d FAÍ5ÉNDEIR0Í DO B R A Z I L, CULTIVADOR, ,^.^í .-'o FAZENDEIRO y '4 b O B R A Z 1 L, C y L T 1 V A P o R 5 ^leihofado na economia rural dos géneros já cultivados j . ,c de outros , que se podem introduzir ; e nas fa- bricas , que lhe s,ão próprias, segundo o me- lhor, que se tem es.crito a este assumpto, P E B A ÍX o DOS A U S i» l C 1 o S , E DE ORDEM DE SUA ALTEZA REAL príncipe regente, NOSSO SENHOR. Coíiegido de Memorias Estrangeiras POR Fr. JOSÉ' MARIANO DA G0NGEIC;Ç0 VELLOSO. Menor Reformn(Í0 da Provinda da Conceiçãa do B.ÍO de Janeiro , etf. T O M O V. F I L A T U R A. PA H T E I, Ex iai:is ingíns Ulu pamiúntm Si a clones texunt , nUas viliores , tílias, tes illae Sacerdctilus : olim ÂEgypíi LISBOA. Na jmtressam Regia. Anno i8o<í. ■:i fli SENHOR. E AI observância do Decreto , em que KA. R. foi servjdo mandar se continuasse ã imprimir na Impressão Regia as obras ^ que se imprimiao na do Arco do Cego , tenko a Satisfação de poder apresentar a V, A. R, a continuação do Fazendeiro do Braçal , ciuinto Tomo , que tem por objecto geral a Filatura , isto he ^ a Cultura di todas as plantas , assim indigenas , co^ ^mo forasteiras ^ que dão hum fio sufficiente ^ que pude Sãf vir a tecidos ^ a cordas ^e a ou- tros usos. Nesta primeira parte ^ que trata do ■JLorv. ^a Algadãõ , se ^erao todas as Memorlast Inglezas , Francezas , HespanhoJas , que es-, tiver ão ao meu alcance , sobre este assunir. pto , e vai ornada de estampas , para facili- tar o seu conhecimento , e addiccionada de hum appendice , pelo julgar interessante ^ t estar jd completa a impressão , quando a^s ehtive. Na segunda , e terceira , se copia- rãÕ , as que houverem escritas sobre os li- nhos estranhos , e indigenas do Paiz , sobre immensas cascas^ e folhas filamentosas ^ ar- vores y arbustos i e heri^as ^ de que abunda a m^Sr- mesmo , até aqui sem cultura algurm , cu- ja contribuição , sendo cultivadas , pode ser muito ^ e muito mais prestadia aos mssos íjmumeraveis misteres ^ ou iguaes , ou infe- riores na ordem* A planta , que prodwz^ esta estimável U vegetal , que conhecemos pêlo nome de Al- (Todoeiro , hem que nh rejeite ser cultivada no velho mundo , com tudo se regojija sçhre jr.aneira de ter por pátria os paires Solares entre os trópicos, A espontaneidade do seu nascimento i a pluralidade de suas e'^ecies\ a a quantidade , e qualidade dos seus fios , e fructos , niuitõ maiores que em algum outro país:, , assim no lo persuade, O Mundo mercante não ignora que o que se cultiva na America meridional , ou entre os seus trópicos , tem , pela sua indis^ puta^vel excellencia , hum crecido valor solre os das outras partçs. He certo que o que se cria em Dôniarara , possessão Hollandeza , da linha para o norte \ e o de Paranãbuc , possessão de F. A. R. , da linha para o sul, tem merecido sobre o? do mesmo paiz hum maior niãior preço , thermometro da sua maior ex- cellencia* lahe^ éi diversa pasiçh physica dos lugares , senão for a de huma melhor cul- tura 5 causara esta differença- Em regra geral j se aqueUes Cultivadores tivessem me- lhores noçcçs agronómicas , este género te- ria huma melhoria incontestável. Este alvo vai ferir a execução desta Soberana Ordem de V^ A. -R. 5 Vai commum de todos os vas- sólios. Este ramo do Commercio já avulta tanta entre nas y hem que d poucos annos , que qu€ com justiça merece toda a contemplação ao Soberano Imperaitte, Aífgmentar esta cultura , SENHOR , l^e íenejictar o género humano ; porque ten^ de a cobrillo de sua desnudez '•, pois não sá facilita que as pessoas jnais delicadas se possão vestir do linho , e servir-se ainda delk a menoi' custo em muitos outros usos domésticos ; ^nas passa immediatamente a eohrir na mesma Jmerica a tantos centos de milhares de indivíduos Aborígenes , e A- frica7ios , que chamão a V. A. R, Seu REI , Seu Seu SENHOR, qué^ sem Uberdade, sic ^m tion vobis , são os braços dos Europeus , qiíer uara catear Minas , quer fará a mesnm Lauoura, Elks são o todo, e o tudo destes trabalhos. Sevt elks nada be positivo. Outro vestido não os cobre^ Prouvesse a Deos que . ainda este mesmo se lhe não distribuísse com huma mão tão escassa \ Parece que huma Superivr Providencia , a tes , t)U por outro da espécie ultimamente menciona- da , excepto na còr da lã que he da côr do pannò chamado Na-nquim ( can^ã ) . Não se encomenda tanf.o deste j como do branco. 4. Fríincex. , ou fycíjuena semente com huma barba csbranquií^ada. Este he o que geralmente se cultiva em São Domingos. A sua lã he melhor , e o seu rendi* ineiito igual ao das três tjsj^edes, que ultimatr.ente se nomearão , por se suppôr que o seu arbusto produzia hum maior numero de capulhos que o Jamaica , oií Earbado pardo ; m.as menos rijo que qualquer delles, 5. O Algodão de Kuinel , assim chamado ^ por ter as sementes apinhadas , e unidas bumas is outras com muita firmeza no capulho. Estas nas outras espé- cies, de que faliei, estão separadas. Também o cha- mão Alcjodão Chain , e eu creio que he o verdadeiro Aliíodão do Brazil. A mercadoria he boa , o capulho «jrande , e de muito rendimento. Cada negro pckie dia- riamente descaroçar sessenta e cinco arraieis sem. muita fadiga ; pois lhe cahem as sementes , sem se quebra- rem , antes de passar pelos cylindros , ou rollos do es- caroçador , sahindo elle delle perfeitamente limpo, fov este motivo he summa imprudência misturar-se humas espécies com outras. Em conclusão : as espécies mais úteis para a Cul- tura ordinária parecem ser a segunda da semenie verde ^ o Francez , ou pequena semente^ e o Braziliano. Todas as espécies se cultivão da mesma maneira. De todas se tira a vantagem seguinte. Vegetarem nos terrenos maig sec- C6) «eccos , c pedregosos, não estancio estei cançados por culturas antecedentes. A seccura , na realidade , assini em razão do terreno , como da atmosphera he essen- cialmente necessária em todos os seus períodos , por-» que , estando a terra húmida o Algodoeiro se enfra? íjuece pela çobejidão de ramos , e folhas que lança. Se as chuvas forem pezadas , quando estão em flor , ou' quando os capulhos começão a desabotoar , a colheita lie inferior. Talvez por isso se applicão immediatamen- íe estas observações mais ao Algodão Francez , que a qualquer outro, Planta-s-ç de semente ; não exigindo a terra maior preparativo que o de ser limpa dos seus embaraços na- íuraes , e a sazão de deitar a sua semente na terra he de JVlaio , até Setembro , incluídos ambos os mezes. De ordiíjutio esta plantação se íaz em fileiras, ou ruas , deixando hum espaço eiUre estas de seis , ou outo pés , fazendo-se commummente as covas de quatro pés apartadas huma da outra. Pratica se pôr de oito a dez sementes em cada cova ; porque algumas destas são comidas por hum bixo , ou lagarta commummente, e outra- apodrecem na terra. As novas brotas aparecem quasi aos quinze dias , mas ellas nas seis primeiras sct manas crescem assas, e neste periodo se 'precisa monr dar a terra, ç tirar as plantas supranumerárias, deixan? do tão somente duas , ou três das mais robustas em cada cova. Seria bastante deixar huma única planta em cada cova , se houvesse certeza que esta chegava á su2i fn^diíreza, mas mifitas das tenras bfotas são devoradas (7> pelos bixos. Mondão-se pela segunda rtz tendo três , ou quatro mezes de idade , e ambos , assim os talos , como os ramos se podão , ou decotao , ou como tam- bém dizem , se capão, huma polJegada, e mais , se a planta for mui vicejante , tirando-lhe as extremidades de cada vergonta , o que se pratica a fim de fazer brotar iium maior numero de ramos lateraes. Repete-se esta operação huma segunda vez ; e se o vicio do seu cres- cimento for sobre maneira , ainda huma terceira vez. No cabo de cinco mezes a planta começa a florecer , e a desabotoar as suas lindas flores amarellas , e com dous mezes mais o capulho amadurece successivamen- te , abrindo-se entáo triangularment-e , e manifestando a sua branca, e lustrosa pluma á luz. Neste tempo se lhe tira a lã , e a semente envolvida nella , da qual ao depois se aparta por meio de huma rr:aquina , que se assemelha a certo instrumento dos torneiros. Cha- ma-se esta escaroçador , que consta de dous rollcs pe- quenos poscos em parallelcs, e ajustados hum com o outro em huma moldura , e movendo-os em diteções ©ppostas por differentes manivellas , que se movem com os pés («). Pcndo-se o Algodão á m/ão nestes rollos , quando os movem circularm.ente , prcmptamen- te passa entre elles , deixando as sementes, que não cabem na passagem , pela sua grandeza. Ao depois a lã se passa á mão, para que seja mais bem limpa das folhas cabidas , sementes esmagadas , e da lã , que foi f (a') He hum instrumento mui simples. cn arruinada , c deteriorada dentro do capuího Çd). Entãq se mette em saccos , que levem quasi duzentos arratei$ de pezo , e se mandão á praça. O melhor , e mais bern limpo Algodão, que se traz aos mercados de In«^iaterra , he , ao meu parecer , o dos Algodoaes Hollandezes de Berbiche , Demarara^ p Surinam 5 e o da Ilha de Cayenna ; mas, antes do anno de 1780 , Inglaterra não tinha manufacturas fí* nas ; e com tfcido nos últimos mezes deste anno o Al- godão de todas as espécies se achou valef os seguintes preços ; xelins din. Berbiche . Pemarara Surinaip , Cayenna . S. Domingos , Tabaco . Jamaica 2 . • • . • í por arrat. I . . . . , 11 a as. i d. * I . , , , ^ X(» I . • • • • 9; I . • . . . 1 Desde esse tempo os preços tem variado , mas o yalor relatiyo tem continiiado qiiasi do mesmo modp , que vem a ser a differença , entre o Algodão de Ber- biche _, Q O de Jamaica, de vinte e cinco a trinta por cen- (tf) Desde 1780 as fabricas de Algodão de Inglater- ra tem tido hum rápido melhoramento , devido aos grandes engenhos de fiar , movidos pela agua. Estes re- querem o Algodão limpo pois a menor partícula de hum grão esmagado damna o fio neste modo de íiar» (9:) cento , em favor do primeiro , circumstancia ufiica que convencerá ao supersticioso Cultivador das índias Oc- cidentaes Inglezas , que , se o quizer cultivar em ter- mos , que lhe faça conta o Algodão , deve , como re- quisito indispensável , escolher huma melhor espécie de Algodão , ou , ao menos , huma que se alimpe com maior facilidade que a que geralmente se cultiva. Agora me voltarei ao único ponto de vista das dif* ferentes particularidades relativas ao primeiro custo, pu despezas assim do estabelecimento de hum AlgOf doai , e dos lucros , ou ganhos , que racionavelmente deve esperar de hum pequeno capital empregado no sçu grangeio. Determino hum pequeno capital ; porque concebp que hum Algodoal se pôde estabelecer com hum fundo mais moderado que outro qualquer gran- jeio ; e que este he o que mais convém a todos os homens de pequenas posses , e cabedaes , principahnen- te aos que se achão paa índias Occidentae-s quQ olhão para a sua segurança nos momentos de perigo, e por isso desejão informar-se do modo com que devem em- pregar o seu tempo , e trabalhos! com maior proveito. He provável que se possa comprar huma terra própria para o Algodão , situada perto do mar , tm muitas partes das índias Occidentaes C particularmente na Jamaica) por cinco libras , papel moeda por Acre (fl) ♦ e porque he prudência, em muitos casos, mu- dar a terra passadas três colheitas , para o. replantar em (<í) He hum espaço de terra que tem 4840 varas quadradas, e em cada lado 69 varas e 57 decmios» C 10) em terra virgem (a), quereria eu que sorteasse cincoen- ta acres na sua primeira compra , para que o Cultiva- dor possa ter lugar para preencher este objecto. Sup. ponhamos que qWq planta unicamente hum Algodoal ^ue contém ametade a pancada, o capital, que preci- sa , será o seguinte ; Pe- (a) Se aterra for sobejamente boa, quatro, e ain- da cinco colheitas annuaes se tirão algumas vezes das mesmas plantas, e passadas estas, ^e devem, em vez de replantar , commummente se decotão as arvores três, ou quatro polle?adas acima da terra, e ianção re- novos 5 ou novedios pelas chuvas do mez de Maio , e se tratáo do mesmo theor que as plantas. Alç^um tra- balho tem indubitavelmente segurado esta prática , mas cm todos os casos , se julga mais proveitoso procu- rar terra virgem cada três, ou quatro annos. Eu con- templo , ao mesmo tempo , ser a terra nova assas , cuan» do tem estado descançada, ou se tem usado de outra cultura dilTerente ainda por três, ou quatro annos , a «[rand.; intençáo de mudar de terra he para a livrar daqLclla espécie de vermes que fazem preza nas mes- mas plantas do Algodão. ( lO lib. xcl> djjí, Feio custo de 50 acres de terra a J lib. por acre em papel moeda . . . 250 Pela despeza de alimpar , cercar , e plantar 25 acres por 7 lib. cada hum 175 Feio valor de doze escravos a 70 lib. cada hum S40 1,26? Pelo juros de 6 por cento ..... 75 ^^ Pelo sustento, vestuário, e curativo dos escravos . 120 Total da despeza em Jamaica, e pa- pel moeda (igual a 1,040 lib. es- terliuas) ; ij4^o ^^ Ganhos^ Agora os vamos contemplar. Na Jamaica se repu-i ta a produeção de hum acre de terra plantado em Al^ ^godão commummente em ijo arráteis, e nalguns an- nos o dobro quando muito; mas receio que, calculari- do-se successivas colheitas , em certo númeio de ân- uos , não seja a primeira huma avaliação muito gran- de. Das relações, que procurei, das Ilhas de Bahamá aparece que, em 1785 , 86, 87, cujos annos todos sé contemplarão, copio favoráveis o rendimento do Algo- dáoj cwt dlo, «m hum calculo, não excedeo acento e doze ar- ráteis por acre ; a saber : Em 1785 . 2,47<í 7 1786 . j,050>acres produz 1787 . 4,500 S O preço em Bahamá, e Jamaica Jie o mesmo, a saber ; i sold, 5 din. esterlinos por arrátel. Conceden- do por tanto ser o calculo do rendimento cem arráteis por acre, o lucro he o seguinte; a saber: lib. esterl. 3J cwt a I xelim j din. por arrátel .... 175 " Deduzindo-se as despezas accidentaes , como necessárias para ensaecat , taxaj das Colo- "«« « 25 Resto em moeda esterlina ij© O que tudo dá hum lucro acima de quarenta por cento do Capital , calculado pelo preço mais baixo do Algodão. Se este calculo se applicar a lã do Algodão pelo valor de dous xelins por arrátel, preço do Algo- dão de São Domingos , o lucro sobre o capital he de vinte e quatro por cento. Po C«) o sustento dos escravos , passados cinco an- nos , nlo entra em linha de conta , porque se julga que o Al?odoal não sendo sufficiente por estar total- mente cheio , pôde cultivar o milho , e outros artigos no sobejo dos vinte e cinco acres , que são mais que sufficientes para pagar o seu vestuário , e sustento. Igualn^ente se usa cultivar milho, batatas, etc. , entre 3s fileiras do Akodoal. ( »5 ) Do que temôá dito, se mostra que o rápido píoí» grasso que os Cultivadores de Hollanda, e França tent feito na cultura deste género-, se não pode julgar ex- traordinário , a não haverem algumas eircumstancias d« huma natwreza menos favorável , que deverião entrar em linha de conta. Talvez que de todas as prodtic- çôes , a que se tem applicado a lavoura , nenhuma se- ja mais precária que a do Algodão. No seu primeiro período o bicho o destroe : no segundo a lagarta o de- vora : alguma* vezes o ar quente o faz murchar : as chuvas frequentemente destroem assim a sua flor, co- mo o capulho. As Ilhas de Bahamá dão huma prova triste da incerteza da sua producção em 1788 , pois não menos que duzentas tonel ladas forão devoradas pelos bixos desde Setembro até Março do mesmo anno. Isto supposto y o Leitor difficultasamente desconfiará que eu j por huma serre de annos , calculei muito bai- xo a arriscada producção desta planta. Sem embargo desta desavantagem as encommeij- das pela lã do Algodão para as Fabricas Inglezas , se augmentão com tal rapiídez , que não deixão duvidar que a sua cultura , tomando-se as precauções , que se re- comendarão , bajão de conseguir hum maior lucro > podendo os domínios Inglezes prover actualmente mais que huma sexta parte do que se necessita neste ReiríO.> Se , tendo-se feito huma cuidadosa escolha ^ e exame das dífferentes espécies de sementes , que já possui- mos 5 a lã do Algodão das índias Occidentaes Ingle- zas for julgada inferior á Hollandeza , não pôde haver (14) tíií^culdade em conseguirmos delles huma melhor sorEç, He evidente que o Algodão Francez perde a sua supe- rioridade em nossas Ilhas pelo semearem promiscua- liiente com huma espécie inferior. Passo a concluir este assumpto, apresentando aos meus Leitores as seguintes taboas , copiadas de fontes authenticas , as quaes não deixarão de fornecer huma abundante animação á especulação, e ao risco. Relação do Algodão Estrangeiro importado para as I/n dias Occidenta^s 1/iglex.as em Navios da mesma Na^ão, An nos lib. 1784 — 1:135,750 85 — i:398,-5Go %6 — - 1:346,586 87 — 1:158,000 l^elação do Algodão Mstrangeiro importado em as índias Cccidentaes Inglezas em virtude do Acto do Por" t9 Franco, Ànnos lib. 1784 — 1:1^9,000 ^5 — i:575j28o •26 • — 1:962,500 87 — 1:945,000 R^. ( lO tiielaçíta do Aígodno laghz , e Estrangeira importaã^ das hidias OccldenUies á Grã Bretanha. Ânnos lib. 1784 — 6:29í,959 85 — 8:204,611 S6 — 7:^30,754 87 r- 9:396,92» "BicUçSo (to Algodão importado ã Grã Bretenha de iodai as partes, Annos lib. valor supposto em manirfacÈa: 1784— 1 1 : 280, 3 3 8 libras 5:95 0,000 esterlinas, 85 — 17:992.888 — 6:OGOjOÓCr 86 — 19:151,867 ' 6:500,000 87 — 22:600,000— 7:500,000 'Engenhos estabelecidos na Grã "Bretanha ( 17 S7 ) para as Fabricas de Algodão, 145 Engenhos de agua, q^ue eustSo 715^^000 Kb, ao,500 Engenhos de nião , ou Jennis lunitaí;.- < para fiar o fechado, para torcer o fio ^ "- ' nos engenhos de agua (incluindo édi- 'ficios^ « maquinas auxilliatrices) . i . ■ i^ç,ooo Total líOôOjO©© líb# Os Ôs Engenhos da agua trabalhão com 2865000 fô* íos, e os Jennis 1:665,100. Total dos fusos 1:95 1,1 ocy^ Asseverou-se que hum arrátel de Algodáo em rama d© Demarára, fiado, dera 356 meadas, ecada meada 840 jardas : e assim o fio chegou ao comprimento de 169 milhas. Avalia-se o total das pessoas occupadas em Ingla- terra nas manufacturas de Algodão em não menos que seis centas miL Pelo que respeita a importância, com tudo , os productos , e manufacturas deste grande gé- nero a lã^ para este Reino, realmente não deve exce- der a huma proporção dupla , conforme a informação de hum mui sábio, e diligente indagador; pois se dãa ç>m Inglaterra doze milhões de ovelhas. O valor de siTa lã pôde, hum anno por outro, subir aí 5:000,000 lib.-; as despezas de sUa manafacuta hc |)rovavel mente de 9:000,000 lib. , e o ^u total valor 12:000,000 lib. ; ©ra , relativamente ao numero de pesàoas ,- que sustenta €sta manufactura : chegão estas cora toda a probabili-' e qualidade do terreno ^ que o pro- duz. He pór tanto cousa extraordina;fia , que hum via- jèiro nas índias nos faça a descripção do Algodoeiro, que nasce nesta parte do mundo y mui différente da qtie nos faria outro , que viajasse as nossas Ilhas Anti- lhas ; e que esta ultima tímbem diffira da que sé farjsf nas Ilhas de Malta, Sicilra, ou das qciè a nossa curio- sidade cultiva em ois nossos jardins. Logo que as espé- cies forem differentes , sé precisa também que as des- cripções entre si deíiião. Reduzirei a- totalidade das es- pécies a três , ai quaes chamarei gratide , medíocre j ^ pequena. O Algodoeiro de' espécie grande riásce em ambas és índias y Oriental, e Occidental. A sua altura de or- dinário sobe dá quinze a vinte pés. Algunras vezes Sté 'énconíráo com a grpssura dos nossos grande* carvalhos, B a Os Os ramos .«ao entrelaçados , e as folhas são recortaday em treS partes, arredondadas, mas acabão em ponta.=; , quasi como as de Til , .ou Telha , sem com tudo se- rem avelludadas , como são as ultimas. Os capulhos maiores ^ e o A]í!;odão mais grosseiro , que o das Anti- lhas. O Algodão levantino se aproxima a esta espécie, e he unicamente a qualidade , que nos importa conhe- cer para o progresso do nosso Commercio. Não nos a- contece o mesmo com os das Antilhas ; nois a sua cultura nos he própria , e por tanto nos convém ter hum particular conhecimento da sua cultura. A espécie media nasce nas Antilhas , e faz huma das principaes rendas de nossos estabelecimentos nestas Ilhas. A sua altura chega a dez pés , pouco mais ou menos deixando-se envelhecer, o que rara vez aconte- ce, quando se cultiva;' porque se está na persuasão que o páo dá tanto mais fructo ,■ quanto he mais novo , o que he cauw de se cortar o arbusto pelo pé de dous , em dous annos. O seu lenho he esbranquiçado, mol- le , e esponjoso , a casca he delgada , e acinzentada , os ramos são quasi direitos, carregados de folhas, qu'e se assemelhão aos das nossas vinhas, tendo do mesmo três divisões ; mas mais tenras, e menores j de hum verde gaio, sendo o arbusto novo. As flores tem cin- co folhas obliquas , e amarellas , riscadas por dentro de fios de purpura. O calis se sustenta em cinco fo- lhas verdes , duras , e pontudas. O pistillo forma hum botão , que se termina em ponta, e fica tão grosso', como hum ovo de galinha. Este botão he verde no seu C 21 > seu principio , fica trigueiro crescendo , e negro , quan- do maduro, contem esta pluma, ou frouxel , que cha- mamos Algodão. ' O terceiro , ou pequena espécie nasce na Ilha de Malta em Sicília , etc. Ke hum arbusto de dous até três pés de alto , cujo lenho se veste de huma casca ^ avermelhada , e avelludada ; as folhas mui parecidas ás da vinha , mas avelludádas , e com peciolos compridos , e felpudos. As fíores náo differem do Algodoeiro media- no, senão em ter a cor misturada de amarello, e pur» pura, o que as faz mui agradáveis. O fructo se forma, da m.esma maneira , e a pluma, que veste os grãos > quando chega a madureza , he o que appelidamos Algo- dão. As sementes não são maiores que ervilhas , algum tanto allongadas , e ásperas de côr branco m.ate , con- tendo cada huma huma pequena amêndoa oleoginosa. Todas as outras espécies de Algodoeiros se podem reduzir a estas três , exceptuando a cham.ada Paineira , que he huma das maiores arvores das Ilhas , que tem a sua pluma de huma côr parda, e tão curta, que as mais sabias fiadeiras ainda a não podei ão empregar I neste uso; porque, para o Algodão deSiãq, as.?im cha- ínado , por terem vindo deste as sementes, ainda qu^ o arbusto , que o produz , seja menor pela ametade , que o das Antilhas , assim o que tem o gruo negio , ccmo o que o tem verde , e cujo pelo he tão íino , e tão com» prido, e tão doce ao tacto, que se cultiva em as nos= sas Ilhas, e nasce do mesmo modo, como o que rW-c-e- vemos da espécie media. Dão-se de duas sortes hum brao- ("5 branco , e outro vermelho , e esta he a única qualida- de , que coixio a do Algodão dà paiiia , que não he bran- co. He huma espécie particular ; porque o seu grão, em qualquer paiz, que se semee o ai}3Usto , que delle nas- ce , produz capulhos , cuja pluma constantemente he da me^ma còr. §. II. Cultura do Jl^edaeiro. Só fallarei da espécie media , que nasce natural- mente em nossas Colónias, e cuja cultura interessa aos nossos Negociantes , que tem ou podem estabelecer fa- zendas na America. Necessita-se , querendo plantar hum Algodoal , semear hum pequeno canteiro , que se re- ja , e monda cuidadosamente até que as mudas , 014 novas plantas tenbao quasi meio pé de altura; porque, ainda achando-se hum grande numero de arvores es-^ parsidas pejo campo , que podem servir para huma plantação , seria sempre defeituosa pela irregularidade dos individuos , e pela difficuidade de todas se enrai- garem bem igualmente. He muito melhor escolher mu- das do mesmo tempo, que hajão de crescer com uni- íormidade , que, agradando aos olhos , dessem colheitas abundantes. Cs gra.is rebentáp facilmente. Eu os tenho semeado em Marselha , e dentro de dez dias germinp'- ráo , e , se eu tivesse huma exposição boa para os abri- gar do frio , seu morta! inimigo , o progresso do seu crescimento me instruiria muito n.elhor. Também se- meei «^lãos do Algodão Levantino em terra sem abrigo, « medrarão felizmente até a altura de pé e meio , mas sio approximar-se a estação do Outono , seccárão as plantas. Já não cuidava mais emensayar, no meu jar- dim, a cultura do Algodão, quando certo amigo meu me mimoseou com algumas sementes do Algodão de Sião. Estes grãos erão negros , lusídios , e mui pareci- dos ás sementes da pêra. A minha curiosidade me im- pellio ainda a fazer esta experiência. Semeei-as em hum \'aso para poder cuidar delias com todo o melindre. Todos os grãos abrolharão , e , tendo as plantas três quartos de pi de altura, as transplantei, cada huma, em seus vasos particulares. Elias s^ engrossarão de m.a- neira , que me íizerão crear esperança de colher o fru- cto. Em menos de três mezes o tronco mais grosso , que hum dedo chegou a três pés de altura. Estaváo as ílores no ponto de apparecerem ; mas , esfriando-se o tempo, ainda que tivesse mudado estes vasos para hu- ma estufa posta ao meio dia , as plantas se conserva- rão no mesmo estado , e principiarão a deíinar>se (em Janeiro de 1765). As folhas se assemelhão ás do fei- jão branco , muito maiores , e muito mais grossas. Resolvi-me pelo mez de Abril a pôr estes Al<^o* doeiros em teria para que podessem attrahir huma nu- trição mais abundante , e produzir o seu fructo no íim do estio. Effectivamente engrossarão ^ e lançarão ramos da grossura de hum dedo , e sôbírão a altura de qua- tro pês, sem com tudo dar fructo como tinha espera- do. Ainda estão com vigor no mez de Novembro, e ©s quero fazer cobrir com cuidado a fim de ver , se el- C 24 ) «Iks resistirão ao inverno , e se em 1764, satisfazena a minha curiosidade, dando fructo. Apenas se semear no canteiro , precisa preparar-se a terra , em que se pertendc fazer o Algodoal , cavan- do-o profundamente , destorroando-o , e applainando muito bem o terreno , e marcando com hum cordel , do modo que ja disse se fazia para o Caçoai , e Cafc- sal , e finalmente fazendo covas em distancia de outo pés para todos os lados , observando plantallos em quinconce. Estando as mudas ainda tenras , e delicadas , ?e faz preciso regar a terra no dia prece. lente , ou es- perar que chova , e fazer a terra bem solta , e move- diça para que as pequenas raives fiquem bem cobertas absolutamente , sem que lhe fique algum vão. Logo que a planta se tiver enraigado , somente se precisa mondar , e não cessar de o alimpar até que o arbusto se livre de ficar affogado. Esta cultura he tão vanta- josa ao dono , quanto a planta não requer huma terra fértil , e húmida , e que ella medra muito mais per- feitamente em hum terreno secco , solto , e arenoso. Também o Algodão he ainda melhor , e mais fino , quando O arbusto não he regularmente regado. Não necessita de chuva , senão quando se planta , ou se corta. Doutra sorte o tempo secco, e quente, lhe. he o mais favorável , o que he hum recurso mui lucrati- vo para o Fazendeiro porque por este meio emprega o bom terreno na cultura das plantas , que o requerem , como são as cannas , etc. O Algodoeiro dá cada anno duas colheitas, que rara vez falhão, se, as chuvas çor\- C ^5 ) tinuando , quando os capulhos vão ficando de vez , ô não embaraça. A primeira colheita , sendo o Algodoal novo , sóir.ente se faz no oitavo mez ordinariamente , o que também acontece , quando se cortao os Algodoei- ros. Por que precisa saber que os Insulanos , altamen- te capacitados , que os arbustos velhos dáo máo Algo- dão , e em pequena quantidade , não deixão de cortar os -arbustos no segundo , ou terceiro anno , quando tarde. He provável que este methodo se funde muito os ba- na experiência, eaté que experiências contrarias jão de desenganar, se fará mal o censurallo. Quando se cortao os Algodoeiros , se d^ve escolher hum tem- po chuvoso pela razão que dei acima , e decotallos so- mente a meio pé de altura da terra. Deitao hum gran- de numero de renovos , dos quaes se devem escolher cinco, ou seis dos melhores , e mais vigorosos , que se deixão crescer , separando os outros. Estes renovos não íardão em se cobrir de flores , e dar fructos em abundância , que se colhem no sétimo , ou oitavo mez , e seis mezes ao depois fica prompta a segunda colhei- ta. Os bot(5es , os fructos , ou capulhos , como os qui- zerem chamar , são verdes no principio, ficão pardos i medida que avanção a sua madureza , e ficão total' mente escuros , seccos , e quebradiços , quando madu- ros. Então o calor fazendo fermentar a pluma contida no capulho o dilata , e o abre com estallo. He hum divertimento agradável passear por hum Algodoal es- tando os capulhos maduros , pois de todos os lados se puve hum pequeno estalo , que repete , e dpbra e- Ihor proveito das vastas terras de Cayenna , do que o <5ue tiramos, multiplicando os Algodoaes, que nascem tam- C 27 ) tamfcem , e que nSo jequerem cuidado algum quasi, ^ que SC cultiva com tanta facilidade ? §. III. Vse do Algodão, Não ha alguém que deixe de sabçr quio útil seja q Algodão para alliviar as necessidades do homem , e cora iquantos pannos preciosos faz admirar a industriosa saga- cidade dos índios. O Algodão em lã, ainda que menos elástico que a lã serve para fazer bons colchões , para for* rar os vestidos , as cobertas que abriguem do frio, © procurar ao corpo hum brando calor ; mas , fiando-se , (]uantas variedades prodigiosas não resultão das sua^ obras. Do íio grosseiro do Algodão se fazem meias, barretes , velas de navio , etc. ; e do Algodão fiado fino fustóes , caças , e mosselinas , etc. , e mistwado com a seda o fio ou a lã tantos estoffos quantos o gosto, e a fantasia de todas as nações podem desejar, todas uteis , e de hurna grande beilcza de sorte que seria difficil de« cidir qual fosse aquella em que ou a necessidade , ou a vaidade do homem acha mais em conta. Parece que entre tantas obras differentes a que sem dúvida deve estimular mais a nossa curiosidade he o trabalho das caças, ou mussehnas, das quaes aljumas são tão finas , e tão bellas , e algumas vezes bordadas sobre o tear com tanta perfeição , que por muito tempo julgamos que já mais a industria Europea chegaria a imitar este trabalho. Kuma experiência feliz nos (^uroa deste pre- juízo , em qu^ estavamof , de que só a^ mãos índia* nas C ^s ) nas erâo capazes de fazer obras tão delicadas, mas que ht o que ha, a que nSo possa chegar o génio Francez ; soccorrido da applic.çao, e da paciência^! Não ha cou- sa que lhe seja inipossivel. Deveríamos neste lugar te- cer o elogio dos illustres patriotas que ousarão ''tentar taes^ estabelecimentos , e que, lisonjeando o gosto da nação, impedem a sahida das riquezas immensas, ne- cessárias á compra das caças estrangeiras. Vosso nome , illustre Jore, passará para a posteridade mais remota, e será eternamente pronunciado com alegria , e reco- nhecimento ; porque os nossos vindouros , assim como nós agora , ao depois gozaráó dos fructos dos vossos exames. Vós consagrastes os vossos talentos vosso tem- po, e a vossa fortuna a aperfeiçoar a íilatura do Algo- dão, e as mosselinas mais bellas foiao o fructo , e o galardão dos vossos generosos trabalhos. Vossos benefí- cios se estenderão até ao novo mundo, pelo valor que destes á cultura do Algodão de nossas Colónias , do qual mostrastes a preferencia que devia ter sobre o Al- gcdâo da índia, e de Levante. Çuamas mãos não es- tilo hoje occupadas ,, que se enUaquecerião na ociosi- dade, e quanto soccorro não tendes procurado para hu- iTia multidão de familias , que concorrendo para o bem do estado encontrão huma honesta subsistência. Vós sojs superior aos Conquistadores , estes livião a ruina o destroço, a desolução a todas as partos para immor- talizar os seus nomes ; e vós , occupando aos vossos patriotas os encheis de alegria , e de satisfação. Vós não sois o único que mereceis o meu reconhecimento, e gratidão. Eu quereria nomear agora a toáos , qiíe co^ mo vós , fizerão semelhantes serviços á Pátria , e ainda que a minha fraca voz não possa realçar o seu louvor , nem acrescentar cousa alguma ásua fama illustre , ella será' á posteridade hum testemunho da minha sincera paixão por todos aquelles , que trabalhão para como- lar os pobres , e de meu zelo pelo bem público , maS os limites , que me prescrevi nesta obra me impedem de seguir os movimentos de meu coração. Volto ào liso do Algodão , cujo emprego começa a estender-se muito por todo este reino pelo grande numero de ma- nufacturas de caças 5 lenços, e outros pannos, que se estabelecem , e que pelos favores , e protecção que o governo lhes concede , se porá França no estado de não necessitar do Estrangeiro para o abastecimento deste género. Temos em Marselha o Hospital da Caridade , onde quasi outo centas pessoas se susfcentão , e vestem , c dos quaes mais de quinhentos são de dez até vinte an- nos de idade. O local he vasto , e comm.odo , e onde se poderia muito bem estabelecer huma fabrica de fila- tura do Algodão. He extraordinário que tantos Autha- res illuminados , todos filhos do Commercio não tenhão ainda cmprehendido hum tal estabelecimento que pros« peraria 5 sendo dirigido segundo a sua precisão* Antes de se empregar o Algodão em caças , ou outros pannos tem muitos preliminares , de que se deve fallar indispensavelmente. o Todos os capulhos colhidos j e á eoliíeita acabada ( 50) « primeira òperírçlo , que se tem a fazer , consiste em' separar o Algodão das suas cobertas , observando por á parte todos oscapulhos, ou fructos que não estiverem abertos, ou que estiverem ariuinados, para os escolher cm particular , e não misturar os que esti\'er€m defei- tuosos com o bom que perderia por isto muita parte do seu preço. O trabalho acabado precisa começa Ilot alimpando o Algodão , ou segundo a frase das lihas: pelo descaroçar, tirando-lhe as sementes, que á pluma -encobre , e as quaes se adhere pela sua raiz ; porque; farece que só he formado para a sua conservação , q- fará as ajudar a crescer , eommunicando-lhe seu calor ^oce j ou talvez a volteallos por todos os lados de sor- te que cahindo em qualquer terreno > que lhe seja pró- prio possão reproduzir-se com maior facilidade. Seria perder o seu tempo , e o seu trabalho querer por hum trabalho mais assiduo tirar as sementes cõm os dedos y c desembaraçallas da sua pluma. Este trabalho seria muito dilatada, e muito dispendioso,- e se a invenção' dos engenhos de mão , ou escaroçadores não tivesse a- breviado esta operação , as caças , e Outros pannos não' «erião tão communs , e seriao mais caras , e por hum* fiecessaria consequência pouco proveitosas ao povo miu- -do j. que faz o seu maior consummo. Não pertendo failar destas caÇas maravilhosaS^y roja delicadeza parece transcender a industria humana. Usa-se na índia alimpar o grão cam os dedos , é de •rrànjar os fios do Algodão para os poder fiar na pro- fjorção f e igualdade necessária a^ taes obras* Na- Nada ha tifo simples como o mechanismo destes engenhos. Dois rollos canélJados , postos horizontal- mente , que girão , ou voUão em sentidos eontrarioá' por meio de duas rodas ^ postas em movimento por/ cordas, que as rodèiâo do mesmo modo, que pratícão torneiris , e fiadores de roda , de sorte qué ò obreiro , estando assentado possa com o pé communicar o mo«» vimento no tempo mesmo que com as mãos apresenta o Algodão aos rolos, que o attrahem , agarrao, levão comsigo , e o deixão cahir nos saccos , pegados aos la- dos oppostos , debaixo de caixilhos , estando desemba- raçados dos grãos , que não pôde deixar de ser assim ^ porque o espaço que está entre os rolos he menor que a grossura dos ditos grãos, que cahem por terra, deixando passar a pluma, em que estavão envolvidos. Estes engenhos custáo muito pouco , e ocçupão peque- no espaço. Todas as peças sãò feitas de madeira da America , cuja duração ninguém ignora. Prefere-se ao ferro por amor de que a ferrugem, que contralíe im- primiria m.anchas , ou nódoas , que se tidíO poderião a*> pagar no Algodão , o que lhe abateria o seu valor, Ca« da obreiro pode alimpar, ou moer sessenta arráteis por dia. Os grãos que cahem em terra diante dos trabalha- dores se ajuntão em hum carito da casa para se servi- rem delle , conforme direi , quando houver de falíar acerca das propriedades do Algodão, * Acabada esta operação, se procura ensaccar ô Al- godão , e as seguintes são as precauções , que se to- mão , para se chegar á causa -da fineza , jigeireza , e elas- elasticidade da matéria , que he difficil de comprimir para o reduzir a hum volume pequeno. FalJo unica- mente do que se pratica em nossas Ilhas , onde as sac- cas de Algodão contém quasi trezentos arráteis , mais , ou menos , segundo que o operário determina calcar ; porque em Levante, e em Malta, as saccas tem quasi o dobro, o que facilita o ensaccamento , e poupa a despeza do panno. Começa-se, molhando o interior do sacco , cujo comprimento he de três varas , com huma largura proporcionada ; esta humidade prende , e colla ao panno a pluma que sem esta precauçíío cresceria á medida que se opprimisse : -enche-ss o sacco que se suspende , prezo em moutóes , fixos no forro para le-r vantar , e abaixar a discripção da necessidade. Hum trabalhador entra dentro, levando com sigo hum soque- te , e tenazes , piza com os pés o Algodão , calca com o soquete , e o arranja com as ditas tenazes , conti« nuando desta sorte até o mais alto do sacco , pezando o Algodão que outros obreiros lhe administrão , e agar- rando-se com as mãos nas cordas , que segurão o sacco suspendido. Para facilitar este trabalho , se molha exte- riormente o sacco por intervallos ; e estando totalmen* te cheio , se abaixa por meio dos moutóes, e se lhe coze a bocca com barbante forte, A molhadura do pan- no , que se julgou precisa a esta operação, chegando a hum ponto de abuso pela fraude , deo occasião , a que houvesse hum Acórdão do Conselho, que exporei quan- do tratar do Commercio do Algodão. Os saccos cheios deste feitio se envião para o Reino, e ainda chamamos Al- ( 14 y 'Ãfgõáão êm rama (em la ) para o distinguia dò AÍgodad fem pedra j ou em caroços , e do fiado. Nãõ rècebemoár ©utra qualidade das nossas Ilhas; porque a filatura hé muito cara em nossas Colónias por falta de população ^ ç o Algodão em pedra não hé mais qUé o Algodãd misturado com à sua semente , tal qual se tira dos ca- pulhos ^ õ qUal não obteve favor algum érh França talvez pela quebra , que deveria ter , sendo limpo , co-* mo que o baixo preço não houvesse de compensar es^ ta falta. Mas o Estado talvez interessaria mais tirar ó Algodão em pedra dó qué ém íã pôr três razoes , e to- das três essenciaes. Primeira : Os habitantes dás Ilha^ se não distrahirião da cultura dáfs tetras por íiuma oc- cupação que lhe não diz respeito algum ^ e que talvez' impediria que não hajao novas derrubadas , ou rossas. Segunda : Limpando-se em França o Algódlo em pe»»' dra forneceria hum trabalho honesto à huma muítipli- cidade de famílias pobres y e talvez que este primeiroí trabalho fosse hum incentivo para fazer passar a mui- tos obreiros para oUtfas operações mais difficeis, ficari» ó proveito no reino , e eontri buiria as déspézas do Es- tado. Terceira : O Algodão em pedra , sendo máisi, vo- lumosa que o dela òccuparia mais navios para o trans* porte , objecto que se não deve perder de vista , que« rendo-sé atigmentar a nossa marinha. Inglaterra, pbstè ^ue nossa inimiga , ( permitta-se-me esta expressão por« quQ ainda que a paz nos tenha" reconciliado' , seibprê te^' iemos hum ciúme mutuo em razão ào cómrhercio-j' Que requer esta graça) merece ser ijtiHadà oestç ponto/ <34) Conviria melkor fazer vir das Colónias o Algod^í^ nos capulhos alem das razoes dadas acima de fortificas a nossa navegação , de augmentar o numero dos nos^ SOS navios , de favorecer a nossa industria , mas tam- bém para podermos conseguir a factura das caças, fa> zendo-as tão finas , como as que nos trazem da índia. Pois os índios que as fazem , cuja fineza nos parece inimitável , não praticao o methodo de alimpar as suas . sementes por meio de algum instrumento , que lhes resuma o trabalho. Tem a paciência de abrir os capu-t lhos á mão , procurando não desarranjar os filamentos da pluma que deixão em suas direcções naturaes. Com esta direcção, o fio , que delles se forma, tem consis- tência, he unido igualmente, e he de huma fineza ex- trema, que não seria possivel, se os pellos da pluma se tivessem embrulhado, e misturado huns com outros pela acção do escaroçador. O que digo se patentea fa-^ cilmente á vista dos exemplos da tiradura de nossas se- das, e da filatura dos linhos. Quando se tira a seda se toma o numero de fios, que se julga conveniente para dar mais, ou menos força á seda, que se propõem fa- eer ; e do mesmo modo, quando se fia o linho , se ajuntão dous, ou três fios pelo seu comprimento por- que se os casullos, e o linho se reduzissem em esto- pa, todos sabem, quanto c fio seria grosseiro. He ver- dade que, pelo que toca ao Algodão , para se reme- diar ornai, que o escaroçador tem causado , se emprega utilmente o pente para endireitar os pellos , e reesta. Nlecellos no seu primeiro esudo , jnas, como se^ecis;^. í jí 5 íiièceèsaíiamente servir-se de cardas ^ a pèzár de qualquer destreza, e habilidade , que tenhão os obreiros paranãd quebrarem os filamentos , de os dobrar ^ de os àmolgar por movimentos falSos , este mâl só se reriíedea pela .ametade , e o fio que pro\^em do Algodão penteado he fiuperfinas ^ è ainda que a palavra raosselina não co- nheça outra origem j mas que este musgo, ou cotão, que apparcce sobre as teas de Algodão , âs bellas ca- ças , ou mosseiinas não devem ter este defeito : e assira para o seu bom êxito se toma a precau,tão deeâcolhee õ Algodão penteado , qUe pareça ser menos misturado ^ em péquenosi Hocos , grossos , como huma meeha de es*» éender os filamentos em toda a sua longitiíde para per- derem a curvatura adquirida pelo aperto dó ênsacca* inento , é que a carda inteiramente não pôde reparar/ se torce estes flocos pequefios em toda a súa longitude tom os dedoá, como se se quizesse fazer huma' torcida de candeia. Destorcendo-os se vê que os filamentos sè álongáo, e qtie tomão o lustre da seda. Repetindo ^ inesma operação ao depois de ter hum pouco desfiada os flocÔcs se farão ainda melhores. Os flocôes preparai dos deste modo sé pòem nas rocas ^ qúe nfo devent ser muito cheias, O resto pertence á destreza das fian- deiras para terem ó fio de huma extraordinária delica- áezsi i^mlmèútQ unido , e forte» Nlo entro ria indivi- duação do emprego ^ que as fiandeiras fazem dâ roda. A prática de hum bom condúctor as ensinará melhor g,-^^ q^^ as Memorias majs bem discorridas, ^QJ^-m^ cortí 1>M tudo licito fazer conhecer ao público as vantagens qoe a íilatura superíina procurara (não sei quantas) a mui- tas pessoas 5 que houverem de se empregar em hum tal trabalho , e que muitas vezes são de hum tal nas- cimento que não podem (talvez que por hum pejo falso , mas geralmente estabelecido) submetter-se a ou- tros trabalhos. He verdade que todas estas operações são compridas , custosas , e não satisfazem aos olhos ; pois que , em huma semana , huma fiandeira apenas po- derá aperfeiçoar meio arrátel de bom fio , o que ao •principio parece hum tempo perdido , ou pago por hum preço mui caro. Não julgo cousa alguma destas , antes •pelo contrario , julgo que isto he muito util ao esta- do , porque occupa hum maior numero ce indivíduos , e que , proporcionalmente a filatura do Algodão para pannos communs ou grosseiros , dá hum maior interes- se , e proveito. Como seja cousa que se pode mostrar pelo calculo, a prova não he diffícil. Supponho, por tanto , que huma fiandeira destra somente possa em hu- ma semana fiar meio arrátel deste fio excellente , no anno virá a fiar vinte e seis arráteis. Beduzo este a vinte e cinco da primeira matéria , cujo preço será trinta soldos ao arrátel , trinta e sete libras dez soldos. Tam- bém supponho que a fiandeira ganhxi vinte soldos por dia , e os vinte e cinco arráteis custarão trezentas li- bras, Eis-aqui jjy Ijb. lo So Quero dar para qiuebras sobre o Algodão 4 lib. 10 s. 342 lib. Som* <:í7 5 Somma total J42 libras ( 54,720 rs.). O que faz chegar 0 Algodão a treze libras treze sôldos sete di- íiheiros , pezando a libra hum marco. Bem longe de ine assustar deste preço ^ quero conceder-lhe o duplo , e que o Algodão fiado no ponto de perfeição , que se requer , haja de custar vinte e sete libras sete soldos dous dinheiros a libra de pezo. Julgo que a minha pro- posição agradará aos mais incrédulos , qiie duvidarão do modo com que poderei provar a utilidade de huma fi- latura tão dispendiosa. Para isto se não precisão dilata- dos discursos. Hum arratçl deste fio superfino basta pa- ra fazer huma peça de caça de dezaseis varas, cu dez pares de meias. O operário em caça, ganhando cento e vinte libras por cada peça , ou sete libras dez soldos por vara fica muito bem pago , e o fabricante de meias ,^ ganhando dez libras por cada par , terá conseguido tudo; quanto deseja ; isto he cera libras pelos dez pares» EB- IIECAPITULAÇaO; Vcspeza para caça. Total do valor do Algodão, e filatura por 25 arráteis ... ^84 lib. 109,440 pespega do feitio da caça a 120 iJb. jp;2oa por arrátel . . . 3,000 lib. 360,000 Çomma . . ; 3j,684 Ganho. 469,440 Julgo que convirão comigo , que não somente pin- guei , mas que também recompensei aos obreiros , com tudo- o lucro ainda he immenso. A vara de huma s€^ melhante caça valerá, pelo menos, 20 lib. 3,200. Os ^$ arráteis darão 25 peças de 16 varas cada humaj, çue yem a ser por tudo 490 varas. for 400 varas a 20 lib. 5,200 S,ooo lib. i:28o,ooòt Pçspez^s do trabalho 55684 lib. 589,440 pifferença, e ganho . 4^1 16 libo 6903560 m Ibespeza para mela fi Acima se vio a despeza , e ganho nas caças. Ago- ra se verá o mesmo para meias, se bem O ganho nãor será tanto. 6Z4 li^. pm o valor do Algodão, e da sua filatura . . . O arrátel deve fazer dez pares de meias, que, a dez libras ao par, faz a somma de loo libras por cada arrátel de Al- . godão, e pelos 35 arráteis . Ganho . . . O valor de cada par de meias será , pelo menos , 40 lib. 6,400 , e por consequência o arrátel de Algodão 4C0 lib. 64,000 , e os vinte cinco arráteis 10,000 lib. i:6o0,ooo> Paga a despeza 5>i84 lib. 509,449 Fica aos donos da fabrica de lucro 6, 8 1 6 lib. i :09o, $ 6* M> I Í40 gç de se ter excedido nos rendimentos , pelo contiarío, se diminuirão muito , e se dobrou á despeza. Suppuz que a caça da primeira qualidade só se venderia por 4p lib. a vara , e he hum facto que ella vale 30 lib. ; ç que o par de meias só valia 40 lib. , entre tanto vendem-se por 80 lib. Ainda farei mais. Quero suppor que a caça não se venderia senão pelos três quartos do ?eu valor 15 lib. a vara, e o par de meias, ametade, 9^ preço de 2,0 lib,, , a pezar desta prodigiosa diminui- ção do ganho , e este augmento na despeza resultará ?iinda hum grande rendipiento. ps 25 arráteis de Algodão empregados era caças darão hum ganho de 2J16 lib. pmpregsdas em meias 1816 lib. Em 5 arráteis de Algodão 4132 %* Ôl]^ MEMORIA IL ' S o B R E o A L G o D À o. By Lelong. Çrhe Mlstort/ of Jamaica, Cotton. Vol. III. pag. 6S6.> Cossj/piwn í€7jjinihi(s maioribus "Brasilianum. %^ Eguramente este arbusto foi trazido do Sul da Ame- rica para esta Ilha por seus antigos habitantes, Propa- ga-se por sementes , que se plantão em distancia para iodos os lados de quasi cinco pés em os últimos dias de Setembro , e princípios de Outubro , no principio porém levemente coberto. Ao depois de brotar, e fa- 2er-se huma planta , a raiz se enterra bem. As semen- tes correm o risco de apodrecerem , se forem muito en- terradas, ou as covas profundas , particularmente em tempo húmido. Requer huma terra que tenha tanta profundidade , quanta a sua raiz principal , e que não seja rija. Amiudadas vezes se cava íi terra, e se mon- da as novas plantas das más hervas , até que consigão huma mediana altura ; pois, não se fazendo isto ficão sujeitas a serem destroçadas pelas lagartas. Sobe em ai- Cura de quatro a cinco pés , e annualmente dão duas colheitas ; a primeira outo mezes passados ao depois da sua semeadura j a segunda entrç quatro mezes ao de- pois i^i èfV} pois da primeira : avalia-se o rendimento tm Algcdía de cada arbusto em hum arrátel. Os fazendeiros situa- dos ao Sul de Jamaica geralmente cultivao cm Maio, ,e o colhem no Janeiro seguinte ; mas, havendo chul ,,,vas em Janeiro, e Abril, o que pela maior parte acon- ., tece , a segunda colheita rara vez he grande cousa ; e por este motivo parece que o mez de Setembro he o mais próprio para se pôr na terra a semente, visto ha- verem chuvas certas em Outubro em ordem a favore- cerem a sua vegetação ; e, sendo colhido em Maio, as grandes chuvas de Maio , que provavelmente podem haver nas seguintes semanas , promettem com seguran. ,ça huma segunda colheita soffrivel. PJantão-se as se- mentes em hnhas regulares , como.^ nas distancias , que acima se disse , para que os ramos se possão estender á sua vontade , que , a pezar disto , náo poucas vezes se decepão, ou decotão, sendo o terreno tão fértil , que p facão vegetar sobre maneira ; e do mesmo modo se tosqueáo, ou decqíao constantemente passada a primei. ra colheita. Quando as ma(;ãs amadurecem se abrem , c despregão 'as suas sementes misturadas com os flo* cos do Algodão. Abrindo-se deste feitio a maior parta das sobreditas maçãs , se dá principio c4 colheita , ti* ra-se o Algodão , oy lã , limpando-se esta ao depois .^??9^,"^, sementes por meio de huma maquina conve* : iffi^^^'»^.* de mui simplez compozição,, construída de dous ou três pequenos rolos, ou cylindros de madeira , de huma polegada quasi de diâmetro dispostos horizon-» -íbffe»íí«ente , unidos , e píu:alIelos hun^ aos outros em or- -M&fiv ■ dem: (45) dem : em cada extremidade são endentados , ou enca* nados longitudinalmente , correspondendo hum» com outra ; e o rolo do centro , sendo movido com hum tirapé , á semelhança dos que movem os rebolos de amollar navalhas , faz mover os outros dois em direc- ções contrarias. Acama se a lã do Algodão, em peque- nas porções neste mesmo tempo sobre o^ rolos , pe- lo seu movimento , e promptamente pouco a pouco passa para hum sacco posto embaixo para a receber, deixando as sementes (que peia su^ grandeza não po- dem passar) fóia. Esta lá livre de suas sementes se escolhe á mão , e se passa a alimpar de outra qual- quer impureza, causada por pequenas partículas, que pôde ter , de suas maçãs , ou de outras quaes quer > que se lhe podem ajuntar. Esta operação he aborreci- da, mas necessária, se bem he fácil ; porque pode sgr executada por meninos , e inválidos , que não possão ser Gccupados em outro qualquer trabalho. Segue introdu» zilla em grandes saccas , onde se calção por pés dos escravos , ficando então mais ^unida , e compacta ; e para corresponder melhor este fim lhe deitão alguma agua , sacodindo a sacca de hum para outro lado. Exe- cuta se esta operação em hum lugar sombri-o , onde a humidade não possa evaporar-se com presteza. O pezo da sacca, que se põem em venda, de ordjnario chega a trezentos arráteis, que vem a ser o pezo da quanti- dade de lã que podem dar os Algodoeiro? d© hum acre Inglez. Querendo pôr em hum panto de vist^ o rendi- men- (44) hiénto desta cultura, suppônho que ©Cultivadof dèSte género possue dez bons escravos , e ijue igualmente tem hum Algodoal , que occupa vinte acres de terre- no. Avalio O seu rendimento do theor seguinte : W> I Numero de Preços por plantas Arráteis Saccas arrátel Total 6,000 20 I eh. joo Acres 6,000 dito 9,®09 IO JO Na Fréguezia de Vere duzentoí; e quarenta arrateii por acre sõffrivelmente se julga ser hum bom rendi- mento : este vem a fazer o rendimento , ou producção de vinte acres , a quatro mil e oito centos arráteis, que pouco dista da avaliação posta acima ; pôr quanto a estimativa de hum terreno fértil, ou estéril , da boa, ou má estação , ou tempo , nos obriga a estimar qual- quer acre efti duzentos e setenta arráteis por acre. Hum escravo trabalhador diariamente disporá cin- coenta , ou sécenta arráteis por dia : logo três escravos disporão, por huma regra media, a quantidade, acima dita , em cincoenta e quatro dias, consequentemente este Fazendeiro terá tempo desocupado para cuidar nos grãos, e abastechnento de outras provisões necessariaé. Todos os nossos fustôes , pannicos reis, belbutes^- etc. , se fazem pelo soccorro deste género , que , a fora isto, contribue a manter hum grande fundo, ou (45) Capital do Commercio assim, em Inglaterra, como Ir4 landa , visto que estes estofos , ou tecidos , são pedidos , ou encomendados de todas as partes do mundo , aon- de chega o nosso Commercio, e, com particularidade, dos pa^zes situados entre os 'l'ropico dantemente se cultiva nas índias Orientaes, onde natu- ralmente nasce pelas terras húmidas ; Espécie IV. Algodoeiro Arvore (Gossyplum Arhorettm , Lin.^ A pezar do seu ' nome somente he hum maior arbusto. Tem dez pés a quinze de altura , e os ramos lisos , menos no ápice , as folhas pecioladas com cinco lobos lanceolados , e digitaesj as flores inteiramente colori- das (53) ^35 de hum vermelho trigueiro , com as três folhinhas do calis exterior inteiras , e outras vezes terminadas com três dentinhos. O fructo dá em muita abundância hum Algodão branco , e de muito excellente qualida- de. Este arbusto nasce no Egypto , Arábia , na índia , íia Ilha dos Celebes , e como também o que segue« Espécie V, Jlo-odoelro folha de vide ( Gossjfphim vitlfotUmr^ Lam. ) Cultiva-se na Ilha de França. Suas ílores são grandes , amarelladas , manchadas de purpura na base com hum calis exterior profundamente dividido em cortaduras longas , e agudas. Além disto se conhece pelas folhas espalmadas , e lobos ovaes , lanceolados , mui pontiagudos , guarnecidos em baixo de huma glarh- dula sobre os seus nervos. "Espécie VI. Jl^ peificie de algumas sementes manchas do mesmo frou- xel , que he curto , e serrado ; não se encontrão porém estas assim no lombo , como na ponta. Dá-se o nome de pello ás fibras mais delgadas junto á ponta , mais grossas na base, que, sendo apertado entre os dedos, "voltão a tomar a sua antiga figura. O veludo, que de ordinário rodea a semente , se chama felpa , e he mais ou menos guarnecido de pelios, e mais ou menos ser- rado , ou raro. Entenda-se pela parte nua desta semen- te a que carece de frouxel, e de tudo o mais. As partes, que ficão descriptas , são, mais ou me- nos , characteres e^senciaes da semente do A^lgodceiro ; pois subsistem , tirado o Algodão , e se não podem ti^ C5S) rar, anão ser com hum a faca, raspando a superfície da mesma semente. A quantidade, afigura, a posição, e 9. proporção destas partes , no seu estado natural , sáo invariáveis. O lado da semente, em que se descobre a sutura, he » face anterior^ o lado opposto a Jacç posterior. Permitta-se fallar entre tanto a M. Rohr. As espécies de Algodoeiros conhecidas por mim , diz este sábio Cultivador , são as seguintes. Notei coir^ lium asterisco as que julguei serem mais proveitosas aos Fazendeiros. §. I. Algodoeiros de semente ne^ra grosseira. I. Algodoeiro Selvagem. A semente mui grande, e toda nua. Os Francezes a apeliidao J/gí^t/^t; «« , e os Inglezes Wilhywodd coton , isto he , Algodoeiro Salgueiro , por ser semelhante a certos Salgueiros , por seus ramos delgados , e compridos , sujeitos a se quebrarem. Este Algodoeiro, commum a todos os Algodoaes das Ilhas ^ não vale o trabalho da sua cultura. Tem huma figura enganadora. Quando se deixa crescer sem o podar chega a nove pés de alto , e occupa em largura o campo de outo pcs , e alguma vez se carrega de hum grande numero de fructos , mas de muito pouco Algodão. Que , além de^te defeito, tem o de manchar-se promptamente na capsula , sendo tocado de chuva , ou orvalho. Cha- ir.o a esta espécie de selvagem , ainda que o não te^ nho encontrado no seu estado natural j^ por causa d^ sya vrÀ qualidade, e pouca colheití^, (59) 2. Algodoeiro de peijtieno Vello. Seus grãos teni poucas fibras algodoentas ao redor dos dous lados do lombo ou sutura. Parece que esta espécie tem sido até agora desconhecida ; o acaso foi que ma fez descobrir lia própria Hh.a, em que moro. Ainda que produza mui pouca felpa , me persuado que se pôde cultivar em ra- zão da sua grande alvura. 3. Algodão verde Coroado, A ponta de sua semente lie curta, e rodeada de felpa mui curta, e mui fecha* ,da. A felpa não sobresahe á ponta , e mui pouco se alarga da sutura. JVluitas vezes se lhe notao na superfi- jCie manchas guarnecidas de felpa. Somente em IVIarti^ pica o encontrei , onde á muito tempo se promove a sua cultura. Nesta Ilha lhe dão o nome de Algodão fi- fio ou coroado verde ; porque a felpa , que rodeia a ponta da semente , he sempre desta còr , character que nunca encontrei em outra espécie. A' poucos annos se cultiva ^m S. Bartholomeu : as suas capsulas se çonservão mui pouco tempo na arvore. Se na colheita cahe a menor chuva , esta communica ao Algodão huma côr má, Colhendo-se em tem^po secco conserva sempre a sua al- vura. Os Manufactureiros Inglezes o esíimão muito. A sua colheita principia em Novembro : atura sete ou puto mezes. Só rende duas onças e meic^ de peso. Cresce a três pé§ de altura , e qyatro de largura para cinco. 4. Algodoeiro Serei verde. Tem a semente com a ponta curta, rodeada de huma felpa curta, e rara , que pão a sobresahe^ e -se estende ao longo da sutura, oii lom- C 6o) iombo. Os Inglezes a cultivão em Jamaica , e ao Sorel vermelho. Abrangem ambas as espécies de baixo do nome de Algodão Sorel. Destinguem-se estas entre si não só por seus troncos peciolos veias , e calis , que , na es- pécie verde, conservão sempre esta cor, ao passo que na vermeiMia estas partes são de hum írrande vermelho: c, além disto '•rande diff erença mais vem a ser , a quantidade , e quaHdade do Algodão, ^ue me deião, O do Sorel verds , cahe lego ao depois maduro , e cada arvore só rende quatro onças de Al- godão escaroçado. O vermelho se conserva por muito tempo , e delle tenho colhido, por cada arvore, sete onças e meia. 5. Algodoeiro Sorel vermelho. Tem a semente com a ponta curta , e rodeada de muita felpa serrada , e eriçada. A felpa sobresahe á ponta, e desce ao longo da sutura até em baixo , onde se vê misturado com alguns pellcs. Merece este a preferencia ao Algodoeiro annual, ou, como dizem , ao year roímd (da roda áo anno) dos Inglezes, a pezar de serem estes últimos 0$ da melhor espécie. O annual nunca me rendeo mais de sete onças de Algodão descaroçado, por cada arvore. O Sorel porém de ordinário rende sete e meia. Este excesso em hum Algodoal he hum objecto de não pequena consideração, pois que pôde ter muitos milha- res destas arvores. O Sorel dá , em cada anno , muitas colheitas , e cada luima destas dura muito pouco tempo , ou dias^, O imnual na verdade dá Algodão todo o anno; mas, (61) para se não perder huma boa parte , he indispensável ver as arvores cada outo dias , para se colher o Algo^ dão amadurecido neste intervallo de tempo : Sem esta precaução somente se faria huma mui medíocre colhei- ta. Além disto tem o perigo de se despegar facilmente do seu capulho por qualquer vento ou chuva. O Soreí não se despega tão facilmente da arvore , resistindo a ambos destes seus inimjigos. Asua alvura, e delicadeza he muito superior ao do annual. Não tendo sido cha- potado, chega a altura de quatro, ou cinco pés , e a huma largura quasi igual, ao passo que o outro requer , pelo menos , hum espaço ,de seis pés. Desta sorte em cada Algodoal , ou acre , se podem plantar hum maior numero de pcs de Sorel que o do annual. 6. Algodoeiro barba pontiaguda, Dei-lhe este nome 5 para o distinguir das outras espécies. Tem a figura alon- gada com huma ponta comprida , rodeada de huma fel- pa eriçada , e mui fechada , que sobresahe no compri- mento alguma cousa a sutura , misturada com alguns pellos. Tendo chegado a sete pés de altura requer, ao menos, outo para a largura. Dá hnma única colheita em cada anno , e não degenerando , por se lhe quebrar a ponta quando novo ^ se pôde contai com três onças de Algodão descaroçado. 7. Algodoeiro barba ganchosa. Distingue-se por hum pequeno molho de felpa por baixo do gancho. Chega a altura de seis pés , e largura quasi igual. O seu Algodão igualla em bondade ao do annual. Dá por anno huma única colheita j e algumas vezes má. Cui- , daii" (62) dando-Se nesta arvore , como se precisa , se pôde con- tar com cinco onças de Algodão descaroçado. Nas duas lihas deS. 71iomaz, e Tortola , onde ocujtivão puro, ou sem mistura , o apéllidão red chanxs. Em Santa Cruz , porem , e Trindade o plantão misturado com outras espécies, e principalmente com a que se secue.- %. Algodoeiro annual. A semente oííerece hum pe- queno circulo de felpa ao redor da ponta, epor baixei do gancho. Dão-se duas variedades de peo^uenos , e bran- des capulhos. Chamo á primeira Algodoeiro animal grande,- Os Dinamaíquezes o cultivão á muito tempo , e o cha- mão mm coton. O mesmo fazem em S, Domingos e Jamaica. A sua colheita dura muito tempo , e nisto se distingue dos outros todos.- A primeira , e maior se faz nos princípios de Novembro , e chega ate o melado de Março ^ e a segunda, e menor em íins de Junho, €• dura até princípios de Setem.bfo. Eu ensaquei a sua semeadura em todos os mezes do anno , mas, a que fiz em Fevereiro, sempre me rendeo maior quantidade de Algodão, isto he, sete onças descaroçado.- A segunda variedade , a que dei o nome de Algo- doeiro aninuil Jino , chegou ao meu conhecimento em 1790. Ivl. Colhlenen foi quem me enviou a sua sem.en- te , tendo-a conseguido de Porto Rico. Este Algodoei- ro dá a sua colheita muito cedo. O seu' Algodão he mais fino que o da precedente variedade. Os nossos Fazendeiros , per algumas vezes , o tem confundida com a espécie que se segue. 9. Axl^odoeiro de vcllos §;ranées.- A semente se dis- tin- («í ) tíngue pela felpa que lhe rodeia a ponta , e que desce pelo comprimento da sutura, e muitas rezes por baixo ào gancho. A superfície pela maior parte tem manchas de felpas espalhadas. Esta espécie se encontra entre as outras. O seu Algodão se mancha presto na arvore ^ a- penas lhe cahe alguma chuva. No anno de lagartas pa- dece muito, e nada produz. As plantas , sendo bem tratadas , me renderão sóir.ente quatro onças de Algo* dão. Ocupão seis pés de alto, e outo de largo^ A" pouco tempo descobri em casa de M. Massetil- le , Commandante da ilha de S,- Thomáz huma varie- dade de Algodoeiro j muito notável que occupava o espaço de dezaseis pés em largura , e que nesse anno (1790]) tenha rendido, até 27 de Março, hum arrá- tel , e três quartas de Algodão descaroçado. Ainda se conservava carregado de flores , que promettião huma nova colheita. O seu Algodão não se manchava, nem cahia docapulho, assemelhando-se na sua delicadeza ao Algodão verde coroado, 10. Algodoeiro de Caijenna, As Sementes , contidas no capulho , se achão pegadas entre si , e são de nove a onze, como huma pyramide comprida, e muito es- trerta. Estima-se muito este Algodão na Europa pela sua alvura , força , e comprimento de fio. He conhecido no Commercio pelos nomes de Algodão de Cayenna , Siirinam , Demirari/ , Bcrbkhe , Esseçaebo. Devem-se preferir estes nomes , porque nestas partes , assim como çm Guienna não se cultivão as outras , mas esta só. Devo observar : Que todos os viajeiros , e natu- ra» C«4) ralistas, que escreverão sobre o Algodão das Colónias, de que tenho fallado , se devem entender sobre esta espécie. Querendo-se porem adoptar a sua descripcão j ou os preceitos que derão para a sua cultura , he íith possivel deixar de cahir em grandes erros ; por quanto o cJima de Guianna , e das Colónias Hollandezas de Su- rinam , e Demerar}' ^ etc. são totalmente ditlerentes dos climas das nossas Ilhas , ou Antilhas, O Algodoeiro de Guianna dá duas colheitas cada anno , mas são de huma curta duração pela maior par» te , por motivo da estação chuvosa , que todos os an- nos tem lugar duas A-ezes regularmente ; a chuva ali- geira nesse tempo a sua cahida dos capulhos , estando ainda amiCtade maduros , e algumas vezes totalmente verdes. Em terreno que for bom , e situado vantajosa- jiiente cada arvore pôde muito bem dar de doze a vin- te e outo onças de Algodão descaroçado , com tanto que a colheita se faça em bom tempo. Em Martinica se dá a este Algodoeiro o nome de Algodão de pedra , e em Jamaica Kidney coton , ou liiik coton. Ocupa o lugar de dez a doze pés , sendo conveniente o terreno. II. Algodoeiro do Brasil. As sementes se encon- trão unidas sete ou outo em cada lugar do seu capulho em figura de huma pyramide grande. Ate aqui esta es- pécie só se cultivava no Brasil , e não em Guianna , e Antilhas. A nossa Ilha deve a introducção desta pre- ciosa arvore a M. Duncan , que na sua viagem de Es- cocia em 1789 , lhe enviou a sua semente com o da Xndja. O objecto principal da viagem , de que foi en- cas* i tmegiáó , foi instriiir-se sobíe as differentes especíes de Algodão empregadas nas manufacturas de Inglaterra & c de Escoeia , e sobre as qualidades daquellas , a que dão a preferencia. Elle tinha levado comsigo muitas espécies de Algodão cultivados em Santa Cruz , d quaes até então não erão conhecidos no Commercio. As manufacturas julgarão que não era alguma delias comparável com a do Brasil, e a da índia Oriental. M* Duncar na sua volta em 1788, tendo-me dado as duas novas e:^pecies , as semeei. O da índia não nasceo por estar a semente já muito arruinada ; a do Brasil veio muito bem. Principiou a nossa primeira colheita aos 21 de Fevereiro de 1789, e acabou em Março. Três arvores somente me derão huma onça de Algodão des- caroçado. Este Algodão não parecia mais fino que o de Guianna , ainda que a amostra , trazida por M. Duncan de Escócia o excedia a este respeito. Esta differença sem dúvida era causada pelo terreno da sua plantação, que não era favorável aos Algodoeiros. §^ II. Algodoeiros cjtie tem a semente trigueira escurei y e a superfície Usa com velas. 12. Algodoeiro da índias A ponta da semente náa se distingue de algumas fibras da felpa, que guarnece a sua face superior ; a sutura sobresahe a' ponta , e o gancho, he quasi imperceptiveL Vi-o pela primeira vez em casa de hum índio entre Carthagena , e Santa Mar- tha. ÍN^unca encontrei Algodoeiros mais carregados de («o 4H Algodão que este. A posição baixa do Algodoal , e â industria, com que o dono lhe distribuía a agua, e a levava por toda a parte contribuía muito a esta pas* rnosa fertilidade. Esta arvore offerece huma notável sin- gularidade na convexidade de suas folhas , character <]ue não encontrei em outra alguma espécie. O seu Al- godão he mui branco , conserva-se por muito tempo na ©rvore , e não he sujeito a manchar-se , a còr do ca- pulho , não se tirando : além disto descaroça-se cem facilidade, porque não se pega as sementes, e excede em fineza a todas as espécies que descrevi até agora» O seu grão semeado em Novembro dá huma colheita •mais abundante. Os desta espécie que possuo , ainda que mui novos , e a pesar da secura , e da mediocridade do terreno , me derão duas colheitas no anno de hum Algodão belíssimo. A bardonado a si próprio requer, por causa da abertura dos seus ramos laterais, hum es- paço de dez pés , sendo a sua altura de outo. Não sei dizer , qual seria a sua apparencia se fosse chapotado. 15. Algodoeiro de Sião trigueiro Uso, A ponta da ^semente se guarnece de huma felpa ligeira em a face posterior, A sutura não chega á ponta. O gancho he mui visível. Observei em Martinica quatro espécies de Algo- doeiros com este nome , dos quaes três produzem hum Algodão trigueiro avermelhado, que parecia descorado; a quarta dá hum Algodão branquíssimo. Conhecem-se as três primeiras nas Ilhas Francezas pelo nome colle- "Ctivo de Sião vermelho', os Cultivadores os destinguem pelo Ç67) pelo grão ; chamão Sião liso á nossa espécie i j , coroada á 16 , velado á 25. O Sião branco se cultiva em S. Domingos igualmente. O Algodão destas quatro espé- cies he finíssimo. As ties espécies de Sião vermelho conservão o nome de Algodão Nanquim nas possessões Inglezas, íião obstante ser verdade que o panno , conhecido nQ Commercio por este nome , não seja feito deíie. O Algodoeiro Sião liso vence em altura a todos os de mais Algodoeiros. Possuo estas arvores com a idade de dous annos j e já tem doze pés de altura , e outo íle largo. Só dão por anno huma colheita. Os seus ca- puihos cabem facilmente com o Algodão, logo que a- raadurecem ; e além disto tem o inconveniente de se abrirem só a ametade. O Algodão naturalmente se ad- -liere aos capulhos, o que faz ser a sua colheita demo- rada 3 e trabalhosa. Como seja mui fino 5 a sua quan- tidade engana muitas vezes. Por todos estes motivos -não recomendo a sua cultura. 1 4, Algodoeiro de S, Thomaz, A felpa , que rodeia :« ponta da semente, he mui fechada, entresachada de <^píellos longos em forma de pincel ou penacho , qiie pela maior parte excedem á ponta , mas que acabão junto á parte superior. O gancho he mui sensível. As arvores desta espécie , plantadas por mim de semente , .me forão enviadas de S. Thomaz , e unicamente me derão huma colheita desde Janeiro até Março, Cresce- rão a onze pés de altura, e pedião hum espaço de de25 ptfS de largura. Tive -de cada arvore três onças três «> E :> quar- c«o Cjuartòs de Algodão limpo , que parecia ser mais alvo jiiais íino 5 e mais comprido que o do Algodoeiro an- «ual 5 porém que se descaroçava difíicultosamente. A semente só he pegada era hum único ponto por baixo do gancho , mas pega-se com tanta tenacidade , que , arrancando-a com força , se lhe tira huma parte da casca da semente. Cardando-se , cumpre despegar-se-lhe esta proporção de casca , que pela maior parte só se vê co» mo se fosse hum ponto negro ; pois despresando-se esta precaução se arrisca a quebrar todos os fios , que se prendem a este ponto. Não tenho notado cousa seme- lhante em todas as outras espécies que tenho cultivado. 15. Algodoeiro dos Caj/s, Tem. a semente com ân- gulos obtusos de hum lado , e do outro mais inchado , e pouca felpa , e curta ao redor da ponta , que não che- ga ao alto da sutura. O gancho he quad nenhum. As- 5emelha-se muito ao precedente na sua apparencia , ou habito 5 assii^i como no tempo da colheita , e qualidade do Algodão; mas, cultivando-se com o mesmo cuida- do 5 só me deo por arvore duas onças e meia de Al- godão descaroçado. Despega-se com muita facilidade da superfície do grão, e não se encontra nelle porção al- guma da sua casca. ,:n cSâq 16. Algodoeiro Sião trigueiro coroado. A felpa aO j:edor da planta da semente he curta , mui fechada , eri- çada 5 com mui poucos cabelos , e não aparece no alto da sutura. O gancho he mui visivel. Cultrva-se entre nós, e na Martinica, onde lhe dão o appelido úq Siíra eoioíido T^rmelbo» O seu Al^oduo-he iw% pallido que o do num. i^; porém mais elástico. Madura fa? abrir o capulho sem se despegar , com tudo se deve colher sem demora ;^nrque o capulho cahe , o Algodão apo- drece, e então perde a elasticidade, e por consequência o seu valor, He espécie pouco productiva , e nad me-- rece ser cultivada , a náo ser paga por maior preço que o branco. Cada arvore precisa de s^eis pés quadra- dos. 17. Algodoeiro de Cartha^ena de pecjuenoS: vejíoí» A felpa ao redor da ponta he salpicada dg pellos com- pridos , e raros. A sutura he igual : o gancho apenas sensivel. Ainda que se não cultivem Algodoeiros em os ar* rebaldes de Carthagena , encontrão-se com tudo Aigo- doaes no interior das possessões Hespanholas. Estando Hecpanha em guerra , trazem a Carthagena esta especi® de Algodão pelos marinheiros que navegâo entre esta Cidade , e Santa Fé , pelo rio da TYlagdalena , e de or-- dinario o trazem em surrões , feitos de couro de boi , que as Nações se provem para as suas exportações. Isto he o que pude saber sobre esta espécie de Algo- dão na viagem que íiz a Carthagena. Este Algodão , tal qual o compramos nesta ultima Cidade , he sempre pouco asseado , e nunca separado da semente. Parecs que nas Províncias-, donde vem , totalmente ignorão o uso das maquinas de descaroçar. Semeei-o na minha fazenda , e só obtive buma única colheita. E ainda que não tenha o defeito que os Manufactureiros reprovãa lia espécie seginte, isto he, as íibras mui compridas j> çom (70) tom tudo , nSo merece ser cultivado , porque cahe Iog« depois de maduro. 18. Algodoeiro de Cartliagena de vellos grandes. Ei- te , entre todos , os que tenho plantado , he o mais al- to. Só produz huma única A^ez no anno , mas rende ^bundosamente. Os vellos do seu Algodão tem sete para outo pollegadas de comprido , o que faz ter a ar- vore huma galante vista. Tem o Algodão a excellen^ çu\ de não cahir de si mesmo , e de não descorar es- tando na arvore ; mas , a pezar da sua belleza , não convém as filaturas das manufactorias Escccezas , pot amor do muito comprimento de suas fibras. Com tudo he de muito bom uso fiado á mSo. 19. Algodoeiro de Sião bronco. A semente he cur^ ta 5 a base quasi espherica ; a felpa ao redor da ponta tem o penacho , ou frouxel , comprido , e serrado , e se estende alguma cousa para a base ; o gancho apenas Te percebe. Cultiva-se esta espécie em S. Domingos , e Martinica com o mesmo nome. Antes de produzir ça- pulhos maduros , he impossível distinguillo do nosso Sitio trigueiro coroado num. 16. O seu habito, ou ap-r parencia , o espaço que occupa , a figura de suas folhas , o numero das glândulas , e a côr de suas fiores , sendo nas duas espécies , assim como i maneira , com que o Algodão se sustem na arvore ao depois de maduro. O Sião branco ái como O outro duas colheitas por anno , tias quaes a primeira principia de ordinário em Dezem- bro , e acaba nos fins de Janeiro , e a segunda começa ÍIQS principies de Maio, e acaba nos fins de Junho. Pof Por tanto não se queira olhar para esta espécie, como se fosse hurna yaiiedade de Sião coroado. Culti^ vei ambos em 1785 , e posso responder sobre a diffe- rença essencial que se dá eptre huma , e outra arvore. O Algodão do Sião branco he de maior branco , sem conter a menor fibra colorida , e na arvore nunca ss 4esmaia, Cada arvore annualmente me rendia seis on- ^s de Algodão descaroçado. Isto he o dobro do que rne rendia o Sião vermelho, 5, III. Algodoeiros , que tem a semente com a stiperficics salpicada de pellos mui curtos de modo que com Ja- cilidçde se destingue a còr da casca ; porém as v^ias entre si menos bem. 20. Algodoeiro de Coração, A semente Ke peque» na : só tem ametade da grossura das outras espécies , ç mais espherica que oval , provida de poucos pello? com a sua posição inclinada. Tem a ponta curta , guar- necida de mui curtos pellos na face posterior. O gan- cho he hum ponto elevado. Muitos moradores cultivãa este Algodoeiro , descoberto por mim , natural desta Ilha 3 nascendo espontaneamente entre os rochedos. Va- rião muito as suas folhas ; os seus capulhos são mui pequenos ; o Algodão mui comprido , e parece que não, promette grande cousa. Mas. descaroçando-se , se acha mui fino 3 e de huma alvura que cega. Gasta-se n^ inesma Colónia ; as mulheres dos moradores , que s& oçcupão jnuitp na ilação 5 hiçxxi delle meias, que cm- C70 %ío ao par cem francos , são de buma grande fíneza , e de huma longa duração. 21. Algodoeiro coroado de S. 'Dojningos. Tem a se- mente de huma figura allongada , coberta de muitoí pellos raros; aponta curta, e direita rodeada de pellcs compridos ; o gancho he mui visivel. Eite j\l"godoeiro brota ramos por todos os lados , e se alargão até dez pés. De ordinário sobe a sete , dá duas colheitas por anno, a primeira começa em Novembro acaba em. ja- neiro, a segunda dwra de Abril até Ptlaio, e ainda até Julho nos ánnos férteis. O seu Algodão se assemelha em. brancura , e fineza ao ào Algodoeiro da índia , coni a differença de ser mais adherente a semente , e com quQ maduros os capulhos , se despegão , e cahem. A pezar destes defeitos, merece por todos os motivos ser cultivado. Os cultivadores do Algodoeiro da ladia em o mesmo Algodoal devem semear o coroado de S. Do- mingos em Setembro , e o outro em Novembro. Assim as colheitas de hum , e oUlTO se succedêrão regular- iriente , e não começará huma , sem que acabe a outra. 2 2. Algodoeiro Sarmenioso. Asseme!ha-se muito a sua semente i do precedente ; com tudo se distingue pelos lados ; o que se acha a sutura he plano , o ou- tro he mais convexo. Este Algodoeiro he indígena de Gaine. A sua apparencia o distingue dos outros todos, pois que, em lugar de se erguer , como elles em linha perpendicular , e de alargar os seus ramos horizontal- mente , cresce n'huma posição inclinada com os ramos inferiofes sempre arrastando , ou deitados pela terra ^ es- (70 cstendein-se a mais de cinco pés por todos os kdos ; os superiores são muito inclinados. Por este motivo se pôde cultivar esta arvore nos lugares expostos aos ven- tos pelas serras , montes , ou collinas , onde outras es- pécies se não darião bem. Facilmente se não despegao os seus capulhos. O seu Algodão excede em alvura , e fineza , ao do Algodoeiro coroado de S. Domingos, So- mente obtive huma onça e meia de cada arvore^ mas he infinitamente muito mais rendoso no seu paiz natal. As suas folhas são perfeitamente sem.elhantes ás do Al- godoeiro precedente, V §. IV. Algodoeiros com a superfície da semente em paf' te , ou no todo guarnecida de huma J^elpa , ou , me^ Ihor , pellos espessos no ponto de se lhe não pe-^ der distinguir a cór da sua casca. 23. Algodoeiro de mancha Usa. Tem a semente com. an"-ulos embotados , e algumas prominencias esca- brosas na superíicje. Cobre-se desde a ponta até a baçe de huma felpa avermelhada. O gancho , e huma gran- de mancha junto á base são niis , e sem felpa. A. pon- ta ^ huma parte da sutura , e o gancho são mui visí- veis. Nada positivamente sei a respeito da pátria desta esDecie. As m.inhas arvores só tem hum pé de altura , de sorte que não posso dizer cousa algumaa sobre a sua colheita, cu rendimento annual. O seu Algodão , que vi 5 era miui fino , e de hum trigueiro amarellado. 24. Alecdoeiro de Ahodão grosso. Tem a semente quasi (74) quasi cylindrica, e coberta de huma felpa cinzenta es- branquiçada. Só lhe percebe a extremidade da ponta, A sutura se cobre de felpa , o gancho rara vez se vc. Cresce até sete pçs de alto, e requer a largura de qua- tro. Em Martinica lhe dão o nome de JlgodÕo grosso ; e na Trindade de veludo. Sem embargo de ser a sua semente aveludada , e coberta de felpa , com tudo , o Algodão se separa com toda a facilidade. Ainda he maior esta que a do coroada de S. Domingos , e a do Algodoeiro snrmentoso, Na fineza , e alvura se asseme- lha bellamente ao do Algodão de Guianna (num. lo.), que á primeira vista se não destingue. Esta espécie só dá huma colheita no anno , que he de Fevereiro até Maio. O Algodão se conserva na arvore por muita tempo ao depois de maduro ; mas cada arvore , por maior cuidado que se tenha dado, só rende duas onças c meia descaroçado. 25. Algodoeiro Sião trigueiro aveludado. Tem a se- mente quasi cylindrica , toda quasi coberta de huma felpa trigueira avermelhada. A ponta se rodeia de pel- los compddos, e a sua extremidade he visivel : a su- tura , e gancho se cobrem de felpa. Em Guadalupe o denominão Sião vermelho aveludado. A' muitos annos que se cultiva em Santa Cruz. Não me rendeo (17S9) só huma onça , e duas outavas por arvore. Certamen- te he mais rendoso em Guadalupe ; porque , a não ser assim 5 não poderião aguentar as despezas da sua cultu- ra. Acòr do seu Algodão he amaellada , de huma gran- de í]neza^ e elasticidade, z6. C75) 26. Algodoeiro mosscllna. Tem a semente inteira- mente coberta de pellos, a ponta, a sutura, e o gan- cho não se percebem. Em Jamaica todas as espécies de Algodoeiros , que tem o grão mui aveludado , e o Al- godão mui fino se cliamão Algodoeiros mossellnas. Pos- suem muitas variedades. A primeira chamada mossellna de grosso grão tem as folhas divididas em cinco iobos , mui distinctas das ou- tras todas dos Algodoeiros. Só dá huma colheita , que começa em Jantiro j e chega a Junho. Cada arvore me rendeo três onças , cinco outavas Cj meia de Al- godão branco , cuja brancura não chegava á de muitas espécies brancas cultivadas a qui á muito tempo. Este Algodão he menos macio , e sedeudo que o da varie- dade seguinte. O seu descarocamento he diíficil ; pre- cisa-se por consequência applicar os dedos , operação dilatada, e aborrecida que deve iníluir naturalmente no preço deste género ; visto que , para descaroçar hum ar- rátel deste Algodão , são precisas , ao menos , seis hora'. A segunda variedade tem o nome de moussellnas vermelhas que unicamente se destingue da primeira pelo seu Algodão , que he mais fino , puxando algum.a cousa para vermelho, menos abundante, e ainda mais diííi- cil de se descaroçar. A terceira he a mousscVma da Trindade , por vir desta Ilha. Plantei desta casta , e me deo hum Algo- dão melhor que as outras espécies em alvura , e fine- za. A colheita começa em Fevereiro , e chega até os fins dç Março. O Algodão se despega com muita dif- (7tS) ficuldade das sementes , etc. Estas tem duas differentes cores , a maior parte verde escura , outras pardas bem que Igualmente madura-?. Deôcubri huma quarta em Cayenna , que na?cia naturalm^ente , e em grande abundância na Ilha de Mere huma das P..emires por cujo motivo Ilie dei este appeiido mosselí/ia das Remires. He a peior de todas as espécies que conheço , e a meno5 digna de ser cultiva- da. Cito-a ; porque o cultivador deve conhecer as boas, e as mxás espécie?. O seu capuiho contem somente mui pouco Algodão branco , descaroçado , que se pega de tal forma , que sem muita força não se arranca. O desca- roçamento de hum arrátel requer vinte e seis horas. O cuidado, com que cultivei esta arvore na minha fa- zenda de Santa Cruz, causou-lhe mui pouco melhora

tos dos novos ramos, os peciolos das foHias , as veias das ultimai, são de huma còr vermelha carregada. No entretanto qus o Algodão amadurece na arvore muitas C 77 > folhas, o calis exterior das flores, e muitas outras par- tes que, antes da madureza ào Algodão são de côr ver- de', se fazem ou todas vermelhas , ou se cobrem em partes de manchas desta côr. Vi pela primeira vez esta aivore nos Cays em S. Domingos , e ao depois em a Trindade , e Cayenna, A sua altura chega de ordi- nário a sete pés , e requer hum espaço de seis pés em largura. Só dá por anno huma colheita , que dura desde o mez de Fevereiro até o íim de Maio. O rendi- mento, ou producção década arvore he de huma onça, e três , ou quatro outavas de Algodão descaroçado: Este Algodão tem o- defeito de se pegar mui tenas- mente ao grão; para se ihe separar, as maquinas ordi- nárias são insufficientes ; precisase tirall© á m.ão ,60 descaroçamento de hum arrátel requer treze horas de trabalho. He tão fino como o Algodão da índia, mas os manufactureiros Inglezes preferem o ultimo. 28. O Algodoeiro Religioso (Gossi/pium Religlostcm ^ Lin. } Conheço duas variedades: huma de Tranquebar , ■que tem as folhas.;, com lobos pontudos ; e outra de Cambaia , que aá tem redondas. Sua sem.eníe só differença ra grossura : he quasi espherica ^ e cobeita de huma feipa parda esbranquiçada, e de alguns pellos , as quaes iodeão a ponta , e excedem em comprimento ao grão. Em ambas as variedades somente se percebe huma glân- dula no lado intermediário das folhas : esta. falta algu- .inas vezes nas folhas da segunda variedade.; As folhas 'dé ambos estes Algodoeiros são as mais formo-as deste género. Os petalos são de hum.a côr amarella , ciara ^ icom huma grande mancha vermelhti na sua base. (72) A variedade de Tianquebar me deo arbustos de três pés de alto , que só exigem dous de e-paço ou largura. Os capulhos deste Algodoeiro , ainda que mui pequenos contém muito Algodão relativamente á sua grandeza, com tudo somente tirei seis outavas década ■arvore. As fibras deste Algodão são curtas , e raras em torno da semente, a qual se apegão fortemente. Pre- cisão trinta horas para se descaroçar hum arrátel á mão, O AJgxjdoeiro de Cambaia he algum tanto mais alto , .« os seus capulhos, maiores; mas o seu rendimento, com pouca diíferença , o mesmo que o antecedente. 29. Algodoeiro de Porto rico. As sementes , total- mente cobertas^ de felpa , são apegadas fortemente hu- Tnas ás outras , formando huma espécie de pyramide •estreita, e alongada. Esta espécie se assemelha exacta» ínefite aos Algodoeiros da Gulanna , por sua apparencia , grandeza , e por outras partes differentes da arvore. O Seda ( Bombax Ceiba ) também se encontra pelas al- deias. He huma das melhores producções , que a Na- tureza offerece á industria do homem. He muito supe- rior á seda pela sua delicadeza , niacieza ; mas , sendo o frouxel muito curto 5 e o fio quebradiço julgão que não lie próprio ao divisor, e ao ofíicial , mas delle se fazem ajnofadas^ çcolxoes. Este Algodão se contém em hum capulho comprido de cinco a seis pol legadas , e as se- mentes se assemelhão á? da pimenta negra , sem- terem saber algum. A arvore he notável por seus ramos mui direitos , e horizontaes* Alguns viajeiros lhe derão O 4iome de Quitasol Mas esta espécie de meza , chama- da gucrhlon cfíerece huma representação mais justa. - C90 Cultiv2-se cm toda a Pérsia o Algodoeiro. Re- quer, ( diz Ginellin) hum terreno fértil QVoj/age dant fhtssçurs Frovinces de l Empire Rasse Vq]. Ill, p. 47.) WalgLins destrictos de Masaiidaran , que tem o terreno estéril , se suppre com estrume. Plantão se 03 Algodoeiros a hum pé de distancia , e em campos lavrados , precisão para medrar de alguma chuva moderada ; porque se não retardem, e não se transplantão : semeão-se em Maio, c se colhem nos fins de Septembro. Nasce também em toda a Arábia , mas não sabe- mos se lhes dão huma cultura regular. Parece que na Syria , e Palestina a sua cultura pára só nos usos do- mésticos. Na Ásia m,enor , e Natolia os Turcos , Arn-re- nios , e Gregos o cultivão. Ha hum grande Commer- cio em Alepo , e Smyrna. Ka grandes colheitas nos pia- nos de Esmyina. Não seda (diz Flachart ) pelos mon- tes , e valles : as terras fortes o copão , e as areis- cas não tem substancia. Ke particular o modo com <]ue neste paiz lhe preparão o grão. Embrulhão-no no próprio Algodão , estendem ao depois estes pequenos embrulhos em hum eirado ; cobrem-se com terra , que se rega , rola-se em as mãos para se lhes dar consisteiv cia. O Semeador os lança então como o grão apanha- dos ; mas em pequena quantidade ; porque os grãos se afogarião mutuamente huns aos outros , sendo muito apertados, e voltão os sulcos feitos de sorte que as se- mentes íicão enterradas a meio pé de profundeza. A jnejma terra pode aguentar por dous annos successivos O Algodão, substituiiido-se-lhe trigo, ou cevada. .-, : Na (93) Ka Ilha de Chypre se produz iTiiíito ÁJgodâo , que conserva o seu nome , que, como diz Mariti, se re- puta pelo melhor de Levante , he mui branco , os íios! são compridos j e sedeudos ; vende-se por alto preço. Todavia todo quanto se colhe não he da mesma bon- dade : cada colheita tem qualidades inferiores. Distinguem se em Chypre os Algodoeiros de água corrente y em Algodoeiros de terra secca. Cultivão-se os primeiros junto ás aldeias , onde ha pequenos rios , e correntes de agua pura , para os regar ; o Algodão , que produzem , he infinitamente melhor , e de huma quali- dade superior ao que se cria em lugares seccos , ou on- de só recebem as aguas do Ceo, Os Cypriotas princi- pião a sua semeadura em Abril ; podião principialla mais cedo 5 mas, como as novas plantas principiarião abrof tar no tempo que os gafanhotos destroção annualmente a Ilha , de propósito retardão esta cultura que nada tem de singular. Reputa-se actualmente em Chypre por htima boa colheita a que rende cinco mil bailas de Algodão. Dão- se annos pouco rendosos que a penas se colhem três mil. Quando esta Ilha esteve no dominío dos Venezia- nos cada anno se colhia trinta mil bailas. Tendo-se porém rfimnuido a sua população em demasia desde esta época , igualmente se deminuio a cultura deste género. Além disto a grande seccura que se experimenta neste paiz , e os ventos quentes que commummente sopráo em Julho concorrem pela maior parte para esta falta. C94) Cultura no Continente de Africa. As relações que temos deste paiz pouco dizem da cultura do Algodoeiro nesta vasta parte do mundo. Todavia parece certo que nelle se cultiva este arbusto não só nas Coitas , como também no seu Cerlao ; por- que as Caravanas que todos os annos vem do interior da Africa aoEgypto, para oCommercio dos escravos, e da gomma trazem pannos de Algodão, cuja còr , e forma attestão a origem Africana. No Senegal , e Ser- ia Leoa , e nas feitorias Europeas de Guiné se vem muitas vezes amostras de Algodão trazidas do interior pelos contractos negros. Este Algodão , ainda que de huma brancura brilhante , e de huma grande maciez* com tudo he menos estimado pelos negros , que o Al- godão semelhante ao Sião amarello , mas de huma còr mais dourada , que se acha nos Reinos de Dahomet , >c cuja exportação he prohibida debaixo de rigorosas penas. He desconhecido o Algodoeiro. He verosímil que Africa tenha muitas espécies de Algodoeiros naturaes. O Sonnentoso , de que já fallei , l e hum delles , de onde veio para as Antilhas. No Cabo de Boa Esperança , que he a parte da Africa mais conhe- cida , parece não haver esta sorte de arbustos , ao menos os viajeiros nada dizem. Está-se na mesma inteliigencia a respeito da Cafraria , e Ethiopia , ainda que a tempe- ratura destes lugares parece convir a cultura deste ve- |;etal. Os Algodoeiros das Mauricías forão trazidos da jlndia, e se dao muito bem, Kão (95 ) Não temos certeza que antigamente houvessem Algodoaes noEgypto, bem que delle se extrahisse mui- to Algodão. Seria nascido ahi? Hoje se dSo alguns AN godoeirqs , mais para o uso domésticos que para espe- culações mercantis. Esta cultura he estranha aos Barba- rescos , a pesar que o seu clima lhe convém. Parece que se contentão com as suas bellas lãs applicadas a seus vestidos , e de que , além disso fazem o seu gran- de Commercio. Cultura na America, Não seguirei a Nicolion , Moreau de Saint Mery , Blout 5 Budier no recenseamento que íizerão de hum grande numero de Algodoeiros da America. Seria au- -gmentar ainda a confusão, já assas grande , que reina na nomenclatura das espécies botânicas Ou jardineiras deste interessante, género. Paro na divisão de M. de Kohr exposta acima que abrange quasi todas que se en- contrão neste continente , quer estranhas , quer natu- raes. O trabalho de M. de Rohr merece a maior con- hança, pois residio na America vinte annos successivos , e em todo este tempo se occupou na cultura , em San- ta Cruz 3 de todos os A^lgodoeiros , que pôde descobrir, e que viajou por ordem todas as Ilhas do Governo Di« namarquez , todas as Ilhas ^ e Possessões de terras firme do Governo Hespanhol , Hollandez, e Francez , que se occupão desta cultura. As Antilhas , Quianna , e 9i maior parte áo Brasi! são C 96 ) são os lugares , em que íiorece esta cultura em maiof ponto. As varges, os montes , os teirencs seccos , « húmidos são igualmente , com pouca ditferença , pró- prios para Algodoaes. GostSo principalmente de beira mar. A sua duração vai de quatro a seis annos^ e no fim destes se precisão renovar , pois que sem isto ren- derão muito pouco. De ordinário os plantão em quin- conce. Prepara-se a terra cm lugares abrigados , quanto se poder , dos ventos do Norte , e Nordeste. Abrem-s« covas , em que se deitao muitos grãos , qualqíier pe- quena chuva os faz brotar. No Cabo de três semanas , ou hum mez se mondâo as novas plantas, e se tirão as supérfluas , deixando-se em cada cova duas ou três. Quando tiVerem quatro ou cinco pés se chapotão para obrigar a seiba a alavgar-se para os lados ou ramos la- teraes. Estes também precisão fazellos parar ,- se lança- rem garfos mui compridos. Estas podas executadas com destreza obrigáo os ramos a formar galhos , ou subdi- visões , e por este meio se consegue a esta planta to- da a fecundidade , de que he capaz. Se a estação for favorável , se pode começar a colheita do Algodão seis ou sete mezes passados ao de- pois da semeadura. Dura esta colheita três iTiezes. Era alguns paizes ha duas , mas a primeira sempre he a .mais abundante. Em geral o Fazendeiro hitelligente deva regular suas plantações de mar:ieira , que sempre as faça em tempo húmido para o prompto desenvolvi- inento das sementes , e que a colheita se possa fazar cm hum tempo quente porque se deve colher o Algo- dão« C97) éio secco , e limpo. A humidade o faria fermentar , « o gráo germinaria. Algumas vezes a negligencia dós ne- gros causão a deterioração deste género : colhem os ca- pulhos ás punhadas , e misturão o Algodão com folhas seccas , que o manchão. Estas folhas embaração o desça, roçador , e alterão a qualidade do Algodão. Pára se colher bem , o negro só se deve servir dos setís três dedos , e evitar de quebrar os ramos , quando os puxa para si , o que faria abortar aos capulhos , ou maçãs que ainda estão verdes , que podem ter. Basta hum cesto a este trabalho , o qual deve receber cincoenta arráteis de Algodão com o grão , que conduz a casa do Senhor , e o põem ao sol , para o seccar , estendido em pannos. Tendo deixado assim por dous ou três dias , se escolhe , e se põem no armazém. Os pilares oú es- teios que sustentão o armazém são guarnecidos de funis de folhas de Flandres , que impedem os ratos a subida. Estes animalejos são com excesso apetitosos das semen- tes do Algodoeiro. Para se separar o Algodão da sua semente , o obri- gão a passar entre dous rolos de madeira, dispostoá ho- rizontalmente , hum por cima do outro , que são movi- dos por hum alça pé , como se pratica nos robolos dos «moladores por hum travessão: poem^se sobre o eixo d4 manivella hum volante , e hum contrapeso que carrega sobre o rol© superior. Dao-se descaroçadores , de qúe se usáo muito em Cayenna ^ do comprimento de seis até (doze pcs. Ha poucos annos que se construio em Santa Jtuzia hum grande engenho de descaroçar Algodãd ^ mo- ST. K. P. I. Q vi- C 9« ) vido por agua , que cahe sobre Iiuma roda perpendicular em horizonte , que faz mover hum cylindro de ma- deira de quarenta pés de comprido, e vinte de diâme- tro. Este Cylindro em rotação faz rolar, seis, outo, ou dez engenhos, semelhantes ao que acabo de descrever, por meio de huma corda , que o entrelaça ao mesmo tempo de huma maneira conveniente ás pequenas ro- das de todos os descaroçadorcs. Esta maquina , cuja in- venção se deve a hum Inglez , apenas custa outo mil livras , tendo-se hum canal de agua que a faça mover. Para o ensaccar ou embalotar , se mete o Algodão em saccas de panno grosso : Em Cayenna , e outras Co- lónias 5 se serve do que tem três pés de largo , e dez pollegadas : calca-se bem. Hum negro entra no sacco, suspenso no ar por travessas fixadas em esteios ; calca com os pés o Algodão , que se lhe vai dando , pouco a pouco : quanto for mais calcado , ou apertado , menos sujeito fica a soffrer a avaria no transporte. Para que não se remonte , em quanto se ensacca , se conserva o sacco molhado por fora; estando cheio, se lhe coze a bocca. Gada sacca tem duzentos, quatrocentos, ou seis cento» mil arráteis. Huma boa sacca deve contar tantos quin-? taes de Algodão quantos são as varas , de panno , que a sacca tiver levado. Neste estado está este género prom- pto para o Commercio ; e talvez , a ser transportado. Pre- í!pisa-se não esquecer de deixar ao sacco duas orelhas cheia* deA^lgodão, para. que com facilidade se possa remover ^ estando cheio : d?ve-se também , quando se encher, bater o sacco por fora , par* cjue este se faça redonda. C 99 > O uso de molhar o sacco , em quanto se enche ^ para sujeitar a compressão , e para unir huma maior quantidade em hum menor volume , he certamente contrario ao perfeito desenvolvimento de suas partes na carda , ainda que possa ser bem separado , e bem descaroçado , resiste , quebra-se , e soífie huma perda muito grande. Porém mais saccas augmentaria a despe- za do ensaccamento : saccas maiores farião mais difíicil o seu arranjo. Antes da guerra de 1755 os Hollandezes nos pro- vião do Algodão de Eerbiche , hum dos seus estabele- cimentos na America. Era em pequenas saccas de peso de cento trinta e cinco até cento cincoenta arráteis : arranjado com asseio , mas muito apertado na sacca , e por isso se trabalhava com muita facilidade , e tinha pouca quebra. O seu merecimento era só por isto , ten- do a preferencia ao das nossas Ilhas. Passada a colheita _, se corta o Algodoeiro pelo pé cm tempo de chuva , e o tronco dá fructos mais prom- ptamente , e em maior quantidade que as novas plan- tas. Em certas partes da America se faz esta operação d^ dous em dous , de três em três annos. A cultura deste arbusto mais fácil que todas quantas se fazem em as nossas Colónias , e que requer menos braços , e despe- zas ; e por ella , ou pela do Café he os novatos , que entrão neste paiz , devem principiar o seu grangeio. Hum só negro pôde cultivar hum quadrado de terra (quasi três arpentes de Paris) plantado em Algodão , seti- do esta superfície em terras boas , pódedíir mií e duzen- C z tos tos arráteis deste género , que , vendidos a razão de du- zentas libras tornezas por quintal , offerece hunia renda de duas mil e quatro centas libras ( 384(^000 por es- cravo) . Apresento o maxlmitm do producto , que he mui raro conseguillo. DeA^-e necessariamente depender de quatro cousas, i. da qualidade da terra , 2. espécie do Algodoeiro, que foi plantado , j. do methodo da cultura que segue , 4. do preço mercantil do Algodão. Em geral , nos tempos ordinários só deve contar com quinhentos a seis centos arráteis de Algodão por qua* arado , ainda em bons annos. §. IV. Inimigos do Algodoeiro, Além das seccas excessivas , fortes chuvas , e ven- tos frios que offendem os Algodoeiros , principalmente estando em flor , estes arbustos , diz Gluvel , são su- jeitos também a serem destiuidos pelos estragos , que lhe fazem muitos insectos , que os accommettem em todos os tempos de sua vida , e aos quaes até agora se tem feito huma guerra inútil. Os vermes , os por- cellos 5 e diversas espécies de escaravelhos , penetrão a terra, estando semeada, e lhe roem a substancia, que a germinação tem amolecido. Os grãos , que escapão a este primeiro perigo, logo produzem novas plantas, que , por seu turno , estão arriscadas a novos inimigos. Os grillos asatacão de noute. De dia devorão outros as suas novas folhas , aos quaes a America dá o nome de diabos , e que são do tamanho de hum pequeno bezouro. São estes manchados de negro , amarello , e também ra« rajados de negro ^ e vermelho. Igualmente se deve te- mer o dhòi/iho nos Algodoeiros , por ser hum escara- velho menor, e de côr verde desmaiada. As lagartas da prima\^era costumão vir em conse- quência dos diabos , e diabinhos , e não esperao , que se lhes peça , que hajáo de acabar o destroço , que os antecedentes principiáiao. Os Algodoeiros, aos quaes perdoou o dente ma- tador dos insectos acima ditos , em três mezes sobem á altura de dezoito ate vinte pollegadas. Neste tempo dous inimigos temíveis, alliados entre si, osatacáo, a saber , o maoka , e o camaraoco como os chamao : o pri- meiro , he hum grande bixo branco, que come a raiz, e faz seccar a planta nova : o segundo , que também he hum bixo , devora a parte lenhosa da planta. Neste lugar se forma hum cancro , e o lugar, que ataca, fica tão quebradiço , que o menor vento faz quebrar-se a arvore. O Algodoeiro , tendo vencido esta multidão de inimigos 5 se enche de ílores amarellas , e vermelhas , cujo ajuntamento alegra a vista. Mas os chismes ver- des , e também de outras cores , vem macular toda es- ta belleza. Sendo muitos, as ílores caducáo , e os fru- ctos abortão. Os pul^ées algumas vezes soccorrem aos chismes: nestes termos adoenta-se a arvore, esteriliza- se , e , a final , perece. Os chismes despresão as folhas , e as flores do Algo- doeiro 5 requerem hum cevo mais succoso. Esperão por tanto que as maçãs se abrão , para então lhes chupar as ( 102 ) sementes verdes , e tenras. Os grãos , assim roidos , não tendo mais substancia, passão pelos cylindros, quando se escaroça o Algodão, achateão-sc, esmagao-se, e só £cão servindo para , misturados com os excretos das savandijas acima ditas , sujar, manchar, e emporca- lhar o Algodão , que se procura u este tempo dar va- lor. Porém o inimigo mais temível dos Algodoaes , sem dúvida alguma , he a lagarta do mesmo Algodão. Este insecto se lança algumas vezes com tanta vora- cidade sobre os Algodoaes , que, dentro de dous , ou três dias, e também, dentro de vinte e quatro horas, os esbulha de todas as folhas. Ella , em menos de hum mez, passa pelas suas methamorphoses de lagarta, chry- salida, e borboleta. Passadas estas, apparece na sua pri- meira figura disposta a causar novas ruinas , que, em taes annos , he successiva , e chegão a obrigar aos insu- lares granjeiros deste género , a que renunciem a sua cultura. Nada desprezão , vendo se nesta tortura , para se poderem aproveitar da sua colheita. As chuvas fres- cas, e abundantes, a que se seguem calores grandes, os desembaração , muitas vezes, destes fiagellos destrui- dores. iS^oirjcUe E''cycIopedU\ Dlctlonnlre d'J^riculiiire, Tomei na Obra acima citada todo o material , que compõem este artigo , e o dispuz por huma tal ordem , que podes^e dar, de huma maneira mais concisa , e regular , hum todo mais resumido , e mais singular. O § que se segue he do mesmo modo extrahido da$ mesmas Obras já citadas em grande parte. §. V. §, V. Commcrcio do Al^odãa. Aleodão da America, O Commei-cio em França divide o Algodão , primei' ro em o das Ilhas , segundo em o de Levante. O primei- ro 5 que nos vem da America por Bordeos , Nantes , Rochella , Mavre de Graçe , tem nomes differentes , conforme as paragens , donde o trazem ; e por esse motivo o chamáo de Guadalupe , de S. Domingos , de Cayenna , de fflaranhão , de Gonaives , de Santa Luzia de Maria galante , de Santo Eustachio , de Berbkhe , de São Thomaz , de Surinam , e de Essequebo. Todas estas espécies nos vem em lã, m^aisiou meno^ puras, c limpas. O gráo de limpeza por muitas vezes lhe de- termina o seu [reco ; porque, quando o Algodão he pouco limpo , cheio de impurezas , arruinado pela hu- midade , se íia muito ma! , e os pannos , que delle se tecem, não conseguem huma vista lustrosa, como de seda , que realça o seu valor , donde lhe resulta sem- pre huma grande quebra neste. O Algodão, chamado do Maranhão , (nome de huma das Provincias do Brasil ) passa pelo melhor , e mais excellente de todo este novo Continente : tam.bem se julga melhor que o de Cayenna , que, entre tanto, tem huma grande reputação no Commercio , em razão da sua alvura , e fineza, O Algodão de Surinam se es- tima inferior ao do Maranhão, e ao de Cayenna : e, com C 104 ) «om tudo , he melhor que o de São Domingos. Este tem alvura , macieza , e se fia muito bem ; mas não convém indistinctam.ente a todos os pannos. O de Guadalupe lhe he ainda inferior. Seu maior consummo he nas fabricas de pannos de Ruão. Unicamente , fal- tando as outras espécies de Algodão, o empregão nos tecidos que requerem huma grande limpeza no Algodão. Algodão do Levante, \ Este Algodão, conhecido no Commercio pelo no- me de Algodão de Chypre , que sempre se despacha cm Marselha , donde , ou por mar , ou por terra , passa para as Províncias, que se occupão destas teias ; e geral- mente, se estima menos que o nosso das Ilhas. Ainda que tenhão huma boa alvura , he m.uito sujo , algum tanto duro , e secco , cheio de nós , que fazem que- brar o fio , e não admittem fiar-se fino. Trazem-no em saccas de duzentos até duzentos e cincoenta anateis. Em Marselha distinguem até trinta espécies deste Al- godão , chamando a humas espécies de terra ; a outras , do mar. Os primeiros vem da Natolia ; os segundos das Ilhas do Archipelago , e trazem também os nomes de Salonica , Bardanellcs , e Galllpoli. O ultimo , entre estes , he o mais estimado , por ser mais fino , princi- palmente , sendo o da primeira qualidade. O áeSaloni' eú ihe he inferior. Entre as Nações , que commerceão em Levante, são os Francezes , os que exportão maior porção de Al- C 105 ) Algodão ; aclmittindo-se a colheita do Algodão , nos Esta- dos do Grão Senhor , a cem mil sacca^ , se contão do- ze mil exportadas, das qiiaes os Francezes trazem qua- tro mil e quinhentas , Inglezes duas mil , Hollandezes três mil e quinhentas , Venezianos duas mil. Empre- ga-se o resto em manufacturas Turcas. Entre as trin- ta espécies de Algodão , que todos os annos trazem a Marselha, se diz, que Alexandria provê de Algodões de quatro sortes , Esmyrna de nove , Seyde de onze , Ale- po de cinco , Chypre de duas. Todos os annos sahem de Malta perto de duas mil saccas de Algodão fiado , quasi com o pezo de seis centos arráteis cada sacca. Expedem-se estes Algodões para Marselha, Liorne , e Baicelona. Sendo inferiores aos de Acre , são com tudo superiores aos das outras partes de Turquia , ou Levante. §. VI. Empre^oí do Algodão , cordoaria , e Jilatíira, Admira-se a belleza , e fineza dos pannos de Al- godão 5 que nos trazem da índia. Todos conhecem as soberbas mosselinas que os Europeos trazem destes Pai- 7es , e com os quaes , as que cá se fabricão não podem ter comparação alguma; mas ignora-se o modo , porque os índios preparão, e fião o seu Algodão. He pasmos* que , até agora , nada se tenha escripto que individue este assumpto. Entre tanto os Inglezes , que senhoreão vastos territórios em Bengala , facilmente já podem vêr as manufacturas da índia. Será possível que elles te- . nhão ( io6) nhao dcspresado observar os seus processos ? Qual he logo a razão , porque estes se não vejão escriptos nos seus livros , assim como também em os nossos , as na- ções exactas sobre este ramo importante da industria Asiáticas. Affirmão os Authores das Cortas edificantes (Cart. 22.) que, tendo elles passado o Algodão pela maquina ou descaroçador , o estendem em cima de huma esteira , e o batem por algum tempo com varas ; ao depois com hum arco tezo o acabão de fazer fofo , fazendo-o soffrer vibrações repetidas da corda , isto he do arquea- iiiento. Bem feita esta operação , passão a fiallo á mão. Deste methodo de o arquear se usa em Malta , c em Levante, na Índia, e China, que equivale ao que chamamos cardar. Parece que he muito melhor para o Algodão destes paizes , e he muito mais expedito que cardai lo á mão. Sendo verdade que os índios só se servem dos seus dedos , para fiarem o seu Algodão , he limitada toda admiração com que olhamos para a destreza , com que tirão fios tão m.aravilhosamente finos , com que fabricão suas mosselinas , e outras obras de preço. A belleza destas teias igualmente attestão aexcellencia das prepa- rações 5 sejão estas quaes forem , que elles dão a esta mesma matéria. Os Europeos , menos destros talvez em certas Ar- tes , que os povos da índia , porém dotados de maior entendimento para inventar , recorrerão ás maquinas ou engenhos para prepararem o Algodão. O tempo , o en- ( 107 ) genho dos Artistas , e a necessidade de economizarem a mão de obra , insensivelmente as multiplicarão ; a este respeito estamos obrigados á industria Ingleza pela sua invenção , e perfeição. Nós, imitando a estes , á pouco tempo , temos estabelecido grandes mechanismos applicados á Arte , de que se trata. Em Ruão prin- cipalmente já temos grandes fabricas desta natureza. A que se vê em Chalot , perto de Paris , he hu- ma dos melhores que França possue. Pertence aos Ir- mãps Bauvers ; e M. Rolacd he o seu Director, e só- cio. Este me permittio o poder ver todas as suas Of- ficinas. Sinto não poder fazer conhecer o jogo de suas maquinas , que , na verdade , he maravilhoso. Mas devo satibfazer-m.e , visto ser fora do meu intento, esta indi- viduação , com dar ao meu Leitor huma breve noticia dos seus resultados. Sahindo o Algodão das saccas , he primeiramente aberto sobre grades ; batesse com varas , para lhe tira^ rem o pó do sobejo ou resto de suas sementes; ao de- pois he todo passado á mão , e feito ralo por mulhe- res : isto feito 5 vai^í carda duas, ou três vezes. Fazem-se as cardas de arame de ferro muito fino , e adaptadas a rolos , ou cylindros , postos, horizontal- mente sobre mezas em çam.adas delgadas , humas ao depois das outras , são levadas pelo movimento circu- lar de duas cardas , porque passa. Nesta passagem se applaina muito : seus fios se alongão , e se ligão , e sahem em tiras estreitas j-e de muitas varas. Na segun* da ( loS ) éa. ou terceira cardagem esta tira , quando sahe dos cy- lindros , se transforma em espécies de chouriços cylindri^ cos, e floconosos, que se e:.teiidem a seu turno mui- tas vezes por outras maquinas ; e se reduzem a muito menos. Pela ultima vez se recebem em caixas de lata com a bocca estreita , que , voltando sobre seu eixo , torcem deste modo o Algodão , a qual naturalmente rola sobre si mesmo no seu interior. Tirado destas caixas, se desenrolião , para se fazerem as primeiras mea- das : nisto se empregão quatro maquinas : em ca- da huma cento e quatro sarilhos, que trabalhão junta- mente. Para fiarem o Algodão , se servem de maquinas, que são conhecidas pelo nome de engenho jenny. Na fi- Jatura de M. Bouvers se achão empregadas de vinte cin- co a trinta. Humas se movem por maquinas , ou en- genhos , de que se fallará, e outras por braços de ho- mens, por meio de hum torno, e de huuja manivella. Cada jenny fia duzentos e dezaseis fios ao mesmo tempo : e, por tanto , fiando todos , se tirão no mesmo instante seis mil quatro centos e outenta fios na mesm.a fabri- ca. Ainda que esta fiação não seja continua , he mui rápida ; faz-se ás vezes com o comprimento de huma vara quasi. Huma das grandes vantagens , qije offerece , vem a ser que huma parte das peças , que compõem as mechanicas , se desmontáo á vontade, e que , substituin- do-se-lhe outras no mesmo genny , se pôde fiar nelle mais ou menos fino, segundo for a encomenda. Além dis- f ( Í09 ) disso , cada huma destas maquinas com facilidade se ser- ve por dous obreiros , e ainda por huma mullier , e hum menino. A roda , que as faz mover todas , como também as maquinas de cardar , se movem por quatro cavallos, cuja potencia motrice se julga corresponder ao de cin- coenta homens. A roda principal deste engenho tem çincoenta pés de diâmetro. Divide-se o Algodão fíado , e se põem em meia- das. Os meiadas são tiradas torcidas , e postas huns so- bre outras , e apertadas : fazem paquetes de cinco ar- ráteis. Neste estado se vende o Algodão fiado. Todas as meiadas tem as mesmas medidas , isto he , seis cen- tas e çincoenta varas, e, por consequência , o seu nu- mero, em hum arrátel, mostra a fineza do seu fio, e assim o numero cinccenta mostra ser aquelle , de que a meada se compõem de çincoenta meadas. Na f^ibrica de M. de Bauviers este fio se faz do ordinário : satis- faz as encomendas ordinárias. A maior parte dos nu- meios , trinta até çincoenta se empregão nas manufa- cturas de Ruão, e Cholet : os números mais altos se empregão em fustôes , mosselinas , e também nas tra- mas de sedas , e Algodão , que se fabricão em muita, abundancia em Paris , e Leão. Todos os Algodões des- ta filatura são mui próprios para barretes : fia-se a}gu-« mas vezes do numero cento e vinte , e se tem fiado- do ftumero duzentos , e duzentos e çincoenta. Os fios; do ultimo Algodão tem a delicadeza de hum cabello. Me- ( IID ) jyiedidos d^o cento e trinta , ou cento c secenta c duas mil e quinhentas varas por arrátel. A espécie de Algodão , que nesta fabrica se fia mais commum mente , he o do Algodão do Brasil, cha- mado Paranambuc , que vem em saccas de cem , a cen- to e cincoenta arráteis : he como seda , e toma muito bem a tinta. Emprega-se também o Algodão georgy lon^ soyc , colhido nas Províncias meridionaes dos Estados Unidos. Este tem o fio mais comprido , e pôde ser fia- do mais fino. O Algodão de Paranambuc he muito limpo. Tem a vantagem de não ter maior quebra que de hum 5 até hum e meio , e até dous por cento , entre tanto que muitos outros Algodões , como o de Surinão mes- mo , o de São Domingos chegão ás vezes a ter a que- bra de doze por cento. Quando se fia o Algodão no jen- ny (diz o Cultivador Annual ) ao belly , ao engenho jirck rlght ^ e na maquina de fiar em grande, não lhe passa o sabão , mas devendo-se fiar na roda , ou na maquina , se precisa passar pelo sabão , antes de se car- dar. A roda , a maquina , o Jenny fião a trama , as outras a cadeia. O apresto da cadeia ?e faz com colla forte , e de farinha: a trama molhada se sustenta melhor, faz mais unida. Para unir a cadea ou enfiada , e ao depois o pan- BOj se queima o cotão , passando por cima, e rapida- mente hum ferro vermelho redondo. Fazem-se do Algo- dão rendas , canga , meias , pannos , veludos , mosselinas , etc. Misturando com cânhamo, linho, e seda, e pello de ("O de animaes 5 se fazem outros tecidos de bom uso. Os Cerieiros' fazem torcidas ; as das lâmpadas j e candeias são cylindricas sem costura. Também se emprega em forma de acolchoado. Embranquece-se nos prados j ou por meio do Heitor artificial de Bertholet, MEv (iiO MEMORIA V. [SOBRE O ALGODÃO DA GRA BRETANHA. Annals of J^rlcuhure ^ colkctcd and published» By Arthur Youngs. H A poucas questões de maior importância que esta , que vou agora a tratar , a respeito do Commercio desta Ilha , que iiaja de merecer mais a attencão do Gover- no Inglez. A grandeza do objecto, os seus vários interesses, envolvidos na discussão deste assumpto, não podem dei- xar de fazer impressão no entendimento de todo o ho- mem , que tiver connexôes com os interesses pohticos , e da terra, ou commerciaes de Inglaterra. As manufacturas dò Algodão , geralmente , se julgão ser muito extensivas , a pezar da grandeza do seu negocio , e dos proveitos Nacionaes , deriva- dos de huma combinação do trabalho humano com o das engenhosas maquinas , a penas se pode suppor que tenhão feito huma impressão igual á importância do seu objecto ; porque o seu progresso tem tido huma rapidez , de que não ha exemplo. Sahio a luz assim fora de casa 3 como dentro delia em hum momento, dando «• pôde fiar destramente acima de vinte milhões de arráteis de Algodão , igual em valor acima de mi- lhão e mefo de libras esterlinas em matérias primas} as quaes , quando fiadas em varias qualidades de ma- nu- r*5 145 ensenhos de agua se suppõem original- írente custar óo^Jjooo l.est. por huma avaliação; mas sendo ^ó avaliados em sá^ooo 1. sommão 71 5(^000 j. ç^o eneenhos jennys,. ou maquinas participando dé ambas as 'naturezas , assim dos engenhos de agua , co- mo dos jennys communs, e constando de 90 fusos cada: Imm, fazsm i^íJ)ooo , ajo fusos; sommão 7 54^^25 o ^1- (no nufacturàSj devèiri ser avaliadas em quatro milhões de teoeda paí:a as lãs unicamente, H 2 Es- Trazido anticipadamente . 7 54(;^2 50 lib. 20^070 engenhos de mão , cada hum de S® fusos com os seus pertences , ou appendicúlos ...... 140^490 Serilhos ^ fusos , maquinas de cardar , e os edifícios para os engenhos de ínão ....;,.,.. 125^260 3;oOO(^oooIib, Esta avaliação não deve comprehender o valor dos teares empregados ^ que podem tèr custado huma gran- de som ma. Estes 14 í engenhos de agua estão proveitosamente espalhados por todo o í*aiz, alargando os proveitos dô hum trabalho útil a cada canto da Nação , como se mostra pela seguinte conta : Ilha dê Márt * . . * , . . ] Lancashire .....,,. 4] Desbshire i ...,*., 2: Nortimgashire ..**,,. i- Yorchshire ...*..., i Che^hire ......... Stafford-shere .... ... ■\Vestmoreland .*..,., Flent-shire Berk-shiie Sarry Herdfort-shire , Pembrok-shire , , Qloucest-shire Cumberland Total em Inglaterra 12 Estes estabelecimentos , trabalhando redondamente, são estimados empregar , fiando unicamente , vinte e seis mil homens, trinta e huma mil mulheres, e cin- €centa e três mil rapazes ', e , conforme os differentes estados da manufactura , até chegar o tempo da sua perfeição, julga-se que as pessoas empregadas chegão- a inil trezentos trinta e três homens , cincoenta e nove mil mulheres , e quarenta e outo mif rapazes : fazendo tudo isto huma somma de cento cincoenta e nove mil homens, nove mil mulheres, e cento e hum mil ra- pazes empregados neste ramo de Commercio. Tem sido determfnado já, que no anno de 1784 as matérias primas da la Algodão (ao depois de satis^ feita a exportação) sobírao quasi a onze milhões. O seguinte anno á altura admirável de perto de outenta íTiilhÔes. Em 17 8 ^ tinha crescida quasi hum milha-o mais* Trazido de fora . . * 123 Engenhos em Lancrk-shire ... 4 Em Renfrew-shite ...... 4 Em Pertlh-shire - l Em JVlid Lotkian ...... ^ Em Air-shire • ' I Em .GalloM^ay • • I Em. Anuandale * Em Eute " * Em Aherdeen shire l Em Fiíe-shire ^ 19 Sonmma total . . -14? C 117 ) finais. Em J7S7 esta quantidade excedeo a vinte edoiis •milhões de arráteis, A seguinte avaliação desta grande somma se fez por particulares augmentos, os quaes forão tomados em números redondos que he impossível emendarem-se. Ilhas Inglezas 6,600^^000 \ih. Estabelecimentos Hespanhões , e Fran- cezes .,..»*... 6,OQO(^ooo Hollandezes 1,700^000 Portuguezes . • 2,500^0(50 índias Orientaes iGO„|)ooo J)0 Smyrna, ou Turquia .... 5,700(^ooa Somma total . . . 22,600^000 lib^ Esta immensa quantidade (conforme o calculo , feito por Manufactureiros intelligentes ) se suppoein approximar-se ao seguiníe : Para pavios, ou torcidas i,500(^ooo Para meias 1,500^000 Para misturas de sedas , e linhos . . 2,000^000 Para fustão 6,ooore á cultura dos Algodoeiros nos lugares húmido^, e elevados , que são as chuvas ^ e ainda os orvalhos frios. Estes atacão as capsulas já formadas , que em vez de amadurar , secção , e cahem , assim fechadas : daqui vem que mesmo nas Antilhas , onde o Algodoeiro he indí- gena , se produz mediocremente nos montes , e não he da mesma forma nas planices. Com intelligencia , e actividade ^ podem os Algodoeiros ter hum êxito mais completo 5 visto que de todos os estabelecimentos das Colónias he este o que custa itienõs despeza. De mais , as Colónias Francezas tem provado todas as vantagens 5 que podem procurar os Algodoeiros. Agora neste tempo , o que vem das Colónias para França, he quasi nenhum para o seu consummo : os Algodões, Os mais procurados para o Commercio , são os. das Ilhas de Bourbon , e de Cayenna , ambas Colónias Francezas, Deve-se acreâcentar ás outras mais esta prova , que de todos os Cultivadores , que vão da Europa para as Co- lónias 5 mais activos , e mais constantemente indus- triosos são os Francezes. Esta verdade , que dá gosto , merece a attencão das Sociedades sabias ^ e por con- se- ( I2S ) sequencia , a do Lyceo das Artes. Será por tanto provei- toso dirigir todas as occasiões de utilisar os esforços das manufacturas , e agriculturas das Colónias , persuadido que só com isto se poderá fazer a restauração do Com^ raercio , e , por consecjuencia , » utilidade geral da França. ME!- ( 129 ) MEMOPvIA VIL SOERE O ALGODÃO. Coton. fBlctionalre imívcrselk du Commerce.') Savary de Bruley. o Algodão he huma espécie de lã vegetal ^ branda ^ € propna a ser fiada , muito conhecida pelo grande Gommercio , que , em toda a parte , delle se faz. Dão-se diversas espécies , quantas o género de plantas , que o produz, comprehende. Sío conhecidas dez , ou doze ^ que diíferem entre si em razão de sua grandeza , e fi- gura de suas folhas. Os Algodoeiros maiores são arvo- res tão altas , e tao grossas como Abetos, cujo Algo- dão he finissimo , e sobrepassa j ou excede á seda 5 mas he tão curto que se não pode fiar.- A sua eôr he lustrosa , e se approxima muito á da seda crua, isto he, de hum branco amarellado , ou que puxa a côr de palha, A este se ehamâ em Levante Oate , e na Indiá 'Eapoé. Todos os Algodoeiros nascem na Zona tofridâj. por ser este o seu próprio elima ; mas aultiva-âe aquém^ y Ç HO ) e além dos Trópicos , e em Levante os que são me- lhores a íiar. 'Entre tanto os de Bengala dão hum fio inelhor, e também o de Coromandel , que em toda a outra parte. Dizem que se cultivão em Sicília , e na Apulha. As menores espécies são , neste género , os me- lhores Algodoeiros. Estas ou são arbustos , ou sobarbus- tos 5 que apenas chegão a altura de dous , ou ires pés, e quando muito a quatro. Cs que chegão a altura do Pecesueiro somente dão hum Algodão de -rnediocre qualidade, por serem differeníes espécies. As íolhas dos pequenos são mui differentes dos grandes em figura , e disposição. São pequenos á proporção da espécie, mas sempre formadas em cinco pontas , como as da videira ; porém mais obtusas. As que nascem pelas pon- tas dos ramos , são as menores da plsnta , só tem três divisões 5 e estas mais agudas. As m.aiores da pequena espécie tem duas polegadas de diâmetro , e , alguma vez 5 alguma cousa mais, tomada=; pela circumi^erencia de seus lobos. As dos maiores Algodoeiros , cliamados ordinários , Capoíjuclros , por darem os Capulhos (^Capoc dos Hollandezes ) , tem maior comprimento que hum meio pé , unidas, sem divisão alguma , pontiagudas nas duas extremidades , e cofii quasi dous na largura do meio. Apresentão muitas juntamente , algumas vezes Sete ou outo , e outras nove ou dez , sobre humpeciolo , que tem o mesmo corriprimento queellas. A sua dispo- sição se ^^arece com adehuma estreíla , que tem raios, çm torno do seu c?entro, forinados pela ponta deste peciolo. Em 030 Èfíl todas as espécies a flor tem quasi 5 rnesm^ feitio 5 correspondendo em tudo a família , chamada Malvacea, tomada por Tournéfort como monopetala, inas qiie, em rigor , he polypetala , por ter cinco, A dos; Algodoeiros tem o mesmo numero , ainda que , regu" lando a de siias espécies , difíirão na grandeza , e conte- nhão hum corpo pyramidal , abastecido de estames assim como nas Malvas. Ás flores varião em côr , a saber» vermelha, arroxada, branca, ou amarellã, e são sus- tentadas por hum calis , dividido em três grandes lobos j ou folhas adentadas , que são de huma pequehhes ex- trema. Os fructos das peqúerías espécies ^ que contém O bom Algodáó , he hum capulho oval , grosso 5* c©ma> huma boa nóz, estando no capulho, rodeado pelo seii calis. Interiormente se divide em quatro cellulas , 01! lugares , e , algumas vezes em três , cOiítendo cada hu- ma três ou quatro sementes mui cobertas de Algodão, Estando o capulho maduro 5 he pàrdiího , otí negro por fora; o Algodão ,, que , neste tempo O enche, he ião forte que o faz abrir em três , ou quatro partes por sua própria força ; e ainda com maior da que lhe pôde dar o calor do Sol y como se persuadirão muitos viajeíros : o que faz ao Algodão alargar-se a hum dia- íneíro dobrado do que èfai Neste estado se procura' iiir colhendo , á proporção que os eapulhos se vão ábrin» do nas plantas. O dos Capouquelros y ou grandes arvores Algo- doeiras he de hirm feitio , alguma cousa diveírso do I ÍS pí9» precedente. A sua figura he como a de hum pepino pequeno de quatro pollegadas de comprido, e de duas de grossura, e constantemente se divide pela parte in- ferior em cinco alojamentos , ou lugares , cheio de mul- tas sementes da grossura da pimenta , e apparece ro- deada de hum Algodão como seda , muito fino , e curto. He raro que o pequeno Algodoeiro se lastre pela terra, e que precise latada. Isto só por ;.ccidente pô- de acontecer a alguns pés nos campos , em que se cul- tivão. A final , differe assas do que se cultiva na Ame* rica 5 que pertence a espécie maior. Também se precisa saber o lugar , em que se deva arran ar o Algodoeiro de Santa Catharina , de que falia Frezier pela sua dif- fcrença ao das Antilhas, como elle ajuizava. M. Sava- ry julgou que o P. Labat se servira da figura do Al- godoeiro , que âeo M. Frezier , para mosrrar o das An- tilhas. Nos Algodoeiros de ambos estes lugares se po- dem encontrar este mesmo numicro de sementes , sejão seis , sejão doze , visto depender esta circunstancia de ser a espécie a mesma , a natureza , a estação , e o terreno. O Algodão nos vem das Ilhas de Santa Cruz , de São Thomaz , da de S. João, que pertencem ao Rei de Dinamarca , quasi com a mesma bondade do de S^o Domingos. O Alí^odoeiro de Santa Catharina em nada differe do das Antilhas , de que já se fez a descripçao , mais que pelas suas grandes folhas , que tem cinco pontas , pelá < Mi > grossura do seu capulho , quasi como a de hum ovo pequeno de galJinha , e pelo numero de seus grãos, que de ordinário ciiega a doze. Como a semente vem misturada no mesmo capulbo , se inventarão as peque- nas maquinas , construidas com tanto artificio , como in- venção, das quaes, movendo-se somente a roda , o Ak- godão cahe totalmente limpo de hum lado ^ e o grão do outro, sobre o que íallaremos ao depois. Primeiro: Da flor , e folhas do Algodoeiro, cozidas no borralho , se tira hum óleo vermelho, e viscoso, que serve para curar ulceras. Segundo : O grão , ou semente do mesmo modo fornece hum óleo , que tira as manchas vermelhas , e serve para aformosear ,, se- gundo dizem. Terceiro : Também se lhe attribue al- guma virtude contra os venenos , e fluxo do sanírue. Seja o qwe for destas propiiedades ,, he certo que o AJ- gOGao , posto sobre feridas em forma de teatas , lhe cau- sa inílammaçóes. Passemos entre tanto a outras considerações sobre o Algodão , relativas a sua colheita , a sua fiação , e ás operações , que precedem ao seu emprego. Este emprega he muito grande ; mas o único , que singularmente po- de estimular a nossa curiosidade , vem a ser , o que se emprega em mosselinas , e outros tecidos que nos. vem de índias ; e que nos admirão pela sua fineza. Daremos, segundo as Memorias de M. Jore, habitante em Ruão , a relação circunstanciada , e a mais exacta , pois. empregou ,, não só o seu tempo , mas ainda *iuma parte de seu5 bens , em apexfeiçoai- a filatura do AI-^ (1J4 5 Algodão , e c!ie»ou a fazer delle obras tão bellas , CQ-' pio as que nos vem da índia : isto se nos communH cou pelo M. Cavalheiro Turgot , que se instruio nest* fabrica ; pelo gosto , que tinha ás Artes úteis , e por issa mais digno dos nossos elogios , e tanto mais estimável èm qualquer pessoa quanto isto, desgraçadamente, he raro nos de sua ordem, e fortuna. As Ilhas Francezas da America produzem os me- lhores Algodões , que se empregão nas Fabricas de Ruão , e de IVoyes. Os estrangeiros , nossos vizinhos o tirão igualmente das Ilhas de Guadalupe , de Sío Domingos, e dos Paizes adjacentes. Dão-se differentes «qualidades : o que chamão de Guadalupe he curto, e a sua lã he grossa : o modo de se fiar se dirá ao de- pois , po^ o^a "ão convém. O de São Domingos se pôde fiar, como diremos, quando elle he bom : po- dem-se misturar pm outros Algodões mais finos para delle se fazerem certas cbras. Mas todos estes lugares fornecem outra espécie , chamado de Sião branco de semente verde , para o distinguir de outra da mesms^ qualidade, porém de differente côr. Este he vermelho, e o outro branco : a sua la he fina, comprida, e ma- cia nas mãos : a sua semente he menor do que a dos outros Algodões , cuja lã as mais das vezes lhes está adherente ; esta semente he negra , e lisa , ao depois de madura ; porém , se a cultura, e colheita não se fazem bem , a lã se apega , e as extremidades, que se abrirão, são verdes , principalmente, quando se colhe de novo o Algodão. Esta espécie de todo se não cultiva na m America, posto que se esteja conv&ncí^o- cie sua su/ perioíid^de ; porque a sua semente, sendo pequena, se introduz entre os cylindros do descaroçador , se esma- ga , põem nódoa na lã , e a enche de impuridades : defeito grande, que lhe diminue muito o preço ; aléra de que , he muito solto para os fiandeiros das Fabricas de Ruão , etc. , deste se precisaria mais tempo para fiar hum arrátel, do que para huma libra de outro qual» quer; e assim elles não o estimão, e se tem abando- nado o seu interesse» Este mesmo Algodão se cultiva no Mississipi, clima que não he tão conveniente, como o das Ilhas da America : onde não amadurece , a lã he curta, e muito pegada á semente , de sorte que senão pôde fíjzcr hum bom uso delia, O arbusto , que produz o Algodão , de que se tem fallado, na America he vivaz. Em. sqíq ou oito fnezes , tendo-se plantado de semente , dá huma colheita fraca ; e continua a dar de seis em seis mezes por espaço de dez annos. O das índias , e de Malta he annual , g difíere ainda na qualidade. O da America parece tão macio como a seda. Dacaroçmnento do Jfgodão, Immediatamente , de- pois de colhido , leva-se o Algodão para o descaroçador. O m.ecanismo deste descaroçador he muito simples, a saber : são dous pequenos rolos canellados , sustenta- dos horizontalmente , que puxão o Algodão , e passa entre syas superfícies , desprendendo-o de suas semen- tes , cujo volume he maior do que a distancia dos ro- ktes , que virão em sentido opposío , no meio de duas ro- ^odas , que com cordas atadas se põem em movimento em hum estrado levantado , em que se põem o pc de hum homem , e comprimindo com o pé , como faz huiTí-torneador, ou huma fiandeira de roda : em quan- to ella com as suas mãos apresenta o Algodão aos ro<» los , o apanha , e mete em hum cabaz , ou sacco aber- to, e unido debaixo do caixilho: o que he muito me- lhor ; porque não lhe cahe pó , e que o vento não lho pôde introduzir, ainda, fazendo-se ao ar, debaixo de alpendradas , como assas se costuma. Emhallamento do Algodão : separado o Algodão de sua semente se introduz em grandes saccos de panno forte , quasi do comprimento de três varas : en- chendo-se com a força de grandes pancadas de huma tenaz de ferro. Começa-se humedecendo , e depois se dependura ao ar com a bocca aberta , e , atando-se for- temente com cordas passadas em moutão , fixas em traves , ou vigas de hum assoalho. Hum homem en- tra dentro, e arranja no fundo huma primeira camada de Algodão, que elle piza com os pés , e com hum masso. Sobre esta camada lhe põem outra , que lan- ça pelo fundo , e arruma bem com a sua tenaz de ferro : e assim se vai continuando até que o sacco esteja totalmente cheio. Em quanto se faz este trabalho, ou- tro homem tem o cuidado de borrifar de tempos em tempos o exterior do sacco com agua , antes que se tenha apertado o Algodão , e sobe de novo a calcar dos golpes da tenaz. Coze se o sacco com barbante, e pos quatro cantos se põem huma aza para o poder mo- mover com mais commodidade : este sacco , assim acondicionado , chama-se hmia baila de Algodão , o qual contém pouco mais ou menos , conforme he mais ou menos calcado , e mais ou menos pizado , de ordinário trezentas, a trezentas e vinte libras. Da Fabrica de ^annos de Algodão fino , chamados moíisselinas. Esta se divide naturalmente, a saber, na fiação de Algodões finos , e na Fabrica de pannos , e outras obras , em que se emprega o fio. Da fiação y ou modo de cardar o Algodão, de esto- par, e dur lustre , e de lhe misturar de diversas sortes para differentes obras, que tem coiinexão em todas estas operações. Quando só se propõem fabricar mousselinas finas , e meias finas , cumpre separar a mão o Algo- dão da semente : e isto facilita o trabalho do officia! ^ que o deve fiar ; mas , em huma Fabrica mais extensa , parece conveniente recorrer a huma maquina mais bre- ve áo que a que se tem descripto. Logo que se quer fiar, abrem-se as maçãs . para com os dedos lhe ti- rar as sementes ; abrem o Algodão ao comprido , ob- servando de o dirigir , sem que arrebentem os filamen- tos 5 que compõem o seu tecido , fazendo delle frou- seis de grossura de hum dedo. Cardar o Algodão , posto que se faça com cardas esta operação, com tudo he de todo supérfluo cardai- lo : cíírí/ízr o Algodão he misturallo em todo o sentido, & fazello ralo, e solto. As operações de cardar tão ten- dentes a separar huns filamentos dos outros , e dispollos , çonfoime o seu comprimento , sem os dcbrar, arreber,'- "^ tar. lar, nem trabalhar com movimentos muito repetkíoíi Faltando esta precaução se moeria , e ficaria cheio dç nós , que os farião máos , e muitas vezes ainda inúteis. Esta opera<;áo he a mais difficil de se aprender , e a mais necessária , e que se deve saber bem : por ser a que encaminha as obras de Algodão á sua perfeição. Ao principio raramente prospera sem se adquirir o habito de a fazer bem : logo que se adquire , se faz com muita facilidade. Consiste no modo de se servir das cardas , e íie o passar de huma carda para a outra , cardando-o to» talmente. Para este processo , tomai a mão esquerda ao comprimento de vossas cardas , de sorte que os dentes olhem paya cima , e que as pontas curvas estejão vira- ■flas para a mão esquerda , regulai a liberdade do poUe- gar , e de poder passar ligeiramente a mão de huma ponta da carda a outra. Tomai na mão direita hum frouxel, que tenha quasi o terço do seu comprim.ento , e lançaio na extremidade sobre a carda, pegai com os dentes, ajudando com opollegar da mão esquerda, e, sendo preciso , pondc-o sobre o Algodão , tirai o ftou- xel da mão direita', sem o apertar muito , ficará huma parte do Algodão preza por huma ponta nos dentes da carda, e a outra ponta deste Algodão despegada sahirá para fora da carda : repeti por quinze , ou dezaseis ve- zes esra manobra , até que o frouxel esteja acabado : o enchei , procedendo do mesmo modo , a carda de hu- ma po:u7. a outra , com semelhantes frouxeis , obser- vando somente de não a carresrar nunca muito de hu- ma vez. Es- Ç1S9 5 Estando a carda sofficientemente guarnecida , ss tem fixa na mão esquerda, pegando pelo meio, e pe- lo lado opposto ao dos dentes. Tomai com a direita a mais pequena de vossas cardas , em hum sentido op- posto ao outro, isto he , as pontas para baixo, e a sua curvatura virada para a direita ; e para a suster , se pega pelos dous cabos entre o pollegar , pondo o de- do do meio, o índex sobre a sua costa: onde se põem os filamentos do Algodão que estão por cima da ou- tra carda , e se carda ligeiramente , começando pelas ex- tremidades do Algodão , que se puxa hum pouco com a carda direita , para levantar , e estender , conforme o -seu comprimento , todos os filam.entos do Algodão , que se não desembaraçarão nos dentes da carda grande, de sorte que , com dezoito , ou vinte penteaduras , o Al- godão que vai para fora , esteja bem penteado. Repete- se a mesma operação pela parte debaixo , para levan- tar , o que estiver mal arranjado , em que os dentes da pequena carda não pôde chegar , quando antes se tinha usado delia. Isto faz com que se ache despegado o Algodão nas duas cardas , cujas partes exteriores se tem pentea- do : mas he evidente que as pontas do Algodão , em- baraçadas no interior da carda grande , totalmente se não tem desembaraçado ; e por isso se passa todo o Al- godão da carda grande na pequena , sem mudar suas posições , mas profundando só os dentes da pequena no Algodão embaraçado na gi:ande , começando do lu« pr , em que aparece pela parte de fora , tendo o cui- ^' "' da- C MO ) dado de voltar as cardas, de sorte que se possa b Al- godão desembaraçar pouco a pouco de liuma, para ser unir a outra, penteando semjíre em proporção que eJle se una , e que saia da grande , para encher a |)equena. Tendo a carda pequena apanhado todo o Algodão da grande , sem o dobrar , nem quebrar ; todos os fila- mentos , de cue se compõem , se tirão , separados huns dos outros , pelo curso desta manobra , e eile estará então em cst?do de se pór em rocas para se íiar. Estas rocas são a? mesmas cardas , e consiste a operação em fàzer passar o Algodão da pequena carda , pela grande , fixando-se principalmente em o distribuir com igualdade , e ligeireza. Estando todo o Algodão na carda grande, examina-se de dia , se há alguma des- igualdade 5 e se a houver , se servem das cardas pe- quenas para as tirar , e o cue ella apanha do Algodão neste? últimos golpes , basta para a encher , e fazer que esta mesma sirva de roca como a grande. íiCã Qutãi o Algodão tão fácil de se Tiar , que a manobra da fiação, como huma espécie de dobação , e O fio que provier do Algodão assim preparado , será próprio para toda a sorte de panno. A meada pesará de vinte até trinta giáos , conforme a íinura da fiação. De pa>sagc vem a propósito djzer : que buma meada de- AJ<í^odão contem sempre duzentas vaias de fio ; e que este numero produz o peso destas duzentas varas ; pe- lo que , quando se trata de hum fio , que pesa vinte i;rãoj , he preciso entender huma meada de duzentas varas deste peso , donde se vc que , ainda sendo. me- ( Í4t 3 írieíior o peso da meada, o comprimento do fío seííi- pre será o mesmo ; mas convém íiar-se muito fino ; e para o obter Rnissimo , deve-se estopar o Algo- dão. As obras , que se fazem de Algodões , de que se tem fallado são felpudas : porque aparecem nos pannos as pontas dos filamentos do 7\.lgodão , ou lã de que Si fazem : desta espécie de mousse , ou felpa he que vem o nome de miousselina , que se dá a todos os pannos de Algodão finos, que se nos traz da índia, e na verdade todos tem este pello. Para precaver este defeito , que lie grande nos pannos de lã , e nas mous- selinas 'finíssimas , deve-se separar do Algodão todos os filamentos curtos , que senão ptSdem apanhar pelo com- primento, torcendo o fio , o qual , dando-lhe grossura , falta na união pelo comprido. A isto chamão estopar. Estopar o Algodão. Escolhem-se os mais bellos ca- pulhos do Algodão de Sião branco, que tenha a seda íina , e comprida ; desfia-se , e se desembaraça sobre as cardas , a ponto de se poder pôr nas rocas , dividindo- se o Algodão nas duas cardas: então voltãc-se as duas cardas pelo m.esmo sentido , pondo os dentes de huma sobre os da outra , desembaraçando os ligeiramente , de modo que as pontas do Algodão , que sahirem das cardas , se reunão. Firma- se a mão direita , pegando entre o pollex , e o Índex em todas estas pontas de Alçrodão, que se tira para fora da carda sem laxar , ou affrouxar a porção , e se lança esta sobre a parte da carda gran- cJcj que ficará descoberta ^ só a fira da a pentear, paí- san- ( 142 ) sando as siias extremidades pelos dentes. Poem-se depoíáí este Algodão sobre hum oí^jecto denegrido , que dá á facilidade de o ver, e arranjar: e continúa-se esta ope- ração , até que se tenha tirado todo o Algodão , que pa- recer comprido: pentea-se de novo, o que íiear nas car- das 5 repetindo-se a mesma operação. Depois desta re- petição, o que se não tirar, será a estopa do Algodão, que não deve servir para obras finas. Lustrar o AU^odão. Querendo-sè ainda adiantar muito a perfeição , e dar lustre ao Algodão : faz-se deste Algodão , que se extrahe das cardas em estopa , pequenos frouxeis da grossura de huma penna , ajun- tando-se longitudinalmente os filamentos , e os torcem entre os dedos com toda a força , começando pelo meio 5 como se se quizesse fazer hum cordão , e que este ' torcimento vá de huma ponta a outra do floco. Quan- do depois se vai adestorcer , se persente que o Algo- dão se tem allongado , e que tem tomado hum lustre^ como o de seda. Querendo-se desfiar hum pouco des- j te Algodão , e torcello segunda vez , não ficará tão bei- jo. Para se fiar , se põem em rocas , como o Algodão" que não tem lustre , tendo-se o cuidado de os carregar pouco, querendo-se fiar fino. Este fio de Algodão, as- sim preparado, se emprega, para fazer pannos finissi» itjOS , e meias , que na lindeza excede ao que se po- de imaginar, tendo a vantagem de ser sem pellos, e lustrosos como a seda. O fio deve ser fiado fino , a ponto que cada meada só pese outo , ou dez grãos ; po- rém esta extrema finura pende mais para a curiosidade , que para a utilidade. ^ C«45) A relação de todas estas operações 5 diz M. Jore nas suas Memorias , mui circunstanciadas , e clarissi- mas 5 confornne as quaes se dá esta manobra (como se este homem sensato pre visse as objecções , cue ti- nha de temer do desprezo de huma pequena espécie dé Leitores 3 parecerá talvez minuciosa na individuação de todas estas operações ; mas se os seus objectos são pe- quenos, o valor não he menos digno dè consideração* Basta huma oitava de Algodão , para occupar huma mu- lher hum dia inteiro, e fazella subsistir : huma onça faz huma vara de mousselina , que vaie de doze li- bras , até vinte e quatro , conforme a perfeição : hum par de meias , que pese onça e meia até duas onças 5 vale de trinta libras até secenta , e oitenta libras. Não ha inconveniente algum para a fiação , empregando-ss duas horas em preparar o Algodão , que se pode fiar em hum dia ; pois desta cautela depende a fortaleza do fio, a presteza nas outras operações ; e a perfeição de todas as obras , que òdk se pôde fazer. O habito faci- lita muito isto. Mistura dos Algodões de di/ferentes sortes. Já se disse : que o bello Algodão de São Domingos se po- dia empregar em certas obras, e, maiormente., quando se mistura com proveito. Empregado só , se fiaria fio, que pesasse setenta e dous grãos , ò qual serviria para continuar os pannos , que se quizesse fazer ao tear, ou para lenços de côr. E , misturando-se-lhe husna amictade com Algodões finos, pesará de cincoenta, até cincoenta e quatro grãos, e será próprio para ordir os pan- C H4 ) pannos , e lenços , de que se tem fallado , e pira faí zer pannos finos, que se poderá pintar. Misturando^se três par f es de Algodão fino, com huma do de São Do- iningos bem preparado, e lustrado, se poderá fazer os lavores das mousselinas riscadas , e das mousselinas claras , e unidas , cujo fio pesará de trinta até trinta e seis grãos. Faz-se esta mistura na primeira operação ^ quando o fio está em flocos , e poem-se na carda tan- tos flocos de huma tal quantidade , e tantos de outra ^ conforme o uso que se quer fazer delias. Os índios totalmente ignorão estas misturas , elles põem em es- tado de satisfazer todas as fantezias da Arte, a adver- sidade das espécies que a natureza lhes fornece. Final- liiente as preparações que elles dão aos seus Algodões , não tem alguma connexão com as que se disse acjma. yo^'dz. la vlngt-cienxicnie des httrss edlffiantes. Colhido o Algodão elles o separão das sementes por dous cy- lindros de ferro , que rolão hum sobre o outro : esteiv dem depois sobre huma esteira , e o batem por algum tempo com varetas , depois com hum arco armado , e acabão de fazer ralo , ou bater , fazendo soffrer as re- petidas vibrações da corda , isto he dizer como eilcs o batem. Votjex. a Vart Chapeou , cumeçao estes officiaes, fazendo padecer o pello á mesma operação, que o di- •vide muito bem , a qual não parece pouco contraria ao fim da ordidura , e de toda a Arte, onde se entor- tarão CS filamentos , por ser claro que quanto mais iguaes de todas as partes forem os filamentos , tanto mais compridos serão , e o cordão, que delles se fizec^ se- ( 145 ) sèfá muito mais forte. Estando o Algodão bem batidsí cUes o fazem fiar por homens , e mulheres. Diz O Aii- thor destas Memorias : de talde fallo nestes meios , pois òs não acho bons j pata fazer o fio de todo commum 5 Visto qtie podem apenas substituir a Cardadura ordinária , ijUe praticão nas Fabricas de Normandia , e estou per- suadido que os índios usão de outro methodo para a preparação do seu Algodão , que por oía ainda nOs não tem chegado; Sè M. Jore reflectisse no fim , e effeito de bater o Algodão j não attenderia ao vantajoso ; por que não se trata aqui de miíltiplicar as supefficies com dispêndio dos comprimentos : he isto bom , quan- do se trata de dar corpo pelo contacto , mas não pelo enrolamento^ A acção de bater he huma operação evi- dentemente eontíariá á estopage. Fiar os Algodões finos. Estando a roda prepafada, como se dirá abaixo , e habituando-se a fiandeira em fazella andar com o pé para principiar ^ ella porá fixa qualquer ponta no fuso de marfim , fazendo passar pe« lo dente 5 e botão dè mesmo fuso , e da hi conduzirá a exti:emidadê deste fio ^ que deve ter qUasi quatro pés de comprido , sobre a carda grande qúe deve servir de meada : ella o porá sobre o Algodão na parte a mais vizinha ao cabo, e terá este cabo na sua mão esquer-^ da 5 fazendo-o de modo que se adiante o pollegar ,- e Index além dos dentes dá carda , para as pontas do Al- godão , em que se pegará o fio , a huma políegada da sua extremidade , não prendendo entre os dedos algum fi» lamento do Algodão, Estando tudo isto neste estado , C 14«) se dá com a mão direita o primeiro movimento ároda, que deve virar da esquerda para a direita. Tendo con- servado este movimento por alguns instantes com o pé, e estando a cravelha sufíicientemente estendida, ou apertada percebe-se torcerce o fio entre os dedos da mão esquerda , que se tem chegado ao Algodão , -sem ter a faculdade de se communicar , toma-se en- tão o fio da direita entre o pollex , e index a seis pollegadas de distancia da mão esquerda , e se aperta de modo , que a volta que a roda lhe communica , an- dando sempre , não possa passar além da vossa mão di- reita. Executando-S€ isto bem , não tem mais que hum pequeno jogo para fazer o fio. Advertindo porém, que já mais s« deve chegar a cabeça á roda mais perto do que dous pés e meio , até três ; e que as duas mãos «stejão sempre em alguma distancia huma da outra , excepto nas circunstancias extraordinárias , que se ex- plicará em outra parte. A ponta do fio que está entre as duas mãos , que tem perto de seis poHegadas de comprimento, conser- vando-se no gyro , como se disse , seive para pouco mais ou menos formar quatro , cinco , ou seis poHega- das de novo fio : porque , deixando se este fio na mão esquerda, somente a volta passaria para a carda ao lon- go da sua parte que está opposta , se suspenderia , ou dependuraria algumas pontas do Algodão , e farão hum fio que se tira para fora da carda , lançando a mão di- reita sobre a frente da roda , tanto que as voltas tive- rem a faculdade de se cominun içarem ao Algodão, Quaiv Ç 147 ) Qiiqndo se perceber , que as voltas nSo se depen- durão pelos filamentos do Algodão , se pega no fio novo 5 feito com os dous dedos da esquerda , como dantes : então se deixa ir o fio que se tem na mão di-* reita , a volta que estava entre a roda 5 e a vossa di- reita 5 vindo a subir precipitadamente até a vossa es- querda 5 dará occasião de tornar a tomar logo o fio da direita a cinco , ou seis pollegadas da esquerda , como dantes , e de se continuar a tirar assim de novo o fio da carda^ Chegando-se a fazer hum habito desta alter- nativa de sorte que a roda não possa alguma vez tor- cer mais depressa , e que a fiandeira esteja obrigada â moderar , ou augmentar o movimento da roda. A ponta do fio de seis pollegadas de comprido se toma entre as duas mãos , c que contém as voltas que deve formar o novo fio, e com igualdade o fará se se deixar obrar naturalmente : pois sendo mais vivo no primeiro instante , que , para o fim , ella apanhará íTiais Algodão no primeiro instante do que nos seguin- tes. Pertence á agilidade da fiandeira moderar o toici- mento , enrolando entre os seus dedos ^ o fio que tem na direita em hum sentido opposto ao torcimento , e quan^ do sente que o forcimento se enfraquece, o enrola em sentido contrario ao torcimento para lhe augmentar o effeito. Por este meio virá a formar o fio com perfeita iguaJdade , sendo o Algodão bem preparado. Os que Gomeção, quebrando com frequência o fio , he pela falta de não ter adquirido huma pequena agilidade. Faz-se a roda a esquerda, para que a mão direita K 2 pos- possa operar em huma circunstancia, de que depende toda a perfeição do fio : e igualmente virar a roda da esquerda para a direita , per que sem isto o fiô se tor- ceria em hum sentido em que custaria moderar , qUer torcendo , quer destorcendo entre os dedos da mão direita. Outra destreza da fiandeira he voltar a sua carda, ou roca , de modo que o torcido , que sobe de dentro , ache sempre huma igual quantidade de Algodão para apanhar , e que o apanhe pelas extremidades dos fila- mentos , e não pelo meio do seu comprimento. Por esta razão he mui conveniente que o Algodão se dis- tribua bem , e igualmente , e que as felpas estejão bem separadas humas das outras. Mas , por mais destra que seja a fiandeira , acontece algumas vezes que õ tor- cimento apanha huma muito grande quantidade de Algodão , formando huma notável desigualdade. Para remediar isto cumpre pegar no lugar desigual , logo que sahe da carda , com as duas mãos , quero dizer do lado da carda com a esquerda , como se o fio fosse perfeito , e da optra ponta com a direita , e destorcer esta desigualdade enrolando ligeiramente o fio entre os dedos da direita, até que esteja aberto o Al- godão , e se possa apartar esta parte muito carregada do Algodão a ponto de a reduzir á grossura do fio. Eota prática he necessária ; mas se deve fazer de sor- te , que só quando se não possa recorrer , e prevenir ás desigualdades de outro modo : quando he mui fre- c.uente, demora as fiand«iras. Huma agil mulher, que C H9 ) prepara bem o seu Algçdâo , na mesma roca forma o seu fio igual. Parece inútil advertir que , quando o Algodão que ,çstá próximo ao cabo da carda empregada , se preci- sa adiantar a mão esquerda sobre os dentes da mesm^ carda , para se estar em alcance de operar o resto , co- meçando a carda a esvasiar-se fica sempre o Algodão pegado no í^v^áo dos dentes : e para o fiar he preciso aproximai a mão direita , e fiar duas poUegadas ao pé da carda : póde-sQ por este xnúo procurar o Algodão por toda a parte 5 onde elle estiver , e se bvanta toi- çendo hum pouco o fio entre os dedos da direita , pa- ra fazer o torcimento do fio mais áspero , e para sç ape- gar aos filamentos dispersos. Estando a operação algum tanto difficil 5 se despresa este Algodão , para tomar com a pequena carda , e se usa delle , quando se encheu^ novas rocas. Logo que o fuso se enche com hum pequeno montículo de Algodão fiado chamado sulco , convern attendçr em mud^r a cravelha , quero dizer de o mu. dar de hum dente para outro sem esperar, que o sulco se desbrôe , ou desmanche, He preciso encher o fuso depois , porque d^ outra sorte não podendo o fio divi-. dir-se , perde-se, Quando o fuso estiver cheio na altura das asteas , deve-se passar hum alfinete ao travcz do fio, prendendo ahi a sua ponta. Tirando-se o fio da roda tem o defeito de se en- crespar , oti annelar , como os cabellos de huma cabel- fe, perdendo i força, se arrebenta, e para remediaç ( MO ) isto se faz ferver os fusos , assim como se tirão da ro-? da em agua commua , por espaço de hum minuto ; para resistir a este cozimento , se fazem os fusos de marfim ; os de madeira são ovaes pela parte de den- tro , não podem servir duas vezes , sem serem forrados de cobre. Huma fiandeira hábil pode fiar mil varas de fio do numero i6 , e aprontar o seu Algodão para o fiar diariamente.. He quasi inútil querer fiar mais fino , pois fiaria somente hum fio mais grosso ; porque necessita- ria aprontar mais Algodão. Porém esta não fiaria qua- tro centas varas dos números 8 , e lo , que [jor cu- riosidade se fiarão. Dá-se o nome de lã ao Algodão ao sahir da ca*^ psula por opposição ao Algodão ao sahir das mãos da fiandeira , que chamão Algodão em lã. Dobar o Algodão fiado , o fio de Algodão não se emprega com facilidade , com tanto que esteja bem fiado , e que se não tenha enfraquecido pelo muito tra- balho. Por tanto deve-se manear o menos que for possível, e assim pollo em meada, pois o doballo dcr pois , para o ordir em enfiadas , he hum trabalho inu' til, e ruinoso, que convém evitar ; e ao mesmo tempo de grande economia para o fabricante , tanto por cau- sa do preço da dobaçao ; pois parece que nesta mano- bra não pode deixar de se perder muito fio de Algodão. Os índios tem sentido este inconveniente ; e por isso Virdem a sua teia mesmo do fuso, em que se tem fiai do. Mas 3 como he de grande importância dar conta do que ( 151 ) que pode vir a ser hum estabelecimento, antes de for- mar alguma empreza , M.. Jore , que tinha es tç projecto , SC sérvio de huma espécie de dobadoura para medir o comprimeiito das mieadas , as quaes deo duzentas va- ras, e confeiio estas meadas no peso, e comprimento com as mousselinas feitas na Índia , e a sua comparação lhe pareceo favorável, adiantando os seus eusayos, até chegar a fazer mousselinas tapadas , e de listas , calan- dradas, e lenços, que imitavão os da índia ; linalmeiv te mandou fazer meias ds tear as mais finas que ha- vião em Paris. Mas, conforme a sua observação , deve-sç ordir segundo o uso dos índios , e senão deve medir, senão pelo meio , que se indicará na Fabrica de mous- selinas : onde se explicará a maneira de se servir d^ dobadoura , e no artigo seguinte dos instrumentos^ Huma mulKer, que começa afiar, tem muito tra•^ balho nos primeiros dias , sem poder fazer huma ponta de fío , que sirva para alguma cousa , sendo muito tor- cido j e desigual , mas em outo dias chega a fiar sof- frivelmente. Dos instrumenios , qm; servem na fiação dos AlgodÕas finos. Destes ha três sortes , a saber : cardas , rodas , e dobadoura. Das cardas : estas nSo dif ferem , das que se em-- pregão para cardar as lãs finas , e os Algodões , que se fabricão neste paiz , senão em serem mai^ pequenas , e armadas com differença : ellas se fazem de pontas ^e arame de ferro pouco agudas , dobrados á maneira dç cotovelo j e passadas eiji parelha por huma pelle do çar-a (MO ísarneira , ou por outra : ellas tem huma pollegada de largura, eoito de comprimento. Ataboa, em que ella^ estão cavalgadas, deve ser da largura de dez linhas, e de comprimento dez ou doze pollegadas , e de grossura de quatro linhas : a qual deve ser chata de hurri lado , e convexa do outro na largura. Sejura-se a car= da em huma ponta da taboleta do lado convexo ; as pontas curvas , dispostas para a esquerda , deixão de* baixo da parte , que ellas occupão , algumas pollegadas de madeira, para servirem de cabo. Aparte convexa da taboleta faz separar as pontas, o que facilita a entra- da , e sabida do Algodão. Quando algumas pontas da primeira , e segunda ordem , ou fikira , cahem para traz , se misturão , e fazem hum máo effeito, corta-se pela dobra , ou prega , com tizouras : ^ ponta j^ Jque fica , ser« ve na carda : acerca das outras pontas , se arranjã.ot quando ellas sahem do seu lugar. As pequenas cardas são as mesmas grandes, de que se tem supprimido o cabo , e que se teria dividido em duas. As cardas negras se fizerão para as Senhoras , que se querem entreter a fiar por divertimento. Dn roda : Não differe das rodas ordinárias , menos cm a fazerem andar com o pé , para fiar o linho , e em que alguns poucos particulares a fazem mais ma- cia , e por isso torce muito. Quanto mais fino he o fio , tanto mais se deve torcer , para que os filamentos , de que se compõem , se possao conservar ligados , e se suster a ponto de formar hum composto solido, f!J)íçedendo com tudo no torcimento ao que deve ser, o (153) 0 fio se hl quebradiço , e náo se pôde empregar em obra alguma. Com muita facilidade se percebe o exces- so do torcimento pelos que tem uso de fiar Algodão. O remédio he formar se o fio mais promptamente , sem afrouxar o movimento da roda. A fiandeira apressada se sujeita á roda, e se acostuma ; e por este meio í^a muito mais. Por estas razÔes, por tanto, se dá á roda vinte e duas pollegadas de diâmetro, que a faz pesar, e que a corda anda sobre hum eixo de dezoito linhas ^e diâmetro , onde se ajunta outro eixo , que tem três pollegadas, para servir ás que começarem: mas convém que se não use delia , tanto que^ o official se aperfei- çoar, seria preciso passar pela frente da rpda hum no- vo eixo de nove , ou dez linhas dp diâmetro , em que se terá cavado, ou feito hum rego, como nos outros eixos : se augmentará assim o movimento do torno, e se obrigará a fiandeira a fazer o fio com maior prom- ptidão. Esta roda se põem á esquerda , e deve virar d^ esquerda para a direita, pelas razoes, que se apontarão no paragrafo da fiação. As ranhuras da roda tem hum rego , ou fenda profunda , acabando por baixo em an- gulo agudo. Os eixos, que estão na frente da roda, to^ dos são semelhantes : elles servem de comprimir a cor- da, e de lhe fazer communicar o movimento da roda pela frente da mesma , sem estar muito apertada , o. ^^Q dá macieza á roda. A corda he de la , e deve ao menos ter a grossura de huma penna de escrever. A plasticidade d^ 1^ contribue ainda a fazer o mQvimeti- m (154) to mais macio, a qual se faz de três cordoes reunidos cm hum, cajusta-se na roda , fazendo hum nó, que se ata nas duas pontas, observando-se dividir este nó em três , dando-o separadamente em cada hum dos cor- déis , de que se forma a corda , de modo que os noz irão passem juntos sobre ó eixo. A frente da roda se faz , como a da roda de fiar a linho , porem esta he menor : o fuso he de marfim para resistir á fervura , sem perder a sua redondeza, maiormente no interior, pois que, não sendo redondo, viraria com desigualdade sobre o torno. A delicadeza do fio de Algodão fino deve dar oi- to, ou nove linhas de diâmetro ao corpo do fuso , e: sendo o diâmetro m^ais pequeno , como de quatro li- nhas , que se faz para o linho, o fio do Algodão ar* rebentaria , começando a fiar , a tempo qu§ q raio do fuso, tendo duas partes mais de comprimento, o fio lhe altera o movimento com hum esforço quatro vezes menor : e por este mesmo principio se dá ao eixo do. fuso a mesma altura , que ás rodas : a corda que para ahi SÊ encaminha , serve de freio para fazer toda a volta , como esta corda opera roçando , he muito^ maior esta roçadura cm hum grande eixo , que em hum pequeno , em huma volta inteira ; do que em huma, porção da circumferencia , donde acontece que se não deve comprimir fortemente este fuso contra a torno , e que o seu movimento fique mais livre para as outras operaçõ.'s da fiação. A abertura interior do fuso passa per huma bainhai de C i$5 ) áe panno, que ínvolva o eixo : serve este pedaço de panno de almofada entre o fuso , e o eixo , para se evitar a bulha que faria o marfim contra o varão de ferro. O dente deve ser baixo , para que , achando pouca resistência no ar, não faça bulha, nem dê hum movi- mento irregular á frente da roda , que faça arrebentar o fio. Pondo-se na ponta do eisio hum botão de marfim furado de duas partes , tanto para por elle passar commodamente o fio ; com.o , por que , sendo o marfim macio , não o corta. A cabeça da roda está unida a hum gancho de ^rame , que se introduz nos buracos que estão nos bo- tões de marfim para suspender o fio de Algodão , quan- do quer passar pelo botão. Da dobadoura. Esta he huma espécie de carrete , ou lanterna que tem meia vara de circumferencia , que vira em hum eixo , por meio de hum punho , ou manivela : que se vê em sua parte superior. Debaixo da lanterna tem huma ponta , que se prende nos dentes de hu- ma roda , da qual em cada volta faz passar huma : esta roda tem vinte dentes , de sorte que , quando pela lanterna tem dado vinte voltas , a roda dá huma. Esta mesma roda traz huma ponta que prende nos dentes de outra , toda mui similhante , de forma que a primeira dá vinte voltas, antes que esta dê hu- ma , e por consequência a lanterna faz quatro centas voltas 5 antes que ^ ultima roda tenha acabado huma em C 15O em cujo fim a mola se afrouxa, e se adverte que hu- ina parte do Algodão está completa , isto he , que ella tem quatro centas voltas , que valem duzentas varas , fórmão-se também duas partes de cada vez. Os fusos , que trazem o Algodão , que se tem co- zido , se põem assim molhados nos eixos entre as duas asteas oppostas á lanterna , prendem-se as pontas do Algodão em huma das asteas da lanterna , onde se devç refazer a peça : também se passa antes por hum orifício de latão que existe em hum páo posto a prumo quasi no meio da dobadoura , de sorte que os dous fios , quç se separão em meada, hum vai para cima da lanterna, e outro para o meio. Tendo-se completado as duas peças, se introdu,? o fio entre os fusos , e se continua a formar novas peças , e assim por diante até que a lanterna esteja cheia. Deixa-se seccar o fio sobre a lanterna , depois de eue se une as peças , çeparando humas das outras. Mas para as tirar da lanterna sem se embaraçar, tira-se do seu lugar huma , ou duas asteas da lanterna , que se movem , logo as meadas sahem livremente. Da operação, ou dos meios de pôr o fio de Aí^odU em obra, e dos instrumentos que nisto se empregão. An- tes de hirmos avante , será útil explicar summariamente o que se pratica em Normandia , na manufactura d^s peças de pannos de Algodão , que aqui se fazem. A fiandeira forma o Algodão, que tem fiado, em mea- das , cujo comprimento he indeterminado , alveja-se , e se tinoe estas meadas de todas as cores , c as divi^ dem dem depois em fusos chamados roca pafa o tíídir em enfiadas, em hum engenho de ordir similhante áqúelle sobre que se urde as enfiadas de teias de toda outra matéria. Trinta , ou quarenta fios , e ainda hum maior numero se dividem por cada Vez no engenho* Sendo a teia dé diversas cores na enfiada , o official dispõem o desenho , de sorte que a enfiada ordida contenha o desenhos das listras. Observa-se que encruze nas extre- midades da enfiada, ordindo-se os fios de que se com- põem nas cavilhas , ou cabides que estão no enge- nho , e isto para conservar a Ordem em que se poera estes fios no engenho. Chamão a estes fios assim en- cruzados a cruz da enfiada. Dando á ordideira as vol- tas necessárias, e que a enfiada tenha o numero con- veniente de fios de comprimento de oitenta ate cem varas ; passão-se os fios nas duas pontas desta ca- deia , no lugar , e situação das cavilhas : estes fios passão então pelos que estão encruzados com a ofdem com que se formarão na ordideira : tirando a enfiada da ordideira se lhe dá o apresto , quero dizer , se hu- medece toda em colla ligeiramente feita dos ligamen- tos de nervo , e cartilagens de bois : estando bem hu- medecido, o official o traz para hum campo, eesten* de sobre cavalíetes por todo o seu comprimento : elle arranja os fios no meio dos encruzados, que se tem o cuidado de deixar no fim da enfiada , e impede que estes fios , seccando-se , não fiquem collados. Esta ma- nobra não he muito extensa ^ ainda fazeiído-se com al- gum descuido. Da- < 158) Dá'se outro apresto na matéria , quando ainda se não tem tirado a enfiada da ordideira , á medida ,^ue o officiaí a trama. Consiste este apresto em huma colJa , que se faz de farinha de trigo , apodrecida , e azeda pela força da levadura. O officiaí estende esta colla sobre os fios da enfiada com fortes escovas de ca- bello 5 e continua a esfregar até que todos os íios se . sequem. Ordldíira do fio de Algodão fino , ^ela mesma fian- deira. As peças de mousselinas de ordinário tem dezeseis varas , e desta se pôde ordir duas por cada vez , que fa- zem trinta e duas varas ; e como sempre se perde nos comprimentos das enfiadas , deve-se dar ao menos trin- ta e quatro no comprimento. Consiste a ordidura nas cavilhas postas em pares em huma parede em distancia de hum pé humas das outras, todas em huma mesma linha de sorte que so- bre o comprimento de trinta e quatro varas , se achão cento e vinte pares de cavilhas de seis pollega- das de comprimento^ Ligando-se o fio á primeira cavilha , e passando- se pelas outras cavilhas , depois se leva encruzando no primeiro fio , ( chama se estes eçcruzamentos cruza- das, ) e assim se continua ate vinte cncruzamentos completos , que juntos fazem o numero de quarenta fios que se chama huma teia , assignalão-se estas teias por meio de dous fios grossos atados , que se passáo de hum para o outro, todas as vezes que se aca- ba a teia , de sorte que todo o Algodão da fiandei- ra (159) fa estando para ordir, se achará dividido pòr pequenos molhos de quarenta fios cada hum , e de hum com- primento de trinta e quatro varas, das quaes três fios fazem cento e duas varas , que se pagará á fiandeira í)or cem varas. A primeira avantagem desta ordidura he de poder comparar huma extenção de quarenta fios , cujo peso 5e não saiba , com huma igual teia , cujo peso se saiba, e julgar logo pelo volume de huni , e de outro a finura do fio, e pelo comprimento da ordidura , da quantidade do fio. Este methodo, interessa, para que sç faça o fio o mais fino que for possível , por que a finura lhe fará seguramente pagar , conforme o compri- mento : ao mesmo tempo também se observa a iguaí- ckde do fio , pois a desigualdade da teia no peso, advertirá da desigualdade do fio na grcssurc. Tendo a fiandeira ordido todo o seu fio na ordi^- deira , procura conservar o encruzamento , tirando a enfiada para fora por cima das cravelhas. , A segunda avantagem de huma enfiada assim dis- posta he a de poder dar toda a sorte de apresto a este Algodão 5 de tingir de tcdas as cores , e ainda alvejar sem o receio de se damnificar , ou de perder nestas operações. A enfiada de cima da ordideira tem a figu- ra de huma verdadeira cadeia , da qual todos os a^* neis representão outras tantas meadas , que são duzep- taç. Nada mais custa á fiandeira a fazer esta sorte de enfiada , do que hum pouco de tempo mais ^ que em-» pre- |)régà ém pôr o seu fio de Algodão em meadas peíó meio ordinário. ^ Leva-se esta enfiada ao fabricante ^ que a paga ^ conforme o numero dos fios, que elle conhece encru-* zados pelo seu comprimento , e igualmente conhece pela ordidura , á cerca da delicadeza do fio , que pô- de distinguir, comparando as peças, e pela facilidade, que com o uso , e tempo adquire de julgar a olho da perfeição do fio. O fabricante , eSfaneío provido de muitas destas enfiadas, que lhe vem de diversas fiandeiras , empregadas em seu serviço , as dispõem para as differentes opera- ções de seu tear* Destina para a trama o qúe he menos perfeita, c se' prove, segundo as suas qualidades, e fi- nuras. A que se destina para a tinta , se levanta três quartos de vara em roda ^ para que de huma enfiada se forme huma só ^ça. Mas como esta comprida peça es- taria ainda sujeita a se misturar na opera<;ão. Fazem se encruzamentos de fios de Algodão mui grossos , para os dividir entre s^i ,• em todas as vokíis , como se fazem para dividir as teiaS. Depois desta precaução , pode o Algodãt> suportar toda a sorte de tinta sem se embara^ çar, ou encrespar, ou ainda ter algum damno notável Póde-se ainda alvejar. Estando estes Algodões tintos, ou brancos, se desdobrão as enfiadas, e se estendem as meadas nas cavilhas da ordideira , para as endireitar, e allongar, e poilas no m.esmo estado, em que estavão antes destas differentes operações. Além da necessidade de ordirem as enfiadas do AI- cr^o- C i60 gôdao deste irtodo por causa da sua delicadeza , deve-ss persentir nisto a economia que ha , e se conformar a tJJa ; Quanto tempo não seria preciso para dobar o Al- godão misturado, embaraçado, e collado pela tintura? estaria seguramente atrebeníada , senão fosse sustentada pelas encruzadoras j e a perda , que se occasioria em hum fio tão fino i que tem passado por iguaes operações ^ quanta não seria ? Ordume das enfiadas outeiadtts peto mesmoJ'abr'ieantei A ordidura do fabricante nada differe do da fiandeira j íie do mesmo comprimento , e do mesmo numero de fios, e se o official sè limita em fabricar teias brancas ou todas de huma mesma eôr ^ só precisa de hiimá ordem de cavilhas , e não de mais como a fiandeira. Mas ^ quando sê quer ordir as teias de cores differentes , he necessário meter na ordideira tantas ordens de cavilhas ^ quantas, são as diversas cores do desenho da teia , e huma fiada mais ^j para receber todas as cores , que se põem em ordem 5 para fornecer as listras das cadeias ou enfiadas; Estas, sendo tintas, e bem dirigidas ^ se põem na ordideira , assim como fica dito : a ordem do meio serve para receber os fios do Algodão , que Se tomará , outras fiadas , para formar as listras , até que se acabe a cadeia. Custa muito menos ordir as mousselinas , oa riscados sem tinta. Basta juntar , em humaâ fiadas de cavilhas da ordideira, bum sufficiente numero de fios da mesma finura, Observe-se sempre conservar os eneruzamentos ^ T. V. P. L L €0- ( i60 como a fiandeira ao principio fez originariamente na ordideira. Quando a enfiada branca , ou misturada de cores se acaba , passão-se- as compridas varetas ao lugar , e si- tuação das cavilhas da ordideira , a medida que se apar* ta esta enfiada das cavilhas da ordideira para a pôr em estado de receber os aprestos. Estas varetas devem ser mais compridas , que a largura da teia. Para huma meus* selina de vara de largura devem ao menos ser de qua- tro pés e meio : fazem-nas redondas , de meia poUega- da de diâmetro , e de huma madeira branca a fim de se não eommimicar alguma còr ao Algodão , quando es- tiverem molhadas , ligeiras como o salgueiro , e iguaes pa grossura de huma poma a outra , unidas , e bran- damente enceradas , e sobre tudo sem alguma farpa , que possa levantar os fios de Algodão. A cadeia ou enfiada se passa sobre as varetas : tende huma esquadria da grandeza que quizerdes. As peças desta esquadria devem ser pela parte de cima em angulo , para que as' varas , que andão sobre o angulo superior , experimentem algum roçamento, obedecendo com facilidade os contrapesos , que estão nas duas extremidades. ( Esta esquadria se deve conservar horizontalmente sobre estacas , ou esteios firmes na terra, sem nume- ro determinado; mas na altura de três ou quatro pcs, conforme a commodidade dos officiaes : deve ter de comprido três pés mais que a enfiada de trinta e qua* iro varas , e de largura algumas pollegadas menos ^ C i^O í]ue o comprimento das varetas. Deve estar em hum lugar coberto, porque os aprestos não podem soportar o grande calor , nem a chuva, Ordida a teia , e arranjada nas vaíetas ^ se põem sobre a esquadria , devendo ser postas nesta com as mesmas varetas pelas suas extremidades , e ainda passar hum pouco além , para se não desarranjar por qualquer accidente. Estende-se sobre este instrumento a teia , que se quer aprestar com todas as varetas , destri- bue-se com igualdade todos os fios pela largura destas manobra ^ pela qual se tem muita facilidade para as teiaSí Então nas duas extremidades desta enfiada se põem hum contrapeso , que igualmente pucha a en« fiada ou cadeia pelas duas pontas, e obriga a se apar- tar -a m.edida que se lhe dá os aprestos : he conve- niente conservar as varetas em pares por meio das pontas de arame viradas com esta figura tA. Este S levanta, ou suspende as duas varetas , pondo-se dous emcada par de varetas , sem estes pequenos instrumen- tos se desaranjão as varetas , affrouxando nos lugares a cadeia estendida , e fazendo o trabalho dificultoso , e com imperfeição. As mulheres, e alguns tecelões fazem isto, alim- pando a cadeia, ou enfiada, de todo o supérfluo, que encontrão , como o Algodão innutil , impuridades , etc. , pondo em ordem os fios , e renovando os que se af re- bentárão, estendendo a cadeia, ou enfiada para o meio dos contrapesos , que fazem perceber huma macia ae« í^ã®. L % Os Os índios fazem isto com menos trabalho ; elles se contentão com meter na terra huma ponta das va- retas , e de formar assim huma espécie de sebe com a enfiada ^ e as varetas , em cuja extençao se destribuem os trabalhadores para arranjar, eendereitar o^ fios: nO que elles tem muito maior habalho , e estafâo muito o seu fio j humedecendo-o por muito tempo , antes de o pôr em obra, pizão-no com os pc3 , e o batem para o pôr em estado de tomar o apresto com facilidade ; operação que h^ totalmente nociva ao fi© do Algodão. Kós suprimos isto fervendo o íio lego que a fiandeira o acaba de fiar. Fíimelro apresto. Póde-se empregar neste três sor- tes dç eólias : a primeira se faz das cartilagens , e li- gamentos dos bois 3 mas a melhor he a que se prepara com massa de trigo corrupta , e azedada pela força da levedura. Esta colla he mui glutinante , e pela expe- riência se sabe , que se deve preferir a que se extrahe da massa de arros , de que usão os índios. Os aprestos que se fazem com esta ultima colla , são mui recicados. Pondo-se huma quantidade desta colla de trigo em hu- ma pouca de agua da fonte , da chuva , de rios , ou alagoas, que seja siifficiente para que a agua fique al- gum tanto glutinosa nos dedos. Estando esta agua bem quente, se embebe a enfiada de Algodão , estendida so- bre hum quadrado , com duas espécies de almofadas de lã, que servem de escovar , as quaes se assemelhão , ás de que os sonibreireiros usão para dar lustro aos cha- peos, e são che::\s de cabellos encrespados, e cobertas de C '«5 ) de camurça. O obreiro tem hiima em cada mao : hu^ ma para dar o apresto por cima ; e outra para o dar por baixo, Precisa-se ao menos de quatro pessoas para ídar este apresto , duas por cada borda da teia. Os dous primeiros embeberão a enfiada nesta çolla , sem alguma attençâo , devem poJla por toda a parte com fartura , de modo , com tudo , que não tenha parte alguma, em que elles não deijcem de a lançar com a mão, ou com suas escovas» Os outros dous obreiros seguirão os prinieiros imediatamente com suas escovas , esfregando continuamente a enfiada até que se seque , e impedi- láõ que os fios não se collem huns com outros depois de seccos. Primeiramente se deve acautelar em dar todos os aprestos ao mesmo sentido. Segundo ^ quando se tiver passado a escova em certa distancia , he preciso repa* rar com ella onde for necessário , de forma que nun^. ça se m.ova a escova contrg o sentido sobre a enfiada, Terceiro , que se dê o apresto igualmente por cima, e por baixo. Quart© 3 deve-se chegar p^ra adiante, e recuar as varetas algumas pollegadas , quando se dá o apresto , para que as escovas , éipanhando a colla, que se poderia unir ás va,ras , evitem que os íios se prendão nellas , e se collem huns com Qs outros , maior^ mente os encruzados, Còmprelienderse facilmente que estas escovas , ou melhor estas almofadas cobertas de peiíucia , são pro- priissimas para se passar entre os fios da cadeia , e se-» |>3r^llos huns dos outros, e untdflos de colla ^ e se çon-» tinúa a passar novas escovas , menos húmidas que as prim.eiras , ate que se seque : então estes fios não se collão mais huns aos outros. He ainda muito con- veniente procurar que se nâo peguem aos encruzados, as varetas. Secundo apresto, Póde-se dar o segundo apresto sem mudar a enfiada de posição , começando-se como o primeiro , e com a mesma colla , empregada somente muito mais forte , ajuntando-se huma pouca de agua, Applica-se do mesmiO modo , e com as mesmas escof vas 5 que no primeiro , porém com muita m.ais prudên- cia , pois huma muito grande quantidade delia faria o íio quebradiço : as escovas de pello brando a distribuem com igualdade , e economia, Tenha-se o cuidado de deixar seccar os fios debaixo da escova , e movSo^se as varetas ainda com muito m.aior cuidado do que ^lo primeiro apresto. Estes dous aprestos fazem o Algoài^o tão btllo, tão unido, que se assemelha a compridos cabeilos. De- ve-se vigiar, quando os ád.o ^ que se não estafe o Al- godão com a força de o esfregar : elle se secca logo. A industria deste trabalho consiste em prevenir no nio- mento , em que se vai seccando , neste instante dar-ihe huma escovadura , separada humas das outras , em to- dos os fios , do Algodão que se tocão. Kum seíiundo os humedece muito , e de novo os, colla. Os índios untão então seus Algodões com azeite . mas julgo que se deve deixar este cuidado ao tecelão , que o toma , á ^■nedida que el!e urde a sua teia. O azeite, cue lancão SC- C 1^7 5 sobre 05 apresto?: , parece enfraqiiecellps , e por esta lazão se deve preferir o cebo-novo , que os arnacia , e íião enfraquece. Do tear. Este pouco differe do tear , em que se f íz a teia , excepto que as partes , que o compõem , são proporcionadas á fraqueza do Tio de Algodão , em que se trabaiha , serve-se delle, como de todos os outros teares de fazer a teia , á excepção , que o órgão de traz , he sustido por dous contrapesos 5 conforme o methodo dos obreiros em seda , e o de diante se susr tenta em duas caviliias , conforme a praxe dos tecelões. Pelo uso se sabe que os contrapesos fazem huma re- sistencia mais igual , proporcionando-se mais facilmente o esforço a necessidade : os orgaõs são de faia , e tem alguma «rossura porque he assas conveniente que tqdo , o que resiste ao Algodão, tenha a avantagem ^e resis^ tir sem o romper. A enfiada , ou teiada se pôde levantar com dous , quatro , ou seis pentes , conforme a finura da teia , que se quer fazer. Suppondo que a mousselina , que se quer fazer, tem huma vara de largo , e tenha de comprimento quarenta; terá quatro mil fios na enfiada de huma va- ra , conforme se usa nas fabricas de Normandia. Se se metem só dous fios por cada dente do pente , o tear só terá doiis pentes , e cada porção dous mil fios. Quan- do o tear trabalhar , doua trama. Já se disse depois , que se escolhia o fio de Algodão menos perfeito para tapar a teia. Para o empregar , poem-se sobre a ordideira , sem lhe dar algum apresto ; huma mulher , ou hum rapaz o toma pela ponta , para formar dellc as canellas. Consiste esta o* Ci70 operação em fazer precisamente, o que faz a fiandeira ordindo a enfiada. A canella he hum pedaço de cana comprida , de huma poJlegada de quatorze linhas , que se passa sobre huma vara de ferro , de sorte que não volte sobre ava- ra. Esta se sustenta sobre hum eixo , de modo que não possa escapar do lugar , em que se põem. Dá se com a mão na vara hum movimento de rotação sobrç « mesma : e por consequência o fio de Algodão se une á cana , andando a roda sobre o tubo da cana chamado fanella. A' medida que o fio se divide , o trabalhador se vai ao longo da ordideira ate o fim , e volta para traz , até que a canella se encha dos três comprimentos áo ordume , de cento e duas varas de fio : esta vara não serve só como instrumento próprio do Algodão, os que dobão a seda , também aempregão: póde-se su- prir isto com huma pequena roda ligeira , e appare- Ihada. Pelo comprimento do Algodão, que se acha mer dido pelas canellas , se vé quanto entrará em huma va- ra de teia ; precaução utilíssima , para se conhecer da quantidade da teia , ç muito segura , para prevenir a fraude dos obreiros. Quando se quer empregar a trama , deve-se em- tebello muito bem em agua , para que o fio possa me- Jhor sustentar a força da lançadeira. Mete-se em agua quente , sem o que , não penetra até o centro. Dei- xão arejar estas canellas , para lhe extrahir a muita quan- tidade de agua , e se empregão humedecidas. O tecelão mete huma clesta.<: canellas em huma iatíçadeiía mais baixa , e menos aberta , que as ordi- deiras , para não haver necessidade de forçar o passo , isto he , para não abrir m.uito a cadeia , quando passa a lançadeira, O fio passado , e arranjado em ordem dá , pela sua humidade , macieza aos fios da teiada , hume- decendo os aprestos , de que elles estão untados. Deve o obreiro trabalhar a passo aberto , quero dizer, que elle f^ça entrar o fio no lugar, em que de- ve ficar , tendo o pé ajudado na marcha , e mudar o passo , o pente apoiado sobre o mesmo fio ajunta a teia fabricada , pois de outra soiíe se exporia a quebrar e numero dos fios. Convém trabalhar nestas teias , maiormente quando são finas em lugares hum pouco húmidos , e pnde não peneire o calor do sol. Logo que o tecelão torna apegar na sua obra, dc;pois de ater deixado por alguns mcmentos , deve passar hum panno húmido , ou huma esponja, ou cousa semelhante sobre a sua obra no lugar, em que cessa de trabalhar, para lhe amaciar CS aprestos ; e pela mesma razão deve também con- servar sobre a teia hum panno hiimjido , em quanto dem em quatro ou cinco sortes ,. que se distinguem pe- las letras A , B , C , etc. , os quaes Se vendem em saccos , a cada hum destes se abate no peso i?urna H- vra e meia sobre os Algodões fiados de Tutucorin^ S^úQ são os mais caros , e duas libras no peso das oU' itrGS sortes. A respeito dos Algodres fiados á^^lckbes^/EsmiF* Ç >70 ne , Alepo j e Jerusalém , se abate em Amesterdão oito por cem para a tara , e dous para o bom peso ; e sa- bre o valor hum por cento para o prompto pagamento. O Oi e belleza, e se vendem até dez ^ ©u doze j e quinze escudos ao par. Fabricão-se com tu- do muito poucas ; pbírque este trabalho eonsomme muito tempo : de sohe que se alguém as faz , he mais por cu- riosidade 5 de que para fazer delias hum objecto dè Commercio, No commercio dos Algodões ^ qtíe se faz nas Aft* tilhas , se costuma rebater a três por cento por tara^ isto he, para o peso da teia, que faz a baila. Náo se pôde dizer com certeza jO preço 5 porque se vende ò Algodão nas Ilhas , este depende da abundân- cia 5 ou da raridade deste género ^ e ainda da pressa €om que os Mercadores , ou Còmmissarios de França o recomendão» Hum hábil Author , de quem sem. exageração' se pode dizer que melhor tratou de todos os géneros de Çom* Hiercio , que se faz nas Antilhas Francezas , notou que desde 16985 até o fim de 1702, o Algodão se vendia a quarenta e cinco libras o cento ; e em lyof só trinta^ àté trinta e cinco libras , o que não obstante era ainda iium bom preço. Desde este tempo a esta parte se tem (17?) Variado muitas rezes , mas totalmente não tem subido â quarenta e cinco lilyas. Pouco depois do mesmo tempo , isto he , desde aí paz de Ryswick até 170} o Algodão se vendia em Nantes 5 Bcrdeux , e Rochella até cento e quinze libras ào cento , o que na verdade era de lium grande pro- teito, mas era preciso abater o frete j direito? de eiv tradá , avarias , commissão , emballamento , e tara. Em tempo de paz se paga em França a frete ar íazão de dous soldos por libra í em tempo de guerra se íegula pelo numero dos navios que se carregão deile. Algumas vezes para defraudar os direitos do Rei, os particulares , que , tendo alguma pequena porção de Algodão para enviai para' Franca, em vez de o embai- Jar j o metem em almofadas : destes moveis^ não se paga a entrada j quando não excedem ao numero de duas por ciada pessoa , mas este pequeno lucro não- corapenáa o trabalho , que se tem , em distribuir as almo* fadas pelos Passajeircs , e Marinheiros da navio , nem o receio de se desmarcar por aqúelles , de quem se con- jfia. Em 1756 chegou a França da Martinica , e ou- tras Ilhas, sete centas e cincoenta e sete mil libras de Algodão, e valia no mesm.o anno , e em 1557 > a <^"" zentas > até duzentas e quinze libras de Fiança ao quii> lai em Eordeaux > e Nantes^ Mê;- C 179) MEMORIA VIII. SOBRE O ALGODÃO. Por José de Sá Betencourt, A Terra , mais rica na sua superfície , que nas suas entranhas, serve de theatro á Sabia Natureza , que a reiíova todos os dias , com as suas producçóes ; fazen- do succeder por meio das differentes , e multiplicadas sementes outras tantas espécies de vegetaes , que co^ brem a superfície do nosso Globo, e fazem a felicidade dos seus habitantes. Eíía reparte com grande sabedoria os seus dons , e faz que se propaguem sobre os diffe- rentes terrenos , que lhes são próprios , já pela quali- dade do seu húmus, já peia natureza do clima , sem que a destra m.ao áo Agricultor os possa fazer propa- gar á sua vontade : assim vemos , que as plantas da Europa com difficuldade se propagão em beiramar do Bra; il •, e algumas que d força de trabalho crescem , e propagão , a sua producção , he débil , e sem que os La- vradoras possãò tirar as vantagens , que se tirão na Eu- ropa , como vemos , e se observa na vinha , que mal satisfaz a curiosidade do cultivador , sem que a produc- cão corresponda ao trabalho. Outrs s , que vegetao, e não propagão, como à M â oli- H I:! C is° ) oliveira, etc. ; outras de tal sorte amantes do seu paiz> que não vegetão , nem pròpagão. O mesmo j que observamos nas plantas da Euro- pa , cultivadas no Brazil , se observa nas plastas deste Jfvadas para a Europa, que só vivem em casas de vk draças , subministrando-se-lhes com estufas a calor, que lhes l>e necessário para a sua vegetação. O Agricultor pode modificar o terreno , fazendo-a mais ou menos gordo , mais ou menos poroso , appro- priando-o á natureza da sua lavoura, mas não o clirr» em grande , que influe na maior parte da vegetação* Eu não me canco em referir as different-es obser- rações dos Filósofos y para provar , que o clima influe mais na vegetação , do que a terra , por ser esta ma* teria huma , e muitas vezes discutida , e provada ; por* c]ue , sendo a terra a mesma em toda a parte , e susce» ptivel de receber as modificações do Agricultor , vemos que lia grande difficuldade em se fazer propagar as plan* taS de differentes climas transplantadas ; e ainda que saibamos , conforme, os verdadeiros princípios de Agri- cultura , e de Chymica^ que a terra he o meio ^ na qual se faz a germinação , e que não serve só de labo- ratório, conforme o Abbade Tessier aos suecos , que lhes são destinados y mas que entra também em grande parte na sua composição, seja ella attenuada do mr^do ^ que for 5 o que ainda existe nos occultos segredos da Katureza , que o homem não pôde perceber , o que se conhece pelo resíduo dos vegetaes queimados ; com itido outras muitas experiências próvão , que o ar he C >8' ) inciíto necsssario para a perfeita vegetação , e que qú- ira em grande parte na sua coinpoziçao, A necessidade , que os vegçtaes tem de agua para a sua vegetação , he por todos bem conhecida , não sendo demasiada , assim eomo o calor , que he o prin^ cipio vivificante, o que tudo coopera , para que as plan- tas cresção , e produzão , conforme a qualidade do cli. ma ; que íhes he análogo. Eu me rjão demoro em re- latar theorias sobre o principio da vegetação ; porque isto seria exceder o plano , que me proponho ; só me basta provar , que o clima diffeiente inilue nesta , ou íiaquella lavoura , para que o Agricultor perceba as uti- lidades com vantagem. A mesma ditferença , que observamos nos Paizes da Europa era relação aos de beiramar do Brazil , se observa nestes a respeito dos do Sertão, ou terra den- tro, onde são as estações mais regulares, e as chuvas vem em tempos determinados , e constantes , o que faz, com que a lavoura seja igual , e sempre certo o tempo da plantação, O terreno da Villa do Camamii , que fica entre quatorze , e quinze gfáos , desviado da Bahia ao Sul ívinte e quatro legoas , he o Paiz mais irregular nas suas estações , que tenho visto , porque , quer seja de verão, quer de inverno , sempre as chuvas são contí* puadas ; e o calor no verão , conforme o thermometrg» de Fahrenheit , não chega amais de §p gr. e meio (i), o , (i) No maior calor , que he ào melodia para tarde , ç íTiuitas vezçs no outro súehep a. 60 na mesma esíaçlo, Ci?0 © que faz , com qire as plantações se conformem i irregularidade do clima , e se não possa nclle cultivar com vantagem , senão Mandiocas , Cafcs , Arroz , 5 Cacao , e não o Algodão , que he o principal objecto ; porque , ainda que cresça nas boas terras de beiramar , a sua cultura se não pôde fazer com proveito , visto que o terreno lhe não he tão próprio , e a irregulari- dade do clima rouba ao Lavrador as suas esperanças , vindo as chuvas no tempo da colheita , a destruir, e apodrecer o Algodão, ainda nos seus çapulhos. Esta irregularidade se observa nos Paizes , que fí- ção ao Sul da Bahia entre treze , e vinte grãos , onde se não conhece verão , nem inverno (1} , senão pelo mais , ou menos calor , conforme os ventos , que rei- não nestas duas estações ; e nunca o frio excede de sft centa até cincoenía e cinco gráos do mesmo thermomer tro , tempo , em que reina o vento Sul , que sempre he acompanhado de chuvas. A quatorze legoas da Villa de Camamii , fazendo caminho de Oest-Sudueste até encontrar as margens do Kio das Contas, onde coníinão as matas grossas, com as Catins^as altas (2) , e vão confinar a doze legoas com as Catingas baixas (3), já a regularidade do clima se (1) Porque tanto chove deverão como de inverno, e muitas vezes o verão he mais chuvoso , e só a ditíe- rença das horas nos dias he que os faz distinguir. (2^ Caá tinga «/«cr dizer mato bronco^ como são os de terras fracas. (?) Catingas baixas , são mais baixas duas vezes, que as Catingas altas. se coíifórma com a fertilidade do terreno , muito prc>. prio para todas as plantações, particularmente, para a iiVOLii-a do Algodão 3 onde se acha silvestre no meio àis ditas Catingas. Este terreno , que fica a vinte e seis legoas de bei-amaf separado pela mata , a qual vem a confmar 5 con' as que os naturaes do ?aiz ciiamão Catingas gros- sas , he sem dúvida o mais próprio para a dita lavoura , porque o Algodão domestico , hum^ vez plantado , se conserva por m.uitos annos , ainda sem nenhum bene. íicio, como o encontrei na Fazenda do Rio das Con. tas, onde tinha sido plantado havia dezoito annos , e se conseryava no meio das Capoeiras (i) , com tanto vigor 3 como se fosse novamente plantado. Todo o Sert?.o da borda do Rio das Contas tem a mesma propriedade : toda a mata, que fica entre o àko Rio das Contas da parte do Sul , e o Rio do Gragongi , conforme a fé dos bandeiristas (?) , possuá as mje.smas qualidades. Este vasto terreno , que principia a treze legoas da beiramar , he cortado de Sueste , a Noroeste pelo Rio das Contas , susceptivel de navegação de grandes capoas 5 e outros muitos rjos , que v^m crupr com (j) Capoeiras, palavra Eiiropea suhítitiildq por cor- rupção a , Brasiliana Có cuííia , rossa antiga. (2) Bandeiristas , são os homens , que encorporados jdebaixo de hum Chefe afavessão as matas para se»-iii- iem os Judios, que assakão as propriedades , e estra-^ das , ou mesmo para os amansar , e c^da hum dsll^? separadp se chama Bandeirista» ( 1^4 ) elle , tanto da parte do Norte , como do Sul , sem a fnesitia facilidade de navegação, os da parte do Nor;e slo o Ribeirão de Área ; ou Montanha , Genipapa, IVIanageni, Rio das Pedras, Rio Preto. Todo o Sertão da Conquista desde a fazend? do Rio das Contas , fazendo caminho de Sul ^ que será de quarenta legoas , tem a mesma propriedade , não só pela qualidade do terreno , como também pela regula? ridade do clima, que he tanto mais regular ^ quanto mais se affasta da beiramar. A margem do Rio Gavião, que Tem fazer barra com o Rio das Contas , seguindo o rio o caminho de Oeste 5 he igualmenre própria para a sobredita lavoura. Os proprietários das fazendas , que conhecem, as vantagens desta lavoura, a não fazem pela razão, que logo exporei, quando fallar da sua exportação, A plpnta , que produz o Algodão , entra na Cias- se Monadelphla Ordem Polj/andria , género Gossypium. Lineo , se sérvio , para distinguir as espécies , das d/f- ferenças das folhas , e das glândulas . que se achão em algumas espécies , e não em. outras , cujo conhecimento só fica pertencendo aos Filósofos , e não ao do vulgo ; razão porque me servi da differença das sementes , e do pello, que as cobre, conforme as suas cores , por ser hurq caracter constante no Paiz , e. çoqhecido de todos , que fazem uso desta cultura , ainda que em pe- queno ; e da união destas mesmas sementes , ao que chamão caroço inteiro , ou dividido. Para sq cultiyar o Algodão basta derribaf as Ca- tin-r C 1B5 ) tingas altas , ou Gatingas baixas , logo que o tempo secco convida para este trabalho , que he do mez de Junho por diante , e se deixão seccar até o mez de Setembro. Os Soes , que neste tempo são ardentíssi- mos , secção as madeiras de tal sorte , que quando as chuyas avisão aos habitantes da sua chegada pelos gran- des trovêes j que costumão haver muitos dias antes , lhes lanção fogo, que reduz tudo a cinzas , deixando a superfície da terra limpa , para se fazer a plantação , sem maior incommodo , ficando a terra estrumada , e fértil pelo aikaii vegetal. A lavoura se faz com enxadas , abrindo covas de oito em oito pés, onde se lanção as sementes (i), e se cobrem com pouca terra ; e porque o terreno ficaria muito ocioso só com esta planta pela grande distancia , que se lhe dá para a sua ramificação , em quanto não chega ao seu maior crescimento , e por se não ver q Lavrador obrigado a alimpar a terra, que fica neste es- paço , das hervas , que nascem sem maior proveito, ihe planta o mJlho , e feijão , que tudo cresce iguali- mente , sem que facão damno ao Algodoal. A estaqão , que começa a ser chuvosa , não cessa áe regar a lavoura regularmente todas as tardes , e mui-i (1) Ha huma observação , em que as sementes de Algodão de caroço inteiro se devem plantar com os caroços unidos , sem se dividirem , para sahir o Al.^o-^ dão com os caroços unidos , c^ue sendo divididas as se- mentes , assim produz o Algodão com as sementes di^ vididas. muitas vezes á noite , vindo de manhã o Sol até o meio dia animar a lavoura ; aJgunias vezes acontece virem as chuvas de oito em oito dias , por iinervailos , no mez de Outubro, ate chegar a meiados de Novem- bro , tempo, em que ellas são constantes. A fertilidade do terreno faz crescer com as plan- tas , outras muitas hervas , que o Lavrador he obrif;;ac!Q a arrancallas , ou sachalias para desaffogar a sua lavou- ra, que então cresce prodigiosamente ; e quando. ..se dá a primeira limpa , se arrancão os pés de Algodão su- pérfluos na cova (i), deixando só dous , que se capão, quando a planta já tem altura sufficicnte para brotar povos galhos ao redor do tronco , e fazer com esta operação maior lucro na colheita. No mez de Fevereiro costumão 05 Lavradores dar a segunda monda á sua lavoura, conforme as suas dif- fereníes occupaçóes , e abundância da herva , que tor- na a renascer depois da primeira limpa. No mez de Maio se faz a colheita do milho , e (do feijão 5 deixando o terreno desembaraçado, e limpo, para no mez de Julho se dar principio acolheita do Al- godão , que continua ate o mez de Outubro , e No? Tembro , tempo , em que se podão os Algodoeiros, para. no segundo anno darem huina fertiiissima colheita. A necessidade , que não cessa de ameaçar o La- vrador, o disperta a continuar o mesmo trabalho, par^ ter certa a sustentação de milho , e feijão , que já não pó- (1) Forque se planta o caroço inteiro» C ^27 ) pode ser , senão em terreno novo , que serve para augmentar a dita plantação com a mesma regularida, *le. Deste modo veria o Lavrador crescer, com o seu trabalho , as suas riquezas , n'Ão só pela felicidade da Javoura j seu rendimento, e duração da planta, com^o pela diminuta despeza no seu fabrico , se hum obstá- culo lhe não embaraçasse a execução de hum piano tão útil ao Commercio, e ao Estado. O Abbade Tessier no seu discurso preliminar so« bre a Agricultura se expressa da maneira seguinte. í=: O mais poderoso meio de dar á Agricultura toda d, íictividade , dí? que pôde ser susceptivel , he praticar caminhos de communicação em os Paizes , onde os não |ia , e canses navegáveis para transporte das mercado- rias , etc. etc, Encj/çlopeciio J)içúonano de Agrlç. , pag, 20. Não he a falta do caminho, que faz o embaraço da exportação, mias sim a falta de segurança deste mes? rno caminho para ?,oct%o ^ e frequência dos viandantes, ciue , na travessa da mata , se vêm accommettidos do Tarbaro Gentio Cotachôs , privando-os da facilidade de transportarem as suas cargas pelo rio abaixo ate o R-i* beirão da Arêa , que fica a treze , até quatorze legoas da Villa de Camamii , de donde se podem muito bem conduzir em cavalgaduras , para deste perto serem en- viadas para a Capital, se houvesse naquelle lugar hum corpo de homens , que os fizessem conter nos seus li- mites y repellindo a força das invasões. Es- Çi8S5 Este caminho , em outro tempo aberto por Ordem ào Excellentissimo Manoel da Cunha Menezes , quando governou a Bahia , terminando na estrada , que vai pa- ra os Maracazes , dirigida dos Sertões da Conquista , que íicão abaixo das Contagens de Rio Pardo , e Tocaios , se fechou , não só peia infestação do Gentio, mas pe- lo longe, máo passo, e falta de pastagens para os ani- ijjaes , o que conhecendo eu bem , obrij.^ado da neces»- sidade dos animaes precisos para o ccsteamcnto dos meus Engenhos , pela miséria , e lastimosa necessidade do povD, me resolvi a fazer outro, seguindo differen- te rumo, onde gastei três annos sem adjutorio do po- vo , nem d^ Camará , nem doutrem , perdendo em tcv- do este tempo o lucro das minhas lavouras , e o fiz Biu-ito mais perto , e por hum terreno , que o j^caso sfibministrou com algumas pastagens. Não he preciso , para segurança deste caminho , mais, que huma Povoação de Judios mansos chamados Mon- goiós no Ribeirão da Arca. Não são os particulares, que tem este poder ; mas sim o Governo , onde exis- te a Regia Authoridade. Eu não conheço homens mais aptos para este fim , do que a domestica Nação dos índios Mon golos , não só pelo seu grande valor, e intrepidez, como por se- jrem huns homens acostumados i vida silvestre, e que 9 maior parte do tempo vivem da cassa, e da pesca, Ainda que scjão Agricultores , e amantes da lavoura, pão soffrepdo maior detrimento , em quanto crescem PP primeiro anno as suas lavouras , e deicjão isto mes- mo, mo j conforme o que me disseião , pelas razões , que vou dar.« Primeira , porque ha muito tempo não recebem as ferramentas ,' que costamavão receber por Ordem do Governo. Segunda , porque na grande distancia^j em que morão , não tem , quem represente as suas ne-' cessidades ao Governo para as remediar. Terceira, porque se vêm opprimidos , sem pode-* rem fazer as suas lavouras ,' e as que fazem , serem destruídas pelos animaes domésticos dos habitantes. Quarta y pela oppre^são ^ que soffrem , de queirt os governa , sem que o longe lhes permitta a facilida- de 5 de se poderem queixar. Quinta , porque o terreno da beira do Rio he mais abundante de cassa, e peix€ , e muito fértil ;' d sendo ahi animados de huma prudente administração ^ as ourras Aldêa-s da sua mesma Nação, que ainda nãíí sahírão das matas , se viriao encorporar com elles , as- sim que lhes constasse da stra felicidade , debaixo da éoce administração, e protecção do Estado. Segunda , estes hom,ens conciliados , debaixo ds direcção de hum Director desinteressado , serão outros fantos valorojos soldados , que com facilidade dalli me- lhor. C 190 ) íhor podem ser chamados , conforme as necessidades da beiramar , do que do fundo dos Sertões , onde presen- temente habitão. Terceira ^ ficando a estrada livre da infestação dos Toiacliós , oCommercio será livre aos viandantes, para com segurança trazerem as suas mercadorias , de cuja facilidade resulta a animação de huma lavoura tão im* portante , servindo estes homens , para exportarem nas canoas as grandes sommas de Algodão , que a emula*- ção fará cultivar em todo o vasto terreno do baixo Sertão da Reraca (1), Cencjulsta (2), e Borda da ma- ia , e das margens de muitos rios navegáveis , que vem ter ao dito Rio das Contas*. Quarta ■, o poder-se frequentar a dita Estrada da beira do Kio para a Vilia do Camamú , por ficarem os moradores livres ào receio das inVasóes dos Cotachòs , que se entranharão pelas matas do Sul, logo que sou* berem da residência destes homens na beira do rio , tão valorosos , e destros não só no manejO das íuas armas , como das nossas» Quinta, o grande Commercio At Ipecacuanha ^ que elles podem fazer , tirando-a nas margens do mesmo Rio das Contas , Ribeirão da Aréa , e matas do Gia^ gongi , onde ha com abundância. He experimentado na Agricultura , que a falta de animaes para o seu fabrico faz a sua decadência. Esta (1) Nome próprio do lugar. Q2) Nome próprio , com que ficou pela conquista íJos índios Mongoiós, este lugar. C Í90 terJade ^ cjiie tem sicio provada em miíífos Paizes ^ crni- forme os Abbades Rosier , e Tessler , grandes Escrito- res , e Mestres desta Seiencia , não deixa de ser lasti- ftiosamente eomproX^ada neste Paiz , que sendo , em outro tempo, abundante de farinhas, único commer- cio 5 que fazia para a Capital ^ hoje se vê reduzido á ultima miséria de sorte , que a exportação ^ que pre- sentemente se faz para a Bahia y deste género tão ne- cessário, he, para a que se fazia em outro tempo, co- mo de hum para mil. A razão desta decadenck he bem conhecida. Em quanto havião matas virgens á borda do mar ,. ou de fnuitos rios navegáveis^ que entrãô algumas legoas íer- fa dentro, a lavoura se fazia com facilidade, e com a mesma se conduzião as farinhas ás costas dos escravos ^ e de poucos animaes para os portos de embarque. Ho- je porém que já as terras da borda d'agua estão redu- zidas a Ca{.X)eiras , huma,. e muitas vezes plantadas, e minadas de forni igueiroá', destruidores da mandioca, he o producto da lavoura nas capoeiras , para o producto , que tiravão os Lavradores nas matas virgens , como de einco até dez, para quarenta, cincoenta , secenta ^^ e para cem , O' que se prova pela tradição dos antigos Lavradores , e pelo preço das farinhas desse tempo ^ que nunca excederão a quatro centos e oitenta , sendo o preço usual de duzentos e quarenta , a trezentos e tinte o sacco (i), e o sfu pjfeço actual mil duzentos e (j) Sacco, medida de dons alqueires do Brazil^ qae GorrespoBde a quí^íro alqueires dç Portugal» >í. i ( 192 ) «oitenta j a mil e seis centos , sem esperanças deme- Ihoramento , porq ue sempre 0 preço he na razão inver* sa da abundância do género. Os povos humildes por sua natureza ^ e pela crea- ção mui grosseira ^ sé não animão a procurar melho- ramento j não só pela pequenhez do seu animo j como por lhes faltarem os animaes necessários , para condu- zirem de mais longe as sUas farinhas. A falta de açou- gue he outro obstáculo* Os povos , não tendo huma certa sustentação , não se animão a apartarem-se dos mangues j para lhes não faltar o sustento do Caran- gueijo (i). Nas três legoas , da borda dos rios para dentro, estão as boas terras de lavoura de mandiocas , que pe- la sua grande producção , Se os Lavradores se animas- sem a entrar , tendo abundância de animaes para trans- porte das suas farinhas ^ como se vê na ribeira de Na- zaré ^ farião renascer a abundância deste género tão pre- cioso neste paiz. Outros muitos estabelecimentos de Engenhos de assucar se poderião fazer, de que resulta- rião ao Estado grandes vantagens , se houvesse no Paiz abundância de animxaes , o que não succede pela falta de abertura ou de estrada. A Agricultuia entretém de dous modos o corrr- niereio, tanto interior, como exterior, fazendo propa- gar os géneros de exportação para as manufacturas , e (2) Animal, que vive na lama, que he cobe'ta ds , arvores, a que chamão maníiues , e são banhados d» maré. Gsnero câncer, Espccic câncer hlrsutns. ( "9!) 05 que se consomem na terra , e fervem de sustenta* ^ão. Faz a base fundamental da felicidade dos Povos * e da riqueza do Estado» O Arraial do Caitité , que fica trinta legoas inda acima das Cabeceiras do Rio das Contas , que dista cento e trinta legoas , ou pouco menos , do primeiro porto de embarque, que he naVilla da Cachoeira ^ era, á vinte e cinco annos ^ pobre , deserta , e só manejava o diminuto commercio de gados ; mas de mui pobres fazendas , que então eráo , se vem hoje as mais ricas daquelles Sertões , depois que derão principio á cultura do Algodão, havendo nelle grandes Lavradores, pela facilidade , e segurança de fazerem descer por liuma estrada frequentada os seus géneros. Os Povos de Minas Novas , a exemplo destes j não obstante o serem duas vezes mais remotos do porto de embarque , íizerão o mesmo , a pezar do grande dispêndio na exportação : ora se estes Povos , a pezaf da grande distancia, achão utilidade nesta lavoura, tão recommendada pela nossa Academia das Sciencias de Lisboa sobre o Algodão da Pérsia , em que logo falia* rei, que vantagens não terão os que cultivarem aborda da mata do nosso Sertão , que está tão perto , ainda, havendo a facilidade de se conduzirem as cargas pelo rio abaixo em canoas, até o Ribeirão da Arèa ^ sendo o terreno o m.ais próprio , que se conhece para a dita lavoura. As sementes do Algodão da Pérsia j que me fo- rão entregues com a norma impressa da sua cultura^ m ( 1^4) feu fiz plantar em differentes tempos, e não nascêrãai por já terem o gérmen destruído, e assento que se de- verião mandar vir frescas, mettidas em vasos de vidra tapados , se possível for , hermeticamente , e se pode- rem vir logo em direitura muito melhor será , para não padecerem as sementes alteração na parte oleosa , que contém a polpa, que cobre o gérmen, ou plumula. O Algodão da índia, que cá temos, tem nas se* mentes alguma semelhança com o Algodão da Pérsia , por serem alguma cousa cobertas de hum pello bran- co , porém não tanto , como o da Pérsia ; a sua flor he de hum vermelho côr de fogo , caracter distincto do Algodão de Macassar , o qual ainda conservamos em muito pequena quantidade , por ser mais difficil na colher ; porém bastante , para se poder augmentar a plan- tação : relíquias , que nos ficarão , dos géneros da índia , que em outro tempo aqui forão cultivados , como a Canella , a Pimenta , o Gengibre , e o mesmo Algo- dão, de que remetto o exemplo na pequena caixa das amostras , onde vão seis qualidades de Algodão ; a sa- ber. Algodão de caroço Inteiro , comprido , e preto , que he de muita vantagem na sua cultura , porque he mais fértil em lã , inda que de qualidade mais áspera , como se pôde vêr na amostra, que rem.etto , e só pó- áe servir para as obras mais grossas. Chamão a este Algodão vulgarmente do Maranhão; cuja arvore he de menos duração. A!<'odão de caroço inteira , e preto , porém não tão ( '95) tão comprido > como o do Maranhão /a que chama^ Algodão vulgar ; a sua lã , em tudo , se assemelha á do iVlaranhão , porém tem differença por ser o seu fio mais fraco , que o do Maranhão , porém a sua arvore he de maior duração. Algodão de caroço unido , coberto de hum pelb pardo , a que chamão Algodão de caroço pardo , í^er- til em lã mais macia, e doce, que a do Maranhão, e ■produz hum fio fortíssimo: a sua arvore he de bastan»» te duração. Algodão de caroço unido j coberto de hum pelld verde, a que chamão Algodão de caroço verde, a su,«t 11 he abundante , doce , branda j e forte no fiar : a sua arvore he de huma grande duração* Estas dUas qualidades podem servir para obràS mais delicadas , como caças vulgares» Algodão de caroço inteiro , e preto , de lã parda ^ ~GU côr de ganga ; a sua lã he muito macia, e forte, í .a sua arvore he durável , pôde servir para se fazerem as gangas , e outras obras de fustões , em que entrem listras côr de gangas* Algodão da índia de caroço dividido ^ coberto dô ;lium pello branco bem semelhante aos caroços , ou se- mentes do Algodão da Pérsia, de qtie já fallei : a sua lã he de hum branco fino muito àocQ , que produz hum fio forte , capaz para as obras mais delicadas , co-» mo caças de sopro , etc. Algodão da índia de caroço preto sem ser cobef» -'to 3 e dividido j a sua iã he igual á do precedente com ( íí)0 a difFerença de qne o caroço não tem pello ; a maç5 he maior , e os casulos , ou capuchos mais abundantes de lã ; também tem a differença nas arvores ; porque a do caroço preto he mais crercida , quando a d.) ca- roço coberto he muito rasteira, ainda que a sua dura- ção seja igual, pois , sendo cultivadas em terreno íer^ til , e estrumado , aturão muitos annos. As arvores , que produzem o Algodão de caroço fíirdo^ verde ^ e ^reto ^ vulgar , e de còr de ganga, são persistentes , e aturão muitos annos ; a do ^iara- nhão não chega á aturar dous annos neste Paiz , ainda que não ha exemplo da sua cultura no Sertão, onde o terreno he mais próprio para a dita lavoura , e atu^a hum pé de Algodão entre o mato sem nenhum bene- ficio vinte e cinco annos, c muito mais, porque ain- da existem alguns , que já tem esta idade. '. * Temos outras duas qualidades de Algodão silves- tre , que se encontra em abundância nas Caá tingas , á margem do Rio das Contas , tendo ambas' as mesmas propriedades do Algodão da índia , tanto nas sementes , como nas arvores, só com a diíferença , de que huma destas espécies tem a lã parda, e áspera, por falta de cultura, O Algodão domestico, cultivado nas Caá-tinfas, dá hum producto considerável , o qual se pôde ver na taboa analítica do rendimento do Algodão. A execução destas vistas importantes , não pôde pertencer a outrem, senão ao Rei , porque ellas pedem despezas , que excedem á fortuna dos particulares , e ( I^ ) e necessitão da animação das Ordens , e do poder dc>. Soberano , para transportar casaes de Ilheos , do mesmo modo, que se fez para a Ilha de Santa Catharina , para dar maior avaní^o á cultura dos Algodões , e cultivar- se hum terreno , que pode sustentar muitos milhões de Va^sallos de Sua Magestade , e descobrirem-se im^ irtensos thesouros , que se achão sepultados debaixo das matas, que, por faita de cultura , se não conhecem; e em quanto o Estado não dá sobre este importante ob;ecto as providencias precisas, basta que o Governo í^etermine a residência dos índios Mangoiós na beira da Rio , para que ficando a estrada livre das invasões dos Catachós , se dê principio a huma tão importante lavou- ra, como também, para que possa por ella descer toda. o Salitre , que se fabricar não só nos Montes Altos , como em todo o terreno nitraso do Ribeirão da Gi- boia, que fica a quarenta legoas de beiramar , de mui- to fácil, conducção , fazendo-se primeiro conduzir em carros até o sitio chamado da Passagem , e da hi em canoas até o Ribeirão da Jrèa , como tenho já dito a respeito da exportação do Al-godâo , e , com muita faci- liJade, conduzir-se para o primeiro porto de embarque: no ca^o que seja o Salitre , o que torna as aguas da àu ta Ribeira de hum gosto salgado frio, sendo as terras das suas margens bastante salgadas ; o que unicamente observei , sem que podésse analysallas pela precipita- ção , com que por ahi passei , e não ter vasos suficien- tes para o poder fazer : posto que tinha ? noticia , de que João Gonçalves da Coáta fizera seccâr huma por- ção ■:| ..V !'•'. C 192 ) t^o deste Sal , que dizia ser Salitre , e o tinha trazido a esta Cidade da Bahia no tempo do IJIustrissimo Go- Ternador Manoel da Cunha Menezes , que , lançado na fogo , fazia a detonação , deixando pela sua impureza bastante terra ; porque o seu author não possuia 0$ conhecimentos precisos , para fazer a perfeita deputa- ção , o que só pode decidir o exame filosófico , para então se poder verificar , sem a menor dúvida , inda que me affirmão pessoas de toda a fé , que a tal mas* sa detonava bastante exposta ao fogo ; e não só pôde servir o beneficio da dita estrada para a facilidade da exportação deste género, mas também de todos os ra* mos , de que se segue tão grandes vantagens aa Com* niercio, é por consequência ao Estado. CJortrmatos nimium y sua si bona norlnt ^ Jp^kçhs ! . . , « Virgil. Geors;. Liv. 2. Pei^ ( 199 > Descripçí das differentes espécies de Algodão que temos no Brazil. Jl^oilão do Maranhão de caroço inteiro , e comprida, (i) A sua maçã , ou pericarpio comprida bastante ,, grossa, que contém nas suas válvulas , ou cellulas três capuchos- na frase do Paiz , de huma abundante la, que cobre nove até dez sementes , unidas em hum só corpo , a que chamão caroço inteiro , o qual tem de comprimento pollegada e meia. ^ , A sua arvore, em beiramar da Villa do Camamii ,. só atura dous annos , e não ramifica como as outras, porque da altura de três palmos da terra , onde o tron- CO he grosso bastante , brota muitas vergonteas , sem, que faça maior ramificação. A sua lã não deixa de ser a mais áspera , que cá temos, e pôde servir para muitos usos, •, Jlgodão de caroço pardo ^ e inteiro, X^} • A sua maçã mais grossa , que a precedentes^ po- rem não tão comprida , contém de três até quatro vai-; yulas, que encerrão outros tantos capulhos , oii capu-, chos de huma abundante la, muito clara , e doce , que, co« (i) Género Gossypium de Lin, ^ (2) Gossypium hirsutum. C 200 ) çotre nove sementes unidas em hum caroço , coberto de Hum pello pardo , o seu comprimento he pouco mais de pollegada ; o fio , que produz este Algodão, lie forte, e por isso se pôde fiar bem delicado. A sua arvore he grossa bastante, e de huma gran-' de ramificação, atura muitos annos. e por isso de <^rar> de vantagem. Algodão de caroço verde , e inteiro, (i) A sua maçã, em tudo semelhante á precedente, contém quatro capulhos ; de huma la claríssima , e muito fina, que cobre nove sementes unidas, cobertas de hum pello verde , caracter distinctivo desta espécie ; este Algodão produz hum fio fortissim.o , e por isso muito próprio para as obras mais delicadas. A sua arvore he em tudo semelhante á preceden- te 5 e quasi estas duas espécies são análogas , e só as differença a côr do pello, que cobre os caroços. ■algodão de caroço inteiro de lã parda còr de ganga, (2) A sua maçã he ordinária , e produz três ou quíí- tro capulhos , ou capulhos de huma la parda , que' cobre hum caroço inteiro , e unido , que he composto de sQtQ , e nove sementes. A ( I ) Gossypium. Xilon Americanum praestantissi- mum semine virescente Tournef. (2) Qossypium, Baf badense de Lin. Algodão de Sião, (201) A sua arvore he persistente , e de muita duração, Algodão vulgar. (l) Tem as mesmas propriedades que o Algodão de Maranhão , unicamente com a differença do seu caro- ço ser menor , composto de sete ou nove sementes, e raras vezes de dez. Algodão da índia de caroço dividido , e citherto de hum pello branco, (2) A s-ua maçã he pequena com três , quatro válvu- las , contém outros tantos capulhos de huma lã íinis* sima , muito alva , que cobre sete sementes divididas ^ .que faz o caracter do caroço dividido. A sua arvore he rasteira , e muito durável. Esta semente nos veio da índia, em companhia do Cravo, da Canella , e do Gengibre , e se tem conservado até agora. Também temos outra espécie de Algodão da ín- dia de caroço dividido , e preto de lã muito macia , e aha. A sua arvore he mais alta , que a precedente. Te- mos ainda duas espécies de Algodão naturaes do Paiz , que (1) Gossypium. (2) Gossypium arboreum de Lin, Algodão de Ma*?' casia^« - ( i02 ) qiíe se achão silvestres nas margens do Rio das Con- tas , e bem semelhantes ao Algodão da índia , tanto nas suas sementes, como na sua arvore, tendo huma à:LS duas espécies a lã áspera , e parda. Eu as fiz plantar em beiramar, mas no tempo da fructiíicação , as chuvas deitarão abaixo as novidades, çem ficar huma só maçã. A sua arvore he de grande duração* ibàif^mc. CkU C 20} ) CALCULO ANALYTICO» Hum escravo trabalhando em Algodão da de _ lendimento no Sertão - - o - - - 250^000 Prepara terra para --------- 50© pé« Que dão de lã - - - - - - - - » 62e 16 a Tirada de IJ64 maçãs, que produz câda pé razão d@ 4 de colheita ordinária. lib. por pé Além disto planta o milho , e feijão para o seu sus- tento 5 e para crear porcos gallinhas , etc. O que melhor se conhece na Taboa Synthetica^ ! Annuncio de algumas múcjinnas simpVices com que os Asiáticos carmeão , e tecem seus Algodões^ Est. u 1. Hum banco donde se assenta o carmeader. 2« Huma verga flexível, j. Hum cordão, donde suspende o arco. 4. Gancho de ferro que engata na argola do arco. 5L Hum arco de páo. 6. Huma corda de rabecão bastante grossa. 7. Hum maço pequeno com que bate na corda , e com o dente que tem , pega na dita cor- da , e puxando para si, faz hum estremecimento gran- de, o que faz sacudir , carmeando ,' dividindo tpdo o cujo. 8, Argola de ferro, donde engata o gancho nu*- mero 4. JEst, 2, A maquina de cardar o Algodão também he d© huma extrema simplicidade. Compoem-se de hum pe» daço de páo comprido àQ 6 , a 7 pés. Em ambas as íl ( 204 ) extremidades tem fixado huma corda feita de tripas, que , quando a ferem , são o que fez dar-lhe o nome- de Rabecão (os Sombreireiros tem hum instrumento ss melhante a que chamão arco) . Suspende-se o Violão por huma corda a hum arco applicado ao forro da ca- sa. O trabalhador sustenta com huma mão o Rabecão no meio , e com a outra hum pedaço de páo , que se termina em huma moldura , enteza assas a corda de tripa , que , escapando , bate o Algodão , e o levanta com força , estufa , sacode-lhe o pó , e o pronti-fica para ser fiado. A elasticidade do arco , que sustenta o Ra- becão , facilita-o a seu transporte por todos os lugares do monte do Algodão. Est. 5, O Tecelão de manhã arma , e monta , defronte de sua porta debaixo de huma arvore, o seu tear, que o deixa ao pôr do Sol. Este tear nada mais he que dois rolos de páo postos sobre quatro mourões fincados ha terra. Dois cylindros , que atravessão a cadea , e que sesustentão, em cada huma das suas extremidades, hu- ma por, duas cordas, que se segurão na arvore em que está o tear, ou maquina; outra por outras duas cordas mais seguras nos pés do Tecelão , dão a este a facilidade de apartar os fios da cadeia , para lhe passar a trama. A segunda , e terceira estampa são copiadas do primeiro tomo da Obra Voj/age aux Indes OrientaUs et « la Cliine por M. Sonnerat , e aqui postas a favor das pessoas miseráveis, que por hum meio tão simples podem cobrir a sua desnudes. M E. Ij ?i tmuA ti JCdtr.4^, iro TrujHir>f| -r i £:jí^.%. CALCULO SYNTHETICO D 0 RENDLMENTO DO ALGODÃO DO CAROÇO PARDO, VERDE, E DO MARANHÃO. Producção do Algodão em Waçâ Capul. Gr. Oit Lib. Arrob. Pés de Algod, Preço. Huma maçã contém i até 4 B Hum capuJho dá de lã 9p.m. S Oito ditos dão , I & 1024 capulho dão 1 1 1024 capulhos reduzidos a maçãs dão 341 1 Cada pé do colheita ordinária dá li 64] ! 1 a I J64 maçãs dâo de lã 4 i 1 § Cada trabalhador prepara terra para 500 1 1 500 pés dão de Algodão - 62^-1 g óz ariob. e -^ vendido pel 0 preço corrente da Praça de 6:40c 625 6400 250000 57)0 400000(0 400 00© 1 63 arrob, e -i- no Sertão ve li ridida a 4:000 rend§ 625 4000 25 0 000 "i 1 li 25000,0(0 ÍS^^ ^gi^ ^^SSS^ '^^ g^^SS w^^ ^g^^a ms^^ SsSSSsii' r C 20$ ? MEMORIA IX. SOERE A CULTURA DOS ALGODOEIROS. Por Manoel dArruda Camará. I N T R o è U C Ç X o. X^, Eílexões geraes sobre agricultura do Brazil , e seu commercio, pouco podem mfluir noaugmento real dos géneros , que fazem a nossa riqueza : são obras de ga- binete , em que só podem seus Authores pôr na presen- ^a do Ministério erros introduzidos no systema do com- iTiercio : isto he muito, quando ha felicidade de pro- duzir bom effeito a verdade, que, as mais das vezes, encontra grandes obstáculos. A experiência he a única linguagem , que o povo entende : na verdade , quem disser que nas circumstan- cias presentes, podemqs ter grande vantagem nos pre- ços dos nossos géneros , ainda a pezar do risco , póds desenvolver o gérmen da ambição no fundo dos cora- ções , e iníluir-lhes nova coragem para melhor soffrerem os fatigantes trabalhos da agricultura, os soes ardentes, -^5 chuvas , os ventos desabridos , etc. ; pois a que não obriga a malvada sede de ouro i Porém, nem por isso apren- I C io6 ) aprenderão a trabalhar por mais facil methodo , n^a abreviarão as suas operações , e caminharão finab^nente pelo trilho antigo dos mesmos prejuizos , em que vi- verão seus maiores. Pelo contrario , todos estes obstáculos se aplai- narão pelo trabalho daquelle , ^ue no mesmo lu|ar, onde produz o género , que quer instruir , fizer repe- tidas experiências a respeito das influencias do clima mais vantajosas , das diversas qualidades , e mistura de terras mais próprias , dos meios mais fáceis de plantar , colher : beneficiar a colheita , diminuindo a mão de obra, e augmentando por consequência o lucro. ^Estas vantagens são tão intere.ssantes^ , que tem obrigado a homens de hum merecimento assignalado-a viverem nos campos , a fim de observarem de mais perto a natureza, e escreverem com acerto as instrucçóes aos seus semelhantes : os mais pequenos objectos de agricultura na Europa tiverão em todo o tempo, ainda ■o mais remoto , génios raros, grandes homens , que escreverão , e trabalharão por ensinar aos seus Colonos os mais preferíveis, e proveitosos methodos de sua cul- ■ tura. Desde que tempo se nao escreve das Oliveiras , das Uvas , do Trigo ? E ainda de plantas menos inte- ressantes ? A Columela , e Plinio se tem seguido in- •numeraveis outros , qúe escreverão sobre estes objectos ; « ainda assim mesmo , á proporção que se augmentão -os conhecimentos da Fysica, e Chymica , a cujo lado anda sempre a Agricultura, achão os modernos , que '^adiccionar, abolir, e mudar. ^ "' '-^ Daí- "Daqui se pode inferir quão infinito será o numerd de imperfeiçòes , e de erros introduzidos na cultura doS géneros do Brazil , e mais Domínios , sendo todos no- vos a respeito dos da Europa , e não tendo tido , co- mo os desta , homens sábios , que tratassem do seu melhoramento. A cultura da cana, por exemplo, e a preparação do assucar , sendo huma das operações, que exigem os mais profundos conhecimentos da Fysica , e da Chymica , tanto para o acerto das mais justas pro- porções na construcção das fornalhas , de que depende grande diminuição da mão de obra , como na mesma Manipulação do assucar , se acha inteiramente abando- nada á homens néscios , e estúpidos , em cujas mios põem o Senhor de engenho a sua fortuna ; delias sahe o dado, que o faz perder, ou ganhar ; o sucesso for- tuito de huma hora, para assim dizer , decide do tra- balho de hum anno inteiro ; vai malograr os suores, que regarão seus campos, e quebrar as forças de tantos braços , que tudo soffrêrão na esperança de hum doc^ lucro. O mesmo Senhor de engenho corta , e coodus a lenha para o lugar do sacrifício , onde ha de ver quei- mar a sua safra. Todas as vezes , que tenho a desgraça de presenciar esta catástrofe , parece-me vêr hum filho dissipador , e pródigo consumir em poucas horas a ri^ queza , que o pai do laborioso tirou da terra com à força do seu braço. Estas reflexões me fizerão , desde que torfiei a<^ Brazil , arder no desejo de empregar-me na fabricação do assucar, a vêr, se por meio de repetidas experiení- cias j ( 20S ) cias , poderia achar regras , quando não exactas todas , ao menos approxiinadas , que servissem de guia , « constituíssem arte , o que até aqui tem sido rota ce- ga ; mas até ao presente , não me tem sido possível conseguir a inteira execução deste projecto , e o maior obstáculo , que tenho encontrado , he não ter tido ain- da a opportunidade de possuir hum engenho , onde sem prejuízo de outro , podesse fazer as minhas expe- riências em grande. O acaso porém me tem posto nas circumstancias de fazer experiências , observações, e algumas desco- bertas úteis em outra cultura , não menos interessante ao commercio , tanto de Portugal , como de Paraná» buc ; pois que nestes últimos dez annos tem feito en- trar para esta Capitania a quantia, que se pôde vêr no IVlappa I , e II , que ajunto aqui. Esta cultura , de que fallo , he a do Algodão : nella me tenho empregado nas margens do Rio Paraíba com sufficiente fabrica , pelo que tenho tido tempo, c vagar, para fazer muitas experiências, e observações ; não me tendo poupado em nada a fim do melhoramen- to tanto da cultura como do beneficio , que deve re- ceber antes de correr no commercio : para isto tenho construído differentes maquinas , e , a que mais útil me parece , a de ensaccar , pela qual cheguei a poupar a mão de obra cuasi na razão de vinte : Primeiro. Este meu methodo tem sido geralmente applaudido , por- que, além da economia , reúne outras circumstancias úteis , que no seu lugar referirei ; e tenho tido o coiv so- i Çá09 3 ^òfô , qíie o povo, em cuja opinião sempi-e pèslõ rháiè os prejiiizos , dè que mesmo a conveniência de novai invençfles, se decidisse a adoptalla. A minha tenção, ao principio > foi de dar simplesmente huma Memofia á Academia Real das Sciencias , descrevendo a dita maquina ; mas como tenhão eqrrido tempos, e nelles tivesse eu occasiôes de fazer muitas observações a fa- vor da cultura do Algodão, decidi-me a ajuntalk aqui rsa ordem 3 que me pareceo mais conveniente, persua- dido que poderião sei* de muita utilidade 3 para os qu6 tratão deste objecto. O bem cdmmum he 6 edifício , para -cuja con^ strucção todos os particulares tem obrigação de trazei rem os materiaes ^ conforme os seus talentos : a minha gloria será se esta porção ^ que tenho a honra de ap- presentar ao público , poder- contribuir para o fim^ que me proponho : o meu desejo he este i úh m@ sir*» Va de apologiai .f.M jKt Ô CÁ^ ( 210) Capitulo t Va antiguidade do uso do Algodão j e da vantagem j íjtie tem resultado a Portugal ^ e a Paranambuc a sua cultura^ H E hUmâ espécie de mania , qtae allucina os Escri- tores menos filósofos , o quererem attribuir á Scienci» ,• Ou á Arte de que tratão, huma antiguidade, que date cúasi com a do primeiro homem. Se he certo , como devemos crer , qite Adão teve sciencia infusa , pouco menos idosas são quasi todas as Artes que elle ; mas o pouco progresso i que ellas tem Eido mostrão , que as Suas orio"ens não remontãõ tão altc : Adão seria muito Sábio , mas seus filhos tem sido moito néscios ; porque ou nada aprenderão daquelle primeiro pai , ou se apreíi- dérão j depressa se deixarão esquecer , tanto assim , que para descobrirmos as origens de algumas Artes , he ne- cessário desandarmos os longos caminhos , que tem co^ tido os séculos, e procurarmos apafpando pela obscuri- dade dos tempos alguns mal distinctos vestigios, dan- do aos seus primeiros inventores honras , e loutóres quasi Divinos : as Sciencias são como estes grandes rios, que conduzem sobeibameuCe immensa quantidade de aeua 5 navegue quem quizer poreíles acima, buscando a sua origem , chegará a ficar em secco , sem saber verdadeiramente donde nascem $ pois abrindo-se pouca a pouco em pequenos , e insignifícanteá regato:? , vem estes a acabar ein humidádes tão diminutas, que nera cobrem a arêa, sbbre que correm. A necessidade , e 6 acaso são as diias principaes mais , ou fontes donde nascem âs Sciencias , e as Ar- tes : as necessidades crescem ^ e se miiltiplicão á pro- porção , que civilisáo os póvos ; os homens j que vi- vem rusticamente j perto, para ãssiiíi dizer, de hum* vida selvagem , as suas necessidades não se extendem ia muito : assim as mais antigas Artes , e Sííiéncias de- vem ser aquelias , que iníeressassein a existência , e o commodo tal qual podião ter os primeiros homens , vi- vendo frugalmente, formando quando muito pequenos àrraiaes, de costumes simples como elles mesmos, sa- bidos á pouco das ínaos da natureza. Pelo qiie , a Agricultura dos alimentos , a Medi- ítina , a Cirurgia , que interessava© immèdiatamente a kua saud'è , e a sua existência , deverião occupar o pri-^ íneiro lugar na ordem dos tempos ; a invenção dé te- feer panhos , creio que deve ser muito posterior , não àô a estas ^ mas ainda a outras Artes de primeira ne- fcessidade ; porque os primeiros descendentes de Adão habitando hum paiz, e clima benigno, as injurias do tempo não erão assas fortes para os obrigar com tanta presteza a inventar vestiduras ; e quantos séculos não jíassariâo elles contentes , e satisfeitos com os saiotes da mesma fabrica , e feitio daquelíe , qUe Adão pos- iuio: assim só oluxo teria parte nesta invenção, que depois passou a necessidade* O z Se* Seja como for , hum discurso bem simples nòs pode persuadir, que o Algodão foi a primeira substan* cia do Reino vegetal , de que os homens se servirião para fabricar õs seus primeiíos pannos ; porque a natu- reza já a produz apta para se poder fiar j como todo o nuindo sabe, o que nao acontece a respeito do linho, e da seda , as quaes exigem loíigas , e peniveis prepa-" rações antes de se porem no estado de se fiar , o que só huma longa serie de tempos , experiências j e ca* sualidadfes poderião ensinar. Bem se vê 5 que este discurso não prova de facto, e só faz ver huma probabilidade , pela qual podia ser o Algodão empregado primeiro , que toda outra qual* quer substancia nas vestiduras. Eu tenho procurado pe* la obscuridade dos séculos passados , a ver se acho a época , em que principiou o uso do Algodão , e o mais , a que tenho chegado , be descobrir ^ que muito antes de Moyses se elle vestia , e que já naqueile tem.po se fabricavão tão primorosos pannos de Algodão , brilhan* do tanto a Arte , que os Príncipes faziáo deiles mimo precioso: para prova disto basta deitarmos hum golpe de vista para a Historia , que o mesmo Moyses nos conta de José ; ahi vemos , que os presentes , que Fa- raó lhe fez 5 quando interpretou os seus sonhos myste* riosos , entiegando-lhe as rédeas áo governo do Egy- pto , e fazendo-o subir na sua carruagem , foi hum ;ínnel de pedras preciosas, e huma túnica, ou vestida de pannO' de Algodão. Para finalmente formarmos hum juizo si respeito- d« ( 215 ) de quanto he antij^o o uso do Algodão ^ basta reflectia inos , que os mais antigos povos traíicavão com eFle , desde muito antes de Pitágoras os Fenícios, e os Gre- gos , não só - hiáo beber as Sciencias , e as Artes á sua fonte , quero dizer na índia ; mas também híao \i comprar fazendas de Algodão j para as virem depois revender pelo resto do mundo então sabido. Naquellè tempo a Arte já tinha tocado hum gráo superior de períeição nessas remotas paragens; masque- séculos dc- veriáo correr antes que lá chegasse , com.o acontece a outras muitas Artes que nos parecem mais fáceis? A nossa mestra, a necessidade, já acordou a In- glaterra 5, e as mais Naçóes civilizadas da Europa , e dentro destes três últimos séculos lhes tem ensinado a rivalizar com a índia na Arte de tecer pannos de Al- godão , e tem cortado em parte aqu^lle rio de dinhei-. ro , que corria continuadamente para o Oriente. Portu- gal mesmo ainda atordoado do veneno da ignorância, que lhe communicou Hespanha no tempo da nossa in- feliz sujeição a esse Reino , tem erigido fabricas , qué trabalhão á competência , e que se vio aperfeiçoando cada vez mais. Depois dos sólidos estabelecimentos da Europa neste género , de diversas partes ào mundo concorre- rão Algodões a fornecerem ás suas fabricas a matéria prima , da Ásia forão Esmirna , Chypre , Alexandria » Acre , Surrate , Sião ; da America as que fornecião Al- godões, erão Surinam, Martinica, Cayenna, Guadalu- pe 3 Cartagena : M-^ranhlo antigameneç não deitava . I Al- (214) AIgódSo algum p^ra Europa , e ró o cultívav, pnr^ gasto do paiz , que era tão pobre , que o fio que seus habitantes fíavao do Algodão , era a moeda Provincial , servindo-se delia para comprar q que precisaváo , de sorte que até nos açougues a carne erg comprada a troco de novellos de fiq ; até que o IlUistrissimo Se^ phor General Telles animou os Agricultores , obrigan- do a Companhia a fiar de muitos escravatura , ferra- mentas, etc. ; e desde entã© principiou Maraphao a en- riquecer, e augmentar. Paranãbuc nesse tempo ainda não pensava , que este género seria, capaz de vivificar o seu porto, e pro- çurar-lhe huma su^istencia igual á do assucar , que então o disvelava. Na Paraíba fqi onde primeito sonha- rão em mandar Algodão para Portugal ; mas o estimu- ]o da ambição não picava muito os ânimos amorteci- dos , e encolhidos debaixo da pobreza a cultivarem nq com a energia de que erão capazes : a noticia do gran- de lucro, que podia dar o Algodão , a quem o culti- vasse , foi penetrando pouco a pouco os matos , e despertando os Agricultores. Nos annos de 1777 até 17^» animárão-se os povos de huma nova força, então he que se virão os interiores dos Gçrtões mais habita- dos , e cultivados, e tem-se de tal modo fomentado a cultura, e o negocio do Algodão, que admira: e pa- ra se ter huma idca a esse respeito , vou pôr á vista huma taboa Synoptica , nãq só do Algodão que de Pa- ranãbuc tem sahido desde 1786 até 1796 , mas ainda áps mais generqs , por onde he fácil calcular o pro- vei- ( 21S ) weko, que delle tem resultado ao Agricultor, aos Ne- gociantes, que com t\h tiaficão, e á Nossa Soberana. Ainda que a primeira porção de Algodão , que de Paranãbuc se mandou para Portugal, foi em 1778, com tudo o niuriero das arrobas desde então até 1781 foi muito dimiiuito , e desse anno por diante he que se foi au^gmentapdo mais consideravelmente este ge^ nero. Daqui se vê , quanto he importante a cultura do Algodão em Paranãbuc , pois o grande lucro que pron, iTiette, impelle a todos ao trabalho, tirandoros da oc-« f iosidade , dá valor ás terras que dantes o não tinhão , com summo proveito do proprietário , anima o Nego* çiante ao mais vivo trafico , fazendo mais importante o nosso porto , e mais frequentado o de Lisboa pelos pstrangeiros , que dão todo o çonsummo ; os donos de J^avios tem avultado lucro nos seus fretes ; pois que tem chegado a mil e duzentos por cada arroba 5 Sua Magestíjdp mesmo percebe direitos , que não são da desprezar-se. Até aqui tenho fallado do u?o que tem este gé- nero no Commercio para as fabricas de pannos ; agora tocarei de passagem n'Qutros usos que se podem esten-. 4er muito, tanto na economia, como no uso medici- nal. As sementes do Algodoeiro s|o compostas de hu- ma fécula de m.ucilagem , e de hum óleo , como te- nho verificado muitas vezes por via de analyse : a áà-. ^e de azeite a que tenlya extrahida dos caroços do Al- toâio, tem differido muito, de sorte, cue huma ex. penencia nunca condiz inteiramente com outra ; porói;i lenho verificado, que se aproxima mais á razão 'de oito a hum , ou hum oitavo. A, qualidade deste óleo he excellente para luzes, porqqe d^ huma luz muito clara, e não he tão sujeito a fumar , e a fazer murrao ; mas as experiências que tenho feito, he tendo o trabalho de descascar os caro- ços hum por hum, e picando unicamente a.amendca, o que he impraticável em grapde ; e a maior difficul- tiade , que me parece ter para execução do trabalho sm grande, he seiem as cascas, ou peJles destes caro- ços dasticas , pelo que aptes se amassão debaixo do estJJo, ou mão de pilão, do que quebrão ; para adquiV rirem a fragilidade sufficieníe , he necessário levarem huni sol extraordinário, o que faz esta prática difficil , e quasi superílua em hum paiz , como o nosso, onda temos grãos, ou pevides muito mais convenientes do qUQ esta, para a fabricação do azeite. A casca do at busto, que nos da o Algodão, he fíJaiDentosa, e contém linho , bem como todas as plan^ tas malvaceas , a cuja familia natural pertence ; pelo quç , bem podia servir ao menos para cordas , para es- topa , etc. ; porém tanibçm no nosso paiz nlo temos necessidade , e nem devemos applicar esta casca a es- tes usos por duas razoes : primeira, porcue extrahida ? casca deste arbusto, elle morre, e não nos dá o lu. cro, para que principalmente o cultivamos: secunda, porqife o linhp que d^ , afto he tão forte, como o dp ca- C 217 ) ^anih'^ -) caragiiatã , caraguatá gufíssri , ou piteira , atí' ifira branca , einhlra vermelha , jangada , mororô de es^ pinha j barvis^uda , macalha , araíicims , caranaiihas , tU" cítns , carroplxo , guaxwnas , etc. , das quaes pJantas a maior parte não foj ainda descripta por Eotanico al- gum ; e que deveriao inerecer ao Ministério huma in- dagação a respeito das suas tenacidades , e mais quali- dades próprias para cordoaria , e eu não vejo trabalho feito neste género , que ncs pontoa debaixo dcs olhos huma taboa Synoptica , que pela comparação nos pos^ samiOs desenganar de termos o gosto , e a convenien-r cia de usarmos na nossa marinha , dos linhos , que o nosso paiz nos offerece naturalmente com tanta abun- dância j de preferencia ao canamo : eu ao miCnos n^s duas dissertações, que leio na collecção da Academia, não vejo nenhuma que tenha preenchido dignam^ente , e como deve ser , este objecto ; huma que trata da guaKuma , nem ao menos nos diz de que género he esta planta , nem nos dá meios systematicos de a co- nhecer : a segunda omittio as principaes plantas, que julgo se aproximao mais. á satisfação do nosso interes- se. Eu não tenho até agora podido occupar-me inteira- mente deste objecto; por|,]ue as occupaçôes, tendentes á piinha subsistência, medivertião destas indagações, aind^ que próprias do meu génio ; mas agora que te- nho a honra de ser empregado no Serviço de Sua Ma- jestade , na indagação dos productos da Historia Na^ tural do meu paiz , não deirarei de lançar mão deste Artigo com. brevidade ; pois o acho de muita impor^ tai> C ^18 ) tancia , e o tratarei , conforme permittirem as minhai poucas forças. Hum quarto uso do Algodoeiro , que ha no nos- so paiz, principalmente nas partes remotas, he o me- dicina!. A necessidade tem ensinado aos nossos rusti- fos a virtude vulneraria , que possuem o calis , e as folhas desta planta , elles pizão qualquer destas partes , e espremem o sueco sobre as suas feridas , e obtém iium prompto effeito deste medicaipento : eu não sá tenho visto esta prática, mas tenho me visto na preci- são de usar delle em muitas occasiões , e em feridas muito consideráveis , e estou tão persuadido desta vir- tude do Algodoeiro , que , ainda na concorrência de outros vulnerários , prefiro sempre este. Eu attribuo esta virtude a hum bálsamo , que contém tanto as capsulas , como o calis , è a., folhas cm pequenos folí- culos espalhados ria superfície destas partes , o que lhe d-í a vista de pequenos pontos denegridos ; bem como o óleo essencial da laranja , e do limão , que he iguaN mente contido em pequenos folículos na superfície d;^ casca. Eu tenho obtido algumas porções desta substan- cia , raspando , e espremendo com a lamina de huma faca a superfície da capsula. O cheiro, e a propriedade de se dissolver no espirito de vinho me dizem , que se pôde arranjar no numero das resinas cheirosas , ou bal^amps. CA. ( 219 ) CAPITULO ir. J)a Descrlpçãç do Algodoeiro^ íJ Epois de ter ,e?cnpto a historia da antiguidade do algodoeiro, do seu uso, e da importância da sua cul* tura , segue-se para a boa ordem a Descripção Syste- |Tiatic;i do seu género , das suas espécies , e das sua$ yariíídades. DESCRIPqXo. CLASSE - ORDEM - GÉNERO - - MONADELPHIA. - PpLYANDRIA. T ALGODOEIRO. CAL. ' Periancio , duplicado : o exterior he maior , de huma folha , partido em tre$ partes , e estas laciniadas. O interior he de huma fa- lha , mais pequeno ^ de feitio de hum cppQ, COR. Cinco petalos , quP pouco se abrem. EST. Filamentos , muitos , curtos , nascidos da Cp» rol la com antheras em forma dç rins. PIST. Ovado, acuminado. PERIC. Qvado , acuminado , com três regos , ou cua- tro, que notão o numero das válvulas , ou alojamentos ; o calis interior rodeia a base do fruto. SEM, Moitas çnvqlvidas em Já. ES- ( 220 )' ESPÉCIES. I. Xíerva. Algod. as folhas de cinco iobos , o tronco herbáceo. II. IDe Bçrbadas, Algod. as folhas de três lobos , nn pagina inferior , com três glându- las. III. Arvare, Algod. as folhas espalmadas com os Jobos lanceolados o tronco fruti;? coso. IV. Felpudo, Algod. as folhas 5-5 lobadas , agu- das j o tronco muito rannosc. VARIEDADES. Estas são as quatro espécies distinctas, e conheci- das ; mas ha muitas variedades , que tem provindo , se- gundo creio , ào clima , da differença do terreno , e da cultura, I. Ke o AJ^odaelro btavo , que os Francezes cha- mão Çútoiíhr marro/i : Xih.i sj/Ivesira ; elle cresce da mesma altura do domestico , cu do manso; as suas fo- lhas são trilobadas , as flores são inteiramente , como as do Algodoeiro manso , com a differença somente de serem pequenas ; o fruto também he mais pequeno ; a lã curta , e áspera ; as sementes pequenas , e muito adherentes. Ih Al'^odjelro bravo , com folhas de cinco lobos, as C àií ) ài sementes mui desunidas ^ e separadas húmás das outras. III. Algodão macaco , qire os Francezes chamão ver- dadeiro Algodoeiro de Sião Cotonur de Sian Jranc. Xi- !on sativum filo croeeo : os galhos são prostrados , a Já he de còr de ganga, e ainda mais fechada, macia, e fina , estimada para certas obras j pela sua côr natu- ral. IVi Ha outra variedade de Algodoeiro bravo ^ com o fructo maior, com a lã da mesma eôr de ganga : tan- to esta 5 como a variedade , chamada de piacaco y não. pôde servir para chitas , nem outras obras , que levem tinta ; porque esta côr parda he tão adherente , que re- siste á operação do embranquecimento , e nem aceita outra eôr artificial , sem se lhe tirar aquella naturaL V. Algodoeiro da lnd'tn ; este he o nome , que nes- te paiz à^o ao Algodoeiro , que vou descrever agora > elle tem a mesma forma do Algodoeiro manso arbóreo^ com as folhas somente hum tanto pilosas ,. mais ma-» eias ao tocar a planta , os fryctos y e íiores mais pe- quenos; as sementes pouco adherentes j a lã- muito £•- fia 5 muito macia y e he preferido ao outro para s©- fiar , o fio he irlais fino , mais delicado, serve no paÍ2, só para fiar linhas, deste nãocuitivão para o Gommeí-' €Í0 j e somente para gasto do paiz. VI. - Algodão de Maranhão , assim o cliamão aqui ; mas talvez que em Maranhão o não h;ajaai^)%, sua arvor íe he algum tanto maior do que o Algodoeiro ordina- íio 'y as folhas maiores , mais bem nutridas y o capucha ( 222 ) íHáiÒr diias vezes que o outro, as sementes são até è numero dezesete em cada capucho , ao mesmo tempo que as do Algodoeiro ordinário sao só sete , á lã hé mais fèndosa , de sorte qííe três arrobas deste Algodão ^ cm caroço , rendem huma de la ; sendo necessárias quatro arrobas do ordinário, para dar huma de la : o anno passado de 1796 hé que se principiou a cultivar este Algodão, e ainda ha muito pouco. VII. O que os Naturalistas Francezes chamáo Co^ íéiiiér hlanc de Sião , differe muito pouco , do que nós chamamos Algodão da índia , a única differença con- siste nas sementes ; porque tito. as tem desunidas, e aqtíellé as tem muito adherentes. Outras variedades podia contar ; mas as suas díf- ferenças são tão ténues , que quasi não merecem dis- tinccão : a côr das flores ,- ámárellas , brancas , etc. não deve caracterizar variedades , nem espécies em vegetaí algum , mormente no Algodoeiro , pois que as deste são amarelláS no primeiro dia que abrem ^ no segundo iTiudão a côr para vermelho , é vai fechando cada ve? mais a côr, até eahif; H A B I 'í A Ç A O. O paiz próprio do Algodoeiro he debaixo dos Tro-? picos , ou nas partes mais vizinlias. A Ásia foi , onde primeiro saí fez uso desta planta : tanto lá, como na America cresce esta planta naturalmente sem a minima cultura : logo ella he natural destes dois paizes. ínii- i C ^2} ) inúteis Serão sempre os projectos , de aígiífts Èú- lopeos,' de naturalizarem esta pfãnta no seu paiz : Rõ- èier suppoem ser possivel cultivár-se vántájosamenteí esta planta na Provença, eLanguedoc; mas quanto se engana elle , e outros da mesma opinião ! Lá só vi cultivai nos jardins o Algodoeiro herbáceo , e apenas fructiíicaVa , vinha o inverno , e o destruía totalmén^ te , e ás vezeá nem chegava a áazõnãr o seu fructo ; è nem jú mais elle poderá servir ahi, senão para satisfa- zer a curiosidade dos Botafircos. À natureza concedeo a cada paÍ2: , ou a cada clima setis privilégios exclusivos , 6 que sempre gosaráô , à peiar d« todo o' esforÇõ de Arte. Os que pensão , q&e esta planta se pode natura- lizar ém Europa , bem se podião desenganar , se lessem â Memoria de Mr. Quatremere , lida na Academia das Sciencias dè Paris , &€Íla faz ver o seu Aúthtír , que pela differença dos climas degenera pouco a pouco ^ passando âo estado de arvore eJevada ao de herva ras- teira , e de fFuctifera a infructifera. Eile diz, e na ver- dade se verifica, que esta degeneração tem lugar, tan- to na Ásia , como na America , caminhando do meio dia ao Septentrião. No antigo mundo degenera , á pio* poreSo que se caminha de Sião para Surrate , Agra , Alexandria, Acre , Chypre ,, Esmirna, Tessalonica. No íiovo mundo observa-sc a mesma differença , cami- nhando de Maranhão, Cayen na, Surinão, Cartagena, Martinica, Guadalupe,' São Domingos, CaroHna, etc. Em quanto a mim , at« ptj?so afíirmar , que o de Ma- Maranhão já de^Qn^ C 224 ) nãbiici ijsnera muito a respeito do de Parai CAPITULO IIL Ba terra mais própria ^ ou mnis conveniente para cultura dos Algodoeiros^ Altao as chuvas, murchão as plantas, e não me- drão; principia.se a desbotar o tapete verde, que cobre a nudez da terra : chove , reverdece tudo, vigora-se n vegetação , crescem as plantas. Nas margens dos rios sempre estão verdes , e alegres, dão-se muitas , que Vegetão excellentemente só com agua , como são aS bulbosasi chegando a brotar fructos, ooue claramente tem mostrado as bellas experiências , que fízerão muitos Sábios Físicos : os mesmas nos tem mostrado , cue a terra nada contribue por si ao nutrimento dos vese- taes , isto he, que a terra nada dava dô siia própria substancia ; e de tal modo tem produzido as suas prOr yas, fundadas nas experiências, que não deixão lugar dg dúvida. . Poder.se-ha pot ventura , partindo destes princi- pios, affimar, que havendo agua, toda a teira he pro- pria, e apta, iguahnente para. a vegetação de- qualquer planta que seja? Não poderemos certamente tirar esta consequência , sem hirmos contra a observação quoti;. diana ; .porque vemos, ^ue Cai, terra nutre, e cria ex* eek C 2^5 ) cellentemente huma planta, e que mata, e enfraquece outra ; o velame, v. g. Broierea purgas as mangabei- ras 5 e outras , não podem vegetar bem na terra de vargem, própria para cannas de assucar Saccharum offi- ci/Júram. Ha plantas habitadoras das praias , ou maríti- mas , como a flor de crystal Sahola Kall , a escarao- nea , Convolvulus Scamonea , o pancracio , Pancratium marltimum. Outras são próprias da agua doce , como a herva cavalinha , Ecjulsetum , os golfões , Nj/mphaea aí' ha , e luteti , etc. outras de terras areentas , como as piteiras , Jgnve Americana , os coqueiros Coc€us nitclfe- ra , e em geral as plantas carnosas ; outras de terras argilosas, como as canoas de assucar , Saccharum offi- ciliar um '^ outras de terras cakareas , como, alfavaca de cobra , Parietaria , e em geral as plantas nitrosas , que contém nitro, outras finalmente, das terras marnosas. A razão deste phenomeno só pôde conhecer o Giymico , que indagai as propriedades dos coípos , por meio de anaiyses, e syntheses, He certo, que as úni- cas substancias 5 que entráo no nutrim.ento da planta, são a agua , e o ar ; mas he necessário quem distribua estes nutrimentos aos vegetaes ; para esse íim destinou a Natureza a mesma terra , pelo que ella serve , náo só de alicetce para a planta se ter em pé , m.as tam- bém de dispenseira , permitta-se-me esta expressão : he evidente que , sendo de differentes naturezas as terras , ou , servindo-nos da mesma metaphora , sendo de dif- ferentes naturezas as dispenseiras, humas serão mais li- beraes que outras j na distribuição do mantimento , ou J, V. P, I, P ^^^ ( 226 ) nutrimento dos vegetaes ; na verdade , hunia indaga- ção , hum tanto mais profunda sobre as propriedades das terras , nos pôde fazer ver esta verdade : a terra areenta tem a propriedade de deixar passar pelos seus poros toda a agua , que lhe cahe em cima com a maior facilidade ; a argilosa pelo contrario a retêm tenasmen- te em si , e não admitte , senão pouco a pouco ; logo nas terras, areentas só vegetaráó bem todas aquellas plan- tas , que não tiverem necessidade de muita agua para viverem ; na argilosa porém só poderáõ viver , e nu- trir-se bem , as que necessitarem de muita agua para vegetarem, e he evidente, que aquelles vegetaes , que viverem bem nas terras areentas, morrão nas argilosas , ou ao menos minorem de vigor , e vice versa. Por este modo tão simples obriga a Natureza os vegetaes a habitarem em diversos lugares , sem pode- rem mudar as suas habitações próprias, e consignadas , debaixo de pena de morte em si , ou na sua descen- dência. Não se is-então desta lei geral os Algodoeiros , que , çm razão de vegetal , devem ter a sua habitação destinada pela Natureza , esta he a que me proponho assignar, fundando na experiência. Lendo as Obras dos Naturalistas , que fallão no Algodoeiro , vejo que se enganarão a respeito do terreno mais apto para a me- lhor producção deste género de plantas tão importan- te ; e, meditando profundamente na causa disto, não pos<;o deixar de suppôr , que escreverão por noticias de viajantes, e homens, que não tratarão ex professo desta cultura. To- Ç 227 ) Todos 5 que tenho lido , dizem , que o Algodoei- ro produz melhor nos terrenos arenosos , e áridos , e que não durão mais de três annos , ao mesmo tempo, que nem a terra arenosa convém ao Algodoeiro , e nem a sua verdadeira idade deve limitar-se só a três annos. Se na Ilha de São Dom iníTos e outras paragens , sitas na mesma latitude , o Algodoeiro não chega a idade mais avançada , ou he por ser plantado em terreno impróprio , tal como o arenoso , ou porque a incle- mência do clima lhe encurta a vida. Nesta Província de Paranãbuc , onde cultivo este género , ha veia de terra , em que o Algodoeiro vive dez, doze annos, e mais, fructiíicando sempre com o maior proveito do Agricultor : eu os tenho desta ida- de , pouco mais , ou menos. Não conheço paiz algum , onde o Algodão chegue a estes annos : logo a quali- dade deste terreno deve ser considerada como a mais própria para esta cultura. Tenho observado , que as partes que melhor produzem o Algodão , ccnstão de huma mistura de barro, (argila) e terra arenosa, quasi em proporções iguaes , e caso de haver considerável excesso em algum destes dois componentes, antes seja a favor da argila, do que da terra arenosa, a qual sem esta mistura nunca convém á vegetação do Algodoei- ro : Alguns Agricultores escolhem a terra de barro (argila) vermelho ; mas esta còr não deve servir de signal certo para julgar da sua bondade ; pois que a còr vermelha he devida a hum pouco de oxido verme-> P 2 IhQ ( 228 ) lho de ferro , o essencial he que predomine o barro, ou argila , seja esta colorada , ou não. Distinguem-se três qualidades de terreno, em que se costuma plantar Algodoeiros ; primeiro , vargem , segundo, catinga , terceiro, areisco. Chamáo vargem ás planices que bordão os rios , e ribeiros ; logra tam- bém o nome de vargem huma planice sem lombo al- gum , ainda que não seja retalhada do rio ; mas as pri- meiras são com razão preferidas a estas pela sua melhor producção. Catinga , em todo o rigor do termo , enten- de-se por hum terreno cheio, ou cuberto de huma es- pécie de cássia , não descrita ainda por Lineo , a que eu tenho dado o nome de mescata ; mas luto modo tam- bém se chama catinga hum terreno cuberto de outro qualquer arbusto baixo , como he o marmeleiro , vela- me , Broterea velame^ e tem se gelieralisado tanto este nome , que até chamão hoje catinga em algumas par- tes tudo o que não he vargem, inda que seja cuberto de mata virgem : as catingas desta natureza são prefe- r veis a todas as outras para a cultivação do Algodão, e pouco inferiores ás vargens ; mas a catinga de mar- meleiro, e as outras só servem , aos que não tem ou- tra qualidade de terreno , em que plantem ; porque os Algodoeiros , plantados ahi , não costumão produzir mais de três annos , e ainda assim não pagão digna- mente os disvélos do Agricultor. Areisco , como o nome o está indicando , chamão aquelle terreno quasi inteiramente arenoso , ou seja cuberto de mato , ou calvo ; este dos três he o peior. Em C 229 ) Em tudo he preferida a vargem ; porque além de outras bondades , conserva a. frescura por muito tem- po , ainda depois de acabadas as chuvas , qualidade, que não tem os outros terrenos ; porque os altos , ain- da que ?ejão de barro , dessecão logo , por serem mais açoutados dos ventos , e porque as aguas depressa se escôão : os areiscos , porque , sendo de terra arenosa , deixa filtrar-se a agua a travéz dos seus poros , sem o jninimo embaraço , e recebe com a maior facilidade o calor dos raios do Sol. Com tudo he util aos que cultivão com fabrica grande , plantarem nos altos , e nas vargens , porque os Algodoeiros plantados no alto chegão ao ponto de sua maturação primeiro do que os das vargens , cujo fructo he sempre mais tardio , em razáo da frescura do mesmo terreno , e por isso tem o Agricultor tempo de o colher , em quanto este se põem no estado de madureza. 1' ii I CA- C 230 ) CAPITULO IV. J)o Clima 5 ou temperatura do ar , ijiais conveniente â •vegetação do Algodoeiro, A S regras , que ate aqui tenho dado a respeito das qualidades do terreno , de nada aproveitarião , senão ajuntássemos também algumas reflexões sobre o clima, 3sto he , sobre a temperie da atmosfera mais convenien- te á cultura da nossa planta ; pois o^uq ^ plantando-se Algodoeiros nas qualidades de terras , que no capitulo antecedente indiquei por melhores , sendo o clima , ou temperie do ar desconveniente , não podem dar lucro avultado. Neste paiz não se distinguem, como na Europa, as quatro Estações constantes , apenas se marcão duas , verão , e inverno : chamão verão áquelle tempo , em que não chove , e inverno , áquelle , em que as chu- vas são mui abundantes , ainda que não haja frio al- gum : mas , além disto , eu distingo dois climas bem differentes , por causa da construccão fysica da superfí- cie do terreno. Onde a superfície do terreno he cheia de multiplicadas serras, quer seja beira mar, ou não, ahi as chuvas são mais abundantes , principião mais cedo, acabão mais tarde, o ar he quente, e hiímido, vem-se alagadiços , paiies , rios perennes , fontes abun- dam tiss imas , e isto^ pelas razões fysicas^ que os fysi- ■ ' .> cos cos explicão : desta natureza he toda a borda do mar, principiando do Rio Giande , do Norte para o Sul, Paraiba , Goiana , Recife , Alagoas , Eahia , etc. Em toda esta extenção , com largura de dez , dezaseis , e vinte léguas , observa-se constantemente este clima chuvoso , e húmido ; do m.esmo modo , do Ciará para o Norte , e ainda no interior dos Certoes , onde o cor- dão da serra, cham.ada Bruburema, multiplica, e en- capella os seus innumerav eis cabeços , como , o Yhl páòa , Carirí-Novo , e todo Piauyg ; porque a tal serra da Bruburema , que considero , como espinhaço da ter- ra de toda a Capitania de Paranãbuc , forma hum cor- dão de muitos centos de léguas , sem interrupção al- guma : este clima , que até aqui tenho descripto , cha- mão agreste. Onde não ha esta multiplicidade de serras , e os campos são mais espaçosos , as chuvas não são tan- tas , a temperie do ar he secca , e quente , chamão mimoso. Este he o clima , o mais conveniente para a plantação do Algodoeiro , ahi cresce bem , produz abundantemente, com tanto, que se escolha a terra, que inculquei por melhor no capitulo antecedente , ahi finalmente dura o Algodoeiro dez, doze, quatorze , e mais annos , havendo cuidado de o cultivar , e tratar y como adiante indicarei. Não acontece assim no clima quente , e húmido , que acima descrevi, a que chamão agreste ; ahi os Al- godoeiros adquidem huma constituição pletórica , cres- cem bem frondosos , as folhas mui grandes^, de hum ver- fií^' i C ^30 verde escuro , enchendo o Agricultor pouco esperto de esperanças vãs ; porque não corresponde o fructo ao trabalho da cultura ; por mais cuidado , e disvellos, com que se tratem , já mais chegão a tocar aquella idade, dos que se plantão em mimoso. CAPITULO V. Va melhor maneira de plantar os Algodoeiros. Epois de bem limpo o terreno , que se intenta encher de Algodoeiros , operação , que se faz neste paiz, desde Setembro até fins de Novembro, segue-se plantallos : desta primeira operação já depende a futu- ra felicidade do Agricultor ; pois que a distancia, em que fica o Algodoeiro hum do outro , influa sobre maneira na vegetação. Não precisa ter grandes instrucçoes da fysica dos vegetaes , para vir no conhecimento desta verdade ; basta não fechar os olhos aos fenómenos, que a natu- reza nos mostra a cada passo. Se cahem sobre a terra muitas sementes de qualquer vegetal , amontoadas , ou apinhoadas 5 e chegão a nascer, crescem sempre fana- das ; porque o terreno , que apenas seria sufficiente pa- ra nutrir huma só planta , se emprega em fazer vege- tar muitas ao mesmo tempo, além de que, o ar , que também serve por si, e pela agua, e humidade , que eomsigo traz em dissolução , não pôde circular livre- mente entre ellas,. C ^n ) Se a natureza não- tivesse prevenido esta desor^ dem , brevemente se teria acabado a continuação da prodiicção dos entes vegetativos ; ainda d]go mais : que não duraria mais de três vidas , logo depois da sua creação pelo Ente Supremo ; porque chegando os fru- ctos ao ponto de sua matura(;ão , e cahindo as semen- tes amontoadas ao pé da arvore , que as produzio , nascerião sim ; mas como não são dotadas de livre i-novimento , para poderem , bem como os animaes , hirem ao longe procurar o seu nutrimento , depressa iTiorrerião ; porque de huma parte o pouco nutrimen- to , que o pequeno espaço de terra submipistrasse a tantos , da outra parte a sombra da mesma mãi , e delles mesmos , deverião forçosamente apressar-lhes a morte: para obviar pois este inconveniente, que meios não buscaria a sabia natureza? Aninhou as sementes de huns em polpa doce , e saborosa , para que os animaes , obrigados pela fome , e alliciados pela gula , as tirassem do lugar do seu nascimento , e comendo por diversas partes a polpa , espalhasse ao mesmo tempo , ou se- measse a sua semente ; a outras dotou de membranas laíeraes , como as do til ( TiUa Lin. ) para com ellas poderem voar ; a outras deo felpas curtas Qpapus^^ para com ellas voarem , a outras finalmente armou de farpas (^Bidens ^ , etc. , para que , pegando-se aos ani« rnaes , que passassem , fossem depois cahir por diver- sas partes, - ' Pois se a natureza tem procurado todos esses meios para semear, e plantar em convenientes distan- cias 1» ( 254 ) cias as plantas ; porque razão havemos desprezar os dí- ctamesj que ella mesma nos está dando ? Quanto se engana o Agricultor preguiçoso , que , querendo apro- veitar melhor o seu suor , planta maior numero de vegetaes , ou de Algodoeiros no terreno , que alimpa , pensaado j que quanto mais plantar, mais colherá! He verdade , que em quanto as plantas são pequenas, tem vigor, vegetão livremente , lisongeando a espe- rança do Agricultor ; mas apenas começão a ficar mais frondosas , e espalhar seus ramos mais ao longe , to- mando maior campo, huma á outra, mutuamente se offendem , o seu tronco , faltando-lhe as circumstancias sobreditas, fica delgado, sem substancia, e o seu fru- cto por consequência deve ser pouco , conespondendo á mãi , que o produz , com«o também , deve ser de má iqual idade. Além destes damnos palpáveis, ainda a quem não experimentou , causa a plantação de Algo- doeiros muito juntos, outro muito maior damno, que he o de se não poder colher esse mesmo máo fructo ; porque enlaçando-se os ramos dos Algodoeiros , huns com os outros , obriga a pessoa , que o colhe , a andar curvado por baixo , cuja posição extraordinária , além de fatigar , faz com que não sejão vistas as capsulas, (^ maçãs') que se achão sobre o seu teçume , o que causa huma grande perda. Eu já vi abandonarem Al- godoaes , carregados de fructos , não se atrevendo a continuarem a colheita , por ter sido plantado muito junto, Se 2 |)elo contrario , he plantado demasiadamente lar* C2?5 ) largo hum do outro , perde-se boa parte do terreno, c]ue se preparou , o que também he perda considerável para o Agricultor ; para evitar pois estes dois inconve- nientes , he necessário , que elle attenda á qualidade da terra , que cultiva ; porque , vegetando os Algo- doeiros melhor em humas , do que em outras , deve por consequência variar a distancia , em que se planta. Eu tenho verificado , que nas vargens do lugar , cm que cultivo os meus Algodoeiros y a distancia mais proporcionada 5 ^he de quatorze pés hnm do' outro, nas Catingas de mata oito , nos areiscos , e nos lugares do agreste de seis pés, ou huma toeza, e que, além dis- to 5 2i melhor ordem, , em que se pôde plantar , he em quincunce ; pois que , além de formosear o Algodoal , o feitor com pouco trabalho põem debaixo da vista os escravos , que colhem , e que mondão : a mesma mon- da fica mais fácil , sem fallar ainda em outras utilida- des menores , que disto resultão. Não posso deixar de fallar em hum abuso muito prejudicial, que se tem introduzido entre alguns Agri- cultores de Algodões , e he o seguinte : alguns Agri- cultores , conhecendo , que o plantar os Algodoeiros muito distantes , era prejudicial ; porque se perdia o trabalho da preparação de huma boa parte ào terreno , e que ao mesmo tempo havia igual , ou maior prejuizQ em plantallos muito juntos , pensarão , que remediaváo esses dois inconvenientes, e que ao mesmo tempo re- dundava em grande proveito seu , plantando os Algo- doeiros no piimeiro anno muito :juntos , para no se- Ç 230 gundo anno arrancarem huma fileira intermédia de Af- godoeiros, tendo-lhes primeiramente colhido o fructo, para assim ficar mais campo aos que restao : eti tam' bem estive persuadido da vantagem deste methodo ; porem repetidas experiências me tem ftita notar, que o seu crescimento sempre he acanhado, maiormente, devendo-se-lhe piantar pelos Jntervallos legumes , com 3 ícijôes, miJho, até mesmo mandioca; o que tudo de^ ve plantar o Agricultor de Algodão , para fartura de sua casa , e nem estas plantações lhe damnifícao o seu Algodoal ; porque em pouco tempo se colhem , e ficao os Algodoeiros desafogados ; mas isto deve entender- se , sendo os Algodoeiros plantados na proporcionada distancia, que acima referi. O único instrumento agronómico , que deve ser- vir na plantação dos Algodoeiros , he a enchada , e quatro pessoas , armadas deste instrumento , bastão pa- ra plantar o maior campo de Algodão ; eu tenho sim- plesmente com este numero em poucos dias plantado o campo , que prepararão cincoenta trabalhadores em hum. mez; e nem deve consentir maior numero, quera não quizer introduzir ahi a confusão , e a desordern* I)eve-se principiar por lhe fincar estacas distantes , hu- mas defronte das outras , naquella direcção , em que se quizer as ruas dos Algodoeiros : de huma estaca a outra se estenda huma corda bastantemente- comprida , e hajão tantas, quantas são as enxadas; depois de es- tarem as cordas assim estendidas, devem principiar os das enxadas a abrirem as suas covas , que nao devem ser ( ^57 ) ser mais profundas , do que quatro polkgadas, hindo caminhando todos na direcção das cordas , cada hum guiando-se pela sua , que escolheo ; logo sobre os seus passos devem seguir outros tantos plantadores, ou se- meadores , com huma vasilha , ou escodela na mão , cheia de semente de Algodoeiro , e á proporção que os das enxadas forem abrindo as covas , estes devem ir deitando dentro os caroços, e cobrindo de terra com o pé, só quanta baste para cobrir sufíicientem.ente ; quan- do os das enxadas tiverem chegado ao fim das suas cordas , que os guiavão , devem parar , e largando nesse lugar os seus instrumentos , devera voltar para trás, para arrancar cada hum a estaca, onde principiá- lão, e levalla com a ponta -da corda , que nella esta^ va amarrada, para diante , na mesma direcção , em que vierão , e depois de porem as cordas na ordem , e modo, em que estavão , tornarão aos seus instrumen- tos , e continuarão sempre o seu trabalho , com este mesmo methodo : quem mete nos buracos a semen- te, commummente são negras, por isso he que man- do sempre , aos que andão com as enxadas , mudar as estacas ; porque estes são negros, por isso mais ligei* ros , que aquellas , qualidade , que se requer para estd serviço não padecer demasiada demora. Muitos recusao plantar o seu Alí^odoal por corda , do modo , que te- nho dito, por não empregarem huns minutos de mais na mudança das estacas : m.as eu tenho calculado que esta demora , no espaço do trabalho de oito dias , vem a redundar em hum dia de mais. Ha Agricultores , que por (2J8 ) por isso recusão este methodo de plantar , mas estes sao do numero daquelles , que por evitarem hum pe- queno incommodo presente, se privão de tantos bens fnturos, funestos efteitos da preguiça, maior causa d. pobreza, e do descomniodo da vida. _ Muitas pessoas. costumáo piantar os seus roca-ios. amda antes de cliover alguns dias ; quando a dn,va nao tarda mais de quinze dias, he bom, porque nasce a semente quasi no mesmo dia , e va"» as plantas crés- cendo ,g„aes , o que não acontece, quando se planta •com chuva, ou estando já a terra molhada ; o Al^o- doe,ro commummente gasta de seis, oito, ate dez d"ias em nascer. Quando se planta em roçados novos, oti de mata virgem , e estes tem sido bem queimados nao tem de ordinário necessidade da primeira monda- porque , quando muúo , nasce huma espécie de Con. vohulus, chamada vulgarmente G^urana , a qual de- ^'e se arrancar á mão ; porque a enxada n.uitas vezes «ao faz, senão cortar rente da terra, o que não im- pede, que da raiz nasça nova vergontea , que, esten- dendo depois por cima dos novos Algodoeiros , lhes da tao apertados garrotes , que chegão- a quebrar o. jalhos , dctando muitas vezes o mesmo tronco sobre a terra , e quando não ha este estrago, he para fazer ainda outro damno maior, que he cobrilios com a si« folhagem , e privallos das benignas influencias da luz e da atmosfera , vindo finalmente a morrer abafados desta herva inimiga ; pelo que deve o Agricultor p6r o maior cuidado, em extirpar esta ruim casta dos seus ro- C 240 ) CAPITULO VI. . Das operações , ^iie se devem Jax,er iios Algodoeiros , para produzirem melhor qualidade , e maior a- bundancla de Alí^odão. Tres operações se devem praticar nos Algodoeiros , para os obrigar a produzir mais , e melhor fiucto ; a primeira , he chamada capação ; a segunda , cha- mo poda ; a terceira , decoiação. Da primeira operação , a (juc chamão capação. \J^ Uando o Algodoeiro novo chega á altura de dois pés j ou dois pés e meio , cortão o olho , ou summidade das vergontas , principalmente as perpendi- culares 5 para que os suecos nutriticios , ou seiba , re- trocedão , e facão produzir galhos lateraes , a esta ope- ração chamão capar ; mas o Agricultor não se deve contentar , já mais com capar huma só vez os Algo- doeiros ; porque então os ramos , que lanção , se eíe- vão demasiadamente, pelo que, he de utilidade sum- iria j repetir esta mesma operação , duas ^ ou tres ve- zes antes de ílorecerem : o tempo , que deve mediar entre huma , e outra capação , he de dois mczes , cujo tempo he sufficiente , para que os galhos novamente produzidos , cheguem a huma altura proporcionada , e adquirão huma consistência solida. ( 245 ) .Que utilidade se pode haver desta operação? Etf -descubro três , muito essenciaes ; a primeira , lie de fi- carem os Algodoeiros (quando se pratica esta opera- ?ção a com todo o cuidado , que merece ) copados , e baixos , o que formosea muito hum Algodoal , for- mando hum golpe de vista , tanto mais agradável, im o Agricultor, sem o maior incommodo , ou trabalho, colhe os fructos des- tes, sem lesão dos seus galhos. Bastão estas três utili- dades , para decidirem os Agricultores a capar os seus Algodoeiros , da maneira indicada. Muitos , ou para raelhot dizer , a maior parte , es» T. V. P. h <2 tão C 242 ) tão persuadidos das reaes utilidades desta operação ; mas a não executão como devem , pois para economi- zarem dois, ou três dias de trabalho, ordenão aos es- cravos, quando mondão, que os capem ; estes, ou por descuido , ou porque finalmente os interesses de seu senhor , pouco , ou nenhum cuidado lhes dão, deixão a maior parte por capar , e ás vezes deixão to- do ; e quando os senhores pensão , que. de huma só vez reunirão dois proveitos , isto he , que os seus Al- godoeiros estão capados , e mondados , achão-se enga- nados com a sua mal entendida economia: pelo que, deve o Agricultor , depois da primeira monda , desti» nar alguns dias para capar o seu Algodoal ; cada es- cravo deve-se encarregar de huma fileira de Algodoei- ros, acabada aquella , principiar outra, para evitar coa- fusões ; o anno passado , só com trinta eccravos fiz ca- par em quatro dias hum Algodoal , avaliado em mil arrobas de Algodão , da primeira colheita. Quasi todos os Agricultores desta ribeira da Paraí- ba não capão , senão huma só vez os Algodoeiros , e executão esta operação , só quando tocão i altura de cinco pés 5 como indica o Padre Nicolsson , e como se usa nas Ilhas Francezas ; mas a experiência me tem feito ver, que a capação nesta altura he muito preju- dicial ; porque os ramos lateraes , em dois mezes , que faltão para fructificarem^, não adquirem grossura suffi- ciente , para poderem com a carga , por cuja razáo , huma grande parte se quebra , fatigada debaixo do peso do seu fruto : este mal , com tudo , he menor , do que C 24} ) que aquelle , que resulta do diminuto numero de ca- paçôes ; pois , como já provei mais acima , quanto mais se caparem , mais fructos produzirão ; tenho ve- rificado , que bastão três capaçóes. Ha porém Agricultores, tão estúpidos, que refu- são capar os seus Algodoeiros , com o pretexto , de que capados , quebrão-se os galhos com o fructo. Não vem estes miseráveis , que ainda , quebrando se alguns galhos , ( caso sempre negado , sendo elles capados a dois pés de altura) não perdem o fructo dos galhos quebrados ; pois que basta o córtex , ou casca da parte inferior do galho, por onde sempre fica pegado, para amadurecer o fructo , e que no anno vindouro , em Jugar daquelle , nascem outros mais vigorosos : este fe- nómeno acontece todos os dias , debaixo dos seus olhos ; mas nada lhes deixa ver o prejuizo , em que estáo. Da segunda operação , a (jue eu chamo poda. Fe constante , que aquelles ramos , que nutrirão os escapos , e os fructos , depois que estes se colhem , ou morrem , ou fícão , como esgotados , e não tem Substancia ; para lançarem novos ran ios , loso qu; principião as primeiras chuvas ; eu os tenho visto ain- da no meio do anno amortecidos , e apenas principia- rem então a verdejar , e a reviver , lançando vergon- tas languidas , de huma vegetação debil : ora , sendj estas , as que hão de produzir fructos na safra vindou- ra , he indubitável , que os devem brotar pequenos , ( 244) e pecos : para evitar pois este inconveniente , e ou- tros mais , he necessário decepar toda aquella parte dos galhos principaes , que nutrirão fructos , a esta opera- ção chamo poda ; ella deve-se praticar nas primeiras aguas , que he , quando principia a nova vegetaj-ão do Algodoeiro. Esta operação faz , que aquella ceva , ou succò nutriticio, que se havia de empregar na reviíica- ção da porção esgotada , e débil , que produzio o anno passado, volte a nutrir novos galhos, muito mais vi- gorosos, e que , por consequência , devem dar melhor, e mais abundante fructo. Ainda a poda tem utilidade maior , que he , a de evitar a morte dos galhos prin- cipaes do Algodoeiro ; porque , se senão faz esta op©. ração , tendo os galhos ficado com pouca substancia, pela nutrição (deixe-me dizer assim) do primeiro par- to, muito mais enfraquecidos , e languidos ficarão no segundo , e ainda muito mais no terceiro , e no quar- to , ate morrerem de todo. Estando persuadido das uti- lidades das três operações , de que trato neste Capitu- lo , com tudo penso , que nenhuma he tão útil , como a pada ; e temos a infelicidade , de que esta operação não seja usada , senão por hum muito diminuto nu- mero de Agricultores, persuadidos por mim; mas, ot que huma vez experimentarão , ficão inteiramente per- suadidas da utilidade desta operação. O tempo próprio da poda he nas primeiras chuvas ; porque he , quando o Algodoeiro está em seiba , ou quando metem de «o» voy como se explicão commummente. Vê (245 ) T)a terceira operaçtío , a (jue chamão decotação. Mas quando os Algodoeiros produ7em quatro an- nos seguidos , os seus ramos se achão inteiramente de- bilitados , e esfalfados , por terem nutrido os fructps , que brotarão todo esse tempo ; pelo que , huns secção inteiramente , outros estão , como emperrados , sem darem mais , do que algumas folhas , e os que chegão a brotar fructos , são pequenos , e mal nutridos ; por- que os suecos , que sobem da raiz , e passao pelos va- sos da planta , não são elaborados , como devem ser , por causa da falta do principio vital , que se acha quasi extincto. Para obviar pois este mal, a experiência, e a ra- zão tem mostrado , que cortai los pelo tronco , he o melhor remédio para o remediar , e a esta opera- ção chamão decotação. Mas , como se podem decotar , ou rentes , ou por cima , daqui nascem naturalmente duas questões , a saber : qual he melhor, decotar os Algodoeiros , ao nivel da terra , ou decotallos de mo- do , que fique huma porção de tronco , ex. gr. de dois palmos , pouco mais , ou menos ? He huma quês- tão esta, que costuraão os Agricultores agitar entre si, e para cuja decisão me tem elles algumas vezes consti- tuído juiz , e eu tenho sempre decidido a favor dosi que os decotão , deixando huma boa porção do tron- co ; porque então as vergonteas , que sahem desta por- ção do tronco, são lateraes^ de modo, que fica o Al- go- Ç 246 ) ™ w> j^odoeíro copado , sem precisar de outra operação , e produzem tanto Algodão , como no terceiro anno de sua idade : não acontece assim , se se decotão ao nivel da terra , ou rente ; porque sahem tantas vergontas da raiz 5 que se faz preciso ao Agricultor cortar muitas, se não quer , que fiquem todas fanadas , como acon- tece , quando se plantão muitos caroços em hum bu- raco ; além disto , he necessário reiterar-se as capaçóes , como se se tivessem plantado de novo , alias cresce- rião muito altos , e virião a dar os n-rôsmos incommo- dos, que apontei no principio deste Capitulo, difficul- tando extremosamente a colheita. A experiência me ensinou a discorrer assim nesta questão . por cuja de- cisão fiz .algumas experiências , e vi , que os Algodoei- ros, que se decotavão rentes com a terra , produzião menos fructo , que os decotados , deixando huma por- ção de tronco , e além disto , que se quebrão com muita facilidade , e para entrar na razão disto , basta reflectir , que as vergonteas , vindas da raiz , trazem mais força , e são muito mais viçosas , o que he causa de produzir menos fructos ; esta he huma regra geral , tanto a respeito do vegetal , como do animal , em que também vemos este fenómeno. Do que tenho exposto se colhe , que o fim desta operação , he fazer remoçar os Algodoeiros , que por Velhos 5 e debilitados , já não podem fructificar , privi^ Jegio 5 que poucos vegetaes tem , e que redunda em snero proveito para o Agricultor. CA^ ( 247 ) CAPITULO VIT. t>as meíestlas a que sãd sujeitos os Algodoeiros» H E tão palpável a analogia, que ha entre os ani* mães , e os vegetaes , que até nas enfermidades , que petseguem a hum , íe outro, aparece : as moléstias,' que tenho observado nos Algodoeiros, são sete, a sa- ber: primeira, dehlllilocle '^ segunda, pletora; terceira, aborto , ou movlio ; quarta , resfriamento ; quinta , ean» cro ; sexta , golpe de Sol ; sétima , destruição pelos in- sectos j e pelos pássaros. Da debilidade , ou marasmo. Chamo debilidade , ou jnarasmo, no Algodoeiro ," quando este vegetal dá pouca folha , e pouco fructo , e as forqas vitaes estão quasi extinctas ; esta enfermi- dade pode provir de duas causas , ou por ser o terre- no , em que está plantado , demasiadâanente magro ; o que faz , com que a planta receba pouca nutrição ; ou porque tenha nutrido muito fructo o anno antece- dente ; ficando os galhos quasi esgotados de forças vi- taes , o que o vai conduzindo pouco a pouco á morte | quando se seguem dois , ou três annos invernosos , em que os Algodoeiros não chegão a sazonar o seu fru- cto , e são obrigados a renovar muitas vezes a sua ve* C ^4S ) getação , ficío de tal modo debilitados , que não po- dem nutrir o seu fructo perfeitamente ; e ainda que carreguem muito , perdese quasi tudo ; a capsula prin- cipia a vermelh?r , e seccar , ficando o caroço dentro mirrado-, e a lã podre, e amarellada : o único reme- dio contra esta enfermidade , quando he produzida peia ultima causa, he podar a arvore todos os annos, como fica dito no capitulo antecedente ; quando porém he effeito da primeira causa, julgo o mal sem cura, sal- vo se quizerem estrumar a terra , onde está plantado , ou misturalla com terra argilosa , ao menos antes de os plantar, que he hum trabalho, não praticado neste paiz., por ter terras de sobra a escolher. Pa Pletora, Chamo pletórico áquelle Algodoeiro , que toma hiima vegetação demasiadamente vigorosa , com folhas . grandes de cor verde escura : esta moléstia faz , com que produza menos , promettendo a esperança tanto ; procede isto muitas vezes da demasiada frescura do ter- reno , e da muita humidade do ar. Ester mal remedea^ se bem, capando-o mais vezes; por meio desta opera- ção, obriga-se a demasiada seiba a retroceder, fazendo :rebentár muitos galhos lateraes, pelos quaes se reparte. Vk . C 249 ) Dõ Aborto , oii movito. Digo, que o Algodoeiro aborta, ou move, quan* do , depois de estar carregado de flores , e fructos , ca- bem repentinamente , ficando totalmente destituido deí- les , accidente o mais funesto para o Agricultor , por lhe roubar, á vista dos olhos, as doces esperanças do seu lucro. Esta enfermidade procede de duas causas ; a pri- meira, e mais commum he da demasiada chuva, quan- do esta sobrevem , estando o Algodoeiro já carregado de fructos , o que acontece com mais facilidade , quan- do a terra se acha secca : então infalivelmente cahem todas as capsulas (vulgarmente maçãs). Este accidente temivel não tem lugar , sendo^ as chuvas diminutas: as chuvas de Outubro, neste paiz , são as que costumão causar maior prejuízo ; porque commummente apanhao aterra bastantemente secca , só he a nosso favor , o serem as sobreditas chuvas ra- ras nesse tempo. Com tudo , se succede suspenderem- se as aguas , por espaço de três mezes , ainda os Algo- doeiros adquirerrí nova carga de fructos ; mas nunca tão abundante como a primeira. A segunda causa , he a invasão de duas espécies de percevejo piimex , que no seu lugar descreverei ; mas no nosso paiz nunca che- ga a haver estes animaes em tanta quantidade , que faça total destruição , como acontece em Cayenna , S. Domingos, etc. Quando qualquer destes males nos per- seguem 3 só devemos esperar o socorro do Ceo. ' -«;:;■•■•■ Vê l';i' Ç 250 ) Vo Resfriamento, III tíií. I :; Quando o Algodoeiro, por causa da agua e tagria- da, amarellece, definha, sécca, ou morre , diz.se,^que está resfriado-, isto acontece; primeiro, em planícies, sem declívio algum, para se escoarem as aguas, a que chamáo alagados ; segundo, guando o salão se estende perto da superfície da terra ; porque este impede , que a agua se embeba para o centro : no primeiro caso ha hum remédio , que he fazer levadas peio meio do cam- po alagado. Pelo que convém , antes de fazer o roça- do, ver o terreno em tempo de inverno para saber se nelle ha , ou nao alagados ; pois que em tempo de ve- ráo todo o terreno está enxuto , como também se de- ve cavar a terra em diversas partes , para vér se o sa- lão fica, ou não perto. Do Cancro. Costumo chamar cancro nos vegetaes a huma fe* rida no lenho , e no córtex , por onde corrre hum hu- mor corrosivo , que impede sarar : esta enfermidade , quando procede do vicio da ceva das plantas , he incu» ravel , bem como nos homens, quando também o vi- CIO canceroso existe na massa dos humores, em cujo caso não sarão os cancros , ainda a pezar de se fazer a operação da extirpação por máos hábeis. Não he pois assim , quando o vicio cancroso existe só na parte af^ fecta* fectada , ou na chaga ; que altera somente os humores daquellas vizinhanças , apodrecendo simplesmente as extremidades dos vasos ; por que neste caso com instru- mento cortante, tirando-se aquellas partes já tocadas do mal , cicatrisa a ferida , como tenho experimentado ; pelo que também se pode dividir o cancro das plantas em dois, geral, e particular, aquelle incurável, e es- te curavel , bem como nos homens. Esta moléstia he rara no Algodoeiro ; mas vê-se algumas vezes , e pa- receo-me que não devia ommittir. Do golpe do Scl (^Sideratio) . Quando depois de grandes chuvas sobrevem hum Sol repentino , as capsulas cahem , principião a ficar avermelhadas , e não se nutrem , mirra-se o carogo , e juntamente a lã ; muitos Algodoeiros mesmo padecera certas moléstias : os nossos rústicos chamão quebranto , ou olhado : a muitas plantas accommette esta enfermi- dade sem causa apparente , como aos craveiros , e ás arvores dos pomares , donde vem dizerem os abusa- dos , que alguns máos olhos lhe botarão olhado , ou quebranto ; e estão persuadidos que os cornos são pre- servativos contra este mal ; por cuja razão arvorão hum chavelho , ou mesmo caveiras de gado no meio das suas plantações; este prejuizo já vem dos antigos Ro- manos , os quaes persuadidos do mesmo , levantavão em páos caveiras de huma egoa , ou burra , que tives- se parido. Eu digo que , como ignoramos por ora a . i cau" II ■'í C^50 causa desta enfermidade, lhe não podemos assígnar re* médio algum. Vas Moléstias causadas pelo attaque dos Insectos y e passares. t-^r D/? Broca, Hum dos maiores disgostos , que concebem es no». SOS Agricultores de Algodão, he quando o seu AJgo- doa] he attacado pelos muitos insectos , que aqui ba perseguidores desta planta. Chamao Broca a larva de hum insecto , antes que passe a estado de perfeição, a que os Naturalistas chamao Imago revelata , se nutre do lenho do Algodoeiro, roendo só em hum lugar, o enfraquece de tal modo , que ao menor aceno dos ven- tos cahe , perdendo todo o fructo , que promettia : em alguns annos ha grande abundância deste insecto , e fazem huma destruição , e damno grande nas plantas do Algodão : eu ainda não tive occasião de observar este animalsinho , por que tem sido raro nestes annos , depois que tornei da Europa , ainda que tenha feito di- ligencia, para vello, a fim de o descrever, e desenhar neste opúsculo : creio que as demasiadas chuvas destes ires annos não tem sido profícuas á sua creacão. O simptoma por onde se conhece, que o Algodoeiro esta attacado deste pernicioso animal , são huns nós , quo apparecem-ao longo do tronco deste arbusto, que pa- ce- (253) r«cem articulações , no interior deste lugar he que iiísecto tem roído lodo o lenho. \iJ. Va ha^arta. Ha humas U^artas , pr^Dprias do Algodoeiro, as quaes se sustentão das suas folhas, e tão vorazes sno, e em tão grande quantidade em alguns annos , que em poucos dias acabão de comer hum Algodoal inteiro , roendo até mesmo as vergonteas mais tenras , de modo que parecem os Algodoeiros crestados pelo fogo : estes iíisectos fazem a sua metamorfose inteira dentro de vin- te dias , pouco mais ou menos , isto he , até á sua ultima metamorfose , a que os Naturalistas chamão ima- eo revdata. Esta praga he muito prejudicial ás plantas de Algodão novas , ou plantadas ha poucos dias ; por- que as róe até quasi á superfice da terra , por achar o Uonco ainda tenro : aos Alg.odoeiros adultos não deixa de ser também funesta, maiormente quando tem car- regado de novo, porque mallogra o seu fructo, e cus- ta depois a tomar segunda carga ; porém algumas ve- zes 5 quando depois de terem comido alguns dias nos galhos , lhes sobrevem huma grossa chuva , que as der- ruba , e mata , os Algodoeiros lanção novos galhos ia- teraes, que produzem admirável quantidade defructos, e vem a fazer as vezes de huma poda , ou capação. A perseguição das lagartas não costuma a vir , senão no tempo das primeiras chuvas , a que chamão aqui com- |liurament& primeiras a^aas j por es.ta razão lhes cha- mão w ■ „ *' \ i uir. 'M,*it i1""i' C 2J4 ) mão em Cayenna , e S^o Domingos papllllon prlnta» nier : acontece crear-se grande abundância delias se depois das primeiras chuvas , se seguir sol continuado , ou chuvas miúdas, e poucas ; porém se as chuvas con- tinuão grossas, e bastantes, morrem as qae já huvião , e impedem novas creações- : ha três annos' , que nin- guém as vê por causa dos continuados invernos. Do Gafanhoto. Todas as espécies áo género Gafanhoto (^Grllías Lin. Sj/síem. Nat.') sem exceptuar ainda o mais peque- no , são funestas aos Algodoeiros ; porém a que mais damno faz , he a espécie maior , a que chamão aqui Gafanhoto grande , e he tão voraz , que róe até o mes- mo páo, ou lenho; no anno de 1794, que foi o pri- meiro , depois da grande secca , que consternou Para- nãbuc , foi tão grande a quantidade destes animaes , que devastarão todos os Algodoeiros em poucos dias, como fúrias mandadas do averno para ílagello dos Agri- cultores ; voavão em nuvens de huma pr?rte á outra , fazendo hum estrondo no voar igual ao que fazem duas ou três sejes rodando em calçada : Lineo quando falia da destruição, que faz este insecto explica-se como se pôde ver na nota ( i ) . Grir- (l) Haec species illa Ipsa est , (juae ex AEg^t/pta ^ Terra Saneia , Síria , et reli quis orienta libies regionihus instar nubliim in Europam , praesertim Polonlam mlgrant íjulbusdam annis , omnemíjiie spem Agrlcolae uno alíerú dle , vel hera aiifcrunt ; adeo haec species cum Africa communls est Americae, QLin, Amaenit. Acad. tom. i. (255) CritJiis crhtatus , divisão (^locusta') Lin. System» Nat. tit. IV. pag. 2074, thorace crlstato y carlna qiia- àrifidúy úlls úpice fitscls. O individuo, que teniio na minha collecqão de insectos , tem de comprimento cin- co pollegadas da cabeça á extremidade das azas , e quasi quatro á extremidade do corpo , ved. a F/^. i, Estamp, 1. , que pintei pelo mesmo original, que tenho ; a .cabeça he obtusa , inflexa , o lábio superior chanfrado j dois tentaculos de cada parte , dos quaes os anteriores tem cinco articulos. O arcabouço he comprimido , cora liuma quilha por cima com quatro faxas , ou divisões. Os quatro pés anteriores curtos^ cylindricos hum tan- to comprimidos ; os pés posteriores , saltadores , as co- xas grossas , angulosas com manchas brancas ; os joe- lhos grossos , armados de dois espinhos de cada parte ; as canellas do comprimento das coxas , em t@do o comprimento pela parte posterior são armadas de espi- nhos de côr avermelhada com as pontas negras ; a ex- tremidade das canellas acaba em quatro espinhos agu- dissimos 5 a ultima junta do tarso he armada de duas unhas curvas, e agudas , de còr também averinelha- •da , e as pontas negras. . A Figura, que se vê no volum. I. p. 20 j , das Recreações Académicas , foi m.uito mal desenhada , de sorte que de neohum modo condiz còm a descnpção^ que no mesmo lugar faz o Author deste insecto , sen* do aliás a descripçáo exactíssima : isto acontece com- mummente aos xNaturalistas , que não sabem desenhar, fian- Ç 2ÍÍ ) íiando-se dos desenhos de pintores, que deixão escapar miudezas, que fazem com tudo caracteres essenciaes. Do Gafanhoto , a que eu dei o nome ^ Camaleão volante. O tamanho deste insecto he de, três pollegadas , e huma parte duodécima , ou huma linha , compie* hendendo as azas superiores, ou as henúpteras , as azas inferiores excedem linha e meia. Entra na divisão: antennis setaceis ^ palpis inasqualibus ^ cauda Je- mhiis ensiferaj Tetigonia , Line. Sjjtem. Nat. edltlo de- cima tertia^ t. IV , pag. 206 j. Fabrício faz hum gé- nero á parte, e dá o nome de Locusta. Mantiss. inse- et, t. I., pag. 232. O thorax tem dous ângulos chanfrados ; os tarsos tem três articulações ; os pés anteriores comprimidos j os pés posteriores saltadores , as coxas , ou femoras , ro- bustas, comprimidas, as canellas do comprimento das coxas, triangulares, os ângulos serrados com espinhos delgados, e curtos. O corpo tem huma pollegada , se- te linhas de comprido , o peito , e o esterno pela par- te debaixo sãò cobertos com duas escamas, quasi aco- loçoadas , ou do feitio de coração ; os anneis abdomi- naes são sete, interrompidos na parte inferior do ven- tre, onde se acabão em huma pelle grossa, e rugosa, dividida pelo meio com huma serie de cinco pontos córneos ; o anus he terminado por quatro válvulas dft fei- ? ^'57 •) M<;Ão de cuteMo , das quaes a maiot , que ii e a infe« í.ior lem linha e meia de comprido , vede Fig, i. Ta- hx>à 4. Do Gafanhúto^ a que chamei genkukias ^ m dé .grandes joelhoS'. Entra «a mesma divizão dè Lineo , ^ntennls sêta^ ^els j f aipis iiraeijuaHiíis , caíída feminis ensifera Tetigo- ília. LocKSta Fabrlcii Mantis. insett. t. 1 5 pag. 2J2^ O corpo tem meia pollegada , o thorax de dous ângulos lobados pela parte posteíior ^ ò lobo com de-- brum negro ; os dous pés anteriores com os joelhòé èastantemeíire grossos 5 os pés ^ posteriores saltadores ^ as coxas comprimidas ; as caneilas hum tanto arquea* das , triangulares > os ângulos espinhosos ; os tarsos com três articulos , huma mancha branca em cada lado , jun- to do nascimento das coxas i duas escamas acoroçoadas no peito y Q esterno:, sete zonas, ou anneis nas costas ^ que se terminão na pells rugosa , que rodéa o ventre pela part« de baixo j o anus termina-se em três válvu- las , mui. curtas 5 ensiformes ; as azas verdes, ào com- primento de pollegadas duas e meia , vede Fig. 2. Ta* boa 4. t>o Cúfanhoto y a que chamo , gtacíladon A cabeça com o alto acuminado , os queixos san* •guineos , mormente os superiores , o acumen por diatí- , T- r. P. I, K te 3 c^sn te , e negro , as extremidades dos palpes também san- guíneos ; o thorax com dous ângulos , não tão apparen- tes como os dos antecedentes , duas escamas no peito , o corpo do comprimento de huma pollegada , sete an« neis terminados igualmente no ventre em huma pelle rugosa 5 da parte inferior do anus sahe hum estoque do comprimento do corpo , os pés anteriores compres- sos 5 os posteriores saltadores , as coxas angulosas da parte de trás com dois ângulos espinhosos , as canellas triangulares , e espinhosas ; as eliteras do tamanho das azas , e mais compridas que o corpo meia pollegada , a côr parda. Vede Fig. 3. Tab. 4. T>o Gafanhoto a que chamo pi^meo, He todo verde ; o thorax , de dois ângulos, duas escamas no peito , como os congéneres , o corpo de seis linhas de comprido ; a espada inferior do anus muito curva, com a curvatura para cima, os pés pos- teriores saltatorios, as canellas triangulares espinhosas, o tarso de três articulações; zs elyteras verdes , de dois comprimentos do corpo , as azas inferiores , maiores que ellas. Fig. 4. Tab. 4. Do Percevejo , que persegue os Algodoeiros, Ainda que os percevejos , que vivem , e se sus- tentão da substancia deste arbusto , não nos facão aqui tanto mal , como causão em outras partes da Ameri- ca, (259) ta, por exemplo, em Cayenna , etc. , com tudo pen- so, que não devo omittir o tratar neste lugar daquel- je , que tenho observado sobre esta planta : elles , chu- pando a ceva , que se distribue nas ílores , fazem , com que elias caiáo , e abortem *, elles introduzem a sua tromba na maçã , ate o interior , e chupão poí elia o nutrimento , € querem alguns que seja tão ve- nenoso este ferrão, que faça gangrenar, não só a ca» psula , mas ainda a planta toda , attribuindo a perda da safra presente a este insecto ; mas eu creio que esta moléstia, que tanto tem grassado , he o golpe de Sol, ou slde ratio. Tenho observado sobre os meus Algodoeiros , duas «species unicamente ; elles tem todos os caracteres dos seus congéneres , a saber : A tromba revirada para bai' SCO do corpo. As antennas rnals compridas , que o thorax. As auis ijitatro encruzadas httma sobre outra, O thorax debruado , os pés cursor ws» Lineo. Gs tarsos com três ar» ílcuiaçães conforme Geofroi/, Vede Fig. 5. Tab. 4. Em nenhuma das divisões , que aponta Lineo no seu Systema Natur. t. IV. editio XIil. Gmeíio. pude meter , senão na divisão antennis blclavatls , em que só ha huma espécie habitadora na Suécia , e como tam- bém Fabrício, nem. Geofroy a descrevem , concluí ser huma espécie nova , e lhe dei o nome especiíico Gos- si/plphapis , que quer dizer comedor de Algodão. Ás antennas com três articulações , o primeiro , e ultimo amassetados com huma mancha branca em cada ^ntenna no nascimento da ultima articulação, ;x tromba^ R z com ( 26o ) com três articulações ; o tlwrax pela parte anterior he ferrugineo , pela posterior de hum verde cujo ; o escH' dete he pequeno , e ferrugineo ; o debrum dos lados do thorax he ferrugineo , e o anterior , isto he , da parte da cabeça , he branco : em cada lado do peito tem três manchas ferrugineas , a còr dominante do corpo he branca cor de pérola ; o abdómen he desta cór com cin- co zonas , ou divisões , a quarta ferruginea , e principio da quinta ; as válvulas do anus também ferrugineas ; as «zrtj superiores membranosas de huma còr amarella cuja cqm as extremidades n«gras. Vede a Fig. Não pude achar outras espécies de percevejo nos Algodoei- ros , excepto se quizerem tomar por percevejos huns ÍHsectos encarnados , que vivem também nas capsulas desta planta , os quaes não são outra cousa mais do que as Chryzalidas do mesmo percevejo ; que descre- vo 5 antes de chegar ao seu estado de perfeição. Outras muitas espécies de insectos , principalmen- te de gafanhotos , ha , que se sustentão do Algodoei- ro ; mas não tive ainda occasião de os observar. La Trefontaine, Mahson rustiqiie de Caijenne , Bomare , c outros contão , além dos gafanhotos , e percevejos , cu- jas espécies multiplicão infinito , innumeíaveis outros insectos , í]ue fazem destruição grande nos Algodoei- ros ; bem como hum griilo , que , cavando a terra de noite , come o grelo novo , que principia a lançar a semente plantada ; os pulgões , a que chamão insecto diabo ( dlahle ) o diabinho ( dlablotln ) , cujos nomes lhes competem , dizem estes Authores , peia sua mali- gni- ( 2Sl ) gnidade ; porém , in fel is mente não nos dão as descri- pções destes animaesinhos , e eu não pude encontrar nenhum , que por seu effeito suspeitasse serem estes. Dos pássaros, que perseguem os Algodoeiros, Todas as espécies da família dos papagaios são prejudiciaes aos Algodoeiros , principalmente os mais, pequenos do papagaio para baixo , todos os periquitos , jandaias j etc. , elles cahem sobre o Algodoal em nu- vens , e senão ha , quem guarde , em breve tempo destroem tudo , roendo inteiramente as capsulas ( ma- çãs ) , que comem só , em quanto estão verdes. Quer Deos que esta perseguição não seja geral ; pois ha lu- gares privilegiados, ou pouco perseguidos. m CA^ C 262 ) CAPITULO VIII. Da Manda, ííil E Ntende-se por monda a operação , pela qual se cxtirpão as más hervas , que nascem entre os Algo- doeiros , as quaes , usurpando a substancia da terra, não só os fazem emmagrecer, mas os abafão com sua folhagem , impedindo o gozarem das benignas influen- cias da atmosfera , e da luz creadora do Sol. Não m.e estenderei muito sobre a utilidade das mondas , porque não ha , quem deixe de conhecer as suas vantagens ; pois além de nutrirem mais os Algo- doeiros, e brotarem mielhores fructos , obstão ao perigo de serem os escravos mordidos de animaes tão morti» feros 5 e venenosos como são as cascavéis (i) , e outras espécies de viboras , que se escondem de baixo das her- vas. Muitas são as plantas , que nascem entre os Al- godoeiros 5 e obstão ao seu nutrimento , e vegeta- ção . (i) Croialus hórridas Lin. Ha tão grande abundân- cia destes animaes neste lugar , onde cultivo , e nos seus arrebaldes , que nas occasiões da monda tem os escravos morto trinta, e quarenta por dia; que^ as te- nho mandado contar de propósito : á proporção que vão roçando as moitas , as vão m.atando com as foi- ces, com que trabalhão , não fallo em outras muitas espécies , nãa menos venenosas , que se encontrão cora ajiiesma frequência. k C ^^5 ) çSo : eu não apontarei porém senão as principaes , co- mo he huma espécie de caa-pi , ou grama , chamada vulgarmente amargoso , e entra no género millum ; esta planta tem a raiz vivace , e atura muito a secca , e ainda quando se destroe o colmo , a penas chove, pulão das raizes outros novos ; outra planta muito damnosa aos Algodoeiros he a getirana , em que aci- ma toquei ; este nome dão aqui não só aos convolvo' /«J, mas também ás hj/pomeas , de que ha muitas es- pécies , três espécies de iUccbrum crescem abundante- mente nas vargens , e lugares frescos entre os Algo- doeiros, como também o melão de São Caetano, BaU isamina Lin. O instrumento, com que se costuma aqui mon- dar , he a foice , cada escravo, armado deste instru- mento , partindo todos de hum ponto em distancias proporcionadas , roçaráó sempre em ordem : esta ope- ração deve-se fazer , ao menos , duas vezes , huma lo- go ao principio do inverno, ou do tempo das chuvas, para que os Algodoeiros , não tendo quem lhes roube o nutrimento, principiem a vegetar com força , e vi- gor , nutrindo os seus ramos ; a segunda monda deve ser antes que os fruetos , que principiarão em Maio, fiquem maduros, para que em Julho, e Agosto se pos* são colher estes; e tenhão vigor os Algodoeiros , para continuarem a brotar outros ; pois, em quanto dura o verão , continuão a brotar fruetos , e sazonallos , senão ha os obstáculos , que em outro lugar apontei. Estas duas mondas são necessarias^, como fica dito ^ mas nfein' to- C ^^4 > todos os Agricultores podem executar a primeira por hU ta de trabalhadores ; não deixão com tudo de praticar a secunda , sem a qual nada co-Iherião : se a monda fosse feita á enxada, muito melhor vegetarião, e me- lhor producção terião os Algodoeiros. Com effcito mon- dados elles assim á enxada , as suas folhas são maiores , mais verdes, os seus ramos mais vigorosos, e até che- gão adquirir huma constituição pletórica, moléstia que já em outra parte descrevi, chegando a retardar o te do po da fructificação ; principalmente , se são plantados cm terreno mais vigoroso : alguns rústicos , que tem observado este fenómeno, não só tem banido a mon- da á enxada ; mas ainda procuião persuadir aos outros , que he prejudicial , allegando-lhes com a experiência, que tem feito ; outros com tudo , discorrendo mais ra- cionalmente , teimão que não pode ser prejudicial huma operação, que totalmente destroe as hervas inimigas da nossa planta, e que deve ser preferida á monda de foi- ce 5 que só destroe em parte , pois que lhes deixa as raizes com huma porção de tronco: daqui tem nascido huma controvérsia entre os Agricultores , decidindo-se huDs pela primeira opinião , outros a favor da segunda. Todas as razoes nos devem persuadir a preferencia da monda á enxada *, e na verdade mais vale huma des- tas^ do que três á foice : só resta responder á objec- ção, que costumão fazer, fundada na experiência , que os Algpdoeiros mondados á enxada, crião muita folha- gem, ficão muito viçosos ; porém que brotão menos quantidade de fructos, e que finalmente vem a adqui- C 26$ ) rir demasiada plethora , moléstia , que acima descrevi , a isto respondo, que este mal tem prompto remédio, que he a capação : ella faz , com que os suecos nutriti- cios , que os fazião vicejantes , e demaziadamente vi- çosos retrocedão , e os obriguem a deitar ramos late- laes , pelos quaes se devidem , vindo deste modo a mi- norar o vigor , que os impedia a fructicar ; pelo que tem o Agricultor assim o seu Algodoal sempre vigo- roso, colhendo em dobro do que colheria do mesmo, se se contentasse só com a monda á foice : se o ter- reno he fraco , muito melhor convém, esta monda. Não precisa persuadiJlos que mondem á enxada os Algodões do primeiro anno ; porque , para aproveitarem os legu- mes, quecostumão plantar, forçosamente hão de usar desta monda ; do segundo anrio por diante he , que se deixão desta operação , para recorrerem á foice , com interesse de abreviar, e sobrar tempo para outras oc- cupações de Agricultura ; esse interesse com tudo he mal fundado , porque os Algodoeiros tratados á enxa- da , são mais. vigorosos , e tem a vida mais comprida. Coipo porém o principal motivo , que obriga aos Agri- cultores a desprezarem a monda á enxada , he por evi- tarem maior trabalho, eu imaginei, que deste se pou- pava grande parte alimpando só hum pequeno espaço ao redor da planta , e levando os intervallos á foice , e tenho com effeito experimentado vantajosamente. CA. ( 266 ) CAPITULO IX. Da colheita do Jí^odão. sem- Vv Omo o Algodoeiro não consente , que seu fructo chegue a ponto de maturação, senão quando ces ão as chuvas (i), as quaes são neste paiz muito inconstan- tes ; por isso .seguem as colheitas a mesma inconstân- cia ; daqui vem que , se no meio do inverno mesmo ha alguma falta de chuvas , o que acontece Quasi pre no mez de Maio, tomão os Algodoeiros carga , a que chamão sofra de Maio ; mas este Algodão não he tão bom , porque a humidade deste tempo amarellece tanto , ou quanto a lã , e nunca he tão abundante ; com tudo não he de desprezar. Quando o anno he bem regulado , principião as colheitas na ribeira daParaiba dos fins de Julho, e Agos. to , ate Dezembro , e Janeiro , entende-se isto dos Al- godoeiros , da idade de dois annos para cima , porém não dos novos, quero dizer, dos primeiros annos, os quaes não principião a produzir , senão de Outubro por dian- (i) Para que o Algodoeiro chegue a ponto de ma- turação, não precisa que se acabem totalmente as chu- vas , basta que não chova com abundância do rigor do inverno ; antes he prejudicial , que ellas se acabem de repente , sendo ao contrario proveitoso , que se vão íirídando pouco a pouco. C ^67 ) diante. Nas matas principia a colheita mais tarde , e nos certÕes da Paraíba, Paranãbuc , Rio Grande do Norte, c Ceará mais cedo. Então he , que o Agricultor deve applicar todo o seu cuidado , e providenciar , para apro- veitar o seu suor. Para efíectuar esta colheita , não he necessário , se- rão hum cesto da capacidade de huma arroba. Quando se vê o Algodoal branquejar de modo , que se sup- ponha haver sufíiciente numero de capsulas abertas , não se deve dilatar o Agricultor em colher, para isto fcasta , que o escravo se sirva unicameíite de três de- dos. O feitor seguindo os captivos ; cada hum delles , «rmado de hum cesto, hirá ao lugar determinado, on- de deve principiar o serviço daquelle dia : ahi cada es- cravo toma á sua conta huma fileira de Algodoeiros, (;ue a não deve deixar até o fim , colhendo não só , a que se achar por cima , senão ainda pelo chão , no que deve o feitor pôr hum extremo cuidado, para cujo ef- íeito os deve ter sempre de baixo da vista , e passear naquella esteira, pai-a o que contribue muito a ordem ,, em que se devem plantar os Algodoeiros : elle deve castigar , ou reprehender qualquer negligencia da parte dos escravos: quando se mudarem para outras fileiras, devem levar com sigo também o seu cesto , para que , quando quizerem despejar os seios , que he onde devem recolher o Algodão , quando o tirão da arvore , até o encher , que he , quando he necessário passallo para o cesto. Assim que o feitor vir, que he meio dia, dá seu si' Ç 2<58 ) signal costumado, e logo cada hum toma o seu cesto, e marchando em fileira para a casa da balança, que está na ante-sala do armazém , alli cada hum por sua or- dem, deve pesar o Algodão ; quecolheo, despejando o primeiramente em hum cesto, ;á tarado , destinado a servir só nisso: o feitor, ou o mesmo dono da fazen- da deve assentar , com individuação , o peso de cada hum : ás duas horas da tarde , devem tornar para o mesmo serviço , na ordem acima dita , de donde si hão de recolher ás seis horas , ou seis e meia , e se tornará a pesar , e sommando o feitor as duas quanti- dades , que cada hum colheo de manhã ; e de tarde , verá se chega , ou não , á conta da tarefa , estabeleci- da : aquelle , cujo trabalho não chegou completo , rece- berá o castigo de sua negligencia , attendendo ás cir- cunstancias : eu tenho estabelecido na minha fazenda , que por cada libra que faltar , receberá palmatoada, como porém não só se deve castigar a negligencia, mas também premiar a deligencia , costumo por cada libra , que excede a tarefa , pagar 5 reis ~- , que vena a dar em 100 reis por anoba , preço, por que costu- máo os forros colher Algodão neste paiz ; as libras do excesso se devem ir assentando á parte , para se pa- garem , quando chegar a arroba. A tarefa deve variar , conforme a abundância de Algodão, que ha no cam'- po. Para a estabelecer , sommo a quantidade , que colhe- lão todos os escravos juntos , ou a maior parte delles , e divido pelo seu numero, o que me sahe no quocien- te , ou aquillo que toca a cada hum ^ he o que fica sen- C 2^9) sendo tarefa , até que o feitor me informe do estado do roçado , se se tem augmentado , ou diminuído ã <]uantidade de Algodão aberto , para então se tornar a reiterar a mesma operai^ão , e estabelecer nova tarefa : ha occasião , em que a tarefa chega a duas arrobas , ou- tra a arroba e meia , a huma , e a menos. A experiência me tem feito vêr , que a emula- ção por si só mui poucas vezes tem poder de excitar ao trabalho os ânimos servis dos escravos , e quasi sem- pre produz bom effeito a combinação do castigo com o premio , e emulação manejados com destreza. Até aqui náo tenho dito neste capitulo , senão , b que eu uso com os meus escravos 3 esta prática , e regularidade não he observada por todos , por que com- mummente não possuem suficiente numero de escravos , e por isso estão sujeitos a mil enganos , que he neces-* sario destreza 5 e vigilância para os descobrir : o primei- ro erro he mandar os escravos colher Algodão d ven- tura, isto he, por onde lhes parecer; estes assim que se occultão nos arbustos, ou dormem, e nutrem a sua natural preguiça , ou se colhem , roubão de cada vez huma porção, e escondem nos matos, até acharem oc- casião de o desencaminharem ; e fazem o seu contra- bando com tanta sagacidade , que rara vez se sabe : e como a tarefa commummente he o cesto cheio , ou não calção o Algodão, e então qualquer porção o enche, eu emborcando o cesto no chão , fazem entrar para dentro a parte inferior , á maneira de fundo de gar- ra- C ^70 ) rafa , a fim de o encher com mais presteza ; outros in- troduzem pedras entre o Algodão para pezar mais , e , usão em fim de mil modos para enganarem : o melhor meio, que tenho descoberto, para me subtrahir a estes enganos , he o que acima descrevi. O Algodão não se deve recolher em armazém , logo que vem do campo, sem que primeiro esteja bem secco, o que se conhece , apertando-o entre os dentes ; se o caroço estala, está capaz de ser recolhido, senão, .cxpoem-se ao Sol até, que se seque sufficientemente : se não precede esta precaução , e se recolhe húmido, o caroço soffre hum começo de fermentação , e a lã amareliece , o que faz dim^inuir de preço no commer- cio. Depois de bem secco o Algodão , e pesado , deve- sa recolher no armazém , o qual para ser bom ha de ser assoalhado, aliás a humidade pôde ser nociva , as paredes altas , e lisas , rebocadas , a porta bem justa , para que os ratos não desção dos telhados , e nem en- trem por qualquer greta. Quando o armazém tem as paredes bem altas , li- zas, e a porta bem justa, não precisa outra precaução para vedar a maligna praga dos ratos , que destroe mui- to , ao mesmo tempo , que quando não ha estas circum- stancias , não ha cousa que os vede , nem mesmo os gatos lhes dão fim , porque são m.uitos , nem o vene- no, de que muitos usão os raatão todos, por que são niui sagazes, ainda que com tudo alguns morrão. De mil ( 272 ) CAPITULO X. Do descnroçamento , e ensaccamento, ARTICULO I. Do descaroçamento. p Or descaroçamento se entende aquella operação ^ pela qual se separa a parte filamentosa , ou lâ do caro- ço j para iTielhor correr no commercio , para mais com- jTiodidade nas exportações , etc. Esta operação , no principio , fazia-se á mão com summo trabalho 5 poiã (]ue 5 trabalhando o dia inteiro , apenas chegavão a des- caroçar algumas libras : a necessidade mestra de todas as artes, suggerio o meio de descaroçar entre dois pe- quenos cylindros , dando a cada hum delles hum movi' mento opposto ; a Est. 5. Fig. i. pode dar a idca des- ta maquina bem simples, aa o banquinho, em que se assentão as pessoas , que descaroção , 66 são as duas "virgens fixas no mesmo banco , c c são os dois cylin- dros horizontaes , que se devem tocar em toda a sua extensão ; estes cylindros devem ter de comprido hum pé, ou mais alguma cousa, e de diâmetro meia polle- gada mais , ou menos ; porém quanto menos drametroi tem ^ com mais facilidade móe , ou engole o Algodão 5 ellçs estão sustentados nas suas extremidades , c cad* C 275) hwtn tem sua rnanivella d d em hiima das extremída» des , que he por onde se lhes communica o movimen- to ; he necessário duas pessoas , para fazer trabalhar es- ta maquina , cada huma move hum cylindro em sen- tido contrario, e humá das ditas pessoas applica o Al- godão aos cylindros , que engollem a lã > e o caroço cahe limpo no mesmo lado ; e e são dois parafusos ^ que servem de chegar os cylindros hum a outro , co- mo a necessidade o exigir , por meio de humas almo- fíidinhas, ou cunhas, de páo , que sempre alli estão. Esta maquina j supposto escaroce mais, do que a mão, com tudo he muito trabalhosa , e cança dema- siadamente os braços , e o mais que se pôde escaroçar em hum dia , a muito trabalhar , he duas arrobas de Algodão em caroço , que vem a dar meia de lã , fi- cando os trabalhadores inteiramente fatigados : pelo que tenho podido colher , de Mr. de la Prefontaine Malson rmtl.^ue de C^yenne ^ esta he a única maquina , de que usão Cayenna , e as mais partes da America daquelle kdo 5 até mesmo Maranhão 5 prinieira Capitania dos Domínios Portuguezes y em que principiou a negociação cm Algodões ^ he das mais atrasadas no meio de bene- ficiar este importante género > e dizem-me , que lá não sabem usar 5 senão desta imperfeitíssima maquina , ou com alguma modificação muito insignificante ; não tem acontecido assim na Capitania de ParanãbuCj onde se tem esgotado , segundo me parece , os melhores meios de manufacturar o Algodão , até se pôr em es- tado-de correr no commercio : seis maquinas differentes T. K. P. t S se (274) se tem aqui usado succesivamente , para escaroçar o Algodão, das quaes ommitto a metade, que me pare- cem de menos importância , para falJar só de três , qu<5 são as mais essenciaes ; e de que se usa com vanta- jem , e maior frequência. A menos complicada he a chamada vulgarmente roda de mão Tab. '), a a he o banco, orvde se assenta , quem deve applicar o Algodão aos cylindros , bb são as duas virgens , firmes no banco , para suster os dois cylindros cc : d d os dous parafusos , que servem de conchegar os cylindros hum ao outro por meio das cu» rhas, como na maquina precedente , confoime o pe- dir a necessidade ; ee são duas pequenas rocias fixas; cada huma á. extremidade do seu cylindro : estas rodas são chanfradas , ou tem hum rego praticado em toda á sua periferia, para embeber os cordoes, por onde se lhes communica o movimento ;y/ he huma roda, que costun-.a ter de diâmetro 6 palmos, ás vezes mais, ou jnenos : •/ «; são os raios da roda , h h he o eixo , veio , í)u manivella da roda, // a pessoa , que a põem cm tnovimento , / / as virgens , que sutentâo as rodas ; 7?) m he o rego fundo , onde anda o cordão n n , o c;ual deve pór-se de tal iriodo, que corra também nas duas rodinhas ee , e em huma delas deve encruzar, como se vê na figura , para que com a mesma força , e com a me tna direcção da roda, possão mover-se os dois cylindros c c , em sentido contrario , aliás mover- se-hiáo pjra o mesmo lado, e não engolirião o Algo- dão ; a Cevíideira^ ou como lhe chamâo vulgarmente C27> ) a mtnedeh-a com ambas as mãos , appíica com a maior iiíjeireza possível o Algodão a toda extensão dos cylin» liios, endireitando os capuxos para correr com facilida- de , tendo hum cesto cheio ao pé de si , para se refa- zer com presteza : deste modo duas 'pessoas medíocre- mente exercitadas , desde as seis horas da manhã ate as seis da tarde , descaroção seis arrobas de Algodão em caro<;o5 o que rende arroba e meia de lã : esta era a tarefa , que dava aos meus escravos , antes de fazer o meu engeuho de best.as ; mas ha pessoas tão hábeis, que descaroção oito arrobas de Algodão em caroço, que rende dois de lã. O banco dos cylindros , deve estar distante da roda cinco toezas, ouvinte pés mais, ou menos , conforme o diâmetro , ou a grandeza da roda; a grossura do cordão costuma ser de linha e meia de diâmetro, pouco mais ou mtnos ; he indifferente que seja deA.lgodáo, iinho , carjguata , tucum ^ caiuá, ou coiro 5 as mais estimadas , são as de coiro de veado capueiro , ruplcapra , por serem as que mais aturáo o attrito continuado ; as de tucum , e caruá tem o se- gundo lugar, as de Algodão porém aturão menos: es- tes são os engenhos , de que usão aqui aquelles , que tem pouca fabrica ; com tudo modificão-no de muitas maneiras, ás vezes fazem maior a face da ioda, em que abrem dois regos , em que fazem gyrar duas cordas j huma para cada lado ^ fazendo andar ao mesmo tempo dois engenhos , ou escaroçadores , duas pesssoas mo- vem a roda cada huma em seu A^eio , ou manivella : outros fazem produzir os raios da mesma roda ^ e fa» $ % zel' ( 276 ) zellos pezados, deixando-lhes maior porção de madeira ras suas extremidades , para líie facilitar melhor o mo» vimento. Os Agricultoree , que trabalhão com fabrica mais considerável , e os negociantes ^ que traficão neste gé- nero , comprando grandes quantidades de Algodão , para vencer o seu descaroçamento com presteza , usão de huma maquina mais complicada na verdade porém ao mesmo tempo mais vantajosa : porque oito escaroçado- res ( I ) em huma bolandeira , ou engenho de bestas sem interrupção descaroção em hum dia , cento e vin- te oito arrobas de Algodão de caroço , o que rende trinta e huma arroba de lã ; mas isto depende da li- geireza das metedeiras (2) , da presteza na mudança dos animaes , e de estar o Algodão bem secco ; porque se o não está , enrola se a cada passo nos cylindros , e retasda a operação , para o que ha hum remédio ainda pouco usado ; porém que eu o vou fazendo vulgarisar , c de que adiante fallarei. Eu vou a descrever esta maquina , com toda a miudeza , para que se possa fazer naqueilas partes , em que ainda não heu^ada: Tab. 6. A A A he huma gran- de roda dentada (Oí ^^ diâmetro, que se quizer dar, cu- (1) Chamo escaroçador hum banco com os cylin- dros , e rodinhas competentes. (2) Metedeiras costumão chamar , as que metem , ou applicão oAli.'odão aos cylindios, o que commum- mente são as mulheres, que o fazem. QÇ) A minha tem quarenta palmos de diâmetro ; mas isto .não he ocommum, enem ha alguma táj grande. ■ C ^77 ) cujos dentes engranzSo nos de hum pequeno rodete rtrtrt, que tem commummente três palmos de diâme- tro : este rodete está fixo a hum cyHndro de madeira , BB que quasi sempre o fazem oitaA^ado , ou quadran- gular, de hum palmo de diâmetro , rolando horizon- talmente sobre dois aguilhoes , ou cylindros de ferro, o da extremidade da parte do rodete sustem-se scbre a trave , c cc ^ e o da outra extremidade descança sobre huma columna de madeira, ou esteio, DD, este cy- lindro a que chamão sarilho^ tem quatro rodas, EE EE , distantes huma da outra dois até três palmos, os quaes tem seis, e mais de diâmetro, bem como as rodas de mão ; como ellas também tem regos na peri- feria flfl , até agora costum.avão fazer-lhes hum só re- go , o que exigia hum sarilho muito comprido, para fazer mover oito escaroçadores , a cujo inconveniente obstei, mandando fazer dois regos em cada roda , de donde sabem duas cordas , cada huma para sua parte , a mover seu escaroçador correspondente , e que se de- vem prender nas rodinhas xx xxx x xx do modo, que expliquei na Fig. 5. tendo sempre o cuidado de as fazer cruzar em huma dss rodinhas , para ter bom effeito a operação, s s s s s s s s são os escaroçadores , ou banquinhos com os cylindros , que escarocão ; e está cada hum defronte do iado , que lhe corresponde, ittt, itt t he o sobrado , ou assoalhado (1) , em que estão os escaroçadores , u u esteios , que sustentáo o assoa- Iha- Cl) Tenho mandado fazer o sobrado, para que apoei' ra , que Icvantão os animaes , não sujem o Algodão. •a^i lliado , r z z z as aímanjarras , ou alavancas , em qtre puxão os animaes ; estes , andando nas extremidades destas alavancas , movem o eixo ^ ^ , e juntamente- a roda dentada (bolandelra vulgarmente), e esta o ro- dete aaa^ e juntamente o sarilho BB , com as rodas E £ E E 5 as quaes também , por meio das suas cor- das, fazem mover os cylindros dos escaroçadores , on- de está huma pessoa applicando o Algodão : deste mo- do 5 com a maior facilidade , pode huma bolandeira com oito rodas escaroçar em hum dia duzentas e cin- coenta e seis arrobas de Algodão em caroço , que ren- de sessenta e quatro em lã : mas nunca descarcção tanto , não só pelo estorvo , que costuma haver , pri- meiro que os animaes venhão para o engenho , comO' também pela pouca habilidade das metedeiras , e outras cousas mais. Com tudo as oito rodas com todos estes; estorvos, supposto ainda , que as metedeiras sejão pou- co hábeis , podem descaroçar cento e vinte oito arro- bas , vindo a caber a cada huma metedeira oito arro- bas em caroço , ou duas de lã , que he a tarefa ordi- nária , e na roda de mão a tarefa ordinária he quatro arrobas em caroço , o que rende huma de lã : se , quando eu usava de rodas de mão , recebia , por tare- fa , duas arrobas, e arroba e meia de lã, devia isso á certeza, e bondade dos meus engenhos, e sobre tudo^ á destreza de minhas escravas , adquirida pelo continua- do uso. Quatro arrobas de Algodão em caroço , do que ate costuma aqui cultivar, rende commummente huma ar-» C 279 ) arroba de lã, e quando o tempo, tem corrido propicio, dá huma arroba , c oito libras pouco mais , ou menos» Os cylindros , ou são feitos de páo ao torno, cu de ferro; sobre a preferencia, que se deve dar aos de hu* ma , ou aos de outra matéria , formão os Agricultores questão : eu tenho experimentado huns , e outros j c acho , que os cylindros de páo engolem , ou pegão me* llior o Algodão ; tem porem o inconveniente de se gastarem muito depressa , pelo c;ue necessita-se de se refazer de outros a miúdo , o que não tem os da fer- ro, que ainda , que não engolem tanto , cora tudo engolem sufficientemente , durão muitos annos , por cuja razão lhes dou a preferencia , e nem uso de ou- tros ; he necessário com tudo , que as chumaceiras , on- de descanção os taes cylindros (eixos como vulgarmen- te chamão) sejâo de madeira, e sejão íevadiças, para quando se gartarem , mieterem-se outras , porque , sen- do também de ferro, gastão se com rnai? presteza , 'e íicão mais perro? ; quando a superfície dos cylindros es- tiver já brunida , esfregão se com huma lima , para po* derem engolir o Algodão : em qtianto a grossura dos taes cylindros (eixos) , deve-se saber, que em geral quanto mais delgados, com mais facilidade moem, oa engolem : ás vezes a lã em vez de cahir , se enrolla no cylindro , o que serve de grande estorvo, pois at« he necessário desandar as rodinhas xxxxxxxx^ pa- ra desenrollar-se , o que se veda, pondo cmtros dois cylindros de páo , ou varinhas por detraz destes , e qtie estejão immoveis , «ncostados nes «daus qlindrot ^ C 22o ) (ou eixos) apoiando as cabeças contra as pequenas vir- gens. A boiandeira do meu engenho , tendo quarenta palmos de diâmetro , tem cento e setenta e seis den- tes, o rodete tem oito dentes, ou fuselos , os quaes , divididos pelos da boiandeira , dão hum quociente de vinte e quatro, pelo que no tempo , em que a roda dentada faz gyro inteiro, o rodete, e sarilho dão vin- te e quatro gyros , e por conseguinte as rodas EEEE', c como o diâmetro década huma excQdç sete vezes ao diâmetro das rodinhas x x x x xx x x , segue-se , cue em quanto aquelJas gyrão huma vez sobre o seu eixo , estas gyrão sete vezes ; e que em quanto a roda den- tada A A A A gyrar huma vez , as pequenas xxxxx seoíoc gyraráó cento e sessenta e oito vezes , e junta- mente oscylindros, a que ellas estão unidas: ora, co- mo esses cylindros tem hum pc de comprimento , e os capuxos huma pollegada , e he necessário hum gyro para os cylindros engolirem inteiram.ente hum capuxo, segue-se , que 6m quanto os cylindros derem huma volta , serão engolidos , ou moídos doze capuxos , pois tantos cabem em todo o' comprimento dos cylindros (eixos) , e por conseguinte em quanto a boiandeira der huma volta, serão moidos dois , ou dezeseis capuxos , segue-se mais , que supposto que os animaes dem só* mente hum gyro com a boiandeira no espa(;o de hum -minuto, dentro de huma hora teria moido hum só es- caroçador 120 , e 960 c;^apuxos a libras 40} ^ por isso mesmo ,. que ,30o capuxos pesão pouco mais, ou me- menos hiima libra, o que reduzido a arroias dá 12 j| de Algodão em caroço, que rendem em lá três arrobas, e quutro arráteis e três quartas, vindo assim em hum dia cada descaroçador a descaroçar arrobas em caroço 1 U -- , e reduzido a lã a trinta e sete arrobas , e vin- te e hum arráteis e meio : oito descaroçadores , com que trabalha huma bolandeira ordinária" , descaroçarião por dia arrobas em caroço 1218 , reduzido a lã arro- bas 302, libras 24 ; quantidade na realidade estupen- da , com tudo não deixaria de acontecer assim , sup- pondo-se huma ligeireza tal nas mãos, que todo o es- paço do comprimento dos cylindros (eixos) estivesse sempre occupado de capuxos. Mas a tanto não chega o nosso poder. As mãos da mais hábil metedeira nunca chega a acompanhar a ligeireza da maquina : devemos-nos pois contentar com duas arrobas de lã, por cada descaroça- dor no dia , que são trinta e duas arrobas de lã no dia , nos engenhos , que trabalhão com oito rodas . ou dezeseis descaroçadores , isto he ao menos : pode cres- cer muito este numero , ainda mesmo outro tanto , se puzerem a trabalhar hábeis metedeiras , e diminuírem os estorvos. Dois animaes bastão , para mover esta maquina com muita facilidade ; na que fiz construir de novo este anno , lhe reuni muitas vantagens , porque lhe accrescentei dois cylindros ao eixo do meio , para moer canas , e á extremidade exterior do sarilho lhe appliquei hum bom ralo de moer mandioca , de sorte , que moe ca- i canas , Algodão , e mandioca ao mesmo tempo : quan- do se intenta moer só canas , e não Algodão , basta tirai- ao rodete três dentes, assim fica o sarilho inimo- vel , e cjuando se quer moer Algodão , e não canas , tiráo-se os dois grandes cylindros lateraes. Pódese também fazer moer esta maquina pelo uso de agua , e então ainda he mai»; simples , pois basta produzir por huma parte o eixo da mesma roda de agua, e nelle fazer as rodas canuladas, onde andão as cordas ; e Paranãbuc já tem alguns engenhos destes, Ke preciso, de passagem , fazer huma advertência , que vem a ser, que o fabricante deve escolher, e guardar da primeira semense do Algodão, que escaroçar ; por- que deixando-se para o fim , e estando o Algodão mui- to amontoado , passa a huma espécie de fermentação , e n|o nasce quando se planta. i AR. C 2Sj ) ARTICULO II. Vo ensaccamento» X^ Epois cie descaroçado o Algodão , para correr no commercio , he necessário ensaccallo ; para este effeito toma-se hum sacco de panno de Algodão de três varas, deita-se huma porção de Algodão no fundo do sacco, e se vai depois metendo a pequenas porções com huma palheta , e vão enchendo pelos interstícios , e assim até o fim 5 ou até fechar em cima , deste modo me- tem em hum sacco quatro arrobas até quatro e meia xnais , ou menos , conformç a habilidade do ensacca- dor , o qual commummente não ensacca mais de huma sacca no dia, e fica quasi inhabil para fazer outro tan- to no dia seguinte ; porque he dos trabalhos mais fa- tigantes : este he o modo de ensaccar , de que mais se tem usado. Ha outro modo de ensaccar , a que chamão ensac- car no ar , que he da m.aneira seguinte : fórma-se hum sacco ordinário , alinhava se , em a bocca , hum arco de huma verga de hum páo ílexivel , de sorte que fi- que bem seguro com a orella do panno , suspende-se por quatro cordas fortes ao ar , attando-se as cordas nos caibros da casa : o ensaccador mete-se dentro do sacco , e com huma longa palheta na mão , vai socan- do por todas as partes , até acabar de ensaccar de to* do: C íS4 ) do: commummente em hum dia se ensacca huma sac- ca 5 prjncipia-se outra ; este methodo não tem outra vantajem sobre o antecedente , senão de servir-se a ensaccador, além das suas forças, do próprio peso do seu corpo ; porem he igualmente fatigante , e nem es- tá fora do perigo de fazer enfermo o ensaccador pela continuação , por causa do calor do mesmcr Algodão, que recebe dentro do sacco , em qire anda quasi sem- pre atollado ate o meio> da. perna : nmitas pessoas cos- tumão molhar as saccas á proporção que se ensacca ; nãO' vejo em que beneficie semelhante methodo. O trabalho fatigante desta opetação , e alguma curiosidade, que exige da parte , de quem ensacra , faz com que os negros se neguem a este trabalho, por cu-, ja razão são cqntados os ensaccadores , e logrão hum preço distincto: isto, e o vagar, com que se ensacca, me picarão , desde que principiei a empregar me nesta cultura , a descobrir hum meio , pelo qual obstasse a tantos inconvenientes , sendo hu^m delles a rotura , que per sem.elhantes methodos se fazem nos saccos. Cheguei finalmente a inventar a maquina Fig. i, Tab. 7., na qual ajuntei todas as Gommodidades possí- veis, como vou mostrar : AAAA são quatro virgens > cu columnas de páo de quatro faces , que devem estaf bem enterradas no chão , para poderem resistir á ex» traordinaiia força, que nelks se deve fazer: aaaa he hum caixão do comprimento de nove palmos, de lar- gura de dous , e de altura de quatro palmos , b b ho, hum dos lados do caixão , que deve ser de taboa bem for- (235 > íbrte , e que -deve abrir por meio das dobradiças, co- mo se vê , c c são duas taboas , igualmente , fortes em- iiebidas ncjaibre , ou chanfradura : d d são huns pe- ijuenos buracos quadrados , para leceberem duas trai> cas , que servem de retor^çar estas mesmas taboas : e e ^ e são duas trancas de cada lado , para confortar , des- cansando nos gattos ; ff he hum chaprão de sete psl- iíios de ^ comprido 9 que cabe justo no vão do caixão; •g-g- huma taboa , que corre livremente en-tre as vir- gens, furada nomeio, por cujo buraco sahe livremen-, te o parafuso ; h h que com tudo não deve sahir pela cabeça do mesmo parafuso ; i l são dous brinquetes fi- xos no chaprão , e na taboa ^ / / he a cabeça do para- fuso , que já quasi no fim da operação. A terceira utilidade he , que pelo meu methodo recebem os saccos a forma quadrangular , ficando de altura com menos de hum palmo , o que he muito commodo , tanto para serem transportados era cavai- los , como para o arranjamento nas embarcações, qua- lidade , que não tem , os que se ensaccão pelo methov. do vulgar: a quarta utilidade, he de. não serem as fi- bras C í89 5 bras do Algodão , quebradas pela palheta , a esta ainda podemos ajuntar-lhe quinta utilidade , e he a de nos podermos servir de panno de mais baixo preço , que he de 160 reis, entre tanto, que pelo methodo ordi- nário se está sempre na precisa obrigação de se com- prar panno de Algodão de encomenda por 240 reis a Tara, Depois de ter construído a maquina da Fio-, i. Tab. 7. , imaginei a da Fig. I. Tab. 8. , na qual se poupa a força do homem pela de hum boi , que deve puxar na alavanca ( almaíijarra ) j/ 3/ ; esta tem vinte palmos de comprido , contando pela linha horizontal paralella ao terreno , que venha terminar-se na extre- midade da alavanca ( almanjarra) , que he como se deve calcular , daqui he fácil conceber a extraordinam força 5 que resulta de semelhante alavanca , com os planos inclinados do parafuso : o boi não se deve me-* ter na alavanca ^yj/ , senão depois , que dous homens na mesma não poderem dar mais volta , porque então íie que fica no ponto proporcionado á sua altura , no mais não tem differença , da que reprezentei na Fig. 1, Tab. 7., bem como outra, que fiz construir para uso de Agricultores de menos posses , ella he igualmente boa , e a única diíferença , he de ter dous parafusos cm lugar de hum , em cada cabeça , ou extremidade do chaprão o seu , para calcarem igualmente. Qualquer maquina destas não pôde custar mais de 12000 mil reis em hum paiz tão abundante de madeiras como este T. F. P. I. T Lo- Ç 290 ) Logo que consegui ensaccar nas maquinas, de que acabo de dar a descripção , o que sempre duvidarão os Agricultores mais intelligentes das minhas vizinhanças sem outra razão mais que o seu prejuízo ; vierão ainda mesmo de longe innumeraveis pessoas a vêr e se ad- miravão , de que ate então se não tivesse descoberto hum methodo tão fácil , e conveniente ; mas a pezar desta approvação, e das utilidades, que acima referi não se tem vulgarisado tanto, quanto devera : penso comtudoj que em poucos annos virá a ser mais com- mum , pois de diversas partes se me tem mandado pedir modelos , e sei de alguns Agricultores , que se preparão a praticallo , assim que o tempo correr mais próprio para esta cultura ^ do que tem corrido estes dous annos. ÂDi 't/.e2.^ H^â.^. VvAv Ej/. 8. C 299 ) APPENDICE. MEMORIA L DA CULTURA DO ALGODOEIRO HERVA, QSemanario de Agricultura Tom. VI. Num. IJJ, pag. 32$.) D E todas quantas plantas exóticas se tem procura- do connaturalizar no nosso paiz , o Algodão he hum» das mais importantes, visto encontrar.se no seu fructo íiuma das matérias , que mais geralmente se empregão em os nossos vestidos , e moveis. Não afíirmaremos ser da mesma importância que o trigo , e seria hum grande desatino destinar-lhe as nossas excellentes terras com preferencia ás planta?, que satisfazem as nossas primeiras necessidades ; porém não seria menos conve- niente que ao menos em as hortas, e jardins de luxo, occupasse algum lugar huma planta tão útil ? Isto nos obrigou a publicar a Carta do Cidadão Gilot aos Edi- tores de hum periódico Francez (o Cultivador) que con« tem quanto he indispensável saber-se para se empre* hender esta cultura com acerto. J. V. P. I. Y Em C 300 ) Em Jnima fabrica de íilaças de Algodão , estatele* cída em Mompelher , recolhi algumas sementes , e as semeei em huns vasos , quanto julguei que o tempo era conveniente , tive a satisfação de os ver nascidos cm dois dos mesmos. Em hum destes foi a vegetação \ão vÍ2;otosa , que não cabendo a planta no vaso fui obrigado a plantalla cm terra, e vi formar-se huma ar- vore de Algodão , que no curto espaço de seis mêzes se levantou ã altura de oito pés , com huma copa de àúiQ pés de circumferencra. Começava a- dar mostras de florecer , quando sobrevieráo os frios do inverno , e por mais precauções , que tomei para os preservar , tudo "veio a ser inu-tii. O outro me deo buma planta herva , que proctir- íio cinco , ou seis eapulhos , dos quaes só dois ama- durecerão , e derão quarenta sementes.» Fiz com ellas alguns ensayos , que me íízerão ver , que rrem todas as terras erão a propósito, para sen ear o Algodão ;• porque as fortes em demasia as suffocão , e as areiscas, e mui soltas não lhe administrão sufficiente alimento. Por ex- periências repetidas me tenho convencido de ser me- lhor a de mediana qualidade , com alguma consistên- cia ; porem não mui forte. A proximidade de algum ík), ou regato, he muito vantajoso para as regas , que ^2o muito necessárias. Para ô semear , se escolherão sementes das mais 'grossas , e mais rtegras ; porque as brancas , ou man« tfhadas não tem ainda acabado de amadurecer. Será mui« conveniente polias por espaço de quatro horas em C m ) agua, e depois estendellas sobre ferrilgem de chaminé j- revolvendo as parn que as envolva. Esta preparação as preserva dos insectos , que eostumão roellas depois de enterradas. A'' entrada da primavera me parece o tempo mais opportuno para a sementeira , senão houver algum re, ceio de que hajão immediatamente grandes chuvas. A terra deve estar bem revolvida j e os sulcos devem correr , se for possivel de Norte a Sul , por Ser esta a exposição a que mais convém á planta. O modo de fa- zer a sementeira he á mão como as favas , e outros legumes /, procurando que de duas em duas fileiras de plantas , haja dois , ou três pés riç distancia. Mas ílão se deve esperar huma grande colheita. Sé as plantas não forem resguardadas dos ventos do^ Norte j e que se não tenha com ellas certos cuidados. Pratiquei o seguinte : em meiados de Julho, tendo as plantas hum pé de altura , lhes cortei a extremidade do tallo , com o que consegui lançar muitos ramos colla- teraes , qit« são os que dão fructo, Ommittindo-se esta operação, se erguem demasiado os tallos , sem produ» zirena fructo algum , e se o produzem , he tão tarde , cue lhe falta o tempo , para amadurecerem. A mesma operação se deve fazer nos ramos lateraes , Jogo que tenhão dois capulh(')s para impedir a que não tenhão mais ; porque do contrario não chegão aquellas em tem- po opportuno ao estudo de perfeita madureza. Ao mesmo tempo se devem arfancar as hervasj que crescem ao pé das plantas , removet-Hies a terray V a í? \ - --y, C 302 ) e regalias com frequência , e por este modo se podeiá fazer a colheita pelos fins de Agosto, ou princípios de Setembro. Em todos os Paizes , que secrião laranjas ao tem- po j se poderião plantar Algodoeiros com bastante uti- lidade. Para completar esta instrucção , acrescentaremos o que sobre o mesmo assumpto escreve© o Senhor Tru- chement aos Editores do mesmo periódico. Semeei (diz elle) sementes do Algodão em vasos , que tinbão meia vara de fundo , e hum terço de diâ- metro : a terra era muito mais húmida , e forte , que secca , e areisca ; e não tinha , ou estrumado , ou plan- tado outra planta hun^ anno antes. Germinarão muito bem as sementes , e não as reguei ^ até que as plantas me indicassem , por se porem algum tanto languidas , que Eiecessitavão agua , para se fortalecerem , e crescerem com vigor. Logo que começarão os calores fortes , e principalmente os dias da canicula , me foi preciso re* gar as plantas rodas as manhãs , sem embargo de que bum amigo m.eu , que cultiva o Algodão, me ceitifi* cou que basta regallo hum dia sim, outro não. Em 6n3 de Setembro os capulhos quasi abertos me annunciárão , que já era tempo de se fazer a piimeira colheita. Hum mez , ao depois, fiz segunda, e em Novembro colhi todos os eapulhos , que restavão aber- tos , e cerrados. Para acabar de amadurecer estes últi- mos, os puz em sacco de rede, os pendurei em huma Qiaminé , e, passados quinze dias, se abrirão com a ca- calor do fogo, e lhe tirei o Algodão, que continhão, que era tão bom , como o da primeira colheita. Ainda que não fosse mui branco o Algodão que colhi , as pessoas , que o fiárao , me certificarão , que era superior ao que vinha de Levante ordinariamente. Parece-me muito fácil a cultura desta planta; pois , lavrando-se ligeiramente a terra em Julho , para destruir as hervas estranhas , que rebentarão , obtive tai- los robustos , e bem nutridos, (i) (i) GõsslpUim herhaceum Lin. Algodão herva he hu» ma planta de flor monopetala acampainhada , alargada com a borda recortada, em cujo fundo se ergue hum tubo pyramidal , cheio de estames : do calis sahe hum pistiilo , que enfia pela parte inferior do tubo , e por ultimo se conveste em hum fructo ovado, dividido in- teiramente em 5 , ou 4 cellulas. Este fructo se abre por cima, para deixar cahir as sementes, envoltas em huma espécie de lã, a que se deo o nome de Algodão, toma- do da planta que g produz. Cresce ate 2 , ou 5 pés de altura : seu tallo tem no pó huma còr parda alguma cousa roxa, e desds esse lugar até a extremidade huma côr roxa escura, assim como as ramas, que sahem do encontro das folhas. As ramas lateraes -são as que pro- duzem os- capulhos : são estas primeiramente verdes, e maduras, se fazem encarnadas: o Algodão , que delias se tira , he de huma côr branca, que tira ao de ma- }ion\ OLi melhor de côr de carne bastante claro: he mui fino, e forte. As folhas são recortadas em cinco pon- tas , como as da parreira : tem a face superior de hum verde claro , e a inferior de hum verde esbranquiçado, A côr da flor he amarella brilhante com quatro raan- chíij arroxadas no interior. C J04 ) MEMORIA IL DA CULTUP.A, E COMMERCIO DO ALGODÃO EM SICÍLIA. ^Semanário de A^ricnUara ^ e Artes Num. i8í. Tom. VIII. pa^, 49.) D As varias espécies que produzem o Algodão , o úni- co cultivado em Sicília, e Malta he o Algodoeiro lier- va. O território de Terra Nova , situado nas costas de C]aragoça , he o Cantão de Sicília particularmente des- tinado a esta cultura. As terras empregadas são de mui boa qualidade , soltas, bem removidas , e limpas de hervas más. De ordinário se lhes dá a primeira lavra cm Novembro , e de então até Abril se lhe dáo qua- tro , ou cinco lavras. Em fíns de Março , estando a terra bem esmiuçada , c movida , se rega ate deixalla medianamente humedecida , e se lhe semea o grão do Algodão , que se tem em agua em huma cova na ter- ra 5 que se faz por este íim , tendo-se cuidado em ma- nejalla com frequência , e de a esfregar bem , para lhe separar todos os filamentos que os grãos tiverem pega- dos. Como a semente, que se tira do Algôdab, tjue 3 SiciJia produz annualniçnte , degenera, e deijía de dar Al- Aieodão da primeira ciualidade , os Cultivadores Sicilia- nos fazem levar de Malta a semente de Algodão , que alli chamão barbw'4ííco , que he mui superior ao chama- do bastarilme. Os Maltezes comprão mutuamente a se- mente de Sicília, paia a daiem ao gado, depois de a terem de molho por muitos dias, e afíirmão ser hum dos melhores alimentos , que se lhes pôde dar. Os la- glezes tirão delias azeite nas suas Colónias. O tempo conveniente , para semearem Algodão , hc o mez de Maio. Logo que se espalha a semente na ter- ra , igualão a superficie do terreno , servindo se para isto não da grade ; por não ser instrumento muito conhe- cido naSiciiia, mas sim de huma espécie degrade, que fazem de huns ramos de arvores^ atando-os , e tecen- do-os huns com outros. Atão esta grade i canga de hum boi , e sobre ella se senta o que os dirige , e, fazendo-a arrastar por toda a extensão da terra, conse- guem applainar a supeificie : operação, que se olha cOf mo mui importante, para evitar que o ardor os raio? ^o Sol faça evaporar com demasiada promptidão a hu- midade, tão necessária á germinação desta planta. Tendo a planta cinco, ou seis folhas, se moiid* para sá lhe tirar toda a terra estranha. Tendo certa al- tura , se lhe tira (capa) as pontas , para a fazer lançar mais ramas , que produzem os capulhos , em que se acha o Algodão, visto que, a não se ter este cuidado, dará mui poucos, e não stí encherá. Conhece-se ser o tenj- po desta ope/ação , quando seu tallo se faz epr de chwm^ bo. TornW ao depois a mondar, ou capinar. De ( 3g6 ) Deoidinario se faz acolheita no niez deOiituhro, segundo o adverte a abertura voluntária dos capulhos, que deve ser completa, para se lhe poder tirar o Al^o- dão com facilidade. Quatro , ou cinco dias depois 'da primeira coJheita , se torna a repetir a mesma , a Hm de se fazer huma segunda , e assim se continua até recolher todas, á proporção que vão amadurecendo, e abrindo. Sobre esteiras, ou grades de canas, se esten- dem todos os capulhos, para que se acabem de seccar , e se Jhe possa tirar o Algodão com maior facilidade. Se nos fins de Novembro, ou princípios de Dezembro, em que as chuvas já são frequentes , houverem toda- via alguns capulhos, que colher , se colhem , ainda que não estejão totalmente maduros , e se põem ao Sol , ou em forno mediocremente quente, para que seabião, bem que o seu Algodão seja de inferior qualidade. Descaroçar o Algodão he huma occupação , com que as Senhoritas Maltezas se divertem ; e para isto se servem de huma maquineta composta de dois cvlin- dros , arranjados horizontalmente hum sobre o outro em tão curta distancia , que , obrigando a passar por entre elícs o Algodão , não podem passar as sementes. Os dois cylindros se sustentão por dois pcs direitos , que se achão fixos sobre huma taboa , que põem no seu colo. Nas terras , que hum anno tiverSo Algodão , no seguinte semeão outra qualquer semente, e produz ma- ravilhosamente. Certificão que 05 Proprietários Sicilianos despachão , ou €11 vendem annualmente para o Estrangeiro quasi trais mil quatro centos quintaes de Algodão , preparado de differentes modos , e que o restante da colheita se con- somme na mesma Ilha. O quintal , do que chamao Algodão Urdo , que he tal qual se tira do capulhó , se regula a cinco pesos (4^000) o que chamão magala^ gio, que he descaroçado, mas sem fiar a vinte e dois (17,^600) Porém a maior parte do Algodão , que se tira de Sicilia he já fiado , e neste estado o quintal do da pritneira sorte se costuma vender por cem pesos CSo^ooo) Differentes fabricas, estabelecidas «o mesmo paiz , o tecem , e lhe dão novo valor. Para se calcular a utilidade , que deixa a cultura dô Algodão, sLipponhamos , que se semee em huma salma de terra de superior qualidade, por cujo arrendamento se paga em Sicilia mil reales C42>èooo) serão os gastos necessários , para preparar a terra , e fazer a sementeira sete cen^tos e cincoenta reales ( 3 ííJ)ooo) A semente custa a duzentos e cincoenta reales (10^500) os gastos da colheita se reputa em sete centos reales (29,^400) para machucallo , e pollo em madeixas mil sete centos e cincoenta reales (j^^<>00) total dos gastos cinco mil cento e cincoenta reales Ci88,^40o)- Por hum preço médio , hmr\z salma de terra produz áezasete quintaes e meio de Algodão descaroçado, que em razão de vinte e dois pesos, (^11^)606) compõem quinhentos setenta e sete (ajá^oSc) , ajuntando-lhe o valor da semente , que costuma ser quatio centos se- tenta e cinco reales Ç\9Í)00Q) resulta por producto to- C Jo8 ) total seis mil duzentos e cincoenta reales C205(;àcoo), e de beneficio liquido mil e cem reales (46^200). Este calculo, que não he exagerado , deveria servir de estimulo, pata que em algumas de nossas terras se emprehendesse esta cultura , maiormente , quando se considera que, depois de coibido o Algodão, fica aterra cm mui boa disposição , para produzir qualquer grão. 'NB. Nos Departamentos meridionaes de França , se tem ensaiado com feJiz êxito esta cultura , e pelas utilidades, que offerece , a vão adoptando os Lavrado- res , e nós cremos , que temos terras proporcionadas ; e ^uç os podemos imitar. ME. C 309 ) \ MEMOPvIA III. OBSERVAÇÕES SOBRE DIFFERENTES E3PECIES DE ALGODOEIROS CULTIVADOS EM GUADALUPE. For Mr. de Badier. ( Memolrcs de Agrlcuhitre ^ de Bcpnomie Rurah et Do- mestlcjue AnneiySS trimestre de Automne p. 118.) H A muito tempo, que me persuado ser a cultura dos Algodoeiros da maior importância , assim para o» Colonos da America , como para as manufacturas da Europa. Desde 1776 foi esta a minha occupa-^-ão ; e na minha volta a França , fiz ver, que os Colonos despre- savão huma das espécies , entre as que cultivei , que merecia ser preferida a todas quantas até então se co- nhecido ; e , segundo o juizo , que delia fizerão os fa- bricantes que o virão. A escolha das terras, a exposição, tudo he indif-^ ferente a esta espécie de Algodão , que tem de mais avantagem de dar abundantes colheitas ; de se descaro- çar no engenho eom facilidade , de ser mais comprido, niais branco , infinitamente mais fino , da qual o fio ao micrometro só tem a ducentessinaa , e decima oitava par» (no) / parte de huma linha de diâmetro , quando o do Com- mercío he a centessima , e quadragessima , differença maravilhosa, que lhe assegura í^preferencia a todas as outras, para se fabricar as mossclinas finas , e todas as iv-ais obras deste género. Em 1778 fiz fabricar chapeos , que tive a honra de apresentar com o Algodão á Academia das Scien- cias, e á Junta do Commercio, que conhecerão o seu merecimento de preferencia sobre o que se costuma cultivar , assim se testificou por huma carta que a este respeito me e.^creveo o Senhor Necker. Escrevi a Guadalupe , para me enviarem huma porção suffíciente , de que se fizessem musselinas , e outros ensaios , para se poder conhecer o seu emprego mais vantajoso. Esta remessa foi tomada pelos Ingjezes no tempo da guerra com outros objectos preciosos co- mo forão a Quina Piton , e outras cousas: o que me obrigou a esperar circumstancias mais felices , para seguir esta producçAO interessante. De volta de Guadalupe cm 1782 esperei, que se terminasse a guerra para tor- nar a principiar minhas observações sobre o Algodão, o que fiz em 1785 , tempo, em que comprei hum sitio com atenção de cultiv/ir nelle todas as espécies de A]^ godão , que podesse achar , a fim de me certificar por huma cultura de muitos annos sobre o terreno mais vantajoso, e saber, sehaverião mais espécies , que prós» perassem a Oeste , onde o Grande vestido , e o São Mar- tinho morrem inteiramente, e também certificar-me do rendimento de cada espécie , para não cultivar indiffe« ren- C 31» > renteniente esta, ou aquelia , como até aqui tem feitd os Fazendeiros cultivando somente o Grande vi^stido , e o São Marúm , ignorando qual delles seja o melhor no rendimento ; conhecer também o que se descaroça mais facilmente no engenho ; porque entre os Algodões Se- das se dáo alguns , cuja 15 he sammamente adherentô ao caroço , e outras que não o são. Estes últimos se descaroção bem nos engenhos , os outros não podem ; (a este momento estou occupado em fazer hum enge- nho novo para os descaroçar) ao depois comprovar a sua fineza , comprimento do^ filamentos, sua alvura <^ e finalmente seus diversos empregos nas fabricas. Estando estas observações bem confirmadas , o Colono conhecerá o Algodão , que produz mais , o que pôde ser cultivado a Oeste ; e o que hc mais fino, de maneira que aproveitará todo o seu terreno , e que a fabricação terá toda a espécie de Algodão , esta , e a- quella , o que também lhe será hum proveito , visto que tal, o« tal espécie de Algodão, he mais próprio a fazer mosselinas , que a fazer lenços á maneira dos da índia, belbutinas, etc. Querendo por tanto certifi- car-me destas diversas vantagens, ajuntei nos diversos bairros da Colónia as espécies de Algodão , que pude encontrar , para os cultivar separadamente muitos annos successivamente , a ver , se ellas erão constantes. No primeiro anno semeei o do Commercio , o Grande 'Kobe num. i., o São Martim num. 2. , e também os Al- godões finos num. 7., e os de grãos cobertos de huma plumagem verde , adherençe ao grão num. 1. 9 e 2. Estas cinco e. ^res espécies novas de Algodão do Commercio , qae com os seis dos annos precedentes fazem nove espécies de Algodão do Commercio , hum do Algodão fino , e nove espé- cies dos"^nnos precedentes fazem dez espécies , das ^ quaes passo a dar a descripção com os caracteres des- tiHctivos de cada espécie, tomados nas diversas partes da planta , e ^uc cada Fazendeiro, sem s«r Botânico pôde facilmente reconhecer. AL-. C JM ) ALGODOEIROS DO COMMERCia Num. I» Algodoeira vestida. D Istiiigue-se da3 outras espécies pelai folhinhas do seu calis exterior que são mui grandes , compridas , e profundamente abertas (o que lhe fez dar o noiRC d« Grande vestido). Tem bora Algodão, e branco. Num. Algodoeiro São Martinho^ Disfekigue-se do precedente^ pelas folhinhas do seu ealis exterior , que são muito menores , e também pelo seu fructo, que he muito menor. Cultivão-se em Gua- dalupe estas duas espécies geralmente. Num. Algodoeiro Pedra, Differe dos outros por suas sementes , que são unidas humas ás outras pelo lado em duas ordens, for- mando hum monte de grãos em cada lugar. O Algo- dão he bom. Persuado-me , que cada fructo deve ter menos Algodão, que as outras espécies , pois que só vem sobre huma face. Num. 4. Algodoeiro "Branco cuja» Distingue-se dos outros Algodões pela sua Jã, que 1 515 ^ iqViè IVe Í3ranca, trigueira , c curta , e também pela« sementes, qlíb são grossas coiti estrias longitudinaes. He Tacil distiiiguillo da primeira espécie, queáccidentalmen- fce tem alguns fritctoá , ciijó Algodão he branco , tri- gueiro no fcxteiior, d qlie acontece, qiiaiido o cápulhô fíca por miíitó tértípb sóbré seu pé, aó depois de 'se abrir j e qiie néstfe i:empò cáhe alguma chuva, a qlial , penetrando b exterior do Calis , qiie he milito grâíidè inteiramente secco , e denegrido , se enche da parte toloránte trigueira; qUe ella deposita sobre o Algodão , e lhe absorve á agua ; o qlie o obriga a Sèr nt) e3^* terior de hum mao branco , mais > ou menos carrega- do 3 nó cill tahtb que nd seu interioi: he branco. Nuríi. 5. At^úíló'e'iro Ptum4, O Algbdgò déstã eápecie s6 s'é apega á semefitè na atiíetâdé superior da sua superfície , istb he , que vÂó se ádhére a párts da ponta. Qliandõ se colhe £sté capiilhò i «que se divide em tfes lugares ^ se vem no seíi interior a parte das sementes nuas. Este Algo- dão não he tâo braiico ^ como o dos números i. e 2. ilesiste melhor ao vento que biles, e pOí isso Se deve preferir , quíiudo se quer expor aos ventos de Oeste, e Nortâ,, onde de ordinário se não plantio Algodoe> tos. ■T^V. P.t Al- Cuá) Num* 6, Al^odoeWo gtosso gr^a. Este he o melhor Algodão do Commercio que eií conheço, que excede a todos em qualidade; compara- do com o da Seda , não tem huns laivos aztiladns, nem sua doçura , faz hum matiz entre a3 espécies do Çommereio, e os de Seda: encontrei o em hum terre- no volcanico. Reputo-a por huma espécie Soberba , e este anno Bz semear todas as sementes que tinha para a multiplicar. Num. 7, Algodoeiro pécjuenos grãos» Iguaía em qualidade ao num. 6. , e unicamente differe pelas sementes , que são muifGf mais pequenas. Encontrei-o em Basseterre ; e fiz semear com t )do o cuidado os seus grãos para o multiplicar. Certificão-me , que se cultivavão estas duas espécies á muitos annos cm certa Fazenda de Basseterre. Num. 8. Algodoeiro Trindade. Differe dos outros Algodoeiros em ter o seu Al- godão g.tí3sseiro, e curto. Ás sementes são grossas. AU e ji7 3 ÍMum. 9. Algodoeiro Sédá. fietáixd deste nome genérico còmprehendò os Al- godoeiros de Seda ^ que tem á pliimãgem ènsedecida , qiie unicamente se cultivão pára os gastos j e con* sUiTimd caseiroi Num. i. Algodoeiro Seda Jcàsca roxíii biitiijguc-sé dás outraâ ési)ecies péla iua cásca , qíie he arroxada , e tãitibem por não teí- aianehas ro. xas ha ba«-è dò§ petalos da cdroUa ihteriormente. As ètias sementes sé cobréríi de certa plurnagem verde , mui agarrada aos grãos , o que faz difficil o seu desça» roÇâmèíitd. Agora me occupo ém fazer hiima maqui* ha ^ ém qiíe piossa ser descaroçado , ém fázão de ser este Algodão ò mélhòí- êntré oè qiiè dizèrsoos de Seda , e tamberh ò qíie éíitre èlles prodúz mais, ÍVIedra mui- to berh hás terras dè tufb. Ò ânnõ passado hum úni- co pé mè àQÒ diias libras eòm òs seUs grãos. Tomei hum punhadd , que pesoU quatro oitavas > descarocei qUe me rehdço huiíiá òitat^ três grSos 2||. de grão, de húm bom Aígod-So macio , comprido , e de huma âlVura ,C:6r de leitô ^ e duas oitavas 6% gr. ^ de grão dé sementes grossaá, cobertas de huma pluma es- pessa j e Vírdoenga. X^ Al' C 31S ) Num. 2. Algodoeiro Seda folhas entrepartldai^ Distingue-se dos outros por terem as sua.^ folhas três pontas, ou lobos; o capulho he conieo-alon^ado , dividido em quatro vãos , ou lugares j que cncerráo de sete, a nove grãos cobertos de huma pluma terde. Todas as partes áo Algodoeiro se cobrem de huma pluma cinzenta. O Algodão be inferior ao precedente; Num, jr Algodoeiro Slõo bastardo de grãos cob'ertos de huma pluma verdoenga eseum, Distingue-se dos outros pela côr do seu Algodão que he de hum cujo grosseiro ruivo, e por seus «^rãos , cobertos de hmna pluma verdoen^a escura. Num. 4. Alg&doeíro Mandioâa, Biffere dos outros pelas suas folhas , qUc são di- gitaes , e recortada'S em sete y ou oito divrsaes , como as da Mandioca , e Paineira : as sementes se cobrem d^ huma pluma verde. O Algodão he bom. Num. 5. Al gado eira Sião bastarda y gr a as ttegraí ^ e lisos. Diffcre do num. 3. pelos grãos. No mais lhe he semelhante. AI' C 519) Num. 6. Algodoeiro Sião franco, O seu Algodão he de hum certo ruivo mais for- Ifi que as das duas espécies num. f . , e 5. Differe pe- ia pluma, que se agarra aos grãos, de hum ruivo car- regado. O Algodão também he bom. Num. 7. Algodoeiro Seda grãos negros , e Usos» Distingue-se facilmente das outras espécies por seus gruos , que são negros ^ sem pluma adherente por cima. Tem as folhas repartidas em três lobos pouco profundos , e são por baixo mais brancos que os ou- tros. O Algodão he bom , descaroça se tão bem na Maquina, como o do Commercio , pelo que merece a preferencia a todos o^ Algodões Sedas. Ajuntei muitas variedades deste Algodão pelas se- mear separadamente. A primeira , Cote d' ano. As sementes são me- nores ; cuido que esta he a espécie , que os Antigos derão o nome de Algodão Taffia. A segunda , em Deshayes, A terceira, em Basseterre. A quarta, em a Liziria dos PP. a ttes rios. . A quinta, na Trindade. AU C }2G ) Num. S. Algodoeiro Seda, pcjueitos §rno. (.oberiaí de huma pluma azul verdoenf^a Biffere do num. 2. pela côr da pJum^ , que está sobie os grãos , que também são os mais pequeno?. Num. $. Algodoeko Seda , cayull\o dividido çn\ cliir €0 lufares. Differe do num. 7. pelos capulho^ , cujo maior fjumero se divide em c\r\co lu;.'ai-es, contendo cada lu- gar cinco sementes negras sem pluma adherente em cima» N^rn^ IPi Al^odoik^ Seda , dividido ent ijuatro lufares. piffere dos números 7. , e 9. em se abrir o ?eu éapulho erti quatro lugares , contendo cada hum cin- co , e seis sementes sem pluma alguma por cima acihe- rente* Q Algodão he mais grosseiro qiie ps precedeu-, les* Aos 10 de Maio de 17^8, fiz semear nas covas, preparadas na minha» quinta, quinze dias antes, pondo em cada cova hurn punhado de estrbutie , as dezanove espécies > que acabo de recensear j com as suas variedades. Cada cova tinha hunr) pc de comprido, eseis dedos de lar^o, e outra tanÇâ profundeza. Todas çstavâq sobre ( }2I ) o mesmo alinhamento , distancio hunnas das outras selJ pés. Semeei cada e^^ecie em duas covas , o que fii trinta e duas covas : deixei hum espaço de doze pés ; ao depois , e no mesmo dia , semeei as duas varieda- des num. II. e 12. da Trindade , e a do num. 5. do Commercio, e também as de Seda do num. l. e 4.» a do num. 7., tudo separadamente, e huma variedade em cada cova. Todas estas variedades forão cultivadas em hum quintal separado da fazenda , para se colher separadamente o Algodão de cada hum dos dois pés da mesma espécie , para se poder verificar por este meio o rendimento de cada espécie , pesando o seu Algodão com a semente. Queria descaroçallos á parte, e fazer pesar assim o Algodão , como a$ sementes , sepjiradamen- te, o que teria resolvido o rendimento, ou producta de cada espécie; e ao mesmo tempo determinado a es- colha do Fazendeiro , que então saberia o rendimento de cadi huma , o terreno , e posição, que lhes erao mais convenientes. Mas os meus particulares , ou de minha casa , obrigando me a passar repentinamente á França , não pude segir esta ultima operação , que nie propunha fazer no anno próximo ; mas, esperando o meu regresso , ordenei ao m.eu feitor, por est^ mo- tivo, po7esse em vinte e sete saccos com seus nume- ros o rendimeato de cada dois pés, correspondentes ás trinta e oito covas, e as das outras oito covas , cm cada hum dos saccos*, que correspondem aos seus nú- meros , e de esperar até o íim de Abril , sem tocar nes- tes saccos, e^ue, passado este tempo, de os descaro- çar (' 522 ) çar. separadamente de cada sacço, a quantidade :ne.ce5sa, ria, para semear, assim como me tinha visto fazer esia anno , observando de não misturar, nem as dezanove espécies , nem as variedades. Truxe comigo as de^nave amostras, de Algodão^ para que se examinasse a sua fineza , alvura , ç com. primento. jyir. D'Aubenton , tão conhecido pela pro- fundeza 4e seus conhecimentos, me. promettea exami. nallos pelo seu micrometro , o que decidira da sua ft- »ez^, Tryxe do meu ^ervario huma amostra das. quin- ze espécies, cultivadas, e.m 1787, que padecerão a sorte da maior parte do meu Hçr vario , que se veio a per- der^ pelo melaço, queen,trou na caixa , em que vinháo, Truxe também comigo hum;^ porção do Algod|o Se- da^ ^ueoffereço á. Sociedade, para se fazerem , emquan. to mèderporaj: ein.França, csev.araes-, que. se i,ilgare!n mai^ vatitajosos. Exames, ou ensaios, que senão pode- ção.fazer; á oito annos, pela pequena porção, que truxe. Se a. Sociedade julgar, que p.s mçus trabalhos obie os A,lgodÕe5, , e, outras producçóes da> npssíj Ilhas ^ po,4em interessar ao Governo , peço , lho haja de aprcr sentar , e dar conta , como tambeírí das vantagens ^ que o.s fabricantes poderão tirar dos Algodões, de Seda 3, preferivelmente aos do, Commerci.o, ME- C í'^? 5 MEMORIA IV. ' ' pGBRE HUM A ESPÉCIE DE ALGODÃO j3H AM A. pO EM SAO DOMÍNGOS ALGODÃO, SEDA , OU SANTA MARTHA, Por Mr. Moreau de Saint Mery , Çorfesyomientç da Sociedade. imemolves de Jpúcaltcire , de Economia Rural, e Vd- niati^iiç anno 1788 trimestre de A^tomne p. 132.) i\ Ao emprehendo agora tecer o çlogio de huma substancia preciosa, que a Natureza parece ter destinada ao homem , por ser própria ^ todos os Climí^s , ou porque se deva á cultura dos liigares , em que ir.ora, ou porque lhe seja trazida peio Comipercio, Todos co- nhecem o Algodão, seus usos, e utilidades , o parti- do que o próprio, luxo tem delle tirado , e o grande yalor, a que tem suhidq , pelo graqde çousummo , que delle se faz. Nestas favoráveis circumstancias consulto a Socie- idade Real da Agricultura da Capital destes Reinos em «lome dos vizinhos , e fazendeiros de São DojTiingos , ( 524 ) e lhe apresento também o primeiro signal do justo re- conhecimento, que a Academia me inspira, tendo-mo concedido hum titulo, que he da minha honra sabeJlo merecer. O Algodoeiro passa por huma planta indigena da A.meriea , e se affirma , que os seus Naturaes , entre ou- tras cousas 5 fazião delle as suas redes no tempo do descubiiiiienío de Christovão CoJombo, Os Historiado- res das Antilhas dizem , que o Algodoeiro era conheci* do , e achei provas da sua cultura , desda a origem dos Estabelecimentos Francezes. Esta cultura se augmentou prodigiosamente em. São Domin^^os, pois que esta Colónia fornece annual- mente quasi três milhões dç arráteis. Contão-se em São Domingos muitas espécies de Algodoeiros , que de si mesmos offerecem muitas variedades, A.s espécies prin» cipaes são o Algodoeiro chamado ordinário, que parece pertencer a esta Ilha , o Algodoeiro Gonaioes , assim chamado , por ser este o bairro , em que medra me • Ihor ; o Algodoeiro pedra , ou Cayenna , cujos grãos unidos formão huma espécie de espiga ; e o Algodoeiro de Caude^ ou branco de Rato, ou Algodoeiro Cabrito, porque o seu grão , ou semente he semelhante ao ex- creto destes animaçs. Estes sio os Algodoeiros , que dão as colheitas. Ha algum tempo que principiarão a cultivar hum Algo- doeiro , chamado Sião , mais conhecido nas Ilhas do Vento , onde o seu Algodão se gasta nos usos domés- ticos , e sobre tudo em meias , que se fazem para ra- pa- pms ; poíq^i^ a sm má còr ihe tíá rnem^ sabida , e 5e sabe ser de maior durii,ç.^o, As denomih*ç/;es , q«e acabámos de dar , são as íxiais camir.a0. . ^ a. mais ger^aes er^ Sãô Pommgôs , ÍT^.s alíi, como em clilr^s paite. , a «mnencbtura va- Ma , e p.la maior parte .^ -vem a fatiar da ntesma es- pécie , ainda que com differentes nomes. Fora d,t A\2^áoótos , dé que Í^Uámos , S0 dão outras muitas e^r^cie. que, ôu são Sekag^ns , ou tem .deoen,erado , e que .e encontrão ciiltivadrís entre os prl- Ím^,.-as, por tje ter^m misturado as sementes. Também se Tê, q«e a curiosidade tem protegido gsta rpisfura , e por isso senão preciso oà olhos deiíurp ííotanico Sábio, para coi^hecer , exiistinguit os géneros , as classes , efe. , e huiiia mão hábil , que Jhe traçasse aS descripções. A' trinta annps gosSo em São Domingas os Al- godoeiros iiMm vaim- venal , que se tem quasi sempre sustentado em \mòmingm , oa fronteira dos Eslabéle- cimento$ ftmitm. A§ dlí^s Na^de^ propriçtatias da iliia 5 e os seus mesmos iiiirtnigos fizefló aqui hum considetavei; Comííiertio,^ eujo contrabando favore- ceo C 32O ceo as possessões, que Inglaterra quiz accommetter, ou destroir. Nesta Época em Sao Domingos, sevio entrar nos seus portos Francezes o Algodão colhido em Santa Mar. tha , Provinda de terra firme na America Meridional , situada no Undécimo gráo de Latitude Norte. O Algodão misturado com o de Sao Domingos talvez contribuio , para que elle houvesse de merecer alguma reputação , e quando a accessão de Hespanha ao partido de França , fez mudar a sorte de Monte Christo , continuou q Algodão de Santa Martha a che- gar a São Domingos nos navios Hespanhoes. O preço vantajoso , que se lhe achou , fez que este ramo de Commcrcio fosse maior , e na paz dç 176Í se começou a distinguir mesmo em São Domia-. gos o Algodão de Santa Marta do da Colónia. Ven- diãn-se separadamente , e em buma obra periódica s© publicou em 1766 , que o de São Domingos só valia ^--OQ (j2^®Qo) livras por quintal, quando o de Sant^ Mart^ se vendia por 240 ^$^406). Este annuncio público pareceo singular. Hum an- non) mo nas folhas seguintes se queixou de que hum género estrangeiro se avaliasse em detrimento do Na- cional. Achava arriscado , que os Negociantes da Colo^ nia comprassem ao Hcspanhoí , e promovessem a emu. lação de outra Nação. Esta queixa foi feita no tempo > que havia huma grande questão sobfe o systema prohi' bitivo em matéria de Commercio Colonial , o que co- meçava a inquietar a todos as espíritos. Reprovava-se aos C 5^t ) aos Nb^oeiant^s o pregarem a favor dô Com mei-do Nacicynal, e amontoar os benefícios do Commercio es- trangeiro. Mais não era preciso para impedir ^ ou ao menos ', para diminuir a importação do Algodão San- ta Martha a SSo Domingos '; t desde este momento se tallou a Gâzetâ. Gom tudo , tendo-se conservado á idta dâ supe* i-ioridàde deste Algodão sobre o cultivado em São Do- mingos, em 17Ó7 hum Fazendeiro íinnunciou no mes- mo Jornal , qUe êlle desejava entregar-se á cultura áo Algcdoeiíó Santa Mtirlha , mas qúe se não tinha aba- lanhado , pelo dito de muitos Negociantes , que o AlEodão, que ellédavti-, se vendia muito mal èm Fran- ra, e que se não podia usar em as nossas manufactu* i-as. Terminava a sua carta, dirigida ao Pvedactor , di- zendo , que elle esperava i qUe os Negociantes de Cabo Francez , que tinhão comprado tão eàro O Algodão de Santa Martha em 1765, se dignassem participai ao pú- blico o vantajoso êxito , ou dêsavantajòso da sua re» messa , para que os Colonos soubessem^ se lhes convi« hha, ou não, appHcarem-se á sua cultura. Entrou em algumas individuações a seu respeito, de qUe tarabem havemos de fallar. S^o decorridos quinze annos , e nada mais se tem fàllado sobre este Algodão em São Domingos. Não se sabe, se algum curioso teve a sua semente, ou se ú' gum acaso , produzido pela comm.unicação dos Hespa- nhoes com os Francezes , a terá trazido a esta ílha ; entretanto haverád quatro annos , ou cinco , que se vè- • cui- C »2S ) cultivado esíe Algodoeiro de Terra firme em $'ão Dói. mingou. As qualidades â(í seu Algodão ò fizerão logo' conhecer ;' tem-sè applicado a stíã caltbrà coni particu- lar cúklado, e tem-se olrservado a planta refativaràente a seu producto , e aí suas différenças dos outros Al- godoeiros. Ao depois de se haver colhido este Algo- dão, sem o misturar , sô poém dê parte para se faze- rem presentes com elle , ou para o empregar nos usos domésticos , como o melhor, e mais agradaTeí. Não fem entrado noGommercio, por seraiiida mui limitada a sâa colheita , pois até agõta só eiiega a hum par de cerííos de arráteis ôs maiofésÁlgodoaés ; é também por não ter tido hum maior preço que os outros Algo^ dôesv A nato-reza dos bens das Colónias , e carestia ex- cessiva dos esci^avos ,~ sem os quaeá se não tem pro- ducçqes , liío consente entregar-se a culturas ,- cujos lucroff lião são proporcionados ás encomendas , e aos de óútraí manufactúrasf.- Ó Áígodâo de SahtV Martha , objecto de pura eoriosidade , de alguma Sorte, dcsapa<- recerá neste momento , e por tanto bem depressa , se ella não indemnizar ao Fazendeiro, e por este motivo os Fazeridciros de Slo Domingos iiivocão as luzes da Sociedade Real de Agrieulfura. Para a instruir , e a pot no estado de poder júl. gar, por hum modo certo, pas^p a communicar alg.u, mas observações , que me parecem fffita? , para servire:Hi de base a esta decisão. A cultura do Algodão he vantajosa ^pi jsi , e e^tál sa< Cm) Sàbidõ que , a pesar dos revezes , e petdas , a que expõem o seu Proprietário ^ lhe offerece verdadeiros., benefícios, ou ganhos. Esta verdade se acha demohátra- da mesmo pelo augiiiento , que recebe esta cultura em, as nossas Colonia<^. Estabelecendo os respeitos conheci, dos^ qiie subsistem entre o Algodão ordinário, e o de Santa Tviartha , se tefa em quanto a Agricultura , de que se possa fazer hum jutzo são, e as experiências , que se podeiti fazer -, relativamente ao emprego do ultimo Al- godão em as nossas manufacturas, indicarão, o que se deve pensar a respeito ào Commércio. O Algodão Seda , ou Santa Martha j que parç- ce ser o úossijpiíim Retlglúsnm de Linne , e o Xylon fnictlficosinn praesianttssimwn de Tonrnefort , he de dua^ espécies , huma de grão ominario 5 mas coberto de hUma pluma verde esmeralda; nos pontos , em que ãe pega ao Algodão ; a out^ra tem esta pluma sobre todo o seu grão , ainda estando delle separado. O Algodoeiro Santa Martha médrà nos mesmos lugares que o§ outros ; qUer a mesma cultura ^ e dá a sua colheita no mesmo tempo. O Algodoeiro Santa Martha he maior que os Al- godoeiros ordinários , e tem as dimensões de hum pequeno olmeiro. Dura três annos , dando abundantes colheitas , quero dizer , hum anno mais que o Algo, doeiro ordinário, que em muitos bairros se precisa ra- plantar todos os annos. O maior rendimento áo Algo- doeiro Santa Martha he no terceiro anno. O Algodão Seda , assim chamado por causa do seu C 550) scli toque sér macio , coino o da Seda , hé inifUo íííperior ao Algodoeira ordinário pcV jíiTa alvará , e de- iícadeza. Òs sétis fios- são carpazes de serem conduzidos a huma gi^aòde fineza ; são mais compridos < e ma'ií fottes qii6 os do Algodão ordinário',^ c talvej^ , senf arriscar nada, possa' dizer, que com dois arráteis se po- deria fazer huma pesss der mosseiina, de oito, ou dez Varas. Visío expôrmcxs ás vanta^géns âà ÁPgodaó Seda, precisa também falJar das stía5 désavantagetis. O Algodoeiro ordinário se planta a sete pcí de distancia-, no em tamo que ò Algodoc^iro Seda requer âú nfenós nove pés. Assim em húma^ extensão àú se- centar e tre's pés em quadrado cabem oitenta' é hum Algodoeiros ordinários y e unicamente quaréníí e nove do Aígbdoeiro Sartfa Martha^ ;• ora ô rendiinento' de cjuarenta e notre pés para o dé oitenta- e hum', IVé' corft pouca drfferença , cofrto' o de cinco,- para oito : eiís-squi" por tanto três óitaVas partes de perda sobre o seu ren* d i mento 5 qne' modamos erií j| , p?>Ta facilitar os cál- culos , que se seguem. . O Algodão Sedír' , se"ndb maia delicado' , e a sua arvore mais alta , mais estendida faz a su'a colhei» ta , mais difíicil que a do Algodoeiro ordinário. Assim hum preto unicamente colhe quinze , oú vjme' arrafes por dia, em lugar de vinte e cinco, a trinta de todos os outros Algodoeiros. Esta differença he prodigiosa ,,. por quanto augmenta huma mão de obra excessiva- ítiente cara , visto expor o Algodão já maduro , por hum C ?n y íiurrt teiíipò mais dilatado, aos de:; temperos daestaçídj aos destroços dos insectos , que dentro de huma noite fazem desaparecer huma colheita ir^teira.i A este maior ineíonveni«nte | se precisa ajuntar otitrò, e vem a ser, qiíe o grão do Algodão de Seda, è sobre tudo, o da espécie abèolutamente coberta pela pluma j Sé separa mui diFficultosamente do Algodão j e que a maior parte das vezes j se este Algodão nâO: vem em eircumstaneias infinitamente favoráveis, qtian- to á temperatura, precisa separar lhe o grão á mão, o que aiigmenta o preço á mão da obra ^ e por conse- quência hiima verdadeira perda para o Cultivador. Contar o trabalho da Colheita , e a do descaroça- mento a mais de |-, ou de r^-, he mais depressa hum abatimento j que hyma nee^ssidnde ^ do produeto j ou rendimento do Algodão ordinário 5 isto he, por conse- quência -^ de perda ^ que se deve acrescentar aos |-| g que já açhámot por differenÇa da plantação-^ Finalmente não precisa passar em silencio ^ que o Algodoeiro de Seda iie mais fraeo que os outros ^ e he mais arriscado ao vento ; que o seu capulho precisa de hum tempo favorável para se abrir ; que seu Algodão , não sendo recolhido a tempo ^ se desfia , e se apega' pelos ramos ; e se enche de immundicies ; e que seu grão attrabe os ratos, que O apete(?em muJto mais que o das outras espécies , a expõem algumas vezes a ser comido por este animal ^ ainda antes de sua madureza , s nos armazéns , ond« se poem antes de o preparar. Or^ es^es inconvenientes merfcem ser calculados menos íal T. V. P, h As'* C }J2 ) Assim , sommando todas as partes , ou difíerenças y se acha que ellas sobem a ~ , isto he ; cue, c;uando qualquer manufa:tura em Al^odoaria dá hum rendimen to de ~- unicamente , se páde esperar hum de ~[ po? hum Algodoal de Santa Martha. Reduzindo com tudo este calculo 3 huma quanti- dade determinada de Algodão , a hum quintal , por exemplo, nós vemos que , quando o Algodoal ordinário produz y^ , ou cem libras , o outro só dá huma razSo de ~ equivalente a quarenta libras |- unicamente. Mas estas quarenta libras ^ custiío tão caro alium dos Cultiva-dores , como as cem libras ao outro : logo se faz preciso, qtve o preço dos quarenta arráteis se iguale ao dos cem arráteis. Ora o preço medro do Algo.iáa ordinário , sendo em Sao Domingos de duzentas libruí ao quintal , se Faz preciso que os quarenta arraieis ha* jao de valer duzentos francos, isto he, cem soldos di- nheiro da America , vendendo o arrátel do Algodão Seda era São Domingos , para que a sua cultura s^ja tão proveitosa y como a do Algodão ordinário, vendido. por quarenta soldos o arrátel. Donde se vê, que não he preciso ciiltivar-ss o Al- godão Seda , ou Santa Martha em nossas Ilhas , a nã© ser possível encontrar no Commercio o valor do Algo*- dão ordinário dobrado , c mais hum rueio. Esta be a opinião dos Fazendeiros , qire o tem plantado em porções pequenas , e que desejão ser illu- minados sobre este importante ponto. A única maneira de o decidir, segundo pensamos, he lie , examinando se tís Usos , a que pode servir ; submét» íello a experiências , que não podem deixar de ser mui interessante!;. Para ^s fazer possíveis | eu offereço á Socie- dade dois anateis de Algodão , colhidos no ultimo mez de Março no bairro de Sio Luiz ^ termd do Siíl da Ilha dé São Domingos na fazenda de Mr. o Cavalheiro de Grimonville , situada à huraa légua da Cidade de Sstú Luiz. Eli requeiro em nome dos Fazendeiros dá rtiajs brilhante de nOísas Colónias na America ao zelo, c lu- zes da Sociedade, para obter liúm juizo, do que já dá aí^ora peço o favor dg fa^er imprimir o resultado, He preciso 3 que os Colonos úteis saibão j se lhes he vanta- josa a cultura desta espécie de Algodoeiro, que pareCe' ter sido formado pela Natureza com huma certa coní-^ placencia. dg ndd lhe o brilhante da Seda. Y & RE^ ( 534 > ««sansiaaofSBPKSSWWHeiTwiW" RESOLUÇÃO ACADÉMICA Ba Memoria de JVIr. Morsau de S. Mery SOBRE O ALGODÃO DE SEDA. P. MM, Desmarest , Abeille e Thouin. 0's MW. Abeille, Thouin » « Eu . tendo sido en- carreojados pela Sociedade de dar conta do trabalho de IVlr. Moreau de Saint Mery : Sobre o melhoramento das Éspecles de Algodoeiros por melo da Cultura : pa^samo. em consequência desta determinação a participar os re- sultados de nossas experiências a este respeito. Primeiramente observaremos , que o Algodão San- ta Marta , parece ser o CossypUim hirsiititm de Linne , ou o Chylon amerlcanum praestantisslmum de Tourne/ort. Veremos effectivamente , que a lã de^ta espécie de Algodão tem realmente propriedades particulares , que o fazem próprio a obras , para as quaes o Algodão ordi- nário não se pôde prestar com tanta vantagem , e que , por consequência, merece este bello cpitheto , que lhe dá Tournefort. O exame desta pluma, ou lã, prova, que hema. cia , assetinada , ou sedeuda , lustrosa ; e que , a pesar de sua grande fineza , tem muita elasticidade 5 mas não nos nos devemos limitar a este simples exame. Passamos á exposição do metiiodo , que temos adoptado , para de- terminar com maior piecisáo as qualidades essenciaes da espécie de Algodão , que nos remetteo Mr. Saint Mery , conforme o modo do seu comportamento nas operações da filatura. E para fazer conhecer os princí- pios 5 pelos quaes fizemos estas experiências , nos persua- dimos , que cop vinha entrar em algumas individuações preliminares, sobre os meios, que empregamos. Todo o mundo conhece as maquinas Inglezas , em que o Algodão se fia por degráos , c á mão , primeira- mente em grande, depois em meio calibre, e ultiraa- niente em fino. Também se sabe , que estas manobras se executão , medindo differentes longitudes dos fios em grosso , ou mechas , £ssim como a extensão , que se lhes dá , de cada vez que estas mechas adquirem maior fineza, e maior torcimento. Com estas maquinas , e conforme estes princípios , he que fizemos a experien- ci;i do Algodão , de que devíamos julgar as qualidades relativamente a filatura, assim como promettemos. Além disto, escolhemos huma qualidade de Algo* djío conhecido , para nos servir de ponto de compara» ção , e sujeitamos a mesma experiência o Algodão de Cayenna , por ser a espécie mais procurada para a boa filatura» Consideramos , que havião dois meios de se avaliar a qualidade dos Algodões , de que tínhamos a fazer o acareamento , fazendo uso dos Billys , e Jenys ; o primeiro consiste em tomar certa quantidade de mechas igual C 330 iSgual .assim de hiima , como da outra parte , e dar-lhe^ huma dipferenta extensão , fazendo parar o porta fio em pontos differentes , coníornie o fiandeiro julga que ^ i'iatureza da lã, ou pluma pode levar os alongamen- tos. O segundo , consiste em dar as mesmas extensões ^os fios sobre todas as maquinas. Este ultimo meio he o que julgamos se deveria adoptar , por ser o mais simples , e o menos sujeito a descontos. Primeiramente fizemos cardar o Algodão de Ca» yenna da melhor qualidade ; e o Ezemos fiar em Inim JBliles , e ao depois em fino sobre hum Jennys, e ti- vemos hum fio próprio para trama do num. 28. Sabe- se , que, estes números secont^o pelanumero de voltas 3 qiie corre huma libra de Algodão na Adubadeira , cuja çircumferencia tem huma longitude determinada. Ao depois se cardou , e fiou o A!t;odão de Air. Saint Mery nas mesmas maquinas , e çom a^ mesmas dimensões, ç se qbteve hum fio bellisso do num. ^2., ^Ç; ainda que mais fino , como se vê , tem o mesmo meneo , e a piesma elasticidade que o fio de Algodáo de Cayenna. Por meio dos Jennys, e JBilJys Inglezes , di igiJof? da mesma maneira , chegámos com tudo a otter fios de differentes niimtroSj ou grãos proporcionados de fine- za , ao que nos parece , e á qualidade das lãs , quç cm* pregamos. Assim , fiando o^ Algodão de Cayenna , e o de Saint Mery , a differença dos remltados nos derão huma rnedida justa da fineza dos filamentos destas ^Ljas espécies de Algodão j e da facilidade , que te^v de se ■se prestarem aos mesmos allongamentos , e aos fflesmôs gráos de toicimento , que se lhes deo. Estas qualidades estarão por tanto no respeito de vinte c oito , para trinta e dois. O Alííodão de Cayenna tem huma Seda forte, comprida, e que se presta com nimia facilidade ás ope- rações da íilatura, que fazem o allongamento , e tor» 'cimento. Também, em consequência, tem huma boa qualidade de fiO para a trama. O Algodão de Saint Mery , fiado sobre os mesmos principios , parece com- posto de fibras não somente mais finas , mas ainda mais elásticas, que não obedecem tão facilmente , e em tão grande quantidade a extensão , e ao torcimento. Em consequência de todas estas qualidades he quedef- le se obteve hum fio mais fino, e menos pesado , sem que deixasse de ter o mesmo meneo , e a mesma re- sorte entre os dedos ; consequentemente estamos au- thorizados á julgar estas qualidades , tc^^das as cousas iguaes, em razão de vinte e oito, a trinta e dois ^.a, respeito das longitudes. Resta-nos indicar aqui o respeito dos preços da venda destes íios diíFerentes , que não seguira mais unicamente que o respeito dos números ; visto que o fio de Algodão de Saint Mery , além da sua fineza , he muito mais, como a Seda , muito mais lustroso, que G fio do Algodão de Cayenna , ainda que este tenha o mesmo gráo de alvura. E assim se. poderá vender o fio de Algodão de Mr. Mery por doze libras (i^pao) quando o de Cayenna se venda por nove libras. Co- C n8 5 Como só tivemos duas libras de AlgodSo para as nossas experiências, talvez não conseguimos toda a fi- neza , de que a Seda , ou lá do Algodão de Mr. Mery seria capaz , por ser preciso que a mão da filandeir* monte insensivelmente sobre a qualidade dos Algodões. Por este motivo só apresentamos á Sociedade hum ar- rátel de fio , ficando a outro nas cardas , ou talvez misturado com o Algodão de Cayenna , depois da qual foi cardado, e fiado. Por tanto, fazendo uso dos Billys , e dos Jennys Inglezes , conforme os princípios , que acabamos de expof 9 teremos hum meio simples , e igualmente segu- ro Reconhecer, c dar valor ao justo as differentes qua- lidades dos Algodões , que os Cultivadores nos poderão apresentar, pelo modo, com que estes se comportarem nas operações da filatura , executada nestas maquinas, c teremos nos gráos de fineza fios fiados sobre estes mesmos princípios huma re^ra infallivel da fineza das plumas , e da sua resoi te. Isto nos parece muito vantajoso, noemtanto que muitos Cultivadores de nossas Cojonias se poderão oc- cupar na escolha, e melhoramento das espécies. Pode- rão também por estes meios certificar-se áo seu sue- cesso , relativamente ás qualidades , que temos tido por fim apreciar ; porque não julgamos , que devão des- pjezar também as espécies , relativamente á quantidade dos productos, e á facilidade de Jhe separar as semen- tes. A avantajem do nosso methodo de dar valor aos Ai- ( 3390 Algodões não s6 consiste na eâiimaçSo precisa de suas qualidades essenciaes , e sobre tudo relativas ao uso, que delias se pôde fazer , mas em a comparação destas qualidades ; porque igualmente importa o annunciar com certeza a nossas mãos industriosas assim o mere- cimento de huma produccao novj^ , como os melhora- mentos, que ella pôde receber em tal terreno , e por tal Cultivaido!. Pensamos, afinal, que se deve , á vista destas in» dividi.açoes , encorajar assas a Cultura da espécie do Algodão de Mr. Saint Mery ; e que o seu uso será infinitamente vantajoso ás nossas fabricas. hll^ C NO ) CATALOGO DAS ESPÉCIES DOS ALGODOEIROS ULTIMAMENTE CONHECIDOS NA BOTÂNICA SEGUNDO O SYSTEMA NATURAE DE LINNE EXPOST(í^ Por Gmelin, Char. €ss, s^en. Alis dobrado, o exterior partido cm três. A cau- selJa de três , e quatro lugares. Sementes co- bertas de lã. 1 Algodoeiro arvore ^ folhas espalmadas , lobos a- lanceados , tronco arbustivo. 2 Alg. vermelho ~ folhas de cinco lobos , ou pon- tas , veias avermelhadas , tronco arbustivo. 3 Alg, herva — folhas de cinco lobos, huma glându- la ^xir^balxo , talo hervaceo. 4 A\^. sem glândula -^ folhas de cinco lobos , seva landula , três lobos mais allongados , agu- çados , tronco avelludado, 5 Alg. pequena flor — folhas de cinco lobos , huma glândula, mui lisas, o calis maior que a co- rolla. ( 541 ) 6 A!g. do Perií — folhas de cinco lobos agudos , glândulas ties , o calis exterior de três folhas, três glândulas. 7 M^.felpiHlo — folhas de quasi cinco lobos , por baixo huma glândula, raminhos, e peçiolos felpudos. ^ K\g. folha de vide — folhas de cinco lobos , por baixo huma glândula , agudas , o calis exte- rior cortado profundamente. 9 Alg. do Induz — folhas soto trilobas , por baixo sem glândulas , lobos em feição de cunhas, pequenos, XO Alg. leU^ioso — folhas superiores trilobas, agudas por baixo, três glândulas, raminho? pontua^ dos de preto. U A|<^. Barhda — folhas superiores trilobas , inteirissj- mas , por baixo três glândulas, i^ Alg. hrzn folha — folhas agudas, as infímas nã» divididas, jis outrâs trilobas, porb^i.^o huma glaiidi^la. C 342 ) CONTINUAqÂO DA MEMORIA III. SOBRE O ALGODÃO. (Commerce deVAmeri^ue par MãrseiUe Tom. II. p. 18.) Aó prosigo avante com este discurso : parece-me que he demonstrativo , e por consequência mais que sufficiente , para dar lugar a diversos estabeiecimeiííOi de huma filatura supérflua , donde resultará os maio- re« bens ao Estado , ou peia ocupação de muitas fami- lias honradas que jazem em huma miserável ociosida- de, ou pela animação da nossa industria, e actividade na circulação das riquezas Nacionaes , ou pelo proveito real, que os vassallos deste Reino farão por si próprios , fazendo elles mesmos o consummo destas mosselinas , e destas meias. Mas , se chegassem ao ponto de as ven- der aos Estrangeiros, que na realidade deve ser huma infallivel consequência, que augmento não teria amas» sa das nossas riquezas , sobre tudo , fazendo parar a sabida do nosso dinheiro para a índia , donde nunca mais volta. Esta ultima razão requer algumas explica- ções, que não são alheias do meu assumpto, visto es- crever eu para negociantes ; alem do que , eu deveria tratar neste lugar da questão , se o Commercio das In- ( 545) índias nKo causa maiores danos, que utilidades ao Es- tado ! Não entrarei no exame desta importante quês- tão, que tem sido discutida em muitas obras excellen- tes. Contentar-me hei com fazer huma observação ge^ Todo o commercio com os Estranhos, aos quaes enviamos menos fazendas, ào que as que recebemos, principalmente, sendo manobradas porelles, e consum- iTiidas por nós ; e que a que exportamos não iguaíla o seu valor , he ruinoso para a Nação , que dá menos em mercadorias , e muito longe que hum tal commercio mereça a protecção do Governo, deveria ser rigorosa- mente piohibido , com tanto que não haja de ser de géneros , ou mercadorias de huma indispensável neces- sidade ; porque o proveito , que podem fa2er os que o emprehendem, será sempre inferior a perda , que o Esta- do deve fa7.er, Supposto este principio, he facií decidir a questão (l). Propriedades ào Algodão, Quando fallei do uso do Algodão, expuz as suas principaes propriedades , que são , a de servir aos vestuá- rios do homem , para os defender do frio , e ornar suas casas , se pôde acrescentar a estas cousas a de illumi- nar- (l) Passo ás propriedades áo Algodão por resumir e^te artigo, que seria mui comprido, se entrasse na miu- deza dosofficios necessários paia as principaes obras, em que, se emprega o Algodão. Ç 544 > naf por meio dás torcidas, que se fazem do 5eu fio,- que se ensopão em azeite para as velas, e eandieim^. Dizem , que as flores do Algodão são vulnerarias ; qu? o seu óleo he hum bom cosmético ; que as folhas , e flores, cozidas juntamente ,' debaixo das brazas dão hum oleo vermelho , viscoso , mui saudável para a cura das ulceras. Os grãos , ou sementes cozidas fazem huina boa tisana para a tosse^ e moderar a asthma, e todas as moléstias do peito. Alguns Médicos o empresrão na dyssenteria , e esputos de sangue. Sc não ha prova alguma, de qtíe atenha sempre curado, sempre ha al- guma, pela quaijulgão que elle pode produzir este ef- feito. Geralmente se convém , que o Algodão aquece, e dessecca. Ambas as cousas confirma a experiência , e Sem embargo de que ilos paízes quentes empreguem o sei> pa-nno em eamizas , com tudo os Europeos pre- fererrr o panno de linho , como mais são , e menos in- commodo ,: pois não causa certas coceiras , que o seu frouxel f 32 sobre a-pelle delicada, e se julga- mais são, porque o suor do corpo não se demora tanto tempo,, e Se dissipa mats depressa no linho que tíos Algodões-, 'Taímbem se tem t^isto , que o panno do Algodão appli- cado a huma chaga, a-inflamma, e envenena, ou por- que a plumagem , in?:inuando-se pelos poros da carne, impede a Vegetação doshiimores, e por este obstáculo irrita a parte nervosa, ou porque, segundo os cxjmes de Lewenoeck , as fibras do Algodão tenhão doh lados chatos com gume na sua extremidade ,. que dividem fts moléculas da carne,, occasionando Jnflamrraç999 Inglaterra 370 Norte 800 ( tX } ^^''^''' Despachou se para Genebra 160^000 f w"^'/ Ficou no Reino 1:352-^521 Kit- Huma vista simples sobre esta tabõa faz vêr quan- to interessa a Marselha o cdmmercid do Algõdlo. O grande numerf de rtàviòs , que émprèo^à , e os benefícios que deve fazer a Nação pelos novos ialdres j queadquí» re pela filatura ^ ou fabrico de tantas íeiaS , oÚ pan- tioá, cujo recenseamento faria pasmar , se com tudo esta grande qíiantídade toda se gastasse no Reino. Os- seus habitantes éncontrariao nelle verdadeiramente hurn allivio 4s precisões da sua vida , e talvez alguns meiõá de se enriquecerem. ; nias o Estado se empobreceria >ela compra de humá tao grande quantidade de mereadd- ívàí 3 sé nad fosse o pagamento dos riossos pannos dá Languedoco Feiisménlè 6 nosso fabrico dos pannbs àú Algodão attende ; assim ás nossas , como ás precisões gs- trangéifas ,' èque só podeitios ganhar j expoííándo os fá- ra do Reino»- A importância do commercio do Algodão ^ relativa- mente ás noéas manufacturas, è ao maior valor ^ qU^ pôáé ter pela nossa industria, tem e^usadò diversos re- gíílarríentos para a satisfação dds direitos^ impostos 2í entrada do Reino até 1749 5 «m qise sé declarou por Acórdão 5- que os Áígodóes de nossas Colónias eráo isento? de todo o direito assim na sua entrada 5^ corno pelo seU transito àé huma para outrS PrQvínçis<í Antes de entrai nestes detslhes , Vou desçobnf duas fraude § conhecidaí, èom que nos impòrtao ^mm ã lâ dê nossas Colónias, eomo ú fiado de Levante*. Tem-sevisto, que ^^ p;ífa ecsiccarem com maior ía^- éifidáde o Algodão nâ America, se moina oimerior do<' T* V, F. í. é^Q4- gaccos , e ainda o exterior , bem que ligeiramente, para que , por meio desta humidade , o frouxel , ou pliimas^era deste Algodão se apegue ao panno , e não suba , ou cresça peias paredes da sacca , quando se calca , e pisa com o iiiasso. Esta precaução , qqe não deixa de ser Mtil no seu principio, tendo degenerado em abuso pe- la ladroice de, aiguns insulanos, que com este pretexto inolhão todo o Algodão , para o fazer mais pesado , com isto lhe procurão huma fermentação, que debilita os fios da plumao-em ; e algumas vezes o fazem apo- drecer na viagem , ou embarque. Para obviar este in- conveniente , tão contrario á boa fé do commercio, e tão ruinoso á reputação de nossas manufacturas, o Rei , sempre attencioso ao interesse do commercio do seu povo, estabeleceo o regulamento do commercio dos Al* godões ao zo de Septembro de lysp. m- CALCULO DO AZEITE DO ALGODÃO; No Brasil pot hum Calculo mediò se tem vuidd no conhecimento de que huma arroba de Algodão com semente , depois de limpo resulta a quarta parte de Algodão puro , e três quartas partes de semente , vin- do desta sorte ao pezo oito arráteis de Algodão , e vin- te e quatro de sementes. Por cada sacca , que do Brasil se exporta , cóstii. mão estas ter de Algodão quatro arrobas , e deixandè de semente doze arrobas no BrasiL Computa-se que annualmente exporta ô Brazil setenta e cinco mil saccas de Al- godão puro , e humas por outras de qua* tro arrobas , que fazem ao todo 500(^000 arrobas, e deixando de sementes È que o Algodão consumido no mesmo Brasil deitará a trinta mil arrobas , e es* tas deixão de semente Pelo Algodão de esperdicios três mil arro- bas , è estas deixão por estimação iè semente pob^l^o®© 90^00© lO^CÕÔ Total ds sementes arrobas « - i:ooo^co© c-dN« CONCLUSÃO. Tendo-seJ achado que huma arroba de semente^ deita as duas terças partes de Azeito , e huma de fezes. {' Vem por consequência ao calculo que o milhão acima de sementes produz 666^666 arrobas de Azeite. E vistQ que hum arrátel de semente dá hum quartilho de Azeite ; vem assim ao todo a produzir as 666(^666 arrobas de Azeite 2i:jj5<^jjj quartilhos, «'u S*-33J^5?8 canadas, ou 444:444 almudes que re« duzidos estes a pipas de vinte e seis almudes , produ* zem pipas 175^094 , havidas somente com a despeza da condução da semente , e factura do Azeite Posto em Lisboa a 100 réis a canada dará 535:366^600, Ora se este calculo Jor p»r falsa p oslçao , não dd* ocará de contei-lbuma verdade J/^tefessante a Agricultura^ e Coinmerclo. CALCULO SOBRE O AZEITE DO ALGODÃO. fransactions of the American PhllosophlcalSoclety, VoJ. I. pag. JQJ. P Doutor Kond na mesma occasião apresentou huma arriostra de azeite , feito das sementes do Algo- dão , que fora remettida pelo mesmo sujeito , sobiQ que fez a seguinte exposição. Este azeite he das sémen- íes do Algodão ^ íeito do mesmo modo que o áo Gi- ra- msol Alqueire e meio de sementes rendeo duas cana» das, e hum quartilho ; e me informa, que nas Ind.as Occid.ntaes usao dclle proveitosamente para pacificar as dores de cólica, CONCLUSÃO. No Brasil se perde todos os annos hum milhão de arrobas de sementes de Algodão, que, desmancha- do em azeite , daria todo quanto o Reino carecesse para as suas illuminaçóes , e com que se baratearia a favor da pobreza , e das Colónias o da Oliveira , sem que aquelle custasse ao Estado mais que o beneficio de p fazer , Os carretos da terra , e os fretes do mar ; por quanto o gasto da sua cultura ficou saldado pela pro- » ducçâo da lã. Ora hum milhão de arrobas de sementes dão dezasete mil e tantas pipas de vinte e seis almu- áes cada huma ; e o seu transporte por mar acrescen- taria o numero de vasos da marinha mercante. O cal- culo , que ajunto a este papel , fará ver a V- E^" CELLENCIA a probabilidade desta especulação , que terei muita satisfação em a yer realizada. He cOm to-^ ido o acatamento ■ Pe V. EXCELLENCí A Fr. Jcsé Uarimo da Concçiçee Keltozo. ERRATAS. Víi€' ' lin erros emendas. 2 24e 25 desaiioçar descaroçar 20 22 mesmo três m«smo modo três , 29 19 quinhentos quinhentas n 29 á causa por causa ?2 18 pezando pizando 52 17 aos que aos quaes í? 14 tenha tinha ^^ 28 tenha tinha ib. 25» seginte seguinte .82 24 que os intermédio que intermédio ^7 í e 4 bem lavrada lavradas 89 8 com sementes do rio com areias do rio :7i 22 ao divisor á dobadoura ^2 ? - phisseurs phisieurs ?J 7 Chypre os Algoãoei. ■ Chypre os Algodoeiros se divi- ros ãe asna corren- dem , em Algcíloeirus de agiie. te , em Algodoei- corrente , e Algoãoei ros àe tcf ro de terra secca. ra secca» M 4 domestico domésticos ib. II Nicolion Nicolson ib. 12 Budier Badier 99 2j arbusto mais arbusto he mais ib. 25 he a de que io(í 5 Asiáticas, Asiática* 109 10 Os As 126 14 ellas eiles 'ij8 ir a máo na mão 142 25 éxct^it excedem 14? 2<> quizesse quizessem 147 IO Chegando-st Cliegar-se-hsf 150 l£ em U, ãni fiff. i ij E^t.5. O C 294) Origem do Algodão. 2Z 39 §. lí. Cultura do Algodoeira. §. III. Usi) do Algodão, RECAPITULAq. Despex,a para caça, Despeza para melas. luEMOR. III. Sobre o Algodão. By Leiong. (The H/j- tory of Jamaica. Cotton. Vol. III. pag. 686.) Gossj/' pi um semlnlhus malorlbus BraslUanum. 4r IvEMOR. IV. Sobre o Algodoeiro. Çotonier. (Nouveau Dlctlonalre d'Hlstoire Naturelle, Tqm. VI. pag. 293.) / Hspccte I. 'Espécie II. Bípecie III. Espécie IV. Espécie V. Espécie yi. Espécie Vil» 51 ibid. ibid, $5 ibid. 54 §. II. Observações de 7VÍ. de Rohr sobre as espécies , e variedades de Algodoeiros assim indigenos , como cuU tlvados actualmente na America. ibid. §. I. Algodoeiros de semente negra grosseira. 5J §. II. Algodoeiros que tem a semente trigueira escura ^ e a superficie Usa com velas. 6> §. III. Algodoeiros y que tem a semente com a superficie salpicada de pellos mui curtos de modo que com Jacl* lldade s& destingue a còr da casca ; porem as veias entre si menos bem. 11 s. C 295 ) §. IV. Algodoeiros com a sttperjicle da semente em par» te , ou no iodo guarnecida de liuma ^felpa , ou , me^ Ihor , pellos espessos no ponto de se lhe não poder dis' tlngulr a còr de sua casca, 7 5 III. Culiura. to Sementes, ^ 1 B^ah. ibid., Colheita j ou rendimento. 82 Terrenos. ibid» Cultura do Algodoeiro na Europa, 2 3 Cultura do Algodoeiro em Asla, çO Cultura no Continente de Africa. 94. Cultura na America, 95 §. IV. Inimigos do Algodoeiro,' lOO §. V. Commerclo do Algodão. 10 J Algodão da America. ibid. Algodão do Levante. ^ 104 §. VI. Empregos do Algodão .^ cordoaria^ e filatura, 105 iVlEMOR. V. Sobre o Algodão da Grã Bretanha. AnnaU of AgricuUufe CT cellectcd and puhllshed, By Arthur Youngs. 112 MEMOR. VI. Lida a 20 em Junta em Sessão pública do Lj/ceo das Artes Pelo Cidadão Bruley Hum dos Membros da Sociedade das Sdenclas , e de outras muU tas. QMemolres des Socletés Savantes et Liíteraires de la Repub, Franc. Tom. I. pag. 262.) 12C IVIEMOR. VII. Sobre o Algodão. Coton (pictionairc aiúverselle du Commerce.') Savary du Brulei. 129 ME- ,1 C ^96 ) MEMOR. VIII. Sobre o Algodão. Por José de Sá Be^ tencour. 179 Bescripção das differentes espécies de Algodão que te- mos no Brazil. 199 Algodão do Maranhão de caroço inteiro ^ e comprido^ ibid. Algodão de caroço pardo , e inteiro. ibid.. Algodão de caroço verde , e inteiro. 20O Algodão de caroço inteiro de lã parda còr de ganga, ibid. Algodão vulgar, • 201 Algodão da Índia de caroço dividido^ e coberto de hmn pello branco. ibid. Calculo Analytico. 10} Calculo Synthetico do rendimento do Algodão do ca- roço pardo , verde , e do Maranhão. ibid. Annitncio de hiima maíjuina singela de carmear o Algo- dão ^ vista na China. Por * * * Com huma Estam- pa. 204 MEMOR. IX. Sobre a cultura dos Algodoeiros. Por / Manoel d^Arruda Camará. Introducção. 20$ CAP. I. Da antiguidade do uso do Algodão , e da van- tagem j (jue tem resultado a Portugal ^ e a Paranãbuc a sua cultura. CAP. II. -Da Descripção do Algodoeiro, Descripção. Espécies» Variedades. 210 219 ibid. 220 ibid. Ha. C 297 ) Habitação. ^- 22Í CAP. in. Va terra mais própria , ou mais con-oeniente para a cultura dos Algodoeiros. 224 CAP. IV. Do clima , ou temperatura do ar , mais con- veniente à vegetação do Algodoeiro. 251 CAP. V. Da melhor maneira de plantar os Algodoei- ros. 232 CAP. VI. Das operações , (jue se devem fa7.er aos Al- godoeiros , para produzirem melhor (jualidade , e maior abundância de Algodão. Tres operações se devem pra- ticar nos Algodoeiros , para os obrigar a produzir mais , e melhor fructOr ; a primeira , he chamada ca^ pação ; a segunda , chamo poda ; a terceira , decota^ ^ão. Da primeira operação ^ a que chamo capação. / 240 Da segunda operação^ a (jue eu chamo poda.. 24 J CAP. VII. Das moléstias a (jue são sujeitos os Algodoei-^ ros. 247 Da debilidade , oít marasmo. ibíd. Da pletora. ^4^ Do aborto , ati movito, 249 Do resfriamento. 25O Do cancro. jbid. Do golpe do Sol (Sideratio). ^5^ Das moléstias causadas pelo attaque dos Insectos^ e pas- saros. Da broca, ^S^ Da lagarta. 25 } Do gafanhoto. 254 Da Vú gafanhoto , a (jtie ca dei o nome , Camaleão volante. 256 T>o Gafanhoto , a que chamei geiíicitlatus , ou de grandes joelhos. 2$ 7 Do Gajfanhoto , a que chamo , gladiador, ibid. Do Gafanhoto a que chamo pigmeo. 25 S Do Percevejo , que persegue os Algodoeiros, jbid. Dos pássaros y que perseguem os jilgodoeiros, 261 CAP. Vííl. Da monda. 262 CAP. IX. Da colheita do Algodão, 266 CAP. X. Do descaroçamento ^ e ensaccament». 272 ARTICULO I. Do descaroçamento, ibid. ARTICULO II. Do ensaccamento, aSj Vso^ desta maquina, 2Sj ADVERTÊNCIA A respeito ds algumas figuras illa- , minadas. 2pX F I M. índice ^AO APPENDICE. XVI Emo,ria I. da cultura do Algodoeiro Herva. (5'é- manario de Jgncnlttira Tom. VI. Num. IÇÇ. pag. 385.) Pag. 299 Memoria IL da cultura , e cnmmercio do Algodão em Sicilia. (Semanário de Agricultara ^ e Artes ^uúl. l8d. Tom. VIII. pa?. 49.) 504 JWemoria IIÍ. Observações sobre differentes espécies de Algodoeiros cultivados em Guadalupe, Por Mr. de Badier. ÇMemoires de Agriculture , de Economie Ru* rale et Domestique Anne 1-}%1 trimestre de Automns p. 118.) 30? Algodoeiros do Commercio. Num. i. Algodoeiro ves* tido. 3^4 Num. 2. J.^godo-eiro São Martinho. Joid. Num, 3. Algodoeiro Pedra, ^^^^* Num. 4. Algodoeiro Branco ç'jo, ibia. Num. 5. Algodoeiro Pluma, 3^5 Num. 6. Algodoeiro grosso grifo, 3^^ Isíum. 7» Algodoeiro pequenos grãou ibid. Num. 8. Algodoeiro Trindade, ibid. Num, 9. Algodoeiro Seda. 317 Num. I. Algodoeiro Seda casca roxa, ibid. Num. 2. Algodoeiro Seda folhas entrepartidas. |lS Num. 3, Algodoeiro Sião bastardo de grãos cobertos de huma pluma verdoenga escura, ibid, ibid. Num, Kiim, 4. Algodoeiro Mandiocat "Nuwi. ç. Algodoeiro Sião bastardo , grá^o/ «í^-roj e ÍU ibid. Num, 5. Algodoeiro Sião franco, ,,„ Num. 7 Algodoeiro Seda grãos negros , c Usos. ibid, Niim. S. Algodoeiro Seda , pequenos gr^íos cobertos de hama pluma azul verdoenga, ,20 Num. ^. Algodoeiro Seda , capitlho dividido em cinco lagares, i^^jj^ Num, 10. Algodoeiro Seda , dividido em quatro lu^a^ ibid. Memoria IV. sobre huma espécie de Algodão chamado em Sáo Domingos Algodão Seda, ou Santa Alartha. Por Mr. Moreau de Saint Mery , Correspondente da Sociedade, ( Memoires de Agriculture , de Economié Rin-al , e Domestiqii£ anno 1788 trimestre de Auto^ ! mne p. ij 3.) j . j Resolução Académica da Memoria de J\lr. Moreau de S. Mery. Sobre b Algodão de Seda. P. MM. Des- marest , Abeiile e Thouin. , .5^4 Catalogo das espécies dos Algodoeiros ultimam.ente cci* nhecidos na Botânica segundo o systema naturae dd Linne exposto por Gmelin. Char. ess. gen. ^4^' Continuação da Memoria llí. sobre o Algodão, (^Com- mercê de V Anierique par Marjeille T. II. p. iS) 342 Propriedades do Algodão, j^^ Commerclo do Algodão, » ^ j it)id. F I M.