba muito , e se marca o ponto de seu m.aior crescimento. Quando desce abaixo desta marca , se julga que a fermentação está no seu ponto mais alto, e que começa a diminuir. Abre-se ao depois disto o resisto, para fazer sahir a agua para ou-» tro tanque, que se chama o batedoiro. Tendo feito sahir a agua impregnada das particu^ Jas do índigo , se servem de espécies de baldes sem fundo , mettidos em hum cabo comprido para a mo* ver wm C T37) ver, e agitar, o que se continua a fazer, até que ella se aqueça , escume , fermente , e suba ainda acima das bordas do tanque. Abate se esta fermentação violenta , lançando-sa azeite em cima da escuma , o que logo a faz descer. Tendo-se agitado a agua deste modo por trinta ^ ou trinta e cinco minutos , começa afazer pequenos grãos : o que nasce de se unirem então os saes , e as outras partículas da planta, que a agua tinha dividido. Tendo o liquor chegado ao seu ponto convenien- te, se lhe lança agua de cal ; e se move todo leve- mente : o que facilita a operação. O índigo forma grãos mais perfeitos , e o liquor adquire huma còr aver- melhada. Fica turvo , lodoso , e se deixa descansar. Faz- se ao depois sahir a parte mais clara para outros diffe- rentes vasos, donde se tira, quando elíe começa a cla« rear por cim.a , até que somente fique hum lodo , qu3 «e põem em saccos de panno grosso. Pendurão-se es- tes, até que estejão inteiramente privados da húmida* de. Para se acabar de enxugar , e seccar este lodo 3 -se tira dos saccos , e se estende sobre taboas de ma- deira porosa , com huma espátula da mesma matéria , expondo-o de manhã , e de tarde ao Sol repetidas ve« zes ; mas em cada» huma destas , por pouco tempo, Segue-se o poUo em bocetas , ou caixas para se porem so Sol com a m.esma precaução , até que esta opera- ção se acabe , e fique perfeito o índigo. Todas as partes deste processo requerem mui- to I I to cuidado , e destreza. Kão se deve deixar a a«im nem mais tempo , nem menos em o feimentadoiro , e no batedoiro , do que o preciso. Do mesmo modo se deve ter muito cuidado em a desseccação da fécula. A Carolina não tem talvez outro objecto de ren- dimento maior, que o índigo, nem que requeira mc- por despeza , o que nasce da bondade do seu clima. Jndi^oeiras das C&lonlas Frdiicezas da Americã, Conhecem-se cinco espécies de índigo nas Coío- nias Francezas da America , a saber : o Mnron , o M/z- •rjf^ o Giiatimalo ^ o Bastardo , o Franco. Todas estas ■espécies tem entre si muita semelhança , e a descripção da ultima bastará para dar huma idéa geral de todas «s outras-. O índigo ^franco he huma planta direita , delga- <3a, provida de ramos miúdos, cue, alargando-se, or- dinariamente, fazem huma pequena touca. Sobe áaltu«^ ra de três pés , e ainda mais , encontrando hum bom terreno , no qual possa profundar a sua raiz principal. Esta raiz 5 e as outras, que delia provém, podem pe- netrar até doze pollegadas de profundeza. São brancas^ lenhosas, redondas, duras, tortuosas. Esta planta com o tempo se volta em lenhosa j^ quebradiça , e algumas vezes desde o seu pé , se divi^j oe em muitas hastes pequenas , cobertas de huma casn ca pardilha entremisturada de verde. Estas hastes sã.a redondas, assim como sua socca, ou cepa, que pódq C 159 > ter duatro para cinco linhas de diâmetro mais, cume* nos , segundo o terreno. O seu interior he branco : os ramos são providos de pequenos lançamentos , doa quaes cada hum apresenta oito pares de folhas termi- nadas por huma só , que forma o seu remate. As fo. lhas são ovaes , hum pouco pontudas , unidas , ma- cias ao tacto ; e muito semelhantes ás da luzerna ; mas pela còr 5 íigura , grandeza, e disposição das folhas sch bre cada lançamento , planta nenhuma s-ô chega mais exactamente ao índigo , que a Galega , chamada em Fiança =: rue de chevre =: , ou trlfolium. A folhagem do índigo espalha hum cheiro sua- ve, penetrante, mas pouco agradável 3 e que tem ai* guma parecença com o da fécula já secca ^ e bem fa- bricada. A sua folha apresenta também ao gosto hum sabor assas próximo do gosto da fécula , misturado com alguma amargura picante , espalhado cm todo o rest® da planta. Os ramos se carregao de pequenas fiores de huma côr vermelha , tendente a roxa , muito clara, e de hum cheiro leve , mas agradável. As flores são aladas , ou aborboletadas , compostas cada huma de cinco peíalos. O petalo superior ha mais largo , e mais redondo 3 que os outros , e profun- damente adentado em toda a sua circumferencia : os inferiores são curtos , e terminados em ponta com hum pistillo no meio. A estas ílores , quasi semelhantes ás da nossa gies- ta, mas muito mais pequenas, succedem siliquas , en»» rugadas, e quebradiças j redondas, granuladas, algum tan* .i'r m f 140 ) canto curvas , de luima pollegada quasi de comprime»; to , de linha e meia de diâmetro. Estas ba es contém cinco, ou seis sementes, ou grãos, semelhantes a pç^ c^uenos cylindros de huma linha tíe longura , lustrosos , durissimos , e de hum amareilo denegrido. As folha- gens desta espécie dão maior quantidade de fecuia , observada á proporção, do que a das outras; e o grão, que compõem esta fecuia, he maior. ^^ão porei aqui , mais que o resultado desta fécula , isto he, da índigo franco, que he maior que do índigo bastardo; porque se julga que amais brilhante qualida- de, tal qual a do azul undiilante, ou do violete , não depende da herva , pois que as duas , de que se trata , dão já o azul , já o violete , já o pescoço de pomba » ou eril , etc. ; mas tão somente de certas circum tan- cias , mais fáceis de se supporem , que de se definirem, Justamente , as quaes em o seu numero devem contar ^ qualidade do terreno , o corte da herva antes de es^ tar assazonada, ou de vez, a imperfeição da fermenta^ çao, e da batedura : póde-se também ajuntar a lagar» ta , que a róe , e que muitas vezes se põem nos tan- ques eom a herva. Requer-se ainda a maior , e menot unctuosidade , ou gordura da folha , á m.aneira de sec^ car a sua fécula, a quantidade^ e qualidade do azeite j^ que se derrama no tanque de bater, o que tudo deve concorrer para a leveza, e qualidade das matérias, O índigo franco se faz com facilidade ; mas o successo da plantação he muito duvidoso , por ter hu.» jna haste tenra , e delicada , exposta a todos os acci-» «len-* ( I-41 ) ii^ccidentes •, que nascem da natureza do terreno , âoi revezes do ar , e das estações , dos ataques das lagar- tas » dos percebejos , dos bichos , e animaes. O índigo bastardo differe do índigo franco , prin- cipalmente, ,na superioridade do seu tamanho, que he de seis pés , e ainda mais ; sua folha he longa , com- prida , pouco grossa, de hum verde claro, e por bai- xo algum tanto branca : o reverso desta folha he pro- vido de hum pello subtil , picante , facii a despegar , e assas incómmodo aos pretos , que o cortão , ou cat- regão. As suas siliquas são mais encurvadas , do que as do índigo franco, amarellas na côr , e os grãos negros, lustrosos , como pólvora , e da figura de pequenos cy- lindros. Usa-se cortar è?te índigo , quando chega a três pés de altura j e que principia a florecer , e as suas ílores ^e fazeni notáveis , pelo seu cheiro muito su3r ve ; e taiíibem , quando, machucando-se hum punhada de suas folhas , são bastantemente duras , para se have- rem de quebrar á mão, e fazem algum estrondo den- tro delia. O fabrico do índigo bastardo he mais difficulto- so , que o do franco , e o grão da sua fécula não he tão grosso ; mas se indemnisa destes inconvenientes por algumas vantagens , que são particulares a esta cas- ta de índigo. Com effeito este índigo vem m.uito bem em todo o tempo , e em toda a sorte de terrenos. A sua herva resiste muito mais aos insectos , e ás chuvas. Algumas vezes cultivão hum ;, c outro índigo ; e desta I mis- .• 1 II' (142) mistura provêm hum grão firme de boa grossura , e áe exceilente qualidade, O índigo, que em S. Domingos se chama Gua- timalo , he huma espécie , que tem tanta parecença e semelhança com o bastardo 5 que seria quasi impossí- vel djstinguillos sem as suas siliquas , e sem os seus grãos colorados de vermelho pardo. O GuatJrnalo rende muito menos, que o bastar- do , mas , estando misturado com as outras espécies , he trabalhosa a separação. O índigo bravio , ou Maron , nasce ncs pastos 3 terras incultas, ou abandonadas Qa» fadas). Parece se com hum pequeno arbusto, que tem o ramo principal curto , e copado , e m.uito grosso, comparando-se com os outros. Seus ramos muitas ve- zes estão pegados á sua própria raiz ; as folhas são re- dondas 5 pequenas , mui delgadas : geralmente se olha para elle , como intractavel , ou muito pouco próprio, para pagar ao cultivader o seu trabalho. O índigo Mary se assemelha tíO Jranco nas folhas , menos em serem estas menos carnudas : dizem que rende muito, mas encontra-se com raridade. Entre os fabricantes do índigo se dão muito poucos , que se oc- cupão em o plantar , para terem a sua semente. 0$ cjue se dão á sua cultura , ordinariamente escolhem os morros para esta. Huns colhem o grão áo franco , ou- tros o do bastardo , outros o de arnbas as espécies : e nunca das mais. As sementes áo franco^ e do bastardo tem exacta- mente a mesma figura cylindrica , isto he, roliça n» com» ínn cumprimento , e abatida , ou chata em ambas as poh- tas. A còr porém do franco he de hum amarell 0 es- curo j ou denegrido , puxando a Iguma ( :ousa para ver- de, algumas vezes para branco , quando não estão bem maduras. A do bastardo he negra, estando bem madu- ras , e este negro também puxa para verde , antes de bem maduras. O grão do franco he algUm tanto mais grosso, que o do bastardo. O Jornal Económico de 1755 , diz que Mr. Saint- Pee , Professor de Cirurgia no districto do Rio Salgado de Martinica, achara o segredo de fazer o índigo com huma planta differente das que se tem servido até agora, a qual não he sujeita a lagartas; que as muitaá chuvas lhe não fazem cahir as folhas , como succede no Anil ordinário • e que o índigo ^ que se faz delia , he perfeitamente bom. Esta planta , a que se não dá o nome , certamente he das muitas ^ que se achão dis- persas pelas Ilhas dá America , cuja fermentação dá na •verdade huma cor azul muito bella , mas em tão pe- <|Uena quantidade 3 que os moradores não fazem caso algum delias , e ©Ihão parg ellas como inúteis. i, Fm- ( 144) §. III. Fabrica ào Indicai iif! f A tbeorica desta fabrica se funda na fermenta* ção dos vegetaes , que estáo sujeitos a passar do esta- do ardente da fermentação , ou espirituoso , para o es- tado azedo , e deste para o da podridão , quando são infundidos por mais tempo em certa quantidade de agua. O Índigo pôde experimentar successivamente es- tas três levoluções ; mas a prática ensina ser a fermen- tação espirituosa a única, que convém á sua manipU" lação. Os Indigoeiros dividem esta fermentação ardente cm dois. tempos, ou gráos. Nomeao ao primeiro, apc drecimento Imperfeito , ao segundo, hom ^ ou perfcit» apodrecimento , chamão podridão excedida ao estado da fermentação pútrida , ou alkalescente ; e nada poupão , para a hauerem de evitar. Para sa aproveitar o extracto , he preciso tirallo do tanque , onde elle está confundido com a planta , ao depois batello , e agitallo , para reduzir todos os principios 5 próprios da fermentação do índigo , ao es- tado de hum pequeno grão distincto , e fácil de se es- gotar. Abandonando se huma tancada de extracto a si mesma 3 para se poder conseguir a sua fécula sem o in- termédio da batedura , certamente toda apodreceria ; c os principios imperceptiveis do grão ^ destituídos da jTianipulação necessária no tempo conveniente , só se depositarião debaixo da forma de huma Jama fluida , e in- ( H5 ) incapaz de se esgotar. Por esta razão se não deve dila- tar a batedura de huma tancada , a não ser péla pre- cisão de se esperar o extracto de outra , para as bater àiTíba<5 no mesmo batedoiro. O termo da fermentação j e da batedura , depen- de de muitas circumstancias j principalmente , do tem- po frio, cálido, chuvoso , ou secco , e dó gráo de ca- lor, ou frescura da agua, de cjue se servem ; 0 que concorre , para que a prática desta arte seja incerta , e varia. Não faltão Escriptores , e entre estéS PxUmphio , Burk > e Hans Sloane , que dizem , que o pó da cal viva, passada a peneira , entra na preparação do ín- digo da Ásia ; que na Carolina se servem da agua de eal para a clarificação do extracto; e que na Jamaica, SC lança oiírina sobre huma pequena porção do extra- cto , para se vir no conhecimento da disposição j em que se achão os principies , ou moléculas , para huma aggregação , que constitue o gráo do índigo. Mr. Duhamel da Academia Real das Seiencias pensa que huma dissolução de aikali flogisticado , po- deria também ser empregada utilmente. Mr. de Raseaii accrescenta que entre todas as matérias tiradas do Rei- no animali ou Vegetal , as que tiverem huma quali- dade viscosa , ou macilaginosa , lhe parecem , pelo menos , propriissimas para ajudar a arte neste obje? cto. O resultado destas differentes opiniões, he o não saber-se ainda , qual seja o verdadeiro precipitante da T.IL F.lh ii ^^- mm C Má 5 matéria colorante do índigo. Os procedimentos tíiaíí geralmente recebidos são , como se acabou de dizer ^ % fermentação y e bateditra ^ o que requer edifícios, va- sos , utensis 5 e preparativos , que agora hircmos fazer conhecer. r §. IVií 'Disposições de huma Indi^oarla, Chama-se Indigoal a terra , em que se cultiva o índigo. Indigoaria os edifícios , vasos , negros , e uten- sis próprios para o seu fabrico. Poiém mais rigorosa- mente se estendem os tanques de alvenaria , destina- dos ao trabalho do índigo. Cada Indigoaria se compõem ordinariamente de tr«s tanques , (vazos contíguos hnns aos outros , e unidos por paredes interinedias. Dispõem se estes três tanques em degráos , de modo que , quando a agua se despejar do primeiro , caia no segundo , e a deste no terceiro , e a do terceiro se vase fora. Ao primeiro destes tanques se chama InfundldoU ro , ou apodrecedoiro. Neste se põem a herva a mace- rar, e fermentar. O segundo se chama Batcdolro. Para este se faz passar o extracto , que já tem fermentado ,- para ser batido de huma maneira conveniente. O ter- ceiro se appelida Reposadoiro. Este só forma huma es- pécie de apparadoiro , e tem no fundo , para hum dos seus lados, huma pequena bacia , que se chama Dia" blottn, A bacia, ou Dlabljtin , he destinada para recebei .( Í41 ) à Fecuia , ejué sahe do Bctedolro. Este pèqUeno vaso, deve ser feito abaixo do nivel da fundo , de modo que chegue á parede dó Eatedoiro, He provido de hu- ma pequena borda , para que possa impedir , que o ccmprimento , e outro no meio áo comprimento da taboa opposta , algum tanto abaixo ò.o meio, isto he , que precisa approximar este segundo entalhe do lado, onde o balde se fecha. Introduz-se na primeira destas aberturas huma va- ra comptida, da grossura de hum braço, a qual , deâ- ta maneira atravessa o balde obliquamente de hum.a a outra parte. Este se prende com hum torno que atra- vessa o finí da vara. Ao depois se põem esta vara en- tre as pernas da forquilha, posta no alto áo apoio, e se sujeita por hum pítí;o de ferro , que atravessa tu- do : o que dá ao preto ,. cue pega' no cabo, à liberda- de de o mergulhar , 'ts levaatar. O comprimento do cabo , ou vara , desde o pon- to de apoio sobre a forauiJha, que está chegada d pa- rede do biitcdúiro , íité o caixão , se regula pela su4 d is- distancia a parede opposta do batedoiro, côm a fok^ iie hurn pé, para que o balde seja livre em o seu mor vimento , e não arruine a parede, (i) Convém que , os que Iiouverem de bater o tan- que com estes instrumentos , dem juntamente as pan- cadas ; porque do contrario , a agua se levantaria mais de quatro pés acima do tanque. Servem-se também de duas espécies de maquinas , para bater o índigo , humas se movem com agua : our trás com cavallos. O movimen-to destas se refere a hum eixo, deitado atravéz do batedoiro, o qual, acabando cm cada huma das suas pontas com hum veio de fer- ro , rola sobre mancaes , ou golas da mesma matéria , postos nos dois lados do batedoiro. Este eixo se guar- nece de quatro colheres assas compridas , para que o seu covo se encha de agua dando volta. Estas colheres são fechadas por baixo , e se deverei desencabar , quando convir ; porque , se a máquina for feita para bater muitos tanques , he supérfluo deixar estas peças fixas no eixo , quando a nada servem. Alguns , por evitarem as despezas de huma ma- quina , põem simplesmente atravéz do seu batedoiro hum eixo provido de braços , v.o qual se dá hum mo- vimento de rotação , por meio de duas manivellas pre- gadas nos seus dois veios. Como a fécula , qyiando câbe no diablotin , ainda leva comsigo muita agua , se tira para fora deste , pa-. CO Veja-se a Estampa j. Fig. i. tl57 5 Rara sé pòr a escorrer em saccos de panno còmmum, € bom, que não seja muito tapado. Estes saccos ordinariamente tem o cottiprimcntò de pé e meio quadrados , ou em ponta por baixo, e largos de oito , a nove pollegadas por cima. Fazem-se junto da sua bocca ilhozes , para se lhe passarem cor- dões , pelos quaes se pendurão dos dois lados nos ca- bides , ou ganchoá do mesmo. Quando estes já não re- çumbrão agua , se despeja a fécula , que ainda está inolle, como lodo espesso , em taboleiros de madeira para os' acabar de séccar. Fazem se estes de huma ma- deira levej db comprimento de tres pés , largos pé e meio j @ profundos de duas ptíllegadas. Poem-Se sobre tendaes , que tem huma parte coberta , c outra desco- berta. Estes tendaes se compbem de duas fileiras , ou renques de mourões fincados em terra até á altura dõ apoio : no cimo dos quaes sé atravessão páos de paí- íneiras , dos qiíaes se não dão as proporções. Easta que tenhão a fortaleza precisa para susterem os taboleiros; mas he necessário que este/ão apartados dois pés , para que se possa facilmente passar entre elles ; e qUe as cxtiremidades dos taboleiros tenhão hum apoio de cada iado de quasi seis pollegadas* O Setcaãoiro he huma casa coberta , qUe Se pare- ce a líum rancho, ou a huma alpendrada, cuja frente I II m «m huma das extremidades ^ não tem parede. Faz se V ' "/ da outra extremidade do scccadoiro , hum pequeno ar- mazém j para guardar q Indi^jo j quando está inteira- m^n* .X ' -~ ( MS ) mente secco. O resto -deste edifii cio serve de abrigo ad ■'^ Indi go, que se quer fazer seccar , quando chove , ou para o recolher de noite , como se deve íazer sempre* §■ V. Manipulação do Indico '• As aguas concorrem muito nas fabricas do Indi- §0- As dos rios 3 e ribeiros claros são as m.ais próprias para penetrarem , e dissolverem a planta , não sendo muito fiias , ou cruas. As aguas de poços cariegudas de saes, e de outras impurezas, alterão a bondade áo índigo. As aguas guardadas por muito tempo , e cor- rompidas por matérias estranhas , e insectos , que nel- las morão , devem retardar , ou arruinar a dissolução' do índigo. O índigo fabricado com algum.as salinas , he de má qualidade ; porque ainda que tenhão huma bella vista 5 quando st; tem exposto ao Sol, os principies sa- linos j de que se compõem , conserváo , ou atrahem liuma humidade , que apparece logo que for guardado por algum tempo. Este índigo he de iium peso maior , que o de qualquer outro. Estando a herva cortada , se lança no tanque de infusão, e se espalha de sorte que r.ão se faça maça, ou deixe vãos. Ao depois se lhe pocim por cima pelo comprimento do tanque, como se disse acima, páos , sobre os quaes se encruzão barras fortes. Prendem,se es- tas com cunhas, ou talas passadas entre ellas , e as tarras das chaves. Se estas barras forem muito soltas nos ( 159) nc?s seiis entalhes , se apertem com algumas cunhas ^ ou talas, mas com advertência de não se apertar mui- to a herva ; para se não oppôr aos bons effeitos da di- latação, e do desenvolviriíento , que a fermentação de- ve causar. Acabados estes preparativos se enche o tanque, até seis pollegaclas , abaixo da borda , de agua por meio de alguma calha , ou canal. Algum tempo , depois que se tem deitado a agua , que deve exceder o nivel do índigo, três, ou quatro pollegadas , se levantáo do fundo do tanque com huma certa fervura , e g'urgulha- mento , grossas bolhas de ar , e hum liquor , que, cahindo , forma bolhasinhas , e espalha pela superfície alguma tinta verde , que pouco a pouco muda toda a agua em hum verdor summammente vivo. Estando este verdor na sua maior intcnsao , -a su- perfície do tanque toma huma côr de cobre, sobeiba, a qual a seu turno se apaga , e se Ih^ substitue huma nata , ou creme , de cór morada escurecida , permane- cendo a massa total da agua sempre verde. Tendo o tanque o gráo de calor, que lhe he pró- prio , lança por todas as partes fiocos de escumas em feição de pyramides. Esta escuma he tão expirituosa, que pondo-se-lhe fogo , se communica rapidamente a toda a que se segue; e o índigo, algumas vezes , faz esforços tão violentos, que quebra, ou levanta as bar- ras , arranca as chaves , e mourões , se estes não fo- rem bem enterrados, e fixos na terra. Quando os tan» ^ues fazem isto, se diz, c^ue /ulnii/ião, Ef. :]h Esta fermentação , qus dura mais , ou menoá , Sb* gundo a qualidade , e natureza da planta , a estação fria , ou quente , o tempo secco , ou chuvoso , des- prende todos os suecos , c partes próprias a forrnar o índigo. Quando se pertende julgar da disposição de to- dos estes principies para huma união próxima ^ se soni da o tanque , cu^a matéria a este tempo está tão espes* sa 5 que lhe pôde sobrenadar hum ovo. Esta experiên- cia se faz por meio de huma taça de prata redonda j provida de huma aza , semelhante á dos negociantes de vinho, Enche-se de agua pela terceira parte , ou ai» uma cousa menos. O interior da taça deve ser muito claro, porque do seu fundo he , que se julga do esta- do actual da tancada. Se elle está cujo, a agua appa- recerá turva , e differente da que effectivamente he , de sorte que se pensa estar o índigo muito dossolvi- do 5 no comenos que tal não estará. Por este motivo Kr. Profontaine, Author da Maison ruítitjue de Coj/en- jie , aconselha empregar neste exame huma t?.ça de erystal , pela julgar mais própria para isto. Consegue-se o conhecirneuto desejado pelo movi- mento da taça , cuja agitação pioduz quasi o, mesmo , que a batedura faria neste caso , e no segundo tanque. Quero dizer : se a matéria estiver assas fermentada no primeiro tanque , para que as particulas , tendo as dis- posições mais próximas a união ; se determinem a ella pela acção de bater , se formara igualmente na taça pequenas massas , grãos , ou folecas , mais ou menos dis« C i«i ) distinctos , segundo a qualidade da herva, e o ponto do seu desenvolvimento na fermentação presente. Quando este grão , ou foleca , que nunca chega á grandeza do grão de mostarda , estiver bem forma- do , se precipitará por seu próprio peso no fundo da taça , e deixará a agua , que nada por cima , de huma côr ckra , e dourada , quasi como a agua-ardente ve- lha deCoignac. Adverte-se esta circumstancia , quando depois de se ler movido a taça , |se inclina para hum dos lados 5 para deixar descoberta hum.a porção do seu fun- do. Vêr-se-ha não somente os effeitos acima descriptos , mas também hum grão subtil rolar , ou apartarsê da borda mais elevada, a qual deve deixar limpa, forman- do a agua , para a parte desta mesma borda , hum áo claro , e destacado do grão. ContÍHua-se de tempos em tempoS esta manobra j até que estes indícios se mostrem tão claramente , quan- to o permittirem as circumsíancjas. Não basta sondar o tanque no seu alto, ou á sua florj para se poder ter hum conhecimento exacto ; porque o índigo , que nas- ce nos monos , appresenta muitas vezes hum grão fal- so na sua superfície. Além do que a herva, que está por baixo, entra muito mais depressa em fermentação , que a de cima , que ainda gasta duas horas, antes de ser coberta , e em tempos de aguas , quando o índigo Somente necessita de dez , até doze horas de fermenta- ção, o alto do tanque f«z tão pequena mudança, que apenas neile se poderá encontrar hum só grão , que ella possa desprender , e suster. T.IL P,1L L Por I I if C l60 Por tanto he da obrigação do Indigocirò , ou Mes- tre do Anil, exapjinar, ou sondar o :,eu tanque no fun- do 5 por meio de huma caldeirinha , cue haja de apa- nhar a agua no fundo, ou, o que será melhor, abrin- do a torneira para poder confrontar a differeiíça , e con- tinuar alternativamente , até cjue julgue ter visto as qualidades necessárias. Quando a taça houver de oFferecer o grão > e a agUa , que se pôde esperar da qualidade do índigo, íie então prudência não expor os principies deste grão a huma l^rmentação mais comprida -; porque os faria cahir em huma dissolução , da qual a batedura os não poderia livrar : o que traria comsigo a perda da tanca- da. E por esta razão convern d< se aproveitar dest« instante , para Fazer correr a tancada , e tirar delia to- da a agua , que cahe saturada de huma còr verde no tanque de bater» Ainda que 'apparentemente importe pouco aos In- digoeiros conhecer , ou saber , que a côr verde he o resultado da combinação do amarsllo com o azul, com tudo não he menos verdade, que todo o seu trabalho tem huma relação directa , e essencial com. o conheci- mento desta Lei ; e que cila não lhes he insignificante ; pois que toda a sua arte só consiste neste principio , no descobrimento destas cores , para que , mediante elle , posí;ão ter a facilidade de as desunir , e de lhe separar a parte amarella , reservando a azul, cuja exa- cta divisão faz toda a perfeição da arte. Toda a preparação ^ que o extracto receber no batedoilo, consta na agitação, ou movln-.ento violeh- to, e reviradura , que causa a cabida , ou pancada dos baldes, i Por este movimento todas as particulas próprias da composição da fécula se encontrão , se unem , e stí concentrão em pequenas massas maiores , ou menores ^ conforme os differentes estados das hervas , da fermen- tação , e da batedura. A estas pequenas massas se cha- mão grãos, mioleculas, folecas. A agua agitada fortemente ^ è revirada , que nO principio era verde, se volta insensivelmente em hum azul muito escuro. No tempo deste trabalho se lança repetidas vezes algum azeite de peixe ^ ou hum punha- do de grãos de mamono machucado , que he muito oleoso, no batedoiro , para dissipar a escuma espessa, que se levanta com a acção de bater. A grossura , a côr e a ausência mais, ou menos prompta desta e; cumaj servem também com os indícios tirados da ta- ça, para se julgar da bondade da herva , do excesso, ou falta de fermentação j e para regular a batedura. Quando tarda este grão a apresenÊar-se em huma figura conveniente , se excita pela continuação deste Irabaiho , que se governa sempre peio adjutorio dos signaes acima postos, até que ss obtenha. Tendo adqui- rido este grão toda a sua grandeza , se examina a di- minuição , que a batedura deve necessariamente cau- sar-Ihe , o que se chama refinação : por este meio se arredonda, e se concentra de modo , a precipiíar-se , è a rollar no fundo da taça. Quando chega a este pon- to, eessâ a batedura /e a agua que tinha em dissoki- L 2 ção i I C >«4 5 cão a parte amarella , e os outros principies supérfluos^ se separa da fécula algum tempo depois , e se aclarea pouco a pouco , submergindo a absolutamente. Duas , ou três horas bastão para repouso deste tanque, não lhe havendo de faltar cousa alguma; mas não havendo pressa , he melhor deixallo em tranquilii- dade , para que o grão mais leve tenha tempo de se precipitar ; e para que se ache menos agua mi^urada com o sedimento, (i) Querendo-se fazer correr a agua , abre-se primei- ramente a primeira torneira somente , para que o es- coo não faça turvar-se a agua no tanque. Quando to- da a agua estiver em termos de ser esgotada , se solt» a segunda torneira , e se descobre a fécula estendida sobre o fundo do tanque. Sahindo a agua por estas duas torneiras , cahem naturalmente em o dlablotiu , o qual , logo que se en» che , transborda sobre o plano do repousadoiro , donde cilas se esgotão peia sua abertura, a qual segundo as Leis do Paiz , deve terminar-se em alguma fossa, ou charco inútil ; por ser esta agua capaz de envenenar os animaes , que houvessem de beber delia em algum ri- beiro , ou córrego , nos quaes se deixasse correr im- prudentemente. Tem-se observado que o pó do índigo he pernicioso âo peito , causando escarros de sangue ás pes- (i} Mr. de Rennc deixava repousar o batedoiro por 24 horas, e obtinha por este processo hum Índigo tomparavel ao melhor das índias Orientaes. C 16! ) pessoas , que se einpregão por muito tempo na escolha desta mercadoria. Tendo decorrido a agua destas duas torneiras , que he de còr de âmbar , e clara ^ depois de huma boa tancada , se solta hum pouco a terceira torneira , par^ que possa passar no principio a agua misturada com a, fécula. Mas logo que elía apparecer, se reprime. Con» tinua ^ esta acção , até que ella não venha mais ; de- pois do que se vasão todas as bacias , par^ se receber nellas a fécula. Em algumas fabricas se servem de hum torno quadrado em lugar , do que ser%^e para fechar a tercei«í ra. A fécula pára, até que a agua tenha decorrido pe- ias sabidas , que forma o quadrado : tira se em fim ^ para que toda a fécula , que se assemelha neste estado a hum lodo fluido de hum azul quasi negro/ caia em o dliihlotin 5 que se tem antes evacuado , e se faz des- cer hum preto dentro do batedoiro ^ para acabar de fa- zer sahir com Ijuma vassoira o, resto da fçcula , quç pode ter, Poem-se diante desta terceira torneira hum cesto para interceptar tudo, o que lhe for estranho. Se ain-t da passar alguma cousa para o diablotin , se tira , o que sobrenada , com huma plumia do mar. Tira se ao depois 2 fecala com huma cuia (ametade de hum ca^ baço) 5 it S8 vasa em saccos de panno grosseiro guar- necidos de cordoes , pelos quaes se pendurão por am- bos os lados nos tornos do cabide. Dçixa-se ahi escor^ ler aité o outro dia de manhã. Quan-T I li Quando os saccos , que devem ser lavados, e sec* cos, todas as vezes que houverem de servir, não re>» çumbráo mais agua , divide-se o numero em dois , e se suspende cada ametade , unindo os cordoes de cada lote. Este commum ajuntamento os apefta , e acaba de lhes espremer o resto da agua. Ao depois se vol- tão , e se estende a fécula , que está ainda muito mol-^ le, em taboleiros , e se expõem de dia ao Sol nos ten- daes , huma parte dos quaes está no abrigo do dessec- caâolro , e a outra em ar livre. Aqui he onde se secca insensivelmente. Logo que o Sol o penetra , se fende como o lodo , que tem alguma consistência. Deve-se preferir no principio a noite ao dia para esta acção \ porque, tomando esta matéria hum calor muito continuado, faz que a sua superfície se levante em escamas , e fíque grosseira : o que não acontecera , se tendo cinco, ou seis horas de calor , lhe derem bum intervallo de frescura , que dará tempo a toda a massa de tomar huma igual consistência. Passa-^e então por cima huma pequena colher , coma a dos pedrei- ros, para ajuntar, e comprimir todas as partes sem as revirar. Finalmente , quando o índigo tem tomado huma consisteneia conveniente, pule se-lhe então a superfície , e se divide em pequenos quadrados de pollegada e meia em todos os sentidos : continuãose a expor ao Sol 5 não somente até que os quadrados se despeguem sem trabalho dos taboleiros ; mas até que pareção abso- lutamente seccos. Todavia o índigo ainda não está, se- C 1^7 ) segundo as Leis , nem capaz de ser entrsgue , nem vendido : requer-se para isto que elle tenha reçumbra- do ; porque de outra sorte, embarricando o , dahi a al- guns mezes , só se encontrarião fragínentos de massa deteriorada , e de péssima venda. Para se evitarem estes inconvenientes , se põem cm montes dentro de alguma barrica coberta com o seu fundo desapertado , ou com folhas de bananeiras seccas , e se deixa neste estado por três semanas. Nes- te tempo o índigo soffre huma verdadeira fermenta- ção, Esquenta-se ao ponto d© se Jhe não poder meter a mão ; lança gottas grossas de agua ;"^exhal!a hum vapor desagradável; cobre se de huma ílor , que se as- semelha ao pó de farinha fina. Finalmente se desco- bre , e sem que seja preciso expor se mais ao ar , se resecca em menos de cinco , ou seis dias : adquire en- tão maior peso do que , o que tinha antes de reçum-» brar. Tendo o índigo passado por este estado ^ esti en- tão inteiramente acondicionado. Mas importa não demo- rar lhe a venda 5 quando senão quer sujeitar ao risco , em que se põem , ^ da diminuição nos seus primeiros seis mezes de fabricado. Esta diminuição pôde ser esti- mada , ou avaliada em huma decima parte de descahi» snento , e ainda muito mais. Alguns fabricantes seçcão o seu índigo á sombra, logo que os quadrados se desprendem dos taboleiros. Ke verdade , que esta obra he comprida , e que são, |5recisas mais de seis semanas , para qye o índigo che» l i. C '«8 ) gue ao estado de reçumbrar ; mas este modo de o fa- zer seccar he muito favorável. Parece que com ellc adquire huma nova liação , c o seu lustre se aperfeiçoa pela dissipação lenta dos diversos suores , ou reçum- bramentos , que neste intervallo o cobrem de huma flor tão branca , como o pó da cal. Este methodo não he , como o outro , sujeito ao descahimento , e procura huma qualidade superior. To- da a razão , porque se não pôde persuadir aos Indigoei- los , a que usem delle , vem á ser ; porque , os que tem juráos cobertos de huma grande quantidade de ta- bojeiros, não o poderião adoptar, sem que quizessem fazer hum tablado , e diversos andares debaixo do te- cto , e em torno do seu dssseccadoiro , para o estender por cim.a. Convém dizer alguma cousa sobre a amassadura do índigo, quando coPxieça a seccar nos taboleiros. Jul- ga-se que esta espécie de apresto lhe dá liação , mas isto he hum erro ; porque esta liação unicamente de- pende do gráo de fermentação , c da batedura , e par- ticularmente desta ultima. O que he fácil de provar pelo índigo de huma tancada , que pecca em alguma circumçtancia , o qual ao^ menor choque todo se esmi- galha , e desboroa ; porque o fabrico , necessário á lia- ção , lhe faltou. Evitar-se hião quasi todos os accidentes a este res- peito , fazendo-se , como na índia Oriental , onde pe- trificão 5 e secção o índigo inteiramente á sombra , pond0'0 em taboleiros de meia poliegada de alto \ e Ç i«9 ) se ao depois de o haver separado em quadrados , se distribuísse por outros taboleiros seccos ao Sol. Este methodo na verdade requereria hum maior numero de taboleiros, mas como o índigo se seccaria muito mais depressa , os taboleiros com a mesma ficarião desoccu- pados. Quando se tira a herva do tanque de infusão , a feaste e os ramos não apparecem alterados ; mas a sua folhagem , que apenas se sustem , está tão affracada , e livida , que he fácil conhecer , que o sueco das fo- lhas he o que contribue só para a formação da fécula. Todavia póde-se julgar que o corpo, e casca da plan- ta fornecem alguns suecos próprios a fermentação , e a coloração do amarello. Mas não se deve crer que elles sós sejâo capazes de compor o grão ; pois que , SQ a lagarta roer toda a verdura , o resto da planta nada largará. Nas granjearias de índigo , onde faltão aguas nas? grandes seccas , procurão conservar , a que se deve perder em as valias ,. a a remettem para a nova her- va, o mais que se pôde , para evitar huma parte do transporte , que he preciso fazer-se , para encher o tan- ique. Estes casos são mui raros ; mas querem que este uso não prejudique a fabrica ào índigo. Com tudo de- Sre-se presumir que a agua deste novo tanque será inuito ínais escura , que as outras , e menos própria para huma dissolução nova. iií c««- ( 170 ) QaaUdades , c usos do Indi^». O bom índigo , wíd falsificado com ardoez , ou área, queima-se inteiramente , quando se põem sobre hum ferro em braza.^ He leve , íliictua sobre a agua, e quebrando-se em pedaços , o interior he limpo , e de hum bello azul mui escuro, tirante a ro'40 , e ap» parecendo eril , quando se esi^rega nas unhas , ou com algum corpo polido. O índigo he útil a pintores , e tintureiros. Dá na pintura huma bella côr azul , sendo moido , e mistura- do com o branco ; produz huma côr verde misturado com o amarello. Servem se delle nas branquearias, pa- ra dar huma côr azulada ao linho. Os Tintureiros o empregao com pastel , para tin- gir de azul. Dizem que se pôde distinguir o bello ín- digo de Carolina dos outros , pelo procedimento se- guinte. Toma-se hum pedaço de bello índigo eril de Carolina , reduz-se em pó em hum gral : lança-se em cima alguma agua fervendo , passadas vinte e quatro horas se formará em baixo huma costra branca : faça-se a mesma operação ao índigo de França , e de Hespa» nha, não se verá esta costra. Tahoa dos nomes, e qualidades do Indico, Os vizinhos da Ilha de São Domingos distinguena as qualidades do índigo da maneira seguinte , e a esti- ma- C I70 maçSo , que delles fazem , he segundo a ordem , em que se expõem. Azul íiuctuante, ou nadante sobre a afua, cujo prão tenro pouco fechado, faz huma substancia leve, c muito inflammavel. O violete que gosa de huma maior consi<^tencia. O pescoço de pomba, cujo lustre o approxima a hum roxo purpúreo, ai«da he muito mais sóHdo. O eril , ou de cobre he , o que tem huma appa- rencia avermelhada, passando-se a unha sobre a fractu- ra de qualquer pedaço , e este he o mais firme de to- dos. O ardoez, e o cujo manchado, ou salpicado de branco , se compõem de hum grão seguido, ou sem liação , e estes são os das ultimas qualidades. Nesta ordem não se faz entrar o índigo , cuja massa he entremisturada de veias ardoezadas ; porque esta espécie intermediaria não forma huma qualidade deeidid^, Hl Tr&r C 170 Preço em França ilas dlfferentes qualidades de Indl^^i cxtrahiíía da gazeta do Commerclo de 13 de Janeiíê de if-JQ. Em Bordeaux. lib. sold. lib. sold^ Ind. azul, eviolete de S. Domingos l 10 39 D. misturado 7 5 a 8 5 D. eril fino <$ i j D. ordinário 6 S z 6 19 Em Nantes» índigo eril fino D. eril ordinário D. misturado D. azul lib. sold. lib. sold. 6 10 a 6 15 6 S a 6 10 19 a n Costumão vir dos paizes estrangeiros outras espe-. eies de índigo , que se nomeão por suas qualidades , o Loiro , a Flor , o Corticor , o Sobre Saliente , ou segun- do os lugares das suas fabricas, o Guatimalo , do que nasce na America , em a Nova Hespanha. O Java , a "Bat/ana ; o índigo Sarquesse , que nos vem de hum^v Cidade deste nome , situada nas índias Orientacs , a Jamaica , o 5". Domingos, Ili 11 jír^t.3 Tjxmza oj^uLA IVa/Dir C 175) MEMORIA •Sobre as duas sortes dej^eculas^quedciaplúntã^ chamada Indigofera tinctoria Lin. ■, e sobre o estado particu- lar destas Jetulas. Precls sitr la Cane pag» 317. Par M. Dutrone de la Couture. Vv/ Orta-se esta planta no tempo , em que está em ílor, para se lhe extrahir a fécula j conhecida pelo no- me de Indico. Esta planta tem hum cheiro, que lhe he próprio ; e cuja força he relativa ás circumstancias , em que se acha , no tempo em qUe se corta. Cheiro <|ue as bestas repugnão, e as áffugenta. Quando acaba de ser cortada, se põem eçta plan- ta em hum tanque, a que chamão infundldoiro , que se enche de agua até a altura conveniente. . A agua ataca as féculas , dissolve-as , c as tira totalmente a favor da parte cheirosa, a que servem de base. Estas féculas fazem o producto de huma secreção particu- lari, obrada r:a casca, e nas folhas da planta. A acção da agua sobre esta planta he como a maceração. Esta he immediatamente seguida de huma fermentação pútrida , em que se separa hum gáz sem calor sensível ( pelo menos o não adverti em algum dos tanques , que vi fermentar), O vulgo chama a esta fermentação apodrecimanto. i C 174) O tempo ^ que gastão estas duas operações hé mais, ou menos dilatado, conforme a estação, e con- forme a maior, e menor energia que tem aparte odo- rante. Póde-se dividir por muitos tempos a maceração : 130 primeiro a agua se impregna da parte odorante uni- da a fécula , que lhe serve de base ^ e que ella faz solúvel; á medida que esta parte odorante, se vai es- capando, a fécula, cessando de sef soj^uvel , turva, e tolda a agua sem côr apparante. Se nos primeiros tempos se submette a tancada ( a agua impregnada de féculas ) á acção dos alkalis cáusticos^ e á da agua de cal, se lhe separa huma fé- cula branca abundante, debaixo da forma de fioecos. Nos segundos tempos a tancada , ficando mais turva , toma huma côr verde excessivamente ligeira ; a fécula que neste tempo se separa pela acção dos al- kalis 5 apresenta huma pequena côr verde. Esta côr se desenvolve cada vez e , nos ukimos instantes da maceração , a tancada está toda verde. Então os alkalis lhe sepárão huma fecuia verde muito bella. (i) ._ • Nes. ( 1 ) Se a maceração for bem feita , e parada no' tempo , em que a fécula se acha carregada , quanto he possivei , da côr verde , sem dúvida se poderia se- paralla da agua , e então cila apresentaria a Arte do Tintureiro , a côr a mais preciosa , que lhe falta , e da qual seria possivei enriquecer-se , se o Governo se deliberasse a tomar medidas para submetter as plantas das nossas Colónias aos exames Chymicos. Nós certa- mente conhecemos muitas, que sem dúvida encherião a este respeito os nossos votos , e esperanças. C 175 ) iSIesta cpoca coineça a fermentação podre ; ella ae annuncia , despegando hum gáz, que solta mais, ou menos bolhas , conforme as circumstancias : estas bolhas furão a superfície da tancada , na qual se per- cebe logo hunia côr amarelia pequena. Applicando-se? lhe então a acção dos alkalis , a fécula , que çe lhe separa , ofterece huma còr azul celeste mui leve. A còr verde da tancada diminue, e desapparece á medid?| que a còr amarelia se descobre , e se estabelece. Final- mente chegada a fermentação a hum certo ponto, que o Indigoeiro julga conveniente por signaes , que muitas vezes' o enganão , sojta a tancada em hum tanque inferior , a que chama Batedeira, Em quanto a tancada corre , se faz muito turva , a sua côr se parece com a amarelia pállida , e sò|t4 lium cheiro ãmoniaco ( i ) assas forte. Alguns minu- tos ao depois , a tancada , perdendo com a sua côr amarelia o seu cheiro amoníaco , toma huma côr ver- de , e o cheiro próprio da planta índigo ; esta planta fica no infundidoiro , despojada do seu cheiro , sem com tudo nada perder na apparencia da sua côr : en- tão as bestas não a repugnão ^ a comeriao de boa von- tade. A tancada pode , antes ds passar pela operação da batedura , ficar por muitas horas na batedeira sem se alterar. Ella produz duas sortes de féculas , huma in- solúvel j tida em suspensão na agua , a outra soluvei em huma perfeita dissolução. Sub- C-i ) Alkali volatiU c im Submettendo'Se a tancada a acção dos a'cidos mi- neraes 3 estes lhe não sepdrão féculas, só avivão a còí da que he insolúvel. O ácido acético não produz effei» to algum sensivel, O ácido oxalico separa a fécula in- solúvel , e a despoja quasi totalmente da sua côr. A fécula insolúvel se acha em dois estados diffe- rentes em razão da sua côr , e da sua adherencia á agua. No primeiro he azul índigo , e se separa facil- mente da tancada , no segundo he azul celeste , e se separa com difficu Idade. A' proporção destas duas fé- culas está sempre huma em razão da outra. Fazendo- se a fermentação igualmente bem em toda a extensão da tancada , e que ella se separe a tempo , toda a fe* cuia insolúvel tomará a côr índigo , mas muitas ve- zes' a ignorância se oppoem a esta feliz condição. Applicando-se á tancada a acção dos alkals, a fe* cuia insolúvel se separa , e se une debaixo da forma de floGCOs sem distinção alguma do estado. A batedu* ra he o unico meio , que se applica , para lhe separar toda a fécula índigo. Nesta operação , que dura quasi duas horas , a tancâda perde a sua côr , e o cheiro da planta , para tomar a còr azul , e o cheiro próprio á fécula ào belo índigo. A saliva humana tem muita afíinidade com esta fccula azul Índigo. Une-se com, ella com hurr^a rapidez extrema , e a separa inteiramente debaixo da forma de grandes floccos. Ella não toca na fécula azul celeste , que se pôde separar por todos os alkalis puros. A dis- solução do sabão obra a separação da fécula azul ce- leste , muito melhor que todo o alkali. Ao Ç «77 5 Ao ât ípois de batida , se ab andona a tancada. A ftcuh azii índigo se precipita no fundo do tanque , e tendo-se passado sete, ou oito horas de repouso , - solta a tancada impregnada da fecUla , e da insolúvel azul celeste , que se não pôde áeparar. A perda desta liltima , que algumas vezes he considerável , arruina o cultivador. A còr da tancada , ao depois da separa- íção , e precipitação da fécula do azul índigo , lie rela- tiva á proporção da fécula azul celeste , que ella traz : he còr de azeitona , tirando tanto mais .para verde , quanto a proporção desta fécula for mais considerável , fe tirando tanto mais para amarello , quanto o for me^ nos. O acido sulfúrico aviva muito a fécula índigo : creio que poderia ser empregado com felicidade , quan- do a fécula azul celeste he abundante, para ater mais dividida pela agua , para poder ser tirada mais facil- mente , quando se esgota ; porque a sua presença he que faz difíicil. A tancada , cuja feciíla insolúvel está inteiramen- te separada 5 e tirada, he clara , e transparente : sua còr he de âmbar, e ella produz hum cheiro de lexivia muito forte. Os alkalis cáusticos lhe separão huma fe^ eula abundante , debaixo da forma de ílcccos : esta fc*- cula se precipita promptamente , e toma, seccando-se , huma còr alaranjada. A tancada feita mais ciara , au depois deste precipitado, perde sua còr, e cheiro. Ku- ma segunda acção dos aikalis lhe separa íiuma segunda. fécula ; huma terceira acção j huma terceira fécula abun- •X.JI. P.IJ' Al àm^ I li'( 7 dante , ç rhUi poiíco colorida ; humá quarta acção ^ Jbuma quarta fécula branca abundante. Finalmente hu- ina quinta acção lhe separa ainda huma fécula branca' tão abundante , que faz acreditar que a tancada ainda não está cansada. Neste estado ella não está sem c6r^ e offerece hum cheiro safionaceo agradável. mz- la^ci yj\7:>IGOAIRA "' r( /rrrrr///n Vni,,,»! / C 119 ) ISS3BSZ!ra8^S»E MEMORIA SOBRE A CULTURA DO INDlGOElROj E PREPARAÇÃO DO ANIL. téidà ha Assemblea pública do Lj/ceo dai Artes aos 30 í/e ... ^ Pelo Cidadão Bruller. (Memolres dês Bocktes Sevants , ^ Lltterúlres j Tom. T. pag. 191.) o Principal alvo do Lycèo das Artes , he á perfeição destas , das culturas , das manufacturas , e a extensão do commercio de França. Nesta intelligencia suppuz que esta sociedade se interessaria no extracto de huma Memoria , que tem por objecto hum dos géneros das Colónias Americanas. Devemo-nos lembrar sempre que, antes da revolu- ção , estas Colónias annualmente formavão a base de hum commercio de quatro centos milhões , assim de importações , como exportações , que eílas sustentava© de mil 3 a mil e dozentos vasos mercantes , que derra- mavão a opulência nos portos do mar ; que fornecião meios de existir » mais de oito milhõss de Francezes ^ M â e e que , por conclusão , davão á França huma preponcíé- larKia aPinual de setenta , a setenta e cinco milhÓes na balança geral do commercio de Europa. Estas p(?dercisas considerações dão hum grande pe- so ao interesse que resulta das culturas, e manufactu- ras das Colónias. Quem se occupa do que pôde con- correr para a sua perfeição ,■ faz hum grande serviço á França ; pois entra nas vistas do seu governo. Sem • dúvida caladamente se occupa nos mejos de restaurar, e fazer prosperar de novo estes úteis estabelecimentos , logo que as circumstancias o permittirem. Entre tanto estaminemos os meios , com que se pó' de aperfeiçoar o que se chama índigo nas Colónias, Sabe-se ,~ que ©índigo he huma^ fécula precipitada , secca , e reduzida em massa solida , leve , quebradiça , de hum azul mui carregado. He esta substancia de gran- de utilidad© nas artes. A tintura , a pintura , os bra-rt- queamentos , e ontros trabalhos de diversas manufactu- ras lhe fazem hum grande consummo, Chama-se ao vegetal , que produz esta fécula colo- rante , Indigoeira. He do género das poiipetalas , e da familia das leguminosas, e se assemelha muito ás gal- legas. Dão s« vinte e sete espécies de Indigoeiras. Pare- ce escusado o dar se aqui as suas differenças , e des- cripçõcs botânicas. Basta pôr se os olhos nas espécies de maior interesse , e que produz o melhor índigo. Chamão-se Indigoeiro Jr4»/it'í> , c Indigoeiro Jnll. H« jndigenas da America , e se cultiva proveitosamente nas An- C >5i ) Antilhas , e partes rreridionaes creste paiz. Nesta ílha se encontra hiima variedade da melhor espécie de In" digo. Cresce outro tanto mais que o franco. Chaixia-se Indigoeiío sçlvo^e , ou cio nitíto. Devem notar, que, nas Ilhas, onde se fabrica o melhor índigo, he misturando de propósito olndigoei* ro franco , com o silvestre , para se obter maior, e melhor rendimento. Os m.otivos , que a isto obrigão , e todas as outras circumstançias , e trabalhos , sobre a factura do Anil , forão miudamente expostos em huma Memoria ao Lyceo das Artes. Neste comenos me li- mitto só a dar o conhecimento de hum modo esseneia! de o fazer com toda a perfeição. Pasmarão talvez , que, tendo passado hum século, que se fabrica o índigo , ainda agora oução , que a sua preparação se fiiça por approximaçôes , de tal sorte in- certas , que ao melhor fabricante perde, ou falhão de ordinário dez , quinze , e ainda vinte tancadas em cem que faça. O mesm-o acontece aos que , por falta de ex- periência , ou contrariedades da temperatura , falhão ain- da hum maior numero , e arruinão a seu dono, que contava sobre o seu lucrp , donde ^ em pjirte , nasce a carestia do índigo. Mas , se por hum processo certo o dono esti- ver seguro de não perder cousa alguma do fructo de seus trabalhos , e despezas , então poderá dar muito mais barato o seu índigo. Este successo seiá mu\ pro- veitoso ás artes , e ás manufacturas , e , por çonse- í^uencia , ao çommercio Francez, Fiaiv ( i!0 França pócíe daqui em diante gosar destas pre- ciosas vantagens. Será responsável desta divida aos tra- balhos , e á intelligencia de hum dos proprietários Co- Jonos de São Domingos, hoje em França, e associado livre do Lyceo das Artes , isto he , do Cidadão Nazon. Sabias observações , e huma longa experiência lhe ensi- narão o modo porque podesse ter a certeza de todas as tancadas do índigo. Para se conseguir esta substaqcia colorante , se cor- ta o Indigoeiro , chegado ao ponto de sua madureza. Poem-se todo de infusão em hum tanque de pedra de alvinaria, A sua dimensão he de quatro metros ( 12 pés) commummente. Para que a maceração chegue a seu ponto , pre- cisão-se quinze 5 vinte, trinta, e ainda trinta e seis ho- ras, miais, ou menos, conforme a temperatura doar, que se tem no tempo do trabalho. Também se precisa haver attenção á qualidade do Indigoeiro , á natureza do terreno , que O produzio , e da agua , em que foi infundido, O primeiro indicio, porque se julga estar a mace- ração a tocar no seu ponto , he o abatimento da es- cuma , que se levanta no tanque no espaço de hum seismo de metro , ou quasi que se deixa vasio no tanque comprehendendo as hervas. Quando esta escuma faz huma espécie de ccsíra de hum azul de bronze , se infere que o ponto , que se requer , está perto , cm que a? hervas serão sufHcientemente maceradas. Com tudo este indicio he ínsufficieute , e muitas vezes enganador. Se Ç >«í ) 5c outro , com que se conta por maior certeza , e vem a ser , o tirar pelo rezisto posto na parte inferior do tanque alguma agua. Recebe se em huma taça de pra- ta, e se reflecte a ver , se a fécula procura sentar-se no fundo da mesma, posto se ajuiza o ter, ou não che- gado ao ponto da maceração necessária ao índigo. Este era o antigo processo, mas que muitas vezes enganava. Para evitar este engano , se dá hum seguro meio j c vem a ser , o de observar com cuidado a agua contida na taça cinco , ou seis minutos ao depois de se lhe ter deitado. Forma se-lhe pelas paredes huma aureola , ou cordão de fécula , no principio verde , ao depois azul. Quando a operação não tem ainda che^^a- do ao ponto de maceração precisa ^ este cordão diffi- cultosamente se despega das bordas da taça. Mas a fi- nal vê-se precipitar , e condensar no fundo da taça, sempre para o centro , e debaixo de huma agua muito limpa , bem que com alguma amarellidío. Estes signaes percebidos indicão , por hiirn modo infallivel , o successo desta primeira operação. Solta se então a agua para o segundo tanque, situado por baixo do primeiro. Este segundo tanque se chama de bater, por que o seu ofíicio he bater a agua , para nelle se despegar a fécula impregnada na agua , que, batida! promptamente a deixa. Faz se esta operação , ou com os braços , ou com maquinas. Convém não bater-se muito tempo. O excesso de bater toma a misturar a agua com a fécula , da qual esta não voltará a sçpa- ■rar-se, e a tancada fica falida. Em lugar dç fécula se ©bterá a a^ua turva. Qu^k C >«4 ) Qualquer cuidado pode evitar este ultimo incon- veniente : tendo-se conhecido que a fécula está unida sufíicientemente , se faz escorrer a agua do tancue de bater, em outro terceiro menor; e que se chama í//(i blotln , acha-se então o fundo do tanque de bater co- berto de huma ipassa azul muito liquida , donde se deita em saccos de panno grosso feitos em cartuxos có- nicos , e nelles se deixa escorrer a parte aquosa. Var são-se então estes saccos em taboleiros nos de-^seccadoi- ros , amassa-se esta massa azul , faz se mais espessa , cstende-se , e se corta em pequenos quadrados , pata que se seque mais depressa. Nestes termos está o ín- digo feito , e 5 pouco tempo ao depois , secco , capaz de s€ vender, Supprirno as miudezas contidas em huma compri- da Memoria. O que por ora se precisa saber , vem a ?er , que existe hum processo certo , com o quales não deve temer mais o enganar-se no seu fabrico. A experiência tem mostrado , que este processo pune? falhou em produzir hum successo completo. ÍVlais de mil e quinhentas tancadas , fabricadas ao de- pois , em vários destrictos de São DQmingos j contes- tão esta verdade. Resulta disto : que, praticando-se este methodo d« fabrico , cada terço de Hectar , ou arpente de t^rra , cm que se cultivasse o Anil , produziria , paga toda a despeza assim de cultura , como de fabrico, m^i? de. mil francos tornezes (l60(;^oco). Yè-se claramente o grande proveito , quQ resulta ao cul- C l«5 ) cultivador, e manufactureiro de se assegurar desta sorte de hum producto tão lucrativo. Logo também o Indi. go , multiplicando-se , seu preço abaixaria ; e as manu- tacturas, e commercio de França acharião hum grande proveito. Está por tanto demonstado concorrer immedjata- mente para o bem público, e por consequência , se faz digno da attençáo das Sociedades sabJas , assim como do Governo, cpjas -yistas são da prosperidade geral de França, ME. (i»0 MEMORIA SOBRE O ANIL. ^Semanário de Agricultura Num, 44S. Agosto 1S05.) Por D. Esteban Botellou. X^ Ntigamente se procurou promover neste Reino a cultura do Anil, e a este fim se expedirão ordens Re- gias ás Cidades de Ecija , Almeria , etc. , cujo benigno clima he sem dúvida mui próprio para esta , e outras producções da America , e da índia. Adoptarão sem repugnância aquelles Naturaes a formosa idéa do Go- verno ; porém , como não sabião beneficiar a planta pa- ra lhe extrahir a fécula colorante , pozerão a ferver nas caldeiras os tallos , e as folhas, e marchando ás cegas sem director, e sem conhecimentos, se frustrou, co- mo era indispensável , tão útil pensamento. A terra innocente pagou a culpa da inadvertência , e do erro. Sendo sufficiente o verão de Aranjuez para culti- var esta planta com utilidade , como o experimentei no Jardim Real , com muito maior razão o deve ser nar quelles , e outros territórios meridionaes , como Vakn» ça , Málaga, etc, a deliciosa Veiga de Carmona , e çnx geral a bella Andaluzia , cm que tão facilmente se pórt áe propagar. De- II Em.ó. % INDIGOEIKA ( r/nff/ (iS7 ) Deve !Jemear-se o Ani! ao mesmo tempo , e com as mesmas precaLiç(5es que o tomate, para que adiante a vegetação, e chegue a sazonar o fructo. Mas, dado que não baste o verão a madureza da semente , seni- pre será fácil mandalla vir da America de tempos em .tempos , e assim se conseguiria conservar a casta legiti» ma; pois receio que, passadas algumas gerações , venha a degenerar. Se bem, bom seria por outra parte, que, vindo o fructo a am.adurecer , se obtivesse huma va- riedade menos sensível ao frio , e mais accommodada ao nosso clima , ainda que não desse tão abundante fécula , e talvez , nem tâo fina. Seja o que for , será conveniente mandar-se vir a semerite de paizes menos cálidos, porque já se sabe , que, não passando as plantas de hum a outro extremo , he sem comparação muito mais faeil o climatizallas , e fazellas prosperar. Chamão a esta planta Nll os Turcos , e Persas ; e unindo nós O artigo ai com a voz Nil^ como acon- tece em outras muitas , proferimos Anil , adoçando a pro- nuncia. Os Mexicanos o chamão Xlquilile ^ voz própria de seu antigo idioma , e o achado da planta silvestre em muitas paragens de huipa , e outra America des- troe a opinião de se haver esta introduzido alli do In- dostan. He mui provável que a circumstancia de ter Tindo da Ásia o methodo de o cultivar , e beneficiar lhe tenha dado lugar , a qual , ainda que não bem re- cebida , he muito mal fundada. Disting^uem os cultivadores duas variedades de ^nil j huma com o nome de Franco , ou Francez , % Chi'' 11' Chlmarrão outra, ou de Guatlmala, Este produz a se- mente negra , em que consiste a differença mais essen- cial entre as duas , convindo quasi inteiramente em tudo o mais. Assim lhes dáo outros nomes em distin- ctas partes, sem mais razão que da variedade produzi* da pela diversidade de temperamento, e terrenos, cu. jascircumstancjas influem poderosamente o mesmo, que a differente preparação em a realidade do Anil. A plan* ta do Franco he mais cheirosa , mais baixa que a ChU marrão , e a sua semente , recém colhida , he de hum amarello claro , ou verdoengo , suas folhas de hum verde mais claro , e suas flores mais distantes. O T/j/V marrão , ou Gitatimala he mais crescido , ramoso , e copado , com as llores dispostas em espigas estreitas, menos delicado , e mais próprio para cultivar-se em terras inferiores. Prefere-se em México , por estas cir- cumstancias , e pela de produzir muita parte colorante ; ainda que sempre de inferior qualidade ao do Franco, Pelas mesmas , e pelas de resistir mais as inclemências das estações se lhe deve dar a preferencia para os en- saios que se devem fazer. São varias as espécies naturaes deste género , que se cultivão em diversos paizes para a extracção do Anil ; porém as que geralmente merecem maior apre- ço , são as que Lineo chamou J/idlgofera tlnctoria^ e Jiidigqfera indica , que he a mesma que Lioeo chamou tinctoria , cujO nome não pôde subsistir , sendo muitas a$ que dío a mesma tinta. Não faltão exacta/ descripçôes de algumas , que são communs na America equinoccial , c das que usão os Africanos para extrahir o seu Anil , cuja qualidade se celebra , e se pódc crer que com ra- zão ; pois á proporção que o Daiz he mais cálido, he mais abundante a fécula, e mais fina. Por este moti- vo merece, e obterá eternamente, a que se prepara em Guatimala , huma preferencia decidida sobre o que se conhece daqueile Continente , e das Antilhas , cujo temperamento não he tão adeqUado á sua vegetação, c planta. Tendo o Anil 5 ou Indígofi-ra , muita affinidade botânica com o género que Lineo chama Galega , se deverião fazer algumas experiências sobre este género, que se cria espontaneamente em varias paragens de Hespanha. He mui provável lograrem-se resultados van- tajosos , e muito mais ^ reí3exionando-se que a tinta , co- nhecida no commercio pelo nome de folsa Anil , se ex- trahe de varias espécies de Galega , entre as quaes tem preferencia a tlnctorla ^ e he indígena da índia. Muitos acreditarão pela semelhança que tem i(s folhas do Ând franco , ou de Guatimala com as da Alfafa , que esta planta poderia dar igual tinta ; porém isto se rião che- gou a experimentar para verificar a conjectura. Costuma-se geralmente na AmerJca , quando se prepara o terreno para o Anil , nos mezes de Janeiro , e Fevereito , já arando ^ já alimpando cuidadosamente , já somente rossando , e queimando para o semear , sem i-nais lavor , sobre as cinzas' , ou para regar a mostaza segundo a expressão do paiz ; por mais fecunda , que seja aterra^ esCa prática não púdâ ser sempre segtiida , ha- » !l^- Ç 190 ) havendo de inanter-se a plantação ; porque o Anil st adelgaça, se enfraquece, se empobrece, e he forçoso reparar pelo meio de pôr estrumes convenientes aos suecos , que tem perdido. Em geral , todo o terreno ,- para toda a planta , necessita recobrar de tempo em tempo a áubstancia consummida. Em algumas províncias se planta o Anií em li- nhas parallelas , abrindo de meia em meia vara peque- nas covas de quatro , a seis dedos de profundidade , e cobrindo levemente a sem.ente, em outras se semea á n:ão , cuja prática tem o inconveniente de se não po- der alimpar tão facilmgnte , o que Ire de muita impor- tância j porque as más hervas sobrepujão á do Anil , a maltratão , a opprimem , e por íifíi a afogão. Como a' rega lhe he mui conveniente , principalmente no pri- meiro periodo da vegetação , se lograrão grandes van- tagens 3 sempre que o mesmo terreno proporcione este beneficio : com tudo não se deve prodigalism- indiscre- tamente ; pois a excessiva frequência dmiinue o produ- to da tinta , e prejudica a sua qualidade. Deve-se procurar muito que a semente fique pou- co enterrada , e quasi na m.esma superfície ; porque os grelos tenros ;:íÍò tão delicados que não podem penetrat a terra, ainda excedendo apenas a sua coberta á- gros- sura de hum peso duro. O methodo , que segui em Aranjuez foi plantalja em covas semelhantes ás que se' fazem para os melões, bem moida a terra , e destor- roada , abrindo no seu centro huma covasinha com o envés da Uião, e tapando com os dedos as cinco, ou seis C m ) seis sementes , que semeava em cada buraco. Tardão estas seis dias em brotar , sendo o tempo favorável , e passados dois mezes , florece a planta. Logo então segue SL época precisa do corte ; pois ainda que , fazendo-ó antes da eflorecencia , daria a herva huma tinta maia fina ; seria porém muito menor o producto. Já se dei. xa ver que se devem escolher algumas plantas melho-* reSj para darem a semente. Deve-se colher o Anil com huma faca que corte bem , e , podendo ser , na estação mais quente ; porque he mais abundante o seu rendimento , e de melhor qualidade. Devem cmprehender as regas vinte dias an- tes , e se absolutamente se não poder evitar fazer o corte era dias chuvosos , ponha-sé particular cuidado em não sacudir a planta cortada , para que a agua não leve com.sigo o polvilho das folhas , no qual se julga residir a substancia colorante , e com effeito se observa que, diminuído este, se diminue o producto. Talvez ^ue huma leve humidade concorra a prendei lo ; por ser sabido, que convém cólherse a herva com Ofeíen-* to da noite 5 ou de manhã, antes que' se dissipe © or- valho. Deve logo conduzir se ao tanque de fermentar, procurando que os feixes não seja© grossos , nein= mui- to apertados ; porque em hum instante se promove a fermentação , que ^ começada fora do tanque , retarda bastantemente a preparação da tinta. Dura o Anil dois annos nos paizcs quentes, pro- porcionando successivas colheitas ; porém nos paizes frios $6 se conserva hum. A primçira colheita dá pouca sub- Í|! C 192 ) substancia cblorante , e não da melhor qualidade í i tinta superior se tira da segunda, cortando-se outra vez a planta dois mèzes depois de haver crescido j ou pou- co mais, segundo o temperamento, e a estação.' Entre infinitos inimigos, que tem esta planta , ne- nhum he tão prejudicial , como a laj;;arta j que costuma destruir em hum dia todas as esperanças do Lavrador^ He de suppor que em Hespanha não haja de ter tan-, tos, como nos climas equinocciaes , que são sem com- paração mais favoráveis á reproducção dos insectos. Se- ja o que íor , até agora se não tem encontrado outro lemedio a este dam no que cortar sem dilação os tal los para beneficiar o Anil , antes que toda a plantação acabe, como aconteceria á mais viçosa, havendo des- cuido. Não basta que o terreno, e clima sejâõ adaptados ao Anil, também se precisa muita prática, e huma es- pécie de tacto tão fino , e delicado para o beneficiar,- qae na America se diz : Que o Mestre do Anil nasce , e não se fax. ; como se o seu acerto fosse obra 'de hum tino natural , ou de certo numen independente das legras , e dos princípios. He com tudo isso innega- vel que hum observador illustrado , e sobre tudo hum Chymico, faria muito mais, por pouco que se exerci- tasse, que hum IVlestre de Anil. Não faltaiíió entre nó? homens , que 4 ainda sem esses conhecimentos, hajão de chegar a final , como acontece cm outros ramos , a disputar a sua mestria prática , se acaso se vier a pro- mover. Trc' C i95 ) Preparação do Anil. O Anil se prepara em tanques, que se cotnmu* nicâo , e em razão da salubridade , e economia se de- vem fazer junto a aguas correntes. Não devem estar em o mesmo nivel , mas sim dispostos , de modo que a boca do terceiro levante muito pouco sóbrio peso do segundo, e o deste so- bre o do terceiro , formando como huma escada por donde desça a agua. O mais alto , em que se põem a planta a fermentar, se chama «pí/ríce.ífcir que se apoião quatro , ou cinco madeiros com espigas , que entrão na vigota 5 sustentada por dois pés direitos, como aci. ina se disse. Subindo , oti abaixando esta , e assegu- rando-a no ponto conveniente, fica a herva sujeita, pa» ra que a violência da fermentação não a lance fora ào tanque. N 2 In- I Í!i C '96 5 Influem singularmente na fermentação do Anil , e por consequência, na bondade da tinta , varias causas j que a atrazão , a acceletão , e ainda a precipitão. A temperatura atmosférica mais , ou menos (i) impre- gnada das substancias estranhas ; a maior , e men®r hu- midade , que a herva tem apanhado fora do apodrece- doiro 5 e a sua mais , ou menos perfeita madureza fa- zem variar táo prodigiosamente a fermentação , e por consequência a qualidade da tinta , que os Mestres mais famosos de Anil se assustão , quando huma vez o tirão tão íino , como antes o não tinhão tirado, nem depois o acertão a tirar , a não ser por outro acaso semelhan- te.^ Por este motivo clamão alguns sábios célebres , que (l) Nesta causa , como tão obvia, não tem deixado os fabricantes de reparar. Resulta de suas observações que as aguas delgadas são mais proveitosas para a pre- paração do Anil, que as pesadas, cheias de terra, e outras substancias, e sobre tudo immundas , prejudicão muito a sua qualidade , mesmo nos paizes , que dão hum Anil superior : que as salobres^ além de adulte- rarem a sua qualidade o fazem susceptível de attrahir a humidade, e acabar-se de deitar a perder mui prom- ptamente , etc. Porém mui pouco se adianta com obser- vações tão vagas , e tão sem substancia ! Não serra conveniente fazer a analyse chym.ica das aguas , e obser- var o seu influxo na qualidade da tinta ? Não resulta- rião grandes vantagens ao Commercio Hespanhol , me- liiorando-o, com fazer nos paizes , que dão o melhor, todo b g-;nero de indagações conducentes a este fim? Poréin também outros productos Coloniaes , infinitos fructos , infinitas riquezas padecem a desgraça de não fix-írem a nos^a attenção , e de nos servir de pouca utilidade , quando nos seja de perda. C '97 ) c]iie se enviem aos lugares , em que se faz o nielho? Anil , alguns Chymicos capazes de apreciarem justa- mente o influxo destas causas , e rectificarem a prepa- ração da rotina de hum a tinta que, sem comparação, será mais fina, e mais preciosa, logo que se fixem os principios de sua elaboração. Não tendo conhecimento das causas , que influem , na fermentação, e não tendo por conseguinte indaga- do os meios de as dirigir, nem de as modificar, toda a sciencia dos fabricantes se reduz a determinar , se o liquido se acha no estado de bater se. Para este fim fa- zem varias provas , logo que a espuma se tem forma» do, e começa a subir, tirando pela cânula hum pouco de caldo fermentado. Se este apparece tur\"o , e esbran- quiçado , não tem fermentado quanto baste, he preci- so esperar que tome çôr , até que , repetindo de novo as provas , se veja de hum amarello alaranjado, e trans- parente com alguns laios verdoçngos. Bate se logo em hum vaso de vidro com espátula de pão , e vendo se coaguUados alguns granitos de Anil , se inclina o va« so , como para decantar o liquido, e se reúne a fécu- la no fundo ^ está a fermentação em o seu ponto fal- tando-lhe algum gráo , se todavia apparece a agua tur- va. Não se deve attender a còr , que tem no apodrece- . doiro , cuja superfície sempre conserva hum verde es- curo , m.as sim ao resultado das provas feitas no vaso. Logo que por ellas se conhece que a fermentação está no ponto, se solta o resisto , ou cânula , para que io- do o liquidp caia no batedoiro 3 e se dá sem dilação principio a esta manobra. Si© > í 1 ( '98) •São vários os mod( 3S de ba itcr que se costu m?ío em diversas partes 3 e ainda não sabemos no fim de três séculos , 1 ' , que nos ocv; :upamos na prepa ração de hu- ma tinta tão preciosa , em que consista hum dos prin- cipaes ramos de nosso commercio , que causa influa mais na sua qualidade. Em algumas partes agitão o li- quido , remando com duas varas, ou canaletes apoiados sobre dois pés direitos , ou postes de madeiras , postos nos dois lados do tanque ; em outras com huma roda vertical, armada de oito pas , fazendo-a girar sobre hum eixo apoiado igualmente em dois pilares ; e assim usão em diversas partes de outros distinctos instrumentos. Não só não se tem. conhecido melhores \ porém nem também o que influe a regularidade do movimento, nem sua maior , o menor rapidez , e em summa , nada do que pôde contribuir a melhor preparação do Anil. Deve observar-se a agua rias suas primeiras undu- laçóes , para segurar se mais do ponto de fermentação , e prolongar , ou abbreviar a operação do batido ; por- que mais fácil , e promptamente se separa a fécula , não tendo fermentado a herva nem mais , nem menos do que corresponde. Como a qualidade , e boa côr da tinta depende absolutamente da fermentação perfeita, á força de bater não se logrará maior vantagem , que a de separar da agua toda a fécula , que continha. Huma còr amarella 5 transparente com visos de verde claro, observado ao começar a agitar se o liquido , indica que a fermentação foi perfsita ; se for mais verdoenga (•]ue amarella, então não chegou ao seu ponto; e pas- sou ( 199 ) sou delle , se o anriarello for escuro , e a agusi appare" cer turva , ou tiver máo cheiío. Continuado o batido, vai mudando de côr o liqui- do até ficar inteiramente verde , e levantar nmita es- puma. Costumão neste ca^o verter sobre ella hum pouco de azeite de peixe , ou de oliveiras, para que se diminua, e branqueie, facilitando observar , como se vai convertendo a cór verde em azul ; porque , sendo este mais vivo, havendo desaparecido o outro inteira- mente , ha cjue ver , se esta em ponto , paia deixar de bater. Faz-se a prova , agitando com a espátula hum pouco do caldo em hum vaso , e se o grão se desfaz em partes miúdas , se se precipita lentamente a fecu- la, formando no fundo hum leito azul vivo, e a agua toma nova côr roxo clara , sem partículas de Anil na superfície, se suspende a manobra do batido. Quando esta tem continuado sempre sem interrupção, se acha- rá que entre tanto tem tomado igualmente a espuma ào batedoiro huma côr roxa. Deita-se sobre elJa hum pouco de azeite , para a dissipar , e que a agua íique limpa, o que acontece, se a fermentação for perfeita; pois se houver algum defeito notável ficará sobre a su- perfície huma nata , ou gordura , mais , ou menos a- bundante. Tomado o ponto do batido , se deixa precipitar a fécula já livremente , como costumão fazer os France- zes, já por meio de outra substancia, para accelerar a operação, como fazem os Caraquenhos , os Inglczes, e os Chins. Dcitão estes no liquido huma porção^ ds f 200 ) cal em p6 , passado por tamis , ou peneira. Os Ingíe- zes seguem o mesmo methodo , quiçá aprendido del- les ; mas não deitáo a cal em pó , porém bem desfei- ta em agua. Os de Caracas deitão no batedoiro algumas folhas de tuna, ou urumbeba (chamão a estas folhas pencas) , despois de as haver machucado bem , por qual GUér destes meios se aligeira a precipitação da fécula, porém falta saber, qual he o melhor, e se por outros se teria huma tinta mais fina. Logo que o Anil se tenha assentado no fundo, ficando a agua clara , se abra a cânula superior, para lhe dar sabida , e depois com tento a immcdiata , dei- xando-a correr até que comece a arrastar alguma parte do Anil. Abrir-se ha então a cânula inferior, ou prin- cipal , collocando na sua bocca hum cesto de vimes bem tecido , e espesso , para somente passar o caldo , ficando nelle os despojos da planta, e os corpos estra- nhos. A còr da fécula neste estado he regularmente verde. Logo que toda a massa tem passado do batedoíro ao ultimo tanque, chamado o repouso, ou assento, ou diablotin , OU melhor repousadoiro , e que se tem deixa- do assentar , se principia a deitar em saccos , ou man- gas de panno de meia vara de comprido , e huma ter- ça de largo pela bocca, e gradualmente mais estreitas para o fundo, como hum funil. Pendurão-se dentro do mesmo assentadolro , e á medida que vão deix^indo de gotejar , se vai conduzindo ao tringlado , que deve es- tai immçdiato. Este he hum rancho sobre esteios só coberto , destinado a preservar os saccos do Sol , e da chuva : pendurão-se de modo que fiquem bem expos- tos á acção do ar, e tendo a massa jd tomado consis- tência , se despejão em taboleiros não muito fun ios , sem que nada facão ao caso as outras dimensões , e fi- gura. Costumão ser quadiiJongos de dois pés de com- prido 5 e mais de hum de Jargo , e de duas pollegadas de fundo. Logo que se enchem , se alisa a massa com huma espátula de madeira , e pela manhã se põem por pouco tempo ao Sol , para acabar de dissipar a humi- dade ; porém lembrem se, que a acção viva da luz des- compõem o Anil para proceder com tento , e cautella. Antes de enrijar de todo a massa , se corta em qua- dradinhos da largura de dois dedos , que se desprendeni do fundo , para que mais facilmente acabem de seccar* se ao Sol. Como entre nós não he mivi conhecido o valor do credito , ha poucos que calculem sobre eile , e da- qui resulta hum grave mal ao Estado , e menos van- tagens , quando não prejuizos aos empreiteiros desta, e de outras fabricas de productos commerciaes. Por aece- lerar a preparação da tinta , costumão expor sobeja- mente ao Sol, sem repararem que se altera a côr , e quasi se destroe. Seria mui vantajoso ao nosso com- mercio , que se fizesse geral a prática de seccar inteira- mente o Anil á sombra ; porque então sahe de supe- rior qualidade, e com fermoso lustre. He certo que, tardando mais tempo em. dissipar se a humidade , fica mais exposto ^ e'ncher-sc de bixos ; porém não parece dií- ( 202 ) difíicil presjrvallo , fechando por todas as partes a en- trada com hum vco ás moscas , que o seu máo chei- ro attrahe â massa , ou procurando outros meios de as afugentar. Este he o methodo , que em todas as partes com pequenas variações , se observa para a preparação do Anil. Unicamente os Africanos do Senegal seguem ou- tro 5 que nos descreve Adanson , e que sem dúvida de- ve preferir-se , a não diminuírem a tinta, ou seu pro- ducto ser muito escasso. Consiste em machucar as folhas cm hum gral , reduziilas a massa, e fazer pães, ou pilões, que se secção perfeitamente. Talvez seria me- ihor espremer o sueco , e deixar seccar á sombra. Quan- tos pontos importantes, e de que interesse para o com- mercio , reclamão em nossas Américas a attenção de hum hábil Chymico. Porem eu não sei, porque fatali- dade , não tem até agora passado a ellas algum com o objecto de ser útil igualmente ao novo mundo, e ao antigo. Influindo tanto na qualidade do Anil o clima, e a preparação , e sendo esta em todas as partes de mera rotina , conservão todos no commercio o gráo de esti- mação , que merecerão no principio. Dá-se ao de Guati- niala a preferencia de todos , quantos se conhecem , ao que chamão sohr^sallenie , ou flor , apreciando-se os ou- tros , segundo se assemelha mais, ou menos. O peso es- pecifico , a textura , e a côr subministrão characteres suf- ficientes para os distinguir. O sobresaliente , ou de flor de Guatim£»!a nada sobre a agua , tem huma textura sin- C 20J ) singular , carece de côdea , e casca , e no exterior a«i presenta Inima cór semelhante á do centro. O Anil da Ilha de São Domingos se assemelha ao de flor de Gua- timala: muntem-se sobre a agua , sua textura he com- pacta , sua còr não he tão viva-, inclinando-se hum pouco ao castanho , e tem pelle , ou casca azul ds pissarra. Fazem-se naquella Ilha outros Anis inferiores , que todos se afundão na agua , e se differenção pela cór de cobre, arroxada, branco escuro, etc. que ma- nifestão, esfregando-os com hum corpo duro. O Ami de Carolina he da còr de pissarra escura , e segue na sua qualidade ao da côr de cobre de São Domingos. Se , feito em pó , se lança na agua fervendo , dentro cm vinte e quatro horas cria huma nata cascuda , Q branca , differindo nisto dos Anis de Guatimala , e das Antilhas, que carecem desta propriedade. Conhecem-se igualmente outros muitos Anis pelos nomes dos paizes de sua extracção , como o de Java , de Jamaica , de Africa 5 distinguindo se mais , ou menos nos caracteres expressados acima. Os pintores a tempera gastâo o Anil , misturar^- do-o já com o branco , para dar huma formosa còr azul , já com o amarello para hum bom verde ; porém sem inistura com outras substancias , somente pôde apro- veitar para huma espécie de negro , e assas forte. Não tem alguma em as pinturas a óleo ; perque perde mui- ta parte do seu lustre, e colorido, logo que se secca o óleo. Communica do mesmo modo ao panno hum viso amarello, que muitos estimão. Seu principal uso he ' ( 2C4 ) he na tinturaria , já misturado com o pastel , já com outras substancias, por cujo meio se logra variar infi- nitamente as gradações , ou matizes da sua côr. He mui suffíciente o Anil da segunda , e terceira classe para tingir a seda ; e ainda que se pôde applicar o so- bresaliente de Guatimala , a sua ventagem não corres- ponde ao seu credito, e preço. Para as lás serve sem excepção todo o Anil : preferem com tudo isso o de oáo Domingos para o fundo azul , que serve de base a tinta preta, e por luxo o de Guatimala, que he o único , que serve para o brilhante azul celeste , que tanto se estima em os pannos. He certo que be mais caro ; porém em compensação da mais tinta em iguaes quantidades que os inferiores , e baratos. Todo o estudo dos que se tem dedicado á arte de tingir , tem sido constantemente o íixar a cor , de ma- neira que seja permanente ; que conserve a sua vive- za , e resista a impressões da agua, do azeite, e dos «eidos. Foráo necessários multiplicadas experiências, pa- ra conseguir com o Anil tão vantajosos resultados, nao sendo fácil conciliar a viveza com. a duração. O acido sulfúrico, e o alkali volátil o dissolvem perfeita- mente, sem lhe alterar a côr, servindo o primeiro, pa- ra lhe dar aquelle formoso azul chamado de Saxonia, tão vistoso como fugitivo ; e o segundo para outro me- nos brilhante ; porém mais firme. Não necessitão as matérias , que se hão de tingir por meio do acido sulfú- rico , mais preparação que a ordinária de as cozer, me- tcndo-as no mesmo instante no banho mais, ou menoí! car- C 205 ) cafregado da dissolução , segundo se quizer mais , ou menos vivo , mais , ou menos escuro. A' proporção que a dissoluq&o , de que se faz uso , he mais recen- te , he menos firme a tinta ; porém também se he niuito annosa, lhe dá hum arverdoengo, necessitando acrescentar-lhe alguma porção de AniJ , para reestabele- cer a legitima cor. A dissolução do alkali volátil he , como se disse, a mais própria para fixar o Anil ; porque o introduz na lã , que pela sua maior affinidade com elle o re- tém, ficando livre o alkaii , e dissipando se. Não im- porta que ao prhicipio se mostre hum pouco alterada a côr ; porque no instante que o alkali se separa , se teestabelece , permanecendo indissolúvel na agua em os azeites , e ácidos. Não porque dizemos dissolução , se haja de entender que este dissolva o Anil por si só, como o acido sulfúrico , mas sim depois de certas pre- parações , [í)or cujo mieija^ se obtém a tinta solida , e permanente , que no commercio se chama a:(,ul de ima ^ segundo os vários modos de se fazer esta operação , e Os principaes engredientes , que se deitã^ em as tinas , assim lhe dão diversos nom.es. Chamão se tinas a frio , quando a operação se re- duz a excitar huma effervescencia , sem valer-se do fo- go. Para isto se preparão duas dissoluções , huma de sulfato de ferro (caparêsti) em agua fria , e outra de Anil também em agua ; porém , deixando-a por três ho- ras ao fogo. Misturão-se em a tina , e logo se -..-ita em a composição potassa , ou alkali fixo 3 e cai extinetst li ^' ( 206 ) ao ar. ímmediatcimente se excita huma sffervescencla j durante a qual, se desenvolve o alkali volátil^ combi- nando-se eom o Anil : se o àlkali não for excessivo, ficará a dissolução verde ; porém se abundar , ou o Anil estiver muito desfeito, sahiiá amarello. Preparada a dissolução verde , se deitão nella os tecidos , ou pan- nos, que se querem tingir, aos quaes se une perfeita- mente, recobrando a còr azul j logo que o alkali vo- látil se dissipa ao ar. Fazendo-se a operação em pequeno, bastará onça e meia de cada ingrediente , duas libras de agua para a dissolução do sulfato , e huma e meia paia o do Anil. Disto se forme a idéa , para se fazer esta opera- ção em grande. Geralmente fallando as proporções em matérias de tintas , somente servem para dar idéas 3 que não hajão infinitas tentativas ; porém sempre fica muito que explorar na prática. O próprio empreiteiro he quem as ha de fixar , á força de tentativas ; porque tem tanto infiuxo as circumstancias locaes , agua, ar, etc. que não he só inútil dar regras precisas nestes pon- te^, mas também prejudicial; pois sahindo mal a pri- meira tantativa, se costuma abandonar hum projecto, que, fazendo-se duas , ou três vezes mais , corresponderia as esperanças do Author. Precisamente acontece as tin- tas em frio fazer muitas vezes desgraçada a operação, porque depende do estado da atmosfera , ainda preven- do-se o influxo de outras causas. Com tudo isto se preferem para dar tinta aos géneros do algodão , e li- nho 5 porque, não tendo tanta affínidade com o Anil , CO- f C 207 ) como tem a lã , he necessário fixalla á força de expor os tecidos ao ar , e tomallos á tina. Já se deixa ver que se se fizesse em as tinas quentes , se esfriaria em hum instante o caldo, se eVaporana inutilmente , se ougmentaria o gasto , e seria penosa a manobra. Em as tinas , de que temos fallado , se faz por effervecencia a dissolução do Anil , e he mais prom- pta : em as de que vamos fallar , se faz por fermenta- ção , e he por conseguinte ínais , eu menos prolixa. Em geral se chamão tinas de fermentação. Segundo a espécie 5 que se quizer excitar, desde a acida , até a pu- trida , assim varião os eífeitos ; e como cada huma tem suas vantagens, e seus inconvenientes, não se pô- de dar regras fixas. As tinas ^ chamadas indicas , se preparão pela manei- ra seguinte: Logo que se dcsFacão seis libras de cinzas graveladas em quarenta cubos de agua , acrescentando doze onças de granza , ou ruiva, e seis libras de fare» los , cozidos, se encorporão com seis libras 'de Anií, cozido , e batido em agiia. Se dará farelos a todos es- tes ingredientes , tapando a caldeira , e conservando o seu calor por meio de hum fogo lento. Costuma con» cluir-se a operação no espaço de quarenta e oito horas, mexendo-se para este effeito duas , ou três vezes o in- grediente. O banho toma huma formosa côr verde, cuberta de escuma azulada , variando com manchas còr de cobre. Dois são os extremos , que prejudicão , e de- vem precâver-se nestas preparações. O primeiro , que não exceda a porção de cinzas , ou bem que , guat- dan- ( 2C8 ) dando esta a expressada proporção , se diminua a dd fareJJos, e a da ruiva. Consta a demasia do alkali fi- xo , se o banho adquirir huma côr verde amarellada , ou se ao reconhecer os géneros tintos , *se nota que o azul , que tomarão , se inclina a verdoengo. Corrigé-se isto com facilidade , augmentando a porção de farellos , e ruiva , que novamente excitão a fermentação , e pro* duzem o acido necessário para embeber, e inutilizar o excesso do alkali íijío superabundante. Quando se diminuem as cinzas , ou se augmenta a porção de farelos , c granzas de ruiva se dá em ou- tro extremo , não menos prejudicial. Une-se neste caso huma parte do acido ao alkali volátil , que devia dissol- ver o Anil , causando a outra parte huma fermenta- ção, primeiramente acida, que ataca o Anil , e logo pútrida, que destroe a côr. Nestas circumstancias atina despede hum cheiro suave : toma o banho hum azul verdoengo ; manifesta se o cheiro acido , e segue todos os seus tramites a fermentação pútrida. Remedeao-se facilmente estes defeitos por meio do alkali fixo, que impede a putrefacção , desembaraça ao alkali volátil, e determina a dissolução do Anil, Para a preparação das tinas , a benefício do pastel , se deitarão sobre cento e cincoenta libras de pastel , e quinze de farellos , cento e cincoenta cubos de agua fervendo em huma tina de caber duzentos cubos. Estes ingredientes devem estar de infusão por espaço de três horas , e ao depois se reenche a tina com agua ferven- do , e com cozimento de Anil. Mexe-sc o pastel , e pas» u ( *09 ) paíSadas quatro horas , c repousada a infuslío , despedi- rá o banho hum cheiro forte, adquirindo huma côr de folha sccca. Revolva se com o mexedor o banho , nes^ ^a disposição sobem á superficie muitas empolas , que se qucbrão brevemente com esta lida. O cheiro , que se segue na tina, h« adoçado , e hervaceo, voltaildo se cm breve tempo doce , insipido , fastidioso , ou talver akum tanto acido, chegando a fermentação a este pon- to já não estallão as borbolhas , eu empolas , qUe tó- mao huma cór azul mais , ou menos escura , e nadão sobre agua como a escuma tde sabão. O banho he co- mo gordurento ao tacto , e de huma côr verde ama- rellaíla. Metendo-se dentro da tina o mexedor , se tira com muito cuidado , para não turvar o caldo : observa- se que o Anil sobe , e espuma , depositando hum resí- duo mais amarello que no resto do banho. Deixadas repousar algumas gottas desta dissolução , se fazem promptamente verdoengas ; porém com brevidade per- derão sua transparência , voltando a huma còr azulada. Deitão cal no banho , para moderar a fermentação > que tem chegado a este ponto. Deixa-se de deitar mais eal , logo que se manifeste o cheiro particular, que exhaía o alkali volátil ; porém se hirá batendo por duas , ou três vezes a cada cinco , ôu seis horas , ajuntando povamente cal , se cess-ar o cheiro alkalino , até qu« predomine novamente o alkali volati), Atalha-se a fermentação neste gráo por espaço de hum dia , e aO depois se pôde beneficiar a tinta. Os •ffeitos se introduzem três vezes em a tina no dia , T,1L PIL O me- ^ íii|íli HiexenJo a dissolução , logo que se tem tirado do ba- nho; e ajuntando cal somente, quando o cheiro do al- kali volátil nío se percebe ja , advertindo que , á medi- da que for descahindo , o calor da fermentação , se diminue , minguando o cheiro do aikali volátil. Serve esta preparação para as tintas quatro , ou cinco dias seguidos , augmentando a dose da cal a cada vinte e quatro horas com as mesmas precauções ex- pressadas , e em a 'quantidade proporcionada para que fique o banho em o seu ponto conveniente. A' vista de que em cada iramersão dos effeitos baixa o calor , se va na mesma proporção diminuindo a quantidade de cal , que em alguns casos no quarto dia , e sempre no quinto não he já necessária para applicar a tinta. Con- vém , depois desta época , aquecer a\ina a fogo len- to ; visto ter já perdido todo o seu calor. A preparação mais sim.ples de todas he a que se faz com ourinas. Reduz-se a dissolução nellas o Anil, deixando© fem^entar , e ajuntando alguns ácidos já li- quidos 5 que produzem huma effervescencia com o ai- kali. • Tem o primeiro lugar as tintas preparadas com 9 auxilio do pasuli o segundo, a que benefíciao com as wnnas ; o ultimo as tinas em frio, em razão de ser menos solida , a pesar de ser a dissolução do Anil maií perfeita que em as tinas Indicas. Taes são os resultados de minhas experiências, e ^tado acerca da cultura do Anil , sua extracção, e ap- piicaç6e-s mais communs. O bom successo, que tivera» •s i w" ■ • •s mcos ensaios em Aranjues , me faz acreditai qu6 se pode introduzir com vantagem em nossa Agricultu- la, e só sinto que pof falta de sementes náo tenha si- * do possível adiantar^se neste ramo tudo o que desejo , « me proponhg fazer ao dianttt C 213 ) MEMORIA SOBRE O índigo , OU ANIL. X^Manuel des habitans de S. Dominpie , Tom. I. pag. 176.) Par M. Du Coeurjoli. H Uma IndiVoaria nãe requer tantas miudezas co- mo huma Assucararia. Não precisa muito terieno ; por que poucos animaes Jhe bastão para a sua lavra , ou labutação ; c por consequência grandes pastos para os sustentar. Querendo-se emprend-r esta cultura , primeiramen- te se informe da qualidade das terras , porque esta planta requer muito sustento : huma terra safada , ou cansada , estéril , areisca não lhe convém de sorte algu- ma ; antes j pelo contrario , deve estar em todo o seu vigor , ser solta , e leve até huma certa profundeza, para deixar a liberdade ú raiz desta planta , que se en- raiga muito , de poder descer , e penetrar. He por tanto vantajoso ter hum terreno de ma- tos , porque , derribando-o , apresentão huma terra vir- gem y mas só se deve derrubar a porqáo de terreno ne» TNDTGOFJ ("O •cssario a plantação. Deve-se reservar a quantidade de mato, que restar, para se derrubar, quando se neces« sitar de terreno novo ; porque não ha planta alguma , que mais promptamente canse a teria que o.Indigo, e também , por este mesmo motivo , se deve estrumar lie tempos cm tempos , para a enriquecer de saes. A R T I G o I. Indi. g-*- s Ao duas as espécies de índigo , que ordinariamente se plantão em São Demingos , a saber , o franco , e O; hastardo, Differem hum do outro pelo grão; a do pri-; meiro he mais grosso, de côr parda prateada ; do se» gundo menor , de côr negra , como a dos nabos* Tam-* bem as plantas differem entre si ; a primeira fornece^ mais talos, sobe a menor altura, e se alarga como os pequenos arbustos ; a segunda levantão-se mais , hc menos copado ; a folha da primeira he mais estreita , c soffre melhor as grandes chuvas que as da segunda; por isso os fazendeiros de São Domingos misturão os grãos de hum com os do outro nos seus indigoaes , segundo a exposição dos seus sítios , mas dê ©rdinarÍQ plantão mais do primeiro sem misturs. Aa-i («14^) A R T I C o II, Ew ^ne estação se plantw o Indica, o S cpãe não querem arriscar o' seu grão o plantão ao depois do Natal , e continuão até o inez de Maio. Esta ultima jrlantação he também » mais favorável , não sendo sujeita a ser queimada , mas por estar a estação muito adiantada, só produz dois , ou três cortes, pafsa- dos os quaes reinão os nortes em abundância , que j-he itíMao- â^ socdaí , quando ò' plantado antecedente dá aíté cmc& cortes. O bastardo sé planta de Todos os tantos, até Maio inclusive: Ainda ^úò' paret^a insppopría ú expressão^ plantar o gYão, usarei delia por me conformar ao paiz , onde se tí$ò' diz que s« sèwea ; porque se põem en» cada- cova ara iáto dè hum rébbté para rachar ás éçpÁé nós montes , e se lhe deitar fogo, qu'é a cortou ma-. Preparado o terrerií)', sô está habil a planfar" nas |>ri-meifas chuvas, o que se fai pela maneira seguinte. Ar- C^iO Artigo III. Míinelra de plantar o Indico, o S pretos j que devem trabalhar , se arrumáo em linha no principio do terreno , e caminhão recuando, fazendo covas pequenas da largura da enxada , e' 'pro- fundeza de quasi duas pollegadas , distantes cinco , par* seis, em linha recta, quanto for possivel. Para se não interromperem , plantando , precisa antes repartir as di- visões , que se tirão á linha , de modo qtie todas as fileiras se devem marcar , para que á primeira chuva se ponha as mãos no trabalho logo , e que só se oc- cupem em plantar ; porque como he incerta a duração das chuvas , não se deve deixar escapar momentos tã» preciosos. •"'■ A' medida que os negros fazem, os buracos , a's pretas com calíís cheias dê sementes , as põem em cada cova , e outras as acompanhão , cobrindo-as com hunia boa poJlegadâ de terra. Sete , para oito grãos bastão , sendo índigo franco , menos se for o bastardo ; mas .não secontão que, sendo o tempo mui precioso, prô- cura-se somente adiantar o trabalho , e aproveitar da chuva 3 porque , seccando-se a terra ^ se nao planta mais. ,4r- ( 21Í ) Artigo IV, P Jantar a secco» V \ Em-se algumas vezes obrigado a plantar a secco, quero dizer , em huraa grande falta de aguas para a- diantar a plantação , hum grão de chuva , ou dois ao depois , não bastão para plantar grandes Indigoaes , mas não se arrisca este modo de plantar, senão quando pro- vavelmente se espera pela chuva. Abrem-se as covas na terra secca , que se planta , e cobre logo , esperan- do-se chuva, que se julga não tardar. He hum grande avance para o Fazendeiro ) correspondendo o successo á sua esperança : vê o seu grão brotar á pancada, a« passo que clle favorecido desta chuva continua a plan- tar. Mas se, ao contrario, a secca atura , se arrisca em perder toda a sua semente , que se esquenta , e se enrija pelo muito calor. Muitas vezes se vem chuv^ enganadoras nesta estação , que só tocão a superfície da terra ; fazem brotar o grão , que , não tendo força para penetrar aterra, necessariamente apodrece. Resul- ta disto huma perda tanto maior para o Fazendeiro, quanto comprehende o terapo perdido pelos escravos, líum retardamento grande em os rendimentos, e , po^ fim, perde o custo dos seus grãos, que não deixa de fazer hum grande objecto, conforme a quantidade que tiv^r plantado, An- ( âI7 5 A R T I C O V. Biâs ^ue ^astã o ^rã» em Sãhlr J a terra. O Endo a semente do franco , brota ao terceiro dia i pancada ; mas o grão bastardo leva ás vezes mais de oito dias, conforme for mais, ou menos maduro: vem hum mais cedo que o outro , mas nunca á pancada. A' proporção que chove , brota; e algumas vezes gas- ta hum anno , quando he muito maduro. Também se tem grande fuidado em acautellar que não haja es- te excesso de madureza , p que se conhece pela sili- qua : quando começa a seccar nos advwtc que se de- ve colher. Artigo VI. Cultura àa f tanta, Jtji Sta planta p»de huma terra boa , como já disse -. cansa , e estafa o terreno , «m que nasce , e quer ser só. Precisa grande cuidado em impedir outras hervas , sejão de qualquer qualidade que forem , que não nas- ção junto ; por isso se não deixe passar quinze dias ^ ou três semanas sem a mondar. Senão houver este cuidado de a mondarem , e tornarem a mondar , atç <^ue 3 planta fique grande , que cubra a terra com sua som- II sombra, e impedir que eresçSo, não deixarão de a af- fogar. Para nascerem estas plantas parasitas , se não precisa a chuva. O calor do paiz , junto ao. abundan- tes orvalhos., fazem nascer as que bastío , para matarem a© índigo , senSo se mondão. Pr&cisão-se arrancar com o Raspador, polas em ces^tos para aspôrióra dolndigoal^ e, mondando-se, replantar o grão, onde faltar. Artigo VIÍ. Corte do Indie^o. N o decurso do anno se tem três bons cortes , e 9 quarto se chama arranhar : o primeiro, que se chama a grande herva , he 6 que rende mais , e cujo índigo he o melhor ; os outros diminuem de quai>tida^ie, e algumas vezes de qualidade. Corta se a grande herva no fim de setenta, a oitentar dias , e os cortes seguintes cm quarenta dias de distancia huns dos outros. Não se deve cortar a herva do índigo mais cedo , ou mais tarde ; mas sim trabalhai lo logo que esteja de vez. Esta madureza se conhece pelo pé da planta , que deve ser de hum pardo avermelhado , e logo que estiver em flor, se lhe deve meter a faca, por lhe não dar lugar a qu^ produza semente. Fará cortar o índigo, se valem de facões curvos em feição de foice , mas sem dentes. Corta-se a herva a Kuma polfegada da terra , fazem-se molhos , que dem huma carga a hum preto , e se encapáo de serapilhei- ras ( 219 ) ww , tíu pedaqos de panno grosso , que tanhio hum» vara de comprimento , e outra tanta largura , para qu» sejáo quadrados. Em cada ponta se lhe pocm atilhos, paira se atarem, e os levar com toda a segurança assim » wrande • como a herva miúda. Hum preto arranja a her- va, que os outros deitao no afodreeeéolro. Para emba- raçar os vãos ,. que poderiáo haver , lançando se coníusa-. mente os molhos, huns sobre os outros , e para que a hetva nSo seja pisada , ou como mastigada , & preto a: põem levemente ás braçadas. Trinta , ou quarenta molhos , ou feixes , são bastantes para encher hum tanque pela grandeza, que direi mais abaixo. Tendo-se acabado de encher o tanque ^ se arranja » pallisada por cima, e se aperta, para impedir, que a her-* va sobrenade , ao depois se enche de «gua : deixa-se fermentar o todo , segundo for a calor maior , ou me- nor, ou melhor; e conforme a herva tem mais , ou me- nos corpo 5 a fermentação se faz mais cedo , ou mais tarde : algumas vezes em doze , quinze , vinte , ou trm- £a horas. Facilmente se conhece por esta grande variedade (tanto maior quanto o grão se forma sempre differen- temente) , que se precisa de bum mestre mui experi» mentado* Somente huma longa experiência pôde fazer «cautelar os seus accidentes. O Granjeiro do índigo só está certo do rendi* Biento , ao depois do seu fabrico ; po-rque as grandes feccas lhe queimão as folhas , e a grande chuva afoga a planta^ e ihe faz morrer abaste. Dão-se ainda duas sor- tes li C «2e ) •es de bixos chamados roíileux ^ tmakôba ^ que se ipc* l^io i raiz, c a roem , o que faz morrer a planta. O flagelo porém maii temivel lie a lagarta. A- eontece algumas vezes que, tendo se hum bello Indi- goal, e que está prompto a cortar a lierva para o fa- brico, de repente se enche de borboletas, trazidas pe- los ventos 3S nuvens, que se transfórmão em lagartas , « cm pouco tempo destroçai todas as folhas do índi- go , deixando só os talos. Se acontece que ellas per- doem algum lugar , he preciso cortallo promptamente para a entancar ; corta-se também a herva , em que se acha a lagarta, a não estar toda devorada , visto a U* farta não ser contraria ao Anil : ella restitue no apo- rficcedoiro o Indico que tem comido. Artigo VIII. Vasos tjícs servem ao Índigo, o S vases para Indigoaria são tanques de pedra re- bocados , onde se põem em digestão a planta. São três huns acima dos outros , formando huma espécie de degraos , de sorte que o segundo, que he mais baix» que o primeiro; e o terceiro, que pode receber o liqui- do que o primeiro contém , quando se desarrolha a a- bertura , que se lhe faz ; e o terceiro podem a seu turno receber o liquido, que estava no segundo. O primeiro tanque, que he maior, e mais alto, SC chama o apodrccedolro , tem dez , a doze pés de loH- C 221 ) longura ordinariamente , c nove, eu dzz de largo , © três de fundo, observando de lhe deixar no fundo hu- ina declinação arrazoada, cjue conduza a torneira, para lhe facilitar o escoamento das aguas. O segundo, que he o batcdolro, he mais cstreit» í|ue o primeiro; mas muito mais fundo, para não espa- lhar por fora a agua com o movimento da batedurá, cuja quantidade poderia causar huma perda muito gran- de ; e por este motivo se observa, como no primeiro, -de lhe dar também huma inclinação doce para o escoo das aguas. O terceiro que he , sem comparação 9 muito me^ nor que o segundo , se chama dlobíotln. O nome dos dois primeiros convém perfeitamen- te com o seu uso. Chama se apodrccedoiro ; porque se lhe infunde a herva , e ahi fermenta , ou apodrece , depois que a sua substancia se tem espalhado peia agua por meio cja fermentação, que o calor promove. No segundo he que^^e^gita, e se bate esta mesma agua, eheia dos saes da planta , ate qiie , tendo-os unido , e sufficientemente coagulados em corpos , se facão os grãos , que compõem esta tinta. No diabloila se poem o índigo começado no apo- drccedoiro , aperfeiçoado no batedoiro , onde se un« cm huma massa , separado da agua , que ainda conser- va: ao depois se poem em. pequenos saccos de panno, do comprimento de dezoito pollcgadas , para se esgotar perfeitamente , e ser ao depois pcsto em tabolciros^ que se arranjão em tablados no dcsseccadoiro. Ar. ( aí2 ) AlRTlGO IX. Mcthodo mais stgura de sondar os tanques, V X Recisa-se que eu falle agora contra a má doutrin» tie alguns mestres, sondando os tanques no alto, sem ^istincção de tempo* , e lugares. Se nos morros , ou montes quisessem fazer o mesmo, muitas vezes se en- ganarjão , porque a de cima só mostra hum grão falso. Bluito menos se arrisca , quando se tira a agua do fun- íJo , onde se encontra o grã© natural A prova he ma- tiifesta, e a razão mui simples, Precisa-se muit© tempo, para encher hum tanque de agua. Nesta alternativa a iierva do fundo se molha , o que lhe causa já certa fermentação , e por huma consequência necessária deve mostrar seu grão , antes que a agua , que está por cima , e que só SC engrossa pela effeverccncia , que o fundo do tanque excita. Alem disso , vemos , que nos tempos chuvosos , em r^ue o índigo só fermenta doze horas, apenas o alto do tanque tem tempD de mudar. Logo necessariamente precisa arriscar-se a perdella , querendo-se esperar que a agua de cima seja sufficientemente colorada , para lhe achar o grão. An. C 223 5 Artigo X. Ponto fixo da fermentação, JL Recisa sempre começar cedo a sondar o tanque^ sobre tudo o primeiro, para se não assustar j^^e appli- car-se assim a qualidade da agua , como a do grão: não hir muitas vezes , mas de quatro , em quatro ho- ras, isto basta : hir mais vezes h.e o meio de se per- der ; impaeienta-se , e ráo pódc perceber a mudança ; julga se sempre ver o mesmo gião , pelo contrario, interpondo-se o tempo , que digo, o grão será notável: três visitas bastão. Por exemplo , quando se tem son- dado o tanque pela primeira vez , se lhe faltão dez horas a fermentar , e que se vai quatro horas ao depois fazer a segunda visita 5 na terceira não se sabe o qufe se deve fazer. Visitando-se de longe em longe , se vê «a mesma proporção fazer-se a mudança. Se na ultima vez sé achar, por acaso, passado, se- percebe na ag«a , e sfc pode fazer hum juizo do seu excesso pela visita prece- dente : não se vê certo verde vivo que feria a vista : €m seu lugar se vê certo verde desmaiado , ou certo amarello desbotado: signaes evidentes do Sêu excesso: a mesma agua que amarellece as mãos não faz iínpres- são alguma : effeito totalmente opposto ao qué íião está bem fermentado, que mancha as mãos de manei- ra que o sabão não as Uva, O Ind]>o , que lhe falta ainda algumas horas para a fermentação, hc de hum verde tão vivo, que cada gota de agua , que salta sobre as mãos faz huma im- pressão tão forte , que precisa para a apagar repetir muitas vezes o cnsaboamento ; pelo contrario, a man- cha de huma gotta de agua, que sahe de hum tanque, cm que predomina a fermentação , que por si m€sm» se extingue, á proporção que se secca.. A íi T I G o XI. Vifferentes figuras do ^rãa^ V-v Onforme a ordem do tempo secco , ou húmido , se dão lançadas , que aprescntão hum grão allongado em forma de ponta* Isto acontece no tempo secco : outras tancadas dão o grão redondo como areia. Isto provem do tempo favorável. Finalmente certos tcnv pos , em que o grão he chato , e alargado. Isto pro- vem dos tempos chuvosos. Este ultimo tempo pôde facilmente suspender , requer por isso grande applica- ção. Com tudo, se lhe applicar alguma, não se en- ganará ; o grão se separa facilmente de sua agua, ro- lando na tassa , e deixa a agua de hum verde brilhan- te , e carregado , quaricio na tancada , que está muito fermentado o grão, ainda que muito alargado, como o outro , se separa difficultosamente , e fica como na- dando entre duas aguas , cuja còr muitas vezes he de certo amarello desmaiado, »u verde denegrido, e ou- trás vczfis esbranquiçado» A C ^25 ) A está agua succede huma flor, ou superfície , co- mo huma teia , que se faz na sua superfície ^ e que na tassa forma hum semicírculo, ou espécie de arco íris, o que mostra bem O excesso que houve. A tancada , a que falta a fermentação , também pôde formar esta flor , ou peia abundância das chuvas , ou porque os «rííos se achão já soitos pela muita madureza da her- va mas não se tocão entre si como na tancada, que tem fermentado demais. O bom índigo não cauSa tantos trabalhos , e se faz com facilidade: seu grão, e sua agua se mostráo , como se precisa ; e como parece, duro a fermentar , e dá tempo, para se levar á sua ultima perfeição. Artigo XIL Modo de o bater» i\ Chado o poato fixo 'da fermentação j se faz correr a agua no batedoiro , para o aperfeiçoar por meio da batedura , que se faz da maneira seguinte : Tem-sc bal» de§ , ou espécies de cubos , ou caixões encabados em huma vara , da grossura de hum braço : com estes baldes sè move violentam.entô esta agua ^ esem cessar, até que os saes , e outras partes da planta se tenhão unido , e amontoado. Deste modo se descobre a falta d© fermentação ; e por isso a batedura requer muita applicação ; visto que por seu meio, se certiíicão dos defeitos, ou faltas, e que, ao. mesmo tempo dá o ex- T.Il. P.lh ? P^* 1^1 1^. pcdjente para os remedear , com tanto que estas fal- tas não sejão por excesso. Artigo XíII. Explicação da batedum. A Batedtira he o emético do Mestre Indigoeiro ; pois por elle descobre a sua falta, que se remedeia , e que se regula a continuação do corte : também he pela ba- tedura , que se pôde arruinar a melhor tancada , fazen- do-a bater muito , ou muito pouco. Se não for assas batida, o grão j que ainda não está formado, fica espa- lhado pela agua sem correr, nem se ajuntar no fundo do tanque, e se perde , quando se vem obrigados a dei- xallo ; ou j se estando suííicientêmente batido, se conti- nua a bater , se dissolve , é cahe no mesmo inconve- niente : por tanto se precisa aproveitar do momento justo, e cessar, logo que este chegue, para deixar re- pousar a matéria. Artigo XIV. ♦4/é (ju€ gráa se deve bater. V >^Uerendo-se bater huma tancada , como convém , se precisa que o Indigoeiro .primeiramente esteja con- vencido do mais , e do menos que a tancada pode ter. Se este for destro , o saberá, antes que o grão se tenha for- C 227 ) formado ; se houve excesso , lhe economizará a batedut» ra ; se lhe faltar , a deve augmentar ate refinar. Se es- tiver em o seu ponto fixo , deve fugir de o exceder ; porque, pouco que lha augmente , perderá o seu me- lhor lustre. Náo querendo .exceder y deve observar, quando o grão tem adquirido a sua grossura , e os grãos de sua diminuição, até que o grão seja perfeita- mente redondo , que role , ou rode hum sobre o ou- tro ; como o fazem os d.^ areia fina ; que se separe bem da sua agua , que esta pareça clara , e limpa , e que aprova , que cobre o fundo da taça , procure a- juntar-se a agua , quand® se inclina , de maneira que o fundo da tassa fique limpa sem polme algum , ou sedimento. Então he tempo de fazer parar : continuar a bate^ dura he querer cahir no inconveniente de ,se dissolvererçi as particulas as mais subtis ; porque os grãos do talo não tem a mesma consistência que os outros ; e isto s$ adverte muitas vezes ao depoíls da batedura de huma tancada , que se tem excedido , nptando-se hum grão fugitivo , que anda entre 3s duas aguajs , e que , ainda que imperceptível , damnifica muito o escoo da agua. Resulta disto que a dissolução dos grãos imperfeitos , -eque foráo mui batidos , não lhes fica peso sufficiente , para se precipitarem no fundo : segufí-se tambera j que o índigo se enxuga difficultosamente : estes grãos fino$ se apcgão pelos saccos , tapão-lhe os poros , o índigo íca mol lasso : o que com razão se imputa a nimia ba.- Pa Ar- pll ãl ( 22Í ) tedura : o que se confirma pelas advertências dos sac- cos , que parecem cujos , e de còr de chumbo. Artigo XV* Definição da hctcdurét. n3 A' disse que a batedura tra o emético do Artista Indigoeiro. Esta expressão he justa. Com effcito póde- se dizer que este he o seu ultimo esforço, e o único, que pôde levar a sua perfeição ao índigo, ou também perdello. Sem a batedura fica imperfeito , e todos os trabalhos tidos ficão sendo inúteis : cumpre por tanto applicar-se a conhecer perfeitamente a batedura , pois que descobre com facilidade o que a fermentação teve de defeituosa. Os defeitos da fermentação se percebem muito melhor pela batedura que na fermentação. Desde o principio se pode julgar , a não se estar muito preoc- cupado , mas , qualquer equilíbrio , que se tenha toma- do entre o mais , c o menos , hum bom fabricante deve saber o que ha de fazer, ou seguir, antes que se for- me o seu grão. Huma tancada não bem fermentada escuma mui- to , e a escuma tira a verde , que , a pesar de ser grossa , não deixa de partir se com rapidez , quando se lhe lança azeite ; e se a aspersão he repetida huma se- gunda vez , dissipa inteiramente a escuma , que parece mais ( 229 ) unais gorda ; quando em huma tancada muito ferraentad» huma botelha de azeite não faria partir huma escuma inteiramente. A que se lhe segue, só he huma pequena escuma ligeira, que desaparece, quando se forma o seu grão. Então se corrige o que havia de defeituoso no gráo de fermentação ; se for muito , se economiza a batcdura ; por este motivo se conserva seu lustre : ra- ra vez se acha o ponto fixo da dissolução , ha sempre hum pequeno meio , a batedura aperfeiçoa, Huma tancada muito fermentada se pôde corrigir mediante a batedura. He fácil conhecer o seu excesso pela escuma gorda 3 e pelo grão chateado , que não re- siste a batedura , e cujo grão se forma muito mais de pressa. Também a sua agua se não faz clara , como a de huma boa tancada. O Fabricante á vista de tantas provas deve por tanto acautelar se , e deve economi- zar a batedura, conforme o maior, ou menor excesso. Isto he o que se deve seguir por degráos. Logo ^ue o grão obtiver a sua grossura , precisa não deixar» se a taça : cada golpe dos baldes lhe faz impressão , e achando-se o momento , em que o grão está racionavel- mente redondo , se deve cessar de bater , sem procurar diminuir o grão. Chegando a este gráo , se achará qu® a agua se atrigueira á vista dos olhos 5 o que não im- pede que ella seja verde no hatedoiro , menos na sua superfície ; ver-se-ha também hum pequeno vidro , co- mo cobre, que cobrirá toda a sua superfície ^ algumas iioras ao depois de repousada 5 este cobre he o que st no- C 250 ) rióta nos saccos , quando a tancada for muito fermenta» da, mas que não estará sem immundicie. / Artigo XVI. Como se vasa a tancada, JL Endo-se deixado debater, a fécula se precipita no fundo do tanque , onde se ajunta , como huma espé- cie de lodo 5 e â agua separada de seus saes , de que estava impregnada , sobrenada, e se faz clara. Eastáo duas, ou três horas para repousar, não faltando cousa alguma. Ao depois , estando-se em aperto , se pôde sol- tar a agua 5 mas será melhor deixalia por mais tempo, para que lhe fiquem menos particulas acucsas , e que Os grãos mais leves tenhão tempo de se sentar no fun- do , como os outros. Então se abre a torneira do fundo do batedor, que tem três tornos de chaves differentes , observando começar somente peja prim.eira. Tendo decorrido a a- gua até o nivel do buraco , se tira a segunda , para deixar livre o mesmo escoamento ate á superfície do índigo, e este ao depois se faz cahir no duiblotin. Mas se acontecer , que ainda haja alguma agua, como he muito commum , se tira então o ultimo tor» no , e em lugar deste se põem logo hum torno qua- drangular , para este dar passagem á agua , que sahe pelos quadrados deste torno , ou chave , e decorre até que ( *!■ ) c^ue o índigo venha a seu turno : então se põem por baixo hum cesto : recebe este todas as immundicies , que de ordinário cahem em o baicdoiro , e passando hum rodo ao redor ào dlablotin , se acaba de ajuntar o que pode ter. de çiijo ; poem-se ao depois o índigo cm saccos , onde se acaba de purgar do resto da agua , que tinha ficado eutte as suas partículas. De ordinário se deixa o índigo até o outro dia nos saccos , para que inteiramente se enxugue de toda a agua , e adquira a consistência de massa. Feito isto se devide a ametade dos saccos , que se penduiao em dois montes differentes, o que se mete em huma pren- sa , e se espreme o resto da agua , que podem ter : ao depois se estende em taboleiros do compriraent® de três pés , e pé e meio de largos , altos duas pojlega- das 5 poem-se em os tablados , o mais que se pôde, ao Sol , para acabar de seccar vivamente. Assim que o Sol o tiver seccado , se raxa , como o lodo , secca ; entáo , para se unirem todas as suas partes, se lhe passa huma trolha, que se carrega com força , e depois de o ter muito unido , se corta em pequenos quadrados , que podem ter duas pollegadas para todos os lados: continua se apor ao Sol , até quí esquadrados se despeguem sem difíiculdade dos tabolei- ros : ao depois se põem á som/ora para os fazer seccar perfeitamente. Isto feito se embarricão, onde resiíão, € de si mesmos adquirem por isto hum novo lustre. Faz admirar ver o índigo , que, secco , e duro €omo pedras , antes de estar embarricado ; oito dias ao TV» C 252 ) depois , faz agua em gottas grossas, espalha hum ca- lor , como hum braseiro ; e existe tanto tempo neste estado; e finalmente, sem se tornar a pôr ao ar, vol» ta , como antes , a seccar , em menos de cinco , ou seis dias. Nestes termos fica vendavel ; e he do interesse do Fazendeiro o não demorar a sua venda , se não quer soffrer a diminuição , a que fica sujeito nos primeiros mezes , a qual se pode julgar a dez por cento do seu peso , ou de perda. Como a maior parte dos Fabricantes se vem obri- gados a enviar a correspondentes , estabelecidos nas Ci« dades das Colónias , os seus Indigos em saccos , e que estas remessas se fazem por embarcações costeiras , cum- pre , para evitar todas as fraudes , e para que seu h> digo não seja trocado com outro inferior , pôr hum sjgnal particular , peio qual o correspondente o eenheça. Artigo XVII. Da amassadara , e seu ahusa. N Este erro cahem a maior parte dos Fabricantes. Pivcrtém se^ em amassar o seu índigo nos taboleiros para lhe darem huma maior liação , ou consistência m,ais perfeita que a que lhe he natural, mas enganão-se mui- to ; porque esta liaçao só depende do gráo de fermen- tação, e da batedura , e desta uhima principalmente. Isto he fácil conhecer se na tancada , çm que faltarem hum a, ç outra, O índigo se esrnigalha ao mejior chq- C 233) pue , e seus ?raos , não se tendo unido sufficlcntemen- te, para fazerem hum corpo solido, devem naturalmente ter algum defeito. He sandice julgar , que se lhe pode dar huma qualidade, que lhe falta, por hum meio tão pueril, como he o da amassadura ; antes, pelo con. trario , longe de ser isto huma perfeição , pela maior parte hc huma grande perda. Exponho as consequen- cias. I. O Sol come a côr do índigo , que está como ardoezada por cima da grossura de doze soldos : este índigo, queimado pelo Sol, se mistura com o outro, quando o amassão , e lhe pôde causar veias ardoezadas , que lhe diminuem o preço. II. Não se pode amassar , ante»-de ser posto , ao menos por três , ou quatro dias , ao Sol , o que o faz tão moUe , como no primeiro dia , em que se pez. Os que não amassão , cortão o Índigo no outro dia, quan- do o põem nos taboleiros : isto faz huma differença de. seis dias , contando-se @ tempo preciso para adquirir a primeira dureza. Este retardamento muitaa vezes he a causa , pela qual se lhe põem os bixos : accidente sem remédio, que se não pôde defender com todas as pre- cauções necessárias ; o que acontece commummente em tempos chuvosos , no qual estes insectos comem paite do índigo. Outra parte , que só se poderia seccar com hum indizível trabalho, he hum índigo inferior, cujo preço anda diminuido pela ametade. A isto se expõem por hum simples retardamento que se teria evitado , se (Eiiidassem em o ssccar com prompíidão. IIL J C 234 ) III. o índigo , que foi posto ao Sol por três , ou quatro dias, contrahe Inim cheiro muito forte, de que as moscas são mui cobiçosas. Esta corrupção fere Vivamente os seus órgãos , que não deivao de pousar em cima, e óq o comerem com gula. Ao mesmo tem- po llie depõem os seus ovos , dos quaes nascem bixos , formados em quarenta e oito horas , que st introduzem nas fendas do índigo , onde trabalhão abrigados do Sol com tanto vigor , que o fazem ferver , deixando.jhe bum humor glutinoso, que lhe embaraça o seccar , douda lhes vem a causar huma perda bem sensível , ereal ao Fabricante, que pára a poder reir.edear , se vê na pre- cisão de fazer hum fogo contínuo na casa de seccar, em tempo de chuvas, para que a fumaça haja de em- baraçar a que não cheguem as moscas aos taboleiros. Este expediente he o mais efficaz que se pôde empre- gar a este fim. Todos os Indigos não são da mesma qualidade. Bistinguem-se pela côr , pela fineza da ma^sa , e por sua Jevez3 o seu valor. O mais estimado se appelida : Mui flttctuante; o segundo, Pescoço de Por.úa ; o terceiro, fôr de Cobre , ou Erll ; o quarto, que n5.o he estima- <ío, não tem nome particular: a sua côr he má, e se esmigalha com facilidade. Por tanto se vc , que os preços do comprador s?iO differentes em razão de sua qualidade. Esta depende algumas vezes da planta, ou das aguas , que se em- pregão na fermentação, e muitas vezes do Mestre In- cigoeiro , que não tem ns experiências precisas , para co- nhecer o ponto de perfeição das suas tancadas. ( 235 ) Artigo XVIII. Ohservaçèes necessárias á factura do bom Indig». A* disse que hum dos meios de sahir bem na factu* ra do Anil , consistia em visitar a herva , para saber , se ella tem, ou não, corpo, isto he , se as folhas são moles , ou fortes , ou melhor , finas , ou carnudas. Co- nhece-se que o índigo, vindo nas seccas , requer mais fermentação , que o que vem nas aguas. Não se admi^ rara , se o primeiro for tardio , e sobre tudo a pri- meira tancada , em quanto a Indigoaria estiver fria. Não acontece o mesmo na segunda ; a terceira dissipa cerro; a prim.eira que, por esta razão mostra hum grão mal formado, não poderia chegar a hum gráo de per- feição , que o índigo requer , e o Fabricante , por se não desordenar , prefere diminuir algumas horas de tempo a fermentação , antes do que dar lhe somente huma demais, mui ceito que corregirá a segunda com tanta maior facilidade ^ quanta o seu grão , e a sua. agua se mostrão mais claramente. A' grande frescura da argamassa he que se poue attribuir em parte o retardamento da fermentação ; por- que huma primeira tancada não fermentará algumas vezes senão de trinta , até trinta e seis horas , quando a segunda não gastará mais de vinte e quatro , a vin- te e seis horas. Não he difficil conhecer-se a causa da mu- C 2J0 ihudança súbita da segunda tancada. O vaso, ou tan- que, tendo embebido o sueco da primeira , faz pegar pelas paredes huma espécie de tártaro, ou sarro, que provoca a fermentação, e a terceira tancada ainda he muito mais cheia. Donde vem , que esta terceira nada tem que a embarace , e que se trabalhe com melhor successo que as duas primeiras. O Indigoeiro deve attender a isto ; porque he o ^ue o adverte a não ser negligente cm visitar cedo, para que veja a tancada , antes que clia exceda ; se es- perar que ella passe, o grão, estando então semelhan- te ao que não tem chegado ao seu gráo de perfeição , isto he, estando alargado, ficará iliudido ; e, esperan- de achar huma mudança favorável na segunda visita, hcará pasmado de achar o mesmo grão : nesta perple- xidade arrisca-se a deixalla fermentar algumas horas mais , e então infallivelmente se perde. Em taes cir- cumstancias, o que mais o engana , he o não poder fazer huma justa avaliação , ou estima do seu excesso a que o obriga , a que na visita seguinte duplique os seus cuidados , que a maior parte das vezes redobrão o seu desasocego. Convém logo, para se não em.baraçar, não deixar ja' mais exceder huma tancada primeira ; porque he pe- rigoso ateimar nos princípios , sendo certo que só acha- rá hum grão mal formado : precisa conter se na pri«. meira que nos parece capaz de sofher o balde ; a ba- tedura nos instruirá da sua falta, ou defeito, que cor- rcguiremos com tanta maior facilidade , quanta o sen ( 2J7 ) írSo e a sua a^ua se desenvolvem mais naturalmen- te. Sobre tudo deveis cuidar muito em que a vossa taça seja muito limpa, quando fordes sondar, ou exa- minar a lançada, para lhe distinguir bem o grão, e a qualidade da agua ', huma taça mal limpa mostra huma agua embrulhada , que , fazendo confundir o Índigo muito fermentado com o que o não está assas, muitas vezes vos fará errar ; e ainda que se venha a perceber na batedura , que o pode remediar , não se poderá fa- zer sem perda : vede com tudo huma leve negligencia a que nos obriga. Como o Índigo seja sobejamente delicado , requer hum cuidado mui grande para o dirigir. Huma pessoa f.eumatica he própria a esta fabrica , que cxclue toda a obstinação , visto que quanto mais ateimar , tanto mie- nos conseguirá o que pertende. Tenho visto fabrican- tes perderem muito por esta única causa. Cansados de tantas avarias , e obstáculos , se virão na precisão de recorrerem a outros , que forão bem succedidos , e en-, tretanto os primeiros possuião conhecimentos. O succcsso de huma segunda tancada deve ser a base de toda a conducta do Fabricante , durante o cor- te : com tudo deve esperar que as duas tancadas se- guintes não lhe leváião tanto tempo de fermentação : dahi por diante tudo será huma rotina , se o teiiipo for constantemente bom , mas k mudar, o índigo fa- rá o mesmo. Não se haja de adm.irar , se houverem três diâs de chuvas, que haja hum retardamento de dez , a do- m C 2J8 ) -doíc horas. Neste caso o Fabricante deve estar de avi- so , que precisa de toda. a sua prática ; mas , se pelo contrario , o bom tempo continuar , só se apartará, quando muito huma , ou duas horas , e se pôde estar descansado que tudo hira bem. Artigo XIX. Advertência sobre os trabalhos diários. O Arranjamento mais conveniente he principiar pela plantação, e seguir por gráos os outros traballios. He de consequência observar , quando se planta o índi- go , semear se somente ametade do terreno preparado : deixar-se-ha o intervallo de hum mez , cu mais, para o resto. Esta precaução he tão precisa que muitas ve- zes as chuvas obrigão a demorar hum primeiro corte, o que pode p"ejudicãr a primeira herva , se se plantas- se tudo á pancada, sem lhe espacejar o tempo conve- niente ao que se emprega em a cortar. Também esta alternativa he proveitosa em ordem a se limpar , ou carpir , que se não deve demorar. Nunca falta que fazer em huma fa2enda , ou fa- brica ; porque, ou convém plantar viveres , ou fazer hu- ma derribada , ou alimpar huma terra cheia de hervas más , que se quer preparar , ou em fazer cercas , cu «dificios. Deve-se fazer tudo isto, em quanto a hcrva cresce ; porque, chegando o tempo do corte, apenas ha tempo , que baste, para a alimpar exactamente, de sor- ( 239 ) sorte que embarace o crescimento das rr.ás Iiervas ;, o .que se deve evitar com toco o cuidado possivel. Chegado o tempo do corte , se fazem os prepara- tivos seguintes : primeiro, huma visita geral ás Indi- goarias , e a tudo quanto delia depende , para se certi- ficar da ordem 5 em que se achão , asaber , se ha algum perigo de vasarem os tanques, ou por si mesmos j ou peias torneiras. Se as chaves , ou curvas estão em bom estado. Se o grande tanque não perde a sua agua i ao depois se faz huma revisão do tablado , armação do poço 5 e do seu aperelho. Nada se haja de despresar para a sua solidez , para que assim se evitem as infeli- cidades , que huma mui grande segurança causa ; se fal- tar huma só travessa, os pretos, que a montão , estão no risco de perderem a vida , cuidadosos em dar ordens necessárias 5 que hajão de acautellar todas as desgraças , que tem a sua origem na neglige.ncia : visitai também as barras da Indigoaria , para que esta não haja de pa- rar no meio da sua safra ; o que muitas vezes causa huma desordem ao índigo ^ que no intervallo de al- guns dias pode mudar de fermentação , ou porque o tanque se resfriara ; ou pelas chuvas , que podem cahir de repente. Isto deves prevenir. A prudência exige , quando muito , que , durante o mez que precede o corte , se hajão de tomar todas as precauções convenientes , para se evitar todo o aconte- cimento infeliz , que pode haver. Bem estabelecida esta ordem , o Fabricante somen- te se occupa era cortar, embarcar, mondar _, até aca- bar ( 240 ) bar o c6rte : ao depois disto se applica aos trabalhos, que mais o apertão , tendo toda a certeza que não tar* dará em fazer hum segundo corte , que precisará de iTiaior vigilância que o primeiro. A lagarta , que se prepara a colher , o advertirá que este tempo ha o mais precioso que qualquer outro , e tanto mais , quanto o índigo fermenta mais que o ordinário. Todos os ins- tantes são tão cheios de occupações , que apenas se po- dem distinguir os dias de repouso. Nisto consiste o estado do Fabricante de Anil, Elle requer , como se acabou de ver , muitos conheci- mentos, actividade, e sobretudo, prudência. WE. C 141 ) MEMORIA SOBRE O índigo. Qcvnàlca book ÍIL Cap. VIU. pa.g. 675.) Ey Le Lúng. JiJ A6-st tres especieà desta plaíita i primeira , Om'> mitm : segunda , Guatimala : terceira ^ Silvestre. A prí- ffneira produz mais tinta quô as oiítras duas ^ mas he mais sujeita a desgraças na sua cultura* A segunda he iFielhor í}ue a primeira > com tudo prefere-se o índigo Silvestre a ambas : suas folhas slo menores , o talo' mais lenhoso, e algumas vezes chega a altura de oito ^ eu dez pés. Encontra se abundosamente pelas Várzeas dos rios da parte do Sul da Jamaica, particularmente ^ junto ao rio Minho em Clarendon , onde antigamente parece que foi cultivada ; pois se encontrão ruinas de tanques. He muito mais rija que as duas espécies ^ e a tinta , que produz ^ he de huma bella côr eril , ou d© cobre 5 e grão fechado* Como profunda muito a sua raiz, requer hum terreno fundo , e medra melhor no que he solto , e fértil , em situação quente , que seja frequente- mente regada pelas chuvas. Póde-se plantar em qual- quer estação do anno. Deve-se primeiramente cavar a terra em pequenas tiras estreitas , ds duas pollegadas y.II. P.ÍJ, Q ^® f L5 Cá40 de profundeza , e desoito para todos os lados. Semedo- se nestes canteiros não muito espessas , e não se co- brem muito. Hum hushd (alqueire) se juiga bastar pa- ra seis , até oito acres. Correndo o tempo bem , isto he, quente, e sereno , as plantas appareceráÔ por cima da terra dentro em poucos dias , e com chuvas moderadas crescem apressadamente , de sorte qúe se fazem próprias a serem cortadas seis , ou sete semanas ao depois. A terra deve ser cavada , e l.mpa , logo cjue as plantas entrâo a apparecer, para fazer huma terra sojta, e fa- cilitar o seu crescimento. Em algumas paragens somen- te ao depois de dois , ou três mezes chegão á sua per- feição , e geralmente então se observao corresponder melhor, quando se cortão , estando em flor ; porque en- tão as folhas estão grossas, e cheias de sueco. Os Fran- cezes distinguem , quando estão de vez , pelo rangido das folhas , passando-as pelas mãos. Os tanques para á manufacturação geralmente sÍo três , postos em hu- ma altura regular, semelhantes a de^ráos, hum supe- rior ao outro. O mais alto, e o mais largo, se chama infmd'ãolr0^ cujas dimensões são quasi dezaseis pés qua- drados , c dois e meio de profundeza. Abre-se por hu- ma, ou duas torneiras, feitas de hum canudo de ma- deira rija (arranjadas pelo nivel do fundo do tanque), que corre no segundo tanque , o qual he de maior pro- fundeza ; este segundo se abre da mesma maneira no terceiro , que he muito mais pequeno ; destes o pri- meiro se chama batedoiro ; alguns fazem a estes ambos do mesmo tamanho . os quaes , segundo as proporções aci- C 24J ) ácimâ dadas, devem ter doze pés de comprido ^ dez de largo , e quatro e meio de fundo. Construemse de ai- veneria, e se lebocão de huma rija argamassa, ou de taboas grosseiras (mas nâo dê cedro) de duas pollega- áas e meia de grosso bem apertadas , ou unidas , enca- vilhadas , ou pregadas , e embitumadas, a acautelar que não vasem. Ôs tanques com esta grandeza , ou 'dimensão são proporcionados à desfazer sete acres de plantas. Estando tudo prdmpto , se cortão as plantas , é reguhrmente se deitâo no infundidoiro , com os pés para cima (que aligeirão a fermentação) até estar cheio pela terceira parte. Poem>se por todo o comprimento do tanque certa quantidade de taboas , em distancia humas das outras de dezoito pollegadas quasi, estes se carregão fortemente para ísaixo , por meio de vigotas próprias a opprimillas , para prevenir que as plantas não abóiem , ou sobrenadem , quando se llie deita a agua- A agua entancada satisfaz melhor esta indicação. A erva deve ser coberta com huma superfície de agua de quatro, oíi cinco pollegadas. Neste estado se deixa fermentar. Em vinte e quatro horas fica tão quente, que se lhe não pode meter a mão. Se o processo for bem feito ^ pondo-se em huma panella sobre o fogo, fará ver huma agua tinta de hum azul mui negro. Precisa- se bumá grande miudeza , assim êm não consen- tir que ás pontas tenras caiâo em putrefacção , qUe po- de prejudicar o todo , como èm retirar a agua em hum Hiomento critico 3 porque se a retirar duas horas mais C 244 ) cedo, petdera grande parte da fécula ; e se a fermen* tacão se deixar fermentar mujto mais tempo , também ■perderá o trabalho. Para se evitarem estes desastres repetidas vezes s« tira hum manejo da lierva , e quando se vem as pon- tas fazer-se mais molles , e pálidas , e as folhas mais fortes mudarem de eór para hum pardo menos vivo, isto he signal de estar prompto , e que o liquor preci- sa ser promptamente vasado no segundo tanque, onde deve ser totalmente batido , e incorporado Qi'). Tem- se inventado muitas maquinas para se executar esta o- peração. Em Jamaica consentião antigamente estar o liquor vinte e quatro horas neste segundo tanque , e então o batião com páz , ou remos de páo por três , ou quatro horas , e ainda com peJaços de páo , pene- trados de muitos buracos , e postos com segurança cm as pontas de varas compridas. Os Francezes usao de certa espécie de baldes , sem fundo , pregados em va- (i) Alguns usão do seguinte artificio , com bom successo, nesta occasiSo. Hum pequeno quadrado del- gado pintado de branco , c graduado com linhas preta:s de seis, ou oito, ate huma pollegada , numericamente jnarcada até o fundo : fixão se convenientemente em huma perpendicular posição mais perpendicular. Obser- va-se cuidadosamente de tempos a tempos a conhecer com exacção a maior altura da escuma, e immediata- jnente , quando principia a sentar se , se lh« tira o ba- toque , e se vasa o liquor no outro tanque. No Egypto se pratica o mesmo mcthodo para conhecer a subidí, ou descida do Nilo por huma columna gradual chanw- da Mokias j donde talvei se tomou esía. C M5 ) varas , que prezes a certos eixos , os levantão , e deixão cahir alternativamente com verdascas. Mas novamen- te se tem constriiido maquinas muito mais convenien- tes com rocias dentadas , que movem as lavancas , ou batedores , com grande regularidade , e poupavão o trabalho de muitos negros. Sendo tudo posto em mo- vimento com hum único cavallo , ou mula , e hum destes trabalhavão mais em hora e meia que seis negros podião executar em seis , e assim satisfazião muito bem as despezas de sua erecção , e amiudadas vezes reduzião a tinta imperfeita a formar o grão , que de outra ma- neira diíficultosamenteUe poderia conseguir. Quando o liquor por este, ou^outro methodo , tem sido bem ba- tido pelo espaço de quinze, ou vinte minutos, se to- ma huma pequena porção em hum prato , e se mos- trará coalhado , ou também cheio de hum pequeno grão. Huma porção de agua de cal clara , que deve sempre estar prompta para esta occasião , se lhe vai lançando gradualmente , ou pouco a pouco , para au- gmentar , e precipitar a fécula , continuando se a bater a agua do Indico, examinando se sempre a cór, e ap- parencia da fécula com todo o cuidado , repetidas ve- zes , á proporção que o trabalho se vai avançando , porqu-e este , gráo por degráo , vai se mudando de huma côr esverdeada para huma fina côr azul , que he a côr própria que o liquor toma , sendo trabalhada suííicien- temente. Assim hum movimento pequeno deixaria o gião separado , e verde , como também sendo batido íq mais , o for ia voltar ^ quasi negio. Peloi. exames rs- ( 245 ) repetidos , em quanto dura o processo , cm hum a ta?a , ou colher de prata , o Mestre pôde instruir-se. Loc^o poderá ter o seu índigo de huma côr profunda , ou de huma mais desbotada, como for sua vontade. Não se deve lançar mais agua decai, se oliquor, nadando a fécula , ficar claro. Precisa que a agua de cai seja perfeitamente limpa , pois de outra maneira o índigo se arrisca a ser muito manchado ; e também não se lhe deve deitar muito grande quantidade , que sujeite p Ilidigo a ficar muito rijo , e de huma còr pardilha. T^ndo o liquor adquirido huma côr purpúrea forte , e se vê já o grão escasso, se precisa deixar descansar por oito , ou dez horas. Entáo se lhe faz escorrer a agua limpa do tanque de bater a través das torneiras, pos- tas para este fim poucas pollegadas acima do fundo, ficando o sedimento, o qual com todo o cuidado, s« deve passar por peneiras de sedas de cavallo, para lhe dar huma perfeita limpeza , e entáo se posni em sac- cos de panno grosseiro do comprimento de dezoito pol- legadas , e doze de vão, que se pendurão por cinco, ou seis horas á sombra, para lhe escorrer a agua. Cum- pre apertar bem as boccas dos saccos , e metellos em huma prensa , para ficarem de todo livres de algum resto de aguas , que prejudicará a qualidade do Anil , ©u tinta. A prensa he huma caixa de cmco pés d» eompri-do , dois e meio de vão , dois de profundeza, tendo buracos em huma das extremidades para deixar escorrer a agua. , Nestas caixas se amontoão os saccos, hum sobre outros , até que fique cheia. Ajusta-Ihe hiim ( 247 ) taboão seu interior por todo o comprimento , e se lh« põem pesos por cima , os quaes por huma pressão , ou peso gradual , inteiramente lhe expulsa toda a agua , e o índigo se faz em huma pura massa espessa. Então se tira o índigo dos saccos , se estende em hum tabo- leiro , se corta em quadrados de dois dedos cada hum , que se põem debaixo de coberta a hum ar corrente, sem que lhe toque o Sol, que destroe a cór da tinta. Estando no desseccadoiro , ou casa de desseccar , se faz mister voltallo três vezes , ou quatro por dia a acau- tcllar a sua podridão. Do mesmo modo se lhe devem acaútelLir as moscas. Deve-se ter muito cuidado em que esteja absolutamente secco , quando se ensaccar, ou encaixotar , porque , pondo-o húmido nas caixas pa- ra a exportação, e tapando se, elle ressuará, e se ar- ruinará inevitavelmente. O índigo , para ser hum bom rencro vendavel , deve ter huma bella côr azul de co- bre , pesado , e sonante com hum grão íino ; deve quebrar se facinnente , desfazer se em agua , íirder mui francamente , deixandoa pór algumas cinzas brancas. Os defeitos no índigo procedem ; primeiro , de huma fermentação mui dilatada, que lhe dá hurna cór cuja, de tal maneira, que parece hum barro negro 5 segundo, de huma batedura curta , e então tem hum grão gros- seiro , e huma côr verdoenga ; terceiro , da batedura comprida , que lhe deixa hum ponto de vista , ou lai- vos negros; quarto, de huma mistura de partículas de cal , não sendo bem depurada esta agua , ou quanda se lhe deita em myita quantidade, que o faz pardilho, 1' !;■ erijo; quinto, da falta de agua decai, ou quando nacr, se Jhe deita totalmente , por cujo motivo não graniza perfeitamente, como devia, nem se faz estável, depo- sitando só huma pequena parte da sua substancia. De tudo isto se mostra ser preciso hum grande gráo de esperteza , e cuidado no manejo , e perfeição desta ma. nufactura ; e daqui também se pode conjecturar cora facilidade , como o seu bom manejo vai a ser perdido . em Jamaica ao depois de se ter diffundido tanto por muitos annos , visto depender muito o seu conheci- mento de hum longo curso de experiências , e obser- Yaçôes em dirigir a hum gráo exacto de fermentação , ê de batedura, applicação da agua de cal, e finalmen- te do methodo de o curar, e seccar , para o vender. Esta mercancia preciosa he o principal ingrediente conhecido para tingir de azul bello ; e parte alguma do mundo produz melhor Anil que o interior , ou Certão da Jamaica. Ao que se deve ajuntar, que nSo faz gran- de volume no seu carreto ; visto que poucos barris , c pequenos , que huma besta pôde carregar por péssi- mos caminhos , podem conter , ou trazer huma por- ção , ou carga ' de grande valor. Juigão-se bastantes quinze negros para a cultura de vinte acres ; e vinte e cinco negros para a de cincoenta. Donde a cinco acres eabem quasi quatro negros ; o que mostra que se pode preencher este pequeno capital. Também he cert(^, que por vezes devem fazer outros trabalhos occurrentes no anno. Hum acre de terra boa, bem plantado, produ? d«« ( 249 ) duientos arráteis (i) ^^'^ ^^^^ "^'^^®^ ' .porque esta plan- ta dá soccas , e resoccas , produzindo quatro , ou cin- co cortes , ou colheitas por anno ; ao depois porem precisa ser replantado. A carga de hum negro , se a planta for boa, dará hum arrátel de Anil bom; e sup- pondo huma besta allugada quatro vezes , a ultima se- rá igual a seis arráteis. O Fazendeiro, que possuir qua* tro escravos , e duas bestas , e tiver cinco acres em cultura desta planta, se pôde consequentemente avaliar , por hum juizo prudente , que faz mil arráteis cada an* no, que importarão vendidos a 6 xelins (i^oSc) es- terlinos, a 3CO libras (i:o8o^cod). Em o anno de 1620 o negocio do índigo corria da maneira seguinte : Vicrão á Europa trezentos e cin- coenta mil arráteis , os quaes a 4 xelins, 6 dinheiros por arrátel em Alepo custarão 7 5<á)^5 3 íibras , 6 xe- lins , 8 dinheiros ; em i xelin , 6 dinheiros nas índias Orientaes, custarão 20^416 libras , 12 xelins, 4 di- nheiros. Antigamente Inglaterra, e Irlanda consummião oitenta mil arráteis , e mais por anno , e se calculava pa- (1) Julgou-se trinta 5 até quarenta arráteis por huma soffrivel producção em Carolina do Sul. Mas observou- se que estas terras são pobres em comparação com a dos mattos virgens de Jamaica , que requerem ser can- sadas por esta planta, ou por alguma outra, de huma índole consumidora , antes de se lhe plantar a Canna do Assucar. E em terras semelhantes não he encareci- mento dizer que dão duzentos arráteis; e cincoenta por acre , como hum médium ^ em razão de terrenos indif- ferentes. VM C 2J0 ) pagar a França 200^000 iibras annualmente , pelo qu« de Já exportava. Jamaica unicamente fornecia huma grande provisão, mas a taxa de 3 xelins, 6 dinheiros por arrátel, sendo sido indiscretamente imposta pelo Par- lamento , se virão obrigados os Fabricantes de Aml a dcixallo , e a procurarem outros géneros. Em conse- quência os Cultivadores do Sul de Carolina emprendé- ão este artigo; os Francezes , e principalmente os da Ilha de São Domingos , não só provião a Gram Bretã- nha, mas também a maior parte da Europa. Em 1747 a Carolina exportou duzentos mil arrá- teis a Inglaterra , que vcndeo muito bem , ainda que inferior ao Francez , nias ao depois disso o melhorarão de tal sorte que o iguallárão. Taes foião os effeitos que causarão os altos direitos , ou taxas , que fízerão perder á Nação tantos milhares de libras annualmente, P destruírlo o índigo de Jamaica , arruinando , por consequência a mui itos milhares de famílias industrio- sas. Hum Parlamento mais prudente, ao depois de en- irar a medrar esta manufactura em Carolina , cm lu- gar de lhe impor direitos , os prohibio , concedendo hum premio de seis pences por arrátel a tO'^o o índi- go cultivado nas Colónias da America , e exportado para a Grarn Bretanha direitamente do lugar do seu nascimento. Esta gratificação foi politica ; ainda que não deve parecer que este artigo se haja de cultivar em nossas Colónias em maior quantidade que a precisa para prover as nossas encomendas, ou necessidades do- mesticas, coín tudo, ate agora se consente a importa- ção ( 25^ ) çSo do índigo Francez. Donde parece que a falta d© se empregar maior porqão de terras neste artigo nasce das terras , que se occupão com a Canna do Assucar , e que se não tem assas providenciado a que se deve empregar em Anil. Em 1672 a Jatraica tinha sessepta Fabricas de índigo , principalmente em Vere , que rendia cincoent^ mil arráteis annualmente. Anão se experimentar alguns contratempo fatal , devemos conjecturar pelo seu esta- do florente neste periodo actual do seu principio , que , passados vinte , ou trinta annos , se for em augmen- to , excederá cinco , Qu seis vezes em proporção ás encomendas do Reino , que se fazem presentemente, pelas quaes a Nação poupará alguns milhões de moe- da. Agora se dão aqui vinte differentes Estabelecimen- tos , ou Fabricas , das quaes a maior parte se fundarão em a Parochia de S. Thomé ao Nascente. O producto médio de hum corte em Jamaica se avalia em cincoen- ta arjateis por acre. A' pouco que os annos passados a cultivarão era terras baixas , ou várzeas , tiverão mais de dois cortes, o primeiro em Julho , o segundo em Agosto por falta de estações. No interior em tempo de aguas, e terrenos férteis, podem ter, como he pro- vável , quatro , ou cinco cortes cada anno , do mesmo modo que em S. Domingos , onde os Francezes o cul* tivão em terras novas de mattos , para os cansar , e preparar para o Assucar, repetindo o corte, cada seis semanas , cinco vezes , ou mais a miúdo na roda ào anRO, Esta espécie de terreno parece ser melhor pro- por^ ( 252 ) porcionado , coino se não pôde duvidar por produzir hum índigo de melhor qwalidade, e merecedor de mais Xelins por arrátel que o fabricado em hum terreno es- téril , ou em paragens , que não tem chuvas estacioná- veis. Donde vem , que não se tem bom successo nas terras de pastos de Jamaica , cwjo terreno he assas fér- til, mas não he suficientemente regado, ou aguado. AIF. JE^t.k INDIGOfílR^V de^ndírouí^ ( 253.) MEMORIA SOBRE O ÍNDIGO. QUevetia Dlciianaire áe Hhtoire NatureUe.') O índigo , ou Indo , he huma substancia de côr azul que seive aos Tintureiros, e Pintores, qne provem de huma planta chamada Indico pelos Francezes , Anil pelos Hespanhoes , e Indigocira pelos Botânicos. índigo bastardo he a Amorpha Fruticosa da Ame- rica. índigo de Bengala he a Crotalaria de Bengala. índigo de Guadalupe he a Crotalaria branca, índigo Silvestre he certa planta da America, que se faz hum arbusto cuja raiz pisada , e applicada aos dentes pacifica as dores. Indigoeira L. (Diadelphla decandrla^ certo género de plantas da familia das leguminosas , que se appro- xima muito a GaU^a , que tem por caracter o cííIís eom cinco divisões , huma corolla abarboletada com dois appendices lateraes na base da quilha ; dez esta- mes unidos em dois molhos com as antheras arredon- dadas ; hum ovário cylindrico com hum estilo curto ^ e estigma obtuso j e por fructo huma síligua delgada C ^J4 ) de ordinário arqueada , não articulada que contém mui- tas sementes. Estes caracteres se acha© figurados nas IllustraçSes de La March Est. 276. Observa este Botânico que as Indigoeiras , em geral , sendo mui pouco distinctas das Galegas, talvez seria conveniente ajuntar estes dois ge- neros , por seu caracter distincto dos Indigoeiros. Diz elle, Linne indica principalmente o calis aberto ora mais de três quartos , das espécies deste género não faltão neste caso. Pela maior parte tem hum calis aná- logo ao da Psoralea j que na verdade não he glandulo- so , mas sim cheio de pelos pequenos , deitados , e esbranquiçados. As espécies comprehendidas neste género , que ex- cedem a trinta, são hervas , e arbustos estrangeiros, de folhas alternativas, commummente empenadas comhu- ma impar , e algumas vezes de três , a três , e raríssi- ma simples ; suas flores pequenas arranjadas em espi- gas, sobre pedúnculos axiilares. Suas vagens, ou sili- quas são quasi sempre chateadas, como a das Galegas. Chamã©-se Indigoeiras ; porque muitas espécies des- te género dão a tinta, chamada índigo. Destas unica- mente nos lembraremos nesta Memoria. 5.1. ( Mi ) §. I. Espécies botânicas do Indígoeiro , de que se tira a Jeciila colar ante. A mais interessante de todas , e geralmente mais cultivada nas Antilhas, e em outras partes da America he o Indigoeiro franco QLidl^,qf era Anil'), Esta espécie naturalmente nasce na índia Oriental. He hum pequeno arbusto, erguido, delgado, provido de miúdos ramos, que, a!argando-se , formão huma copa. Levantão-se a dois, ou três pés de altura, e, algumas -Vezes, mais^ se encontrão hum bom terreno. A sua raiz principal se crava pela terra , e as pequenas , que se lhe pegão , se alargão também a doze , ou quinze pollegadas pela terra dentro ; são brancas , rijas , e tortuosas. Esta planta , que enrija, oU se faz lenhosa com o tempo, appresenta hum tallo ^ cu hasta cylindrica, que se devide algumas vezes desde o pé em pequenas hastes revestidas de huma casca de cor pardilha, entre- misturada de verde , e cheia na sua parte superior ds pellos summamente pequenos , e acamados. Seus ra- mos são providos de foli^as alternas , com pés , e em- pennadas com huma impar , e de ordinário compostas de nove folhinhas quasi iguaes entre si ^ menos a çut remata , que algumas vezes he maior. As bolhas são iguaes , macias ao tacto , e mui parecidas com as ds Luzerna ; porém em quanto a côr , figura , grandeza ^ € disposição das folhinhas sobre o peciolo commum, nenhuma planta se approxima com Hiaior exacção »& Indi^^eiro franCQ como a Galega ^ A folhagem deste Indigoeiro franco exhala íiura cheiro brando assas penetrante , mas pouco suave , ^ue tem alguma semelhança com o da fécula secca , a bem fabricada. O sabor da sua folha se chega também ao da fécula , e he misturado com algum amargo pi* cante > espalhado por todo o resto da planta. As pequenas , com'cas , e siniples espigas são sem-» pre menores que as folhas , de que se acompanhão , e a- dornadas de pequenas flores de hum vermelho arroxado inui claro ; de hum fraco cheiro mas agradável : nas- cem pelas axillas. Os cálices são curtos , e cheios de hum pello pequeno. As vagens tem quasi huma pollc- gada de comprimento: são grosseiras, quebradiças, ar- queadas , ou curvas y como huma foucinha , ligeiramen- te chateadas , e bordadas por hum sobre saliente de suas suturas lateraes : contém cinco , ou seis sementes lus- trosas, rijas j de hum amarello pardilho, que puxa ai» gum tanto a verde, e algumas vezes a branco , não estando bem maduras. Assemelhão-se estes grãos a pe- quenos cylindros de huma linha de comprido, e obtu- samente guadrangulares. Esta espécie offerece algumas variedades. I, Indigoeiro das índias ^ Indigofera tintoria). Es- ta planta, que se assemelha muito com a que precede nasce espontaneamente na Ilha de França , Madagáscar , c Malabar , pelos lugares incultos , pedregosos , e areis- cos. Delia se servem no paiz , para fazerem a tinta* Tem a altura de três pés, differe do Indigoeiro fran- ÇQ por seus fructos mais cilíndricos , não curvos cm fou- !i C Í57 ) foiíce , e as suturas menos sobresahidas. Suas ro!hn e abòia s bre a agíia; O do ter- ceiro anno he menos estim.ado ; a sua massa iiiars gros- seira , c de má côr , que se chama CateUU Á planfa , qiie dá estes três Indigos , aó depois de cortada , se poam erii hum tanque , Carrega Se de pedras , cobre-se de agUa ,' e sé põem de molho por alguns dias. Logo que a agua appafece sufficientemen- te impregnada do extracto colorante, se faz correr em outro tanque , dé cujo fundo se sUbstrahe pouco a poUc9 5 é ã fécula, que fica j se estende scbie pannos» R 3 e ( 26o ) e se põem ao Soi Tendo e<;ta substancia tomado al- guma firmeza, se formão bolas, ou taboleiros, que se secção ao Sol. O Doutor Attilio Zucagni cultivou o Indigoeiro em Toscana com algum proveito , e conseguio de seis anateis de herva fresca seis onças de fécula de quatro differentes gráos de cores , e bondade. As suas expe- riências começadas em lySo forão repetidas por outros Cultivadores deste paiz com igual successo. Vede o Seu resultado na obra intitulada Corso ds A<^i'icuhurA Pratica y etc. , isto he , Curso de Agricultura Pratica^ em casa de Pagani em Florença , tom. III. Rosier no seu Curso d A^^rlcuhtire , na palavra Anil , nos diz que também fora cultivada esta planta perto de Lyão. Semeando-a (diz elle) sobre camada, c cedo , nasce facilmente , ílorece , e dá grão antes do inverno; e este grão ^ sendo a estação quente, adquire huma boa madureza. Se esta planta foi cultivada em Lyão (diz elle) cm pancllas , porque razão se não de- ve procurar a sua cultura em grande na Provença bai- xa , Languedoc baixo , e sobre tudo em Córsega , on- de a posição Geográfica dos Lugares offerece tão ca- ceJIentcs abrigos? §. IV. Indico da Afrieéf. Nas praias de Guiné nascem difterentes espécies rieíndigoeiras. espontaneamente. Esta planta, conforme Waditrom , hc cm tanta abundância nestas paragens, que C 2«> ) ^iie arruina o arroz , o mijho , cultivados peíos cami pos. Alguns Tintureiros, que experimentarão o índigo da Africa , certiíicão ser melhor que o de Cjirolina , e índias Occidentaes , o que talvez poderá ser; mas oue exceda em bondade ao de nossas Colónias , se;a-me per- Knittido duvidar. O terreno, e clima da Costa da Afri- ca na verdade convém perfeitamente a esta planta , mas os negros deste paiz não o sabsm fazer, como o fazem os de nossas Ilhas. Em Daliomé , bairros situa* dos no interior de Guiné , e onde o Indigceiro he ijtimmamente commum. Os seus Naturaes o não apro- v^itão. Os negros do Senegal fazem índigo de huma planta , a que chamao Gangiia. Tirão á mão as pontas dos ramos, pizão as folhas , ate reduzillas amassa fina, e a fazem em pequenos pães , que secção á sombra. Em Madagáscar os Ilheos preparão da mesma ma- neira o seu índigo. Quando querem fa?er tinta o moem, e põem o pó em agua nas pancllas de barro, e o fazem ferver por algum tempo. Deixão-no resfriar, e lhe põem de molho a sua Seda , e Algodão , que , quando tirão , estão de hum bello azul ferrete. A' muito tempo se cultiva o Indigoeiro no Egy» pto. Desde então se encontra cm muita abundância em todas as partes do seu paiz ( Memorias Sohre o E^yptíí por M. Bruguiere , e Olivierc), de tal sorte que seu preço ordinário não excede a vinte e cinco , e a vinte c seis libras tornezas (4^000 a 4^800) por quintal. He muito inferior ao que nos vem da America , se bem he mais lustroso, m^as, a peso igual, contem me- igos C 26t ) nos principio colorante. Precisa-se attribuir esta falta i ignorância dos que o fubricáo , c ao methodo , porque O fazemi §. V. Ifídigp da Ásia. Esta bella parte do antigo mundo he o verdadeiro paiz natal do índigo. Na continuação deste artigo da- rei algumas vezes este nome á planta me-;ma. Não tem outro em nossas Coloiiias. Q de Indigoeiro denota ô Dono da fabrica , ou o Mestre que o fabrica , ou tira esta fécula colorante, que conhecemos. O índigo nasce em muitos lugares das índias. Reputa-se pelo mejlior o que nasce em os territórios 4e Bagfíiia , Indona , Çovsa , no Indostan, Dão-se outras muitas espécie? de plantas , como o 'Nelli , o Çollonil , o Tarrm de que os Persas , e Turcos, segundo Herbelot (Blblleth. Oriental^ chamão 2V/7, á planta que os Hespanhoes por corrupção chamão Anil , em lugar de Alnil que he a palavra turca com o artigo Árabe Al. O methodo de trabalhar esta planta não he uni- forme na Ásia , nem algumas vezes ainda nas fabricas çle hutr^ mesmo paiz. Entre as diversas práticas, que u<:ão , se distinguem duas, que são as mais principaes , cujos produtos se distinguem pelos nomes de Indo ^ e Indtga, Na manipulação do indo, só se fazem infun- dir na ^gua ss folhas , quando se lhe põem toda a planta, menos as raizes, para o fabrico êohidi^o. Fór^ Cí6j ) estes ! dois processos , mui vários em suas circumstan- cias , ainda se dá mais outro usa ido nas índias , cjue consiste em triturar, e hun]edecer as folhas desta plan- ta, de que se fórmi huiiiti massa , Gu espécie de pas- tel , que também tem o nome de índigo. Já se vio, que desta maneira o fazem os negros do Senegal. Os vizinhos de Sarquesse , Cidade distante oiten- ta léguas de Surrate , e vi?.inha de Aniedabat , corta- da a planta , lhe tirão toda a folha , e a infundem na agua por trinta , ou trinta e cinco hoias. Isto feito, para lhe tirarem a fécula com pouca differença enipre- gão os mesiDOs processos das nossas Ilhas , o^ quaes seguramente aprendemos dos índios. Daqui a pouco tornarei a falíar a este respeito. O Author do líervarlo de Ambohio se lembra de doi^ modos , porque o prei^arão , hum praticado pelos Chins, e outro pelos de Agra. Os Chins tomão os tallos , e folhas da herva ver- de , e algumas vezes as soccas com as raizes , e lan- ção em hum tanque, que enchem da agua sufficiente» Deíxando-os infundidos vinte e quatro horas lhe deitáo tallos , e folhas , e lanção em cada tanque -três , ou quatro medidas , a que chanião Oantan^ de cal fi coada , que mexem fortemente com páos , até íevantar- se huma escuma purpúrea. Feita esta operação , deixáo repousar o tanque hum dia todo , tirão-lhe a agua , e secção ao Sol a substancia depositada no fundo. Para lhe facilitar a operação , a dividem em bolos , ou quadrados , dos quaes , bem seccos , fazem o índigo , que se transporta. Era C 2^4 ) Ei^ Agra se segue este niethodo : pnssadas as cho- vas de Junho , e tendo o índigo cheirado á altura de Jiiiifia vara, se corta , e se põem em hum tonnel cha- mado tanque , que se et-icíic- de agua. Põem sobre esta £gua os pesos , que ella pôde soffrer : dcixa-se neste es- tado alguns dias , até ter adquirido huma côr aziíl. En.- tão se muda o iiquor para outro tanque , e s« bate á inâo. Quando a escuma indica , que conyem cessar o niovimento, se lhe deita hum quarteirão de azeite, c se cobre o tonnel ^ ou tanque ate que toda a parte azul , que neste estado se assemelha a lama , se de- posite no fundo. Faz^se correr a agua , aj^unta-sç a fe* cuia, e se estende em paniips , faz-se seccar , pondo sor bre terrenos areiscos ; mas , em quanto conserva huma certa humidade, se fazem cora as mãos bolas, que ao depois se põem em lugares queptes. Esta matéria azul , estando em estado de ser ven- dida , se chama no Indostan j!^oti^ e pelos Poitugue- zes Banida. E$te índigo só tem o segundo lugar pela sua qualidade. O que se tira , hum anno ao depois , dos garfos da planta , lhe he superjor. Chama se TjyVrri pe- jes índios , e Cabeça pelos Portuguezes. O terceiro an- no se lhe faz ainda hum corte , mas que dá hum ín- digo de \>úy.d. qualidade. Tem p npme de Sassola , e pelos Portuguezes de P^'. p cabeça he muito azul, e de huma còr belíssi- ma ; a substancia he muito branda : sobrenada , ou bo;a na agua : causa hum fumo arroxado , posto em brazas 3 e dá poucas cinzas. O N^:i , ou Barri í^ç ^ he de ( 2<55 ) btimíi côr (irante a vermeiiia , quando se examina ao Sol O Sossiila y ou Pé, he huma substancia rijíssima > de luima cgr dçsmaiada, §. VI. índigo dfl America, Cultiva-se o Indiproeiro no Continente da Ameri- ca 5 nas Ilhas que formão o Archipelago do Wexico. As partes do Continente, em que se cultiva , são Caro» jina , Luisiana , México , e Guianna. Ainda que a Caroli- na , e Luisiana , que se achão situadas entre trinta e hum , c quarenta e hum grão de Latitude Septemptrional , a temperatura destes paizes não he mais elevada que a das Provincias de França , que bordão o JVlediterraneo. Distinguem-se trcs sortes de Indigos em Carolina , O Sdvfígem , Franco , e o chamado Jalso Gaaúmala» Cada hum destes requer seu terreno particular. O pri- meiro indígena do paiz , corresponde mui bem aos fins do Cultivador, pelo que respeita i sua duração ^ faci' liditde de cultura, quantidade de producçao. O Franco ^ cjue he o de S. Domingos , profunda muito a sua rai? , requer hum teneno consistente ; ainda que de huma excellente espécie se cultiva pouco pelos Cantões Ma- rítimos , por serem areiscos , além de sua sensibilidade aos frios. O J'ahoGuatimc^h soffre m.elhor o inverno: be forte, e vigoroso, mais abundante, medra em ruins terrenos , e por este motivo se 'cultiva mais que o pre- cedente , ainda que menos bom para a tinta. O índigo produzido pelas primeiras plaptacoes , fei- m'i-M M' ( ^^6 ) feitas na America setemptrional pór muitos annos , foi de hunia qualidade mui medíocre, pelo não saberem fa- bricar os seus moradores : alargarão muito a sua fer- nentação ; e a fécula, em parte apodrecida, antes da união das suas moléculas , só dava huma pedra moí- ie, e de cór má de ardoeza. Pelo auxilio dos France- áes , estabelecidos no paiz , conseguirão fazer hum Indi- go , menos imperfeito , e mais vendavel ^ se bem , ain- à^ que elles por muito tçmpo o tenhão feito do mes- mo modo que nas nossas Ilhas, com tudo lhe he mui* to inferior , e por isso aquelle logra no Commercio hum preço muito mais alto. A differença constante na qualidade destes dois Indígos só se deve attribujr ao clima. Por sete annos cultivei o Indigoeiro em $. Domingos , e por muitas observações fiquei convencido , que he mister a esta plan- ta hum calor forte, e continuado , não para nascer, e medrar , mas para elaborar no seu seio os suecos, que dão os princípios çolorantes. Na realidade lhe he precisa alguma chuva , principalmente , nos seus primei- ros tempos ; mas, passada esta época , se for muito molhada, ou por circumstancias , sendo preciso cortaIU em tempo frio, ou chuvoso, rende muito pouco índi- go. Pelo contrario , immediatamente cortando-se em tempo quente , quinze , ou Vinte dias depois , o corte he mui rendoso. Entáo a sua fermentação he muito mais igual , a batedura mais fácil , a fécula mais abun- dante ^ o grão do índigo mais fino, e mais brilhante. Além disto , secca^se mais depressa , e por consequên- cia, m C a^7 ) : asse mel hão-se ás nossaS chuvas de Maio : durão algumas vexes três, ou quatro dias, annuncião- se por diversos signaes , com os qUaes o Cultivador não SC engana. Prepara presto o seu terreno , que quer lavrar^ o alimpa, e nivella sem demora , e semea , apenas a terra está humedecida | ou antes , ssnão for muito solta. Fazem este trabalho do modo seguinte. A mâiór parte dos negros arranjados em huma única linha com sua enxada fazem juntos covas pouco profundas cOm hum só golpe da mesmai Marchão re- cuaudo j e hindo alternativamente da esquerda á direi* tia, e desta aoutiiu A este tempO outros, postos por diante dos mesmos, semeão o grão com a mão^ sem os contar , ds oito , a doze em cada cova. Occupão-se nisto os negros velhos , e fracos de àmboã os sexos. Ha hUma terceira liilhâ de outros qiie cobrem os grãos com hum rodo ou vasãtjkas feitas de propósito. Assim sô semeão , e enterrão quasi níJ mesmo instante. Re- quer ser mais j oU rnenos cobíírto , conforme for a Índole «b terreno. Em outros dcstrictos ^ onde os Noríes são dej* r.ji. p.jT, 8 é^- C ^-4 ) conhtcidos , e onde a estação ào inverno he n.íiita secca, somente se seir.e:^ o lijdigo em Maiço, Abril, época , em qLie commuiVMTcnte prjncipião as chuvas de' trovoadas ; porque se:\ipre se espera pela chegada certa, das chuvas , para reguíar em todo anno o teu)pa da semeadura, quando se não pode regar. O Cultiva- dor, que tero esta possibilidade , pôde de alguma sorte ioverter para si a orde-n das estaçc5es , e seme«r todo canno; com tanto porem .^.le comhir.c o seu trabalho, de maneira que o primeiro C(5rte do seu liidrgo se faças em hum dos mezes mais quentes do anno. Ou que a re«;a se faca por irrig;;ção , ou infiltra- ção, deve aer conduzida com pru..'eiitia , e arte,, para que QÍRdiigQ nascente, ou adulto senão veia obrigado a receber, ou aguardar por muiio tempo hun,a humi- diíde superabundante , que , apodrecendo o seu tronco , iafailvelmcnte o fará morrer. Algumas cirçumstancias obrigáo ás vezes a plantar em secco. A contece isto , quando a porção de tetra determinada para o Indiro he mui grande, Adianta-se então, mas nunca se deve arnscar este modo de plan- tar, anão ser em tempos y qiie annuncião huma chuva próxima. Quando ella chega j tem o Cultivador a satis- fação de vêr arrebentar a sua pjanta , ou primeira se- iDcnte no mesmo memento, em que pode plantai; mais , e os intervajlos , que ao depois se estabelecem entre os cortes destes Indigos semea.dos em differentes tem- pos , fazem a colheita menos trabalhosa. Mas tambein , quando a secca engana as esperanças, o gião que im- prií- ( 275 ) príídehtemente confiou a terra, se esquenta, õ caíor cl èngrovinha, e se sujeita a pefdello absolutamente. En- tão lhe fica o recurso de O tornar a, semear novamen- te. < A distancia entre as covas , que recebem a semen- te , deve ser de seis , a sete pòllègadás. Estando madu- ra a semente j e qúe hé favoíecida pela chuva , com- mummente nasce no fim de três , ou quatro dias. Logòl que entrar a chover , se deve entrar a mondar o terre- no plantado, e como está Operação seja muito impor- tante, deve-se repetir cada quinze, ouvinte dias, ate que o índigo tenha altura bastante, para não ser afoga- do, pelas plantas ^ e para cobrir á terra , e afogar as hervas , que nascerem. Fas-se a monda , do mesmo mo.- ào que entre nós se faz a do íinho. Cada negro cur- vado em terra , é provido de huma espécie de faca curta, on foUcinha^ arranca as hervas estranhas, eoti' duzindo com euidadio ás da planta , qtre he o objecto do seu trabalho. I! . §. X, Estpçêcs contrarias , é insetíos prejudicíaeí ao índlgá. Quando ao depois de aígtrmas ehuvaá soííreverfí repentinamente híim Sol quente , o índigo embebido da agua , e sujeito a ser qtieimado pelos raios deste as* iro; os seus ramos se inclinâo^ múrchão, e mOrreriTí Se a terra , em que se tem plantado y be «luito pobre pélas colheita? antecedentes , se for. cansada por anti^ ( 276 ) gas culturas, os seus troncos, ou liaste as descíe o nas- cimento serão débeis , e esta debilidade a acompíniiará todo o tempo de sua duração. Os ventos impetuosos sacodem , aba Ião , e qua- brfiô esta planta. As grandes chuvas , as violentas bor- rascas a abatem j a desarraigão algumas vezes ,- levando após de si a terra, que calca os pés. Mas este mal he muitas vezes compensado eom huma vantagem. Estas mesmas chuvas, que cahem como torrentes, e a que no paiz dão o nome de avaUssas , arrastão , e destroem huma multidão de insectos sempre promptos a devo- rar as folhas do índigo. Pois , que eu saiba , não ha planta alguma , quer na Europa , quer na America , que seja por sua riatureza, e talvez por circumstancias lo- caes , finais exposta aos destroços destes animalejos. Três são principalmente as espécies de insectos, que lhe faiem guerra. A primeira se assemelha a hu- ma lagarta , que se ciiama blxo íjueimador. Tece hUm panno , como o das aranhas : esta teia se enche do or- valho nocturno, e aparecendo o Sol no horizonte , uni- dos os raios a estas bollasinhas , que servem de vidros usto^rios, queimão os novos garfos. O segundo Insecto , inimigo jurado do Indico , he o roíaddr, He muito commum principalmente nos tempos de seccas. Attaca' particularmente oi renoVos , roe o pé da' planta, t lhe devora Os errei 05 , a proporção' qUe estes brotão? Este insecto se occulta na terra de dia, 6 sahe de noite , e comeÇa os seus destroços , que infc- lismente tem lugar na melhor estação da colheita dô litdi^o, QUan- u c 277 ) Quando esta planta no decurso do seu crescimen- to teve a felicidade de escapar ao bixo queimador , o rolcidar muitas vezes na epoca vizinha a sua madureza, e quando pela íorça de sua vegetação se Iison?ea o proprietário dá esperança de liuma colheita abundante , c ceita , de repente , e em menos de quarenta e oito horas, he totalmente devorada por hum enxame de Ia* gartas, que a reduzem a estado de esqueleto, e fazem l^um deserto do mais bel lo campo do Indi^fh^ Apenas atg agora se ten descoberto três meios para impec>ir , ao menos em parte , o desastrado maí , que fazem estes insectos devastadores ; mas Cjida hum des- tes meios ainda be imperfeito , e preenche fracamente o objecto , que se propõem. O primeiro consiste em abrir largas valas entre hum, e outro campo, papa in«. terceptar toda a communicação entre aparte infectada, e a que não he, O segundo, que he o mais seguro, c o mais simples he o cortar logo o índigo , uu^ndo se percebe que entra a aparecer a lagarta. Mas av.... .ci- dade destes insectos he algumas vezes mais forte que cem braços juntos , e a pesar des esforços do proprie^ tario , para apressar a colheita , favorecida pela activida- de dos negros , huma parte da herva , que cobria o seu campo, fica sendo preza destes insectOs. Para prevenir com tempo estas perdas se pensou largar nos campos do índigo, ameaçado por elles ban- dos de perus , e de porcos. Os primeiros são gulosos de lagartas ; os segundos, que se conservão esfaima-» dos , çoinem soffrcgaiíieqte estes insectos , qu& fazem cahir , sacudindo as arvores com o focinho. Este ter- ceiro meio , executado pelos porcos , sempre pioduz o seu effeito , isto he , que as lagartas de certa grossura, que se achão no campo no momento , em que se lhe intro- duzem estes animaes , íicão totalmente devorados ; mas ficão os pequenos, sem contar os que nascem dos ovos todos os dias. Para a destruição destes , são melhores os perus, que os porcos. Feita esta explosão dos inse- ctos respira o Fazendeiro alguma cousa. Mas se repetir, ÇÓde conservar, e convém , a sua herva até o tempo, em que estiver prompta a çortar-se. §. XI. Còríe da herva^ 'I Ordinariamente se corta o índigo dois mezes , ou dois emeio, e alguma vez três ao depois de plantado, Tendo-se plantado somente o Indico bastcwào , he bom prevenir-se o tempo de deitar llor. O Indl^e J'ranco se corta , quando começa a ííorecer ; e quando se mistU" rão , o que acontece algumas vezes , á floreação do franco , que antecede a outra , he a que decide do cór^ te. Além do aparecimento das flores , ainda se dão ou- tros sign^ies , que concorrem à marcar o ponto conve- niente de madureza. As folhas tem então huma còr vi- va carregada; rangem, e quebrão se facilmente, quan- do se apertão alguma cousa , correndo a mão debaixo para cima. Logo que se deixe a folha murchar , e sec- çar no pé , a qualidade , e quantidivde da tinta se di- minuerifT. Se o Ifidi^o for cortado , antes de estar de ' vez , ( ^79 ) VC2 , a cór será melhor , mas a fécula será menos a- bundante. Rara vez se pode escolher o tempo mais próprio para o corte, Ouando a hèrva está madura, e se mais hum , ou muitos outros , até que a plíinta degenera , isto he ,' até ò firh do segundo anno em terrais novas , e fecundas , e ate o fím do primeiro nas medíocres, ou cansadas. No momento , em que se tirão os raminhos dá C€« pa , se deitão em pannos , que se chamão Calandras, de huma figura quadrada , qu« se pfende peias quatro pontas^ Nestes em moihos , ou feixes , levão a herva aos tanques,, ou por negros , ou por animàes em pe» quenas carretas. Cumpre , quanto se poder , apressar & transporte áo campo á Indigoaria , ou Fabrica , c nlo apertar, e machucar a herva nas balandras , porque es- ta planta fermenta com fa.cj!idade 9 e por pouco qúè a disponhão , a fermentação principiará , ainda antes de a porem nos tanques. Ora hum principio de fermântação fora do tanque far-lhe ha perder muitas das suas parti» OJlas coloratites ^ € deteriorará a sua bondade. S. XII. ( «ío) §. aIT. Fabricação tto Ivíliga, Os vcgetaes metidos por algum tempo na agua, são sujeitos geralmente a três sortes de fermentações , ique são a espirituosa , a aclch , a pútrida. O Índigo succcssivamente pôde soffrer todas as três , mas só a primeira he a que convém á sua manipulação. Sobrp ella se funda a thcoria , e prátiç^ da arte do Indigoei- ro. Divide esta fermentação ardente em dois tempos, «u gráos , a hum chama podridão linperfeita , ao outro , ^oa j ou perfeita podridão. Dá O nome de podridão exm cedida ao estado da fermentação putNiia , ou alkales* cente, e se esforça o possível para o evitar. Para que possa reunir as moléculas çolorantes dp Índigo j que a maceração desta planta na aguí^ tem se- parado de suas folhas , precisa subtirar esta agua que lestá- impregnada delia, e batelja, ou agitalla por mui- to tempo , e fortemente ; por este meio se reduzem oç principies próprios á fermentação do Indico ao estado de hum pequeno grão distinctp , e fácil de se seccar. 3em a batedura huma t^ncada dp extracto cahiria em putrefacc;|o , e as partes imperceptivas do grão , só sô (depositarião debaixo da figpra de hum Ipdo liquido, e incapaz de se enxugar. O tempo da f^rmetitaçãp , e da batediira depende de muitas circumstancas , sobre tudo do tempo frio, on quente, chuvoso, cu secco , do grão de calor, oq frescura da a^qa , de que se servem ^ do ponto da mar ( 281 ) dwrêza da herva , o que faz a prática desta arte incer- ta, e variável. ^Jas índias entia o pó de cal viva peneirada na preparação do Indjoo. Na Carolina se servem da agua de cal , para clarificar o extracto. Em alguns paizes se espalha ourina sobre huma pequena parte do extracto, para conhecer a disposição dos principios para huma aggregacão que constitue o grão. Duhamel pensa que huma solução de all^ali phlogisticado (pntssiaté de po- tpssa ferruginosa não saturada ) poderia ser empregada utilmente. Conforme Raseau toda a matéria animal, ou vegetal, que tem huma matéria viscosa, ou muci- Jaginosa , he própria a ajudar pelo menos a arte nest© objecto. Estes diversos apalpamentos , e estas opiniões differentes mostrão que o verdadeiro precipitante da matéria colorante do índigo , ainda se não acha conhe- cido. Os processos mais geralmente seguidos , para obter esta fécula, são 2 fermentação , e hatedura \ o que re- quer edifícios , tanques , instrum.entos , e preparativos, que vou fazer conhecer. §.. %U}. VtspêSíção de huma Jndl^oaria, edlficios ^ Instrumentos, Nas nossas Ilhas çhamão Indigoaria toda agran» ja, em que se cultiva olndigoeiro. Tam.bem dão este rjome aos tanques de pedra destinados ao fabrico do índigo, isto he, do íirranjaiiicnto dos tanques de que a^qui se trata. Ca. §i. Ciáâ índigòariâ se compisem de três tanques, construídos huns acima dos outros , e unidos juntamen- te pôr intermédios de paredes : dispoem-se de maneira que a água deitada no priíneiro caia pelas torneiras nô segando, dò segundo no terceiro, e do terceiro fora. O hnàis alto tem o nome de apodrecedolro , por ser este õ tanque , em que se faz macerar , ou fermentar a líéiVa ; O' segundo se chama bntcdoiro ; porque depois 4ié se lhe haver passado a agua do ttpodrecedoiro , que está saturada da matéria colorante da planta , se bate a âguá para Ihé separar o grão ; o terceiro tanque , uni- camente forma huma espécie de cerca chamado repeti- sfidmro. Por baixo da parede, que separa esta cerca do scgunílo tanque , ha huma pequena bacia cavada no plano do repotúador por baixo do fundo do batedoiro ííestííiada a receber a fécwla , que delle sahe. Chama se a este pequeno vaso bacinotn ^ ou diahloún : he redoR- .» O" oval, e provido de bum reborde, ou beiço, ^e impede a agua do fundo do repousadoiro , de lhe reíJuir ; no seu fundo se encontra huma certa cavida- de , redonda , e larga , como a copa de hum chapco , sio iquái se arrasta com hum pedaço de cuia o resto da fécula , que lhe câhe naturalmente quando se vasa o diablotin. O fundo destes três grandes vasos he chato com Huma inclinação de quasi duas, ou três pollegadas pá« ra lhe facilitar o escoo. O primeiro tem huma torneira' cora seu torno de três pollegadas de diâmetro. A tor- neira do segundo vaso , ou tjanque . he pôrpendícular ao C 2Si ) ao bacinote , e recebe três torneiras mais altas humas que outras , quatro pollegadas humas acima das outras ; as duas superiores servem para esgotar, era duas vezes , à agua, que sobrenada a fécula ao depois da batedura. ^ terceira se dest|na ao escoo da fécula mesma senta- da no fundo do batedairo , em cujo nível esta torneira deve estar , e ainda hum pouco mais abaixo. O plano do fundo do terceiro grande vaso , em lu^^ar da torneira , tem huma abertura ao pé da pare- de quasi duas pollegadas em quadrado , sempre livje, que corresponde ao canal da descarga , chamado esgoto, O dlablotln he a pequena cova , que esta no fun- do , k não tem necessidade alguma de sahida , porque se lhe tira toda a fécula pela abertura. As torneiras devem ser feitas de madeiras incor- ruptiveis esquadriadas , e postas na correnteza da pedra- ria. A sua altura , e largura são proporcionadas á quan- tidade , e á largura dos buracos , que se lhe fazem , e seu comprimento se mede pela grossura da parede. As granjas , ou fazendas , em que se fabrica o ín- digo , conforme a sua extensão , tem muitos corpos dê pedraria semelhantes, próximos, ou apartados huns dos outros , para a commodidade deste trabalho. Quando se propõem construir huma índigoaria , se deve saber antes , que se lhe pode conduzir agua dè hum rio , ribeiro , ou poço para encher os tanques. Estabelece-se sempre sobre alguma elev*^ção natural , ou artificial suffíciente a hum escoo j, qut' não seja' siij^í-- to a al^um repuxo. o pHmeiro vaso, ou tanque deve ter a forma de hum quadrado perfeito, ou algum tanto alongado. Se a sua longitude for de dez pés , se lhe deve dar nove de iargura , e três de profundidade. Seria desavantajoso fazeJlo muito grande; porque a fermentação não pode- ria fazer se nelle tão prompto , e tão igual , como em tium raso de huma medíocre grandeza, ou extensão. Na construcção do segundo vaso se deve obser- var, se seu fundo pôde ser posto a três pts , ou três © meio abaixo do fundo do primeiro, de maneira que o hatedoiro tenha hum escoo, ou esgoto de seis pol- legadas acima do plano do repousadoiro , c que o repou- sadoiro tenha hum escoo , ou esgoto conveniente ern alguma vala , ou lagoa vizinha. O batedoiro , deve sempre ser mais comprido que largo. Regula-se sua di- mensão , e vão pelo numero de pés cúbicos de agua que deve ter o tanque da fermentação quando estiver eheío .^e fcerva, e que a agua está a seis pollegadas de suas bordas. Fazem-se de sorte que o lado m.ais estreito do batedoiro se ache em face do fermentadoiro , c, pelo jr.eflQs que não esteja no caso de fazer bater muitos vasos , de repente por engenhos de agua , ou de bes- tas , o que precisa huma direcção totalmente opposta. As paredes do batedoiro commummente tem hum bei- ço , ou borda de alvenaria de pé c meio , ou dois d íiíiirn torno , ou cavilha entre os ramos do cancJieiro^ posto na altura do apoio. Esta disposição de baldes, ainda que a mais sim'^ pies de todas 5 he a mais dispendiosa, e í> mais impejf- feita pela precisão, que tem de três homens para o s.ei|; emprego ; e por ser quasi impossivel que estes homens, ponhão a igualdade era os seus niovimentos , o, qu«, por tanto he necessário a igualdade da batediira. Ao. depois pensarão unii quatro baldes em cruz , íixo:^ tm, huma vara , que hum só negro pôde f^zer mover; por meio de huma corda preza na extremidade exterior' €ja báscula. Aljrumas vezes se precisão dois negrps ; mas como trabaliião hum ao lado do outro , e como movem o mesmo instrumento , oetTeito, produzido en-. tão peios baldes, he necessariamente uniforme. Alénx disto etes baldes, sendo postes acima do meio do ba- tedoiro ^ defronte dos pontos assas distantes hum dor outro , cahindo na agua ihe imprimem hum, movimenr to muito extenso , c que se communica com maioF promptidão , e igualdade. Scrvemse também de maquinas , ou engenhos pa. ra bater p índigo, huns movidos por agua, outros por cavallos. O movimento destes engenhos se r<;fçrem a» hum eixo , ou arvore deitada sobre a travessa do ba- tedoiro, o qual se guarnece dç colheres , ou paz, que, voltando, agitão a agua. Alguns Fazendeiros, para evi- tarem a despeza das ir.aquiHas , imprimem np eixo hum movimento de rotação , por meio de duas manivelías fixas nas suas duas extremidades, ou pontos ds apoio. Com ti!' 1' Com hum só engenho se podem bater de huma vet muitos tanques. Como, a fécula recebida no diadlotln y ainda se acha cheia de agua , se tira deste vaso para a pôr a enxu- gar em saccos de hum bom panno commum , que seja ralo. Estes saccos de ordinário são do comprimento, e fargura de hum pé , a pé e meio quadrados , ou em ponta por baixo , e da largura de sete , a oito polle- gadas ao alto. Fazem*se-lhe ilhozes junto á bocca , e se lhe passão cordéis , pelos quaes se pendurão aos dois lados aos toletes de hum cabide. Quando não dão mais agua, se vasa a fécula, que ainda se acha molle , á ma- neira de lodo espesso , em taboleiros de madeira , para seccar nelles. Estes taboleiros devem ter quasi três pés de comprido , pé e meio de largo , e unicamente duas pollegadas de profundeza. Põem se sobre tablados, que tcnbão huma parte ao ar corrente , e outra debaixo de coberta , ou rancho , que se chama o desseccadolr», §, XIV. Manipulação do Indico, Asasuas influem muito em huma fabrica dolndi- go. As mais convenientes , quando não são , nem cruas , nem muito frias , são as dos rios , e torrentes claras : as aguas de poços salgadas , as dos charcos , as turvas , lodosas, ou corruptas por matérias estranhas, e por in- sectos, deteriorão a qualidade do índigo. O fabricada Com as aguas salinas conserva, ou attrahe certa humi- dade , que se desenvolve , logo que se encerra por ai- í: Caí9) gum tempo. Por este motivo, não obstante a sua bel- la apparencia , he de huma arriscada composição. Or- dinariamente pesa mais que as outras. D« fermentação : quando se traz a herva do Cam- po, e se deita no tanque de fermentar , se arranja de modo , que se lhe náo deixa vão algum , nem alguma massa. Eastão trinta, ou quarenta feixes para hum tan» que das proporções que dem.os. Cheio se lhe hnça a agua sufficiente para o encher até seis pollegadas da borda. Poem-se ao depois por cima o madeiramento que se sijjeita peias chaves. A agua deve sobremon- tar a herva três , ou quatro pollegadas , mas tenha-se cuidado de não o apettar muito, para se não oppôr ao desenvolvimento , que a fermentação deve causar. Esta não tarda em se promover. Faz se do mesmo modo que a da uva no tonel ; porém he mais rápida, e mais tumultuosa. Levanta se do fundo do apodrecedoiro com huma certa effervescencia huma grande quantidade de ar , e de grossas bolhas de liquor , que, extinguindo- se, tingem a superfície do tanque de huma cor verde. Esta côr se faz pouco a pouco summamente viva , c rapidamente se communica a toda a agua. Vê-se , es- tando no seu mais alto grão de intensão , esta superfície do vaso , huma superfície côr de cobre soberba que se apaga a seu turno , por huma nata de arroxada mui viva , fícando a massa inteira da agua sempre verde. Este he o momento , em que a fermentação está em sua maior actividade. Nesta época undulaçoes de escumas se levantão, e tornão . a cahir precipitadament» T. íí. P. 11. T n® ( 290 ) tío tanque. A effervescencia algumas vezes he tão vio- Jenta, que levanta , e quebra as travessas que subju- gão o tanque , e arrancão os mourões , ou chaves , a pezar de estarem bem fincados na terra. Esta escuma he muito espirituosa , pondo-se lhe fogo , se prende ra- pidamente , e communica a tudo a que chega. A fermentação dura mais , ou menos , segundo as circumstancias que já indiquei. Elja desenvolve todos os suecos, e partes próprias a formar o índigo. Quan- do se quer julgar de todos os principios a huma un- ção próxima , ou sonda do tanque , se faz o exame com huma taça de prata, semelhante á dos mercado- res de vinho , e nesta se deita huma pequena porção de agua, posta em fermentação; cnche-se hum terço, ou pouco menos. O exterior desta taça deve ser mui- to claro , visto que sobre este fundo he que se deve julgar do estado de tancada. Se estiver grossa , faz ap- parecer a agua embrulhada , e differente do que effecti- vamente he com effeito , de sorte que se pensa esta o índigo muito dissolvido , no emtanto que o não es- tá assa's. Consegue-se a clareza necessária pelo movimento da taça , cuja agitação com pouca differença produz o mesmo que a batedura faria em semelhante caso no se^ gundo tanque , isto he , que , se a matéria tem assas fermentado , para que as partes tendo as disposições as mais próximas á união, se determinem pela batedu- ra , se forma igualmente em a taça pequenas massas , cu grãos, mais, ou menos distinctos, conforme aqua- li- C 291 ) lidade da herva , e o j^ráo de seu desenvolvimento em a fermentação presente. Quando o grão se forma bem , se precipita por si mesmo no fundo da taça , e sómen« te communica a agua , que ©sobrenada, huma côr cla- ra , e doirada , com pouca differença , como a da af^ua ardente de Coignae, Repete-se muitas vezes esta expe- riência 5 ate que os mesmos indicios se manifestem de Inima maneira mais sensiveL Deve se sondar o tanque no alto, e no baixo al- ternativamente , para conhecer melhor o seu estado, e não se deixar enganar por aparências. Algumas vezes o índigo só apresenta hum falso grão na superfície. Além disso , a herva entra mais depressa na fermentação que a de cima , que fica perto de duas horas antes de ser ' coberto ; e em os tempos chuvosos, cm que o índigo só tem bem necessidade de dez , ou doze horas de fer- mentação 5 o alto do tanque muda tão pouco que es- cassamente se encontrará hum grão, por não ter força de o desenvolver , e sustentar. Em geral precisa $e hura grande habito , para se julgar bem do ponto perfeito de fermentação. As estações, e muitas outras circumstan- cias Ihecausão muita variação. Devem-se procurar mui- tas vezes os indicios na côr do liquido, quando a sua agitação na taça lhe offerece hum grão imperfeito, ou que se forma com diffículdade. Tive em S. Domin^^os hum negro Indigoeiro , que, antes de soltar o tanque, provava a agua quatro, ou cinco vezes, especialmente, faltando-Ihe os signaes ordinários do grão justo de fer- mentação ^ lhe parecião fracos, ou equívocos^ o sabor T z par- 111', U C -292 > particular , que encontrava nesta agua , era para elle hum signal mais justo que todos os outros. Sempre acerta- va , e quando os meus vizinhos perdião as suas tanca- das , o meu negro tirava hum grande partido da mes- ma herya madura j « cortada no mesmo tempo. Em fim 5 conhecendo-se , pouco importa saber , porque meios se adiantou a fermentação , e que os a- tomos colorantes , se começão a unir , ou ajuntar ; pre- cisa-se sim aproveitar do momento para fazer soltar to- do a agua , que está impregnada , ou saturada delles no segundo tanque. Então esta agua he de huma còr verde escura. Huma fenvientação prolongada , além do termo preciso , faria cahir os princípios do grão em hu- ma dissolução , de que o não livraria a batedura. Da batedeira, o apresto , que recebe o extracto na batedura, he o effcito da agitação, e revolução, que soffre a agua pela cabida dos baldes. Este movimento prolonga todas as vantagens da fermentação, sem per- mittir ao extracto o passar a putrefacção ; dirige se a reunir todas as partículas próprias á composição do ín- digo , as quaes se encontrão , se agarrão , e se concen- trão em forma de pequenas massas mais , ou menos grossas , o que se chama grão , respeitado pelos Indi- goeiros como o elem.ento da fécula. A agua , que pare- cia verde no principio , insensivelmente se faz de hum azul carregado , ou escuro , ao depois de ter sido bem batida. No decurso deste trabalho , se deita differentes vezes algum azeite de peixe na batedura , para dissipar C 29Í ) i escuma espessa, que se Ie\-anta debaixo da pancada dos baldes. A grossura , a cor , a partida inais , ou menos prompta década espuma, tambcm servem com os indícios tirados da taça para fazer julgar da qualida- de da herva , do excesso, ou falta de fermentação, e a regular batedura. Também se deve examinar a agua , se ella está muito saturada, he suspeita de fermentação. Quando está parda no alto ^ e a huma pollegada para baixo verde , annuncía a mesma falta. Huma tancada porém 5 ao contrario, a que falta fermentação, mostra quasi sempre huma agua russa , ou ruiva , on de huma côr verde tirante a amarello. He impossivel que o Indigoeiro bata huma tanca- da, como convém , seelle não está seguro , batendo-a , do gráo de fiermentação em mais , ou em menos que tem soffrido a agua no infundidoiro , ou apodrece.doi- ro. Sendo hábil, seinstrue, antes que o grão absoluta- mente se forme , então ou diminue , ou allonga a ba- tedura segundo a falta , ou excesso da fermentação. Deve-se continuar a operação , até apresentar-se o grão na taça do exame debaixo de huma figura convenien- te, que deixe satisfeito. Quando se faz redondo, e se concentra de maneira , a cahir, e rolar perfeitamente ao fund® da taça ; quando se separa bem de sua agua , e que esta agua se faz clara , que ella offerece a côr, que temos dito ; quando finalmente a taça inclinada só deixa ver no fundo algum lodo , então he o mo- mento de fazer parar a batedura. A agua , que tem em dissolução a parte amarella, e os outros princípios su- per- lU !il: lí^ ^11 I ( ^94 ) perfluos j algum tempo depois se separa da fécula, çubmergindo-a totalmente pouco a pouco , e ficando ella clara. A batedura levada muito longe arrasta a dissolu- ção na agua das partículas mais subtis do índigo, pro- duz hum effeito contrario ao que ddlQ se espera. O grão , que estava já formado , ou prompto a se for» mar. O grão , que já estava pronto a se formar , se de- compõem , divjde-se , e se perde na agua , que se faz turva, eesta agua, ao depois de hum longo repouso, só deposita huma fécula imperfeita , de que resulta hum índigo molle. Do repoíisadoiro , e diêhlotln. Ordinariamente bas- tão duas , ou três horas para o repouso da tancada , quando se não commette alguma falta, mas he muito melhor deixallo tranquillo por quatro horas , e ainda p®r mais tempo , não se estando para que o grão mais leve tenha tempo de se depor. Das três torneiras ^ que deve ter abateria^ primei- ramente só se abre a primeira , para que o escoo da agua não cause alguma turvaç^o á tancada. Quando toda a agua 5 que estava a seu alcance , tem decorrido , se abre a segunda torneira ; a agua , que sahe , também de"\ e ser como a primeira , clara, e côr de alambre. Estas aguas naturalmente cahem no diablotln , donde correm , e se perdem pelo campo , peia abertura praticada no repou- sadoiro. Deve se-lhes dar huma tal sahida , que ellas não possão misturar-se com alguma outra , quer seja de srio, ckarco , ou córrego, porque as farão pouco saúda» v«is , Ç 295 ) veis, e ainda perigosas aos animaes, que delias bebe- rem. Depois destes dois esgotamentos fica no fundo do batedoiro certo sedimento de hum azul quasi negro j cstancase ainda , quanto for possivel , a pouca agua superllua, que nelle se pôde achar, abrindo pela ame- tade 5 e reprimindo convenientemente a terceira tornei* ra : finalmente se tira absolutamente esta torneira , para correr a fécula no diablotin , que antes se deve ter cui- dado em o vasar. Neste estado se assemelha a hum lo- do lluido. Hum cesto , posto diante da torneira , açam- barca tudo quanto lhe he estranho ; e por meio de hum cabaço partido , se tira do baclnote , c se vasa em saccos , como já fallei ; deixa-sé o índigo nelles a pur- gar até o outrO dia de manhã. Quando os saccos, que devem estar lavados , e seccos de cada vez , que se usa , não recumbrão mais agua , se ajuntão dois , a dois, e se pendura cada lote nas mesmas cavilhas. Es- te ajuntamento os aperta , e o aperto lhes acaba de fazer escorrer a agua , que ainda tem. Da desseccação , esta inteiramente secca , se despeja em taboleiros já descriptos , que se põem a hum ar corrente. Dessecca-se insensivelmente , e penetrada pelo Sol , racha como o lodo , que tem alguma consistência. Deve -se começar esta operação de noite antes que de manhã ; porque hum calor muito continuo surprendc esta matéria , faz-lhe levantar escumas pela superfície , c a faz grosseira , o que não acontece , quando , passadas quatro, ou cinco horas de calor, tem algum intervallo . ^ d@ w. ii: ÍHI^ M I C296') ét frescura , que dá tempo a toda a massa de tomar huma consistência igual. Então se lhe passa huma co- lher, ou trolha por cima 5 para ajuntar todas as partes sem as revirar. Pensão algumas pessoas , que , amassando o índigo , nos taboleiros , quando começão a seccar, esta espécie de apresto lhe dá liação : isto he hum erro ; por que esta liaçáo depende unicamente do gráo de fermenta- ção, c da batedura , e do ultimo, e principalmenta do único. Huma tancada suspeita ou por hum , ou por outro lhe dão a prova, quando o índigo, quç delia se faz , se esmigalha ao mgnor toque. Logo que a fécula , ou massa , tem adquirido hum gráo de dcsseccação conveniente, se lhe pule a super- fície , e se divide em pequenos quadrados , que se põem ao Sol , até que se separem sem trabalho dotaboleiro, e pareção inteiramente seccos. Neste estado o hidl^à ainda não he vendavel. He preciso fazello recuar antes que se entregue. Se o encaixotassem antes desta acção, no fím de alguns mezes só encontrarião fragmentos de huma massa arruinada, e de muita má venda. Para o fazer recuar, se amontoa em alguma barri- ca tapada com a sua coberta , e assim se deixa por três semanas. Neste tempo soffre huma nova fermen- tação, esquenta-se , reçumnia grossas gottas de agua, deita hum vapor desagradável , e se cobre de huma ílor , ou pó íino esbranquiçado. A final se destapa, e sem ser preciso pór-se mais ao ar segunda vez , se desseeca em menos de cinco, ouseis dias. Tendo pas- C 297 ) sado por este ultiiTio estado , tem todas as condições , c]ue se requerem , para ser posto no commercio ou i venda. Mas precisa se vender logo , náo se querendo supportar , a quebra , ou diminuição de peso , a que está sujeito nos primeiros seis mezes , depois de fabricado , e que se pôde avaliar por hum decimo de menos, ou ainda miais no peso. Em algumas fabricas o fazem seccar á sombra , lo- go que os quadrados se despegâo da caixa : este me- thodo he comprido; porquanto he mister que decorrão mais de seis semanas , antes que esteja em estado de ressuar, mas com tudo he mui favorável ao índigo, que adquire hum maior lustre , e huma nova liação : além disto não padece o mesmo descahimento , do que se secca ao Sol , e lhe he superior em qualidade. Entretanto o vagar do desseccamento parece favo- recer as moscas , que , attrahidas pelo cheiro mui forte , que exhalla o índigo , se lançao sobre elle , devora^ndo o o mais que podem , e depositando nelle os seus ovos , donde sahem vermes em menos de quarenta e oito ho- ras. Estes vermes , trabalhando abrigados do Sol nos in- tervallos , ou espaços dos quadrados , e ainda pelas fendas do mesmo índigo o amollecem , e enchem de hum humor glutinoso , que lhe deteriora a qualidade, e causa huma perda real. Algumas vezes se vem obri- gados a empregar fumegações na casa de seccar , para lhe afugentar as moscas , principalm.ente nos dias tur- vos , e que ameação chuvas. Defeader*se-hia o índigo dos insectos , e se acau- tcl- ( 298 ; tellaria a maior parte dos accidcntes, a que estão ex- postos sobre os tablados, se , como em certos luga- res das índias Orientaes , se estivesse no uso de o amassar , e de o seccar totalmente á sombra , pondo em taboíeiros de meia pollegada de alto ; e se ao de- pois de o ter separado em quadrados , se se espalhas- sem por outros taboíeiros ao Sol. Na verdade esta prá- tica pediria hum grande numero de taboíeiros , maisjem pouco tempo serião desoccupados , porque o índigo se seccaria muito mais depressa. Nas nossas Colónias se põem commummente o índigo mercante em pequenas barricas , ou barris , que pesão quasi duzentos arráteis, e devem estar sufficiente- mente preparados de arcos , e fechados totalmente nas suas duas extremidades , para que o pó , que sempre se despega do índigo em o transporte , não possa esca- par pelas aduellas, ou pelos fundos. Esta maneira de o encerrar he imperfeita, e mui ruinosa. Como se divide cm pequenos cubos, apresenta muitos ângulos , e superfícies , e por consequência in- numeraveis vãos , augmentado ainda pelo encolhimento , que padecem as pedras, seccandose , de que se segue hum movimento, ou oscilação , que causa a fractura de huma grande porção de pedras. As pequenas partículas , que provem desta fracção , he verdade , que se empre- gão na tinturaria , visto moer-se o índigo , para se em- pregar nella. Mas como as barricas , em que se trans- porta , tem huma forma redonda ; e que , por esta ra- zão, não deixão , nos portos, de os rolarem sempre que Ç 299 ) que asembarção, e descmbareão : resulta disto, que o pó do índigo , produzido pelo choque dos cubos , ou quadrados , se escapa pelas aduelas , pela maior parte , mal unidas , ou fica sujo pelo pó de fora , que penetra dentro das mesmas barricas. Os Fabricantes de Guatimala põem o seu índigo cm odres de bodes. Este methodo seria muito dispen- dioso em as Colónias , e talvez impraticável , mas não poderíamos nós por ventura dividir o nosso em quadra- dos mui delgados , e muito maiores , de seis pollegadas de superíieies por exemplo? Arranjarião-se estes quadra dos com maior facilidade hum sobre o outro em caixas feitas de propósito, que darião liuma arrumação mui- %o mais commoda, que os vasos em forma cylindrica, §. XV. Nomes , e qualidades das prlncipaes sortes de Indlgos espalhados pelo Commercio, 11 No Commercio se distinguem muitas espécies de Indigos , que essencialmente differem entre si , em razão da quantidade de partes colorantes , que tem debaixo de hum certo volume dado. São estes Indigos. O Guatimala, que nos trazem da Nova Hespanha, cuja primeira sorte, ou qualidade, se conhece pelo no- me de Anil Jior. He o melhor de todos os Anis , ou Indi^os, Apresenta hum bello vivo. A sua pedra não tem côdea j ou casca. Tem na sua superfície a mesma cór que no seu interior: he pequeno, de huma tintu- ra rara , e especificamente mais leve que a agua. O C 500 ) O Indico de S. Domínios, do qual se distin.'yuem particularmente duas sortes. O azul, e o cobre. O pri- ineiro se avizinha mais na perfeição ao índigo flor , e differe deste em ser o seu azul menos franco, tirando mais ao chamado marrou ; a sua pedra lie mais grossa , coberta de huma côdea, ou casca, de hum azul mais que o interior, e a sua textura hum pouco mais compacta. Todavia especificamente não he menos leve qiie a agua. O índigo eril , ou cobre toma o seu nome da côr do cobre vermelho , que offerece na sua fracção , ou quebradura : tem côdea , ou casca , como G ultimo , de hum azul com tudo ainda mais ardoeza- do : he mais compacto , e especificamiente mais pesado que a agua. Entre o ítziíl , e o cobre, se fabrica ainda em S. Domingos dois Indigos, que participão mais , ou menos, das qualidades destes últimos, a saber, o vlo- hie , e o pescoço de pomba. Este se chama assim , por apresentar na sua superfície, quebrando-se , huma mis- tura de muitas cores ; o seu lustre se assemelha ao de hum vlolete purpúreo. He mais solido que o índigo vlolete , ou morado , que tem pouco mais de consistên- cia que a arMl : ambas são superiores em qualidade ao cobre. A final, o índigo ardesado , e o tenro salpicada de branco , compostos de hum grão continuado , ou sem liação , se olhão na mesma Ilha como qualidades ínfimas. O índigo da Carolina deve ter lugar ao depois do cobre de S. Domingos : he de hum azul mais ardoezado assim exterior, como interiormente. Os ( 501 ) Os signaes exteriores , pelos quaes se reconhecem as difíerentes qualidades, são pois a cór , a textura, e o peso especifico, inas o signal commum a todos, eque distingue esta matéria de toda a outra substancia , que Jhe queira substituir , he a impressão de cobre , que dei- xa na unha, quando se esíiega neUa. Dizem , que se pode distinguir o índigo da Caroli- na , dos outros índigos , pelo seguinte processo. Toma- se hum pedaço deste índigo , reduz-se em pó , em hum gral , deiía-se-ihe huma pouca de agua quente* Dentro de vinte e quatro horas se faz na supeificie huma costra branca ; ora , fazendò-se a mesma operação do- bre , o ItT-digo de França, ou Kespanha , se não verá esta costra. De ambas as índias nos vem outras espécies de Indigcs menos conhecidas , e que commummente tra- zem o nome das difíerentes fabricas, ou lugares, em que se fabricarão , taes como o úq Java , Sanjtiesse , dos quaes já fallei ; de Jamaica , eíc. Taujbem no \o trazem de Africa , trazido pelos Negociantes de escra- vos. Usão do índigo na pintura , moido , e misturado com alvaiade , dá huma bella côr azul ; com o amarel- lo , huma verde. Se o empregassem sem mistura a da- ria denegrida. Não he próprio para a pintura a óleo 3 porque descarrega , e perde huma parte de sua força, seccando-se. Nas branquearias se servem delle para dar huma còr azulada aos pannos de linho , mas o seu em- prego mais geral he para as tinturarias de seda , e lã. Bas- 'M: :i|' C 302 ) Bastão os Indigos de hum preço médio , como o co- bre deS. Domingos, conforme M.Quatremer, para se obter todos os matizes de azul , que se podem desejar tingindo sedas. Os Indigos soberbos , como o Guaúmala fior ^ ou o sobresaliente , também se podem empregar no mesmo objecto , mas não fazem hum grande effei- to , e elles náo augmentão assas a belleza da seda, pa- ra que a sua superioridade a este respeito llie haja de compensar seu alto preço. Póde-se servir na tinturaria em lã , conforme o mesmo Author , de todas as differentes qualidades de Indigos 5 sem excepção , e ainda todas podem ser em- pregadas sem maior inconvenient» para os mesmos ma- tizes, e mesmos objectos. Todavia a economia prescre- ve , que somente se empreguem os Indigos de S. Do- mingos , em a tinturaria de todos os pannos , que se destinão a ser ao depois tintos de negro, e nos quaes o azul somente serve de pé. Estes Indigos são mais próprios para os azues carregados , ou ferretes , quer em lã, quer em panno , e que devem ficar só nesta còr. Os bellos Indigos de Hespanha são até o presente os únicos 5 que tem dado esta côr azul viva, e clara, que attrahe a vista. Se o seu preço he muito mais subido que ô do índigo de S. Domingos , postas quantidades jguaes em huma caldeira , rendem muito mais tinta. O índigo , pelo dizer assim , se acha entre as mãos de todo o mundo. Todos os dias se fazem delle applicaçoes úteis em a Arte da tinturaria ,. ou de tin- gir. Mas, para se lhe tirar todo o proveito possível , he ne- C 503 ) necessário saber-se o modo , porque se faz , e quaes se- jão os princípios , de que se compõem. Preencherei es- tes objectos nos parágrafos seguintes. §. XVI. Analysê Chlmlca do Indico, Estrahio-se e<;ta Analyse de huma Memoria de M. De Orval , e de Pvibaucour , inserida entre as dos Sá- bios Estrangeiros tom. 9. , que a Academia das Scien- eias pubJicou. Vio-se no § que a fermentação da herva , donde se tira o índigo , he absolutamente necessária ao de- senvolvimento de todos os principies , que concorrem a formar esta fécula collorante. Eis-aqui , segundo os Authores da Memoria citada ^ o que se obra nesta fer- mentação. As partes mucosas se destroem. Desenvol- ve-se hum acido ^ que , seijido o conductor, e o au- terador da fermentação, a Jeva até a podridão. Neste momento se formão os alkalis voláteis , que , unindo- se ao acido, produzem os saes ammoniacos. As resi- nas se decompõem em parte , os seus fragmentos, car- regados da parte colorante , que até então tem át^tnái* 00 da putrefacçuo , se deposiíão com alguma terra A^e- getal. Em quanto aparte colorante amarella , cuja reu- nião conn o azul formava o verde na planta , se des- troe por estar unida a parte mucosa. O ponto principal he fazer parar a propósito esta fermentação, se a não deixão hir, muito longe, a re- sina não se decompõem assas : a aggrcgação das outras sub- 1 1 f \:i: m * m C 3C4 ) substancias á terra, não sendo quebrada , impede que esta ultima se precipite. Deixando-se porém hir rriuito longe, entáo a putrefacçáo estando completa, a parte colorante, e a resina se acháo desf. roídas. Este trabalho de muitas matérias , obrando simul- tânea , ou successivamente Iiumas sobre outras no de- curso da fermentação, desenvolve , e produz as par- tes constituentes do índigo. Demonstra-se a existência destas partes pelas experiências seguintes. Não se pode duvidar a presença dos saes ammo- niacos no índigo , visto que despega o ammoniaco, sendo moido com cal. Contém também resina; porque, pondo.se sobre brazas ,. arde com humachamma muito viva, acompa- nhada de fumo, e de ferrugem, deixando hum carbo» naceo considerável» Fazendo-se cozer quatorze onças , e tre? oitavas de índigo flor em huma mui grande porção de agua , se consegue pelo filtro hum liquor de huma cór maior, e desmaiada, que, evaporada em certa consistência, dá huma oitava, e sessenta grãos de extracto. O índigo, estando secco peifeitauiente , se acha pesar treze onças 5 e seis oitavas. Longe de se mudar a sua côr por esta operação, o seu azul, pelo contrario, he muito mais bello, e quasi negro; tanta he a intensão que tem. Huma igual quantidade de índigo azul de S. Domingos , submettida a mesma experiência, dá seis grãos de extracto : e o índigo secco pesa treze onças', e huma oitava. Obtém -se os mesmos resultados com o índigo cobre , cu cór de cobre. Ain- ( w ) Ainda que a lavagem tenha augmentado a bellezs destas três espécies de Indigos com tudo he facil odes* tinguillos. Conservão a mesma ordem. O Jlor he de hum bello azul mais franco , mais vivo : o azul he mais trigueira : o cohe he muito mais ainda. Esta ultima experiência mostra a presença em o índigo de certa parte extractiva mais , ou menos. Faz observar , ou que a fermentação em S. Domingos se não leva tão adiante , como em Guatimala ; ou que relle se acha a parte extractiva em maior quantidade, talvez em razão do terreno , ou da escolha das partes da planta , ou do tempo da colheita , ou ,- a final , que o Índigo de S, Domingos contém mais resina, oii huma parte resinosa menos attenuada : e não he me- nos verdade que a estas três differenças se deve a que distingue estas três sortes de Indigos. Mr. De Orval , e Ribancour fizerão sobre esta in- teressante pedra multiplicadas experiências , que se não pedem pôr aqui , e das quacs resulta , que o índigo se compõem : primeiro , de huma substancia meio resino- sa ,• que serve de vehiculo aparte colorante : segundo 5 ds huma terra : terceiro , de muito sai ammoniacal : quar- to , de algumas partes extractivas, que escaparão ápu-* trefacção. Dizem, elles que , conforme as propriedades des- ta fécula, parece que se poderia chegar a imitalla. Pro* curar-se-hia encontrar vegetaes , nos quaes a parte azul fosse abundante y unida a resinosa, e a amarella, pelo contrario, unida is partes mucosas: de destruir as ul» timas ^ e de compor em parte a resina colorada do T:U.PIL V azu! C 3C6 ) azul por hum movimento de fermentação pútrida para- da a propósito. Pára empregar utilmente o índigo em a tintura- ria não basta encher , e cobrir os poros multiplicados dos pannos com as moléculas colorantes desta substan- cia : prê^cisa-se também fixar estas moléculas de tal sor- te que nem a agua , nem os óleos , nem os ácidos as possão despegar em tempo algum. Para se encher este fim he preciso: primeiro, saber se o índigo he solúvel na agua , nos óleos , e nos ácidos : segundo , de procu- rar em a natureza hum menstruo , que possa não só dis- solvcllo inteiramente sem alterar a sua còr , comotam- bem sem a separar tão depressa, quanto tiver sido ap- plicada aos pannos em favor do seu estado de disso- lução» Por que esta applicacão seria impossivel sem a divisão extrema das^ suas moléculas , e não haver mais que hum dissolvente , que possa obrar esta divisão. As- sim todos os exames, e querendo-se, todas as tentati- vas , ou apalpamentos do Tintureiro devem ter , c tiverão com effeito , o fim o encontrar este tão pre- cioso dissolvente ,■ que pôde fazer a tintura dos pan- nos em azul não só fixa , mas durável. Quantas ten- tativas 5 se não tem feito para se conseguir este resul- tado ? Quantas experiências hão sido mister fazer-sc ? Contentar-me-hei com indicar algumas , das que se con- sjgnjírão nas Memorias de Air. De Orval , e Ribaucour. Estes Chymicos submetíêrão o índigo a muitos agen- tes. Os phenomenos, que elles advertirão, são os se- Pon- C 5°7 ) Pondo-se o índigo em agua , e deixando-se mace- rar o frio 3 dentro de pouco tempo , se enche de suas particulas salinas, «extractivas, adquire huma cor rui» va , hum cheiro fétido , e em hum momento huma côr levemente verdoenga. Passado algum tempo, (oi- to mezes ) o cheiro se dissipa , o liquor se volta cla- ro , e sem côr , e a parte colorante do índigo não tem padecido mudança alguma, á excepção da superfí- cie , que toca o liquido immediatamente. Oito onças de espirito de vinho , digeridas a quen- te , e por vezes repetidas sobre meia onça de índigo lavado , o esgotarão , de maneira que não colorJa mais de novo , e com tudo o índigo secco pesava ainda três oitavas, e sessenta e oito grãos. Esta grande quan- tidade de espirito de vinho somente pois lhe tirou qua- tro grãos de substancia. O índigo sahio desta experiência melhor do que era antes. O acido nitroso dissolve o índigo inteiramente j c com huma effervescencia das mais vivas , mas o des- cora , desde que o toca. A dissolução he purpura,, O acido sulfúrico dissolve também o índigo per- feitamente , com' effervescencia , e calor , e sem O al- terar. He verdade que se não muda nem pela agua , nem pelo alcohoi ; n^as a agua só lhe dissolve a parte extractiva, que escâpou á fermentação no tempo da preparação ; e o alcohoi , e o ether somente lhe ex« trahem hum pouco de parte resinosa. O acido nitroso o dissolve totalmente , mas o descora de todo ; o aci- do muriaticô tem a mesma acção ^ a do acido acetoso V 3 ./ he he nenhuma : Logo só o acido sulfúrico he o único , em que o índigo pode ser dissolvido totalmente, sem perder a sua côr. Esta dissolução estendida na agua dá huma tinta diáfana, de hum elegante azul, e. as matérias , que nes- ta se querem tingir, não requerem preparação alguma antecedente. Basta tellas feito cozer em agua , para lhe dilatar os poros. Feita esta operação , commum a to- dos os tintureiros, se mergulhão em hum banho, que se tem cheio de huma porção de Índigo proporcionada ao gráo do 'azul , que se lhe quer dar. Tingem de hum azul agradável , mas pouco solido , conhecido pelo no- me de azul de Saxanla. O estado salino , em que se acha o índigo nesta tinta / a faz tanto mais suscepti* vel da impressão do ar , qunnto esta espécie de sal tem com excesso de acido. Também se observa em a prática que , empregando-se esta dissolução ím mediata- mente ao depois de estar feita, o azul , que delia resul- ta, he mais vivo; porem mais fugitivo. A união, que o acido sulfúreo acaba de formar com o índigo , estan« do ainda toda recente , este acido não fica mui unido com esta fécula , senão ao depois de ter a dissoluçãd repousado por algum tempo, e conserva tanto mais a sua affinidade com a agua , que não he raro ver as matérias tintas com huma dissolução feita muito de fresco perderem, seccando , huma parte da sua côr. Igualmente importa não deixar envelhecer muit* a dissolução. Com o tempo , o acido sulfúrico por sua acides continuada sobre a matéria colorante , \hs. des- troe ( 309 ) troe luima parte , e faz verdejar a outra. Póde-se certi- ficar que, servindo-se desta dissolução , passados quinze dias ao depois de feita, será preciso hum quarto mais, para poder produzir o mesmo tom de còr. Ainda será menos viva que se a dissolução só tivesse dois dias. Não he unicamente na dissolução que o acido o- bra sobre a parte colorante : em o mesmo banho, on- de se tinge, se se faz ferver muito, ou muito lon^o tempo, o azul, em lugar de se augmentar , abateria, ou abaixaria a sua côr, e verdejaria. Por tanto não se deve sentir que os outros ácidos não hajão de ter sobre o índigo a mesma acção, que o acido sulfúrico. Quando se chegasse a dissolver em acido acetoso , esta dissolução teria o mesmo lustre que a do acido sulfúrico, a tinta, que delia resultasse , nem por isso seria mais solida. O meio usado, para o fazer como se quer, he o seguinte. O acido sulfúrico dissolve perfeitamente ú índigo ^ e respeita a sua côr , mas não a fixa de huma manei- ra durável aos corpos, a que se applica. O alkali vo- látil possue esta propriedade, e, dissolvendo-r.e 5 a for- nece m^uito mais perfeita que o acido sulfúrico. Como elle mantém o índigo em dissolução perfeita, eleva a molécula colorante dissolvida aos poros da matéria , que tinge, mas não lhe conserva a união, senão o tempo necessário, para a fírmiar no lugar, em que se acaba de introduzir , pouco depois a deixa , e o deixa no seu primeiro estado de insolubilidade , isto he o mesmo que dizer 5 que o^ olêos , c os ácidos , nao tem então maicj jnais a acção sobre esta molécula , como antes tinhao. Agora se deve ver, como faz esta dissolução, e os ef- feitos , que produz applicada a Arte da tinturaria. §. Xyil. Preparação , e emprego do índigo , na Tinturaria, O meio dè se obrar a dissolução , de que acabo .de fallar , não he simples. Os alkalis fixos , e voláteis , applicados ao índigo, pela via das digestões, não tem ac^âo alguma sobre elle. Do seio da mesma fécula he que se precisa despegar o alkali volalil , que o deve dissolver. Precisa se para isto attenuar o índigo ao pon- to , que elle não offereça alguma resistência a este al- kali , e pelos mesmos meios , que servirão a decompor os sass ammoniacaQs. Estes meios são certo movimento de effervescen- cia , que se suscita eni o vaso , onde o índigo espera a sua dissolução, ou certo movimento de feruien tachão , combinado com o primeiro, e produ2Ído pela intioduíLr cão de certas matérias. O azul, que se consegue por estes dois processos, he conhecido no Commercio dtbaiiio do nome de atui deciího (azul de caldeira) se esta denominação apresen- ta a idéa de hum azul sólido. Assim se chama porque esta cor se prepara em grande:-; vasos de madeira 5 ou cobre , a que chamão caldeira. Aquclles , em que as ef- fervescencias são os únicos meios empregados para de- terminar a dissolução co índigo, se appellidão caldeiras a frJQo Cd' C 311 ) §. XVIII. Caldeiras a frio. Para se preparar huma Caldeira a frio em pequeno j se mistura juntamente onça e ineia de sulfato de fer- ro , derretido efri duas livras de agua , e onça e meia de índigo , degeridas por três horas a quente em huma livra do m.esmo liquido , saturado de onça e meia de potas«a , ou alkali fixo : ajuntandose»lhe onça e meia de cal extincta ao ar. Executa-se na mistura destas matérias hum movi- mento de effervescencia mui visível. Huma parte do acido sulfúrico se une ao alkali fixo , outra se ajunfi ás moléculas calcareas. O alkali volátil se livra , e dissolvido o índigo, que se attenua , assim pelo cozi- mento , como pelas effervescencias estranhas , e pelas mesmas obradas no seu seio ^ não oppoem resistência alguma ao dissolvente, que o attaca , e lhe imprime o signal de dissolução , de que o alkali volátil marca todas as tintas azues , as quaes unindo-se , a dis- solução do índigo será verde , se o alkali volátil nío superabundar, ou se a attenuação do índigo for leva- da ao seu ultimo ponto, esta dissolução será amarella. He debaixo da primeira côr , e neste estado de dissolu- ção , que esta matéria deve passar aoa poros das lus , ou pannos , que se tiver nestas caldeiras ; mas assim que se tirarem do banho , o alkali volátil evaporará, e se restituirão as moléculas do índigo á sua primeira çór, e a seu primeiro estado de indosolubiiidade. ^1)1. i| o acido sulfúrico a nú não produz o mesmo ef- feito. Talvez a effervescencia será então inuito violen- ta , e se opporá a união do alkali volátil com o ín- digo , e a destroirá no momento , em que se acaba de formar ; acaso também a violência da effervescencia não suppre a sua curta duração. He por tanto mister que o acido , que se emprega, seja obrigado a huma base ; mas tal, que tenha a acção sobre os saes ammo- niacaes. O sulfato de alumina , por exemplo , não tem slgum ; interpoem-se entre estes saes , e as moléculas calcareas , e alkalinas ; e as defende da acção destes ultimos. O processo das caldeiras a frio não he infallivel : seu successo he subordenado a temperatura. Se hum grande frio as fizer languir, não estando o índigo suf- íicientemente attenuado , o alkali volátil se separará em pura perda, e esta fécula, que não pôde dissolver, Tião contendo quasi mais, inutilmente se tentarão no- vos movimentos de ef.^rvescencia. Assim a prática de fazer digerir o índigo em, o alkali ííxo , he abusiva; 9. quantidade do alkali volátil, que elle perde nesta ope- ração preparatória, o priva de huma parte do seu disr solvente , arruina a sua dissolução. Esta fécula fervida unicamente na agua , e moJJa ao depois com a mes- ma agua , se dissolve con) maior promptidão , do que quando se faz digerir em o alkali fixo ; a effervescen- cia he mais viva, e melhor sustentada. -.Só se usa das caldeiras a frio, para tingir íios , e PS Algodões , sendo estas matérias de huma textura mais C nO mais fechada que as matérias anirnaes , tomão a a7ul com muita difficuldade. Precisa dar-se-lhe , por dizer assim , por camadas^ poias ao ar, por consequência, sem cessar , para poder facijitar a evaporação do alkali volátil unido ao índigo. Nas caldeiras quentes se não pôde empregar esta manobra, porque as resfria: além de que, estando o banho aberto muitas vezes, e agita- do por esta manipulação , se evapora huma pasmosa quantidade do alkali volátil ; porque em razão do calor he mais movediço que nas caldeiras a frio, §. XIX, Caldeiras com J'ermentfíçSo» Em a caldeira a frio he a effervescencia o único meio empregado para attenuar o índigo , e determinar a sua dissolução. Nestas porém , se topa a mesma causa, mais favorecida por hum movimento de fermentação , que concorre com ella ao mesmo effeito. As caldeiras em fermentação differem em razão da espécie de fermentação , que se lhe introduz ; em huma he a fermentação acida ; em outra a fermentação acida pútrida , e também se admitte a fermentação pútrida,^ A primeira se chama caldeira do Índigo. A segunda se designa pela matéria fermentescivel , que se lhe em- prega : conhece-se debaixo do nome de caldeira àe pas' tel, A matéria fermentescivel da terceira he a ourina ; por este miOtivo se chama caldeira da ourina. Preparação de huma caldeira de Indis^o : Deitão-se dez arráteis de cinzas gr^velladas em quarenta baldes de CJI4) de agua, ao depois doze onças de Granza , ou Ruiva, seis arráteis de sêmeas , e se põem a cozer. Os sedi- mentos destas matérias entrão na caldeira. Deitão-se ao depois seis libras de índigo cozido , c moido na agua. JVlexe-se esta mistura com Iiuma pá , mistura se com huma espécie de rodo de páo , fecha se a caldeira , poem-se ao redor algum fogo, mexe-se segunda, e ain- da terceira vez , de doze em doze horas , até que se faça azul , o que acontece no fím de quarenta e oito horas , se a caldeira for preparada com as doses prc- scriptas , c bem governada. O banho então será de hum bello verde coberto de placas , ou laminas cór de cobre, e de escuma, ou flores szues. A theoria deste processo se approxima ao da cal- deira a fnp. Nesta se introduz hum acido todo forma- do, na outra porem se forma. Executando^se esta operação , se pôde dar em dois extremos oppostos , se hum exceder na quantidade de cmzas , ou se esta quantidade sendo a mesma se dimi- nuir muito nâ das sêmeas, ou da Ruiva , então oalkali Hxo cm hum , e outro caso , ficando superabundante attaca, e destroe também huma parte do índigo. Esta superabundância do alkali fixo se conhece , quando o banho da caldeira he de hum verde amarello , e que 25 azues, que se tem tingido, tirão mais, ou menos para o verde. Kuma caldeira, neste estado, se restitue ao ponto , em que deve estar , acrescentando-Ihe huma nova quantidade de sêmeas, ou Paiiva , que, fermen- tando , produzão o acido necessário , para saturar o al- kali íixo superabundante. Dá-' ( Íl5 ) Dá-se no extremo contrario , quando se diminue â fljuantidade de cinzas graveladas , ou quando esta quan- tidade, ficando a mesma , se augmenta consideravelmen- te a das sêmeas, e da Ruiva: então o agio , ou acido produzido por estas matérias , não sendo apaniiado pelos alkalis fixos , huma parte se une ao alkali volá- til , que deve dissolver o índigo ; a outra , fazendo o officio de fermento , determina a fermentação até no mesmo índigo. Esta fermentação no principio acida, se faz em pouco tempo pútrida , c destructiva. No ca- so que acabamos de descrever, a caldeira no principio exhala hum cheiro suave , o banho he de huma côr toldado mais depressa de huma côr verdoenga azulada. ' Neste estado tem hum cheiro azedo decidido , e pouco depois a putrefacção completa , que he irremediável. Facilmente se corrige huma caldeira nos dois primeiros gráos , p©ndo*se-lhe novamente o alkali fixo , para lhe saturar o acido superabundante. Isto acautella a putre- facção , separa o alkali volátil , e determina a dissolu- ção do índigo. Preparação de huma caldeira a ■pasteU Em huma caldeira , que contenha duzentos baldes de agua , se dei- tão cento e cincoenta arráteis de pastel , com quinze arráteis de sêmeas , e se lhe lanção cincoenta baldes de agua quente. Tendo se o pastel infundido deste mo- do por três horas quasi, se enche totalmente a caldeira da agua quente , e ao mesmo tempo se lhe lança .a agua , em que o índigo se moeo , e cozeo. Tira-se o pas-tel ^ e se leva ao banho. Quatro hoias ao depois , do ":'|f i i C n6) do preparo desta caldeira, o banho exhala Iu,m cheira forte, a sua côr se faz amarella, como folhas seccas e batendo.se o banho com a pá do rodo, se levanta hu- ma espuma sem consistência , de que desaparecem as bolhas com estrondo com a mesma pressa, com que se levantão. Oito , ou dez horas depois de estar a caldeia ra preparada ; o seu cheiro começa a ficar assucarado berbaceo ; e a final , tudo está no mesmo estado. No Hm de algumas horas este cheiro assucarado passa a Jmm cheiro doce , máo , nauseabundo, muitas vezes levemente acescente , e que se assemelha aos dos sue- cos recentemente extrahidos dos animaes. Se neste momento se bate o banho , a espuma, que se levanta, não crepita mais, as suas bolhas se susten" tão como as de huma agua saponacea , e são tintas de hum azul mais, ou menos forte. O banho 'não he mais secco ao tacto, mas sim unctuoso , e de hum verde mais, ou menos amarello, Metendo o mexedor no in- terior do banho, e que se levante brandamente, se vc levantar o índigo , que ahi se funde , e com elje hum sedimento mais amarellado que o resto do banho , le- vantando algumas gottas deste ultimo , no principio serão verdes , e transparentes , pouco depois o verde passará a azul , e as gottas perderão a sua transparên- cia : fazendo.se-lhc tirar o pastel , e que se tome nas mãos huma pelota, verdejará ao ar. A todos estes si- gnaes , e sobre tudo ao cheiro , de que falíamos, he tempo de moderar a fermentação por huma pouca de eal lançada em o banho. Mistura-se com o liquido pqr meio Itieio do rodo hum momento depois se sente o ba- nho, e se diz a primeira introdiicção, o cheiro do al- kali se faz sentir, se cessa dè\lhe lançar cal. Isto he o cheiro , que se deve unicamente consultar, e o talen- to he de jaber desembrulhar dos outros , com que po- de estar embaraçado, ou complicado. Cinco horas ao depois desta palliaçao se descobre a caldeira , e ella tem perdido o cheiro do alkali vo- látil. Precisa adoçar de novo , se o cheiro do alkali não sobe, se lhe deita cal pouco a pouco, e se pára^ logo que se sente este cheiro. Seis , ou sete horas ao depois , se descobre ainda pela terceira vez a caldeira. O banho tem também per- dido o cheiro do alkali volátil , se adoça de novo. Afi- nal , náo se deve cessar totalmente de pôr cal , se- não quando o alkali volátil dominar universalmente, e percutir vivamente o clfato. Pára-se a fermentação neste momento por vinte e qustro horas. Ao outro dia de manhã, passado este ter- ceiro adoçamento , se pôde tingir em cima da caldeira , tinge-se três vezes no mesmo dia : de cada vez , desde que as matérias tintas tem sahido , se adoça. Assim que o alkali volátil se fizer sentir na caldeira , não se lhe põem cal , mas extincto o seu cheiro , he mister fazello tornar a apparecer cedo , não golpeará tão vi- vamente o oííato , porque o calor da caldeira começa a abater-se. Assim se procede por quatro dias, acoutar do dia 3 em que se começou a tingir, poem-se cal no fim de cada iu ',í ,•! C 3iS ) dia ate o ponto , e com as precauções acima ditas , mas como a cal vai sempre diminuindo , e que o movimen- to de fermentação diminue com ella , precisa se muito menos calor no fim do terceiro , e quarto dia : muitas vezes mesmo existe ainda assas alkali volátil neste ul- timio dia , para se ficar desobrigado de pôr cal o quinto dia : totalmente não se põem cal , se se tem de traba- lhar na caldeira o sexto dia , precisa então tornalJa a aquecer ; porque ella terá perdido todo o seu calor. Ve- de na Memoria citada os meios empregados a eUe fim , e a exposição das diferenças , que apresentão as cal- deiras aquecidas. Caldeira de oarlna. Emprega se nesta caldeira os dois movimentos notados nas outras , a saber , a da fermentação , e a da effervescencia. A ourina fornece a primeira , e os ácidos , que se lhe introduzem cm for- ma concreta, ou liquida, o segundo, pela união com o alkali volátil, que aqui he o único producto da fermen- tação, que se emprega. Estes dois movimentos unidos decompõem os saes ammoniacaes. Consultai a Memoria citada para a preparação desta caldeira. Vc-se pelos diversos processos , descriptos acima , que o alkali volátil he o verdadeiro dissolvente do ín- digo, e que só faz preza sobre elle, quando se rompe a sua aggregação. Desde então O processo , em que es- ta matéria está mais attenuada , ou o alkali abunda mais, sendo a mais completa, se deve dar o primeiro lugar ao da caldeira do pastel ; o segundo ao da ouri- na, porque o índigo não está nclla tão dividido, como na 1 CU9) na outra , e tem alguma relação com ella pela quanti- dade de alkali volátil que contém. A ealdeira a frio , ainda que mui commoda , deve ser a ultima ; he verda- de que a dissolução do índigo he ahi a mais perfeita que na caldeira do Indo , mas também he menos du- rável , porque o alkali volátil separado pela cal he mais movediço. Desejando-se maiores miudezas sobre as diversas manipulações do índigo , quer nos paizes , em que se fabrica , quer nas fabrica , em que se emprega , consul- te-se G Perfeito Indi^oeiro , composto por Mr. Monereau ; a obra de Mr. Ra^eaii ^ intitulada SíS Ma níffac luras doln' digo de diversos Pâlzes , e duas Memorias impressas com a de Mr. dOrval , e Mr, Ribaucour, Unindo as minhas observações com as destes Authores fiz a re- dacção deste. Artigo. §. XX. Observações schre oigims vegetaes próprios a darem esta tinta» Ao depois dos grãos, pastes, vinhas, mattas, câ- nhamo, linho, a cultura das plantas tintureiras mere- cem a maior contemplação. Esta he huma verdade que precisa empenhar-se em a reproduzir , em hum tempo principalmente, em que setem multiplicado, e fixado , por hum grande numero de Fazendeiros , hum grande numero de especulações, em que á vista, e o espirito dos capitalista? se esforção unicamente em se occupar em matérias agrícolas , e ccmmerciaes. 'i wê ( 320 ) A natureza , como se sabe^ não concedco só a Granza, ao Pastel, ao Anil , huma matéria colorante , também dotou com a mesma huma grande multidão de hervas silvestres. Dambourney , pelos seus exames, seus^ trabalhos , e suas fortunas, poupou a seus Conci- dadãos , que fazião huma prodigiosa despeza no con- summo da Granza na tinturação das chitas, que fabri^ cão , de tirarem esta raiz da Hoijanda , e Zelândia. Ao mesmo tempo Jhes ensinou processos simples , pelos quaes mostra a possibilidade de multiplicar os seus ma- tizes, e de consolidar as suas cores. Para dar huma idéa da extensão de obrigações, ^ue devemos 3 Dambourney , desejaria offerec^er' aqui a nomenclatura das flores, fructos , lenhos, e plantas indigenas, ou naturalizadas, que elk examinou, e de que tirou hum producto capaz de supprir as matérias colorantes, que os Estrangeiros nos não fornecem, se- não com grandes despezas ; mas eu prefiro enviar o meu Leitor á sua mesma Obra , a esta serie bella de operações, em a qual he interessante ver este virtuoso Author perguntar sem descanso a natureza, e obter das substancias as mais vis na apparencia as mais bellas, e as mais solidas cores. Mais de novecentos matizes fo- rão o inestimável premio de suas vigilias , intitula-se esta obra R.cueil de procede, et de experiences sur Ics thmíres solides que nos vegetau.^ indi^enes commuuhjaent «ut hlnes , e aux l(}l/ia'^es. Poucos dias antes que este homem honrado,, e es- timado de toda a Europa, fosse tirado d parte de Fra«. ça. ( J21 ) ^, para cuja prosperidade tanto concorreo^ e contri* buio , me tinha dirigido huma carta , convidando-m© a occupar a Junta da Agricultura do novo trabalho, qu-i meditava sobre o índigo tirado do pastel. E» veit' 9Í (dizia elle) os maiores óhstacuUs ^ acreditando em as Cí^iídes de Oránge , e Avinha» a cultura da Granza ^ i>u Lizuri de Esmyrna , e de Chypre , da qual estava obrigado ao Jdministradêr Berti/n , por tirar directamen- te os '^rãos , e niemôsear com elles aos habitantes , qUe agora o vendem annualmente mais de I200 cargas , e conservão na industria Normanda não só a boa tinta do vermelho dè Andrhwpoli , ou Turquia , mas ainda afila- tura de todos os Algodões de nossas Colónias , recursos inapreciáveis pára huma população tão preciosa como a nassa. Este fabricante, inflammado no amor de seu paizji não só tinha circumescripto os seus exames em a no- menclatura das plantas próprias á tinturaria , mas ti- nha chegado a Fazer prosperar , nas suas possessões , oú vegetaès , que parecia não tereni sido destinados para O clima do Cantão , ou destricto em que habitava. De» via particularmente este gosto ; que tinha , peías arvo- res estrangeiras a Maleshérhes ^ isto he , a este Filosofo que só trabalhava para iliuminar o seu século , e cn- fiquecer a posteridade do fructo de seiis trabalhos das suas despezás , dos sViís cuidado^ , e daá suas medita- ções. Quanta dor não deve penetrar o coração de to- dos os que souberem a sua infeliz sorte ! Se alguma sousa pôde censolar a estas por hum tal acontecimen- T. IL P. Ih X té , m i \ C }íí ) to, que h. a vergonha de .-ranç. , e huma verdadeira calamidade , ve.n a ser , , e.per.rça de qne algum d.a se levantará lu,rr,a estai™ ^ Malah.rhe, , c„e tan to honrou a natureza Inrrr.na con, as s«as virtudes com os seus longos trabalhos , com seu amor ardente pela liberdade , e com a su,. oblação a infelicidade. Sem pertender examinar neste lugar, quaes sejão « funcçóes da casca na economia vegetal , observarei «jne esta parte parece especialmente ser o sitio ds prin- c.pio colorante. Com effeito , a côr vermelha , que o Orcanete aos corpos gordos, eoliosos, em qrre infun- dem esta raiz, depende de sua casca ; e por esta he que a Granza , e o Pastei sSo tmtureiras. A maior par. te das bagas, uvas, por exemplo, não tem côr alguma a não ser na sua pellicula. Talvez a matéria do Indi- go ex,sta naspeiliculas, que vestem as folhas, e tronco do An,l. Assim desde a casca espessa da raiz mais Gros- sa até a delicada membrana da semente a mais im^per- ceptrvel, esta parte dos vegetaes he de huma nature- 7a drlferente da substancia , de que se acha coberta Çuerer-se-hia portanto, que hum bom espirito , como Mr. Dambourney, possa com sua paciência , e sagacida- de encumbir-se de procurar nas cascas recursos í ti„- tutaria. Algumas experiências ,á tem mostrado , que os cocos dos castanheiros da índia ( i/j,;,««M„«,„ ) poJem proveitosamente ser empregados na tinturaria. Meu Collega, Desmarets meaffirmou, que as duas cobertas ou cascas da sua castanha, que comraummente deitáô na ( i*5 ) iiò fogo , continhão huina matéria tinctorial t, que el- Jas tingião em cor castanha ligeira , os pannos eiti que se giiardavão estes fructos em o ponto ^ que a fermen- tação soffrida pelo trapo no apocirecedoiro , e todas as lavagens da trituração , eni as pias dos engenhos de pa- j)el , hão chegavão a tirar esta côr ; qtie este trapo era em consequência destinado ao fabrico do papel Lombar- de ^ donde natufalmente se infere , que á casca da dita Castanha estava em estado de daf humí côr muièo so- lida 5 sem ser necessário empregar mordente algnm. Logo a tinturaria pode pôf em contribuição a triuitog végetaes , qiie até agora não forão cultivados por este fim. Parece qiié às arvores , e arbustos , cujos fructOs são bagas, poderião ser úteis ás nossas fabricai. A Nes- pereira ordinária 5 tendo passado por humà preparação,' dá humá côr, a què òs Pintores chamão verde de be- xiga , que nada mais hé qde o sueco espesso deste fru- cto , posto á evaporar a hum calor brando , á que se ajunta ò aíumê (pedra hunnè) dissoíi-ído em agUa. Tendo esta preparação' adquirido i consitenciá de me! , Se mete em vexigas, que sé põem á secéar á chaminé. Este arbusto offerèce huma variedade , ccnhecida pelo nome de grSo de Àvinhão , pelo uso dò seu fru'^ cto , e do lugar do seu nascimento : differe da Nespe- reira precedente em todas as sua:s partes , que são me-^ nores y è pefos recortes da flor ^ que não são mais com- Í)íidas que o tubo. As feagas des^tá vaTiedade são rhui conheeidas , e il C fu ) mui nsadáj na tinturaria em amarslle : com eila sé prepara a cor chamada »,:!, de grSo: todavia, apesar das preparações das baga, , ellas dáo hum amarello, sue « conserva muito pouco , e menos quando sa'o para os verdes, OsUmagre, natura] da França meridional, que se pôde cultivar nas terras mais estéreis, colhesse no fim de alguns annos. Para se cortarem os seus ramos , sé servem de foucinhas ordinárias ; deixão-se por cinco, ou seis dias expostos ao SôJ , e estando as folhas suf- ficentementc seccas , se separão dos ramos, por meio ào manguaí as folhas separadas se submetem a humt mó , e se reduzem a hum pó grosseiro , « assim se vendem. Os panninhos de Terftasol Corslla^ preparados nas vizinhanças de Montpelier , nada mais são ^ue re- talhos de panno grosso embebidos dò sueco da planta chamada Tornasòl , e que se expóem ao vapoí da ouri- «a em fermentação para lhe desenvolver humá côr azul. Falta achar os meios dè compor o« pães de Tour- nesol. Isto descobrio Chaptal , fazendo fermentar o tUhci p^rollas de Auvergne : o que faz a base de Or- Sêla com ourina , greda , e potassa. Até agora se tem crido oUe os Hollandezes tinhio- a afte de o èxtrahir (elles erao os que preparavão estes retalhos) este principio cõlorante, como também de o levar sobre huma base , j,-ual á do lápis, para formaf isto, Gue chamamos pães de Tomesoí, Todavja a facilidade , com que estes pSos se co- ió- C 525") lorão em vermelho ,^ a pequena quantidade de mataria C©lorante, que ellas eontém , a impossibilidade de afi- xarem sobre huma base térrea , o uso , em que os nos. SOS Commissarios enão de dirigir constantemente estês pannos a mercadores de queijos, dçverião fazer nascer dúvidas sobre o uso, que se lhes atcribue. As informa- ções racebi^as sobre este assumpto nos instruirão, que os mercadores de queijos faziao macerar estes pannos em hum banho de agua commum, e se servião desta agua , para lavar os seus queijos. - Mas as arvores exóticas , ou estranhas destinadas a adornar os nossos Rosques , c bosquetes , não devem ser o objecto único dos exames dos nossos viajantes. Aqueiles, que podem ser úteis ás artes , também são dignos da sua attetição. Já, Michaux , o filho acaba de informar a classe das Sciencias Pbysicas , e Mathemati- cas do Instituto , que os habitantes da Amer|ca Septem- ptrional , que elle viajou , fazem hum grande uso da casca áoQjuerciis tlnctorUts ^ por dar com maior facilida- de huma côr amarclla que o pastel , o qual requer, o emprego da agua quente. Na realidade : he eousa triste., que se hajão de procurar na casca das arvores materiaes para a tinturaria , visto que se não podem ter estas sem despeza da sua existência , quando se despojão. Vale por tanto muito mais procurar-se isto entre as plan- tas annuaes , e bisannuaes 5 folhas, flores, c fructos. Também deveríamos occupar-nos de plantas , cuja cultura, huma vez que se introduzisse , daria a nossas fabricas mais alimentos , ao commercio huma maip^ ÍA C ^26 ) massa de permutações, e a nossa industria hum bene- fício considerável. Em o numero destas plantas só cita- rei huma que claramente tem o segundo lugar na or- dem dos nossos misteres, e he o Mil ^ de que se tira o índigo. A semelhança , q^e tem este vegetai , e a Luzerna de nossos climas , me obrigou antigamente a meter a ultima no trabalho da Indigoaria , a examinar, se ella forneceria huma fécula azul, pois estava na per- suasão que a côr verde dos vegeíaes era , assim cq- mo nas artes dos Pintores, e Tintureiros, o resultado da combinação do amarello , e do azul , seria possivel de obter o índigo de toda a planta fora do Anil. Es- perando a solução deste grande problema , julguei, não sem fundamento , que o Anil pode prosperar nos nos- sos destrictos Meridionaes , que dão hum bom abrigo. Além de que , sabese que antigamente havia na Ilha de Malta, e em Sicilia , huma indigoaria. Na realidade o calor de nosso ciima não he assáç intenso , nem assas prolongado , para dar a outras pJan- tâs , cu;a naturalização se propõem, o ponto de madu- reza , e perfeição , que requer a sua longa vegetação. Seria, por fxemplo, cousa ridicula , procurar se a cul- tura àoUracctciro, indigena de Ca) enna , cuja semente fornece esta bella côr, amarclla , dourada, e alaranja- da. A mesma opinião temos a respeito da Curcuma , e de muitos outros vegetaes , que nascem sem cultura, como os Lícheaes, que se apanhão pelos rochedos , e com os quaes se prepara esta bella matéria conhecida pelo nome de Orscl/tn, ÁUm ( 5*7 ) ^ Alím disto , quem síibe , se a cultura , da qual tantas producçóes tem experimentado a sua feliz in- fluência , não deterioraria certas ? As minhas experiên- cias sobre a Glicine tuherosa me obrigáo a pensar, que se dão muitas plantas , que tem a sua constituição no estado silvestre , que abandonadas a si próprias , e no terreno mais medíocre estão na sua força vegetativa , e fornecem o que podem produzir , qu« seria supérfluo perder o seu tempo , e trabalho , em procurar o seu melhoramento, e o approxirnallas ás que poderia sub- stituir , ou supprir j que seti crescimento espontâneo nada he mais que hum agoiro certo do seu successo , pelos cuidados da cultura ; que sem dúvida se dão al- guns vegetaes , que se assemelhão a ceitos animaes , que resistem a todo o género de cultura, como se vê nos Selvagens resistir a todo o género de sociabilidade, Dão-se muitas plantas úteis , cujo destino he crear- se sem cultura. Dão-se continuamente pelas • não ver cobrir, huma extensão de terreno perdido para as nos-"^ sas precisões reaes. Seria mui fácil multiplicalias pelas valas , pelos lados dos caminhos, peias margens dos rios, ribeiros, e canaes , em todos os lugares aquáti- cos , imitando a natureza que espalha as suas sementes pelas circurnstancias as mais oppoi tunas ? Taes são a orobo tiiberoso , z junca , a ulmeira , as sal^uclrlnhas ^ as hortelãs , os ouregãos , o serpíro , a glestrella, Hu- mas produzem ramalhetes de íloies mui agradáveis, e suas folhas dão hum excellente pasto , outras tem , ou sementes , ou raizes farinhosas. Aformosar-se-hião cá C 328 ) os rosssdos com espigas de flores^ fmui cheirosas ; ai avenidas verdes podião ser bordadas do frumental , e de outras gramíneas silvestres. Unicamente- se deveríão construir cercas, ou sebes, com arbustos , que de^^sem bagas , de que se podesse tirar huma bebida vinhosa , Jiuma matéria colorante , ou hum sustento succu]ento para as aves. Deste feitio se uniria o util ao agradá- vel , e se encontraria© recursos nas plantas , que nascem , í3orec«m . e fructificão espontaneamente , e sobre as «juaes o homem , pelo dizer assirn , não tem direito al- gum dos que dá o trabalho, Sabe-se, que não ha canto algum na terra , que se- ja ferida da ' esterilidade , que não possa produzir sua arvore , ou sua planta. Deve-se somente tratar da es- pecie, que mais lhe convém. Que riqueza senão tira. ria do nosso terreno, se solhe déssemos constantemen^- te o que elle pode prosperar. Seria facil não se enga- nar neste género, sem recorrer a ensaios sempre infru- ctuosos, e, pela maior parte, impraticáveis. Bastaria pôr os olhos na topographia rural do paii , observar as producçóes livres da natureza , e considerar ao depois as que a mão do homem dirige. Este parallelo presto mostraria, quaes são os vegetacs , que se havião mis-" ter para huma cultura de preferencia. Se assim fosse, tôl clestricto se entregaria ás plantas oleosas , outras á-'filatura, cordoaria, etc. , oiuios á tinturaria, outros ^ps grãos, ás vinhas, ás madeiras. Huma só senão en- contraria , que deixasse de produzir alguma cousa v. g. pastos , íáizes comes tireis. Entáo esl^ massa de recur- sos ( 329 ) SOS adquiriria as qualidades , que o coricurso das ciicum» stancias mais favoráveis poderia reunir. Os câmbios , que os Fazendeiros farião entre si, multiplicarião suas rei*» coes commerciaes , e estreitaria mais os vincuios da amizade. ' Qual he a razão , porque as nossas Colónias , ten- do-sc enriquecido dos thesouros , que o Reino vegetal encerrava na Ásia , e Africa de maior importância, não augmentão as suas conquistas, ajuntando também algu- mas producçoes do hemispheri® do seu próprio continenU te, tal com.o z Cochonilha ^ plantando-a em destrictos mais favoráveis, e ao redor das casas ^ O puntia ^ ou Ca* cto-CocItinllheiro melhor que os outros para estas produc çóes , para a criação dos insectos ? Porque , como obser- vou judiciosamente o Author do Diccionaiio Encyclo- pedico no artigo Cochonilha , náo tem feito os nossos Entomologicos tentativas repetidas relativamente á uti- lidade, que se poderia tirar dos nossos Gaiinsectos in» digenos. Todavia, prccurando-se natural isar novas produc- çoes, não devemos perder de vista as que melhor con- vém ao terreno , e ás suas differentes temperaturas. Dando-se extensão a esta cultura , nos veriamos deso- brigados de comprar aos nossos vizinhos por grandes somm.as , o que nos he fácil f^reparar nos nossos lares, e fogões. Nós não temos chegado a dispensar da galha de Alepo , ou de Esmyrna , para os nossos Sombreirei- yos ? Esta matéria não he vantajosamente substituída pela casca do carvalho, que dá hum negro tão solido, mui- m ( no ) muito melhor, e a melhor preço ? Libertemo-no, de todas estas contnribuiçôes, de que estava sobrecarregada a HossaJndustria. Nós possuímos objectos, que serão tómpre ptocurados com ardor por todas as Nações , que se não poderão prover em outra parte, -n^^ Que circumstancia mais feliz , para augmentar o ^mso das matérias colorantes, que agora se occupáo -lia perfeição da tinturaria os dois mais iUustres Sábios ^a Nação Chaptal , e Bertholet. Basta nomeallos para •Jh« tecer o elogio, e conceber a esperança de que as Artes vgo a receber a luz da Chymia, N/:p. Esta Memoria he de Mr. Varmentler, Ex. C ni ) Explicação das quatro Estampas pertencentes digoaria , copiadas díi Encyclopedia. In- Estampa L ^rabalho do terreno para se plantar hfim Indigoal^ e parxi o colher. Fíg. I. X Erspectiva de hum terreno trabalhado por hum ancinho , para formar hum Indigoal. *, Ancinho. ee , Braços do ancinho. y, Barra do mesmo. ^g , Pretos , que puxão por elle, hh , Cabo do mesmo. i, Preto, que guia a sua marcha. . /• , Regos abertos pelos seus dentes. /, Pretas, que plantão o grão da Indigoeira nos r«gos abertos pelo ancinho. Fig. 2. Perspectiva de hum terreno., cheio de covas feitas á enxada , (jíg-. 4. ) para se plantar huni Indigeâl. ^, fl, Pretos, que fazem covas á enxada. ^, Pretas , que plantão o grão da Indigoaria nas co- vas , 3. Perspectiva de hum terreno , fem que se corta o IndigoaJ, do qual se formão feixes, que se le- va aos tanques. m, Plantas de Indigoeira, que estão de vei. m, «, Pretas, que cortão a herva com suas segadeiras próprias C/^. 7. ) ' ©, Preta , que a enfeixa. P, Preta, que a canega ao tanque, ou Indigoaría. Fíg. 4. (Veja-se a escalla para as proporções) reprew senta huma enxada., instrumento, de que se ser- ve geralmente nas nossas IJhas da America, para SC trabalhar a terra. Este instrumento he compos- to de hum cabo de páo , passado p^clo alvado do feno da enxada rigorosamente chamada. Fjg. 5. Ferro de huma enxada , visto de costas. Fig. 6. Ferro da mesma , vista pelo seu lado interior. Fig. 7. Faca de cortar a Indigoeira , ou ferramenta, i^:;^icom que he cortada. Fjg. g. Rodo, instrumento de madeira , com que se •^^vo.. cobrem as covas de terra, onde se plantou a In- rrw.A digoeira. Fi,^. 9. Cuia, ou parte dos cabaços. Fjg. ic. Representa o lado do ancinho , com o qual -e: .-:.se ?brem os regos nos terrenos , destinados » Irv digoaes (^Vede fig, i. da mesma Estampa,) i ( 3H) Estamina IL lill inlrff! Õ alta dã Estampa , ou cabeção representa á vtséà de litíma Indi coaria i yí, Alverca; ou tanque de agua ciar». B , Infundidoiro.' C^ Batedoiro. I>, Rèpousadoiro , que Se ehama DlaÚotin. £, £, Torneiras, peias quaes a tinta de hum tanqtíé passa para o outro debaixo. F, Buracos , que se tapão huns ao depois de outros ,- para vasar a agua cJara do batedoiro , quando í fécula já sê tern precipitado no fundo. G, índigo, dé que se tem enchido õs saccos dé pan- no, em forma de calças para os fazer esgotar. H, Alpendrada, ou rancho aberto y com correnteza dé ar, onde se põem o índigo em taboleiros , par» o acabar de seccar á sombra debaixo delle. 1, Preto, que traz a planta ao infundidoiro. K^Ky Pretas, que mexem, ou morem continuamen- te a tinta do batedoiro com baldes furados , t pe- gados em cabos compridos. li, Plaratas da Indigoeira. M , Casa nobre , oU de vivenda do ^ropÀetario , ou dono. 2V , Campo semeado de Indigoeiras , oú Indigoal. Fi§. I. (7, í?, Taboleiros de madeira levantados em Estampa III, Satedoira montado: andaime^ ou tablado das poços seccadoiros y e corte vertical da Indl^oaria, Fi*. I. Perspectiva de huma Indjgoaria simples , da qual o infundidojro está carregado , com as bar- ras , ou travessas : o batedoiro montado , e prom- pto a ser batido com baldes sem fundo. # , « 5 Infundidoiro , ou fermentadoiro : tanque em que se infunde a herva para fermentar. Ã, í, Batedoiro, tanque em que se bate o extracto. ^j ff, Repousadoiro , terceiro tanque grande, ou espé- cie de tapume , que serve a encerrar , ou a con- ter a bacia , ou T>iablotin k ( /íg-, 4. ) , e o pen- duradoiro , ou cabide, «, (a mesma figitra"^ no qual se pendurão os saccos cheios da fécula do índigo. ày d. Mourões, ou chaves do Infundidoiro, €, Torneiras do Infundidoiro, que se abrem, ou de- sarro] hão ao depois de ter a herva fermentado suf- ficientemente. J^, Torneiras do batedoiro , que se abrem humas de- pois de outras ao depois da batedura , c repousa» do extracto. G, G, Barras das chaves do Infundidoiro. A, A, Travessas , ou barras do Infundidoiro, que *- poiáo sobre as paiissadas. (357) f, i, Palissadas , ou pranchas de palmito deitadas por eima das hcrvas , quando o tanque está cheio. /, Escada do repousadoiro. 77Z , 7M , Caixão dos baldes de bater o extracto. 7i , u , Forquilhas dos ditos baldes. Vj Cabq^ dos ditos. (;» , o) ^ y Torneira quadrada do repousadoiro ; a torneira , que está aberta sempre , responde ao canal da descarga chamado valia. Q la vide ) v^ Cabide , onde se pendurão os saccos cheios de tti'^ digo. Fig. 2. Perspectiva do andaime , ou tablado posto so- bre hum poço da Indigoaria , para se tirar a a- gua , e encher o infundidoiro ao depois de estar cheio de herva , e com as barras. «, Forquilha da alavanca j ou contrapeso, que levan- ta , e abaixa. h , Asna que forma a alavanca^ e , Andaime , ou tablado. _/, Correia , ou corda do balde de tirar agua. g- , g- , Canal , por onde a agua corre ao tanque^ in y Preto , que pega no balde para lançar a agua rbo canal , por onde corre ao tanque. /í , Preto, que faz subir hum balde pegado a hum dos braços da asna. f^ Poços da Indigoaria. Fig. 3. Perspectiva do seccadoiro 5 e tendaes , em que se põem es taboleiros cheios do índigo , que se tem para seccar» íllf r y Edifício , e casa áo seccadoiFo. s,t, Tcndaes , que se prolongão muito adiante ào interior do edifício. ■Fig. 4. Corte vertical de huma Indigoaria. « , Infundidoiro , ou fermentadoiro : tanque , em que se deita a herva a fermentar. è , Batedoiro , tanque , em que se bate o extn, Fundo do repousadoiro. x^ X, Rolhóes de madeira , cm que se fazem os h\X^ racos para as torneiras. -íí'^ f 4 mé m ih é ( Í40) Estampa IF. Operação de bater o Índigo, seccaditra , ou descascaditrm daí bajes , oit siliijiios , maceração , ou infusão das \ Joihasy seu,enseccament9^ e pendaradarã no cabide. 'iii Fig. I. Representa hum tanque destacado , em que se bate o índigo á maneira da Índia Oriental , des- cripto por Tavernier, c Pomet. a, «jBatedoiro, tanque, em que se bate o índigo. hy Torneiras do batedoiro. c, Eixo do batedoiro. d, d, d. Baldes abertos por baixo, ou sem fundo, e pegados no eixo do batedoiro. f /yr/ ; / r /^/ , /, /'//// w U^r.Pj '^jff/rr/<'//f' ///r>////^ff/f'^/r?/-/<'i' f/rZ/rr-r^^h ?^f ^/f. y^yy//- = ^ f/Yf /'r>'/'//'///f/r^y''//'^y^'^^ ' *""'*'"^"" ^/in/rf/o/rc - <■/,.,>„., . rf' > >^ x//^ //^ > - //^^//^/^^^ //' ^/=^y<^ 'Z^çr77rTZyr/^,_ )<,r tlí , 03 Hollandezes Orleone , he huma drtga , que ser- ve á tinturaria , e á pintura. A arvore , que produz os ■grãos , de que se compõem a tinta Uriícu , gosa do mesmo nome , e não he mais alta que huma pequena laranjeira. Suas folhas pontudas , pela sua ponta tem a figura de hum coração. Dá fiares brancas misturadas de enearnado , compostas de cinco folhas em feiçã© de 'cstrella , que crescem em molhos nas pontas dos ramos. ( 346} A estas ílores seguem pequenas causellas, que contém muitos grãos da grandeza de grão de coentro , cober- tos , estando maduros, de hum vermelhão o mais vi- vo , que se pôde imaginar. Para se ter esta preciosa côr , se sacodem este» ^rãos em hum vaso de terra, laváo-se com agua tepi- da, até que deixem o seu vermelhão. Tendo-se depois deixado repousar por algum tempo, se toma o pc , ou sedimento , que he huma espécie de borra, com qua se formão os páos , ou taboletas , ou pequenas bolas, muito estimadas, quando são puras , e sem mistura, o que he cousa rara. Alguns se servem do fogo tam- bem , para fazer cozer esta droga , e dar-lhe con.iitcn- cía. A côr , que os Tintureiros fazem com o Urucú , he mais cara , e menos segura , que a que se faz com cas- cas de cortume , e assim lhes he prohibido. A côr ala- ranjada todavia se tinge com o Urucú , e hum pouco de páo Brazi], Deve-se escolher o Urucú de hum chei- ro de lirio , ou de violas , ou o- chamado verdadeira eayenna o mais secco, c de côr mais subida , que se poder encontrar, de hum vermelho vivo de papoula, brando ao tocar , sem alguma dureza , fácil de se es- tender 5 e nunca tão duro que , tocando alguma cousa forte , não possa fazer alguma impressão. Finalmente , quebrando-se , o seu interior deve ser ainda mais vivo ^ue o seu exterior. As fraudes , que se podem commetter neste género, consistem , em lhe misturar terra vermelha bem peneira- da | C 347 ) da, eu ladrilho moido no momento , em que se acaba dois dias em ambas as aguas , e a agua , qu^e lícíííts si^ he , se chama a terceira. Ainda se dão alguns fal>iicantes , que os põem a resseccar , para lhes tirar ainda agua , a fazer o Urucú , Hias este he muito fraco, e só he hum tempo perdido , c faz o vosso Urucú ser de huma qualidade inferior. Pó- de-s-e , querendo, fazer- se deste modo, mas a agua de- ve servir para se infundirem outros grãos ,- como a agua do Urucú, isto he, a agua russa, que fica ,, ao depois de se liie ter tirado as escumas , que se devem pôr em huma canoa, pára as guardar para este uso, que se cha- ma canoa de agua. Alem desta , se deve ter outra canoa , chamada de lavar 9 que deve estar s^jmpre cheia de agua , a fim áe que os que manejão o Urucú nelia lavem as mãos 5 e as peneiras , cestos , ou pilões , etc. a evitar a me- nor perda ; por ficar buma tal agua mui própria a in» fundir-se os grãos , e dev^e estar junta á agua do Urucú , visto que ambas contém sempre algum , e communicar esta impressão , quando quizerdes fazer Tosso Urucú, o que se deve fazer , logo que tirardes a vossa- agua segunda. Precisasse tomar esta agua*, e passralla para huma €anoa , chamada de passagem , sobre huma peneira , que se deve lavar muitas vezes sobre a canoa de lavar. Es- ta canoa da passagem deve ser mui commoda, se fôr dividida peio meio; porque se deve passar duas vezes pela peneira , que deve ser lavada muitas vezes no co- 3£o áe lavar. Este coxo de passagem deve ser muito ( iíí ) iiiTipo , e se deve misturar a esta segunda agua hurri bom terço da primeira. Do mesmo modo se passa ú terceira agua ,' misturando-a com os dois terços da pri» meira. Tendo sido por duas vezes a agua passada pelíj peneira, deve ser posta em huma , ou muitas caldeirasí de ferro, passandoa antes por pannos ralos, e muitas vezes lavados. Esta agua , posta no fogo , logo entra a escumar , que se tira , t põem em hum coxo á par- te, ao qual se chama o coxo das escumas. Quando a agua òãò escuma mais , somente he boa para se pôr na canoa , para servir de pôr de infu- são os grãos. Se a escuma vier muito depressa , preci- sa-se diminuir O fogo, Tendo-se muitas escumas, para zécoíéiy as poreiá ém huma caldeira, chamada abateria, debaixo da qual fareis antes muito fogo , dimiiiuindo-o , á proporção ;^ que as esèumas sobem. Precisais*, da tempos em tempos , alimpar as vossas caldeiras com a pedra pomes , prineipal mente , a chã* ínada de bater, ou bataria. Preci§a-se nz bateria huríí pfeto , que ámexa qua» $\ continuamente, e despegue o Urucú, que se pega- ria ao fundo , e ás paredes da bataria , e quando o vos» so Urucú salta , precisa diminuir p fogo ; porque lho saltaria a metade, e o seria muito depressa , quando não saltarido maisi , basta deixar-lhe somente brazas debaixo da bateria , e então só se precisa moveilo huna pouco , o qm s@ shama vsss€r. % % Es» C 355) Espessando-se o vosso Urucú , e formando huma massa , precisa voltallo , e revoltallo muitas vezes na caldeira , diminuindo pouco a pouco o fogo , pata que se não queime , € nisto se deve ser bem exacto ; por- que o Urucú não secca cm menos de dez , ou doze horas. Para se conhecer , quando está cozido , nada mai» tendes que voltallo, e revoltallo, molhar vosso dedo, ou escarrar em cima , e não pegando o Urucú , está cozido. Neste estado se deixa endurecer hum pouco mais na caldeira com hum calor muito moderado, mexen- do-o , para que se coza , e seque mais de todos os la» dos. Tirando-se , sempre fica algum agarrado á caldeira, que he preciso não o misturar com o bom Urucú, an- tes sim repassallo com agua, e grãos. Tirado o Urucú da bateria , não se deve logo fa- zello cm pão ., mas sim estendello em huma taboa á maneira de huma massa chata , deixando-o esfriar por oito j ou dez horas. O negro , que o maneja , e faz os pães^ , deve ter as mãos levemente esfregadas de man- teiga fresca^ ou de unto, ou de azeite. Oa» < J.-7) Outro míihodo de fúter Uracií y efus e fax. miiltQ bani. Para fazer o óptimo Uriícú , precisa pòr os grãos «m hum coxo , e que seja Urucú verde , e apenas, 5endo possível, se tira da arvore, sem o bater j nem pesar > mas somente movello , e quando passar os grãos ao coxo, esfregallos com as máos. , e estando assas es- fregados, deitallos no coxo, subirá sobre a agua certa escuma , ou manteiga , que se precisa tirar com huraa cscumadeira , batendo-a em bum vaso bem limpo , ou com as mãos, sem a cozer , a fazelia espessar, e depoi seccar á sombra , se virá a ter hum belíssimo Urucú ; mas feito deste modo se \'iria a perder muito , e os Compradores não o quererião pagar , á proporção do que se perderia, deixando o outro methodo mais commum. Esta mercadoria valia vinte soldos ao arrátel em 1694; chegou até trinta em os annos precedentes , mas a grande quantidade, que entáo se fez, a paz de Ris- wich fizerão-lhe abaixar o preço até sete soldos ao ar- rátel ; a pesar disto , os que o fazião , lhe achavão sua conta, porque quasi se não faz dcspeza alguma na sua factura. As arvores , que a produzem , se crião peíos pastos 5 onde não causáo prejuízo algum á herva , e por consequência aos aniraaes , que rrelles se apascen- tão , e as crianças de seis , e sete annos se podem oc- cupar em a fazer , e trabalhão tanto como as pessoas adultas. Tem o incommodo do seu máo cheiro, e o de deixar nódoas em todo o panno , que se lhe che- ga, por pouco , que seja, nas casas, em que se fabri. ca , e que se precisa toda aprecaução, para não ficar tudo vermelho. Remedeão-se estes três inconvenientes , fazendo- se as casas , em que se fabrica o Urucú , apartadas , e & 3ota vento da casa nobre, e pondo em hiima lexivia particular todo o panno do serviço deste trabalho. A trapaça 5 que se pode fá^er , nesta mercadoria, consiste em misturar terra vermelha bem peneirada, e pó de ladrilhos secco nas caldeiras , onde se secca a massa do Urucú , hum momento antes de ter adqui» lido o seu ultimo cozimento. Esta terra lhe augmenta o peso , e o volume ; mas o meio de conhecer esta fraude he pôr algum Urucú em hum copo, cheio de agua , se o Urucú for puro , se dissolverá totalmente , sem deixar cousa alguma no fundo , se for misturado * to abastecido de sementes angulares, adhereníes a lium receptáculo linear , qut corre pelo con^primento a tra- véz da capsula? D-ste género só se tem descobert© huma espécie, á qual chamão os Erazilianos Urucã , os Mexicanos Achietll , CS Insulares Americanos Blxst , donde Linneo tomou o nome de Blxa, Os Europeos Tnglezes Arnota Anõtta : os Hespanhoes Orethana , os Franceses Roucgk ^ ©s Pòrtugiiezes Vrucú, As plantas deste género , por terem muitos eçta^ mes , e hum estilo , fazem parte da primeira secção ái decima terceira classe (modernamente da decima se €m que as mondarão , não morrem , e affogão a nova planta ; por isso se faz preciso, que as hajão de tirar fora do terreno, e para isto se íaz huma cova, onde se lanção , e onde ejlas apodrecem. Crescendo o Urucuseiro a grande altura , s« cha- fota , para que faça huma copa redonda. Tem o ta- manho de huma avelleira ; mas he muito mais copada. As suas flores são de huma côr vermelha encarnada ; € a sua fructa de hum vermelho carregado ; por isso , quan» ( 3<« > guando est^o em este estado , fazem hum effeito tgrt*' davel pelo contraste com o verde de suas folhas. Também importa muito tirar as hervas de passa- rinho, espécie de pequenas enldçadeiras (cipós no ErazilY que enlação os novos Urucueiros , e retardão o seu crescimento , fazem-nos adoecer , e muitas vezes lhe causáo a morte. Havendo de se ter plantado Mandioca nos intei^ vallos do Urucueiral , se monda esta assim como as mudas, e no tempo em que aquella se arrancar, he o decotar os Urucueiros para lhes fazer accessivel o ar, Fazem-se annualmente duas colheitas de Urucú ; mas , a que se faz no inverno he muito mais abun- dante. Dão-se terras, em que oUrucueiro heimmortal. Kasque não são tão boas durão cinco, para seis annos. Ainda que se tome a seu respeito o maior cuidado , as hervas de passarinho se multiplicão em Dezembro , e Janeiro. A este tempo todo o cuidado , e espreita são necessafios para os conservar desembaraçados ; porque então he que a seiba as trabalha mais , e que esteí vencelhos , ou enlaçadeiras os podem offender muito, O Uriícuseiro ílorece em Dezembro ; colhe-se cm Abril : transporta-se em cestos á cabeça dos escravos* Quando os sitios são commodos huma pequena carro- ça armada com propriedade , poderia conduzir á bocc8 da noite tudo quanto se houvesse apanhado nes^e dia. Isto daria huma grande conveniência ; pois que poupa- ria fazer-se no meio do Urucueiral hum paiol ; e tam- bém de se fazer no mesmo lugar huma fabrica d« > pre^ C J67 ) fjíeparàr , o que não podeHa deixar de molestar , ha- vendo de ficar ionge , e principalmente nas estações chuvosas. O Ufucú debulhado , e pilado , se põem em hura «0X0 de infusão na agua regulada pela sua quantidade, ou de seu grão. Ao depois ^ seis dias , se passão pelas peneiras , primeiramente pelas grossas , ao depois pelas íinas successivamente. Devem-se ter para este fim qua- tro providas de panno ; porque estas são mais fecha- das , e por consequência melhores , para se fazer huma melhor mercadoria. Occupão-se neste trabalho as pretas velhas , ou pretos adoentados. Tendo se passado este grão porqna- tro peneiras , gradualmente das mais grossas para as mais finas , e destas para outraá , que sejâo mais : se depõem tudo em hum coxo de descarga j para o fazer aquecer ^ e suar. Cobre-se escrupulosamente este coxo , para que lhe não caião immundicies. O Viucú se sen- ta no fundo : vasa-se a agua, que nada por cima; e esta agua se haja de aproveitar pela sua bondade ^ pa- ia a infusão de novos grãos, se acaso os houverem. Acabadas todas estas operações , se toma o Urucó estufado para o fazer cozer em grandes caldeiras , até que elie comece a inchar , e a formar bolhas de ar^ que se desfazem na sua superfície. A este tempo se àí^ minue o fogo, e se deixa esfriar o Urucú, até o outro dia da manhã. Tirâ-se então da caldeira , e se estende em taboleiros , que se hajão de pôr em lugares altos » para o livrar dê gráas, e do pó^ que muda a sua côr^ ' ii/ ijij ( l6% ) m e diminue a sua t^ualidade , e por consequência o sen preço muitas vezes em os mercados, onde fica sujeito a exames ditlerentes. O Urucú , secco á sombra pelo vento, gosa de huma còr mai<; viva, ou intensa, do que aquelie, que se seccou ao Sol , que fica algum tan- to mais desmaiado. Observa-se que , quanto he maior a quantidade que se põem nas caldeiras , quando se coze , tanto miais a sua cór adquire de vivacidade: vantagem, de que ca- rece , quando as porções , que se cozem são diminutas ; porque então adquire algum negrume. Estando secco ao porte dos Compradores , se lhe faz a entrega, e estes o metem nos seus armazéns, pa- ia s€r pisado , conforme a necessidade , e ser reconheci- do vendâvel , o que se faz de differeníes maneiras. Huns o machucão a huma porta , para verem , se contém corpos estranhos ; outros o põem era bum vaso de agua , e o desfazem. Sendo o Urucú puro , e bem fei*- to , dissolve se perfeitam.ente. Se tiver matérias estranhas , se verão estas andarem vagabundas no liquido , ou precipitadas no fundo do vaso. Esmigalha-se entre dois dedos 5 e se vê , á força de os lavar , o tempo que gastão em colorir a agua. Para o Urucú ser de huma boa qualidade deve ter huma cór encendrada , ou de fogo , mais viva por dentro c-uq por fora ,i e muito macia ao tacto. A sua consistência deve ser tal que huma bala de chumbo, lançada de pc e meio de alto , lhe não haja de fazer moça. Se ella houver dç entrar, certamente o Urucú es- C 3«9) cstaní húmido ; e consequentemente estará incapaz de poder ser vendido. Alguns sujeitos costumão , quando o querem ex- perimentar 5 ter de2 libras em as mãoá , se eilas não lhes escorregão, o julgão bom, em quanto á consistên- cia. Outros finalmente o julgão a olho, prova que pa- rece ser bastante, assim para os vendedores , como para os compradores, que tem consciência, e equidade. A' muito tempo que em Cayenna se fabrica hum Urucú muito máo , por falta de não fazerem observa- ções necessárias de se munirem de precauções sabias , e a maior parte por falta de sinceridade , e boa fé. Donde tem nascido o descrédito , e a Colónia nem por isso tem sido mais feliz. Dão o nome de Gi^odolne a este máo Urucú, alterado assim pelas misturas , que le- va, como pelo máo methodo , com que o fabricao. Para se fazer conveniência com este fabrico , mui-- tas pessoas procurao pisar o grão quatro vezes, e pas- sallo a peneira outras tantas , e ainda o sujeitâo a hii- ma quinta operação. Não pôde haver cousa tão malfei-- ta, ou entendida, como semelhante conducta. O grão já neste tempo não conserva partes colorantes : com isto nada mais se poderá conseguir do que palf-nr, e terra , corpos certamente estranhos , que se precipitão com a còr , que se tira com os novos grãos, que se : Janção de infusão na agua, que se chama loura , ou russa. Não he menos sandice dejkar aquecer o grão por quatro , ou cinco dias , jintes de o pilar , para que se re* ; T.Jl P. L Aa du- ( J70 5 duza em huma massa de lhe attenuar as partes , median- te a fermentação , e de as fazer misturáveis com 2 agua. Neste grão não se procura outra cousa mais do que a côr. Obtem-se por esta via mais matéria , mas seguramente o Urucii íica , por isso m«smo , mais inferior que o cutro de m.eio a meio que for bem fabricado. Alguns fabricantes , menos delicados ainda , reduzem quatro coxos de gráos a hum , para o encorporarem com o grão novo: pilão tudo, até que o reduzao em huma massa, a qual chamão Bat termo honesto , que signi- fica, palha, e grão. Outros tratantes , mais ousados ainda , não receião de misturar com o seu Urucú terra vermelha peneira- da, e também a de tijolo moído. Esta vilhacaria gros- seira poderá enganar huma vez somente , mas com dif- iculdade. He nscessario ter huma alma muito vil , pa- ra sacrificar a honra por hum interesse tão pequeno* Mas e certo he que semelhantes procedimentos vis são mui nocivos ao Commereio , para deixarem de ser repri- midos. A sã justiça do Govern* , a justiça , o interes- se das Colónias reguererião que taes Colonoá fossem cor- poralmente castigados. O sacrifício da honra h« cousa de pouca monta para pessoas destituidas de princípios ; mas he de importância para o estado não consentir , que semelhantes velhacos desacreditem géneros úteis ás ar- tes , e cuja cultura mais animada , e o seu fabrico aper- feiçoado , concorrerião , para que a Colónia de Caycnn» se fizesse superior ás outras. O5 (?71) Oí? Utensílios , ou aprestos necéssarioá ao trabalho do Urucú são canoas 5 ou coxos. O fabricante, aindft íendo de poucas forças , pôde ter muitos mais áo que em rigor lhe hajáo de s«r necessários. O que estiver bena i deve ter quinze^ ou dezaseís. Deve determiíiar a maior de todas para o descascamento dos grãos. O pilão ( dá se este nome a huma certa espécie de gral em que se esmagão os grãos do Urucú) deve ser de huma madeira da maior rijeza. Estes pilões durlo muito tempo. Devem ter sete pollegadas de grossura èm baixo j cinco, para seis nos lados, diminuindo até dbis e meio nas bordas. Ós pilões ^ qué tem cinco pés de comprido , tem ordinariamente nas extremidades hu- íha grossura dobrada da do meio , e a extremidade gros- sa cortada como a de hum ovo, e não quadrada. Se fosse quadrada , não somente duraria muito pouco , © gastaria ^ o pilão ajuntaria , e esmagaria menos grãos no fundo d@ pilão. Só se deve empregar o cerne. Póde-s» •mpregar qualquer madeira rija. Fazem quatro peneiras , os que querem fazer hu- itia boa mercadoria. São melhores as que se fazem de panno por serem mais fechadas. São precisas duas cal- deiras das maiores pela razão de que o Urucú he tanto melhor , quanta he maior a porção que se coze. Collo. cão-se estas sobre fornalhas armadas de alvenaria : isto feito trabalha-se com commodidade , e limpeza. Colhe- res para mexer o Urucú se fazem de algum páo duro quando senão podem ter- de ferro. Em falta dehumas, • outras se suppriráõ com cabaços grandes* São mais Aa z le- leves, e custao menos. Os Taboleiros fazem-se de ca- noas , que não podem mais dar serviço algum : devem ser grandes portáteis : servem tanto , como , as que s« fazem de taboas, e custa menos o seu costeio. MEv ( i7! ) MEMORIA V. ARTE DE PREPARAR A MASSA DO URUCU. (^Eiicyclopuíiie MethocHijue Tom. VII. pag. 73.) o Uruciieiro , que he a arvore , que produz o Urucú , nasce em todas as Ilhas da America. Os índios, e os Selvagens Caraibes a nomeião Achiote , ou Cochehue : as mulheres Caraibes Bixet , 6 finalmente he o Urucii dos Botânicos. A sua arvore he da grandeza de huma avelJeira He muito arramada. Lança desde o pé mui- tas hastes direitas , e arramadas igualmente. Sobe a muita altura , e se chapota para que se arredonde. A sua madeira he branca , e dizem que , esfregando se dois pedaços delia , hum contra o outro , que ateão fo- go , e dão faiscas capazes de se prenderem na isca. To» davia he fácil de se quebrar. A sua casca serve para cordas. Suas folhas situão-se revesadaraente : são gran- des j lisas , de hum lindo verde , tendo na sua pagina inferior muitos nervos avermelhados. As folhas se pe- gão por pesinhos do comprimento de dois , para três dedos. Seus ramos dão nas suas pontas duas vezes cada anno penachos de flores em feição de rozas , gran- des , bellas , de hum vermelho pallido , ti rando para ea- 1 ( 574) encarnado sem clieiro, e sem gosto. A*s flores succe? dem fructos , ou capulhos oblongos ovaes , abatidos nos lados , quasi em figura de Myrabolanos , longe* de huma pollegada e meia , ou mais , compostos de duas portadas enoiriçadas cqm bicos de hiim vermelho escuro. Este fructo , amadurecendo , se faz avermelhado , e se abre em duas partes, que encerrão quasi sessenta grãos , ou sementes dividid*as em duas ordens. Os grãos são da grossura de hum pequeno grão de uva de figu-? ra pyramidal apegado ppr pequenos cubos. Os mesmos grãos são cobertos de huma matéria viscosa , muito ape- gadiça aos dedos ^ quando se toca com a maior precau- ção , e de hunia vistosíssima côr accendrada , de hum cheiro mui.tp forte. A semente, separada desta còr ver- melha, he esbranquiçada. Como os pássaros são mui gu- losos deste cevo ^ o? índios as plantão perto de suas moradias. Dá-se ainda outra espécie de roucou ^ que em na- da differe da primeira , menos em não ser o seu fructo fspinhoso, e que se abre com difíiculdade.^ A sua colheita se faz pelo -S, João , e pelo Natal ^ duas vezes. Conhece se qne o capulho está maduro , amando se abre, por si mesmp na arvore. ^0^ C 375 ) Extiticto j e massa do Urucã, Distinguem-se duas espécies de Urucú na mesma arvore , huma a que chanião verde , e outro secco. O primeiro he aquelle que se colhe , logo que o fructo de algum cacho mostra estar de vez , seccando se , e abriíido se. O segundo , o que se colhe, quando a maior parte dos fructos ficão de vez , e a menor verde. O ultimo pôde guardar-se seis mezes : o outro só dura quinze dias , mas o seu rendimento he maior que o do outro hum terço , e a massa , que produz , he melhor. O secco se debulha, batendo, tendo-o posto antes ao Sol , e tendo-o mechido por algum tempo. Em quanto ao verde , não precisa descascalio , mas só sim abrillo da parte pelo pesinho , e tirar-lhe certa pel. licula , que rodea os grãos , sem se embaraçar com esta pelle. Ao depois de se ter descascados , se põem successi. vãmente em diversos coxos de madeira , feitos de hum só páo , ,mie gosa de differentes nomes , segundo seus diversos usos. O primeiro se chama de Infundir ; o segundo de pilar ; o terceiro de ressuar ; o quarto de agua ; o quinto finalmente de lavar. Ainda se da' hum sexto , que se chama de guardar ; mas que não he sempre necessário : ainda outro que se chama da passa» ge y e oitavo que se chama de escumas, O grão se põem primeiramente em secco no coxo de infundir , onde com hum piláo se quebra levemeií- te, e depois disto se enche o coxo de agua bem clara. ( 576 ) e muito viva até dez pollegadas da borda. São preci- sos para três barris de grãos cineo de agua. Neste coxe de iiijtindlr deve estar oito , ou dez dias , nos quaes se tem cuidado de mexer duas vezes por dia çom hu- ma pá por meio quarto de hora por cada vez. Chama-se primeira agua , a que fica no coxe da infusão , ao depois que delle se tem tirado os grãos com os cestos. Do coxo de infusão o grão passa para o coxo de pilar , onde he pilado á força de braços com pilões fortes por hum quarto de hora , ou mais , de sorte que todo o grão se ressente disto. He preciso que o coxo de pilar tenha pelo menos quatro pollega- das de grossura no fundo para melhor sustentar os gol- pes dos pilloes. Poem-se ^nova agua sobre os grãos, quando elles estão pila'dos , que deve conservar-se por huma 5 ou duas horas , e depois disto se tira para o cesto , esfregando com as mãos ; repete-se a piladura ainda para se lhe tornar a pôr nova agua. A agua , que fica destas duas obras , se chama a segunda agua , e se guarda como a primeira. Ao depois deste processo se põem o grão em o coxo 5 que se chama de ressuar , onde deve permane» cer até que comece a crear mofo , isto he , perto de oito dias. E para que ressue melhor, se cobre com fo- lhas de bananeiras do mato. Tendo ressuado, se pila de novo, se deixa infundir em duas aguas, que se chamão terceiras aguas. Alguns procurão tirar ainda delias hu- ma quarta agua ; mas esta ultima agua não tem huma maior for^a , ç servirá j íjuando muito , para infiindic ou- ( 111 ) outros grãos. Tirando se todas as aguas , se passao se- paradamente por hum crivo do paiz nomeado peneira , niisturando hum terço da primeira , com a segunda , e dois terços com ^a terceira. O coxo., para onde se passão as aguas, se chama da passage , e chamâo coxo de lavage a hum cheio de «u^ua , onde os que tocão os grãos, Javão as mãos, e lavão também os cestos^ as peneiras, os pilões, e to- dos os instruiDentos , que servirão para o fabrico do yrucú. A agua deste coxo^ que toma sempre alguma im- pressão de còr.^ he boa para a infusão dos grãos. A agua, passada duas vezes pela peneira, se põem em huma , ou muitas caldeiras de ferro , coíiferme a quantidade, que se tem destas,, e quando se lhe põem , ainda se repassa a traviz de hum panno claro , e mui- tas vezes lavado. Quando a agua com.eça a -esc-umar, o que acontece, logo que ella sente o calor 4o fogo, se lhe tira a escuma ., que se lança no coxo das -escu- mas , o que se repete até que não escume mais. Mas , escumando muito depressa , se diminua o fogo. Ora esta agua , que fica na caldeira , quando tem escuma- do , se tira , le só fica sendo própria para infundir os grãos. Chama se de hater huma segunda caldeira , na q.uai sp fazem cozer as escumas , para as pôr em consis- tência , e fazer a droga , que se nomea Urucú. Convém observar, que se deve diminuir o fogo, quando as es- cumas sobem j e que nesta (de baier haja sempre hum pre- C J7S ) preto, que mexa sem parar, para evitar o risco, de que o Urucú se pegue ao fundo da caldeira , ou ás suas bordas. Se o Urucú saltar , e espirrar, será também pre- ciso diminuir-líie o fogo , e não saltando, basta que fi. quem somente brazas debaixo desta caldeira, e não lhe dar mais do que hum leve movimento, que se diz voU tar. A' medida que o Urucú se for engrossando , e voltando em massa , he preciso que se vut , e revire muitas vezes na caldeira, diminuindo pouco apouco o fogo , para que se não queime : o que he huma das principaes circumstaneias do seu bom Vabrico , não se acabando o seu cozimentp, senão no fim de dez , ou doze horas. Para se conhecer que está cozido , he ne- cessario tocallo com hum dedo , que antes se tenha molhado ; e se este não se prender , está acabado o cozimento. Neste estado se deixa endurecer na caldeira hum pouco com hum calor muito moderado , voltan. do-o de tempos em tempos , para que se coza , e seque de todos os lados ; e depois disto se tire. Observe-se de não misturar com o bom Urucú huma espécie do mesmo muito secca , que costuma ficar no fundo , e que só he bom , para tornar a passallo com agua , e grãos. O Urucú ao sahir da caldeira de hater não deve logo ser formada em pães , mas sim de se pôr em ci- ma de huma tábua á maneira de massa chata , e de a deixar esfriar nella por oito , ou dez horas , e passadas estas, fazer-se então em pães, acautelando o preto, que a maneja , a que esfregue antes levemente as niãos com ( 579 ) ,(í(5m mante-iga fresca p ou gordura sem sal , ou azeite de carrapato. Os pães de Urueú , de ordinário , pesão 4uas , a três libras , e são cobertas com folhas de ba- naneiras do matto. Ora o Uruçú diminue muito de jpeso ; mas jsto só he nos dois primeiros mezes. Quando se quer ter hum bello Urucú , he preci* so empregar Urucú verde, que se poeiri de infusão em bum coxo. Logo que se colhe da arvore : então sem o bater , nem-^o pilar ; mas unicamente mexendo-o hum pouco , e esfregando os grão entre as mãos se passa para outro coxo. Somente com esta acção se tira de cima da agua huma espécie de escuma , que nada por icima 5 e se faz passar á força de bater com huma es- pécie de espátula ^ e finalmente se seque á sombra. Este Urucú he muito bom , mas só se fabrica assim por curiosidade pelo pouco rendimento que cagsa. O m.odo , com que os Caraib-ss o fazem , ainda he muito mais simples ; porque se contentão com lhe to- inar os grãos , assim que os tirão das suas cascas , de 0S machucarem entre as mãos , que já antes tinhão un- tado de óleo de carrapato. Quando se vê a sua pellicula encarnada despega- da do grão, e que está reduzida em huma massa mui- to forte , se raspa das mãos com huma faca , para a fa- zer seccar hum pouco á sombra, e ao depois, quando está sufficientemente secco , se formão bolos grossos fomo o panho de huma mão , que se cobrem de fo- lhas acima ditas. Com esta sorte de Urucú misturado do azeite de J car« C 580) carrapato, he que os índios pintáo o corpo, seja para o embellezar , seja para o abrigar dos ardores do Sol e da mordedura dos mosquitos. Pertendem também' que esta espeoe de uuçlo lhe fecha os poros dapeile e embaraça , a que a agua do mar não faca impressão no seu corpo, quando nadáo. Também se servem do Urucu , pa,a pmtarem as suas baixeJias de barro ; e põem os grellos do Urucuseiro entre os seus comestiveis, pa- ra assasonar o seu sabor , e juntamente coiorilios de hum açafroado. Os obreiros , empregados no fabíico do Urucii costumáo ser mcommodados de maJes de cabeça que se pode impmar ao cheiro forte do grão do Urucú muito mais exaltado peias infusões , e macerações. Mas esta bella massa, quando chega á Europa, tem ;á per- àido o seu cheiro mui parecido ao das violetas. O Urucú de Cyeniia he reputado peJo meíhor, e ma.^s bem preparado. Os Tintureiros se servem delJe para darem a p.imeira côráslãs, que querem tin;ir em' vermelho, azul, amarelio , verde, etc. Dão se muito poucas cores, onde o não facão entrar. Os Insulares o fazião entrar no seu Chocolate. O Urucú também he o contravenena do sueco da Mandioca , e se lhe attribue a virtude de fortificar o estômago. Se cahir alguma porção em o panno de li. nbo, ficará huma nódoa inextinguível, principalmente se tiver sido misturado com azeite. O Sol seria mais capaz que todas as Icxivias , e esta côr he tão extensi- vel, que hum pedaço de linho manchado, pôde gastar toda a lexivia. p^^^ (381) Precisa adeveitir que , quando a massa do Urucii começa a fermentar, lança de si hum fedor insuppor- tavel. O seu cheiro agradável he hum resultado da sua fermentação , e só , ao depois delia , he que se sente. Também se tem observado que, quanto mais se traba- lha em grande , mais a sua còr he viva , e que , quan- to mais se trabalha em pequeno, se faz negra. OUrucú he puro, e perfeito, quando se dissolve perfeitamente na agua , e quando esta não tem corpos estranhos que sobrenadem , ou que se tenhão precipitado : como acontece no Urucú gigodalne , que he de má C|ualidade ; e peior ainda o que se chama Urucubal , termo honesto de Fabricante , que significa palha , e grão porque para elle se sérvio de grãos novos , e ve* lhos com mistura de algum vermelho do índigo. O Urucú para ser de boa qualidade deve ser de cor de fogo mais viva dentro que fora, macio ao to- car, de huma boa solidez, para que possa ser venda- vel , e de se guardar. Dão-lhe a figura , com que a en. vião á Europa. Ordinariamente he em pães , cobertos de folhas de bananeiras do mato. A massa do Urucú produz huma côr alaranjada como a do Tatajuba, e do mesmo modo pouco soli- da. He huma das cores empregadas nas meias tintas. Fazem dissolver o Urucú pulverisado , onde se tenha antes posto huma igual porção de cinzas gravelladas ^ passa-se-lhe o panno , mas ainda que estas cinzas con- tenhão hum tártaro vitriolado todo formado , as partes colorantes do Urucú não são apparentemente próprias .l â se lhe unir , e a côr de adquirir segurança, Tentar- se-hia em vão o dar lhe solidez prepar^tido o panno pelo caldo do tártaro, e alume. Deve-se escolher o Urucu mais secco , e de huma côr mais subida , que for possível , de hum l^-ermelho de fogo macio ao toque, facií a estender-se , equebran- do-se , de huma côr por dentro mais viva que por fo- fa: algumas vezes se applica a dar côr acera- aaiaiella^ mE* C sSi ) MEMORIA VI. ANNOTO ^ OU URUCU. ( Blxa OnlUna, ) (Jamaica Book líl. Cap. VIII. pag, 714.) Le Loner* E I Ste arbusto he ttiuito commiím na Jamaica* Re- quer hum terreno fértil , situação sombria 5 e crescç com muito vicio junto aos ribeiros. A capsula , ou vaso das sementes , estando maduras , s^o de huma côr parda escura mui carregada : abre-se de si mesma , e contém de trinta , a quarenta sementes , cobertas de huma farinha vermelha lustrosa. Colhendo-se hum suf- íiciente nUmero destas sementes , e deitando-se em hu- ma vasilha conveniente com certa porção de agua quen- te , necessária a tirar-lhe o pó , ou farinha , se esfrega Gom a m.ão gradualmente, ou com huma esponja. Es« tando as sementes totalmente despidas da tal farinha j se deitão fora , deixando-se repousar a lavagem , ou agua impregnada : isto feito , a agua se trasfega , ou decanta , e o sedimento se põem em vasilhas fundas 4 seccar gradualmente á sombra , e , ao depois adqui. rin* C iH ) rindo, por este meio, huma consistência ,. ca solidez' devida, se faz em bollas , ou bolos, se põem a seccar em lugar ventilado até ficar perfeitamente firme, e nes- te estado' e^tá próprio a ser vendido. Multiplica se esta planta por sementes em terrenos férteis , e hamidos entre montes, O seu pó he refrigerante , cordeal , e muito usa- do pelos Kespanhoes nó seu CíiocoJnte , e comidas, assim pelo seu cheiro suave , como pela côr agradável <]ue lhe' cOmmuniea. Medicinalmente administrada , se reputa Boa para^ as fluxôes sanguineas , e moléstias do peito. Misturada com o çumo de limão , e huma gomma faz a côr ver» melha , qu- carmesim , com que os índios ^e pintão , e enfeitão. No principio foi usada pelos Tintureiros para' fazerem á côr chamada ãurora , e cada arrátel custava na Am.erica, naquelle tempo , nove xelins , mas presen- temente não se faz a estimação de hu^ma tinta , se bem- conserva o seu credito com os Pintores. Fructifica em Dezembro. Da casca de sua arvore se fazem boas cordas para as necessidades ordinárias das Fazendas.- ME- MEMORIA VIL SOBRE O URUCUi jkaucouí \ ( Pelà Aathor anoni/mo do Cosnmercè de lAmeHúUé Tom; L pag. 375.) i)ri^em do ifructh O í/fí/fíí bç iiumâ massa extrahida dd succõ doi grãos da arvore Ifrticaelra , a que íambern ehsmlo Aclúotti: ^ boje só conhecida pelo primeiro nome j que ]he he commum com a massa, que delia se faz* Esta arvore nasce espontaneamente, e sem cultura, em to* €k a America 3 e, havendo qualquer cuidado j produi xom muita abundância o seu írUcto. Lemery a descrê-» ve da maneira seguinte : O Urucueiro be dg mediana grandeza (vomo as oliveiras) lança do pé muitas bastes direitíts famo-^as ^ cobertas de biíma casca delgada , Igual , flexível , trigueira por fora , branca pôr dentro 5 seu ienho bs brsnçQ j. cniíbra-se com faulidade | suas ( 526 ) folhas revesão, grandes, largas, pontudas, lisas, de hum bello verde, tendo per baixo muitos nervos aver« malhados ; as tolhas tem pés, ou peciolos do compri- mento de dois 5 ou três dedos : os seus ramos procíu- zem duas vezes no anr.o nas pontas ramalhetes de bo- tões mui pequenos de côr parda avermelhada , que se abrem em flores de cinco folhas , dispostas em rosas , gran- des , bellas , de hum vermelho pallido tirante a en- carnado. Sem cheiro , nem gosto. Sustenta-se esta flor por hum calis de cinco folhr*s , que cahem a medida que a flor se abre. Tem huma espécie de trunfa no meio da ílor, composta de hum grande numero de er. tames , ou fios amarellos em sua base , ou de hum vermelho purpúreo em sua parte superior : cada hum destes estames se termina por hum pequeno corno aí- longado, e esbranquiçado, nrregoado , e cheio de hum pó kanco. O centro da trunfa be occupado por hum pequeno embrião, pegado fortemente a hum pedículo, ou a hum pistflío , e chanfrado ligeiramente em cin- co partes. Este embrião se cobre de pelíos finos ama- rellados , e delíe nasce huma pequena trompa fendida^ em dois lábios na sua parte superior. Quando cresce fica huma capsula, ou causella oblonga, oval pontu- do na sua extremidade , applainada pelos lados , terr- do quasi a figura de hum mirabolano , do comprimeir- to de hum , para dois dedos, de côr desola, composta de duas portadas , ouriçadas de pontas de hum verme- lho carregado, menos picarites que a das castanhas , da grosura de huma grossa amêndoa verdç. Este fructo, ama- áhiádiirèdehdo 5 sé faz âVermelhado , é séaoré emanas paitcs pela pDnta , e contém sessenta grãos ^ Ou seirett- tes divididas éiti duàS ordens : estes são da grossura de hiim pequeno grSô de tivâ , de iigurã f>yrámidal ^ dispostos huns coiitra oUtros , é dnidos pot fJequenoâ pés a huma pellicula delgada j lisa j e ItistrOsa ^ que sé estende por toda a cavidade dos ditos doià batefiteá ^ ou portadas. Estes mesmos grãos são cobertos de humá niateria biímida mui agarrada aòs dedos , ainda qíie sé liie toqiíe com a maior precaução ^ dê hum bellJssimò termelho dê hum cheiro' assáà forte; A semente , separa- da desta materid vermelha , he dura ^ de eòr esbran- quiçada 5 puxando para a de Chifre, Impropriamente se ccmpdra os grãos dò tJrúci^ a crrfios de uvas. Por siía grandeza sè compara melhoí aos grSos da uva»' Ainda sé dá oiiÉra espécie de Uructréifé f cujd fructa liQ èrií pico, mas ã diffículdade qiie tem de abril* ás suas causelias ^ oii foibelhtís j fáz ^ que se despreze á síía Gulturaá Os habitantes do paií , Selvagens' ,■ é Caráibes gos^* ião da còt do Úrucu com tanta paixão , que diariaménf» te ORtão todo o sèii corpo com elle ; p3rra\ a áua õpi-»" íiião 5 e gosto" be hum dos seus melhores enfeites ;■ è à prineipal occupaçSo de suas mulheres O tintar, e esfre- gar esta finta no corpo de setis maridos,' descfe apíait- ía dos pés aíé o' alto da cabeça,- A origem êesié usa data a mais remota arítígíi idade,- Coíivem entretanto^ mão pen-sar, como o- feílo algi-ms viajeiíos^ qué-es>É* - Sb i se« seja a única causa , isto he , o singular enfeite. A ne- cessidade de se defenderem da moidedura dos mosqui- tos , e outros insectos, de que sbundão os paizes cuen- tes 5 fez indispenfiaveis estas uncçóes , ou unturas, e á experieiícia , tendo feito conhecer , que o Urucú tinha esta saudável propriedade, ou Anrtude, não nos devemos admirar cuc estes povos , cuja maior parte andáo totalmente nus , gostem tanto de se fazerem TJriicular. Outro tanto farjarr.os , se tivessemo? nascido neste clima, e se tivéssemos tido a mesma criação. Os primeiros Europeos , que procurarão estabe- lecer-se nas Antilhas , melhorarão o modo de fazer o Urucú, para obterem huma maior quantidade, c forma- rão delle hum dos objectos do seu commercio. Antes de faliar da cultura do Urucú, devo adver- tir aos meus Leitores , que aqui somente se trata do modo, com que se faz em Cayenna , visto que cada paiz , como se sabe , segundo o seu clima , bon- dade , ou esterilidade de terreno , produz as niesmas plantas, maiores, ou menores, e estas mesmas plan- tas necessitão de mais cuidado , e melhor cultiíra em liuns lugares que em outros. Pareceo-me necessária es- ta observação; porque, descrevendo eu o Urucú como hum arbusto , ou arvoreta , os que discorrerão pela Guiena Kollandeza podem achar falsa a minha descri- pção. Em Surinão os Urucueiros são grandes arvores, que se cobrem de fiores , que se tocão todas , e são de hum vermelho claro , com pouca differença , como as das nossas Macieiras. A' medida que estas flores ca» hem , C 5«9 ) hem, apparecem pequenas capsula<: , ou cauíellas , que 'Se alongão , como a dos nossos legumes , com a diffe- rença de serem redondas , e de còr da casca da casta- nha. Nestas causellas se encerrão os grãos ; e que , es- tando maduros , dão o vermelho , que os índios esti- mão tanto, e que a achão táo lindo, que o preferem ás nossas cores , as mais procuradas. Deitai estes grãos na agua, ate despegar-se a pellicula, e vendo a agua bem vermelha , a deixão clarificar , ou assentar , e de- pois de a decantarem, se pintão , ou ungem com o sedimento, que fica no fundo diariamente, e por este meio se fazem vermelhos , que Mr. de Voltaire quiz fazer passar por homens de huma espécie differente da nossa. Quereria também que os Maboiano,^ , que alim-. pão as Chaminés fossem originários de AngoUa. Cultura da Uvucuselro, O terreno , destinado a hum Vnictial^ fosse lavra- do , ou cavado profundamente, limpo de todas as es- pécies de hervas , applainado exactamente, e prepara- do desta maneira , que se houvesse de escolher hum tempo de chuvas , para semear os grãos do Urucú. Sen- do a terra forte nervosa, e naturalmente fértil, se fa- cão as covas da doze palmos de distancia para ambos os lados , e sendo ligeira de oito , em oito. As covas não devem ser profundas : em cada huma se deitâo três , ou quatro, como se pratica com os legumes, e se cobrem com duas pollegadas de terra somente. Pas- sa- 'í ( 190 ) «atíôs quatr© , ou seis dias , nascem os grãos , c o ar- busto cresce , coino dizem , aos olhos vistos. Em seis mezes chega ao seu maior crescimento , ou altura ; e algumas vezes se vem obrigados , tendo crescido com o maior vigor, de lhe cortar os ramos mais altos, pe- lo motivo de tomar ^ forma de huma ^rvoreta , pois dá muitos mais fructos. Se alguma planta , por qual» quer accidente , morrer em o seu nascimento , precisa- se logo semear povos grãos , e , tendo os arbustos adiantado, precisa substituir-lhe outra qualquer planta, das que estiverem reservadas no viveiro a este mesmo I5m, O Urucueiro teme menos os ventos , que as de mais plantas , que tenho descripto , e não precisa que se lhe rodeie o campo , ou Urucuial com muitas or- dens de arvores , para lhes formar hum abrigo. No prj- jneiro anno só se faz humà colheit? pelo mez de De- zembro j, mas nos anpos seguintes de ordinário dão duas, huma erlí Junho, outra em Dezembro. Os Uru* çuieiros durão muito tempo, e s6 se devem renovar, quando deixão de dar frycto çom abundância, ou quan- do todas as arvores tem acabado. Em ambos os casos Jie preciso arrancalios ^ fazer cavar bem aterra, deixai- la descansar por dois xannO"; , quando se não queira es» colher outro lugar , que hç o melhor. Não preciso di- zer, que çonvem plantallos a linha, ou cordel, para que, além do deleite, que causa a vista a regularidade se faça mais facilmente a sua colheita, Conhece-se, que o grão está maduro, e que a côr ée seus ^rãos está perfeita , quando as syas çaiisellas ço- começão a abiir-se. Basta descubrir-se huma , ate duas entre abertas , para se colherem todos os cachos , que contem de ordinário huma dezena. Aperta-se a cau- sella entre os dedos , como fazemos , cjuando debu- lhamos os feijões , os grãos cahem em huma vasilha, t|ue de ordinário he hum cabaço , que são as vasilhas ordinárias do paiz. Despíjão-se todos estes cabaços em luim coxo , feito de hum só páo , com huma quantida- de sufíiciente de agua para cobrir todos os grãos. Passados oito dia<5 , tudo está em fermentação , em cujo tempo se mexe fortemente com pás , e ao depois se pizão em pilões de madeira , para acabar de lhe despegar as pellí- cuias , que formão unicamente a matéria da sua côr. Esta operação se continua , até verem-se as ditas pelli- cuias despegadas inteiramente dos grãos. Isto feito , se passa tudo por peneiras, que só tem os caroços. Cha- mão heblc/iet ( arupemas ) a estas peneiras no paiz , que se fazem de canas Qeacoaréis^ rachadas. A agua fica avermelhada, espessa, e fedorenta, Fazem-na cozer em caldeiras , e se forma huma escuma , que se ajun- ta , e de que se enchem as bacias ; e desde que a es- cuma pára, se lhe pode lançsr fora seguramente o res- to , que nada vale. Os Fabricantes mais ecónomos , em lugar de deitarem fora esta agua , se servem da mesma , para fermentarem novos grãos : por este meio íicão seguros , de que não perdem cousa alg-uma. Este methodo me parece bom. Poem-se as escumas em ou- tra caldeira, fazem cozer por doze horas fortemente, mesendo^as sem cessar coni huma espátula de madeira C 592 ) para embaraçar , que hajão de se apegar i caldeira , e que se não ennegreção , desde que começão a despe gar-se da espátula , que he luim signal seguro de tef tido hum cozimento sutficiente. Então se precisa , sem perder tempo , lançar estas escumas em bacias, ou co- xos , para as deixar esfriar , advertindo , que , tendo ain- da a matéria hum resto de calor , cumpre fazerem-s« bolos de dois ^ até três arráteis , e cada hum destes se cobre em folhas de bananeira silvestre , passadas peio fogo. Seria difficuJtoso de se fazerem bem estes bolos, não se tendo antecedentemente esfregado as mãos com azeite de carrapato , ou marmaono , em razão da viscosi- dade do Urucú , do mesmo modo que praticamos çorn o azeite de oliveira , quando sç fa? o visgo, yso do VriiciL Já fíz conhecer a desm,arcadí^ paixão dos Selvagea. » e Caraíbas, pela côr do Urucú, e a pintura , que fazem no seu corpo desta tinta , cuja côr he tâo beija para elles. Tem na sua factura liuma vantagem sobre nó^r: não tomão tanto trabalho > e a fazem muito melho' : rião empregão nem coxos , nem peneiros , nem caldei- ras : seu methodo be todo simples : colhem as causei- las , estando ainda verdes, abren>nas á mão, e e fre- gando grosseiramente os grãos , lhe; tiião as pelliculas , de que fazem huma massa á força de as rol lar entre as mãos , ao depois a fazem seccar á sombra , servin- do-se diariamente, O Urucú he muito superior ao que fa- C m ) í^zemos ; mas ficar-nos hia então mui caro , e nos exi* giria muito tempo , para se fazer huma pequena íjUan- tidade , que apeiías pagaria o transporte para Europa. Os Caraíbas , os mais indolentes homens do mundo , achão nesta factura hun).a occupax^ão conveniente á sua JncIina.ção. Andão nús , e a sua peile pintada desta cór , ião está sujeita a gretar» Isto não acontece aos Europeos : tem precisão de encontrarem no fabrico do iJrucú humâ animação em fazerem Vriicuces ^ ou plan- tações de Urucú ; e só a quantidade he a que lhes pó* de íazer este beneficio. Felizmente 'se tem, experimenta- do , que serve em dar a primeira côr ás lãs , que se que- rem tipgjr de vermelho, azul, amarello, verde, ete. Dão-síi mui poucas còrcs , em que o não facão entrar ; e huma propriedade particular a esta tinta , e vem a ser, o ser inextinguível nas mais fortes lexivias. Uni- camente o Sol ardente a pôde apagar , e ainda, para isto mesmo , se faz mister o expolla por muito tem- po. Tenha*se a prtícaugão de pôr as fabricas do Urucú longe das casas de vivenda , para livrar da impressão da sua çôr os moveis , e vestuários, i "Proprhda^cs do Urucú. O uso do Urucú nas tinta he sem dúvida a mais principal ddiS suas propriedades, e nas Tinturarias affei» tas a servitem-se delle , se verião sobejamente embara- çadas 5 se se lhes houvesse de prohibir o seu uso. As diversas cores , de que a variedade , pela maior parte , faz C Í94) faz o preço de certos pannos , não teriâo consistência alguma , se os pannos em branco não tivessem sido antes Vracuiados , ou passados pelo Urucú , o que o encarece assas de preço , quando o Urucú he raro. Também he droga precisa na Medicina. Tem-se decidido, que o Urucú, com tanto que.se tome com moderação , isto he , que não exceda a huma drachma , produz maravilhosos effeitos em reestabelecer a fraque- za do estômago, ao qual tem a virtude de fortificar, e de ajudar a digestão , de facilitar a respiração , de curar a asma : excita as ourinas , e para o curso do ventre, purgandoro amorosamente. Eis-aqui o com que se pôde fazer viver o homem muito tempo , e com este fim , sem dúvida , os nossos Insulares o deitão no seu Chocolate, e de huma bebida muito agradável fa- zem huma má medicina. Não sei a razão , porque o gosto se lhe muda ; mas somente hoje se emprega na Tinturaria. Observa-se que os Operários , occupados deste trabalho do Urucú , sSo inçommodados de gran- des dores de cabeça, e que , para se curarem, se lhes faz preciso occuparem-se em outra cousa , o que mos- tra , que se o Urucú , tomado interiormente , tem grandes virtudes , o seu cheiro não he saudável. He certo que he de hum fedor insupportavel , quando o Urucú co- meça a fermentar, mas este cheiro, tão incommodo, st muda em hum cheiro agradável, passada a fermen« tacão. Com» C m ) Commerçio dv Vrucit, Aos nossos Negociantes importa prinçipaJnrente eonhecer o Commerçio do Urucú. Ficar-se-ha pasmado, sabeiido-se , que çm i6%% apenas entrou em Marselha seis mil e quatro centos arráteis , quando , huns anno» por outros , anda esta entrada em ceiito e vinte mil , o que mostra hum augmento píodigioso do consummo desta droga» O Urucú de Cayenna he o de nnaior estimação, c os Tintureiros lhe dão a preferencia ao das outras Ilhas; e assim lioje vem muito pouco de outras par- tes. Pódc cQxn tudo acontecer, que o de Cayenna seja muito máo, ou por ter sido muito batido, cozido, ou falsificado ; precisq escolhello de hum vermelho vivo macio ao tacto sem dureza alguma ; que se estenda fa- cilmente ao dedo c^dcando-o, d@ hum cheiío de viole- tas ; e partindo-o o ipterior, deve ter huma còr verme» lha mais viva qus q de fora. Conhece se a fraude, fa- zendo dissolver hum pedaço de Urucú em hum copo de agua ; senão for misturado de corpos estranhos , na- da se sentará no fundo , e ainda que lhe ajuntem pou- eo barro vermelho , o engano se fará evidéqte, O Urucú diminue muito o seu peso nos primei* ros dois mezes , mas passada esta diminuição , nada mais perde, e se pôde guardar o tempo, que se quizer 3 sem o risco de perder cousa alguma mais. Disse acima j <^ue se embrulhavao os bolos do Urucú em folhas de C 390 pacobá , e que estes bolos pesavão duas , ate três livras : he do costume abaterem cinco por cento pelo peso das ditas folhas, que sáo hum corpo estranho, e se os bo- los fossem mais pequenos , se deveria augmentar pro- porcionalmente : entre tanto, quando se vende, se de- ve explicar esta tara , para se evitarem contestações entre os Compradores , e Vendedores. ' O Urucú he hum dos géneros , cujo transito se permiíte a travéz do Reino para os estranhos com isen- ção de direitos, sem precisão de o encerrar em arma- zém de entreposto , fora de sua chegada a Marselha. A respeito do que está destinado ao consummo do Reino , se fixarão os direitos no Art. XVIII. das Cartas paten- tes do mez de Fevereiro de 17 19 em duas libras , e dez soldos por quintal, ou cem arráteis. ME- C 397 ) MEMORIA VIII. SOBRE O URUCU. Be Oriíhana. Oríeana, ( Blsíona SimpUchim Reformata pag, 7 . ) A Christophoro Bernardo Valentini. V." S Tintureiros recenseão esta tinta por alies assas conhecida , em as tintas térreas , quando na verdade he a fécula de certa tinta feita de huma semente estiangei" ra. Ke dotada de hum vermelho amareJlado escuro , de hum cheiro semelhante ao das vioJetas , e sabor de alguma maneira adstringente: trazem-na da índia Occi- dental parte em bolos quadrados , parte em massas re- dondas. A tal semente he produzida por huma arvore bai- xa , a que os índios chamao Achiotl , e Urucú , 03 Hollandezes Orelhana. Assemelha-se no seu tronco figu- ra , e grandeza a huma laranjeira ; a casca de fora he loura , a de dentro verde ; os ramos são cobertos de fO" C 55i« ) folhas ásperas , e verdes , dispotas como as dò òírtíeí-' ro. Coir.o o Helleboro negro produz flores brancas, e avernnelhadas , as qUaes são cheias no inteiiof de febra- sinhas louras, e terminadas nas pontas em vermelho ^ donde se gerão causei las , ou capsulas ásperas , mas não pungentes, do tam-anho das da amendoeira. Esta? causellas abrem-se de si mesmas , e mOstíão huns pe- quenos grãos , ou sementes como as sementes das uvas, cobertos de bum lindo vermelho, Colhem-se pe- lo verão , tendo a arvore yâ hum annõ de idade , a qual os índios em signal de stia estima cultivao junta das suas moradas.^ A casca lhes' dá; huma estopa de que fazem cordas ^ qií* são muito mais rijas que a do li-^ nho cânhamo í côiti o linho assas durO tirão fogo , co- mo- com a pederneira. Veja-S« Hcmdndes Kcrmú M>:~ di6^ No-o.- Hisp. pag.- 74, onde a^descreVe elegantemen- te , e dá a figura , mas a de Pluxen^t he muito me* Ihor. Kesta mesma* pintura de algama sorte se põem á visf» o modo com que se faz esta tinta' , cirjo mo- do he o seguinte. Òs Americanos, e cotfi especialidade os habitantes de S. Domingos , põem de molíio em agua quente as tass sementes vestidas da sua feciils vermelha, e a mexem por muito tempo esmagando-a ,^ ate que a agua se impregne de toda aqúella , com a qual, decantando-a 5 a deixão' descansar, atá qUe acôr se sente no fundo da vasilha , de alguma maneira, como também se obriga a fa^er ao índigo. A q»a4 f** i ( 399 ) cuia, estando secca , se pisa em certos pilões, para os reduzir a massa , e desta fazerem-se bolos de differen- te figura , e grandeza , que envjão á Europa. Dão-se ainda outras opiniões sobre o modo de se extrahir esta tinta. Dizem, que os grãos são pizados , antes de lançar na agua , em pilão, ou gral , o Senhor du Elegny en- tende que a Orelhana só he hum sueco espremido dos grãos , cozidos , e seccos o que já Pomet repelio, e Dale , ttc. Os Droguistas , e Boticários vendem duas sortes de Orelhana , huma secca , outra húmida , esta como huma massa densa côr de oiro , e muito mais baixa que a secca , da qual também se dão differentes espé- cies , que, fora a ordinária, se vendem em quadrados grandes , como pedaços de sabão ; também em massas redondas, e em rodinhas, como moedas Francezas , que são muito lindas , e se podem usar interiormente , co« mo remédio ; as outras , pelo contrario , são mal fei- tas , e tem máo cheiro , e são inúteis á medicina ( Po- met. ) Ju!ga«se pela mais excellente a que tem o cheiro do Lirio illirico muito bem secca, e de còr muito vi- va , o que se vereíica na que nos vem de Cayenna, Deve-se totalmente rejeitar a rançosa , húmida, nãa cheirosa, moffenta , visto que nem para a boa tintura- ria serve, e nada totalmente para a Medicina. Diremos alguma cousa sobre a sua faculdade Me- dica , e virtudes. A Orelhana he refrigerante , e algu- ma Ç 400 ) ma coasa adstringente ; per cltío motivo o" appficXo ínteriormeTite no calor das febres ,- e na dysenteria , co** nio hum remédio, e exterim mente pios tnmores. Donf- de vem utre fazem delia náo só xaropes refrigerantes ; mas Cambem cataplasmas 5 como diz Hernandes. Confor- ta o estômago , augmenta o leite , íomado principah mente com Cacao, ou Chocolate. Usa--e , para se teí huma rmta semelhante á- das laranjas. Os IVlexicatio3 marcão os limittes das suas terras, ou mappas Geo^^r»- pbicos com esta ti-nta , e com a da ctuoúma^, por cujo motitra Escaligero chamou a esta arvore regundorinn finimn.- Importa-se annualmente para Alemanha hum;s «rande quantidade desta tinta paja- os Tintiireiros de lã y de meias^ , ® pannos , a quem se? quer dar hum:v cor de oiro.' A receita , como eu presenciei' e.Necatar , he do theor seguinte zzz Riicipe de Orelhanaa quarta parte de huma livra faqa se em pedaços miu^dinhosy e o seíi pó se- deita em três va^os de huma lexi\^ia forte ,■ pura , e clara , o qu-e tudo se lança em huma caldeira de cobre , e logo que tiver o fogo diminuído alguma cousa, se lhe lança dentro lãs, meias , fios simplez , e dobrados , ou- torçaes , e estancio poF algum tempo de infusão, se tira, e se suspendem ,- e assim se con- segue huma côr nival á das laranjas. E porque a Ore* lhana vem á superfície , e sobrenada na lexivia , a pri* meira tinta sempre he a mais formosa em os- primei» ros pannos, que era oí5 últimos. Bastão seis arráteis d© Oreihana para tingir a- lã » c pannos , ainda 3e poderá tin' .s» fíiQ: .=u- I N D I G E ■''Do que contém este Volume. X-4 Xtracto daAnalyse, e exame Chymico do índigo, ^ue se acha no Commerclo para as Tinturarias. Por Mr. Dijonval. Pao-, i Analyse , e Exame Chymico do Indico, ibid. Extracto sobre o índigo. QHistory qf the West Indics^) Por Br y a ri Edwards. Esq, Cultura^ 3 5 §. I. Espécies, jbid. §. II. Terreno, 54 §. III. Cultura. ibid. §. IV. Estação. jj 5. V. Insecto destruidor. ^5 §. VI. Productj. ibid. §. Vil. Procedimento para se J'azer a tinia, 37 §. VIII. Fermentação. 35^ §* IX. Signaes da J'ermentação, 40 §. X. Batedura. 4I §. XI. Lucros, 45 §. Xll. Descontos. 44 Extracto sobre a Indigoeira. (Dictionaire des Jardenlers.^ Por Filippe Miller. Caracteres Botânicos. 46 THethodo de s€j'ax.er o Indico secundo o P.habat, 47 Cultura, j^ PAR- PARTE I. O Perfeito Indigoeiro , que contêm hwna exposição cir* citmstancladct desta planta , seu corte , J^ermentaçaO hatedara com muitas advertências úteis acerca desta manttfacturas» Por Elias Monnerau , vlsinho de Liino- nflde , repartição do Cabo nas Ilhas Francezas da Ame- rica, 1 o §, I. Dcscripção da Indigoaria, ibid, §. II. Dfjinição do I/idi^o perfeita, 7J §, Hl. E/feitos pasmosos da yermentaçao^ ibid. §. IV. Erros de alguns Aulhores refutados, 74 §. y. índigo de Sarcjuesse ; sò se serve das folhas ^ cO" mo diz Mr. Tavernier. §. VI. índigo franco : sua descripção, §. VII. índigo bastardo : sua descripção. f. VIII. Boas qualidades do Índigo bastardo, §., IX. Guatlmalo : sua qualidade, §. X, índigo bravio. §. XI. índigo Mary, §. XI í. A grande prática faz 0 Sábio Indigoeiro. §. XIII. He preciso visitar-se a herva para se fuzer Juízo da sua fermentação, §. XIV. Em que estação se planta o índigo, §, XV. Modo de se plantar o índigo, §. XVI. Plantar a secco, §, XVII. Quantos dias gasta o grão em kretar, §. XVIII, Cultura da planta. Ce â 7$ 77 %l %z H ibid. ibid. 8$ J. X!X. Cortesão índigo. ^| §. XX. Em que ponto s$ deve baíer.^ 54. §. XXI. RecapltuUçãi}. p5 §. XXII. Qualidade da tigaa depois da hatedure, 97 §. X)CIII. í7«í/'dt nota sobre o mesmo assumpto, 9S 5, XXIV. Qualidade^ de agua dç huma tancada , qwi teve falta de Jermenfação, 99 ^. XXy. Calculo do rendimento de huma hoa tançada. 10 i ^. XXVI. Modo 0 mais seguro para sondar o íani]ue„ 102 §. XXVÍI. Modo dei o bater, jcj §. XXVÍII. Explicação da batedura, 104 §. XXíX. í7í>/7Jí> se solta o tancjue, 105 ^. XXX. D« petrificarão , e jç£< abuso» 108 PARTE lí. §, I. Notas , e observações necessárias para a boa factum ra do Índigo» I 1 5 §. II. Explicação das difficuldades de hum primeiro cor* te, 114 §. Ill, Signaes mais ordinários da tancada ^ 0 que JaU ta a fci;,menta.Çiio. 1 1 ç ^fj Is,--- li U ^