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E CORRUIRAs( org: Je"; 05% 1 48 PD GATURAMO * ER, Ss AR UA TICO-TICO (orig.) +. 8. w SEM PINTASILGO:* “mois Epa A “CHÓCA ou BORRALHARA Egas As SANHASSÚ-FRADE O TESOURA (orig. segundo Vohse) BEMSTE-VECOriscd. So tis nao Mo IçE SABIÁ LARANJEIRA (orig. e ALMA DE GATO (orig.) SURWC As tp da TUCANO * A e A PU À SA CORDA Cr a DR A EMAs A Ora ra * Do Catalogo de Aves do «British Museum» ** Dos Proceedings of the Zool. Soc. London o Da «Argentine Ornithology», Sclater & Hudson oo Dos Transactions of the Zool. Soc. London O LIVRINHO DAS AVES O AUTOR RESERVA-SE TODOS OS DIREITOS LITERARIOS E ARTISTICO Prefacio Não sei porque, quiz o Sr. Rodolfo von Ihering, portador de um nome glorioso e caro aos nossos es- tudiosos do direito e da natureza patria, que eu lhe prefaciasse este livrinho, um dos mais belos e preciosos mimos que jamais se fizeram aos nossos meninos a e aos seus pais. Com o fim educativo de interessar e instruir as crianças no conhecimento das aves, da sua utilidade e de inspirar-lhes do mesmo passo intelijentes senti- mentos de benevolencia que as levem a poupal-as e protejel-as, instituiu S. Paulo a festa das aves, a par da festa das arvores. As crianças de hoje serão os homens de amanhan. Educados no amor e respeito das arvores e das aves, as futuras populações paulistas serão mais compas- sivas com as plantas e os passaros do que por via de regra somos hoje. No seu coração se fará maior a dose da larga e nobre simpatia humana que alcança todas as cousas. O amor das aves assim inspirado atalhará a sua destruição completa, já desgraçada- mente em todo o Brasil em bom caminho. Assim todo ele imitasse mais este bom exemplo que lhe dá S. Paulo, instituindo festa igual. Outras vantajens e até de ordem pratica, terá esta forma de educação moral da festa das aves, cujos motivos justifica e explica este livrinho. Preparando a defeza, a conservação, a proteção das Aves, S. Paulo, e toda a terra que fizer como ele, igualmente promove um grande beneficio à sua lavoura, à sua horticultura, à sua floricultura e a todos os ramos da sua já notavel actividade agricola. E, o que é melhor, o promove plantando no coração dos seus futuros cidadãos um fecundo; germen de bondade. O Sr. Rodolfo von Ihering não é, como eu, méro amador platonico da natureza, mas um sabedor das sciencias que a estudam. Filho do sciente Director do Museu Paulista, o Dr. Hermann von Ihering (neto, portanto, do preclaro jurista) e seu ajudante ou assistente na direcção desse Museu, que é já um no- tavel centro desses estudos, o Sr. Rodolfo von Ihering deu ainda ha pouco novo testemunho dos conheci- mentos da nossa zoolojia, no seu excelente Dicionario da Fauna Brasileira. Fala, pois, de cadeira. Os pequenos que lerem este livrinho, despreten- cioso e simples, sobrio e agradavel — e ainda os grandes que tambem acharão proveito em lello — podem confiar-lhe nas noções e ensinamentos, que são de um sabedor, e nas sujestões e conselhos que são de um discreto e sincero amigo da natureza, e particularmente da nossa. Precisamos seguir o exemplo de outros paizes e de S. Paulo e criar um movimento que ponha termo ou ao menos obices aos grandes estragos que nela, nomeadamente na sua flora e fauna, estamos irra- cionalmente fazendo. Carecemos de leis rigorosas, e sobretudo de leis executadas, sobre o desflorestamento, como sobre a caça e a pesca, sob pena de vermos grandemente minguadas e até destruídas fontes de riqueza do maior valor. Alem deste aspecto economico ha na questão geral da proteção da natureza, e particularmente dos ani- mais uteis, uma feição moral ou sentimental da maior relevancia. Põe-no em evidencia com saber seguro e eloguencia simples mas persuasiva o Sr. Ihering. nm Os Estados Unidos, onde ao mais claro espirito pratico se alia o mais alevantado idealismo, estabe- leceram ultimamente leis rigorosas não só coibindo a destruição das aves no seu territorio, mas até a importação nele de despojos animais cuja acquisição importe na destruição barbara de especies inteiras. E as elegantes norte-americanas, retour de Paris, viram arrancadas pelas mãos brutais dos empregados do fisco as lindas aigrettes, dos seus custosos cha- peus. Agui mesmo, no Pará, satisfazendo ao reclamo do Director do Museu Paraense, o sabio zoolojista Dr. Emilio A. Goeldi, o Congresso estadual votou ha anos uma lei regulando a caça das garças e outras belas aves, que são a gloria dos lagos e igarapés paraenses. Amemos, pois, a natureza em geral, e essas joias vivas e moventes que a enfeitam e alegram, as aves; amemol-as, mas de um amor efectivo, amparando-as contra os gatos, contra os nossos filhos, contra nós mesmos. Este livrinho nos ensinará a amal-as intelijen- temente e a protejel-as eficazmente. JOSÉ VERISSIMO. Enjenho Novo (Rio de Janeiro), 20 de fevereiro de 914. VVVV = ESES UTILIDADE DAS AVES À NATUREZA não faz distincção entre seres vuv) uteis e inuteis. Todas as especies de animaes e plantas têm o seu papel a desempe- nhar neste conjuncto organizado com admiravel sabedoria, e que constitue a fauna e a flóra de um paiz. O homem em seu egoismo, é que discri- mina especies uteis, indiferentes e prejudiciaes, tomando-se a si proprio por centro de toda a creação. Assim consideramos uteis as plantas e os animaes que nos prestam qualquer serviço ou dos quaes podemos tirar qualquer proveito, directo ou indirecto. São-nos indifferentes aquelles seres cuja existencia nos passa quasi ou de todo despercebida, e de prejudiciaes taxamos áquelles que nos causam qualquer damno, á nossa saúde ou á nossa propriedade. Não nos lembramos, porem que é indispen- savel que haja continuamente essa lucta pela existencia, para que subsista o equilibrio natural, Pç ERRA O LIVRINHO DAS AVES a harmonia do conjuncto. A planta fornece o alimento ao herbivoro; este por sua vez ali- menta o carnivoro. Não é acaso haver tão poucas onças e jaguatiricas, mesmo na matta virgem: é a propria natureza que de varios modos lhes difficulta a multiplicação da especie. Mas esses carnivoros são necessarios, pois do contrario o numero de antas, veados, paccas, etc. seria extraordinario e tamanha quantidade de herbivoros prejudicaria o crescimento das plantas. Baste este exemplo rudimentar para mostrar como na natureza as especies se con- trabalançam, dando em resultado o equilibrio natural. Com relação á Agricultura, é verdade que ha um bom numero de animaes, insectos prin- cipalmente, que se tornam pragas. Determina- das especies procriam em tal quantidade que para alimentar-se, devastam as nossas planta- ções. Da mesma forma a Hygiene accusa grande numero de outros bichinhos que espalham mo- lestias entre os homens e a criação, levando e inoculando os germens da doença de pessôas e animaes doentes aos sãos. Beija-flôres (Fam. Trochilidae). Joias da natureza, primores sem egual, estas aves maravilhosas, “que não descem ao chão para evitar o contacto com o pó da terrs,”' são o previlegio da natureza sul-americana. E justamente por serem mais lindos que as flôres e mais scintillantes que um punhado de gemmas, os pobres beija-flôres são victimas da moda feminina — crueldade senão crime matar assim ás centenas estas bellas e uteis creaturas da nossa fauna (veja á pg. 11). Ao Brazil couberam apenas 80 especies das quasi 500 que se conhecem ao todo. À nossa estampa representa, emcima Stephanoxis lalandei, embaixo Chrysolampis mosquitus. a pao Beija-flôres a Ra & ER a UTILIDADE DAS AVES Esses seres prejudiciaes é preciso comba- tel-os e, si possivel, exterminar, em defeza dos nossos interesses primordiaes. Taes são os gafanhotos, cujas nuvens, ca- hindo sobre as plantações, devastam toda a vegetação; o curuquerê, a lagarta que destróe o algodoeiro; o gorgulho que carcome os cereaes nos celleiros; as formigas, os cupins e tantos outros insectos, por mil modos nocivos. Perigosissimos á nossa saude são: os mos- quitos que transmittem as febres; a mosca das casas que propaga toda a sorte de molestias; os carrapatos que inoculam doenças no gado e nas gallinhas. Em nossa defeza procuramos exterminar esses insectos prejudiciaes; da mes- ma forma é inevitavel que eliminemos as ser- pentes (cascaveis, jararácas, urutús) cuja mor- dedura determina a morte quasi instantanea do homem e do gado. Entre os mammiferos é, si não justo, pelo menos natural que matemos todas as onças, gatos do mato e outros carnivoros perigosos; os gambás que dizimam os nossos gallinheiros; as capiváras, que devastam as plantações de milho e de arroz; os ratos, que alem de estra- garem tudo que podem roer, ainda nos trazem a peste bubonica. E entre as aves, haverá da mesma forma especies que nos sejam perigosas ou quando ER: peso O LIVRINHO DAS AVES muito prejudiciaes? Percorrendo a lista toda das 1.600 especies que compõem a avifauna brazileira, será difficil apontar uma unica, se- quer, da qual se possa dizer que melhor fôra não existisse e que ha razões sufficientes para votal-a ao exterminio. Não negaremos que uns tantos passarinhos por vezes se tornam incommodos, porque ar- rancam algumas sementes apenas germinadas dos canteiros da horta ou da roça ha pouco plantada. Alguns papagaios e principalmente as maitácas e os periquitos invadem de quando em vez o milharal e inutilizam algumas espi- gas. E são só estes, ou pouquissimos mais, os malefícios que podemos attribuir á classe toda, — 1.600 especies de passaros e aves—todas ellas tão perseguidas pelo homem, e entretanto todas ellas tão lindas e graciosas ou pelo me- nos interessantes; tão attrahentes pelo colorido artístico, pela delicadeza das suas formas e mo- vimentos, pela suavidade do seu canto. Como as flôres no reino vegetal, os passa- ros são o ornamento da fauna; e, como aquellas, Coruira — Cambaxirra — Carriça (Fam. Troglodytidae, Troglodytes mus- culus). Muito gracioso e irriquieto, este nosso amiguinho vive a saltitar pelos muros, ou então, da cumieira ou qualquer ponto mais elevado, faz ouvir a sua melodia schistosa e alegre, interrompida as vezes por uma conversa em voz guttural: “krét-krét-kret”. O seu ninho quasi sempre fica escondido entre as telhas ou em algum outro abrigo seguro; offerecendo-lhe uma caixinha, collocada em lugar conveniente a Coruira não demora em acceital-a, para escondrijo de seu ninho e uma vez affeita ao local, toda a parentela considera-se hospede da casa—o aluguel elles pagam em melodias e com o serviço de limpeza da horta e do pomar, onde catam os insectos. E Corruira ou Carriça UTILIDADE DAS AVES não são apenas elementos decorativos. São factores indispensaveis, utilissimos, encarrega- dos pela Natureza de multiplos trabalhos, que só elles, os passaros, sabem executar com toda a delicadeza e perfeição. Vamos enumerar, muito por alto, esses ser- viços que as aves prestam na natureza e os muitos benifiícios que lhes devemos. Para isto acompanhemos os passarinhos em sua vida de todos os dias, espreitemos quaes as suas occupações que afinal se resumem em procurar o alimento para a sua subsistencia e cuidar da procreação: construir o ninho, chôcar os ovos e criar os pintinhos. Da manhã á tarde vemos os passarinhos saltitando e voando ataréfados; apenas durante as horas da canicula elles repousam na sombra da folhagem. As abelhas, sempre citadas como prototypos da actividade, só dão inícios aos seus labores quando o sol começa a aquecer; os passarinhos nem esperam pela madrugada e ainda é quasi noute escura quando já lhes ou- vimos as primeiras estrophes do hymno ao sol. Todos os passaros canoros assim começam o dia e, sempre alegres, vão terminal-o ainda ao pôr do sol, com outro adeus melodioso. De resto, como já dissemos, as obrigações das aves resumem-se em comer para viver e cuidar dos filhos. Em outros capitulos veremos Rr a O LIVRINHO DAS AVES quanto são penosos estes ultimos trabalhos; aqui veremos quaes os encargos dados ás aves pela Natureza, e como ellas desempenham a sua taréfa. Começaremos por citar exemplos da matta, onde a natureza actua livremente e onde por- tanto todas as funcções biologicas—tanto as que são favoraveis como as destavoraveis aos animaes e ás plantas —se exercem muito mais normalmente do que nos arredores das cida- des ou nas fazendas, onde o homem já trans- tornou as disposições naturaes. Lá tudo foi tomado em consideração, para que a cada elemento da fauna e da flóra coubesse o seu justo quinhão; onde habita o homem houve transformações, deram-se preferencias a esta ou áquella especie de plantas ou animaes e foram preteridas outras que não nos offerecem vantagem directa. Transformamos tudo na na- tureza como mais nos convem: não nos quei- xemos depois, quando tivermos de soffrer as consequencias dos nossos desatinos. Todo o conjuncto das variadissimas especies de passarinhos das familias Formicariidas (Papa- O Gaturama (Fam. Tanagridae, Euphonia aurea). Os lindos passarinhos deste genero, ao todo 14 especies brazileiras, bem como os «Sahys» (gen. Calospiza, 26 esp.), abundam junto ás casas da roça e são principalmente as fructeiras que os attrahem: laranjas, goyabas e bananas picadas, é quasi certo que foram elles que saborearam. Mas por tão pouco, não ha quem os con- demne e todos lhes apreciam o colorido bellissimo e o canto suave. São como as rosas dos nossos jardins: não lhes descubrimos nenhuma utilidade e quando os seus espinhos nos férem, perdoamos o pequeno mal por amor à sua belleza. E Gaturamo à La Ri e Ea ia y f se. RS CA = nice E , UTILIDADE DAS AVES formigas, Borralharas, Továcas) e Dendrocolapti- das (João de Barro, Pichororé, João Tenenem, Pincha-cisco, Vira-folha, Arapassú) que, afóra o popular João de Barro, quasi ninguem conhece, comprehende habitantes da maita e protectores da mesma. O seu alimento consiste quasi uni- camente em insectos e larvas, e por isto vemol-os constantemente occupados em caçar esses bi- chinhos, dos quaes comem centenas no correr do dia. Desta forma elles desempenham um papel importantissimo que lhes foi assignalado pela natureza, analogo ao do exemplo que acima mencionamos ao explicar o equilibrio natural das especies. Destruindo milhões de insectos no correr do anno, esses passarinhos impedem que as pragas alastrem e assim protegem os vegetaes contra os estragos que do contrario os insectos damninhos, as lagartas e as larvas iriam causar aos troncos e galhos, á folhagem e ás flôres e sementes. Supponhamos que durante um anno apenas, esses passarinhos deixassem de cumprir a sua missão: a consequencia seria a proliferação ilimitada desses insectos damninhos e todos os vegetaes, desde as delicadas hervinhas até as arvores gigantescas, teriam todos os seus orgãos roidos e carcomidos. Quem já reparou Eae O LIVRINHO DAS AVES na voracidade de uma lagarta (como a do bicho da seda) pode imaginar que estragos centenas e milhares dessas lagartas podem causar na folhagem de uma arvore: a pobre planta aca- baria por ser privada de todas as suas folhas e portanto não poderia respirar, sentir-se-hia pelo menos gravemente prejudicada, perderia todo viço em produzir novas folhas e na segunda ou terceira vez que assim fosse maltratada, acabaria por estiolar e succumbir. Por isto a natureza manda os passarinhos catar essas centenas de larvinhas que nascem de cada postura da borboleta e as poucas larvas que escapam á perseguição, bastam para con- servar um numero regular de individuos da especie. Si o beija-flôr vôa incançavel de uma flôr para outra, não o faz só para distribuir caricies e inebriar-se no perfume. Elle o que procura é o seu alimento, que consiste em minusculos insectos, escondidos no calice das flôres, insectos . esses que estavam carcomendo as petalas e O Tico-tico (Fam. Fringillidae, Brachyspiza capensis) representa entre nós o papel do pardal europeo, e como este, gosta de viver junto ás nossas casas, mesmo na cidade; mas muito ao contrario daquelle seu parente de má fama, o Tico-tico, longe de ser importuno ou prejudicial, torna-se util por dar caça a innumeros insectos. A sua voz é melodiosa e bem timbrada e a pequena phrase que sabe dizer, ella a repete sem cançar, das primeiras horas do dia até a noute: «Tiu, tiu, tiu, tiu, — ti-ti-tiu”' — (Todo dia assim, assim”. ade Tico-tico ' y E é ra Db = RR o SA Pay 824 pn Ame » UTILIDADE DAS AVES prejudicando o desenvolvimento normal do fructo ou da semente. Ao mesmo tempo os beija-ilôres se encarre- gam inconscientemente de outro serviço, muito mais importante. Quando a graciosa avesinha. introduz o seu longo bico no fundo do calice da primeira flôr, o pollen maduro dos estames cahe sobre a piumagem da cabeça ou prende-se directamente ao bico (Orchideas). Engulidos os insectos dessa flôr, o mimoso colibri vae em procura de outra e ahi, repetindo a mesma busca, deixa cahir o pollen que inconsciente- mente transportava, no pistillo desta outra flôr. Sem o saber, o beija-flôr practicou um dos mais importantes actos de boa jardinagem: promoveu o cruzamento dos germens, fazendo com que a futura semente se componha da fusão de dous elementos de especie igual mas de pés ou ao menos de galhos diversos, o que constitue uma garantia para que a planta seja robusta e sadia. Talvez haja quem nos queira objectar que tam- bem as abelhas e muitos outros insectos prestam serviço analogo, e que portanto as flôres bem poderão prescindir do auxilio dessas avesinhas. Lembraremos porem que ha flôres cuja confor- mação é tal, que só o longo bico do beija-ilôr consegue attingir o estigma, e que portanto, não apparecendo a tempo quem lhe traga o pollen, a flôr não poderá produzir semente. ER PERSEGUIÇÃO QUE SOFFREM AS AVES P ARA ter alguns passarinhos presos em ooo| gaiola, querendo que cantem na infelici- dade e na prisão. todo o anno a rapasiada vive armando laços, alçapões e urupúcas. Por causa de sua bella voz são condemnados á gaiola: papa-capins, canarios da terra, pintasilgos, collei- rinhas, gaturamos, bicudos e as varias especies de sabiás. Por amor da belleza de sua pluma- gem tem-se presos em viveiros: sahys e sahyras, cardeaes, tiés e sanháços e mesmo rolas, gralhas, sem falar em tucanos e papagaios. Será preciso relembrar aqui todas as miserias porque passa uma dessas pobres creaturas, desde o momento em que perde a liberdade para a qual foi destinada? Dous palmos quadrados é o maximo que se concede a quem devia per- Pintasilgo (Fam. Fringillidae, Spinus ictericus) é parente proximo dos canarios e, como estes, foi dotado de bella voz—mas por isto mesmo todos elles são victimas das urupúcas e condemnados á gaiola. Um canario hamburguez, nascido nas estufas, que nunca conheceu a liberdade nem aprendeu a luctar pela vida, não pede (suppomos nós homens) que o soltemos—mas um filho das nossas selvas nunca se conformará com a prisão e, quando assim mesmo canta, as suas estrophes só dizem saudades . ... AA, | | poa Pintasilgo E ntierta a quem. está. habituado a um jeber na fonte crystallina; ar impuro das asseio quasi sempre mais que mediocre, para ga Enem nunca foi visto senão com plumagem im- — maculada. Sem falar nos sobresaltos de todos - Preitar occasião azada para estraçalhar o infeliz prisioneiro ! A “Victimas da moda feminina, milhares das ig is bellas aves do nosso paiz são mortas an- mM ualmente, pobresinhas, unicamente para satis- ice “a plumagem toda, de outras são algumas as sómente que o caçador aproveita e pre- bra, para mandal-as ás casas commerciaes, onde vão as damas comprar os seus adereços: aigrettes de garças, couros de beija-flôres, azas das mais ricas aves das nossas mattas, emfim todos esses . Eorhécs da guerra de extermínio ás joias da pela niféide dessas senhoras que cada uma das SR que o negociante exhibe é obtida á custa sacrifício de uma vida; que essa avesinha, momento de receber o tiro mortal, carregava z no bico o alimento dos pintinhos que RR e qr nen variado; agua quente e suja, para quem “+08 dias e as ameaças constantes do gato a es- fizerem um capricho de elegancia. De algumas: O LIVRINHO DAS AVES esperavam pela mãe no ninho? Sem a sua mãe carinhosa e incançavel, quem poderia saciar as avesitas implumes e dna as contra o frio da noute ? Com uma só pontaria, o caçador cruel con- demna á morte a mãe e meia duzia de filhotes. Por tal preço, vendo toda esta miseria, quem terá prazer em ornar-se com taes plumas, man- chadas de sangue? Não ha o que resista á moda, bem o sa- bemos; mas façamos votos porque a elegancia feminina, distincta e nobre, se limite ao uzo das. plumagens obtidas racionalmente, como as do avestruz. Essa ave, ha pouco, ainda, vinha sendo igualmente exterminada pelos caçadores de plu- mas. Agora, com muito mais vantagem, sem os sacrificar e, principalmente, sem desfalcar a na- tureza, obtêm-se as lindas plumas creando os. avestruzes como se criam as ovelhas, multiplica-se o bando e ao tempo certo destacam-se as pennas vendaveis. Que se consiga o mesmo para as garças fornecedoras de aigrettes, para que se ponha Chócas ou Roni (Fam. Formicariidae, gen. Thamnophilus). Ha uma grande variedade de especies destes passaros que habitam exclusivamente à floresta, e por isto só os conhecem mais de perto os caçadores e os trabalha- dores do matto. A natureza confiou-lhes a missão de proteger as arvores contra os insectos damninhos e si nunca ouvimos falar em pragas que devastem a matta (como tão frequente acontece nas nossas plantações) é à essas avesinhas que em boa parte cabe o merecimento de não ter deixado alastrar o mal. (A figura representa um casal de Prato pias coerulescens, o macho preto, a femea pardal. To e Chóca ou Borralhara PERSEGUIÇÃO QUE SOFFREM AS AVES termo á crueldade—ou então que a mulher generosa prescinda desse ornato e, fazendo um pequeno sacrifício, poupe a vida dessas lindas creaturas, já hoje quasi exterminadas. : Para os beija-flôres delicados e bellos como nenhuma ave, não ha a possibilidade da creação no captiveiro e para essas mimosas creaturas, alem de tudo ainda utilissimas, impõe-se, como. unica protecção, que as damas lhes concedam misericordia. | VVVNY o UNA PME Sanhassú-frade NIDIFICAÇÃO !s ADA especie de ave tem um systema oo>| especial de construir o seu ninho; archi- tectura bem ou mal escolhida, é só de tal modo que esse passaro e os seus descendentes ni- dificam. A tendencia de quasi todas as aves é occultar o ninho, disfarçal-o de forma que pelo menos não dê na vista, e as vezes elle adapta-se tão bem ao local que difficilmente o descobrimos entre a folhagem. Mas ha tambem especies que desprezam esta regra, aliás tão necessaria, e assim é que algumas aves fazem o ninho directamente so- bre o chão, mal encoberto por alguma touceira de capim; outras não sabem disfarçar o amon- toado de gravetos que forma as paredes externas Azulão ou Sanhassú frade (Fam. Tanagridae, Stephanophorus leucoce- phalus) é um bellissimo passaro do grupo dos Sanhássos. A femea faz o seu ninho em arbustos da capoeira e o macho, escondido entre a folhagem, faz o possivel por distrahil-a com o seu gorgeio — entretanto parece que a memoria não o ajuda e que elle esqueceu a melodia, ou então faz como si estivesse ensaiando uma variação nova, sotto voce; mas a inspiração nunca o favorece e assim o seu concerto nunca passa dos ensaios. Contentemo-nos por isso com a sua bella plumagem e é de lastimar apenas que seja tão raro. EA) Tg O LIVRINHO DAS AVES da construcção: os ninhos do João de Barro e dos Japús esses até dão na vista. Quasi todos os passaros e em geral as aves maiores não constróem senão em recantos quietos, onde raramente passe alguma pessoa. Fazem excepção a esta regra: o tico-tico que nidifica em qualquer arbusto mais abrigado dos nossos jardins e a corruira e as andorinhas que até preferem as habitações humanas para ahi occultar o ninho no telhado. Tambem ao João de Barro não encommoda o bulício da casa do caipira e o vae-vem do caminho da roça. Mas afóra estas raras excepções, os passaros em geral fogem para os recantos mais quietos das capoeiras ou da matta, onde o homem com as suas crianças, seus cães e gatos não os assustem e persigam. Eis ahi uma das razões do empobrecimento da avifauna ao redor dos centros povoados. Nas circumvisinhanças das cidades e villas não ha mais mattas e ainda nos campos aban- donados são raros os grupos de arbustos ou touceiras maiores que possam offerecer aos passa- rinhos as necessarias garantias de socego para que as mãesinhas ahi façam os seus ninhos. Com o desapparecimento das nossas mattas, devastadas como si nenhum valor tivessem alem da madeira que encerram, tambem a fauna vae-se retrahindo para o sertão. As paccas, NIDIFICAÇÃO antas e veados não nos fazem falta nas cercanias das cidades e fazendas; mas juntamente com a caça tambem os passaros vão sendo afastados e deixam portanto de prestar-nos os seus relevantes serviços como destruidores das pragas que invadem as plantações, as hortas, os pomares e as grandes culturas. VVVY “RO A EPOCAS DE PROCREAÇÃO E M nosso clima, onde o inverno é pouco o00| rigoroso, não ha periodos bem limitados para as posturas de todas as aves. Mesmo na Europa, apezar do inverno prolongado, o periodo da incubação dos passaros extende-se por um praso relativamente longo (Abril a Agosto). Entre nós não ha positivamente mez algum em que não se possa encontrar ninhos com ovos. E” verdade que em Abril, Maio, Junho e Julho só bem poucas aves se atrevem a chocar os ovos, porque não raro o frio mais intenso faz gôrar a postura e assim a ave perde o seu tempo e trabalho, ou então os pintinhos, nas- cendo nos mezes da geada, não logram alcançar edade em que se tornam mais resistentes. Comtudo o bem-te-vi, a corruira, alguns beija-flôres, pombas e inambús procriam tambem durante o inverno. Em Agosto e Setembro a grande maioria das nossas aves começa a cuidar dos seus ninhos e d'ahi por diante, até Janeiro ou mesmo nuit A ram O LIVRINHO DAS AVES Fevereiro, por toda parte onde haja socego, os arbustos, os bosques e as mattas abrigam um sem numero de ninhadas. Quasi todas as nossas aves chócam duas vezes por anno e não são poucas as especies que no correr de 9 mezes levam a bom termo tres e mesmo quatro ninhadas; taes são: o incançavel tico-tico e a corruira, algumas ando- rinhas, bem-te-vis e rôlas. E dB === (O CUIDADOS DOS PAES TijoDos sabem como a gallinha tem os seus o 00| pintinhos: depois de chócar os ovos du- rante 21 dias, sahem os pintinhos da casca. O mesmo acontece com todas as aves; apenas o tempo da incubação varia, conforme o tama- nho da especie: um beija-flôr chóca sómente IO a 12 dias, um avestruz leva 55 dias. Mas quantos sacrifícios não são necessarios até que a gemma do ovo se tenha transformado em pintinho; dahi por diante redobram os tra- balhos, os cuidados e as apprehensões. Acom- panhemos um casal de passarinhos nesta sua taréia tão ardua mas ao mesmo tempo tão poetica. Escolhido o local para a construcção do ninho, tomadas em consideração todas as van- tagens que offerece e previstos todos os perigos começam as duas aves a construir o berço para os seus filhos. Em geral o macho apenas auxilia um pouco o transporte do material de cons- trucção; o resto do tempo prefere, pousado e My Tesoura O LIVRINHO DAS AVES num galho proximo, suavisar o trabalho da companheira com suas bellas estrophes musicaes. Feito o ninho, começa a postura dos ovos e já agora, desde que ha thesouros em casa, surgem tambem as preoccupações, o medo de ser a ninhada descoberta pelos inimigos. Com cada ovo que a avesinha põe no ninho, augmenta o valor e portanto a preoccupação. Assim mesmo o passaro ainda póde ir passear livremente, mas em breve, quando a postura estiver completa e começar o chôco, elle é inteiramente escravo das suas obrigações: for- necer calor aos ovos para que os germens nelle contidos possam tomar forma, crescer e attingir a perfeição de uma nova creatura. Algumas especies de aves foram dotadas de intelligencia sufliciente para poderem lançar mão de recursos e expedientes, na protecção da postura. Assim os palmipedes em geral cobrem os ovos com plumas que arrancam de seu pro- prio corpo e que, fazendo as vezes de coberta, conservam durante longo tempo o calor; desta forma, sem prejudicar a incubação, a ave pode ausentar-se do ninho, desentorpecer o corpo e cuidar da sua alimentação. Tesoura (Fam. Tyrannidae, Muscivora tyrannus). O mome deste elegante passaro lhe vem da conformação da cauda, cujas pennas muito longas durante o vôo se abrem e fecham como uma tesoura, Como tantos outros passaros da mesma familia é incançavel na caça das içás (as femeas aladas das saúvas) e assim impede que um bom numero desses insectos comece o seu ninho, que mais tarde iria constituir formigueiro prejudicial á lavoura. No inverno o Tesoura emigra do Brazil meridional, voltando só com a primavera, mec ER ao CUIDADOS DOS PAES Em outras especies os machos auxiliam a femea, revesando-se-lhe e compartilhando-lhe os desvelos pela ninhada. Mas em geral a ave-mãe, nas tres semanas que precedem o nascimento dos pintinhos está por assim dizer amarrada ao ninho. Nascem os pintinhos quasi todos no mesmo dia. Que alegria, mas tambem quantos cuidados, quantos sacrifícios. Insaciaveis como são os filhotes de todas as aves, a mãe e tambem o pae, d'ora avante não tem mais um momento de socego. E” preciso catar o alimento apro- priado ao estomago delicado dos recem-nascidos. Agora são vermes e lagartinhas, depois toda a sorte de insectos apetitosos, mais tarde ainda iragmentos de fructas e sementes; emfim tudo vae a mãe buscar a hora e a tempo, guiada pelo instincto natural de mãe desvelada e — diriamos quasi — intelligente. Sabendo que os pintinhos nascem ainda com o estomago cheio, deixam passar o primeiro dia sem dar alimento aos filhos; depois, como o pequeno estomago não supporta nem digere comida mais pesada, as rações são sempre muito bem preparadas e ensalivadas antes de serem introduzidas no bico escancarado do pequeno. Tambem os paes tomam parte activa na caça, mas nunca as mães lhes permittem que elles proprios deem o ali- mento aos lilhos: ellas recebem o bocado, nã 19] Lo + is RR prai ENIO Ec OR o na de DRE Pa 4 ON Ro á Was Ei ! ade nd af ps ! pias E ADA Bem-te-vi O LIVRINHO DAS AVES preparam-no de novo, para depois entregal-o ao mais faminto, ou ao mais gritalhão dos pintinhos. Alem destes cuidados da alimentação, ha outro ao qual os paes consagram grande parte do dia: a limpeza, tanto dos filhos como do ninho em geral. Todos sabem que os passaros não fazem sujeira nos seus ninhos; as excreções não podem permanecer nem mesmo nos bordos do ninho, porque com tal desleixo não tardam a apparecer as molestias. Alem disto torna-se necessario o maior cuidado e asseio, para impedir a proliferação dos minusculos piolhos (ou antes accarinos) quasi que invisíveis a olho nú. Essa bicharia, como os percevejos, suga as suas pobres victimas e basta um ou dous apenas na cabeça dos pintinhos, para estes não terem mais socego. Por isto a mãe não cessa de catar os seus filhos e de revistar-lhes assiduamente o ninho. Cada um desses bichinhos que appareça na plumagem dos filhotes ou entre as frestas do ninho, é conscienciosamente catado e... devorado. O Bem-te-vi (Fam. Tyrannidae, Pitangus sulfuratus) é um dos nossos passaros mais populares; não se chega muito ás casas, mas por toda parte na roça se o encontra, pousado sobre uma arvore, espiando o que se passa pela redondeza. Tão claro elle pronuncia a phrase que lhe deu o nome e por vezes ella nos chega ao ouvido em momento tão inesperado que não contemos uma resposta galhofeira ao indiscreto mentiroso. Mas o Bem-te-vi não é só diver- tido; é tambem um incançavel perseguidor dos insectos da capoeira e da borda do matto e, como o «Tesoura», não dá tréguas às içás quando ellas se dispõem a iniciar um novo formigueiro, Pin de CUIDADOS DOS PAES Passam-se assim longos dias, entre o temor de ser a ninhada descoberta pelos innumeros inimigos, e os trabalhos da criação dos filhos; ao cabo de duas ou tres semanas começam os pintinhos a fazer os primeiros ensaios de vôo ou antes os exercicios preliminares para a boa coordenação dos movimentos das azas. Em pé, sobre os bordos do ninho, as vezes todos a um tempo, os pintinhos fazem a sua gymnastica. Emfim sentem-se com força e coragem sufficientes para tentar o primeiro vôo. Naturalmente a principio voam melhor de cima para baixo do que em sentido contrario, e assim uma vez que abandonaram o ninho, em geral não podem mais voltar ao seu berço entre as ramagens. Arrumam-se como melhor puderem no chão entre as touceiras e poucos são os passaros que neste caso reconduzem os seus filhotes ao ninho. Começa agora a educação final, aquella que deve habilitar a nova geração para a lucta pela vida. Incançaveis ainda nesta ultima phase da educação, os paes mostram aos pequenos os logares de boa caça e como se adquire a agili- dade no vôo, indispensavel para a perseguição da preza no ar. Finalmente estão os filhos no ponto de poderem prover á sua propria existencia. À mãe é a primeira a abandonar os filhos, mórmente si a quadra do anno permitte mais uma nova postura, nai O LIVRINHO DAS AVES O pae, por algum tempo ainda continua a querer bem aos seus filhos, mas em breve tambem elle não tem mais tempo para perder com a geração creada; passa a desconhecer os filhos, que então já são verdadeiros rivaes, como officiaes do mesmo officio. Conforme a indole e as disposições da sua raça, vae elle auxiliar a sua companheira na construcção do novo ninho (porque o ninho velho raramente é occupado pela segunda vez), alimentar a esposinha emquanto esta chóca a nova postura, ou então limita-se a entoar as suas canções, despreoccupado e, por certo, verdadeiramente feliz. OO PER qa UU OS PRIMEIROS DIAS DOS FILHOTES of UEM já viu uma ninhada de tico-ticos re- ooo| cem-nascidos, sabe que estes filhos de pas- sarinhos são umas pobres creaturas feias e des- ageitadas, em quanto que os pintinhos das gallinhas, logo ao sahirem da casca, são gra- ciosos e espertos. E' que os pintos das aves maiores nascem cobertos de uma densa pennu- gem, que dahi a algum tempo é substituida por verdadeiras pennas; desde logo esses pin- tinhos andam livremente pelo terreiro e catam o alimento que a mãe lhes procura e mostra. Como estes pintinhos comportam-se tambem os dos outros gallinaceos, como os jacús, mutuns, inambús, etc.; e ainda os filhotes do avestruz, das pernaltas e em geral das aves aquaticas. Para que os pequenos possam sahir facil- mente dos ninhos, estes sempre são feitos directamente no chão, escondidos entre touceiras ou junto da agua, para que os pequenos pal- Sabiá laranjeira O LIVRINHO DAS AVES mipedes possam logo banhar-se e começar os exercicios de natação. Muito diversos são os filhotes das outras aves e das quaes podemos tomar como exemplo “Os passaros. São as chamadas aves de biscato, porque os pintinhos, que nascem pellados e cégos, permanecem no ninho e ahi esperam pelos biscatos ou bocados que os paes lhes vem dar no bico. Os pobres pintinhos ficam assim durante longo tempo presos no ninho, sem saber voar e dependendo, quanto ao alimento, inteiramente do que os paes lhes vem trazer. Em geral os ninhos destas aves são cons- truidos entre a ramagem das arvores, para que durante este longo tempo a ninhada fique ao abrigo de visitas importunas; mas assim, lá de cima, os pintinhos só podem sahir de seu berço quando lhes tiverem crescido as pennas e portanto puderem tentar o primeiro vôo. Todos nós já espiamos uma dessas ninha- das, —bem de longe, para não atormentar a felicidade do lar—e sempre inspira compaixão o aspecto dessas miseras creaturas implumes, Sabiá laranjeira ou Sabiá piranga (Fam. Turdidae, Turdus rufiventris)é o mais afamado dos nossos passaros canoros e, no concerto mavioso das aves, a sua voz de flauta, bem timbrada e rica em modulações, sobresahe como a de um solista, Ha ainda varias especies mais ou menos semelhantes, como o «Sabiá da praia», «S. colleira», «S. branco» e «S. una». Este ultimo, de côr cinzenta, cabeça, azas e cauda pretas e bico e pernas de côr amarella, é musico pelo menos tão apreclavel como o «Sabiá laranjeira.» o — OS PRIMEIROS DIAS DOS FILHOTES disformes, que só por milagre parecem poder transformar-se em passaros graciosos; sempre famintos, vivem de bico escancarado, pedindo alimento a quem se approxima. Que sorte estará reservada a essa meia duzia de bichinhos —comparaveis a creanças recem- nascidas,—uma vez que lhes faltem os desvelos das mães? Haverá quem não tenha commisera- ção com taes pintinhos e mate ou prenda a ave-mãe, só para seu prazer? De minuto em minuto os pintinhos querem receber uma migalha de alimento, e, faltando a mãe, succumbem á fome, antes de decorridas 24 horas, sem falar do frio da noute, contra o qual só o calor materno os pode proteger. Os filhotes de todos os passarinhos propria- mente ditos, dos beija-flôres, tucanos, papagaios, pica-paus, anús, pombas, gaviões e corujas per- tencem a este grupo. Fazendo a conta, vê-se que */, partes das nossas aves criam filhotes que durante semanas (e alguns, de especies maiores como tucanos e gaviões, “durante mezes) de- pendem em absoluto dos cuidados maternos. Matar ou simplesmente prender a mãe de taes creaturas por algumas horas importa em destruir toda a ninhada. ESA (np ta OS INIMIGOS DAS AVES NIlÃO tendo nenhuma arma de defeza, não vvvv| sabendo reagir contra os seus aggresso- res, os pobres passarinhos só conhecem a fuga como unico meio para garantir a sua existencia, constantemente ' ameaçada. Por toda a parte perseguem-nos carnivoros de todo tamanho e feitio, avidos da carne saborosa desses cantores indefesos. À onça e os gatos do matto natural- mente preferem as aves grandes; da mesma forma o guará e os cachorros do matto, os gambás, as iráras e outros mammiferos acoçam toda sorte de passaros e tambem algumas aves maiores; e mesmo os lagartos e as cobras, e até a aranha caranguejeira, não perdoam as avesitas que estiverem ao seu alcance. Só pelo vôo, iugindo pelos ares, conseguem estas escapar aos seus perseguidores. Mas mesino ahi, nas ER rp OS INIMIGOS DAS AVES alturas, outros inimigos não menos terríveis, as aves de rapina, lhes espreitam os movimentos e esperam o momento azado para dar-lhes caça. Ainda assim, si fosse apenas pela propria vida que as aves tivessem de zelar, ellas quasi sempre teriam a seu favor a agilidade do vôo e o dominio dos ares. Mas como defender o ninho com os ovos preciosos ou o thesouro tão caro dos pintinhos implumes? Durante a incubação os passarinhos estão á mercê de todos esses seus desafectos e, descoberta a ninhada, ninguem impedirá o ataque do cruel inimigo. Entretanto esta continua lucta pela existencia, que faz parte integrante da vida de todos os seres, não acarreta nenhuma diminuição sensivel do numero de passaro de uma dada região; apezar de todos esses contratempos, em condições de resto normaes, a proporção de aves da matta ou do campo continúa a ser a mesma. O unico factor devéras influente e que não só dizima as especies como até chega a exter- minal-as de todo é — o homem e a sua civilização. A historia natural conhece apenas um ou dous exemplos de especies de aves que em nossos tempos se extinguiram por causas indeterminadas e que podem ser attribuidas ás leis da natureza. E EO: Alma de gato * O LIVRINHO DAS AVES - Entretanto seria longa a enumeração das especies que o homem já exterminou de todo ou reduziu a tão poucos individuos que não tardará o seu completo desapparecimento. Ainda seria perdoavel si se tratasse apenas de aves de rapina, das quaes muitas já são rarissimas; mas entre as especies sacrificadas contam-se pombas que outrora formavam ver- dadeiras nuvens; aves aquaticas que cobriam as praias com os seus ovos; pernaltas de plumagem lindissima, que constituam um orna- mento sem egual das margens dos rios; aves menores e passarinhos, utilissimos pela caça que davam aos insectos nocivos. O homem foi-se aproveitando de todas estas riquezas naturaes e, tendo em vista apenas os seus interesses do momento, foi destruindo, desapiedado, as aves, os pintinhos e os ovos, e assim, pelo duplo caminho da matança dos adultos e da destruição das ninhadas, bem depressa conseguiu o extermínio de cada uma dessas especies. Mas não é só esta a culpa do homem; in- directamente, sem o saber ou querer, elle con- Alma de Gato (Fam. Cuculidae, Piaya cayana ) tambem chamado «Rabo de palha» e «Tinguassú» ; vive da caça de insectos e outros bichinhos, como sejam gafanhotos, aranhas, carrapatos, que sem muito acanhamento elles vem buscar nos pastos e nas sébes. Assim o fazem tambem quasi todas as outras especies desta familia, notadamente os «Anús». O «Alma de gato» tem um repertorio muito variado e, pode-se dizer com Goeldi que faz uma compilação das obras musicaes dos seus companheiros da matta. O » e » PAR SENA E Coruja O LIVRINHO DAS AVES em boa parte a culpa tambem deve ser attri- buida á falta de aves, que protejam o vegetal contra os ataques dos insectos. Um pomar sem passaros é como uma cidade sem fiscaes de hygiene: os germens das molestias pullulam e a provabilidade de contrahirmos o mal torna-se quasi certeza. Comtudo é preciso não se illudir quanto á acção eflicaz deste trabalho das aves. Ellas afinal de contas não são machinas de extincção de pragas; o que ellas querem é unicamente saciar a sua fome e, sobretudo, alimentar-se racionalmente e portanto não vão comer o dia todo e todos os dias, só de uma especie de insectos, aquella que quizeramos vêr eliminada. Fizeram-se observações meticulosas neste sen- tido e verificou-se que, mesmo havendo super- abundancia de um certo insecto-praga, estes bichinhos não constituam senão um terço da alimentação total das aves; os dous terços restantes da ração diaria consistiam em toda sorte de outros insectos e mais alimentos ade- quados. Coruja (Ordem Strigiformes, Pisorhina choliba). Tanto esta especie como todas as outras aves rapineiras nocturnas são muito calumniadas e até detestadas, porque a crendice popular as taxa de agoureiras. Entretanto não ha razão para isto e pelo contrario as corujas tornam-se uteis porque á noute dão caça aos ratos e mais roedores. E tanto é assim que nas leis de caça e de protecção ás aves, ellas gozam de favores especiaes e durante o anno todo é prohibido atiral-as. — 38 — CONSEQUENCIAS DA FALTA DE PASSAROS Conclue-se d'ahi que os passaros não de- vem ser chamados em nosso auxilio quando a praga dos insectos tiver alastrado excessivamente, mas a sua acção deve começar muito antes, quando ainda fôr tempo de prevenir o mal. Neste caso a campanha que os passaros pro- movem é sufficiente para contêr os insectos e impedir que elles se multipliquem e alastrem até constituirem verdadeira praga. Exemplo dos mais Írizantes temos na mul- tiplicação dos formigueiros da famigerada saúva ao redor das cidades. E' sabido que as içás | ou femeas novas aladas das saúvas abandonam, em começos do verão, os ninhos em que nasceram e, voando, procuram um lugar apro- priado para o inicio de uma nova colonia. De cada saúveiro surgem annualmente centenas de içás e, si todas ellas lograssem o seu intento, em bem pouco tempo estaria toda a terra coberta de formigueiros. Mas devido a um sem numero de contratempos, só uma entre muitas içás consegue formar um saúveiro novo, e entre estes contratempos o que mais deve ser levado em conta é a perseguição a que as içás estão sujeitas por parte dos passaros: bem-te-vis, tesouras, andorinhas, sacy, anú, taperussú, etc. q CT ço Ema (Avestruz Sul-Americano) LEE COMO AUGMENTAR O NUMERO DE PASSAROS? TE B | EM poucos conselhos nos restam a dar nDo em resposta á pergunta acima formulada. Quem leu as paginas precedentes, facilmente deve ter comprehendido as nossas intenções, que são ao mesmo tempo as do ornithologo e as dos amigos dos passarinhos: proteger as aves e proporcionar-lhes todas as facilidades para a mdaficação. Nunca, entre nós, ha necessidade de cuidar dos passarinhos famintos, como se faz na Europa durante o inverno rigoroso, quando a neve Ema ou Nhandú (Rhea americana) é o verdadeiro nome do avestruz da America do Sul, bem menor do que o seu parente africano. Apezar de não ter plumas tão finas e apreciadas como o avestruz legitimo, a Ema tem sido per- seguida tão cruelmente que em muitas regiões onde abundava antigamente, hoje já pode ser considerada extincta. Assim esta grande ave dos campos já é uma raridade no sertão de S. Paulo e só no Goyaz e em Matto Grosso ainda se a encontra aos bandos de 10 ou 20 individuos. As femeas põem os seus ovos todos no mesmo ninho e é o macho que choca essa postura colossal de 60 ou mais ovos. e Ag COMO AUGMENTAR O NUMERO DE PASSAROS? cobre toda a vegetação e todos os recantos : onde as aves poderiam encontrar uma migalha que lhes mitigasse a fome. Da mesma forma tambem não precisamos introduzir e acclimatar especies de outros paizes, não só porque a nossa avifauna 'em si já é riquissima, como tambem porque ha nisto certo perigo, difficil de prevêr ou evitar. Lembraremos apenas o exemplo do pardal europeu, introdu- zido nos Estados Unidos, onde se esperava que viesse a prestar bons serviços; o resultado foi tornar-se elle não só o passaro mais commum de toda a região como tambem o mais nocivo. Se os lavradores norte-americanos tem queixas contra algum passaro, é contra essa especie importada, e de facto são avaliados em milhares de dollars os prejuizos que o pardal causa annualmente á lavoura. |) Proteger as aves—a insistencia é talvez desnecessaria, mas repitimos —comprehende: não matar nem caçar ou afugentar de qual- quer forma os passaros que se habituaram a viver nas circumvisinhanças das cidades ou fazendas; respeitar as suas ninhadas e, já não diremos não destruil-as, mas evitar mesmo de atormentar o socego dos paes com visitas repetidas e indiscretas; eliminar os gatos vagabundos, inimigos encarniçados da passarinhada; Apis O LIVRINHO DAS AVE finalmente, como um dos melhores serviços que se possa prestar aos nossos cantores alados, é preciso fazer propaganda da sua utilidade como nossos auxiliares na lucta contra os insectos damninhos e convencer a todos que é á falta de passarinhos que devemos attribuir o desen- volvimento excessivo de tantas pragas. ID) Proporcionar ás aves todas as facilidades para a nidificação junto ás nossas habitações. Já fizemos vêr as difficuldades com que luctam as aves por encontrar um cantinho socegado nas proximidades das nossas casas, onde tenham o socego que lhes é indispensavel durante a in- cubação. Quem tiver um quintal com uma horta, uma chacara com um pomar, pode fazer muita cousa neste sentido. Arbustos ou touceiras de plantas ornamentaes —desde as laranjeiras ou ameixeiras até os grupinhos de grinaldas de noiva — qualquer dessas plantas sempre tem um galhinho apropriado para receber um ninho, comtanto que esteja em um recanto mais isolado e tranquillo; as sébes vivas, aliás tão uteis e duraveis, sempre recommendadas pelos techni- cos, são tambem um optimo escondrijo para um certo numero de passarinhos. Quem não tiver senão uma casinha, quasi na cidade, com um palmo de terra apenas, E (q COMO AUGMENTAR O NUMERO DE PASSAROS? assim mesmo pode attrahir alguns casaes de passarinhos e offerecer-lhes hospedagem. Algumas caixas para ninhos, collocadas convenientemente na parede ou sobre um poste isolado, quasi sempre despertam a curiosidade | dos passaros que estão procurando um cantinho para nidificar. Se dentro de alguns dias nenhum quiz morar na caixa, é porque ha qualquer cousa nas dimensões ou posição da mesma que não está de accordo com a indole ou inclinação natural desses passaros. Neste caso é preciso variar um pouco as disposições até acertar com as exigencias, as vezes caprichosas, desses nossos hospedes. Haverá prazer maior, para um verdadeiro amigo da natureza, do que ter dado moradia a um casal de corruiras, e vêr depois o bandinho de filhotes ensaiar o pri- meiro vôo em nosso quintal? O LIVRINHO DAS AVES RELAÇÃO NUMERICA DAS NOSSAS ESPECIES DE, AVES As quasi 1600 especies de aves do Brazil podem ser agrupadas, summariamente, da se- guinte forma: N.º de especies Nomes das especies mais conhecidas 900 Passarinhos (grupo dos “Passeriformes"”) 63 Picapaus 25 Tucanos e Araçarys 15 Anús, Sacy (cúcos) 80 Beija-flôres (colibris) 27 Urutaús, Curiangos, Taperussú 73 Papagaios, Aráras, Maitácas, Periquitos 20 Corujas, Caburés 68 Gaviões e Urubús 22 Marrecas, Pato, Cysne 32 Garças e outros pernaltas 26 Saracuras, Jaçanãs, Frangos d'agua 37 Gaivotas e outras aves do litoral 40 Batuiras, Narcejas, Gallinholas 21 Pombas, Rôlas, Jurutys 22 Macucos, Inambús, Perdizes 31 Gallinaceos (Mutum, Jacú, Urú) 100 Especies diversas, pertencentes a gru- pos menores. 1600 Especies brazileira, ou talvez uma de- cima parte do numero total de aves conhecidas em todo o mundo. Para salientar a riqueza desta nossa fauna, bastará dizer que da Republica Argentina, se conhecem apenas 887 especies ; nos Estados Unidos da America do Norte, 760; na Allemanha pouco mais de 400 especies. 7 Que “Do a Gl OUTROS ANIMAES UTEIS IR' Re DA CREAÇÃO é o titulo que o homem | DDO se escolheu. Com justa razão se orgu- lha da sua posição soberana, mas facilmente esquece que esta mesma soberania lhe traz encargos e obrigações como os tem qualquer monarcha. Si todos os outros seres do uni- verso são seus subditos, não lhe compete zelar por elles e fazer-lhes justiça? F' o que esquecemos, a ponto de sermos desapiedados mesmo para com os animaes inoffensivos ou os que nos são uteis. Já o dissemos (veja pg. 3) que somos for- çados a combater as especies perigosas e as que nos são prejudiciaes; mas todos os outros animaes, os indifferentes e principalmente os que nos prestam os seus bons serviços, podem, de direito, esperar a nossa protecção. Não é portanto só as aves que devemos proteger, Ea pp o did a DR A q DD 2 SN + Ro LIVRINHO DAS AVES poupando-lhes a vida e facilitando-lhes os meios de vida. Todos os mammiferos inoffensivos e uteis á agricultura, os reptis (excepto as espe- cies venenosas e os jacarés vorazes), os batra- chios todos, que nos prestam assignalados ser- viços como insectivoros, e os proprios vermes, essas miseras creaturas que vivem a perfurar o sólo, com o que o arejam e fecundam — todos esses seres tem o seu papel assignalado, desempenhando funcções necessarias na natureza. Não nos referimos aqui aos animaes da matta, que constituem a caça do nosso sertão. Estas victimas dos caçadores devem ser pro- tegidas por leis especiaes, si quizermos que os nossos descendentes ainda possam encontrar alguma caça nas mattas. E' preciso fazer como “se o fez na Europa, onde, apezar da população muito mais densa, ainda ha caça sufliciente, e onde “caçar, está longe de ser o que é entre nós: “exterminar,. O nosso indio em todos os tempos viveu e vive ainda principalmente da caça, mas nem por isto elle fez com que rareassem os veados, as antas ou as paccas e cutias, nem tão pouco sacrificou as aves de carne saborosa ou os peixes dos rios. Reconhecendo todas estas verdades, as na- ções previdentes decretaram leis que impedem a destruição insensata não só das aves uteis como de todos aquelles animaes que não nos e A OUTROS ANIMAES UTEIS. são positivamente nocivos. Mas dos seus cida- dãos prestantes a Patria espera alguma cousa mais do que o simples cumprimento dos deve- res impostos pelas leis; todos nós devemos contribuir, na medida das nossas forças, para o progresso e enriquecimento do nosso paiz. E para que o Brazil possa em breve attingir essa posição de destaque a que tem direito pela extensão do seu territorio e pelas riquezas com que foi dotado pela natureza, é preciso que os seus filhos dedicados ao trabalho, saibam tambem amar essa mesma natureza tão bella e . tão rica, egualmente admiravel pela grandiosi- dade do seu conjuncto, e pela sabia organização dos seus mínimos detalhes. DR, qe 7 : na BSM OE AURPSV a DI ia y S PS MUS als e P x" k ha UA, : UA af E MAN Ed do A ds niedo . J ] ] 3 Ga A | ai Dad! x o ) j Nà ! a. UA TRA ga E a | : A | f el y Na 4) EY eu 0 , a õ 4- é] = ! ro da " TR o 4 o AR Da b: Ro, my tê O E o ra ; 1 RN E E DP al é 0] ape air or SE OE a PA mi RA | k E x E 4 Mat) ” Per : API Ar AM, | ta o = val o Gokr o td Mera o RPA pa AR e AR À Pas Wa h NAM Bl pó q ' aa E a e o E fé q BN 7 N s » Es ZM D q E NES - Ea = 7, oe É m SS > m Epa ER ÇA = q z a 1 R 1 ES SMITHSONIAN INSTITUTION NOIINLILSNI NVINOSHLIAS S3 IHVAE | E ME a | q = NS q z E / / SE é, E pa NE 74 A. 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