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ORAÇÃO

FÚNEBRE,

PANEGYRICA, E HISTÓRICA

NAS REAES EXEQIJIAS, QUECELEBRARAM

os Irmãos da Venerável Irmandade do Príncipe dos Apofs

tolos S. Pedro, da Cidade do Rio de Janeiro.

A* I N S T A N C IA

DO IXCELLENTISSIMO , £ REVERENDÍSSIMO SENHOR

D.Fr. ANTÓNIO DO DESTERRO,

Bifpo da tnefma Cidade ^ leu perpetuo Prodetor ;

A' S AUDOSA MEMORIA

DO SERENÍSSIMO, E FIDELÍSSIMO SENHOR

íeydeportugal

d.joaõ v.

R ECITAD /*, E O F FE XE CIDA

AEL&-EY NOSSO SENHOR

D.JOSEPHI.

V PELO M. R. DOUTOR

IGNACIO MANOEL DA GOSTA

MASC A R E N H A S,

V\imi9 Calado da Tarochial de N. Senhora da Candellariat Bxat»'rnád& $y»«d*lt natural da me/ma Cidade.

No dia x6 de Fevereiro de 1751.

LIS B O A:

NaGffiema dos Herd.de ANTÓNIO PEDROZO GALRAM^

ANNO DE M. DCC. LI. Com todaí (Uliçcnyu nccejftriai*

'/.. JÍA

SENHOR.

XJftamenie nu perfilado % xjxie para fe am tkorifitr cjia minha Oração

ã ii Fu-

r.

Funebr e(c orna qual obf equio- fojubo aa elevado folio deV . Mageftade ) baftcma fer del- ia jublime ajfumpto oAuguf tijfimOy e Bideliffimo Se~ n/ior Rey D. João o V. Mo- narca de too dijiinta gloria entre os* mayores do Mundo r que fem excepção denenhmm chegou a fer pelas fuás he- róicas virtudes 7 e admira* veis acçoens r o exemplar de todos : e até depois da morte fecon ferva taõ viva a me* moriadosfeus acertadospro- cedimentos r que feráfuper-

abun-

y para o confti- tuir interminável modelo de Príncipes com juperiores ventagem a SalamaÕ r que a rejpeito dos outros Mo- narcas da terra fe exaltou mais, e em comparação do Sábio l e pacifico Reyr di- gnijjimo Pay de V . MageJ- tader veyo afer menos. Mas para que a V.~ Magefiade fe-* }a patente a verdadeiro co- nhecimento y que no Mundos Je conferva de fia fincem verdade r e para que tombem eonjlej que nefie famojoBm^

porw

vUf.

por iode no ff a America, ain-. da que muito dijlante da ca- beça da Monarquia , fenti- mos fem diferença o pene- trante golpe , que igualmen- te ferio a todos os coraçoens Portuguezes , com o joelho em terra, pelo modo, que me he poffivel \ pwéo na Real prefença de V. Magejlade a minha Fúnebre Oração: e efpero ■., que por efte novo titulo de Jer viãima ofere- cida em taõ f agradas aras , merecerá aquell a aceitação, que devo defejar , naõfó pa- ra

ra honra minha f mas para gloria do mefmo Fidelij/i- mo Key defunto -r que para a nojfa bem fundada jaudade nos deixou o melhor lenitivo na ejlimabilijjima Pejba de F. Magejladeya quem com excellencias de Pay amamos,* com refpeitos de Senhor obe- decemos*

%nacio ^aiiõeld^Cofi^^íafcarenfím

v~

LICENiCAS.

DO SANTO OFFICIO.

Appr ovação do M. R. P. M% Fr. Jofeph Pereira de San* ta Arma, Rehgtofo da Ordem áe N. Senhora do Car* W0j Jubilado na Sagrada Theologia , e namefmaFa*

cuTàade Doutor pela Umverfidade de Coimbra, §lua* iificador do Santo Ojjiio, Examinador das três Or- dens Militares^ Ex-Provincial, eChronifta Geral da fua Ordem neftes Reynos , e/eus Domínios.

ILLUSTRISSIMOS SENHORES,

VIoSermaõ, que nas folemnes Exéquias do Auguftiílimo, e Fideliflimo Senhor Rey D*' Joaõ V, celebradas na Cidade do Rio de Janeiro pela florentiílima Irmandade do Prince- pe dos Apoftolos S/ Pedro , pregou o M. R. Dou- tor Ignacio Manoel da Cofta Mascarenhas, Vigá- rio Collado da Parochial Igreja de N. Senhora da Candelária, Varaõ igualmente conhecido pelas feiencias, erefpeitado pelas virtudes , naõíónos limites da Patna , onde exiíie, delempenhandc* os authorifados empregos , que como hum dos mais dignos Ecclefiaflicos delia exercita ; mas nefteReynor oudeaUíiiverlidade de Coimbra la- mentou a fua aufencia, por ver que perdia hum dos mais graves talentos , que a frequentarão ; e a Cor- te de Lisboa oapplaudio por confumado no exer- cicio das mefmas fçiencias , das quaes foy muitas

b vezes

V r

e

vezes provado, e fempre g^riofamente confe- ito fuperiores triunfos, Eíte elegante Sermão he huma das mais evidentes demonftraçoens, que pôde offerecer para abono da fua grande Litera- tura; parque fe acha ta6 íingularmente compof- to , e ornado de taõ efpecial erudição , que pdje fervir de exemplar a quem deíeja acertar em íe- melhantes aíTumptos, Eftas faõ as obras, para as quaes. naõ baftaã vulgares elogios; porque fe conflituem beneméritas de applauíos mayores. Po- rem atteiKteftdo eu a que o Author porfi meímo fe recomenda, e que naõ devo exceder os precei- tos de Cenfor, deixando o muito que poderia dizer a ref peita da elevada merecimento do Sermão, concluo certificando a VoíFas Illuftriílimas, que he por todos os títulos digno de ter impreíío, prin- cipalmente, porque nada contêm contra a noíTa Santa Fé, e bons coft umes: Carmo de Lisboa *& m Setembro de 175 1

Doutor Fr. Jofepk Píer eira de Santa Anm.

»

TFIfta^ a informação, pdde-íe imprimir o Ser- V m ao de que fe trata , e depois voltará confe- fido para íe dar licença, que corra, tem a qual naó correrá: Lisboa 28 Setembro de 1751

fr.RQir.Lencafin. Sylva, Mrtu. Almeida. Trigofc

\

; . .

DOOR.

DO ORDINÁRIO.

jçprôvaçao do A/, R. P. Doutor JofephT/jomàs Borga % JPresbyíeio Secular > &ç.

EX,«o E R E Vm S ENH O R.

-•

OBedecendo a ordem de - V. Excelleneia, vi á Qraçaõ Fúnebre , Pariegy rica, e Hiftorica, recitada nas Reaes Exéquias, que celebra- rão á íaudofa memoria do AuguftHlimo , e Fide- liflimo Senhor Rey D. Joaõ o V, de gloriofa re* eordaçaõ, os Irmãos da Venerável Irmandade d& Príncipe dos Apoftolos, da Cidade do Rio de Ja- neiro, &c. Naquella acçaõ obíervo praticados hum defempenho illuftre , e hum acerto digno de louvor immortal, Defempenharaõ eftes veneran- dos Sacerdotes as primorofas obrigaçoensde Vaf- faios devidas á hum Monarca , que mais foy Pay , do que Senhor dos me imos Vaílalios; de hum Prín- cipe, que no Throno foube unir com a piedade % íabedoria. Diftinguirao-íe porém de todososmais> VaíTalos na fumptuofidade , e Mageítade da mef- ma funeral pompa ; confiderando, que todo o ex- ceifo era inferior ao merecimento de hum Sobera- no dotado de animo , naõ íó Régio , mas também Sacerdotal \ e em cuja fidelidade magnânima, d verdadeiramente ChriftSa, havia na lua Igreja o mais conftaote prefidio, Como Sacerdotes de hu- ma Congregação,, que tem por Titular, e Patro- no o Soberano Principe do Gollegio Apoftolico, ie animarão parado delem penho a legtrir com glo-

b ii rioía

H^vy.y*

nofa emulação o exemplo do mefmo Santiffinm Pon^ifice.Eraelle, nas Pedoas deíeusgionofiííimos S.uccelíbres, devedor aos íiliaesref peitos, e reve- rentes obfequios do noíTo íuípirado Monarca. Tan- to osVeconheceo dignos da fuaeípecia! protecção, que no feu dia natalício, a 29 de Junho de 1742, experimentou o Fideliirimo Monarca deívaneci- dos, enaõ íem portento, os funeftos fymptomas, tfuè prognoftieavaõ a mayor infelicidade : reíufr citando quaii dafepulchro á preafa vida, de que eftavaõ pendentes as eíperanças dos Vaíkllos. E no dia 31 de Julhode 1750/ luâuofo íemprepara a noíTa íaudade; ás fete horas,, e hum quarto da tarde , havendo tido principio a. íolemnidade das Gadêas do* fagrado Apoílolo,. franqueou só* noífo Soberano, como piedoíamente cremos, a porta, naõ Je ferro, como a da amiga Jerufalem; mas de predofas margaritas da Triunfante íufpira- da Jeru falem*

Illuírre defempenho na verdade os deites In- elites Sacerdotes ; mas naô de menor credito o* feu grande acerto 1 Eíle fe admirou na fábia elei- ção , que fizeraô do Orador para aquellasfump- tuofas,e Reaes Exéquias. Elegerão ao M.R DoutxE Ignacio Manoel da Coita Mafcarenhas , Vigário Cofiado da Parochial da Candelária, e Examina- dor Sy nodal ; p eferindo-o a outros Irmãos daf ua florentiífima Irmandade, de applaudida literata ra, de acclamada eloquência, de fama acreditada.

Sorprendido dagrandeza doobje&oofamofo Orador, iembrou-fe daquelles Princepes mais Au» guftos, emais recomendados á admiração da Pof- teridade , de. que fazem memoria as Divinas Le-

* ■'■ trás>

'-EKMfKftàii^íi

trss, e lhe pareceo- entre foáos Saíam ao o m#is: prov prio. Pelas regias prerogativas daquelle Soberano1 commeníurou a grandeza , a multidão, eoeíplen- dor dssacçot n fublimeSj eom querefplandeceo» gloriofa vida, e feliz reinado dojnoíloFidelilljma Monarca* com tanta differença 4 que chegou com evidencia a moflrrar % que ao Salamaõ de lfrael ex- cedera em gloria o Cerrado Salamaõ de Portugal.' A quatro prerogativas reduzio o Ecciefiaftico' o elogio do Salamaõ da Caía de David; ktitulsn- do-o Pacifico, Magnifico, Opulento, e Sábio. Nas meímas eomprehendeo o Orador as pr incK pães glorias do Augufto Salamaõ da Real Caía de Bragança. Foy Rey Pacifico o Senhor Rey D João ©V; porque livre da ambição, que ordinariamen- te domina, e naõ poucas 'vezes rende os ânimos dos mais Poderòzos Soberanos, unicamente at- tendeo ao bem publico ; elegendo antes, o arbítrio1 de confervar o fangue dos Vaílallos , do que a má- xima de derramar o dos inimigos: Foy Magnifico; porque dotado de huma magnificência verdadei- ramente Chriftãa, íoube ordenar todas as emprezas do feu magnânimo coração, naõ a fiípara incen- tivo da vangloria *; lómente aDeos para honra, á Igreja para efplendor , e á Republica para utili- dade. Foy opulento, etaõ opulento, como Senhor do ouro dehurn Mundo novo; mas lendo tanta a fua opulência, ainda foy mayor à fua liberalidade*, porque chegou a efgotar os theíouros de todo ef- íe, e mais Mundos. Foy Sábio, naõ porvíacurio- fidade ; como outros Soberanos / quaíi por pro* fiííaõ, levando-o o deíejo de íaber ao luave ócio das^ letras, que poffuhio com pérfeif aõ; poisna verdade-

foute;

foubs mais qfce todas , é atè mais que o mefmo Sa* Jamaõ; porque foube com vigilante affe£to> ecom religiofa conftancia amar a Gafa de Deos, e ze- lar a Mageftadedo Divino Culto, ou guardan- do o perfeito, ou augmentando-o devoto.

r-, Bile o Elevado argumento defta digna Ora- çad, e taõ elegantemente defempenhado poríen Author, que tudo nella íaõ rios de Eloquência, afluências de Rhetorica, e torrentes de Erudição. O Rio de Janeiro, Pátria deite Exímio Orador^ fabia eu , que era pela immenfa cópia do leu ou- ro fuper ior em riqueza ao Padtolo na Lydia, ao Ganges na índia , ao Hebro na Thracia , ao mef- mo Tejo na Lufitania ,.. e a outros muitos rios; agora porém acabo de reconhecer , que o leu ouro he o mais precicjfo, e o de mayores , e mais fubidos quilates; porque ouro também de íabedoria precioía, e de eloquência purifllma, em cuja comparação todo o mais ouro perde o valor; ficando defprezado Io do,e abatida arêaJiém o mof- tra o ciariílimo Orador nefta íua Oração. Toda dia he hum claro profundo rio, que naõ íó leva, como outros, entre fuás arêas alguns bocados de ouro ; mas toda ella excedendo a tudo, que há, qu pode haver precioío nefte género; heíolido, e4 finifltmo ouro, baítante a enriquecer de huma vferdadeira erudição a todos , que a lerem im- preíla, a (fim como encheo de pafmos a todos, que a attenderaõ, quando recitada. Nada ha que impoifitólite, nem ainda -dificulte dar fe ao Pre- lo Oração, taõ preciofa ; por quanto o ouro, $us he formada, naõ tem liga com erro algum cmtx& a* íéi ante& he tanto de ley, que nella, fe

admi-

>

admiraõ ; cpmo finos quilates / Régios exem- plos , e foberanas míximas para a compofíçaô dos bons coftumes. Efte ò meu parecer: Toffa Excellencia mandará o que for fervido. Lisboa 20 de Outubro de 1751.

Jofeph tpêmàs Borges,

VIfta a informação, pocfe-fe imprimir, e de- pois torne conferido para fe dar licença, para correi. Lisboa 3 tde Novembro de 1751

D.J.AdeL.

DO PAÇ O.

Jtppr&vaçdí do M R. Doutor Ignacio Barboza Ma- cthaâo, do Dezembargo de Una rJMageftade , feu Dezembargador da Relação do Porto, Pro ono ario Apoftolico participante, Juiz doTrtbunalda Legaria, Académico do numero da Real Hijlorta, e Chromfta Geral de todas as Conquiftas da Coroa de Portugal.

SENHOR.

POr ordem V. Mageftâde examiney a Ora- ção Funebre,Pagnegy rica, eHiftorica, que re- citou o Doutor Ignacio Manoel daCofta Maí- carenhas nas reaes , e íolemnes Exéquias , que a Ir- mandade dos Clérigos da Cidade de Saõ Sebaí- tiao , Cabeça da Província do Rio de Janeiro, ce- lebrou pelo defcanço perpetuo do Auguftiílimo , e Fideliífimo Rey o Senhor D, João V, de gloriola memoria, Emprendeoefte grande talento, gloria de fua Pátria, moílrar com a mayor energia o manifeílo excefTo, que teve o coroado Salamao da Lulitania áquelle Príncipe de Iírael , e feliz- mente o confeguio com tanta força da própria elegância, como verdade, e merecimento do Real, alto objecto do feu dífcurfoi porque íem perigo daliíonja, nem adulação da Mageftâde defunta, bem conhece , e venera o Mundo Chriítaõ ao Sen- nhor Rey D. Joaô V. por mayor Princepe na Ley da Graça , do que foy Salamao na Efcrita. Efte Rey algum tempo jillultrou o fólio de Jerufalem com as politicas, e moraesacçoensdo íeu gover- no j mas nos últimos annos [ào íeu Rey nado; pre- C u veri-

váricòUj maculandofe coffi asadôfaçóeíts , ê cul- tos das falias divindades ; e o jnoííô Auguftií* mo Senhor praticou heróicas virtudes no be- neficio dos Vaffallos, e da Religião , e acabou, fervindo do melhor exemplar de [huma pura Ghriftandade: e affim podemos fem afte&açaõ, mas com verdadeiro elogio da fua piedade ap- plicarlhe as palavras das Santas Eícrituras do Ejje plufqkam Sahmon hk. Bem procurou efteex- Cellente Orador , e cabalmente o íbube defem- penhar na preíente Oração , efte feu obíequio- io penfamento , como «ftá moftrando nas claufu- las defte douto, e bem formado Panegyrico, em que por diveríos principios , da hiftoria das Efcri-; turas, e da Oratória fez manifeftas as obfequioías idáas, com que fez mais lamentável ao íeu nobre, *e Religioío auditório, a falta de hum taõ grande Rey, em que a Igreja perdeo Defenfor acérrimo, a Monarquia Soberano judo, e os Vaííallos Pajr benévolo, e miíericordiolo. Ouviraoíe naquelfa mais precioía Província da America as vozesdo Orador com as lagrimas, e ternura, a que movia a íaudade de hum Rey, que traziaõ gravado nos co- raçoens : e querendo agora os íeus moradores, que todos os habitadores do Mundo os imita flem no culto do íeu natural íe.niimeuto., para que Mo- narca taõ grande foíle levantado na redonde* za do Mundo, krtentaõ fe imprima efta Euneère Oração. Perfuadome, que naõ haverá animo taS falto de amor a hum tal Rey , expofto em taõ fu- blime difcurío, quelendo-o, fenaõ enterneça, e cubra do fúnebre ]u£io, a que move eílx grande Panegyrico. Imprima-íe pois, nos íeus caracteres conheçaõ todos, que ainda em mudas vozes nos

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eílá perfuadindo aquelle infigne Orador o íenti- timento, as lagrimas), e a faudade , a que mor ve a perda de bum Príncipe, que nos deo a- Provi- dencia* para gloria da Pátria , e para exemplo da pofleridade. Efte he o meu parecer, Vofla Mageíhde mandara o que for fervido ■: Lisboa iq de Novembro de 17c i

Ignacio Barfaza Machado,

Ue poíTa imprimir , viftas aslicençafrdh ^anto Officio , e Ordinário, e depois de impreífo, tornará á Mefa para fe conferir, e taxar, e dar licença, para que corra, que íem ella naõ correrá: Lisboa 17. de Nobembro de 1751,

Marquez P, Ataidt* VázàtCamalhn

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Sâhmon ãormivit cum Vatrtbm fuis. Ex j.RegumCap u.

I

OMO fe efcureceo o ouro mais fino* e em laftimofa metamorfofe íe trans- mutou em fúnebre íudo a cor óptima, e preciofa/ (Augufta, eFideliííima Ma- geftade, quamdifferente pondero a V. Mageftade nefta Juáuofa ícena , que naquella,em que tive a honra de beijar a vofta Real maóí En taõ refpiravaõ Mageftade os alentos , e conci- liava© veneração , e agrado as palavras ; agora o jíilencio , em que jaz, horroriza aos circunftan-? íes , e asfombras da morte, que a cercão , fervetn de tropeço ao dífcurío, e de cruel incentivo á pe- na dos que fielmente vos aiMem.J Como fe efcu- receo o ouro mais fino, e em laftimofa metamorfo* fe fe tranfmutouem fúnebre luélo a cor óptima, e preciofa! Como fe enfatuou a prudência , e ia- bedoria mais confumada , e emmudeceo o Orácu- lo de 1 frael / Gomo impellido da fatal tormenta da morte, jaz proftrado ornais florente , eeleva- do cedro, que coroou o monte Siaõ ! Comoef* de morte cor , pallido , e desfigurado o mais efpeciofo de todos os homens , o mimo da nature- za, a admiração das gentes 9 o aflbmbro do Uni- veríò , o mais ditoío de todos os Príncipes, o mais opulento de todos os Monarcas, e o mais pru- dente , « íábio de todos os mortaes ! Como coube na lobrega esfera de huma pequena urna todaafa- bedoria , toda a magnificência , todo o nome, e toda a Mageftade de Salamaô! Sahmon dôtmivit mm Fmtbus fiifà Cataitrophe taõ laAknofo* j$

c ii úõ

ER£2ZaS333£F

* ORACAM FÚNEBRE,

táo inopinada mudança, que preoccupandotodo o affe£to para a magoa , nao coube na esfera incel- Jedual do mayor , e mais internecido Profeta pa- ra o conceito, fazendo a intenção defmarcada, e exceííiva da dor titubar o entendimento para 0 júizo , e inquirir admirado o mefmo-, quepalpa- vaõos fentidos , e a experieueia. Como!"

Tempo h& , humaniflimos Ouvintes , de: voltar a attençaõ da trifte , eluéhiofa lauientaçaa de Jeremias, e do epitáfio, que no fepulchroda* quelle grande Monarca gravou a pena do Author das Antiguidades para eíle Régio , e fúnebre Msufoléo, dm que a piedade Eeclefiaftiea defta Flummeníe Guiade a eftimulo^ do feu agradeci- mento dedica ohfequiofa, e reverente confagra pios iuffragios ao feu mayor Bemfeitor; Mon- gibelo, em que por tantas bocas, quantas as luzes* em muda Rhetorica explica os incêndios, que no peito reconcentrou a mdgoa^ Qbslifco, em que a compaixão pertende eternifar a faudade mais jufta na auíeneia do mais fuípirado, eappetecido Mo- narca; horrorofo theatro , em que da memoria paíia aos noíTos olhos a mais laííimofa tragedia, que chora Portugal ; o mais fatal, e fenfivel golpe^, que lamentaniíempre a Monarquia Luíkana.

Aqui fe oíFerece á noíía ponderação eclipía* donas pallidas íombras do feu occalo o Aítro de mayor gran Jeza do emisferio Luíitano : eícure- cido -o ouro de- mais fubidos quilates , que produ- zirão as douradas ribeiras do Tejo ; proftrado por terra o Cedro mais elevado do Libano Portuguez; e adormecido para íempre neííe féretro o Magnifi- co:, Piiífimo, Salaroaõ da Ley da Graça. Oh dor/

Coma.

PJNEGVRlCJyE HISTÓRICA. %

Como exuberando tanto a esfera do fenfivel para a intenção da mágoa, naõ íuftocas a vital para íe«* rtixivo* de tanta pena , qual a que inJudou a to- da a Monarquia na morte do muito Auguílo, muito Alto, e PoderofoRey D. Joaõ V nofl o Se- nhor , cujo augufto nome feria a melhor Elegia deita íu&uofa acçaõ ;; porque repetido na funefta* e horrorofa trombeta da morte, faria o mais íeníl^ vel , e laftimoío ,ecco nos coraçoens dos VaíTallos, e eárondofo bramido em todo o Orbe, onde com admiração foy ouvido pelas heróicas, e gloriofas acçoens, com que o magnificou, e fublimou em fua vida. Mss como a obrigação de Orador pe- de termos menos lacónicos, e mais diffuíos, efco- lhi por empreza y e afíumpto a Salamaõ dormindo com os feus Mayores no íepulchro ; julgando juí- tamente, que íó podia íer jeroglyfeo, e modelo,, aííim nas acçoens da vida, como da morte, do Prín- cipe mais magnifico , que admirou o feculo pre- fente , e empunhou o fceptro Portuguez , o Mo- narca mais famigerado nas fagradas letras. E por- que efta Oração" Fúnebre deve fer o epitome das heróicas , egioriofas acçoens , que obrou em fua vida, ereíumo das virtudes, com que felicitou 3. fua morte, na palavra Salomon moftrarey , que foy na grandeza, e magnificência o pacifico da Ley da graça , e com ventagens ao da Ley Efcritar na palavra dormivit, que com o exercicio das virtu» des, que praticou, confeguio, que a fua morte com melhores finaes da fua predeftinaçaõ foífe fomno , e defcanço da taréa dos trabalhos deita vi* da para acordar na felicidade da eterna : SMomm dormivit cum Patr/bus juis*

- Bojf

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% .V/J

ORARAM FÚNEBRE, §.

FOjr a Corte de Lisboa, capital de toda a Mo- narquia , o feliciíRmo Oriente defte Augufto Monarca, e o dia vinte, edous de Outubro de mil e féis centos e oitenta e nove , o primeiro , que contou de fua idade; tempo, em que o Sol fe retirava daquelle para efte Polo , para moftrar talvez que voluntariamente cedia áqueileemis- ferio para esfera do novo , e brilhante Aftror que amanhecia nos horizontes de Portugal. Foy o nafcimento de SalamaÔo defterro das lagrimas de David, (eu Pay, na morte do primogénito de Berfabé ; o defte noflb Augtaftiffimo Princepe o rifo de feu fereniífimo Pay, o defterro das melanco- lias,, ,e funeftas confequencias 9 que ameaçavao a toda a Monarquia , fubítituinde áquelle o primo- génito, que lhe roubara a morte^a efta o fucceíTor, porque^ íufpirava affliéta. Foy íem davida dadiva da maõ Omnipotente do Altiífimo, edefempenho de íua indefeâivel promeíla; porque nunca fe con- fiderou mais attenuaJa a Reai Prole Portuguesa^ que antes do nafcimento defte fereniífimo Prince- pe; nelie, ou foíTe impulfodo affe&o, e lealda- de Portugueza, ou preííagioda gloria, que deile havia de reíultar a todo oReyno, fe ouvirão re- petidas em Portugal aquellas gratulatorias admi- raçoens, que fe divulgarão nas montanhas deju- déa, quando nafceo o Grande Baptiíta, que feliz- mente lhe impoz, g aufpicou o nome Foraõ as primeiras inclinaçoens da fua Real infância para * Jg|;eJa> e feusminifterios; manifeftos indícios da piedade catholica, que com ofer recebera de íeus Auguftos Pays.

Foy

PANEGFR1CA E HISTÓRICA. 5

Foy de proporcionada eftatura, de agradável, e mageftoío aípe£fr>, e naturalmente magnifico. Com menos annoà,queSalamaõ;porque com pcucoç maisdedezafete, ibioao thronode feus Predecef- fores , ou para niaílrar, que precedia áquelle gran- de Monarca narprudencia , e arte de governar, ou para que entendeflemos r que naô fentiaõ os emba^ raços da idade os que deftinava a Providencia para Princepes, e foberanos deíde o berço. No pri* meiro de Janeiro de mil íetecentos e te te foy inaugurado Rey , e coroado Monarca, e naõ fem myfterio; porque a efte mezprefidia , edeo o no- me Jano, de cuja vontade fingirão os Antigos pen- dia a paz, e a guerra; e para infinuarnos, queeí* te Aggufto Monarca vinha tirar das mãos daquella fementida Deidade as chaves do feuíuperfHciofo arbitrio, efechar-lhe por huma vez as portas do íeu fingido templo; com huma eftavel, e perpetua paz fubio a íer dominante em Janeiro , e a fero Numen da paz em fua Monarquia. Continuou com o mefmo fervor por tempo de quafi féis annos a guerra, com que achou turbado o Reyno ; mas foy para que com melhores, emais ventajoíascon- diçoens firmaíTe a paz. Dèfembaraçador qual ou- tro Salamaõ, dos obftaculos, que íubminiflravaõ inimigos taõpoderofos, começou a dar evidentes moftras, de que era o Salamaõ da Ley da Graça., A quatro prerogativas reduzio o fagrado Eícri-» tor do Ecckfiaftieo o elogio daquelle grande MonarcaLque fora Pacifico, Magnifico, Opulento, eSábro v excellencias, cora qiie fe adiantou aos^ mais Monarcas : teve fem duvida a ventura de fero grimeiro, e preceder ao da Ley: da graça j mas eíte &

f 0R4C,A\t FÚNEBRE,

gloria im mortal de o emular na magnificência, egranJezà com melhor fortuaa, e mayoresven- tagens. Fundou a paz , que ajuílouem mil, e fete- centos e treze, em máximas taõ firmes , e catholi- cas, que mais houve irrupção, que aalteraííe. Turbou-íe a Europa com a quadruple aliança contra Hefpanha, na de França com a Baviera contra a Gafa d'Auftria; mas a alta politica do noílo Augufto Monarca tomou de forte as medidas em conjunfituras taô criticas, que ajudando a qua- íi todas as Potencias belligerantes com o produ- £to das fuás Minas, confer/ou inteiramente com todas o equilíbrio daíua -indifferença fem orainimo diÇpepdio da íua Mageftade, e reípeito. Foy a eítabilidade deita pazefteito do inviolável fegre- do, que guardou em todos os negócios políticos, e da prudencial eleição, com que confervou nas Cortes eftrangeiras Miniftrosda mais perfpicaz in- telligenvia, que cora dexteridadeexecutaílem fuás Reaes inftruçoens , e abrindo por meyo delles com as chaves do feu ouro, os gabintes mais recônditos dos Princepes, venceo empenhos, que os po- deria terminar huma fanguinolenta guerra, e o que nefta com deípendio mayor, e igual perigo era contigente, foy naquella venturoía ufura c mi utilidade grata a toda a Monarquia. A paz que lo- grou o Mundo no tempo do Nafcimento de Chrif- to o intitulou Rey pacifico, e a que deu aos ífrae- litas aquelle grande Monarca lhe impoz o memo- rável nomedeSalamaõ, e fe attendermos a Dion, e a Chronologia de Gravefon, quatro annos du- rou fó a do Nafcimento de Chriílo ; porque a xsbelliaõ dos Arménios, Parthos, e Germanos,

fez

PJNEGmiCJ, E HISTÓRICA* |

fez abrir o templo de Jaoo no annodefetecentoà e cincoenta e dous da fundação de Roma , e ter- ceiro da Era Chriftâa; á de Saiamaô noíentirdo melhor Efcritor da fua vida naõ durou mais de trin- ta dousannos; porque rios oito -irírirrros do feu go- verno a turbarão o orgulho, e rebeliiaõ de Adad em Iduméa , os iníultos de Rafim em Damafco,e a fublevaçaõ de Jeroboaõ em lírael \ e a ^uè deu a feus Vaflalios o incaníavei cuidado , e benéfi- co influxo de fua Mageítade Fideliílima, tem trinta e oito de duração, e terá muito mayor pe- lo fyftettiâ, com que deixou elbbelecido o gover- no politico do Reyno. Logo com o melhor, e mais juftificado mérito adquirlo o honorifico , e glo- ríofo titulo de Rey pacifico, e arrogou a fiao nome deSalarnao daLeyda Graça: Salomon&c%

Firmada a paz, começou o da Ley Efcrita a dar moílras do íeu ardente zelo da honra de Deos,e a magnificar o íeu nome na fabrica do celebre Tem- plo, que em Jerufalem edificou, para nelle fer in- vocado o feu Santo nome : o da Ley da Graça fez também fundar outro Templo na Villa de Ma- fra para honra, e gloria do me! mo Senhor, tao fumptuofo,e magniíico,que pode íem hyperbole fer emulação dodejeruíalem. Teve efte aventura de fer o primeiro no tempo , e por iflb admiração do Orbe5e primeira maravilha do Umverío; o de Ma- fra porém pofterior , e moderno no tempo, logra aprerogativa de fer hum dos Santuários mais cele- bres, que refpeita, e venera o Chriítianiímo , eo primeiro no primor, com que o moderno emen- dou , eaperfeiçooua archite^ura do antigo. Para a fabrica- tto de Jerufakm ddcobrio a fabedoria de

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8 % ORAC.AM FÚNEBRE,

Salamao muitos thefouros, que eftavaõ occultós nas entranhas da terra, fez vir cedros doLibano, e preciofas madeiras de varias partes: para o de Mafra , defprefando os mais ricos ébanos, e Angu- lares violetes, que produz a nolla America Portu- gueza, fezoardentiííimozelodefeuAuthor,quea mefrna M>fra fe deíentranhaffe nos mármores, jaf- pes, eporíidos m9is finos? qUe produz a Itália, para que foffe no material mais grave, mais precio* ío e mais perdurável, que o de Jerufalem. Huma? e .outra obra, e architeétura abaíiíou a magnificên- cia, e grandeza de feu magnifico Author; mas fe atten do á Sagrada Hiftoria,huma grande difparida- de noto nos motivos deliuma , e outra. Foy a de Jeruíalemiatisfaçaõ do preceito de David , o qual para íuas expenias deixou cem mil talentos de ou- ro, e hum miihaô de talentos de prata, [que chegaõ a perto de dousmilmilhoens da noffa moeda, fo- ra ferro, e outros matenses, que fenaõpoderaa reduzir a numero: a de Mafra fem mendigar foc- corros a Hiran, chegou á fua ultima perfeição fem outro impulío, ou ajuda decuíto, que a Real, e magnifica piedade, e thefouros de feu Auguíliffi- moAuthor. E fe aquella executada com expenfas aiheyas magnificou tanto , e eternifou onomede Salamaõ,eíta filha toda da Real grandeza,produéio toda de riquiíFimos erários do noflb Auguíliffimo Monarca, com quanta melhor razaõ magnificara', P eterniíará o íeu A-ugufto nome? Será na verdade pTemplo de Mafra com mais duração, e melhor ventura, que ode Jerufalem, eterno merecimento de fua Real magnificência, eimmor tal panegyrico de íua incomparável piedade 5 padrão, em que a

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PJNEGVRICJ, EHíSTÚR ICA. c y

pezar das injurias do tempo leya com admiração toda a pofteridade as faudoías memorias de feu Au- gufto nome, e a Real , e incomparável grandeza do melhor Salamaõ da Ley da Graça; o qual re- conhecendo, que a Divindade, a quem adorava, era digna dos mais relevantes, e reverentescultos, fez elevar á fuprema Dignidade de Patriarcal a Real Collegiada de S. Thomè , proveo-a de muitos, e qualificados Miniftros, ornou-a dos mais ricos, e precioíos ornamentos, que fez vir de varias Cof- res , e no ufo , e ornato delia fez fervir ao Creador de tudo,os mais preciofos metaes,que inveja a cobi- ça humana.Naõ houve Graça, ou Pri vilegio,que pa- ra ella naõconfeguiíTeo íeuardentiffimo zelo: na5 houve artefaóto de mais exquiíito primor, que a pezo de ouro nao viefle compor o aceyo, e ma- gnificência daquella illuftre, e nobiliffima Bafili- ca ; para a qual fez vir de Roma os mais deftros, e peritos Mellres de Ceremonias, e Ritos Romanos, tudo a fim, de que nella folie Santificado, e adorado o Senhor dos Senhores com o mayor culto, vene-; raçaõ, e grandeza, que podia caber na esfera da ca- pacidade humana^ e á cufta de immeníasdefpezas teve a gloria de ver em feus dias transferida para a fua Real Capella na Mageítade do Culto Divino a cabeça do Mundo Catholico , ereftituido em to- da a lua Monarquia oefplendor dos Divinos Offi- cios , que o defcuido, e tibieza tinha em muita par- te offuícado. Oh íe vieíFe a Lisboa aquella celebre Rainha deSabá , quefoy ajeruíâlem, como admi- rando a grandeza, com que feofficiavaõ os Santos Sacrifícios , a gravidade, e devoção dos Miniftros, o cuftofo dos ornamentos, o acorde da fliufiea, a

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10 ORÀCJM FÚNEBRE,

multiplicidade dos Cantores, e a profuza6 dos aro- mas, corrfefíaria obrigada, que o zelo ardentiílimo deite Fideliffi-mo SalamaÕ era mayor, que a fua mefmafama; porque na verdade nao cabe na es- fera de fua loquacidade a piedade, e anhelo, com quepronioveo, e procurou promover a honra, ve- neração, e gloria de Deos. Voltaria para outra par- te a attençaõ aquella Real Ethiopiza, e arrebata* da da realidade dos myfterios (que aquelle Sala- mao pôde explicar-lheem figura; da pompa, e Mageítade, com que era levado o mefmo Deosde Ilrael pelas ruas, do ornato delks, da boa ordem, íí- ieocio, e gravidade, com que caminha vaõ proceífio- JiaJmente otíentas, e devotas tantos milhares de peiloas, da ptofuzaõ das luzes, e da íuavidadedos cânticos , forte , e fuavemente attrahida da Santi- dade, e devoção, que infpiravaõ aftas taô pios, e cathojicos, publicaria , que eragrâíide,e verda- deiro o Deos de Portugal , a quem ti ibutavaõ taó honoríficos cultos ; e que o Salamaõ da Ley da -Graça excedia tanto ao daEfcrita, quanto vay da realidade á figura, e da íombra á verdade. No Gram Pará mandou erigir huma Cathedral com tanta pompa, e magnificência, que o íeu primeiro .Prelado,.D. .Fr. Bartholomeu do Pilar, lhe foy íup- pii r a quizeíFe modificar; porque naõ poderia caber nas confignaçoens do concelho , por onde íe ::y.: dava fazer a deípeza. Porém mandando expe- dir as ordens neceíTarias fez executar, quanto a fua •grandezaítinha ordenado-, e accrefcentou maisoi- .to beneficies, a cujo titulo fepudeflem ordenar 03 meninos do Coro, ou outros, que por falta de património, naõ poderiaõ entrar a fervir aquelk Igreja,. Na&

PANEGFR1CA, E HISTÓRICA. m

Naõ íe claufulou no âmbito da íua Monar- quia , como os de Salamaõ, os monumentos da^ ím gf ande piedade, Ao$j lugares Santos de JerufV Jem offereceo hum precioío ornato para toda a Igreja, e huma rica Caííodia , para que a hi folie cofre da-mayor riqueza , que tem a Igreja Militan- te , e memorial eterno da íua Real magnificência. Roma depois que perdeo aos feusCeíares, nunca vío tanta cópia de ouro, quanta a liberalidade dei- te pio Monarca fez apparecer em- extraordinários donativos naquella Capital- do Mundo; de forte, que obrigados íeus moradores de taó ampla gene- rofidade, e outros benefícios 9 confefiaraõ, que neíie grande Monarca refuícitarao para elles as affabi-lidades de Tito, e as delicias de Roma, A Santidade do Papa Clemente XI tomando o pulfo ás intençoens piedofas defte grande, e .magnifico Monarca , e do quanto era benemérito áSé Apof* tolica , naô duvidou affirmar no Sacro Collegio, que efte grande Princepe fora efpecialmente man* dado por Deospara enriquecer com os íeus extra- ordinários donativos os Saníluariosde Roma, e pa- ra proteger a toda a Igreja eni|íua Cabeça, e livrar com o poder das fuss armas de ferem profanados os íeus Altares; facrilegio, que certamente choraria toda Itália , íe as Quinas Portuguezas, tremulando yitorioías no Levante ^ naõ embaraçaffem os pro* jeólcs do GraÕ Turco , que tomada Gorfu , inten* tava hum deíembarque na Itália, ehumaíangui- nolenta invaíao nos Eftados da Igreja, em cujos ssinaes fera eterna a confiíTaõ defie beneficio.

Pie litigioía queítaõ: Se foy Salamaõo mais rico e opulento de todos os Monarcas do Mundo*,

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ti ORACJM FÚNEBRE,

ou iodos que houve emlfrael ? Para efta parte in- clina o melhor, e mais prudente raciocínio dos Authores; porque Nabuco, Cyro, Alexandre, e Augufto, foraõiguaes, e JuperiorésTa Salamaõna gloria, e opulência: e quem poderáduvidar, que foy efte Auguftiííimo Salamaõda Ley da Graça o mais poieroío, e opulento de todos íeus Prede.cè- lTores, e fuperior na riqueza ao da Ley Efcrita f Todo o computo do ouro, que de Ophir reco- lheo a Jerufalem efte grande Monarca /dizem as íagradas letras, que fora o valor de quatro centos e cincoenta talentos de ouro, que pela conta Hcbréa, de mil, e quinhentas onças por talento, chegaria a fomma de cento, e feíTenta e dous milhoens da nof- ía moeda; e íe apolítica , e modeftia permittiííe íommar a importância de quarenta , e hum a frotas, que da noíTa America fe recolherão no Tejo, no Reynado deite Fideliííimo Monarca, conheceríeis com evidencia o excedo , que fez na opulência ao de Jerufalem. O certo he,que em matérias de rique- zas deitou a barra, onde nao chegarão as dos mais Monarcas ; porque as do feu ouro chegarão ás par- tes mais remotas , eíizeraõ conhecida, e refpeita- da em todo o Orbe a fua Augufta Peíloa, e o feu nome. Em huma palavra, para enriquecer aquelie Salamaô deítinou a Providencia a Ophir, quefe nao íabe , fe foy Sumatra , Sufala , ouTrapoba* na, e para fazer opulento ao da Ley da graça, re- fervou hum novo Mundo, quedeíentranhado, íó no tempo do íeu governo em taõ prodigiofa cópia de ouro, diamantes, e outras pedras precioías, tem admirado a todas as Naçoens, eemtodooOrbe dado a conhecer a felicidade , e opulência, com

que

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TANEGVRICA, E HISTÓRICA. tj

que o Senhor fe dignou enriquecer o íeu Reynado, no qual feguindo odi&ame do Profeta Rey, foy jtmpre lenhor dos feus thefou-ros ; porque delies tiíou com tanta prudência, e temperança , que gaitando com taõ larga maõ a íua magnifica libera* Jidade, deixou íempre fobias, cora que livraUe aos Vallallòs de impoftos, e gabellas* ventura^que naõ pôde coníeguir oluxo , e prodigalidadedoda Ley Efcrita, em cuja morte fazem menção as Sagradas Letras dos clamores, com que os He- breos pediaõ alivio de taõ pezados tributos, e cxàcçoens, quando os íoluços, com que ainda ho- je fufpira affliíla toda a Monarquia na morte deite piedofíílimo Rey , bem deixaõ perceber a venta- gem, com que íè elevou na piedade, e opulência á aquelle famigerado Monarca.

Foy fua Mageítade Fideliífima dotado de hu* ma vafta, e profunda comprehençaõ > e dexteri- dade para os negócios políticos, pela qualadqui- rio com a noticia das íciencias económicas, e gran- de erudição da hiftoria, huma perfeita perícia de governar, que heamayorde todas as artes. Foy fem hyperbole Licurgo na paz, Trajano naredti- daõ, ena politica, e manejo dos negócios Gefar. So- bre Leysjuftas, que fez obíervar, eítabeleceo a boa? adminiftraçsõ, e reípeito dajuftiça , e com a prohi- biçaõ da authoridade dos Patronos confervou infle* xiveis as- fuás varas, e queíem excepção de peflbas déíle a cada hum, o que era íeu. Para csminifterios públicos preferioquaíifempre os talentos, ecapa- eidades próprias aos merecimentos dos antepaffa-. dos, máxima, que naõ felicitou pouco a concluíao dos negócios, e boa harmonia, e direção dogo*

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ff orâ^ím fúnebre;

governo. Offereceo naõ pequenos cultos ao templo de Minerva, affim no affedto, cora que amou, e eftimou as íciencias , e as fez florecer nos feus domínios ,* como na generofidade , com que rece- beo, e tratou íerapre os feus Aiumnos ; ena Aca- demia da Hiítoria, que infiituhio em feus Paços, edificou à fabedoria Templo mais jucundo, que o que lhe confagrou Salamaõ em Jeruíalem ; por- que multiplicando em íl o rnyítíco, e perfeitiífimo numero das fete columnas, em que aquelie fora fundado, íobre a íolida , e profunda erudição de quarenta, e nove, ou cincoenta Académicos do numero,firmou delicioía habitação ás Artes, e boas letras em (eu Reyno. Na Academia de Jeruíalem diíputou aqueile Salamaõ da natureza, equalida* des dos brutos, aves, e arvores, deíde o cedro do Líbano até o humilde hyííbpo , que naíce nas pa- redes : na ds Lisboa, tratou, e diíputou oda Ley da Graça p>or tantas bocas, quantos as Académi- cos, de objedo muito mais nobre, quaes as virtu- des , egloríoías acçoens de tantos Heroes inííg- nes, que nos precederão em letras, e armas. Da- quella íó nos reftaõ pequenas relíquias , do que confu.mio o tempo, e abraíou o fogo Caldaico: elta fazendo cruel guerra ao tempo, e ao eíque- cimento na producçaõ admirável de tantos volu- mes, tem reílituido , e reftituirá á Hiíioria innu- meraveis fimulacros d^i verdade depurados nas brázas do mais rígido critério da mínima íom- bra da mentira, e.falfidade; e tem collocado no templo da immortalidade para noíía edifica- ção, e eftimulo tantas eítatuas, e figuras, quan- tas as.virtydes, ,eá faççoens heróicas, que jaziaõ

fub-

PANEGVRlCJy E HISTÓRICA. i f

íubnrergidas no caliginoíb diícuríb de tantos feci£ los, A fabedoria de Salamaõ caducou com o tem- po, e^enfatuou-fe com a velhice: a defuaMagef- tade Fideliffima, porque fundada no mais profurl* do refpeito ás Leys do Altiffimo , e gratifícaçaS aos Divinos benefícios, que no d ótame de David e Senéca faõ os melhores fundamentos da fcien- cia ; crefceo ccwn as experiências do tempo, e cul- tura dos annos a conftituillo hum Varaõ perfeitif- íimo, recopilaçaô de todos m Heroes maisfamo- ios, de que faz mençaõ a Hiftoria , jeroglifico da heroicidade, modelo para todos os feus vindouros, e honorifica emulação da paz, magnificência, opu- lência, e fabedoria daqueile grande MonarcaSa- lamaô; cujo nome uíurpou ( naõ com pequena nfura ) com a glorioía ferie das acçoens da fua vi- da: Salomm. -u

Caducou em fim toda aquella gloria , por- que era mundana; anniquiloufe toda aquella ma- gnificência, porque era temporal ; e defvaneceo-" íetoda aquella fabedoria, porque era humana: e depois de feflenta annos de idade, e quarenta completos de governo , opprimido do pezo de fua nreíma mortalidade, cahio adormecido no íepul- chro de (cus Pays o mayor Monarca do teftamen- to velho : Dormivit tum Patribus fnis. Nos últimos oito annos de fua vida o tocou a maõ do Altiffimo com a tribulação de vários infortúnios, e pfcrifiw cado nelles das fezes da culpa ao fentir do Dou- tor Máximo, e outros, coroou como defcanço4, e felicidade de huma boa morte as acçoens herói- cas, egloriQfasdafuavida. Iflonosinfinuaoíom- no , com que as Sagradas letras nos indicaõ a fua

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i5 ORÂÚÁ/IÍ FÚNEBRE,

morte, que no fentir dos Sagrados Interpretes he fomno a morte dos que haõ de refufcitar á melhor vida. Sua Msgeftade Fideliflima, cuja vidafoy gloriofa emulação das heróicas acçoens daquelle grande Monarca % foy outro Salaniaô na felicida- de da morte. Seflentaa^nos, nove mezes, enove dias contava de idade, e quafi quarenta e quatro de feliciíBmo governo, quando eclipíado nos acci- dentes mortaes da íuaqueixa, fepultou-fe como Sol no amargofiffimo mar de lagrimas, em que deixou toda aquella numeroía Corte Oh Parca inexorável, como naõ culparemos juftamente a tua tyrannia ; pois com hum golpe mortificar* ter e tyrannifafte tantas vidas, e com huma morte > que executa íte, enluQrafte a gloriada hu- ma Monarquia inteira! Tocou-lhe na parte > que tinha de humano, e cahio precipitado noabyfmo tenebrofo delia urna , quanto íobre elle tinha ele- vado a inteflrgencia, e induítria humana. Oh mi- fera condição da natureza humana, quem foube^ ra ponderar profundamente atua fragilidade pa- ra deíèngano da noíla vaidade! Pouco mais de oito snnos itáes deíle fatal aeekiente o tocou, como a Sal a ma õ, a Poderofa maõ do Altiffimo com amo- Jeftia de huma pafalyfia, e inferindo deita pater- I3al coyrecçaõa amoroíaattençaõ, com que aquel» Je benigno Pay o tratava , procurou dar mais ar- dentes provas do feu Real agradecimento no ar- dentiíRmo zelo, com que procurou perpetuara ©brada Patriarcal, q,ue tinha inftitukfo, com eí~ iabiiidade das rendas^ e frutos,, que aflinoua taô ililluífcrei e numerofo. Cabidoi aumentou com má* gnifícencia iguala fua Real grandeza a Capella

PANEGVRICA, EHiSlQRICA. 17

de Ni Senhora das Neceífidades em Alcântara, com a qual teve fempre efpecial devoção; divi* dio efte em mais dous Bifpados; multiplicou 03 Miniftros , accrefceatoq as côngruas á cufta de extraordinárias delpezas , lo para que íe multipti- cafle o obíequio, culto, e veneração á íúprema Mageftade ; fendo a profuíaõ , e liberalidade* com que gaitava com Deos, e com íeus Templos a mais irrefragavel teítimunho da Garidade Divi* na, que ardia, e oecultava em íeu augufto pei- to, Viveo lempre lembrado do confelho, queda- ra a Nabucodonoíor o grande Profeta Daniel, e por iíTo cuidou em todo o tempo de fua vida com eímolasy e obras de caridade5, expiar-fe das íuas culpas. Nenhuma pefíoa honrada, ehonefta che- gou neceííitadaa feus Reaespés, que naõfahifle largamente remediada : e porque naõ foubefle fua mão efquerda a Real liberalidade, comqueadi* reita beneficiava aos pobres, a titulo de aju* das de curto , e foldos adiantados , fez grof- fas, e largas efmolas a muitas peífoas, que pela fua graduação pareciaõ naô neceífitar delias: con- fervou fenvpre em mãos de peíloas pias fommas çonilderaveis para loccorro daquellas peífoas, ás quaes por ferem recolhidas, e impoflibilitadas, íe lhes diflicultava o acceíio a íua Real piedade, a qual eftimulada agora com os núncios da morte, que eni cada accidente da queixa amiudadamente re- cebia, cuidou em dilatar a ma) or esfera fua Real piedade, fazendo prover por criados da íua con- fidencia aos Parachos das Freguezias maispoUret, e remotas j para que em tpdo o Rey no, e çpni todos os pobres dellç exercitafleobrade taõ excellentf

*$ ORARAM FÚNEBRE,

cat idade : e íeefta , como affirmaõ os Dogmas da

Fe, apaga a multidão dos peccados; e aefmola

como agua extingue aculpi, quam expiado dos

reatos das fuás fenaõ acharia em fuamorteo noíía

íideliffimo Monarca taõ caritativo, e eímoler?

Ao Grande BifpoTurongnfe fez Chxiftoefcrever

«o livro da vida, ecathalogo dos Santos, porque

huma vez o veftio com ametade de fua capa na pef~

ioa de hum pobre em Ambiani^ ecomquam fere-

no> e piedofo, afpedto, com que feíHvasgratula-

çoens receberia o Supremo Juiz na hora da conta»

aefte piedofiflimo Monarca, lembrado das muitas

vezes, que o veftao> e lhe matou a fome, e fede nas*

peíToas de tantas viuvas honeffcas, e recolhidas que*

favoteceo, e í^ftentou; nas de tantas orfaãs , e don-

zellà?» cujas honras confervou com fuaseímolasf,

e nas peffoas de tantos particulares , aosquaesaí

fua Real, e benéfica caridade íaciou r efe&bem:

faltarriaõ primeiro os Geos, e a terra, que o dei-

empenho da promeíík do Senhor na retribuição da

vida eterna a hum tao magnifico, e eatholico Bem-

feitor dos pobres.

Naõ íó com os neceíTitedòsd-a Igreja Militan* te, mas também com os da paciente exercitou efte» piiífimo Rey a fua grande caridade, Goníideravaa^ extrema neceffidade, em que eftavaõ no Purgaton> asAlmss, fem outro bem, efoccorro, queosSuf> ftagios dos Fieis : e comovidas aquellas Reaes en- tranhas, cheyas todas de piedade, e mifericordia* tornou por fua conta o alivio delias. Ouvi dizer a pefíba fidedigna^ que a deípezaannuai de Miílas, e Suffragios, que por ellas fazia offerecer, chegava regularmente a doze mil cruzados, fora as de re-

PANEGÍRICA, E HISTÓRICA. 19

inuneraçaõ de algum beneficio, que por inter- ceffafr delias coníeguio Naõ esfriarão os ardores de tao abr azada caridade as afflicçoens de huma taõ prolongada moleira, antes como a luz, que entre os paraciímos de acabar íe illuftra mais , es- forçou entaõ mais a* fupplieas , e multiplicou na Cúria as t gativas, até que mcveo ao Supremo Pallor a facultar , que no annoda Bulia fepudef- km tomar de defuntos, as que a devoção, e piedade dos Fies quizeffe applicar; e que os Sacerdotes , af- fim Seculares , como Regulares, pudeflem em to* dos os léus domínios celebrar três Miíks no dia da* Comemoração dos Fieis em beneficio das mefmas Almas: e de quantos júbilos , e confolaçocnsnaõ encheria aquelle AuguíliíTimo coração efla Graça Apoftolica , confiderando dilatada r eílabelecida, e perpetuada em toda a Igreja Portugueza obra de taõ excellente caridade, e miíericordia, que eom tanta devoção praticou em toda a vida. Con- tentou-fe a piedade da Igreja Univerfal foccor- reraquelles filhos com o SufJragio de huma Mifia naquelle dia; mas naõ a defte Piiífimo Rey, em quanto naó eonfeguio deixar em feusReynos triplicado efle Suffragio, e gravado neíla piedofa acção, que a fraternal compaixão, que tinha da~ quelles próximos , era mais ardente, queamater-V na; e a miíericordiayquecom elles ufava> maisam* pia* e dilatada , que a de toda a Igreja: e a quantos milhares de Almas naõ aliviaria daquellas penas, e lhes apreílaria a pofle daquella íumrna felicidade* que agora logra o na prefença de Eíeos. O meímo* Senhor o fabe : o que vos poílo fegurar he , que ou* tros tantos kterceffor€S> e patronos da faafelva**

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2o^ ORJ^AM FÚNEBRE;

çaó enviou,e prevenio naquelleglorioío Empyreo, onde na moieília defte Fideliífimo Monarca fuc- cederia diante do Supremo tribunal o inefmo, que na enfermidade do fervodoCenturioem Caphar- naum: recorrerão alli os Diícipulos ao Divino Mef- tre, huns allegavaõ, que o Centurio edificara hu- nie fynagoga ao povo; outros, que era benemérito, e amante da gente Ifraelitica, procurando todos em remuneração do mérito do Centurio a faude, que appeteciaó para o criado, A primeira, que chegaria àquelie Supremo Confíftorio , íeria a Humanida- de Santiíliim de Ghrifto, e neíle exporia a favor da faude efpiritual defle Piiííimo Monarca o culto magnifico, que Jhe preftou , e fez preftar em íeus domínios; afolênidade, e pompa, com que o ado- rou, e fez adorar noSacramentoda Euchariítia; a piedade, com que multiplicou os Coros, eMinif- tros, em qije quotidianamente era louvado. A Su- prema Rainha dos Anjos aprefentaria o decreto, que em mil, fetecentos , e dezaíete mandou paílar a todas as Gathedraes , e Gollegiadas do íeu Reyno, para que celebraílem com a mayor folénidade o tpyfterio da íua Conceição Puriífima ; o juramen- to, com que ratificou publicamente o de feu glo- riofo Avô de defendelo até dar a vida pela fua ver- dade ; a ínftancia, que a fua Real piedade fez na Guria para declararfe pormyfteriodeFé; oannual obíequio, que na Real Capella preftava ás fuás dores, anguftias, e outras muitas obras, com que illuftrou a fervorofa devoção, que teve femprea çftafoberana Senhora, Chegaria o Grandç/Patri- arca S. Jofeph , e por fua parte apreíerttaria o grancte selo, com <jue efte Fideliífimo Monarca fea

ço-

PANmmTCA, E HMOmCA m

conhecer em todos os feus dominios o feu grande P^trocinio,e frequentar a íua Novena* Repreíen* faria o nof o grande Portuguez o grande, efump-^ tuoío Templo, que erigio ao mefmo Senhor em feu nome, a -decência, com que a£bialmente era nelle louvado o feu Santo nome. O Anjo da Gu- arda repreíantaria a favor deite íeuFidelifIim0 Cliente o Officio Divino , que por devoção quoti- dianamente recitada ; as muitas noites, que foy oc- eulto rezar as Matinas com os Religiofos de 8. Pe* drode Alcântara, e de Mafra; a frequência, e devo- ção, comq o feu reípeito fez recitar às Horas Cano- nicas áquelles Religiofos, e as peculiares orações, e devoçoens, que rezava, de que a fua modeítia nos naõ deixou noticias; o ze!o? com que procurou a di- latação da no cuidado, e difpendio, corri que fo- mentou as miffões na India,e nefta A merica. Muitos dos Bemaventurados offereceriao naquelle fupre- mo Tribunal osSuffragios,e Indulgências, com que' os libertou das penas, que padecerão; outros os Sa- crifícios, com que lhes expiou os reatos da culpa, e* ©s poz naquelle Feliciíiimo eflado. Em fim tddo§ osCelicolasdaquella Triunfante Igreja aprefenta-' riaô a gloria accidental, que deo a Deos, accreícen- tando-acom os muitosjque fez fubir do Purgatório* mediante as Bulias, e outras oblaçoens, com quea$ íuftragou.Efe vale muito na prefença de Deos, con- forme a Ganonicade Santiago, a deprecaçaôcóflti* nua de hum juíto , quanto a de tantos, e da primei* ia «graduação naquelle Empyreo : ànnuindo certa* jnente aos votos de tao mui tiplicados im ereefl©re& a infinita frondade de Dec% iircKntéa feínpj?e *fa*° ser bem,; femprè ádímiravel em íea&Sàn*©^ eê®?

m ORACAM FÚNEBRE,

precavei íobre os feus fervos,revogaria íem duvida os decretos da preíente Juítiça, e lhe conferiria au- xílios efficazes, ou era taõ opportunaoccafíaõ, que abraçaado-os, padaria do eftado de peccador ao fe l&i&mádG penitente, com que feguraria agraça fi- nal; e como o íervo do Centurio, teria a fortuna de confeguir a íaude d'alma, e a vida eterna, pela qual deprecavaô tantos.

Pouco antes da fua morte remunerou a Santa Apoftolica os benefícios, que tinha deite Auguíto Monarca recebido,com o honorifico titulo dztidehf- fimo\ e nao íem efpecial providencia, quanto ao tem- po. No Apocalypfé eftá promettida huma coroa de vida eterna , ao que for fiel até a' morte : e para infinuarnos, que era dignojdaquella laureola, refer- V04 com advertência o Oráculo da viva voz para eíte tempo denominação taô honorifica, para que certificados pela infalibilidade da Igreja, que fora fiel,e Fideliílimo até o fim davida, tiveílemosa coníolaçao, de q foube trocar em íua morte a coroa temporal pela eterna. Affim piamente nos perfua- dem as^heroicas virtudes, que praticou em fua vida efte Piiífimo Monarca, o qual opprimido com o pe- 7Q da moieítiatque por inftantes fe engravefcia,de(- enganado da vaidade, e de toda a gloria mundana, rifignadotodona vontade do AltilTimo, purificado na paciência, com que foffreo conftante asaffliçôes damoleftia, e agonias da morte, entre ardentiífí- mas jaculatórias, e a&os de piedade Catholica, com mais íeguros indícios da fua falvaçaõ adormeceo, como Salamao* com feus AuguftosPays, e Prede- ceíToresno Occafodo fepulchro, para acordar, glo- xiofo no Oriente de outra melhor vida, na qual def- cançará para feaipre: S atontou dor rnivit cumPatrtbus fuisi Amen.

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